Вы находитесь на странице: 1из 563

1

COMPÊNDIO HISTÓRICO DO PENSAMENTO HUMANO

1 – INTRODUÇÃO A FILOSOFIA

1.1 – Saberes Importantes Na Vida Do Ser Humano:

a) Porque é importante estudar filosofia?

A Filosofia é uma ciência que contempla o ser humano dando-lhe uma nova visão de
mundo sobre os seus conhecimentos científicos.

O estudo de filosofia é tão importante aprender porque não se pode pensar em nenhum
homem que seja solicitado a refletir e agir. Isso significa que todo homem tem (ou
deveria ter) uma concepção de mundo, uma linha de conduta moral e política, e deveria
atuar no sentido de manter ou modificar as maneiras de pensar e agir do seu tempo.

A filosofia oferece condições teóricas para a superação da consciência ingênua e o


desenvolvimento da consciência crítica, pela qual a experiência vivida é transformada
em experiência compreendida, isto é, em um saber a respeito dessa experiência.

Entendemos que a iniciação filosófica não só é importante e necessária, como também,


deveria ser obrigatória partindo do ponto de vista pedagógico, por ser muito importante
na formação integral de todos os alunos, iniciando-se com o currículo das escolas de 2º
Grau e nas séries iniciais do 3º Grau.

Porque, ao estimular a elaboração do pensamento abstrato, a filosofia ajuda a promover


a passagem do mundo infantil ao mundo adulto. Se a condição do amadurecimento está
na conquista da autonomia no pensar e no agir, muitos adultos permanecem
infantilizados quando não exercitam desde cedo o olhar críticos sobre si mesmos e sobre
o mundo.

b – Porque O Estudo Da Filosofia Foi Retirado Dos Ambientes Escolares?

Sabemos que uma das características dos Estados Autoritários é impedir o ensino da
filosofia e silenciar a crítica dos pensadores, a fim de garantir a obediência passiva dos
cidadãos. Isso já acontece no Brasil desde 1971, o ensino de filosofia desapareceu das
escolas de 2º Grau durante treze anos e os cursos de filosofia do 3º Grau se esvaziaram a
ponto de algumas faculdades terem cogitado a sua extinção.

Por isso, qualquer que seja a atividade profissional futura ou projeto de vida, enquanto
pessoa e cidadão, o aluno precisa da reflexão filosófica para o alargamento da
consciência crítica, para o exercício da capacidade humana de se interrogar e para a
participação mais ativa na comunidade em que vive.
2

c – O Que É Filosofia?

Segundo o Minidicionário da Língua Portuguesa “Aurélio”, nos diz que é o estudo que
visa ampliar incessantemente a compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la na
sua inteireza; pensamento de filósofo (s); ou obra que contém razão; sabedoria.

Segundo Marilena Chauí, a filosofia é a busca dos fundamentos e do sentido da


realidade em suas múltiplas formas, pois ela se encontra inserida na história e tem
consciência de que possui uma história.

d – Atitude Filosófica o que é?

Entre os antigos gregos, predominava inicialmente a consciência mítica cuja maior


expressão se encontra nos poemas de Homero e Hesíodo.

Quando se dá a passagem da consciência mítica para o racional, aparecem os primeiros


sábios, “Sophos, como se diz em grego”. Um deles chamado “Pitágoras” (Séc. VI a.
C.), que também era matemático, usou pela primeira vez a palavra filosofia (philos-
sophia), que significa “amor à sabedoria”. É bom observar que a própria etimologia
mostra que a filosofia não é puro logos, pura razão: ela é a procura amorosa da
verdade.

e – O Que É Trabalho Filosófico?

É todo o serviço essencialmente teórico. Mas isso não significa que a filosofia esteja à
margem do mundo, nem que ela constitua um corpo de doutrina ou um saber acabado,
com determinado conteúdo, ou que seja um conjunto de conhecimentos estabelecidos de
uma vez por todas.

Para Platão, a primeira virtude do filósofo é admirar-se. A admiração é a condição de


onde deriva a capacidade de problematizar, o que marca a filosofia não como posse da
verdade, mas como sua busca.

Para Kant, filósofo alemão do século XVIII, “não há filosofia que se possa aprender;
só se pode aprender a filosofar”. Isso significa que a filosofia é, sobretudo, uma
atitude, um pensar permanente. É um conhecimento constituinte, no sentido de que
questiona o saber instituído.

Portanto, a teoria do filósofo não constitui um saber abstrato. O próprio tecido de o seu
pensar é a trama dos acontecimentos, é o cotidiano. Por isso, a filosofia se encontra no
seio mesmo da história. No entanto, está mergulhada no mundo e fora dele: eis o
paradoxo enfrentado pelo filósofo. Isso significa que o filósofo inicia a caminhada a
partir dos problemas da existência, mas precisa se afastar deles para melhor
compreendê-los, retornando depois a fim de dar subsídios para as mudanças.
3

(*) Filosofar = raciocinar sobre assuntos filosóficos; tirando induções, meditar,


argumentar, discutir com sutileza;

(*) Paradoxo = conceito que é ou parece contrário ao senso comum. Afirmação que vai
de encontro a sistemas ou pressupostos que se impuseram como incontestáveis ao
pensamento – paradoxal.

f – Qual É A “Utilidade” Da Filosofia?

Em primeiro lugar, para responder essa pergunta, precisamos compreender o que é


utilidade, como primeiro impasse.

Vivemos num mundo em que a visão das pessoas está marcada pela busca dos
resultados imediatos do conhecimento. “Então, é considerada importante a pesquisa do
biólogo na busca da cura do câncer; ou o estudo de matemática no 2º grau entra no
vestibular; e constantemente o estudante se pergunta:” para que vou estudar isto, se não
usarei na minha profissão?

Segundo, seguindo essa linha de pensamento, a filosofia seria realmente “inútil”: não
serve para nenhuma alteração imediata de ordem pragmática. Neste ponto, ela é
semelhante à arte. Se perguntarmos qual a finalidade de uma obra de arte, veremos que
ela tem um fim em si mesmo e, nesse sentido, é “inútil”. Entretanto, não ter utilidade
imediata não significa ser desnecessário. A filosofia é necessária.

g – Onde Está A Necessidade Da Filosofia?

Estão no fato de que, por meio da reflexão (aquele desdobrar-se, lembra-se?) a filosofia
permite ao homem ter mais de uma dimensão, além da que é dada pelo agir imediato no
qual o “homem prático” se encontra mergulhada.

É a filosofia que o distanciamento para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos
e dos fins a que eles se destinam; reúne o pensamento fragmentado da ciência e o
constrói na sua unidade; retoma a ação pulverizada no tempo e procura compreendê-la.

Portanto, a filosofia é a possibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade


que só o homem tem de superar a situação dada e não-escolhida. Pela transcendência,
o homem surge como ser de projeto, capaz de liberdade e de construir o seu destino.

O distanciamento é justamente o que provoca a aproximação maior do homem com a


vida. Whitehead, lógico e matemático britânico contemporâneo, disse “a função da
razão é promover a arte da vida”. A filosofia recupera o processo perdido no imobilismo
das coisas feitas (mortas porque já ultrapassadas). A filosofia impede a estagnação.

h – Qual A Relação Inicial Da Ciência Com A Filosofia?

No início, a ciência estava ligada à filosofia, sendo o filósofo o sábio que refletia sobre
todos os setores da indagação humana. Nesse sentido, os filósofos Tales e Pitágoras
eram também geômetras, e Aristóteles escreveu sobre física e astronomia.
4

Na ordem do saber estipulada por Platão, o homem começa a conhecer pela forma
imperfeita da opinião (doxa), depois passa ao grau mais avançado da ciência (epistema),
para só então ser capaz de atingir o nível mais alto do saber filosófico.

i – Quando Se Dá A Separação Entre Elas?

A partir do século XVII, a revolução metodológica iniciada por Galileu promove a


autonomia da ciência e o seu desligamento da filosofia. Pouco a pouco, desse período
até o século XX, aparecem às chamadas ciências particulares: física, astronomia,
química, biologia, psicologia, sociologia etc. – delimitando um campo específico de
pesquisa.

j – Quais As Principais Diferenças Entre Ciências e Filosofia?

A filosofia continua tratando da mesma realidade apropriada pelas ciências. Apenas as


ciências se especializam e observam “recortes” do real. Enquanto a filosofia jamais
renuncia a considerar o seu objeto do ponto de vista da totalidade.

A visão da filosofia é de conjunto, ou seja, o problema tratado nunca é examinado de


modo parcial, mas sempre sob perspectiva de conjunto, relacionando cada aspecto com
os outros do contexto em que estão inseridos.

Se a ciência tende cada vez mais pra a especialização, a filosofia, no sentido inverso,
quer superar a fragmentação do real, para que o homem seja resgatado na sua
integridade e não sucumba à alienação do saber parcelado. Por isso, a filosofia tem uma
função de interdisciplinaridade, estabelecendo o elo entre as diversas formas do saber e
agir.

A filosofia ainda se distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto: em todos
os setores do conhecimento e da ação, a filosofia está presente como reflexão crítica a
respeito dos fundamentos desse conhecimento e desse agir. Por exemplo: se a física ou
química se denominam ciências e usam determinado método, não é da alçada do próprio
físico ou químico saber o que é ciência, o que distingue esse conhecimento de outros, o
que é método, qual a validade, e assim por diante. Eles até podem dedicar-se a esses
assuntos, mas, quando o fazem, passam a se colocar questões filosóficas. O mesmo
acontece com o psicólogo ao usar, por exemplo, o conceito de homem livre. Indagar
sobre o que é a liberdade é fazer filosofia.

Portanto, a filosofia não faz juízos de realidade, como a ciência, mas juízos de valor.

O filósofo parte da experiência vivida do homem trabalhando na linha de montagem,


repetindo sempre o mesmo gesto, e vai além dessa constatação. Não vê apenas como é,
mas como deveria ser. Julga o valor da ação, sai em busca do significado dela.
Filosofar é dar sentido à experiência.
5

k – O Que É Filosofia De Vida?

Costumamos chamar de filosofia de vida, o filosofar do homem comum. Por sermos


seres racionais e sensíveis, estamos sempre dando sentido às coisas. Quando agimos na
escolha de nossas ações pelo conhecimento adquiridos do senso comum, optamos pelas
melhores, ou seja, as boas. O bom senso são as escolhas que fazemos para as
experiências de nossas vidas cotidianas. A isto chamamos de “filosofia de vida”. O
homem comum faz sua própria filosofia de vida, o filósofo propriamente dito é um
especialista.

Segundo Gramsci, “não se pode pensar em nenhum homem que não seja também
filósofo, que não pense, precisamente porque pensar é do próprio homem como tal”.
Isso significa que as questões filosóficas fazem parte do cotidiano de todos nós.

l – Qual É A Relação Da Filosofia Com O Poder?

O Historiador da Filosofia, François Châtelet, afirma: “Desde que há Estado – da cidade


grega às burocracias contemporâneas – a idéia de verdade sempre se voltou, finalmente,
para o lado dos poderes (ou foi recuperada por eles, como testemunha, por exemplo, a
evolução do pensamento francês do século XVIII ao século XIX).

A filosofia é, portanto, a crítica da ideologia, enquanto forma ilusória de conhecimento


que visa à manutenção de privilégios. Atentando para a verdade, do grego (a-létheia =
desnudar), vemos que a verdade é por a nua aquilo que estava escondido, e aí reside a
vocação da filosofia: o desvelamento do que está encoberto pelo costume, pelo
convencional e pelo poder. A filosofia exige coragem. Por isso, o Filosofar não é um
exercício puramente intelectual. Descobrir a verdade é ter a coragem de enfrentar as
formas estagnadas do poder que tentam manter o Status Quo, é aceitar o desafio de
mudanças. Saber para transformar.

m – O Que Caracteriza A Reflexão Filosófica Propriamente Dita?

Examinando a palavra reflexão, vemos que nossa imagem refletida no espelho, há um


“desdobramento”, pois estamos aqui e estamos lá; no reflexo da luz, ela vai até o
espelho e retorna; (“reflectere”, em latim), significa “fazer retroceder à”, “voltar atrás”.
Portanto, para si mesmo e colocar em questão o que já se conhece. A filosofia
propriamente dita tem condições, de surgir no momento em que o pensar é posto em
causa, tornando-se objeto de reflexão. Segundo o professor Dermeval

Saviani, a reflexão filosófica é radical, rigorosa e de conjunto.

n – Onde E Como Surgiu A Filosofia?

Surgiu na Grécia clássica, um mosaico de pequenas comunidades independentes que se


espalhava junto ao Mediterrâneo – da Jônia, na Ásia Menor, até o sul da Itália, origina-
se e desenvolve uma nova maneira de pensar e de conceber o mundo. Ali tomou corpo,
no século VI a.C., as primeiras idéias sobre as quais vai erigir o pensamento ocidental.
6

Apesar de geograficamente dispersa a Grécia Antiga tem uma vida cultural


relativamente homogênea, que se expressa na língua comum, em formas de organização
política, em crenças religiosas semelhantes. Essa unidade – a civilização helênica –
resultou da fusão e da difusão das diversas culturas trazidas por povos variados, que
sucessivamente invadiram a Grécia, misturando-se aos habitantes mais antigos.

O – Quem São Eles?

Pouco se sabe a respeito dos pioneiros do pensamento Ocidental. De seus textos


restaram apenas fragmentos. Suas idéias chegaram a nós por intermédio das versões
apresentadas pelos pensadores que vieram depois, e que os apresentam como “primeiros
filósofos”. Não fosse isso, eles talvez ficassem conhecidos como escritores com
pretensões vagamente científicos, com suas investigações peculiares sobre a natureza.

Esses pioneiros surgiram na Jônia, colônia fundada na costa asiática da Grécia por
antigos micênicos, que ali se refugiaram das invasões dóricas. Enquanto a maior parte
dos gregos mergulhava na “Idade das Trevas”, os jônios desenvolveram intensas
atividades artesanais e comerciais, que favoreceriam o surgimento de novos valores
sociais, baseados menos na tradição, mais na iniciativa dos indivíduos. A vida cultural
floresceu, e disso a obra de Homero é testemunha. A astronomia e a matemática
desenvolveram-se, sob a influência de contatos com os povos do Oriente. Em meio a
esse fervilhar, a cidade de Mileto foi se impondo como principal centro da Jônia.

p – Como Eles Surgiram?

A grande aventura intelectual dos gregos não começa propriamente na Grécia


continental, mas nas colônias: na Jônia (metade sul da costa ocidental da Ásia Menor) e
na Magna Grécia (sul da península itálica e Sicília). Os primeiros filósofos viveram por
volta do século VI a.C. e, mais tarde, foram classificados como pré-socráticos (a
divisão da filosofia grega se centraliza na figura de Sócrates) e agrupados em diversas
escolas. Por exemplo:

Escola Jônica (Talles, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito, Empédocles); Escola


Itálica (Pitágoras); Escola Eleática (Xenófones, Parmênides, Zenão); Escola da
Pluralidade (Leucipo e Demócrito). Os escritos dos filósofos pré-socráticos
desapareceram com o tempo, e só nos restam alguns fragmentos ou referências feitas
por filósofos posteriores. Sabemos que geralmente escrevia em prosa, abandonando a
forma poética característica das epopeias, dos relatos míticos.

q – Quais São Suas Ideias?

É interessante notar que, enquanto Hesíodo, ao relatar o princípio do mundo


(cosmogonia) e dos deuses (teogonia), referem-se a sua gênese ou origem, as
preocupações dos primeiros pensadores levam à elaboração de uma cosmologia, pois
procuram a racionalidade do universo. Isso significa que, ao perguntarem como seria
possível emergir do Caos um “cosmos” – ou seja, como da confusão inicial surgiu o
mundo ordenado – os pré-socráticos procuram o princípio (a arché) de todas as coisas,
7

entendido este não como o que antecede no tempo, mas enquanto fundamento do ser.
Buscar a arché e explicar qual é o elemento constitutivo de todas as coisas.

As respostas dos filósofos à questão do fundamento das coisas são as mais variadas.
Cada um descobre a arché, a unidade que pode explicar a multiplicidade: para Talles é a
água; para Anaxímenes é o ar; para Demócrito é o átomo; para Empédocles, os
famosos quatro elementos: terra, água, ar e fogo, teoria aceita até o século XVIII,
quando foi criticada por Lavoisier.

Talles, Anaximandro e Anaxímenes – que receberam o nome de pré-socráticos por ter


surgido antes de Sócrates, o grande marco da filosofia Ocidental – os primeiros
filósofos, formam a chamada Escola de Mileto. Apesar das diferentes idéias que
elaboraram, une-os o fato de ter inaugurado a filosofia com a mesma pergunta: o que é
physis? Por esse motivo, Aristóteles, mais tarde, iria denominá-los physiologoi,
“filósofos”, isto é, estudiosos da physis.

ESCOLA JÕNICA: Mileto era a cidade mais importante da Jônia. A filosofia desta
escola era naturalista, científica e monista. Esses filósofos estavam ocupados com a
natureza física do mundo. No seu entender, todas as coisas provêm de um elemento
primordial. Uma matéria primordial seria a fonte para o surgimento das estrelas, dos
animais, das plantas e dos seres humanos. No final, tudo convergirá para esta matéria
original. Essa matéria única possuiria uma força ativa imanente. A partir desse princípio
unitário de todas as coisas teriam surgido a variedade, a multiplicidade e a sucessão dos
fenômenos. É a doutrina do hilozoísmo, ou seja, a matéria animada.

Em Mileto, os pensadores querem desvendar o princípio constitutivo das coisas.

Talles de Mileto – (624-547 a.C.) é considerado o primeiro dos sete sábios da Grécia.
Talles percebeu que todos os organismos contêm umidade. Por isso, acreditava que a
água é a substância universal, que se encontra em todos os organismos. Tudo contém
água.

Se hoje observamos os átomos de hidrogênio, veremos que Talles estava bem próximo
da verdade. Pois o átomo de hidrogênio, principal constituinte da água (H²O), é o átomo
mais simples a partir do qual todos os corpos são constituídos. Talles viajou ao Egito e à
Mesopotâmia, onde estudou astronomia. Com base em seus conhecimentos, previu o
eclipse do sol a 28 de maio de 575 a.C. Elaborou uma teoria para explicar as inundações
do rio Nilo. Talles também solucionou problemas geométricos, sendo conhecido nos
dias de hoje entre os estudiosos de Matemática.

No entender de Talles, a água contém um princípio de movimento, pois pode se dilatar e


se contrair, assumindo as formas líquida, sólida e gasosa. Talles imaginava então que a
água fosse um organismo vivo e possuísse uma alma. Dizia que a Terra flutua sobre a
água.

“E alguns sustentam que a alma está misturada com o universo; talvez por isto chegasse
Talles à opinião de que todas as coisas estão cheias de deuses” (Aristóteles).
8

“Outros julgavam que a Terra repousa sobre a água. Esta é a mais antiga doutrina por
nós conhecida e teria sido defendida por Talles de Mileto” (Aristóteles).

“Talles e sua escola: o cosmos é um” (Aetius).

“A inteligência do cosmos é Deus” (Aetius).

Não se conhece fragmento de algum escrito de Talles. Talles teve participação ativa na
vida política e militar de Mileto.

Anaximandro – (610 – 547 a.C.) também era de Mileto. Viveu neste período, foi
discípulo e sucessor de Talles. Escrevem em prosa. Empregou o termo arché, que
significa principio, fundamento, origem. O principio de todas as coisas é o ilimitado
(apeíron) – o indeterminado, que não impressiona os sentidos e só é conhecido pela
razão. Todas as coisas são limitadas e um elemento particular não pode ser a origem de
toda a realidade. O limitado não pode ser a origem das coisas. Deve haver um principio
que seja anterior e que permita compreender o surgimento de tudo o que é limitado. A
partir do ilimitado compreende-se a origem das coisas e o estabelecimento da
multiplicidade.

A origem das coisas é explicada através da separação dos contrários: quente e frio, seco
e úmido. Existe um movimento eterno e cíclico: o que está separado volta a integrar-se à
unidade primordial. O ciclo destina-se a restabelecer a justiça.

Fragmentos de Anaximandro.

Todas as coisas se dissipam onde tiveram a sua gênese, conforme a necessidade; pois
pagam umas às outras, castigo e expiação pela injustiça, conforme a determinação do
tempo.

O ilimitado é eterno. O ilimitado é imortal e indissolúvel.

A água continuou sendo um elemento importante na reflexão de Anaximandro, mas ele


enfatizou a importância do ilimitado na origem das coisas limitadas, corrigindo e
ampliando o ensinamento de Talles. Anaximandro declarou que, no início, a água cobria
toda a Terra, que os seres vivos surgiram do mar e o ser humano procede dos peixes.

Os gregos constataram que os sentidos não nos proporcionam a verdade; eles nos
induzem à ilusão. A verdade é alcançada mediante o uso da razão.

O apeíron é como o éter, sendo único, infinito e capaz de movimento. Declarou que essa
substancia não gerada e imperecível contém e dirige todas as coisas. O ilimitado não
tem inicio.

Viajou à Babilônia e de lá trouxe o relógio do sol. Determinou a distancia e a grandeza


de vários astros. Influenciado pelas doutrinas hindus sobre a evolução do Universo e a
respeito da Alma Universal (substancia única), formulou uma tese evolucionista. No
9

seu entender, todos os animais, inclusive o homem, foram inicialmente aquáticos. O


Universo inteiro obedece a uma mudança rítmica: há uma criação e uma decomposição
contínuas.

“Anaximandro de Mileto diz que o princípio dos seres é o infinito, porque dele os seres
vêm e a ele retornam pela morte. Desta forma se produzem mundos indeterminados e de
novo se destroem, retornando ao princípio de que são constituídos. Diz-se, portanto, que
o infinito serve para que nunca cesse a produção” (Plutarco, As Opiniões dos Filósofos).

“Ou tudo é principio ou procede de um principio; ora, não há principio do ilimitado,


pois se tivesse seria limitado. [...] E é a Divindade: imortal e imperecível, como o
querem Anaximandro e a maioria dos fisiólogos” (Aristóteles).

Anaxímenes (585-525 a.C.) também era de Mileto. Viveu entre 588 e 524 a.C.
Constatou que o ar é a substancia universal. Identificou o ar com a alma. Afirmou que é
o ar que anima tanto o nosso corpo quanto o mundo inteiro.

Foi discípulo de Anaximandro. Ao adotar o ar como elemento primordial, Anaxímenes


constatou que ele é a substancia básica contida nos organismos, tornando-os diferentes.
O ar rarefeito transforma-se em fogo. O ar condensado transforma-se sucessivamente
em vento, vapor, nuvens, água, terra e pedra. Sua interpretação quantitativa do Universo
ajudou a preparar o caminho para a concepção atômica da matéria. Foi o primeiro a
afirmar que a Lua é iluminada pelo sol.

Fragmento de Anaxímenes:

Como nossa alma, que é ar, nos governa e sustém, assim também o sopro e o ar
abraçam todos os cosmos.

“Resolvi considerar o ar como principio de todos os seres, porque do ar tudo se forma, e


tudo volve a ele, por dissolução. Nossa própria alma, que é ar, nos mantém sob seu
poder, assim como todo o universo tem sopro e ar para envolvê-lo” (Plutarco).

Exerceu influencia sobre Anaxágoras.

Além de sua investigação racional, os milésimos enfatizaram duas idéias que já eram
difundidas no Egito: a eternidade do Universo e a Indestrutibilidade da matéria.

ESCOLA ITÁLICA: Também é conhecida por Pitagórica. Seus principais pensadores


foram: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento e Alcmeão de
Crotona.

Pitágoras: nasceu na ilha de Samos, na Jônia, viveu entre 571 e 497 a.C. viajou ao
Egito e Babilônia, e aprofundou-se em astronomia e geometria. Conheceu as idéias dos
brâmanes sobre a alma do mundo. Formulou o teorema de Pitágoras. Há indícios de que
o teorema tenha sido provado por outra pessoa que fazia parte da fraternidade filosófica.
10

Pitágoras explica a realidade através da matemática, e declara: Todas as coisas são


números.

Pitágoras observou que todas as partes do Universo estão unidas entre si e expressam-se
em números. Todas as coisas obedecem à lei do número. O Universo evolui
harmoniosamente.

Os Pitagóricos atribuem ao número uma importância tal que este se torna a própria
essência das coisas. Os diversos corpos só diferem entre si por seu número de unidades.
Tudo é uma questão de proporções.

A alma individual é uma parte da alma universal, que é imortal.

Os Pitagóricos admitiam a esfericidade da Terra.

Os elementos do número são o par e o impar. Um é determinado e o outro e


indeterminado.

Assim como as ciências físicas e naturais procedem dos milésimos, a matemática e a


física procedem dos Pitagóricos.

Com Pitágoras, a filosofia grega passou a ter uma orientação metafísica. Passou-se
a dar maior atenção a estas questões: a natureza do ser, o sentido da verdade, a função
do divino.

Pitágoras descobriu a relação que existe entre a harmonia dos sons e a longitude das
cordas vibrantes.

Pitágoras instalou-se em Crotona, no sul da Itália. Fundou uma escola que também era
uma seita religiosa e política. Os Pitagóricos ensinavam que a vida especulativa é o
mais alto bem. O homem deve purificar-se dos seus apetites e de suas paixões. A
doutrina era mais religiosa que filosófica.

Pitágoras elaborou uma constituição aristocrática. Seu ensino era secreto, e os iniciados
não tinham o direito de divulgá-lo. O rigor do regime começou a desagradar. Houve
revoltas populares e Pitágoras morreu no decorrer de uma delas.

Assim se expressou Aristóteles em seu livro de Metafísica: “Chamam-se Pitagóricos os


que primeiro se aplicaram às matemáticas e as fizeram progredir. Alimentados com
mais estudos, pensaram que os princípios das matérias são os princípios dos seres.”

Os Pitagóricos estabeleceram uma distinção nítida entre espírito e matéria, entre


harmonia e discordância, entre o bem e o mal. Introduziram o dualismo no
pensamento grego.

Pitágoras não deixou obra escrita. O ponto central de sua doutrina religiosa é a crença
na transmigração das almas. Praticava-se a ascese. A doutrina era secreta. Hípaso não
guardou o segredo e foi excomungado. A doutrina da escola compreendia três pontos
básicos:
11

Primeiro – o número é o primeiro principio. O numero e suas harmonias são os


elementos de toda a realidade;
Segundo – a forma dualista da teoria dos opostos;
Terceiro – a descoberta de verdades de ordem matemática (como o famoso teorema).
Aquilo que já aconteceu uma vez torna a acontecer. Nada é absolutamente novo.
O movimento dos astros produz uma harmonia.

O fogo ocupa o lugar central. A Terra se move em torno do centro, produzindo noite e
dia.

Filolau: nascido em Crotona, o mais importante centro pitagórico, expôs em um livro a


doutrina pitagórica. O livro influenciou o pensamento de Platão.

“O pitagórico Filolau afirma o limitado e o ilimitado como princípio” (Aetius).

1.2 – Pensamentos e Ideias do ser humano que contribuiram para a


formação da história, e que trouxeram o progresso para o
desenvolvimento das sociedades.

2 – ABOLICIONISMO
Veja tópicos sobre:40 - Escravismo, 61 - Iluminismo, 89 - Revolução Francesa.

1 – Introdução:

O minidicionário Larousse define “abolicionismo” como: doutrina que defende a


abolição, que significa ato ou efeito de abolir, revogação (de lei, direito); abolição de
direito. Extinção da Escravatura.

Além da definição dos dicionários, o termo remete a acontecimentos históricos


principalmente os que ocorreram na França durante o século XVIII.

Pode-se dizer que o conjunto de ideias e ações que tem por objetivo a extinção da
escravidão é chamado de “abolicionismo”. As propostas contra a utilização de escravos
para qualquer tipo de serviço ganharam força na época da Revolução Francesa, mas
antes disso, já tinha diversos defensores no continente europeu. No anto de 1788, na
cidade de Paris, foi criada a Sociedade dos Amigos Negros, grupo que foi presidido
por Condorcet, filósofo, matemático e cientista político francês que possuía ideias
relevantes entre os intelectuais do Iluminismo.

a) Histórico:
12

A ideia do abolicionismo ganhou ainda mais relevância com a Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão, que foi proclamada em 1789, levando o pensamento contra a
escravidão até as terras colonizadas pelos franceses naquela época. Com isso,
começaram a surgir algumas leis que abrandaram a escravidão, chegando a extingui-la
em certas regiões. Porém, apenas em 1848 este tipo de regime de trabalho seria
completamente suprimido em terras francesas.

No continente americano, o abolicionismo veio por meio de leis de emancipação que


ocorreram em país como a Colômbia, a Argentina e o México. As nações localizadas na
América mantiveram a escravidão durante o século XIX foram os Estados Unidos,
Brasil e Cuba. No caso dos EUA, a escravidão perdeu força primeiramente no Norte do
país, pois naquela época, era uma região que se encontrava em pleno desenvolvimento
econômico e optava pela mão-de-obra livre. Enquanto isso, no Sul da nação a
escravidão mantinha-se, ligada às grandes propriedades. Segundo alguns historiadores,
a diferença ideológica entre as duas regiões, somada aos feitos do revolucionário John
Brown, são os maiores motivos da Guerra de Secessão, que opôs Norte e Sul.

Na América Latina, o último país a abolir o regime de escravidão foi o Brasil. Os


motivos para esse atraso costumam ser relacionados com o imperador D. Pedro II, a
divisão do território em fazendas, sesmarias e capitanias, além do poder econômico
concentrado em alguns pequenos grupos. No contexto histórico do país, uma
personalidade de destaque na luta contra a escravidão foi Joaquim Nabuco, um
diplomata, político e historiador brasileiro que simbolizou com ênfase as ideias
antiescravistas. Após a luta de diversos grupos e criação de medidas que, aos poucos,
iam atenuando a servidão não remunerada, chegou-se à lei 3.353, de 1888, que aboliu a
escravidão no país.

b) Abolição da Escravatura:

A escravidão negra, iniciada nos primeiros tempos da colonização, século XVI, teve
uma duração de mais de três séculos, com milhares de africanos utilizados como mão-
de-obra na agricultura, mineração e nos serviços domésticos. Ainda no Segundo
Império, a escravidão continuava, sendo rendoso negócio, onde eram investidos
elevados capitais.

Em vários movimentos revolucionários no final do século XVIII e início do Século


XIX, se cogitou da abolição da escravidão, surgindo várias ideias, que não se
concretizaram. Somente no final do século XIX é que as ideias abolicionistas puderam
se propagar porque surgiram condições econômicas, sociais e políticas favoráveis.

A extinção do tráfico negreiro deveu-se às pressões que a Inglaterra exerceu sobre o


governo brasileiro, em decorrência do estágio industrial em que se encontrava no século
XIX.

Em 1807, a Inglaterra aboliu a escravidão em suas colônias e defendia sua extinção em


todo o mundo. Era necessário que os trabalhadores fossem assalariados, visto que
13

escravo nada comprava. Também o dinheiro empregado em escravos poderia passar a


compara produtos ingleses.

Em 1810, pelos Tratados de Comércio, Portugal só poderia fazer tráfico negreiro de


suas colônias africanas;

Em 1815, no congresso de Viena, foi assinada uma convenção luso-inglesa que abolia o
tráfico ao norte do Equador.

Em 1817, a Inglaterra tinha o direito de vistoriar navios suspeitos de tráficos;

Em 1825, para o reconhecimento da nossa Independência, a Inglaterra exigiu a abolição


do tráfico, o que não foi respeitado pelo Brasil.

Em 1833, Feijó proibiu o tráfico e seriam considerados livres os escravos que entrassem
no país após esta lei que, entretanto não foi cumprida;

Em 1845, através do Bill Aberdeen, repressão violenta contra o tráfico negreiro foi
efetuada pelos ingleses, o que, entretanto provoca o aumento de entrada de escravos no
Brasil.

Em 1850, a Lei Eusébio de Queirós, que aboliu o tráfico negreiro no Brasil, trouxe
como consequências: crise de mão-de-obra, gerando a transferência de escravos do
Norte para a cafeicultura sulina, intensificação da imigração estrangeira e o capital
liberado da compra de escravos foram aplicados na indústria.

Em 1854, a Lei Nabuco de Araújo impôs rígida fiscalização policial e severas


penalidades aos traficantes. Relação dos escravos importados pelo Brasil:

Ano Escravos
1842 17.435
1843 19.095
1844 22.849
1845 19.453
1846 50.324
1847 56.172
1848 60.000
1849 54.000
1850 23.000
1851 3.387
1852 700

c) Campanha Abolicionista

Com a Lei Eusébio de Queirós, a campanha abolicionista é intensificada, sofrendo uma


estagnação durante a Guerra do Paraguai, mas, ao seu término, volta a ressurgir.
14

Destacaram-se na campanha pele abolição da escravidão negra nomes importantes da


vida intelectual e política como:

Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, Luís Gama, André Rebouças,
Castro Alves e Hipólito José da Costa.

Pela Lei do Ventre Livre ou Lei Visconde do Rio Branco, em 1871, foram declarados
livres os filhos de mãe-escrava, nascidos a partir da promulgação da lei, mas ficariam
sob a tutela do proprietário da mãe até atingir 8 anos, com opção de mantê-los a seu
serviço até os 21 anos ou receber a indenização de 600 mil réis em títulos do governo,
pela tutela. Também os escravos da Coroa foram libertos.

Liderada por José do Patrocínio, em 1883, surge a “Confederação Abolicionista”,


que passou a coordenar todas as associações que se ramificaram pelo país. Procuravam
mostrar que a escravidão era um entrave ao desenvolvimento do país, além de
corromper o trabalho e a família.

No Ceará, o jangadeiro Francisco Nascimento liderou um movimento contra o


embarque de escravos para o sul.

Particularmente, voluntariamente, alforriavam seus escravos. Festas eram organizadas


para obterem recursos para comprar alforrias de escravos. Em recepções expressivas,
entregavam-se cartas de alforria, como na organizada em homenagem pelo regresso de
Carlos Gomes, músico brasileiro, vitorioso na Europa. Apoio do clube dos advogados.
O apoio do Exército se torna presente na recusa em capturar negros fugitivos.
Intelectuais produziam poemas, panfletos, peças de teatro, criticando a escravidão.

Em 1884, os governos do Ceará e do Amazonas resolveram, num gesto pioneiro,


abolir a escravidão nestas províncias.

A Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-Cotegipe, 1885, concedia a liberdade aos


escravos com mais de 65 nos, tendo que trabalhar mais 3 anos para o senhor,
gratuitamente, como indenização. A lei foi proposta pelo Gabinete Saraiva, e aprovada
pelo Gabinete presidido pelo barão de Cotegipe. Foi mais um paliativo, porque poucos
negros atingiam a idade prevista na lei, e seria preciso um longo processo até se
extinguir a escravidão.

A “LEI AUREA”, em 13 de maio de 1888, promoveu a extinção definitiva da


escravidão no Brasil. Foi assinada pela princesa Isabel, que se encontrava no trono
do Brasil como regente. A escravidão já não era o esteio indispensável à economia e as
pressões surgidas das campanhas abolicionistas, da imprensa e dos vários setores da
opinião pública, fazem da Lei Áurea o complemento de um processo irreversível.

3 – ABSOLUTISMO

1 – Introdução:
15

 O que é o Absolutismo?

É um regime de governo em que o poder se concentra na vontade de uma só pessoa ou


modernamente, na de um grupo econômico ou militar. Esse regime exclui a
interferência da vontade popular em assuntos de governança.

A palavra “governo” deriva do latim “gubernator”, que significa timoneiro. Bem antes
da civilização romana, sociedades primitivas já haviam começado a desenvolver
instituições especiais destinadas a cuidar de seu bem-estar comum e tomar decisões
sobre assuntos que afetassem o povo e o estado como todo. Governo eficiente é aquele
capaz de encontrar um equilíbrio entre pressões conflitantes e de conduzir o estado na
direção dos objetivos da comunidade.

As ideias renovadoras do século XVIII originaram grandes movimentos populares,


cujas consequências mais notáveis foram: A Independência dos Estados Unidos, em
1776; A Revolução Francesa, em 1789. Os líderes desses movimentos renovadores
encarnavam O Absolutismo no conjunto de monarcas europeus da época. As mesmas
idéias, difundidas na América do Sul, provocaram a libertação de várias colônias
espanholas; na América Latina, os Revolucionários apontaram como exemplos de
monarcas absolutos a Fernando VII, da Espanha e D. João VI, de Portugal.

O absolutismo foi um sistema político caracterizado pela concentração de todos os


poderes nas mãos do rei. No governo absolutista, a vontade do rei é a lei. Justificavam-
se com duas teorias diferentes:

1ª. ) Teoria do direito divino, de Bossuet, segundo a qual o rei representa Deus na terra.
Logo, somente a ele se devia prestar contas;

2ª. ) Teoria de Thomas Hobbes, que diz: “os homens viviam em guerra; por isso
entregaram todos os seus direitos a um governo, por necessidade de segurança e
proteção”. Tal teoria está exposta no seu livro O Leviatã.

2 – Causas Do Absolutismo:

Esta forma de governo foi uma decorrência dos seguintes fatores:

1. Desenvolvimento do comércio;
2. Formação da Burguesia;
3. Aliança entre o rei e a Burguesia.

a) Absolutismo No Brasil

O governo Brasileiro foi absolutista até que jurou a Constituição de 25 de março de


1824. Apesar de juras de lealdade à Constituição Portuguesa e à Espanhola; já em 1821,
entretanto, tinham sido editados os bandos (veja), proclamando a adoção do regime
16

constitucional. Encorajados pela província Cisplatina, muitos movimentos se fizeram


para anular o regime constitucional e voltar ao absolutismo.

Em maio de 1824, aquela província – atualmente, Uruguai – jurou a Constituição


Brasileira e inteira obediência a D. Pedro I; ela foi incorporada ao Império e foi
representada junto ao Parlamento por dois deputados e um senador e teve a dirigi-la um
governador provincial.

Em dezembro de 1824, porém, discordando de muitos pontos da Constituição, o cabido


de Montevidéu enviou delegação ao rio para pedir o restabelecimento do absolutismo,
mas sua tentativa malogrou.

Em 1825, as vilas de Taubaté, São Luiz do Paraitinga e Pindamonhangaba, na província


de São Paulo, pediram o restabelecimento do absolutismo, o que também lhes foi
negado; esse movimento prosseguiu sem sucesso nenhum até 1830, quando seus
integrantes preparam um golpe para dissolução da Assembleia Geral, que também
vingou.

Essa tradição constitucionalista e democrática prosseguiu, no Brasil, durante toda a fase


do segundo Império, e da chamada República Velha, até 1930. Dessa época para cá,
houve alguns movimentos de tendência absolutistas, como a Revolução de 30, que
provocou a Revolução Constitucionalista em São Paulo em 1932; em 1937 foi instituído
o Estado Novo, com a Ditadura Vargas, que ficou no governo até 1945, quando foi
deposto. Depois de vários governos eleitos pelo povo, houve em 1964 a Revolução de
Março, pela qual o Presidente e os Governadores são eleitos pelo Congresso e pelas
Assembléias Estaduais, respectivamente, e que dá ao presidente da república plenos
poderes, através da edição dos (AI), atos institucionais.

b) Absolutismo Na França

A França foi implicada territorialmente, depois da Guerra dos 100 anos. A luta pela
centralização do poder real foi feita por Carlos VII e Luiz XI.

Este último, através da intriga e do suborno, conseguiu dominar a nobreza. Com as


guerras religiosas do século XVI, a crise econômica assolou a França, e o poder real se
enfraqueceu.

O governo absolutista surgiu no século XVI com a dinastia dos BOURBONS, depois
das guerras religiosas entre CATÓLICOS E PROTESTANTES. O protestante Henrique
de Bourbon, casado com a filha de Catarina de Médicis, herdou o trono Francês.
Derrotou Felipe II da Espanha, que havia apoiado os católicos para impedir sua
ascensão ao poder, abjurou o CALVINISMO e foi coroado rei de França com o nome
de Henrique IV.

Em 1598, Henrique IV assinou o edito de Nantes, outorgando liberdade religiosa e


política a católicos e Hunguenotes. A França foi assim o primeiro país em que vigorou a
17

liberdade de culto. Henrique IV ainda restabeleceu a economia francesa, depois da


guerra, incentivando a agricultura, o comércio e a indústria.

Foi o rei mais popular que teve a França na idade moderna. Seu ministro, Sully,
protegeu especialmente os camponeses. Entretanto, em 1610 um fanático católico, de
nome Ravailac, assassinou o rei.

Luis XIII: era filho de Henrique IV. Durante sua menoridade, sua mãe Maria de Médicis
foi regente, deixando-se dominar por um casal de aventureiros italianos. A nobreza
francesa revoltou-se contra o governo dos estrangeiros, tornando-se bastante agitado
esse período. Quando Luis XIII assumiu o poder, admitiu como ministro o Cardeal
Richelieu. Os objetivos de Richelieu no governo foram:

1. Fortalecer o poder real, para o que diminuiu o poder da nobreza e combateu os


protestantes, que formavam um partido político muito forte. O cardeal lhes tirou
esse direito;

2. Abalar o poderio da Casa de Habsburgo – fez entrar a França na guerra dos


trinta anos, ao lado dos protestantes, para enfraquecer os habsburgos. Sua
participação, indireta no início, tornou-se direta depois da morte de Gustavo
Adolfo, da Suécia. Além de ser um hábil político, Richelieu incentivou a cultura,
criando a Academia Francesa de Letras.

Luis XIV – menoridade de Luiz XIV e o cardeal Mazarino: durante a menoridade do


rei, ficou como regente do trona sua mãe, Ana D’Austria. O cardeal Mazarino havia
sido nomeado por Luis VIII para substituir Richelieu no cargo de primeiro ministro.
Continuou a política do seu antecessor, mas teve de enfrentar uma difícil situação
econômica, depois da guerra dos trinta anos. Criou novos impostos e fez empréstimos
forçados.

3. Mazarino e Fronda: a Fronda foi uma guerra civil que durou 4 anos (1648 –
1652). Recebeu este nome porque é comparada a um jogo de crianças que
consiste em lançar pedras com fundas.
O parlamento revoltou-se por não ser consultado e recebeu o apoio do povo de
Paris. Esta foi a “Fronda Parlamentar”, que durou somente três meses. Foi
seguida pela revolta dos príncipes, que contou com o apoio do parlamento.
Mazarino conseguiu derrotá-los. O povo, cansado de guerras, recebeu
esperançoso o jovem rei Luis XIV, já na maioridade;

4. O governo Absoluto de Luis XIV: o absolutismo atingiu o apogeu com este rei,
que se considerou representante de Deus. A ele, é atribuída a frase: ”o estado sou
eu”. Seu emblema foi o sol. Instalou-se no palácio de Versalhes, que mandara
construir e teve a corte mais luxuosa da Europa.
Depois da morte de Mazarino, fez um governo pessoal. Trabalhava diariamente
com seus ministros, mas todas as decisões importantes eram tomadas por ele
18

próprio. Dentre os seus ministros se destacaram Colbert, que administrou as


finanças: Louvois, o exército; e Vauban, a defesa;

5. Colbert e o Mercantilismo: Para aumentar as reservas de metal precioso no país,


Colbert tomou várias medidas, aplicando a política mercantilista:
a) Protegeu e regulamentou a indústria;
b) Organizou a marinha e melhorou os pontos para enfrentar os holandeses;
c) Criou companhias de comércio;

Louvois e Vauban se encarregaram da defesa do país.

6. O século Francês: o “rei sol” protegeu a cultura. Grandes escritores e artistas


viveram em sua corte. Na literatura destacaram-se: corneille, Racine, Moliére,
La Fontaine. Nas artes plásticas celebrizou-se.

7. Revogação do Edito de Nantes: Em 1685, Luis XIV anulou o Edito de Nantes,


que dera liberdade religiosa a sua terra, o que forçou numerosos protestantes a
saírem da França, e repercutiu também na Indústria e no comércio, que sofreram
um grande golpe.

8. Guerras: para enfrentar a família do Habsburgos, Luis XIV entrou em várias


guerras:

a) Guerra pela conquista de Flandes, que pertencia à Espanha;


b) Guerra contra a Holanda, que tomara o partido de Flandes;
c) Guerra contra a liga de Augsburgo, ou aliança defensiva de vários países contra
a França;
d) Guerra da Sucessão na Espanha, pela qual defendeu o trono espanhol para seu
neto Felipe de Anjou, que seria mais tarde Felipe V.

Saiu vitorioso em todas estas lutas, mas em consequência o tesouro francês sofreu um
enorme desgaste, que seu sucessor não conseguiu superar.

Luís XV: neto de Luís XIV, este rei abandonou o governo nas mãos de seus ministros e
raramente presidia o conselho. Dedicava-se à caça e às festas da corte. Durante o seu
reinado os filósofos liberais começaram a atacar o absolutismo. Dois acontecimentos
desastrosos agravaram a crise francesa:

1. O sistema Law: Law era um economista escocês. Obteve do governo a emissão


de papel-moeda a fim de incentivar a formação de companhias de comércio. O
dinheiro desvalorizou-se provocando elevação do custo de vida e gerando crise
social. Aumentou a reação contra a monarquia.
19

2. Guerra dos sete anos, 1756 – 1763: esta guerra foi provocada pela disputa
comercial e colonialista entre a França e a Inglaterra. A nação francesa foi
derrotada e perdeu para a Inglaterra, o Canadá e a Índia.

Luís XVI: neto de Luís XV, este monarca encontrou a França em crise. Teve bons
administradores financeiros, mas que não conseguiram debelar a crise, em grande parte
devida à oposição do clero e da nobreza.

Em 1789 começou a Revolução Francesa, durante a qual o rei foi deposto e condenado à
morte.

c) Absolutismo Na Inglaterra

Os reis absolutistas da Inglaterra pertenceram às dinastias “Tudor e Stuard”

1 – Dinastia Tudor – Henrique VII tomou o poder depois da guerra das duas rosas e
iniciou a unificação do país com a ajuda da burguesia e parte da nobreza, interessada no
comércio da lã.

Henrique VIII, filho do precedente, manteve aberto o Parlamento, mas o manobrou à


sua vontade. Quando fez a reforma religiosa, criando a Igreja Anglicana, obrigou o
Parlamento a assinar a Ata da Supremacia, que outorgava ao rei a autoridade suprema
sobra a Igreja da Inglaterra.

Elizabeth I, filha de Henrique VIII, fortaleceu economicamente o país, aplicando a


política mercantilista:

1 Estimulou a produção;
2 Organizou a marinha;
3 Iniciou a conquista da América Inglesa; durante o seu reinado Walter Raleigh
conquistou a Virgínia, e Drake fez uma viagem de circunavegação.

Derrotou Felipe II, da Espanha, enfraquecendo o seu poderio naval e criou uma nova
Igreja Anglicana que era um misto de catolicismo e calvinismo.

Elizabeht I substituída por seu primo Jaime VI, da Escócia, filho de Maria stuard.

2 – Dinastia Stuard: Jaime I (Jaime VI da Escócia) estabeleceu a monarquia do direito


divino, perseguiu católico e aumentou impostos. Durante o seu reinado foi que muitos
dos puritanos vieram para América do Norte, na expedição do “Mayflower”. Quando
morreu, foi substituído por seu filho Carlos I.

Carlos I continuou a política do pai. Em 1628 o Parlamento Inglês o obrigou assinar a


“Petição de Direitos”, que proibia ao rei lançar impostos sem consultar o parlamento.
Carlos I não o respeitou, continuou a criar novos impostos e a forçar empréstimos.
Obrigou as cidades do interior a pagarem uma taxa naval “ship Money”, que antes era
cobrada somente às cidades costeiras, em época de guerra.
20

Em 1640 estourou uma Revolução dos presbiterianos da Escócia porque o rei tentara
impor uma liturgia anglicana ao país. Carlos I convocou o Parlamento, que ficou
reunido durante 15 anos e chamado o “Longo Parlamento”.

O Parlamento mandou prender os ministros do rei e proibiu-o de organizar o seu


exército sem o consentimento do mesmo parlamento. O rei invadiu a Câmara dos
Comuns para prender alguns deputados, mas nesta altura o povo apoiou o Parlamento,
eclodindo a guerra civil.

Guerra Civil: eram os “cavaleiros”, partidários do rei, contra os “Cabeças Redondas”,


favoráveis ao Parlamento. Os cavaleiros foram derrotados. Dentre os vencedores, a
maioria queria criar uma monarquia limitada, ficando o rei apenas com o poder
executivo. A maioria, liderada por Oliver Cromwell, puritano fanático e deputado à
Câmara dos Comuns, continuou resistindo ao rei que acabou sendo deposto e
condenado à morte.

3 – República de Cromwell:

Cromwell dissolveu o Parlamento e fez um governo ditatorial. Recebeu o título de


“Lorde Protetor da Inglaterra” e governou durante dez anos.

Durante esse período Cromwell sufocou uma revolta dos católicos da Irlanda. Os
proprietários irlandeses foram transformados em arrendatários ou empregados ingleses.
Sufocou uma revolta realista na Escócia, país que reconhecera Carlos II como rei. Em
1651 assinou a Ata da Navegação e Comércio, que proibia aos navios de países
estrangeiros, a não ser de país produtores, tocar portos ingleses ou de suas colônias.

Esta Ata obrigou os ingleses a irem buscar com os seus navios produtos de que
necessitavam para o que foram obrigados a desenvolver a sua marinha. Abalou-se o
domínio holandês nos mares, isto foi a causa de uma guerra entre a Holanda e a
Inglaterra.

4 – Restauração dos Stuarts:

Carlos II tinha propensão para o Catolicismo, mas foi obrigado pelo Parlamento, a
respeitar o anglicanismo. Durante o seu reinado surgiram dois partidos políticos no
Parlamento: Tory e Whig, sendo o primeiro conservador e favorável à preponderância
do rei, ao passo que o segundo era liberal e favorável à soberania do Parlamento.

5 – A Revolução Gloriosa:
21

Jaime II (VII, da Escócia), que sucedeu a Carlos II, era declaradamente católico, mas as
suas filhas tinham sido educadas no protestantismo. Por isso, o Parlamento o tolerou
para impedir nova guerra civil. Mas, antes que o filho de sua segunda esposa que era
católica, o sucedeu, o Parlamento o depôs, com a chamada “Revolução Gloriosa”, de
sentido duplamente liberal.

O Parlamento assumiu o poder e chamou Guilherme de Orange (rei da Holanda) e


Maria II, filha de Jaime II, para ocuparem o trono inglês. Os novos reis foram obrigados
a assinar a Declaração dos Direitos, documento que, segundo já foi mencionado,
limitava o poder real, impedindo o lançamento de impostos, anulação de leis e
organização de exército permanente, sem consulta ao parlamento.

Consequências: esta revolução aboliu definitivamente o Absolutismo na Inglaterra e


influenciou as revoluções americanas e francesas.

d) Absolutismo Na Europa Central

Desde o século XVIII os Estados da Europa Central passaram a ser chamados de


Áustria.

1. Áustria: o governo absolutista foi exercido pela família dos Habsburgos.

Maria Teresa organizou um exército nacional e dedicou um cuidado especial à


educação. Perdeu a silésio para Frederico II, mas conquistou parte da Polônia, país
dividido entre Áustria, Russia e Prussia.

2. Prussia: foi formada pelo ducado de Brandenburgo, governado pela família


Hohenzolern, desde o século XV e pelos bens da ordem teutônica, que Alberto
de Brandenburgo, na época da Reforma Protestante (veja Reforma),
transformara em ducado hereditário: o ducado da Prussia.
Da união entre Brandenburgo e Prussia surgiu no século XVII o Estado da
Prussia, governado pela família Hohenzolern.
Frederico Guilherme I, no século XVIII, fez um governo bem rigoroso.
Disciplinou o povo e organizou um exercito perfeito. Criou os gigantes de
Potsdam, regimento formado por homens altos e fortes, que nas guerras
formavam as primeiras fileiras para impressionar o inimigo. Frederico ficou
conhecido como “o rei sargento”.

3. Rússia: o absolutismo foi o regime político que vigorou na Rússia durante


grande parte de sua história.
No século XVII a família Romanoff tomou o poder. Pedro, o grande
ocidentalizou o país, que até o século XVII fora uma nação oriental. Este rei
tomou as seguintes medidas:
 Adotou a moda e os costumes europeus;
 Ordenou a igreja e a nobreza;
 Fundou a capital em são Petersburgo;
22

 Lutou contra a Suécia pela conquista do mar Báltico, o qual facilitaria as


comunicações com a Europa.

4 – ABSTRACIONISMO

Definição:

Tendências de vanguarda das artes plásticas do início do século XX. As obras


abandonam a representação do real, o figurativismo, para concentrar-se em formas e
cores. Há dois tipos de abstracionismo: o informal (ou subjetivo), que privilegia as
formas livres; e o geométrico (ou objetivo), de técnica mais rigorosa. Entre os ícones da
tendência estão o russo Wassily Kandinsky e o holandês Piet Mondrin.

5 – ADVENTISMO

1 – Introdução:

O Adventismo é um movimento religioso cristão iniciado no século XX, dentro do


contexto do Segundo Grande Reavivamento dos Estados Unidos.

O nome refere-se à crença na iminente segunda vinda de Jesus a terra. O movimento


começou com Guilherme Miller, cujos seguidores ficaram conhecidos como Mileritas.

O Adventismo surgiu após a interpretação Bíblica de Guilherme Miller, de que Jesus


voltaria na década de 1840. Miller interpretou a profecia de Daniel 8.14: “Até duas mil
e trezentas tardes e manhãs; e o Santuário será purificado seria feita com fogo por
ocasião da vinda de Cristo”. Hoje, a maior igreja dentro do movimento é a Igreja
Adventista do Sétimo Dia.

A Família de Igrejas Adventistas é considerada como protestantes conservadoras.


Embora, tenham muito em comum, como uma hermenêutica voltada à Escatologia, a
Teologia dela difere em vários aspectos como o estado inconsciente dos mortos, ao
castigo no fim dos tempos dos ímpios, a sua aniquilação como um grande fogo quando
os ímpios se levantarão para cercar a Nova Jerusalém, natureza da imortalidade,
regulação dietárias, guarda do sábado, a ressurreição dos ímpios e a divergência do
Santuário de Daniel 8 se refere ao que está no céu e na terra.

2 – Indice:

2.1 – Origens;
2.2 – Doutrinas;
23

3 – Classificação de Grupos:

3.1 – Adventistas Dominicais;

3.2 – Adventistas Sabatistas (Igrejas).

2 – História:

2.1 – Origens:

A fundação do Adventismo está associada a um período de efervescência religiosa nos


Estados Unidos no final do século XVIII e primeira metade do século XX, no Nordeste
dos Estados Unidos.

Deste modo, o surgimento das sociedades bíblicas, o não conformismo com o sistema
religioso estebelecido, reuniões de reavivamento (revivals), o estilo evangelístico e
proselitista da religião permitiram o surgimento do movimento baseado na
interpretação das profecias do Livro de Daniel 7 e 8 por Guilherme Miller, membro
da Igreja Batista, e outros líderes religiosos estatelando o fim do mundo e o retorno de
Jesus Cristo para o ano de 1843 e depois para 1844.

Pessoas de várias denominações religiosas aderiram a este movimento religioso, embora


o mesmo não tivesse uma organização eclesiástica formal, e tivesse pessoas das mais
diferentes vertentes protestantes. Após o que ficou conhecido como O Grande
Desapontamento, o grupo se dispersou em outros menores. Alguns destes grupos
permaneceram marcando datas posteriores para o retorno de Cristo. Outros não
demonstraram interesse algum por religião instituída. Alguns voltaram para suas
denominações de origens e se desculparam com os líderes, que em muitos casos, os
haviam expulsado um pouco antes.

Depois de uma reavaliação dos estudos de Miller, alguns desses grupos menores
persistiram no estudo das profecias, mas, com uma nova interpretação ao retorno de
Cristo, surgindo grupos como a Igreja Adventista do Sétimo Dia, as Igrejas de Deus
Adventistas e a Igreja Cristã do Advento. Em comuns retiveram o seno da iminência da
volta de Jesus Cristo.

2.2 – Doutrina:

Apoiando-se em textos bíblicos, esse grupo de pessoas defende que o retorno glorioso
de Jesus Cristo que se dará de maneira iminente. Sua atuação missionária tem por base a
ordem de Cristo dado no mesmo evangelho de Mateus 28.19: “Portanto ide, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito
Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu
estou convosco todos os dias, até a consumação do séculos.”

Há diversos grupos adventistas e com consequentes variações em certos pontos


doutrinários peculiares, alguns creem no sono da alma entre a morte e a ressurreição,
24

outros incluem a guarda do sábado, regulação dietária, juízo investigativo, aniquilação


da alma dos pecadores e outras doutrinas baseadas na hermenêutica da Bíblia.

3 – Classificação dos Grupos:

3.1 – Adventistas Dominicais.

 Igreja Evangélica Adventista (Evangelical Adventist Church) – organizada em


1859, é a instituição herdeira da Associação Milenial Americana. Acredita na
consciência da alma após a morte e que os justos ressuscitarão primeiro, depois
haverá um julgamento dos ímpios e a condenação desses no fogo eterno.
Virtualmente extinguiu-se nos Estados Unidos depois de 1916.

 Igreja Cristã do Advento (Advent Christian Church) – acredita na imortalidade


condicional da alma e na aniquilação dos ímpios.

 União do Advento e Vida (Life Advent Union) – fundada por Geoge Storrs em
1863, uniu-se com a Igreja Crista do Advento em 1964.

3.2 – Adventistas Sabatistas (Igrejas).

 Igreja Adventista do Sétimo Dia;


 Igreja Adventista da Promessa (Pentecostal);
 Igreja Adventista do Sétimo Dia Movimento de Reforma;
 Igreja Adventista do Sétimo Dia Movimento do Advento;
 Igreja Adventista Brasileira;
 Igreja Cristã Adventista (Unitariana) Este grupo não acredita na Trindade;
 Igreja de Deus;
 Conferência Geral da Igreja de Deus;
 Igreja de Deus do Sétimo Dia;
 Beth B’nei Tsion – Templo Judaico Adventista (Sinagoga Adventista).

6 – AGNOSTICISMO

1 – Introdução:

Sistema filosófico, segundo o qual o absoluto é inacessível ao espírito; atitude mental de


renúncia ao conhecimento das razões últimas de tudo.

a) Conceito;
25

b) Teses agnósticas;
c) Indiferença Religiosa.

Conceito:

(a-gnose, “não-conhecimento”) Doutrina segundo a qual o fundo das coisas é


incognoscível, não podendo ser conhecido pelo espírito humano.

2 – Teses Agnósticas

São duas as teses agnósticas: a) restrição do poder da razão ao âmbito da ciência; b)


negação da transcendência (Deus) e do mundo do espírito (alma). Ainda que, nas
intenções de Kant, o agnosticismo tivesse como objetivo tutelar os valores maiores e
religiosos dos ataques da razão, de fato, porém, com a eliminação da metafísica e com a
eliminação das bases racionais da religião, ele desembocou inevitavelmente no “eclipse
do sagrado”, na “morte de Deus”, no ateísmo. Ao mesmo tempo, o destronamento da
razão a mera razão instrumental provocou o “eclipse da razão” (Horkheimer), ou
melhor, sua “destruição” (Adorno). Assim, a destruição da razão causou, além da
“morte de Deus”, também a “morte do homem” (Foucault).

Enquanto o ateísmo é, quase sempre, indicador de uma atitude de soberba (a


reivindicação de títulos divinos, por parte do homem), aparentemente o agnosticismo
configura-se como um ato de humildade. Porém, se prestar atenção, o agnosticismo não
é uma profissão de humildade, destina a manter a razão dentro dos seus confins, mas
sim um ato de velada soberba, que prefere ignorar as múltiplas exigências do mundo do
espírito (do mundo da própria alma e das profundezas do universo), a prestar atenção ao
seu significado.

A resposta ao agnosticismo não deve ser buscada na religião e na fé (como prefere fazer
hoje tanta gente, caindo assim nas armadilhas do fideísmo), e assim, na filosofia, porque
de fato aí se trata, antes de tudo, de uma posição filosófica.

O agnosticismo é uma das doutrinas sobre o valor do conhecimento; por isso, o terreno
sobre o qual devemos combatê-lo é o da epistemologia. Aqui não nos é possível tratar
do assunto amplamente, limitar-nos-emos a indicar uma pista para escapar do
agnosticismo.

Para sair desse erro é preciso, antes de tudo, efetuar um acurado exame fenomenológico
do conhecimento: deve ficar estabelecido, através da intencionalidade, que o nosso
conhecimento tem valor objetivo: tende ao e entende o ser, e não apenas sua aparência;
visa às coisas, e não só aos fenômenos.

Essa intencionalidade objetiva vale também para a experiência religiosa: seu objetivo
não são os desejos, sentimentos, ilusões, utopias, mas hierofanias, as manifestações do
sagrado na natureza e na história.
26

Em segundo lugar, para escapar do agnosticismo deve-se apurar, mediante a crítica do


conhecimento, que a razão possui o poder de alcançar a verdade: não só procura as
coisas, mas de fato alcança, apropria-se delas, abraça-as, compreende-as intimamente.
Pode-se realizar a conquista da certeza da verdade com vários procedimentos: o
aristotélico da incontestabilidade de dos primeiros princípios (em particular do principio
de não-contradição), o agostiniano, do “si fallor sum” (se me engano, existo), o
cartesiano, do “cogito ergo sum” (penso, logo existo).

Nesta altura, conquistado o terreno do realismo, mediante a fenomenologia, e tomando


de assalto o castelo da verdade com as armas da crítica do conhecimento, de si o
agnosticismo foi derrotado e posto em fuga. Agora, a via que leva à fortaleza da religião
(Deus) está completamente desimpedida. Mas, se de fato, a razão humana está em
condição de se apossar do tesouro escondido no SANCTA SANTORUM de Deus
(adquirindo algum conhecimento verídico de Deus), é algo que ainda precisa ser
provado.

Segundo T.H.Huxley, que introduziu o termo agnosticismo, este indica uma posição de
impotência da razão em face de determinadas realidades, em particular de Deus e da
alma, das quais ela não seria capaz de ter nenhum conhecimento seguro.

No campo filosófico chama-se de agnóstica, por exemplo, a posição de Kant, que


restringe os poderes do conhecimento humano ao âmbito dos fenômenos, nada de certo
podendo saber a respeito de Deus e da alma, realidade pertencente ao âmbito do
numinoso (coisa em si). Substancialmente agnóstica é também a posição dos ofensores
do “pensamento frágil”, os quais sustentam que a filosofia não está em condição de
compreender nenhuma verdade absoluta, seja do ponto de vista metafísico ou moral.

Segundo os “fragilistas”, tais verdades estão fora do alcance da razão. Esta deve
limitar-se a descrever a realidade, a atenção, os fenômenos, os eventos, aquilo que
acontece momento a momento, sem bancar suas razões e o sentido transcendente de
cada acontecimento. A respeito dos “últimos porquês”, não só é impossível ter uma
resposta para eles, como até mesmo inoportuno propor essas questões. Em teologia, é
agnóstica a posição de Maimônides, para que de Deus a mente humana só pode ter
conceitos negativos.

7 - ANARQUISMO

1 – Introdução:

“Qualquer pessoa que tenha lida a história da humanidade aprendeu que a


desobediência é a virtude original do homem”. (Oscar Wilde).
27

Eu aceito com entusiasmo o lema que afirma: “o melhor governo é aquele que menos
governa”; e gostaria de vê-lo posto em prática de forma sistemática. Uma vez posto em
prática, ele acabaria resultando em algo que também acredito: “o melhor governo é
aquele que não governa”; e quando os homens estiverem preparados, será exatamente
este tipo de governo que irão ter.

Conceito:

Sistema (de governo) Político que defende a Anarquia; ação ou movimento anarquista;

Anarquia: Negação do principio da autoridade; falta de governo ou de chefe; sociedade


política constituída sem governo; desordem, confusão, barafunda e desmoralização (do
grego. Anchia).

Anarquista: sequitário do anarquismo; desordeiro; aquele que anarquiza ou


anarquizador; por em estdo anárquico; excitar à anarquia, sublevar, desorganizar e
desmoralizar.

Proudhon (1809 – 1865) e Bakunin (1814 – 1876), contemporâneo de Marx, com ele
partilham as críticas ao sistema capitalista, à propriedade privada dos meios de
produção e a exploração da classe proletária pela burguesia. Concordam também que as
revoluções Francesas e Americana foram mais políticas que sociais, pois elas teriam
renovado os padrões de autoridade, dando poderes às novas classes, mas não
modificaram basicamente a estrutura social e econômica da França e dos Estados
Unidos.

A relação de amizade e admiração de Proudhon e Bakunin com Marx rompeu-se,


porém, a partir de divergências que se tornaram cada vez mais agudas. O nó do
desentendimento encontra-se na teoria Marxista da ditadura do proletariado. Como
vimos, Marx preconizava um degrau necessário antes do advento do Comunismo,
quando a força do proletariado, exercida através do partido, evitaria a contrarrevolução
da classe deposta. Só depois o poder se dissolveria rumo à sociedade sem Estado.

Bakunin acusa Marx de otimista, não considerando ser possível evitar a rígida
oligarquia de funcionários públicos e tecnocratas que tenderiam a se perpetuar no poder.

2 – Principais Ideias:

É comum às pessoas identificarem anarquismo com “casos”, “bagunça”. Etc. na


verdade, não se trata disso. Etimologicamente, a palavra é formada pelo sufixo “archon”
que significa em grego “governante”; e “an” que significa “sem”. Ou seja, “sem
governante”.

O principio que rege o anarquismo está na declaração de que o Estado é nocivo e


desnecessário, pois, há formas alternativas de organização voluntária.
28

Se a religião, o Estado e a propriedade contribuíram em determinado momento histórico


para o desenvolvimento do homem, passam a ser restrições a sua emancipação.

No entanto, a tese anarquista da negação do Estado não deve levar as pessoas a


pensarem que se trata de uma proposta individualista, pois a organização não coercitiva
se funda na cooperação e na aceitação da comunidade. O homem é um ser naturalmente
capaz de viver em paz com seus semelhantes, mas as instituições autoritárias deformam
e atrofiam suas tendências cooperativas. Surge, então, um aparente paradoxo, ou seja, a
realização da ordem na anarquia; essa ordem na anarquia é uma ordem natural.

A sociedade estatal possui uma estrutura cuja construção é artificial, pois cria uma
pirâmide em que a ordem é imposta de cima para baixo. A sociedade anarquista seria
não uma estrutura, mas um organismo que cresce de acordo com as leis da natureza, e a
ordem natural se expressa pela autodisciplina e cooperação voluntária e não pela
decisão hierárquica.

Por isso, os anarquistas repudiam até a formação de partidos, já que estes prejudicam a
responsabilidade de ação, tendem a se burocratizar e a exercer forma de poder. Também
temem as estruturas teóricas, porque podem tornar-se um corpo dogmático. Daí o
anarquismo ser o mais conhecido como movimento vivo e não tanto como doutrina. A
ausência de controle e de poder torna o movimento anarquista oscilante, sempre frágil e
flexível, podendo ficar inativo por muito tempo para surgir espontaneamente quando
necessário.

A crítica à existência do Estado leva à tentativa de inversão da pirâmide de poder que o


Estado representa; a organização social que deriva dessa inversão rege-se pelo principio
da descentralização, procurando estabelecer a forma mais direta de relação, ou seja, a do
contrato “cara a cara”. A responsabilidade começa a partir dos núcleos vitais da vida
social, onde também são tomadas as decisões: o local de trabalho, os bairros. Quando
isso não é possível por envolver outros segmentos, formam-se federações. O
importante, porém, é manter a participação, a colaboração, a consulta direta entre as
pessoas envolvidas.

Os anarquistas criticam a forma tradicional de democracia parlamentar, pois a


representação contém o risco de alçar ao poder um demagogo. Quando a decisão
envolve áreas mais amplas, havendo necessidade de convocação de assembléia, a
proposta é de escolha de delegados por tempo limitado e sujeitos à revogação de seu
mandato.

Além da crítica feita ao Estado, os anarquistas preveem que a supressão da propriedade


privada dos meios de produção deve dar lugar a formas de organização que estimulem
as ações dos indivíduos livres no corpo coletivo, o que poderia se tornar possível na
comuna livre e em empresas dirigidas coletivamente.

3 – Representantes:
29

O mais brilhante anarquista foi Bakunin, filho de ricos aristocratas russos. Tornou-se
revolucionário graças à influência de Proudhon. Participou das rebeliões que ocorreram
em Paris, Praga e Dresden em 1848 – 1848, tendo sido preso por vários anos e depois
exilado na Sibéria. De volta à agitação, em 1870 tomou parte nas revoltas de Lyon e
Bolonha. Feitas cerradas críticas a Marx, tendo sido expulso da Primeira Internacional
em 1872. Com outros companheiros fundou a Internacional Saint-Imier. Sua obra
vigorosa e apaixonada, mas mal organizada, pois dificilmente Bakunin terminava o que
começava, era, sobretudo um ativista.

Kropótkin (1842 – 1912), ao contrário de Bakunin, defende a ação não-violenta e luta


pelo respeito à vida humana, condenando a pena de morte, a tortura e qualquer forma de
castigo imposta ao homem pelo homem.

O romancista Leo Tolstói (1823-1910), embora se intitulasse um “pacifista Cristão”,


tinha opiniões sobre o governo e a autoridade que o aproximam dos ideais anarquistas.
A pregação de resistência não violenta influenciou Gandhi na estratégia da
desobediência civil durante a luta pela Independência da Índia.

Entre defensores e simpatizantes, o anarquismo conta com artistas, jornalistas e


intelectuais em geral, como Oscar Wilde, George Orwell, Aldons, Huxley, Picasso,
Alex Comford, Herbert Read, Emma Goldman, Malatesta e George Woodecock.

4 – Movimentos

No final do século XIX, o movimento sindical deu ampla força ao anarquismo, gerando
o movimento chamado anarco-sindicalismo, pelo qual os sindicatos não deveriam se
preocupar apenas em conseguir melhores salários, mas em se tornar agentes de
transformação da sociedade.

Segundo o espírito anarquista, os sindicatos não têm poder centralizado, mas se


organizam em pequenos grupos de fabrica e a ampliação dos contatos em nível estadual
e nacional deve sempre preservar a participação direta do trabalhador.

Foi na Espanha que o movimento atingiu maior expressividade, até quando não pôde
mais resistir à ação dos exércitos do ditador Franco. Do mesmo modo, o advento do
Fascismo na Itália e do Nazismo na Alemanha significou o enfraquecimento do
movimento naqueles países.

O anarquismo ressurgiu timidamente depois da Segunda Guerra Mundial e


recrudesceu na década de 60, com o Movimento Estudantil Ativismo de Jovens de
vários países da Europa e da América, culminando com o de 1968 em Paris.

O Anarquismo No Brasil

Como a abolição da escravatura no final do século XIX, a necessidade de mão-de-obra


livre favoreceu a imigração de europeus, sobretudo, italianos, que vieram inicialmente
30

para as fazendas de café. Data do início da República Velha a vinda de um grupo de


italianos que, autorizados pelo então imperador Pedro II, instalou-se no interior do
Paraná fundando a colônia Cecília nos moldes de uma comunidade anarquista.
Experiência efêmera e cheia de dificuldades, não conseguiu florescer.

No começo do século XIX, com a urbanização decorrente da industrialização,


organizou-se o anarco-sindicalismo, visando à atuação mais eficaz da luta contra a
opressão patronal. Era um movimento atuante não só na preparação das greves, mas na
difusão do ideal anarquista por meio de escolas e jornais.

Merece destaque a atuação de José Oiticica (1882 – 1957), que, além de teórico
divulgador das ideias anarquistas, foi ativista e por isso exilado. Professor universitário
e também do colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, tentava aplicar em aulas os princípios
anarquistas. Homem erudito, foi autor de várias obras: além dos textos políticos,
escreveram poesias, contos, teatros e desenvolveu trabalhos linguístico-filosóficos de
primeira linha.

8 – ANGLICANISMO
(veja tópicos sobre: Reforma Luteranismo, Pentecostalismo etc.)

1 – Definição:

De acordo com o Minidicionário da Língua Portuguesa Larousse afirma que:


anglicanismo é a religião oficial da Inglaterra desde o reinado de Elizabeth I, que tem
como base princípios luterano (protestantes), mas mantém características dos ritos
católicos.

Anglicano é o indivíduo que professa o anglicanismo. Algo relativo ou pertencente ao


anglicanismo.

2 – A Igreja Anglicana:

Igreja oficial da Inglaterra, criada pelo rei Henrique VIII, que em 1534 rompe com a
Igreja Católica. Com a nova religião, Henrique VIII fortalece a autoridade secular da
monarquia sobre bens, tribos e questões eclesiásticas. A Igreja Anglicana difunde-se
para as colônias inglesas, especialmente a América do Norte. Chega ao Brasil em 1818,
pelo Rio de Janeiro. A vinda de missionários norte-americanos impulsiona a fundação,
em 1890, em Porto Alegre (RS), da Igreja Anglicana episcopal do Brasil.
31

3 – Histórico:

É a designação de uma tradição dentro do Cristianismo que inclui a Igreja da Inglaterra


e outras igrejas historicamente ligadas àquela ou que têm crenças, práticas e estruturas
semelhantes.

O termo Anglicanismo tem origem em ecclesia anglicana, uma expressão medieval


latina datada de, pelo menos, 1246, e que significa Igreja Inglesa. Os adeptos do
Anglicanismo são designados por Anglicanos. A grande maioria dos Anglicanos são
membro de igrejas que fazem partes da comunhão anglicana, que se consideram
também Anglicanos, em particular aqueles que se designam por Igrejas do Movimento
Anglicano Contínuo.

A fé dos Anglicanos tem por base as Escrituras, as Tradições da Igreja Apostólica, e


da Sucessão Apostólica (“episcopado Histórico”) e dos pais da Igreja iniciais.

O Anglicanismo é um dos ramos do Cristianismo Ocidental; declarou a sua


independência do Pontificado Romano no período da Regulamentação religiosa de
Isabel I, o qual é designado por monástico britânico. Muitos dos formulários anglicanos
de meados do século XVI são semelhantes àqueles do Protestantismo Reformado
Contemporâneo. Estas reformas na Igreja de Inglaterra foram vistas pelo Arcebispo da
Cantuária, Thomas Cranmer, como um meio termo entre duas Tradições Protestantes
emergentes, nomeadamente o Luteranismo e Calvinismo. No final do século, a
manutenção do Anglicanismo de muitas formas litúrgicas tradicionais, e o episcopado,
eram vistos como inaceitaveis por aqueles que divulgavam os princípios do
Protestantismo.

Na primeira metade do século XVII, a Igreja de Inglaterra e outras Igrejas episcopais


associadas na Irlanda e nas Colônias Inglesas na América, foram apresentadas por
teólogos Anglicanos, como tendo uma Tradição Cristã diferente, com teologias,
estruturas e formas de oração que representavam um meio termo diferente, ou via
média, entre a Reforma Protestante e o Cristianismo Romano – uma perspectiva que se
tornaria muito influente nas teorias da identidade Anglicana, e foi expressa na descrição
“Catholic And Reformed”. No seguimento da Revolução Anglicana, as congregações
Anglicanas nos Estados Unidos e no Canadá foram ambas reorganizadas em igrejas
autónomas com os seus próprios bispos e estruturas autónomas; estas, com a expansão
do Império Britânico e a atividade das Missões Cristãs, foram adaptadas como modelo a
muitas recém-criadas igrejas, em particular em África, Austrália e nas região do
Pacífico. No século XIX, o termo Anglicanismo era utilizado para descrever a tradição
religiosa comum destas igrejas; a Igreja Episcopal Escocesa, embora com origem na
Igreja da Escócia, acabou por ser reconhecida com também partilhando da mesma
identidade comum.

O grau de distinção entre as tendências reformista e o catolicismo ocidental dentro da


tradição Anglicana e, habitualmente, uma matéria de debate tanto no seio das igrejas
anglicanas, como na comunhão anglicana. Único no Anglicanismo é o Book of
32

Commom Prayer, um livro de preces utilizado na maioria das Igrejas anglicanas, há


séculos. Embora tenha passado por várias revisões e as igrejas anglicanas, em diversos
países, tenham elaborado outros livros de preces, o Prayer Book continua a ser
reconhecido como um elo na comunhão anglicana. Não existe uma única Igreja
Anglicana com autoridade jurídica universal, pois cada igreja nacional ou regional, tem
autonomia total. Como o nome sugere, as igrejas da comunhão anglicana estão ligadas
por laços afetivos e o por liberdade. Estão em comunhão total com a Sé da Cantuária e,
deste modo, com o Arcebispo da Cantuária, pessoalmente, é um ponto de convergência
da unidade anglicana. Com um total estimado 90 milhões de membros, a comunhão
anglicana é a terceira maior comunhão Cristã no mundo, atrás da Igreja Católica
Apostólica Romana e da Igreja Ortodoxa. O Anglicanismo apresenta uma fusão de
elementos católicos com elementos calvinistas.

9 – ANIMISMO

1 – Introdução:

Crença que tudo o que existe tem alma. O termo foi cunhado no século XIX, pelo
antropólogo inglês Edward Tylor, a partir do termo anima (alma, em latim). Tribos na
África Subsaariana, nas Américas, no sul da Ásia e na Oceania são consideradas
animistas. Entre suas características comuns estariam o culto aos espíritos dos ancestrais
e a prática da magia, do curandeirismo e de sacrifícios de animais oferecidos às
divindades.

2 – Conhecendo o Animismo:

O jardim do Éden era, sem dúvida, um lugar magnífico. As árvores, as plantas e os


arbustos brotavam com toda a glória e um vapor subia e regava o jardim. Deus andava
nele, olhava-o e dizia: “É bom”. Mas Deus não poderia ter comunhão com as árvores, os
riachos e os animais. Tais coisas não tinham sido feitas “à imagem de Deus”. Foi
somente depois de ele ter criado o homem que passou a haver interação entre Deus e a
sua Criação. Deus criou o homem à sua imagem (Gn 1.27). Talvez não saibamos tudo
quanto isto envolvia, mas sabemos que o homem foi feito alma vivente. “E formou o
Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o
homem foi feito alma vivente”. (Gn 2.7).

2.1 – Definição do Animismo:

Animismo deriva-se da palavra latina “anima”, que significa “alma”. Pode ser descrito
como uma crença que atribui vida espiritual ou uma alma, às coisas inanimadas, e isto
inclui a crença que atribui vida aos mortos. Os animistas dizem que depois da morte, a
33

alma humana continuava a viver num estado espiritual. Ela fica na redondeza por onde a
pessoa passou em sua vida terrestre. No seu modo de ver, existe um poder sobrenatural,
mas não é um Deus pessoal. Os espíritos ficam bem mais perto das pessoas. Esses
espíritos habitam as colinas, as pedras, as árvores, o ar em redor das pessoas, e o céu
acima delas. Os animistas acreditam que a totalidade da natureza está possessa de seres
espirituais.

2.2 – Localização Geográfica:

De todas as religiões antigas, o animismo foi a que mais se propagou.

 As raças negroides e bantos da África são animistas;


 O animismo acha-se no sudeste da Ásia e nas Ilhas do Pacífico, entre aqueles
que não são muçulmanos, nem budistas;
 Há animistas entre os povos primitivos do Norte da Índia, da China e dos grupos
tribais da Sibéria;
 A maioria dos aborígenes da Austrália é animista;
 Os animistas são encontrados em grandes áreas da América do Sul e entre os
índios da América do Norte;
 Podemos concluir que onde a religião não é monoteísta, se desenvolveu o
politeísmo.

2.3 – Origens do Animismo:

Muitas pessoas levantam a questão de como o animismo teve a sua origem.


Examinaremos três teorias básicas a respeito da origem dessa crença.

a) A evolução. O animismo foi descrito pela primeira vez por Edward B. Tylor
numa obra intitulada Primitive culture (1871). Propôs a teoria de que o
animismo é o fundamento de todas as religiões. Baseando sua teoria em relatos a
respeito de tribos remotas que não tinham religião nenhuma, achava que a
religião se envolvia desde aquele estado pré-religioso para as formas mais
avançadas. Havia, porém falhas. Na realidade, nunca foi achada nenhuma tribo
sem uma centelha de religião, e não se levou em conta o relato bíblico da
criação.

b) Mana. Outra origem sugerida para o animismo é a crença numa força chamada
mana. A palavra mana provém das ilhas da Melanésia, no Sul do Pacífico. O
Bispo Codrington da Melanésia (1871-1877) foi informado que o mana era uma
força misteriosa e pavorosa que habitava toda a criação, e que levava o homem e
a natureza a agir de determinadas maneiras. Não era boa nem má, e não era
pessoal. As pessoas podiam falar com espíritos, mas não com mana. Mesmo
assim, almas ou espíritos podem ser mana operante.

O mana é conhecido pelos seus feitos. A correnteza mais veloz, o trovão mais
estrondoso, a madeira que queima melhor, o pai de mais filhos, todos eles,
34

segundo se diz, têm mais mana. As árvores que crescem mais altas, os animais
mais ferozes, os pássaros que levantam voo mais alto, todos eles têm mana
maior. Depois, à medida que as pessoas comem dessas coisas superiores, elas
também recebem mais mana. Acreditam que o mana sempre está presente nelas.
Somente quando a pessoa deixa de respirar é que o mana vai embora, e a pessoa
morre.

O poder para destruir também faz parte do mana. Para evitar o infortúnio ou a
doença proveniente do mana destrutivo, os melanésios usam tabus. Trata-se de
proibições ou de coisas que não se faz. Por exemplo, um casamento entre irmão
e irmã é tabu, porque semelhante casamento pode ter efeitos danosos.

c) A Bíblia. O que diz a Bíblia a respeito da origem do animismo? Conforme


mencionamos anteriormente no relato da criação em Gênesis 1 e 2 nos informa
que a primeira religião era monoteísta, mas que a partir da queda, as crenças e
praxes religiosas tornaram-se corruptas. À medida que os três filhos de Noé
(Sem,Cão e Jafé) e seus descendentes se espalharam pela terra, levaram consigo
suas crenças e práticas. No decurso dos séculos, no entanto, os níveis da
moralidade se rebaixaram, e o animismo e o monoteísmo seguiram dois
caminhos diferentes. Paulo conta a respeito disso em Romanos l.18-32. A glória
da adoração ao criador foi transformada na adoração às criaturas. É isto que é o
animismo.

3 – Crenças do Animismo:

Ao pensarmos no homem pré-literário poderíamos ser tentados a acreditar que a vida


dele era bem simples. A verdade é bem oposta: era muito complexa a sua vida. Até os
mais primitivos, tais como os aborígenes australianos, têm cerimônias muito
complicadas. Os pajés na África passam muitos anos estudando a vida das plantas e
aprendendo a ouvir mensagens dos espíritos. Para realizar uma cura, o ritual que
cumprem é bastante prolongado. Ele joga ossos, sacode cabaças, e repete as fórmulas.
Há tanta complexidade como no caso do médico moderno para receitar à altura da
necessidade do paciente.

a) O Reconhecimento do Sobrenatural

A crença universal num ser supremo que criou a terra e tudo quanto nela há, sempre tem
existido. Até mesmo os povos remotos tais como os pigmeus da África e os boximanes
da Austrália sempre sustentavam essa crença. Considerava-se que Deus era uma pessoa,
mas pelo que sabemos, os animistas não faziam imagens dEle. A crença em Deus que
eles têm é semelhante a do deísmo: Deus está distante, mas demonstra a sua existência
através daquilo que Ele faz. Acreditam que Deus pode ser ofendido, aplacado ou até
mesmo censurado!

Segundo algumas tradições animistas, Deus originalmente habitava na terra, em perfeita


harmonia com o homem. Por causa do comportamento estulto do homem, porém, Deus
35

se retirou para o céu. De lá, Ele observa as atividades dos homens e, ás vezes, castiga as
suas más ações. O raio é a sua arma, e o trovão é o seu rugir, mas Ele mesmo nunca é
visto. Certa lenda animista diz que o céu, a morada de Deus, ficava perto da terra, e que
quase a tocava. Quando certa mulher esmagava grãos, levantou tão alta a mão do pilão
que bateu em Deus, e Ele, irado, levantou-se e foi embora. Outra versão diz que as
pessoas sempre enxugavam suas mãos sujas no céu azul, de maneira que Deus partiu,
enjoado.

Alguns animistas entendem que Deus é um juiz. Isto significa que há uma lei quanto ao
certo e ao errado, e uma fonte originária da moralidade. Deus pode operar através dos
espíritos para castigar os malfeitores, mas é da parte dEle que o juízo realmente provém.
Quando a pessoa quebra a lei de Deus, ela sofre o castigo divino. Aí surge a tarefa do
sacerdote ou médium: interpretar a vontade de Deus. Instruir a pessoa quanto à maneira
de aplacar um Deus irado.

Os animistas sustentam que os espíritos têm uma natureza humana. Isto quer dizer que
são antropomórficos. Têm mente, sentimentos, vontade ou propósito. O homem pode
raciocinar com eles quando os espíritos estão com boa disposição. Gostam de serem
alvos de devoção e de bajulação, mas podem ser grosseiros quando ficam zangados ou
ofendidos. O homem deve sempre estar alerta para gozar da boa graça deles. Não se
pode confiar neles.

b) A Veneração dos Espíritos:

Perguntamos, certa vez, a um homem: “Por que o seu povo adora os espíritos dos
ancestrais?”. O homem respondeu: “Oh, não os adoramos”... Nós os honramos e os
respeitamos, mas não se trata de adoração. “Se eu os respeitar, meus filhos, por sua vez,
me honrarão depois da minha morte”. Os animistas preferem dizer que “veneram” os
ancestrais. Mesmo assim, vários povos animísticos existentes pelo mundo afora não
somente veneram os ancestrais, como também as pedras, as árvores e os animais.

A veneração às pedras remonta aos tempos pré-históricos. Na ilha da Páscoa, estátuas


enormes de pedra fazia parte dos ritos religiosos. Eram esculpidas segundo a forma
humana, só a metade superior do corpo, numa altura de quase cinco metros, em
memória de algumas pessoas importantes. Stonehenge, na Inglaterra (cerca de 1400
a.C.), tem colunas e arcadas enormes de granito, que pesam até 45.000 kg. Cada uma, e
são colocadas num formato circular. Foram dispostas numa posição especial em relação
ao sol do verão. Por isso, os historiadores acreditam que os povos daqueles tempos
praticavam o culto ao sol.

Em alguns lugares, o povo reverencia as árvores. As sequoias gigantes nos Estados


Unidos são algumas das árvores maiores e mais antigas do mundo inteiro, e eram muito
reverenciadas pelos índios primitivos. A árvore enfeitada do natal, embora já não seja
hoje considerado objeto venerável, talvez seja, em algumas culturas, uma tradição
proveniente dos tempos antigos. Na mente dos animistas, as árvores são o símbolo da
frutificação e possuem a força da natureza para o crescimento. Ajudam as safras a
36

desenvolverem-se, os rebanhos e as manadas a multiplicarem-se, e tornam férteis as


mulheres.

Veneração aos animais também faz parte da religião tradicional. Os animistas em


algumas áreas acreditam que o homem tem parentesco com os animais, e que pode
compartilhar da força, da visão e da astúcia destes. São contados estórias e mitos a
respeito de personagens tais como homens-ave e criaturas que são metade homem, e
metade animal. Talvez você saiba que animais ainda são honrados em vários países e
regiões, como por exemplo, o leão na África, o tigre na Malásia, a águia e o urso na
América do Norte, o touro na Grécia, a Vaca e o búfalo na Índia e o canguru na
Austrália.

Se você mora num país animísticos, você talvez tenha ouvido falar na crença de que os
espíritos humanos podem entrar nos animais. O propósito desse evento pode ser ajudar
ou danificar e a obra é feita pela bruxaria. Certa noite, depois de ter saído à caça, para
termos carne, chegamos a uma aldeia. Através do luar, vimos o contorno de uma hiena
perto de uma cabana africana. Sabendo que as hienas são perigosas para os homens e os
animais, levantamos o fuzil para abatê-la. De repente, nosso companheiro agarrou-nos
pelo braço e sussurrou: “não atire, Bwana, talvez se trate de uma pessoa!” passou, então
a descrever um incidente assim: Um homem atirou num hiena de noite; ao chegar ao
lugar, nada se via senão gotas de sangue. Seguiu as marcas do sangue até chegar a uma
cabana. Ao entrar, achou um homem que morrera ferido à bala. Para a mentalidade
africana, era mais uma prova de que o homem pode transformar-se em animal.

c) A Fusão dos Conceitos:

Algumas pessoas fazem uma nítida distinção entre o certo e o errado, entre o verdadeiro
e o falso, entre Deus e o homem. Os povos pré-literários, porém, tendem a fundir vários
conceitos. Há uma fusão entre as áreas sagradas e seculares ou espirituais e materiais da
vida. O animista não pode ser separado da sua religião. Ele é sua religião, pois ela faz
parte dele desde antes do seu nascimento até muito tempo depois da sua morte. O
nascimento, a puberdade, a iniciação, o casamento, a construção da casa própria, todas
essas coisas devem ser honradas através de ritos especiais. O agricultor leva a religião
dele ao campo, o estudante leva-a para a sala de aula. O político leva-a ao Congresso
Nacional; o sacerdote leva-a ao seu templo. A vida é uma fusão entre coisas sagradas e
seculares.

a’ – A Pessoa e a Comunidade. Um exemplo comum da fusão é a identificação entre


indivíduo e a sua comunidade. Ser uma pessoa humana significa fazer parte da
comunidade e suas crenças, rituais e festas. A religião do grupo é a sua segurança e a
base dos seus parentescos. Ficar sem religião é desligar-se da vida da sociedade. O
animista acha que cessaria de existir se assim fizesse. Não sabe como existir sem a
comunidade.

Você pode perceber, portanto, que a vida na cidade impõe tensões severas no animista
proveniente da área rural. A educação geralmente resulta na urbanização, mas quando
37

muda um homem para uma cidade, frequentemente acha que está num vácuo. Suas
bases, sua segurança e suas tradições são deixadas para trás. A indústria e o comércio
modernos não possuem profundidade para ele. Se a sociedade, a igreja ou os grêmios da
cidade não preenchem esse vácuo, procurará a satisfação nas bebidas, nas festas, no
sexo ou no crime. Em alguns casos, sofre danos mentais de culto. Por essa razão, uma
igreja formal, trancada durante seis dias e aberta apenas uma ou duas vezes por semana,
não basta. E esse é o motivo por que alguns cristãos abandonam a igreja e voltam-se às
crenças e praxes do passado. Os cristãos que antes eram animistas necessitam que a
totalidade do seu tempo e dos seus pensamentos fique preenchida com relevância
religiosa e uma experiência vital em Cristo. Somente então se sentirão seguros.

b’ – O Presente e o Passado.

Os animistas também fazem uma fusão entre o tempo presente e o passado. O Dr. John
S. Mbiti, do Quênia, um autor respeitado sobre a religião tradicional da África, descreve
o conceito africano do tempo. Diz o africano tem um passado longo, um presente, mas
um futuro limitado.

O tempo, para o africano, é orientado pelos eventos; isto quer dizer, relaciona-se com
aquilo que acontece. O passado pode ser conhecido somente quando é comparado com
aquilo que acontece no presente. A mesma coisa acontece no caso do futuro. Mas visto
que o futuro ainda não aconteceu, ele não existe na mente africana. A maioria dos
idiomas africanos não tem nenhuma palavra para um futuro, pois ele ainda não
aconteceu, ele não existe na mente africana. a maioria dos idiomas africanos não tem
nenhuma palavra para um futuro além de poucos anos. Dizem: “em frente”, ou “logo
adiante”. Por essa razão, na religião tradicional, não há esperança messiânica, nem visão
do céu. O “aqui e agora”, em alguns idiomas, é derivado da palavra “aqui”. Em Malaui,
tsopanop, que significa “agora”, literalmente significa “neste lugar”.

c’ – O Objeto e o Símbolo.

Outra fusão que acontece é entre o objeto e o seu símbolo. Talvez você já tenha ouvido
falar na “magia imitativa, associativa ou simpática”. Assim é chamada, porque se baseia
na ideia de que “cada qual geral o seu igual”. O que você quer que aconteça pode ser
forçado a acontecer mediante o uso de um objeto semelhante a ele. Uma coisa
conhecida cria uma coisa desconhecida. Por exemplo, o mágico forma uma nuvem de
fumaça para trazer uma nuvem de chuva. Depois, enche a boca de água e aspira no
chão, como símbolo da chuva que cai. Por isso, é chamado o “Manda-Chuva”.

Um animista africano estava passando por um caminho na floresta. De repente, pulou


para o lado e exclamou: “Ai! Alguém quer me amaldiçoar” quando lhe perguntaram por
que, respondeu: “estão vendo aquele moço de folhas na rua? Representa uma parte do
corpo de uma pessoa. Se alguém pisar nele, terá dores fortes de estômago e morrerá”. O
homem achava que o símbolo exercia efeito sobre o objeto.
38

A crença que a pessoa tem no símbolo é uma coisa importante. Essa crença pode ser tão
forte que a pessoa fica literalmente doente – é uma reação psicossomática. Um
jardineiro pendura um maço de galhos secos na entrada do seu jardim. Se um ladrão
procurasse furtar legumes, “seus ossos seriam quebrados”. Ou uma cabaça com
aplicações de chumaços de algodão branco pode levar um ladrão a pegar varíola.
Semelhante crença de causa e efeito baseia-se na semelhança, não na lógica. A mente
ocidental não pode entender tal coisa, mas o animista não se preocupa com isso. Ele
continua crendo assim, imperturbavelmente, e assim pratica.

d) A Propiciação Pelo Pecado:

a’ – O Pecado e a Lei. O que você pensa que é o pecado? Geralmente dizemos que é a
violação das leis conhecidas. Quais eram as leis dos animistas? É difícil saber com
certeza, porque os animistas, em muitas partes do mundo, não possuíam a arte da
escrita. Por isso, a única lei era uma lei oral, transmitida pelos anciãos do clã. As leis
possivelmente desenvolveram-se a partir do raciocínio baseado na causa e no efeito.
Suponhamos que algum infortúnio desabe sobre uma aldeia, como no caso de uma seca,
de um incêndio ou de uma enfermidade. Os animistas diriam: “É a ira dos espíritos”.
Para eles uma calamidade significa que a natureza está fora de equilíbrio. Alguém,
portanto, tinha pecado. É necessário achar o culpado, para ser feita a propiciação.

A partir daí, podemos reconstituir algumas das leis orais dos animistas:

 As tradições e os costumes da comunidade tinham que ser sustentadas;


 Havia pouco conteúdo ético oral. Por exemplo, a lei oral não dizia: “não
cobiçarás”. A inveja, o ciúme, o ódio e o orgulho eram condenados somente
quando causavam desequilíbrio na natureza ou na tradição.
 A linhagem do clã deve continuar. Para terem garantia do cumprimento dessa
lei, as famílias desejavam muitos filhos. Se algum deles morresse, sobraria um
numero suficiente para haver certeza de que o nome da família continuaria.
 Os espíritos dos ancestrais devem ser mantidos num estado de felicidade. Um
bom espírito talvez seja um ancestral amável. O espírito mal poderia ser um
ancestral maligno ou um inimigo. Tinha que ser aplacado
 O bem-estar humano tinha a primazia. A vontade dos homens era considerada
mais importante do que a vontade de Deus. O animista, frequentemente,
procurava meios de controlar o poder supremo. Para impor sua própria vontade,
até mesmo ralhava com Deus e ameaçava os espíritos.

b’ – O Pecado e o Sacrifício. Certa vez, perguntaram a um animista: “Quando


começaram os sacrifícios?” Ele respondeu que sempre tinham existido, desde o
princípio. É notável como os sacrifícios dos animistas assemelham-se ao padrão do
Antigo Testamento. Todo sacrifício oferecido tinha que ser valioso. Os animistas
podiam oferecer animais, farinha ou os produtos da terra.

Alguns povos primitivos até mesmo ofereciam sacrifícios humanos aos seus deuses.
Cada objeto oferecido tinha que estar sem mancha nem mácula. O sacrifício era
39

oferecido num lugar especial e conforme determinado padrão. Trata-se de outra praxe
que o cristão pode usar como ponte para demonstrar ao animista o sacrifício perfeito de
Jesus na cruz.

Ora, qual é o resultado quando as pessoas se apartam da adoração ao Deus verdadeiro?


Adoram o sacrifício. Aquilo que deve ser dado a Deus fica sendo o substituto do lugar
de Deus. Conforme escreveu Paulo aos Romanos: “E mudaram a gloria do Deus
incorruptível em semelhança à imagem de homem corruptível, e de aves, e de
quadrúpedes e de répteis”. (Rm 1.23). Entre os deuses do Egito antigo, havia a vaca.
Quando os filhos de Israel viraram as costas para Deus no Sinal, fizeram uma imagem
de ouro que representava um bezerro. Aarão disse: “Estes são teus deuses, ó Israel, que
te tiraram da terra do Egito” (Êx 32.4).

O animista continua reverenciando esse mesmo tipo de substituto, embora talvez não
tenha consciência do seu significado. Certa vez, alguém mostrou-nos um pequeno
santuário com teto de palha, dedicado aos espíritos dos ancestrais. Lá dentro, havia um
montinho de barro na forma de um cone, com a cabeça e os chifres de uma vaca no
ápice. Sacrifícios de farinha eram colocados diante dele. Quando perguntamos qual o
significado da imagem, recebemos a resposta: “A vaca é um símbolo de fertilidade para
o povo e as safras. Mas Deus está tão longe que preferimos oferecer sacrifícios aos
ancestrais e invoca-los para nos ajudar”.

d) A Meditação das Pessoas Sagradas:

Todas as religiões têm pessoas sagradas para serem mediadores entre sua deidade ou
poder supremo, e o povo. Fazem as suas orações e interpretam a mente ou a vontade da
deidade. Nas religiões animísticas, podem ser sacerdotes, pajés, médiuns, adivinhos,
xamãs, exorcistas, feiticeiros e assim por diante. Algumas pessoas imaginam que o pajé
é aquele que invoca maldições sobre os outros. Na realidade, porém, funciona como um
herbanário em primeiro lugar, e como adivinho. Como herbanário, fornece remédios
feitos de raízes, folhas e brotos de várias árvores. Mas se uma doença persistir por um
tempo mais prolongado, o pajé age como adivinho ou caçador de bruxas. Talvez passe,
então, a usar a bruxaria, a fim de descobrir a causa de um problema e de neutralizar os
poderes malignos da magia; mas não é um malfeitor. É o feiticeiro quem pratica a magia
negra. Poucos animistas acham que a doença é causada por bactérias, por água
contaminada, por uma picada de inseto ou por problemas orgânicos. O primeiro
pensamento deles é que uma pessoa a causou mediante a bruxaria ou um espírito
maligno. Seguem-se outras definições:

 O feiticeiro usa a magia para lesar ou destruir. A magia opera contra o sistema
social e as leis da comunidade. A magia negra é usada para danificar, ao passo
que a magia branca é usada para ajudar;

 O mágico é aquele que usa recitações monótonas, encantamentos e sortilégios


para levar a efeito a sua magia. Não é sacerdote, nem xamã;
40

 O xamã é um sacerdote-médico que emprega a magia para curar os enfermos ou


para adivinhar aquilo que está oculto. É um médium que é notável pelo uso que
faz do êxtase. O xamanismo é uma religião animística que se acha na Ásia
Setentrional, na Europa, e entre alguns índios da América do Norte;

 O médium é uma pessoa através de quem outras pessoas procuram comunicar-se


com os espíritos dos mortos. Na África Central, acredita-se que o médium está
encarnado no espírito de um ancestral;

 O sacerdote é aquele que está autorizado a realizar os deveres sagrados de uma


religião. É considerado um tipo de mediador entre o povo e Deus.

e) A Ideia Que o Animista Tem do Futuro.

Você fica pensando, as vezes, a respeito daquilo que acontecerá depois da morte? A
maioria das pessoas começa a ter suas perguntas a respeito da morte, quando tem uma
doença ruim. O animista é assim, também. Acredita que a vida no mundo do porvir é
uma continuação da vida aqui na terra. Mesmo assim, a qualidade da vida no porvir
depende de quão bom ou mau ele tem sido nesta vida. Seu desejo é ser um bom espírito,
a fim de que possa abençoar seus filhos e netos. Como é importante levá-lo à esperança
de ficar com Cristo!

4 – Comunicações Com o Mundo:

a) A Evidência dos Artefatos:

Você pode imaginar como seria a vida sem um sistema de escrita? Você não estaria
lendo essa lição se não tivesse sido estabelecido um sistema de escrita válido para
muitas pessoas comum. Os animistas, diferentemente dos seguidores de muitas
outras religiões, não escreviam livros sacros. As únicas comunicações diretas que os
povos primitivos nos deixaram, acha-se em suas pinturas nas rochas, nas suas
ferramentas de agricultura e nas armas de caça, tais como os numerosos artefatos
que foram escavados pelos arqueólogos. A pessoa que descobre um artefato
frequentemente impõe sua própria interpretação da idade e do significado dele. Por
isso, a mensagem do animista depende, em boa parte, da imaginação e de
conjecturas cultas.

b) A Comunicação Oral:

Boa parte dos nossos conhecimentos dos povos pré-literários deve advir das suas
tradições. Estas são transmitidas de uma geração para outra pelos anciãos da
comunidade. Talvez seja por isso que os poderes da memória dos povos animísticos
são tão notáveis. Na ilha de Malaita, no Sul do Pacífico, os sacerdotes gastam horas
41

por dia nos seus templos, recitando os nomes dos ancestrais. Desta maneira,
esperam conservar com vida do poder e a influencia destes.

c) A Evidência dos Escritos Modernos:

Recentemente, os historiadores e os missionários acharam registros antigos de raças


primitivas e escreveram livros a respeito dos seus estudos. Infelizmente, porém, “a
história está no olho de quem a contempla”. Os escritores da história geralmente
escrevem segundo seu próprio ponto de vista e, frequentemente, discordam entre.
Devemos analisá-lo, selecionar aquilo que é bom e rejeitar aquilo que é
questionável. Uma lista de livros recomendáveis é fornecida na Bibliografia.

5 – Desenvolvimento em Tempos Recentes:

a) Mudanças Lentas e Rápidas:

Em seus estudos, você talvez tenha aprendido como os povos ocidentais passaram por
grandes mudanças no decurso dos séculos. Entre os povos pré-literários, no entanto, as
mudanças ocorriam lentamente. Os Maasai da África Oriental têm sido aqueles que
mais resistiram as mudanças. Ainda usam roupas tradicionais e enfeites de contas. As
mulheres raspam a cabeça, mas os jovens deixam os cabelos ficarem compridos e
usando barro entrelaçam-nos em longas tranças que descem pelas costas. Acreditam que
qualquer mudança diminuiria o valor da sua tradição herdada.

b) Mistura Entre Cristãos e Animistas

No período da igreja das missões modernas, ocorreu outro tipo de desenvolvimento


chamado sincretismo. O sincretismo é a mistura de várias crenças. No caso dos
animistas, é a mistura entre a doutrina bíblica, crenças e rituais animistas. Até mesmo
depois de um animista ter aceitado Jesus como seu salvador pessoal, frequentemente
será tentado a fundir sua nova fé a seu antigo comportamento animísticos ou a uma
forma nova, porém antibíblica de Cristianismo. Externamente esses membros das
igrejas talvez tenham semelhança com o Cristianismo, mas interiormente, estão
seguindo velhos ensinamentos animísticos ou até mesmo falsas doutrinas. Em alguns
casos, é difícil discernir a distinção entre o acréscimo do animismo ao Cristianismo e o
desmascaramento do animismo; talvez tenha ficado adormecido debaixo de uma
aceitação parcial do Cristianismo. Depois, passa a revelar-se conforme disse alguém:
“Se você arranhar um cristão verá um animista”.

No continente africado as crenças e costumes tradicionais frequentemente voltam à tona


entre povos tribais recém-convertidos e os membros da igreja que se levantam contra a
fé. O resultado é a deserção da filiação à igreja e a formação de um meio-ambiente
independente de culto. O sincretismo não é apenas a apostasia de algumas poucas
42

pessoas infelizes. Às vezes envolve congregações inteiras. Os cristãos nas áreas onde
ocorre o sincretismo precisam levar a sério a situação

 O Profetismo. Muitos profetas nomeados por si mesmos, que procuram


poder e altas posições, têm atraídos os membros das igrejas.

 Reivindicações Messiânicas. Outros homens alegam que receberam uma


revelação da parte de Deus segundo a qual cada um assevera que é um
messias. Isto lembra-nos como Eva interpretou a tentação de Satanás:
“Sereis como Deus” (Gn 3.5).

 Dons Especiais de Curas. Ainda outros líderes têm reivindicado a


possessão de grandes dons de curas. Em algumas áreas, milhares de
pessoas já abandonaram sua fé cristã bíblica para seguirem tais pessoas.
Frequentemente, formam novas comunidades nas áreas rurais e,
constroem cabanas ou abrigos de ramos para suas reuniões.

 Ataques aos Costumes Tradicionais. Alguns dos primeiros missionários


achavam que a tarefa que Deus lhes dera era destruir os deuses e os
fetiches dos pagãos. Ao condenarem tais fetiches e deuses, no entanto,
frequentemente subvertiam o sistema de segurança do povo ou seu
equilíbrio social. Considere, por exemplo, a prática da poligamia, que era
permitida segundo as leis tradicionais de algumas comunidades. Na
realidade, ter um grande número de esposas frequentemente era um sinal
de riqueza e de prestígio. Os primeiros missionários, no entanto,
condenavam fortemente a poligamia e desfizeram muitas famílias. A
poligamia tinha aceitação cultural, de modo que essas pessoas que a
praticavam nem sequer procuravam justificar as suas práticas baseadas
em textos bíblicos tais como “o pecado não é imputado, não havendo lei”
(Rm 5.13). Sendo que a poligamia estava profundamente arraigada à
cultura, sem violar as normas sociais, os povos tribais não acreditavam
que fosse necessário desfazer famílias e abalar a sociedade, a fim de
acomodar as exigências missionárias. O resultado foi que muitos se
rebelaram contra a missão e se separaram, a fim de estabelecerem um
sistema religioso compatível com suas próprias crenças culturais.

 O Sistema Educacional. Poucas pessoas pensariam que a educação das


tribos primitivas fosse outra coisa senão uma benção. Antes de serem
abertas escolas, poucas pessoas deixavam a igreja; quando, no entanto, a
educação foi posta ao alcance de todos e a alfabetização foi melhorada,
surgiram movimentos de independência. Por causa do melhor nível
educacional, algumas pessoas ambiciosas liam a Bíblia no seu próprio
43

idioma e a distorciam a fim de encaixarem nela suas crenças animísticas


ou outras crenças falsas.

Esses cinco fatores representam apenas algumas poucas razões por que as pessoas
podem desviar-se do Cristianismo ou incorporarem suas velhas crenças animísticas á
sua nova mentalidade cristã. Ao assim fizerem, anulam os efeitos da sua conversão e
enfraquecem o testemunho daqueles que continuam sendo fiéis a Jesus Cristo. Os
missionários e líderes cristãos nas áreas onde ocorre o sincretismo devem estar em
constante estado de prontidão contra ele.

6 – Avaliação em Termos Cristãos:

Nossa avaliação do animismo é do ponto de vista cristão. Por isso, devemos examinar
os elementos tanto negativos quanto positivos do animismo. Quais são os fardos, que
precisam ser aliviados, e que os animistas carregam? Depois, precisamos perceber que
algumas crenças são pontes para a salvação e a vida abundante em Cristo.

a) Pontos Positivos do Animismo.

Alguns pontos positivos daqueles que creem no animismo são:

 Acreditam no ser supremo, embora vagamente;


 Observam a prática do sacrifício para a expiação;
 Respeitam os idosos;
 Tem sensibilidade para com as coisas espirituais;
 Recomendam união na comunidade.

b) Pontos Negativos do Animismo.

Alguns pontos negativos do animismo são que o animista:

 Acredita que Deus está muito distante da necessidade do indivíduo;


 Acredita que os mortos ainda estejam em redor;
 Tem medo de espírito danoso;
 Depende dos fetiches e da magia;
 Tem pouca esperança na eternidade com Deus;
 Depende das obras para a salvação;
 Não tem consciência do pecado, devido à falta da lei;
 Não tem nenhum ajudador presente nas provações da vida.
44

10 – ANTROPOCENTRISMO

1 – Introdução:

A ciência na idade moderna, a Revolução Científica do século XVII, quando se deu a


substituição da teoria geocêntrica, aceita durante mais de vinte séculos. A nova teoria
heliocêntrica não retirou apenas a terra do centro do universo, mas também esfacelou
uma construção estética que ordenava os espaços e hierarquizava o “mundo superior dos
céus” e o mundo inferior e corruptível da terra.

Galileu Galilei geometrizou o universo, igualmente todos os espaços. Ao descobrir a


Via Láctea, contrapôs, a um mundo fechado e finito, a ideia da infinidade do céu. Por
isso, faz sentido a frase de Pascal: “o silencio desses espaços infinitos me apavora...”.
A questão, no entanto, não é apenas científica. Se fosse, Galileu não teria sido recolhido
à prisão domiciliar. Há algo mais que se quebra, além da ordem cósmica, e cujas causas
são anteriores a esse período.

O modo de produção escravista determina uma concepção de ciência puramente


contemplativa e desligada das preocupações técnica. Isto se explica pela desvalorização
do trabalho manual, ofícios de escravos. Também na idade média a situação não é muito
diferente, pois as classes antagônicas são constituídas pelos senhores e servos da gleba:
nobres guerreiros e servos laboriosos.

Ora, a situação se altera com o advento de nova classe comerciante emergente, a


burguesia, saída dos burgos formados nos arrabaldes das cidades por antigos servos que,
com seu trabalho, comprovam a liberdade de suas cidades, desobrigando-se da
obediência aos senhores feudais.

Então, o valor do novo homem que surge se encontra não mais na família ou linhagem,
mas no prestígio resultante do seu esforço e capacidade de trabalho. O modo de
produção que começa a vigorar é o capitalista, e com ele se dá a superação dos valores
medievais. À classe ociosa, opõe-se o valor do trabalho; à riqueza baseada em terras,
opõe-se ao valor da moeda, dos metais preciosos, da produção manufatureira em
crescimento, da procura de outras terras e mercados.

O Renascimento Científico deve ser compreendido, portanto como expressão da nova


ordem burguesa. Os inventos e descobertas são inseparáveis da ciência, já que, para o
desenvolvimento da indústria, a burguesia necessita de uma ciência que investigasse as
forças da natureza para, dominando-as, usá-las em seu benefício. A ciência não é mais a
serva da teologia, deixa de ser um saber contemplativo, formal e finalista, para que,
indissoluvelmente ligado à técnica, possa servir à nova classe.
45

Reconhecido o terreno onde germinam as novas ideias, podemos compreender melhor o


impacto que elas causaram, já que é a expressão do esfacelamento do mundo feudal.

2 – Características do Pensamento Moderno:

2.3 – Racionalismo (veja Racionalismo – tópico 37).

Desde o Renascimento, a religião suporte do saber vinha sofrendo diversos abalos com
o questionamento da autoridade papal, o advento do protestantismo e a consequente
destruição da unidade religiosa. Ao critério da fé da revelação, o homem moderno opõe
ao poder exclusivo da razão de discernir, distinguir e comparar. Ao dogmatismo, se
opõe a possibilidade da dúvida. Desenvolvendo a mentalidade crítica, questiona a
autoridade da igreja e o saber Aristotélico. Assume uma atitude polêmica perante a
tradição. Só a razão é capaz de conhecer.

2.4 – Antropocentrismo (veja Antropocentrismo – tópico 06).

Enquanto o pensamento medieval é predominantemente teocêntrico (centrado na figura


de Deus), o homem moderno coloca a si próprio no centro dos interesses e decisões. A
laicização do saber, da moral, da política é estimulada pela capacidade de livre exame.
Da mesma forma que em ciência se aprende a ver com os próprios olhos, até na religião
os adeptos da reforma defendem o acesso direto ao texto bíblico, cada um tendo o
direito de interpretá-lo.

Além disso, o homem moderno descobre sua subjetividade. Enquanto o pensamento


antigo e medieval parte da realidade inquestionada do objeto e da capacidade do homem
de conhecer, surge na idade moderna a preocupação com a “consciência da
consciência”. O problema central é o problema do sujeito que conhece, não mais do
objeto conhecido. Antes se perguntava: “existe alguma coisa?”. “Isto que existe, o que
é?”.

Agora o problema não é saber se as coisas são, mas se nós podemos eventualmente
conhecer qualquer coisa. Das questões epistemológicas, isto é, relativos ao
conhecimento, deriva a ênfase que marcará a filosofia daí por diante.

2.5 – Saber Ativo.

Em oposição ao saber contemplativo dos antigos surge uma nova postura diante do
mundo. O conhecimento não parte apenas de noções de princípios, mas da própria
realidade observada e submetida a experimentações. Da mesma forma, o saber deve
retornar ao mundo para transformá-lo. Dá-se a aliança da ciência com a técnica.
46

Além da participação de Galileu, Kepler e Newton, outros cientistas se mostraram


fecundos: William Gilberti estuda os fenômenos elétricos e descobre as propriedades do
ímã; Mariotle estuda a elasticidade do gás; Von Guericke inventa a máquina pneumática
e a máquina elétrica; Pascal e Torricelli criam o barômetro e revelam a existência da
pressão atmosférica; Huygens desenvolve a teoria ondulatória da luz. Na matemática
surge a geometria analítica com Fermat e Descartes. O cálculo diferencial com Newton
e Leibniz; o cálculo das probabilidades com Pascal; o cálculo infinitesimal com Leibniz
e Bemoulli.

A anatomia, desde o século XVI, tivera a contribuição de Vesálio, que, desafiando a


proibição religiosa de dessecação de cadáveres, consegue desenvolver um estudo mais
objetivo da anatomia humana. Servet e Harvey explicam a circulação sanguínea, Hooke
descreve a estrutura celular das plantas. Nunca antes na história da humanidade o saber
fora tão fecundo nem desenvolvera semelhante capacidade de transformação da
realidade pela técnica.

11 – APRIORISMO

Nem todos os filósofos aderiram ao Racionalismo ou ao Empirismo. Alguns buscaram


um meio-termo para essas visões tão opostas. É o caso do apriorismo kantiano,
formulado pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804).

Kant afirmava que todo conhecimento começa com a experiência, mas que a
experiência sozinha não nos dá o conhecimento. Ou seja, é preciso um trabalho do
sujeito para organizar os dados da experiência. Assim, o filósofo buscou saber como é o
sujeito a priori, isto é, o sujeito antes de qualquer experiência, e concluiu que o ser
humano possui certas faculdades ou estruturas (as quais ele denomina formas da
sensibilidade e do entendimento) que possibilitam a experiência e determinam o
conhecimento.

Para Kant, portanto, a experiência forneceria a matéria do conhecimento (os seres do


mundo), enquanto a razão organizaria essa matéria de acordo com suas formas próprias,
com as estruturas existentes a priori no pensamento – daí o nome apriorismo.
(veja tópico sobre empirismo e iluminismo).
47

12 – ARCADISMO

1 – Introdução:

O permanente desenvolvimento econômico, financeiro e industrial, que caracteriza o


século XVIII, provocou o fortalecimento da burguesia, especialmente na Inglaterra e na
França. As cidades cresciam, o progresso impunha um ritmo agitado à vida urbano, o
conhecimento científico se difundia e a liberdade de opinião e de credo religioso
passava a vigorar nesses novos tempos. Essas transformações sociais relacionadas
diretamente a dois movimentos: Iluminismo e o Enciclopedismo.

Nesse panorama de reformas, nobres e ricos burgueses se queixavam da agitação da


vida urbana e passavam a cultivar um espírito saudosista dos tempos em que se podia
conviver em contato com a natureza e desfrutar dos ares tranquilos e amenos dos
campos. Esse desejo de recuperar espaços distantes da cidade foi expresso
principalmente pela literatura do Arcadismo ou Neoclassicismo. Para cantarem o ideal
de vida simples, de liberdade e possibilidade de experimentar prazeres, os escritores
árcades buscaram inspiração na cultura greco-romana e restauraram diversos
pensamentos de filósofos e poetas da Antiguidade.

A literatura do Arcadismo revelou perfeita sintonia com o ideal clássico de


comedimento, de harmonia e de equilíbrio racional. Cantando, sobretudo os encontros
de amantes e os galanteios amorosos na paz dos campos.

13 – ARIANISMO

1 – Introdução:

O que é o Arianismo?

O minidicionário da Língua Portuguesa Larousse assim descreve: 1 – s.m. doutrina


preconizada por Hitler, que está associada à pureza da raça. 2 – doutrina do bispo Àrio,
de Alexandria, no Egito, que negava a natureza divina de Cristo e foi condenada pela
Igreja Medieval.

a) O Arianismo, originalmente, era um pensamento filosófico que não considerava


Jesus Cristo e Deus como uma só pessoa. Esta ideia surgiu nos primeiros séculos
do Cristianismo, afirmando que só poderia existir um único Deus e Jesus era
apenas o seu filho. Mesmo sendo considerado um ser superior ao o homem,
Jesus não era um deus para os seguidores do Arianismo.
48

b) Etimologicamente, a palavra arianismo teria surgido a partir do nome Ário, um


padre cristão de Alexandria que teria criado esta nova doutrina. O pensamento
ariano é considerado uma heresia para a Igreja Católica, sendo o principal
combatente desta doutrina o Santo Atanásio de Alexandria.

2 – Arianismo no Nazismo

O Arianismo ou raça ariana foi uma das bases do pensamento nazista, durante a
Segunda Guerra Mundial. O conceito de raça, pregada por Adolf Hitler, dizia os
alemães descendiam da mais pura linhagem de seres humanos, formados por pessoas
altas, fortes, brancas e inteligentes.

Neste contexto, a palavra “ariana” surgiu a partir do termo Sânscrito Arya, que significa
“nobre”. Atualmente, a ideia de raça ariana é completamente desacreditada e até
considerada um crime.

3 – Arianismo e Monofisismo

O Arianismo, como uma doutrina religiosa, defendia a ideia de que Jesus Cristo não era
um ser divino, mas sim apenas filho de Deus. No entanto, o Monofisismo, um
pensamento cristológico, defende que Jesus tinha apenas uma natureza: a divina. De
acordo com a doutrina pregada por Eutíquio, no século V, a natureza humana sempre é
absorvida pela divina.

14 – ATEÍSMO

1 – Introdução:

Como diz a própria palavra (a-theos=sem Deus), significa a negação de Deus; por isso,
“o ateu é quem afirma que Deus não existe”. A negação de Deus é um fenômeno raro na
história da humanidade. Em todas as épocas encontramos, de vez em quando,
indivíduos que fizeram, mais ou menos abertamente, profissão de ateísmo. Tanto Platão
como Fílon denunciam o ateísmo que atinge, sobretudo a juventude, e o condenam
como “tal gravíssimo”. No entanto, como fenômeno cultural de massa, o ateísmo é
típico da época moderna e precisamente daquele período histórico em que o homem
moderno, através de um longo processo de secularização, depois de progressivamente
ter excluído Deus de muitas atividades e aspectos da vida humana, afinal chegou à
conclusão de que Deus não existe, de que “Deus Morreu”.

A crítica da religião, depois de ter eliminado a revelação sobrenatural (o cristianismo) e


em seguida também a revelação natural (a religião natural), quase que automaticamente
49

desembocou na negação mesma da realidade do sagrado subsistente, absoluto,


transcendente. O advento do ateísmo coincide, como vimos com a retração do Idealismo
e a sua transformação em materialismo (histórico e dialético). Autor dessa reviravolta
histórica foi o filósofo alemão P. Feuerbach. Logo, porém, outros filósofos do século
XIX alinharam-se com ele (Marx, Engels, Comte Ardigi, Shopenhaeur, Nietzsche e
outros), e mais tarde, aderiram ao credo ateu de muitos pensadores do século XX
(Freud, Canap, Sartre, Camus, Russell, Ayer, Lenin, Marcuse, Adorno Harkheimer,
Bloch e outros).

Dada a importância e a gravidade do fenômeno, e chegando o momento de fazê-lo,


estaremos pesquisando e abordando, antes de tudo, o conceito de ateísmo; depois,
estudaremos suas figuras mais representativas e finalmente, procuraremos captar as
razões profundas da negação de Deus.

2 – Conceitos de: Ateísmo, Agnosticismo, indiferença religiosa e impiedade.

2.1 – Ateísmo:

O conceito de Ateísmo, dado que se trata de um termo negativo, deve ser definido em
relação a Deus, do qual é direta ou indiretamente a negativa. Para que haja o ateísmo é
necessário, como diz Gilson, que na negação de Deus esteja incluída também a negação
dos seguintes elementos:

1. Deus deve ser um Ser Transcendente, isto é, um ser que existe


independentemente de mim e do mundo;
2. Deve ser também um ser necessário, e que depois de ter sido encontrado não
seja preciso buscar sua causa;
3. Deve ser a causa de tudo o mais.

É, pois, a negação tanto da existência de Deus quanto daqueles atributos (inteligência,


vontade, livre criação do universo, providência) que permitem ao homem assumir, em
relação a Deus uma atitude de respeito, devoção, adoração.

O ateísmo pode assumir várias formas. As principais são três: especulativa, prática e
militante.

a) O Ateísmo Especulativo, também é chamado de teorético ou filosófico. É uma


cosmovisão (um sistema filosófico) que, explícita ou implicitamente, exclui a
realidade de Deus. Por exemplo, pertencem ao tipo teorético explícito os
ateísmos de Nietzsche, Freud, Sartre, Russell, Bloch; são do tipo implícito todos
os sistemas ligados ao materialismo, ao historicismo, ao positivismo, ao
evolucionismo, ao existencialismo e ao vitalismo.

b) O Ateísmo Prático é a atitude daqueles que dizem crer, mas na realidade como
se não cressem, vivem numa plena indiferença religiosa e numa vida
50

completamente materialista, desprovida de qualquer compromisso com a


transcendência.

c) O Ateísmo Militante é o ateísmo ativo, até mesmo agressivo, que declara guerra
intelectual contra Deus e procura construir uma verdadeira anti-religião e uma
aberta anti-teologia. Exemplo típico de ateísmo militante era o praticado pelo
Estado Soviético e pelos Chineses.

Os objetivos do ateísmo militante são assim expressos num dicionário filosófico


publicado na Ex-URSS: “O ateísmo procura esclarecer as fontes e as causas do
nascimento e da existência das religiões, critica as doutrinas religiosas do ponto de vista
de uma visão científica do mundo, explica o papel da religião na sociedade e estuda as
formas de superação dos preconceitos religiosos [...]”.

“O ateísmo Marxista é militante. Ele critica a religião sob todos os pontos de vista em
todas as épocas históricas, indicando as vias e os meios para derrotá-la definitivamente.
O ateísmo marxista demonstrou que derrota total da religião só se tornou possível
depois da destruição das raízes sociais desta, no curso da construção comunista”.

O ateísmo teorético, além das duas formas indicadas – explícita e implícita – pode
distinguir outras três. Assim, há um ateísmo teorético negativo (limita-se a negar a
realidade de Deus) e um ateísmo teorético positivo (reivindica para o homem os poderes
e os atributos que alienara de si ao criar a figura de Deus). Há também outra importante
subdivisão entre o ateísmo prometêico (que pretende fazer do homem o ser supremo) e
ateísmo nülista (que mergulha o homem no nada: depois de ter destruído Deus, destrói
também o homem).

O ateísmo positivo “prometêico” pode introduzir outras subdivisões. As mais


importantes são as destacadas por H.Künger: “ateísmo humanista” (motivado pela
defesa da grandeza da pessoa individual); “ateísmo político” (que visa a defesa dos
direitos da sociedade, especificamente das classes mais fracas). “Ateísmo científico”
(pela defesa dos direitos da razão e da ciência).

Atitudes que apresentam muitas afinidades e, frequentemente, terminou por coincidir


com o ateísmo são: o agnosticismo e a indiferença religiosa.

2.2 – A Indiferença Religiosa:

É a atitude de quem não se decide por nenhuma forma religiosa ou atribui a todas as
religiões o mesmo valor. No primeiro caso, tem-se a indiferença “negativa”; no
segundo, a indiferença “positiva”.

Segundo J. Goblot, “a indiferença em matéria religiosa ou filosófica é o estado de uma


mente que não se pronuncia que não afirma e não nega, seja por negligência, seja por
ceticismo”.
51

A indiferença religiosa pode ser “prática” (quando não se pratica nenhuma religião) e
“teórica”; esta, por sua vez, se subdivide em relativa e absoluta.

A indiferença religiosa limita-se a duvidar do valor de uma determinada religião, ao


passo que a indiferença absoluta considera como falsas e inúteis ou más todas as
religiões (embora, não excluindo a existência de Deus, pois então teríamos o ateísmo).
O indiferentismo prático é, geral, banhado pela indiferença teorética absoluta e por isso
não aceita deveres religiosas de nenhum tipo e considera a religião pelo menos
irrelevante, se não nociva.

A indiferença religiosa sempre foi julgada negativamente, sendo de fato uma atitude que
indica profunda pobreza espiritual, um deserto interior, falta de compromisso moral,
coerência de vigor especulativa. Pascal considerava monstruosa a indiferença em
relação do destino do homem. “é algo monstruoso ver, no mesmo coração e ao mesmo
tempo, a sensibilidade pelas coisas maiores”. As únicas duas atitudes que Pascal
considerava razoáveis são a de servir a Deus de todo o coração, depois de tê-lo
conhecido, ou então procurá-lo com todas as forças, se ainda não é conhecido. Não
menos categóricas e severas são as palavras de Lamennais, no célebre “Essais Sur
l’indifference em matière de Religion” (Ensaio sobre a diferença em matéria de
religião): “Os indiferentes reais – escreve Lamennais – não negam nem afirmam nada; a
deles não é uma dúvida, porque dúvida é suspensão entre duas possibilidades contrárias
e supõe um exame prévio; a indiferença é uma ignorância sistemática, um sono
voluntário da alma que a priva de vigor para resistir aos próprios pensamentos e para
lutar contra lembranças inoportunas, um embrutecimento universal das faculdades
morais, uma privação absoluta de ideias sobre aquilo que mais importa ao homem
conhecer”.

Substancialmente, a indiferença religiosa coincide com o agnosticismo e inclusive com


o ateísmo prático. É exatamente a essa situação de indiferentismo – que parece próxima
do ateísmo – que se refere Lotz, quando escreve: “até agora consideramos o ateísmo,
que nega o Deus e, apesar disso, está mais distante de Deus do que aquele que o nega. A
negação desaparece, porque esses ateus não se preocupam mais com Deus, não mais se
interessam por ele. Parecem homens que não se sentem mais tocados por Deus, neles
não ecoam mais o chamado silencioso de Deus. Parecem que Deus não mais se
manifesta a eles; deixaram de sofrer com a perda de Deus. Nietsche sofre terrivelmente
com a sua negação de Deus, não poucos contemporâneos, porém, vivem sem Deus e
não sente que lhes faltam algo de importância capital, são quase cegos em relação a
Deus, estão como que privados dos órgãos que os levaria a encontrá-lo. É um fato muito
grave esse ateísmo consistente na insensibilidade para Deus”.

Dentro do horizonte semântico do ateísmo inclui-se também a impiedade. O ímpio, tal


como o ateu, opõe-se a Deus, mas não simplesmente negando-o (como faz o ateu), e sim
como quem o contesta, blasfema contra ele, odeia-o, condena-o, tem aversão por ele.
52

À adoração, à devoção, ao obséquio, o ímpio contrapõe a aversão, a blasfêmia, o


desprezo. Sua profissão de fé é a do “teólogo que despreza Deus”. Os blasfemadores são
muitos. Poucos, porém, fazem publicamente a apologia da blasfêmia.

Entre essas raras exceções encontraram Manlis Sgalambro, com seu trattado Dell’
empietà. Nesse escrito, que é simplesmente uma coleção de declarações desarticuladas,
ele dá vazão ao seu “ódio para com Deus”. Ele ataca Deus com uma virulência incrível,
raramente encontrável na literatura ateia, nem mesmo no ateísmo militante marxista.

Sequer Zaratustra, de Nietzsche, pronuncia discursos tão insensatos como os produzidos


por Sgalambro. Seu ensaio é – segundo as próprias palavras do autor – “um ácido
sentimento contra Deus ligado ao mais rigoroso recursos técnico-formais. Lá onde foi
cancelado o sentimento predominante da superioridade e entronizado o sentimento mais
baixo, do vil, do horrível, aí se introduziu a verdadeira impiedade. Diferentemente do
ateísmo, que é mera opinião, a impiedade é uma forma. Como uma estrutura a priori,
latente, que num dado momento desperta, ela dispõe da teologia, que sem religião é
vazia, mas sem a impiedade é vazia e cega”.

A impiedade, qualquer homem de bom senso responde apenas como se responde à


blasfêmia vulgar e imunda: tampando os ouvidos; é o único jeito de não ser atingido por
uma imbecilidade tão grande. Pode-se, também, repetir em alta voz com o autor do
apocalipse:

“grandes e admiráveis são tuas obras, Senhor Deus todo poderoso, Justos e
verdadeiros são teus caminhos, Rei das nações, Quem não temerá Senhor, E
não glorificará teu nome? Porque só tu és Santo, E todas as nações virão E se
prostrarão diante de ti, Pois teus juízos se tornarão manifestos”.

(Apoc. 15.3 – 4).

Uma resenha mais completa das atitudes que se enquadram na órbita semântica do
ateísmo incluirá também os pseudo-ateus. Estes – segundo a definição dada por J.
Maritain – são aqueles “que creem e que não creem em Deus, mas que na realidade
inconscientemente creem nele, pois o Deus cuja existência nega não é Deus e sim
alguma outra coisa”.

Esses “pseudos-ateus” nega a realidade transcendente porque a veem proposta de uma


maneira que considera inadmissível. “Talvez não contestassem a existência de Deus se a
noção que dele têm fosse menos vulnerável. Se, por um lado, eles são ateus, pois negam
a existência e valor a Deus, por outro lado, não podem ser considerados ateus
autênticos, pois substancialmente rejeitam uma noção que não é digna da divindade”. A
rigor, não se pode acusar de ateísmo quem admite a divindade, mas tem dela uma
concepção não precisa e até atitude existencial de rejeição, na ordem do pensamento e
da práxis, do absoluto-transcendente, concebido de forma pessoal e entendido como
valor supremo, fundamento de todos os valores.
53

3 – As Razões Do Ateísmo

Por que o homem se torna ateu se, como reconhecem os próprios ateus (Feuerbach,
Sartre, Bloch), ele por si é “um animal naturalmente religioso”? Quais são as razões, os
motivos, que o induzem a negar a realidade daquele que, mediante inumeráveis
hierofanias naturais e históricas, dá sinais claros e inconfundíveis da própria existência?
Por que há pessoas que não conseguem ver aquele que foi visto e reconhecido por
muitíssimos outros, desde que o mundo é mundo? Por que não ouvem a voz daquele
que não apenas os primitivos e os analfabetos, mas também os homens mais cultos e
civilizados ouviram claramente, alegremente, confiantemente? E, em segundo lugar, por
que a negação de Deus assumiu proporções tão impotentes na época moderna, que é a
época da “morte de Deus”?

O Concilio Vaticano II, na constituição pastoral Gaudium et Spes, apresenta um quadro


muito amplo e articulado das motivações que podem levar ao ateísmo e a indiferença
religiosa. Em alguns casos, a rejeição de Deus deve-se a preconceitos metodológicos ou
linguísticos:

a) “Enquanto Deus é expressamente negado por uns, outros pensam que o homem
não pode afirmar absolutamente nada sobre ele”.

b) “Alguns, porém, submetem a exame o problema de Deus por tal método, que
parece carecer de sentido”.

c) “Muitos, ultrapassando indevidamente os limites das ciências positivas, ou


sustentam que só por este processo cientifico se explicam todas as coisas, ou, ao
contrário, já não admitem de modo algum nenhuma verdade absoluta”.

d) “Alguns exaltam o homem a tal ponto que a fé em Deus se torna como que
enervada e dão a impressão de estar mais preocupados com a afirmação do
homem que com a negação de Deus”.

e) “Em outros casos, a rejeição de Deus é causada pelas imagens aberrantes


(antropomórficas, mitológicas, supersticiosas) que os homens fazem de Deus,
imagens que provocam um justo protesto”.

f) “Em outros casos”, a negação de Deus é motivada pela presença de tremendos


sofrimentos e injustiças na história da humanidade, que fazem pensar que Deus
não é mesmo Senhor da história; assim, o ateísmo nasce também como “um
protesto violento contra o mal no mundo”.
54

g) “Em outros casos, enfim, o ateísmo é causado pelo mau exemplo dos crentes;
então é uma reação crítica contra as religiões e, em algumas regiões, sobretudo
contra a religião cristã. Por esta razão, nesta gênese do ateísmo, grande parte
pode ter os crentes, enquanto, negligenciando a educação da fé, ou por uma
exposição falaz da doutrina, ou por faltas na sua vida religiosa, moral e social, se
poderia dizer deles que mais escondem que manifestam a face genuína da Deus
e da religião”.

Segundo Santo Tomás de Aquino, na Summa Theologiae, reduz a dois os argumentos


que podem induzir a razão a não reconhecer a realidade de Deus e fazer profissão de
ateísmo:

1. O mal: “Se Deus existisse, não deveria haver mal algum”, pois Deus é
infinitamente bom;

2. A lei científica da simplicidade, que determina que se dê preferência às teorias


que postulam o menor número de princípios.

“ora, para explicar aquilo que ocorre neste mundo, bastam às leis da natureza e a
liberdade humana; por isso, não é preciso postular a existência de Deus”. Santo Tomás
viu muito bem: a razão ética do mal e a razão teorética da ciência são, indubitavelmente,
os argumentos que em todas as épocas, tiveram maior peso na negação de Deus.

O argumento “científico” (que está na base de todas as formas de ateísmo científico) é


elemento por todos os estudiosos do ateísmo entre as causas principais da negação de
Deus. De Lubac, que foi um dos mais lúcidos pesquisadores do fenômeno ateu, assim o
resume:

“De três modos, nos dizem, a ciência teria definitivamente enxotado Deus. Em
primeiro lugar, ela constituiu um novo tipo de análise do real que, com seu rigor
único, só teria valor como conhecimento: a objetividade do saber exclui todos os
antigos modos abstratos de raciocínio, todos os procedimentos análogos, todas as
extrapolações ditas metafísicas, que introduzem a mente num mundo irreal,
imaginário, quimérico, um mundo que ela (a mente) chamava de misterioso e
transcendente e no qual se perdia. Além disso, quanto mais a ciência progride em
suas investigações rigorosamente indutivas, seja em relação à história dos homens,
seja em relação aos fenômenos da natureza, tanto mais elimina as ilusões geradas e
alimentadas pelas crenças relativas à divindade: dado que o homem atribui
naturalmente a causas ocultas, a forças naturais e, finalmente, a partir de um
processo de simplificação, de condensação e de abstração, ou, como dizei Engels,
de “destilação” (processo aparentemente racional, mas sem reflexão crítica),
passou a atribuir à causalidade de um único Deus todos os efeitos cujas verdades
causas ele ignorava. Enfim, nascido da ciência, o prodigioso desenvolvimento da
técnica aumenta todo dia o domínio do homem sobre a natureza e sobre si mesmo;
por isso, o homem toma consciência de um poder verdadeiramente criador; ele se
sente cada vez mais ‘o demiurgo da própria história’ e, por consequência, não sente
55

mais a necessidade de imaginar um Deus que seja o remédio universal das suas
fraquezas, como o fora, antes, das suas ignorâncias”.

O argumento “moral” – baseado na incompatibilidade do angustiante fenômeno do mal


com o conceito de um Deus sumamente bom, poderoso e perfeito – são invocados com
frequência e obstinação pelos ateus. Recorrem a ele tanto as pessoas comuns como os
filósofos profissionais e, mais ainda, os literatos. “o absurdo do mundo e do homem,
inscrito no mundo – escreve S. Palumbieri _ torna absurda, por sua vez, a afirmação de
um ser pessoal onipotente e que ama a todos. Malraux, Sartre, Camus – tão diferentes
entre si em relação à impostação do problema e ao estilo – concordam em rejeitar um
sistema no qual teriam sido colocados por uma vontade amorosa, pois veem
incompatibilidade entre a estrutura do sistema e o absoluto moral que o homem porta
em si. A consciência moral, sensível ao absoluto de bem e aprisiona numa condição que
a contradiz, percebe, na solidão da própria subjetividade, a impossibilidade de um Ente
Perfeito. Este, de fato, hipoteticamente sem mancha, assumiria com a sua existência a
responsabilidade pelo mal e a sua justificação. Não seria mais, então, o Bem absoluto.
Ter-se-ia manchado também com a injúria radical. Não seria mais o santo, o Imaculado.
Deixaria de ser Deus”.

Para A. Camus, um dos escritores que mais explorou o argumento do mal na


contestação da existência de Deus, uma criação em que morrem crianças é um supremo
libelo de acusação contra Deus. “Como a ordem do mundo é regulada pela morte, talvez
seja melhor para Deus que não se creia nele e que se lute com todas as forças contra a
morte, sem se elevar os olhos para o céu, onde ele silencia”. Contra o terrível mal da
peste, que ceifava impiedosamente tantas criaturas inocentes, “era preciso lutar de todas
as maneiras possíveis, e não colocar-se de joelhos. Toda a questão era impedir, ao
máximo possível, que aumentasse o número de mortos, dos que iriam para a separação
definitiva. E, para tanto, só havia um meio: a luta contra a peste. Essa verdade não era
digna de admiração, apenas lógica”.

Existem, porém, muitos outros argumentos ao alcance dos ateus para justificar a
negação de Deus; recordemos alguns deles:

 Em primeiro lugar, o argumento da incompatibilidade entre liberdade humana


e existência de Deus. O dilema “ou Deus existe, e então o homem não pode ser
livre; ou o homem é livre, e então Deus não existe” aparece com muita
frequência na literatura ateia, a partir de Nietzsche, que declara: “Devia morrer
esse curioso. [...] Eu queria vingar-me dessa testemunha, ou então morrer”.
Bakunin também recorre a esse argumento para negar Deus: “Se Deus é
necessariamente o senhor eterno, supremo e absoluto, e se esse senhor existe,
o homem só pode ser escravo”.

 Outro argumento invocado muitas vezes para apoiar o ateísmo é o “mau


exemplo” dos crentes. Assim, são citadas as cruzadas, a inquisição, o processo
contra Galileu, as fogueiras para as bruxas e hereges, o holocausto dos judeus
56

etc. Trata-se de um argumento ad hominem, ao qual é fácil replicar com outros


argumentos ad hominem (por exemplo, todas as obras humanitárias criadas
pela Igreja e pelos seus santos etc.). Todavia, é um argumento que goza de
prestígio, sobretudo, entre os que assumem a práxis, como critério supremo de
verdade. E, indubitavelmente, o péssimo testemunho que certos crentes – e, às
vezes, a própria Igreja e suas instituições – dão de Deus pode se tornar um
convite a não crença.

15 – ATOMISMO

1 – Introdução:

a) Atomicidade – número de átomos contidos em uma molécula de determinado


elemento.

b) Atômico – relativo ou pertencente ao átomo; que procede do átomo; bomba


atômica; bomba cuja força explosiva reside na deflagração nuclear dos átomos
de um elemento químico simples nela contido.

c) Atomismo= sistema filosófico que pretende explicar a constituição do universo


pela combinação dos átomos.

d) Atomista= sectário do atomismo.

e) Átomo – menor partícula de matéria que pode entrar em combinação;


corpúsculo pequeníssimo.

A Natureza Do Universo

Átomos e Partículas subatômicas: Dentre as forças fundamentais da natureza, a


gravidade é a força dominante a nível cósmico, pois rege as órbitas dos planetas e dos
outros corpos celestiais. Entretanto, quando se estuda o microcosmo do universo
atômico, as forças que impedem sobre os átomos e partículas subatômicas são
eletromagnéticas, a força forte (que mantém o núcleo do átomo unido) é a fraca
(relacionada com o decaimento radioativo).

1 – Modelo de Rutherford para a estrutura atômica. Elétrons negativamente carregados


circulam em torno de núcleos de carga positiva.

2 – Modelo de Rutherford-Bohr para a estrutura atômica. O número de elétrons girando


em torno do núcleo é igual ao número de prótons positivamente carregados contidos no
57

núcleo. O numero de elétrons em cada camada também é limitado não mais de 2 na


primeira, 8 na segunda, 18 na terceira, e assim por diante.

3 – Níveis de energia do átomo. Cada camada atômica ou órbita está associada a um


determinado nível de energia. Ao se moverem entre as camadas, os elétrons ganham ou
perdem energia. No segundo caso, a energia perdida é emitida como fóton (partícula de
luz ou outra radiação eletromagnética).

A palavra átomo designa partículas de matéria que, de tão pequenas, são indivisíveis.
Em sua teoria atômica de 1803, o químico britânico John Dalton (1766-1844) definiu-o
como a menor partícula capaz de conservar as propriedades químicas de um dado
elemento. Vários fenômenos puderam ser explicados com o auxílio desta hipótese,
ainda válida.

2 - Estrutura do Átomo

Até a descoberta do elétron em 1897, pelo físico britânico J.J. Thompson (1856-1940),
não havia descrição física do átomo. O átomo nuclear foi proposto pelo físico inglês
Ernest Ruthford (1871-1937) em 1911. Seu modelo consiste de um núcleo central
pequeno, porém denso, de carga positiva, envolto por elétrons carregados
negativamente. Ele sugeriu que os elétrons orbitavam ao redor do núcleo e que a força
de sua velocidade angular em suas órbitas seria suficiente para compensar a força de
atração exercida pelo núcleo de carga oposta. O núcleo contém mais de 99,9% da massa
do átomo, mas seu diâmetro é de dez elevados a menos quinze m (conforme ao tamanho
do átomo de cerca de dez elevados a menos dez m.).

Uma objeção ao modelo de Rutherford foi formulada pelo físico dinamarquês Neels
Bohr (1885-1962). Bohr observou que, ao se mover em órbita circular, o elétron sofre
aceleração contínua e que uma carga acelerada deveria irradiar energia sob forma de
ondas eletromagnéticas. Se o elétron emitisse energia continuamente, poderia energia e
colidiria com o núcleo; assim, não poderia existir órbita permanente.

Bohr propôs que os elétrons só se moviam ao redor do núcleo em determinadas órbitas


ou camadas permitidas, cada qual com o seu próprio nível de energia e, que enquanto
permanecessem nestas órbitas não emitiriam radiação. Radiação como a luz só seria
emitida se um elétron saltasse de um nível permitido para outro de energia inferior.
Assim, os elétrons não perderiam energia continuamente, mas apenas em fótons ou
quantas (quantidade discretas) equivalentes à diferença de energia entre as órbitas
permitidas. Aprofundando-se na teoria da dualidade da onda-partícula, o físico austríaco
Erwim Schrödinger (1887-1961) aperfeiçoou o modelo de Bohr, sugerindo que as
órbitas permitidas teriam uma circunferência que seriam um múltiplo do comprimento
de onda do elétron.
58

3 – Estrutura Do Núcleo

Com exceção do átomo de hidrogênio, que contém apenas um próton, os núcleos dos
átomos encerram uma mistura de prótons e nêutrons – os núcleos. O próton tem carga
positiva, de valor igual à carga negativa do elétron; o nêutron, de tamanho similar ao
próton e eletricamente neutro. Os dois tem massa equivalente a cerca de 1836 vezes a
do elétron, cuja massa em repouso é de 9,11x10 elevado a potência de (- 31) Kg. Os
prótons e nêutrons do núcleo atômico são mantidos unidos por meio da força nuclear
forte, que supera a força eletromagnética de repulsão (bem mais fraca) exercida pelos
prótons positivamente carregados.

É possível que átomos do mesmo elemento com tenham números iguais de prótons, mas
números diferentes de nêutrons em seus núcleos – chamamos de isótopos. Isótopo de
um mesmo elemento contém a mesma carga nuclear e suas propriedades químicas são
idênticas, mas com propriedades físicas diferentes. Um isótopo pode ser representado de
várias maneiras: Urânio-235; U-235 ou U.

4 – Radioatividade

A radiação – tanto sob forma de emissão espontânea de partículas quanto como onda
eletromagnética ocorre a partir da desintegração de certas substâncias. Trata-se de
radioatividade, que pode ser de três tipos: decaimento alfa, beta e gama.

No Decaimento Alfa (α), são produzidos núcleos de hélio com dois nêutrons e dois
prótons – partículas alfa formados pelo decaimento espontâneo de seus núcleos-
precursores. Assim, o Urânio-238 decai para Tório-234 com emissão de uma partícula
alfa (α).

No decaimento Beta (β), as partículas emitidas são ou elétrons ou pósitrons (idênticos


ao elétron, mas de carga positiva). O núcleo precursor conserva o mesmo número de
núcleos, mas sua carga varia para mais ou menos (1) um. Nestes mesmos processos,
outra espécie de partícula - um neutrino não possui carga e sua massa, descoberta no
início de 1995, é quase nula.

No decaimento gama (γ), o processo radioativo produz fótons de alta energia quando o
núcleo resultante salta de um estado excitado de energia para outro de energia baixa.

A velocidade com que a desintegração radioativa ocorre depende apenas do número de


núcleos radioativos presentes. A meia-vida, ou o tempo que metade de um dado número
de núcleos radioativos leva para se desintegrar-se, é constante para cada elemento. O
isótopo de Carbono-14 possui meia-vida, de 5.730 anos e a medida de seu decaimento é
usado no cálculo de idade de materiais orgânicos. O decaimento pode resultar na
produção de uma série de novos elementos que, por sua vez, podem decair até alcançar
um estado de estabilidade.
59

5 – Partículas Nucleares

Mais de 200 partículas-elementos são conhecidas, sendo divididas em dois tipos:


Hádrons e Léptons. Os Hádrons são partículas pesadas afetadas pela força forte e os
Léptons são partículas leves, como os elétrons e neutrinos, que não estão sujeitos à
força forte. Outra distinção é feita entre férmions, que têm existência permanente, e
bósons, que podem ser produzidos e destruídos livremente. Os Léptons são férmions.

Acredita-se que todas as partículas possuam uma anti-partícula e ela associa – de


mesma massa, mas oposta em outras características, como a carga. O pósitron, portanto,
de carga positiva, é a anti-partícula do elétron de carga negativa. Algumas partículas,
como o fóton, podem ser suas próprias anti-partículas.

Presume-se que os Léptons sejam partículas fundamentais e que os Hádrons sejam


constituídos de quarks, que podem ter carga elétrica fracionária. É provável que não
existam quarks. Quando três quarks se combinam, o Hádron resultante é o bárion; a
combinação de um quark com um antiquark chama-se méson. Um méson é um bóson-
partícula de vida curta que salta entre prótons e nêutrons, mantendo-os unidos. Pode-se
formar um padrão de Hádrons (via octupla) através da combinação de diversos quarks,
tendo sido possível preverem a existência de partículas posteriormente descobertas.
Acredita-se que existam seis tipos de quark: “UP”, “DOWM”, “CHAMED”,
“STRANGE”, “TOP” E “BOTLOM”.

Os Quarks transportam, além da carga elétrica, outro tipo de carga chamada “cor”. A
força associada à carga de cor liga os quarks entre si e é tida como a fonte da força forte
que matem os Hádrons unidos. Assim, a força de cor é a mais fundamental. A força
fraca está associada ao decaimento radioativo beta de alguns núcleos. A teoria da força
eletrofraca demonstrou que as forças eletromagnéticas e as fracas estão vinculadas entre
si e previu a existência das partículas W e Z; subsequentemente descobertas.

6 – Fissão e Fusão

A energia nuclear origina-se a partir de dois processos – fissão e fusão, ambas, formas
de reação nuclear. No processo de fissão, um núcleo grande, como o Urânio – 235
(235U) divide-se formando dois núcleos menores que possuem energias de ligação
maiores que a do Urânio original. Assim, a energia é cedida no processo. A fissão é
usada em reatores nucleares e em armas atômicas. Além do Urânio 235, existem outros
isótopos, como o plutônio-239, que dão origem à fissão.

No processo de fusão, dois núcleos leves se fundem, dando origem a duas partículas,
uma maior e outra menor que os núcleos originais. Geralmente, um deles possui energia
de ligação suficiente alta para liberar grande quantidade de energia. A fusão do
hidrogênio para formar hélio é a fonte de energia de estrelas como o sol. Embora o
processo de fusão solar defira em detalhes do processo simplificado aqui descrito. A
60

fusão nuclear é à base da bomba de hidrogênio e as pesquisas prosseguem no sentido de


tornar possível o uso da fusão para gerar energia.

Fissão Nuclear: um nêutron bombardeia o núcleo de Urânio-235, fazendo com que se


divida e libere energia quando a força nuclear forte é rompido. Formando-se então dois
núcleos mais leves, que também são radioativos. Os nêutrons liberados podem
bombardear e dividir outros núcleos – outras fissões podem ocorrer. Estabelece-se
assim uma reação em cadeia, caso a massa do Urânio-235 esteja acima de certo nível –
a massa crítica.

Fusão Nuclear: dois núcleos pequenos se chocam e se combinam, rompendo a força


nuclear fraca, liberando energia. A reação acima envolve núcleos de deutério e trítico
(isótopos do hidrogênio) que se combinam produzindo hélio (p um subproduto) e um
neutro, liberando energia. Tal reação libera muito mais energia do que a fissão para uma
determinada massa de matéria. Contudo, os nêutrons liberados devem ser contidos ou
controlados.

7 – Aceleradores Nucleares

Aceleradores são máquinas grandes que aceleram feixes de partículas a velocidades


altíssimas, possibilitando a pesquisa da física de partículas. Para acelerar as partículas,
tanto em linha reta (acelerador linear) quanto em círculo (cíclotron, sincroton ou
sincrociclotron), são empregados campos elétricos e poderosos campos magnéticos são
usados para guiar os feixes. As partículas chegam a adquirir níveis de energia
equivalentes a várias centenas de giga elétron-volts. Um elétron-volt (eV) corresponde
ao aumento em energia que um elétron sofre quando seu potencial aumenta em 1 volt: 1
eV = 1,6x10 (elevado a menos (-19), joules (J)). Os aceleradores nucleares têm
fornecido provas experimentais da existência de numerosas partículas subatômicas
previstas em teoria.

16 – AUTORITARISMO

1 – Introdução:

Autoritarismo = qualidade de autoritário; sistema autoritário de governo; despotismo.

Autoritário = que se impõe pela autoridade que tem ou julga ter; impositivo; arrogante;
arbitrário; despótico.

Déspota = aquele que exerce poder absoluto e arbitrário; o que denomina tiranicamente;
tirano; opressor.
61

Despotismo = tirania, poder absoluto e arbitrário; sistema de governo que se


fundamenta no poder absoluto.

2 – Governos e Povos

Os governos, originalmente, tinham por finalidade proteger o povo contra agressores


externos e fornecer um conjunto de leis que organizasse o dia-a-dia das pessoas. A
partir do século XIX, as atribuições dos governos vêm aumentando, passando a
abranger as áreas de educação, saúde e previdência (o Estado voltado para o bem-estar
comum). Há quem ache que os governos atuais assumem responsabilidades em
demasia.

A antiga cidade-estado de Atenas é muitas vezes tida como modelo básico de


democracia. Apesar de mais avançadas do que tudo que precedeu, segundo os padrões
atuais, a democracia ateniense era bastante limitada em virtude da condição de
inferioridade de suas mulheres, do regime de escravidão em que se sustentava e da
divisão desigual de poder entre os cidadãos do sexo masculino. O sistema republicano
romano presenciou um maior controle por parte do povo sobre seus governantes,
baseando-se na ideia de que o poder pertence mais ao povo como um todo do que a um
pequeno grupo de pessoas.

No período medieval, o governo dividia-se entre Estado e Igreja, cada qual


reivindicando seus direitos próprios. A visão medieval predominante era a de que a
autoridade para governar provinha de Deus – o chamado “direito divino dos reis”. O
teórico político italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) rejeitou esta concepção em
favor de uma visão secular do Estado, defendendo uma forma popular de governo que
considerava ter existido na República Romana.

3 – O Contrato Social

O surgimento da ideia de contrato social no século XVI reintroduziu a noção de governo


fundamentando no consentimento do povo. Em Leviatã (1651), o filósofo inglês
Thomas Hobbes (1588-1679) descreveu o caos político em que, segundo ele, o povo
vivia quando não dispunha de governo adequado. Sua doutrina afirmava que os homens
só poderiam viver juntos em paz caso se dispusessem a obedecer a um soberano
absoluto. A este acordo Hobbes deu o nome de “contrato social”. A preocupação do
filósofo com o que acontecia durante uma situação de desgoverno, que ele havia
presenciado durante a Guerra Civil Inglesa, levou-o a sugerir que uma quantidade
considerável de poder deveria ser colocada nas mãos do soberano. Em seus dois tratados
de governo (1690), o filósofo Inglês John Locke (1632-1704) também propôs a idéia de
um contrato social. Locke, contudo, opunha-se ao absolutismo e via no livre
consentimento dos governos a base do governo legítimo. A obediência pressupõe que os
governos visem o bem-estar dos governados, que têm o direito de se rebelar caso sejam
62

oprimidos. Esta ideia é bastante aceitável nos dias de hoje, mas para a época soava
radical – tendo sida adotada, por exemplo, pelos revolucionários americanos de 1776.

O Filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) abordou a questão que havia


preocupado todos os teóricos do contrato social após o declínio da ideia de autoridade
investido por Deus. Se as leis eram feitas por alguns cidadãos precisam viver dentro de
um sistema de leis, mas os cidadãos só podem subordinar-se a elas se participarem de
sua elaboração. Em contrato social (1762) Rousseau definiu a democracia ideal como
tendo por base a soberania popular. O exercício do poder; argumentava ele, deve estar
de acordo com a “vontade geral” e ter o consentimento de todas as pessoas.

4 – Tipos de Governo e Suas Obrigações

Ao desenvolver a ideia de separação dos poderes, o filósofo iluminista francês


Montesquieu (1689-1755) mostrou o caminho para a visão moderna de governo
dividido em três poderes. O poder legislativo, o executivo e o judiciário.

O Poder Legislativo tem sob sua responsabilidade a elaboração e o aprimoramento das


leis, o poder executivo deve colocar as leis em prática e o poder judiciário é responsável
pela administração da justiça. Esta separação dos poderes facilita o controle por parte do
povo e cada um deles fiscaliza o outro, num sistema de “freios e contrapesos”. Por
exemplo, o Supremo Tribunal Federal (STF), a mais alta instancia do judiciário no
Brasil, pode julgar se o governo (Executivo) infringiu a lei. As democracias liberais ou
ocidentais assumem diversas formas, mas têm em comuns eleições regulares dos
governos por meio da livre escolha entre partidos concorrentes. Países como Brasil e
Estados Unidos possuem sistemas presidencialistas, em que o poder executivo é
atribuído ao presidente eleito. O poder do presidente é geralmente limitado, até certo
ponto, pelo congresso, responsável pelo funcionamento do governo dia-a-dia. No
sistema parlamentarista, o primeiro ministro (geralmente o líder do partido com a
maioria do congresso) chefia o poder executivo. Na monarquia constitucionalista, caso
da Grã-Bretanha, o primeiro ministro é subordinado a um soberano que, no entanto,
possui apenas poderes protocolares.

Os Estados Comunistas, como a União Soviética até 1990-91, eram governados por um
único partido, o Comunista. Por volta de 1989-91, o poder do partido comunista nos
países da Europa Oriental se desintegrou e eles passaram a adotar sistemas mais
democráticos. Muitos países, principalmente no terceiro mundo, possuem governos
militares. A partir dos anos 70, todavia, tem havido uma tendência de substituição de
regimes militares por democracias, inicialmente no sul da Europa, depois na América
Latina e, mais recentemente, na África.

Na Alemanha, um sistema federal divide o poder entre um governo central e vários


governos regionais. Um sistema unitário concentra a autoridade do Executivo nas mãos
do governo central.
63

5 – Participação Política

A democracia moderna desenvolveu-se como um sistema em que o povo pode participar


das tomadas de decisão do governo. A forma mais elementar de participação política é a
votação para eleger representantes do povo, direto ou indiretamente. No sistema de
eleição indireta adotada pelos Estados Unidos, o povo escolhe um corpo de eleitores –
um colegiado eleitoral – que elege o presidente. Alguns países, como a Grã-Bretanha,
possuem um sistema eleitoral distrital majoritário, em que o candidato com maior
número de votos de um distrito eleitoral (ou seja, de uma determinada área) é eleito.
Assim como o Brasil, a França usa um sistema de votação em dois turnos, ao passo que
a maioria dos outros países europeus adota sistema de representação proporcional que
procuram garantir que os partidos sejam representados de acordo com o número de
votos que receberam do eleitorado.

Alguns países, como a Suíça, utilizam plebiscitos para permitir que o eleitorado opine
diretamente sobre questões de seu interesse.

6 – A Administração

O Sociólogo alemão Max Weber considerava a burocracia uma forma de administração


mais eficiente que o sistema anterior, exercido por membros de uma corte monárquica.
No entanto, a eficiência da burocracia e a estabilidade dos funcionários públicos
levantam sérias questões acerca de suas responsabilidades para com o seu povo.

7 – O Autoritarismo

O país latino-americano tem longa tradição de governos ditatoriais. As obras literárias


de Gabriel Garcia Márquez, Manoel Scorza, J.J. Verga registra os sucessivos golpes de
Estado que colocaram esses países à mercê dos caudilhos.

Os regimes chamados autoritários não devem ser confundidos com os totalitários,


conforme foram descritos no capítulo sobre Totalitarismo.

Ambos ceceiam as liberdades individuais em nome da seguram nacional, usam formas


de propaganda política, exercem a censura e têm um aparelho repressivo.

Nos regimes autoritários, contudo, não há uma ideologia de base que sirva “para a
construção de nova sociedade” e não há mobilização popular que lhes dê suporte. Ao
contrário, em vez da doutrinação política e do incentivo ao engajamento ativista (ainda
que dirigido), há a despolitização que leva à apatia política. O clima de repressão
violenta gera o medo, que desestimula a ação política atuante. Permanece, sempre que
possível, a aparência de democracia: pode haver vários partidos, e mesmo que a
oposição efetiva desapareça, ela existe como oposição formal. O partido do governo é
um mero apêndice do poder executivo.
64

O governo autoritário pode também utilizar os militares na burocracia estatal, e a elite


econômica tem, nos postos chaves, oficiais das forças armadas. Os militares saem da
caserna para se tornarem a instituição política mais importante da nação. Foi o que
aconteceu por ocasião do golpe militar de 1964 que impôs durante duas décadas o
regime autoritário no Brasil.

17 – BAHAISMO

1 – Introdução:

Religião fundada em Acre, na Palestina, por um nobre exilado persa, nascido em 1817 e
descendente dos reis Sassânidas, de nome Mirzá Husayn ‘Ali Nuri, hoje conhecido pelo
nome de Baha Allah (glória de Deus) e instituída pelo seu filho, Sir Addul-Bahá Bahai
ou “servo da Gloria de Deus” (1894-1921). Essa seita declara ter mais de um milhão de
adeptos e diz que metade da América é Baha’i.

2 – Histórico:

Considera-se o Said’Ali Muhammad, de Chiraz, o precursor desse movimento religioso.


Cognominado o “Bab” (porta), Ali Muhammad foi tido como o meio pelo qual se pode
passar ao conhecimento pleno da verdade divina, de onde vem a expressão a ele
associada, Bab el-Din “porta da fé”.

Influenciado por contatos com fontes gnósticas, sufitas e xiitas, o Bab, que fora
reconhecido por dirigentes da seita islâmica xiita como o sucessor de Maomé, anunciou
modificações que se deveriam fazer no corão, o que revoltou os ortodoxos islamitas.

Depois de grandes e bárbaras perseguições aos adeptos dessa seita, sobretudo porque o
Bab se dizia sucessor de Moisés, Cristo e Maomé, o Bab foi morto em 1850, em Tabriz.
Após sua execução, foram expatriados muitos seguidores da seita, inclusive Baha Allah,
que após alguns anos chegou a Acre, na Palestina, onde se proclemou o novo profeta.
Quanto à Ali Muhammad, Baha Allah dizia que ele teria sido uma espécie de João
Batista, que veio com a missão de preparar o caminho para o verdadeiro profeta.

O centro administrativo do bahaísmo está em Haifa, Israel. Os dois principais templos


encontram-se na Rússia (em Isqabad) e nos EUA. (Wilmette, Illinois). Existem mais de
quinhentas comunidades dessa religião no Irã, cerca de noventa nos EUA, e outras
tantas espalhadas por mais de cem países do mundo. Publicam além de relatórios
bienais, a revista mensal “World Order Magazine”.
65

3 – Baha Allah:

Segundo ensinava, a periódica revelação de Deus aos homens por meio de um profeta
especial como Moisés, Jesus, Maomé, não terminara, como ensinara o fundador do
islamismo, na revelação de Meca e Medina. Agora Deus falava de novo por intermédio
dele.

Sua missão consistia em anunciar a nova era, que se caracterizariam pela união de todos
os homens, culturas, línguas, religiões, sob a bandeira do Bahaísmo, o qual não
pretendia ser outra coisa senão a comunhão de todas as religiões...

Por determinação testamentária, o filho mais velho do fundador, Abdul-Bahá, seria


universalmente considerado o verdadeiro intérprete da religião. Da mesma forma,
passou a chefia do movimento, depois da morte deste, ao neto do fundador, Shoghi
Effendi.

4 – Doutrinas:

Jesus – foi um profeta como Moisés, Maomé, e Baha Allah. É uma manifestação de
Deus, sendo que o Baha Allah é uma manifestação mais recente. Veja as palavras de
Jesus:

“e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mt 28.20).

Religião Universal – o Bahaísmo é uma seita fabricada para atender a todos. Embora
tenha cunho islâmico, tenta atrair a hindus, cristãos e judeus. Admite outros profetas de
outras religiões e diz que todas as religiões são essencialmente iguais.

Panteísmo – se aceita a todas as religiões e aos seus profetas, consequentemente aceita


seus deuses. Logo, é uma religião panteísta que também crê na evolução do homem até
que ele alcance o nível da divindade.

Espiritismo – o Bahaísmo adota quase todas as doutrinas espíritas. Nesse caso, as


referencias bíblicas usadas para aquela religião se enquadram bem.

Religião Vaga – como o movimento admite a união de todas as religiões sem que estas
tenha que abandonar seus preceitos e doutrinas, evidentemente, não pode discorrer
sobre certos ensinamentos. Não pode ter dogmas doutrinários e não ensina nada que
venha a ferir diretamente as outras religiões.

Alguns princípios do Bahaísmo, são ideias fundamentais que embora bem elaboradas
para atenderem a todos, chocam-se seriamente com alguns princípios cristãos:

 Um só Deus e uma só religião. 1 Co 6.9,10;


 Uma só humanidade. 2 Co 6.14,15;
 Livre busca da verdade. Jo 14.6;
66

 Abandono de preconceitos. 2 Tm 3.14;


 Paz internacional. Jo 14.27;
 Idioma internacional. 1 Co 13.1;
 Igualdade social e sexual. Mt 26.11, Ap 22.15;
 Abolição da riqueza e pobreza. Mt 26.11;
 Santidade pessoal. 1Pd 1.16.

Haverá um dia em que alguns desses princípios serão estabelecidos na terra, porém
nunca da maneira como pensam os bahaístas. Somente debaixo da mão poderosa de
Jesus Cristo poderá a humanidade dobrar-se.

18 - BOLIVARIANISMO

1 – Introdução:

Bolívar é a unidade monetária da Bolívia. Uma palavra da moda no Brasil é usada por
muita gente que não faz ideia de seu significado. Entenda o que é bolivarianismo e por
que ele nada tem a ver com “Ditadura Comunista”.

2 – Histórico:

Após ser apropriado pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, o termo originado
do sobrenome do libertador Simón Bolivar aterrissou no debate político brasileiro. São
frequentes as acusações de políticos de oposição e da mídia contra o governo federal
petista. Lula e Dilma estariam “transformando o Brasil em uma Venezuela”. Mas o que
é o tal Bolivarianismo de que tanto falam? Bolivarianismo é sinônimo de ditadura
comunista? Antes de sair por aí repetindo definições equivocadas, leia as respostas
abaixo:

a) O que é bolivarianismo? O termo provém do nome general venezuelano do


século XIX, Simón Bolivar, que liderou os movimentos de independência da
Venezuela, da Colômbia, do Equador, do Peru e da Bolívia. Convencionou-se,
no entanto, chamar de bolivarianos os governos de esquerda na América Latina
que questionam o Neoliberalismo e o Consenso de Washington (doutrina
macroeconômica ditada por economistas do FMI e do Banco Mundial).

b) Bolivarianismo e Ditadura Comunista são a mesma coisa? Não. Mesmo


considerando a interpretação que Chávez deu ao termo, o que se convencionou
chamar bolivarianismo está muito longe de ser uma ditadura comunista. As
realidades de países que se dizem bolivariano, como a Venezuela e Equador, são
bem diferentes da Rússia sob o comando de Stalin ou mesmo da Romênia sob o
regime de Nicolau Ceausescu. Neles, os meios de produção estavam nas mãos
do Estado, não havia liberdade política ou pluralidade partidária e era inaceitável
67

pensar diferentemente da ideologia dominante do governo. Aqueles que o


faziam eram punidos ou exilados, como os que eram enviados para o gulag
soviético, campo de trabalho forçado símbolo da repressão ditatorial da Rússia.
Na Venezuela, por exemplo, nada disso acontece. A oposição tem figuras
conhecidas como Henrique Capriles, Leopoldo López e Maria Corina Machado.
Cenário semelhante ocorre na Bolívia, no Equador e também no Brasil, onde há
total liberdade de expressão, de impressa e de oposição ao governo.

c) Foi Chávez que inventou o bolivarianismo? Não. O que então presidente


venezuelano Hugo Chávez fez foi declarar seu país uma “República
Bolivariana". A mesma retórica foi utilizada pelos presidentes Rafael Correa
(Equador) e Evo Morales (Bolívia). A associação entre Bolivarianismo e
Socialismo, no entanto, é questionável segundo a própria biografia de Bolívar, a
jornalista peruana Marie Alana, editora literária do Jornal americano The
Washington Post. De acordo com ela, esse “bolivarianismo” instituído por
Chávez na Venezuela foi inspirado nos ideais de Bolívar, tais como o Combate a
injustiças e a defesa do esclarecimento popular e da liberdade. Mas, segundo a
biografia, a apropriação de seu nome por Chávez e outros mandatários latinos é
inapropriada e errada historicamente: “Ele não era socialista de forma alguma.
Em certos momentos, foi um ditador de direita”.

d) O que se tornou o bolivarianismo na Venezuela? Quando assumiu a presidência


da República em 1999, Chávez declarou-se seguidor das ideias de Bolívar. Em
seu governo uma assembleia alterou a Constituição da Venezuela de 1961 para a
chamada Constituição Bolivariana de 1999. O nome do país também mudou: era
Estado Venezuelano e tornou-se República Bolivariana da Venezuela. Foram
criadas ainda instituições de ensino com o adjetivo, como as escolas bolivarianas
e as universidades Bolivarianas da Venezuela.

e) Mas esse regime que Chávez chamava de bolivarianismo era comunista? Não.
Apesar de o ex-presidente Venezuelano ter o termo “Revolução Bolivariana”
para referir-se ao seu governo. A ideia era promover mudanças políticas,
econômicas e sociais como a universalização à educação e à saúde, além de
medidas de caráter econômico, como a nacionalização de indústrias ou serviços.
Chávez falava em “Socialismo do século XXI”, Mas o governo venezuelano
continua no país, assim como a parceria com empresas privadas nacionais e
estrangeiras. Empreiteiras brasileiras, chinesas e bielo-russas, por exemplo,
constroem moradias para o maior programa habitacional do país, o gran mission
vivenda Venezuela, inspirado no brasileiro minha casa minha vida.
68

f) O Brasil “virou uma Venezuela”? Esta afirmação não faz sentido. O Brasil é
parceiro econômico e estratégico da Venezuela, mas as diretrizes do governo
Dilma e do governo de Nicolás Maduro são bastante distintos, tanto na retórica
quanto na prática.

g) Os Conselhos Populares são bolivarianos? Não, e aqui o engano vai além do uso
equivocado do adjetivo. Parte da Política Nacional de Participação Social, os
Conselhos Populares seriam a base de um complexo sistema de participação
social, com finalidade de aprofundar o debate sobre políticas públicas com
representantes da sociedade civil. Ao contrário do alegado por opositores, os
conselhos de participação popular não são uma afronta à democracia
representativa. Conforme observou o ex-ministro e fundador do PSDB Luiz
Carlos Bresser Pereira, os conselhos estabeleceriam “um mecanismo mais
formal por meio do qual o governo poderá ouvir melhor as demandas e
propostas (da população)”.

19 – BRAMANISMO

(Uma Fé A Rigor)

1 – Introdução:

510 milhões de habitantes da União Indiana professam uma fé complexa e exigente.


Uns chamam de hinduísmo, referindo-se à sua localização geográfica; outros de
bramanismo, referindo-se a Brama, seu deus impessoal e único, ente supremo do
universo, do qual tudo emana e para o qual tudo volta. Com qualquer dos nomes, é mais
um sistema filosófico, moral e social do que uma religião no sentido habitual. Nem
sequer os sacerdotes – os poderosos brâmes – têm o mesmo papel normalmente
atribuído aos sacerdotes das religiões ocidentais. A evolução dessa fé – hinduísmo ou
bramanismo – marcou profundamente a história de um país que ainda não conseguiu
realizar seus anseios de progresso: a Índia.

2 – Os Livros da Fé:

Mistura de várias crenças, o bramanismo inclui o culto totemista dos drávidas,


primeiros habitantes da Índia, bem como diferentes vestígios de culturas arianas do vale
do rio Índus. Os árias – ou arianos –, que invadiram o país cerca de 1500 anos antes de
Cristo, tinha deuses representativos das forças da natureza: Varuna (vida), Indra (céu),
Agni (fogo). Os preceitos religiosos escritos em sua língua, o sânscrito, formam os
fundamentos do sistema bramânico: “Vedas” e “Upanishades”.
69

Os “Vedas” são quatro coleções de cantos sacros e fórmulas de oferendas. A primeira


(“Rig-Veda”), por exemplo, consta de 1000 hinos; o de número 129 narra a criação do
mundo, que teria ocorrido 12000 anos antes. Meditando sobre as origens do homem, os
filósofos hindus reuniram suas reflexões nos “Upanishades”, que datam de 800 a.C. e
ensinam que a base do mundo é a consciência individual e só o conhecimento liberta o
espírito.

A vida constitui-se de uma série de existências e a posição do homem é determinada por


seu karma, isto é, pelos feitos das vidas anteriores. A meta almejada por todo indivíduo
é a libertação do ciclo de reencarnações (metempsicose). No século VI a.C. surgiram
outros sistemas religiosos e filosóficos (budismo e jainismo), que condenavam,
sobretudo, as castas, bem como o monopólio religioso dos brâmanes (sacerdotes).
Modificado pelo budismo, o bramanismo passou a constituir o hinduísmo, diversificado
em numerosas seitas. Seu fundo comum é a tendência monoteísta da adoração de Brama
e a aspiração de integrar-se em sua natureza, apesar dos milhares de deuses e demônios
que projetam sua sombra em todas as atividades.

3 – Os Degraus da Desigualdade:

Se no budismo os homens são todos iguais, no bramanismo eles se separam em quatro


castas, geradas do corpo de Brama no dia da criação. De sua boca saíram os sacerdotes
(brâmanes); dos braços, os guerreiros (xátrias); das pernas, os agricultores e mercadores
(vaícias); e dos pés, a plebe destinada à servidão (sudras ou párias). A esta última
pertencia pessoas de tal modo desprezadas que os membros das castas superiores não
podiam nem tocá-las. Com o tempo, esse sistema se tornou tão complexo, que em 1901
foram contadas 2300 castas e subcastas. Em 1949, o Parlamento da Índia estendeu aos
párias os mesmos direitos básicos dos outros indivíduos, mas várias restrições até hoje
são sentidas. Regidas por um conjunto rigoroso de permissões e proibições, as castas
formam um sistema muito conservador, que se choca com o Direito, impede a ascensão
social e dificulta o progresso.

4 – Os Caminhos da Pureza:

A justificação do bramanismo para tal sistema está no karma. Assim, se alguém nasceu
num casta inferior, é porque houve má conduta na sua vida anterior; em compensação, a
conduta virtuosa hoje conduz a casta mais elevada amanhã. É que a fé hinduísta se
baseia na teoria da reencarnação: após a morte, a alma renasce num novo corpo, e uma
próxima vida será mais feliz se praticarmos boas ações, pois, segundo uma lei do karma,
“só colhemos aquilo que semeamos”. A série de renascimento tem por meta final a
moksha (libertação espiritual ou iluminação), que integra o crente na natureza de
Brama. O mesmo fim pode ser atingido por diferentes caminhos: a ação, o amor, o
70

conhecimento, e a ascese da yoga (união com o divino), que somente se obtém através
de uma profunda concentração mental.

5 – Os Avatares de Vishnu:

Dois cultos predominam entre numerosas seitas do hinduísmo: os de Siva e Vishnu, que
formam com Brama a trindade suprema denominada Trimuriti. Por meio dessas duas
divindades, Brama intervém para destruir, conservar ou criar. Graças a Siva, a
fecundidade da terra e dos homens é consumida em ciclos de vida e de morte. Por ser o
perpétuo destruidor, Siva permite também a constante procriação e transformação de
tudo quanto existe. As antigas seitas dos seguidores de Siva celebravam cultos orgíacos,
cujos remanescentes ainda subsistem, Vishnu é o deus do amor e da fé, e manifesta-se
de formas diversas. Essas manifestações chamam-se Avatares, que são encarnações
divinas, principalmente em corpos humanos. Entre os Avatares de Vishnu, Rama e
Krishna – humanos de maior valor – realizaram façanhas incríveis, descritas em
epopeias hindus. Quando missionários católicos foram pregar na Índia a doutrina de
Cristo, tiveram a surpresa de ver Jesus tomado por mais um dos avatares de Vishnu.

6 – Os Desânimos de Arjuna:

Em 250 mil versos, a epopeia Mahabhârata (“Grande Índia”) descreveu a guerra entre
os kurus e o pândavas para a conquista de Hastinapura, importante centro da civilização
ariana. Num episódio que resume a mensagem do bramanismo (o Bhagavad Gitâ ou
“Sublime Canção”), dialogam Krishna e o príncipe pândava Arjuna. O homem,
representado por Arjuna, acha-se rodeado de ilusões que pertencem à sua natureza
mortal e inferior. Como se identificou com elas, falta-lhe ânimo para vencê-las. O
divino Krishna ensina então, como conhecer o caminho da libertação e da imortalidade.
E Arjuna enfrentará sem medo a batalha.

7 – Os Rituais da Vida:

O hinduísmo obriga seus fiéis aos rituais durante toda a vida, o primeiro dos quais é o
do nascimento e equivale ao batismo: à criança é dado mel misturado com manteiga
numa colherinha de ouro. A primeira saída de casa (4 meses), o primeiro alimento
sólido (6 meses) e o primeiro corte de cabelo (3 meses) também são comemorados.

Há quatro fases na vida ideal de um homem. Numa idade que varia entre os 8 a 24 anos,
conforme a casta, dá-se a “iniciação”, que simboliza o nascimento espiritual do
bramachin (estudante). O jovem é confiado a um mestre religioso para servi-lo e
aprender os “Vedas”. Pelo casamento, celebrado junto ao fogo sagrado do templo hindu
se torna griasta (chefe de família) e passa a presidir os ritos domésticos. Aproximando-
71

se da velhice, o homem entra no terceiro estado, o de vanapastra (anacoreta), quando se


retira para a floresta levando o fogo do sacrifício que deve manter sempre aceso.
Observa a castidade, alimenta-se pouco, dorme sobre a terra e medita os textos
sagrados. Alcança a posição mais elevada e honrada da vida terrena, que é a de asceta
mendicante.

Para os grandes ritos, porém, é indispensável a presença dos brâmanes, que conhecem
como ninguém o segredo dessa complicadas e exigentes cerimônias. Daí vem seu poder.
As seitas hinduístas incluem numerosos cultos populares, nos quais são venerados
alguns animais como a serpente e a vaca. Todos evitam causar-lhes a morte, pois a
serpente é consagrada a Vishnu e a vaca pertence a Siva e tem imagens nos templos.
Isso significa que os fiéis não podem usar carne de vaca na alimentação. Embora
situadas no extremo oposto dos párias, as vacas da Índia também são intocáveis, mas
com privilégios que os homens párias não têm.

A cidade santa dos hindus é Benares, localizada no Nordeste do país, às margens do rio
Ganges, onde, segundo a tradição, Siva teria morado durante sua vida terrena. Milhões
de peregrinos para lá afluem a fim de se banharem no rio sagrado e purificarem a alma.
Nas águas desse rio também são espalhadas as cinzas dos mortos, pois é praticada a
cremação. Apenas os ascetas e as crianças com menos de dois anos não são cremados,
enterram-se os seus corpos.

8 – Os Cultos Hoje:

Entre os 600 milhões de habitantes existentes na Índia (população em 1976), o número


de adeptos das principais religiões é o seguinte:

O hinduísmo abrange a esmagadora maioria da população: 510 milhões de seguidores,


correspondendo a 85% do total; islamismo: 60 milhões, com 10%; cristianismo: 15
milhões, com 2,5%; siquismo: 9 milhões, com 1,5 %; budismo: 3 milhões, com 0,5%;
outras religiões: 3 milhões, com 0,5%. O budismo, que nasceu na Índia, declinou a
partir do ano 800 d.C.

20 – BUDISMO

1 – Introdução:

Em outras religiões há um reconhecimento total ou parcial de um deus ou de muitos


deuses. O budismo, porém é uma religião que não reconhece, de modo algum, a
existência de um deus. Buda, na realidade, achava que seria presunçoso sugerir a
hipotética existência de um deus. Isto porque um deus estaria além dos limites do
entendimento humano.
72

Podemos perguntar, com razão: “uma crença que não reconhece a existência de nenhum
deus pode ser considerada uma religião? Não se trata apenas de um sistema de ética ou
de uma filosofia oriental?”.

Nem por isso, o budismo deixa de ser uma religião. Realmente, com mais de duzentos e
cinquenta milhões de seguidores, é uma das religiões mais importantes do mundo.

No jardim das religiões do mundo, há uma seção reservada ao budismo. É uma das
maiores seções e orgulha-se de que tudo o que nela há é bom e belo. Nenhuma vida
deve sofrer. Todas as pessoas são bondosas umas com as outras. A flor predileta do
Budismo é a lótus, porque retrata a posição que o homem deve adotar na meditação
profunda. Nesta condição, pode tornar-se um santo, e um ajudador ou salvador da
humanidade.

2 – Conhecendo o Budismo:

Na sua história, que já conta com vinte e cinco séculos, o budismo tem sido uma das
maiores forças civilizadoras que o Extremo Oriente já conheceu. Trouxe ideias
profundas à cultura da China na Dinastia Tang dos séculos VII ate X d.C. Criou as
maiores mudanças e influência espiritual de todas as religiões do Japão, da Birmânia, da
Tailândia, do Tibet, do Laos da Camboja e do Sri Lanka. Qual é esta religião? Por que
tem uma influência tão ampla no Extremo Oriente e um domínio forte sobre seus
seguidores? São estas algumas das questões que analisaremos.

2.1– A Definição do Budismo:

A palavra Budha é um termo em Sânscrito que significa “iluminação” ou


“despertamento”. Deriva-se de Bodhati, que significa “ele desperta-se ou compreende”.
O budismo é o ensino que teve sua origem em Gautama Buda. Sustenta que o
sofrimento é o destino que todos os seres humanos têm em comum, e que podemos
escapar dele, mediante a autopurificação, até chegarmos a um estado de nirvana. É tanto
uma religião quanto uma filosofia, que ocupa um lugar importante na vida espiritual,
cultural e social do mundo oriental. Como outras religiões orientais, o budismo tem suas
raízes no hinduísmo, mas vicejou nos países não hindus, mais do que no seu país de
origem.

2.2– O Fundador do Budismo:

Siddharta Gautama, o fundador do budismo, nasceu em Kapilavastu no vale do Ganges,


no Nepal, parte da Índia, cerca de 563 a.C. Sessenta quilômetros ao norte, subiam os
grandes picos as Himalaias. Nascido numa tribo ariana, filho de um rajá da casta
Kshatriya ou guerreiro, era de descendência real. Uma semana depois do seu
nascimento, morreu sua mãe e ele foi criado pela irmã dela, outra esposa de seu pai.
73

O jovem Gautama foi criado no luxo, no esplendor principesco e no prazer físico. Tinha
três palácios: um para a estação fria, um para a estação quente, e um para a estação das
chuvas. Com outros rapazes ricos dos seus tempos, sobrepujava nos esportes. Certa vez,
num concurso de arqueiros, conquistou a mão de uma bela moça, filha de um rajá.
Casaram-se e tiveram um filho. O pai Gautama, não querendo que este se tornasse um
líder religioso, não deixou que visse o lado escuro da vida. Procurou impedi-lo de ver
quatro coisas: um cadáver, um idoso, um doente e um monge ascético. Mesmo assim,
seu filho acabou tendo experiência das coisas proibidas. Viu um cadáver putrefato, uma
mulher idosa encurvada, um homem com uma infecção horripilante e um monge cheio
de paz, que renunciara o mundo e escolhera o ascetismo. Então Gautama percebeu que a
vida que a maioria das pessoas vive é de sofrimento e de dor, e ficou profundamente
perturbado.

O problema do sofrimento perturbou tanto o jovem príncipe, que não podia continuar
morando num palácio de vida fácil e de fartura. Certa noite, aos vinte e nove anos de
idade, resolveu deixar a sua casa e buscar uma resposta. Partiu no seu carro puxado a
cavalos, noite adentro. Depois de certa distância, cortou os cabelos e a barba e mandou-
os de volta com o cocheiro. Trocou de roupas com um mendigo e continuou a pé.

Gautama procurou primeiramente suas respostas na filosofia e foi discípulo de um guru.


Mas, não tendo achado satisfação, experimentou a vida ascética com cinco outros
monges, a qual durou seis anos. Procurava todas as coisas dolorosas e desagradaveis,
esperando achar a libertação. Às vezes, dormia numa cama de espinhos, deixava de
lavar-se e comia um único grão de arroz por dia. Usava vestes grosseiras que
provocavam cócegas e ficava sentado em posições dolorosas durante horas. Deixava a
sujeita e os insetos nocivos acumularem-se em seu corpo e ficou muito magro. Ele disse
certa feita que se procurasse tocar o seu estômago, apalparia a espinha dorsal. Mas, a
despeito de todos os seus esforços ascéticos, não conseguiu chegar à resposta procurada.

Certo dia desmaiou e caiu num córrego, mas a água fria o reanimou. Pensou na sua
situação e reconheceu que o caminho do asceticismo não satisfaria. Ficou em pé, lavou-
se entrou numa taberna e tomou uma boa refeição. Quando os amigos o viram comer,
chamaram-no de traidor e o abandonaram. Depois sua refeição, foi andando em direção
ao rio Nairajara e ficou sentado à sombra de uma árvore bodhi (que significa
“conhecimento”) para meditar. Declara-se que ficou ali durante 49 dias, meditando em
suas experiências. Finalmente, raiou na sua mente uma verdade que o satisfez. Chamou-
a de sua iluminação. A partir de então, passou a ser chamado Buddha ou “o iluminado”.
A árvore tornou-se sagrada para os budistas, quase tão significante quanto a cruz para os
cristãos.

Gautama chegou a uma conclusão básica. O sofrimento era o problema básico da


humanidade e a causa básica do sofrimento era o desejo. As pessoas ficam atadas ao
ciclo do nascimento e do renascimento por causa da tanha, o “anseio” pelo prazer
sensual. Quando cessou de desejar, foi iluminado, e pronto para nirvana, que significa
“extinção”. O primeiro passo depois da iluminação era encontrar seus cinco amigos
74

ascéticos que o tinham desprezado. Pregou a eles, no parque das gazelas em Benares, a
respeito das Quatro Verdades Nobres. Os amigos, vendo a transformação em Gautama,
aceitaram seus ensinos, e formou o Sangha, a ordem monástica budista.

Durante os quarenta e cinco anos que se seguiram, perambulava espalhando sua


mensagem e reunindo discípulos. Quando ele ensinava que as pessoas de qualquer casta
ou sexo podiam achar a salvação, algumas mulheres queriam filiar-se. Sua própria
esposa estava entre as primeiras. Depois de algum tempo, deixou as mulheres formarem
uma ordem de monjas. Os monges rapavam as cabeças, usavam roupas grosseiras
amarelas, e levavam tigelas para esmolarem comida.

O Buda morreu aos oitenta anos de idade, ao comer cogumelos estragados. Suas últimas
palavras foram: “Esforcem-se sinceramente para operarem sua própria salvação”. Seus
seguidores acreditam que ao morrer, o Buda entrou em nirvana o ponto final de todos os
desejos.

2.3– Localização Geográfica:

O budismo espalhou-se rapidamente em todas as partes da Índia depois da morte do


Buda, mas foi absolvido pelo hinduísmo nos séculos que se seguiram. Tornou-se mais
forte em Sri Lanka, e conseguiu entrada firme na Birmânia, na Tailândia e no Camboja.
Foi levado até a China, onde se tornou uma das três religiões principais. Hoje, existe na
Mongólia, no Tibet, na China, na Coréia e no Japão.

2.4– Divisões Históricas:

Depois da morte de Gautama, o budismo dividiu-se em duas escolas gerais de


pensamento. Cada uma delas chamava-se yana ou “jangada”, para carregar os homens
através do mar da vida até a praia da iluminação. O grupo norte foi chamado Mahayana,
“jangada Grande”. E alegava ser o veículo maior. Maha significa “grande”, como no
nome de Mahatama Gandhi, aquele da alma grande.

A escola do sul era chamada Hinayana, que significa o “veiculo menor”. Seus
seguidores, no entanto, preferiam chamarem-se os budistas Theravada, ou seja: “o
caminho dos antigos”. São os mais conservadores entre os seguidores das suas escolas,
e alegam que seguem os ensinamentos originais do próprio Buda. Os mahayanistas
opõem-se a esta reivindicação, e enfatizam a vida do Buda mais do que seus
ensinamentos. As localizações principais do budismo theravada hoje são Sri Lanka,
Birmânia e o Sudeste asiático.
75

3 – Crenças do Budismo:

De início a doutrina de Gautama era mais um sistema de ética do que uma religião. Mas,
à medida que se expandiu para outros países, houve definição de doutrinas e
desenvolveu-se um sistema de crenças.

3.1– Crenças Herdadas:

Aquilo que Gautama aprendeu na sua meditação debaixo da árvore bodhi, deve ser
estudado dentro do contexto dele. Seu ensino era uma revolta contra o hinduísmo
ortodoxo, mas mantinha certo número das crenças deste. Uma delas era a reencarnação,
a crença de que toda a vida passa por ciclos incontestáveis de nascimento, de morte e de
renascimento. Mantinha, também, a doutrina do karma, mediante a qual a boa conduta é
premiada e a má conduta é castigada na vida futura. Opunha-se ao sistema das castas,
no entanto, acreditava que todos os homens eram iguais.

3.2– O Ser Supremo:

Deus não existe de modo algum, de conformidade com os budistas, porque semelhante
ser estaria além do entendimento humano. Dizem que o homem está encarregado do seu
próprio destino. Uma das ironias da história é que Buda, que negava um ser supremo, é
adorado com mais imagens do que qualquer outra pessoa na história universal! Muitos
títulos divinos são dados a ele. Os escritos budistas o chamam: “Um rei de reis
universais, um vencedor. Deuses e homens o adorarão como o Grande que transcende o
tempo. No mundo dos deuses, não há nenhum que é igual a ele. Quando ele nasceu, os
cegos recobraram a sua vista, como se estivessem desejosos de ver a sua glória. Os
surdos recuperaram a audição. Os mudos falaram. Os presos foram libertos das suas
cadeias e correntes”. Mesmo assim, os budistas dizem que não oram ao Buda. As suas
milhares de estátuas têm a finalidade de expressar a calma, a sabedoria e a iluminação.

3.3– Instituições Sagradas:

O budista não tem nenhuma autoridade suprema, nenhum papa e nenhuma cerimônia
para a conversão. Não exige a obediência a um conjunto de regras legalistas, tais como
aquelas que o judaísmo impõe, nem um ato de submissão, como no caso do Islamismo.
A pessoa pode tornar-se budista mediante a prática do caminho Óctuplo e dos seus
princípios. Assim, espera-se chegar a um estado de ausência do ego.

a) Monges. Visto que o budismo exige a separação do tumulto da vida cotidiana, é


chamado de religião de monges. Os budistas verdadeiros vivem na solidão ou em
mosteiros, que existem espalhados nos lugares mais longínquos. Em países tais como a
Tailândia e a Birmânia, todos os homens passam algumas semanas como monges, como
parte da sua educação. Em Tibet, onde a religião é chamada lamaísmo, os monges são
uma terça parte da população. Formam uma ordem sacerdotal que governa o estado
politicamente.
76

Os monges realizam enterros, cerimônias nos templos e a educação religiosa da


juventude. Mas sua função principal é indicar o caminho budista da vida até chegar a
nirvana. Vivem com simplicidade, e passam muito tempo em meditação. Obtêm sua
comida através de esmolas. Possui uma manta amarela, uma tigela de esmolas, uma
agulha, um fio de 108 contas (para contarem as qualidades do Buda). Têm uma navalha
para rapar a cabeça e um filtro para coar os insetos da água de beber, a fim de não
provocar sofrimento às criaturas vivas. Quando o monge recebe alimentos, ele confere
mérito à pessoa que os oferece e o ofertante deve dizer “obrigado”. Se o ofertante for
uma mulher, o monge não deve falar com ela, nem notar a sua presença.

b) Arahat. O Arahat é um homem santificado, um santo budista, que consegue a


iluminação para si mesmo exclusivamente. Através da meditação exclusivamente,
aspira por alcançar um alvo de paz pura, além dos sentidos. Um Arahat não é uma alma
salva, porque Gautama negava a existência da alma. Conseguiram a sabedoria e as seis
perfeições. Venceram os três inebriantes e a sede pelo renascimento. Ele diz: “Não
desejo a morte, não desejo a vida”. Neste estado, aguarda o “apagar da lâmpada da
vida” ou nirvana.

c) Bodhisativa. O budista ideal é um bodhisativa, um “Buda em formação”. É um


homem santo cuja vida inteira é de amor sacrificial. Jura que não entra no nirvana até
que a raça humana inteira tenha conseguido a salvação juntamente com ele. Qualquer
pessoa pode tornar-se um Buda fazendo o voto. Acredita-se que havia seis Budas antes
de Gautama. Outro chamado Maitreya aguarda o tempo apropriado para vir a terra, onde
fará, em prol dos homens da sua era, aquilo que Gautama já fez. O bodhisativa é,
portanto um tipo de salvador ou redentor para a pessoa que busca a salvação.

d) Sangha a “Congregação”. O Buda organizou seus convertidos numa ordem


monástica chamada a Sangha. Era realizada uma cerimônia para os iniciantes da
Sangha, durante a qual citavam um credo: “Refugio-me no Buda; refugio-me na dharma
(na lei); e refugio-me na Sangha”. De modo semelhante a uma igreja, reúne-se para
recitar as palavras do Buda e para confessarem. Há 227 regras para a assembleia.

3.4– A Ética do Budismo:

O âmago do ensino do Buda acha-se em duas declarações. Estas são chamadas de as


Quatro Verdades Nobres e o Nobre Caminho Óctuplo. Para ele, o grande problema na
ética era o do sofrimento. Ele disse que toda a humanidade o tinha em comum, mas
achava que tinha a resposta nas Quatro Verdades Nobres.

a) As Quatro Verdades Nobre

 A primeira Verdade Nobre é: A vida é dukka, “o sofrimento ou a angústia”. “o


nascimento, a doença e a morte são sofrimento. A presença de objetos que
odiamos é sofrimento. A separação dos objetos que amamos é sofrimento. Não
obter aquilo que desejamos é sofrimento”. Apegar-se à existência mediante as
cinco skandas é “sofrimento”. Declara-se que os cincos kandas são os “estados
77

mutáveis ou a soma total do ser humano”. Noutras palavras, a vida é dolorosa. É


como um eixo que está fora do centro da sua roda ou um osso que está fora do
seu lugar.

 A segunda Verdade Nobre é que tanha ou “desejo” é a causa do sofrimento. É o


desejo do prazer egoísta. Buda disse que ao invés de unirmos a nossa fé e o
amor, nós “os atamos aos jumentos do nosso próprio eu separado. Por prezarmos
demais o nosso ego, nós nos trancamos dentro dele”. O homem tem um dever
para com o seu próximo: perceber os outros como partes ou extensões de si
mesmo.

 A terceira Verdade Nobre diz respeito ao término do sofrimento. Buda


acreditava que a causa da deslocação da vida é o desejo egoísta, sua cura acha-se
no abandono daquele anseio. Ele disse:

“Ele cessa com a destruição completa de todo o desejo”. A libertação


provém quando a pessoa é liberta do ciclo interminável do renascimento
(samsara) e entra no estado bem-aventurado de nirvana.

 A quarta Verdade Nobre é o modo de eliminar a cobiça. Trata-se de seguir o


caminho do meio-termo. Buda chamava-o de “O Nobre Caminho Óctuplo”. Se a
pessoa praticar estas regras, provavelmente verá o fim do sofrimento.
Examinemos detalhadamente esses oito temas. Você deve decorá-los.

b) O Nobre Caminho Óctuplo

1. A Crença ou a Compreensão Certa. Isto significa que devemos ter certas convicções,
tais como as Quatro Verdades Nobres. Devemos crer que o sofrimento abunda e que é
causado pelo desejo de uma existência e realização separada. Devemos crer que pode
ser curado e que o meio para a cura é o Caminho Óctuplo.

2. O Propósito ou as Intenções Certas. Trata-se de resolver que venceremos os


sentimentos e desejos sensuais. Inclui a boa vontade, a paz, o amor ao próximo e o fim
de toda a malícia. Este propósito inclui a doutrina da ahimsa, que é ser “inofensivo”,
evitar danos a qualquer forma de vida.

3. A Fala Certa. A linguagem revela o caráter e é uma alavanca para alterá-lo. A pessoa
deve tomar a resolução no sentido de nada falar, senão a verdade. Buda disse que o
logro reduz o caráter. O motivo existente por detrás das defesas da pessoa é o medo de
revelar aquilo que realmente é. A fala certa é evitar a tagarelice vã, os mexericos, e as
ofensas verbais.
78

4. O Comportamento ou Conduta Certa. É descrito nos Preceitos do Budismo que são


semelhantes aos Dez Mandamentos de Moisés. O assassínio, o furto e o adultério são
errados.

5. A Ocupação Certa. Envolve a maneira de a pessoa ganhar a vida, o seu trabalho, e


exige o uso certo do tempo e da energia da pessoa. A maneira de a pessoa obter seu
sustento não deve ser danosa a outras pessoas.

6. O Esforço ou a Diligência Certa. O Buda exigia os pensamentos, as palavras e as


ações mais nobres. Dizia:

Siga o caminho de um boi marchando pela lama profunda, puxando uma


carga pesada. Está cansado, mas seu olhar firme nunca se relaxará até
sair do lamaçal. A paixão e o pecado são mais imundos do que a lama.
Você pode fugir deles, somente por pensar firmemente no caminho.
Opere com diligência a sua própria salvação.

7. A Consciência ou Autodisciplina Certa. Os hábitos do pensamento devem ser


formados mediante horas de atenção em temas úteis. O texto budista mais querido, o
Dhammapada, começa dizendo: “Tudo quanto somos é o resultado daquilo que temos
pensado”.

8. A Meditação ou Concentração Certa. Este é o clímax. Buda dizia que através da


meditação a pessoa chega ao arhat final. O karma é completado e as reencarnações
terminam para sempre. A meditação e a iluminação são ajudadas, supostamente, por
meio da pessoa se sentar na “posição do lótus”. Deve ficar sentada com as pernas
cruzadas, tendo cada pé na coxa oposta.

3.5 – A Alma:

No budismo, anatta tem significado de “nenhuma alma”. O Buda diz que existe um ego,
mas nenhuma alma. Para ele, a alma é uma ilusão, à qual foi dado um nome. Ao invés
disto, fala a respeito de karma. A próxima encarnação da pessoa é determinada segundo
o caráter desta. Buda prefere a palavra consciência. Esta é passada adiante como uma
série de pontos e não como um rio que corre. O Buda emprega o exemplo de uma
chama. “A chama no final de vela não é a mesma que a chama original. Da mesma
maneira, nossa conexão com outra pessoa não é de substância, mas de influência”. O
egoísmo anuvia toda boa intenção. É como pisar nas cinzas que encobrem o fogo; o pé
fica queimado.

3.6 – A Salvação:

Para os budistas, a salvação significa um estado de paz e alegria perfeita. É uma


libertação, conseguida pela própria pessoa, de todos os tipos de tristeza. Para atingi-la, a
literatura budista alista muitas coisas a serem evitados, desejos a serem abandonados e
79

laços a serem rompidos. Há, por exemplo, três inebriantes: a cobiça, o ódio e a
ignorância. Há cinco impedimentos: o prazer sensual, a má-vontade, a preguiça, a
dúvida e o desassossego. Dez correntes ou vícios negativos atam a pessoa à roda da
existência. Os budistas Theravada acreditam que, quando um monge vence as cinco
primeiras corrente, galgará nirvana e será um arahat.

3.7– Nirvana:

A crença em nirvana é parte importante do budismo. É um termo negativo, e significa


literalmente “o apagar” da chama do desejo e do sofrimento. Os budistas não dizem que
é um lugar, mas um estado de existência, que é realizado pela extinção dos laços.
Nirvana também é chamada libertação, rendição, renúncia e a tranquilidade da ausência
de ego. Declara-se que era uma antiga doutrina ariana que os hindus adotaram.

4 – Escritos do Budismo:

De início, os ensinos budistas tinham a forma falada. Foi somente no século I a.C., na
ilha de Sri Lanka, que os primeiros budistas foram registrados. O primeiro escrito
sagrado é o Cânon Pali, que contém as crenças principais dos budistas Theravad. O
Cânon Pali é chamado Tripitaka ou “três Cestos”, porque tem três partes. Estas foram
originalmente escritas em folhas de palmeira e conservadas em cestos.

A primeira parte é chamada Vinaya Pitaka, o “cesto da ordem”. Descreve parte da vida
de Buda e algumas regras de disciplina para os monges. A segunda parte é chamada
Sutta Pitaka. É o “cesto de ensino”, ou livro de instruções, e contêm os discursos do
Buda, bem como 547 lendas a respeito de existência anteriores do Buda. A terceira
seção é Abhidhamma Pitaka. É um cesto acadêmico e metafísico, e contêm a teologia
budista, que não é para o povo comum.

O tamanho total desses três escritos tem cerca de onze vezes o tamanho da Bíblia. Ao
serem traduzidos e impressos nas línguas europeias, ocupa cerca de quatro vezes o
volume das nossas Bíblias. O Sutta Pitaka é o mais importante, porque contém as
palavras do próprio Buda. É subdividido em quatro nikayas ou ensinos. O último, o
khuddka nikaya, é um grupo de quinze obras, compostas depois da morte de Buda.
Inclui o tratado moral importante, o Dhammapada, que significa “Vesículos da Lei”.

 Muitos padrões éticos nos escritos budistas são de alta qualidade e fazem nos
lembrar da Bíblia Sagrada:

O ódio não cessa através do ódio, em ocasião alguma; o ódio cessa através do amor. Se
alguém o amaldiçoar, você deve reprimir todo o ressentimento. Faça a decisão firma:
“Minha mente não ficará perturbada, nenhuma palavra irada escapará dos meus lábios,
permanecerei bondoso e amigo, com pensamentos amorosos e sem nenhum rancor
oculto”. Se, pois, você for atacado com punhos, com pedras, com paus ou com espadas,
você deve continuar reprimido todo o ressentimento e conservar uma mente amorosa.
80

Se um discípulo desejar converter-se, já não passível de ser reencarnado num estado de


sofrimento e ter a certeza da salvação final – que cumpra toda a justiça; que se dedique
àquela quietude de coração que brota de dentro; que não repudie o êxtase da
contemplação; que veja por dentro de todas as coisas; que passe muito tempo sozinho...
Que fique vagueando sozinho como o rinoceronte.

Se um homem estultamente me fizer injustiça, eu lhe pagarei com a proteção do meu


amor que nada lhe sonegará; quanto mais maldade provier da parte dele, tanto mais
amor surgirá da minha parte.

5 – Desenvolvimento do Budismo:

O budismo era e é uma religião missionária. Espalhou-se por toda a Ásia Oriental. A
tradição budista conta que em 60 d.C. um imperador chinês sonhou que uma imagem
dourada do Buda apareceu do ocidente. Enviou mensageiros para além das montanhas
Himalaias para descobrir a origem do sonho. Foi o início do budismo na China. A
Tailândia seguiu os mesmo passos no século II d.C.

a. – Movimento de Expansão:

O budismo maha yana foi grandemente promovido pela conversão ao budismo do rei
Asoka da Índia (270-232 a.C.). Asoka foi para o budismo aquilo que Constantino foi
para o Cristianismo. Fez do budismo uma grande religião mundial, e sua roda da lei
tremula hoje na bandeira da Índia. Escreveu verdades budistas nas rochas em muitas
partes do país e enviou missionários a lugares distantes tais como a Macedônia, a Síria e
o Egito. Nomeou um ministro de Assuntos Religiosos e fundou hospitais. Mediante os
seus esforços, o budismo tornou-se a religião mais forte em Sri Lanka e alguns dos
grandes estudiosos budistas tiveram sua origem naquele país.

Dois outros se tornaram tão famosos como Marco Polo nos livros de viagens. Um foi
Fa-Hsien, que deixou a China em 399 d.C., passou quinze anos na Índia, procurando os
santuários nos lugares onde Gautama tinha habitado e compilou um relato como
testemunha ocular daquilo que descobriu. O outro, Hsuan-Tsang, foi para a Índia em
629 d.C. e passou dezesseis anos ali. Voltou com livros que traduziu para o chinês. Há
mais de mil volumes atribuídos a ele e aos seus alunos. A corte da Dinastia Tang,
durante a qual vivia, ficou cheia de convertidos ao budismo. As artes desenvolveram-se
grandemente no período, e alguns dos artistas tornaram-se famosos pelas suas obras.
Nas ruas da capital da Dinastia, estudiosos budistas achavam-se debatendo doutrinas
com confucionistas, taoístas e até mesmo com cristãos.

No século VI d.C., missionários da China foram para o Japão, onde o budismo


rapidamente tornou-se, juntamente com o xintoísmo, a religião principal. Enquanto no
século I d.C. o budismo espalhava-se nos países do extremo Oriente, no Ocidente estava
morrendo, pois subiam ao trono imperadores que eram mais hindus do que budista e a
fé hindu paulatinamente conquistava o povo de volta.
81

b. – As Seitas Intuitivas – O Budismo Zen:

Um grupo chamado os Budistas Intuitivos foi fundado por um monge chamado


Bodhidharma no século VI d.C. a seita acreditava que a inspiração vinha somente
através de um raio de entendimento depois de um período de imitação, como aconteceu
com Buda. O Budismo Intuitivo entrou na China vindo da parte da Índia e da China foi
levado para a Coréia e o Japão. No Japão, aonde chegou ao seu auge, era chamado
Budismo Zen. Bodhidharma ensinou ao imperador que suas boas ações, seus escritos, e
seus mosteiros não lhe seriam de nenhum proveito. A verdade podia ser achada somente
através da meditação e da iluminação repentina. Depois, retirou-se para uma caverna na
montanha, onde passou dez anos em meditação, contemplando um muro. Como
resultados disso, suas pernas ficaram atrofiados.

Os budistas zens acreditavam que a salvação é uma questão individual. As coisas


externas, tais como os rituais, os escritos sagrados, e os templos são inúteis. A pessoa
pode ficar iluminada em qualquer lugar; enquanto está sentada debaixo de uma árvore
ou varrendo o chão. Os budistas zens dizem que não se pode confira na razão ou
procurar a iluminação, de modo que empregam enigmas que têm a intenção de
confundir a razão. Enquanto a pessoa medita nas frases que não fazem sentido, um raio
de iluminação supostamente a levará à verdade.

O princípio zen têm tocado em muitas áreas da vida japonesa. Uma delas é o conceito
do “acidente controlado”, que significa que aquilo que não é planejado é mais valioso
do que aquilo que é planejado. É usado na pintura, na arquitetura, na cerâmica, nos
arranjos florais, na música e na poesia. Por exemplo, o desenho feito no papel poroso
não pode ter emendas e, portanto, é mais belo do que aquele que foi cuidadosamente
planejado e trabalhado.

c. – A Conquista Comunista:

Uma antiga profecia budista dizia que, depois de 2,500 anos, o budismo murcharia ou
gozaria de um reavivamento. A data-chave, segundo os historiadores budistas, seria 24
de maio de 1956. O teste real do budismo, no entanto, surgiu em 1949 quando a China
foi derrotada pelo comunismo. Calcula-se que duzentos milhões de budistas mahayana
caíram diante do comunismo. Os budistas, sendo seguidores de uma religião mansa, não
resistiram. O próprio Gautama repreendeu seus discípulos por causa da ira deles pelo
ataque a um santo. Disse: “Aquele que fere leva vergonha, mas maior vergonha leva
aquele que, ferido, revida ferido”.

Os comunistas confiscaram as terras e as tendas dos mosteiros, forçaram os monges


velhos a trabalharem nos campos e nas fábricas. Os monges jovens foram enviados para
a guerra na Coréia. As monjas foram obrigadas a casarem-se, mas muitas se afogaram
para não terem que cumprir a ordem. Mao Tse-Tung finalmente interrompeu a
82

destruição dos templos chineses para preserva-los, não como santuários religiosos, mas
como monumentos nacionais.

Os comunistas eram persistentes e sagazes. Conquistaram para a causa deles alguns


monges através do ensino das semelhanças entre o marxismo e o budismo. Buda não
pregava uma sociedade sem classes, e não era esse o alvo do marxismo? Mas as duas
ideologias são contraditórias entre si. No budismo, o homem não é uma criatura
materialista; seu propósito é espiritual. A guerra, baseada na cobiça e na violência é
errada. A vida virtuosa deve ser atingida somente mediante o ato do livre arbítrio e da
razão.

O que acabará vencendo – a atitude passiva budista ou a liberdade do pensamento


budista? Talvez a resposta seja encontrada nas palavras do Buda:

“Não creiam, ó monges, em nada que seu professor lhes ensine, por mero
respeito a ele. Mas tudo quanto vocês, mediante a análise, descobrirem
ser vantajoso para o bem-estar de todos os seres, creiam naquele ensino,
apeguem-se a ele, e tomem-no como seu orientador.”

6 – Avaliação do Budismo:

6.1 – Pontos Positivos do Budismo:

 Enfatiza altos padrões morais e éticos;


 Reconhece que o egoísmo e o orgulho são males;
 Seu fundador foi notável pela sua vida de abnegação;
 Enfatiza a atitude interior da pessoa;
 Ensina a negação de si mesmo como uma parte importante da salvação;
 Opõe-se ao sistema das castas;
 Seu sistema de justiça sugere que a pessoa ceifa aquilo que semeia.

6.2 – Pontos Negativos do Budismo:

 Não reconhece um ser supremo;


 Seus fiéis tendem a adorar os fundadores;
 Despreza como indignos o corpo humano e as suas emoções;
 Não reconhece nenhum pecado contra um ser supremo;
 Tende à vida monástica e ascética;
 Não tem sistema nem método de melhoria social;
 Sustenta uma atitude geralmente negativa e passiva para com a vida;
 Sustenta a crença no karma e na transmigração;
 É uma religião de auto redenção, a salvação é mediante métodos negativos e
supressivos;
83

 Não oferece esperança nenhuma de vida de alegria no céu, depois da morte.

21 – CALVINISMO

1 – Introdução:

O Calvinismo (também chamado de Tradição Reformada, Fé Reformada ou Teologia


Reformada) é tanto um movimento religioso protestante quanto um sistema bíblico com
raízes na Reforma Protestante, iniciado por João Calvino em Genebra no século XVI. A
Tradição Reformada foi desenvolvida, ainda, por diversos outros teólogos como Martin
Bucer, Heinrich Bullinger, Pietro Martire Vermigli e Ulrico Zuínglio.

Apesar disso, a Fé Reformada costumava levar o nome de Calvino, por ter sido ele seu
grande expoente. Atualmente, o termo também se refere às doutrinas e práticas das
Igrejas Reformadas. O Sistema costuma ser sumarizado através dos cinco pontos do
Calvinismo.

2 – Desenvolvimento:

Os calvinistas romperam com a Igreja Católica Romana, mas diferiam dos Luteranos na
doutrina sobre a presença real de Cristo na Eucaristia, princípio regular do culto, e o uso
da lei de Deus para os crentes, entre outras coisas.

O termo Calvinismo pode ser enganoso, pois a Tradição Religiosa que por ele é
identificada sempre foi diversificada, com uma vasta gama de influências, em vez de
um único fundador. O movimento foi chamado pela primeira vez calvinismo pelos
Luteranos que se opunham a ele, e muitos dentro da Tradição preferem usar o termo
Reformado para descrevê-lo.

A maior associação reformada no mundo é a Comunhão Mundial das Igrejas


Reformadas com mais de 80 milhões de membros em 220 denominações de membros
em todo o mundo. Outras organizações reformadas internacionais são a Fraternidade
Reformada Mundial e a Conferência Internacional das Igrejas Reformadas.

3 – História:

3.1 – A Influencia de João Calvino.


João Calvino exerceu uma influência internacional no desenvolvimento da doutrina da
Reforma Protestante, à qual se dedicou com a idade de 30 anos, quando começou a
escrever a Instituição da Religião Cristã em 1534 (publicado em 1536). Esta obra, que
foi revista várias vezes ao longo da sua vida, em conjunto com a sua obra pastoral e uma
84

coleção maciça de comentários sobre a Bíblia, são a fonte da influência permanente da


vida de João Calvino no Protestantismo.

Para Bernadye Cotitretwo, Biógrafo de Calvino, o Calvinismo é o legado de Calvino e


torna-se uma forma de disciplina, de ascese, que raramente é levada ao extremo da
teimosia. O Calvinista é, pois no extremo um profundo conhecedor da Bíblia, que
pondera todas as suas ações pela sua relação individual com a moral cristã. O
Calvinismo é também o resultado de uma evolução independente das ideias protestantes
no espaço europeu de língua francesa, surgindo sob a influência do exemplo que na
Alemanha a figura de Martinho Lutero tinha exercido. O termo “Calvinismo” foi
aparentemente usado pela primeira vez em 1552, numa carta do pastor Luterano
Joachim Westphal, de Hamburgo.

3.2 – A Difusão da Fé Reformada.


O Calvinismo marca a segunda fase da Reforma Protestante, quando as Igrejas
Protestantes começaram a ser formar, na sequencia da excomunhão de Martinho Lutero
da Igreja Católica Romana. Nesse sentido o Calvinismo foi originalmente um
movimento luterano. O próprio Calvino assinou a confissão luterana de Augsburg de
1540.
Por outro lado, a influência de Calvino começou a fazer sentir-se na Reforma Suíça, que
não foi luterana, tendo seguido a orientação conferida por Ulrico Zuínglio. Tornou-se
evidente que a doutrina das Igrejas Reformadas tomava uma direção independente da de
Lutero, graças à influência de numerosos escritores e reformadores, entre os quais
Ulrico Zuínglio, João Calvino, Martin Bucer, William Farel, Heinrich Bullinger, Pietro
Martire Vermigli, Teodoro de Beza e John Knox.

Uma vez que tem múltiplos fundadores, o nome “Calvino” induz ligeiramente ao
equívoco, ao pressupor que todas as doutrinas das Igrejas Calvinistas se revejam nos
escritos de João Calvino. O nome aplica-se geralmente às doutrinas protestantes que não
são luteranas, e que têm uma base comum nos conceitos calvinistas, sendo normalmente
ligadas a igrejas nacionais de países protestantes, conhecidas com Igreja Reformadas,
ou a Movimentos Minoritários de Reforma Protestante.

Nos Países Baixos, os calvinistas estabeleceram a Igreja Reformada Neerlandesa. Na


Escócia, através da zelosa liderança do ex-sacerdote católico John Knox, a Igreja da
Escócia foi estabelecida segundo os princípios calvinistas. Na Inglaterra, o Calvinismo
também desempenhou um papel na Reforma, e, de lá, seguiu com os puritanos para a
América do Norte. Na França, os Calvinistas, chamados de Huguenotes, foram
perseguidos, combatidos e muitas vezes obrigados ao exílio. Em Portugal, na Espanha
ou na Itália, estas doutrinas tiveram pouca divulgação e foram ativamente combatidas
pelas forças da Contrarreforma, com a ação dos Jesuítas e da Inquisição.
85

O Sistema Teológico e as Praticas da Igreja, da família ou na vida política, todas elas


algo ambiguamente chamadas de “Calvinismo”, são o resultado de uma consciência
religiosa fundamental centrada na “sobrevivência de Deus”.

O Calvinismo pressupõe que o poder de Deus tem um alcance total de atividade e


resulta da convicção de que Deus trabalha em todos os domínios existência, incluindo o
espiritual, físico, intelectual, quer seja secular ou sagrado, público ou privado, no céu ou
na terra. De acordo com este ponto de vista, qual quer ocorrência é o resultado do plano
de Deus, que é o criador, preservador, e governador de todas as coisas, sem exceção, e
que a causa última de tudo. As atividades seculares não são colocadas abaixo da prática
religiosa. Pelo contrário, Deus está tão presente no trabalho de cavar a terra como na
prática de ir ao culto. Para o cristão calvinista, toda a sua vida é um culto a Deus.

De acordo com o princípio da predestinação, por causa de seus pecados, o homem


perdeu as regalias que possuía e distanciou-se de Deus. O homem é considerado
“Morto” para as coisas de Deus e é dominado por uma inspiração para servir a Deus.

Só havia, então, uma maneira de resolver esse problema: o próprio Deus reatando os
laços. Deus então segundo a doutrina da predestinação escolheu alguns dos seres
humano caído para salvar da pecaminosidade e restaurar para a comunhão com ele.
Deus teria tomado esta decisão antes da criação do universo. Mas é claro que não é por
causa de quaisquer boas ações que eles foram escolhidos: “porque pela graça sois
salvos, mediante a fé, e isso não vem de vós; é dom de Deus; não vem de Obras, para
que ninguém se glorie.” (Efésios 2.8,9).

Os cinco pontos do Calvinismo (conhecidos pelo acróstico TULIP, referente às iniciais


dos pontos em inglês) são doutrinas básicas sobre a salvação, definidas pelo Sínodo de
Dorf. São eles:

 Depravação Total – graça soberana necessitada;


 Eleição Condicional – sua graça soberana Específica;
 Expiação limitada – limitada soberana Meritória;
 Vocação Eficaz – Graça Soberana Eficaz.
 Perseverança dos santos – Graça Soberana Perseverante.

O Calvinismo também defende uma teologia, aliança e os sacramentos como meio de


graça, santa ceia e batismo, incluindo o Batismo infantil. Calvino na sua principal obra,
as Institutas diz: “Eis aqui porque Satanás se esforça tanto em privar nossas caricaturas
dos Benefícios do Batismo, sua finalidade e que se esquecermos da testificar que o
senhor tem ordenado para confirmar as graças que ele quer nos conceder pouco a pouco
vamos nos esquecendo das promessas que nos fez a respeito disto. De onde não só
nasceria uma ímpia ingratidão para com a misericórdia de Deus, mas também a
negligência de ensinarmos nossos filhos no temor do Senhor, e na disciplina da Lei e no
conhecimento do evangelho. Porque não é pequeno estímulo sabermos que educa-los
na verdadeira piedade e obediência a Deus. E saber que desde sem nascimento foram
recebidos no Senhor e em seu povo, fazendo-os membros de sua Igreja” (Calvino, 1999,
86

p. 1069). O calvinismo deveria ser austero e disciplinado, ou seja: as pessoas não


tinham direito a excessos de luxo, e conforto, se esbanjamento matriana.

4 – Doutrina

4.1 – Revelação e as Escrituras:

Teólogos reformados acreditam que Deus comunica o conhecimento de si mesmo para


as pessoas através da Palavra de Deus. As pessoas não são capazes de saber nada sobre
Deus, exceto através desta auto-revelação. A especulação sobre qualquer coisa que
Deus não revelou através de sua Palavra e não se justificou. Todavia, os calvinistas
ententeu que Deus é inifito e as pessoas finitas são incapazes de compreender um ser
inifinito. Enquanto o conhecimento revelado por Deus nunca está incorreto, ele também
nunca é completo.

De acordo com teólogos reformados, a auto-revelação de Deus é sempre através de seu


Filho Jesus Cristo, porque Cristo é o único mediador entre Deus e as pessoas. A
revelação de Deus através de Cristo vem através de dois canais básicos: primeiro é a
criação e providência, que é criar e continuar a trabalhar no mundo de Deus. Esta ação
de Deus dá a todos o conhecimento sobre Ele, mas esse conhecimento só é suficiente
para fazer ciente a todos os seres humanos, que são culpados por seus pecados, porque
ele não inclui conhecimento do evangelho. O segundo canal através do qual Deus se
revela é a redenção, que é o evangelho da salvação e da condenação, que é o castigo
pelo pecado.

Na teologia reformada, a Palavra de Deus assume diversas formas. O próprio Jesu


Cristo é o Vervo Encarnado. As profecias sobre ele dito ser encontrada no Antigo
Testamento e do ministério dos apóstolos que o viram e comunicado a sua mensagem
também são a Palavra de Deus. Além disso, a pregação dos ministros sobre Deus é a
própria Palavra de Deus, porque Deus é considerado falando através deles.

Deus fala também através de escritores humanos na Bíblia, que é composto de textos
separado por Deus para a auto-revelação. Teólogos reformados enfatizam a Bíblia como
um meio excepcionalmente importantes pelos quais Deus se comunica com as pessoas.
As pessoas ganham conhecimento de Deus pela Bíblia (que é a forma escrita), e não
pode ser adquirida em qualquer outra forma.

Teólogos reformados afirmam que a Bíblia é verdadeira, mas as diferenças surgem entre
eles sobre o significado e a extensão de sua veracidade. Seguidores da escola
conservadora dos teólogos de Princeton,tais como a Igreja Presbiteriana do Brasil,
Igreja Presbiteriana Nacional no México e Igreja Presbiteriana na América,
consideram que a Bíblia é verdadeira e infalível, ou incapaz de erro ou falsidade, em
todos os lugares. Este ponto de vista é muito semelhante ao do Catolicismo Ortodoxo,
bem como o Moderno Evangelicalismo.
87

Um outro ponto de vista, influenciada pelo ensino de Karl Barth e a Neo-Ortodoxia é


encontrada na confissão de 1967, da Igreja Presbiteriana (EUA). Aqueles que tomam
este ponto de vista acreditam que a Bíblia é a principal fonte de nosso conhecimento de
Deus. Nesse ponto de vista, Cristo é a revelação de Deus, e as Escrituras testemunhar a
esta revelação ao invés de ser a própria revelação. A opinião conservadora tem
prevalecido nas últimas décadas, na medida em que as igrejas que adotam a segunda
visão, em declínio.

4.2 – Pacto

Teólogos usam o conceito de aliança para descrever a maneira como Deus entra em
comunha com as pessoas na história. O conceito de aliança é tão proeminente na
teologia reformada que ela é como um todo e às vezes, é chamada “Teologia da
Aliança". No entanto, teólogos dos séculos XVI e XVII desenvolveram um sistema
teológico particular chamado “Teologia da Aliança” ou “Teologia Federal” que muitas
igrejas reformadas conservadoras continuam a afirmar nos dias de hoje. Esse sistema
estabelece uma divisão sobre a relação de Deus com as pessoas, principalmente em dois
aspectos: o pacto de obras e o pacto da graça.

O pacto das obras é feito com Adão e Eva no jardim do éden, onde Deus proveria uma
vida abençoada no jardim com a condição de que Adão e Eva obedecessem à Lei
Divina perfeitamente. Como Adão e Eva quebraram o pacto ao comer o fruto proíbido,
eles ficaram sujeitos à morte, foram banidos do Jardim e o pecado foi transmitido a toda
a humanidade. Teólogos Federais geralmente inferem que Adão e Eva teriam ganho a
imortalidade caso tivessem obedecido perfeitamente.

Segundo pacto, chamado pacto da graça, é dito ter sido feito imediatamente após o
pecado de Adão e Eva. Nele, Deus graciosamente oferece a Salvação e da Morte, sob
condição de fé em Deus. Este pacto é administrado em formas diferentes em todo o
Antigo e Novo Testamento, mas mantém a substância de ser livre de uma exigência de
perfeita obediência.

4.3 – Deus

Para a maior parte da Tradição Reformada não houve modificação do Conselho


Medieval sobre a Doutrina de Deus. O caráter de Deus é descrito usando principalmente
três adjetivos: Eterno, Infinito e Imutável. Teólogos Reformados como Shirley Guthrie
propuseram que em vez de conceber a Deus em termos de seus atributos e liberdade
para fazer o que quiser, a doutrina de Deus deve ser baseada no trabalho de Deus na
história e sua liberdade para viver com e capacitar as pessoas.

Tradicionalmente, teólogos reformados também seguiram a tradição medieval que


remonta aos Conselhos da Igreja Primitiva de Nicéia e Calcedônia na doutrina da
Trindade. Deus é afirmado a ser um Deus em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. O
Filho (Cristo) é detido para ser eternamente gerado pelo Pai e o Espírito Santo procede
88

eternamente do Pai e do Filho. No entanto, os teólogos contemporâneos têm sido


críticos de aspectos de ponto de vista ocidentais.

Com base na tradição cristã oriental, estes teólogos reformados propuseram uma
“Trindade Social”, onde as pessoas da trindade só existem em sua vida juntos como
pessoas-em-relação. Confissão reformadas contemporâneos como a Confissão de
Barmen e as Declarações da Igreja Presbiterana (EUA) tem evitado a linguagem sobre
os atributos de Deus e têm enfatizados seu trabalho de reconciliação e de capacitação
das pessoas. O teólogo reformado Michael Horton, no entanto, argumentou que o
Trinitarianismo Social é insustentável porque abandona a unidade essencial de Deus
em favor de uma comunidade de seres separados em comunidade.

4.4 – Criação e Expiação

Teólogos Reformados afirmam a crença cristã histórica de que Cristo é eternamente


uma pessoa com uma natureza divina e uma natureza humana. Reformadores cristãos
especialmente enfatizam que Cristo verdadeiramente se tornou humano para que as
pessoas pudessem ser salvas. A natureza humana de Cristo tem sido um ponto de
discórdia entre a cristologia reformada e luterana. De acordo com a crença de que os
seres humanos finitos não podem compreender a Divindade Infinita, teólogos
reformados seguram que o corpo humano de Cristo não pode estar em vários locais ao
mesmo tempo. Porque luteranos creem que Cristo é corpo presente na Eucaristia, eles
sustentam que Cristo é corpo presente em muitos locais simultaneamente. Para os
cristãos reformados, tal crença nega que Cristo realmente tornou-se humano.

João Calvino e muitos teólogos reformados que o seguiram descrevem a Obra da


Redenção de Cristo, em termos de três ofícios: Profeta, Sacerdote e Rei. O Cristo é dito
ser um profeta em que ele ensina a doutrina perfeita; Sacerdote em que ele intercede ao
Pai em favor dos crentes e se ofereceu como sacrifício pelo pecado, e um Rei em que
ele governa a igreja e luta pelos crentes. O ofício tríplice vincula a obra de Cristo para a
obra de Deus no antigo Israel.

Os cristãos acreditam que a morte de Jesus e ressurreição torna possível para os crentes
alcançar o perdão dos pecados e reconciliação com Deus por meio da expiação chamado
Expiação Substituta, o que explica a morte de Cristo como um pagamento de sacrifício
pelo pecado. Acredita-se que Cristo ter morrido no lugar do crente, que é considerado
justo, como resultado desse pagamento sacrificial.

4.5 - Pecado

Na teologia cristã, as pessoas são criadas boas e na imagem de Deus, mas se tornaram
corropidas pelo pecado, o que faz com que sejam imperfeitas e excessivamente auto-
interessadas. Cristãos reformados, seguindo a tradição de Agostinho de Hipona,
acreditam que esta corrupção da natureza humana foi causada por ocorrência do
primeiro pecado de Adão e Eva, uma doutrina chamada Pecado Original. Teólogos
reformados enfatizam que este pecado afeta toda natureza de uma pessoa, incluindo sua
89

vontade. Sob esta visão o pecado domina as pessoas de forma que são incapazes de
evitar o pecado, tem sido chamado de “Depravação Total”.

Em português, o termo “Depravação Total”, pode ser facilmente mal interpretado para
significar que as pessoas estão ausentes de qualquer bondade ou incapazes para fazer
qualquer bem. No entanto, o ensino reformado na verdade é que, enquanto as pessoas
continuava a suportar a imagem de Deus, podem fazer coisas que são exteriormente
boas, mas suas intenções pecaminosas afetam toda a sua natureza e pelo que eles não
são totalmente agradáveis a Deus.

5 – Interpretação Sociológica

Sociólogos como Marx Weber e Ernest Gellner analisaram a teoria e as consequencias


práticas desta doutrina e chegaram à conclusão de que os resultados são paradoxais. Em
parte explicam o precoce desenvolvimento do Capitalismo nos países onde o
Calvinismo foi popular (Holanda, Escócia, Estados Unidos, sobretudo).

O calvinista acredita que Deus é soberano em todas as coisas e portanto, o homem não
tem participação alguma na própria salvação, logo, Deus predestinou os seus
escolhidos para a salvação, uma vez que, a humanidade após o pecado não teria
condições de voltar ao criador por estarem mortos em seus pecados e delitos. O
calvinista não tem dúvidas de sua salvação, e nem por isso se acham um grupo seleto,
pelo contrário, o calvinismo atuou de forma forte na Reforma Protestante levando o
evangelho para todas as pessoas. cabe apenas a Deus o saber de todas as coisas e de
quem são seus eleitos. Os calvinistas seguem as Escrituras e prega a todos e seguem o
mandamento do Senhor Jesus de pregar o Evangelho. Sendo um bom cristão,
trabalhando muito, seguindo sempre todos os princípios bíblicos, o calvinista faz tudo
pela glória de Deus. Com essa cosmovisão, por meio do trabalho a sociedade se
desenvolveu economicamente fazendo com que houvesse uma ligação com o
Capitalismo.

Os holandeses, os escoceses e os americanos ganharam, então, a fama de serem sovinas,


pouco generosas, interessados apenas no dinheiro. Estas características são na vida
moderna quase um dado adquirido em qualquer cultura, mas nos tempos da Reforma
Protestante, o calvinismo teria instituído uma nova e revolucionária forma de revelação
com a riqueza.

Ocorre que o uso das ideias calvinistas para alavancar da sociedade capitalista é
equivocadamente relacionado as ideias capitalistas intrínsecas ao calvinismo. Calvino
em sua obra afirma que a riqueza não tem razão de ser se não para ajudar aos que
necessitam, e critica a avareza ao dize que o fruto do trabalho só é digno se útil ao
próximo:

“Da mão de Deus tens tu o que possuis. Tu porém, deverias usar de humanidade para com
aqueles que padecem necessidades. És rico? Isso não é para tem bel prazer. Deve a caridade
90

faltar por isso? Deve ela diminuir? Não está ela acima de todas as questões do mundo? Não
é ela o vínculo da perfeição?”

“Condena o profeta a estes ladrões e assaltantes que lhe parecia deterem o poder de oprimir
a gente pobre e o pequeno trabalhador, uma vez que eram eles que tinham grande
abundância de trigo e grãos.... e o mesmo como se cortar sem a garganta dos pobres,
quando os fazem assim sofre fome.”

Mas o calvinismo se espalhou pelos países que estavam passando pelo processo da
Expansão Comercial. Entre eles os países eram: França, Holanda, Inglaterra e
Escócia. Isto atraíra vários comerciantes e banqueiros.

6 – Demografia

Um relatório de 2011 do Pew Forum On Religius e Vida Pública estima que os


membros de Igrejas Reformadas e Presbiterianas (dois maiores ramos do Calvinismo)
representam 7% dos cerca de 801 milhões de protestantes no mundo, ou cerca de 56
milhões de pessoas. embora, a fé reformada amplamente definido é muito omaior, uma
vez que, constitui congregacionais (0,5%), a maioria das Igrejas Unidas (Sindicatos de
diferentes denominações), (7,2%) e, provavelmente, algumas das outras denominações
protestantes (38,2%). Todos as três categorias distintas de Presbiterianos Reformados
(7%) neste relatório.

A família reformada de Igrejas é uma das maiores denominações cristãs. De acordo com
adherents, com os reformados/presbiterianos/congregacionais/igrejas Unidas
representam 75 milhões de crentes no mundo.

7 – Denominações Calvinistas

O calvinismo é uma doutrina de diversas denominações protestantes, dentre elas


destacamos:

a) Igreja Cristã de Nova Vida;


b) Igreja Reformada Suíça (religião oficial da maioria dos Cantões da Suíça;
c) Igreja Reformada Neerlandesa e Protestante Evangélica Holandesa recentemente
unificada, não é mais a religião oficial dos países baixo;
d) Igreja Reformada Francesa – a Igreja dos Huguenotes;
e) Igreja Reformada Hungara;
f) Igreja da Escócia;
g) Igreja Presbiteriana do Brasil;
h) Igreja Presbiteriana Unida do Brasil;
i) Igreja Presbiteriana Independente do Brasil;
j) Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil;
91

k) Igreja Presbiteriana da Reforma no Brasil;


l) Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal;
m) Igreja Congregacional – concentrada na Nova Inglaterra, nos Estados Unidos,
hoje parte da Igreja Unida de Cristo;
n) Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil;
o) União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil;
p) Igreja Anglicana Reformada no Brasil.

8 – Calvinismo no Brasil

A presença do Calvinismo no Brasil remonta ao século XVI. Ministros religiosos,


enviados a partir da recomendação do próprio João Calvino, chegaram ao país durante
a tentativa de colonização francesa conhecida como França Antartica. No século
seguinte, durante a invasão Holandesa, uma Igreja Reformada chegou a ser organizada
(com vários presbíteros) no Nordeste brasileiro. Por fim, a partir do século XIX, os
calvinistas instalaram-se definitivamente no território brasileiro, seja por meio da
imigração européia (e estadunidense), seja por meio da atuação missionária.

Atualmente, os calvinistas somam mais de um milhão de fiéis em todo Brasil


(considerando, nesta soma, os membros de toas as denominações de origem calvinistas
do país). Seu impacto pode ser observado não apenas no aspecto puramente religiosos,
mas também no campo educacional, com suas várias escolas e faculdades (como a
Faculdade de Gammon, FTIPI (Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana
Independente e a Universidade Mackenzie)).

8.1 – Calvinismo na Invasão Francesa

a) França Antártica

A França Antártica foi uma tentativa de colonização francesa no território brasileiro (na
região do atual estado do Rio de Janeiro). Empreendido pelo vice-almirante Nicolas
Durand Villegaignon, o projeto iniciou-se com a chegada das naus francesas em 1555 e
durou até a expulsão definitiva em 1567. “Esse empreendimento contou com o apoio do
almirante Gaspar II de Coligny (faleceu em 24 Ago 1572), influente estadista e futuro
líder dos calvinistas franceses, os huguenotes”.

Em dado momento, em virtude de problemas morais e religiosos na tropa, Villegaignon


escreveu cartas a Gaspar II de Coligny e ao reformador francês João Calvino “para que
enviassem profissionais e religiosos para a nova colônia francesa”. Calvino, por meio da
Igreja Reformada de Genebra, respondeu afirmativamente, enviando um grupo de
calvinistas franceses (conhecidos como huguenotes) sob a liderança dos pastores Pierre
Richier e Guilherme Chartier.
92

Villegaignon encaminha outra carta então, agradecendo o pronto atendimento: “acredito


que não seja possível exprimir com palavras quanto me alegram suas cartas e os irmãos
que com elas vieram”.

A expedição, com a presença dos huguenotes, chegou à Baia da Guanabara em 7 de


março de 1557. Três dias depois, em 10 de março, foi realizado o primeiro culto
protestante nas Américas, oficializado pelo Rev. Pierre Richier. No domingo, 21 de
março, houve a primeira celebração da “Ceia do Senhor”, sob-rito calvinista.

Havia cultos em todos os dias da semana. Aos domingos, especialmente, as celebrações


acontecia pela manhã e à tarde. Em outros momentos da semana, havia reuniões de
oração. Esta quantidade de serviços religiosos aponta para a importância da delegação
calvinista em meio à tropa.

Conforme se estruturava o serviço religioso no Forte Coligny, os pastores huguenotes se


sentiam à vontade para exercer um trabalho missionário, alcançando os índios do
continente. “Realizaram várias visitas às Tabas litorâneas dos índios Tamoios em
cotina, ocarantim, entre outros. Os missionários, muitas vezes, permaneciam semanas
inteiras percorrendo os aldeamentos e lhes falando do cristianismo por meio de
intérpretes”.

Tanto nas solicitações encaminhadas a Coligny e Calvino quanto na própria recepção


aos huguenotes, às reações de Villegaignon sempre foram às positivas possíveis.
Segundo o colono Jean de Léry, testemunha ocular, ao chegarem os huguenotes,
Villegaignon “os recebeu todo risonho, abraçando a todos”. Quando da primeira
celebração eucarísticas, ele foi o primeiro a comungar, confessando, assim, diante de
todos, a sua fé reformada. Osvaldo Rack apresenta uma viva descrição, com base no
texto de Léry, da participação de Villegaignon num dos cultos:

Este espírito de paz e tolerância, no entanto, não durou muito. Em virtude de questões
teológicas (que reproduziam as guerras religiosas que grassavam na Europa),
Villegaignon passou a perseguir os colonos huguenotes. Um personagem importante
desta mudança de atitude foi o ex-frade dominicano Jean de Cointac. Para ele “a
participação sacramental da ceia não devia obrigar a pessoa a ser cristã de confissão
calvinista e, por outro lado, dizia ele que o sacramento do batismo devia seguir o rito
católico romano”. Grupos de opiniões passaram, então, a se confrontar. Villegaignon
deixara de lado suas novas convicções calvinistas, pois numa carta à Igreja Reformada
de Genebra, assim se refere às doutrinas dos huguenotes: “esses delírios [a doutrina de
Charlier] nos agitavam turbos enormes e quanto mais cuidadosamente se discutia, mais
aparecia a vacuidade da doutrina”. A consequência foi primeira, a proibição dos cultos
dos Calvinistas, depois suas reuniões de oração e, por fim, a sua expulsão do Forte
Coligny.

Em virtude da expulsão, os calvinistas franceses entraram em contato direto com os


Tupinambás. Entre os expulsos estava o sapateiro Jean Léry, que, mais tarde,
93

descreveria suas experiências em seu livro história d’um Voyage faict em la terre du
Brésil (1578).

“Ajoelhado num coxim de veludo, o governador do Forte, em voz alta,


proferiu longas orações, rendendo graças a Deus por ter sido chamado dos
negócios mundanos, entre os quais vivia por apetite e ambição, para a obra
de preparar um lugar e morada pacifica para aqueles que estavam privados
de invocar publicamente o nome de Deus em espírito e verdade. Rogou a
Deus para que o sítio de Coligny e país da França Antártica se tornasse um
inexpugnável refúgio daqueles que, com boa consciência e sem hipocrisia,
ali se abrigasse para se dedicar à exaltação da glória de Deus. Ainda
suplicou a Deus o afastamento do espírito de vingança e que ficasse livre
dos apóstolos da religião.”

Com a passagem de um navio que seguiria para a França (o Les Jacques), os colonos
expulsos resolveram retornar a seu país. “mesmo não se opondo ao embarque,
Villegaignon enviou instruções secretas para serem entregues ao primeiro juiz em
França, dizendo para que se executassem os huguenotes como traidores e hereges”.

Como os colonos reformados recusaram-se a abjurar suas convicções religiosas,


Villegaignon os condenou a morte. “Bourdel, Verneuil e Bourdon foram estrangulados
e lançados ao mar. André Lafon, sendo o único alfaiate da colônia, teve a vida poupada
sob a condição de que não divulgasse as suas ideias religiosas.” O único que conseguiu
fugir foi Jacques Le Balleur.

No entanto, estas instruções acabaram não servindo diretamente para alguns colonos,
pois ao perceber o risco de naufrágio, cinco deles – Jean du Bourdel, Martthieu
Verneuil, Pierre Bourdon, André Lafon e Jacques Le Bolleur – voltaram à terra firme.
Villegaignon os aprisionou imediatamente e exigiu uma resposta, por escrito, em doze
horas, uma série de questionamento teológico. Os huguenotes presos ofereceram a
resposta por meio da redação de um documento conhecido como Confissão de Fé da
Guanabara.

Le Baleur chegou a São Vicente, onde pregou a fé cristã a partir do ponto de vista
calvinista. Foi detido, por insistência dos jesuítas, e levado a Salvador, então capital da
Colônia, ficando preso entre os anos de 1559 e 1567. Por fim, foi levado para o recém-
fundado Rio de Janeiro e, sob as ordens do governador Geral Mem de Sá, condenado à
forca. O carrasco, no entanto, recusou-se a executá-lo. Diante disso, o Padre Jesuíta José
de Anchieta e teria estrangulado com suas próprias mãos.

b) França Equinocial

A França Equinocial foi o esforço francês de colonização no que hoje é o estado


brasileiro do Maranhão. Muito curto, o empreendimento se deu entre 1612 e 1615
(apesar de novas tentativas de invasão francesa nos anos seguintes). Pode-se dizer que a
94

“França Equinocial fora um empreendimento Católico que teve como principal chefe
um protestante: La Ravardière”.

De maneira semelhante ao que havia acontecido na tentativa anterior, também na França


Equinocial “os huguenotes participaram ativamente na evangelização dos índios locais”.
No entanto, não grandes registros desta atividade calvinista no nordeste brasileiro.
Segundo historiadores eclesiásticos, após o fim da invasão francesa, alguns dos
huguenotes que permaneceram se converteram à Igreja Católica Romana.

9 – Calvinismo no Brasil Holandês

A colonização holandesa no Nordeste brasileiro se concentrou na primeira metade do


século XVII (primeira fase, entre 1624 e 1625; segunda fase, entre 1630 e 1654). A
segunda fase desta colonização, marcadamente nas cidades de Olinda e Recife, teve
presença significativa da Igreja Reformada Neerlandesa.

9.1- Primeira Fase (1624-25)

Em 1621, os holandeses criaram a companhia das Índias Ocidentais, com o objetivo de


conquistar e colonizar territórios economicamente lucrativos nas Américas. Com
consequências disto, uma expedição foi enviada à Bahia, em 1624.

Como os holandeses eram calvinistas, a Igreja Reformada se estabeleceu junto à


colônia. O primeiro culto reformado na cidade de Salvador aconteceu em 11 de maio de
1624 e a vida da Igreja Reformada da Bahia foi efêmera, existindo por apenas um ano.
Com a expansão dos holandeses, ainda houve um breve estabelecimento na Paraíba. O
estudioso holandês (e professor no Brasil) reverendo Frans Leonardo Schalkwijk
oferece um relato sobre o início e o fim deste estabelecimento: “Quando o reforço da
frota holandesa chegou à Bahia, o seu comandante Baudewvin Hendricksz percebeu que
havia chegado tarde demais, e regressou ao Norte. Para reabastecer, aportaram na Bahia
da Traição no Norte da Paraíba (...). Ali os holandeses ficaram durante seis semanas,
tratando bem os índios locais, que se tornaram seus amigos. Quando estes, porém,
notaram que os navios se preparavam para deixar o Brasil, procuraram embarcar
também, temendo a vingança portuguesa. Apenas seis jovens conseguiram embarcar
para a Holanda. Ali aprenderam falar holandês, foram alfabetizados, passaram nas ruas
de Leiden, onde morava o diretor De Laet, e se tornaram cristãos reformados. Um deles
era o índio Pedro Poti, que posteriormente se tornaria importante no trabalho
missionário da Igreja Reformada no Nordeste brasileiro”.

9.2 – Segunda Fase (1630-54)

A segunda fase das invasões holandesas foi uma colonização em todos os sentidos do
termo. Espalhando-se por grande parte do território nordestino, o Cristianismo
calvinista era a religião oficial durante o domínio holandês. No entanto, havia liberdade
95

religiosa (especialmente sob o governo de Mauricio de Nassau) para os católicos e


judeus.

O primeiro culto reformado nas imediações de Pernambuco foi realizado a bordo do


Navio do almirante Hendrick, em 14 de fevereiro de 1630. O culto foi oficializado pelo
Rev. Johannes Boers, e marca o reino das atividades da Igreja Reformada em território
Brasileiro. A força da Igreja Reformada no Brasil se demonstra em sua organização no
período. “Foram criadas 22 igrejas locais e congregações, dois presbitérios
(Pernambuco e Paraíba) e até mesmo um Sínodo, o Sínodo do Brasil (1642-46)”. Mais
de cinquenta pastores (também chamados de “predicantes”) calvinistas serviram nas
paróquias organizadas.

9.3 – Organização

As Igrejas Reformadas seguiam o modelo de organização clássico calvinista. Cada


igreja local era administrada por um “Conselho” ou “Consistório”, composto por
pastores e presbíteros eleitos pela paróquia. Algumas igrejas eram consideradas
congregações ou igrejas em formação. “além das igrejas locais dirigidas” pelos seus
respectivos “Consistórios” organizaram-se a partir de 1636 uma convenção, ‘classe’ ou
“presbitério” reunindo todas as igrejas no território ocupado, agrupando-as a nível
nacional, com o nome oficial de “classe do Brasil da Igreja Cristã Reformada”.

O presbitério e a estrutura mais importante da eclesiologia calvinista, pois é o elo entre a


Igreja Nacional e as Igrejas locais. Seis anos depois da criação do Presbitério do Brasil,
com o crescimento do número de Igrejas, decidiu-se desdobrar o Concílio, fazendo
nascer duas novas classes; o presbitério de Pernambuco e o da Paraíba, que juntos,
formaram o Sínodo do Brasil (o Sínodo é o órgão eclesial superior ao Presbitério,
servindo como Concílio de apelação).

As igrejas na Holanda não concordaram com o projeto de criação do Sínodo Brasileiro.


No entanto, “apesar da desaprovação da Holanda, o Sínodo do Brasil funcionou durante
quatro anos, e muitas vezes a contento”.

(*) Ata da Reunião do Presbitério


Reformada de Pernambuco, de Dezembro de
1636.

9.4 – Templos e Liturgia

Quando chegaram ao Brasil, os calvinistas holandeses não se preocuparam com a


construção de novos templos, pois eles poderiam usar os templos católico-romanos que
já existiam. No entanto, a “exemplo da Holanda, removeremos as imagens, não as
tolerando, em acordo com o catecismo de Heidelberg. Semelhantemente se desfizeram
do altar e dos paramentos sacerdotais. Em seguida, colocaram no centro do Santuário a
Bíblia em um púlpito alto, e logo abaixo a Pia Batismal e a Mesa para a Santa Ceia”.
96

Os cultos eram simples, segundo o modelo litúrgico reformado. Dois serviços eram
realizados nos domingos: um culto às nove horas da manhã e uma celebração de
catequese no período da tarde. Frans Schaldwijk também apresenta um resumo da
liturgia calvinista no Brasil Holondês:

“O pastor iniciava o culto com o ‘votum’: “O nosso socorro vem do Senhor que fez o
céu e a terra”, saudando em seguida a igreja com “graça e paz a vós outros por parte de
Deus Pai e do nosso Senhor Jesus Cristo na Comunhão do Espírito Santo”. Em seguida
a igreja cantava alguns salmos de Davi e confessava seus pecados numa oração dirigida
pelo pastor. Logo após, a promessa de ‘perdão’, vinha a leitura dos dez mandamentos,
como norma para a vida de gratidão. Em seguida a outro cântico congregacional de um
salmo, vinha a pregação, que durava quase uma hora. (...). O culto se encerrava com
cântico, oração, benção apostólica e uma coleta para a diaconia”.

A celebração eucarística não era dominical. A exemplo do que acontecia na Igreja


Cristã Reformada da Holanda, a Santa Ceia só era ministrada quatro vezes ao ano, o que
demandava uma série de cuidades especiais, com visitas aos fiéis e preparação espiritual
dos ministros.

10 – Missão Junto Aos Índios

Segundo Schalkwijk, pode-se dividir a história da Missão Reformada junto aos ídios do
Nordeste do Brasil em três etapas: a preparação (1630-36), a expansão (1637-44) e a
conservação (1645-54).

Alguns dos que haviam embarcado para a Holanda após o fim da invasão na Bahia
retornaram para servirem como intérpretes dos missionários juntos aos nativos do
Nordeste Brasileiros. Passado cinco anos na Europa, e após aprenderem a ler e escrever,
estes índios (entre eles, Pedro Poti) foram os primeiros missionários protestantes
Brasileiros.

O trabalho missionário envolvia a evangelização propriamente dita e a educação dos


indígenas (chamados pelos holandeses de “brasilianos). Uma escola foi organizada
próximo à aldeia de Nassau e dois “basilianos”, educados pelos holandeses, tornaram-se
professores: João Gonsalves e Melchior Francisco. O próprio governo holandês pagava
o salário de 12 (doze) florins mensais aos professores-índios, o correspondente ao soldo
de um cabo do exército.

Com a expulsão definitiva dos holandeses, no entanto, a influência calvinista


desapareceu aos poucos. O padre Antonio Vieira, numa visita à Serra da Ibiapaba,
qualificou a região pejorativamente como “a Genebra de todos os Sertões do Brasil”. “A
influência do ensino religioso havia sido mais profunda do que se imaginava à primeira
vista. Os padres ficaram atônitos diante do traje fino dos indígenas, da arte de ler e
escrever e especialmente do lado religioso, porque “muitos deles eram tão calvinistas e
luteranos como se houvessem nascido na Inglaterra ou Alemanha”, considerando a
97

Igreja romana uma “igreja de Moanga” uma igreja falsa. Poucos anos depois, entretanto,
não restava nada da Genebra Brasileira.

11 – Protestantismo de Imigração

Com o decreto de abertura dos Portos, promulgado por Dom João VI em 1808, um
número grande de estrangeiros afluiu ao Brasil. Dentre estes, muitos eram protestantes
(em especial, os ingleses, anglianos em sua maioria). Outros tratados (como o de
Aliança e Amizade e o de comércio de navegação) traziam artigos que concediam
liberdade religiosa aos estrangeiros que aqui chegassem.

Além disso, após a independencia, a liberdade religosa passou a ser preconceito


constitucional. Assim rezava o artigo 5°. Da Constituição de 1824.

“ A religião Católica apostólica Romana continuará a ser a religião do Império.


Todas as outras religiões serão permitda com seu culto doméstico ou particular, em
casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo”.

Somando-se estes fatores ao incentivo real à uma geração europeia, houve uma nova
chegada – depois de um século e meio – de protestantes em solo brasileiro. A esta
influência de protestantes, seja em razão do comércio, seja por colonização imigratória,
chama-se protestantismo de imigração.

Em junho de 1827, foi fundada a “Comunidade Protestante Alemã-Francesa do Rio de


Janeiro”, por iniciativa do Consul da Prussia Wilhelm Von Theremin. Esta paróquia
era composta por imigrantes luteranos e calvinista, sendo seu primeiro pastor o Rev.
Ludwig Neumann. No entanto, com o passar do tempo, a comunidade tornou-se
totalmente luterana.

A presença calvinista pode ser vista, também, no serviço de capelania dos marinheiros
estadunidenses ancorados no Brasil. Em 1851 e 1854, este posto foi ocupado pelo pastor
presbiteriano Rev. James Cooley Fetcher. Mesmo após abandonado o posto de
capelão, Fletcher continuou no Brasil, ocupando posição importante no processo de
inserção do protestantismo no país.

11.1- Missão Calvinista no Século XIX

Pelas mesmas razões aludidas acima (que o resultaram na tolerância ao protestantismo


em território Brasileiro), vários missionários protestantes chegaram ao Brasil com o
objetivo expresso de evangelizar os brasileiros, numa tentativa de organizar um
protestantismo genuinamente nacional. A este movimento missionário protestante com
o objetivo de organizar igrejas compostas por fiéis brasileiros chama-se Protestantismo
de Missão.

Quase todos os primeiros missionários protestantes no Brasil eram calvinistas. O citado


Rev. James Fletcher, por exemplo, teria ficado “obcecado por uma única ideia:
98

converter o Brasil ao protestantismo e não ao progresso”. Apesar disso, Fletcher não


chegou a organizar uma igreja calvinista no Brasil e nem batizar nenhum brasileiro.

O primeiro missionário calvinista a organizar uma igreja formada por brasileiros foi o
médio e pastor escocês Ver. Robert Reid Kalley. Ele já havia servido como missionário
na Ilha da Madeira entre 1838 e 1846, aprendendo, por conta disso, a língua portuguesa.
Kalley e sua esposa Sarah chegaram ao Brasil em maio de 1855 e, no mesmo ano,
organizaram a primeira escola dominical em território Brasileiro. “Em 11 de julho de
1858, Kalley fundou a Igreja Evangélica, depois Igreja Evangélica Fluminense (1863),
cujo primeiro membro brasileiro foi Pedro Nolasco de Andrade”. A Igreja Evangélica
Fluminense (uma Igreja Congregacional, de doutrina calvinista) é a primeira Igreja
Protestante, fruto do trabalho missionário, brasileiro.

Muitas reuniões foram realizadas, também, em Petrópolis. Em virtude da frequência de


brasileiros a tais reuniões, Kalley chegou a ser intimado à Delegacia e proibido de
exercer suas atividades, como médico. O missionário encaminhou uma carta de defesa à
representação Diplomática Britânica. “Junto à sua carta de Contestação, Kalley
apresentou a Stuart a opinião legal de três, dos mais notáveis jurisconsultos brasileiros
da época: Caetano Alberto Soares, José Tomás Nabuco de Araújo e Urbano
Sabrico Pessoa de Melo”. Tais respostas apontavam para uma nova interpretação da
Constituição, permitindo-se, então, que é a fé protestante fosse pregada aos brasileiros.
O relacionamento do casal Kalley com o Imperador Dom Pedro II (que visitou sua casa
algumas vezes) serviu também, para dar credibilidade ao seu trabalho.

O calvinismo só se estabeleceu oficialmente, no entanto, com a chegada dos


missionários presbiterianos enviados pelo Presbiteriam Church in the United States of
America. O trabalho missionário presbiteriano começou com a chegada do Rev. Ashbel
Green Simonton ao Brasil, em 12 de agosto de 1859.

Estabelecendo-se no Rio de Janeiro, Simonton inicia os seus trabalhos como capelão de


marinheiros ingleses ancorados no Brasil. Após aprender a língua portuguesa, iniciou
seus cultos com a presença de portugueses e brasileiros. O resultado disso foi a
organização em 12 de janeiro de 1862, da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro (a
primeira Igreja Presbiteriana do Brasil). O próprio Simonton relata a organização desta
Igreja, pela recepção de seus dois primeiros membros.

“No sábado, celebramos a Santa Ceia, e recebi por profissão de fé a Henry E. Milford
e a Cardoso Camilo de Jesus. Foi uma obra de gozo íntimo. Antes mesmo do que eu
esperava, Deus me deu os primeiros frutos de nossa missão. Sinto-me grato, mas julgo
que devia estar mais ainda. O culto de comunhão foi dirigido por Schneider e por mim,
em inglês e português. O Sr. Cardoso, o seu próprio pedido e de acordo com o que nós
mesmos, depois de muito pensar e hesitar tinha achado melhor, foi batizado. Seu exame
foi julgado mais do que satisfatório por Schneider e por mim, e não nos deixou dúvida
com respeito à realidade de sua conversão”.
99

Além disso, é de Simonton, também, a iniciativa de criar o jornal imprensa evangélica


(1864), primeiro periódico protestante de língua portuguesa a circular no Brasil.
Como consequência de sua missão, organiza-se o Presbitério do Rio de Janeiro (1865) e
procede-se à ordenação do primeiro pastor protestante latino americano, o brasileiro
Jose Manoel da Conceição.

Os nomes de dois outros missionários presbiterianos estão vinculados à presença


calvinistas no estado de São Paulo. São eles: o Rev. Alexander Latimer Blackford e o
Rev. George Whitehill Chamberlain. Este último foi o criador da Escola Americana,
em 1870, dando origem ao que é hoje a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Com o
trabalho destes missionários, o calvinismo implantou-se definitivamente no país.

12 – Indigenização

O calvinismo interiorizou-se, com pregações de congregacionais no Nordeste, na Zona


da Mata Mineira e Região Serrana Fluminense. O presbiterianismo também fixou
missões em áreas rurais do Sudeste, em cidades como Bratas, muito pela ação de
missionários leigos brasileiros e das viagens do padre José Manoel da Conceição.

Na virada do século XX, os conflitos inerentes à adaptação do calvinismo ao Brasil


levaram ao cisma entre os presbiterianos formando a Igreja Presbiteriana Independente.

A existência de uma corrente iluminista, na expressão do historiador Emile G. Leonard,


levou a várias cisões no calvinismo brasileiro por manifestações carismáticas. A
primeira foi a Igreja Evangélica Brasileira, depois veio o pentecostalismo através da
Congregação Cristã no Brasil, mais tarde os Movimentos de Renovação com a Igreja
Presbiteriana Renovada e a Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil e
Movimento de Avivamento como na Igreja Cristã Maranata.

22 – CAPITALISMO

1 – Introdução:

É um sistema econômico em que os meios de produção e distribuição são propriedade


privada e com fins lucrativos. Decisões sobre ofertas, demandas, preços, distribuições e
investimentos que são feitos pelo governo e os lucros são distribuídos para os
proprietários que investem em empresas e os salários são pagos aos trabalhadores pelas
empresas.

O capitalismo é dominante no mundo ocidental desde o final do Feudalismo. O


capitalismo é o sistema socioeconômico baseado no reconhecimento dos direitos
individuais, em que toda propriedade é privada e o governo existe para banir a iniciação
100

de violência humana. Em uma sociedade capitalista, o governo tem três órgãos: a


polícia, o exército e as cortes de lei.

Na lógica do capitalista está o aumento de rendimentos. Estes tanto podem ser


concentrados como distribuídos, sem que isso nada tenha a ver com a essência do
sistema. Concentração e distribuição dos rendimentos capitalistas dependem muito mais
das condições particulares de cada sociedade.

O capitalismo só pode funcionar quando há meios tecnológicos e sociais para garantir o


consumo e acumular capitais. Quando assim sucede, tem conservado e até aumenta a
capacidade econômica de produzir riqueza.

Dentro do capitalismo existem diversos tipos, como capitalismo financeiro, que


corresponde a um tipo de economia capitalista em que o grande comércio e a grande
indústria são controlados pelo poderio econômico dos bancos comerciais e outras
instituições financeiras.

a) Capitalismo Industrial e Informacional:

Juntamente com o capitalismo financeiro, surgiu o capitalismo industrial, que é quando


as empresas evoluíram de manufatureiras para mecanizadas. Outro tipo foi o
capitalismo informacional, que tem a tecnologia de informação como o paradigma das
mudanças sociais que reestruturaram o modo de produção capitalista.

b) Capitalismo e Globalização:

Um dos fenômenos do capitalismo é a globalização, que é um dos processos de


aprofundamento da integração econômica, social, cultural, política, impulsionado pelo
barateamento dos meios de transporte e comunicação dos países do mundo no final do
século XX. A globalização é gerada pela necessidade da dinâmica do capitalismo de
formar uma ideia global que permita maiores mercados para os países centrais.

2 – Expansão do Capitalismo:

Sabemos que, de acordo com a periodização tradicional, considera-se a Revolução


Francesa (1789-1799) o marco inicial da época contemporânea. Junto com ela,
propagram-se os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.

Conforme pesquisa feita anteriormente, esse movimento político-social foi em grande


parte liderado por grupos burgueses que, após obterem certa ascensão econômica,
reivindicaram participação no poder político e na construção de um novo modelo de
sociedade. No plano econômico, a partir de meados do século XVIII, o capitalismo foi
se consolidando em diversos países da Europa ocidental e, mais tarde, em outras regiões
do mundo.

a) Progresso Versus Desumanização:


101

Esse processo de transformações, ao qual está vinculada a Revolução Industrial,


atingiu amplos setores da economia – produção de manufaturas, agricultura, comércio,
transportes etc. – com grande impacto na sociedade. Configurou-se, assim, um quadro
geral que pode ser sintetizado em duas tendências contraditórias.

 Avanço técnico e científico.

Como tendência geral, as antigas oficinas dos artesãos foram sendo substituídas pelas
fábricas, e novas máquinas tomaram o lugar de muitas ferramentas. Em lugar das
tradicionais fontes de energia – como água, vento e força muscular – passou-se a utilizar
também o carvão, a eletricidade e o petróleo.

Todas essas inovações tecnológicas somaram-se muitas outras, ao longo do século XIX,
como a utilização em larga escala do aço, a invenção da locomotiva elétrica, do motor a
gasolina, do automóvel, do motor a diesel, do avião, do telégrafo, do telefone, da
fotografia, do cinema e do rádio etc. o impacto dessas transformações ainda ecoa em
nossos dias.

Esses avanços reforçaram a confiança no poder da razão, gerada nos séculos anteriores,
levando cada vez mais ao entusiasmo com a ideia de progresso da humanidade e à
apologia da ciência como principal condutora no caminho para um mundo melhor.

 Exploração do trabalho humano.

Paralelamente, a expansão e a consolidação do capitalismo foi um processo que trouxe


consigo novas formas de exploração do trabalho humano. Com isso, alterou-se o
cenário das questões sociais, pois – além dos anseios próprios das burguesias – as
repercusões da Revolução Francesa estimulvam as aspirações dos trabalhadores
urbanos e rurais por melhores condições de vida. Em várias sociedades ocidentais, os
ideiais de liberdade, igualdade e fraternidade conduziam à esperança de que o progresso
beneficiaria a todos. Mas não era bem assim o que estava acontecendo. O operariado
vivia de forma miserável, sem garantias e direitos, sem liberdades.

A exploração do trabalho no contexto do capitalismo industrial gerou uma série de


conflitos entre dois grandes grupos sociais e seus diversos segmentos: de um lado, a
burguesia empresarial (da indústria, do comércio, das finanças etc.); de outro, os
trabalhadores das cidades e dos campos.

3 – Conceito de “Modo de Produção” em Karl Marx:

Por “modo de produção”, devemos entender a maneira como se origina o processo pelo
qual o homem age sobre a natureza material para satisfazer as suas necessidades.
102

“Produzir é (...) trabalhar”, pondo “em movimento forças” que ajam sobre a natureza.
Estas forças variam com a história e com a sociedade. O trabalho é assim, não só “um
processo (...) entre um homem e a natureza”, mas “supõe uma força de sociedade”
realizando-se em certas “condições sociais”, as “relações sociais de produção”:

 Relações de Produção: (Capitalista)

Ao modo de produção capitalista corresponde essencialmente uma relação social “entre


duas classes”. Destas, uma [a burguesia], por ter o “monopólio dos meios de produção e
do dinheiro”, explora a outra [a classe trabalhadora], que não é proprietária de nada,
exceto a sua “força de trabalho” que se vê forçada a vender. O “objetivo da produção” é
aqui o objetivo da burguesia: a criação de mais-valia para a acumulação privada de
capital, não satisfação das necessidades da maioria dos membros da sociedade.

Segundo Karl Marx, “...na produção social da sua vida, os homens entram em
determinadas relações, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção
que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças
produtivas materiais”.

Quaisquer que elas sejam, as relações de produção assumem três funções seguintes:

 Determinar a forma social do acesso às fontes e ao controle dos meios de


produção;
 Redistribuir a força de trabalho social entre os diversos processos de trabalho
que produzem a vida material organizam e descrevem esse processo;
 Determinar a forma social de divisão, redistribuição dos produtos do trabalho
individual e coletiva e, por essa era, as formas de circulação ou não circulação
desses produtos.

4 – Meios de Produção:

 Os meios de trabalho incluem os “instrumentos de produção” (“máquinas,


ferramentas”, as instalações (edifícios, armazéns, silos etc.), as fontes de energia,
utilizadas na produção (elétrica, hidráulica, nuclear, eólica etc.) e os meios de
transportes).

 Mais-valia – Marx chamou de mais-valia a diferença entre o valor adicionado


pelos trabalhadores (incorporado às mercadorias produzidas) e o salário que
recebem.
A mais-valia definida desta maneira é em tudo semelhante ao trabalho gratuito
que escravos ou servos entregavam a seus senhores. É uma forma disfarçada de
transferência de um excedente para a classe dominante.
103

A mais-valia é a base para os lucros, os juros das aplicações financeiras e para


todas as formas de rendimentos vinculados à propriedade. A apropriação da
mais-valia é o fundamento da divisão das classes sociais no capitalismo.

5 – Alienação:

O homem através da alienação torna-se estranho a ele mesmo; não se reconhece a si


mesmo; o trabalho o tornou estranho; aquilo que produz lhe é estranho; a atividade
tornou-se massificante, penosa, desgostosa por que ela tornou-se exclusivamente um
meio de subsistência. A alienação, segundo Marx, “é situação resultante dos fatores
materiais dominantes da sociedade, e por ele caracterizadas, sobretudo no setor
capitalista, em que o trabalho do homem se processa de modo a produzir coisas que
imediatamente são separadas dos interesses e do alcance de quem as produziu, para se
transformarem indistintamente em mercadores”.

6 – A Crítica de Marx ao Sistema Capitalista:

O capitalismo, segundo Marx, se configurou plenamente a partir do século XVIII


(apesar da sua origem ser anterior), quando ocorre a Revolução Industrial. Iniciada na
Inglaterra, dali se propagou para outros países. Sua essência era a busca do capital, pelo
qual a burguesia, a classe social dominante concentra o poder. Nessa busca, esse sistema
econômico não vês nenhum impedimento político, moral ou ético para expropriar o
trabalho de todos os atributos humanos.

Marx afirma que no processo de produção capitalista, o homem se aliena, tornando-se


mera peça de engrenagem produtiva. Ele não é mais donos dos seus instrumentos de
trabalho, o ritmo de produção não é imposto por ele e tampouco domina o processo
produtivo, ou seja, a divisão do trabalho. A principal consequência desse processo é que
o trabalhador não se reconhece no produto que fez, e assim perde a sua identidade
enquanto sujeito.

A alienação do produto do trabalho conduz à alienação do homem. As relações


interpessoais em geral passam a serem medidas pelas mercadorias e pelo dinheiro, até
os próprios proletários adquirem caráter de mercadoria, pelo fato de sua força de
trabalho ser comercializada no mercado. O trabalhador torna-se um ser privado de sua
essência humana.

Entretanto, ao contrário de uma visão fatalista da história, em que essa situação ser
repetiria initerruptamente, Marx faz uso do Materialismo Dialético para demonstrar
como se daria a ruptura da ordem capitalista. O trabalhador, mesmo vivendo
individualmente essa dominação, enquanto integrante de uma classe social, poderia
tomar consciência dessa situação de opressão.
104

A parte daí se mobiliza enquanto classe para promover a sua verdadeira libertação,
através de uma revolução. Portanto, era da própria situação de exploração que nasceria a
força de classe operária. Para além da alienação econômica, há também a alienação
religiosa.

Influenciado por Feuerbach, Marx afirma que é preciso destruir a religião para que o
homem se recupere a si próprio, pois o único Deus do homem é o próprio homem. A
alienação religiosa faz com que o ser humano deixe de lutar pela melhoria da sua
condição social, acreditando estar em deus à justificativa para a desigualdade do mundo
capitalista. Assim sendo, é Deus quem decide quem é pobre ou rico, esvaziando de
sentido de luta contra a desigualdade.

Marx mencionou ainda a alienação filosófica, que se expressa na forma de encarar a


filosofia como contemplação da realidade, que o filósofo designa por metafísica. Mas,
para ele, a principal tarefa de toda e qualquer pessoa e, portanto, também dos filósofos,
é transformar o mundo de forma a pôr fim à alienação social e política, ou seja, agir
para erradicar a submissão da classe operária pelo Estado burguês.

Marx considera essa a principal das tarefas do movimento socialista, para se atingir o
comunismo; (...) comunismo com superação positiva da propriedade privada, enquanto
auto alienação do homem, ou seja, como apropriação real da essência humana por meio
de e para homem. Por isso, considera-o como regresso perfeito, consciente e dentro da
riqueza total do desenvolvimento atual do homem para si mesmo enquanto homem
social vale dizer, humano.

Comunismo é a verdadeira dissolução do antagonismo entre o homem e a natureza e


entre o homem e o homem. A verdadeira solução do conflito entre liberdade e
necessidade. Ele é o enigma decifrado da história, a verdadeira realização da essência
do homem. A própria sociedade capitalista criaria as condições para a sua
autodestruição e o surgimento da sociedade comunista, que se caracteriza com a
abolição das classes pela justiça, pois a sociedade exigira de cada indivíduo um esforço
proporcional às suas forças e o retribuirá de acordo com suas necessidades.

A partir desse momento histórico, o processo dialético continuará infinitamente, mas a


luta de classes terá continuidade na luta do ser humano contra a natureza. Outro aspecto
relevante do pensamento de Marx e o conceito de ideologia. Dentro da visão marxista, a
matéria é um dado primário que alimenta a consciência e esta última é considerado
apenas um dado secundário, pois é reflexo da matéria. Assim, as ideias que são
expressas na arte, na filosofia, na literatura e na moral estão estritamente relacionadas
ao modo de produção econômicas.

No entanto, Marx afirmou a existência de certa inversão na apreensão desse processo,


ou seja, o que muitas vezes se afirma é que são as ideias e valores que contribuem para
que as pessoas definam certa visão do mundo. Desse pressuposto decorre a afirmação
do filósofo de que a ideologia é uma falsa consciência do mundo. Revelar a ideologia
105

burguesa era equivalente a desvendar toda a lógica sobre o mundo burguês e, portanto,
contribuir para a revolução proletária.

23 – CATOLICISMO ROMANO

1 – Introdução:

A Igreja Católica afirma ser a única e verdadeira igreja de Cristo, alegando sua
existência desde o início do cristianismo, considerando inclusive se a Igreja que Jesus
Cristo fundou, tendo em Pedro, um dos seus discípulos, o seu primeiro papa.

O Catolicismo Romano pode ser encarado como uma religião tão falsa como as outras.
Infelizmente, nos últimos tempos, a Igreja Católica está usando uma estratégia que está
enganando a muitas pessoas. Trata-se do Ecumenismo que tem como principal
finalidade enredar todos os credos na teia católica e que tem sido aceito até mesmo por
alguns evangélicos despercebidos.

1.1 – Igreja Católica:

É o maior ramo do cristianismo e o mais antigo como Igreja organizada. Com sede no
Vaticano, a Igreja Católica (do grego Katholikos, universal) estrutura-se em dioceses,
dirigidas por bispos subordinados ao papa, considerado sucessor do apóstolo Pedro. O
atual papa, Francisco, é o argentino Jorge Mario Bergoglio (1936), que assume o posto
em 2013 depois da renúncia de Bento XVI.

A principal cerimônia é a missa. Seu ponto culminante é a eucaristia, um dos sete


sacramentos (ritos sagrados) da Igreja, no qual, de acordo com a crença, Jesus Cristo se
encontra presente com seu corpo, sangue, alma e divindade, na forma de pão e vinho.
Os demais sacramentos são o batismo, a crisma, a confissão, o casamento, a ordenação e
a unção dos enfermos. Os católicos reverenciam a Virgem Maria, a mais importante
intermediária entre os fiéis e seu filho, Jesus Cristo, e os santos, mediadores entre o
homem e Deus.

No Brasil, para onde foi trazida pelos colonizadores portugueses, a Igreja Católica
permanece unida ao Estado até 1890. O país tem o maior número absoluto de católicos
no mundo: 123,2 milhões, de acordo com o Censo de 2010 do IBGE.

2 – Histórico:

Depois do Pentecostes, os cristãos passaram a pregar o Evangelho em larga escala.


Após grande esforço entre os judeus, por cerca de dois anos, as missões cristãs,
coadjuvadas pelos que estiveram presentes no dia de Pentecostes, passaram a
106

evangelizar os gentios com grande ardor missionário. Um exemplo disso está na própria
igreja de Antioquia que enviou a Barnabé e a Paulo.

Até aí, as igrejas eram autônomas e não tinha nenhuma forma de governo eclesiástico.
Admitiam serem guiadas e orientadas pelo Espirito Santo, o Consolador prometido por
Jesus. Respeitavam as orientações dos apóstolos e não reconheciam líder algum sobre
eles que tivesse a incumbência de representar a Cristo quer espiritualmente, quer
administrativamente, papel atribuído ao próprio Espírito Santo.

Muitas perseguições vieram de encontro aos cristãos, começando com Nero (54 a 68
A.D.), Imperador Romano, até o ano 311, quando apareceu o Édito de tolerância,
publicado por Galério, Imperador Romano no oriente, reconhecendo a insânia da
perseguição aos cristãos.

Em 323, Constantino passou a dominar todo o Império Romano, uma vez que o império
do ocidente havia caído. Esse imperador revolucionou a posição do cristianismo em
todos os aspectos. Primeiramente, proporcionou igualdade de direitos a todas as
religiões, e depois, passou a fazer ofertas valiosas ao cristianismo, construindo igrejas,
isentando-o dos impostos e até mesmo sustentando clérigos.

Podemos colocar aí, o início do Catolicismo Romano! Nessa condição, o cristianismo


veio a ser praticamente a religião oficial do império. Isso resultou da entrada de muita
gente para a igreja, somente porque era a religião apoiada pelo governo.

Os verdadeiros cristãos foram na realidade, marginalizados por não concordarem com


tal situação, formando grupos à parte que sempre marcharam paralelos com a igreja
favorecida e entremeada de pessoas que buscavam interesses políticos e sociais. Esses
cristãos, por não aceitarem tal situação, no decurso da história, eram agora perseguidos
pelos outros “cristãos” e muitos dos seus líderes eram queimados na fogueira em praça
pública, de heréticos.

2.1 – O Concílio de Nicéia:

O Concílio de Nicéia, na Ásia Menor (325 AD), presidido por Constantino, bem como
os outros que lhe sucederam, eram compostos de todos os bispos, alguns nomeados pelo
Imperador, outros que se autonomeavam e outros que eram nomeados por líderes
religiosos das diversas comunidades.

Com o decorrer do tempo, o bispo de Roma passou a exercer autoridade sobre os


demais; isso é lógico, pelo fato de pertencer ele à antiga capital do mundo. A palavra
papa, que era usada para todos os bispos, passou a ser reservada para o bispo de Roma.

2.2 – O Concílio de Constantinopla:

O Concílio Ecumênico de Constantinopla (381) consagrou oficialmente a designação


“católica” aplicada à igreja organizada por Constantino – “creio na Igreja una, santa,
107

católica e apostólica” – daí por diante inserida no símbolo dessa fé. A Igreja ortodoxa e
as igrejas reformadas também admitem essa qualificação.

2.3 – O Primeiro Papa:

Roma teve muitos bispos, entretanto o primeiro a sustentar e defender sua autoridade,
exercendo o direito de impor suas ordens aos bispos de toda a parte, foi Leão I (440-
461) que pode ser considerado o primeiro papa do Catolicismo Romano.

2.4 – O Paganismo Católico:

Depois de Constantino, o cristianismo passou a assimilar práticas pagãs; isso porque


muitos pagãos entraram na igreja sem conversão, passando a exercer grande influência
no culto. O culto aos santos e a veneração aos mártires e a outros homens e mulheres
famosos, passaram a ter plena aceitação. Foram criados rituais que eram um misto de
cerimônias pagãs, herdadas de diversas religiões, com as cerimônias sacerdotais do
Antigo Testamento.

Os santos passaram a ser considerados como pequenas divindades, cuja intercessão era
valiosa diante de Deus. Surgiu a veneração de relíquias e até mesmo de lugares. Antes
do ano 500 o culto da virgem Maria já estava vitorioso. O paganismo romano teve
grande influencia na formação do culto católico; daí dizer-se católico-romano.

3 – Diferenças Entre a Igreja Católica e a Igreja Evangélica:

São tantas as diferenças entre a Igreja Católica e a Igreja Evangélica, que precisaríamos
escrever alguns volumes para estabelecê-las. Apresentaremos resumidamente alguns
conceitos da fé católica, comparando-os com o conceito da fé protestante, de acordo
com a Bíblia, mostrando a falsidade dos ensinamentos católico-romanos.

3.1 – Sobre a Bíblia:

a) Igreja Católica

 Não aconselha o uso da Bíblia a todos os fiéis;

 Ensina que sua leitura é perigosa aos indoutos;

 Diz que ninguém deve atrever-se a interpretar a Bíblia de maneira contrária a


interpretação católica ou sem o consentimento dos padres;

 Aceita como canônicos (inspirados) livros que não constam do cânon hebreu;

 Venera e aceita outros escritos além da Bíblia:


108

- as tradições;
- os escritos dos “pais da igreja”;
- os ensinos da própria Igreja Católica;
- os ditames infalíveis do papa.

b) Igreja Evangélica

 Recomenda a todos a leitura da Bíblia;

 Reconhece que não se necessita sabedoria intelectual para entender as verdades


fundamentais da fé cristã;

 Aceita Deuteronômio 6.6-9;


“Estas palavras que hoje te ordeno, estarão no teu coração; tu as
inculcarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando
pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te”.
Também as atarás como sinal na tua mão e te serão por frontal entre os
teus olhos.
“E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.”

 Tem a Bíblia como única regra de fé e prática da vida cristã.

3.2 – Sobre a Igreja:

a) Igreja Católica

 Diz que é a única e verdadeira igreja e que fora dela não há salvação;
 Diz que foi fundada sobre Pedro, a rocha;
 Diz que é a única que tem os sinais da verdadeira igreja: que é santa, uma,
católica, apostólica e romana.

b) Igreja Evangélica

 Baseia-se somente na Palavra de Deus;

 Compõe-se de todos os que estão unidos em Cristo por uma fé viva nele como o
Filho de Deus e Salvador do homem, sem outros intermediários;

 Acredita-se que Jesus é o fundamento e o cabeça da Igreja;

 Crê que Jesus é o único salvador e o único mediador entre Deus e o homem;
109

 Não está disposta a aceitar as ideias católicas e nem tampouco reclama algum
título para si.

3.3 – Sobre As Doutrinas

a) Igreja Católica

 Diz ser apostólica, fundada por Pedro e prega suas doutrinas baseando-se no fato
de ter sido fundada por Pedro e outros apóstolos;
 Aceita doutrinas baseadas em interpretações daqueles que chama “pais da
igreja”, ou dos papas.

b) Igreja Evangélica

 As doutrinas cristãs e apostólicas são as da Bíblia. O que os apóstolos ensinaram


para doutrina da Igreja consta da Palavra de Deus.

4 – Doutrinas e Dogmas, que foram Criados ou modificados pela a Igreja Católica.

 A doutrina do purgatório – 600 d.C.;


 O começo do papado – 380 a 600 d.C.;
 A veneração de relíquias – 400 d.C.;
 A canonização dos santos – 1000 d.C.;
 O sacrifício da missa – 1100 d.C.;
 Os sente sacramentos – 1215 d.C.;
 A transubstanciação – 1215 d.C.;
 A confissão auricular – 1216 d.C.;
 A tradição – 1546 d.C.;
 A infalibilidade do papa – 1870 d.C.;
 A autorização dos livros apócrifos na Biblia – 1547 d.C.;
 A venda de indulgência – 1563 d.C.;
 O Credo do papa Pio IV que introduziu novas doutrinas – 1560 d.C.;
 A Imaculada conceição de Maria – 1950 d.C.;

24 – CETICISMO

1 – Definição:

A Possibilidade do Conhecimento
110

Uma das discussões em torno do problema do conhecimento diz respeito à possibilidade


ou não de o espírito humano atingir a certeza. Distinguiremos inicialmente duas
tendências principais: O Ceticismo e o Dogmatismo.

a) Ceticismo:

Nada existe. Mesmo se existisse alguma coisa, não poderíamos conhecê-la; “concedido
que algo exista e que podemos conhecer não o podemos comunicar aos outros. Essas
três proposições, atribuídas a Górgias (sec. IV, a.C.), um dos representantes da sofística,
exemplificam a postura conhecida como ceticismo.

Naquele mesmo século, outro grego chamado Pirro, acompanhando Alexandre Magno
em suas expedições de conquista, conheceu muitos povos com valores e crenças
diferentes. Como geralmente fazem os céticos, deve ter confrontado a diversidade das
convicções que animam os homens, bem como as diferentes filosofias tão
contraditórias, abstendo-se no final de abrir a qualquer certeza.

Pelo menos semelhante no gosto pelas viagens, o filósofo renascentista Montagne


retoma o tema do ceticismo. Contrapõe-se às certezas da escolástica decadente e à
intolerância de um período de lutas religiosas, analisando nos ensaios a influência de
fatores pessoais, sociais e culturais na formação das opiniões.

Skeqtikós, em grego, significa “que observa”, “que considera”. O cético tanto observa
quanto considera que conclui, nos casos mais radicais, pela impossibilidade; e nas
tendências moderadas, pela suspensão provisória de qualquer juízo.

Portanto, há gradações no ceticismo. Os céticos moderados admitem uma forma


relativa de conhecimento (relativismo), reconhecendo os limites para a apreensão da
verdade. Para outros moderados, mesmo que seja impossível encontrar a certeza, não
se deve abandonar a busca. Mas para o ceticismo radical, como o “Pirronismo”, se a
certeza é impossível, é melhor renunciar ao conhecimento, o que traz como
consequência prática, a indiferença absoluta em relação a tudo.

O ceticismo radical se contradiz ao se afirmar, pois concluir que “toda certeza é


impossível e a verdade é inacessível” não deixa de ser uma certeza, e tem valor de
verdade.

25 – CINISMO

1 – Introdução:

A palavra cinismo vem do grego kynos, que significa “cão”; cínico, do grego kynicos,
significa “como um cão”. Assim, o termo cinismo designa a corrente dos filósofos que
se propuseram viver como os cães da cidade, sem qualquer propriedade ou conforto.
111

Levavam ao extremo a tese socrática de que o ser humano deve procurar conhecer a si
mesmo e desprezar todos os bens materiais. Por isso, Diógenes de Sínope (413-327
a.C.), o pensador mais destacado dessa escola, é conhecido como o “Sócrates demente”,
ou o “Sócrates louco”, pois questionava os valores e as convenções sociais de forma
radical e procurava levar uma vida estritamente conforme os princípios que considerava
moralmente corretos.

Vivendo em uma época em que as conquistas de Alexandre promoveram o helenismo,


que mesclou culturas e populações, Diógenes também não tinha apreço pela diferença
entre grego e estrangeiro. Conta-se que, quando lhe perguntaram qual era sua cidadania,
teria respondido: “Sou cosmopolita” (palavra de origem grega que significa “cidadão do
mundo”).

Há muitas histórias de sabedoria e humor sobre Diógenes. Uma delas conta que ele
morava em um barril e que, certa vez, Alexandre Magno foi visitá-lo. De pé em frente à
“casa”, Alexandre perguntou-lhe se havia algo que ele, como imperador, poderia fazer
em seu benefício. Diógenes respondeu prontamente: “Sim, podes sair da frente do meu
sol”. Diz a lenda que Alexandre, impressionado com o desprezo do filósofo pelos bens
materiais, teria comentado: Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes”.

26 – CLASSICISMO

1 – Introdução:

É o período da escola literária do Renascimento, período compreendido entre o final do


século XV e o século XVI, quando a cultura das civilizações greco-romanas foi
revalorizada e provocou ampla revolução no pensamento do homem europeu. Trata-se
de um período caracterizado pelas pesquisas científicas e pelo interesse de cientistas e
artistas em analisarem racionalmente os mecanismos que regem o universo e
compreender, sob todos os pontos de vista, o homem e a natureza. O ideal clássico
privilegiou o racionalismo como forma de atingir a serenidade, o equilíbrio, a harmonia,
o senso de proporção, o rigor das formas e as verdades universais.

A literatura clássica sofreu profunda influencias das ideias do filosofo grego Platão, que
incentivava o homem a se afastar do universo restrito dos sentidos e tentar alcançar as
formas puras, elevadas, verdadeiras, que somente a razão poderia oferecer.

Em Portugal, o Classicismo iniciou-se em 1527, quando o poeta Sá de Miranda levou


para Portugal as sofisticadas novidades do Renascimento italiano (o soneto, o verso
decassílabo), e terminou em 1580, com a morte de D. Sebastião e o consequente
domínio espanhol sobre os lusitanos.
112

1 – Século XVI – Classicismo.

No teatro, William Shakespeare destaca-se na Inglaterra, com uma extensa e refinada


produção de dramas e comédias. Molière, na França, é reconhecido como um mestre da
comédia satírica. Salientam-se também os franceses François Rabelais e Michel de
Cervantes faz uma sátira das novelas de cavalaria e funda o romance moderno com o
fidalgo de Dom Quixote de La Mancha.

2 – autores e poetas:

O mais importante poeta do classicismo português é Luís de Camões, autor de Os


Lusíadas. Uma das principais epopeias da história, o livro segue o modelo das obras da
Antiguidade clássica para narrar a viagem de Vasco da Gama às Índias.

No território brasileiro, os primeiros registros de atividades escrita são texto


informativos sobre a “nova terra”. São crônicas como a Carta ao Rei Dom Manuel, de
Pero Vaz de Caminha, o Diálogo sobre a Conversão do Gentio, do Padre Manuel da
Nóbrega, e os tratados históricos de Pero de Magalhães Gândavo, Gabriel Soares de
Sousa e Fernão Cardim.

27 – COMUNISMO

1 – Introdução:

É a Organização Política e Econômica que torna comuns os bens de produção. Segundo


Marx, o comunismo é a fase posterior ao socialismo, quando seria possível instaurar a
sociedade sem Estado.

Socialismo e Comunismo.

Pela Lei da dialética, a contradição entre a burguesia e o proletariado será superada no


socialismo e no comunismo.

O Estado burguês deve ser destruído e a propriedade privada dos meios de produção
deverá ser suprimida. Deve ser instaurada a ditadura do proletariado, para evitar a
contrarrevolução. Esta primeira fase é o socialismo, cujo lema é: “De cada um,
segundo sua capacidade, a cada um segundo seu trabalho”.

Na fase segunda, o comunismo se definirá pela supressão da luta de classes. O Estado


desaparecerá. E será suprimida a divisão do trabalho. Não haverá contrastes entre cidade
e campo, entre indústria e agricultura. O principio do comunismo é: “De cada um,
segundo sua capacidade, a cada um, segundo suas necessidades”.
113

O movimento da história continua, pois haverá luta entre a vanguarda e os elementos


que impedem as mudanças.

2 – A Revolução Russa

Na virada do século XX, a Rússia ainda era um Estado feudal. O Czar Nicolau II
governava, assim como fizeram seus ancestrais, como um monarca autocrático,
sustentando-se em uma burocracia ampla e ineficiente. Sua vontade era imposta pela
polícia do Estado. E pelo Exército e seus oficiais controlavam a educação e censuravam
a imprensa. Dissensões eram impiedosamente abafadas. A situação era bastante
favorável para uma revolução.

A maioria dos súditos russos era de camponeses pobres, controlados por latifundiários
nomeados pelo governo. Apesar da abolição da servidão (sujeição dos camponeses às
classes proprietárias) em 1861, os camponeses ligavam-se fortemente à terra por um
sistema comunal de arrendamento.

Contudo, cada vez mais camponeses migravam para as cidades, pois a Rússia iniciara
um rápido processo de industrialização na primeira década do século XX auxiliado por
capital ocidental, especialmente francês. A vida para cerca de 15 milhões de operários
era dura. A moradia e as condições de trabalho nas fábricas eram ruins, propiciando o
aparecimento de partidos radicais e revolucionários. Os dois mais importantes era o
Partido Social Revolucionário (PSR) e o Partido Social Democrata (PSD). O líder deste
último era Vladimir Slitch Ulianov, mais conhecido como Lênin (1870-1924).

3 – As Raízes da Revolução

Em 1904-5, a Rússia entrou em guerra com o Japão e foi derrotada. Antes disso, a
inquietação social já crescia nas áreas urbanas e rurais. A derrota para os japonês
precipitou a revolução. No domingo sangrento (22 de janeiro de 1905), tropas abriram
fogo contra uma manifestação pacífica próxima ao palácio de inverno do Czar em São
Petersburgo. Cerca de 1000 pessoas – incluindo mulheres e crianças – morreram.
Seguram-se, então, uma greve geral, revoltas camponeses nas áreas rurais, tumultos,
assassinatos, motins do exército. Em outubro de 1905, o Czar permitiu a eleição de uma
Duma, o parlamento, o que trouxe os reformadores políticos moderados para o lado do
governo, conseguindo suprimir a revolta.

As primeiras duas dumas foram radicais na opinião do Czar e, em 1907, uma Duma
conservadora foi eleita após mudanças eleitorais. Algumas reformas ocorreram no
governo dos principais ministros Petr Arckadievich Stolypin (1863-1911), que tolheu o
poder dos latifundiários e criou uma pequena classe de camponeses proprietários de
terra. Contudo, Stolypin era malquisto tanto pela esquerda quanto pela direita e
terminou sendo assassinado.
114

A I Guerra Mundial colocou a sociedade russa sob enorme pressão. Após três anos de
guerra, o exército havia sofrido oito milhões de baixas e mais de um milhão de homens
haviam desertado. A inflação estava galopante e os camponeses passaram a não mandar
seus produtos para as cidades, o que levou à escassez de alimentos. O respeito pelo
governo imperial – dominado pelo corrupto e libertino monge Grigori Efimovich
Rasputin (c. 1872-1916) – havia desaparecido e a propaganda política revolucionária
espalhou-se entre soldados e trabalhadores.

A 8 de março de 1907, a Revolução estourou em Petrogrado (São Petersburgo até


1914). Sovietes (conselhos) de soldados, trabalhadores e camponeses foram formados
por toda a Rússia. A 15 de março o Czar abdicou e se estabeleceu um governo
provisório moderado. No verão de 1917, Alexsander Fiodorovich Kerenski (1881-1970)
tornou-se principal ministro, mas o poderoso soviete de Petrogrado era controlado pelos
bolcheviques de Lênin. A 7- 8 de novembro (25-26 de outubro no calendário russo),
Kerenski foi expulso em um golpe liderado por Lênin.

4 – Lênin e os Bolcheviques

Lênin estudara as idéias de Karl Marc e tentava substituir o capitalismo por um Estado
operário comunista. Decidiu que o povo russo precisava da liderança de uma elite
educada e dedicada. Seus adversários, no partido social democrata, que queriam um
partido para as massas, foram chamados de Mencheviques (ou a minoria), embora na
verdade os seguidores de Lênin, os bolcheviques (ou a maioria), formassem o menor
grupo.

Quando a revolução de março começou, Lênin estava exilado na Suíça, mas, em abril de
1917, os alemães auxiliaram sua volta à Rússia em um trem lacrado. Passou a planejar a
queda do governo provisório, que decidira continuar a guerra contra a Alemanha e
estava sendo lento na introdução da reforma agrária. A promessa de Lênin de “Pão, Paz
e Terra” conquista muitos para a causa bolchevique. Depois de tomar o poder em
novembro de 1917, Lênin passou a atacar grupos socialistas rivais usando o cheka
(polícia secreta) como arma e executou o Czar deposto e sua família.

Os bolcheviques foram forçados a aceitar uma dura paz com os alemães em Brest-
Litovsk em março de 1918, mas isso os permitiu concentrar esforços na guerra civil que
começara na Rússia. Os “vermelhos” opunham-se aos “Brancos” – uma coalização de
democratas, socialistas e racionários unidos só pela oposição a Lênin – e aos exércitos
enviados pela Grã-Bretanha, França, Japão e Estados Unidos.

Contudo, as diversas facções brancas não conseguiram coordenar sua estratégia e foram
paulatinamente derrotadas pelo exército vermelho criado por Leo Trotsky (1879-1940).
Em meados dos anos 20, ficou claro que os bolcheviques haviam triunfado. A Rússia
foi, então, atacada pela Polônia, que tinha objetivo de tomar territórios da parte
ocidental. O exército vermelho resistiu e conseguiu avançar ate Varsóvia antes de sofrer
115

uma derrota no rio Vístula. Durante a guerra civil, o exercito vermelho reconquistou
também várias áreas não-russas do ex-império czarista que haviam formado suas
próprias repúblicas em 1918. A união das Repúblicas Socialistas Soviéticas foi
formalmente criada em 1922.

5 – Problemas Econômicos e a NPE

Em novembro de 1917, o novo governo bolchevique enfrentou muitos problemas


econômicos. O governo dividiu os antigos estados dando terra aos camponeses, o que
conquistou considerável apoio. Em junho de 1918, Lênin foi forçado a introduzir o
“Comunismo de Guerra”, através do qual houve uma nacionalização generalizada e
controle estatal da agricultura. Isso levou ao colapso da produção industrial e grave
escassez de alimentos. Em março de 1921, após um sério motim naval em Kronstadt, a
Nova Política Econômica (NPE), foi introduzida. Desenvolveu pequenos negócios à
propriedade privada e permitiu a fazendeiros vender suas colheitas, o que criou uma
classe de Kulak (ricos camponeses fazendeiros), pois antes o excedente era
simplesmente entregue ao Estado. A NPE melhorou tanto a produção industrial quanto a
agrícola.

A morte de Lênin em 1924 iniciou uma batalha pelo poder entre seus sucessores. Em
1929, Joseph Stalin emergiu vitorioso, permanecendo líder absoluto até sua morte, em
1953. Seu maior rival, Trotsky, defendera a expansão da revolução por toda a Europa.
Em meados dos anos 20, Trotsky saíra do poder, sendo exilado no México, onde foi
morto em 1940 por um comunista espanhol, talvez a mando de Stalin.

A política de Stalin de “Socialismo em um país” era obviamente mais realista, dada a


fragilidade da URSS. Stalin pretendia alcançar o nível das potencias ocidentais através
de um programa intensivo de industrialização e coletivização agrícola. Essa política
traria sofrimentos indescritíveis para o povo soviético.

Em 1928, Stalin ordenou que as terras fossem tomadas de seus proprietários


camponeses e transformadas em fazendas coletivas tidas como mais eficientes e
igualitárias. Nesse processo, a classe kulak foi destruída, com cerca de 10 milhões de
mortes em 10 anos. A destruição causada pelo programa de coletivização levou à fome.

O primeiro dos planos quinquenais para melhoria da indústria pesada soviética também
começou em 1928. Geralmente, os alvos eram ambiciosos demais; contudo, a indústria
soviética começou a alcançar o ocidente.

Como nos dias pré-revolucionários, um crescimento industrial tão rápido causou muitas
dificuldades. O padrão de vida caiu e a força de trabalho industrial dobrou para 6
milhões; os oficiais soviéticos não hesitaram em punir a subprodução com o
aprisionamento em campos de trabalho.
116

6 – URSS e a Europa

Embora os governos europeus temessem que a URSS espalhassem a revolução por seus
países, os soviéticos desempenharam um papel relativamente pequeno nos assuntos
europeus nesse período. O tratado de Rapall de 1922 uniu a URSS à Alemanha, mas,
com ascensão de Hitler, os soviéticos começaram uma dura guerra de propaganda
política contra os nazistas.

A partir de 1934, Stalin se aproximou da Grâ-Bretanha e da França. Contudo,


desiludido pelas políticas de apaziguamento e preocupado com a perspectiva de
isolamento soviético, Stalin assinou um pacto de agressor com Hitler em 1939,
concordando em dividir a Polônia entre dois países. Isso trouxe aos soviéticos certo
alívio, o qual, entretanto, duraria apenas até junho de 1941, quando Hitler invadiu a
URSS.

28 – CONCEPTISMO

Definição:

Corrente literária barroca, mais associada à prosa, que valoriza a apreensão do conceito
(sinônimo Cultismo).

29 - CONCRETISMO

Conceito:

Prevalência do que é concreto. Corrente artística do início do século XX, caracterizada


pela linguagem geométrica adotada em seus trabalhos.

Movimento literário de meados do século XX que explorou os aspectos visuais e


materiais do poema.

Movimento na música erudita e nas artes plásticas que surge na Europa nos anos 1950.
Prega a elaboração formal precisa, com foco na racionalidade, em obras que
ambicionam acabar com a distinção entre forma e conteúdo.

Os precursores são o suíço Max bill, nas artes plásticas, e, na música, o francês Pierre
schaeffer. Na literatura, a primeira manifestação ocorre no Brasil, com o grupo
noigandres, formado pelos poetas augusto de campos, Haroldo de campos e Décio
Pignatari.
117

30 – CONSTRUTIVISMO

1 – Introdução:

Construtivismo. S.m. Ação Construtiva (Política, Social, Literária), o estilo da arte


cênica do teatro soviético. Construtivo, adjetivo que serve para construir (constructivo).

Escola das artes plásticas, do cinema e do teatro que ocorre basicamente na Rússia logo
após a revolução russa, em 1917. Defende a arte funcional, que deve atender as
necessidades do povo e divulgar os ideais revolucionários. Nas artes plásticas, o
pioneiro é o pintor vladimir tatlin. No cinema, o grande nome é o cineasta russo serguei
eisenstein.

2 – Arte Moderna

A primeira metade do século XX testemunhou uma revolução na arte. A convenção de


que a arte deveria ser uma representante fiel do mundo foi desafiada pelo Fauvismo e
destruída pelo Cubismo. A ênfase sobre cores e formas levou ao abstracionismo puro.

Os escritos de Darwin, Mark e Freud, aliados aos horrores da I Guerra Mundial –


incitaram uma revolta contra os valores tradicionais. O Dadaísmo e o Surrealismo foram
dois dos movimentos criados por essa atmosfera. Eram deliberadamente provocativos
ao rejeitarem a ordem social e artística estabelecida. Desde então, várias outras
abordagens à arte continuaram a chocar, embora alguns artistas tenham voltado a
trabalhar em estilos mais tradicionais.

3 – Método Construtivista

Método de aprendizagem baseado na teoria desenvolvida pelo psicólogo suíço Jean


Piaget (1896-1980). No construtivismo, o aluno está no centro do processo de
aprendizagem. Cabe ao docente pôr os alunos diante de situações variadas de modo que
eles próprios busquem soluções e construam o conhecimento com base em suas
experiências pessoais. O professor deve estimular nos estudantes a curiosidade rumo à
descoberta de novos conceitos, respeitando o desenvolvimento e o amadurecimento de
cada.

Seguidora de Piaget, a psicóloga argentina Emília Ferreiro (1936) analisou o processo


de alfabetização construtivista. Emília deslocou a importância do ensino para do
aprender. Percebeu, por exemplo, que toda criança passa pelos mesmos estágios de
aprendizagem, superando suas limitações e familiarizando-se com as normas da língua
aos poucos. A alfabetização leva em conta as representações que o próprio estudante dá
à escrita.
118

31 – CRIACIONISMO
(veja tópico 46 sobre evolucionismo)

Conceito:

O criacionismo é uma teoria que tenta explicar a criação do homem. Embora, ela não
possa ser comprovada em laboratório, a coincidência para por aí, pois na abordagem
que se faz ela possui características próprias. A Bíblia, especificamente no livro de
Gênesis, narra a história da origem de tudo que há ao nosso redor, como o sol, as
estrelas e os seres vivos. O primeiro versículo da Bíblia diz: “No princípio criou Deus
os céus e a terra”. E essa é a ideia central do Criacionismo: Deus criou todas as coisas,
inclusive o homem.

É importante desvincular o Criacionismo do Cristianismo, pois a teoria criacionista


prega que todas as coisas fora criadas substancialmente por um criador onipotente, não
sendo, necessariamente o Deus dos cristãos. O Islamismo, por exemplo, também prega
uma visão baseada no cristianismo, porém com a figura de Aláh.

A questão sobre as Origens do homem remete um amplo debate, no qual a filosofia,


religião e ciencia entram em cena para construir diferentes concepções sobre a
existencia da vida humana e, implicitamente, porquê somos o único espécie dotado de
características que nos diferenciam do restante dos animais.

Desde as primeiras manifestações mítico-religiosas o homem busca resposta para essa


questão. Neste âmbito, a teoria criacionista é a que tem a maior aceitação. Ao mesmo
tempo, ao contrário do que muitos pensam, as diferentes religiões do mundo elaboraram
uma versão própria da teoria criacionista.

A mitologia grega atribui a origem do homem ao feito dos titãs Epimeteu e Prometeu.
Epimeteu teria criados os homens sem vida, imperfeitos e feitos a partir de um molde de
barro. Por compaixão, seu irmão Prometeu resolveu roubar o fogo do deus Vulcano para
dadr vida à raça humana. Já a mitologia Chinesa atribui a criação da raça humana à
solidão da deusa Nu Wa, que ao perceber sua sombra sob as ondas de um rio, resolveu
criar seres à sua semelhança.

O cristianismo adota a Bíblia como fonte explicativa sobre a criaçao do homem.


Segundo a narrativa bíblica, o homem foi concebido depois que Deus criou os céus e a
terra. Também feito a partir do barro, o homem teria ganhado vida quando Deus
assoprou o folego da vida em suas narinas.

Outras religiões contemporâneas e antigas formulam outras explicações bastante


semelhantes. Sendo um tema polemico e inacabado, a origem do homem ainda será uma
delicada questão capaz de se desdobrar em outros debates.
119

Desta forma, caba a cada julgar e adotar, por meios de critérios pessoais, a corrente
explicativa que lhe pareça mais plausível.

32 – CRISTIANISMO

1 – Introdução:

O Cristianismo é uma religião que tem raízes no Judaísmo, mas que se estendeu muito
além daqueles limites, pois abrange muitas culturas e nações e é de maneira ampla a
maior crença do mundo inteiro. Onde tem penetrado, tem elevado os padrões sociais e
educacionais. Quase uma em cada três pessoas identifica-se de alguma maneira com o
Cristianismo. Assim como o Judaísmo e o Islamismo, o Cristianismo teve sua origem
no Oriente Médio. Apesar disso, seu desenvolvimento histórico e sua influência têm
sido principalmente no Ocidente e dele os povos ocidentais derivam seus ideais da
justiça, da liberdade e da oportunidade.

O fundador desta crença foi um homem de baixa condição social. Durante sua vida, era
desconhecido fora do cantinho do Império Romano onde viveu e morreu. Nunca
possuiu um lar, nem teve família. Tinha poucos bens terrestres e pouquíssimo dinheiro.
Usava roupas singelas, andava por estradas poeirentas, pescava com barco emprestado e
usou o lanche de um menino para alimentar uma multidão. Tirou uma moeda da boca de
um peixe para pagar o imposto do templo. Dava vida e esperança àqueles que entravam
em contato com ele. Não edificou nenhum templo, nem escreveu livro algum. Não fez
nada de mau, não quebrou nenhuma lei, mas morreu em uma cruz como criminoso e foi
sepultado em túmulo emprestado. Mas agora, a maior parte do mundo data as moedas,
os calendários e a correspondência segundo a data de seu nascimento. Quem é ele? É
Jesus Cristo, o filho de Deus.

1.1 – Cristianismo:

O Cristianismo é a religião que conta com o maior número de fiéis no mundo. Com
origem na doutrina judaica, tem início com as pregações de Jesus Cristo, no século I, na
região da Palestina. Após sua morte, seus apóstolos (enviados, em grego) difundem a
doutrina nas regiões do Mediterrâneo. O credo ganha força no século IV, quando o
Império Romano faz dele sua religião oficial. A partir do século XV, as grandes
navegações europeias disseminam a fé cristã pelo planeta.

O cristianismo tem por livro sagrado a Bíblia e professa que o Deus criador envia a terra
seu filho, como Messias (Cristo, em grego), o salvador. Após morrer na cruz, em favor
dos homens, que haviam perdido a graça divina no início da criação do mundo, Cristo
ressuscita e oferece a salvação e a vida eterna aos que se reaproximarem de Deus e
seguirem seus preceitos.
120

O cristianismo divide-se em três correntes principais – Igreja Católica, Protestantismo e


Igreja Ortodoxa – além de outras linhas como a Igreja Anglicana e os credos chamados
de cristianismo de Fronteira, grupos que estão na intersecção entre o cristianismo e
outras doutrinas. O Cristianismo de Fronteira toma a Bíblia como referencia, mas
também se valem de fontes de revelação, verdades próprias, como livros ou visões. As
principais denominações são os Mórmons e as Testemunhas de Jeová.

2 – Histórico do Cristianismo

a) Conhecendo o Cristianismo;
O Cristianismo é a religião de Jesus Cristo. Cristo é a versão grega da palavra
judaica Messias ou “ungido”, e o nome dado a Jesus pelos seus discípulos. O nome
Jesus é a forma grega da palavra hebraica Joshua ou da palavra aramaica Yeshua.

Condições Históricas:

A Palestina, na ocasião do nascimento de Jesus, fazia parte do Império Romano, e


usava a língua e a cultura deste. No reinado do imperador Augusto Cesar, as legiões
romanas tinham conquistado as terras do Mediterrâneo e a totalidade do Oriente
Médio. Os administradores e engenheiros romanos construíram cidades e estradas
que permaneceram famosas durante muitos séculos. O ditado comum era: “Todas
as estradas levam a Roma”. Sob a Pax Romana (“Paz de Roma”) as viagens por
terra ou por mar nunca eram muito seguras. Havia algumas revoltas locais, mas não
havia grandes guerras internacionais naquele tempo. Sendo assim, o Cristianismo
começou num período de relativa calma.
Num âmbito religioso, as nações do Império Romano tinham licença de praticar
suas próprias religiões nacionais. Os gregos e os romanos tinham seus panteões,
seus mitos e suas filosofias. Os cultos dos mistérios e a astrologia floresciam, e os
iniciadores eram até mesmo batizados nestas instituições. No Judaísmo, os rabinos,
os fariseus e os saduceus seguiam uma religião forma de obras mortas. Grupos tais
como os essênios aguardavam o Messias e o fim do mundo, e foram até o deserto
perto do mar Morto para esperarem a vinda do Senhor. Foi num mundo assim que
Jesus nasceu.

a’) A Vida de Jesus


Jesus nasceu no reinado de Herodes Magno, rei da Palestina, quando Augusto
Cesar era imperador de Roma. Antes do seu nascimento, a história universal é
classificada como a.C. (antes de Cristo) e, depois do seu nascimento, como d.C.
(depois de Cristo).
O nascimento de Jesus foi misterioso, segundo as Escrituras dos evangelistas,
milagroso. Ele foi concebido pelo Espírito Santo, sendo sua mãe ainda virgem.
Na pessoa de Jesus Cristo, Deus tornou-se Emmanuel (“Deus conosco”), e o
nascimento virginal tornou-se uma doutrina cardinal da igreja. Na ocasião do
121

seu nascimento, houve um censo romano, e Jose e Maria precisava ir a Belém


registrar-se. A cidadezinha ficou superlotada, e a família foi obrigada a pernoitar
num estábulo. Mas os eventos daquela noite formam uma das narrativas mais
conhecidas do mundo inteiro. Os anjos, naquela noite, anunciaram seu
nascimento aos pastores que estavam nas colinas da Judéia, dizendo a frase
famosa: “Gloria a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os
homens”.

Bem pouca coisa é conhecida a respeito da infância de Jesus. A mãe dele era
esposa de um carpinteiro em Nazaré, e Jesus foi treinado na mesma profissão até
chegar aos trinta anos de idade. João Batista, seu primo, tinha começado a pregar
que o reino de Deus estava próximo e batizava as pessoas como sinal deste fato.
Jesus foi para o rio Jordão para ser batizado por João e, enquanto Ele saía da
água, uma voz do céu declarou que ele era o filho de Deus. Então, o Espírito
levou Jesus para o deserto onde ele jejuou durante quarenta dias e neste período,
foi tentado por satanás. Foi uma tentação tríplice:

1. Usar sua divindade para satisfazer sua necessidade física do pão;


2. Iniciar um reino político terrestre;
3. Demonstrar seu poder divino diante das pessoas no templo.

Jesus resistiu a cada uma dessas tentações e saiu vitorioso com um conceito nítido da
sua missão e do seu messianismo. A partir de então, começou a pregar as “Boas Novas”
às pessoas. Tratava-se delas arrependerem-se dos seus pecados e crerem nele. Desta
maneira, podiam ter a vida eterna.

Segundo apurou-se, o ministério de Jesus duraram três anos, porque o Evangelho


segundo João menciona três Páscoas (2.13; 6.4; e 11.55). Os três anos, às vezes, são
chamados “anos de preparativos, o ano da popularidade, e o ano da oposição”. Os
pormenores são registrados nos Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e João.

Os eventos do primeiro ano do ministério de Jesus incluem seu batismo e sua tentação,
a chamada dos seus primeiros discípulos, a transformação da água em vinho, a
purificação do templo, o ministério na Judéia, o encontro com Nicodemos, e a prisão de
João Batista.

O segundo ano do ministério foi passado principalmente na Galileia. Inclui um sermão


na sinagoga de Nazaré; seu ministério de pregação, de cura e de ensino, a chamada dos
doze apóstolos; o sermão da Montanha, a morte de João Batista; a multiplicação dos
pães para cinco mil pessoas; e a recusa de ser proclamado rei.

O terceiro ano do ministério de Jesus começou na Galileia. Depois, ele foi para o sul,
em direção a Jerusalém, onde passou três meses. Durante algum período de tempo, ele
ficou fora da Galileia – em Tiro e Sidom, na Peréia e em Cesaréia de Felipe – antes da
viagem final até Jerusalém. Alguns eventos importantes foram: a confissão de fé pelos
122

discípulos, a transfiguração de Jesus, a ressurreição de Lázaro dentre os mortos, a


profecia da destruição do templo, a Última Ceia, a morte e a ressurreição de Cristo.

b’) Conflitos

Jesus era uma ameaça aos líderes estabelecidos pela religião judaica. Ele não
considerava as barreiras sociais, convivia com os publicanos, com os pecadores
e tinha as mulheres em alta estima. Inverteu os padrões geralmente aceitos, com
ditados tais como: “os primeiros serão os últimos, e os últimos, os primeiros”.
Não desprezava os vizinhos samaritanos, um povo minoritário, não
considerando, de sangue misto. Na realidade, o herói de uma das histórias mais
famosas de Jesus foi um samaritano, ao passo que os “vilões” vieram dos líderes
religiosos judaicos. Jesus louvava a fé demonstrada por certos gentios, em
contraste com os judeus.

Jesus frequentemente estava em conflito com os líderes judaicos na questão da


observância do sábado e dos aspectos externos da lei judaica. Ele ressaltava uma
finalidade interna à lei, bem mais exigente. Incorreu na ira dos saduceus, a classe
dominante dos sacerdotes, ao pregar o juízo contra a nação judaica e até mesmo a
destruição do templo, o centro da religião deles. Frequentemente perturbava o equilíbrio
delicado da paz entre os judeus e os romanos, por casa da sua popularidade com o povo
comum. Para este povo, ele era o libertador dos judeus, a quem esperavam. Em certa
ocasião queriam proclamá-lo rei e incitar uma rebelião contra Roma. Mas quando ele
deixou claro que seu reino não era político, muitas pessoas o deixaram.

O ponto culminante da vida e do ministério de Jesus veio por ocasião da páscoa em


Jerusalém. Foi preso em Jerusalém pelos líderes judaicos, e acusado de blasfêmia contra
a lei judaica, porque declarava ser o filho de Deus. Segundo o conceito deles, a
blasfêmia exigia a pena de morte, mas somente uma condenação pelos romanos poderia
conseguir a execução da sentença. Os judeus inventaram uma acusação de sedição
contra Roma e levaram-na com insistência diante do governador romano. A acusação
baseava-se, de modo paradoxal, na declaração de que ele dizia-se rei dos judeus. O
governador romano, tendo medo de provocar uma rebelião judaica por ocasião da
páscoa, passou a sentença de morte para Jesus. Jesus já perdera o apoio do povo por
recusar-se a dirigir um levante armado contra Roma. Apesar disso, ele foi executado em
Roma como “Rei dos Judeus”.

Jesus foi crucificado numa colina pequena fora de Jerusalém, chamada Calvário, uma
palavra em Latim que significa “caveira”, ou em aramaico “Gólgota, com o mesmo
significado”. A crucificação era o método romano de executar escravos e rebeldes.
Quando Jesus morreu, houve segundo diz Lucas 23.44, trevas sobre a terra desde o
meio-dia até às quinze horas. Mateus diz que o véu do templo foi rasgado de cima a
baixo, houve um terremoto e alguns sepulcros foram abertos. Antes do pôr do sol,
momento em que o sábado começaria, um rico ancião dos judeus forneceu um sepulcro
novo para sepultar o corpo de Jesus. E assim ele foi sepultado num sepulcro
emprestado.
123

Mas ao terceiro dia, Jesus ressuscitou dentre os mortos, apareceu a Maria Madalena,
depois aos discípulos e, posteriormente a quinhentas pessoas (1 Co 15.3-8). Jesus
permaneceu com os discípulos durante quarenta dias no seu estado ressurreto e
explicou-lhes o significado da sua vida, da sua morte e da sua missão. Depois, ele os
deixou e foi elevado numa nuvem para voltar ao Pai (At. 1.1-11). Os discípulos
reuniram-se num cenáculo, a fim de orarem pela vinda do Espírito Santo, que Jesus lhes
prometera. Depois de dez dias, o Espírito Santo desceu e batizou-os na sua plenitude,
dando-lhes poder e capacitando-os para sua grande tarefa de evangelização. Este
grandioso evento a vinda do Espírito Santo, é chamado O Dia de Pentecoste.
Começaram, então a pregar que Jesus ressuscitou e que era Senhor e Salvador. A
ressurreição de Jesus ainda é o enfoque da pregação cristã.

c’) Os Seguidores de Jesus

Os seguidores de Jesus foram chamados de “cristãos” pela primeira vez em


Antioquia (At. 11.26). Os discípulos de Jesus levaram a mensagem de Cristo
primeiramente aos judeus que estavam espalhados por muitas cidades do Oriente
Médio. Depois disso, o apóstolo Paulo, dirigido pelo Espírito Santo, começou a
pregar aos gentios o evangelho de Cristo. Em primeiro lugar, sempre entrava em
contato com os tementes a Deus através das sinagogas das cidades da Ásia e da
Grécia e, finalmente em Roma. Mas esta abordagem tornava-se difícil por causa
da oposição judaica, de modo que era forçado a trabalhar fora das sinagogas. A
tradição declara que Paulo e Pedro foram martirizados em Roma, cerca de 64
d.C.

Paulo referia-se aos cristãos como a ecclesia, os que foram “chamados para
fora”. Também os chamava o “Corpo de Cristo”. A palavra ecclesia é usada na
tradução grega do Antigo Testamento, chamada Septuaginta (LXX). Significa
“assembleia, congregação” ou “povo de Deus”. No Novo Testamento refere-se à
assembleia total ou a um grupo local de cristãos, como por exemplo: “a igreja
em Antioquia” (At. 13.1). Refere-se a um corpo que tem muitos membros e não
ao edifício da igreja (1 Co 12.13-27; Ef. 4.16). Já no fim do século I d.C., grupos
de cristãos estavam espalhados ao redor do Mediterrâneo inteiro. No século II,
estenderam-se para o Egito, a África do Norte e a Gália.

b) Crenças do Cristianismo

Os elementos da teologia cristã foram dados em forma breve por Jesus, porque
conforme ele explicou seus seguidores não conseguiram aprender mais do que isso.
Estes temas, porém foram expandidos por apóstolos tais como Paulo, Pedro e João, e
estão registrados nas Epístolas do Novo Testamento. Muitos dos ensinamentos de Jesus
são éticos, ao passo que boa parte da doutrina de Paulo é teológica. Jesus fez muito uso
124

de um expediente didático chamado de parábola, uma história breve que contém


personagens e eventos da vida humana. Suas parábolas são os ensinos mais lembrados e
mais citados de todas as religiões do mundo inteiro.

a’) O Reino de Deus

O tema de muitas parábolas era o reino de Deus (Mt 13), como entrar nele (Jo
3.5) e como mantê-lo firme no coração (Lc 8.1-15). A mensagem primária de
Jesus era que o reino de Deus estava próximo ou perto (Mc 1.15). Os
Evangelhos apresentam Jesus como o rei enviado por Deus (Lc 1.32-33). Por
exemplo, ele entrou em Jerusalém como Rei da Paz, montado num jumento, um
símbolo da paz (Mt 21.4,5). Seu desejo é ser rei nos corações das pessoas. O rei
ensinava as pessoas a amarem-se mutuamente (Jo 13.34). Ele voltará, em poder,
no fim desta era e estabelecerá seu reino visível na terra (Mc 9.1; Lc 21.27).

Jesus confirmou os dez mandamentos e resumiu-os em duas divisões grandes:


Amar a Deus com todo o coração e amar o próximo como a si mesmo. Forneceu
pormenores no Sermão da Montanha (Mt 5 a 7) e em outros ensinamentos.

Podem ser chamados os Princípios do Reino:

 Bem-aventurado os mansos, os justos, os misericordiosos, os puros, os


pacificadores, os perseguidos;
 O ódio é igual ao assassinato; a concupiscência no coração é igual ao adultério;
 Vire a outra face para quem lhe ferir; vá à segunda milha; ame os seus inimigos;
perdoe seu próximo;
 Não finja ter piedade; os hipócritas não entrarão no céu;
 Você não pode servir a Deus e ao dinheiro; onde estiver seu tesouro, ali estará
seu coração também;
 A vida é mais importante do que o alimento e as roupas; procure em primeiro
lugar o reino de Deus e tudo quanto você necessita lhe será dado;
 Não julgue para não ser julgado;
 Peça, e ser-lhe-á dado, busque e achará, bata e a porta ser-lhe-á aberta;
 Aquilo que você quer que os outros lhe façam, faça-o também a eles;
 Você conhecerá as pessoas pelos seus frutos;
 Não tema aqueles que matam o corpo, mas aquele que pode destruir tanto o
corpo quanto a alma no inferno;
 Para seguirmos a Cristo, devemos negar-nos a nós mesmos e carregarmos a sua
cruz;
 O filho do homem é senhor do sábado;
 Da abundancia do coração fala a boca;
 Aquele que perder a sua vida achá-la-á;
 A fé é como um grão de mostarda e pode mover montanhas;
 O filho do homem voltará para julgar o mundo.
125

b’) O Ser Supremo:

O Cristianismo baseia sua teologia no conceito judaico de Deus do Antigo


Testamento e todos os atributos inerentes a Deus são aceitos pela igreja. Os
cristãos, porém, acreditam que Ele se revelou no homem Cristo Jesus. Olhando
para Ele, podemos saber como Deus é (Jo 14.9). No Antigo Testamento Jesus é
como o botão de uma flor; no Novo Testamento, Ele desabrochou totalmente.
No Antigo, Ele está oculto; no Novo, Ele é revelado. No Antigo, Ele está
vendado; no Novo, Ele está desvendado.

a) O Messias
A palavra Messias provém do Hebraico, que significa “Ungido”. Os hebreus
ungiam três tipos de pessoas: rei (1 Sm 10.1), sacerdotes (Lv 4.3; 8,30) e
profetas (Sl 105.15). A promessa do Messias estava vinculada ao Filho de Davi,
cujo reino duraria para sempre (2 Sm 7.12-16). Jesus não ensinava diretamente
que Ele era o Messias, mas aceitou as palavras que André dirigiu a Pedro:
“Achamos o Messias” (Jo 1.41). Quando a mulher samaritana disse que o
Messias havia de vir, Jesus lhe disse: “Eu o sou, eu que falo contigo” (Jo 4.26).
Quando o sumo sacerdote lhe perguntou se Ele era o Cristo, Ele respondeu: “Eu
o sou” (Mc 14.61,62).

b) O Filho de Deus
Nenhum outro fundador de uma religião declarou ser o Filho de Deus, nem
sequer um ser divino, mas os cristãos acreditam que Jesus é Deus exatamente
como Ele disse. Ele é declarado Deus na carne por: aquilo que fazia e aquilo que
dizia, e aquilo que era. “Andou fazendo o bem” (At 10.38). “Nunca homem
algum falou assim como este homem” (Jo 7.46). “Vimos a sua glória” (Jo 1.14).
Perto do fim do seu ministério, Jesus perguntou aos seus companheiros mais
íntimos quem o povo acreditava que Ele era. Jesus louvou Pedro pela sua
resposta, e declarou que lhe tinha sido revelado por Deus, e esta confissão tem
sido a pedra fundamental da igreja cristã: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”
(Mt 16.16).

c) A Trindade

Antes de Jesus deixar a terra, prometeu o Espírito Santo, outro consolador, que
tomaria as coisas de Deus e as revelaria aos discípulos. Disse que o Espírito
convenceria o mundo do pecado, que levaria o povo de Deus para toda a
verdade, e dar-lhe-ia poder para testemunhar em todo o mundo (Jo 14.16-18, 26;
15.26; 16.7-14). O Espírito Santo é Deus, o agente de Cristo no mundo hoje. O
Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas em uma só. Cada pessoa
demonstra as qualidades da personalidade e da deidade em igualdade perfeita, e
é manifestada sem confusão, a perfeita unidade na trindade. Isto é um mistério
para nossas mentes finitas, mas a trindade representa a manifestação do Deus
126

infinito, cremos e confiamos nesta revelação mesmo quando não conseguimos


compreender plenamente tudo quanto significa.

d) Os Credos da Igreja
A teologia da igreja já foi sujeita a muitas disputas no decurso dos séculos, e os
líderes eclesiásticos têm procurado formular credos que expressam a crença dos
cristãos. O Credo dos Apóstolos foi um dos primeiros a serem propostos. Cerca
de 185 d.C. Irineu, bispo de Leão na Galileia, publicou um livro no qual
defendeu a fidelidade à doutrina dos apóstolos nos Evangelhos e nas Epístolas.
A Igreja em Roma adotou o credo para defender a fé contra os gnósticos e
Marcião, que estavam ativos naquele período. Na sua forma primitiva, o credo
dizia:
Creio em Deus Pai Todo-Poderoso; e em Jesus Cristo seu único
Filho, nosso Senhor, o qual nasceu da virgem Maria, padeceu sob o
poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado.
Ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu, e está sentado à mão
direita de Deus Pai Todo-Poderoso, de onde há de vir a julgar os
vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja, na
remissão dos pecados, e na ressurreição do corpo.

O credo de Nicéia foi adotado por Constantino, o imperador romano, em 325


d.C., para refutar os controvertidos arianos. A questão era se Jesus era eterno ou
finito. Ário insistia que Jesus foi criado, que Ele teve um início e não poderia ser
eterno, nem da mesma natureza que Deus. O Credo declarou que Jesus nasceu e
não foi criado, e que Ele era da mesma substancia que o Pai. Outro credo, o
Credo da Calcedônia em 451 d.C., declarava que Jesus podia ter duas natureza e
ainda ser Deus. Ele é uma só pessoa, o Verbo Divino, mas Ele é tanto divino
quanto humano.

c’) A Condição Humana

a) O Homem e o Pecado
Os cristãos acreditam que o homem foi criado inocente, mas porque Adão, o
cabeça da raça caiu, o pecado entrou no mundo. Agora, todas as pessoas nascem
numa condição pecaminosa, e porque todas nascem no pecado – têm a natureza
pecaminosa – cometem o pecado. Por isso, toda pessoa será julgada pelo seu
próprio pecado, e não aquele de Adão (Rm 3.12,23; 5.17-19). O pecado é a falta
de conformidade com a lei de Deus ou a rebelião contra esta lei (1 Jo 3.4), é a
injustiça (1 Jo5.17). E a falta de fé (Rm 14.23), e é conhecer o bem, mas não
praticá-lo (Tg 4.17). os atos de pecados que as pessoas cometem são expressões
das suas naturezas pecaminosas, que fazem separação entre elas e Deus. A
penalidade ulterior pelo pecado é a morte. O homem estará eternamente
separado de Deus, se não pagar a penalidade pelo pecado.
127

b) A Salvação
Deus, porém, proveu uma maneira de vencer a separação entre Ele e o homem.
É a chamada “expiação”, que nos une de novo com Deus. Mediante o sacrifício
de Cristo como o Cordeiro da Páscoa, Ele forneceu a redenção, o resgate da
escravidão e a salvação. Sendo que o salário do pecado é a morte, o homem
merece morrer pelos seus pecados. Mas Jesus, como substituto do homem,
tomou sobre si o castigo pelo pecado, e satisfez as exigências justas de Deus. Ele
pagou a penalidade pelo pecado (Is 53.5; 2 Co 5.21), sua morte e ressurreição
pagaram o preço integral. “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou
para nossa justificação” (Rm 4.25).

Como, pois, o homem recebe para si esta salvação? Paulo disse: “Porque, se pela
ofensa de um só [Adão], a morte reinou por este, muito mais os que recebem a
abundancia da graça... reinarão em vida por um só – Jesus Cristo” (Rm 5.17).
Lemos, também, em João 1.12: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o
poder de serem feitos filhos de Deus”. A resposta, portanto, é recebermos o
Senhor Jesus Cristo em nosso coração. Em outros trechos, somos informados
que deve haver confissão e rejeição do pecado, e a decisão de andar no caminho
de Cristo (1 Jo 1.9; Rm 10.9,10). Aqueles que confessam os seus pecados e
aceitarem a Jesus, não somente recebem a salvação, como também serão
ressuscitados para uma nova vida quando Jesus voltar.

c) A Cruz
A cruz veio a ser o símbolo do Cristianismo, porque a morte de Jesus é o
enfoque central da salvação. Se Jesus não tivesse morrido, o pecado não teria
sido removido, e Jesus teria sido mero homem, como qualquer outro fundador
de uma religião. “Mas agora Cristo ressuscitou dos mortos, e foi feito as
primícias dos que dormem... Porque, assim como todos morrem em Adão, assim
também todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo
as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda” (1 Co 15.20-23).

d) A Escatologia
Na escatologia cristã, ou doutrina das últimas coisas, existe a crença na volta
pessoal do Senhor Jesus Cristo. Há muitas interpretações do cronograma e dos
eventos envolvidos nesta volta. Mesmo assim, a maioria crê que Ele virá para
reinar sobre o mundo, para julgá-lo, e para criar novos céus e nova terra. Com a
sua vinda, a oração dos cristãos durante quase dois mil anos: “Venha o teu
reino” será respondida no seu sentido integral.

Os eventos dos tempos do fim não estão declarados na Bíblia numa sequencia
rigorosa. Muitos cristãos evangélicos acreditam, no entanto, que a vinda de
Cristo é dividida em duas fases: o arrebatamento (ou trasladação para o céu) do
corpo (1 Ts 4.17), e a revelação de Jesus Cristo em poder e em glória (Mt
24.29,30). Entre os dois eventos há um período de perseguição, a Grande
128

Tribulação. Depois da revelação de Cristo, Satanás será amarrado, e Cristo


estabelecerá seu reino na terra durante mil anos. As condições que existiam no
Jardim do Éden, após a Criação serão restauradas (Ap 20.1-3, 7.14). Depois
disto, o diabo será lançado do inferno, e Jesus julgará os ímpios no Grande
Trono Branco, e introduzirá os novos céus e a nova terra.

Embora talvez não concordemos quanto a sequencia dos eventos do fim dos
tempos, nem entendamos exatamente quando e como ocorrerá, nossa
responsabilidade é levar as boas novas da salvação ao mundo inteiro e fazer os
preparativos para a eternidade. Devemos ter consciência de que, visto que Jesus
vem de novo, é nossa responsabilidade estarmos prontos para o encontro com
Ele (Mt 24.42-44; 1 Jo 3.3).

d’) Lugares, Pessoas e Práticas Sagradas

a) Lugares Sagrados
Conforme dissemos anteriormente, a palavra igreja era empregada orginalmente
para as pessoas que seguiam a Cristo. No decorrer do tempo, porém, a palavra
veio a referir-se menos às pessoas e mais aos templos, onde estas se reuniam. Os
primeiros cristãos, sendo judeus, reuniam-se nas sinagogas judaicas. À medida
que o evangelho passou a serem extensivos aos gentios, os crentes começaram a
reunir-se nos lares. Séculos mais tarda, igrejas e catedrais magníficas foram
construídas. No século XX, a tendência é construir templos enormes com mais
capacidade de acomodação para as pessoas, mas com menos ornamentações que
as catedrais antigas. Existe também, uma distinção entre as plantas e os
propósitos dos católicos e dos evangélicos. Os católicos têm igrejas com
enfoque de atenção no altar e no sacramento da comunhão, ao passo que as
igrejas evangélicas enfatizam a posição do púlpito, para focalizar a pregação da
Palavra de Deus.

b) Pessoas Sagradas
No Cristianismo, Deus forneceu condições para o crescimento e a maturidade
dos crentes, à medida que servissem a Ele. O meio é através das pessoas que Ele
chamou e capacitou para as funções especiais de liderança. A igreja reconhece
os dons e a vocação dessas pessoas. Paulo alistou as pessoas existentes na igreja,
com seus respectivos propósitos (Ef 4.11-16). Indicou também a existência de
outros ofícios de liderança na igreja, com suas qualificações e deveres, nas suas
cartas a Timóteo e Tito.

c) Práticas Sagradas
Tornamo-nos parte do corpo de Cristo, a Igreja, ao confessarmos Jesus como
Senhor. Como testemunho diante do mundo, quanto a esta experiência espiritual,
o crente é batizado na água. Este batismo simboliza a morte da velha natureza e
129

a novidade da vida em Cristo. É um dos dois atos sagrados ou sacramentos,


ordenados nas Escrituras (Rm 6.1-4; At 2.38).

Outro ato sagrado é a Ceia do Senhor, em que os elementos pão e vinho são
símbolos do corpo partido e do sangue derramado de Cristo (1 Co 11.17-29).

d) Dias Festivos
As festas cristãs são celebrações da obra de Deus em Cristo que são relembradas
pelos cristãos todos os anos. Muitos grupos de igrejas celebram três eventos
principais todos os anos:
a) O Natal. Celebrado no dia 25 de dezembro, o natal representa o aniversário
de Cristo. Os cristãos reconhecem que não se sabe com exatidão a data do
nascimento de Cristo; mas o fato real é mais importante do que a data;
b) Domingo de Páscoa. Os cristãos também celebram o domingo de Páscoa,
que representa o dia em que Jesus ressuscitou dentre os mortos. É o evento
mais importante da cristandade. É um retrato de quando Jesus passa a viver
no coração da pessoa;
c) Domingo de Pentecoste. O terceiro dia que os cristãos celebram é o domingo
da Pentecoste, que relembra a vinda do Espírito Santo sobre a igreja.

e’) Escritos do Cristianismo

a Bíblia cristão é composta do Antigo Testamento e do Novo Testamento. O Antigo é


completado pelo Novo. O Antigo tem uma riqueza de tipologia e de símbolos, muitos
dos quais são cumpridos em Jesus Cristo. Os sacrifícios do Antigo Testamento foram
substituídos pelo sacrifício perfeito de Cristo, o Cordeiro de Deus, na cruz. Os
princípios do comportamento são novos. O Antigo concerto dizia: “Olho por olho, e
dente por dente”. Mas o novo concerto disse: “Vire a outra face”.

Assim como no caso do Antigo Testamento, o Novo Testamento não foi escrito pelo
fundador. Jesus, na realidade, não deixou nenhum registro escrito, e somo informados a
respeito de uma só ocasião em que Ele escreveu – na areia. Há cerca de sete autores do
Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo, Tiago e Judas. Todos estes
escritos foram completados antes do ano 100 d.C. Como, pois, sabemos que a Bíblia é a
inspirada Palavra de Deus? A resposta acha-se na palavra “cânon”. Provém da palavra
grega kanon que é “uma vara ou regra para medição”. A palavra “cânon” refere-se ao
padrão segundo o qual os livros são aceitos como Escrituras. O padrão do Novo
Testamento foi reconhecido pela igreja sob a orientação do Espírito Santo. Dois dos
critérios principais usados para testar a canonicidade eram inspiração divina e
características sobrenaturais. Atanásio (295-373 d.C.), o “pai da ortodoxia” que se
opôs a Ário no Concílio de Nicéia, foi o primeiro que alistou todos os vinte e sete livros
como o Cânon do Novo Testamento, a “fonte da salvação”. Foram escritos outros
130

livros, chamados os Apócrifos (“livros ocultos”), mas não satisfizeram o padrão da


canonicidade, de modo que são rejeitados pela igreja evangélica.

O Novo Testamento é disposto na ordem dos temas. Em primeiro lugar aparecem os


livros históricos: Mateus, Marcos, Lucas, João e Atos; depois, as vinte e uma epístolas
ou livros de doutrina; e finalmente, um livro de profecia, o Apocalipse, formando um
total de vinte e sete livros. O Novo Testamento foi dividido em capítulos pelo Cardeal
Hugo em 1240. Foi escrito originalmente em grego, traduzido em Latim no ano 405 por
Jerônimo, e impresso em inglês em 1525 (o Novo Testamento de Tyndale). Muitas
outras versões da Bíblia foram surgindo, à medida que foram sendo descobertos mais
manuscritos. Foi traduzida para muitas línguas e, desde o início tem sido o livro mais
vendido no mundo inteiro.

A razão primária por que os cristãos chamam a Bíblia de Palavra de Deus é sua
inspiração divina, que é confirmada por vários fatos. O primeiro é sua evidência interna;
ou seja, a Bíblia reivindica esta inspiração. Um versículo que assim declara, e que você
deve decorar, é o seguinte: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino,
para repreensão, para correção, para a educação na justiça” (2 Tm 3.16). Deus inspirou
os escritores de tal maneira que, enquanto escreviam, eram “inspirados pelo Espírito
Santo” (2 Pe 1.21). Desta maneira, Deus fez com que fosse escrito aquilo que Ele queria
que fosse registrado.

Outras provas da inspiração da Bíblia são:

a) Sua unidade na diversidade. Tem muitos assuntos, mas uma só mensagem. Foi
escrita por cerca de quarenta escritores no decurso de uns quinze séculos, mas
tem um só autor – que é Deus;
b) Sua autoridade. Predisse muitas coisas a respeito de Cristo e dos eventos
mundiais, muitos dos quais têm sido cumpridos de modo notável;
c) Sua evidência interna. O Novo Testamento cita o Antigo Testamento como sua
origem documentária, e o Novo cumpriram muitas profecias do Antigo;
d) Sua exatidão arqueológica. Os arqueólogos confirmaram a exatidão da Bíblia
nas descobertas, tais como os rolos do mar Morto em 1947;
e) Sua obra milagrosa. A Bíblia tem sido o meio da salvação, da vida, da coragem
e da esperança eterna nos corações de milhões de pessoas.

f’) Desenvolvimento do Cristianismo

A igreja primitiva tinha uma organização não muito rígida, e geralmente, reunia-
se nos lares dos crentes. O dia de culto foi alterado do sábado judaico para o
domingo, o dia em que Jesus ressuscitou dentre os mortos. Os líderes
sustentavam-se com suas respectivas profissões e apenas, ocasionalmente
recebiam ofertas. Quando Jerusalém foi destruída por Roma em 70 d.C., os
cristãos foram espalhados, e tornou-se urgente contar a história da vida de Jesus
antes que morressem todos quantos o haviam conhecido. Parece que foi Marcos
131

o primeiro que escreveu o relato. À medida que crenças diferentes começavam


se desenvolver, Paulo percebeu rapidamente os perigos dos ensinos errôneos,
pregava e escrevia cartas que se tornaram padrões doutrinários para a igreja.
Inicialmente, seus oponentes principais eram judaizantes, aqueles que
procuravam impor exigências legais aos crentes em Cristo. O gnosticismo
também surgiu como ameaça à fé cristã, perto do fim do século I. As epístolas de
João dirigiam-se, especificamente contra esta heresia. Várias heresias acabaram
levando a igreja a formular os seus credos.

a) Período das Perseguições (60 até 300);


A perseguição da igreja começou nos tempos de Nero (54-68 d.C.), e Pedro foi
crucificado por ele cerca de 68 d.C. Durante dois séculos, houve períodos
alternados de paz e de perseguições, mas a perseguição generalizou-se no
governo de Diocleciano (303-310). Milhares de cristãos foram cruelmente
martirizados durante este período.

b) Período da Igreja Imperial (300 até 500);

Constantino tornou-se imperador em 312 d.C. Imediatamente antes de uma


batalha contra Maxênio para decidir quem seria o imperador, Constantino,
segundo declarou, teve um sonho. Disse que viu uma cruz no céu, com os
dizeres: In Hoc signo vinces (“vença com esse sinal”) e comprometeu-se a
tornar-se cristão se ganhasse a batalha. Obteve uma vitória completa e
proclamou tolerância religiosa para o império. No reinado de Constantino foi
formulado o Credo de Nicéia, mas a probabilidade é que seu motivo era manter
unido o seu império. Em 330, transferiu sua capital para Constantinopla no
Oriente, mas isto deu aos bispos poder sobre Roma, e levou à dissolução do
Império Romano.

No século IV um movimento de ascéticos desenvolveu um impulso que afetou


grandemente a igreja. Entendendo literalmente as palavras de Cristo, negavam a
si mesmos os confortos físicos e os contatos sociais. Chamados monges,
tomavam votos de pobreza, de castidade, de obediência, e viviam em mosteiros,
dedicando seu tempo à meditação. Neste período do monasticismo nasceu
Jerônimo (342 d.C.), que traduziu a Bíblia para o Latim. Sua tradução, a Vulgata
em Latim, ficou sendo a Bíblia-padrão para a Igreja Católica Romana.

Um dos grandes teólogos daqueles tempos foi Agostinho (354-430 d.C.) da


África do Norte. Era notável pelos seus conceitos sobre as doutrinas do pecado
original, da queda do homem e da predestinação. O poder dos bispos cresceu
dentro do sistema imperial até haver dúvida quanto a quem governava o
império: eles ou os imperadores. Com a invasão das tribos bárbaras do norte, os
bispos fizeram concessões a elas e o Império Romano caiu em 476. Depois desta
132

queda, o Santo Império romano tomou seu partido, apoiando o papado contra
seus inimigos, dando-lhes as terras que dominava como possessão temporal.

c) A Era das Trevas (500 até 950).

Com a queda do império Romano, a igreja avançou para o norte da Europa e


para a Grã-Bretanha. Depois, houve invasões pelos muçulmanos, mas foram
detidos na França, e mantidos fora de Constantinopla durante alguns séculos. Os
historiadores chamam este período de “Era das Trevas” porque foi uma era de
pouco ou de nenhum progresso nos estudos clássicos. Muitos sacerdotes, que
formavam a classe culta, retiraram-se para os mosteiros, a fim de escaparem do
mundanismo e da secularização que entrava na igreja. Nos séculos VIII e IX,
certas questões provocaram uma divisão de vulto entre a igreja de Roma e a
igreja Oriental em Constantinopla. Os cristãos do Oriente concentravam-se na
teologia e enfatizavam a natureza divina de Cristo, mas o Ocidente ressaltava
sua humanidade. O Oriente ficou sendo a Igreja Ortodoxa, e seus bispos eram
chamados “patriarcas”. À Igreja em Roma deu-se o nome de igreja Católica ou
“universal”. A igreja oriental adotava pinturas de Jesus, Maria e dos apóstolos,
ao passo que a divisão ocidental usava estátuas. O Oriente insistia que Jesus
enviara o Espírito Santo, mas o Ocidente sustentava que tanto o Pai quanto o
Filho enviaram o Espírito Santo. O Oriente oferecia tanto o pão, quanto o vinho
na Comunhão, mas o Ocidente oferecia somente o pão. O Oriente permitia o
casamento dos clérigos e usava o Grego como idioma do culto. O Ocidente
exigia o celibato dos clérigos e usava o Latim nos cultos.

d) Período da Igreja Medieval (950 até 1500);

Nos cem anos depois de 950, o Cristianismo expandiu-se grandemente na


Europa. A Igreja Romana enviou missionários até lugares bem distantes, como a
Índia e a China. Houve um período do Cristianismo militante, quando os
cruzados cristãos procuraram reconquistar os países dominados pelo Islamismo.
Em 1054 o papa Leão IX excomungou o patriarca de Constantinopla, e esta ação
provocou um rompimento permanente entre o Oriente e o Ocidente. Em 1204,
os cruzados cristãos, a caminho da Terra Santa, fizeram uma pausa em
Constantinopla para saquear a cidade. Mais de dois séculos depois, a cidade foi
conquistada pelos mulçumanos (1453 d.C.), e a igreja famosa de Santa Sofia foi
transformada em mesquita. No Ocidente, havia muitos conflitos entre
imperadores e papas, sendo que um lado excomungava e destronava o outro. No
fim do século XV, porém, o papado voltou a ser estabelecido em Roma.

e) Movimento da Reforma da Igreja (1500 até 1700);

No século XVI uma revolução sacudia a Igreja Romana até os seus alicerces.
Trata-se da Reforma, que produziu a Igreja Protestante. Além das péssimas
133

condições da Igreja Romana, outros fatores contribuíram para a Reforma. João


Wyclif, da Inglaterra (cerca de 1328-1384 d.C.), traduziu a Bíblia da vulgata
Latina para o Inglês em 1382, para ajudar o povo comum a ler a Bíblia. Foi
condenado pela Igreja Romana e forçado a recolher-se à sua reitoria, mas suas
ideias espalharam-se por toda a Inglaterra. João Huss, da Boêmia (1374-1415),
que foi influenciado pelos escritos de Wyclif, foi o líder do movimento na
Boêmia em prol da reforma da igreja. Suas ideias foram registradas no seu livro
A Ecclesia. Sendo que estas ideias criavam um desafio grave contra a igreja em
Roma, Huss foi condenado e queimado à estaca.

a) Martinho Lutero
A pessoa de destaque na Reforma foi Martinho Lutero (1483-1546). Entrou
no ministério católico, prestou os votos de monge, foi professor na
Universidade de Witemberg, e fez seu doutorado no campo da teologia. Ao
dar preleções sobre Romanos e Gálatas, ficou impressionado com a
expressão: “O justo viverá pela fé”. Raciocinava: “se os justos vivem pela fé,
por que estamos procurando merecer a salvação mediante as boas obras?”
Percebeu que a Bíblia, e não o Papa, era a derradeira autoridade para os
cristãos e que as pessoas eram salvas somente pela fé. Assim, sentiu-se
levado a escrever um panfleto sobre o sacerdócio de todos os crentes. Depois
disto, escreveu um documento no qual alistou noventa e cinco abusos
cometidos pelo sistema de indulgências. (As indulgências eram documentos
que a pessoa podia comprar, para livrar-se das penas impostas pela igreja por
seus pecados. Posteriormente, estas indulgências foram aumentadas para
incluir a remoção das penas daqueles que estavam no purgatório). Lutero
pregou esta lista na porta da Igreja em Witemberg em 31 de outubro de
1517. Causou uma rendição, a ponto de Carlos V, Santo Imperador Romano,
convoca-lo para a Dieta de Worms em abril de 1521 e ali foi excomungado e
ordenado a cessar a impressão dos seus livros.
Lutero foi esconder-se das visitas públicas por um período, durante o qual
traduziu a Bíblia para o Alemão. Na Alemanha, uma Igreja Reformada
desenvolveu-se desse protesto. Baseava-se na doutrina da justificação pela fé
e a igreja protestante foi inaugurada. Continuou escrevendo livros, hinos, e
instituindo outras reformas. Encorajava os sacerdotes e as freiras a casarem-
se, e ele mesmo tinha esposa. Morreu em 1546, mas a reforma arraigou-se, e
espalhou-se para muitos outros países, especialmente para as nações
escandinavas.

b) João Calvino
Outra pessoa de influência na Reforma foi João Calvino (1509-1564) d.C.).
Quando estava com cerca de 24 anos de idade, Calvino entrou em contato
com o movimento protestante. Este envolvimento levou-o a deixar a Igreja
Romana. Aos 26 anos de idade, escreveu As Instituas da Religião Cristã, que
ficou sendo uma obra clássica da teologia protestante. Sua doutrina foi
134

influenciada pela teologia de Agostinho no tocante à soberania de Deus. Em


Genebra, estabeleceu uma forma de governo eclesiástico que é conhecida
como o sistema presbiteriano, que assumiu um lugar de destaque na história.

c) A Contra Reforma
Percebendo que os protestantes não iriam parar, a Igreja Romana convocou
seus bispos em 1545 d.C. para o Concílio de Trento. Ali, insistiram que a
igreja tinha autoridade igual àquela das Escrituras, e que era a única
intérprete delas. O Concílio reafirmou os sete sacramentos tradicionais e
sustentou a veneração dos santos e das imagens. A Igreja Romana passou
então a mobilizar seus recursos e dispôs-se a reconquistar pela força aquilo
que perdera. Sua reação militante ficou conhecida pelo nome de
Contrarreforma. Como resultado, milhares de pessoas morreram na Europa,
e era tão eficaz que, até 1572, a Reforma foi completamente eliminada da
Itália. Mas em regiões da Inglaterra e na Europa do norte, os protestantes
aumentaram em grande número.

f) Período da Igreja Moderna (1700 até o Século XX)


A liberdade dos crentes, que acabara de ser proclamada pela Reforma
Protestante, levou a uma diversidade de crenças e de movimentos. A Igreja da
Inglaterra era protestante, mas manteve boa parte da forma católica no culto.
Grupos separatistas incluíram a Igreja Congregacional; e depois, os anabatistas,
que batizavam de novo os adultos, por não reconhecerem o batismo de crianças.
No século XVIII, João Wesley deu início ao metodismo, e nos fins do mesmo
século começou o esforço missionário moderno. No século XX houve uma
renovação espiritual com uma nova ênfase pentecostal que levou a uma explosão
de evangelismo com mais expansão missionária.

A despeito das revoluções, do materialismo, dos contra-ataques por outras


religiões e do ateísmo, os cristãos tornaram-se cada vez mais conscientes de
pertencerem uns aos outros. À medida que uma igreja unida enfrenta um mundo
em mudança, adapta-se a novas necessidades. Conseguiu sucessos, mas enfrenta
uma tarefa que ainda está para ser completada. A igreja deve levar o evangelho
ao mundo todo.

g’) Avaliação do Cristianismo

Ao avaliarmos os pontos positivos e negativos do Cristianismo, temos a


desvantagem de não possuirmos um padrão mais elevado, com o qual
pudéssemos compará-lo. Mesmo assim, tendo examinado outras religiões,
chegamos a algumas conclusões no tocante aos valores e critérios importantes e
básicos.
135

a) Pontos Positivos do Cristianismo;


 Seu conceito de Deus como Ser Supremo e Pai amoroso;
 O caráter irrepreensível do seu Fundador;
 Os ensinamentos são da mais alta qualidade moral e social;
 Suas escrituras sagradas têm origem divina;
 Trouxe a civilização por onde quer que penetre;
 Tem forte ênfase missionária que tem melhorado o padrão da vida em
nações pelo mundo afora;
 Oferece a salvação e a comunhão com Deus agora;
 O Espírito Santo está presente por toda a vida do crente;
 Oferece uma esperança fulgurosa para um futuro eterno com Deus.

b) Pontos Negativos do Cristianismo.


Visto que o Cristianismo é o critério de avaliação neste curso, não achamos nele
falha alguma. Reconhecemos, no entanto, que há falhas nos seus adeptos. Não
estamos desculpando ações errôneas, mas realmente queremos pedir que as
pessoas não julgassem o Fundador segundo os erros dos seus seguidores. A
analogia da corrente não pode ser aplicada ao Cristianismo. A igreja não é tão
fraca como seu elo mais fraco; é tão forte como seu Criador. Devemos julgar o
Cristianismo segundo o padrão de Cristo, e não segundo alguém que não vive à
altura do seu padrão. Seguem-se algumas fraquezas que os cristãos
frequentemente revelam na sua vida diária.

33 – CRITICISMO

1 – Introdução:

Exercício da crítica; espírito crítico; sistema filosófico que procura determinar os limites
da razão humana.

2 – A filosofia de Kant (1724 – 1804)

As ciências naturais suplantaram a Escolástica e o Iluminismo tornou-se soberano.


Despontou na Inglaterra e por intermédio de Voltaire, veio para Europa Continental.

Os contextos filosóficos do pensamento Kantiano são: o Racionalismo, o Empirismo e o


apogeu da Matemática. O expediente maior do Empirismo Inglês foi David Hume. A
física e a matemática foram enunciadas por Isaac Newton.

O contexto histórico do pensamento de Kant foi o governo de Frederico, o grande, na


Alemanha, a Independência dos EUA e a Revolução Francesa.

Lucke e o Empirismo: todo conhecimento é advém da experiência.


136

Hume e o Sensualismo: o conhecimento é fornecido pelos sentidos.

Wolff e o Racionalismo: o conhecimento e proporcionado unicamente pela razão.

Kant estudava Leibniz na versão racionalista de Wolff. No entender de Kant, a teoria do


conhecimento significa a teoria da física e da matemática de Newton. Ele abandonou
este posicionamento por causa de duas influências: a de Rousseau e Hume. Este
despertou Kant de sua “sonolência dogmática”.

Rousseau mostrou a superioridade dos sentimentos sobre o intelecto.

Em sua obra principal, a crítica da razão pra, Kant se ocupa com o fundamento do
conhecer e também com a possibilidade da metafísica.

Nosso conhecimento começa com a experiência, mas não se limita à experiência. Até
então, os filósofos se ocuparem com a realidade, mas não estudaram suficientemente a
razão.

A revolução empreendida por Kant foi a Copernicana. No centro deve estar à razão e
não a realidade objetiva. Nosso conhecimento não é o reflexo do objeto. Os objetos
precisam se orientar pelo nosso conhecimento, e este vem do sujeito para os objetos.

3 – O Criticismo Kantiano.

Immanuel Kant (1724 – 1804) nasceu na Alemanha. Interessado desde o início pela
ciência Newtoniana, já constituída plenamente no seu tempo, e preocupado com a
confusão conceitual a respeito do debate sobre a natureza do nosso conhecimento, Kant
questiona, na sua obra Crítica da Razão Pura, se é possível uma “razão pura”,
independente da experiência. Daí seu método ser conhecido como Criticismo.

Diante da questão “qual é o verdadeiro valor dos nossos conhecimentos e o que é


conhecimento?” Kant coloca a razão num tribunal para julgar o que pode ser conhecido
legitimamente e que tipo de conhecimento não tem fundamento. Com isso, pretende
superar a dicotomia racionalista-empírica.

O Empirismo

Os empiristas condenam (tudo o que vem dos sentidos) e, da mesma forma, não
concorda com os racionalistas (é errado julgar que tudo quanto pensamos vem de nós):
o conhecimento deve constar de juízos universais, da mesma maneira que deriva da
experiência sensível.

Para superar essa contradição, Kant explica que o conhecimento é constituído de


matéria e forma. A matéria dos nossos conhecimentos são as próprias coisas e a forma
somos nós mesmos.
137

Exemplificando: para conhecer as coisas, precisamos ter delas uma experiência


sensível; mas essa experiência não será nada se não for organizada por formas da nossa
sensibilidade, as quais são a priori, ou seja, anteriores a qualquer experiência (e
condição da própria experiência...). Assim, para conhecer as coisas, temos de organizá-
las a partir da forma priori do tempo e do espação. Para Kant, o tempo e o espaço não
existem como realidade externa, são antes formas que o sujeito põe nas coisas.

Outro exemplo: quando observamos a natureza e afirmamos que uma coisa “é isto”, ou
“tal coisa é causa de outro”, ou “isto existe”, temos, de um lado, coisa que percebemos
pelos sentidos, mas, de outro, algo escapa aos sentidos, isto é, as categorias de
substancias, de casualidade, de existência (entre outras). Essas categorias não são dadas
pela experiência, mas são postas pelo próprio sujeito cognoscente.

Portanto, “o nosso conhecimento experimental é um composto do que recebemos por


impressões e do que a nossa própria faculdade de conhecer de si mesma tira por ocasião
de tais impressões”.

Kant também conclui que não é possível conhecer as coisas tais como são em si, ou
seja, “o nou menon” (coisa-em-si) é inacessível ao conhecimento. Apenas podemos
conhecer os fenômenos; esta palavra, etimologicamente, significa “o que aparece”. A
inovação de Kant consiste em afirmar que a realidade não é um dado anterior ao qual o
intelecto deve se conformar, mas, ao contrário, o mundo dos fenômenos só existe na
medida em que “aparece” para nós e, portanto, de certa forma participamos da sua
construção.

Prosseguindo a análise da possibilidade do conhecimento, Kant se depara com


dificuldades insolúveis ao questionar sobre as realidades da metafísica, tais como a
existência de Deus, a imortalidade da alma, a liberdade, a finitude do universo. Se você
conseguiu nosso raciocínio, lembrará que todo conhecimento, para Kant, é constituído
pela forma a priori do espírito e pela matéria fornecida pela experiência sensível. Ora,
os seres da metafísica não podem preencher essa segunda exigência: não temos
experiência sensível de Deus, por exemplo. Portanto, o conhecimento metafísico é
impossível, e devemos nos abster de afirmar ou negar qualquer coisa a esse respeito
dessas realidades. Trata-se de um agnosticismo (etimologicamente, a “não”, e gnosis,
“conhecimento”). Somos agnósticos quando consideramos a razão incapaz de afirmar a
existência de Deus.

Entretanto, em outra obra, Crítica da Razão Prática, Kant tenta recuperar a realidade
metafísica que destruíra no processo anterior. Não pretendemos aqui acompanhar seu
raciocínio, mas apenas apontar as conclusões: pela análise da moralidade, Kant deduz a
liberdade humana, a imortalidade da alma e a existência de Deus.

O pensamento Kantiano é conhecido como idealismo transcendental. A expressão


transcendental em Kant significa aquilo que é anterior a toda experiência: “chamo
transcendental todo conhecimento que trata, não tanto dos objetos”. Mesmo fazendo a
crítica do racionalismo e do empirismo, Kant segue um processo que redunda em
138

idealismo, pois, ainda que reconheça a experiência como fornecedora da matéria do


conhecimento, é o nosso espírito, graças às estruturas a priori, que constrói a ordem do
universo.

Tal como Copérnico dissera que não é o sol que gira em torno daquele, também Kant
afirma que o conhecimento não é o reflexo do objeto exterior: é o próprio espírito que
constrói o objeto do seu saber. Nesse sentido, dizemos que Kant realizou uma revolução
Copernicana.

4 – O que é a razão

É uma estrutura vazia, universal, necessária, inata e a priori. É um órgão ativo, que
coordena as sensações e processa o conteúdo do conhecimento. Sua função é regular e
controlar as impressões fornecidas pela existência.

A razão transforma os dados da experiência ordenada unidades do pensamento. Kant


vislumbrou duas novas funções da razão:

- fazer com que as ideias metafísicas, que são “as ideias regulativas”, venham a avaliar
o progresso da experiência;

- Negar o caráter contrário das ideias cosmológicas, que então podem ser aplicadas às
práticas morais.

a) Processo do Conhecimento

Como se processa o conhecimento?

As fontes do conhecimento são duas: a sensibilidade e o entendimento. Através da


sensibilidade, os objetos nos são dados. E através do entendimento, os objetos são
pensados. A experiência do rela só é possível através da conjugação das formas de
sensibilidade e de entendimento.

O conhecimento é constituído de matéria e forma, a experiência fornece a matéria do


conhecimento. A razão fornece a forma do conhecimento. A matéria do conhecimento
vem depois e, por isso, é a posterior. Só há conhecimento quando a experiência fornece
conteúdos à razão. A estrutura da razão é inata e universal. Os conteúdos da razão são
empíricos e podem variar no tempo e no espaço. Para haver conhecimento, precisamos
ter uma experiência sensível. Mas, a experiência precisa ser organizada em formas de
sensibilidade, ou seja, a razão ordena os objetos de acordo com o tempo e o espaço.

O espaço e tempo não são conceitos pensados, mas são instituições sensíveis. E são a
priori, pois não podem ser adquiridos pela experiência. Kant desenvolve quatro provas
para sustentar esta argumentação. As duas primeiras, comprovam que o espaço e o
tempo são a priori, as duas últimas o seu caráter intuitivo.
139

As formas de sensibilidade são denominadas de formas de intuição, ou intuições puras.


O tempo é a forma de sensibilidade interna. O espaço é a forma de sensibilidade
externa. Estas formas de sensibilidade são a priori. Existem condições a priori do
conhecimento. O estudo destas condições foi denominado transcendental. Trata-se das
condições que contribuem de parte do sujeito, para a efetivação da experiência.

No entender de Kant, o transcendental é o conhecimento de que a priori abre a


possibilidade para outros conhecimentos. E o estudo das condições a priori – de parte do
sujeito – que contribuem para a possibilidade da experiência.

34 – CUBISMO

Definição:

Tendências das artes plásticas, sobretudo da pintura, que a partir do início do século xx
rompe com as perspectivas adotadas anteriormente. No cubismo, os artistas decompõem
as figuras /vivas ou inanimadas/em formas geométricos, como cubos e cilindros,
rompendo definitivamente com o ideal de retratar a realidade de forma fiel. As obras
trazem os objetos achatados e elimina a ilusão de tridimensionalidade / a perspectiva /.
Seu expoente é o pintor espanhol Pablo Picasso.

35 – CULTISMO

(Veja Tópico Sobre Conceptismo)

36 – DADAÍSMO

Definição:

Surgido na Europa, em 1916, tem teor anárquico e provocativo e caracteriza-se pelo


desejo de destruir as formas de arte institucionalizadas. Objetos do cotidiano são
retirados de contexto e elevado a categoria de arte. Um exemplo é a obra fonte,
provocação criada pelo francês Marcel duchamp, que expos um mictório comum
assinado. Destacam-se no movimento o poeta romeno Tristan tzara e o escultor francês
Hans arp.
140

37 – DETERMINISMO

1 – Introdução:

É o conjunto das condições necessárias de um fenômeno. Princípio da ciência


experimental segundo o qual que tudo existe tem uma causa, isto é, as leis científicas
são as relações constantes e necessárias entre os fenômenos. Na moral, teoria segundo a
qual tudo é determinado, isto é, tem uma causa, inclusive as decições da vontade, não
havendo, portanto, liberdade humana.

2 – A Liberdade

“não há determinismo ou escolha absoluta: jamais sou coisa, jamais sou consciência
nua”. Merleau Ponty.

a) O que é Liberdade?

Segundo o minidicionário da Língua Portuguesa diz que: é a faculdade de cada um se


decidir ou agir segundo a própria determinação; estado ou condição de homem livre;
confiança; intimidade.

Para explicar como se dá a liberdade humana, vejam a parte histórica do homem. Dentre
a epistemologia mitológica temos a seguinte:

As moiras, divindades da mitologia grega, são três irmãs que dirigem o movimento das
esferas celestes, a harmonia do mundo e a sorte dos mortais.

Elas presidem o destino (moira, em grego) e dividem entre si as diversas funções: cloto;
que significa “fiar”, tece os fios dos destinos humanos; Láqueas, que significa “sorte”,
põe o fio no fuso; Átropos, ou seja, “inflexível”, corta impiedosamente o fio que mede a
vida de cada mortal.

Está implícita nesse mito a ideia de que a ação humana se acha ligada aos desígnios
divinos. Os relatos de Homero e Hesíodo revelam como os heróis até se orgulham de
ser escolhidos por certos deuses, que os fazem seus protegidos, defendendo-os da ação
malévola de outros deuses.

Vamos reler agora a citação do psicólogo americano Watson feita sobre o


comportamento. “Deem-me doze crianças sadias, de boa constituição, e a liberdade de
poder cria-las à minha maneira”. Tenho a certeza de que, se escolher uma delas ao
acaso, e puder educa-la, convenientemente, poderei transformá-la em qualquer tipo de
especialista que eu queira – médico, advogado, artista, grande comerciante, e até mesmo
em mendigo e ladrão – independente dos talentos, propensões, tendências, aptidões,
vocações e da raça de seus ascendentes.
141

Prosseguindo nesse ideal de controle do comportamento, Skinner, outros psicólogos


experimental, imagina uma utopia no romance Wadem II, onde todos os atos humanos
seriam cientificamente planejados e controlados. Aí as pessoas são felizes, pois os
técnicos e cientistas cuidam para que elas queiram fazer precisamente as coisas que são
melhores para eles e para a comunidade. Nesse mundo, as questões sobre o
determinismo e liberdade são reduzidas a pseudo-questões de origens linguísticas...

O mito relatado sobre as moiras perde-se no tempo da história da Grécia Antiga.


Homero talvez tenha vivido no século IX a.C. e sabe-se que ele apenas recolheu as
histórias transmitidas desde longo tempo pela tradição oral.

Já os americanos Watson e Skinner, psicólogos da corrente comportamentalista, são


nossos contemporâneos.

O que distingue essas duas posições tão distantes no tempo e que a primeira é mística e
a segunda, científica. O que as aproxima é que, em ambos os casos inexiste a liberdade
humana, por que no mito o homem se acha submetido ao destino inexorável, e no
discurso científico daqueles psicólogos o homem está sujeito ao determinismo.

Tentaremos colocar a questão da liberdade sob um ponto de vista diferente, examinando


inicialmente duas posições antagônicas – o determinismo e a liberdade incondicional -,
para em seguida apresentar a superação dessa dicotomia.

b) O que é Determinismo?

Segundo o determinismo científico, tudo que existe tem uma causa. O mundo explicado
pelo princípio do determinismo é o mundo da necessidade, e não o da liberdade.
Necessário significa tudo àquilo que tem de ser e não pode deixar de ser. Nesse sentido,
a necessidade é o oposto de contingencia, que significa “o que pode ser de um jeito ou
de outro”.

Exemplificando: se aqueço uma barra de ferro, ela se dilata; a dilatação é necessária, no


sentido de que é um efeito inevitável, que não pode deixar de ocorrer. No entanto, é
contingente que nesse momento eu esteja usando roupa vermelha ou amarela.

Ora, se a ciência não partisse do pressuposto do determinismo, seria impossível


estabelecer qualquer lei. A física, a química, a biologia se constituiu em ciências ao
longo dos três últimos séculos procurando descobrir as relações constantes e necessárias
entre os fenômenos. Não haveria conhecimento científico se tudo fosse contingente, isto
é, pudesse acontecer ora de uma forma, ora de outra.

Já no século XVIII, os materialistas franceses D’holbach e La Mettrie explicam os atos


humanos como simples elos de uma cadeia causal universal. O físico Laplace resumiu
assim esse determinismo “um calculador divino, que conhecesse a velocidade e a
posição de cada partícula do universo num dado momento, poderia predizer todo curso
futuro dos acontecimentos na infinidade do tempo”.
142

No século XIX, o positivismo, na ânsia de aplicar o mesmo método das ciências da


natureza às ciências humanas, estende a estas o determinismo, considerando a escolha
livre uma mera ilusão. A psicologia de Watson e Skinner reflete, no século XV, a
influência da visão positivista nas ciências humanas.

Um dos discípulos de Comte, Taine (1828 – 1893), tornou-se conhecido, sobretudo,


pelas leis da sociologia, segundo as quais toda vida humana social se explicaria por três
fatores:

1) A raça, que é a grande força biológica dos caracteres hereditários determinantes


do comportamento do indivíduo;
2) O meio, pelo qual o indivíduo se acha submetido aos fatores geográficos (como
o clima, por exemplo), bem como o ambiente sociocultural e às ocupações
cotidianas da vida;
3) O momento, pela qual o indivíduo é fruto da época em que vive, estando
subordinado a uma determinada maneira de pensar característica do seu tempo.

O pressuposto do pensamento de Taíne é o determinismo, pois o ato humano não é


livre, já que é causado por esses fatores e deles não pode escapar.

Vamos encontrar o reflexo dessa visão determinista na clássica teoria de Lombroso,


jurista que pretendia pela análise das características físicas dos indivíduos, identificar o
criminoso “nato”.

Também a literatura foi influenciada pelo determinismo positivista: a estética naturalista


oferece inúmeros exemplos da tentativa de explicar o comportamento humano como
decorrente de fatores deterministas sem nenhuma possibilidade de transcendência.
Emile Zola, romancista francês, afirmou: “o romance experimental é uma consequência
da evolução científica do século; ele substitui o estudo do homem abstrato, do homem
metafísico, pelo estudo do homem natural, submetido às leis físico-químicas e
determinado pelas influencias do meio”.

c) A Teoria da Liberdade Incondicional

Contrapondo-se ao determinismo, há teorias que enfatizam a possibilidade da liberdade


humana absoluta, do livre-arbítrio, segundo o qual o homem tem o poder de escolher
um ato ou não, independentemente das forças que constrangem.

Segundo essa perspectiva, ser livre é decidir e agir como se quer, sem qualquer
determinação causal, quer seja exterior (ambiente em que se vive), quer seja interior
(desejos, vontade e caráter). Mesmo admitindo que tais forças existam, o ato livre
pertence a uma esfera independente em que se perfaz a liberdade humana. Ser livre é,
portanto, ser influenciado por causa externa.

Bossuet (Século XVII), no tratado sobre o livre-arbítrio, diz o seguinte: “por mais que
eu procure em mim a razão que me determina, mas sinto que eu não tenho nenhuma
senão apenas a minha vontade: sinto aí claramente minha liberdade, que consiste
143

unicamente em tal escolha. É isto que me faz compreender que sou feito à imagem de
Deus”.

d) A Separação da Dicotomia: Determinismo e Liberdade

Afinal “o homem é livre ou é determinado? ”

A questão assim colocada gera um falso problema. Na verdade, o homem é


determinado, mas também é livre. É preciso considerar os dois polos contraditórios,
superando o materialismo mecanicista, segundo o qual o homem é determinado bem
como a tese da liberdade incondicional. Segundo a concepção dialética, embora os polos
determinismo X liberdade, se oponham, na verdade estão ligados:

- O homem é realmente determinado, pois se encontra situado em um tempo e espaço e


é herdeiro de certa cultura;

- Mas o homem é também um ser consciente, capaz de conhecer esses determinismos;


tal conhecimento permitira a ação transformadora que, a partir da consciência das
causas (e não à revelia delas), pode construir um projeto de ação. Portanto, só a
consciência do determinismo não é suficiente, pois a liberdade se torna verdadeira
quando acarreta um poder, um domínio do homem sobre a natureza e sobre a sua
própria natureza.

A consciência que o homem tem das causas se transforma, por sua vez, em outra causa,
capaz de alterar a ordem das coisas. Com isso, não se rompe o nexo causal, mas
introduz-se outra causa – a consciência do determinismo – que transforma o homem em
ser atuante, e não simples efeito passivo das causas que agem sobre ele.

Vejamos o exemplo da ação do vírus da tuberculose no corpo humano. Pela ordem


natural da ação das causas, a morte é inevitável. Pelo menos era assim no século
passado, e a despeito da aura romântica que envolvia os jovens poetas tuberculosos, a
doença era implacável. Quando Koch descobre o nexo causal da doença, pela ação do
bacilo, o conhecimento das causas possibilita a ação efetiva: remédios, alimentação,
clima, repouso etc., e eis o fantasma da doença letal deixando de assombrar as pessoas.

O filósofo personalista Mounier diz: “enquanto se desconheceram as leis da


aerodinâmica, os homens sonhavam voar; quando o seu sonho se inseriu num feixe de
necessidades, voaram.” Lembremos aqui o significado do conceito de necessidade.
Descobrir o feixe de necessidades é conhecer as leis da aerodinâmica, ou seja, saber o
que faz voar um corpo mais pesado do que o ar. Não há magica: há conhecimento dos
determinismos. O sonho se concretiza no trabalho do homem como ser consciente e
prático.

Do ponto de vista psicológico, ocorre o mesmo processo. Suponhamos que alguém


tenha um temperamento agressivo. Se ele se reconhece assim, cuida para não ser levado
pelo impulso, para saber usar a agressividade conforme a ocasião e conveniência. Aliás,
144

uma das grandes contribuições de Freud é ter mostrado que o neurótico não é livre, pois
se acha dominado por forças inconscientes que mascaram suas ações.

A atitude obsessiva compulsiva, como a de lavar as mãos seguidamente, por considera-


las sempre sujas ou cheias de micróbios, não representa o ato livre de alguém
preocupado com a higiene. Trata-se de um sintoma e, portanto tem significado latente,
oculto, que pode ser investigado. A interpretação é sempre relativa a cada caso concreto,
mas, para fins de exemplificação, vamos supor que o significado fosse a culpa resultante
de desejos sexuais reprimidos e considerados “sujos” pelo paciente. A cura da neurose
estaria em trazer à consciência a causa escondida, ajudando o paciente a lidar com o seu
próprio desejo.

3 – A Liberdade Situada

O que observamos na posição que pretende superar a antinomia determinismo-liberdade


é que a discussão sobre liberdade não se faz no plano teórico, a partir do conceito da
liberdade abstrata. Ao contrário, trata-se da liberdade do homem situado, do homem
enquanto ser de relação.

Na linguagem da fenomenologia, traduzimos esses dois polos como sendo a facticidade


(ou imanência) e a transcendência humanas. Polos antitéticos (ou seja, contraditórios,
relativos à tese e a antítese), mas indissoluvelmente ligados.

A facticidade é a dimensão de “coisa” que todo homem tem, é o conjunto das suas
determinações. São “os fatos” (donde facticidade) que estão aí, tais como são e sem
possibilidade de ser de outra forma. O fenomenológico Luypen diz: “refletindo sobre
sua existência, o homem se encontra, com efeito, como já imerso em determinado corpo
e já envolvido em determinado mundo. Acha-se como holandês, judeus, inteligente,
aleijado, operário, emocional, doente, rico, gordo, ou outra coisa qualquer. Tudo isto
constitui o que ele já é, a saber, seu passado. Esse já é também chamado a determinação
do homem”.

A transcendência é a ação pela qual o homem executa o movimento de se ultrapassar a


si mesmo. É a sua dimensão de liberdade.

A liberdade não é uma dádiva, algo que é dado, nem é um ponto de partida, mas é o
resultado de uma árdua tarefa, alguma coisa que o homem deve conquistar.

A liberdade não é uma ausência de obstáculos, mas o desenvolvimento da capacidade de


denomina-los e superá-los. O filósofo francês Gusdorf conta que “um grande pintor
tendo feito em algumas sessões o retrato de um freguês, teve que ouvir deste a objeção
que o preço exigido era muito alto por algumas horas de trabalho. Algumas horas,
respondeu o artista, mas toda a vida”. Isso significa que a aparente simplicidade do
trabalho executado naquele curto espaço de tempo na verdade era o resultado de muita
disciplina e domínio das dificuldades enfrentadas durante longo período de aprendizado.
145

A juventude é a fase em que se torna mais forte a reivindicação de liberdade. Mas


também é o período em que se inicia o exercício desse poder. Por isso, ainda segundo
Gusdorf, “a liberdade adolescente é uma adolescência da liberdade, uma liberdade de
aspiração (...). A juventude é o tempo de aprendizado da liberdade”.

a) A Estrutura do Homem

Como se dá o entrelaçamento de responsabilidade, liberdade e necessidade?

É preciso examinar a estrutura do homem, e para tal usaremos o esquema utilizado pelo
filósofo Van Riet como ponto de partida para sua teoria do conhecimento. Embora
originalmente o ponto de referência para o filósofo tenha sido o homem enquanto
sujeito que conhece, vamos fazer a adaptação à questão da liberdade, isto é, o homem
enquanto ser livre.

Segundo Van Riet, o homem possui uma estrutura formada por aspectos distintos, mas
ligados entre si: empírico (ou corpóreo), pessoal (ou voluntário) e a perceptivo (ou
intelectual).

- aspecto empírico:

Chama-se empírico o aspecto da estrutura humana referente aos fenômenos que podem
ser constados pela experiência.

O homem é um corpo e, como tal, está sujeito às leis da física (ocupa lugar no espaço,
está sujeito à lei da queda dos corpos etc.).

O homem é um corpo biológico, um organismo vivo, e responde às influencias do


mundo de forma coordenada: busca ar e alimentos, se reproduz, herda e transmite
caracteres segundo leis conhecidas pela genética.

O homem é um ser psicológico e, como tal, percebe o mundo, reage emocionalmente a


ele e elabora as próprias vivências. Por exemplo, o processo de aprendizagem se faz a
partir de funções específicas que se desenvolvem gradativamente: não adianta querer
ensinar álgebra a uma criança que ainda não aprendeu aritmética elementar. Isso sem
falar na existência de caracteres patológicos que podem influenciar o comportamento
das pessoas.

O homem é um ser cultural, vive no meio humanizado, transformado por sua própria
ação. Ao nascer, já recebe língua, costumes, moral, religião, organização econômica e
política, uma história, enfim. É a isso que chamamos historicidade, ou seja, o homem se
encontra sempre situado em determinada época, numa certa cultura.

O aspecto empírico refere-se à facticidade humana. Se considerássemos apenas o


aspecto empírico do homem, concluiríamos que ele é determinado e não livre.
146

- Aspecto Pessoal:

O aspecto empírico não é, entretanto, determinante de forma absoluta. Podemos


constatar que, diante dos determinismos, o homem tem uma relação pessoal.

O aspecto pessoal é também chamado voluntário, pois não se explica só pelo fato de o
homem estar situado na sua facticidade, mas por ser capaz de transcender, decidir,
escolher, e, consequentemente, de ser responsável por seus atos, comprometido neles,
engajado numa ação.

Exemplo interessante é o da linguagem, que faz parte do aspecto empírico, já que se


trata de fato da cultura herdada. No entanto, as mesmas palavras usadas por todos
podem ser organizadas de modo original, de tal forma que é possível reconhecer o estilo
inconfundível de cada um. Isso decorre da originalidade e criatividade humanas.

Nossa própria experiência pode ser retomada em vários sentidos diferentes: nunca
lemos o mesmo livro da mesma forma, nossas lembranças são reelaboradas nos
contextos vividos; descobrimos coisas novas a cada vez que ouvimos a mesma música.

Mas aí, surge um problema: se o aspecto pessoal justifica a liberdade do homem, e essa
liberdade é pessoal e intransferível, caba a cada homem decidir-se sobre o que é melhor
para si; querer determinar o que é melhor para todos seria violar a liberdade de cada.

Entretanto, o resultado de tal postura sem dúvida individualista é o relativismo moral e


o solipsismo (o homem voltado para si mesmo e incapaz de comunicar-se com o outo).

Tal posição é muito comum hoje em dia, principalmente quando as pessoas “justificam”
o individualismo dos seus atos: “estou na minha”... permanecer nesse estágio pessoal
resulta em empobrecimento da moral, pois o indivíduo não é capaz de descentrar-se de
si próprio.

- Aspecto Aperceptivo

O terceiro aspecto da estrutura do homem chama-se a perceptivo, porque se procura


fazer uma abordagem além da percepção e, portanto seja alerta, conceitual, intelectual.

Nesse aspecto as afirmações subjetivas aspiram à objetividade, permitindo ao sujeito a


superação das contingências da própria experiência e colocando-se do ponto de vista
dos outros. A descentralização do sujeito em busca da relação intersubjetiva (isto é,
entre os sujeitos) possibilita a comunicação e retira o indivíduo do seu universo
fechado.

Retomemos o exemplo da linguagem: pelo aspecto empírico, ela é um determinismo,


pois a recebemos como herança cultural; pelo aspecto pessoal, transcendemos o
determinismo pela elaboração original de um discurso criador e pessoal; pelo aspecto a
perceptivo, por mais original que seja nosso discurso, nós nos fazemos entender, pois
existe na linguagem o sentido intersubjetivo que supera o pessoal.
147

Conclusão:

Fizemos a exposição dos três aspectos da estrutura do homem em determinada


sequência, o que não deve ser entendido como três momentos isolados que surgem
nessa ordem de experiência. A moral é tecida na trama dos três aspectos que, embora
contraditórias, se acham indissoluvelmente ligados.

Prender-se ao aspecto empírico é mergulhar na heteronomia, é regular-se por leis


externas, é sucumbir ao determinismo. Privilegiar o aspecto pessoal é negar a dimensão
intersubjetiva da moral. Ater-se exclusivamente ao aspecto a perceptivo é tornar a moral
e a liberdade, conceito abstrato e descarnado.

A relação que se estabelece entre os três aspectos é dialética, pois supõe a reciprocidade
de influencias, em que a atuação de um aspecto, mesmo “negando” o outro, de certa
forma o “conserva”.

Só assim será possível superar a heteronomia, indo em direção à autonomia: a


realização do ato moral livre.

38 – DOCETISMO

1 – Introdução:

O que é docetismo?

A palavra procede do grego (‘dokein’) que significa aparentar que é uma heresia do
final do século I que afirmava que Jesus apenas aparentava ser humano.

Docetismo é a afirmação de que o corpo humano de Cristo era um fantasma e de que


seus sofrimentos e morte foram meras aparências. “se sofreu, não era Deus; ser era Deus
não sofreu”.

Negavam a humanidade de Cristo, afirmavam a divindade. O docetismo já estava


presente no final da época do Novo Testamento, como é evidente pela exortação de
João, o apóstolo, sobre aqueles que negam “que Jesus Cristo veio em carne” (1 João
4.2; Ef. cf. 2 Jo. 7.

2 – Jesus era completamente humano.

 Ele tinha ancestrais humanos (Mt. 1.20-25; Lc. 2.1 – 7);


 Ele Teve concepção Humana (Lc. 2.4 – 7);
 “ “ infância Humana (Lc. 2);
 “ “ fome (Jejuou 40 dias);
148

 “ “ sede (Jo. 4.6,7);


 “ “ cansaço ((Jo. 4.6);
 Ele teve emoções humanas (Jo. 11.35);
 “ “ Senso de humor humeno (jo. 2.15);
 “ “ Tentação (Mt. 3; 26.38-42),
 “ “ corpo humano (hb. 2.14);
 “ “ dor física (Mt. 27.34);
 “ “ Morte física (Mt 16.21, Rm.5.8, 1 Co. 15.3, Ef. 2.13);

3 – Uma Resposta Teológica

A negação da humanidade de Cristo é um erro tão grave quanto negar sua própria
divindade; se Jesus não é Deus e humano, não pode mediar entre Deus e humanos (1
Tm. 2.5). A Salvação envolve a reconciliação dos seres humanos com Deus (2 Co.
5.18,19). Isso só é possível se Deus se tornar humano. Negar a verdadeira humanidade
de Cristo é negar a base de nossa reconciliação com Deus. É por isso que a Igreja
primitiva condenou o docetismo.

4 – A Humanidade de Cristo Negada

Vejamos as heresias que negavam a humanidade de Cristo:

“No final do primeiro século, Marcião e os gnósticos ensinaram que Cristo apenas
parecia ser homem (no grego, dokeo, parecer ou aparentar). O apóstolo João referiu-se a
esse falso ensinamento em I João 4.1-3. Essa heresia desafia não apenas a realidade da
encarnação, mas também a validade do sacrifício e da ressurreição corpórea.”

“Para todos os docetas [...] Cristo não foi plenamente encarnado na carne, pois a matéria
é intrinsecamente má. As epístolas de Colossenses e João argumentam contra esta noção
pré-gnóstica. Esta posição tem reaparecido atualmente no ensino dos evangelistas da
prosperidade.”

“Elementos deste erro já tinham surgido nos dias do Novo Testamento (1 Jo 4.1-3; 2 Jo
7; Cl 2.8,9). Em certas formas, sustenta que Jesus escapou da infâmia da morte por
crucificação, quando Judas Iscariotes ou Simão Cirineu trocaram de lugar com Ele na
cruz. Os muçulmanos aceitam uma forma deste erro (ver Sura 4.187). entre o
proponentes deste erro estavam Cerinto (c. 100 d.C.) e Serapião, bispo de Antioquia
(190-203).”

“O docetismo afirmava que o corpo de Cristo não passava de um fantasma; que seus
sofrimentos e morte eram meras aparências. [...]. Acreditava que o sofrimento e a morte
de Jesus eram incompatíveis com a divindade.”
149

39 – DOGMATISMO

1 – Introdução:

O termo “Dogmatikós” é de origem grega e significa “que se funda em princípios” ou


“relativos a uma doutrina”.

Dogmatismo é uma doutrina segundo a qual o homem pode atingir a certeza.


Filosoficamente é a atitude que consiste em admitir que a razão humana tenha a
possibilidade de conhecer a realidade.

Do ponto de vista religioso, chamamos dogma a uma verdade fundamental e


indiscutível da doutrina. Na religião cristã, especificamente no catolicismo, por
exemplo, há dogma da “Santíssima Trindade, segundo o qual as três pessoas (pai, filho
e espírito santo) não são três deuses, mas apenas um”. Deus é trino. Não importa se a
razão não consegue entender, já que é um princípio aceito pela fé e o seu fundamento é
a revelação divina.

Quando transpomos a ideia de dogma para o campo não religioso, ela passa a designar
as verdades não questionadas e inquestionáveis. Só que, nesse caso, não se estando mais
no domínio da fé religiosa, o dogmatismo torna-se prejudicial, já que o homem, de
posse da verdade, fixa-se nela e abdica de continuar a busca.

O mundo muda, os conhecimentos se sucedem e o homem dogmático permanece


petrificado nos conhecimentos dados de uma vez por todas.

Disse Nietzsche que “as convicções são prisões”. Refratário ao diálogo, o homem
dogmático teme o novo e não raro se torna intransigente e prepotente. Quando resolve
agir, o fanatismo é inevitável, e com ele, a justificação da violência.

Também chamamos dogmáticos os seguidores de “escolas” e tendências quando se


recusa a discutir suas verdades, permanecendo refratários às mudanças.

Quando o dogmatismo atinge a política, assume um caráter ideológico que nega o


pluralismo e abre caminho para a imposição da doutrina oficial do Estado e do partido
único, com todas as infelizes decorrências, como censura e repreensão. Em nome do
dogma da raça ariana, Hitler cometeu o genocídio dos judeus e ciganos nos campos
de concentração.

Além dos significados comuns do conceito de dogmatismo, é preciso ressaltar outro,


denunciado por Kant na crítica da razão pura. Como se propôs a fazer a avaliação das
reais condições dos limites da razão para conhecer, Kant chama de dogmáticos todos os
filósofos anteriores, inclusive Descartes, por não terem colocado a questão da crítica do
conhecer como discussão primeira. Ou seja, aqueles filósofos “não acordaram do sono
dogmático”, no sentido de ainda terem uma confiança não questionada no poder da
razão em conhecer.
150

40 – DUALISMO
(veja tópicos sobre: materialismo, modernismo, idealismo, monismo).

1 – Introdução:

Metafísicas da Modernidade: Debates entre materialistas e idealistas.

Após o resumo histórico sobre distintas concepções de mundo – desde os mitos até o
surgimento da ciência moderna, passando brevemente pelas metafísicas da Antiguidade,
podemos avançar para o estudo das metafísicas da modernidade. Antes, porém,
precisamos conhecer alguns conceitos para poder fazer determinadas distinções.

2 - histórico

Boa parte das explicações sobre o real (filosóficas e não filosóficas) pode ser
enquadrada nestas duas tendências ou correntes de interpretação:

 Materialismo (ou fisicalismo) – é materialista qualquer concepção ou doutrina


que tem, implícita ou explicitamente, a matéria (ou algum princípio físico, como
o átomo ou a energia) como a realidade primeira e fundamental de tudo o que
existe. Uma pessoa estritamente materialista (no sentido filosófico), por
exemplo, é aquela que tende a acreditar que é possível explicar, a partir da
matéria, todos os fenômenos naturais e mentais, até mesmo sociais. O
materialismo moderno serve-se com frequência do mecanicismo, isto é, da
noção de que os fenômenos se explicam por um conjunto de causas mecânicas,
como uma engrenagem. Existem vários tipos de materialismo.

 Idealismo – é idealista qualquer doutrina que concebe, implícita ou


explicitamente, que o pensamento, a ideia ou algum princípio imaterial (isto é,
de outra ordem que não a da matéria) constitui a realidade primeira e
fundamental de tudo o que existe ou uma realidade independente e distinta da
matéria, mas tendo procedência (anteriorioridade e maior importância) sobre
esta. Essa concepção também pode ser qualificada como espiritualista ou
imaterialista, conforme o caso. Há vários tipos de idealismo. Por outro lado,
como nem todas as concepções ou teorias sobre o mundo advogam a existência
de apenas um princípio fundamental, elas também podem ser classificadas em
três categorias distintas:

1. Monismo – qualquer concepção ou doutrina que considera que tudo o


que existe pode ser reduzido (convertido, simplificado) a um princípio
fundamental (a palavra monismo deriva do grego menos, que significa
151

“único, isolado”). Por exemplo: se é a matéria, temos um monismo


materialista; se é a mente ou espírito, temos um monismo idealista ou
espiritualista. As explicações monistas tendem a compor grandes
sistemas, em que todas as esferas da existência estariam interligadas pelo
princípio fundamental;

2. Dualismo – qualquer concepção ou doutrina que defende a existência de


dois princípios primeiros (ou substancias fundamentais) no universo,
irredutíveis entre si (isto é, um não pode ser convertido ou fundamentado
no outro). Existem vários tipos de dualismo, mas geralmente o termo
refere-se à contraposição mente-corpo, espírito-matéria;

3. Pluralismo – qualquer concepção ou doutrina que entende que o universo


está composto de uma multiplicidade de entidades ou elementos
individuais e independentes. Opondo-se principalmente à ideia de uma
realidade fundamental e única, as explicações pluralistas tendem a
compor cenários mais abertos, incompletos ou indeterminados que os do
monismo.

As teorias dos primeiros pensadores pré-socráticos são exemplos claros de monismo,


pois propõem a existência de um princípio fundamental para tudo o que existe: água, ar,
fogo etc.

Platão costuma ser considerado um dualista por conceber duas realidades distintas e
separadas (o mundo sensível e o mundo inteligível).

O mesmo se pode dizer de Aristóteles, mas seu dualismo seria “moderado”, tendo em
conta que supôs dois princípios inseparáveis (matéria e forma), constituindo a unidade
do real. Por último, como exemplo claro de pluralismo, temos as concepções de
Empédocles (dos quatro elementos) e de Demócrito (a multiplicidade dos átomos).

3 – Observação:

Tenha sempre em mente que não existem classificações rígidas. Elas são pautas que nos
ajudam a fazer certas distinções, e sua determinação depende do aspecto doutrinário que
se quer abordar, podendo às vezes variar até para um mesmo autor.

A metafísica de Platão, por exemplo, embora seja tradicionalmente considerada


dualista, também costuma ser classificada como idealista (portanto, monista), já que as
ideias são, para ele, o ser verdadeiro e essencial de todas as coisas.
152

a) Dualismo Cartesiano:

Vejamos agora algumas das principais teorias da realidade que contribuíram para a
matriz de valores e concepções de mundo da modernidade. Comecemos pela doutrina
dualista de René Descartes. Durante o século XVII – época do chamado grande
racionalismo, esse pensador concebeu uma metafísica de muita influencia até nossos
dias. Trata-se da concepção de mundo que separa radicalmente matéria e espirito ou
corpo e mente conhecida como dualismo cartesiano.

Como vimos anteriormente, o filósofo francês estava decidido a romper com a herança
cultural do passado (aristotélico-tomista) e a começar tudo novamente desde os
fundamentos, com o propósito de estabelecer “algo de firme e de constante nas
ciências”. Para alcançar esse objetivo, empregou o método da dúvida e chegou a
questionar até mesmo o que parecia mais indubitável: a existência do mundo e de si
mesmo. Desse modo, ele buscava chegar a uma primeira certeza, que atuaria como um
novo centro ou ponto fixo a partir do qual construiria toda a sua filosofia.

Você deve lembrar que a primeira certeza que Descartes alcançou em sua dúvida
metódica foi o Cogito, isto é, o “Penso, logo existo”. Portanto, ele sabia que existia
como “coisa pensante”. A partir daí, tratou de alcançar outras certezas. Primeiro,
precisou provar a existência de Deus, para depois demonstrar como se podia conhecer o
mundo exterior. Nessa tarefa, foi construindo sua teoria da realidade, que ficou
estruturada em três classes de substancias ou coisas (que em latim se diz res):

 Substancia infinita (res infinita) – cuja propriedade essencial é a infinitude; trata-


se de Deus, ser que criou todas as coisas;

 Substância pensante (res cogitans) – ativa, cuja propriedade essencial é o


entendimento; corresponde à esfera do eu (ou consciência), entendido como
sujeito de toda a atividade do intelecto;

 Substância extensa (res extensa) – passiva, cuja propriedade essencial é a


extensão no espaço (comprimento, largura e profundidade), com formas e
movimento; trata-se do mundo corpóreo, material.

No entanto, concordando com a doutrina católica, Descartes concebia que Deus é um


ser transcendente, isto é, encontra-se fora, separado de sua criação.

Desse modo, no mundo em que vivemos existiriam apenas as duas substâncias finitas
(res cogitans e res extensa), que seriam essencialmente distintas e separadas. Daí o
conhecido dualismo da metafísica cartesiana.
153

b) Dualismo Platônico:

Como grande parte dos pensadores de sua época, Platão também enfrentou o impasse
criado pelos pensadores de Parmênides e Heráclito, ou seja, sobre o problema da
permanência e da mudança, da unidade e da multiplicidade.

Em sua doutrina, conhecida como teoria das ideias, Platão procurou resolver esse
impasse propondo uma ontologia dualista. Assim, para ele existiriam duas realidades
diametralmente opostas:

 Mundo sensível (kósmos horatós, em grego) – corresponde à matéria e compõe-


se das coisas como as percebemos na vida cotidiana (isto é, pelas sensações), as
quais surgem e desaparecem continuamente. Assim, as coisas e fatos do mundo
sensível são temporadas, mutáveis e corruptíveis (o mundo de Heráclito);

 Mundo inteligível (kósmos noetós, em grego) – corresponde às ideias, que são


sempre as mesmas para o intelecto, de tal maneira que nos permitem
experimentar a dimensão do eterno, do imutável, do perfeito (o mundo de
Parmênides). Todas as ideias derivariam da ideia do bem.

Observe que a concepção dualista de Platão – também conhecida como teoria das ideias
– opera uma mudança radical em relação aos pensadores anteriores ao situar o ser
verdadeiro fora ou separado do mundo sensível. Isso não ocorria nos filósofos pré-
socráticos, que buscavam a arché das coisas nas próprias coisas, nem em Sócrates, para
quem a essência ou o ser verdadeiro também se encontrava nas coisas. Isso significa que
para esses filósofos o ser verdadeiro é imanente, isto é, encontra-se neste mundo ou se
confunde com ele, enquanto para Platão é transcendente, ou seja, encontra-se separado
dele.

c) Demiurgo e o Mundo:

Apesar de seu dualismo, Platão supôs a existência de uma terceira realidade, a qual
teria operado apenas a criação do mundo. Como argumenta o filósofo no diálogo Timeu,
tudo o que foi gerado deve ter tido um princípio gerador, uma causa.

Portanto, o universo (o mundo sensível) teria surgido por obra de um demiurgo –


palavra de origem grega que significa “aquele que faz, constrói”.

De acordo com essa doutrina, para construir o universo o demiurgo agiu como
“artesão”: buscou as ideias eternas do mundo inteligível como modelo e, com elas, deu
forma à matéria indeterminada, criando assim o mundo sensível. Isso quer dizer que
as ideias e a matéria já existiam antes, compondo, junto com o demiurgo, as três
realidades fundamentais do cosmo gênese platônicas.
154

41 – EBIONISMO

1 – Introdução:

O que é o Ebionismo?

É uma palavra de origem hebraica, (Evyonim, que significam “pobres”). É o nome de


uma das ramificações do Cristianismo primitivo, que pregava que Jesus de Nazaré não
teria vindo abolir a Torá, e que considerava Paulo de Tarso um apóstata. Desta forma,
pregavam que tanto judeus como gentios convertidos deveriam seguir os mandamentos
da Torá, o que levou a um choque com outras ramificações do Cristianismo e do
judaísmo.

As informações sobre os ebionitas ficaram registradas nos escritos da igreja. Pelas


informações que constam naqueles escritos, vemos que os ebionitas criam que é
necessário obedecer a todos os mandamentos da Lei de Moisés, inclusive ao
mandamento de fazer a circuncisão; que os gentios que se convertem a Deus devem
fazer a circuncisão e devem obedecer a todos os mandamentos da Lei; que Jesus Cristo
é o Messias, mas não é Deus; que Ele não nasceu de uma virgem, mas sim foi gerado
por José;

Que Paulo de Tarso foi um apóstata da Lei e não foi um verdadeiro apóstolo de Jesus
Cristo; que as Escrituras Sagradas são somente o Antigo Testamento, e que eles usavam
um único evangelho (chamado de Evangelho dos Ebionitas), escrito em hebraico e que
era considerado como sendo o Evangelho segundo Mateus, um pouco menor do que o
Evangelho segundo Mateus, escrito em grego e era canônico, o qual é usado pelos
cristãos.

2 – Origem dos Ebionitas

Sua origem ainda é obscura. Acreditava-se como apenas o cristianismo original, ou um


das ramificações primitivas deste. Em oposição à doutrina Paulina, acreditava-se que o
Ebionismo deveria ter surgido entre os seguidores de Jesus e Tiago, o Justo, que
buscavam conciliar a crença messiânica com o cumprimento das leis da Torá.

O choque entre os dois grupos: judaizantes e antijudaizantes já são aparentes no livro de


Atos dos Apóstolos, onde a discussão entre os dois grupos obriga à convocação da
assembleia dos apóstolos (Atos 15), e em Atos 21.17-26, onde consta que havia na
Terra de Israel dezenas de milhares de judeus que criam em Jesus Cristo e eram zelosos
observadores da Lei (Atos 21.20), e que houve uma situação de confronto entre eles e
Paulo, considerado por eles como apóstata, pois haviam sido informados de que Paulo
pregava a desobediência aos mandamentos da Lei.
155

Embora os judeus cristãos mencionados em Atos 15.1 e Atos 21.20 não fossem ainda
chamados ebionitas, pois esta denominação somente começou a serem usados mais
tarde, eles eram em essência ebionitas, pois sua crença e prática eram iguais à dos
ebionitas.

O confronto entre os judaizantes e os antijudaizantes aparece também em Gálatas 2.11-


21, onde consta que Cefas (Pedro), seguindo orientação de Tiago, obrigava os gentios a
se judaizarem, e Paulo não concordava com isso.

O movimento ebionitas enfatizaria a natureza humana de Jesus, como filho carnal de


Maria e José, que se teria tornado Filho de Deus quando de seu batismo, e sendo
descendente de David, se tornaria o Rei do povo de Israel e seu último grande profeta.

Desprezado por cristãos e judeus, o Ebionismo constituiu uma ramificação separada e


organizou sua própria literatura religiosa.

3 – Literatura Ebionitas

a) Evangelho dos Ebionitas:

Consta nos escritos dos Pais da Igreja que os ebionitas usavam somente um Evangelho,
escrito em hebraico, e era considerado com sendo o “Evangelho de Mateus”, mas era
menor do que o verdadeiro Evangelho de Mateus em grego, chamado de “Evangelho
dos Hebreus” (Eusebio de Cesareia, História Eclesiastica e Epifânio de Salamina).

No entanto, é necessário distinguir entre o Evangelho dos Hebreus usado pelos ebionitas
e o Evangelho dos Hebreus usado pelos nazarenos, pois, embora ambos fossem
considerados como sendo o Evangelho de Mateus em Hebraico, o evangelho utilizado
pelos nazarenos era uma versão um pouco mais extensa, que continha todos os trechos
encontrados no Evangelho de Mateus em grego utilizado pelos cristãos, com alguns
trechos a mais, enquanto que o usado pelos ebionitas, ao contrário, era mais curto que a
versão canônica (Epifânio, Panarion, 30.13:2);

b) Evangelho dos Hebreus.

O Evangelho dos Hebreus usados pelos nazarenos é citado várias vezes por Jerônimo.
Segundo o entendimento ebionitas, o Evangelho de Mateus continha a sua doutrina,
principalmente em Mateus 5. 17-19, onde consta que Jesus Cristo disse que não veio
abolir a Lei nem os profetas, mas sim cumprir, e que a Lei nunca será abolida; e
também que devemos obedecer a todos os mandamentos da Lei. Também em Mateus
7.21-23, onde consta que Jesus Cristo disse que nem todos os que creem nele entrarão
no Reino de Deus, mas sim somente aqueles que fazem a vontade de Deus. Esse
entendimento contrastava-se com a hermenêutica ortodoxa do texto que aceita a ideia de
Jesus Cristo ter vindo cumprir no sentido de “encerrar”, ou seja, de todas as normas e
regras da lei mosaica se cumprirem nele, o único em toda a história capaz de conseguir
156

cumprir todas as regras previstas na Lei mosaica. A partir daí, ele mesmo, Jesus, viria
estabelecer uma nova aliança, ou novo concerto, e isso está perfeitamente claro e
explicado na Carta aos Hebreus, claramente escrita na época a fim de combater as ideias
ebionitas. Já na questão de todos os mandamentos de Jeová ser obedecidos, o próprio
Jesus os aglutinou em apenas dois: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo. Quem assim fizesse com dedicação e de coração, automaticamente
estaria obedecendo a todos os demais mandamentos de forma natural. Já a crença de
Mateus 7.21-23 é ponto passivo, irrelevante para o confronto doutrinário.

4 – As Duas Seitas

Na época dos pais da igreja, segundo relada Orígenes e Eusébio de Cesareia, existiam
dois grupos de ebionitas. Estes dois grupos diferenciavam-se um do outro devido a
determinadas práticas e em função de sua aparição. A palavra ebionitas significa
literalmente “pobres”, do hebraico evion, e conforme já mencionado, aparece pela
primeira vez nos escritos dos pais da igreja. Conforme a informação encontrada nos
escritos destes, este nome designava ao grupo de judeus que tinha reconhecimento de
Jesus (Yeshua há Netzaret) como figura messiânica do judaísmo, e que não acreditavam
na divindade de Jesus. Desta forma, os pais da igreja diziam que estes tinham
pensamentos “pobres” a respeito de Cristo, e possivelmente surgiu desta palavra
hebraica evion (pobres), que estes judeus passaram a serem chamados de ebionitas.

No decorrer dos tempos parte dos ebionitas criaram a seita dos “ebionitas-gnósticos”,
que consistia em aderir ao Ebionismo ensinamentos dos elchasitas, discípulos de Elshai
(Elchasai). Os elchasitas, que possuíam ensinamentos vegetarianos, assim como os
essênios, tinham a sua religião como um mistura de ensinamentos dos gentios, cristãos e
de judeus.

O surgimento dos chamados “ebionitas-gnósticos” era paralelo com a outra seito


ebionitas que não aderia a estes ensinamentos. A seita dos ebionitas-gnósticos também
poderia ser chamada de “Ebionitas-Elchasitas” visto ter tido sua aparição sob influência
do já mencionado Elshai (Elchasai).

Há atualmente diversos movimentos religiosos que em maior ou menor grau


compartilham a visão ebionitas. Dentre eles, podemos mencionar o movimento criado
por Shemayah Phillips, que em 1985 fundou o movimento conhecido como a Ebionite
Jewish Community.

Esta comunidade, estritamente monoteísta, reconhece Jesus como um profeta justo, e


defende uma interpretação judaica do Tanakh e que tal sirva como meio de união entre
judeus e gentios para implantação de uma sociedade justa.
157

42 – ECUMENISMO
(Veja pluralismo Religioso, Reformas).

1 – Introdução:

O minidicionário da Língua Portuguesa Aurélio define “ecumenismo” como:


movimento que visa à unificação das igrejas cristãs (católicas, protestantes e ortodoxas).

Há vários tipos de ecumenismo. Por isto, iremos descrever alguns para que possamos
conhecer e entender seus objetivos comuns na pratica desses movimentos. Vamos
analisar apenas três que são: o ecumenismo religioso, o cristão e o evangélico.

2 – Desenvolvimento

a) Ecumenismo Religioso:

É a tentativa de aproximar as grandes e diferentes religiões do mundo. Essa


aproximação vai desde cooperação em missões e ação social e política, até união e fusão
de credos. A iniciativa tem sido principalmente de órgãos protestantes. O maior deles é
o Concílio Mundial de Igrejas (CMI).

A filosofia que permite o CMI fazer esta tentativa é o pluralismo. Como o nome já
indica, essa filosofia defende a pluralidade da verdade, ou seja, que não existe uma
verdade absoluta, mas sim verdade diferente para cada pessoa. Esse conceito é ambíguo,
mas definitivamente já fez parte integrante da nossa cultura presente. Ele acredita que
seja possível o relacionamento de pessoas com crenças e ideologias diferentes, sem que
um tenha de sujeitar suas convicções ao domínio do outro.

A ideia de converter alguém às suas próprias convicções é politicamente incorreta. A


chave está na valorização da negociação e da cooperação em algum lugar de se tentar
provar que se este certo ou errado.

Pluralismo Religioso, por sua vez, prega o abandono da “arrogância” teológica do


Cristianismo, nega que exista verdade religiosa absoluta, e exalta a experiência religiosa
individual como critério último para cada. A ideia de cristão tentar converter pessoas de
outra fé ao cristianismo é absurda. O tema da salvação em outras religiões foi discutido
recentemente na Assembleia Geral do Concílio Mundial de Igrejas. O relatório
apresentado trouxe debate considerável. As conversas se arrastam sem produzir
qualquer progresso claro.

Uma consulta teológica sobre a salvação na Suíça patrocinada pelo CMI, composta por
25 teólogos, trouxe as seguintes conclusões:
158

1) Através da história, pessoas têm encontrado a Deus no contexto de várias


religiões e culturas diferentes;

2) Todas as tradições religiosas são ambíguas (inclusive o cristianismo), isto é, uma


combinação do que é bom e do que ruim;

3) É necessário progredir além de uma teologia que confina a salvação a um


compromisso pessoal explícito com Jesus Cristo.

Em algumas denominações o pluralismo tem sido como filosofia oficial, como na Igreja
Metodista Unida, nos Estados Unidos.

No momento, o ecumenismo religioso não vai indo bem. No último encontro do CMI, o
assunto progrediu quase nada. O que agora estão pensando é cooperação em áreas
sociais apenas, enquanto que cada religião mantém sua individualidade. Parece que o
sonho de uma religião mundial única esta acabando.

b) Ecumenismo Cristão:

Este tipo de ecumenismo tenta aproximação entre os grandes ramos da cristandade, ou


seja, a Igreja Católica, a Igreja Protestante e a Igreja Ortodoxa e, entre os diversos
ramos protestantes entre si. Algum progresso existe. A liderança da Igreja Episcopal e
da Igreja Luterana Evangélica na América concordou, depois de duas décadas de
negociar, darem comunhão entre si, reconhecer os cleros e ordenar bispos em conjunto.
Cada grupo retém sua autonomia. A liderança de oito denominações protestantes
alcançou acordo preliminar sobre as suas igrejas, formando uma “comunhão de
convenção” na qual cada denominação iria, embora ainda autônoma, aceitar os
ministros e sacramentos dos outros.

Os católicos romanos continuam dialogando bilateralmente com luterano, líderes da


Igreja Anglicana e Ortodoxos em um esforço para achar solo teológico comum. Até
mesmo algumas Igrejas Pentecostais, que tendem a ser antiecumênico parecem
propensas para relações mais abertas. A Igreja Cristã (os discípulos de Cristo,
denominação americana com mais de Um milhão) entrou para a história ecumênica de
protestantes e católicos em sua Assembleia Geral em agosto elegendo Monsenhor Philip
Morris, padre católico romano, como membro votante da sua comissão.

c) Ecumenismo Evangélico:

É a tentativa de aproximação entre igrejas evangélicas, em nível de cooperação em


atividades evangelísticas e sócio-políticas, e mesmo fusão organizacional. Por exemplo,
a cooperação interdenominacional de Igrejas e Ministros, muitos dos quais não estariam
interessados no ecumenismo cristão ou religioso – que unem para patrocinar uma
cruzada de Billy Graham. Vale lembrar que o número de denominações diferentes
159

chegou a 22.000 em 1985 e continua crescendo a uma taxa de cinco novas todas as
semanas.

Muitas igrejas conservadoras permanecem opostas a esforços ecumênicos por causa da


teologia liberal e da agenda de trabalho político dos conselhos nacionais e mundiais que
geralmente estão por detrás destes esforços. E uma razão ainda maior, é porque a
verdade não deve ser sacrificada no altar da unidade eclesiástica.

3 – Pontos relevantes do Ecumenismo

Pontos Relevantes a ser considerados no ecumenismo segundo o pensamento cristão.


Para o pastor da Igreja Batista Livre, de Sud Mennucci, São Paulo, Waldir Ferro afirma:
este estudo sobre o ecumenismo nasce da preocupação de que isoladas umas das outras,
nossas igrejas possam entrar na corrente geral influenciada por agentes deste grande
mal. Ele não é novidade, mas vem sendo introduzido lentamente e suas estratégias
adaptadas às novas situações encontradas através dos anos. Isto pode fazer com que não
reconheçamos. É como um menino que cresce longe de nós e por isso não o reconheceu
ao vê-lo tempo depois, por sua aparência mudada.

Para Waldir Ferro, o significado do termo “ecumênico” é curioso e importante para que
saiba com que lidamos. Segundo os dicionários, ecumênico é “mundial, geral ou
universal”, tendo sua raiz etimológica no grego “oikoumene” (oikomene), termo este
que na Bíblia traduzido por J.F. de Almeida por “mundo”, expressando todo o “universo
de pessoas conhecidas” ou “conjunto de todas as coisas existentes”. (veja Mt 24.14; Lc
4.5; At 17.31).

a) Sua Origem e Seu Promotor:

Sem duvida, espiritualmente falando, sua origem e promoção residem em Satanás. O


“Pai da Mentira”, pois o Ecumenismo depende da mentira para existir. Mas, que esta
sendo usado para introduzi-lo e difundi-lo no mundo? Quem são os mordomos de
Satanás que cuidam de seus interesses com relação a esse assunto?

Para chegarmos à resposta a isto, precisamos antes, desmistificar a ideia de que existe
mais de um tipo de ecumenismo ou lado “bom” e “lado ruim”. Ele é todo ruim. Ele não
nasceu com este nome e é difícil datar seu nascimento. No entanto, fica claro,
historicamente, que desde a Grande Reforma Protestante de 1520, não faltaram episódio
que demonstrassem interesses em uma aproximação entre catolicismo e seus
discindentes diretos (anglicanismo, luteranismo e ortodoxos). Entre os evangélicos em
1846 surgiu em Londres, um movimento chamado Aliança Evangélica. Já no nosso
século em 1906, varias igrejas protestantes tentaram uma aproximação em torno de uma
organização com fins sociais, abrindo mão de posições doutrinárias. Organizaram,
então, o Conselho Federal das Igrejas de Cristo na América (CFICA). Com o clima
sombrio que antecedia a primeira Guerra Mundial, esta organização uniu-se a igrejas
160

protestantes europeias, fundando assim em agosto de 1914, a Aliança Mundial para


promover a Amizade Internacional através das igrejas.

Após a Guerra, em 1919, esta organização internacional voltou a se reunir e mudou seu
nome para Confederação Mundial Cristã de Vida e Ação. Já em 1937, quando
voltaram a se reunir em Oxford, na Inglaterra, participavam dela a igreja anglicana e
ortodoxa (católicos discindentes). Outro movimento surgido em 1910 na Escócia, o Fé e
Constituição, que visava unidade doutrinaria, uniu-se, em 1938 à Vida e Ação e, em
1948 deram origem ao Concílio Mundial de Igrejas com sede em Amsterdã na Holanda.
Antes mesmo que se reunissem em sua III Assembleia em Nova Delhi na Índia (1961),
ao observar a facilidade e rapidez com que se uniram igrejas em um ideal unicionista, o
Vaticano adotou a ideia e, em junho de 1959 o papa João XXIII (58-63) na sua encíclica
“Ad Petri Cathedram”, lançou as bases do movimento ecumênico, convidando todos os
“irmãos separados” a unirem-se a “Igreja Mãe”. Durante seu reinado, o papa Paulo VI
(63-78) visou amplamente este ideal fortemente demonstrado no Concílio Ecumênico
Vaticano II, em seu decreto “Unitatis Redintegratio” cujo, 1º. Capítulo intitula-se “Os
princípios Católicos do Ecumenismo”.

b) A Razão de Ser do Ecumenismo:

Uma igreja acostumada a prevalecer, não pela razão, mas pela imposição de uma
religião estatal, desde o tempo de Constantino em 313, nunca pode ver com bons olhos
a perda da influencia e de poder, o que a levou a terríveis perseguições como a “Santa
Inquisição” na Idade Média (ou a “idade das trevas” como melhor lhe convém), onde
quem não era Católico Apostólico Romano não era cristão, quem não era cristão deveria
ser morto e ainda, que os matasse, receberia recompensa em indulgências, perdão de
pecados.

No século XX principalmente após os horrores da II Guerra Mundial, era preciso outra


reforma que não pela força, para conter e constar a constate perda de adeptos. Eram
anos de forte impulso missionário por parte das igrejas evangélicas e o próprio
movimento Anabatista (ou Batista) retomava grande força após terem sido expulsos da
Europa catolicizada e revigorados na América do Norte de onde partiam muitas
missões.

O movimento Unionista tornou-se o melhor meio de enfraquecer e derrubar o inimigo


ou trazer de volta para si, os católicos que por motivos não dogmáticos, havia-se
separado. Não se pode dizer que o movimento foi um sucesso completo, pois trouxe
apenas parte dos resultados ambicionados. O enfraquecimento dos batistas e de algumas
outras denominações tradicionais é um fato inquestionável e a desaceleração da perda
de adeptos e o retorno dos discindentes protestantes. O papa João Paulo II está
propiciando uma sequencia ao Concilio Vaticano II com um excelente trabalho, a ponto
de ser chamado por alguns como resposta de Deus ao Vaticano I. Apesar de ser tido
como conservador, ele está permitindo uma abertura e liberdade de ação para o clero, de
forma que a “multifacetada Igreja Uma” possa atuar da maneira que mais se aproxima
do povo com grupos de linhas muito diferentes como os da Teologia da Libertação, os
161

Carismáticos, os Tradicionais etc. Com isto consegue-se manter o católico tradicional, o


católico que entende que a igreja precisa atuar mais nas áreas sociais e na política e os
que querem uma modernização da missa, chegando mais perto do que o povo tem
buscado naqueles que mais tem proselitado o povo católico que são os pentecostais e
neo-pentecostais.

c) Seus Métodos:

Nos anos que se seguiram ao Concílio Ecumênico Vaticano II, o padre Aníbal Pereira
dos Reis, converteu-se ao evangelho, desvinculando-se definitivamente da igreja
romana em 1965 e, em exame criterioso e imparcial, sem influencias externas,
pessoalmente encontrou na Igreja Batista, aquela que defendia e praticava os
ensinamentos neo-testamentários e, nela pediu batismo e serviu até o fim de seus dias.
Porém, antes de abandonar a batina, este padre teve a oportunidade de ser “treinado”,
sobre como agir em suas relações com outras denominações e pode ver mudanças
dentro das estratégias de trabalho da igreja, visando entender as diretrizes do Vaticano
II. Num brado de alerta, o irmão Aníbal desnudou estas coisas em alguns de seus livros
(o Ecumenismo; o Ecumenismo e os Batistas e o Papa escravizará os Cristãos?). Vamos
resumi-los como segue:

 Antigamente o Vaticano muito investia em escolas, por serem elas formadoras


de pensamentos, podendo assim, influenciar fortemente a sociedade na base da
formação de jovens. No entanto, a tendência mundial (e no Brasil, não foi
diferente) de o Estado assumir o ensino e, ainda a consolidação dos meios de
comunicação de massa (jornal, rádio e TV) fizeram com que se fechassem a
maioria das escolas e se investisse em emissoras de rádio e TV e também
jornais e revistas para ter acesso direto à sociedade e poder vender seu peixe.

 A atitude de oposição e conflito com os evangélicos e seus líderes, antigamente


uma regra, foi mudada por orientação de Roma. A partir do treinamento dado
aos padres nos anos 60, a atitude passou a ser de afabilidade, para conquistar a
simpatia do povo e do pastor (inclusive batistas). Com essa mudança,
conseguiu-se confundir a cabeça de muitos... Afinal, o “seu padre” agora é
“amigo” do pastor!??!

 Os clérigos foram também orientados a cativar especialmente os pastores,


pessoas geralmente simples, prestigiando-os na sociedade e, se possível, até
com cargos em entidades sociais, para o que os padres poderiam indica-los. Isto
surtiria grandes efeitos, especialmente nas pequenas cidades do interior.

 Com um terreno devidamente preparado, seria muito conveniente, buscar


ocasiões para trabalhos em conjunto na sociedade e, principalmente, com
ajuntamentos de cunho religioso, o que configurou os cultos ecumênicos, que
hoje vemos, não raramente. Um detalhe que constava nas orientações e no
162

treinamento, é o que, embora devesse dar-se a palavra a cada um dos lideres


religiosos presentes, que o representante católico se colocasse de forma a
transparecer sua superioridade sobre os demais, como o representante da “igreja
mãe”.

 A pregação da ideia de que todos os cristãos são irmãos, filhos de um mesmo


Deus, e que apenas estavam alguns separados da igreja mãe (Católica Romana)
por divergências a respeito de pontos de menos importância deveria levar a
intimidar aqueles que, antes eram combativos. Tornou-se então, ultrapassado,
fora de moda, feio mesmo, resistir a um Unionismo (o outro nome do
ecumenismo). Criou-se a ideia de que não se deve dividir, polarizar, separar,
combater, contestar, mas sim, unir, ajuntar, misturar, acomodar, evitar os pontos
de discórdia. “TUDO PELO AMOR” – que mentira.

 A tática ecumenista sabia que, nem todos aceitariam facilmente e abertamente


este ajuntamento. Mas, existem bons disfarces e meios-termos que poderiam
satisfazer quebrando o gelo para passos maiores no futuro. Se, por exemplo, o
Batista não aceitasse uma atividade conjunto com o Católico, talvez com o
Presbiteriano ele o fizesse. (já que “são muito parecidos”). Como o
Presbiteriano se mostrasse mais aberto ao diálogo ecumênico, (veja apêndice)
com o tempo, por meio deste intermediário, menos radical, alcançar-se-ia o
objetivo final. As reuniões interdenominacionais são uma abertura que funciona
como intermediações do Ecumenismo Pleno.

d) Os Tipos de Prática Ecumenista:

Basicamente encontramos dois tipos de prática.

a) Ampla, geral e irrestrita;


b) Interdenominacional (“ás vezes restrita só a um grupo como “tradicionais”,
pentecostais, carismáticos”).

Mesmo que restrita a sua prática entre um destes grupos, ou mesmo entre
“evangélicos” em geral, entende-se que quando se mistura povos de doutrinas
diferentes, isto é uma generalização ou universalização. O que vem a ser
Ecumenismo. Muitos pensam que quando os evangélicos se reúnem, mostram sua
força “contra” o catolicismo. Isto não é verdade, porque estão abrindo mão de suas
posições doutrinárias e, embora se mostrem com pujança no tamanho número e
muitas vezes no “barulho”, mostram também fraqueza em conteúdo. Abrem-se mão
de suas crenças para se ajuntar entre si, até quando não abrirão mão delas para
juntar-se ao Romaníssimo? Aliás, se o fazem com um, por que não com outros.
163

4 – Ecumenismo e Novo Testamento:

Existe uma forma bastante padronizada de abordar o Novo Testamento no que se refere
ao diálogo e a pratica. O Novo Testamento tem sido interpretado não só como um
exemplo de convivências ecumênico perfeito entre os cristãos do primeiro século, como
também tem oferecido aos que promovem o ecumenismo o seu “mito fundante”: no
Novo Testamento teríamos o fundamento da igreja e da sua fé. O modelo bíblico desta
leitura é Atos 2.42-45:

“eles se mostravam assíduos aos ensinamentos dos apóstolos, à comunhão


fraterna, à fração do pão e às orações. O temor do Senhor se apossava de
todos os espíritos, porque numerosos eram os prodígios e sinais realizados
pelos apóstolos. Todos os fiéis, unidos, tinham tudo em comum; vendiam as
suas propriedades e os seus bens e dividiam o preço entre todos, segundo as
necessidades de cada um”.

Diante de tal quadro os cristãos latino-americanos do final do século 20 não teriam outra
coisa a fazer senão buscar inspiração e modelos de ação – se bem que, com uma grande
dose de frustração.

Assim é que nos deparamos com a grande tese da interpretação ecumênica que se faz do
Novo Testamento: ele apresenta como modelo o exemplo de vivencia ecumênico que,
serviria sem nenhuma mediação de paradigma para as comunidades latino-americanas.
Este enunciado se baseia nos seguintes pressupostos:

 Ecumenismo no Novo Testamento – é sinônimo de convivência harmoniosa


entre as comunidades e é possível a partir de pontos comuns da fé apostólica
(por exemplo, da cristologia), da prática libertadora (tendo o pobre como
centro), da vivencia e das expressões da fé (liturgia e diaconia);

 A igreja nasce uma. Todas as divisões e diferenças de teologia e prática seriam


decadentes em relação à unidade que reinava no princípio. Portanto, a
interpretação do Novo Testamento fornece o modelo e a referencia para a nossa
prática ecumênica. A este modelo teríamos que nos ajustar.

Quero questionar neste artigo estes pressupostos hermenêuticos e lançar algumas


teses para discussão sobre o caráter ecumênico do Novo Testamento e da forma
como ele pode nos desafiar a uma leitura crítica da nossa própria prática. A seguir
faço algumas experiências com o texto bíblico. Que as imperfeições desta leitura –
demasiado hipotética e incompleta – sejam compensadas pela despretenciosidade da
mesma. Ela pretende ser apenas pretexto para a reflexão.
164

5 – Interpretação Ecumênica do Novo Testamento

 O Novo Testamento é um paradigma, no entanto, não de uma solução


ecumênica, mas de uma situação desafiadora para o ecumenismo. O
problema da vivencia ecumênica se apresenta de forma exemplar no Novo
Testamento. Enquanto solução ou proposta de solução, o texto bíblico
apresenta sucessos e fracassos.

 O surgimento de uma igreja cristã no final do primeiro e começo do segundo


século é indício de um fracasso no diálogo dos seguidores de Jesus de
Nazaré com a sua comunidade de referencia: a sinagoga judaica. Este é o
primeiro fracasso ecumênico documentado no Novo Testamento.

 A própria existência de um corpo limitado de escritos religiosos (no caso o


Novo Testamento) já é sintoma de certo fracasso de convivência ecumênica.
Obviamente a produção literária dos primeiros cristãos não se limitou a vinte
e sete escritos. Estes escritos que temos em nossas bíblias constituem uma
seleção de textos considerados autorizados, que se definem como tais em
contraste com escritos considerados desautorizados. Se por trás dos tetos
supomos que havia comunidades, constatamos que a expressão religiosa de
alguns grupos não era considerada com referencial.

 No Novo Testamento não encontramos consenso sobre o essencial acerca de


Cristo, da Vida comunitária, dos temas e posturas políticas. Existem temas,
interesses, e até tendências comuns, mas a produção está muito voltada para
as necessidades de todas as comunidades de cada comunidade no seu
contexto específico.

 Além de não termos consenso na teologia e na prática, encontramos


reflexões e práticas divergentes e, em alguns casos, concorrentes. Esta
divergência também se dá entre diversas comunidades cristãs e, obviamente,
frente ao judaísmo, no qual o cristianismo ainda estava inserido.

 A concorrência ou a divergência entre diversas comunidades cristãs, entre


elas mesmas ou com o judaísmo, se articulava em disputa por um espaço
maior no campo religioso. É na luta por espaço de atuação (no caso missão),
representatividade e legitimidade que emergem os vários temas e conflito
entre estes grupos:

a) Político – comunidades pro-roma x comunidades anti-roma; (Tm e Tg).


165

b) Econômico – interesses de cristãos bem situados na sociedade x


interesses de escravos empobrecidos e estrangeiros; (1Co 11).

c) Geopolíticos – cristãos de Jerusalém x palestinos; (Gl 2.38).

d) Cultural – gentios x judeus ou helenistas x palestinos; (At 6).

e) De gênero – carisma “feminino” x cargos “masculino”; emancipação da


mulher na casa x submissão da mulher ao pater famílias; (1Co 10).

f) Hermeneuticamente o Novo Testamento nos oferece modelos e contra


modelos, que devem ser analisados nas suas condicionantes históricas.
(Fp 2, Hb).

Isto significa que o pluralismo (existente desde o início) tem que ser encarado sem
rubor. O pluralismo das comunidades foi o motor de toda a produção literária que
chamamos de Novo Testamento. Este surgiu como resposta criativa aos
questionamentos e discussões de cristãos em situação de crise.

43 – EMPIRISMO

Teoria do Conhecimento na Idade Moderna e Contemporânea


(veja tópicos 12 sobre Criticismo e 41, sobre Racionalismo).

1 – Introdução:

O século XVII representa, na história do homem, a culminação de um processo em que


se submeteu a imagem que ele tinha de si próprio e do mundo.

A emergência da nova classe dos burgueses determina a produção de uma nova


realidade cultural, a ciência física, que se exprime matematicamente. A atividade
filosófica, a partir daí, reinicia um novo trajeto: ela se desdobra como uma reflexão
cujo pano de fundo é a existência dessa ciência.

A revolução científica determinou a quebra do modelo de inteligibilidade apresentado


pelo “aristotelismo”, o que provocou os novos pensadores receia de enganar-se
novamente.

A procura da maneira de evitar o erro faz surgir à principal característica do pensamento


moderno: A questão do Método.
166

Essa preocupação centraliza as reflexões não apenas no conhecimento do ser


(metafísica), mas, sobretudo, no problema do conhecimento (Teoria do Conhecimento
Epistemológico).

2 - Teoria do Conhecimento:

Podemos dizer que até então, a filosofia tem uma atitude realista, no sentido de não
colocar em questão a existência do objeto, a realidade do mundo. A Idade Moderna
inverte o polo de atenção, centralizada no sujeito a questão do conhecimento.

Como já vimos, se o pensamento que o sujeito tem do objeto concorda com o objeto,
dá-se o conhecimento. Mas qual é o critério para se tiver certeza de que o pensamento
concorda com o objeto? “Um dos problemas que a teoria do conhecimento terá que
propor ou solucionar é aquele de saber quais são os critérios, as maneiras, os métodos
de que se pode valer o homem para ver se um conhecimento é ou não verdadeiro”. As
soluções apresentadas a essas questões vão originar duas correntes: O Racionalismo e
O Empirismo.

2.1 – O Empirismo.

Afirma que o conhecimento humano advém da experiência sensível. Também os


princípios racionais do conhecimento resultam da experiência.

O Empirismo formula as leis da natureza a partir da experiência sensível, estabelecendo


assim princípios gerais que as regem. A experiência é o ponto de partida do
conhecimento humano. Os empiristas não veem necessidade de elaborar hipóteses
prévias. É o método “a posteriori”. A corrente empirista tornou-se adversária de
Descartes.

2.2 – O Empirismo Inglês

A palavra empirismo vem do grego “empeiria” que significa “experiência”. O


empirismo, ao contrário do racionalismo, enfatiza o papel da experiência sensível no
processo do conhecimento. Os representantes do empirismo são: Locke, Berkley e
Hume.

No século XVII, o ponto de partida da reflexão filosófica não é mais o problema do ser,
mas o do conhecer.

Os filósofos da Europa Continental (Descartes, Espinosa, Leibniz) estabeleciam os


critérios de conhecimento a partir das ciências exatas: a matemática e a geometria. O
conhecimento da realidade deveria ser racional.
167

Os filósofos Ingleses encontravam-se num ambiente cultural diferente. Na Inglaterra


floresceram mais as ciências experimentais, como a botânica, a química, a astronomia e
a mecânica. Eles buscavam um método de investigação que correspondesse a essas
ciências.

O progresso das ciências da natureza fez com que se formasse uma imagem materialista
do universo. O materialismo se impôs e foi se desenvolvendo a ponto de não haver mais
filosofia capaz de lhe oferecer resistência.

As ciências experimentais partem da constatação de eventos particulares, da experiência


de fatos observáveis. A partir dessas experiências, serão possíveis descobertas futuras.

Os ingleses perguntavam: como é possível partir da experiência demonstrável para


chegar às leis universais?

Os empiristas ingleses diziam que todo conhecimento procede da experiência (empeiria


= conhecimento prático). Eles concluem que também as ideias abstratas e as leis
científicas conservam a mesma incerteza e particularidade do conhecimento sensível.

A partir desse ponto de vista, a metafísica tornou-se impossível. Nada se pode saber a
respeito da existência e natureza de Deus, sobre a origem primeira e destino final da
vida humana. Essas questões suscitam argumentos que não podem ser demonstrados.
Nem no âmbito moral podem-se estabelecer normas absolutas; bom ou mal é aquilo que
a sociedade aprova ou desaprova.

O empirismo é a filosofia característica do povo inglês. Todos os grandes pensadores


empiristas escreveram bem e com clareza. Eles aceitaram o mecanismo e
estabeleceram-no até ao âmbito do espírito. Associaram o mecanismo ao subjetivismo e
ao nominacionalismo radical.

44 – ENCICLOPEDISMO

1 – Introdução:

É o movimento liderado por Diderot, d’Alembert, Voltaire, Rousseau e Condorcet, que


resultou na Encyclopédie de 33 volumes, publicada em Paris no período ente 1751 e
1766. Para a elaboração da Enciclopédia, estes pensadores contaram com mais de uma
centena de colaboradores.

A Enciclopédia destinava-se a combater os abusos do sistema monárquico, a religião


institucionalizada, e as restrições autoritárias impostas ao pensamento científico. A obra
foi várias vezes interditada.

A obra foi escrita para determinados leitores: a burguesia esclarecida, pequenos


comerciantes e artesãos. Além de abranger um saber universal, a Enciclopédia apresenta
168

um balanço geral de todo saber existente. Os postulados filosóficos da obra eram o


deísmo, o antropocentrismo, ideias morais do livre exame. A atividade intelectual dos
enciclopedistas preparou a eclosão da Revolução Francesa.

As tendências iluministas e liberais expressam ideias de tolerância religiosa, de


otimismo em relação ao futuro da humanidade, de entusiasmo pelo progresso, de
confiança no poder da razão e de oposição a todo autoritarismo.

2 - Século XVI (1751-1780):

Elaborada pelos filósofos franceses Denis Diderot (1713-1784) e Jean Le Rond


D’Alembert (1717-1783), a Enciclopédia surge no auge do Iluminismo e torna-se uma
das bases da Revolução Francesa. Obra de referência em 35 volumes visa reunir o
conhecimento sobre artes, ciências, filosofia e religião.

c) Voltaire:

Voltaire foi o maior expoente do Iluminismo francês. Defendia o uso da razão, a


tolerância e os direitos do homem. Atacou o regime autoritário de Luís XV e a
intolerância da Igreja Católica. Termina suas cartas com esta expressão: “Amai-me e
destruí a infame (a Igreja).” Seus adversários passaram a considerá-lo ateu. O próprio
Voltaire se considerava deísta. Professava o deísmo e combatia o fanatismo das
religiões organizadas.

O deísmo no estilo dos pensadores ingleses é uma religião da razão. Com a física
clássica passou-se a entender o Universo como uma máquina, onde os fenômenos
acontecem com necessária regularidade e com um nexo causal. O Deus do mecanicismo
criou o Universo, e este equipamento agora se sustém por si mesmo – sem interrupções
nem irregularidades. Desse modo a ciência moderna passou a entender Deus. Não se
admitia mais a possibilidade de Deus intervir no mundo. Em todos os âmbitos (também
no religioso) passou-se a admitir somente aquilo que era acessível ao conhecimento
natural. A religião da razão era considerada a verdadeira; tudo o mais era superstição.
Desse modo o deísmo estava suprimindo a metafísica.

Depois de preso na França, Voltaire exilou-se na Inglaterra. Retornou à França trazendo


as ideias de Locke e de Newton, que se tornaram a base da filosofia francesa do século
XVIII. Promoveu a cosmologia de Newton na França. Foi na França que o Iluminismo
encontrou sua maior expressão.

Voltaire batalhou pela liberdade de espírito e por um governo esclarecido pela razão.
Condenou a irracionalidade das guerras. Acreditava no caráter universal da moral.
Ironizou Leibniz – com sua ideia de que estamos no melhor mundo possível.
169

d) Rousseau:

O filósofo iluminista suíço Jean Jacques Rousseau (1712-1778) dá um novo significado


à expressão, que, em seu entendimento, é exclusivamente de “sociedade civilizada”, em
oposição ao estado selvagem. Para Rousseau, cujas ideias influenciaram diretamente a
Revolução Francesa (1789), a sociedade civil é palco de conflitos permanentes, de
usurpações e de exploração; ainda não é uma “sociedade política” – que para ele surge
com um “contrato social”, ou seja, um contrato em que os indivíduos renunciam à
liberdade natural e concordam em transferir a um terceiro, o soberano, o poder para
aplicar as leis.

A ideia de sociedade civil como um espaço distinto da esfera do Estado se desenvolve


com os filósofos do século XIX e os do XX. Em seu uso moderno, sociedade civil
significa a esfera das relações entre indivíduos, entre grupos entre classes sociais que se
desenvolve por fora das relações de Estado. Assim, a ideia de sociedade civil expressa a
evolução do corpo social, que produz as demandas e os problemas que o Estado é
chamado a resolver.

e) Condorcet:

45 – EPICURISMO

1 – Conceito:

Doutrina de Epicúrio, filósofo grego. Epicureu (sectário do Epicurismo), homem


sensual. Epicurista (pessoa partidária do Epicurismo); do indivíduo dado aos prazeres
do amor e da mesa.

Epicúrio nasceu em 341 a.C., na ilha de Samos. Seus primeiros estudos, sob Nausifanes,
um discípulo de Demócrito, ensinaram-no a considerar o mundo como resultado do
movimento e combinação ao acaso de partículas atômicas. Durante algum tempo viveu
no exílio e na pobreza. Gradualmente foi reunindo ao seu redor um circulo de amigos, e
começou a ensinar suas doutrinas distintivas.

Em 306 a.C, estabeleceu-se em Atenas, no famoso jardim que se tornou sede de sua
escola. Morreu em 270 a.C, após grande sofrimento devido algum mal interno, porém,
em tranquilidade mental.

O sistema inteiro tem uma finalidade prática em vista, a realização da felicidade


mediante sereno desprendimento. O Atomismo de Demócrito bania todo o temor de
intervenção divina na vida ou de castigo após a morte; os deuses seguem perfeitamente
170

a vida de sereno desprendimento, e nada têm a ver com a existência humana, enquanto
que a morte provoca a dispersão final de nossos átomos constituintes.

Os epicúrios encontravam contentamento na limitação dos desejos e nas alegrias e


solidões da amizade. A busca de prazeres extravagantes, que dá ao termo “epicurismo”
o seu sentido moderno, foi uma perversão posterior da busca pela felicidade.

2 - Epicúrio e a Medicina da Alma

A ataraxia é também o objetivo moral de Epicúrio (341 – 270 a.C), que reunia seus
discípulos numa escola conhecida como Jardim. Para ele, felicidade e prazer,
basicamente satisfação de desejos físicos. Mas, como a um prazer momentâneo pode-se
seguir desprazer ou dor, convém procurar um tipo de satisfação estável, cometido, mas
constante – algo como sensação que experimenta um homem que não sente sede e, por
isso, não bebe. Esse “prazer em repouso”, como denomina Epicúrio, é precisamente a
ataraxia, um estado de desejo sempre saciado e que se consegue pelo perfeito equilíbrio
entre as partes do organismo.

O autêntico prazer é inseparável da tranquilidade da alma e da realização plena da


autossuficiência. Nessa perspectiva, a amizade é, talvez, a mais importante fonte de
satisfação e de compensações. É certo que ela aumentava a nossa dependência em
relação aos amigos, mas, diante da solidão e da insegurança de nossas vidas, é ainda um
remédio mais eficaz do que os vínculos da vida política.

Se Epicúrio considera o prazer uma realidade física é porque para ele, seguidor da teoria
atomista de Demócrito, não existe nada além das coisas físicas e corpóreas (os átomos)
e a sua ausência (o vazio). Por isso, o conhecimento também só pode ser resultado do
contato do direito entre as coisas e os sentidos. As coisas compostas de átomos emitiram
uma espécie de eflúvio que atingira os órgãos dos sentidos, produzindo as sensações de
uma nova experiência sensível. É por essas antecipações, que rememoram a sensação
anterior, que se pode reconhecer a identidade (ou não) de coisas percebidas em
momentos diferentes. O conhecimento é, assim, o acúmulo das sensações que vão se
classificando como idênticas ou diferentes, de acordo com as antecipações.

O mundo e o próprio conhecimento do mundo são explicados pelo movimento dos


átomos através do vazio. Mas Epicúrio introduz uma modificação na teoria de
Demócrito. Para este, o movimento era inerente aos átomos, sem que houvesse uma
explicação para isso. Epicúrio explica esse movimento pelo peso, uma propriedade do
átomo que inexistia em Demócrito e que é responsável pela queda.

Mas, pela ideia de peso, todos os átomos apenas caíram paralelamente em linha reta e
jamais se chocariam. Por isso, Epicúrio é obrigado a admitir um segundo tipo de
movimento: a inclinação, que faz com que cada átomo se desvie ligeiramente de sua
trajetória retilínea para colidir com outros e, assim, produzir a diversidade das coisas.
Ele não explica, porém, a causa da inclinação. Assim, ao resolver uma dificuldade
171

presente na teoria de Demócrito, Epicúrio acaba por criar outra. Esse “descuido”, no
entanto, tem uma função: a inclinação não se explica porque é a manifestação da
liberdade do átomo. A consequência disso é uma espécie de teoria materialista da
liberdade, de difícil interpretação.

A libertação e a cura, para Epicúrio e seus seguidores, se dão pela filosofia. Assim como
o médico se ocupa das doenças e dos sofrimentos do corpo, ao filósofo cabe cuidar das
doenças e dos sofrimentos da alma. A filosofia é assim a terapia das causas da
infelicidade humana. Num mundo marcado pela pobreza material e pela falta de
solidariedade, por guerras e perseguições políticas – frequentemente interpretadas como
castigos dos deuses aos atos humanos -, o epicurismo defende uma imagem do mundo e
do homem na qual os deuses e a morte deixam de serem ameaçadores.

Tudo na filosofia de Epicúrio – sua concepção física do universo, suas ideias a respeito
do conhecimento e da alma, sua visão da sociedade e da religião – relaciona-se com esse
propósito de libertação. Ele mesmo resume sua doutrina em quatro máximas, ou
medicinas: “não há que temer a Deus”; “morte significa ausência de sensações”; “É
fácil procurar o bem”; “É fácil suportar o mal”.

Aquele que alcançou a ataraxia e tornou-se dono dos seus atos não tem medo da morte,
que não passa da ausência de sensações. Os átomos que uma vez compuseram um corpo
humano apenas se desagregam. O homem nada sente. Por isso, escreve Epicúrio em sua
carte a Meneceu: “Quem compreendeu que nada há de temível no fato de estar morto, a
nada temerá na vida”.

O pensamento epicurista liberta o homem das imposições da necessidade do destino ou


dos deuses. Senhor de si, sem nenhuma espécie de constrangimento, o homem é livre
para perseguir seu objetivo: a felicidade.

46 – ESCOLÁSTICAS
(veja tópico 56 – Patrística)

1 – Introdução:

O que é a Escolástica?

A Escolástica é a filosofia cristã que se desenvolveu desde o século IX, tem o seu
apogeu no século XIII e começo do século XIV, quando entra em decadência.

Continua a aliança entre a razão e a fé, aquela sempre considerada a “serva da


Teologia”. Com frequência as disputas terminaram com o apelo ao princípio da
172

autoridade, que consiste na recomendação de humildade para se consultar os intérpretes


autorizados pela Igreja.

No entanto, a partir do século XI, com o Renascimento urbano, começou a surgir


ameaças de ruptura da unidade da Igreja, e as heresias anunciam o novo tempo de
contestação e debates em que a razão busca sua autonomia. Inúmeras Universidades
aparecem por toda parte na Europa e são indicativos do gosto pelo racional, tornando-se
focos por excelência de fermentação intelectual.

Durante muito tempo predomina na Idade Média a influência da filosofia de Platão,


considerada mais adaptável aos ideais cristãos. O pensamento de Aristóteles era visto
com desconfiança, ainda mais pelo fato de os Árabes terem feito interpretações tidas
como perigosas para a fé.

A partir do século XIII, Santo Tomás de Aquino utiliza as traduções feitas diretamente
do grego e faz a síntese mais fecunda da Escolástica, e que será conhecida como
“Filosofia Aristotélica-Tomista”. Daí, para frente, a influência de Aristóteles se fará
sentir de maneira forte, sobretudo pela ação dos padres dominicanos e mais tarde dos
Jesuítas, que desde o Renascimento, e por vários séculos, mostraram-se empenhados na
formação dos jovens.

Se por um momento a recuperação do Aristotelismo constitui um recurso fecundo para


Santo Tomás, já no período final da Escolástica torna-se um entrave para o
desenvolvimento da ciência. Basta lembrar a Crítica de Descartes e a luta de Galileu
contra o saber petrificado da Escolástica decadente.

2 – Histórico:

2.1 – O Nascimento da Escolástica

A Idade Média é caracterizada como era de “obscurantismo” pela época seguinte, que se
autodenominaria “Renascimento”. O próprio termo “Idade Média”, já traz embutida
essa carga de desprezo: indica que o período, que se estendeu por cerca de mil anos, não
passa de um intervalo entre o esplendor do mundo greco-romano e seu “renascimento”
posterior.

Não que essa imagem tenebrosa não contenha certa verdade. Afinal, na Idade Média
grassam grandes epidemias (como a peste negra), guerras incessantes, retração da
economia, da técnica e da vida urbana, e um profundo sentimento de medo (o temor da
morte era o menor deles).

É impossível, porém, ignorar as realizações culturais dessa época. A própria igreja,


quase sempre acusada como principal culpada pelo retrocesso da cultura, é, também
responsável pela conservação de quase tudo o que se preservou do pensamento clássico
greco-romano.
173

Num mundo em que o cenário predominante é o campo, e a agricultura praticada no


nível da subsistência, os monastérios – esses refúgios rurais onde os religiosos, longe da
vida mundana, buscavam a purificação da alma – representam a sobrevivência da
cultura. Ali, os monges, animados pelo ideal de ora et labora (“reza e trabalha”), de São
Bento (c. 480 – 547), não só se dedicam à religião e à organização do trabalho rural
como também à cópia, à compilação, à tradução para o latim e ao comentário de textos
da antiguidade.

Mas a Idade Média tampouco é simplesmente a preservação dos valores antigos, à


espera de “Renascimento” futuro. Para além do mundo cristianizado, floresce nas
regiões árabes e islâmicas um vigoroso pensamento filosófico e científico. É
principalmente por meio dos filósofos árabes que muito do aristotelismo chega ao
pensamento medieval do Ocidente. Além disso, as realizações científicas e técnicas do
Islã – matemática, astronomia, medicina, engenharia – já prenunciam os estudos sobre
os quais o Renascimento reivindicaria a exclusividade.

No Ocidente cristão, a acumulação gradativa de cópias, traduções e comentários de


textos antigos, vai criando bases para a formulação de um pensamento original. É a
Escolástica, que ganha corpo, sobretudo nas Universidades e irá fornecer alguns dos
temas que nutririam o próprio Renascimento.

O desenvolvimento da Escolástica vale-se, além da Igreja e a sua imposição da


unificação da fé cristã, do emprego do latim, tornando universal, embora restrito a
pequenos círculos de letrados. As mais diversas regiões do mundo cristão passam a se
comunicar, e um representante desse intercâmbio é o monge britânico Alcuíno (c. 730 –
804).

Procedente da cidade britânica de York, Alcuíno chega à França a chamado do rei


Carlos Magno, fundador do Império Carolíngio. Sua missão: organizar o sistema
educacional do Império. Para isso, ele funda escolas – sempre ligadas à instituições
católicas – e unifica o conteúdo do ensino, que compreende à maneira romana, as artes
liberais (isto é, dignas de um homem livre): gramática, retórica e dialética (o trivium), e
geometria, aritmética, astronomia e música (o quadrivium). Nenhuma dessas artes,
porém, justifica-se por si mesma: elas estão a serviço da ciência das ciências, isto é, a
teologia.

Na fase em que a Escolástica lança suas bases institucionais, a teologia, seguindo o


pensamento de Agostinho, bastante marcada pelo platonismo. João Escoto Erigena é o
principal representante dessa tendência teológica. Nascido em Erim (daí Erigena), na
Irlanda, João Escoto (c. 810 – 877) chega à França por volta de 840. Para ele, como para
Agostinho, a teologia se expressa melhor por negações, por aquilo que Deus não é. Isso,
no entanto, não o impede, em da divisão da natureza, de deduzir logicamente uma
sequência hierarquizada dos seres (ou “natureza”, como as denomina): primeiro, a
natureza que não é criada (Deus como princípio); depois, a que é criada e que cria (o
verbo corresponde às ideias de Platão); em seguida, a que é criada e que não cria e não é
criada (Deus, considerado finalidade última). O princípio e o fim estão, assim,
174

interligados por uma cadeia de seres, que começa em Deus e nele termina. Tal sucessão
a história, cuja finalidade, através dos tempos, é a de ser reabsorvida pelo princípio que
a iniciou: Deus.

2.2– Desenvolvimento da Escolástica

A Escolástica é a especulação filosófico-teológica, que se desenvolve do século IX até o


Renascimento. Tem esse nome por ter sido dominante nas escolas que começaram a
surgir durante o Renascimento Carolíngio.

Carlos Magno (séc. VIII), preocupado em incrementar a cultura, funda as escolas


monacais e catedrais (junto aos mosteiros e igrejas), contratando diversos sábios, como
o inglês Alcuino. O ensino aí desenvolvido baseia-se, sobretudo no trivium (gramatica,
retórica e dialética) e no quadrivium (aritmética, música, geometria e astronomia).

A partir do século XI surgem as universidades (de Paris, Bologna, Oxford etc.), que,
espalhadas por toda a Europa, tornam-se locais de fecunda reflexão filosófica.

Já no século XII, aparecem traduções de obras de Arquimedes, Hero de Alexandria,


Euclides, Aristóteles e Ptolomeu. Muitas vezes o pensamento desses autores chegava
deformado à Europa, pois era traduzido do grego para o sírio, do sírio para o árabe, do
árabe para o hebraico e do hebraico para o latim medieval. Por isso, a Igreja condenou
de início o pensamento aristotélico, que na tradução árabe adquirira contornos
panteístas.

Consultando a tradução feita diretamente do grego, Santo Tomás de Aquino recuperou o


pensamento original de Aristóteles. Mais que isso, fez as devidas adaptações à visão
cristã e escreveu uma obra monumental, a Suma Teológica, onde, uma vez mais, as
questões de fé são abordadas pela “luz da razão” e a filosofia é o instrumento que
auxilia o trabalho da teologia. É com um Aristóteles cristianizado que surge então a
filosofia aristotélico-tomista.

2.2.1 – A Questão dos Universais

Aristóteles não será conhecido da Idade Média a não ser a partir do século XIII, quando
suas obras são traduzidas para o latim.

No entanto, no século VI, Boécio traduzira a Lógica Aristotélica, tecendo um


comentário a respeito da questão da existência real ou não dos Universais. O Universal
é o conceito, ideia, a essência comum a todas as coisas (por exemplo, conceito de
homem). Em outras palavras, pergunta-se se os gêneros e espécies tinham existências
separadas dos objetos sensíveis: as espécies (como o cão) e os gêneros (como os
animais) teriam existência real? Ou seja, seriam realidades ou apenas palavras? Essa
questão é retomada nos séculos XI e XII, alimentando longa polêmica, cujas soluções
principais são: o Realismo, o Conceptualismo e o Nominalismo.
175

Os Realistas, como Santo Anselmo e Guilherme de Champeaux, consideram que o


Universal tem realidade objetiva (são res, ou seja, “coisa”). É evidente a influência
platônica do mundo das ideias.

No século XIII, Santo Tomás de Aquino, já conhecendo Aristóteles, é partidário do


Realismo moderado, segundo o qual os Universais só existem formalmente no espírito,
mas tem fundamento nas coisas.

Para os Nominalistas, como Roscelino, o Universal é apenas um conteúdo da nossa


mente, expressa em um nome. Ou seja, os Universais são apenas palavras, sem
nenhuma realidade específica correspondente. Essa tendência reaparece no século XIV
com Guilherme de Ockam, franciscano que representa a reação à filosofia de Santo
Tomás.

Pedro Abelardo, grande mestre da polêmica, opta pela posição conceptualista,


intermediária entre as duas anteriores. Para eles os universais são conceitos, entidades
mentais.

Podemos analisar o significado dessas oposições a partir das contradições que


estabelecem fissuras na compreensão mística do mundo medieval. Sob esse aspecto, os
realistas são os partidários da tradição, e como tal, valorizam o Universal, a autoridade,
a verdade eterna, representada pela fé. Por outro lado, os Nominalistas consideram que
o individual é mais real, indicando o deslocamento do critério da verdade e da fé e da
autoridade para a razão humana. Naquele momento histórico, essa última posição
representa a emergência do racionalismo burguês em oposição às forças feudais que
deseja superar.

2.2.2 – Nome da Rosa

A preocupação da Escolástica com as palavras é enorme. Se a verdade está contida na


Bíblia, é preciso saber lê-la, distinguindo o que pode ser entendido no sentido literal do
que é apenas simbólico. Por isso, a Escolástica apresenta-se primeiro como estudo da
linguagem (de que trata o trivium), para depois examinar a realidade das coisas
(quadrivium).

Entre as palavras e as coisas, no entanto, que relação pode haver? O “nome da rosa” –
expressão que daria título ao célebre romance de Umberto Eco – coloca o dilema dessa
questão. A rosa, símbolo da perfeição, é também um nome que sobrevive à morte da
própria flor; a palavra fala até de coisas inexistentes. Qual, então, a relação entre o nome
e a coisa, a linguagem e a realidade? Esse problema, que seria conhecido como a
“questão ou querela dos universais”, insistentemente discutido na Idade Média e
ultrapassando os níveis da gramática e da lógica, torna-se tema da metafísica e da
teologia.

A questão tem origem numa tradução latina de Isagogue, obra de porfírio, em que esse
discípulo de Plotino comenta a lógica de Aristóteles. “Não tentarei”, escreve Porfírio,
“enunciar se os gêneros e as espécies existem por si mesmos ou na pura inteligência,
176

nem, no caso de subsistirem, se são corpóreos ou incorpóreos, nem se existem


separados dos objetos sensíveis ou nestes objetos, formando parte dos mesmos”. Diante
disso, os medievais tomam duas posições básicas, cada uma comportando uma série de
variantes.

O nominalismo, defendido, por exemplo, por Roscelin de Compiegne (c. 1050 – 1120)
considera os universais – termos que designam ideias gerais como “homem” e “animal”
– meras palavras sem existência real. Eles não passariam de resultantes da abstração que
o intelecto faz a partir da percepção de coisas individuais (este homem, este animal).

A isso se opõe o realismo, que sustenta a existência pode ser considerada, à maneira de
Platão, como anterior e separada em relação às coisas, de modo semelhante à noção
aristotélica de forma.

3 – A Filosofia Escolástica

É uma filosofia cristã a serviço da teologia. Essa especulação filosófico-teológica se


desenvolveu nas escolas da Idade Média no período desde Carlos Magno até à
Renascença. Essas escolas foram, a princípio, as catedrais e os conventos e, mais tarde,
as Universidades. Destacamos: Anselmo, Pedro Abelardo, Alberto Magno, Boaventura,
John Duns Scot.

3.1 – Anselmo de Aosta (1033 – 1109) é o fundador da Escolástica. O exemplo de


Agostinho procura compreender as verdades da revelação. Seu lema: “A fé na busca da
compreensão”.

Um dos principais representantes do realismo é Santo Anselmo, arcebispo de Cantuária


(na atual Inglaterra). Seu realismo concentra-se na demonstração racional da existência
de Deus; a palavra “Deus” indica um ser perfeito, o maior de todos; mas, se Deus não
existisse, seria preciso supor algo que fosse ainda maior e que tivesse existência real,
pois existir é uma das perfeições, então a palavra “Deus” só pode indicar um ser
realmente existente. Se, desse modo, Anselmo demonstra logicamente a existência de
Deus, por isso, porém, não significa que para ele, a razão se sobrepõe à fé. Antes, ao
contrário, é porque a fé fornece a verdade divina que se torna possível o uso sem
equívoco da razão.

É necessário primeiro crer e só depois procurar entender. A fé não prejudica; ela é a


condição necessária para a compreensão racional das verdades reveladas.

“Não tento, ó Senhor, penetrar na tua profundidade; de maneira alguma a minha


inteligência se amolda a ela, mas desejo ao menos compreender a tua verdade que o
meu coração crê e ama. Com efeito, não busco compreender para crer, mas creio para
compreender. Efetivamente creio, porque se não cresse, não conseguiria compreender”.

Anselmo formulou o argumento ontológico da existência de Deus. A prova ontológica


procura demonstrar a existência de Deus a partir da ideia que temos dele em nossa
mente. O argumento ontológico é a prior, o ponto de partida é antes da causa para então
177

deduzir os efeitos. A ontologia se ocupa dos princípios do ser sem recorrer à


experiência.

Na matemática lida com questões a priori. Os entes primitivos são o ponto, a reta e o
plano. Eles não apresentam definição. São intuitivos.

A definição de “prova ontológica” foi formulada por Kant. O termo “ontologia” havia
sido fixado por Christian Wolff para designar o estudo do ente na condição do ente.

No monologion, Anselmo expõe a razão da fé. Ele quer tomar racionalmente aceitáveis
as verdades e as razões da fé. Procura demonstrar Deus e os seus atributos por
intermédio da razão. Monologion significa monólogo da própria razão consigo mesma.
Ele procura tomar universalmente compreensível o conteúdo da fé.

No Proslogion, Anselmo elabora um argumento definitivo para provar a existência de


Deus. É um argumento que não precisa se apoiar na realidade externa, mas evidencia-se
na interioridade do ser humano. O argumento não necessita de demonstração a
posterior. Proslogion significa colóquio com Deus.

O argumento ontológico deduz a existência de Deus de seu puro ser, existir. Ele é a
priori. O Proslogion parte do pressuposto da revelação de Deus. A graça de Deus
concede o entendimento daquilo que ele já revelou.

 No capítulo 1 contém uma oração de agradecimento a Deus, pela verdade


revelada. O próprio Deus se revela. A fé é pressuposta: “se não crer, não
enterrei”. Anselmo solicita a Deus o entendimento da verdade revelada: “creio
para compreender”.

 No capítulo 2 demonstra a existência de Deus como “ens perfectissismum”.


Deus é o ser perfeitíssimo. Em sua perfeição está incluída a existência.
“Portanto, Senhor, tu que concedes o entendimento da fé, concede-nos
compreender, uma vez que sabes que é útil, que existes como cremos e que é
aquele em que cremos”. O pedido é que Deus conceda a compreensão do
conteúdo da fé. Anselmo quer compreender aquilo que crê.

 No capítulo 3 argumenta que Deus é entendido “ens perfectum”, mas também


como “ens necessarium”. Anselmo entende que a perfeição de Deus implica a
necessidade de sua existência. Deus deve existir necessariamente. Deus é
descrito como “aquele sobre o que não se pode pensar nada de maior” / “aquilo
do qual não se pode pensar nada de maior”. Em Deus coincidem ser e
pensamento, ideia e existência.

 No capítulo 4 mostra que o insensato (descrito nos salmos 14 e 53) pensa em


Deus como não existente. Mas pensa em Deus. No entanto, no momento em que
pensa em Deus, já o pensa como existente. Ele é insensato, porque não pensa
178

verdadeiramente naquilo que pensa. Falta a reflexão. A ideia de Deus não foi
compreendida em seu significado efetivo. O capítulo 4 conclui com um
agradecimento a Deus; “agradeço-te, bom Senhor, agradeço-te, porque naquilo
em que cri pelo teu dom, agora compreendi pela tua iluminação, de tal modo que
mesmo se não quisesse crer que existes, não poderia não o compreender”. Deus
concede a fé e o entendimento da fé. E o intelecto da fé é obtido mediante uma
atitude de confiança. Quanto mais se confia, tanto mais cresce o interesse por
aquilo que se procura: a iluminação da luz inacessível que é Deus. A confiança é
o pressuposto de toda a procura.

 No capítulo 15 Anselmo pensa no ser maior e também na transcendência de


Deus. “Portanto, Senhor, tu és não somente aquilo de que não se pode pensar
nada de maior, mas tu és muito maior de quanto possa ser pensado”. Ser e
pensamento coincidem em Deus. No ser de Deus encontram-se unidos essência
e existência, ideia e realidade. Deus não se reduz a uma identidade lógica, mas
ele transcende a própria identidade de ser e pensamento.

Na reflexão de Anselmo, “Deus é ulterior a quaisquer coisas que possa ser pensada dele
e a qualquer definição e ação possível” (Tomatis, p. 51).

Anselmo não discute uma ideia qualquer, mas pensa no ser perfeitíssimo. Dele não se
pode pensar nada de maior. Sua existência já está concluída na própria ideia. A
argumentação de Anselmo foi desenvolvida mais tarde por Schelling (1775 – 1854).

3.2 – Pedro Abelardo (1079 – 1142). Uma solução intermediária é sustentada por ele.
Celebre por sua paixão por Heloísa, que tanto escandalizou a época. Para ele, os
universais só existem no intelecto, mas, ao mesmo tempo, mantém relação com as
coisas particulares na medida em que lhes dão significado. Desse modo, é como
significado que os universais subsistem às coisas. Aberlado formula tais considerações
lógicas – sem as vincular às questões teológicas. Por outro lado, porém, fornece à
teologia um modelo de argumentação que marcaria toda a Escolástica: um método que
confronta duas opiniões contraditórias a respeito de cada questão, para, desse confronto,
extrair uma solução satisfatória.

Pedro Abelardo é considerado um dos fundadores da Escolástica, juntamente com


Anselmo. Levou adiante o empenho de Anselmo em explicar racionalmente as verdades
da fé. Sabia manejar com grande habilidade a dialética. E submeteu os dogmas às
exigências críticas da dialética.

A principal obra de Pedro Abelardo é “Sic et non” (sim e não). Coloca em confronto as
posições contraditórias das autoridades eclesiásticas a respeito do questionamento
teológico. Com esse procedimento, ele demonstra que – com base nas autoridades
eclesiásticas – é possível provar tanto uma tese como também a posição contrária.
Diante de questões controvertidas, só resta então a razão com última instancia.
179

Pedro Abelardo mantém o primado da fé e da revelação. Mas, abre espaço para a


especulação e para a pesquisa racional. Bernardo o acusou de não deixar âmbito para a
fé, reivindicando tudo para a razão. Observamos este argumento de Pedro Abelardo, em
sua Obra Diálogo entre um filósofo, um judeu e um cristão.

“Se a fé, de fato, exclui toda discussão racional, se ela não tem mérito senão à custa
disto, de tal sorte que o objeto da fé escapa a todo juízo crítico e que é necessário aceitar
imediatamente tudo o que é ensinado pelos pregadores, apesar dos erros difundidos por
tal pregação, neste caso, de nada serve ser crente: onde não é a razão que dá
assentimentos, tampouco pode ela refutar qualquer coisa. Se um idólatra nos vier dizer
de uma pedra, de um pedaço de madeira ou de qualquer outra cultura: “eis o verdadeiro
Deus, criador do céu e da terra; se ele nos pregar qualquer outra evidente abominação,
quem poderá refutá-lo se, se exclui toda discussão no domínio da fé”?”.

3.3 – Alberto Magno (1200 – 1280) pertenceu à ordem dos Dominicanos, e foi
professor na Alemanha e em Paris. Foi um pensador de saber enciclopédico é, por isso,
recebeu o título de Doctor Universalis. Foi mestre de Tomás de Aquino.

Alberto Magno introduziu e difundiu o pensamento de Aristóteles na tradição Teológica


e Filosófica. Escreveu comentário sobre toda a obra de Aristóteles. Seu pensamento tem
por base Agostinho, Aristóteles, Avicena, Boécio e o neoplatonismo. Divulgou a ciência
dos gregos e dos Islâmicos no Ocidente.

3.3.1 - A Rica Cultura Islâmica

Para os povos árabes, o Islã – que significa “submissão à vontade divina” – é muito
mais do que uma religião. É o que lhes dá identidade cultural e o que, durante muito
tempo, lhes proporcionou unidade política. Segundo o Corão, livro sagrado do
islamismo, a origem do islã está na missão que Mohammed (Maomé, c. 570 – 632) teria
recebido do anjo Gabriel: a de propagar a vontade de Alá, o único Deus verdadeiro e
criador de todas as coisas.

A partir daí, Maomé assume a condição de Profeta e inicia sua pregação, que também é
uma campanha militar: em torno da fé ele unifica as tribos e os clãs em que se dividiam
os árabes. Sofre perseguições que o obrigam a exilar-se – a Hégira –, mas contra-ataca,
subjugando aqueles que não aceitam o Islã. Instala-se em Medina e, dali, inicia uma
série de ofensivas contra Meca, a principal cidade árabe, que capitula definitivamente
em 630.

Maomé morre dois anos depois de sua entrada triunfante em Meca. Seus sucessores –
denominados califas (vigários do profeta) – levam adiante sua obra, construindo um
vasto império que, no século X, abrangia a Espanha e o norte da África, estendendo-se,
a leste, até a região do rio Indo. Essa expansão, no entanto, não se fez sem divergências
internas. Dentro do islamismo surgiram seitas dissidentes, como a dos xiitas. Além
disso, rivalidades de todo tipo provocaram o surgimento de vários Estados árabes
independentes.
180

3.3.2 – O Valioso Conhecimento Árabe

Apesar de motivados à conquista pelo ideal do jihad (guerra santa), os muçulmanos


(praticantes do Islã) foram tolerantes com os povos que dominaram. Admitiram outras
religiões, com exceção das que cultuavam ídolos, e se abriram para as mais variadas
influencias culturais, principalmente do pensamento grego e helenístico. Num primeiro
momento, isso significou traduzir para os árabes, diversas obras escritas em grego e
siríaco, principalmente as de filosofias, matemática e medicina. Mas os estudiosos
árabes não se limitaram a isso. Logo passaram a reelaborar o conteúdo dessas obras e a
realizar suas próprias investigações, de que resultaria um pensamento de alcance
universal.

Na matemática, por exemplo, a limitação dos gregos – que praticamente só conheciam a


geometria – foi superada pelo desenvolvimento da álgebra (palavra de origem árabe)
por Al-kharezme (c. 780 – 850). Foi também por seu intermédio que o Ocidente
conheceu os algarismos arábicos. Além disso, é aos árabes que se devem ao
desenvolvimento da trigonometria, a noção de algoritmo, a invenção do número zero e
muitas outras realizações.

Física, astronomia, química (palavra que tem a mesma raiz árabe do termo “alquimia”),
medicina, biologia, geografia, história: não houve área do conhecimento que os árabes
não tivessem investigado, antecipando muitas das descobertas que o Ocidente, séculos
depois, iria reivindicar como suas.

3.3.3 – O Saber Como Obrigação

“A busca do saber, da ciência, é obrigação de todo mulçumano, homem ou mulher. ” As


palavras do profeta, ao deixar claro que o desenvolvimento do conhecimento por meios
racionais aproxima o homem da sabedoria divina, acabam incentivando a explosão
científica do islã, fase que se estende, aproximadamente, do século X até o final do XII,
sob o califado da dinastia dos abácidas.

Os sábios muçulmanos encontram o pensamento de Aristóteles um instrumento


poderoso. Mas a difusão do aristotelismo no mundo islâmico faz-se de moco curioso.
Os árabes traduzem o conjunto do Corpus Aristolelicum e a estes agregam, como se
fosse do mesmo autor, para de Enéadas de Plotino, bem com textos do neoplatônico
Proclo (c. 410 – 485). Por isso, elaboram uma concepção que mescla o aristotelismo e o
neoplatonismo, em que o Uno concebido por Plotino é identificado, não sem problemas,
a Alá. Resta então investigar a relação entre a inteligência (a segunda hipóstase do
Uno), de um lado, e as coisas e o homem, de outro. Nessa questão, o aristotelismo
fornece a chave.

Al-Kindi (século IX) é o primeiro a formular esse problema: como o intelecto humano
pode apreender a essência das coisas, se pelos sentidos só é possível conhecer que elas
existem? A solução encontra-se na Inteligência, sempre em ato que transcenda o
intelecto humano e que tenha o conhecimento das essências. É ela que torna possível o
181

conhecimento, fornecendo ao intelecto humano as essências (ou formas) e fazendo-o


passar da potência ao ato.

A distinção entre a Inteligência agente, sempre em ato, e o intelecto humano é retomada


por Al-Farabi (872 – 950). Para ele, há uma hierarquia de várias Inteligências agentes: a
primeira emana de Deus, a segunda, da primeira, e assim sucessivamente. A última
situa-se na esfera lunar, e dela provêm as formas que tornam as coisas inteligíveis ao
intelecto humano e que lhes dão existência.

Mas, se a inteligência agente leva as coisas a ser o que são, fazendo-as passar da
potência ao ato, elas podem adquirir ou perder a existência; mas é apenas contingente.
Por isso, a existência das coisas depende de uma causa, aquela em que a essência e a
existência coincidam: Deus.

3.3.4 – Avicena, Médico e Filósofo

Todos esses temas estão presentes no pensamento de Ibn Sina (980 – 1037), que no
Ocidente ficaria conhecido como Avicena. Nascido nas proximidades de Bukhara, e
morto perto de Hamadã (no atual Irã), ele tem seu nome associado à medicina, terreno
em que exerceria uma notável influência. Descreveu a anatomia do olho humano e o
funcionamento das válvulas do coração; analisou uma série de doenças, como a varíola,
sarampo e diabetes; formulou a hipótese de que certas moléstias eram causadas por
pequenos organismos presentes na água e na atmosfera; elaborou vários procedimentos
de diagnóstico. Sua obra Cânon seria leitura obrigatória em qualquer ensino de
medicina na Europa por muitos séculos. Além disso, Avicena, como outros sábios
muçulmanos de seu tempo, foi também matemático, astrônomo, físico, zoólogo,
geólogo, musicólogo e assim por diante, abarcando todas as áreas do conhecimento.

No campo filosófico, Avicena, como Al-Farabi, concebe uma série hierarquizada de


Inteligências agentes, das quais a última dá a forma à materia, fazendo com que as
coisas sejam o que são, e ao intelecto humano, tornando possível o conhecimento.
Também concorda com Al-Farabi quanto à distinção entre essencia e a existencia, mas
acrescenta a essa questão algumas precisões.

Segndo Avicena, há dois modos de ser. Em primeiro lugar, há o ser necessário, isto é,
aquele que por sua essencia são identicas. Há, em segundo lugar, o ser possível, que se
desdobra em dois: o ser possível por essencia é aquele que não pode existir porque a
existencia lhe é causada, enquanto o ser puramente possível é o que pode vir a existir
contanto que a existencia lhe seja causada. Na linguagem aristotélica, o ser necessário é
o ato puro; o ser possível necessário é a potencia que se torna ato, mediante uma causa.
E o ser puramente possível, apenas potencia. Daí se conclui que o ser necessário é o
único que existe por si, sem nenhuma causa, sendo ele próprio a causa de tudo o que
existe: é Deus, o único e eterno criador.
182

3.4 – Boaventura (1217 – 1274) acolhe o argumento de Anselmo e o coloca no contexto


de oração e de fé. Quanto à proximidade e a compreensão de Deus, Boaventura
esclarece a continuidade entre a razão e a fé.

Boaventura foi discípulo de Alexandre de Hales, que lhe transmitiu o contexto do


argumento de Anselmo. Boaventura escreveu questões a respeito da Trindade.
Considera a existência de Deus verdade indubitável, sendo “fundamento de todo
conhecimento certo”. A existência de Deus é verdade indubitável, certa, imediata e
evidente. “Deus também é o fundamento de todo conhecimento fiel”, que provém da fé.

O contexto do argumento de Anselmo é retomado através das três vias:

1) A consciência do mistério de Deus. Ele está oculto e “habita em uma luz


inacessível”;
2) A impossibilidade de duvidar da existência do ser de Deus;
3) O conhecimento da fé no Deus-Trino.

As três vias podem ser percorridas pelo intelecto humano. A primeira é interior. É
impossível duvidar das verdades inatas na alma. A imagem de Deus deseja recordar
Deus. A segunda recorre ao testemunho das criaturas de Deus, que proclamam a
existência do Criador. A terceira eleva o intelecto acima de si mesmo para contemplar a
existência de Deus como verdade evidente e indubitável.

Não podemos pensar nada maior do que Deus. Não se pode pensar que ele não exista.
Deus é verdadeiro e é maior do que aquilo que se possa pensar que não exista. “O ser de
que não pode ser pensado nada de maior é ser de tal natureza que não pode ser pensado”
(Tomatis. P 26).

Se limitarmos Deus com o nosso pensamento, então não pensaremos mais aquilo de que
não se pode pensar nada de maior.

A existência de Deus é verdade “primeira e imediatíssima”, afirma Boaventura. Ele


também escreveu o Itinerário da mente em Deus, no qual apresenta graus sucessivos de
iluminação. Estabelece uma identificação entre Deus e o ser. Pensar o ser na sua pureza
é contemplar a existência imediata de Deus. É a expressão da evidencia imediata da
existência de Deus.

Através do ser nos aproximamos caminhando em nome de Deus. O ápice da mente é o


grau cognitivo da alma, a centelha da inclinação natural para o bem. Cristo é a porta
para Deus, é a passagem arquetípica. Ele se faz caminho para o homem e escada para a
alma. É uma passagem mística que só é conhecida por quem a recebe mediante a graça
de Deus.

3.5 – John Duns Scot (1266 – 1308) estudou no mosteiro dos franciscanos em Dumfries
e em Oxford, e também em Paris. Lecionou Teologia em Oxford e em Paris, sendo
expulso por causa de sua oposição ao rei Felipe IV. Em 1305 recebeu o grau de Doutor
em Paris. Transferiu-se para Colônia, onde faleceu em 1308.
183

Foi um dos maiores pensadores da Escolástica, recebendo o título de Doctor subtilis.


Defendeu a posição de que os conceitos universais são por si mesmos e em si mesmo.
Isto equivale a dizer que os universais têm a seitas, termo latino que expressa uma
afirmação atinente apenas a Deus.

Na formulação de Duns Scot da prova da existência de Deus, o argumento de Anselmo


não está imediatamente evidente. Ele considera o argumento de Anselmo como
momento preliminar e se afasta dessa tradição. Elabora uma demonstração de
possibilidade lógica da não-contraditoriedade.

Duns Scot corrige o argumento de Anselmo subordinando-o ao princípio da não


contradição. “Deus, se pensado em contradição, é aquele de que não se pode pensar
nada de maior sem contradição”.

Aquilo que é contraditório não se pode ser pensado. E aquilo que não é contraditório é
pensável. Deus é aquilo de que, sem contradição, não se pode pensar de maior. É
possível pensar Deus e ele existe. Pensando Deus, evitamos a contradição, pois
evitamos a contradição entre a sua possibilidade e a sua existência. O ente infinito existe
e, portanto, é possível pensa-lo.

Não se trata de uma prova a prior no simples pensamento. Mas, partindo do entre finito
e considerando a possibilidade de Deus como ente infinito – aquilo de que não se pode
pensar nada de maior sem contradição – obtém-se a prova a posterior. Duns Scot passa
do ente finito para o ser infinito a posteriori considerando a efetividade do ente finito e
obter fundamento seguro e necessário para provar a possibilidade do ser incausado,
infinito em ato – a existência de Deus. Ele desenvolve a prova do ser infinito em
diversas etapas e demonstrações. Atenua o argumento de Anselmo. O ponto de partida é
o ente finito sob o aspecto metafísico. Na condição de finito do ente comum, pode-se
atribuir-lhe a efetividade. “A evidência da possibilidade real do ente finito demonstra a
possibilidade da existência do ente finito. Mas, se o ente infinito é possível, ou seja, se é
possível sem contradição, existe necessariamente”. (Tomatis, O argumento Ontológico,
p. 38). O ente efetível não pode auto efetuar. Ele não pode se tornar efetível por si
mesmo. A possibilidade real do ente finito, imediatamente evidente, aponta para a
possibilidade do ente que deve ser causa eficiente primeira – incausada e incausável. A
possível efetividade do ente finito demonstra a possibilidade da existência da causa
suprema incausável, final, do ente perfeitíssimo.

No ente infinito convivem perfeitamente intelecto e vontade, potencia, verdade, bem,


sabedoria e qualquer outra perfeição. A questão dos universais foi muito discutida
durante a escolástica. Discutia-se se as espécies (cão) e os gêneros (os animais) têm
existência real ou são apenas conceitos. Se os universais existem, eles são coisas
materiais ou não? Se eles são conceitos, existem apenas na mente ou também têm
existência de um modo independente? O debate em torno dos universais suscitou o
surgimento de quatro correntes:
184

a) Os realistas platônicos – diziam que os universais são realidades abstratas, que


existem em si mesmas, de um modo independente da mente;

b) Os realistas aristotélicos – afirmam que os universais são as formas que existem


apenas nas substâncias individuais, mas podem ser concebidas separadamente
pela mente;

c) Os conceptualistas – declaram que os universais são conceitos, entidades


mentais;

d) Os nominalistas – ensinavam que os universais são entidades linguísticas, sem


nenhuma realidade específica.

John Duns Scot identificava-se com o posicionamento dos realistas. Ainda hoje, um
pensador pode ser realista em matemática (considerando que os números e as formas
geométricas existem por si mesmos) e ser conceptualista em ética (alegando que os
valores são apenas ideias sem realidade própria).

3.6 – Tomás de Aquino (1221-1274)

Representa o apogeu da escolástica medieval. Conseguiu estabelecer o equilíbrio


nas relações entre fé e a razão, entre a teologia e a filosofia. Estabeleceu uma
distinção entre elas, mas não as separou. Ambas podem tratar do mesmo tema. A
filosofia emprega as luzes da razão natural, e a teologia se vale da luz da revelação
divina.

O pensamento de Tomás de Aquino é caracterizado pela presença marcante da filosofia


de Aristóteles. A integração entre Aristóteles e a fé cristã resultou na Suma Teológica,
sua obra mais importante.

A Igreja Romana e as universidades medievais estavam influenciadas pela tradição


agostiniana, marcada pela filosofia de Platão. Por isso, ofereceram certa resistência
inicial para conciliar a filosofia de Aristóteles com os dogmas da Igreja. Mas, com o
transcorrer do tempo, o pensamento de Tomás de Aquino veio a ser adotado como a
filosofia oficial da Igreja Romana. E a Suma Teológica foi considerada a expressão
mais elevada, promovendo a conciliação entre a fé e a razão.

“Se é correto que a verdade da fé cristã ultrapassa as capacidades da razão humana, nem
por isso os princípios naturalmente inatos à razão podem estar em contradição com esta
verdade sobrenatural.”

As verdades da razão e da revelação são distintas, mas não são opostas. A razão humana
é uma expressão imperfeita da razão divina, ficando-lhe subordinada. O conteúdo das
185

verdades reveladas está acima da capacidade da razão natural, mas nunca pode ser
contrário a ela.

Enquanto Agostinho cristianizou o pensamento de Platão, Tomás de Aquino


empreendeu a cristianização de Aristóteles.

“A tudo isso respondo que foi necessário, para a salvação do homem, uma doutrina
fundada na revelação divina, além das disciplinas filosóficas que são investigadas pela
razão humana. Primeiro, porque o homem está ordenado a Deus como a um fim que
ultrapassa a compreensão da razão”. Conforme afirmou Isaias 64.3: “fora de ti, ó Deus,
o olho não viu o que preparaste para os que te amam.” Ora, o homem deve conhecer o
fim ao qual deve ordenar as suas intenções e ações. Por isso se tornou necessário, para a
salvação dos homens, que lhes fossem dadas a conhecer, por revelação divina,
determinadas verdades que ultrapassam a razão humana.

Tomás de Aquino formulou a doutrina da natureza e da graça. Salientou que a natureza


e a graça não se contradizem. A graça não nega e nem substitui a natureza, mas a
completa. A natureza se realiza na sobrenatureza, que é a graça.

No paraíso, Adão recebeu o domum superadditum, o acréscimo de outro dom aos dons
naturais. Através do dom da graça, Adão podia permanecer unido a Deus. Tomás de
Aquino enunciou a existência de dois graus: o natural e o sobrenatural. Todo seu
pensamento corresponde a um sistema de graus.

O mesmo princípio é aplicado para a relação entre revelação divina e a razão humana. A
revelação não constrói a razão, mas a realiza. A razão é levada para além de si mesma,
mas não é destruída. A razão existe num determinado domínio. E a revelação atua num
outro onde complementa a razão. São duas formas: natureza e sobrenatureza. A Igreja
Católica defende esse supranaturalismo com todo o vigor.

4 – A Decadência da Escolástica

Do século XIV em diante, a escolástica sofre um processo de autoritarismo de nefastas


influencias no pensamento filosófico e científico. Posturas dogmáticas, contrárias à
reflexão, obstruem as pesquisas e a livre investigação. O principio da autoridade, ou
seja, a aceitação cega das afirmações contidas nos textos bíblicos e nos livros dos
grandes pensadores, sobretudo Aristóteles, impede qualquer inovação. É a obscura fase
do magister dixit, que significa “o mestre disse”...

O rigor do controle da Igreja se faz sentir nos julgamentos feitos pelo Santo Oficio
(Inquisição), órgão que examinava o caráter herético ou não das doutrinas.

Conforme o caso, as obras eram colocadas no Index, lista das obras proibidas. Se a
leitura fosse permitida, a obra recebia a chancela Nihil obstat (nada obsta), podendo ser
divulgada. Quando consideravam o caso muito grave, o próprio autor era julgado.
186

Foi trágico o desfecho do processo contra Giordano Bruno (séc. XVI), acusado de
panteísmo e queimado vivo por ter defendido com exaltação poética a doutrina da
infinidade do universo e por concebê-lo não como um sistema rígido de seres,
articulados em uma ordem dada desde a eternidade, mas como um conjunto que se
transforma continuamente.

Foi talvez a lembrança ainda recente desse acontecimento que tenha levado Galileu a
abjurar, temendo o mesmo destino de Bruno.

47 – ESCRAVISMO

1 – Introdução:

A história da escravidão no mundo é tão antiga quanto à própria humanidade. Porém a


forma mais comum de escravidão registrada historicamente tem origem a partir da
relação de forças entre conquistadores e conquistados, com os primeiros impondo
condição servil aos segundos. Povos inteiros eram submetidos à servidão por terem
sucumbido ao poder de um determina conquistador.

2 – História da Escravidão:

Há diversas ocorrências de escravatura sob diferentes formas ao longo da história,


praticada por civilizações distintas. No geral, a forma mais primária de escravatura se
deu na medida em que povos com interesses divergentes guerrearam, resultando em
prisioneiro de guerra. Apesar de na Antiguidade ter havido comércio escravagista, não
era necessariamente esse o fim reservado a esse tipo de espólio de guerra. Ademais,
algumas culturas com um forte senso patriarcal reservavam à mulher uma hierarquia
social semelhante ao do escravo, negando-lhe direitos básicos que constituiriam a noção
de cidadão.

3 – Escravidão no Império Britânico, na América e na Grã-Bretanha.

a) No Império Britânico:

Os escravos emanciparam-se em 1834 devido aos esforços incansaveis de homens como


William Wilbeforce e John Newton. Como ateu, Newton não tinha nenhum fundamento
moral sobre o qual basear sua oposição à escravidão. Ele se tornou um servo de um
navio de escravos e não recebeu tratamento melhor do que os escravos a quem servia.
Ele então tornou-se capitão do seu próprio navio de escravos. Depois de uma
tempestade violenta, John Newton experimentou a graça da fé cristã, levando-o a
repudiar a sua participação no comércio de escravos.
187

William Wilbeforce trabalhou incansavelmente para conseguir a abolição da escravatura


na Grã-Bretanha, desde 1787 até sua morte em 1833. Vários meses antes de sua morte,
ele presenciou a aprovação da Lei da Abolição da Escravatura pelo Parlamento
Britânico. o tráfico britânico de escravos finalmente terminou em grande parte devido à
infatigabilidade de Wilbeforce e Newton. Wilbefore tambem viveu uma vida cristã
ardente, evangélica e protestante, a qual começou apenas dois anos antes de dedicar sua
vida a abolição da escravatura. O filme “Jornada pela Liberdae”, lançado em fevereiro
de 2007, retrata as histórias desses dois homens cristãos.

b) Na América e na Grâ-Bretanha Colonial:

A escravidão na América e Grâ-Bretanha Colonial do século XVIII foi repleta de


racismo e abuso, mas no Israel do Antigo Testamento, o ingresso na escravidão
simplesmente, se tornou uma necessidade para alguns. Ninguém forçava ninguém a ser
escravo. O escravo assinava um contrato concordando em servir à familia do mestre por
um período de sete anos. No final deste tempo, a lei exigia o cancelamento do contrato.
Durante o período de emissão, o escravo gozava de todos os direitos de qualquer
membro da família, exceto do direito da herança. A analogia moderna mais próxima
seria a de uma babá. Um escravo certamente executaria tarefas muito mais árduas do
que leve trabalho doméstico requerido de uma babá, porém semelhantes relações
interpessoais se desenvolveriam.

4 – Escravidão Na Antiguidade:

A escravidão era uma situação aceita e logo se tornou essencial para a economia e para
a sociedade de todas as civilizações antigas, embora fosse um tipo de organização muito
pouco produtivo. A Mesopotâmia, a Índia, a China e os antigos Egípcios e Hebreus
utilizaram escravo. Na civilização Grega o trabalho escravo aconteceu na mais variada
sorte de funções, os escravos podiam ser domésticos, podiam trabalhar no campo, nas
minas, na força policial de arqueiros da cidade, podiam ser ourives, remadores de barco,
artesão etc. Para os gregos, tanto as mulheres como os escravos não possuíam direito de
voto. No entanto, o tipo de escravidão que se deu nas Américas, logo após seu
descobrimento por Cristóvão Colombo, em 1492, era praticamente inédito, baseado no
subjulgamento de uma raça, em razão da cor da pele.

5 – Escravidão Na América Pré-Colombiana:

Nas civilizações pré-colombianas (asteca, inca e maia) os escravos eram empregados na


agricultura e no exército. Entre os incas, os escravos recebiam uma propriedade rural, na
qual plantava para o sustento de suas famílias, reservando ao imperador uma parcela
maior da produção em relação aos cidadãos livres.
188

A Era Pré-colombiana incorpora todas as subdivisões periódicas na história e na pré-


história das Américas, antes do aparecimento dos europeus no continente americano,
abrangendo desde o povoamento original no Paleolítico superior à colonização europeia
durante a Idade Média.

Muitas civilizações nativas ao Continente estabeleceram no período Pré-conquista


características e marcas que incluíam assentamentos permanentes ou urbanos
agricultura, e arquitetura cívica, monumental e complexa hierarquia sociais.

Algumas dessas civilizações já tinham desaparecidas antes da primeira chegada


permanente dos europeus (c. final do século XV e inicio do século XVI), e são
conhecidas apenas através de pesquisas arqueológicas. Outras formas contemporâneas
com este período e também são conhecidos através de relatos históricos da época.
Algumas, como os maias, tinham seus próprios registros escritos. No entanto, a maioria
dos europeus da época viam esses textos como heréticos e muitos foram destruídos em
piras cristãs. Apenas alguns documentos secretos continuam intactos, deixando os
historiadores modernos, com lampejos dessas culturas e conhecimentos antigos.

Embora, tecnicamente referindo-se a era antes de viagens de Cristóvão Colombo em


1492-1504, na prática o termo inclui geralmente a história das culturas indígenas
americanas, até que serem conquistadas ou significativamente influenciadas pelos
europeus, mesmo que isso tenha acontecido décadas ou mesmo século depois do
desembarque inicial de Colombo. O termo Pré-Colombiano é frequentemente utilizado
especialmente no contexto das grandes civilizações indígenas das américas, como as da
Mesoamericanos (os olmecas, os toltecas, os teotihuacanos, os zapotecas, os mixtecas,
os astecas e o maias) e dos Andes (os incas, os moches, os chibchas, os cañaris).

De acordo com contas e documentos dos indígenas americanos e dos europeus, as


civilizações americanas no momento da colonização europeia possuíam muitas
realizações impressionantes. Por exemplo: os astecas construíram uma das cidades mais
impressionantes do mundo, Tenochtitlan, onde hoje está localizada na cidade do
México, com uma população estimada em 200.000 habitantes. Civilizações americanas
também exibiam realizações impressionantes em Astronomia e Matemática. Onde esses
povos persistiram as sociedades e culturas que são descendentes dessas civilizações
agora podem ser substancialmente diferente na forma original. No entanto, muitos
desses povos e seus descendentes ainda mantêm várias tradições e práticas que dizem
respeito aos tempos antigos, mesmo que combinados com culturas que foram mais
recentemente adotadas.

6 – Escravidão No Brasil:

6.1 – Introdução:

A escravidão no Brasil ocorreu entre os séculos XVI e XIX e foi uma forma de
exploração da força de trabalho de homens e mulheres africanos, sustentado pelo tráfico
189

negreiro pelo Oceano Atlântico. O processo de apresamento na África, seguido da


travessia do Oceano e a chegada em terras brasileiras foram bastante complexos. O
fluxo de africanos de diversas partes do Continente foi tanto que os escravizados
chegaram a compor 75% da população em lugares como o Recôncavo Baiano, por
exemplo.

a) Motivo da escravidão no Brasil

No Brasil a escravidão começou com os índios, mas como eles não se adaptavam ao
serviço braçal, os colonizadores recorreram aos “negros africanos”, que foram
utilizados nas minas e nas plantações: de dia fazia tarefas costumeiras, a noite
carregavam, trituravam e encaixotavam o açúcar. O comércio de escravo passou a ter
rotas intercontinentais, no momento em que os europeus começaram a colonizar os
outros continentes, no século XVI e, por exemplo, no caso das Américas, em que os
povos locais não se deixaram subjugar, foi necessário importar mão-de-obra,
principalmente da África. Nessa altura, muitos reinos africanos e árabes passaram a
capturar escravos para vender aos europeus. Em alguns territórios brasileiros, o índio
chegou a ser mais fundamental que o negro, como mão-de-obra. Em São Paulo, até o
final do século XVII, quase não se encontrava negros e os documentos da época que
usavam o termo “negro da terra” referiam-se na verdade aos índios.

Com o surgimento do Ideal Liberal e da Ciência Econômica na Europa, a escravatura


passou a ser considerada pouco produtiva e moralmente incorreta.

A escravatura em Portugal Continental foi proibida a 12 de fevereiro de 1761 pelo


Marquês de Pombal. Em 1850 foi feita, no Brasil, a Lei Eusébio de Queirós (2000) que
impunha punição aos traficantes de escravos, assim nenhum escravo mais entrava no
país.

Em 1871 foi feita a Lei do Ventre Livre que declarava livre os filhos de escravos
nascidos a partir daquele ano. Em 1885 a Lei dos Sexagenários, que concedia liberdade
aos maiores de 60 anos.

E mais tarde fez surgir o abolicionismo, em meados do século XIX. Em 1888, quando a
escravidão foi abolida no Brasil, ele era o único país ocidental que ainda mantinha a
escravidão legalizada. A Mauritânia foi, em 1981, o último país a abolir, na letra da lei,
a escravatura. A escravidão é pouco produtiva porque, como o escravo não tem
propriedade sobre sua própria produção, ele não é estimulado a produzir já que isto não
irá resultar em um incremento do bem estar material de si mesmo.

b) Tráfico de Escravo Pelo Atlântico:

Sobreviver foi uma tarefa difícil. As mortes eram constantes e a taxa de natalidade
muito baixa, por conta disso e pela pouca importância dada a reprodução, houve
necessidade constante de importar mão-de-obra, sustentando o tráfico atlântico. Este
figurou como atividade lucrativa para um grupo bastante fluente de traficantes.
190

É com a chegada dos portugueses na costa atlântica ao sul do Saara, no século XV que
as formas de comércio se modificam e o uso da violência passou a ser comum. Cerca de
4,5 milhões de africanos vieram para o Brasil. As plantations e os monopólios eram à
base da agricultura escravista e garantiram a escravidão como um negócio lucrativo.

O processo de escravidão começa no continente africano. O primeiro movimento era o


apresamento pelos traficantes, seguido de uma longa viagem pelo interior até a chegada
a costa atlântica. Esta viagem obrigava os cativos a percorrerem um longo caminho até
a chegada aos portos. Muitos deles não resistiam às doenças ou mesmo ao esforço
físico. Os que chegavam aos portos chegaram a esperar um longo tempo até que os
“navios negreiros” tivessem “carga” suficientemente lucrativa para fazer a travessia do
atlântico.

A travessia nos navios negreiros era marcada pela violência e pelas condições
insalubres. Antes de embarcar os homens e mulheres cativos eram marcados com ferro
– ou nas costas ou no peito – como forma de identificação do traficante a quem
pertenciam. Um único navio carregava cativos de diversos traficantes e locais de
origem. E assim os senhores os preferiam: trabalhadores de etnias e culturas diferentes,
pois dificultava a comunicação e prevenia a formação de rebeliões e motins.

Entre os séculos XVI e XVIII as caravelas portuguesas tinham capacidade de


transportar aproximadamente 500 cativos por viagem. Já os navios a vapor faziam o
transporte de aproximadamente 350 escravos, já no século XIX, quando, aos poucos, a
escravidão foi sendo abolida em diversas nações do mundo, num processo iniciado pela
Inglaterra.

A viagem nos navios tinha como dieta básica o azeite e o milho e, por conta desta
alimentação pobre em vitaminas, especialmente a vitamina C, muitos escravizados
chegavam com “escorbuto”, doença bastante comum neste contexto. O fim da travessia
se dava com a chegada aos portos brasileiros como os de Recife, Salvador, Rio de
Janeiro, Fortaleza, São Luís e Belém. Os principais portos à época eram os de Salvador
e Recife, mas, após a descoberta do ouro na região de Minas Gerais o porto do Rio de
Janeiro ganha destaque e passa a receber um número cada vez maior de cativos.

c) Chegada ao Brasil

A chegada era marcada, inicialmente, pela burocracia. Classificados por sexo e idade,
posteriormente eram enviados para o local onde se faziam os leilões de escravos, que
poderia ser já na alfândega ou nos armazéns próximos à região portuária.

Como chegavam bastante debilitados: doenças, feridas na pele, com vermes e


escorbutos e com pouco peso era preciso valorizar a “mercadoria” e para venda os
cativos eram limpos, tinham os cabelos e barbas cortados, e passavam óleo na sua pele.
Neste momento recebiam uma alimentação mais cuidadosa para melhorar o aspecto. Já
191

para esconder a aparência depressiva – chamada de banzo – causada pela exploração e


imigração forçada os cativos recebiam produtos estimulantes como tabaco.

Além da vendo in loco os homens e mulheres escravizadas eram anunciadas nos jornais.
Ao buscar os periódicos do período este tipo de anúncio é facilmente encontrado. Postos
à venda a partir do seu sexo, idade e etnia a preferência se dava por homens adultos – os
mais caros. A venda envolvia garantias: caso o cativo apresentasse alguma doença ou
debilidade física nos quinze dias sequentes à venda podia ser devolvido.

d) Locais de Aplicação da Mão-de-obra Escrava

Aqui os escravizados foram destinados ao trabalho nos latifúndios de cana de açúcar,


nas minas de ouro e diamantes, nas fazendas de café ou mesmo no trabalho doméstico
ao longo dos séculos XVI ao XIX. O comércio de homens e mulheres africanos
ocasionou na morte e no sofrimento de milhões de pessoas.

Havia distinção entre os cativos domésticos e os do campo. Os destinados às casas


grandes viviam uma vida mais próxima dos senhores, e conheciam a fundo seu
cotidiano. Por isso mesmo houve uma delimitação bastante evidente nas casas entre as
áreas sociais e de serviço, presente até hoje nos elevadores de edifícios separados entre
o social e o de serviço, que servem para demarcar os lugares sociais de patrões e
empregados. Já os escravizados destinados ao trabalho no campo levavam uma vida
mais sacrificada, embora ambas as formas de trabalho fossem forçadas e de exploração.

A escravidão foi um processo de extrema violência. A monocultura necessitava de um


grande número de trabalhadores que eram submetidos a uma rotina de trabalho difícil,
pesada, sem lucros para cativos, força de trabalho da produção latifundiária. O trabalho
era intenso e o próprio cotidiano nos engenhos, nas fazendas ou nas minas, já
representava uma violência impactante.

Os escravizados eram assombrados pela presença dos castigos físicos e das punições
públicas. Várias foram as formas de humilhação. O tronco, o açoite, as humilhações, o
uso de ganchos no pescoço ou as correntes presas no chão representavam a violência a
que eram submetidos os cativos. A escravidão é um sistema que só funciona com a
presença da violência.

Ainda assim é preciso destacar o papel importante das revoltas e das rebeliões, formas
de resistência à exploração imposta, como experiência dos quilombos – como o de
Palmares – e as diversas táticas praticadas para fugir da violência injusta. Homens e
mulheres cativos não foram passivos ao sistema a que foram submetidos reagindo da
mais variadas formas.

7 – Escravidão Na Bíblia

7.1 – Introdução:
192

Uma das razões pela qual você parece desacreditar o Cristianismo é por causa da
existência da escravidão na Bíblia. A escravidão tem existido praticamente por toda a
extensão da história humana. Costumes culturais não têm permanecido estagnados ao
longo dos séculos, e atitudes em relação à escravidão mudaram junto com eles.
Movimentos abolicionistas eram raros antes do século XVIII.

Muitas pessoas ficam chocadas ao descobrir inúmeras passagens no Antigo Testamento


que demonstram a aprovação divina para a prática da escravidão no território de
Israel. O que nós nos esquecemos de constantemente é que a Bíblia não foi escrita no
Brasil, nem em português. Além de ter sido escrita há milênios, ela foi produzida num
outra cultura. Se quisermos ver sentido em alguma de suas práticas, não devemos
compará-la com nossa cultura ocidental, mas sim, com a vida e costumes dos habitantes
do Oriente Médio, na época em que os livros sagrados foram produzidos. Abaixo, você
terá um breve resumo da legislação bíblica sobre a escravidão e uma rápida comparação
de como outros povos via essa prática.

1 – Encontramos a primeiro e mais notável exceção registrada no livro do Êxodo do


Antigo Testamento. As leis do Antigo Testamento ajudaram a determinar o tratamento
humano dos escravos. No entanto, no Egito os israelitas serviram principalmente como
construtores de tijolos e estavam sujeitos às condições severas. Moisés libertou da
escravidão no Egito, cerca de 600.000 mil homens israelitas e suas famílias.

2 – A leitura de Êxodo 21.7-11, leva a crer que “todo homem é livre para vender sua
filha como escrava sexual – embora certas sutilezas se apliquem. Exemplo:

“Se um homem vender a sua filha como escrava, ela não será liberta como os escravos
homens. Se ela não agradar ao seu senhor que a escolheu, ele deverá permitir que ela
seja resgatada. Não poderá vende-la a estrangeiros, pois isso seria deslealdade para com
ela. Se o seu senhor a escolher para seu filho, lhe dará os direitos de uma filha. Se o
senhor tomar uma segunda mulher, não poderá privar a primeira de alimentos, do
roupas e de direitos conjugais. Se não lhe garantir essas três coisas, ela poderá ir embora
sem precisar pagar nada (Ex 21.7-11).

3 – Nos dias do Antigo Testamento, quando um homem vendia sua filha como uma
escrava, ele permitia a sua entrada na aliança matrimonial que ela aprovasse. Um
homem ou sua família normalmente iniciava a sequência de passos que levavam ao
casamento. O costume do Antigo Testamento incluía o novo o marido ou sua família
oferecendo um preço de nova ao pai da noiva. Nem sempre um pagamento monetário,
isto pode ter sido um presente ou algo considerado valioso. A passagem acima não
oferece apenas sutilezas aplicáveis, mas provê leis para proteger as mulheres que entram
no casamento desta forma.

4 – como exemplo de uma família que incluía novas servas, vamos considerar o lar de
Jacó: Jacó teve doze filhos cujos descendentes dera origem às doze tribos de Israel:
Rubem, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulom, Dã, Naftali, Gade, Aser, José e
Benjamim. Jacó se apaixona por Raquel e desejou casar-se com ela. Jacó, em seguida
193

reuniu-se com o pai dela, Labão, e ofereceu tornar-se um escravo durante sete anos a
fim de ganhar a mão de Raquel em casamento. Infelizmente para Jacó, o costume no
país de Labão era que a primogênita deveria casar-se primeira. Depois de sete anos,
Jacó recebe Lia em casamento, ao invés de Raquel, o que muito o irritou. Labão
concordou em permitir que Jacó casasse com Raquel após a semana nupcial de Lia, em
troca de mais sete anos de trabalho. Gravemente apaixonado, Jacó continuou como
escravo de Labão por outros sete anos para ganhar a mão de sua amada Raquel. Então,
Jacó e Raquel também se casaram e expandiram a família que Jacó já tinha começado
com Lia. Tanto Lia como Raquel tiveram servas que também se juntaram à família de
Jacó. Essas servas Zilpa e Bila tornaram-se esposas servas de Jacó por seu acordo
mútuo com Lia e Raquel. Enquanto Lia deu a Jacó seis filhos, cada uma de suas outras
três esposas lhe deram dois filhos. Lia também teve uma filha, Diná.

Encontram este relato em Gênesis 29 e 30. Jacó tratava suas esposas Lia e Raquel, e as
esposas servas Zilpa e Bila, de forma justa e equitativa. Jacó, suas esposas e seus filhos
viveram e viajaram juntos com uma família depois que Jacó terminou o seu contrato
com Labão.

8 – história da Escravidão Bíblica

8.1 – Introdução:

A escravidão foi a primeira lei que Deus deu aos israelitas quando eles saíram do Egito
(cf. Ex. 21.1-11). Na lei mosaica, sequestrar alguém para ser vendido como escravo era
crime punido com pena capital (Ex. 21.16).

Um escravo hebreu deveria trabalhar apenas seis anos para pagar a sua dívida, sendo
libertado ao sétimo ano, sem pagar nada (Ex.21.1). Além disso, ele deveria receber de
seu proprietário alguns animais e alimentos para recomeçar a vida (Dt. 15.13,14).
Durante seu período de serviço, o (a) escravo (a) teria um dia de folga semanal, o
sábado (Ex. 20.10). é interessante notar que na versão dos dez mandamentos de
Deuteronômio 5, é dito que o sábado foi dado para que o servo e a serva “descansem
como tu”, no caso o patrão.

Notou alguma diferença da escravidão bíblica e aquela mantida em nosso país, há


alguns séculos? A diferença também é significativa quando comparamos essas
passagens bíblicas com o código de Hamurabi, rei de Babilônia no décimo oitavo século
a.C. Se algum escravo fugisse, ele deveria ser morto; enquanto isso, em Israel esse
escravo deveria ser protegido (Dt. 23.15,16).

Proteger um escravo fugitivo, em Babilônia, era uma grande ofensa, também punido
com a morte, como evidenciado nas leis 15-20 do referido código. Antes desse rei, que
viveu em torno de 1750 a.C., entre os sumérios, o termo arad (escravo, servo) era
considerado como um objeto e era referido através de um pronome usado para descrever
coisas (p.ex. como o uso do it, em inglês).
194

Alguém pode questionar o motivo pelo qual Deus não aboliu a escravidão entre os
israelitas. Lembre-se de que eles estavam inseridos numa cultura impregnada dessa
prática. Mesmo que Deus abolisse, isso não mudaria a forma como eles pensavam. A
título de ilustração, imagine o árduo processo cultural para tornar a Arábia Saudita em
uma democracia. Mesmo que essa mudança fosse feita, ainda levaria um bom tempo até
que a mentalidade da nação fosse mudada. Deus humanizou essa prática em Israel. Em
lugar algum do antigo Oriente Médio encontraremos escravo e senhor em pé de
igualdade (cf. Jó 3l.13-15).

48 – ESPIRITISMO

1 - Introdução:

Doutrina codificada em 1857m em o Livro dos Espíritos, pelo pedagogo francês Allan
Kardec (1804-1869). Seus adeptos acreditam no retorno do espírito à Terra, em
sucessivas encarnações, até chegar à perfeição, e creem na possibilidade de
comunicação entre vivos e mortos, que pode ocorrer de várias formas, como por
mensagens escritas (psicografadas) ou faladas (psicofônicas). A religião prega a
caridade e o amor ao próximo como meio de atingir a maturidade espiritual. Chega ao
Brasil em meados do século XIX e seu principal nome foi o mediúm Chico Xavier
(1910-2002).

Livro e mais livros têm sido escrito sobre o espiritismo nos seus diversos aspextos. O
povo evangélico brasileiro, particularmente, dispõe de algumas obras significantes
quanto a história, doutrinas e refutações bíblicas no que se refere a essa seita-religião
que de acordo com as denominações que recebe, mostra a manifestação de satanás no
meio do “seu povo”.

A palavra espírito vem do grego, “pneuma” sopro, exaltação, sopro vital, espírito. O
sufixo grego “ismós” indica doutrina filosófica religiosa, daí, espiritismo.

2 – A doutrina espírita universal resume-se em cinco pontos básicos que servem de


ponto de partida para as demais doutrinas:

a) Existência de Deus – Inteligência cósmica responsável pela criação e


manutenção do Universo;

b) Existência do Espírito – ou alma, envolvido pelo perispírito, conservando a


memória mesmo após a morte e assegurando identidade individual a cada
pessoa;
195

c) Lei da Reencarnação – Pela qual, todas as criaturas, sucessivamente, vão


evoluindo ao plano intelectual e moral, enquanto expiam os erros do passado;

d) Lei da Pluralidade de Mundos – A existência de vários planos habitados que


oferecem um âmbito universal para a evolução do espírito;

e) Lei do Carma – ou da casualidade moral, pela qual se interligam as vidas


sucessivas do espírito, dando-lhe destino condizente aos seus atos praticados.

3 – Histórico:

A primeira sessão espírita teve lugar no Éden, onde a serpente serviu de médium,
satanás de guia e Eva de assistente. Até hoje, as sessões espíritas são feitas com esses
elementos: os médiuns, os demônios ou guias e os assistentes.

Desde a queda do homem no Éden, o espiritismo passou a ser praticado. Em


determinadas épocas com mais intensidade do que em outras, porém o diabo nunca
deixou o homem, seu fiel “cavalo”.

É claro, que não podendo comungar com Deus e os anjos, por ter sido lançado do céu,
nem com os homens, por terem estes corpos físicos, o diabo e seus anjos só podem
viver no espaço, entre o céu e a terra, que aliás, Deus não achou bom ao criar, visto estar
reservado para a habitação dos seres decaídos.

Como é impossível a Satanás a comunhão com Deus, o astuto anjo decaído, juntamente
com seus seguidores, procura habitar entre os homens e o faz através de encarnações
mediúnicas, encostos ou usando outros métodos como: “protegendo”, “ajudando” etc.

Querem estes seres, o poder da expressão; daí usarem preferivelmente o homem de que
usam as faculdades para mesmo que disfarçadamente o levar ao afastamento de Deus e
à destruição. São inimigos de Deus, rebeldes e predestinados para o lago de fogo, para
onde não querem ir sozinhos.

Entre os cananeus e os egípcios era comum a prática da feitiçaria. Os gregos tinham o


costume de consultar oráculos. Pitágoras, que viveu de 580 a 500 a.C. cria na
transmigração das almas (metempsicose). Entre outras afirmações de Pitágoras
encontramos a que diz que os astros são deuses.

Entre os romanos era comum a prática de consultar os mortos. As Sibilas, lendárias


sacerdotisas de Apolo, viviam na Sicília e eram médium que adivinhavam ou prediziam
o futuro. O próprio Alexandre, o Magno, consultou uma dessas sacerdotisas, após o quê
partiu para a conquista do mundo.

Na Idade Média houve uma verdadeira praga de feiticeiros, bruxas, endemoniados


famosos etc. a Igreja Católica queimou centenas deles na fogueira da Inquisição.
196

4 – O Espiritismo Moderno:

O espiritismo moderno é o desenvolvimento das práticas espíritas antigas. Franz Anton


Mesmer, médico alemão, uma curiosa mistura de gênio. Pesquisador e charlatão
assombrou a Europa com seus prodígios na prática do espiritismo e hipnotismo. Achava
que os astros eram responsáveis pelas doenças e começou suas experiências em 1774.

Swedemborg, contemporâneo de Mesmer, era um filósofo místico que dizia ter recebido
de Deus poder para explicar as Escrituras (como Allan Kardec) e comunicar-se com o
outro mundo.

As americanas Magie e Katie Fox deram início definitivo ao espiritismo moderno, em


Hydesville no Estado de Nova Iorque em 1848. O espírito de Charles Rosna,
assassinado com a idade de trinta e um anos, começou a se comunicar com essas irmãs
através de estalidos de dedos e pancadas. Porções de esqueleto humano foram realmente
encontradas na adega, o que deu ao fato divulgação tão grande que atraiu pessoas de
todas as camadas sociais. Ao que tudo indica, mais tarde, as irmãs Fox desfizeram as
crenças que havia difundido, contando suas fraudes.

As práticas espíritas eram chamadas antigamente, como podemos notar nas páginas das
Escrituras, de necromancia ou magia. Seus praticantes eram chamados de: magos,
pitonisas, adivinhos, bruxas, feiticeiros etc. os centros, tendas ou terreiros eram
chamados oráculos, cavernas ou antros.

Hoje, dependendo do ramo a que pertencem, os nomes são diversos. Desde o Vodu até
o “alto” espiritismo, a essência é a mesma. Através dos tempos, têm sido redutos do
espiritismo, a china, a índia, o Tibete, o Haiti, a África, o Brasil e os povos indígenas
em geral. O Brasil é hoje o líder mundial do espiritismo que tem seu foco principal no
Estado do Rio de Janeiro. Em uma estatística publicada em uma de nossas revistas,
afirmava-se que 70% dos católicos brasileiros são frequentadores de centros espíritas.

5 – Divisão do Espiritismo:

Podemos, para efeito de estudo, dividir o espiritismo, da seguinte forma: Espiritismo


Comum; Baixo Espiritismo; Espiritismo Científico; Espiritismo Kardecista.

1 – Espiritismo Comum – quiromancia, cartomancia, grafologia (um ramo),


hidromancia, astrologia etc.

2 – Baixo Espiritismo – Espiritismo pagão, inculto, sem disfarce...Encontramos nessa


classificação: vodu, candomblé, Umbanda, Quimbanda, Macumba (sem formas nem
doutrinas), e outras manifestações.

3 – espiritismo científico – também chamado alto espiritismo, espiritismo ortodoxo,


espiritismo profissional ou espiritualismo.
197

Aqui, encontramos inclusive “sociedades” que se dizem filosóficas, teológicas,


científicas ou beneficentes. Satanás coloca nomes bonitos, que apelam na maioria das
vezes para o intelecto. Pura farsa... Normalmente suas doutrinas são diferentes das de
Allan Kardec.

Ecletismo, esoterismo, LBV, teosofismo, Rosacrucianismo e outros “ismos” que fazem


parte de uma lista imensa que poderíamos fazer também se enquadram nessa
classificação.

4 – Kardecista – o espiritismo praticado no Brasil. tem como base as obras de Allan


Kardec, o codificador das crenças espíritas.

Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869) tomou o pseudônimo de Allan Kardec,


porque acreditava ser ele a reencarnação de um poeta celta com esse nome. Começou
seu movimento em 30 de abril de 1856, na França, onde depois de abandonar a
medicina e a Igreja católica, passou a escrever as obras que o tornaram a figura principal
do espiritismo moderno. Entro outros livros, escreveu: O Evangelho Segundo o
Espiritismo. O Livro dos Médiuns. O Céu e o Inferno e Gênesis.

De uma ou de outra forma, o espiritismo tem se alastrado em todo o mundo e torna-se


uma ameaça terrível à humanidade. Deus, felizmente, nos últimos tempos, tem
levantado o Seu povo para lutar contra as investidas satânicas.

6 – As Principais Teses do Espiritismo Brasileiro.

 Possibilidade e conveniência de comunicações com entidades espirituais


desencarnadas;

 Crença na reencarnação;

 Crença na “lei da causa e do efeito”. Não podemos escapar às consequências de


nossos atos;

 Crença na pluralidade de mundos habitados. A terra é considerada um planeta de


expiação. Seus habitantes são espíritos exilados de outro planeta, que Francisco
Cândido Xavier chama de Cabra ou Capela;

 Não há distinção entre o natural e o sobrenatural, nem entre religião e ciência.


Não há graça. O progresso relativo dos indivíduos depende exclusivamente do
mérito pessoal acumulado nesta e em encarnações posteriores;
198

 A caridade é a virtude principal – talvez a única – e se aplica tanto aos vivos


como aos mortos (desencarnados);

 Deus, embora existente, é por demais longínquos e se perde na distancia


incomensurável de um ponto espiritual que mal podemos vislumbrar;

 Mais próximos estão os “guias” (espíritos que se incorporam nos médiuns),


importantes no culto espírita, e que nos ajudam por amor. Também existem os
maus e por estes, os vivos é que precisam fazer caridade;

 Jesus Cristo é visto como a grande entidade encarnada – a maior que já apareceu
no mundo. O Evangelho foi reinterpretado, segundo o espiritismo, no famoso
livro de Allan Kardec – o Evangelho Segundo o Espiritismo.

7 – Doutrinas Espíritas.

Algumas:

 A Reencarnação – classificam os espíritos, de um modo geral, em quatro


categorias: imperfeitos, bons, superiores e puros.

 Salvação – creem que se aperfeiçoam pela evolução espiritual através do


sofrimento e pela prática de Boas Obras.

 Existência de diferentes mundos – para habitação dos espíritos em vários


estágios de evolução espiritual. Usam João 14.2, onde Jesus diz que na casa do
Pai há muitas moradas, como base bíblica para essa doutrina.

 Fora da caridade não há salvação.

 Deus existe, mas está longe demais e só se manifesta por meio de intermediários
– os guias.
 Jesus é um homem que alcançou grande desenvolvimento espiritual.

 O espiritismo julga ser, ele próprio, a “terceira revelação”, pretendendo ser o


Espírito Santo prometido por Jesus. Afirma que a primeira revelação veio
através de Moisés, a segunda, através de Jesus, a terceira é o espiritismo, que
complementa a segunda.
199

 Nega a existência do céu, inferno, condenação eterna e, sobretudo do diabo.

 O espiritismo nega todas as doutrinas básicas da fé cristã.

Entre as seitas ou sociedades secretas ligadas ao Espiritismo, bem como certas práticas,
temos ainda: o Ioguismo, o Faquirismo, o Manuseio de Serpentes, o Culto ao Mago
Abramelim, o Culto das Bruxas, o Culto do Pavão, o Culto aos discos voadores, culto
aos duendes e fadas etc.

8 – Cultos Espíritas.

1 – Umbanda:

A umbanda é um misto de espiritismo kardecista, catolicismo, budismo e mediunismo.


Não tem um corpo de doutrinas definido e está se estabelecendo rapidamente no Brasil.
Os terreiros de Umbanda aparecem da noite para o dia, principalmente nos bairros mais
pobres das cidades praticando a feitiçaria e prometendo resolver os problemas dos
necessitados.

A palavra Umbanda quer dizer “do lado de Deus, ou do bem”. Essencialmente é religião
de magia e feitiçaria, politeísta, fetichistas e mitológicas, muito semelhantes ao
candomblé.

A tônica da Umbanda é a adoração e subserviência aos orixás (deuses) que aparecem


sempre como forças divinizadas da natureza que se incorporam no médium “evoluído”
para fazerem o bem. Quanto aos Exus (espíritos opressores ou obsessores), é
representado em sua maioria por forças negativas representativas de tudo o que não é
bom, como por exemplo: adultério, prostituição, pederastia, contendas, morte, maldade
etc. são estes últimos, os frequentadores de encruzilhadas, cemitérios, florestas,
pântanos e coisas desse jaez.

O orixá é adorado, servido e motivo de orgulho para o médium (ou cavalo). A ele se faz
oferendas e para ele, banhos de purificação ou preparação do ambiente (casa ou terreiro)
com incenso ou perfumes.

O exu é evitado. Quando em uma sessão se incorpora, é logo afastado, muitas vezes
depois de ser doutrinado. Em alguns terreiros aconselha-se fazer-lhe oferendas para que
se afaste, em outros essa oferenda é feita para cobrir outra que já lhe foi feita e coloca-lo
assim ao serviço do último ofertante.

Tipos de Reuniões:

a) Linha Branca – muitas vezes se apresenta como Centro de Mesa. O dirigente


fica sentado a uma mesa tendo ao redor os médiuns. Quase sempre usam o nome
de Jesus para dar abertura à reunião. Algumas mesas têm perfumes e flores; em
raros casos também aparecem às velas.
200

Os médiuns concentram-se e sob sons de cânticos os pretos velhos e os caboclos


se manifestam. De uma maneira geral não incorporam orixás para que não se
misturem com os antepassados. Nesse tipo de reunião, podem-se consultar
espíritos de pessoas que morreram recentemente.

b) Terreiro – O Pai ou mãe de santo, normalmente vestido de branco, dirige a


“gira” ao som de palmas e pontos. Todos se vestem de branco ou com a roupa
preferida do seu guia e dançam sob o batuque do “atabaque” (espécie de tambor
sagrado).

À medida que as entidades vão se incorporando, os médiuns vão “prestando a


caridade” aos assistentes. A cada reunião a evolução do médium é observada.
Chegar a Pai de santo ou mãe de santo é o ideal da maioria deles. Dizemos da
maioria, porque muitos estão ali forçados por um problema ou uma doença.
Nesses casos, após uma consulta, lhes foi dito que precisavam desenvolver que o
mal era espiritual etc. Dessa maneira muitos crédulos têm se deixado arrastar
para as teias malignas do Espiritismo.

Explicações, passes e bênçãos são dados aos interesseiros que se dirigem às


reuniões nas horas de dificuldades. O “você precisa desenvolver” é muito
comum, entretanto, depois de resolvido o problema a maioria não volta mais, até
outra necessidade.

2 – Quimbanda:

Umbanda e Quimbanda são semelhantes. É muito comum a realização de


sessões de quimbanda nos terreiros de umbanda. Embora sejam semelhantes não
são iguais; embora usem frequentemente os mesmos pontos e invoquem as
mesmas entidades, há grande rivalidade, pelo menos teóricas entre as duas.
Somente quem já viveu nesse ambiente e participou de suas reuniões pode
compreender exatamente a diferença existente. Na maioria das vezes nem os
próprios “pais ou mães” de santos compreendem perfeitamente o limite entre um
e outro culto.

A dificuldade existe por causa do grande sincronismo que existe entre as duas
formas de espiritismo. Na maioria dos terreiros, vê-se uma mistura dos dois
cultos, entretanto, analisando basicamente cada uma delas, podemos notar as
tendências de cada terreiro.

a) A umbanda dedica-se à prática do bem, embora algumas vezes faça o mal a


alguma pessoa;

b) A quimbanda preocupa-se muito mais em fazer o mal, atendendo


solicitações de seus adeptos ou admiradores;
201

c) Uma das práticas mais comuns na Umbanda, é desfazer o trabalho ruim,


normalmente feito pelos adeptos da quimbanda;

d) Na quimbanda, uma das práticas mais comuns é reforçar ou fazer um


trabalho maior do que foi feito na Umbanda no intuito de agradar mais aos
exus para obter seus favores, para o bem ou para o mal;

e) Na umbanda, as flores, velas, perfumes e enfeites predominam nas


oferendas;

f) Na quimbanda, a predominância está no sangue, no sacrifício de animais;

g) Na umbanda, as cores brancas e azuis são as preferidas;

h) Na quimbanda, o preto e o vermelho predominam;

i) A umbanda se divide em sete linhas (agrupamentos de espíritos que


trabalham nas macumbas), que se divide em sete falanges, que por sua vez se
subdividem em falanges pequenas. Cada falange pequena se divide ainda em
sete grupos etc. cada linha é chefiada por um orixá (caboclos com nomes de
santos. Até o nome de Jesus entra nessa...) e cada falange, por um ogum
(espírito de índios que têm a finalidade de fazerem o trabalho de demanda);

j) A quimbanda tem a mesma divisão sistemática da umbanda, sendo que os


chefes das linhas e falanges são Exus. Exu é uma divindade diabólica na
mitologia africana, o mesmo que diabo ou espírito maligno, que segundo
eles, também fazem o bem...;

k) Frase comum na umbanda: “Deus é pai de todos...”;

l) Frase comum na quimbanda: “Deus é bom, mas o diabo não é mau”.

3 – Candomblé:

Candomblé é um culto fetichista semelhante a quimbanda. Talvez o leitor esteja se


perguntando: mas se a umbanda é semelhante à quimbanda e se a quimbanda é
semelhante ao Candomblé, todos então são semelhantes? Sim, todos são semelhantes,
mas não iguais, conforme já vimos na comparação entre umbanda e quimbanda.
202

3.1 – O Ocultismo

O ocultismo no candomblé é segredo mesmo para aqueles que o praticam. Praticamente


não existem livros sobre o candomblé, suas doutrinas, seus rituais e sua prática. O que
se sabe a seu respeito, são declarações de pessoas que saíram daquele lamaçal e
entregaram suas vidas ao Senhor Jesus Cristo. Acontecem coisas no Candomblé que se
fossem publicadas, a polícia e até mesmo organizações que lutam pelos direitos
humanos tomariam providências a respeito.

Para se tiver uma ideia da diferença entre o candomblé e a umbanda e quimbanda


podem anotar o seguinte:

1. O sangue do candomblé é verde. Seu segredo baseia-se nas folhas e ervas


que usam nos trabalhos. Umas se destinam a fazer as mal, outras o bem.
A maioria delas vem da África, por contrabando.

2. O umbandista, achado o “orixá” poderoso demais para ser facilmente


invocado, chama espíritos desencarnados e espíritos menores para os
representarem. O quimbandista adora ao Exu, ao próprio satanás, a quem
faz oferendas, embora creiam também nos orixás. O candomblecista tem
os orixás como deuses ou espírito bons, suplicados para o cliente
conseguir favores. Fazem-se sacrifícios e oferendas aos exus, mas
somente para afastá-los.

3. O candomblé não invoca “pretos velhos” ou “almas”, pois como já


dissemos, os orixás constituem sua principal veneração.

4. Mistura de ervas com pós, terra de lugares santos, pedras e coisas desse
tipo são feitas para a obtenção de várias finalidades; pó do amor; bebida
para fechar o corpo; pó da sedução; banhos para afastarem mal olhado,
inveja ou para receberem benefícios, são receitados por suas mães de
todos os santos ou babás. É claro que por trás disso tudo existe um
grande comércio de bugigangas na exploração da ingênua fé do povo.

5. O candomblé, em cerimônias como o ossê (purificação) Bori (expiação)


ota (sacrifício) ofertas das primícias, proibições de comer certas comidas
e limpeza do acampamento, é uma manifestação denominada de práticas
do Antigo Testamento para enganar o povo.

6. No candomblé, o âmago dos sacrifícios são as pedras que representam


deuses e que após uma obrigação de sangue são batizadas com nome do
respectivo orixá.
203

7. Por trás dos sacrifícios sangrentos do candomblé, das oferendas de


comida e dos banhos, há um poder maligno que quer controlar e destruir
a vida de seus seguidores.

8. A prática de “fazer cabeça” é uma maneira de se vender a alma ao orixá.


É uma chantagem diabólica que obriga a pessoa a renunciar, enquanto
vive a sua própria salvação. Daí os adeptos do Candomblé julgarem que
nunca mais o poderão deixar. Para estes, é boa essa palavra de Jesus.

4 – Macumba:

O termo é genérico e comumente empregado em relação a umbanda. Quimbanda,


candomblé, vodu, bem como aos seus rituais ou oferendas. É chamado candomblé
(Bahia); tambor-de-mina, tambor-crioulo (Maranhão); xangô (Pernambuco, Alagoas);
babaçuê (Pará); Curimba etc.

Os espíritos praticantes de qualquer dos cultos acima citados, preferem considerar a


macumba como uma forma profana e liberal na pratica do mediunismo.

De modo geral, pode-se considerar como Macumba, o culto fetichista, de origem


africana e de pratica popular, sem normas, formas. Doutrinas ou proibições.

Acontece de tudo nos terreiros de macumba. Há uma mistura de orixás, exus, preto-
velho, almas desencarnadas, espíritos de luz etc. de acordo com cada terreiro, são
aceitos ou rejeitados ou comungam da mesma maneira todos os espíritos.

Quanto aos rituais, assimilam dos demais cultos espíritas as suas práticas, porém sem
nenhum compromisso sério. Fazem de tudo. No rio de Janeiro, principalmente na
Baixada Fluminense e em São Paulo, na chamada Periferia, esses terreiros são muito
comuns. É claro que as tendências de cada terreiro estão de acordo com os princípios do
pai ou mãe de santo que os dirige.

A prática desse culto, como os demais cultos africanos, começou aqui no Brasil com os
escravos africanos. Após a Lei Áurea, continuaram a praticar o culto que foi aos poucos
angariando adeptos, principalmente dentre os pobres e favelados.

Hoje, pode-se ver muita “gente boa” nessas reuniões. Filas de carros se fazem defronte
dos terreiros de macumba, oriundos de todas as partes da cidade. É comum observar-se
com tristeza, dentre os praticantes, inclusive, muitas crianças, às vezes de colo...

 As Sessões de Macumba

As sessões são também chamadas giras ou engiras e de um modo geral seguem a


seguinte ordem:
204

1. Limpeza espiritual do terreiro com defumador. O cambono (auxiliar)


defuma primeiramente médium por médium, depois o terreiro e às vezes
também os assistentes. Chamam a isso de “descarga”.

2. Cumprimentos pelos médiuns aos babalaô (chefe do terreiro) e aos


atabaques (homens que tocam um tambor com esse nome).

3. O ogã (elemento que puxa o ponto) inicia os cânticos de pontos com os


quais saúdam os orixás.

4. Prece de abertura onde oxalá (Jesus) e os orixás dão licença para a


realização da sessão.

5. Ponto para despachar o exu (satanás) e chamada dos guias. Há terreiros


que realizam sessões separadas para caboclos, orixás e exus, estes
últimos normalmente têm sessão às sextas-feiras à meia-noite.

6. Manifestações de guias, danças, passes, consultas, brincadeiras etc.

 Oferendas

Na macumba, o “guia” exige oferendas. Marca dia e hora e local para que ela seja
entregue e costuma se manifestar na hora em que o macumbeiro a coloca no lugar
indicado.

A isto se chama também obrigação, que serve para atender um pedido ou uma paga em
favor de algo recebido. Também faz parte da comunhão entre o médium e seu guia.

Essas oferendas são compostas de elementos de acordo com a vontade de cada “guia”.
Farofa, pipoca, cachaça ou outras bebidas costumam ser comuns.

 Descargas

Os macumbeiros chamam de descarga ao que imaginam ser o afastamento de más


influências. Elas podem ser feitas com defumações, banhos, riscos, ou com a entrega de
oferendas que normalmente são feitas nas matas, no mar, nos rios, em cemitérios ou
encruzilhadas. A pólvora também costuma ser usada para as “descargas mais pesadas”.

 O grande segredo do Espiritismo

O grande segredo do espiritismo, nas suas diversas formas, é abrir a vida às forças do
inferno e ficar escravo dos espíritos, pagando um preço incrível pelos favores que o
diabo presta.
205

 – Kardecismo:

O espiritismo kardecista está apoiado nos princípios de Allan Kardec. Seus praticantes
costumam dizer que são os verdadeiros espíritas, sendo que os demais são espiritistas ou
mediunistas.

Como já afirmamos várias vezes, a essência é a mesma. É certo que existe uma grande
influência dos ensinos de Jesus na doutrina de Kardec. Este, chegou a escreveu o livro
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, afirmando ser este ditado pelo “espírito da
verdade”.

O que é bom deixar claro, entretanto, é que os ensinos de Jesus no citado livro e nos
demais que Kardec e seus asseclas escreveram, encontra-se dramaticamente torcidos e
mutilados. É uma tentativa delirante de procurar equacionar os ensinamentos sublimes
do Senhor Jesus Cristo aos ensinamentos demoníacos e falsos do espiritismo.

 A prática

O Kardecismo, como os demais cultos espíritas, não tem uma doutrina sólida. Os
ortodoxos defendem apenas os ensinos de Kardec, enquanto que a maioria assimila
também os ensinamentos de diversos autores espíritas como, no Brasil, Pastorino, Chico
Xavier, Bezerra de Menezes, Imbassay e outros.

De modo geral usam as seguintes práticas:

a) Comunicação com os mortos: espíritos de pessoas que viveram entre nós e que
ora necessitam de caridade ora são mensageiros celestes;

b) Comunicação com espíritos evoluídos: espíritos de seres que estão em plano


superior no éter. Alguns desses dizem habitar outros planetas;

c) Comunicação com extraterrestres: espíritos que não viveram entre nós; de outra
esfera espiritual; superevoluídos;

d) Caridade espiritual: feita a espíritos errantes, obsessores, em evolução


(conselhos, doutrina, imprecações magnéticas etc.).
e) Doutrinamento: para os adeptos. Palestras baseadas na doutrina kardecista,
palestra feitas por mensageiros do além, estudos nos livros espíritas etc.

f) Cânticos: usam cânticos durante as reuniões: têm corais, conjuntos de jovens etc.

g) Os centros kardecistas têm um mentor espiritual (o pai de santo da umbanda) um


protetor (entidade desencarnada) e organizações sociais que contribuem para
com orfanatos, asilos etc.
206

49 – ESPIRITUALISTAS CRISTÃOS

Histórico:

Henri Bergson (1859 – 1941):

Em 1907 adquiriu fama internacional com a obra Evolução Criadora.

Dirigiu críticas a Herbert Spencer, que entendia como um ajustamento do organismo ao


ambiente.

Bergson detectou a mão morta do mecanismo também na própria atividade do


raciocínio. Como mero desdobramento mecanismo, a evolução nunca poderia
proporcionar novidade real, mas evidenciar somente o que já existe. Salientou que a
intuição é a faculdade com a qual se deve compreender a realidade em permanente
transformação. A razão devia funcionar a partir de uma lógica dedutiva. Bergson passou
a falar em compreensão intuitiva.

O posicionamento de Bergson é uma reação a um pensamento mecanicista e


racionalista. Em contraposição a uma evolução mecânica, Bergson se refere ao Poder
Vital. A evolução é impulsionada por um élan vital, um ímpeto que está sempre fazendo
novos experimentos.

A razão não deve usar conceitos estereotipados. A vida não deve ser entendida apenas a
partir de fórmulas químicas.

Bergson estabelece antíteses para a razão, para o mecanicismo e para a matéria. A


antítese da razão é a intuição; do mecanicismo, o Poder Vital; da matéria, a vida, esta
última antítese merece uma ressalva, pois a própria matéria pode manifestar as
propriedades da vida.

As novas descobertas da biologia obrigaram o vitalismo a um recuo. Além disso, a


intuição não segue um método para se contrapuser aos argumentos e as descobertas da
razão. Muitas vezes, a razão no proporciona um conhecimento parcial, mas este ainda é
melhor que um posicionamento apenas intuitivo. A razão também recorre à intuição,
mas cada hipótese deve ser testada e verificada antes de ser aceita como verdadeira.

Bergson posicionou-se contra o mecanicismo e o determinismo. Salientou que o ser


humano é um animal com opções. E suas escolhas são sempre onerosas, pois a
liberdade é dialética. Uma pessoa é livre quando compreendo o que é o melhor para se
fizer. Nossa avaliação de uma situação complexa influi na nossa escolha.

Bergson soube mostrar as inconveniências de uma razão estática e de uma concepção


mecânica da natureza. A evolução é criadora a produtor a de novidade. Bergson também
salientou a importância da intuição para a obtenção de uma verdade nova. A intuição é
indispensável para o verdadeiro raciocínio.
207

“Vitalidade é o poder que mantém um ser vivo com vida crescendo. Élan Vital é o
impulso criativo da substancia viva em tudo o que vive rumo a novas formas” (Paul
Tillich, Teologia Sistemática, p. 154).

“A vida em sua criatividade dinâmica, em seu Élan Vital (Bergson), está aberta só ao
conhecimento receptivo, à participação intuitiva e à união mística” (Paul Tillich,
Teologia Sistemática, p. 90).

50 – ESTOICISMO

1 – Introdução:

Outra corrente filosófica que introduziu novas perspectivas no caminho da felicidade foi
o estoicismo. Essa palavra deriva do grego stoá, “pórtico” ou “galeria de colunas”.
Trata-se de uma referencia ao local em que reunia os alunos e administrava suas aulas o
primeiro filósofo dessa corrente, Zenão de Cício (c. 335-264 a.C.). Para o estoico, é
feliz aquele que vive de acordo com a ordem cósmica, aceitando e amando o próprio
destino nela inscrito.

2 – Desenvolvimento:

a) Ordem Cósmica:

Para compreender o método estoico para a condução de uma vida boa e feliz, é preciso
entender primeiro um pouco de sua física ou cosmologia. O estoicismo concebe o
universo como “kósmos”, “universo ordenado e harmonioso”, composto de um
princípio passivo (a matéria) e de um princípio ativo, racional, inteligente (o chamado
logos), que permeia, anima e conecta todas as suas partes.

Esse princípio ativo, ou inteligência universal – que os estoicos chamavam de


Providência – regeria toda a realidade, equivalendo ao que se pode denominar Deus. Se
o Deus estoico permeia tudo, isso significa que ele se encontra no mundo e se confunde
com ele, com a natureza (no jargão da filosofia diz-se que Deus é imanente; o contrário
desse termo é transcendente. Isto é, que está separado do mundo e não se confunde
com ele, como é o caso do Deus Cristão).

Em outras palavras, tudo o que existe e que acontece tem um objetivo e uma razão de
ser, pois faz parte da inteligência universal e divina. Assim, tudo é necessário, ou seja,
não pode ser diferente do que é. Nessa ordem cósmica, portanto, todos os eventos já
estariam organicamente predeterminados, inclusive a vida de cada um – estaria seu
destino.
208

Pela mesma razão, tudo o que acontece deve ser bom, pois é animado pelo bem contido
nos princípios racionais que governam o universo (o que se denomina providência). O
importante é a ordem do todo, da totalidade do universo. E o bem do todo deve ser
melhor do que o bem individual.

b) Uso da Vontade:

Com base nessa cosmologia, os estoicos entendiam que é impossível sermos felizes se
acreditarmos que felicidade é ter tudo o que desejamos (como geralmente se pensa).
Basta que fracassemos em alcançar um desejo e nos tornarmos infelizes.

A esse respeito, ensinavam que há coisas que dependem de nós e há outras que não
dependem de nós, ou só de nós. Depende de nós, por exemplo, elaborar um bom
trabalho ou ser bom e generoso; não depende de nós (ou só de nós) ganharmos na
loteria ou conquistar o coração da pessoa amada.

Então, se existe uma ordem cósmica predeterminada e se há coisas que não dependem
de nós, só nos resta aproveitar uma brechinha de liberdade que o estoicismo nos deixa
para garantir nossa felicidade. Trata-se da aplicação de uma faculdade que todos temos:
a vontade. Ela nos permite querer ou não querer as coisas. Veja que nada pode me
obrigar a querer o que não quero, ou a não querer o que quero. Podem me obrigar, por
exemplo, a ir a uma festa, inclusive me levar à força até lá, mas não podem me fazer
querer ir a essa festa.

Portanto, segundo os estoicos, posso construir minha felicidade a partir dessa brechinha,
usando minha vontade para querer apenas aquilo sobre o que tenho poder, que depende
de mim e que me faz verdadeiramente feliz.

c) Domínio Sobre Pensamentos e Paixões:

Com base nesse raciocínio, os estoicos procuraram orientar a conduta das pessoas
estabelecendo a seguinte distinção entre as coisas:

 Boas – são aquelas que dependem de nós e que devemos querer e buscar durante
a vida para sermos felizes. Trata-se das virtudes, como ser prudente, justo,
corajoso;
 Más – são as coisas que dependem de nós, mas que, ao contrário, devemos evitar
durante a vida se queremos ser felizes. Trata-se dos vícios e das paixões, como
ser imprudente, injusto, covarde, guloso, raivoso;
 Indiferentes – são as coisas que não dependem de nós e com as quais não
devemos nos preocupar, sob pena de gerar infelicidade. É o caso da morte, do
poder, da saúde ou doença, da riqueza ou pobreza, entre outras.

A infelicidade ocorre, portanto, segundo os estoicos, quando não conduzimos


corretamente nossos pensamentos e não evitamos as chamadas coisas más. Ou quando
nos preocupamos com as tais coisas indiferentes (algo muito frequente), o que conduz à
209

formulação de juízos errôneos ou opiniões equivocadas sobre os acontecimentos e o


consequente despertar de paixões (isto é, de uma coisa má).

Por esse raciocínio, podemos concluir que a paixão é o resultado do uso inadequado da
razão, enquanto a virtude consiste na ação que se desenvolve conforme a razão (ou seja,
conforme a natureza, pois a natureza, como vimos, é logos, razão).

Assim, dominar as paixões é o objetivo principal da ética estoica. Para isso, o esforço
em controlar os pensamentos será fundamental, pois é o pensamento equivocado que
gera as condições para aflorá-lo das paixões.

d) Amor Fati:

O domínio sobre os pensamentos e as paixões seria, portanto, a via negativa para atingir
a felicidade. Diz-se “negativa” porque se dá pela negação das paixões, pela negação das
causa da infelicidade. Mas há também um percurso positivo, o do amor fati, expressão
latina que significa “amor aos fatos, aos acontecimentos, ao próprio destino”.

Vejamos: se tudo é animado pelos princípios racionais que governam o universo – os


quais visam a ordem e o bem da totalidade – tudo o que acontece e não depende de mim
é necessário e bom. É o caso, por exemplo, da morte de um ente querido, que deve ser
tomada como um acontecimento bom, no sentido de que faz parte da ordem universal.

Por isso, para o estoicismo, uma pessoa não deve revoltar-se por ter nascimento com
uma deficiência física, ou porque é feia, pobre ou escrava. Isso não depende dela. Deve
não apenas aceitar sua condição, mas também querer o que é o que tem ou o que vive.
Deve, enfim, ter amor por seu destino (amor fati), que faz parte da totalidade. Somente
então ela poderá ser feliz.

3 – Amor ao destino (Estoicismo)

Estoicismo: O Dever.

O Estoicismo, fundado a partir das ideias de Zenão de Cício (336-263 a.C.), foi a
corrente filosófica de maior influencia no período helenístico. Como estudamos
anteriormente, os representantes dessa escola eram conhecidos como estoicos e
defendiam a noção de que toda realidade existente é uma realidade racional. Isso
significa que todos os seres, os indivíduos e a natureza fazem parte dessa realidade
racional.

Segundo esses pensadores, o que chamamos de Deus nada mais é do que a fonte dos
princípios racionais que regem a realidade, integrado à natureza, não existe para o ser
humano nenhum outro lugar para ir ou fugir, além do próprio mundo em que vivemos.
Somos deste mundo e, ao morrer, no dissolvemos neste mundo.
210

Portanto, não dispomos de poderes para alterar substancialmente a ordem universal do


mundo, mas por meio da filosofia podemos compreendê-la e viver segundo ela. Assim,
em vez do prazer dos epicuristas, Zenão propõe o dever, vinculado à compreensão da
ordem cósmica, como o melhor caminho para a felicidade. É feliz aquele que vive
segundo sua própria natureza, a qual, por sua vez, integra a natureza do universo.

Os estoicos também defendiam uma atitude de austeridade física e moral, baseada em


virtudes como a resistência ante o sofrimento, a coragem ante o perigo, a indiferença
ante as riquezas materiais. O ideal perseguido era um estado de plena serenidade
(ataraxia) para lidar com os sobressaltos da existência, fundado na aceitação e na
compreensão dos “princípios universais” que regem toda a vida.

51 – ESTRUTURALISMO

1 – Introdução:

O todo pode ser matemático, mineral, mecânico, um corpo vivo, um idioma, um O ser
humano tem procurado fundamentar o seu conhecimento da seguinte maneira:

a) O conhecimento deve ser de acordo com a realidade;


b) O conhecimento deve ser fidedigno;
c) O conhecimento deve ser realmente científico.

Uma dessas procuras para a fundamentação é o Estruturalismo.

“O Estruturalismo não é uma teoria nem um método; é um ponto de vista


epistemológico.” (Joseph Hrabák). Percebemos que o Estruturalismo é uma posição
diante do conhecimento humano. A estrutura é o conjunto de elementos que formam um
sistema; ela é um todo ordenado de acordo com certos princípios fundamentais. Dentro
de um sistema. Todo conceito é determinado pelos demais conceitos. Nenhum conceito
tem significa por si só. Por isso, o conceito “só se torna inequívoco quando integrado no
sistema, na estrutura de que faz parte e onde teu lugar definido” (J. Mattoso Câmara Jr.,
citado por Van Den Bergen).

“A concepção estruturalista veio mostrar que os fatos humanos assumem a forma de


estruturas, isto é, de sistemas que criam seus próprios elementos, dando a estes sentido
pela posição e pela função que ocupam no todo. As estruturas são totalidade
organizadas segundo princípios internos que lhes são próprios e que comandam seus
elementos ou partes, seu modo de funcionamento e suas possibilidades de
transformação temporal ou histórica Nelas, o todo não é a soma das partes, nem um
conjunto de relações causais entre elementos isoláveis, mas é um princípio ordenador,
diferenciador e transformador. Uma estrutura é uma totalidade dotada de sentido” (M.
Chauí).
211

No método estrutural, os elementos de uma totalidade não são considerados como


unidades independentes. Os fenômenos são interdependentes e sua existência é derivada
das relações recíprocas. “A própria totalidade é vista a partir das relações entre seus
elementos. ” (Vande den Bergen, Introdução ao Pensamento Filosófico).

Os elementos de uma estrutura só podem ser apreendidos na posição que ocupam no


conjunto. Há certa invariabilidade na estrutura, pois uma modificação nos elementos
não impede a permanência do total.

Os estruturalistas rejeitam o empirismo, e afirmam que um todo “não é apenas o


resultado da combinação de suas partes. Uma estrutura é uma entidade autônoma de
dependências internas”; “estrutura é o modo pelo qual as partes de um todo... se
conectam entre si. ” (discurso ou uma moda.

O método estrutural procura entender a organização das entidades de acordo com suas
relações internas. A estrutura refere-se ao modo como se relaciona um grupo de
elementos. Observa a singularidade do conjunto. E aponta para a unidade e a
comparação.

A organização é uma combinação de elementos; ela não é inteligível por si mesma.

Ferdinand Saussure é o fundador do movimento estruturalista. “Para ele, estrutura é um


sistema ou conjunto de objetos cuja função (ou variações) não é definível
independentemente da função ou variações dos outros. Assim, um ser vivo constitui um
sistema com seu meio ambiente. ” (Fullant, p. 346).

O linguista suíço Ferdinand Saussure (1857 – 1913) é o iniciador do método


estruturalista da investigação científica. Ele elaborou um estruturalismo bem definido na
Linguística, buscando a predominância do sistema sobre os elementos. A estrutura do
sistema é obtida através da análise das relações entre os elementos.

A Linguística não se ocupa tanto com a descrição empírica das línguas, mas com a
análise do sistema abstrato que constitui as relações linguísticas. Um exemplo seria a
análise da Língua Portuguesa.

O estruturalismo afirma a prioridade do universal sobre o individual. Só há ciência


universal.

52 – EUROCOMUNISMOS
(veja tópico 22 sobre o comunismo).

Conceito:
212

O Eurocomunismo é outra face do marxismo. De maneira geral, o marxismo, enquanto


teoria e prática revolucionária têm sofrido inúmeras alterações a partir das situações
históricas do nosso tempo.

A experiência soviética do Totalitarismo Stalinista obrigou os europeus a reavaliarem


vários aspectos importantes, desde a crítica desencadeada pelo processo de
desestabilização levada a efeito por Kruchev.

Na década de 70 surge o Eurocomunismo, pelo qual os partidos comunistas ocidentais


começam a repensar os seus próprios caminhos, independentemente da tutela Soviética.
À semelhança da socialdemocracia alemã, recusam a rigidez da teoria Leninista da
ditadura do proletariado e buscam formas pacíficas e democráticas de transformação da
sociedade.

Na Itália, por exemplo, o Partido Comunista Italiano, liderado por Togliatti, afirma a
ideia de que existem caminhos nacionais para o Socialismo (policentrismo), defende o
pluralismo partidário e preconiza as alianças que o proletariado deve fazer com os
outros grupos que compõem as classes populares, como camponeses, intelectuais e
camadas médias.

O partido Comunista Francês orienta-se na mesma direção, e se em 1970 expulsara de


seus quadros o filósofo Roger Garandy sob a acusação de “revisionismo de direita”, será
essa mesma a acusação dirigida por Moscou ao Partido em 1976, após a atuação de
Georges Marchais no XXII Congresso da PCF.

Entre outras mudanças, é substituído o conceito de “Ditadura do Proletariado pelo


desafio democrático”, segundo o qual seria possível promover a transição pacífica e
progressiva por meio do sistema representativo.

Na Espanha, após a queda do ditador Franco, a atuação de Felipe Gonzalez é feita no


sentido de também dar acentuada importância ao projeto eleitoral e à luta pela
democratização social. Para tanto, são valorizados os pactos entre empresariado e
trabalhadores.

53 – EUTIQUISMO

1 – Introdução:

Eutiques foi um monge de Constantinopla, que fundamentou a heresia do Monofisismo.


Ele negava que Cristo, após a encarnação, tinha duas naturezas perfeitas.

Ele nasceu no ano 378, provavelmente em Constantinopla. Ingressou na vida monástica


em um monastério da capital, onde teve como superior um abade de nome Máximo,
ferrenho adversário do Nestorianismo. Nascia assim, graças à sua formação religiosa,
213

um repúdio intransigente pelas doutrinas que versavam sobre a existência de duas


naturezas em Cristo. Já como sacerdote, Eutiques começou a participar ativamente das
questões doutrinárias.

Pelos idos de 440, ele converteu-se numa figura de grande projeção do Monofisismo em
Constantinopla, quando subiu ao poder, em 441, o eunuco Crisápio, responsável por seu
batismo, Eutiques principiou uma campanha fulminante contra o Nestorianismo,
atacando a todos a quem julgava suspeita. Assim, ele denunciou a Teodoreto de Ciro,
Ibas de Edessa, Domno II de Antioquia (442-449) e até Flaviano de Constantinopla fora
denunciado em uma carta enviada por ele à Sé Romana.

Em 8 de novembro de 448, num sínodo regional em Constantinopla presidido pelo


patriarca Flaviano, Eusébio de Dorileia, um dos primeiros que haviam sido denunciados
por eles com adepto ou simpatizante do Nestorianismo, acusou-o de heresia. O Sínodo,
depois de uma turbulenta onda de acontecimentos políticos, concluiu pela condenação
de Eutiques como herético.

Torna-se muito difícil saber precisamente qual a base fundamental da doutrina


cristológica defendida por Eutiques, seja por que nenhum de seus escritos sobreviveu
até os tempos presentes ou mesmo pela imprecisão ou inconsistência da mesma. pode-se
considera-lo, entretanto, como criador ou inspirador do monofisismo, ou seja, a
consideração de uma única natureza em Cristo, que as duas naturezas se fundiram em
uma única depois da reencarnação e que este não seria humano como nos homens.

2 – Monofisismo Eutiquiano

Em 448, Flaviano de Constantinopla condenou a heresia de Eutiques, mas ele reuniu


com aliados, nas palavras de Alban Batler, todos os maus elementos da Corte Biznatina.

O patriarca de Alexandria Dióscoro I, tido como o primeiro mofofisistas, não contente


com as decisões do Concílio de Constantinopla em 448, que havia condenado Eutiques,
convocou outro Concílio em Éfeso, no ano seguinte, onde se concluiu pela reabilitação
de Eutiques e pela condenação do Patriarca Flaviana.

Presidido por Dióscoro, Eutiques entrou no concílio cercado de sodado romano.


Dióscoro recusou-se a ler a carta doutrinária do Papa Leão I, o tomo ad Flavianus.
Quando Flaviano apelou à fé Romana, Diodoro esqueceu sua missão apostólica e
recorreu á violência: Flaviano apelou à Sé Romana, Diodoro esqueceu sua missão
apostólica e recorreu à violência: Flaviano foi surrado, pisoteado e banido; e morreu
poucos dias depois. Este concílio ficou conhecido como Latrocínio de Éfeso ou “Sínodo
ladrões”.

Com a morte de Teodoro II (408-450), Pulquéria e Marciano (450-457), com apoio de


Leão I, convocaram um novo Concílio, este em Calcedônia (0 4°. Ecumênico) que
214

ocorreu entre os dias 08 a 11 de 451, com a participação de 350 bispos, e no qual se


concluiu, entre outros assuntos pela:

 Condenação da Simonia, de casamentos mistos e ordenações absolutas.

 Deposição e Condenação de Eutiques de Constantinopla (criador do


Maniqueísmo) e Dióscoro I (444-451) de Alexandria.

Entretanto, o monofisismo Eutiquiano não morreria. Ele dividiu e continuaria dividindo


o mundo.

54 – EVOLUCIONISMO
(Veja Tópico 26 Sobre Criacionismo).

1 – Introdução:

Um dos maiores mistérios que sempre intrigou o homem ao longo de sua história é o
conhecimento a respeito de suas próprias origens.

Pode-se dizer que todos os povos da antiguidade tinham teorias que tentavam explicar a
existência do homem e do universo. A maioria delas tinham fundamentos religiosos,
filosóficos ou até mesmo mitológicos. Além dos próprios mistérios existentes na
questão da origem da vida, ainda que, havia outra questão não menos pertinente: Por
que somos tão diferentes dos animais?

O evolucionismo é uma teoria que surgiu a partir do século XIX, afirma que o hoem foi
resultado de uma longa evolução iniciada há cerca de cinco milhões de anos, desde os
Homídeos até o Homos Sapien, espécie correspondente ao homem com suas
características atuais. De fato, a teoria evolucionista surgiu a partir da publicação do
livro de Charles Darwin, “A Origem das Espécies”, em 1859. Darwin, após uma
viagem às Ilhas Galápagos, acabou descobrindo diversas novas espécies de animais,
realidade que o levou a desenvolver a ideia de seleção natural dos seres vivos. Ainda
segundo a teoria, homem e macaco possuiriam a mesma ascendência, da qual as outras
espécies foram desenvolvendo ao longo do tempo.

Assim como o criacionismo é uma teoria que tentam explicar a criação do homem, o
evolucionismo também tenta pelo método da evolução.

2 – Teorias Evolucionistas

Até hoje os cientistas não sabem falar de onde viemos e para onde iremos, temos várias
teorias como a evolução; defendida no princípio pelo cientista francês Jean-Baptiste
215

Lamarck (1744-1829) e logo depois por Charles Robert Darwin (1809-1882). E a


Criação que é defendida pelos religiosos.

2.1 – A teoria evolucionista é fruto de um conjunto de pesquisas, ainda em


desenvolvimento, iniciadas e deixadas pelo cientista inglês Charles Robert Darwin. Em
suas pesquisas, ocorridas no século XIX, ele procurou estabelecer um estudo
comparativo entre espécies aparentadas que viviam em diferentes regiões. Além disso,
ele percebeu a existência de semelhanças entre os animais vivos e em extinção. A partir
daí, ele concluiu que as características biológicas dos seres vivos passam por um
processo dinâmico ondo os fatores de ordem natural seriam responsáveis por modificar
os organismos vivos. Ao mesmo tempo, ele levantou a ideia de que os organismos vivos
estão em constante concorrência e, a partir dela, somente os seres melhores preparados
às condições ambientais impostas poderiam viver.

Contando com as premissas, ele afirmou que o homem e o macaco teriam uma mesma
ascendência a partir da qual as duas espécies se desenvolveram. Contudo, isso não quer
dizer, conforme muitos afirmam que Darwin supôs que o homem é um descendente de
macaco. Em sua obra, a origem das espécies, ele sugere que o homem e o macaco,
devido suas semelhanças biológicas, teriam um mesmo ascendente comum. A partir da
afirmação científica, ao longo dos anos, se lançaram ao desafio de reconstituir todas as
espécies que antecederam o homem contemporâneo.

Entre as diferentes espécies catalogadas, a escola evolutiva do homem se inicia nos


Homídeos, com mais de quatro milhões de anos. O Homo Habilis (2,4-1,5 milhões de
anos) e o Homo Herectus (1,8-300 mil anos) compõe a fase intermediária da evolução
humana. Por fim, o Homo Sapiens neanderthalensis, com cerca de 230 a 30 mil anos
de existência, antecede ao Homo Sapiens, surgido há aproximadamente 120 mil anos,
que corresponde ao homem com suas características atuais. Mesmo ser dada por uma
larga série de indícios materiais sobre as transformações da espécie humana, a teoria
evolucionista não é uma tese comprovada por inteiro. O chamado “Elo Perdido”, capaz
de remontar completamente a trajetória do homem e seu primata original, é uma
incógnita ainda sem resposta.

2.2 – Jean-Baptiste Lamarck

Naturalista francês foi o primeiro cientista a propor uma teoria sistemática da evolução.
Sua teoria foi publicada em 1809, em um livro denominado filosofia zoológica.
Segundo Lamarck, o princípio de evolução estaria baseado em duas leis fundamentais:
lei do uso e desuso: o uso de determinadas partes do corpo do organismo faz com que
estas se desenvolvam, e o desuso faz com que se atrofiem. Lei da transmissão dos
caracteres adquiridos: alterações provocadas em determinadas características do
organismo, pelo uso e desuso, são transmitidas aos descendentes. Lamarck utilizou
vários exemplos, para explicar sua teoria. Segundo ele, as aves aquáticas tornaram´se
pernalta devido ao esforço que faziam no sentido de esticar as pernas para evitarem
216

molhar as penas durante a locomoção na água. A cada geração, esse esforço produzia
aves com pernas mais altas, que transmitiam essas características à geração seguinte.
Após várias gerações, teriam sido originadas as atuais aves pernaltas. A teoria de
Lamarck não é aceita atualmente, pois suas ideias apresentam um erro básico: as
características adquiridas não são hereditárias. Verificou-se que as alterações em células
somáticas dos indivíduos, não alteram as informações genéticas contida nas células
germinativas, não sendo, dessa forma hereditárias.

2.3 – Charles Robert Darwin

As ideias gerais da teoria da evolução das espécies sofreram, aos poucos, alterações e
aperfeiçoamentos. Todavia, as bases do evolucionismo subsistem até hoje e o nome
Darwin ficou ligado a uma das mais notáveis concepções do espírito humano. Charles
Robert Darwin nasceu em Shrewsbury, Shropshire, no Reino Unido, em 12 de fevereiro
de 1809, em uma família próspera e culta. Seu pai, Robert Waring Darwin, foi médico
respeitado. Seu avô paterno Erasmus Darwin, poeta, médico, filósofo, era evolucionista
em potencial, cuja obra mais famosa, a zoonomia (1794-1796), antecipava em muitos
aspectos as teorias de Lamarck. Em 1825, Darwin foi para Edimburgo estudar medicina,
carreira que abandonou por não suportar as dissecções. Todavia, interessou-se pelas
ciencias naturais. Matriculou-se a seguir no Christ’s College, em Cambridge, decidido a
ordenar-se, embora não tivesse vocação religiosa. Ali se tornou amigo do botânico John
Stevens Henslow, que o aconselhou a aperfeiçoar seus conhecimentos em história
natural.

55 – EXISTENCIALISMO
(Veja tópico 50 sobre fenomenologia).

1 – Introdução:

O Existencialismo surge como uma contraposição a Hegel. O eixo da reflexão de Hegel


foi à trajetória da razão universal. Ocupou-se com a explicação, com necessidade, com
objetividade conceptual, com a abstração, com a razão objetiva e com o transcendente.
Seu amplo esquema filosófico apresenta a trajetória do espírito.

O termo existencialismo designa um conjunto de tendências filosóficas que, embora


divergentes em vários aspectos, têm na existência humana o ponto de partida e o objeto
fundamental de suas reflexões. Por isso, podemos designá-los também como filosofias
da existência.

Aos filósofos da existência propriamente ditas surgiram no século XX, mas sofreram
grandes influências do pensamento de alguns filósofos do período anterior, como Arthur
217

Schopenhauer, Sören Kierkegaard e Friedrich Nietzsche, que são considerados pré-


existencialistas.

Entre os filósofos principais comumente classificados como existencialistas destacam-


se Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre, além de Simone de Beauvoir (1908 – 1986) e
Karl Jasper (1883 – 1969), entre outros.

2 – Problema do Existir

O que é existir?

Refletindo sobre a pergunta, os pensadores existencialistas diriam que, existir implica a


relação do Ser Humano consigo mesmo, com outros seres, com objetos culturais e com
a natureza. Suas relações são múltiplas, concretas e dinâmicas. Algumas dessas relações
são determinadas (como aquelas que resultam de leis da física) e indeterminadas (como
aquelas que resultam da nossa liberdade ou do acaso, sendo passíveis ou não de
acontecer).

Sobre esses temas, os filósofos existencialistas elaboraram diversas interpretações, cujos


denominadores comuns são certos visão dramática da condição humana. O filósofo e
escritor francês Albert Camus (1913 – 1960) ilustrava bem essa interpretação quando
dizia que a única questão filosófica séria é o suicídio.

Algumas concepções características do Existencialismo:

 Ser Humano – é entendido como uma realidade imperfeita, aberta e inacabada,


que foi “lançado” ao mundo e vive sob riscos e ameaças;

 Liberdade Humana – não é plena, pois está condicionada às circunstancias


históricas da existência. Nesse sentido, querer não se identifica com o poder.
Homens e mulheres agem no mundo superando ou não os obstáculos que se lhes
apresentam;

 Vida Humana – não é um caminho seguro em direção ao progresso, ao êxito e


ao crescimento. Ao contrário, é marca por situações de sofrimento, como
doença, dor, injustiças, luta pela sobrevivência, fracassos, velhice e morte.
Assim, não podemos ignorar o sofrimento humano, a angústia interior, a
exploração social. É preciso considerar esses aspectos adversos da vida e encará-
los.
218

3 – Influências da Fenomenologia.

Uma doutrina que teve um impacto importante na conformação das filosofias


existencialistas foi a Fenomenologia. Formulada pelo filósofo alemão Edmund
Husserl (1859 – 1938), no início do século XX ela surgiu primeiramente na
atmosfera rarefeita da matemática. Depois se expandiu para a psicologia e a filosofia
e acabou desembocando nas preocupações humanistas dos filósofos existencialistas,
entre outras correntes do pensamento contemporâneo que a utilizaram.

Husserl renovou a reflexão sobre o conhecimento, especialmente sobre a relação


entre o sujeito e o objeto. Para esse filósofo, era preciso purificar essa relação para
recuperar, em um extremo, a realidade das coisas (que haviam ficado
demasiadamente condicionadas ao sujeito) e, no outro, “descoisificar” a consciência.

Isso significa que a consciência não é uma realidade essencial ou substancial, mas
apenas um movimento – um movimento que se realiza na direção das coisas, dos
objetos, pois toda consciência é sempre uma consciência de algo.

O filósofo trouxe também outra novidade, pois observou que, nesse movimento, a
consciência manifesta sempre uma intencionalidade, ou seja, um modo específico de
visar às coisas. Em outras palavras, as coisas são sempre abordadas em função de
alguma intenção do sujeito.

4 – Características Principais do Existencialismo

 A existência é analisada a partir da experiência, e não a partir de princípios


metafísicos;
 A existência humana deve ser o primeiro objeto da reflexão filosófica;
 A existência precede a essência;
 A existência é a obra de nossa liberdade exercida dentro das situações
concretas da condição humanitária;
 Os critérios da ética são extraídos da história;
 O homem só é o que faz de si mesmo e sua existência concreta;
 O ponto de partida é o antropológico;
 O existencialismo valoriza o ser humano como indivíduo singular;
 São abordados os problemas que emergem da própria existência;
 As questões não são à base da racionalidade. É respeitada a subjetividade.

4.1 – Os Principais Filósofos do Existencialismo são:

- Sören Kierkegaard; - Martin Heidegger; - Jean-Paul Sartre; - Karl Jaspers; - Gabriel


Marcel.

4.2 – As Principais Obras do Existencialismo


219

- Ser e Tempo, de Martin Heidegger (1927);


- O Ser e Nada, de Jean-Paul Sartre (1943).

Obs.: Os existencialistas perguntam sobre o valor da existência humana. Eles não se


satisfazem com as abordagens estritamente racionais. Ocupam-se com temas como a
finitude, a angústia, o nada, a preocupação, o fracasso e a morte. Essas questões são
formuladas a partir da ideia que eles fazem a respeito da existência. A própria existência
se constitui um fato, um dado. Ela é o fato fundamental de todos os demais. É um fato
tão originário que sem ele não há outros fatos. Kierkegaard começou a se referir à
existência. Trata-se exclusivamente da existência do ser humano.

4.3 – Estudiosos da Filosofia Apontam como fontes teóricas do Existencialismo as


seguintes correntes:
1 – Pré-Existencialismo: Kierkegaard e Nietzsche;
2 – Fenomenologia: Husserl;
3 – Filosofias de Vida: Dilthey, Simmel e Bergson;
4 – Pragmatismo: Pierce e William James.

5 – Pensamentos dos Filósofos

a) Arthur Schopenhauer

Filho de Heinrich Floris Schopenhauer, comerciante da cidade de Dantzig, na Prussia. O


filósofo Arthur Schopenhauer estava destinado a seguir a profissão do pai. Por isso, a
família nunca se preocupou muito com a sua educação intelectual e, quando contava
apenas doze anos de idade, em 1800, induziu-o a empreender uma série de viagens
importantes para um futuro comerciante. Schopenhauer percorreu a Alemanha, a
França, a Inglaterra, a Holanda, a Suíça, a Silésia e a Áustria. Mas seu interesse não foi
despertado por aquilo que seu pai mais desejava: o que fez de mais importante, durante
essas viagens, foi redigir uma série de considerações melancólicas e pessimistas sobre a
miséria da condição humana.

Em 1805, a família fixou-se em Hamburgo e o obrigou a cursar uma escola comercial.


A morte do pai permitiu-lhe, contudo, abandonar para sempre os estudos comerciais e
voltar-se para uma carreira universitária, como era o seu desejo. Assim, Schopenhaur
passou a dedicar-se aos estudos humanísticos, ingressando no Liceu de Weimar em
1807; dois anos depois, encontrava-se na faculdade de Medicina de Göttingen, onde
aquiriu vastos conhecimentos científicos.

Em 1811, na Universidade de Berlim, assistiu aos cursos dos filósofos Schleiermacher


(1768 – 1834) e Fichte (1762 – 1814); em 1813, doutorou-se pela Universidade de
Berlim com a tese sobre A Quadrupla Raiz do Principio de Razão Suficiente.
220

b) Sören Kierkegaard

O existencialismo é uma corrente filosófica do século XX que tem como precursor o


teólogo e filosofo dinamarquês Sören Kiekegaard (1813 – 1855). A vida dele foi
marcada por angustia pessoal e familiar.

Posicionou contra a religiosidade formal do luteranismo, enfatizando a vivencia da


espiritualidade, salientou também o posicionamento pessoal diante de Deus.

Atacou o Hegelianismo e a metafisica especulativa. Em lugar do abstrato e da reflexão


de abrangência universal, Kierkegaard propôs uma filosofia existencial. “Enquanto o
pensamento abstrato tem por tarefa compreender abstratamento o concreto, o pensador
existencialista, ao contrário, tem por tarefa compreender concretamente o abstrato.”

Kierkegaard salienta que a característica do homem é o desespero, que advém das


contradições de sua existencia e de sua distancia de Deus. Em sua obra “Desespero
Humano”, Kierkegaard escreveu que “o homem é uma síntese de infinito e finito, de
temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade”. Ele também influenciou Martin
Heidegger, Karl Jaspers e o teólogo Karl Barth com sua teologia dialética.

Kierkegaard e Nietzsche refletiram sobre o indivíduo singular. Ocuparam-se com a


existencia, com a liberdade, com a subjetividade, com a esperiência, com a atitude de
crer e com o indivíduo. Tornou-se importante encontrar um sentido para a existencia
humana. O homem não é autosuficiente, mas está aberto ao Ser. A característica do
homem é ter que fazer-se. Mas, essa tarefa é interrompida pela morte.

Ele ainda descreve tres opções existencialistas (níveis de consciencias), que


correspondem às principais etapas da personalidade humana:

1 – Nível Estético – viver o momento prescrito, buscando a felicidade, o que resulta no


desespero, pois a fugacidade leva ao desespero inevitável;

2 – Nível Ético – o homem procura a felicidade através do cumprimento do dever, mas


os erros levam ao arrependimento (diante da culpa);

3 – Nível Religioso – o homem busca a Deus. Depara-se com a fé – como paradoxo e


contradição na angústia da distância de Deus.

c) Jean-Paul Sartre

O Ser e O Nada.

O nome mais conhecido da corrente Existencialista é o filósofo e escritor francês Jean-


Paul Sartre (1905 – 1980), embora isso se deva, em boa parte, às suas peças de teatro e,
romances, dentre os quais se destacam: A Náusea, O Muro, A idade da Razão, O Diabo
e o Bom Deus. Conforme foi constatado, é significativo a influencia da fenomenologia
de Husserl e da filosofia de Heidegger em seu pensamento. Em sua principal obra
221

filosófica: O Ser e o Nada (1943), Sartre ataca duramente a teoria aristotélica da


potencia.

Aristóteles explicava as mudanças do ser pela passagem da potencia ao ato. Para Sartre,
porém, o ser é o que é. Em sua linguagem própria trata-se do ente em si. Esse ente “não
é ativo nem passivo, nem afirmação nem negação, mas simplesmente repousa em si,
maciço e rígido”.

56 – EXPRESSIONISMO

Conceito:

Tendência estética surgida no fim do século xix, caracterizada pela ênfase na


subjetividade. Nas artes plásticas, defende o distanciamento da representação figurativa
e o uso arbitrário de cores e traços fortes, com formas contorcidas e dramáticas. O
grande precursor do movimento é o pintor holandês Vincent van Gogh. O nome de
destaque é o norueguês Edvard munch. O movimento espraia-se no cinema, com os
filmes sombrios, de cenários fantasmagóricos, do alemão Friedrich murnau e do
austríaco Fritz Lang.

57 – FACISMAO

1 – Introdução:

Fascismo – o que é? É um regime autoritário criado na Itália, que deriva da palavra


italiana fascio, que remetia para uma “aliança” ou “federação”.

Originalmente o fascismo foi um movimento político fundado por B. Mussolini, em 23


março de 1919 e no seu início era composto por unidades de combate (fasci di
combattimento).

O fascismo foi apresentado como partido político em 1921. Desde essa altura, a palavra
“fascista” é usada para mencionar uma doutrina política com tendências autoritárias,
anticomunistas e antiparlamentares, que defende a exclusiva autossuficiência do Estado
e suas razões. Trata-se de um movimento antiliberal, que atua contra as liberdades.

2 – Desenvolvimento:

O fascismo é diferenciado das ditaduras militares porque o seu poder está fundamentado
em organizações de massas e tem uma autoridade única. Os seus membros são na sua
222

grande maioria proveniente da classe operária e da pequena burguesia rural e urbana, ou


seja, dos ameaçados pelos fortes intervenientes do grande capital e do sindicalismo
comunista.

Quando o fascismo se estabelece no poder, aceita a presença do capital e se impõe de


forma disciplinadora, impedindo que as organizações operárias defendam a luta de
classes (Sindicatos, partidos políticos).

O fascismo é caracterizado por uma reação contra o movimento democrático que surgiu
graças à Revolução Francesa, assim com pela furiosa oposição às concepções liberais e
socialistas.

O termo fascismo passou a ser usado para englobar tanto os regimes diretamente ligados
ao eixo Roma-Berlim e seus aliados, como os sistemas de autoridade que atribuíam ao
estado funções acima daquelas que as democracias lhe entregavam. É o caso das
referencias ao “fascismo” espanhol, brasileiro, turco, português, entre outros.

Em1945, com a queda dos principais estados fascistas e com a divulgação das
atrocidades cometidas, o movimento fascista perdeu possibilidades de grandes
mobilizações. Apesar disso, alguns grupos minoritários se mantiveram nos antigos
estados fascistas (neofascismo).

3 – Fascismo Na Itália:

O fascismo teve a sua origem na situação de crise gerada a I Guerra Mundial e no


crescimento absorvente do movimento comunista. Revoluções, guerra civis econômicas
conduziram a Itália (e outros países como a Romênia, Turquia, Áustria e Alemanha) á
formação de grupos fascistas.

Na Itália, Mussolini, antigo socialista e militar, ocupou o poder depois da “marcha sobre
Roma” no dia 28 de Outubro de 1922. A Câmara outorgou plenos poderes ao duce e os
fascistas ocuparam, pouco a pouco, os pontos chave do estado. O deputado socialista
Matteoti denunciou a corrupção e violência fascistas, tendo sido assassinado pouco
depois. A oposição abandonou o parlamento e Mussolini aproveitou a crise para
estabelecer, em janeiro de 1925, um estado totalitário, que proibiu os partidos políticos
e os sindicatos não fascistas.

Através do Pacto de Aço (25 de maio de 1939), o duce se aliou à Alemanha nacional-
socialista, levando a Itália a intervir na II Guerra Mundial.

4 – Fascismo e Nazismo:

Apesar de muitas vezes serem vistos como sinônimos, o fascismo e nazismo têm
diferença s. o nazismo é frequentemente contemplado como um forma de fascismo, mas
223

o movimento nazista identificou uma raça superior (raça ariana), e tentou eliminar
outras raças, para criar prosperidade para o Estado.

A semelhança entre estes dois regimes é que obtiveram grande popularidade entre os
elementos da classe operária, porque criavam medidas de apoio para eles, medida que
varias vezes não se concretizava.

58 – FAUVISMO

Conceito:

O que é Fauvismo?

Os franceses Henri Matisse (1869 – 1954) e André Derain (1880 – 1954) fundaram o
Fauvismo, o primeiro movimento moderno do século XX. O movimento foi assim
denominado por um crítico francês que, em 1905, os chamou de fauves (feras
selvagens) ao se referir às suas cores fortes e chocantes.

59 – FENOMENOLOGIA

1 – Introdução:

A fenomenologia surgiu no final do século XIX, com Franz Brentano, cujas principais
ideias foram desenvolvidas por Edmund Husserl (1859 – 1958). Outros representantes
foram: Heidegger, Max Scheler, Hartmann, Binswanger, De Waelhens, Ricoeur,
Merleau Ponty, Jaspers, Sartre.

Seu postulado básico é a noção de intencionalidade, pela qual é tentada a superação das
tendências racionalistas e empiristas surgidas no século XVII. A fenomenologia
pretende realizar a superação da dicotomia razão-experiência no processo de
conhecimento, afirmando que toda consciência é intencional. Isso significa que,
contrariamente ao que afirmam os racionalistas, não há pura consciência, separada do
mundo, mas toda consciência tende para o mundo; toda consciência é consciência de
alguma coisa. Mas também contrariamente aos empiristas, os fenomenólogos afirmam
que não há objeto em si, já que o objeto só existe para um sujeito que lhe dá significado.

Com o conceito de intencionalidade, a fenomenologia se contrapõe à filosofia


positivista do século XIX, presa demais à visão objetiva do mundo. À crença na
possibilidade de um conhecimento científico cada vez mais neutro, mais despojado de
subjetividade, mais distante do homem, a fenomenologia contrapõe a retomada da
224

“humanização” da ciência, estabelecendo uma nova relação entre sujeito e objeto,


homem e mundo, considerado polos inseparáveis.

2 – Tendência Humanista:

A Crítica ao Positivismo: a fenomenologia

A fenomenologia é a filosofia e o método que têm como precursor Franz Brentano (final
do século XIX), mas foi Edmund Husserl (1858 – 1938) quem formulou as principais
linhas dessa nova abordagem do real, abrindo o caminho para filósofos com Heidegger,
Jaspers, Sartre, Merleau-Ponty.

O esforço filosófico de Husserl se orienta para a discussão da situação gerada pelo


positivismo: a crise da filosofia, a crise das ciências e a crise das ciências humanas.
Tornava-se urgente repensar os fundamentos e a racionalidade dessas disciplinas e
mostrar que tanto a filosofia como as ciências humanas são viáveis. A proposta é o
reinício radical na ordem do saber.

Retomando a clássica questão da relação sujeito-objeto, colocada desde a teoria do


conhecimento cartesiana, vimos que o racionalismo enfatiza o papel atuante do sujeito
que conhece, e o empirismo privilegia a determinação do objeto conhecido. O resultado
dessa dicotomia, em ambos os casos, é a permanência do dualismo psicofísico, da
separação corpo-espírito e homem-mundo.

A fenomenologia propõe a superação da dicotomia, afirmando que toda consciência é


intencional, o que significa que não há pura consciência, separada do mundo, mas toda
consciência tende para o mundo. Da mesma forma, não há objeto em si, independente
da consciência que o percebe. Portanto, o objeto é um fenômeno, ou seja,
etimologicamente, “algo que aparece” para uma consciência. Segundo Husserl, “a
palavra intencionalidade não significa outra coisa senão esta particularidade
fundamental da consciência de ser consciência de alguma coisa”.

Portanto, a primeira oposição que a fenomenologia faz ao positivismo é que não há


fatos com a objetividade pretendida, pois não percebemos o mundo como um dado
bruto, desprovido de significados; o mundo que percebo é um mundo para mim. Daí a
importância dada ao sentido, à rede de significações que envolvem os objetos
percebidos: a consciência “vive” imediatamente como doadora de sentido.

Exemplificando: segundo a terapia lógica da reflexão behaviorista, a reeducação de uma


criança manhosa consiste em recondicionar a resposta manha e substituí-la por outro
comportamento socialmente adequado. Ao contrário, na análise fenomenológica, a
manha não é, ela significa, e é pela emoção que a criança se exprime na totalidade do
seu ser. Ela diz coisas com o choro, e esse choro precisa ser interpretado. Da mesma
forma, a resposta que a criança dá a certos estímulos externos supõe também que os
225

próprios estímulos nunca são idênticos para todas as pessoas, mas exercem influência na
medida em que são percebidos de maneira singular pela consciência que os atinge.

60 – FEUDALISMO

1 – Introdução:

O feudalismo é um sistema de organização econômica, política e social que marca a


Europa na Idade Média. As invasões bárbaras e a desagregação do Império Romano do
Ocidente levam o território europeu a profundas mudanças, com a descentralização do
poder, a diminuição das cidades (com o êxodo para o campo) e o emprego de mão de
obra servil. Com começo e fim graduais, o sistema feudal tem sua origem mais bem
situada nos séculos IX e X. E seu desaparecimento por volta do século XVI.

A base da estrutura social são as relações de dependência pessoal – chamadas de


vassalagem – que vão do rei aos camponeses. Há uma relação direta entre autoridade e
posse da terra. O camponês vassalo oferece ao senhor – ou suserano – fidelidade e
trabalho de proteção e do acesso a terra. Além de produzir para o seu sustento, o
camponês deve obrigações ao suserano, como os impostos e a corveia – trabalho
obrigatório e gratuito três dias por semana. Os senhores feudais formam a nobreza e
vivem em castelos. Os cavaleiros armados garantem a segurança dos feudos.

O feudo caracteriza-se pela autossuficiência econômica e pela ausência quase total de


comércio. A produção é predominantemente agropastoril, e as trocas são feitas com
produtos. A Igreja Católica integra-se ao sistema por meio dos mosteiros, que
reproduzem a estrutura dos feudos. No período final da Idade Média, o processo
gradativo de formação dos estados nacionais e da afirmação do poder dos reis leva ao
fim do sistema feudal.

2 – Características gerais do Ocidente europeu:

A insegurança provocada pelas invasões dos séculos IX e X levou os europeus


ocidentais a buscar proteção. Houve grande migração das cidades para o campo,
caracterizando um processo de ruralização que já se havia iniciado nos séculos
anteriores. Em muitas regiões, construíram-se vilas fortificadas e castelos cercados por
muralhas. Pessoas com menos recursos, que não tinham como se proteger por si,
procuraram a ajuda de nobres e guerreiros; os camponeses que pediam a proteção dos
senhores de terra foram submetidos à servidão.

Analisando as sociedades da Europa Ocidental, sobretudo entre os séculos X e XIII, os


historiadores observaram algumas características comuns entre elas. Elaboraram
226

conceitos para identificá-las, como o de feudalismo. Este termo, entretanto, tem gerado
muitos debates e recebido muitas definições.

Para conceituação desta matéria, vamos analisar o termo feudalismo, de acordo com o
historiador francês Jacques le Goff, especialista em história medieval. Um sistema de
organização economica, social e política baseado nos vinculos de homem a homem, no
qual uma classe de guerreiros especializados – os senhores – subordinados uns aos
outros por uma hierarquia de vinculos de dependencia, domina uma massa campesina
que explora a terra e lhes fornece com que viver.

a) Poder Político:

Durante o predominico do feudalismo, os governos centralizados da Europa Ocidental


enfraqueceram-se. O poder político passou a ser dividido com os senhores feudais,
detentores de grandes extensões de terras que governavam seus domínios exercendo
autoridade administrativa, judicial e militar.

b) Suserania e Vassalagem.

Os vários núcleos de poder político – principados, ducados, condados etc. – estavam


ligados por laços estabelecidos entre membros da nobreza a partir da concessão de
feudos. De modo geral, intitulava-se senhor (ou suserano) o nobre que concedia
feudos a outro nobre, denominado vassalo; este, em troca, devia fidelidade e prestação
de serviços (principalmente militares) ao senhor.

A transmissão do feudo era realizada em um cerimônia solene, constituida de dois atos


principais: a homenagem (juramento de fidelidade do vassalo) e a investidura (ato de
transmissão do feudo ao vassalo).

Suseranos e vassalos tinham direitos e deveres a cumprir estabelecidos entre si.


Vejamos os principais:

 Suserano – devia proteger militarmente seus vassalos e dar-lhes assistencia


jurídica. Tinha direito de reaver o feudo do vassalo que morresse sem deixar
herdeiros, de proibir o casamento do vassalo com pessoa que lhe fosse infiel etc.

 Vassalo – devia prestar serviço militar ao suserano, libertá-lo, caso fosse


aprisionado por inimigos, comparecer ao tribunal presidido pelo suserano toda
vez que fosse convocado etc. recebia proteção militar do suserano.

2 – Origens de Algumas Instituições Feudais:

As instituições feudais originaram-se de elementos romanos e germânicos.


227

1 – elementos romanos:

 Colonato – sistema de trabalho servil que se desenvolveu com a crise do


Império Romano, quando escravos e plebeus empobrecidos passaram a trabalhar
como colonos em terras de um grande senhor. O proprietário oferecida terra e
proteção ao colono, recebendo deste um rendimento do seu trabalho. Nesse
processo, algumas cidades perderam importância enquanto, no campo,
desenvolveram-se vilas (unidades econômicas) com produção agropastoril
destinada ao autoconsumo.

 Fragmentação do poder político – no final do período imperial, a


administração romana não tinha condições de impor sua autoridade em todas as
regiões. Com o enfraquecimento do poder central, os grandes proprietários de
terra foram ampliando seus poderes locais.

2 – elementos germânicos:

 Economia agropastoril – a base da economia germânica era a agricultura e a


criação de animais, sem a preocupação de produzir excedentes para a
comercialização.

 Comitatus – instituição social que estabelecia laços de fidelidade entre o chefe


militar e seus guerreiros.

 Beneficium – os chefes militares germânicos costumavam recompensar seus


guerreiros concedendo-lhes possessões de terra, que foram chamadas mais tarde
de feudos. Em troca, o beneficiado oferecia fidelidade, trabalho e ajuda militar
ao senhor.

Sistema feudal prevaleceu durante longo período na Europa Ocidental. Por abranger
área tão extensa, não foi idêntico em todos os lugares. No entanto, é possível
apontar algumas características comuns:

 Enfraquecimento do poder real, ou central, e fortalecimento dos poderes


locais ou regionais;

 Existência de vínculos pessoais de obediência e proteção entre os mais


poderosos e os mais fracos (suserania e vassalagem);

 Uso generalizado de trabalho servil no campo;

 Declínio das atividades comerciais urbanas e fortalecimento da vida rural.


228

3 – Sociedade Divida:

A sociedade feudal se dividia em três ordens principais: nobres, membros do clero e


servos.

 Nobres (Bellatores, palavra latina que significa “guerreiros”) – ordem dos


detentores de terra, que se dedicavam basicamente às atividades militares. Em
tempos de paz, as atividades favoritas da nobreza eram a caça e os torneios
esportivos, que serviam de treino para a guerra.

 Clero (Orates, palavra latina que significa “rezadores”) – ordem dos membros
da Igreja católica, destacando-se os dirigentes superiores, como bispos, abades e
cardeais. Os dirigentes da igreja administravam suas propriedades e tinham
grandes influencia política e ideológica (isto é, na formação das mentalidades e
das opiniões) sobre toda a sociedade.

 Servos (laboratores, palavra latina que significa “trabalhadores”) –


compreendendo a maioria da população camponesa, os servos realizavam os
trabalhos necessários à subsistência da sociedade. A condição de servo
implicava uma série de restrições à liberdade. Ele podia ser vendido, trocado ou
dado pelo senhor, não podia testemunhar contra homem livre, não podia tornar-
se clérigo, devia diversos encargos. Porém, ao contrário do escravo clássico,
tinha reconhecida sua condição humana, podia ter bens e recebia proteção do
senhor.

Essa organização social, rígida e praticamente sem mobilidade entre as ordens, era
defendida pela elite do clero e da nobreza como uma forma de manter seus
interesses.

4 – Produção Econômica:

Na sociedade feudal predominou a produção de bens agrícolas e pastoris, que tinha


como principal unidade produtora o senhorio (extensão de terra) e como forma de
trabalho, a servidão.

Senhorio

O tamanho médio de um senhorio variava entre 200 e 250 hectares. Cada um tinha uma
produção variada de cereais, carnes, leite, roupas e utensílios domésticos – poucos
produtos (como os metais utilizados na confecção de ferramentas e o sal) vinham de
fora. Eram divididos em três grandes áreas:
229

 Os campos abertos (terras comunais): bosques e pastos de uso comum, em que


os servos podiam recolher madeira, coletar frutos e soltar os animais – mas não
podiam caçar (um direito exclusivo do senhor);

 As reservas senhoriais: terras exclusivas do senhor feudal, cultivadas alguns dias


por semana pelos servos. Tudo o que nelas fosse produzido pertencia ao senhor.

 Os mansos servis: terras utilizadas pelos servos, das quais eles retiravam seu
próprio sustento e os recursos para cumprir as obrigações que deviam aos
senhores.

Servidão

A forma de trabalho predominante no feudalismo foi à servidão.

Os servos não eram proprietários das terras em que trabalhavam apenas as usavam;
produziam para o próprio sustento e para manter as outras duas ordens (os nobres e o
clero).

A relação servil impunha uma série de obrigações do servo para com o senhor feudal,
pagas em forma de trabalho e de bens. Uma delas era a corveia, pela qual o servo,
embora livre, tinha de trabalhar alguns dias da semana gratuitamente nas reservas
senhoriais. Esse trabalho podia ser realizado na agricultura, na criação de animais, na
construção de casas e outros edifícios ou em benfeitorias.

5 – Nobre e Servos: a vida na Europa Ocidental

 Os castelos – até fins do século XI, o castelo feudal era, muitas vezes, um rude
forte de madeira. Mesmo os grandes castelos de pedra construídos
posteriormente eram desconfortáveis. Os quartos eram escuros e úmidos e as
paredes de pedra crua, frias e tristes. Os pisos eram, em geral, recobertos com
esteiras de junco ou palha.

 A alimentação – a alimentação dos nobres e de sua família, embora abundante,


era bastante simples. Os alimentos principais eram carne e peixe, queijo, couve,
nabo, cenoura, cebola, feijão e ervilha. As frutas mais comuns eram maçã e pêra.
Não conheciam o café nem o chá, nem as especiarias do Oriente. O açúcar,
quando foi introduzido, custava muito caro e poucos podiam compra-lo.
230

 A alimentação dos servos era constituída de pão preto ou misto, algumas


verduras, queijo, carne, peixe salgado, pois não tinham direito de desfrutar
daquilo que produziam. Mal alimentados, os servos estavam constantemente
sujeitos a doenças.

 Os modos – nas refeições, todos cortavam a carne com o próprio punhal e


comiam com as mãos. Os ossos e os restos eram jogados ao chão para serem
disputados pelos cães. As mulheres eram tratadas com desprezo e brutalidade.
Naqueles tempos, o mundo pertencia aos homens.

 Moradia do servo – o servo morava, em geral, numa cabana construída de varas


trançadas e recobertas de barro. Um buraco no telhado de palha era a única saída
para a fumaça do fogão. O piso era de terra batida, geralmente fria e encharcada
pela chuva ou pela neve. A cama do servo era uma caixa cheia de palha, e a
cadeira, um banco de três pés sem encosto (mocho).

 O desprezo – os servos não sabiam ler nem escrever e eram totalmente


desprezados pelos nobres e habitantes das cidades. Dizia-se que eram velhacos,
estúpidos, mesquinhos, estrábicos e feios, que tinham nascido do esterco de
burro e que o diabo não os queria no inferno porque cheiravam muito mal.

 Os direitos dos servos – o servo tinha direito à posse usual da terra. Se a terra
fosse vendida, ele conservava o direito de cultivar o seu lote. Quando o servo
ficava muito velho ou fraco para trabalhar, era dever do senhor feudal cuidar
dele até o fim de seus dias.

61 – FUNDAMENTALISMO

1 – Introdução:

O contexto de terrorismo e de guerra que estamos vivendo nos inícios dos séculos XXI
faz circular como moeda corrente o termo “Fundamentalismos”. Esta palavra se tornou
chave explicativa e interpretativa de ações terroristas que ocorrem em diferentes regiões
do mundo, especialmente naquelas onde predomina o islamismo.

Acusa-se o fundamentalismo islâmico de ser o principal responsável pela Terça-Feira


Triste de 11 de Setembro de 2001, com o nefasto atentado aos ícones do poder norte-
americano e da cultura capitalista dominante em Washington em Nova York: o
Pentágono e as duas Torres Gêmeas.
231

Ouviram-se, do lado dos muçulmanos, discursos com todas as características do


fundamentalismo, revidado pelas autoridades civis e militares norte-americanas,
singularmente, pelo Presidente George W. Bush cm igual fundamentalismo.
Inauguramos uma guerra de fundamentalismo.

Na verdade, o termo fundamentalismo tornou-se palavra de acusação. Fundamentalista é


sempre o outro. Para si mesmo prefere-se o termo “radicalismo”, seja religioso, seja
político, seja econômico. Com isso se quer dizer que se procura ir às raízes das questões
para compreendê-las e, a partir daí, ataca-las, o que seria altamente positivo. Segundo
Paulo Freire, é preciso distinguir entre radicalismo – processo de ir à raiz das questões;
e sectarismo, que é a inflação de um setor da realidade ou de um aspecto da
compreensão em detrimento do todo.

2 – O que é Fundamentalismo?

Esses dados já nos ajudam a entender o que seja o fundamentalismo. Não é uma
doutrina. Mas uma forma de interpretar e viver a doutrina. É assumir a letra das
doutrinas e normas sem cuidar de seu espírito e de sua inserção no processo sempre
cambiante da história, que obriga a contínuas interpretações e atualizações, exatamente
para manter sua verdade essencial. Fundamentalismo representa a atitude daquele que
confere caráter absoluto ao seu ponto de vista.

Sendo assim, imediatamente surge grave consequência: quem se sente portador de uma
verdade absoluta não pode tolerar outra verdade, e seu destino é a intolerância. E a
intolerância gera desprezo do outro, e o desprezo, a agressividade, e a agressividade, a
guerra contra o erro a ser combatido e exterminado. Irrompem conflitos religiosos com
incontáveis vítimas.

3 – Como Surgiram o Fundamentalismo

O nicho do fundamentalismo se encontra no protestantismo norte-americano, surgido


nos meados do século XIX. O termo foi cunhado em 1915, quando professores de
teologia da Universidade de Princeton publicaram uma pequena coleção de doze livros
que vinha sob o título Fundamentals. A Testimony of the Truth (1909-1915). Neles
propunham um cristianismo extremamente rigoroso, ortodoxo, dogmático, como
orientação contra a avalanche de modernização de que era tomada a sociedade norte-
americana.

Não só modernização tecnológica, mas modernização dos espíritos, do liberalismo, da


liberdade das opiniões, contrastando fundamentalmente com a seguridade que a fé cristã
sempre oferecera.
232

4 – Fundamentalismo Protestante

A tese dos fundamentalistas no âmbito religioso é afirmar que a Bíblia constitui o


fundamento básico da fé cristã e deve ser tomada ao pé da letra (o fundamento de tudo
para a fé protestante é a Bíblia).

Cada palavra, cada sílaba e cada vírgula, dizem os fundamentalistas, é inspirada por
Deus. Como Deus não pode errar então tudo na Bíblia é verdadeiro e sem qualquer erro.
Como Deus é imutável, sua Palavra e suas sentenças também o são. Velem para sempre.

Ainda hoje, especialmente nas escolas do sul dos Estados Unidos onde há ensino
religioso, as aulas de história e de biologia podem refletir o mais elevado
evolucionismo, enquanto que as aulas de religião seguem o mais estrito
fundamentalismo.

Em nome desses literalismo, os fiéis opunham-se às interpretações da assim chamada


teologia liberal. Esta usava e usa os métodos histórico-críticos e hermenêuticos para
interpretar textos escritos há dois, três mil anos. Parte-se do princípio de que a história e
as palavras não ficaram congeladas no passado. Elas mudam de sentido ou ganham
novas ressonâncias com a mudança dos contextos históricos. Por isso, precisam ser
interpretadas para que seja resgatado o sentido original. Este procedimento para os
fundamentalistas é ofensivo a Deus, é obra de Satanás.

A Bíblia não precisa ser interpretada, ela é a palavra de Deus, e o espírito Santo ilumina
as pessoas para compreenderem os textos. Por razões semelhantes, eles se opõem aos
avanços contemporâneos da história, das ciências, da geografia e especialmente da
biologia que possam questionar a verdade bíblica.

Para o fundamentalista, a criação se realizou mesmo em sete dias. O ser humano foi
feito literalmente de barro. Eva é tirada da costela física de Adão. O preceito “crescei e
multiplicai-vos, enchei e subjugai a Terra, dominai sobre os peixes do mar, sobre as
aves do céu, sobre tudo o que vive e se move sobre a Terra” (Gênesis 1. 28, 29) deve ser
tomado estritamente ao pé da letra, pouco importando se essa dominação
antropocêntrica venha a pôr em risco a biosfera.

Mais ainda: só Jesus é o caminho, a verdade e a vida, o único e suficiente salvador. Fora
dele há somente perdição. Desse rigorismo se deriva o caráter militante e missionário de
todo fundamentalista. Em face dos demais caminhos espirituais, ele é intolerante, pois
significam simplesmente errância.

Na moral, é especialmente inflexível, particularmente no que concerne à sexualidade e à


família. É contra os homossexuais, o movimento feminista e os processos libertários em
geral. Na economia, é monetarista conservador, e na política sempre exalta a qualquer
custo a ordem, a disciplina e a segurança.

O fundamentalismo protestante ganhou relevância social nos Estados Unidos a partir


dos anos 50 com as “Electronic Church”. Pregadores nacionalmente famosos usaram o
233

rádio e a televisão em cadeia para suas pregações e campanhas conservadoras. Sob o


Presidente Ronald Reagan, essas igrejas eletrônicas significaram um fator político
determinante, ao favorecerem medidas restritivas em muitos campos da vida pública,
particularmente com referência aos imigrados e à assistência aos pobres. Combateram
abertamente o Conselho Mundial de igrejas em Genebra (que reúne mais de duas
centenas de denominações cristãs) e todo tipo de ecumenismo, tidos como invenção do
diabo.

Naturalmente, nem todos os protestantes conservadores são fundamentalistas. A maioria


não é biblicista, pois incorporou avanços na interpretação das Escrituras para torna-la
contemporânea. Lutero já afirmava: a Bíblia toda tem a Deus como autor, mas suas
sentenças devem ser julgadas a partir de Cristo. Ele é a Palavra feita livro. Os católicos,
mesmo os mais ortodoxos, afirmam com o Concílio Vaticano II: a Bíblia é inspirada e
inerrante só com referência às verdades importantes para nossa salvação. Ela não
pretende ser inerrante em campos da história, da geografia e da biologia. Com isso, se
procura evitar a identificação da Bíblia com a Palavra de Deus. Diz-se: na Bíblia está
contida a Palavra de Deus.

5 – Fundamentalismo Católico

O Catolicismo possui também seu tipo de fundamentalismo. Ele vem sob o nome de
Restauração, e Integrismo. Procura-se restaurar a antiga ordem, fundada no casamento
(incestuoso) entre o trono e o altar, vale dizer, entre o poder político e o poder clerical.
Visa-se a uma integração de todos os elementos da sociedade e da história sob a
hegemonia do espiritual representado, interpretado e proposto pela Igreja Católica (pelo
seu corpo hierárquico, encabeçado pelo Papa). O inimigo a combater é a Modernidade,
com suas liberdades e seu processo de secularização.

Há duas vertentes de fundamentalismo católico: o doutrinário e o ético-moral:

a) O fundamentalismo doutrinário – é bem representado no documento Dominus


Jesus do ano 2000, assinado pelo Cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da antiga
Inquisição, que aborda a relação de Cristo e da Igreja Católica com as demais
igrejas e religiões. Aí se sustenta que a Igreja católica é a única Igreja de Cristo.
As demais denominações cristãs não são igreja, trata-se de usurpação do título.
Possuem apenas elementos eclesiais.

O catolicismo comparece também como a única religião verdadeira, e os que


não se converterem à Igreja Católica Apostólica Romana correm o risco de
perdição eterna. Cinquenta anos de trabalho ecumênico, de diálogo inter-
religioso, aparentemente se esvaíram, porque as velhas teses medievais da Igreja
como única portadora dos desígnios de Deus, e fora da qual não há salvação,
foram ressuscitadas. Isto provocou um escândalo em toda a Igreja, escândalo
234

que não foi ainda digerido nem por nós católicos, muito menos pelos
protestantes, que estavam se acercando muito próximos da Igreja Católica.

A centralização patriarcal do poder sagrado apenas nas mãos do clero, o


autoritarismo do magistério papal, a discriminação das mulheres com referência
ao sacerdócio e aos cargos de direção na comunidade eclesial, pelo simples fato
de serem mulheres, a infantilização dos leigos, por não serem portadores de
nenhum poder sacramental, são expressões do fundamentalismo católico em sua
forma doutrinária e oficial.

Porém, a forma mais velhista de fundamentalismo foi encarnada pelo arcebispo


suíço Marcel Lefebvre, nos anos 70-80, com seus seguidores no Brasil, Dom
Sigaud, de Diamantina, e Do Castro Meyer, de Campos. Ele fundou sua Igreja
paralela, considerada a única fiel detentora da tradição e da fé verdadeiras,
denunciando a Igreja de Roma, recém-saída do Concílio Vaticano II, como
traidora e infiel.

Características fundamentalistas se encontram também em setores importantes


do pentecostalismo católico, criativo nos símbolos e celebrações, mas
conservador e pobre em termos doutrinais.

b) O fundamentalismo ético-moral
A segunda vertente, é da moral e dos costumes, é a mais perplexidade e até
escândalo provoca. Basta lembrar à doutrina oficial contra os contraceptivos, os
preservativos, a fecundação artificial, a interrupção da gravidez, a
pecaminosidade da masturbação e do homossexualismo, a proibição de segundas
núpcias após um divórcio e o diagnóstico pré-natal ou a eutanásia. Para defender
suas teses nos foros mundiais, como na Conferência sobre a População Mundial
no Cairo, em 1994, e na Conferência Mundial da Mulher em Pequim, em 1995,
os representantes do Vaticano se aliaram às forças mais reacionárias e xiitas do
islamismo e dos estados autoritários do Ocidente.

Já antes o Vaticano foi um dos poucos estados que não referendou a Carta dos
Direitos Humanos da ONU, em 1948, por não constar em sua introdução o nome
de Deus. Pior ainda, sabotou os belíssimos cartões natalinos da UNICEF e
suspendeu sua contribuição para a Obra de Ajuda à Infância da UNESCO por
causa da recomendação desses organismos para que as mulheres refugiadas
usassem preservativos anticoncepcionais.

Um fundamentalismo sem piedade se manifesta na forma como setores oficiais


enfrentam a difícil questão das doenças sexualmente transmissíveis e da AIDS.
Há basicamente duas formas de prevenção: a abstenção completa e o uso de
preservativos que protegem em 90% dos casos, mas deixando 10% sob risco.
Ocorre que o rigorismo oficial católico veta o uso de preservativos até em
235

centros de acolhida de meninos e meninas de rua, que vivem, notoriamente, em


grande promiscuidade. Segundo dados recentes de Daniel Souza, filho de nosso
querido Betinho, no Brasil 40% dos jovens com quinze anos, 60% com até
dezenove anos e 92,3% com até vinte e quatro anos têm vida sexual ativa.

Que quer dizer a esses jovens? Que se abstenham de vida sexual até o
casamento? Que não usem preservativos e se usarem “imoralmente” correm o
risco em 10% de contaminação? Não é irresponsável pregar semelhante moral?
Comenta Daniel Souza com razão: “É mais fácil um camelo passar por um
buraco de agulha do que esses 92,3% de jovens praticarem a abstinência sexual
até o casamento... A meu ver, a Igreja Católica deveria celebrar e preservar o
bem maior que Deus nos deu, a vida, do que receitar a morte”.

Como se depreende, o fundamentalismo nessa dimensão moral cega setores


importantes do cristianismo para o óbvio e para a mensagem central do
cristianismo que é trazer vida em abundância. A vida é sacrificada em nome de
normas e doutrinas fossilizadas.

6 – Fundamentalismo Islâmico

O fundamentalismo ocupou o eixo das discussões neste final de 2001. Como é notório,
o islamismo é a última grande religião surgida no último milênio, estendendo-se do
Marrocos até a Indonésia, incluindo a Turquia, partes da África Negra e da Rússia. É a
religião que mais cresce no mundo. A seguir o ritmo atual, dentro de alguns anos será
maior religião da humanidade. Vindo após o cristianismo e o judaísmo, ela se entende
como a síntese superior de ambas, seu necessário corretivo e aperfeiçoamento. Trata-se
de uma religião extremamente simples, o que explica em parte sua divulgação,
sustentada por cinco pilastras: a oração ritual, cinco vezes ao dia, feita na direção de
Meca; peregrinação a Meca uma vez na vida; jejuar do nascer ao por do sol durante o
Ramadã, o nono mês lunar; dar esmola como forma de partilha e de agradecimento a
Deus, doador de todos os bens; professar que Alá é o único Deus e Maomé, o seu
profeta.

O livro Alcorão é entendido como a revelação verbal e última dada por Deus, em árabe,
ao seu povo. O livro é até mais importante que seu próprio intermediário, Maomé.
Divide-se em 114 capítulos (suras), constituindo duas grandes partes que correspondem
às duas fases de atuação do profeta Maomé: a fase de Meca (anos de 610-622) e a fase
de Medina (622-632). A fase de Meca contém textos mais curtos e trata
fundamentalmente da doutrina, do único Deus, da moral, do juízo, do inferno e do
paraíso. Aqui se revela um grande respeito por Jesus e por Maria. Na fase de Medina, o
Alcorão trata de orientações concretas de o reto viver, de organização política e do
sistema jurídico.
236

Como nem tudo pôde ser tratado por Moisés no Alcorão, incorporam-se à doutrina
islâmica os ditos de outros profetas e santos (hadit), o consenso dos sábios (igma) e os
argumentos por analogia (qiyas).

Essas incorporações estão na base das várias tendências no islamismo histórico. Há os


que querem o Alcorão simplesmente, em sua letra, outros o releem a partir das
interpretações dos sábios e, por fim, estão os que o atualizam em face dos desafios que
vem da evolução histórica, especialmente da modernidade contemporânea. E nisso
estes, estão como nós cristãos, num permanente processo de releitura e atualização da
mensagem, traduzida para os distintos desafios das culturas nos dias de hoje.

O islamismo original (islam significa “submissão total a Deus”), não é guerreiro nem
fundamentalista. São tolerantes para com todos os povos, especialmente “os povos do
livro” (judeus e cristãos). Ele vive de duas grandes convicções: a afirmação da absoluta
unicidade e transcendência de Deus, a partir de onde tudo na Terra é relativizada, e a
comunidade profética dos irmãos, pois todos são criaturas de Deus e devem se
entreajudar. Comenta Roger Garaudy no seu conhecido livro Promessas do Islã (Nova
Fronteira, 1988): “Transcendência e comunidade, não é essa a contribuição que o Islã
hoje pode trazer para a descoberta de um futuro de aspecto humano, num mundo em que
a eliminação do transcendente, a destruição da comunidade pelo individualismo e um
modelo demente de crescimento tornaram o status quo impossível de se viver e,
impossíveis às revoluções de tipo ocidental?”.

Não obstante, aqueles que tomam o Alcorão como a revelação enlivrada (feita livro) e
tentam aplica-la em todos os campos da vida – no sagrado e no profano, na sociedade e
na organização do Estado – tendem a serem fundamentalistas. Criam um estado
teocrático e acabam impondo a todos, mesmo aos não muçulmanos, as verdades
islâmicas e os preceitos rígidos da moral, especialmente com referencia à mulher. O
famoso jihad (originalmente, fervor e empenho pela causa de Deus) se transforma em
guerra santa. A permanente tensão entre muçulmanos e cristãos é tributária de uma
história longa de mútuas violências.

Do século VII ao século XII deu-se a expansão do Islã, ocupando os lugares sagrados
para os cristãos: a Terra Santa e os territórios da Igreja de S. Paulo (a Ásia Menor) e da
Igreja da antiga região catequizada por Santo Agostinho e São Cipriano (todo o norte da
África, chegando até a Espanha).

Do século XII ao século XIII se dá a contra ofensa cristã através das cruzadas até a
expulsão dos muçulmanos da Espanha em 1942.

Nos séculos XV e XVI vem a resposta muçulmana com a conquista de Constantinopla


(1453), a ocupação dos Bálcãs e a ameaça sobre toda a Europa, contida na Polônia.

Nos séculos XIX e XX, as potencias ocidentais dão o troco, dominando e colonizando
os principais territórios islâmicos na África, Oriente Médio e Extremo Oriente, usando
violência militar, exploração econômica e imposição cultural e religiosa. A partir da
237

Turquia de Ataturk impõe-se, nos inícios do século XX, a modernização ocidental,


acompanhada do liberalismo e do secularismo. Esse processo se aprofundou com o
controle por parte do Ocidente das ricas bacias petrolíferas situadas nos territórios
muçulmanos do Oriente Médio. Agravou-se com a globalização econômico-financeira,
altamente competitiva e nada cooperativa.

Qual foi o efeito final desse processo? A demonização mútua do inimigo. Os ocidentais
tendem a ver no muçulmano o fanático religioso e o terrorista. Os muçulmanos tendem
a ver nos ocidentais os ateus práticos, os materialistas crassos e os secularistas ímpios.

Esse caldo anticultural faz germinar o fundamentalismo e a nova forma de cruzadas dos
ocidentais.

62 – FUTURISMO

Iniciado em 1909 pelo poeta italiano Felipo Marinetti, o movimento rejeita o moralismo
e o passado e propõe um novo tipo de beleza, baseada na velocidade da industrialização.
Na literatura, a linguagem é espontânea, e as frases são fragmentadas para sugerir o
ritmo veloz. Na Rússia, o futurismo se alinhara a revolução de 1917, tendo como
expoente o poeta Vladimir Maiakovski. Marinetti alinha-se com o fascismo, que surge
na Itália na década de 1920.

63 – GEOCENTRISMO

Desde os tempos mais antigos, o universo causa curiosidade e especulações nos seres
humanos. Um dos temas mais debatidos ao longo da história foi a organização do
sistema solar, sobre o qual foram geradas diversas pesquisas, observações e teorias
científicas e religiosas.

1 – Como Surgiu A Teoria do Geocentrismo?

Na Grécia Antiga, por volta de 350 a.C., Aristóteles passou a idealizar a teoria de que a
Terra estaria no centro do universo, e que todas as outras esferas girariam ao redor dela.
Muito tempo se passou e então no século II d.C., o astrônomo e matemático Cláudio
Ptolomeu, não apenas reforçou a teoria de Aristóteles, como elaborou a teoria
Geocêntrica – teoria que defendia plenamente a ideia de que a Terra se encontrava no
centro do universo.
238

2 – A Terra Como Centro do Universo

Ainda, segundo Ptolomeu, a Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno
giravam ao redor da Terra, nessa ordem. Ele também acreditava que cada planeta girava
ao longo de um pequeno círculo, o qual chamou de epiciclo. Assim, cada planeta teria
um epiciclo próprio, e o centro de cada epiciclo se moveria em um ciclo maior, o qual
ficaria um pouco afastado da Terra.

Dessa forma, durante toda a Idade Média, acreditou-se e defendeu-se o Sistema


Geocêntrico. Não apenas os estudiosos, mas também a Igreja Católica durante ao menos
mil e quatrocentos anos apoiou Ptolomeu.

A tradição árabe prega que Ptolomeu, uma das grandes celebridades de sua época,
faleceu aos 78 anos de idade, deixando seus conhecimentos e teorias astronômicas em
um tratado de treze volumes chamado de Almagesto, o qual abordava o Geocentrismo e
muitas outras teorias.

3 – Contestação Final

Quatorze séculos depois, apareceu um homem chamado Nicolau Copérnico, que passou
a contestar o Geocentrismo. Ele elaborou a teoria do Heliocentrismo, no qual defendia
que a Terra assim como os outros planetas, movia-se ao redor do sol, e que era o real
centro do Sistema Solar. A Igreja Católica não aceitou sua teoria, que posteriormente,
foi comprovada e aperfeiçoada por Kepler, Isaac Newton e Galileu Galilei. Hoje, a
teoria do Heliocentrismo é amplamente aceita e defendida pela comunidade científica.

4 – O Que é O Geocentrismo?

É a teoria astronômica que determina ser a Terra o Centro do Universo. Por esse modelo
cosmológico, formulado por Aristóteles por volta de 350 anos a.C., e aperfeiçoado por
Cláudio Ptolomeu (90-168 a.C.), a Terra permanecia fixa no Centro do Universo e todos
os outros corpos celestes orbitavam.

O termo “Geocentrismo” vem do grego (Geo=Terra). O Geocentrismo influenciou por


catorze séculos e foi derrubada pela teoria do Heliocentrismo, elaborada por Nicolau
Copérnico em 1453, da qual o sol era considerado o Centro do Universo.

A teoria do Geocentrismo foi apresentada por volta do ano 150, quando Ptolomeu
afirmou e publicou “A Grande Síntese”. A Obra apresentava o modelo cosmológico que
explicava o movimento dos corpos celestes em torno da Terra e apontou seis órbitas
circulares que “segurariam” os planetas para que não caíssem.

As observações do astrônomo apontavam as órbitas que ele chamou de elípticos, dos


planetas Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Além da Lua e do Sol. Ptolomeu
239

concluiu que cada planeta tinha seu próprio elíptico e previu a distância entre eles,
concluindo estar mais próxima a Lua (primeira), seguido por Mercúrio (segunda),
Vênus (terceira), o Sol (quarta), Marte (quinta), Júpiter (sexta) e Saturno (sétima), nesta
ordem. Segundo historiadores, Ptolomeu deixou um tratado de treze volumes chamado
Almagesto, onde detalha o Geocentrismo e outras teorias.

5 – Geocentrismo e a Igreja Católica

O modelo do Geocentrismo era aceito pela Igreja Católica porque coincidia com os
textos bíblicos que colocavam o homem como objetivo da criação divina. Estando o
homem na Terra, permanecia na posição de imagem e semelhança de Deus, portanto, no
Centro do Universo. A teoria ruiu a partir dos estudos de Nicolau Copérnico, que
apontavam ser, na verdade, o sol o Centro do Universo.

A obra de Copérnico, contudo, foi condenada pela Santa Inquisição. A Igreja condenava
à morte os opositores a suas doutrinas. Foi o que ocorreu com Giordano Bruno, morto
na fogueira ao apoiar o modelo do Heliocentrismo e apresentar observações
astronômicas que apontavam a expansão constante do Universo. Um dos mais
importantes estudiosos da astronomia foi Galileu Galilei também comprovou o
Heliocentrismo com base nas pesquisas de Copérnico, mas foi obrigado a retratar-se
perante a Igreja para não morrer.

Em observações mais precisas, o físico alemão Johannes Kepler concluiu em 1609, que
somente a física pode explicar a organização do cosmos. Os dados foram usados pelo
inglês Isaac Newton (1643- 1727), que elaborou a Teoria da Gravitação Universal.
Diante dos estudos irrefutáveis, em 1835, o Papa Gregório XVI reconheceu o modelo
do Heliocentrismo.

64 – GNOSTICISMO
(veja tópico 59 sobre Humanismo).

Definição:

O que é o Gnosticismo?

É um conjunto de movimentos religiosos surgidos nos primeiros séculos depois de


cristo (d.C.), em várias regiões do Império Romano (Egito, Síria, Palestina, Ásia Menor,
Itália, Gália etc.), reunidos pela referência a uma noção especial de gnose, de caráter
salvífico.

À parte as diferenças, também importantes, das respectivas formulações doutrinais e das


práxis éticas e rituais, as várias correntes religiosas incluídas na denominação de
gnosticismo podem ser unificadas em um contexto homogêneo em relação à ideia da
presença no cosmo e no homem, de uma substância de origem divina (o pneuma,
240

espírito, o nous, intelecto, ou a psique, alma), aprisionada na matéria e no corpo, mas


destinada à salvação e ao retorno ao mundo divino superior, do qual saiu por uma culpa
ou incidente originário. O meio e o instrumento para tal salvação é justamente a gnose,
ou seja, o conhecimento, que é ao mesmo tempo iluminação interior e revelação, por
parte do elemento divino, o qual toma consciência de si, “reconhece” a própria natureza
superior e o distanciamento ontológico em relação ao mundo material e ao corpo.

Afirma-se, portanto, uma visão dualista, isto é, uma nítida distinção e contraposição de
“princípios”, no âmbito teológico, cosmológico e antropológico. Efetivamente, na
perspectiva gnóstica, o mundo visível, material, e o seu criador (o Demiurgo, às vezes
acompanhado de uma multidão de personagens secundários, os arcontes ou anjos) são
contrapostos a um mundo espiritual, divino, quase sempre formado por uma entidade
suprema, transcendente e incognoscível, a qual se manifesta em uma série de emanações
sucessivas (os éons) com nomes e atributos diferentes, exprimindo vários aspectos e
funções da divindade, em um movimento ad extra no qual se pode ver a causa última
daquele processo, visto como uma decadência, que levará ao aprisionamento de uma
partícula de substância divina na matéria. Outro lado característico e recorrente nos
sistemas gnósticos é a identificação entre o Deus criador do Antigo Testamento e o
Demiurgo inferior.

Os padres da Igreja Justino, Ireneu, Tertuliano, Hipólito, Epifânio tiveram contato direto
com as várias comunidades gnósticas, cujos membros, apelando a uma interpretação
“espiritual” e esotérica das Sagradas Escrituras e à pessoa de Jesus como revelador do
conhecimento salvifico, proclamavam-se os verdadeiros cristãos. Por isso, tais padres
consideraram os gnósticos como “hereges”, que falseavam e distorciam o ensinamento
confiado por Jesus aos apóstolos e conservado nas várias Igrejas, e empenharam-se
ativamente em refutar as suas doutrinas, com a finalidade de demonstrar a falsidade
destas e de afastar dos fiéis à sugestão de uma mensagem religiosa que, recorrendo a um
conhecimento superior, reservado a poucos privilegiados, podia atrair os espíritos
curiosos por perscrutar os “mistérios” divinos. As obras desses autores constituem uma
fonte preciosa de informações acerca do fenômeno gnóstico, aliás, a única fonte antes
que as areias do deserto egípcio trouxessem até nós, perto de Nag Hammadi, uma
coletânea de códices em papiro, contendo obras gnósticas originais.

65 – HELIOCENTRISMO

1 – Introdução:

Já vimos que o Geocentrismo se encontra nas obras de Aristóteles, posteriormente


completadas por Ptolomeu (século II). Essa concepção perdura durante toda a
Antiguidade e Idade Média: o universo medieval era geocêntrico, finito, esférico,
hierarquizado.
241

O geocentrismo é de certa forma confirmada pelo senso comum: percebemos que a


Terra é imóvel e que o sol gira à sua volta. Isto é confirmado no próprio texto bíblico:
em uma passagem das Escrituras, Deus fez parar o Sol para que o povo eleito
continuasse a luta enquanto ainda houvesse luz, o que sugere o sol em movimento e a
terra fixa.

Foi no século XVI que o monge Nicolau Copérnico (1473-1543) publicou a obra onde
propunha a teoria heliocêntrica. Apresentada timidamente como simples hipótese, talvez
por temor à Inquisição, a teoria teve pouca repercussão e foi praticamente ignorada até o
início do século XVII, quando ressurgiu como uma bomba com Galileu e Kepler.

O telescópio, invenção talvez dos holandeses, proporcionou a Galileu descobertas


valiosas: para além das estrelas fixas, haveria ainda infindáveis mundos; a superfície da
Lua era rugosa e irregular. O Sol tinha manchas, e Júpiter tinha quatro Luas! Mas como
isso era possível? Vimos que para os Aristotélicos o universo era finito, a Lua e o Sol
eram compostos de uma substância incorruptível e perfeitos, e Júpiter, engastado em
uma esfera de cristal, não podia ter luas que a perfurassem... Os fenômenos da física e
da astronomia, antes explicados a partir das diferenças da natureza dos corpos perfeitos
e imperfeitos, tornam-se homogêneos já que não há mais como reconhecer a
incorruptibilidade do mundo supralunar; desfaz, portanto a diferença entre Terra e Céus.
Além disso, à consciência medieval de um “mundo fechado”, é contraposta a concepção
moderna do “universo infinito”. Vimos que a noção de finitude era um atributo divino e
Giordano Bruno já pagara demasiadamente caro por essa ousadia.

O forte impacto dessas novidades desencadeou inúmeras polêmicas até que, pressionado
pelas autoridades eclesiásticas, Galileu se viu obrigado a abjurar. Que ideias tão terrível
é essas, que tanto ameaçam a ordem estabelecida e que merecem ser sufocadas?

2 – As Transformações Produzidas Pelas Ciências

Secularização da Consciência: na nova ciência não há lugar para explicações que


recorram à casualidade divina, como ocorria na antiga astronomia, em que se admitia
que o movimento das esferas celestes fosse impulsionado pelo primeiro Motor Imóvel,
ou seja, por Deus.

A ciência é secularizada, laicizada, o que significa justamente abandonar a dimensão


religiosa que permeia todo saber medieval. Galileu separa razão e fé, buscando a
verdade científica independentemente das verdades reveladas.

3 – Descentralização do Cosmos

O sistema geocêntrico era um todo centralizado, finito, ordenado. No novo modelo, a


Terra é retirada do centro do universo. Com a descoberta de outros mundos, nem o sol é
o centro. Dá-se, portanto, uma subversão da ordem e, consequentemente, uma ansiedade
no homem, que descobre o seu mundo transformado em “poeira cósmica”, a Terra como
242

simples planeta, um grão de areia perdido na imensidade do espaço infinito. Mais: o


sistema solar é apenas um dos muitos sistemas que compõem o Céu. O que passa a ser
questionado não é apenas o lugar do mundo, mas o lugar do homem no mundo.

4 – Geometrização do Espaço

Para os antigos, sempre houve uma mística do lugar. Havia lugares privilegiados: Hades
(inferno); Olimpo (lugar dos deuses); o espaço sagrado do templo; o espaço público da
ágora (praça pública); o gineceu (lugar da mulher). Da mesma forma, havia na física
aristotélica a teoria do lugar natural e, na astronomia, a divisão entre o mundo sublunar
e o mundo supralunar, constituídos de deferentes naturezas e hierarquicamente situados
(um inferior e outro superior).

Para a nova astronomia, o espaço é desmistificado, dessacralizado, isto é, deixa de ser


sagrado. Segundo Koyré, à descentralização do cosmos segue a geometrização do
espaço, o que significa que o espaço heterogêneo dos lugares naturais se torna
homogêneo, é despojado das qualidades e passa a ser quantitativo e mensurável (isto é,
pode ser medido). Podemos dizer, portanto, que há uma “democratização” do espaço,
pois todos os espaços passam a ser equivalente, iguais, nenhum sendo superior ao outro.

Não havendo mais diferença entre a qualidade dos espaços celestes e a dos terrestres, é
possível admitir que as leis da física sejam também da mesma natureza que as leis da
astronomia.

5 – Mecanismo

A ciência moderna compara a natureza e o próprio homem a uma máquina, um conjunto


de mecanismos cujas leis precisam ser descobertas. As explicações são baseadas em um
esquema mecânico cujo modelo preferido é o relógio.

Ficam excluídas das ciências todas as considerações a respeito do valor, da perfeição,


do sentido e do fim. Isto é, as causas formais e finais, tão caras à filosofia antiga, não
servem para explicar: apenas as causas eficientes são utilizadas nas explicações
científicas.

66 – HILEMORFISMO TEOLÓGICO

Introdução:

Para Aristóteles, a ciência deveria partir da realidade sensorial – empírica – para buscar
nela as estruturas essenciais de cada ser. Em outras palavras, a partir da existência do
243

ser individual, devemos atingir sua essência, seguindo um processo de conhecimento


que caminharia do individual e específico para o universal e genérico.

O filósofo entendia, portanto, que o ser individual, concreto, único constitui o objeto da
ciência, mas não é o seu propósito. A finalidade da ciência deve ser a compreensão do
universal, visando estabelecer definições essenciais que possam ser utilizadas de modo
generalizado.

Desse modo, a indução (operação mental que vai do particular ao geral) representa, para
Aristóteles, o processo intelectual básico de aquisição de conhecimento. É por meio do
método indutivo que o ser humano pode atingir conclusões científicas, conceituais, de
âmbito universal.

O conceito escola, por exemplo, é o resultado da observação sistemática das diferentes


instituições às quais se atribui o nome escola. Somente dessa maneira o conceito escola
pode ter sentido universal, já que reúne em si os componentes essenciais aplicáveis ao
conjunto das múltiplas escolas concretas existentes no mundo.

1 – Hilemorfismo Teleológico:

Mais interessado na vida natural que seu mestre, Aristóteles formulou uma teoria da
realidade que ficou conhecida como hilemorfismo teleológico. Para explica-la é preciso
relacionar conceitos de sua física com os de sua metafísica.

Se observarmos a natureza como fazia esse pensador, veremos que ela tem ciclos
constantes e regulares. As plantas e os animais nascem, crescem e morrem. Cada
organismo constitui um todo orgânico, ordenado e coeso. Apesar da diversidade e
multiplicidade de entes, parece haver uma ordem interna e externa a cada um deles que
conduz à sucessão dos acontecimentos.

Portanto, ficava difícil para Aristóteles conceber que o inteligível estivesse totalmente
separado da realidade concreta, perceptível aos nossos sentidos, pertencendo a outro
mundo, como dizia Platão. Por que não pensar que o inteligível está aqui mesmo, neste
mundo, e que opera dentro das próprias coisas?

2 – Matéria e Forma

Foi o que supôs Aristóteles. Ele era um grande observador da natureza – considerado
por muitos o primeiro biólogo que existiu – e achava que o sensível e o inteligível
deviam estar unidos, metidos um no outro. Somente a análise ontológica permitiria
identificá-los e separá-los, mas essa separação seria apenas conceitual, pois, na
realidade mesma, o sensível e o inteligível andariam sempre juntos. Para os filósofos,
“as coisas são o que são em sua própria natureza”, ou seja, o ser verdadeiro deve ser
imanente.
244

Seguindo essa linha de raciocínio, Aristóteles concebeu a noção de que todas as coisas
estariam constituídas de dois princípios inseparáveis:

 Matéria (hylé, em grego) – o principio indeterminado dos seres, mas que é


determinável pela forma;

 Forma (morphé, em grego) – o principio determinado em si próprio, mas que é


determinante em relação á matéria.

Assim, tudo o que existe é composto de matéria e forma, daí o nome hilemorfismo para
designar essa doutrina. Note, porém, que é a forma que faz as coisas serem o que são,
enquanto a matéria constituiu apenas o substrato que permanece. Nos processos de
mudança, é a forma que muda; a matéria mantém-se sempre a mesma. Por exemplo: se
um anel de ouro é derretido para converter-se em uma corrente de ouro, muda-se a
forma (de anel para corrente), mas mantém-se a matéria (ouro).

Como você pode perceber apesar de revalorizar o sensível, Aristóteles não despreza
totalmente a concepção de ideias eternas de seu mestre, mas a trazia de volta a este
mundo, batizava-a com outro nome (forma) e a complementava com o que supôs faltar
para que ela pudesse explicar todas as classes de seres e as mudanças do real.

3 – Potência e Ato

Aristóteles também retomou o problema da permanência e da mudança (a clássica


polêmica entre Heráclito e Parmênides) e realizou uma reviravolta: sem questionar o
estatuto da mudança em si, procurou analisar a realidade que muda (o ser imbricado no
não ser), entendendo que o movimento existe e que não se encontra fora das coisas.

Desse modo, observou que uma semente não é uma planta, assim como um livro não é
uma planta. Mas a semente pode tornar-se uma árvore, enquanto o livro não pode. Isso
quer dizer que, em todo ser, devemos distinguir:

 O ato – a manifestação atual do ser, aquilo que ele já é (por exemplo: a semente
é, em ato, uma semente);

 A Potência – as possibilidades do ser (capacidade de ser), aquilo que ainda não


é, mas que pode vir a ser (por exemplo: a semente é, em potência, a árvore).

Conforme essa concepção, todas as coisas naturais são ato e potência, isto é, é algo e
podem vir a ser algo distinto. Uma semente pode tornar-se uma árvore se encontrar as
condições para isso, do mesmo modo que uma árvore que está sem flores pode se
tornar, com o tempo, uma árvore florida, manifestando em ato aquilo que já continha
intrinsecamente como potência. Enfim, potência e ato explicam a mudança no mundo, o
movimento e a transitoriedade das coisas.
245

Relacionando essas dualidades de princípios nos seres (matéria e forma; potência e ato),
podemos observar um paralelismo entre matéria e potência e entre forma e ato: a
matéria indeterminada é o ser em potência; a forma é o ser em ato.

4 – Substância e Acidente

Por outro lado, em virtude de certas condições climáticas, uma árvore frutífera pode não
vir a dar frutos (o que contraria sua potência de dar frutos), ou então às folhas da árvore
podem se apresentar queimadas ou ressecadas, em consequência de um clima seco.

Aristóteles classifica esses casos, ou qualidades do ser, como acidentes, ou seja, algo
que ocorre no ser, mas que não faz parte de seu ser essencial. Isso significa que, para o
filósofo, devemos distinguir em todos os seres existentes o que neles é:

 Substancial – atributo estrutural e essencial do ser; aquilo que mais intimamente


o ser é e sem o qual ele não é. Assim, todo ser tem sua substância, de modo que
devem existir tantas substâncias quantos seres existem (pluralismo ontológico);

 Acidental – atributo circunstancial e não essencial do ser; aquilo que ocorre no


ser, mas que não é necessário para definir a natureza própria de esse ser.

67 – HINDUÍSMO

1 – Introdução:

a) O que é o Hinduísmo?

É uma religião muito antiga e é um sistema de crenças que muitas pessoas têm em
comum. Você perceberá como uma religião muito antiga pode absorver muitas crenças
diferentes, atrair muitos grupos de pessoas aos seus ensinamentos e tornar-se um
sistema que seja uma filosofia de vida.

As religiões como um todo podem ser comparadas a um grande número de árvores de


um jardim enorme. Algumas árvores são mais antigas, maiores e mais bonitas do que
outras. Mesmo assim, todas compõem o jardim total das religiões dos homens. Há uma
árvore, porém, que é mais bela que as demais. É a única que tem frutos... “para a saúde
das nações”, como a árvore apresentada em Apocalipse 22.2. Trata-se da árvore do
Cristianismo. Mas, antes de chegarmos a ela, examinaremos algumas outras – seu
tamanho, sua forma, sua idade e seus frutos. Uma das árvores frondosas, cujos ramos
oferecem abrigo para muitas crenças é o hinduísmo.
246

2 – Conhecendo O Hinduísmo

O hinduísmo declara ser a religião mais antiga do mundo. Apesar disso, tem
raízes no animismo. O animismo, por sua vez, tem suas raízes no monoteísmo
dos tempos da criação. Seria, portanto, mais exato dizer que o hinduísmo é a
religião mais antiga com um nome. Sua história remonta aos dias de Abraão, e
até mesmo à área deste.

a’) Definição:
É difícil definir o hinduísmo por causa da grande variedade de suas crenças.
Alguns hindus adoram um deus tal como Brahman, ao passo que outros
acreditam num deus pessoal. Alguns são vegetarianos (não comem carne);
outros realmente comem carne. Segundo muitas pessoas, o hinduísmo é uma
religião, ao passo que outros é uma filosofia de vida. Um ex-presidente da Índia
disse que o hinduísmo é mais uma cultura do que um credo. A palavra Hindu
provém de Sindhu, o nome em sânscrito do rio Indu, na Índia. Os hindus
chamam sua religião de sanatana dharma, que significa “religião eterna” ou
“verdade eterna”. Inclui tanto as crenças religiosas como as ideias éticas.

b’) Localização Geográfica:


O dito popular declara que a Índia é o hinduísmo e que o hinduísmo é a Índia. A
verdade, porém, é que milhares de hindus habitam em outras partes do mundo.
Dos povos da Índia, aproximadamente 84% são hindus (Enciclopédia Britânica).
O boletim das Sociedades Bíblicas Unidas declara que cerca de 11,6% da
população da Índia é muçulmana e cerca de 2,4% é cristã.

c’) Origens do Hinduísmo:


O hinduísmo não tem como fundador uma pessoa individual. É, em grande
medida, uma mistura de crenças dos povos que migraram para aquela área. O
povo ariano, por exemplo, migrou para o vale do rio hindu. Seus costumes e sua
religião misturaram-se com as tradições locais e a cultura resultante veio a ser o
“Hinduísmo Clássico”.

Hindus e Árias – a palavra Ária é derivada do sânscrito, com o significado de


“os nobres”. Os árias surgiram da região da Pérsia, num período quando os
reinos locais competiam entre si pelo domínio sobre os demais. Entre 1700 e
1200 a.C., chegaram ao Vale do Indu e conquistaram os habitantes das cidades
daquela área. Os árias falavam um idioma antigo da Índia. Eram divididos em
tribos, comandadas por chefs chamados rajás. À medida que se estabeleciam na
Índia, alguns dos rajás formavam reinos pequenos para si mesmos. Os parentes
arianos que não migraram tornaram-se os fundadores do Império Persa que
floresceu entre os séculos VI e IV a.C. nos tempos modernos, a área tem sido
chamada Irã, a terra dos árias. Essa origem dos povos arianos e confirmada pela
semelhança entre as palavras dos idiomas primitivos.
247

Português – Deus – pai


Sânscrito – Deva ou Dyaush – pitar
Grego – Zeus – pater
Romano – Deus – piter
Iraniano – Dia – pidar
Francês – Dieu – pere
Espanhol – Dios – padre
Inglês – God – father

Os árias são chamados caucasianos porque provinham da área das montanhas


Cáucasas. Também são chamados de: o povo indo-europeu, porque alguns deles
foram para a Índia, no Oriente e outros para a Europa, no Ocidente. Levaram
consigo seus deuses, sem amor à família, seus métodos militares, suas histórias
antigas e sua auto-confiança.

O Animismo e o Hinduísmo: o animismo ainda existe no hinduísmo popular, até


mesmo entre as clássies superiores. Por exemplo, é superticioso e acredita na
astrologia, nas maldições, no mau olhado e nos feitiços. A vaca, um símbolo
animístico, é um símbolo sagrado da fertilidade no hinduísmo, e matar uma vaca
é contra a lei. Os hindus também praticam uma reverencia toma a forma de um
ciclo de nascimento, de morte e de novo nascimento.

d’) Quatro Período da História Hindu


Assim como na maioria dos países, a história hindu passou por muitas
mudanças. Essas mudanças seguiram as crenças e a literatura do hinduísmo. É
possível separar a história em duas divisões principais: o Hinduísmo Filosófico e
o Hinduísmo Popular. Nós, porém, examinaremos os quatro períodos segundo os
quais a maioria dos escritores divide a história do Hinduísmo.

- O Período Védico. Esse é o período da invasão ariana desde 2000 até 600 a.C.
Cerca de 1400 a.C., os Vedas, os escritos sagrados dos hindus, foram
compostos. Os mais famosos deles eram chamados de: Upanishadas. Vieram a
ser a origem documentária do hinduísmo clássico e filosófico.
- O Período de Reforma. Nos séculos X e IX a.C., algumas pessoas reagiram
contra os sacrifícios, o sistema de castas, e a reencarnação, ensinada no sistema
védico. A revolta permaneceu por um longo período, mas os escritos do Período
de Reforma provinham principalmente do período de 600 a.C. até 200 d.C.
parece que Deus estava despertando a consciência das pessoas espalhadas por
uma vasta área nos séculos X e IX a.C. em Canaã, havia o conflito entre Jeová e
os sacrifícios ao deus falso, Baal. Elias, e outros profetas desafiaram os Baalins
e comprovaram que o Deus de Israel era Deus verdadeiro. No século IV a.C., o
Imperador Grego estendeu-se até a Índia e provocou outra mistura de povos e
crenças. Seguiu-se, então, o Império Romano, com suas próprias formas de
idolatria. Todas essas mudanças preparavam o caminho para Cristo, o
248

cumprimento dos sacrifícios, das promessas dos profetas e das ideias da


filosofia.

- Período Clássico. Mais uma vez, houve coincidência parcial dos períodos da
história, com relação aos ensinamentos e aos escritos. O Período Clássico do
hinduísmo durou cerca de 200 a.C. até 1000 d.C. os deuses foram reduzidos a
Trimurti ou três modos de deuses: Brahma, Shiva e Vishnu. Essas ideias foram
debatidas em todo o Oriente Médio cerca de 200 d.C.

- Período Bhakti. O período Bhakti (devoção) do Hinduísmo Popular (1000-


1750 d.C.) era notável pelo retorno ao politeísmo. O Islamismo surgiu no século
VII e espalhou-se até a Índia. No início do século XVI, o siquismo desenvolveu-
se das raízes do Hinduísmo. Tanto o islamismo quanto o siquismo influenciaram
os ensinamentos dos hindus.

e’) Características
Tolerância. O Hinduísmo é, provavelmente, a mais tolerante de todas as
religiões. Suas crenças, assim como seus deuses, são incontáveis. Abrangem
variações desde o animismo simples até algumas das filosofias mais nobres do
homem. O hinduísmo aceitou deuses maiores e menores, com seus respectivos
templos e sacerdotes. Quando brotaram as correntes do jainismo e do budismo, o
hinduísmo abriu as suas portas e permitiu que fossem afluentes do rio principal
do pensamento hindu. O hinduísmo, no entanto, não tem sido uma religião
missionária tal como o islamismo ou o Cristianismo. Cresce absorvendo todas as
demais religiões. Esta atitude tem por base a tradição do povo ariano, que
revelava amplo interesse pelas questões mais profundas da vida: a realidade, o
homem de Deus.

Os hindus dizem: “Que os outros se transformem; nós não temos essa


necessidade”. Com isso, querem dizer que, ao invés de adaptar-se às religiões
provenientes de fora, o hinduísmo simplesmente absorve em si mesmo as
demais religiões. Alguns de seus hinos demonstram que os árias entraram na
Índia, livres e fortes. Acabaram ficando fracos atados à roda da casta e das novas
encarnações. Introduziram o politeísmo, com deuses das tempestades, do sol, da
lua e do solo. Os hindus acrescentaram centenas de outros deuses. Os árias
sacrificavam em lugares abertos; os hindus reagiram, fornecendo templos para
os sacrifícios. Hoje, o sistema ariano é coisa do passado, ao passo que o
hinduísmo é uma das maiores religiões do mundo.

f’) Características Sociais


O Sistema das Castas. O Sistema das castas é exclusivo da religião hindu. Trata-
se da separação dos hindus em vários níveis sociais. Desde a história primitiva
do hinduísmo, tem havido quatro divisões principais entre as castas. Cada
249

membro deve manter-se na casta que herda e não associar-se a outras castas. As
quatro castas são:
9. Brahmans, a classe sacerdotal e intelectual;
10. Kshatriyas, os governantes e guerreiros;
11. Vaisyas, os agricultores e artesãos;
12. Sudras, a classe mais baixa de trabalhadores.

A origem do sistema das castas provém de uma tradição hindu de que Brahma
criou Manu, o primeiro homem. De Manu surgiram os quatro tipos de pessoas. Da sua
cabeça surgiram os Brahmins, o povo mais santo. Das suas mãos surgiram os
governantes e os guerreiros. Da sua coxa surgiram os artesãos. Dos pés de Manu
surgiram os Sudras. Os hindus, portanto, acreditam que o sistema das castas provém de
Deus. No decurso do tempo, o sistema das castas tornou-se mais complexo. Agora, há
cinquenta e oito castas com mais de um milhão de membros cada uma delas, além de
outras 2000 subcastas. Além disso, cerca de cinquenta milhões de pessoas ou mais, são
chamadas párias (sem casta), Harijans, intocáveis ou legalmente, as “classes arroladas”.
O sistema das castas foi declarado ilegal pelo governo da Índia, mais ainda continua
fazendo parte da sociedade indiana.

Quatro etapas da vida. Os hindus dizem que há quatro etapas na vida:

 O Estudante – Na etapa do estudante, os meninos hindus recebem um fio


sagrado que passa por cima do ombro e ao redor do corpo. Devem estudar com
diligencia os Vedas;

 Chefe de Família – Na segunda etapa, o homem amadurece e cria a sua família.


Passa mais tempo com sua esposa e filhos, devendo ser bom trabalhador e
hospitaleiro;

 O Aposentado – Nesta etapa, ainda pode morar com a esposa, mas passa muito
tempo em meditação na floresta;

 O Sábio Santo – Nessa etapa, o homem deixa a sua família e anda pelas estradas
da Índia como homem santo.

As Mulheres: as quatro etapas da vida são apenas para os homens da sociedade. As


mulheres devem ficar em casa sob o controle e a proteção do homem principal do lar.
Nunca devem separar-se do marido, do pai, nem dos filhos, o que seria uma vergonha
para as duas famílias. As mulheres estão destinadas a dar à luz e criar filhos, e são a luz,
a riqueza, a beleza e o esplendor do lar. Este é o ideal dos hindus; que é criticado por
alguns porque as mulheres não recebem direitos iguais aos dos homens na sociedade.
250

3 – Crenças Do Hinduísmo

A Índia é uma nação com uma grande variedade de crenças. Quem a estuda é como uma
pessoa que nada num vasto oceano de ideias. Certo escritor disse: “Os únicos aspectos
unificantes do hinduísmo são o caráter indiano da fé, e a reverência universal à vaca!”
Para nosso estudo, escolheremos uns poucos tópicos para podermos avaliar e comparar
com outras religiões.

a’) O Conceito Hindu da Deidade

7. Significados. Há algumas formas da palavra Brahman que podem dar origem a


confusões e que devemos esclarecer. Todas se derivam de uma palavra em sânscrito
brahamanas, que significa uma “oração”. Os escritos sagrados védicos são
Brahamanas. Brahma, uma palavra masculina, é o deus criador. Brahman é uma
palavra neutra; não é nem masculina nem feminina. Brahman é considerado a
realidade primordial e derradeira. Os Brahmanismo são a religião da Índia nos
tempos dos Upanishadas e do budismo. Os Brahmins são sacerdotes de alta casta e
posição social.

8. A Criação. Os Upanishadas (um escrito hindu reacionário) adotam o conceito de


que o universo foi feito de matéria que já existia. Uma escritura hindu original, o
Rig-Veda, no entanto, declarou que o mundo veio do nada. Esse conceito é
semelhante ao relato bíblico de Hebreus 11.3: “os mundos pela palavra de Deus
foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente”.

9. Mudanças. No decurso da sua longa história, o hinduísmo tem mudado seus


conceitos de deus ou da deidade. A partir do seu início no animismo, avançou para
o politeísmo, passou para um sistema de um deus tríplice e voltou para o
politeísmo. Segundo os Vedas, os árias trouxeram com eles os seus deuses. Varuna
era deus do espaço e da justiça. Visvarkarmen era aquele que fez todas as coisas, e
Surya era o deus sol. Indra era o deus das tempestades, das nuvens e das chuvas, o
governante da atmosfera. O Rig-Veda tem 250 hinos a seu respeito. Um dos hinos é
reproduzido abaixo.

Indra segurou firme o mundo ameaçado pelos demônios.


Matou os demônios com um raio, com o qual também
feriu as nuvens. Fez as águas descerem das nuvens do céu.
Ó, tu que manejas o raio, ó sábio, lança todas as armas
contra nossos inimigos. Aumenta o poder e a glória dos árias.

10. O Monismo. Cerca de 600 a.C. a filosofia do monismo tornou-se popular. Trata-se
da crença de que não há diferença entre alma e Brahman, a grande Alma do
Universo. Conta-se uma estória a respeito de um menino, cujo pai lhe ordenou que
colocasse sal num tigela. E assim foi deixado o sal durante a noite. No dia seguinte,
251

o pai mandou o menino trazer o sal, mas o filho não o achou, porque já havia se
dissolvido. O pai disse que, da mesma maneira, a alma dele e o Brahman são a
mesmíssima coisa. Arrematou com a declaração famosa: “O sal é o Próprio-eu:
você é o sal”.

11. O Dualismo. Durante o Período da Reforma, a filosofia do dualismo opunha-se à


doutrina védica. Como nos Upanishadas, procurava descobrir a Deus à parte dos
sacrifícios e dos sacerdotes. Tratava-se, porém, da teoria de que a alma humana
(atman) e Brahman são duas entidades separadas, e não uma unidade inseparável. O
sal dissolvido na água continua sendo salobre, e diferente da água comum.

12. Brahman. A única realidade, segundo os Upanishadas, é o deus Brahman. Brahman


é eterno, sem passado, presente, nem futuro, infinito, assexual e totalmente
impessoal. Todos os demais seres do universo inteiro são uma expressão de
Brahman. Mesmo assim, Deus não é considerado como pessoa, mas como um
princípio do universo. Nessa condição, Ele é o seu universo; essa doutrina é o
panteísmo. O Upanishada Maitri diz: Verdadeiramente, no princípio deste mundo
havia Brahman, o ilimitado, sem limites para o leste, para o norte e em toda
direção. Aquela alma suprema é incompreensível, não nasceu, não se pode
conceber dela, e não se pode raciocinar a respeito; sua alma é o espaço.

13. Vishnu. O terceiro deus do Trimurti é Vishnu. É conhecido como um deus de amor,
de graça e de perdão. Declara-se que ele já apareceu nove vezes na terra e que virá
uma décima vez, na última vez, para pôr fim ao mundo. Os seguidores de Vishnu
são célebres pelo seu profundo amor ao seu deus. Cânticos são escritos para louvá-
lo. Kabir e Nanak, fundadores do Siquismo, eram poetas da seita Vishnu. O
Bhagavad-Gita, o grande poema hindu, declara que Krishna era o avatar
(encarnação) de Vishnu. Ele é o deus do movimento Hare Krishna. A partir do
século XV, esse movimento espalhou-se em redor do mundo. Mediante o estudo, o
entoar de mantras de Krishna e a meditação, seus membros esperam atingir a
“consciência de Krishna”.

14. Lugares e Pessoas Sagradas. Nos tempos arianos, o culto era realizado ao ar livre,
mas posteriormente, templos eram edificados para os deuses. Visto que se pensava
que os deuses habitavam nas montanhas, muitos templos foram edificados segundo
o estilo de um lar nas montanhas. Uma imagem, o símbolo da presença divina,
estava no centro de uma torre, com muros em redor. O culto que prestam tem
muitas cerimônias, inclusive o lavar dos pés, o enxaguar da boca, o banhar-se e
uma refeição. Tocam sinos, cantam hinos e queimam incenso com o
acompanhamento de música ritualista. A adoração não é congregacional, mas sim,
individual. Os professores, sacerdotes, gurus e ascéticos (sadhuns) são as pessoas
santa no sistema do culto.
252

Os lares hindus contém um lugar para o santuário. Nele, há as imagens e as


primeiras pinturas das deidades e um mandala, um quadro simbólico do universo.
Os adoradores usam fogo e água para a purificação e colocam comida, incenso e
flores perto do santuário.

Os festivais hindus são realizados de acordo com a estação. Holi é um festival


popular da primavera, em homenagem a Krishna. As questões das castas e dos
tabus são deixadas de lado, a fim de que haja um período de alegria geral. Divali é a
festa das luzes, do outono, em homenagem a Kali e Lakshmi.

15. A Vaca Sagrada. As pessoas frequentemente perguntam: “Os hindus adoram as


vacas?” Algumas pessoas pensam que as vacas ficam soltas para se desgarrarem
sozinhas, sofrendo e passando fome, pelas estradas secas da Índia. Os hindus
negam semelhante ideia. Mahatma Gandhi, falando a favor da proteção às vacas,
disse que a vaca é: fato central do hinduísmo, a crença concreta que todos os hindus
têm em comum. Por meio da vaca, o homem é ensinado a reconhecer sua união
com tudo quanto tem vida. Ela é mãe para milhões de indiano, uma poesia de
misericórdia e o símbolo vivo da generosidade outorgado a toda a humanidade.

Alimentar uma vaca é, para os hindus, um ato de adoração. O esterco da vaca é


usado como combustível, revestimento de assoalho, cimento e remédio. Até mesmo
sua urina é usada nos ritos da purificação.

b’) O Homem

O hinduísmo faz uma conexão entre a religião dos homens e a crença hindu a respeito
da realidade do homem e do pecado.

Três Partes do Homem. Reconhecemos três partes da existência do homem: a mente, o


sentimento e as ações. As várias religiões enfatizam de modo diferente esses conceitos.
O brahmanismo enfatiza a mente. Diz que os problemas do homem provêm de um erro
no seu pensamento. Diria que o pensamento do homem esta em falta e não que o
homem tem pecado em sua vida. O ensino do jainismo, no entanto, enfatiza as ações das
pessoas. O homem deve agir de tal maneira que evite a sujeita – a pecaminosidade vil –
do mundo. Um terceiro ensino, o budismo, enfatiza o erro no sentimento do homem,
Seus desejos devem ser mantidos sob controle; senão, eles os inundarão de desgraça.
Essas três ênfases diferentes – o pensamento, o sentimento e a ação – ajudam-nos a
perceber como essas religiões relacionam-se entre si.

O Homem e o Pecado. Os hindus acreditam que o homem é uma reflexão de Brahman.


O homem não é um próprio eu separado. Por isso, não tem valor próprio. Ações erradas
não são pecados contra um Deus santo. São principalmente o resultado da ignorância ou
da falta de seguir as cerimônias das sua casta, provocando na vida humana problemas
no seu ciclo de reencarnações. Se ele tiver bons pensamentos, boas palavras e boas
253

ações, no entanto, obterá bom karma. Mesmo assim, nunca sabe o resultado, porque está
no ciclo da reencarnação. Está preso a um fatalismo desconhecido e sem esperança.

Maya. Os Upanishadas revelam outro conceito do problema humano. Eles não


mencionam o pecado, tampouco. Pelo contrário, as pessoas sofrem uma maya, a ilusão e
a ignorância. Se o homem está em plena comunhão com Brahman, não tem pecado,
porque Brahman não pode pecar. Quando as pessoas pensam que o mundo presente é
real, desconhecem sua verdadeira união com Brahman. Os escritos dizem: “Aqueles que
adoram a ignorância entram nas trevas que cegam. Ao conhecer a Deus, o homem é
liberto de todos os laços”. As pessoas são informadas de que devem tomar consciência
da ilusão da vida.

c’) A Conduta e o Destino do Homem

Karma. Segundo a crença hindu, o destino da pessoa relaciona-se com a sua conduta. A
salvação depende do karma que a pessoa tem. A origem documentária principal dos
ensinos sobre o karma acha-se nos Upanishadas, a autoridade sebre a doutrina hindu.
Karma significa literalmente “obras” e é vinculado à lei da causa e do efeito. A crença é
que atman (a alma humana) pode unir-se com a Grande Alma, Brahman. Essa união é
realizada mediante o karma que a pessoa tem e esse karma depende das boas obras e da
abnegação. A pessoa controlará seus desejos quando pensar nos efeitos que terão sobre
seu karma. Nesse processo, porém, não há juiz, nem arrependimento, nem perdão.
Trata-se da lei em si mesma. Por meio das boas obras, a alma humana pode merecer
moksha (libertação) do samsara (o ciclo do nascimento, da morte e da reencarnação).

c’.1) A Reencarnação; a crença na reencarnação ou na transmigração é samsara. A


transmigração pode ser explicada da seguinte maneira: quando o homem morre, sua
alma não morre, mas nasce de novo, com uma forma viva diferente. O processo é
repetido, várias vezes sem conta, num ciclo interminável. A nova reencarnação pode ser
superior ou inferior à anterior. Pode ocorrer no céu, no inferno ou na terra. Pode ocorrer
em qualquer forma de vida: humana, animal ou vegetal. Um homem de baixa condição
social pode ser reencarnado como um rajá ou um Brahmin. Ou, pode ficar sendo um
pária, um animal, um besouro, uma minhoca, um legume, uma pedra ou uma alma no
inferno. Alguns hidus acreditam que existem oito milhões e meio de formas diferentes,
nas quais a pessoa pode ser encarnada.

Como o hindu sabe qual forma receberá na próxima reencarnação? Isto segundo a
crença hindu é determinado pela lei do karma. Os pensamentos, palavras e ações da
pessoa nesta vida terão um efeito bom ou mau na vida futura. É a lei antiga: Aquilo que
o homem semeia isto ceifará. Os Upanishadas declaram:

Um Bramin que furta o outro de um Brahmin passará mil vezes


pelos corpos de aranhas, cobras e lagartixas. Por furtar cereais, o
homem é transformado em rato; por furtar frutas e raízes, em
macaco; por furtar uma mulher, um urso; furtar gado, um cabrito.
254

d’) A Salvação

O Caminho Tríplice. Para o hindu, moksha ou “salvação” não é a libertação do pecado e


da culpa por ter violado a lei de Deus. Pelo contrário, é ficar livre da totalidade da
condição humana, que inclui o corpo, o espaço material e o tempo. Além disso, trata-se
de ficar livre do ciclo das reencarnações. Há três caminhos para a salvação: o caminho
das obras, o caminho do conhecimento e o caminho da devoção.

1. O caminho das Obras. Esse caminho da salvação através do dever religioso ou


karma marga. Mediante a prática de certas cerimônias religiosas, os hindus
acreditam que ficam mais perto de serem libertos do ciclo do karma. O processo
continua até que ele seja reencarnado no nível mais alto como um Brahmin.

2. O caminho do Conhecimento. Este caminho é baseado no monismo, a crença de


que a única realidade é Brahman. Essa crença diz que os problemas do homem
provêm da sua ignorância de que ele e Brahman são um. A ideia de que o
homem está separado de Brahman é uma ilusão. Quando o homem possui o
conhecimento de que ele é um Brahman são um, é liberto da corrente da roda do
nascimento, da morte e da reencarnação. Esta libertação advém depois de muita
auto-disciplina e meditação.

3. O Caminho da Devoção. O terceiro caminho da salvação é Bhakti Marga ou


“devoção amorosa”. Este é o tema especial do livro sagsrado, o Bhagavad Gita,
e requer a devoção amorosa a Brahman e a outros deuses. Esta devoção também
liberta do ciclo da reencarnação e prepara a alma para a união eterna com Deus.

Parece-nos estranho que tantas ideias a respeito de Deus possam existir na


mesma religião. Segundo o caminho do conhecimento, ele é uma parte do seu
universo. E isto é panteísmo. Outros despojam Deus de quaisquer qualidades
pessoais e Ele cessa de existir. Isto é ateísmo. No hinduísmo, no entanto, todas
essas teologias existem lado a lado. A escola yoga da filosofia é dualista, mas
seus devotos acreditam em certo tipo de Deus, de modo que também é teística.
Ele não é criador, mas a alma perfeita, que não e afetada pela matéria. Na
filosofia yoga, a mente aprende como assumir o controle sobre o corpo. Quando
isto acontece, a alma é liberta da matéria e une-se com Deus.

4 – Escritos Do Hinduísmo

Os hindus alegam que seus escritos sagrados são os maiores e os mais antigos do
mundo inteiro. Foram escritos no decurso de um período de 2.000 anos, desde
cerca de 1400 a.C. até 600 d.C. podem ser dividido em dois grupos: o Sruti ou
“aquilo que é ouvido”, e o Smriti ou “aquilo que é lembrado”.
255

Os Vedas. Os livros Sruti consistem nos quatro Vedas. Os hindus acreditam que
são as verdades originais reveladas aos videntes antigos. É a autoridade da
religião hindu. A palavra Vedas provém de uma palavra em sânscrito, vid, que
significa “sabedoria ou conhecimento”. Foram escritos no decurso de um
período de 1.000 anos e contém hinos, orações e textos rituais.

Há quatro escritos védico: Rig-Veda, Sama-Veda, Yajur-Veda, e Atharva-Veda.


Cada Veda consiste de quatro partes principais. São os Samhitas (mantras),
Brahman, os Aranyakas e os Upanishadas.

Os Upanishadas. Os upanishadas (700-600 a.C.), nome este que significa


“sentar-se perto de um professor”, formam a parte mais importante dos Vedas.
Também são chamados o vedante ou “o fim dos Vedas”, marcam o início do
Hinduísmo Filosófico. Era uma reação contra o ensinamento védico original
sobre os sacrifícios e o sacerdócio. Descrevem também as doutrinas do karma,
do monismo, de Brahman e do atman (a alma). Os Upanishadas fornecem
pormenores a respeito dos passos do karma.

Assim como a pessoa age, assim ela se torna. O praticante do


bem se torna bom. O praticante do mal se torna mal. Torna-se
vitorioso mediante ações virtuosa, e mau mediante ações más.
Mas as pessoas dizem: “o ser humano é feito não de ações, mas
somente de desejos”. Respondendo, dizemos: “assim como é o
seu desejo, assim é a sua resolução; assim com é a sua
resolução, assim é a ação que pratica; a ação que pratica é aquilo
que procura para si mesmo”.

Smriti. O segundo grupo, os livros Smriti (600-200 a.C), que significa “aquilo
que é lembrado”, não têm a mesma autoridade que os Vedas. São comentários e
poesias que explicam os Vedas, mas também criticam o sistema sacrificial.
Outros livros desse grupo foram escritos durante o Hinduísmo Popular (200- 700
d.C.) para o povo hindu em geral, e contêm regras e práticas. São chamados
Sastras, Remayana e o Mahabharata.

O Bhagavad Gita. Este livro fazia parte do Mahabharata e é o livro mais sagrado
e famoso dos hindus. Conta a respeito de Krishna, o oitavo avatar de Vishnu,
que ensinava a arjuna os métodos de um guerreiro, o caminho da ação (karma) e
da devoção amorosa (bhakti). Krishna é maior do que os deuses védicos. Ele
segura uma montanha em seu dedo para abrigar uma aldeia de uma tempestade
enviada por Indra, o deus das tempestades. No livro Arjuna pergunta a Krishna
como pode matar seus parentes de sangue:

Ó krishna, ao ver estes meus parentes reunidos aqui, desejosos de


lutar, os meus membros cedem, e arde-me a boca. Meu corpo tirita,
256

arrepiam-se me os cabelos, meu arco escorrega-me das mãos, minha


pele se abrasa..... não sou capaz de me manter..... que valem pois
reino, alegria e mesmo a existência? Assim falando no centro do
campo de batalh, Arjuna deixou-se cair no banco do seu carro de
guerra, atirando para um lado o seu arco e as flechas, a alma afogada
em tristeza. (Do texto traduzido por Sodré Vianna).

As Leis de Manu. A principal origem documentária da ética, da lei e dos


costumes dos hindus, o livro das Leis de Manu contem 2.685 versículos.
Provavelmente, remonte ao Século I d.C. ocupa-se principalmente com dharma
ou com os deveres das pessoas. O certo e o errado são determinados pelos
escritos inspirados, pela boa conduta e pela consciência. A ética e o ritual
misturam-se e os sacerdotes precisam passar por doze ritos, pelo menos, desde o
nascimento até o casamento. A bondade, a veracidade, o amor e a ajuda àqueles
que sofrem, são virtudes enfatizadas.

Na lista Smriti há muitos outros livros poéticos, tais como os Puranas, Tantras,
Darsanas, Yoga e Sankara. Contêm ensinamentos e satisfação para o povo
comum. Os Brahmins tinham consciência disso e salvaguardavam para si
mesmos tudo quando podiam, propondo a ideia do Trimurti ou tríade de deuses.

5 – Desenvolvimento Do Hinduísmo

As Influências Modernas no Hinduísmo. Os ensinos do budismo e do islamismo


tiveram alguma influência no hinduísmo. O Cristianismo, no entanto, desde
1750 teve maior influência por causa do domínio britânico na Índia. Numerosos
movimentos de reforma surgiram nos séculos XIX e XX na luta da Índia pela
independência.

O Brahmo Samaj. Este movimento foi fundado por Rammohan Roy cerca de
1830, a fim de excluir o hinduísmo da idolatria e do sistema das castas.
Mediante seu Samaj (sociedade), Roy procurou reformar o hinduísmo,
combinando a ética com os Vedas e os Upanishadas. Os hindus, porém,
aceitavam somente aquelas Escrituras que concordavam com a sua razão. Sendo
assim, a razão humana era colocada em pé de igualdade com os Vedas e a
Bíblia. Por causa desta sua atitude, os movimentos Samaj são fracos e foram
dominados pelos movimentos hindus clássicos.
Sri Ramakrishna (1834-1883). Outro movimento de reforma foi iniciado pelos
ensinos de Sri Ramakrishna. Depois de ouvir um sufi (místico) muçulmano e um
missionário cristãos, chegou à conclusão de que todas as religiões eram
verdadeiras. Não passavam de caminhos diferentes para a união com Deus.
Chamava-se “aquela mesma alma que já nascera como Rama, como Krishna,
257

com Jesus ou como Buda”. Com ele, o hinduísmo foi reavivado e hoje a Missão
de Ramakrishna é a ala missionária do hinduísmo.

Swami Vivekananda. Entre os discípulos de Ramakrishna, surgiu Vivekananda


(l863-1902). Era um orador poderoso e famoso que proclamou ao mundo que
todos os caminhos levam ao mesmo Deus. Ensinava que nenhum hindu deveria
tornar-se cristão, mas que cada um deve assimilar o espírito do outro. Segundo o
seu conceito, o hinduísmo era a única religião que satisfazia completamente.
Vivekananda praticava boas obras ao ajudar os enfermos, os pobres e na
educação das massas.

Líderes no Século XX. Sri Aurobindo (1872-1950) foi um intelectual que


ministrava o hinduísmo com algumas ideias cristãs. Ensinava que um novo
homem de mente superior seria edificado mediante a sua vinda para a raça
humana. Tratava-se de outra forma do gnosticismo ou a salvação pelo
conhecimento. O Dr. Radhakrishman (1888-1975) foi o presidente da Índia em
1958. Ele também procurou misturar o Cristianismo com o hinduísmo e, por
isso, os líderes hindus o criticavam.

Jawaharlal Nehru foi o Primeiro Ministro da Índia, eleito logo quando a nação
ganhou a sua independência em 1947. Era um agnóstico e procurou transformar
a Índia em estado secular. Achava que a religião fazia mal à Índia, mas que a
ciência era a única esperança da nação. Desde então, outros têm procurado fazer
da Índia um estado hindu. Este movimento teve o efeito de impedir a igreja
cristã de ganhar convertidos.

Mahatma Gandhi (1869-1948) foi um político e um ascético religioso que


dirigiu o movimento em prol da independência da Índia em 1947. Reverencia
Cristo e os ensinos cristãos. Dizia que a história da cruz era o exemplo do poder
do amor e da prática da não violência (ahimsa). No fim de um jejum,
frequentemente pedia o hino: “Ao contemplar a Tua cruz” (Salmos e Hinos,
109).
Mesmo assim, acreditava firmemente no Bhagavad Gita. Por ensinar que todas
as religiões levam a Deus, objetava contra os missionários cristãos que
pregavam a conversão. Disse que ninguém devia orar, nem sequer secretamente,
para que alguém se convertesse. “Nossa oração íntima deve ser que o hindu seja
um hindu melhor, o mulçumano, um mulçumano melhor e o cristão, um cristão
melhor”.
Gandhi foi assassinado em 1948 por um membro de um movimento que
acreditava que Gandhi estava traindo o hinduísmo. Certo hindu disse depois:
“Gandhi foi considerado um dos maiores santos que já viveu”.
258

6 – Avaliação Do Hinduísmo

Pontos Positivos do Hinduísmo


Sete pontos positivos de importância para o nosso estudo, são que os hindus:
 Toleram outras crenças;
 Acreditam num ser supremo e onipotente;
 Acreditam na união com o divino numa vida futura;
 Consideram a sociedade mais importante do que cada membro;
 Acreditam que a religião é uma parte vital da vida dos seus seguidores;
 Demonstram reverencia pelos escritos sagrados e não por um fundador;
 Têm mantido união durante mais tempo, do que os seguidores de
qualquer outra religião mundial.

Pontos Negativos do Hinduísmo


Os pontos negativos do hinduísmo são que seus seguidores:
 Acreditam que o ser supremo não tem características pessoais;
 Praticam a idolatria, tanto pública quanto particular;
 Acreditam que sua responsabilidade depende do karma;
 Acreditam que a condição presente do homem é ilusão;
 Alegam que somente a morte pode alterar a condição social da pessoa;
 Praticam extremos de cerimônias vazias e de profunda meditação
pessoal;
 Aceitam o sistema das castas e a condição inferior das mulheres,
deixando os escritos sagrados à disposição exclusiva dos Brahmins.

68 – HUMANISMO

1 – Introdução:

a) O que é Humanismo?

É um movimento renascentista voltado especialmente para as línguas e literaturas


greco-romanas. Formação do espírito humano voltado para a cultura literária e
científica.

A palavra “humanismo” tem muitos significados e, uma vez que autores e


conferencistas geralmente não deixam claro a qual significado se refere, os que tentam
explicar o humanismo podem facilmente gerar confusão. Felizmente, cada significado
da palavra constitui um diferente tipo de humanismo – os diferentes tipos sendo
facilmente separados e definidos através do uso de adjetivos apropriados.
259

2 – Vários tipos de Humanismo:

Portanto, permitam-me resumir as diferentes variedades de humanismo da seguinte


maneira:

1. Humanismo Literário – é uma devoção pelas humanidades ou cultura literária.

2. Humanismo Renascentista – é o espírito de aprendizado que se desenvolveu no


final da Idade Média com o renascimento das letras clássicas e uma renovada
confiança na habilidade dos seres humanos para determinar por si mesmo o que
é falso.

3. Humanismo Cultural – é a tradição racional e empírica que teve origem, em


grande parte, na antiga Grécia e Roma e evoluiu, no decorrer da história
europeia, para constituir atualmente uma parte fundamental da abordagem
ocidental à ciência, à teoria política, à ética e à Lei.

4. Humanismo Filosófico – é uma visão ou um modo de vida centrado na


necessidade e no interesse humano. Subcategorias deste tipo de humanismo
incluem o humanismo cristão e o humanismo moderno.

5. Humanismo Cristão – é definido em dicionários como sendo “uma filosofia que


defende a auto-realização humana dentro da estrutura dos princípios cristãos”.
Esta fé com maior direcionamento humano é em grande parte produto da
Renascença e representa um aspecto daquilo que produziu o humanismo da
Renascença.

6. Humanismo Moderno – também chamado Humanismo Naturalista, Humanismo


Científico, Humanismo Ético, e Humanismo Democrático, é definido por um
dos seus principais proponentes, Corliss Lamont, como “uma filosofia
naturalista que rejeita todo supernaturalismo e repousa basicamente sobre a
razão e a ciência, sobre a democracia e a compaixão humana”. O Humanismo
Moderno tem uma origem dual. Tanto secular quanto religiosa, e estas
constituem suas subcategorias.

7. Humanismo Secular – é uma consequência do Racionalismo e do Iluminismo do


século XVIII e do livre-pensamento do século XIX. Muitos grupos seculares [...]
e muitos cientistas e filósofos acadêmicos sem outra filiação defendem esta
filosofia.
260

8. Humanismo Religioso – emergiu da Cultura Ética, do Unitarianismo e do


Universalismo. Hoje em dia, muitas congregações Unitário-Universalistas e
todas as sociedades de Cultura Ética descrevem-se como humanistas no sentido
moderno.

Os humanistas seculares e os humanistas religiosos compartilham a mesma


visão de mundo e os mesmos princípios básicos. Isto fica evidente a partir do
fato de que ambos, humanistas seculares e humanistas religiosos, assinaram o
Primeiro Manifesto Humanista, em 1933, e o segundo Manifesto Humanista em
1973. Do ponto de vista exclusivamente filosófico, não há diferença entre os
dois. É apenas na definição de religião e na prática da filosofia que os
humanistas seculares e os humanistas religiosos discordam efetivamente.

O humanismo Religioso é “fé em ação”. Em seu ensaio “The Faith of a Humanist”,


Kenneth Phife, de congregação Unitário-Universalista, declara:

“O Humanismo nos ensina que é imoral esperar que Deus aja por nós.
Devemos agir para acabar com as guerras, os crimes e a brutalidade desta
e das futuras eras. Temos poderes notáveis. Temos um alto grau de
liberdade para escolher o que havemos de fazer. O humanismo nos diz que
não importa qual seja a nossa filosofia a respeito do universo, a
responsabilidade pelo tipo de mundo em que vivemos. Em última análise,
cabe a nós mesmos”.

A tradição humanista secular é uma tradição de desconfiança, tradição que remonta à


antiga Grécia. Podemos ver, até na mitologia grega, temas humanistas que raramente
aparecem, se é que aparecem, em mitologias de outras culturas. E eles certamente não
foram repetidos pelas modernas religiões. O melhor exemplo, no caso, é o personagem
Prometeus.

Prometeus se sobressai por ter sido idolatrado pelos antigos gregos com aquele que
desafiou Zeus. Ele roubou o fogo dos deuses e o trouxe para a terra. Por causa disto, foi
punido. E mesmo assim, continuou seu desafio em meio às torturas. Essa é a origem do
desafio humanista à autoridade.

Outro aspecto da tradição humanista secular é o ceticismo. O exemplo histórico disso é


Sócrates. Por que Sócrates? Porque, depois de todo esse tempo passado, ele ainda é
único, entre todos os santos e sábios famosos, desde a Antiguidade até o presente. Toda
religião tem seu sábio. O judaísmo tem Moisés, o Zoroastrismo tem Zaratrusta, o
Budismo tem Buda, o Cristianismo tem Jesus, o Islamismo tem Maomé, o Mormonismo
tem Joseph Smith... Todos afirmam conhecer a verdade absoluta. Foi Sócrates, e
unicamente ele, entre todos os sábios, que afirmou: “SÓ SEI QUE NADA SEI”. Cada
um visou um conjunto de regras ou leis, exceto Sócrates. Em vez disso, Sócrates
forneceu-nos um método – um método para questionar as regras de outros, um método
de inquirição. [...] Sócrates permanece como um símbolo, tanto do racionalismo grego
261

como da tradição humanista que surgiu a partir daí. E, desde sua morte, nenhum santo
ou sábio igualmente considerado juntou-se a ele, nesse aspecto.

O fato de que o humanismo possa, ao mesmo tempo, ser religioso e secular apresenta,
de fato, um paradoxo, mas não é este o único paradoxo. Outro é que ambos colocam a
razão acima da fé, geralmente até o ponto de evitar completamente a fé. A dicotomia
entre razão e fé frequentemente recebe ênfase no Humanismo, com os humanistas
tomando lugar ao lado da razão. Por causa disso, o Humanismo Religioso não deveria
ser visto como uma fé alternativa, mas sim como um modo alternativo de ser religioso.

3 – Objetivo do Humanismo

O humanismo foi um movimento de reação contra o Escolaticismo predominante no


período da Renascença e da Reforma.

a) A Escolástica – veja tópico 17

A Escolástica refere-se à teologia das escolas nos séculos desde a tomada de Jerusalém
pelos invasores Islâmicos (638) até sua retomada pelos Cruzados Cristãos (1099). A
teologia era basicamente trabalho dos monges, cujo estudo da Bíblia, dos pais da igreja
e da literatura clássica fazia parte de sua devoção à vida contemplativa.

A escolástica é a filosofia cristã que se desenvolveu desde o século IX, tem o seu
apogeu no século XIII e começo do século XIV, quando entra em decadência. Continua
a aliança entre a razão e a fé, aquela sempre considerada a “serva da teologia”. Com
frequência as disputas terminam com o apelo ao princípio da autoridade, que consiste na
recomendação de humildade para se consultar aos intérpretes autorizados pela igreja.

No entanto, a partir do século XI, com o Renascimento urbano, começam surgir


ameaças de rupturas da unidade da igreja, e as heresias anunciam o novo tempo de
contestação e debates em que a razão busca sua autonomia. Inúmeras universidades
aparecem por toda a Europa e são indicativas do gosto pelo racional, tornando-se focos
por excelência de fermentação intelectual.

Durante muito tempo predomina na Idade Média a influência da filosofia de Platão,


considerada mais adaptável aos ideais cristãos. O pensamento de Aristóteles era visto
com desconfiança, ainda mais pelo fato de os Árabes terem feito interpretações tidas
como perigosas para a fé.

A partir do século XVIII, Santo Tomás utiliza as traduções feitas diretamente do grego e
faz a síntese mais fecunda da Escolástica, e que será conhecida como filosofia
aristotélico-tomista. Daí para frente a influencia de Aristóteles se fará sentir de maneira
forte, sobretudo pela ação dos padres dominicanos e mais tarde dos jesuítas, que desde o
Renascimento, e por vários séculos mostraram-se empenhados na formação dos jovens.
262

Se por um momento a recuperação do aristotelismo constitui um recurso fecundo para


Santo Tomás, já no período final da Escolástica torna-se um entrave para o
desenvolvimento da ciência. Basta lembrar a crítica de Descartes e a luta de Galileu
contra o saber petrificado da Escolástica decadente.

b) O Termo Humanismo

O termo humanismo é derivado de humanitati, que no tempo de Cícero (106 – 43. A.c.)
designava a educação do homem, enquanto considerava em sua condição propriamente
humana, correspondendo ao sentido da palavra grega “paideia” : a educação por meio
de disciplinas liberais, relativas a atividades exclusivas ao homem e que a distinguiam
dos animais. A autonomia do ser humano é buscada pelos humanistas da Renascença
através de uma volta à antiguidade, a seus métodos e as suas diretrizes pedagógicas.

As chamadas “humanidades” – poética, retórica, históricas, ética e política – passam


desse modo a constituir sob a inspiração dos antigos, a base de uma educação destinada
a preparar o homem para o exercício de sua liberdade.

Liberdade e capacidade humana de atuar sobre o mundo são temas fundamentais dos
humanistas, aparecendo não apenas em pico Della Mirandela, como também em
Gianozzo Manetti (1396 - 1459) em Marcílio Ficino (1433 – 1499), e ressurgindo nos
humanistas franceses posteriores como Charles Bonillé (1475 – 1533). Mais tarde é que
as especulações marcadas pela exaltação da capacidade humana serão contrabalançadas
pela nota de ceticismo que o humanismo assumiria no pensamento de Montaigne (1533
– 1592), de Pierre Charron (1541 – 1603) e de Francisco Sanches (1552 – 1581).

c) Convicção do Mundo Natural

Outro fundamento do humanismo renascentista foi à convicção de que o mundo natural


é o reino do homem. Esse naturalismo conduziu paralelamente à afirmativa do valor
espiritual do homem e que o torna livre, à exaltação do valor do corpo e dos seus
prazeres. Opondo-se ao ascetismo medieval, humanistas italianos, como Lorenzo Valla
(1407 – 1457), retorna às teses do epicurismo (46) antigo de que o bem é o prazer e de
que a virtude consiste num cálculo de prazeres. Em nome do hedonismo, Valla inclusive
recusa a superioridade religiosa da vida monástica: os verdadeiros seguidores de Cristo
seriam os que dedicam suas atividades a Deus, pertençam ou não a ordens religiosas.

O combate ao ascetismo e à vida monástica é empreendido também por Gianozzo


Manetti, Coluccio Salutati (1331 – 1406) e Poggio Bracciolini (1380 – 1459); a
afirmação da naturalidade do homem leva ainda os humanistas a proclamar a
superioridade da vida ativa sobre a contemplativa, e da filosofia moral sobre a física e a
metafísica. “A filosofia moral é, por assim dizer, o nosso território”. Escreveu Leonardo
Bruni (1330 – 1444). A mesma ideia é defendida por Matteo Palmier (1406 – 1475) e
por Bartolomeu de Sacchi (1421 – 1481). Nesse sentido é que o humanismo abriu
caminho para a obra de Maquiavel (1469 – 1527) em muitos aspectos considerado
humanista.
263

O retorno à antiguidade, que inspira o humanismo Renascentista, confere-lhe agudo


senso de historicidade, de que carecia a cultura medieval, constituída em função do
ideal de atemporalidade. A defesa da eloquência dos antigos, por exemplo, resultou para
os humanistas num esforço de recuperação da linguagem genuína da época clássica e
num laborioso empenho para reestruturá-lo de sob as deformações sofridas no decorrer
da Idade Média. Os humanistas redescobrem a perspectiva histórica, fazendo no plano
da temporalidade à descoberta, ao nível do espaço, da perspectiva óptica, pela pintura
Renascentista.

d) Rejeição do Ascetismo

A rejeição do ascetismo e das filigranas teológicas não significou a adoção, pelos


humanistas, de uma posição necessariamente antirreligiosa ou anticristã. O que fazem é
rediscutir temas religiosos, com a providência de Deus e a natureza e o destino da alma,
como objetiva de defender a liberdade humana e a capacidade do homem agir sobre o
mundo e modificá-lo de acordo com suas necessidades. Por outro lado, no exame de
problemas religiosos deram preferencia a dois temas: a função civil da religião e a
tolerância religiosa. A primeira associava-se ao Naturalismo: na obra sobre a Dignidade
e a Excelência do Homem, Gianozzo Manetti defende a tese de que a Bíblia não contém
apenas uma proclamação da felicidade celeste, mas encerraria também uma mensagem e
um programa relativos à felicidade terrena. Por isso mesmo, é que Manetti, como para
Valla e outros, a função fundamental da religião seria relativa à vida civil e à atividade
política.

e) Tolerância Religiosa

A tolerância religiosa constitui o traço típico do Humanismo Renascentista. Nos séculos


posteriores – XVI e XVII – a tolerância resultara de guerras religiosas que acabaram por
determinar a coexistência pacífica de vários credos que, todavia permanecem
distanciados e irredutíveis. A tolerância preconizada pelos humanistas era de outro tipo,
pois sustentada pela convicção de que haveria uma unidade fundamental subjacente às
diversas religiões. Isso implicava ainda a intrínseca identidade entre filosofia e religião.

Perguntava Leonardo Bruni: “São Paulo ensinou algo mais do que foi pensado por
Platão?” Seguindo a linguagem Patrística – a doutrina dos primeiros padres da igreja –
os humanistas consideravam que o cristianismo teria levado à sua plenitude a sabedoria
expressa pelos filósofos antigos: a razão (logos) grega seria uma antecipação do verbo
(logos) que se encarnaria no Cristo.

O retorno às origens significava, assim, para o humanista da Renascença, a possiblidade


de conciliar diferentes concepções filosóficas (como pretende Pico Della Miranda com
o Platonismo e o Aristotelismo) e ainda harmonizá-las com a Cabala, a magia, a
Patrística e a Escolástica. Com isso, poder-se-ia retornar às fontes de diversas correntes
filosóficas e recuperar a paz religiosa que fora destroçada pelas disputas teológicas. A
tolerância religiosa, sustentada por argumentos que já então exprimem o despontar da
264

mentalidade moderna, ressurge como um dos ideais do Humanismo de Erasmo de


Rotterdam e de Thomas More.

4 – A Religião:

4.1 – Crenças e Práticas

a) A Religião

A religião é uma das atividades mais universais conhecidas pela humanidade, sendo
praticada por todas as culturas desde o início dos tempos. Contudo, não há uma
definição de religião universalmente aceita. A religião parece ter surgido do desejo de
encontrar um significado e propósito definitivos para a vida, geralmente centrado na
crença em um ser (ou seres) sobrenatural. Na maioria das religiões, os devotos tentam
honrar e/ou influenciar seu deus ou deuses através de preces, sacrifícios ou
comportamento correto.

Surge a pergunta a respeito do que pode ser incluído no que chamamos de religião.
Podemos, por exemplo, chamar o marxismo-leninismo de religião ou humanismo
(crença na humanidade e na razão no lugar de um deus)? Algumas pessoas poderiam
incluir tais crenças em uma definição moderna de religião como “qualquer coisa à qual
oferecemos devoção absoluta”, contudo, tais crenças normalmente não incluem
qualquer referencia a um ser (ou deus) sobrenatural ou máximo. Portanto, é melhor
descrevê-las como ideologias e não religiões, embora possam compartilhar muitas das
características da religião.

b) Crenças e Práticas

A religião é feita tanto de crenças quanto de práticas.

A teologia (especialmente no Ocidente e em relação ao cristianismo) tende a se


concentrar na crença. Todavia, é importante observar que em algumas sociedades não
há uma palavra para religião. Não se trata de um compartimento separado da vida – é
um modo de compreender e viver a própria vida. Mesmo assim, é possível distinguir
vários aspectos diferentes em quase todas as religiões.

Uma classificação amplamente aceita identifica cinco aspectos: fé, culto, comunidade,
credo e código.

 A Fé é a parte interna da religião; o que as pessoas acreditam seus sentimentos


de temor e reverência, prece individual etc;

 O Culto é tudo que está envolvido na devoção: construções, imagens, altares,


rituais, canções sagradas, reuniões da comunidade e assim por diante;
265

 A Comunidade é o aspecto social da religião: os devotos em uma igreja ou


templo específicos, a denominação ou seita mais ampla, monges e freiras etc;

 O Credo envolve todas as crenças e ideias mantidas pela religião como um todo,
incluindo escrituras e ideias sobre Deus, anjos, o céu, o inferno e salvação;

 O Código envolve o modo que as pessoas se comportam devido a suas crenças


religiosas e inclui éticas, tabus e ideias sobre o pecado e a santidade.

4.2 – Famílias de Religiões;

As religiões do mundo podem ser divididas em dois grupos principais: Primitivos e


Universais.

- Primitivas: incluem as religiões tradicionais da África, Austrália, Oceania, algumas


regiões da Ásia e os povos primitivos das Américas, além das religiões pré-cristãs a
Europa e religiões de outros povos antigos. Essas religiões embora diferentes em
detalhes possuam várias características em comum. Todas elas tendem a ser locais – são
específicas para a tribo ou povo que as praticam – e seus praticantes geralmente não as
consideram relevantes para outros povos. Dessa maneira, muitos dos mitos e histórias
desse tipo de religião lidam com a origem de uma tribo específica. As religiões
primitivas remanescentes (animistas) tendem a depender em grande parte da tradição
oral em vez de escrituras e são geralmente não missionárias;

- Universas: essas religiões acreditam ter importância para todo o mundo e tentam, com
maior ou menor intensidade, converter pessoas. Além disso, em sua maioria,
desenvolveram escrituras que desempenham um papel central na religião.

O Islamismo e o Cristianismo são exemplos característicos desse tipo de religião


universal. Dentro do grupo universal algumas famílias principais podem ser
identificadas. A família Semítica inclui o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, os
quais compartilham de uma base comum histórica e geográfica.

A família indiana é composta do hinduísmo, do budismo antigo, do jainismo e da


doutrina do sikhs.

A família do Extremo Oriente inclui o confucionismo, o taoísmo e o xintoísmo.


Embora, qualquer religião normalmente afirme ter sido inspirada por Deus, é importante
lembrar em situações históricas, geográficas e culturais específicas que influenciam e
moldam a forma tomada pela religião.

Outra forma de classificar grupos de religiões é a distinção entre aquelas com único
Deus (monoteístas) e aquelas com vários deuses (politeístas). As religiões monoteístas
incluem o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. As religiões politeístas incluem o
266

hinduísmo, as religiões primitivas antigas gregas e germânicas e várias religiões


primitivas remanescentes.

4.3 – Arte Renascentista

O termo Renascença foi inventado no século XIX para descrever um período de


renovação intelectual e artística que durou de 1350 a 1550. A característica dominante
deste período foi o desfrutar do interesse pela literatura e arte da antiguidade clássica
por parte dos humanistas dos séculos XIV e XV e a redescoberta do seu passado
cultural pelos artistas. Florença foi o primeiro centro desta redescoberta, que se difundiu
rapidamente a outras cidades italianas e, a partir de 1500, à Europa Setentrional.

Esse florescimento foi acompanhado por uma mudança o status dos artistas – de artesão
para membros honrados de uma sociedade cultural – e contou com um entusiasmado
patrocínio cívico, particular, real e papal. Embora a demanda por pinturas e esculturas
de temas religiosos tenha continuado tão grande quanto antes, o temário expandiu-se e
passou incluir representações mitológicas, históricas e alegóricas.

4.4 – O humanismo originou-se com a Elite da Renascença.

Se o misticismo era uma “teologia de todo o mundo”. Que estendeu a possibilidade de


união íntima com Deus a clérigos e leigos, príncipes e camponeses, homens e mulheres,
indistintamente, o humanismo, por sua vez, foi um movimento de forma que se originou
com a elite intelectual da Europa, tendo sido dominado por ela.

O próprio termo humanismo, hoje tão livremente jogado de um lado para outro, referia-
se nos séculos XV e XVI não tanto a uma filosofia universal de vida quanto a um
método particular de aprendizado com base na redescoberta e no estudo das fontes
clássicas da antiguidade, tanto pagã, isto é, romana e grega, quanto cristã. Dessa forma,
o humanismo do período da Renascença e da Reforma estava muito próximo do que
entendemos por humanidades atualmente. Ad fontes – de volta às fontes! – era o mote
dos estudiosos humanistas, cujo trabalho abriu novas perspectivas na história, na
literatura e na teologia.

Até certo ponto, o humanismo foi um movimento de reação contra o Escolaticismo


predominante naqueles dias. Erasmo, que havia estudado teologia escolástica na
Universidade de Paris, ridicularizou em seu elogio da loucura os requintes
excessivamente minuciosos dos teólogos da época:

Então há os teólogos, grupo notavelmente arrogante e melindroso. [...]. Eles interpretam


os mistérios ocultos como lhes convém: como o mundo foi criado e planejado; por que
canais a mancha do pecado infiltrou-se na posteridade; de que maneira, em que medida
e quanto tempo, cristo foi formado no ventre de Maria; como na eucaristia, os acidentes
podem subsistir sem lugar estabelecido. Mas estes tipos de questões têm sido discutidos
exaustivamente. Há outros tópicos mais dignos de teólogos importantes e iluminados
(como chamam a si mesmos), que podem realmente incitá-los à ação se forem
enfrentados. Qual foi o momento exato da geração divina? Há diversas filiações em
267

Cristo? É uma proposição plausível que Deus pai pudesse odiar seu filho? Poderia Deus
ter tomado a forma de uma mulher, de um demônio, de um burro, de uma abóbora ou de
uma pederneira? Nesse caso, como uma abóbora poderia ter pregado sermões, realizado
milagres e sido pregada na cruz? E o que Pedro teria consagrado se o tivesse feito
quando o corpo de Cristo ainda estava na cruz? E mais, Cristo poderia ao mesmo tempo
ter sido chamado de homem? Teremos permissão de comer e beber após a ressurreição?
Estamos tomando as devidas precauções contra a fome e a sede enquanto há tempo?

Esses sutis refinamentos de minúcias tornam-se ainda argumentos escolástico, tanto que
você sairia mais facilmente de um labirinto do que das tortuosas obscuridades dos
realistas, nominalistas, tomistas, albertistas, occamistas e scotista – e não mencionei
todas as divisões, somente as principais.

Erasmo ainda acrescentou que os próprios apóstolos precisariam da ajuda de outro


espírito Santo se tivessem de debater com “nossa nova geração de teólogos”.

O problema do Escolaticismo não era sua ênfase sobre o aprendizado, mas sim suas
especulações áridas, que levavam mais a um labirinto intelectual do que a uma reforma
da igreja e da sociedade. A filosofia Christi, “filosofia de Cristo”, como Erasmo
chamava seu enfoque da vida cristã, pressupunha a reforma pela educação que
valorizava a retórica sobre a dialética, os clássicos sobre os escolásticos e a ação no
mundo sobre a reclusão monástica.

Em certo nível, a colheita humanista de fontes clássicas levou a uma crítica radical das
instituições eclesiais e da teologia tradicional. Lorenzo Valla (1457) provou, mediante
uma análise linguística, que a chamada Doação de Constantino, um documento no qual
grande parte da reivindicação papal sobre a autoridade temporal estava baseada, era de
fato uma forjadura do século IX. Em outro aspecto, Valla desafiou a tradução
tradicional da palavra grega “metanóia” como “fazer penitência”. Ele demonstrou que o
termo realmente significava “arrependimento”. Referia-se a uma mudança genuína da
mente e do coração, não à atuação ritual requerida pelo sacramento da penitência.

Erasmo incorporou a tradução de Valla em sua edição de 1516 do Novo Testamento


Grego. Por sua vez, Lutero encontrou nessa nova leitura do texto original uma base para
seu ataque frontal à pratica das indulgências. Na primeira das noventa e cinco teses de
Lutero, lemos: “Quando Jesus Cristo, o Senhor e Mestre, disse: arrependei-vos (Mt.
4.17), queria que a vida inteira dos crentes fosse de arrependimento”.

Talvez a contribuição mais positiva dos eruditos humanistas à renovação religiosa do


século XVI tenha sido a série de edições críticas da Bíblia e dos pais da igreja,
amplamente disseminados graças ao sucesso fenomenal da imprensa. O pai da igreja
favorito de Erasmo era Jerônimo, mas a fonte patrística mais influente para a teologia
reformada sem dúvida foi Agostinho. De fato, nos séculos imediatamente anteriores à
reforma, houve algo como uma “renascença Agostiniana”, gerada em parte por um
renovado interesse na teologia de Agostinho dentro da própria ordem agostiniana e pela
atração que Agostinho provocava nos primeiros humanistas, tais como Petrarca, que foi
268

atraído especialmente pelas confissões. Sempre que lia essa obra, ele dizia: “parece-me
que não estou lendo a história de outra pessoa, mas o relato de minha própria
peregrinação”.

O impacto do humanismo na reforma ainda é discutido por especialistas no período.


Sem o apoio anterior dos humanistas a Lutero, principalmente seu aliciamento das
noventa e cinco teses, é duvidoso que o ataque de Lutero contra Roma tivesse-se
tornado a causa célebre que incendiou as mentes e as energias de toda a Europa. Tanto
Zwinglio quanto Calvino estavam imersos nos clássicos, ambos devotos do
Reavivamento humanista do saber, antes de se tornarem reformadores. Essa perspectiva
continuou informando seus estudos bíblicos e seus esforços reformadores em Zurique e
Genebra. Menno, também, que teve um menor treinamento formal do que os outros
também não deixaram de ser influenciado pelo movimento humanista, e citou como
aprovação, diversos escritos de Erasmo. A despeito da importância do humanismo como
uma preparação para a Reforma, a maioria dos humanistas, e principalmente Erasmo
entre eles, nunca alcançou nem a gravidade da condição humana, nem o triunfo da graça
divina, o que marcou a teologia dos reformadores.

O humanismo, assim como o misticismo, foi parte da estrutura que possibilitou aos
reformadores questionar certas suposições da tradição recebida, mas que em si mesma
não era suficiente para fornecer uma resposta duradoura às obsessivas perguntas da
época.

Tendências Humanísticas – veja tópico anterior sobre a Fenomenologia: Crítica ao


Positivismo.

5 – Humanismo em Portugal

O humanismo é o nome que se dá a um período de transição entre a cultura teocêntrica


medieval, em que Deus é considerado o centro do universo, e a valorização da liberdade
de pensamento, das investigações racionais, do gosto pela recuperação das artes
filosóficas da Antiguidade Clássica.

Em Portugal, o Humanismo coincide com um tempo de fortalecimento do Estado,


crescimento das cidades, enriquecimento da burguesia comercial, desenvolvimento das
arte e de centros de estudos filosóficos e científicos. Didaticamente, marca-se o início
do Humanismo em Portugal (1498) com a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de
Guarda-Mor da Torre do Tombo.

Exercendo a função de cronista do reino, Fernão Lopes inovou os registros históricos,


escrevendo crónicas que davam conta não só da vida palaciana, mas também noticiavam
o homem simples da população. Fernão Lopes ainda se distingue dos historiadores
portugueses do passado por pesquisar os fatos, não idealizar o comportamento dos
nobres e interessar-se por registrar diferentes versões dos acontecimentos.
269

a) Teatro no Humanismo:

Antes do Humanismo, não havia em Portugal propriamente teatro, pois eram comuns
somente encenações rudimentares de vidas de santos e de passagens bíblicas. Com Gil
Vicente, nasce o teatro português e tornam-se populares suas peças de conteúdo
religioso ou profano, especialmente as que se valem do riso como meio de criticar os
vícios da sociedade portuguesa do final do século XV e início do XVI.

Gil Vicente, sendo um humanista, caracterizou-se por um espírito investigativo


submetendo à crítica o comportamento de juízes, clérigos, moças namoradeiras, nobres,
bacharéis, alcoviteiras, comerciantes e de todos os tipos sociais. No entanto, a
repreensão de Gil Vicente não recai sobre as instituições; ao contrário, o autor chama a
atenção somente para os desvios de conduta dos representantes tanto da Igreja quanto da
nobreza. A absolvição ou condenação desses comportamentos toma por base a moral
católica e, por isso, se diz que Gil Vicente, embora seja um crítico ousado e inovador,
ainda conserva valores medievais.

b) Autores e Obras:

 Paio Soares de Taveirós – não se tem informações seguras a respeito do


nascimento e da vida de Paio Soares de Taveirós. Só se sabe que foi um trovador
pertencente à nobreza do Minho e teria escrito a mais antiga cantiga de amor, em
1189 ou 1198, a cantiga da Ribeirinha.
 D. Dinis (1261-1315) – filho do rei D. Dinis foi coroado rei em 1279 e governou
Portugal por 46 anos. Seu reinado foi marcado não só por guerras contra Castela,
mas também por grande desenvolvimento cultural e pela criação da
Universidade de Lisboa, em 1290. É considerado um importante poeta-trovador
e acredita-se que teria escrito 138 cantigas.

c) Humanismo:

 Fernão Lopes (1380-1460) – são escassas as informações a respeito da vida de


Fernão Lopes. Acredita-se que tenha nascido em Lisboa e seja descendente de
uma família de camponeses. Foi nomeado, em 1418, Guarda-mor da Torre do
Tombo, no reinado de D. João I. Ocupou esse cargo até os 74 anos.

Principal obra de Fernão Lopes:

Crônica del-rei D. Pedro; Crônica del-rei D.João I e Crônica del-rei D.


Fernando.

 Gil Vicente (1465-1536) – é o mais importante escritor do humanismo


português. Pouco se sabe sobre sua vida pessoal. Talvez tenha nascido em
Lisboa, onde teria estudado. Ao certo, se tem notícia de que, em 1502, comoveu
a rainha D. Maria ao interpretar o Monólogo do vaqueiro, peça que escreveu
270

especialmente para saudar o nascimento de D. João III, filho da soberana. Nesse


momento, iniciou sua importante carreira como dramaturgo. Durante os 71 anos
que imaginam ter ele vivido, o artista organizou festas no palácio real e encantou
com seu teatro religioso ou satírico não só plateias de poderosos, mas também
educou e divertiu gente simples. Para os portugueses, Gil Vicente é sempre
lembrado como um dramaturgo que soube criticar por meio de muita graça e riso
os comportamentos reprováveis de seu tempo.

69 – IDEALISMO
(veja tópico sobre Realismo).

1 – Introdução:

Alguns teóricos tendem a interpretar o pensamento de Parmênides e de Platão como


representantes do idealismo. Como veremos adiante, o idealismo é uma expressão do
pensamento moderno, no momento em que a teoria do conhecimento se torna reflexão
autônoma.

Segundo Garcia Morente, o eleatismo não é idealismo, mas realismo. Quando


Parmênides identifica ser e pensar, não se pode concluir que ele reduz o ser das coisas
ao pensamento, pois em nenhum momento é negada a existência autônoma das coisas
reais. Aliás, toda filosofia antiga é “ingênua” no sentido de aceitar o pressuposto de que
“as coisas são reais”.

O que se deve levar em conta é que naquele momento a filosofia está no seu berço e
Parmênides leva até as últimas consequências o poder recém-descoberto da razão de
procurar entender o mistério do mundo.

Como vimos, Platão rejeita como enganosa a multiplicidade do mundo e privilegia as


ideias como essências existentes das coisas do mundo sensível. Ou seja, a cada
“sombra” do mundo dos fenômenos corresponderia uma essência imutável no mundo
das ideias. Platão confere às ideias uma existência real, portanto, trata-se menos de uma
teoria idealista e mais propriamente de um realismo das ideias. Ou ainda, segundo
outros, de um idealismo objetivo.

2 – O Âmbito do Conhecimento;

Os filósofos gregos tinham uma concepção realista do conhecimento, pois para eles não
era problemática a existência do mundo. O mundo é considerado inteligível, isto é, tudo
no mundo é compreensível pelo pensamento. O conhecimento se faz pela formação de
conceitos, que são verdadeiros enquanto adequados à realidade existente.
271

Na Idade Moderna, a partir de Descartes, o realismo metafísico dos gregos é colocado


em questão. Por que a questão metafísica é antecipada pela questão epistemológica
“como descobrir a verdade?”.

Ao desenvolver o método para evitar o erro e chegar à verdade indubitável, Descartes


encontra Cogito. À pergunta “quem existe?”, responde: “eu e meus pensamentos”. E é
desse ponto de partida que pensa poder recuperar a existência de Deus no mundo.

Com isso, o idealismo se configura como caminho para a procura da verdade que acaba
por restringir o conhecimento ao âmbito do sujeito que conhec

3 – A Origem das Ideias;

Como vimos, a teoria do conhecimento assume na Idade Moderna uma importância


fundamental e primeira. Uma das questões a que surge é quanto à fonte das ideias: qual
é a origem do pensamento? Duas correntes principais se desenvolvem então – O
Racionalismo e o Empirismo.

- O Racionalismo tem seu maior expoente em Descartes, segundo o qual a razão tem
predomínio absoluto como fundamento de todo o conhecimento possível. (Veja Tópico
41 sobre Racionalismo).

- Mas o inglês John Locke, embora de formação cartesiana, critica as ideias inatas e
elaboradas do Empirismo, teoria do conhecimento segundo a qual as ideias derivam
direta ou indiretamente da experiência sensível. (Veja o Tópico 16 sobre o Empirismo).

- No século XVIII Kant tentará superar com o criticismo essas duas posições
antagônicas. (Veja Tópico 12 sobre o criticismo).

4 – O Idealismo Transcendental

A expressão transcendental em Kant significa aquilo que é anterior a toda experiência:


“chama transcendental todo conhecimento que trata, não tanto dos objetos, como de
modo geral, de nossos conceitos a priori dos objetos”. Mesmo fazendo a crítica do
Racionalismo e do Empirismo, Kant segue um processo que redunda em Idealismo, pois
ainda que reconheça a experiência como fornecedora da matéria do conhecimento, é o
nosso espírito, graça às estruturas a priori, que constrói a ordem do universo.

Tal como Copérnico dissera que não é o sol que gira em torno da terra, mas é esta que
gira em torno daquele. Também Kant afirma que o conhecimento não é o reflexo do
objeto exterior: é o próprio espírito que constrói o objeto do saber. Nesse sentido,
dizemos que Kant realizou uma revolução copernicana.
272

5 – O Idealismo Hegeliano.

“O homem tem de viver em dois mundos que se contradizem (...). o espírito afirma o
seu direito e a sua dignidade perante a anarquia e a brutalidade da natureza á qual
devolve a miséria e a violência que ela o faz experimentar. Mas esta divisão da vida e
da consciência cria para a cultura moderna e para a sua compreensão a exigência de
resolver tal contradição.”

(Hegel).

Hegel, tomando como ponto de partida a noção Kantiana de que a consciência (ou
sujeito) interfere ativamente na construção da realidade, propõe o que se chama de
filosofia do devir, ou seja, do ser como processo, como movimento, como vir-a-ser.
Desse ponto de vista, o ser está em constante transformação, donde surge a necessidade
de fundar uma nova lógica que não parta do princípio de contradição para dar conta da
dinâmica do real.

A dialética ensina que todas as coisas e ideias morrem: essa força destruidora é também
a força motriz do processo histórico. A ideia central é a de que a morte é criadora, é
geradora. Todo o ser contém em si mesmo o germe da sua ruína e, portanto, da sua
superação. O movimento da dialética se faz em três etapas: tese, antítese e síntese (ou
seja: afirmação, negação e negação da negação).

A verdade, nesse caso, deixa de ser um fato para ser um resultado do desenvolvimento
do Espírito. Vejamos como isso se opera.

O conhecimento estabelecido a partir de uma realidade dada, imediata, simples


aparência, é chamado por Hegel de conhecimento abstrato, ao qual opõe o
conhecimento do ser real, concreto, que consiste em descrever o modo como uma
realidade é produzida. Conhecer a gênese, o processo de constituição pelas mediações
contraditórias, é conhecer o real.

Hegel, ao explicar o movimento gerador da realidade, desenvolve uma dialética


idealista: no sistema hegeliano, a racionalidade não é mais um modelo a se aplicar, “mas
é o próprio tecido do real e do pensamento”. O mundo é a manifestação da Ideia, “o real
é racional e o racional é real”. “A história universal nada mais é do que a manifestação
da razão”.

Como ponto de partida do devir, Hegel coloca não a natureza – a matéria – mas a ideia
pura (tese). Esta para se desenvolver, cria um objeto oposto a si, a natureza (antítese),
que é a ideia alienada, o mundo privado de consciência. Da luta desses dois princípios
antitéticos nasce uma síntese, o Espírito, a um tempo pensamento e matéria, isto é, a
ideia que toma consciência de si através da natureza.

Por esse movimento a Razão passa por todos os graus, desde o da natureza inorgânica,
da natureza viva, da vida humana individual até a vida social.
273

Os dois últimos graus (do homem individual e social) são manifestação, num primeiro
momento, do Espírito subjetivo do homem, ainda encerrado na sua subjetividade
(enquanto emoção, desejo, imaginação). Ao Espírito Subjetivo se opõe a antítese do
Espírito objetivo, ou seja, o espírito exterior do homem enquanto expressão da vontade
coletiva por meio da moral, do direito, da política: o Espírito objetivo se realiza naquilo
que se chama mundo da cultura. Essa relação antitética é superada pelo Espírito
absoluto, síntese final em que o Espírito, terminando o seu trabalho, compreende-o
como realização sua. A mais alta manifestação do Espírito absoluto é a filosofia, saber
de todos os saberes, quando o Espírito atinge a absoluta autoconsciência. Por isso Hegel
a chama de “pássaro de Minerva que chega ao anoitecer”, ou seja, a crítica filosófica se
faz ao final do trabalho realizado.

Assim, Hegel propõe um novo conceito de história: o presente é retomado como


resultado de um longo e dramático processo; a história não é uma simples acumulação e
justaposição de fatos acontecidos no tempo, mas é um verdadeiro engendramento, um
processo cujo motor interno é a contradição.

a) Crítica ao Idealismo Hegeliano:

Na juventude, Marx participou do grupo dos neo-hegelianos de esquerda, que tinha à


época, como uma de suas principais figuras, o também alemão Ludwing Feuerbach
(1804-1872).

Discípulo de Hegel. Feuerbach esteve inicialmente sob sua influencia, defendendo-o de


alguns ataques. Mas depois passou a examinar criticamente seu idealismo, qualificando-
o como “especulação vazia”. Defendeu, então, que a filosofia deveria partir do ser
concreto, isto é, do ser humano considerado como um ser natural e social.

Feuerbach tambpem foi um critico das religiões, afirmando que não foi Deus quem
criou os seres humanos, e sim os seres humanos quem criaram Deus, ao projetar suas
melhores qualidades nele. Tratava-se, portanto, de uma posição filosófica tipicamente
materialista.

Essas e outras ideias de Feuerbach teriam grande impacto no pensamento de Marx, que
depois buscou ampliá-las e especificá-las, demarcando seu próprio materialismo.

Assim, em sua crítica ao idealismo hegeliano, Marx afirma que Hegel inverteu a relação
entre o que é determinante – a realidade material – e o que é determinado – as
representações e conceitos acerca dessa realidade. A filosofia idealista seria, portanto,
uma grande mistificação ou farsa, pois pretende entender o mundo real, concreto, como
manifestação de uma razão absoluta. Contrapondo sua filosofia ao idealismo, Marx
afirma na introdução ao livro A ideologia alemã:

As premissas de que partimos não constituem bases arbitrárias, nem dogmas; são antes
bases reais de que só é possível abstrair no âmbito da imaginação. As nossas premissas
são os indivíduos reais, a sua ação e as suas condições materiais de existência [...].
274

Marx procurou, portanto, compreender a história real dos seres humanos em sociedade a
partir das condições materiais nas quais eles vivem. Essa visão da história foi chamada
posteriormente por Engels de materialismo histórico.

Vejamos então os principais pontos do materialismo de Marx, em que destacaremos as


concepções contrárias ao idealismo de Hegel.

 Materialismo Histórico:

De acordo com Marx, os seres humanos não podem ser pensados de forma abastrata,
como na filosofia de Hegel, nem de forma isolada, como nas filosofias de Feuerbach,
Proudhon e tantos outros que Marx criticou, como Schopenhauer e Kiekegaard.

Para Marx, não existe o indivíduo formado fora das relações sociais. Ele enfatiza esse
ponto ao afirmar: “A essência humana [...] é o conjunto das relações sociais” (Teses
contra Feuerbach, p. 52). Isso significa que a forma como os indivíduos se comportam,
agem, sentem e pensam vincula-se à forma como se dão as relações sociais. Essas
relações, por seu lado, são determinadas pela forma de produção da vida material, ou
seja, pela maneira como os seres humanos trabalham e produzem os meios necessários
para a sustentação material das sociedades. Em A ideologia alemã, escrita em conjunto
com Engels. Marx desenvolve essa reflexão dizendo:

A forma como os homens produzem esses meios depende em primeiro lugar


da natureza, isto é, dos meios de existência já elaborados e que lhes é
necessário reproduzir; mas não deveremos considerar esse modo de
produção deste único ponto de vista, isto é, enquanto mera reprodução da
existência física dos indivíduos. Pelo contrário, já constitui um modo
determinado de atividade de tais indivíduos, uma forma determinada de
manifestar a sua vida, um modo de vida determinado. A forma como os
indivíduos manifestam a sua vida reflete muito exatamente aquilo que são.
O que são coincide, portanto com a sua produção, isto é, tanto com aquilo
que produzem como a forma como produzem. Aquilo que os indivíduos são
depende, portanto das condições materiais da sua produção.

Esse é um ponto fundamental da filosofia de Marx. Ao falar da produção material da


vida, ele não se refere apenas à produção das inúmeras coisas necessárias à manutenção
física dos indivíduos. Considera também o fato de que, ao produzir todas essas coisas,
os seres humanos constroem a si mesmos como indivíduos. Isso ocorre porque, segundo
o filósofo, “o modo de produção da vida material condiciona o processo geral de vida
social, política e espiritual”.

 Capital e Trabalho

Compreende-se aí a importância que Marx deu à análise do trabalho. Ele reconhece o


trabalho como atividade fundamental do ser humano e analisa os fatores que, no
capitalismo, o tornaram uma atividade massacrante e alienada.
275

Essa demonstração desenvolve-se em vários textos, mas de forma mais rigorosa em O


Capital. Nesse livro, o filosofo expõe a lógica do modo de produção capitalista, em que
a força de trabalho é transformada em uma mercadoria com dupla face: de um lado, é
uma mercadoria como outra qualquer, paga pelo salário; de outro, é a única mercadoria
que produz valor, ou seja, que reproduz o capital.

 Dialética Marxista

Marx também entende o desenvolvimento histórico-social como decorrente das


transformações ocorridas no modo de produção. Nessa análise, ele se vale dos
princípios da dialética, mas, como afirma no posfácio da segunda edição de O Capital,
“meu método dialético não só difere do hegeliano, mas é também a sua antítese direta”.

Marx reconhece o mérito de Hegel por ter sido o primeiro a expor as formas gerais da
dialética, mas alega que é preciso desmistifica-la, evidenciando seu núcleo racional.

Na concepção hegeliana, conforme vimos a dialética torna-se instrumento de


legitimação da realidade existente. No pensamento de Marx, a dialética leva ao
entendimento da possibilidade de negação dessa realidade “porque apreende cada forma
existente no fluxo do movimento, portanto também com seu lado transitório”. Ou seja, a
dialética em Marx permite compreender a história em seu movimento, em que cada
etapa é vista não como algo estático e definitivo, mas como algo transitório, que pode
ser transformado pela ação humana.

De acordo com Marx, as grandes transformações históricas deram-se primeiramente no


campo da economia, causadas por contradições geradas no interior do próprio modo de
produção. Diferentemente de Hegel, no entanto, Marx não concebe uma história que
anda sozinha, guiada por uma razão ou um espírito, mas sim uma história feita pelos
seres humanos, que interferem no processo histórico e possa, dessa forma, transformar a
realidade social, sobretudo se alterarem seu modo de produção.

 Modo de Produção

Modo de produção é a maneira como se organiza a produção material em determinado


estágio de desenvolvimento social. Essa maneira depende do desenvolvimento das
forças produtivas (a força de trabalho humano e os meios de produção, tais como
máquinas, ferramentas etc.) e da forma das relações de produção.

Embora a definição dos modos de produção seja um aspecto complexo na obra de Marx
e entre seus comentadores, lemos em A ideologia alemã a exposição dos seguintes
modos de produção dominantes em cada época: o comunismo primitivo, o escravismo
na Antiguidade, o feudalismo na Idade Média e o capitalismo na Idade Moderna.

A passagem de um modo de produção a outro, segundo o filósofo, acontece no


momento em que o nível de desenvolvimento das forças produtivas entra em
contradição com as relações sociais de produção. Quando isso ocorre, há um
sufocamento da produção em virtude da inadequação das relações nas quais ela se dá.
276

Nesse momento, surgem as possibilidades objetivas de transformação desse modo de


produção.

 Luta de Classes

De acordo com Marx, cabe à classe social que possui, nesse momento, um caráter
revolucionário intervir por meio de ações concretas, praticas, para que essas
transformações ocorram. Foi o que aconteceu, por exemplo, na passagem do feudalismo
ao capitalismo, com as revoluções burguesas.

O filósofo sintetiza essa análise na afirmação de que a luta de classes é o motor da


história, isto é, a luta de classes faz a história se mover. Por isso, no Manifesto
Comunista (1848), escrito em parceria com Engels, Marx afirma:

A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a
história das lutas de classes.

Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, opressores e


oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora
franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma
transformação revolucionaria da sociedade inteira, ou pela destruição das
duas classes em luta.

De acordo com Marx, o capitalismo também criou uma classe revolucionária, a qual, em
virtude de suas condições de existência, deve se organizar para, no memento oportuno,
fazer a revolução social rumo ao socialismo. Essa classe revolucionária seria o
proletariado – que, pela definição do filósofo, é a classe de trabalhadores assalariados
modernos que, destituídos dos meios de produção, se veem obrigados a vender sua força
de trabalho para poder existir.

O pensamento de Marx teria um grande impacto no mundo contemporâneo, em termos


teóricos e práticos, inspirando correntes filosóficas, movimentos operários e revoluções.
E suas ideias, por suas implicações políticas, ainda são objeto de muitos estudos e
acaloradas discussões.

b) Idealismo Absoluto:

No século XIX, o filósofo alemão Friedrich Hegel (1770-1831) concebeu uma


ontologia radicalmente distinta, se não oposta ao materialismo hobbesiano. Para ele, o
mundo seria o desdobramento de um espírito abrangente (ou absoluto) que se estaria
realizando no tempo (ou história). Desse modo, Hegel identificava a ideia ou o espírito
com toda a realidade. Trata-se de um idealismo absoluto, conforme veremos adiante.

 O Real é Racional

Hegel entendia a realidade como um processo análogo ao pensamento. Por isso dizia
que “tudo que é real é racional, tudo que é racional é real”.
277

a) A realidade possui racionalidade ou identifica-se com ela – o mundo é a atuação


ou realização progressiva de uma razão (ou ideia, ou espírito ou absoluto, ou
Deus), presente tanto na natureza como no ser humano e em suas construções
culturais. Portanto, o mundo não é o reino do acaso, onde os fatos se dão de
forma aleatória, mas sim o desdobramento do logos ou espiritualidade racional.
Por isso, “o real é racional”;
b) A razão possui realidade ou identifica-se com ela – se o real é racional,
inversamente a razão não seria apenas um processo abstrato no qual as ideias
equivalem a puras representações ou imagens do mundo, como se costuma
pensar. Elas fazem parte da estrutura profunda do real, de tal maneira que quanto
maior a racionalidade mais forte ou elevada a realidade (noção de que a
quantidade se transforma em qualidade). Por isso, “o racional é real”.

Desse modo, Hegel rompeu com a distinção tradicional entre consciência e mundo,
sujeito e objeto, ideal e real, espírito e matéria. Para ele, a realidade se identificaria
totalmente com o espírito (ou ideia, ou razão), e a racionalidade seria o fundamento de
tudo o que existe inclusive da natureza. O ser humano, por sua vez, constituiria a
manifestação mais elevada dessa razão, que estaria dentro dele e ao mesmo tempo
acima dele, pois a racionalidade cósmica movimentaria o mundo.

 Movimento Dialético do Real

Quando Hegel concebe a realidade como espírito, quer destacar que ela não é apenas
uma substância (uma coisa permanente, rígida). Ela é principalmente um sujeito, um ser
com vida própria, que pode aturar. Portanto, entender a realidade como espírito é
entendê-la nesse seu atuar constante, ou seja, como movimento ou processo, e não
como coisa ou substância inerte. É entendê-la como devir.

Mas como é esse movimento do real? De acordo com Hegel, esse movimento tem uma
característica específica: ele se dá por contradições autossuperadoras contínuas. Isso
quer dizer que cada momento surge do anterior e prepara o seguinte, em um processo de
embate e superação em que sempre o anterior tem de ser negado.

Em seu texto Fenomenologia do espírito, o filósofo usa um exemplo da natureza para


ilustrar esse processo:

O botão desaparece no florescimento, podendo-se dizer que aquele é


rejeitado por este; de modo semelhante, com o aparecimento do fruto, a flor
é declarada falsa existência da planta, com o fruto entrando no lugar da flor
como a sua verdade. Tais formas não somente se distinguem, mas cada uma
delas se dispersa também sob o impulso da outra, porque são
reciprocamente incompatíveis. Mas, ao mesmo tempo, a sua natureza fluida
faz delas momentos da unidade orgânica, na qual elas não apenas não se
rejeitam, mas, ao contrário, são necessárias uma para a outra, e essa
necessidade igual constitui agora a vida do inteiro.
278

Assim podemos ver como a realidade não é estática, mas dinâmica. Os momentos se
contradizem entre si, sem, no entanto, perderem a unidade do processo, que leva a um
crescente auto-enriquecimento. Esse desenvolvimento, que se faz por meio do embate e
da superação de contradições, foi chamado por Hegel de dialética. Não se trata aqui do
método usado por Platão para pensar e conhecer a realidade, mas sim de uma descrição
do movimento real do mundo.

O movimento dialético se processa em três momentos: o primeiro, do ser em si; o


segundo, do ser outro ou fora de si; e o terceiro (que seria o retorno), do ser para si.
Usando novamente o exemplo do reino vegetal: a semente seria o em si da planta, mas
ela deve morrer como semente para sair, fora de si e poder se desdobrar na planta para
si.

Por motivos didáticos, esses três momentos do real são comumente chamados de tese,
antítese e síntese (embora alguns estudiosos afirmem que Hegel nunca usou essa
terminologia). Como o mover do mundo é contínuo, cada momento final, que seria a
síntese, torna-se a tese de um movimento posterior, de caráter mais evoluído.

Assim, a dialética do mundo pode ser representada como uma espiral, ou seja, um
movimento circular que não se fecha nunca, seguindo evolutivamente em direção ao
infinito.

c) Idealismo Alemão:

Nosso primeiro passo na compreensão do pensamento hegeliano será entender o


movimento filosófico do qual ele participou. Mas o que é mesmo o idealismo?

Como vimos antes, ao longo do livro, uma doutrina é idealista quando concebe a noção
de que o sujeito tem um papel mais determinante que o objeto no processo de
conhecimento. E há vários tipos de idealismo. Platão, por exemplo, costuma ser
considerado o principal idealista da Antiguidade, devido a sua teoria das ideias.
Descartes, por sua vez, expressou plenamente seu idealismo na formulação do cogito. O
mesmo fez Kant, que afirma – na Crítica da razão pura – que das coisas só conhecemos
a priori aquilo que nós mesmos colocamos nelas.

Foi justamente Kant quem assentou as bases dos que ficaria conhecido como idealismo
alemão, pois dizer que das coisas só podemos conhecer a priori aquilo que nós mesmos
colocamos nelas significa que só podemos conhecer o pensamento ou a consciência
que temos das coisas. Para esse filósofo, portanto, a condição última do processo de
conhecer é a existência do eu como principio da consciência. Em outras palavras, é a
existência do sujeito como centro (o eu) que torna possível o conhecimento e lhe dá
forma, pois é o sujeito que organiza o conhecimento do objeto, ao passo que este apenas
se encaixa nos “moldes” da percepção humana.

Pois bem, outro filósofo alemão, Johann Gottlieb Fichte (1726-1814), era um
admirador de Kant, mas achava problemática e separação que ele estabelecera entre a
coisa em si (o chamado noumenon ou número) e a coisa como ela se apresenta para
279

nós (o chamado phenomenon ou fenômeno). Assim, procurando um principio


unificador do real, tomou esse eu de Kant – entendido como princípio da consciência –
e transformou-o em princípio criador de toda a realidade.

Dessa forma, levou ao máximo o idealismo de Kant, construindo uma doutrina segundo
a qual a realidade objetiva seria produto do espírito humano. Isso porque, para Fichte,
trazemos em nós concepções lógicas das coisas do universo e este, necessariamente,
reflete essas concepções lógicas. O filósofo chegou a se referir às coisas da realidade
(ao que é exterior ao ser humano) como o não eu criado pelo eu.

Essa mesma ideia, que pode parecer um tanto estranha para o entendimento comum das
pessoas, é retomada e amadurecida por outro pensador alemão Friedrich Schelling
(1775-1854), assistente de Fichte e seu sucessor. Schelling também procurou explicar
como se dá a existência do mundo real, das coisas, a partir do eu, mas discordou de
Fichte no que se refere à determinação do mundo como puro não eu, ou seja, à ideia de
que a realidade exterior seria produto da concepção do eu.

Para Schelling, existe um único princípio, uma inteligência exterior ao próprio eu que
rege todas as coisas. Essa inteligência se manifestaria de forma visível em todos os
níveis da natureza até alcançar o nível mais alto, isto é, o ser humano ou, mais
geralmente, o que chamamos razão. Trata-se, portanto, de uma noção mais
compreensível ao senso comum, uma vez que guarda afinidade com a ideia de Deus – o
Deus espinosano, mais especificamente.

 Racionalidade do Real

A ideia de uma inteligência, ou espírito, que se manifesta e se concretiza no mundo será


também o ponto de partida da filosofia de Hegel. Colega e amigo mais velho de
Schelling. Como estudamos antes, Hegel entendia a realidade como um processo
análogo ao pensamento. Ele dizia que o real é racional e o racional é real. Em outras
palavras: a) a realidade possui racionalidade ou identifica-se com esta; a) a razão possui
realidade ou identifica-se com esta.

Assim, Hegel rompeu com a distinção tradicional entre consciência e mundo, sujeito e
objeto. Para ele, a realidade se identificaria totalmente com o espírito (ou ideia, ou
razão), enquanto a racionalidade seria o fundamento de tudo o que existe, inclusive da
natureza. O ser humano por sua vez, constituiria a manifestação mais elevada dessa
razão.

 Movimento Dialético

Também vimos anteriormente que, ao conceber a realidade como espírito, Hegel queria
destacar que ela não é apenas uma substância (uma coisa permanente, rígida), mas um
sujeito com vida própria que pode atuar. Portanto, entender a realidade como espírito é
entendê-la nesse seu atuar constante, ou seja, como movimento ou processo. É
entendê-la como devir.
280

Segundo o filósofo, o movimento da realidade apresentaria momentos que se


contradizem, sem, no entanto, perder a unidade do processo, que leva a um crescente
auto-enriquecimento. Trata-se do movimento dialético do real, que se processaria em
três momentos:

a) O primeiro, do ser em si, seria, por exemplo, o momento de uma planta como
semente (tese);

b) O segundo, do ser outro ou fora de si, seria o momento em que essa semente
sai fora, de si, desdobra-se em algo distinto (antítese);

c) E o terceiro, do ser para si, seria o momento em que surge a planta (síntese dos
momentos anteriores).

Esses momentos se sucederiam com um movimento em espiral, ou seja, um movimento


circular que não se fecha. Assim, cada momento final, que seria a síntese, torna-se a tese
de movimento posterior, de caráter mais avançado.

 Saber Absoluto

De acordo com Hegel, para compreender a dialética da realidade é necessário que a


razão se afaste do entendimento comum e se coloque no ponto de vista do absoluto. A
consciência que consegue isso atinge a razão ou o Saber Absoluto, ou seja, supera o
entendimento finito e adquire a certeza de ser toda a realidade. Desse modo, alcança a
unidade entre ser e pensar, harmonizando a subjetividade com a objetividade.

O pensamento de Hegel apresenta-se desse modo, como um grande sistema, que permite
pensar tanto a natureza, ou a realidade física, quanto o espírito, tendo como fio condutor
dessa reflexão totalizante a relação entre finito e infinito.

Nesse contexto, o trabalho da filosofia seria o de superar o entendimento finito e


limitado das coisas finitas e limitado para alcançar o saber absoluto, que é o saber da
coisa em si. Seria o caminhar da consciência rumo ao infinito, a busca da infinitude a
partir da finitude.

Hegel procurou apresentar, em sua obra, o caminho do conhecimento finito ao


conhecimento absoluto, o qual se daria em vários campos do saber, tanto em relação à
natureza como ao espírito.

No que concerne à natureza, rompeu com a visão romântica, que a divinizava,


proclamando a absoluta superioridade do espírito, que se realiza na história dos seres
humanos por meio de sua liberdade.

Em relação ao espírito, o filósofo distinguiu três instancias:

a) O espírito subjetivo – que se refere ao indivíduo e à consciência individual;


281

b) O espírito objetivo – que se refere às instituições e aos costumes historicamente


produzidos pelos seres humanos, expressão da liberdade humana;

c) O espírito absoluto – que se manifesta na arte, na religião e na filosofia como


espírito que se compreende a si mesmo.

 Filosofia e História

Para Hegel, a história é o desdobramento do espírito objetivo. Vejamos por quê.

O espírito objetivo é a realização da liberdade humana na sociedade. Manifesta-se no


direito, na moralidade e na “eticidade”, englobando a família, sociedade e Estado. o
Estado político é o momento mais elevado do espírito objetivo, de modo que o
indivíduo só existe como membro do Estado, conforme afirma o filósofo em Princípios
da filosofia do direito.

A história seria, portanto, o desdobramento do espírito no tempo. A filosofia da história


deve captar o movimento histórico não como momentos estanques, mas do ponto de
vista da razão, do absoluto. Sob esse ponto de vista, a história é uma contínua evolução
da ideia de liberdade, que se desenvolve segundo um plano racional.

Assim, para Hegel, os conflitos, as guerras, as injustiças, as dominações de um povo


sobre outro são compreendidos como contradições ou momentos negativos que
funcionam como mola dialética que move a história. No plano da dialética hegeliana,
esses momentos correspondem à antítese, que se contrapõe à tese, fazendo surgir uma
etapa superior, que seria a síntese.

Portanto, se para o filósofo tudo que é real é racional, e tudo que é racional é real –
como vimos antes – todas as coisas existentes, mesmo as piores, fazem parte de um
plano racional e, portanto, têm um sentido dentro do processo histórico. Esse conceito
hegeliano recebeu inúmeras críticas, já que pode levar a certo conformismo ou a uma
passividade diante das injustiças sociais.

 Legado de Hegel

Entre os seguidores de Hegel, houve uma divisão em dois grupos: neo-hegelianos de


direita e neo-hegelianos de esquerda, que fizeram ajustes em aspectos de sua filosofia de
modo a adequá-la a seus projetos políticos.

Mas a profundidade de seu pensamento e a radicalidade de seus conceitos despertaram


reações extremas e diversas, algumas delas tão revolucionárias que levaram a novas
maneiras de fazer e pensar a filosofia, como nos casos de Marx e Nietzsche.
282

70 – ILUMINISMO

1 – Introdução:

O Século XVIII é marcado pelo conjunto de ideias do movimento conhecido como


Ilustração que se espalha por toda Europa. A explosão das “luzes” foi preparada nos
séculos anteriores com o Racionalismo Cartesiano, revolução científica, o processo de
laicização da política e da moral.

Segundo Kant, um dos mais notáveis representantes da Anfkläung alemã, o homem


iluminista atingiu a maioridade e, como dono de si mesmo, confia na sua capacidade
racional e recusa qualquer autoridade arbitrária. Exalta a ciência e deposita esperança na
técnica, instrumento capaz de dominar a natureza. Seu otimismo transparece na
convicção de que a razão é fonte de progresso material, intelectual e moral, o que leva à
crença e confiança na perfectibilidade do homem, em síntese, pela razão universal o
homem teria acesso à verdade e à felicidade.

A difusão dessas ideias na França foi facilitada pela ampla produção intelectual dos
filósofos conhecidos como enciclopedista, tais como Diderot, - D’Alembert e Voltaire e
outros, embora, politicamente, a França se encontrasse atrasada com relação aos
avanços do Liberalismo Inglês, justificado teoricamente pela doutrina de Locke e levado
a efeito pela Revolução gloriosa ainda em fins do Século XVIII.

O Absolutismo da dinastia Bourbon perdura na França até 1789, data da Revolução. Por
isso praticamente durante todo o século XVIII, os franceses visitam a Inglaterra para
admirar suas instituições e elogiar a liberdade de consciência reinante.

2 – A Ilustração:

O século XVIII é conhecido como Iluminismo, século das luzes, Ilustração ou


Anfkläung. Como as próprias designações sugerem tratar-se do otimismo no poder da
razão de reorganizar o mundo humano.

Vimos que, já no Renascimento, se desenrola a luta contra o princípio da autoridade e a


busca dos próprios poderes humanos, pelos quais o homem o tecerá próprio a trama do
seu destino.

O Racionalismo e o Empirismo do século XVII (Descartes, Locke e Hume) dão o


substrato filosófico dessa reflexão: “Descartes” justifica o poder da razão de perceber o
mundo através de idéias claras e distintas; Locke valoriza os sentidos e a experiência na
elaboração do conhecimento; Hume Levanta o problema da exterioridade das relações
frente aos termos.
283

“Filha emancipada do Cartesianismo, a filosofia do iluminismo deve a Descartes e a


Malebranche – o gosto do raciocínio, a busca da evidência intelectual, e, sobretudo a
audácia de exercer livremente seu juízo e de levar a toda a parte o espírito da dúvida
metódica. ‘Sou, logo penso’ seria de algum modo o “Cogito do filosofo do Iluminismo,
bem próximo do cogito cartesiano”.

Outra influencia importante foi o advento da ciência galileana no século XVII, cujo
método experimental fecundou outros campos de pesquisa, fazendo nascerem novas
ciências.

Como essa ciência é aliada a técnica, faz surgir o modelo de um novo homem, o
homem construtor, o artífice do futuro, que não mais se contenta em contemplar a
harmonia da natureza, mas que conhecê-la para dominá-la.

E, é uma natureza dessacralizada, isto é, desvinculada da religião, que reaparece em


todos os campos da discussão do homem no século XVIII. Tornando-se livre de
qualquer tutela, sabendo-se capaz de procurar soluções para seus problemas com bases
em princípios racionais, o homem estende o uso da razão a todos os domínios: político,
econômico, moral e religioso.

a) A exaltação do poder do homem

Segundo Desné, decorre do fato de que “a segurança do filósofo é a segurança do


burguês que deve à sua inteligência, ao espírito de iniciativa e de providência, o lugar
que tem na sociedade (...). a emancipação do homem na qual Kant vê o traço distintivo
do Iluminismo é a emancipação de uma classe, a burguesia, que atinge sua maioridade”.

Nesse momento se dá o fortalecimento do sistema capitalista como modo de produção


predominante, o que se exemplifica pela Revolução Industrial, marcada pelo
aparecimento da máquina a vapor em meados do século XVIII, e que introduz o
processo de mecanização das indústrias.

De fato, o século XVIII é o século das Revoluções burguesas: ainda no final do anterior,
em 1688, a Revolução Gloriosa da Inglaterra destrona os STUART absolutistas e, em
1798, os BOURBON são depostos com a Revolução Francesa. Ecos desses
acontecimentos chegaram ao Novo Mundo, movimentos de emancipação como a
Independência dos Estados Unidos, em (1776), a Inconfidência Mineira (1789) e a
Conjuração Baiana em (1798).

Na Inglaterra, os representantes da ilustração são, sobretudo, Newton e Reid, herdeiros


de Locke e Hume.

Na França, surge Montesquieu, Voltaire, Russean. O poder de penetração da Ilustração


na França se deve, sobretudo, ao caráter vulgarizador da produção de seus filósofos
empenhado em levar “as luzes” a todos os homens.
284

Importante nesse processo é a publicação da Enciclopédia, obra imensa cujos verbetes


são confiados a diversos autores: Voltaire, D’Alembert, Diderot, Helvetins.

Na Alemanha, o movimento é conhecido como Aufklärung. É importante acentuar a


especificidade deste “país”, já que não podemos falar em autonomia nacional, pois a
Alemanha não passa, naquele momento, de um agregado de Estados que tem em
comum apenas a língua. (A Unificação Alemã só ocorrerá no século XX).

A economia feudal ainda predominantemente mantém o povo miserável e impedem a


ascensão da burguesia rica e esclarecida. Além disso, a Alemanha se acha extenuada
pela guerra dos “trinta anos”. Só na segunda metade do século XVIII começam a
aparecer sinais da Emancipação Intelectual, sobretudo, na produção literária (Lessing,
Herder, Goethe, Schiller) e musical (os descendentes de Bach – Carl Philipp e Johann
C. -, Haendel, Haydn, Mozart, Schubert, Beethoven).

Na filosofia Alemã, as expressões maiores são: Wolff, Lessing e Baumgarten. Mas foi
Kant o filósofo por excelência desse período, criando uma obra sistemática cuja
influencia marcará a filosofia posterior.

b) O Que é A Ilustração?

A Ilustração (Anfklärung) é à saída do homem de sua menoridade, da qual ele é o


próprio responsável.

A menoridade é a capacidade de fazer uso do entendimento sem a condução de outro. O


homem é o próprio culpado dessa menoridade quando causa reside não na falta de
entendimento, mas na falta de resolução e coragem para usá-lo sem a condução de
outro. Sapere aude! “tenha coragem de usar seu próprio entendimento!” – esse é o lema
da ilustração.

Preguiça e Covardia são as razões pelas quais uma tão grande parcela da humanidade
permanece na menoridade mesmo depois que a natureza a liberou da condução externa
(naturaliter maiorennes); e essas são também as razões pelas quais é tão fácil para outros
manterem-se como seus guardiões. É cômodo ser menor. Tem-se um livro que substitui
meu entendimento, um diretor espiritual que tem uma consciência por mim, um médico
que decide sobre minha dieta e assim por diante, não preciso me esforçar. Não preciso
pensar se puder pagar: outros prontamente assumirão por mim o trabalho penoso.

Que a passagem à maioridade seja tida como muito difícil e perigosa pela maior parte
da humanidade (e por todo o belo sexo) deve-se a que os guardiões de bom grado se
encarreguem da sua tutela. Inicialmente os guardiões domesticam o seu gado, e
certificam-se de que essas criaturas plácidas não ousarão dar um único passo sem seus
cabrestos; em seguida, os guardiões lhes mostram o perigo que as ameaça caso elas
tentem marchar sozinhas. Na verdade, esse perigo não é tão grande. Após algumas
quedas, as pessoas aprendem a andar sozinhas. Ma cair uma vez as intimida e
comumente as amedronta para as tentativas ulteriores.
285

É muito difícil para um indivíduo isolado libertar-se da sua menoridade quando ela
tornou-se quase a sua natureza (...).

Mas que o público se esclareça a si mesmo é muito perfeitamente possível; se lhe for
assegurada a liberdade, é quase certo que isso ocorra... Sempre haverá alguns
pensadores independentes, mesmo entre os guardiões das grandes massas, que, depois
de terem-se libertado da menoridade, disseminarão o espírito de reconhecimento
racional tanto de sua própria dignidade quanto da vocação de todo homem para pensar
por si mesmo.

Ma note-se que o público, que de início foi reduzido à tutela por seus guardiões, obriga-
os a permanecer subjugo, quando é estimulado a se rebelar por guardiões que, eles
próprios, são incapazes de qualquer ilustração. Isso mostra quão nocivo é semear
preconceitos; mais tarde volta-se contra seus autores ou predecessores. Sendo assim,
apenas lentamente o público pode alcançar a ilustração. Talvez a destruição de um
despotismo pessoal ou da pressão gananciosa ou tirânica possa ser realizada pela
revolução, mas nunca uma verdadeira reforma nas maneiras de pensar. [Enquanto essa
reforma não acontece], nos preconceitos servirão tão bem quanto os antigos, para atrelar
as grandes massas não pensantes.

Entretanto, nada além da liberdade é necessário à Ilustração; na verdade, o que se requer


é a mais inofensiva de todas as coisas às quais esse termo pode ser aplicado, ou seja, a
liberdade de fazer uso público da própria razão a respeito de tudo (...).

A pedra de toque para o estabelecimento do que devem ser as leis de um povo está em
saber se o próprio povo poderia ter-se imposto às leis em questão (...).

O que o povo não pode decretar para si próprio muito menos pode ser decretado por um
monarca, pois a autoridade legislativa deste último baseia-se em que ele une a vontade
pública geral na sua própria. A ele incube zelar para que todas as melhorias, verdadeiras
ou presumidas, sejam compatíveis com a ordem civil; fazendo isso, ele pode deixar aos
súditos que busquem eles próprios o que lhes parece necessário à salvação de suas
almas.

71 – IMPRESSIONISMO

Conceito:

Movimento artístico que surge na França, na segunda metade do século XIX, nas artes
plásticas e na música. Constitui-se no marco da arte moderna, com o início da
dissolução da representação figurativa. Em suas paisagens, os impressionistas dão
enorme importância à luz natural e a decomposição das cores. Entre seus expoentes
286

estão os franceses Claude Monet e Edgar Degas. Na música, o francês Claude Debussy
é considerado o pioneiro do movimento.

72 – ISLAMISMO

1 – Definição:

A Arábia é uma das partes mais inférteis da superfície terrestre. Trata-se de uma
península de cerca de 1600 quilômetros de comprimentos por 960 quilômetros de
largura, que consiste em desertos de areia, colinas rochosas e grandes áreas de cascalho
onde apenas os espinheiros conseguem crescer. Apenas uns poucos oásis, produzidos
por nascentes isoladas, oferecem algum alívio na sequidão. Apesar disto, esta terra
pouco prometedora produziu uma das três maiores religiões monoteística do mundo, o
Islamismo. Já nos tempos presente, cresceu até quase um bilhão de pessoas, e sua área
de predominância abrange a maior parte do Oriente Médio e da África do Norte.

O Islamismo enfatiza o sucesso das suas crenças, e, portanto, é uma religião missionária
militante. Com seu domínio sobre os estados petrolíferos muçulmano, está disposto a
conquistar o mundo inteiro. Os muçulmanos acreditam que o Islamismo satisfaz todas
as necessidades religiosas e espirituais do homem. Na fachada das mesquitas de um
milheiro de cidades no mundo inteiro, podemos ver as palavras impressionantes escritas
em letras grandes e destacadas: “Não há Deus senão Alá; Maomé é o seu profeta”.

2 – Conhecendo o Islamismo

2.1 – Definição:

O Islamismo é um movimento religioso fundado pelo profeta Maomé no início do


século VII d.C. A palavra Islam provem da palavra árabe Salam, que significa “entrega,
submissão, paz e dedicação”. O Islamismo é fé em Allah que significa “O Deus”.
Combina o artigo definido árabe al (“o”) com a palavra árabe Illah, que significa
“Deus”. Islam, portanto, significa a “paz perfeita que provém da verdadeira entrega a
Alá”. Os adeptos do Islamismo são chamados Muslins (aportuguesado: “muçulmanos”),
termo este que é derivado de Islam. Querem dizer, com esse nome, que se dedicaram a
um Governante Divino soberano, cuja vontade resolve colocar em prática em todos os
aspectos da vida. Os muçulmanos rejeitam o termo maometano porque consideram que
Deus é o centro da sua fé, e não Maomé. Assim como o Cristianismo, o Islamismo tem
suas raízes no Judaísmo. Mas, diferentemente do Cristianismo, o Islamismo não tem
lugar para a ideia do filho de Deus. O Islamismo é uma religião de profetas, pois
reconhece grandes homens tais como Noé, Abraão, Jesus e Maomé como profetas,
chamados e escolhidos por Deus, mas que nem por isso deixam de ser meros homens.
287

2.2 – Fundo Histórico:

Meca, a capital da Arábia, era uma cidade de comércio num local onde se cruzavam
dois caminhos principais das caravanas. Um passava pela Arábia do norte ao sul, e o
outro se estendia em direção ao leste, a partir da orla marítima ocidental. Meca era o
local onde havia uma grandiosa feira e mercado todos os anos, e as pessoas,
principalmente árabes, vinham de longe para negociarem e para adorarem nos
santuários dos deuses pagãos em Meca. A tribo Quraysh, na qual Maomé nasceu, era
muito poderosa e controlava a adoração pagã em Meca. Muitas pessoas eram animistas
e adoravam deidades nas rochas, árvores e fontes sagradas. Uma das pedras mais
sagradas era a meteorite negra na Caaba em Meca. Uma lenda declara que a pedra caiu
do céu nos dias de Adão. Romarias eram feitas a Meca para adorar as deidades e para
beijar a pedra. Perto da Caaba havia o poço de Zam-Zam, onde segundo acreditava-se,
Hagar e Ismael estabeleceram-se depois de terem sido expulsos por Abraão. O filho de
Abraão, Ismael, foi para Meca, de conformidade com a tradição, e ficou sendo pai de
todos os povos árabes. Os nomes Abraão e Ismael continuam sendo de uso comum entre
os muçulmanos.

Além dos politeístas, moravam também monoteístas na Arábia, mas estes eram
principalmente cristãos e judeus. Muitos comerciantes judeus, refugiados das guerras,
também trouxeram suas mercadorias para a Arábia. Seus livros do Antigo Testamento e
suas tradições orais eram bem conhecidos ali. Os cristãos da Arábia eram na sua
maioria, ignorantes e divididos entre si. Nos séculos V e VI, argumentos doutrinários a
respeito da natureza de Cristo tinham causado facções. Alguns sustentavam que Jesus
era tanto Deus quanto Homem, duas naturezas em uma só pessoa. Outros acreditavam
que Ele era diferente tanto de Deus quando do Homem. Os argumentos eram ríspidos e
generalizados.

Neste meio ambiente nasceu Maomé em Meca, cerca de 570 d.C. seu pai morreu antes
dele nascer, e sua mãe morreu quando ele ainda era menino. Um tio, Abu Talib,
assumiu a responsabilidade de cuidar dele, e viveu em conforto, mas sem riquezas.
Trabalhava como diretor das caravanas de camelos que pertenciam a uma viúva rica,
Khadija. Embora Khadija fosse quinze anos mais velha do que Maomé, ficou tão
impressionada com ele que concordou, quando ele atingiu vinte e cinco anos de idade,
em casar-se com ele. Tiveram dois filhos e quatro filhas, mas somente Fátima
sobreviveu. A tradição declara que, apesar do seu ambiente social, Maomé era fiel e
honesto no seu trabalho. O nome árabe Muhammad (aportuguesado: Maomé) significa
“altamente louvado” e é usado por muitos muçulmanos do sexo masculino em todo o
mundo muçulmano.

Maomé se perturbava com o barbarismo, a embriaguez, o assassinato e os furtos que


existiam ao seu redor. Além disso, no campo da religião, via as crenças, as facções e o
paganismo que prevaleciam. Zayd, um parente, foi expulso da tribo Quraysh porque se
recusou a comer carne oferecida a ídolos pagãos. Isto impressionou Maomé, que
começou a pensar seriamente no único Deus verdadeiro. Achou uma caverna no Monte
288

Hira, a 5 quilômetros de Meca e, sempre quando era possível, nos quinze anos que se
seguiram, ia para lá a fim de meditar e orar. Seu coração ardia com os mistérios do bem
e do mal, e estendia-se em direção a Deus. Ficou grandemente atraído a Allah, o Deus
adorado com verdadeira devoção pelos cidadãos de Meca. Começou a perceber que
Deus era tão tremendo e real quanto a vida e a morte. Deus enchia todo o céu e a terra.
Era o único Deus, sem igual nem rival. Dentro em breve, a partir da sua caverna nas
montanhas, iria ressoar a frase mais importante da língua árabe, o grito que estava para
arregimentar um povo e estender o seu poder até aos fins do mundo conhecido:

La Illa Allah, “Não há Deus senão Alá”.

Segundo a lenda, certa noite ao meditar na caverna, ouviu uma voz dizer: “Recite em
nome do teu Senhor que criou o homem a partir de um coágulo de sangue. Recite: Teu
Senhor é muito benevolente, pois pela caneta ensino aos seres humanos as coisas que
não sabiam”. Maomé foi para casa, cansado após a visão, e contou sua experiência a
Khdija. Ele disse que a visitação provinha do anjo Gabriel. Khadija ficou convicta de
que ele não estava louco, mas que tinha sido escolhido para ser um grande profeta. A
partir de então, dedicou a sua vida à proclamação da mensagem.

Assim como ocorreu com outros fundadores de religiões, Maomé recebeu muita
oposição no início. Em Meca, muitas pessoas temiam que seu monoteísmo extremo
provocasse uma diminuição das somas pagas nos santuários dos templos. Em certo
templo em Meca, havia mais de 360 santuários, um para cada dia do ano. Além disso,
sua doutrina ameaçava estragar o tráfico ilícito e a imoralidade daqueles tempos.
Maomé e seus seguidores foram expulsos de Meca, mas acharam refúgios em Yathrib,
uma cidade cerca de 432 quilômetros ao norte de Meca.

A hejira (“lugar”) para Yathrib em 622 d.C. veio a ser o evento mais importante do
Islamismo, e o ponto de partida do calendário islâmico. Era chamado Anno Hegirae, e o
ano 622 d.C. ficou sendo A.H.I. Posteriormente, o nome de Yathrib foi mudado para
Medina, a cidade do profeta de Deus.

Maomé ficou sendo um político perito, o líder de Medina, e um guerreiro feroz, tudo em
nome de Alá. Quando começou a pregar, esperava ser bem recebido pelo povo judaico,
porque achava que estava proclamando a mesma fé. Considerava que os profetas do
Antigo Testamento e os apóstolos do Novo Testamento eram muçulmanos, porque se
submetiam a Deus. Louvava os judeus e os cristãos com “povo do livro”, dizendo que
ficariam em segurança no dia do juízo. Os judeus, porém, rejeitaram-no porque dizia
que Jesus era um profeta, e porque tinha ideias inexatas a respeito do Antigo
Testamento. O rompimento final com os judeus ocorreu quando uma judia, Zainab,
convidou o profeta e seus amigos para um jantar, e deu-lhes para comer carne de
carneiro envenenada. Embora Maomé tenha comido uma porção pequena da carne,
sofreu dos seus maus efeitos durante o restante da sua vida, e morreu em idade pouco
avançada.
289

Depois da morte de Maomé, califas ou “sucessores do profeta” governaram a


comunidade e o Islamismo estendeu-se pela Palestina, pelo Egito, pela África do Norte
e pela Pérsia. Vários fatores entraram na expansão rápida do mundo islâmico.
Inicialmente, foi o fato das pessoas estarem prontas para a reforma política e religiosa.
Em segundo lugar, comunidades inteiras foram ganhas pela espada. Em terceiro lugar,
mais recente, a ideia de sucesso instilada nos muçulmanos foi encorajada pela
descoberta do petróleo, e estendeu vastamente o Islamismo.

3 – Crenças do Islamismo

O Iman ou “Fé do Islamismo” baseava-se nos ensinamentos de Maomé depois da sua


morte, e foi compilado por aqueles que foram seus companheiros. A teologia do
Islamismo é simples, mas muitas crenças e práticas foram acrescentadas no decurso dos
anos. Para nossa pesquisa, consideraremos as Cinco Colunas do Islamismo; algumas das
suas doutrinas de destaque; as pessoas e os lugares sagrados; e outras práticas
importantes da fé muçulmana.

3.1 – As Cinco Colunas do Islamismo

As doutrinas mais importantes da fé muçulmana são as Cinco Colunas do Islamismo.


São exigidas da parte de todos os muçulmanos e são continuamente recitadas e
ensinadas.

a) A Profissão de Fé (“Shahadah”):

Todos os muçulmanos professam publicamente Alá como o Deus Único e Maomé como
seu profeta. Embora outros profetas sejam reconhecidos, o maior e o último foi Maomé.
Além disso, os muçulmanos acreditam nos anjos, seres espirituais que cumprem a
vontade de Alá, doutrina esta que foi copiada do Judaísmo. Acreditam na ressurreição
dos mortos e no dia de juízo quando, então, as pessoas que forem fiéis ao Alcorão serão
recompensadas. Aqueles que deixam de obedecer serão castigados no inferno.

b) A Obrigação de Orar (“Salat”):

Os muçulmanos têm o dever de orar em particular e em público. A oração individual


pode ser feita em qualquer lugar. A oração pública é convocada do minarete de uma
mesquita por um muezzin ou “convocador”. Sinos não são usados porque, segundo a
tradição, Maomé sofria dores provocadas por barulhos como de sinos durante suas
visões. A convocação à oração é feita cinco vezes por dia: ao amanhecer, ao meio-dia, à
tarde, ao pôr do sol e depois de escurecer. Há primeiramente, um ritual de purificação
com água ou com areia para quem está no deserto. Os adoradores ficam em pé, voltados
em direção a Meca, e recitam o primeiro capítulo do Alcorão. Depois, ajoelham-se,
sentam-se, e ficam em pé conforme uma fórmula fixa, recitando palavras de oração
290

durante o tempo todo. Um esforço especial é feito para ir até uma mesquita ao meio-dia
da sexta-feira, que é o Dia de Descanso dos muçulmanos, e o Iman ou “líder”, prega um
sermão.

c) A Doação de Esmolas (“Zakat”):

Todo muçulmano é obrigado a dar uma proporção das suas rendas como caridade ou aos
pobres, e contribuir para as despesas da mesquita. A porcentagem varia, e depende se as
rendas eram provenientes do serviço assalariado, da agricultura ou do comércio. Varia
entre 2,5% e 10%, mas é um imposto obrigatório. Outras ofertas voluntárias, chamadas
sadaqa, também podem ser feitas por quem assim desejar.

d) O Jejum de Ramadan (“Sawm”):

Durante Ramadan, o nono mês lunar, todo muçulmano adulto tem a obrigação de
abster-se da comida, da bebida e da atividade sexual. Todos os dias, desde o amanhecer
até o pôr do sol, orações especiais são recitadas e trechos do Alcorão são lidos.
Alimentos podem ser tomados depois do pôr do sol. No fim do mês, é celebrada uma
festa. Visto que o calendário muçulmano segue as fases da lua, as datas mudam todos os
anos.

e) A Romaria a Meca (“Hajj”):

É obrigatório para todo homem adulto que tem condições para tanto, fazer uma romaria
a Meca uma vez na vida. A presença em Meca é exigida em Dhu’l Hijja, o “mês da
romaria”. Centenas de milhares de pessoas vão para lá a pé, de jumento, de camelo, de
carroça, de automóvel ou de avião. É o momento mais brilhante da vida do muçulmano.
Aqueles que foram até lá podem mesmo ter o termo hajj, acrescentado ao seu nome. O
alcorão contém pormenores a respeito de quais roupas usarem e de que se deve fazer em
Meca. Oram diante da Caaba, o santuário sagrado do Islamismo, no átrio da grande
mesquita. Durante os dias da sua permanência ali, os peregrinos visitam Zam-Zam que,
segundo se acredita, é o poço de Hagar e de Ismael. No décimo dia do décimo segundo
mès lunar, o “Festival do Sacrifício” marca o fim da estação das romarias.

3.2– Doutrinas Islâmicas de Destaque

a) O Ser Supremo:

O islamismo apega-se a um monoteísmo rigoroso. Alá é o Deus único, que governa o


universo inteiro. “Não há Deus senão Alá”. Ele forma um contraste com os politeístas
de Meca e com os cristãos que discutiam entre si a respeito de qual papel Jesus
desempenhava na Deidade. Os muçulmanos insistem que há um só Deus, completo,
eterno e indiviso. O Alcorão declara: “Aquele a quem pertence à soberania dos céus e
da terra, Ele não escolheu nenhum filho nem tem qualquer parceiro”. Alá é onisciente e
291

onipotente. “Eis que teu Senhor é Alá, que criou os céus e a terra em seis dias, e então
Ele subiu ao trono”. Os muçulmanos atribuem noventa e nove nomes a Alá para louvar
seus muitos atributos, e os muçulmanos devotos recitam esses nomes, de modo muito
semelhante à recitação do rosário pelos católicos romanos.

Os muçulmanos descrevem outras criaturas chamadas jinn, que ficam à meia distancia
entre os seres humanos e os anjos. São criados do fogo, e alguns são anjos da guarda
para os seres humanos, mas outros são demônios. Iblis, o líder dos jinn, é um anjo caído
que age de modo muito semelhante a Satanás no Livro de Jó. Segundo a lenda
muçulmana, Iblis foi quem provocou a queda de Adão.

b) A Lei (“Shari’a”):

No conceito muçulmano da religião, a lei ou Shari’a, que significa “caminho bem-


conhecido”, é importantíssima. Ao passo que o alcorão fala da compaixão e da
misericórdia de Deus para com os pecadores arrependidos, o Islamismo preocupa-se
com a obediência do que com o perdão. Maomé considerava tanto o Torá quanto o
Evangelho como leis que o homem era obrigado a observar. Segundo a lei Islâmica, é
dever dos fiéis aceitar aquilo que o profeta disse, sem perguntarem como ou por que.
Por isso, qualquer pesquisa sobre a teologia do Islamismo, do tipo que é feita no
Cristianismo, é errada e provavelmente herética. Por essa razão, os estudiosos islâmicos
dedicaram-se ao estudo da lei ou Shari’a.

c) A Predestinação:

Visto que os muçulmanos acreditam firmemente no poder e na soberania de Deus, dão o


passo lógico seguinte, creem na predestinação e no fatalismo. A ideia é que, visto que
Deus reina no universo, sua vontade é soberana. Tudo quanto uma pessoa faz, o bem ou
o mal, bem como seu sucesso ou fracasso, está nas mãos de Deus; Ele planejou tudo de
antemão. O Alcorão diz:

Ele te conhece muito bem, quando Ele te produziu da terra, e quando tu,
ainda no ventre da tua mãe, não tinha nascido. Deus desvia a quem Ele
quiser, e Ele coloca no caminho reto a quem Ele quiser. Tu não terás
vontade de nada, a não ser o que for pela vontade de Deus.

Os muçulmanos não acreditam que uma coisa causa outra; por exemplo, não podemos
dizer que a água nos molha. É somente quando Deus assim quer que nós, estando na
água, ficamos molhados! Essa crença, na sua forma extrema, despoja as pessoas da
liberdade de escolha e, portanto, não são responsáveis pelas suas próprias ações. Não
passam de fantoches nas mãos de Deus. Uma expressão comum dos muçulmanos é
Insh’allah, ou seja: “se Deus assim quiser”. Mas nem todos os muçulmanos levam o
fatalismo tão longe assim. Alguns dizem que Alá, na sua sabedoria e misericórdia,
permite que as pessoas façam escolhas nas áreas em que serão julgadas. Segundo este
ponto de vista, as pessoas têm pelo menos alguma liberdade de escolha.
292

d) A Salvação:

O caminho da salvação é submissão (islam) à vontade soberana de Deus. O Alcorão


ensina que Deus também é o juiz. Adverte os homens sobre o dia de juízo quando,
então, seus atos receberão a justa recompensa. O dever dos homens é reconhecer Deus,
ser gratos pelas suas dádivas, viver de acordo com os seus mandamentos, e esperar que
sejam salvos no fim. Afinal de contas, a salvação está nas mãos de Deus, para dar ou
para recusar. Nenhum muçulmano pode dizer que tem a certeza de que Alá o salvará.
Uma faceta da salvação é a crença de que se um muçulmano morrer numa batalha em
defesa da fé do islamismo irá diretamente para o seio de Maomé. Faremos referência
posterior a esta crença.

e) A Escatologia do Islamismo:

Parece que a escatologia dos judeus e dos cristãos teve efeito profundo sobre Maomé. O
Alcorão diz que quando a pessoa morre, o corpo volta à terra e a alma passa para um
estado de sono até o dia da ressurreição. O anjo de Alá soará a sua trombeta, a terra se
fenderá, e os corpos serão reunidos com suas respectivas almas. Será aberto um livro de
registro da vida de toda pessoa, e cada uma será julgada segundo as suas ações. Todas
passarão por uma ponte estreita, afiada como espada, que atravessa o abismo do inferno.
Os malfeitores cairão para a destruição, mas os muçulmanos atravessarão com
segurança. O céu, no entanto, é um paraíso ajardinado onde os fiéis serão
recompensados com todos os tipos de deleites físicos. Melhor de tudo: verão a Deus. Os
que caírem no inferno sofrerão tormentos.

4 – Outras Práticas Islâmicas

a) Lugares Sagrados:

Mesquitas – Tendo sua origem numa palavra árabe antiga que significa “prostrar-se”, as
mesquitas são lugares de reuniões de adoração. Há grande número de mesquitas na
maioria das cidades das nações do Oriente Médio e do Oriente. Maomé decretou que a
sexta-feira seria o dia oficial de adoração para os muçulmanos, assim como o sábado o é
para os judeus e o domingo para os cristãos. O muezzi (“convocador”) fica em pé num
minarete de uma mesquita e convoca as pessoas à oração cinco vezes por dia. Nos
tempos modernos, sua convocação é frequentemente substituída por uma gravação.

A Caaba – Trata-se de um vasto cubo edificado em redor da pedra negra meteorite;


alegava-se que a pedra da Caaba foi trazida do céu por Gabriel. A Caaba já tinho sido
construída antes dos tempos de Maomé. Nela havia imagens, relíquias pagãs e pinturas.
Certo relato diz que até mesmo continha uma pintura de Jesus e Maria. Agora, é o
centro da grande mesquita em Meca, e é o ponto focal de toda a adoração muçulmana. É
coberta de feltro negro e dourado, e tem uma porta, ornamentada de ouro, que quase
nunca é aberta. Os peregrinos bateram uma trilha em redor dela no decurso das suas
peregrinações para visitar o santuário sagrado.
293

b) Cidades Sagradas:

A cidade mais sagrada no Islamismo, obviamente, é Meca. A segunda cidade mais


sagrada para os muçulmanos é Medina, para onde Maomé fugiu e passou vários anos.
Depois de Medina, a cidade mais sagrada é Jerusalém. Tem uma mesquita, chamada o
Domo da Rocha, edificada sobre uma pedra grande, que dizem ser o local onde Abraão
ofereceu Isaque a Deus.

c) Pessoas Sagradas:

Califas – Depois da Morte de Maomé, os líderes políticos do Islamismo eram chamados


califas. Não recebiam revelações do céu, mas eram guiados pelas palavras do profeta.
Os quatro primeiros califas são chamados os “califas ortodoxos” porque foram eleitos
dentre os primeiros companheiros de Maomé.

Imams – Os líderes na linhagem de descendência de Ali, parente de Maomé, eram


Imams, que significa “exemplos”, ainda existem entre os Shi’itas (Xiitas), e seu dever é
dirigir as orações e fazer exposições do Alcorão na mesquita. Não são sacerdotes; são
membros da comunidade escolhidos por causa da sua piedade.

4.1– A Condição Social das Mulheres

Antes de Maomé, as mulheres tinham uma condição social pouco considerável na


Arábia. Eram considerados escravas ou patrimônio do pai, do marido ou do irmão mais
velho. O marido poderia divorciar-se delas, no momento em que este assim desejasse.
Às vezes as menininhas recém-nascidas eram mortas. Maomé elevou grandemente a
condição social das mulheres, mas não até a posição dos homens. Maomé permitia a
poligamia e ele mesmo foi casado com muitas mulheres, algumas das quais eram viúvas
de muçulmanos tombados nas batalhas. Limitou, porém, o número de esposas dos
muçulmanos a quatro, havendo condições de sustenta-las.

4.2– Tabus Islâmicos

Muitos dos tabus do judaísmo foram adotados pelo Islamismo. A carne de porco e o
sangue são proibidos, mas a carne de vaca, ovelha e cabra é permitida, se o animal for
abatido segundo as regras do Islamismo. A jogatina e o vinho são proibidos, e acredita-
se que foram os muçulmanos que introduziram no mundo o café, como bebida. É
permitido o comércio visando lucros, mas emprestar dinheiro a juros é pecado.

4.3– Jihad, ou Guerra Santa

Maomé ensinou seus seguidores a não tolerarem os pagãos; deviam aceitar o Islamismo
ou ser executados. As caravanas para Meca eram atacadas, dinheiro e convertidos eram
trazidos para o Islamismo. Maomé chamava este tipo de guerra um dever religioso. Até
mesmo os laços de parentesco não eram importantes e num ataque contra uma caravana,
parentes pagãos podiam ser assassinados. Morrer no Jihad ou guerra santa dá ao
294

muçulmano a esperança de ir diretamente ao paraíso. É provavelmente esta a razão do


suicídio de vários fanáticos nos anos recentes, na tentativa de forçarem a vitória para o
seu partido político.

Os ensinos do profeta surgiram numa ocasião oportuna e deram ao mundo árabe um


novo Deus, uma nova esperança e uma nova orientação. Embora possamos duvidar de
alguns dos seus ensinos, sua ênfase na supremacia de Deus é uma verdade importante.

5 – Escritos do Islamismo

Os escritos de Maomé no decurso de um período de cerca de vinte anos foram


compilados no Quran (aportuguesado: Corão ou Alcorão), palavra esta que significa
“recitar”. O anjo ordenou a Maomé para “recitar” as revelações que ouviu. As
recitações em árabe tinham conexão com a adoração, assim como os cristãos e os judeus
recitam suas Escrituras nas ocasiões religiosas. O Alcorão é o escrito sagrado mais lido
e decorado das religiões do mundo.

a) Origem e Reverência:

Os muçulmanos acreditam que o Alcorão é composto das próprias palavras de Deus.


Maomé disse que as palavras foram faladas no seu ouvido como o badalar de um sino
volumoso pelo anjo Gabriel. As mensagens foram dadas enquanto Maomé estava em
êxtase e quando saía daquele estado, assim como os cristãos e os judeus recitam suas
Escrituras nas ocasiões religiosas. O Alcorão é o escrito sagrado mais lido e decorado
das religiões do mundo.

b) Contradições e Inexatidões:

Os muçulmanos acreditam que o Alcorão é composto das próprias palavras de Deus.


Maomé disse que as palavras foram faladas no seu ouvido como o badalar de um sino
volumoso pelo anjo Gabriel. As mensagens foram dadas enquanto Maomé estava em
êxtase e quando saía daquele estado, ficava frequentemente num abalo e fraqueza muito
grande. Acredita-se que Maomé tinha um secretário, Zayd, que escrevia as palavras do
profeta em pedacinhos de couro, pergaminho, folhas de palmeiras, pedras e até mesmo
ossos de animais.

Sendo que vários muçulmanos tinham fragmentos dos escritos, o Califa Uthman, depois
da morte do profeta, nomeou uma comissão dirigida por Zyd para compilar uma versão
autorizada do Alcorão. Acabou formando um livro quase do mesmo tamanho do Novo
Testamento. Cada capítulo é chamada sura e possui um título extraído de uma palavra
existente nele. Há 114 suras, sendo que as primeiras foram àquelas produzidas em
Medina, e contêm regras para os muçulmanos e advertências contra os seus inimigos.
As suras posteriores eram as visões, que originalmente foram dadas na caverna nem
Meca. Foram organizadas por ordem de tamanho, excetuando-se uma cura breve, a
Fatihah (“abertura”), que é colocada em primeiro lugar e é uma oração a Deus pedindo
295

orientação, a Fatihah é usada nas orações diárias e em todas as cerimônias religiosas.


Todas as suras, menos uma, começam com as palavras Bismillah alrahman alrahim,
“em nome de Deus o Compassivo, o Misericordioso”.

A reivindicação feita no tocante à inspiração do Alcorão é diferente da Bíblia, porque


Maomé disse que ele não teve nenhuma participação na revelação; era como uma caneta
no processo de escrever. Não alegava que suas mensagens esgotavam a fonte divina.
Outras revelações foram dadas da mesma fonte, tais como o Injil (“Evangelho”) de
Jesus, o Zabur (“salmos”) de Davi, e o Torah (“Lei”) de Moisés. Declarou que cada era
uma revelação verdadeira.

Os muçulmanos tratam com grande reverência o Alcorão como seu livro mais sagrado.
Tomam o cuidado de nunca coloca-lo no chão nem deixar que toque numa substância
impura. A grande ambição é decorar o alcorão inteiro e recitá-lo durante o mês de
Ramadan. Nas escolas de todo o mundo islâmico, o Alcorão é ensinado para crianças, e
muitas delas decoram os seus sons mesmo quando não entendem as palavras. Muitos
exemplares do Alcorão foram escritos com bela caligrafia e artesanalmente
encadernado. Suas palavras são frequentemente usadas para enfeitar mesquitas, escolas,
túmulos e outros edifícios. Alguns usam trechos do Alcorão como amuletos contra
demônios e enfermidade. Sendo que o Alcorão foi dado a Maomé em árabe, era
proibido traduzi-lo. Mesmo assim, exemplares têm sido impressos em outros idiomas.

c) Contradições e Inexatidões:

Um aspecto do Islamismo que causa muita dificuldade aos cristãos acha-se nas
contradições do Alcorão. Por “contradições”, queremos dizer que alguns versículos
cancelam outros versículos. Por exemplo, Maomé originalmente aceitava as crenças
judaicas como semelhantes às suas. Mas quando os judeus o rejeitaram, teve uma visão
especial, depois da qual disse que os outros “perverteram as Escrituras”. Sura 2.150
disse que Maomé devia ordenar que seus seguidores orassem em direção a Jerusalém.
Mas, posteriormente, numa visão, o anjo lhe ordenou que orasse em direção a Meca
(sura 2.125). As visões de Maomé que se alteravam conforme a sua conveniência, não
poderiam ter sido inspiradas pelo Deus que não muda.

Qualquer pessoa que ler o Alcorão notará sua semelhança com a Bíblia, o que
demonstra que Maomé dependia dela para muitos dos seus escritos. Seus discípulos
negavam este fato, declarando que Maomé era analfabeto. A ideia de que ele copiou da
Bíblia as suas visões é ofensiva para os sentimentos religiosos do muçulmano. Em
alguns dos incidentes, porém ocorrem contradições. Escreveu, por exemplo, que Hamã
na história de Ester trabalhava para o Faraó nos tempos do Êxodo (sura 28.38). Os
muçulmanos respondem que o Alcorão apresenta uma visão diferente de Deus, do
homem e do mundo. Se houver contradições, aceitam o Alcorão como certo.

O conhecimento que Maomé tinha de outras crenças podia ter sido obtido das suas
esposas, uma das quais era judia e outra cristão. Mas, já que ele dependia da tradição
oral, era inexata a sua interpretação da doutrina cristã. Em sura 5.77 diz que os cristãos
296

adoram três deuses: Deus, como Pai, Maria, como mãe e Jesus como Filho! O Alcorão
ataca a filiação de Cristo e declara que “Deus nem gera nem é gerado”. Em sura 4.156,
referindo-se a Jesus diz: “Não o mataram nem o crucificaram, pois somente possuíam a
aparência dele. Não o mataram na realidade”. Mesmo assim, o Alcorão declara que
Jesus nasceu de uma virgem, operou milagres, era isento de pecado, foi para o céu e virá
de novo no final.

Sempre haverá perguntas no tocante à origem do Alcorão e às suas contradições; não


deixemos, porém de dar honra a quem honra é devida. Maomé forneceu ao povo árabe
um livro sagrado que tornou os árabes conscientes da majestade e do poder do único
Deus verdadeiro.

6 – Desenvolvimentos do Islamismo

O Islamismo surgiu numa ocasião em que o povo árabe precisava de uma força
unificadora. A Arábia estava dilacerada com o animismo, a idolatria e a imoralidade. O
Império Bizantino estava prestes a desmoronar-se por causa da corrupção e dos abusos
do governo, e o povo persa estava pronto para mudanças.

a) Façanhas Políticas:

Depois da morte de Maomé, os muçulmanos se voltaram para o militarismo, e dentro de


cem anos, conquistaram a Palestina, a Pérsia, o Egito, e varreram a África do Norte. Em
711 entraram na Espanha, e em 732 atravessaram os Pireneus, mas foram derrotados por
Carlos Martel na Batalha de Tours (na França). Se não tivesse havido aquela batalha, a
tradição religiosa da Europa talvez tivesse sido muçulmana, ao invés de cristã. Os
muçulmanos permaneceram na Espanha até o século XV. Nos séculos XI e XII,
varreram a totalidade do Oriente Médio e entraram na Índia, na China, e nas ilhas do
Pacífico. Em 1453, Constantinopla, a capital do Império Bizantino, foi conquistada
pelos turcos otomanos que eram muçulmanos, e a cidade passou a ser chamada
Istambul. A maior comunidade muçulmana hoje acha-se na Indonésia, com pelo menos
150 milhões de adeptos.

b) O Califado:

O califado (governo dos califas) consistiu de quatro califas e durou desde 632 ate 660.
Os califas eram os sucessores de Maomé e governaram como líderes espirituais e
temporais do Islamismo. Foram: Abu Bakr, Umar, Uthman e Ali, os companheiros mais
íntimos de Maomé. Abu Bakr morreu cerca de dois anos após a sua eleição. Umar e
Uthman foram assassinados por radicais. Ali, marido de Fátima, filha do profeta, foi
assassinado por um parente. Os califas que se seguiram a eles reinavam como reis,
transferiram a capital para Damasco e depois para Bagdá. Os califas abássidas reinaram
em Bagdá desde 750 até 1258 com muita pompa e esplendor, e no reinado deles o
Islamismo atingiu sua idade de ouro. Os turcos otomanos, que governaram desde o
297

século XV, usavam o título sultão que o equiparavam a califa. Quando o Império
Otomano se desfez depois da Primeira Guerra Mundial, o califado cessou de existir.

c) Divisões Sectárias do Islamismo

O sucessor de Maomé não poderia ser outro profeta, porque o Alcorão declarava que
Maomé era o “Selo dos Profetas”. Alguns seguidores achavam que o califa deveria ser
escolhido dentre a totalidade da comunidade muçulmana. Outros eram leais à família
Umayyad de Meca. Ainda outros apoiavam o genro de Maomé, Ali. Com a eleição de
Ali, explodiram as tensões dentro do Islamismo. Uma rebelião foi dirigida por dois dos
companheiros do profeta e pela sua viúva, Aisha. Na batalha sangrenta que foi travada,
dez mil muçulmanos foram mortos antes de Ali ganhar a vitória. Pouco depois, no
entanto, Mu’awiya, um parente de Uthman, opôs-se a Ali, e no conflito, Ali foi
assassinado.

Sunnis

Aqueles que insistem em eleger o sucessor dentre os companheiros do profeta vieram a


serem os sunitas. Achavam que os quatro califas originais conheciam a sunna
(“caminho” ou “costume”) do profeta; os muçulmanos, portanto, deveriam seguir o
exemplo deles. Desenvolveu um sistema de lei comunitária, a Shari’a, que mantinha
unido o grupo, desenvolveram-se quatro escolas de lei islâmica, mas todas elas
mantiveram as quatro bases da Shari’a. Estas foram: o Alcorão, a Hadith (“tradições do
Islamismo”), a Ijma (“acordo da comunidade muçulmana”). E as Q’yas (“o uso da
analogia”). Os quatro grupos juntos eram chamados os sunnis (aportuguesado: sunitas).
Ainda é a maior seita, quase 90% da comunidade total dos muçulmanos.

Shi’itas

Outro grupo permaneceu leal a Ali, o genro de Maomé. Os membros eram chamados
Shi’itas (derivados de Shi’a, “partido”). Estes xiitas achavam que todos os califas
deviam ser descendentes de Ali. Um grupo chamado Kharijis ou “dissidentes”, separou-
se dos partidos de Ali, e alguns deles ainda existem em Zanzibar e entre os Bárbaros da
África do Norte. Os Kharijis eram radicais, e diziam que os quem não seguiam o
caminho deles eram piores do que pagãos e que deveriam ser chacinados ao serem
vistos. O próprio Ali foi assassinado por um fanático Khariji. Com a morte de Ali, seu
inimigo Um’awiya ficou sendo califa e sua descendência ficou com o califado durante
quase um século.

O partido xiíta ficou mais forte entre os persas. Consideravam que Ali era o mensageiro
de Deus, e mais importante que o próprio Maomé, até mesmo uma encarnação de Deus.
Declaravam que uma luz divina estava em Ali, e que era transmitida aos descendentes
deste, e que esta luz os conservava livres de qualquer erro ou pecado. Os xiitas usavam
o título Imam para os descendentes de Ali. Depois da morte de Ali, vários grupos
principais reivindicavam apenas sete imas e, portanto, são chamados os dos sete. Os
drusos do Líbano, da Síria, e da Palestina são ismailis, e o Aga Khan é o líder deles
298

hoje. O segundo grupo, os Zaydis, são uma seita menor, que se acha no Iémen hoje. Os
partidários dos Doze acreditam que houve doze Imãs. O décimo-segundo Imã
desapareceu em 878 d.C. Os xiitas acreditam que ele se ocultou e que reaparecerá como
o Mahdi (“o esperado”). Ele trará um período de justiça e de paz antes do último juízo.
Hoje, os Aiatolás são classificados como “dos Doze”.

Sufis

A seita sufi surgiu como reação contra o Islamismo ortodoxo. A palavra provém de suf,
uma peça de vestuário feita de lã grossa, usada por monges e eremitas. Os sufis
surgiram no século VIII como místicos, reagindo contra o mundanismo dos líderes
muçulmanos. Buscavam uma experiência pessoa do Divino, que percebiam no Alcorão
e em Maomé. Dirigidos pelos seus Shaykhs, ressaltam o amor a Deus e o seu amor ao
homem, e esforçaram-se para atingir a união com Deus ou para serem absorvidos nele.
Espera atingir seu alvo mediante o ascetismo, os êxtases e a repetição de um dhikr ou
“nome de Deus”, como a mantra do hinduísmo. Alguns usam a dança ou expressões
vocais sem sentido. Alguns alegam que, ao terem contato com pessoas santas, derivam
delas barakah (“benção ou santidade”). Os sufis acham-se entre os xiitas bem como
entre os sunitas, e sua atração é que combinam a doutrina muçulmana com uma
experiência com Deus. Muitos convertidos ao Islamismo foram ganhos pelos sufins na
África, mas são acusados de fanatismo e de excessos físicos.

Bahais

Grupos sectários continuaram a desenvolver-se no Islamismo. No Irã, no século XIX,


surgiu uma pessoa que se intitulava o Bab ud Din ou “Porta da Fé” e o precursor do
Esperado. Preava reformas religiosas, e tinha muitos seguidores. Mas quando equiparou
seus próprios escritos com o Alcorão, foi acusado de ser herege e foi executado em
1850. Um dos seus seguidores proclamou que era o Esperado. Assumindo o nome de
Baha’ullah (“Blória de Deus”), seu movimento ficou sendo o credo Bahai. Os turcos o
prenderam, mas ele enviou seus escritos para o restante do mundo. Apelou para que
houvesse um conceito amplo da unidade de Deus e para que todas as religiões se
unissem, porque cada uma delas contém algumas verdades e entre elas seu bahaísmo
tem primazia. A seita espalhou-se por todo o mundo islâmico e em outras nações,
inclusive na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.

Aiatolá

Na segunda metade do século XX houve um movimento em direção às crenças


islâmicas tradicionais. O Xá do Irá queria fazer do seu país o Japão do Oriente Médio,
mas em oposição às suas ideias surgiu entre os líderes religiosos os chamados Aiatolás
(“sinais de Deus”). Aiatolá Khomeini teve que fugir para Paris, mas voltou ao Irã em
1979 e depôs o Xá. Seu regime foi mais repressivo do que aquele do Xá, com inúmeras
execuções e torturas dos seus oponentes. Os bahais foram muito perseguidos, e milhares
deles fugiram do país. A reação dos líderes políticos e culturais islâmicos era impor a
299

lealdade aos princípios do Islamismo e abolir todos os sistemas não islâmicos da


sociedade.

d) A Arte Islâmica

O Islamismo deu ao mundo uma nova forma de arte que deixou sua impressão na
arquitetura de muitos países. Seus desenhos e cores são distintos belos e devem ser
estudados por todo leitor.

e) O Islamismo e Israel

O objetivo principal da ação política muçulmana é destruir o estado sionista de Israel.


Há mais judeus em Israel do que muçulmanos, e é ofensivo para o Islamismo que
Jerusalém seja governado por um estado judaico que ativamente promova o sionismo. A
situação é agravada pelo tratamento rigoroso dos árabes palestinos, e pelo apoio que as
nações cristãs dão a Israel. O novo inimigo é identificado com o velho inimigo, e os
países muçulmanos sentem-se forçados a uma aliança mais estreita contra aquilo que os
iranianos chamam “O Grande Satanás” – os Estados Unidos com seus aliados sionistas.

Lembremo-nos que a religião islâmica forneceu a uma sociedade sem esperança, uma
oportunidade de unir a fé em Deus. Uniu o aspecto espiritual com o aspecto temporal e
ficou sendo uma parte vital da comunidade, da sua cultura, e de todas as facetas da vida.
Agora, o Islamismo estende-se por todos os meios á sua disposição e suas conquistas
são significantes, especialmente na África além do Saara. Tanto o Islamismo quanto o
Cristianismo aproveitaram-se do declínio da religião tradicional, fomentado pelas
mudanças políticas e comerciais modernas. Na realidade, estão progredindo em ritmo
mais rápido de todas as religiões do mundo atual.

7 – Avaliações do Islamismo

a) Pontos Positivos do Islamismo:


 Os muçulmanos têm uma crença firme em Deus e na sua supremacia;
 Os muçulmanos têm desfrutado de uma coesão básica centralizada na sua crença
em Deus e na sua literatura sagrada;
 Os muçulmanos creem que Deus é abundante em misericórdia e em compaixão;
 Os muçulmanos têm a vontade de Deus em alta estima;
 Creem que haverá um dia do juízo das obras humanas;
 Todo membro é obrigado a praticar a oração diária.

b) Pontos Negativos do Islamismo:


 O Islamismo permite uma crença excessiva na vontade soberana e arbitrária de
Deus que leva ao fanatismo;
300

 Embora a condição social das mulheres tenha sido melhorada, ainda não é ideal.
Os membros têm licença de ter várias esposas;
 Os muçulmanos precisam merecer a sua salvação mediante as boas obras;
 Os muçulmanos não têm certeza de um salvador do pecador, nem uma promessa
atual da vida eterna;
 A reverência pelo Alcorão e pela pedra da Caaba fica bem perto da idolatria;
 O texto sagrado contém contradições;
 É aceitável a conquista de adeptos pela força;
 O futuro prometido é de prazeres sensuais.

73 – JAINISMO

Definição:

Uma das três antigas religiões indianas, ao lado do hinduísmo e do budismo, com as
quais compartilha importantes conceitos, como o dharma e o carma. O nome deriva do
verbo ji (conquistar, em sânscrito), uma referencia à batalha interna pela iluminação
espiritual. Surge a partir do século VI a.C., época em que vive Parshavanatha, o
primeiro tirtancara (aquele que consegue vencer o ciclo de reencarnações). O mais
recente tirtancara é Mahavira (século VI a.C.).

Os jainistas não acreditam em Deus; para eles, os únicos seres sobrenaturais são os
tirtancaras. Defendem a não violência, a abstinência sexual e a renúncia aos bens
materiais.

74 – JUDAISMO

1 – Introdução:

Em sua acepção mais ampla, o termo judaísmo indica a história global do povo
hebraico, desde seu início na época bíblica até o presente; ele pode então ser referir
tanto ao povo hebraico em suas diversas formas histórico como à religião e à cultura dos
hebreus. Do mesmo modo, o termo judeu pode ser usado para indicar a condição de
pertencer ao povo ou à comunidade religiosa hebraica. Em um sentido mais restrito, o
termo judaísmo é empregado para designar a época do Segundo Templo (515 a.C. – 70
d.C.), bem como a época sucessiva à destruição definitiva do templo de Jerusalém em
70 d.C., quando se constituiu o judaísmo rabínico, que assume então o valor de
judaísmo normativo. Porém, deve-se observar que tal judaísmo define a própria
identidade na exegese da Bíblia hebraica e da história do povo hebraico (ou povo de
Israel) narrada nos textos bíblicos, de modo que é mais correto entender o termo, como
301

será feito de agora em diante, em sua acepção mais ampla, que abrange, além do
judaísmo rabínico, que se estende até os nossos dias, também chamado judaísmo do
segundo templo (do exílio babilônico a 70 d.C.) e sua matriz israelense.

2 – Conhecendo o Judaísmo:

a) Significado

A palavra judaísmo provém da palavra judeu. O judeu era membro da tribo de Judá e da
nação judaica que existia na Palestina desde o século VI a.C. até I d.C. Judá era o nome
do antigo reino judaico, e teve sua origem na palavra hebraica Yehudhi. Um definição
do Judaísmo é: uma religião que expressa as crenças e práticas dos judeus, conforme
foram reveladas a Abraão, a Moisés e aos profetas.

b) Fundo histórico

O povo judaico teve uma história muito notável. Esta é sem igual porque revela
diretamente os modos de Deus lidar com as pessoas. Além de ser chamado o Povo de
Deus, o povo judaico tem sido chamado semitas, hebreus, israelitas e judeus.

Os antepassados dos judeus remontam a Abraão, que estava na décima geração depois
de Sem, o filho mais velho de Noé. Eram, portanto, semitas. O povo de Abraão também
era chamado de hebreus, nome este que possivelmente se derivava do povo Habiru da
Mesopotâmia do norte, onde Abraão passou algum tempo. O nome Israel provém do
neto de Abraão, Jacó, que recebeu um novo nome, Israel, depois de uma confrontação
com Deus. Seus descendentes, portanto, foram chamados israelitas. O nome judeu
provém do filho de Jacó, Judá. O povo tem sido chamado de Judeus desde o cativeiro da
Babilônia. Para os próprios judeus, no entanto, serem chamados de o povo de Deus era
o que mais importava.

A chamada de Abraão, cerca de 1800 a.C., foi um evento relevante por causa das
condições que existiam na sua região. Ur era uma cidade-estado da Caldéia, na área
onde os rios Tigre e Eufrates confluíam para desaguarem no Golfo Pérsico. Ur se
deteriorara num estado politeístico e animista. O povo usava rochas no formato de
colunas e montes especiais de pedra na sua adoração pagã. Gilgal era um círculo de
colunas e os hebreus, posteriormente, deram este nome a uma cidade na Palestina.
Acreditavam que as pedras, os poços, as fontes, as árvores e o vento eram habitações de
espíritos e demônios, e dedicavam bosques à idolatria e à prática imorais. El Shaddai, o
Deus verdadeiro, era um Deus pessoal para Abraão, mas a esposa de Abraão ainda se
apegou por algum tempo aos seus terafins, às imagens de madeira ou de pedra, que os
pagãos conservavam para a magia e adoração doméstica.
302

A totalidade do Oriente Médio estava em estado de tensão nos tempos de Abraão. tribos
indo-européias das montanhas da Armênia invadiam com carros puxados por cavalos.
Muitas famílias e tribos tornaram-se nômades e a Palestina ficou infestada de
refugiados. Alguns deles eram parentes arianos daqueles que migraram em direção ao
oriente, até à Índia. Terá, chefe de uma família pastoril em Ur, levou seus filhos Abrão e
Naor com suas posses, e mudou para Hará, no noroeste da Mesopotâmia. Viajaram
pelos rios e planícies do Crescente Fértil, que era o itinerário geral daqueles dias. Outro
grupo semítico de indo-europeus, os hicsos, passou pela Palestina e invadiu o Egito.

Em meio a todo o tumulto das nações, Deus estava formando um povo para Sua
possessão particular. Parece, segundo Atos 7.2-4, que Deus originalmente chamou
Abraão enquanto este ainda morava na sua cidade natal de Ur dos Caldeus. Depois, em
Harã é provável que Deus tenha confirmado a sua chamada e ordenado Abraão a ir para
uma terra que Ele lhe mostraria (Gn 12.1-3). A chamada envolveu uma promessa de
grandes bênçãos sobre o povo judeu. Todas as nações que o abençasse seriam
abençoadas e todas aquelas que o amaldiçoasse seriam amaldiçadas. Deus mostrou a
Abraão a Terra Prometida. Estendia-se desde o rio Eufrates até o rio do Egito (Gn 12.7;
13.14-17; 15.13-18). A promessa ficou sendo um concerto entre Abraão e Deus, e foi
ratificada por um sacrifício e pelo rito da circuncisão (Gn 17.1-11). Seria um concerto
eterno. Nisto vemos uma referência profética ao Messias, o Ungido de Deus, e a
esperança de Israel.

Sendo assim, Abraão entrou na Terra Prometida e fixou sua habitação numa cordilheira
de montanhas em Hebrom, que ficou sendo a residencia da família durante as gerações
futuras. Embora, Abraão inicialmente tivesse dois filhos, Ismael e Isaque, a linhagem da
família passou de Abraão para Isaque, e depois para Jacó que, posteriormente recebeu o
nome de Israel. Por causa de uma fome severa, Israel e seus filhos saíram de mudança
para o Egito. Os hicsos tinham conquistado o Egito e, sendo da mesma raça semítica,
mostraram tolerãncia com os israelitas e deixaram que habitassem ali. Os israelitas
prosperaram e se multiplicaram, a partir de cerca de setenta pessoas para uma nação de
quase três milhões de pessoas.

Depois dos israelitas já terem morado no Egito durante 215 anos, os egípcios
retornaram ao rei dos hicsos, e “levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não
conhecera a José” (Ex 1.8). não se sabe certo que Faraó era este, mas descobertas
recentes indicam que era Ramsés II (1304-1237 a.C.). ramsés edificou grandes templos
e cidades, e forçando os israelitas a construirem, em regime de escravidão, suas obras
públicas. O povo de Deus suportou muitos sofrimentos, mas Deus ouviu o seu clamor.

Moisés, um hebreu, foi criado pela filho de Faraó na corte egípcia, com sua erudição e
seus luxos. Foi, porém, exilado para o deserto de Midiã por ter trucidado um egípcio.
Depois de passar quarenta anos como pastor de ovelhas, Moisés teve, certo dia, um
encontro com Deus diante de uma sarça ardente, e Deus o chamou para conduzir Israel
para fora do Egito. Moisés voltou para o Egito e Deus operou vários milagres para
persuadir os egípcios a soltarem os israelitas. O maior milagre ocorreu quando o anjo da
303

morte passou por cima dos lares de Israel, mas matou todos os primogênitos dos
egípcios. Então, quando os israelitas fugiram, passaram por um corredor que Deus abriu
para eles através do mar Vermelho, mas o exército egípcio, que perseguia, pereceu
quando as águas voltaram ao seu estado anterior. Este escape dramático da escravidão
no Egito é chamado o Exôdo.

No Monte Sinai, Deus deu a Israel as tábuas da Lei e celebrou um concerto solene com
seu povo. Além disso, deu a Moisés instruções sobre a edificação do Tabernáculo ou da
Tenda da Congregação, onde Ele pudesse encontrar-se com seu povo. Depois de
peregrinar no deserto durante quarenta anos, Israel finalmente chegou ao monte Nebo,
em Moabe, de onde podia se ver a Terra Prometida. Moisés, que tinha dirigido o povo,
olhou a terra à distancia, mas morreu sem entrar ali pessoalmente.

Josué,sucessor de Moisés, conduziu o povo para dentro de canaã e conquistou trinta e


uma cidades no decurso de sete anos. Depois, durante cerca de trezentos anos, juízes
governaram o povo.israel, no entanto, rogou a Deus que lhe desse um rei “como o têm
todas as nações” (1 Sm 8.5). embora não fosse este o seu plano, Deus permitiu que
Israel se tornasse uma nação e estabeleceu Saul como o primeiro rei em 1050 a.C. Foi
seguido por Davi e por Salomão, cada um dos quais reinou durante quarenta anos. Por
causa da apostasia de Salomão, Israel foi dividido em dois reinos. Judá, no sul, consistia
de duas tribos: Judá e Benjamim. Sua capital era Jerusalém, e Roboão foi seu primeiro
rei. As outras dez tribos formavam o reino de Israel, no norte, sendo Samaria a capital e
Jeroboão seu primeiro rei.

Nos duzentos anos que se seguiram, a despeito das advertências dos profetas, o povo do
reino do norte rebelou-se contra o caminho do Senhor. Finalmente em 721 a.C. foi
conquistado pela Assíria e disperso em outros países. Este foi o início da Diáspora, da
qual a maioria nunca voltou. O reino do sul, Judá, passou por muitos dos mesmos
problemas espirituais que caracterizaram Israel. Mesmo assim o povo experimentou
alguns períodos de renovação espiritual em quase 350 anos como reino. Mesmo assim,
como resultado da apostasia de Judá, Deus permitiu que a Babilônia conquistasse esta
nação cerca de 606 a.C. Embora, o reino continuasse até 586 a.C., a maior parte do povo
foi levada ao cativeiro da Babilônia em 597 a.C. O templo de Salomão foi destruído em
586 a.C., e a arca do concerto nunca mais foi vista.

Os judeus ficaram no cativeiro durante setenta anos, conforme tinham dito os profetas
(Jr 26.11-14). Durante o governo do rei da Pérsia, os judeus receberam permissão para
voltarem à Pérsia. Em 536 a.C., cerca de cinquenta mil deles acolheram a oportunidade
e voltaram sob o comando de Esdras e Neemias para reedificar a nação, a cidade e o
templo. A partir daquele tempo até a Era Cristã, os judeus ficaram em sujeição aos
impérios persa, grego e romano, sendo o Grego e o Aramaico os idiomas comuns.

Quando Jesus chegou, os judeus estavam no auge do jugo romano e estavam esperando
no Messias que, segundo acreditavam, os conduziria para fora do cativeiro. Quando,
porém, ficaram sabendo que a missão de Jesus era espiritual, rejeitaram-no. Rebelou-se
contra Roma e trouxeram sobre si a destruição de Jerusalém em 70 d.C. Foi uma
304

rebelião que resultou numa perda pavorosa de vidas e da existência nacional. Os


exércitos romanos mataram mais de um milhão de judeus, centenas deles morreram de
fome e muitos milhares foram levados ao cativeiro.

Os romanos pensaram que a nação judaica tivesse sido destruída. O concerto que Deus
fizera com Abrão ficou firme, no entanto, e a preservação do povo judaico tem sido o
grande fenômeno de todos os tempos. A despeito de perseguições amargas durante estes
últimos dezenove séculos, os judeus têm sobrevivido e tornaram-se parte de todas as
nações da terra.

3 – Crenças do Judaísmo:

a) A Crença Judaica Num Ser Supremo

Para os hebreus, o Deus do céu existia desde toda a eternidade passada. “No princípio
criou Deus” (Gn 1.1). Ele criou todas as coisas, Ele está em todos os lugares e Ele tem
comunhão com o seu povo. Elohim é o nome comum de Deus em Gênesis. El está no
singular, e Elohim está no plural. Elohim, usado com um verbo no singular, dá
testemunho da unidade e da pluralidade de Deus; o relacionamento entre El e o seu
povo foi revelado ao juntar esse nome com outra palavra. Deus era El-Shaddai (aquele
que satisfaz) para Abraão. Outros termos eram: El-eazar (Deus socorreu), Belt-el (Casa
de Deus), Elias (Deus é Jeová), e Elizeu (Deus é Salvador).

Aos hebreus, Deus se revelou como YHWH, a palavra que significa especificamente:
“eu sou o que sou” ou “Eu sou aquele que causa o existir”. Provém do verbo “Ser” e
inclui todos os tempos – o passado, o presente e o futuro. Os judeus consideravam esta
palavra santa demais para pronunciar. Ao lerem a Torá, colocam a palavra Adonai
(“Senhor”) no lugar de YHWH. O nome YHWH ou Jeová, às vezes é usado em
Gênesis, mas não foi revelado no seu pleno significado a não ser nos tempos de Moisés
(Ex 3.11-15). Neste caso também, o relacionamento entre Deus e Israel é indicado nos
seus nomes segundo o concerto. Para os enfermos, Ele é Jeová Rafá, o Senhor que cura.
Oprimido pelo inimigo, seu povo invoca Jeová-Nissi, o Senhor nossa bandeira.
Necessitado, o povo fica sabendo que Ele é Jeová-Jirá, o Senhor que provê.

A crença nos deuses estrangeiros foi a causa principal do colapso de Israel. Os


canaanitas eram um povo agrícola que servia aos Baalins. Baal significava “senhor” ou
“dono” (das terras). Acreditavam que os terrenos deviam aos Baalins a sua fertilidade.
As companheiras dos Baalins, Aserá e Astarote, eram adoradas com práticas obscenas.
Os profetas advertiam Israel contra elas. “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único
Senhor”... “O Senhor teu Deus temerás, e a Ele servirás” (Dt 6.4,13).

b) O Código Ético do Judaísmo


305

Dez leis morais absolutas foram dadas a Israel no monte Sinai e são básicas para a vida
judaica. São comumente chamadas de os Dez Mandamentos e estão registrados em
Êxodo 20.1-17. Estão resumidos aqui para você decorar:

1. Eu sou o Senhor teu Deus não terá outros deuses diante de mim;
2. Não farás para ti imagem de escultura;
3. Não tomará o nome do Senhor teu Deus em vão;
4. Lembra-te do dia do sábado, para o santifica;
5. Honra a teu pai e a tua mãe;
6. Não matarás;
7. Não adulterarás;
8. Não furtarás;
9. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo;
10. Não cobiçarás.

A lei contem 623 mandamentos ao todo. Estão registrados em Êxodo, Levítico e


Números e regulam todas as fases da vida. A lei pode ser dividida em três categorias: a
lei Moral (o Decálogo ou dez mandamentos) é o código de Israel. A lei Cerimonial
abrange os sacrifícios, o culto no Tabernáculo, o sacerdócio e as Festas. A lei Civil
regula a vida social do povo. O Torá (o Pentateuco, que significa “cinco Livros”), que
contém leis e história, ficou sendo a parte suprema das Escrituras, quanto aos judeus.
Sendo assim, o Judaísmo é chamado de religião da lei, e os judeus, um povo do livro.

Moisés Maimonides (1135-1204), um rabino que nasceu na Espanha e que foi exilado
para o Egito, reduziu as crenças judaicas a um credo de treze pontos principais. Podem
ser condensados da seguinte maneira:

1. Creio no Único Deus (YHWH), criador de todas as coisas;


2. Deus (YHWH) é uma unidade;
3. Ele é espírito e não tem corpo;
4. Ele existe desde a eternidade passada até a eternidade futura;
5. Ele é o único Deus que deve ser adorado;
6. Todas as palavras dos profetas são verdadeiras;
7. Moisés é o principal dos profetas;
8. Essa lei foi dada por Deus a Moisés;
9. Essa lei é a única lei e é imutável;
10. Deus conhece os pensamentos e as ações do homem;
11. Ele recompensa o obediente e castiga o transgressor;
12. O Messias virá para guiar o seu povo;
13. Haverá uma ressurreição dos mortos.

c) Instituições Sagradas do Judaísmo

a’ – Lugares Sagrados:
306

 O Tabernáculo. O Tabernáculo era o lugar de encontro entre Deus e o povo no


deserto, e na Canaã durante o governo dos juízes. Era uma construção portátil
cercada por uma parede de cortinas brancas com um átrio onde eram oferecidos
sacrifícios. Dentro da construção havia duas seções: a primeira era o santuário, e
a segunda, uma seção interior, o lugar Santíssimo. Esta segunda seção era o
“âmago” do Tabernáculo e continha a arca do concerto. A arca do concerto era
um tipo de baú onde eram guardadas as duas tábuas da lei. Sua tampa de ouro
era chamada o propiciatório, e dois querubins faziam parte desta tampa. Quando
Israel marchava, a arca era carregada nos ombros dos sacerdotes que
encabeçavam a procissão.

 Templo. Salomão edificou o primeiro templo judaico. Era muito superior ao


Tabernáculo, e estava entre as estruturas mais famosas do seu tempo. Sua planta
era semelhante a do Tabernáculo, mas tinha 27 m de cumprimento, 9 m de
largura e 14 m de altura, com ornamentações belas e caras, foi destruído por
Nabucodonosor em 586 a.C., e parcialmente reconstruído por Esdras, mas
Herodes Magno restaurou-o em toda a sua magnificência. Jesus o visitou várias
vezes, e em certa ocasião comentou sobre ele (Mt 24.1). Foi, porém, totalmente
destruído pelos exércitos romanos em 70 d.C.

 As Sinagogas. As sinagogas, casas de adoração nas localidades distantes do


templo, foram construídas nos dias de Esdras e ainda são usadas em todas as
partes do mundo. Durante o culto, os homens usam solidéus pequenos, e as
mulheres sentam-se numa seção separadas. Os membros citam o shema, a
confissão de fé em Deuteronômio 6.4,5: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o
único Senhor. Amarás pois o Senhor teu Deus de todo o teu coração”. Um
cantor pode fazer solos e dirigir os cânticos, e os rabinos leem o Torá e fazem
comentários.

 O Muro das Lamentações. A única parte do templo que continua existindo hoje
é um trecho do muro das lamentações e é um lugar santíssimo para os judeus.
Fazem romarias até lá, e colocam orações, escritos em papéis, nas fendas do
muro. O nome foi dado por causa do choro dos judeus pela perda do templo e da
glória de Deus.

 O Sinédrio. Era o Supremo Tribunal da Justiça no Judaísmo, e foi estabelecido


no século II a.C. Tinha setenta e dois membros, compostos de sacerdotes,
anciãos e escribas. O sumo sacerdote geralmente era o presidente do Sinédrio.
Tinha poderes amplos, mas seu direito de administrar a pena de morte foi
assumido pelo governo romano.
307

b’) Pessoas Sagradas:

 Os Profetas. A palavra hebraica Nabi, que é traduzida como “profeta”, significa


“chamado para falar em prol de Deus”. Os profetas às vezes prediziam eventos
futuros, mas principalmente proclamavam; pregavam a justiça de Deus e
denunciavam os pecados e a idolatria do povo. Profetas tais como Elias e Elizeu
eram chamados os profetas pré-literários. Os profetas literários estão alistados
no Antigo Testamento desde Isaías até Malaquias.

 Os Sacerdotes. O sacerdócio foi estabelecido na família de Arão e na tribo de


Levi. Entre seus deveres, mantinham o fogo aceso no altar, conservavam cheia
de azeite o lampadário de outro no Santuário, e ofereciam sacrifícios. Uma parte
dos dízimos das ofertas de carne e de cereais era dada a eles. Na conquista de
Canaã, receberam quarenta e oito cidades, com terras para seu rebanhos. O sumo
sacerdote detinha o cargo religioso mais elevado, e tinha deveres especiais que
se relacionavam com o culto e com os negócios do povo. Uma vez por ano, no
dia da Expiação, entrava no Lugar Santíssimo a fim de interceder pelo povo.

 Os Rabinos, os Fariseus e Saduceus. “Rabi” que significa “mestre” era um termo


de respeito empregado para instrutores espirituais (Mt 23.7), surgiram no século
I a.C. Jesus falou para seus discípulos que não deviam ser chamados de mestres,
porque os rabinos já se tornaram mestres (quase senhores) do povo.
Os saduceus eram um partido religioso e político que começou um século e meio
antes de Cristo. Eram as classes superiores dos sacerdotes, ricos, mas mundanos,
e produziram muitos dos sumos sacerdotes. Acreditavam na interpretação literal
do Torá, e recusavam a lei oral, a crença nos anjos e a ressurreição dos corpos.
Era leal a Roma.

Os fariseus era um partido piedoso ao qual pertencia a maioria dos escribas e


rabinos. Dedicavam-se à Torá, mas achavam que exigia a lei oral. Opunham-se
aos saduceus, porque acreditavam no Messias vindouro, na ressurreição e no
juízo final. Jesus frequentemente criticava-os por causa da sua hipocrisia.

 Práticas Sagradas:

a) Sacrifícios e Oferendas. Moisés desenvolveu um sistema requintado de


sacrifícios de animais e de oferendas de cereais. Juntamente com o sacrifício,
o povo devia ter uma atitude de arrependimento. O sangue deia ser aspergido
regularmente no santuário a fim de fazer expiação pelo pecado. Todos os
dias, havia adoração e oferendas de ações de graças.

b) A Oração e os Filactérios. A partir de cerca do século II a.C., todos os


homens judeus começavam a usar filactérios durante as orações matutinas.
308

Trata-se de pequenas caixas de couro que contêm quatro trechos do Antigo


Testamento: Ex 13.1-10, 11-16; Deut 6.4-9 e 11.13-21. Uma é usada na
cabeça e a outra no braço esquerdo.

c) A Circuncisão e o Concerto. A circuncisão é um sinal externo do concerto


entre Deus e Abraão. É realizado no oitão dia depois do nascimento de cada
nenê masculino, e relembra aos judeus sua vocação sagrada.

d) Filho do Mandamento. Quando um menino judeu chega aos treze anos de


idade, é tecnicamente um homem e recebe aulas sobre as crenças e no
idioma dos hebreus. Depois, passa pela cerimônia dos iniciados no Bar
Mitzvah ou Filho do Mandamento. Na ocasião, lê um trecho das Escrituras
na Sinagoga e ás vezes, faz um discurso. Seus pais fazem uma festa e ele
recebe presentes dos amigos.

e) Festas e Dias Santos. Os feriados que comemoram os grandes eventos da


história são um fator unificante de uma nação. Os judeus têm em alta estima
a sua história, e observam várias festas sagradas. O Dia do Sábado é o
próprio alicerce da fé judaica. Não somente Israel tem guardado o Sábado,
como também o Sábado tem guardado Israel. É o dia do culto, o dia em que
Deus descansou da Sua obra da criação. Começa ao pôr do sol na sexta-feira
e termina ao pôr do sol no sábado.

 Outras festas e dias santos de destaque entre os judeus são:

1.Pesach. A Páscoa começa no dia 15 de Nisã, entre março e abril. É um


memorial do êxodo israelita do Egito, é o aniversário de Israel. A festa dura oito
dias.

2.Shavuot. A Festa das Semanas ou Pentecoste (cinquenta) é celebrada


cinquenta dias depois da Páscoa, no mês de Sivã. Celebra a colheita dos cereais
e a promulgação da lei no Sinai.

3.Rosh Hashanah. O Novo Ano civil judaico é celebrado nos dias 1 e 2 do mês
de Tishri, que cai em setembro ou outubro.

4.Yon Kippur. O dia da Expiação é celebrado no dia 10 de Tishri, o dia sagrado


em que o sumo sacerdote entrava no Lugar Santíssimo. Sukkoth, a Festa dos
Tabernáculos, no dia 15 de Tishri. Os judeus acampam durante sete dias em
cabanas ou tendas para relembrarem a experiência de Israel no deserto na
ocasião do Êxodo.
309

5.Hanukkah. A Festa das Luzes é celebrada no dia 25 de Kisleu ou dezembro.


Representa a rededicação do templo em 165 a.C., depois dele ter sido profanado
pelo rei selêucida maligno, Antíoco Epifânio. Durante a festa, os judeus deixam
velas acesas durante oito dias.

6.Purim. A Festa das Sortes comemora a intercessão da rainha Ester em favor


dos judeus na Pérsia. É celebrada no mês de Adar, entre fevereiro e março.

d) O Pecado, a Salvação e o Destino no Judaísmo:

 O Homem – inerentemente bom. Os hebreus acreditam na virtude e bondade


inerentes do homem. Ele é feito à imagem de Deus e não é escravo conforme
acreditavam os pagãos. Negam a ideia da depravação total, ou seja: que todos os
seres humanos nascem com uma natureza pecaminosa herdada de Adão. Pelo
contrário, segundo a teologia judaica, o homem comete atos individuais de
pecado, pelos quais é necessário que seja feita expiação.

 O Homem – seu próprio salvador. No judaísmo, visto que o homem comete


pecados por conta própria, ele mesmo deve fazer expiação por estes pecados. Ele
não precisa de salvador nenhum; sua salvação está dentro de si mesmo. Deve
haver o exame de si mesmo, a confissão, o arrependimento e a oração. Depois, a
pessoa deve resolver que não cometerá os pecados do passado, e que praticará
boas ações. No dia da Expiação, os pecados do povo inteiro são perdoados e
removidos.

 O Pecado – a violação da Lei. Para o judeu, a boa moralidade significa mais do


que se conformar com um código social. O motivo do coração está envolvido. O
próprio alicerce do Judaísmo é o concerto com Jeová, em que Deus e o homem
são parceiros num diálogo e amizade vitalícios. A lei define o concerto e mostra
como Deus quer que cada pessoa viva. O pecado é a violação do concerto, e
Deus chama cada pessoa para voltar à lei, pois Deus é a sua lei.

 O Futuro – um senso de destino. A história judaica olha para o futuro. Muitas


outras religiões olham para o passado como sua era de ouro, quando os deuses
tratavam dos assuntos delas. Outras consideram que a história é um ciclo que
eternamente se repete. Os judeus olham para o futuro, para uma idade de ouro,
quando, então, Deus estabelecerá seu reino, e o Messias será o Soberano. Então
os judeus serão a luz do mundo, os mortos serão ressuscitados e os ímpios serão
condenados.
310

4 – Escritos do Judaísmo:

Visto que a lei e os profetas foram registrados por escrito, os judeus eram conhecidos
como o Povo do Livro. Suas Escrituras Sagradas são essencialmente idênticas ao Antigo
Testamento da Bíblia Cristã, ou seja: uma coletânea de trinta e nove livros. Na Bíblia
Judaica, alguns dos livros são juntados para dar um total de vinte e dois livros, para
corresponder às vinte e duas letras do abecedário hebraico. Foram escritos à mão em
rolos por vários autores. Nos tempos de Cristo, foram divididos em três grupos:

a) A Lei ou Torá

A lei o Torá, os cinco primeiros livros (Pentateuco em Grego). Os cinco livros são:
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Acredita-se que Moisés os
escreveu, porque são frequentemente chamados os “Livros de Moisés”.

b) Os Profetas ou Nebhiim

Os profetas anteriores tinham quatro rolos: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, e 1 e 2 Reis.

Os profetas posteriores tinham quatro rolos: Isaías, Jeremias, Ezequiel e o Livro dos
Doze (profetas Menores).

c) Os Escritos ou Kethublim

Poéticos: Salmos, Provérbios e Jó.

Festivos: Megilloth (rolos curtos lidos nas festas): Cantares, Rute, Lamentações, Ester e
Eclesiastes.

Históricos: Daniel, Esdras-Neemias e 1 e 2 Crônicas.

d) A Lei Oral, o Talmude

No período entre os dois Testamentos ou Talmude, ou lei oral, desenvolveu-se


paulatinamente e acabou sendo registrada por escrito. Tornou-se importante para o
judaísmo, em segundo lugar depois do próprio Torá. Há dois Talmudes, cujo nome é
segundo a região de onde se originaram: o Palestino (século IV d.C.), e o Babilônico
(século VI d.C.). o Talmude contém duas divisões grandes. A Mishna que significa
“repetição”, inclui tradições escritas cerca de 200 d.C. A Gemara, com interpretações da
lei, seguiu depois, até o século VI d.C. O talmude revela um povo que busca a Deus, e
tanto a esperança messiânica quanto a ressurreição são ressaltadas.

5 – Desenvolvimento do Judaísmo:
311

a) Uma Luta Pela Sobrevivência

Depois da destruição de Jerusalém em 70 d.C., a liderança dos judeus que sobreviveram


foi para Jâmnia, na orla marítima. Foram formados uma escola e um Sinédria.
Paulatinamente, as comunidades judaicas se recuperaram no Egito, na Pérsia, na
Palestina e até mesmo em Jerusalém. Foram rejeitados pelos imperadores bizantinos na
década dos 500 d.C. No Século VII, os exércitos muçulmanos conquistaram a Palestina,
o Egito, a Espanha, e os judeus debaixo do governo muçulmano tinham melhores
condições de vida. Fizeram muitos progressos na matemática, na astronomia, na
filosofia e na química.

 Na Espanha, os séculos X e XI tornaram-se a Idade de Ouro das realizações


literárias. O Judaísmo sefardita (espanhol), que usava um dialeto hispano-
judaico, desenvolveu-se na Espanha, com uma sinagoga e rituais. Na Europa,
desenvolveu-se o Judaísmo ashquenazita (alemão), com seu dialeto teuto-
judaico, o Iídiche. Nos séculos XI e XII os Cruzados, no caminho para tomar a
Terra Santa dos muçulmanos, massacraram muitos judeus e queimaram suas
sinagogas. Os judeus foram acusados de terem causado a Peste Negra de 1348
que matou uma terça parte da população da Europa. Na Inquisição espanhola de
1492, foram mortos milhares de judeus e centenas fugiram. Mas, por onde quer
que fossem, causavam um impacto enorme na sociedade, sendo que foram
produzidos grandes estudiosos bíblicos judaicos.

 No século XVI, Martinho Lutero começou a Reforma Protestante que,


inicialmente favorecia os judeus; posteriormente, porém, mudou de ideia e
pregou contra eles. Na Contrarreforma Católica, os judeus foram vítimas de
outra Inquisição. Em Roma e em outras cidades, os judeus foram forçados a
mudar sua residência para os guetos, que eram lugares apinhados de pessoas,
imundos e sem a luz do sol, nas piores partes da cidade. Ficaram atrás de muros
e portões trancados, com toque de recolher obrigatório. Os judeus também
precisavam usar um distintivo amarelo para fácil identificação.

 Na Polônia, em 1648, houve massacre dos judeus, conhecidos como pogroms.


Aqueles que não conseguiram fugir foram trucidados, com a morte de quase
meio-milhão deles. A desculpa era que os judeus tinham perícias desejadas pela
classe governante, além de serem os agiotas mais temidos pelas classes
inferiores. Na década de 1800, o Judaísmo foi aceito como religião na
Inglaterra, na Alemanha e nos Estados Unidos, havendo possibilidade de
estabelecerem direitos iguais. Mas na Rússia czarista, depois do assassinato de
Alexandre II em 1881, irromperam-se os piores pogroms contra os judeus, que
os levaram a um êxodo em massa para os Estados Unidos.
312

 Depois, como resultado de uma distinção entre semitas e árias, uma onda de
antissemitismo varreu a Europa. Na década de 1930 começou na Alemanha um
movimento, dirigido por Adolf Hitler, para destruir os judeus. Desde 1933 até
1945, aproximadamente seis milhões de judeus foram trucidados – uma terça
parte da população judaica quase cessou de existir na Europa. Os extermínios
dos judeus pelos nazistas não tinha paralelo na história universal. O mundo
ficou estarrecido, e muito se perguntavam por que Deus permitiu que
semelhantes sofrimentos sobreviessem ao seu povo. Uma leitura cuidadosa de
Deuteronômio 28 é iluminadora, pois nos oferece alguma ideia sobre a razão
por que aconteceram estes eventos. A rejeição de Jesus pelos judeus também
lança luz sobre esta questão. Mesmo assim, conforme dizem muitas pessoas, a
explicação integral do holocausto ainda tem seus mistérios.

b) Um Lar Nacional Para os Judeus


Um jornalista judeu, Theodore Hertzl, chegou a perceber que os judeus nunca
seriam tratados com justiça até que tivessem uma pátria própria. No começo da
década de 1900, ele e outros deram início a um movimento chamado Sionismo,
para pleitear a causa de um estado judaico. Onde deveriam procurar tal pátria?
Nenhum lugar no mundo inteiro estava mais próximo ao coração judaico do que
a terra da Palestina.

 Depois da Primeira Guerra Mundial, a Grã-Bretanha recebeu um mandato da


Liga das Nações para governar a Palestina. Em 1917, os sionistas, liderados por
Chaim Weizmann, persuadiram o governo britânico a conceder aos judeus uma
pátria na Palestina. O Secretário do Exterior, o Lorde Balfour, promulgou a
Declaração Balfour. “O governo da sua majestade vê com favor o
estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judaico”. Os
árabes, que já tinham ocupado a região durante muitas gerações, opuseram-se ao
influxo dos judeus. Mesmo assim, dentro de vinte anos, duzentos e cinquenta
mil judeus estabeleceram-se na Palestina. Já em meados da década de 1930. Os
judeus da Europa começaram a ver a Palestina como lugar de refúgio dos
nazistas, mas a imigração era limitada por causa do ressentimento violento dos
árabes.

 Por causa do holocausto na Segunda Guerra Mundial, houve mudança de


atitudes, e as Nações Unidas votaram em 1947 a favor de dividirem a Palestina
em estados judaico e árabes. Em 14 de maio de 1948, a bandeira britânica foi
arriada e David Bem Gurion anunciou o estabelecimento de Israel como estado
independente. Tinha uma população com cerca de seis mil habitantes. O novo
estado foi imediatamente atacado por cinco nações vizinhas, mas Israel
sobreviveu aos ataques e avisou que podia defender seus próprios interesses e
que assim faria. Em outubro de 1956, a guerra irrompeu de novo quando o Egito
atacou Israel. Nesta guerra Israel conquistou a totalidade da Península do Sinai e
313

estendeu grandemente o território sob seu controle. Na guerra de 1967, a cidade


antiga de Jerusalém foi conquistada por Israel, e os judeus retomaram seu
santuário mais sagrado, o Muro das Lamentações, com muitos choros e danças
de alegria. Na guerra de Yom Kippur, no Dia da Expiação em 1973, Israel foi
atacado por uma coalizão de estado árabe, mas estes ataques foram vencidos e as
fronteiras permaneceram basicamente iguais.

 Nos anos que se sucederam, muitas batalhas foram travadas; cada parte procurou
focalizar a opinião mundial da legitimidade da sua reivindicação à terra de
Israel. Entrementes, a população de Israel chegou a mais de três milhões, mas a
população mundial de Judeus ultrapassam quinze milhões. No meio da
confrontação que continua, somos forçados a reconhecer que as profecias
bíblicas têm sido cumpridas, e continuam sendo, pela regeneração da terra e pelo
reestabelecimento do estado de Israel. Não é contrária aos ensinos bíblicos e
expectativa de que virá o Senhor Jesus Cristo, que trará uma solução permanente
à crise no Oriente Médio. E durante este acontecimento, o povo de Israel voltar-
se-á para Ele.

c) Ramificações do Judaísmo Hoje


Frequentemente pergunta-se: Quem é um judeu? O judeu é judeu de nascença ou
por convicção? Muitas mudanças e culturas influenciaram o judaísmo em razão
de casamento misto, conversão e dispersão. A filosofia do judaísmo alterou-se e
desenvolveram-se três formas de Judaísmo: o Judaísmo Ortodoxo, Reformado e
Conservador.

 Os judeus Ortodoxos são tradicionais e apegam-se rigorosamente à Torá, ao


Talmude e à autoridade dos rabinos.

 Os Judeus Reformados são liberais. Não procuram nenhum Messias nem pátria
judaica. Ao invés disto, dizem que Israel é um povo messiânico. A aceitação da
Torá é mediante a opção pessoal.

 Os Judeus Conservadores tomam uma posição entre o judaísmo ortodoxo e o


reformado. Eles, também, rejeitam a pátria judaica, mas seguem Torá e as
tradições.

É somente tendo em mente a história dos judeus que podemos entender o


domínio poderoso que Israel continua a exercer sobre os judeus em todos os
lugares. Para eles, a eleição divina do povo de Deus é permanente. “Ele é Deus
que guarda o concerto até mil gerações”. Esta convicção é a razão por que o
povo judaico tem sobrevivido aos guetos, aos programas, às Inquisições, às
discriminações, aos distintivos amarelos da vergonha e até mesmo ao
holocausto. É por isso que têm prevalecido até o dia de hoje.
314

6 – Avaliação do Judaísmo:

a) Pontos Positivos do Judaísmo

 No judaísmo, os seguidores sustentam uma firme convicção da existência do


Deus Verdadeiro e uma repugnância à idolatria;
 Os judeus mantêm uma união básica do povo através de uma longa história,
união esta que é creditada à unidade de Deus;
 O povo judaico tem uma fé inabalável nas Sagradas Escrituras por terem sido
inspiradas por Deus;
 A reverência que os judeus têm aos seus antepassados não chegou a ser adoração
a estes;
 Os princípios da Torá são a base para muitos dos padrões éticos e morais do
restante do mundo;
 Os judeus têm alto respeito pela totalidade da vida, e acreditam que o ser
humano total é feito à imagem de Deus;
 Os judeus têm um dever ético e social diante de toda a humanidade;
 O povo judaico fica firme e unido na perseguição;
 Os judeus ortodoxos sustentam a esperança da vinda do Messias para introduzir
uma era de justiça, e a esperança da ressurreição dentre os mortos.

b) Pontos Negativos do Judaísmo

 Os judeus negam que Jesus Cristo é o Messias e também o Filho de Deus;


 Os judeus não se preocupam em termos de salvação atual mediante a graça, nem
com a intercessão por um mediador vivo;
 Os judeus enfatizam as obras como meio da salvação pessoal;
 O judaísmo tende fortemente em direção ao legalismo e ao formalismo;
 Os judeus não aceitam a natureza basicamente má do homem; o pecado é
considerado principalmente como violação cerimonial de uma lei;
 Os judeus enfatizam indevidamente a preferência divina pelo povo de Israel.

75 – LIBERALISMO

“O Pensamento Liberal”.

1 – Introdução:

1.1 – O que é Liberalismo?

“Nós temos por testemunho as seguintes verdades: todos os homens são iguais: foram
aquinhoados pelo seu criador com certos direitos inalienáveis e entre esses direitos se
315

encontram o da vida, da liberdade e da busca da felicidade. Os governos são


estabelecidos pelos homens para garantir esses direitos, e seu poder emana do
consentimento dos governados. Todas as vezes que uma forma de governo torna-se
destrutiva desses objetivos, o povo tem o direito de muda-lo ou abolir, e estabelecer um
novo governo, fundando-o sobre os princípios e sobre a forma que lhe pareça a mais
própria para garantir-lhe a segurança e a felicidade”.

(Trecho da Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 1776, reflexo na


América dos Ideais Liberais iniciados pela Revolução Gloriosa em 1688, na Inglaterra).

No século XVII, enquanto o Absolutismo triunfa na França, a Inglaterra sofre as


revoluções lideradas pela burguesia, que visam limitar a autoridade dos reis. A primeira
foi a Revolução Puritana, em meados do século em questão, culminando com a
execução do rei Carlos I e a ascensão de Cromwell. Mas, a liquidação do Absolutismo
se dá com a revolução gloriosa, em 1688, enquanto Guilherme III é proclamado rei,
após ter aceitado a Declaração de Direitos que limitava muito sua autoridade e dava
mais poderes ao parlamento. Ficava, portanto, o poder executivo subordinado ao
legislativo.

As conquistas burguesas exigem do rei a convocação regular do parlamento, sem o qual


ele não pode fazer leis ou revoga-las, cobrar impostos ou manter um exército. Institui-se
ainda o “habeas corpus”, a fim de evitar as prisões arbitrárias; a partir de então, nenhum
cidadão pode ficar preso indefinidamente sem ser acusado diante dos tribunais, a não ser
por meio de denúncia bem definida.

Tais ideias subvertem as concepções políticas no século XVII e XVIII. No novo mundo,
os movimentos de emancipação das colônias são bem-sucedidos, como a Independência
dos Estados Unidos (1776), enquanto outros são violentamente reprimidos, como as
conjurações Mineiras em (1789) e Baiana em (1798), ambas no Brasil. Na Europa, o
grande acontecimento é a Revolução Francesa (1789), que representando a luta contra
os privilégios da nobreza e na defesa dos princípios de “igualdade, liberdade e
fraternidade”, depõe a dinastia real dos Bourbon.

2 – As Ideias

Afinal, que ideias novas são essas?

Na linguagem comum, costumamos chamar de Liberal ao homem generoso, tanto no


sentido de não controlar gastos, como no sentido de não autoritário. Chamamos também
de profissões liberais as atividades de médicos, dentistas, advogados, quando trabalham
por conta própria. Essa expressão deriva da antiga classificação das artes liberais,
designando as atividades de homens livres, distintas dos ofícios manuais próprios de
escravos.
316

No entanto, aqui não nos interessam tais significados da palavra liberal, mas sim,
aqueles que indicam o conjunto de ideias éticas, políticas e econômicas da burguesia
que se opunha à visão de mundo da nobreza feudal.

Sabemos que as transformações ocorridas na formação do Estado Nacional e do esforço


feito para tomar a política secular, laica, desligada dos interesses da religião. Mas, se em
primeiro momento a formação das monarquias nacionais necessitava do Estado forte – o
que de certa forma justificou o Absolutismo real – a burguesia reivindicou sua própria
autonomia quando se sentiu suficientemente fortalecido.

O pensamento burguês busca a separação entre Estado e Sociedade enquanto conjunto


das atividades particulares dos indivíduos, sobretudo as de natureza econômica. O que
se quer separar definitivamente é o público privado, reduzindo ao mínimo a intervenção
do Estado na vida de cada um. Por outro lado, essa separação deveria reduzir também a
interferência do privado no público, já que o poder procura outra fonte de legitimidade
que não seja a tradição e as linhagens de nobreza.

Podemos nos referir ao liberalismo ético, enquanto garantia dos direitos individuais, tais
como liberdade de pensamento, expressão e religião, o que supõe um estado de direito
em que seja evitado o arbítrio, as lutas religiosas, as prisões sem culpa formada, a
tortura, as penas cruéis.

2.1 – Os Liberais Políticos

Os defensores não socialistas da tolerância, da liberdade de expressão e da liberdade


individual – são encontrados em partidos como o liberal democrata britânico e o partido
democrata livre da Alemanha. A obra de John Locke (1633-1704) foi uma das primeiras
fontes do pensamento político liberal e muito dos princípios do liberalismo político
foram inseridos na constituição dos Estados Unidos.

No século XIX, o liberalismo clássico englobava uma filosofia econômica que insistia
no modelo laissez-faire, desatrelada da intervenção do Estado. No final do século XIX,
as desigualdades sociais criadas por um capitalismo industrial irrestrito produziu através
dos governos reformistas de Herbert Henry Asquith (1852-1928) e Devid Lhoyd George
(1863-1945), na Grã-Bretanha. Daí em diante, entretanto, a causa da reforma política e
social viria a ser defender com mais êxito pelos emergentes políticos social-democrátas
e socialistas e, na maioria dos países, os partidos liberais entram em declínio.

2.2 – O Liberal Político

Constitui, sobretudo contra o Absolutismo real, buscando nas teorias contratualista as


formas de legitimação do poder, não mais fundado no direito divino dos reis nem na
tradição e herança, mas no consentimento dos cidadãos. A decorrência dessa forma de
pensar é o aperfeiçoamento das instituições do voto e da representação, a autonomia dos
poderes e a consequente imitação do poder central.
317

Veremos que as formas de liberalismo mudam com o tempo, começando de maneira


muito elitista (restrita aos homens de posse) e ampliando-se a partir das pressões
externas.

2.3 – O Liberalismo Econômico

Opôs-se inicialmente à intervenção do poder do rei nos negócios, que se davam por
meio de procedimentos típicos da economia mercantilista, tais como a concessão de
monopólios e privilégios. Os primeiros a se insurgirem contra o controle da economia
foram os fisiocratas, cujo lema era “laissez-faire”; laissez passer, lemond vai de lui-
même (deixai fazer, deixai passar, que o mundo anda por si mesmo), tais ideias são
desenvolvidas pelos economistas ingleses Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo
(1772-1823). O que se pretendia era a defesa da propriedade privada dos meios de
produção e a economia de mercado, baseada na livre iniciativa e competição. O estado
mínimo, ou seja, o Estado não intervencionista e considerado possível porque o
equilíbrio pode ser alcançado pela lei da oferta e da procura. O liberalismo e o
socialismo hoje, nem sempre foram possíveis manter o Estado afastado do controle da
economia.

3 – O Liberalismo do Século XIX

“Cada um é o único guardião autêntico da própria saúde, tanto física, quanto mental e
espiritual.” (Stuart Mill).

3.1 – Introdução

No século XIX, as exigências democráticas não eram apenas da nova classe dos
burgueses, mas também dos operários, cujo número crescia consideravelmente, já que a
Revolução Industrial (sec. XVIII) aumentara a concentração urbana. Os operários,
organizados em sindicatos e influenciados por ideias socialistas, exigem melhores
condições de trabalho.

As novas formas de organização de massa dão a tônica do pensamento político do


século XIX, que pretende se configurar como liberalismo democrático. O enfoque da
liberdade baseada na propriedade – característica do liberalismo elitista dos séculos
anteriores – é desviado para a exigência de igualdade, procurando estender a liberdade a
um número cada vez maior de pessoas por meio da legislação e de garantias jurídicas.

As reivindicações de igualdade se manifestam das mais variadas formas:

 Na defesa do sufrágio universal, ampliação das formas de representação


(partidos, sindicatos), pressões para reformas eleitorais;

 Na exigência de liberdade de imprensa;


318

 Na implantação da escola elementar universal, leiga, gratuita e obrigatória, cuja


luta se torna bem-sucedida na Europa e nos EUA.

No entanto, não há como negar que o liberalismo nasceu não democrático, na medida
em que sempre desconfiou do governo popular, sustentando o voto censitário pelo qual
excluído do poder os, não proprietários.

No século XIX podemos notar claramente os dois sentidos do movimento que até hoje
dilacera o pensamento liberal: a permanência do liberalismo conservador que defende a
liberdade, mas não a democracia (ou seja, não é um liberalismo com aspirações
igualitárias); e o liberalismo radical que, além da liberdade, defende a igualdade. É este
último liberalismo que, nas formas mais extremas, se aproxima, no século XX, das
concepções do Estado de bem-estar social e do socialismo liberal.

Os principais teóricos do liberalismo no século XIX foram:

 Nos Estados Unidos – Thomas Jefferson e Thomas Paine;

 Na França – Tocqueville;

 Na Inglaterra – Jeremy Bentham, James Mill e seu filho John Stuart Mill.

3.2 – O liberalismo Francês

Enquanto na Inglaterra e nos Estados Unidos as instituições políticas e sociais


consolidam pacificamente os ideais liberais, a França passa no século XIX por
experiências difíceis e comunitárias, após a esperança de “liberdade, igualdade e
fraternidade” representada pela Revolução Francesa. Afinal, o jacobinismo de
Robespierre declaradamente ultrademocrático havia descambado no Terror; depois
disso houve a ascensão e queda de Napoleão Bonaparte, coroado imperador. Mais tarde,
com Napoleão III, a França entra no Segundo Império, distanciando-se cada vez mais
dos ideais democráticos. Era natural que surgissem liberais conservadores, temeroso da
tênue separação existente entre democracia e tirania.

Alexis de Tocqueville (1805-1859), aristocrata de nascimento e conhecido como o


“Montesquieu do século XIX”, soube analisar com lucidez espantosa as contradições do
seu tempo. Visitou por um ano os Estados Unidos, onde recolheu informações para sua
obra mais famosa, Democracia na América.

Tocqueville tinha plena consciência de que a implantação da democracia era inevitável,


mas lastimava essa tendência que, segundo ele, levaria ao risco da “tirania da maioria”,
a um nivelamento cuja consequência seria o despotismo e ao conformismo da opinião.
A democracia faria prevalecer à força do número sobre a individualidade.
319

Tocqueville admitia claramente o desprezo pelas classes médias, o que constituía um


traço aristocrático da visão de mundo daquele nobre senhor de terras. Em uma anotação
pessoal exprimia: “Tenho pelas instituições democráticas uma preferencia cerebral, mas
sou aristocrata por instinto, e isto significa que desprezo e temo a multidão. Amo
apaixonadamente a liberdade, a legalidade, o respeito pelos direitos, mas não a
democracia”.

O intelectual brasileiro José Guilherme Merchior diz o que significa para Tocqueville a
palavra democracia: algumas vezes, ele empregou o termo em seu sentido politico
normal, de um sistema representativo fundado num amplo sufrágio. Mas, com mais
frequência, o empregou como um sinônimo para sociedade igualitária, coisa com que
ele não designava uma sociedade de iguais, mas uma sociedade em que a hierarquia já
não era a regra do princípio aceito de estrutura social”.

3.3 – O Liberalismo Inglês

Jeremy Bentham (1748-1832) é o fundador de uma escola chamada utilitarismo.


Sofrendo a influencia empirista, a teoria utilitarista pretende ser um instrumento de
renovação social, a partir de um método rigorosamente científico.

Bentham substitui a teoria do direito natural, típica dos filósofos contratualista do século
anterior, pela teoria da utilidade: o cidadão só deve obedecer ao Estado quando a
obediência contribui para a felicidade geral. Critica as formas liberais que levam ao
egoísmo. Aliás, para ele, o objetivo da moral é o controle do egoísmo, e a virtude é o
que amplia os prazeres e diminuí as dores, donde resulta uma “aritmética moral”: é
preciso fazer um cálculo entre duas ações para saber qual delas reúne maior número de
prazeres e menor quantidade de dores. Da mesma forma, o governo deve concordar com
o princípio de utilidade, e sua finalidade é alcançar a felicidade para um número maior
de pessoas.

Por isso os objetivos do governo são: prover a subsistência, produzir a abundancia,


favorecer a igualdade e manter a segurança. Para tanto é necessário que haja eleições
periódicas, sufrágio livre e universal, liberdade de contrato.

Bentham também se tornou conhecido por ter imaginado o Panopticon (que signifc “ver
tudo”), construção com uma torre de controle central e um prédio cheio de janelas onde
seriam confinadas pessoas que precisariam ser vigiadas constantemente, tais como
loucos, doentes, condenados, operários ou estudantes. Michel Foucault, filósofo francês
contemporâneo, em sua obra Microfísica do poder identifica o projeto de Bentham ao
processo iniciado na Idade Moderna pelo qual é constituída a “Sociedade disciplina”,
baseada no controle e vigilância na fábrica, na escola, na prisão, no hospício, no
exército, e que tão bem irá caracterizar a forma de poder pela qual a burguesia exerce
sua hegemonia.
320

John Stuart Mill (1806-1873) segue inicialmente a corrente utilitarista, na qual foi
iniciado por seu pai, James Mill, mas a modifica profundamente, já que sofreu outras
influências, desde o Positivismo de Comte ao Socialismo de Saint-Simon.

Embora amigo e admirador de Tocqueville, Stuart Mill desenvolve o Liberalismo na


linha de aspiração democrática. Preocupa-se com o destino das massas oprimidas e
defende a co-particição na indústria bem como a representação proporcional na política
a fim de permitir a expressão das opiniões minoritárias. Foi acirrado defensor da
absoluta liberdade de expressão, do pluralismo e da diversidade, e considerava
importante o debate das teorias conflitantes.

4 – Liberalismo e Socialismo Hoje

4.1 – O Liberalismo no século XX.

São complexos os caminhos da política contemporânea. No rápido esboço que


delineamos, foi possível constatar as crises e adaptações do liberalismo no correr do
tempo, bem como as críticas a ele feitas pelas teorias de inspiração socialista.

Vimos também o socialismo surgir como doutrina, e mais adiante abordará como foi
sua implantação em diversas nações, até os acontecimentos conhecidos como “crise do
socialismo real”.

A presente análise tem por fim recusar as explicações simplistas que contrapõe o
fracasso do socialismo as excelências do liberalismo, pois as contradições vividas no
nosso tempo exigem soluções novas e criativas que sejam capazes de oferecer melhores
condições de vida a um número cada vez maior de pessoas.

Para compreender os dados da situação, vamos retomar a história do liberalismo onde a


tínhamos deixado (ver pensamento liberal).

Os primeiros teóricos liberais opunham-se ao absolutismo real e aspirava por um


governo constitucional, pela liberdade civil e religiosa e pela não intervenção do Estado
na economia. Embora tenha fortalecido as instituições que favoreciam o exercício da
cidadania, o liberalismo clássico permaneceu elitista, na medida em que o voto
censitário permitia a participação política apenas aos homens de posse.

No século XVIII, na trilha aberta pela concepção democrática de Rousseau e na


reivindicação de Kant da “maioridade da razão humana”, são ensaiados os passos que
transformarão o súdito em cidadão. As lutas contra a censura, a tortura, o arbítrio e os
privilégios apontam para uma nova concepção de respeito à individualidade.

A Independência dos Estados Unidos (1776) e a Revolução Francesa (1789)


materializam os ideais da burguesia ascendente, desejosa de seguir seu próprio caminho,
livre dos impedimentos da concepção aristocrática.
321

No século XIX, sob o impacto do crescimento e organização das massas proletárias,


bem como da crítica feita pelos teóricos socialistas, o liberalismo foi obrigado a mudar.
Stuart Mill, defensor da liberdade de expressão e do direito de voto também para as
mulheres, é representante da teoria do liberalismo que se orienta em direção à exigência
de maior igualdade e democracia.

4.2 – Liberalismo Social

Uma das conquistas do liberalismo clássico foi o ideal do Estado não intervencionista,
que deixava o mercado livre para sua auto-relação. Tratava-se do Estado minimalista, de
baixa intervenção, e do liberalismo, ou seja, do prevalecimento do livre mercado.

As extremas desigualdades sociais levam alguns a pensar que a ênfase na economia


livre deveria ser atenuada, a fim de possibilitar a igualdade de oportunidades e auxiliar o
crescimento da individualidade. Tais são as convicções de pensadores como Thomas
Green (1836-1882) e mais tarde Leonard Hobhouse (1864-1929) e John Hobson (1858-
1940).

Acontecimentos históricos apressam a reformulação dos princípios do liberalismo. Após


a quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929, a década de 30 foi marcada pela depressão
econômica: falências, desemprego, inflação, geradores de graves tensões sociais.

A crise do modelo capitalista desencadeia a experiência totalitária na Alemanha e na


Itália. Outros países, como Inglaterra e Estados Unidos, busca soluções diferentes que
pudessem evitar tanto o perigo do nazismo como a tentação do comunismo. As novas
medidas tomadas encaminham o liberalismo para a tendência que podemos chamar de
liberalismo social, em que é revisto o papel do Estado na economia.

Desde o início do século, a Inglaterra já vinha implantando medidas assistenciais como


seguro nacional de saúde e sistema fiscal progressivo. Mas é nas décadas de 20 e 30
que o Estado começa a intervir de forma marcante na produção e distribuição de bens, o
que indica uma forte tendência em direção ao Welfare State, ou seja, ao Estado de bem
estar social. Tanto é assim que, nos anos 40, considerava-se que qualquer cidadão teria
direito a emprego, controle de salário, seguro contra invalidez, doença, proteção na
velhice, licença maternidade, aposentadoria, o que aumentou significativamente a rede
de serviços sociais garantidos pelo Estado.

É nessa direção que se desenvolve o pensamento do inglês John Maynard Keynes


(1883-1946), que além de economista era também filósofo e jurista. Seguindo a
tendência democrática de Stuart Mill, Keynes considera necessário aliar a eficiência
econômica à liberdade individual, com devida atenção à justiça social. Mas isso provoca
o revisionismo econômico, já que exige do Estado maior intervenção nos negócios a fim
de controlar as forças econômicas e, regular as distorções, o que significa uma crítica ao
laizes-faire da economia clássica.
322

Nos Estados Unidos, ideias semelhantes orientam o presidente Roosevelt na elaboração


do plano econômico conhecido como New Deal, que introduziu o dirigismo estatal
durante a depressão da década de 30.

O governo concede crédito para as empresas, intervém na agricultura e adota inúmeros


procedimentos assistenciais de atendimentos aos trabalhadores bem como a construção
de grandes obras públicas para amenizar a alta taxa de desemprego.

Embora essas medidas sofressem acusação de serem semelhantes às propostas


socialistas, visavam de fato ao fortalecimento do capitalismo e pretendiam também
evitar o avanço comunista.

Obs.: As teorias Keynesianas foram influentes desde a década de 30 até a de 70, quando passaram a ser
severamente criticadas pelo neoliberalismo.

4.3 – Liberalismo de Esquerda

Na Itália facista – e contra ela – floresceram teorias do liberalismo social que


poderíamos considerar como liberalismo de esquerda, ou seja, visavam desencadear
movimentos de cunho popular (e não burguês) e resgatavam os ideais socialistas,
embora os adaptando ao liberalismo. Em vez de se oporem simplesmente ao marxismo,
buscavam extrair dele os elementos positivos, repudiando, sobretudo a concepção
revolucionária de Marx: uma espécie de “terceiro caminho”, superando a tese de que
liberalismo e socialismo seriam inconciliáveis.

Carlos Rosselli (1899-1937) escreve: “É possível pensar que a passagem de uma para
outra sociedade aconteça mediante um processo gradual e pacífico: mediante uma
passagem que, salvando as vantagens já garantidas de uma, as reforce progressivamente
através das vantagens da outra”.

Tais teorias alimentaram a fundação do efêmero Partido dell’Azione, em 1942, onde


Norberto Bobbio (1909) inicia sua atividade e reflexão política. Torna-se professor de
filosofia do direito, e cada vez mais a análise da estrutura jurídica o leva a discutir
política, passando do estudo da legalidade para aquele da legitimidade, exigência de
uma reflexão sobe a teoria do Estado.

Político ativo, Bobbio estabeleceu polêmicas em jornais e revistas, tanto com católicos
neotomistas e neo-idealistas como com marxistas dogmáticos. Critica a injustiça que
permanece no mundo capitalista e o estado de não liberdade dos países em que foi
implantado o socialismo real.

Ciente das implicações tecnoburocráticas das modernas sociedades industrializadas,


sejam elas capitalistas ou socialistas, analisa os obstáculos à democracia. Por exemplo:
a necessidade crescente de os governos recorrerem a especialistas (tecnocracia); a
ampliação e complexificação da máquina estatal (burocracia); a existência de grandes
organizações (sejam empresariais ou estatais) que impedem as condições objetivas de
exercícios democráticas; a predominância da sociedade de massa que torna o homem
323

apático, muito distante do caráter ativo exigido pela verdadeira cidadania. Bobbio
chama a esses aspectos de paradoxos da democracia moderna. Evidentemente, não para
concluir que a democracia é impossível, mas que se trata de tarefa difícil.

Bobbio se ocupa com a análise dos limites e obrigações do Estado, e faz o estudo
histórico do desenvolvimento das relações entre sociedade civil e Estatal. Vimos que
nas teorias contratualista do liberalismo clássico o contrato social constitui o Estado,
cuja legitimidade repousa, portanto no consentimento dos cidadãos. Bobbio, ao lado de
outros teóricos (como Rawls), desenvolve o neocontratualismo, em que, diferentemente
das antigas teorias, o pacto não se apresenta limitado apenas à explicação da origem do
Estado, mas, segundo ele, as forças sociais devem continuar agindo sem cessar, num
processo renovado e constante.

O governo democrático é, portanto uma policracia, isto é, o poder está irradiado por
toda a sociedade civil, entendida esta como o conjunto das organizações não estatais na
esfera das relações entre indivíduos e grupos e que, nesse sentido, representam
interesses pluralistas, sendo o Estado o ponto de encontro da diversidade e do embate
das forças mediante as quais se dará o pacto social. Além disso, Bobbio defende a
democratização da vida social como um todo, estendendo os mecanismos de discussão e
livre decisão para organismos como trabalho, educação, lazer, vida doméstica.

4.4 – Neoliberalismo

As teorias de intervenção estatal começam a dar sinais de desgaste devido às frequentes


dificuldades dos Estados em arcar com as responsabilidades sociais assumidas.
Aumento do déficit público, crise fiscal, inflação e instabilidade social são considerados
justificativas suficientes para a limitação da ação assistencial do Estado.

Desde a década de 40 alguns teóricos, como o austríaco Friedrich Von Hayek (1899),
defendiam o retorno às medidas liberalistas do livre mercado. Antikeynesiano por
excelência, Hayek acusa o Estado previdenciário de paternalista e se refere à “miragem
da justiça social”. Critica a tentativa de planificação central como uma impossibilidade,
já que, na sua concepção evolucionista, a complexidade e mutabilidade dos fenômenos
humanos escapam às tentativas construtivistas de controle.

Os neoliberais retomam o ideal do Estado minimalista, cuja ação se restringe ao


policiamento, justiça e defesa nacional. O que, segundo eles, não implica em
enfraquecimento do Estado, mas, ao contrário, no seu fortalecimento, já que se pretende
reduzir os seus encargos.

A partir da década de 80, os governos de Reagan e depois Bush, nos Estados Unidos, e
de Margareth Thatcher na Inglaterra são representantes da nova onda neoliberal. No
Brasil a tendência se confirma nos processos de privatização de organismos estatais e de
abolição da reserva de mercado. Mas contraditoriamente esbarra em outras medidas de
nítida intervenção estatal (muitas vezes exacerbadas) como a dos sucessivos planos
heterodoxos de controle na economia para conter a inflação.
324

4.5 – Neoliberalismo: Solução ou Problema?

Os liberais se regozijam com a derrocada do Leste Europeu, contrapondo ao fracasso da


economia planejada do “socialismo real” o pretenso sucesso da economia de mercado.

Bem-vindos ao progresso, à eficácia, à produtividade?

O que é, afinal, o capitalismo real? Ele não consiste apenas nas luzes que costumam
ofuscar contradições intransponíveis. O lado sóbrio parece fazer parte integrante da
condição de crescimento do capitalismo.

A expansão do capitalismo sempre foi feita a partir da criação de laços de dependência:


a colonização da América do século XVI ao XVIII; o imperialismo da África e Á no
século XIX; no século XX, a implantação das multinacionais nos países não
desenvolvidos. Mais recentemente, os acordos do FMI (Fundo Monetário Internacional)
têm feito com que a ajuda dos países mais ricos aos mais pobres os transforme de fato
em eternos credores, descapitalizados para o pagamento dos juros da dívida. Tais laços
de dependência econômica resultam evidentemente em dependência política.

Quando nos referimos aos países mais ricos do mundo, não encontramos sequer uma
dezena entre as 170 nações existentes. E, se a distribuição de renda é assim irregular
entre os países, ela também se aprofunda nos países subdesenvolvidos, como o Brasil,
onde a concentração de renda atinge níveis alarmantes.

Um dos lados sombrios do capitalismo está, portanto na má distribuição de renda, com


concentração de riqueza em poucos países ricos, e, nestes, nos pequenos grupos de
privilegiados. Em decorrência, não há como evitar os focos de pobreza e miséria, e
ainda desemprego, migrações, marginalização de jovens e velhos, surtos inflacionários
reprimidos por recessão longa e dolorosa.

Além disso, como contraponto da evolução tecnológica, ocorre a destruição do meio


ambiente e o desequilíbrio ecológico, pois a lógica do interesse privado geralmente não
coincide com o bem coletivo.

Se ao criticar o “socialismo real” as nações capitalistas contrapõem com orgulho a


liberdade individual existente no Ocidente, é bom lembrar que se trata de uma liberdade
formal, disponível só para os beneficiados do sistema. Ou seja, numa sociedade em que
há injusta repartição de bens, os contratos de trabalho não são tão livres quanto se
supõe. Nem é livre a “opção” do trabalhador pelo desemprego, analfabetismo ou baixos
salários.

Com isso queremos dizer que a crítica feita pelos socialistas ao capitalismo continua
válida. Ainda mais no momento presente, em que o neoliberalismo tende a rejeitar o
Estado assistencialista – que teoricamente significa a contradição como o livre mercado
–, mas que bem ou mal tem ajudado a minorar as dificuldades dos trabalhadores. Daqui
para frente, na selva do “salve-se quem puder”, onde já sabemos de antemão que as
325

chances no ponto de partida não são iguais, a tendência é o recrudescimento dos


problemas sociais.

4.6 – Onde Está a Saída

O problema é que a saída deve ser construída. Ela não existe no momento, a não ser em
esboços de teorias ainda incipientes e nas soluções práticas muitas vezes apressadas que
frequentemente têm levado os países socialistas ao agravamento da crise e a retrocessos.

Se forem verdadeiras as críticas feitas ao socialismo real e ao capitalismo real, é preciso


reinventar a política. Se, como disse Bobbio, o capitalismo é o estado da injustiça e o
socialismo, o da não liberdade, é preciso agora descobrir a maneira de conciliar a
igualdade de oportunidades com a liberdade, ou seja, unir socialismo e democracia.

Há quem considere tratar-se de empresa impossível, argumentando serem incompatíveis


a economia socialista e a política democrática. Segundo alguns críticos, a implantação
do socialismo exige a estatização, o centralismo da economia planejada, donde decorre
a burocracia e consequentemente a hierarquia e a perda de procedimentos democráticos.
Quanto mais existe planejamento central, mais próximo fica o autoritarismo e/ou o
totalitarismo. Portanto, o stalinismo não teria sido apenas “desvio” de rota, mas o
caminho inevitável do socialismo.

Para outros, o que existe é apenas constatação de que o “socialismo real” não soube
fazer a conciliação com a democracia, e seria bom que essa experiência ajudasse a
experimentar novos caminhos.

A saída estaria na economia mista, reunindo empresas estatais e particulares a fim de


conjugar a economia de planejamento com a economia de mercado. Afinal, entre os
extremos do laissez-faire e do estatismo, devem existir fórmulas as mais variadas e
inteligentes de controle da economia.

76 – MANIQUEÍSMO

1 – Introdução:

O que é Maniqueísmo?

É a ideia baseada numa doutrina religiosa que afirma existir dualismo entre dois
princípios opostos, normalmente o bem e o Mal.

O maniqueísmo é considerado uma filosofia religiosa, fundada na Pérsia por Maniqueu,


no século III, sendo bastante disseminada por todo o império Romano.
326

Para o maniqueísmo, o mundo é dividido entre o Bem representado pelo “Reino da


Luz”, e o Mal, simbolizado pelo “Reino das Sombras”, ou seja, um eterno combate
entre Deus e o Diabo.

Para os maniqueístas, toda natureza e essencialmente perversa e má, enquanto que a


bondade se encontra intrinsecamente presente no espírito e no mundo espiritual.

2 – O Maniqueísmo como religião

O maniqueísmo, como religião, também era formado a partir do sincretismo, pois


maniqueu teria misturado características próprias de várias doutrinas, como o
hinduísmo, budismo, judaísmo, cristianismo e zoroastrismo (antiga religião persa) para
desenvolver o conceito de maniqueísmo.

Devido à definição dualista que caracteriza o maniqueísmo, por extensão este termo
também é utilizado para adjetivar qualquer perspectiva de mundo que haja uma
divisão entre aspectos opostos e incompatíveis.

Muitas pessoas consideram o modelo maniqueísta muito simplista, pois se limita em


dividir todas as coisas em apenas dois opostos: “o bem e o mal”, “o certo e o errado”, “a
causa e o efeito”, “isso ou aquilo”, e etc., por exemplo, acreditar que uma pessoa boa
sempre será má é uma demonstração de pensamento maniqueísta.

3 – Maniqueísmo Político

O maniqueísmo político está muito presente nas “competições” entre partidos e


políticos durante as eleições, por exemplo:

“Consiste na oposição entre os pensamentos de rivais políticos, que buscam


“demonizar” a imagem do oponente e “santificar” os seus próprios argumentos, mesmo
que caiam em contradições, ocasionalmente.”

4 – Maniqueísmo e Cristianismo

As ideias disseminadas pelo maniqueísmo eram consideradas uma heresia cristã para o
Cristianismo. No entanto, após se converte definitivamente ao Cristianismo, tornou-se
um dos principais opositores desta filosofia religiosa.

Porém, alguns pesquisadores e teólogos acreditam que algumas das premissas do


maniqueísmo tenham sido levadas para o pensamento Cristão Ocidental por Agostinho
de Hipona.
327

77 – MARXISMO

(Veja tópicos 03, 66, 68 e 98 sobre materialismo, liberalismo, socialismo, absolutismo).

1 – Introdução:

Doutrina econômica e filosófica iniciada por Marx e Engels (Séc. XIX); contrapõe-se ao
liberalismo, faz a crítica do Estado burguês. A teoria marxista tem como fundamento o
materialismo histórico e dialético.

As revoluções burguesas do século XVIII se encontravam, no início do século XIX,


ameaçadas pelas forças conservadoras do feudalismo em decomposição, representadas
pela nobreza e pelo clero, ansiosas para restaurar o absolutismo e excluir a burguesia do
poder político. As forças revolucionárias eram representadas pela burguesia e pelo
crescente proletariado, ambos descontentes com a situação socioeconômica. O embate
dessas forças se fez sentir em 1830 e 1848, nos grandes movimentos liberais e nacionais
que, iniciados na França, se estenderam pela Bélgica, Polônia, Alemanha, Itália,
Portugal e Espanha.

2 – Desenvolvimento histórico:

A partir de 1848, o proletariado procura a expressão de sua própria ideologia, oposta ao


pensamento liberal e inspirada de início no socialismo utópico. Começa a ficar mais
clara a cisão entre as duas classes, cuja contradição será explicitada pelas teorias que
criticam o liberalismo.

A Alemanha ainda se encontra dividida em diversos Estados, e a unificação se dará


apenas em 1871, sob o comando de Bismarck, primeiro-ministro da Prússia. Para tanto
foram necessárias três guerras e muitas táticas de unificação econômica.

Foi, portanto, numa Alemanha agitada e cheia de problemas que surgiu o marxismo, na
verdade, essa obra é fruto não só de Karl Marx (1818-1883), mas também de seu amigo
Friedrich Engels (1820-1895), que, além da colaboração ideológica, era industrial e
pôde, por diversas vezes, ajudar Marx financeiramente nos momentos mais críticos.

Escreveram juntos Manifesto comunista (1848) e A ideologia alemã. Entre outras


obras, Marx escreveu: O 18 Brumário de Luis Bonaparte, Contribuição à crítica da
economia política, O capital. Engels escreveu: Anti-Dühring, A dialética da natureza, A
origem da família, da propriedade privada e do Estado, entre outras.

Marx e Engels formulam suas ideias a partir da realidade social por eles observada: de
um lado, o avanço técnico, o aumento do poder do homem sobre a natureza, o
enriquecimento e o progresso; de outro, e contraditoriamente, a escravidão crescente da
328

classe operária, cada vez mais empobrecida. (Para a elaboração da doutrina, partem da
leitura dos economistas ingleses Adam Smith e David Ricardo), da filosofia de Hegel (o
conceito de dialética e uma nova concepção de história) e dos filósofos do socialismo
utópico):

1. Materialismo Histórico (veja item abaixo)


2. Materialismo Dialético (veja item abaixo)
3. Materialismo Mecânico (veja item abaixo)

3 – A Filosofia da Práxis:

Ao analisar o ser social do homem, Marx desenvolve uma nova antropologia, segundo a
qual não existe uma “natureza humana” idêntica em todo tempo e lugar. Para ele, o
existir humano decorre do agir, pois o homem se autoproduz à medida que transforma a
natureza pelo trabalho. Sendo o trabalho uma ação coletiva, a condição humana depende
da existência social. Por outro lado, o trabalho é um projeto humano e como tal depende
da consciência que antecipa a ação pelo pensamento. Com isto, se estabelece a dialética
homem-natureza e pensar-agir.

Marx chama de práxis à ação humana de transformar a realidade. Nesse sentido, o


conceito de práxis não se identifica propriamente com a prática, mas significa a união
dialética da teoria e da prática. Isto é, ao mesmo tempo em que a consciência é
determinada pelo modo como os homens produzem a sua existência, também a ação
humana é projetada, refletida, consciente. Por isso, a filosofia marxista é também
conhecida como filosofia da práxis.

4 – As Diversas Faces do Marxismo

Lênin e depois Stálin elaboraram o marxismo-leninismo, que se tornou a ideologia


oficial do partido único na URSS e de todos os partidos europeus que aspiravam à
revolução. No entanto, a situação histórica dos diversos países exigia dos intelectuais
um esforço de adaptação e correção da teoria marxista, de modo que nunca for
tranquilamente aceita a chamada “ideologia oficial”.

Com o fechamento do regime na era stalinista, a perseguição aos defensores de teorias


heterodoxas costumava culminar com a eliminação dos dissidentes, tal como ocorreu
com Bukhárin e Trótski.

Leon Trótski (1879-1940) foi companheiro de Lênin nas lutas de outubro de 1917.
Defendeu a “revolução permanente”, que significa o prolongamento da luta de classes
em escala nacional e internacional, o que deveria gerar inevitavelmente a guerra civil
interna e a guerra revolucionária externa. Partindo do princípio de que o mundo
capitalista exerce influência perniciosa sobre os países que pretendem implantar o
329

socialismo, Trótski pregava a necessidade de expansão da revolução mundial. Essa


posição foi combatida por Stálin, seu mais ferrenho inimigo, que defendia a tese do
“socialismo num só país”. Trótski, perseguido, refugia-se no México, onde foi
assassinado por um stalinista em 1940.

4.1 – A social-democracia

O enfrentamentto das dificuldades decorrentes da depressão econômica que atingia toda


a Europa, no final do século XIX, fez com que a Segunda Internacional, iniciada em
1889, tivesse características diferentes da anterior. Menos “internacional”, favoreceu a
organização relativamente autônoma dos grupos socialistas dos diversos países,
atendendo às peculiaridades nacionais.

Desse forma, na Alemanha predominou a ideologia do Partido Social Democrata


Alemão, inspirador da social-democracia. Os principais teóricos dessa tendência são:
Eduard Bernstein (1850-1932) e Karl Kaustsky 1854-1938).

Apesar de divergirem em vários pontos, os social-democratas concordam em recusar a


via revolucionária para a implantação do socialismo, e buscam mecanismos legais
democrático-parlamentares que levem, numa lenta evolução orgânica, à superação do
capitalismo. Recusam, portanto a violencia e não querem separar socialismo e
democracia.

Varias medidas são tomadas para a conquista de direitos sociais, como legislação de
proteção ao trabalhador, direito de associação, criação de inúmeras cooperativas de
consumo e ampla divulgação das ideias socialistas por jornais, revistas, teatro etc. o
resultado desses esforços significou conquistas reais para os operários. Até 1914, o
fortalecimento do movimento sindical na Alemanha tornou possível a colaboração
permanente entre Estado, empresas e classe trabalhadora.

A social democracia não se confunde com o liberalismo social, pois o Estado de bem
estar social é anti-socialista e pretende manter o capitalismo, ao passo que a
socialdemocracia visa em última instância a superação do capitalismo e a implantação
do socialismo.

A social-democracia sofreu inúmeras críticas. Do ponto de vista econômico, porque a


elevada carga fiscal desestimula os investimentos e leva a economia a impasses. Do
ponto de vista social, há a alegação de que o Estado nem sempre consegue atender aos
inúmeros encargos assumidos nem conter o aumento pernicioso do aparelho
burocrático. Do ponto de vista ideológico, a social-democracia sofre acusações dos
liberais, já que estes criticam o socialismo, e dos próprios socialistas, que a acusam de
viver bem demais com o capitalismo, sem conseguir superá-lo.

4.2 – A esquerda da social-democracia

Rosa Luxemburgo (1870-1919) e Karl Liebknecht (1871-1919) representam a ala mais


radical da social-democracia alemã. Discordam daqueles que deram seu aval à
330

participação da Alemanha na Primeira Guerra Mundial e criticam os revisionistas com


Bernstein, retomando a perspectiva revolucionária como formo de destruição do
capitalismo. Rosa Luxemburgo defendia a tese da espontaneidade das massas e criticava
o partido único, cuja consequencia é o governo ditatorial de uma minoria. Alertou
severamente sobre os perigos da burocracia.

Ajudou na formação da Liga Esparta-quista (o nome Espártaco lembra o escravo


revoltado que desafiou o governo de Roma no ano 71 da nossa era) e fundou o Partido
Comunista Alemão.

Em 1919, Rosa e Liebknecht são fuzilados. Na década de 30, a cisão entre o Partido
Comunista Alemão e a Social-democracia será uma das causas da ascensão de Hitler ao
poder.

4.3 – A mais Importante Personalidade Italiana

Antonio Gramsci (1891-1937) foi um dos mais importantes teóricos italianos, preso
durante onze anos pela ditadura fascista. Mesmo no cárcere, onde ficou até a morte,
escreveu muito, enfatizando a crítica ao dogmatismo do marxismo oficial, que, ao
petrificar a teoria, impedia a prática revolucionária. Suas principais obras são concepção
dialética da história, os intelectuais e a organização da cultura, Literatura e vida
nacional, cadernos do cárcere.

Gramsci preocupa-se com o economicismo do marxismo tradicional expresso na


interpretação rígida da relação entre infraestrutura e superestrutura. Sem abandonar o
materialismo histórico dialético, torna mais flexível a relação entre o econômico e o
ideológico-político quando analisa o papel dos intelectuais.

Sua contribuição teórica está, sobretudo, em ter compreendido que o Estado capitalista
não se impõe apenas pela coerção e violência explícita, mas também por consenso, por
persuasão. Ou seja, por meio das instituições da sociedade civil, como Igreja, escola,
partidos políticos, imprensa, a ideologia da classe dominante é difundida e preservada.

Gramsci usa o conceito de hegemonia para explicar o processo. Etimologicamente, essa


palavra significa “dirigir, guiar, conduzir”. Uma classe é hegemônica quando é capaz de
elaborar sua própria visão de mundo, ou seja, um sistema convincente de ideias pelas
quais conquista a adesão até da classe dominada. A tarefa de elaboração cabe aos
chamados intelectuais orgânicos.

É dessa forma que também se impede a tomada de consciência da classe dominada. Não
tendo sua própria consciência de classe, permanece desorganizada e passiva, e as
eventuais rebeliões não modificam a situação de dependência. Por isso Gramsci
considera a necessidade de os elementos das classes populares continuarem
organicamente ligados à sua classe de forma a elaborarem, coerente e criticamente, a
experiência proletária por meio dos seus próprios intelectuais orgânicos. Só assim será
possível a unificação da teoria com a prática, ou seja, da ação revolucionária com a
transformação intelectual.
331

Gramsci abriu caminho para posteriores reflexões de Nicos Poulantzas e de Louis


Althusser, este último o teórico do conceito de aparelhos ideológicos de Estado.

4.4 – A Teoria Crítica da Sociedade

A escola de Frankfurt surgiu na Alemanha em 1925, representada por Max Horkheimer,


Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamin, Erich Fromm e Jürgen Habermas.
Foi responsável pela formulação da chamada teoria crítica da sociedade. Os principais
temas dessa reflexão de natureza sociológico-filosófica são: a autoridade, o
autoritarismo, o totalitarismo, a família, a cultura de massa. O papel da ciência e da
técnica, a liberdade. Embora o ponto de partida seja marxista, os diversos autores
repesam esses temas de formas diferentes, muitas vezes se afastando da ortodoxia
marxista.

Os frankfurtianos elaboram a teoria critica da sociedade em oposição ao que chama de


teoria tradicional, significando esta última a herança da teoria marxista bem como as
diversas interpretações desse pensamento.

Uma das críticas feitas se refere ao dogmatismo dos leninistas e stalinistas quando
desenvolvem uma concepção naturalista da história, segundo a qual a evolução dos
fatos históricos marcha inexoravelmente em direção à sociedade sem classes. Trata-se
de uma concepção determinista e evolucionista típica do positivismo predominante no
final do século XIX.

Segundo a concepção naturalista, o desenvolvimento capitalista produziria de forma


irreversível a alienação e pauperização crescente da classe operária e a agudização da
crise resultaria na revolução e na vitória inevitável do socialismo. Resulta daí a noção
de progresso e da inevitabilidade da violência. Reconhece-se na evolução progressiva a
passagem de um estádio “inferior” para outro necessariamente “melhor” do que o
anterior. E a violência é considerada elemento necessário e constitutivo do progresso: a
revolução é a “locomotiva da história”, fator de evolução.

Os frankfurtianos recusam a noção de progresso e condenam a violência. Mas


compreendem que esta “lógica” já estava embutida na noção de razão construída desde
a Idade Moderna por Descartes. A exaltação da razão que culmina no positivismo oculta
o lado escuro da razão responsável pela opressão e desumanização. Analisando as
sociedades tecnocráticas, altamente tecnicizadas e “racionalizadas”, a Escola de
Frankfurt denuncia a perda da autonomia do sujeito, docilizado tanto pela sociedade
industrial totalmente administrada como pelas extremas regressões à barbárie
representada pelos Estados totalitários.

No processo de recuperação da razão, os frankfurtianos reformulam o conceito de


indivíduo, reivindicando a autonomia e o direito à felicidade. Nesse sentido dizem
“não” ao sacrifício individual das gerações presentes às gerações futuras e criticam o
revolucionário “tagarela” que exalta o sofrimento do povo, ao mesmo tempo em que o
332

submete a mais cruel opressão, como é o caso de Robespierre e de todos os


revolucionários contraditoriamente “democráticos”.

78 – MATERIALISMO

Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social, que
universalmente determina a sua consciência.

(Marx)

1 – Materialismo Antigo

Na Escola de Mileto já se pesquisava o elemento material que estivesse em toda a


substância do universo. Os fenômenos eram explicados a partir da observação da
realidade, ou seja, da matéria. Procurava-se o componente original de todos os
fenômenos da natureza. O materialismo dos Jônios não deve ser entendido a partir dos
nossos critérios de hoje. Bornheim adverte que “a palavra physis designa outra coisa
que o nosso conceito de natureza. Vale dizer que na base do conceito de physis não está
a nossa experiência da natureza, pois a physis possibilita ao homem uma experiência
totalmente outra que não a que nós temos frente à natureza”. (os filósofos Pré-socrátios,
p.14).

Tales (624-562 aC.) percebeu que todos os organismos contêm água. É considerado o
primeiro dos sete sábios da Grécia.

Anaximandro (610-546 aC.) anunciou que o princípio universal é o ápeiron – o


indeterminado, que não impressiona os sentidos e só é conhecido pela razão. Declarava
que essa substância “não gerada e imperecível contem e dirige todas as coisas”.

Anaxímenes (585-528 aC.) constatou que o ar é a substância universal.

Heráclito ( ) iniciou com a visão dialética da natureza. Declarou que a permanência é


uma ilusão. Somente a mudança é real. O universo se encontra em fluxo constante. A
luta é a lei do universo. Afirmou que é o fogo, eternamente vivo, que produz tudo o que
existe. Sua filosofia da mobilidade foi muito bem expressa com esta declaração: “A
mesma pessoa não pode banhar-se duas vezes na mesma água corrente do rio”. Em
verdade, tanto a pessoa quanto o rio mudam – entre um banho e outro!

Aristóteles ( ) desenvolveu a doutrina da realidade objetiva. Matéria e forma interagem.


A matéria não é só passiva, e não é um obstáculo à forma. A matéria é o elemento que
permite à forma concretizar-se num composto. A matéria prima não possui ainda
determinação pela forma. A matéria segunda é aquela que já recebeu características
específicas. O exemplo é o mármore que se torna a estátua.
333

Francis Bacon ( ) empirista inglês, onde despontou, é denominado de materialismo


clássico. O empirismo se empenhou por uma ciência baseada no método experimental
(formulado por Bacon). Foram valorizadas a observação e a aplicação prática da
ciência.

O empirismo provoca uma ruptura radical com a tradição da metafísica aristotélica e


platônica. Com o empirismo já não há metafísica, nenhuma transcendência e nenhuma
verdade eterna. O empirismo ressalta que só a experiência determina a verdade. Mas, a
experiência nunca se esgota, pois o universo se encontra em permanente processo.
Portanto, não pode haver verdades eternas e transcendentais.

Thomas Hobbes (1588-1679) valorizou a exatidão científica. Negou o dualismo de


Descartes e reduziu a realidade a um materialismo monista. Desenvolveu uma
antropologia naturalista e uma doutrina da soberania absoluta do Estado. A natureza é a
guerra de todos contra todos. É a ideologia da força e do individualismo da sofística.

John Locke (1632-1704) é considerado o verdadeiro fundador do empirismo inglês. O


Estado nasce da vontade dos indivíduos, é o resultado de um contrato social.
Posicionou-se contra o absolutismo da monarquia e o poder de origem divina. “quem
não quiser se equivocar deve construir sua hipótese, derivada da experiência sensível,
sobre um fato, e não supor um fato devido a essa hipótese.”

David Hume (1711-1776) rompeu definitivamente com a metafísica tradicional. Levou


o positivismo a todas as suas consequências. Os estoicos consideravam a filosofia a
ciência das questões transcendentais. Hume entendeu que a filosofia é “a ciência da
natureza humana”. Com seu psicologismo, Hume reduziu a verdade ao homem e aos
seus sentimentos subjetivos.

2 – Materialismo Histórico

O materialismo histórico não é mais do que a aplicação dos princípios do materialismo


dialético ao campo da história. E, como o próprio nome indica, é a explicação da
história por fatores materiais, ou seja, econômicos e técnicos.

Marx inverte o processo do senso comum que pretende explicar a história pela ação dos
“grandes homens”, ou, às vezes, até pela intervenção divina. Para o marxismo, no lugar
das ideias, estão os fatos materiais; no lugar dos heróis, a luta de classes.

Em outras palavras, o que Marx explicitou foi que, embora possamos tentar
compreender e definir o homem pela consciência, pela linguagem, pela religião, o que
fundamentalmente o caracteriza é a forma pela qual reproduz suas condições de
existência.

Portanto, para Marx, a sociedade se estrutura em níveis. O primeiro nível, chamado de


infraestrutura, constitui a base econômica (que é determinante, segundo a concepção
334

materialista). Engloba as relações do homem com a natureza, no esforço de produzir a


própria existência, e as relações dos homens entre si. Ou seja, as relações entre os
proprietários e não proprietários, e entre os não proprietários e os meios e objetos do
trabalho.

O segundo nível, político-ideológico, é chamado de superestrutura. É constituído:

a) Pela estrutura, jurídico-política, representada pelo Estado e pelo direito: segundo


Marx, a relação de exploração de classe no nível econômico repercute na relação
de dominação política, estando o Estado a serviço da classe dominante;

b) Pela estrutura ideológica referente às formas da consciência social, tais como a


religião, as leis, a educação, a literatura, a filosofia, a ciência, a arte etc. também
nesse caso ocorre à sujeição ideológica da classe dominante, cuja cultura e modo
de vida refletem as ideias e os valores da classe dominante.

Vamos exemplificar como a infraestrutura determina a superestrutura, comparando


valores de dois diferentes períodos da história.

A moral medieval valoriza a coragem e a ociosidade da nobreza ocupada com a guerra,


bem como a fidelidade, que é a base do sistema de suserania e vassalagem; do pondo de
vista do direito, num mundo cuja riqueza é a posse de terras, considera-se ilegal (e
imoral) o empréstimo a juros. Já na Idade Moderna, com o advento da burguesia, o
trabalho é valorizado e, consequentemente, critica-se a ociosidade; também ocorre a
legalização do sistema bancário, o que exige a revisão das restrições morais aos
empréstimos. A religião protestante confirma os novos valores por meio da doutrina da
predestinação, considerando o enriquecimento um sinal da escolha divina.

Conforme os exemplos, as manifestações da superestrutura (no caso, moral e direito)


são determinadas pelas alterações da infraestrutura decorrentes da passagem econômica
do sistema feudal para o capitalista.

Portanto, para estudar a sociedade não se deve, segundo Marx, partir do que os homens
dizem, imaginam ou pensam, e sim da forma como produzem os bens materiais
necessários à sua vida. Analisando o contato que os homens estabelecem com a natureza
para transformá-la por meio do trabalho e as relações entre si é que se descobre como
eles produzem sua vida e suas ideias.

No entanto, essas determinações não podem nos fazer esquecer-se do caráter dialético
de toda determinação: ao tomar conhecimento das contradições, o homem pode agir
ativamente sobre aquilo que o determina.
335

3 – Materialismo Dialético

A teoria marxista compõe-se de uma teoria científica, o materialismo histórico e de uma


filosofia, o materialismo dialético.

Para os materialistas, a história da filosofia tem longa tradição idealista, pressuposta até
nas teorias em que o idealismo não transparece num primeiro momento, culminando
com o pensamento de Hegel, no século XIX. Para esse filósofo, é a própria razão que
faz o tecido do real, e a ideia não é uma criação subjetiva do sujeito, mas a própria
realidade objetiva, donde tudo procede.

Para o materialismo, a matéria é o dado primário, a fonte da consciência, e esta é um


dado secundário, derivado, pois é reflexo da matéria.

No entanto, é preciso distinguir o materialismo marxista, que é dialético, do


materialismo anterior a ele, conhecido como materialismo mecanicista ou “vulgar”.
Enquanto o materialismo mecanicista parte da constatação de um mundo composto de
coisas e, em última análise, de partículas materiais que se combina de forma inerte, o
materialismo dialético considera que os fenômenos materiais são processos. Além disso,
segundo o materialismo dialético, o espírito não é consequência passiva da ação da
matéria, podendo reagir sobre aquilo que o determina. Ou seja, o conhecimento do
determinismo liberta o homem por meio da ação desde sobre o mundo, possibilitando
inclusive a ação revolucionária.

4 – Materialismo Mecanicista

Ludwig Feuerbach (1804-1872) contesta Hegel e diz que o mundo não é produto do
espírito. Afirma que o verdadeiro conhecimento é o conhecimento das coisas materiais e
sensíveis. O mundo não depende do movimento das ideias. Sua tese é ateísta: o homem
projetou Deus à sua imagem e semelhança. Ao adorar esse Deus forjado por suas
angústias, o homem religioso se despersonaliza e se aliena, pois não mais se pertence.

“A religião é o ato pelo qual o homem se separa a si mesmo e no qual ele contempla a
sua natureza latente” (A Essência do Cristianismo).

“O cristianismo, na realidade, já desapareceu há muito tempo não apenas da razão mas


da própria vida da humanidade. [...] Ele nada mais é que um ideia fixa, num flagrante
contradição com nossas companhias de seguro de seguro de vida ou seguro contra fogo,
nossas estradas de ferro... nossas galerias de pintura e escultura, nossas escolas militares
e de engenharia, nossos teatros e museus científicos”.

“O que o homem declara acerca de Deus, ele na realidade afirma acerca de si mesmo”.

“A religião é um sonho da mente humana. Mas mesmo nos sonhos não nos encontramos
no vazio ou nos céus, mas na terra, na esfera da realidade.” Feuerbach também observa
336

que através da religião “vemos as coisas reais no esplendor mágico da imaginação... ao


invés de vê-las sob a simples luz diurna da realidade e da necessidade”.

“Deus é o diário onde o homem registra os seus mais altos pensamentos e sentimentos,
o álbum genealógico onde inscreve o nome das coisas que lhe são mais caras e
sagradas”.

Feuerbach conclui que “teologia é antropologia. “o ateísmo é o segredo da própria


religião”.

“Feuerbach foi uma estranha combinação”. Religioso e ateu ao mesmo tempo. Para
nossos hábitos mentais aqui estão duas atitudes que se excluem. Para ele, ao contrário,
são atitudes que se pressupõem: ateu porque religioso.

“O homem, diz-nos ele, é um ser dividido. É isto que o distingue dos animais. Dividido
por não ajustar-se às condições concretas em que se encontra lançado. Conflito
permanente entre essência e existência. Por isto transcende-se. E este transcender-se se
expressa em sua vida mental. O homem, diferentemente dos animais, não é apenas um
duplicador de dados. O homem projeta, cria imagens que não correspondem aos fatos
do mundo exterior. Que é o que é assim projetado? O que ele vê? Ele projeta o que
existem reprimidos e latentes em sua própria natureza, suas potencialidades não
realizadas em sua experiência histórica. Feuerbach se coloca desta forma em radical
oposição ao positivismo que identifica o real com os objetos oferecidos à contemplação,
e que necessariamente reduz a imaginação a uma função alienante. O homem pensa o
seu real não através de um ato de conformação às duas condições. Isto é o que
caracteriza os brutos: sua incapacidade para transcender. O homem, ao contrário,
expresso a sua humanidade no ato pelo qual suas funções psíquicas colocam diante dele
mesmo a sua essência, negadas pelas condições da existência. É isto que é a religião”.
(Rubem Alves, O Enigma da Religião, p. 33 e 34).

79 – MECANICISMO

1 – Definição:

A Ciência moderna compara a natureza e o próprio homem a uma máquina, um


conjunto de mecanismos cujas leis precisam ser descobertas. As explicações são
baseadas em um esquema mecânico cujo modelo preferido é o relógio.

Ficam excluídas da ciência todas as considerações a respeito do valor, da perfeição, do


sentido e do fim. Isto é, as causas formais e finais, tão caras à filosofias antiga, não
servem para explicar: apenas as causas eficientes são utilizadas nas explicações
científicas.
337

2 – Tipos de Mecanicismo:

1 – mecanicismo.

Com Isaac Newton (1642-1727) floresceu plenamente a revolução do pensamento no


campo da investigação da natureza, aliando-se de maneira definitiva a matematização da
natureza à experimentação. O mundo passou a ser visto como uma grande máquina
cujas partes poderiam ser conhecidas por meio da observação, da elaboração de
hipóteses e da realização de experiências para confirma-las.

Entre as principais características desse mecanismo natural gigante – ou sistema mundo,


conforme Newton – estaria à uniformidade e a simplicidade:

Não se hão de admitir mais causas das coisas


naturais do que as que sejam verdadeiras e,
ao mesmo tempo, bastem para explicar os
fenômenos de tudo.
A natureza, com efeito, é simples e não se
serve de luxo de causas supérfluas das coisas.

(Princípios matemáticos da filosofia natural, p. 18)

Essa regra, fundamental nas ciências naturais até nossos dias, é uma reelaboração do
princípio da parcimônia, formulado antes por Guilherme de Ockham (1280-1349) e
que se resume na seguinte máxima: é tolice fazer com mais o que se pode fazer com
menos. Em outras palavras, deve-se preferir a explicação mais simples em lugar de uma
mais complexa sempre que a primeira seja capaz da abranger o maior número de casos
relacionados a um determinado fenômeno. Nada mais distinto das múltiplas causas de
Aristóteles. Esse princípio ficou também conhecido com navalha de Ockham.

2 – materialismo x idealismo.

Nesse breve resumo histórico que fizemos você pode perceber que, desde a
Antiguidade, uma gama profusamente variada de concepções sobre a origem, estrutura e
organização da realidade foi formulada por profetas, sábios, filósofos e cientistas de
todas as partes, constituindo distintas visões de mundo. E a visão que as pessoas têm da
realidade influi no que elas pensam, sentem e fazem.

Analisando essas distintas cosmovisões empregando o ponto de vista ontológico,


especialmente em relação às teorias filosóficas da realidade. Perceberá que de modo
geral, em cada uma delas há um aspecto ou princípio do real mais enfatizado que outro.
Os aspectos mais considerados e problematizados são habitualmente matéria (ou algum
principio material) e espírito (ou algum principio imaterial). Por isso, boa parte das
concepções sobre o real costuma ser enquadrada em uma destas duas categorias.
338

2.1 – Há Duas Classes de Materialismo

a) Materialista.

b) Idealista.

 Materialista ou fisicalista – doutrina que concebe, implícita ou explicitamente,


a matéria (ou algum princípio físico, com átomo ou energia) como realidade
primeira e fundamental de tudo o que existe, sendo possível, a partir dela,
explicar fenômenos naturais e mentais, até mesmo sociais. O materialismo
moderno serve-se com frequência do mecanicismo, isto é, da noção de que os
fenômenos se explicam por um conjunto de causas mecânicas, que envolvem
forças e movimentos. Existem vários tipos de materialismo.

 Idealista – toda doutrina que concebe, implícita ou explicitamente, o


pensamento, a ideia ou algum principio imaterial como realidade primeira e
fundamental de tudo o que existe, ou com realidade independente e distinta da
matéria, mas tendo precedência sobre esta. Essa concepção também pode ser
qualificada como espiritualista ou imaterialista, conforme o caso. Há vários
tipos de idealismo.

2.2 – há três categorias de idealismo:

Por outro lado, como nem todas as teorias sobre o mundo advogaram a existência de
apenas um principio fundamental, elas também costumam ser distinguidas em três
categorias:

a) Monismo – doutrina que considera que tudo o que existe pode ser reduzido
(convertido, simplificado) a um princípio único ou realidade fundamental (a
palavra monismo deriva do grego “monos”, que significa “único, isolado”). Por
exemplo: a matéria (monismo materialista), a mente ou o espírito (monismo
idealista ou espiritualista) ou qualquer outra entidade. As explicações monistas
tendem a compor grandes sistemas, em que todas as esferas da existência
estariam interligadas pelo principio fundamental;

b) Dualismo – doutrina que defende a existência de dois princípios primeiros (ou


substancias fundamentais) no universo, irredutíveis entre si (isto é, um não pode
ser convertido ou fundamentado no outro). Existem vários tipos de dualismo,
mas geralmente o termo refere-se à contraposição mente-corpo, espirito-matéria;

c) Pluralismo – doutrina que concebe o universo composto de uma multiplicidade


de entidades ou substancias individuais e independentes, opondo-se
principalmente à ideia de realidade fundamental única do monismo. As
339

explicações pluralistas tendem a compor cenários mais abertos, incompletos ou


indeterminados da realidade.

As teorias dos primeiros pensadores pré-socráticos são exemplos claros de


monismo, pois propõem a existência de um principio fundamental para tudo o
que existe: água, ar, fogo etc.
Platão costuma ser considerado um dualista por conceber duas realidades
distintas e separadas (o mundo sensível e o mundo inteligível). O mesmo se
pode dizer de Aristóteles, mas seu dualismo seria “moderado”, tendo em conta
que supôs dois princípios inseparáveis (matéria e forma), constituindo a unidade
do real.

3 – mecanicismo e determinismo.

3.1 – Dualismo Cartesiano

Durante o século XVII, época do chamado grande racionalismo, Descartes concebeu


uma metafísica de muita influência até nossos dias. Trata-se da concepção de mundo
que separa radicalmente matéria e espírito, ou corpo e mente conhecida como
dualismo cartesiano.

Com vimos, o filósofo francês decidiu romper com a herança cultural do passado
(aristotélico-tomista) quando definiu que precisava “começar tudo desde os
fundamentos, se quisesse estabelecer algo firme e de constante nas ciências”. Para
alcançar esse objetivo, empregou o método da dúvida e chegou a questionar até mesmo
o que parecia mais indubitável: a existência do mundo e de si mesmo. Ele buscava,
desse modo, chegar a uma primeira certeza, que atuaria como um novo centro ou ponto
fixo a partir do qual construiria toda a sua filosofia.

Você deve lembrar que a primeira certeza que Descartes alcançou em sua dúvida
metódica foi o cogito, isto é, o “Penso, logo existo”. Portanto, ele sabia que existia
como “coisa pensante”. A partir daí, tratou de alcançar outras certezas. Primeiro,
precisou provar a existência de Deus, para depois demonstrar como se podia conhecer o
mundo exterior. Nessa tarefa, foi construindo sua teoria da realidade, que ficou
estruturada em três classes de substâncias ou coisas (que em latim se diz):

a) Substância infinita (res infinita), cuja propriedade essencial é a infinitude;


trata-se de Deus, ser que criou todas as coisas;

b) Substância pensante (res cogitans), ativa, cuja propriedade essencial é o


entendimento; corresponde à esfera do eu (ou consciência), entendido com
sujeito de toda atividade do intelecto;
340

c) Substância extensa (res extensa), passiva, cuja propriedade essencial é a


extensão no espaço (comprimento, largura e profundidade), com formas e
movimento; trata-se do mundo corpóreo, material.

O dualismo cartesiano deu origem ao mito do “fantasma na máquina” – expressão


cunhada pelo filósofo britânico Gilbert Ryle (1900-1976), isto é, a ideia de que existe
uma mente que funciona paralelamente a um corpo, sem que se saiba como se dá sua
interação.

No entanto, coincidindo com a doutrina católica, o Deus cartesiano é transcendente


(encontra-se fora, separado de sua criação). Desse modo, no mundo existiriam apenas as
duas substâncias finitas (res cogitans e res extensa), essencialmente distintas e
separadas. Daí o conhecido dualismo da metafísica cartesiana.

3.2 – Mecanismo e determinismo natural.

A res cogitans seria exclusivamente humana. Portanto, todo o mundo exterior ao


pensamento – os objetos corpóreos, a natureza – consistiria apenas em substância
extensa, e esta, para Descartes, é incapaz de ação. Por causa dessa passividade, os
corpos só se movem quando acionados por outro agente (ou causa eficiente), de forma
mecânica. Assim, o mundo material é concebido pelo filósofo com uma grande
máquina que recebeu seu primeiro impulso de Deus. E essa quantidade de movimento,
imprimida pela substância infinita, permaneceria indefinidamente constante.

Mesmo os animais são comparáveis com máquinas, para o filósofo. Segundo sua
argumentação, apesar de, muitas vezes, alguns deles serem capazes de ações de que os
humanos não são. Isso nada prova além de que esses animais têm uma natureza “muito
bem disposta”. O mesmo ocorre com o relógio, cujo mecanismo preciso o torna capaz
de contar melhor as horas do que nós.

3.3 – Separação mente-corpo.

O ser humano, por sua vez, seria composto de corpo e alma (res extensa e res
cogitans). Nosso corpo, como todos os corpos, estariam submetido às leis mecânicas
naturais, de causa e efeito, pré-determinadas. Nossa alma teria as faculdades do
entendimento e da vontade, o que nos conferiria a capacidade de iniciativa própria e de
liberdade. A alma, desse modo, teria a propriedade de interagir com o corpo e comandá-
lo.

Essa concepção trouxe dificuldades para Descartes, já que, segundo sua própria
concepção, essas duas substâncias seriam radicalmente distintas e separadas. Surgiu,
assim, a seguinte questão: como se relacionaria a mente com o corpo, tendo em vista
que, de acordo com a teoria cartesiana, um corpo só poderia ser movido por outro corpo
contíguo no espaço, mas a alma não é um corpo, uma substância extensa?

Descartes supôs que alma estivesse sediada em um pequena glândula localizada no meio
do cérebro e que, por meio dela, se comunicaria com o corpo. Mas como se relacionaria
341

a alma com essa glândula? Desse modo, a concepção dualista do ser humano – e o que
dela resulta: a questão sobre a relação entre o corpo e a alma – tornou-se um problema
filosófico clássico (para não dizer, também, científico), discutido por seus
contemporâneos e herdado pela posteridade. A tendência seria a volta ao monismo
ontológico, seja materialista, seja idealista ou espiritualista.

4 – materialismo mecanicista.

Entre os que criticaram o dualismo cartesiano encontra-se o inglês Thomas Hobbes


(1588-1679). Contemporâneo de Descartes e leitor de suas obras, Hobbes discordava da
ideia de que a realidade pudesse estar constituída de duas substancias, bem como de que
o pensamento fosse uma delas. Para ele, nada era imaterial, de tal forma que
desenvolveu uma concepção metafísica totalmente materialista.

4.1 – Tudo é Corpo.

Analisando as Meditações metafísicas de Descartes, Hobbes aceitou que da proposição


“penso” se devia deduzir “existo”, mas discordava da concepção de que o pensar fosse
evidêcia de uma realidade separada e distinta do corpo, da existência de uma substância
espiritual. É o que expressa a Descartes em uma de suas objeções:

[...] não podemos conceber qualquer ato sem


um sujeito, assim também não podemos
conceber o pensamento sem uma coisa que
pense, a ciencia sem uma coisa que saiba,
e o passeio sem um coisa que passeie. [De
onde se segue] que uma coisa que pensa é
alguma coisa de corporal. (citado em Mon-
teiro, Vida e obra, em Hobbes, p. XI).

Em outras palavras, Hobbes concordava que pensar era uma evidencia de que algo
existia. Mas existia como corpo, pois, para esse filósofo, o que se chama “espirito”
não seria outra coisa senão o resultado do movimento em certos órgãos corporais.

Como explica Hobbes em sua obra sobe o corpo, quando os corpos exteriores
afetam o corpo humano e agitam os sentidos, estes transmitem ao cérebro esse
movimento ou agitação, que é então enviado ao coração. A partir do coração
começaria um movimento inverso, em direção ao exterior, que produziria as
sensações propriamente ditas e, delas, as ideias que constituem o conhecimento.

Note que, para Hobbes, é pela sensação que se inicia todo processo de conhecimento
(concepção que se denomina empirista). As ideias seriam imagens das coisas
impressas na “fantasia corporal”.
342

Assim, a partir das noções de corpo e movimento, o filósofo inglês explicava toda a
realidade. Todos os corpos – incluindo os pensamentos – estariam sujeitos, segundo
ele, aos nexos causais que determinam seus movimentos. Nada se move por si
próprio, seja por uma propensão natural de seguir sua natureza ou essencia (como na
física aristotélica), seja de forma aleatória (e livre). Tudo é movido, no sentido de
que todo movimento é sempre uma reação ou efeito a um agente externo ao corpo
(ou causa).

O mecanicismo que Descartes havia adotado para compreender o mundo exterior (a


res extensa) foi universalizado por Hobbes, abrangendo o material e o que
geralmente se considera espiritual. Todo o real existiria no espaço e seria corpo – ou
corpo em movimento. Até mesmo a vontade humana não seria livre, pois o querer
algo não passaria de uma reação interna a uma ação (ou estímulo) do mundo
externo.

Desse modo, sem lugar para o acaso e a liberdade, o materialismo hobbesiano


caracterizou-se por um profundo determinismo, isto é, pela noção de que todos os
fenômenos – materiais e psíquicos – estão interligados e determinados por relações
profundas de causa e efeito.

80 - MINIMALISMO

Conceito:

Movimento do início dos anos 1960, nos estados unidos, que se caracteriza por criar
obras com um mínimo de recursos. Nas artes plásticas, restringe o uso das cores e
privilegia formas geométricas e sua repetição. Na música, uma obra pode resumir-se a
execução de variações tonais. Destaque para os compositores norte-americanos Philip
glass e Steve reich.

81 – MODERNISMO
(veja tópico sobre capitalismo, realismo, simbolismo, iluminismo).

1 – Introdução:

Para falarmos sobre o modernismo, precisamos rever um pouco de história. Saber o que
foi a Idade Moderna, quando ela iniciou, qual foi a sua origem?

Este período foi aberto com a queda do Império Romano do Oriente, em 1453, e
encerrado com a Revolução Francesa, em 1789. O mais importante marco histórico que
343

deu origem a Idade Moderna foram: O fortalecimento dos Estados Nacionais


monárquicos, expansão marítima e colonial, expansão do mercantilismo, renascimento
cultural e científico, fermentação ideológica do Iluminismo e independência norte-
americana.

A Europa, nos séculos XV e XVI, foi palco de grandes transformações,


convencionalmente consideradas marcos da Modernidade. Na política, ocorreu a
centralização do poder, que acompanhou a formação dos Estados Modernos. Na cultura,
houve o movimento humanista e o renascimento. Na religião, quebrou-se a unidade
cristã com a reforma protestante. Na economia, com o capitalismo nascente, romperam-
se muitas relações feudais. Nesse período, a expansão marítimo-comercial europeia
levou à “descoberta” e conquista de outros continentes, como a América. A expansão
europeia permitiu que esses eventos históricos fossem se articulando numa escala
mundial.

2 – O que é o Modernismo?

O modernismo foi um movimento literário e artístico do início do século XX, cujo


objetivo era o rompimento com o tradicionalismo (parnasianismo, simbolismo e a
arte acadêmica), a libertação estética, a experimentação constante e, principalmente a
independência cultural do país. Apesar da força do movimento literário modernista a
base deste movimento se encontra nas artes plásticas, com destaque para a pintura.

No Brasil, este movimento possui como marco simbólico a Semana da Arte Moderna,
realizada em 1922, na cidade de São Paulo, devido ao Centenário da Independência. No
entanto, devemos lembrar que o modernismo já se mostrava presente muito antes do
movimento de 1922. As primeiras mudanças na cultura Brasileira que tenderam para o
modernismo datam de 1913 com as obras do pintor Lasar Malfatti, recém-chegada da
Europa, provocou uma renovação artística com a exposição de seus quadros. A este
período chamamos de Pré-modernismo (1902-1922), no qual se destacam literalmente,
Lima Barreto, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos. Nesse
período ainda podemos notar certa influência de movimentos anteriores como
Realismo/Naturalismo, parnasianismo e Simbolismo.

A partir de 1922, com a semana da Arte Moderna tem início o que chamamos de
Primeira Fase do Modernismo ou Fase Heroica (1922-1930), esta fase caracteriza-se por
um maior compromisso dos artistas com a renovação estética que se beneficia pelas
estreitas relações com as vanguardas europeias (cubismo, futurismo, surrealismo etc.),
na literatura há a criação de uma forma de linguagem, que rompe com o tradicional,
transformando a forma como até então, se escrevia; algumas dessas mudanças são: a
liberdade formal (utilização do verso livre, quase abandono das formas fixas – como o
soneto, a fala coloquial, ausência de pontuação etc.), a valorização do cotidiano, a
reescrita de textos do passado, e diversas outras; este período caracteriza-se também
344

pela formação de grupos do movimento. Pau-Brasil, Antropólogo, Verde-Amarelo,


grupo de Porte Alegre e Grupo Modernista – Regionalista de Recife.

Na década de 30, temos o início do período conhecido como segunda Fase do


Modernismo ou Fase de Consolidação (1930-1945). Que é caracterizado pelo
predomínio da prosa de ficção. A partir deste período, os ideais difundidos em 1922 se
espalham e se normalizam os esforços anteriores; para redefinir a linguagem artística se
une a um forte interesse pelas temáticas nacionalistas, percebe-se um amadurecimento
nas obras dos autores da primeira fase, que continuam produzindo, e também o
suprimento de novos poetas, entre eles Carlos Drummond de Andrade.

Temos ainda a Terceira Fase do Modernismo (1945-1960); alguns estudiosos


consideram a fase de 1945 até os dias de hoje como Pós-Modernismo, no entanto, as
fontes utilizadas para a confecção deste artigo, tratam como Terceira Fase do
Modernismo o período compreendido entre 1945-1960 e como tendências
contemporâneas o período de 1960 até os dias de hoje. Nesta terceira fase, a prosa dá
sequencias as três tendências observadas no período anterior – prosa urbana, prosa
intimista e prosa regionalista, com certa renovação formal; na poesia temos a
permanência de poetas da fase anterior, que se encontram em constante renovação, e a
criação de um grupo de escritores que se autodenomina “geração de 45”, e que buscam
uma poesia mais equilibrada e séria, sendo chamados de neo-parnasianismo.

a) Principais representantes do Pré-Modernismo e do Modernismo no Brasil:

 Pintura:
Anita Malfatti, Lasar Segall, Di Cavalcante, Tarsila do Amaral, Cândido
Portinari, Rego Monteiro, Alfredo Volpi.

 Literatura:
Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto, Augusto dos Anjos, Mario
de Andrade, Oswaldo de Andrade, Alcântara Machado, Manuel Bandeira,
Cesariano Ricardo, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinicius
de Morais, Murilo Mendes, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge de
Lima, José Lins do Rego, Thiago de Mello, Ledo Ivo, Ferreira Gullar, João
Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Olavo Bilac, Menotti
Del Picchia, Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho, Ribeiro Couto, Raul
Bopp, Graça Aranha, Murilo Leite, Mário Quintana, Jorge Amado, Érico
Veríssimo.

b) Escritores do Modernismo e Suas Obras:

 Música:

Alberto Neopomuceno, Heitor Villa-lobos e Guiomar de Novais;


345

 Escultura:

Victor Brecheret;

 Teatro:

Benedito Ruy Barbosa, Nelson Rodrigues;

 Arquitetura:

Lúcio Costa, Oscar Niemayer.

3 – O que é Modernidade?

Mais do que tudo, Modernidade é fruto da construção do pensamento humano em


relação aos fatos que se desenrolaram no decorrer da história.

A Modernidade é um período de tempo que se caracteriza pela realidade social, cultural


e econômica vigente no mundo. Ao tratarmos da Era Moderna, Pré-moderna ou ainda
Pós-moderna fazemos referência à ordem política, à Organização de Nações, à forma
Econômica que essas eras adotaram e, inúmeras outras características. Entretanto, nessa
trajetória que traçaremos aqui, o que nos importa é a trajetória do pensamento humano e
o seu processo de construção. Para tanto, partiremos das reflexões de Zygmunt
Baunman e de Max Weber para traçar uma linha que nos guie pelas mudanças do
pensamento humano e sua conexão com a realidade histórica das pessoas que fizeram
parte desse processo.

4 – O que é Moderno?

É comum ouvirmos ou nos referirmos à nossa realidade como moderna. O termo já está
naturalizado em nossa língua que passou a ter o mesmo contexto de Contemporâneo – o
que coexiste em um mesmo período de tempo – mas, você entende o que é ou o que nós
referimos quando tratamos de moderno ou modernidade.

Respondendo a esta pergunta, retrocedamos na história para entender primeiro como é


possível determinar a passagem de um período de tempo a outro. Comumente, é
entendido que os eventos que se iniciaram com a Revolução Francesa, foram o ápice da
superação do pensamento e das organizações sociais tradicionais que marcaram o
período medieval. O rompimento com o pensamento escolástico, método de
pensamento crítico ainda ligado aos preceitos da Igreja Católica, e o estabelecimento da
razão como forma autônoma de construção de conhecimento, desligado de preceitos
teológicos, foram alguns dos primeiros passos em direção à construção do pensamento
moderno.
346

O desenrolar da Revolução Francesa teve como base a construção ideológica que


convencionamos chamar de Iluminismo. O pensamento Iluminista e o pensadores
Empiristas, que acreditavam que o conhecimento verdadeiro estava na experiência a
partir dos sentidos, estabeleceram a razão e a ciência como forma verdadeira de se
conhecer o mundo. Esse pensamento racionalista inerente ao Iluminismo revirou toda a
estrutura social da França, que era construída sobre pilares tradicionais
fundamentalmente teológicos, o que abalou todos os pilares sociais e políticos do país
em que o domínio monárquico absolutista se apoiava. A monarquia francesa e seu poder
assegurado pela provisão divina foram derrubados diante do fortalecimento das ideias
igualitárias e do Racionalismo.

Nesse momento, fortalecia-se o pressuposto de igualdade (em que nenhum homem


estaria acima de outro, nem mesmo o Rei), que, mais adiante, seria o ponto de partida
para os primeiros movimentos democráticos nas Américas.

René Descartes foi uma das figuras mais proeminentes desse período. Suas obras são
vistas como fonte de inspiração e base de construção da filosofia Moderna. Em sua
principal obra, Discurso do Método, Descartes apresenta o que foi chamado de Método
Cartesiano, o ápice de sua filosofia, que estipulava o caminho a ser tomado para a
construção do conhecimento científico: a evidência, a análise, a síntese e a enumeração.
Pensamento racional e o método cartesiano pavimentaram o caminho para os eventos
que foram vistos como o ponto inicial da Era Moderna: a Revolução Industrial.

A sociedade europeia passava por uma série de mudanças motivadas por grandes
conflitos bélicos e ideológicos. As guerras napoleônicas estimularam a corrida
armamentista, o que elevou a exigência por uma produção de bens materiais em maior
escala. Os processos de cercamento, em que as terras de uso comunal passaram a ser
privatizadas, empurraram os camponeses para os grandes centros urbanos. A ligação
direta com a terra e o trabalho rural, pelo qual o camponês produzia seu sustento, foi
cortada. As populações agrárias acumularam-se nas cidades e passaram a ter de vender
sua força de trabalho nas grandes fábricas que se erguiam.

Nesse ponto, vemos que toda estrutura social que havia existido até então se modificou.
As relações entre indivíduos tornaram-se diferentes na medida em que sua realidade se
tornava distinta. Costumes que antes se justificavam em um mundo agrário e rural
foram esquecidos ou se modificaram no meio urbano. Novos conflitos surgiram diante
de uma nova configuração de relações trabalhistas e influenciados pelo Capitalismo
emergente, que foi o ponto principal da nova organização do mundo.

A desordem inicial que o mundo moderno encontrou com o abandono dos princípios
religiosos que sustentavam costumes e organizações sociais foi a força motriz para que
o sociólogo Zygmunt Bauman defendesse ser uma das principais características da
modernidade: a busca pela ordem. Essa busca já havia sido anunciada por Thomas
Robbes, ainda no século XVII, com a descrição do poder que um estado soberano
deveria ter como controlador de seus súditos e responsável pelo esforço da ordem,
especificando aquilo que era aceitável ou o que era repulsivo. Todavia, foi apenas nos
347

séculos XIX e XX que esse fenômeno tomou as dimensões que vemos hoje. A Era
Moderna, diante dos conflitos cada vez mais globais, foi marcada pela segregação de
classes, indivíduos e, principalmente, de nações.

Bauman (1999), explica que: classificar consiste nos atos de incluir e excluir. Cada ato
nomeador divide o mundo em dois: entidades que respondem ao nome e todo o resto
que não. Certas entidades podem ser incluídas numa classe – tornar-se uma classe na
medida em que outras entidades são excluídas, deixadas de fora.

Os Estados Modernos, tais como os conhecemos, foram tomados a partir dessa lógica
de exclusão e inclusão. A busca pela ordem, determinando o que não é, tomou forma na
segregação estamental de território dos países que temos hoje espalhados pelo mundo e
espalhou-se por todos os redutos das sociedades modernas. Os conflitos entre ideias
socialmente aceitas e tudo o que é diferente foram a marca das sociedades modernas.

O ato nomeador a que Bauman se refere é o princípio da determinação de uma ordem.


Ao excluirmos o que não fez parte de uma organização, estabelecemos simultaneamente
o que faz parte dela. Como exemplo mais claro, temos as fronteiras de países que
delimitam de forma precisa a extensão de um território e ainda servem como uma
barreira particular, essa separação fortalecem-se de forma colossal durante o século XX
e as guerras de escala global que se seguiram, como a primeira e segunda guerra
mundial.

O estabelecimento da ordem foi pela busca pelo progresso, outra característica marcante
da Era Moderna. Nesse sentido, as guerras foram responsáveis pelo avanço
tecnológico vertiginoso do último século. A corrida armamentista dos países envolvidos
levou ao desenvolvimento de novas tecnologias que inundaram novamente a nossa
percepção de mundo.

Diante dessa enorme trajetória que nos esforçamos para cobrir, podemos contemplar o
tamanho da complexidade dos caminhos pelos quais o pensamento humano e nossas
organizações sociais passaram e ainda passam. Entender os processos históricos
permite-nos entender a origem da realidade em que vivemos. O mundo moderno ainda
se reinventa e, assim como todos os períodos que vieram antes, chegará o momento
derradeiro de sua conclusão. Resta-nos perguntar: Já estamos nesse momento de
ruptura?

5 – Pré-Modernismo no Brasil.

5.1 – O que foi o Pré-Modernismo no Brasil?

Foi um período da literatura brasileira, que teve seu desenvolvimento nas décadas de
1910-1920. Muitos estudiosos da literatura brasileira afirmam que foi um período de
transição entre o Simbolismo e o Modernismo.
348

5.2 – Contexto Histórico.

O Pré-modernismo brasileiro situa-se no contexto histórico da consolidação da


República. A expectativa de um novo Brasil, mais justo e moderno, com o advento do
regime republicano foi frustrada. No novo regime, as desigualdades continuaram, a
oligarquia se manteve no poder, a participação política ficou restrita às elites e os
conflitos sociais (exemplos: Guerra da Vacina, Guerra do Contestado, Cangaço e
Revolta da Chibata) pipocaram pelo Brasil. Foi este contexto que influenciou a
produção literária das duas primeiras décadas do século XX.

5.2.1 - Principais Características do Pré- Modernismo no Brasil.

 Abordagem de problemas sociais brasileiros (desigualdades, conflitos, pobreza e


exclusão social e política). Estes temas serão retratados, principalmente nas
obras de dois importantes escritores do período: Lima Barreto e Euclides da
Cunha;

 Regionalismo: Valorização de aspectos culturais de regiões do Brasil;

 Estética Literária marcada por valores do Naturalismo;

 Mistura de estilos literários de escolas anteriores;

 Surgimento, em alguns escritores (Lima Barreto, por exemplo) do uso da


linguagem coloquial;

 Surgimento, embora o conservadorismo ainda se faça presente, de inovações


técnicas na forma de expressão literárias;

5.2.2 – Principais Escritores Pré-Modernistas e Suas Obras.

 Lima Barreto – Carioca – Obra “Triste Fim de Policarpo Quaresma”;

 Monteiro Lobato – Paulista – Obra “Cidades Mortas e Urupês”;

 Graça Aranha – Maranhense – Obra “Canaã”;

 Euclides da Cunha – Carioca – Obra “Os Sertões”;


349

 Joaquim S.L. Neto – Gaúcho – Obras “Contos Gauchesco e Lendas do Sul”;

 Augusto dos Anjos – Paraibano – Obra “Eu”.

5.3 – Pós-Modernismo.

5.3.1 – O que foi o Pós-modernismo?

Pode ser definido como as características de natureza sociocultural e estética, que


marcaram o capitalismo da Era Contemporânea, portanto esta expressão pode
designar todas as profundas modificações que se desenrolam nas esferas científicas,
artística e social, dos anos 50 até os dias atuais.

Este movimento, que também pode ser chamado de pós-industrial ou financeiro,


predomina mundialmente desde o fim do Modernismo. Ele e, sem dúvida, caracterizado
pela avalanche recente de inovações tecnológicas, pela subversão dos meios de
comunicação e da informática, com a crescente influência do universo virtual, e pelo
desmedido apelo consumista que seduz o homem pós-moderno.

Não é fácil, porém, definir exatamente o sentido deste termo, seu alcance e,
principalmente, os limites temporais, pois os pesquisadores carecem justamente do
imprescindível distanciamento histórico para melhor analisa-lo, o que é muito difícil, já
que o pós-modernismo é um processo ainda em desenvolvimento no contexto histórico
em que vivemos.

Alguns pesquisadores, como o francês Jean-François Lyotard, consideram que a ciência


perdeu muito de seu crédito como geradora da verdade absoluta, portanto, este processo
contemporâneo é qualificado igualmente como o sepulcro de todas as justificativas e
assertivas imperativas. Nada mais é certo, tudo é relativo e impreciso. Já o marxista
Fredric Jameson crê que este período histórico nada mais é que a terceira etapa do
capitalismo.

O homem pós-moderno habita em um universo imagético, repleto de signos e ícones,


privilegiados em detrimento dos objetos; a simulação substitui a realidade, e elege-se o
hiper-realismo – também conhecido como fotorrealismo, e que pretende transpor para o
universo das imagens uma realidade objetiva – como expressão máxima da
contemporaneidade e das incertezas humanas.

Hiper-realismo, porém, sendo uma condição ilusória, entra em choque com a existência
cotidiana concreta, o que provoca na psique do homem certa perturbação, pois em um
determinado momento é difícil estabelecer as fronteiras entre real e ficção. Esta técnica
pode, facilmente, driblar a vigilância tanto emissor da mensagem, quanto de seu
receptor, que perdem, assim, o domínio sobre ele. Este é o universo da especularização
350

do noticiário, o qual é, muitas vezes, distorcido em beneficio do show protagonizado


pela mídia.

Tudo é fluido na pós-modernidade, daí o termo preferido pelo polonês Zygmunt


Bauman, que tornou popular esta expressão, e prefere traduzi-la como “modernidade
liquida”, uma vez que nada mais é realmente concreto na Era Atual. Tempo e espaço
são reduzidos a fragmentos; a individualidade predomina sobre o coletivo e o ser
humano é guiado pela ética do prazer imediato como objeto prioritário, denominado
hedonismo.

A humanidade é induzida é levar sua liberdade ao extremo, colocada diante de uma


opção infinita de probabilidades, desde que sua escolha recaia sempre no circuito
perverso do consumismo. Daí a subjetividade também ser incessantemente fracionada.
Resta saber por quais caminhos se desdobrará o Pós-modernismo, se ele também sofrerá
uma ruptura inevitável, enfim, substituído por outro movimento sociocultural.

82 – NACIONALISMO

Conceito:

Os partidos nacionalistas pertencem tanto à direita quanto à esquerda e se caracterizam


por um sentimento de identidade comum, compartilhado por pessoas que tem a mesma
língua, cultura, origens étnicas e históricas. Manifesta-se em um sentido de lealdade
para com a pátria-mãe, principalmente quando esta ainda não se transformou em Estado
Independente estabelecido, ocasião em que esses partidos se tornam favoráveis à
secessão. O fascismo contém elementos de nacionalismo extremo.

83 – NATURALISMO

1 - Introdução:

1 .1 – O que é Naturalismo?

Movimento artístico surgido na França na segunda metade do século xix, com base na
ideia de que só as leis da natureza explicam o mundo e na de que o homem está
submetido ao condicionamento biológico e social. Influenciados pelo positivismo, os
naturalistas apresentam a realidade com rigor quase científico. A pintura retrata
fielmente paisagens e personagens. Na literatura, a linguagem é coloquial e predominam
as descrições, com as emoções em segundo plano. Destaca-se o francês Emile Zola.
351

2 – Naturalismo Grego

O naturalismo constitui uma noção fundamental que marcou profundamente toda a arte
ocidental desde a Grécia Antiga até o final do século XIX.
O naturalismo, segundo Harold Osborne, pode ser definido como a ambição de colocar
diante do observador uma semelhança convincente das aparências reais das coisas. A
admiração pela obra de arte, dentro dessa perspectiva, advém da habilidade do artista
em fazer a obra parecer ser o que não é, parecer ser a realidade e não a representação.
Dentro da atitude naturalista, podemos distinguir algumas variações, dentre as quais as
mais importantes são o realismo e o idealismo.

 O realismo mostra o mundo como ele é, nem melhor nem pior. É característico,
por exemplo, da arte renascentista do século XV.

 Já o idealismo mostra o mundo nas suas condições mais favoráveis. Na verdade,


mostra o mundo como desejaríamos que fosse melhorando e aperfeiçoando o
real. É o padrão da arte grega, que não retrata pessoas reais, mas pessoas
idealizadas. Foram os gregos que elaboraram a teoria das proporções do corpo
humano.

A ruptura com a atitude naturalista ocorre na segunda metade do século XIX com os
impressionistas, que passam a dar primazias às variações da luz e não aos objetos
representados.

Essa mudança de atitude se deve, em parte, ao aparecimento do “bisavô” da máquina


fotográfica – o daguerreotipo –, que fixa as imagens do mundo de forma mais rápida e
mais econômica do que a tela pintada. Assim, os artistas, principalmente os pintores,
tiveram de repensar a função da arte e o espaço específico da pintura.

3 – Naturalismo na Arte Grega

Na Grécia Antiga não havia a ideia de artista no sentido que hoje empregamos, uma vez
que a arte estava integrada à vida. As obras de arte dessa época eram utensílios (vasos,
ânforas, copos, templos etc.) ou instrumentos educacionais. Assim, o artífice que os
produzia era considerado um trabalhador manual, do mesmo nível do agricultor ou do
ferramenteiro. Ele era um artesão numa sociedade em que o trabalho manual era
considerado indigno.

Nesse período (séc. V e IV a.C.) foram desenvolvidas técnicas cuja principal motivação
era produzir cópias da aparência visível das coisas. A função da arte era criar imagens
de coisas reais, imagens que tivessem aparência de realidade.
Há várias anedotas que ilustram bem isso, embora poucos exemplares da pintura grega
tenham chegado até nós. Dizem que Apeles pintou um cavalo com tanto realismo que
352

cavalos vivos relincharam ao vê-lo. Outra história conta que Parrásio pintou uvas tão
reais que passarinhos tentavam bicá-las.

Na verdade, talvez essas pinturas só possam ser consideradas realistas em relação à


estilização da pintura que a precedeu ou à pintura égípcia, por exemplo. Por outro lado,
temos de admirar a fidelidade anatômica das esculturas gregas, tais como a Vitória de
Samotrácia e o Discóbulo.

Essa atitude perante a arte está fundada sobre o conceio de mímesis.


Embora mímesis seja normalmente traduzida por “imitação”, para os gregos ela
significava muito mais que isso. Para Platão (séc. V a.C.), no Crátilo, as palavras
“imitam” a realidade. Neste caso, a tradução mais correta para mímesis talvez fosse
“representar”, e não “imitar”.

Para Aristóteles (séc. IV a.C.), a arte “imita” a natureza. Arte, para ele, no entanto,
englobava todos os ofícios manuais, indo da agricultura ao que hoje chamamos de belas
artes. Assim, a arte, enquanto poiésis, ou seja, “construção”, “criação a partir do nada”,
“passagem do não ser ao ser”, imita a natureza no ato de criar. Por outro lado, também
aqui poderíamos entender mímesis com o sentido de “representar”. Para Aristóteles,
“todos os ofícios manuais e toda a educação completam o que a natureza não terminou”.

Ainda segundo Aristóteles, a apreciação da arte vem do prazer intelectual de reconhecer


a coisa representada através da imagem. Assim, ele resolve o problema do feio. O
prazer, no caso, não vem do reconhecimento da coisa feia, mas da habilidade que o
artista demonstra ao representá-la.

É no sentido de cópia ou reprodução exata e fiel que a palavra mímesis passa a ser
adotada pela teoria naturalista. E as obras de arte, dentro dessa perspectiva, são
avaliadas segundo o padrão de correção colocado por Platão: “Agora suponhamos que,
neste caso, o homem também não soubesse o que eram os vários corpos representados.
Ser-lhe-ia possivel ajuizar da justeza da obra do artista? Poderia ele, por exemplo, dizer
se ela mostra os membros do corpo em seu número verdadeiro e natural e em suas
situações reais, dispostos de tal forma em relação uns aos outros que reproduzem o
agrupamento natural – para não falarmos na cor e na forma – ou se tudo isso esta
confuso na representação? Poderia o homem, ao vosso parecer, decidir a questão se
simplesmente não soubesse o que era a criatura retratada?”.

3.1 – O Naturalismo Renascentista

O Renascimento artístico, ocorrido entre os séculos XIV e XV na Europa, passa a


dignificar o trabalho do artista ao elevá-lo à condição de trabalho intelectual.
Consequentemente, a obra de arte assume outro lugar na cultura da época.
353

Nesse contexto, as artes vão buscar um naturalismo crescente, mantendo estreita relação
com a ciência empírica que desponta na época e fazendo uso de todas as suas
descobertas e elaborações em busca do ilusionismo visual. Assim, a perspectiva
científica, a teoria matemática das proporções, que possibilitam a criação da ilusão da
terceira dimensão sobre uma superfície plana, as conquistas da astronomia, da botânica,
da fisiologia e da anatomia são incorporadas às artes.

Osborne distingue seis princípios fundamentais que dominaram o ponto de vista


renascentista no terreno da estética:

1 – A arte é um ramo do conhecimento e, portanto, criação da inteligência;

2 – A arte imita a natureza com a ajuda das ciências;

3 – As artes plásticas e a literatura têm propósito de melhoria social e moral, aspirando


ao ideal;

4 – A beleza é uma propriedade objetiva das coisas e consiste em: ordem, harmonia,
proporção, adequação. A harmonia se expressa matematicamente;

5 – As artes alcançaram a perfeição na Antiguidade clássica, que deve ser estudada;

6 – As artes estão sujeitas a regras de perfeição racionalmente apreensíveis que podem


ser formuladas e ensinadas com precisão. Aprendemo-las pelo estudo das obras da
Antiguidade.

3.2 – A Estética Medieval e a Estilização

Na Europa ocidental, durante a Idade Média, não houve grande interesse pelas artes que,
como coisas terrenas ligadas à cultura pagã, poderiam prejudicar o fortalecimento da
alma e do espírito.

Entretanto, em virtude do analfabetismo mais ou menos generalizado das populações


dos feudos, a Igreja utiliza-se da pintura e da escultura para fins didáticos, ou seja, para
ensinar a religião e infundir o temor do julgamento final e das penas do inferno. As
obras de arte assumem a condição de simbolos que manifestam a natureza divina e
canalizam a devoção do homem para o deus supremo.

Por isso, a postura naturalista é abandonada em prol da estilização, isto é, da


simplificação dos traços, da esquematização das figuras e do abandono dos detalhes
individualizadores. A estilização responde melhor à necessidade de universalização dos
princípios da religião cristã.

A arte bizantina do mesmo período mostra extraordinária homogeneidade a partir de sua


codificação, no século VI, até a queda de Constantinopla em 1453. Preocupada com a
354

expressão religiosa e com a tradução da teologia em forma de arte, a Igreja Ortodoxa


bizantina padroniza a expressão artística, abolindo a representação tridimensional em
pinturas e mosaicos, preferindo as figuras chapadas, cujas vestes eram representadas por
linhas sinuosas.

Mantidas suas características próprias, tanto no Ocidente quanto no Império Bizantino


prevalece a ideia de que a beleza não é um valor independente dos outros, mas que é o
refulgir da verdade no símbolo. A obra de arte, assim, permite-nos alcançar a visão
direta da perfeição da natureza divina. Desse ponto de vista, a beleza é uma qualidade
mais bem apreendida pela razão do que pelos sentidos, e corresponde ao pensamento
religioso dessa época, marcado pelo desejo de ascender do mundo sensual das sombras,
das aparências, à contemplação direta da perfeição divina.

3.3 – A Ruptura do Naturalismo

A revolução estética iniciada no século XVIII, quando se propôs a atenção


desinteressada como marca da percepção estética e o sentimento como forma de
cognição, foi completada nos últimos cem anos, passando a apreciação estética a ser o
único valor das obras de arte.

Nas palavras de André Malraux, crítico francês deste século, “a Idade Média tinha tanta
noção do que entendemos pelo termo arte quando a Grécia ou o Egito, que careciam de
uma palavra para exprimi-lo. Para que essa ideia pudesse nascer, foi preciso que se
separassem as obras de arte de sua função. (...). A metamorfose mais profunda
principiou quando a arte já não tinha outra finalidade senão ela mesma”.

É essa independência da obra de arte tanto em relação à intenção do autor quanto a


valores e propósitos não propriamente estéticos que vai caracterizar a produção do
século XX.

A partir do momento em que o ser da arte não é apresentar naturalissimamente o


mundo, nem promover valores, sejam eles sociais, morais, religiosos ou políticos, é
possível encontrar a especificidade da arte enquanto promotora da experiência estética.

Ao lado disso, encontramos o repúdio à estética sistemática e certo ceticismo quanto às


possibilidades de definição da beleza.

A nova atitude estética advém do estado de espírito cauteloso, empírico e analítico que
não quer generalizar, mas que se mantém atento às características individuais de cada
forma de arte. Isso vai possibilitar a cada uma empreender experimentações, na busca
da sua linguagem específica e característica, com a dissolução da atitude naturalista, os
artistas passam a menosprezar o assunto ou tema das sua obras para valoriza o fazer a
obra de arte. Qualquer assunto serve, ou mesmo nenhum assunto, como é o caso da arte
abstrata e da música atonal.
355

3.4 – Texto Complementar sobre o naturalismo

George Schmidt, procurando definir o conceito pictórico do naturalismo, enumerou em


seis os seus elementos constitutivos: a ilusão dos corpos, a ilusão do espaço, a ilusão da
matéria, o acabado desenho do pormenor, a justeza das proporções anatômicas e da
perspectiva e a exatidão da cor dos objetos. O diretor do Museu das Belas Artes de
Basileia diz: “A história da pintura europeia, de Delacroix a Picasso, não é outra coisa,
precisamente, senão o desmantelamento progressivo do naturalismo” (histoire de la
peiture moderne, t. II). Com efeito, só a pintura ao ar livre liquidou com três dos
componentes do naturalismo: o acabado dos detalhes, a ilusão da matéria e o absoluto
da cor dos objetos, atingindo gravemente a ilusão do corpóreo.

O impressionismo chega e, prosseguindo nas conquistas dos pintores ao ar livre, faz da


luz solar o seu deus: a pintura tonal se esvai para dar lugar à descoberta fascinante dos
contrastes diretos de cor. Manet e seus êmulos têm também, pela primeira vez, contato
com o produto de uma cultura inteiramente estranha àqueles parisienses provincianos –
as estampas japonesas. A franqueza do desenho destas e os acordes exóticos de áreas
claras e escuras encantam Manet e amigos. Posteriormente, essas estampas seriam
apreciadas, sobretudo na geração pós-impressionista, pelas superfícies sem sombras e
pelas cores puras. Hoje e que sabemos admirar lhes também, como acentuou Schmidt, o
poder expressivo das linhas.

As cores são descobertas na sua pureza, e os artistas percebem que, sempre carregadas
de luz, elas podem exprimir pelo contraste as intensidades mais claras, como faz o
branco. Outra descoberta sensacional é que as sombras não são absolutas. Podem ser
dadas pela cor.

Na decomposição do claro-escuro que dessas descobertas resulta, o modelado dos


objetos torna-se secundário, quando não desaparece. A tela é tomada pelas pequenas
manchas de cor da nova fatura; o artista não respeita mais a parte do quadro destinada à
perspectiva aérea. Tudo se colore, enquanto a cor local se evapora. A cor natural é um
fantasma que se dissolve.

A transformação do mundo visível em cores representa o esforço mais grandioso, mais


revolucionário, para superar o naturalismo, para libertar a pintura da escravidão da
imitação da natureza, para tornar independentes os meios do artista (Shmidt).

Os objetos naturais, sob a influência da cor, perdem sua existência particular, sua
autonomia local. Cézanne veio destruir os dois últimos anteparos naturalistas: a ilusão
do espaço sensorial e a correção das proporções anatômicas e da perspectiva que
escaparam à avalancha impressionista.

Nessa depuração, o mestre de Aix contou com a cooperação espontânea de Gauguin e


Van Gogh, Toulouse-Lautrec e Seurat. A obra de destruição estava consumada.
356

84 – NAZISMO

1 – Introdução:

Nazismo foi uma política de ditadura que governou a Alemanha entre 1933 e 1945,
período que também ficou conhecido como Terceiro Reich, liderado por Adolf Hitler.

A ideologia política do nazismo surgiu após a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918),
com a Alemanha destruída economicamente e humilhada por ter perdido a guerra. Neste
cenário, surge um sentimento de revolta entre os alemães, que culpavam o governo pela
situação do país e exigiam mudanças drásticas.

2 – A Criação do Partido Nazi:

Em 1919 surgiu o Partido Nazi, abreviação de Partido Nacional Socialista dos


Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, em Alemão).
Que começava a disseminar ideais antissemitas entre a sociedade alemã.

O Partido Nazi alegava que a culpa de todos os problemas da crise que enfrentava a
Alemanha eram dos imigrantes judeus, dos comunistas e dos liberais, que causavam a
desordem e “roubavam” as oportunidades dos “alemães puros”, que segundo os nazistas
pertenciam a uma “raça superior”, uma raça ariana.

Adolf Hitler nasceu em 1889, na Áustria, e havia participado da Primeira Guerra


Mundial. Após a Grande Guerra e com a derrota da alemã, Hitler integrou um grupo de
ex-combatentes de classe média que planejavam uma ideologia para reacender a
política e economia da Alemanha, além de recuperar a dignidade da nação. E, em 1923
já sob a “alma” do partido Nazi, Hitler liderou uma tentativa de derrubar o Estado,
porém, acabou sendo preso e condenado. Na prisão, escreveu o livro “Minha Luta”
(Mein Kampf, alemão), obra que se tornaria a “Bíblia do Nazismo”.

Com a grande crise econômica de 1929 (que começou com a Quebra da Bolsa de
Valores de Nova Iorque), a Alemanha se viu em desespero e o profundo desgosto com
as condições de vida da população se intensificou. Esses sentimentos ajudaram a
fortalecer o Partido Nazista e seus ideais.

Sobre forte pressão social, o presidente alemão Hindenburg foi forçado a conceder o
cargo de chanceler para Hitler, considerado o segundo mais importante posto de poder
na Alemanha naquela época, ficando apenas abaixo do presidente.

Adolf Hitler, sob o comando do Partido Nazista, conseguiu finalmente chegar a poder
da Alemanha em 1933, após a morte do presidente Von Hindenburg, auto proclamando-
se Füher (“líder” em alemão) e instaurando o chamado Terceiro Reich (“Terceiro
Reino”).
357

Com o auge do nazismo no comando da nação alemã, em 1939 teve inicio a Segunda
Guerra Mundial, muito mais terrível e sanguinária que a primeira.

Hitler criou três principais forças de poder para executar os seus objetivos: as Seções de
assalto (S.A.), as Seções de Segurança (S.S.) ou Schutzstaffel (em alemão) e a
Gestapo (polícia secreta alemã).

Muita gente não sabe, mas uma das principais figuras que auxiliou o crescimento do
nazismo foi o cineasta e ministro da propaganda nazi Joseph Goebbels. Goebbels
controlava todos os meios de comunicação da Alemanha, criava campanhas
publicitárias alienadoras que prometiam um “mundo melhor”, a partir da ideia de
supremacia da raça ariana como dominadora de todas as outras.

Com a derrota da Alemanha pelos países aliados, acaba-se a Segunda Guerra Mundial e
o nazismo também chegou ao fim. Com as informações sobre a derrota eminente, Adolf
Hitler se suicidou em seu esconderijo.

3 – Características do Nazismo:

O Nazismo ficou marcado pelos seus ideais antissemitas, ou seja, o preconceito e


hostilidade contra o povo judeu. Os nazistas também perseguiam, torturavam e
matavam comunistas, negros, homossexuais e outras pessoas que não eram enquadradas
dentro das características da chamada “raça ariana”, a raça superior alemã defendida
pelo Partido Nazista.

Entre as principais características do regime nazi está o antiparlamentarismo, o


pangermanismo (um ideal que pretendia unificar todos os povos germânicos localizados
na Europa Central), o racismo (preconceito e repulsa por diferentes raças étnicas) e o
totalitarismo.

No entanto, o objetivo principal do Partido Nazi era construir uma grande nação
consolidada sob uma “única e verdadeira raça”, a raça que, segundo os nazistas, era
considerada a mais pura da Europa e superior intelectualmente e fisicamente a todas as
outras: a raça ariana.

A tática adotada pelo nazismo para cumprir com todos os seus objetivos foi chamada de
“Solução Final” ou “Solução Final para a Questão Judia”, ou seja, eliminar todos os
povos judeus que ocupavam territórios alemães.

Sob ordens de Adolf Hitler teve o inicio o Holocausto, um processo de genocídio da


população judia e demais etnias que não eram consideradas “dignas” de povoar os
territórios alemães. Estima-se que tenham morrido mais de seis milhões de judeus
durante o Holocausto, em Campos de Concentração e de Trabalhos Forçados.
358

4 – Símbolo

A cruz suástica é um dos símbolos mais utilizados pelo nazismo, representando uma
“sorte”, “prosperidade” e “sucesso”, entre os nazistas. Porém, atualmente, este símbolo
tem uma conotação totalmente negativa, sendo até mesmo proibido de ser replicado ou
incentivado em locais públicos.

No entanto, muita gente não sabe mais o símbolo que se tornou um dos “mais odiados
do mundo”, por causa da sua ligação com o Partido Nazista, existe há muitos anos e sob
um significado totalmente inofensivo e bondoso.

Antes de ser adotada como símbolo do Nazismo, a cruz “Suástica” em sânscrito


significa “felicidade”, “sorte” e “prazer”.

5 – Nazismo no Brasil:

Os conceitos nazistas chegaram ao Brasil mesmo antes do começo da Segunda Guerra


Mundial, através da propaganda política que o Terceiro Reich fazia em terras brasileiras
na tentativa de atingir os mais de 100 mil imigrantes alemães que viviam em
comunidades no sul e sudeste do país.

De acordo com os historiadores, existiam aproximadamente um milhão de descendentes


de alemães no Brasil (teuto-brasileiros), mas a grande maioria não aderiu ao movimento
nazista.

Porém, mesmo assim, o Brasil era considerado o país estrangeiro (fora da Europa) com
o maior número de adeptos do nazismo, segundo alguns pesquisadores.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial e derrota dos nazistas, muitos condenados
alemães se refugiaram em terras brasileiras, em colônias.

Entre os refugiados estava o notório médico Josef Mengele, conhecido como “Anjo da
Morte” e responsável por experiências médicas terríveis em milhares de prisioneiros
judeus e cianos. Mengele morreu afogado em Bertioga, interior de São Paulo, sem ser
reconhecido por ninguém.

6 – Neonazismo:

O neonazismo é uma ideologia que busca inspiração e tentam resgatar os ideais e


conceitos do nazismo.

Etimologicamente, “neonazismo” significa “novo nazismo” (neo – Novo), porém a


ideologia não traz nenhuma novidade. O principal objetivo dos neonazistas é defender
a existência de uma raça pura ariana; a raça branca e nórdica.
359

Judeus, negros, homossexuais, índios e povos de outras etnias são os alvos dos
neonazistas.

Atualmente, existem subcategorias de grupos neonazistas que propagam o mesmo


discurso de racismo e ódio que os nazistas, como a Ku Klux Kan (grupo que persegue
e matam negros). Os Skinheads e os Stormfront.

85 – NEOTOMISMO
(veja tópico 58, sobre o Tomismo)

1 – Introdução:
Neotomismo é um movimento de retorno à filosofia tomista da Idade Média, resgatada
à luz de tendências intelectuais modernas e retomada especialmente a partir de 1879,
por influência de uma encíclica do Papa Rei Leão XIII.
O Neotomismo é a corrente filosófica que resgata o Tomismo, a filosofia do pensador
italiano Santo Tomás de Aquino, com o objetivo de resolver problemas
contemporâneos. Para o Neotomismo, toda a filosofia moderna, a partir de Descartes,
constituiriam em erros e equívocos, responsáveis pela crise do mundo moderno em que
nós mesmos a criamos.
Na visão neotomista, é inaceitável privilegiar interesses de ideologias como o
neoliberalismo ou comunismo, por exemplo, ou instituições como empresas e o
governo, em detrimento do direito do ser humano a uma vida digna e tudo que ela
acarreta: a liberdade, a saúde, o emprego e a habitação. Em resumo, tentar resolver os
problemas através das raízes dos problemas, que é o governo. Isso é que é uma missão
bem impossível.

2 – Como surgiu o Neotomismo?


Esta corrente é a adaptação do pensamento de Tomás de Aquino à realidade que se
defronta com as descobertas científicas e os problemas do mundo moderno. O
movimento se inspirou também na Encíclica Aeterni Patris, publicada em 1879 pelo
Papa Leão XIII, inaugurando o neotomismo oficial.
Destacou-se nesta corrente o pensador Jacques Maritain (1882-1973), como um dos
mais profundo conhecedores da filosofia aristotélica-tomista. Tornou-se neotomista a
partir de sua conversão ao catolicismo. Foi professor titular da Universidade de
Princeton (EUA) e embaixador francês junto ao Vaticano. Teve como colaboradora a
sua mulher Raíssa. Ele mesmo definia sua filosofia com sendo tomista.
Ocupou-se com o sentido da objetividade e do conhecimento exato. Depois de um longo
contato com o pensamento de Espinosa, com o intuicionismo de Bergston e com o
neovitalismo de Has Driesch, passou a defender, em 1910, o primado da inteligência.
E, em 1914, abandonou a filosofia do impressionismo subjetivo e do irracionalismo,
para realçar o ser e a inteligência.
360

Evitou o subjetivismo, que leva ao ceticismo filosófico e ao materialismo, pois o


subjetivismo tinha diluido a Filosofia e a Sociologia e na História. Encontrou no
tomismo o primado do ser em si. Era a afirmação da primazia de Deus e do humanismo
integral. Procurou devolver à atividade filosófica o caráter de um conhecimento
científico.
Sua obra principal é “Distinguir par unir – ou os graus do saber”.

2.1 – Quatro princípios formulados por Maritain, sobre as relações entre a Filosofia e as
Ciências:

a) A Filosofia é a Ciência mais elevada. Ela é por excelência a metafísica.


Logo, a Filosofia tem direito de julgar todas as outras ciências humanas;

b) A Filosofia dirige as outras ciências;

c) Cabe à Filosofia defender os princípios de todas as ciências humanas contra


qualquer adversário;

d) A título de sabedoria e de ciência suprema, a Filosofia é independente.


Aristóteles considerava a Filosofia como a ciência livre por excelência.

Maritain aplicou a filosofia tomista aos problemas modernos: política, arte, pedagogia e
ciências. Sua contribuição ao pensamento político foi muito importante. Maritain é o
teórico de uma democracia de inspiração cristã, a nova cristandade, que deve ser distinta
da cristandade medieval. A democracia cristã deve se confrontar com o espaço
estrutural do mundo, que tem uma configuração categorial profana, bem distante e
diferente da dimensão do sagrado.

86 – NESTORIANISMO

1 – Introdução:
O Nestorianismo é uma doutrina cristológica proposta por Nestório, Patriarca de
Constantinopla (428-431). A doutrina, que foi formada durante os estudos de Nestório
sob Teodoro de Mopsuéstia na Escola de Antioquia, enfatiza a desunião entre as
naturezas humana e divina de Jesus. Os ensinamentos de Nestório o colocaram em
conflito com alguns dos mais proeminentes líderes da igreja antiga, principalmente
Cirilo de Alexandria, que o criticou particularmente por negar o título Theotokos (“mãe
de Deus”) para a Virgem Maria.
Nestório e seus ensinamentos foram condenados como herético no Primeiro Concílio de
Éfeso em 431 e no Concílio de Calcedônia em 451, o que acabou por provocar o cisma
Nestoriano, no qual as igrejas que apoiavam Nestório deixaram o corpo da Igreja.
Porém, o crescimento da Igreja do Oriente no século VII e nos seguintes espalhou o
Nestorianismo por toda a Ásia. Há que se distinguir, porém que nem todas as igrejas
afiliadas com a Igreja do Oriente parecem ter seguido a cristologia nestoriana. A Igreja
361

Assíria do Oriente, por exemplo, que reverencia Nestório, não segue a doutrina
nestoriana histórica.

2 – Desenvolvimento Histórico:
2.1 – Doutrina e a Controvérsia Nestoriana:
Nestório desenvolveu a sua cristologia como uma tentativa dedutiva e emocional de
explicar e entender a encarnação de divino Logos, a segunda pessoa da trindade, no
homem Jesus Cristo. Ele estudou em Antioquia, onde seu mentor fora Teodoro de
Mpsuéstia. Ele e outros teólogos da escola já vinha há muito tempo ensinando uma
interpretação literal da Bíblia e enfatizavam a diferença entre a natureza humana e a
divina de Jesus. Nestório levou consigo estas crenças quando foi apontado Patriarca de
Constantinopla pelo imperador Teodósio II e 438.
Os ensinamentos dele se tornaram então a raiz da controvérsia quando ele publicamente
criticou o já tradicional título de Theotokos (“mãe de Deus”) para a Virgem Maria. Ele
sugeriu que o título negava a humanidade plena de Cristo, argumentando que Jesus
tinha duas naturezas vagamente relacionadas, a do divino Logos e a do humano Jesus.
Assim, ele propôs o título Christotokos (“Mãe do Messias”) como sendo mais adequado
para Maria.
Os oponentes de Nestório acharam que este ensinamento estava muito próximo da já
condenada heresia do adocionismo – a ideia que Cristo teria nascido um homem que foi
depois “adotado” (escolhido) como filho de Deus. Nestório foi especialmente criticado
por Cirilo, Patriarca de Alexandria, que argumentou que os ensinamentos de Nestório
minavam a unidade entre as naturezas divina e humana de Cristo, na Encarnação.
Nestório por sua vez sempre insistiu que a sua visão seria a ortodoxa, mesmo depois
que ela já tinha sido considerada herética pelo Concílio de Éfeso em 431, levando ao
cisma nestoriano.
O Nestorianismo é uma forma de diofisismo e pode ser entendido como a antítese do
monofisismo, que emergiu justamente como reação a ele. Enquanto o primeiro sustenta
que Cristo teria duas naturezas vagamente unidas (divina e humana), o monofisismo
sobreviveu até hoje, transformado no miafisismo das modernas igrejas do Oriente.

2.2 – Primeiros anos e o cisma Nestoriano:


Nestorianismo se tornou uma seita distinta logo após o cisma Nestoriano, iniciado na
década de 430. Nestório tinha caído sob o ataque dos teólogos ocidentais,
principalmente Cirilo. Este tinha tanto motivos teológicos quanto políticos para atacar
Nestório, uma vez que além de acreditar que ele estava incorreto em suas crenças, ele
também queria enfraquecer o líder de um patriarcado competidor. Cirilo e Nestório
pediram ao Papa Celestino I que interviesse no assunto e ele entendeu que o título
Thotokos era ortodoxo, mas autorizou que ambos se desculpassem. Porém, Cirilo se
utilizou esta opinião para atacar ainda mais Nestório, que acabou por solicitar ao
imperador Teodósio II que convocasse um concílio para que todas as mágoas fossem
endereçadas corretamente.
Em 431, Teodósio convocou o Primeiro Concílio de Éfeso. Porém, o Concílio acabou
finalmente ficando ao lado de Cirilo, defendendo que Cristo é uma substância e uma
natureza, e que a Virgem Maria é a mãe de Deus. O Concílio também acusou Nestório
362

de heresia e o depôs. O Nestorianismo foi então oficialmente anatemizado, uma decisão


posteriormente reforçada em Calcedônia em 451. Porém, uma quantidade de Igrejas,
principalmente as associadas com a Escola de Edessa, apoiaram Nestório – ainda que
não necessariamente a sua doutrina completa – e se separaram das igrejas do Ocidente.
Após o cisma, muitos dos que apoiavam Nestório se mudaram para o Império Sassânida
(Pérsia), onde eles se afiliaram as igrejas locais, conhecidas coletivamente como Igreja
do Oriente.

2.3 – Nestorianismo e a Igreja do Oriente:


A Pérsiahá muito já era refúgio de uma comunidade cristã que vinha sendo perseguida
pela maioria zorástrica, sob a acusação de ter “inclinações” romanas. Em 424, a igreja
persa se declarou independente da igreja bizantina e de todas as outras igrejas,
justamente para refutar estas acusações. Logo após o cisma, a Igreja da Pérsia cada vez
mais se alinhou com os nestorianos, uma medida que foi encorajada pelas lideranças
zoroátricas e que, com o passar dos anos, levou-as a se tornar mais e mais nestoriana,
ampliando assim o cisma entre ela e igreja calcedonia.
Em 486, o metropolita de Nísibis (atual Nusaybi), Barsauma, publicamente aceitou o
mentor de Nestório, Teodoro de Mopsuésia, como uma autoridade espiritual. Em 489,
quando a Escola de Edessa (em Edessa, Mesopotamia) foi fechada pelo imperador
bizantino Zenão I por suas tendências nestoriana, ela se mudou para sua cidade original,
Nísibis, e se tornou novamente a Escola de Nísibis, provocando uma onda de migração
nestoriana para a Pérsia. O patriarca dali, Mar Babai I (497-502), reiterou e expandiu a
alta estima da igreja por Teodoro, solidificando então a adoção do Nestorianismo entre
membros da Igreja do Oriente.
A igreja emergiu mais forte após este período de atribulações e ampliou para ainda mais
longe os seus esforços missionários. Missionários estabeleceram dioceses na península
arábica e no subcontinente indiano entre os cristãos de São Tomé. Eles fizeram alguns
avanços sobre o Egito, apesar da forte presença monofisista lá. Missionários foram
também até a Ásia central e tiveram significativos sucessos em converter as tribos
tártaras. Eles também se firmaram na China durante a dinastia Tang (618-907).
Atualmente subsistem a Igreja Assíria do Oriente na Índia e no Iraque, Irã, China e nos
Estados Unidos e em outros lugares onde hajam migrado comunidades cristãs dos
países citados.
A Igreja Assíria do Oriente, que defende não ser totalmente nestoriana, teve um papel
fundamental na conservação de antigos textos gregos que foram traduzidos para o
siríaco. Mais tarde foram traduzidos para o árabe e no século XIII para o latim.
Os historiadores eclesiásticos Wilhelm Baum e Dietmar W. Winkler esclarecem que a
Igreja do Oriente “não era propriamente nestoriana” em termos de doutrina.

A Igreja Assíria do Oriente moderna evita o rótulo “nestoriana”. O atual líder da igreja,
o católico Mar Dinkha IV, rejeitou explicitamente o termo por ocasião de sua
consagração em 1976. Em 1994 Mar Dinkha IV e o papa João Paulo II assinaram uma
“Declaração cristológica comum entre a Igreja Católica e a Igreja Assíria do Oriente”
reforçando o caráter não Nestoriano da Igreja do Oriente.
363

87 – NIILISMO

1 – Introdução:

A palavra “niilismo” deriva do latim nihil, que significa nada. Dentro de cada contexto
pode significar: tenência revolucionária russa do século XIX, caracterizada pela rejeição
radical das estruturas sociais, sem propor nenhuma substituição definitiva. Atitude de
negação dos valores intelectuais e morais comuns a um grupo social, de recusa do ideal
coletivo desse grupo.

O niilismo é mais uma das teorias analisadas por Nietzsche em sua filosofia “a golpes
de martelo”.

Friedrich Nietzsche (1844-1900) nasceu em Rochen, uma localidade da Alemanha atual.


Filho de um culto pastor protestante estudou grego, latim filologia e teologia. Mente
brilhante, aos 24 anos tornou-se professor titular de filologia na Universidade da
Basileia, em uma época em que o hegelianismo ainda mantinha a hegemonia no mundo
alemão. Ainda jovem, começou a sentir os sintomas de uma doença que o levaria
progressivamente à deterioração física, a episódios de perda da consciência e a crises de
loucura no final da vida.

2 – O que é Niilismo?

Segundo a análise de Nietzsche, no momento em que o cristianismo deixou de ser a


“única verdade” para se tornar uma das interpretações possíveis do mundo (o que se deu
a partir da Idade Moderna), toda a civilização ocidental e seus valores absolutos também
foram postos em xeque. Nesse contexto, ocorreu uma escalada do niilismo, que “deve
ser entendido como um sentimento opressivo e difuso, próprio às fases agudas de ocaso
de uma cultura. O niilismo seria a expressão afetiva e intelectual da decadência”.

De acordo com Nietzsche, o niilismo moderno assenta-se, em grande parte, na ideia da


morte de Deus. Em sua obra Gaia Ciência, o filósofo decreta: “Deus está morto”. Mas
esclarece que quem o matou fomos nós mesmos, ou seja, trata-se de um acontecimento
histórico-cultural, no qual destruímos os fundamentos transcendentais (assentados na
ideia de Deus) dos valores mais caros de nossas vidas.

[...] Por essa ótica, niilismo seria o sentimento coletivo de que nosso sistema
tracional de valoração, tanto no plano do conhecimento quanto no ético-
religioso, ou sociopolítico, ficaram sem consistência e já não podem mais
atuar como instancias doadoras de sentido e fundamento para o
conhecimento e a ação.

Para combater o niilismo, Nietzsche defendeu valores afirmativos da vida, capazes de


expandir as energias latentes em nós. “ouse conquistar a si mesmo” talvez seja a grande
364

indicação nietzschiana àqueles que buscam viver de forma afirmativa, sem


conformismo, resignação ou submissão.

88 – PANGERMANISMO

1 – Introdução:

O que é Pangermanismo?

Pangermanismo (em alemão ou alldeutsche Bewegung) era um movimento político do


século XIX que defendia a união dos povos germânicos da Europa Central.

Essa ideologia ganhou grande força com o sentimento nacionalista alemão, e logo
depois com unificação da Alemanha e Itália.

2 – Origem do Pangermanismo:

A origem do Pangermanismo situa-se nos albores do século XIX, durante o


desenvolvimento das guerras napoleônicas.

As guerras supuseram nos povos ocupados pelo Império francês o nascimento do


Nacionalismo como ideologia política. O nacionalismo ameaçou durante dito século aos
regimes aristocrático do antigo regime.

Muitos grupos étnicos de Europa central e Oriental tinham permanecido divididos


durante séculos em diferentes realidades políticas, dominados pelas velhas monarquias
dos Romanov e os Habsburgo.

Os germanos, durante a maior parte da História tinham permanecido desunidos e


derrotados desde tempos de Lutero, quando o sócio Império Romano Germânico se
excediam em uma multidão de estados.

Os novos nacionalistas pangermanos, maioritariamente jovens reformados com Johann


Tillmann de Prusia Oriental clamavam pela unidade de todos os povos
germanoshablantes em sozinho estado.

No Império Austro-Húngaro e na Prússia o sentimento pangermânico se expandiu para


os alemães do Leste Europeu afetando minorias alemãs, em parte judeus alemães, que
sofriam discriminações eslovacas (Boêmia, Morávia, Eslováquia, Baixa Silésia,
Transilvânia), Rússia, Polônia Central e Oriental, países Bálticos (Lituânia e Letônia),
Itália (Tirol Meridional).
365

89 - PARLAMENTARISMO

1 – Introdução:

Qual a melhor forma de governo, presidencialismo ou parlamentarismo? Qual a


diferença entre ambos? O Brasil já passou pelas duas formas. No sistema
presidencialista, o poder Executivo é exercido por um presidente da República, eleito
pelo voto direto. E o parlamento exerce a função fiscalizadora sobre os atos do
Executivo.

Já no parlamentarismo, o chefe do Executivo é eleito entre os deputados votados de uma


determinada sigla. Nesse caso, os partidos políticos elaboram uma lista com os
candidatos à eleição parlamentar e o primeiro nome dessa lista, caso seja o mais votado,
será alçado à condição de primeiro ministro. Algumas situações, entretanto, precisam
ser consideradas para a adoção do sistema parlamentarista de Governo:

1º. – O primeiro e mais importante aspecto é a existência de partidos políticos solícitos e


definidos ideologicamente, coisa que não existe no atual quadro político partidário
Brasileiro.

2º. – O parlamentarismo pressupõe a existência de uma legislação clara e específica


sobre candidatos e candidaturas. Na Europa, em que o sistema parlamentar é o regime
vigente, quer nas repúblicas, quer nas monarquias constitucionais, existe o voto distrital
misto, voto no partido e não em candidatos e listas fechadas com os nomes indicados
pelas agremiações em ordem crescente.

Assim, o cidadão, ao votar no partido A, esta aceitando implicitamente a ordem


estabelecida pelo partido e já sabe que, caso tal partido saia vitorioso nas urnas, o
candidato que aparece em primeiro lugar na lista será, automaticamente, convidado a
compor o Governo e a ser o primeiro ministro.

3º. – O governo parlamentar pode ser exercido unicamente pelo partido político que
obteve a maioria dos votos ou em coligação com outros partidos, em caso de não ter
obtido a maioria necessária para formar governo (atualmente a Inglaterra é governada
por uma coligação de partidos de Centro-Direita).

4º. – outro ponto importante no sistema parlamentarista é o chamado voto censura: caso
o governo não esteja atuando dentro das normas institucionais, ou seja, suspeito de
corrupção, por aprovar o chamado voto censura e, com isso, o primeiro ministro e seu
gabinete perdem as condições de governar.

Nesse caso, cabe ao presidente da república, ou ao rei, convocar novas eleições gerais.
Isso acontece de uma maneira em geral tranquila e não afeta diretamente o dia a dia das
pessoas.
366

2 – Parlamentarismo Brasileiro:

Já houve parlamentarismo no Brasil. Foi em 1962, após a renúncia do ex-presidente


Jânio Quadros. Como o seu Vice, João Goulart, era considerado radical e favorável a
uma reforma agrária, o Congresso Brasileiro aprovou uma lei instituindo o Sistema
Parlamentarista e o então deputado Tancredo Neves foi eleito primeiro-ministro. Esse
Sistema vigorou pouco tempo, pois logo depois foi convocado um plebiscito e, por
maioria esmagadora, o povo votou pela volta do presidencialismo.

Durante a década de 1990, houve outro plebiscito para escolha da forma de governo e o
presidencialismo, defendido pelo PT, acabou sendo vitorioso. O maior partido brasileiro
de oposição – PSDB – defende o Sistema Parlamentarista.

Outra discussão que se abre como regime parlamentarista é quanto à formação do


parlamento. Em muitos países, como Portugal, por exemplo, o Sistema Parlamentar é
unilateral – ou seja, existe apenas a Câmara dos deputados. No Brasil, assim como nos
Estados Unidos, o Sistema é bicameral: Câmara dos deputados e Senado Federal.

90 – PATRÍSTICA
(veja tópico 39 sobre a Escolástica)

“aquilo que a verdade descobrir não pode contrariar aos


livros sagrados, quer do Antigo quer do novo Testamento”
(Santo Agostinho).

1 – Introdução:

Teoria do conhecimento na Idade Média.

No período de decadência do Império Romano, quando o Cristianismo se expande,


surge a partir do século II a filosofia dos Padres da Igreja, conhecida também como
Patrística. No esforço de converter os pagãos, combater as heresias e justificar a fé,
desenvolve a apologética, elaborando textos de defesa do cristianismo. Começa aí uma
longa aliança entre fé e razão que se estende por toda a Idade Média e em que a razão é
considerada auxiliar da fé e a ela subordinada. Daí a expressão agostiniana “Credo ut
intelligam”, que significa “Creio para que possa entender”.

Os padres recorrem inicialmente à filosofia platônica e realizam uma grande síntese


com a doutrina cristã. Mediante adaptações consideradas necessárias.

O principal nome da patrística é Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona, cidade do


norte da África. Agostinho retoma a dicotomia platônica referente ao mundo sensível e
ao mundo das ideias e substitui esse último pelas ideias divinas. Segundo a teoria da
367

iluminação, o homem recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas: tal como o
sol, Deus ilumina a razão e torna possível o pensar correto.

Santo Agostinho viveu no final da Antiguidade; logo depois Roma cai nas mãos dos
bárbaros, tendo início o longo período da Idade Média. Na primeira metade, conhecida
com Alta Idade Média, continua sendo enorme a influencia dos Padres da Igreja, e
vários pensadores de saber enciclopédico retomam a cultura antiga, continuando o
trabalho de adequação às verdades teológicas.

2 – A Filosofia Medieval

Com a queda do Império Romano (século V), a religião surge lentamente como
elemento agregador dos inúmeros reinos bárbaros formados após sucessivas invasões;
seus chefes são pouco a pouco convertidos ao cristianismo, e a Igreja se transforma em
soberana absoluta da vida espiritual do mundo ocidental.

A cultura greco-romana quase desaparece nos períodos mais turbulentos da implantação


do modo feudal de produção, mas permanece latente, guardada nos mosteiros. São os
monges os únicos letrados em um mundo onde nem os servos nem os nobres sabem ler.
No entanto, não devemos considerar todo o período medieval (séculos V a XV, por
tanto mil anos) como sendo de obscuridade. Em vários momentos, há expressões
diversas de produção cultural às vezes são heterogêneas que se torna difícil reduzir o
período àquilo que se poderia chamar pensamento medieval. Uma constante se faz notar
no pano de fundo desse pensamento: a tentativa de conciliar a razão e a fé. A temática
religiosa predomina na preocupação apologética, isto é, na defesa da fé cristã e no
trabalho de conversão dos não cristãos. A máxima predominante é “Crer para
compreender, e compreender para crer”. A filosofia, embora se distinguindo da teologia,
é instrumento desta, é serva da teologia.

Apesar do risco de simplificação, dividimos a Idade Média em duas tendências


fundamentais: a filosofia patrística e a escolástica.

2 – A Filosofia Patrística

A filosofia patrística inicia-se ainda no período decadente do Império Romano, no


século III. Essa filosofia auxilia a exposição racional da doutrina religiosa e se acha
contida nos trabalhos dos chamados Padres da Igreja, cujas principais preocupações são
as relações entre fé e ciência, a natureza de Deus e da alma e a vida moral.

A retomada da filosofia platônica, baseada na predileção pelo suprassensível, contribui


para a fundamentação da necessidade de uma ética rigorosa, da abdicação do mundo, do
controle racional das paixões.
368

Alguns dos representantes da patrística foram Clemente de Alexandria, Orígenes e


Tertuliano. Mas a principal figura é Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona.
Seguindo a tradição platônica, que via sempre o Perfeito por trás de todo imperfeito e a
Verdade absoluta por trás de todas as verdades particulares, também Santo Agostinho
pensa numa iluminação pela qual a verdade é infundida no espírito humano por Deus.

3 – A Filosofia Escolástica (Veja Escolástica – tópico 39).

91 – PELAGIANISMO

1 – Introdução:

O que é o Pelagianismo?

Foi um conceito teológico que negava o pecado original, a corrupção da natureza, o


servo arbítrio (arbítrio escravizado, cativo) e a necessidade da graça divina para a
salvação. O termo é derivado do nome de Pelágio da Bretanha.

Todo homem é totalmente responsável pela sua própria salvação e, portanto, não
necessita da graça divina. Segundo os pelagianos, todo homem nasce “moralmente
neutro”, sendo capaz, por si mesmo, sem qualquer influência divina, de salvar-se
quando assim o desejar. Uma das grandes disputas durante a Reforma Protestante
versou sobre a natureza e a extensão do pecado original.

2 – Desenvolvimento:

No Século V, Pelágio havia debatido ferozmente com Agostinho de Hipona sobre este
assunto. Agostinho mantinha que o pecado original de Adão foi herdado por toda a
humanidade e que, mesmo que o homem caído retenha a habilidade para escolher, ele
está escravizado ao pecado e não pode não pecar. Por outro lado, Pelágio insistia que a
queda de Adão afetara apenas a Adão, e que se Deus exige das pessoas que vivam vidas
perfeitas, ele também dá a habilidade moral para que elas possam fazê-lo e embora
considerasse Adão como “mau exemplo” para a sua descendência, suas ações não
teriam consequências para a mesma, sendo o papel de Jesus definido pelos pelagianos
como “um bom exemplo fixo” para o resto da humanidade (contrariando, assim, o mau
exemplo de Adão), bem como proporciona uma expiação pelos seus pecados, tendo a
humanidade em suma, total controle pelas suas ações, posteriormente Pelágio
reivindicou que a graça divina era desnecessária para a salvação, embora facilitasse a
obediência.
369

As sentenças pronunciadas pelo papa Inocêncio I contra tal tese acabaram por classifica-
la como heresia.

3 – Conceitos

O Pelagianismo considerava que a situação de não salvação do homem apenas seria


uma questão moral, sendo assim, Adão deu um mau exemplo que pode ser seguido do
mesmo modo que Jesus deu o “exemplo do bem”. Pelágio foi contestado por Agostinho
e Jerônimo ao rejeitar o conceito agostiniano de graça.

4 – História:

As duas décadas da polêmica causada pelas ideias de Pelágio costumam ser divididas
em três momentos:

a) Até 411: período mais sugestivo pela escassez de material, nesse período
escreveu De Induratione Cordis Pharaoniscontendo o manifesto para a
hermenêutic do cristianismo;

b) De 414 – 418: período quando se desencadeia a polêmica com tomadas de


posições por parte dos concílios e sínodos. Foi condenado, por exemplo, no
Concílio de Éfeso;

c) De 418 – 430: Até a morte de Agostinho que polemiza suas obras sobre
liberdade humana, enquanto que o Pelagianismo deixava de ser uma heresia para
ser considerado como uma visão de mundo e da humanidade.

É impossível nos salvarmos sem o auxílio da graça de Deus. Muitos homens, no


entanto, ao interpretar essa verdade, acabaram incorrendo em erros e tiveram de ser
corrigidos pela Igreja.

Em seus discursos, o Papa Francisco tem feito constante referencia a uma heresia
surgida no século V, chamada Pelagianismo. Afinal, em que consiste esta heresia, qual
o seu perigo e como o erro de Pelágio ainda pode contaminar os cristãos de hoje?

Nos últimos tempos, o Papa Francisco tem abordado com frequência a questão do
Pelagianismo. Mas, o que vem a ser isso? Trata-se de uma heresia iniciada por um
monge oriundo da Bretanha, chamado Pelágio. Ele dizia que não era necessário o
auxílio da graça de Deus para que o homem realizasse atos de virtude. Cristo morreu
na cruz e deu o exemplo. Bastaria ao homem segui-lo. Santo Agostinho que por trinta
anos viveu amarrado às correntes do pecado sabia que a afirmação de Pelágio era falsa.
Ele sabia da incapacidade do homem em vencer o pecado sem o auxilio da graça divina.
370

A heresia pelagianas foi condenada no XV Sínodo de Cartago, iniciado em 01 de maio


de 418, conforme se vê no “Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e
moral”, popularmente conhecido como Denzingerhünnermann, a partir do número 225.

Algum tempo depois, a reflexão teológica iniciada por Pelágio ganhou um novo
capítulo, pois, na Gália, atual França, surgiu uma segunda opinião acerca do tema. João
Cassiano, o mesmo que escreveu as “Instituições Cenobíticas”, tornou famoso Evágrio
Pôntico e a doutrina dos Padres do Deserto no Ocidente, criou o chamado
“Semipelagianismo”, afirmando que a graça de Deus auxilia no momento de se vencer
o pecado, mas que a iniciativa precisa ser do homem. Isso também não é verdade, pois,
o amor de Deus é sempre o primeiro a dar o passo na direção do homem. O
semipelagianismo foi condenado no II Sínodo de Orange, iniciado em 12 de julho de
526.

Para entender estas duas heresias e como elas influenciam de modo concreto e
inequívoco a vida dos cristãos até os dias atuais, é necessário fazer uma distinção
entre graça suficiente e graça eficaz. Lembrando que graça é o próprio Deus que se
doa ao homem. O Espírito Santo quando é derramado nos corações é a graça por
excelência.

A efusão do Espírito Santo, também conhecida com graça incriada, provoca no homem
diversas mudanças que podem ser chamada de graça criada. Elas são reações ocorridas
no íntimo da própria pessoa, que se transmuda ao receber o Deus que se doa.

Deus se dá à pessoa, contudo, apenas o suficiente para que o processo de mudança


ocorra de forma livre. Se Deus se oferecesse de maneira plena, com toda sua potência, o
homem perderia a sua liberdade, pois Deus é irresistível. Assim, Ele oferece ao homem
a chamada graça suficiente.

O conceito teológico de graça suficiente é a chave para se combater o


semipelagianismo. Ela é como um carro que saiu da concessionária com combustível
suficiente apenas para chegar ao posto de gasolina, mas não até o destino final, portanto,
apenas para iniciar o caminho de conversão, mas não para chegar à santidade.

A graça suficiente age no homem para realizar a conversão do filho pródigo narrada no
Evangelho de São Lucas, capítulo 15. Ele pensa: “pequei contra Deus e contra o meu
pai, vou voltar para casa”. A partir dessa tomada de consciência, da graça suficiente que
toca o coração humano, ele deve pedir, suplicar, implorar pela graça eficaz, aquela que é
capaz de agir em seu coração, capacitando-o a vencer o pecado no dia a dia.

A graça eficaz não é merecida por ninguém, nem mesmo os grandes santos, por isso é
preciso pedi-la. Santo Afonso Maria de Ligoria dizia: “quem reza se salva, quem não
reza não se salva, se condena.” Ou seja, quem pede a graça de Deus a terá. E a graça
eficaz fará com que a pessoa vença o pecado na batalha do dia a dia. Assim, quem não a
pede não tem a força que ela traz.
371

Se a graça suficiente combate o semipelagianismo, a graça eficaz, por sua vez, combate
o Pelagianismo. Seja como for, em ambos os casos, o homem é um mendigo diante da
parte de Deus. Ele precisa bater e pedir a graça. Deus a concederá não porque o homem
a mereça, mas porque Ele é Bom.

Para recebê-la, contudo, é preciso ser como as virgens prudentes do Evangelho de São
Mateus (25), que enchem as suas lâmpadas com o óleo da oração. Pedir insistentemente,
bater à porta, fará com que aconteça o que Jesus prometeu: “ pedi e recebereis, batei e
abrir-se-vos-a, vos será dada um medida calcada, sacudida, abundante que será colocada
em vosso regaço” (Mt. 7.7): a graça de Deus.

Para isso, é preciso não se contentar com a graça mínima, suficiente, mas pedir
incessantemente e confiar naquele que prometeu que irá derramar a graça de fazer com
que o cada um O ame de todo o coração.

92 – PENTECOSTALISMO

“O Justo Viverá Por Fé”

1 – Introdução:

O que é Pentecostalismo?

É um movimento de renovação dentro do cristianismo que dá ênfase especial numa


experiência direta e pessoal de Deus através do Batismo no Espírito Santo.

O termo Pentecostal é derivado de Pentecostes, um termo grego que descreve a festa


judaica das semanas. Para os cristãos, este evento comemora a descida do Espírito Santo
sobre os seguidores de Jesus Cristo, conforme descrito em Atos 2.

Pentecostais tendem a ver que seu movimento reflete o mesmo tipo de poder espiritual,
estilo de “adoração e ensinamentos” que foram encontrados na igreja primitiva. Por este
motivo, alguns pentecostais também usam os termos apostólicos ou evangelho pleno
para descrever seu movimento.

O pentecostalismo é um termo amplo que inclui uma vasta gama de diferentes


perspectivas teológicas e organizacionais. Os pentecostais podem ser inseridos em mais
de um grupo cristão, indo do Trinitariano até o não trinitarianos. Muitos grupos
pentecostais são afiliados “Conferencia Mundial Pentecostal”.

No Brasil é comum os pentecostais e os protestantes históricos (Presbiterianos e


luteranos, por exemplo) se auto identificarem com o termo evangélico. A ênfase do
pentecostalismo sobre o “Charisma” o coloca dentro do Cristianismo, um enorme
agrupamento de cristão que tem aceitado alguns ensinamentos pentecostais sobre o
batismo no Espírito Santo e nos dons espirituais. O pentecostalismo está teologicamente
372

e historicamente próximo ao Movimento Carismático, influenciando tão


significativamente o movimento, que às vezes os termos pentecostal e carismático são
usados indistintamente, todo movimento pentecostal no mundo inclui cerca de 590
milhões de pessoas.

2 – Origens do Pentecostes

O Pentecostes, em grego ‘pentekostos’ (cinquenta), foi um feriado anual judaico,


também conhecido como a Festa das Semanas, festas dos primeiros frutos da colheita.
Ela é celebrada cinquenta dias depois da páscoa. O livro Bíblico de Levítico descreve-o
como segue:

“Contareis para vós outros desde o dia imediato ao sábado, desde o dia em que
trouxerdes o molho da oferta movida; sete semanas inteiras serão. Até o dia imediato ao
sétimo sábado, contareis cinquenta dias; então, trareis nova oferta de manjares ao
Senhor. Das vossas moradas trareis dois pães para serem movidos; de duas dízimas de
um efa de farinha serão; levedados se cozerão; são primícias ao Senhor. Com o pão
oferecereis sete cordeiros sem defeito de um ano, e um novilho, e dois carneiros;
holocaustos serão ao Senhor, com a sua oferta de manjares e as suas libações, por oferta
queimada de aroma agradável ao Senhor. Também oferecereis um bode, para oferta pelo
pecado, e dois cordeiros de um ano, por oferta pacífica. Então o sacerdote os moverá,
com pão das primícias, por oferta movida perante o Senhor, com os dois cordeiros;
santos serão ao Senhor, para o uso do sacerdote. No mesmo dia, se proclamará que
tereis santa convocação; nenhuma obra servil fareis; é estatuto perpétuo em todas as
vossas moradas, pelas vossas gerações. Quando segardes a messe da vossa terra, não
rebuscareis os cantos do vosso campo, nem colhereis as espigas caídas da vossa sega;
para o pobre e para o estrangeiro as deixareis. Eu sou o Senhor, vosso Deus.”

Levítico 23.15-22, ARA.

As igrejas pentecostais fazem alusão a este acontecimento como um símbolo para todos
os que se converteram ao Cristianismo no dia de Pentecostes, seriam os primeiros frutos
da colheita de uma grande parte dos milhões de almas;

3 – Antecedentes Bíblicos (Visão Pentecostal)

3.1 – A Promessa do Derramamento do Espírito Santo

Aproximadamente entre 835 e 805 a.C., a terra de Judá foi atingida com uma praga de
gafanhotos que destruiu os pastos e as folhagens das árvores, em apenas algumas horas.
Todos os cultivos se perderam, a fome e a seca devastaram o país inteiro. O profeta Joel
ao ver esse período terrível, deu a promessa do derramamento do Espírito Santo, que
seria a restauração de tudo o que o mal tinha destruído, descrevendo-o como segue:
373

“E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e
vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até
sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias. Mostrarei
prodígios no céu e na terra: sangue, fogo e colunas de fumaça. O sol se converterá em
trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. E
acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque, no monte
Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o Senhor prometeu; e, entre os
sobreviventes, aqueles que o Senhor Chamar.” (Joel 2.28-32, ARA).

3.2 – A Revelação a João Batista

O Evangelho de João menciona um sucessor, o qual é revelado a João Batista, que


cumpriria a promessa de derramar o Espírito Santo sobre os crentes. Ele diz: “aquele
sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo”.
Jo. 1.33 ora, a pessoa sob a qual o Espírito desceu foi Jesus Cristo. João Batista
testemunhou que quem viria depois dele iria batizar com o Espírito Santo (Mt. 3.11).

3.3 – Jesus Cristo e a Promessa do Pai

Depois que Jesus Cristo ressuscitou ordenou a seus apóstolos e discípulos a


permanecerem em Jerusalém até serem revestidos de poder do alto (Lc. 24.49). Do
mesmo modo, em Marcos 16.17, Jesus diz a seus discípulos que em seu nome
expulsariam demônios e falariam novas línguas. No livro de Atos, o autor Lucas fala de
um mandato mais específico que Jesus disse aos seus discípulos, descrevendo-o como
segue:

“mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da
terra”. (Atos 1.8, ARA).

Neste capítulo de Atos, Jesus disse aos seus seguidores que deveriam permanecer em
Jerusalém para que pudessem receber a promessa do derramamento do Espírito Santo.
Para que dessa maneira pregassem o evangelho em todos os lugares.

3.4 – O Outro Consolador

Há também o registro de João a partir do capítulo 14 (o discurso de adeus), no final


Jesus Cristo apresenta o Espírito Santo como “o outro consolador”. Quando por ocasião
da última ceia Jesus intensifica sua pregação aos onze com o foco no sacrifício do
Messias. E ao perceber os discípulos ficaram tristes anuncia o Espírito Santo, que é
Deus em nós, não mais Emanuel (Deus conosco).

Este também é um ponto de discordância entre os evangélicos e os católicos, pois na


visão protestante a exaltação do Papa substitui o Espírito Santo. Há uma frase famosa
dita como título do Papa, “Vicarius Filli Dei”, “o representante do Filho de Deus” ou
em adaptações “o representante de Jesus na terra”, função que é exclusiva do Espírito
Santo.
374

Jesus apresenta alguns títulos e funções para o Espírito Santo como:

- Consolador. Jo. 14.16;


- O Espírito de verdade. Jo. 14.17;
- Mestre (professor), ensinar. Jo. 14.26;
- Fazer Lembrar-se de seus ensinamentos. Jo. 14.26;
- Convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Jo. 16.8;
- Guiar a toda verdade (orientar). Jo. 16.13;
- Anunciar as coisas futuras. Jo. 16.13.

2.5 – O Derramamento do Espírito Santo

Dez dias depois que Jesus subiu ao Céu, chegou o dia de Pentecostes. Cento e vinte
pessoas estavam esperando no cenáculo, unânimes, à promessa que Jesus Cristo havia
feito.

“de repente, veio do céu um som como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa
onde estavam assentados. Apareceram distribuídas entre eles, línguas como que de fogo,
e pousou uma sobre cada um deles”. Atos 2.2 e 3, ARA.

Isso ocorreu há cerca de nove horas da manhã e havia testemunhas de várias


nacionalidades, como medos, partos, africanos, egípcios, judeus, árabes e galileus que
ouviram falar das maravilhas de Deus. No entanto, houve muitos que pensavam que
estavam bêbados. Após o evento, o apóstolo Pedro explica a profecia de Joel preenchida
para a igreja cristã.

Durante muitos anos o derramamento do Espírito Santo havia sido reservado


exclusivamente par líderes nacionais e espirituais do povo de Israel (os judeus do velho
testamento bíblico), mas na época do pentecostes foi concedida a “toda carne”.

2.6 – A Igreja do Novo Testamento Cristão

O Novo Testamento relata que a Igreja primitiva acreditava no batismo no Espírito


Santo (Atos 11.15,16). Os escritores cristãos do segundo século usaram a palavra grega
carisma, o que significa “presente” ou “dom divino” para se referir a estes dons, isto é, a
mesma palavra que usou o apóstolo Paulo em sua lista de dons espirituais, que incluía o
falar em línguas (1 Co. 12). Assim, como os cristãos do primeiro século praticavam a
imposição das mãos para a ocorrência dessa experiência nos crentes (Atos 8.14-17). A
seguir estão vários eventos realizados em igrejas cristãs do Novo Testamento:

2.6.1 – A Casa de Cornélio

De acordo com Atos 10.46 em uma visão que teve o apóstolo Pedro no telhado de uma
casa em Jope, Deus revelou que devia amar seus companheiros, apesar de não judeus,
375

por que diante de Deus não há acepção de pessoas. O centurião Cornélio da Corte
Italiana, enviados em ir a Cesaréia por ordem de Deus, e chegou à casa de Cornélio.
Quando Pedro começou seu discurso o Espírito Santo desceu sobre os presentes e
começaram a falar em línguas. Glorificando a Deus.

2.6.2 – A Igreja em Éfeso

Quando o apóstolo Paulo chegou a Éfeso, ele encontrou uma situação muito
comprometedora. Os cristãos da igreja que tinham sido batizados pelo batismo de João
e nem sequer sabiam que existia o Espírito Santo, depois, Paulo batizou-os na
ordenança de Jesus e colocando as mãos sobre eles veio o Espírito Santo e falaram em
línguas e profetizaram. (Atos 19.5).

2.6.3 – A Igreja em Samaria

Pedro e João tinham chegado a Samaria, onde havia um grupo de cristãos batizados em
água, mas não tinham sido batizados com o Espírito Santo. É por isso, que Pedro e João
impuseram suas mãos sobres (Atos 8.17). Esta é a única passagem em Atos que não
menciona que os crentes têm falado em novas línguas e é muito discutido. No entanto,
muitos grupos pentecostais modernos, acreditam que se o fizessem, porque Simão o
Mago, que quis comprar o dom do Espírito Santo tinha visto grade milagre.

3 – Antecedentes Históricos

São várias as instâncias de fenômenos que historiadores pentecostais (como Allan


Anderson) interpreta como processadores do pentecostalismo.

3.1 – Inácio de Antioquia (67-110 d.C.)

Afirmou em sua carte aos filadelfienses (Inácio Filadelfienses 7:01) que profetizou pelo
espírito: “Estando no meio de vós gritei, disse em alta voz, uma voz de Deus:
“permanecei unidos (...)”. aqueles suspeitaram que eu disse isso porque previa a divisão
de alguns, mas aquele pelo qual estou acorrentado é minha testemunha que eu não sabia
através da carna. Foi o Espírito que me anunciou, dizendo: (...), guardai vosso corpo
como templo de Deus, amai a união, fugi das divisões, sede imitadores de Jesus Cristo,
como ele também é do seu Pai”.

Em sua carta a Policarpo, ele também declara: “Quanto as coisas invisíveis, pode que te
sejam manifestados a ti, para que nada te falte e tenhas abundâncias em todo dom
espiritual”.

3.2 – Policarpo de Esmirna (70-160 d.C.)

Teve uma revelação de Deus como morreria. “orando, ele teve uma visão, três dias
antes de o prenderem: viu seu travesseiro queimando pelo fogo. Voltando-se para seus
companheiros, disse: ‘devo ser queimado vivo!’.
376

3.3 – Justino Martir (110-165 d.C.)

Em seu diálogo contra o judeu Trifo recorda que os dons do Espírito Santo, incluindo
exorcismo, ainda estão em uso: “Recebendo uma vez o espírito de discernimento, outro
um conselho, outro uma cura, outro de poder, outro de presciencia, outro de ensino e
outro de temor a Deus. Os dons proféticos permanecem conosco até o presente tempo.
Para alguns (crerem) certamente em expulsar demônios, (...). Outros têm conhecimento
daquilo que vai acontecer; eles têm visões e pronunciam expressões proféticas”.

3.4 – Irineu de Lião (130-202)

“De igual modo nós todos” ouvimos que muitos dos irmãos na igreja que têm dons
proféticos, e que falam em todas as línguas por intermédio do Espírito, e que também
trazem a luz os segredos dos homens para benefício dos homens, e que expõem os
mistérios de Deus.

3.5 – Tertuliano (160-220)

Ao falar de Marcião, declarou o seguinte: “para provar o que os” profetas têm falado e
não pelo sentimento humano, mas pelo Espírito de Deus, como aqueles que previam o
futuro e revelaram os segredos do coração, que apresentam um salmo, uma visão, uma
oração, que é apenas pelo Espírito em um êxtase, ou seja, em um rapto ou num
arrebatamento toda vez que uma interpretação tem ocorrido. “Aparentemente Tertuliano
descreveu parte da vida comum da Igreja Ortodoxa e recomendou buscar o dom do
Espírito Santo de profecia”.

3.6 – Pacônio (292 – 348 a.C.)

Depois de momentos especiais podia, sob o poder de o Espírito falar o idioma grego e
latim que jamais haviam aprendido.

3.7 – Agostinho de Hipona (354 – 430 d.C.)

Mencionam: “Fazemos todovia o que os apóstolos fizeram qundo impulseram as mãos


sobre os samaritanos, invocando sobre eles o Espírito Santo. Mediante a imposição de
mãos esperamos que os crentes falem em novas linguas.

3.8 – Simão o Novo Teólogo (949 – 1022 d.C.)

Talvez o mais famoso cristão carismático da igreja Ortodoxa. Seus Relatos declaram
muitas experiências espirituais, isto é, inclui um “batismo no Espírito Santo.”
Aconpanhado por dons de copiosas prantos, compulsão, e visões de Deus. Embora, não
haja registros ou indícios de derramamento do Espírito Santo durante a idade média,
alguns autores mencionam que os Valdeneses, albígenses, e os frades mendicantes,
falaram em línguas na Europa Meridional.
377

3.9 – Jansenitas (1640 – 1801 d.C.)

Fizeram parte de um movimento agostiniano radical da Igreja Católica Romana (seu


adepto mais famoso foi o cientista e apologista francês Blaise Pascal), alguns de seus
adeptos em Port Royal ficaram conhecidos pelos seus sinais e prodígios, dança
espiritual, curas e elocuções proféticas. Alguns dizem que falaram em línguas estranhas
e interpretaram as línguas que lhes foram endereçadas.

3.10 – Serafim de Sarov (1759 – 1833)

Líder carismático da Igreja Ortodoxa Russa, afirmou que o objetivo da vida cristã é a
recepção da Espírito Santo. Serafim também e lembrado pelo dom de cura. Os
hunguenotes foi o o nome dado ao Calvinista da França, uma nota sobre os
hunguenotes:

Respeitando as manifestações físicas, há pouca discrepância entre os relatos de amigos e


inimigos. As pessoas atingindas eram homens e mulheres idosos e jovens. Muitos eram
crianças com idades nove ou dez anos. Eles emergiram do povo, disseram seus
inimigos, da massa de ignorantes e sem cultura; sem ler e escrever, em sua maioria, e
falando o jargão da provincia diariamente, que era a única coisa que poderia usar para
falar. Tais pessoas caiam repentinamente para trás e, permaneciam estendidas na terra,
experimentavam contorções estranhas e aparentemente involutárias; seus peitos
pareciam inchar-se e seus estômagos inflar-se, ao sair de tal condição, gradualmente
voltavam a ganhar o poder de fala instantaneamente. Começavam, muitas vezes, com
uma voz interrompida por soluços e logo derramavam torrentes de palavras, clamores
de misericórdia, chamado ao arrependimento, exortações aos expectadores para que
parassem de frequentar as missas, admoestações à Igreja de Roma e profecias relativas
ao juízo vindouro. Da boca de crianças emergiam textos das Escrituras e discursos em
um francês muito bom e fácil de entender, um [francês] que nunca usavam quando
estavam conscientes. Quando o transe terminava, declarava que não se lembravam de
nada do ocorrido de que haviam dito. Em raras ocasiões recordavam impressões vagas e
gerais, mas nada a mais. Não havia aparencia de engano, nem indicação de que ao
pronunciar suas predições com relação a eventos futuros, tivessem alguma ideia de
prudencia ou dúvida tocante a veracidade do que havia predito.

Os Hunguenotes

Um dos principais líderes desta Igreja foi George Fox, que pregou uma mensagem sobre
a Nova Era do Espírito Santo, ele em seu Diário, diz o seguinte:

“No ano de 1648, enquanto estava sentado na casa de um amigo em Notinghamshire


(porque desta vez o poder de Deus tinha aberto os corações de alguns para receber a
palavra de vida e de reconciliação), vi que havia uma grande fenda que passava por toda
a terra, e um grande humo iba a medida que a fenda se abria caminho; depois da fenda,
ocorrida um grande terremoto. Esta era a terra que havia nos corações das pessoas a
378

qual tinha que ser sacudida antes que a semente de Deus fora levantada da tumba. E
assim, sucedia: Pois o poder de Deus começou a sacudi-los e grandes manifestações de
adoração eram conduzidos, de tal maneira, que poderosas obras do Todo Poderoso eram
realizadas entre os crentes para o assombro, tanto das gentes como dos sacerdotes.”

Quando os cristãos hussitas foram perseguidos na Boêmia, encontrou em Dresden,


Alemanha um refúgio no qual podiam procurar a Deus. Em 1727 o conde Ludwing Gaf
de Zinzendorf começou a organizar aos crentes desta corrente cristã em uma única
igreja. Durante o mês de julho criou reuniões e vigílias de oração com os jovens,
posteriormente relatava como a igreja de Irineu se unia para buscar a presença de Deus.
Os Morávios dizem que o Espírito desceu sobre eles, e grandes sinais e maravilhas
foram realizadas entre Irmãos naqueles dias, prevalecendo uma maravilhosa graça entre
si, e em todo o país.

3.11 – John Wesley

Ministro anglicano e pai da Igreja Metodista registram muitas histórias extraordinárias


em seus diários, tais como a cura de pessoas, de animais, e do poder do Espirito Santo
através da oração. O grande despertamento foi um fenômeno espiritual que impactou a
Inglaterra e Estados Unidos entre os anos 1735 e 1750. Durante este período teve
grandes pregadores que influenciaram o pentecostalismo moderno.

3.12 – George Whitefield (1714 – 1770)

Ministro aos 21 anos foi ordenado para pregar na Inglaterra. Fois aos Estados Unidos
em mais de nove ocasiões ensinando da Georgia até a Nova Inglaterra.

3.13 – Jonatham Edwards (1703 – 1758)

Aos seus dezenove anos começaram a pregar numa igreja em Nova Iorque, depois foi
ministro numa Igreja de Yale e em 1726 foi pastor associado da Igreja de Northampton,
Massachusetts, donde seria pastor por mais de 25 anos, sendo uma das pessoas mais
importantes do grande despertamento. Diz-se que quando foram pregar em uma vila, as
tabernas quebraram vazias e durante seus cultos ou reuniões, as pessoas gemiam e
choravam devido às pregações.

3.14 – Charles Finney (1742 – 1875)

Foi um ministro proeminente e representativo dessa época, realizava grandes atividades


evangelísticas e programava praticas metodistas dentro de igrejas presbiterianas e
congregacionalistas. Pregava pontos wesleyanos como a santificação, e a perfeição
cristã dada unicamente pelo Espirito Santo.

3.15 – Dwight L. Moody (1875)

Ministro que pregava na cidade de Chicago e de Nova Iorque, mencionou numa ocasião
que tinha uma especial investidura de poder do alto, um batismo claro e inequívoco do
Espírito Santo.
379

3.16 – Movimento de Santidade

Foi um movimento que dava ênfase que nesta vida presente pela fé, é possível obter a
inteira santificação, ou perfeição cristã através do Espírito Santo. A partir de 1840 se
iniciou a pregar sobre o batismo no Espírito Santo, seu principal contribuidor foi John
Morgan, o qual escreveu: “o dom do Espírito Santo, em sua plenitude pentecostal, não
devia restringir-se a igreja apostólica; é o privilégio compartilhado por todos os
crentes”.

Kittim Silva comenta que no ano de 1894, uns cem crentes foram batizados com o
Espírito Santo na Carolina do Norte, falando em novas línguas; eles pertenciam a um
grupo religioso chamado União Cristã, Igreja da Santidade e em 1907 mudaram para
Igreja de Deus. Esta igreja é conhecida como Igreja de Deus de Clevelend, por ser o
lugar donde adquiriu mais força.

4 – Pentecostalismo Moderno

Chama-se pentecostalismo histórico ou moderno o conjunto de Igrejas Cristãs que a


partir do século XX começaram enfatizar o sentir da presença do Espírito Santo e a
praticar a glossolalia. Veja abaixo a sua descrição:

4.1 – Pentecostalismo Clássico

O Pentecostalismo clássico é o que começou em 1901 entre os cristãos que se reuniram


em uma localidade na Rua Azusa, em Los Angeles, nos EUA, e simplesmente em vários
outros lugares na América do Norte. É a maior corrente pentecostal entre todas as
demais, pois, estão conformadas por organizações religiosas as que se formaram
naqueles anos, e mantém manifestações espirituais e doutrinas similares.

Dentro do pentecostalismo clássico norte-americano existem três orientações principais:


Santidade Wesleyana, Vida Superior e Unitários. Exemplos de denominações
Wesleyanas de Santidade inclui a Igreja de Deus em Cristo (IDC) e Igreja Pentecostal
Internacional de Santidade (IPIS). A Igreja do Evangelho Quadrangular é um exemplo
do ramo Vida Superior junta com a Assembleia de Deus e com a Congregação Cristã.
Algumas igrejas unitárias inclui em igreja Internacional Pentecostal Unida (IPU),
assembleia Pentecostal do Mundo (APM) e Assembleias do Senhor Jesus Cristo
(ASJC). Muitas Igrejas Pentecostais são afiliadas com Conferência Mundial
Pentecostal. O Pentecostalismo reivindica cerca de 588 milhões de adeptos no mundo
inteiro.

4.2 – História a partir de 1900

O Movimento Pentecostal de hoje traça seus vestígios da sua comunidade a uma reunião
de oração no colégio Bíblico Betel, na cidade de Topeka, estado do Kansas, nos Estados
Unidos, em 1°. De Janeiro de 1901. Ali, muitos chegaram à conclusão de que falar em
380

línguas era sinal bíblico do Batismo no Espírito Santo. Charles Tarham foi o fundador
desta escola, que mais tarde iria para a cidade de Houston, no Texas. Apesar da
segregação racial em Houston, William J. Seymour, um pregador negro, foi autorizado a
assistir as aulas bíblicas de Parham. Seymour viajou para Los Angeles, onde sua
pregação provou o avivamento da Rua Azusa em 1906. Apesar do trabalho de vários
grupos Wesleyanos avivalistas, como Parham e D.L.Moody, o início do movimento
pentecostal difundido nos Estados Unidos, é geralmente considerado como tendo
começado com Seymour no avivamento da Rua Azusa.

O avivamento da Rua Azusa foi o primeiro avivamento pentecostal a receber atenção


significativa, e muitas pessoas de todo o mundo tornou-se atraídos por ele. A imprensa
de Los Angeles deu muita atenção ao avivamento de Seymour, o que ajudou a alimentar
o seu crescimento. Um número de novos grupos menores iniciou-se inspirado nos
acontecimentos deste avivamento. Os visitantes internacionais e missionários
pentecostais acabariam por trazer estes ensinamentos para outras nações, de modo que
praticamente todas as denominações pentecostais clássicas hoje traçam suas raízes
históricas no avivamento da Rua Azusa.

Logo cedo os pentecostais foram incentivados por seu entendimento de que todo o povo
de Deus poderia profetizar nos últimos dias antes da segunda vinda de Cristo. eles
olharam para as passagem bíblicas sobre o pentecostes no segundo capítulo de Atos, em
que Pedro citou a profecia contida em Joel 2: “Nos últimos dias, Deus diz: eu
derramarei meu Espírito sobre todos os povos. Vossos filhos e filhas profetizarão,
vossos jovens terão visões, vossos velhos terão sonhos.” (NVI). Assim, quando a
experiência de falar em línguas espalhou-se entre os homens e mulheres da Rua Azusa
um sentido de urgência tomou conta, quando eles começaram a olhar para a segunda
vinda de Cristo. No início os pentecostais se viam como peregrinos na sociedade,
dedicando-se exclusivamente a preparar o caminho para a volta de Cristo.

O pentecostalismo, como qualquer outro movimento importante, deu origem a um


grande número de organizações com diferenças políticas, sociais e teológicas. O
movimento inicial foi contra cultural: Afro-americanos e as mulheres foram importantes
líderes do avivamento da Rua Azusa, o que ajudou a espalhar a mensagem Pentecostal
muito além de Los Angeles. Como o avivamento começando a diminuir, no entanto,
diferenças doutrinárias começaram a surgir como a pressão da evolução social, cultural
e político da época começou a afetar a igreja. Como resultado, mais divisões,
isolacionismo sectarismo e mesmo o aumento do extermínio eram aparentes.

4.3 – Influências

Alguns líderes cristãos que não faziam parte do início do movimento pentecostal
mantinham um alto respeito pelos líderes pentecostais. Albert Benjamim Simpson
tornou-se estreitamento envolvido com crescente avivamento pentecostal. Era comum
aos pastores pentecostais e missionários receberem a sua formação no Missionary
Training Institute fundado por Simpson.
381

Devido a isso, Simpson e a Aliança Missionária e Cristã (C & MA), o qual Simpson
também fundou, teve uma grande influência sobre o pentecostalismo, em particular, as
Assembleias de Deus e a Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular. Essa
influencia inclui a ênfase evangelística, doutrina da (C & MA), hinos e livros de
Simpson, bem como a utilização do termo “Evangelho Tabernáculo”, que evoluiu nas
igrejas pentecostais tornando-se “Evangelho Pleno Tabernáculo”.

Charles Prince Jones, um líder santificado afro-americano e fundador da Igreja de


Cristo, é outro exemplo. Seus hinos são amplamente cantados em convenções nacionais
da Igreja de Deus em Cristo e em outras igrejas pentecostais.

4.4 – Afro-americanos

Os afro-americanos desempenharam um papel importante no início do movimento


pentecostal. A primeira década do pentecostalismo foi marcada por reuniões inter-
raciais “... os brancos e os negros se misturam em um frenesi religioso”, observou um
jornal local, numa época quando as instalações do governo eram separadas racialmente
e leis de Jim Crow estavam prestes a ser codificadas. Enquanto a assembleia inter-racial
que caracteriza a Rua Azusa continuou por vários anos, mesmos no sul segregado, o
entusiasmou e o apoio para estes conjuntos, eventualmente caiu.

4.5 – Mulheres

4.5.1 – Início das Funções

As mulheres foram o catalizador inicial do movimento pentecostal. Visto que os


pentecostais creem na presença e interação do Espírito Santo em seus cultos, e que os
dons vieram sobre homens e mulheres, o uso dos dons espirituais foram incentivados
em todos. O intensivo ambiente convencional e emocional gerado no culto pentecostal
encontra-se duplamente promovido, e foram por si mesmo criadas outras formas de
participação tal como testemunho pessoal, oração espontânea e canto. Mulheres não
foram proibidas de entrar nesse fórum, e no início do movimento a maioria dos
convertidos e seguidores da igreja eram mulheres. Desde que o movimento contou com
os esforços e a participação de membros leigos, tanto dentro como fora da igreja, as
mulheres ganharam grande influência cultural no pentecostalismo e ajudaram a moldá-
lo. Mulheres escreveram canções religiosas, editaram jornais pentecostais de seus
adeptos do sexo feminino podem resultar da disponibilidade de tais oportunidades para
mulheres desde o início do movimento.

Além disso, as provas de três dos mais antigos grupos pentecostais, Assembleia de
Deus, a Igreja de Deus (Cleveland, Tenneesse) e a Igreja Internacional do Evangelho
Quadrangular, mostra um número de mulheres atuando como clero e missionários.
Pouco depois das Assembleias, formada em 1914, a listas do clero mostram que um
terço dos seus ministros era mulheres. Em 1925, embora o número de ministros do sexo
feminino caiu significativamente, de dois terços de seus missionários estrangeiros ainda
eram mulheres. Condo a Igreja de Deus foi formada em 1906, um terço dos seus
382

fundadores, eram mulheres. Quando Aimee Semple McPherson começou a Igreja


Internacional do Evangelho Quadrangular em 1923, as mulheres só estavam servindo
um terço dos ramos da Igreja, como os pastores e casais atuaram como copastores para
outras congregações dezesseis anos.

Outro aspecto do pentecostalismo também promoveu a participação das mulheres.


Apontando para proclamação de Pedro, da profecia bíblica de Joel 2.28, pentecostais
focaram sua atenção sobre o fim dos tempos, durante o qual Cristo iria retornar. Dado
que o batismo do Espírito Santo levou ao falar em línguas, quem foi abençoado com
este dom que têm a responsabilidade de usá-lo para a preparação para a segunda vinda
de Cristo.

Devido a esta responsabilidade, as restrições que a cultura ou de outras confissões sobre


as mulheres eram frequentemente ignoradas durante a parte inicial do movimento. Joel
2.28 também especificamente incluiu as mulheres, dizendo que ambos os filhos e filhas
e servos do sexo masculino e feminino receberiam o Espírito Santo, e profecias no fim
dos tempos. Assim, o foco sobre os dons espirituais, a natureza do ambiente de
adoração, e o pensamento dispensacionalista incentivava todas as mulheres a participar
em todas as áreas do culto.

Mesmo antes da Rua Azusa, as mulheres levaram seus próprios avivamentos com um
resultado de Agnes Ozman falando em línguas no Colégio Bíblico de Parham. A Sra.
Waldon e a Sra. Hall, por exemplo, trouxeram a mensagem pentecostal de Kansas a
Zion, Illinóis, onde elas ministraram e mais tarde Parham foi convidado a falar. Agnes
Ozman evangelizou completamente o Centro-Oeste depois de sair do Kansas. Quando
Parham mudou o seu ministério para Houston, Texa, oito dos seus quinze trabalhadores
eram mulheres.

Outras mulheres que participaram do Colégio Bíblico Betel, também convidadas, ou


foram enviadas para missões ou igrejas por Parham, para ajudar a fortalecer os
avivamentos locais. Além disso, dos doze anciãos que Parham inicialmente apontou
para ir a Rua Azusa, seis eram mulheres. Enquanto William J. Seymour é normalmente
considerado como o líder do avivamento da Rua Azusa, um número significativo de
mulheres também contribuiu para o avivamento, dependendo de quais contas são
consideradas de primeira mão, a liderança das mulheres no avivamento ou é
negligenciada ou enfatizada.

Mais relatos históricos foram disponibilizados aos homens, e estes autores tendem a
representar William J. Seymour como líder principal, com outros homens como
Charles Fox Parham e Edward Lee em importantes papéis de apoio. No entanto, as
mulheres não foram enfatizadas. Por outro lado, o relato da mãe Emma Cotton,
portadora de uma grande Igreja de Deus em Cristo, Congregação em Los Angeles,
inverteu a importância relativa dos homens com as mulheres. Independentemente de
quem teve a maior participação na liderança do avivamento, parece geralmente seguro
para concluir que a liderança global no avivamento da Rua Azusa foi partilhada entre
homens e mulheres. É preciso também ter em mente que a ideia de liderança humana no
383

sistema de crença pentecostal é um pouco equivocada, os participantes consideraram o


Espírito Santo o verdadeiro líder, e apenas a si mesmos como os vasos por onde
trabalha.

Mulheres, de conduta, também saíram do avivamento da Rua Azusa. Florença


Crawford foi uma proeminente convertida da Rua Azusa a evangelizar principalmente
através do meio Oeste dos Estados Unidos. Mais tarde, ela se mudou para Portland,
onde ela estabeleceu a Missão de Fé Apostólica e ministrou. Clara Lum também foi
uma figura importante da Rua Azusa. Aqui, ela coeditou A Fé Apostólica com
Seymour. Ophelia Wiley também trabalhou para a Fé Apostólica escrevendo artigos.
Ela pregou na Rua Azusa e evangelizou todo o Noroeste dos Estados Unidos. Jennie
Moore era uma líder ativa do avivamento da Rua Azusa que se casou com Seymour e
ajudou a liderar a Congregação. Abundio e Rosa Lopes estavam ativas na Rua Azusa e
mais tarde levaram o culto para as ruas das seções hispânicas de Los Angeles.

Outras evangelistas e missionárias da Rua Azusa incluem Ivey Campell que pregou ao
longo de Ohio e Pensilvania, Louis Condit foi para Okland, Califórnia, e em seguida
em Jerusalém, Lucy Leatherman evangelizado em Israel, Egito, Chile e Argentina;
Julia Hutchim evangelizou na Libéria; E.G.W. Daisy e Batman eram missionários na
Libéria. Globalmente, cerca da metade dos missionários, evangelistas e viajantes no
exterior eram mulheres.

4.5.2 – Mudanças nos Papéis das Mulheres

Apesar da liderança das mulheres no início do movimento, muitos tinham dúvidas sobre
os papéis de mulheres realizadas neste momento e assim hesitaram em sua luta para
avaliar o próprio papel e a posição das mulheres dentro das Igrejas pentecostais. Em
mulheres no pentecostalismo, diz Edith Blumhofer da participação das mulheres: “o
pastorado, não o púlpito, foi historicamente sido o maior obstáculo para as mulheres
pentecostais pede o reconhecimento do ministério completo”.

A liberdade que as mulheres tiveram no início do movimento pentecostal aos cargos de


liderança mais autoritários ou posições de lideranças oficiais diminuiu por um número
de razões. Durante o início do movimento, a ideologia restauracionista estimulou os
pentecostais a restaurar o cristianismo a uma definição do Novo Testamento, sugeriram-
se ambos os papéis liberado e restrito para mulheres. Enquanto o restauracionismo
enfatizou o papel do Espírito Santo e a igualitária profecia de Joel, eles também tiveram
de considerar os escritos do apóstolo Paulo de Tarso no Novo Testamento.

Ao fazer isso, o restauracionismo também destacou o caráter aparentemente


contraditório da Teologia a respeito dos papéis das mulheres. Por um lado, as instruções
de Paulo sobre a propriedade de culto em primeiro corinto 11 parecia admitir a
existência de mulheres profetizando e orando na Igreja. No entanto, em outras
passagens, ou seja, primeiro Timóteo 2.12, ele alertou que “eu não permito que a mulher
ensine ou tenha autoridade sobre um homem, ela deve ficar em silêncio.” (NVI).
384

Assim, enquanto o imediatismo e o fervor da atmosfera do início do avivamento foram


cedendo, as questões de autoridade e organização de igrejas surgiram. O
Institucionalismo se enraizou. Quando ficou claro que ambos os homens e mulheres
falavam de um não intelectual, sustentando que atos mais intelectuais, como a pregação,
deve ser realizada, apenas por mulheres, em condições controladas pelos líderes do sexo
masculino. O retrocesso do início do movimento pentecostal permitiu uma abordagem
mais socialmente conservadora as mulheres em acomodação, e como um resultado da
participação feminina foi dirigido a uma maior solidária e papéis tradicionalmente
aceitos. O Institucionalismo trouxe segregação de gênero e as Assembleias de Deus,
juntamente com outros grupos pentecostais, criaram organizações de mulheres
auxiliares. Nessa época, as mulheres se tornaram muito mais provavelmente em
missionárias ou evangelistas que pastores, quando elas eram pastores, muitas vezes
eram copastores com seus maridos. Isso também se tornou a norma para os homens para
manter todas as posições oficiais: os membros do Conselho, os presidentes de
faculdades, e administradores nacionais.

Enquanto o início do movimento evitou o denominacionalismo por causa de


espiritualidade morta vistas em outros segmentos protestantes, posteriormente as igrejas
pentecostais começaram a se espelhar na tradição comum das comunidades evangélicas.
Assim, a forma mais demográfica de se abordar outras coisas, seja homem, ou melhor,
leigo ou líder, ou como “irmão” ou de “uma” deu lugar a mais títulos reguladores como
o “reverendo”. Hoje, porém, alguns continuam a ordenar mulheres.

A cultura também contribui para a limitação do papel das mulheres nas igrejas
pentecostais. A visão social das mulheres como guardiões morais da sociedade começou
a desvendar-se como flappers na década de 1920 veio para a cena, provocando
suspeitas sobre a moral das mulheres. Desde quando os pentecostais quiseram
distanciar-se tanto quanto possível da modernidade, a “nova mulher” era uma imagem
terrível. Assim, os pentecostais, se agarrarem na visão mais tradicional da mulher no lar
e na sociedade.

4.5.3 – Movimento da Chuva Tardia

O movimento da chuva tardia começou fora de uma escola bíblica independentemente


em saskatchewan, Canadá, e se espalhou entre os muitos grupos pentecostais em 1940.
Os seus líderes ensinavam “um congregacionalismo extremado”, onde a autoridades
locais era exercida por um restaurado ministério quíntuplo, liderada por apóstolos que
através da imposição de mãos poderiam conceder dons espirituais. Muitos grupos
pentecostais tradicionais, como as Assembleias de Deus e a comunhão pentecostal da
América do Norte, foram críticos desse movimento e condenaram muitas de suas
práticas como sem base bíblica. Uma das razões para o conflito entre as denominações
tradicionais e da “Nova Ordem”, como o movimento também foi chamado. Foi a
tendência dos líderes da chuva tardia rotularem grupos existentes como “apóstata” e “a
385

antigo Igreja apóstata da Inglaterra”. O movimento da chuva tardia foi à controvérsia


mais importante a afetar o pentecostalismo desde a II Guerra Mundial.

4.5.4 – Movimento Carismático

No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, os cristãos das igrejas tradicionais nos
Estados Unidos, Europa, e outras partes do mundo começaram a aceitar a ideia
pentecostal que o batismo do Espírito Santo está disponível aos cristãos de hoje, ainda
mesmo se não aceitassem outros princípios do pentecostalismo formal. O movimento
carismático começou a crescer nas principais denominações. Emergiram carismáticos
episcopais luteranos, católicos, metodistas, batistas e durante esse período do tempo,
carismáticos foi utilizado para se referir a movimentos semelhantes que existiam dentro
das denominações que cresceram a partir do início do avivamento da Rua Azusa. Ao
contrário dos pentecostais clássicos, que formaram estritamente congregações ou
denominações pentecostais, carismáticos adotaram como seu lema, “floresça onde Deus
plantou você”.

Nas últimas décadas, muitas igrejas carismáticas independentes e ministérios formaram


ou se desenvolveram suas próprias denominações, igrejas e associações, como o
Movimento da Vinha. Na década de 1960 e ainda hoje, muitas igrejas pentecostais ainda
são rigorosas com os códigos de vestimenta e proíbem determinadas formas de
entretenimento, criando uma distinção cultural entre os carismáticos e pentecostais,
apesar de alguns pentecostais ainda manterem um entendimento estrito de “princípio de
santidade de vida”.

4.5.5 – Movimento Neocarismático ou Neopentecostal

O “movimento” neocarismático é uma coleção ampla de grupos carismáticos


independentes e pós-denominacionais. É o movimento mais recente do Cristianismo
Carismático, e também o mais numeroso.

Esse movimento integra o que é chamado de “terceira onda do Espírito Santo”. Um


termo cunhado por C. Peter Wagner. Wagner descreveu o pentecostalismo como a
“primeira onda”, e o movimento carismático como a “segunda onda”. Os editores da
obra The New Internacional Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements
“ampliado e remarcado”, o termo “terceira onda” para “neocarismático”. “terceira onda”
tem mais um foco acidental.

4.5.6 – Grupos Independentes

Muitos pequenos grupos independentes não conectados as igrejas pentecostais clássicos


se desenvolveram. Muitas vezes tendo um líder carismático, esses grupos estão
constantemente emergindo e formando novos grupos dentro do movimento. Alguns
desses movimentos independentes podem também ser considerados como
“carismáticos" em vez de pentecostais, eles incluem os seguidores de Charles Simpson
do movimento da igreja Aliança, os seguidores de Kenneth Hagin e Kenned Copland do
Movimento Palavra de Fé, e os seguidores de Earl Paulk da teologia do reino Agora.
386

Alguns desses grupos têm obtido sucesso da utilização da mídia de massa,


especialmente televisão, rádio, para difundir a sua mensagem. Esses novos movimentos
estão muitas vezes em desacordo com os pentecostais clássicos sobre diferentes
doutrinas e práticas. Muitos líderes pentecostais procuram se distanciar deles e também
as suas organizações desses movimentos mais recentes.

5 – Crença

5.1 – Visão Geral

Pentecostais enfatizam o ensino do “evangelho pleno” ou “evangelho quadrangular”. O


termo “quadrangular” refere-se as quatro crenças fundamentais do pentecostalismo:
Jesus salva, conforme João 3.16; batiza com o Espirito Santo, conforme Atos 2.4; cura o
corpo, conforme Tiago 5.15; e está vindo novamente para aqueles que foram salvos,
conforme I Tessalonicenses 4.16 e 17. Eles são evangelicais na medida em que
enfatizam a confiabilidade da Bíblia e a necessidade de transformação de vida do
indivíduo por meio da fé em Jesus.

Pentecostais, assim como outros evangelicais, geralmente aderem às doutrinas da divina


inspiração e da inerrância bíblica, alguns subscrevem à doutrina da infalibilidade
bíblica. Essa crença é expressa nas declarações doutrinárias de diversas organizações
pentecostais, como a Declaração de Verdades Fundamentais das Assembleias de
Deus, a Afirmação de Fé da Igreja de Deus em Cristo, e a Declaração de Fé da Igreja
do Evangelho Quadrangular. Entretanto, pentecostais diferem de outros evangelicais
por rejeitarem o cessacionismo. Pentecostais acreditam que os dons espirituais, assim
como o falar em línguas e profecia, não cessaram após o fechamento do cânon bíblico e
ainda estão disponíveis para os cristãos modernos.

Para evitar confusão quando se estuda as crenças pentecostais, os teólogos Duffield e


Van Cleave identificam três usos distintos da palavra “batismo” pelos pentecostais ao
analisar o Novo Testamento:

 Batismo para dentro do corpo de cristo: Refere-se à salvação. Todo crente é feito
parte de seu corpo, a Igreja, através do batismo. O Espírito Santo é o agente, e o
corpo de Cristo é o meio;

 Batismo em água: Simboliza o morrer para o mundo e o viver em Cristo, o


batismo nas águas é um símbolo externo do que já foi realizado pelo Espirito
Santo, a saber, o batismo para dentro do corpo de Cristo;

 Batismo com o Espírito Santo: Esta é uma experiência de capacitação distinta do


batismo para dentro do corpo de Cristo, neste batismo, Cristo é o agente e o
Espírito Santo é o meio.
387

5.2 – Salvação

A crença do pentecostalismo é que através da morte, sepultamento e ressurreição de


Jesus Cristo, os pecados podem ser perdoados e a humanidade reconciliada com Deus.
Este é o Evangelho ou “boa notícia”. A exigência fundamental do pentecostalismo é que
as pessoas sejam nascidas de novo. O novo nascimento é recebido pela graça de Deus
mediante a fé em Cristo e a sua aceitação como Senhor e salvador pessoal. No nascer de
novo, o crente é regenerado, justificado, adotado na família de Deus, é santificado.

A soteriologia pentecostal é geralmente mais arminiana que calvinista. A segurança do


crente é uma doutrina realizada dentro do pentecostalismo, no entanto, fé e
arrependimento são necessários para a salvação e continuam a ser necessários para a
continuação dessa salvação. Pentecostais acreditam em um céu e um inferno literal, o
primeiro para aqueles que aceitaram o dom divino da salvação, e o segundo para
aqueles que o têm rejeitado. Também, a maioria não acredita que o batismo no Espírito
ou falar em línguas seja necessário para a salvação; contudo, os crentes são incentivados
a procurar essas experiências.

5.3 – Batismo no Espírito

A crença e prática pentecostal centralizam-se sobre sua compreensão de plenitude ou


Batismo no Espírito Santo. A maioria dos pentecostais crê que no momento do novo
nascimento (regeneração), o novo crente tem a presença do Espírito Santo (habitação).
Enquanto o Espírito “habita” em cada cristão, pentecostais creem que Cristo deseja
“encher” o crente com o Espírito Santo. Para os pentecostais, este “enchimento” ou
batismo com o Espirito Santo é uma experiência definitiva que acontece depois da
salvação e capacita àqueles que foram cheios com o poder a servir e testemunhar, e
também experimentar os dons espirituais descritos na Bíblia. A posição defendida pela
maioria dos grupos pentecostais sobre os cristãos que não tiveram a experiência de ser
batizados no Espírito Santo pode ser resumida nesta declaração da Assembleia de Deus
dos EUA.

“o Espirito está operando em todos os cristãos, sejam batizados no Espírito ou não.


Deus também pode usar e não usar os cristãos que, por uma razão ou outra, não
receberam a experiência do Batismo. Nunca devemos desvalorizar este ministério.
Ainda assim, reconhecemos o batismo no Espírito Santo fará da vida e do ministério
ainda mais eficaz”.

Tradicionalmente, os pentecostais ensinam que a “evidência física inicial” do batismo


no Espirito Santo é o falar em línguas. Embora falar em línguas seja um sinal imediato e
óbvio de quem foi cheio do Espírito Santo, esta não é a única evidência. Grupos
pentecostais que aderem à doutrina da evidência inicial creem que falar em línguas “é
seguido por todas as evidências da semelhança de cristo que marca uma vida coerente
cheia do Espirito Santo”.
388

Apesar do falar em línguas frequentemente receber forte ênfase entre os pentecostais, a


maioria também reconhece outros dons sobrenaturais que podem ser recebidos a partir
do Espírito Santo. A maioria dos pentecostais reconhece que nem todos os cristãos,
necessariamente, recebem todos esses dons. Uma lista é frequentemente citada em 1
Coríntios 12.8-11 que inclui os seguintes dons: a palavra de sabedoria (capacidade de
fornecer orientação sobrenatural em decisões), palavra de conhecimento (transmissão de
informações fatuais do Espírito), fé, cura, operação de milagres, profecia
(pronunciamento de uma mensagem de Deus, não necessariamente envolvendo o
conhecimento do futuro), discernimento de espíritos (capacidade de dizer se os maus
espíritos estão em serviço), línguas, e interpretação de línguas.

5.4 – Dons Espirituais

Pentecostais são continuacionistas, isso significa que eles acreditam que todos os dons
espirituais, incluindo miraculosos ou “dons”, encontrados em 2 Coríntios 12.4-11 e 27-
31, Romanos 12.3-8, e Efésios 4.7-16, continuam a operar dentro da igreja no templo
presente. Pentecostais colocam os dons do Espírito em contexto com o Fruto do Espírito
Santo. O fruto do Espírito é o resultado do novo nascimento e do contínuo permanecer
em Cristo. É pelo fruto exibido que o caráter espiritual é julgado. Os dons espirituais
são recebidos como resultado do batismo com o Espírito Santo. Os dons são livremente
dados pelo Espírito Santo, não podem ser ganhos ou merecidos, eles não são um critério
adequado para avaliar a vida ou maturidade espiritual de alguém. Pentecostais ver nos
escritos bíblicos de Paulo uma ênfase em tanto ter caráter quanto poder, exercendo os
dons em amor.

Assim como fruto deve ser evidente na vida de cada cristão, os pentecostais acreditam
que para cada crente cheio do Espírito foi dado alguma capacidade para a manifestação
do Espírito. É importante notar que o exercício de um dom é uma manifestação do
Espírito, não da pessoa dotada e, apesar dos dons operarem através de pessoas, eles são
principalmente dons dados à Igreja. Eles são valiosos apenas quando ministram ganho
espiritual e edificação para o corpo de Cristo. Escritores pentecostais apontam que as
listas de ministérios úteis e funções na igreja. Um dom espiritual é muitas vezes
exercido em parceria com outro dom, por exemplo, em um culto numa igreja
pentecostal, o dom de línguas pode ser exercido seguido pela operação do dom de
interpretação.

De acordo com os pentecostais, todas as manifestações do Espírito devem ser julgadas


pela igreja. Isto é possível, em parte, pelo dom de discernimento de espíritos, que é a
capacidade de discernir se a fonte de uma manifestação espiritual é o Espírito Santo, um
espírito maligno, ou o espírito humano.

5.4.1 – Profecia

Pentecostais normalmente concordam com o princípio protestante “Sola Scriptura”. A


Bíblia é a “única regra do suficiente de fé e prática”, ela é “fixa, completa, e uma
revelação objetiva”. Paralelamente a este grande respeito pela autoridade das Escrituras
389

está a crença de que o dom de profecia continua a ser dado aos crentes em tempos pós-
bíblicos. A profecia não é compreendida pelos pentecostais como a capacidade de
pregar, embora a profecia e a pregação possam sobrepor-se às vezes. Pentecostais
definem profecia como uma “manifestação espontânea da graça de Deus, recebida por
revelação, (às vezes como uma visão, em outros momentos como sentimentos ou
pensamentos) e falada pelo Espírito através de um cristão, na língua dos destinados a
ouvir a palavra profética. Se vinda como palavra falada em uma situação específica”.
Como todos os dons, a profecia é dada a comunidade cristã para encorajar e fortalecer a
fé. A profecia sempre está subserviente e sob a autoridade das Escrituras.

5.4.2 – Falar em Línguas

Falar em línguas é uma distintiva prática pentecostal. Um crente pentecostal em uma


experiência espiritual pode vocalizar fluentemente expressões ininteligíveis
(glossolalia), ou articular uma linguagem alegadamente natural até então desconhecida
para ele (xenoglossia).

Dentro do pentecostalismo, geralmente há uma distinção entre dois tipos de línguas.


Primeiro muitos veem como a evidência inicial do Batismo no Espírito Santo, quando
um crente fala em línguas pela primeira vez. A maioria das denominações pentecostais a
consideram como o sinal de que o crente está cheio do Espírito Santo.

Segundo, pentecostais frequentemente referem-se a um dom de línguas. Isto é, quando


uma pessoa é movida por Deus para falar em línguas “conforme o Espírito Santo lhes
concedia” (At. 2.4). Este dom de línguas pode ser exercido em qualquer lugar, mas
muitas denominações insistem que só deve ser exercido quando uma pessoa que tem o
dom de interpretação de línguas está presente, mesmo que seja outra pessoa, ou o
mesmo que dá a língua. O intérprete deve traduzir a língua estranha na língua nativa dos
cristãos, para que todos possam entender a mensagem. Estes regulamentos de ordem da
igreja são tomadas de (1 Co. 14.13; 14.27, 28).

Muitos pentecostais, principalmente após o crescimento e a influência do movimento


carismático, acreditam que o dom de línguas é diferente de línguas como uma língua de
oração ou falar em línguas (uma língua desconhecida). De acordo com este ponto de
vista, falar em línguas é uma declaração concedida por Deus para a oração, e o dom de
línguas é um raro milagre em que Deus permite que um cristão fale em uma língua
estrangeira que não tenha previamente estudado a fim de proclamar o evangelho. Outros
pentecostais acreditam que elas são tudo a mesma coisa, em que o dom de línguas seja
falar línguas desconhecidas (incluindo a dos anjos) não com a finalidade de se
comunicar com os outros, mas para “a comunicação entre o espírito de Deus”. Quando
utilizado esse caminho, falar em línguas é muitas vezes referido como uma “língua de
oração”. Alguns grupos de pentecostais enfatizam a ideia de falar em línguas somente
quando o Espírito Santo vem sobre um indivíduo, e não creem que alguém pode
legitimamente falar em línguas na vontade.
390

No início do século 20, a maioria dos missionários pentecostais, juntamente com


proeminentes líderes pentecostais, sustentou que o falar em línguas era uma forma de
xenoglossia em que o Espírito Santo lhes permite falar em outras línguas. Contínuas
investigações repetidamente concluem que o falar em línguas era uma forma de dicção
que faltava toda a estrutura sintática, e quase sempre consistia de sílabas tiradas da
língua materna do orador, teólogo pentecostal redefiniu suas crenças. A maioria prega
agora que falar em línguas é uma língua de oração pessoal, ou glossolalia, com as
exceções acima referidas, não xenoglossia.

5.4.3 – Cura

Orar pelos doentes é uma importante prática em muitas igrejas pentecostais. As práticas
variam, mas geralmente esta oração inclui o pastor ungir o doente com azeite e a ajuda
dos anciãos da igreja, juntamente com os colaboradores pastorais, e a imposição de
mãos sobre o requerente da oração. Baseado no relato de Atos 19.11, 12, alguns
pentecostais ungem e oram “panos de oração”, que podem ser colocados perto de uma
parte do corpo do doente.

5.4.4 – Outras Práticas Distintas

Além dos dons espirituais, alguns pentecostais creem em outras manifestações


(respostas físicas) da presença do Espírito Santo. Dois dos exemplos mais conhecidos
são o dançar no Espírito e, o que é descrito como, uma forma de prostração conhecida
como “cair no Espírito”. Embora fenômenos como estes estejam presentes no
pentecostalismo desde o seu início, nem todos os pentecostais concordam com a
legitimidade bíblica e adequação de algumas ou de todas as formas de manifestações
físicas. A frequência e a importância de sua ocorrência em um culto pentecostal podem
variar, de ser comum em uma igreja local a ser inexistente em outra. Matando e dançar
no Espírito são duas práticas originadas no pentecostalismo clássico, mas agora são
mais comuns entre os neopentecostais e os grupos carismáticos.

Tradicionalmente, dançar no Espírito é definido como:

...um único participante espontaneamente “dançando” com os olhos fechados, sem


esbarrar em pessoas ou objetos próximos, obviamente sob o poder e orientação do
Espírito... Se a experiência acontece, é porque o adorar (sic) tornou-se tão extasiado
com a presença de Deus que o Espírito toma o controle dos seus movimentos físicos,
bem como o ser espiritual e emocional.

Uma definição diferente, mais recente de dançar no Espírito desenvolveu-se também


entre alguns pentecostais. Esta compreende o dançar no Espírito como um ato de
adoração congregacional, semelhante ao canto e oração. Segundo esta definição, ela é
uma “dança espontânea pela congregação (geralmente no lugar e sem parceiros)”.
Aqueles que aderem à definição tradicional tendem a desencorajar a identificação do
último tipo com a dança no Espírito. Ser arrebatado no Espírito (também conhecido
como “cair sob o poder”) é um fenômeno no qual uma pessoa cai (geralmente) para trás
391

ao mesmo tempo em que estava orando. Pentecostais creem que o cair pode ser causado
do Espírito, a “marcha para Jericó” é um exemplo de uma prática tradicional pentecostal
rara que não viu avivamento nas igrejas independentes carismáticas. Trata-se de uma
congregação marchado com gritos de oração e cantando.

5.4.5 – Ordenanças e Práticas

Como em outras igrejas cristãs, os pentecostais acreditam que certos rituais ou


cerimônias foram instituídos como um padrão e ordenação por Jesus no Novo
Testamento. Alguns pentecostais preferem chamar estas cerimônias de ordenanças, em
vez de sacramentos. Muitos cristãos chamam isso de sacramentos, no entanto, este
termo não é utilizado por alguns pentecostais que não veem as ordenanças como meios
de graça. Como alternativa o termo ordenança sacerdotal é utilizado para designar a
crença distinta de que a graça é recebida diretamente de Deus para o congregante com o
oficiante servindo apenas como um canal.

A ordenança do batismo é o símbolo exterior de uma conversão interior, que já teve se


realizou. Portanto, a maioria dos grupos pentecostais pratica o batismo de crentes por
imersão. As visões pentecostais sobre o batismo são divididas em dois campos
principais: a corrente trinitária e o “Nome de Jesus” ou “Só Jesus”. A corrente trinitária
ensina que a formulação exata da fórmula batismal é irrelevante, já que é a autoridade
de Deus e a obediência do destinatário que forma os fatores críticos. A doutrina do
“Nome de Jesus” declara que o balizador deve usar uma fórmula que diz: “Em nome do
Senhor Jesus Cristo”, em vez da tradicional fórmula trinitária comum a praticamente
todas as outras igrejas cristãs. Este ponto de vista surgiu da “Nova Emanação” ou
“Nova Revelação” que Frank Ewart, um pregador batista australiano, alegou ter
recebido como uma profecia divina, em 1913, e é largamente realizada hoje pelos
pentecostais unitários.

A ordenança da comunhão é vista como uma ordem direta dada por Jesus na Última
Ceia, a ser feito em suas memórias. Algumas igrejas pentecostais usam suco de uva, em
vez de vinho.

Lava-pés também é tido como uma ordenança por alguns pentecostais, especialmente a
Igreja Internacional Pentecostal Unida (IIPU) e a Igreja de Deus em Cristo (IDC). “É
considerado uma ordenança de humildade”, porque Jesus mostrou humildade ao lavar
os pés dos discípulos em João 13.14-17. Outras denominações, tais como as
Assembleias de Deus e a Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), não tem isso como
uma ordenança, mas deixam isso à consciência individual.

5.4.6 – Santidade e Vida Pentecostal

A teologia pentecostal foi moldada por movimentos que cresceram a partir da:
Santidade-Wesleyana e vida Superior. Os participantes desses movimentos acreditavam
que, após uma experiência de conversão (a “primeira benção”) haveria uma experiência
de “crise de santificação” ou a “segunda benção”. Pregadores wesleyana de santidade
392

ensinavam que essa experiência eliminaria imediatamente o pecado na vida cristã.


Resultando na “perfeição de pureza.” Cristãos de Vida Superior compartilhavam dessa
crença em uma segunda benção, mas entendiam de modo diferente. Eles não a viam,
essa experiência, como a eliminação total do pecado, mas como uma “consagração
plena que lhes dava poder para o evangelismo.” Os primeiros pentecostais, portanto,
entendiam o Batismo no Espírito Santo como essa “segunda benção” e falar em línguas
com sua evidência física. A orientação de santidade wesleyana era a posição universal
nos primeiros dias do pentecostalismo defendendo um triplo processo de conversão, a
santificação progressiva e batismo no Espírito Santo.

5.4.7 – Obra Consumada

Na primeira década do século XX, surgiu a controvérsia sobre uma nova doutrina, Obra
Consumada, que difere da Santidade-Wesleyana e da Vida Superior Pentecostal. A
doutrina da Obra Plena professa uma dupla experiência de conversão e de batismo no
Espírito, já que a santificação é vista como progressiva e não como instantânea. Este
argumento produziu um profundo cisma e foi visto como falacioso e contencioso por
pentecostais ortodoxos, os quais assumiram o Batismo no Espírito como a prova da
segunda obra.

6 – Denominações e Ligações

Com um número estimado de 115 milhões de seguidores no mundo em 2000, o


pentecostalismo é classificado como a “terceira força do cristianismo”, sendo as duas
primeiras o Catolicismo e o Protestantismo. Pentecostais e igrejas carismáticas têm
crescido rapidamente em muitas partes do mundo. A grande maioria dos pentecostais
está em países em desenvolvimento, embora muitas das suas lideranças internacionais
estejam na América do Norte. O movimento desfruta hoje de uma grande onda no
hemisfério sul, que inclui África, América latina, e muito Ásia. Uma das razões para
este crescimento é o apelo do pentecostalismo aos pobres. Conforme o relatório das
Nações Unidas, o movimento é “o mais bem sucedido em recrutar membros da classe
pobre”.

Em 1998, existiam 11.000 denominações pentecostais ou carismáticas diferentes pelo


mundo. A mais ampla denominação pentecostal no mundo, as Assembleias de Deus têm
aproximadamente 63 milhões de seguidores pelo mundo. Ela tem uma presença
significativa em muitos países, incluindo Cuba, Egito, Índia, Indonésia e Nigéria. A
Igreja de Deus (Cleveland) tem uma membresia de mais de 6 milhões, a Igreja de Deus
em Cristo tem uma membresia de 6 milhões, contada no EUA. Se somada a quantidade
e membros da Igreja de Deus em Cristo no resto do mundo, o número de membros
ultrapassa essa marca. A Igreja do Evangelho Quadrangular tem 5 milhões de membros,
a Igreja Internacional Pentecostal Unida tem uma membresia de mais de 4 milhões, e a
Igreja Internacional Pentecostal de Santidade tem mais de 3 milhões de membros.
393

A maior igreja pentecostal no mundo é a Igreja do Evangelho Pleno de Yodo na Coreia


do Sul. Fundada por David Yonggi Cho em 1958, ela possui 780.000 membros em
2003. A enorme igreja australiana, Hillsong, tem uma membresia de 19.000 e suas
canções é cantada nas igrejas pelo mundo a fora.

7 – Pentecostalismos Brasileiros

O movimento pentecostal pode ser dividido em três ondas delineadas por suas
características sócias religiosas e contexto cronológico. Além das grandes
denominações pentecostais, existem hoje centenas de “ministérios independentes” ou
novas denominações surgindo anualmente no Brasil e no mundo.

7.1 – Primeira Onda

A primeira onda, conhecida como pentecostalismo clássico, abrangeu o período de 1910


a 1950 e iniciou-se com sua implantação no país, decorrente da fundação da
Congregação Cristã no Brasil e das Assembleias de Deus até sua difusão pelo território
nacional. Desde o início, ambas as igrejas caracterizam-se pelo anticatolicismo, pela
ênfase na crença no batismo no Espírito Santo e por um ascetismo que rejeita os valores
do mundo e defende a plenitude da vida moral e espiritual. Francescon, Berg e Vingren
tiveram matriz pentecostal comum, ao receberem as novas doutrinas na Missão de Fé
Apostólica conduzida pelo Pastor William H. Durham, ex-pastor batista, em Chicago,
Illinois.

A primeira denominação desse movimento organizada no Brasil em 1910 com a vinda


do missionário Louis Francescon, que atuou em colônias italianas no Sul e Sudeste do
Brasil. Francescon realizou em 1910, o primeiro batismo de orientação pentecostal em
solo brasileiro com a conversão de onze almas, originando a Congregação Cristã no
Brasil em Santo Antônio da Platina – Paraná, e no mesmo ano inicia esta igreja no
Bairro do Brás em São Paulo.

Em 1911, Daniel Berg e Gunnar Vingre, iniciaram suas missões no Pará e Nordeste,
dando origem as Assembleias de Deus. O movimento das Assembleias de Deus cresceu
no norte-nordeste para o sul, com apoio inicial do movimento pentecostal escandinavo e
posteriormente transferência de aliança com as Assemblies of God americanas. Com os
anos surgiram ministérios e convenções, dos quais muitos são independentes, ou seja,
não afiliados à Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil.

Além da congregação Cristã no Brasil e da Assembleia de Deus surgiram outras


denominações pentecostais menores nos primeiros quarenta anos do pentecostalismo
brasileiro. Na década de 1930, nasceu a Igreja Adventista da Promessa à qual se referiu
Ducan A. Reilyl, mencionando que no Recife do ano de 1932, ao lado do
pentecostalismo proveniente dos Estados Unidos, nascia a Igreja Adventista da
Promessa. Em dezembro daquele mesmo ano, foi organizada a Igreja de Cristo no Brasil
em Mossoró (Rio Grande do Norte). A Igreja de Cristo divergiu das demais igrejas
394

pentecostais da primeira onda ao seguir o dogma da “eterna segurança” mais conhecida


como Perseverança dos Santos. Esta também defende que o cristão recebe o batismo do
Espírito Santo no momento da conversão e não como segunda benção seguida de dons
de línguas. Em Catalão, GO em 1935 foi fundada a Igreja Evangélica do Calvário
Pentecostal. Esta igreja uniu-se à Igreja de Deus de Cleveland, EUA e se tornou a Igreja
de Deus no Brasil, hoje presente em todos os estados brasileiros. A Igreja de Nosso
Senhor Jesus Cristo foi fundada em São Paulo em 1936 por Marcos Batista. A Missão
Evangélica Pentecostal do Brasil, fundada em Manaus em 1939, de origem americana,
mas que atualmente atua de forma independente, com direção nacional e credo baseado
no pentecostalismo clássico, de característica moderada quanto à questão de usos e
costumes.

Uma das denominações derradeiras da primeira onda pentecostal no Brasil é a Igreja


Evangélica Avivamento Bíblico, fundada em 7 de setembro de 1946 por Mário Roberto
Lindströn, Oswaldo Fuentes e Alídio Flora Agostino oriundos da Igreja Metodista. A
Igreja Evangélica Avivamento Bíblico conta hoje com mais de 60.000 pessoas.

7.2 – Segunda Onda

A segunda onda começou a surgir na década de 1950, quando chegaram a São Paulo
dois missionários norte-americanos da Internacional Church of The Foursquare Gospel.
Na capital paulista, eles criaram a Cruzada Nacional de Evangelização e, centrados na
cura divina, iniciaram a evangelização das massas, principalmente pelo rádio,
contribuindo bastante para a expansão do pentecostalismo no Brasil.

Em seguida, fundaram a Igreja do Evangelho Quadrangular. No seu rastro, surgiu o


Ministério Cristo Vive, o Brasil para Cristo, Igreja União Evangélica Pentecostal,
Igreja Pentecostal Deus é Amor, Casa da Bênção, Igreja Luz do Calvário, Igreja
Unida, Igreja de Nova Vida e diversas outras igrejas pentecostais menores como a
Igreja Cristã Maranata, a Igreja Presbiteriana Pentecostal dentre outras.

Dentro da Igreja Católica Apostólica Romana, surgia na década de 1960 a Renovação


Carismática Católica, no estado da Pensilvânia (EUA).

7.3 – Terceira Onda

A terceira onda, chamada de neopentecostalismo, teve início na segunda metade dos


anos 1970, fundadas por brasileiros, as mais antigas são a Igreja do Reino de Deus (Rio
de Janeiro, 1977), liderada pelo bispo Edir Macedo, e a Igreja Internacional da Graça de
Deus (Rio de Janeiro, 1980), liderada e fundada pelo missionário R.R. Soares, ambos os
presentes na área televisiva com seus tele evangelistas. Posteriormente, temos o
surgimento de a Renascer em Cristo (São Paulo, 1986), da Comunidade Evangélica
Sara Nossa Terra (Brasília, 1992), do Ministério Internacional da Restauração (1992), e
da Igreja Mundial do Poder de Deus (1998). De um modo geral, utilizam intensamente a
mídia eletrônica, imprensa e editorial, algumas ampliam técnicas de administração
empresarial, com uso de marketing, planejamento estatístico, análise de resultados etc.
395

algumas pregam a Teologia da Prosperidade, pela qual o cristão está destinado à


prosperidade terrena, rejeitando os tradicionais usos e costumes austeros dos
pentecostais. O neopentecostalismo constitui a vertente. Pentecostal mais influente, a
que mais cresce e também a mais liberal em questões de costumes.

7.4 – Renovados & Carismáticos

Paralelamente ao pentecostalismo, várias denominações protestantes que eram


tradicionais experimentaram movimentos internos, com manifestações pentecostais.
Assim foram denominados “renovados”, como a Igreja Cristã Maranata (originária da
Igreja Presbiteriana do Brasil), Igreja Presbiteriana Renovada (originária também da
IPB), Convenção Batista Nacional (originária da Convenção Batista Brasileira), Igreja
do Avivamento Bíblico (originária das Igrejas Metodista do Brasil) e a Igreja
Adventista da Promessa (originária da Igreja Adventista do Sétimo Dia). Esta,
entretanto, é classificada por Ducan A. Reilyl como denominação pentecostal da
primeira onda e não como “renovada”.

Alguns movimentos renovados ou carismáticos permaneceram como organizações


internas de suas denominações, como é o caso de Movimento Encontraram na Igreja
Evangélica de Confissão Luterana do Brasil.

Nos anos recentes a doutrina de renovação do pentecostalismo ultrapassou até mesmo as


fronteiras do protestantismo, surgindo movimentos de renovação pentecostal Católica
Romana e Ortodoxa Oriental, como a Renovação Carismática Católica que teve sua
origem por padres influenciados por pastores e literaturas pentecostais.

Quando falamos em Pentecostalismo,


Referimo-nos a um fenômeno característico
Do século XX: o avivamento que aflorou em
Los Angeles – USA, em 1906.

Analisando a História da Igreja, podemos observar nitidamente que Deus sempre avivou
ou reavivou sua Igreja em várias ocasiões diferentes. Esses períodos da Era Cristã foram
marcados por reavivamento maravilhosos, onde Deus se manifestou aos seus servos de
forma sobrenatural.

No período da Reforma Protestante, no século XVI, Deus levantou homens como


Martinho Lutero, João Calvino e John Knox. No século XVIII, ocorreu o Avivamento
Morávio com o Conde Zinzendorf, o Grande Reavivamento na Inglaterra com John
Wesley, Charles Wesley e George Whitefield e o Reavivamento Americano com
Jonathan Edwards. Nenhum destes avivamentos foi conhecido como Pentecostal, pois
o termo é do início do século XX, quando houve o derramamento do Espírito Santo nos
Estados Unidos da América, semelhante à manifestação de Atos dois.
396

8 – Conceito de Avivamento Espiritual:

A palavra “Avivamento” vem do verbo “avivar” que significa: tornar mais vivo,
despertar, reanimar-se e vivificar-se. John Stott conceitua avivamento como: “... uma
visitação inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus, pela qual uma
comunidade inteira toma consciência de sua santa presença e é surpreendida por ela”.

Devemos compreender que Avivamento é o cumprimento da Promessa de Deus e, Joel


dois e a resposta da oração, inspirada pelo Espírito Santo, do profeta Habacuque que
dizia: “aviva a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos”.

Avivamento é, acima de tudo, a manifestação de Deus no meio do povo, através do


Espírito Santo, com a finalidade de renovar, reavivar e despertar a Igreja sonolenta e
acomodada. O movimento Pentecostal é fruto de um Avivamento genuíno que ocorreu
na América do Norte, no início do século passado, e que se espalhou por todo mundo,
inclusive no Brasil.

9 – Origens do Pentecostalismo:

Tradicionalmente, reconhece-se o começo do movimento Pentecostal com o


Avivamento ocorrido em 1906, em Los Angeles (EUA), na Rua Azusa, caracterizado
pelo batismo com o Espírito Santo, evidenciado pelos dons do Espírito: línguas
estranhas, curas, profecias, interpretação de línguas etc.

O avivamento da Rua Azusa, rapidamente cresceu alcançando outros lugares e pessoas


de várias partes do mundo que foram até lá para conhecer, de perto, o movimento.

Algum tempo depois, vários grupos semelhantes foram formados em muitos lugares dos
USA, mas com o rápido crescimento do movimento, o nível de organização também
cresceu até o grupo denominar-se Missão da Fé Apostólica da Rua Azusa.

A partir desse movimento, houve um despertamento espiritual e nasceu um fervor


missionário por parte daqueles que iam sendo avivados.

10 – Pentecostalismo no Brasil:

No Brasil, o Pentecostalismo chegou em 1910 e 1911 com a vinda de missionários que


tinham sido avivados na América do Norte. O primeiro deles foi o presbiteriano Louis
Francescon, que dedicou seu trabalho entre as colônias italianas no Sul e Sudeste do
Brasil e resultou no nascimento da Congregação Cristã no Brasil. Logo depois
chegaram os batistas Daniel Berg e Gunnar Vingren que vieram como missionários
para Belém, PA, e, ali iniciaram a Igreja Assembleia de Deus, em 1911.

Devemos entender que o Pentecostalismo brasileiro nunca foi homogêneo em razão de


suas diferenças internas. O sociólogo Ricardo Mariano classifica-o em três vertentes:
397

a) Pentecostalismo Clássico;
b) Deutero-pentecostalismo;
c) Neopentecostalismo.

10.1 – Pentecostalismo Clássico:

A primeira vertente do Pentecostalismo reproduziu no Brasil uma tipologia Norte-


Americana e é chamada de “Pentecostalismo Clássico”, que abrange o período de
1910 a 1950. Esse é o período de fundação e “domínio” Pentecostal dessas duas
denominações: a Congregação Cristã no Brasil e a Igreja Assembleia de Deus, que se
difundiram em todo território nacional. Ambas caracterizavam-se pelo anticatolicismo,
ênfase na crença no Espírito Santo, sectarismo radical, principalmente a primeira, e por
um ascetismo que rejeitava os valores do mundo e defendia a plenitude da vida moral.
Essa vertente constitui a maior Igreja Evangélica Brasileira representada pela
Assembleia de Deus atualmente.

10.2 – Deutero-pentecostalismo:

A segunda vertente é chamada de “dêutero-pentecostalismo” vindo através da Igreja do


Evangelho Quadrangular, em 1951, com o missionário Harold Willians. Na capital
paulista, ele criou a Cruzada Nacional de Evangelização e percorreu quase todos estados
brasileiros. Seu trabalho era centrado na cura divina e na evangelização das massas,
principalmente pelo rádio, contribuindo bastante para a expansão do Pentecostalismo no
Brasil. Paralelamente, surgem duas Igrejas Pentecostais autônomas: “O Brasil para
Cristo” (1955) e a “Igreja Deus é Amor” (1962), fundadas pelos missionários: Manoel
de Melo e David Miranda respectivamente.

10.3 – Neopentecostalismo:

A terceira vertente é a Neopentecostal. O neopentecostalismo tem início na segunda


metade dos anos 70. São igrejas fundadas por brasileiros que, influenciados por
movimentos norte-americanos, começaram suas denominações com características
diferentes das duas vertentes anteriores. A Igreja Universal do Reino de Deus, a
Internacional da Graça de Deus, a Comunidade Sara Nossa Terra e a Renascer em
Cristo estão entre as principais. As Igrejas neopentecostais utilizam intensamente a
mídia eletrônica para propagar seu movimento, funcionam como empresas e pregam a
Teologia da Prosperidade. O Neopentecostalismo constitui a vertente pentecostal mais
influente e a que mais cresce hoje no Brasil.

O Pentecostalismo iniciado na Rua Azusa, em 1906, está completando um século. E,


como resultado de sua consistência e seriedade, tem-se mantido por todo esse tempo e
com certeza continuará até a volta do Senhor. Os desvios e abusos que eventualmente
têm surgido não podem descaracterizar aquilo que nasceu no coração de Deus, que é
reavivar o seu povo para uma obra do fim.

Que Deus nos ajude a ser renovados a cada dia!


398

93 – PERSONALISMO

(veja tópico 59 sobre o Humanismo)

1 – Introdução:

a) O que é Humanismo?

Personalismo – foi um movimento associado ao Humanismo e não ligado a partido


político, idealizado por Emmanuel Mounier, após a crise de 1929 da Europa e divulgado
por uma revista chamada “Spirit”, com a intenção de identificar a verdade em toda a
circunstância. Ele acreditava que o problema das estruturas sociais era econômico e
moral, e a saída para isso era a teorização e a construção de uma “comunidade de
pessoas”. O personalismo foi posteriormente adaptado pela Democracia Cristã, e
influenciou fortemente o Papa João Paulo II e consequentemente muitos católicos.

2 – Ideia Central

A ideia central do personalismo é a ideia de pessoas em suas inobjetividade (o homem


não consiste num simples conjunto de matéria). Inviolabilidade, liberdade, criatividade
e responsabilidade, de pessoas com alma encarnada em um corpo, situada na história, e
constitutivamente comunitária.

3 – Conhecendo o seu valor

A pessoa possui um valor inerente. Ela não é um simples reflexo de relações social. O
ser humano tem a possibilidade de ser sujeito de valores, portanto a pessoa não é uma
entidade estática.

O homem é pessoa e personalidade. A pessoa é a possibilidade de ser valor. E a


personalidade é o que a historia chegou a ter valor. A pessoa não é algo dado, mas algo
a ser produzido. É o resultado de decisões. O ser humano é mais que um sistema
bioquímico manipulado por sistemas social prescinde da pessoa, também perde a
garantia da liberdade.

4 – Orientação do Personalismo:

O personalismo aponta para a importância da auto avaliação e da autocensura.


399

Em 1930, o catalão Joaquim Xirau concebeu o personalismo como a resposta mais


adequada à desordem e à crise mundial. Xirau observou que o homem pode realizar
muita coisa, mas naquele momento histórico, não estava sabendo o quê fazer.

O relativismo, o subjetivismo, o ceticismo por um lado, e o cientificismo, o


pragmatismo, o naturalismo e o vitalismo, por outro, deixaram o ser humano sem rumo.
Xirau salientou que somente uma pessoa criadora de valores pode superar esse impasse.
A pessoa é impulsionada a realizar valores em sua existência, é a liberdade criadora do
ser humano. A pessoa tem a capacidade de ser receptiva a novas experiências. E dessa
maneira que a pessoa encontra um sentido para sua vida. Também deve ser mencionado
o personalista Nicolau Berdiaev. Foi um dos primeiros marxistas russos que se opôs a
Lênin, pois não aceitava a primazia do coletivo sobre a pessoa humana. “Acreditava que
nem Hegel, nem Marx davam respostas à angústia ante o mal e a morte. Afirmava que a
liberdade pessoal do homem e sua força criadora constituíam o melhor do ser humano”.
(fullat).

5 – O personalista mais conhecido foi Emmanuel Mounier (1905-1950).

Em 1933, Monier fundou a revista Espirit, órgão de ação e conscientização política. Sob
a acusação de atentar contra o governo, a revista foi fechada e Monier foi preso. Como
prisioneiro, Monier constatou que um homem que não conhece a enfermidade ou a
prisão é um ser humano incompleto. A igreja institucional negou-lhe a eucaristia, pois o
considerou um subversivo. Manier não se abateu. Percebeu que Deus lhe dava um
reflexo eucarístico através de sua presença na igreja sofredora e abandonada.

“Denominamos personalismo toda doutrina e a toda a civilização que afirma o primado


da pessoa sobre as necessidades materiais e os mecanismos coletivos que dão suporte a
seu desenvolvimento”. A pessoa é um princípio de imprevisibilidade. Ela não é um
objeto e, por isso, o cientista não pode apossar-se dela.

5.1 – Um ato de personalizar-se implica em autoconhecimento e em transcendência.

“É impossível fundar a comunidade – a ordem ético-jurídico-econômica – deixando a


um lado a pessoa, mesmo que fosse por causa de pretensos valores humanos”.
“Desumanizados por estarem despersonalizados. A comunidade personalista... é uma
pessoa de pessoas”.

 Monier confrontou o personalismo com o pensamento de Marx.

Sua interpretação sobre Marx é contrária àquela feita por Althusser. Monier observa que
Marx empreendeu uma análise científica da sociedade. Mas, junto a essa visão técnica,
Monier também quer um espaço para a dimensão ética e espiritual. Reconhece que o
materialismo é uma realidade, pois a civilização perdeu a dimensão do espírito e da
pessoa humana. Mas, a linguagem científica só abrange o materialismo. A verdade
precisa ser buscada na consciência, que acusa a desordem do sistema capitalista.
400

Monier observa que o marxismo é tão otimista com relação à humanidade. E tão
pessimista a respeito do homem. Apregoa também um socialismo libertário.

Onde, os movimentos operários são mais confiáveis do que as ideologias que se dizem
representar o trabalhador. O marxismo não entendeu o humanismo dentro do
movimento operário. Por isto, Monier dá razão a Proudhon, um socialista utópico e um
anarquista.

Proudhon percebeu o humanismo no movimento operário; alertou também que somente


a sociedade possui direitos e não o Estado, que se limita a reprimi-los. Monier constatou
que um comunismo centralizador esmaga os indivíduos.

Rejeitou o lema de que o indivíduo precisa ser escravizado para que a massa seja
libertada. Mas, também observou que a burguesia se refugia no anticomunismo. A
burguesia tem medo do povo e do futuro.

O comunismo estava atrelado ao totalitarismo. Monier ansiava por um comunismo


com rosto humano. Esta corrente filosófica contemporânea tem como característica o
pensamento social e moral que se opõe ao individualismo e ao materialismo.

 O principal expoente da corrente é Emmanuel Mounier.

Ele define o personalismo como a doutrina “que afirma o primado da pessoa humana
sobre as necessidades materiais”. No Manifesto a serviço do personalismo, Monier
escreveu em 1936 que “a primeira preocupação do individualismo é centrar o indivíduo
sobre si mesmo, a primeira preocupação do personalismo é descentra-lo para estabelecê-
lo nas perspectivas abertas da pessoa”.

Em 1932, Monier fundou a revista Espirt. O pensador salienta que o personalismo é


antes uma atitude e uma filosofia da existência. É um humanismo novo, centrado na
pessoa, opondo-se ao individualismo e ao niilismo. Os homens são convocados a se
engajar na construção de uma humanidade e uma ordem social onde despontem os
valores da pessoa.

Diante do humanismo burguês, do capitalismo, do totalitarismo e do individualismo, o


homem se depara com duas tomadas de consciência: o despertar pessoal e o despertar
comunitário.

No entender de Monier, “a pessoa é o ser humano racional e livre, definido por sua
dimensão de sujeito moral e espiritual, plenamente consciente do bem e do mal, livre e
responsável”. Deste modo a pessoa se torna “o centro de uma nova filosofia de
engajamento.” (Japiassu e Marcondes).

Seu livro mais conhecido é A esperança dos desesperados, publicado em 1953. O


pensamento de Monier influiu nos debates do Concílio Vaticano II.
401

94 – PIETISMO

01 – Introdução:

O Pietismo é um movimento oriundo do luteranismo que valoriza as experiências


individuais do crente. Este movimento surgiu no final do século XVIII, como oposição
à negligência da ortodoxia luterana para com a dimensão da religião, e teve seu auge
entre 1650-1800.

O Pietismo combinava o luteranismo do tempo da Reforma Protestante, enfatizando a


conversão pessoal, a santificação, a experiência religiosa, diminuição na ênfase aos
credos e confissões, a necessidades de renúncias o mundo, a fraternidade universal dos
crentes e uma abertura à expressão religiosa das emoções.

O mentor e pioneiro do movimento, Philip Jacob Spener (1635-1705), conhecido pela


sua obra Pia Desideria (1676) influenciou outras figuras como August Hermann Franke,
Albrecht, Paulo Anton e Johann Kaspar Schade.

O Pietismo influenciou o surgimento de movimento religioso independente de


inspiração protestante tais como o metodismo; o movimento de santidade, o
evangelismo, pentecostalismo, o neopentecostalíssimo e grupos carismáticos, além de
influenciar a teologia liberal de Friedrich Schleiermacher e a filosofia de Immanuel
Kant.

2 – Histórico:

A origem do Pietismo é atribuída a Philip Jacob Spener. Nascido em Rappoltsweiler na


Alsácia, no dia 13 de janeiro de 1635. Treinado por uma madrinha devota que se
utilizava de livros de devoção como wabres Christentum de Johann Arndt, Spener foi
convencido da necessidade de um reforma moral e religiosa no luteranismo germânico.
Ele estudou teologia em Strasburg, onde os professores da época (especialmente
Sebastian Schimidt) tinham inclinação para o “Cristianismo prático”, em vez da disputa
teológica. Posteriormente, Spener passou um ano em Genebra e foi influenciado pela
rígida disciplina eclesiástica e pela vida moral estrita aí prevalecente. Influenciaram-lhe
também pela pregação e piedade do professor Valdenese Antoine Leger e do pregador
jesuíta convertido ao protestantismo Jean de Labadie.

Durante uma estada em Tübingen, Spener leu o Waechterstimme aus dem verwuesteten
zion de Teophilus Grossgebauer, panfleto que criticava a morosidade espiritual das
igrejas de então.

Em 1666 Spener recebeu seu primeiro encargo pastoral em Frankfurt com a opinião de
que a vida cristã no seio do luteranismo estava a ser sacrificada pelo rígido zelo da
ortodoxia. O Pietismo, com um movimento distinto da igreja alemã, originando-se
402

através de Spener que promovia reuniões religiosas em sua casa (collegia pietatis) em
que pregava seus sermões, expondo passagens do Novo Testamento e induzindo os
presentes a participar na discussão de questões religiosas que surgiram.

Em 1675 publicou a Pia desideria ou desejos Pios para a Reforma da verdadeira Igreja
evangélica, um introdução a uma coletânea de sermões de Arndt, mas o ensaio ganhou
vida própria. O título deu origem ao termo “petista” e tornou-se um manifesto para a
renovação da igreja. Nesta publicação fez seis propostas como o melhor meio de
restaurar a vida da Igreja:

a) Sério e profundo estudo da Bíblia em reuniões privadas em ecclisiolae eclesia


(igrejas dentro da igreja);

b) O Cristianismo sendo o Sacerdócio universal, os leigos deve partilhar no


governo espiritual da igreja;

c) O conhecimento do Cristianismo deve ser alcançado através da prática;

d) Em vez de ataques aos incrédulos e heterodoxos, dar um tratamento simpático e


gentil a eles;

e) Uma reorganização da formação teológica das universidades, dando maior


destaque à vida devocional;

f) Um estilo diferente de pregação, ou seja, no lugar de retórica agradável, a


implantação do Cristianismo, no interior ou novo homem, que é a alma da fé,
devendo trazer frutos para vida.

Este trabalho produziu uma grande impressão em toda a Alemanha e, embora um


grande número de teólogos e pastores luteranos ortodoxos tenha sido profundamente
ofendido por Spener em seu livro, as suas reivindicações foram admitidas e muito bem
justificadas. Consequentemente, um grande número de pastores imediatamente
adotaram as propostas de Spener.

Enquanto o Pietismo tradicional permaneceu dentro das igrejas luteranas apesar de suas
críticas, o pietismo radical distanciou-se das igrejas estabelecidas ainda mais.
Doutrinariamente, muitas vezes os petistas radicais refletem as influencias de Jacob
Boeheme, mas eram separatistas formando suas próprias congregações. O pietismo
radical criticou as noções luteranas de expiação, a autoridade das escrituras,
Sacramentos e no ministério.

O Pietismo prático foi promovido pela nova universidade petista de Hallen na der Saale.
Em Halle, o pastor August Hermann Franckie fundou em 1695 orfanatos, asilos e
gráficas, dando um caráter de ação social do pietismo. A universidade de Halle tornou-
403

se o centro de divulgação do pietismo a partir de 1698. A gráfica social de Franckie


distribuiu 80 mil Bíblias completas e 100 mil Novos Testamentos em apenas sete anos-
um fato notável, já que antes na Alemanha, cerca de 80 anos (1534-1626) foram
produzidas apenas 20.000 Bíblias.

Outros movimentos acabaram por ser influenciados pelo pietismo e ganharam


identidades denominacionalismo próprias, como o metodismo, as igrejas livres, os
Dankers e alguns ramos Anabatistas, como a igreja dos irmãos Mennonitas.

“Um pietismo intimamente legado a uma organização eclesial surgiu em Würtemberb.


Mais tarde, o Conde Nikolaus Ludwing Von Zinzendorf fundou uma comunidade dos
irmãos de Herrnhut”.

No Brasil o pietismo se encontra presente dentro da igreja evangélica de confissão


Luterana no Brasil por meio da Missão Evangélica União Cristã. Há denominações de
identidade petista como os Dankers ou Igreja Evangélica dos irmãos, a Igreja
Evangélica Congregacional do Brasil e a Igreja do Cristianismo Decidido surgiu no
Brasil a partir de uma missão luterana petista da Alemanha na cidade de Curitiba.

2 – Doutrina:

O tema central do Pietismo é a experiência do crente com Deus, sua condição de


pecador e o caminho para sua salvação. Sublinhava-se a necessidade da conversão
individual e do nascer de uma nova conduta no crente, desapegada do mundo material e
firmada no apoio mútuo da comunidade reunida em culto ao redor do estudo da Bíblia.

Ao enfatizar a dimensão experiencial e a prática da fé, os petistas, por um lado,


desenvolveram uma moralidade ascética por vezes áspera, especialmente no que tange à
alimentação, vestimenta e lazer; por outro lado, enfatizaram um sentimento de
responsabilidade para com o mundo, do qual se desdobraram atividades de missão e
caridade. Além disso, dada a ênfase no contato direto da pessoa com Deus, as
diferenciações entre clero e laicato foram amainadas e o sentimento de pertença
eclesiástica arrefecido nas experiências de pequenos grupos ecclesiola in eclesiae, os
“collegia pietatis”.

Defendia uma experiência vitalista da fé, pela demonstração e comprovação desta numa
piedade prática, através da rejeição do espírito mundano e pela participação ativa dos
leigos em reuniões ou conventículos de “Cristãos Conversos”.

O Pietismo reduzia a importância da jurisdição eclesiástica, dando grande importância à


teologia mística e à contemplação espiritual. Atacava com veemência a imoralidade que
imperava desde a Guerra dos Trinta anos.
404

3 – Pietismo Radical:

Um ramo do pietismo não contentou de ficar no seio das igrejas luteranas e reformadas.
Defensores de uma igreja formada por regenerados, os petistas radicais empregavam as
influencias de Jakob Böhme, Gottfried Arnold, e Philipp Jakob Spener para propagar
um cristianismo separado do mundo e das igrejas estabelecidas.

Esses grupos separatistas encontraram dificuldades de coexistir em países de religiões


estabelecidas. Muitos emigraram para as Américas e para a Rússia. Alguns formaram
comunidades coletivas como Nova Harmonia nos Estados Unidos.

95 – PIRRONISMO

Conceito:

Fundado a partir das ideias de Pirro de Élida (1365-275 a.C.), o pirronismo foi uma
corrente filosófica que defendia a ideia de que tudo é incerto, nenhum conhecimento é
seguro, qualquer argumento pode ser contestado.

Por isso seus seguidores propunham que as pessoas adotassem a suspensão do juízo
(epokhé em grego), isto é, a abstenção de fazer qualquer julgamento, já que a busca de
uma verdade plena é inútil. Desse modo, aceitando que das coisas se podem conhecer
apenas as aparências e desfrutando o imediato captado pelos sentidos, as pessoas
viveriam felizes e em paz.

O pirronismo constitui, portanto, uma forma de ceticismo, pois professa a


impossibilidade do conhecimento, da obtenção da verdade absoluta.

96 – PLURALISMO

Definição:

Doutrina que concebe o universo composto de uma multiplicidade de entidades ou


substâncias individuais e independentes, opondo-se principalmente à ideia de realidade
fundamental única do monismo. As explicações pluralistas tendem a compor cenários
mais abertos, incompletos ou indeterminados da realidade.

As teorias dos primeiros pensadores pré-socráticos são exemplos claros de monismo,


pois propõem a existência de um princípio fundamental para tudo o que existe: água, ar,
fogo etc.
405

Platão costuma ser considerado um dualista por conceber duas realidades distintas e
separadas (o mundo sensível e o mundo inteligível); o mesmo se pode dizer de
Aristóteles, mas seu dualismo seria “moderado”, tendo em conta que supôs dois
princípios inseparáveis (matéria e forma), constituindo a unidade do real.

97 – POSITIVISMO

Todos os bons espíritos repetem, desde Bacon, que somente


são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos
observados. Ciência, logo previsão, logo ação.
(Comte).

1 – Introdução:

Filosofia Pós-kantiana (século XIX).

A crítica feita por Kant à metafisica na crítica da razão pura provocou o aparecimento
de duas linhas divergentes entre os filósofos posteriores. De um lado, os materialistas
(Feuerbach) e os positivistas (Comte), sendo que estes reduzem o trabalho da filosofia à
mera síntese dos resultados das diversas ciências particulares, não cabendo ao filósofo
teorizar sobre “ideias sem conteúdos”, de outro, os idealistas (Fichte, Schilling e Hegel),
que levam às últimas consequências a capacidade que Kant atribuía à razão de impor
formas a priori ao conteúdo dado pela experiência. Portanto, para os idealistas, a
filosofia é o estudo dos processos pelos quais a realidade deriva dos princípios
constitutivos do espírito: o mundo é o produto de um movimento do pensamento.

2 – O Positivismo

A revolução Industrial no século XVIII, expressão do poder da burguesia em expansão,


demonstrou a eficiência de o novo saber, inaugurado pela ciência moderna no século
anterior.

Ciência e técnica tornam-se aliados, provocando modificações no ambiente humano


jamais suspeitado. De fato, basta lembrar que, antes do advento da máquina a vapor,
usava-se a energia natural (força humana, das águas, dos ventos, dos animais), e por
mais que houvesse diferenças das técnicas adotadas pelos diversos povos através dos
tempos, nunca houve alterações tão cruciais como as que decorreram na Revolução
Industrial.

A exaltação diante de esse novo saber e novo poder leva à concepção do cientificismo,
segundo o qual a ciência é considerada o único conhecimento possível e o método das
ciências da natureza o único válido, devendo, portanto, ser estendido a todos os campos
406

da indagação e atividades humanas. Nesse clima, desenvolve-se no século XIX o


pensamento positivista, que tem como principal representante Augusto Comte (1798-
1857).

3 – Comte e a Lei dos Três Estados

Para um rápido esboço do pensamento de Comte, vamos utilizar suas próprias palavras,
como constam da primeira lição do curso de filosofia positiva.

“Estudando”, assim, o desenvolvimento total da inteligência humana em suas diversas


esferas de atividade, desde seu primeiro voo mais simples até nossos dias, creio ter
descoberto uma grande lei fundamental, a que se sujeira por uma necessidade
invariável, e que me parece poder ser solidamente estabelecida, e quer na base de provas
racionais fornecidas pelo conhecimento de nossa organização, que na base de
verificações históricas resultantes do exame atento do passado. Essa lei consiste em que
cada uma de nossas concepções principais, cada ramo de nossos conhecimentos, passa
sucessivamente por três estados históricos diferentes:

a) “No estado teológico, o espírito humano, dirigindo essencialmente suas


investigações para a natureza íntima dos seres, as causas primeiras e finais de
todos os efeitos que o tocam, numa palavra, para os conhecimentos absolutos,
apresenta os fenômenos como produzidos pela ação direta e contínua de agentes
sobrenaturais mais ou menos numerosos, cuja intervenção arbitrária explica
todas as anomalias aparentes do universo”.

b) “No estado metafísico, que no fundo nada mais é do que simples modificação
geral do primeiro, os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstratas,
verdadeiras entidades (abstrações personificadas) inerentes aos diversos seres do
mundo, e concebidos como capazes de engendrar por elas próprias todos os
fenômenos observados, cuja explicação consiste, então, em determinar para cada
um, uma entidade correspondente”.

c) “Enfim, no estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade


de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo,
a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, para preocupar-se unicamente em
descobrir, graças no uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis
efetivas, a saber, suas relações invariáveis de sucessão e de similitude. A
explicação dos fatos, reduzida então a seus temores reais, se resume de agora em
diante na ligação estabelecida entre os diversos fenômenos particulares e alguns
fatos gerais, cujo número o progresso da ciência tende cada vez mais a
diminuir”.
407

d) “(...). Essa revolução geral do espírito humano pode ser facilmente constatada
hoje, duma maneira sensível, embora indireta, considerando o desenvolvimento
da inteligência individual. (...). Ora, cada uma de nós, contemplando sua própria
história, não se lembra de que foi sucessivamente, no que concerne às noções
mais importantes, teólogo em sua infância, metafísica em sua juventude e físico
em sua virilidade”.

Desse texto podemos constatar que para Comte, o estado positivo corresponde à
maturidade do espírito humano. O termo positivo designa o real em oposição ao
quimérico, a certeza em oposição à indecisão: o preciso em oposição ao vago. É o que
se opõe as formas teológicas ou metafísicas de explicação do mundo.

Assim, enquanto o primitivo poderia explicar, por exemplo, a queda dos corpos pela
ação dos deuses, o metafísico Aristóteles a explicaria pela essência dos corpos pesados,
cuja natureza os faz tender para baixo, onde seria o seu “lugar natural”. Galileu, espírito
positivo, não indagaria o porquê, não procuraria as causas primeiras e últimas, mas
contentaria em descrever como o fenômeno ocorre.

Segundo Comte, “todos os bons espíritos repetem, desde Bacon, que somente são reais
os conhecimentos que repousam sobre fatos observados”.

O positivismo retoma, portanto, a linha desenvolvida pelo Empirismo do século XVII.


Segue a esteira daqueles que aproveitaram a crítica feita por Kant à metafísica, no
século XVIII. Leva às últimas consequências o papel reservado à razão de descobrir as
relações constantes e necessárias entre os fenômenos, ou seja, as leis invariáveis que os
regem. Deriva daí o Determinismo, pelo qual o reino da ciência é o reino da
necessidade.

Aqui o conceito de “necessidade” significa o que tem de ser e não pode deixar de ser;
nesse sentido, necessário opõe-se a contingente. No mundo da necessidade, não há lugar
para a liberdade.

Expulsos os mitos, a religião, as crenças em geral e a metafísica, que papel é reservado


à filosofia? Cabe a ela a mera sistematização das ciências, a generalização dos mais
importantes resultados da física, da química, da história natural. Segundo Garcia
Morente, o positivismo é o suicídio da filosofia.

4 – A Classificação das Ciências e a Sociologia

Comte fez uma classificação das ciências: Matemática, Astronomia, Física, Química,
Biologia e Sociologia. O critério da classificação vai da mais simples e abstrata, que é a
matemática, até a mais complexa e concreta, que é a sociologia. E essa ordem não é
apenas lógica, mas cronológica, pois foi nessa sequencia que elas apareceram no campo.
408

A sociologia foi considerada ciência por Comte, que se diz seu fundador. Define-a
como uma física social, mas na verdade toma os modelos da biologia e explica a
sociedade como um organismo coletivo.

O indivíduo encontra-se submetido à consciência coletiva; por isso tem pouca


possibilidade de intervenção nos fatos sociais. A ordem da sociedade é permanente, à
imagem da invariável da ordem natural.

A sociologia de Comte gira em torno de núcleos constantes, como a propriedade, a


família, o trabalho, a pátria, a religião. Exclui a preocupação com uma teoria do Estado
e com a economia política.

A Filosofia de Comte pode ser considerada como uma reação conservadora à Revolução
Francesa (1789). Colocando-se no caminho contra revolucionário, quer participar da
reconstrução, instituindo a ordem de maneira soberana.

É essa ideia de ordem que domina seu trabalho de sistematização da filosofia, levando-o
à necessidade de classificar as ciências e todo o conhecimento em quadro fechado,
estanques. (observe que a palavra ordem significa ao mesmo tempo “arranjo” e
“mando”). É ele mesmo que afirma: “nenhum grande progresso pode efetivamente se
realizar se não tende finalmente para evidente consolidação da ordem”.

A história não é mais pensada com vir a ser, mas como uma sequencia congelada de
estados definitivos, e a evolução nada mais é do que a realização, no tempo, daquilo que
já existia em forma embrionária e que se desenvolve até alcançar seu ponto final. O seu
conceito de ciência é o de um saber acabado, que se mostra sob a forma de resultados e
receitas.

Tendo colocado a ciência positiva como o ápice da vida e do conhecimento humanos,


Comte prossegue estabelecendo uma série de postulados a qual ciência deve se
conformar. O principal deles é que a ciência deve assegurar a marcha normal e regular
da sociedade industrial. Ora, ao fazer isso, Comte troca a teoria filosófica do
conhecimento por uma ideologia.

Essa rígida construção teórica culmina com a concepção da religião positiva. É ela que,
integrando a sociedade dos vivos na comunidade dos mortos, na trindade formada pelo
grande ser, pelo grande feitiço e pelo grande meio, fornecerá o enquadramento social
que colocará os indivíduos ao abrigo das convulsões históricas.

Não deixa de ser estranho constatar a criação de uma religião positivista, se considerar
que o contexto Comtiano privilegia o positivo como última fase de uma evolução
iniciada pelo estado teológico, considerando o mais arcaico e infantil da humanidade.

Nesse sentido, o professor Verdenal se pergunta: “o exame da religião positiva põe-nos,


mais uma vez, diante das ambiguidades Comtiano: trata-se de uma racionalização do
sagrado ou de uma sacralização do racional?”.
409

A propósito de uma visão crítica do positivismo está relatado em “As Ciências


Humanas”.

98 – PRAGMATISMO

Introdução:

O que é Pragmatismo?

Pragmático significa: que se refere à ação, ao sucesso ou à prática; também significa


útil, eficaz. Em oposição ao teórico e especulativo.

Pragmatismo é um sistema filosófico de William James e John Deway que subordina a


verdade à utilidade e reconhece a primazia da ação sobre o pensamento. Para Sanders
Peirce, a validade de uma ideia resulta de suas consequências práticas.

99 – PRESBITERIANISMO

1 – Introdução:

O presbiterianismo refere-se às igrejas cristãs protestantes que aderem à tradição


teológica reformada (calvinismo) e cuja forma de organização eclesiástica se caracteriza
pelo governo de uma assembleia de presbítero, ou anciãos. Há muitas entidades
autônomas em países por todo o mundo que subscrevem igualmente o presbiterianismo.
Para além de distinções traçadas entre fronteiras nacionais, os presbiterianos também se
dividiram em alguns países por razões doutrinais, como o Liberalismo Teológico,
Evangelismo, Ordenação Feminina, práticas litúrgicas, entre outras razões, fazendo
assim com que existam várias denominações presbiterianas diferentes em alguns países,
mas todas com o mesmo sistema de governo eclesiástico.

As Igrejas presbiterianas são oriundas da Reforma Protestante do século XVI, e mantém


o caráter de Igreja Católica (o termo “católico”, derivado da palavra grega: (katholikos),
significa “universal” ou “geral”, como declarado no Credo dos Apóstolos). É uma
família denominacional cristã comprometida com valores éticos e morais. Sua atuação
no contexto social brasileiro, por exemplo, é marcante, através de instituições de ensino
desde o infantil até o superior, que têm alcançado excelência e reconhecimento
internacional, como por exemplo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, Instituto
Presbiteriano Gammon, entre outras.
410

2 – História do Presbiterianismo:

O nome destas denominações deriva da palavra grega presbyteros, que significa


literalmente “anciãos”. O governo presbiteriano é comum nas igrejas protestantes que
foram modeladas segundo a Reforma protestante suíça, notavelmente na Suíça,
Escócia, Países Baixos, França e porções da Prússia, da Irlanda e, mais tarde, nos
Estados Unidos. A crença se baseia na predestinação, segundo João Calvino, Deus já
havia escolhido, desde o início, os abençoados com a salvação e os condenados à
perdição eterna. O homem, por sua natureza pecadora, não era digno de mudar essa
decisão nem de conhecê-la. Para não viver angustiado pela dúvida, o crente deveria
buscar sinais da graça divina perseverando em sua fé mantendo uma vida de retidão e de
obediência a Deus .

Na Inglaterra, Escócia e Irlanda, as Igrejas reformadas que adotaram uma forma de


governo presbiteriano em vez de episcopal ficaram conhecidas como igrejas
presbiterianas.

Na Escócia, John Knox (1505-1572), que estudara com João Calvino em Genebra,
levou o Parlamento da Escócia a abraçar a Reforma em 1560. A primeira Igreja
Presbiteriana, a Igreja da Escócia (ou Kirk), foi fundada como resultado disso.

Na Inglaterra, o presbiterianismo foi estabelecido secretamente em 1572, nos finais do


reinado da rainha Isabel I de Inglaterra. Em 1647, por efeito de uma lei do Longo
Parlamento sob o controle dos puritanos, o presbiterianismo foi estabelecido para a
Igreja Anglicana. O restabelecimento da monarquia em 1660 trouxe também o
restabelecimento da forma de governo episcopal na Inglaterra (e, por um período curto,
na Escócia); mas a Igreja Presbiteriana da Inglaterra continuou a ser considerada não
conformista, fora da igreja estabelecida.

Na Irlanda, o presbiterianismo foi estabelecido por imigrantes escoceses e missionários


enviados por Ulster. O presbiterio do Ulster foi formado separadamente da igreja
estabelecida, em 1642. Todos os três, ramos muito diversos do presbiterianismo, bem
como igrejas independentes e algumas denominações holandesas, alemãs e francesas,
foram combinadas nos EUA para formar aquilo que se tornou conhecido como Igreja
Presbiteriana nos Estados Unidos da América (1705). A Igreja presbiteriana na
Inglaterra e País de Gales é a United Reformed Church, enquanto que esta tradição
também influenciou a Igreja Metodista, fundada em 1736.

Os presbiterianos destacam-se pelo incentivo à educação, entre as numerosas


instituições presbiterianas espalhadas pelo mundo destacam-se a Yale University,
Universidade de Princeton e o Instituto e Universidade Mackenzie.

3 – O Governo Presbiteriano:
411

O governo presbiteriano é uma forma de organização da Igreja que se caracteriza pelo


governo de um presbitério, ou seja: uma assembleia de presbíteros, ou anciãos. Esta
forma de governo foi desenvolvida como rejeição ao domínio por hierarquias de bispos
individuais (forma de governo episcopal). Esta teoria de governo está fortemente
associada com os movimentos da Reforma Protestante na Suíça e na Escócia
(calvinistas), com as igrejas reformadas e mais particularmente com as igrejas
presbiterianas.

O presbiterianismo assenta em pressupostos específicos sobre a forma de governo


desejada pelo Novo Testamento:

 A função do ministério da palavra de Deus e a administração dos sacramentos


são ordinariamente atribuídas ao pastor em cada congregação (igreja) local. As
congregações são núcleos dependentes da igreja local;

 A administração da ordenação e legislação está a cargo das assembleias de


presbíteros, entre os quais os ministros e outros anciãos são participantes de
igual importância. Estas assembleias são chamadas concílios;

 Todas as pessoas são sacerdotes, preocupadas com a sua própria salvação, em


nome dos quais os anciãos são chamados a servir pelo assentimento da
congregação (sacerdócio de todos os crentes).

Desta forma, o papel governamental dos presbíteros é limitado à tomada de decisões


quando há uma reunião, sendo de resto a função dos pastores e o serviço da
congregação, orar por eles e encorajá-los na sua fé. Esta forma de governo permite a
flexibilidade na tomada de decisão, em contraste com o que acontece nas Igrejas em que
bispos detêm um poder concentrado.

Os concílios presbiterianos crescem em gradação hierárquica. Cada Igreja local tem o


seu concílio, chamado de sessão ou conselho. As igrejas de uma determinada região
compõem um concilio maior chamado presbitério. Os presbitérios, por sua vez,
compõem um sínodo. O concílio maior numa igreja presbiteriana é a assembleia geral
ou supremo concílio.

100 – PRESIDENCIALISMO

1 – Introdução:

Sempre que há uma crise institucional no Brasil, o tema presidencialismo x


parlamentarismo vem à tona. Afinal, qual seria a melhor e mais estável forma de
governo?
412

O sistema presidencialista em vigor no Brasil tem sua raiz nos Estados Unidos, o
primeiro grande país da América a adotá-lo. À medida que foram se instalando as
repúblicas nos demais países do Continente, o regime norte-americano de governo
acabou sendo replicado. A exceção é o Canadá, um país com sistema parlamentarista.

Nos governos presidencialistas, o Poder Executivo é exercido pelo presidente da


República, eleito pelo voto direto. Nesse caso, o parlamento tem poder de fiscalizar e
ser contrapeso aos atos do Executivo. No Brasil, o presidente tem muitos poderes e seu
mandato raramente é interrompido antes dos quatro anos.

Ao contrário do sistema parlamentar de governo, no presidencialismo não existe o voto


de censura, e sim o “Impeachment”, situação que estamos vivendo nestes momentos.
Muito raro nesse tipo de regime (até hoje houve dois casos emblemáticos no
Continente: o governo Collor, no Brasil, e o governo Nixon, nos Estados Unidos. Mas,
nos EUA, o ex-presidente Richad Nixon acabou renunciando antes da abertura do
processo), esse processo torna-se extremamente desgastante e acaba paralisando o país.

101 – PROTESTANTISMO

1 – Introdução:

O protestantismo surgiu com a Reforma Protestante, iniciada no século XVI, pelo


alemão Martinho Lutero (1483-1546). Ao questionar práticas e dogmas católicos, como
venda de indulgências e a intermediação entre o homem e Deus – papel dos sacerdotes –
Lutero rompe com a Igreja e dá origem ao luteranismo.

As Igrejas surgidas nessa época fazem parte do protestantismo histórico. As mais


importantes são: a Luterana, fundada por Martinho Lutero, no século XVI, com a
crença próxima à teologia católica, porém é abolida a confissão obrigatória, o culto aos
santos e à Virgem Maria, o jejum e o celibato clerical, e a Bíblia pode ser interpretada
sem o intermédio do padre;

A Presbiteriana, fundada pelo escocês John Knox, no século XVI, com base na
doutrina de João Calvino (1509-1564), é mais rigorosa que a vertente luterana, enfatiza
o ensino bíblico e busca evangelizar por meio da educação; a Batista, fundada em
Londres, em 1611, por um grupo de luteranos, sob a liderança de Thomas Helwys,
valoriza o batismo de adultos por imersão, fazendo da confissão de fé pessoal do
batismo o eixo ético dos fiéis; e a Metodista, fruto de uma dissidência da Igreja
Anglicana conduzida pelo pastor John Wesley, em 1740, na Inglaterra, com influencia
de Calvino, que acreditava na purificação por meio da disciplina e da negação dos
prazeres mundanos.
413

2 – Histórico:

2.1 – Desenvolvimento do Protestantismo.

O protestantismo tem um novo ramo em 1906, quando aparece, nos Estados Unidos, o
pentecostalismo, cuja principal característica é a convicção nos poderes do Espírito
Santo, como o de curar doenças. No Brasil, as mais importantes igrejas pentecostais
são: a Congregação Cristã no Brasil; a Assembleia de Deus; a Deus é Amor; e a
Evangelho Quadrangular. Com o pentecostalismo, surge, na década de 1970, nos EUA,
o neopentecostalismo, cujo eixo central é a Teologia da Prosperidade: o sucesso e a
felicidade devem ser alcançados nesta vida pela fé, que se confirma pelas doações à
igreja. A expulsão do demônio, enfatizada como a garantia de uma vida bem-sucedida e
feliz, geralmente marca a conversão dos fiéis. A maior denominação neopentecostal
criada no Brasil é a Igreja Universal do Reino de Deus, fundada em 1977 por Edir
Macedo, no Rio de Janeiro.

2.3 – Reforma Protestante: reação e crítica diante da Igreja católica.

A Reforma Protestante é um movimento de caráter religioso, político e econômico que


surge na Europa no século XVI. Contesta a estrutura e os dogmas da Igreja Católica e
rompe a unidade do cristianismo, dando origens às religiões ditas protestantes. Os
reformistas rejeitam a pretensão da Igreja de ser o único acesso ao mundo religioso,
questionam a supremacia papal e criticam a venda de indulgências para livrar os fiéis
dos pecados.

Ela ocorre paralelamente ao Renascimento (influenciada pelo pensamento humanista),


à passagem do feudalismo para o mercantilismo (que cria a necessidade de uma
religião que não veja a usura como pecado) e ao fortalecimento das monarquias
nacionais europeias (que querem acabar com privilégios da Igreja). Os precursores
foram os críticos da Igreja John Wycliffe, na Inglaterra, e Jan Huss, na Boêmia, região
do Sacro Império Romano-Germânico.

O primeiro reformista é o alemão Martinho Lutero (1483-1546). A partir de 1517, ele


prega a substituição do poder eclesiástico pelo do Estado, a simplificação da liturgia e o
fim do celibato clerical e do culto às imagens. É excomungado, mas suas ideias se
difundem rapidamente, provocando guerras no Sacro Império Romano-Germânico e
terminando com a aceitação do luteranismo pelo Imperador.

Seguem-se outros dois movimentos, que surgem em 1534. Na França, o religioso João
Calvino (1509-1564) prega que o homem deve buscar o lucro por meio do trabalho e de
uma vida regrada – que também seriam formas de louvar a Deus. Na Inglaterra, após ter
um pedido de divórcio negado pelo papa e interessado em se sobrepor à autoridade
católica em seu país, o rei Henrique VIII (1491-1547) funda a Igreja Anglicana.

2.3.1 – Contrarreforma.
414

A reação da Igreja Católica à Reforma Protestante fica conhecida como Contrarreforma.


Em 1545, o papa Paulo III convoca o Concílio de Trento – que se estende até 1563 –
para defender a disciplina eclesiástica e a unidade da Igreja. Ele regula as obrigações do
clero e limita o excesso de luxo na vida dos religiosos. Também institui o índice de
livros proibidos (Index Librorum Prohibitorum), que relaciona as obras que os
católicos não poderiam ler, sob pena de excomunhão. O órgão encarregado da repressão
às heresias e da aplicação das medidas da Contrarreforma é a Inquisição. Para efetivar
as mudanças, a Igreja cria ou reorganiza ordens religiosas, como a Companhia de Jesus
(Jesuítas).

2.4 – A origem Protestante na História.

A origem dos povos do grupo linguístico dos germânicos remonta a 1700 a.C.
Informações históricas precisas sobre a presença dos germânicos às margens do Reno,
porém, datam das incursões romanas, no tempo de Júlio César, entre 55 a.C. e 53 a.C.
com desintegração do Império Romano, em 476, são criados vários reinos germânicos,
consolidados pelo Imperador franco Carlos Magno, entre 772 e 802. Além de anexar a
Saxônia, a Baviera, a Renânia e outras áreas ao domínio do recém-criado Sacro Império
Romano, Carlos Magno converte os germânicos ao cristianismo.

O domínio franco encerra-se em 911, com a eleição de Konrad I, o primeiro rei da


Alemanha. Em 962, Otto I passa a ser o imperador do Sacro Império Romano-
Germânico (o I Reich). Entre os séculos XI e XII, a ocupação germânica expande-se a
leste, mas as lutas entre os príncipes e os conflitos com o papado enfraquecem a
centralização monárquica. A Reforma Protestante e a Guerra dos Trinta Anos (1618-
1648) contribuem para manter a fragmentação política.

2.5 – A revolta Protestante.

A região é por tribos celtas e germânicas na época da conquista romana, em 55 a.C.,


durante o governo de Júlio César. Permanece sob o domínio romano até o século V da
era Cristã, quando é conquistada pelos francos. Com a dissolução do Império
Carolíngio, o território divide-se em vários condados autônomos, entre eles o da
Holanda. No século XV, a Holanda é dominada pela casa de Borgonha (hoje uma região
da França). Em 1477, o casamento de Maria de Borgonha com Maximiliano da
Áustria une a nação à dinastia dos Habsburgo. Casamentos dinásticos, no século XVI
põem a Holanda sob o domínio da Espanha. Os reis espanhóis Carlos V e Felipe II
reprimem o protestantismo, que ganha terreno entre os holandeses. Em 1568,
Guilherme, o Taciturno, da casa de Orange, lidera a revolta das províncias protestantes
do norte contra os espanhóis. A República Unida da Holanda é proclamada em 1579.

2.6 – A promulgação do Protestantismo.

A Ilha da Irlanda é ocupada desde tempos pré-históricos. Sua história remonta ao século
IV a.C., quando tribos celtas de origem gaulesa se fixam na ilha e fundam a civilização
gaélica. O cristianismo é introduzido por São Patrício, no século V. devastada pelos
415

vikings, no século VIII, a Irlanda divide-se em principados rivais, o que facilita a


ocupação a ocupação anglo-normanda em 1166. O rei Henrique VIII consolida a
dominação inglesa sobre a ilha em 1541 e introduz o protestantismo. No reinado de
Elizabeth I, os católicos começam a ser excluídos da vida pública.

Emigração: nos séculos XVI e XVII, os irlandeses são despojados de suas terras por
colonos ingleses. Ainda no século XVII, imigrantes protestantes, vindos principalmente
da Escócia, colonizam parte do norte da ilha, o Ulster. Em 1801, a Irlanda é integrada ao
Reino Unido. Na segunda metade do século XIX é assolada por terrível seca –
conhecida como “fome da batata”, que mata mais de um milhão de pessoas. Cerca de
dois milhões emigram. Sobretudo para os EUA.

Independência: no início do século XX intensifica-se a luta pela independência com a


criação do movimento político Sinn Féin. A organização lidera, em 1916, o Levante da
Páscoa, violentamente sufocado pelos britânicos. Em 1919, após a criação de um
Parlamento independente, presidido por Éamon de Valera, é fundado o Exército
Republicano Irlandês (IRA), que luta pela independência. Em 1922 se constitui o
Estado Livre da Irlanda, aglutinando os condados do sul, de maioria católica. O norte da
ilha, o Ulster, de maioria protestante, permanece ligado ao Reino Unido.

2.7 – Os Principais Ramos do Protestantismo

O protestantismo é um dos principais ramos (juntamente com a Igreja Católica Romana


e a Igreja Ortodoxa) do cristianismo. Este movimento iniciou-se na Europa Central no
início do século XVI como uma reação contras as doutrinas e práticas do catolicismo
romano medieval. Os protestantes também são conhecidos pelo nome de evangélicos
juntamente com os pentecostais e neopentecostais oriundos de Igrejas Protestantes.

No Brasil, entretanto, o termo “protestante” é geralmente usado para se referir às Igrejas


oriundas direta e contemporaneamente da Reforma Protestante, como a Luterana, a
Presbiteriana, a Anglicana, a Metodista, e a Congregacional; o termo “evangélico” é
usado para se referir e/ou posteriormente oriundas da reforma, como as pentecostais e as
neopentecostais.

Existem também igrejas que já existiram antes da reforma protestante, por isso seria
incorreto chama-las de protestantes. Um exemplo são as Igrejas Batistas que chegaram a
ser perseguidas severamente pelos protestantes na época da reforma.

Adeptos dessas também são chamados de protestantes, embora, no Brasil, por


preferência de nomenclatura, não costumem se denominar assim, preferindo a
nomenclatura evangélica. Todo protestante é Evangélico, mas nem todos evangélicos
são protestantes.

As doutrinas das inúmeras denominações protestantes variam, mas muitas incluem a


justificação por graça mediante a fé somente – doutrina conhecida com Sola Fide, o
sacerdócio de todos os crentes – e a Bíblia como única regra em matéria de fé e ordem,
doutrina conhecida como Sola Scriptura.
416

No século XVI, seguidores de Martinho Lutero fundaram Igrejas Luteranas –


Evangelische Kirche, em alemão – na Alemanha e na Escandinávia. As Igrejas
reformadas (ou presbiterianas) na Suíça e na França foram fundadas por João Calvino e
também por reformadores como Ulrico Zuínglio. Thomas Cranmer reformou a Igreja da
Inglaterra e, depois, John Knox fundou uma comunhão calvinista na Igreja da Escócia.

2.8 – etimologia da Palavra

O termo protestante é derivado (via francês ou alemão Protestant) do latim protestari.


Significa declaração pública/protesto, referindo-se à carta de protesto por príncipes
luteranos contra a decisão da Dieta de Speyer de 1529, que reafirmou o Édito de
Worms de 1521, banindo as 95 teses de Martinho Lutero do protesto contra algumas
crenças e práticas da Igreja Católica do século XVI.

O termo protestante não foi inicialmente aplicado aos reformadores, mas foi usado
posteriormente para descrever todos os grupos que protestavam contra a Igreja Católica.

Desde aquele tempo, o termo protestante tem sido usado com diversos sentidos, muitas
vezes como um termo geral para significar apena os cristãos que não pertencem à Igreja
Católica, Ortodoxa ou Ortodoxa Oriental.

2.9 – História dos Reformadores

Os “reformadores” foram pessoas de vasta cultura teológica e humanista: Calvino


estudou em Sorbonne e seu pai era bispo; Lutero foi monge, professor universitário da
Bíblia; Zuínglio era sacerdote e humanista. De acordo com o programa dos humanistas,
eles buscaram nas fontes da antiguidade cristãs as bases para uma renovação religiosa.
Lendo a Bíblia e retornando aos Pais da Igreja, descobriram uma nova visão da fé e uma
doutrina bíblica cristocêntrica.

Na Suíça de língua alemã, Ulrico Zuínglio, Johannes Oekolampad e outros começaram


também uma tentativa de Reforma da Igreja Católica, de caráter mais urbano e
enriquecida pelo humanismo de Erasmo de Roterdão.

A princípio, a Igreja da Inglaterra não se deixou influenciar pelo protestantismo, mas


depois de sua quebra com a Igreja Roma, começou uma aproximação com os ideais
Reformados. Atualmente, a maior parte das Igrejas da Comunhão Anglicana declara-se
Reformadas.

O protestantismo apresenta elementos em comum apesar de sua grande diversidade. A


Bíblia é considerada a única fonte de autoridade doutrinal e deve ser interpretada de
acordo com regras históricas e linguísticas, observando-se seu significado dentro de um
contexto histórico. A salvação é entendida como um dom gratuito (presente, graça) de
Deus alcançado mediante a fé.

As boas obras não salvam, sendo resultados da fé e não causa de salvação. O culto
sempre é no idioma vernáculo e em sua grande maioria é simples tendo como base as
417

Escrituras Sagradas. O protestantismo histórico conserva as crenças cristãs ortodoxas,


tais como a doutrina trinitária, a cristologia clássica, o credo niceno-constatinopolitano,
entre outros. Os protestantes expressam suas posições doutrinais por meio da Confissão
de Fé e breves documentos apologéticos. A Confissão de Augsburgo expressa à
doutrina Luterana. As confissões reformadas incluem a Confissão Escocesa (2560), a
segundo Confissão Helvética (1531), a Confissão de Fé de Westminster (1647), os 39
Artigos de Religião da Igreja da Inglaterra (1562) et. As Declarações de Barmen contra
o regime Nazista e a Breve Declaração de Fé da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos
são exemplos de declarações de fé recentes.

O ensino religioso tem como base o estudo de catecismos. No Luteranismo faz-se uso
dos Catecismos Maior e Menor de Lutero. O Catecismo de Heidelberg e o Catecismo
Maior e Menor de Westeminster são utilizados pelas Igrejas Reformadas, como a
presbiteriana.

O protestantismo rejeita parte das doutrinas que caracterizam o catolicismo tais


como: a supremacia papal, as orações pelos mortos, a intercessão dos santos, a
Assunção de Maria e sua virgindade perpétua, a veneração dos santos, a
transubstanciação, o sacrifício da missa, o culto às imagens etc.

O protestantismo, em maior parte, segue a doutrina Agostiniana da eleição. Estabelece


que a salvação seja pela graça (favor imerecido) de Deus. Para os protestantes a
autoridade da Igreja está vinculada à obediência da palavra de Deus e não à sucessão
apostólica. Assim sendo, a Igreja cristã existe onde se escuta e obedece a palavra de
Deus.

O protestantismo se disseminou principalmente nos meios urbanos e por meio da


nobreza. A difusão das ideias protestantes foi facilitada pela invenção da imprensa, que
tornou possível a divulgação e a tradução da Bíblia nas línguas vernáculas. Desde então,
as doutrinas cristãs passaram a necessitar do aval bíblico.

No Concílio de Trento, os bispos católicos partidários de Roma optaram por limitar o


aceso laico as Escrituras, proibindo a tradução da Bíblia para o vernáculo e impondo a
Vulgataem latim como a única Bíblia autorizada e aumentando o índice de livros
proibidos aos fiéis (Index Librorum Prohibitorum).

A “Reforma” Protestante alcançou êxito em muitas áreas da Europa. Em sua forma


Luterana é predominante no norte da Alemanha e em toda a península Escandinava. Na
Escócia surgiu a Igreja Presbiteriana. As Igrejas Reformadas também frutificaram nos
Países Baixos, na Suíça e no Oriente da Hungria. Com o desenvolvimento dos impérios
europeus, principalmente o Império Britânico, nos séculos XIX e XX, o protestantismo
continuou a se expandir, se tornando uma fé de escala mundial. Atualmente mais de 600
milhões de pessoas professam alguma das diferentes manifestações do protestantismo
no mundo.
418

O protestantismo assumiu três formas básicas: a luterana, a Reformada (calvinista e


Zwinglianos) e a anglicana. O protestantismo não possui organização centralizadora,
porém suas igrejas estão organizadas em igrejas nacionais e em concílios internacionais
tais como a Federação Luterana Mundial, a Comunhão Mundial das Igrejas Reformadas
e a Comunhão Anglicana.

O trabalho missionário do século XIX levou a cooperação interdenominacional e


consequentemente ao movimento ecumênico do qual surgiu o Conselho Mundial de
Igrejas. Fora desse protestantismo, que muitos estudiosos denominam “protestantismo
Magisterial”, surgiu outro ramo que se distinguiu tanto do catolicismo como das igrejas
protestantes de caráter histórico-nacional. Este ramo recebe o nome de Reforma
Radical. O historiador George Williams distingue as seguintes correntes dentro desta
reforma: espiritualistas, racionalistas e anabatistas. Os anabatistas rechaçaram a união
da igreja e estado e repudiaram o batismo infantil, constituindo-se em igrejas
independentes ou segregadas. A maior apartação à modernidade descansaria em sua
persistente promoção da separação entre a igreja e o estado, a liberdade religiosa pessoal
e o exercício de um governo plenamente democrático em suas congregações.

2.10 – Princípios Fundamentais

Os cinco Solas:

2.10.1– Sola Scriptura (somente a Escritura).

É o princípio no qual a Bíblia tem primazia em relação à tradição legada pelo magistério
da Igreja, quando os princípios doutrinários entre esta e aquela forem conflitantes.
Como Martinho Lutero afirmou quando a ele foi pedido para que voltasse atrás em seus
ensinamentos: “portanto, a menos que eu seja convencido pelo testemunho das
Escrituras ou pelo mais claro raciocínio; a menos que eu seja persuadido por meio das
passagens que citei; a menos que assim submetam minha consciência pela Palavra de
Deus, não posso retratar-me e não me retratarei, pois é perigoso a um cristão falar
contra a consciência. Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa; Deus queira ajudar-
me. Amém”.

O protestantismo também defende a interpretação privada ou juízo privado dos textos


bíblicos, conceito exposto por Lutero em outubro de 1520, quando enviou seu escrito
“A Liberdade de um Cristão” ao Papa, acrescentando a frase significativa “eu não me
submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus”. Disse Lutero também em outra ocasião
que é “sempre melhor ver com nossos próprios olhos do que com os olhos de outras
pessoas”. o historiador William Sweet sugeriu que isso posteriormente originou o
direito fundamental de liberdade religiosa, bem como a própria ideia de democracia.

2.10.2 – Sola Gratia (Somente a Graça ou Salvação Somente pela Graça):

Afirma que a salvação é pela graça de Deus apenas, e que nós somos resgatados de sua
ira apenas por sua graça. A graça de Deus em Cristo não é meramente necessária, mas é
a única causa eficiente da salvação. Esta graça é a obra sobrenatural do Espírito Santo
419

que nos traz a Cristo por nos soltar da servidão do pecado e nos levantar da morte
espiritual para a vida espiritual.

2.10.3 – Sola Fide (Somente a Fé ou Salvação Somente pela Fé):

Afirma que a justificação é pela graça somente, através da fé somente, por causa
somente de Cristo. É pela fé em Cristo que sua justiça é imputada a nós como a única
satisfação possível da perfeita justiça de Deus.

2.10.4 – Solus Christus (Somente Cristo):

Afirma que a salvação é encontrada somente em Cristo e que unicamente sua vida sem
pecado e expiação substitutiva são suficiente para nossa justificação e reconciliação
com Deus Pai. O evangelho não foi pregado se a obra substitutiva de cristo não é
declarada, e a fé em Cristo e sua obra não é proposta.

2.10.5 – Soli Deo Gloria (Gloria somente a Deus):

Afirma que a salvação é de Deus, e foi alcançada por Deus apenas para sua Gloria.

2.11– Catolicismo e Protestantismo

As diferenças entre a doutrina católica e a doutrina da maioria dos grupos protestantes é


grande.

Genericamente, as suas divergências mais significativas dizem respeito ao papel da


oração e das indulgências; à comunhão dos santos; à doutrina do pecado original e da
graça; à predestinação; à necessidade e natureza da penitência; e ao modo de obter
salvação, com os protestantes a defenderem que a salvação só se atinge apenas através
da fé (sola fide), em detrimento da crença católica de que a fé deve ser expressa também
através das boas obras (essa grande divergência levou a um conflito sobre a doutrina da
justificação).

Há também diferenças importantes na doutrina da Eucaristia e dos outros sacramentos


(os protestantes só professam o Batismo e a Eucaristia, além do rito sacramental da
confirmação, também conhecido como catecumenato); na existência do Purgatório no
culto de veneração à Virgem Maria e aos santos; na forma de interpretação (como os
protestantes a defenderem a interpretação pessoal ou livre-exame das Sagradas
Escrituras) e na composição do Cânone das Escrituras; no papel da Tradição oral; na
própria natureza, autoridade, administração, hierarquia e função da Igreja (concluindo o
papel da Igreja na salvação); no sacerdócio; e também na autoridade e missão do Papa.

Contudo, visto que entre as denominações protestantes há diferenças consideráveis, de


alguns setores do Anglicanismo, aproximam-se do catolicismo, auto intitulando-se
como anglo-católicos. Recentemente, o diálogo ecumênico moderno levou finalmente a
alguns consensos sobre a doutrina da justificação entre os católicos e os luteranos,
através da Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação. Além disso, esse
420

diálogo trouxe também vários consensos sobre outras questões doutrinárias importantes,
nomeadamente entre os católicos e os anglicanos.

102 – PURITANISMO

1 – Introdução:

O Que Ser Puritano?

Segundo o Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 6ª edição diz: 1 – diz-se do


sectário presbiteriano que pretende interpretar a bíblia com rigor literal; 2 – que é ou se
diz muito rigoroso na aplicação de princípios morais; 3 – indivíduo puritano.

O puritanismo designa uma concepção do Cristão desenvolvido na Inglaterra por uma


comunidade de protestantes radicais depois da Reforma.

Segundo o pensador francês Alexis Tocqueville, em seu livro A Democracia na


América, trata-se de uma teoria política como de uma doutrina religiosa.

O adjetivo “puritano” pode designar tanto o membro deste grupo de calvinistas como
aquele que é rígido nos costumes, especialmente quanto ao comportamento sexual
(pessoa austera, rígida e moralista).

2 – História:

A Revolução Puritana foi um movimento surgido na Inglaterra no século XVIII, de


confissão Calvinista, que rejeitava tanto a Igreja Romana como o ritualismo e
organização episcopal na Igreja Anglicana.

As críticas à politica da rainha Isabel I partiram de grupos Calvinistas ingleses, que


foram denominados puritanos porque pretendiam purificar a Igreja Anglicana, retirando
lhe os resíduos do Catolicismo, de modo a tornar a liturgia mais próxima do
Calvinismo.

Desde o início, os puritanos já aceitavam a doutrina da predestinação. O movimento foi


perseguido na Inglaterra, razão pelos quais muitos deixaram a Inglaterra, em busca de
outros lugares com maior liberdade religiosa.

Um grupo, liderado por John Winthrop, chegou às colinas da Nova Inglaterra na


América do Norte em abril de 1630.
421

3 – As origens puritanistas do Calvinismo:

Quando Calvino ainda vivia em Genebra iniciou-se um conflito entre os partidários da


casa de Saboia (Católicos) e os confederados (Protestantes), que deram mais origens aos
grupos conhecidos na França como Huguenotes.

A variedade calvinista do protestantismo seria bem sucedida em países como a Suíça


(país de origem), países baixos, África do Sul (entre Afrikaners), Inglaterra, Escócia e
EUA. Dando origem a vários segmentos que mudaram profundamente a história da
humanidade. Calvino se opôs à Igreja Católica e aos Anabatistas.

Os Calvinistas ingleses estavam descontentes com a Reforma na Inglaterra, que não


teria sido suficientemente radical e romperam com a Igreja Anglicana por continuar a
realiza-la.

Com os ideais iluministas, e a doutrina de Calvino, os primeiros protestantes ingleses se


tornaram um grupo tipicamente conservador.

4 – Os Puritanos não se Desenvolveram na Inglaterra.

O surgimento dos puritanos está ligado às confusões amorosas do rei Henrique VIII
(1509-1547) e à chegada do Protestantismo Continental à Inglaterra. O movimento
puritano, em seus primórdios foi claramente apoiado e influenciado por João Calvino
(1509-1564), que a partir de 1548 passou a se corresponder com os principais líderes da
Reforma Inglesa. Em 1548 foi promulgado o Ato de Supremacia, tonando o rei “o
cabeça supremo da Igreja na Inglaterra”. Com a anulação do seu casamento com
Catarina de Aragão, tia de Carlos V, o rei Henrique VIII e o Parlamento inglês separam
a Igreja da Inglaterra de Roma, em 1536, adotando a doutrina Calvinista apenas por
comodismo. A Reforma, então, teve início na Inglaterra pela autoridade do rei e do
Parlamento. No ano de 1547, Eduardo VI, um menino muito enfermo, tornou-se rei.

A Reforma Protestante avançou rapidamente na Inglaterra, pois o Duque de Somerset, o


regente do trono, simpatizava-se com a fé reformada. Thomas Cranmer, o grande lider
da Reforma na Inglaterra, publicou o livro de Oração Comum, dando ao povo a sua
primeira liturgia em inglês. Maria Tudor, católica romana, tornou-se rainha em 1553.
Assessorada pelo Cardeal Reginald Pole, em 1554 ela restaurou a sua religião.

Em 1555, intensificou a perseguição aos protestantes. Trezentos deles foram


martirizados; entre eles, o arcebispo de Cantuária, Thomas Cranmer (canonizado pela
Igreja Anglicana), e os bispos Latimer e Ridley. Oitocentos protestantes fugiram para o
Continente, para as cidades como Genebra e Frankfurt, onde absolveram os princípios
doutrinários dos reformadores continentais. Isabel I ascendeu ao trono aos 25 anos em
1558, estabeleceu o “Acordo Elisabetano”, que era insuficientemente reformado para
satisfazer àqueles que logo seriam conhecidos como “puritanos”. Em seguida
promulgou o Ato de Uniformidade (1562), que autorizou o livro de Oração Comum e
422

restaurou o Ato de Supremacia. Em 1562, foram registrados os trinta e nove artigos da


religião, que são o padrão histórico da Igreja da Inglaterra, e a partir de janeiro de 1563,
foram estabelecidos pelo Parlamento como a posição doutrinária da Igreja Anglicana.
Em torno de 1567-1568, uma antiga controvérsia sobre vestimentas atingiu seu auge na
Igreja da Inglaterra. A questão imediata era se os pregadores tinham de usar os trajes
clericais prescritos. A controvérsia marcou uma crescente impaciência entre os
puritanos com relação à situação de uma Igreja “reformada pela metade”.

Thomas Cartwright, professor de Universidade de Cambridge, perdeu sua posição por


causa de suas pregações sobre os primeiros capítulos de Atos, nas quais argumentou a
favor de um Cristianismo simplificado e uma forma presbiteriana de governo
eclesiástico. A primeira Igreja Presbiteriana foi a de Wandsworth, fundada em 1572.

Em 1570, um pouco antes deste evento, Elisabete foi excomungada pelo Papa Pio V. a
morte dela, ocorreu em 1603, ela não deixou herdeiro. Apenas indicou como seu
sucessor James I, filho de Maria Stuart, que já governava a Escócia. Quando o rei foi
coroado, os puritanos, por causa da suposta formação presbiteriana do rei, inicialmente
tiveram esperança de que sua situação melhorasse. Para enfatizar sua esperança eles lhe
apresentaram, quando de sua chegada em 1603, a petição milenar, assinada por cerca de
mil ministros puritanos, em que pediam que a Igreja Anglicana fosse completamente
“puritana” na liturgia e administração.

Em 1604, encontra-se com o novo rei na conferencia de Hampston Court para


apresentar seus pedidos. O rei ameaçou “expulsá-los da terra, ou fazer pior” tendo dito
que o presbiterianismo “se harmonizava tanto com a monarquia como Deus com o
Diabo”. Carlos I, opositor dos puritanos, foi coroado rei da Inglaterra em 1625. Já em
1628, Wiliam Laud tornou-se bispo de Londres (em 1633 foi nomeado arcebispo de
Cantuária) e empreendeu medidas severas para eliminar a dissidência da Igreja
Anglicana. Ele buscou instituir práticas cerimoniais consideradas “papistas” além de
ignorar a justificação pela fé, por causa de suas ênfases pelagianas, oprimindo
violentamente os puritanos e forçando a emigrarem para a América.

Em 1630, John Winthrop liderou o primeiro grande grupo de puritanos até a baia de
Massachusetts e, em 1636, foi fundado o Havard College. Laud tentou impor o
Anglicanismo na Escócia, só que isto degenerou num motim que serviu para aliar
puritanos e escoceses calvinistas. Em 1638, os líderes escoceses reuniram-se numa
“solene liga e aliança” e seus exércitos marcharam contra as tropas do rei, que fugiram.

No ano de 1640, o Parlamento restringiu o poder do rei Carlos I. As emigrações para a


Nova Inglaterra estacionaram consideravelmente. A assembleia de Westminster, assim
chamada por reunir-se na Abadia de Westminster, templo anglicano de Londres, foi
convocada pelo Parlamento da Inglaterra em 1643 para deliberar a respeito do
estabelecimento do governo e liturgia da Igreja e “para defender a pureza da doutrina da
Igreja Anglicana contra todas as falsas calúnias e difamações”.
423

É considerada a mais notável assembleia protestante de todos os tempos, tanto pela


distinção dos elementos que a Constituíram como pela obra que realizou e ainda pelas
corporações eclesiásticas que receberam dela os padrões de fé e as influencias salutares
durante esses trezentos anos.

5 – A Assembleia de Westminster

A Assembleia de Westminster caracterizou-se não somente pela erudição teológica, mas


por uma profunda espiritualidade. Gastava-se muito tempo em oração e tudo era feito
em um espírito de reverência. Cada documento para aprovação, o que só acontecia após
muita discussão e estudo. Os chamados “padrões presbiterianos” elaborados pela
Assembleia foram os seguintes:

a) Diretório do Culto Público: concluído em dezembro de 1644 e aprovado pelo


Parlamento no mês seguinte. Tomou o lugar do Livro de Oração Comum.
Também foi preparado o Saltério: uma versão métrica dos Salmos para uso no
culto (Novembro de 1645).

b) Forma de Governo Eclesiástico: concluída em 1644 e aprovada pelo Parlamento


em 1648. Instituiu a forma de Governo Presbiteriano em lugar da Episcopal,
com seus bispos e arcebispos.

c) Confissão de Fé: concluída em Dezembro de 1646 e sancionada pelo Parlamento


em Março de 1648.

d) Catecismo Maior e Breve Catecismo: concluídos no final de 1647 e aprovados


pelo Parlamento em Março de 1648.

Como consequência do auxílio dos Escoceses, os forças parlamentares derrotaram o rei


Carlos I, que foi decapitado em 1649.

O comandante vitorioso, Oliver Cromwell assumiu o governo. Porém, em 1660, Carlos


II subiu ao trono e restaurou o Episcopado na Inglaterra. Teve início a Nova era de
perseguições contra o presbiteriano.

Na Escócia, a Assembleia geral da Igreja da Escócia adotou os padrões de Westminster


logo que foram aprovados, deixando de lado os seus próprios documentos de doutrina,
liturgia e governo que vinha da época de John Knox.

A justificativa era o desejo de maior unidade entre os presbiterianos das Ilhas


Britânicas. Da Escócia, esses padrões foram levados para outras partes do mundo.
424

6 – Consequências.

O puritanismo não conseguiu substituir as estruturas de plausibilidade que o


Anglicanismo ofereceu à nação inglesa. As estruturas sociais anglicanas permaneceram.
Apenas para uma pequena e influente minoria esta situação não era satisfatória, e esse
grupo era o dos puritanos, que travaram vigorosas e infrutíferas batalhas com o governo
político-religioso da Inglaterra. Em todos esses eventos, o apoio de Calvino foi influente
na tentativa de levar sua doutrina a uma nação cujos laços com Roma haviam sido
cortados apenas pela vaidade de um rei.

Muitos dos puritanos fugiram para países como EUA, onde introduziram o
presbiterianismo oriundo da Reforma Calvinista da Igreja da Escócia.

103 – QUINHENTISMO

Introdução:

Quinhentismo ou Classicismo é o nome que se dá à literatura produzida durante a


vigência do Renascimento. Este foi um amplo movimento artístico, cultural e científico
que ocorreu no século XVI, inspirado, sobretudo nas ideias e nos textos da cultura
clássica greco-latina.

O interesse pela cultura clássica já vinha ocorrendo desde o final do século XIII, na
Itália, onde escritores e intelectuais, chamados humanistas, liam e traduziam autores
latinos e gregos. Desse grupo, destacaram-se Dante Alighieri, Petrarca e Bocaccio.

a) Dante Alighieri – autor da Divina comédia criou a medida nova (verso


decassílabo), abandonando as redondilhas medievais, que passaram então a ser
chamadas de medida velha.
b) Petrarca – compôs seu Cancioneiro com 350 poemas, na maior parte sonetos. O
soneto italiano é uma forma fixa, que consiste em 4 estrofes, dispostas da
seguinte forma: a primeira e a segunda, com 4 versos; a terceira e a quarta, com
3 versos. Nesses sonetos, Petrarca cantava o amor platônico espiritualizado por
Laura.
c) Já Bacaccio – escreveu Decameron, obra de narrativas curtas e picantes, que
retratavam criticamente a realidade cotidiana.

No século XVI, o classicismo, em consonância com o contexto histórico de profundas


transformações sociais, econômicas, culturais e religiosas, substituiu a fé medieval pela
razão, o cristianismo pela mitologia greco-latina e pôs, acima de tudo, o homem como
centro de todas as coisas (antropocentrismo).
425

Diferentemente do homem medieval, que se voltava essencialmente para as coisas do


espírito, o homem do século XVI se volta para a realidade concreta e acredita em sua
capacidade de dominar e transformar o mundo.

As influências da cultura greco-latina e dos humanistas italianos, bem como a imitação


de seus modelos. Não se limitaram ao século XVIII, formando uma verdadeira Era
Clássica, introduzida pelo classicismo e seguida pelo Barroco e pelo Arcadismo (ou
Neoclassicismo). Observe a sequencia dos períodos:

Antiguidade Idade Média Era Clássica


Cultura Grega Alta Idade Média Classicismo
Séc. XII a II a.C. Séc. V a XI/XII Séc. XVI
Cultura Latina Baixa Idade Média Barroco
Séc. VI a.C. a V d.C. Séc. XII - XV Séc. XVII
Arcadismo
Séc. XVIII

Contexto Histórico:

O Renascimento é a expressão artística e cultural de uma época marcada por fatos


decisivos, que acentuaram o declínio da Idade Média e deram origem à Era Moderna.
Entre eles, destacam-se:

 As navegações e os descobrimentos, no final do século XV;


 A formação dos Estados Modernos;
 A Reforma (1517);
 A Revolução Comercial, iniciada no século XV;
 O fortalecimento da burguesia comercial;
 A teoria heliocêntrica de Copérnico.

2 – Luís de Camões: o grande salto:

Entre os séculos XV e XVI, Portugal tornou-se um dos países mais importantes da


Europa, em virtude de seu papel de destaque no processo de expansão marítima e
comercial. O país amadurecia como Estado, povo, língua e cultura; contudo, faltava aos
portugueses uma grande obra literária que fosse capaz de registrar e traduzir o
sentimento de euforia e nacionalidade que vinham experimentando.

Luís de Camões (1525-1580), com o poema épico Os lusíadas, além da lírica, deu a
resposta concreta a esse desejo, projetando a literatura portuguesa entre as mais
significativas do centenário europeu nesse momento histórico.

Estudiosos da cultura clássica, Camões soube somar à sua formação cultural as ricas
experiências pessoais que viveu: a guerra no norte da África, onde perdeu um olho; a
prisão motivada por um duelo; e o exílio de dezessete anos, período em que viveu na
África e na Ásia (incluindo Índia e China). Todo seu conhecimento literário, filosófico,
426

histórico, político e geográfico foi aproveitado como matéria prima para escrever seus
poemas líricos e, principalmente, sua obra épica Os lusíadas, a principal expressão do
Renascimento português.

3 – A Poesia Lírica:

Na lírica, Camões cultivou tanto os poemas em medida velha (redondilhas), na tradição


da poesia palaciana, quando os poemas em medida nova (decassílabos), influência
direto dos humanistas italianos, especialmente de Petrarca. Os tipos de composição
empregados são o soneto, as éclogas, as odes, as oitavas e as alegias. Os temas mais
importantes são o neoplatonismo amoroso, a reflexão filosófica (sobre os desconcertos
do mundo) e a natureza (confidente amorosa do amante que sofre).

Na lírica amorosa, o eu lírico nega a realização física do amor por entender que o sexo
estraga o verdadeiro amor (com maiúscula), isto é, o amor com ideia universal, como
abstração pura e perfeita, acima de todas as experiências individuais.

Observe a expressão desse conceito neste soneto:


Transforma-se o amador na cousa amada, Mas esta linda e pura semideia,
Por virtude do muito imaginar; Que, como o acidente em seu sujeito,
Não tenho logo mais que desejar; Assim com a alma minha se conforma,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Está no pensamento como ideia;
Se nela está minha alma transformada, [E] o vivo e puro amor de que sou, feito,
Que mais deseja o corpo de alcançar? Como a matéria simples busca a forma.
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está ligada. (Lírica. São Paulo: Cultrix, 1976. P. 109).

De acordo com as duas primeiras estrofes, o eu lírico manifesta uma concepção segundo
a qual a realização amorosa se dá por meio da imaginação. Não é preciso ter a pessoa
amada fisicamente, basta tê-la em pensamento. E, tendo-a dentro de si, na imaginação, o
eu lírico se transforma na pessoa amada, confunde-se com ela e, dessa forma, já a tem.
Contudo, nas duas últimas estrofes o eu lírico abandona o neoplatonismo e, com uma
comparação, manifesta seu desejo físico pela mulher amada: do mesmo modo que toda
matéria busca uma forma, o seu amor puro, amor-ideia, busca o objeto desse amor, ou
seja, a mulher real.

Na lírica filosófica, os poemas de Camões revelam um homem descontente com os


rumos de seu tempo, insatisfeito com a nova ordem de valores que se instala naquele
momento histórico, de transição para o mundo burguês.

Observe essa postura neste poema:


427

Os bons vi sempre passar Cuidado alcançar assim


No mundo graves tormentos; O bem tão mal ordenado,
E para mais me espantar, Fui mau, mas fui castigado.
Os maus vi sempre nadar Assim que, só para mim
Em mar de contentamentos. Anda o mundo concertado.

4 – A Poesia Épica:

A obra Os lusíadas foi publicada em 1572 e narra os feitos heroicos dos portugueses
que, em 1498, se lançaram ao mar, numa época em que ainda se acreditava em monstros
marinhos e abismos. Liderados por Vasco da Gama, os lusos (os portugueses, daí o
nome da obra) ultrapassaram os limites marítimos conhecidos – no caso, o cabo das
Tormentas, no sul da África – e chegaram até Calicute, na Índia. Tal façanha uniu o
Oriente e o Ocidente pelo mar, deslumbrou o mundo e foi alvo de interesses políticos e
econômicos de diversas nações europeias.

Ao mesmo tempo em que se volta para fatos históricos relativamente recentes, as


aventuras de viagem também são pretexto para narrar a própria história de Portugal, nos
momentos decisivos de sua formação, respondendo assim ao anseio nacionalista da
época. Por outro lado, a obra também revela as inquietações do próprio autor quanto ao
sentido da busca desenfreada dos portugueses por riquezas e poder e quanto aos rumos
da própria nação portuguesa.

Como epopeia – gênero cultivado por escritores gregos e latinos, como Homero, autor
da Odisseia e da Ilíada, e Virgílio, autor da Eneida – a obra Os lusíadas segue a
estrutura própria do gênero, mas apresenta diferenças significativas. Por exemplo, em
vez da figura de um herói com forças sobre-humanas, como ocorre nas epopeias
clássicas, à figura de Vasco da Gama, em os lusíadas, é diluída para dar espaço aos
portugueses em geral, vistos como herói coletivo.

Outra diferença importante é que, na tradição épica, ocorre o “maravilhoso pagão”, isto
é, a interferência de deuses da mitologia nas ações humanas. Em Os lusíadas, também
há a presença de deuses da mitologia clássica, porém o paganismo convive com ideias
do cristianismo (o “maravilhoso cristão”), já que essa era a opção religiosa do autor e
dos portugueses em geral. Além disso, havia na época a pressão da Inquisição, que
controlava as publicações e chegou a pôr em dúvida a edição de Os lusíadas, em virtude
da presença de paganismo.

104 – RACIONALISMO
(Veja tópico 36 sobre o Empirismo).

Teoria do Conhecimento na Idade Moderna e Contemporânea

1 – Introdução:
428

René Descartes (1596 – 1650), cujo nome latino era Cartesius (daí seu pensamento ser
conhecido como “cartesiano”), é considerado o “Pai da Filosofia Moderna”. Dentre
suas obras, o discurso do método e meditações metafísicas, expressa a tendência de
preocupação com o problema do conhecimento a que já nos referimos. O ponto de
partida é a busca de uma verdade primeira que não possa ser posta em dúvida. Por isso,
converte a dúvida em método. Começa duvidando de tudo, das afirmações do senso
comum, dos argumentos da autoridade, do testemunho dos sentidos, das informações da
consciência, das verdades deduzidas pelo raciocínio, da realidade do mundo exterior e
da realidade de seu próprio corpo.

Descartes só admitiu a autoridade da razão. A filosofia só deve obedecer à autoridade da


razão. Só a razão conhece.

A matemática tornou-se o modelo e a linguagem de todo o conhecimento científico. As


coisas passaram a ser medidas e qualificadas. O conhecimento nos transforma em
“mestres e possuidores da natureza”. A realidade passa a ser explicada pela matemática.
O Racionalismo reduz a experiência sensível a quase nada. A razão é considerada
independente da experiência sensível.

Com a independência da subjetividade, o primeiro ato de conhecimento é a reflexão. A


consciência toma consciência de si mesma. A consciência de si mesmo ela é reflexiva:
ela é o sujeito e objeto de conhecimento – “Penso, Logo Existo”.

2 – As Coisas São Modos de Extensão

A realidade material é redutível a conceitos puramente mecânicos, como posição,


movimento e impulso. Todo acontecimento pode ser explicado através de leis
mecânicas calculáveis.

Com a matematização do universo, Descarte se deparou com problemas insolúveis.


- Se o mundo é uma máquina, um simples agregado de átomos, como explicar sua
dimensão espiritual?
- De que modo conseguimos o conhecimento geral, se nós apenas conhecemos coisas
individuais?
- O conhecimento também opera com conceitos gerais e com leis universais?
- A matematização abrange toda realidade do universo?
Diante destes problemas, Descartes formulou a existência de idéias inatas. Estabeleceu
uma relação de causa e efeito entre o espírito e a matéria.

2.1 – Representantes do Racionalismo:


Espinosa (1632 – 1677);
Malebranche (1640 – 1715);
Leibniz (1646 – 1716).
429

O Racionalismo emprega o método dedutivo: vai dos princípios em direção às


consequências. A metodologia do Cartesianismo está baseada na matemática. Os
princípios são conhecidos por intimidação. As leis das ciências da natureza são
idênticas aos teoremas. O método dedutivo se fundamenta na intuição, no
conhecimento direto proporcionado pela razão. Ele é a priori.

O pensamento de Descartes deu origem a duas correntes filosóficas: O Racionalismo e o


Empirismo.

2.2 – O Cogito

Descartes só interrompe essa cadeia de dúvidas diante do seu próprio ser que duvida. Se
duvido, penso; se penso, existo. “Cogito Ergo Sum”, “Penso, logo Existo”. Eis aí o
fundamento, o ponto de partida para a construção de todo o seu pensamento. Mas este
“eu” cartesiano é puro pensamento, uma res cogitaus (um ser pensante), pois, no
caminho da dúvida, a realidade do corpo (res extensa, uma coisa externa, material) foi
colocada em questão.

Não pretendemos fazer compreender a trajetória de Descartes, pois todo resumo é


abstrato e mutilador. Mas o relato que se segue deve ser acompanhado pelo leitor com a
escrita preocupação de observar como o autor constrói o relacionamento, priorizando o
sujeito, não o objeto.

A partir dessa intuição primeira (a existência do ser que pensa), que é indubitável,
Descartes distingue os diversos tipos de ideias, percebendo que algumas são duvidosas e
confusas e outras são claras e distintas.

As ideias claras e distintas são ideias gerais que não derivam do particular, mas já se
encontram no espírito, como instrumentos de fundamentação para a apreensão de outras
verdades.

São as ideias inatas, que não estão sujeitas a erros, pois vêm da razão, independentes das
ideias que “vêm de fora”, formadas pela ação dos sentidos, e das outras que nós
formamos pela imaginação.

São inatas, não no sentido de que o homem já nasce com elas, mas como resultantes
exclusivas da capacidade de pensar. São ideias verdadeiras. Nessa classe estão às ideias
da substancia infinita de Deus e a ideia da substancia finita, com seus grandes grupos –
a res cogitus e a res extensa.

Embora o conceito de ideias claras e distintas resolva alguns problemas com relação à
verdade, de parte do nosso conhecimento, não dá nenhuma garantia de que o objeto
pensado corresponda a uma realidade fora do pensamento. Como sair do próprio
pensamento e recuperar o mundo?
430

2.3 – DEUS

Para isso Descartes lança mão, entre outras provas, da famosa prova ontológica da
existência de Deus. O pensamento deste objeto – Deus – é a ideia de um perfeito; se um
ser perfeito, deve ter a perfeição da existência, senão lhe faltaria algo para ser perfeito.
Portanto, ele existe.

2.4 – O MUNDO

Se Deus existe e é infinitamente perfeito, não me engana. A existência de Deus é


garantia de que os objetos pensados por ideias claras e distintas são reais. Portanto, o
mundo tem realidade. E dentre as coisas do mundo, o meu próprio corpo existe. O que
caracteriza a natureza do mundo são a matéria e o movimento (res extensa), em
oposição à natureza espiritual do pensamento (res cogitaus).

Podemos perceber, nesse rápido relato, uma tendência forte e absoluta de valorização da
razão, do entendimento, do intelecto.

3 – Consequências Do Cogito

Estabelece-se o caráter originário do cogito como auto evidência do sujeito pensante e


princípio de todas as evidências.

Acentua-se o caráter absoluto universal da razão que, partindo do cogito, só com suas
próprias forças pode chegar a descobrir todas as verdades possíveis. Daí a importância
de um método de pensamento que garanta que as imagens mentais, ou representações da
razão, correspondam aos objetos a que se referem e que são exteriores a essa razão
mesma.

A partir do século XVII, passa-se a buscar o ideal matemático, isto é, ser uma Mathesis
Universalis (matemática universal). Isso não significa aplicar a matemática no
conhecimento do mundo, mas usar o seu tipo de conhecimento que é completo,
dominado inteiramente pela inteligência e buscado na ordem e na medida, permitindo
estabelecer cadeias de razões.

Outra consequência é o dualismo psíquico-físico (ou dicotomia corpo-consequência),


segundo o qual o homem é um ser duplo, composto de uma substância pensante e uma
substancia extensa. A conciliação das duas substancia dificulta a reflexão de Descartes e
gera antagonismo que serão objeto de debates nos dois séculos subsequentes. Isso
porque o corpo é uma realidade física e fisiológica e, como tal, possui massa, extensão
no espaço e movimento, bem como desenvolve atividades de alimentação, digestão etc.,
estando, portanto, sujeito às leis deterministas da natureza. Por outro lado, os
fenômenos mentais não têm extensão no espaço nem localização. As principais
atividades da mente são recordar, raciocinar, conhecer e querer; portanto, não se
submetem às leis físicas, mas é o lugar da liberdade.
431

Estabelecem-se, então dois domínios diferentes: o corpo, objeto de estudo da ciência, e


a mente, objeto apenas da reflexão filosófica. Essa distinção como verá, marcarão as
dificuldades do início das chamadas ciências humanas.

105 – RACISMO

1 – Introdução:

1.1 – Significado de Racismo.

É a discriminação social baseada no conceito de que existem diferentes raças humanas e


que uma é superior às outras. Esta noção tem base em diferentes motivações, em
especial as características físicas e outros traços do comportamento humano.

Consiste em uma atitude depreciativa e discriminatória não baseada em critérios


científicos em relação a algum grupo socia ou étnico.

O racismo no Brasil é crime previsto na Lei n°. 7.716/1989, e inafiançável e não


prescreve, ou seja, quem cometeu o ato racista pode ser condenado mesmo anos depois
do crime.

O preconceito racial está relacionado com conceitos como homofobia, xenofobia,


bullying racista, entre outros muito debatidos na atualidade.

O dia 21 de março foi estabelecido pela ONU (Organização das Nações Unidas) como o
Dia Internacional de luta pela Eliminação da Discriminação Racial. A data foi escolhida
em memória aos mais de 60 mortos do massacre ocorrido na África do Sul nesse mesmo
dia no ano de 1960.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem foi criada com o objetivo de proteger
os direitos fundamentais dos seres humanos condenado to tipo de discriminação pela
cor, gênero, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição.

1.2 – Racismo e Preconceito.

O racismo e preconceito estão interligados. O racismo é um tipo de preconceito étnico,


uma ideia pré-concebida e pejorativa a respeito de uma etnia ou grupo social.

O preconceito normalmente pode não estar ligado exclusivamente à aparencia física de


uma pessoa ou povo. O preconceito pode estar relacionado ao estilo de vida de uma
pessoa (por exemplo, a sua orientação sexual). Pode também haver preconceito relativo
à classe social de uma pessoa, como aversão a pessoas pobres.
432

Xenofobia é tambem um tipo de preconceito, que indica uma repgnância relativa a


pessoas estrangeiras.

1.2.1 – Racismo Reverso

O racismo reverso, ou racismo inverso, debate a existencia de um racismo contra


brancos, ou seja, que negros exerceriam discriminação contra pessoas brancas. O
coneceito não foi determinado cientificamente, pois a ideia por si só é contraditória. A
existencia de racismo pressupõe uma discriminação social que só é possível mediante o
estabelecimento de relações de poder e diferenças hierárquicas. E em termos históricos
e sociais, os grupos negros não apresentam poderio superior aos brancos, o que portanto
não poderia gerar uma situação de opressão, que é o que pressupõe a partir de uma
atitude racista.

O racismo consiste no preconceito e na discriminação com base em percepções sociais


baseadas em diferenças biológicas entre povos. Muitas vezes toma a forma de ações
sociais, práticas ou crenças, ou sistemas políticos que consideram que diferentes raças
devem ser classificadas como inerentemente superiores ou inferiores com base em
características, habilidades ou qualidades comuns herdadas. Também pode afirmar que
os membros de diferentes raças devem ser tratados de forma distintos.

1.2.2 - Tipos de Racismo

Existem vários tipos de racismo, entre eles o racismo individual, institucional, cultural,
primário, comunitarista ou diferencialista, o ecológico ou ambiental.

1.2.3 – Racismo no Mundo

O racismo é um problema social tanto em nações subdesenvolvidas como nas


desenvolvidas, principalmente sob a forma de xenofobia. O racismo nos Estados Unidos
apresenta consequencias graves, e suscita o aumento da violência nos subúrbios de
maiorira negra e hispânica, em relação a imigrantes árabes, entre a comunidade GLBT,
e outros grupos considerados minorias e com características diferentes dos brancos
norte-americanos.

A crise econômica e o crescimento demográfico costumam ser motivo de problemas


raciais. Entre os exemplos há o caso da Grãn-Bretanha com os imigrantes, na França
com os norte-africanos, na Alemanha com os sírios ou na Espanha com a população
cigana e os trabalhadores negros ilegais.

O racismo pode estar relacionado com a política de uma país, sendo um dos maiores
exemplos, a Alemanha nacional-socialista, que perseguiu e exterminou judeus, ciganos,
eslavos, entre outros grupos, com base em argumentos sobre a superioridade da raça
ariana. O anti-semitismo (racismo contra os judeus) levou ao holocausto, cuminando na
Segunda Guerra Mundial.
433

2 – Desenvolvimento Histórico do Racismo:

Alguns consideram que qualquer suposição de que o comportamento de uma pessoa


está ligado à sua categorização racial é intencionalmente prejudicial ou pejorativa,
porque estereótipos necessariamente subordinam a identidade individual, a identidade
do grupo. Na sociologia e psicologia, algumas definições incluem apenas as formas
conscientemente malignas de discriminação.

Entre as formas sobre como definir o racismo está à questão de se incluir formas de
discriminação que não são intencionais, como as que fazem suposições sobre
preferências ou habilidades dos outros com base em estereótipos raciais, ou formas
simbólicas e/ou institucionalizadas de discriminação, como a circulação de estereótipos
étnicos pela mídia. Também pode haver a inclusão de dinâmicas sócio-políticas de
estratificação social que, por vezes, têm um componente racial. Algumas definições de
racismo também incluem comportamentos e crenças discriminatórias baseadas em
estereótipos culturais, nacionais, étnicos ou religiosos. Uma interpretação do termo
sustenta que o racismo é mais bem entendido como “preconceito aliado ao poder”, visto
que sem o apoio de poderes políticos ou econômicos, o preconceito não seria capaz de
manifestar-se como um fenômeno cultural, institucional ou social generalizado. Alguns
críticos do termo afirmam que ele é aplicado diferencialmente, com foco em
preconceitos que partem de brancos e de forma que definem meras observações de
eventuais diferenças entre as raças como racismo.

Enquanto raça e etnia são consideradas fenômenos distintos na ciência social


contemporânea, os dois termos têm uma longa história de equivalência no uso popular e
na literatura mais antiga das ciências sociais. O racismo é a discriminação racial são
muitas vezes usados para descrever a disseminação com base étnica ou cultural,
independentemente se essas diferenças são descritas como raciais.

De acordo com a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de


discriminação racial das organizações das Nações Unidas (ONU), não há “distinção”
entre os termos “discriminação racial” e “discriminação étnica”, sendo que a
superioridade baseadas em diferenças raciais e cientificamente falsas, moralmente
condenável, socialmente injusta e perigosa, além de não haver justificação para a
discriminação racial, em teoria ou na prática, em qualquer lugar do mundo.

3 – História do Racismo:

Na história o racismo foi uma força motriz por trás do tráfico transatlântico de escravos
e de Estado que se basearam na segregação racial. Como os Estados unidos no século
XIX e início do Século XX e a África do Sul sob o regime da Apartheid. As práticas e
ideologias do racismo são universalmente condenadas pela ONU, ou Declaração Dos
Direitos Humanos. Ele também tem sido uma parte importante da base política e
ideológica de genocídios ao redor do planeta, como o Holocausto, mas também em
434

contextos coloniais, como os ciclos da borracha na América do Sul e no Congo, e na


conquista europeia das Américas e no processo de colonização da África, Ásia e
Austrália.

3.1 – Formas de Racismos:

O racismo tem assumido formas muito diferentes ao longo da história. Na antiguidade,


as relações entre povos eram sempre de vencedor e cativo. Estas existiam
independentemente das raças, pois muitas vezes povos de mesma matriz racial
guerreavam entre si, e o perdedor passava a ser cativo do vencedor, neste caso, o
racismo se aproximava da xenofobia.

Na idade média, desenvolveu-se o sentimento de superioridade xenofóbico de origem


religiosas. Quando houve os primeiros contatos entre conquistadores portugueses e
africanos, no século XV, não houve atritos de origem racial. Os negros e outros povos
da África entraram em acordos comerciais com os europeus, que incluíram o comércio
de escravos, que, naquela época, era uma forma aceita de aumentar o número de
trabalhadores numa sociedade e não uma questão racial.

No entanto, quando os europeus, no século XVI, começaram a colonizar o continente


negro e as Américas encontraram justificações para impor aos povos dominados, as suas
leis e formas de viver. Uma dessas justificações foi a ideia de que os negros e os índios
eram “raças” inferiores. Passaram, então, a aplicar a discriminação com base racial nas
suas colônias, para assegurar determinados “direitos” aos colonos europeus. Aqueles
que não se submetiam, era aplicado ao genocídio, que exacerbava os sentimentos
racistas, tanto por parte dos vencedores, como os submetidos.

Alguns casos de discriminação foram a confirmação de povos em reservas e a


introdução de leis para institucionalizar a discriminação, como foram os casos de leis de
Jim Crow, nos Estados Unidos e da apartheid na África do Sul.

3.1.1 – Eugenia

No século XIX, houve uma tentativa científica para explicar a superioridade racial
através da obra do Conde de Gobineau intitulada Essai Sur l’inégalite des races
humaines (Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas). Nesta obra, o autor
sustentou que, da raça ariana, nasceu a aristocracia que dominou a civilização europeia
e cujos descendentes eram os senhores naturais das outras raças inferiores.

3.1.2 – Genética

Embora existam classificações raciais propostas pelas mais diversas correntes


científicas, pode-se dizer que a taxinomia referencia uma oscilação de cinco a duas
centenas de raças humanas espalhadas pelo planeta, além de microrraças regionais,
locais ou geográficas que ocorrem devido ao isolamento de grupos de indivíduos que
cruzam entre si.
435

Portanto, a separação racial torna-se completamente irracional em função das


composições raciais, das miscigenações, recomposições e padronizações em nível de
espécie que houve desde o início da caminhada da humanidade sobre o planeta.

De acordo com Guido Baebijani, um dos maiores geneticista contemporâneo, diz:

“A palavra raça não identifica nenhuma realidade biológica reconhecível no DNA de


nossa espécie, e que, portanto não há nada de inevitável ou genético nas identidades
étnicas e culturais, tais como as conhecemos hoje em dia. Sobre isso, a ciência tem
ideias bem claras.”

A genética demonstra que a variabilidade humana quanto às combinações raciais pode


ser imensa. Mas as diferentes adaptações ocorridas a nível racial não alteram sua
estrutura quanto espécie. Desta forma, a unidade fundamental da espécie humana em
nível de macro análise permanece imutável, e assim provavelmente permanecerá apesar
das diferenças raciais num nível de microanálise.

Todas as raças provêm de um tronco, o Homo Sapiens, portanto o patrimônio


hereditário dos humanos é comum. E isto por si só não justificou o racismo, pois as
raças não são nem superiores, nem inferiores, são apenas diferentes. O racismo pode
ser pensado como uma “adoção de uma visão equivocada da biologia humana”,
expressa pelo conceito de “raça”, que estabeleceu uma justificativa para a subordinação
permanente de outros indivíduos e povos, temporariamente sujeitos pelas armas, pelas
conquistas, pela destituição material e cultural, ou seja, pela pobreza, como conceitua
Antônio Sérgio Alfredo Guimarães.

Atualmente, ramos do conhecimento científico como a antropologia, história ou


etnologia preferem a uso do conceito de etnia para descrever a composição de povos e
grupos identitários ou culturais.

3.1.3 – Xenofobia

Muitas vezes, o racismo e a xenofobia, embora fenômenos distintos possam ser


considerados paralelos e de mesma raiz, isto é, ocorrem quando um determinado grupo
social começa a hostilizar outro por motivos torpes. Esta antipatia gera um movimento
em que o grupo mais poderoso e homogêneo hostiliza o grupo mais fraco, ou diferente,
pois este não aceita, seguir as mesmas regras e princípios ditados pelo primeiro. Muitas
vezes, com a justificativa da diferença física, que acaba se tornando a base do
comportamento racista.

3.1.4 – Disgenia

Uma forma de racismo menos conhecida consiste na crença de que a miscigenação gera
indivíduos inferiores aos de “raça pura” (degeneração). Seja ambos, como defendia
Louis Agassiz, seja a um deles, como defendia Gobineau.
436

Uma forma atual de racismo tem ocorrido como reação ao racismo contra negros e de
indígenas e asiáticos que consiste em negar a identidade mestiça e a defesa de que as
populações de pardos fazem de sua condição de mestiça, exigindo-se que as populações
mestiças sejam tratadas como negras, indígenas e brancas, negando sua peculiaridade. O
Movimento Negro no Brasil não aceita o termo “mulato” nem aceita o “Movimento
Mestiço” e o grupo “Nação Mestiça”, tendo declarado o Movimento Negro que a
mestiçagem é a “ideologia do Embranquecimento”.

3.1.5 – Internet (Cyberbullying)

Valendo-se, ao mesmo tempo, da possibilidade de anonimato e do alcance a milhões de


internautas, o racismo tem se espalhado de maneira intensa pelo mundo digital. Com
discursos racistas, revisionistas ou neonazistas, milhares de sites, blogs, comunidades
virtuais do Orkut e myspace disseminam o ódio racial e a intolerância.

O primeiro crime virtual de racismo no Brasil ocorreu em meados do ano de 1997 na


cidade de Juiz de Fora (Minas Gerais). Quando computadores de uma universidade
foram utilizados para a divulgação de várias mensagens preconceituosas contra negros e
homossexuais em uma lista de discussão sobre sexualidade instalada na Unicamp. O
episódio que, por vários dias, ocupou as manchetes dos jornais do país, ficou conhecido
como o “Caso Rancora”.

No Brasil, a divulgação do racismo, mesmo pela internet, trata-se de um crime,


conforme é caracterizado pela legislação Brasileira. Alguns sites advogam o direito à
liberdade de expressão e afirmam não se considerarem racistas, por expressarem apenas
opiniões. Outros sugerem maneiras de como manter o material distante das autoridades
competentes. Por esta característica muitos sites, principalmente os disponibilizados em
provedores gratuitos, são retirados do ar, para, em seguida, reaparecerem, múltiplos em
três ou quatro servidores novos, inclusive em domínios estrangeiros. Um dos sites
pesquisados afirma exatamente isto: para cada site retirado do ar, assume-se o
compromisso de disponibilizar, pelo menos, três novos. Isso evidencia uma rede.

3.1.6 – Misoginia

O preconceito contra a mulher negra tem suas raízes na escravidão que, apresar de ter
sido abolida há décadas, no modo de pensar e de ver o outro e a si mesmo. O
preconceito contra a mulher sempre foi tão incutido na sociedade, que gerou nelas
mesmas uma visão autodepreciativa de sua posição nas relações sociais e como tal no
mercado de trabalho.

Com a criação do Movimento Feminista e depois de muitas lutas, as mulheres


conquistaram alguns direitos e de certa forma algumas barreiras sociais foram
quebradas. Porém, a atual situação das mulheres não sofreu muitas alterações. No
mercado de trabalho, as mulheres ainda ocupam cargos inferiores em relação aos
homens. Isto se comprova através de estudos recentes, revelando que para elas
alcançarem os mesmos cargos que os homens, em empregos formais, necessitam de
437

uma vantagem de cinco anos de escolaridade. Esses dados agravam-se quando


relacionados às mulheres negras, que necessitam de oito a onze anos de estudo a mais
em relação aos homens.

3.2 – Por País:

3.2.1 – África do Sul

Os trabalhos de geneticistas, antropológos, sociólogos e outros cientistas do mundo


inteiro derrubaram por terra toda e qualquer possibilidade de superioridade racial, e
estes estudos culminaram com a Declaração Universal dos Direitos do homem.

Embora, existam esforços contra a prática do racismo, esta ainda é comum a muitos
povos da terra. Uma demonstração de racismo ocorreu em pleno século XX a partir de
1948, na África do sul, quando a apartheid manteve a população africana sob o domínio
de um povo de origem europeia. Este regime político racista acabou quando, por
pressão mundial, foram convocadas as primeiras eleições para um governo
multirracional de transição, em abril de 1994.

Atualmente, ocorre um grande aumento na violência praticada por negros contra


brancos. A situação da comunidade afrikaner (bôeres) mostra-se tão preocupante que
alguns observadores intencionais já empregam o termo “genocídio branco” para
classificar a gravidade dos crimes de ódio praticados contra a população rural branca.
Em 2012, durante o centenário do Congresso Nacional Africano, o presidente Jacob
Zuma cantou uma canção cuja letra incita a violência contra os brancos na África do
Sul.

3.2.2 – Alemanha Nazista

Em 1899, o inglês Houston Stwart Chamberlain, chamado de o antropólogo do Kaiser,


publicou na Alemanha a Obra Die Grundlangen des Neunzehnten Jahhunderts (os
fundamentos do século XIX). Esta obra trouxe o mito da raça ariana novamente e
identificou-a com o povo alemão.

Alfred Rosenberg também criou obras que reforçaram a teoria da superioridade racial.
Estas foram aproveitadas pelo programa político do Nazismo visando à unificação dos
alemães utilizando a identificação dos traços raciais específicos do povo dos senhores.
Como a raça alemã era bastante miscigenada, isto é, não havia uma normalidade de
traços fisionômicos, criaram-se, então raças inimigas, fazendo, desta forma, surgir um
sentimento de hostilidade e aversão dirigido a pessoas e coisas estrangeiras.

Desta forma, os Nazistas usaram de xenofobia associada ao racismo, atribuindo, a


indivíduos e grupos sociais, atos de discriminação para amalgamar o povo alemão
contra o que era diferente. A escravização dos povos da Europa Oriental e a perseguição
aos judeus eram as provas pretendidas pelos nazistas da superioridade da raça ariana
sobre os demais grupos diferentes.
438

3.2.3 – Estados Unidos

Nos Estados Unidos, o racismo chega o extremo contra os negros, índios, asiáticos e
latino-americanos, em especial no sul do país. Ate 1965, existiam leis, como as
chamadas leis de Jim Crow, que negavam aos cidadãos não brancos toda uma série de
direitos. A discriminação racial confundia-se com o preconceito social.

Na década de 1820, surge o termo “whaite trsh” (literalmente, “lixo branco”), criado por
negros para designar os brancos pobres que competiam com eles por trabalho. A elite do
país considerava este grupo como “socialmente desajustado” acusando-o de ociosidade,
imoralidade, estupidez e de responsabilidade pela disseminação de “debilidade mental”
e doenças. Eram tidos como nocivos para saúde (social, mental e genética) da população
e, ao longo dos séculos XIX e XX, milhares foram esterilizados compulsoriamente. Os
White trash (termo ainda em uso) representam um dos grupos vitimados pela eugenia
negativa, que procurava impedir a procriação dos elementos considerados “inferiores”
que pudessem “poluir” o patrimônio genético humano.

Em 1964, o presidente Lyndon Baines Johnson promulgou a Lei dos Direitos Civis de
1964 que deu uma série de direitos aos negros, tendo, na ocasião dita Johnson:

“Nós democratas perdemos o sul por uma geração” o que veio realmente acontecer. O
chamado “sólido sul” era majoritariamente democrata desde o final da Guerra Civil
(1861-1865), tornando-se, após a Lei dos Direitos Civis, e até hoje, majoritariamente
republicano.

Leis existiam proibindo casamento inter-racial e segregando as raças em transportes


públicos e banheiros públicos. Assim, mesmo que uma pessoa fosse racista, ela estava
proibida de casar com alguém de outra raça. Foi o caso do branco Lennie Hayton, que,
não podendo se casar na Califórnia com Lena Horne, casou-se na França. Só em 1967, a
Suprema Corte declarou inconstitucional a proibição do casamento inter-racial no
veredicto sobre o caso “Loving et Ux verso Virgínia. Na época da liberação do
casamento inter-racial 72% dos estadunidenses se opunham ao casamento inter-racial.

Além disso, muitos negros foram linchados e queimados vivos sem julgamento, sem
que os autores destes assassinatos fossem punidos, principalmente pelos membros de
uma organização, a ku klux klan (KKK). Que defendia a supremacia branca. Essa
organização ainda existe naquele país, alegadamente para defender a liberdade de
expressão e liberdade de se expressar a supremacia branca. A KKK surgiu como uma
reação dos escravos nos Estados Unidos (Proclamação de Emancipação) e ao
revanchismo praticado pelos ex-escravos aliados aos nortistas (Yankees) após a Guerra
de Secessão (1861- 1865). Filmes pro-sulistas como: e o vento levou, Santa Fé Trail,
The Undefeated, o nascimento de uma nação e Jezebel; denunciam esse revanchismo
que deu origem à KKK. Atualmente, a KKK ainda existe nos Estados Unidos, embora
seja perseguida.
439

Paralelamente, desenvolveram-se grupos de supremacia negra (racismo “reverso”),


como o “Black Power” (em português, “Poder Negro”) e a organização “Nation of
Islam”, a que pertenceu Malcon x sendo o governo de Barack Obama acusado de
“racialismo” por não aceitar investigar racismo dos “Panteras Negras” contra brancos
norte-americanos.

3.2.4 – Filosofia

O racismo é um preconceito contra um “grupo racial”, geralmente diferente daquele a


que pertence o sujeito, e, como tal é uma atitude subjetiva gerada por uma sequencia de
mecanismos sociais. Um grupo social dominante, seja em aspectos econômicos ou
numéricos, sente a necessidade de se distanciar de outro grupo que por razões históricas,
possui tradições ou comportamentos diferentes. A partir daí, esse grupo dominante
constrói um mito sobre o outro grupo, que pode ser relacionado à crença de
superioridade ou de iniquidade.

Nesse contexto, a falta de análise crítica a aceitação cega do mito gerado dentro do
próprio grupo e a necessidade continuar ligado ao seu próprio grupo levam à
propagação do mito ao longo das gerações. O mito torna-se, a partir de então, parte do
status quo, fator responsável pela difusão de valores morais como “certo” e o “errado”,
o “aceito” e o “não aceito”, o “bom” e o “ruim”, entre outros. Esses valores são aceitos,
sem uma análise ontoaxiológica do seu fundamento, propagando-se por influência da
coerção social e se sustentando pelo pensamento conformista de que “sempre foi
assim”.

Finalmente, o mecanismo subliminar da aceitação permite mascarar o preconceito em


que se baseia a discriminação, fornecendo bases axiológicas para a sustentação de algo
maior, de posturas mais radicais, como as atitudes violentas e mesmo criminosas contra
membros do outro grupo.

Convém ressaltar que o racismo nem sempre ocorre de forma explicita. Além disso,
existem casos em que a prática do racismo é sustentada pelo aval dos objetos de
preconceitos na medida em que também se satiriza racionalmente e/ou consente a
prática racista, de uma forma geral. Muitas vezes, o racismo é consequência de uma
educação familiar racista e discriminada.

3.2.5 - Ideologia

Como uma ideologia, o racismo existiu durante o século XIX, como racismo cientifíco
“racialismo”, que tentava dar uma classificação racial para a humanidade. Embora, tais
ideologias racistas tenham sido amplamente desacreditadas após a Segunda Guerra
Mundial (1939-1945) e o Holocausto, o racismo e a discriminação racial permaneceram
difundidos em todo o mundo. Alguns exemplos disso no dia de hoje são estatisticas
incluindo, mas não restritas a isto, a proporção de negros nas prisões em relação aos
homens negros livres comparada a outras etnias; habilidades físicas; estatísticas sobre
capacidade mental; e outros dados recolhidos por grupos científicos. Embora estas
440

estatisticas estejam corretos e possam mostrar tendencias, é inadequado na maioria dos


países supor que, porque certos grupos tenham uma criminalidade alta ou baixa taxa de
alfabetização, todo esse conjunto seja automaticamente mais criminoso ou menos
inteligente.

Isso já foi notado por William Edward Burghart Du Bois, que observeou que, ao fazer a
diferença entre raças, não é sobre raça que pensamos, mas sobre cultura: “... uma
história comum, leis e religião comuns, hávitos de pensamento semelhantes e um
esforço consciente em conjunto para certos ideiais de vida”. Nacionalista do final do
século XIX foram os primieros a abraçar os discursos contemporâneos sobre “raça”,
etnicidade e “sobrevivencia do mais forte” para moldar novas doutrinas nacionalistas.
Em última análises, a raça passou a representar não apenas os traços mais importantes
co corpo humano, mas também foi considerada decisiva na moldagem do caráter e da
personalidade da nação.

Várias universidades por todo o mundo têm feito ao longo das décadas diversos estudos
para determinar o conceito de racismo em diferentes grupos étnicos e em diferentes
camadas sociais. Segundo uma pesquisa da Universidade de Ontário, no Canadá,
pessoas racistas e preconceituosas apresentam quociente de inteligência mais baixo e
são mais facilmente atraídas por ideologias conservadoras e de direita. Porém, um
estudo realizado por cinco psicólogos de quatro Universidades americanas
determinaram que a intolerância não é exclusiva de ambos os lados extremos do
espectro político (extrema-esquerda e extrema-direita), mas que conservadores e liberais
tem similares níveis de intolerância.

3.2.6 – Perspectiva Jurídica Contemporânea

Como a simples educação e conscientização não tem sido suficiente para minorar o
racismo presente na cultura de inúmeros países foram feitas, então, leis para coibir o
racismo.

3.2.6.1 – Declarações e Leis Internacionais contra a discriminação racial

Em 1919, criou-se uma Proposta chamada proposta de Igualdade Racial para incluir
uma provisão de igualdade racial no Pacto da Liga das Nações, a proposta foi apoiada
pela maioria, mas não foi adotada na conferência de Paz de Paris.

Em 1943, o Japão e seus aliados declararam que esforços para abolição da


discriminação racial era um objetivo comum, na grande conferência do Leste Asiático.
O artigo I da Carta das Nações Unidas de 1945 inclui “promover e estimular o respeito
aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça”
como um propósito da ONU.

Em 1950, a organização das Nações Unidas para a Educação, a ciência e a cultura


redigiu a questão da raça, uma declaração assinada por 21 estudiosos como o brasileiro
Luiz de Aguiar Costa Pinto, Ashley Montagu, Claude Lévi Strauss, Gunnar Myrdal,
Julian Huxley etc, que continha a sugestão de “abandonar o termo raça completamente e
441

em vez disso falar sobre grupos étnico”. A declaração condenou teorias de racismo
cientifico que tinham desempenhado grande papel no Holocausto. O objetivo também
foi desmentir teorias científicas racistas, popularizando o conhecimento moderno sobre
a “questão racial”, e moralmente condenar o racismo como contrário à filosofia do
iluminismo e sua assunção de igualdade entre todos. Este relatório foi crucial para
terminar a política de segregação norte-americana no caso Brown V. Board of
Education of Topeka. Também em 1950, a convenção Europeia dos Direitos Humanos
foi adotada, amplamente usada em questões de discriminação racial.

A organização das Nações Unidas usa a definição de discriminação racial estabelecida


na convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de discriminação
racial, adotada em 1966:

“ Na presente convenção, a expressão a discriminação racial visa a qualquer distinção,


exclusão, restrição ou preferencia fundada na raça, cor, ascendência na origem nacional
ou étnica que tenha como objetivo ou como efeito destruir ou comprometer o
reconhecimento, o gozo ou o exercício, em condições de igualdade, dos direitos de
homem e das liberdades fundamentais dos domínios políticos, econômicos, social e
cultural ou em qualquer outro domínio da vida pública.”

Parte – 1, Artigo 1, da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas


de Discriminação Racial.

Em 2001, a União Europeia explicitamente proibiu o racismo, juntamente com muitas


outras formas de discriminação social, na Carta dos Direitos Fundamentais da União
Europeia, o efeito jurídico de que, se houver, seria necessariamente limitado a
Instituições da União Europeia:

“É proibida a discriminação em razão, designadamente; do sexo, raça, cor ou origem


étnica ou social, características genéticas, língua, religião ou convicções, opiniões
políticas ou outras, pertença a uma minoria nacional, riquezas, nascimento, deficiência,
idade ou orientação sexual.”

Capítulo III – Artigo 21, Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.

3.2.6.2 – Brasil

A Constituição de 1988 tornou a prática do racismo crime sujeita à pena de prisão,


inafiançável e imprescritível. A legislação brasileira já definia, desde 1951, com a Lei
‘Afonso Arino’ (lei 1.390/51), os primeiros conceitos de racismo, apesar de não
classificar como crime e sim como contravenção penal (ato delituoso de menor
gravidade que o crime). Os agitados tempos da regência, na década de 1830, assinalam
o antirracismo no seu nascedouro quando uma primeira geração de brasileiros negros
ilustrados dedicou-se a denunciar o “preconceito de cor” em jornais específicos de luta
(“a imprensa mulata”), repudiando o reconhecimento público das “raças” e
reivindicando a concretização dos direitos de cidadania já contemplados pela
Constituição de 1824.
442

3.2.6.3 – Estados Unidos

Nos Estados Unidos, a situação se inverteu nas últimas décadas, de leis que regulavam o
racismo, passou-se a ter leis antirracistas: nos Estados Unidos, 44 a 50 estados possuem
leis punindo explicitamente a discriminação racial. Os únicos estados que não possuem
tais leis são: Arkansas, Geórgia, Indiana, Carolina do Sul, Utah e Wyoming.

No nível federal dos Estados Unidos, algumas leis também punem crimes motivados
pelo racismo, tais como: a Lei da Acomodação Justa (The Fair Housing Act) de 1968, a
aplicável à discriminação racial do alugues, compra ou venda de imóveis; e a Lei de
Aumento das Penas para crime de Ódio (The Hate Crimes Sentecing Enhancement Act),
de 1994, aplicável a ataques racistas em propriedades federais ou parques nacionais.

3.2.6.4 – França

Na França, o artigo 225-1 do Código Penal Francês define, como discriminação “toda
distinção operada entre pessoas físicas (ou jurídicas) em razão de (...) seu pertencimento
ou não pertencimento, verdadeiro ou suposto, a uma etnia, nação, raça ou religião
determinada”. O artigo 225-2 pune tal discriminação com três anos de prisão e 45 mil
euros de multa, quando ela ocorre em função da recusa no fornecimento de um bem ou
serviço, no entrave ao exercício normal de qualquer atividade econômica, na recusa de
empregar, demitir ou aposentar uma pessoa, ou na subordinação de uma oferta de
emprego, de um pedido de estágio ou de um curso de formação na empresa a tais
características discriminatórias.

3.2.6.5 – Índia

O Sistema de Castas existentes no país tem sido apontado como forma de racismo, mas
a posição oficial do governo afirmada publicamente numa Conferencia Mundial da
Organização das Nações Unidas contra o racismo é que “as questões de castas não são
as mesmas do racismo”. A hierarquização das castas como algo inevitável não é
consensual na índia e o fato de indivíduos de algumas castas considerados “inferiores”
terem conseguido poder político tem ajudado a minorar os efeitos da segregação
tradicional.

Embora, alguns refiram a uma “apartheid escondido”, em termos estritamente legais


essas não é sancionada: pelo contrário, há políticos de discriminação positiva de castas
consideradas inferiores.

3.2.6.6 – Israel

Em 1975, por pressão dos países árabes e com o apoio dos Soviéticos, O Sionismo foi
considerado “uma forma de racismo” pela resolução 3.379 da Assembleia Geral das
Nações Unidas. No entanto, em 1991, essa acusação foi eliminada pela resolução 4.686
da Assembleia Geral das Nações Unidas.
443

Em 2002, o parlamento israelense aprovou uma lei que nega aos cidadãos de origem
árabe do país o direito de conviver com seus cônjuges caso contraiam matrimonio com
palestinos, pois este serão recusada a permissão de residência no país. A Lei visa a
impedir a infiltração de possíveis terroristas palestinos como pretexto. Esta Lei se baseia
na Torá, no livro do Deuteronômio 7.3 que a lei israelense segue e que diz:

“Nem contrairás matrimônio com filhos dessas nações; não darás tuas filhas a seus
filhos, nem tomarás suas filhas para teus filhos”. A lei foi questionada na justiça por
diversas entidades de direitos humanos, mas em 15 de maio de 2006, foi confirmada
pela suprema corte de Israel.

3.1.6.7 – Portugal

De acordo com o novo Código Penal em vigor desde 15 de Setembro de 2007, qualquer
forma de discriminação com base na raça ou etnia é punível. Da mesma forma, são
penalizados grupos ou organizações que se dediquem a essa discriminação, assim como
as pessoas que incitam a mesma em documentos impressos ou na internet. A legislação
portuguesa aplica-se igualmente a outras formas de discriminação religiosas, de local de
origem e orientação sexual.

3.2.6.8 – União Europeia

A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia garante, ao cidadão europeu, em


seu artigo 21°. (item 1), a proibição da discriminação por motivo de raça, cor ou origem
étnica, entre outras formas de discriminação ali previstas.

106 – REALISMO

1 – Introdução:

Estilo artístico da segunda metade do século XIX caracteriza-se por uma abordagem
objetiva da realidade e pelo interesse por temas sociais. Na pintura, as obras privilegiam
cenas de grupos sociais menos favorecidos. Na literatura, o romance social é a principal
forma de expressão do período. São destaques o francês Gustave Flaubert, o russo
Fiodor Dostoievski e Machado de Assis, que inicia o estilo no Brasil com os romances
Memórias Póstumas de Brás Cubas.

2 – Antecedentes:

A segunda metade do século XIX foi sacudida por três correntes do pensamento: o
monismo materialista, o evolucionismo e o positivismo – doutrinas que, de um modo
geral, supervalorizavam a ciência em detrimento do espírito, colocavam o homem como
fruto do meio e defendiam o princípio de que só o sensível podia ser conhecido.
444

Estas três correntes influenciaram de tal maneira o pensamento da época que


provocaram o aparecimento da Época Realista (*).

No Brasil, importava movimento de renovação do pensamento foi a Escola de Recife,


liderada por Tobias Barreto, divulgador do monismo alemão entre nós.

Ponderável contribuição trouxa ainda a Questão Coimbra (1865) – violenta polêmica


entre os jovens de Coimbra que lutavam pela renovação do pensamento português e os
conservadores de Lisboa, apadrinhados por Castilho.

Contribuíram, e muito, para a mudança do pensamento brasileiro as campanhas


abolicionista e republicana, que determinaram a decadência e o fim do império e
impuseram novos rumos ao Brasil.
(*) A época Realista começou na França em 1857
com o romance Madame de Bovary de Flaubert.

3 – Mas o que é Realismo?

Assim define o Minidicionário da Língua Portuguesa Larousse: s.m. 1. Qualquer


doutrina filosófica que concebe a realidade como independente do conhecimento que
dela possa ter o sujeito. 2. Tendência de encarar objetivamente a realidade; senso
prático. 3. Liter. Tendências literárias e artísticas da segunda metade do séc. XIX que
privilegiava a representação exata, não idealizada, da natureza e dos homens. 4. Sistema
político em que o chefe de Estado é um rei; monarquia. Ideologia ou doutrina que
defende ou prega a monarquia.

3.1 – A Estética Realista

O vocábulo “Realismo” - a palavra real vem do latim: res, que significa coisa, objeto,
fato etc. o vocábulo realismo, portanto, vem de real + ismo, onde o sufixo significa
escola, doutrina, tendência etc.

Verifica-se, então, que o vocábulo realismo implica as tendências, escolas ou doutrinas


que valorizam as coisas, os objetos, os fatos, em última análise, tudo aquilo que não
constitui a interioridade humana, o psiquismo, a subjetividade, a espiritualidade.

3.2 – Domínio Histórico

O movimento de renovação que prepara a Escola Realista ocupa, no Brasil, a década de


1870-1980.

Em 1880/81 firma-se soberana a nova Escola que se estende até a primeira grande
guerra.
445

3.3 – Movimentos Literários

A época Realista apresenta três movimentos literários: Realismo, Naturalismo (ambos


em prosas) e Parnasianismo (poesia).

3.3.1 – Realismo:

Começou em 1881 com o romance, Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de


Assis.

3.3.2 – As Características do Realismo:

Em primeiro lugar, é importante perceber que o realismo, como atitude geral do homem
diante do mundo, não ocorre somente durante o Realismo, isto é, apenas no período
histórico que leva este nome.

Atitude realista houve sempre que o homem, em lugar de acentuar os seus valores
íntimos, a sua subjetividade, deu maior peso àquilo que estava fora dele, à realidade
objetiva. Assim, há textos “realistas” muito antes mesmo de o Realismo existir como
período literário.

Neste período, todavia, a atitude realista tanto passou a ser um hábito, como, ainda,
obedeceu a uma série de objetivos específicos, envolvendo, inclusive, um método
próprio, muito aproximado daquele desenvolvido pelas ciências naturais.

4 – Sendo assim, destacam-se como características principais do Realismo:

 A Veracidade – é este objetivo final desejado pelos autores da época,


especialmente pelos ficcionistas. Por isso, procuram despir seus textos de
artifícios exageradamente literários; em alguns casos, chegam até a fugir da
linguagem figurada. Evita, ainda, que a emoção que possa ser despertada pelos
fatos, ou o sentimentalismo, prejudiquem sua visão, motivo por que os
sentimentos são cuidadosamente dosados. Também por isso, recusam uma visão
demasiadamente esquemática ou didática do real, partindo da constatação de que
ele é dinâmico e, muitas vezes, desconexo e desordenado.

 A Objetividade – como decorrências das metas que se propõem, a fim de


captarem o real em toda sua amplitude e com a maior precisão possível, os
realistas se distanciam da matéria de que tratam. Este distanciamento, é claro, só
pode ser obtido no momento em que a subjetividade é reduzida ao mínimo, para
que o objeto se imponha na totalidade de sua natureza. Em consequência,
esforçam-se para não comunicar às personagens os próprios conceitos ou
preconceitos, as próprias emoções ou sentimentos.
446

 A Observação – pela primeira vez, na história literária, é absolutamente negado


o valor da inspiração, à qual os autores sobrepõem um método, um técnica, que
é a observação da realidade.

 O Senso Documental – é o traço que se acrescenta, pois o material observado,


para os realistas, o que se explica pelo fato de serem os sentidos as primeiras
vias de acesso de que se dispõe o homem para estabelecer contato com o mundo.
Num primeiro nível, destaca-se a visão, importantíssima para o registro
descritivo do ambiente, do meio social e dos indivíduos. Depois, os demais
sentidos, variando sua importância em função da matéria narrada.

 A Especificidade – fugindo às visões generalizadoras ou abrangentes da


realidade, o realista aprofunda seu senso de detalhe, fixando as minucias,
pesando a importância dos aspectos particulares de cada ambiente, de cada ser,
de cada situação, com zelo que comumente vê adotado pelo cientista. Também
as atitudes, os conceitos e os sentimentos são objeto dessa visão especificadora.

 O Senso Crítico – do que foi dito acima, não se deve concluir que a obra realista
não proponha juízos de valor sobre a realidade retratada. Ao contrário,
abandonando a concepção dogmática e “inspirada” de períodos anteriores, o
realista procura, pela própria seleção dos fatos observados, pela importância que
adquirem determinadas minúcias, demonstrar um juízo crítico sobre a realidade,
emitir um julgamento sobre aquilo que viu e documentou.

 A Lentidão Narrativa – justamente como decorrência das técnicas empregadas e


dos objetivos atribuídos à literatura, na época, o enredo tende a ser apresentado
de forma lenta, uma vez que é retardado pelas minúcias descritivas, pelos
detalhes de natureza psicológica, pela densidade analítica que o acompanha.

 A Adesão à Vida Contemporânea – ao contrário do romântico, que se evadia


(que fugia), para um mundo somente seu, o realista adere â realidade, entrega-se
a ela, porque nela é que vê a verdade do homem. Por isso, de um lado, adquire
importância temática a vida urbana, uma vez que as cidades, na época, passam a
assumir sua feição moderna. Isso, porém, não implica desprezo pelas
características da vida rural nem, o que é mais importante, se omite a
contradição que começa a esboçar-se, entre as condições de vida na cidade e no
campo.

 A Função Social da Arte – constitui outro traço do período realista, que passa a
encarar o fenômeno estético como uma forma de atuar na sociedade,
447

denunciando as condições de vida dos operários e dos marginalizados, abrindo


as feridas da sociedade, rasgando o véu dos preconceitos, da hipocrisia, da
ambição, da exploração do homem pelo homem.

107 – REDUCIONISMO

Introdução:

1 – Tendências Contemporâneas.

A metafísica como área de investigação da realidade não tem, atualmente, o mesmo


prestígio do passado. No entanto, o problema do mundo e de como são realmente as
coisas surge continuamente em diversas áreas de atuação humana, mesmo quando não é
abordado diretamente. Ou seja, reaparece como pressuposto, conformando
implicitamente uma tese ontológica.

2 – Reducionismo.

É a maneira de pensar a matéria segundo a qual o todo (por exemplo, uma máquina ou
um animal) pode ser explicado pelas partes nas quais ele se reduz (ou seja, as peças que
compõem a máquina ou os órgãos que formam o animal). Aí há o entendimento de que
“a soma das partes equivale ao todo”. Se conhecermos as partes, conhecemos o todo.

De acordo com o enfoque reducionista, cada parte poderia ser convertida


sucessivamente em níveis de organização inferiores, até chegar ao nível das substâncias
materiais ou unidades físicas mais elementares. Em outras palavras, a biologia poderia
ser reduzida à química e, depois, à física, já que a vida não passaria de uma reunião de
substâncias químicas, e estas, de uma combinação de átomos.

3 – Reducionismo materialista.

É o que ocorre, por exemplo, no campo científico, onde o racionalismo materialista


encontrou solo fértil e se impôs de maneira crescentemente hegemônica, desde o início
da época moderna. Isso pode parecer “normal” quando se trata das ciências da natureza
– como a física, a química e a biologia – que lidam de modo direto com a matéria e os
fenômenos naturais. Mas o que dizer das ciências do ser humano, como a psicologia e a
sociologia? É possível relacionar pensamentos, emoções e condutas sociais com
elementos ou substâncias corporais?

Cada vez mais áreas como a genética e as neurociências, entre outras, têm tentado
mostrar que sim, que é possível e alcançado com certo êxito. Hormônios como a
448

adrenalina ou neurotransmissores como a serotonina, sem falar nos genes, já se


tornaram lugares-comuns no linguajar popular para explicar estados psicológicos ou
comportamentos diversos nos seres humanos.

Essa tendência a relacionar o corporal ou material com o psíquico, o inanimado com o


inanimado, é uma consequência lógica da ontologia materialista, que considera a
natureza como realidade única e, consequentemente, o ser humano como um ser natural
que não necessita de nada além de sua natureza física para ser explicado.

[isso] tornou o materialismo, ao longo de toda a sua história, solidário do racionalismo, do


espírito científico, das luzes, em suma, de tudo o que combatia as superstições:
“sobrenatural”, para um materialista, é uma palavra vazia de sentido ou, antes, sem objeto.
Mas também é o que leva, quase inevitavelmente, ao reducionismo. Se chamarmos de
física o conhecimento da natureza ou da matéria, o materialismo é um fisicalismo
ontológico: não há nada que não seja matéria ou produto da matéria, não existe nada que
não seja, de direito, conhecível pela física ou redutível, em última instância, a processos
que o sejam. No limite, não pode haver metafísica materialista independente: a metafísica
do materialismo seria antes a própria física. [...].

(Comte-Sponville em Comte-Sponville e Ferry, Sabedoria dos modernos, p. 31).

Com esse texto salienta, o materialismo tende ao reducionismo, isto é, a maneira de


pensar segundo a qual o todo pode ser explicado pelas partes.

4 – Enfoques não reducionistas.

O paradigma reducionista-mecanicista estabelecido com o surgimento da ciência


moderna tem encontrado, no entanto, dificuldades para ser mantida, principalmente em
algumas áreas de investigação como a biologia, a ecologia, a psicologia, a sociologia e a
linguística, e mesmo na física.

Desde o final do século XIX surgiram vozes discordantes desse modelo de interpretação
e investigação do mundo, mas foi principalmente nas últimas décadas que aumentou
significativamente o número de adeptos de abordagens não reducionistas no campo
científico, razão pela qual se costuma falar no surgimento de um novo paradigma
científico, ou de uma ciência pós-moderna.

Nessas novas abordagens, o todo tende a ser entendido como sistema, isto é, como
estrutura organizada de elementos inter-relacionados. Assim, para ser adequadamente
compreendido, o todo não pode ser dividido e suas partes, isoladas. Elas devem ser
entendidas conjuntamente nas relações que estabelecem entre si, sempre tendo como
referencia o todo. Essa tendência é conhecida, de modo genérico, como holismo (do
grego hólos, “total”, “inteiro”, “completo”).

No entanto, há também aquele – como o pensador francês, Edgar Morin (1921) – que
defendem a tese de que, para compreender a complexidade do mundo, é preciso adotar
ao mesmo tempo as perspectivas do todo e das partes, isto é, holista e reducionista.
449

108 – REFORMAS RELIGIOSAS

1 – Introdução:

No final da Baixa Idade Média, especialmente a partir do século XIV, a sociedade


europeia assistiu a uma série de mudanças profundas: ocorreu a chamada Revolução
Comercial que levou a um crescimento cada vez maior das cidades e da classe burguesa;
em diversos países diminuiu o poder dos senhores feudais, aumentou o poder dos reis e
desenvolveu-se a política mercantilista; a cultura renascentista espalhou-se pela Europa
impulsionada especialmente pelos burgueses e reis. Nesse mundo em ebulição,
desencadearam-se também grandes mudanças na vida religiosa através dos chamados
movimentos reformistas que alcançaram o ápice no século XVI. À primeira vista, tais
movimentos caracterizaram-se principalmente por levarem a uma divisão acentuada na
Igreja Cristã do Ocidente Europeu e à formação de uma série de Igrejas chamadas
genericamente de Protestantes.

2 – Por Que Foi Feita A Reforma?

O movimento reformista do século XVI variou bastante de país para país e, como toda
grande mudança, foi provocado por uma série de fatores, entre os quais podemos
apontar de maneira genérica: o desenvolvimento do capitalismo e da burguesia que
gerou a necessidade de uma nova ética religiosa que não condenasse atividades como o
comércio, a usura e a acumulação de capitais; o fortalecimento do poder dos reis e o
nacionalismo crescente que entrava em conflito com a autoridade supranacional do
Papado; a intensa religiosidade da época que exigia uma purificação dentro da Igreja,
bem como uma religião em cujas formas de culto os fiéis tivessem uma participação
mais direta.

3 – Antecedentes Da Reforma Do Século XVI

Desde os primórdios do Cristianismo podemos presenciar dissenções entre cristãos.


Estas discórdias, muitas vezes, foram resultado de interpretações diversas das verdades
religiosas, mas, frequentemente, foram causadas por fatores não religiosos tais como a
política e a atividade econômica.

3.1 – O Cisma do Oriente;

No ano de 1054, a cristandade foi abalada por um primeiro e grande conflito entre o
Papado de um lado e os Imperadores e clero do Império Bizantino do outro, que
resultou no chamado Cisma do Oriente, pelo qual os cristãos daquela região se
450

desligaram da obediência ao Papa de Roma, passando a obedecer à autoridade de uma


assembleia de bispos, o chamado Santo Sínodo. O Cisma resultou num aumento da
autoridade imperial uma vez que o Santo Sínodo era dominado pelos imperadores
bizantinos.

3.2 – As Heresias Sociais na Idade Média Ocidental;

Durante a Baixa Idade Média, surgiram na Europa Ocidental diversas heresias


chamadas de sociais, na medida em que pregando mudanças religiosas, levavam a
mudanças na sociedade.

Um bom exemplo de “heresia social” ocorreu na França do século XI. Na cidade Lion,
um rico comerciante chamado Pedro Valdo impressionado com a miséria do povo,
repartiu seus bens com os pobres e passou a viver do seu próprio trabalho dizendo
seguir o exemplo de Jesus. Com esta pregação fez inúmeros discípulos que foram
chamados de Valdenses.

Outra grande heresia apareceu no século XII na cidade francesa de Albi, sendo os seus
seguidores chamados de Albígenses. Além de criticarem uma série de crenças da Igreja
da época, os albigenses tal como os discípulos de Pedro Valdo, pregaram que os cristãos
deviam ser desapegados dos bens materiais como Cristo o fora.

A pregação de valdenses e albigenses representou uma forte crítica ao crescente poderio


econômico da Igreja na Baixa Idade Média. O alto clero, principal beneficiário da
riqueza da Igreja, combateu duramente essas tendências heréticas: o papa Inocêncio III
desencadeou um feroz movimento cruzadista contra os albigenses e Gregório IX criou a
Inquisição, órgão eclesiástico que através de tribunais devia defender a pureza da fé
cristã perseguindo os suspeitos de heresia que, em grande número, foram presos,
torturados e executados.

Tais medidas que visavam a resguardar a Igreja de possíveis mudanças, puderam ser
tomadas porque no início da Baixa Idade Média o poder da alta hierarquia eclesiástica,
especialmente do Papado, era cada vez maior, no entanto, esse poder foi decisivamente
abalado a partir do início do século XIV.

3.3 – O Cativeiro Babilônico (1309 – 1376);

No início do século XIV, o rei francês Felipe, o Belo, entrou em luta com o papa
Bonifácio VIII, por causa da questão do pagamento de impostos pela Igreja na França.
Ameaçado de ser excomungado pelo papa, ao exigir que a Igreja pagasse impostos,
Felipe, o Belo, não se deixou intimidar: para evitar a excomunhão mandou sequestrar
Bonifácio VIII. Como consequência do sequestro Bonifácio morreu e os franceses
conseguiram eleger Clemente V como papa. Subordinado às ordens do rei francês e
hostilizado pelo povo de Roma, o novo pontífice fez transferir a sede do Papado de
Roma para Avignon, no sul da França onde durante 70 anos diversos papas
permaneceram submissos aos reis franceses. Tal situação foi chamada pelos italianos de
o “Segundo Cativeiro de Babilônia”.
451

3.4 – O Cisma do Ocidente (1378 – 1417)

No episódio do “Cativeiro Babilônico” a autoridade papal foi seriamente abalada. A


Europa cada vez confiava menos numa autoridade papal manipulada politicamente pelo
poder real francês. Mas, o desprestígio da autoridade pontifical chegou ao seu auge a
partir de 1376, com o papa Urbano V, quando Roma foi restaurada como sede do
Papado. Tal restauração não foi aceita pelos franceses que continuaram, a partir de
1378, a eleger papas em Avignon. Entre as duas sedes pontificais estabeleceu-se uma
guerra de xingamentos e anátemas, com cada um dos papas reivindicando para si o
encargo de legítimo representante de Deus na terra. Logo depois, os fiéis cristãos, num
estado de grande perplexidade, viam um grupo de cardeais eleger mais um papa em
Pisa. Esta divisão dos cristãos do Ocidente europeu, entre os diversos papas durou uma
série de anos e ameaçava desgastar de maneira irreparável a crença popular na Igreja.
Alarmados com esse desgaste, elementos do alto clero de toda a Europa invocaram o
Concílio de Constança que, em 1417, tomou a decisão de eleger um único papa para
toda a Cristandade, ao mesmo tempo em que Roma era reconhecida como a única sede
do Papado.

4 – Tentativas De Reforma No Século XV

No início do século XV, o Cisma do Ocidente foi solucionado, mas deixou atrás de si
uma cristandade abalada. O poder do Papado já não era o mesmo e o seu
enfraquecimento possibilitou o aparecimento de novas heresias em diversas partes da
Europa.

4.1 – Wyclif, Huss e Savonarola

a) no início do século XV, um movimento herético de grande importância surgiu na


Inglaterra, liderado por um professor da Universidade de Oxford de nome John Wyclif.
Pregava ele uma diminuição do predomínio do clero dentro da Igreja através de uma
simplificação do culto. Ao lado disso afirmava que os bens da Igreja, que eram
extremamente numerosos na Inglaterra, deveriam ser secularizados, isto é, deveriam
passar para as mãos do Estado. As ideias de Wyclif foram condenadas pelo clero, mas
ele não chegou a ser castigado seriamente porque contou com a proteção discreta do rei,
que no fim de contas tinha razões para não achar tão condenáveis as ideias do erudito
professor. Um século depois um rei inglês de nome Henrique VIII, levaria à prática a
secularização dos bens da Igreja pregada por Wyclif.

b) no século XV, as ideias de Wyclif foram levadas à Boêmia por um estudante tcheco
de nome John Huss. A Boêmia, região de Tchecoslováquia, estava dominada pelos
alemães, fazendo parte do Santo Império Romano Germânico. As ideias pregadas por
John Huss queriam levar a uma religião mais pessoal, onde os leigos tivessem grande
importância. Pregava ele que os ofícios religiosos deveriam ser realizados em língua
nacional e não em latim, que era uma língua que só o clero dominava. Ao lado disso,
452

Huss insistia em que os próprios fiéis deveriam eleger os seus bispos esperando com
isso diminuir a importância dos bispos alemães na Boêmia. As ideias de Huss
alimentavam o nacionalismo do povo tcheco contra a dominação alemã.

Chamado a expor seu pensamento ao Concílio que estava reunido em Constança, para
resolver a questão do Cisma do Ocidente, Huss dirigiu-se àquela cidade. Lá chegando
não teve oportunidade de expor as suas ideias sendo preso e executado na fogueira.
Com a sua morte desencadeou-se entre os tchecos uma revolta que ficou conhecida
como Movimento Hussita. Durante um longo tempo os hussitas conduziram uma dura
guerra contra a dominação alemã e pela reforma religiosa a um só tempo, sendo
definitivamente esmagados nos fins do século. Mais tarde, no século XVI, Lutero, o
grande líder reformista, irá confessar a sua adesão a algumas das teses de John Huss.

c) outro movimento precursor da Reforma do século XVI desencadeou-se na cidade de


Florença entre os anos de 1494 e 1498. Um frade, de nome Savonarola, apontado por
muitos como um profeta, realizou intensa pregação contra a cultura da Renascença, por
ele considerada como pecaminosa e contra a dominação política da família Médici.
Levado ao governo pelo povo, Savonarola tornou-se um ditador em 14949,
empenhando-se no combate à cultura da Renascença e na pregação de uma reforma
dentro da Igreja. Nas pregações atacou fortemente o Papa Alexandre VI, um dos papas
mais corruptos da história da Igreja. O papa reagiu e excomungou Savonarola que foi
deposto e executado por morte na fogueira no ano de 1498. Neste momento, faltavam
19 anos para o início do movimento reformista.

Uma conclusão que seria importante extrair do estudo desses movimentos precursores
da Reforma é a seguinte: num mundo recém-saído da Idade Média onde a religião
possuía uma importância muito grande, qualquer mudança na esfera religiosa tendia a
produzir sérias repercussões na vida economia, social e política.

5 – A Reforma Na Alemanha

Assim como a Itália encontramos uma série de condições para o desenvolvimento da


cultura renascentista, a Alemanha vivia no século XVI uma situação, em muitos
aspectos extremamente favoráveis à Reforma.

5.1 – Fatores que levaram à Reforma Alemã:

A Alemanha do século XVI estava iniciando o seu desenvolvimento capitalista,


apresentando-se, portanto, em uma situação de atraso com relação a países como a
Itália.

A economia alemã continuava baseada fundamentalmente na agricultura e na


mineração. O comércio e a atividade bancária desenvolviam-se apenas na região do
Reno, no litoral do Norte e pouco a pouco, contribuíram para desagregar a estrutura
ainda feudal da maior parte da sociedade alemã. Podemos dizer que a Alemanha do
453

início do século XVI era um país numa dolorosa fase de transição do feudalismo para o
pré-capitalismo.

Politicamente os alemães não formavam uma nação, mas um conglomerado de estados


pertencentes ao Santo Império Romano Germânico. Esta divisão política fazia com que
o poder da Igreja fosse muito grande na Alemanha. A ausência de um poder central
favorecia a violenta exploração do país pelo clero romano, através da cobrança de
impostos, esmolas e da venda de relíquias e indulgências.

O povo alemão, como os demais povos da Europa, continuava a ser profundamente


religioso e preocupado com o problema da salvação da alma. No entanto, a Igreja na
Alemanha, como nas diversas partes da Europa, encontrava-se assolada pela corrupção
do alto clero e pela ignorância do baixo clero. Tornava-se difícil admitir que tal Igreja
fosse capaz de salvar os fiéis dos suplícios do inferno, desenvolvendo-se a partir daí a
crença na necessidade de uma reforma, isto é, uma purificação de cada indivíduo e do
corpo eclesiástico como um todo.

5.2 – Um Líder Para A Reforma;

As angústias do povo alemão encontraram seu grande porta-voz na palavra de Martinho


Lutero, um monge da Ordem de Santo Agostinho.

Nascido do seio de uma família de classe média, Lutero tentou com grande esforço
fazer um curso de Direito. Depois de uma intensa crise espiritual abandonou seus
estudos jurídicos para tornar-se monge e, ordenando-se em 1507, tornou-se professor da
Universidade de Wittenberg onde começou a desenvolver uma série de doutrinas que
redundariam na sua pregação reformista.

Em 1510 visitou Roma e escandalizou-se ao tomar contato com a corrupção da Corte


Pontifícia. Retornando à Alemanha, continuou a pensar numa série de teorias que
visavam a dar resposta para a grande crise espiritual em que vivia a sociedade da época.

5.3 – O Desencadeamento da Reforma

Para o início do movimento reformista alemão contribuiu decisivamente a famosa


questão das Indulgências. Como sabemos as indulgências eram vendidas pelo clero em
toda a Europa e o povo que as comprava acreditava estar comprando a salvação eterna.

Em 1517, o papa Leão X, preocupado com a construção da Basílica de São Pedro,


necessitava de dinheiro para pagar os milhares de artistas que trabalhavam na Corte
Pontifícia entre os quais encontramos Michelangelo, Rafael e outros grandes nomes da
Renascença.

Para aumentar as suas rendas o Papa resolveu aumentar a venda de indulgências na


Alemanha e para isto foi organizada uma campanha de incentivos às vendas, sob a
chefia de um monge chamado Tetzel. Ao que parece Tetzel era um indivíduo
extremamente brutal na exploração da crendice popular. A ele foi atribuída a seguinte
454

frase: “Enquanto o dinheiro tilinta na minha sacola, a alma do fiel já está entrando no
Reino dos céus”.

Frente a esse aumento na comercialização das indulgências Lutero lançou no ano de


1517 um vigoroso protesto que se constituiu no documento inicial da Reforma: as “95
teses”, por dele afixadas na porta da catedral de Wittenberg. A publicação deste
documento onde o Papado era fortemente criticado estabeleceu uma acesa polêmica
entre Lutero e Tetzel.

O debate entre os dois monges foi acompanhado por número crescente de alemães e
duraram três anos, no decorrer dos quais se foram tornando cada vez mais claras as
ideias reformistas de Lutero. Já em 1519 dizia ele estar de acordo com inúmeras teses de
John Huss, afirmando a liberdade de consciência contra a infalibilidade dos Papas e dos
Concílios. Para Lutero o homem está só perante Deus e devem estar sujeito apenas à
palavra divina manifestada nas Sagradas Escrituras.

Condenado pelo Papa em 1520, Lutero reagiu queimando publicamente a Bula da


condenação de suas ideias na noite de natal, sendo excomungado a 3 de janeiro de 1521.

Acusado de heresia, Lutero deveria ser preso e executado pelo governo secular. Mas a
sua popularidade era cada vez maior na Alemanha e o Imperador do Santo Império,
Carlos V, achou mais prudente reunir a Dieta Imperial na cidade de Worms para julgar
o caso do herético monge. A Dieta Imperial era uma assembleia que reunia todos os
príncipes do Santo Império. No entanto, um grande número desses príncipes já estava
contaminado pelas ideias luteranas, principalmente porque entre estas se encontrava a
ideia da secularização dos bens da Igreja pelo poder leigo.

Lutero não foi condenado pela Dieta e conseguiu asilo a Saxônia onde o príncipe de
Nome Frederico, o Sábio, passou a protegê-lo. Começou então a elaborar mais
profundamente as suas doutrinas e a traduzir a Bíblia de Latim para o Alemão, tradução
que irá torna-lo fundador da moderna língua alemã.

a) As Ideias Luteranas

As doutrinas luteranas inspiram-se principalmente no pensamento de Santo Agostinho,


doutor da Igreja cristã na Alta Idade Média. Negando a doutrina das Boas Obras,
elaborada por Santo Tomás de Aquino na Baixa Idade Média, segundo a qual o homem
se salva pelo mal que evita e pelas boas obras que pratica. Lutero desenvolveu a
“justificação pela fé”, doutrina que afirmava que a salvação resulta basicamente da fé
em Deus. “Peca forte, mas crê mais ainda” dirá ele. Para ele o homem está só perante
Deus, a relação com Deus é um fenômeno basicamente individual. Com as suas ideias
Lutero negava que a Igreja desempenhasse um papel fundamental na salvação das almas
e com esta diminuição da importância da Igreja chegava ele à doutrina da
secularização, pela qual os bens dessa Igreja, que teve diminuída a sua importância,
deveriam passar ao Estado. Em 1530, Lutero e um humanista chamado Felipe de
455

Melanchton terminaram de elaborar a célebre Confissão de Augsburgo que se


constituiu numa síntese do novo credo luterano.

b) As Ideias Sociais de Lutero

No início da década de 1520, quando Lutero estava se refugiando na Saxônia,


desencadeou-se uma revolta de camponeses na Suábia e na Turíngia. Comandados por
um padre chamado Thomaz Muntzer, os camponeses pretendiam acabar com a
dominação dos senhores feudais e estabelecer uma nova ordem social onde não existiria
propriedade privada da terra. Em 1524, as dimensões da revolta camponesa apavoravam
os senhores.

Em face da revolta, Lutero tomou o partido dos senhores feudais autorizando-os a


“matar, ferir e estrangular, ... para fazê-los lembrar (os camponeses) que não há nada
mais daninho e perverso que um homem revoltado. ”

O exército dos grandes senhores esmagou com grande violência a revolta.

A religião criada por Lutero favoreceu bastante os grandes senhores feudais alemães
que, além de confiscarem os bens do clero católico, passaram a ser os chefes espirituais
da nova Igreja Luterana. Lutero apoiou também os pequenos comerciantes, mas
condenou o grande comércio e a usura. “O grande comércio que traz mercadorias de
Calcutá, da Índia, drenando o dinheiro alemão não deveria ser permitido”. Sobre a usura
dizia ele: “O Diabo a inventou e o Papa sancionou-a causou ao mundo um mal
incalculável. ”

5.4 – As Guerras Religiosas Na Alemanha;

A revolta dos camponeses na década de 1520 foram esmagadas. Mas, na década de


1530 o movimento camponês ressurgia, liderado por uma seita extremamente radical,
a dos Anabatistas, cujo nome quer dizer os rebatizadores, uma vez que esses revoltosos
pregavam um novo batismo que deveria ser ministrado aos fiéis apenas a partir da idade
adulta ...perseguidos na Alemanha, os Anabatistas emigraram para os Países Baixos e
Inglaterra.

Na década de 1520 a Reforma Luterana propagou-se com força cada vez maior entre os
senhores feudais alemães que, convertidos ao luteranismo, secularizavam os bens da
Igreja. Em 1530, o imperador Carlos V, chefe da família Habsburgo e defensor do
catolicismo, estabeleciam por decreto que os bispos deveriam receber de volta os bens
secularizados. Tal medida levou os príncipes protestantes a se reunirem num partido
político-religioso, a chamada Liga de Smalkalde, cujo objetivo básico seria a defesa dos
interesses da religião protestante.

No ano de 1546, os desacordos entre Carlos V e a Liga levaram ao desencadeamento de


uma guerra. Os protestantes contaram com o apoio da monarquia francesa, na medida
em que era interesse da França impedir um aumento da autoridade imperial na
Alemanha. Ajudando os príncipes protestantes, os reis franceses que eram católicos,
456

impediam o fortalecimento do poder de Carlos V na Alemanha que continuaria dividida


entre uma série infinita de senhores feudais. A guerra terminou num impasse, sem a
vitória de qualquer dos lados.

Em 1555, foi assinada a Paz de Augsburgo na qual ficava reconhecida a divisão


religiosa do país e estabelecido o princípio segundo o qual o povo de cada uma das
partes da Alemanha deveria ter a religião dos príncipes, sendo negado, portanto o
princípio da liberdade de consciência.

5.5 – A Difusão das Ideias Luteranas.

O luteranismo como religião difundiu-se pela Alemanha e pelos Países Escandinavos


(Suécia, Noruega e Dinamarca), sendo que nestes últimos, ajudou a aumentar o poder
monárquico. No resto da Europa não houve a difusão da religião luterana como um
todo, mas apenas algumas ideias de Lutero é que foram aceitas.

6 – Reforma Na Suíça

Na Suíça, o desenvolvimento dos ideais reformistas realizou-se mais ou menos ao


mesmo tempo em que Lutero começava a Reforma na Alemanha. O movimento
reformista na Suíça fez surgir novas igrejas que criticavam a Igreja Católica de forma
muito mais radical que Lutero.

6.1 – A Situação do País;

Nos fins da Idade Média na Suíça, o comércio assumia uma importância crescente.
Politicamente, o país era profundamente marcado por um forte sentimento nacionalista
que datava dos fins do século XV, quando três cantões haviam conseguido libertar-se da
dominação do Santo Império. Este sentimento de nacionalismo voltava-se também
contra a Igreja Romana que era encarada frequentemente como uma potência
estrangeira, acusada por uma série de abusos.

6.2 – A Formação da Igreja Democrática;

As críticas à Igreja de Roma eram feitas principalmente pela burguesia da região de


Zurique, na Suíça alemã que teve com grande líder um padre de nome Ulrico Zwinglio,
famoso pela sua cultura humanista e pelos seus dotes de orador popular.

Concordando com Lutero, Zwuinglio afirmava que o homem está só perante Deus. A
salvação não resulta, portanto, da ação da Igreja, mas de uma relação direta entre Deus e
os homens individualmente. Dessa forma, também Zwinglio diminuía a importância do
clero, procurando criar uma Igreja onde os pastores teriam uma importância muito
pequena. O governo da Igreja de Zwinglio seria exercido por uma Assembleia eleita
pelo voto dos fiéis, derivando daí o nome de Igreja Democrática.
457

A teoria luterana da “justificação pela fé”, foi criticada por Zwinglio que desenvolveu a
teoria da Predestinação que já havia aparecido no pensamento de Lutero. Segundo ele a
salvação, como tudo mais, resulta da vontade de Deus, que escolhe os que deverão ser
salvos ou condenados. Lutero passou a considerar Zwinglio como o maior dos
heréticos.

A difusão das ideias da Igreja Democrática pela Suíça encontrou grande resistência na
parte sul do país, onde boa parte dos homens tinha como profissão servir como soldados
mercenários nos exércitos da Santa Sé. A partir daí, desencadeou-se uma guerra que
impediu a penetração das ideias reformistas nos cantões do sul que permaneceram
católicos.

6.3 – Reforma Calvinista

As ideias reformistas na Suíça continuaram a sua expansão na parte francesa do país,


onde tiveram como grande centro a cidade de Genebra. Ali, novas ideias reformistas
foram desenvolvidas por um pregador de nome João Calvino.

Nascido no seio de uma família burguesa na cidade de Noyon, no sul da França,


Calvino converteu-se às ideias reformistas que se disseminavam pelo seu país natal
como em toda a Europa. Em 1533, fugindo às perseguições que estavam começando na
França, Calvino chegou à Basiléia iniciando ali a sua pregação. Ao mesmo tempo em
que elaborava melhor as suas doutrinas, publicou em 1536 a sua obra fundamental
chamada “As Instituições da Religião Cristã”. No mesmo ano mudou-se para Genebra,
tentando estabelecer na cidade um governo baseado no chamado Consistório, uma
assembleia que governava a Igreja Calvinista. O governo do Consistório liderado por
Calvino pretendia impor uma moralidade puritana à cidade, pela qual ficavam proibidos
bailes, músicas, teatro e outras formas de divertimentos. Heresias, práticas de feitiçaria e
adultério eram crimes puníveis com a morte. Contra o governo calvinista desencadeou-
se uma rebelião liderada pelos chamados “Libertinos” que conseguiram expulsar
Calvino da cidade. No entanto, os Libertinos foram derrotados e Calvino e os seus
partidários voltaram a dominar no ano de 1541.

6.4 – Calvinismo e Capitalismo

A doutrina de Calvino levou muito longe a ideias de predestinação defendida


primeiramente por Zwinglio. O calvinismo afirmava que um sinal através do qual era
possível identificar um eleito de Deus, um predestinado, era o sucesso material da vida,
na medida em que se acreditava que o êxito econômico seria o resultado de muito
trabalho e de uma vida puritana. Dessa forma, Calvino criou uma religião que se
ajustava muito bem aos objetivos da nascente classe burguesa. Isto levou uma série de
autores a afirmarem que existe uma estreita relação entre protestantismo calvinista e
desenvolvimento capitalista.

Ao lado dessa extrema valorização de um estilo de vida da burguesia, Calvino


notabilizou-se por defender o empréstimo a juros como uma atividade lícita, posição
458

esta que contrastava com as condenações que a Igreja Católica e o Luteranismo


mantinham com relação às práticas usuárias.

6.5 – A Difusão do Calvinismo pela Europa

As ideias de Calvino deram origem a uma multiplicidade incrível de igrejas protestantes


que foram surgindo nos diversos cantos da Europa já no século XVI. Na França e nos
Países Baixos, os calvinistas serão os chamados huguenotes, na Inglaterra os
puritanos, na Escócia os Presbiterianos e assim por diante.

7 – A Reforma Na Inglaterra

Primeiramente devemos lembrar que o século XVI foi um tempo de grande


desenvolvimento para o comércio inglês. O país começava a participar das grandes
navegações e logo passou a ter na pirataria uma excepcional fonte de rendas. Nas
cidades consolidava-se uma classe burguesa que havia ajudado a fortalecer o poder real.
A monarquia inglesa havia-se tornado forte especialmente a partir da Guerra das Duas
Rosas (1455 – 1485) que terminou com a ascensão da dinastia Tudor.

Na primeira metade do século XVI, o mais importante monarca Tudor foi Henrique
VIII, cujos problemas políticos precipitaram a Reforma no país. Henrique VIII era
casado com uma princesa espanhola pertencente à família Habsburgo, tia do Imperador
Carlos V, de nome Catarina de Aragão. Desse casamento nasceu uma filha que tomou o
nome de Maria Tudor. O problema que serviu de estopim para o movimento reformista
começou a surgir quando Henrique VIII, que desejava ter um filho homem, tentou
divorciar-se de Catarina para casar-se com Ana Bolena.

Para compreender o problema do divórcio do rei Henrique torna-se necessário não


apenas lembrar-se da sua tão falada paixão por Ana Bolena, mas lembrar de um pouco a
situação política da Europa da época.

Durante o século XVI, extensos territórios da Europa-Centro-Ocidental eram


dominados pela família Habsburgo. Além de uma grande influência política da
Alemanha, os Habsburgo dominavam com grandes poderes os seguintes territórios:
Império Austríaco, a região de Milão, o Reino das Duas Sicília, inúmeras ilhas do
Mediterrâneo, Espanha e Países Baixos. Portanto, na Europa Ocidental poucos países
escapavam do domínio da família de Carlos V. a Inglaterra era um deles, mas se
Henrique VIII morresse sem deixar um filho homem, capaz de dar continuidade à
dinastia Tudor, a independência do país poderia vir a ser ameaçada, pelo fato de
Catarina de Aragão fazer parte da família de Habsburgo. Ao lado disso, devemos
lembrar que para a Inglaterra se tornava cada vez mais interessante hostilizar a Espanha,
desencadeando contra ela as guerras de corso que permitiriam pilhar aos espanhóis uma
parte dos metais preciosos que eles, por sua vez, estavam roubando dos indígenas
americanos.
459

O divórcio de Henrique VIII deve, portanto, ser vistos num amplo contexto onde podem
entrar razões pessoais ao lado dos fatores fundamentais que são sociais e políticos.

1. As Etapas da Reforma Inglesa

A crise entre Henrique VIII e o papado iniciou-se em 1527 quando o rei inglês pediu ao
Papa Clemente VII o divórcio de Catarina de Aragão, que não lhe podia dar o filho
homem pretendido. Sabendo do desejo de Henrique VIII, o imperador Habsburgo,
Carlos V, pressionou o Papa para que este não concedesse o divórcio que afastaria sua
tia do trono inglês.

Frente à recusa do Papa de conceder o divórcio, Henrique VIII, a partir de 1529.


Começou a fazer aprovar pelo Parlamento uma série de leis que visavam a dar à
monarquia amplos poderes sobre a Igreja Católica na Inglaterra. Algum tempo depois
Henrique VIII casava-se com Ana Bolena sendo logo em seguida excomungado pelo
Papa (1533);

No ano de 1534 o Parlamento reconhecia como legítimo o casamento de Henrique VIII


e votava leis suprimindo o pagamento de contribuições ao Papado. Era aprovado ainda
o chamado Ato de Supremacia pelo qual o rei era reconhecido como o chefe da Igreja
na Inglaterra. Mas, medidas ainda mais importante estavam por vir.

De 1536 a 1539, através de uma série de leis, Henrique VIII determinava a extinção dos
mosteiros em todo território inglês. Os inúmeros bens desses mosteiros, principalmente
terras, foram adquiridos pela coroa e pela aristocracia que desta forma aumentavam a
sua riqueza através da ruptura com a Igreja de Roma.

Em meio a todas essas medidas de profundo alcance político-social foi criada a Igreja
Anglicana que, do ponto de vista estritamente religioso, pouco se diferenciava da Igreja
Católica.

2. As Mudanças Religiosas Depois de Henrique VIII

Com a morte de Henrique VIII a coroa inglesa passou para Eduardo VI, filho nascido do
terceiro casamento de Henrique VIII com Joana Seymour. No entanto, o novo rei era
menor de idade não podendo governar. A Inglaterra viveu então um momento de
regência. Os dois regentes, Thomas Cramer e o Duque de Somerset era calvinista e
procuraram difundir as ideias de Calvino no reino, rejeitando o Catolicismo e o
Anglicanismo criado por Henrique VIII.

Eduardo VI morreu ainda criança no ano 1547 e subiu ao trono inglês a filha de
Catarina de Aragão, Maria Tudor. Casada com Felipe II, monarca de Habsburgo da
Espanha, Maria Tudor governou de 1547 a 1558 e o seu período caracterizou-se por
uma tentativa de restauração do catolicismo. Para isto, desencadeou uma política de
perseguição aos calvinistas e anglicanos, que foram executados às centenas. Ao mesmo
tempo, desenvolveu uma política impopular de aproximação com a Espanha. Por
ocasião de sua morte o país encontrava-se à beira da guerra civil.
460

Sucedendo Maria Tudor subiu ao trono Elizabeth I, filha de Ana Bolena com Henrique
VIII. O período Elizabetano durou de 1558 a 1603 e foi dos mais importantes da
história inglesa. Envolvida nas guerras de corso contra Espanha, Elizabeth procurou
desenvolver uma política interna marcada pela restauração do Anglicanismo, mas
também por uma atitude de tolerância para com as outras religiões. Esta política
contribuiu para manter a paz religiosa na Inglaterra num período em que a intolerância e
as guerras religiosas tornavam-se cada vez mais comuns no Continente Europeu.

8 – A Reforma Católica ou Contrarreforma

Nos meados do século XVI a Igreja Católica começou a desenvolver intensos esforços
para reformular toda uma série de aspectos da sua organização. A estes esforços de
renovação os historiadores católicos chamaram de Reforma Católica, ao passo que os
historiadores protestantes preferiram o termo Contrarreforma, por acharem que as
mudanças realizadas na Igreja Romana do século XVI visavam antes de qualquer coisa
ao combate ao Protestantismo em ascensão.

1. Os Precursores

Desde o século XV inúmeros católicos clamavam por uma melhoria nas condições da
Igreja. Estes movimentos em prol da renovação do catolicismo começaram na Espanha
com um grupo de humanistas da universidade de Salamanca chefiados pelo cardeal
Ximenes.

Também na Itália do século XV surgiu um movimento em prol da Reforma da Igreja


liderado pela Ordem dos Capuchinhos recém fundada. Mas, o êxito desses movimentos
foi parcial e não impediu o desencadeamento da grande revolução protestante.

2. Os Papas Reformistas

Os sucessos da Revolução Protestante contribuíram decisivamente para mostrar a


necessidade de reformar a Igreja e de combater os avanços da heresia. Os católicos
reformistas obtiveram seus primeiros êxitos com a eleição de Papas partidários de suas
ideias, famosos pela sua piedade e energia, tais como: Paulo III (1534 – 1549), Paulo IV
(1555 – 1559) e Pio IV (1559 – 1565), radicalmente diferentes dos chamados Papas
renascentistas.

3. A Fundação da Companhia de Jesus

Além dos Papas reformista outra grande força a serviço da Reforma Católica foi a
chamada Companhia de Jesus. Esta nova ordem religiosa foi fundada por um pequeno e
extremamente místico grupo de estudantes da universidade de Paris, entre os quais se
sobressaía a figura de Inácio de Loiola.
461

O futuro Santo Inácio pertencia à pequena nobreza espanhola em 1521 havia sofrido
sérios ferimentos em ação de guerra. A proximidade da morte parece ter sido um
elemento fundamental na vida de Inácio de Loiola. A partir daí devotou-se totalmente à
causa da religião colaborando mais tarde para a fundação da Companhia de Jesus.

A nova ordem possuía como lema “lutar por Deus e pela Cruz” sendo organizada
debaixo de uma férrea disciplina, com os objetivos de difundir a fé cristã e combater a
propagação da heresia protestante. Para a realização dos seus intentos, os jesuítas
atuaram principalmente através do ensino e da pregação, realizados na Europa e nos
continentes tocados pelos europeus através das grandes navegações do século XVI.

4. O Concílio de Trento

As forças favoráveis à Reforma Católica chegaram ao ápice dos seus esforços durante o
Concílio de Trento reunindo entre os anos de 1545 e 1563. Os bispos católicos reunidos
em Trento rejeitaram a totalidade das teses protestantes. Mantiveram os sete
sacramentos, a doutrina das boas obras, definiram melhor os dogmas católicos,
mantendo ainda o celibato eclesiástico e o uso do latim. Ao lado disso o Concílio de
Trento restaurou os Tribunais da Santa Inquisição que haviam caído em desuso, criando
ainda a chamada Congregação do Índex responsável pela censura de livros e espetáculos
a serem lidos ou assistidos pelos fiéis católicos. Para alguns historiadores o espírito do
Concílio de Trento continuou a ter grande importância na organização e no espírito da
Igreja Católica até a convocação do Concílio Vaticano II por João XXIII no ano de
1959.

Resumo:

4. As Reformas Religiosas do século XVI fizeram parte das grandes


mudanças que se processaram na Europa Ocidental dos fins da Idade
Média.

5. Entre os fatos que precederam a Reforma do século XVI podemos


mencionar: o cisma do oriente de 1054; as heresias sociais aparecidas na
Baixa Idade Média Ocidental; o segundo Cativeiro de Babilônia e o cisma
do Ocidente; bem como as heresias de Wyclif e John Huss.

6. A situação sócio-política da Alemanha contribuiu decisivamente para que


ela fosse o primeiro país a desencadear o movimento reformista.

7. A corrupção do alto clero e em especial do Papado foi o grande estopim


da Reforma Luterana. No ano de 1517, o Papa Leão X, aumentava a
venda de indulgências na Alemanha, tal fato levou à publicação das 95
teses escrita por Lutero que se constituíram numa crítica à situação da
Igreja da época.
462

8. Após a publicação das 95 teses, Lutero recebeu o apoio de boa pare da


nação alemã. Excomungado pelo Papa asilou-se na Saxônia onde
começou a elaborar a nova religião luterana.

9. Rejeitando a doutrina da salvação pelas boas obras, Lutero afirmou a


doutrina da justificação pela fé baseado em Santo Agostinho.
Principalmente com esta doutrina Lutero diminuía a importância do clero
e pregava que a nova Igreja Luterana deveria estar submetida ao Estado.

10. Juntamente com a revolta de Lutero desencadeou-se na Alemanha uma


série de revoltas sociais das quais a mais importante foi a dos camponeses
que liderados por Thomas Muntzer procuravam acabar com o feudalismo
na Alemanha. Os camponeses foram derrotados pela repressão dos
senhores feudais, ao lado dos quais se colocou Lutero.

11. Os príncipes convertidos às ideias de Lutero foram fortemente


hostilizados pelo Imperador do Santo Império Romano Germânico,
Carlos V, reuniram-se então num partido político-militar, a chamada Liga
de Smalkalde. A partir de 1546 desencadeou-se uma guerra entre a Liga e
o Imperador que só terminou em 1555, pela paz de Augsburgo, sem que
nenhum dos lados fosse vitorioso.

12. Enquanto religião organizada o Luteranismo difundiu-se apenas na


Alemanha e nos países Escandinavos. No resto da Europa surgiram
formas diferentes de rebelião contra a Igreja Romana.

13. Na Suíça o grande precursor da Reforma foi Ulrico Zwinglio que fundou
a chamada Igreja Democrática na região de Zurique.

14. A cidade de Genebra assistiu à formação da Igreja Calvinista fundada


pelo francês João Calvino. Bem mais radical que Lutero na sua separação
da Igreja Católica, Calvino desenvolveu largamente a doutrina da
Predestinação. Ao lado disso, valorizando o trabalho, a vida regrada e a
acumulação de bens, criou uma religião bastante ajustada à classe
burguesa. as ideias originais de Calvino deram origem a um sem número
de seitas religiosas na Europa e no mundo.

15. Na Inglaterra a Reforma foi instrumento de afirmação do poder real.


Rompendo com a Igreja de Roma o rei Henrique VIII criou a Igreja
Anglicana ao mesmo tempo em que secularizava os bens do clero no país.
463

Na nova Igreja as mudanças religiosas foram extremamente reduzidas. A


única significativa do ponto de vista religioso foi a de que a nova Igreja
possuía como seu supremo chefe o rei e não o Papa.

16. Depois da morte de Henrique VIII tivemos o reinado de Eduardo VI,


durante o qual o Calvinismo se difundiu largamente no Reino da
Inglaterra. Com a morte de Eduardo VI e a ascensão de Maria Tudor,
verificou-se uma tentativa de restauração do Catolicismo. Depois do curto
período de Maria Tudor tivemos a reafirmação do Anglicanismo no
reinado de Elizabeth I.

17. A partir da década de 1530, começou a ganhar corpo dentro da Igreja


Romana o movimento da Reforma Católica também conhecida pelo nome
de Contrarreforma que visava a uma purificação da Igreja Católica e ao
combate ao Protestantismo em ascensão. Liderada pelos chamados Papas
reformistas e pela Companhia de Jesus, a Reforma Católica teve o seu
auge com a realização do Concílio de Trento no qual foram rejeitadas as
teses do Protestantismo, reafirmou-se a tradicional doutrina católica e
adotaram-se medidas para diminuir a corrupção e ignorância do clero.

109 – RENASCIMENTO

Introdução:

Movimento europeu de renovação intelectual e artística em ruptura com a arte medieval,


o Renascimento atinge o apogeu no século XVI, sobretudo na Itália. O ideal
renascentista se alicerça na restauração dos valores do mundo greco-romano e é
marcado pela crença em uma capacidade ilimitada na criação humana. Sua origem
remonta aos valores do humanismo, surgido na Itália dois séculos antes, e impulsionado
pelo progresso econômico das cidades italianas, dominadas na época por uma rica
burguesia interessada nas letras e nas artes. O Renascimento italiano é favorecido por
uma tradição clássica, já que o país abrigou o centro do Império Romano.

Os séculos finais da Baixa Idade Média se constituíram em um momento de grandes


alterações na sociedade europeia. Já estudamos essas mudanças na economia, na vida
social e na política dos países Europeu. Vamos agora estuda-la na vida cultural. Para
isto, trataremos nesse capítulo do Renascimento que foi todo um processo de mudança
cultural responsável pelas novas formas de pensar, sentir e agir dos europeus, formas
estas que marcaram o início dos tempos modernos.
464

1 – Uma Tentativa De Definição

Tornar-se difícil definir em poucas palavras um movimento tão amplo quanto a


Renascença. Mas, levando em conta a dificuldade, podemos dizer que o Renascimento
foi o primeiro grande passo para a elaboração de uma cultura leiga burguesa.

Entendemos como cultura leiga aquela cultura preocupada com as coisas deste mundo,
com as coisas do homem, em contraposição a uma cultura sacral, preocupada
fundamentalmente com as coisas de Deus.

Podemos dizer que a cultura medieval foi uma cultura Teocêntrica, isto é, centrada em
Deus (Teo), ao passo que a cultura moderna teve como característica predominante o
Antropocentrismo, ou seja, a crença de que o homem (antropo) devia ser o centro de
todas as coisas.

O Renascimento foi também o primeiro passo de uma cultura burguesa. O que se quer
dizer com isto? A classe burguesa que vimos surgir no início da Baixa Idade Média, no
seu processo de ascensão econômica, social e política, procurou elaborar uma cultura
capaz de refletir os seus interesses e sua nova visão do mundo.

2 – Mudanças À Vista

Corria o século XIV e na Europa – Itália, a princípio – começou a toma forma aquilo
que mais tarde o mundo conheceria como Renascimento. Àvidas, as pessoas
revisitavam os valores da antiguidade clássica. Vasculhavam velhos textos e, as redes
cobriam o ideal artístico do universo greco-romano. Mas não se tratava de uma simples
volta ao passado remoto. Acreditando-se em herdeiras das antigas tradições, essas
pessoas começaram a produzir um mundo diferente. Beneficiadas pelo desenvolvimento
sem precedentes da ciência e da técnica lançavam-se aos mares, aventuravam-se para
além das terras conhecidas e chegavam ao novo mundo – que passaria a integrar, na
qualidade de colônia, o sistema econômico e político da Europa.

Mas o Renascimento não é apenas a retomada da marcha triunfal da razão e do espírito


científico após a “longa noite medieval”, como muitas vezes foi caracterizada, de modo
simplista, a Idade Média. O que se denomina “Ciência” no Renascimento, embora
prepare os fundamentos para a arrancada científica do século XVIII, guarda sinais do
pensamento medieval, ao qual se somam elementos do misticismo Oriental Judaico. A
astronomia e a astrologia, a química e a alquimia, a investigação da natureza e a magia
permanecem juntas e assim caminham.

A originalidade do Renascimento está em construir uma nova imagem do mundo a


partir da permanência de elementos do passado. É em nome do Humanismo que o
homem, mesmo temeroso, começa a separar-se da grande ordem do universo, para ser o
seu espectador privilegiado. Mais do que isso, ele é o organizador dessa ordem. No
plano religioso, isso se traduz na Reforma, que não reconhece intermediários – os
465

padres ou papas – na comunicação com Deus. O homem, e só ele, é responsável por


seus atos, perante sua consciência e a divindade.

2.1 – O Fim do Sonho Cristão

Evidentemente, essa concepção abalou ainda mais o cristianismo, que via ruir, nos
novos tempos, seu sonho de unificar o mundo pela fé. “O papa e o imperador veem seus
direitos ignorados”, lamentava em 1454 o futuro papa Pio II, referindo-se aos rumos
pela Europa cristã. A queda de Constantinopla, último vestígio do outrora poderoso
Império Romano, o fim da Guerra dos Cem Anos (1337 – 1453) e a Peste Negra, que na
época do conflito levou à morte um terço da população europeia, haviam deixado fortes
marcas na vida social, política e religiosa do velho continente.

Logo depois da guerra, as fronteiras de Inglaterra e França tornaram-se mais nítidas. A


monarquia nacional dos dois países se fortaleceu, assim como aconteceu com Portugal e
Espanha. O poder, antes centrado na figura do papa, concentrava-se cada vez mais nas
mãos dos reis. O fortalecimento das monarquias nacionais correspondia ao
enfraquecimento da nobreza e da igreja. Também representava a ascensão de uma nova
classe social, a burguesia, dedicada às finanças, ao comércio e à manufatura, e que
passou a apoiar política e economicamente a coroa em troca de proteção aos seus
negócios, cada vez mais dinâmicos e prósperos.

A classe dos burgueses, como o próprio nome indica, compunha-se inicialmente dos
habitantes dos burgos, isto é, fortificações de que surgiram as cidades medievais. A
partir do século X, muitas delas formaram as comunas, um modo de organização social
em que os cidadãos, livres das imposições do Império, do papado ou da nobreza,
estabeleciam seu próprio destino. A principal atividade era o comércio e a manufatura,
organizados em corporações. Voltadas para gerar riquezas e não somente subsistência,
como na vida rural, as comunas prosperaram e nelas se formaram famílias ricas e
influentes – a burguesia propriamente dita – que passaram a viver dos serviços
prestados pelos trabalhadores.

2.2 – O Papel da Itália

A Itália, que pela sua posição geográfica controlava o comércio no Mediterrâneo, era a
mais rica das regiões. Ali nasceu o sistema de letras de câmbio e de seguros, os bancos e
outros mecanismos que tornaram mais ágil a atividade mercantil.

Foi também nessa península que as comunas se desenvolveram em cidades-estados, o


que impediu por séculos, ao contrário do que aconteceu em outros países, a unificação
nacional italiana. Tais cidades, embora formalmente democráticas, passaram a ser
controladas, na prática, por poderosas famílias burguesas.

Os Visconti e depois os Sforza, em Milão, e os Medici, em Florença, foram os


principais exemplos.
466

As cidades italianas, assim, reuniam as melhores condições para a emergência do


Renascimento. Sua riqueza permita a contratação de sábios, filósofos, cientistas e
artistas.

Além disso, a proximidade com Constantinopla fez como que a Itália se tornasse o
refúgio natural dos emigrados que fugiam da invasão turca. E com eles chegou à
península a rica tradição intelectual e cultural do Império Romano do Oriente, do qual
faziam parte diversos textos gregos desconhecidos no Ocidente.

A Itália era também a pátria do Império, o que favorecia um contato mais direto com os
valores do mundo romano que se queria ver renascer. Mais do que isso, com sua longa
história de vida autônoma e livre, distante das restrições religiosas, morais e políticas da
Idade Média, as cidades italianas formavam há tempos um ambiente propício ao
surgimento de uma nova classe, com um novo modo de vida, uma nova mentalidade,
uma nova maneira de conceber o mundo e o próprio ser humano.

3 – Fatores Que Geraram O Renascimento

A cultura do Renascimento foi o resultado da interação de múltiplos fatores que agiam


na sociedade europeia há longo tempo. Entre eles o fundamental foi o desenvolvimento
comercial e urbano, cada vez mais acentuado a partir das Cruzadas.

O comércio fez surgir na Europa um excedente de riqueza que serviu para o


financiamento das mais variadas obras culturais do período. O crescimento das cidades,
ligado à atividade comercial, criou um meio urbano, ideal para o desenvolvimento da
cultura renascentista, dadas as grandes possibilidades de contatos culturais nele
existentes.

Outro fator muito importante para o desenvolvimento renascentista na Europa Ocidental


foi o contato com as civilizações bizantinas e sarracena. Já sabemos que os homens da
Renascença tiveram a antiga cultura greco-romana como uma de suas principais fontes
de inspiração.

Na Europa Ocidental essa cultura havia sido destruída em grande escala pelas invasões
bárbaras. Os mais importantes restos da cultura antiga encontravam-se no Oriente,
especialmente em territórios do Império Bizantino e nas terras dominadas pelos Árabes.

Na medida em que se multiplicaram os contatos entre os europeus e aqueles povos do


Oriente, a Europa começou a receber toda uma série de elementos da literatura, das artes
e do pensamento da Grécia e Roma antigas.

Podemos verificar que os diversos fatores que geraram a Renascença encontravam-se


principalmente desenvolvidos na Itália. A partir daí podemos compreender a afirmativa
“o Renascimento foi um fenômeno tipicamente italiano”.
467

4 – A Decadência Da Cultura Renascentista

O Renascimento desenvolveu-se entre os séculos XIV e XVI, começando na Itália e


espalhando-se em seguida pelos diversos países da Europa Ocidental.

A partir do século XVI, a cultura renascentista começou a apresentar sinais de


decadência esta que foi provocada por três fatores: a crise do comércio, a Reforma e o
caráter de elite da Renascença.

a) A crise do comércio no século XVI, ocorreu nos diversos países da Europa, mas
foi particularmente intensa na Itália que teve o seu comércio de produtos
orientais prejudicado pelas Grandes Navegações. A classe burguesa em crise não
pode continuar a prática do mecenato, isto é, a proteção financeira de artistas,
filósofos e homens de ciências.

b) A Reforma, tanto a Protestante como a Católica, desencadearam-se no século


XVI e consistiu num movimento de amplas consequências sociais e políticas em
toda a Europa. De certa maneira, o movimento reformista significou uma volta à
religiosidade medieval que levou ao repúdio de inúmeros ideais renascentistas.

c) Mas, a decadência do Renascimento também se deveu ao fato de ele ter sido


uma cultura de elite desfrutada principalmente pela burguesia. Não possuindo
raízes junto ao povo, o Renascimento apresentou uma relativa fragilidade em
face dos ventos contrários da Reforma e da crise econômica.

5 – Características Básicas Da Renascença

A cultura Renascentista desenvolveu-se em diversos países da Europa centro-ocidental,


assumindo em cada país características próprias da cultura local. Mas, juntamente com
essas características locais podemos verificar no Renascimento uma série de traços
comuns ao mais diversos países.

a) A imprensa e a grande produção cultural

Uma primeira característica renascentista foi a grande produtividade nos mais diversos
ramos da vida cultural. Na literatura, nas artes plásticas, na filosofia e na ciência, a
produção foi cada vez maior. Este aumento na produtividade dos artistas, filósofos e
homens de ciência do renascimento foi, em parte, derivado de uma revolução no
domínio das comunicações ocorrida com o aparecimento da imprensa em meados do
século XV.

Podemos dizer que uma cultura é tanto mais rica e complexa quanto maiores são as
possibilidades de comunicação nela existentes. Aos meios de comunicação cabe a
tarefa, extremamente importante em qualquer cultura, de favorecer a troca das
diferentes experiências culturais realizadas pelos indivíduos e pelos grupos humanos.
468

Antes do aparecimento da imprensa na Europa a troca de experiências culturais através


de livro era extremamente difícil. Os livros eram copiados a mão e o seu custo era muito
elevado. Com a utilização da imprensa de tipos metálicos e móveis, a partir das
experiências do alemão Gutemberg, tivemos uma diminuição espetacular no custo dos
livros, fato que gerou uma revolução nas comunicações e que provocou um grande
impulso na cultura renascentista.

b) O Repúdio de valores medievais

Com o Renascimento, a sociedade da Europa centro-ocidental foi repudiando


paulatinamente uma série de ideais de vida dos homens na Idade Média. Entre esses
valores podemos enumerar: a cavalaria, o ideal do governo limitado e a Escolástica.

b.1) – A crise da Cavalaria

Nos fins da Idade Média a cavalaria como arma de guerra entrou em decadência
principalmente por causa da utilização da pólvora. Nessa época presenciamos também o
declínio da cavalaria como instituição formadora de um tipo humano que era o cavaleiro
medieval, cujas principais características eram uma vida devotada a Deus, marcada pela
fidelidade ao seu Senhor, pelo respeito às damas e pela defesa dos fracos e oprimidos.

Numa grande obra da literatura do Renascimento Espanhol, “Dom Quixote”, Cervantes


nos mostra os ideais da cavalaria como algo superado para os homens do século XVI.
Na obra de Cervantes temos dois tipos humanos: o Quixote (o cavaleiro da triste figura)
e o fiel escudeiro Sancho Panças, representando cada um deles numa época. O Quixote
apresenta-se como um homem aferrado aos valores de uma civilização que está
morrendo, um homem que de tanto ler novelas de cavalaria teria enlouquecido,
continuando a viver para a defesa das donzelas e dos fracos e oprimidos como faziam os
cavaleiros da Idade Média.

Mas, os tempos mudaram, as mulheres têm novos padrões de comportamento, tornando-


se mais livre e menos dependentes da proteção masculina, os avanços da primitiva
economia capitalista levam a uma exploração desenfreada dos fracos e oprimida. A
religião se enfraquece. Num mundo que lhe é cada vez mais estranho o Quixote tende a
envolver-se numa série de situações embaraçosas e absurdas das quais é retirado pelo
escudeiro Sancho que se apresenta como um homem mais adaptado aos tempos que
estão nascendo.

b.2) – Os Novos Ideais Políticos

Outro ideal repudiado pelos homens do Renascimento foi o governo limitado tal como
existia durante a Idade Média. O poder político medieval era limitado especialmente
pela moral cristã e pelo poder particularista dos senhores feudal.

Na época do Renascimento, as monarquias nacionais formadas na Europa Ocidentais,


evoluíram para uma ampliação cada vez maior do poder político dos reis, que se foram
transformando em monarcas de poderes absolutos. Todas essas mudanças refletiram-se
469

na obra tipicamente renascentista de Nicolau Maquiavel, “o príncipe”. Maquiavel foi


um embaixador de cidade de Florença em diversos países da Europa e, “o príncipe” foi
em grande parte resultado das observações da vida política de diversos reinos por ele
realizados como diplomata.

Com essa obra Maquiavel tornou-se o fundador da política como ciência, procurando
afastar a moral religiosa da atividade política e mostrando que a política tem uma moral
que lhe é própria. Além disto, para muitos interpretes, o príncipe se constituiu numa
apologia dos governos fortes.

b.3) – A Nova Filosofia

Com Maquiavel e outros filósofos renascentistas podemos perceber a rejeição de outro


valor medieval que era a Filosofia Escolástica, criada por São Tomás de Aquino e Santo
Alberto Magno por ocasião do desenvolvimento das universidades durante a Baixa
Idade Média. O pensamento escolástico afirmava que o conhecimento humano era
resultado de uma mistura de fé e razão, isto é, resultava da graça de Deus e do esforço
do homem. Os homens do Renascimento rejeitavam paulatinamente a fé, aceitando cada
vez mais apenas a razão humana como forma de conhecimento.

6 – Um Novo Tipo Humano

Com a cultura do Renascimento, surgiu na Europa Centro-Ocidental um novo tipo


humano. Este homem da Renascença é o burguês, cujas principais características são: o
Individualismo, Hedonismo e o Naturalismo.

O individualismo renascentista contrapõe-se ao coletivismo que podemos observar nos


homens da Idade Média. Essa valorização do indivíduo apresenta -se como uma
decorrência do aparecimento da sociedade do capitalismo comercial, onde a
concorrência era uma constante. O individualismo mostra-se evidente quando
analisamos a pintura da Renascença, onde o número de retratos é cada vez maior.

Podemos definir o Hedonismo como a filosofia que faz da busca do prazer a finalidade
primeira da vida. Nos homens do Renascimento esta é uma característica bastante
importante. Na arte medieval com muita frequência o prazer tem reduzida importância,
os artistas estão preocupados principalmente com temas como salvação das almas, a
bondade e a grandeza de Deus, enfim, toda uma série de temas ligada à religião. Nos
artistas do Renascimento uma preocupação básica é o gozo dos prazeres terrenos.

Associada a esta atitude de busca do prazer aparece no homem renascentista o


naturalismo que pode ser definido como a aceitação da natureza em geral e da natureza
em particular como algo bom. Esta noção entrava em conflito com as ideias cristãs que
descreviam a natureza humana como marcada pelo pecado original tendendo de forma
inexorável ao mal. A aceitação do corpo humano como algo bom revela-se em especial,
470

na nudez dos corpos que se vai tornando cada vez mais frequente nas pinturas
renascentistas.

7 – A Cultura Antiga Como Fonte De Inspiração

O homem do Renascimento, surgido nos fins da Idade Média, continuou a inspirar-se no


Cristianismo. A religião cristã ainda vai estar presente nas diversas manifestações
artísticas do período. Mas, cada vez mais o pensamento cristão foi sendo substituído
pela velha cultura greco-romana como fonte de inspiração.

A popularidade da cultura clássica pode ser explicada, em parte da classe dominante da


Idade Média e controlava a cultura deste período. Aproximando-se da cultura pagã,
onde o Cristianismo não desempenhava um papel importante. Tal fato contribuía para
diminuir a importância do clero.

A popularidade da cultura clássica pode ser explicada, em parte, pela oposição da


burguesia ao clero que fazia parte da classe dominante na Idade Média e controlava a
cultura deste período. Aproximando-se da cultura greco-romana a burguesia
aproximava-se de uma cultura pagã, onde o cristianismo não desempenha um papel
importante. Tal fato contribuía para diminuir a importância do clero.

8 – O Humanismo

A palavra humanismo deriva da palavra “humanus que vem do latim”, que quer dizer
cultivado. O ideal humanista foi uma das ideias básicas do Renascimento e tinha como
ponto de partida a noção de que o homem era a criatura mais importante do universo.
Mas o homem apresentava-se através da cultura, procurando a um só tempo um
constante aprimoramento do corpo e do espírito. Ao lado disto, nos fins da Idade Média,
a palavra humanista designava também os estudiosos da velha cultura greco-latina, que
se dedicavam principalmente ao estudo e tradução dos textos antigos.

9 – A Descoberta Do Homem

“O homem é o modelo do mundo”, disse um dia Leonardo da Vinci. Com essa frase, ele
de certo modo sintetizava o que era o Renascimento e suas realizações.

Um exemplo do alcance da promoção do homem encontra-se na mudança na noção de


tempo. Durante a Idade Média, a Igreja condenou o juro (usura). Cobrar juros
significava vender o tempo, que só a Deus pertence. Os mercadores, porém, tinham
outra visão. Para eles, o tempo era um risco do qual retiravam seus ganhos. Por isso,
apesar das proibições da Igreja, principalmente nas cidades italianas, os mercadores
contabilizavam minunciosamente o tempo, para calcular ganhos e perdas. O tempo,
assim, virou dinheiro e passou a pertencer ao homem. Não por acaso, o relógio é uma
invenção do Renascimento.
471

Esse exemplo indica a íntima relação entre a nova concepção do homem, dono do
tempo, e a classe dos mercadores, que vai constituir a burguesia. De fato, os primeiros
humanistas – são burgueses e pessoas a eles associadas. A força que domina o tempo é
também a força da iniciativa, da habilidade, da inteligência, da audácia, sempre de
caráter pessoal. Por isso, o homem virtuoso dos renascentistas italianos está longe do
participante abstrato de uma única humanidade, como o concebia o pensamento
helenístico. Na nova ordem das coisas, o homem de virtù é aquele que tem capacidade
individual de saber escolher as ocasiões propícias para, ousadamente, transformar o
curso dos acontecimentos. No Renascimento, o homem é basicamente o indivíduo.

Essa valorização ao indivíduo manifesta-se na busca da fama, uma noção antiga e


diametralmente oposta ao ideal medieval do homem anônimo que, despojando-se das
vaidades pessoais, coloca-se a serviço de Deus. Na escultura ou na arquitetura do
Renascimento, grande parte das obras servem para exaltar a fama conquistada por
muitas personalidades. Na literatura, proliferam os gêneros biográfico e autobiográfico,
enquanto, na pintura, florescem o retrato e o autorretrato, com a identificação das
pessoas representadas. O hábito de os artistas assinarem suas obras também surge no
Renascimento.

a) A Valorização da Criatividade;

O artista, de certo modo, encarna o ideal de homem que o Renascimento descobre.


Desprezado desde a Antiguidade como executor de trabalho braçal – atividade própria
dos escravos e das camadas inferiorizadas – o artista, no Renascimento, torna-se modelo
da capacidade inventiva do homem de iniciativa. Audacioso, inconformado com as
circunstâncias a que se vê submetido, ele forja o próprio mundo. Nessa medida, sua
figura equivale à do homem de virtù, ativo, criativo e empreendedor, e contrapõe-se à
dos “especulativos” escolásticos, que, aos olhos do Renascimento, pensam, mas nada
fazem.

Mais do que isso, o mundo que o artista cria ultrapassa a condição mortal e efêmera do
criador. Suas obras tendem à eternidade. Não é à toa que os artistas renascentistas
tenham preferido materiais menos corrosíveis pela ação do tempo e, portanto, mais
propícios à duração e à fama, como o óleo, na pintura, e o mármore, na escultura.

Mas o artista não se limita ao ofício que o caracteriza. Se fosse mero “fazedor de arte”,
seria apenas artesão, isto é, trabalhador braçal, que continua desprezado. Ele não é
apenas o executor da obra, mas seu idealizador. Isso significa que deve dominar, além
das técnicas indispensáveis ao ofício, todo um conjunto de conhecimentos. Deve, por
isso, ser um homem universal, que tudo sabe e que tudo faz.

b) O Retorno às Humanidades;

Além de associado a essa nova imagem do homem, o humanismo apresenta outro


significado, de caráter mais técnico: o estudo das humanidades. Studia humanitatis, na
472

tradição que remonta a Cícero, indicam os estudos de valores considerados


essencialmente humanos – a “humanidade”, no sentido adotado pelo pensamento
helenístico. Nessa medida, referem-se à história, à poesia, à retórica, à gramática e à
filosofia moral, que, no ensino escolástico, eram relegadas a segundo plano.

O próprio termo “Renascimento” aplica-se inicialmente a essa revalorização daquilo


que o classicismo grego e romano havia exaltado. O grande promotor desse humanismo
no sentido técnico é Francesco Petrarca (1304 – 1374) responsável pela criação da
noção de “tempos obscuros” para caracterizar a Idade Média, que, a seu ver, era
sinônimo de mundo bárbaro. Trata-se então de retornar ao brilho da civilização antiga, a
começar pela purificação da língua – o latim – tão corrompida por influência de idiomas
bárbaros. O mesmo propósito é buscado em relação ao grego e ao hebraico, que,
somados ao latim, formam o ideal de “homo trilinguis”, o homem trilíngue ou poliglota.

O humanismo, no sentido técnico, compõe-se basicamente da gramática e da filologia


das línguas antigas, para depois imitar a literatura e as artes da Antiguidade. Isso,
porém, não significa que o humanista tenha sido fiel a esse programa. O próprio latim
de Petrarca não é o de Cícero ou Virgílio; muitos eruditos atribuem à Antiguidade
vários textos que se revelariam obra de épocas mais recentes. Houve até, no século XVI,
quem acrescentasse à famosa estátua da Loba, símbolo de Roma, os gêmeos Rômulo e
Remo.

c) Reinventando a Antiguidade;

Os humanistas idealizam a Antiguidade, reinventam-na, criando, num certo sentido, o


modelo que depois tratariam de imitar, principalmente quanto à forma e ao estilo. Por
isso, são menos atenciosos para o que dizem os textos antigos do que para o modo como
dizem. A polêmica suscitada em torno da tradução de Ética a Nicômaco, de Aristóteles,
é esclarecedora. Publicada pelo chanceler de Florença, Leonardo Bruni (1370 – 1444),
ela foi criticada pelo cardeal Alonso Garcia, professor da Universidade de Salamanca.
Para ele, o antigo tradutor “não se limitou a traduzir os livros de Aristóteles do grego
para o latim, mas interpretou-o com tanto rigor quanto possível e não lhe teriam faltado
a maior elegância ou os mais belos ornamentos se tivesse querido utilizá-lo. (...), mas o
antigo intérprete, que se preocupou, sobretudo com a verdade filosófica, não quis
ornamentos excessivos a fim de evitar os erros em que este [novo tradutor] caiu”.

d) No Ensino Um Novo Enfoque;

Por trás dessa aparente divergência técnica sobre a tradução há um fosso que separa o
mundo medieval do renascentista e que se manifesta em concepções conflitantes a
respeito da educação, a começar pelo local do ensino. Se a Escolástica tinha como sede
a universidade, o núcleo das humanidades são os colégios.

Destinados inicialmente a fornecer uma instrução preparatória – exatamente as


humanidades – a jovens carentes, os colégios, que proliferam no final da Idade Média,
passam a atrair cada vez mais os estudantes de famílias ricas. A este não interessa um
473

conhecimento especializado, como o que as universidades fornecem. O que se requer é


a aquisição de um estilo: saber conversar, ser cortês, polido e elegante, ter bons modos
e, claro, apresentar uma boa formação cultural – requisitos indispensáveis para que o
jovem seja admitido na corte de famílias ricas e poderosas. Por isso, proliferam os
manuais sobre bom comportamento. Um dos mais adotados é O Cortesão, de
Baldassare Castiglione.

Esse tipo de ensino, aparentemente fútil e frívolo, corresponde aos anseios da burguesia,
que, depois de ver consolidado seu domínio econômico, quer ser admitida nos círculos
aristocráticos, mesmo que para isso tenha de comprar títulos de nobreza. Por isso, opõe-
se às universidades, cujos “pedantismo” e “intelectualismo”, destinados a formar
teólogos e outros especialistas, de nada servem ao desejo de promoção social. “Nem
todos são chamados a ser legistas, físicos ou filósofos (...). Mas todos, tais como somos,
fomos criados para viver em sociedade e para os deveres que esta vida implica”, escreve
no século XV o educador humanista Vittorino da Feltre.

e) A Crença Nos Poderes Astrais.

O homem renascentista busca moldar o mundo à sua imagem e semelhança, como um


empreendimento. Mas essa é também uma experiência dolorosa. Ao descobrir a própria
individualidade frente à ordem do mundo, ele não se conforta mais com a certeza
medieval de uma vida cujos princípio e fim encontram-se em Deus. O humanista
continua a acreditar em Deus, mas este parece cada vez mais indiferente ao mundo.

Orgulhoso de si, mas abandonado à própria sorte, esse homem procura reatar com a
ordem do mundo. Para isso, retoma as noções antigas de macrocosmo e de
microcosmo, que serviam para relacionar o ser humano ao universo. Na Idade Média, o
homem era concebido como um pequeno mundo (microcosmo) que, como criatura de
Deus, espelhava em si toda a Criação, o macrocosmo. A astrologia, embora condenada
pela Igreja, era um instrumento para desvendar esse jogo.

No Renascimento, com o afrouxamento das restrições da Igreja, a astrologia conhece


larga difusão, ainda mais porque o humanismo absorve elementos pagãos que
identificam os astros às divindades. Acredita-se que cada pare do mundo e do homem
seja governada por um astro-deus, e nada se faz sem antes consultar a posição dos
corpos celestes.

Caso alguém seja bem-sucedido, é porque agiu num momento de conjunção propícia
dos astros. Isso significa a crença de que as pessoas podem se aproveitar das influências
astrais. Em ocasiões favoráveis, é possível até mesmo convocar as forças da natureza,
valendo-se da magia. Nessa medida, a astrologia e a magia tornam-se uma espécie de
álibi da liberdade humana. Elas representam o momento em que o homem, tornando-se
senhor do mundo e de seu destino, ainda se sente inseguro da própria liberdade. O
pensamento renascentista irá nutrir-se dessa condição ambígua do ser humano.
474

110 – REVOLUÇÃO FRANCESA

1 – Introdução:

A Revolução Francesa representou um avanço decisivo no processo de ascensão da


burguesia como classe dominante na vida econômica, social, política e cultural do
mundo moderno. Dessa forma, a Revolução na França apresentou algumas relações com
as revoluções Inglesas do século XVII, terminadas no ano de 1689, pela vitória da
classe burguesa, ainda que através de uma conciliação com o Poder Real e a Nobreza.

As Revoluções Inglesas repercutiram muito pouco no Continente europeu e na América


sendo principalmente um fato restrito à Inglaterra. A Revolução Francesa transcendeu à
França, tornando-se uma “Revolução Atlântica” atingindo a Europa Centro-Ocidental e
a América. Esta difusão dos ideais revolucionários deve-se às condições internas de
cada país e à necessidades de afirma a Revolução na própria França.

Com a Revolução Francesa chegou ao seu auge a chamada “Crise do Antigo Regime”,
cujas primeiras manifestações haviam sido a cultura da Ilustração e a Independência dos
Estados Unidos. A Revolução iniciada na França em 1789 representou um golpe mortal
no Absolutismo, no Mercantilismo, no poder da Igreja e da Nobreza, que eram
algumas das principais características do Antigo Regime.

A Revolução Francesa, iniciada em 14 de Julho de 1789, abrangeu um período de dez


anos (1789 – 1799). Historicamente, pôs fim a Idade Moderna e deu início a Idade
Contemporânea. Representou um avança importante no processo de ascensão da
burguesia como classe dominante na vida política, econômica, social e cultural.

Ultrapassou a França e tornou-se uma “Revolução Atlântica”, atingindo a Europa


Centro-Ocidental e a América, influenciando vários movimentos liberais, no século
XIX. A Revolução foi um golpe mortal para a monarquia Absoluta de direito divino, o
mercantilismo, o poder da Igreja e da nobreza, que eram os principais sustentáculos do
antigo regime, que foi o Absolutismo.

2 – A França Às Vésperas Da Revolução.

Para a compreensão da Revolução Francesa torna-se necessário primeiramente


descrever a situação do país pouco antes de 1789. Dessa forma, podermos localizar os
principais fatores que contribuíram com o início desse movimento revolucionário.

2.1 – Geografia e Economia.

Geograficamente a França apresentava-se como um dos maiores países da Europa-


Centro-Ocidental, possuindo uma superfície de 526 mil km2 e uma população de 26
milhões de habitantes. O crescimento acelerado da população, junto a uma distribuição
de renda que beneficiava poucos contribuiu bastante para a Revolução.
475

A agricultura, não obstante a sua reduzida evolução técnica, continuava a ser a atividade
econômica mais importante do país dando ocupação a 20 milhões, pelo menos, de
franceses.

A Indústria apresentava-se dividida em três setores: rural-doméstico, manufatureira e


corporativa.

A Indústria rural e doméstica era dominada pelos comerciantes – manufatureiros


existindo principalmente no setor de fabricação de tecidos. As manufaturas que tendiam
a predominar na paisagem industrial francesa existiam desde a época de Colbert, no
setor da fabricação de ferro, vidro fazendo aparecer, pouco a pouco, o proletariado
francês. Quanto às corporações constituíam um anacronismo medieval, com seus
métodos muito mais artesanais que industriais, suas fixações de preços e salários, que a
Revolução se encarregou de suprimir.

As péssimas comunicações e as alfandegas internas constituíam os principais obstáculos


ao comércio dentro do país. As alfandegas internas ou direitos de passagem eram
também um resquício de impostos feudais na França do século XVIII. Há séculos que
estavam desaparecendo gradativamente, a Revolução irá extingui-los em definitivo.

O comércio exterior tinha sua principal operação no chamado “Comércio Triangular”


realizado entre a França, África e Antilhas. Os franceses trocavam armas, tecidos e
bebidas, por escravos africanos que eram conduzidos às Antilhas e trocados por açúcar,
algodão, anil e uma série de outros produtos.

2.2 – A Economia e as Catástrofes.

Os últimos anos do “ancien regime” (a sociedade antes da Revolução) foram marcados


por uma série de acontecimentos desastrosos para a economia francesa.

Em 1784, grandes chuvas inundaram o país de forma calamitosa. No ano seguinte, a


agricultura ressentiu-se de uma persistente seca. Estes cataclismos provocaram grandes
prejuízos e uma alta de preços bastante acentuada.

Em 1786, a França firmou com a Inglaterra um tratado de comércio pelo qual os


franceses passavam a importar panos dos ingleses que, em troca, importavam vinhos
franceses.

O tratado que beneficiava os donos dos grandes vinhedos, desencadeou uma grande e
violenta crise na indústria francesa de tecidos, incapaz de concorrer com os fabricantes
ingleses que lideravam a Revolução Industrial.

Para completar o quadro, o ano de 1787 foi marcado por uma colheita de trigo
superabundante que gerou uma baixa de preços arruinando grande numero de pessoas
que viviam da agricultura. No ano seguinte, a colheita foi desastrosa, acarretando uma
acentuada alta de preços nas cidades.
476

2.3 – A Vida Social.

A sociedade francesa apresentou-se formalmente como uma sociedade de ordens ou


estamentos, constituídos da seguinte forma: “a primeira ordem ou primeiro estado – era
o clero. A segunda ordem ou segundo estado – era a nobreza. E a terceira ordem ou
terceiro estado – era todo o resto da nação liderado pela burguesia”. Mas, por trás dessa
divisão formal, mais um resquício da Idade Média, a sociedade francesa revelava-se
uma sociedade dividida em classes:

a) O Clero – no primeiro estado, às vésperas da Revolução, mostrava-se claramente


uma divisão entre o alto clero e o baixo clero. O alto clero, bispos e cardeais
principalmente, era constituído por elementos de famílias nobres possuidoras de
inúmeros privilégios. O baixo clero, que eram padres de paroquia, frades, nas
condições reais de existência pertencia ao terceiro estado. Levando muitas vezes
uma vida de pobreza e tendendo a simpatizar com a revolução.

b) A Nobreza – a nobreza, constituindo o segundo estado também estava dividida


em inúmeras partes com interesses muitas vezes divergentes.
Em Versalhes encontra-se a nobreza palaciana formada por cerca de quatro mil
pessoas, vivendo numa corte que, mesmo não apresentando o brilho da época
Luís XIV, continuava a ser extremamente dispendiosa para o estado francês.
No interior do país, uma parte da segunda ordem era constituída pelas chamadas
nobrezas provinciais que, dotada de pequenas propriedades levava uma vida
bem pouco brilhante, vivendo da exploração de direitos feudais e sendo por isso
extremamente detestada pelos camponeses. De forma geral, a nobreza de sangue
(cortesão, nobreza provincial e alto clero) constituía uma classe decadente
vivendo de uma forma parasitária.

Estavam isentos da maioria dos impostos, recebiam pensões, doações e outros


privilégios materiais do poder real. Possuíam tribunais próprios e dominavam o
quadro de oficiais do exército e marinha. Exploravam grande parte da população
camponesa através de inúmeros “direitos feudais” tais como: servidão, corveias,
banalidades.

Ainda no segundo estado, existia a nobreza judiciária ou de “Toga”, construída


muitas vezes por elementos burgueses nobilitados que se dedicavam aos
negócios administrativos e da justiça.

c) O Terceiro Estado.
Constituindo um bloco quando se tratava de lutar contra a nobreza privilegiada,
o terceiro estado também apresentava divisões, muito importantes para explicar
o desenvolvimento da revolução.
477

111 – REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

1 – Introdução:

O termo Revolução Industrial designa uma profunda mudança econômica-social que,


iniciada na Inglaterra da segunda metade do século XVIII, continuou a se processar em
diversos países do mundo até o século XX.

Podemos dividir o processo de criação da sociedade industrial em dois grandes


momentos: o primeiro que teria a duração aproximada de cem anos, de 1760 a 1860
mais ou menos, realizaram-se principalmente na Inglaterra, Bélgica e França; o segundo
iniciado por volta de 1860 estaria, no entender de inúmeros historiadores realizando-se
até hoje, com a criação da grande indústria numa nova série de países tais como:
Estados Unidos, Alemanha, Itália, Rússia e Japão.

2 – Fatores Que Geraram A Revolução Industrial

a) A importância da Revolução Comercial

A Revolução Industrial foi gerada pela Revolução Comercial, realizada entre os séculos
XV e XVIII, em alguns países da Europa Centro-Ocidental.

A Revolução Comercial resultou em aumento da riqueza de diversos países da Europa


Centro-Ocidental, que conseguiram desta forma acumular grandes capitais capazes de
financiar o progresso técnico e o custo da instalação de indústrias.

O comércio europeu ao longo de séculos criou uma burguesia suficientemente rica,


capaz de dispender capitais para financiar o trabalho dos mais diversos inventores, bem
como os mais diversos apetrechos necessários à instalação de indústrias.

A Revolução Comercial resultou também num aumento incessante de mercados, isto é,


do lugar geográfico das trocas que, a partir dos fins da Idade Média, especialmente com
as Grandes Navegações, deixou de ser apenas o “Velho Mundo” (Europa, Oriente
Próximo e Norte da África) para incluir África Negra, Ásia e Américas.

O aumento das trocas que, a partir do século XVI os europeus realizam numa escala
planetária levou a radical alteração na forma de produzir de alguns países da Europa
Ocidental.

b) O Aumento da Divisão do Trabalho

Com o aumento das trocas que passaram a ser feitas com o mundo inteiro, o trabalho
artesanal, realizado com ferramentas, típico das corporações do ofício, foi sendo
substituído por um trabalho mais dividido que, utilizando máquinas numa escala
crescente, teve uma produtividade incomparavelmente maior, na França, por exemplo, a
478

maior parte dos sapatos era produzida de forma artesanal: um mesmo artesão
geralmente ligado a uma oficina corporativa, curtia o couro, cortava, costurava,
realizando sozinho, as mais diversas tarefas que resultam na fabricação de um sapato.
Nos fins do século XVIII, à medida que as corporações eram extintas e foi-se
acentuando a necessidade de se produzir mais para um mercado em constante expansão,
os operários foram sendo especializados no interior das fábricas nascentes, em cada uma
das tarefas necessárias à fabricação de um produto. No exemplo do sapato: alguns
operários curtiam o couro, outros cortavam, outros costuravam. Podemos dizer que a
crescente especialização tornou-se uma das características básicas da moderna
sociedade industrial, gerando uma produtividade cada vez maior.

c) A utilização de Máquinas

Mas, a divisão do trabalho por mais desenvolvido que fosse não conseguiria,
isoladamente, aumentar a produção e o lucro dos empresários capitalistas. Muito cedo
se verificou que maior produtividade e maiores lucros só poderiam ser conseguidos
acrescentando-se ao trabalho dividido a utilização de máquinas em grande escala.

A Revolução Industrial caracterizou-se fundamentalmente pela utilização sistemática de


maquinário na produção e no transporte de mercadorias.

Para compreender a importância das máquinas, basta lembrar que elas, ao contrário das
ferramentas, realizam trabalho utilizando basicamente forças da natureza como o vento,
a água, o fogo, o vapor, e um mínimo de força humana. Alguns pensadores afirmam que
a humanidade realizou seus maiores progressos no momento em que criou as várias
máquinas capazes de utilizar as grandes fontes de energia natural existentes sobre a
superfície terrestre. O progresso se realizaria no momento em que o homem conseguisse
fazer com que as forças da natureza trabalhassem por ele principalmente através das
máquinas.

Sendo a máquina alto tão fundamental para a vida humana sobre a face da terra, é de se
perguntar: por que o progresso técnico foi tão lento antes do século XVIII?

A resposta a essa questão pode ser relativamente simples: antes da Revolução


Comercial, iniciada no século XV, as necessidades dos diversos mercados eram
reduzidas e levavam a uma produção também reduzida para a qual era suficiente a
utilização de ferramentas ou de máquinas bastante rudimentares. A exigência de
produzir cada vez mais, a partir do século XV, praticamente “forçou” o progresso a
construir um dos traços mais significativos do mundo moderno e contemporâneo.

3 – A Revolução Industrial Na Inglaterra

A Revolução Industrial foi na sua primeira fase um fenômeno tipicamente inglês.


A Inglaterra foi um país pioneiro da industrialização por causa de uma série de fatores
dos quais os mais importantes foram:
479

1) Os lucros provenientes da Revolução Comercial;


2) Grande mercado interno;
3) O Império Colonial e áreas de influência;
4) O poderio naval inglês;
5) A Revolução Gloriosa e a Política do “laissez faire”;
6) A preservação do solo inglês das guerras do continente;
7) Abundância de carvão e ferro;
8) Abundância de mão-de-obra barata.

Depois dessa enumeração, vamos explicar de maneira mais aprofundada o papel de cada
um desses fatores na industrialização inglesa no século XVIII.

Em primeiro lugar a Inglaterra foi o país que mais lucrou com a Revolução Comercial,
colocando-se na vanguarda do comércio europeu especialmente a partir da segunda
metade do século XVII quando, em duas guerras, derrotou a Holanda, sua concorrente
mais próxima. A liderança comercial do país resultou na criação de um forte mercado
interno que havia começado a se desenvolver com a pirataria do período elisabetano.
Ao lado desse mercado interno, a industrialização inglesa pôde contar também com um
crescente império colonial e grandes áreas de influência. Na segunda metade do século
XVIII, no Continente Americano, a Inglaterra havia perdido as treze colônias, mas
mantinha sob seu controle o Canadá e algumas ilhas nas Antilhas. Na Ásia os ingleses
avançavam a passos largos pelo imenso e rico subcontinente indiano que terminaram
por dominar por volta de 1850.

No início do século XVIII, através do célebre Tratado de Methum, os ingleses


passaram a ter uma presença dominante na economia de Portugal e do Brasil. No
mesmo século, nas colônias espanholas, os ingleses contrabandeavam mercadorias em
grade escala burlando dessa forma a política do Pacto Colonial.

Para manter os contatos comerciais entre a metrópole inglesa e todas essas áreas, os
ingleses contavam no século XVIII com o maior poder naval do mundo, criado
especialmente a partir dos Atos de Navegação promulgados por Cromwell em 1650.

O desenvolvimento do comércio e da burguesia gerou o processo de revoluções inglesas


do século XVII, durante o qual o “Absolutismo inglês” foi substituído pela monarquia
limitada onde o poder do Parlamento dominado pela burguesia era cada vez maior. Esse
processo que chegou ao seu auge com a chamada Revolução Gloriosa de 1688-1689
levou também à liquidação da política mercantilista e ao estabelecimento paulatino de
um liberalismo econômico que, eliminando corporações e monopólios, favoreceu o
aparecimento da chamada livre-empresa.

Alguns historiadores acreditam que todo esse processo econômico-social da Inglaterra


nos séculos XV, XVII e XVIII, se deveu ao fato de que, pela sua posição insular, o país
480

teve seu solo preservado das múltiplas guerras que devastaram o continente europeu e
que tiveram visíveis efeitos no sentido de retardar o progresso econômico de países
como a França e a Alemanha.

A natureza também ajudou o pioneirismo industrial inglês, dando ao país importantes


jazidas de ferro e carvão, materiais básicos para a grande indústria. Além de existirem
em grandes quantidades, o ferro e o carvão dos ingleses eram de excelente qualidade e
encontravam-se próximos um do outro evitando grandes despesas no tocante aos
transportes.

Para o desenvolvimento da indústria inglesa foi também bastante importante a


existência de grandes quantidades de mão-de-obra barata. Desde o início do século
XVIII, era grande o crescimento da população inglesa, principalmente por causa da
queda nas taxas de mortalidade, provocada em parte, pelas grandes melhorias na
produção agrícola. Mas, ao mesmo tempo em que se reduziam as taxas de mortalidade,
boa parte da população estava sendo expulsa do campo por um novo surto de
cercamentos das terras comuns, isto é, a apropriação pelos grandes proprietários rurais
de terrenos baldios que eram usados pelos camponeses. Os primeiros cercamentos
realizaram-se no século XIII e partir daí ocorreu periodicamente. Os cercamentos do
século XVIII, como os anteriores, aumentaram o desemprego e a pobreza, levando
grande número de camponeses a abandonar a agricultura e a se constituírem em mão-
de-obra barata que pôde ser largamente utilizada pela indústria.

a) Os Primórdios da Revolução Industrial Inglês

Na Inglaterra no início do século XVIII existiam várias formas de trabalho industrial


das quais podemos mencionar: as corporações, as manufaturas e a chamada indústria
rural e doméstica.

As corporações apresentavam-se em acentuada decadência, realizando um trabalho


basicamente artesanal que encarecia muito os produtos por elas elaborados.

As manufaturas haviam sido organizadas durante a vigência da política mercantilista e


consistiam em fábricas que, embora não possuíssem máquinas, reuniam grande número
de operários, produzindo a mercadorias através de um trabalho pouco dividido.

Quanto à indústria rural e doméstica, podemos dizer em primeiro lugar, que ela foi
extremamente importante em vários países da Europa Ocidental até a segunda metade
do século XVIII, operando especialmente no campo da fabricação de tecidos.

Como o próprio nome indica, a indústria rural e doméstica funcionava na zona rural
onde as famílias camponesas nas suas casas, fiavam, teciam e tingiam, conseguindo
dessa forma aumentar as suas rendas. Este tipo de indústria surgiu, num primeiro
momento, para satisfazer as necessidades da própria família camponesa, que produzia
tecidos de lã e algodão com rocas e teares de madeira, movido quase sempre pela força
humana, ou de pequenos moinhos de vento e água.
481

Com o tempo, os camponeses passaram a produzir para o mercado e neste momento,


esse tipo de indústria passou a ter um elemento coordenador das diversas tarefas: o
comerciante manufatureiro.

Este novo empresário possuía, em primeiro lugar, o controle sobre a matéria-prima que
comprava e distribuía, num primeiro momento pelas casas de camponeses que se
haviam especializado no trabalho de fiação. Depois, o comerciante-manufatureiro e seus
empregados tomavam os fios elaborados, passando-os para outra série de famílias
especializadas na tecelagem. Uma vez elaborado o tecido, passava-se à última fase, a do
tingimento, no fim da qual o comerciante-manufatureiro recebia o produto acabado para
ser comercializado.

Nesses três ramos do trabalho industrial da Inglaterra do século XVIII, predominava a


utilização de ferramentas e, portanto a força do braço humano. A Revolução Industrial
caracterizou-se pela aplicação sistemática de máquinas ao processo produtivo e, como
sabemos, a máquina distingue-se da ferramenta por utilizar predominantemente forças
da natureza tais como: água, vento e vapor.

b) Algumas Invenções Cruciais para o início da Primeira Revolução Industrial

Na Inglaterra da segunda metade do século XVIII, o primeiro ramo da indústri a ser


mecanizado foi o da fiação e tecelagem de algodão.

Em 1767, um inventor de nome James Hargreaves criou a chamada “pinning Jenny”,


máquina utilizada para fiar e que pelas suas pequenas proporções e baixo custo (era
construéda de madeira) pode ser utilizada pela indústria rural e doméstica.

Logo depois, no ano de 1769, surgiu o “Bastidor Hidráulico”, máquina de tecer


inventada por Richard Arkwright.

Mas, o invento central dessa primeira fase da industrialização surgiu também no ano de
1769 com o aperfeiçoamento da máquina a vapor, que havia sido inventada por
Newcomem em 1712, por James Watt. A partir daí a nova energia do vapor passou a ser
utilizada nas máquinas de fiar e tecer, fazendo o surgir a partir da década de 1770 a
indústria moderna.

Nessa mesma época, em outros setores da economia inglesa, como por exemplo o da
construção civil, estavam surgindo também inventos de grande importância. Mas, foi o
ramo da fabricação de tecidos que tivemos o setor mais crucial para o aparecimento dos
inúmeros melhoramentos técnicos que fariam o início da Revolução Industrial.

Nas novas fábricas as máquinas movidas pelo vapor, de grande custo e alta
produtividade, reuniram em torno de si centenas e depois milhares de operários. Para
custear as instalações das fábricas tornaram-se necessários grandes capitais encontrados
principalmente nas mãos dos comerciantes-manufatureiros que, enriquecidos com a
indústria rural e doméstica, transformaram-se paulatinamente nos modernos
empresários industriais.
482

As corporações, manufaturas e a indústria rural e doméstica começaram a extinguir-se


paulatinamente por causa da concorrência da nova fábrica que, com as máquinas,
produziu muito mais e por um custo bem menor.

c) Indústria e Problemas Sociais

O baixo custo das mercadorias produzidas pela nova fábrica foi consequencia da
utilização das máquinas, mas também dos baixos salários pagos à nascente classe
operária.

Na antiga indústria rural e doméstica os operários eram donos dos rudimentares


instrumentos de produção (rocha, tear) e, por isso, podiam exigir melhores salários dos
comerciantes-manufatureiros. Com a mecanização do trabalho industrial a posse dos
meios de produção, principalmente máquinas, passou a ser exclusiva dos possuidores de
capitais por causa do seu alto custo. Surgiu então o proletariado industrial, constituido
por uma classe de pessoas que só possuía a sua força de trabalho para ser vendida por
salários pagos ao nível da pura e simples sobrevivência, uma vez que a oferta de mão-
de-obra era abundante por causa do crescimento populacional e das máquinas que
realizavam grande economia de trabalho humano.

A partir da segunda metade do século XVIII, o nascente proletariado apresentava-se em


terríveis condições de vida, ganhado baixíssimo salários e com jornadas de trabalho
incrivelmente longas que chegavam a 14 horas por dia. O desemprego era uma
constante, sendo agravado pela frequente utilização do trabalho de mulheres e de
crianças que constituíam mão-de-obra mais barata e mais dócil. Nas cidades, que
cresciam com a nova indústria, irão multiplicar-se os problemas socioeconômicos. A
fome, as péssimas condições de habitação se faziam acompanhar por altos índices de
mortalidade infantil e outros flagelos como prostituição e alcoolismo.

Frente a essa situação a classe operária começou a reagir. Na Inglaterra surgem os


chamados “Ludistas” que lideravam motins para a quebra das máquinas apontadas
como responsáveis pelo aumento da miséria. O governo estabeleceu punições
extremamente severas conseguindo debelar essa ameaça.

4 – A Revolução Industrial Nos Transportes

No início do século XIX, a máquina a vapor começou a ser utilizada nos meios de
transportes. Data de 1807 o primeiro barco a vapor criado por um americano de nome
Robert Fulton. Em 1825, na Inglaterra, um engenheiro chamado George Stephenson
conseguiu criar a primeira estrada de ferro.

Com o barco a vapor e as estradas de ferro o tempo das viagens diminuiu, o custo dos
transportes baixou e aumentou ainda mais o volume das trocas, isto é, o mercado. Com
o aumento das trocas e a consequente necessidade de produzir mais, tornaram-se cada
vez maiores os avanços da industrialização.
483

5 – A Industrialização E O Mundo Colonial

O grande aumento da produção industrial no início do século XIX fez com que os
empresários industriais ingleses se preocupassem cada vez mais com o aumento
constante dos mercados. Para a Inglaterra tornou-se interessante a derrubada das
barreiras mercantilistas que criavam obstáculos ao comércio internacional.

No início do século XIX, aos ingleses contribuíram decisivamente para a derrubada do


Pacto Colonial na América Ibérica, apoiando os grupos que lutavam pela
independência. Com o fim da dominação colonial de Portugal e Espanha, iniciou-se na
América Ibérica uma fase de dominação do imperialismo inglês.

112 – ROMANTISMO

Conceito:

Tendência que se manifesta nas artes plásticas na música e na literatura do fim do


século XVIII até o fim do XIX. Privilegia a liberdade de criação e a emoção, com obras
que valorizam o individualismo, o sofrimento amoroso, a natureza e o passado. O
movimento é influenciado pela tese do filósofo Jean-Jacques Rousseau de que o homem
nasce bom e a sociedade o corrompe. O alemão Felix Mendelssohn e o húngaro Franz
Liszt estão entre os principais nomes na música. Na literatura, destacam-se o alemão
Johann Goethe e os ingleses William Blake e Lord Byron.

113 – SABELIANISMO

1 – Introdução:

No cristianismo, Sabelianismo (também conhecido como modalismo,


patripassianismo, unicismo, monarquuianismo modalista ou monarquiuanismo
modal) é a crença unicista de que Deus se manifestou em carne (Jo. 1.1; e Jo. 1.18) e
não três pessoas distintas.

O termo sabelianismo deriva de Sabélio, um padre e teólogo do século III d.C. e


defensor da tese.

Ele foi um discípulo de Noeto, motivo pelo qual os seguidores desta crença são
chamados nas fontes patrísticas de noecianos. Já Tertuliano batizou-a de
patripasianismo.
484

2 – Significado e Origens:

O sabelianismo histórico ensinava que Deus Pai era a única existência verdadeira de
Deus, uma crença conhecida como monarquianismo. Um autor descreveu o
ensinamento de Sabélio assim: A verdadeira questão, portanto, se torna esta, o que
constitui o que chamamos de ‘pessoa’ na Divindade? É original, substancial, essencial à
própria divindade? Ou é parte dos desenvolvimentos e formas de aparecer que a
Divindade criou para si para suas criaturas? A primeira opção, Sabélio negava. Esta
última ele admitia completamente.

Os modalistas afirmam que o único número atribuído a Deus na Bíblia é “Um” e que
não existe nenhuma trindade inerente atribuída a Deus explicitamente nas Escrituras. O
numero três nunca é mencionado na bíblia com relação a Deus, e as duas únicas
exceções possíveis são Mateus 28.16-20 (chamado de “Grande comissão”), 2 Coríntios
13.13 e o Comma Johanneum, que muitos consideram como uma passagem espúria
interpolada em 1 Jo. 5.7, conhecida principalmente pela tradução do rei James e em
algumas versões do Textus Receptus e que não é incluída na maior par das versões
críticas modernas. Eles acreditam que Deus teria três “faces” ou “máscaras” (em grego:
prosopa; latim personae). Já os trinitários acreditam que os três membros da Trindade
estavam presentes como seres aparentemente distintos no batismo de Jesus e acreditam
que há evidências nas escrituras para a crença trinitária.

Modalismo tem sido principalmente associado com Sabélio, que ensinava uma forma
dele em Roma no século III d.C. como um discípulo de Noeto e Práxeas.

Hipólito de Roma conheceu Sabélio pessoalmente e o mencionou na Philosophumena e


sabia que Sabélio não gostava da teologia trinitária, mas ainda assim atribui a heresia à
Calisto e Noeto, mas não a Sabélio, que ele diz ter sido pervertido. O sabelianismo foi
adotado pelos cristãos da Cirenaica, a quem Demétrio, Patriarca de Alexandria escreveu
cartas argumentando contra a crença.

Acredita-se também que o termo grego homoousiaaou “consubstancial”, que era o


favorito de Atanásio de Alexandria na controvérsia ariana, foi de fato um termo
proposto por Sabélio, e, por isso, era utilizado com ressalvas pelos seguidores de
Atanásio. A objeção ao termo era a de que ele não existe nas escrituras e tem uma
“tendência sabeliana”.

3 – Derivação da Filosofia Grega:

O monarquianismo modal originou-se da influencia filosófica grega, incluindo as teses


de Euclides Aristóteles, que baseavam a sua lógica no monismo e nos argumentos
aristotélicos sobre o conceito da energeia (energia) chamada metafísica. Como conceito
que a ontologia (também chamada de metafísica) podia ser reduzida ou para uma única
substância detectável (chamada de teoria da substância) ou um único ser (o conceito do
Absoluto), a lógica aristotélica foi a forma com que, ontologicamente (via metafísica), o
485

filósofo helênico (pagão) Aristóteles pôde racionalizar para desconstruir a consciencia


humana, sua existencia e o próprio ser para conseguir representar o seu ponto de vista
da Mônade o “unicidade” (unidade de tdoas as coisas), com unidade ou unicidade na
“ideia” de Deus e a substância de Deus (ousia) como essência ou categoria universal
acima do ser finito.

Modalismo é a ideia de Deus como esta única substancia ou ser chamado em grego de
ousia (São João Damasceno dá a seguinte definição do valor conceitual dos dois termos
em sua dialética: Ousia é a coisa que existe por si própria e que não precisa de mais
nada para sua consistência. Novamente, ousia é tudo que ‘subsiste’ por si e que não tem
sua existência em outra coista). Esta ousiaque então emana sequencialmente várias
realidades infinitas (hypostasis) e não criadas. Sabélio foi um dos primeiros teólogos
cristãos que aplicou este raciocínio metafísico pagão (lógica aristotélica) no
cristianismo. Ele tentou reduzir cada uma das hipóteses de Deus a simples “modos” da
essência de Deus, uma única essência ou ousia, removendo assim qualquer distinção
entre as existências de deus e a essência de Deus.

Posteriormente, estas realidades foram novamente representadas pelos filósofos não


cristãos após o aparecimento do cristianismo, como o neo-platonismo que as
representou como se amalgamando e fundindo uma na outra. Para Plotino, a Mônade ou
Um (o dynamus, dunamis, pontencial, potentia) e o Díade (criador, energia, ato) ambos
emanam a Tríade, Trindade (Espírito ou anima mundi). Plotino então reconciliando
Aristóteles e Platão em suas obras, as Enéades. Plotino ensina ainda que a energia ou
ato tem que ter força ou potencial para emanar (dunamis ou potential definido como
uma vitalidade indeterminada de acordo com A.H.Armstrong. estas realidades se
fundem em um mundo material (cosmos) ou Universo. Assim, Tomás de Aquino, em
seu “Cinco Provas da Existencia de Deus” inicia sua prova a partir de raciocínios de
filósofos pagãos sobre a existência de um deus criador (demiurgo).

4 – Críticas Históricas ao Sabelianismo:

As nossas principais fontes para o monarquianismo inicial do tipo modal são Tertuliano
(Adversus Praxean), Hipólito de Roma (Contra Noetum – fragmento) e a
Philosophumena. contra Noetum e a perdida Syntagma foram usadas por Epifânio de
Salamina (Haer. 57 “Noecianos”), mas as fontes dele para o capítulo 62 (Sabelianos)
são menos claras. O maior crítico do sabelianismo foi Tertuliano, que o chamou de
“Patripassianismo” em Adversus Praxeas (cap. I), das palavras latinaspater (“pai”) e
passio do verbo “sofrer”, pois o movimento pregava que Deus Pai teria sofrido na cruz.
É importante notar que as nossas únicas fontes que sobreviveram sobre o sabelianismo
são de autoria de seus detratores. Acadêmicos hoje em dia não concordam sobre o quê
exatamente Sabélio e Práxeas ensinaram. É fácil supor que Tertuliano e Hipólito tenham
exagerado ou interpretado maliciosamente as opiniões de seus adversários.
486

Tertuliano parece afirmar que a maioria dos crentes naquele tempo favoreciam o ponto
de vista sabeliano da unicidade de Deus. Epifânio de Salamina (Adv Haeres 62), por
volta de 375, relata que os aderentes do sabelianismo ainda podem ser encontrados em
grande quantidade, tanto na Mesopotâmia e em Roma. O primeiro Concílio de
Constatinopla (381), no Cânone VII, e o Terceiro Concílio de Constatinopla (680), no
cânone XCV, declararam que o batismo de Sabélio era inválido, o que indica que a
crença ainda existia na época.

4.1 – Outras:

a) Em 225, Hipólito de Roma citou-os sob o nome de “noecianos” em sua obra


“Refutação de todas as heresias”. E alguns deles concordam com a heresia dos
noecianos e afirma que o próprio Pai e o Filho e que Ele é que foi gerado e sofreu e
morreu. Sobre estes, eu voltarei para oferecer uma explicação de maneira mais exata,
pois esta heresia deles já deu motivo para muitas maldades.

b) Dionisio de Roma escreveu uma obra chamada “contra os Sabelianos”, na qual ele
afirma: “na verdade seria justo lutar contra aqueles que, ao dividir e rasgar a monarquia,
que é o mais augusto dos anúncios da Igreja de Deus em, como se fossem três poderes e
distintas substâncias (hipóstases) e três divindades, destruindo-a. pois eu ouvi que
alguns que pregam e ensinam a palavra de Deus entre voces professam esta opinião, que
de fato é, por assim dizer, diametralmente oposta à opinião de Sabélio. Pois ele
blasfema ao dizer que o próprio Filho é o Pai e vice-versa.”

c) tertuliano também escreveu uma obra inteira contra os sabelianos, chamada “Contra
Práxeas”, onde ele defende ferozmente o trinitarismo, contrapondo suas ideias às de
Práxeas, a quem ele faz a seguinte afirmação: “Não, mas voce de fato blasfema, pois
voce alega não somente que o Pai morreu, mas que Ele morreu a morte na cruz. Pois
amaldiçoados são os que são enforcados numa árvore – uma maldição que, seguindo a
Lei, é compatível com o Filho (no sentido de que Cristo foi feito uma maldição para
nós, mês certamente não o Pai); mas como, voce converte Cristo no Pai, voce também é
culpado de blasfêmia contra o Pai.

5 – Influências:

Tanto Michael Servetus quanto Emanuel Swedenborg têm sido interpretados como
sendo proponentes do Modalismo. Ambos descreveram deus como sendo “Uma Pessoa
Divina”, Jesus Cristo, que tem uma “alma Divina de Amor”, “Mente Divina de
Verdade” e “Corpo Divino de Atividade”.

Jesus, por um processo de união de sua forma humana com o divino, se tornou
inteiramente um com sua alma divina do Pai a ponto de não haver mais distinção de
personalidade.
487

6 – Pentecostais do Nome de Jesus:

Os pentecostais do nome de Jesus ensinam que o Pai (um ser divino) está unido com
Jesus (um homem) como o filho de Deus. Porém, há diferenças significativas com o
modalismo sabeliano, pois eles rejeitam o ssquencialismo modal e aceitam
completamente a crença de que a humanidade do Filho foi criada (e não é eterna), que
foi o homem Jesus que nasceu, foi crucificado e ressucitou.

Esta denominação cristã acredita portanto que o Cristo (Messias) foi “Filho” apenas
quando se tornou humano na terra (encarnando como o homem Jesus), mas que era o
Pai antes de ser feito homem. Eles se referem ao Pai como “Espírito” e ao Filho como
“carne”. Mas eles acreditam que Jesus e o Pai eram essencialmente uma pessoa
operando como diferentes “manifestações”. Eles rejeitam ainda a doutrina da Trindade
como sendo “pagã” e não prescrita na Bíblia e acreditam na “doutrina do Nome de
Jesus” no que diz respeito aos batismos. Eles são frequentemente referidos como
“Modalismo” ou “sabelianos” ou “Só Jesus”.

Porém, não é certo que Sabélio tenha ensinado um modalismo dispensacional ou


ensinando o que hoje é a doutrina do Pentecostalismo no Nome de Jesus uma vez que
todas as suas obras se perderam.

114 – SEISCENTISMO

1 – Introdução:

O Barroco foi uma escola literária desenvolvida no século XVII. Nesse período, o terror
provocado pela “Santa Inquisição” tenta limitar pensamentos e manifestações culturais
e impor austeridade.

Ora, convém compreender que, durante o Renascimento (movimento intelectual que no


século XV, incentivou a recuperação dos valores e modelos da Antiguidade greco-
romana), o ser humano cresceu em vários aspectos. Um desses aspectos foi pessoal,
libertando-se da ameaçadora fé medieval. A principal marca dessa libertação foi a
Reforma Protestante, liderada pelo monge Alemão Martinho Lutero, que rompeu com a
Igreja Católica ao afirmar a retidão e a santidade de todos aqueles que cressem
verdadeiramente. A Reforma Protestante atingiu diretamente a Igreja, que defendia a
redenção da alma humana tão somente pelo cumprimento dos preceitos católicos e
pagamentos de indulgências.

A Companhia de Jesus, fundada por Santo Inácio de Loyola durante o Concílio de


Trento, liderou a defesa e difusão do Catolicismo, como forma de combate ao
Protestantismo.
488

As escolas e universidades Jesuítas criaram um estilo próprio de arte e arquitetura:


ricamente ornamentadas por querubins e virgens celestiais, parecem tentar comover o
coração da mesma forma que o pregador buscava seduzir o intelecto. Nascia assim,
intimamente ligada ao espírito da reforma, a estética do rebuscamento, da filigrana, da
ornamentação, denominada de Barroco.

2 – Movimento Literário:

Como movimento cultural e artístico, o Barroco se estende do final de século XVI ate o
início do século XVIII. Tem origem na Itália, alcança vários países europeus e algumas
de suas colônias, como o Brasil.

Em virtude da oposição existente entre traços culturais do homem barroco, suas


manifestações artísticas e literárias são assinaladas pelas seguintes características:

a) Contraste: contraposição de temas, de assuntos, de motivos e de elementos


expressivos, tais como a oposição entre a vida terrestre e a vida eterna, espiritual
e a material;

b) Verbalismo: uso exagerado de imagens, de figuras de sintaxe, de metáforas


difíceis, floreios literários, tais como: “tronos do pudor”, para dizer “faces”,
“conselheiro das graças”, para significar “espelho”, “mobílias da boca”, em vez
de “dentadura”; “memória do dedo”, em vez de “anel”. E assim por diante;

c) Religiosidade: repetida a frequência de assuntos envolvendo toda uma


problemática religiosa de época;

d) Sensualismo: contrapõem à característica anterior; ênfase dada aos aspectos


táteis, visuais, sensitivo, tanto em relação à natureza como ao corpo humano;

e) Pessimismo: nascido da oposição frontal feita entre o corpo e a alma, entre o eu


e o mundo.

3 – Cultismo e Conceptismo:

Diante da realidade, o homem barroco tinha duas perguntas: como é? O que é? Da


resposta à primeira pergunta surgiu a corrente cultista, que procurava esgotar
descritivamente o ser em seu aspecto quer sensorial (cor, brilho, perfume, peso, forma)
quer afetivo (gosto, dá prazer, dá pesar etc.), utilizando para isso de inúmeras antíteses,
metáforas, jogos de palavras. Muitas vezes o resultado era um malabarismo formal com
pouco conteúdo. Tal corrente e chamada também de gôngora seu maior cultor. Contra o
489

cultismo e, respondendo à segunda pergunta, surgiu o conceptismo, que era uma atitude
de análise do ser, para a qual se empregavam os sacrifícios da lógica, como os
silogismos, dilemas etc. o cultismo foi predominante na poesia. O conceptismo, na
prosa e teve como indicador o poeta Quevedo, espanhol.

4 – Barroco em Portugal e no Brasil:

Para fins didáticos, o Barroco português vai de 1580 a 1756. O ano de 1580 e
significativo em dois aspectos: assinada a morte de Camões, o maior nome do
Classicismo português, e marca o fim da autonomia política de Portugal, pois, com a
morte de D. Sebastião, em 1578, o rei Felipe II, da Espanha, ganha o direito de subir ao
trono português. Portugal passa a fazer parte do reino espanhol.

O padre Antonio Vieira é o principal autor do Barroco em Portugal, mas também se


insere na literatura brasileira porque passou a maior parte de sua vida no Brasil.

Nos séculos XVII e XVIII, ainda não havia no Brasil condições para o desenvolvimento
de uma atividade literária propriamente dita. Nosso imenso território era, na maior parte
despovoado. A vida social brasileira girava em torno de alguns pequenos núcleos
urbanos e a vida cultural praticamente não existia. Só no século XIX começou a formar-
se um público leitor que possibilitou a continuidade da produção literária.

Em vista dessa precariedade cultural da sociedade brasileira, seria exageiro falar em


movimento barroco no Brasil. O que temos, na verdade, são alguns escritores que,
bebendo em fontes estrangeiras (geralmente autores portugueses e espanhóis),
produzem aqui textos com características barrocas. Desses autores merecem destaque
Gregório de Matos, por suas poesias e o padre Antônio Vieira, por seus sermões. Além
deles, temos Bento Teixeira (1561-1600), autor do poema “Prosopopéia”, de 1601, que
costuma ser considerado o marco inicial do Barroco brasileiro, e Manuel Botelho de
Oliveira (1636-1711), autor do livro “Música do Parnaso”.

115 – SETECENTISMO

Introdução:

Também conhecido como Arcadismo ou Neoclassicismo, é o movimento que


compreende a produção literária brasileira na segunda metade do século XVIII. O nome
faz referência à Arcádia, região do sul da Grécia que, por sua vez, foi nomeada em
referência ao semideus Arcas (filho de Zeus e Calisto).
490

1 – Histórico:

Denota-se logo de início, as referências à ontologia grega que perpassa o movimento.


Profundas mudanças no contexto histórico mundial caracterizam o período, tais como a
ascensão do Iluminismo, que pressupunha o Racionalismo, o progresso e as ciências.
Na América do Norte, ocorre a independência dos Estados Unidos, em 1776, abrindo
caminho para vários movimentos de independência ao longo de toda a América, como
foi o caso do Brasil, que presenciou inúmeras revoluções e inconfidências até chegada
da família real em 1808.

O movimento tem características reformistas, pois seu intuito era o de dar novos ares às
artes e ao ensino, aos hábitos e atitudes da época. A aristocracia em declínio viu sua
riqueza esvair-se e dar lugar a uma nova organização econômica liderada pelo
pensamento burguês.

Ao passo que os textos produzidos no período convencionado de Quinhentismo


sofreram influencia direta de Portugal e aqueles produzidos durante o Barroco, da
cultura espanhola, os do Arcadismo, por sua vez foram influenciados pela cultura
francesa devido aos acontecimentos movidos pela burguesia que sacudiram toda a
Europa e o mundo Ocidental.

Segundo o crítico Alfredo Bosi, em seu livro História Conciso da Literatura Brasileira
(São Paulo: Cultrix, 2006), houve dois movimentos do Arcadismo no Brasil:

a) Poético – retorno à tradição clássica com a utilização dos modelos, e valorização


da natureza mitologia;

b) Ideológica – influenciados pela filosofia presente no Iluminismo, que traduz a


crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.

Seus principais autores são Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Basílio
da Gama e Santa Rita Durão. No Brasil, o ano, convencionado para o início do
Arcadismo é 1768, quando houve a publicação de obras, do poeta Cláudio Manoel da
Costa.

2 – Arcádia Ultramarina:

Trata-se de uma sociedade literária fundada na cidade de Vila Rica (MG), influenciada
pela Arcádia Italiana (fundad em 1960) e cujos membros adotavam pseudônimos, isto é,
nomes artísticos, de pastores cantados na poesia grega ou latina.

Por isso, que alguns dos principais nomes do Arcadismo brasileiro publicavam suas
obras com nomes inspirados na mitologia grega e romana.
491

3 – Principais Características:

 Inspiração nos modelos clássicos greco-latinos e renascentistas, como por


exemplo, em “O Uruguai” (gênero épico), em Marília de Dirceu (gênero Lírico)
e em Cartas Chilenas (gênero satírico);
 Influencia da filosofia francesa;
 Mitologia pagã como elemento estético;
 O bom selvagem, expressão do filósofo Jean-Jaques Roussou, denota a pureza
dos nativos da terra fazem menção à natureza e à busca pela vida simples,
bucólica e pastoril;
 Tensão entre o burguês culto, da cidade, contra a aristocracia;
 Pastoralismo: poetas simples e humildes;
 Bucolismo: busca pelos valores da natureza;
 Nativismo: referencia à terra e ao mundo natural;
 Tom confessional;
 Estado de espírito de espontaneidade dos sentimentos;
 Exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza.

4 – termos em Latim:

O uso de expressões em latim era comum no Neoclassicismo. Elas estavam associadas


ao estilo de vida simples e bucólico.

Algumas delas:

 Inutilia Truncat = “cortar o inútil”, referencia aos excessos cometidos pelas


obras do barroco. No arcadismo, os poetas primavam pela simplicidade;
 Fugere Urbem = “fugir da cidade”, do escritor clássico Horácio;
 Locus Amoenus = “lugar ameno”, um refúgio ameno em detrimento dos centros
urbanos monárquicos;
 Carpe Diem = “aproveitar a vida”, o pastor, ciente da enfermidade do tempo,
convida sua amada a aproveitar o momento presente.

Cabe ressaltar, no entanto, que os membros da Arcádia eram todos burgueses e


habitantes dos centros urbanos.

Por isso, a eles são atribuídos um fingimento poético, isto é, a simulação do sentimento
fictício.
492

116 – SILOGISMO

Definição:

Argumento formado por três proposições (a maior, a menor e a conclusão), ou seja, a


Tese, a Antítese e a Síntese. De tal modo que a conclusão é deduzida da maior por
intermédio da menor.

117 – SIMBOLISMO

Conceito:

Surgido no fim do século XIX, o movimento se caracteriza pelo subjetivismo,


individualismo e misticismo.

O simbolismo rejeita a abordagem da realidade e a valorização do social feita pelo


realismo e pelo naturalismo.

O poeta francês Charles Baudelaire é considerado precursor com sua obra As Flores do
Mal, de 1857.

Nas artes plásticas, busca-se uma síntese entre a percepção dos sentidos e a reflexão
intelectual, como fez o austríaco Gustav Klimt. O belga Maurice Maeterlinck é o maior
nome do teatro simbolista.

Na literatura, destacam-se também os franceses Arthur Rimbaud e Stéphane Mallarmé.

118 – SIONISMO

Introdução:

Nome judaico de Jerusalém. Doutrina e movimento nacionalista judeu, que visavam o


restabelecimento do Estado de Israel na Palestina. Para entendermos o que é o Sionismo
precisamos conhecer os seguintes aspectos:

1 – Histórico:

a) Os Palestino Enfrentam Diáspora Há mais de 60 Anos;


493

A criação do Estado de Israel, em 1948, com a guerra em seguida (1948-1949), leva à


expulsão de cerca de 750 mil árabes muçulmanos que viviam na Palestina histórica.
Hoje, os refugiados palestinos somam 4,7 milhões de pessoas – o maior contingente do
mundo – e o seu direito de retorno a Israel ocupa lugar central nos conflitos do Oriente
Médio. Os sucessivos governos israelenses não aceitam discutir a questão, pois a volta
dos refugiados ameaça a maioria demográfica judaica em Israel.

O Acordo de Oslo (1993) dá início a negociações inéditas para a formação de um


Estado Palestino na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, áreas ocupadas por Israel na Guerra
dos Seis Dias (1967). Duas décadas depois, os palestinos possuem soberania limitada
nos territórios que administram e Israel mantém o controle sobre áreas destinadas aos
palestinos. O domínio de Israel sobre Gaza e Cisjordânia contraria a resolução 242 da
ONU (1967), que determina a sua devolução incondicional. Mas Israel não a cumpre e
afirma que qualquer solução para o conflito tem de resultar de um acordo de paz no qual
seja reconhecido o seu direito de existencia. O país tem na ONU o apoio do EUA, que
ameaçam vetar qualquer resolução contra Israel.

b) Surge a OLP;

A resistencia palestina ao domínio de Israel se organiza com a fundação do exílio da


Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em 1964, mais tarde presidida por
Yasser Arafat. A OLP representa o conjunto dos palestinos – incluindo a diáspora – e
congrega diversos grupos, entre os quais o Fatah, liderado por Arafat. Seu objetivo é
criar um Estado único em toda a Palestina. A luta se intensifica quando a OLP passa a
atacar Israel a partir de bases no sul do Líbano, em 1970. Em 1982, Israel invade o
território Libanês, e o quartel-general da OLP se transfere para a Tunísia. Em 1987
eclode a rebelião palestina – a Intifada – reprimida pelo Exército israelenses.

c) Acordo de Oslo;

Arafat passa à ofensiva diplomática – renuncia ao terrorismo como forma de luta e


reconhece a existencia de Israel. No Acordo de Oslo, de 1993, Israel e OLP assinam
declaração que prevê a devolução de territórios Palestinos. Após os acordos de Oslo I e
Oslo II (1994 e 1995), os palestinos conquistam relativa autonomia na maioria da Faixa
de Gaza e em parte da Cisjordânia e o direito a eleger um administração própria. Em
1996, Arafat é eleito presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP).

d) Ocupação da Cisjordânia;

O processo de paz estanca com o debati sobre temas centrais – o destino dos refugiados,
o futuro de Jerusalém Oriental, onde os palestinso querem instalar a sua capital e os
assentamentos judaicos. O impasse provoca a segunda intifada, em 2000, e o aumento
dos atentados contra Israel, que reage com ataque militar na Cisjordânia. Arafat é
sitiado em Ramallah, em 2002, e as cidades palestinas são reocupadas. Arafat morre em
2004, e o moderado Mahmoud Abbas é eleito presidente da ANP em 2005.
494

Em 2002, Israel começa a construção de um muro na Cisjordânia. A justificativa é


impedir a entrada de terroristas, mas, na prática, Israel incorpora terras palestinas e
impede a livre circulação dos palestinos – bairros e vilas ficam isolados por paredes de
concreto. Em 2004, a ONU e a Corte internacional de Justiça (CIJ) condenam a
construção do muro, mas Israel prossegue com as obras.

e) Vitoria do Hamas;

O principal grupo opositor do Fatah é o Hamas, criado em 1987, e que mantém a luta
armada pela destruição de Israel. Nas eleições da ANP, em 2006, o Hamas conquista a
maioria dos assuntos do Parlamento. A desilusão com o processo de paz e a corrupção
no governo da ANP explica a derrota do Fatah. Os palestinos também se voltam para o
Hamas porque o grupo sustenta uma vasta rede assistencialista com o suporte do Irã e
da Síria.

f) Cisão dos Palestinos:

Os atritos entre o Hamas e o Fatah na escolha do primeiro-ministro degeneram em


confrontos armados. Em junho de 2007, o Hamas passa a controlar a Faixa de Gaza,
expulsando dali o Fatah, que continua no controle das áreas palestina autônomas da
Cisjordânia.

O governo da ANP na Cisjordânia é reconhecido pelo Quarteto – EUA, União Europeia


(EU), ONU e Rússia – e por Israel, que fornecem ajuda para as instituições de Estado.
abbas e o premiê israelense, Ehud Olmert, chegam perto de um acordo em 2008, mas as
negociações estancam no governo de Netanyahu e só são retomadas em 2013.

g) Gaza Isolada;

O quarteto e Israel não aceitam o governo do Hamas, considerado um grupo terrorista.


Em 2007, Israel decreta o bloqueio de Gaza, proibindo a circulação de bens e pessoas
para dentro e para fora do território, por terra e por mar. O Egito também fecha a
fronteira. Israel alega que o bloqueio impede a entrada em Gaza de armas e militantes
islâmicos que disparam foguetes contra o seu território. No fim de 200, Israel lança
ofensiva aérea e terrestre em Gaza para eliminar a “infraestrutura do terror”. Os ataques
matam 1,4 mil palestinos, arrasam a infraestrutura econômica e provocam grave crise
humanitária. A população depende de ajuda externa e dos produtos que chegam do
Egito por túneis clandestinos.

h) Turquia;

Em 2010, o ataque de Israel a uma flotilha turca que levava ajuda humanitária a Gaza
chama a atenção para a situação do território. Com a pressão internacional pelo fim do
bloqueio, Israel passa a permitir a entrada de bens de consumo básicos em Gaza.
495

i) Reconciliação;

Israel e Hamas trocam prisioneiros em 2011. O soldado israelense Gilad Shalit e 1.027
palestinos são libertados. Hamas e Fatah assinam um acordo de reconciliação em maio
de 2011 que prevê a formação de um governo de união, mas, até 2013, não há
entendimento sobre a divisão de cargos no ministério.

j) Nova Guerra;

Em novembro de 2012, um ataque de Israel mata o chefe militar do Hamas dispara 1,5
mil projéteis contra Israel, incluindo alguns mísseis de médio alcance iranianos, que
atingem pela primeira vez os subúrbios de Telaviv e Jerusalém. Israel, por sua vez,
defende-se com um eficiente estudo antimíssil. O cessar fogo entre Israel e o Hamas é
assinado no fim do mês, sob mediação dos EUA e do presidente egípcio, Mohammed
Mursi. Morrem cerca de 160 palestinos e seis israelenses.

Após os confrontos Khaled Mashal, o líder do Hamas exilado no Egito, visita Gaza pela
primeira vez e afirma que o grupo jamais reconhecerá Israel. Durante o ataque
israelense a Gaza, o Egito, a Turquia e Catar enviam seus ministros ao território para
demonstrar seu apoio ao Hamas – um fato inédito.

k) Estado Observador;

Em 2011 Abbas inicia uma ofensiva diplomática pelo reconhecimento internacional da


Palestina. Israel e EUA se opõem afirmando que a criação do Estado palestino só virá
por meio de negociações diretas. Em setembro, Abbas solicita a adesão da Palestina
como membro pleno da ONU, mas não consegue a aprovação mínima de nove dos 15
membros do Conselho de Segurança (CS) para ir à votação. Em novembro, a palestina é
aceita como membro pleno da UNESCO. Em represália, Israel suspende o repasse de
imposto à ANP e acelera a construção de duas mil casas nos assentamentos.

Após a derrota no CS, Abbas submete à Assembleia Geral da ONU, em novembro de


2012, a elevação do status da Palestina de “entidade observadora não membro” para
“Estado observador não membro”. O processo, que não depende do aval do CS, é
aprovado por 138 dos 193 países membros. O novo status amplia a chance da Palestina
de ingressar em outras agências da ONU e na CIJ – onde poderia processar Israel. Além
disso, dá a Abbas a condição simbólica de presidente de um “Estado”. Netanyahu retalia
a ANP, suspendendo o repasse de impostos e anunciando mais três mil residências na
Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. A decisão mais polêmica é a construção de um
assentamento numa área sensível, chamada E-1, que conecta Jerusalém Oriental à
Cisjordânia. Se o projeto seguir adiante, os palestinos ficariam com um Estado dividido
na Cisjordânia.

l) Fatan;

Em abril de 2013, o primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad, renuncia ao cargo, após


divergências políticas com o Fatah e em meio à desaceleração da economia no território.
496

Ele é substituído pelo acadêmico Rami Hamdallah. No mesmo mês, Khaled Marshal é
reeleito para o comando do Hamas.

m) Arafat.

Em novembro, após exames nos restos mortais de Arafat, uma equipe forense suíça
informa terem sido encontrados altos níveis de polônio radioativo no corpo,
aumentando a suspeita de que ele tenha sido envenenado. Autoridades palestinas
acusam Israel e pedem a abertura de uma investigação internacional sobre o caso – o
governo israelense nega envolvimento. Em contrapartida, uma equipe forense francesa
que analisou amostras do corpo exumado de Arafat não vê indícios de envenenamento.

2 – O que foi o Sionismo?

O atual Estado de Israel tem sua origem no sionismo (de Sion, colina da antiga
Jerusalém), movimento surgido na Europa no século XIX. Seu ideólogo, Theodor Herzl,
organiza , em 1897, em Basileia, na Suíça, o primeiro congresso sionista, pela formação
de um Estado judaico. Colonos judeu da Europa Central e Oriental, onde o
antissemitismo (preconceito contra os judeus) e mais intenso, instalam-se na Palestina,
de população majoritariamente árabe. Em 1909, cria o primeiro kibutz, colônia agrícola
de inspiração socialista.

A Palestina é ocupada pelo Reino Unido no fim da I Guerra Mundial. Em 1917, o


chanceler britânico Arthur Balfour declara apoio a um lar nacional para os judeus na
região, sob a condição de ver respeitados os direitos das comunidades não judaicas. O
governo britânico promete aos árabes um grande Estado independente, que jamais é
criado. Três anos depois, o Reino Unido recebe um mandato da Liga das Nações para
administrar à Palestina. Líderes árabes consideram-se traídos pelos britânicos e
ameaçados pelo sionismo.

A perseguição aos judeus pelo regime nazista de Adolf Hitler, a partir de 1933,
intensificou a migração para a Palestina. Em 1929 e em 1936 ocorrem violentos
distúrbios entre árabes e judeus.

3 – Partilha da Palestina

O apoio internacional à criação de um Estado judaico aumenta, depois da II Guerra


Mundial, ao ser revelado o massacre de cerca de 6 milhões de judeus nos campos de
extermínio nazistas, o Holocausto. Encerrado o conflito, os britânicos delegam à
Organização das Nações Unidas (ONU) a tarefa de solucionar os problemas da região.
A ONU aprova, em 1947, a divisão da Palestina em dois Estados – um para os judeus,
outro para os árabes, que rejeitam o plano.

Em 14 de maio de 1948, é criado o Estado de Israel, com David Bem-Gurion como


primeiro-ministro. Cinco países árabes enviam tropas para impedir sua fundação. A
497

guerra termina em janeiro de 1949, com a vitória de Israel. Cerca de 750 mil palestinos
se refugiam na Cisplatina, em Gaza ou nos países árabes. Em seguida, o Egito,
incorpora a Faixa de Gaza; a Jordânia recebe Jerusalém Oriental e Cisjordânia.

Os Palestinos ficam sem território. O Estado árabe-palestino, previsto pela ONU, não é
proclamado, e os israelenses passam a controlar 75% do território da Palestina. A
economia floresce com o apoio estrangeiro e remessas particulares de dinheiro. Em
1956, Israel aproveita a crise do Canal de Suez e se alia à França e ao Reino Unido para
atacar o Egito na Península do Sinai e na Faixa de Gaza. Por intervenção da ONU e sob
pressão dos EUA e da União Soviética (URSS), as tropas israelenses retiram-se da
região.

4 – Guerra dos Seis Dias

Diante da aliança militar entre Egito, Síria e Jordânia – com o apoio da URSS – Israel,
fortemente armado pelos EUA, ataca os três países em 5 de junho de 1967. O episódio,
conhecido como Guerra dos Seis Dias, termina em 10 de junho com a vitória israelense
e a conquista do Sinai, da Faixa de Gaza, da Cisjordânia, das colinas de Golã (na Síria)
e da zona oriental de Jerusalém. Resoluções da ONU determinam a devolução das áreas
ocupadas, mas Israel exige que os países árabes reconheçam sua existência. Jerusalém
Oriental é anexada em 1980.

5 – Guerra do Yom Kippur

Nova guerra eclode em, 6 de outubro de 1973, feriado judaico do Yom Kippur (dia do
Perdão). Num ataque surpresa, tropas do Egito e da Síria avançam sobre o Sinai e Golã
para reconquistar os territórios perdidos em 1967, mas são repelidas. O conflito se
estende por 19 dias e não provoca alterações territoriais. Os árabes utilizam o petróleo
como arma na guerra: boicotam seu fornecimento às nações que apoiam Israel e reduz a
produção, o que provoca escassez mundial e aumento dos preços.

6 – Fim da Era Trabalhista

Em 1977, a coligação liderada pelo partido direitista Likud ganha as eleições em Israel,
depois de 30 anos de hegemonia do Partido Trabalhista. O primeiro-ministro Menahem
Begin expande as colônias israelenses nos territórios árabes ocupados em 1967. No
mesmo ano, o presidente egípcio Anuar Sadat visita Jerusalém, o que abre caminho para
os acordos de Camp David (1978-1979), mediados pelos EUA, mas repudiados pelos
países árabes. O Sinai é devolvido ao Egito em 1982. O governo do Likud inicia a
desestatização e enfraquece a participação de membros do kibutz, que são a base de
apoio do Partido Trabalhista.
498

Em 1982, o Exército israelense invade o Líbano e cerca a capital, Beirute, para destruir
o quartel-general da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), chefiada por
Yasser Arafat. Sua sede é transferida para a Tunísia. A milícia fundamentalista islâmica
Hezbollah passa a combater Israel a partir de bases no sul do Líbano em 1985.

7 – Intifada:

Em 1984, os trabalhistas retornam ao poder sob a liderança de Shimon Peres. Sem a


maioria absoluta, formam coalizão com a direita, cedendo a Yitzhak Shamir, do likud, o
cargo de primeiro-ministro. Em 1987, Israel reprime com violência a rebelião palestina
nos territórios ocupados, conhecida como Intifada (“levante”, em árabe). Nos anos
1990, Israel incentiva a chegada de cerca de 1 milhão de imigrantes judeus saído da
antiga URSS. O país investe em habitação e na criação de empregos.

8 – Acordos de Oslo:

Em 1992, os trabalhistas vencem as eleições, Yitzhak Rabin assume o governo, e


começam negociações inéditas de paz. De 1993 a 1995, Rabin e Arafat assinam os
Acordos de Oslo, que preveem a criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP).

O processo de paz acentua divisões na sociedade israelense. Grupos ultranacionalistas e


radicais ortodoxos se opõem à devolução de territórios aos palestinos. Em 4 de
novembro de 1995, Rabin é assassinado por um extremista judeu, Yigal Amir. O
chanceler Shimon Peres, arquiteto do plano de paz, assume o governo. Nas eleições de
1996, ele perde o cargo de primeiro-ministro para o novo líder do Likud, Benyamin
Betabyahu, que reinicia a colonização judaica na Cisjordânia.

O partido Trabalhista vence as eleições de 1999 e seu líder, Ehud Barak, assume o cargo
de primeiro-ministro. Novas retiradas militares na Cisjordânia, previstas no acordo de
Wye Plantation (1998), estendem-se até março de 2000. Em maio, Israel deixa o sul do
Líbano, exceto área conhecida como fazendas de Shabaa (que a ONU afirma ser da
Síria).

9 – Fracasso de Camp David:

As negociações de Camp David (EUA), em 2000, terminam sem um acordo. São


discutidos temas difíceis, como o retorno a Israel dos refugiados palestinos (são quase
4,7 milhões atualmente) e a devolução integral da Cisjordânia. Cerca de 350 mil judeus
vivem na Cisjordânia em meio a 2,6 milhões de palestinos (dado de 2012).

Outro tema espinhoso é Jerusalém. Desde 1967, Israel instalam colônias judaicas no
setor oriental para justificar uma soberania sobre a área, hoje habitada por cerca de 200
mil judeus. Barak apresenta nova proposta: soberania palestina sobre toda a faixa de
499

Gaza e 90% da Cisjordânia. Arafat rejeita a proposta por não contemplar a entrega de
Jerusalém Oriental e o direito de retorno dos refugiados a Israel.

10 – Nova Intifada:

Em setembro de 2000, começa a nova Intifada. Seu estopim é uma caminhada do líder
do Likud, Ariel Sharon, pela Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, local sagrado
para os muçulmanos. O levante passa a ações armadas e ataques suicidas, Barak
suspende as negociações de paz. Ele perde a maioria no Parlamento e convoca eleições
apenas para primeiro-ministro.

11 – Ofensiva na Cisjordânia:

Sharon vence Barak nas urnas em 2001 e suspende as negociações com a ANP.
Organizações como o Hamas e a Jihad Islâmico desencadeiam ataques suicidas que
matam dezenas de civis israelenses. Em resposta, Israel lança ofensiva militar contra
cidades da Cisjordânia, em 2002, e ordena a construção de um muro no território para
separar judeus e árabes. Em 2003, o Quarteto – grupo diplomático formado por EUA,
União Europeia (EU), ONU e Rússia – propõe sem sucesso a criação do Estado
Palestino até 2005.

12 – Retirada de Gaza:

Sharon finaliza, em 2005, a retirada unilateral da Faixa de Gaza. Além de serem


menores e menos prósperos, os 8,5 mil colonos judeus de Gaza viviam em tensão
constante com o 1,3 milhão de palestino. A medida é vista como um meio de consolidar
os assentamentos israelenses na Cisjordânia – área muito maior, com mais recursos
naturais e maior importância para os judeus religiosos. Com a saída de Gaza, Sharon
perde o apoio do Likud e funda um novo partido de centro, o Kadima.

Em janeiro de 2006, Sharon sofre um derrame que o deixa em estado de coma. Ele é
substituído por seu vice, Ehud Olmert. Nas eleições de março, o Kadima vence e forma
uma coalizão com os trabalhistas. Olmert se mantém como premiê.

13 – Ataque ao Líbano:

Em julho de 2006, Israel ataca o Líbano, em represália ao sequestro de dois soldados e à


morte de outros oito, por parte do grupo xiita libanês Hezbollah. O conflito termina em
agosto, com pelo menos 1,2 mil libaneses e 150 israelenses mortos. Em junho de 2007,
ocorre a cisão política no movimento palestino, entre o Hamas, que controla a Faixa de
Gaza, e o Fatah, que domina a ANP, na Cisjordânia. Israel decreta um bloqueio à Faixa
500

de Gaza e passa a colaborar com o governo da ANP. Ainda em junho, Shimon Peres,
ex-trabalhista que aderiu ao Kadima, é eleito presidente.

14 – Annapolis:

Em novembro, Olmert e Mohmoud Abbas, presidentes da ANP participam de


conferencia em Annapolis (EUA). Os dois lados teriam concordado, em linhas gerais,
com um Estado palestino sem Forças Armadas, porém com uma polícia forte; uma força
internacional para patrulhar a fronteira com a Jordânia; a soberania palestina na maior
parte da Cisjordânia; a divisão de Jerusalém Oriental em uma área palestina e uma
judaica; o patrulhamento internacional da cidade velha e sua administração por um
comitê conjunto, e o retorno de um número simbólico de refugiados a Israel. Mas o
acordo não é finalizado. Documentos secretos da ANP dessas negociações são
divulgados em 2011 e aprofundam a cisão entre o Fatah e o Hamas devido às
concessões feitas por Abbas.

Com a popularidade em baixa por causa de acusações de corrupção e de erros na guerra


contra o Líbano, Olmert renuncia em setembro de 2008. Entre dezembro e janeiro de
2009, Israel realiza ofensiva aérea e terrestre na Faixa de Gaza. Em reação, Abbas
interrompe o diálogo de paz com Israel.

15 – Netanyahu:

Nas eleições de fevereiro de 2009, nenhum partido obtém maioria parlamentar. O líder
Likud, Benyamin Netanyahu, costura uma aliança entre partidos de direita e o
Trabalhista e volta ao cargo de primeiro-ministro. Netanyahu apoia a política dos “dois
Estados” (um judeu e outro palestino) negociada nos Acordos de Oslo. O Estado
palestino deve ser desmilitarizado, reconhecer Israel como um Estado Judeu e Jerusalém
como a sua capital indivisível. O retorno dos refugiados deve ser resolvido fora das
fronteiras israelenses. A liderança palestina considera a proposta inaceitável.

16 – Assentamentos:

Netanyahu impulsiona a construção de assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém


Oriental. A expansão é proibida por leis internacionais – as quais Israel não aceita.
Abbas declara que só retornará o diálogo com Israel quando as obras forem
interrompidas. Sob pressão dos EUA, que lideram os esforços para reavivar o processo
de paz, Netanyahu anuncia, em novembro de 2009, uma moratória de dez meses na
construção de novos assentamentos na Cisjordânia – mas dá continuidade às obras em
Jerusalém Oriental. No início de setembro de 2010, um encontro entre Netanyahu e
Abbas em Washington, nas primeiras conversações diretas desde 2008, não avança, pois
501

Israel recomeça as construções na Cisjordânia. O impasse leva Abbas a iniciar uma


campanha diplomática pelo reconhecimento internacional do Estado palestino.

17 – Fatos Recentes:

O presidente dos EUA, Barack Obama, lança novo esforço para reavivar o processo de
paz. Em discurso sobre o Oriente Médio, em maio, ele reafirma o apoio a um Estado
palestino independente e ressalta que as fronteiras anteriores a 1967 devem ser à base
das negociações – com troca de terras dos dois lados da fronteira, para acomodar em
Israel uma parte das colônias judaicas da Cisjordânia. Netanyahu responde que as
fronteiras de 1967 são “indefensáveis”.

18 – Península do Sinai:

O evento de maior impacto para Israel na onda de revoltas da Primavera Árabe é a


queda da ditadura de Hosni Mubarak no Egito, em fevereiro de 2011, Israel perde seu
grande aliado no mundo árabe e preocupa-se com o futuro do Acordo de camp David. A
deterioração da segurança na Palestina do Sinai, onde extremistas islâmicos ampliam as
ações armadas, gera crise entre os vizinhos.

19 – Crise com a Turquia:

A Turquia, outro pilar da segurança de Israel no Oriente Médio, também se distancia de


Israel desde o ataque à flotilha turca, em maio de 2010, que levava ajuda humanitária à
Faixa de Gaza. Nove ativistas turcos morrem na ação das forças israelenses. Diante da
recusa de Israel em pedir desculpas formais, a Turquia expulsa o embaixador israelense
e rompe a cooperação comercial e militar.

20 – Cerco aos Ilegais:

Em janeiro de 1012, o Parlamento autoriza a polícia a prender os imigrantes ilegais –


Israel estima que cerca de 50 mil africanos tenham entrado clandestinamente no país
pelo Sinai. Para conter a imigração e reforçar sua segurança, Israel conclui em 2013 a
maior parte de uma cerca na fronteira com o Egito. Segundo o governo, a barreira
reduziu 99% à entrada de imigrantes ilegais africanos.
502

21 – Relações com o Egito:

A chegada da Irmandade Muçulmana ao poder no Egito em 2012 causa grande


apreensão por Israel. O grupo sempre defendeu a anulação de Camp Devid, mas o
presidente Mohammed Mursi, eleito em junho, reitera o compromisso do Egito com o
tratado. Sua deposição do poder pelos militares, em julho de 2013, e a crise do Egito
agravam a situação de instabilidade no Sinai.

22 – Tensão com o Irã:

A posição ao programa nuclear iraniano é uma prioridade da política externa de Israel,


por ser considerada uma ameaça bélica real ao país. Nos primeiros meses de 2012, o
governo israelense ameaça atacar as instalações nucleares do Irã, mas sofre oposição
interna de líderes militares que ressaltam o risco de uma guerra regional. Em setembro,
Netanyahu afirma na Assembleia Geral da ONU que o Irã terá urânio suficiente para
uma bomba em meados de 2013 e cobra da comunidade internacional e dos EUA, em
particular, uma “linha vermelha” para um ataque ao país.

23 – Conflito em Gaza:

Israel lança em novembro de 2012 a Operação “pilar de Defesa” na Faixa de Gaza, com
o objetivo oficial de proteger civis israelenses dos recentes ataques com foguetes vindos
do enclave e debilitar a infraestrutura militar do Hamas. É a maior ofensiva em Gaza
desde 2009. De acordo com Israel, o sistema antimíssil Domo de Ferro, em fase de
testes, intercepta durante o conflito mais de 90% dos foguetes vindo de Gaza.

24 – Palestina na ONU:

Na 66ª. Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro de 2011, a maioria dos
países apoia a solicitação de Abbas para que a Palestina se torne um membro pleno do
organismo, mas a questão não chega a ser analisada pela principal instância, o Conselho
de Segurança, no qual os EUA, aliados de Israel, têm poder de veto. Em novembro,
Israel declara que vai acelerar a construção de duas mil moradias em Jerusalém Oriental
e na Cisjordânia depois que a Palestina é aceita como membro pleno da Unesco.

Abbas obtém importante vitória simbólica em sua ofensiva diplomática em novembro


de 2012. A Assembleia Geral da ONU aprova resolução que eleva o status da Palestina
para “Estado observador não membro”. Em retaliação, Netanyahu anuncia a construção
de novos assentamentos. A medida é condenada com veemência pela comunidade
internacional, incluindo os EUA.
503

25 – Direitos Humanos:

Em janeiro de 2013, Israel se torna o primeiro país a não cumprir uma determinação de
caráter obrigatório do Conselho de Direitos Humanos da ONU. O órgão afirma que o
governo Netanyahu consolidou a expansão dos assentamentos judaicos em áreas
palestinas e enfatiza que a transferência de israelenses para território ocupado viola a lei
humanitária internacional. Israel rejeita o relatório.

26 – Novo Parlamento:

No mesmo mês são realizadas eleições gerais antecipadas – a coalizão governista havia
sido desfeita por não conseguir aprovar o orçamento em outubro de 2012. O resultado
mostra um Parlamento fragmentado em 12 partidos e acentua a divisão do país entre
laicos e religiosos. A coligação Likud/Israel Beytenu, de Netanyahu, é a mais votada,
mas só conquista 23,4% dos votos. O segundo colocado é o recém-criado partido laico
Yesh Atid (14,3%), que pleiteia a retomada das conversações de paz com os palestinos,
vidndo a segui os Trabalhistas (11.4%) e o religioso-ultranacionalista Lar judaico
(9,1%), defensor da expansão das colônias nos territórios ocupados. Netanyahu forma
uma coalizão de governo com o Yesh Atid, Lar Judaico, Kadima e Hatnua, e inicia o
novo governo em março.

27 – Guerra na Síria:

Com o aprofundamento da guerra civil na Síria e a participação de militantes do


Hezbollah em apoio ao governo sírio, Israel passa a realizar ataques aéreos esporádicos
no país contra alvos ligados ao grupo libanês. A Força Aérea israelense bombardeia em
2013, em várias ocasiões, depósitos e veículos com armas que, segundo fontes militares
de Israel, seriam enviadas pelo Irã ao Hezbollah.

28 – Confrontos:

Em fevereiro, manifestantes na Cisjordânia exigem a libertação de quatro palestinos em


greve de fome em prisões israelenses, detidos sem acusação formal. A morte de um
palestino num presídio israelense no mesmo mês desencadeia confrontos com soldados
na Cisjordânia. Um palestino é morto por um militar israelense e mais de 60 ficam
feridos. Durante o ano, em abril, agosto e outubro, Israel bombardeia Gaza em
retaliação ao lançamento de foguetes a partir do território Palestino.
504

29 – Turquia:

Em março, após mediação do governo norte-americano, Netanyahu pede desculpas por


“erros que Israel possa ter cometido” na abordagem do navio turco em 2010 e concorda
em compensar as vitimas. Os dois países iniciam o diálogo para normalizar as relações
diplomáticas.

30 – Processo de Paz:

Palestino e israelenses reiniciam em julho conversações de paz, sob a mediação do


secretário de Estado dos EUA, John Kerry. Como “gesto de boa vontade”, Israel
anuncia a libertação em etapas de 104 prisioneiros palestinos, a maioria detida há mais
de 20 anos.

No entanto, o diálogo pouco avança. Netanyahu exige previamente o reconhecimento de


Israel como Estado judaico enquanto os palestinos querem que a definição de fronteiras
seja questão prioritária.

Em novembro, após protestos de palestinos em meio ao processo de paz, Netanyahu


ordena a suspensão dos planos de construir 20 mil casas em assentamentos judaicos na
Cisjordânia.

31 – Acordo Nuclear:

Em novembro de 2013, o Irã assina um acordo para reduzir suas atividades nucleares
com as seis grandes potências, o que desagrada ao governo israelense. Netanyahu
chama o pacto de “um erro histórico” e afirma que o Irã deu mais um passo para obter
armas atômicas

119 – SIQUISMO

Introdução:

Dissidência do hinduísmo, a religião monoteísta é criada no século XV, pelo guru


Nanak (1469-1539), na Índia. Seus membros são conhecidos como silkhs.

No decorrer de dois séculos, Nanak é sucedido por outros nove gurus, considerados
reencarnações do mesmo espírito. Após a morte do último guru, o espírito passa a
habitar o livro sagrado, o Granth Sahib.
505

120 – SOCIALISMO
(veja tópicos 6, 66 e 67 sobre anarquismo, liberalismo e marxismo).

1 – Introdução:

a) O que é sociologia?

Segundo um dos críticos da sociologia, de nome Anthony Giddens diz: que a sociologia
muitas vezes diz que ela trata do que todo mundo sabe em uma linguagem que ninguém
entende. Porque se diz que a sociologia trata do que todo mundo sabe?

A sociologia se debruça sobre fenômenos sociais que nos afetam em nosso dia a dia.
Esses fenômenos muitas vezes nos provocam indagações. Por que a vida em sociedade
é como é? Por que uns têm tanto e outros tão pouco? Por que obedecemos ou
contestamos? Por que as pessoas se unem ou se tornam rivais? O que nos é proibido e o
que nos é imposto como obrigação? Por que os governos se organizam de uma forma e
não de outra? Essa e outra questão voltam e meia nos intriga, mesmo que não falemos
delas refletidamente. Quando, por exemplo, simplesmente “trocamos uma ideia” com
um amigo ou colegas é capaz de expressar nossa opinião sobre qualquer tema. Portanto,
nós fazemos as mesmas perguntas que a sociologia faz e identificamos os problemas
nelas envolvidos. Nesse sentido, sabemos aquilo de que a sociologia trata. Mas será que
a sociologia usa mesmo uma linguagem que ninguém entende?

Sem dúvida, a sociologia trata de questões que reconhecemos, mas com uma linguagem
própria, diferente daquelas que costumamos usar na vida cotidiana. Ela emprega uma
maneira de falar e de escrever distinta da que utilizamos para emitir nossas opiniões
pessoais. É que a sociologia se expressa por meio de conceitos, ou seja, noções
formuladas de modo deliberado e preciso, e não por meio de noções do senso comum,
ou seja, ideias recebidas e comumente admitidas como verdades.

A sociologia nos ajuda a refletir sobre as certezas que temos, e põe nos sob observação,
de nossas opiniões mais arraigadas. É um campo do conhecimento que modifica nossa
percepção sobre o que vivemos em nossa rotina e assim contribui para alterar a maneira
de vermos nossa própria vida e o mundo que nos cerca. Refletindo sobre a crítica feita
por Anthony Giddens, podemos entender que ele nos mostra que a sociologia trata
daquilo que já sabemos de maneira que não conhecíamos antes.

2 – Crítica ao Estado Burguês: teorias socialistas

2.1 – O que é socialismo?


506

Segundo o dicionário da Língua Portuguesa Larousse afirma: socialismo é conjunto das


doutrinas que propõe igualdade social pela transformação das relações de propriedade;
sistema político que adota essas doutrinas.

“Todo homem tem igual direito à satisfação das suas necessidades e ao usufruto de
todos os bens da natureza, e a sociedade deve consolidar esta igualdade.” (Babeuf).

Que movimentos percussores do socialismo aparecem antes do século XIX?

No século XVI, autores com Thomas More (Utopia) e Campanella (cidade do sol)
imaginam uma sociedade de iguais.

No século XVII, na Inglaterra, o movimento dos niveladores (levellers), representado


por artífices e pequenos proprietários pertencentes, sobretudo ao exército de Cromwell –
reivindica não propriamente a igualdade econômica, mas o direito a qualquer cidadão de
participar da lei por intermédio de seus representantes.

Na França no século XVIII, a grande massa do povo que assegurou o êxito da


Revolução Francesa acha-se frustrada diante da pretensão da burguesia de exercer
sozinha o poder. Surge, então a primeira expressão francesa de uma ideologia
comunista, a de Graechus Bebeuf, revolucionário que pretendia derrubar o governo do
Diretório e por isso foi executado.

A igualdade é o princípio fundamental do babovismo, e o manifesto dos iguais é a


denúncia do fosso que separa a igualdade formal – exaltada nas palavras de ordem da
Revolução: “Liberdade, igualdade, fraternidade” – e a inexistente igualdade real.
Levando às últimas consequências a reivindicação de igualdade, o babovismo coloca a
questão, pela primeira vez, no terreno social.

2.2 – As Ideias Socialistas

2.2.1 – O que vem a ser a Crítica ao Estado Burguês?

A crítica à desigualdade continuará mobilizando teóricos e ativistas, no século XIX,


período em que as condições econômicas criam situação social jamais vista até então,
decorrente da expansão da economia, da passagem à grande indústria e ao capitalismo
de monopólio e do nascimento das organizações do proletariado.

As alterações vinham ocorrendo desde o século anterior, quando a Revolução Industrial


implantou o maquinismo, acelerando o processo de privatização dos meios de
produção, o confinamento do operário nas fábricas e seu consequente assalariamento.
Configura-se então, em todos os seus contornos, a nova classe do “proletariado”,
submetido ao sistema hierárquico fabril e ao trabalho manual separado do trabalho
intelectual.

As cidades incham com a massa de trabalhadores mal acomodados em moradias


precárias e recebendo baixos salários em fabricas insalubres. A miséria, a jornada de
507

trabalho excessiva e a exploração da mão de obra infantil configuram um estado de


injustiça social gerador de protestos e anseios de mudança.

Já vimos que mesmo a teoria liberal precisou mudar adaptando suas ideias às novas
aspirações, como nos revela o pensamento de Stuart Mill. Mas, as convicções
burguesas são postas à prova pelas teorias socialistas e comunistas matizadas nas mais
diversas interpretações da situação vivida naquele momento e com diferentes propostas
de mudança, desde as reformistas até as revolucionárias.

As críticas ao Liberalismo resultam da constatação de que a livre concorrência não


trouxe o equilíbrio prometido, ao contrário, instaurou uma “ordem” injusta e imoral.
Além disso, se o Liberalismo clássico enfatizou a liberdade individual, as novas teorias
exigem a igualdade, não apenas formal, mas real e contrapõe ao individualismo e o
socialismo, palavra que deve ter sido inventada na década de 30 do século XIX.

À hierarquia das fábricas os operários contrapõem as organizações que negam o


paternalismo e desenvolvem a luta para a formação da consciência de classe e
emancipação do proletariado. Sindicatos, Conselhos, Operários, Comissões de Fábrica,
Comitês de Greve, jornais operários agitam o ambiente social e Político e desencadeiam
movimentos de reivindicação.

Em 1864 é fundada em Londres a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT),


que estimulou a realização de congressos em diversos países visando à luta pelos
interesses da classe operária. De formação pluralista, a primeira internacional teve a
atuação de gente como Marx, Bakunin, Proudhon, Blanqui (os partidários deste último
instauraram a comuna de Paris em 1871).

O que há de comum entre os socialistas utópicos?

3 – Socialismo Utópico

3.1 – O que é Socialismo Utópico?

As teorias que aparem no século XIX são classificadas por Marx e Engels como
socialismo utópico. A elas irão contrapor o socialismo científico sem, contudo, negar a
importância precursora daqueles movimentos.

Na França destacam-se Saint-Simon (1760 – 1825), Fourier (1772 – 1837) e Proudhon


(1809 – 1865), cujas obras são as mais originais, sem desconsiderar a importância de
Louis Blanc (1881 – 1882) e Auguste Blanqui (1805 – 1881). Na Grã-Bretanha é
representativo trabalho de Owen (1771 – 1858).

Na época em que os socialistas franceses escrevem a França ainda não experimentara a


grande febre de industrialização, que só ocorrerá durante o segundo Império, na segunda
metade do século XIX.
508

O socialismo britânico, porém, já testemunhava o terrível espetáculo decorrente do


recrudescimento da Revolução Industrial a que já nos referimos. Aliás, foi lá que Marx
viveu muitos anos de exílio, quando pôde constatar a rude condição de vida dos
trabalhadores.

Respondendo à pergunta – o que há de comum entre os socialistas utópicos, digamos


que:

Os diversos teóricos do socialismo têm ideias diferentes e propõem soluções diversas.


Mas, é possível observar alguns traços comuns entre eles. Por exemplo: nem sempre
reconhecem o antagonismo entre burguesia e proletariado, admitindo ser possível
reformar a sociedade mediante a boa vontade e participação de todos.

É assim que Saint-Simon estabelece o plano de uma sociedade Industrial dirigida pelos
produtores, entendendo por produtores não só a classe operária, mas todos os que criam,
sejam banqueiros, empresários, sábios ou artistas. Seu objetivo é melhorar a sorte da
classe mais numerosa e mais pobre.

Também Fourier não destaca o antagonismo entre as classes. Faz uma crítica arguta e
imperiosa ao sistema capitalista e à cobiça dos comerciantes, mas seu plano de
associação voluntaria, o falanstério – pequena unidade social abrangendo de 1.200 a
5.000 pessoas vivendo em comunidade –, não pode ser confundido com uma proposta
comunista.

Fourier respeita a herança, considera natural haver pobres e ricos e tanta atrair os
capitalistas mostrando-lhes possibilidades de lucros fabulosos caso investissem nos
falanstérios. Ingenuamente aguardava todos os dias à mesma hora, a vinda do mecenas
que financiaria seu projeto de reforma social.

Por que Bakunin chama Proudhon de “o mestre de todos nós”?

Outros caminhos são percorridos por Proudhon. Ele foi deputado atuante, criou um
banco popular, para oferecer empréstimos a baixos juros, defendeu a instalação pública
e participou ativamente da primeira internacional. Tendo nascido de família pobre,
sempre desejou permanecer próximo às suas origens. Preconizava a autonomia da classe
operária na organização de sua luta contra a exploração capitalista.

Aliás, Proudhon teve plena consciência do antagonismo entre capitalistas e proletários,


afirmando que a propriedade privada significa uma espoliação do trabalho. Enquanto as
doutrinas de Saint-Simon e Fourier não são propriamente igualitárias, a de Proudhon
preconiza a igualdade e a liberdade. “A igualdade das condições, eis o princípio das
sociedades; a solidariedade universal, eis a sanção da lei”. “Do ponto de vista social,
liberdade de cada encontrar, na liberdade alheia, não um limite, mas sim um auxiliar: o
homem mais livre é aquele que tem mais relação com seus semelhantes. ” Isso já
significa uma crítica ao individualismo da concepção burguesa de liberdade.
509

Proudhon é veemente nas colocações extremamente polêmicas e muitas vezes


causadoras de escândalo. São famosas as afirmações: “A propriedade é um roubo” e
“Deus é mal”. Ao criticar a propriedade privada, Proudhon recusa qualquer caminho
que porventura favoreça o poder do Estado (tal como propunham Louis Blanc e
Auguste Blanquin, na linha do jacobinismo de Robespierre). E por esse mesmo motivo
se indispôs com os marxistas, por ele considerados excessivamente autoritários.

A desconfiança em relação ao Estado (e a qualquer outra autoridade, como a igreja)


torna Proudhon um crítico da centralização do poder e da burocracia, sonhando com a
sociedade anárquica em que o poder político seria substituído por livres combinações
entre os trabalhadores. É por isso, que Bakunin, o fundador do anarquismo, o considera
“o mestre de todos nós”.

Com o britânico Owen aparece a ideia de que o trabalho é criador de riquezas, que não é
usufruída pelo operário, mas lhe é extorquida. Tenta pôr em prática as concepções
socialistas organizando colônias cooperativas onde a propriedade privada seria
totalmente excluída. Apesar da grande repercussão de suas ideias, as tentativas de
concretizá-las falhem completamente. Antes admirado e festejado até por governantes e
príncipes, ao formular suas teorias comunistas passa a ser atacado e execrado.

De qualquer forma, as soluções que preconiza não vão além de uma tendência
fortemente filantrópica e paternalista: melhoria de alojamento e higiene, construção de
escolas, aumento de salários, redução das horas de trabalho.

Robert Owen (1771 – 1858), foi diretor de fábrica, ficou sensibilizado com as precárias
condições de vida do operário, as longas jornadas de trabalho, a insalubridade e o rápido
crescimento do maquinário. Propôs uma reforma da sociedade, que não foi além da
filantropia e do paternalismo. Acreditava na possibilidade de educar o homem e de
moralizar o mundo. Suas tentativas de organizar colônias cooperativas e de apoiar os
sindicatos falharam completamente. O equívoco de Owen foi imaginar que a reforma
social acontece de modo independente da ação política e da conquista do poder.
Pretendia uma reforma social sem ação política.

4 – Críticas Ao Socialismo Utópico.

Que críticas Engels e Mark fazem ao Socialismo Utópico?

Embora reconheçam a importância das primeiras teorias socialistas, Marx e Engels não
lhes pouparam severas críticas. Vimos que são eles que “batizam” os socialistas que os
antecedem de utópicos.

A palavra utopia, como já vimos, significa em nenhum lugar (u-topos) e embora possa
ter uma conotação positiva, de algo que ainda não é, mas poderá vir a ser, a
denominação dada por Marx é pejorativa, pois não vê em tais teorias nenhuma condição
de reverter o quadro de injustiça e exploração vigentes.
510

Segundo Marx e Engels, as teorias do socialismo utópico são inócuas porque em geral
são paternalistas, já que à organização do proletariado contrapõem “uma organização da
sociedade pré-fabricada por eles”, não percebendo no proletariado nenhuma iniciativa
histórica, nenhum movimento político que lhe seja próprio. Idealistas, não reconhecem
quais seriam as condições materiais de emancipação, ocupando-se com “leis sociais que
permitam criar essas condições”. Substituem a atividade social pela sua própria
imaginação pessoal. Moralistas, pretendem reformar a sociedade pela força do exemplo.
Ingênuos, pensam que experiências em pequenas escalas poderão frutificar e se
expandir, alcançando seus fins por meios pacíficos e não revolucionários.

Há verdades nessas críticas, mas é preciso reconhecer também que a oposição feita
pelos Marxistas “entre ciência e utopia está carregada daquela pretensão cientificista
cara ao século XIX”, segunda a qual só o método marxista, o materialismo dialético e
histórico poderia pretender ser verdadeiramente científico e qualquer outro método seria
utópico, ou seja, ingênuo, pueril, irrealista, moralista, metafísico, até mesmo religioso.
Em outras palavras, tal posicionamento, ao reafirmar a ideia de uma continuidade
histórica entre um socialismo utópico precursor ultrapassado e um marxismo científico
que revela ao movimento operário sua plena maturidade é revelada dessa filosofia da
história própria a todos os determinismos positivista.

5 – Feuerbach

Feuerbach (1804 – 1872) pertence à ala dos jovens hegelianos de esquerda. Do mestre
utiliza o conceito de alienação para aplica-lo na defesa da tese do ateísmo. Segundo
Feuerbach, a “alienação religiosa” consiste no processo antropomórfico segundo o qual
o homem projeta o céu a sua própria imagem idealizada; não foi Deus que criou o
homem; ao contrário, foi o homem quem criou Deus. Mas, ao adorar esse Deus forjado
por ele mesmo, o homem religioso se despersonaliza, não mais se pertence, se aliena.

Contrapondo-se ao idealismo de Hegel, Feuerbach contesta que a constituição do


mundo dependa do movimento das ideias. Defendendo a tese materialista, afirma que o
verdadeiro conhecimento não é possível senão como conhecimento das coisas materiais,
sensíveis. E todo conhecimento superior não é mais que um epifenômeno da matéria, ou
seja, um simples reflexo dela.

Marx e Engels aproveitam as análises de Feuerbach, mas vão além, criticando nele o
desprezo pela contribuição do método dialético, o que o faz repetir de certa forma o
materialismo mecanicista do século XVIII. Ao compreender o homem como máquina,
Feuerbach torna-se incapaz de perceber o mundo como processo, como matéria em via
de desenvolvimento histórico.

Segundo Marx, nas Teses sobre Feuerbach, o erro deste está em analisar o homem
abstratamente, desvinculado da sua realidade, que consiste no conjunto das relações
sociais.
511

6 – A Crise do “Socialismo Real”.

Já tivemos ocasião de dizer que a implantação do chamado “socialismo real” encontrou


dificuldades inúmeras e desembocou em becos sem saída.

Se de início a União Soviética conseguira se transformar em uma potência


industrializada, com a erradicação do analfabetismo e a resolução de inúmeros
problemas sociais como moradia e saúde – o que significa uma forma de democracia
substancial, já que os bens produzidos são distribuídos -, por outro lado sempre foi
cerceada a liberdade individual, no que se refere ao direito de circulação, expressão e
difusão da informação.

Quanto à política, muito cedo a promessa de que o poder deveria ser dado aos soviete
foi desmentida com a crescente identificação entre o Estado e o Partido Único, que
sufocou o pluralismo e a possibilidade de contestação do sistema. A centralização do
poder criou a camada dirigente dos burocratas que mantinham privilégios e não
conseguiam evitar a corrupção.

O desenvolvimento da economia militar e espacial, ao sugar enormes recursos, entrou


em descompasso com a insuficiente produção de bens de consumo. A diminuição do
crescimento levou a um período de estagnação, não sendo mais possível evitar a queda
da qualidade de vida.

Na gestão Brejnev (de 1964 a 1982), o gigante soviético começa a perceber nítidos
sinais da crise que se avizinha. Quando Gorbatchev sobe ao poder em 1985, inicia uma
série de mudanças. A perestroika, ou “reestruturação da economia”, tem por objetivo
quebrar a rigidez do planejamento estatal com a introdução de elementos de regulação
de mercado. A glasnost, ou “abertura”, “transparência”, refere-se às reformas nas
instituições políticas, visando à renovação dos quadros da velha e autoritária elite
burocrática dirigente; suas consequências foram à libertação dos presos políticos, a
garantia da impressa livre e da liberdade individual.

A glasnost, por ter sido desencadeada ao mesmo tempo em que a perestroika, trouxe ao
conhecimento dos soviéticos fatos que aceleraram os anseios de libertação e a
impaciência de aguardar as reformas mais lentas da economia.

Em novembro de 1989, a queda do muro de Berlim, símbolo da separação de dois


mundos, teve um caráter desencadeador do processo de esfacelamento do Leste
Europeu.

Mantida pela força, a antiga “ordem” se desintegra e os países-satélite Tchecoskiváquia,


Hungria, Polônia, Bulgária, Romênia e Alemanha Oriental proclamam um a um a sua
independência. Com exceção da Romênia, onde houve violência na deposição do
ditador, nos outros países as revoluções eram chamadas “de veludo”, tal a “maciez” das
transformações efetuadas, resultantes dos movimentos civis que reuniam pessoas de
diversas tendências políticas.
512

Em pouco tempo a própria URSS se desintegra, incapaz de manter unidas as Repúblicas


constituídas por diferentes etnias. É introduzido o pluralismo partidário, a imprensa
livre e a economia de mercado. Gorbatchev não realiza a transição gradual que tinha em
mente. Quando passa o poder para Ieltsin, encerra-se o capítulo da implantação do
“socialismo real” no Leste Europeu.

121 – SOFISMO

1 – Introdução:

Definição – palavra de origem grega “sofiphisma”, que significa: raciocínio capcioso


feito com intenção de enganar; logro. Sofista: vem do grego “sophistis”, pessoa que
raciocina por sofismas.

2 – Os Sofistas:

Apesar de suas contradições, o ideal democrático devia ser justificado. Coube aos
sofistas, no século V. a.C., a função de elaborar a teorização que interessava à nova
classe dos comerciantes. E isso acontece no período clássico da história grega.

Como aprendemos a divisão da filosofia grega está centralizada em Sócrates (470-399


a.C.), e é a partir dele que se costuma estabelecer os períodos pré-socrático, socrático
(ou clássico) e pós-socrático.

O período clássico acontece nos séculos V e IV a. C. e dele faz parte, além de Sócrates,
seu discípulo Platão, que por sua vez foi o mestre de Aristóteles. Os sofistas são
contemporâneos de Sócrates e foram por ele duramente criticados.

Vimos que os primeiros filósofis pré-socráticos preocupam-se sobretudo com a


natureza, e as explicações cosmológicas se desenvolvem em torno da procura da arché
(princípio) de todas as coisas. Entre os primeiros filósofos não há textos referentes à
política.

São os sofistas que irão proceder a passagem para a reflexão propriamente


antropológica, centrando suas atenções na questão moral e política. Elaboram
teoricamente e legitimamente o ideal democrático da nova classe em ascensão, a dos
comerciantes enriquecidos.

À virtude (areté) de uma aristocracia guerreira opõe-se a virtude do cidadão: a maior das
virtudes é a justiça, e todos, desde cidadãos da pólis, devem ter direito ao exercício do
poder. Enquanto na aristocracia predomina a areté ética, para o cidadão ela é política e
mais objetiva que a anterior, pos o critério do justo e do injusto se acha na lei escrita.
513

Através da paideia, os gregos elaboram nova educação capaz de satisfazer os ideais do


homem da pólis, e não mais do aristocrata, superando, assim, o privilégios da antiga
educação, para a qual a areté só era acessível aos que pertenciam a uma linhagem de
origem divina.

A exigência que os sofistas vêm satisfazer não é apenas de ordem teórica, mas também
prática, voltada para a vida para a vida. Segundo Jaeger, historiador da filosofia,
exercem por isso uma influencia muito forte, vinculando-se à tradição educativa dos
poetas Homero e Hesíodo.

Os sofistas são os mestres da nova areté política, e o instrumento desse processo será a
retórica, ou seja, a arte de bem falar, de utilizar a linguagem em um discurso persuasivo.

É bem verdade que esse movimento não se dirige ao povo em geral, mas a um elite,
àqueles bons oradores que poderiam, nas assembléias públicas, fazer uso da palavra
livre e pronunciar discursos convincentes e oportunos. Com o brilhantismo da
participação no debate público, deslumbram os jovens do seu tempo. Desenvolvem o
espírito crítico e a facilidade de expressão.

Com frequencia os sofistas são acusados de superficialidade e logomania, ou seja, de


pronunciar um discurso vazio, um palavreado oco. Talvez essa fama se deva à excessiva
atenção dada por alguns deles ao aspecto formal da exposição e defesa das ideias, já que
se achavam tão preocupados com a persuasão. Mas também é preciso lembrar que os
sofistas sempre foram mal-interpretados devido às críticas que a eles fizeram Sócrates e
Platão. Só a partir do século XIX a imagem carricatural dos sofistas foi atenuada.

Os mais famosos sofistas foram: Protágoras, de Abdera (485-411 a.C.); Górgias, de


Leôncio, na Sicília (485-380 a. C.); Híppias, de Élis, e ainda Trasímaco, Pródico,
Hipódamos e outros.

3 – Teoria do Conhecimento:

Os sofistas mostraram que o conhecimento é transmissível através da linguagem. Isto


significa que a comunicação do conhecimento está intimamente ligada à educação –
com seus objetivos, métodos e finalidade.

Todo cidadão tinha direito de participar da democracia de Atenas. Era importante saber
argumentar na assembleia popular. Uma vez qua a obtenção de vantagens pessoais
dependia da habilidade pessoal, tornou-se evidente o individualismo.

Na época dos sofistas, a competência política não era considerada um talento inato e,
por isso, procurou-se um método para adquirir conhecimentos que possibilitassem fazer
frente à nova realidade. Os sofistas passaram a ensinar as técnicas do sucesso
individual. Era a arte para poder vencer numa sociedade competitiva. O ensino
preparava as pessoas para as disputas verbais. O educando era preparado para defender
514

e criticar ideias e posicionamentos, sempre de acordo com as circunstâncias do


momento.

 Protágoras soube salientar muito bem que o homem se transforma na medida


de todas as coisas, daquelas que são e daquelas que não são.

Trata-se de um conhecimento pragmático. Ele não é definitivo e nem absoluto, mas


circunstancial.

 Sócrates ressalta que o conhecimento tem um objetivo: a Verdade. E esta é uma


só, eterna, imutável, igual para todos. Ele está preocupado com a essência. A
definição clara dos conceitos pode nos proporcionar um conhecimento rigoroso.
A essência é descoberta através da definição. É necessário empregar a ironia
para que o interlocutor descubra que suas opiniões não são tão consistentes. E
com o método da maiêutica chega-se a uma definição clara dos conceitos, para
então conhecer a essência. Essa busca deve ser motivada pelo amor à Verdade.

 Platão aprofundou a procura da Verdade. Ele salientou que somente a Verdade


nos possibilita um conhecimento estável e imutável. Mas, neste mundo atual nós
não alcançamos a Verdade. Nesta realidade, que é cópia do mundo das ideias,
nosso conhecimento fica restrito às opiniões. A Verdade se encontra no mundo
das Formas. Esta realidade, que é sombra ou imitação do mundo dos modelos
perfeitos, só nos possibilita formar opiniões. Devemos nos subtrair deste mundo
por meio da dialética até relembrarmos o original. Através do processo da
reminiscência, conseguiremos relembrar a forma do objeto em todo seu
esplendor, assim com a alma o contemplava no mundo das Formas. A
contemplação da alma aconteceu “antes de ser obrigada a descer a este mundo
para se penitenciar no corpo” (T.R.Giles, Filosofia da Educação, p.40). O objeto
material é um ponto de partida para ativar o processo da reminiscência. Mas, ele
é transitório e deve ser ultrapassado, pois o conhecimento é um processo da
razão.

 Aristóteles ensinou que um conjunto de faculdades participa no processo do


conhecimento. Essas faculdades são: a percepção, a imaginação. A memória e o
intelecto. Destacou o intelecto como sendo a característica específica do homem;
ocupa o ápice das funções humanas. O intelecto é uma parte da alma que
conhece e compreende. Através do intelecto, o ser humano possui o
conhecimento teórico e prático. Como entendimento discursivo, o intelecto
formula juízos. Estabelecendo a relação entre o sujeito e o atributo, o
conhecimento se eleva acima do dado imediato dos sentidos. A sensação é o
passo preliminar de todo conhecimento. O conhecimento se exerce então sobre
as imagens e não sobre as sensações. A imagem dispensa a presença do objeto
sensível. Ela é parecida com a sensação, mas vem a ser a persistência da
impressão sensível (uma sensação enfraquecida). Mas, a imagem se abre tanto
515

ao verdadeiro como ao falso conhecimento. Proporcionando formas que se


encontram acima da sensação, a imagem condiciona o intelecto. De fato, a alma
só pensa mediante imagens.

Existe uma atividade intelectual superior ao conhecimento discursivo. É o


conhecimento intuitivo. “trata-se de princípios alcançados numa visão
espontânea e imediata que não só dispensa toda demonstração, mas toda
demonstração os pressupõe” (Giles, p. 41). O conhecimento rigoroso
fundamenta sua certeza nesses primeiros princípios. A demonstração rigorosa
estabelece a verdade científica. O conhecimento rigoroso se distingue da
opinião. A ciência é sempre verdadeira por essência. A opinião pode ser
verdadeira ou falsa. O objetivo do conhecimento rigoroso é a essência. Que é
resultado da abstração.

 Agostinho seguiu a orientação platônica. O pensamento de Platão o levou a


negar toda a certeza em relação ao conhecimento sensível. A Verdade só se
encontra no âmbito da vida interior. A origem da Verdade é o mundo das
Formas que existem na mente de Deus. As Formas são inseparáveis da sua
essência. Portanto, conhecer a Verdade significa conhecer Deus.

Toda Verdade é imaterial. Por ser também imaterial, somente a alma pode
conhecer a verdade. A verdade não é apreendida, mas ela é conhecida à luz das
ideias eternas.

Mas, a alma está enfraquecida por causa do pecado original. Ela necessita de
uma ajuda especial: a iluminação divina para esclarecer o intelecto. O
conhecimento inteligível é radicalmente diferente do conhecimento sensível. Por
isso, a alma só pode alcançar a Verdade, quando ela se distancia do sensível, do
material, do relativo e do instável. O conhecimento inteligível é o início
caminho que conduz à Verdade.

O conhecimento sensível é verdadeiro. Mas, ele não proporciona um


conhecimento estável e universal. Este é obtido mediante o autoconhecimento. E
o primeiro passo é a dúvida, que é uma indicação para o fato de existirmos.
[Agostinho antecedeu Descartes com sua dúvida metódica]. A dúvida nos leva à
primeira certeza: a da nossa própria existência. Essa certeza é o ponto de partida
para conhecermos outras ideias que se encontram em nossa alma. Estas ideias
em nossa alma são diferentes dos objetos do mundo sensível, e não estão sujeitas
a mudanças circunstanciais.

O desejo de conhecer possui pressupostos: o amor à Verdade, clareza intelectual


e retidão de vida. Com estes requisitos a Verdade se torna atingível.
516

 Tomás de Aquino seguiu a orientação aristotélica. Declarou que o ser sensível é


a primeira evidência. O objeto material é o primeiro dado de toda a atividade
intelectual. O intelecto capta a essência do objeto material, e também as
condições singulares que o acompanha. Nesse processo, o intelecto depende do
objeto material e dos sentidos. A alma tem a capacidade de conhecer todas as
coisas. Ela conhece os objetos sensíveis através dos sentidos. E conhece as
coisas inteligíveis através da inteligência. É através dos sentidos e pela
experiência que a inteligência adquire todo o seu conhecimento. Tomás de
Aquino não aceita a teoria das ideias inatas.

O intelecto possui a abstração, o que lhe possibilita tornar Inteligíveis as


imagens adquiridas pelos sentidos. O intelecto também realiza várias operações
que envolvem as faculdades da percepção, imaginação e memória. E o ato de
conhecimento corre o risco de errar.

Há uma dependência mútua entre o intelecto e os sentidos. Por isso, o


conhecimento jamais alcança a perfeição. A matéria pode tornar o conhecimento
indeterminado. As ideias podem proporcionar uma clareza puramente abstrata,
mas distante da realidade.

 Guilherme de Ocklam discordou de Agostinho e de Tomás de Aquino.


Afirmou que nem a razão e nem a experiência nos proporcionam o
conhecimento das realidades racionais. “O único ponto de referência real do
conhecimento é o objeto individual, material. Portanto não pode ir além dos
limites da experiência empírica” (Giles, p. 43). Sua argumentação baseia-se num
empirismo radical. Não adianta ir além dessa experiência. O conhecimento do
objeto individual não pode ser traduzido em conceitos.

Ocklam declarou que há dois tipos de conhecimento: o intuitivo e o abstrato: o


conhecimento intuitivo evidencia uma demonstração rigorosa acerca da
existência do objeto. Ele nos possibilita afirmar sobre a existência ou não
existência do objeto. Ele se limita a constatar a presença ou ausência do objeto.
O conhecimento abstrato nos possibilita pensar o objeto no intelecto, mesmo
quando ele não é percebido diretamente. Ele não se ocupa com a existência ou
não do objeto, mas com os termos ou sinais que representam o objeto em
proposições mentais. A palavra pode representar (tornar presente) o objeto em
proposições faladas.

O indivíduo é a única realidade no universo. É o único objeto da experiência. O


universal (o conceito de humanidade) existe apenas no intelecto. Nenhum fato
corresponde ao conceito, pois este não se encontra na experiência sensível. O
universal, o conceito, o juízo são apenas nomes que atribuímos aos objetos.
Somente o objeto percebido pelos sentidos corresponde à verdade.
517

A questão dos universais foi muito discutida durante a Escolástica. Discutiam-


se as espécies (cão) e os gêneros (o animal) têm existência real ou são apenas
conceitos.

Se os universais existem, eles são coisas materiais ou não?


Se eles são conceitos, existem apenas na mente ou também têm existência de um
modo independente?

O debate em torno dos universais suscitou o surgimento de quatro correntes:


a) Os realistas platônicos – diziam que os universais são realidades abstratas,
que existem em si mesmas, de um modo independente da mente;

b) Os realistas aristotélicos – afirmam que os universais são as formas que


existem apenas nas substâncias individuais, mas podem ser concebidas
separadamente pela mente;

c) Os conceptualistas declaram que os universais são conceitos, entidades


mentais;

d) Os nominalistas ensinavam que os universais são entidades linguísticas, sem


nenhuma realidade específica.

John Duns Scot identificava-se com o posicionamento dos realistas.

Ainda hoje, um pensador pode ser realista em matemática (considerando que os


números e as formas geométricas existem por si mesmos) e ser conceptualista em ética
(alegando que os valores são apenas ideias sem realidade própria).

 Descartes sentiu a necessidade de renovar o estudo da Filosofia. Compreendeu


que o método matemático, adotado com proveito na álgebra e na geometria, é
válido para todas as ciências, inclusive para a Filosofia. Os temas filosóficos
(metafísicos) deveriam ser traduzidos em ideias claras e distintas, como se
fossem grandezas matemáticas.

Se quisermos procurar a verdade, precisamos seguir um método. A pretensão de


Descartes era estabelecer um método, inspirado na matemática e orientado pela
razão.

Descartes rejeitou os dados dos sentidos, que podem nos enganar. Rejeitou
também os raciocínios, que podem nos induzir a erros. Só podemos atingir a
verdade, se colocarmos todas as coisas em dúvida.

Depois de duvidar de tudo, descobre a primeira certeza: Cogito, ergo sum –


“Penso, logo existo”.
518

Depois de constatar sua própria existência, Descartes constatou que não se


encontra só. A seguir, ele descobriu a segunda verdade: a existência de Deus.
Ele examinou suas ideias e concluiu pela existência de Deus. As verdades
matemáticas são garantidas por Deus. A aplicação prática das verdades
matemáticas nos permite agir sobre o mundo. Portanto, está assegurada a
existência do mundo.

A intuição é um conhecimento direto e imediato. Ela nos permite aceitar uma


coisa como verdadeira. A intuição é a visão da evidência. Uma ideia evidente é
uma ideia clara (indubitável) e distinta (inconfundível). É um modo de
conhecimento racional para atingir direta e imediatamente o objeto.
Descarte prova a existência de Deus com argumento ontológico. O Ser Perfeito é
aquele que possui todas as perfeições. Ora, a existência é uma perfeição. Logo, o
Ser Perfeito existe.

Em Meditações metafísicas, Descartes afirma: “verifico claramente que a


existência não pode ser separada da essência de Deus”.

Descartes demonstrou como o homem comum pode alcançar o conhecimento da


Verdade. Através de um método rigoroso de procedimento, o homem pode se
libertar de todo os preconceitos. O método possibilita ao homem conhecer as
ideias fundamentais que são inatas na alma. As ideias inatas são superiores
àquelas que derivam dos sentidos ou que são produzidas pela imaginação.
O critério do método: clareza e distinção.

 Locke afirmou que se a Verdade é inata em nossas mentes, então a observação e


a experiência não têm valor algum. Elas poderiam confirmar o conhecimento,
mas nada acrescentariam. Por exemplo, a convicção interior de uma constatação
com Penso, logo existo – não necessita de qualquer confirmação.

Todo o nosso conhecimento é adquirido através da sensação. Conhecer significa


perceber uma relação entre ideias. E estas sempre derivam da sensação.
As ideias dividem-se em simples e complexas.

As ideias simples derivam imediatamente da sensação ou de uma experiência


interior (reflexão).

As ideias complexas são combinações das ideias complexas. A mente é como


uma folha em branco. A experiência sensível escreve nela. Nós só podemos
pensar a partir do experimento da sensação. Tudo aquilo que se encontra no
intelecto deve passar primeiramente pelos sentidos.

Os objetos possuem qualidades primárias e secundárias.


519

As qualidades primárias dos objetos são a solidez, a extensão, a forma, o


número. São qualidades que permanecem intactas.

As qualidades secundárias são as cores, os odores, os sons, os sabores. Elas


resultam do impacto sobre o órgão sensível correspondente.
Conhecemos o objeto, porque a sensação está sempre acompanhada pelo prazer
ou pela dor. Se um de nossos sentidos se engana, podemos corrigir o “relato
falso” com a avaliação de um ou mais sentido.

 Berkley afirmou que a existência da realidade está condicionada à percepção


que dela fazemos. Ser é ser percebido. Um objeto só pode existir quando o
sujeito o percebe. Considerou as qualidades primárias e secundárias
inseparáveis. Mas, elas dependem de um órgão recepto que as perceba.

O mundo continua existindo porque uma mente o percebe: a mente de Deus.


Berkley se distanciou do empirismo. Em termos de exterioridade, considerou
irreal o mundo material.

 Hume retornou às origens do empirismo. Estabeleceu uma distinção entre


impressões e ideias.
As impressões são as percepções das coisas no seu estado material. É a
participação dos sentidos.
As ideias necessitam de uma impressão. Uma ideia destituída de uma impressão
é falsa ou fictícia. Toda ideia autêntica é uma cópia de uma impressão que a
antecedeu.

Nós concluímos que os acontecimentos obedecem a uma determinada direção,


repetição e regularidade. E estabelecemos o princípio da casualidade. Giles
soube reproduzir muito bem o posicionamento de Hume. “Construímos o que
chamamos de nosso conhecimento baseando-nos na suposta sucessão constante
que pensamos observar de alguma ideia a outras ou de certos grupos de ideias a
outros grupos de ideias. É a repetição dessas supostas sucessões constante que
nos leva a atribuir determinado grau de certeza aos fatos ou acontecimentos.
Tudo que temos direito de afirmar, no caso, é que observamos a sucessão em
questão vária vezes ou que esta é continuamente repetida. Da suposta conexão
ou ligação constante entre uma e outra não temos nenhuma impressão. Portanto,
não há por que afirmar algo que só encontra justificativa no habito”. (Filosofia
da Educação, p. 45).

Com este raciocínio, Hume afirma que a relação entre causa e efeito não é
necessária. Passado o efeito, nunca percebemos a causa. Desse modo, Hume
tornou-se o mais radical dos empiristas. A causalidade não seria uma
propriedade do real; mas tão somente o resultado de nosso hábito de perceber
520

fenômenos. A repetição dos fenômenos faz com que os relacionemos como


causa e efeito. Não havendo causalidade também não haveria necessidade.
Todo nosso conhecimento depende da confiança em nossos instintos.

 Kant se empenhou em compreender a capacidade e os limites da razão. Em sua


obra Crítica da Razão Pura ele justificou a capacidade da razão diante do
empirismo e do ceticismo. Kant procurou distinguir entre o que a razão pode e o
que a razão não consegue conhecer. Concluiu que o conhecimento racional
especulativo tem seus limites. Por exemplo: a metafísica está fora do alcance da
razão pura. A razão nos dá um mundo mecânico e não uma verdade metafísica,
causalidade e não liberdade, fenômenos materiais e não moral ou religião. Kant
analisou então o conhecimento a partir dos fundamentos da razão prática, que
nos proporciona certezas imediatas, mesmo não sendo demonstráveis. Para
compreendermos a metafísica, necessitamos da razão prática.

Kant estabeleceu como objetivo superar o empirismo, o ceticismo e também o


idealismo. “não se pode duvidar que todos os nossos conhecimentos começasse
com a experiência, porque, com efeito, como haveria de exercitar-se a faculdade
de conhecer, se não fosse pelos objetos que, excitando os nossos sentidos, de
uma parte, produzem por si mesmas representações e, de outra parte,
impulsionam a nossa inteligência a compará-los entre si, a reuni-los ou separá-
los, e deste modo a chegar à elaboração da matéria informe das impressões
sensíveis para esse conhecimento das coisas que se denomina experiência.”
(Kant, Crítica da Razão Pura).

O conhecimento resulta do funcionamento em conjunto da sensibilidade e do


entendimento. A sensibilidade é uma faculdade de receptividade passiva. O
entendimento (intelecto) é a faculdade de espontaneidade ativa, o poder de
exercer o raciocínio sobre o objeto dado na intuição sensível. Acontece a união
da intuição (apreensão imediata) e do conceito. O ato inicial e a mais importante
realização da sensibilidade é a percepção dos objetos no espaço e no tempo. Os
objetos estão dispostos no espaço. E os objetos perduram no tempo. O espaço é
a forma de sensibilidade externa. O tempo é a forma de sensibilidade interna.

O tempo e o espaço são formas que o sujeito coloca nos objetos. Nós
enquadramos os fenômenos nos moldes subjetivos de tempo e espaço. Portanto,
espaço são dependentes da mente do sujeito. Ordenando assim os objetos nas
formas de sensibilidade, a razão organiza as percepções, que são transformadas
em conhecimento. Espaço e tempo são contribuições que a mente constitui para
observar o mundo. São contribuições independentes da experiência e, portanto,
são apriori.
521

A experiência proporciona apenas uma generalidade suposta e relativa. Ela


nunca fornece juízos com uma universidade verdadeira e rigorosa. Por isso, a
experiência é a posteriori.

Os fenômenos nos são apresentados sob as condições de espaço e tempo. Mas,


ainda carece de estrutura e de ordem. A síntese das percepções é realizada pela
imaginação, que faz a ligação entre a sensibilidade e o entendimento. A
imaginação reproduz representações sem a presença do objeto. Consegue
produzir imagens puras como o número, as figuras geométricas e a noção de
espaço e tempo. Desse modo o espírito humano coloca ordem na diversidade
captada pela intuição.

As qualidades sensíveis são concebidas em função de uma sucessão causal.


“portanto, sei a priori, necessariamente, que todo fenômeno tem uma causa e que
em toda mudança algo se conserva, pois sem estas condições nada poderia
acontecer” (Giles, p. 46). Com base na sensibilidade, o entendimento só
consegue apreender as aparências (os fenômenos). Ele não consegue apreender a
coisa tal como existe em si (o número). Se conseguirmos apreender “a coisa em
si”, então isto acontece mediante uma faculdade distinta do entendimento.

A teoria da Correspondência apresenta na sua forma clássica por Aristóteles,


declarava que a função do intelecto consiste em conformar-se com a realidade.
O intelecto deve absorver com exatidão e imparcialidade uma realidade que
independe da mente. Neste caso, o conhecimento se determina pelo objeto.
“Kant mostra que o mundo dos fenômenos só existe à medida que nós mesmos
participamos de sua construção” (Giles, p. 47). Isto significa que o objeto é em
grande parte determinado pelo conhecimento. Esta é a “revolução copernicana”
empreendida por Kant: o nosso conhecimento é que determina o objeto.

No entanto, o entendimento não pode ir além do conhecimento dos fenômenos.


Quando o entendimento procura apreender o Absoluto, ele se depara com
impasses e contradições. Portanto, as verdades enunciadas pela Metafísica deem
ser apreendidas pela razão prática. Esta nos permite penetrar a realidade que está
além das aparências (fenômenos). Kant escreveu então a Crítica da Razão
Prática, e passou a abordar o homem como um ser moral. “Todavia, no caso,
trata-se de um conhecimento baseado em postulados, princípios que são
indemonstráveis, embora não contradigam as exigências da razão especulativa”
(Giles, p.47).

 Hegel fez uma distinção entre razão e entendimento. A razão nos possibilita o
acesso a um conhecimento mais elevado. Ela permite que alcancemos o
Absoluto. Abrangendo a totalidade, a razão supera as contradições. Mas, o
entendimento para diante das diferenças.
522

A razão une e abrange a totalidade completa. O entendimento separa e opõe as


contradições. A razão resolve os contrários numa síntese superior. E resolve as
diferenças em uma identidade. Trata-se de uma identidade que desenvolve em si
mesma as diferenças internas.

O primeiro dado é o objeto em seu aspecto imediato. A seguir, o objeto se


apresenta sob outro aspecto, que contradiz o primeiro. Enfim, o objeto é
compreendido como a totalidade dos dois aspectos opostos. Toda a realidade
evolui através de contradições, que se resolve em sínteses. Estas dão origem a
novas contradições.

A realidade e também o conhecimento da realidade são manifestações do


Espírito Absoluto. Pois, o Absoluto se encontra dentro da realidade, e também
na capacidade intelectiva do ser humano. O Absoluto se encontra totalmente nas
coisas. E o intelecto do homem também é uma das manifestações do Absoluto.
A dicotomia estabelecida entre o empirismo e racionalismo não tem sentido.
Pois, o que é racional é real, e o que é real é racional.

 Husserl se deparou com uma crise de fundamentos na Ciência e na Filosofia.


O Racionalismo e o Empirismo havia se tornado unilateral. Os empiristas
declaravam que há um hiato entre o sujeito e o objeto. Salientavam que há uma
ruptura entre a consciência preceptora e aquilo que é percebido. Husserl se opôs
frontalmente ao empirismo.
Também a Psicologia havia sido influenciada pelo método experimental,
passando a considerar o indivíduo como algo submetido a leis naturais. A pessoa
passou a ser examinada com critérios de laboratório. Husserl se posicionou
contra o psicologismo e contra as pretensões absolutistas das Ciências Naturais,
que dominavam o pensamento do século XIX.

Husserl desenvolveu a Fenomenologia, uma nova abordagem de conhecimento.


A Fenomenologia leva em consideração o mundo da experiência e a pessoa que
vive essa experiência. É mostrada uma ligação essencial, onde sujeito e objeto
são inseparáveis. Os fenômenos deem ser descritos assim como eles aparecem.
O fenômeno é aquilo que se apresenta diretamente à consciência. O fenômeno se
refere aos objetos, mas também às ideias (números, figuras geométricas,
operações algébricas). Fenômenos também são as expressões culturais.

Husserl colocou a existência entre parênteses. Ele deixou de lado os


pressupostos a respeito do fenômeno, e passou a dirigir a atenção em direção à
essência. Devemos aprender a olhar com os próprios olhos. Essa operação é a
contemplação desinteressada e revela o caráter essencial da consciência: ela é
consciência de alguma coisa. Compreender o mundo como fenômeno significa
compreender o seu sentido. A consciência se dirige para a essência do
fenômeno. A essência é o sentido de um ser.
523

A consciência é pura atividade. Ela é sempre consciência de alguma coisa. A


essência da consciência é a intencionalidade. É a abertura da consciência diante
da essência do objeto. Não há consciência sem mundo. Não existe o objeto
absoluto e ainda menos a consciência fechada sobre si mesma. Não há objeto
sem sujeito. Nem sujeito se objeto. Existe uma correlação entre um sujeito que
se refere a um objeto, e um objeto referido pelo sujeito. É a consciência que dá
sentido ao objeto e este dá sentido à consciência. “A consciência é uma pura
atividade, o ato de construir essências ou significações, dando sentido ao mundo
das coisas” (M. Chauí).

A Fenomenologia trata da maneira como as coisas aparecem diretamente para a


consciência. A realidade é apreendida pela consciência do sujeito. Por
intermédio da consciência, o sujeito pode conhecer a realidade, mas também a si
mesmo. O ser humano pode conhecer a si mesmo, porque ele é um ser reflexivo.
A consciência penetra na realidade e a examina. Na consciência está a origem de
todo significado.

A consciência jamais está vazia. A Fenomenologia é o método de análise dos


conteúdos da consciência. É analisada a intencionalidade da consciência.
O método fenomenológico ensina a ver a realidade com um sentido. Os objetos
se dão a nós como vivências de consciência. O método fenomenológico procura
o significado daquilo que temos na consciência (quando afirmamos, emitimos
avaliações, sonhamos, apreciamos).
A consciência intencional faz com que o mundo apareça como fenômeno. O
fenômeno é alcançado por uma intuição. Compreendemos o seu sentido, quando
percebemos a essência intuída pela consciência. A intuição direta das essências
revela as próprias coisas como elas se evidenciam. Nessa evidência se encontra a
absoluta falta de pressupostos e preconceitos. A realidade deve ser vista com seu
sentido. Somos afrontados com a tomada de consciência do sentido do mundo.

A Psicologia declara que há percepção e se ocupa com as condições que a


ocasionam.
A Filosofia procura saber o que é a percepção, tentando conhecer sua essência.
O ato intencional da consciência é perceber. O correlato intencional da
consciência é o percebido. A unidade entre o ato (perceber) e o correlato (o
percebido) é a percepção.
Ao conhecermos a estrutura intencional da consciência, podemos conhecer a
essência da percepção.

Husserl se distanciou de Kant, declarando que não existe a coisa em si


(númenon), que seja incognoscível. Tudo o que existe são fenômenos.
Husserl também se distanciou de Hegel, salientando que “a consciência possui
uma essência diferente das essências dos fenômenos, pois ela é doadora de
524

sentido às coisas e estas são receptoras de sentido. A consciência não se encarna


nas coisas, mas dá significação a elas, permanecendo diferente delas” (M.
Chauí).

“o que é o fenômeno? É a essência. O que é a essência? São a significação ou o


sentido de um ser, sua ideia, seus eidos. A Filosofia é a descrição da essência da
consciência (de seus atos e correlatos) e das essências das coisas. Por isso, a
Filosofia é uma eidética – descrição dos eidos ou das essências. Como o eidos
ou essência é o fenômeno, a Filosofia é uma fenomenologia.” (M. Chauí).
Husserl insiste numa volta às “próprias coisas”.
A consciência nos possibilita uma orientação no mundo. Ela não se fecha em si
mesma. Mas é intencional. Ela só é consciência a partir de sua relação como o
objeto.
“toda consciência é consciência de alguma coisa”, declarou Husserl.
Mas, o indivíduo pode incorrer em erro de avaliação. Husserl propõe então o
“nós transcendental”, que é a comunidade de indivíduos depurados da
contingência existencial. É a busca pela essência cognoscente da natureza
humana. O “nós transcendental” é o último sujeito fenomenológico. Ocorre
então uma relação necessária entre o mundo (a ser conhecido) e a consciência
coletiva. Na convergência das consciências em torno da mesma essência há
possibilidade apreender a realidade sem perigo de erro. O “nós transcendental” é
a garantia última da objetividade do conhecimento.

122 – SUBJETIVISMO

Definição:

Em ciências sociais é o modo de pensar que enfatiza ou levam em conta exclusivamente


os aspectos subjetivos como (a intenção, ação, consciência etc.). Daquilo que é estudado
ou daquilo que estuda ou interpreta qualquer coisa. O subjetivismo é a doutrina
filosófica que afirma que a verdade é a mentira individual.

O subjetivismo é uma doutrina filosófica idealista, segundo a qual a realidade do mundo


objetivo depende das características, formas e explicações que lhes são atribuídas pela
subjetividade humana, considerada, desta maneira, fatos preponderantes no processo
cognitivo.

Já o objetivismo considera o verdadeiro conhecimento um processo tendente à captação


precisa dos objetos externos, de maneira não deformada pela subjetividade cognoscente.

O subjetivismo pode ser notado através do verbo na primeira pessoa. Trata-se sempre de
uma opinião parcelar, dada por um indivíduo que baseia sua perspectiva naquilo que
525

suas sensação captam. O eu é o foco principal do subjetivismo, o eu é egoísta, forma de


expressar seus sentimentos.

123 – SURREALISMO

Veja tópico 85 sobre realismo.

Conceito:

Escola artística e literária que surge na França na década de 1920. Fortemente


influenciada pela psicanálise, enfatiza o papel do inconsciente na criação. Propõe uma
arte livre das exigências da lógica e da razão, que expresse o inconsciente e os sonhos.
Destacam-se os escritores franceses André Breton e Paul Éluard, Antonin Artaud / no
teatro / o cineasta espanhol Luís Bunuel e, na pintura, o belga René Magritte, o alemão
Max Ernst e o espanhol salvador Dalí.

124 – TAOÍSMO

1 – Introdução

É uma das quatro religiões da Ásia Oriental, tais como o Confucionismo, o Budismo e o
Xintoísmo. Muito de suas crenças são distintas entre si, mas possuem alguns aspectos
em comum.

As religiões orientais são mais humanísticas do que deísticas e, portanto, nem sempre
podem ser consideradas religiões. Seus fundadores não buscavam a Deus, mas
procuravam maneiras de conviverem em paz. As religiões orientais são inclusivistas. A
pessoa pode ser Budista, Taoísta e Confucionista ao mesmo tempo. As religiões
ocidentais não são tão tolerantes assim. Não é frequente ouvir alguem dizer: “sou cristão
e muçulmano”.

As religiões orientais tiveram suas origens nos séculos V ou VI a.C. Calculando a


grosso modo, Lao-Tzu, o fundador do Taoísmo, tinha cerca de setenta e cinco anos
quando Buda tinha trinta e cinco e Confúcio tinha vinte e cinco.

O Budismo tinha suas raízes no Hinduísmo e é chamada uma “religião ateia”. O


Confucionismo e o Taoísmo são sistemas éticos que pretendem melhorar o estado da
China. O Xintoísmo é uma religião do patriotismo. Todos eles têm elementos do
animismo, existentes desde o início ou desenvolvidos no decurso da sua história.
526

2 – Conhecendo o Taoísmo

Definição de Taoísmo:

A palavra Taoísmo, pronunciada “dauísmo”, significa “uma senda ou caminho”. Os


taoísta acreditam que tudo no universo muda e sofre alteração. Movimenta-se num
caminho de harmonia e ordem. O homem perdeu o caminho por causa da sua própria
desarmonia e dos seus próprios desígnios. Precisa voltar ao caminho da simplicidade e
da humildade, mediante a ação passiva e de um caminho moralmente correto. Na
prática, Tao é uma filosofia, uma religão e um sistema de rituais mágicas, tudo ao
mesmo tempo.

2.1 – Localização Geográfica:

A Filosofia religiosa taoísta espalhou-se grandemente por toda a China em todas as


culturas asiáticas influenciadas pela China. Estas incluem Taiuã, Vietnã, Japão e Coréia.
Em Taiuã recebeu novas forças desde a muito tempo quando o 63 Mestre Celestial,
Chang Em-pu, refugiou-se ali em 1949. O taoísmo ainda é observado em Taiuã nas
formas tradicionais, juntamente com os sacerdotes, ritos, liturgia e templos taoístas.
Alguns taoístas são encontrados na América do Norte e do Sul, na Europa e alguns
poucos na África e no Pacífico Sul. Seus adeptos são calculados num total aproximado
de vinte e trinta milhões. A dificuldade em chegar a uma cifra exata provém do fato de
que uma pessoa pode ser confucionista, taoísta e budista ao mesmo tempo.

2.2 – Origens:

As Dinastias Chinesas alistadas em ordem cronológicas.


Dinastia Shang de 1500 a.C. até 1050 a.C.
Dinastia Chou de 1017 a.C. até 250 a.C.
Dinastia Chin de 221 a.C. até 207 a.C.
Dinastia Han de 206 a.C. até 221 d.C.
Crescimento Budista e guerras internas de 200 d.C. até 600 d.C.
Dinastia Sui de 589 d.C. até 618 d.C.
Dinastia T’ang de 618 d.C. até 960 d.C.
Dinastia Sung de 960 d.C. até 1279 d.C.
Dinastia Yuan de 1279 d.C. até 1368 d.C.
Império Mongol:
Dinastia Ming de 1368 d.C. até 1644 d.C.
Dinastia Ch’ing de 1644 d.C. até 1912 d.C.
Império Manchu:
A República de 1912 d.C até o tempo presente

2.3 – Fundação do Taoísmo:

Lao-Tzu. O taoísmo é a religião mais antiga da China, com fundador pessoal. Segundo
as tradições, o fundador foi Lao-tzu, um filósofo chinês (604-517 a.C.). Existem lendas
527

a respeito do seu nascimento e da sua vida. Segundo uma dessas lendas, viveu sessenta
anos no ventre da mãe antes de nascer. Quando nasceu, foi saudado como “Velo
Mestre”, porque seus cabelos já eram brancos. Algumas pessoas duvidam que ele fosse
uma pessoa real ou apenas um sistema de crenças nos livros sagrados taoístas. As datas
citadas para a sua vida, portanto, são apenas sugestões.

Segundo uma tradição taoísta, Lao-tzu nasceu em Chujen, uma aldeia no distrito Hu da
província de Honan, cerca de cinquenta anos antes do Confúcio. Vivia nos tempos de
Zoroastro (na Pérsia) e dos profetas hebreus Jeremias e Ezequiel. Recebeu um cargo na
corte real da dinastia Chou como estudioso encarregado dos livros sagrados. Era uma
pessoa quieta, que mantinha poucos contatos sociais. Era considerado um santo e, pouco
depois da sua morte, passou a ser adorado como divino.

Lao-tzu e Confúcio viviam na China num período de caos nacional. Tinha havido um
governo feudal (um sistema de proprietários de terras que também eram donos dos
habitantes) que começara a desfazer-se. Inimigos invadiam com regularidade o país.
Filósofos e mestres viajavam pela nação. Todas as cortes da China eram infestadas de
filósofos ambulantes, cada um insistindo que o governante aceitasse suas alegações.
Havia ativismo e quietismo, moralidade e amoralidade, individualismo e supremacia do
estado. Numa só coisa estavam unidos. Cada um reivindicava possuir a arte de
governar, mediante a qual os ancestrais se tornaram poderosos no passado. Lao tzu
procurava restaurar a ordem política e social, mas foi mal sucedido, a lenda disse que
deixou o livro sagrado do taoísmo na Grande Muralha da China, e que saiu em busca da
vida eterna e da união com o Tao.

3 – Crenças e Práticas do Taoísmo

Os registros chineses mais antigos indicam que, quando se iniciou o taoísmo, o


animismo na China avançara quase até o monoteísmo. O ser supremo era “O
Grandioso”. Mesmo assim, a crença no monoteísmo ficava oculta por debaixo de muita
superstição. A religião era uma parte importante da vida das pessoas, mas a adoração
era geralmente dirigida aos objetos mais visíveis da natureza, tais como o sol, a lua ou o
rio.

3.1 – O Taoísmo e a Deidade:

O Tao não é chamado de Deus, mas na crença taoísta, realiza a mesma obra que um
deus. Assim como no caso do ser supremo do hinduísmo, o Tao não é um deus pessoal.
É uma força que está em mudança incessante. Nos escritos sagrados taoísta, o Tao é
chamado o completo, aquele que tudo abrange o grandioso, a realidade. Vários
escritores chamam o Tao: “força, razão, ser supremo, providência, deus, palavra, logos”.
Com efeito, a tradução de João 1.1 em chinês emprega “Tao” no lugar de “Verbo”. “No
princípio era o Tao, e o Tao estava com Deus, e o Tao era Deus”. (Hume, pg, 144).
Numa declaração famosa, Lao-tzu expressou a ideia de Tao. “Os caminhos dos homens
528

são determinados por aqueles do céu, os caminhos do céu, por aqueles do Tao, e o Tao
veio a existir por si mesmo”.

3.2 – Ação e Inação:

Além do alcance das palavras. Segundo seus seguidores, o taoísmo não pode ser
descrito, porque está sempre em mudança. Se pudesse ser explicado, já não seria Tao.
“O Tao a respeito do qual se pode falar não é o Tao absoluto”. Pode ser entendido
apenas intuitivamente, e não pelo pensamento racional. Declara-se que é metafísico, ou
seja: além do âmbito físico. É invisível e transcende o mundo humano: o processo
visível da natureza por meio do que todas as coisas se transformam. Vendo os
resultados desse processo, pode-se perceber que o Tao existe quanto a isso, pensamos
nas palavras de Jesus em João 3.8: “O vento assopra onde quer”.

Ação Passiva: O Tao não somente é o princípio do universo, como também é um


padrão para o comportamento humano. Na mudança incessante do Tao, as pessoas veem
a liberdade e o poder. Tao promete a felicidade a todos quantos se dedicam a ele. Como
isso se faz? Mediante a prática de we wei, que significa “inação, sem esforçar, atividade
sem ação”. É necessário reconhecer quatro detalhes.

 Há muita coisa útil no inútil;


 A vida é mantida forte usando a razão para controlar a emoção;
 A vida é relativa. A felicidade acha-se em saber o que pode e não pode ser
transformado;
 A unidade da vida subjaz a todas as coisas.

O Sucesso Quieto. Os escritos taoístas pedem a quietude. Declaram que: “somente a


quieta falta de lutas trará a pessoa ao estado de simplicidade. Então surge o
contentamento; as guerras e o governo chegam ao fim. Agimos sem ação, praticamos
sem agir. Os que falam não sabem, mas os que sabem não falam. O caminho ao céu é
afiar sem cortar. O caminho do sábio é agir sem esforço”. Os taoístas negam que esta
doutrina seja mera preguiça. O objetivo é conseguir a harmonia com a natureza,
evitando a atividade.

3.3 – Yin e Yang:

Uma das crenças chinesas mais antigas referia-se a yin e yang. Trata-se segundo se diz,
da interação entre os princípios negativo e positivo da natureza. Seu símbolo é um
círculo dividido em duas metades em forma de pera, frequentemente visto nos enfeites
chineses. Acredita-se que o yin e o yang foram criados por si mesmos e que controlam a
totalidade da terra e do céu. O yin é a força negativa da natureza. É escuro, frio, úmido,
feminino, é a terra e a lua. O yang é a força positiva da natureza. É luminoso, quente,
masculino, seco, é o sol. Nenhuma avaliação é aplicada a eles para julgá-los; nem são
bons nem maus. A totalidade da natureza, dos seres humanos e dos eventos equilibram
essas forças. Quando cooperam em harmonia, a vida é aquilo que deve ser.
529

O yin e o yang são usados na adivinhação. O símbolo é cercado de oito trigramas, que
são todas as combinações possíveis de linhas quebradas e completas, dispostas em
grupo de três. A linha completa representa o princípio positivo ou masculino. A linha
quebrada representa coisas tais como a água, o trovão, a lua, a terra, a montanha, o fogo,
o raio, o vento e o céu. Há sessenta e quatro hexagramas, sendo que cada um representa
outros aspectos do universo. As plantas, quando as deixamos cair no chão, formam
desenhos como um dos oito trigramas. Os adivinhadores alegam que conseguem lê-los e
adivinhar o presente ou predizer o futuro.

3.4 – O Tao e a Conduta:

Os ensinos do taoísmo no diz respeito à vida e à conduta são descritos por quatro
considerações no Tao-Ching, os livros sagrados.

 A força básica por detrás do universo é o Tao. É uma unidade que não pode ser
definida. A partir do primeiro significado de “caminho”, seguem-se três outros
significados:

1 – Há uma ordem moral e física no mundo;

2 – Há um caminho de razão e de verdade;

3 – Há um caminho de virtude perfeita, o caminho certo na vida.

Os taoísta dizem que, posto que Tao seja a origem do universo, é inútil lutar contra ele.
Assim como a água desgasta a pedra, todas as obras dos homens serão destruídas por
Tao e, portanto, cada pessoa deve procurar unir-se a Tao. Os taoístas genuínos têm uma
vida quieta e simples.

 A vida é a maior de todas as posses. Visto que Tao é a origem da vida, os


taoístas ensinam que a vida é a maior possessão. Todas as demais coisas
entrarão em decadência. As pessoas não devem procurar as riquezas nem o
poder, mas sim, enriquecer as suas vidas com imortalidade.

 A vida deve ser vivida com simplicidade. Visto que todas as obras dos homens
serão destruídas, alguns taoístas viram as costas à sociedade e até mesmo à
própria família. Consideram que todos os laços deste tipo são empecilhos à vida
e tornam-se eremitas. Lao-tzu ensinava que no governo, o menor é o maior. O
melhor governante é aquele que governa menos e que fica no anonimato. Em
semelhante estado, cessariam as brigas e as guerras.

 A soberba e a glória devem ser desprezadas. A soberba deve ser condenada


porque leva à destruição. A árvore mais alta geralmente é a primeira que o
lenhador derruba. Sendo assim, é melhor ser humilde ou imperfeito do que
destacar-se entre os demais.
530

3.5 – A Alquimia e a Imortalidade:

 A alquimia. Visto que os chineses antegozavam a velhice com seu conforto e


suas honrarias, os taoístas procuravam meios de se tornarem imortais. Depois do
período clássico da filosofia de Lao-tzu, surgiu a arte da alquimia. Tratava-se de
uma antiga ciência química cujo alvo era transformar os metais em ouro, achar
uma cura para todas as doenças, e prolongar a vida. Contavam-se estórias de
drogas maravilhosas, de magias que operavam milagres, de levitações e de
ascensões corpóreas ao céu, bem como de uma pílula de imortalidade.

 Regras Dietéticas. Outra escola considerava a imortalidade, não como a vida


após a morte, mas como uma extensão da vida presente. Achava-se que podia
ser alcançada mediante o emprego de vários artifícios, tais como as regras
dietéticas. Alguns diziam que as comidas sólidas eram venenosas e procuravam
viver de alimentos líquidos. Outros alegavam que conseguiam viver apenas com
saliva e ar. Outros praticavam o jejum e o controle da respiração, assim com
fazem os iogues indianos.

4 – Escritos do Taoísmo

Quais comunicações os taoístas antigos deixaram para as gerações seguintes? Os


escritos taoístas são poucos, em comparação com o hinduísmo. A lenda declara que,
perto do fim da sua vida, Lao-tzu iniciou uma viagem para as montanhas ocidentais.
Ali, o guardador de um desfiladeiro, um taoísta, rogou-lhe que não deixasse o mundo
sem deixar por escrito suas famosas ideias. O sábio concordou, e escreveu um tratado de
cinco mil palavras a respeito do caminho e do seu poder. Depois disso, saiu andando e
nunca mais foi visto. Seu livro, chamado o Tao-te-Ching, não era uma biografia e era
difícil distinguir entre os fatos e a fantasia. Continha oitenta e um capítulos breves. O
número foi escolhido porque é um múltiplo de três, que era considerado um número
sagrado. O primeiro capítulo menciona o Tao como o caminho indescritível e
indefinível. É uma porta de onde vieram as dez mil criaturas da terra. O Tao é
comparado com a água, porque a água é mole e satisfaz-se com o lugar mais baixo.
Mesmo assim, beneficia todas as criaturas, e finalmente vence tudo.

A mensagem e a sabedoria do Tao-te-Ching são interessantes, por causa do seu próprio


valor, bem como por causa de algumas semelhanças com a bíblia.

 Capítulo 1: O Tao Que Pode Ser Pulmilhado.


O Tao que pode ser palmilhado não é o Tao durável, o imutável. O nome que
pode ser especificado não é o nome permanente e imutável. O Tao é o
originador do céu e da terra... É a mãe de todas as coisas. O caminho do Tao é
considerar grande aquilo que é pequeno e os poucos, como muitos; e retribuir a
injuria com bondade.
531

 Capítulo 51: Todas as Coisas.


Todas as coisas, sem exceção, honram o Tao. O Tao produz todas as coisas, e
não reivindica a posse delas. O caminho é como um vaso vazio que é o
antepassado de onde vêm todas as coisas do mundo.
Trinta raios de roda unem-se no cubo, mas o valor da roda dependerá do espaço
onde gira o eixo.

 A utilidade acha-se na não existência.


Se você conhecer a justiça, embora você morra, não perecerá. Se você não
confiar suficientemente nas pessoas, elas podem não ter confiança alguma em
você. Com aquele que não é concorrente, ninguém no mundo inteiro pode
concorrer.
Pouca fé é dada àqueles que têm pouca fé. Os sábios rejeitam todos os extremos.
Aquele que compreende aos outros é sábio, aquele que compreende a s mesmo é
iluminado.
Aquele que vence os outros é forte; aquele que vence sua própria vontade é
poderoso. Se você quiser receber, deve primeiramente dar, esse é o começo da
inteligência.

 A ausência do desejo traz tranquilidade.


Uma carroça é mais do que a soma das suas partes.
Aos bons, quero ser bom e aos maus, quero ser bom; dessa maneira, todos
podem tornar-se bons.
Uma viagem de mil quilômetros pode ser feita com um passo de cada vez.

Chuang Tzu, um discípulo de Lao-tzu no século IV a.C., complementou os ditos de


Lao-Tzu. Compilou os escritos deste e de outros escritores num livro, e procurou
convencer o povo a aceitar Lao-tzu, ao invés de Confúcio como seu mestre principal.
Acrescentou a ideia de que as estações e a história se sucedem como num ciclo. Assim
com o yin e o yang, produzem e destroem-se entre si e cada término fica sendo um novo
começo, Chuang Tzu disse que no âmbito social há amores e ódios. Mas não há nenhum
estado durável, quer de paz, quer de inimizade e nenhum modo correto de fazer as
coisas. Cada criatura tem seu próprio Tao e aquele Tao é certo para ela.

5 – Desenvolvimento do Taoísmo

A história do taoísmo pode ser dividida em três fases: a Filosófica, a Mágica e a


Religiosa.

 Fase Filosófica (600-300 a.C.)


532

Os três primeiros séculos do taoísmo podem ser chamados de o período da


filosofia clássica. Os Alicerces do taoísmo foram ditados por Lao-tzu. Seu
discípulo, Chang-tzu, acrescentou alguns outros escritos brilhantes e outros
escritores também contribuíram. O taoísmo, paulatinamente, declinou-se para o
politeísmo, a bruxaria e a adoração aos ancestrais.

 Fase Mágica (300 a. C -165 d.C.)


O taoísmo tem uma história patética, e em sua maior parte usava a magia. Os
taoístas procuravam novos meios de se tornarem imortais. As deidades pessoais
foram reabilitadas, orações e rituais eram realizados para aplacar os espíritos. Já
nos primeiros séculos do Cristianismo, o taoísmo era uma religião com
sacerdotes, templos, sacrifícios, demonolatria e ocultismo. O taoísmo veio a ser
conhecido como uma religião de ignorância, de superstição e de tentativas
mágicas de prolongar a vida.

 A Fase Religiosa (165 d.C. até os tempos presentes)


A Dinastia Han começou a desfazer-se no século III d.C. Lideres carismáticos
reuniam muitos taoístas e formavam exércitos para travarem guerras, um modo
não taoísta. Acrescentaram mais deuses, templos, sacerdotes e rituais, e o
taoísmo veio a ser a religião das massas do povo chinês. Os sacerdotes vendiam
sortilégios, amuletos e ritos de exorcismo eram realizados para purificarem as
casas assombradas e curarem os enfermos. Tanto os sacerdotes ortodoxos como
os mágicos eram consultados quanto aos ritos do nascimento, do casamento, do
sepultamento e dos negócios. Os médiuns faziam cortes em si mesmos, em
expiação vicária e também praticavam a psicografia.
No século IV d.C. o budismo mahayana tornou-se popular, mas desenvolveu-se
com hostilidade. No século IX a luta foi apaziguada principalmente, pelo
sincretismo. Cada religião tomava emprestados aspectos da outra. Foi
acrescentado o ensino do nirvana. Foram estabelecidos mosteiros e conventos.
Assim, o taoísmo, o budismo e o confucionismo ficaram sendo as religiões
comuns e na realidade, a única religião dos chineses.

6 – Avaliação do Taoísmo

Em nossa avaliação do taoísmo, mencionaremos algumas fortalezas e fraquezas do


taoísmo. Depois, indicaremos algumas pontes que levam das crenças do taoísmo para as
verdades do Cristianismo. Nosso alvo é apresentar diante do taoísmo o amor de Cristo e
a vida em abundância.

a) Pontos Positivos do Taoísmo

 Podemos conseguir a união com o ser supremo;


 Devemos devolver o bem pelo mal;
533

 Devemos controlar as emoções mediante a razão;


 A vida é mais importante do que as posses materiais;
 O serviço prestado aos outros é o ideal;
 Para ser perfeito, o homem deve seguir um caminho divino.

b) Pontos Negativos do Taoísmo

 O supremo ser, o Tao, não é um deus pessoal;


 O ensino do fundador, no tocante à inação ativa, leva a uma abordagem negativa
e passiva em relação à vida;
 O taoísmo procura negar o mal que há no mundo, mediante o retraimento.
 O taoísta negligencia os fatos físicos e as duras realidades da vida;
 O taoísta procura uma simplicidade atrasada, sem progresso social;
 O seguidor não tem recursos para resistir o politeísmo, a demonologia e as
práticas da magia;
 O taoísmo não oferece ajudador para o ser humano na sua vida pessoal e social e
nenhuma promessa de um futuro de bem-aventurança.

125 – TEORIAS POLÍTICAS DE ESQUERDA (MARXISMO)

(veja tópicos 13, 66 e 98 sobre o autoritarismo, liberalismo, socialismo).

1 – Introdução:

a) O que é Socialismo?

O socialismo é uma teoria político-econômica que reivindica para comunidade, ou para


o Estado, a propriedade e o controle dos meios de produção, distribuição e troca, além
da distribuição equitativa da riqueza. O termo foi usado pela primeira vez pelo teórico
político francês Claude Saint-Simon (1760-1825) e pelo industrial e reformista inglês
Robert Owen (1771-1858). Os partidos que se definem como “socialistas” incluem os
comunistas de extrema esquerda, que pregam mudanças políticas por revoluções
violentas, e os moderados socialdemocratas ou trabalhistas que atuam como instituições
de governos democráticos representativos.

A tradição de “socialismo de Estado” comunista nunca foi unânime na esquerda. Os


socialdemocratas ocidentais creem que os mercados podem ser regulados para atingir
suas metas socialistas sem substitui-las pelo planejamento do Estado. Como direita,
concordam que a propriedade monopolista do Estado e o planejamento ameaçãm a
liberdade e reduzem a eficiencia, sem promover mais igualdade e solidariedade.
534

Nos anos 80, os fracassos básicos das economias planejadas do bloco comunista
depreciaram totalmente a tradição “socialismo do Estado”. este descrédito permitiu que
a esquerda social-democrata sueco e alemão, o trabalhista britânico e o socialista
francês esclarecesse seu compormisso com o pluralismo econômico, uma economia
mista cujos mercados são regulados pelos governos, visando maior liberdade, igualdade
e comunhão.

b) Marxismo:

A doutrina político-econômica conhecida como marxismo foi delineada pelos teóricos


alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). Seu mais famoso
trabalho conjunto foi o “Manifesto do Partido Comunista” (1848), sendo que Engels
auxiliou Marx a concluir seu trabalho mais importante, O Capital (1867-1894). De
acordo com a teoria do Materialismo Dialético de ambos, a história humana assiste à
evolução de vários modos de produção, caracterizados pela exploração e divisão
fundamental de classes. Acreditavam que as mudanças nos modos de produção viriam
pela luta de classes, sempre sinalizadas pela revolução. A revolução socialista se
caracterizaria por uma temporária “ditadura do proletariado (classe trabalhadora)” – na
qual os meios de produção se tornariam propriedade do Estado – que criaria condições
para uma sociedade comunista sem classes em que os meios de produção pertenceriam a
todos os membros da sociedade e os bens de serviços, distribuídos de maneira justa de
acordo com as necessidades do povo.

Através de sua profunda influência sobre comunistas revolucionários como Lênin


(1870-1924) e Mao Tsé-Tung (1893-1976) e de forma menos intensa sobre socialistas
evolucionários e socialdemocratas, o marxismo teve forte impacto sobre a história do
século XX.

Lênin defendia a criação de um partido de elite de revolucionários profissionais para


acelerar a violenta revolução proletária, favorável à ditadura deste partido, mais do que
à classe operária. Sua filosofia revolucionária – o marxismo-leninista – transformou-se
na doutrina da URSS e se propagou pelo mundo. A interpretação de Mao Tsé-Tung do
marxismo-leninista era baseada no potencial revolucionário dos camponeses e na luta
armada de guerrilha, adaptando-o às condições chinesas. Na prática, o marxismo-
leninista ou comunista significou a ditadura do Partido Comunista e o Controle de todos
os aspectos da vida humana. Os Estados sob o domínio do Comunismo caracterizaram-
se por economias centralizadas e vastas burocracias administrativas, além da censura e
da supressão da concorrência interpartidária, os partidos comunistas monopolizaram o
poder do Estado na URSS e na Europa Oriental (até 1989), na China, Indochina e Cuba.

c) Social Democracia:

Vários partidos de centro-esquerda são descritos como socialdemocratas. Antes de


1919, o termo definia partidos socialistas adeptos do marxismo. Entre 1919 e 1945, foi
usado por partidos de esquerda que, mesmo marxistas, rejeitavam a liderança da URSS.
Durante o pós-guerra, o termo aplicou-se a partidos democráticos de esquerda
535

comprometidos com a redistribuição da renda, ampliação de planos de assistência e


seguridade sociais, com um controle limitado do Estado sobre a economia.

126 – TEORIAS POLÍTICAS DE ESQUERDA (SOCIALISTAS)

1 – Introdução:

Stalinismo: Totalitarismo de Esquerda.

O termo totalitarismo se aplica inicialmente aos chamados regimes de direita, como o


fascismo e o nazismo. Mas, segundo o historiador da filosofia Châtelet, a partir de 1929,
o seminário Time passa a usar o termo para se referir também ao regime soviético,
caracterizado pelo Estado unitário, de partido único.

Vejam os tópicos 34 e 52 sobre, Liberalismo e Socialismo respectivamente. A


Revolução Russa de 1917 derruba o czarismo e implanta novo regime, inspirado no
marxismo-leninismo. Segundo Marx, como vimos nas fases transitoria entre o
capitalismo e a nova ordem deve se instalar a ditadura do proletariado, na qual o Estado,
embora concebido essencialmente como domínio e coerção, deve desaparecer com o
tempo.

Apesar da coerção do Estado, a ditadura do proletariado é considerada uma democracia


pelos marxistas, pois todos teriam acesso ao poder, já que os sovietes são compostos por
deputados escolhidos entre os diversos seguimentos sociais, como operários, soldados e
camponeses. Além disso, a propriedade coletiva dos meios de produção reverteria, para
todos, os benefícios da produção, antes usufruídos por alguns poucos privilegiados.

No entanto, a ideia do gradual desaparecimento do Estado não se concretiza; ao


contrário, é inevitável o seu fortalecimento logo após a revolução, a fim de evitar a
contra-revolução. Tal situação já se verifica durante o governo de Lênin, e recrudesce
após sua morte, quando Stalin sobe ao poder em 1924. O Partido único torna-se
onipotente, sendo proibidas as operações em seu interior. A liberdade de impressa e de
expressão é reduzida, e os políticos dissidentes são perseguidos e dizimados. A Tcheka,
polícia política, cuida de reprimir os heterodoxos. Proliferam os campos de
concentração de trabalhos forçados e os hospitais psiquiátricos, onde são internados os
dissidentes, após intensas e brutais campanhas de expurgo.

Instaura-se o terror, justificado pela necessidade de fortalecimento da ideologia oficial


ameaçada. O poder é cada vez mais centralizado e cresce o culto à personalidade de
Stalin.

Com Stalin a teoria degenera em dogmatismo e se impõe independente da experiencia


vivida, negando qualquer forma de pensamento divergente. À petrificação da doutrina
536

acrescenta-se a formulação de máximas de ação. Tudo isso está longe da concepção


marxista baseada na dialética teoria e prática.

A ação totalitária ainda é possível porque a administração do terror é científica,


sustentada pela tecnoburocracia. Essa organização, importada do capitalismo ocidental,
baseia-se no regime de divisão racional do trabalho e se estrutura em uma rede de
microorganizações, o que permite o controle da máquina do Estado.

Para melhor exercer o poder, Stálin interfere em todos os domínios da cultura: Jdanov,
membro do partido, dá os cânones da produção artística e critica os “desvios burgueses”
das letras e das artes; o biólogo Lysenko rejeita a genética mendeliana, acusando-a de
burguesa e conservadora (!) porque, para Mendel, os caracteres veiculados conservam-
se de geração em geração; Lysenko retoma as ultrapassadas teorias lamarchianas,
segundo as quais os caracteres adquiridos poderiam se tornar hereditários.

Após a morte de Stalin e a ascensão de Kruchev (1956) inicia-se o processo de


desestatização, com a denúncia dos crimes e violências, a destruição do culto à
personalidade e a crítica ao dogmatismo.

127 – TOMISTA
(veja o tópico 74 sobre Neotomismo)

1 – Concepção Tomista:

Santo Tomás de Aquino (1225-1274) foi o maior representante da Escolástica,


tendência da filosofia medieval influenciada por Aristóteles. O pensamento tomista se
caracteriza por ter realizado a grande síntese do aristotelismo e as verdades teológicas
da fé cristã.

No século XIII os tempos já são outros, com o renascimento das cidades e a


intensificação do comércio, o debate das ideias nas universidades, o desafio das
heresias. Também Santo Tomás muda o enfoque dos temas políticos e, sob a influência
dos textos de Aristóteles, preocupam-se com questões tais como a natureza do poder e
das leis e a questão clássica do melhor governo.

Com Aristóteles, Santo Tomás considera que o homem só encontra sua realização na
cidade, e o plano político é a instância possível em que o governo não tirânico pode
aliar ordem e justiça na busca do bem comum. O poder político, mesmo que seja de
origem divina, circunscreve-se na ordem das necessidades naturais do homem enquanto
ser social que necessita alcançar seus fins terrenos. Daí que o estudo da política requer o
uso da razão natural, não se circunscrevendo apenas ao âmbito da teologia.
537

No entanto, coerente também com sua visão religiosa do mundo, Santo Tomás conclui
que o Estado conduz o homem até certo ponto, quando então se exige o concurso do
poder da Igreja, sem dúvida superior, e que cuidará da dimensão sobrenatural do destino
humano. Embora ainda mantendo a hierarquia entre as duas instâncias atenuam sem
dúvida os excessos da doutrina nascida da “luta das duas espadas”.

Preocupado com a questão da tirania, considera que a paz social resulta da unidade do
Estado, sendo importante a virtude do governante. Ao abordar as formas de governo,
indica suas preferencias pela monarquia, desde que “temperada”, em que o poder é
repartido entre o rei e um grupo de homens especiais escolhidos pela maioria:
“primeiro, um chefe único, escolhido por sua virtude, que esteja à frente de todos; em
seguida, abaixo dele, alguns chefes escolhidos por sua virtude; sendo autoridade de
alguns, a deles nem por isso deixa de ser autoridade de todos, visto que pode ser
escolhido na totalidade o povo, ou realmente o são”.

128 – TOTALITARISMO

(Fascismo, Nazismo e Stalinismo)

1 – Introdução:

Sistema Político no qual todas as atividades do ser humano estão submetidas ao Estado.

a) Fascismo e Nazismo: Totalitarismo de Direita

O fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha são movimentos surgidos após a


Primeira Guerra Mundial e têm características semelhantes, sobretudo enquanto
manifestação do ideal totalitário. Vamos descrevê-los ao mesmo tempo, a partir de suas
semelhanças, indicando as diferenças quando existirem.

2 – Situação Histórica

Do ponto de vista econômico e moral, o saldo da Primeira Guerra Mundial (1914-1918)


foi desastroso para a Alemanha. O otimismo do período pré-guerra é substituído pelo
pessimismo decorrente da crise econômica, do desemprego, da proletarização da classe
média, tudo isso aliado à humilhação sofrida com a derrota e a assinatura de um
aviltante tratado de paz. O orgulho alemão recrudesce em manifestações de franco-fobia
e de exacerbação do nacionalismo. A Itália, por sua vez, mesmo alinhada com as
potências vencedoras, não está satisfeita com as vantagens prometidas e não
concretizadas; a inflação e o desemprego geram um clima de agitação social.
538

A inflação e a alta do custo de vida são reflexos da crise econômica que se torna mais
aguda quando, em 1929, ocorre a “quebra” da Bolsa de Nova Iorque, com repercussões
mundiais. A Grande Depressão ocasiona desemprego em massa e falências, o que
recrudescem os antagonismos e, consequentemente, as críticas ao modelo do
liberalismo, incapaz de evitar crises como essas.

Os Estados Unidos e a Inglaterra reagem à depressão criando mecanismos


protecionistas que caracterizam o Estado de bem-estar social. Mas na Itália e Alemanha
a crise favorece a atuação de partidos extremistas que promovem a ascensão do
fascismo e do nazismo.

O posicionamento desses paridos contra o liberalismo aparece na crítica ao tipo de


liberdade estimulada pelo individualismo, que gera conflitos enfraquecedores do
Estado. Diante da inoperância da democracia liberal para resolver a crise, surgem as
alternativas que visam, sobretudo o fortalecimento do Estado.

As primeiras adesões ao nazismo e ao fascismo sugerem uma tendência anticapitalista


que aparenta, no início, ter um caráter revolucionário, logo desmentido. Na verdade,
esses movimentos são formas de reação, são forças conservadoras que se manifestam na
aliança com grupos cujos privilégios são mantidos por meio de tarifas protecionistas.
Em troca, o Estado obtém o financiamento que possibilita a “manutenção da ordem
pública”, incluindo a ação anticomunista destinada a extirpar o “perigo vermelho”, foco
de agitação sindical.

A aliança com setores mais conservadores, ligados à grande indústria monopolista, aos
bancos e às finanças em geral, é que pode explicar o fato de esses partidos terem
chegado ao poder por via legal. É interessante notar que, apesar de o verdadeiro poder
vir da oligarquia e de nesses movimentos se encontrarem adeptos de todas as camadas
sociais, inclusive proletários, é da classe média que saem os elementos que formarão os
principais quadros. A fúria da adesão pequeno-burguesa talvez se explique pela
constante ameaça de proletarização em momento de crise.

O fascismo predominou na Itália com Mussolini, desde 1922, e o nazismo na Alemanha


com Hitler, desde 1933. Finda a segunda Guerra, em 1945, Mussolini foi morto e Hitler
suicidou-se.

3 – Características Principais

 Origem da Nomenclatura:

O termo fascismo, lançado por Mussolini, vem do italiano fascio, que significa “feixe”.
Na Roma Antiga, os magistrados eram precedidos por funcionários, os littori, que
539

empunhavam machados cujos cabos compridos eram reforçados por muitas varas
fortemente atadas em torno da haste central. Os machados simbolizam o poder do
Estado de decapitar os inimigos da ordem pública e as varas amarradas representam a
unidade do povo em torno de sua liderança. Fascio são também organizações populares
que surgem na Itália, desde o século XIX, formadas na luta em defesa dos interesses de
determinadas comunidades. Em 1919, Mussolini fundo os fasci di comattimento, que
em seguida proliferam por toda a Itália.

É interessante lembrar que antes de se tornar líder da direita fascista, Mussolini foi um
jornalista cuja atividade política tinha tendências socialistas. Defendendo posições de
esquerda, foi preso sob acusação de incitamento à greve.
O termo nazismo surge quando Hitler entra para o Partido Operário Alemão e muda o
nome para Partido Operário Alemão Nacional-Socialista (Nationalzsozialistische
Deutsche Arbeiterpartei), cuja abreviação passa a ser Nazi. Hitler também cria o
estandarte da cruz gamada (suástica), símbolo do movimento.

 Doutrina:

O nazismo e o fascismo se desenvolvem sob o primado da ação. “A nossa doutrina é o


fato”, afirma Mussolini em 1919, acrescentando que o fascismo não precisa da palavra,
mas da disciplina. Só em 1929-1930, é o que Mussolini achará necessidade de uma
doutrina, mesmo assim muito imprecisa, sem preocupação com a coerência e a
exposição racional.
Também para Hitler, na famosa obra Mein Kampf (Minha luta), importa mais fazer a
autobiografia apaixonada e um apelo à ação do que desenvolver uma clara discussão de
princípios. Ambos querem despertar convicções, não debater ideias. Os princípios não
são tão importantes quanto o envolvimento no sistema e a adesão a ele. A
preponderância do anti-intelectualíssimo faz descambar a ação para o fanatismo e a
violência, de onde deriva uma visão irracionalista do mundo, calcada na promessa de
“doação” de uma sociedade melhor.

 Nacionalismo:

Ambos os movimentos se acham orientados pelo nacionalismo exacerbado, nascido do


desejo de tornar a nação forte, grande, autossuficiente e com exército poderoso.
Segundo Mussolini, a nação “é um organismo dotado de existência, de um fim, de
meios de ação superiores em poderio e em duração aos indivíduos isolados e agrupados
que a compõem... Unidade ética, política e econômica, realizam-se integralmente no
Estado do fascista”.

O nacionalismo fascista é conservador e agressivo, justificando inclusive o


imperialismo, cuja consequência mais grave foi a malograda tentativa de conquista da
Etiópia (1935-1936).
540

Essa concepção nacionalista tem um caráter idealista e critica a interpretação


materialista da história, típica do marxismo. A luta de classes é substituída pela
solidariedade nacional: só a nação unida será forte o suficiente para subsistir aos caos.
Mussolini, na obra Opera Omnia, não oculta estar se valendo do mito da pátria:
“Criamos o nosso mito. O mito é uma fé, é uma paixão. Não é preciso que seja uma
realidade. (...) o nosso mito é a nação, o nosso mito é a grandeza da nação!”.

O nacionalismo alemão adquire nuances diferentes, como o pangermanismo, que


justifica a pregação do “espaço vital”. Segundo a qual era preciso integrar à Alemanha
regiões como a Áustria, Dantzig, Polônia e Ucrânia, na tentativa de formar a Grande
Alemanha.

Além disso, o nacionalismo alemão possui conotação fortemente racista: o nazismo


proclama a primazia do volk, termo que significa ao mesmo tempo povo e nação, mas
uma nação concebida como realidade orgânica, como comunidade de seres da mesma
raça (mesmo solo, mesmo sangue). “Tu não és nada, o teu Povo é tudo”, afirmava
Hitler.

Auxiliado por teorias pseudocientíficas, Hitler estabelece critérios para valorizar a “raça
ariana”, a elite nórdica, e exclui do poder as “raças passivas”, de “menor valor”,
propondo inclusive a eliminação da raça judaica, “antítese da raça ariana”, todos sabem
a consequência dessa ideologia: a perseguição dos judeus, culminando com os campos
de concentração e o genocídio. Ainda na perspectiva racista, o nazismo difunde técnicas
de eugenia para o “aprimoramento da raça superior”, proíbe a mestiçagem e propõe
esterilizações orientadas pelo princípio de que só os indivíduos são devem procriar.

 Totalitarismo:

A crítica ao liberalismo e à concepção individualista de homem, a hostilidade aos


princípios da democracia, a valorização das elites e do papel do mais forte levam à
exaltação do Estado. “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”, diz
Mussolini. É a ideia hegeliana de Estado como suprema e mais perfeita realidade, a
própria encarnação do Espírito objetivo, representativa da totalidade dos interesses dos
indivíduos. É bem verdade que esse estatismo é mais violento em Mussolini, que
considera o Estado um fim em si. Para Hitler é apenas um instrumento, pois todo
prestígio deve ser reservado ao Volk, conforme vimos.
Não se trata de simples autoritarismo, pois o totalitarismo o ultrapassa. O Estado
coincide com a totalidade da atividade humana, ou seja, com a vida familiar,
econômica, intelectual, religiosa, de lazer, nada restando de propriamente privado e
autônomo.

Em todos os setores, cuida-se de difundir a ideologia oficial. Não há mais pluralismo


partidário, instituição básica da democracia liberal. A primeira das molas que instauram
o poder é o partido, que deve ser único, rigidamente organizado e burocratizado. É o
541

partido que promove a identificação entre o poder e o povo, processando a


homogeneização do campo social. Na Itália, isso ocorre com o desenvolvimento de um
sistema corporativo presidido pelo próprio Mussolini, o Dulce (“aquele que conduz”), o
que garantia a centralização administrativa e a realização da unanimidade no Estado.

O partido forma organismos de massa: sindicatos de todos os tipos, agrupamentos de


auxílio mútuo, associações culturais de trabalhadores de diversas categorias,
organizações de jovens, crianças e mulheres, círculos de escritores, artistas e cientistas.
Em cada organismo o partido refaz a imagem da identidade social comum e elimina as
possibilidades de divergências e oposição, estimula a arregimentação dos indivíduos
para o partido, exalta a disciplina e mistifica a figura do chefe. Aliás, o lema fascista é:
“Crer, obedecer, combater”.

Valorização da hierarquia, impedindo que esses organismos expressem o pluralismo de


opiniões, reforça a centralização administrativa, fortalecedora do Estado e do poder do
líder.

Paralelamente, dá-se a concentração de todos os meios militares e a formação da polícia


política (como a Gestapo, na Alemanha), instituindo enorme aparelho repressivo
diretamente controlado pelo ditador. Não há independência dos poderes legislativo e
judiciário, subordinados ao executivo, e a direção de toda a economia se encontra
também centralizada.

Outra característica importante do totalitarismo é a concentração de todos os meios de


propaganda, a fim de veicular a ideologia oficial dirigida ao “homem-massa”, forjando
convicções inabaláveis, o que garante forte base de apoio popular. Geralmente é usado o
apelo aos sentimentos, à imaginação, e não ao intelecto. Inúmeros recursos materiais e
técnicos empregados na manipulação da opinião pública louvam as criações dos líderes
e tecem deles um perfil psicológico característico da genialidade. Fotografias ampliadas
e falas exaltadas completam o culto à personalidade. São feitos desfiles espetaculares, as
pessoas cantam músicas especialmente produzidas e receitam slogans. Na verdade, tudo
muito próximo a uma mitologia...

Ao lado dessa exaltação, há o controle das informações pela censura, tanto de notícias
quanto da produção artística e cultural.
A educação é orientada no sentido da valorização das disciplinas de moral e cívica,
visando à formação do caráter, da força de vontade, da disciplina, do amor à pátria,
importantes para o cidadão. Dedica-se especial atenção à educação física, tendo em
vista o ideal de corpos perfeitamente sadios, e há mal disfarçado desprezo pelas
atividades intelectuais.

Procura-se enquadrar a juventude na ideologia do regime, estimulando a obediência à


hierarquia, o gosto pela vida comunitária e atividades militares (integração nas milícias
jovens), a fim de forjar os gostos e os ideais do futuro cidadão.
542

A política de natalidade premia os casais de muitos filhos e estimula o retorno da


mulher ao lar, exaltando a função de mãe e mantenedora da harmonia familiar.
Costuma-se dizer que o nazismo reduziu a atividade da mulher a três K – Kirche
(Igreja), Küche (cozinha) e Kinder (criança).

Embora, com algumas diferenças, as doutrinas totalitárias influenciaram movimentos


como o de Salazar, em Portugal, o de Franco, na Espanha, e a Ação Integralista
Brasileira, fundada por Plínio Salgado.

129 – TRINITARISMO

1 – Introdução:

O que é Trinitarianismo?
Segundo o dicionário da Língua Portuguesa Larousse, é a crença na “Trindade”. Assim
define o Dicionário: “1. Trindade – s.f. do latim (trinitas). Na teologia cristã,
designação de Deus em três entidades (Pai, Filho e o Espírito Santo). (Usa-se com letras
maiúsculas); 2. P.ext. Divindade Tríplice; 3. Tríade”.

O que é Trinitarianismo Bíblico? É o ensino de que Deus é triúno, que Ele tem Se
revelado em três pessoas co-eternas.

(*) Para uma apresentação bíblica e detalhada da Trindade, por favor, leia nosso artigo
sobre o que a bíblia ensina sobre a Trindade. O propósito desse artigo é apenas discutir
a importância do Trinitarianismo em relação à salvação e vida Cristã.
Frequentemente recebemos a pergunta: “tenho que acreditar na Trindade para ser
salvo?” a resposta é – sim e não. Tem uma pessoa compreender totalmente e concordar
com todos os aspectos do Trinitarianismo para ser salvo? Não. Há certos aspectos do
Trinitarianismo que fazem um papel importante em salvação? Sim. Por exemplo, a
divindade de Cristo é de importância crucial à doutrina da salvação. Se Jesus não fosse
Deus, sua morte não poderia ter pagado a penalidade infinita do pecado. Só Deus é
infinito – Ele não teve um começo e não tem um fim. Todas as outras criaturas,
incluindo os anjos, são finitas – eles são todos seres criados. Apenas a morte de um Ser
infinito poderia expiar pelo pecado da humanidade por toda a eternidade. Se Jesus não
fosse Deus, Ele não poderia ser o Salvador, o Messias, o Cordeiro de Deus que tira os
pecados do mundo (João 1.29). Uma opinião não bíblica da natureza divina de Jesus
resulta em uma opinião errada sobre salvação. Toda seita “cristã” que nega a divindade
verdadeira de Cristo também ensina que precisamos adicionar nossas obras à morte de
Cristo para podermos ser salvos. A verdadeira e completa divindade de Cristo, um
aspecto do Trinitarianismo, refuta esse conceito.
543

Ao mesmo tempo, reconhecemos que há seguidores de Jesus Cristo que não defendem o
Trinitarianismo por completo. Enquanto rejeitamos Modalismo, não negamos que uma
pessoa pode ser salva e acreditar que Deus não é três Pessoas, mas simplesmente Se
revelou de três “modos”. A Trindade é um mistério que nenhum ser humano finito pode
completamente e perfeitamente compreender. Para salvação ser recebida, Deus exige
que confiemos em Jesus Cristo, Deus encarnado, como Salvador. Para salvação ser
recebida, Deus não exige aderência completa a todo preceito de teologia Bíblica ensina.
Não, entendimento completo e concordar completamente com todos os aspectos do
Trinitarianismo não são necessários para salvação.

Defendemos fortemente que Trinitarianismo é uma doutrina baseada no que a Bíblia


ensina. Proclamamos de forma dogmática que compreender e acreditar no
Trinitarianismo bíblico é crucialmente importantes para a compreensão de Deus.
Salvação, e o trabalho contínuo de Deus na vida dos seguidores de Cristo. Ao mesmo
tempo, têm existido homens que amam a Deus, seguidores genuínos de Jesus Cristo,
que têm tido certos desacordos com aspectos do Trinitarianismo. É importante lembrar
que não somos salvos por ter uma doutrina perfeita. Somos salvos ao confiar no nosso
perfeito Salvador (Jo. 3.16). Temos que acreditar em certos aspectos do Trinitarianismo
para sermos salvos? Sim! Temos que concordar totalmente com todas as áreas do
Trinitarianismo para sermos salvos? Não.

2 – Refutação:
2.1 – Mentiras que os Trinitarianos atribuem a Deus, Jesus Cristo e a Bíblia.

 Disse Jesus: Seja, porém, o vosso falar: Sim, Sim; não, não; pois o que
passa daí, vem do maligno. Mateu 5.37.

Se estas palavras de Jesus são verdadeiras, como cremos que de fato são isto significa,
que, em tudo que Ele disse, nunca houve meias verdades. Afinal de contas, Ele próprio,
repetidas vezes, afirmou:

“A palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou.” Jo. 14.24. E
numa oração ao Pai, acrescentou: “Porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me
deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu
me enviaste.” Jo. 17.8.

Portanto, se nas palavras de Jesus nunca houve meias verdades, muito mentos haveria
nas palavras de Seu Pai. Até porque, toda meia-verdade não passa de uma mentira
disfarçada. E isto também provém do Maligno. Numa das descrições que fez do diabo,
Jesus afirmou que ele “jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade.
Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da
mentira.” Jo. 8.44.
544

A mesma conclusão quanto à inexistência de maias verdades em suas palavras, é válida


também para os profetas e apóstolos, os quais, por terem escrito, movidos pela
inspiração do Espírito de Cristo, jamais falaram de si mesmos ao redigirem a Mensagem
de Deus, contida na Bíblia.

Comparemos, pois, a seguir, palavras de homens acerca da existência de uma trindade


com os Escritos Sagrados da Bíblia, onde não há meias verdades. Assim,
identificaremos quem são os mentirosos quanto à Divindade.

a) A doutrina Católica da Trindade Ensina que:

“O mistério da Trindade é a doutrina central da fé católica. Sobre ele estão baseados


todos os outros ensinamentos da igreja.” [o catecismo do católico de hoje, p. 11].

A igreja estudou este mistério com grande solicitude e, depois de quatro séculos de
investigações, decidiu expressar a doutrina deste modo: Na unidade da Divindade há
três pessoas – o Pai, o Filho e o Espirito Santo – realmente distintas uma da outra.
Assim nas palavras do Credo de Atanásio: “o Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito
Santo é Deus, e, no entanto não são três deuses, mas um só Deus”. [catecismo do
católico de hoje, p. 12 (número 1248, da Editora Santuário, Edição 28, 2002).

b) Coincidente e curiosamente, esta é a atual posição adventista acerca desse tema:

Embora a Divindade não seja apenas uma pessoa, Deus é um em propósito, mente e
caráter. Esta unicidade não oblitera as personalidades distintas do Pai, do Filho e do
Espírito Santo. Tampouco a existência destas personalidades separadas destrói o
conceito monoteísta das Escrituras, de que Pai, Filho e Espírito Santo são um único
Deus. Nisto cremos, p. 42, (CPB, 2000;

c) Tomando por base as citações acima, leia os comentários abaixo. Depois, pare,
pense e reflita.

1°. – Teria Jesus mentido, quando disse: “Todas as coisas me foram entregues por meu
Pai; e ninguém conhece plenamente o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece
plenamente o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt. 11.27)?

Obviamente, a palavra “ninguém” proferida por Cristo se refere a pessoas. se os


trinitarianos tivessem razão quando afirmam que o Espirito Santo é uma pessoa e
também um Deus, igual ao Pai, como poderia um Deus não conhecer o outro
plenamente, visto que seriam iguais? Por outro lado, se o Espírito Santo, que é uma
pessoa para os trinitarianos, conhecesse plenamente o Pai tanto quanto o Filho, então
Jesus não teria dito a verdade ao afirmar que NINGUÉM conhece plenamente o Pai
senão o Filho. Quem está mentindo? Jesus, ou os trinitarianos?

2°. – Teriam Jesus e Paulo mentido, quando disseram: (Jesus) “Eu sou o caminho, e a
verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” Jo 14.6 e (Paulo) “Porque há
545

um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” I Tm.


2.5?

Jesus declara (e Paulo confirma) que não existe nenhum outro mediador ou
intercessor entre Deus e os homens. Nenhuma outra pessoa além de Jesus, “ninguém”
tem acesso ao Pai para interceder por nós. Porém, os trinitarianos afirmam que o
Espírito Santo é uma terceira pessoa divina e que intercede por nós com gemidos
inexprimíveis. Quem está mentido? Jesus e Paulo, ou os trinitarianos?

3°. – Teria Jesus mentido, quando disse: “Pois onde se acham dois ou três reunidos em
meu nome, aí estou eu no meio deles” Mt. 18.20; “... e eis que eu estou convosco todos
os dias, até a consumação dos séculos”?

Segundo os trinitarianos acreditam e ensinam, não é o próprio Jesus que está


conosco, mas terceira pessoa da trindade, o Espirito Santo. Se isto que os trinitarianos
dizem é uma verdade, então, o que Jesus disse não é uma total verdade, mas, uma meia
verdade. Afinal, quem está conosco, Jesus ou a terceira pessoa da trindade? Quem está
mentindo, Jesus ou os trinitarianos?

4° - Teria Jesus Mentido, “... porque disse: Sou Filho de Deus” Mt. 27.43? E “... àquele
a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, dizeis vós: Blasfemas; porque eu disse:
Sou Filho de Deusa” Jo. 10.36?

Foi o próprio Jesus quem afirmou ser Ele mesmo o Filho de Deus! Os
trinitarianos dizem que Jesus só se tornou filho na terra, quando nasceu da Maria. Se
isto fosse uma verdade, então Jesus não nos dissera toda a verdade, mas teria usado de
meias verdades e suas palavras não teriam sido de sim, sim e não, não.

Além disso, diz a Bíblia que Jesus foi gerado pelo Espírito Santo. Bem, se o Espírito
fosse uma terceira pessoa divina como afirmam o trinitarianos, então Deus, o Pai, não
seria o Pai de Jesus na Terra. O verdadeiro Pai de Jesus na Terra seria a terceira pessoa
da trindade, se levássemos a sério o dogma da trindade quem está mentindo, Jesus ou os
trinitarianos?

5°. – Teriam os apóstolos e outros mentidos, quando afirmaram:


Natanael: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és rei de Israel” João 1.49;
João Batista: “Eu mesmo vi e já vos dei testemunho de que este é o Filho de Deus”
Jo.1.34;
Marta: “Respondeu-lhe Marta: sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus,
que havia de vir ao mundo” Jo. 11.27;
O Eunuco: “E disse Felipe: é lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse:
Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus”. Atos 8.37;
Paulo: “... e logo nas sinagogas pregava a Jesus, afirmando que este é o Filho de Deus”
Atos 9.20;
Pedro: “... Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” Mt. 16.16?
546

Pelo visto, segundo o ponto de vista trinitarianos, também os apóstolos e outros


contemporâneos de Cristo, teriam sido, todos eles, coniventes com as “mentiras de
Jesus”, haja vista que asseveraram ser Cristo o Filho de Deus, o Filho do Deus vivo.
Quem está mentindo, os apóstolos e outros, ou os trinitarianos?

6°. – Teria Deus, o Pai, mentido, quando “ouviu-se do céu esta voz: Tu és o meu Filho
amado; em ti me comprazo” Lc. 3.22? “Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e
glória, quando pela Glória Magnifica lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho
amado, em quem me comprazo”. II Pd. 1.17.

Note, amigo leitor, que o Espírito Santo desceu sobre Jesus, mas a voz que se
ouviu, veio do céu. Com toda a certeza, a voz veio da parte do Pai. Mas, se Jesus não
fosse um filho no céu, como afirmam os trinitarianos, se fosse verdadeiramente um
Deus co-igual ao Pai e ao Espírito Santo, o Pai não jamais deveria ter proferido estas
palavras! Afinal, para os trinitarianos, foi o Espírito que gerou a Jesus na terra. Assim,
Deus Pai estaria usurpando do Deus Espírito a condição de Pai de Jesus.

Se Jesus só passou a ser Filho na terra, alguém está mentindo. Quem seria o verdadeiro
Pai de Jesus? Deus, o Pai, que afirmou isto, ou os trinitarianos, que dizem que Jesus foi
gerado pela terceira pessoa da trindade?

7°. – Teria Jesus mentido, quando disse: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira
que deu o seu Filho unigêntio, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha
a vida eterna” Jo. 3.16?

A pergunta é: O que foi que Deus deu, se Jesus ainda não era um filho? Lembre-se que
a crença trinitariana diz que Jesus só passou a ser um filho real na Terra. Se Jesus não
fosse de fato um Filho no céu, como afirmam os trinitarianos, o que foi que Deus
entregou por nós? Como Deus realmente, pode provar que nos ama, se Ele não nos deu
um filho real, um filho verdadeiro? Quem está mentindo, Jesus, ou os trinitarianos, que
acreditam num Jesus filho, apenas de nome?

Comentário à parte: Mesmo os demônios reconheceram ser Jesus o filho de Deus. Mas
este testemunho não vamos levar em cont. apenas citaremos o texto, como prova de que
os anjos caídos, que haviam estado com Jesus no céu, antes que Ele se tornasse carne
comonós, sabiam da sua condição de Filho. Observer o que diz o espírito maligno. “... é,
clamando com grande voz, disse: “Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus
Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes.” ( Marcos 5.7).

8°. – Teria Cristo e os apóstolos mentido, quando declararam:


Paulo: “Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda
pecadores, Cristo morreu por nós”. Rm. 5.8;
547

Pedro: “Porque também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos
injustos, para levar-nos a Deus; sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no
espírito” I Pd. 3.18;
Jesus: “Isso foi para que se cumprisse a palavra que dissera Jesus, significando de que
morte havia de morrer” Jo. 18.32;
“Eu sou o que vivo; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre! E tenho as
chaves da more e do inferno” Apoc. 1.18?

Quem está mentindo? A Bíblia afirma que Deus é imortal (ver 1 Tm. 6.16). a
palavra imortalidade em si mesma já encerra uma verdade absoluta. Deus não pode
morrer, caso contrario não seria imortal. Ao tornarem Jesus um Deus co-igual ao Pai, os
trinitarianos não podem negar a sua imortalidade, assim, afirmam que Jesus não morreu
de fato, pois sendo igual ao Pai, não poderia morrer visto que Deus é imortal. Então
alegam que apenas seu corpo morreu, porém a sua divindade não. Esta explicação
aproxima-se em muito dos ensinamentos do espiritismo, o qual afirma que “o homem
não morre. Ele possui um espírito imortal. Apenas seu corpo é que morre.” Afinal Jesus
morreu ou não? Quem está mentindo, Cristo e os apóstolos ou os trinitarianos?

9°. – Teria Jesus mentido, quando afirmou: “ouviste que eu vos disse: Vou, e voltarei a
vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis de que eu vá para o Pai; porque o Pai é maior do
que eu” Jo. 14.28?

Segundo a teologia trinitariana, Jesus só esteve numa condição menor do que o


Pai, enquanto “limitado” dentro de Sua humanidade. Condição que poderia ser
abandonada a qualquer momento caso Ele desejasse, pois bastaria sair daquele corpo
que usava provisoriamente, para encenar teatralmente Sua própria morte.

Sendo Jesus um Deus co-igual ao Pai, jamais poderia morrer, visto que Deus é imortal.
Por que então disse Jesus que Deus, o Pai, é maior do que Ele, se de fato Deus não era?
Qual seria a necessidade destas palavras, se o próprio Jesus fosse suficiente em Si
mesmo e independente do Pai para todas as coisas?

Um dos muitos pontos que os trinitarianos não conseguem explicar, é a informação


bíblica, dada pelo apóstolo Paulo, de que Jesus será eternamente submisso ao Pai. (ver I
Co. 15.28). quem está mentindo, Jesus e Paulo ou os trinitarianos?

10°. – Teria Jesus mentido, quando disse: “Eu e o Pai somos um” Jo. 10.30?
Os trinitarianos afirmam: Deus Pai, Deus Filho eo Deus Espírito Santo São um.
Em que parte da Bíblia isso está escrito? Quem está mentindo, Jesus ou os trinitarianos?

11°. – Teria Jesus mentido, quando chamou a Deus de seu Pai e seu Deus? “Disse-lhe
Jesus: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to
revelou, mas meu Pai que está nos céus” Mt. 16.17;
548

Disse-lhe Jesus: Deixa de me tocar, porque ainda não subi ao Pai; mas vai a meus
irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” Jo.
2017?
Alguém está mentindo aqui, ou Jesus, ou os trinitarianos. Não seria natural que
Jesus após sua ressurreição retornasse a sua condição original, tornando-se novamente
um Deus, ingual ao Pai, visto que já havia cumprido o seu papel de filho na terra? O
primeiro mandamento da Lei de Deus, diz: “Não terás outros deuses diante de mim”.
Pode um Deus em condição de igualdade admitir outros deuses diante dEle? Quem está
mentindo? Jesus, que não apenas denominou, mas afirmou que seu Pai era também o
seu Deus? Ou os trinitarianos, que afirmam ser Jesus o próprio Deus em figura de
Filho?

12°. – Teria João mentido, ao afirmar que: “... o que temos visto e ouvido anunciaram
também a vós outros, par que vós igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a
nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo” I Jo.1.3?

Por que João omitiu a terceira pessoa da trindade, nesta declaração tão
importante para Igreja? Por que João ignorou a “pessoa” do Espírito Santo como parte
desta comunhão, sendo que seria esta “pessoa” que se faria presente entre nós e não o
próprio Jesus e o seu Pai?
Desta feita, os trinitarianos ignoram as palavras de Jesus que nos disse: Vou, mas volto
para junto de vós. Jo. 14.28. Ignoram também que o próprio Jesus lhes estava falando
figuradamente (Jo. 16.25) sobre Si mesmo e de seu verdadeiro Pai, e que ambos fariam
em Seus discípulos morada. Veja: João 14.23; Gl. 2.20; I Co. 3.16,17; e etc.

Com base no texto de II Co. 13.14, os trinitarianos dizem que temos comunhão COM o
Espirito. Mas lendo atentamente percebe-se que o texto diz que a comunhão é DO
Espírito. Isto significa claramente que a saudação de Paulo visava apelar aos cristãos de
Corintos para que eles tivessem o mesmo modo de pensar, de sentir e agir, porque a
comunhão é DO Espírito e não COM o Espírito. Alguém está mentindo nesta história.
Que será? João, Paulo, ou serão os trinitarianos?

13°. – Teriam Judas, João e Ellen White mentidos, quando declararam:

 “A ele, o único Deus, o nosso salvador, sejam dados, por meio de


Jesus Cristo, o nosso Senhor, a glória, a grandeza, o poder e a
autoridade, desde todos os tempos, agora e para sempre! Amém!”
Judas 25.

 “Então, ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da
terra e sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele que
549

está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a


glória, e o domínio pelos séculos dos séculos”. Apoc. 5.13.

 “...e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se


assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence à salvação”. Apoc. 7.10.

 “Não é aos homens que devemos exaltar e adorar; é a Deus, o único


Deus Verdadeiro e vivo, a quem são devidos nosso culto e reverência.
...Unicamente o Pai e o Filho devem ser exaltados”. The Youth’s
Instructor, 7 de julho de 1898. Filhos e Filhas de Deus, MM 1956, 21
de fevereiro. Pg. 58.???

Mas claro do que estas palavras de Ellem White, impossível! Somente o Pai e o Filho
devem ser exaltados. Estas palavras excluem definitivamente qualquer alusão a
existência de uma divindade triúna.

A quem nós devemos e iremos adorar? A quem estamos adorando hoje? Não encontro
na Bíblia, nem nos Testemunhos uma única citação que me diga para adorar uma
trindade. Não há um só verso da bíblia ou uma só citação dos Testemunhos orientando-
me a prestar reverencia a uma terceira pessoa divina. Se Deus é uma trindade, como
pode a “terceira pessoa”, o Espírito Santo, ser desconsiderado nestas citações acima?
Definitivamente alguém está mentindo. Quem será? Os discípulos? Deus? Jesus? Os
profetas? Ou será a terceira pessoa da trindade, (“houve, porém, um ser que preferiu
perverter esta liberdade. O pecado originou-se com aquele que, abaixo de Cristo, fora
o mais honrado por Deus, e o mais elevado em poder e gloria entre os habitantes do
Céu”. O Grande Conflito. 36ª. ed. Tatuí – SP, CPB, 1988. p. 493.) que conseguiu
enganar o mundo e até muitos dos que se dizem cristãos, fazendo-se passar por Deus,
para ser adorado como se fosse um Deus?

“quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse mesmo é o
anticristo, esse que nega o Pai e o Filho”. I Jo. 2.22.

130 – TROVADORISMO

1 – Introdução:

a) O que é o Trovadorismo?

Trovadorismo é uma escola literária que surgiu em Provença, sul da França, e espalhou-
se pela Península Ibérica, no final do século XII. Nessa época, dá-se a fundação de
Portugal, e as primeiras manifestações literárias são escritas em galego-português. O
texto literário mais antigo que restou desses tempos medievais é a Cantiga da
550

Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós. Durante o Trovadorismo, produziram-se textos


em verso e prosa.
A poesia e a música estão intimamente relacionadas na Idade Média. Assim as cantigas,
além de serem acompanhadas por instrumentos musicais, também apresentam
musicalidade, que advém das rimas, de estruturas paralelísticas (repetição de versos
com discreta variação de palavras) e do emprego de refrãos. As cantigas líricas são
classificadas em dois tipos: de amor e de amigo.

a) Cantiga de amor: trata-se de produções poéticas escritas em galego-português e


de origem provençal. Apresentam, em forma de monólogo, os sofrimentos de
um eu lírico masculino que se comporta como um vassalo diante de uma mulher
superior não só pela sua beleza e virtude de caráter, mas também pela sua
condição social.

b) Cantiga de Amigo: são composições também escritas em galego-português, no


entanto, são de origem popular e bastante conhecida na Península Ibérica. O
trovador assume uma personalidade feminina e, sob essa perspectiva, expressa o
mundo íntimo de uma camponesa que comumente dialoga com elementos da
natureza, troca confidências com sua mãe e com suas amigas. Em geral, a
mulher manifesta saudades do amado que está distante, expressa sua ansiedade
por rever o amado ou revela ciúmes e ressentimentos causados pelas frustrações
amorosas.
As cantigas satíricas podem ser de escárnio, quando não identificam o nome da
pessoa ridiculizada, ou de maldizer, quando ocorre a identificação do ser que é
motivo de zombaria.

Na Idade Média, também foram produzidas novelas de cavalaria, nas quais se


narram aventuras vividas por cavaleiros defensores da moral cristã e dos valores
de lealdade e obediência aos nobres a quem serviam. Nessas narrativas, o amor
idealizado ocupa papel de destaque: os cavaleiros se põem a serviço de
respeitáveis donzelas às quais devotam seus mais puros sentimentos.

131 – UTILITARISMO

1 – Introdução:

Conceito:

Sistema filosófico que se preocupa com o modo de agir utilitário que tem o interesse
como o fim principal de seus atos. Os adeptos dessa filosofia eram conhecidos como
utilitarista.
551

Os utilitaristas preocupavam-se mais diretamente com o bem estar em nosso mundo. O


mais antigo filósofo ocidental desta tradição foi o grego Epicúrio, no século IV a.C. Ao
invés de derivar as ideias do certo e errado, de ideias transcendentais, Epicúrio afirmava
que “chamamos de prazer o início e o fim da vida bem-aventurada”. O termo epicurista
é normalmente usado para descrever aquele que indulta os prazeres excessivos, embora
esse uso não seja correto. Epicúrio não admitia excessos; ao contrário, dizia que o
prazer era bom apenas quando moderado e suave.

2 – Historico:

Na filosofia Moderna, em geral, a tradição utilitarista possuía mais adeptos que a


tradição idealista. No século XVIII, Jeremy Bentham, por exemplo, reconheceu sua
dívida para com Epicúrio. Bentham concordava que a dor e o prazer eram os “mestres
soberanos” da conduta humana e acrescentava que “a felicidade da maioria das pessoas
é a medida do certo e do errado”. Tal vez, John Stuart Mill seja o mais famoso dos
utilitaristas. Ele continuou as doutrinas de Bentham argumentando que “alguns tipos de
prazer são mais valiosos que outros”. Esta doutrina é explicada em seu ensaio
utilitarista.

Epicurismo: doutrina do filósofo grego Epicúrio (341-270 a.C.), que identifica o bem
com o prazer, que deve ser na prática da virtude e na cultura do espírito. Os adeptos
dessa doutrina eram conhecidos como epicuristas.

Filosofia: a palavra filosofia, de origem grega, significa “amor à sabedoria”. Em sentido


amplo, “filosofia” pode significar qualquer questionamento ou reflexão sobre os
princípios fundamentais do conhecimento e da existência. A filosofia difere da religião,
pois sua busca das causas e princípios fundamentais não depende de dogmas da fé, e
difere da ciência por não depender apenas de fatos. Seu relacionamento com ambas
pode ser observado no grande número de filósofos que também eram teólogos ou
cientistas.

A filosofia desenvolveu-se a partir da religião, mas se tornou distinta quando os


pensadores buscaram a verdade independentemente de considerações teológicas. Até o
século XIX, o termo “filosofia” incluía o que conhecemos hoje como “ciência”. Mais
tarde, todos os ramos da ciência, da física, da psicologia, separaram-se.
Tradicionalmente, a filosofia divide-se em três áreas: a ética, a metafísica e a
epistemologia.

a) Ética – é o estudo de como as pessoas deveriam viver e agir. As opiniões dos


filósofos sobre a ética tendem a evidenciar uma oposição entre duas escolas: os
idealistas e os utilitaristas.
552

Os idealistas entendem que a bondade e a maldade de uma ação devam ser


julgadas por padrões externos ao cotidiano: a partir de Deus, do céu ou de um
ser humano superior;

Os utilitaristas acreditam que os efeitos que uma ação produz neste mundo são
tudo o que importa para seu valor ético.

A escola idealista teve início com o trabalho do filósofo grego Platão no século
IV a.C., em uma série de diálogos, Platão mostra seu antigo professor Sócrates
discutindo problemas de filosofia com amigos e opositores. Nos diálogos, o
procedimento de Sócrates é extrair a sabedoria daqueles com quem discutia. Ele
raramente faz uma afirmação própria ao contrário, faz perguntas que forçam os
outros a descobrir a verdade por si mesma ou parecer tolos.

Nestes diálogos, especialmente em A República, Protágoras, Fédon e Górgias,


Platão desenvolveu um sistema de ética essencialmente idealista. Ele argumenta
que o bem se origina do reino das “ideias” ou “formas”. Este é um mundo
perfeito do qual o mundo das experiências comuns é apenas uma cópia
imperfeita. Para ele, a conduta individual é boa desde que governada pela forma
ou ideia do bem, que é descoberta apenas após uma ampla educação filosófica.

Outro importante trabalho classificado com idealista é Ético a Nicômoco, de


Aristóteles, discípulo de Platão, também considerava o bem como algo divino,
embora sua ética tivesse uma tendência mais prática. Aristóteles comparava a
felicidade ao bem e afirmava que toda virtude é um justo meio entre dois
extremos, o excesso é carência.

A generosidade, por exemplo, está entre o desperdício e a avareza. A mesma


tendência de dar ao idealismo um aspecto prático é encontrada nos trabalhos do
filósofo Immanuel Kant no século XVIII.

A parte mais famosa da ética de Kant é relativa ao “imperativo categórico”. Em


suas palavras: “Age de tal modo que a máxima de tua vontade possa valer
sempre ao mesmo tempo como princípios de uma legislação universal”. Em
outras palavras, antes de agir de determinado modo, o indivíduo deve perguntar
a si mesmo: “eu gostaria que todos agissem assim?”.

b) Metafísica – o termo “metafísico” tem origem no título de um dos tratados de


Aristóteles. No início, a “metafísica”, cobria a filosofia como um todo; mais
tarde, o termo restringiu-se à especulação sobre a natureza da realidade, que
tipos de coisas existem e como se relacionam. A metafísica preocupa-se com o
significado, a estrutura e os princípios da realidade como um todo. E, portanto,
altamente teórica e suas investigações tem raízes na razão, não na observação.
553

Argumentos relativos à existência de uma alma mortal, do livre arbítrio, de uma


força vital ou de um criador do universo são problemas metafísicos centrais.

c) Epistemologia – é o estudo da natureza dos fundamentos e da validade do


conhecimento humano – como chegou a conhecer. Até que ponto pode confiar
em diferentes tipos de crenças; como a ciência pode ser separada da superstição;
e como podem ser resolvidos os conflitos entre teorias científicas rivais.

Os epistemologistas (ou epistemólogos) chamados racionalistas afirmam que o


conhecimento é inerente à razão e tem apenas de ser extraído. Ao contrário, o
empirismo afirma que, no nascimento, a mente é uma folha em branco passiva na qual o
conhecimento é impresso através da experiência.

A escola racionalista é representada classicamente por Platão, que discutiu várias teorias
do conhecimento e descartou aquelas construídas sobre a instável percepção sensorial.
Os sentidos são considerados muito falíveis.

O verdadeiro conhecimento resulta de noções gerais derivadas do reino das formas ou


ideias, presentes na alma antes do nascimento.

O filósofo francês do século XVII René Descartes, embora não fosse plantonista, foi um
racionalista por considerar o conhecimento sensorial como uma base inadequada para a
ciência.

Sua certeza o argumentava, jamais se igualaria à da matemática ou de nosso próprio


conhecimento dos nossos pensamentos. Essa certeza inalienável é expressa em seu
famoso enunciado “penso, logo existo”. Por mais profundo que seja minha dúvida, devo
existir para duvidar.

132 – XAMANTISMO

Introdução:

Denominação das religiões centradas na figura do xamã – pessoa considerada capaz de


se comunicar com o mundo sobrenatural. Ele desempenha funções de adivinho,
curandeiro e mágico.

Embora o termo xamã venha de saman, palavra da língua da etnia tungu, que vive na
Sibéria, a expressão xamantismo engloba crenças de diferentes povos espalhados por
todo mundo.
554

133 – XINTOÍSMO

Introdução:

Religião politeísta japonesa que surge da adoração do Deus do céu, da natureza e dos
ancestrais. Sua origem remonta ao século III a.C., mas é só por volta do século VI que a
palavra “xinto” (caminho para os deuses) começa a ser usada, em oposição ao budismo,
então levado ao país a partir da China. Possui um complexo de divindades, chamadas
Kamis, destacando-se a deusa-sol amaterasu O-mikami. Também são venerados
imperadores, heróis nacionais, espíritos guardiões de famílias, árvores, rios. É a religião
oficial do Japão entre 1868 e 1946, quando, após a derrota do país na II Guerra
Mundial, o imperador Hiroito renuncia ao caráter divino atribuído à realeza.

1 – Definição:

O xintoísmo é uma religião nacional e uma crença sem igual, pois não tem fundador,
nem credo, nem teologia, nem salvador. Mas, assim como o Cristianismo, tem igrejas,
escolas, sacerdotes, seitas e cerimônias. Assim como o Hinduísmo, é uma religião com
muitos deuses, e tolera muitas crenças, com várias práticas desde a autogratificação até
à abnegação, desde a ciência até a magia, desde a fé até aos fogos de artifício.

A bandeira nacional do Japão, com seu emblema do sol nascente no centro, fala, sem
dúvida, da fé religiosa e inspira zelo patriótico no povo. Lembra aos japoneses que são
súditos de um imperador divino e um povo santo numa terra santa. No Japão moderno,
o imperador já não reivindica a divindade, mas o Xintoísta continua a abrigar esta
crença no seu coração.

No jardim das crenças religiosas, as raízes do Xintoísmo penetram profundamente no


solo do animismo e da mitologia. Seus ramos são tão amplos quanto a imaginação, e seu
topo chega até à altura do monte Fuji, a montanha mais alta do Japão, adorada por
muitos como uma deusa.

2 – Conhecendo o Xintoísmo:

O Xintoísmo é um dos credos mais antigos do mundo, pois tem suas raízes na história
do Japão do século VII a.C. A palavra Xinto é derivada de Shen Tao, que significa “o
caminho dos deuses”. A última parte do título, Tao, refere-se ao Taoísmo chinês. O
termo começou a ser usado cerca de 552 d.C., quando o Budismo estava entrando no
Japão, juntamente com a escrita e a cultura chinesa. Isto levou os japoneses a renovar
seu interesse pela religião e cultura. Reconheceram que a sua religião nem sequer tinha
nome. Ao adotarem este nome, estavam estabelecendo a sua identidade e honrando os
deuses que cuidavam das ilhas de arrozais japoneses. Sendo assim, a religião de kami
555

ficou sendo chamada a religião do Xintoísmo. Num sentido mais amplo, o Xintoísmo
refere-se ao modo de viver do povo durante mais de vinte e cinco séculos. O fio da
tradição liga o japonês moderno aos seus ancestrais primitivos.

2.1 – Características:

As raízes do Xintoísmo fixavam-se num tipo antigo de politeísmo, que quase atingia o
panteísmo. Seres superiores têm sido adorados no Japão, com variações desde os
espíritos dos ancestrais até os heróis e os espíritos da natureza, desde a deusa do sol até
o deus da comida. Todos são abordados com reverencia, santo temor e respeito.

Há quatro emblemas distintos no Xintoísmo. O primeiro é o Torii ou “repouso de


pássaros”, que consiste em dois troncos de árvore em posição vertical, com outro
deitado no ápice deles, e uma trave horizontal em baixo. O segundo é o Gohei, uma
varinha de madeira sem pintura, com dois papéis compridos fixados em posição
alternada nos entalhes do lado oposto dela. O terceiro é um espelho, e o quarto é uma
corda de palha de arroz. Seus significados estão ligados às lendas do povo.

O Xintoísmo tem cerca de trinta milhões de seguidores que adoram em cerca de cem
milhares de santuários. A maioria dos japoneses são xintoístas nominais, e muitos deles
adoram diante de seus próprios santuários; no ar xintoísta há uma prateleira dos deuses
onde fica em Torii. Há um espelho sagrado que representa a beleza interior do coração
humano. Estes objetos fazem o dono lembrar-se de kami, o mistério da alma humana.
Os xintoístas acolhem aquilo que consideram de valor no Budismo, no Confucionismo e
até mesmo no Cristianismo sendo assim, o Xintoísmo é considerada uma das mais
antigas das religiões e, ao mesmo tempo, a mais moderna.

O Xintoísmo não possui nenhum fundador pessoal que possamos descobrir em seus
registros. Quando o povo japonês passou a ter consciência da sua cultura, o Xintoísmo
já existia. Não existem, portanto, ideias de uma crença religiosa pessoal, tais como as
que se acham em outras religiões.

3 – Crenças do Xintoísmo:

O Xintoísmo é sem igual nas suas crenças religiosas. Este fato é demonstrado nas
características que lhe faltam bem como nas diferenças das suas crenças. Por não ter
tido nenhum personagem como fundador, é difícil encontrarmos mais do que umas
poucas características notáveis que o tornam diferente de outras religiões. Portanto,
alistaremos estas poucas.

3.1– A Insuficiência das Crenças

O Xintoísmo é um sistema religioso e político que não tem nem livros sagrados, nem
código moral, nem teologia. Não tem escatologia; não se preocupa com o estado futuro,
não conhece um paraíso nem um inferno e importa-se ainda menos com a salvação. Não
556

há pecado original nem depravação herdada e a morte é uma ilusão. Tende a mesclar a
sua mitologia com a história da nação e seus membros são exclusivamente, os súditos
do Mikado (do imperador). Suas raízes acham-se no Animismo e seu princípio essencial
é a crença numa força cósmica vaga, que atribui divindade ao imperador.

3.2 – Seres Sobrenaturais

No âmago do Xintoísmo há um poder misterioso chamado kami. Não pode ser


totalmente explicado através de palavras, porque kami transcende a faculdade mental
dos homens. Toma uma forma politeística e os seguidores do Xintoísmo alegam que
entendem kami pela fé. É um poder que cria, sustenta, governa e mantêm tudo quanto
existe no universo. É a causa e o efeito, o passado, o presente e o futuro. É espaço e
tempo, mas está além dos dois. Um kami tutelar (ou guardião) é a origem da vida
humana, mas cada kami tem uma personalidade divina e corresponde à oração sincera.
O kami parece ter algumas qualidades semelhantes à mana no Pacífico Sul.

3.3 – A Adoração à Natureza

Originalmente, o Xintoísmo era uma religião de adoração à natureza e a deusa do sol era
a divindade primária. A segunda era a deusa da lua, que reinava à noite. Depois, havia
deuses das estrelas, uma deusa da neblina e numerosos outros. O âmago da mitologia
consiste em contos a respeito de Amaterasu Omikami, a deusa do sol, que deu origem
ao lar imperial no Japão. Segundo a lenda xintoísta, apareceu no princípio um casal de
kami, com os nomes de Izanagi e Izanami. Geraram as ilhas japonesas, bem como os
kamis que foram os ancestrais dos vários clãs.

Declara-se que um descendente da deusa do sol, chamado Jimmu Tenno, tornou-se o


primeiro imperador do Japão. Os três Tesouros Sagrados foram originalemente dados
pela deusa do sol ao neto dela. Foram: o espelho, a espada e as jóias que são os
símbolos mais reverenciados pelo trono imperial.

3.4 – Numerosos Deuses

As lendas xintoístas referem-se a oitocentas miríades ou oito vezes dez mil kami.
Alguns deles são as deidades tutelares ou guardiãs dos clãs e das comunidades. Os
escritos sagrados xintoístas relatam aventuras muito francas e, às vezes, obscenas dos
deuses. Nascem, casam-se, tomam banho, ficam doentes, zangados e ciumentos.
Choram, destroem, morrem, são sepultados e sua categoria pode ser elevada pelo
imperador do Japão. Seu caráter moral é tão mutável como o caráter humano. Algumas
são deidades mentirosas e muito grosseiras.

O deus Susa-no-wo, numa dança de vitória, rompeu as divisões entre os arrozais,


entupiu fossas e esfolou um animal vivo. Um livro xintoísta diz: “as oitocentas miríades
de deidade tomaram conselho coletivo, cortaram a barba daqueles deuses, e mandaram
arrancar as unhas dos dedos e dos artelhos”. Nenhum ser humano no Japão hoje teria
licença de fazer aquilo que fez o deus Susa-no-wo, nem aquilo que os deuses fizeram a
ele.
557

3.5 – O Imperador Supremo

Os xintoístas consideram que a Dinastia Imperial do Japão faz parte da deidade. Seu
Mikado ou Imperador é considerado divino. Esta crença remonta aos tempos mais
antigos. A tradição divina é que o primeiro Mikado era descendente da deusa do sol.
Declara-se que Amaterasu enviou um dos seus filhos para reinar sobre a terra. Quando o
Japão formou sua constituição em 1889, declarou que o Mikado se assentaria no “trono
de uma sucessão linear initerrupta desde os tempos eternos”. Assim, a dinastia mais
antiga do mundo tem uma base religiosa e o imperador tem o direito divino de reinar
sobre os seus súditos.

Até a Segunda Guerra Mundial, o imperador ficava separado de todos os outros


homens, e somente uns poucos altos oficiais tinham acesso a ele. Quadros dele era
zelosamente entesourado. A divindade do imperador era ensinada por todo o Japão.
Cada ano antes de 1946, uma cerimônia patriótica especial era celebrada no aniversário
do Mikado em toda instituição educacional. Semelhante reverencia teve um poderoso
efeito sobre a juventude do Japão. Dava ao imperador uma autoridade que era política e
religiosa. O resultado foi à criação de forças armadas de lealdade fanática. Nenhum
sacrifício seria demais para eles no cumprimento dos desejos do imperador. As forças
gêmeas da religião e do patriotismo chegaram ao seu cúmulo no esforço imperialista do
Japão para controlar o Oriente. Quando o imperador desmentiu sua própria divindade
depois da Segunda Guerra Mundial, muitos japoneses não podiam crer naquilo. Seu ato
foi interpretado como algo imposto sobre ele pelos poderes militares estrangeiros. Para
o xintoísta tradicional, o imperador da Terra do Sol Nascente sempre seria um símbolo
do céu, bem como do estado.

3.6 – Lugares e Pessoas Sagrados

Além dos mais de cem mil santuários sob o controle do estado, mais de dez milhões de
santuários sectários foram construídos e sustentados pelo povo. Os santuários têm com
entrada o portão de torii, cujas pontas se curvam para cima, em direção ao céu. São
colocados, também, ao lado de quedas d’água, de florestas e de pontes. Desta maneira,
promovem uma apreciação religiosa pela beleza da natureza.

O Grande Santuário de Ise, na praia ao sudeste da capital antiga, Kyoto, é local mais
sagrado em todo o Japão. O templo interno, o Naiku, remonta à data de 4 a.C., segundo
acreditam os japoneses é dedicado á deusa do sol, Amaterasu. Um espelho redondo no
santuário simboliza o sol, o grande luminar do céu.

As pessoas fazem romarias até o santuário, parcialmente para vê-lo como turistas e
parcialmente para adorar. Enquanto ao adorador turista passa pelo torii, fica pensando
na ponte entre o céu e a terra. A adoração é individual, não congregacional e inclui
mesuras, genuflexões, bater de palmas, tocar de sinos ou gongos, e a entrega de
oferendas materiais. Os sacerdotes não pregam sermões, não falam de um inferno
eterno, nem de um castigo do qual as pessoas precisam ser salvas. Nem ensinam a
558

respeito do céu, com os preparativos necessários para ir até lá. Os antepassados são
lembrados e recebem veneração e respeito mais do que adoração.

Quando um xintoísta termina as suas devoções, curva-se em grata adoração, coloca uma
oferenda no cofre de dinheiro, curva-se de novo, e sai aparentemente refrigerado. No
que diz respeito ao xintoísta, a vida é boa, os deuses são nobres, o Japão é celestial, o
que mais se poderia pedir? Uma só coisa – a mais importante: a vida eterna em Cristo
Jesus.

3.7 – Festivais Xintoístas

O xintoísmo é essencialmente uma religião de regozijo e de celebração. Todas as


estações da semeadura e da colheita são celebradas com orações, cerimônias e festivais
religiosos. Há um festival na ocasião em que o arroz é semeado, quando o arroz está
brotando, e quando é saboreado pela primeira vez. Há festa da Grande Degustação,
quando o imperador dirige o Festival das Primícias no ano da sua coroação. Há festas da
lua nova e outras cerimônias mensais. O Festival da Purificação é importante para os
japoneses, para os quais o asseio faz parte da religião. As pessoas simbolicamente
purificam seus corpos esfregando papéis em sua pele e depois os queimando ou
jogando-os no rio. O Mikado, representando a deusa do sol, passa, então a pronunciar o
povo limpo de corpo e de mente. Agora é um modo de vida xintoísta.

4 – Escritos do Xintoísmo

O Xintoísmo não tem escritos sagrados que possam ser comparados com a Bíblia no
Cristianismo, ou com o Alcorão no Islamismo. Antes de o Budismo fazer sua
abordagem em 552 d.C., não havia nenhum sistema de escrita reconhecido no Japão.
Com a chegada do Budismo veio o desafio de um sistema de escrita e de uma
declaração da fé xintoísta. Respondendo ao desafio, foi escrito o Kijiki, que consistia
nos “Registros as Questões Antigas”. Em 720, o Nihongi ou “crônicas do Japão” foi
compilado, dedicando-se em grande medida ao budismo, o que revela a influencia
crescente desta religião no Japão. Estes livros sacros do Xintoísmo contêm as tradições
orais e a história do Xintoísmo antigo, mais do que as doutrinas. As doutrinas precisam
ser respigadas no meio dos mitos e das práticas ali descritas. Sendo assim, os escritos
sagrados do Xintoísmo aparecem mais que treze séculos após a história propriamente
dita. Os primeiro Mikado, Jimmu Tenno, foi coroado em 660 a.C. Os escritos, vistos do
ponto de vista da cultura ocidental são muito fracos e, às vezes obscenos.

5 – Desenvolvimentos do Xintoísmo

Desde seu início em 660 a.C., a história do Xintoísmo tem sido dividida em cinco
período sucessivos.
559

5.1 – O Período de Supremacia desde 660 a.C até 552 d.C. Durante este período, desde
o primeiro Mikado, Jimmu, até a introdução do Budismo, o Xintoísmo manteve o
domínio sobre o Japão.

5.2 – O Período da Instrução do Budismo desde 552 d.C. até 800 d.C. As três religiões
orientais, o Confucionismo, o Taoísmo e o Budismo, fizeram incursões no Japão
durante estes 250 anos. O Budismo tornou-se uma ameaça ao Xintoísmo em 552
d.C., quando um rei da Coréia enviou como presente ao imperador do Japão uma
grande estátua dourada do Buda. Com ela, vieram ensinadores e sacerdotes budistas.
Conta-se a história de que, quando a estátua foi colocada na casa do ministro
principal, irrompeu-se uma epidemia de varíola. Isto foi considerado mal augúrio; o
kami estava zangado porque o Buda tinha sido honrado de tal maneira. O imperador
ordenou que a estátua fosse jogada num canal. Mas pouco depois, o palácio do
imperador foi atingido por um raio, e dizia-se que os deuses do budismo estavam
irados. A estátua do Buda foi imediatamente tirada do canal e colocada num templo
novo.

5.3 – O Período do Sincretismo desde 800 d.C. até 1700 d.C. Durante estes nove
séculos, a religião do Japão misturou-se com várias religiões estrangeiras. Um
sacerdote Budista no Século VIII ensinava uma doutrina chamada Xintoísmo misto,
na qual declarava que os deuses do Xintoísmo eram reencarnações das deidades
budistas. Outros líderes ensinavam que o Xintoísmo, o Budismo e o Confucionismo
deveriam ser fundidos numa só unidade. O resultado foi um enfraquecimento do
Xintoísmo original.

5.4 – O Período do Reavivamento do Xintoísmo desde 1700 d.C. até 1868. Neste
período, quatro líderes xintoístas reavivaram a língua antiga do Japão, juntamente
com os livros antigos. Ensinavam a ética xintoísta e escreviam muitos comentários e
livros que renovaram as glórias do Xintoísmo e levaram à famosa restauração do
Xintoísmo em 1868.

5.5 – O Período do Sectarismo desde 1868 até o presente momento. Durante este
período, novas ideias varriam o mundo, e surgiram muitas seitas que provocaram
grandes desordens no Japão. O governo dividiu o Xintoísmo em duas facções
principais: o Xintoísmo do Estado e o Xintoísmo sectário. O xintoísmo do Estado
era considerado um culto ou ritual patriótico do qual todos os súditos japoneses
podiam compartilhar, independentemente, de sua crença. O xintoísmo sectário era
considerado igual ao Budismo e às demais religiões.

À medida que o Xintoísmo do Estado tornava-se a religião oficial do país, a


divindade do imperador tornou-se a doutrina cardinal. Depois da Primeira Guerra
Mundial, houve vasta expansão do nacionalismo e uma visão mundial. No Biblical
560

World em 1919, foi feita uma declaração que esclarece muito a respeito do que
ocorreu, posteriormente, na década de 1940. Um escritor descreveu a opinião do
povo japonês: “os japoneses são o povo escolhido por Deus, e a presença de Deus é
especialmente representada no Imperador do Japão. O Xintoísmo é destinado a ser a
religião universal e a cultura salvífica da humanidade. O Imperador tornar-se-á o
governante supremo temporal e espiritual do mundo”.

O Xintoísmo do Estado foi completamente destruído pela ocupação aliada em 1945.


No primeiro dia do ano após a Segunda Guerra Mundial, o Imperador Hirohito
promulgou um decreto que era muito relevante e que retratava uma mudança de
grande importância no Japão. Deixou de lado sua reivindicação à divindade e
rejeitou a crença na superioridade do povo japonês. Na nova constituição, a
liberdade religiosa total era garantida a todo cidadão. Alguns santuários afastaram-
se da religião antiga, mas ela atualmente é tão forte como nunca. Mais de setecentas
novas seitas foram registradas, sendo que cerca de seiscentas delas surgiram depois
da Segunda Guerra Mundial.

O Xintoísmo sectário desenvolveu-se depois das três religiões – o Xintoísmo, o


Budismo e o Cristianismo – terem sido reconhecidas pelo governo. Foram
reconhecidas treze seitas. Algumas delas adoravam as deidades xintoístas, mas
outras acrescentaram suas próprias deidades e algumas consideravam seus próprios
fundadores como deidades. As seitas são alistadas como Xintoísmo puro,
confucionista, da purificação, da montanha e seitas de cura divina. De modo geral,
as seitas realizam suas cerimônias como fazem as demais religiões. Algumas são
mais “evangelísticas” na tentativa de conseguirem mais seguidores, e muitas têm
seus próprios escritos sagrados.

6 – Avaliações do Xintoísmo

Em nossa avaliação do Xintoísmo, declararemos de modo breve, seus pontos positivos e


negativos;

Pontos Positivos do Xintoísmo:

a) Reverencia um poder sobrenatural na natureza;


b) Mantém um respeito abnegado á autoridade;
c) Sustenta um forte senso de patriotismo e de união social;
d) Seus seguidores são religiosos nos valores externos da pureza e da limpeza;
e) Fomenta um senso religioso da beleza na natureza.

Ponto Negativos do Xintoísmo:

a) Abrange um politeísmo e animismo de grande alcance;


b) Segue muitos mitos estranhos e grosseiros a respeito da deidade;
c) Não tem nenhuma lei moral nobre, nem padrões éticos;
561

d) Não atribui nenhum valor intrínseco aos seres humanos;


e) Não reconhece a pecaminosidade do homem;
f) Não tem nenhum fundador histórico para inspirar altos ideais;
g) Não precisa de nenhum alvo da vida futura, porque a morte é uma ilusão;
h) Não oferece nenhuma fonte divina de ajuda nesta vida;
i) Não apresenta nenhum plano de salvação.

134 – ZOROASTRISMO

1 – Introdução:

É conhecida por zoroastrismo ou mazdeísmo a religião monoteísta surgida no Irã,


baseada nos ensinamentos do profeta Zaratustra (Zoroastro, na versão grega) (628 – 551
a.C.). De acordo com os relatos tradicionais, Zoroastro viveu no século VI a.C. na Ásia
Central, num território que corresponde atualmente ao leste do Irã e a região ocidental
do Afeganistão. Ele pertencia ao clã Spitama, sendo filho de Pourushaspa e de
Dugdhova.

Dois princípios fundamentais regem o sistema de crenças desta religião, que são a
existência de Deus e do Diabo e a volta do Paraíso à Terra. Ahura Mazda é a deidade
suprema, o criador de todas as coisas boas, enquanto Ahriman é o princípio destrutivo
que rege a ganância, a fúria e as trevas. Seus adeptos acreditam que Zoroastro é um
profeta de Deus, mas este, porém não é alvo de veneração direta por parte dos mesmos.
De acordo com os ensinamentos do zoroastrismo, é dado aos seres humanos aproximar-
se de Deus e da ordem natural marcada pelo bem e justiça (asha). De acordo com os
Gathas, após a morte, cada alma é julgada na "Ponte de Cinvat". Os que seguem a
Verdade chegam ao Paraíso; quem segue a Mentira, cai no Inferno.
Os livros sagrados do Zoroastrismo são:

- o Zend-Avesta, mal comparando, a Bíblia da religião, é o livro sagrado das orações,


dos hinos, dos rituais, das instruções, da prática e da lei. Entre outros pontos, a obra
ensina a negação de qualquer tipo de prática mágica, refuta a adoração de várias
divindades e a realização de sacrifícios envolvendo o uso de sangue. Afirma ainda que
cada indivíduo poderia seguir um dos dois caminhos oferecidos por Mazda e Arimã, e o
compromisso com a verdade e o amor ao próximo garantiriam uma vida eterna no
Paraíso.

- o Gathas, que são dezessete hinos atribuídos a Zoroastro, e que permitem conhecer a
vida e o pensamento religioso do inaugurador da religião.

- o Pahlavi, que consiste na literatura zoroastrista.

Mesmo em meio a uma maioria muçulmana que exerce enorme pressão sobre a religião,
o zoroastrismo continua sendo praticado por algumas populações no interior do Irã e
comunidades iranianas radicadas na Índia, os chamados parsis. Mesmo assim, estima-se
que cerca de 1% da população do Irã seja seguidora do zoroastrismo, enquanto que a
562

esmagadora maioria segue o islamismo, religião trazida ao Irã pelos árabes, no século
VI.

O zoroastrismo possui ainda uma importância em meio à história das religiões, por ser
pioneira no conceito de religião monoteísta, onde é cultuado apenas um deus. Especula-
se que conceitos fundamentais do zoroastrismo, principalmente o monoteísmo tenham
influenciado o judaísmo, e consequentemente o cristianismo.
563

BIBLIOGRAFIA

ARANHA, Maria Lúcia de A. e MARTINS, Maria Helena P. Filosofando; Introdução à


Filosofia. Moderna, São Paulo: 2ª. Ed; 1999.

COLTRIM, G. e FERNANDES, M. Fundamentos de Filosofia. Saraiva. São Paulo: 1ª. ed. 2013.

COLTRIM, G. História Global – Brasil e Geral. Saraiva. São Paulo: 8ª. ed. 2005 – volume
único.

MELLO, I.A. Leonel e COSTA, Luís C. A., História Antiga e Medieval. Abril Educação, São
Paulo, 1985.

TORRALVO, I. F. e MINCHILLO, C.C. Língua Portuguesa, FTD. São Paulo: 1ª. Ed. 2010,
coleção linguagem em movimento – vol. 1,2 e 3.

CABRA, J. Religião, Seitas e Heresias. 4ª. ed. Rio de Janeiro, Universal Produções – coleção
Reino de Deus.

CEREJA, R.W. E MAGALHÃES, T.C; Português: Linguagens. Editora Saraiva. São Paulo: 1ª.
ed. 2003. Volume Único. Ensino Médio.

RUCKERT, P.R. Introdução à Filosofia e Filosofia da Religião. Apostila da FTU (Faculdade de


Teologia Unida). 2005.

PEOPLE AND THEIR BELIEFS, Traduzido Em Português por Chown Gordon, publicado por
ICI-FAETAD – Brasil – 1990. Apostila do Instituto por Correspondência Internacional. Livro
“As Pessoas e Suas Crenças”.

HISTORIA DA FILOSOFIA, Editora Nova Cultura Ltda. São Paulo, 2004. Coleção Os
Pensadores.

PRÉ-SOCRÁTICO, Editora Nova Cultura Ltda. São Paulo, 2005. Coleção Os Pensadores.

ALMANAQUE ABRIL. Imprensa na gráfica Abril, São Paulo. 2014.

CAMPESTRINI, H. Literatura Brasileira, editora FTD S.A. São Paulo. 1978 - 2º. Grau e
Vestibulares.

ARANHA, M.L. de A. História da Educação e da Pedagogia – Geral e do Brasil. Editora


Moderna, São Paulo. 2013, 3ª. ed.

Вам также может понравиться