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Capítulo 1
Água no Solo
a
L
d
b
L
Gases
Solução
Sólidos
A umidade do solo é definida como a razão entre a massa de água e a massa de solo
seco, denominada umidade em peso (Up), ou como a razão entre o volume de água e o volume
de solo, denominada umidade em volume (Uv). Considerando o cubo de solo de lado L,
apresentado na Figura 1.1, tem-se:
16 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Outro parâmetro importante do solo é a porosidade (p), definida como a razão entre o
volume de poros, que na realidade corresponde ao volume de solução mais o volume de gases,
e o volume do solo (equação 1.4), que também pode ser estimada utilizando a equação 1.5.
volume de poros d L L d
p (1.4)
volume de solo LLL L
da
p1 (1.5)
d ps
Método-padrão de estufa/gravimétricos
É um método direto, bastante preciso, que consiste em retirar amostras do solo, na
área e na profundidade em que se deseja saber a umidade, colocá-las em um recipiente
fechado, geralmente de alumínio, e trazê-las para o laboratório. Pesa-se o recipiente com
amostra de solo úmido (M1) e coloca-se o recipiente, aberto, em uma estufa a 105-110 ºC.
Após 24 horas, no mínimo, retira-se o recipiente com o solo seco da estufa, pesando-o
novamente (M2 ). Sendo (M3) o peso do recipiente, a percentagem de umidade em peso será
dada pela seguinte equação:
massa de água M M2
Up = 1 100 (1.8)
massa de solo seco M2 - M3
M1 M 2
Uv = 100 (1.9)
Vol. da amostra
M1 M 2
Uv = d a 100 U p d a (1.10)
M2 - M3
Apesar de este método ser o mais preciso, apresenta o inconveniente, para irrigação,
de só permitir o conhecimento do teor de umidade do solo 24 horas após a amostragem, além
de exigir balança e estufa.
18 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Pela equação 1.11, verifica-se que a umidade do solo nada mais é do que a diferença
entre a pesagem-padrão (determinada uma só vez com cada tipo de solo) e a pesagem atual
(determinada na época em que se desejar saber a umidade do solo), M-M’, multiplicada pelo
dps
fator , em que dps é densidade das partículas do solo, podendo ser a densidade
dps 1
generalizada para todos os solos (dps = 2,65) ou determinada para o solo da gleba.
Para expressar o resultado em percentagem de umidade em base seca (em peso), basta
usar a seguinte equação:
100 U bu
Up = (1.12)
100 - U bu
Este método não dá a percentagem de umidade em volume diretamente; ela pode ser
calculada, indiretamente, multiplicando-se a percentagem em peso encontrada na equação
1.12 pela densidade aparente do solo (da).
Exemplo do uso deste método. O peso de 100 g de terra seca a 105 ºC colocada
dentro de um balão de 500 ml, e completado o volume com água, foi de 971,0 g (M). A
densidade real desse solo dps é de 2,65. Na época em que se desejou saber a umidade do solo,
retirou-se amostra de 100 g, colocando-a dentro do referido balão, completou-se com água até
o volume de 500 ml, e o peso encontrado foi de 960,0 g.
Aplicando a equação 1.11, tem-se:
Água no solo 19
2,65
Ubu = (971,0 - 960,0)
2,65 1
Ubu = 17,8%
17,8 x 100
Up =
100 17,8
Up = 21,5%
Eletrométricos
Método de Bouyoucos
Este método é baseado na resistência elétrica entre dois eletrodos inseridos em um
bloco, em geral, de gesso. A resistência elétrica é medida por um “medidor” de corrente
alternada, o qual é calibrado para leituras diretas de “porcentagem de água no solo”.
Os blocos de gesso, quando enterrados no solo, absorvem umidade, ou a perdem para
o solo, até que a solução dentro deles atinja o equilíbrio com a água do solo, variando de
acordo com umidade deste. A resistência elétrica entre os eletrodos de cada bloco varia
conforme seu teor de umidade. A resistência elétrica do bloco será baixa quando ele estiver
mais úmido, e alta quando estiver mais seco. Dessa maneira, a umidade do solo pode ser
determinada indiretamente, por meio da medição da resistência elétrica nos blocos que se
encontram enterrados no solo.
Assim, como os “medidores” de Bouyoucos são calibrados, em se tratando de “água
disponível”, quando se lê 0% no medidor, significa que não há “água disponível” no solo para as
plantas, ou seja, a umidade do solo está próxima do “ponto de murchamento”, e, quando se lê
100%, quer dizer que o teor de umidade está próximo da “capacidade de campo”.
Os eletrodos inseridos no bloco de gesso são ligados a fios isolados, a fim de permitir
a conexão com o “medidor” (Figura 1.2).
Cada bloco deve ser instalado na profundidade de máxima intensidade radicular da
cultura cuja irrigação se deseja controlar, em função da variação do teor de umidade do solo.
Este método, na maioria das vezes, é utilizado para ler a porcentagem de “água útil”
dos solos; no entanto, como a sua calibragem é geral para todos os solos e ele omite o efeito
da temperatura, sua precisão não é muito boa. É de simples e fácil manejo. Pode,
satisfatoriamente, ser usado para controle de irrigação, mas, para usá-lo em pesquisas com
20 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
teores de água no solo, deve-se desprezar a sua calibragem geral em porcentagem de “água
disponível” e calibrá-lo em função da porcentagem de umidade para cada solo.
Método de Colman
É também um método indireto para a determinação de umidade do solo, baseado no
mesmo princípio do anterior. No entanto, o bloco, onde estão inseridos os eletrodos, é de fibra
de vidro, envolvida por duas placas de metal “monel” perfuradas (Figura 1.3). Tem a
vantagem de trazer um “thermistor” inserido no bloco, permitindo, assim, determinar a
temperatura da célula e fazer a correção das leituras, em função da temperatura. O seu
“medidor” não é calibrado em % de “água útil”, devendo ser suas células calibradas para cada
tipo de solo, o que dá maior precisão no cálculo da umidade do solo. Essa calibração pode ser
em função do teor de água no solo ou, preferencialmente, da sua tensão.
Este método é mais sensível que o de Bouyoucos para maiores teores de água no solo,
porém é mais suscetível à concentração salina do solo.
Água no solo 21
Outros
Tensiômetro
É um método direto para a determinação da tensão de água no solo e indireto para
determinação da porcentagem de água no solo. Constitui-se de uma cápsula de cerâmica
ligada por meio de um tubo a um manômetro, onde a tensão é lida (Figura 1.4).
O tensiômetro só tem capacidade para leituras de tensão até 0,75 atm. No caso de
tensões maiores do que esta, o tensiômetro poderá perder a escorva e parar de funcionar. Por
isso, ele somente cobre uma parte da “água disponível no solo”, ou seja, ± 70% em solos
arenosos e ± 40% em argilosos.
O manômetro pode ser do tipo metálico (Bourdon) ou de coluna de mercúrio; este
último é mais preciso, porém exige mais cuidado no seu manuseio.
De modo geral, a determinação das tensões de água no solo com tensiômetro tem uma
precisão relativamente boa. Ele pode ser utilizado para automatizar a operação do sistema de
irrigação.
22 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Sonda de nêutrons
A utilização da sonda de nêutrons para medir a umidade volumétrica é uma prática
antiga. Apresenta como vantagens o fato de possibilitar boa precisão, ser muito pouco
destrutivo, fornecer o resultado no momento e possibilitar medidas repetidas no mesmo local,
integrando um volume de solo ou do meio onde está sendo efetuada a determinação.
Como desvantagens deste método podem ser citados seu alto custo, necessidade de
calibração, utilização de elementos radioativos que implicam cuidados na sua operação e
rígido controle dos níveis de radioatividade.
O princípio básico de utilização do equipamento é que há uma correlação estreita
entre a quantidade de nêutrons moderados a ser medida no aparelho e a quantidade de
hidrogênio presente no solo. Além da água, as outras formas de hidrogênio no solo (matéria
orgânica, minerais de argila etc.) são pequenas, conhecidas ou invariáveis com o tempo.
Considerando que vários aspectos locais podem afetar a determinação, a utilização da
sonda de nêutrons depende de uma calibração para local ou solo.
Os principais métodos de calibração da sonda de nêutrons são a determinação
simultânea, no campo, da umidade volumétrica e da contagem relativa de nêutrons em
diferentes conteúdos de água, ou utilização de grandes tambores de solo com mesma
densidade específica e diferentes conteúdos de água.
Água no solo 23
TDR
O método TDR tem como base a medição da constante dielétrica do solo, uma
propriedade física que representa a relação entre a capacitância de um meio isolador e o
espaço livre. O método parte do princípio da emissão de um pulso elétrico por um gerador de
pulso, que é propagado ao longo de uma sonda inserida no solo, na qual acontece a reflexão
do pulso.
O TDR tem sido usado para medida da constante dielétrica (Ka) e da condutividade
elétrica (CE) do solo, pela determinação do tempo de trânsito e dissipação de um pulso
eletromagnético, lançado ao longo de sondas metálicas paralelas inseridas no solo.
Demonstra-se que a relação entre a constante dielétrica do solo e sua umidade
volumétrica é virtualmente independente da textura e densidade deste, temperatura e conteúdo
de sal, o que torna o método TDR versátil para determinação da umidade do solo.
A velocidade de uma onda eletromagnética em uma linha de transmissão paralela
depende da constante dielétrica (K) do material que está em contato com ela. Quanto maior for
a constante K, menor será a velocidade da onda.
O solo geralmente é composto por ar, partículas orgânicas e minerais e água. A
constante dielétrica, K, desses materiais é: ar igual a 1, partículas orgânicas minerais de 2-4 e
água igual a 80.
24 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Por causa da grande diferença na constante dielétrica da água em relação à dos outros
componentes do solo, a velocidade de um pulso de microonda de energia em uma linha de
transmissão paralela enterrada no solo depende muito do teor de umidade do meio (solo).
Portanto, analisando o tempo que a onda eletromagnética leva para percorrer a linha de
transmissão paralela, o TDR encontra a constante dielétrica no meio, por se tratar de uma
mistura de vários elementos (ar, água e solo), sendo o valor encontrado chamado de constante
dielétrica aparente (Ka). O teor de umidade do solo é relacionado a Ka, em geral, por meio de
uma curva de correlação simples, quadrática ou similar.
excessivas, com culturas de sistema radicular pouco profundo, muita água é perdida por
percolação, mas, mesmo assim, não existe um intervalo fixo de umidade para definir a água
perdida por percolação profunda. Não obstante, o conceito clássico de água disponível nos dá
um critério para caracterizar o solo quanto à sua capacidade de armazenar água. Em solos
profundos e com grande “capacidade de retenção” de água, pode ser possível cultivar vegetais
de sistema radicular bem desenvolvido, sem irrigação ou chuva adicional, desde que o solo
seja bem umedecido até uma profundidade considerável, por época do plantio. Se a
capacidade de retenção de água de um solo for pequena, por ser o solo raso ou de textura
grossa, freqüentes irrigações serão necessárias.
Capacidade de campo
A água drenada para baixo da zona radicular, ou para dentro de um dreno, não mais
será disponível para a planta.
Considerando que o solo esteja saturado numa condição de lençol freático profundo,
a água terá um movimento vertical para baixo, que somente diminuirá significativamente
quando o teor de umidade do solo for tal que a sua condutividade hidráulica se torne muito
pequena. Quando isso acontece, diz-se que o solo está em condição de capacidade de campo.
Deve ser entendido que em muitos solos não há nítida transição de movimento significante
para negligenciável e que o termo capacidade de campo descreverá a condição de movimento
vertical para baixo com intensidade muito lenta, em geral, atingido poucos dias após a
irrigação.
Com os conhecimentos atuais do movimento de água em solos saturados e não-
saturados, tornou-se evidente que capacidade de campo é um conceito arbitrário, e não uma
propriedade física do solo. Em solos de textura grossa, geralmente a redução da intensidade de
movimento com a diminuição da umidade do solo, abaixo de certos valores, apresenta uma
faixa de transição bem nítida, tornando a capacidade de campo bem definida nestes tipos de
solo; contudo, em alguns solos de textura fina, não há nítida faixa de transição na redução da
intensidade de movimento de água, tornando o conceito de capacidade de campo pouco
preciso (Figura 1.7).
Dependendo da condutividade hidráulica do solo e da quantidade de água aplicada na
irrigação, pode ocorrer de, após vários dias, a água ter sido drenada da camada superior do
solo e de ela ainda estar passando através das camadas mais profundas. Portanto, enquanto o
teor de umidade da camada superior diminui lentamente, o da camada mais profunda aumenta.
Na determinação da capacidade de campo, a amostragem em cada camada, até a
profundidade desejada para avaliação do teor de umidade, deve ser repetida diariamente, até
se encontrar um valor relativamente constante.
26 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
a
Teor de umidade a = ponto de saturação
<<Cc>> = ?
Solo argiloso
a
Solo arenoso
<<Cc>> = ?
<<Cc>>
Tempo
que determinará a quantidade de água que permanecerá no solo quando ele for submetido a
tensões baixas.
Determinação da capacidade de campo – Como discutido previamente, a Cc não
pode ser determinada precisamente, uma vez que o seu conceito envolve uma decisão mais ou
menos arbitrária no que diz respeito ao tempo em que a intensidade de drenagem se torna tão
lenta, podendo ser considerada desprezível. É um pouco mais fácil de ser caracterizada em
solos de textura grossa do que nos de textura fina (Figura 1.7).
Ela pode ser determinada em campo e em laboratório.
Determinação em campo – O solo é completamente umedecido, até uma profundidade
de mais ou menos 1,5 m, por meio de irrigação ou represamento de água, em uma bacia de
2 m de diâmetro, durante o tempo necessário. Após o umedecimento do solo, sua superfície é
coberta com um plástico para evitar evaporação. O teor de umidade é então determinado,
usualmente, em intervalos de 12 horas, por amostragem em cada camada de 10-20 cm, até a
profundidade desejada. A amostragem e determinação da umidade devem continuar até que se
note que a variação do teor de umidade, no período de 24 horas, tenha se tornado mínima ao
longo do perfil. Um gráfico do teor de umidade em função do tempo ajuda a decidir qual é o
teor de umidade que melhor representa a capacidade de campo. Este método é o mais preciso e
funciona como o método-padrão. Uma única amostragem, em determinado tempo, em geral
após 24 horas em solos arenosos e 48 horas em solos argilosos, é muito usada, porém pode
causar sérios erros.
Determinação no laboratório – Em razão de no campo consumir muito tempo e ser
limitada a pequeno número de áreas, a determinação da Cc é feita usualmente em laboratório,
para obtenção do teor de umidade aproximado do valor de campo da Cc. Dois métodos são
mais comumente usados para isso:
a) Método do equivalente de umidade – É pouco preciso, mas de rápida execução.
Consiste em centrifugar uma pequena amostra, usualmente de 1 cm de espessura, dentro de
um recipiente com o fundo telado e coberto com papel-filtro. A amostra de solo é colocada
dentro do recipiente, saturada, colocada na centrífuga e submetida a uma velocidade
equivalente a uma força de 100 vezes a força da gravidade, durante 30 minutos. Esse
procedimento traz a amostra ao mesmo teor de umidade, caso ela fosse submetida a uma
tensão equivalente a 0,4 atm. Este valor de tensão é maior do que a tensão equivalente à Cc no
campo, mas, como a amostra do solo não tem as mesmas condições físicas do solo original no
campo, o teor de umidade resultante é aproximado ao correspondente à Cc, principalmente
para solos de textura fina. Para solos de textura grossa, o valor encontrado por este método é
menor do que o da Cc, precisando então ser multiplicado por um fator maior do que 1.
b) Método da curva de tensão (curva característica) – A tensão considerada como
equivalente à Cc é de 1/10 de atmosfera, em solos de textura grossa, e de 1/3 de atmosfera, em
solos de textura fina. É comum usar o valor de 1/3 de atmosfera.
28 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Ponto de murchamento
À medida que se aproxima do “ponto de murchamento”, o fenômeno de retenção de
água pelo solo não pode mais ser explicado pela ação da força capilar ou tensão superficial. A
água é retida pela ação da força de adsorção entre a partícula de solo e as moléculas de água,
porém não há nítida transição entre um tipo de retenção e o outro. Nos dois tipos de retenção,
as mesmas leis de movimento de água no solo são aplicadas.
Em campo, é comum notar que, à tarde, alguns vegetais murcham, mesmo estando o
solo com teor de umidade relativamente alto. Eles recuperam a turgidez durante a noite e
permanecem túrgidos até a tarde do dia seguinte. Este caso é chamado de “murchamento
temporário”, mais comum durante os dias muito quentes.
Ponto de murchamento é aquele em que a planta que murcha durante a tarde não
recupera a sua turgidez durante a noite, permanecendo murcha na manhã seguinte. Somente
recuperará sua turgidez após uma irrigação ou chuva.
O ponto de murchamento representa o teor de umidade no solo abaixo do qual a
planta não conseguirá retirar água na mesma intensidade com que ela transpira. Isso aumenta
a cada instante a deficiência de água na planta, o que a levará à morte, caso não seja irrigada.
Pm é, pois, o limite mínimo da água armazenada no solo que será usada pelos vegetais. Este
conceito é muito útil, mas convém ressaltar que o seu valor depende do tipo de solo e que
diferentes plantas têm a capacidade de extrair água até diferentes limites.
De modo geral, em sua maioria, os vegetais cultiváveis não diferem muito no que diz
respeito ao Pm, mas existem plantas que podem sobreviver com déficit de água muito intenso.
São plantas resistentes à seca, porém a sua extração de água processa-se lentamente. Outras
cessam de crescer bem antes de apresentarem sinais de murchamento.
Uma vez que os sintomas de deficiência de água podem variar em diferentes plantas, é
comum usar o girassol, como planta indicadora do Pm, em estufas.
A tensão da água do solo acima da qual não haverá água suficiente disponível para
que as plantas possam se desenvolver varia de 5 a 25 atmosferas, dependendo da planta ou da
condição do ambiente. Essa amplitude parece ser muito grande, mas em muitos solos
Água no solo 29
representa uma variação muito pequena no seu teor de umidade. Em solos arenosos, haverá
uma variação muito pequena no seu teor de água à medida que a tensão aumentar de 5
atmosferas. Em solos argilosos, essas variações serão mínimas após 10 atmosferas de tensão.
Dessa forma, o Pm ocorre em uma faixa de umidade tal que, para um grande
acréscimo de tensão, será pequena a variação do seu teor de umidade. Isso explica a existência
do Pm e por que ele é uma característica de determinado tipo de solo e não do tipo de planta.
Determinação do Pm – É muito difícil determiná-lo em condições de campo, porque o
teor de umidade no solo, ou a sua tensão, varia com a profundidade e sempre haverá
movimento de água de outros pontos para a zona do sistema radicular da planta indicadora do
Pm.
A prática comum é cultivar girassol em vasos fechados. Quando as folhas inferiores
murcham, as plantas são colocadas em câmara úmida e escura, até que elas restabeleçam sua
turgidez, sendo então recolocadas sob a luz. Esse processo é repetido até que as folhas
inferiores não consigam restabelecer sua turgidez, sendo então determinado o teor de umidade
do solo, correspondente ao ponto de murchamento.
Verificou-se em pesquisas que o teor de umidade de uma amostra de solo destorroado
e submetido a uma tensão de 15 atmosferas é bem próximo do valor encontrado com o método
da indicação do Pm, pelo girassol.
Para obter a tensão de 15 atmosferas, coloque o solo em membrana de celulose
(membrana de pressão) ou em prato de cerâmica poroso (panela de pressão), ponha-os na
câmara e aumente a pressão sobre a membrana ou prato, até atingir 15 atmosferas. A amostra
ficará sob esta pressão até que dela não saia mais água, o que significa que a água retida pelo
solo está com tensão igual ou maior do que 15 atmosferas. O teor de umidade determinado
nestas amostras corresponde ao ponto de murchamento.
capacidade de campo e ao ponto de murchamento (Figura 1.8). Pode ser expressa em altura de
lâmina de água, por profundidade do solo, geralmente de mm de água por cm de solo, ou em
volume de água por unidade de área de solo, ou seja:
L
DRA
Saturação
DTA
Cc
Uc
Pm
(Cc - Pm)
DTA da (1.13)
10
em que:
DTA = disponibilidade total de água, em mm/cm de solo;
Cc = capacidade de campo, % em peso;
Pm = ponto de murchamento, % em peso; e
da = densidade do solo, g cm3.
ou
V = (Cc - Pm) da (1.14)
3
em que V = m de água disponível, por hectare, em cada cm de profundidade do solo.
O fator de disponibilidade (f) varia entre 0,2 e 0,8. Os valores menores são usados em
culturas mais sensíveis ao déficit de água no solo, e os maiores, nas culturas mais resistentes. De
modo geral, podem-se dividir as culturas irrigadas em três grandes grupos (Tabela 1.1).
Tabela 1.2 - Grupos de culturas de acordo com a resistência ao déficit de água no solo
Grupo Culturas
1 Cebola, pimenta e batata
2 Banana, repolho, uva, ervilha e tomate
3 Alfafa, feijão, cítricas, amendoim, abacaxi, girassol, melancia e trigo
4 Algodão, milho, azeitona, açafrão, sorgo, soja, beterraba, cana e fumo
Tabela 1.3 - Fator de disponibilidade de água no solo (f) em função do grupo de culturas e da
evapotranspiração de referência (ET0)
32 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Z = 50 cm
f = 0,5
32 18
DTA = 1,2 = 1,68 mm/cm de solo ou 16,8 m3/ha/cm de solo
10
CTA = 1,68 x 50 = 84 mm ou 840 m3 /ha
CRA= 84 x 0,5 = 42 mm ou 420 m3/ha
IRN ≤ 42 mm ou 420 m3/ha
Assim, a lâmina de irrigação a ser aplicada por vez deverá ser igual ou menor do que
42 mm (IRN ≤ 42 mm).
Se o projeto de irrigação tiver uma eficiência de aplicação igual a 60%:
42
ITN ≤
0,6
ITN ≤ 70 mm ou 700 m3/ha
b) Calcular a disponibilidade de água para as condições anteriores, mas assumindo uma
precipitação efetiva, no período considerado, de 14 mm.
Neste caso:
IRN ≤ 42 - 14
IRN ≤ 28 mm ou 280 m3/ha.
Se o projeto de irrigação tiver uma eficiência de aplicação igual a 70%:
28
ITN ≤
0,7
ITN ≤ 40 mm ou 400 m3/ha
A “disponibilidade total de água” geralmente aumenta à medida que a textura do solo
vai diminuindo. Na Tabela 1.4 têm-se algumas características do solo em função de sua
textura. Ressalta-se que alguns solos de textura fina bem estruturados comportam-se como
solos de textura média ou grossa.
Argilosa
2 1ª Irrig.
2ª Irrig.
VI (cm/h) 1,5
0,5
0
0 2 4 6 8 10
Tempo (h)
Figura 1.9 - Velocidade de infiltração versus tempo.
Métodos de determinação de VI e I
“Entrada-saída” de água no sulco
Consiste em colocar dois medidores de vazão, um na extremidade superior do sulco e
o outro afastado deste, em função do tipo de solo. Para solos arenosos, o segundo medidor
deve estar no máximo a 20 m do primeiro e, para solos argilosos, ele pode ficar afastado do
primeiro até 40 m.
Este método está ilustrado e resumido no Tabela 1.5.
Para converter a velocidade de infiltração em sulco, com unidades de litro/minuto por
1 m de sulco, em VI por unidade de área, com unidades de milímetros/hora, usa-se a seguinte
expressão:
VI(em1/min /1 m de sulco)
VI (em mm/h) = 60 (1.23)
espaçament o efetivo entre sulcos(em m)
A seguir, deve-se plotar a coluna (2) versus a coluna (8), para se obter a curva de VI
em l/min/m sulco versus tempo.
Conhecendo-se a VI/metro de sulco, facilmente se poderá determinar o tempo
necessário para manter a água escorrendo em um sulco de irrigação, para aplicar uma
quantidade determinada de água. Esses cálculos são vistos no Capítulo 7.
A medição da vazão na estaca A pode ser feita por meio de qualquer medidor para
medição de vazão em sulco (veja o Capítulo 4). Não se pode instalar vertedor em B, visto que
este represará a água e esta se espalharia sobre o solo, aumentando, assim, o valor da VI para
aquele sulco.
38 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Notas:
(1) - A primeira leitura do tempo é feita quanto a água chegar à metade da distância entre as estacas A e B; a segunda, quando a água atingir a estaca B; e as
demais, em cada 5 minutos, até se notar que atingiu VIB.
(2) - É o tempo acumulado que será plotado versus a coluna (8).
(3) e (5) - Carga nos medidores de vazão instalados nas estacas A e B.
(4) e (6) – Conversão das cargas nas respectivas vazões.
(7) - Diferença entre a média da vazão na coluna (4) e vazão na coluna (6).
(8) - Ajustamento da VI para 10 m de sulco.
39
40 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Infiltrômetro de sulco
Consiste em represar água em um pequeno comprimento de sulco, em geral 1 m, e ir
acrescentando água, à medida que ela for se infiltrando.
Pode-se permitir uma oscilação máxima de 2 cm do nível de água dentro do sulco. A
água acrescentada ao sulco é proveniente de um recipiente de volume conhecido. Dessa forma,
na hora das leituras, saber-se-á qual foi o volume de água infiltrado no solo. No início da
infiltração, o intervalo entre leituras deverá ser menor (cinco minutos), podendo ser
aumentado após quatro leituras.
De modo geral, podem-se usar os seguintes intervalos: 5, 10, 15, 20, 30, 45, 60, 90 e
120 minutos. Deve-se ter em mente que, quanto maior for a VI de um solo, mais freqüentes
deverão ser as leituras.
Inicialmente, determina-se a infiltração acumulada (I). A velocidade de infiltração média
(VIm) é a infiltração acumulada (I) em um tempo (to), dividida pelo próprio tempo, ou seja:
I
VIm = (1.24)
to
A velocidade de infiltração aproximada (VIa) é o incremento de infiltração, sendo o
valor de maior interesse para caracterização do processo.
I
VIa = (1.25)
t o
Este método está ilustrado na Tabela 1.6 e na Figura 1.10.
30 10
25
I (litro/m de sulco)
Vim
15
4
10
5 2
0 0
0 50 100 150 200
Tempo (min)
Figura 1.10 - Curvas de infiltração acumulada (I) e de velocidade de infiltração média (VIm).
Infiltrômetro de Anel
Os equipamentos para este método consistem em dois anéis, sendo o menor com 25
cm de diâmetro e o maior com 50 cm, ambos com 30 cm de altura. Devem ser instalados
concentricamente, na vertical, e enterrados 15 cm no solo, com auxílio de marreta. Para isso,
as bordas inferiores dos dois anéis devem ser finas e com corte em forma de bisel, para
facilitar a penetração no solo.
Coloca-se água, ao mesmo tempo, nos dois anéis e, com uma régua graduada,
acompanha-se a infiltração vertical no cilindro interno, com intervalos de tempo idênticos ao
do método anterior. Quando não se dispuser do cilindro externo, deve-se fazer uma bacia em
volta do cilindro menor e mantê-la cheia de água enquanto durar a determinação.
A importância do anel externo ou bacia é evitar que a água do anel interno infiltre
lateralmente. A altura da lâmina de água nos anéis deve ser de 5 cm, permitindo uma
oscilação máxima de 2 cm. Para facilitar as leituras, medem-se as distâncias entre a borda
superior do anel interno e a superfície da água dentro dele. Na Tabela 1.7 são ilustradas as
determinações.
Para construir as curvas de infiltração acumulada e de velocidade de infiltração, basta
plotar os dados de I e VI versus o tempo acumulado, como no exemplo anterior. Na Tabela 1.7, a
seguir, encontra-se um exemplo de um teste realizado com o infiltrômetro de anel, e nas
Figuras 1.11 e 1.12 apresentam-se os valores de infiltração acumulada e velocidade de
infiltração aproximada. Observa-se que, ao longo do teste, a I aumenta com o tempo e a
42 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
velocidade de infiltração diminui até atingir a estabilidade, valor este denominado VIB, que no
caso chega a 28 mm/hora, aproximadamente.
Tabela 1.7 - Determinação da infiltração acumulada (I) e da velocidade de infiltração (VIa),
pelo método de infiltrômetro de anel
Tempo Régua Infiltração Velocidade de
Hora Intervalo Leitura (mm) Diferença (mm) acumulada (I) (mm) infiltração (Via)
(min) (mm/h)
9h 0 100 - - -
9h 5 105 5 5 60
9h10 5 110 5 10 60
9h15 5 114 4 14 48
9h20 5 117/100 3 17 36
9h25 5 104 4 21 48
9h30 5 107 3 24 36
9h40 10 114/100 7 31 42
9h50 10 106 6 37 36
10h00 10 112 6 43 36
10h10 10 117/100 5 48 30
10h20 10 106 6 54 36
10h30 10 110 4 58 24
10h40 10 115/100 5 63 30
10h55 15 107 7 70 28
11h10 15 113 6 76 24
11h25 15 120/100 7 83 28
11h40 15 107/100 7 90 28
11h55 15 107 7 97 28
120
100
Infiltração acum. I
80
(mm)
60
40
20
0
0 50 100 150 200
Tempo (min)
Água no solo 43
72
60
VIa (mm/h) 48
36
24
12
0
0 50 100 150 200
Tempo (min)
Infiltrômetro de aspersão
Alves Sobrinho (1997) desenvolveu um infiltrômetro de aspersão, de construção
simples e fácil operação no campo, cujas características de precipitação relativas a diâmetro
de gotas, velocidade e energia cinética de impacto no solo das gotas produzidas são
semelhantes às da chuva natural. Tem sido mais utilizado em pesquisa, devido à infraestrutura
necessária.
Este tipo de equação descreve bem a infiltração do solo em períodos curtos, períodos
estes comuns na aplicação de lâminas de água médias e pequenas. Possui limitações em
períodos longos, pois, neste caso, pela equação, a velocidade de infiltração tende para zero à
medida que o tempo de infiltração se torna muito grande; entretanto, na realidade, à medida
que o tempo aumenta, a velocidade de infiltração tende para VIB.
A velocidade de infiltração (VI) instantânea é a derivada da infiltração acumulada, em
relação ao tempo, ou seja:
dI
VI = (1.27)
dt o
VI = a k t ao 1 (1.28)
T I 2
X = log T Y = log I X . Y X
(min uto) (cm)
5 0,91 0,699 -0,041 -0,029 0,489
10 1,57 1,000 0,196 0,196 1,000
20 2,41 1,301 0,382 0,497 1,693
30 2,97 1,477 0,473 0,698 2,182
45 3,71 1,653 0,569 0,941 2,733
60 4,39 1,778 0,642 1,142 3,162
90 5,64 1,954 0,751 1,468 3,819
120 6,83 2,079 0,834 1,735 4,323
180 8,61 2,255 0,935 2,109 5,086
240 10,28 2,380 1,012 2,409 5,665
300 11,78 2,477 1,071 2,653 6,136
Equação de Kostiakov-Lewis
I = k t ao + VIB to (1.34)
em que: I = infiltração acumulada, em cm;
k = constante que depende do solo;
a = constante que depende do solo, variando entre 0 e 1; e
VIB = velocidade de infiltração básica, em cm/minuto.
A velocidade de infiltração instantânea (VI), em cm/mim, será:
VI = a k t ao 1 + VI (1.35)
e a velocidade de infiltração média (VIM), em cm/mim, será:
VIM = k t ao 1 + VIB (1.36)
Este tipo de equação deve ser usado quando se pretende aplicar na irrigação lâminas
de água maiores, ou seja, irrigação com maiores tempos de oportunidade, durante a qual se
atingirá a VIB do solo.
Entretanto, comparando esta equação (1.34) com a equação potencial (1.36), verifica-
se que ela requer uma constante a mais e, em conseqüência, é mais difícil de ser ajustada aos
dados de campo.
Referências
ALVES SOBRINHO, T. Desenvolvimento de um infiltrômetro de aspersão portátil. Viçosa: UFV, 1997. 85
p. Tese (Doutorado em Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1997.
BAVER, L.D. Soil physics. N. York: John Wiley & Sons, 1966. 489 p.
BEN-HUR, M.; SHAINBERG, I.; MORIN, J. Variability of infiltration in a field with surface-sealed soil. Soil
Science Society of America Journal, v.51, p.1299-1302, 1987.
BERNARDO, S. Água no solo. Viçosa: Imprensa Universitária da UFV, 1980. 28 p. (Boletim de Extensão 1).
BERNARDO, S. Determinação da umidade do solo pelo “Método das Pesagens”. Revista Ceres, Viçosa, v. 18,
n. 95, p. 74-83, 1971.
DOORENBOS, J.; KASSAN, A. H. Yield response to water. Roma: FAO, 1979. 193 p. (Irrigation and
Drainage Paper 33)
HILLEL, D. Solo e água. Porto Alegre: Ed. Meridional “EMMA”, 1970. 231 p.
HOLMES, J.W. et al. Measurement of soil water In: ––––. Irrigation of agricultural lands. Wisconsin: ASA.
1967. p. 220-243. (Agronomy monograph nº 11).
ISRAELSEN, D.W. et al. Measurement of soil moisture. In: ––––. Irrigation principles and practices. N.
York: John Wiley and Sons, 1967. 447 p.
U.S.D.A. Soil-plant-water relationships. Washington, D.C.: Scs National Engineering Handbook, 1964.
Section 15-Irrigation: Chapter 1. 72 p.
Água no solo 47
Relação solo-água-planta-atmosfera 45
Capítulo 2
Relação solo-água-planta-atmosfera
Considerações Gerais
Qualquer planejamento e operação de um projeto de irrigação em que se vise à
máxima produção e à boa qualidade do produto, usando de maneira eficiente a água, requer
conhecimentos das inter-relações entre solo-água-planta-atmosfera e manejo de irrigação.
Em regiões áridas, onde a água é fator limitante, as pesquisas devem ser
desenvolvidas visando planejar irrigações para se alcançar máxima produção, por unidade de
água aplicada. Em outras condições, pode ser preferível realizar pesquisas objetivando a
máxima produção relacionada a um dos seguintes aspectos: unidade de área cultivada,
quantidade do produto, unidade de custo de mão-de-obra; ou aumento do emprego de mão-de-
obra no meio rural, assentamento de famílias marginalizadas ou garantia da estabilidade
social na região.
Infelizmente, as práticas irrigatórias em uso são, em geral, baseadas em costumes
herdados ou conveniência particular, em vez de corretas análises para as condições presentes.
De modo geral, ao iniciar um projeto de irrigação deve-se ter em mente: aumentar a
produção, economizar trabalho e água, minimizar a deterioração da estrutura do solo e a
perda de nutrientes etc.
Existem alguns princípios que são úteis ao planejamento e à operação de um projeto
de irrigação, a saber:
- A evapotranspiração diária de uma superfície coberta com vegetal rasteiro, na
ausência de energia advectiva, dificilmente excede a evaporação de um recipiente raso que
contém água com a superfície exposta às mesmas condições climáticas.
- Para que haja o máximo crescimento vegetativo, a transpiração de uma superfície
vegetal deve ser mantida na sua capacidade potencial, sob as condições climáticas
prevalecentes.
46 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
- Durante o ciclo de irrigação, a tensão máxima que se deve permitir que a água do
solo atinja, sem afetar a produção, é aquela sob a qual ainda haverá suficiente absorção de
água pela planta, de modo que a previna de progressiva deficiência de água.
- A razão entre a água evapotranspirada pela cultura e a aplicada pela irrigação deve
aproximar-se de 1, para que se tenha máxima eficiência de uso e de aplicado de água.
- Geralmente, a seleção de culturas ou de práticas culturais que visem ao aumento da
produção ou à diminuição do ciclo vegetativo aumentará a eficiência de uso da água.
- Em geral, as irrigações profundas ou pouco freqüentes são mais baratas do que as
irrigações rasas e freqüentes.
- A água percolada abaixo da zona radicular deve ser retirada, por drenagem natural
ou artificial.
- A quantidade de sal, trazida pela água de irrigação, deve ser contrabalançada pela
quantidade removida pela água de drenagem.
Em cada situação, as respostas para importantes questões de irrigação, como:
“quando irrigar?”, “quanto de água deve aplicar?” e “como aplicar a água?”, devem ser
baseadas nos princípios já mencionados e em pesquisas locais, e não em práticas específicas
que tiveram sucessos em outras regiões.
Questões como “até quanto por cento da ‘água útil’?” ou “até que tensão ela pode ser
permitida na zona radicular de uma cultura, sem reduzir produção?” não têm a mesma
resposta para todas as regiões. Estes limites devem ser determinados para cada situação ou
extrapolados de outras regiões que tenham o mesmo clima e solo. Em outras palavras, não há
práticas específicas que podem ser generalizadas, universalmente.
Para fazer irrigações corretas, deve-se:
- Analisar os fatores de solo, clima, planta e suprimento de água.
- Considerar os fatores de solo, água e engenharia na determinação da aplicação de
água.
- Avaliar a inter-relação entre irrigação e outros fatores culturais, como variedades,
densidade de plantio, fertilizante, ervas daninhas, colheitas etc.
- Visar sempre à obtenção da melhor função econômica.
Água necessária
A determinação da quantidade de água necessária para a irrigação é um dos principais
parâmetros para o correto planejamento, dimensionamento e manejo de qualquer sistema de
irrigação, bem como para avaliação de recursos hídricos. Quando a quantidade de irrigação
necessária for superestimada, têm-se como conseqüência sistemas de irrigação
superdimensionados. Isso encarece o custo da irrigação por unidade de área, o que leva à
aplicação de água em excesso, provocando muitas vezes elevação do lençol freático,
Relação solo-água-planta-atmosfera 47
sinalização do solo e lixiviação dos nutrientes. Por outro lado, quando a quantidade de
irrigação necessária for subestimada, tem-se o subdimensionamento do sistema de irrigação e
como conseqüência obtêm-se produções não muito elevadas, ou, como é mais freqüente,
incapacidade do sistema para irrigar toda a área do projeto, ou seja, redução da área a ser
irrigada.
A água necessária é a quantidade de água requerida pela cultura, em determinado
período de tempo, de modo a não limitar seu crescimento e sua produção, nas condições
climáticas locais, ou seja, é a quantidade de água necessária para atender à evapotranspiração
e à lixiviação dos sais do solo. Pela própria definição de água necessária à cultura, a
evapotranspiração constitui a maior e mais importante parte.
A irrigação total necessária (ITN) pode, então, ser definida como a quantidade de
água a ser suprida pela irrigação, de modo a complementar as precipitações efetivas, no
atendimento à quantidade de água necessária à cultura.
Para o planejamento de sistemas de irrigação, a quantidade de irrigação necessária
(ITN) pode ser determinada para períodos mensais, trimestrais ou para o ciclo da cultura.
Mas, para o dimensionamento do sistema, a ITN deve ser determinada para o período de
máxima demanda de irrigação da cultura. Neste caso, o comprimento do período a ser
considerado nas análises é um parâmetro de capital importância. Quando se determina a
máxima demanda de irrigação usando um período muito curto, por exemplo, analisando dados
diários, obtém-se normalmente um valor muito alto para a máxima demanda de irrigação, o
que leva ao superdimensionamento do projeto de irrigação. Por outro lado, quando se usa
período muito longo, ou seja, analisando dados mensais ou trimestrais, normalmente o valor
da máxima demanda de irrigação será baixo e, em conseqüência, ter-se-á um projeto de
irrigação subdimensionado.
Para as condições brasileiras, o mais aconselhado é analisar os dados para períodos
de 5, 10 ou 15 dias. O ideal é que o comprimento do período em que os dados forem reunidos
para análise seja o mais próximo possível do turno de rega, isto é, do intervalo em dias entre
duas irrigações sucessivas.
A quantidade total de irrigação necessária (ITN) para determinado período pode ser
estimada pela equação de balanço de água simplificada:
ET - Pe - Ws - s
ITN (2.1)
Ea
em que: ITN = lâmina total de irrigação necessária, no período;
ΣET = somatório da evapotranspiração, no período;
Pe = precipitação efetiva, no período;
Ws = água proveniente do lençol freático, no período;
∆s = variação do teor de umidade do solo, no período; e
Ea = eficiência de aplicação da irrigação, em decimal.
48 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
A evaporação nada mais é do que a passagem da água do estado líquido para o estado
de vapor, necessitando, então, de aproximadamente 585 calorias por centímetro cúbico de
água evaporada, à temperatura de ± 20 ºC. Vê-se que a energia é essencial, sendo assim,
cessará a transpiração com a sua falta. A principal fonte de calor para a transpiração é o Sol,
cuja energia é emitida sob a forma de energia radiante.
O efeito das estações do ano sobre a evaporação e a transpiração é conseqüência da
variação da quantidade de energia radiante que atinge o solo, durante esses períodos. Estas
variações serão tanto maiores quanto mais afastada do equador for a área a ser considerada.
Sendo assim, em regiões de climas tropicais, como é o caso do Brasil, onde a variação da ET
potencial durante o ano é pequena (BERNARDO, S., 1970), é possível o cultivo durante
quase todo o ano, visto que energia não falta, mas sim faltam pesquisas com Irrigação e
Fotoperiodismo nas principais culturas, de modo que sejam permitidas explorações intensivas.
Num e noutro processo, a evaporação é influenciada pela percentagem e extensão de
área coberta pelo vegetal.
Evapotranspiração – A quantidade de água evapotranspirada depende principalmente
da planta, do solo e do clima, sendo este último fator predominante sobre os demais, de modo
que a quantidade de água requerida por uma cultura varia com a extensão da área coberta
pelo vegetal e com as estações do ano (em locais onde o clima varia acentuadamente com as
estações).
A evapotranspiração é função da quantidade de energia solar que chega à área
considerada. Se a área não for toda coberta por vegetal, a energia que chega a ela será
parcialmente utilizada na ET, menor quantidade de água será evaporada e grande parte da
energia utilizada para aquecimento do ar e solo, exceto no caso de solos descobertos, mas
saturados. Por isso, plantas isoladas ou pequenas áreas cultivadas próximas de áreas com solo
descoberto serão sujeitas a maiores intensidades de ET, pois receberão energia solar
diretamente sobre a área e ainda energia da massa de ar quente e com baixa umidade,
proveniente da área sem vegetal. Este fenômeno é chamado de “efeito oásis”.
Para ilustrar este “efeito oásis”, em Davis – Califórnia, a ET de uma superfície
coberta de grama foi de 2,6 mm/dia, no início da primavera, e de 5,0 mm/dia, no outono,
ressaltando-se que o campo nas proximidades do lisímetro estava coberto de vegetal na
primavera e com solo exposto à radiação solar no outono e que nas duas épocas a energia
radiante incidida sobre cada unidade de área naquele local foi igual.
A ET varia com as culturas (Quadro 2.1), o que é atribuído em parte à arquitetura
foliar (ângulo da folha, altura e densidade), às características das folhas (número de estômatos
e de horas de sua abertura) e à duração do ciclo e da época de cultivo.
Determinação da evapotranspiração
Há vários métodos para determinar a evapotranspiração, os quais, em sua maioria,
estimam a evapotranspiração potencial, ou seja, a que ocorre quando não há deficiência de
água no solo que limite seu uso pelas plantas. Mas, como é de se esperar, em razão das
características intrínsecas de cada cultura, a evapotranspiração potencial varia de cultura para
cultura. Assim sendo, verificou-se a necessidade de definir a evapotranspiração potencial para
uma cultura de referência (ETo) e a evapotranspiração potencial (ETpc) e a real (ETc) por
cultura. Elas podem ser assim definidas:
Evapotranspiração Potencial de Referência – Foi inicialmente definida como a
evapotranspiração de uma superfície extensiva, totalmente coberta com grama de tamanho
uniforme, com 8 a 15 cm de altura e em fase de crescimento ativo, em um solo com ótimas
condições de umidade. Questões de ordem operacional relacionadas ao tipo e dificuldades de
manutenção das condições ótimas de desenvolvimento da grama exigiram mudanças neste
conceito.
A partir de 1990 (SMITH, 1991) foi proposto um novo conceito de evapotranspiração
de referência que foi amplamente adotado e se tornou o novo padrão FAO (ALLEN et
al.,1998). A ETo passou a ser a evapotranspiração de uma cultura hipotética que cobre todo o
solo, em crescimento ativo, sem restrição hídrica nem nutricional (ótimas condições de
desenvolvimento), com altura média de 0,12 m, albedo de 0,23 e resistência da superfície de
70 s.m-1. O modelo utilizado como padrão para estimar a ETo passou a ser a equação de
Penman-Monteith, que será posteriormente discutida.
O método de Penman-Monteith foi selecionado pela sua consistência técnica
(ALLEN, 1986 e ALLEN et al., 1989) e pelos excelentes resultados nas mais distintas
condições climáticas (JENSEN et al., 1990).
Evapotranspiração Potencial da Cultura – É a evapotranspiração de determinada
cultura quando há ótimas condições de umidade e nutriente no solo, de modo a permitir a
produção potencial desta cultura no campo.
A relação entre a ETpc e a ETo pode ser expressa pela seguinte equação:
Etpc = Kc ETo (2.4)
em que Kc é o coeficiente da cultura.
Relação solo-água-planta-atmosfera 51
Determinação da ETo
Para a determinação da evapotranspiração potencial de referência (ETo), serão
considerados neste livro somente os métodos mais generalizados. Didaticamente, eles serão
divididos em dois grandes grupos, ou seja, métodos diretos e métodos indiretos.
Métodos diretos
São vários os métodos para a determinação direta da evapotranspiração, bem como os
fatores que devem ser considerados na seleção destes métodos. Um desses principais fatores é
a fonte de água a ser usada pelo vegetal, se precipitação, irrigação por aspersão ou por
superfície, ou se é água subterrânea.
Os principais métodos diretos são: a) lisímetros; b) parcelas experimentais no campo;
c) controle da umidade do solo; e d) método da “Entrada-Saída”, em grandes áreas.
dentro dele, de modo que não torne as condições de umidade interna diferentes das do solo
externo.
- A vegetação plantada dentro do lisímetro deve ser da mesma espécie, altura e
densidade da vegetação externa.
- Nunca se deve colocar um lisímetro dentro de uma área sem vegetação.
- O lisímetro deve ser instalado em uma área plana, homogênea em cultura e solo, de
dois hectares, no mínimo.
Os lisímetros a serem discutidos serão divididos em dois grupos: pesáveis e não-
pesáveis.
Lisímetros não-pesáveis:
- de drenagem ou de percolação
Lisímetros pesáveis:
- de pesagem mecânica
- flutuante
- hidráulico
Lisímetro de Percolação – Consiste em se enterrar um tanque, com as dimensões
mínimas de 1,5 m de diâmetro por 1,0 m de altura, no solo, deixando a sua borda superior
5 cm acima da superfície deste. Do fundo do tanque sai um cano que conduzirá a água
drenada até um recipiente. O tanque tem que ser cheio com o solo do local onde será instalado
o lisímetro, mantendo a mesma ordem dos horizontes. No fundo do tanque, coloca-se uma
camada de mais ou menos 10 cm de brita coberta com uma camada de areia grossa. Esta
camada de brita tem a finalidade de facilitar a drenagem da água que percolou através do
tanque. Após instalado, planta-se grama no tanque e na sua área externa. A Figura 2.1 ilustra
este tipo de lisímetro.
5 cm grama tampa
solo 4,50
(solo) tanque
brita (solo)
cano de 1/2''
(solo)
coletor
O tanque pode ser um tambor, pintado interna e externamente para evitar corrosão, ou
também ser de amianto ou de metal, pré-fabricado. Têm sido muito utilizados lisímetros de
polietileno.
A evapotranspiração potencial de referência em um período qualquer é dada pela
seguinte equação:
Relação solo-água-planta-atmosfera 53
I+ P- D (2.6)
ETo
S
em que: ETo = evapotranspiração potencial de referência, em mm;
I = irrigação do tanque, em L;
P = precipitação pluviométrica no tanque, em L;
D = água drenada do tanque, em L; e
S = área do tanque, em m2.
Sendo o movimento de água no solo um processo relativamente lento, os lisímetros de
percolação somente têm precisão para períodos mais ou menos longos. A ETo, por eles
determinada, deve ser em médias semanais, quinzenais ou mensais. Eles precisam ser
irrigados diariamente ou a cada dois dias, com determinada quantidade de água, de forma que
a água percolada seja em torno de 10% do total aplicado nas irrigações.
O “evapotranspirômetro de Thornthwaite” é um tipo de lisímetro de percolação.
Uma adaptação ao lisímetro de percolação que permite boa precisão na medida da
evapotranspiração é o sistema de lençol freático constante. Nesta utilização implementa-se um
sistema de alimentação contínua de água através do sistema de drenagem ou de um sistema
auxiliar instalado na superfície do lisímetro.
A segunda forma é mais usual e de maior facilidade de controle, sendo, neste caso,
instalado um registro na saída do dreno, que é fechado quando da utilização desse lisímetro
com lençol freático constante. É também instalado um dispositivo auxiliar composto de um
tubo de pvc, bóia tipo caixa de água e sistema de alimentação de água independente composto
de recipientes de volume calibrados (normalmente de latões de 200 L), que é conectado por
uma tubulação flexível (Figura 2.2).
A
54 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
B C
Figura 2.2 - Vista do lisímetro de lençol freático constante em processo de montagem (A)
observando-se o tubo de controle do lençol freático e bóia (B) e o sistema de
tambores de fornecimento de água (C).
Neste lisímetro, o lençol freático é mantido constante e, em resposta ao consumo de
água pela cultura, a água se desloca para a zona radicular por capilaridade.
Embora os lisímetros de lençol freático de nível constante não permitam medidas com
o mesmo grau de exatidão e em intervalos tão curtos quanto os lisímetros de pesagem,
possuem custos de instalação e operação bem menores e são bastante utilizados para a
determinação da evapotranspiração potencial de cada fase de crescimento da cultura. A ETpc
é determinada a partir da lâmina média consumida no lisímetro, o que pode ser observado a
partir de leitura diária em uma régua graduada adaptada no reservatório de abastecimento de
cada lisímetro.
Lisímetro de Pesagem Mecânica – Como todo lisímetro pesável, o de pesagem
mecânica permite a determinação da ET em períodos curtos, ET-horária ou diária, o que não
acontece com os lisímetros não-pesáveis. Ele é imprescindível em centros de pesquisas, de
modo que se possam calcular os coeficientes de correção, para os métodos indiretos ou
empíricos de determinação da ETo.
Consiste em um tanque apoiado sobre uma balança mecânica. O conjunto fica dentro
de um tanque externo. O tanque interno é livre e apóia-se somente sobre a balança, a qual
acusa toda variação de seu peso, ou seja, a perda da água evapotranspirada. A Figura 2.3
ilustra este tipo de lisímetro. As mesmas considerações, no que diz respeito à área, à
profundidade e ao solo, vistas em relação ao lisímetro-drenagem, são válidas para qualquer
tipo de lisímetro.
Em Davis (Califórnia), há um excelente exemplo de lisímetro de pesagem mecânica,
construído por Pruitt e Angus, em 1960. O tanque interno tem 6,1 m de diâmetro e 0,9 m de
profundidade. Sua precisão é de 0,03 mm, cujos dados de ET são mecanicamente gravados a
cada quatro minutos.
Relação solo-água-planta-atmosfera 55
.
. . .
.
.
.
. .
.
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.
.
solo .
.
. .
.
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solo .
.
. .
. .
tanque de .
.
. brita
. .
.
. .
. .
drenagem solo
balança túnel
camada de óleo
1m (solo) (solo)
(solo)
tanque externo
cano de 3''
bolsa bolsa
de ar de ar cano de 1'' água
(água)
(solo)
. .. . .. . . ... .. .
. . . . .. . . . ... .
. .. . . .. . . ... . .. . . .solo . ... . .. . .. . . ... .
. . .
.. . . .. .. .. .T... ..interno
. .. . .. .
.. . . . . .
. . .. .. .. . . . . . . . . . .. . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . ...... ... . .
. . . . . .
. . . .. . . . . . . . .. . .. .... . .. . . .... .. T. externo
. . .. . . tubo de conecção .. .. . . . .. . . .
.. . . .. .... .. .. .. ..... .... . .
. .. . . ..... .. . . .. . .. . . ... . . .. .
. . . ... . . . . . . . . . . .. .. .. . . . . ...... . .
... . . . . das câmaras com . . . .
. .. . .
. .. . . .. . . . ... .. . . . .solo...... ....
. . .
. . .
. . . . .. . ...o manômetro
. ... .. ..
. .. .. . .. .... .
. . ... .. ... . .. ........ . ....... .. .. .. .
.. . . ..
. . .. .. . . . . .. .
.
..
.
.. . . ... . .... .. .... ...... ... .blocos de
. . . . . .. . ... .. . .. ... . ....madeira
. . . ... . . .. .. .. .. .. . .... ....... ... . . .. ..
. . . ... . .. . .
. . ...... .... . . . .câmaras
.
. .. .
. . .. . . . . . . . . . . . .. . .. . . . .. ... hidráulicas
. . .. . . . . . . . .. interconectadas
Outro erro que pode ocorrer neste tipo de lisímetro é a dilatação do tubo do
manômetro, em virtude da variação da temperatura. O tubo de conexão do manômetro com as
câmaras não deve ser de ferro, mas de PVC reforçado, para minimizar a condução de calor.
A ETo é calculada pela variação da pressão do manômetro, por meio da seguinte
equação:
Eto = F (h1 - h2) + I (2.9)
em que: ETo = evapotranspiração potencial de referência, em mm/dia;
F = fator de conversão determinado para cada lisímetro;
h1 - h2 = variação do nível do líquido no piezômetro de medição, entre dois dias
consecutivos, em cm; e
I = precipitação ou irrigação ocorrida sobre o lisímetro, entre as duas leituras, em
mm.
Métodos Indiretos
Métodos indiretos são aqueles que não dão diretamente a evapotranspiração. Para
determiná-la por estes métodos multiplica-se o valor encontrado por um fator (K), a ser
determinado para cada região e para cada método indireto. Para isso, é necessário que se
tenham, junto aos centros de pesquisa, estações de evapotranspiração nas quais existam
lisímetros. Dessa forma, será possível determinar o fator K, para cada método indireto, e usar
os métodos indiretos, com o fator K, previamente determinado, no cálculo da ET daquelas
regiões, uma vez que os lisímetros são construções relativamente caras, demandam técnica,
não podendo, desse modo, ser construídos em cada sub-região.
Os métodos indiretos serão divididos em dois grandes grupos:
a) evaporímetros; e b) equações.
A) EVAPORÍMETROS
São equipamentos usados para medir a evaporação da água. Existem dois tipos
básicos de evaporímetros: no primeiro, a superfície da água fica livremente exposta (tanques
de evaporação); no segundo, a evaporação se dá através de uma superfície porosa
(atmômetros).
Tanque de Evaporação – Há vários tipos de tanques de evaporação, sendo a maioria
regional; no entanto, alguns de uso freqüente chegaram a ser conhecidos internacionalmente.
Serão descritos somente estes últimos.
Tanque USWB Classe A – O tanque Classe A, em virtude do custo relativamente
baixo e do fácil manejo, tem sido empregado nos projetos de irrigação. Ele tem a vantagem de
medir a evaporação de uma superfície de água livre, associada aos efeitos integrados da
radiação solar, do vento, da temperatura e da umidade do ar.
O evaporímetro em questão consiste num tanque circular de aço inoxidável ou
galvanizado, chapa nº 22, com 121 cm de diâmetro interno e 25,5 cm de profundidade. Ele
deve ser instalado sobre um estrado de madeira, de 15 cm de altura, cheio de água até 5 cm da
borda superior (Figura 2.6). O nível da água não deve baixar mais que 7,5 cm da borda
superior, isto é, não se deve permitir variação do nível da água maior do que 2,5 cm. A
evaporação é medida com um micrômetro de gancho, assentado sobre um poço tranqüilizador.
O poço tranqüilizador pode ser de metal e com tripé sobre parafuso, colocado dentro do
tanque (Figura 2.7) ou um cilindro de 10 cm de diâmetro, que se comunica com o tanque por
meio de um tubo (Figura 2.8). Neste último tipo de poço tranqüilizador pode-se instalar uma
régua graduada em milímetros para as leituras. A leitura não será tão precisa como no
micrômetro, mas satisfatória para fins de irrigação.
60 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Pelo fato de os processos de evaporação da água livre no tanque (EV) e a ETo serem
semelhantes apenas nos seus aspectos físicos, para converter EV em ETo, as condições
meteorológicas da região e o local em que o tanque está instalado em relação ao meio
circundante devem ser considerados.
A evapotranspiração potencial de referência pode, portanto, ser calculada pela
seguinte equação:
ETo Kt EV (2.12)
Tabela 2.2 - Valores do coeficiente do tanque Classe A, função dos dados meteorológicos da
região e do meio em que ele está instalado, segundo Doorenbos e Pruitt (FAO)
Exposição A Exposição B
Tanque circundado por grama Tanque circundado por solo nu
UR % Baixa Média Alta Baixa Média Alta
(média) <40% 40-70% >70% <40% 40-70% >70%
Vento Posição Posição
do do
(km/dia) tanque tanque
R (m)* R (m)*
62 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Exemplo:
Período - 8 a 14 de setembro de 1985
Vento - média no período = 190 km/dia
UR - média no período = 60%
Tanque circundado com grama (posição A).
R (m) = 10 m
Evaporação no tanque Classe A, no período = 42 mm
Pela Tabela 2.2, Kt = 0,70
então:
ETo Kt EV 0,70 42 ;
24º 9,44 8,17 8,60 7,83 7,64 7,24 7,54 7,90 8,10 8,87 9,04 9,53
26º 9,55 8,22 8,63 7,81 7,56 7,14 7,46 7,84 8,10 8,91 9,15 9,66
28º 9,65 8,27 8,63 7,78 7,49 7,04 7,38 7,78 8,08 8,95 9,20 9,76
30º 9,75 8,32 8,64 7,73 7,44 6,93 7,28 7,70 8,07 8,99 9,26 9,88
32º 9,85 8,37 8,66 7,70 7,36 6,82 7,18 7,62 8,06 9,03 9,35 10,00
34º 9,96 8,43 8,67 7,65 7,25 6,70 7,08 7,55 8,05 9,07 9,44 10,14
36º 10,0 8,50 8,68 7,62 7,14 6,58 6,98 7,48 8,04 9,12 9,53 10,26
7
38º 10,1 8,56 8,68 7,58 7,06 6,46 6,87 7,41 8,03 9,15 9,62 10,39
8
40º 10,3 8,62 8,71 7,54 6,93 6,33 6,75 7,33 8,02 9,20 9,71 10,54
2
Tabela 2.4 - Fator de correção “c” para a equação de Blaney-Criddle modificada pela FAO
900
0,408 Rn G U 2 e s e a
ET0 T 273 (2.15)
1 0,34 U 2
67
Relação solo-água-planta-atmosfera
Lat. deg. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
70 41,4 28,6 15,8 4,9 0,2 0,0 0,0 2,2 10,7 23,5 37,3 45,3
68 41,0 29,3 16,9 6,0 0,8 0,0 0,0 3,2 11,9 24,4 37,4 44,7
66 40,9 30,0 18,1 7,2 1,5 0,1 0,5 4,2 13,1 25,4 37,6 44,1
64 41,0 30,8 19,3 8,4 2,4 0,6 1,2 5,3 14,4 26,3 38,0 43,9
62 41,2 31,5 20,4 9,6 3,4 1,2 2,0 6,4 15,5 27,2 38,3 43,9
60 41,5 32,3 21,5 10,8 4,4 2,0 2,9 7,6 16,7 28,1 38,7 43,9
58 41,7 33,0 22,6 12,0 5,5 2,9 3,9 8,7 17,9 28,9 39,1 44,0
56 42,0 33,7 23,6 13,2 6,6 3,9 4,9 9,9 19,0 29,8 39,5 44,1
54 42,2 34,3 24,6 14,4 7,7 4,9 6,0 11,1 20,1 30,6 39,9 44,3
52 42,5 35,0 25,6 15,6 8,8 6,0 7,1 12,2 21,2 31,4 40,2 44,4
50 42,7 35,6 26,6 16,7 10,0 7,1 8,2 13,4 22,2 32,1 40,6 44,5
48 42,9 36,2 27,5 17,9 11,1 8,2 9,3 14,6 23,3 32,8 40,9 44,5
46 43,0 36,7 28,4 19,0 12,3 9,3 10,4 15,7 24,3 33,5 41,1 44,6
44 43,2 37,2 29,3 20,1 13,5 10,5 11,6 16,8 25,2 34,1 41,4 44,6
42 43,3 37,7 30,1 21,2 14,6 11,6 12,8 18,0 26,2 34,7 41,6 44,6
40 43,4 38,1 30,9 22,3 15,8 12,8 13,9 19,1 27,1 35,3 41,8 44,6
38 43,4 38,5 31,7 23,3 16,9 13,9 15,1 20,2 28,0 35,8 41,9 44,5
36 43,4 38,9 32,4 24,3 18,1 15,1 16,2 21,2 28,8 36,3 42,0 44,4
34 43,4 39,2 33,0 25,3 19,2 16,2 17,4 22,3 29,6 36,7 42,0 44,3
32 43,3 39,4 33,7 26,3 20,3 17,4 18,5 23,3 30,4 37,1 42,0 44,1
30 43,1 39,6 34,3 27,2 21,4 18,5 19,6 24,3 31,1 37,5 42,0 43,9
28 43,0 39,8 34,8 28,1 22,5 19,7 20,7 25,3 31,8 37,8 41,9 43,6
26 42,8 39,9 35,3 29,0 23,5 20,8 21,8 26,3 32,5 38,0 41,8 43,3
24 42,5 40,0 35,8 29,8 24,6 21,9 22,9 27,2 33,1 38,3 41,7 43,0
22 42,2 4,01 36,2 30,6 25,6 23,0 24,0 28,1 33,7 38,4 41,4 42,6
20 41,9 40,0 36,6 31,3 26,6 24,1 25,0 28,9 34,2 38,6 41,2 42,1
18 41,5 40,0 37,0 32,1 27,5 25,1 26,0 29,8 34,7 38,7 40,9 41,7
16 41,1 39,9 37,2 32,8 28,5 26,2 27,0 30,6 35,2 38,7 40,6 41,2
14 40,6 39,7 37,5 33,4 29,4 27,2 27,9 31,3 35,6 38,7 40,2 40,6
12 40,1 39,6 37,7 34,0 30,2 28,1 28,9 32,1 36,0 38,6 39,8 40,0
10 39,5 39,3 37,8 34,6 31,1 29,1 29,8 32,8 36,3 38,5 39,3 39,4
8 38,9 39,0 37,9 35,1 31,9 30,0 30,7 33,4 36,6 38,4 38,8 38,7
6 38,3 38,7 38,0 35,6 32,7 30,9 31,5 34,0 36,8 38,2 38,2 38,0
4 37,6 38,3 38,0 36,0 33,4 31,8 32,3 34,6 37,0 38,0 37,6 37,2
2 36,9 37,9 38,0 36,4 34,1 32,6 33,1 35,2 37,1 37,7 37,0 36,4
0 36,2 37,5 37,9 36,8 34,8 33,4 33,9 35,7 37,2 37,4 36,3 35,6
Relação solo-água-planta-atmosfera 69
Tabela 2.6 - Procedimentos para cálculo da ETo pelo método de Penman-Monteith padrão
FAO
Parâmetros
Tmax 29,2 °C
Tmin 15,1 °C Tmean = (Tmax + Tmin )/2 22,15 °C
Tmedia 22,15 °C (Tabela 2.7 ) 0,1624 kPa/°C
Altitude 284,4 m (Tabela 2.8 ) 0,0653 kPa/°C
Uz (10 m) 1,1 m/s Fator de conversão para U2 0,748
(Tabela 2.9)
U2 0,82 m/s (1 + 0.34 u2) 1,28
/[ + (1 + 0.34 u2 )] 0,66
/[ + (1 + 0.34 u2)] 0,27
[900/(Tmean + 273)] u2 2,50
Déficit de pressão de vapor
Tmax 29,2 °C e°(Tmax) (Tabela 2.11) 4,03 kPa
Tmin 15,1 °C e°(Tmin) (Tabela 2.11) 1,72 kPa
Pressão de saturação do vapor 2,88 kPa
es = [(e°(Tmax) + e°(Tmin)]/2
Cont.
Cont.
Evapotranspiração de referência
3,27 mm/dia
0,408( R n G )
(1 0 . 34 u
2)
Tabela 2.7 - Declividade da curva de pressão de vapor () para diferentes temperaturas (T)
T T T T
°C kPa/°C °C kPa/°C °C kPa/°C °C kPa/°C
1,0 0,047 13,0 0,098 25,0 0,189 37,0 0,342
1,5 0,049 13,5 0,101 25,5 0,194 37,5 0,350
2,0 0,050 14,0 0,104 26,0 0,199 38,0 0,358
2,5 0,052 14,5 0,107 26,5 0,204 38,5 0,367
3,0 0,054 15,0 0,110 27,0 0,209 39,0 0,375
3,5 0,055 15,5 0,113 27,5 0,215 39,5 0,384
4,0 0,057 16,0 0,116 28,0 0,220 40,0 0,393
4,5 0,059 16,5 0,119 28,5 0,226 40,5 0,402
5,0 0,061 17,0 0,123 29,0 0,231 41,0 0,412
5,5 0,063 17,5 0,126 29,5 0,237 41,5 0,421
6,0 0,065 18,0 0,130 30,0 0,243 42,0 0,431
6,5 0,067 18,5 0,133 30,5 0,249 42,5 0,441
7,0 0,069 19,0 0,137 31,0 0,256 43,0 0,451
7,5 0,071 19,5 0,141 31,5 0,262 43,5 0,461
8,0 0,073 20,0 0,145 32,0 0,269 44,0 0,471
8,5 0,075 20,5 0,149 32,5 0,275 44,5 0,482
9,0 0,078 21,0 0,153 33,0 0,282 45,0 0,493
9,5 0,080 21,5 0,157 33,5 0,289 45,5 0,504
10,0 0,082 22,0 0,161 34,0 0,296 46,0 0,515
10,5 0,085 22,5 0,165 34,5 0,303 46,5 0,526
11,0 0,087 23,0 0,170 35,0 0,311 47,0 0,538
11,5 0,090 23,5 0,174 35,5 0,318 47,5 0,550
12,0 0,092 24,0 0,179 36,0 0,326 48,0 0,562
12,5 0,095 24,5 0,184 36,5 0,334 48,5 0,574
72 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
17,27T
4098 0 .6108 exp
T 237,3 (2.16)
( T 237,3) 2
Tabela 2.8 - Constante psicrométrica () para diferentes altitudes (z)
Z z z z
(m) kPa/°C (m) kPa/°C (m) kPa/°C (m) kPa/°C
0 0,067 1000 0,060 2000 0,053 3000 0,047
100 0,067 1100 0,059 2100 0,052 3100 0,046
200 0,066 1200 0,058 2200 0,052 3200 0,046
300 0,065 1300 0,058 2300 0,051 3300 0,045
400 0,064 1400 0,057 2400 0,051 3400 0,045
500 0,064 1500 0,056 2500 0,050 3500 0,044
600 0,063 1600 0,056 2600 0,049 3600 0,043
700 0,062 1700 0,055 2700 0,049 3700 0,043
800 0,061 1800 0,054 2800 0,048 3800 0,042
900 0,061 1900 0,054 2900 0,047 3900 0,042
1000 0,060 2000 0,053 3000 0,047 4000 0,041
Cc P
0,665 x 10 3 (2.17)
Obs.: Baseado em = 2.45 MJ kg-1 at 20°C
Tabela 2.9 - Fatores de conversão (F) para converter a velocidade do vento medida a certa
altura (acima da grama) em velocidade do vento medida na condição-padrão de 2
m acima da superfície
z (m) F z F z F z (m) F
(m) (m)
- - 2,2 0,980 4,2 0,865 6,0 0,812
- - 2,4 0,963 4,4 0,857 6,5 0,802
- - 2,6 0,947 4,6 0,851 7,0 0,792
- - 2,8 0,933 4,8 0,844 7,5 0,783
1,0 1,178 3,0 0,921 5,0 0,838 8,0 0,775
1,2 1,125 3,2 0,910 5,2 0,833 8,5 0,767
1,4 1,084 3,4 0,899 5,4 0,827 9,0 0,760
1,6 1,051 3,6 0,889 5,6 0,822 9,5 0,754
1,8 1,023 3,8 0,881 5,8 0,817 10,0 0,748
Relação solo-água-planta-atmosfera 73
Fator de conversão =
4,87 (2.18)
In (67,8z 5,42
72
Tabela 2.10 - Média diária de horas de luz solar (N) no 15o dia do mês
Hemisfério Norte Hemisfério Sul
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov Dez. Lat. Jan. Fev. Mar Abr. Maio Jun. Jul. Ago Set. Out. Nov. Dez.
. grau . .
0,0 6,6 11,0 15,6 21,3 24, 24, 17,6 12,8 8,3 2,3 0,0 70 24,0 17,4 13,0 8,4 2,7 0,0 0,0 6,4 11,2 15,7 21,7 24,0
0 0
2,1 7,3 11,1 15,3 19,7 24, 22, 17,0 12,7 8,7 4,1 00 68 21,9 16,7 12,9 8,7 4,3 0,0 1,7 7,0 11,3 15,3 19,9 24,0
0 3
3,9 7,8 11,2 14,9 18,7 22, 20, 16,4 12,7 9,0 5,2 1,9 66 20,1 16,2 12,8 9,1 5,3 2,0 3,7 7,6 11,3 15,0 18,8 22,1
0 3
5,0 8,2 11,2 14,7 17,9 20, 19, 16,0 12,6 9,3 6,0 3,7 645 19,0 15,8 12,8 9,3 6,1 3,7 4,8 8,0 11,4 14,7 18,0 20,3
3 2
5,7 8,5 11,3 14,4 17,3 19, 18, 15,7 12,6 9,5 6,6 4,8 62 18,3 15,5 12,7 9,6 6,7 4,8 5,6 8,3 11,4 14,5 17,4 19,2
2 4
6,4 8,8 11,4 14,2 16,8 18, 17, 15,3 12,5 9,7 7,1 5,6 60 17,6 15,2 12,6 9,8 7,2 5,6 6,3 8,7 11,5 14,3 16,9 18,4
4 7
Tabela 2.11 - Pressão de saturação de vapor (e°(T)) para diferentes temperaturas (T)
T es T e°(T) T e°(T) T es
°C kPa °C kPa °C kPa °C kPa
1,0 0,657 13,0 1,498 25,0 3,168 37,0 6,275
1,5 0,681 13,5 1,547 25,5 3,263 37,5 6,448
2,0 0,706 14,0 1,599 26,0 3,361 38,0 6,625
2,5 0,731 14,5 1,651 26,5 3,462 38,5 6,806
3,0 0,758 15,0 1,705 27,0 3,565 39,0 6,991
3,5 0,785 15,5 1,761 27,5 3,671 39,5 7,181
4,0 0,813 16,0 1,818 28,0 3,780 40,0 7,376
4,5 0,842 16,5 1,877 28,5 3,891 40,5 7,574
5,0 0,872 17,0 1,938 29,0 4,006 41,0 7,778
5,5 0,903 17,5 2,000 29,5 4,123 41,5 7,986
6,0 0,935 18,0 2,064 30,0 4,243 42,0 8,199
6,5 0,968 18,5 2,130 30,5 4,366 42,5 8,417
7,0 1,002 19,0 2,197 31,0 4,493 43,0 8,640
7,5 1,037 19,5 2,267 31,5 4,622 43,5 8,867
8,0 1,073 20,0 2,338 32,0 4,755 44,0 9,101
8,5 1,110 20,5 2,412 32,5 4,891 44,5 9,339
9,0 1,148 21,0 2,487 33,0 5,030 45,0 9,582
9,5 1,187 21,5 2,564 33,5 5,173 45,5 9,832
10,0 1,228 22,0 2,644 34,0 5,319 46,0 10,086
10,5 1,270 22,5 2,726 34,5 5,469 46,5 10,347
11,0 1,313 23,0 2,809 35,0 5,623 47,0 10,613
11,5 1,357 23,5 2,896 35,5 5,780 47,5 10,885
12,0 1,403 24,0 2,984 36,0 5,941 48,0 11,163
12,5 1,449 24,5 3,075 36,5 6,106 48,5 11,447
Relação solo-água-planta-atmosfera 77
17,27T
e o (T ) 0,6108 exp (2.19)
T 237,3
Tabela 2.12 - Pressão atmosférica (P) para diferentes altitudes (z)
z P Z P z P z P
(m) (kPa) (m) (kPa) (m) (kPa) (m) (kPa)
Dia Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
1 1 32 60 91 121 152 182 213 244 274 305 335
2 2 33 61 92 122 153 183 214 245 275 306 336
3 3 34 62 93 123 154 184 215 246 276 307 337
4 4 35 63 94 124 155 185 216 247 277 308 338
5 5 36 64 95 125 156 186 217 248 278 309 339
6 6 37 65 96 126 157 187 218 249 279 310 340
7 7 38 66 97 127 158 188 219 250 280 311 341
8 8 39 67 98 128 159 189 220 251 281 312 342
9 9 40 68 99 129 160 190 221 252 282 313 343
10 10 41 69 100 130 161 191 222 253 283 314 344
11 11 42 70 101 131 162 192 223 254 284 315 345
12 12 43 71 102 132 163 193 224 255 285 316 346
13 13 44 72 103 133 164 194 225 256 286 317 347
14 14 45 73 104 134 165 195 226 257 287 318 348
15 15 46 74 105 135 166 196 227 258 288 319 349
16 16 47 75 106 136 167 197 228 259 289 320 350
17 17 48 76 107 137 168 198 229 260 290 321 351
18 18 49 77 108 138 169 199 230 261 291 322 352
19 19 50 78 109 139 170 200 231 262 292 323 353
20 20 51 79 110 140 171 201 232 263 293 324 354
21 21 52 80 111 141 172 202 233 264 294 325 355
22 22 53 81 112 142 173 203 234 265 295 326 356
23 23 54 82 113 143 174 204 235 266 296 327 357
24 24 55 83 114 144 175 205 236 267 297 328 358
25 25 56 84 115 145 176 206 237 268 298 329 359
26 26 57 85 116 146 177, 207 238 269 299 330 360
27 27 58 86 117 147 178 208 239 270 300 331 361
28 28 59 87 118 148 179 209 240 271 301 332 362
Relação solo-água-planta-atmosfera 79
29 29 (60) 88 119 149 180 210 241 272 302 333 363
30 30 - 89 120 150 181 211 242 273 303 334 364
31 31 - 90 - 151 - 212 243 - 304 - 365
* Adicionar um dia para ano bissexto.
Determinação da ETpc
Por definição, ETpc é a evapotranspiração de determinada cultura quando se têm
ótimas condições de umidade de campo.
Em condições normais de cultivo de plantas de ciclo curto, logo após o plantio, a
ETpc é bem menor do que a evapotranspiração potencial de referência (ETo). Esta diferença
vai diminuindo à medida que a cultura se desenvolve, ou seja, em razão do seu aumento foliar,
tendendo para uma diferença mínima, em muitos casos chegando a ultrapassar o valor de
ETo, quando a cultura atinge ± 80% do seu desenvolvimento vegetativo ou o início da
formação dos primórdios florais, permanecendo nesta condição até o término da fase de
enchimento dos grãos, após a qual a diferença volta a aumentar novamente (Figura 2.10).
1,5
Germinação
Maturação
Floração
Colheita
1,0
ETpc/ET0
0,5
(%) cobertura
100
50
0
20 30 10 20 31 10 20 31 10 20 30
NOV DEZ JAN FEV
A relação entre a ETpc e a ETo é expressa pela equação 2.4: ETpc = Kc . ETo, em
que Kc é o coeficiente da cultura.
80 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Frequencia de
1,0 irrigação ou
de chuva
0,8
2 dias
Kc 0,6
4 dias
0,4
7 dias
0,2 10 dias
20 dias
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Na Tabela 2.15 têm-se valores de Kc, para algumas culturas, publicados pela FAO
(Doorenbos e Pruitt, 1977).
Serão dados exemplos para ilustrar a determinação dos valores de Kc e, duas regiões,
uma com baixa demanda de evapotranspirométrica (Viçosa-MG) e outra com alta demanda
evapotranspirométrica (Pirapora - MG)
- Cultura: feijão
- Dados cuturais:
época do plantio: 10 de março
cobertura de ± 10% da superfície do terreno: 1º de abril
cobertura de ± 75% da superfície do terreno: 21 de abril
início da maturação: 2 junho
colheita: 14 junho
- Período de dias dos quatro estágios:
inicial: 22 dias
desenvolvimento vegetativo: 20 dias
produção: 42 dias
maturação: 14 dias
Tabela 2.15 - Coeficiente da cultura (Kc) de algumas espécies vegetais, em função dos
estádios de desenvolvimento e das condições climáticas (Doorenbos e Pruitt,
1977)
URmin URmin
Cultura Estádio > 70% < 20%
Vento (ms) Vento (m/s)
0a5 5a8 0a5 5a8
Todas as culturas (Inicial) 1 Use Fig. 2.11 Use Fig. 2.11
Todas as culturas (Secundário) 2 Interpolação Interpolação
Feijão (vagem) 3 0,95 0,95 1,00 1,05
4 0,85 0,85 0,90 0,90
Feijão (grãos) 3 1,05 1,10 1,15 1,20
4 0,30 0,30 0,25 0,25
Cenoura 3 1,00 1,05 1,10 1,15
4 0,70 0,75 0,80 0,85
82 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
URmin URmin
Cultura Estádio > 70% < 20%
Vento (ms) Vento (m/s)
0a5 5a8 0a5 5a8
Todas as culturas (Inicial) 1 Use Fig. 2.11 Use Fig. 2.11
Todas as culturas (Secundário) 2 Interpolação Interpolação
Repolho, couve-flor e 3 0,95 1,00 1,05 1,10
brócolis 4 0,80 0,85 0,90 0,95
Pepino 3 0,90 0,90 0,95 1,00
4 0,70 0,90 0,75 0,80
Grãos 3 1,05 1,10 1,15 1,20
4 0,30 0,30 0,25 0,25
Lentilha 3 1,05 1,10 1,15 1,20
4 0,30 0,30 0,25 0,25
Alface 3 0,95 0,95 1,00 1,05
4 0,90 0,90 0,90 1,00
Melão 3 0,95 0,95 1,00 1,05
4 0,65 0,65 0,75 0,75
Cebola 3 0,95 0,95 1,05 1,1
4 0,55 0,55 0,60 0,60
Amendoim 3 0,95 1,00 1,05 1,10
4 0,55 0,55 0,60 0,60
Batatinha 3 1,05 1,10 1,15 1,20
4 0,70 0,75 0,75 0,75
Sorgo 3 1,00 1,05 1,10 1,15
4 0,50 0,50 0,55 0,55
Soja 3 1,00 1,05 1,10 1,15
4 0,45 0,45 0,45 0,45
Relação solo-água-planta-atmosfera 83
1,2
(Pirapora)
1,0
(Viçosa)
0,8
Kc 0,6
0,4
maturação
cobertura
Início de
Colheita
cobertura
10% de
75% de
Plantio
0,2
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Figura 2.12 - Curva do coeficiente da cultura (Kc) nos diferentes estádios de desenvolvimento
do feijoeiro.
TR = 4 dias
Kc no primeiro estádio = 0,6
Kc no 3º estádio = 1,2
Kc no final do quarto estádio = 0,6
Plotando estes dados na Figura 2.12, pode-se determinar o valor de kc ao longo do
ciclo da cultura.
Utilizando o método da FAO para Viçosa, MG, com ETo = 3,4 mm/dia e TR = 7
dias, tem-se:
Kc no 1º estádio = 0,55 (Fig. 2.11)
Kc no 3o estádio = 1,05 (Tabela 2.15)
Kc no 4o estádio = 0,30 (Tabela 2.15)
Para Pirapora, MG, com ETo = 6,2 e TR = 4 dias, pelo método da FAO, tem-se:
Kc no primeiro estádio = 0,6 (Fig. 2.11)
Kc no 3o estádio = 1,10 (Tabela 2.15)
Kc no 4o estádio = 0,28 (Tabela 2.15)
A determinação da ETpc é fator de capital importância para se poder calcular a
quantidade de irrigação necessária (ITN) no período de máxima demanda de irrigação, a qual
é fundamental para o dimensionamento de qualquer sistema de irrigação. A ETpc também é
necessária para o cálculo da evapotranspiração real da cultura (ETc).
Para o cálculo da irrigação total necessária (ITN) no período de máxima demanda,
nas condições brasileiras, devem-se usar períodos com comprimento de cinco, 10 ou 15 dias,
evitando os períodos muito curtos e os muito longos – por exemplo, períodos diários ou
mensais.
Quando não se conhece o valor do Kc de determinada cultura em uma região, tem
sido muito comum, para dimensionar sistemas de irrigação, assumir o valor de Kc = 1,0, ou
seja, dimensioná-lo, tendo como base a evapotranspiração potencial de referência (ETo).
Determinação da ETc
Por definição, ETc é a evapotranspiração de determinada cultura, sob as condições
normais de cultivo, isto é, sem a obrigatoriedade de o teor de umidade permanecer sempre
próximo à capacidade de campo. Sendo assim, a ETc será menor ou, no máximo, igual a
ETpc (ETc ETpc).
Existem várias proposições para o cálculo da ETc, das quais as baseadas na
disponibilidade de umidade no solo nos parecem mais simples e mais realísticas. De acordo
com esta proposição, a relação entre a ETc e a ETpc é expressa pela equação 2.5: ETc = Ks .
ETpc, em que Ks é o coeficiente que depende da umidade do solo.
Relação solo-água-planta-atmosfera 85
A
1,0
0,8 C
ETrc/ETpc
0,6
B
0,4
A - Veihmeyer e Hendrickson
B - Thornthwaite e Mather
0,2 C - Pierce
0,0
100 80 60 40 20 0
Exemplo:
Determinar a ETc de uma cultura de milho no período de 1º a 15 de janeiro, na região
de “Dois Córregos”, sendo os seguintes dados locais:
- Neste período normalmente não há chuva na região, e o milho se encontra em fase de
produção (Kc = 1,1).
- ETo no período de 1º a 10 de janeiro = 6,0 mm/dia.
- ETo no período de 11 a 20 de janeiro = 7,0 mm/dia.
- Profundidade efetiva do sistema radicular = 0,5 m.
- Usar o fator de disponibilidade (f) = 0,5 m.
- Disponibilidade total de água no solo = 1,6 mm/cm.
- Pelos dados, têm-se:
Capacidade total de água no solo (CTA)
CTA = DTA x Z = 1,6 x 50 = 80 mm
Capacidade real de água no solo (CRA)
Relação solo-água-planta-atmosfera 87
Precipitação
Do total de precipitação que incide em uma área, uma parte é retida pela cobertura
vegetal, outra parte escoa sobre a superfície do solo e o restante infiltra no solo. Da
quantidade que infiltra no solo, uma parte é retida na zona radicular e a outra percola para as
camadas mais profundas. A distribuição da precipitação entre estas quatro partes depende,
principalmente, do total precipitado, da intensidade e da freqüência da precipitação, da
cobertura vegetal, da topografia local, do tipo de solo e do teor de umidade no solo antes da
chuva.
Quanto à irrigação, interessa, principalmente, a parte da precipitação que será
utilizada diretamente pela cultura (precipitação efetiva), a freqüência e a magnitude de
precipitação que se podem esperar na área do projeto (precipitação provável), e a
quantidade de água que abastecerá os rios e represas a fim de ser usada na irrigação.
Neste livro, em virtude da quantidade de água de um rio ou represa poder ser
quantificada mais facilmente, a preocupação será quantificar somente a precipitação
efetiva e a precipitação provável.
capacidade total de água do solo seja igual a 75 mm (Tabela 2.18). Na Tabela 2.19, tem-se o
fator de correção para condições com capacidade total d’água do solo diferente de 75 mm.
Tem-se que ter em mente que a quantidade de precipitação de fato efetiva dependerá
do teor de umidade do solo imediatamente anterior à precipitação. Quando uma chuva ocorrer
logo após uma irrigação, praticamente não haverá efetividade; quando ocorrer poucos dias
após a irrigação, a quantidade realmente efetiva será a lâmina que o solo poderá reter até que
o seu teor de umidade chegue à “capacidade de campo” e não à quantidade dada pela Tabela
2.19. Assim, o conceito de precipitação efetiva é mais importante no manejo de sistemas de
irrigação do que no dimensionamento dos projetos.
Outro ponto de grande importância no estudo da precipitação efetiva é o comprimento
do período em que os dados são agrupados. Nas regiões tropicais e subtropicais, o ideal é que
estes períodos sejam de 5, 10 ou 15 dias, e não mensais, como comumente se usa.
Normalmente, no cálculo da demanda máxima de irrigação para fins de
dimensionamento de projeto, não se considera a precipitação efetiva; mas, para as condições
do Brasil, a fim de compensar a não-inclusão da precipitação efetiva no cálculo da demanda
máxima de irrigação, podem-se dimensionar os projetos baseados em 100% da ETpc para a
região do Nordeste e em 80 a 90% da ETpc para as outras regiões do País, ou considerar a
precipitação efetiva.
87
Relação solo-água-planta-atmosfera
Tabela 2.18 - Precipitação efetiva mensal (Pe), em função da média mensal da precipitação e da evapotranspiração potencial da
cultura (ETpc), em mm, quando a capacidade total da água do solo (CTA) for 75 mm, segundo USDA-SCA
ETpc média Precipitação média mensal (mm)
mensal (mm)
12,5 25 37,5 50 62,5 75 87,5 100 112,5 125 137,5 150 162,5 175 187,5 200
25 8 16 24
50 8 17 25 32 39 46
75 9 18 27 34 41 48 56 62 69
100 9 19 28 35 43 52 59 66 73 80 87 94 100
Tabela 2.19 - Fator de correção quando a capacidade total da água do solo (CTA) for
diferente de 75 mm, segundo USDA-SCS
CTA (mm) Fator CTA (mm) Fator CTA (mm) Fator
10,00 0,620 31,25 0,818 70,00 0,990
12,50 0,650 32,50 0,826 75,00 1,000
15,00 0,676 35,00 0,842 80,00 1,004
17,50 0,703 37,50 0,860 85,00 1,008
18,75 0,720 40,00 0,876 90,00 1,012
20,00 0,728 45,00 0,905 95,00 1,016
22,50 0,749 50,00 0,930 100,00 1,020
25,00 0,770 55,00 0,947 125,0 1,040
27,50 0,790 60,00 0,963 150,00 1,060
30,00 0,808 65,00 0,977 175,00 1,070
Exemplo:
Calcular a precipitação efetiva média mensal na região de São José, para as seguintes
condições:
Mês - novembro
Precipitação média mensal = 125 mm
ETpc em novembro = 150 mm
Capacidade total de água do solo = 50 mm
Pela Tabela 2.18 tem-se: precipitação efetiva em novembro = 89 mm. Como a CTA é
50 mm e não 75 mm, tem-se de fazer correção.
Pela Tabela 2.19, para CTA = 50 mm, f = 0,93.
Precipitação efetiva média, em novembro = 89 x 0,93 = 83 mm.
Precipitação Provável
Precipitação provável ou dependente pode ser definida como a quantidade mínima de
precipitação com determinada probabilidade de ocorrência. Normalmente, em irrigação
trabalha-se com a probabilidade de 75 ou 80%, ou seja, com a lâmina mínima de chuva que se
pode esperar em três a cada quatro anos (75%) ou em quatro em cada cinco (80%) em
determinado período do ano.
Não se pode trabalhar com a precipitação média, porque quanto menor for o período
em que os dados de precipitação forem agrupados, maior será a variabilidade entre eles. Como
Relação solo-água-planta-atmosfera 93
para irrigação o ideal é trabalhar com períodos de cinco 10 e 15 dias ou, no máximo, períodos
mensais, tem-se de trabalhar com probabilidade de ocorrência de chuva, ou seja, com a
precipitação provável ou dependente por período.
Existem vários métodos para se determinar a precipitação provável, tais como
Distribuição Gama, Cadeia de Markov, papel de probabilidade log-normal, Kimbal etc.
Por se tratar de um dos métodos mais simples, será apresentado o método do “papel
de probabilidade log-normal”.
Neste método, os dados, no mínimo dos últimos 10 anos para cada período, ou seja,
para cada 5, 10, 15 dias ou mês, são colocados em ordem decrescente de valor e numerados a
partir do maior valor. Em seguida, calcula-se posição de cada dado no gráfico pela seguinte
equação:
100 m
Fa (2.22)
N 1
em Paraíso, é 35 mm, ou seja, pode-se esperar que em quatro, a cada cinco anos, uma
precipitação na primeira quinzena de janeiro seja igual ou maior do que 35 mm.
160
140
120
Precipitação (mm)
100
80
60
40
20
0
1 2 5 10 20 30 40 50 60 70 80 90 95
de chuva nos próximos dias, pode-se decidir se deve ou não aplicar toda a lâmina necessária
na próxima irrigação.
Solo
- Raso ou mal estruturado, impedindo o crescimento das raízes.
- Infiltração e drenagem lenta, baixa aeração.
- Freqüência de doenças no sistema radicular ou nematóides no solo.
- Solos salinos e, ou , água de irrigação com alto teor de sal.
- Fertilidade e nutrientes concentrados na superfície do solo.
Clima
96 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Manejo
- Plantio no início da estação seca.
- Valor no mercado dependendo do peso verde ou do tamanho do órgão colhido.
- Quando se deseja máxima produção.
Solo
- Profundo e de boa estrutura
- Com boa infiltração, drenagem e aeração.
- Grande parte da “água disponível” mantida sob pequena tensão.
- Solos não-salinos.
- Lençol freático pouco profundo.
Clima
- Baixa demanda de evaporação.
- Chuva durante o período de crescimento.
- Úmido.
Manejo
- Plantio durante a estação chuvosa.
- Valor no mercado determinado pelo peso seco, percentagem de matéria seca, ou
percentagem de determinado constituinte.
Benefícios da Irrigação
Relação solo-água-planta-atmosfera 97
solo que será adsorvida por suas radicelas. Por isso, é um método de análise imediata e muito
usado em sistemas automatizados de irrigação, principalmente por aspersão e localizada.
Determinação da evapotranspiração – tem-se dado, ultimamente, muita ênfase às
pesquisas com o objetivo de determinar a época da irrigação, baseando-se na determinação da
evapotranspiração ou evaporação. Além disso, a medição da evaporação no tanque Classe A
parece ter grande potencial de uso, em razão de sua simplicidade de construção, instalação,
manuseio e baixo custo.
Este método pode ser usado de duas maneiras distintas: 1) definindo-se a lâmina real
máxima a ser aplicada por irrigação para cada estádio de desenvolvimento da cultura, em
virtude da cultura, do solo e do clima da região, e, por meio do cálculo diário da ETc,
verificando-se quando aquela lâmina for consumida pela planta e aplicar nova irrigação; e 2)
determinando-se, por meio de pesquisa, a relação entre diferentes lâminas de irrigação, com
base na evapotranspiração e a produção da cultura.
Método do turno de rega – Este método é o mais usado, principalmente em
médios e grandes projetos de irrigação, em que se tem de coordenar a distribuição de
água entre várias parcelas, normalmente pertencentes a diferentes usuários. É o método
também usado para calcular os projetos de irrigação, no que diz respeito ao
dimensionamento da vazão, das tubulações e das motobombas, em virtude do período de
maior demanda de irrigação.
Com este método calculam-se, previamente, os turnos de rega ou intervalos entre
irrigações consecutivas, de cada estádio de desenvolvimento da cultura, os quais dependem
das características físicas do solo, das condições climáticas regionais e do tipo e estádio de
desenvolvimento da cultura. Ele pode, didaticamente, ser calculado por meio dos seguintes
passos:
a) Calcular a disponibilidade total de água do solo (DTA).
A DTA é uma característica física do solo e é determinada pela equação 1.13, ou seja:
(Cc - Pm)
DTA = da , em mm/cm de solo
10
em que: DTA = mm d’água disponível em cada cm de profundidade de solo;
Cc = capacidade de campo, % em peso;
Pm = ponto de murchamento, % em peso; e
da = densidade aparente do solo, em g/cm3.
b) Estimar, em cm, a profundidade efetiva do sistema radicular da cultura (Z) que
será irrigada, nos seus diferentes estádios de desenvolvimento.
100 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
É comum trabalhar com um único valor de Z, ou com dois valores de Z. Neste último
caso, no estádio inicial da cultura, o valor de Z é considerado como igual à metade do valor de
Z da planta desenvolvida.
c) Calcular a capacidade total de água do solo (CTA) para os diferentes estádios de
desenvolvimento da cultura, por meio da equação 1.17, ou seja:
CTA DTA Z , em mm
Quando a determinação do turno de rega (TR) for para o manejo da irrigação e não
para o dimensionamento de projeto, deve-se usar a média da evapotranspiração real da cultura
(ETc) no período, no lugar da evapotranspiração potencial da cultura (ETpc), bem como
considerar a precipitação provável no período quando se tratar de irrigação suplementar.
Quando a determinação do turno de rega (TR) for para dimensionamento de projeto
sob as condições de irrigação suplementar, ele deve ser determinado por meio da seguinte
equação:
CRA
TR (2.21)
ETc - Pe
em que Pe é a precipitação provável efetiva, em mm/dia, no período considerado.
Relação solo-água-planta-atmosfera 101
Uma vez determinado o turno de rega, a época da próxima irrigação será tantos dias
correspondentes ao turno de rega, a partir do dia da última irrigação.
Referências
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Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 99
Capítulo 3
Considerações gerais
A qualidade da água para irrigação nem sempre é definida com perfeição. Muitas
vezes, refere-se à sua salinidade com relação à quantidade total de sólidos dissolvidos,
expressa em miligramas por litros, parte por milhão ou por meio de sua condutividade
elétrica. No entanto, para que se possa fazer correta interpretação da qualidade da água para
irrigação, os parâmetros analisados devem estar relacionados com seus efeitos no solo, na
cultura e no manejo da irrigação, os quais serão necessários para controlar ou compensar os
problemas relacionados com a qualidade da água.
Quanto às características que determinam a sua qualidade para irrigação, de modo
geral, a água deve ser analisada com relação a seis parâmetros básicos:
a) concentração total de sais solúveis ou salinidade;
b) proporção relativa de sódio, em relação aos outros cátions ou capacidade de infiltração do
solo;
c) concentração de elementos tóxicos;
d) concentração de bicarbonatos;
e) aspecto sanitário; e
f) aspecto de entupimento de emissores (irrigação localizada).
a) Concentração total de sais solúveis ou salinidade – A principal conseqüência do
aumento da concentração total de sais solúveis de um solo é a redução do seu potencial
osmótico, o que prejudica as plantas, em razão do decréscimo da disponibilidade de água
daquele solo.
100 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
30 Redução moderada na
Razão de adsorção de sódio (RAS)
20
Praticamente nenhuma
15 redução na capacidade
de infiltração do solo
10
0
0 1 2 3 4 5 6
Condutividade
Condutividade elétricaelétrica
da águadadeágua de irrigação
irrigação em em ds m-1
a 25 °C,
dS/m a 25ºC.
Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 101
Figura 3.1 - Efeito da razão de adsorção de sódio (RAS) e da salinidade da água de irrigação
na capacidade de infiltração do solo, segundo Ayers e Westcot.
A proporção relativa de sódio, em relação a outros sais, pode ser expressa
adequadamente, em termos da razão de adsorção de sódio (RAS), a qual pode ser assim
calculada:
Na +
RAS =
Ca + + + Mg ++
2
Na 100
% de sódio =
++ + ++ +
Ca Mg Na +
e
Na 100
% possível de sódio = , desde que a concentração de
( Ca + Mg + Na ) (CO -3- + HCO 3 )
HCO 3 CO 3 não exceda a de Ca++ + Mg++.
Nessas duas equações, as concentrações dos íons são expressas em miliequivalentes
por litro.
Na Tabela 3.1 é mostrado o aumento da incidência de esquistossomose após
implantação de alguns projetos de irrigação, segundo P.F. Hillman.
pode ser complexa, pois vários agentes na água podem interagir entre si, agravando o
problema.
Gilbert e Ford (1986) apresentam uma classificação da qualidade da água, em relação
ao potencial de entupimento de gotejadores, com base em fatores físico-químicos e biológicos
(Tabela 3.2).
Tabela 3.2 - Classificação da qualidade da água em relação ao potencial de entupimento de
gotejadores
Risco de entupimento
Fator de entupimento
Baixo Moderado Severo
-1
Físico (mg L )
<50 50-100 >100
Sólidos suspensos
Químico (mg L-1)
pH <7,0 7,0-8,0 >8,0
a
Sólidos dissolvidos <500 500-2000 >2000
Manganêsa <0,1 0,1-1,0 >1,0
a
Ferro total <0,20 0,2-1,5 >1,5
Sulfeto de hidrogênioa <0,2 0,2-2,0 >2,0
Biológico (nº
bactérias.L-1) <10.000 10.000-50.000 >50.000
a
Concentração máxima medida, com um número representativo de amostras de água, usando-se procedimentos-
padrão para análise, em mg L-1.
Fonte: Gilbert e Ford (1986).
Tabela 3.3 - Determinações usualmente necessárias para análise de água para irrigação
Aniônios
Carbonatos CO3 m.e./L
Bicarbonatos HCO3 m.e./L
Sulfatos SO4 m.e./L
Cloro Cl m.e./L
Soma de aniônios ---- m.e./L
C4 - Água com salinidade muito alta (CE entre 2,25 e 5,00 ds/m, a 25 °C)
Não é apropriada para irrigações sob condições normais, mas pode ser usada,
ocasionalmente, em circunstâncias muito especiais. Os solos deverão ser muito permeáveis e
com drenagem adequada, devendo ser aplicado excesso de água nas irrigações para ter boa
lixiviação. A água somente deve ser usada em culturas tolerantes aos sais.
b) Perigo de alcalinização ou solidificação – As águas são divididas em quatro
classes, segundo sua razão de adsorção de sódio (RAS), ou seja, em virtude do efeito do sódio
trocável, nas condições físicas do solo:
S1 - Água com baixa concentração de sódio
(RAS 32,19 - 4,44 log CE)
Pode ser usada para irrigação em quase todos os tipos de solo, com pequena
possibilidade de alcançar níveis indesejáveis de sódio trocável.
S2 - Água com concentração média de sódio
(32,19 - 4,44 log CE < RAS 51,29 - 6,66 log CE)
Só pode ser utilizada em solos de textura grossa ou em solos orgânicos com boa
permeabilidade. Apresenta perigo de solidificação considerável em solos de textura fina, com
grande capacidade de troca catiônica, especialmente sob baixa condição de lixiviação, a
menos que haja gesso no solo.
S3 - Água com alta concentração de sódio
(51,29 - 6,66 log CE < RAS 70,36 - 8,87 log CE)
Pode produzir níveis maléficos de sódio trocável na maioria dos solos e requer
práticas especiais de manejo, boa drenagem, alta lixiviação e adição de matéria orgânica. Em
solos com muito gesso, a água pode não desenvolver níveis maléficos de sódio trocável, além
de requerer o uso de corretivos químicos para substituir o sódio trocável, exceto no caso de
apresentar salinidade muito alta, quando este uso não seria viável.
S4 - Água com alta concentração de sódio
(RAS > 70,36 - 8,87 log CE)
É geralmente imprópria para irrigação, exceto quando sua salinidade for baixa ou, em
alguns casos, média, e a concentração de cálcio do solo ou o uso de gesso e outros corretivos
tornarem o uso desta água viável.
Algumas vezes, a água de irrigação pode dissolver suficiente quantidade de cálcio de
solos calcários, diminuindo assim, apreciavelmente, o perigo de solidificação, o que deve ser
levado em conta no uso de águas C1-S3 e C1-S4. Para solos calcários com pH alto ou para
solos não-calcários, o nível de sódio nas águas das classes C1-S3 e C1-S4 pode ser melhorado
Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 107
com a adição de gesso. Também poderá ser benéfico quando se usarem águas das classes C2-
S3 e C3-S2, adicionando, periodicamente, gesso ao solo.
c) Efeito da concentração de boro – O boro é um elemento essencial para o
crescimento dos vegetais, mas a quantidade requerida é pequena, pois, em concentrações um
pouco maiores, é muito tóxico para alguns vegetais. O nível de concentração que o torna
tóxico varia de acordo com a espécie. O nível que é tóxico para uma planta sensível, por
exemplo, limão, pode ser o ideal para uma planta tolerante, como a alfafa. Em virtude dessa
variação de espécie para espécie, a água para irrigação tem de ser classificada em classes
distintas, segundo a sensibilidade da cultura a ser irrigada.
d) Efeito da concentração de bicarbonato – Nas águas que contêm concentrações
elevadas de íons de bicarbonato, há tendência de ocorrer precipitação do cálcio e do magnésio,
sob a forma de carbonatos, reduzindo, assim, a concentração de cálcio e magnésio na solução
do solo e, conseqüentemente, aumentando a proporção de sódio.
Segundo Eaton, a água para irrigação pode ser classificada de acordo com a
concentração de “Carbonato de Sódio Residual” (CSR), determinada por: CSR = (CO3 +
HCO3) (Ca++ + Mg++)
Água não recomendadas para irrigação – CSR superior a 2,5 miliequivalentes por
litro.
Água recomendada com restrição – CSR entre 1,25 e 2,5 miliequivalentes por litro.
Água recomendada para irrigação – CSR inferior a 1,25 miliequivalente por litro.
Acredita-se que com bom manejo da irrigação, no que diz respeito à drenagem e
lixiviação, e com uso apropriado de corretivos, é possível usar, com sucesso, na irrigação
algumas das águas classificadas como “duvidosas”.
Tabela 3.4 - Diretrizes para interpretação da qualidade da água para irrigação, segundo Ayers
e Westcot*
Salinidade do solo
Toxidade
Cloro (Cl)
Miscelânea
Bicarbonato (HCO3)
. . .
. . . . . .
. .
. . . .
. . . . .
. . . . .
Na Tabela 3.5, Ayers e Westcot (1985) mostram os níveis de tolerância das principais
culturas à salinidade do solo, relacionando diversas concentrações de sais solúveis na solução
do solo e na água de irrigação com o potencial de produção das culturas, desde produção com
100% do potencial da cultura até condições em que não haverá mais produção. Os mesmos
autores também mostram, nas Tabelas 3.6, 3.7 e 3.8, os níveis de tolerância relativa das
culturas aos íons de cloro, sódio e boro, respectivamente.
Salinização do Solo
Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 111
Todos os solos contêm sais, porém alguns apresentam maiores teores. De modo geral,
os sais são carregados pela água que se movimenta no perfil do solo, podendo precipitar ou
ser conduzidos em solução até o mar.
Normalmente, os sais são encontrados no solo sob a forma de íons na sua solução e de
cátions adsorvidos às partículas do solo, e na forma de sal precipitado. A sua concentração
pode variar muito, tanto com o local (variação espacial), com o tempo (variação temporal) e
com a umidade do solo. Uma vez que a variação da umidade do solo e a movimentação da
água no seu perfil são intensas, também o é a variação da concentração de sais.
Após uma chuva ou irrigação por aspersão ou por inundação, o teor de sal na camada
superior do solo provavelmente aumentará com a profundidade deste, e, quando chegar a
época da próxima irrigação, o perfil da concentração de sal será o inverso, ou seja, haverá
maiores concentrações próximas à superfície do solo. Quanto mais profunda for a camada do
solo considerada, menor será essa variação, até atingir camadas em que a concentração de sal
permaneça constante.
Tabela 3.5 - Tolerância e produção potencial das principais culturas em função da salinidade
da água de irrigação (CEi) ou do solo (CEs), em dS/m, a 25 °C, segundo Ayers e
Westcot
Produção potencial
Culturas 100% 90% 75% 50% "Zero %"
Ces Cei Ces Cei Ces Cei Ces Cei Ces Cei
Algodão
7,7 5,1 9,6 6,4 13 8,4 17 12 17 18
(Gossypium hirsutum)
Arroz
3,0 2,0 3,8 2,6 5,1 3,4 7,2 4,8 11 7,6
(Oryza sativa)
Cana-de-açúcar
1,7 1,1 3,4 2,3 5,9 4,0 10 6,8 19 12
(Saccharum officinarum)
Feijão
1,0 0,7 1,5 1,0 2,3 1,5 3,6 2,4 6,3 4,2
(Phaseolus vulgaris)
Milho
1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10 6,7
(Zea mays)
Soja
5,0 3,3 5,5 3,7 6,2 4,2 7,5 5,0 10 6,7
(Glycine max)
112 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Sorgo
6,8 4,5 7,4 5,0 8,4 5,6 9,9 6,7 13 8,7
(Sorghum bicolor)
Trigo
6,0 4,0 7,4 4,9 9,5 6,3 13 8,7 20 13
(Triticum aestivum)
Abacate
1,3 0,9 1,8 1,2 2,5 1,7 3,7 2,4 6,5 4,4
(Persea americana)
Grapefruit
1,8 1,2 2,4 1,6 3,4 2,2 4,9 3,3 8,0 5,4
(Citrus paradisi)
Laranja
1,7 1,1 2,3 1,6 3,3 2,1 4,8 3,2 8,0 5,3
(Citrus sinensis)
Limão
1,7 1,1 2,3 1,6 3,3 2,2 4,8 3,2 8,0 5,3
(Citrus limon)
Pêssego
1,7 1,1 2,2 1,4 2,9 1,9 4,1 2,7 6,5 4,3
(Prunus persica)
Uva
1,5 1,0 2,5 1,7 4,1 2,7 6,7 4,5 12 7,9
(Vitis vinifera)
Alface
1,3 0,9 2,1 1,4 3,2 2,1 5,2 3,4 9,0 6,0
(Lactuca sativa)
Batata-doce
1,5 1,0 2,4 1,6 3,8 2,5 6,0 4,0 11 7,1
(Ipomoea batatas)
Batatinha
1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10 6,7
(Solanum tuberosum)
Beterraba
4,0 2,7 5,1 3,4 68 4,5 9,6 6,4 15 10
(Beta vulgaris L.)
Brócolis
2,8 1,9 3,9 2,6 5,5 3,7 8,2 5,5 14 9,1
(Brassica oleracea)
Continua...
Tabela 3.5 - Cont.
Produção potencial
Culturas 100% 90% 75% 50% "Zero %"
Ces Cei Ces Cei Ces Cei Ces Cei Ces Cei
Cebola
1,2 0,8 1,8 1,2 2,8 1,8 4,3 2,9 7,4 5,0
(Allium cepa)
Cenoura
1,0 0,7 1,7 1,1 2,8 1,8 4,6 3,1 8,1 5,4
(Daucus carota)
Melão cantaloup
2,2 1,5 3,6 2,4 5,7 3,8 9,1 6,1 15 10
(Cucumis melo)
Milho verde
1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10 6,7
(Zea mays)
Pepino
2,5 1,7 3,3 2,2 4,4 2,9 6,3 4,2 10 6,8
(Cucumis sativus)
Repolho
1,8 1,2 2,8 1,9 4,4 2,9 7,0 4,6 12 8,1
(Brassica oleracea)
Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 113
Tomate
2,5 1,7 3,5 2,3 5,0 3,4 7,6 5,0 13 8,4
(Lycopersicon esculentum)
CEs – Condutividade elétrica do extrato saturado do solo, em ds/m, a 25º C.
CEi – Condutividade elétrica da água de irrigação, em ds/m, a 25º C.
Tabela 3.6 - Tolerância de algumas culturas à concentração de cloro (Cl¯) na água de irriga-
ção ou no solo, segundo Ayers e Westcot
Laranja Sorgo
Pêssego Espinafre
Tangerina Tomate
Lentilha Trigo
Amendoim
Caupi
Atualmente, a principal causa do aumento da salinização dos solos agrícolas tem sido
as irrigações mal feitas. As opções para evitar a salinização dos solos irrigados ou cultivar
solos já salinizados são:
- realizar drenagem adequada;
- lixiviar o excesso de sais;
- usar culturas mais tolerantes; e
- empregar métodos de irrigação próprios às condições de salinidade do solo e da água
de irrigação.
Tabela 3.8 - Tolerância relativa de algumas culturas à concentração de boro na água do solo,
segundo Ayers e Westcot
Pêssego Milho
Ameixa Fumo
Figo
Uva
Pecã
Cebola
Moderadamente sensível Tolerante
(0,75 a 1,0 mg/L) (4,0 a 6,0 mg/L)
Alho Sorgo
Batata-doce Tomate
Trigo Alface
Aveia
Girassol Muito tolerante
Morango (6,0 a 15,0 mg/L)
Feijão Algodão
Amendoim Aspargo
Para remover o excesso de sais trazidos para a área do projeto pela água de irrigação,
a lixiviação requerida pode ser assim calculada:
CEi
LR = L
CEd
em que:
LR = lâmina requerida para lixiviação, em mm;
CEi = condutividade elétrica da água de irrigação, em dS/cm, a 25 ºC;
CEd = condutividade elétrica da água de drenagem, em dS/m, a 25 ºC; e
L = lâmina total de irrigação, em mm.
Os solos com problemas de salinidade têm, na maioria das vezes, as mesmas
características de um não-salino, a não ser quando a concentração de sais for muito elevada.
Não se deve esperar que o solo mude sua aparência ou que as plantas demonstrem problemas
relacionados à salinização. O monitoramento pode ser contínuo, podendo ser feito pela
ascensão do lençol freático e por meio das análises químicas do solo, a fim de se evitar o
aumento da salinidade, pois os sintomas, tanto nas plantas como no solo, somente surgirão
quando o problema já estiver muito sério, e, assim, o custo de recuperação será muito elevado.
São estes os principais problemas causados pela salinização do solo:
- aumento do potencial osmótico da solução do solo, diminuindo a disponibilidade de
água para as plantas;
- dispersão das partículas do solo, diminuindo sua capacidade de infiltração; e
116 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Tabela 3.9 - Parâmetros para a classificação dos solos, segundo o Laboratório de Salinidade
dos Estados Unidos
CE*
Denominação (dS/m) PST** pH Recuperação
Normal <4 <15 4 a 8,5
Salino >4 <15 = 8,5 Lixiviação dos sais
Salino-alcalino ou Salino-sódico >4 >15 8,5 < pH > 10 Aplicação de corretivos
e lixiviação dos sais
Alcalino ou sódico <4 >15 8,5 < pH > 10 Aplicação de corretivos
e lixiviação dos sais
* Condutividade elétrica da solução do solo, em milimhos/cm ou dS/m, a 25 ºC.
** Percentagem de sódio trocável.
Os solos salinos podem ser recuperados por lavagens e adequada drenagem, de modo
que se possam remover os sais solúveis por lixiviação, deixando-os em condições normais.
b) Solos Salinos-Alcalinos ou Salinos-Sódicos – São aqueles cuja condutividade
elétrica da solução de solo saturada é maior que 4 dS/m, a 25 ºC, e cuja percentagem de sódio
trocável é maior que 15%. Formam-se em virtude do processo de acumulação de sais solúveis
e de sódio. Sempre que houver excesso de sais, a aparência e a propriedade desses solos serão
similares às do salino. Nessas condições, o pH raramente ultrapassa 8,5, e as partículas de
solo permanecem floculadas.
Caso o excesso de sais solúveis seja lixiviado, as propriedades desses solos mudam
significativamente, tornando-se sódicos, com pH acima de 8,5, e as partículas do solo se
dispersam, deixando-os com baixa permeabilidade, pesados e difíceis de ser trabalhados. O
manejo para recuperação destes é a sua lavagem, associada à aplicação de corretivos.
Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 117
50
75
100 Lençol
Lençolfreático
Freático
Figura 3.3 - Perfil de salinidade para a condição de lençol freático elevado e alta demanda
evapotranspirométrica.
Deve-se sempre ter em mente que, de modo geral, a produção vegetal decresce
linearmente com o aumento da salinidade do solo, a partir de um determinado nível de
salinidade. Uma vez que os problemas de salinidade são acumulativos, se os fatores que estão
provocando o aumento da salinidade do solo, em determinado projeto, não forem
diagnosticados e corrigidos a tempo, a sua produção vegetal decrescerá rapidamente, até se
chegar ao ponto de não ser mais viável, economicamente, sua exploração agrícola. Para torná-
lo viável, é necessária a sua recuperação, ou seja, lixiviar o excesso de sais do solo. É
interessante lembrar que o custo da recuperação de um projeto será sempre muito maior do
que o custo para evitar a sua salinização.
Referências
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Paper nº 29. Food and Agriculture Organization of the United Nations, 1985. 174 p.
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Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 119
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1954. 160 p. (Agriculture Handbook nº 60).
Medição de água para irrigação 119
Capítulo 4
Considerações Gerais
Com os conhecimentos atuais das relações solo-água-clima e planta, é possível e
desejável que os sistemas de irrigação sejam calculados de modo a aplicar quantidades
necessárias de água. Para isso, é preciso haver meios para a medição dessa água.
Existem vários métodos para medição de vazão – uns exigem equipamentos caros e
sofisticados, outros são simples e baratos. O melhor método para cada condição dependerá do
volume de água a ser medido, das condições onde serão realizadas essas medidas e da precisão
desejada.
Considerando a necessidade de medição de vazão sob o ponto de vista de irrigação, os
métodos, a serem discutidos, serão divididos em dois grupos:
Medição de água em canais de irrigação – Vertedor, Medidor Parshall.
Medição de água em sulco de irrigação – Método Direto, Sifão, WSC flume.
> 5H (1,50 m)
> 3H 3H
face H
soleira > 3H
> 5H
H
> 3H
> 3H
Carga - H Q Carga - H Q
Q Carga - H QQ Carga - H Q
-1 -1 -1 -1
(cm) (L s -1
(l.s ) ) (cm) (L s -1)
(l.s ) (cm) (L s -1)
(l.s ) (cm) (L -1
(l.ss ))
- - 16 117,6 31 317,2 46 573,4
- - 17 128,8 32 332,7 47 592,2
3 9,6 18 140,4 33 348,4 48 611,2
4 14,7 19 152,2 34 364,4 49 630,4
5 20,5 20 164,4 35 380,6 50 649,8
6 27,0 21 176,9 36 397,0 51 669,4
7 34,0 22 189,7 37 413,7 52 689,2
8 41,6 23 202,7 38 430,5 53 709,2
9 49,6 24 216,1 39 447,7 54 729,4
10 58,1 25 229,8 40 465,0 55 749,7
11 67,1 26 243,7 41 482,5 56 770,2
12 76,4 27 257,9 42 500,3 57 791,0
13 86,2 28 272,3 43 518,3 58 811,9
14 96,3 29 287,0 44 536,4 59 833,0
15 106,8 30 302,0 45 554,8 60 854,2
* Para vertedor com soleira maior ou menor do que 1 metro, multiplicar os valores da vazão indicados na tabela acima, pela largura real
da soleira em metros.
ni
122
Medição de água para irrigação 123
Tabela 4.2 - Vazão, em litro/segundo, para vertedor triangular de parede delgada, θ = 90°, segundo a fórmula de Thompson
5/2
5/2
QQ==0,014
1,4 . HH
Tabela 4.3 - Vazão, em litro/segundo, para vertedor trapezoidal de Cipolletti de parede delgada, segundo a fórmula de Cipolletti,
por metro de soleira*
Q = 1,86 L H3/2
Medidor Parshall
É um medidor que adota o princípio de Venturi para a medição de vazão em canais
abertos. Consta basicamente de três seções: uma a montante, com as paredes laterais
convergentes e o fundo nivelado; uma com as paredes paralelas e o fundo com declividade; e
outra a jusante, com as paredes laterais divergentes e o fundo em aclive (Figura 4.4). Nos
flumes maiores, em geral, constrói-se uma seção convergente e com aclive, de 1:4, na
extremidade anterior do Parshall (M e P).
Este medidor pode ser construído de vários tamanhos, podendo medir vazão desde 0,5
1/s até maiores do que 80.000 L s-1. A largura da garganta (W) é indicada para designar o
tamanho do Parshall, por exemplo: Parshall de 1 polegada, de 9 polegadas etc. Os menores,
com garganta de 1 a 3 polegadas, são usados na medição de pequenas vazões, variando entre
0,3 e 15 L s-1. Nas construções e instalações destes, deve haver bastante cuidado para obter
uma precisão satisfatória. Aqueles de tamanho intermediário, com garganta variando de 3
polegadas a 8 pés, são especialmente usados para medição de vazões em canais de
distribuição de água em irrigação, bem como em pequenos rios. Sua capacidade de medição
varia de 15 L s-1 até mais de 3.000 L s-1.
O tamanho do medidor a ser usado depende da vazão que se deseja medir, bem como
de sua possível variação. As dimensões padronizadas e a capacidade máxima e mínima de
vazão dos diversos tamanhos de Parshall estão apresentadas na Tabela 4.4, sendo as letras
correspondentes às respectivas dimensões da Figura 4.4.
Medição de água para irrigação 127
<<Ha>>
L <<Hb>>
L´
2A/3
A
P D garganta Seção
divergente
C
Seção convergente
Planta
M B F G
superfície d´água
E
fluxo
aclive 1:4 Ha
Hb
K
N
Corte L - L´
Figura 4.4 - Planta e corte de um Parshall de concreto, mostrando suas partes constituintes.
- Quando o nível d’água a jusante do medidor atingir uma altura suficiente, de modo a
retardar o fluxo, dá-se o nome de descarga afogada.
Em condições de descarga livre, a vazão de um Parshall depende da largura da
garganta e da altura de carga medida em um ponto, na seção convergente, afastado da entrada
da garganta de 2/3 de A. Essa carga pode ser medida com uma régua junto à parede do
Parshall, ou através de um poço lateral de medição que se comunica com o Parshall (Veja
Figura 4.4).
Uma das importantes características do Parshall é a sua capacidade de trabalhar sob
condição de descarga livre, mesmo havendo elevação de água a jusante dele.
A percentagem de submergência é a razão entre as duas cargas (Hb dividido por Há),
multiplicada por 100.
Hb
% de submergência = 100 (4.1)
Ha
Enquanto a percentagem de submergência não atingir certos limites, a descarga ou
vazão do Parshall não será afetada pela elevação de água a jusante, e ele funcionará sob a
condição de descarga livre.
Os limites para descarga livre dependem da percentagem de submergência e do
tamanho do Parshall, como se vê na Tabela 4.5.
Sempre que possível, deve-se trabalhar com Parshall em condições de descarga livre.
As vazões para os Parshall de 1, 2, 3, 6, 9 e 12 polegadas (1 pé) estão nas Tabelas
4.6, 4.7, 4.8, 4.9, 4.10 e 4.11, respectivamente.
Para ilustrar a determinação do grau de submergência e da vazão, será dado o
seguinte exemplo:
- No caso de um Parshall de 3 polegadas (W = 7,6 cm) com as cargas Ha e Hb de 25
e 10 cm, respectivamente. Ele está funcionando livre ou afogado? Qual é a sua vazão?
Hb 10
0,4
Ha 25
130 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Tabela 4.6 - Vazão em L s-1 versus altura de carga (Ha) em cm, em Parshall de 1 polegada
(W = 2,5 cm)
Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q
-1 -1
(cm) (L s ) (cm) (L s ) (cm) (L s-1)
- - 9,5 1,57 17,0 3,87
- - 10,0 1,70 17,5 4,04
3,0 0,26 10,5 1,83 18,0 4,22
3,5 0,33 11,0 1,97 18,5 4,41
4,0 0,41 11,5 2,11 19,0 4,59
4,5 0,49 12,0 2,25 19,5 4,78
5,0 0,58 12,5 2,40 20,0 4,97
5,5 0,67 13,0 2,55 - -
6,0 0,77 13,5 2,70 - -
6,5 0,87 14,0 2,86 - -
7,0 0,98 14,5 3,02 - -
7,5 1,09 15,0 3,18 - -
8,0 1,20 15,5 3,35 - -
8,5 1,32 16,0 3,52 - -
9,0 1,44 16,5 3,69 - -
Segundo a Tabela 4.5, verifica-se que o Parshall está funcionando com descarga livre
(o grau de submergência é menor que 0,5). Assim, para determinar a vazão é só usar a Tabela
4.8, com Ha = 25 cm. A vazão é de 20,63 L s-1.
Quando o grau de submergência for maior que o limite para descarga livre, dado na
Tabela 4.5, o Parshall trabalha em condições de descarga afogada, tornando necessário
aplicar uma correção negativa à vazão que se teria com a mesma carga Ha em condições de
descarga livre, de modo que se obtenha a vazão real. Como se deve trabalhar sempre em
condições de descarga livre, serão omitidas as tabelas de correções para Parshall afogado.
A seleção do local de instalação do Parshall é muito importante. Ele deve ser instalado
em um local que possua um trecho reto de canal, a montante e a jusante do Parshall, nunca em
um trecho onde o regime de escoamento seja turbulento – por exemplo, após uma comporta,
queda de água, curva etc.
Para usar Parshall em condições de descarga livre na determinação de vazão, é
necessário definir com precisão a elevação da seção convergente, em relação ao fundo do
canal. Isso é problema em se tratando de um canal com pouco declividade, o que obriga
nesse caso a trabalhar com Parshall de tamanho maior que o indicado, de modo que se
obtenha descarga livre, sem elevá-lo muito em relação ao fundo do canal.
Medição de água para irrigação 131
Tabela 4.7 - Vazão em L s-1 versus altura de carga (Ha) em cm, em Parshall de 2 polegadas
(W = 5,1 cm)
Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q
-1 -1
(cm) (L s ) (cm) (L s ) (cm) (L s-1)
- - 9,5 3,14 17,0 7,72
3,0 0,53 10,0 3,40 17,5 8,09
3,5 0,67 10,5 3,66 18,0 8,45
4,0 0,82 11,0 3,94 18,5 8,81
4,5 0,98 11,5 4,22 19,0 8,10
5,0 1,16 12,0 4,51 19,5 8,56
5,5 1,34 12,5 4,80 20,0 9,95
6,0 1,54 13,0 5,10 20,5 10,33
6,5 1,74 13,5 5,41 21,0 10,73
7,0 1,95 14,5 6,04 22,0 11,53
7,5 2,17 15,0 6,37 22,5 11,94
8,0 2,40 15,5 6,70 23,0 12,35
8,5 2,64 16,0 7,04 23,5 12,77
9,0 2,88 16,5 7,38 24,0 13,19
131
Medição de água para irrigação
Tabela 4.9 - Vazão em L s-1 versus altura de carga (Ha) em cm, em Parshall de 6 polegadas (W = 15,2 cm)
vani
132
Tabela 4.10 - Vazão em L s-1 versus altura de carga (Ha) em cm, em Parshall de 9 polegadas (W = 22,9 cm)
Tabela 4.11 - Vazão em L s-1 versus altura de carga (Ha) em cm, em Parshall de 1 pé (W = 30,5 cm)
133
Medição de água para irrigação
Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q
-1 -1 -1
(cm) (L s ) (cm) (L s ) (cm) (Ls ) (cm) (L s-1)
6,0 9,53 15,5 40,40 25,0 83,6 42,0 184
6,5 10,77 16,0 42,41 25,5 86,2 43,0 191
7,0 12,05 16,5 44,44 26,0 88,8 44,0 198
7,5 13,38 17,0 46,50 26,5 91,4 45,0 205
8,0 14,77 17,5 48,60 27,0 94,0 46,0 212
8,5 16,19 18,0 50,73 28,0 99,4 47,0 219
9,0 17,66 18,5 52,90 29,0 104,8 48,0 226
9,5 19,18 19,0 55,10 30,0 110,4 49,0 233
10,0 20,74 19,5 57,30 31,0 116,0 50,0 240
10,5 22,34 20,0 59,60 32,0 122,0 51,0 248
11,0 23,97 20,5 61,80 33,0 128,0 52,0 255
11,5 25,65 21,0 64,10 34,0 134,0 53,0 262
12,0 27,37 21,5 66,50 35,0 140,0 54,0 270
12,5 29,12 22,0 68,90 36,0 146,0 55,0 278
13,0 30,92 22,5 71,20 37,0 152,0 56,0 285
13,5 32,74 23,0 73,70 38,0 158,0 57,0 293
14,0 34,61 23,5 76,10 39,0 165,0 58,0 301
14,5 36,50 24,0 78,60 40,0 171,0 59,0 309
15,0 38,44 24,5 81,10 41,0 178,0 60,0 317
136 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Para uma vazão de 50 L s-1 neste Parshall, Ha será de 28 cm (limite máximo para
descarga livre – Tabela 4.5), razão de Hb para Ha é de 0,6; assim, Hb será igual a 16,8 cm.
Para uma submergência de 60%, a superfície da água em Hb estará praticamente no mesmo
nível d’água a jusante do medidor. A profundidade da água a jusante do medidor será
praticamente a mesma que existia antes de se instalar o Parshall, ou seja, 40 cm – na Figura
4.5, p representa esta profundidade. Subtraindo Hb (16,8 cm) de 40 cm, obtém-se o valor de
Z, que será igual a 23,2 cm. Nesta altura deve ser instalada a seção convergente do Parshall,
em relação ao fundo do canal. A perda de carga através do Parshall pode ser calculada,
aproximadamente, pela seguinte equação:
L = 1,2 (Ha + Z - p) (4.2)
Nesse caso, tem-se:
L = 1,2 (28 + 23,2 - 40)
L = 1,2 x 11,2
L = 13,4 cm
Dessa forma, a profundidade de água no canal, acima do medidor, será a soma da
profundidade antes de se instalar o Parshall mais a perda de carga, através do Parshall, ou
seja, de 53,4 cm.
É necessário verificar, no local, se esta elevação do nível de água, a montante do
Parshall, não a fará transbordar no canal.
L
Ha Hb
P
K
fundo do canal
fundo do canal
Figura 4.5 - Seção longitudinal de um Parshall ilustrando a determinação da altura (Z) entre o
fundo da seção convergente e o leito do canal.
Este método é simples, requer poucos equipamentos e apresenta boa precisão, quando
executado com certo cuidado. Em campo poderá ser usado satisfatoriamente para vazões de
138 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
até 1 litro/segundo. Pode, porém, ser usado em vazões acima deste limite, desde que se
disponha de recipientes maiores e condições especiais para manuseá-los.
Quanto maior o recipiente, maior será o tempo necessário para enchê-lo e maior será
a precisão da medição. Para que haja boa precisão, o tamanho do recipiente deverá ser tal que
o tempo mínimo necessário para enchê-lo seja de 20 segundos. O tempo gasto para encher o
recipiente, usado para determinar a vazão, deve ser a média de três medições, no mínimo.
Para usar este método na determinação da vazão, em sulcos de irrigação, deve-se
abrir uma trincheira transversal ao sulco, colocar uma calha, telha ou pedaço de cano na
extremidade do sulco, de modo que a água caia livremente no recipiente. A extremidade de
jusante da calha, telha ou cano deverá, no mínimo, estar 4 cm acima da borda do recipiente,
depois de instalado; a Figura 4.6 ilustra o uso deste método. Deve-se ter o cuidado de evitar o
represamento da água a montante do medidor, para que ela não se espalhe lateralmente no
sulco, aumentando, desse modo, a infiltração no solo e, em conseqüência, diminuindo a vazão
que será medida. Quando a medição for feita em terrenos muito planos, a fim de evitar
represamento a montante do medidor, deve-se usar calha ou telha mais larga do que o sulco,
ou, então, usar a modificação que se vê na Figura 4.7. Neste último caso, a água não cai
diretamente dentro do recipiente de volume conhecido, e sim dentro da trincheira,
transbordando depois para dentro do recipiente.
g
b
N.A f
a
c
e
d
a – 4,0 cm no mínimo; b – superfície da água no sulco; c – fundo do sulco; d – trincheira, transversal ao sulco;
e – recipiente de volume conhecido; f – calha ou cano; e g – dique.
Figura 4.6 - Instalações para determinar a vazão em sulco de irrigação, pelo método
volumétrico direto.
para enchê-lo foi de 40 segundos; na segunda, 39; na terceira, 40; e na quarta, 41. Qual a
vazão do sulco em apreço?
1
2
4
3
40 + 39 + 40 + 41
Tempo médio = = 40 segundos
4
20 litros
vazão = 0,5 litros/segundo
40 segundos
Sifão
São tubos usados para remover água de diques ou canais e descarregá-la nos sulcos
ou em outros sistemas de distribuição. Eles não só distribuem água, como também medem a
vazão em que se está processando a distribuição.
Os tubos são geralmente de alumínio, plástico ou ferro, com diâmetros variando de ½
até 12 polegadas, – na irrigação em sulcos, usam-se tubos com diâmetro de até 3 polegadas,
com o comprimento, em geral, variando de 1,50 a 2,00 metros; outros comprimentos podem
ser usados, desde que sejam necessários.
A vazão do sifão depende do diâmetro, do comprimento, do material que constitui o
tubo (rugosidade interna), do número de curvas (quando existir) e da carga sob a qual o sifão
está trabalhando. Uma vez escolhido o tipo de sifão, os quatro primeiros fatores serão
constantes, e a vazão dependerá exclusivamente da carga sob a qual o sifão trabalhará. Na
medição de carga é necessário considerar dois casos:
140 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
a
c
h
a
c
h
Tabela 4.12 - Vazão (litros/segundo) versus altura de carga (cm) para sifão de 2, 1 3/4, 1 1/2,
1 e 3/4 de polegadas (diâmetro interno)
Planta
2 3 4 3 5
6 6
Elevação
2
3
4
6
3
5
Este tipo de medidor deverá ser instalado dentro do sulco, de modo que o seu fundo
permaneça na horizontal, quer longitudinal ou transversalmente. Seu fundo deve ficar no
Medição de água para irrigação 143
mesmo nível do fundo do sulco. Ele estará corretamente instalado quando a altura da água na
saída for menor que na entrada, o que normalmente acontece. Quando a água apresentar a
mesma altura ao longo do flume, este deverá ser elevado um pouco, até que as características
de lâmina da água, ao longo dele, sejam semelhantes às da Figura 4.12.
Quando o flume for construído de cimento ou madeira, as duas asas, cuja finalidade é
evitar a infiltração da água por baixo dele, poderão ser de pedaços de borracha (câmara de
ar).
Para medição da vazão, somente uma leitura na régua graduada em milímetro é
necessária. Esta régua deve estar encostada na parede lateral de entrada. A leitura (em
centímetro) é convertida em vazão (litros/segundo), usando as Tabelas 4.13 e 4.14,
respectivamente, para os flumes A e B.
Exemplo: um WSC Flume A, corretamente instalado, a altura da água medida na
régua é 5,4 cm. Qual é a vazão?
Usando a Tabela 4.13, ver-se-á que a vazão é de 0,40 litro/segundo.
144 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
12,7
10
5,1
(1) 12 12
(2)
a b
°
10,5
12,7
90
12 5,1 12
12 12
(3) (4)
(ab = 1,27)
60 °
2,5
15
5,1 13,5
5
12 12
(6)
(5)
17,8
18
20 5,1 20
(1)
(2)
a b
17,8
17,8
20 20
20 5,1 20 (4)
(3)
(ab = 1,27)
7,6 23
60
2,5
°
20 5,1 20
(5)
20 20
(6)
h1
h2
Tabela 4.13 - Vazão (litro/segundo) versus altura de carga (cm) do WSC Flume A
Altura* (cm) ,0 ,4 ,8
Vazão em L s-1
3 0,09 0,12 0,16
4 0,18 1,24 0,29
5 0,33 0,40 0,48
6 0,52 0,61 0,71
7 0,77 0,88 1,01
8 1,08 1,22 1,37
9 1,45 - -
* Este quadro foi construído de tal maneira que a altura de carga é apresentada com a parte inteira na primeira coluna e com a
parte decimal na primeira linha, estando a vazão no encontro das duas.
Tabela 4.14 - Vazão (litros/segundo) versus altura de carga (cm) do WSC Flume B
Altura * ,0 ,4 ,8
-1
(cm) Vazão em L s
7 0,87 1,00 1,12
8 1,19 1,33 1,48
9 1,55 1,72 1,90
10 1,98 2,17 2,37
11 2,45 2,68 2,90
12 3,02 3,26 3,50
13 3,63 3,89 4,17
14 4,31 4,60 4,90
15 5,05 5,37 5,69
16 5,86 6,20 6,56
17 6,74 7,11 7,49
18 7,69 - -
* Este quadro foi construído de tal maneira que a altura de carga é apresentada com a parte inteira na primeira coluna e com a
parte decimal na primeira linha, estando a vazão no encontro das duas.
Medição de água para irrigação 147
Referências
AZEVEDO NETTO, J.M. Manual de hidráulica. S. Paulo: Editora Edgard Bücher, 1969. v. 1 e 2.
BERNARDO, S. Medição d’água para irrigação. Viçosa, MG: Imp. Univ., 1979. 25 p. (apostila).
BERNARDO, S.; FERREIRA, P.A.; SILVA, J.S. Medição d’água em sulco de irrigação. Viçosa: Imprensa
Universitária, 1971. 18 p. (Bol. 30).
KING, H.W. et al. Hidráulica. Rio de Janeiro: Ed. Publicações Pan-Americana, 1945.
SCOTTI, V. H. et al. Measuring irrigation water. Davis, California: Agr. Exp. Station – Extension Service,
1959. 50 p. (Bol. 473).
USDA. Measuring of irrigation water. Washington, D.C.: SCS National Engineering Handbook. Section 15 –
Irrigation, 1962. chapter: 9. 72 p.
USDI, Water measurement manual. Washington, D.C.: Bureau of Reclamation, 1967. 329 p.
Condução da água para irrigação 145
Capítulo 5
Considerações Gerais
Em qualquer método de irrigação a água tem que ser conduzida da captação até a
parcela irrigada. Nota-se, dessa maneira, a importância da condução da água dentro do
sistema de irrigação como um todo. Muitos são os projetos de irrigação que não atingiram os
objetivos preestabelecidos por causa de problema na condução da água.
Em geral, os principais problemas na condução da água são falhas estruturais,
infiltração excessiva e erro de dimensionamento.
São dois os tipos principais de condutos usados em irrigação: Canais ou Condutos
Livres e Encanamentos ou Condutos sob Pressão.
Canais
Forma Geométrica dos Canais
Quanto à forma geométrica, existem quatro tipos de canais: trapezoidal, retangular,
triangular e semicircular.
a) Canal trapezoidal, retangular e triangular – Na Figura 5.1 tem-se um corte
transversal, em um canal trapezoidal, com seus principais parâmetros.
BL
1
h
m
b
146 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
P b 2 h 1 m2 (5.2)
Como o raio hidráulico (Rh) é o quociente da área dividida pelo perímetro molhado,
tem-se:
h ( b m h)
Rh (5.3)
b 2 h 1 m2
Para canais retangulares, m é igual a zero (m = 0). Assim:
A b h e P b 2h
Para canais triangulares, b é igual a zero (b = 0). Dessa forma:
A m h 2 e P 2 h 1 m2
Determinação da seção de máxima eficiência – É feita considerando constantes a área
do canal (A) e a inclinação das paredes laterais (m) e variáveis a largura do fundo do canal (b)
e a altura da lâmina de água no canal (h).
Tirando o valor de b na equação da área do canal e o substituindo na equação do
perímetro molhado, tem-se:
A
P m h 2 h 1 m2 (5.4)
H
A seção de máxima eficiência é aquela em que:
dP
0
dh
ou seja:
Condução da água para irrigação 147
A
m 2 1 m 2 0 , ou
h2
A h2 2 1 m2 m
que é a área de máxima eficiência.
Como A = h(b + mh), substituindo esta equação na anterior, tem-se:
b 2h 1 m 2 m ou
b
Z 2 1 m 2 m (5.5)
h
que é a relação entre b e h na seção de máxima eficiência. Assim, para
b
m 0,0 2,0
h
b
m 1,0 0,83
h
b
m 1,5 0,61
h
b
m 2,0 0,47
h
b
m 2,5 0,39
h
b
m 3,0 0,32
h
Como a base maior da seção trapezoidal é dada por B = b + 2mh, para a seção de
máxima eficiência têm-se as seguintes relações:
3 3 b 3 1
B 2b ; h b ; P 3b ; A b h ; Rh ;e m 0,577 ,
2 2 4 3
D2 D
A ; P D e Rh (5.6)
4 4
Canal pelo meio
D2 D D
A ; P e Rh (5.7)
8 2 4
Canal parcialmente cheio: Na Figura 5.2 encontra-se um canal circular parcialmente
cheio, com seus principais parâmetros.
D2
A sen (5.8)
8
sendo: A = área ocupada pela água;
D = diâmetro do canal; e
= ângulo, em radiano, formado pelos raios laterais.
D
P (5.9)
2
D sen
Rh 1 (5.10)
4
Condução da água para irrigação 149
D
h 1 cos (5.11)
2 2
Nível da água
0
0,1
0,2
0,3
Profundidade (h)
0,4 e
ad
cid a
0,5 l o di
Ve mé
0,6
0,7
0,8
Fundo do canal
1,0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
Velocidade (V)
Tabela 5.4 - Perda de água por infiltração em canais não-revestidos, segundo Linsley
V C Rh S0 (5.16)
87 Rh
C (5.17)
m Rh
sendo m fator que depende da natureza das paredes do canal, o qual é apresentado na Tabela 5.5.
Tabela 5.5 - Valores de m para determinação do coeficiente de Bazin
Natureza das paredes m
Muito lisas (cimento alisado) 0,06
Lisas (concretos, tijolos) 0,16
Pouco lisas (alvenaria de pedra bruta) 0,46
Paredes mistas (com ou sem revestimento) 0,85
Canais de terra normal 1,30
Canais de terra com grande resistência ao escoamento 1,75
(fundo com vegetação ou pedras soltas)
Tabela 5.6 - Valores de n, para emprego na fórmula de Manning, citados por E.T. Neves
Condições
Natureza das paredes
Muito boas Boas Regulares Más
Tubos de ferro fundido sem revestimento 0,012 0,013 0,014 0,015
Idem, com revestimento de alcatrão 0,011 0,012* 0,013*
Tubos de ferro galvanizado 0,013 0,014 0,015 0,017
Tubos de bronze ou de vidro 0,009 0,010 0,011 0,013
Condutos de barro vitrificado, de esgotos 0,011 0,013* 0,015 0,017
Condutos de barro, de drenagem 0,011 0,012* 0,014* 0,017
Alvenaria de tijolos com argamassa de cimento; 0,012 0,013 0,015* 0,017
condutos de esgoto, de tijolos
Superfícies de cimento alisado 0,010 0,011 0,012 0,013
Continua...
Tabela 5.6 - Cont.
Condições
Natureza das paredes
Muito boas Boas Regulares Más
Superfícies de argamassa de cimento 0,011 0,012 0,013* 0,015
Tubos de concreto 0,012 0,013 0,015 0,016
Condutos de aduelas de madeira 0,010 0,011 0,012 0,013
Calhas de pranchas de madeira aplainada 0,010 0,012* 0,013 0,014
Idem, não-aplainada 0,011 0,013* 0,014 0,015
Idem, com pranchões 0,012 0,015 0,016
Canais com revestimento de concreto 0,012 0,015* 0,016 0,018
Alvenaria de pedra argamassada 0,017 0,020 0,025 0,030
Alvenaria de pedra seca 0,025 0,020 0,033 0,035
Alvenaria de pedra aparelhada 0,013 0,014 0,015 0,017
Calhas metálicas lisas (semicirculares) 0,011 0,012 0,013 0,015
Idem corrugadas 0,0225 0,025 0,0275 0,030
Canais de terra, retilíneos e uniformes 0,017 0,020 0,0225* 0,025
Canais abertos em rocha, lisos e uniformes 0,025 0,030 0,033* 0,035
Canais abertos em rocha, irregulares ou de 0,035 0,040 0,045
paredes de pedra irregulares e mal arrumadas
Condução da água para irrigação 155
Dimensionamento do Canal
São seis os tipos de problemas que podem ser resolvidos com a equação de Manning,
de modo que se obtenham soluções específicas.
1) Conhecendo n, b, h, m e S0, calcular Q.
2) Conhecendo Q, n, b, h e m, calcular S0.
3) Conhecendo Q, m, b, h e S0, calcular n.
4) Conhecendo Q, n, b, m e S0, calcular h.
5) Conhecendo Q, n, h, m e S0, calcular b.
6) Conhecendo Q, n, b, h e S0, calcular m.
Os problemas (1), (2) e (3) são resolvidos analiticamente; já os três últimos são
encontrados com maior freqüência na vida prática. Trata-se do dimensionamento geométrico
de um canal, e a solução não é tão direta como nos outros casos, porque as equações não são
resolvidas analiticamente. Existem vários métodos para a solução desses problemas, entre
outros: numérico, tentativas, gráfico e direto. Em todos eles estão implícitas certas
considerações que definem a relação entre algumas variáveis, por exemplo: se o canal for
revestido, deve-se trabalhar com a seção de máxima eficiência para minimizar o consumo do
material de revestimento; se o canal for não-revestido, a inclinação da parede lateral é função
do tipo de solo; e a dimensão e forma do equipamento utilizado na escavação algumas vezes
definirão a largura da base menor e a inclinação das paredes.
156 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Método Numérico
Reescrevendo a equação de Manning como uma função de x, tem-se:
1/ 2
f x n Q P 2 / 3 A 5 / 3 S0 (5.20)
dA dP
em que e dependem da variável desconhecida.
dx dx
Se h for desconhecido, tem-se x = h, e:
dA dA
b 2m h
dx dh
dP dP
dx dh
2 m2 1
12
Se b for desconhecido: x = b, e:
dA dA dP dP
h e 1
dx db dx db
Se m for desconhecido: x = m e:
dA dA dP dP
dx dm
h2 e
dx dm
h 2 m m 2 1
1 2
Quando S0, n ou Q são desconhecidos, não há necessidade de utilizar o método de
Newton.
Exemplo
Condução da água para irrigação 157
ETpc A 104 TR
Q (5.23)
E TDF 3600 PI
4 x 200 x 10 4 x 14
Q 309 L / s 0,309 m 3 s 1
0,7 x 12 x 3600 x 12
Método de Newton
158 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Como o canal deve ser dimensionado para a seção de máxima eficiência, tem-se
2h 1
que: b e m 0,577 ; logo, a variável desconhecida x = h e a fórmula de Newton
3 3
podem ser escritas como segue:
f h i
h i 1 h i corr h i
f `h i
2 h 2 x 0,500
b 0,577 m
3 3
dA
b 2 m h 0,577 2 x 0,577 x 0,500 1,155
dh
dP
dh
12
1/ 2
2 m 2 1 2 0,5772 1 2,3094
12
f h n Q P 2 3 A 5 3 S 0 0,014 0,309 1,7322 3 0,4335 3 x 0,0041 2 0,00944
5 dA 2 dP
f `h S 0 1 2 A 2 3 n Q P 1 3
3 dh 3 dh
5 2
f `h 0,0041 2 x 0,433 2 3 x 1,155 0,014 0,309 x 1,732 1 3 x 2,309 0,0641
3 3
f h i 0,00944
h 1 h 0 corr h 0 0,500 0,500 0,1472 0,353 m
f `h i 0,0641
V Q
NF (5.24)
A A
g A g
B b 2 mh
0,309
NF 0,88
0,2167
0,2167 9,81
0,408 2 x 0,577 x 0,354
3 3
hb 0,409 0,354
2 2
B 2 b 2 x 0,420 0,840
3 3
A b h 0,409 x 0,354 0,2173 m 2
2 2
P 3 b 3 x 0,420 1,260 m
A5 3 S 01 2 0,21735 3 x 0,0041 2
Q 0,310 m 3 s 1
n P2 3 0,014 x 1,2272 3
Q 0,310
V 1,42 m s 1
A 0,2173
Método Gráfico
Rearranjando a equação de Manning, tem-se:
Q m A5 3
(5.25)
S 01 2 P 2 3
Analisando esta equação, verifica-se que o primeiro termo é uma constante para cada
problema específico; porém, o segundo varia com a forma geométrica e com a relação entre as
dimensões do canal. Uma vez definida a forma geométrica, pode-se estabelecer uma função da
área (A), perímetro molhado (P) e do raio hidráulico (Rh) do canal com uma de suas
Condução da água para irrigação 161
dimensões, como, por exemplo, a altura do canal (h); dessa forma, tem-se: A = f(h), P = f(h) e
Rh2/3= f(h).
Sendo assim:
nQ A5 3
f h
S0 P2 3
O uso deste método será ilustrado com o mesmo problema empregado no das
tentativas.
Para este caso:
n Q 0,309 x 0,014
f h 0,0684
S0 0,004
h b A P
f(h)
(m) (m) (m2) (m)
0,2 0,231 0,0693 0,693 0,0149
0,24 0,277 0,0998 0,831 0,0243
0,28 0,323 0,1358 0,97 0,0366
0,32 0,37 0,1774 1,109 0,0523
0,36 0,416 0,2245 1,247 0,0716
0,38 0,439 0,2501 1,316 0,0827
Entrando na Figura 5.4 com f(h) = 0,0684, tem-se h = 0,353 m = 35,3 cm; logo:
2 2
bh 0,353 0,408 cm 40,8 cm
3 3
162 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
0,09
0,08
0,07
0,06
f (h)
0,05
0,04
0,03
0,02
0,01
0,20 0,25 0,30 0,35 0,40
h (m)
Nota – Uma das grandes vantagens deste método é que, uma vez construído o gráfico
de h em função de f(h), ele pode ser usado para dimensionar canais com diferentes valores de
n, Q e S0, porém com a mesma forma geométrica usada para construir a curva.
Método Direto
Neste método, como nos demais, somente pode ser usado quando se predetermina a
relação entre os parâmetros geométricos do canal.
Para o mesmo problema usado no método das tentativas, tem-se:
2h b 3 3
b ; Rh ;A b h
3 4 4
Aplicando as equações de Manning e de continuidade, com todos os parâmetros
geométricos do canal, em função de h, obtém-se:
3 S0
Q h8 / 3
3 22 / 3 n
3/8
22 / 3 3 n
h Q
3 S0
Condução da água para irrigação 163
Energia Específica
Para o caso de movimento variado, em regime permanente nos canais, ou seja,
movimento com vazão constante, mas com variação da velocidade e da profundidade ao longo
do canal, a energia específica é um parâmetro muito importante para definir este tipo de
escoamento.
Energia específica de um líquido, que escoa em um canal, é a energia total por
unidade de peso deste líquido em relação ao fundo do canal, tomado como plano de referência,
V2
ou seja, a soma cinética e da energia estática, correspondente à profundidade do líquido
2g
(h):
V2
Eh (5.26)
2g
Para canais retangulares, pode-se definir o termo descarga unitária (q) como a
descarga por unidade de largura:
Q VA Vh L
q Vh (5.27)
L L L
Substituindo (5.27) em (5.26):
q2
Eh (5.28)
2gh 2
q2
(E h ) h 2 = constante (5.29)
2g
164 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
ha
A
Regime subcrítico
h > hc
hc C Regime crítico
hb B Regime supercrítico
h < hc
45º D
Ec
Figura 5.5 - Curva de energia específica (E) versus profundidade (h), para uma vazão
constante.
- um lento e profundo, no braço superior da curva, denominado regime subcrítico;
- um rápido e raso, no braço inferior da curva, denominado regime supercrítico;
- o ponto de convergência dos dois regimes, ponto C na Figura 5.5, é denominado
regime crítico.
Analisando a Figura 5.5, verifica-se que, no regime crítico (ponto C), tem-se um valor
mínimo para a energia específica. Matematicamente, pode-se obter o valor mínimo desta
curva diferenciando a equação 5.28, ou seja:
dE q2
1 0
dh g h3
Condução da água para irrigação 165
q2 q2
1 0 hc 3 (5.30)
gh 3c g
Vc g hc (5.31)
3 hc V2
hc c
2 2g
Vc
1
g hc
V
A expressão é denominada “número de Froude” (NF).
g h
Assim, pode-se afirmar que:
- para NF < 1 o regime é subcrítico
- para NF = 1 o regime é crítico
- para NF > 1 o regime é supercrítico
Portanto, o “número do Froude” (NF) constitui um critério simples para determinar o
regime de fluxo de determinado canal.
Muitas vezes, ao locar-se um canal, ele passará sob estrada ou ficará suspenso em
algum trecho. Assim, para economizar material ou para facilidade de construção, é preciso
mudar a forma geométrica do canal sobre esses trechos. Por isso, é de capital importância
conhecer a variação do nível da água quando a forma geométrica de um canal é alterada,
estreitamentos, ascensão ou depressão, no fundo –, a fim de se evitar represamento ou
transbordamento nessas transições. Em se tratando de uma elevação suave no fundo de um
canal, a variação da energia específica entre um ponto antes da elevação e outro sobre esta
será a altura de elevação, ou seja:
Z
1 2
E1 E2 Z (5.33)
dh
- Em regime supercrítico, Fn > 1. Neste caso, terá que ser positivo, isto é, a
dx
profundidade da água no canal (h) cresce sobre o ressalto.
b) Quando há uma descida suave no fundo do canal
dh dh 2
é negativo (-). Dessa forma, 1 Fn tem que ser positivo (+).
dx dx
dh
- Em regime subcrítico, NF < 1. Então, terá que ser positivo, ou seja, a
dx
profundidade da água no canal (h) cresce sobre a depressão.
dh
- Em regime supercrítico, NF > 1. Assim, terá que ser negativo, isto é, a
dx
profundidade da água no canal (h) decresce sobre a depressão.
c) Variação na largura do canal
Quando há contração no canal, segue-se o mesmo princípio da ascensão do fundo do
canal, ou seja, em regime subcrítico a profundidade da água diminui e em regime supercrítico
ela aumenta. No caso de uma expansão no canal, segue-se o mesmo princípio da depressão no
canal: em regime subcrítico a profundidade aumenta e em regime supercrítico ela diminui.
Serão dados exemplos para ilustrar estes cálculos:
1 - Dimensionar uma transição de um canal trapezoidal com m = 1,5 e b = 2 m para
um canal retangular com b = 2 m, de tal modo que para uma velocidade e profundidade no
canal trapezoidal de 1,3 m/s e 1,0 m, respectivamente, não haja variação no nível da superfície
da água.
2
1
Pela equação de continuidade, tem-se:
Q A1 V1 A2 V2
Para que não haja variação no nível da água entre os pontos (1) e (2), a carga de
velocidade nos dois pontos terá de ser igual.
V12 V2
2 , então V1 = V2 e, pela equação anterior, A1 = A2
2g 2g
168 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
A1 b1 h 1 m h 1 2 1 1,5 1 3,5 m 2
A 2 b2 h 2
3,5 2h 2 h 2 1,75 m
1m
1,75 m
1
0,75 m
Q1 b1 V1 h1 2 x 1 x 1,80 3,6 m 3 s 1
3,6
q2 2,117 m3s 1m 1
1,70
V22 q 22
E2 h 2 h2
2g 2 g h 22
( 2,117) 2
1,851 h 2
2 x 9,81 h 22
V2 1,189
NF2 0,285 (subcrítico)
gh 2 9,81 x 1,78
E1 E 2 Z
32
E1 1,8 2,259
2 x 9,81
E 2 E crítico
Vc2
Ec hc
2g
q1 q 2
q 1 h 1 V1 3 1,8 5,4 m 3s 1 m 1
q 2 3 (5,4 ) 2
hc 3 1,438 m
9,81 9,81
170 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
3 3
Ec hc 1,438 2,157
2 2
como
E2 = Ec, então
Zmax = E1 - Ec
Zmax = 10 cm
Encanamentos
Em encanamentos, geralmente tem-se o escoamento em condutos forçados, ou seja, a
água escoa sob pressão. O encanamento funciona totalmente cheio, e os condutos são sempre
fechados. Nos projetos de irrigação, a condução da água se processa, de modo geral, em
movimento permanente e uniforme, sob um regime de escoamento turbulento, ou seja, a vazão
e a velocidade média são constantes ao longo da tubulação, com as partículas de água
seguindo uma trajetória irregular, com exceção do regime de escoamento nos gotejadores, que
é laminar.
O melhor critério para determinar se o regime de escoamento em uma tubulação é
laminar ou turbulento é através do número de Reynolds (Rn).
V D
Rn (5.34)
Para as condições normais de escoamento nas tabulações, pode-se afirmar que Rn >
4000, para regime de escoamento turbulento; e Rn < 2000, para regime de escoamento
laminar.
Entre estes dois valores tem-se a “zona de transição”, na qual não se pode determinar
com segurança a perda de carga nas tubulações.
Como visto anteriormente, em geral, o regime de escoamento, na condução da água
nos encanamentos, é turbulento.
Sempre que a água flui de um ponto para outro, há certa perda de energia, comumente
denominada perda por atrito ou perda de carga. Quando o escoamento se faz em regime
turbulento, a resistência ao escoamento é atribuída às forças de viscosidade e de inércia.
Quanto mais rugosa a parede da canalização, maior será a turbulência do fluxo e, em
conseqüência, maior será a perda de carga.
Na prática, existem dois tipos de perdas de carga: ao longo da tubulação e localizada.
A) EQUAÇÃO DE HAZEN-WILLIAMS
Esta equação é mais usada no dimensionamento de condutos sob pressão, podendo
também ser empregada em dimensionamento de canais. É recomendada apenas para
escoamento de água à temperatura ambiente e para diâmetro igual ou maior que 2”.
1,852
1 V
J 6,806 (5.38)
D1,17 C
1,852
1 Q
J 10,641 (5.39)
D 4,87 C
Tipos de conduto C
Alumínio 130
Aço corrugado 60
Aço com juntas “loc-bar”, novas 130
Aço com juntas “loc-bar”, usadas 90 a 100
Aço galvanizado 125
Aço rebitado, novo 110
Aço rebitado, velho 85 a 90
Aço soldado, novo 130
Aço soldado, usado 90 a 100
Aço soldado com revestimento especial 130
Aço zincado 120
Cimento-amianto 130 a 140
Concreto, bom acabamento 130
Concreto, acabamento comum 120
Ferro fundido, novo 130
Ferro fundido, usado 90 a 100
Plásticos 140 a 145
PVC rígido 145 a 150
* Citados por E. T. Neves.
B) EQUAÇÃO DE MANNING
Apesar de mais usada para o dimensionamento de canais, esta equação pode também
ser utilizada para o dimensionamento de condutos sob pressão, desde que se use o coeficiente
apropriado (Tabela 5.9).
0,397 2 3 1 2
V D J (5.40)
n
0,312 8 3 1 2
Q D J (5.41)
n
v2
J 6,345 n 2 (5.42)
D4 3
Q2
J 10,273 n 2 (5.43)
D16 3
em que: Q = vazão, m3 s-1;
V = velocidade média, m s-1;
D = diâmetro da tubulação, m;
J = perda de carga unitária, mca m-1; e
n = coeficiente que depende da natureza da parede do tubo (material e estado de
conservação).
Na Tabela 5.9 tem-se o valor do coeficiente n para diversos materiais.
174 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
C) EQUAÇÃO DE DARCY-WEISBACH
É uma equação muito usada para dimensionamento de tubulações de ferro fundido.
V2 Q2
hf J L f L ou hf = 1,621 f L (5.44)
2g D 2g D 5
hf
Fator de atrito f
L V2
D 2g
Figura 5.6 - Diagrama de Moody para o cálculo do coeficiente f.
Combinando as equações 5.34, 5.44 e 5.45, Watters e Keller (1978) desenvolveram
as equações 5.47 e 5.48, para tubulações e mangueiras de plástico, com diâmetros menor que
125 mm e maior que 125 mm, respectivamente, trabalhando com água à temperatura de
20 ºC.
Q1,75
hf J L 7,89 10 7 L (5.47)
D 4 ,75
176 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Q1,83
hf J L 9,58 107 L (5.48)
D 4 ,83
sendo Q em L s-1, D em mm e L em m.
Peça K
Ampliação gradual 0,30*
Bocais 2,75
Comporta, aberta 1,00
Controlador de vazão 2,50
Cotovelo de 90º 0,90
Cotovelo de 45º 0,40
Crivo 0,75
Curva de 90º 0,40
Tabela 5.10 - Cont. Continua...
Peça K
Curva de 45º 0,20
Curva de 22½º 0,10
Condução da água para irrigação 177
Q 0,030 m 3 / s
V 2,445 m / s
A 0,1252
4
178 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
4
Esta velocidade está dentro dos limites usuais. A perda de carga para este diâmetro
será:
1) Perda de carga ao longo da tubulação: aplicando a equação de Hazen-Williams,
tem-se, pela Tabela 5.8, C = 100.
1,852
1 0,030
J 10,641 4, 87 0,03274 mca m 1
0,15 100
hf1 = 2000 J
hfl = 65,51 mca
V2
hf2 = K
2g
1,698 2
hf2 = (0,2 + 0,4 + 0,2 + 2,5 + 1,0) = 0,63 mca
2 x 9,81
Motobomba
Como a maioria das bombas usadas em irrigação pertence ao tipo centrífuga de eixo
horizontal, serão discutidas suas principais características.
Elas requerem escorvamento, válvula de pé e é necessário observar o limite máximo
de altura estática de sucção. Podem ser portáteis ou fixas e são acionadas por motores
elétricos, a óleo ou gasolina. As portáteis são montadas em bloco sobre rodas, o que facilita
sua movimentação.
Como em irrigação trabalha-se com água limpa, usam-se normalmente rotores
fechados. As bombas com um só rotor são denominadas bombas de simples estágio. Quando a
altura monométrica requerida na bomba for muito grande, serão usadas bombas com dois ou
mais rotores, denominadas bombas de dois, três ou mais estágios.
Nos projetos de irrigação, em geral, as bombas não trabalham afogadas, ou seja, são
sempre instaladas em posição acima do nível da água do poço de sucção (Figura 5.7).
Registro de gaveta
Válvula de retenção
Redução excêntrica
Redução excêntrica
Curva de 90º
Motor Bomba
Válvula de pé
Crivo
Tanto o valor da velocidade de rotação do rotor (n) como o seu diâmetro (D) influem,
de maneira sensível, no funcionamento da bomba. São válidas as seguintes regras gerais:
- mantendo a forma e o diâmetro do rotor constantes:
2 3
Q 2 n 2 H 2 n 2 P2 n 2
; ;
Q1 n 1 H 1 n 1 P1 n 1
ou
3/ 2 3 3
P2 H Q n
= 2 = 2 = 2
P1 H1 Q1 n1
2 3
Q2 D2 H 2 D P D
= ; = 2 ; 2 = 2
Q1 D1 H1 D1 P1 D1
ou
3/ 2 3 3
P2 H 2 Q D2
= = 2 =
H 1 H1 Q1 D1
D = diâmetro do rotor;
Q = vazão da motobomba;
Q 0 5 10 15 20 25
H 0 10 21 32 44 56
P 0 16 33 52 73 95
Q 1/ 2
ns = n (5.50)
H 3/ 4
Analisando a equação 5.50, verifica-se que as bombas para maiores alturas
manométricas têm menor rotação específica.
A rotação específica é um índice do tipo de bomba para a vazão e a altura
manométrica, referida ao ponto de máxima eficiência.
Quando Q for em litros/minuto, H em metro e n em rpm, a equação de rotação
específica de uma bomba centrífuga poderá ser escrita deste modo:
Q 1/ 2
ns = 0,211 n (5.51)
H 3/ 4
As bombas centrífugas mais comuns apresentam ns = 4000.
Verifica-se que, para cargas mais elevadas, é necessário usar bombas com baixa
rotação específica.
V2
Po - (hsmax + Pv + h) > + hr. (5.53)
2g
Os membros desta expressão representam a carga de sucção expressa em termos de
pressão absoluta e são representados pelas letras NPSH (net positive suction head), sendo o
primeiro o NPSH disponível e o segundo o exigido, ou seja, (NPSH)d > (NPSH)r.
15 0,17 35 0,57
20 0,24 40 0,75
25 0,32 45 0,97
30 0,43 50 1,26
A bomba jamais “cavitará” quando o NPSH disponível for maior do que o NPSH
exigido pela bomba, sendo este último uma característica da própria bomba, especificada pelo
fabricante.
Exemplo
Determinar a altura máxima de sucção permitida para uma bomba a ser instalada em local
cuja altitude é de 900 m, sendo a temperatura média de água de 30 oC, a perda de carga na
tubulação de sucção de 1,245 m e a velocidade da água na tubulação de sucção igual a 1 m/s.
Se não se considerar a perda de carga do rotor (hr):
V2
hsmax < Po - (Pv + + h)
2g
50
60 70 75
80
B 83
40
A
84
Altura Manométrica (m)
83
80
30
75
70
20
60
50
Ø 305
10 Ø 2 87
Ø 270
Ø 254
Ø 234
0
0 50 1 00 150 20 0 250 300 3 50
V azão (m ³/h)
12 Ø 305
9
NPSH (m)
0
0 50 1 00 150 20 0 250 300 3 50
50
40
Potência (cv)
30 Ø 305
Ø 287
20 Ø 27 0
Ø 254
10 Ø 234
0
0 50 1 00 150 20 0 250 300 3 50
Curva característica da
tubulação velha
Tubulação nova
P2
H2
P1
H1
Curva característica
da bomba
Hman 2 Hman1
Q Haman
Pa = (5.55)
75 E b
em que Eb é a eficiência da bomba, em decimais (geralmente, Eb < 0,80).
De modo semelhante, define-se a potência útil e a potência absorvida pelo motor.
Quando a transmissão de movimento entre o motor e a bomba for por meio de um eixo rígido,
a potência útil do motor será igual à potência absorvida pela bomba. Os motores comerciais
são classificados em função de sua potência útil, denominada potência instalada. A potência
absorvida pelo motor é determinada pela seguinte equação:
Q Haman Q Hman
P= ( cv ) 0,736 ( kw ) (5.56)
75 Emb 75 Emb
< 2 CV 30%
2 a 5 cv 25%
Condução da água para irrigação 187
5 a 10 cv 20%
10 a 20 cv 15%
> 20 cv 10%
Tabela 5.15 - Consumo de energia em motores diesel e elétricos, segundo a CESP - São Paulo
Consumo do Motor
Potência do Motor
Diesel Mono e Bifásico Trifásico
HP
(litros/hora) (kilowatt-hora) (kilowatt-hora)
1 0,225 1,13 1,01
2 0,450 2,16 1,96
3 0,677 3,20 2,90
4 0,902 4,15 3,87
5 1,188 5,11 4,84
6 1,353 6,05 -
7,5 1,602 7,46 7,08
8 1,805 7,96 -
9 2,030 8,83 -
10 2,256 9,68 9,44
12,5 2,820 11,90 11,40
15 3,384 14,20 13,50
20 4,513 18,60 17,70
25 5,641 23,00 21,90
30 6,769 - 25,70
40 9,026 - 33,80
50 11,283 - 41,30
60 13,539 - 49,60
75 16,926 - 61,30
100 22,567 - 81,80
125 28,209 - 102,00
Condução da água para irrigação 189
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7094: máquinas elétricas, motores de
indução, especificação. Rio de Janeiro, 1996.
BERNARDO, S. Condução d’água para irrigação. Viçosa: Imprensa Universitária da UFV, 1979. 63 p.
BERNARDO, S. Irrigação por aspersão. Viçosa: Imprensa Universitária da UFV, 1980. 85 p.
DAUGHERTY, R.L.; FRANZINI, J.B. Fluid mechanics. 6. ed. New York: McGraw-Hill, 1965. 578 p.
FLAMMER, G.; JEPPSON, R.W. Fundamental principles and application of fluid mechanics Logan. Utah:
State University, 1974. 858 p.
HENDERSON, F.M. Open – channel flow. New York: MacMillan, 1966. 522 p.
LINSLEY, R.K.; FRANZINI, J.B. Engenharia de recursos hídricos. São Paulo: McGraw-Hill, 1978. 798 p.
RIBEIRO, M.C. Estudo sobre racionalização do uso de energia na irrigação. 2003. 142 p. Dissertação
(Mestrado em Eng. Agrícola),
NETTO, J.M.A.; VILLELA, S.M. Manual de hidráulica. 5. ed. São Paulo: Ed. Edgard Bucher, 1969. Vol. 1 e
2.
NEVES, E.T. Curso de hidráulica. 2. ed. Porto Alegre: Globo, 1968. 577 p.
STREETER, V. Mecânica dos fluidos. São Paulo: McGraw-Hill, 1974. 736 p.
Sistematização de terreno para irrigação por superfície 241
Capítulo 6
Considerações Gerais
A irrigação por superfície exige terreno sobre o qual a água possa fluir sem causar
erosão. Antes de iniciar a sistematização de um terreno, deve-se examiná-lo para ver se possui
condições de ser irrigado por este método.
Há várias condições que, provavelmente, tornam um terreno impróprio e
antieconômico para a irrigação por superfície, sendo as principais:
Solo excessivamente permeável – Solos arenosos ou solos muito ricos em matéria
orgânica são caracterizados por alta velocidade de infiltração. Em geral, os solos absorvem
água rapidamente no início da infiltração e depois mais devagar e com velocidade quase
constante. Se a velocidade de infiltração final for igual ou maior do que 4 cm/h, ou menor, em
alguns casos, pode-se dizer que esse solo é impróprio para irrigação por superfície, mas ideal
para irrigação por aspersão.
Solo raso ou pouco profundo – O solo raso talvez possa ser arado e irrigado em
condições naturais, porém não é bastante profundo para permitir uma sistematização,
principalmente quando a profundidade do “corte” exceder a profundidade do solo, causando a
exposição do subsolo. Em alguns casos, essa exposição não é problema sério, necessitando
apenas, para sua correção, de adubação (com parte em forma de matéria orgânica).
Topografia acidentada – Quanto mais acidentada for a topografia do terreno, maior
será o volume de terra a ser movimentado e mais cara ficará a sistematização do terreno. Em
geral, pode-se dizer que os trabalhos de sistematização que requerem movimentação de mais
de 1.000 m3 por hectare tornam a sistematização muito cara, sendo economicamente
imprópria em um empresa agrícola.
242 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Levantamento topográfico
Deve-se fazer um levantamento topográfico de toda a área, com piquetes distanciados
uns dos outros 20 m, nas duas direções, formando, então, quadrados de 20 m de lado (Figura
6.1). Os piquetes poderão também ser afastados uns dos outros 10 m ou 25 m, dependendo da
maior ou menor uniformidade da superfície, ou da precisão desejada. Os piquetes que
Sistematização de terreno para irrigação por superfície 243
constituem as linhas e colunas periféricas devem ficar afastados das margens da área a ser
sistematizada em uma distância igual à metade daquela a ser usada no piqueteamento,
conforme ilustrado na Figura 6.1.
10 m
20 m
10 m
20 m
Cota Leitura da
original mira 8,19 1,81
Cota Corte (C) ou 8,00 0,19C
calculada aterro (A)
Curvas de Nível
Elas devem ser construídas de maneira que possam proporcionar melhor entendimento
da topografia do terreno, permitindo divisões em subáreas com topografia semelhante, de
244 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
. .
10,00
9,40
8,20
8,50
9,70
8,80
9,10
7,90
Figura 6.3 - Divisão de um terreno em subáreas mais uniformes, para fins de sistematização.
Cálculo da Sistematização
Há vários métodos para o cálculo de sistematização de terreno. Será apresentado
somente um método básico, o método do centróide, também conhecido como método dos
quadrados mínimos ou da média do perfil.
Este método é um procedimento estatístico que relaciona um grupo de pontos, o qual
será representado por partes.
Serão considerados dois casos: área retangular (A) e área não-retangular (B); em
ambos, cada piquete representa quadrículas de mesma área.
y
Total 46,01 45,84 46,16 45,72 45,57 45,42 274,62
Média 9,20 9,16 9,23 9,14 9,09 9,08
N
Si
Ym = i =1 (6.2)
N
9,30
a
ad
c ul
c al
9,20 G
ns
Cota (H)
9,00
1 2 3 4 5
Distância (S)
Figura 6.5 - Média do perfil “norte-sul”.
9,30
declividade média
“oeste-leste”
9,20
Cotas (H)
Gwe calculada
9,10
9,00
1 2 3 4 5 6
Distância (S)
M M
S j Hc j
M
jl j1
(S j Hc j ) -
j =1 M
Gx = 2
(6.3)
M
Sj
M
2 j=1
(S j ) -
j=1 M
248 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
N S N Hl
N i i
(S Hl ) - i l i 1
i i
Gy = i =1 N (6.4)
2
N
S
N i
2 i l
(Si) -
j=1 N
em que: Gx = declividade que melhor se adapta ao terreno, da direção do eixo dos “x”;
Gy = declividade que melhor se adapta ao terreno, da direção do eixo dos “y”;
S = distância, em piquetes, da coluna ou linha ao ponto de origem “O”;
Hc = cota média de cada coluna;
Hl = cota média de cada linha;
M = número de colunas;
N = número de linhas;
(S Hc) ou (S Hl) = somatório do produto da distância, em piquetes, de cada
coluna ou linha pela cota média de cada coluna ou linha;
(S) (Hc) ou (S)(Hl) = produto do somatório das distâncias, em piquetes, das
colunas ou linhas ao ponto de origem “O” pelo
somatório das cotas médias das colunas ou linhas;
(S)2 e (S)2 = somatório dos quadrados e quadrado do somatório das distâncias, em
piquetes, de cada coluna ou linha ao ponto de origem “O”.
Calculando para os dados apresentados no terreno retangular da Figura 6.4, tem-se:
- para a direção “oeste-leste” (GWe ou Gx)
M=6
6
S
j1
j hc j 1 x 9,20 2 x 9,16 3 x 9,23 4 x 9,14 5 x 9,09 6 x 9,08 191,70
6
Sj 1 2 3 4 5 6 21
j1
6
Hc j 9,20 9,16 9,23 9,14 9,09 9,08 54,90
j1
6
S j 1 4 9 16 25 36 91
2
j1
Sistematização de terreno para irrigação por superfície 249
21 x 54,90
191,70 -
G we 6 0,0257
(21) 2
91 -
6
Nota - O sinal negativo indica declividade para leste a partir de “O”.
- para a direção “norte-sul” (Gns ou Gy)
N=5
5
S
i 1
i hl i 1 x 9,16 2 x 9,12 3 x 9,12 4 x 9,14 5 x 9,21 137,37
S
i 1
i 1 2 3 4 5 15
5
Hl i 9,16 9,12 9,12 9,14 9,21 45,75
i 1
5
2
S
i 1
i 1 4 9 16 25 55
15 45,75
137,37 -
G ns 5 0,012
(15) 2
55 -
5
Nota – O sinal positivo indica aclividade para sul a partir de “O”.
As declividades encontradas anteriormente são as diferenças de nível que deverão
existir entre dois piquetes consecutivos. Se os piquetes estiverem afastados 20 m, para
encontrar a declividade em percentagem, deve-se multiplicar o valor encontrado por 5, se a
distância entre piquetes for de 25 m, multiplica-se por 4 etc.
Nesse caso, em que os piquetes estão afastados uns dos outros 10 m, para se
conseguir a declividade em percentagem multiplica-se o valor encontrado por 10.
Assim, a declividade que melhor se adapta à área em estudo, causando o menor
movimento de terra, é de + 0,12% na direção norte e de - 0,257% na direção oeste-leste. Para
conferir o resultado com os dados de campo, pode-se plotar o plano com declividade + 0,12%
(N - S) e e - 0,257% (W - E) nas Figuras 6.5 ou 6.6, respectivamente.
O piquete de cota 8,82 está quatro piquetes ao norte e três ao leste de “O”.
(j)
0 (1) (2) (3) (4) (5) (6) x
nº piquetes 5 5 4 4 4 2/25
Produto 5 10 15 16 20 12/78
3 + 10 + 15 + 24 + 30 82
Ym = = 3,28 piquetes
3+5+5+6+6 25
ou seja, o centróide está a 3,28 piquetes, na direção y, a partir de “O”.
Determinação da cota do centróide – A cota do centróide é a soma da cota de todos
os piquetes, dividida pelo número deles.
221,46
Cota do centróide H m 8,858
25
Determinação da declividade que melhor se adapta ao terreno – Em se tratando de
área não-retangular, o procedimento é idêntico ao usado para área retangular (eqs. 6.3 e 6.4),
porém, neste caso, o método do centróide não é tão preciso como naquele.
Por exemplo, a nova cota do piquete com cota original de 9.19, em que X = 2 e Y = 3,
será:
H 9,202 ( 0,0257 x 2) ( 0,012 x 3)
H = 9,189 m
Verifica-se, em alguns casos, que a declividade calculada por este método é muito
pequena ou muito grande para o método de irrigação que se tem em mente. Neste caso, pode-
se traçar um plano que passe pelo centróide com a declividade desejada. Por exemplo: pede-se
que a declividade no sentido norte-sul seja de 0,5%. Em dez metros (distância entre piquetes),
a diferença de nível será de 0,05, que é o valor de GNS; substitui-se este valor nas equações 6.7
e 6.8 e calculam-se as cotas dos outros piquetes. Após a sistematização, ter-se-á uma
declividade no sentido norte-sul de 0,5%.
Nesses casos, ou seja, quando a declividade não for a calculada e sim imposta para
satisfazer uma necessidade, o movimento de terra será maior.
Fazendo o cálculo para todos os piquetes do problema em questão, tem-se:
Piquetes Cota original Cota calculada
a. 1 9,20 9,190
a. 2 9,17 9,164
a. 3 9,17 9,139
a. 4 9,21 9,113
a. 5 9,16 9,088
a. 6 9,07 9,062
b. 1 9,19 9,203
b. 2 9,15 9,177
b. 3 9,21 9,151
b. 4 9,18 9,126
b. 5 9,05 9,100
b. 6 8,94 9,074
c. 1 9,22 9,215
Sistematização de terreno para irrigação por superfície 253
c. 2 9,19 9,189
c. 3 9,25 9,163
c. 4 9,09 9,138
c. 5 9,01 9,112
c. 6 9,00 9,086
d. 1 9,18 9,227
d. 2 9,15 9,201
d. 3 9,25 9,175
d. 4 9,09 9,150
d. 5 9,06 9,124
d. 6 9,16 9,098
e. 1 9,22 9,239
e. 2 9,18 9,213
e. 3 9,28 9,187
e. 4 9,15 9,162
e. 5 9,19 9,136
e. 6 9,25 9,110
corte
m ( m deve var iar de 1,2 a 1,4)
aterro
Se o somatório dos cortes for igual ao dos aterros ou pouco maior, deverá ser
abaixada a cota de todos os piquetes de uma determinada quantia, que nada mais é do que
aumentar a profundidade de todos os cortes de e diminuir a profundidade dos aterros de .
O valor de pode ser determinado por tentativa, usando-se múltiplo de 5 mm, ou por meio da
equação 6.9, que permite calcular qual deverá ser a variação da cota de todos os piquetes para
encontrar a relação m desejada.
mA - C
= (6.9)
mNa + Nc
em que: = variação na cota de todos os piquetes;
( (+) abaixar, (-) subir);
m = relação desejada entre o volume de corte e o de aterro;
A = somatório dos aterros;
C = somatório dos cortes;
Na = nº de piquetes com aterro; e
Nc = nº de piquetes com corte.
Testa-se novamente a relação entre o corte/aterro para ver se atingiu a razão desejada.
Para ilustrar esse procedimento, apresenta-se a relação de corte com aterro do
problema.
Na primeira determinação, tem-se:
Corte = 0,861
Aterro = 0,745
Corte
= 1,155
Aterro
Por esta relação ser pequena, deve-se fazer o ajustamento, ou seja, abaixar a cota
calculada de cada piquete de 5 mm (0,005 m). Agora, tem-se:
Corte = 0,94
Aterro = 0,675
Corte
= 1,394
Aterro
Esta relação é satisfatória; assim, as primeiras anotações de Corte e Aterro no mapa
de Campo deverão ser modificadas, fazendo com que o plano passe 0,005 m mais baixo, ou
seja, aumentando os cortes e diminuindo os aterros em 0,005, como pode ser visto na Figura
6.8.
Sistematização de terreno para irrigação por superfície 255
9,20 0,80 9,17 0,83 9,17 0,83 9,21 0,79 9,16 0,84 9,07 0,93
(a)
9,12 0,010C 9,164 0,006C 9,139 0,031C 9,113 0,097C 9,088 0,072C 9,062 0,008C
0,015C 0,011C 0,036C 0,102C 0,077C 0,013C
9,19 0,81 9,15 0,85 9,21 0,79 9,18 0,82 9,05 0,95 8,94 1,06
(b)
9,203 0,013A 9,177 0,027A 9,151 0,059C 9,126 0,054C 9,10 0,050A 9,074 0,134A
0,008A 0,022A 0,064C 0,059 0,045A 0,129A
9,22 0,78 9,19 0,81 9,25 0,75 9,09 0,91 9,01 0,99 9,00 1,00
(c)
9,215 0,005C 9,189 0,001C 9,163 0,087C 9,138 0,049A 9,112 0,102A 9,074 0,085A
0,010C 0,006C 0,092C 0,043A 0,045A 0,080
9,18 0,82 9,15 0,85 9,25 0,75 9,09 0,91 9,06 0,94 9,16 0,84
(d)
9,227 0,047A 9,201 0,051A 9,175 0,075C 9,15 0,060A 9,121 0,064A 9,098 0,069C
0,042A 0,046A 0,080C 0,055A 0,059 0,074C
9,22 0,78 9,18 0,82 9,28 0,72 9,15 0,85 9,19 0,81 9,25 0,75
(e)
9,239 0,010A
0,019A 9,213 0,0333A 9,187 0,093C 9,162 0,012A 9,136 0,054C 9,11 0,140C
0,014
0,014 0,028A 0,098C 0,007A 0,059 0,145C
Figura 6.8 - Mapa mostrando as cotas originais e as calculadas, bem como os cortes e aterros
necessários. No quadrante de cortes e aterros há dois números: o superior,
representando os cortes e aterros que foram calculados pelo método do centróide,
e o inferior, quando todas as cotas foram abaixadas de 0,005 m, para satisfazer a
relação C/A.
Referências
BERNARDO, S. Sistematização de terreno para irrigação por superfície. Viçosa, MG: Imprensa
Universitária da UFV., 1976. 17 p. (Boletim nº 48).
GATTIS, J.L. et al. Land grading for surface irrigation. Arkansas: Agricultural Extension Service, 1959. 29
p. (bul. 491).
MARR, J.C. Grading land for surface irrigation. California: Agricultural Experimental Station. Extension
Service, 1957. 55 p. (bul. 438).
SHIH, S.F.; G.J. KRIZ. Tables and formulas for earthwork calculationin land forming. North Caroline:
Agricultural Experiment Station, 1970. 63 p. (bul. 203).
USDA. Land leveling. Washington, D.C.: SCS National Engineering Hand-book. Irrigation: chapter 12, 1961.
59 p.
WALKER, W.R.; SKOGERBOE, G.V. Theory and practice of surface irrigation. Utah State University.
1984. 467 p.
ZIMMERMAN, J.D. Irrigation. N. York: John Wiley & Sons, 1966. 516 p.
Irrigação por superfície 259
Capítulo 7
Considerações Gerais
Os métodos de irrigação podem ser divididos em pressurizados e não-pressurizados.
Nos primeiros, a água é conduzida em tubulações sob pressão até o ponto de aplicação. Estão
incluídos nessa categoria os métodos de irrigação por aspersão, em que a água é aspergida na
atmosfera, caindo em forma de chuva artificial, e os métodos de irrigação localizada, em que a
água é aplicada diretamente sobre a região radicular com baixa intensidade e alta freqüência.
Nos métodos de irrigação não-pressurizados – ou irrigação por superfície – a água é
conduzida por gravidade diretamente sobre a superfície do solo até o ponto de aplicação,
exigindo, portanto, áreas sistematizadas e com declividades de 0 a 6 %, de acordo com o tipo
de irrigação.
A escolha do método de irrigação a ser usado em cada área deve ser baseada na
viabilidade técnica, econômica e ambiental do projeto e nos seus benefícios sociais. Em geral,
os sistemas de irrigação por superfície são os de menor custo por unidade de área; os de
aspersão, de custo médio; e os de irrigação localizada, de maior custo.
Na escolha do método de irrigação a ser usado, devem-se considerar os pontos vistos a
seguir:
terreno em condições de poder praticar uma eficiente irrigação por superfície, há, em geral,
necessidade de sistematizá-lo. Quanto maior for a desuniformidade natural do terreno, maior
será o custo e maiores os problemas com a sistematização. Dependendo do seu custo e da
profundidade dos cortes a serem realizados, expondo o subsolo, não se recomenda a
sistematização. Neste caso, as únicas opções são irrigações por sulco em contorno, por
aspersão ou localizada.
Tipo do Solo
Deve-se considerar também o tipo do solo da área a ser irrigada. Solos com baixa
capacidade de retenção de água exigem irrigações leves e freqüentes, as quais são de difícil
manejo na irrigação por superfície e de fácil manejo na irrigação por aspersão e localizada.
Solos com alta capacidade de infiltração facilitam o uso de irrigação por aspersão e
localizada, por permitirem irrigações com maior intensidade de aplicação, diminuindo assim o
tempo de irrigação por posição, e dificultam o uso de irrigação por superfície, por causa das
grandes perdas por percolação, a menos que os sulcos ou faixas sejam muito curtos. No
entanto, quanto mais curtos forem os sulcos, mais caros serão os sistemas de irrigação, em
virtude do aumento de mão-de-obra necessária para aplicá-la, do maior número de canais
exigidos pelo projeto, da maior perda de terreno com canais e da maior dificuldade de
mecanização.
Quando a área a ser irrigada apresenta diferentes tipos de solo, isso não causa sérias
dificuldades para projetar sistemas de irrigação por aspersão e localizada, porém dificulta
bastante o projeto e manejo de sistemas de irrigação por superfície.
Clima
Em regiões em que a velocidade média do vento exceda a 5 m/s não é recomendada a
irrigação por aspersão, pois haverá muita perda de água por arrastamento pelo vento e
alteração do perfil de distribuição dos aspersores, causando baixa uniformidade de
distribuição. Em regiões com baixa umidade relativa do ar e alta temperatura, deve-se, sempre
que possível, evitar o uso da irrigação por aspersão, em virtude da grande perda por
evaporação, exceto em regiões onde o resfriamento da cultura também é objetivo da irrigação.
Cultura
É muito importante esclarecer que não há propriamente um método de irrigação mais
eficiente que outro, para quaisquer condições, mas sim que, para determinada condição, há
métodos que se adaptam melhor. Deve-se primeiro estudar bem as características da cultura e
da área a ser irrigada e depois escolher o método que melhor se adapte a essas características.
Geralmente, não se pode dizer também que um método de irrigação seja melhor que o
outro no que diz respeito à produção vegetal. Infelizmente, encontram-se, com muita
freqüência, técnicos dizendo que determinada cultura produz muitas vezes mais com
determinado método de irrigação que outro. O que ocorre, na realidade, é que o manejo da
irrigação com o método que produziu mais favorecia aquela combinação de cultura e solo.
Caso o método que produziu menos venha a ser usado com manejo que favoreça aquela
combinação de cultura e solo, a produção será tão boa com um método quanto com outro.
Normalmente, o que há é comparação entre dois métodos, com eles sendo manejados
diferentemente para as mesmas condições de cultura e solo em teste.
Deve-se deixar bem claro que, dependendo das condições locais de solo e da cultura a
ser irrigada, um método de irrigação pode ser de mais fácil manejo que outro. Nos métodos de
irrigação localizada e por aspersão há melhor controle da lâmina aplicada por irrigação.
Assim, para as culturas que requerem irrigações mais freqüentes ou para solos com menor
capacidade de retenção de água, em condições normais de manejo, podem-se obter melhores
resultados quando se usa irrigação por aspersão ou localizada. Por outro lado, para as
culturas que se desenvolvem bem em solos saturados, a irrigação por inundação é a de mais
fácil manejo.
262 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Manejo da Irrigação
De modo geral, os métodos de irrigação por aspersão e localizada são mais fáceis de
serem operados no campo do que os métodos por superfície, excetuando-se o de inundação.
Em virtude de a irrigação localizada e por aspersão estarem menos sujeitas à
interferência do irrigante no campo, estes métodos apresentam maior eficiência do que os de
irrigação por superfície. Na Tabela 7.1 têm-se os valores ideais e aceitáveis da eficiência de
aplicação (Ea), ou seja, da percentagem do total de água aplicada na irrigação, que é
considerada útil às culturas, para os diferentes métodos de irrigação.
Quanto ao reparo e à manutenção do sistema em condições de campo, o mais simples é
o da irrigação por superfície, e o mais complexo, o de irrigação por gotejamento.
Tabela 7.1 - Eficiência de aplicação (Ea) ideal e aceitável, para os diferentes métodos de
irrigação
265
Irrigação por superfície
Tabela 7.2 - Continuação
Sistema de Irrigação Aplicabilidade e condições de uso Observações
Culturas Topografia Solo
Sulcos comuns (retilíneos) Olerícolas, cereais, algodão, Áreas planas exigem, em Pode ser usada para a Ajusta-se bem às culturas
cana, batatinha, pomares e geral, sistematização. maioria dos tipos de solo, em fileiras e adapta-se às
uva Declividade igual a 2% ou desde que o comprimento do operações de mecanização
menor sulco seja ajustado para o
tipo de solo
Sulcos em contorno Olerícolas, cereais, algodão, Terrenos ondulados com Solos de textura fina e média Perigo de erosão por causa
cana, batatinha, pomares e declividade até 8%. Não das chuvas ou
uva exigem sistematização arrebentamento de sulco.
Exige bastante mão-de-obra
para irrigação
Corrugação Culturas pouco espaçadas, Terrenos uniformes com Solos de textura fina e média Tem-se que limitar a vazão
pastagem, alfafa e capineiras declividade até 15% por sulco para evitar erosão
Sulcos em tabuleiros Cebola, algodão, cereais e Terrenos relativamente Pode ser usado para a Idêntica ao sistema de
olerícolas planos maioria dos tipos de solo pequenos tabuleiros
retangulares, mas o plantio
é feito nas leiras, entre os
sulcos
Sulco em ziguezague Pomares e uva Terrenos sistematizados, Solos de textura fina É usado para aumentar a
com declividade até 1% infiltração por cova
266 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Irrigação por superfície 267
Irrigação por Sulco. É um método de irrigação que se adapta à maioria das culturas,
principalmente às cultivadas em fileira, como: olerícola, milho, feijão, algodão, batatinha,
trigo, pomares, uva etc.
Irrigação por Faixa. É um método de irrigação que se adapta melhor às culturas
cultivadas com pequeno espaçamento entre plantas, como: pastagens, arroz, trigo, alfafa,
capineiras etc.
Irrigação por Inundação. A irrigação pode ser permanente, quando a água é mantida
sobre a superfície do solo praticamente durante todo o ciclo da cultura. Este é um dos métodos
de irrigação mais simples e mais usados no mundo e o que melhor se adapta à cultura de
arroz. A irrigação por inundação também pode ser intermitente, semelhantemente à irrigação
por faixa, podendo ser usada em culturas como algodão, cebola, pastagens, capineiras,
pomares, feijão etc.
Posteriormente serão discutidas as características de cada um destes três métodos.
1h
1h
2h
2h
4h
8h
4h
(solo argiloso)
8h
(solo arenoso)
Figura 7.1 - Seção transversal molhada por sulco para diferentes tempos de aplicação de água.
reposição
depleção
270 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
recessão
tr
recessão
td
depleção
ti
Tempo
tox
reposição
ta
avanço
0
Xa
Distância L
r
x p ta (7.1)
em que: x - distância atingida pela frente de avanço da água, m;
t a - tempo de avanço até o ponto x, min; e
p e r - parâmetros de ajuste.
Os parâmetros de ajuste p e r podem ser obtidos por meio de regressão linear, de papel
log-log ou utilizando o método dos dois pontos. Usando os pontos correspondentes à metade
do comprimento do sulco (Lmed) e ao comprimento total do sulco (Lmax), ou seja, o método dos
dois pontos, o erro da equação na extremidade final do sulco será zero. Esse procedimento é
importante, uma vez que a menor lâmina de água infiltrada geralmente ocorre no final da área.
Logo, devem-se evitar erros na estimativa do tempo de avanço para esse ponto. Resolvendo o
sistema de equações para as duas condições, tem-se:
lnL max lnL med (7.2)
r
lnt a max lnt amed
Irrigação por superfície 271
L max
p
t a max r (7.3)
t r px r t i (7.4)
t r max t d
p
L max r (7.6)
Perda por escoamento - A perda por escoamento (Pe) é a razão entre o volume de água
perdida por escoamento no final da área e o volume total de água aplicada no sistema.
Eficiência de armazenamento - A eficiência de armazenamento (Er) é a razão entre o
volume de água útil aplicada e o volume de água útil requerida pelo sistema, ou seja, o volume
máximo de água possível de ser armazenado no sistema.
Dividindo o comprimento da área em n intervalos e utilizando a regra dos trapézios,
pode-se determinar o volume total de água infiltrada ao longo da área (equação 7.7).
L (7.7)
Vi I 0 2I1 2I 2 ...... I n
2n
em que: Vi = volume total de água infiltrado, m3;
Ii = infiltração acumulada no ponto i, m3 m-1;
L = comprimento da área, m; e
n = número de trechos ao longo da área.
Se o sulco for considerado como um único trecho, a equação 7.6 pode ser reescrita
como:
I I (7.8)
Vi 0 f L
2
em que: Io = infiltração acumulada no início da área, m3 m-1; e
If = infiltração acumulada no final da área, m3 m-1.
A infiltração acumulada em cada ponto (i) pode ser determinada, utilizando-se a
equação 1.34, fazendo to(i) = tr(i) – ta(i):
I i k t ao (i ) VIB t o ( i) (7.9)
Comprimento
Xa L
IRN
I
L
IRN
IRN
Ea
IRN X a Vd 100 (7.11)
Q0 t i
Pp
Va IRN X a
100 (7.12)
Q0 t i
Pe 100 E a Pp (7.13)
Er
IRN X a Vd 100 (7.14)
IRN L
IRN L (7.15)
Ea 100
Q0 t i
Vi IRN L (7.16)
Pp 100
Q0 ti
E r 100 (7.17)
Pela análise dos parâmetros de desempenho, verifica-se que um parâmetro isolado não
reflete o desempenho de um sistema de irrigação. Por exemplo, um sistema totalmente
deficiente (Figura 7.5), em que a infiltração acumulada ao longo de toda área é menor que a
irrigação real necessária e que a perda por escoamento é zero, terá uma eficiência de aplicação
Irrigação por superfície 275
igual a 100%, isto é, toda a água aplicada ficará retida na região explorada pelas raízes e,
conseqüentemente, será útil para a cultura. No entanto, a cultura estará sofrendo com a
deficiência de água, principalmente na extremidade final da área, onde a infiltração acumulada
será zero. O outro parâmetro que deve ser analisado para contemplar esse aspecto é a
eficiência de armazenamento, que, no exemplo citado, analisando a Figura 7.5, talvez tivesse
um valor aproximadamente igual a 40%.
Blair e Smerdon (1988) sugeriram um parâmetro de desempenho que integra a
eficiência de aplicação e a de armazenamento, o qual foi denominado eficiência déficit excesso
(Ede), definido pela equação 7.18.
Ea E r
E de (7.18)
Ea E r Ea E r
Analisando o exemplo citado anteriormente, em que Ea =1,0 e Er = 0,4, o valor de Ede
seria igual a 0,4, isto é, o parâmetro predominante seria a eficiência de armazenamento, que é
o crítico neste caso. Tomando um outro exemplo, em que Ea = 0,6 e Er = 1,0, tem-se Ede = 0,6,
novamente predominando o parâmetro crítico, que neste caso é a eficiência de aplicação.
Numa situação em que Ea = 0,8 e Er = 0,8, tem-se Ede = 0,67, que é inferior tanto a Ea quanto
a Er, indicando que a irrigação não está tão boa quanto parece, quando esses parâmetros são
analisados isoladamente. Logicamente, a Ede só é importante no caso de irrigações deficientes,
pois para irrigações excessivas Ede é igual a Ea.
Outro parâmetro de desempenho utilizado, mas menos importante que a eficiência de
aplicação, é a eficiência de distribuição (Ed), que reflete a uniformidade de infiltração ao longo
do sulco. Sob condições corretas de manejo da irrigação por sulco, ou seja, quando o tempo de
oportunidade de infiltração no final da área for suficiente para infiltrar naquela extremidade a
irrigação real necessária, o valor da eficiência de distribuição, normalmente, será maior do
que 70%, exceto nos solos muito permeáveis. Ela pode ser estimada pela seguinte equação:
Lf (7.19)
Ed = 100
(L 0 + L f )/2
Comprimento
L X
IRN
I
276 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
1 v v v y c , vVI (7.21)
So Sf
g t g x x gA
y = profundidade de escoamento, m;
S0 = declividade longitudinal média da base de escoamento, m
m-1;
Sf = declividade da linha de energia, m m-1; e
c’ = constante numérica resultante da derivação, no uso do princípio da conservação
da quantidade de movimento ou da energia, adimensional.
Modelos de Simulação
Dependendo do grau de simplificações feitas nas equações 7.20 e 7.21, há,
basicamente, quatro grandes grupos de modelos disponíveis que permitem simular o
escoamento da água sobre a superfície do solo, os quais têm sido utilizados por vários
pesquisadores. Na ordem decrescente de complexidade, são eles: hidrodinâmico, zero-inércia,
onda-cinemática e balanço volumétrico.
O modelo hidrodinâmico resolve as equações da continuidade e da quantidade de
movimento na sua forma completa, sendo exatamente por isso o mais complexo.
No modelo zero-inércia os dois primeiros termos da equação 7.21, denominados termos
de aceleração, e o último termo, denominado infiltração dinâmica, são desprezados, ficando a
equação reduzida a:
y (7.22)
So Sf
x
Balanço Volumétrico
Aplicando o princípio de conservação das massas, ou seja, o modelo do balanço
volumétrico, para qualquer instante durante a fase de avanço, observa-se que, do total de água
aplicada no início da área, parte fica armazenada sobre a superfície do solo e parte infiltra,
278 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
ficando armazenada abaixo dela, conforme mostrado na Figura 7.6. Matematicamente, isso
pode ser descrito pela equação 7.24.
Q0
a VIB t a X
Q 0 t a y A 0 X z kt a X (7.24)
1 r
em que: Q0 = vazão na entrada da área, m3min-1;
ta = tempo de avanço, min;
A0 = seção transversal na entrada da área, m2;
X = distância avançada, m;
y = fator de armazenamento superficial que varia entre 0,70 e
0,80, sendo 0,77 o mais comum para irrigação por sulcos; e
z = fator de armazenamento subsuperficial, que é dado pela equação 7.25:
a r 1 a 1
z (7.25)
1 a 1 r
O primeiro termo da equação 7.24 representa o volume de água aplicada no sulco; o
segundo, o volume de água armazenada na superfície do solo; e o terceiro e o quarto, o
volume de água infiltrada ao longo da área.
A seção transversal na entrada da área pode ser estimada pelo uso da equação de
Manning. De modo geral, a forma da seção de escoamento permite que sejam expressos a
largura da superfície líquida e o perímetro molhado em função da profundidade (equações
7.26 e 7.27).
B a1 ya2 (7.26)
P 1 y 2 (7.27)
Os valores de a1, a2, 1 e 2 podem ser estimados utilizando o método dos dois pontos e
conhecendo os valores de B e P correspondentes a ymax e ymed, de acordo com as equações a
seguir:
Bmax (7.29)
a1 a
y max 2
ln Pmax lnPmed (7.30)
2
lny max lny med
2 (7.31)
1 Pmax y max
a1
A y a 2 1 1 y 2 (7.32)
a2 1
a1
1 (7.33)
a2 1
2 a 2 1 (7.34)
280 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
yo
yi Bmax
Po
Bmed
ymax
ymed
Os coeficientes e expoentes são empíricos. Para sistemas de irrigação por faixa, 1, 2 e
1 são iguais a um e 2 é igual a zero.
Para a determinação da área da seção molhada na entrada da faixa ou sulco pode-se
utilizar a equação de Manning:
2 1
A 0 R 3 S0 2 60 (7.35)
Q0
n
em que: Q0 = vazão de entrada, m3 min-1;
A = área da seção transversal, m2;
R = raio hidráulico, m;
S0 = declividade, decimal; e
n = coeficiente de Manning.
Reescrevendo a equação 7.35 e assumindo a seguinte igualdade:
Irrigação por superfície 281
2 4
Q0 n 2 (7.36)
A0 2 R 3 1 A0 2
S 0 3600
10 2 4 2 (7.37)
2
3 2
10
1 3
1 (7.38)
4
2
1 3
1
Este método de irrigação é o que exige, em geral, mais mão-de-obra por unidade de
área. Ele demanda também experiência do irrigante, para distribuir a água do canal
secundário para os sulcos e manter o controle da vazão durante a irrigação.
Em virtude de a condução da água ser feita por meio de sulcos, não exigindo tubulações
e pressão de serviço, este método de irrigação é um dos que apresentam menor custo de
implantação e operação.
Na Figura 7.8 têm-se vistas parciais de sistemas de irrigação por sulco.
Sulcos em Contorno
Em terrenos com declividade acentuada ou superfície desuniforme, geralmente não é
possível construir sulcos com alinhamento retilíneo. Nestes casos, os sulcos podem ser
construídos com determinada declividade e na direção das curvas de nível, sendo chamados de
sulcos em contorno.
A condução da água para distribuição nos sulcos é feita por canais revestidos ou
tubulações, na direção morro abaixo. A vazão aplicada por sulco é, em geral, pequena para
minimizar o perigo de transbordamento, o que causaria séria erosão; contudo, os sulcos devem
ter grande capacidade para reter as chuvas, sem causar transbordamento.
Exigem sistemas de drenagem para coletar o excesso de água de irrigação ou de chuva;
é exigida bastante atenção do irrigante durante a irrigação, a fim de evitar possíveis
transbordamentos. As suas características técnicas podem ser assim resumidas:
Declividade: Ideal: 1%.
Aconselhável: de 0,5 a 2%.
Alinhamento: Na direção das curvas de nível.
Forma: Entalhe, com banco no lado de baixo.
Comprimento: Geralmente entre 70 e 150 m.
284 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Capacidade: Devem ser construídos com capacidade extra, para retenção de enxurrada
proveniente das chuvas.
Uso: Para plantios em curva de nível, principalmente videiras, pomares etc.
Potencialidade: Permitem irrigação de culturas em solos com declividades e desuniformidades
de superfície e impróprios para o uso de sulcos comuns.
Limitações: Não devem ser usados em regiões sujeitas a precipitações intensas.
Corrugação
É o tipo de irrigação em que a água se movimenta sobre a superfície do solo, através de
pequenos sulcos construídos na direção da maior declividade do terreno. Este tipo de irrigação
se adapta melhor a culturas que não exijam capinas e com alta densidade de plantio por
unidade de área, como pastagem, alfafa e forrageiras, de modo geral. Recentemente, tem sido
tentado seu uso em plantas cultivadas em fileiras contínuas, como arroz e trigo, com as
fileiras de plantio em curvas de nível.
Os minissulcos possuem uma seção transversal em forma de V ou U, com profundidade
em torno de 10 cm, e são espaçados entre 40 e 75 cm. Toda a superfície do solo é umedecida
lentamente pelo movimento radial da água dentro dele, o que minimiza a formação de crosta
na superfície do solo – problema comum na irrigação por inundação intermitente.
Este método de irrigação adapta-se melhor a solos de textura média, que possuem boa
capacidade de movimentação de água na horizontal. Em solos muito pesados, cujo movimento
da água na direção horizontal é muito lento, é difícil seu uso, por exigir que a água fique nos
minissulcos por muito tempo.
É um método não recomendado para solos arenosos, ou seja, com alta capacidade de
infiltração, por causa das excessivas perdas por percolação; também não deve ser usado em
solos salinos ou com água de irrigação, com grande teor de sal, porque haverá concentração
de sal na superfície do solo. Só exige uniformização do terreno, após a aração e gradagem,
com um pranchão, para retirar algumas depressões e elevações naturais. Assim, o custo da
preparação do terreno para corrugação é bem menor do que o custo da sistematização
necessária na irrigação por sulco comum.
Os minissulcos devem ser construídos na direção da maior declividade, e a sua
declividade deve ser contínua, mas não necessariamente constante. A declividade máxima a
ser usada na irrigação por corrugação dependerá da erodibilidade do solo e do tipo de cultura.
Para pastagens em solos firmes, pode-se usar declividade de até 12%.
A vazão por sulco é pequena, razão pela qual os sulcos não devem ser muito longos; se
o forem, haverá uma grande perda por percolação no início dos sulcos e uma inadequabilidade
de irrigação no seu final.
O espaçamento entre sulcos dependerá da capacidade de movimentação lateral da água
no solo. Eles podem ser mais afastados em solos de textura fina do que nos de textura grossa,
Irrigação por superfície 285
bem como em terrenos com menores declividades do que nos mais declivosos. Na Tabela 7.3
há algumas recomendações de comprimento e espaçamento, sugeridas por L. J. Booher.
Nos sistemas de irrigação por corrugação, os sulcos são geralmente construídos após o
campo ter sido semeado. Para obter máxima capacidade de condução da água por sulco, o
solo, no perímetro dos sulcos, deve ser compactado e alisado. Existem vários tipos de
implementos para construção dos sulcos, desde pequenos sulcadores até estrados de madeiras,
conforme ilustrado na Figura 7.9.
Os espaçamentos entre os caibros sulcadores dependerão do espaçamento que se deseja
dar aos sulcos. Geralmente, adiciona-se peso sobre os estrados, a fim de permitir melhor
compressão do solo, em torno dos sulcos.
A vazão aplicada aos sulcos deve ser a vazão máxima não-erosiva que eles terão
capacidade de conduzir. Em virtude de serem estas vazões geralmente pequenas, não se reduz
a vazão na irrigação por corrugação. Para determinar a vazão máxima não-erosiva por sulco,
pode-se usar a equação de Criddle. A distribuição da água por sulco é feita geralmente através
de sifões, tubos ou com enxada; neste último caso, devem-se usar bacias de distribuição.
As características técnicas da irrigação por corrugação podem ser, assim, resumidas:
Declividades: Ideal: de 1 a 2%.
Aconselhável: de 0,5 a 12%.
286 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
.. .. ..
.. ..
.. .. .. . .
.. .. ..
.. .. ..
Figura 7.9 - Estrado para construção de sulcos nos sistemas de irrigação por corrugação.
Sulcos em Nível
Trata-se de uma variação dos métodos tradicionais de irrigação por sulco. Existem dois
tipos básicos de sistemas de sulcos em nível. Um em que os sulcos são construídos dentro dos
tabuleiros ou bacias que foram usadas no cultivo tradicional de arroz por inundação. Este tipo
adapta-se muito bem a plantas cultivadas fora da época de cultivo do arroz, como trigo,
cevada, cebola, olerícolas etc. Possibilita um aproveitamento intensivo do terreno, porquanto
permite o cultivo do arroz, na época normal, por inundação, e, na entressafra de arroz, pode
ser ocupado com outros vegetais. Os sulcos são construídos dentro dos tabuleiros, com
espaçamento entre eles em torno de 1 m, dando a aparência de canteiros, dentro das bacias ou
tabuleiros, e a água circula entre os canteiros. Assim, durante a irrigação todos os sulcos
dentro do mesmo tabuleiro ficam cheios de água. Neste tipo de sistema não há perda de água
por escoamento no final dos sulcos. O outro tipo de sistema de sulco em nível consiste em
sulcos largos – sem declividade ou com declividade muito pequena – e fechados nas duas
extremidades. Coloca-se água dentro dos sulcos até enchê-los e, em seguida, dependendo da
quantidade total da água que se deseja aplicar por irrigação, corta-se ou reduz-se a vazão
aplicada, durante o tempo necessário para a irrigação. Em geral, estes sulcos são curtos e
empregados principalmente para irrigação de citros, banana, uva etc.
Irrigação por superfície 287
Sulcos em Ziguezague
São usados em terrenos com baixa capacidade de infiltração de água, ou seja, em
terrenos pesados e com declividade moderada, pois, aumentando o comprimento do sulco,
pode-se reduzir a sua declividade média e a velocidade de avanço da água no sulco. Aumenta-
se, desse modo, o tempo de oportunidade para infiltração da água no solo, bem como o
comprimento efetivo de sulco por planta. Este tipo de sulco é mais usado em irrigação de uva
e pomares.
Na Figura 7.10A é ilustrado um tipo de sulco em ziguezague, em terrenos com
moderada declividade, usado para irrigação de uva, e a Figura 7.10B ilustra outro tipo de
sulco em terreno com pouca declividade. Na Figura 7.10C encontra-se um tipo de sulco em
ziguezague usado para irrigação de árvores frutíferas.
Figura 7.10 - Esquema de sulcos em ziguezague: (A) para videira em terreno com declividade
moderada; (B) para videira em terreno com pouca declividade; (C) para
árvores frutíferas.
Os sistemas usados na construção dos sulcos em ziguezague dependerão dos
equipamentos disponíveis. Em pomares, em geral, os sulcos são construídos com máquinas no
sentido transversal e no sentido de declividade; depois disso, são bloqueados manualmente
com enxada, para direcionar o movimento da água.
Tipos Especiais
Existem disposições especiais de sulco, visando melhor adaptação às condições
particulares de solo e cultura.
288 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
(A ) (B )
Figura 7.11 - Esquema de sulcos em quadras (A) e em dentes (B) utilizados em fruticultura.
A irrigação por sulco em solos salinos ou com água salina pode trazer graves
problemas quando o manejo não for apropriado para essas condições. Os sais solúveis
movimentam-se com a frente de umedecimento e tendem a se concentrar nos pontos mais
elevados da superfície do solo. A concentração de sais na superfície inibe a germinação das
sementes e causa prejuízo às plantas sensíveis à salinidade. Para essas condições, os sulcos
devem ser construídos com os bordos pouco inclinados e formando um pequeno “dique” no
meio do canteiro, entre dois sulcos adjacentes. O sal se concentrará neste “dique”, e o plantio
deve ser feito na face lateral do sulco, próximo à água, conforme ilustrado na Figura 7.12.
Concentração
de sal
. . . .
Plantio
irri os de
r
ilia
ão
ba
gaç
sulc
aux cia
r
ilia
ba
al
can
o
dren
aux cia
r
ilia
dentes
ba
sifão
aux cia
r
ilia
comportas
ba
Figura 7.14 - Uso de sifões para distribuição da água do canal para os sulcos de irrigação.
O uso de sifões se presta muito bem para fazer irrigação com redução da vazão inicial.
Para isso, usam-se inicialmente dois ou três sifões por sulco, de modo a aplicar, de início, uma
vazão máxima não-erosiva, retirando-se um ou dois sifões, quando a frente de avanço chegar
ao final do sulco, deixando aquele que aplicará a vazão reduzida no restante do tempo de
irrigação. Podem-se também usar sifões nas bacias auxiliares de distribuição, para distribuir
água no sulcos.
Também podem ser usados, para distribuir água nos sulcos de irrigação, tubos de
comprimento curto, geralmente com 60 a 100 cm de comprimento, instalados
permanentemente na parede dos canais, sendo um tubo para cada sulco. A regulagem da
vazão nos tubos é obtida pela variação da carga hidráulica e, ou, variação do grau de
obstrução da entrada de água nos tubos.
Quando a condução de água para as parcelas de irrigação é feita por tubulações,
existem tubos portáteis janelados que distribuem a vazão por sulco (Figura 7.15). O controle
da vazão por sulco é feito por meio da regulagem das aberturas ou janelas de saída.
292 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
H
294 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
25
20
15
10
0
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5
Vazão L/s
seção, sua comporta será aberta e a irrigação será iniciada na quarta seção com vazão inicial,
passando a terceira a ser irrigada com a vazão reduzida.
O número de tubos na primeira seção dependerá da vazão total disponível no canal e da
vazão por tubo. O número de tubos da segunda seção em diante dependerá da vazão
disponível no canal, menos a vazão reduzida que está sendo aplicada na seção anterior.
Neste sistema não pode ocorrer fração de seções, havendo necessidade de ajustamento
no projeto para obter um número inteiro de seções. Também a queda entre seções deve ser
aproximadamente igual à diferença de nível, por causa da declividade da superfície do solo.
Quanto ao número de comportas, duas são suficientes: enquanto uma represa a água, a outra
fica instalada na próxima seção a ser irrigada.
posição da
comporta posição da
seção comporta
1
seção
2
seção
3
seção
nível d'água 4
tubos
Figura 7.18 - Esquema do sistema semi-automático dos tubos em canal, com declividade
uniforme.
posição da
comporta posição da
comporta
seção 1
seção 2
seção 3
nível d'água seção 4
tubos
quedas
Figura 7.19 - Esquema do sistema semi-automático dos tubos em canal, com seções em nível.
sifões de mesmo diâmetro. Quando a frente de avanço atingir o final do sulco, retiram-se dois
sifões – no primeiro caso, gasta-se menos mão-de-obra no manejo da irrigação.
Quando se deseja maior uniformidade na vazão aplicada por sulco, pode-se fixar um
gancho na parte do sifão que fica do lado do sulco e instalar um arame na parte externa do
canal, onde se prenderá o ganho do sifão, após ter sido ele escorvado.
No projeto de irrigação por sulco será demonstrado como se calcula o número de sifões.
Método de cablegação
Este método consiste em colocar uma válvula que pode ser um balde de plástico dentro
de um tubo janelado, que vai sendo empurrado pelo próprio peso da água. A velocidade de
deslocamento é controlada por um contra-peso ou um motor, ajustada de acordo com a vazão
e o tempo de irrigação desejados.
Vazão
A vazão aplicada por sulco é um dos fatores mais importantes para obter uma eficiente
irrigação. Maiores uniformidades de aplicação da água geralmente podem ser obtidas quando
298 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
se usa irrigação com redução da vazão, ou seja, aplica-se inicialmente a maior vazão que o
sulco pode conduzir – sem transbordar e sem causar erosão – e, quando a frente de avanço
atingir o final do sulco, a vazão inicial é reduzida. Na prática, para facilitar o manejo da
irrigação, recomenda-se somente uma redução da vazão, isto é, usa-se uma vazão inicial e
uma vazão reduzida. A vazão inicial deve ser a vazão máxima não-erosiva que o sulco pode
conduzir, e a vazão final deve ser a menor vazão capaz de manter todo o comprimento do
sulco com água, durante o tempo necessário para aplicar a lâmina de irrigação desejada, no
final do sulco.
A vazão máxima, permitida no início da irrigação, deve ser a que não causará erosão no
sulco. Walker e Skogerboe consideram que a velocidade de escoamento correspondente à
vazão máxima não erosiva situa-se entre 8 e 13 m/min, para solos instáveis e estáveis,
respectivamente. Gardner, estudando o efeito da vazão e da declividade na erosão, em sulcos
de irrigação, propôs a seguinte equação empírica para a determinação da vazão máxima não-
erosiva:
c (7.41)
Q max
Sa0
em que: Qmax = vazão máxima não-erosiva, em L s-1;
S0 = declividade do sulco, em percentagem; e
c e a = coeficientes em função do tipo do solo.
Na Tabela 7.4 estão indicados os valores C e a para os diferentes tipos de solo.
Em 1950, Criddle propôs os seguintes valores para os coeficientes da equação de
Gardner, C = 0,631 e a = 1, como valores únicos para os diferentes tipos de solo, os quais
representam a média da vazão máxima não-erosiva quando a declividade do sulco for igual a
0,5%.
Tabela 7.4 - Valores dos coeficientes c e a para diferentes tipos de solos, segundo S. N.
Hamad
Textura c a
Muito fina 0,892 0,937
Fina 0,988 0,550
Média 0,613 0,733
Grossa 0,644 0,704
Muito grossa 0,665 0,548
Irrigação por superfície 299
0,631 (7.42)
Q max =
S0
Esta equação superestima a vazão máxima não-erosiva para declividade menor que
0,5% e subestima a vazão não-erosiva para declividade maior que 0,5%.
Sempre que possível, deve-se usar a equação de Gardner com os coeficientes indicados
na Tabela 7.4 para o tipo de solo da área a ser irrigada.
Comprimento do sulco
Para dada condição de declividade da superfície do solo, rugosidade, irrigação real
necessária e vazão aplicada por sulco, o comprimento influencia na duração da fase de avanço
e, conseqüentemente, na eficiência de aplicação; entretanto, ele deve ser um submúltiplo do
comprimento da área a ser irrigada para que todos os sulcos do projeto sejam uniformes.
Quando não se tinham os modelos disponíveis hoje para simular a hidráulica de irrigação por
superfície, recomendava-se utilizar a vazão máxima não erosiva e utilizar o comprimento de
sulco que proporcionasse um tempo de avanço igual a um quarto do tempo de oportunidade.
Neste caso o melhor seria utilizar o comprimento de sulco que proporcione a maior eficiência
de aplicação.
Q max
L (7.43)
VIB
É preciso salientar que o comprimento deve ser o maior possível, uma vez que ele afeta a
eficiência de operação das máquinas agrícolas no campo. Por outro lado, o comprimento deve
satisfazer a equação a seguir para garantir que a água chegue ao final do sulco.
Tempo de Oportunidade
Uma vez conhecidos os parâmetros da equação de infiltração de água no solo, pode-se
determinar o tempo de oportunidade necessário para aplicar a irrigação real necessária (IRN).
Quando se trabalha com a equação de infiltração do tipo Kostiakov (equação 1.26), a
solução para to é implícita, mas quando se utiliza Kostiakov-Lews (equação 1.34), deve-se
utilizar um método numérico, como o de Newton, conforme procedimento a seguir.
a) Assume-se um valor inicial para to, to (i) = 100 min.
b) Calcula-se o tempo de oportunidade corrigido.
300 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
a
k t oi VIB t oi IRN
t oi1 = t oi - a 1
k a t oi VIB
c) Se a diferença entre to(i) e to(i+1) for menor que 0,1 min, o problema está solucionado
e to = to(i+1). Caso contrário, faça to(i) = to(i+1) e repita os passos b e c.
a VIBt a L (7.44)
Q 0 t a = 0,77A 0 L + z k t a L +
1+ r
em que z é definido na equação 7.25 e r na equação 7.1.
Irrigação por superfície 301
A equação 7.44 possui duas variáveis desconhecidas, ta e r, que são relacionadas pela
equação 7.1; portanto, deve ser resolvida numericamente usando por exemplo o método de
Newton, conforme o seguinte procedimento:
a) Assume-se um valor inicial para r entre 0,5 e 0,9, por exemplo r(i) = 0,7.
b) Calcula-se:
a 1 a r 1
z
1 + r 1 a
c) Calcula-se o tempo de avanço, ta, resolvendo a equação 7.44 pelo método de Newton-
Raphson:
i. t = 5,0 A 0 L (7.45)
a i
Q0
a VIB t a i L
Q 0 t a 0,77A 0 L z k t a i L
corr 1 r (7.47)
z a k L VIB L
Q0 1 a
t a i 1 r
iii. Se o valor absoluto da correção (corr) for desprezível, assume-se ta = ta(i+1) e prossegue-se
no item d. Caso contrário, define-se ta(i) = ta(i+1) e repetem-se os passos ii e iii. Observe-se
que, se Q0 for muito pequeno para o comprimento L, esse procedimento não convergirá,
indicando que a vazão deve ser aumentada ou o comprimento reduzido.
d) Calcula-se o tempo de avanço (tamed) para a distância X igual à metade do
comprimento do sulco (L/2) utilizando o mesmo procedimento para calcular ta no passo c. No
caso de solos em declive, substitui-se L por 0,5L, na equação 7.44, para o cálculo de tamed.
Para solos em nível, em irrigação por faixa ou inundação, deve-se substituir também A0 nas
equações 7.44 e 7.47 pela equação 7.40.
e) Calcula-se o valor revisado para r:
ln 2 (7.48)
ri 1 =
ln t a ln t amed
f) Compare r(i) com r(i+1). Se a diferença for desprezível, ta = ta(i+1). Caso contrário, faça
r(i) = r(i+1) e repita os passos de b a f.
302 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Tempo de Irrigação
Como na irrigação por sulco geralmente a duração das fases de depleção e de recessão
é desprezível, pode-se considerar que a curva de recessão é uma função constante, ou seja, o
tempo de recessão é igual ao tempo de irrigação, determinado pela seguinte equação:
ti = t 0 + t a (7.49)
Parâmetros de desempenho
Conhecendo a equação de infiltração de água no solo e a curva de avanço e sabendo
que o tempo de recessão é igual ao tempo de irrigação ao longo de todo o sulco, pode-se
determinar a infiltração acumulada ao longo do sulco e conseqüentemente o volume de água
infiltrado (equação 7.7). Utilizando as equações 7.11 a 7.14, determinam-se os parâmetros de
desempenho.
Otimização do Projeto
Há várias soluções para melhorar o desempenho de um projeto de irrigação por
superfície. Geralmente a melhor consiste de várias modificações.
Os parâmetros hidráulicos de um sistema de irrigação (vazão, tempo de aplicação de
água, comprimento do campo, tempo de avanço, infiltração, escoamento no final da área etc.)
são interdependentes, ou seja, modificando um deles, esperam-se alterações nos demais.
implicam maior perda de água por escoamento no final da área (exceto para irrigação por
inundação intermitente), entretanto proporcionam menor tempo de avanço, maior
uniformidade de aplicação de água ao longo da área e menor perda por percolação. Por outro
lado, vazões menores implicam maior tempo de avanço e conseqüentemente maior perda por
percolação.
Quando se trabalha com simulação para obtenção do tempo de avanço, podem-se
visualizar cenários aplicando diferentes vazões, identificando a que maximiza a eficiência de
irrigação.
Às vezes, a vazão total disponível para o irrigante é fixa e insuficiente para irrigação de
toda a área do projeto. Nesses casos, a construção de pequenos reservatórios pode ser viável.
A água é armazenada por horas ou dias para ser utilizada durante a irrigação.
Vazão do Projeto
Uma vez definidos o comprimento, a vazão e o tempo de aplicação de água por sulco,
pode-se determinar a vazão total necessária no projeto de irrigação.
Turno de rega e período de irrigação – Estes parâmetros são determinados conforme
abordado no capítulo 2.
Número total de sulcos – O número total de sulcos (NTS) do projeto é dependente do
comprimento total da área (Lt), da largura total da área (Wt), do comprimento do sulco (L) e
do espaçamento entre sulcos (E) e pode ser determinado por:
L t Wt (7.50)
NTS
LE
Número de sulcos por dia – O número de sulcos a serem irrigados por dia (NSD)
depende do número total de sulcos e do período de irrigação (PI) (equação 7.51).
NTS (7.51)
NSD
PI
Tempo de irrigação por parcela – Além do tempo de irrigação por sulco (ti), deve-se
considerar no cálculo do tempo de irrigação por parcela (TIP) o tempo necessário para mudar
o sistema de distribuição de água para a outra parcela (tmu), ou seja:
TIP t i t mu (7.52)
TDF (7.53)
NPD
TIP
Número de sulcos por parcela - O número de sulcos por parcela (NSP) pode ser
determinado por:
NSD (7.54)
NSP
NPD
A vazão necessária no projeto (Q) é dependente do número de sulcos irrigados por vez e
das perdas ocorridas no sistema de distribuição de água (PC), por infiltração nos canais ou
vazamento nas tubulações, conforme abordado no capítulo 4.
Q NSP Q O PC (7.55)
considerações é feita; muitas vezes, o engenheiro tem de estimar algum dado de entrada, por
não ter conhecimento do seu real valor. Por outro lado, às vezes o projeto foi bem
dimensionado, porém não está sendo bem operado no campo. Por exemplo, o irrigante pode
estar aplicando uma vazão por sulco de 1,2 l/s, enquanto a vazão de projeto é 1,0 l/s. Na
avaliação, tantos os erros de projeto quanto os de manejo e operação são detectados.
O modelo Balanço Volumétrico tem sido utilizado por muitos pesquisadores na
avaliação ou dimensionamento de irrigação por superfície. Na avaliação, os dados de avanço
de água sobre a superfície do solo medidos no campo são utilizados para simular os
parâmetros de infiltração. Já no dimensionamento parâmetros de infiltração medidos no
campo são usados para simular a curva de avanço.
Medições no Campo
Utilizando a metodologia aqui apresentada, na avaliação dos sistemas de irrigação por
superfície, é necessária uma série de medições e observações no campo, como os dados de
avanço e de recessão de água ao longo da área, as hidrógrafas de entrada e de saída de água
na área, a geometria da seção de escoamento, a declividade da área e a umidade do solo
imediatamente antes da irrigação, entre outras.
Para realização dos testes de campo devem-se escolher sulcos ou faixas representativos
da área total do projeto com relação a solo, declividade, geometria de escoamento etc. Os
testes devem ter no mínimo três repetições; esse número deve ser maior no caso de áreas
desuniformes.
Nos sistemas de irrigação por sulco deve ser utilizado como bordadura pelo menos um
sulco de cada lado do que está sendo testado. Ao longo do sulco é colocada uma fileira de
estacas eqüidistantes, dividindo-o em pelo menos seis trechos. Ao aplicar a vazão no início do
sulco, registra-se o tempo que a frente de avanço gasta para atingir cada estaca. No caso de
faixas, deve-se utilizar mais de uma fileira de estacas e trabalhar com o tempo de avanço
médio para estacas correspondentes à mesma distância. Após o corte da água no início da
área, no instante ti, começa a fase de depleção, e quando qualquer ponto ao longo do sulco ou
faixa for exposto, no instante td, começa a fase de recessão. A partir de então, deve-se
registrar o tempo de recessão em cada estaca. Deve-se observar que os tempos são
acumulativos a partir do início da irrigação, conforme mostrado na Figura 7.3. Na Tabela 7.5
é apresentado o modelo de uma planilha para registro dos dados de avaliação de irrigação por
sulco, incluindo os testes de avanço, de recessão e levantamento altimétrico.
Na determinação da declividade deve-se fazer o levantamento altimétrico da área. Para
isso, podem-se utilizar as próprias estacas do teste de avanço, determinando a leitura de mira
(LM) e a cota de cada ponto (Tabela 7.5). A declividade média corresponde à declividade da
306 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
linha que melhor representa os pontos das cotas originais em função da distância, a qual pode
ser obtida por meio de regressão linear ou graficamente.
Calhas do tipo WSC ou Cutthroat devem ser instaladas no início e no final da área,
para medição das vazões de entrada e de saída (BERNARDO, 1996; WALKER e
SKOGERBOE, 1987). Caso o sistema utilize tubos janelados na distribuição de água, pode-se
fazer a calibração das janelas, utilizando o método direto, e estimar a vazão em função da
abertura da janela e da pressão de operação. No final da área, pode-se substituir a calha pela
medição direta da vazão, porém o mais prático é o uso das calhas tanto na entrada quanto na
saída.
Tabela 7.5 - Planilha para avaliação de irrigação por sulco
Leitura no perfilômetro
Hidrógrafas de entrada e saída
304
308 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
em que:
w max
k (7.62)
z t aa max
Esse procedimento pode ser utilizado para qualquer tipo de irrigação por superfície,
desde que a declividade da área não seja zero, pois nesse caso ocorre uma divisão por zero no
cálculo da seção de escoamento no início da área.
Parâmetros de Desempenho
Uma vez conhecidos os parâmetros da equação de infiltração, da equação de avanço e
da equação de recessão, pode-se determinar a infiltração em cada ponto “x”, utilizando as
310 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
equações 1.26 ou 1.34 (capítulo 1), e obter o perfil de infiltração de água ao longo da área.
Conhecendo também a irrigação real necessária, determinam-se os parâmetros de desempenho
do sistema de irrigação, utilizando as equações 7.10 a 7.13.
t
tr
trx
tox
ta
tax
X L
Ix
IRN
I
Levantamento de Dados
Solo – O solo é franco-arenoso, com capacidade de campo (Cc) igual a 32% e ponto de
murcha (Pm) igual a 18% em peso. Foram retiradas amostras em dois pontos e duas
profundidades, imediatamente antes da irrigação, para determinação da umidade e da
densidade (Tabela 7.6).
Cultura – A área está sendo cultivada com milho com profundidade efetiva das raízes
de 40 cm, conforme observações em campo.
Irrigação por superfície 311
0,1% Canal
0,5%
Dreno
600 m
Canal
Dreno
Obs.: M1 – massa de solo úmido mais recipiente; M2 – massa de solo seco mais recipiente; M3 – massa do recipiente;
h – altura do anel; – diâmetro do anel.
L max 300
p = 19,6472 m. min r
t a max r 67 0,6483
c) Equação de recessão
lnt r max t d lnt rmed t d ln440 410 ln430 410
r = 0,585
lnLmax lnLmed ln300 ln150
I k t ao 0,98 t o0,673
Tabela 7.9 - Leitura em função da posição no perfilômetro e perímetro molhado parcial para
dois sulcos antes e após a irrigação
Sulco 1 Sulco 2
Antes Após Antes Após
Posição Leitura Perímetr Leitura Perímetr Leitura Perímetr Leitura Perímetr
o o o o
(cm) (m) (cm) (m) (cm) (m) (cm) (m)
0 3,5 3,4 5,0 3,6
2 3,0 3,1 4,5 3,2
4 3,7 3,9 5,7 2,9
6 4,5 0,022 4,6 5,9 3,0
8 5,6 0,023 5,1 0,021 6,5 0,021 3,0 0,020
10 7,1 0,025 7,2 0,029 7,7 0,023 6,4 0,039
12 8,9 0,027 8,7 0,025 9,8 0,029 8,3 0,028
14 10,6 0,026 10,3 0,026 11,1 0,024 11,2 0,035
16 11,1 0,021 11,3 0,022 13,4 0,030 12,8 0,026
18 11,3 0,020 11,6 0,020 14,2 0,022 13,1 0,020
Irrigação por superfície 315
d 2 LE ( i 1) LE ( i )
2
Pmax ii 25 i 25
4 P( i ) i 4 (7.63)
Bmax = 42,0 cm
Bmax = 44,0 cm
Bmax = 42 cm
Bmed = 24 cm
Ymax = 11,7 cm
Ymed = 5,8 cm
Bmax = 35 cm
Bmed = 23 cm
Ymax = 9,8 cm
Ymed = 4,9 cm
Figura 7.22 - Perfis dos sulcos 1 e 2 antes e após a irrigação, na seqüência de cima para
baixo.
Bmax 0,408
a1 a2
= 2,2742 m.m a 2
y max 0,1060,7655
a1 2.2742
1 = 1,2881
1 a 2 1 0,7655
2 a 2 1 0,7655 1 1,7655 m 2 .m 2
314 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
1 Pmaxymax 2 = 0,484x 0,106 0,8261 3,0906 m.m2
10 10
10
1 3 1,2881 3 2
1 4
= 4
0,2609 m 3 .m 2
1 3 12 3,0906 3 x 1,28812,6932
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0 100 200 300 400 500
Tempo (min)
Irrigação por superfície 315
Tempo Qo Qf DelVolEsc
(min) (L s-1) (L s-1) (L)
0 1,2
65 1,2 0,000
70 1,2 0,112 16,8
80 1,2 0,301 123,8
90 1,2 0,335 190,7
120 1,2 0,420 668,7
150 1,2 0,460 766,8
180 1,2 0,490 819,0
210 1,2 0,510 852,3
240 1,2 0,530 876,6
270 1,2 0,545 895,5
300 1,2 0,565 909,9
330 1,2 0,575 921,6
360 1,2 0,59 931,5
390 1,2 0,600 939,6
400 1,2 0,600 314,7
410 1,2 0,550 315,0
420 1,2 0,47 298,5
430 1,2 0,323 218,7
440 1,2 0,000 77,7
Q 0 Qf (1,2 0,60) 60
VIB 0,12 L / m / min
L 300
e4 - Área da seção molhada no início do sulco
1 1
Q 0 2 n 2 2 0,072 2 x 0,040 2 2,7095
A0 = 0,00753 m 2
So 3600 0,005x 0,2609 x3600
1
f) Perfil de infiltração
Conhecendo as equações de avanço, de recessão e de infiltração de água no solo pode-
se estimar a infiltração acumulada em qualquer ponto X ao longo de todo o sulco (Tabela 7.12
e Figura 7.24). Ressalta-se que haverá alguma diferença ao se utilizar a infiltração de água no
solo determinada pelo método de entrada-saída ou a simulada utilizando o método do balanço
volumétrico, devido às considerações pertinentes a cada método. No presente exemplo
trabalhar-se-á com a equação simulada, ou seja:
Irrigação por superfície 317
0 ,3883
I 0,00136 t o 0,00012 t o , logo, pode-se escrever:
Vi 300
0,0637 2 x 0,0645 2 x 0,0598 0,0587 18,80 m3
20
h) Parâmetros de desempenho
Como a infiltração acumulada no final do sulco (0,0587 m3.m-1) é maior que a irrigação
real necessária, tem-se uma irrigação excessiva; logo, devem-se utilizar as equações 7.15 a
7.16 e 7.13 para determinar os parâmetros de desempenho.
IRN L 0,043 x 300
Ea 100 = 100 44,8%
Q0 t i 0,072 x 400
E r 100%
500
Tempo (min)
400
300
200
100
0
Infiltr. (L/m)
-100
20
40
-200
60
-300
80
-400
0 50 100 150 200 250 300
Distância (m)
0 , 3883
0,00136 t 0(i) 0,00012 t 0(i) 0,043
t 0 ( i 1) = t 0(i) -
0,00136 x 0,3883t 00,(i)3883 1 0,00012
fazendo t0(0) = 100, pode-se resolver iterativamente para t0, obtendo os resultados
apresentados no quadro a seguir. Observa-se que na terceira iteração a correção já é
desprezível; logo, t0 é aproximadamente de 262 min.
Iteração t0(i) t0(i+1) t0(i)-to(i+1)
1 100 252,5 -152,5
2 252,5 261,9 0,66
3 261,9 261,9 0,00
b) Tempo de irrigação
t i t 0 t a = 262 67 329 min
c) Eficiência de aplicação
IRN L 0,043 x 300
Ea 100 = 100 54,7%
Q0 t i 0,072 x 329
Observa-se que essa eficiência ainda está baixa. Para aumentá-la, poder-se-ia alterar o
comprimento do sulco, conforme quadro a seguir; entretanto, isso seria inviável, uma vez que
os canais e drenos já estão construídos.
Uma técnica que pode ser utilizada para aumentar a eficiência é reduzir a vazão a um
valor correspondente à velocidade de infiltração ao longo do sulco, no instante em que o tempo
de aplicação da água atingir a metade do tempo de irrigação, ou seja, tre = ti/2, que neste caso
é igual a 165 minutos. Na Tabela 7.13 são apresentados os tempos de avanço e de infiltração,
a velocidade de infiltração instantânea e a vazão que deverá estar infiltrando em cada trecho
320 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
0 0 165 0,000143
30 2 163 0,000143 0,00430
60 6 159 0,000144 0,00431
90 10 155 0,000145 0,00432
120 16 149 0,000145 0,00433
150 23 142 0,000145 0,00435
180 30 134 0,000146 0,00438
210 39 126 0,000147 0,00441
240 47 117 0,000149 0,00444
270 57 108 0,000150 0,00448
300 67 98 0,000152 0,00452
1
2 n2 2 - 2 (7.64)
Q max Vmax
3600 S0 1
1
0,40 2 (2,70952)
Qmax 0,132,7095 0,233m3 min1 3,88 Ls1
3600x 0,005x 0,2609
Qo ta ti Ea Pp Pe Er Ede
-1
(L s ) (min) (min) (%) (%) (%) (%) (%)
3,0 28 290 24,8 2,7 72,2 100,0 24,8
2,0 38 300 36,0 4,6 59,4 100,0 36,0
1,0 91 352 61,3 14,7 24,0 100,0 61,3
0,9 113 374 64,1 18,5 17,4 100,0 64,1
0,8 152 414 65,0 24,6 10,4 100,0 65,3
0,7 239 501 61,6 36,6 2,7 100,0 61,6
Tempo de avanço
a ) Geralmente considera-se um valor inicial igual a 0,7 para r, mas neste caso, será
considerado r(i) = 0,6483, obtido na avaliação.
b) Calcula-se:
a 1 a r 1 0,3883 (1 0,3883) x 0,6483 1
z 0,78
1 + r 1 a (1 0,6483)(1 0,3883)
c) Calcula-se o tempo de avanço, ta, resolvendo a equação 7.44 pelo método de Newton-
Raphson:
322 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
ii. t
a i 1 = t a i – corr 174,4 - 43,6 130,8 min (eq. 7.46)
a VIB t a i L
Q 0 t a 0,77 A 0 L z k t a i L
corr 1 r (eq. 7.47)
a k L VIB L
Q 0 z 1 a
t a i 1 r
f) r(i+1) – r(i) = 0,5188 – 0,6483 = –0,1295, que está muito além de uma precisão
razoável, que seria 0,01, logo, faz-se r(i) = r(i+1) = 0,5189 e repetem-se os passos de b a f.
Observa-se que, após três iterações, a correção para r é de 0,006 – assim, pode-se assumir
r = 0,4852.
Tempo de irrigação
t i = t 0 + t a 262 152 414 min (eq. 7.49)
Eficiência de irrigação
IRN L 0,043 x 300
Ea = 100 65% (eq. 7.15)
Q0 t i 0,048 x 414
e s
sifõ
s ou
rta
po
com
al
can
faixas
diques
direção da declividade
e do movimento
d´água na faixa
Declividade
A declividade na direção do comprimento deve ser uniforme ou, quando possível,
decrescente no final da faixa. Nos últimos 30 a 50 m, pode ser plana, ou seja, sem declividade
para acumular a água, evitando assim o escoamento, principalmente nos solos mais
permeáveis. Contudo, em solos de textura muito fina, onde a água ficaria retida sobre a
superfície por mais de 24 horas, é necessário construir drenos no final das faixas.
A declividade no sentido longitudinal da faixa pode variar entre 0,2% e 6%, devendo,
entretanto, estar próxima da declividade que melhor se adapta à superfície do solo para
minimizar a movimentação de terra com a sistematização desta.
Na direção transversal, o ideal é não ter nenhuma declividade, porém pode-se permitir
uma pequena declividade. A diferença de nível transversal máxima permitida é,
aproximadamente, de dois quintos (2/5) da lâmina normal que se movimentará sobre a faixa.
Por exemplo, se a declividade transversal for de 0,5% e a lâmina normal de água, que se
movimentará sobre a faixa, for de 10 cm, a diferença de nível transversal máxima
recomendada será:
2
10 cm = 4 cm = 0,04 m
5
e a largura máxima da faixa será:
0,04 x 100 = 8 m
L=
0,5
Como a lâmina normal que se movimenta sobre a faixa decresce com o aumento da
declividade longitudinal, verifica-se que, para mesma declividade transversal, a largura
máxima da faixa decrescerá com o aumento da declividade longitudinal.
Para permitir melhor distribuição da lâmina da água em toda a largura da faixa, devem-
se construir dois sulcos transversais e sem declividade, no início da faixa. Para as faixas com
declividades longitudinais maiores que 3%, devem-se também construir uns três destes sulcos
transversais e sem declividade, eqüidistantes ao longo da faixa.
Comprimento
Quanto ao comprimento, as faixas devem ser o mais compridas possível, desde que se
possa irrigar eficientemente, pois, quanto mais comprida for a faixa, menor será o custo com
os sistemas de distribuição de água, bem como a quantidade de mão-de-obra necessária para a
irrigação. Semelhantemente à irrigação por sulco o comprimento é função da velocidade de
Irrigação por superfície 327
Em geral, o comprimento das faixas varia entre 50 e 400 metros. De modo semelhante
ao da irrigação por sulco, geralmente fixa-se o comprimento e determina-se a vazão que
maximiza a eficiência de aplicação.
Largura
A largura das faixas depende da declividade transversal, da declividade longitudinal, da
vazão disponível e da largura das máquinas colheitadeiras que se movimentarão sobre a faixa.
Em geral, a largura das faixas varia entre 4 e 20 metros.
Na Tabela 7.15 encontram-se guias de dimensionamento das faixas sugeridas por Marr.
Textura muito fina 0,6 a 1,5 2a3 100 a 150 5a6 150 a 400
Manejo de Irrigação
328 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
0,6 m
1,20 m
1m
Irrigação por superfície 329
0,60 m
2,5 m
0,30 m
Controle de Vazão
Como a vazão aplicada por faixa é relativamente grande, o seu controle é fundamental
para uma boa eficiência de irrigação. Como a distribuição de água no campo é normalmente
feita por meio de canais, os principais tipos de estruturas, normalmente usadas para controle
da vazão, vêm sendo: comportas retangulares, sifões de diâmetros grandes e tubos instalados
horizontalmente, através da parede dos canais (spiles). Para melhorar o controle da vazão,
recomenda-se instalar comportas ao longo dos canais secundários ou de derivação, de modo
que eleve e mantenha constante o nível da água dentro dos canais.
Deve-se evitar sempre a derivação da água, por meio de cortes com enxada, na parede
dos canais, pois isso não permite nenhum controle de vazão aplicada e provoca erosão nas
paredes dos canais.
Na Tabela 7.16 tem-se a vazão expressa em função da carga hidráulica para diferentes
diâmetros de sifões ou tubos.
Não se deve esquecer da construção dos dois sulcos transversais e sem declividade, a
fim de espalhar a água, após a derivação, para toda a largura da faixa.
330 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Tabela 7.16 - Vazão em litros por segundo, em sifões ou tubos usados para derivar água, em
irrigação por faixa, segundo Booher
Diâmetr Carga hidráulica (centímetro)
o(cm) 5 7,5 10 12,5 15 20 25
10 4,7 5,7 6,6 7,4 8,1 9,3 10,4
12,5 7,3 8,9 1,03 11,5 12,6 14,6 16,3
15 10,5 12,9 14,9 16,6 18,2 21,0 23,5
20 18,7 22,9 26,4 29,5 32,3 37,3 41,8
25 29,2 35,7 41,3 46,1 505,5 58,4 65,2
30 42,0 51,5 59,4 66,4 72,8 84,0 94,0
35 57,2 70,0 80,9 90,4 993,1 114,4 127,9
Tabela 7.17 - Determinação da curva de avanço e recessão em uma faixa cuja distância entre
estacas é de 20 metros
Como se pode verificar na Figura 7.29, a irrigação em faixa apresenta uma curva de
recessão distinta, o que é atribuído ao grande volume de água acumulado sobre a faixa,
quando se suspende a vazão aplicada. Quanto mais paralela for a curva de recessão,
relativamente à curva de avanço, mais uniforme será a aplicação de água ao longo da faixa.
Essas duas curvas dão uma boa indicação da eficiência de irrigação do sistema, pois, de
acordo com a lâmina que se deseja aplicar por irrigação, determina-se, por meio da curva de
infiltração acumulada, o tempo de oportunidade para infiltração e, com ele, traça-se uma
curva paralela à curva de avanço (curva pontilhada, na Figura 7.30), denominada curva de
irrigação, destacando-se com estas três curvas o tempo útil de infiltração, o tempo de
percolação e o tempo de escoamento.
350
300
Tempo em minutos
250
200
150
100
50
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220
Comprimento da faixa em metros
C.R.
C.I.
C.R. C.I.
C.R.
T C.I. T T
C.A.
C .A. C .A.
L L L
Normal Muito longa Muito curta
C.I. C.R.
C.R. C.I.
T C.I. T T
C.R.
C.A.
C.A. C.A.
L L L
Muito longa Muito curta Vazão muito grande
C.R.
C.R. C.R. = C.I.
T T C.I. T
C.I.
C.A.
C.A. C.A.
L L L
Vazão muito pequena Vazão muito grande Ideal
Figura 7.30 - Curvas de avanço (C.A.), irrigação (C.I.) e recessão (C.R.) em irrigação por faixa.
y0 L (7.65)
t d ti
2Q 0
0, 20725
0,095 n 0,47565 S y L0,6829 (7.66)
tr td 0, 237825
VIM 0,52435 S0
em que:
yf (7.67)
Sy
L
Irrigação por superfície 333
3
Q 2 n 2 10 1 (7.68)
Sy f L
3600 S0
Q f = Q 0 - VIM L (7.69)
VIM
2
a k a -1
a 1
t d t d t a + VIB (7.70)
sendo VIM a velocidade de infiltração média ao longo da faixa no instante td, ou seja, no final
da fase de depleção.
Uma vez determinados os tempos de recessão e depleção, considera-se que a curva de
recessão seja uma reta passando por td e tr.
Conhecendo as curvas de avanço e de recessão, medidas no campo ou simuladas,
juntamente com a equação de infiltração de água no solo, pode-se determinar o perfil de
infiltração e, conseqüentemente, os parâmetros de desempenho, utilizando-se as equações 7.11
a 7.14.
b) Selecione a vazão por unidade de largura no início da faixa, Q0 (m3.min-1.m-1). Essa vazão
deve estar próxima da vazão máxima não-erosiva. Hart et al. (1980) sugeriram a equação
7.71 para o cálculo da vazão não-erosiva de solos com culturas que não cobrem toda a
superfície e um valor duas vezes maior para solos com culturas que cobrem toda a
superfície. A equação 7.64 também pode ser utilizada para estimar a vazão máxima não-
erosiva.
Q max 0,0105 9 S0
-0,75 (7.71)
Q min 0,000357 L S0 n -1
0,5 (7.72)
ii. VIM 0,5 a k t a 1 t t
d i d i a
a 1
+ VIB (7.74)
0,6
iii. Sy = Q 0 VIM L n L-1 = y L-1 (7.75)
0, 5 f
60S 0
0, 2072
iv. t 0,095 n 0,47565 S y L0 ,6829 (7.76)
d i 1 = t r - 0, 2378
VIM 0,5243 S 0
Irrigação por superfície 335
Se t d i t d i 1 , td = td(i+1).
o) A largura da faixa (WO) e o número de faixas por parcela (NFP) têm a seguinte relação:
APP (7.81)
WO
NFP L
A largura da faixa deve ser um submúltiplo da largura da área para que todas as faixas
tenham a mesma largura. Além disso, a largura da faixa depende da declividade transversal,
como abordado anteriormente.
p) Conhecendo o período de irrigação, pode-se determinar o número total de faixas (NTF),
pela seguinte equação:
Q t NFP WO Q O (7.83)
c) Comprimento da faixa
Irrigação por superfície 337
Q max 0,55
L 5000 m (eq. 7.43)
VIB 0,00011
Logo, pode-se trabalhar com o comprimento de 400 m, que é o comprimento da área.
O procedimento de dimensionamento consiste em criar cenários com diferentes vazões
de entrada, simulando os respectivos tempos de irrigação e parâmetros de desempenho. Nesse
caso, partiu-se de uma vazão de 5,0 L/s/m, que foi decrescida até 1,5 L/s/m, conforme Tabela
7.18.
A seguir será apresentada a solução para a vazão de entrada de 2,1 L s-1.
d) Determine a profundidade na entrada da faixa:
0,3 0 ,3
Q 2 n2 0,1262 x 0,04 2
y0 0 0,0284 m (eq. 7.73)
3600 S
0 3600 x 0,001
Esse valor não excede a altura dos diques comumente utilizados.
f) Utilizando o mesmo procedimento para irrigação por sulco, tem-se ta = 197 min e
r = 0,672;
g) Calcule o tempo de recessão para aplicar a irrigação real necessária (IRN) no final da
faixa.
338 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
i. t t 392 min
d ( i) r
ii.
VIM 0,5 x 0,45 x 0,0034 392 0 ,45 1 392 197
0, 45 1
+ 0,0001 0,0001707
0,6
iii. Sy = 0,126 0,000170 x 4000,040 400 -1 = 0,00004457
0, 5
60 x 0,001
0,47565
iv. t 0,095 x 0,04 x 0,00004457 0,2072 x 400 0,6829
d i 1 = 392 - 316,5 min
0,0001707 0,5243 x 0,0010, 2378
ii. VIM 0,5 x 0,45 x 0,0034 316,50,451 316,5 197 0,451 + 0,0001 0,0001873
0,6
iii. Sy = 0,126 0,0001873x 4000,040 400 -1 = 0,00004143
60x 0,0010 ,5
A diferença entre td(i+1) e td(i) ainda é grande, logo, faz-se td (i) = td(i+1) = 321,2 min e
repete-se os passos de ii a v.
ii. VIM 0,5 x 0,45 x 0,0034 321,2 0, 451 321,2 1970, 451 + 0,0001 0,0001859
0,6
iii. Sy = 0,126 0,0001859 x 4000,040 400-1 = 0,00004170
60x 0,0010 ,5
Irrigação por superfície 339
Como a diferença entre td(i+1) e td(i) é de somente 0,4 min, pode-se assumir
td= td(i+1) = 321 min.
a
I 0 k t d VIB t d 0,0034 x 3210,45 0,0001x 321 0,078 m 3 / m
I f k ( t r t a ) a VIB ( t r - t a )
y0 L 0,0284 x 400
ti td 321 276 min
2 Q0 2 x 0,126
L
Vi I 0 2I1 ...... I n 400 400 (0,0777 2 x 0,0778 ...... 0,056) 28,13 m3
2n 210
TDF 12
NPD 2,4 2 parcelas/d ia
TIP 5
p) Como toda a área deve ser irrigada em um dia (PI = 1 dia), a área por parcela é dada por:
Wt L t 400 x 400
APP 80.000 m 2
NPD PI 2 x1
q) A largura da faixa (Wo) e o número de faixas por parcela (NFP) têm a seguinte relação:
Irrigação por superfície 341
A largura da faixa deve ser um submúltiplo da largura da área; logo, pode-se trabalhar
com 1 faixa de 200 de largura, 2 de 100 etc. Neste caso, optou-se por trabalhar com 4 de
50 m, para garantir uma boa distribuição de água na superfície do solo.
Como este valor é maior que a vazão disponível para o projeto (400 L s-1 a cada sete
dias), pode-se sugerir limitar a área irrigada, ou ajustar a vazão de entrada. Neste caso, pode-
se diminuir a vazão de 2,1 para 2,0 L s-1 sem afetar significativamente a eficiência de
aplicação. Portanto, os novos parâmetros serão: QO = 2,0 L s-1, Ea = 64,4%, Pp = 18,3% e
Pe = 17,3%.
t) Vazão por faixa = 50 x 2 = 100 L s-1
Este método de irrigação é muitas vezes associado ao de irrigação por sulco, sendo, no
período do cultivo do arroz, usado como irrigação por inundação e, no período de entressafra
do arroz, como irrigação por sulco em nível, dentro dos tabuleiros, no cultivo de trigo,
forrageiras, feijão, olerícolas etc.
Henderson sugere a seguinte relação entre vazão disponível (Q), em m3/h, área dos
tabuleiros (A), em m2, e velocidade de infiltração básica do solo (VIB), em mm/h.
Q
A = 100
VIB
Exemplo:
Qual deve ser a área de cada tabuleiro, quando se dispõe de uma vazão de 90 m3/h em
um solo, cuja velocidade de infiltração básica é 2 mm/h.
90
A = 100 = 4.500 m2 ou 0,45 ha
2
Tabuleiros Retangulares
São constituídos de áreas planas, limitadas por diques retilíneos, formando tabuleiros
retangulares. Em geral, exigem terrenos sistematizados, com pequena declividade. Terrenos com
declividade natural inferior a 2% não exigem muita movimentação de terra durante a
sistematização, mas naqueles com declividade acima de 2% os tamanhos dos tabuleiros tornam-se
muito pequenos, havendo exigência de muita movimentação de terra na sistematização.
Por exemplo, se a lâmina média a ser mantida na irrigação por inundação for de 15 cm,
pode-se permitir uma variação na elevação entre a parte mais baixa e a mais elevada, nas duas
direções, de 10 cm (2/3 x 15). Se o terreno, após sistematizado, ficar com uma declividade de
Irrigação por superfície 347
0,25% em uma direção e 0,05% em outra, o tabuleiro poderá ter as dimensões de 20 por 100
m, sendo 20 m na direção da declividade de 0,25% e 100 m na direção da declividade de
0,05%.
O manejo da água na irrigação dos tabuleiros retangulares pode ser com derivação de
água e drenagem individual por tabuleiro, no caso de terrenos planos ou com pouca
declividade; com inundação contínua ou intermitente, como ilustrado na Figura 7.37; ou com
circulação de água, passando de uma tabuleiro para outro, em terrenos com maior declividade,
e somente para inundação contínua (Figura 7.38). No primeiro caso, geralmente os tabuleiros
são maiores do que no segundo.
canal principal
(0,80 ha)
(0,75 ha) (0,75 ha) (0,75 ha)
(0,80 ha)
(0,75 ha) (0,75 ha) (0,75 ha)
A
A D
(0,80 ha) D
D D C
(0,75 ha) C (0,75 ha) (0,75 ha)
T R
(0,80 ha)
(0,75 ha) (0,75 ha) (0,75 ha)
E S
(0,75 ha) (0,80 ha)
(0,75 ha) (0,75 ha)
dreno principal
canal
dreno
348 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Tabuleiros em Contorno
São formados por um sistema de diques em curvas de nível e diques retilíneos, em
direção transversal às curvas de nível (Figura 7.39).
Em geral, os tabuleiros em curva de nível são maiores do que os retangulares e exigem
menor movimentação de terra na sistematização do terreno, pois ela apenas elimina algumas
saliências e depressões mais pronunciadas.
Há basicamente dois tipos de tabuleiros em contorno. No primeiro, os diques em
contorno são paralelos entre si. Para a construção deste tipo de tabuleiro, o terreno tem de ser
bem sistematizado, mas as operações de cultivo e colheita mecanizadas serão mais facilitadas
(Figura 7.39). No outro tipo, cada dique segue exatamente uma curva de nível; neste caso, a
largura varia ao longo do tabuleiro, em função da declividade do terreno, em cada ponto
(Figura 7.40). Ele não exige propriamente uma sistematização, e sim simplesmente a
passagem de um pranchão destorroador, para tornar a superfície do solo mais uniforme. É
muito usado em regiões planas, como é o caso das áreas tradicionais de cultivo de arroz, no
Sul do Brasil. Em tais regiões, em virtude da pouca declividade do terreno, eles são bastante
largos, não dificultando muito o uso do cultivo mecanizado, pois a largura dos tabuleiros, ou
seja, a distância entre os diques adjacentes, dependerá da declividade do terreno, observando-
se que a diferença em elevação, dentro de cada tabuleiro, não deve exceder a 2/3 da altura da
lâmina média que se deseja manter no tabuleiro.
Uma variante da irrigação por inundação, com tabuleiros em contorno, é a inundação
por transbordamento de canais em contorno. Neste caso, em lugar dos diques, são construídos
canais em contorno, dos quais a água transbordará (Figura 7.41).
Irrigação por superfície 349
Planta baixa
Corte transversal
Figura 7.40 - Vista parcial de um sistema de irrigação, com diques em curva de nível.
350 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Tabela 7.21 - Vazão em litros por segundo, de sifões ou tubos usados para derivar água, em
irrigação por faixa, segundo Booher
Carga hidráulica (cm)
Diâmetro (cm)
5 7,5 10 12,5 15 20 25
10,0 4,7 5,7 6,6 7,4 8,1 9,3 10,4
12,5 7,3 8,9 10,3 11,5 12,6 14,6 16,3
15 10,5 12,9 14,9 16,6 18,2 21 23,5
20 18,7 22,9 26,4 29,5 32,3 37,3 41,8
25 29,2 35,7 41,3 46,1 50,5 58,4 65,2
30 42 31,5 39,4 66,4 72,8 84,0 94,0
35 57,2 70 80,9 90,4 99,1 114,4 127,9
Q 0 60
A 0 3 S0 2
= 60
y y
0
3
0
2
60
y0
2,167
(7.85)
2 2 1
1 n X n X 0 ,5
P3n 3 2
0,23
Q 2 n2 X
y0 0 (7.86)
3600
em que QO é a vazão na entrada da área, em m3 min-1 m-1.
A segunda suposição é de que, quando a vazão na entrada é cortada, a superfície
líquida é horizontal e a lâmina de água na superfície do solo infiltra verticalmente. Isso
significa que a lâmina infiltrada ao longo da bacia é igual à infiltrada durante a fase de avanço
mais a lâmina aplicada na bacia após a fase de avanço. A infiltração acumulada no início da
área (Io) pode ser estimada por:
a
I o k t a + Vib t a + 0,80 y o + Q 0 t i - t a L-1 (7.87)
d) Determine o tempo de irrigação (ti) utilizando a equação 7.88. Se ti < ta, faça ti = ta.
e) Calcule a eficiência de aplicação (equação 7.15).
f) Repita os passos b) a e) até obter a máxima eficiência de aplicação.
g) A largura do tabuleiro e a vazão total necessária no projeto é determinada utilizando o
mesmo procedimento para irrigação por faixa.
A seguir serão apresentados os cálculos, passo a passo, para a vazão de 5,0 L s-1.
3 86 71 72,5 27,5 0
2 138 103 67,9 32,1 0
a) Tempo de avanço
Determine o tempo de avanço ta, conforme descrito no item Irrigação por Sulco,
lembrando que Ao deve ser calculado utilizando a equação 7.73.
b) Tempo de irrigação
Utilizando a equação 7.88, tem-se:
IRN L 0,8y 0 L 0,056 x 200 0,8 0,067 x 200
ti + ta 47 49 min
Q0 0,3
c) Eficiência de aplicação
A eficiência de aplicação (equação 7.15) será de:
g) Largura do tabuleiro
A relação entre o número de tabuleiros por parcela (NTP) e a largura do tabuleiro é
dada por:
logo, podem-se irrigar dois tabuleiros de 50 m de largura por vez, ou seja, NTP = 2
h) Número total de tabuleiros (NTT)
NTT NTP NPD PI 2 x 8 x 1 16 tabuleiros
i) Vazão necessária
Q = Wo NTP Qo = 50 x 2 x 5 = 500 l.s-1
Portanto, seriam necessários 500 L s-1 para que toda a área fosse irrigada em um dia.
Como só há disponibilidade de 400 L s-1, seriam necessários 1,5 dias para irrigar toda a área;
como o irrigante só tem água um dia por semana, é preciso armazenar parte da água para
irrigar o restante da área ou alterar a vazão de entrada.
Solo:
Z = 50 cm K0 = 7,0 mm dia-1
Irrigação:
Irrigação por superfície 357
f = 0,5
b) Vazão de enchimento:
A
Q e 0,116 Z L m ET TR K 0 TR
TR
20
Q e 0,116 0,50 x 500 1507,2 x 77,0 x 7 = 165,5 L s -1
7
c) Vazão de manutenção:
32,9 L s 1
Qm 1,65 L s 1 ha 1
20 ha
Qm (7.92)
Ec 100
Qd
muito mais sério em regiões áridas. Nas regiões úmidas podem-se aproveitar as chuvas para
lavar o perfil do solo e renovar a água do lençol freático. Isso pode ser feito abrindo as
comportas na época das chuvas, o que provocará uma lavagem do solo e renovação da água
do lençol freático, sem provocar demanda de água das plantas.
Existem, na prática, dois métodos de subirrigação: subirrigação com lençol freático
estável e subirrigação com lençol freático variável.
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MERRIAN, J.L.; KELLER, J.; ALFARO, J. Irrigation system evaluation and improvement. Logan, Utah:
Utah State University, 1973. 164 p.
Irrigação por superfície 361
Capítulo 8
Considerações Gerais
Componentes de Um Sistema de
Aspersão
Aspersores
Os aspersores são as peças principais do sistema de irrigação por aspersão. Operam
sob pressão e lançam o jato de água no ar, o qual é fracionado em gotas, caindo sobre o
terreno em forma de chuva.
Aspersores rotativos, aspersores estacionários, bocais e tubos perfurados são usados
em sistemas de irrigação por aspersão. Na maioria dos sistemas de irrigação, utilizam-se
aspersores rotativos (Figura 8.1).
Mola de controle Cabeçote
Braço oscilante
Deflector
Corpo
Irrigação por aspersão 363
Quanto ao tipo de rotação, existem os aspersores com rotação causada pelo impacto
do braço oscilante, o qual é ativado pela ação do jato de água que sai do aspersor sobre o
deflector deste braço, provocando impactos pequenos e periódicos, e há aqueles com rotação
que ocorre devido à reação pela saída do jato. O primeiro tipo é o mais comum e o mais usado
na irrigação por aspersão das diversas culturas, o segundo apresenta, normalmente, maior
velocidade de rotação, menor diâmetro molhado e é usado principalmente na irrigação de
jardins.
destes sistemas são instalados utilizando-se a diferença de nível entre a fonte de água e a área
a ser irrigada (por gravidade).
Acessórios
Os sistemas de irrigação por aspersão, por conduzirem água sob pressão em
tubulações, requerem diversos tipos de acessório. Os mais comuns são: registro, curvas (30,
45, 60 e 90º), niple, tampão, tê, redução, cruzeta, cotovelo, manômetro, braçadeira, válvula
de derivação, válvula de retenção, válvula de pé, pé de suporte, tubo de subida e tripé. Alguns
destes acessórios estão representados na Figura 8.6.
Tubulações
A água da motobomba é conduzida até os aspersores por meio das tubulações de
diversos tipos de material, como: ferro fundido, aço, cimento amianto, concreto, aço zincado,
alumínio, PVC rígido e polietileno. Os tubos, em geral, têm um comprimento-padrão de 6 m,
exceto os de alumínio, que são de 10 m, cujos pesos, pressão de serviço e espessura da parede
variam de acordo com o material de que são constituídos.
Figura 8.6 - Acessórios usados nos sistemas de irrigação por aspersão convencional.
tubulações mais leves, como aço zincado, alumínio e PVC rígido, com engate rápido
(Figura 8.7).
O dimensionamento das linhas laterais e principais será discutido em itens específicos.
Motobomba
O conjunto motobomba é um componente fundamental no sistema de irrigação por
aspersão. A motobomba pode ser do tipo centrífuga, de eixo horizontal, ou do tipo turbina de
poços profundos, sendo o primeiro o mais usado. Porém, em regiões onde se usa água
subterrânea para irrigação, o tipo turbina de poços profundos é o mais utilizado.
Os principais tipos de motores usados são os elétricos, a diesel e a gasolina; contudo,
com a crise de energia poderá aumentar o uso de motores movidos a outros tipos de
combustível, como álcool.
Será discutido, em item específico, o dimensionamento das motobombas.
370 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Sistemas de Aspersão
Os diversos sistemas de irrigação por aspersão serão classificados segundo a
tubulação usada, o modo de instalação no campo, os tipos de conexões ou engates entre tubos,
a movimentação das linhas laterais no campo e o manejo da irrigação.
Podem-se dividir os sistemas de irrigação por aspersão em dois grandes grupos:
sistemas móveis e sistemas fixos.
Os sistemas de irrigação por aspersão móveis são constituídos, pelo menos em parte,
de tubulações portáteis, instaladas sobre a superfície do terreno, permitindo que a mesma
linha lateral seja movimentada em diversas posições sobre a área do projeto, dependendo do
número de dias necessários para se irrigar toda a área e do tempo para se aplicar a lâmina de
água desejada. Tais sistemas podem ser de movimentação manual ou mecânica.
Nos sistemas portáteis manuais, esta vantagem de mobilidade, com o tempo, vai
sendo reduzida pelas dificuldades de mão-de-obra para a movimentação das linhas laterais
que, paulatinamente, crescem.
Os sistemas de aspersão fixos são constituídos de tubulações suficientes para irrigar
toda a área do projeto, sem mudanças das tubulações. Estes sistemas podem ser fixo-portáteis,
cujas tubulações são instaladas sobre a superfície do solo e permanecem no campo somente
Irrigação por aspersão 371
Fonte de água
Motobomba
Já irrigado
Figura 8.9 - Esquema de um sistema de irrigação por aspersão portátil.
quando se trabalha com tarifa reduzida, proporcionando uma redução no custo de operação de até
75%, dependendo da concessionária e da região do país onde está localizado o projeto.
Já irrigado
Válvula de
Fonte de água tomada de
linha
Motobomba
Já irrigado
Área
irrigada
Fonte de água
Linha secundária
x x x x x x x x x x x x
Mangueira
x x x x x x x x x x x x
x x x x x x x x x x x x
x x x x x x x x x x x x Posição do
aspersor
x x x x x x x x x x x x
x x x x x x x x x x x x
x x x x x x x x x x x x
x x x x x x x x x x x x
7 7 8 8 9 9 10 10 11 11 12 12
x x x x x x x x x x x x
1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6
Linha principal
Fonte de água
Motobomba
Linha principal
Já irrigada
Há dois tipos de sistema de aspersão sobre rodas: um em que a linha lateral é o eixo das
rodas, geralmente usado para irrigar culturas de pequeno porte, e o outro em que a linha lateral é
instalada em plano superior ao topo destas, suportada por torres ou armações em formato de A,
apoiadas nas rodas. Suas grandes vantagens são economia de mão-de-obra e alta uniformidade de
aplicação.
Principais vantagens:
a) Economia de mão-de-obra.
d) Após completar uma irrigação, o sistema estará no ponto inicial para começar uma
outra.
Linha lateral
sobre rodas
Equipamento
X
de propulsão
Área
irrigada
Linha principal
Motobomba
Fonte de água
Figura 8.15 - Esquema de um sistema de aspersão sobre rodas, com deslocamento lateral.
Figura 8.16 - Vista de uma área irrigada com sistema de aspersão sobre rodas, com deslocamento
lateral e canal no centro da área.
Irrigação por aspersão 379
Figura 8.18 - Vista parcial de uma área com vários sistemas de pivô central.
Principais desvantagens:
a) É difícil mudá-lo de área, para poder aumentar a área irrigada, por unidade de
equipamento, quando o modelo é fixo.
b) Perde 20% da área, aproximadamente (com um raio de 400 m, irriga 50 a 54 ha de
cada 64 ha).
c) Tem alta intensidade de aplicação, na extremidade do pivô, geralmente variando
entre 40 e 140 mm/h para os pivôs com aspersores ou spray, e valores maiores do que esta
faixa para pivôs com aplicação localizada.
380 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Fonte de água
Pivô central
Tubulação de
aspersão
Torres
Fonte de água
Mangueira
flexível
Irrigado
Linha principal
L in h a s
m o n ta d a s
F on te de águ a
M o to b o m b a
Irrigação por aspersão 383
Aspersores em
funcionamento
Linha lateral
Linhas de derivação
Pontos de aspersão
Linha
principal
Linha de recalque
Malhas
M B
Captação
Linha de sucção
Topografia
O custo da irrigação por aspersão e a realizada por superfície aumenta com o
incremento da declividade e desuniformidade da superfície do solo; porém, este aumento de
custo é menor na por aspersão. Sendo assim, a irrigação por aspersão é mais propícia para
terrenos com maior declividade do que a por superfície.
Solo
A intensidade de aplicação de água na irrigação por aspersão deve ser tal que toda ela se
infiltre no solo, não havendo, assim, escoamento sobre a superfície. Como a capacidade de
infiltração dos solos depende basicamente de sua textura e estrutura, aqueles com textura grossa ou
com agregados possuem maior capacidade de infiltração. A irrigação por aspersão adapta-se melhor
a solos com textura média e grossa, pois nestes pode-se irrigar com maior intensidade de aplicação,
permitindo, assim, menor tempo por posição das linhas laterais, para uma determinada lâmina a ser
aplicada por irrigação, resultando em menor número de linhas laterais e, em conseqüência, num
menor custo do sistema.
Em solos com textura fina, em virtude da sua baixa capacidade de infiltração, a intensidade
de irrigação por aspersão teria que ser muito pequena, o que nem sempre é possível. A intensidade
de aplicação dos sistemas de irrigação por aspersão é maior que 4 mm h-1, o que pode limitar seu
uso em alguns solos.
Irrigação por aspersão 387
Suprimento de Água
A irrigação por aspersão adapta-se melhor do que a realizada por superfície, para vazões
pequenas e contínuas. No caso de grandes vazões, mas intermitentes, a irrigação por superfície
adapta-se melhor; porém, para vazões médias e grandes, contínuas, qualquer método ajusta-se bem.
Disponibilidade de Mão-de-Obra
De modo geral, os métodos de irrigação por superfície requerem mais mão-de-obra do que
os por aspersão e localizada. Estes métodos também estão mais sujeitos à interferência do irrigante,
afetando, assim, em maior intensidade, a eficiência de irrigação do sistema, em condições de campo.
Clima
A intensidade do vento, a umidade relativa e a temperatura do ar são os principais
fatores que afetam a perda de água por evaporação na irrigação por aspersão. Em regiões
sujeitas a ventos com velocidade acima de 5 m/s, a perda por evaporação e arrastamento pode
chegar a 20% ou mais.
388 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
1
1
3
2
1
A
A - Duas linhas
linhas laterais
laterais B -- Três
Três linhas
linhaslaterais
laterais
7 5
3
8 6
2
1
4
2
1
CC--Quatro
Quatro linhas laterais
laterais DD- -Oito
Oitolinhas
linhas laterais,
laterais,
duas
duassecundárias
secundárias e uma
principal
principal
1
1
2
EE--Duas
Duas linhas
linhas laterais
laterais com
com FF -- Motobomba
Motobomba ee linhalinha
1/2linha
½ linhaprincipal
principalportátil
portátil lateral
lateralportátil
portátilaoaolongo
longodo
docanal
canalouourio
rio
2
115
2
110 110
105
105
1
100
1
100
A
A - Declividade suaveee
Declividade suave BB- -Declividade
Declividade suave
suave e uniforme
uniforme
uniforme, compoço
uniforme, com poço
100
97
93
86
94
88 91
79
85
CC - Pressão
- Pressão porpor causa
causa da DD--Lateral
Lateral morro
morro abaixo
abaixo para
paraevitar
evitar
da gravidade
gravidade grande variação
grande variação de
de pressão
pressão
100
100
97
97
94
91 94 91
88
82
85
EE- Duas
- Duaslinhas
linhasprincipais parapara
principais evitar F -FDuas
- Duaslinhas principais
linhas parapara
principais evitar
evitarlinha lateral
linha morro
lateral morroacima
acima linha
evitar lateral
linha morro
lateral acima
morro acima
Figura 8.27 - Esquemas de sistemas portáteis, em áreas com problemas de topografia (USDA).
392 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
30 20 10 0 20 30
Pressão muito baixa
30 20 10 0 20 30
Pressão satisfatória
30 20 10 0 20 30
Pressão muito alta
Figura 8.28 - Variação na distribuição de água do aspersor, em virtude da pressão.
Superposição
o o o
Aspersores
Figura 8.29 - Perfil de distribuição resultante da superposição.
O efeito do vento pode ser minimizado pelo decréscimo do espaçamento entre aspersores,
ao longo das linhas laterais, entre as linhas laterais. Na Figura 8.30 é mostrado o efeito do vento
sobre o perfil de distribuição dos aspersores.
Para minimizar o efeito do vento, deve-se:
– Diminuir o espaçamento entre aspersores, para maior uniformidade de distribuição e
intensidade de aplicação. Em regiões sujeitas a vento, o que se pode fazer é usar aspersores de
menor capacidade, os quais requerem, normalmente, menores espaçamentos.
– Colocar as linhas laterais perpendiculares à direção predominante dos ventos.
394 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
– Escolher aspersores com menor intensidade de aplicação, pois isto demanda maior tempo
de funcionamento por posição, para aplicar determinada lâmina de água, e, quanto maior for o
tempo de funcionamento por posição, melhor será a uniformidade de distribuição de água.
A Tabela 8.2 contém algumas recomendações gerais ao espaçamento entre os aspersores, de acordo
com o diâmetro de cobertura e da velocidade do vento.
Figura 8.31 - Disposição dos pluviômetros em torno de um aspersor instalado no centro da área.
A área em torno do aspersor é dividida em subáreas quadradas. Os coletores de
precipitação são colocados no centro de cada subárea. Assim, o volume ou a lâmina coletada em
396 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
cada pluviômetro representa a precipitação em cada subárea. O número mínimo de coletores a ser
instalado por teste geralmente varia com o raio de alcance do aspersor e com o espaçamento dos
coletores.
Ao realizar o teste de uniformidade, deve-se tomar nota de todas as características do
aspersor, como marca, diâmetro de bocais e condições de operação: altura de elevação, pressão de
operação, vazão, duração e hora de feitura do teste e velocidade e direção do vento. Quando o teste é
feito com a linha lateral diretamente no campo, geralmente tomam-se também os dados da cultura e
do solo para uma avaliação completa do sistema. Os coletores devem ser colocados em torno do
aspersor que represente a pressão de operação média. Para linhas em nível, esse aspersor geralmente
está localizado a uma distância de 40% do comprimento total a partir do início da linha.
O tempo ideal para cada teste deve ser igual ou maior do que a metade do tempo que o
sistema funcionará por posição, durante as irrigações normais.
O resultado deste teste representa o desempenho de um aspersor; porém, na irrigação no
campo, sempre existe superposição de vários aspersores sobre a mesma área. Para determinar a
uniformidade de distribuição do sistema, tem-se que considerar qual é o tipo de arranjo dos
aspersores no campo (retangular, quadrado, triangular) e simular as diversas combinações de
espaçamento entre aspersores, ao longo da linha lateral e entre linhas laterais; fazer a superposição,
para cada combinação de espaçamento, das precipitações sobre a área entre quatro aspersores,
considerando todos os aspersores periféricos que podem atingir a área; e calcular a uniformidade
com os totais superpostos em cada pluviômetro.
Pode-se também determinar a uniformidade em sistemas de irrigação já instalados no
campo. Neste caso, colocam-se os pluviômetros entre quatro aspersores de duas linhas laterais.
Existem diferentes coeficientes para expressar a uniformidade de aplicação de um sistema
de irrigação por aspersão, sendo o coeficiente de Christiansen, proposto por J.E. Christiansen, a
coeficiente de uniformidade de distribuição recomendado pelo serviço de Conservação do Solo dos
Estados Unidos e o coeficiente estático de uniformidade, proposto por Wilcox e Swailes, os três
mais usados.
– Coeficiente de uniformidade de Christiansen (CUC)
iN1 L i L m
CUC 1 100
NLm
(8.1)
em que: CUC - coeficiente de uniformidade, %;
N - número de coletores;
Li - lâmina coletada no ponto "i", mm; e
Lm - lâmina média de todas as observações, mm.
Considerando que os dados de precipitação seguem uma distribuição normal, o CUC pode
ser estimado utilizando-se a seguinte expressão
Irrigação por aspersão 397
lm
CUC 100
Lm (8.2)
em que lm é a média de 50% das precipitações com menores valores, ou seja, média da menor
mediana.
– Coeficiente de uniformidade de distribuição (CUD)
lq
CUD 100
Lm
(8.3)
em que lq é a média de 25% das observações com menores valores, ou seja, média do menor
quartil.
– Coeficiente estatístico de uniformidade (CUE)
n 2
( Li - L m )
i 1
S
CUE 100 1,0 - = 100 1 - = 100 - CV
( n - 1) L2m Lm (8.4)
0 4 30 31 55 71 66 68 64 48 31 24 7 0
0 6 31 30 54 62 65 63 60 49 31 24 11 0
0 2 27 28 47 55 62 63 57 44 24 30 8 0
0 0 21 28 32 46 52 53 44 32 26 26 0 0
0 0 5 23 26 28 32 33 28 26 26 7 0 0
0 0 0 8 22 21 26 26 28 23 6 0 0 0
0 0 0 0 3 8 16 15 12 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
CUC 100 (
L i - Lm
) = 100 (1 -
384
) 88,67 %
n Lm 36 x 94,1
69 91 79 85 86 76
86 111 86 89 106 96
66 97 108 111 99 93
87 106 79 89 103 89
1212
CUC 100 1 64,4%
80 x 42,5
20,75
CUD 100 48,8%
42,54
63 60 49 31 30 42 30 54 62 65
63 57 44 24 32 35 28 47 55 62
52 44 32 26 21 28 32 46 52 54
54 55 40 30 7 5 23 40 49 58
47 55 50 23 5 0 29 51 48 59
48 61 30 26 15 15 29 36 56 77
74 57 45 27 24 32 30 48 60 75
68 64 48 31 28 37 31 55 71 66
Verifica-se, pelos resultados, que não se deve usar, para o aspersor em teste, o espaçamento de 24 x
30 m. Ter-se-ia que testar também os espaçamentos 18 x 24 m e 24 x 24 m.
A vazão de um aspersor é função da raiz quadrada da sua pressão de operação e o
coeficiente de uniformidade do sistema de irrigação varia com a vazão média dos dois menores
quartis (Pm), enquanto a uniformidade de distribuição varia com a vazão média do menor quartil
(Pq). Portanto, o coeficiente de uniformidade e a uniformidade de distribuição de um sistema de
irrigação podem ser assim estimados:
Tabela 8.6 - Dados da avaliação da irrigação por aspersão em nível de parcela em Petrolina,
PE (VARGAS, 1989)
Local CODEVASF Parcela: 457-A Data: 22/04/89
Cultura Cebola Prof. raízes: 30 cm Fator (f): 0,3
Solo Textura arenosa CC: 9,98% (em peso) Pm: 3,13% (em peso)
d = 1,66 Umidade atual = 7,81% (em peso)
Aspersor Marca: Modelo: Haste: 1,0 m
Bocais: 3,2 x 2,5 mm (3,1 x 2,5 mm)* Rot.:2,47 rpm
Espaçamento: 12 m Pressão: 332 kPa Vazão: 0,31 L/s
Lateral Comp.: 100 m Espaçamento: 12 m Declividade: 0%
Teste Início: 10h15 Término: 11h15 Duração: 1 h
Irrigação Duração: ti = 2h TR: 2 dias
Vento Veloc.: 1,52 m/s Direção: SE
Coletores Diâmetro: 101,5 mm Espaçamento: 3,0m
Evaporação Vol. inicial: 100 mL Vol. final: 99,5 mL Perdas: 5,0 mL
*Diâmetro dos bocais originais.
0 0 0 0
0 0 2 0
58 60 64 48
70 84 112 120
50 64 68 48
8 10 10 10
402 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Eficiência de Irrigação
A eficiência de um sistema de irrigação, definida como a relação entre a quantidade de água
armazenada no sistema radicular e a quantidade total derivada da fonte, é um dos parâmetros mais
utilizados para avaliar o seu desempenho. Na realidade, a eficiência de um sistema deve levar em
conta todas as perdas possíveis, que no sistema de irrigação são: perda por percolação, perda por
evaporação e arrastamento pelo vento e perda por vazamento no sistema de condução de água.
cultura. Na Figura 8.32, a área entre a reta correspondente à lâmina relativa igual a 1,00 e as
curvas referentes às lâminas aplicadas corresponde à perda por percolação. Observa-se claramente
que a perda é maior no sistema com coeficiente de uniformidade igual a 70% do que no de 86%.
Portanto, a eficiência de distribuição é um parâmetro que reflete a perda por percolação e é
utilizada como parte da eficiência de irrigação do sistema.
Área (%)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
0,0
0,5
Lâmina relativa
1,0
1,18
1,45
1,5
CUC = 70%
2,0
CUC = 86%
IRN
2,5
Figura 8.32 - Lâmina relativa aplicada de acordo com a percentagem de área irrigada para
sistemas de irrigação com coeficientes de uniformidade de 70 e de 86%.
Analisando a Tabela 8.7, verifica-se que a eficiência de distribuição para 80% da área
adequadamente irrigada é aproximadamente igual ao coeficiente de uniformidade. Portanto,
quando o coeficiente de uniformidade for utilizado como eficiência de distribuição, 80% da
área será irrigada adequadamente. Sabendo que CUD = 1.59 CUC – 59, para CUC = 80%
CUD = 68,2%, que é igual ao ED90% (Tabela 8.7). Logo, se se utilizar UD como eficiência
de distribuição, 90% da área será irrigada adequadamente.
Lmc S1 S2
EAp
qa ti 36 (8.7)
Keller (1984) apresentou uma metodologia (Figura 8.33) para determinar a eficiência de
aplicação de água em potencial em virtude da evapotranspiração da cultura de referência, da
velocidade do vento e do índice de pulverização do jato do aspersor (CI), definido pela equação 8.9.
CI = 0,032 Pa1,3 DB-1 (8.9)
CI 7 17 CI
EAp EAm EApp
10 10 (8.10)
em que EApp e EAmp são as eficiências de aplicação em potencial para os jatos pouco e
muito pulverizados, respectivamente, obtidas da Figura 8.33.
A expressão 8.11 pode ser utilizada para estimar EAp analiticamente, quando 7 CI 17 . Se CI
< 7 faça CI = 7, e se CI > 17 faça CI = 17.
a. Uniformidade de aplicação
Como o teste foi realizado somente com uma linha lateral em operação, devem-se
sobrepor os dados para simular o espaçamento entre laterais de 12 m (Figura 8.34). Observe-
se que um mesmo coletor pode receber água correspondente a duas linhas laterais. Os dados
sobrepostos em milímetros, em função da percentagem da área irrigada, são apresentados na
Tabela 8.9 em ordem decrescente.
A4 A5 A6
9 ,7
CUD 0,708 71 %
13,7
Área (%)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
0
3
6
Lâmina
(mm)
9
12
15
18
Figura 8.35 - Lâmina coletada (Lc), lâmina média coletada (Lmc) e irrigação real necessária
em função da área irrigada entre quatro aspersores numa situação real.
c. Eficiência de aplicação
13,2 x 12 x 12
EAp 100 88%
0,31 x 7200
Admitindo que houve 1% de perdas por vazamento (Ec = 0,99), tem-se:
EAm 0,83 x 0,88 0,73 73%
EAq 0,71 x 0,88 0,62 62%
Levantamento de Dados
A primeira etapa no dimensionamento de um projeto de irrigação por aspersão consiste no
levantamento dos dados de campo, incluindo:
mapa planialtimétrico com as fronteiras do projeto e possíveis obstáculos;
qualidade e quantidade de água disponível e tipo de fornecimento;
valores de temperatura, de umidade relativa, de precipitação, dentre outros, que
serão utilizados para estimar a evapotranspiração e a precipitação efetiva (maiores
detalhes no Capítulo 2);
umidades correspondentes à capacidade de campo e ponto de murcha, e massa
específica do solo para o cálculo da disponibilidade de água;
profundidade efetiva do sistema radicular, duração dos estádios fenológicos e fator
de disponibilidade da cultura;
disponibilidade de mão-de-obra; e
disponibilidade de energia.
Todos esses dados devem ser levantados com bastante critério, uma vez que são a base para o bom
desempenho do projeto. Às vezes, são necessários alguns dados tabelados como fator de
disponibilidade, profundidade efetiva das raízes etc. Quando isso acontecer, o projetista deve avaliar
o projeto, após a implantação, para corrigir possíveis erros.
Irrigação Necessária
A irrigação necessária para fins de projeto vai depender da capacidade de retenção de água no solo,
da cultura e das condições climáticas, conforme abordado nos Capítulos 1 e 2, cujas equações serão
aqui repetidas por conveniência.
a) Disponibilidade total de água no solo
Cc Pm
DTA da
10 (8.14)
Somente parte do total de água disponível pode ser utilizada pela cultura, para que a sua
produtividade não seja afetada, conforme equação 8.15.
DRA = DTA f (8.15)
Ressalta-se que, para as condições de Brasil, na maioria das regiões a precipitação natural é
suficiente para proporcionar a lixiviação de sais, logo RL é igual a zero.
100 IRN
ITN
EAq (1 RL) (8.18)
100 IRN
ITN
EAm (1 RL) (8.19)
em que RL é a razão de lixiviação, em decimal, definida pela equação 8.20, e EAq e EAm são
as eficiências de aplicação do menor quartil e da menor mediana, respectivamente.
CEi
RL
CEd (8.20)
em que CEe é a condutividade hidráulica do extrato do solo saturado na zona radicular para uma
dada redução na produtividade da cultura, conforme Tabela 3.5.
Muitas vezes o projetista prefere não utilizar toda a capacidade real de água no solo devido às
características do tipo de irrigação empregado. Nesse caso, a irrigação real necessária é determinada
por:
IRN ET Pe
em que ET é a evapotranspiração potencial da cultura para efeito de projeto ou Etc para efeito de
manejo de irrigação.
Em condições de irrigação adequada, quando a razão de lixiviação é menor que 0,10, a própria
perda por percolação que ocorre naturalmente no sistema propicia a lixiviação, durante o ano bem
como as chuvas que ocorrem; e as equações 8.22 e 8.23 tornam-se:
100 IRN
ITN
EAq (8.22)
Irrigação por aspersão 413
100 IRN
ITN
EAm (8.23)
A equação 8.22 é utilizada quando a cultura tiver alto valor comercial (frutas, hortaliças etc.); e a
equação 8.23 é empregada quando a cultura for de baixo valor comercial (grãos de modo geral). Na
determinação de Eq e Em, necessita-se dos dados de diâmetro de bocal e pressão de operação do
aspersor que ainda não foi selecionado. Portanto, admite-se um valor inicial para a eficiência de
80%, por exemplo, o qual deve ser corrigido após a seleção do aspersor.
Evapotranspiração
A evapotranspiração potencial da cultura (ETpc) é função da evapotranspiração da
cultura de referência e do coeficiente de cultivo e deve ser determinada para os diferentes
estádios de desenvolvimento da cultura, conforme abordado no Capítulo 2. O ideal é que o
coeficiente de cultivo e a duração dos estádios fossem determinados por região. Entretanto,
para muitas regiões isso ainda não foi feito, e o projetista tem que adotar determinado
coeficiente. Na Tabela 8.10 são apresentados os coeficientes de cultura e a duração dos
estádios de desenvolvimento para algumas culturas (FAO, Boletim 33). A evapotranspiração
de referência pode ser determinada utilizando-se um dos métodos abordados no Capítulo 2, de
acordo com a disponibilidade de dados climáticos.
Tabela 8.10 - Coeficiente de cultivo e duração dos estádios de desenvolvimento para algumas
culturas (FAO, 1979)
Cultura Estádios
I II III IV
Algodão 0,40-0,50* 0,70-0,80 1,05-1,25 0,80-0,90
414 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Vazão do Sistema
A vazão do sistema pode ser determinada utilizando-se a equação 8.25a ou 8.25b.
A ITN Pe
Qs 2,78 (8.25a)
Ec PI TDF
( ET Pe ) A TR
Qs 2,78 (8.25b)
Ec EA PI TDF
Intensidade de Aplicação
É função da irrigação total necessária e do tempo efetivo de irrigação por posição
(equação 8.26). O tempo efetivo de irrigação mais o tempo necessário à mudança da linha
lateral para uma nova posição são denominados tempo de irrigação por posição, que deve ser
um submúltiplo do tempo diário de funcionamento do projeto ou jornada de trabalho. Esse
tempo deve ser o maior possível para maximizar o uso do equipamento e, conseqüentemente,
minimizar o custo do sistema por unidade de área irrigada. O ideal seria que o sistema
funcionasse 24 horas por dia. Entretanto, isso não é prático para alguns sistemas, devido à
dificuldade de mudança de posição durante a noite. O tempo de funcionamento também deve
estar de acordo com as normas de fornecimento de energia elétrica da concessionária. Em
determinadas regiões, os sistemas de irrigação não podem operar durante o horário de pico.
ITN
Ia (8.26)
ti
em que: Ia - intensidade de aplicação, mm h-1; e
ti - tempo de irrigação, h.
414 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
A intensidade de aplicação não deve ser maior que a velocidade de infiltração básica
do solo, para evitar problemas de escoamento superficial.
Escolha do Aspersor
Esta e as próximas quatro etapas são realizadas somente em sistemas de irrigação
convencional. Se o sistema selecionado for autopropelido, rolão ou pivô central, o próprio
fabricante é responsável pelo dimensionamento.
Conhecendo a intensidade de aplicação a ser utilizada no projeto, pode-se selecionar
o aspersor, por meio dos catálogos dos fabricantes que, geralmente, trazem os dados de
vazão, espaçamento, diâmetro dos bocais, pressão de operação e intensidade de aplicação. O
ideal seria que também constasse do catálogo o coeficiente de uniformidade do aspersor em
condições normais de operação.
A intensidade de aplicação do aspersor pode ser modificada para satisfazer o projeto,
modificando-se a vazão.
Ia S1 S2
qa (8.27)
3600
em que: qa = vazão do aspersor correspondente a Ia, l s-1;
S1 = espaçamento entre aspersores, m; e
S2 = espaçamento entre linhas laterais, m.
qa K Pa 0,5 (8.28)
2
qa
Pa Pac (8.29)
qac
em que: Pa - pressão de operação do aspersor correspondente a qa, kPa;
qac - vazão do aspersor obtida do catálogo, m3 h-1 ; e
Pac - pressão de operação do aspersor obtida do catálogo, kPa.
Irrigação por aspersão 415
MB
Figura 8.36 - Esquema de um sistema de aspersão convencional com quatro linhas laterais
trabalhando de forma rotativa.
416 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Q ev
hf ' J ' L K ed L (8.34)
D
A perda de carga real (hf) é função da perda de carga fictícia ao longo da linha
lateral e de um parâmetro denominado fator de Christiansen (primeiro pesquisador a estudar
o problema), ou simplesmente fator de redução de perda de carga (F) (equação 8.35).
hf F hf ' (8.35)
O fator de redução de perda de carga depende do expoente da vazão ou da
velocidade (ev) na equação de perda de carga, do número de aspersores na linha lateral e da
distância do início da linha ao primeiro aspersor (. As equações 8.36 e 8.37 podem ser
utilizadas para determinar o valor de F para as distâncias do primeiro aspersor até o início da
linha lateral igual ao espaçamento entre aspersores (S1) e a metade do espaçamento entre
aspersores (S1/2), respectivamente. Na Tabela 8.11 são apresentados os valores do fator
de redução de perda de carga, determinado experimentalmente, em função do número de
saídas e da posição do primeiro aspersor.
418 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
1 1 (ev 1) 0,5
F (8.36)
ev 1 2 N 6 N2
2 N 1 (ev 1) 0,5
F (8.37)
2 N 1 ev 1 6N2
Revendo a equação de Hazen-Williams, em função do diâmetro, tem-se:
1,85 0, 205
Q L
D 10,641
C hf F 1 (8.38)
lateral, cujo limite máximo é 23,5% da pressão de serviço do aspersor; usar o diâmetro
comercial superior, que causará aumento no custo do sistema; ou empregar parte da linha
lateral com o diâmetro superior e parte com o diâmetro inferior.
O cálculo da linha lateral com dois diâmetros é laborioso, devendo ser feito
numericamente ou por tentativa, o que será apresentado a seguir:
a) admite-se um comprimento L1 para o trecho com diâmetro maior (D1) e um
comprimento L2 para o trecho com diâmetro menor (D2) (L = L1 + L2);
b) determina-se a perda de carga real (hf3) que ocorreria caso toda a linha lateral
fosse de maior diâmetro;
c) determina-se a perda de carga no trecho L2 (hf4), caso ele tivesse o diâmetro D1;
d) determina-se a perda de carga no trecho L2 (hf5) com o diâmetro D2;
e) determina-se a perda de carga ao longo da linha lateral com dois diâmetros (hfd),
utilizando a equação 8.42; e
f) se a perda de carga na linha lateral com dois diâmetros for menor que a perda de
carga permitida, reduz-se L1 e aumenta-se L2 ou vice-versa se for maior e repetem-se os
passos b a f até que hfd seja aproximadamente igual a hf.
hfd hf 3 hf 4 hf 5 (8.42)
Denículi et al. (1992) apresentaram uma equação que permite dimensionar uma linha
lateral com dois diâmetros, de maneira bastante simples e rápida.
São estas as equações:
1
ed ev 1
D1 1
D
L 2 ed L (8.43)
D
1 1
D 2
L1 L L 2 (8.44)
início da linha. Logo, a pressão no início pode ser determinada utilizando-se as equações
8.45 e 8.46 para linhas com um e dois diâmetros, respectivamente.
Pin Ps 0,75hf 0,5 DN Ha (8.45)
Pin Ps 0,63hfd 0,5 DN Ha (8.46)
em que: Ha = altura do aspersor, isto é, o comprimento do tubo de elevação, que deve ser
aproximadamente 0,20 m maior que a altura da cultura a ser irrigada; e,
DN – diferença de nível ao longo da linha lateral.
A pressão mínima ocorrerá no final da linha lateral quando esta estiver em nível ou
em aclive. Entretanto, quando a linha lateral estiver em declive, a pressão mínima ocorrerá
quando a perda de carga unitária (J) for igual à declividade da superfície do solo (S0), num
ponto intermediário a x metros do início da linha (equação 8.47).
1,85
Q 1
J 10,641 x S0 (8.47)
C D 4,87
em que Qx é a vazão da linha lateral no ponto X, obtida por:
X
Q x Q qa (8.48)
S1
Substituindo a equação 8.48 na 8.47 e resolvendo para X, tem-se:
S1
X
qa
Q 0,2785 C S0 0 ,54 D 2 ,63 (8.49)
irrigação, para determinar o valor máximo de pressão e vazão requeridas, bem como a
variação da vazão ao longo da linha principal.
com a mudança destas para novas posições, as linhas da direita vão subindo e as da esquerda
descendo, encontrando-se nos pontos B e D (linhas descontínuas), definindo quatro trechos:
AB, BC, CD e DE, que conduzirão as vazões máximas de quatro, três, duas e uma linhas
laterais, respectivamente.
Existem basicamente três métodos para se dimensionar a linha principal: o da análise
econômica, o do limite de velocidade e o do limite de perda de carga. Aqui serão abordados
somente os dois primeiros.
264 m
A
MB
F
B
1056 m
792 m
C D
792 m
Com a vida útil da tubulação de 10 anos, com juros de 10% ao ano, o fator de
recuperação de capital anual (FRC) será igual a 0,1628.
Horas de trabalho do sistema: 1.500 h/ano e 10h/dia.
Eficiência da motobomba = 60%.
Custo da energia, 0,05 unidades de capital, por CV-hora.
Coeficiente de Hazen-Williams para a tubulação, C = 120.
Para as condições acima, têm-se:
a linha principal será MB-A-B-C-D;
duas linhas secundárias, A-F e C-E;
10 linhas laterais de 264 m;
11 aspersores por linha lateral;
uma vazão de aproximadamente 17 l/s por lateral;
a vazão total do sistema será de 170 l/s;
a vazão a ser conduzida nos segmentos será: 34 l/s em C - D, C - E e A - F; e
102 l/s em B - C; 136 l/s em A - B e 170 l/s em MB - A.
Com estes dados, o custo da energia será:
1500 0,05
Custo do CV/ano = = 125,00 UC/CV-ano
75
A potência a ser fornecida pela bomba, para compensar a perda de carga, pode ser
calculada pela seguinte equação:
Q H 170 hf
CV = ,
75 75
em que hf é a perda de carga em cada diâmetro.
O custo anual da perda de carga será igual a:
170 x hf x 125,00
75
Tabela 8.12 - Custo fixo anual por metro de tubulação, para vários diâmetros (período de dez
anos e juros de 10% - FRC = 0,1628)
Diâmetro (mm) Custo/metro Custo fixo anual/metro
100 5,00 0,81
125 7,00 1,14
150 13,00 2,12
200 25,00 4,07
250 38,00 6,19
300 48,00 7,81
350 54,00 8,79
Analisando a Tabela 8.14, verifica-se que as duas combinações mais econômicas são:
a) MB-A = 350 mm, A-B = 350 mm; B-C = 350 mm e C-D = 200 mm.
b) MB-A = 350 mm, A-B = 350 mm; B-C = 300 mm e C-D = 200 mm.
Estas combinações são as mesmas encontradas pelo método das tentativas. Nota-se,
porém, a grande simplicidade deste método em relação ao das tentativas.
Método de Keller
É um método direto, muito mais versátil, e, uma vez determinado seu gráfico, poderá
ser usado para a seleção do diâmetro econômico para qualquer vazão, como ilustrado na
Tabela 8.15 e nas Figuras 8.39.
430 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Verifica-se, pela Tabela 8.15, que vazões acima de 93,3 L/s devem ser conduzidas
em diâmetros de 350 mm; as de 71,7 a 93,3 L/s, em diâmetro de 300 mm; as de 43,1 a 71,7
L/s, em diâmetro de 250 mm; as de 18,1 a 43,1 L/s, em diâmetro de 200 mm; e, finalmente,
aquelas entre 8,8 e 18,1 L/s, em tubulações de 150 mm.
Para o problema, os diâmetros econômicos são:
MB-A (vazão de 170 L/s) = 350 mm
A-B (vazão de 136 L/s) = 350 mm
B-C (vazão de 102 L/s) = 350 mm
C-D (vazão de 34 L/s) = 200 mm
Este resultado é idêntico aos dos dois outros métodos.
Diâmetros (mm)
Parâmetros
125 150 200 250 300 350
1.000
125 150 200 250 350
300
Vazão na motobomba (L/s)
100
1,85
10
1
1 10 100 1.000
Figura 8.39 - Seleção econômica das tubulações de sistemas de irrigação por aspersão, para
diversas vazões.
V2
hfl K 1 (8.56)
2g
em que: g - aceleração da gravidade, m s-2; e
Kl - coeficiente de perda de carga localizada, adimensional.
O coeficiente de perda de carga localizada é função do diâmetro e da peça especial,
podendo ser encontrado em livros de hidráulica básica. Para válvulas de linha ou de
derivação K1 e este coeficiente é de aproximadamente oito.
Conjunto motobomba
As bombas centrífugas são as mais utilizadas nos sistemas de irrigação, conforme
discutido de forma mais abrangente no Capítulo 5. Com a vazão e a altura manométrica do
sistema pode-se selecionar aquela que ofereça maior rendimento, usando o catálogo do
fabricante. Geralmente, o catálogo traz a potência necessária no eixo da bomba ou potência a
ser fornecida pelo motor (Pm). Entretanto, esta pode ser determinada pela equação 8.57.
Qs Hm
Pm (8.57)
75 Eb
Tabela 8.16 - Consumo médio de energia, em motores a diesel e elétricos, por CV-hora
produzido
90 m
MB 312 m
558 m
Tabela 8.17 - Percentagem de insolação diária do total anual, temperatura média mensal e
evapotranspiração de referência
Evapotranspiração
Como o único dado climatológico disponível é a temperatura média mensal, será
utilizado o método de Blaney-Criddle, modificado pela FAO (equação 4.1), admitindo-se
velocidade do vento média, brilho solar alto e umidade relativa mínima média, devido à área
estar localizada numa região semi-árida.
ETo Cr P 0,457 T 8,13 (8.61)
-1
ETo = evapotranspiração de referência média, mm dia ;
Cr = fator de correção, adimensional;
P = percentagem diária do total anual de insolação (capítulo 2), %; e
T = temperatura média mensal, oC.
Tabela 8.18 - Fator de correção para a equação de Blaney-Criddle, modificada pela FAO
Brilho solar Velocidade do vento Umidade relativa mínima (%)
(n/N) (m s-1) >20% 20 – 50% >50%
Baixo 0-2 0,92 0,82 0,64
(0,45) 2-5 1,06 0,91 0,72
5-8 1,16 0,98 0,77
Médio 0-2 1,02 0,91 0,75
(0,70) 2-5 1,19 1,06 0,83
5-8 1,35 1,12 0,88
Alto 0-2 1,14 1,02 0,83
(0,90) 2-5 1,23 1,12 0,91
5-8 1,49 1,24 0,97
Tabela 8.19 - Evapotranspiração potencial da cultura para os períodos de cultivo com plantio
em maio e agosto
Irrigação necessária
Como a cultura não tem alto valor comercial, será utilizada a eficiência da menor
mediana, admitindo-se um valor inicial de 80%.
Na Tabela 1.3, para o grupo de cultura 3, do feijão, e para a ETpc máxima de 6,96
mm dia -1, tem-se f = 0,42.
Cc Pm 38 18
DTA d 1,17 2,34 mm cm 1
10 10
CRA DRA Z 1 x 35 35 mm
IRN CRA 35 mm
IRN 35
ITN 100 100 44 mm
EAm 80
Intensidade de aplicação
Como não se pode operar o sistema de irrigação das 17 às 21 horas, restam apenas
20 horas de operação por dia. Para maximizar o tempo de operação, a linha lateral deverá
irrigar duas posições, de 10 horas cada uma delas. Portanto, serão admitidas nove horas de
funcionamento efetivo mais uma para mudança da linha lateral para uma nova posição.
Logo:
ITN 44
Ia 4,9 mm h -1
Ti 9
Portanto, a intensidade de aplicação é menor que a velocidade de infiltração básica
do solo.
438 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Escolha do aspersor
Observa-se, pelos catálogos, que existem aspersores de diferentes fabricantes com
precipitação igual ou próxima de 4,9 mm h-1. Selecionando determinado fabricante,
encontrou-se um aspersor com as seguintes características:
diâmetro dos bocais = 3,6 X 2,6 mm;
pressão de serviço (Pac) = 2,0 atm;
vazão (qac) = 1,07 m3 h-1;
espaçamento (S1 x S2) = 12 x 18 m;
precipitação = 5 mm h-1; e
CUC (coeficiente de uniformidade): 79,5%.
Observa-se que a precipitação do aspersor é maior que a intensidade de aplicação
desejada. Para que esse aspersor trabalhe com Ia = 4,9 mm h-1, a sua vazão e pressão de
operação devem ser as seguintes (equações 8.28 e 8.29):
Ia S1 S2 4,9 x 12 x 18
qa 1,06 m 3 h -1
1000 1000
2 2
qa 1,06
Pa Pac x 2 1,96 atm
qac 1,07
Eficiência
Se o projeto tiver boa manutenção, ou seja as perdas por vazamento são em torno de
1%, a Ec = 0,99 e o índice de pulverização será:
Pa 1,3 1961,3
CI 0,032 0,032 8,49
B 3,6
Como 7 < 8,49 < 17, deve-se utilizar a equação 8.9 para estimar EAp. Pela
Figura 9.3, tem-se EApp = 0,97 e EApm = 0,92, logo:
8,49 - 7 17 - 8,49
EAP ( ) 0,97 ( ) 0,92 0,93
10 10
Irrigação por aspersão 439
47,3
Ia 5,25 mm h -1
9
5,25 x 12 x 18
qa 1,13 m 3 h -1 0,315 L s -1
1000
2
1,13
Pa 2 2,23 atm 22,3 mca
1,07
Vazão do sistema
A ITN 17,41 x 47,3
Qs 2,78 2,78 25,7 L s -1 0,0257 m 3 s -1
PI TDF Ec 5 x 18 x 0,99
5%
0%
180 m
150 m
90 m
MB
1 2 3 4 5 6 312 m
558 m
L 156
NAPL 13 aspersores / lateral
S1 12
NTA 80
NL 6 linhas , como são seis linhas e treze aspersores em cada, o número
NAPL 13
total de aspersores será 78, e a vazão do sistema, 24,6 L s-1.
L = 150 m
C = 140 (PVC)
1 1 ev - 1
F
ev 1 2 N 6 N 2
1 1 1,85 - 1
F 0,390
1,85 1 2 13 6 132
Irrigação por aspersão 441
Q L 0, 205
D (10,641 ( )1,85 )
C hf '
0, 205
0,004 1,85 150
D 10,641 ( ) 0,052 m
140 11,43
Pelas equações
1
D 4,87 1,851
1 -1
D
L2 4 ,87 L
D1 -1
D 2
1
75 4,87 1,851
- 1
52
L 2 4,87 150 138,6 m , como os tubos são de 6 m o comprimento real do
75
- 1
50
trecho 2 será de 138 m, uma vez que 138,6 é o valor máximo para este trecho.
L1 = 150 – 138 = 12m.
Para o cálculo da perda de carga, deve-se lembrar que a equação de Hazen-Willians
é utilizada apenas para finais de linha (vazão final igual a zero), por isso o cálculo é feito tal
como no método por tentativas.
a) L = 150 m, D = 75 mm:
1 1 1,85 1
F 0,390
1,85 1 2 x 3 6 x 132
442 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
b) L2 = 138 m, D = 75 mm:
1 1 1,85 - 1
F 0,398
1,85 1 2 x 11 6 x 112
0,004 1,85 138
hf 2 10,641 ( ) 0,398 0,69 mca
140 0,0754,87
d) L2 = 138 m, D = 50 mm:
1 1 1,85 - 1
F 0,398
1,85 1 2 x 11 6 x 112
0,004 1,85 132
hf 3 10,641 ( ) 0,398 4,97 mca
140 0,054 ,87
e) hf = hf1 – hf2 + hf3 = 0,73 - 0,69 + 4,97 = 5,01 mca. Esse valor corresponde a 22,5% da
pressão de serviço (22,3). Dessa forma, tem-se o primeiro trecho com diâmetro 75 mm e
comprimento 12 m, e o segundo trecho com diâmetro 50 mm e comprimento 138 m.
Tabela 8.20 - Vazão máxima, diâmetro, velocidade e comprimento para os diferentes trechos
da linha principal
Trecho Vazão (m3 s-1) Diâmetro (m) Velocidade (m s-1) Comprimento (m)
1 0,0246 0,125 2 90
2 0,0205 0,125 1,67 90
3 0,0164 0,125 1,34 90
4 0,0123 0,100 1,57 90
5 0,0082 0,075 1,86 90
6 0,0041 0,075 0,93 90
Para o cálculo da perda de carga (hfp) e diferença de nível (DNp) ao longo da linha
principal, devem-se considerar duas situações:
linhas laterais representadas pelas linhas contínuas; e
linhas laterais representadas pelas linhas tracejadas (Figura 8.41).
Na Tabela 8.21 são apresentados o diâmetro, a vazão e a perda de carga em cada trecho
para as duas condições. O sistema deve ser dimensionado para a situação que tiver o maior
valor de perda de carga. A perda de carga em cada trecho é calculada pela equação:
Qlp 1,85 L
hf 10,641 ( )
C D 4 ,87
Tabela 8.21 - Perda de carga na linha principal quando as linhas laterais estão localizadas nas
posições correspondentes às linhas cheias e tracejadas (Figura 8.41)
Trecho Compr. Diâmetro Linhas cheias Linhas tracejadas
(m) (mm) Vazão (m3 s-1) hf (mca) Vazão (m3 s-1) hf (mca)
1 90 125 0,0205 1,93 0,0246 2,70
2 90 125 0,0205 1,93 0,0164 1,28
3 90 125 0,0123 0,75 0,0164 1,28
4 90 100 0,0123 2,22 0,0082 1,05
5 90 75 0,0041 1,18 0,0082 4,26
6 90 75 0,0041 1,18 - -
hflp - - - 9,19 - 10,57
DNlp - - - 27,0 - 22,5
DNlp + hflp - - - 36,19 - 33,07
444 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
4 x 0,0246
D 0,144 m
1,5
Conjunto motobomba
Com a vazão e altura manométrica do sistema, 24,6 L s-1 e 75,7 mca,
respectivamente, seleciona-se a bomba a ser utilizada.
Pelo programa Agribombas, o conjunto motobomba selecionado foi o seguinte:
Marca: Mark Peerless
Modelo: HE
Velocidade do rotor: 7.500 rpm
Diâmetro comercial do rotor: 255 mm
Potência solicitada: 33,4 cv
Potência do motor elétrico: 40 cv
Rendimento da bomba: 76%
Rendimento do motor: 88%
Irrigação por aspersão 445
Diâmetro de recalque: 75 mm
Diâmetro de sucção: 100 mm
Número de estágios: 3
Qs Hm 24,6 x 75,7
Pm 32,7 cv , o motor comercial, com potência imediatamente
75 Eb 75 x 0,76
superior, é de 40 cv.
Pm 3,7
Pc 37,2 cv
Rm 0,88
Consumo de energia
O número total de horas de operação pode ser assim estimado:
ETs A ( 338,1 374,4 ) 558 x 312
NHOS 1.893 horas
Em Qs 3600 0,74 24,6 3600
O consumo total de energia (CTE) será:
CTE = Pc NHOS 0,763 = 37,2 x 1893 x 0,736 = 51.829 kWh
Lista de materiais
Item Descrição Unidade Quantidade
Componentes da linha lateral
1 Aspersor 3,6 x 2,6 mm, rosca fêmea 1” un. 78
2 Válvula reguladora de pressão 30 mca un. 78
3 Tubo de subida 1” PVC com 2 m un. 18
4 Saída para aspersor eng. rápido PVC 50 mm/1” un. 12
5 Saída para aspersor eng. rápido PVC 75 mm/1” un. 66
6 Tampão fim de linha macho eng. rápido PVC 50 mm un. 6
7 Tripé de sustentação do tubo de subida 1,5 m un. 78
8 Ponta fêmea solda/eng. rápido PVC 50 mm * un. 6
9 Ponta macho eng. rápido/solda PVC 50 mm * un. 6
10 Curva 45º PVC 50 mm * un. 12
11 Curva 90º PVC 50 mm * un. 6
12 Tubo PVC 50 mm * 6m 3
446 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
** Peças dos hidrantes montados no campo, uma vez que hidrantes de PVC são de custo
elevado e de baixa duração.
53,2 m
27,4 m
Difusores (Tipo C)
6,1 m
Figura 8.43 - Emissores de aplicação localizada utilizados na cafeicultura irrigada com pivô
central.
As principais diferenças entre os quatro primeiro tipos de pivô são:
– Quanto à intensidade de precipitação
Como a maior largura da faixa de precipitação é no tipo A e a menor no tipo C, para
uma mesma lâmina de água a ser aplicada, a intensidade de precipitação no tipo A é menor
que no tipo B, e, neste último, menor que no tipo C. Este só deve ser usado em solos com
alta capacidade de infiltração ou quando a cultura cobre totalmente a superfície do solo e em
terrenos com pouca declividade. No caso do pivô tipo D a intensidade é muito elevada;
sendo, portanto, necessárias áreas de topografia uniforme e plana e manejo especial do solo.
– Quanto ao consumo de energia
O tipo A consome mais energia que o tipo B, e este, mais que o C. Como a menor
demanda de energia requer motor com menor capacidade e o custo de operação do sistema é
menor, o tipo C é o mais econômico. O tipo D utiliza emissores de menor exigência de
pressão de serviço e apresenta vazões menores em virtude da aplicação localizada, o que
possibilita o uso de motores menos potentes.
– Quanto à adaptação à topografia
Como a variação da pressão permitida depende da pressão de serviço dos aspersores,
os modelos que trabalham com maior pressão adaptam-se melhor às maiores declividades e
irregularidades do terreno. Assim sendo, o tipo A adapta-se melhor que o tipo B e este,
melhor que o tipo C, e, por último, o tipo D adapta-se melhor às diferenças de níveis no
terreno.
– Quanto ao grau de pulverização das gotas
De modo geral, o tipo C pulveriza mais do que o tipo B, e este, mais que o A.
450 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
25% da área
25% da área
25% da área
25% da área
200,6 m
83,0 m
63,8 m
53,8 m
Quanto maior for b em relação a a, maior será a relação q(C - D) em relação a q(A -
B) por unidade de comprimento. Por exemplo, em um pivô com 380 m de comprimento, área
irrigada de 50,3 ha, vazão total de 40 L s-1, sete torres, sendo o primeiro vão de 57 m e os
demais de 51,7 m, o balanço no final da última torre de 12,8 m, comparar a vazão aplicada
no vão compreendido entre a sexta e a sétima torre com a aplicada no vão compreendido
entre a primeira e a segunda torre. Neste caso, tem-se:
a = 57 m
b = 57 + 5 x 51,7 = 315,5 m
y = 51,7 m
q (6 7) 2 x 315,5 51,7 682,7
4,1
q (1 2) 2 x 57 51,7 165,7
ou seja, aplicar-se-á uma vazão 4,1 vezes maior no trecho de 51,7 m, compreendido entre a
sexta e a sétima torre, do que no trecho de 51,7 m, compreendido entre a primeira e a
segunda torre.
452 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
a A B C D
Intensidade de Precipitação
Um dos parâmetros de maior importância na irrigação por pivô central é a sua
intensidade de precipitação. Quando esta intensidade excede a capacidade de infiltração do
solo, ter-se-ão o acúmulo de água sobre a superfície do terreno e a possibilidade de
escoamento superficial, o que, tanto num caso como no outro, é incompatível com uma boa
eficiência de irrigação.
Na Figura 8.46 têm-se as curvas de velocidade de infiltração para dois solos distintos
e uma curva da intensidade de precipitação em um ponto ao longo do pivô. Para o solo A não
haverá problema de excesso na intensidade de precipitação, mas, para o solo B, a área em
que a curva de precipitação excede à da capacidade de infiltração do solo corresponde ao
acúmulo de água sobre a superfície do terreno com possibilidade de escoamento superficial.
Irrigação por aspersão 453
Solo B
intensidade de precipitação
Velocidade de infiltração e
Solo A
Intensidade
de aplicação
Tempo
ou
454 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
60 H d Hd
tr 9,55 (8.60)
2r r
A lâmina média aplicada, por volta, em um pivô com vazão de 40 L s-1, numa área
irrigada de 60 ha e dando uma volta em 30 horas, será:
40 x 60
L 0,36 7,2 mm / volta
60
Nota – Este valor L é a lâmina bruta aplicada por volta. Para determinar a lâmina
real tem-se que multiplicar este valor pela eficiência de aplicação da irrigação, em decimal.
Q( L / s ) r ( m )
Pmed 2,26 , em mm h -1 (8.64)
A( ha ) d( m)
ET ( mm / dia ) 2 r
Pmed , em mm h -1 (8.65)
24 Ea d
Exemplo:
Assim, tem-se:
40,7 H
L 0,36 0,2915 H mm / volta
50,26
H d
tr 9,55 , em minutos
r
40,7 r r
Pmed 2,26 1,83 ( mm / hora )
50,26 d d
Irrigação por aspersão 457
Pivô do tipo A
Pivô do tipo B
48 13,99 248 3,38 13,99 124 6,77 13,99 62 13,55 13,99 31 27,11
Pivô do tipo C
4
Pmáx = Pmed = 1,27 Pmed (8.66)
Se aplicar esta equação nos dados da Tabela 8.25, para a distância do centro do pivô
de 400 m (R = 400 m), ter-se-á:
Q r
Pmáx 9167 , em mm h 1
2
d R
Q L s
Pmáx 9167 , em mm h 1 (8.67)
R m d m
Velocidade de infiltração e
intensidade de aplicação
1 tr1
2 tr1
Tempo
Figura 8.47 - Curvas de intensidade de precipitação do pivô e de velocidade de infiltração do
solo em função de tempo.
de
V min (8.69)
Tmáx
Sendo assim, o período ou tempo máximo de rotação (TRmáx) pode ser calculado
pela seguinte equação:
2R
TRmáx , horas / rotação (8.70)
V min
Dar-se-á um exemplo para melhor ilustrar:
Determinar a velocidade mínima de deslocamento (Vmin) da última torre de um
pivô e o seu tempo máximo de rotação para as seguintes condições:
Pivô: raio de 400 m e diâmetro de ação do último aspersor de 30 m
Solo: velocidade de infiltração (VI) = 0,25 T-0,4 cm min-1
Demanda de irrigação: igual a 6,0 mm/dia
Eficiência de aplicação: igual a 70%
ET 2 R 6 x 2 x 400
Pmed 24 Ea d
30 mm min -1
24 0,7 x 30
4
P max 30 38,2 mm h 1 0,064 cm min 1
30
de 30 23,6 m
38,2
fazendo Pmax = VI
de 23,6
Vmin = = = 0,8 m min-1 ou 48 m h-1.
Tmax 30
Ou seja, a velocidade mínima de deslocamento da última torre, para que não haja
empoçamento de água sobre a superfície do solo, deverá ser de 48 m/hora. Já o tempo
máximo de rotação do pivô deverá ser de 52,4 horas.
2 x 400
TRmáx 52,4 horas / rotação ou 2,2 dias / rotação
48
462 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Solo
Como é característica do pivô central aplicar menor lâmina por vez e com maior
freqüência, este sistema se adapta melhor em solos com textura leve ou média do que em
solos com textura pesada. Quando se pretende usá-lo em solos com textura pesada, devem-se
caracterizar muito bem a intensidade de precipitação máxima do pivô e a capacidade de
Irrigação por aspersão 463
Topografia
Considera-se como limite superior a declividade de 15%. Quanto maior a inclinação
do terreno, menor deverá ser o espaçamento entre torres e maior será a sensibilidade dos
sistemas de baixa pressão à desuniformidade de aplicação de água.
Culturas
Adapta-se à maioria das culturas, desde cana-de-açúcar e milho até pastagens.
2
Custo Pivô 1 1 nL + r
= =
Custo Pivô 2 n L + r
2
1 nL r
1,88
n Lr
ou seja, o custo por hectare irrigado do pivô com L = 300 m será 88% mais caro do que o do
pivô com L = 600 m.
Vazão Necessária
Há várias equações para estimar a vazão necessária ao sistema, como:
Figura 8.48 - Vista de diversos sistemas de irrigação por pivô central com aplicação
localizada.
Pivô 1 Observações:
Emissores: aspersores de média pressão Tempo de aplicação no ponto A:
Alcance: 30 a 50 m - 15 a 25 min
-1
Vel. da última torre (100%) = 120 m h Intensidade de aplicação média:
Lâmina média = 6 mm volta-1 - 6 mm em 15 a 25 min ou
Pivô de 80 ha: 505 m de raio (sem vão - 24 a 14,4 mm h-1
em balanço) Conclusão:
Tempo para uma volta: 26 horas - Pouca possibilidade de
Ponto A localizado a 500 m do ponto escoamento para maioria dos solos.
central
Pivô 2 Observações:
Emissores: emissores “spray” de baixa Tempo de aplicação no ponto A:
pressão - 2 a 4 min;
Alcance: 8 a 16 m Intensidade de aplicação média:
Vel. da última torre (100%) = 240 m/h - 4 mm em 2 a 4 min, ou seja,
Lâmina média = 4 m h-1; - 120 a 60 mm h-1
Pivô de 80 ha: 505 m de raio (sem vão Conclusão:
em balanço) - Alta possibilidade de
Tempo para uma volta: 13 horas escoamento;
Ponto A localizado a 500 m do ponto - Necessidade de um sistema
central e special de proteção do
solo.
Sistemas Lineares
Os sistemas lineares normalmente fabricados no Brasil podem ser alimentados por
canal ou por mangueiras, com duas ou quatro rodas no sistema central. Irrigam áreas
quadradas, retangulares ou irregulares, sendo o ideal que o comprimento a ser percorrido seja
de no mínimo três vezes a largura. O menor custo ocorre na relação 1:5.
As principais vantagens são:
Maior eficiência de aplicação de água, fertilizantes e inseticidas em função do
deslocamento frontal e de todas as torres estarem se movimentando ao mesmo
tempo. Uma outra vantagem é os bocais dos emissores serem iguais ou quase
iguais.
468 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Q ( m 3 / h ) T( h )
L.aplicada ( mm ) (8.74)
10 A( ha )
Intensidade de Aplicação ( Ia )
_
ITN ITN V ITN
I (8.77)
tempo no local DM DM
V
em que DM é o diâmetro de ação do aspersor, em metros.
Irrigação por aspersão 469
_
Intensidade Máxima de Aplicação I a max
4
Iamax = Ia
Na Figura 8.49 tem-se uma vista do equipamento em campo.
205 m. Nos sistemas com faixa de 36 m de largura e 180 m de comprimento, o cabo de aço
terá uns 150 m de comprimento e a mangueira uns 75 m.
Nos sistemas em que a unidade móvel é tracionada pela própria mangueira ao se
enrolar no carretel, há maior perda de carga na mangueira e maior variação na velocidade de
deslocamento da unidade móvel ao longo da faixa. Podem, no entanto, apresentar vantagem
e desvantagens:
Vantagem: economia de mão-de-obra.
Desvantagem: grande consumo de energia.
– problemas com relação ao impacto das gotas;
– muito sensível à interferência do vento;
– uniformidade de aplicação e distribuição média; e
– problemas com a vida útil das mangueiras.
Dimensionamento de um Sistema
Autopropelido
Após verificação e elaboração do croqui da área a ser irrigada, recomenda-se:
– Determinar a capacidade real de água de acordo com a do solo e a cultura a ser
irrigada
(CC - Pm)
CRA = Da Z f, em mm
10
– Determinar a irrigação real necessária no período de maior demanda de irrigação
IRN CRA - Pe
IRN = (ETpc - Pe)
– Determinar o turno de rega e o período de irrigação
CRA CRA
TR = ( ETpc Pe) ou = ETpc
PI TR
– Determinar a irrigação total necessária ou a lâmina bruta
IRN
ITN
Ea
– Escolher o autopropelido e o canhão hidráulico
Nesta escolha, há de se levar em conta a cultura que será irrigada, o tipo de solo e o
tamanho da área que se pretende irrigar e escolher o tipo de autopropelido que caracteriza a
Irrigação por aspersão 471
pressão de serviço (Pa), diâmetro do bocal (DB), diâmetro molhado (DM), vazão (Q), ângulo
de trajetória e ângulo do giro de aspersor () a ser usado.
– Determinar o espaçamento entre carreadores ou largura da faixa LF (Figura 8.52).
Condições do vento Largura da faixa
Sem vento 80% do diâmetro molhado do aspersor
< 8 km/h 70 a 80% do diâmetro molhado do aspersor
8 a 17 km/h 60 a 70% do diâmetro molhado do aspersor
> 17 km/h 50 a 60% do diâmetro molhado do aspersor
Q( m 3 / h ) t i ( h )
ITN Lm 10 3 (mm) (8.79)
CF(m ) LF(m)
Sendo ti o tempo de irrigação por faixa, o qual corresponde ao tempo de percurso
(Tp) mais os dois tempos que o autopropelido deve funcionar parado nas extremidades da
faixa (Te), ou seja:
t i Tp 2 Te (8.80)
CF t i
CP Tp
Sendo assim, a velocidade de deslocamento em m/h será:
CP CF LF
V (8.81)
Tp Tp
ou
V
10 3 Q m 3 / h
m / h (8.82)
LFm ITN mm
ITN 360
IPmed (8.83)
To
diâmetro molhado ( DM )
To (8.84)
velocidade de deslocamen to
DM DM ITN LF
To 3
(8.85)
10 Q 10 3 Q
ITN LF
tem-se:
10 3 Q 360
IPmed ( mm ) (8.86)
DM LF
O tempo de irrigação (ti) é igual ao tempo de percurso (Tp) mais o tempo que o
autopropelido deve funcionar parado em cada uma das extremidades da faixa (Te), ou seja:
comprimento da faixa m
ti h (8.87)
velocidade de deslocamento m / h
compriment o do percurso m
Tp h (8.88)
velocidade de deslocamen to m / h
t i Tp
Te (8.89)
2
O tempo de mudança de faixa normalmente varia de 0,5 a 1,5 hora.
CF LF NTF
A (8.92)
10.000
– Dimensionamento hidráulico
a) vazão do aspersor (L s-1);
b) pressão de serviço (mca);
c) altura do aspersor (m);
d) diferença de nível na área irrigada (m);
e) perda de carga na mangueira e turbina (m);
f) perda de carga na linha principal (m);
g) diferença de nível da captação à entrada da área (m);
h) altura de sucção (m);
e) perda de carga localizada ( 5% da perda de carga contínua subtotal); e
f) altura manométrica total = (b a e).
g) potência necessária (potência nominal do motor (equação 8.57)) (P)
Exemplo
Dimensionar um sistema de irrigação por autopropelido para as seguintes condições:
– área a ser irrigada entre 30 e 40 ha;
– cultura – milho-doce, cultivo de inverno;
– demanda máxima de irrigação = 4 mm/dia;
– capacidade real de água do solo para o milho = 30 mm;
– nº máximo de horas de funcionamento por dia = 22 horas;
– eficiência de aplicação = 80%; e
– velocidade média do vento = 6 km h-1.
a) Irrigação real necessária
IRN = 28 mm (IRN CRA)
28
b) Turno de rega = = 7 dias
4
474 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
1000 Q( m 3 / h ) 1000 x 98
V 31 m / h
LF( m ) ITN ( mm ) 90 x 35
225 m 720 m
90 m 90 m 90 m 90 m
490 m
1 2 7 8
98m 3 / h 114,75m
Pm 69,4 CV
3,6 75 0,6
Uniformidade de Aplicação
Para determinar a uniformidade de aplicação em um sistema de irrigação com pivô
central, devem-se instalar coletores (pluviômetros) ao longo de dois diâmetros,
perpendiculares entre si. Em cada um dos quatro raios, os coletores devem ser numerados,
em ordem crescente, a partir do centro e afastados entre si de 4 a 10 m, conforme ilustrado
na Figura 8.51.
Uma vez que cada coletor representa uma área maior, à medida que se afasta do
centro do pivô têm-se que ponderar os valores coletados. O fator de ponderação é o número
de ordem do coletor.
Irrigação por aspersão 477
_
Hi Ni
H (8.93)
Ni
_
H i H
CUC 1001 (8.94)
_
NH
44
43
ado
rrig
al i
ion
dic
oa
4
Rai
3
2 coletores
44 43 4 3 2 1 1 2 3 4 43 44
1
al 2
ter
. la 5:0 m
L 3
4
43
44
Teste nº 3 Vazão = 80 m3 /h
Data – 11/02/86 Pressão no pivô = 3 5 mca
Vento a 2 m – 1,4 m s-1 Comprimento = 203 m
Cultura - feijão Regulagem da velocidade =
100%
Vão entre Número de Volume coletado (mL) Volume Volume
torres ordem do médio ponderado
R1 R2 R3 R4
coletor
1 3 14 17 15 13 14,75 44,25
1 4 36 14 13 15 19,50 78,00
1 5 11 18 7 19 13,75 68,75
1 6 11 7 10 14 10,25 61,50
1 7 14 16 9 18 14,25 99,75
2 8 23 23 41 30 29,25 234,00
2 9 18 12 8 18 14,00 126,00
2 10 14 12 19 19 16,00 160,00
2 11 17 16 13 19 11,25 123,75
2 12 14 13 17 19 15,75 189,00
2 13 14 14 17 22 16,75 217,75
2 14 20 14 17 19 17,50 245,00
2 15 15 11 13 17 14,00 210,00
3 16 16 10 19 15 15,00 240,00
3 17 20 14 24 17 18,75 318,75
3 18 18 12 15 14 14,75 265,50
3 19 21 12 17 19 17,25 327,75
3 20 18 8 16 19 15,25 305,00
3 21 16 14 17 16 15,75 330,75
3 22 16 10 16 18 15,00 330,00
3 23 18 13 18 16 16,25 373,75
4 24 19 10 19 17 16,25 390,00
4 25 16 7 20 16 14,75 368,75
4 26 15 11 28 15 17,25 448,50
4 27 19 11 20 20 17,50 472,50
4 28 19 11 15 16 15,25 427,00
4 29 18 10 18 18 16,00 464,00
4 30 17 9 18 17 15,25 457,50
5 31 20 14 13 16 15,25 472,75
5 32 23 13 19 18 18,25 584,00
5 33 19 13 21 22 18,75 618,75
5 34 19 15 18 27 19,75 671,50
5 35 23 14 22 25 21,00 735,00
5 36 23 16 18 20 19,25 693,00
5 37 25 14 18 21 19,50 721,50
5 38 22 15 27 24 22,00 836,00
6 39 24 19 19 23 21,25 828,75
6 40 30 27 17 19 23,25 930,00
6 41 48 21 17 11 24,25 994,25
6 42 44 40 55 34 43,25 1.816,50
6 43 27 36 33 28 31,00 1.333,00
Irrigação por aspersão 479
6 44 34 33 21 26 28,50 1.254,00
Total 987 19.866,50
Nota – 14,63 é a média ponderada de 25% da área total que recebeu as menores
precipitações.
Lmcp
EAp = 100
La
Sendo Lmcp a lâmina média coletada ponderada e La a lâmina média aplicada,
determinada pela seguinte equação:
Q T
La mm
10 A
31 32 31 29 27 23 21 19 17 15 14 11 09 07 04 02 00 00 00 00
00 00 00 00 00 01 04 07 09 13 15 18 21 23 27 28 31 32 31 30
31 32 31 29 27 24 25 26 26 28 29 29 30 30 31 30 31 32 31 30
31 33 31 28 27 24 22 18 15 16 13 10 09 06 03 01 00 00 00 00
00 00 00 00 00 02 03 06 08 12 16 18 22 24 26 29 32 33 32 31
31 33 31 28 27 26 25 24 23 28 29 28 31 30 29 30 32 33 32 31
31 32 31 29 27 25 22 19 16 15 13 9 8 6 3 0 0 0 0 0
00 00 00 00 00 01 03 07 09 14 15 17 20 22 27 29 31 33 34 31
31 32 31 29 27 26 25 26 25 29 28 26 28 28 30 29 31 33 34 31
30 31 325 29 28 25 21 20 17 15 14 11 10 07 03 0 00 00 00 00
00 00 00 00 00 00 02 06 09 13 14 17 21 23 27 28 31 32 31 31
30 31 32 29 28 25 23 26 26 28 28 28 31 30 30 28 31 32 31 31
479
Irrigação por aspersão 483
Comprimento (C)
Rua
hidrante
coletores
L
Linha principal
MB
Ri
oL
am
b ari
das gotas de água e, quando não existem perdas por percolação, é igual à eficiência de
aplicação (Ea).
Lmc
EAp = 100
La
em que: Lmc = lâmina média coletada mm; e
La = lâmina média aplicada, mm.
Na irrigação por autopropelido, La pode ser determinada pela seguinte equação:
Q ti
La 1.000 mm
LF CF
em que: Q = vazão do autopropelido (m3/h);
ti = tempo para irrigar uma faixa (h);
LF = largura da faixa (m); e
CF = comprimento da faixa (m).
Como o comprimento dividido pelo tempo é a velocidade média de deslocamento do
autopropelido (V), pode-se reescrever esta equação da seguinte forma:
Q ti
La 1.000 mm
LF V
Para os dados da Tabela 8.13, têm-se:
120
La 1.000 34,3 mm
100 35
29
EAp = 100 = 85%
34,3
Referências
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Irrigação por aspersão 485
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RIBEIRO, M.C. Estudo sobre a racionalização do uso de energia na irrigação. Tese de doutorado, 2003, 142 p.
SOARES, A.A. Curso de Engenharia e Manejo de Irrigação - irrigação por aspersão e localizada. Brasília,
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(chapter 8).
USDA. Sprinkler irrigation, In: –––. Irrigation. Washington, D.C.: Soil Conservation service, 1968. 82 p.
(chapter 11).
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 483
Capítulo 9
Irrigação Localizada
(Gotejamento e Microaspersão)
Considerações Gerais
A irrigação localizada compreende os sistemas de irrigação nos quais a água é aplica-
da ao solo, diretamente sobre a região radicular, em pequenas intensidades (1 a 160 litros por
hora), porém com alta freqüência (turno de rega de um a quatro dias), de modo que mantenha
a umidade do solo na zona radicular próxima à “capacidade de campo”. Para isso, a aplicação
da água é feita por meio de tubos perfurados com orifícios de diâmetros reduzidos ou por
meio de gotejadores e microaspersores denominados emissores, dos mais diferentes tipos,
modelos e características.
Gotejamento e microaspersão são sistemas muito difundidos, sendo o primeiro mais
antigo no Brasil (1972) e o segundo mais recente (1982). Diferem entre si quanto à aplicação
de água: no gotejamento aplicam-se vazões menores, de 1 a 20 L/h, gota a gota, e na microas-
persão as vazões são aplicadas de forma pulverizada, de 20 a 150 L/h. Utilizam-se normal-
mente tubulações de pvc (linhas adutoras) e tubulações flexíveis de polietileno, nas quais são
inseridos os emissores, que trabalham a pressões variando entre 5 e 25 mca, embora a pressão
de serviço da maioria dos tipos de gotejadores esteja em torno de 10 mca e, na microaspersão,
em torno de 20 mca. São de maior custo por unidade de área irrigada, portanto devem ser
usados em culturas de alto retorno econômico, como café, tomate, morango, melão, pimenta-
do-reino, abacate, citros, manga, nogueira-pecã, seringueira, uva, banana, cacau, mamão, bem
como em atividades como viveiro de frutíferas, de essências florestais e de plantas ornamen-
tais.
A irrigação localizada não deve ser considerada somente como nova técnica para su-
prir de água as culturas, mas como parte integrante de um conjunto de técnicas agrícolas nos
cultivos de determinadas plantas, sob condições controladas de umidade do solo, adubação,
salinidade, doenças e variedades selecionadas, de modo que se obtenham efeitos significativos
484 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
na produção por área e por água consumida, assim como na época da colheita e na qualidade
do produto.
A aplicação de água ao solo, na irrigação por gotejamento, é sob a forma de “ponto
fonte”, ficando a superfície do solo com uma área molhada com forma circular (Figura 9.1) e
o seu volume molhado com forma de um bulbo (cebola). Quando os pontos de gotejamento
são próximos uns dos outros, forma-se uma faixa molhada contínua (Figura 9.2).
No caso da microaspersão, a área molhada apresenta-se em forma de discos ou faixas
molhados em baixo da copa das plantas (Figuras 9.3 e 9.4).
Assim, somente uma porção da superfície do solo será molhada, o que diminui a eva-
poração direta da água do solo para a atmosfera, quando comparada com a irrigação por as-
persão e por superfície.
A irrigação localizada é usada, em geral, sob a forma de sistema fixo, ou seja, o sis-
tema é constituído de tantas linhas laterais quantas forem necessárias para suprir toda a área,
não havendo movimentação das linhas laterais. Contudo, somente determinado número de
linhas laterais funciona por vez, a fim de minimizar a capacidade do cabeçal de controle.
Em se tratando de sistemas fixos, o custo torna-se mais elevado, o que limita seu uso
somente para culturas nobres, ou seja, culturas com alta capacidade de retorno. Também o
número de emissores por unidade de área afeta o custo do sistema, isto é, quanto maior for o
espaçamento entre plantas, maior será o espaçamento entre emissores e menor será o custo do
sistema. Nessas condições, a irrigação localizada somente é usada em fruteiras, cafeicultura e
alguns hortigranjeiros de maior valor comercial.
A partir do ano 2000, o grande desenvolvimento do setor de irrigação localizada e a
maior competitividade do agronegócio brasileiro tornaram esse tipo de irrigação viável em
diversas culturas e sistemas de cultivos antes impensados. Destaca-se que os maiores fabri-
cantes mundiais vêm dedicando atenção especial ao mercado brasileiro, com políticas de im-
plantação de fábricas no Brasil, que permitem disponibilizar equipamentos a custos mais
competitivos.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 485
Figura 9.1 - Vista parcial de um sistema de gotejamento, com irrigação em pontos distintos.
Figura 9.2 - Vista parcial de um sistema de gotejamento, com faixa molhada contínua.
486 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Figura 9.3 - Vista parcial de um sistema de microaspersão, com disco molhado, em um pomar
de citros.
Figura 9.4 - Vista parcial de um sistema de microaspersão com faixa molhada contínua na
cultura da banana.
Componentes do Sistema
Em geral, os sistemas de irrigação localizada são fixos (Figuras 9.6 e 9.7) e constituí-
dos de:
– motobomba;
– cabeçal de controle;
– linha principal;
– válvulas (facultativas);
– linha de derivação;
– linha lateral; e
– emissores.
Motobomba
Cabeçal de controle
Linha principal
Válvulas
Linha lateral
Linha de
derivação
Gotejadores
Linhas laterais
Linha de derivação
Divisor de setores
Figura 9.7 - Vista parcial de um sistema de irrigação por gotejamento, mostrando em detalhe
as linhas de derivação para dois setores distintos.
Motobomba
O conjunto motobomba é uma unidade de fundamental importância no sistema de irri-
gação localizada.
As bombas normalmente usadas na irrigação localizada são as do tipo centrífuga de
eixo horizontal, e os motores, elétricos e a diesel.
Cabeçal de Controle
O cabeçal de controle e os emissores (gotejadores e microaspersores) constituem as
principais partes de um sistema de irrigação localizada. Situado após o conjunto motobomba e
no início da linha de recalque, seu posicionamento deve possibilitar menor custo, pela otimiza-
ção da quantidade de tubulação a ser adquirida, e facilitar a distribuição e o controle do siste-
ma no campo (Figura 9.6). É constituído, em geral, das seguintes partes:
a) medidores de vazão;
b) filtros (dos mais diferentes modelos e características);
c) injetor de fertilizante;
e) válvulas de controle de pressão;
f) registros;
g) manômetros;
h) sistema de controle e automação.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 491
5
12
11
10
2 3 6
1 4 7 9
8
1: motobomba; 2, 7, 9 e 10: registros; 3: medidor de vazão; 4: filtro de areia; 5 e 6: manômetro do filtro; 8:
injetor de produtos químicos; 11: filtro de tela ou disco; 12: linha principal.
Figura 9.8 - Esquema de um cabeçal de controle (sem automação), incluindo o conjunto mo-
tobomba e linha principal.
492 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Figura 9.10 - Esquema de um filtro de areia em que se utilizam diversos diâmetros de materi-
al.
Filtro de Tela e Disco – Os filtros de tela foram os primeiros a ser desenvolvidos e
são simples, proporcionando um eficiente método de filtragem. Eles têm, em geral, forma
cilíndrica e são constituídos de um recipiente cilíndrico de plástico ou de metal não-corrosivo e
de um cesto móvel, também de plástico ou de metal não-corrosivo, o qual é revestido por uma
tela.
Os filtros de tela (Figura 9.11) são mais eficientes para reter partículas sólidas de di-
âmetros muito pequenos, como areia fina, mas entopem rapidamente quando usados para fil-
trar água com matéria orgânica e algas. A necessidade de limpeza é a mesma discutida para
os filtros de areia. A tela usada apresenta orifícios que podem variar de 0,074 mm (200 mesh
ou malhas por polegada) até 0,2 mm (80 mesh). Constitui, juntamente com o filtro de areia, o
sistema de filtragem mais usado.
Figura 9.11 - Foto de um filtro de tela e de elementos filtrantes (cilindros recobertos por tela).
Os filtros de discos (Figura 9.12) têm forma cilíndrica e são colocados na linha, em
posição horizontal. O elemento filtrante é composto por um conjunto de pequenos anéis, com
ranhuras, presos sobre um suporte central cilíndrico e perfurado. A água é filtrada ao passar
pelos pequenos condutos formados entre anéis consecutivos. A qualidade da filtragem vai
depender da espessura das ranhuras. Normalmente, são mais eficientes do que os filtros de
telas e mais fáceis de limpar, facilitando tanto a limpeza manual quanto a automática.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 495
Figura 9.12 - Foto de um filtro de disco e de elementos filtrantes (cilindros cobertos por discos).
c) Injetor de Fertilizante - A fertirrigação, ou aplicação de fertilizantes pela irrigação,
é parte integral do sistema de irrigação localizada. Ela é uma das maneiras mais eficientes e
econômicas de aplicar fertilizantes às plantas, principalmente em regiões de climas áridos e
semi-áridos, pois, aplicando-se os fertilizantes em menor quantidade por vez, mas com maior
freqüência, é possível manter um nível uniforme de nutrientes no solo durante o ciclo vegetati-
vo da cultura, o que aumentará a eficiência de uso dos nutrientes pelas plantas e, em conse-
qüência, a sua produtividade.
Os fertilizantes a serem aplicados por meio da irrigação localizada terão de ser solú-
veis em água. Em sua maioria, os fertilizantes ricos em nitrogênio e potássio são solúveis em
água e não apresentam nenhum problema para serem usados na irrigação por gotejamento. Já
os fertilizantes ricos em fósforo são mais problemáticos de serem usados na irrigação locali-
zada. Estes últimos, em sua maioria, são pouco solúveis em água, e mesmo nos solúveis, co-
mo o fosfato de amônia, em água de irrigação rica em cálcio, poderá ocorrer precipitação de
fosfato de cálcio dentro das tubulações e dos gotejadores, entupindo-os. Assim, a adubação
fosfatada deve ser aplicada na época da semeadura ou plantio, como é feito tradicionalmente.
A injeção dos fertilizantes nos sistemas de irrigação localizada pode ser feita mediante
diversos métodos, como o uso de tanque de fertilizante, motobombas independentes ou por
sucção.
Nas Figuras 9.8 e 9.9 há o tanque de fertilizante como parte do cabeçal de controle, e
a Figura 9.13 ilustra um tanque de fertilizante. A diferença de pressão entre a entrada e a
saída do tanque de fertilizante, causadora do fluxo, através do tanque, é conseguida por inter-
médio da instalação de um registro na linha principal do sistema, entre os pontos de saída para
o tanque e de retorno deste, conforme ilustrado nessas figuras.
A eficiência da aplicação de fertilizante depende da capacidade do tanque de fertili-
zante e da solubilidade do nutriente. A quantidade total de fertilizante a ser aplicada por uni-
dade de subárea de ação do sistema deverá ser diluída de uma só vez. Assim, é de capital im-
portância o dimensionamento do volume do tanque, o qual, segundo Keller e Karmeli (1975),
pode ser calculado pela seguinte equação:
496 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
N i As
Vt (9.1)
Cn
Dreno
Linha Principal
A linha principal conduz a água da motobomba até as linhas de derivação (Figura
9.6). Geralmente, utilizam-se na linha principal tubos de polietileno, de PVC rígido ou flexí-
vel, galvanizados e de cimento. Ela pode ser instalada na superfície do solo ou ser enterrada –
este último caso facilita muito as operações com máquinas agrícolas na área.
O cabeçal de controle é, em geral, instalado no início da linha principal ou no ponto
mais elevado da área.
Em um item específico será estudado o dimensionamento da linha principal.
Linha de Derivação
A linha de derivação conduz a água da linha principal até as linhas laterais (Figura
9.6). Geralmente, utilizam-se, nas linhas de derivação, tubos de polietileno flexível, quando
instalados sobre a superfície do solo, ou tubos de PVC rígido, quando enterrados. É comum a
instalação de válvulas de controle de pressão no início das linhas de derivação, para controlar
a vazão do sistema.
O dimensionamento da linha de derivação e da linha lateral também será visto em item
específico.
Linha Lateral
As linhas laterais são as linhas nas quais estão instalados os gotejadores que aplicam
água nas plantas (Figura 9.6). Estas linhas devem ser dispostas em nível e são constituídas de
tubos de polietileno flexível, com diâmetro variando de 12 a 32 mm.
As linhas laterais são espaçadas ao longo das linhas de derivação com distâncias pre-
estabelecidas, normalmente determinadas em função do espaçamento entre as fileiras de plan-
tas. Os espaçamentos entre os gotejadores ao longo das linhas laterais são estabelecidos em
função do espaçamento entre as plantas ao longo da fileira e do tipo de planta a ser irrigada,
pois, no caso de irrigação de árvores frutíferas, é comum instalar mais de um gotejador por
cova.
Gotejadores
498 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Gotejador
prolongamento
Gotejador
Q 1 q 1 4q
V= = = (9.3)
A 3,6 a 3,6 d 2
1 4q q
Rn = = (9.4)
3600 v d 2827 v d
Q = A Cd 2gH (9.5)
A perda de carga em tubos de longo percurso pode ser calculada pela equação de
Darcy-Weisbach:
L V2 L Q2
hf = f ou hf = 1,621 f (9.6)
D 2g D 5 2g
nores (até 5 mca) e outros que trabalham sob maiores pressões (até 30 mca). Há gotejadores
que trabalham com vazão constante sobre uma faixa bem ampla de pressão, característica esta
bastante desejável, pois permite vazão constante ao longo da linha lateral, independentemente
da variação de pressão ao longo dela. O dimensionamento da linha lateral é função da varia-
ção de pressão da vazão entre o primeiro e o último gotejador na linha lateral, variação esta
que não deve exceder 10% da vazão média dos gotejadores, ao longo da lateral. Os gotejado-
res de vazão constante, sob diferentes pressões, permitem dimensionar sistemas com linhas
laterais mais longas, o que diminui o seu custo.
Para haver uma grande perda de carga e vazão pequena, a seção transversal de fluxo
é normalmente muito pequena, seu diâmetro em geral varia entre 0,3 e 1,0 mm e pode entupir
facilmente. Aumentando a seção transversal do fluxo para diminuir o problema de entupimen-
to, é preciso propiciar outras formas de dissipar a pressão, caso contrário a vazão do goteja-
dor aumentará muito. Isso pode ser conseguido de diferentes modos: aumentando o compri-
mento de percurso do fluxo, estabelecendo percursos em labirinto, adaptando válvulas para
controle da vazão etc., estabelecendo-se assim diferentes tipos de gotejadores.
Os principais tipos de gotejadores são:
- microtubos;
- gotejador com longo percurso integrado;
- gotejador tipo orifício;
- tubos perfurados; e
- microgotejadores.
O comprimento do microtubo, necessário para ter dada vazão sob determinada pres-
são, pode ser estabelecido pela equação de Darcy-Weisbach, adaptada para as unidades nor-
malmente usadas em irrigação por gotejamento:
H d5
L= (9.7)
6,37 f q 2
Pela equação anterior, verifica-se a grande importância que deve ser dispensada à uni-
formidade do diâmetro do microtubo, pois qualquer variação no diâmetro afetará L, H ou q.
Em regime de escoamento turbulento, f pode ser determinado pelo diagrama de Mo-
ody (capítulo 5) e, em regime de escoamento laminar, pode ser calculado pela seguinte equa-
ção:
502 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
64
f= (9.8)
Rn
H d4
L= (9.9)
1,15 106 v q
Da h b
q=k (9.10)
Lc
L = comprimento do microtubo, em m;
Exemplo
Dimensionar o comprimento do microtubo de 1 mm de diâmetro para se ter vazão de
5 L/h, sob pressão de 10 mca a 20 ºC.
Para água a 20 ºC, v = 10-6 m2/s.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 503
Portanto, tem-se:
5
Rn = = 1768
2827 x 10-6 x 1
10 x 14
L= = 1,74 m
1,15 x 106 x 10 -6 x 5
1 x 100,69 1/0,62
L = (1,28 ) = 1,44 m
5
Nota – A diferença no valor de L encontrado deve-se, provavelmente, à condição de a
equação 9.9 ser genérica e a 9.10 ser experimental.
Os microtubos, além de sua simplicidade, possibilitam ajustar o seu comprimento an-
tes ou após a instalação no campo, a fim de ajustar a vazão; contudo, são mais sensíveis à
variação da vazão com a variação da temperatura e a mudança de posição da extremidade
livre, em razão da ação do vento ou dos tratos culturais.
Gotejadores com Longo Percurso Integrado – Com base no mesmo princípio dos
tradicionais microtubos, porém com maior uniformidade e menor suscetibilidade a danos me-
cânicos, o longo percurso do fluxo foi concentrado em peças compactas, através de espiral ou
labirintos.
Gotejador Tipo Orifício – São os tipos de gotejadores em que a perda de carga é de-
vida ao fluxo de água, através de pequenos orifícios. A vazão desses gotejadores pode ser
determinada pela equação de vazão em orifícios, ou seja:
Este tipo de gotejador requer, para pequenas vazões, orifícios com diâmetros muito
pequenos. Por exemplo, para uma vazão de 5 l/h, com H = 10 mca e Cd = 0,7, a área do orifí-
cio será de 0,14 mm2 e o seu diâmetro de 0,42 mm.
Para aumentar a perda de carga, de modo que permita maior área de fluxo, os fabri-
cantes construíram vários modelos de gotejadores do tipo orifício.
Tubos Perfurados – É o mesmo princípio do anterior, ou seja, vazão através de orifí-
cios; porém, para diminuir o custo e simplificar a construção, os orifícios são perfurados dire-
tamente na parede dos tubos, com pequenos espaçamentos entre eles. Assim, forma-se uma
faixa molhada sobre a superfície do solo. Esses tubos podem ser usados na irrigação de cultu-
ras com plantio em linha e com pequeno espaçamento entre plantas, como cana-de-açúcar,
hortigranjeiros em geral, cebola, alho etc.
Como foi visto no caso anterior, para se ter pequena vazão por orifício, a pressão de
serviço e, ou, o diâmetro do orifício terão de ser muito pequenos. Com orifícios de pequenos
diâmetros haverá facilidade de entupimento. Com baixa pressão de serviço, haverá grande
desuniformidade ao longo das linhas laterais, a menos que elas sejam muito curtas.
Para aumentar a uniformidade de aplicação de água ao longo da linha lateral, alguns fabri-
cantes usam tubos com paredes duplas, sendo os furos da parede interna muito mais espaçados que
os da externa, fazendo com que a água movimente entre as duas paredes, causando determinada
perda de carga, o que permite orifícios de maiores diâmetros na parede externa.
Têm sido usados com sucesso, na irrigação de árvores frutíferas, tubos perfurados
manualmente. Sobre cada furo com diâmetro de 2 a 3 mm coloca-se uma capa, constituída de
um pedaço de tubo com diâmetro um pouco maior do que o diâmetro da linha lateral e com-
primento de 10 a 20 cm. Cada furo deve ficar próximo à cova a ser irrigada.
Como a vazão por furo é relativamente grande, deve-se fazer um minissulco sob o
ponto de emissão de água, a fim de evitar o escoamento superficial.
Por se tratar de furos com diâmetro relativamente grande, praticamente não existe,
nesse caso, o problemático entupimento, tão comum na irrigação por gotejamento.
Microgotejadores – São os gotejadores de tamanho muito pequeno, geralmente com
formato de bocais e providos de diafragma para regular a vazão (Figura 9.16).
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 505
Figura 9.16 - Vista de dois modelos de gotejadores, do tipo labirinto, com inserção manual na
linha (A) e incorporado no processo de extrusão da tubulação (B).
Microaspersores
Em razão dos problemas de entupimento dos gotejadores, surgiram os microasperso-
res, os quais normalmente trabalham com pressão de 5 a 30 mca e com vazão de 20 a 160 l/h.
Existem no comércio vários tipos de microaspersores, desde os mais complexos até os consti-
tuídos de uma simples “espátula” na extremidade de um microtubo com diâmetro acima de 6
mm.
Eles são menos sensíveis ao entupimento, quando comparados aos gotejadores, e se
adaptam muito bem à irrigação em casa de vegetação e, principalmente, na fruticultura – nes-
te último caso, com um microaspersor por cova.
As Figuras 9.17 e 9.18 ilustram dois tipos de microaspersores.
506 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
da qualidade da água a ser usada na irrigação e das práticas culturais a serem empregadas no
cultivo.
As principais disposições das linhas laterais, em relação à fileira da cultura, estão i-
lustradas na Figura 9.19. Para as culturas de ciclo curto, principalmente hortaliças, normal-
mente usa-se uma linha lateral por uma ou por duas fileiras de cultura, com gotejadores espa-
çados ao longo da linha lateral, de 60 cm para solos pesados, 50 cm para solos médios e 40
cm para solos leves, o que resultará em uma faixa molhada contínua. Para as árvores frutífe-
ras, usam-se normalmente duas laterais por fileira de árvore ou uma lateral com ramificação
ou com ziguezague, ou com gotejadores de múltipla saída, ou por fileira de árvore.
A Figura 9.20 ilustra diversos esquemas de distribuição do sistema no campo.
508 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
a) uma linha lateral por fileira b) uma linha lateral por duas fileiras
Sg
Sa
S 1
Sf S
2
Sl
S 1
c) uma linha lateral por fileira de d) duas linhas laterais por fileira de
árvores árvores
e) uma linha lateral com ramificação f) uma linha lateral com semicírculo
por fileira de árvore em volta da árvore por fileira
Se W
Se Se, PW NEP 100 (9.13)
Sp Sf
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 511
Se W
Se Se , PW NEP 100 (9.14)
Sp Sf
Tabela 9.2 - Diâmetro molhado para diferentes texturas de solo, profundidades de raízes e grau
de estratificação do solo, para um gotejador de 4,0 l/h, operando no campo
Grau de Estratificação
Prof. das Raízes (m) Textura Homogêneo Pouco Estrat. Muito Estrat.
0,75 Grossa 0,5 0,8 1,1
Média 0,9 1,2 1,5
Fina 1,1 1,5 1,8
1,50 Grossa 0,8 1,4 1,8
Média 1,2 2,1 2,7
Fina 1,5 2,0 2,4
NEP Se Se W
Se Se, PW 100 (9.15)
2 Sp Sf
Se Pma
Ama
2
PW NEP 100 (9.17)
Sp Sf
em que Ama e Pma correspondem à área e ao perímetro, respectivamente, do círculo cujo raio
é igual ao alcance do microaspersor.
512 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
A percentagem de área molhada deve ser maior que 33% em regiões áridas e maior
que 20% em regiões úmidas, para evitar problemas de tombamento das árvores devido à ação
do vento.
Controle de salinidade
minCEe - condutividade elétrica do extrato do solo saturado que não causa decrés-
cimo na produtividade, mmhos.cm-1; e
Na Tabela 9.3 são apresentados os valores de minCEe e maxCEe para diferentes cul-
turas (KELLER, 1984).
CEi
RL
(9.20) 2 max CEe
Quando a irrigação tem também a função de controle de salinidade, o sistema deve ser
operado mesmo se houver ocorrência de chuvas.
Tabela 9.3 - Mínimo e máximo valores de CEe (ds m-1) para várias culturas
Evapotranspiração
Como a evapotranspiração normalmente é expressa em termos de lâmina de água e-
vaporada por dia em toda a área irrigada, e em irrigação localizada não se molha toda a área
irrigada, é necessário, ao calcular a evapotranspiração média na área do projeto, considerar
um fator de ajuste que leva em conta a porcentagem da área molhada, ou da área sombreada,
conforme equação a seguir:
514 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
1,20
1,00
KL 0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0 20 40 60 80 100
% Área molhada ou coberta
IRN
Se RL 0,10 ou Ppi RL ITN (9.32-b)
UE 1 RL
em que UE é a uniformidade de emissão recomendada para o sistema em função da topografia
e do espaçamento entre emissores (Tabela 9.5) ou a medida no campo obtida por:
UE = 1,0 - 1,27 cv Np -0,5 qm qa -1 (9.33)
em que: UE = uniformidade de emissão, decimal;
cv = coeficiente de variação da vazão dos emissores, decimal;
Tabela 9.4 - Perdas por percolação inevitáveis (Ppi) em função da textura do solo e da profun-
didade das raízes
Prof. das Raízes Muito Grossa Grossa Média Fina
<0,80 0,10 0,10 0,05 0,00
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 517
O volume total de água requerido por planta por irrigação (Vp), em litros, será:
Vp = ITN Sp Sf (9.34)
em que: Sp = espaçamento entre plantas, m; e
Sf = espaçamento entre fileiras, m.
O requerimento de água por safra ou ano (IRNs), em mm, pode ser estimado por:
IRNs = (ETcs - Pe - DU)(0,1 P1/2 ) (9.35)
em que: ETcs = evapotranspiração da cultura por safra, mm;
Pe = precipitação efetiva, mm;
DU = variação na umidade do solo, mm; e
P = percentagem de área sombreada ou percentagem de área molhada, prevalecendo a
que maior.
A eficiência de aplicação representa a fração do total de água aplicada que é efetiva-
mente utilizada no uso consuntivo e na lixiviação de sais. É função da uniformidade de emis-
são, das perdas por escoamento, por percolação, devido a precipitações ocorridas quando o
solo está próximo à capacidade de campo, em razão do manejo inadequado e das perdas por
percolação inevitáveis (Ppis) (Tabela 9.6).
A eficiência de aplicação estacional (Es) pode ser determinada de acordo com as se-
guintes condições:
Se Ppis < RL, Es = UE (9.36-a)
UE (1 Ppis)
Se Ppis > RL, Es (9.36-b)
1 RL
Tabela 9.6 - Perdas por percolação inevitáveis por safra (Ppis), para climas árido e úmido,
diferentes profundidades de raízes e texturas de solo
518 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
A irrigação total necessária por safra ou ano (ITNs) pode ser determinada por:
IRNs
ITNs
Es 1,0 RL
(9.37)
Seleção dos emissores
São muitos os fatores que afetam a eficiência de um sistema de irrigação localizada;
entre outros, citam-se:
variação de vazão devido ao processo de fabricação;
expoente da pressão na equação de vazão do emissor;
estabilidade da equação de vazão em função da pressão;
variação na pressão de funcionamento;
perda de carga em razão da inserção do emissor na linha lateral; e
susceptibilidade a entupimento, sedimentação e precipitação de sais.
Uma das funções do emissor é dissipar a energia de pressão da água na linha lateral
que pode ocorrer de diferentes maneiras, de acordo com os seguintes tipos: orifício comum ou
em série, vórtice, microtubos ou longo percurso integrado.
A vazão dos emissores do tipo microtubo pode ser determinada, utilizando-se a
equação 9.9 como segue:
H g D4
q (9.38)
3,56 107 v L
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 519
cv
q i
2
1 2
nqa 2 n 1 (9.40)
qa
em que: cv = coeficiente de variação, decimal;
qi = vazão do emissor i, L h-1;
qa = vazão média dos emissores, L h-1; e
n = número de emissores testados.
75
60 Grande
a Tipo a (mm) b (mm)
b Grande 5,0 7,6
Normal 5,0 5,0
Comprimento
45
Le (cm)
30 Pequeno
Na linha
15
0
7,6 10,4 13,2 16,0 18,8
Diâmetro interno da lateral (mm)
Figura 9.22 - Comprimento equivalente para emissores na linha e sobre a linha em função do
diâmetro interno da linha lateral, para cálculo da perda de carga localizada
(KELLER e BLIESNER, 1990).
Vazão Necessária
A vazão total do sistema pode ser obtida pela equação 9.38 ou pela equação 9.39,
quando os emissores forem uniformemente espaçados ao longo da linha lateral.
A NEP qa
Qs 2,778 (9.45)
Nu Sp Sf
A qa
Qs 2,778 (9.46)
Nu Se S1
522 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
f V2
J (9.47)
2g D
Sp
J' = J ( + Le) Se -1 (9.54)
NEPL
em que Le é o comprimento equivalente à perda de carga em razão da inserção, que pode ser
estimado utilizando a Figura 9.22, e NEPL é o número de emissores por planta em cada linha
lateral.
A perda de carga ao longo de toda a linha lateral é determinada por:
hf = J' F L (9.55)
em que: hf = perda de carga, mca;
J' = perda de carga unitária, mca m-1;
F = fator de redução de perda de carga (equação 9.17), adimensional; e
L = comprimento da linha lateral.
As linhas laterais devem, sempre que possível, ficar em nível. Quando estas estiverem
com uma dada declividade, aquela que estiver morro acima deve ser menor do que aquela
morro abaixo, para que a pressão mínima nas duas linhas seja igual.
A seguir é apresentado um exemplo de cálculo com um procedimento gráfico para de-
terminar os comprimentos das linhas laterais morro acima e morro abaixo.
Pressão de entrada
De modo geral, o controle de pressão em um sistema de irrigação localizada é feito na
entrada da linha de derivação; portanto, deve-se conhecer a pressão a ser fornecida na linha de
derivação, a qual pode ser determinada por:
Hd = hl + hfd + DNd = hl + DHd' (9.57)
em que: Hd = pressão na entrada da linha de derivação, mca;
hl = pressão na entrada da linha lateral, mca;
hfd = perda de carga na linha de derivação, mca;
DNd = diferença de nível entre o início e o final da linha de derivação, positiva para
aclive e negativa para declive, m; e
DHd' = diferença entre as pressões de entrada das linhas de derivação e lateral, mca.
Altura Manométrica
A altura manométrica (Hmam) é determinada utilizando-se a equação 9.58.
Hm Hd hfp DNp hfs DNs hfcc hfloc (9.58)
em que: Hm = altura manométrica, mca;
Hd = pressão no início da linha de derivação, mca;
hfp = perda de carga na linha principal, mca;
DNp = diferença de nível ao longo da linha principal, m;
hfr = perda de carga na tubulação de recalque, mca;
DNr = diferença de nível de recalque, m;
hfs = perda de carga na tubulação de sucção, mca;
DNs = altura de sucção, m; e
hfloc = perda de carga localizada, mca.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 525
A perda de carga localizada pode ser estimada como sendo 5% da perda de carga con-
tínua na linha principal
Conjunto Motobomba
As bombas centrífugas são as mais utilizadas nos sistemas de irrigação, conforme
discutido de forma mais abrangente no capítulo 5. Com a vazão e a altura manométrica do
sistema pode-se selecionar aquela que ofereça maior rendimento, usando o catálogo do fabri-
cante. Geralmente, o catálogo traz a potência necessária no eixo da bomba ou potência a ser
fornecida pelo motor (Pm). Entretanto, esta pode ser determinada pela equação 8.57.
A potência consumida pelo conjunto motobomba é função do rendimento do motor
(Rm) e pode ser determinada utilizando a equação 8.58.
Conhecida a potência do motor, pode-se estimar o consumo médio unitário, utilizando
a Tabela 5.15 ou 8.18.
r
c ó r o
e g
78 m
0,2 %
0,0 %
450 m
600 m
2 – Escolha do gotejador
Como o tempo de irrigação máximo é de nove horas, para que o sistema opere somen-
te à noite, deve-se preferir gotejadores de maiores vazões, como o de fluxo turbulento azul da
AMANCO, cuja vazão (qa) é de 4 L h-1, pressão de serviço (PS) de 10 mca.
Sp 5,5
NEP 4,58
Se 1,2
5,5
Se 1,10 m
5
Se W
Pw NEP 100
Sp Sf
1,1 1,5
Pw 5 100 = 25% < 33%
5,5 6,0
Logo, deve-se aumentar a percentagem de área molhada, o que poderá ser feito utili-
zando-se duas linhas laterais por fileira de plantas. Como o espaçamento entre plantas é rela-
tivamente grande, podem-se concentrar os emissores próximos às plantas, deixando-os mais
espaçados entre elas, conforme mostra a Figura 9.24.
Emissor LL
1,2 m
1,2 m 1,9 m
5,5 m LL
Com essa distribuição, cada planta será irrigada por oito emissores, sendo quatro em
cada linha lateral; assim:
5,5
Se 1,375
4
7 – Turno de rega
No caso de irrigação localizada, a área não é totalmente molhada, havendo, por isso,
necessidade de corrigir a evapotranspiração máxima.
IRN
TR
ETg
31,05
TR 7,54 dias
4,12
8 – Uniformidade esperada
Para emissores espaçados de 1,2 m, a uniformidade esperada (UE) é de 90% para
comprimentos de linha lateral de até 74,6 m, de acordo com o fabricante.
9 – Razão de lixiviação
A CE máxima para a cultura dos citros é de 8,0 ds m-1.
CEw
RL
2 CE max
1,7
RL 0,11
2x 8
IRN
ITN
UE (1 - RL)
4,12
ITN 5,14 mm
0,9 (1 - 0,11)
12 – Tempo de irrigação
Vp
Ta
NEP qa
169,62
Ta 5,3 horas
8x 4
Com esse tempo de operação, o sistema ficará ocioso; seria interessante que o tempo
de funcionamento do sistema fosse um submúltiplo do tempo de operação por dia. Assim,
pode-se ajustar o sistema para funcionar 4,5 horas, trabalhando em dois turnos por dia consi-
derando o turno de rega de um dia, o sistema constará de seis setores ou subunidades opera-
cionais (Figura 9.25), sendo irrigadas três setores de cada vez. Para facilitar a operação no
campo será adotado um turno de rega de 2 dias e um tempo de aplicação por setor de 9 horas.
O ajuste pode ser feito aumentando a vazão dos gotejadores de acordo com a curva de vazão
em função da pressão, fornecida pelo fabricante.
Vp
qa
NEP Ta
169,62
qa 4,71 L h -1
8 x 4,5
TR TDF 2 x 9
Nu = 2
TN 9
NTS 6
NSIV = 3 setores por vez
Nu 2
De acordo com o catálogo do fabricante, esse gotejador fornece uma vazão de 4,71 L
h-1 a uma pressão de 14 mca. Assim, o novo tempo de funcionamento será:
530 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
169,62
Ta 4,5 horas
8 x 4,71
ó r r o
3m c e g
MB
0,2 % 78 m
0,0 %
1 2
300 m
4 3 450 m
4,8 m
75 m
6 5
1,2 m
600 m
14 – Vazão do sistema
A Np qa
Qs 2,778
Nu Sp Sf
27 x 8 x 4,71
Qs 2,778 42,82 L.s -1 154,16 m 3 .h -1
2 x 5,5 x 6
15 – Volume de água total requerido por safra
Considerando para fins de projeto que não houve precipitação nem variação da umi-
dade do solo, e considerando ainda que as perdas por percolação inevitáveis (Ppis) são de
0,005, portanto menor que RL (0,11), a eficiência de aplicação estacional (Es) será igual ao
UE (90%). Vs então será:
1
IRNs ( ETcs Pe DU ) ( 0,1 Ps 2 )
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 531
1
IRNs (550 - 0 - 0) (0,1 x 68 2 ) 453,54 mm
IRNs
ITNs
Es (1 RL)
453,54
ITNs 566,22 mm
0,9 (1 - 0,11)
Vs = ITNs A
Vs = 566,22 x 270.000 = 152.879,4 m3
1 1 m 1
F
m 1 2 N 6 N2
1 1 1,75 1
F 0,373
1,75 1 2 x 56 6 x 56 2
hfl 0,181x 0,373 x 75 5,06 mca
Como hfl permitido é de 30% da Ha, ou seja, 4,2 mca, ter-se-á de optar por uma tu-
bulação de maior diâmetro. Será testada então a tubulação de polietileno PE1330 da
AMANCO, com diâmetro nominal e interno de 13 mm e pressão de operação de 20 mca.
J 7,89 x 10 5 x 0,0731,75 x 13-4 ,75 0,041 mca .m -1
J (Se Le)
J' , Le igual a 0,20 m para D = 13 mm
Se
0,041 (1,375 0,20)
J' 0,047 mca m -1
1,375
hfl 0,047 x 0,373 x 75 1,31 mca
Como 1,31 é menor que 4,2 mca, pode-se utilizar a tubulação de 13 mm.
1 1 1,75 - 1
F 0,374
1,75 1 2 x 50 6 x 50 2
hfd
J
L F
1,734
J 0,015 mca
300 x 0,374
1
D1 4 ,75 2 ,75
-1
D
L 2 4,75 L
D1
- 1
D2
1
125 4 ,75 2,75
- 1
113,3
L2 300 197,2 m 198 m (múltiplo de 6)
125 4 ,75
-1
100
4 x 0,0438
D 0,193 m
1,5
4 Qlp
v
D2
4 x 0,0438
v 2
2,48 m s -1 , como o limite superior de velocidade é 2 m s-2, deve-se utilizar a
0,15
Qlp1,83
hf 1 9,58 x 10 5 L
D 4 ,83
43,81,83
hf 1 9,58 x 10 5 150 1,11 mca
2004 ,83
Trecho 2 – Qlp = 2 Qd
Qlp = 2 Qd = 2 x 14,6 = 29,2 L s-1 = 0,0292 m3 s-1
L = 150 m
4 Q
D
v
4 x 0,0292
D 0,157 m
1,5
Trecho 3 – Qlp = 1 Qd
Qlp = 1 Qd = 1 x 14,6 = 14,6 L s-1 = 0,0146 m3 s-1
L = 150 m
536 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
4 Q
D
v
4 x 0,0146
D 0,111m
1,5
Conjunto motobomba
De acordo com o catálogo do fabricante, as perdas de carga no cabeçal de controle estão
em torno de 5 mca. E a perda de carga localizada geralmente está em torno de 5% da perda de
carga contínua, ou seja hfloc = 5,49 x 0,05 = 0,27 mca.
Hm hd hfp DNp hfs DNs hfcc hfloc
Hm 16,10 5,49 0 0,010 3 5 0,27 29,87 mca
Qs = 43,8 L s-1
De posse dos valores de Hm e Qs, pode-se escolher o conjunto motobomba mais ade-
quado através do programa Agribombas. Assim, será usado o seguinte conjunto motobomba:
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 537
Consumo de energia:
ETs A
NHOS
Em Qs 3600
550 x 600 x 450
NHOS 1046 horas
0,9 x 42,82 x 3600
CTE = Pc 0,736 Ns = 23,9 x 0,736 x 1046 = 18.400 kWh
Lista de material:
Item Descrição Un. Quant.
Componentes da linha lateral
1 Gotejador FT azul Amanco un 67.200
2 Tubo de polietileno PE1330 Amanco 13 mm m 90.000
3 Anel fim de linha un 1.200
Componentes da linha de derivação
538 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
r
c ó r o
e g
78 m
0,2 %
0,0 %
450 m
600 m
5,6 2
Ama 24,63 m 2
4
Pm 5,6 17,59 m
1,2 x 17,59
( 24,63 )
Pw 1 2 100 104,7 100%
5,6 x 6
A distribuição dos emissores na linha lateral é mostrada na Figura 9.27.
Planta
5,5 m Emissor
7 – Turno de rega
Como a porcentagem de área molhada é de 100%, não há necessidade de corrigir a
evapotranspiração máxima. Assim, ETg = ETc.
IRN
TR
ETg
79
TR 15,8 dias
5
Como em irrigação localizada existe a facilidade de se trabalhar com um turno de re-
ga menor, será adotado o turno de rega igual ao período de irrigação de um dia; assim:
542 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
IRN ETg TR
IRN 5 x 1 5 mm
8 – Uniformidade esperada
A uniformidade esperada (UE) é de 90%.
9 – Razão de lixiviação
A CE máxima para a cultura dos citros é de 8,0 mmhos.cm-1.
CEw
RL
2 CE max
1,7
RL 0,11
2x8
5
ITN 6,24 mm
0,9 (1 0,11)
12 – Tempo de irrigação
Vp
Ta
Np qa
205,92
Ta 5,56 horas
1 x 37
Com esse tempo de operação o sistema ficará ocioso; por isso, seria interessante que o
tempo de funcionamento do sistema fosse um submúltiplo do tempo de operação por dia. As-
sim, pode-se ajustar o sistema para funcionar 4,5 horas, trabalhando em dois turnos por dia,
com o turno de rega de um dia. Para facilitar a operação no campo será utilizado o turno de
rega de dois dias irrigando uma unidade operacional por dia, com isto o sistema ficará com
seis subunidades sendo três irrigadas por vez. O sistema constará de seis setores, conforme
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 543
apresentado na Figura 9.28. O ajuste pode ser feito aumentando a vazão dos microaspersores
de acordo com a curva de vazão versus pressão fornecida pelo fabricante.
ó r r o
3m c e g
MB
0,2 % 78 m
0,0 %
1 2
300 m
4 3 450 m
6m
75 m
6 5
600 m
205,92
qa 45,76 L h -1
1 x 4,5
TR TDF 2 x 9
Nu 2
Ta 9
NTS 6
NSIV 3 setores por vez.
Nu 2
De acordo com o catálogo do fabricante, esse microaspersor fornece uma vazão de 46
L.h-1 a uma pressão de 15 mca ((46/11,88)2 = 15). Assim, o novo tempo de funcionamento
será:
205,92
Ta 4,48 4,5 horas
1 x 46
14 – Vazão do sistema
A Np qa
Qs 2,778
Nu Sp Sf
27 x 1 x 46
Qs 2,778 52,28 L s -1 188,2 m 3 .h -1
2 x 5,5 x 6
IRNs
ITNs
Es (1 RL)
550
ITNs 686,6 mm
0,9 (1 - 0,11)
Vs = ITNs A
Vs = 686,64 x 270.000 = 185.392,8 m3
185392,8
NHOS 492 horas
376,4
75
NEL 1 13 ,64 , logo, são 14 emissores de um lado da linha de derivação e
5,5
13 do outro lado, porém o dimensionamento será feito com 14 emissores por lateral.
Como os microaspersores estarão inseridos sobre a linha lateral, haverá uma perda de
carga adicional localizada no ponto de inserção, que pode ser estimada pela equação a seguir.
Considerando que a inserção é do tipo grande, ter-se-á um comprimento equivalente (Le) a
0,35 m:
J (Se Le)
J'
Se
0,69 (5,5 0,35)
J' 0,73 mca m -1
5,5
No cálculo da perda de carga ao longo da tubulação em tubos de inúmeras saídas po-
de-se utilizar a equação:
hfl J ' F L
1 1 ev -1
F
ev 1 2 N 6 N 2
1 1 1,75 x 1
F = 0,4
1,75 1 2 x 14 6 x 14 2
Como o hfl permitido é de 30% da Ha, ou seja, 4,5 mca, é preciso optar por uma tu-
bulação de maior diâmetro. Será testada então a tubulação de polietileno PE1630 da
546 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
J (Se Le)
J' , Le igual a 0,15 m para D = 16 mm.
Se
0,072 (5,5 0,15)
J' 0,074 mca m -1
5,5
hfl 0,074 x 0,4 x 75 2,22 mca
Como 2,22 é menor que 4,5 mca, pode-se utilizar a tubulação de 16 mm.
4 – Pressão no início da linha lateral
hl Ha 0,75 hfl - 0,5 DNl
hl 15 0,75 x 2,22 - 0 16,66 mca
DHl hfl DNl
DHl 2,22 0 2,22 mca
1 1 ev - 1
F
m 1 2 N 6 N2
1 1 1,75-1
F 0,374
1,75 1 2 x 50 6 x 50 2
hfd
J
L F
1,68
J 0,015 mca .m -1
300 0,374
L1 = 300 – 18 = 282 m
Assim, ter-se-á 282 m com diâmetro de 125 mm e 18 m com diâmetro de 100 mm.
5 – Pressão no início da linha de derivação
hd hl hfd DNd
hd 16,66 1,68 (0,002 x 300) 16,79 mca
A linha principal pode ser dividida em três trechos de 150 m, com vazões diferentes.
Deve-se lembrar que, como haverá dois turnos de 4,5 h de funcionamento por dia, cada subu-
nidade terá apenas um setor trabalhando no mesmo período. Assim, o trecho 1 deverá condu-
zir uma vazão para suprir três linhas de derivação; o trecho 2, duas linhas de derivação; e o
trecho 3, apenas uma linha.
Trecho 1 – Qlp = 3 Qd
Qlp = 3 Qd = 3 17,9 = 53,7 l.s-1 = 0,0537 m3 s-1
L = 150 m
4 Q
D
V
4 x 0,0537
D 0,213 m
1,5
4 0,0537
V 1,71 m s -1 , como o limite superior de velocidade é 2 m s-1, pode-se
0,2 2
utilizar a tubulação de 200 mm.
Qlp1,83
hf 1 9,58 x 10 5 L
D 4 ,83
53,71,83
hf 1 9,58 x 10 5 150 1,67 mca
200 4,83
Trecho 2 – Qlp = 2 Qd
Qlp = 2 Qd = 2 x 17,9 = 35,8 L s-1 = 0,0358 m3 s-1
L = 150 m
4 Q
D
V
4 x 0,0358
D 0,174 m
1,5
4 Qlp
V
D2
4 x 0,0358
V 2,02 m s -1 , como o limite superior de velocidade é 2 m s-1, deve-se
0,152
utilizar a tubulação de 200 mm.
Qlp1,83
hf 2 9,58 x 105 L
D 4 ,83
35,81,83
hf 2 9,58 x 10 5 150 0,77 mca
2004 ,83
Trecho 3 – Qlp = 2 x Qd
Qlp = 1 Qd = 1 x 17,9 = 17,9 L s-1 = 0,0179 m3 s-1
L = 150 m
4 Q
D
V
4 x 0,0179
D 0,123 m
1,5
O recalque já está incluído no primeiro trecho da linha principal, e a sucção terá o di-
âmetro imediatamente superior ao do primeiro trecho da linha principal e comprimento de 6
m.
53,71,83
hfs 9,58 x 10 5 6 0,02 mca
2504 ,83
Conjunto motobomba
A perda de carga ocorrida no cabeçal de controle deve ser especificada pelo fabrican-
te; neste caso, está em torno de 5 mca. A perda de carga localizada geralmente está em torno
de 5% da perda de carga contínua na linha principal.
Hm hd hfp DNp hfs DNs hfcc hfloc
Qs = 53,7 L s-1
De posse dos valores de Hm e Qs, pode-se escolher o conjunto motobomba mais adequan-
do, através do programa Agribombas. Assim, será usado o seguinte conjunto motobomba:
Marca: Mark Peerless
Modelo: GW
Velocidade do rotor: 1.750 rpm
Diâmetro comercial do rotor: 287 mm
Potência solicitada: 35,9 cv
Potência do motor elétrico: 30 cv
Rendimento: 83,6%
Número de rotores: 1 (monoestágio)
Rendimento do motor: 85,7%
Consumo de energia
Qs Hm
Pm
75 Eb
53,7 x 29,6
Pm 25,3 cv Pm 25 cv ( FS 1,15)
75 x 0,836
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 551
Pm
Pc
Em
25,3
Pc 29,5 cv
0,857
ETs A
NHOS
Em Qs 3600
550 x 600 x 450
NHOS 853,5 horas
0,9 x 53,7 x 3600
CTE = Pc NHOS = 29,5 x 0,736 x 853,5 = 25.178,3 kWh
Lista de material
Item Descrição Un. Quant.
Componentes da linha lateral
1 Gotejador FT azul Amanco un. 67.200
2 Tubo de polietileno PE1330 Amanco 13 mm m 90.000
3 Anel fim de linha un. 1.200
Componentes da linha de derivação
4 Conector saída para linha lateral 13 mm un. 1.200
5 Tubo PVC solda 125 mm 6m 47
6 Tubo PVC solda 100 mm 6m 3
7 Tampão fim de linha solda PVC macho 100 mm un. 6
Componentes da linha principal
8 Registro solda PVC 125 mm un. 6
9 Conexão “T” solda PVC 125 mm un. 1
10 Conexão “T” solda PVC 200/125 mm un. 4
11 Tubo PVC solda 125 mm 6m 25
12 Tubo PVC solda 200 mm 6m 50
Componentes do cabeçal de controle
13 Filtro de Disco Amanco Y 50/120 un. 6
14 Filtro de Tela Amanco Y 50/150 un. 6
15 Filtro de Areia Amanco Completo 200 mesh un. 2
552 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Referências
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Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 553
BERNARDO, S.; SILVA, J.F.; CAIXETA, T.J.; RAMOS, M.M. Efeito da lâmina d'água e do turno de rega
sobre a produção e características culturais do tomateiro, com utilização da irrigação por gotejamento. Revista
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KARMELI, D., KELLER, J. Evaluation of a trickle irrigation system. ln: INTERNATIONAL DRIP
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PIZARRO, F. Riegos localizados de alta frecuencia (RLAF): goteo, microaspersión, exudación. 2.ed. Madrid:
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RODRIGO LOPEZ, J.; HERNANDEZ ABREU, J. M.; PEREZ REGALADO, A.; GONZALEZ HERNANDEZ,
J. F. Riego localizado. Madrid: Ediciones Mundi-Prensa, 1992. 405 p.
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Manejo racional da irrigação 549
Capítulo 10
Considerações Gerais
No manejo racional de qualquer projeto de irrigação, devem-se considerar os aspectos
sociais e ecológicos da região e procurar maximizar a produtividade e a eficiência do uso da
água e minimizar os custos, quer de mão-de-obra, quer de capital, mantendo as condições de
umidade do solo e de fitossanidade favoráveis ao bom desenvolvimento da cultura irrigada. É
necessário também ter em mente a necessidade de melhorar ou, no mínimo, manter as
condições físicas, químicas e biológicas do solo, pois isso afetará muito a vida útil do projeto.
Têm-se de considerar, no manejo da irrigação, parâmetros que dependem do tipo de
sistema de irrigação e do próprio projeto em si, como: grau de automação, reuso da água que
escoa no final da parcela, necessidade de sistematização, medição de vazão, custo e
disponibilidade de água e de mão-de-obra, características da cultura irrigada etc., e
parâmetros comuns a todos os sistemas de irrigação, ou seja, quando irrigar, quando aplicar
por irrigação, uniformidade de aplicação, eficiência de irrigação, benefício da irrigação etc.
É de suma importância que no projeto de irrigação não seja considerada apenas a
captação e a condução de água, ou somente a sua aplicação dentro da parcela, mas sim uma
operação integrada, incluindo, também, a eqüidade na distribuição da água, as práticas
culturais, a retirada do excesso de água da área irrigada e a relação solo-água-planta e clima.
Caso essa integração não seja considerada, quer por ignorância, quer por falta de
planejamento, a eficiência do projeto e sua vida útil serão muito prejudicadas.
Infelizmente, é muito comum, no desenvolvimento dos projetos públicos de irrigação,
tratar isoladamente as seguintes etapas: estudo de viabilidade, planejamento, dimensionamento
e construção. E, para complicar ainda mais, não se consideram os aspectos relacionados à
operação e manutenção do projeto após concluído. Não se pode esquecer de que um sistema
de irrigação é um processo dinâmico e que essas etapas não podem ser tratadas isoladamente,
mas sim como um todo, juntamente com os aspectos de agroengenharia, social e de impacto
ambiental.
550 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
São várias as causas que levam muitos dos projetos públicos a não alcançarem os
objetivos preestabelecidos, sendo as mais comuns:
- falta de programa e de oportunidade para treinamento dos técnicos e usuários dos
projetos;
- falta de drenagem na maioria dos projetos, conduzindo à salinização, frustrando os
objetivos e as expectativas destes projetos de irrigação;
- falta de programação e de disponibilidade de recursos para manutenção e melhoria
dos projetos; e
- baixo valor dos produtos agrícolas, principalmente dos produtos básicos de
alimentação.
Em geral, esses problemas, juntos, resultam em baixa eficiência da irrigação,
salinização do solo, insucesso do projeto e na necessidade de reabilitação e melhoria da
maioria dos projetos, poucos anos após implantados.
Ultimamente, o uso da irrigação tem aumentado muito, mas, infelizmente, muitos dos
novos projetos já estão obsoletos mesmo antes de entrarem em operação. Em muitos casos, o
sucesso que se tem conseguido é com um custo financeiro muito elevado, o que torna a cada
dia mais importante a necessidade de estudos e pesquisas em manejo de sistemas de irrigação
para as diferentes condições socioeconômicas e regionais.
Um bom programa de irrigação pode beneficiar uma cultura de muitos modos, a
saber: aumentando sua produtividade, permitindo maior eficiência no uso de fertilizantes,
permitindo uma programação de cultivo, isto é, a elaboração de uma escala de plantio que
possibilite a obtenção de duas ou mais colheitas, em um só ano, na mesma área, ou seja, o uso
intensivo do solo, e permitindo introduzir culturas caras, o que minimiza o risco do
investimento etc.
Há alguns conceitos básicos de irrigação que devem ser discutidos antes de se tratar
sobre o manejo propriamente dito do sistema.
Sistema Solo-Água-Planta-Atmosfera
Qualquer planejamento ou qualquer operação de um projeto de irrigação que vise à
máxima produção e à boa qualidade do produto, usando de maneira eficiente a água, requer
conhecimento das inter-relações entre solo-água-planta-atmosfera e manejo de irrigação.
Em regiões áridas, onde a água é fator limitante, as pesquisas devem ser conduzidas
de modo que se faça o planejamento de irrigações em termos de máxima produção por unidade
de água aplicada. Noutras condições, pode ser preferível orientar as pesquisas para a obtenção
de máxima produção por unidade de área cultivada, por unidade de custo de mão-de-obra, por
unidade de energia, ou para aumentar o emprego de mão-de-obra no meio rural, ou visando ao
assentamento de famílias marginalizadas, ou para assegurar a estabilidade social na região.
Manejo racional da irrigação 551
8 6 4 2 1 0
20
40
Profundidade do solo, cm
60
80
100
Sorgo
120
15 20 25 30 35 40
Teor de umidade (%)
Figura 10.1 - Perfil de extração de água pelas raízes de sorgo em função da profundidade do
solo e do número de dias após a irrigação, segundo Gardner.
Manejo racional da irrigação 553
60
50
40
30
20
Kada
10 São Sebastião
Floralou
00
0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2
Lâmina aplicada, de acordo com a evaporação no USWB tanque classe “A”
554 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Figura 10.2 - Curvas da produção total de tomate dos cultivares ‘Kada’, ‘São Sebastião’ e
‘Floralou’, segundo Alves e Bernardo.
1,0
íd o u
0,8
bu a
tri á gu
o
dis d’
ou
te it
tico a
en éfic
crí ’águ
0,6
em o d
s
Grão ou frutas, P/Ppot
d
rm a
íod ficit
ifo nte
as
un l era
pe r dé
e ir
os
fic to
ut
em s a o
0,4
Fr
dé uras
icit ívei
it
lt
Cu
déf sens
as
0,2
l tur
Cu
6,0
(Pmax, ETmax) (Pmax, IR)
5,0
Produção, t/ha
4,0
3,0
(sequeiro)
2,0 10 20 30 40 50 60
Irrigação, cm
1,0
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Figura 10.4 - Relação entre produção, disponibilidade de água no solo na época do plantio
(DAP), precipitação efetiva (PE), irrigação (IR) e evapotranspiração (ET).
Programação de Irrigação
O planejamento e a operação de um sistema de irrigação têm de ser baseados nos
objetivos e nas condições em que se executará o sistema. Em regiões áridas, onde a água é
fator limitante, o objetivo deve ser a obtenção de máxima produção por unidade de água
aplicada. Noutras condições, o propósito pode ser a obtenção de máxima produção por
unidade de área cultivada ou por unidade de custo de mão-de-obra ou de energia consumida.
Esses aspectos serão minuciosamente discutidos ainda neste capítulo.
seja processada em seu potencial, deve-se manter elevada a disponibilidade de água no solo,
para que seja mantida a evapotranspiração potencial. Em muitas culturas, para que se obtenha
máxima produção, em geral, deve-se permitir que somente sejam usados, entre duas irrigações
sucessivas, 25 a 40% da disponibilidade de água do solo. É bom lembrar que nem sempre se
deseja a produção da planta como um todo, mas somente de determinado órgão desta, e nem
sempre a maior produção desse órgão e, ou, sua melhor qualidade estão relacionadas com o
maior crescimento.
A maior ou menor freqüência de irrigação dependerá muito do método de irrigação. É
muito difícil e não faz muito sentido usar um turno de rega longo na irrigação por gotejamento
ou por microaspersão, bem como um turno de rega muito curto na irrigação por superfície.
Em geral, para obter boa produção, podem-se usar, entre duas irrigações sucessivas,
os seguintes percentuais de disponibilidade de água do solo:
– Verduras e legumes 20 a 60%
– Frutas 30 a 70%
– Feijão, milho e soja 40 a 70%
– Sorgo, trigo e algodão 50 a 80%
Quando se está praticando irrigação com alta freqüência (gotejamento, microaspersão,
pivô central) e suprindo a demanda evapotranspirométrica, não há necessidade de se
preocupar com o nível de disponibilidade de água no solo, pois, nesses casos, esta
disponibilidade será sempre elevada.
profundas ou das precipitações pluviométricas que porventura caírem nessa época; a lâmina
real a ser aplicada por irrigação deverá ser igual ao somatório, no período, da ETc para os
sistemas com irrigação total, ou igual ao somatório, no período, da ETc menos a precipitação
efetiva para os sistemas com irrigação suplementar, ou seja:
Exemplos
Exemplo de Manejo com Irrigação Total
Calcular a lâmina a ser aplicada por irrigação, durante o mês de janeiro, em um
projeto de irrigação situado na região do Pirarucu, para as seguintes condições:
– Cultura de milho verde (comercialização em espiga).
– Turno de rega em janeiro = 7 dias.
– Evapotranspiração de referência (ETo):
de 1º a 10 de janeiro = 7,0 mm/dia
de 11 a 20 de janeiro = 7,8 mm/dia
de 21 a 31 de janeiro = 8,7 mm/dia
– Coeficiente da cultura:
O milho encontra-se na fase de enchimento dos grãos, Kc = 1,15.
– Capacidade total de água no solo nesta fase da cultura = 150 mm.
– Método de irrigação = aspersão, admitir Ea = 70%.
– A última irrigação foi realizada na manhã do dia 1º de janeiro.
Manejo racional da irrigação 561
Cálculos
– Período de 1º a 10 de janeiro
ETpc = Kc . ETo = 1,15 x 7,0 = 8,0 mm/dia
ETc = Ks . ETpc (equação 2.5). Para este período, a ETc será determinada utilizando a
equação 2.21 (Ks = Ln (LAA + 1.0)/Ln (CTA + 1,0) com CTA = 150 mm e ETpc = 8,0
mm/dia. Assim, tem-se:
dia 1º/jan., ETc = ETpc = 8,0 mm
dia 2/jan., ETc = 7,91 mm
dia 3/jan., ETc = 7,82 mm
dia 4/jan., ETc = 7,73 mm
dia 5/jan., ETc = 7,63 mm
dia 6/jan., ETc = 7,52 mm
dia 7/jan., ETc = 7.41 mm
dia 8/jan.
8,0 + 7,91 + ... + 7,41 54,02
ITN = = = 77 mm
0,7 0,7
ETc = ETpc = 8,0 mm
dia 9/jan., ETc = 7,91 mm
dia 10/jan., ETc = 7,82 mm
– Período de 11 a 20 de janeiro
dia 15/jan.
– Período de 21 a 31 de janeiro
dia 22/jan.
dia 29/jan.
– Período de 11 a 20 de janeiro
dia 11/jan.,
564 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
0 (CC)
Lâmina d'água consumida, mm
15
30
45
60
(I) Irrigação
(P) Precipitação y % da disponibilidade
75
– Período de 11 a 20 de fevereiro
ETpc = Kc ETo = 1,0 x 6,0 = 6,0 mm/dia, usando a equação 2.5, tem-se:
dia 11/fev., ETc = 5,92 mm
D = 7,0 + 5,92 - 0 = 12,92 mm
No dia 12 de fevereiro ocorreu uma chuva de 30 mm; destes, 20 mm foram
considerados efetivos (2/3 da chuva)
ETc = ETpc = 6,0 mm
D = 12,92 + 6,0 - 20 0 (solo saturado)
dia 13/fev., ETc = ETpc = 6,0 mm
D = 0 + 6,0 - 0 = 6,0 mm
dia 14/fev., ETc = ETpc = 6,0 mm
D = 6,0 + 6,0 - 0 = 12,0 mm
dia 15 fev., ETc = 5,92
D = 12,0 + 5,92 - 0 = 17,92 mm
dia 16/fev., ETc = 5,84 mm
D = 17,92 + 5,84 - 0 = 23,76
No dia 17 de fevereiro ocorreu uma chuva de 60 mm; destes, 30 mm foram
considerados efetivos (1/2 da chuva)
ETc = ETp = 6,0 mm
D = 23,76 + 6,0 - 30 0 (solo saturado)
dia 18/fev., ETc = ETpc = 6,0 mm
D = 0 + 6,0 - 0 = 6,0 mm
dia 19/fev., ETc = ETpc = 6,0 mm
D = 6,0 + 6,0 - 0 = 12,0 mm
dia 20/fev., ETc = 5,92 mm
D = 12,0 + 5,92 - 0 = 17,92 mm
– Período de 21 a 28 de fevereiro
ETpc = Kc ETo = 1,0 x 5,0 = 5,0 mm; usando as equações 2.5 e 2.21, tem-se:
dia 21/fev., ETc = 4,89
D = 17,92 + 4,89 - 0 = 22,81 mm
dia 22/fev., ETc = 4,83 mm
D = 22,81 + 4,83 - 0 = 27,64 mm
Manejo racional da irrigação 569
No dia 2 de março terá de ser feita uma irrigação aplicando uma lâmina no final do
sulco de aproximadamente 60 mm.
Na Figura 10.6 é ilustrada a variação típica da disponibilidade da água no solo
durante o ciclo de uma cultura irrigada por pivô central. As duas curvas mostram que se pode
programar a irrigação de modo que seja mantido o teor de umidade mais elevado nos 30 cm da
camada superior do solo e, ao mesmo tempo, permitir contínuo consumo da água das camadas
inferiores. Nesse caso, ter-se-á muito pouca perda de água por percolação e maior
aproveitamento das chuvas que porventura ocorrerem durante o ciclo da cultura.
570 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
20
CC
Z = 90 cm
10
CC
Z = 30 cm
5
50% DA
0
15 15 15 15
jun. jul. ago. set.
Figura 10.6 - Variação típica da disponibilidade de água durante o ciclo de uma cultura
irrigada por pivô central, em função da profundidade (Z), segundo Heerman et
al.
É bem mais fácil programar quando e quanto irrigar nos sistemas de irrigação
localizada e aspersão do que nos de irrigação por superfície, pois na irrigação por sulco o
controle da irrigação não depende somente do sistema de irrigação, mas, principalmente, das
características de infiltração do solo que variam conforme os tratos culturais, o número de
irrigação, o tempo de avanço e de recessão etc.
Na prática, segundo Jensen et al., os usuários da irrigação não têm se mostrado muito
sensíveis a melhorar o manejo da irrigação. Dentre as diversas causas, podem-se citar:
– baixo custo da água de irrigação, em relação ao custo das práticas que melhorariam
a eficiência de irrigação;
– dificuldade de qualificar e quantificar funções de produção que mostrem o
decréscimo da produção em razão da falta ou do excesso de irrigação;
– falta de dados de campo para os que terão de decidir diariamente quando e quanto
irrigar; e
– muitas vezes, nos projetos, as decisões sobre quando irrigar são relegadas a plano
secundário.
Além do mais, é comum, nos meios empresarial, rural e governamental, acreditar-se
que com poucas informações e rápido treinamento se pode transformar qualquer pessoa num
especialista em irrigação.
Manejo racional da irrigação 571
Referências
BERNARDO, S.; HILL, R.W. Um modelo para determinação de irrigação suplementar. Rev. Ceres, v. 25, n.
138, mar-abr. 1978.
BERNARDO, S. Manual de irrigação. 3. ed. Viçosa: Impr. Univ. 1983. 463 p.
DOORENBOS, J.; PRUIT, W.O Crop water requirements. Irrigation and drainage paper nº 24. Roma, F.A.O.,
1975. 179 p.
GARDNER, W.R. Soil water mobement and root absorption. In: PIERRE H. et al. (Eds.) Plant environment
and efficient water use. W. Madison: Ann. Soc. and Soil Sci. Am. 1965. p. 127-149.
HANKS, R.J.; GARDNER, W.R.; FLORIAN, R.L. Plant growth - evapotranspiration relations for several crops
in Central Great Plains. Agron. Journal, v. 61, p. 30-34, 1969.
HEERMANN, D.F.; HAISE, H.R.; MICKEISON, R.H. Scheduling center pivot sprinkler irrigation for corn
production in easter Colorado. Transaction of the ASAE, v. 19, n. 1, p. 284-287, 1976.
JENSEN, M.E.; ROBB, D.C.N.; FRANZOY, G.E. Scheduling irrigation using climate-crop-soil data. Proc.
Am. Soc. Civ. Eng., J. Irrig. and Drain Div., v. 96 (IRI), p. 25-38, 1970.
JENSEN, M.E.; WRIGHT, J.L.; PRATT, B.J. Estimating soil moiusture deplition from climate, crop and soil
data. Transaction of the ASAE, p. 954-959, 1971.
WRIGHT, J.L. New evapotranspiration crop coefficients. Proc. Am. Soc. Civ. Eng., J. Irrig. and Drain. Div.,
v. 108 (IR1), p. 57-74, 1982.
STEGMAN, E.C.; MUSICK, J.T.; STEWART, J.I. Irrigation water management. In: JENSEN, M.E. (Ed.).
Design and operation of farm Irrigation systems. Ame. Soc. Agri. Eng. St. Joseph, MI. 1980. p. 763-816.
Drenagem 571
Capítulo 11
Drenagem
Considerações Gerais
O objetivo da drenagem em regiões úmidas e semi-úmidas é aerar a camada superior
do solo e aumentar sua resistência, de modo que permita sua exploração agrícola. O excesso
de água terá de ser removido e o lençol freático mantido a uma profundidade a ser
determinada em função do solo, do clima e da cultura a ser explorada na área. Na maioria das
áreas irrigadas, o objetivo da drenagem é retirar o excesso de água aplicado na irrigação, ou
seja, controlar a elevação do lençol freático, bem como possibilitar a lixiviação dos sais
trazidos nas águas de irrigação, a fim de evitar a salinização do solo.
Assim, a drenagem de terras agrícolas pode ser definida como o processo de remoção
de excesso de água dos solos, de modo que lhes dê condições de aeração, estruturação e
resistência, a fim de torná-los viáveis à exploração agrícola.
Em qualquer terreno existe normalmente drenagem natural, mas nem sempre ela é
suficiente para tornar os solos viáveis à exploração agrícola; por isso, sempre que a drenagem
natural não for satisfatória, deve-se fazer, em complementação, drenagem artificial.
As principais fontes do excesso de água no solo são as precipitações, as irrigações e
as infiltrações provenientes de lençol freático, canais e represas. Em regiões áridas e semi-
áridas, a fonte mais comumente causadora do excesso de água no solo em razão da elevação
do lençol freático é a irrigação, e em regiões úmidas e semi-úmidas é a chuva.
Os principais benefícios que se podem conseguir com a drenagem são os comentados
a seguir.
Principalmente nas regiões úmidas e semi-úmidas, onde uma boa percentagem dos
terrenos encontra-se, em condições naturais, com excesso de umidade, como nos casos dos
brejos e pântanos, a única maneira de torná-los agricultáveis é por meio da drenagem. Esses
solos, em geral, são ricos e com topografia plana e uniforme, ou seja, com grande potencial
para agricultura mecanizada.
Controle da Salinidade
As águas de irrigação, mesmo as de melhor qualidade, como as classificadas como C1
- S1 (capítulo 3), possuem uma certa quantidade de sal. Se toda água aplicada na irrigação for
evapotranspirada, haverá um acúmulo constante de sal no solo; com o passar do tempo o solo
será, indubitavelmente, salinizado, tornando-se evidente a necessidade de drenagem natural ou
artificial nessas áreas, quando irrigadas, para evitar sua salinização. Em regiões áridas e semi-
áridas, é necessário aplicar água em excesso para se ter água de drenagem, a qual terá maior
concentração de sal do que a de irrigação. Nas regiões úmidas e semi-úmidas, é preciso
somente construir os sistemas de drenagem quando a drenagem natural da área for
insuficiente, pois as águas das chuvas lixiviam o excesso de sal do solo, evitando assim a sua
salinização.
Aqui se refere à eliminação, por meio da drenagem, das águas paradas, nas quais
proliferam os mosquitos e outros agentes causadores de doenças na espécie humana e em
animais, ou seja, o saneamento das áreas inundadas.
Ciclo Hidrológico
Na Figura 11.1 são ilustrados os componentes principais do ciclo hidrológico e seu
relacionamento com a drenagem.
(Precipitação)
(Evapotranspiração)
E
sub scoa Escoamento Superficial
Len çol s up men
fr eátic o erf to
ici
al
Esco Rios, lagos,
Subte amento
rrâne
o
oceanos
A água pode ficar retida acima do lençol freático, nas condições de solo não-saturado,
o que normalmente denomina-se umidade do solo, e abaixo do lençol freático, nas condições
de solo saturado, normalmente denominada água subterrânea. A água subterrânea pode ser
encontrada em aqüíferos não-confinados, ou seja, quando o lençol freático está sob pressão
atmosférica – também conhecido como lençol freático livre; ou em aqüíferos confinados, isto
é, quando toda a água no aqüífero encontra-se sobre pressão positiva – também conhecido
como aqüífero artesiano.
Numa faixa estreita, acima do lençol freático, normalmente denominada “franja
capilar”, os poros do solo são preenchidos pela ascensão capilar da água do lençol freático.
Na parte inferior da franja capilar, o solo é saturado de umidade, como no solo abaixo do
lençol freático, porém existe uma grande diferença entre os dois casos: enquanto abaixo do
lençol freático a água se encontra sob pressão hidrostática positiva, acima do lençol freático
ela se encontra sob pressão negativa.
Em caso de lençol freático profundo, ou seja, lençol freático a mais de 5 m abaixo da
superfície do solo, a umidade do solo na camada superior – até 1 m de profundidade, por
exemplo – varia muito com o tempo, em razão da variação da demanda evapotranspiro-
métrica decorrente das variações diárias das condições climáticas, enquanto nas camadas mais
profundas as variações da umidade do solo se processam de maneira muito lenta, somente
detectadas em períodos longos, ou seja, acompanhando as variações climáticas sazonais.
Em se tratando de lençol freático muito raso, até 1 m da superfície do solo, a umidade
do solo, acima do lençol freático, varia muito pouco com o tempo, mantendo quase o mesmo
perfil de umidade durante todo o ano.
A pressão com que a água é encontrada no solo pode ser expressa em pascal
(newton/m2), em metro de coluna d’água (m.c.a.), em centímetro de coluna d’água (cm.c.a.),
em atmosfera (atm) ou em bar, sendo 1 bar = 105 pascal 1 atm 10 m.c.a. 1.000 cmca.
No estudo da água do solo é necessário considerar dois casos distintos:
Pressão abaixo do lençol freático
No nível do lençol freático, a água do solo está somente sob pressão atmosférica (P =
Patm). As forças que atuam na água do solo, abaixo do lençol freático, são as mesmas que
atuam em qualquer massa de água contida em um recipiente ou se movimentando lentamente.
Como o fluxo de água subterrânea é normalmente muito lento para gerar forças cinéticas
significativas, pode-se afirmar que prevalece a pressão hidrostática normal, conhecida também
como pressão piezométrica. Considerando a Patm como referência (Patm = 0), e como P >
Patm, P será sempre positiva, conforme ilustra o piezômetro da Figura 11.2.
Drenagem 575
Piezômetro Tensiômetro
Superfície do solo
b
P(-)
P (+)
a
a - pressão abaixo do lençol freático b- pressão acima do lençol freático
será o comprimento (L). Assim, pode-se expressar o potencial nas unidades de metro (m) ou
centímetro (cm).
O potencial total ( total) da água no solo corresponde à soma dos seus diversos
potenciais, e os mais importantes são: potencial gravitacional ( g), potencial de pressão ( p),
potencial matricial ( m) e potencial osmótico ( os).
– O potencial gravitacional no plano de referência será igual a zero ( g = 0), acima do
plano de referência será positivo ( g > 0) e abaixo será negativo ( g < 0).
– O potencial de pressão correspondente à pressão hidrostática será igual a zero
(p = 0) no nível do lençol freático e positivo ( p > 0) abaixo deste.
– O potencial matricial ( m), também denominado tensão ou sucção, será igual a zero
(m = 0) no nível do lençol freático e negativo (m < 0) acima deste.
– O potencial osmótico ( os) depende da concentração de sais na água do solo. Como
os solutos se movem junto com a água, esse potencial somente tem importância na presença de
membranas semipermeáveis.
Assim:
total = g + p + m (11.1)
Em campo, sempre que possível deve-se tomar o lençol freático como plano de
referência. Neste plano, g = 0, p = 0, m = 0 e total = 0. Em laboratório, quando existir
superfície livre de água, sempre que possível deve-se tomar a superfície mais baixa como
plano de referência. Quando isso não for possível, toma-se um plano imaginário como plano
de referência.
Para as condições da Figura 11.3, no ponto A, tem-se total = g + m = Za +
(-Pa) = Za + (-Za) = 0. Como no lençol freático total também é igual a zero, isso representa
o que se denomina de “capacidade de campo”, ou seja, o perfil de umidade acima do lençol
freático está estático, não havendo movimento de umidade para cima ou para baixo. A
percolação da água, através do perfil do solo, cessa quando o potencial matricial em todos os
pontos acima do lençol freático ficar com a mesma magnitude, mas com sinal contrário ao
potencial gravitacional, e a evapotranspiração não for significativa.
Drenagem 577
(-) 0 (+)
Superfície do solo
Ponto A m Total g
(-Pa) Pa Za
Za
Zb
g p
(+Pb) Zb Pb
Ponto B
Figura 11.3 - Potencial total ( total), gravitacional ( g), de pressão ( p) e matricial ( m), para
as condições de equilíbrio da umidade do solo na presença do lençol freático.
solo, ou seja, dependerá somente da textura e da estrutura do solo. Contudo, para solo não-
saturado a condutividade hidráulica (K) dependerá do tipo de solo (textura e estrutura), bem
como do seu teor de umidade.
Assim, para fluxo em um meio saturado, como K é constante (Ko), a equação de
Darcy pode ser escrita da seguinte forma:
q = -Ko (11.3)
L
d
q = -K() (11.4)
dZ
20 cm
1 2
10 cm
Solo
15 cm
30 cm
Plano de
Referência
1 = 20 + 15 = 35 cm
2 = 10 + 15 = 25 cm
Ko = 2,8 cm/h
(25 - 35) 28
q = -Ko = - 2,8 = = 0,93 cm/h
L 30 30
2 – Solo não-saturado
110 cm
S
O
30 cm
L
O
Plano de
2
Referência
90 cm
580 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
1 = (+ 30 - 110) = - 80
2 = (0 - 90 = -90)
K100 = 0,037 XM/H
(-90) - (-80) 0,37
q = -K100 = - 0,037 = = 0,012 cm/h
L 30 30
3 – Calcular o movimento vertical no perfil do solo, através da leitura nos dois
tensiômetros ilustrados a seguir:
35 cm 38 cm
10 cm
Superfície do Solo
Plano de Referência
100 cm
30 cm
Drenagem
A drenagem de terras agrícolas pode ser dividida em duas grandes classes: Drenagem
Superficial e Drenagem do Solo ou Drenagem propriamente dita. Alguns tipos de drenos
atuam simultaneamente nas duas classes.
Drenagem Superficial
Drenagem 581
L L3
K= = (11.8)
S H
Comprimento
Sulco ou dreno
Camalhão
Altura Largura
Sistematização – Este sistema adapta-se a áreas planas com muitas depressões, porém
pequenas e rasas. Consiste na uniformização da superfície da terra, ou seja, aterro das depressões e
cortes das elevações. O seu uso depende do volume de terra que se terá de movimentar.
Drenagem do Solo
A drenagem do solo, também conhecida como drenagem propriamente dita, consiste
nos sistemas de drenos, visando à eliminação do excesso de umidade da camada superficial do
solo, ou seja, da camada do solo onde se desenvolve o sistema radicular das plantas. Isso, em
geral, é conseguido por meio do abaixamento do lençol freático.
Nas áreas em que o lençol freático está abaixo de 2 m, geralmente não há problema de
drenagem. Em regiões úmidas e sem irrigação, podem ser desenvolvidas atividades agrícolas,
com o lençol freático na profundidade de 60 cm, sem muitos problemas. Contudo, em regiões
áridas ou semi-áridas, com irrigação e perigo de salinidade, deve-se manter o lençol freático a
uma profundidade mínima de 1,8 m, para evitar problemas de salinização.
A drenagem do solo melhora sua aeração, aumenta o volume de solo explorado pelas
raízes, melhora a estruturação do solo, facilita a decomposição da matéria orgânica a ele
incorporada, remove o excesso de sais e permite sua mecanização. Esses pontos justificam o
uso da drenagem, principalmente nas áreas irrigadas e na recuperação de áreas com excesso
de umidade ou de sais.
Em alguns casos, a melhor solução para os problemas causados pelo excesso de
umidade no solo é a mudança para culturas menos suscetíveis ao excesso de umidade.
586 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Entretanto, na maioria dos casos, tem-se mesmo é que fazer a drenagem do solo quando se
quer explorar áreas com problemas de excesso de umidade.
Afim de se poder dimensionar corretamente um sistema de drenagem para uma
determinada área, é necessário, primeiramente, quantificar a natureza ou a causa do problema,
bem como os seus efeitos, ou seja: se o problema é devido à existência de camada
impermeável não muito profunda; se a elevação do lençol freático se deve à baixa eficiência
da irrigação ou à grande quantidade de água percolada dos canais; se existem pontos de
estrangulamento nos drenos naturais (córregos); se o problema é decorrente da pouca
declividade na parte baixa da bacia etc. Além disso, é preciso determinar a origem da água
que abastece o lençol freático, o tamanho da área afetada, a freqüência e duração do
problema, os tipos de prejuízos que causa às culturas e às operações agrícolas etc. Essa
diagnose preliminar deve ser feita com base nas informações disponíveis no local e na
imprescindível inspeção da área.
Para dimensionar o sistema de drenagem, precisa-se definir ou determinar os seguintes
parâmetros:
– Tipo de dreno e tipo de sistema.
– Capacidade de descarga do sistema.
– Condutividade hidráulica do solo.
– Profundidade mínima do lençol freático.
– Profundidade do dreno.
– Espaçamento dos drenos.
Figura 11.5 - Efeito dos drenos (aberto e subterrâneo) sobre o lençol freático.
Tabela 11.2 - Valores médios de espaçamento e profundidade dos drenos, segundo Millar
Tipo de solo Condutividade Espaçamento (m) Profundidade (m)
hidráulica (mm/dia)
Textura fina < 1,5 10 a 20 1,0 a 1,5
Textura média 1,5 a 5,0 15 a 25 1,0 a 1,5
4 a 20,0 20 a 35 1,0 a 1,5
20,0 a 65,0 30 a 40 1,0 a 1,5
Textura grossa 65,0 a 125,0 30 a 70 1,0 a 2,0
Turfa 125,0 a 250,0 30 a 100 1,0 a 2,0
Método direto
O método direto consiste na determinação in loco da declividade da linha de efeito útil
de drenagem do solo, a qual deve ser determinada na área a ser drenada, por meio da
588 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
instalação de um dreno aberto, e na direção perpendicular ao dreno aberto, por uma série de
poços, conforme ilustrado na Figura 11.6. A água do dreno aberto deve ser bombeada ou
derivada por gravidade para fora da área, até se tornar constante o nível da água dentro dos
poços. Unindo esses pontos em um gráfico, tem-se a declividade da linha de efeito útil de
drenagem daquele solo. Conhecendo esta linha, facilmente pode-se determinar qual deverá ser
a distância e profundidade dos drenos para uma determinada profundidade mínima do lençol
freático no meio de dois drenos. Após instalado o sistema de drenagem, a profundidade
mínima real do lençol freático será um pouco maior do que a profundidade mínima
preestabelecida; isso porque o lençol freático, na posição intermediária entre dois drenos,
estará sob a ação dos dois drenos, e, quando se determinou a declividade da linha de efeito útil
de drenagem, usou-se apenas um dreno.
Método indireto
Existem várias equações e ábacos para estimar o espaçamento dos drenos em funç ão
do tipo de solo, da quantidade de água a ser drenada, da profundidade do dreno, da existência
e profundidade da camada impermeável etc.
Dentre as diversas equações, podem-se citar as da elipse ou de Donnan, da elipse
modificada ou de Hooghoudt, de Ernst, de Kirkham, do United States Bureau of Reclamation
(USBR) etc.
A escolha da equação a ser usada deve basear na experiência e na performance da
equação na região e, principalmente, nas condições e limitações físicas locais. Serão
apresentadas as equações de Donnan e de Hooghoudt, aplicáveis nas regiões em que o lençol
freático está em equilíbrio com a chuva e, ou, irrigação, ou seja, sob condições de fluxo em
regime permanente.
Para um determinado tipo de solo e uma determinada profundidade do dreno, quando
se usam equações para as condições de regime permanente, os parâmetros necessários para
determinar o espaçamento dos drenos são a quantidade de água a ser drenada da área (q) e a
profundidade mínima do lençol freático (H). A quantidade de água a ser drenada da área (q) é
determinada em função da distribuição média da chuva, e a profundidade mínima do lençol
freático (H) é determinada em função do solo, da cultura e do cultivo a serem usados na área.
Drenagem 589
O fluxo de água no solo em um sistema de drenos paralelos pode ser analisado pelos
componentes de fluxos horizontais, verticais e radiais. A resistência ao fluxo vertical é muito
pequena, quando comparada à resistência ao fluxo horizontal. A resistência ao fluxo radial se
deve à convergência das linhas de fluxo na proximidade do dreno. Assim, o espaçamento dos
drenos dependerá quase que exclusivamente das resistências aos fluxos radial e horizontal.
Mesmo assim, dependendo da situação, um pode prevalecer sobre ou outro, ou seja:
– Quando o dreno estiver situado muito próximo, ou sobre a camada impermeável,
predomina quase que exclusivamente a resistência ao fluxo horizontal.
– Quando a camada impermeável estiver muito profunda em relação ao dreno
(profundidade > ¼ do espaçamento), predomina quase que exclusivamente a resistência ao
fluxo radial.
– Quando a camada impermeável estiver abaixo do dreno, mas a uma profundidade
menor do que ¼ do espaçamento, tanto a resistência ao fluxo horizontal como ao radial são
significativas e devem ser consideradas na determinação do espaçamento dos drenos.
4 Ko (y 2 - Z2 )
L= (11.11)
q
Superfície do solo
H
LF
P
h
q
Y
z
D Camada impermeável
Figura 11.7 - Representação de drenagem com lençol freático estável, mostrando os termos
usados na equação de Donnan.
Para fins práticos de dimensionamento, os drenos são considerados vazios, ou seja, D
= Z; assim, a equação de Donnan pode ser escrita da seguinte forma:
4 Ko (Y 2 - D2 )
L= (11.12)
q
590 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
4 K o ( h 2 + 2h D)
L= (11.13)
q
Nota – Para que o lençol freático seja estável, a quantidade de água a ser drenada
deverá ser igual à quantidade de água que infiltra na área devido à chuva e, ou, irrigação (q).
O valor de q, em m/dia, corresponde a m3/m2 de área drenada por dia. Em um sistema
de drenagem com drenos paralelos, espaçados entre si de 30 m e comprimento de 90 m, cuja
lâmina de água drenada é 0,005 m/dia, a vazão por dreno será: Q = 0,005 m/dia x 30 m x 90
m = 13,5 m3/dia/dreno para a área de 2.700 m2, o que corresponde à vazão de 50 m3/dia/ha
ou, aproximadamente, 0,58 l/s/ha.
A equação de Donnan é baseada nas hipóteses de que as linhas de fluxos são
horizontais e de que a velocidade de movimentação da água no solo é proporcional ao
gradiente hidráulico do lençol freático. Apesar de estas hipóteses serem somente aproximadas,
elas representam satisfatoriamente as situações reais, sob certas condições. Dessa forma, o
uso da equação de Donnan deve ser limitado às seguintes condições:
– Lençol freático estável, ou seja, quantidade de água drenada constante (regime de
fluxo permanente).
– O fluxo do lençol freático é predominante na direção horizontal. Exemplo disso são
os solos estratificados, com as camadas funcionando como aqüíferos horizontais, ou quando
se tem a camada impermeável a pouca profundidade (profundidade da camada impermeável
menor do que duas vezes a profundidade do dreno, ou seja, (D < 2P).
– Quando se usam drenos abertos (valetas) ou, em alguns casos, drenos cobertos com
envelope.
– Sistema de drenagem com drenos paralelos.
Drenagem 591
Esta equação é bastante precisa quando a valeta de drenagem vai até a camada
impermeável.
Ko = 1,0 m/dia.
Como D < 2P (1,0 << 2 1,2), pode-se aplicar a equação de Donnan, em que:
8 Ko 2 d h 4 Ko1 h 2
L = (11.14)
q q
Superfície do solo
H
LF
P
h
K 01
K 02 q
L
d
D
Camada impermeável
Figura 11.8 - Representação de drenagem com lençol freático estável, mostrando os termos
usados na equação de Hooghoudt.
Exemplos
Determinar o espaçamento, em um sistema de drenagem de uma área úmida com as
seguintes condições:
– Raio do tubo de dreno: 7,5 cm.
– Profundidade da camada impermeável: 4 m.
– Profundidade do dreno: 1,0 m (P = 1 m).
– Profundidade mínima do lençol freático: 0,5 m.
– Condutividade hidráulica da camada superior do solo (Ko1): 1,5 m/dia.
– Condutividade hidráulica da camada do subsolo (Ko2): 1,0 m/dia.
– Lâmina de água a ser drenada: 5 mm/dia.
Com esses dados, tem-se:
r = 0,075 m;
P = 1,0 m; P + D = 4,0 m; D = 3,0 m;
H = 0,5 m, H + h = 1,0, h = 0,5 m;
594 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
D L, em m.
(m) 5 7,5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 75 80 85 90 100 150 200 250
0,50 0,45 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 - - - - - - - - - - - -
0,75 060 0,5 0,70 0,70 0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 - - - - - - - -
1,00 0,65 0,75 0,80 0,85 0,90 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
1,25 0,70 0,80 0,90 1,00 1,05 1,10 1,10 1,15 1,15 1,15 1,15 - - - - - - - -
1,50 0,70 0,90 0,95 1,10 1,20 1,25 1,30 1,30 1,35 1,35 1,35 - - - - - - - -
1,75 0,70 0,90 1,00 1,20 1,30 1,40 1,45 1,50 1,50 1,55 1,55 - - - - - - - -
2,00 0,70 0,95 1,10 1,30 1,40 1,50 1,55 1,60 1,65 1,70 1,70 1,80 1,80 1,80 1,85 1,85 1,90 1,90 1,95
2,25 0,70 0,95 1,15 1,35 1,50 1,70 1,70 1,75 1,80 1,85 1,85 - - - - - - - -
2,75 0,70 0,95 1,15 1,40 1,65 1,75 1,90 2,00 2,00 2,05 2,10 2,20 - - - - - - -
3,00 0,70 0,95 1,15 1,45 1,65 1,85 1,95 2,10 2,15 2,25 2,30 2,50 2,50 2,55 2,55 2,60 2,70 2,80 2,85
3,25 0,70 0,95 1,15 1,50 1,70 1,90 2,05 2,15 2,25 2,35 2,40 - - - - - - - -
3,50 0,70 0,95 1,15 1,50 1,75 1,95 2,10 2,25 2,35 2,45 2,55 - - - - - - - -
3,75 0,70 0,95 1,15 1,50 1,80 1,95 2,15 2,30 2,45 2,55 2,65 - - - - - - - -
4,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,80 2,00 2,20 2,35 2,50 2,60 2,70 3,05 3,10 3,10 3,15 3,25 3,45 3,60 3,65
4,50 0,70 0,95 1,15 1,55 1,85 2,10 2,30 2,50 2,65 2,75 2,85 - - - - - - - -
5,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,15 2,40 2,60 2,75 2,90 3,00 3,50 3,55 3,60 3,65 3,80 4,10 4,30 4,45
5,50 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,20 2,45 2,65 2,85 3,00 3,15 - - - - - - - -
6,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,50 2,70 2,90 2,10 3,25 3,85 3,95 4,00 4,10 4,25 4,70 4,95 5,15
7,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,55 2,80 3,05 3,25 3,45 4,15 4,25 4,35 4,40 4,60 5,20 5,55 5,80
8,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,55 2,85 3,15 3,35 3,55 4,40 4,50 4,60 4,70 4,95 5,70 6,15 6,45
9,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,20 3,45 3,65 4,55 4,70 4,80 4,95 5,25 6,10 6,65 7,00
10,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,50 3,75 4,75 4,90 5,05 5,20 5,45 6,45 7,10 7,55
12,50 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,00 5,20 5,40 5,55 5,90 7,20 8,05 8,70
15,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,20 5,40 5,60 5,80 6,25 7,75 8,85 9,65
17,50 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,30 5,55 5,75 6,00 6,45 8,20 9,45 10,40
20,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,60 5,85 6,10 6,60 8,55 9,95 11,10
25,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,75 5,95 6,20 6,80 9,00 10,70 12,10
30,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,75 6,00 6,25 6,80 9,25 11,30 12,90
35,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,75 6,00 6,25 6,80 9,45 11,60 13,40
40,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,75 6,00 6,25 6,80 9,55 11,80 13,80
45,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,75 6,00 6,25 6,80 9,55 12,00 13,80
50,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,75 6,00 6,25 6,80 9,55 12,10 14,30
0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,75 6,00 6,25 6,80 9,55 12,20 14,70
596 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
1ª tentativa
Assumindo L = 40 m
Com L = 40 m e D = 3,0 m, pela Tabela 11.3, d = 2.15, aplicando a equação de
Hooghoudt, tem-se:
2ª tentativa
Assumindo L = 45 m
Com L = 45 m e D = 3,0, pela Tabela 11.3, d = 2,25. Dessa forma:
3ª tentativa
Assumindo L = 46 m
Com L = 46 m e D = 3,0 m, pela Tabela 11.3, d = 2,26. Dessa maneira:
Este gráfico está dividido em duas partes: uma para L variando de 5 a 25 m e outra
para L variando de 10 a 100 m.
Figura 11.9 - Solução gráfica da equação de Hooghoudt, segundo W.F.J. van Beers.
Exemplos
a) Determinar o espaçamento a ser usado em um sistema de drenagem com manilhas
porosas, para as seguintes condições:
– Dreno de manilha: profundidade de 1,0 m.
– Profundidade da camada impermeável: 4,0 m.
– Profundidade mínima desejada do lençol freático: 0,5 m.
– Condutividade hidráulica da camada superior do solo (Ko1): 1,5 m/dia
– Condutividade hidráulica da camada do subsolo (Ko2): 1,0 m/dia.
– Lâmina de água a ser drenada: 5 mm/dia.
– Dreno de manilha: raio de 7,5 cm.
Com esses dados, tem-se:
r = 0,075 m; q = 0,005 m/dia;
598 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
4 K o l h 2 4 x 1,5 x 0,52
= = 300
q 0,005
D = 3,0 m.
Ligando o ponto 800 com o ponto 300, no gráfico da direita (Figura 11.9), esta linha
intercepta a de D = 3,0 no ponto de L 46 m.
Os drenos devem ser espaçados de 46 m.
b) Determinar o espaçamento a ser usado em um sistema de drenagem com tubos
corrugados, para as seguintes condições:
– Profundidade do dreno: 1,0 m;
– Profundidade da camada impermeável: 3,5 m;
– Profundidade mínima desejada do lençol freático: 0,6 m;
– Condutividade hidráulica da camada superior do solo (Kol): 2,0 m/dia; e do subsolo
(Ko2): 1,0 m/dia;
– Lâmina de água a ser drenada: 7 mm/dia’
– Tubo com raio de 10 cm.
Com esses dados, tem-se:
r = 0,10 m; q = 0,007 m/dia;
P = 1,0 m; P + D = 3,5 m; D = 2,5 m;
H = 0,6 m; H + h = 1,0 m; h = 0,4 m;
Kol = 2,0 m/dia; Ko2 = 1,0 m/dia.
8 K o 2 h 8 x 1,0 x 0,4
= = 457
q 0,007
4 K o l h 2 4 x 2,0 x 0,4 2
= = 183
q 0,007
D = 2,5 m.
Ligando o ponto 457 ao ponto 183 no gráfico da direita (Figura 11.9), essa linha
intercepta a imaginária para D = 2,5 no ponto de L = 32 m.
Drenagem 599
4 K ol h 2
= 183
q
D = .
Unindo os pontos, encontra-se L = 41 m.
Os drenos devem ser espaçados de 41 m.
d) Qual será o espaçamento entre os drenos do exemplo usado, com a equação de
Donnan, se for usada naqueles dados a equação de Hooghoudt?
Naquele exemplo, tinha-se:
q = 0,006 m/dia;
P = 1,2 m; P + D = 2,2 m; D = 1,0 m;
H = 0,5; H + h = 1,2; h = 0,7 m;
Kol = Ko2 = 1,0 m/dia.
8 K o 2 h 8 1,0 0,7
= = 933
q 0,006
4 K o l h 2 4 1,0 0,7 2
= = 327
q 0,006
D = 1,0 m.
Pelo gráfico, tem-se L = 34 m.
Verifica-se que o espaçamento é um pouco menor do que o encontrado com a equação
de Donnan (L = 35,5 m); isso porque a equação de Hooghoudt considera a convergência das
linhas de fluxo, o que aumenta a resistência ao fluxo.
Analisando as equações de Donnan e de Hooghoudt, constata-se que, mantendo as
demais variáveis constantes, o valor de L aumenta com:
– aumento da condutividade hidráulica de solo (K);
– decréscimo da lâmina de água a ser drenada por dia (q);
– aumento da profundidade da camada impermeável; e
– aumento da altura do lençol freático no ponto intermediário entre os drenos (h).
600 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
h
Ladrão
L Anel de borracha
Tela coberta de gases
Cilindro Funil
com
solo
Proveta
Plano de referência
A
Superfície do solo
Z Z´
Lençol freático
Yn
Y
Yo P´
H Y P
Camada impermeável
Figura 11.11 - Esquema das medições para determinação da condutividade hidráulica, pelo
método de um poço na presença do lençol freático.
A abertura do poço deve ser feita com cuidado para não alterar a estrutura do solo
junto à parede do poço. Em solos homogêneos, a profundidade do poço pode variar de 30 a
150 cm abaixo do lençol freático, e o raio do poço normalmente varia de 4 a 6 cm.
A retirada da água de dentro do poço pode ser feita por meio de uma pequena bomba
ou de um pedaço de tubo, com válvula de entrada na parte inferior. Antes de se fazerem as
medições para determinar Ksat, deve-se retirar a água de dentro do poço duas ou três vezes, a
fim de desobstruir os poros que porventura tenham sido entupidos durante a perfuração. Para
fazer as medições, tem-se que esperar que o nível da água dentro do poço atinja o nível do
lençol freático. Em seguida, deve-se retirar água do poço até o seu nível abaixar de 20 a 60
cm (Yo de 20 a 60 cm).
O objetivo das medições é determinar a velocidade com que o nível da água sobe no
poço, ou seja, Y e t. Normalmente as leituras do nível da água podem ser feitas ou usando
um intervalo de tempo constante, ou seja, a cada 10, 15, 20 ou 30 segundos, sendo que
durante o teste devem-se fazer cinco leituras; ou fixando um determinado comprimento e
medindo o tempo que o nível do poço levará para subir esta distância. Durante o teste devem-
se fazer de quatro a cinco leituras, com o objetivo de verificar se não ocorreu nenhuma
anormalidade. As variações intermediárias devem ser mais ou menos uniformes.
Um ponto de capital importância é que as leituras devem ser feitas antes que 25% do
volume de água retirado do poço tenha retornado a ele, ou seja, antes que Yn < 3/4Yo, ou
antes de Y>1/4 Yo.
Assim, para se obterem bons resultados com este método, devem-se observar as
seguintes condições:
– A medição da velocidade de elevação do nível da água dentro do poço deve ser
completada antes que Y seja maior do que ¼ Yo, ou seja, Y deverá ser igual ou menor do
que ¼ Yo.
– Antes de se fazerem as medições para determinar a velocidade de elevação do nível
da água no poço, deve-se bombear ou retirar a água do poço duas ou três vezes.
Y
Ko = C (m/dia) (11.18)
t
em que o fator C depende de Y, H, r e S e pode ser determinado pelas Figuras 11.12 e 11.13,
preparadas por W.F.J. van Beers, para poço com r = 5 cm e S = 0 ou S ½ H. De modo
geral, a Figura 11.13 pode ser usada para qualquer valor de S 15 cm. Quando o raio do
poço for diferente de 5 cm, essas figuras podem ser usadas, desde que sejam corrigidos os
valores de H e Y. O fator de correção é 5/r. Por exemplo, quando o raio do poço for de 4 cm,
o fator de correção será 5/4 = 1,25, ou seja, os valores de H = 40 cm e Y = 16 cm serão
corrigidos para Hc = 50 cm e Yc = 20 cm e usados para determinar C.
r = 4 cm 0 - 146,0 - -
P = 200 cm 10 - - 144,6 1,4
S=4m 20 - - 143,1 1,5
30 - - 141,7 1,4
40 - - 140,4 1,3
50 - - 139,0 1,4
T = 50 Y = 7,0
Têm-se então os seguintes dados:
P = 200 cm e P’ = P + A = 230 cm
Z’ = 100 cm e Z = Z’ - A = 70 cm
H = P’ - Z’ = 230 - 100 = 130 cm
Yo = 160 - Z’ = 160 - 100 = 60 cm
Yn = 146 - Z’ = 146 - 100 = 46 cm
Yo + Yn 60 + 46
Y= = = 53,0 cm
2 2
Y = 14 cm e T = 75 segundos
(1/4 Yo = 15 cm, como Y < ¼ Yo, O.K.)
Y 14
= = 0,187
T 75
Usando a Figura 11.13 (S > 15 cm), para H = 130 cm e Y = 53, tem-se C = 5,2.
Y 14
Ko = C = 5,2 = 0,97 m/dia
T 75
b) Na Tabela 11.5 estão os dados obtidos em um poço com raio de 4 cm, cujas
leituras foram feitas com intervalo de tempo constante.
A = 40 cm - 115,0 - - -
r = 4 cm 0 - 146,0 - -
Drenagem 607
Características Distância do nível de água do poço ao plano de referência (cm) Tempo (segundos)
do poço Antes do bombeamento Após bombeamento T T
A = 40 cm 90 -
r = 5 cm - 130 0 -
P = 120 m - 128 19 19
S=0 - 126 39 20
- 124 59 20
122 80 21
Y = 8 cm T =
80
Tipos de Dreno
Drenos Abertos
São as valetas, canais ou valas, que efetuam tanto a drenagem superficial como a do
solo. Por causa de sua profundidade e largura, os drenos são capazes de conduzir vazões
relativamente grandes. Eles se adaptam melhor a áreas grandes e planas, onde existe pouca
declividade natural.
Em relação àqueles cobertos ou enterrados, os drenos abertos apresentam as seguintes
vantagens e desvantagens:
Drenagem 609
Vantagens
– têm custo inicial mais baixo;
– são de fácil inspeção, limpeza e manutenção; e
– proporcionam tanto a drenagem do solo como a superficial.
Desvantagens
– apresentam perda de parte do terreno para cultivo;
– dificultam o manejo de máquinas; e
– exigem maior gasto com a manutenção.
Drenos Cobertos
Drenos cobertos, também conhecidos como subterrâneos ou subsuperficiais, referem-
se a qualquer tipo de conduto com aberturas nas conexões, ou com perfurações, ou
constituídos de material muito poroso, ou com espaço livre entre os condutos instalados sob a
superfície do solo, com o objetivo de coletar e conduzir água de drenagem.
Quando corretamente instalados, requerem pouca manutenção, não interferem nas
práticas culturais na área e não ocupam área de cultivo.
Estes drenos podem ser constituídos de diferentes tipos de materiais, como: pedra,
tijolo ou telha, bambu, tubos de argila (manilha), concreto, PVC etc.
Existem ainda os drenos livres (mole drains). Eles são condutos cilíndricos, não-
revestidos, construídos com subsolador, equipados com torpedo, em solos argilosos. Quando
construídos em solos apropriados, possuem vida útil de três a cinco anos. Após esse período
deve-se fazer nova subsolagem.
Dreno de pedra – Pode ser em forma de galeria ou colocando uma camada de brita
dentro de uma vala. Neste último caso, a camada de brita deve ser coberta com uma de capim
ou plástico e, em seguida, com terra.
Dreno de tijolo ou telha – Usado em pequenas áreas, consiste na construção de
pequenas galerias, com tijolo ou telha, dentro de uma vala previamente aberta.
Dreno de bambu – Consiste em colocar feixes de bambu dentro da valeta, cobrir com
capim ou plástico e depois com terra. A água de drenagem movimentar-se-á nos espaços livres
que ficam entre os bambus. Por ser um material farto e barato no meio rural, este tipo de
dreno é muito usado nos pequenos projetos de drenagem.
Tubo – Normalmente é o material usado nos projetos de drenagem de médio e grande
porte. Podem-se usar tubos de argila, concreto ou de PVC. Ultimamente têm sido usados, com
maior freqüência, tubos de PVC corrugado e perfurado. Existem máquinas que, em uma única
operação, abrem a valeta, colocam o tubo de PVC e o cobrem.
610 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Sistemas de Drenagem
De acordo com a topografia da área a ser drenada, com a posição, nível e flutuação
do lençol freático e com o tipo de solo, os drenos podem ser alinhados, de modo que formem
um determinado padrão ou sistema de drenagem.
Em geral, podem-se assim classificar os sistemas: natural, interceptor, paralelo,
espinha de peixe, grade duplo principal, os quais estão ilustrados na Figura 11.14.
Em geral, os sistemas de drenagem são construídos a partir de um dreno principal,
drenos coletores e drenos laterais, parcelares ou de campo.
As Figuras 11.15, 11.16 e 11.17 ilustram fases da construção de sistemas de
drenagem.
Drenagem 611
o
ad
lev
oe
o
en
aix
r
ob
ter
re n
t er
o
reg
cór
dreno
Natural Interceptor
Referências
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