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Água no solo 15

Capítulo 1

Água no Solo

O solo como um reservatório


O solo é constituído de partículas sólidas, líquidas e gasosas. Se fosse possível
separar essas três fases num volume de solo, poder-se-ia visualizar algo como o apresentado
na Figura 1.1. O volume de sólidos pode ser considerado praticamente fixo, enquanto os gases
e a solução dividem o espaço poroso do solo. Se a quantidade de solução ou a umidade do
solo aumentam, a quantidade de gases diminui. Na realidade, o solo pode ser considerado um
grande reservatório de água, cuja quantidade de água armazenada varia com a umidade.
L

a
L
d

b
L

Gases

Solução

Sólidos

Figura 1.1 - Composição volumétrica do solo (volume da solução = b L L; volume dos


gases = a L L).

A umidade do solo é definida como a razão entre a massa de água e a massa de solo
seco, denominada umidade em peso (Up), ou como a razão entre o volume de água e o volume
de solo, denominada umidade em volume (Uv). Considerando o cubo de solo de lado L,
apresentado na Figura 1.1, tem-se:
16 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

volume de água bLL b


Uv    (1.1)
volume de solo LLL L

A vantagem de se trabalhar com a umidade em volume é que o valor obtido


corresponde à lâmina de água retida por camada de solo. Por exemplo, se a umidade do solo
em volume é de 0,20, ou 20%, significa que em cada camada de solo de espessura L existe
0,2 L de água, ou seja, em cada centímetro de solo existem 2,0 mm de água.
Denomina-se massa específica do solo (s) a relação entre a massa e o volume de uma
amostra de solo seco (equação 1.2). De forma semelhante, a razão entre a massa de solo seco
e o volume das partículas sólidas é denominada massa específica das partículas sólidas do
solo (ps) (equação 1.3). Assumindo a massa específica da água igual a 1,0 g cm-3, tem-se que
a densidade do solo (da), chamada por alguns de densidade aparente do solo, é numericamente
igual à massa específica do solo. De modo semelhante, a densidade das partículas sólidas do
solo (dps), também denominada densidade real do solo, é numericamente igual à massa
específica das partículas do solo. A densidade das partículas dos solos, em média, é de
aproximadamente 2,65.
massa de solo seco
ρs  (1.2)
volume de solo

massa de solo seco


ρ ps  (1.3)
volume das partículas sólidas do solo

Outro parâmetro importante do solo é a porosidade (p), definida como a razão entre o
volume de poros, que na realidade corresponde ao volume de solução mais o volume de gases,
e o volume do solo (equação 1.4), que também pode ser estimada utilizando a equação 1.5.
volume de poros d L L d
p   (1.4)
volume de solo LLL L

da
p1 (1.5)
d ps

A razão de saturação de um solo (S) é definida como a relação entre o volume da


solução e o volume total de poros (equação 1.6). Quando o volume de poros está totalmente
cheio de solução, diz-se que o solo está saturado, e a razão de saturação é igual a 100%.
volume de solução b L L b
S   (1.6)
volume de poros dLL d
Dividindo a umidade em volume pela densidade do solo, obtém-se a umidade em peso,
conforme equação 1.7.
Uv
Up  (1.7)
da
Água no solo 17

Determinação da umidade do solo


A umidade do solo influencia diretamente o volume de água nele armazenado, bem
como a sua resistência e a compactação, entre outros fatores. Logo, é de capital importância o
conhecimento da umidade do solo para estudos do movimento da água no solo, disponibilidade
de água, erosão, época e quantidade de água a ser aplicada em irrigação e muitos outros
problemas.
Há vários métodos para determinar a umidade do solo, sendo os gravimétricos,
eletrométricos, tensiômetro, sonda de nêutrons e TDR (reflectometria com domínio do tempo)
os mais comuns e usados em irrigação.

Método-padrão de estufa/gravimétricos
É um método direto, bastante preciso, que consiste em retirar amostras do solo, na
área e na profundidade em que se deseja saber a umidade, colocá-las em um recipiente
fechado, geralmente de alumínio, e trazê-las para o laboratório. Pesa-se o recipiente com
amostra de solo úmido (M1) e coloca-se o recipiente, aberto, em uma estufa a 105-110 ºC.
Após 24 horas, no mínimo, retira-se o recipiente com o solo seco da estufa, pesando-o
novamente (M2 ). Sendo (M3) o peso do recipiente, a percentagem de umidade em peso será
dada pela seguinte equação:

massa de água M  M2
Up =  1 100 (1.8)
massa de solo seco M2 - M3

Para determinação direta de umidade em volume, é necessário saber qual o volume da


amostra que foi retirada do solo, ou pode-se determiná-la indiretamente, conhecendo a
densidade do solo (da), respectivamente, pelas equações 1.9 e 1.10.

M1  M 2
Uv = 100 (1.9)
Vol. da amostra

M1  M 2
Uv = d a 100  U p d a (1.10)
M2 - M3

Apesar de este método ser o mais preciso, apresenta o inconveniente, para irrigação,
de só permitir o conhecimento do teor de umidade do solo 24 horas após a amostragem, além
de exigir balança e estufa.
18 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Método das pesagens


É também um método direto e de precisão relativamente boa. Tem uma grande
vantagem sobre o método anterior, que é a de dar a resposta logo após a retirada da amostra.
Ele consiste nos seguintes passos:
- Colocar 100 g de terra seca a 105 – 110 ºC, proveniente da gleba onde se deseja
irrigar, em um balão de 500 ml.
- Completar o volume com água e pesar, para obter o peso-padrão M.
- Anotar o valor do peso-padrão M, que será determinado somente uma vez, para
aquela gleba.
- Em qualquer época que se deseja saber o teor de umidade daquela gleba, retirar
amostra do solo, colocar 100 g desta no referido balão, completar o volume com água e pesar,
obtendo-se o peso M’.
A percentagem de umidade do solo em base úmida (em peso) é calculada pela equação
a seguir:
dps
Ubu = (M - M’) ( ) 100 (1.11)
dps  1

Pela equação 1.11, verifica-se que a umidade do solo nada mais é do que a diferença
entre a pesagem-padrão (determinada uma só vez com cada tipo de solo) e a pesagem atual
(determinada na época em que se desejar saber a umidade do solo), M-M’, multiplicada pelo
dps
fator , em que dps é densidade das partículas do solo, podendo ser a densidade
dps  1
generalizada para todos os solos (dps = 2,65) ou determinada para o solo da gleba.
Para expressar o resultado em percentagem de umidade em base seca (em peso), basta
usar a seguinte equação:
100 U bu
Up = (1.12)
100 - U bu

Este método não dá a percentagem de umidade em volume diretamente; ela pode ser
calculada, indiretamente, multiplicando-se a percentagem em peso encontrada na equação
1.12 pela densidade aparente do solo (da).
Exemplo do uso deste método. O peso de 100 g de terra seca a 105 ºC colocada
dentro de um balão de 500 ml, e completado o volume com água, foi de 971,0 g (M). A
densidade real desse solo dps é de 2,65. Na época em que se desejou saber a umidade do solo,
retirou-se amostra de 100 g, colocando-a dentro do referido balão, completou-se com água até
o volume de 500 ml, e o peso encontrado foi de 960,0 g.
Aplicando a equação 1.11, tem-se:
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2,65
Ubu = (971,0 - 960,0)
2,65  1

Ubu = 17,8%

A percentagem de umidade em base seca calculada pela equação 1.12 é:

17,8 x 100
Up =
100  17,8

Up = 21,5%

Eletrométricos

Método de Bouyoucos
Este método é baseado na resistência elétrica entre dois eletrodos inseridos em um
bloco, em geral, de gesso. A resistência elétrica é medida por um “medidor” de corrente
alternada, o qual é calibrado para leituras diretas de “porcentagem de água no solo”.
Os blocos de gesso, quando enterrados no solo, absorvem umidade, ou a perdem para
o solo, até que a solução dentro deles atinja o equilíbrio com a água do solo, variando de
acordo com umidade deste. A resistência elétrica entre os eletrodos de cada bloco varia
conforme seu teor de umidade. A resistência elétrica do bloco será baixa quando ele estiver
mais úmido, e alta quando estiver mais seco. Dessa maneira, a umidade do solo pode ser
determinada indiretamente, por meio da medição da resistência elétrica nos blocos que se
encontram enterrados no solo.
Assim, como os “medidores” de Bouyoucos são calibrados, em se tratando de “água
disponível”, quando se lê 0% no medidor, significa que não há “água disponível” no solo para as
plantas, ou seja, a umidade do solo está próxima do “ponto de murchamento”, e, quando se lê
100%, quer dizer que o teor de umidade está próximo da “capacidade de campo”.
Os eletrodos inseridos no bloco de gesso são ligados a fios isolados, a fim de permitir
a conexão com o “medidor” (Figura 1.2).
Cada bloco deve ser instalado na profundidade de máxima intensidade radicular da
cultura cuja irrigação se deseja controlar, em função da variação do teor de umidade do solo.
Este método, na maioria das vezes, é utilizado para ler a porcentagem de “água útil”
dos solos; no entanto, como a sua calibragem é geral para todos os solos e ele omite o efeito
da temperatura, sua precisão não é muito boa. É de simples e fácil manejo. Pode,
satisfatoriamente, ser usado para controle de irrigação, mas, para usá-lo em pesquisas com
20 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

teores de água no solo, deve-se desprezar a sua calibragem geral em porcentagem de “água
disponível” e calibrá-lo em função da porcentagem de umidade para cada solo.

Figura 1.2 - “Medidor” e célula de Bouyoucos.

Método de Colman
É também um método indireto para a determinação de umidade do solo, baseado no
mesmo princípio do anterior. No entanto, o bloco, onde estão inseridos os eletrodos, é de fibra
de vidro, envolvida por duas placas de metal “monel” perfuradas (Figura 1.3). Tem a
vantagem de trazer um “thermistor” inserido no bloco, permitindo, assim, determinar a
temperatura da célula e fazer a correção das leituras, em função da temperatura. O seu
“medidor” não é calibrado em % de “água útil”, devendo ser suas células calibradas para cada
tipo de solo, o que dá maior precisão no cálculo da umidade do solo. Essa calibração pode ser
em função do teor de água no solo ou, preferencialmente, da sua tensão.
Este método é mais sensível que o de Bouyoucos para maiores teores de água no solo,
porém é mais suscetível à concentração salina do solo.
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Figura 1.3 - “Medidor” e célula de Colman.

Outros
Tensiômetro
É um método direto para a determinação da tensão de água no solo e indireto para
determinação da porcentagem de água no solo. Constitui-se de uma cápsula de cerâmica
ligada por meio de um tubo a um manômetro, onde a tensão é lida (Figura 1.4).
O tensiômetro só tem capacidade para leituras de tensão até 0,75 atm. No caso de
tensões maiores do que esta, o tensiômetro poderá perder a escorva e parar de funcionar. Por
isso, ele somente cobre uma parte da “água disponível no solo”, ou seja, ± 70% em solos
arenosos e ± 40% em argilosos.
O manômetro pode ser do tipo metálico (Bourdon) ou de coluna de mercúrio; este
último é mais preciso, porém exige mais cuidado no seu manuseio.
De modo geral, a determinação das tensões de água no solo com tensiômetro tem uma
precisão relativamente boa. Ele pode ser utilizado para automatizar a operação do sistema de
irrigação.
22 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 1.4 - Tensiômetro.

Sonda de nêutrons
A utilização da sonda de nêutrons para medir a umidade volumétrica é uma prática
antiga. Apresenta como vantagens o fato de possibilitar boa precisão, ser muito pouco
destrutivo, fornecer o resultado no momento e possibilitar medidas repetidas no mesmo local,
integrando um volume de solo ou do meio onde está sendo efetuada a determinação.
Como desvantagens deste método podem ser citados seu alto custo, necessidade de
calibração, utilização de elementos radioativos que implicam cuidados na sua operação e
rígido controle dos níveis de radioatividade.
O princípio básico de utilização do equipamento é que há uma correlação estreita
entre a quantidade de nêutrons moderados a ser medida no aparelho e a quantidade de
hidrogênio presente no solo. Além da água, as outras formas de hidrogênio no solo (matéria
orgânica, minerais de argila etc.) são pequenas, conhecidas ou invariáveis com o tempo.
Considerando que vários aspectos locais podem afetar a determinação, a utilização da
sonda de nêutrons depende de uma calibração para local ou solo.
Os principais métodos de calibração da sonda de nêutrons são a determinação
simultânea, no campo, da umidade volumétrica e da contagem relativa de nêutrons em
diferentes conteúdos de água, ou utilização de grandes tambores de solo com mesma
densidade específica e diferentes conteúdos de água.
Água no solo 23

Figura 1.5 - Sonda de nêutrons.

TDR
O método TDR tem como base a medição da constante dielétrica do solo, uma
propriedade física que representa a relação entre a capacitância de um meio isolador e o
espaço livre. O método parte do princípio da emissão de um pulso elétrico por um gerador de
pulso, que é propagado ao longo de uma sonda inserida no solo, na qual acontece a reflexão
do pulso.
O TDR tem sido usado para medida da constante dielétrica (Ka) e da condutividade
elétrica (CE) do solo, pela determinação do tempo de trânsito e dissipação de um pulso
eletromagnético, lançado ao longo de sondas metálicas paralelas inseridas no solo.
Demonstra-se que a relação entre a constante dielétrica do solo e sua umidade
volumétrica é virtualmente independente da textura e densidade deste, temperatura e conteúdo
de sal, o que torna o método TDR versátil para determinação da umidade do solo.
A velocidade de uma onda eletromagnética em uma linha de transmissão paralela
depende da constante dielétrica (K) do material que está em contato com ela. Quanto maior for
a constante K, menor será a velocidade da onda.
O solo geralmente é composto por ar, partículas orgânicas e minerais e água. A
constante dielétrica, K, desses materiais é: ar igual a 1, partículas orgânicas minerais de 2-4 e
água igual a 80.
24 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Por causa da grande diferença na constante dielétrica da água em relação à dos outros
componentes do solo, a velocidade de um pulso de microonda de energia em uma linha de
transmissão paralela enterrada no solo depende muito do teor de umidade do meio (solo).
Portanto, analisando o tempo que a onda eletromagnética leva para percorrer a linha de
transmissão paralela, o TDR encontra a constante dielétrica no meio, por se tratar de uma
mistura de vários elementos (ar, água e solo), sendo o valor encontrado chamado de constante
dielétrica aparente (Ka). O teor de umidade do solo é relacionado a Ka, em geral, por meio de
uma curva de correlação simples, quadrática ou similar.

Figura 1.6 - TDR.

Disponibilidade de água no solo


A freqüência de irrigação requerida para uma cultura, sob determinado clima,
depende grandemente da quantidade de água que pode ser “armazenada” no solo, após uma
irrigação. Atualmente, não mais se procura classificar a água do solo, mas sim caracterizá-la
quantitativamente, para fins de estudo de sua disponibilidade, para as plantas, durante a sua
movimentação pelo solo.
A água do solo não é estática, mas dinâmica, movimentando-se em função do
gradiente de seu potencial entre dois pontos quaisquer no solo.
A água disponível às plantas, classicamente definida como uma característica estática,
representa a quantidade de água que um solo poderia reter ou armazenar entre a “capacidade
de campo” (Cc) e o “ponto de murchamento” (Pm). Esse conceito pressupõe que a água do
solo entre as umidades correspondentes à saturação e à capacidade de campo não é disponível
às plantas, indo perder-se nas partes mais profundas do perfil do solo, por ação da gravidade.
Em verdade, esta água, erroneamente designada de gravitacional, muitas vezes é absorvida
pelas plantas. Só em casos de solos muito permeáveis, submetidos a irrigações ou chuvas
Água no solo 25

excessivas, com culturas de sistema radicular pouco profundo, muita água é perdida por
percolação, mas, mesmo assim, não existe um intervalo fixo de umidade para definir a água
perdida por percolação profunda. Não obstante, o conceito clássico de água disponível nos dá
um critério para caracterizar o solo quanto à sua capacidade de armazenar água. Em solos
profundos e com grande “capacidade de retenção” de água, pode ser possível cultivar vegetais
de sistema radicular bem desenvolvido, sem irrigação ou chuva adicional, desde que o solo
seja bem umedecido até uma profundidade considerável, por época do plantio. Se a
capacidade de retenção de água de um solo for pequena, por ser o solo raso ou de textura
grossa, freqüentes irrigações serão necessárias.

Capacidade de campo
A água drenada para baixo da zona radicular, ou para dentro de um dreno, não mais
será disponível para a planta.
Considerando que o solo esteja saturado numa condição de lençol freático profundo,
a água terá um movimento vertical para baixo, que somente diminuirá significativamente
quando o teor de umidade do solo for tal que a sua condutividade hidráulica se torne muito
pequena. Quando isso acontece, diz-se que o solo está em condição de capacidade de campo.
Deve ser entendido que em muitos solos não há nítida transição de movimento significante
para negligenciável e que o termo capacidade de campo descreverá a condição de movimento
vertical para baixo com intensidade muito lenta, em geral, atingido poucos dias após a
irrigação.
Com os conhecimentos atuais do movimento de água em solos saturados e não-
saturados, tornou-se evidente que capacidade de campo é um conceito arbitrário, e não uma
propriedade física do solo. Em solos de textura grossa, geralmente a redução da intensidade de
movimento com a diminuição da umidade do solo, abaixo de certos valores, apresenta uma
faixa de transição bem nítida, tornando a capacidade de campo bem definida nestes tipos de
solo; contudo, em alguns solos de textura fina, não há nítida faixa de transição na redução da
intensidade de movimento de água, tornando o conceito de capacidade de campo pouco
preciso (Figura 1.7).
Dependendo da condutividade hidráulica do solo e da quantidade de água aplicada na
irrigação, pode ocorrer de, após vários dias, a água ter sido drenada da camada superior do
solo e de ela ainda estar passando através das camadas mais profundas. Portanto, enquanto o
teor de umidade da camada superior diminui lentamente, o da camada mais profunda aumenta.
Na determinação da capacidade de campo, a amostragem em cada camada, até a
profundidade desejada para avaliação do teor de umidade, deve ser repetida diariamente, até
se encontrar um valor relativamente constante.
26 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

a
Teor de umidade a = ponto de saturação

<<Cc>> = ?
Solo argiloso
a

Solo arenoso
<<Cc>> = ?
<<Cc>>

Tempo

Figura 1.7 - Capacidade de campo (Cc) em solos argiloso e arenoso.

O conceito de capacidade de campo será melhor visualizado quando for estudado em


solos de drenagem livre. Quando se tiver um subsolo com permeabilidade baixa, o teor de
umidade da camada superior deste solo, provavelmente, permanecerá acima da capacidade de
campo normal, por um longo período. Neste caso, o teor de umidade é controlado pela camada
do subsolo e não pela condutividade da camada de solo que está sendo considerada. Quando o
lençol freático estiver próximo da superfície do solo e forem usados drenos para controlar o
seu nível, o solo não drenará até a Cc, exceto em pontos bem acima do dreno. O solo nas
proximidades do dreno permanecerá saturado, e a água somente continuará drenando até que a
carga de tensão de qualquer ponto acima do lençol freático iguale à sua altura em relação ao
lençol freático, e, em geral, o teor de umidade na maioria do perfil do solo permanecerá acima
da Cc. Uma situação similar à drenagem do lençol freático poderá ser de qualquer ponto
acima do lençol freático que iguale a sua altura; em relação ao lençol freático, poderá ser
encontrada quando uma camada de solo de textura fina se sobrepuser a uma camada de
textura grossa. Um exemplo prático disso é observado em praças de esporte, onde se coloca
uma camada de 30 cm de solo sobre uma camada de brita, com o objetivo de conseguir boa
drenagem. Esta prática, em geral, provoca a manutenção de elevado teor de umidade ao longo
da camada de solo, pois a água apenas se moverá do solo para a camada de brita quando a
carga de pressão for positiva. Neste caso, o solo na camada de transição permanecerá
saturado e na superfície do solo a carga de tensão será de 30 cm.
A retenção de água em solos, durante o período em que ele permanece mais úmido, é
atribuída à força capilar ou tensão superficial. Assim, a distribuição de tamanho dos poros é
Água no solo 27

que determinará a quantidade de água que permanecerá no solo quando ele for submetido a
tensões baixas.
Determinação da capacidade de campo – Como discutido previamente, a Cc não
pode ser determinada precisamente, uma vez que o seu conceito envolve uma decisão mais ou
menos arbitrária no que diz respeito ao tempo em que a intensidade de drenagem se torna tão
lenta, podendo ser considerada desprezível. É um pouco mais fácil de ser caracterizada em
solos de textura grossa do que nos de textura fina (Figura 1.7).
Ela pode ser determinada em campo e em laboratório.
Determinação em campo – O solo é completamente umedecido, até uma profundidade
de mais ou menos 1,5 m, por meio de irrigação ou represamento de água, em uma bacia de
2 m de diâmetro, durante o tempo necessário. Após o umedecimento do solo, sua superfície é
coberta com um plástico para evitar evaporação. O teor de umidade é então determinado,
usualmente, em intervalos de 12 horas, por amostragem em cada camada de 10-20 cm, até a
profundidade desejada. A amostragem e determinação da umidade devem continuar até que se
note que a variação do teor de umidade, no período de 24 horas, tenha se tornado mínima ao
longo do perfil. Um gráfico do teor de umidade em função do tempo ajuda a decidir qual é o
teor de umidade que melhor representa a capacidade de campo. Este método é o mais preciso e
funciona como o método-padrão. Uma única amostragem, em determinado tempo, em geral
após 24 horas em solos arenosos e 48 horas em solos argilosos, é muito usada, porém pode
causar sérios erros.
Determinação no laboratório – Em razão de no campo consumir muito tempo e ser
limitada a pequeno número de áreas, a determinação da Cc é feita usualmente em laboratório,
para obtenção do teor de umidade aproximado do valor de campo da Cc. Dois métodos são
mais comumente usados para isso:
a) Método do equivalente de umidade – É pouco preciso, mas de rápida execução.
Consiste em centrifugar uma pequena amostra, usualmente de 1 cm de espessura, dentro de
um recipiente com o fundo telado e coberto com papel-filtro. A amostra de solo é colocada
dentro do recipiente, saturada, colocada na centrífuga e submetida a uma velocidade
equivalente a uma força de 100 vezes a força da gravidade, durante 30 minutos. Esse
procedimento traz a amostra ao mesmo teor de umidade, caso ela fosse submetida a uma
tensão equivalente a 0,4 atm. Este valor de tensão é maior do que a tensão equivalente à Cc no
campo, mas, como a amostra do solo não tem as mesmas condições físicas do solo original no
campo, o teor de umidade resultante é aproximado ao correspondente à Cc, principalmente
para solos de textura fina. Para solos de textura grossa, o valor encontrado por este método é
menor do que o da Cc, precisando então ser multiplicado por um fator maior do que 1.
b) Método da curva de tensão (curva característica) – A tensão considerada como
equivalente à Cc é de 1/10 de atmosfera, em solos de textura grossa, e de 1/3 de atmosfera, em
solos de textura fina. É comum usar o valor de 1/3 de atmosfera.
28 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A tensão correspondente à capacidade de campo, dependendo do tipo de solo, pode


variar de 1/20 a 1/3 de atm. Em solos típicos do cerrado é comum encontrar a Cc com valores
de 1/20 de atm; em solos arenosos, 1/10 de atm; e em solos de textura fina típico, 1/3 de atm.
Essa curva de tensão é determinada em laboratório com “panela” e “membrana” de
pressão ou funil de “Bukner”, podendo ser usados solos sem estrutura ou com estrutura
natural, sendo este último mais trabalhoso, porém citado como mais preciso, embora sem a
devida comprovação técnica.
O teor de umidade na Cc pode variar de menos de 8%, em peso, em solos arenosos e
até mais de 30% em solos argilosos.

Ponto de murchamento
À medida que se aproxima do “ponto de murchamento”, o fenômeno de retenção de
água pelo solo não pode mais ser explicado pela ação da força capilar ou tensão superficial. A
água é retida pela ação da força de adsorção entre a partícula de solo e as moléculas de água,
porém não há nítida transição entre um tipo de retenção e o outro. Nos dois tipos de retenção,
as mesmas leis de movimento de água no solo são aplicadas.
Em campo, é comum notar que, à tarde, alguns vegetais murcham, mesmo estando o
solo com teor de umidade relativamente alto. Eles recuperam a turgidez durante a noite e
permanecem túrgidos até a tarde do dia seguinte. Este caso é chamado de “murchamento
temporário”, mais comum durante os dias muito quentes.
Ponto de murchamento é aquele em que a planta que murcha durante a tarde não
recupera a sua turgidez durante a noite, permanecendo murcha na manhã seguinte. Somente
recuperará sua turgidez após uma irrigação ou chuva.
O ponto de murchamento representa o teor de umidade no solo abaixo do qual a
planta não conseguirá retirar água na mesma intensidade com que ela transpira. Isso aumenta
a cada instante a deficiência de água na planta, o que a levará à morte, caso não seja irrigada.
Pm é, pois, o limite mínimo da água armazenada no solo que será usada pelos vegetais. Este
conceito é muito útil, mas convém ressaltar que o seu valor depende do tipo de solo e que
diferentes plantas têm a capacidade de extrair água até diferentes limites.
De modo geral, em sua maioria, os vegetais cultiváveis não diferem muito no que diz
respeito ao Pm, mas existem plantas que podem sobreviver com déficit de água muito intenso.
São plantas resistentes à seca, porém a sua extração de água processa-se lentamente. Outras
cessam de crescer bem antes de apresentarem sinais de murchamento.
Uma vez que os sintomas de deficiência de água podem variar em diferentes plantas, é
comum usar o girassol, como planta indicadora do Pm, em estufas.
A tensão da água do solo acima da qual não haverá água suficiente disponível para
que as plantas possam se desenvolver varia de 5 a 25 atmosferas, dependendo da planta ou da
condição do ambiente. Essa amplitude parece ser muito grande, mas em muitos solos
Água no solo 29

representa uma variação muito pequena no seu teor de umidade. Em solos arenosos, haverá
uma variação muito pequena no seu teor de água à medida que a tensão aumentar de 5
atmosferas. Em solos argilosos, essas variações serão mínimas após 10 atmosferas de tensão.
Dessa forma, o Pm ocorre em uma faixa de umidade tal que, para um grande
acréscimo de tensão, será pequena a variação do seu teor de umidade. Isso explica a existência
do Pm e por que ele é uma característica de determinado tipo de solo e não do tipo de planta.
Determinação do Pm – É muito difícil determiná-lo em condições de campo, porque o
teor de umidade no solo, ou a sua tensão, varia com a profundidade e sempre haverá
movimento de água de outros pontos para a zona do sistema radicular da planta indicadora do
Pm.
A prática comum é cultivar girassol em vasos fechados. Quando as folhas inferiores
murcham, as plantas são colocadas em câmara úmida e escura, até que elas restabeleçam sua
turgidez, sendo então recolocadas sob a luz. Esse processo é repetido até que as folhas
inferiores não consigam restabelecer sua turgidez, sendo então determinado o teor de umidade
do solo, correspondente ao ponto de murchamento.
Verificou-se em pesquisas que o teor de umidade de uma amostra de solo destorroado
e submetido a uma tensão de 15 atmosferas é bem próximo do valor encontrado com o método
da indicação do Pm, pelo girassol.
Para obter a tensão de 15 atmosferas, coloque o solo em membrana de celulose
(membrana de pressão) ou em prato de cerâmica poroso (panela de pressão), ponha-os na
câmara e aumente a pressão sobre a membrana ou prato, até atingir 15 atmosferas. A amostra
ficará sob esta pressão até que dela não saia mais água, o que significa que a água retida pelo
solo está com tensão igual ou maior do que 15 atmosferas. O teor de umidade determinado
nestas amostras corresponde ao ponto de murchamento.

Cálculo da água disponível


A água disponível de um solo pode ser facilmente calculada, desde que se conheçam
os teores de umidade correspondentes à Cc e ao Pm, as propriedades físicas do solo e a
profundidade do solo que serão consideradas. Em irrigação, essa profundidade considerada
nada mais é do que a profundidade efetiva do sistema radicular da cultura. Como mencionado
no início do capítulo, o espaço poroso do solo funciona como um grande reservatório de água
(Figura 1.1), onde o nível máximo corresponde à condição de solo saturado.

Disponibilidade total de água do solo


Em irrigação, a disponibilidade total de água do solo é uma característica do solo, que
corresponde à água nele armazenada no intervalo entre as umidades correspondentes à
30 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

capacidade de campo e ao ponto de murchamento (Figura 1.8). Pode ser expressa em altura de
lâmina de água, por profundidade do solo, geralmente de mm de água por cm de solo, ou em
volume de água por unidade de área de solo, ou seja:

L
DRA
Saturação
DTA

Cc

Uc
Pm

Figura 1.8 - Solo como reservatório.

(Cc - Pm)
DTA  da (1.13)
10
em que:
DTA = disponibilidade total de água, em mm/cm de solo;
Cc = capacidade de campo, % em peso;
Pm = ponto de murchamento, % em peso; e
da = densidade do solo, g cm3.
ou
V = (Cc - Pm) da (1.14)
3
em que V = m de água disponível, por hectare, em cada cm de profundidade do solo.

Disponibilidade real de água do solo


A disponibilidade real de água no solo é definida como a fração da disponibilidade
total de água no solo que a cultura poderá utilizar sem afetar significativamente a sua
produtividade, podendo ser expressa por:
DRA = DTA f (1.15)
em que DRA = disponibilidade real de água no solo,em mm/cm solo; e
f = fator de disponibilidade de água no solo, sempre menor que 1, adimensional.
Água no solo 31

O fator de disponibilidade (f) varia entre 0,2 e 0,8. Os valores menores são usados em
culturas mais sensíveis ao déficit de água no solo, e os maiores, nas culturas mais resistentes. De
modo geral, podem-se dividir as culturas irrigadas em três grandes grupos (Tabela 1.1).

Tabela 1.1 - Fator de disponibilidade de água no solo (f)

Grupo de culturas Valores de f


Verduras e legumes 0,2 a 0,6
Frutas e forrageiras 0,3 a 0,7
Grãos e algodão 0,4 a 0,8

Dentro de cada grupo, o valor de f a ser usado dependerá da maior ou menor


sensibilidade da cultura ao déficit de água no solo e da demanda evapotranspirométrica da
região. Em uma mesma cultura, quanto maior for a demanda evapotranspirométrica da região,
menor deverá ser o valor de f.
É comum o uso do valor de f = 0,4 para verduras e legumes, f = 0,5 para frutas e
forrageiras e f = 0,6 para grãos e algodão.
Na realidade, a disponibilidade real de água no solo corresponde à quantidade de água
disponível no solo no intervalo entre a capacidade de campo e a umidade crítica para uma
dada cultura, ou seja, a umidade mínima a que essa cultura pode ser submetida sem afetar
significativamente sua produtividade, que pode também ser expressa por:
( Cc - Uc)
DRA  da (1.16)
10
em que Uc é a umidade crítica, % em peso.

O ideal seria desenvolver pesquisas em nível regional para determinação desses


fatores em cada tipo de cultura, solo e sistema de cultivo. Como nem sempre isso é possível, a
FAO publicou em seu Boletim nº. 33 alguns valores que podem ser utilizados como referência
(Tabelas 1.2 e 1.3).

Tabela 1.2 - Grupos de culturas de acordo com a resistência ao déficit de água no solo
Grupo Culturas
1 Cebola, pimenta e batata
2 Banana, repolho, uva, ervilha e tomate
3 Alfafa, feijão, cítricas, amendoim, abacaxi, girassol, melancia e trigo
4 Algodão, milho, azeitona, açafrão, sorgo, soja, beterraba, cana e fumo
Tabela 1.3 - Fator de disponibilidade de água no solo (f) em função do grupo de culturas e da
evapotranspiração de referência (ET0)
32 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Grupo de ET0 (mm/dia)


Culturas 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 0,5 0,42 0,35 0,3 0,25 0,22 0,2 0,2 0,18
2 0,68 0,58 0,48 0,4 0,35 0,33 0,28 0,25 0,22
3 0,8 0,7 0,6 0,5 0,45 0,42 0,38 0,35 0,3
4 0,88 0,8 0,7 0,6 0,55 0,5 0,45 0,42 0,4
Fonte: FAO, 1979, Boletim 33.

Capacidade total de água no solo (CTA)


Tanto a quantidade de água de chuva como a de irrigação só devem ser consideradas
disponíveis para a cultura no perfil do solo que esteja ocupado pelo seu sistema radicular. Por
isso, a capacidade total de água do solo somente deve ser calculada até a profundidade do solo
correspondente à profundidade efetiva do sistema radicular da cultura a ser irrigada, ou seja:
CTA = DTA Z (1.17)
em que: CTA = capacidade total de água do solo em mm; e
Z = profundidade efetiva do sistema radicular, em cm.
A profundidade efetiva do sistema radicular (Z) deve ser tal que, pelo menos, 80% do
sistema radicular da cultura esteja nela contido. Ela depende da cultura e da profundidade do
solo na área.

Capacidade real de água do solo (CRA)


Em irrigação, nunca se deve permitir que o teor de umidade do solo atinja o ponto de
murchamento, isto é, deve-se somente usar, entre duas irrigações sucessivas, uma fração da
capacidade total de água do solo, ou seja:
CRA = CTA f ou CRA= DRA Z (1.18)
em que CRA = capacidade real da água do solo, em mm.

Irrigação real necessária (IRN)


A IRN é a quantidade real de água necessária à aplicação por irrigação. Pela
definição de IRN, é preciso considerar dois casos distintos:
Água no solo 33

a) Com irrigação total


Quando toda água necessária à cultura for suprida pela irrigação, a IRN deverá ser
igual ou menor do que a capacidade real de água do solo:
IRN ≤ CRA, em mm ou (m3/ha).
Utilizando as equações 1.13, 1.15. e 1.18, obtém-se:
(Cc - Pm) d a Z f
IRN ≤ (1.19)
10
b) Com irrigação suplementar
Quando uma parte da água necessária à cultura for suprida pela irrigação e a outra
parte pela precipitação efetiva (Pe), a IRN será dada por:
IRN ≤ CRA – Pe, em mm (ou m3/ha). (1.20)
Logo:
(Cc  Pm ) d a Z f
IRN ≤ - Pe (1.21)
10

Irrigação total necessária (ITN)


A irrigação total necessária é a quantidade total de água que se necessita aplicar por
irrigação, ou seja:
IRN
ITN = (1.22)
Ea
em que ITN = quantidade total de irrigação necessária, em mm ou m3/ha; e
Ea = eficiência de aplicação da irrigação, em decimal.
Exemplos:
a) Calcular a disponibilidade de água para a seguinte condição:
- local: Muqui
- irrigação total
- solo
Cc = 32% (% em peso)
Pm = 18% (% em peso)
da = 1,2 g cm-3
- cultura: milho
34 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Z = 50 cm
f = 0,5
32  18
DTA = 1,2 = 1,68 mm/cm de solo ou 16,8 m3/ha/cm de solo
10
CTA = 1,68 x 50 = 84 mm ou 840 m3 /ha
CRA= 84 x 0,5 = 42 mm ou 420 m3/ha
IRN ≤ 42 mm ou 420 m3/ha
Assim, a lâmina de irrigação a ser aplicada por vez deverá ser igual ou menor do que
42 mm (IRN ≤ 42 mm).
Se o projeto de irrigação tiver uma eficiência de aplicação igual a 60%:
42
ITN ≤
0,6
ITN ≤ 70 mm ou 700 m3/ha
b) Calcular a disponibilidade de água para as condições anteriores, mas assumindo uma
precipitação efetiva, no período considerado, de 14 mm.
Neste caso:
IRN ≤ 42 - 14
IRN ≤ 28 mm ou 280 m3/ha.
Se o projeto de irrigação tiver uma eficiência de aplicação igual a 70%:
28
ITN ≤
0,7
ITN ≤ 40 mm ou 400 m3/ha
A “disponibilidade total de água” geralmente aumenta à medida que a textura do solo
vai diminuindo. Na Tabela 1.4 têm-se algumas características do solo em função de sua
textura. Ressalta-se que alguns solos de textura fina bem estruturados comportam-se como
solos de textura média ou grossa.

Tabela 1.4 - Valores de porosidade, densidade, capacidade de campo (Cc) e disponibilidade


total de água no solo (DTA) para diferentes texturas
Textura do solo Porosidade (%) Densidade (ds) Cc (% em peso) DTA (mm/cm)
Arenosa 32 - 42 1,55 - 1,80 10 - 20 0,6 – 1,0
Franco-arenosa 40 - 47 1,40 - 1,60 15 - 27 0,9 - 1,5
Franco-arenosa- 43 - 49 1,35 - 1,50 11 - 17 1,4 – 2,0
argilosa
Franco-argilosa 47 - 51 1,30 - 1,40 31 - 42 1,6 -2,2
Água no solo 35

Argilosa

Infiltração de água no solo


Infiltração é o nome dado ao processo pelo qual a água penetra no solo, através de sua
superfície. A velocidade de infiltração (VI) de água em um solo é fator muito importante na
irrigação, visto que ela determina o tempo em que se deve manter a água na superfície do solo
ou a duração da aspersão, de modo que se aplique uma quantidade desejada de água. Ela é
expressa em altura de lâmina de água ou volume de água por unidade de tempo, em geral, nas
unidades de mm/h, cm/h ou l/s.
A VI depende diretamente da textura e da estrutura dos solos. Em solos arenosos ou
argilosos com partículas bem agregadas, em razão de sua maior percentagem de poros
grandes, têm-se maiores velocidades de infiltração.
Em um mesmo tipo de solo, a VI varia com a percentagem de umidade do solo, na
época de irrigação; a temperatura do solo; a porosidade do solo; a existência de camada
menos permeável ao longo do perfil; e cobertura vegetal; entre outros fatores.
Observa-se que a variação da VI em um mesmo solo, por causa da diferença do teor
de umidade, desaparece geralmente 60 minutos depois do início da aplicação.
Com a operação de preparo, a estrutura do solo é modificada, o que provoca um
aumento na porosidade; à medida que vão ocorrendo as precipitações naturais ou as
irrigações, o solo tende a voltar à condição inicial. Logo, a velocidade de infiltração tende a
reduzir de irrigação para irrigação. Geralmente, essa variação é grande da primeira para a
segunda irrigação, diminuindo da segunda para a terceira, sendo praticamente desprezível a
partir de então.
Para efeito de dimensionamento de irrigação, geralmente se considera que a
velocidade de infiltração é função somente do tipo de solo, o que leva a um certo erro.
Entretanto, na prática, esse erro não compromete o dimensionamento do projeto. Essa
consideração é em geral aceita, uma vez que as características de infiltração de água no solo
variam estocasticamente no campo com um grau de flutuação significativo.
A velocidade de infiltração nos solos diminui com o aumento do tempo de aplicação
de água. Inicialmente, ela é relativamente alta, depois vai diminuindo, gradativamente, até
atingir um valor quase constante. Nesse ponto, em que variação da VI é muito pequena,
praticamente constante, ela é chamada de velocidade de infiltração básica (VIB).
Na Figura 1.9, tem-se uma curva que mostra a variação da velocidade de infiltração
com o tempo.
Outro termo muito usado é a infiltração acumulada (I), que é a quantidade total de
água infiltrada durante determinado tempo. Ela é geralmente expressa em mm ou cm,
referindo-se à altura da lâmina de água que infiltrou na superfície do solo, em litros por
unidade de superfície de infiltração ou em litros por unidade de comprimento de sulco.
36 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A infiltração acumulada em função do tempo pode ser utilizada para se determinar o


tempo necessário para infiltração de determinada quantidade de água, o que é de suma
importância no dimensionamento de irrigação por superfície.
2,5

2 1ª Irrig.
2ª Irrig.
VI (cm/h) 1,5

0,5

0
0 2 4 6 8 10
Tempo (h)
Figura 1.9 - Velocidade de infiltração versus tempo.

Há vários métodos e várias maneiras de se determinar a VI de um solo. Para que o seu


valor seja significativo, o método de determiná-la deve ser condizente com o tipo de irrigação
que será usado naquela área. Para isso, podem-se classificar os diversos tipos de irrigação,
segundo a infiltração, em dois grupos:
- Quando a infiltração se processa apenas na vertical, o que ocorre nas irrigações por
aspersões e inundações.
- Quando a infiltração ocorre tanto na direção vertical como horizontal, como é o caso
da irrigação em sulco.
Assim, ao se fazer irrigação em sulco, a VI deve ser determinada por um dos
seguintes métodos: “entrada-saída” de água no sulco, ou “infiltrômetro de sulco” ou do
balanço de água no sulco.
No caso de irrigação por inundação, deve-se determinar a VI pelos métodos das
“bacias” e do “infiltrômetro de anel”. Na irrigação por aspersão trabalha-se com
infiltrômetros, com aplicação da água por aspersão ou simuladores de chuva, equipamentos
que aplicam água por aspersão, apresentando intensidade de precipitação constante e superior
à velocidade de infiltração da água no solo, exceto durante um curto período de tempo logo
após o início do ensaio. Alguns simuladores permitem controlar a intensidade de precipitação,
tamanho e velocidade de impacto das gotas sobre a parcela de solo em que se deseja estudar
as características de infiltração, escoamento superficial e produção de sedimento.
No caso de irrigação localizada, em função da baixa intensidade de aplicação,
normalmente não é necessário determinar a capacidade de infiltração de água no solo.
Um solo pode ser classificado, segundo sua velocidade de infiltração básica, em:
Solo de VIB muito alta ............. > 30 mm/h
Água no solo 37

Solo de VIB alta ....................... 15 - 30 mm/h


Solo de VIB média ................... 5 - 15 mm/h
Solo de VIB baixa .................... < 5 mm/h
O valor da VIB de um solo é um fator de grande importância em irrigação, pois é ele
que indicará quais os métodos de irrigação possíveis de serem usados naquele solo, bem como
determinará a intensidade de precipitação máxima que poderá ser permitida na irrigação por
aspersão. Os valores da VIB em função da textura do solo são:
Arenosa: 25 a 250 mm/h
Franco-arenosa: 13 a 76 mm/h
Franco-arenosa-argilosa: 5 a 20 mm/h
Franco-argilosa: 2,5 a 15 mm/h

Métodos de determinação de VI e I
“Entrada-saída” de água no sulco
Consiste em colocar dois medidores de vazão, um na extremidade superior do sulco e
o outro afastado deste, em função do tipo de solo. Para solos arenosos, o segundo medidor
deve estar no máximo a 20 m do primeiro e, para solos argilosos, ele pode ficar afastado do
primeiro até 40 m.
Este método está ilustrado e resumido no Tabela 1.5.
Para converter a velocidade de infiltração em sulco, com unidades de litro/minuto por
1 m de sulco, em VI por unidade de área, com unidades de milímetros/hora, usa-se a seguinte
expressão:

VI(em1/min /1 m de sulco)
VI (em mm/h) = 60 (1.23)
espaçament o efetivo entre sulcos(em m)

A seguir, deve-se plotar a coluna (2) versus a coluna (8), para se obter a curva de VI
em l/min/m sulco versus tempo.
Conhecendo-se a VI/metro de sulco, facilmente se poderá determinar o tempo
necessário para manter a água escorrendo em um sulco de irrigação, para aplicar uma
quantidade determinada de água. Esses cálculos são vistos no Capítulo 7.
A medição da vazão na estaca A pode ser feita por meio de qualquer medidor para
medição de vazão em sulco (veja o Capítulo 4). Não se pode instalar vertedor em B, visto que
este represará a água e esta se espalharia sobre o solo, aumentando, assim, o valor da VI para
aquele sulco.
38 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Pode-se determinar a VIB no próprio sulco de irrigação no campo, ou seja, quando a


vazão de escoamento, no final do sulco, atingir um valor constante. A VIB será igual à
diferença entre a vazão aplicada no início do sulco e a que escoa no seu final, dividida pelo
comprimento do sulco.
37
Água no solo
Tabela 1.5 - Determinação da velocidade de infiltração, pelo método da “entrada-saída” de água no sulco

Tempo Estaca A Estaca B VI


Hora Acumulado Carga vazão Carga Vazão litro/min/40 m litro/mim/m
(1) minutos cm L/min cm l/min (7) (8)
(2) (3) (4) (5) (6)
8h27 0 8,0 30 - - - -
8h33 6 8,1 31 4,0 13,0 17,0 0,42

(Vazão média = 30 l/min)


8h38 11 7,9 28 4,5 15,5 14,5 0,36
8h43 16 8,0 30 5,0 17,5 12,5 0,31
8h48 21 8,1 31 5,3 19,0 11,0 0,27
8h53 26 8,0 30 5,6 20,5 9,5 0,25
8h58 31 8,0 30 5,8 21,0 9,0 0,22
9h03 36 8,0 30 5,9 21,5 8,5 0,21
9h08 41 8,0 30 5,9 21,5 8,5 0,21
9h13 46 8,1 31 5,0 22,0 8,0 0,20
9h18 51 8,0 30 6,0 22,0 8,0 0,20
9h23 56 8,0 30 6,0 22,0 8,0 0,20

Notas:
(1) - A primeira leitura do tempo é feita quanto a água chegar à metade da distância entre as estacas A e B; a segunda, quando a água atingir a estaca B; e as
demais, em cada 5 minutos, até se notar que atingiu VIB.
(2) - É o tempo acumulado que será plotado versus a coluna (8).
(3) e (5) - Carga nos medidores de vazão instalados nas estacas A e B.
(4) e (6) – Conversão das cargas nas respectivas vazões.
(7) - Diferença entre a média da vazão na coluna (4) e vazão na coluna (6).
(8) - Ajustamento da VI para 10 m de sulco.

39
40 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Infiltrômetro de sulco
Consiste em represar água em um pequeno comprimento de sulco, em geral 1 m, e ir
acrescentando água, à medida que ela for se infiltrando.
Pode-se permitir uma oscilação máxima de 2 cm do nível de água dentro do sulco. A
água acrescentada ao sulco é proveniente de um recipiente de volume conhecido. Dessa forma,
na hora das leituras, saber-se-á qual foi o volume de água infiltrado no solo. No início da
infiltração, o intervalo entre leituras deverá ser menor (cinco minutos), podendo ser
aumentado após quatro leituras.
De modo geral, podem-se usar os seguintes intervalos: 5, 10, 15, 20, 30, 45, 60, 90 e
120 minutos. Deve-se ter em mente que, quanto maior for a VI de um solo, mais freqüentes
deverão ser as leituras.
Inicialmente, determina-se a infiltração acumulada (I). A velocidade de infiltração média
(VIm) é a infiltração acumulada (I) em um tempo (to), dividida pelo próprio tempo, ou seja:
I
VIm = (1.24)
to
A velocidade de infiltração aproximada (VIa) é o incremento de infiltração, sendo o
valor de maior interesse para caracterização do processo.
I
VIa = (1.25)
t o
Este método está ilustrado na Tabela 1.6 e na Figura 1.10.

Tabela 1.6 - Determinação da infiltração acumulada (I) e da velocidade de infiltração (VI),


pelo método de infiltrômetro de sulco
Tempo Água acrescentada
em litros Infiltração Acum.(I) Vlm Vla
L/m sulco L/h por m sulco L/h por m
Hora Acumulado No Total
sulco
minutos intervalo
8h - - - - - -
8h05 5 2,00 2,00 2,00 24,00 24,00
8h10 10 1,50 3,50 3,50 21,00 18,00
8h15 15 1,10 4,60 4,60 18,40 13,20
8h20 20 0,80 5,40 5,40 16,20 9,60
8h30 30 0,60 6,00 6,00 12,00 3,60
8h45 45 0,45 6,45 6,45 8,60 1,85
9h 60 0,30 6,75 6,75 6,75 1,20
9h30 90 0,20 6,95 6,95 4,63 0,40
10h 120 0,10 7,05 7,05 3,37 0,20
10h30 150 0,10 7,15 7,15 2,86 0,20
11h 180 0,10 7,25 7,25 2,41 0,20
Água no solo 41

11h30 210 0,10 7,35 7,35 2,10 0,20

30 10
25
I (litro/m de sulco)

(l/h por m de sulco)


20
6

Vim
15
4
10

5 2

0 0
0 50 100 150 200
Tempo (min)

Curva de I Curva de VIm

Figura 1.10 - Curvas de infiltração acumulada (I) e de velocidade de infiltração média (VIm).

Infiltrômetro de Anel
Os equipamentos para este método consistem em dois anéis, sendo o menor com 25
cm de diâmetro e o maior com 50 cm, ambos com 30 cm de altura. Devem ser instalados
concentricamente, na vertical, e enterrados 15 cm no solo, com auxílio de marreta. Para isso,
as bordas inferiores dos dois anéis devem ser finas e com corte em forma de bisel, para
facilitar a penetração no solo.
Coloca-se água, ao mesmo tempo, nos dois anéis e, com uma régua graduada,
acompanha-se a infiltração vertical no cilindro interno, com intervalos de tempo idênticos ao
do método anterior. Quando não se dispuser do cilindro externo, deve-se fazer uma bacia em
volta do cilindro menor e mantê-la cheia de água enquanto durar a determinação.
A importância do anel externo ou bacia é evitar que a água do anel interno infiltre
lateralmente. A altura da lâmina de água nos anéis deve ser de 5 cm, permitindo uma
oscilação máxima de 2 cm. Para facilitar as leituras, medem-se as distâncias entre a borda
superior do anel interno e a superfície da água dentro dele. Na Tabela 1.7 são ilustradas as
determinações.
Para construir as curvas de infiltração acumulada e de velocidade de infiltração, basta
plotar os dados de I e VI versus o tempo acumulado, como no exemplo anterior. Na Tabela 1.7, a
seguir, encontra-se um exemplo de um teste realizado com o infiltrômetro de anel, e nas
Figuras 1.11 e 1.12 apresentam-se os valores de infiltração acumulada e velocidade de
infiltração aproximada. Observa-se que, ao longo do teste, a I aumenta com o tempo e a
42 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

velocidade de infiltração diminui até atingir a estabilidade, valor este denominado VIB, que no
caso chega a 28 mm/hora, aproximadamente.
Tabela 1.7 - Determinação da infiltração acumulada (I) e da velocidade de infiltração (VIa),
pelo método de infiltrômetro de anel
Tempo Régua Infiltração Velocidade de
Hora Intervalo Leitura (mm) Diferença (mm) acumulada (I) (mm) infiltração (Via)
(min) (mm/h)
9h 0 100 - - -
9h 5 105 5 5 60
9h10 5 110 5 10 60
9h15 5 114 4 14 48
9h20 5 117/100 3 17 36
9h25 5 104 4 21 48
9h30 5 107 3 24 36
9h40 10 114/100 7 31 42
9h50 10 106 6 37 36
10h00 10 112 6 43 36
10h10 10 117/100 5 48 30
10h20 10 106 6 54 36
10h30 10 110 4 58 24
10h40 10 115/100 5 63 30
10h55 15 107 7 70 28
11h10 15 113 6 76 24
11h25 15 120/100 7 83 28
11h40 15 107/100 7 90 28
11h55 15 107 7 97 28

120

100
Infiltração acum. I

80
(mm)

60

40

20

0
0 50 100 150 200
Tempo (min)
Água no solo 43

Figura 1.11 - Infiltração acumulada em função do tempo.

72
60
VIa (mm/h) 48
36
24
12
0
0 50 100 150 200
Tempo (min)

Figura 1.12 - Velocidade de infiltração aproximada em função do tempo.

Infiltrômetro de aspersão
Alves Sobrinho (1997) desenvolveu um infiltrômetro de aspersão, de construção
simples e fácil operação no campo, cujas características de precipitação relativas a diâmetro
de gotas, velocidade e energia cinética de impacto no solo das gotas produzidas são
semelhantes às da chuva natural. Tem sido mais utilizado em pesquisa, devido à infraestrutura
necessária.

Equações que descrevem a infiltração


A infiltração acumulada de água no solo (I) pode ser descrita por vários tipos de
equações, sendo as duas apresentadas a seguir as mais usadas:

Equação potencial ou Kostiakov


I = kt ao (1.26)

em que: I = infiltração acumulada, L;


k = parâmetro dependente da condição de umidade inicial do solo;
to = tempo de oportunidade de infiltração, T; e
a = constante dependente do solo, variando entre 0 e 1.
44 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Este tipo de equação descreve bem a infiltração do solo em períodos curtos, períodos
estes comuns na aplicação de lâminas de água médias e pequenas. Possui limitações em
períodos longos, pois, neste caso, pela equação, a velocidade de infiltração tende para zero à
medida que o tempo de infiltração se torna muito grande; entretanto, na realidade, à medida
que o tempo aumenta, a velocidade de infiltração tende para VIB.
A velocidade de infiltração (VI) instantânea é a derivada da infiltração acumulada, em
relação ao tempo, ou seja:
dI
VI = (1.27)
dt o

Substituindo a equação 1.27 em 1.28 e derivando, tem-se:

VI = a k t ao 1 (1.28)

Ou, no caso de I em cm e to em min, a equação:

VI = a k t ao 1 (cm/min) ou VI = 60 a k t ao 1 (cm/h) (1.29)

A velocidade de infiltração média é a divisão de I pelo tempo to, definida na equação


1.24. Substituindo 1.26 em 1.24 e exprimindo em centímetros, por hora, tem-se:

Vim = 60 k t ao1 (1.30)

Para determinar os coeficientes e expoentes das equações de infiltração acumulada e


de velocidade de infiltração, utilizam-se os procedimentos a seguir, especificados no Método
de Regressão Linear.
Outra possibilidade é a utilização dos recursos computacionais de uma planilha
eletrônica, que permite a definição da equação de regressão linear de forma fácil e objetiva.

Método de Regressão Linear


Aplicando os logaritmos nos dois lados da equação 1.26, ter-se-á:
log I = log k + a log to (1.31)
que nada mais é do que a equação de uma linha reta do tipo I = A + B . X.
em que: Y = log I
A = log k
B=a
X = log to
Água no solo 45

Na regressão linear, sabe-se que:


XY  xN.Y
B (1.32)
( X ) 2
X 2 
N
A =Y -BX (1.33)
Aplicando a transformação logarítmica nos dados de tempo acumulado e infiltração
acumulada na Tabela 1.8, tem-se, pelas equações 1.32 e 1.33:

Tabela 1.8 - Transformação logarítmica de infiltração e do tempo acumulado

T I 2
X = log T Y = log I X . Y X
(min uto) (cm)
5 0,91 0,699 -0,041 -0,029 0,489
10 1,57 1,000 0,196 0,196 1,000
20 2,41 1,301 0,382 0,497 1,693
30 2,97 1,477 0,473 0,698 2,182
45 3,71 1,653 0,569 0,941 2,733
60 4,39 1,778 0,642 1,142 3,162
90 5,64 1,954 0,751 1,468 3,819
120 6,83 2,079 0,834 1,735 4,323
180 8,61 2,255 0,935 2,109 5,086
240 10,28 2,380 1,012 2,409 5,665
300 11,78 2,477 1,071 2,653 6,136

Somatório - 19,055 6,825 13,820 36,288

M édia - 1,732 0,620 - -

13,816 19 ,05311x 6,824


B 2
 0,607
36,288 (19,11
053)

A = 0,620 - 0,607 x 1,732 = - 0,431


como a = B e k = ant log A = 0,37
a = 0,61 e k = 0,37
Segundo as equações 1.26 e 1.30, as equações de infiltração acumulada e velocidade
de infiltração instantânea serão:
I = 0,37 to0,61 cm
VI = 13,54 to-039 cm/h
em que to é o tempo de oportunidade, em minutos.
Nota: O mesmo raciocínio pode ser usado para os métodos que determinam
diretamente a velocidade de infiltração, mas, neste caso, integra-se em vez de derivar, para se
obter a equação da infiltração acumulada.
46 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Equação de Kostiakov-Lewis
I = k t ao + VIB to (1.34)
em que: I = infiltração acumulada, em cm;
k = constante que depende do solo;
a = constante que depende do solo, variando entre 0 e 1; e
VIB = velocidade de infiltração básica, em cm/minuto.
A velocidade de infiltração instantânea (VI), em cm/mim, será:
VI = a k t ao 1 + VI (1.35)
e a velocidade de infiltração média (VIM), em cm/mim, será:
VIM = k t ao 1 + VIB (1.36)
Este tipo de equação deve ser usado quando se pretende aplicar na irrigação lâminas
de água maiores, ou seja, irrigação com maiores tempos de oportunidade, durante a qual se
atingirá a VIB do solo.
Entretanto, comparando esta equação (1.34) com a equação potencial (1.36), verifica-
se que ela requer uma constante a mais e, em conseqüência, é mais difícil de ser ajustada aos
dados de campo.

Referências
ALVES SOBRINHO, T. Desenvolvimento de um infiltrômetro de aspersão portátil. Viçosa: UFV, 1997. 85
p. Tese (Doutorado em Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1997.
BAVER, L.D. Soil physics. N. York: John Wiley & Sons, 1966. 489 p.
BEN-HUR, M.; SHAINBERG, I.; MORIN, J. Variability of infiltration in a field with surface-sealed soil. Soil
Science Society of America Journal, v.51, p.1299-1302, 1987.
BERNARDO, S. Água no solo. Viçosa: Imprensa Universitária da UFV, 1980. 28 p. (Boletim de Extensão 1).
BERNARDO, S. Determinação da umidade do solo pelo “Método das Pesagens”. Revista Ceres, Viçosa, v. 18,
n. 95, p. 74-83, 1971.
DOORENBOS, J.; KASSAN, A. H. Yield response to water. Roma: FAO, 1979. 193 p. (Irrigation and
Drainage Paper 33)
HILLEL, D. Solo e água. Porto Alegre: Ed. Meridional “EMMA”, 1970. 231 p.
HOLMES, J.W. et al. Measurement of soil water In: ––––. Irrigation of agricultural lands. Wisconsin: ASA.
1967. p. 220-243. (Agronomy monograph nº 11).
ISRAELSEN, D.W. et al. Measurement of soil moisture. In: ––––. Irrigation principles and practices. N.
York: John Wiley and Sons, 1967. 447 p.
U.S.D.A. Soil-plant-water relationships. Washington, D.C.: Scs National Engineering Handbook, 1964.
Section 15-Irrigation: Chapter 1. 72 p.
Água no solo 47
Relação solo-água-planta-atmosfera 45

Capítulo 2

Relação solo-água-planta-atmosfera

Considerações Gerais
Qualquer planejamento e operação de um projeto de irrigação em que se vise à
máxima produção e à boa qualidade do produto, usando de maneira eficiente a água, requer
conhecimentos das inter-relações entre solo-água-planta-atmosfera e manejo de irrigação.
Em regiões áridas, onde a água é fator limitante, as pesquisas devem ser
desenvolvidas visando planejar irrigações para se alcançar máxima produção, por unidade de
água aplicada. Em outras condições, pode ser preferível realizar pesquisas objetivando a
máxima produção relacionada a um dos seguintes aspectos: unidade de área cultivada,
quantidade do produto, unidade de custo de mão-de-obra; ou aumento do emprego de mão-de-
obra no meio rural, assentamento de famílias marginalizadas ou garantia da estabilidade
social na região.
Infelizmente, as práticas irrigatórias em uso são, em geral, baseadas em costumes
herdados ou conveniência particular, em vez de corretas análises para as condições presentes.
De modo geral, ao iniciar um projeto de irrigação deve-se ter em mente: aumentar a
produção, economizar trabalho e água, minimizar a deterioração da estrutura do solo e a
perda de nutrientes etc.
Existem alguns princípios que são úteis ao planejamento e à operação de um projeto
de irrigação, a saber:
- A evapotranspiração diária de uma superfície coberta com vegetal rasteiro, na
ausência de energia advectiva, dificilmente excede a evaporação de um recipiente raso que
contém água com a superfície exposta às mesmas condições climáticas.
- Para que haja o máximo crescimento vegetativo, a transpiração de uma superfície
vegetal deve ser mantida na sua capacidade potencial, sob as condições climáticas
prevalecentes.
46 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

- Durante o ciclo de irrigação, a tensão máxima que se deve permitir que a água do
solo atinja, sem afetar a produção, é aquela sob a qual ainda haverá suficiente absorção de
água pela planta, de modo que a previna de progressiva deficiência de água.
- A razão entre a água evapotranspirada pela cultura e a aplicada pela irrigação deve
aproximar-se de 1, para que se tenha máxima eficiência de uso e de aplicado de água.
- Geralmente, a seleção de culturas ou de práticas culturais que visem ao aumento da
produção ou à diminuição do ciclo vegetativo aumentará a eficiência de uso da água.
- Em geral, as irrigações profundas ou pouco freqüentes são mais baratas do que as
irrigações rasas e freqüentes.
- A água percolada abaixo da zona radicular deve ser retirada, por drenagem natural
ou artificial.
- A quantidade de sal, trazida pela água de irrigação, deve ser contrabalançada pela
quantidade removida pela água de drenagem.
Em cada situação, as respostas para importantes questões de irrigação, como:
“quando irrigar?”, “quanto de água deve aplicar?” e “como aplicar a água?”, devem ser
baseadas nos princípios já mencionados e em pesquisas locais, e não em práticas específicas
que tiveram sucessos em outras regiões.
Questões como “até quanto por cento da ‘água útil’?” ou “até que tensão ela pode ser
permitida na zona radicular de uma cultura, sem reduzir produção?” não têm a mesma
resposta para todas as regiões. Estes limites devem ser determinados para cada situação ou
extrapolados de outras regiões que tenham o mesmo clima e solo. Em outras palavras, não há
práticas específicas que podem ser generalizadas, universalmente.
Para fazer irrigações corretas, deve-se:
- Analisar os fatores de solo, clima, planta e suprimento de água.
- Considerar os fatores de solo, água e engenharia na determinação da aplicação de
água.
- Avaliar a inter-relação entre irrigação e outros fatores culturais, como variedades,
densidade de plantio, fertilizante, ervas daninhas, colheitas etc.
- Visar sempre à obtenção da melhor função econômica.

Água necessária
A determinação da quantidade de água necessária para a irrigação é um dos principais
parâmetros para o correto planejamento, dimensionamento e manejo de qualquer sistema de
irrigação, bem como para avaliação de recursos hídricos. Quando a quantidade de irrigação
necessária for superestimada, têm-se como conseqüência sistemas de irrigação
superdimensionados. Isso encarece o custo da irrigação por unidade de área, o que leva à
aplicação de água em excesso, provocando muitas vezes elevação do lençol freático,
Relação solo-água-planta-atmosfera 47

sinalização do solo e lixiviação dos nutrientes. Por outro lado, quando a quantidade de
irrigação necessária for subestimada, tem-se o subdimensionamento do sistema de irrigação e
como conseqüência obtêm-se produções não muito elevadas, ou, como é mais freqüente,
incapacidade do sistema para irrigar toda a área do projeto, ou seja, redução da área a ser
irrigada.
A água necessária é a quantidade de água requerida pela cultura, em determinado
período de tempo, de modo a não limitar seu crescimento e sua produção, nas condições
climáticas locais, ou seja, é a quantidade de água necessária para atender à evapotranspiração
e à lixiviação dos sais do solo. Pela própria definição de água necessária à cultura, a
evapotranspiração constitui a maior e mais importante parte.
A irrigação total necessária (ITN) pode, então, ser definida como a quantidade de
água a ser suprida pela irrigação, de modo a complementar as precipitações efetivas, no
atendimento à quantidade de água necessária à cultura.
Para o planejamento de sistemas de irrigação, a quantidade de irrigação necessária
(ITN) pode ser determinada para períodos mensais, trimestrais ou para o ciclo da cultura.
Mas, para o dimensionamento do sistema, a ITN deve ser determinada para o período de
máxima demanda de irrigação da cultura. Neste caso, o comprimento do período a ser
considerado nas análises é um parâmetro de capital importância. Quando se determina a
máxima demanda de irrigação usando um período muito curto, por exemplo, analisando dados
diários, obtém-se normalmente um valor muito alto para a máxima demanda de irrigação, o
que leva ao superdimensionamento do projeto de irrigação. Por outro lado, quando se usa
período muito longo, ou seja, analisando dados mensais ou trimestrais, normalmente o valor
da máxima demanda de irrigação será baixo e, em conseqüência, ter-se-á um projeto de
irrigação subdimensionado.
Para as condições brasileiras, o mais aconselhado é analisar os dados para períodos
de 5, 10 ou 15 dias. O ideal é que o comprimento do período em que os dados forem reunidos
para análise seja o mais próximo possível do turno de rega, isto é, do intervalo em dias entre
duas irrigações sucessivas.
A quantidade total de irrigação necessária (ITN) para determinado período pode ser
estimada pela equação de balanço de água simplificada:
 ET - Pe - Ws - s
ITN  (2.1)
Ea
em que: ITN = lâmina total de irrigação necessária, no período;
ΣET = somatório da evapotranspiração, no período;
Pe = precipitação efetiva, no período;
Ws = água proveniente do lençol freático, no período;
∆s = variação do teor de umidade do solo, no período; e
Ea = eficiência de aplicação da irrigação, em decimal.
48 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Como normalmente Ws e s são valores pequenos, quando comparados com ET e Pe,


esta equação pode ser escrita de forma mais simplificada:
- Para as condições de irrigação suplementar
 ET - Pe
ITN = (2.2)
Ea
- Para as condições de irrigação total
 ET
ITN = (2.3)
Ea
A evapotranspiração, juntamente com a precipitação efetiva, são os dois principais
parâmetros para estimar a quantidade de irrigação necessária. Na maioria das áreas irrigadas,
nas regiões áridas e semi-áridas, faz-se a irrigação total, ou seja, nestas regiões a magnitude
da precipitação efetiva é pouco significativa. Também nas regiões úmidas ou semi-úmidas,
quando o cultivo é realizado fora da época das chuvas, ou quando se têm freqüentes períodos
de “veranico”, a quantidade de irrigação necessária é baseada exclusivamente na
evapotranspiração.
A evapotranspiração pode ser definida como a quantidade de água evaporada e
transpirada por uma superfície como vegetal, durante determinado período. Isto inclui a
evaporação da água do solo, a evaporação da água depositada pela irrigação, chuva ou
orvalho na superfície das folhas, e a transpiração vegetal. A evapotranspiração pode ser
expressa em valores totais, médios ou diários, em volume por unidade de área ou em lâmina
de água, no período considerado. O processo de evapotranspiração necessita de energia para a
evaporação de água e, sendo assim, ele depende principalmente da quantidade de energia solar
recebida.
Evaporação de água do solo – Em um solo saturado ou com o lençol freático
próximo da superfície, sua evaporação aproxima-se da evaporação de um recipiente com
água, com a superfície livre exposta às mesmas condições atmosféricas. A intensidade de
evaporação diminuirá com o aumento da profundidade do lençol freático. Experiências
conduzidas por Israelsen e Hansen (1962), comparando a evaporação de um recipiente que
continha água com a de um tanque cheio de solo areno-argiloso, cujo lençol freático foi
mantido em várias profundidades, deram os seguintes resultados: considerando a evaporação
do recipiente com água de 100%, a evaporação do tanque com solo foi de 88,2%, quando o
lençol freático foi mantido a 0,10 m da superfície, e de 7,2%, quando a sua profundidade era
de 1,25 m.
Transpiração – É o processo pelo qual a água vai da planta para a atmosfera através
dos estômatos, sob a forma de vapor. Isso envolve um contínuo movimento de água do solo
para as raízes, das raízes até as folhas e destas para a atmosfera. Quando a intensidade de
transpiração de um vegetal exceder a sua absorção de água no solo, ocorrerá o seu
murchamento. A velocidade do fluxo de água no caule varia muito. Em condições normais,
pode ficar entre 0,30 e 1,80 m/h.
Relação solo-água-planta-atmosfera 49

A evaporação nada mais é do que a passagem da água do estado líquido para o estado
de vapor, necessitando, então, de aproximadamente 585 calorias por centímetro cúbico de
água evaporada, à temperatura de ± 20 ºC. Vê-se que a energia é essencial, sendo assim,
cessará a transpiração com a sua falta. A principal fonte de calor para a transpiração é o Sol,
cuja energia é emitida sob a forma de energia radiante.
O efeito das estações do ano sobre a evaporação e a transpiração é conseqüência da
variação da quantidade de energia radiante que atinge o solo, durante esses períodos. Estas
variações serão tanto maiores quanto mais afastada do equador for a área a ser considerada.
Sendo assim, em regiões de climas tropicais, como é o caso do Brasil, onde a variação da ET
potencial durante o ano é pequena (BERNARDO, S., 1970), é possível o cultivo durante
quase todo o ano, visto que energia não falta, mas sim faltam pesquisas com Irrigação e
Fotoperiodismo nas principais culturas, de modo que sejam permitidas explorações intensivas.
Num e noutro processo, a evaporação é influenciada pela percentagem e extensão de
área coberta pelo vegetal.
Evapotranspiração – A quantidade de água evapotranspirada depende principalmente
da planta, do solo e do clima, sendo este último fator predominante sobre os demais, de modo
que a quantidade de água requerida por uma cultura varia com a extensão da área coberta
pelo vegetal e com as estações do ano (em locais onde o clima varia acentuadamente com as
estações).
A evapotranspiração é função da quantidade de energia solar que chega à área
considerada. Se a área não for toda coberta por vegetal, a energia que chega a ela será
parcialmente utilizada na ET, menor quantidade de água será evaporada e grande parte da
energia utilizada para aquecimento do ar e solo, exceto no caso de solos descobertos, mas
saturados. Por isso, plantas isoladas ou pequenas áreas cultivadas próximas de áreas com solo
descoberto serão sujeitas a maiores intensidades de ET, pois receberão energia solar
diretamente sobre a área e ainda energia da massa de ar quente e com baixa umidade,
proveniente da área sem vegetal. Este fenômeno é chamado de “efeito oásis”.
Para ilustrar este “efeito oásis”, em Davis – Califórnia, a ET de uma superfície
coberta de grama foi de 2,6 mm/dia, no início da primavera, e de 5,0 mm/dia, no outono,
ressaltando-se que o campo nas proximidades do lisímetro estava coberto de vegetal na
primavera e com solo exposto à radiação solar no outono e que nas duas épocas a energia
radiante incidida sobre cada unidade de área naquele local foi igual.
A ET varia com as culturas (Quadro 2.1), o que é atribuído em parte à arquitetura
foliar (ângulo da folha, altura e densidade), às características das folhas (número de estômatos
e de horas de sua abertura) e à duração do ciclo e da época de cultivo.

Tabela 2.1 - Água necessária durante o ciclo ou ano, para culturas

Algodão 550-1.100 mm Feijão 300-600 mm


Arroz 600-1.200 mm Fumo 300-600 mm
Banana 900-1.800 mm Milho 400-800 mm
50 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Batatinha 350-700 mm Soja 400-800 mm


Café 800-1.200 mm Sorgo 300-600 mm
Cana-de-açúcar 1.000-1.200 mm Tomate 300-600 mm
Cebola 350-700 mm Verduras em geral 250-500 mm
Citrus 600-1.200 mm Uva 500-1.000 mm

Determinação da evapotranspiração
Há vários métodos para determinar a evapotranspiração, os quais, em sua maioria,
estimam a evapotranspiração potencial, ou seja, a que ocorre quando não há deficiência de
água no solo que limite seu uso pelas plantas. Mas, como é de se esperar, em razão das
características intrínsecas de cada cultura, a evapotranspiração potencial varia de cultura para
cultura. Assim sendo, verificou-se a necessidade de definir a evapotranspiração potencial para
uma cultura de referência (ETo) e a evapotranspiração potencial (ETpc) e a real (ETc) por
cultura. Elas podem ser assim definidas:
Evapotranspiração Potencial de Referência – Foi inicialmente definida como a
evapotranspiração de uma superfície extensiva, totalmente coberta com grama de tamanho
uniforme, com 8 a 15 cm de altura e em fase de crescimento ativo, em um solo com ótimas
condições de umidade. Questões de ordem operacional relacionadas ao tipo e dificuldades de
manutenção das condições ótimas de desenvolvimento da grama exigiram mudanças neste
conceito.
A partir de 1990 (SMITH, 1991) foi proposto um novo conceito de evapotranspiração
de referência que foi amplamente adotado e se tornou o novo padrão FAO (ALLEN et
al.,1998). A ETo passou a ser a evapotranspiração de uma cultura hipotética que cobre todo o
solo, em crescimento ativo, sem restrição hídrica nem nutricional (ótimas condições de
desenvolvimento), com altura média de 0,12 m, albedo de 0,23 e resistência da superfície de
70 s.m-1. O modelo utilizado como padrão para estimar a ETo passou a ser a equação de
Penman-Monteith, que será posteriormente discutida.
O método de Penman-Monteith foi selecionado pela sua consistência técnica
(ALLEN, 1986 e ALLEN et al., 1989) e pelos excelentes resultados nas mais distintas
condições climáticas (JENSEN et al., 1990).
Evapotranspiração Potencial da Cultura – É a evapotranspiração de determinada
cultura quando há ótimas condições de umidade e nutriente no solo, de modo a permitir a
produção potencial desta cultura no campo.
A relação entre a ETpc e a ETo pode ser expressa pela seguinte equação:
Etpc = Kc ETo (2.4)
em que Kc é o coeficiente da cultura.
Relação solo-água-planta-atmosfera 51

Evapotranspiração da Cultura – É a quantidade de água evapotranspirada por uma


determinada cultura, sob as condições normais de cultivo, isto é, sem a obrigatoriedade do
teor de umidade permanecer sempre próximo à capacidade de campo, o que leva a concluir
que a ETc é menor ou, no máximo, igual à ETpc (ETc  ETpc). A relação entre as duas pode
ser expressa pela seguinte equação:

ETc = Ks ETpc (2.5)

em que Ks é o coeficiente que depende da umidade do solo.

Determinação da ETo
Para a determinação da evapotranspiração potencial de referência (ETo), serão
considerados neste livro somente os métodos mais generalizados. Didaticamente, eles serão
divididos em dois grandes grupos, ou seja, métodos diretos e métodos indiretos.

Métodos diretos
São vários os métodos para a determinação direta da evapotranspiração, bem como os
fatores que devem ser considerados na seleção destes métodos. Um desses principais fatores é
a fonte de água a ser usada pelo vegetal, se precipitação, irrigação por aspersão ou por
superfície, ou se é água subterrânea.
Os principais métodos diretos são: a) lisímetros; b) parcelas experimentais no campo;
c) controle da umidade do solo; e d) método da “Entrada-Saída”, em grandes áreas.

A) MÉTODO DOS LISÍMETROS


Lisímetros são tanques enterrados no solo, dentro dos quais se mede a
evapotranspiração. É o método mais preciso para a determinação direta da ETo, desde que
instalados corretamente.
Eis os pontos básicos na instalação de um lisímetro:
- Deve ser suficientemente largo, de modo que reduza o efeito da sua parede interna e
tenha uma área de tamanho significativo (segundo Peixoto, J.P., 1968, a área mínima deve ser
de 2m2).
- Deve ser suficientemente profundo, de modo que evite restringir o desenvolvimento
do sistema radicular das plantas nele cultivadas. De modo geral, para as plantas de sistema
radicular pouco profundo, o volume mínimo de terra em um lisímetro deve ser de 2 m3.
- As condições físicas do solo dentro do lisímetro precisam aproximar-se, tanto quanto
possível, das condições do solo que lhe fica externo; e deve-se controlar o lençol freático
52 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

dentro dele, de modo que não torne as condições de umidade interna diferentes das do solo
externo.
- A vegetação plantada dentro do lisímetro deve ser da mesma espécie, altura e
densidade da vegetação externa.
- Nunca se deve colocar um lisímetro dentro de uma área sem vegetação.
- O lisímetro deve ser instalado em uma área plana, homogênea em cultura e solo, de
dois hectares, no mínimo.
Os lisímetros a serem discutidos serão divididos em dois grupos: pesáveis e não-
pesáveis.
Lisímetros não-pesáveis:
- de drenagem ou de percolação
Lisímetros pesáveis:
- de pesagem mecânica
- flutuante
- hidráulico
Lisímetro de Percolação – Consiste em se enterrar um tanque, com as dimensões
mínimas de 1,5 m de diâmetro por 1,0 m de altura, no solo, deixando a sua borda superior
5 cm acima da superfície deste. Do fundo do tanque sai um cano que conduzirá a água
drenada até um recipiente. O tanque tem que ser cheio com o solo do local onde será instalado
o lisímetro, mantendo a mesma ordem dos horizontes. No fundo do tanque, coloca-se uma
camada de mais ou menos 10 cm de brita coberta com uma camada de areia grossa. Esta
camada de brita tem a finalidade de facilitar a drenagem da água que percolou através do
tanque. Após instalado, planta-se grama no tanque e na sua área externa. A Figura 2.1 ilustra
este tipo de lisímetro.

5 cm grama tampa

solo 4,50
(solo) tanque
brita (solo)
cano de 1/2''
(solo)

coletor

Figura 2.1 - Representação esquemática de um lisímetro de percolação.

O tanque pode ser um tambor, pintado interna e externamente para evitar corrosão, ou
também ser de amianto ou de metal, pré-fabricado. Têm sido muito utilizados lisímetros de
polietileno.
A evapotranspiração potencial de referência em um período qualquer é dada pela
seguinte equação:
Relação solo-água-planta-atmosfera 53

I+ P- D (2.6)
ETo 
S
em que: ETo = evapotranspiração potencial de referência, em mm;
I = irrigação do tanque, em L;
P = precipitação pluviométrica no tanque, em L;
D = água drenada do tanque, em L; e
S = área do tanque, em m2.
Sendo o movimento de água no solo um processo relativamente lento, os lisímetros de
percolação somente têm precisão para períodos mais ou menos longos. A ETo, por eles
determinada, deve ser em médias semanais, quinzenais ou mensais. Eles precisam ser
irrigados diariamente ou a cada dois dias, com determinada quantidade de água, de forma que
a água percolada seja em torno de 10% do total aplicado nas irrigações.
O “evapotranspirômetro de Thornthwaite” é um tipo de lisímetro de percolação.
Uma adaptação ao lisímetro de percolação que permite boa precisão na medida da
evapotranspiração é o sistema de lençol freático constante. Nesta utilização implementa-se um
sistema de alimentação contínua de água através do sistema de drenagem ou de um sistema
auxiliar instalado na superfície do lisímetro.
A segunda forma é mais usual e de maior facilidade de controle, sendo, neste caso,
instalado um registro na saída do dreno, que é fechado quando da utilização desse lisímetro
com lençol freático constante. É também instalado um dispositivo auxiliar composto de um
tubo de pvc, bóia tipo caixa de água e sistema de alimentação de água independente composto
de recipientes de volume calibrados (normalmente de latões de 200 L), que é conectado por
uma tubulação flexível (Figura 2.2).

A
54 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

B C

Figura 2.2 - Vista do lisímetro de lençol freático constante em processo de montagem (A)
observando-se o tubo de controle do lençol freático e bóia (B) e o sistema de
tambores de fornecimento de água (C).
Neste lisímetro, o lençol freático é mantido constante e, em resposta ao consumo de
água pela cultura, a água se desloca para a zona radicular por capilaridade.
Embora os lisímetros de lençol freático de nível constante não permitam medidas com
o mesmo grau de exatidão e em intervalos tão curtos quanto os lisímetros de pesagem,
possuem custos de instalação e operação bem menores e são bastante utilizados para a
determinação da evapotranspiração potencial de cada fase de crescimento da cultura. A ETpc
é determinada a partir da lâmina média consumida no lisímetro, o que pode ser observado a
partir de leitura diária em uma régua graduada adaptada no reservatório de abastecimento de
cada lisímetro.
Lisímetro de Pesagem Mecânica – Como todo lisímetro pesável, o de pesagem
mecânica permite a determinação da ET em períodos curtos, ET-horária ou diária, o que não
acontece com os lisímetros não-pesáveis. Ele é imprescindível em centros de pesquisas, de
modo que se possam calcular os coeficientes de correção, para os métodos indiretos ou
empíricos de determinação da ETo.
Consiste em um tanque apoiado sobre uma balança mecânica. O conjunto fica dentro
de um tanque externo. O tanque interno é livre e apóia-se somente sobre a balança, a qual
acusa toda variação de seu peso, ou seja, a perda da água evapotranspirada. A Figura 2.3
ilustra este tipo de lisímetro. As mesmas considerações, no que diz respeito à área, à
profundidade e ao solo, vistas em relação ao lisímetro-drenagem, são válidas para qualquer
tipo de lisímetro.
Em Davis (Califórnia), há um excelente exemplo de lisímetro de pesagem mecânica,
construído por Pruitt e Angus, em 1960. O tanque interno tem 6,1 m de diâmetro e 0,9 m de
profundidade. Sua precisão é de 0,03 mm, cujos dados de ET são mecanicamente gravados a
cada quatro minutos.
Relação solo-água-planta-atmosfera 55

A evapotranspiração potencial em um período qualquer entre duas irrigações é dada


pela equação a seguir:
P
ETo = (2.7)
S
em que: Eto = evapotranspiração potencial de referência, em mm/dia;
P = variação no peso do tanque, em kg; e
S = área do tanque, em m2.
tampa
5 cm
. . .
. . . .
.
. . . .
escada

.
. . .

.
.

.
. .
.
.

.
.
solo .
.
. .
.
.
.
.
.
solo .
.
. .
. .
tanque de .
.
. brita
. .
.
. .
. .

drenagem solo

balança túnel

Figura 2.3 - Representação esquemática de um lisímetro de pesagem mecânica.


Lisímetro Flutuante – É menos preciso do que o de pesagem mecânica, porém mais
simples e barato para ser construído. Consiste em dois tanques, um dentro do outro, ou seja, o
interno, com solo, bolsa de ar para diminuir sua densidade e um tubo para permitir a
drenagem por sucção, flutua dentro do externo. A Figura 2.4 ilustra este tipo de lisímetro. A
variação do peso do tanque interno faz com que varie o nível do líquido no piezômetro de
medição. Em geral, usa-se água como o líquido sobre o qual flutua o tanque interno; porém,
podem-se usar outros líquidos com densidade maior do que a água, como o cloreto de zinco,
cuja densidade é 1,9.
tubo de 2'' tubo de drenagem por sucção tampa

camada de óleo

1m (solo) (solo)
(solo)
tanque externo
cano de 3''
bolsa bolsa
de ar de ar cano de 1'' água
(água)
(solo)

Figura 2.4 - Representação esquemática de um lisímetro flutuante.

As bolsas de ar são necessárias para diminuir a densidade do tanque interno e dar-lhe


maior estabilidade.
56 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A ETo é calculada pela variação do nível de líquido medida no cano de 3”


(piezômetro de medição), ou seja, usando a seguinte equação:
ETo = F x (h1 - h2 ) + I (2.8)
em que: ETo = evapotranspiração potencial de referência, em mm/dia;
F = fator de conversão determinado para cada lisímetro;
h1 - h2 = variação do nível do líquido no piezômetro de medição, entre dois dias
consecutivos, em cm; e
I = precipitação ou irrigação ocorrida sobre o lisímetro, entre as duas leituras, em
mm.
Quando o líquido usado for água, deve-se colocar uma camada fina de óleo entre os
dois tanques, para evitar a sua evaporação. Devem-se, também, pôr três cutelos soldados na
parede do tanque externo, com afastamento de 120º um do outro, com os vértices para dentro,
a fim de evitar que o tanque interno encoste no externo, aumentando a superfície de atrito e,
em conseqüência, diminuindo a precisão do lisímetro.
Lisímetro Hidráulico – Consiste em dois tanques, um dentro do outro, sendo o tanque
interno apoiado sobre câmaras de borracha flexíveis, cheias de água. As câmaras comunicam-
se entre si através de um tubo, também cheio da água, e elas se comunicam com um
manômetro, onde se lê a variação de pressão das câmaras (Figura 2.5).
abrigo do
manômetro tubo de drenagem por sucção
manômetro no mínimo 15 cm

. .. . .. . . ... .. .
. . . . .. . . . ... .
. .. . . .. . . ... . .. . . .solo . ... . .. . .. . . ... .
. . .
.. . . .. .. .. .T... ..interno
. .. . .. .
.. . . . . .
. . .. .. .. . . . . . . . . . .. . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . ...... ... . .
. . . . . .
. . . .. . . . . . . . .. . .. .... . .. . . .... .. T. externo
. . .. . . tubo de conecção .. .. . . . .. . . .
.. . . .. .... .. .. .. ..... .... . .
. .. . . ..... .. . . .. . .. . . ... . . .. .
. . . ... . . . . . . . . . . .. .. .. . . . . ...... . .
... . . . . das câmaras com . . . .
. .. . .
. .. . . .. . . . ... .. . . . .solo...... ....
. . .
. . .
. . . . .. . ...o manômetro
. ... .. ..
. .. .. . .. .... .
. . ... .. ... . .. ........ . ....... .. .. .. .
.. . . ..
. . .. .. . . . . .. .
.
..
.
.. . . ... . .... .. .... ...... ... .blocos de
. . . . . .. . ... .. . .. ... . ....madeira
. . . ... . . .. .. .. .. .. . .... ....... ... . . .. ..
. . . ... . .. . .
. . ...... .... . . . .câmaras
.
. .. .
. . .. . . . . . . . . . . . .. . .. . . . .. ... hidráulicas
. . .. . . . . . . . .. interconectadas

Figura 2.5 - Representação esquemática de um lisímetro hidráulico.

Como o tanque interno se apóia unicamente sobre as câmaras (células hidráulicas), a


variação do seu peso é que faz variar a leitura do manômetro.
Devem-se colocar, entre o tanque interno e as câmaras, blocos de madeira com área
constante em contato com as câmaras, para evitar que estas se dilatem, aumentando a área de
contato, quando o tanque estiver mais pesado (após a irrigação).
Relação solo-água-planta-atmosfera 57

Outro erro que pode ocorrer neste tipo de lisímetro é a dilatação do tubo do
manômetro, em virtude da variação da temperatura. O tubo de conexão do manômetro com as
câmaras não deve ser de ferro, mas de PVC reforçado, para minimizar a condução de calor.
A ETo é calculada pela variação da pressão do manômetro, por meio da seguinte
equação:
Eto = F (h1 - h2) + I (2.9)
em que: ETo = evapotranspiração potencial de referência, em mm/dia;
F = fator de conversão determinado para cada lisímetro;
h1 - h2 = variação do nível do líquido no piezômetro de medição, entre dois dias
consecutivos, em cm; e
I = precipitação ou irrigação ocorrida sobre o lisímetro, entre as duas leituras, em
mm.

B) MÉTODO DAS PARCELAS EXPERIMENTAIS


Com este método podem-se determinar ETo, ETpc e ETc. A determinação da
evapotranspiração (ET) por este método depende de vários fatores, devendo ser usado para
determinar a ET total, durante todo o ciclo da cultura, e nunca a ET diária ou semanal, pois,
nestes casos, os erros seriam grandes. A água necessária, durante o ciclo da cultura, é
calculada pela soma da quantidade da água aplicada nas irrigações, das precipitações efetivas
ocorridas durante este período, e da quantidade de água que estava armazenada no solo antes
do plantio menos a quantidade de água que ficou no solo, após a colheita. Ou seja,
sintetizando em uma equação, tem-se:
n (Mi - Ni) Dai hi
U = I + Pe + (  (2.10)
i =1 100
sendo: U = água necessária à cultura, durante o seu ciclo, em mm;
I = quantidade total de irrigação, em mm;
Pe = precipitação efetiva ocorrida durante o ciclo da cultura, em mm;
n = número de camadas em que foi dividida a profundidade do solo;
Mi = percentagem de umidade antes do plantio na enegésima camada do solo, % em
peso;
Ni = percentagem de umidade após o ciclo vegetativo da cultura na enegésima camada
do solo, % em peso;
Dai = densidade aparente da enegésima camada, em g/cm3; e
Hi = altura de cada camada em que foi dividida a profundidade do solo em mm. Em
geral, esta altura é de 10 cm, quando se deseja maior precisão, e de 30 cm, caso contrário.
58 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Nota: Em geral, divide-se o perfil do solo em camadas de 20 cm, sendo a


profundidade total, a ser considerada, dependente do sistema radicular da cultura.
Este método requer que todas as medições de água sejam realizadas dentro da parcela
em estudo (as medições de precipitações e irrigações podem ser facilmente determinadas,
sendo as determinações de umidade mais trabalhosas). Ele omite a quantidade de água que foi
percolada, bem como não permite o cálculo de período crítico de ET da cultura, dentro do
ciclo. A determinação da precipitação efetiva também não é muito fácil.
A quantidade de água necessária calculada por este método, em geral, apresenta
resultados altos, em razão de não se controlar a percolação de água.
Quando executado com bastante cuidado, conseguem-se bons resultados.
A principal vantagem deste método é a não alteração da estrutura do solo. Como no
caso anterior, a parcela em estudo deve estar dentro de uma área cultivada com a mesma
cultura, a fim de evitar o “efeito oásis”.

C) MÉTODO DO CONTROLE DA UMIDADE DO SOLO


Com este método também podem-se determinar a ETo, ETpc e ETc.
Tem sido muito usado para a determinação da evapotranspiração de várias culturas.
Ele pode ser calculado pela seguinte equação:
n
( M li  M 2i )
ET  
i 1 200
d ai z i (2.11)

em que: ET = água evapotranspirada entre duas sucessivas amostragens, dentro de um


intervalo de irrigação, em mm;
n = número de camadas em que foi dividida a profundidade estudada;
Mli = percentagem de umidade da primeira amostragem, na enegésima camada, % em
peso;
M2i = percentagem de umidade da segunda amostragem, na enegésima camada, % em
peso;
Dai = densidade aparente da enegésima camada, em g/cm3; e
zi = altura de cada camada em que foi dividida a profundidade do solo, em mm. Em
geral, esta altura é de 10 cm, quando se deseja maior precisão, e de 30 cm,
caso contrário.

Para determinar a água evapotranspirada durante o ciclo da cultura, somam-se as


quantidades determinadas nos intervalos de amostragens.
Este método pode ser usado, satisfatoriamente, em locais cujo solo seja uniforme, ao
longo do perfil, e em que o lençol freático esteja bem profundo, de modo que não influencie na
flutuação do teor de umidade, na zona radicular da cultura.
Relação solo-água-planta-atmosfera 59

Métodos Indiretos
Métodos indiretos são aqueles que não dão diretamente a evapotranspiração. Para
determiná-la por estes métodos multiplica-se o valor encontrado por um fator (K), a ser
determinado para cada região e para cada método indireto. Para isso, é necessário que se
tenham, junto aos centros de pesquisa, estações de evapotranspiração nas quais existam
lisímetros. Dessa forma, será possível determinar o fator K, para cada método indireto, e usar
os métodos indiretos, com o fator K, previamente determinado, no cálculo da ET daquelas
regiões, uma vez que os lisímetros são construções relativamente caras, demandam técnica,
não podendo, desse modo, ser construídos em cada sub-região.
Os métodos indiretos serão divididos em dois grandes grupos:
a) evaporímetros; e b) equações.

A) EVAPORÍMETROS
São equipamentos usados para medir a evaporação da água. Existem dois tipos
básicos de evaporímetros: no primeiro, a superfície da água fica livremente exposta (tanques
de evaporação); no segundo, a evaporação se dá através de uma superfície porosa
(atmômetros).
Tanque de Evaporação – Há vários tipos de tanques de evaporação, sendo a maioria
regional; no entanto, alguns de uso freqüente chegaram a ser conhecidos internacionalmente.
Serão descritos somente estes últimos.
Tanque USWB Classe A – O tanque Classe A, em virtude do custo relativamente
baixo e do fácil manejo, tem sido empregado nos projetos de irrigação. Ele tem a vantagem de
medir a evaporação de uma superfície de água livre, associada aos efeitos integrados da
radiação solar, do vento, da temperatura e da umidade do ar.
O evaporímetro em questão consiste num tanque circular de aço inoxidável ou
galvanizado, chapa nº 22, com 121 cm de diâmetro interno e 25,5 cm de profundidade. Ele
deve ser instalado sobre um estrado de madeira, de 15 cm de altura, cheio de água até 5 cm da
borda superior (Figura 2.6). O nível da água não deve baixar mais que 7,5 cm da borda
superior, isto é, não se deve permitir variação do nível da água maior do que 2,5 cm. A
evaporação é medida com um micrômetro de gancho, assentado sobre um poço tranqüilizador.
O poço tranqüilizador pode ser de metal e com tripé sobre parafuso, colocado dentro do
tanque (Figura 2.7) ou um cilindro de 10 cm de diâmetro, que se comunica com o tanque por
meio de um tubo (Figura 2.8). Neste último tipo de poço tranqüilizador pode-se instalar uma
régua graduada em milímetros para as leituras. A leitura não será tão precisa como no
micrômetro, mas satisfatória para fins de irrigação.
60 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 2.6 - Tanque USWB Classe A.

Figura 2.7 - Poço tranqüilizador de metal e micrômetro de gancho.


Relação solo-água-planta-atmosfera 61

Figura 2.8 - Poço tranqüilizador tipo cilindro externo.

Pelo fato de os processos de evaporação da água livre no tanque (EV) e a ETo serem
semelhantes apenas nos seus aspectos físicos, para converter EV em ETo, as condições
meteorológicas da região e o local em que o tanque está instalado em relação ao meio
circundante devem ser considerados.
A evapotranspiração potencial de referência pode, portanto, ser calculada pela
seguinte equação:
ETo  Kt EV (2.12)

em que: Kt = coeficiente do tanque; e


EV = evaporação do tanque, em mm/dia.
Doorenbos e Pruitt apresentaram os valores de Kt (Tabela 2.2), em função dos dados
meteorológicos da região e do meio em que está instalado o tanque.

Tabela 2.2 - Valores do coeficiente do tanque Classe A, função dos dados meteorológicos da
região e do meio em que ele está instalado, segundo Doorenbos e Pruitt (FAO)
Exposição A Exposição B
Tanque circundado por grama Tanque circundado por solo nu
UR % Baixa Média Alta Baixa Média Alta
(média) <40% 40-70% >70% <40% 40-70% >70%
Vento Posição Posição
do do
(km/dia) tanque tanque
R (m)* R (m)*
62 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

1 0,55 0,65 0,75 1 0,70 0,80 0,85


Leve 10 0,65 0,75 0,85 10 0,60 0,70 0,80
<175 100 0,70 0,80 0,85 100 0,55 0,65 0,75
1000 0,75 0,85 0,85 1000 0,50 0,60 0,70

1 0,50 060 0,65 1 0,65 0,75 0,80


Moderad 10 0,60 0,70 0,75 10 0,55 ,65 0,70
o
175-425 100 0,65 0,75 0,80 100 0,50 0,60 0,65
1000 0,70 0,80 0,80 1000 0,45 0,55 0,60

1 0,45 0,50 0,60 1 0,60 0,65 0,70


Fonte 10 0,55 0,60 0,65 10 0,50 0,55 0,75
425-700 100 0,60 0,65 0,75 100 0,45 0,50 0,60
1000 0,65 0,70 0,75 1000 0,40 0,45 0,55

1 0,40 0,45 0,50 1 0,50 0,60 0,65


Muito 10 0,45 0,55 0,60 10 0,45 0,50 0,55
forte
>700 100 0,50 0,60 0,65 100 0,40 0,45 0,50
1000 0,55 0,60 0,65 1000 0,35 0,40 0,45
Food and Agricultural Organization (FAO).
Obs.: Para extensas áreas de solo nu, reduzir os valores de Kt em 20%, em condições de alta temperatura e
vento forte, e de 5 a 10%, em condições de temperatura, vento e umidade moderados.
* Por R (m) entende-se a menor distância (expressa em metros) do centro do tanque ao limite da bordadura
(grama ou solo nu).

Exemplo:
Período - 8 a 14 de setembro de 1985
Vento - média no período = 190 km/dia
UR - média no período = 60%
Tanque circundado com grama (posição A).
R (m) = 10 m
Evaporação no tanque Classe A, no período = 42 mm
Pela Tabela 2.2, Kt = 0,70
então:
ETo  Kt EV  0,70 42 ;

ETo = 29,4 mm no período; ou


Relação solo-água-planta-atmosfera 63

Eto = 4,2 mm/dia.

Os valores de Kt também podem ser determinados pelas equações a seguir para as


duas condições de instalações.
Tanque Classe A circundado por grama:
Kp = 0,108 - 28,6x10-3 U2 + 42,2x10-3 ln(Rgramado) + 0,1434 ln(URmed) - 0,631x10-3
[ln(Rgramado)]2 ln(URmed)
Tanque Classe A circundado por solo nu:
Kp = 0.61 + 3,41x10-3 URmed - 1,62x10-3 U2 URmed - 9,59x10-6 U2 Rsolo +
3,27x10-3 U2 ln(Rsolo) – 2,89x10-3 U2 ln(86.4 U2) - 10,6x10-3 ln(86.4 U2) ln(Rsolo) +
0,63x10-3 [ln(Rsolo)]2 ln(86.4 U2)

em que: U2 é a velocidade média diária do vento a 2 m de altura (m s-1 );


URmed = umidade relativa media [%]; e
Rgramado e Rsolo = menor distância do centro do tanque ao limite da bordadura
grama ou solo nu (m).
Há vários outros tipos de tanques de evaporação como: Colorado, “Young Screen”,
BPI, GGI-3000, Russo, Classe A modificado (coberto de tela com malha de 2,0 x 1,5 cm) e
Japonês, dentre outros.
É importante ter em conta que a ETo determinada com uso do tanque Classe A
apresenta precisão adequada para o manejo da irrigação com períodos de no mínimo cinco
dias.
Outra questão importante é seguir corretamente as recomendações de construção do
tanque Classe A, principalmente no que se refere ao tipo de metal utilizado, e evitar o acesso
de animais e pássaros. A utilização de metal não recomendado pode proporcionar um erro de
até 30%.
Atmômetros – Como apresentado anteriormente, atmômetros são evaporímetros nos
quais a evaporação de água se dá através de uma superfície porosa. Sua instalação e operação
são feitas com facilidade. Apresentam erro, em virtude da impregnação de sal ou poeira em
seus poros, principalmente nos de superfície porosa permanente. Outro grande problema dos
atmômetros é que eles são mais sensíveis ao vento do que à radiação solar.
São três os tipos principais de atmômetros:
1) Evaporímetro de Piche – Consiste em um tubo de 22,5 cm de comprimento e
1,1 cm de diâmetro interno, graduado em décimo de milímetro, com uma das extremidades
fechada. Na extremidade aberta do tubo, prende-se um disco de papel de 3,2 cm de diâmetro,
por meio de um anel (Figura 2.9). Ele é cheio de água destilada e pendurado na vertical, com a
64 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

extremidade fechada para cima. A evaporação se dá através do disco de papel, e a quantidade


de água evaporada é determinada pela variação do nível de água no tubo.

Figura 2.9 - Evaporímetro de Piche.


2) Atmômetro de Ligingston – Consiste em uma esfera oca de porcelana porosa de
5 cm de diâmetro, com parede de 3 mm de espessura, a qual é conectada, por um tubo, a um
reservatório contendo água destilada. A esfera e o tubo de conexão são sempre mantidos
cheios de água. A quantidade de água evaporada em mm é determinada pela variação do
volume de água no reservatório.
3) Atmômetro de Bellani – Consiste em um disco de porcelana porosa, em geral
preto, com 8,5 cm de diâmetro, conectado à boca de um funil. A água destilada é conduzida
ao funil por meio de uma bureta, que funciona como um reservatório. A quantidade de água
evaporada, em mm, é determinada pela variação do volume de água na bureta.
B) EQUAÇÕES

Hoje, existem várias equações baseadas em dados meteorológicos, para o cálculo da


ET. A maioria delas é de difícil aplicação, não só pela complexidade do cálculo, mas também
por exigir grande número de elementos meteorológicos, somente fornecidos por estações de
primeira classe.
Relação solo-água-planta-atmosfera 65

Há algumas equações mais divulgadas, que serão discutidas a seguir:


Método Blaney-Criddle – Foi desenvolvido, relacionando os valores da ET mensal
com o produto da temperatura média mensal pela percentagem mensal das horas anuais de luz
solar, o qual foi modificado pela FAO, incluindo ajustes climáticos locais. A seguir é
apresentada a equação da FAO com simplificações na forma de calcular o fator de ajuste,
possibilitando o cálculo da ETo de forma mais adequada para o método:
ETo  c 0,457 T  8,13 P (2.13)
em que: ETo = evapotranspiração potencial de referência, em mm/mês;
c = coeficiente regional de ajuste da equação;
T = temperatura média mensal, em oC; e
P = percentagem mensal das horas anuais de luz solar.

Os valores de P, que variam em função da latitude, estão na Tabela 2.3. E os do fator


de ajuste “c”, que variam de acordo com as condições regionais de brilho solar, velocidade
diurna do vento e umidade relativa mínima diurna, encontram-se na Tabela 2.4, podendo ser
obtidos também utilizando-se a equação 2.14.
Para determinar a ETo mensal de uma cultura, basta verificar qual é a temperatura
média mensal (T), a percentagem mensal de horas anuais de luz solar (P), usando a Tabela
2.3, e determinar o valor da correção “c”, utilizando informações médias regionais da umidade
relativa mínima diurna (URmin), e da velocidade do vento a 2 m de altura (U2), e a razão entre
as horas de luz solar real e o máximo possível (n/N), para a região, utilizando a Tabela 2.4.
Tabela 2.3 - Valores da percentagem mensal das horas de luz solar (P), para latitudes sul de
0o a 40o, segundo Blaney-Criddle
Lat. Sul Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
0º 8,50 7,65 8,45 8,23 8,50 8,22 8,49 8,51 8,22 8,48 8,12 8,49
2º 8,57 7,70 8,49 8,20 8,43 8,16 8,42 8,45 8,21 8,51 8,29 8,57
4º 8,63 7,74 8,50 8,17 8,38 8,06 8,35 8,41 8,20 8,55 8,35 8,66
6º 8,69 7,79 8,51 8,13 8,32 7,98 8,27 8,37 8,20 8,58 8,42 8,74
8º 8,77 7,83 8,52 8,09 8,27 7,89 8,20 8,33 8,19 9,60 8,49 8,82
10º 8,82 7,88 8,53 8,06 8,20 7,82 8,14 8,23 8,18 8,63 8,56 8,90
12º 8,90 7,92 8,54 8,02 8,14 7,75 8,06 8,22 8,17 8,67 8,63 8,98
14º 9,98 7,89 8,55 7,99 8,06 7,68 7,96 8,18 8,16 8,69 8,70 9,07
16º 9,08 8,00 8,56 7,97 7,99 7,61 7,89 8,12 8,15 8,71 8,76 9,16
18º 9,17 8,04 8,57 7,94 7,95 7,52 7,79 8,08 8,13 8,75 8,83 9,23
20º 9,26 8,08 8,58 7,89 7,88 7,43 7,71 8,02 8,12 8,79 8,91 9,33
22º 9,35 8,12 8,59 7,86 7,75 7,33 7,62 7,95 8,11 8,83 8,97 9,42
66 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

24º 9,44 8,17 8,60 7,83 7,64 7,24 7,54 7,90 8,10 8,87 9,04 9,53
26º 9,55 8,22 8,63 7,81 7,56 7,14 7,46 7,84 8,10 8,91 9,15 9,66
28º 9,65 8,27 8,63 7,78 7,49 7,04 7,38 7,78 8,08 8,95 9,20 9,76
30º 9,75 8,32 8,64 7,73 7,44 6,93 7,28 7,70 8,07 8,99 9,26 9,88
32º 9,85 8,37 8,66 7,70 7,36 6,82 7,18 7,62 8,06 9,03 9,35 10,00
34º 9,96 8,43 8,67 7,65 7,25 6,70 7,08 7,55 8,05 9,07 9,44 10,14
36º 10,0 8,50 8,68 7,62 7,14 6,58 6,98 7,48 8,04 9,12 9,53 10,26
7
38º 10,1 8,56 8,68 7,58 7,06 6,46 6,87 7,41 8,03 9,15 9,62 10,39
8
40º 10,3 8,62 8,71 7,54 6,93 6,33 6,75 7,33 8,02 9,20 9,71 10,54
2

Tabela 2.4 - Fator de correção “c” para a equação de Blaney-Criddle modificada pela FAO

Brilho solar Velocidade do vento Umidade relativa mínima (%)


(n/N) (m.s-1) >20% 20 - 50% >50%
Baixo 0–2 0,92 0,82 0,64
(0,45) 2–5 1,06 0,91 0,72
5–8 1,16 0,98 0,77

Médio 0–2 1,02 0,91 0,75


(0,70) 2–5 1,19 1,06 0,83
5–8 1,35 1,12 0,88

Alto 0–2 1,14 1,02 0,83


(0,90) 2–5 1,23 1,12 0,91
5–8 1,49 1,24 0,97
Método de Hargreaves – Hargreaves, aplicando a análise de regressão em dados
diários de evapotranspiração potencial de referência de Davis-Califórnia, obteve a seguinte
equação:
ETo = [(Tmed + 17,8) 0,0056 RA (Tmax – Tmin)1/2] (2.14)
em que: ETo = evapotranspiração potencial de referência, em mm/dia;
Tmed = temperatura média diária, em oC;
Tmax = temperatura máxima diária, em oC;
Tmin = temperatura mínima diária, em o C; e
Ra = radiação no topo da atmosfera, MJ m-2 dia-1.
Relação solo-água-planta-atmosfera 67

Os valores de Ra podem ser obtidos na Tabela 2.5.


Método de Penman-Monteith – A equação Penman-Monteith foi uma evolução da
estimativa da ETo pelo método de Penman. Além de incorporar os aspectos aerodinâmico e
termodinâmico, inclui na sua dedução (ALLEN et al., 1998) a resistência ao fluxo de calor
sensível e vapor da água e a resistência da superfície à transferência de vapor da água. É
recomendado pela FAO como método-padrão (ALLEN et al., 1998) para estimativa da ETo,
descrita como:

900
0,408  Rn  G    U 2 e s  e a 
ET0  T  273 (2.15)
   1  0,34 U 2 

sendo: ETo = evapotranspiração de referência, em mm d-1;


Rn = saldo de radiação à superfície, em MJ m-2 d-1;
G = fluxo de calor no solo, em MJ m-2d-1 ;
T = temperatura do ar a 2 m de altura, em °C;
U2 = velocidade do vento à altura de 2 m, em m s-1;
es = pressão de saturação de vapor, em kPa;
ea = pressão de vapor atual do ar, em kPa;
(es – ea) = déficit de pressão de vapor, em em kPa;
 = declividade da curva de pressão de vapor de saturação, em kPa oC-1; e
 = constante psicrométrica, em kPa oC-1.
Tabela 2.5 - Valores de radiação no topo da atmosfera (R a), em MJ.m-2.dia-1, para latitudes sul

67
Relação solo-água-planta-atmosfera
Lat. deg. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
70 41,4 28,6 15,8 4,9 0,2 0,0 0,0 2,2 10,7 23,5 37,3 45,3
68 41,0 29,3 16,9 6,0 0,8 0,0 0,0 3,2 11,9 24,4 37,4 44,7
66 40,9 30,0 18,1 7,2 1,5 0,1 0,5 4,2 13,1 25,4 37,6 44,1
64 41,0 30,8 19,3 8,4 2,4 0,6 1,2 5,3 14,4 26,3 38,0 43,9
62 41,2 31,5 20,4 9,6 3,4 1,2 2,0 6,4 15,5 27,2 38,3 43,9
60 41,5 32,3 21,5 10,8 4,4 2,0 2,9 7,6 16,7 28,1 38,7 43,9
58 41,7 33,0 22,6 12,0 5,5 2,9 3,9 8,7 17,9 28,9 39,1 44,0
56 42,0 33,7 23,6 13,2 6,6 3,9 4,9 9,9 19,0 29,8 39,5 44,1
54 42,2 34,3 24,6 14,4 7,7 4,9 6,0 11,1 20,1 30,6 39,9 44,3
52 42,5 35,0 25,6 15,6 8,8 6,0 7,1 12,2 21,2 31,4 40,2 44,4
50 42,7 35,6 26,6 16,7 10,0 7,1 8,2 13,4 22,2 32,1 40,6 44,5
48 42,9 36,2 27,5 17,9 11,1 8,2 9,3 14,6 23,3 32,8 40,9 44,5
46 43,0 36,7 28,4 19,0 12,3 9,3 10,4 15,7 24,3 33,5 41,1 44,6
44 43,2 37,2 29,3 20,1 13,5 10,5 11,6 16,8 25,2 34,1 41,4 44,6
42 43,3 37,7 30,1 21,2 14,6 11,6 12,8 18,0 26,2 34,7 41,6 44,6
40 43,4 38,1 30,9 22,3 15,8 12,8 13,9 19,1 27,1 35,3 41,8 44,6
38 43,4 38,5 31,7 23,3 16,9 13,9 15,1 20,2 28,0 35,8 41,9 44,5
36 43,4 38,9 32,4 24,3 18,1 15,1 16,2 21,2 28,8 36,3 42,0 44,4
34 43,4 39,2 33,0 25,3 19,2 16,2 17,4 22,3 29,6 36,7 42,0 44,3
32 43,3 39,4 33,7 26,3 20,3 17,4 18,5 23,3 30,4 37,1 42,0 44,1
30 43,1 39,6 34,3 27,2 21,4 18,5 19,6 24,3 31,1 37,5 42,0 43,9
28 43,0 39,8 34,8 28,1 22,5 19,7 20,7 25,3 31,8 37,8 41,9 43,6
26 42,8 39,9 35,3 29,0 23,5 20,8 21,8 26,3 32,5 38,0 41,8 43,3
24 42,5 40,0 35,8 29,8 24,6 21,9 22,9 27,2 33,1 38,3 41,7 43,0
22 42,2 4,01 36,2 30,6 25,6 23,0 24,0 28,1 33,7 38,4 41,4 42,6
20 41,9 40,0 36,6 31,3 26,6 24,1 25,0 28,9 34,2 38,6 41,2 42,1
18 41,5 40,0 37,0 32,1 27,5 25,1 26,0 29,8 34,7 38,7 40,9 41,7
16 41,1 39,9 37,2 32,8 28,5 26,2 27,0 30,6 35,2 38,7 40,6 41,2
14 40,6 39,7 37,5 33,4 29,4 27,2 27,9 31,3 35,6 38,7 40,2 40,6
12 40,1 39,6 37,7 34,0 30,2 28,1 28,9 32,1 36,0 38,6 39,8 40,0
10 39,5 39,3 37,8 34,6 31,1 29,1 29,8 32,8 36,3 38,5 39,3 39,4
8 38,9 39,0 37,9 35,1 31,9 30,0 30,7 33,4 36,6 38,4 38,8 38,7
6 38,3 38,7 38,0 35,6 32,7 30,9 31,5 34,0 36,8 38,2 38,2 38,0
4 37,6 38,3 38,0 36,0 33,4 31,8 32,3 34,6 37,0 38,0 37,6 37,2
2 36,9 37,9 38,0 36,4 34,1 32,6 33,1 35,2 37,1 37,7 37,0 36,4
0 36,2 37,5 37,9 36,8 34,8 33,4 33,9 35,7 37,2 37,4 36,3 35,6
Relação solo-água-planta-atmosfera 69

Exemplo de Cálculo Utilizando o Método de


Penman-Monteith
Local: Araçuaí – MG
Latitude: -16º 52’, Longitude: -42º 04’, Altitude: 284,39 m
Data: 15 de junho
Temperatura máxima: 29,2 ºC
Temperatura mínima: 15,1 ºC
Temperatura do bulbo molhado: 20,1 ºC
Umidade relativa média: 77,4%
Insolação: 6,3 h
Velocidade do vento: 1,1 m s-1 medida a 10 m de altura
Para facilitar os cálculos, é recomendada a utilização de um aplicativo computacional,
que determine os diversos parâmetros necessários, conforme tabelas a seguir (FAO 56).

Tabela 2.6 - Procedimentos para cálculo da ETo pelo método de Penman-Monteith padrão
FAO

Parâmetros
Tmax 29,2 °C
Tmin 15,1 °C Tmean = (Tmax + Tmin )/2 22,15 °C
Tmedia 22,15 °C  (Tabela 2.7 ) 0,1624 kPa/°C
Altitude 284,4 m  (Tabela 2.8 ) 0,0653 kPa/°C
Uz (10 m) 1,1 m/s Fator de conversão para U2 0,748
(Tabela 2.9)
U2 0,82 m/s (1 + 0.34 u2) 1,28
 /[ +  (1 + 0.34 u2 )] 0,66
 /[ +  (1 + 0.34 u2)] 0,27
[900/(Tmean + 273)] u2 2,50
Déficit de pressão de vapor
Tmax 29,2 °C e°(Tmax) (Tabela 2.11) 4,03 kPa
Tmin 15,1 °C e°(Tmin) (Tabela 2.11) 1,72 kPa
Pressão de saturação do vapor 2,88 kPa
es = [(e°(Tmax) + e°(Tmin)]/2

ea derivado da temperatura do ponto de orvalho


70 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Cont.

Tpo °C ea = e°(Tpo) (Tabela 2.11) kPa


Ou ea derivado da umidade relativa máxima e mínima
URmax % e°(Tmin) URm/100 kPa
URmin % e°(Tmax) URm/100 kPa
ea: (media) kPa
Ou ea derivado da umidade relativa máxima (em caso de erro na URmin)
URmax % ea = e°(Tmin) URmax/100 kPa
Ou ea derivado da umidade relativa média (menos recomendada do que as anteriores)
URm 77,40 % ea = es URm/100 2,23 kPa
Déficit de pressão de vapor (es - ea) 0,65 kPa
Radiação
0`
Latitude -16 52’ °
Dia 15 Ra (Tabela 2.5) 38,82 MJ m-2 d-1
Mês Junho N (Tabela 2.10) 13,00 Horas
n 6,3 Horas n/N 0,48
Se dados de Rs não são disponíveis: 19,11 MJ m-2 d-1
Rs = (0,25 + 0,50 n/N) Ra
Rso = [0.75 + 2 (Altitude)/100000] Ra 29,34 MJ m-2 d-1
Rs/Rso 0,756
Rns = 0,77 Rs 14,72 MJ m-2 d-1
0
Tmax 29,2 C 40,89 MJ m-2 d-1
(Tabela 2.15)
0
Tmin 15,1 C 33,78 MJ m-2 d-1
(Tabela 2.16)
37,34 MJ m-2 d-1

ea 2,23 kPa 0,34  0,14 e a 0,13

Rs/Rso 0,65 (1.35 Rs/Rso - 0.35) 0,53


2,59

Rn = Rns - Rnl 12,13


Tmês °C Gdia (assumir) 0
Tmês-1 °C Gmês = 0,14 (Tmês – Tmês-1) 0
Rn – G 12,13 MJ m-2 d-1
0,408 (Rn - G) 4,95 mm d-1
Relação solo-água-planta-atmosfera 71

Cont.

Evapotranspiração de referência
   3,27 mm/dia
  0,408( R n  G )
    (1  0 . 34 u 
2) 

   900  0,43 mm/dia



  
 u 2  (e s  e a ) 
    (1  0.34 u 2 )   T  273 
900 3,70 mm/dia
0.408( R n  G )   u 2 (e s  e a )
T  273
ETo 
   (1  0.34u 2 )

Tabela 2.7 - Declividade da curva de pressão de vapor () para diferentes temperaturas (T)
T  T  T  T 
°C kPa/°C °C kPa/°C °C kPa/°C °C kPa/°C
1,0 0,047 13,0 0,098 25,0 0,189 37,0 0,342
1,5 0,049 13,5 0,101 25,5 0,194 37,5 0,350
2,0 0,050 14,0 0,104 26,0 0,199 38,0 0,358
2,5 0,052 14,5 0,107 26,5 0,204 38,5 0,367
3,0 0,054 15,0 0,110 27,0 0,209 39,0 0,375
3,5 0,055 15,5 0,113 27,5 0,215 39,5 0,384
4,0 0,057 16,0 0,116 28,0 0,220 40,0 0,393
4,5 0,059 16,5 0,119 28,5 0,226 40,5 0,402
5,0 0,061 17,0 0,123 29,0 0,231 41,0 0,412
5,5 0,063 17,5 0,126 29,5 0,237 41,5 0,421
6,0 0,065 18,0 0,130 30,0 0,243 42,0 0,431
6,5 0,067 18,5 0,133 30,5 0,249 42,5 0,441
7,0 0,069 19,0 0,137 31,0 0,256 43,0 0,451
7,5 0,071 19,5 0,141 31,5 0,262 43,5 0,461
8,0 0,073 20,0 0,145 32,0 0,269 44,0 0,471
8,5 0,075 20,5 0,149 32,5 0,275 44,5 0,482
9,0 0,078 21,0 0,153 33,0 0,282 45,0 0,493
9,5 0,080 21,5 0,157 33,5 0,289 45,5 0,504
10,0 0,082 22,0 0,161 34,0 0,296 46,0 0,515
10,5 0,085 22,5 0,165 34,5 0,303 46,5 0,526
11,0 0,087 23,0 0,170 35,0 0,311 47,0 0,538
11,5 0,090 23,5 0,174 35,5 0,318 47,5 0,550
12,0 0,092 24,0 0,179 36,0 0,326 48,0 0,562
12,5 0,095 24,5 0,184 36,5 0,334 48,5 0,574
72 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

  17,27T  
4098 0 .6108 exp  
  T  237,3   (2.16)

( T  237,3) 2
Tabela 2.8 - Constante psicrométrica () para diferentes altitudes (z)

Z  z  z  z 
(m) kPa/°C (m) kPa/°C (m) kPa/°C (m) kPa/°C
0 0,067 1000 0,060 2000 0,053 3000 0,047
100 0,067 1100 0,059 2100 0,052 3100 0,046
200 0,066 1200 0,058 2200 0,052 3200 0,046
300 0,065 1300 0,058 2300 0,051 3300 0,045
400 0,064 1400 0,057 2400 0,051 3400 0,045
500 0,064 1500 0,056 2500 0,050 3500 0,044
600 0,063 1600 0,056 2600 0,049 3600 0,043
700 0,062 1700 0,055 2700 0,049 3700 0,043
800 0,061 1800 0,054 2800 0,048 3800 0,042
900 0,061 1900 0,054 2900 0,047 3900 0,042
1000 0,060 2000 0,053 3000 0,047 4000 0,041
Cc P
  0,665 x 10 3 (2.17)

Obs.: Baseado em  = 2.45 MJ kg-1 at 20°C

Tabela 2.9 - Fatores de conversão (F) para converter a velocidade do vento medida a certa
altura (acima da grama) em velocidade do vento medida na condição-padrão de 2
m acima da superfície

z (m) F z F z F z (m) F
(m) (m)
- - 2,2 0,980 4,2 0,865 6,0 0,812
- - 2,4 0,963 4,4 0,857 6,5 0,802
- - 2,6 0,947 4,6 0,851 7,0 0,792
- - 2,8 0,933 4,8 0,844 7,5 0,783
1,0 1,178 3,0 0,921 5,0 0,838 8,0 0,775
1,2 1,125 3,2 0,910 5,2 0,833 8,5 0,767
1,4 1,084 3,4 0,899 5,4 0,827 9,0 0,760
1,6 1,051 3,6 0,889 5,6 0,822 9,5 0,754
1,8 1,023 3,8 0,881 5,8 0,817 10,0 0,748
Relação solo-água-planta-atmosfera 73

2,0 1,000 4,0 0,872 6,0 0,812 10,5 0,742

Fator de conversão =
4,87 (2.18)
In (67,8z  5,42
72
Tabela 2.10 - Média diária de horas de luz solar (N) no 15o dia do mês
Hemisfério Norte Hemisfério Sul
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov Dez. Lat. Jan. Fev. Mar Abr. Maio Jun. Jul. Ago Set. Out. Nov. Dez.
. grau . .
0,0 6,6 11,0 15,6 21,3 24, 24, 17,6 12,8 8,3 2,3 0,0 70 24,0 17,4 13,0 8,4 2,7 0,0 0,0 6,4 11,2 15,7 21,7 24,0
0 0
2,1 7,3 11,1 15,3 19,7 24, 22, 17,0 12,7 8,7 4,1 00 68 21,9 16,7 12,9 8,7 4,3 0,0 1,7 7,0 11,3 15,3 19,9 24,0
0 3
3,9 7,8 11,2 14,9 18,7 22, 20, 16,4 12,7 9,0 5,2 1,9 66 20,1 16,2 12,8 9,1 5,3 2,0 3,7 7,6 11,3 15,0 18,8 22,1
0 3
5,0 8,2 11,2 14,7 17,9 20, 19, 16,0 12,6 9,3 6,0 3,7 645 19,0 15,8 12,8 9,3 6,1 3,7 4,8 8,0 11,4 14,7 18,0 20,3
3 2
5,7 8,5 11,3 14,4 17,3 19, 18, 15,7 12,6 9,5 6,6 4,8 62 18,3 15,5 12,7 9,6 6,7 4,8 5,6 8,3 11,4 14,5 17,4 19,2
2 4
6,4 8,8 11,4 14,2 16,8 18, 17, 15,3 12,5 9,7 7,1 5,6 60 17,6 15,2 12,6 9,8 7,2 5,6 6,3 8,7 11,5 14,3 16,9 18,4
4 7

Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani


6,9 9,1 11,4 14,1 16,4 17, 17, 15,1 12,5 9,9 7,5 6,2 58 17,1 14,9 12,6 9,9 7,6 6,2 6,8 8,9 11,5 14,1 16,5 17,8
8 2
7,3 9,3 11,5 13,9 16,0 17, 16, 14,8 12,4 10,1 7,9 6,7 56 16,7 14,7 12,5 10,1 8,0 6,7 7,2 9,2 11,6 13,9 16,1 17,3
3 8
7,7 9,5 11,5 13,8 15,7 16, 16, 14,6 12,4 10,2 8,2 7,1 54 16,3 14,5 12,5 10,2 8,3 7,2 7,6 9,4 11,6 13,8 15,8 16,9
8 4
8,0 9,7 11,5 13,6 15,4 16, 16, 14,4 12,4 10,3 8,5 7,5 52 16,0 14,3 12,5 10,4 8,6 7,5 8,0 9,6 11,6 13,7 15,5 16,5
5 0
8,3 9,8 11,6 13,5 15,2 16, 15, 14,3 12,3 10,4 8,7 7,9 50 15,7 14,2 12,4 10,5 8,8 7,9 8,3 9,7 11,7 13,7 15,3 16,1
1 7
8,6 10,0 11,6 13,4 15,0 15, 15, 14,1 12,3 10,6 9,0 8,2 48 15,4 14,0 12,4 10,6 9,0 8,2 8,5 9,9 11,7 13,4 15,0 15,8
8 5
8,8 10,1 11,6 13,3 14,8 15, 15, 14,0 12,3 10,7 9,2 8,5 46 15,2 13,9 12,4 10,7 9,2 8,5 8,8 10,0 11,7 13,3 14,8 15,5
5 2
9,1 10,3 11,6 13,2 14,6 15, 15, 13,8 12,3 10,7 9,4 8,7 44 14,9 13,7 12,4 10,8 9,4 8,7 9,0 10,2 11,7 13,3 14,6 15,3
3 0
9,3 10,4 11,7 13,2 14,4 15, 14, 13,7 12,3 10,8 9,6 9,0 42 14,7 13,6 12,3 10,8 9,6 9,0 9,2 10,3 11,7 13,2 14,4 15,0
0 8
9,5 10,5 11,7 13,1 14,2 14, 14, 13,6 12,2 10,9 9,7 9,2 40 14,5 13,5 12,3 10,9 9,8 9,2 9,4 10,4 11,8 13,1 14,3 14,8
8 6
9,6 10,6 11,7 13,0 14,1 14, 14, 13,5 12,2 11,0 9,9 9,4 38 14,4 13,4 12,3 11,0 9,9 9,4 9,6 10,5 11,8 13,0 14,1 14,6
6 4
9,8 10,7 11,7 12,9 13,9 14, 14, 13,4 12,2 11,1 10,1 9,6 36 14,2 13,3 12,3 11,1 10,1 9,6 9,8 10,6 11,8 12,9 13,9 14,4
4 2
10,0 10,8 11,8 12,9 13,8 14, 14, 13,3 12,2 11,1 10,2 9,7 34 14,0 13,2 12,2 11,1 10,2 9,7 9,9 10,7 11,8 12,9 13,8 14,3
3 1
10,1 10,9 11,8 12,8 13,6 14, 13, 13,2 12,2 11,2 10,3 9,9 32 13,9 13,1 12,2 11,2 10,4 9,9 10,1 10,8 11,8 12,8 13,7 14,1
1 9
10,3 11,0 11,8 12,7 13,5 13, 13, 13,1 12,2 11,3 10,5 10,1 30 13,7 13,0 12,2 11,3 10,5 10,1 10,2 10,9 11,8 12,7 13,5 13,9
Relação solo-água-planta-atmosfera 75
9 8
10,4 11,0 11,8 12,7 13,4 13, 13, 13,0 12,2 11,3 10,6 10,2 28 13,6 13,0 12,2 11,3 10,6 10,2 10,4 11,0 11,8 12,7 13,4 13,8
8 6
10,5 11,1 11,8 12,6 13,3 13, 13, 12,9 12,1 11,4 10,7 10,4 26 13,5 12,9 12,2 11,4 10,7 10,4 10,5 11,1 11,9 12,6 13,3 13,6
6 5
10,7 11,2 11,8 12,6 13,2 13, 13, 12,8 12,1 11,4 10,8 10,5 24 13,3 12,8 12,2 11,4 10,8 10,5 10,7 11,2 11,9 12,6 13,2 13,5
5 3
10,8 11,3 11,9 12,5 13,1 13, 13, 12,8 12,1 11,5 10,9 10,7 22 13,2 12,7 12,1 11,5 10,9 10,7 10,8 11,2 11,9 12,5 13,1 13,3
3 2
10,9 11,3 11,9 12,5 12,9 13, 13, 12,7 12,1 11,5 11,0 10,8 20 13,1 12,7 12,1 11,5 11,1 10,8 10,9 11,3 11,9 12,5 13,0 13,2
2 1
11,0 11,4 11,9 12,4 12,8 13, 13, 12,6 12,1 11,6 11,1 10,9 18 13,0 12,6 12,1 11,6 11,2 10,9 11,0 11,4 11,9 12,4 12,9 13,1
1 0
11,1 11,5 11,9 12,4 12,7 12, 12, 12,5 12,1 11,6 11,2 11,1 16 12,9 12,5 12,1 11,6 11,3 11,1 11,1 11,5 11,9 12,4 12,8 12,9
9 9
11,3 11,6 11,9 12,3 12,6 12, 12, 12,5 12,1 11,7 11,3 11,2 14 12,7 12,4 12,1 11,7 11,4 11,2 11,2 11,5 11,9 12,3 12,7 12,8
8 8
11,4 11,6 11,9 12,3 12,6 12, 12, 12,4 12,1 11,7 11,4 11,3 12 12,6 12,4 12,1 11,7 11,4 11,3 11,4 11,6 11,9 12,3 12,6 12,7
7 6
11,5 11,7 11,9 12,2 12,5 12, 12, 12,3 12,1 11,8 11,5 11,4 10 12,5 12,3 12,1 11,8 11,5 11,4 11,5 11,7 11,9 12,2 12,5 12,6
6 5
11,6 11,7 11,9 12,2 12,4 12, 12, 12,3 12,0 11,8 11,6 11,5 8 12,4 12,3 12,1 11,8 11,6 11,5 11,6 11,7 12,0 12,2 12,4 12,5
5 4
11,7 11,8 12,0 12,1 12,3 12, 12, 12,2 12,0 11,9 11,7 11,7 6 12,3 12,2 12,0 11,9 11,7 11,7 11,7 11,8 12,0 12,1 12,3 12,3
3 3
11,8 11,9 12,0 12,1 12,2 12, 12, 12,1 120 11,9 11,8 11,8 4 12,2 12,1 12,0 11,9 11,8 11,8 11,8 11,9 12,0 12,1 12,2 12,2
2 2
11,9 11,9 12,0 12,0 12,1 12, 12, 12,1 12,0 12,0 11,9 11,9 2 12,1 12,1 12,0 12,0 11,9 11,9 11,9 11,9 12,0 12,0 12,1 12,1
1 1
12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12, 12, 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0
0 0
76 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Tabela 2.11 - Pressão de saturação de vapor (e°(T)) para diferentes temperaturas (T)

T es T e°(T) T e°(T) T es
°C kPa °C kPa °C kPa °C kPa
1,0 0,657 13,0 1,498 25,0 3,168 37,0 6,275
1,5 0,681 13,5 1,547 25,5 3,263 37,5 6,448
2,0 0,706 14,0 1,599 26,0 3,361 38,0 6,625
2,5 0,731 14,5 1,651 26,5 3,462 38,5 6,806
3,0 0,758 15,0 1,705 27,0 3,565 39,0 6,991
3,5 0,785 15,5 1,761 27,5 3,671 39,5 7,181
4,0 0,813 16,0 1,818 28,0 3,780 40,0 7,376
4,5 0,842 16,5 1,877 28,5 3,891 40,5 7,574
5,0 0,872 17,0 1,938 29,0 4,006 41,0 7,778
5,5 0,903 17,5 2,000 29,5 4,123 41,5 7,986
6,0 0,935 18,0 2,064 30,0 4,243 42,0 8,199
6,5 0,968 18,5 2,130 30,5 4,366 42,5 8,417
7,0 1,002 19,0 2,197 31,0 4,493 43,0 8,640
7,5 1,037 19,5 2,267 31,5 4,622 43,5 8,867
8,0 1,073 20,0 2,338 32,0 4,755 44,0 9,101
8,5 1,110 20,5 2,412 32,5 4,891 44,5 9,339
9,0 1,148 21,0 2,487 33,0 5,030 45,0 9,582
9,5 1,187 21,5 2,564 33,5 5,173 45,5 9,832
10,0 1,228 22,0 2,644 34,0 5,319 46,0 10,086
10,5 1,270 22,5 2,726 34,5 5,469 46,5 10,347
11,0 1,313 23,0 2,809 35,0 5,623 47,0 10,613
11,5 1,357 23,5 2,896 35,5 5,780 47,5 10,885
12,0 1,403 24,0 2,984 36,0 5,941 48,0 11,163
12,5 1,449 24,5 3,075 36,5 6,106 48,5 11,447
Relação solo-água-planta-atmosfera 77

 17,27T 
e o (T )  0,6108 exp   (2.19)
 T  237,3 
Tabela 2.12 - Pressão atmosférica (P) para diferentes altitudes (z)

z P Z P z P z P
(m) (kPa) (m) (kPa) (m) (kPa) (m) (kPa)

0 101,3 1.000 90,0 2.000 79,8 3.000 70,5

50 100,7 1.050 89,5 2.050 79,3 3.050 70,1

100 100,1 1.100 89,0 2.100 78,8 3.100 69,6

150 99,5 1.150 88,4 2.150 78,3 3.150 69,2

200 99,0 1.200 87,9 2.200 77,9 3.200 68,8

250 98,4 1.250 87,4 2.250 77,4 3.250 68,3

300 97,8 1.300 86,8 2.300 76,9 3.300 67,9

350 97,2 1.350 86,3 2.350 76,4 3.350 67,5

400 96,7 1.400 85.8 2.400 76,0 3.400 67,1

450 96,1 1.450 85,3 2.450 75,5 3.450 66,6

500 95,5 1.500 84,8 2.500 75,0 3.500 66,2

550 95,0 1.550 84,3 2.550 74,6 3.550 65,8

600 94,4 1.600 83,8 2.600 74,1 3.600 65,4

650 93,8 1.650 83,3 2.650 73,7 3.650 65,0

700 93,3 1.700 82,8 2.700 73,2 3.700 64,6

750 92,7 1.750 82,3 2.750 72,7 3.750 64,1

800 92,2 1.800 81,8 2.800 72,3 3.800 63,7

850 91,6 1.850 81,3 2.850 71,8 3.850 63,3

900 91,1 1.900 80,8 2.900 71,4 3.900 62,9

950 90,6 1.950 80,3 2.950 71,0 3.950 62,5


78 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

1000 90,0 2.000 79,8 3.000 70,5 4.000 62,1


5.26
 293  0,0065z 
P  101.3   (2.20)
 293 
Tabela 2.13 - Número de dias do ano (J)

Dia Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
1 1 32 60 91 121 152 182 213 244 274 305 335
2 2 33 61 92 122 153 183 214 245 275 306 336
3 3 34 62 93 123 154 184 215 246 276 307 337
4 4 35 63 94 124 155 185 216 247 277 308 338
5 5 36 64 95 125 156 186 217 248 278 309 339
6 6 37 65 96 126 157 187 218 249 279 310 340
7 7 38 66 97 127 158 188 219 250 280 311 341
8 8 39 67 98 128 159 189 220 251 281 312 342
9 9 40 68 99 129 160 190 221 252 282 313 343
10 10 41 69 100 130 161 191 222 253 283 314 344
11 11 42 70 101 131 162 192 223 254 284 315 345
12 12 43 71 102 132 163 193 224 255 285 316 346
13 13 44 72 103 133 164 194 225 256 286 317 347
14 14 45 73 104 134 165 195 226 257 287 318 348
15 15 46 74 105 135 166 196 227 258 288 319 349
16 16 47 75 106 136 167 197 228 259 289 320 350
17 17 48 76 107 137 168 198 229 260 290 321 351
18 18 49 77 108 138 169 199 230 261 291 322 352
19 19 50 78 109 139 170 200 231 262 292 323 353
20 20 51 79 110 140 171 201 232 263 293 324 354
21 21 52 80 111 141 172 202 233 264 294 325 355
22 22 53 81 112 142 173 203 234 265 295 326 356
23 23 54 82 113 143 174 204 235 266 296 327 357
24 24 55 83 114 144 175 205 236 267 297 328 358
25 25 56 84 115 145 176 206 237 268 298 329 359
26 26 57 85 116 146 177, 207 238 269 299 330 360
27 27 58 86 117 147 178 208 239 270 300 331 361
28 28 59 87 118 148 179 209 240 271 301 332 362
Relação solo-água-planta-atmosfera 79

29 29 (60) 88 119 149 180 210 241 272 302 333 363
30 30 - 89 120 150 181 211 242 273 303 334 364
31 31 - 90 - 151 - 212 243 - 304 - 365
* Adicionar um dia para ano bissexto.

Determinação da ETpc
Por definição, ETpc é a evapotranspiração de determinada cultura quando se têm
ótimas condições de umidade de campo.
Em condições normais de cultivo de plantas de ciclo curto, logo após o plantio, a
ETpc é bem menor do que a evapotranspiração potencial de referência (ETo). Esta diferença
vai diminuindo à medida que a cultura se desenvolve, ou seja, em razão do seu aumento foliar,
tendendo para uma diferença mínima, em muitos casos chegando a ultrapassar o valor de
ETo, quando a cultura atinge ± 80% do seu desenvolvimento vegetativo ou o início da
formação dos primórdios florais, permanecendo nesta condição até o término da fase de
enchimento dos grãos, após a qual a diferença volta a aumentar novamente (Figura 2.10).

1,5
Germinação

Maturação
Floração

Colheita

1,0
ETpc/ET0

(%) cobertura do terreno

0,5
(%) cobertura
100

50

0
20 30 10 20 31 10 20 31 10 20 30
NOV DEZ JAN FEV

Figura 2.10 - Relação entre a evapotranspiração potencial de uma cultura (ETpc) e a


evapotranspiração potencial de referência (ETo).

A relação entre a ETpc e a ETo é expressa pela equação 2.4: ETpc = Kc . ETo, em
que Kc é o coeficiente da cultura.
80 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Os valores de kc variam com o tipo de cultura, estádio de desenvolvimento da cultura,


comprimento do ciclo vegetativo da cultura e condições climáticas locais.
Doorenbos e Pruitt (5) apresentaram uma metodologia para determinar os valores de
Kc durante o ciclo de desenvolvimento de várias culturas. Mas, considerando as condições do
Brasil, onde na maior parte do território a irrigação deve ser suplementar, podem-se, de uma
maneira mais simplificada, usar os seguintes valores de Kc, para os quatro diferentes estádios
de desenvolvimento das culturas (Tabela 2.14).
Tabela 2.14 - Coeficiente da cultura (Kc) em função do estádio de desenvolvimento da cultura
Estádio de Caracterização do estádio Kc
desenvolvimento
Inicial (1) Da germinação até a cultura cobrir 10% da 0,2 a 1,0
superfície do terreno, ou 10 a 15% do seu
desenvolvimento vegetativo
Secundário ou de Do final do primeiro estádio até a cultura cobrir de Varia linearmente entre os valores
desenvolvimento 70% a 80% da superfície do terreno ou atingir de do primeiro e terceiro estádios
vegetativo (2) 70% a 80% do seu desenvolvimento vegetativo
Intermediário ou de Do final do segundo estádio até o início da 0,9 a 1,25
produção (3) maturação. Também denominado estádio de
produção
Final ou de Do início da maturação até a colheita ou final da Varia linearmente entre os valores
maturação (4) maturação do terceiro estádio e 0,3 a 1,0

Quanto maior a demanda evapotranspirométrica local ou quanto mais sensível for a


planta ao déficit de água no solo, maior deverá ser o valor de Kc.
O valor de Kc no estádio inicial está relacionado principalmente com a evaporação do
solo. Sendo assim, ele depende da demanda evapotranspirométrica e da umidade do solo local,
ou seja, da freqüência das irrigações ou chuvas. Esta função é demonstrada graficamente na
Figura 2.11.

Frequencia de
1,0 irrigação ou
de chuva
0,8
2 dias
Kc 0,6
4 dias
0,4
7 dias
0,2 10 dias
20 dias

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

ET0, mm/dia (estádio inicial)


Relação solo-água-planta-atmosfera 81

Figura 2.11 - Valores de Kc para o estágio inicial em função da ETo e da freqüência de


irrigação ou chuva (FAO 1977).

Na Tabela 2.15 têm-se valores de Kc, para algumas culturas, publicados pela FAO
(Doorenbos e Pruitt, 1977).
Serão dados exemplos para ilustrar a determinação dos valores de Kc e, duas regiões,
uma com baixa demanda de evapotranspirométrica (Viçosa-MG) e outra com alta demanda
evapotranspirométrica (Pirapora - MG)
- Cultura: feijão
- Dados cuturais:
época do plantio: 10 de março
cobertura de ± 10% da superfície do terreno: 1º de abril
cobertura de ± 75% da superfície do terreno: 21 de abril
início da maturação: 2 junho
colheita: 14 junho
- Período de dias dos quatro estágios:
inicial: 22 dias
desenvolvimento vegetativo: 20 dias
produção: 42 dias
maturação: 14 dias

Tabela 2.15 - Coeficiente da cultura (Kc) de algumas espécies vegetais, em função dos
estádios de desenvolvimento e das condições climáticas (Doorenbos e Pruitt,
1977)
URmin URmin
Cultura Estádio > 70% < 20%
Vento (ms) Vento (m/s)
0a5 5a8 0a5 5a8
Todas as culturas (Inicial) 1 Use Fig. 2.11 Use Fig. 2.11
Todas as culturas (Secundário) 2 Interpolação Interpolação
Feijão (vagem) 3 0,95 0,95 1,00 1,05
4 0,85 0,85 0,90 0,90
Feijão (grãos) 3 1,05 1,10 1,15 1,20
4 0,30 0,30 0,25 0,25
Cenoura 3 1,00 1,05 1,10 1,15
4 0,70 0,75 0,80 0,85
82 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Milho (verde) 3 1,05 1,10 1,15 1,20


4 0,95 1,00 1,05 1,10
Milho (grãos) 3 1,05 1,10 1,15 1,20
4 0,55 0,55 0,60 0,60
Algodão 3 1,05 1,15 1,20 1,25
4 0,65 0,65 0,65 0,70
Continua..
Tabela 2.15 - Cont. .

URmin URmin
Cultura Estádio > 70% < 20%
Vento (ms) Vento (m/s)
0a5 5a8 0a5 5a8
Todas as culturas (Inicial) 1 Use Fig. 2.11 Use Fig. 2.11
Todas as culturas (Secundário) 2 Interpolação Interpolação
Repolho, couve-flor e 3 0,95 1,00 1,05 1,10
brócolis 4 0,80 0,85 0,90 0,95
Pepino 3 0,90 0,90 0,95 1,00
4 0,70 0,90 0,75 0,80
Grãos 3 1,05 1,10 1,15 1,20
4 0,30 0,30 0,25 0,25
Lentilha 3 1,05 1,10 1,15 1,20
4 0,30 0,30 0,25 0,25
Alface 3 0,95 0,95 1,00 1,05
4 0,90 0,90 0,90 1,00
Melão 3 0,95 0,95 1,00 1,05
4 0,65 0,65 0,75 0,75
Cebola 3 0,95 0,95 1,05 1,1
4 0,55 0,55 0,60 0,60
Amendoim 3 0,95 1,00 1,05 1,10
4 0,55 0,55 0,60 0,60
Batatinha 3 1,05 1,10 1,15 1,20
4 0,70 0,75 0,75 0,75
Sorgo 3 1,00 1,05 1,10 1,15
4 0,50 0,50 0,55 0,55
Soja 3 1,00 1,05 1,10 1,15
4 0,45 0,45 0,45 0,45
Relação solo-água-planta-atmosfera 83

Tomate 3 1,05 1,10 1,20 1,25


4 0,60 0,60 0,65 0,65
Trigo 3 1,05 1,10 1,15 1,20
4 0,25 0,25 0,20 0,20

a) Determinar os valores de kc para a cultura do feijão, no município de Viçosa-MG.


ETo = 3,4 mm/dia
TR = 7 dias
Kc no primeiro estádio = 0,4
Kc no terceiro estádio = 1,0
Kc no final do quarto estádio = 0,5

Plotando estes dados na Figura 2.12, obtém-se:

1,2
(Pirapora)

1,0
(Viçosa)

0,8

Kc 0,6

0,4
maturação
cobertura

Início de

Colheita
cobertura
10% de

75% de
Plantio

0,2

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Ciclo da cultura em dias

Figura 2.12 - Curva do coeficiente da cultura (Kc) nos diferentes estádios de desenvolvimento
do feijoeiro.

Por meio da Figura 2.12 pode-se determinar o valor de Kc ao longo do ciclo da


cultura.
b) Determinar o valor do Kc, para a mesma cultura e período de plantio, no município
de Pirapora-MG.
ETo = 6,2 mm/dia
84 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

TR = 4 dias
Kc no primeiro estádio = 0,6
Kc no 3º estádio = 1,2
Kc no final do quarto estádio = 0,6
Plotando estes dados na Figura 2.12, pode-se determinar o valor de kc ao longo do
ciclo da cultura.
Utilizando o método da FAO para Viçosa, MG, com ETo = 3,4 mm/dia e TR = 7
dias, tem-se:
Kc no 1º estádio = 0,55 (Fig. 2.11)
Kc no 3o estádio = 1,05 (Tabela 2.15)
Kc no 4o estádio = 0,30 (Tabela 2.15)
Para Pirapora, MG, com ETo = 6,2 e TR = 4 dias, pelo método da FAO, tem-se:
Kc no primeiro estádio = 0,6 (Fig. 2.11)
Kc no 3o estádio = 1,10 (Tabela 2.15)
Kc no 4o estádio = 0,28 (Tabela 2.15)
A determinação da ETpc é fator de capital importância para se poder calcular a
quantidade de irrigação necessária (ITN) no período de máxima demanda de irrigação, a qual
é fundamental para o dimensionamento de qualquer sistema de irrigação. A ETpc também é
necessária para o cálculo da evapotranspiração real da cultura (ETc).
Para o cálculo da irrigação total necessária (ITN) no período de máxima demanda,
nas condições brasileiras, devem-se usar períodos com comprimento de cinco, 10 ou 15 dias,
evitando os períodos muito curtos e os muito longos – por exemplo, períodos diários ou
mensais.
Quando não se conhece o valor do Kc de determinada cultura em uma região, tem
sido muito comum, para dimensionar sistemas de irrigação, assumir o valor de Kc = 1,0, ou
seja, dimensioná-lo, tendo como base a evapotranspiração potencial de referência (ETo).

Determinação da ETc
Por definição, ETc é a evapotranspiração de determinada cultura, sob as condições
normais de cultivo, isto é, sem a obrigatoriedade de o teor de umidade permanecer sempre
próximo à capacidade de campo. Sendo assim, a ETc será menor ou, no máximo, igual a
ETpc (ETc  ETpc).
Existem várias proposições para o cálculo da ETc, das quais as baseadas na
disponibilidade de umidade no solo nos parecem mais simples e mais realísticas. De acordo
com esta proposição, a relação entre a ETc e a ETpc é expressa pela equação 2.5: ETc = Ks .
ETpc, em que Ks é o coeficiente que depende da umidade do solo.
Relação solo-água-planta-atmosfera 85

Quando a umidade do solo está próxima da capacidade de campo, a


evapotranspiração de uma cultura é mantida na sua potencialidade e é determinada pelo tipo
de cultura e principalmente pelas condições climáticas predominantes. À medida que o solo
perde umidade, a ETc apresenta valores abaixo da ETpc, a partir de determinado teor de
umidade do solo.
Se os fatores relacionados com a planta são constantes, o decréscimo da relação
ETc/ETpc com o da umidade do solo pode ser o resultado do acréscimo da tensão com que a
água está nele retida ou do baixo valor de condutividade hidráulica do solo e dos tecidos das
raízes, comparados com a maior demanda evaporativa da atmosfera.
Há muitas controvérsias quanto ao efeito da umidade do solo no decréscimo da
relação ETc/ETpc. Veihmeyer e Hendrickson afirmaram que a evapotranspiração ocorre na
razão potencial quando a umidade do solo está acima do ponto de murcha, caindo
abruptamente quando se aproxima desse valor. Thornthwaite e Mather verificaram um
decréscimo linear da relação ETc/ETpc com o decréscimo da umidade do solo. Pierce
concluiu que a ETc manter-se-á acima de 90% da ETpc enquanto a umidade do solo estiver
acima de, aproximadamente, um terço da água disponível; depois, cairá mais rapidamente, na
forma exponencial, até a umidade do solo, no ponto de murcha (Figura 2.13).
A maioria dos pesquisadores acredita que a ETc é igual à ETpc durante algum tempo,
decrescendo rapidamente a partir de determinado valor de umidade do solo, segundo uma
forma exponencial, isto é, de acordo com os resultados experimentais de Pierce (curva C da
Figura 2.13).
Tomando por base os resultados de Pierce, Bernardo estabeleceu um “coeficiente de
umidade do solo” (Ks), para fins de conversão da ETpc em ETc em função da disponibilidade
de água no solo:
Ln (LAA + 1,0)
Ks  (2.21)
Ln (CTA + 1,0)

em que: Ks = coeficiente de umidade do solo (adimensional);


Ln = logaritmo neperiano;
CTA = capacidade total de água no solo, em mm; e
LAA = lâmina atual de água no solo, em mm.
86 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A
1,0

0,8 C
ETrc/ETpc

0,6
B

0,4
A - Veihmeyer e Hendrickson
B - Thornthwaite e Mather
0,2 C - Pierce

0,0
100 80 60 40 20 0

Água disponível no solo (%)

Figura 2.13 - Relações entre evapotranspiração real e potencial (ETc/ETpc) da cultura e


disponibilidade de água no solo.

A determinação da ETc é fator de capital importância para o correto manejo dos


sistemas de irrigação. Será dado, a seguir, um exemplo de cálculo da ETc e demonstrada, no
capítulo 11, sua importância no manejo de sistemas de irrigação.

Exemplo:
Determinar a ETc de uma cultura de milho no período de 1º a 15 de janeiro, na região
de “Dois Córregos”, sendo os seguintes dados locais:
- Neste período normalmente não há chuva na região, e o milho se encontra em fase de
produção (Kc = 1,1).
- ETo no período de 1º a 10 de janeiro = 6,0 mm/dia.
- ETo no período de 11 a 20 de janeiro = 7,0 mm/dia.
- Profundidade efetiva do sistema radicular = 0,5 m.
- Usar o fator de disponibilidade (f) = 0,5 m.
- Disponibilidade total de água no solo = 1,6 mm/cm.
- Pelos dados, têm-se:
Capacidade total de água no solo (CTA)
CTA = DTA x Z = 1,6 x 50 = 80 mm
Capacidade real de água no solo (CRA)
Relação solo-água-planta-atmosfera 87

CRA = f x CTA = 0,5 x 80 = 40 mm


Irrigação real necessária (IRN)
IRN  40 mm
- Cálculo da ETc na subárea que foi irrigada no dia 1º de janeiro.
- Dia 1º (após irrigação): LAA = CTA = 80 mm; ETo = 6,0 mm; Kc = 1,1;
ETpc = ETo . Kc= 6,0 x 1,1= 6,6 mm;
Ks = 1,0; ETc = Ks . ETpc = 6,6 mm.
- dia 2: LAA = 80 - 6,6 = 73,4; Ks = 0,98;
ETc = 0,98 x 6,6 = 6,5 mm.
- dia 3: LAA = 73,4 - 6,5 = 66,9; Ks 0,96;
ETc = 0,96 x 6,6 = 6,3 mm.
- dia 4: LAA = 66,9 - 6,3 = 60,6; Ks = 0,94;
ETc = 0,94 x 6,6 = 6,2 mm;
- dia 5: LAA = 60,6 - 6,2 = 54,4; Ks = 0,91;
ETc = 0,91 x 6,6 = 6,0 mm.
- dia 6: LAA = 54,4 - 6,0 = 48,4; Ks = 0,89;
ETr = 0,89 x 6,6 = 5,9 mm.
- dia 7: LAA = 48,4 - 5,9 = 42,5.
Se não se irrigar na noite do dia 6 ou na manhã do dia 7, exceder-se-á ao limite
preestabelecido da disponibilidade de água do solo (IRN  40 mm). A ETc nestes seis dias foi
igual a 37,5 mm, o que corresponde à IRN neste período; se o sistema de irrigação tiver uma
eficiência de aplicação de 65%, a lâmina total de irrigação a ser aplicada será de
aproximadamente 58 mm.

Após a irrigação: LAA = CTA = 80 mm; Ks = 1,0;


ETc = 1,0 x 6,6 = 6,6 mm;
- dia 8: LAA = 80 - 6,6 = 73,4; Ks = 0,98;
ETc = 0,98 x 6,6 = 6,5 mm.
- dia 9: LAA = 73,4 - 6,5 = 66,9; Ks = 0,96;
ETc = 0,96 x 6,6 = 6,3 mm.
- dia 10: LAA = 66,9 - 6,3 = 60,6; Ks = 0,94;
ETc = 0,94 x 6,6 = 6,2 mm.
- dia 11: ETo = 7,0 mm; Kc = 1,1; ETpc = 7,7 mm;
LAA = 60,6 - 6,2 = 54,4; Ks = 0,91.
ETc = 0,91 x 7,7 = 7,0 mm.
88 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

- dia 12: LAA = 54,4 - 7 = 47,4; Ks = 0,88;


ETc = 0,88 x 7,7 = 6,8 mm.
- dia 13: LAA = 47,4 - 6,8 = 40,6.
Tem-se que irrigar, com uma lâmina real de irrigação de 39,4 ou uma lâmina total de
61 mm.
Após a irrigação: LAA = CTA = 80 mm; Ks = 1,0;
ETc = 1,0 x 7,7 = 7,7 mm.
- dia 14: LAA = 80 - 7,7 = 72,3; Ks = 0,98;
ETc = 0,98 x 7,7 = 7,6 mm.
- dia 15: LAA = 72,3 - 7,6 = 64,7, Ks = 0,95;
ETc = 0,95 x 7,7 = 7,3 mm.
Se se continuarem os cálculos, verificar-se-á que o próximo turno de rega seria menor
do que os dois primeiros. O que demonstra, para o caso de irrigação total, a importância de se
determinar o período em que a ETpc será máxima, a fim de se poder dimensionar o projeto de
irrigação baseado no período de máxima demanda evapotranspirométrica, a qual definirá a
máxima demanda de irrigação. Mas, quando se tratar de irrigação suplementar, nem sempre o
período de máxima demanda evapotranspirométrica coincidirá com o período de máxima
demanda de irrigação, pois, neste último caso, a máxima demanda de irrigação dependerá
também da época de ocorrência e da magnitude da precipitação efetiva.
Na Tabela 2.17 são apresentados os resultados dos diversos parâmetros do exemplo
dado. Esta tabela deve ser elaborada ao longo do ciclo da cultura, considerando a capacidade
total de água do solo (CTA) e o coeficiente da cultura (Kc) para os diferentes estádios de
desenvolvimento da cultura a ser irrigada, bem como os diferentes valores da
evapotranspiração potencial de referência (ETo), a fim de facilitar a determinação de quando e
quanto irrigar.

Tabela 2.17 - Cálculo de quando e quanto irrigar


Data CTA CRA ETo Kc ETpc LAA Ks ETc Pe IRN ITN
(mm) (mm) (mm/dia) (mm) (mm/dia) (mm) (mm) (mm)
1/1 80,0 40,0 6,0 1,1 6,6 80,0 1,0 6,0 - - -
2/1 80,0 40,0 6,0 1,1 6,6 73,4 0,98 6,5 - - -
3/1 80,0 40,0 6,0 1,1 6,6 66,9 0,96 6,3 - - -
4/1 80,0 40,0 6,0 1,1 6,6 60,6 0,94 6,2 - - -
5/1 80,0 40,0 6,0 1,1 6,6 54,4 0,91 6,0 - - -
6/1 80,0 40,0 6,0 1,1 6,6 48,4 0,89 5,9 - - -
7/1 80,0 40,0 6,0 1,1 6,6 80,0 1,0 6,6 - 37,5 58
8/1 80,0 40,0 6,0 1,1 6,6 73,4 0,98 6,5 - - -
9/1 80,0 40,0 6,0 1,1 6,6 66,9 0,96 6,3 - - -
Relação solo-água-planta-atmosfera 89

10/1 80,0 40,0 6,0 1,1 6,6 60,6 0,94 6,2 - - -


11/1 80,0 40,0 7,0 1,1 7,7 54,4 0,91 7,0 - - -
12/1 80,0 40,0 7,0 1,1 7,7 47,4 0,88 6,8 - - -
13/1 80,0 40,0 7,0 1,1 7,7 80,0 1,0 7,7 - 39,4 61
14/1 80,0 40,0 7,0 1,1 7,7 72,3 0,98 7,6 - - -
15/1 80,0 40,0 7,0 1,1 7,7 64,7 0,95 7,3 - - -
etc. - - - - - - - - - - -

Precipitação
Do total de precipitação que incide em uma área, uma parte é retida pela cobertura
vegetal, outra parte escoa sobre a superfície do solo e o restante infiltra no solo. Da
quantidade que infiltra no solo, uma parte é retida na zona radicular e a outra percola para as
camadas mais profundas. A distribuição da precipitação entre estas quatro partes depende,
principalmente, do total precipitado, da intensidade e da freqüência da precipitação, da
cobertura vegetal, da topografia local, do tipo de solo e do teor de umidade no solo antes da
chuva.
Quanto à irrigação, interessa, principalmente, a parte da precipitação que será
utilizada diretamente pela cultura (precipitação efetiva), a freqüência e a magnitude de
precipitação que se podem esperar na área do projeto (precipitação provável), e a
quantidade de água que abastecerá os rios e represas a fim de ser usada na irrigação.
Neste livro, em virtude da quantidade de água de um rio ou represa poder ser
quantificada mais facilmente, a preocupação será quantificar somente a precipitação
efetiva e a precipitação provável.

Precipitação Efetiva (Pe)


Há várias definições para precipitação efetiva, dependendo do objetivo que se tem em
mente. Para irrigação, pode-se definir precipitação efetiva como sendo a parte da precipitação
que é utilizada pela cultura para atender sua demanda evapotranspirométrica, ou seja, é a
precipitação total menos a parte que escoa sobre a superfície do solo e a parte que percola
abaixo do sistema radicular da cultura.
Para determinar a precipitação efetiva, existem vários métodos, dentre os quais podem
ser citados: Método do Balanço de Umidade no Solo, Método do Lisímetro, Método do U. S.
Bureau of Reclamation e Método do Serviço de Conservação de Solos dos EUA, além de
vários tipos de equações etc. Por se tratar de um método bastante usado, será apresentado o
método do Serviço de Conservação de Solos dos EUA. Este método estima precipitação
efetiva média mensal em função dos valores regionais da precipitação média mensal e da
evapotranspiração potencial da cultura (ETpc) mensal, para as condições em que a
90 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

capacidade total de água do solo seja igual a 75 mm (Tabela 2.18). Na Tabela 2.19, tem-se o
fator de correção para condições com capacidade total d’água do solo diferente de 75 mm.
Tem-se que ter em mente que a quantidade de precipitação de fato efetiva dependerá
do teor de umidade do solo imediatamente anterior à precipitação. Quando uma chuva ocorrer
logo após uma irrigação, praticamente não haverá efetividade; quando ocorrer poucos dias
após a irrigação, a quantidade realmente efetiva será a lâmina que o solo poderá reter até que
o seu teor de umidade chegue à “capacidade de campo” e não à quantidade dada pela Tabela
2.19. Assim, o conceito de precipitação efetiva é mais importante no manejo de sistemas de
irrigação do que no dimensionamento dos projetos.
Outro ponto de grande importância no estudo da precipitação efetiva é o comprimento
do período em que os dados são agrupados. Nas regiões tropicais e subtropicais, o ideal é que
estes períodos sejam de 5, 10 ou 15 dias, e não mensais, como comumente se usa.
Normalmente, no cálculo da demanda máxima de irrigação para fins de
dimensionamento de projeto, não se considera a precipitação efetiva; mas, para as condições
do Brasil, a fim de compensar a não-inclusão da precipitação efetiva no cálculo da demanda
máxima de irrigação, podem-se dimensionar os projetos baseados em 100% da ETpc para a
região do Nordeste e em 80 a 90% da ETpc para as outras regiões do País, ou considerar a
precipitação efetiva.
87
Relação solo-água-planta-atmosfera
Tabela 2.18 - Precipitação efetiva mensal (Pe), em função da média mensal da precipitação e da evapotranspiração potencial da
cultura (ETpc), em mm, quando a capacidade total da água do solo (CTA) for 75 mm, segundo USDA-SCA
ETpc média Precipitação média mensal (mm)
mensal (mm)
12,5 25 37,5 50 62,5 75 87,5 100 112,5 125 137,5 150 162,5 175 187,5 200

25 8 16 24

50 8 17 25 32 39 46

75 9 18 27 34 41 48 56 62 69

100 9 19 28 35 43 52 59 66 73 80 87 94 100

125 10 20 30 37 46 54 62 70 76 85 92 98 107 116 120

150 100 21 31 39 49 57 66 74 81 89 97 104 112 119 127 133

175 11 23 32 42 52 61 69 78 86 95 103 111 118 126 134 141

200 11 24 33 44 54 64 73 82 91 100 109 117 125 134 142 150

225 12 25 35 47 57 68 78 87 96 106 115 124 132 141 150 159

250 12 25 37 50 61 72 84 92 102 112 121 132 140 150 158 167


92 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Tabela 2.19 - Fator de correção quando a capacidade total da água do solo (CTA) for
diferente de 75 mm, segundo USDA-SCS
CTA (mm) Fator CTA (mm) Fator CTA (mm) Fator
10,00 0,620 31,25 0,818 70,00 0,990
12,50 0,650 32,50 0,826 75,00 1,000
15,00 0,676 35,00 0,842 80,00 1,004
17,50 0,703 37,50 0,860 85,00 1,008
18,75 0,720 40,00 0,876 90,00 1,012
20,00 0,728 45,00 0,905 95,00 1,016
22,50 0,749 50,00 0,930 100,00 1,020
25,00 0,770 55,00 0,947 125,0 1,040
27,50 0,790 60,00 0,963 150,00 1,060
30,00 0,808 65,00 0,977 175,00 1,070

Exemplo:
Calcular a precipitação efetiva média mensal na região de São José, para as seguintes
condições:
Mês - novembro
Precipitação média mensal = 125 mm
ETpc em novembro = 150 mm
Capacidade total de água do solo = 50 mm
Pela Tabela 2.18 tem-se: precipitação efetiva em novembro = 89 mm. Como a CTA é
50 mm e não 75 mm, tem-se de fazer correção.
Pela Tabela 2.19, para CTA = 50 mm, f = 0,93.
Precipitação efetiva média, em novembro = 89 x 0,93 = 83 mm.

Precipitação Provável
Precipitação provável ou dependente pode ser definida como a quantidade mínima de
precipitação com determinada probabilidade de ocorrência. Normalmente, em irrigação
trabalha-se com a probabilidade de 75 ou 80%, ou seja, com a lâmina mínima de chuva que se
pode esperar em três a cada quatro anos (75%) ou em quatro em cada cinco (80%) em
determinado período do ano.
Não se pode trabalhar com a precipitação média, porque quanto menor for o período
em que os dados de precipitação forem agrupados, maior será a variabilidade entre eles. Como
Relação solo-água-planta-atmosfera 93

para irrigação o ideal é trabalhar com períodos de cinco 10 e 15 dias ou, no máximo, períodos
mensais, tem-se de trabalhar com probabilidade de ocorrência de chuva, ou seja, com a
precipitação provável ou dependente por período.
Existem vários métodos para se determinar a precipitação provável, tais como
Distribuição Gama, Cadeia de Markov, papel de probabilidade log-normal, Kimbal etc.
Por se tratar de um dos métodos mais simples, será apresentado o método do “papel
de probabilidade log-normal”.
Neste método, os dados, no mínimo dos últimos 10 anos para cada período, ou seja,
para cada 5, 10, 15 dias ou mês, são colocados em ordem decrescente de valor e numerados a
partir do maior valor. Em seguida, calcula-se posição de cada dado no gráfico pela seguinte
equação:

100 m
Fa  (2.22)
N 1

em que: Fa = posição de cada dado no gráfico;


m = número de ordem de cada dado; e
N = número total de dados analisados.
Plotam-se no “papel de probabilidade log-normal” as precipitações por período versus
os valores de Fa por período. Em seguida, traça-se uma reta que melhor representa os dados
no gráfico.
Para determinar a precipitação provável com dada probabilidade de ocorrência, entra-
se na abscissa com a probabilidade desejada, e a reta indicará na ordenada qual será a lâmina
mínima a ser esperada com aquela probabilidade, para aquele período analisado. Tal
determinação será ilustrada por um exemplo.
Determinar a precipitação provável na primeira quinzena de janeiro para a região de
Paraíso, cujos dados de precipitação dos últimos 15 anos são:

Anos 1974 75 76 77 778 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88


Precipitação 54 8 88 44 38 64 142 84 72 102 116 74 26 112 34
(mm/15 dias)
Dados 142 116 112 102 88 84 74 72 64 54 55 38 34 26 8
ordenados
Ordem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Fa 6 12 19 25 31 37 44 50 56 62 69 75 81 87 94

Na Figura 2.14, foram plotados os valores de FA versus as precipitações


correspondentes, e se traçou a reta que melhor representa os dados plotados. Verifica-se que a
precipitação provável com 80% de probabilidade de ocorrer, na primeira quinzena de janeiro,
94 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

em Paraíso, é 35 mm, ou seja, pode-se esperar que em quatro, a cada cinco anos, uma
precipitação na primeira quinzena de janeiro seja igual ou maior do que 35 mm.

160

140

120
Precipitação (mm)

100

80

60

40

20

0
1 2 5 10 20 30 40 50 60 70 80 90 95

Ocorrência de precipitação (%)


(probabilidade de exceder)

Figura 2.14 - Freqüência de distribuição de precipitação em “papel de probabilidade log-


normal”.

Para calcular a precipitação provável, durante todo o ano, tem-se de repetir os


cálculos e fazer os gráficos dos demais períodos do ano. Assim sendo, para períodos de 15
dias serão necessários 24 gráficos; para períodos mensais, 12 gráficos; e para períodos de 10
dias, 36 gráficos.
A precipitação provável é de capital importância para o planejamento e
dimensionamento de sistemas de irrigação suplementar. Neste caso, como a precipitação
provável refere-se à lâmina mínima com determinada probabilidade de ocorrência, esta lâmina
pode ser considerada como precipitação efetiva quando se analisam os dados para pequenos
períodos, como 5, 10 ou 15 dias. Deve-se, também, trabalhar com probabilidade de ocorrência
de chuva de 75 ou 80%. Para o manejo da irrigação, dependendo do comprimento do período
em que os dados de precipitação foram agrupados, com base na probabilidade de ocorrência
Relação solo-água-planta-atmosfera 95

de chuva nos próximos dias, pode-se decidir se deve ou não aplicar toda a lâmina necessária
na próxima irrigação.

Época de Irrigação e Turno de Rega


Sendo o propósito básico da irrigação abastecer de água as plantas, de acordo com a
necessidade destas, de modo que se obtenha ótima produção em quantidade e qualidade, deve-
se irrigar antes que a razão entre a quantidade de água no solo e a quantidade de demanda pela
evapotranspiração diminua muito, fazendo com que a deficiência de água venha influenciar a
produção, em quantidade e, ou, qualidade.
Conforme mencionado, a quantidade de água requerida por uma cultura e a resposta
da cultura à irrigação variam com o tipo de solo, tipo de cultura, estádios de crescimento e as
condições climáticas da região, sendo então impossível determinar um turno de rega fixo para
cada cultura, em todo o globo.
As plantas diferem entre si, quanto à tolerância, a limite máximos da tensão de água
no solo, antes das irrigações. Umas respondem a maiores teores de água no solo, enquanto
outras apresentam maiores resistências, sem prejudicar a produção.
Há, segundo Hagan, condições que afetam a disponibilidade de água no solo e a
freqüência da irrigação, como se verá a seguir

Condições que Tendem a Requerer Irrigações Freqüentes


Planta
- Raízes rasas, esparsas e de crescimento lento.
- Maior desenvolvimento vegetativo, ocorrendo durante estações sem chuva e, ou, em
períodos de alta demanda de evaporação.
- Parte ou órgão colhido na forma de peso verde (fresco).

Solo
- Raso ou mal estruturado, impedindo o crescimento das raízes.
- Infiltração e drenagem lenta, baixa aeração.
- Freqüência de doenças no sistema radicular ou nematóides no solo.
- Solos salinos e, ou , água de irrigação com alto teor de sal.
- Fertilidade e nutrientes concentrados na superfície do solo.

Clima
96 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

- Alta demanda de evaporação.


- Ausência de chuva durante o período de crescimento.
- Árido.

Manejo
- Plantio no início da estação seca.
- Valor no mercado dependendo do peso verde ou do tamanho do órgão colhido.
- Quando se deseja máxima produção.

Condições que Tendem a Requerer Irrigações Infreqüentes


Planta
- Raízes profundas, densas e de crescimento rápido.
- Maior desenvolvimento, ocorrendo durante estações chuvosas e, ou, em período de
baixa demanda de evaporação.
- Colheita de órgãos secos.

Solo
- Profundo e de boa estrutura
- Com boa infiltração, drenagem e aeração.
- Grande parte da “água disponível” mantida sob pequena tensão.
- Solos não-salinos.
- Lençol freático pouco profundo.

Clima
- Baixa demanda de evaporação.
- Chuva durante o período de crescimento.
- Úmido.

Manejo
- Plantio durante a estação chuvosa.
- Valor no mercado determinado pelo peso seco, percentagem de matéria seca, ou
percentagem de determinado constituinte.

Benefícios da Irrigação
Relação solo-água-planta-atmosfera 97

Um bom programa de irrigação pode beneficiar uma cultura de muitos modos, a


saber:
a) Aumentando sua produtividade.
b) Permitindo maior eficiência no uso de fertilizantes.
c) Permitindo fazer um programa de cultivo, isto é, fazer uma escala de colheita.
d) Permitindo obter duas ou mais colheitas, em um só ano, em mesma área, ou seja, o
uso intensivo do solo.
e) Permitindo introduzir culturas caras, minimizando o risco do investimento.
Grande parte do sucesso de um programa de irrigação depende da determinação
correta do TURNO DE REGA, ou seja, do intervalo, em dias, entre duas irrigações
sucessivas. O turno de rega deve ser determinado, de modo que permita o suprimento de água
às planta, de acordo com as suas necessidades nos diferentes estádios do seu desenvolvimento
e dentro das limitações de vazão e distribuição de água existentes.
Fatores como “capacidade de retenção de água pelo solo”, profundidade efetiva das
raízes, que determinam a quantidade de água útil para as plantas, clima e percentagem de
superfície coberta, que afetam a capacidade de uso da água, devem ser considerados, quando
se determina o Turno de Rega. Sendo assim, antes de iniciar um projeto de irrigação, o local
deve ser analisado, em ternos de solo-planta-clima e manejo.
a) Fator Solo – No solo devem-se considerar estrutura, textura, profundidade,
velocidade de infiltração, drenagem, aeração, capacidade de retenção de água, condutividade
hidráulica, posição do lençol freático, salinidade, fertilidade etc.
b) Fator Planta – Considerando variedade, características radiculares, resistência à
seca, estádios de crescimento, período crítico, qual o órgão da planta será colhido (grão,
folhas, flores, caule etc.), efeito da deficiência de água, quantidade e qualidade do produto etc.
c) Fator clima – Considerando temperatura, radiação solar, vento, umidade,
comprimento do dia, ciclo de desenvolvimento da cultura etc.
d) Fator Manejo – Aqui, podem-se considerar época de plantio, densidade, período
crítico, época da colheita, aplicação de fertilizante etc. Se possível, as culturas devem ser
escolhidas ou distribuídas de modo que os períodos críticos não coincidam entre si.

Método para Determinação da Época de


Irrigação
Existem seis métodos mais generalizados para a determinação da época de irrigação.
Medição da deficiência de água na planta — É a maneira mais direta e mais real
para saber quando a planta está com deficiência de água. Esta medição pode ser através da
98 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

turgescência ou teor de umidade em uma parte do vegetal, da abertura estomatal, da


intensidade da transpiração do vegetal, da concentração osmótica do suco celular etc.
Alguns fatores, no entanto, têm limitado o uso deste método em irrigação: o valor
encontrado por ele varia com a parte da planta selecionada e sua idade, com a hora do dia em
que se faz a medição; e, além disso, sua aplicação requer aparelhos especiais.
Sintomas de deficiência de água na planta – Este método é muito promissor, e deve-
se desenvolver pesquisa no intuito de obter sintomas visuais nítidos e práticos, para que haja
maior utilização na determinação da época da irrigação.
Há alguns sintomas característicos de deficiência de água, como enrolamento da
folha, encurtamento de entrenós, coloração das folhas, ângulo de inserção das folhas etc.;
infelizmente, quando estes sintomas se manifestam, a planta já se encontra sob deficiência de
água há algum tempo, o que prejudicará sua produção. Porém, os sintomas de deficiência de
água podem ser muito úteis, quando usados em plantas indicadoras, ou seja, usa-se uma
planta que manifesta sintomas de deficiência de água em baixas tensões de água no solo, como
indicadora de época de irrigação em culturas que permitem maior tensão de água, no solo, sem
haver prejuízo na produção.
Em países onde ainda não existe uma tecnologia de equipamentos para determinar a
água no solo, havendo necessidade de importação, este método deveria ser pesquisado e
desenvolvido.
Medição do teor de umidade no solo – É um método muito usado e consiste em
determinar, de forma direta ou indireta, o teor de umidade do solo, diariamente, por um dos
métodos vistos no Capítulo 1, devendo-se fazer a irrigação quando o teor de umidade do solo
atingir o limite preestabelecido. Pode-se não estabelecer diretamente o valor limite do teor de
água no solo para decidir quando irrigar, mas é possível decidir indiretamente, definindo a
lâmina real a ser aplicada por irrigação. Através do monitoramento diário do teor de umidade
no solo, determina-se quando a lâmina predefinida foi consumida pela cultura e faz-se nova
irrigação.
Este método demanda muita mão-de-obra, mas em compensação é muito preciso, pois
ele é função tanto da demanda evapotranspirométrica diária como dos diferentes estádios de
desenvolvimento da cultura.
O limite do teor de umidade ou da lâmina real máxima a ser aplicada deve ser
estabelecido para cada cultura nos diferentes tipos de solos e regiões geográficas.
Medição da tensão de água no solo – Também é um método muito usado em países
com maior nível tecnológico e consiste em determinar de forma direta ou indireta a tensão de
água no solo diariamente, através de tensiômetros, ou da curva característica de água no solo
via teor de umidade.
É um método muito preciso, pois ele se fundamenta na determinação da tensão com
que a água está retida no solo; esta tensão é a mesma com que as plantas encontram a água no
Relação solo-água-planta-atmosfera 99

solo que será adsorvida por suas radicelas. Por isso, é um método de análise imediata e muito
usado em sistemas automatizados de irrigação, principalmente por aspersão e localizada.
Determinação da evapotranspiração – tem-se dado, ultimamente, muita ênfase às
pesquisas com o objetivo de determinar a época da irrigação, baseando-se na determinação da
evapotranspiração ou evaporação. Além disso, a medição da evaporação no tanque Classe A
parece ter grande potencial de uso, em razão de sua simplicidade de construção, instalação,
manuseio e baixo custo.

Este método pode ser usado de duas maneiras distintas: 1) definindo-se a lâmina real
máxima a ser aplicada por irrigação para cada estádio de desenvolvimento da cultura, em
virtude da cultura, do solo e do clima da região, e, por meio do cálculo diário da ETc,
verificando-se quando aquela lâmina for consumida pela planta e aplicar nova irrigação; e 2)
determinando-se, por meio de pesquisa, a relação entre diferentes lâminas de irrigação, com
base na evapotranspiração e a produção da cultura.
Método do turno de rega – Este método é o mais usado, principalmente em
médios e grandes projetos de irrigação, em que se tem de coordenar a distribuição de
água entre várias parcelas, normalmente pertencentes a diferentes usuários. É o método
também usado para calcular os projetos de irrigação, no que diz respeito ao
dimensionamento da vazão, das tubulações e das motobombas, em virtude do período de
maior demanda de irrigação.
Com este método calculam-se, previamente, os turnos de rega ou intervalos entre
irrigações consecutivas, de cada estádio de desenvolvimento da cultura, os quais dependem
das características físicas do solo, das condições climáticas regionais e do tipo e estádio de
desenvolvimento da cultura. Ele pode, didaticamente, ser calculado por meio dos seguintes
passos:
a) Calcular a disponibilidade total de água do solo (DTA).
A DTA é uma característica física do solo e é determinada pela equação 1.13, ou seja:
(Cc - Pm)
DTA = da , em mm/cm de solo
10
em que: DTA = mm d’água disponível em cada cm de profundidade de solo;
Cc = capacidade de campo, % em peso;
Pm = ponto de murchamento, % em peso; e
da = densidade aparente do solo, em g/cm3.
b) Estimar, em cm, a profundidade efetiva do sistema radicular da cultura (Z) que
será irrigada, nos seus diferentes estádios de desenvolvimento.
100 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

É comum trabalhar com um único valor de Z, ou com dois valores de Z. Neste último
caso, no estádio inicial da cultura, o valor de Z é considerado como igual à metade do valor de
Z da planta desenvolvida.
c) Calcular a capacidade total de água do solo (CTA) para os diferentes estádios de
desenvolvimento da cultura, por meio da equação 1.17, ou seja:
CTA  DTA Z , em mm

d) Calcular a capacidade real de água do solo (CRA), nos diferentes estádios de


desenvolvimento da cultura, por meio da equaç ão 1.18, ou seja:
CRA  CTA f , em mm.

O fator f, em geral, varia de 0,2 a 0,8, conforme ilustra a Tabela 1.3.

e) Determinar a evapotranspiração potencial da cultura (ETpc), nos seus diferentes


estádios de desenvolvimento.
f) Calcular o turno da rega (TR) nos diferentes estádios de desenvolvimento da cultura
por meio da seguinte equação:
CRA
TR  (2.19)
ETc
em que TR é o turno de rega, em dias, ou seja, é o intervalo em dias entre duas irrigações
consecutivas.
Podem-se reunir todos os passos em uma equação única, ou seja:
(Cc - Pm) Da Z f
TR  (2.20)
10 ETc

Quando a determinação do turno de rega (TR) for para o manejo da irrigação e não
para o dimensionamento de projeto, deve-se usar a média da evapotranspiração real da cultura
(ETc) no período, no lugar da evapotranspiração potencial da cultura (ETpc), bem como
considerar a precipitação provável no período quando se tratar de irrigação suplementar.
Quando a determinação do turno de rega (TR) for para dimensionamento de projeto
sob as condições de irrigação suplementar, ele deve ser determinado por meio da seguinte
equação:
CRA
TR  (2.21)
ETc - Pe
em que Pe é a precipitação provável efetiva, em mm/dia, no período considerado.
Relação solo-água-planta-atmosfera 101

Os projetos de irrigação devem ser dimensionados em função do menor turno de rega


encontrado nos diversos períodos do ciclo da cultura, isto é, para o período em que a ETpc, no
caso de irrigação total, ou (ETc - Pe), no caso de irrigação suplementar, tenha o maior valor,
ou seja, para o período de máxima demanda de irrigação.

Uma vez determinado o turno de rega, a época da próxima irrigação será tantos dias
correspondentes ao turno de rega, a partir do dia da última irrigação.

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Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 99

Capítulo 3

Qualidade da Água para Irrigação


e Salinização do Solo

Considerações gerais
A qualidade da água para irrigação nem sempre é definida com perfeição. Muitas
vezes, refere-se à sua salinidade com relação à quantidade total de sólidos dissolvidos,
expressa em miligramas por litros, parte por milhão ou por meio de sua condutividade
elétrica. No entanto, para que se possa fazer correta interpretação da qualidade da água para
irrigação, os parâmetros analisados devem estar relacionados com seus efeitos no solo, na
cultura e no manejo da irrigação, os quais serão necessários para controlar ou compensar os
problemas relacionados com a qualidade da água.
Quanto às características que determinam a sua qualidade para irrigação, de modo
geral, a água deve ser analisada com relação a seis parâmetros básicos:
a) concentração total de sais solúveis ou salinidade;
b) proporção relativa de sódio, em relação aos outros cátions ou capacidade de infiltração do
solo;
c) concentração de elementos tóxicos;
d) concentração de bicarbonatos;
e) aspecto sanitário; e
f) aspecto de entupimento de emissores (irrigação localizada).
a) Concentração total de sais solúveis ou salinidade – A principal conseqüência do
aumento da concentração total de sais solúveis de um solo é a redução do seu potencial
osmótico, o que prejudica as plantas, em razão do decréscimo da disponibilidade de água
daquele solo.
100 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A salinização de um solo depende da qualidade da água usada na irrigação, do seu


manejo, da existência e do nível de drenagem natural e, ou, artificial do solo, da profundidade
do lençol freático e da concentração original de sais no perfil do solo.
A concentração total de sais da água para irrigação pode ser expressa em partes por
milhão (ppm) ou indiretamente, pela sua condutividade elétrica (CE). Em razão da facilidade
e rapidez de determinação, a condutividade elétrica tornou-se o procedimento-padrão, a fim de
expressar a concentração total de sais para classificação e diagnose das águas destinadas à
irrigação.
Há dois testes rápidos para avaliar a qualidade da água, no que diz respeito à
concentração total de sais:
– A razão entre a condutividade elétrica (em micromhos por centímetro) e a
concentração de cátions (em miliequivalente, por litro) deve aproximar-se de 100. Essa razão
tende para 80, para águas ricas em cálcio e magnésio, ou para 110, para as ricas em sódio.
– A razão entre a concentração de sólidos dissolvidos (em partes por milhão) e a
condutividade elétrica (em micromhos, por centímetro) deve aproximar-se de 0,64.
b) Proporção relativa de sódio, em relação a outros cátions ou capacidade de
infiltração do solo – O decréscimo da capacidade de infiltração de um solo dificulta a
aplicação da lâmina de irrigação necessária, num tempo apropriado, de modo a atender à
demanda evapotranspirométrica da cultura.
A capacidade de infiltração de um solo cresce com o aumento de sua salinidade e
decresce com o aumento da razão de adsorção de sódio (RAS) e, ou, com o decréscimo de sua
salinidade. Assim, os dois parâmetros, RAS e salinidade, devem ser analisados conjuntamente
para se poder avaliar corretamente o efeito da água de irrigação na redução da capacidade de
infiltração de um solo. Na Figura 3.1 são ilustrados os efeitos interativos da RAS e da
salinidade na capacidade de infiltração do solo.

30 Redução moderada na
Razão de adsorção de sódio (RAS)

Redução severa na capacidade


capacidade de infiltração do
de infiltração do solo
solo
25

20
Praticamente nenhuma
15 redução na capacidade
de infiltração do solo
10

0
0 1 2 3 4 5 6
Condutividade
Condutividade elétricaelétrica
da águadadeágua de irrigação
irrigação em em ds m-1
a 25 °C,
dS/m a 25ºC.
Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 101

Figura 3.1 - Efeito da razão de adsorção de sódio (RAS) e da salinidade da água de irrigação
na capacidade de infiltração do solo, segundo Ayers e Westcot.
A proporção relativa de sódio, em relação a outros sais, pode ser expressa
adequadamente, em termos da razão de adsorção de sódio (RAS), a qual pode ser assim
calculada:

Na +
RAS =
Ca + + + Mg ++
2

com as concentrações de Na, Ca e Mg, em miliequivalente por litro.


c) Concentração de elementos tóxicos – Os elementos encontrados nas águas de
irrigação não-poluídas pelo homem que mais comumente causam problemas de toxidez às
plantas são íons de cloro, sódio e boro.
A magnitude do problema depende da concentração do íon na água de irrigação, da
sensibilidade da cultura ao íon, da demanda evapotranspirométrica da região e do método de
irrigação em uso. Estes íons geralmente acumulam-se nas folhas, onde causam problemas de
clorose e queima dos tecidos, reduzindo a produção vegetal ou mesmo chegando a ocasionar a
morte da planta, quando o seu acúmulo for muito elevado.
Esses problemas de toxidez freqüentemente estão relacionados aos de salinização e,
ou, solidificação do solo.
Os íons de cloro e sódio, além de serem os mais presentes nas águas de irrigação,
podem ser absorvidos pelas raízes, movimentados pelo caule e acumulados nas folhas, ou
diretamente pelas folhas molhadas durante a irrigação por aspersão.
De modo geral, as culturas perenes, como as árvores frutíferas, são mais sensíveis que
as de ciclo curto no que diz respeito à toxidez por íons de cloro, sódio e boro.
d) Aspecto sanitário – Quanto a este aspecto, há três situações a considerar:
contaminação do irrigante durante a irrigação, contaminação da comunidade nas
circunvizinhanças do projeto de irrigação e contaminação dos usuários dos produtos irrigados.
Nos dois primeiros casos, a principal doença é a esquistossomose, cuja contaminação dá-se
por meio do contato direto do irrigante com a água de irrigação, e, no terceiro, há as
verminoses de modo geral, cuja contaminação dá-se pelo consumo dos hortifrutigranjeiros
contaminados pela água de irrigação. Daí a necessidade de, também, se cuidar do aspecto
sanitário das águas a serem usadas na irrigação.
e) Concentração de bicarbonatos – Nas águas que contêm concentrações elevadas de
íons de bicarbonato, há tendência de precipitação do cálcio e do magnésio, sob a forma de
carbonatos, reduzindo, assim, a concentração de cálcio e magnésio na solução do solo e,
conseqüentemente, aumentando a proporção de sódio, uma vez que a solubilidade do
carbonato de sódio é superior à dos carbonatos de cálcio e de magnésio.
102 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Esse processo pode ser assim ilustrado:

Ca++ + Na+ + 3HCO¯3  CaCO3 (precipita) + Na+ + HC¯3 + CO2 H2O


Eaton parece mostrar que essa reação favorece a elevação da percentagem possível de
sódio no solo. A percentagem de sódio e a percentagem possível de sódio podem ser
calculadas pelas seguintes equações:

Na  100
% de sódio =
++ + ++ +
Ca Mg Na +
e

Na  100
% possível de sódio = , desde que a concentração de
( Ca   + Mg  + Na  ) (CO -3- + HCO 3 )
HCO 3 CO 3  não exceda a de Ca++ + Mg++.
Nessas duas equações, as concentrações dos íons são expressas em miliequivalentes
por litro.
Na Tabela 3.1 é mostrado o aumento da incidência de esquistossomose após
implantação de alguns projetos de irrigação, segundo P.F. Hillman.

Tabela 3.1 - Aumento da incidência de esquistossomose em alguns projetos de irrigação,


segundo P. F. Hilman
País Projeto % de contaminação
Antes Após
Egito Represa de Aswan (1906) 6% (1910) 60%
Sudão Gezira (1925) 0% (1940) 45%
Tanzânia Arucha Chini (1937) 5% (1967) 60%
Zâmbia Lago Kariba (1958) 0% (1968) 35%
Nigéria Lago Kainji (1969) 5% (1971) 45%
Irã Projeto-Piloto (1965) 15% (1967) 27%

f) Entupimento de emissores – Quanto à qualidade da água para irrigação localizada


e dependendo do potencial de entupimento dos emissores, devem-se ainda considerar outros
aspectos. O entupimento de emissores, segundo Pitts et al. (1990), pode resultar de causas
físicas (areia, silte e argila), biológicas (bactéria e alga) ou química (deposição mineral).
Segundo Ravina et al. (1992), a determinação da causa exata do entupimento de emissores
Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 103

pode ser complexa, pois vários agentes na água podem interagir entre si, agravando o
problema.
Gilbert e Ford (1986) apresentam uma classificação da qualidade da água, em relação
ao potencial de entupimento de gotejadores, com base em fatores físico-químicos e biológicos
(Tabela 3.2).
Tabela 3.2 - Classificação da qualidade da água em relação ao potencial de entupimento de
gotejadores

Risco de entupimento
Fator de entupimento
Baixo Moderado Severo
-1
Físico (mg L )
<50 50-100 >100
Sólidos suspensos
Químico (mg L-1)
pH <7,0 7,0-8,0 >8,0
a
Sólidos dissolvidos <500 500-2000 >2000
Manganêsa <0,1 0,1-1,0 >1,0
a
Ferro total <0,20 0,2-1,5 >1,5
Sulfeto de hidrogênioa <0,2 0,2-2,0 >2,0
Biológico (nº
bactérias.L-1) <10.000 10.000-50.000 >50.000
a
Concentração máxima medida, com um número representativo de amostras de água, usando-se procedimentos-
padrão para análise, em mg L-1.
Fonte: Gilbert e Ford (1986).

Análise e Amostragem de Água para


Irrigação
A concentração total e individual dos elementos de maior importância tem de ser
determinada para que se possa julgar a qualidade de uma água para irrigação. Na Tabela 3.3
encontram-se as determinações usualmente necessárias para análise de água, bem como as
unidades usadas.
Na maioria das vezes, a condutividade elétrica é suficiente para avaliar a
concentração total de sais, dispensando a determinação dos sólidos dissolvidos. Uma vez
estabelecida que a concentração do boro é baixa, em certa região, sua determinação pode ser
omitida nas análises subseqüentes.
104 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

As amostras de água são coletadas e analisadas para se obterem informações a


respeito de sua qualidade. Assim, estas deverão ser as mais representativas possíveis. De
modo geral, recomendam-se os seguintes procedimentos no processo de análise de água para
irrigação:
- Para poços profundos, com condições normais de operação, a amostragem não
apresenta nenhum problema. Se a intensidade de recarga do poço estiver em equilíbrio com a
retirada de água, as suas características químicas serão praticamente constantes.
- No caso de rios ou córregos, a amostragem é mais problemática, uma vez que deve
ser feita todas as semanas ou mensalmente, e, sempre que se tirar a amostra, recomenda-se
caracterizar o estádio de fluxo do rio ou sua vazão.
- Em pequenos reservatórios, onde a água é praticamente homogênea, a amostra pode
ser coletada na saída deles.
- Para grandes reservatórios, onde a água não é homogênea, é necessário que as
amostras sejam retiradas de diversas profundidades.
As amostras de água para análise devem ter um volume de um a dois litros e ser
coletadas em garrafas de vidro ou plástico, bem limpas, e enviadas para análise logo após
serem colhidas.

Tabela 3.3 - Determinações usualmente necessárias para análise de água para irrigação

Determinações Símbolos Unidades


Condutividade elétrica CE a 25 ºC ds m-1
Percentagem de sódio solúvel PSS %
Razão da adsorção de sódio RAS ----
Boro B ppm
Sólidos dissolvidos SD ppm
pH ---- ----
Cátions
Cálcio Ca m.e./L
Magnésio Mg m.e./L
Sódio Na m.e./L
Soma de cátions ---- m.e./L
Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 105

Aniônios
Carbonatos CO3 m.e./L
Bicarbonatos HCO3 m.e./L
Sulfatos SO4 m.e./L
Cloro Cl m.e./L
Soma de aniônios ---- m.e./L

Classificação da Água para Irrigação


Há vários modelos de classificação de água para irrigação. A seguir, serão
apresentados dois dos principais.

Classificação Proposta pelo Laboratório de


Salinidade dos Estados Unidos
A classificação proposta pelos técnicos do Laboratório de Salinidade dos Estados
Unidos é baseada na Condutividade Elétrica (CE), como indicadora do perigo de salinização
do solo, e na Razão de Adsorção de Sódio (RAS), como indicadora do perigo de alcalinização
ou solidificação do solo.
a) Perigo de salinização – As águas são divididas em quatro classes, segundo sua
condutividade elétrica (CE), ou seja, de acordo com a sua concentração total de sais solúveis:
 C1 - Água com salinidade baixa (CE entre 0 e 0,25 ds/m, a 25 ºC)
Pode ser usada para irrigação da maioria das culturas e solos, com pouca
probabilidade de ocasionar salinidade. Alguma lixiviação é necessária, mas isso ocorre nas
práticas normais de irrigação, à exceção dos solos com permeabilidade extremamente baixa.
 C2 - Água com salinidade média (CE entre 0,25 e 0,75 ds/m, a 25 ºC)
Pode ser utilizada sempre que houver grau moderado de lixiviação. Plantas com
moderada tolerância aos sais podem ser cultivadas, na maioria dos casos, sem práticas
especiais de controle da salinidade.
 C3 - Água com salinidade alta (CE entre 0,75 e 2,25 ds/m, a 25 ºC)
Não pode ser empregada em solos com deficiência de drenagem. Mesmo naqueles com
drenagem adequada, às vezes são necessárias práticas especiais para o controle da salinidade.
Pode ser usada somente em plantas com boa tolerância aos sais.
106 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

 C4 - Água com salinidade muito alta (CE entre 2,25 e 5,00 ds/m, a 25 °C)
Não é apropriada para irrigações sob condições normais, mas pode ser usada,
ocasionalmente, em circunstâncias muito especiais. Os solos deverão ser muito permeáveis e
com drenagem adequada, devendo ser aplicado excesso de água nas irrigações para ter boa
lixiviação. A água somente deve ser usada em culturas tolerantes aos sais.
b) Perigo de alcalinização ou solidificação – As águas são divididas em quatro
classes, segundo sua razão de adsorção de sódio (RAS), ou seja, em virtude do efeito do sódio
trocável, nas condições físicas do solo:
 S1 - Água com baixa concentração de sódio
(RAS  32,19 - 4,44 log CE)
Pode ser usada para irrigação em quase todos os tipos de solo, com pequena
possibilidade de alcançar níveis indesejáveis de sódio trocável.
 S2 - Água com concentração média de sódio
(32,19 - 4,44 log CE < RAS  51,29 - 6,66 log CE)
Só pode ser utilizada em solos de textura grossa ou em solos orgânicos com boa
permeabilidade. Apresenta perigo de solidificação considerável em solos de textura fina, com
grande capacidade de troca catiônica, especialmente sob baixa condição de lixiviação, a
menos que haja gesso no solo.
 S3 - Água com alta concentração de sódio
(51,29 - 6,66 log CE < RAS  70,36 - 8,87 log CE)
Pode produzir níveis maléficos de sódio trocável na maioria dos solos e requer
práticas especiais de manejo, boa drenagem, alta lixiviação e adição de matéria orgânica. Em
solos com muito gesso, a água pode não desenvolver níveis maléficos de sódio trocável, além
de requerer o uso de corretivos químicos para substituir o sódio trocável, exceto no caso de
apresentar salinidade muito alta, quando este uso não seria viável.
 S4 - Água com alta concentração de sódio
(RAS > 70,36 - 8,87 log CE)
É geralmente imprópria para irrigação, exceto quando sua salinidade for baixa ou, em
alguns casos, média, e a concentração de cálcio do solo ou o uso de gesso e outros corretivos
tornarem o uso desta água viável.
Algumas vezes, a água de irrigação pode dissolver suficiente quantidade de cálcio de
solos calcários, diminuindo assim, apreciavelmente, o perigo de solidificação, o que deve ser
levado em conta no uso de águas C1-S3 e C1-S4. Para solos calcários com pH alto ou para
solos não-calcários, o nível de sódio nas águas das classes C1-S3 e C1-S4 pode ser melhorado
Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 107

com a adição de gesso. Também poderá ser benéfico quando se usarem águas das classes C2-
S3 e C3-S2, adicionando, periodicamente, gesso ao solo.
c) Efeito da concentração de boro – O boro é um elemento essencial para o
crescimento dos vegetais, mas a quantidade requerida é pequena, pois, em concentrações um
pouco maiores, é muito tóxico para alguns vegetais. O nível de concentração que o torna
tóxico varia de acordo com a espécie. O nível que é tóxico para uma planta sensível, por
exemplo, limão, pode ser o ideal para uma planta tolerante, como a alfafa. Em virtude dessa
variação de espécie para espécie, a água para irrigação tem de ser classificada em classes
distintas, segundo a sensibilidade da cultura a ser irrigada.
d) Efeito da concentração de bicarbonato – Nas águas que contêm concentrações
elevadas de íons de bicarbonato, há tendência de ocorrer precipitação do cálcio e do magnésio,
sob a forma de carbonatos, reduzindo, assim, a concentração de cálcio e magnésio na solução
do solo e, conseqüentemente, aumentando a proporção de sódio.
Segundo Eaton, a água para irrigação pode ser classificada de acordo com a
concentração de “Carbonato de Sódio Residual” (CSR), determinada por: CSR = (CO3 +
HCO3) (Ca++ + Mg++)
Água não recomendadas para irrigação – CSR superior a 2,5 miliequivalentes por
litro.
Água recomendada com restrição – CSR entre 1,25 e 2,5 miliequivalentes por litro.
Água recomendada para irrigação – CSR inferior a 1,25 miliequivalente por litro.
Acredita-se que com bom manejo da irrigação, no que diz respeito à drenagem e
lixiviação, e com uso apropriado de corretivos, é possível usar, com sucesso, na irrigação
algumas das águas classificadas como “duvidosas”.

Classificação Proposta por Ayers e Westcot


A classificação proposta por Ayers e Westcot (1985) também baseia-se em quatro
áreas-problema, ou seja, salinidade, infiltração, toxicidade e diversos.
a) Problemas de salinidade – Estão associados com a quantidade total de sais
solúveis na água para irrigação. A salinidade é medida e expressa por meio da condutividade
elétrica da água de irrigação.
b) Problemas de infiltração – O decréscimo da capacidade de infiltração do solo está
normalmente associado com as águas de irrigação com elevada concentração de sódio em
relação à de cálcio e, ou, com baixo nível de sais solúveis, ou seja, com a combinação entre a
razão de adsorção de sódio (RAS) e a condutividade elétrica da água de irrigação.
108 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

c) Problema de toxicidade – Certos elementos, mesmo em concentrações baixas, têm


efeitos tóxicos para os vegetais. Os íons de cloro, sódio e boro são, por exemplo, os principais
causadores de toxidez entre os elementos comumente encontrados nas águas de irrigação.
d) Problemas diversos – O excesso de nitrogênio, de bicarbonato e de magnésio, bem
como o pH anormal na água de irrigação, pode causar sérios problemas às culturas, como
crescimento excessivo, maturação tardia, tombamento do vegetal, produção reduzida e de má
qualidade e até mesmo desbalanço nutricional. Afora estes problemas, há ainda os
relacionados com as doenças transmissíveis pela água de irrigação.
Na Tabela 3.4 são mostradas algumas diretrizes para interpretação da qualidade da
água para irrigação.

Tabela 3.4 - Diretrizes para interpretação da qualidade da água para irrigação, segundo Ayers
e Westcot*

Grau da restrição ao uso


Problemas e constituintes Unidades
relacionados com Nenhuma Moderada Severa

Salinidade do solo

CE da água de irrigação (Cei) dS/m <0,7 0,7 a 3,0 >3,0

Total de sólidos solúveis (TST) mg/L <450 450 a 2000 >2000

Capacidade de infiltração do solo

RAS = 0 a 3 e Cei dS/m >0,7 0,7 a 0,2 <0,2

RAS = 3 a 6 e Cei dS/m >1,2 1,2 a 0,3 <0,3

RAS = 6 a 12 e Cei dS/m >1,9 1,9 a 0,5 <0,5

RAS = 12 a 20 e Cei dS/m >2,9 2,9 a 1,3 <1,3

RAS = 20 a 40 e Cei dS/m >5,0 5,0 a 2,9 <2,9

Toxidade

Sódio (Na) RAS <3,0 3,0 a 9,0 >9,0


Irrigação por superfície m.e./L <3,0 3,0 a 9,0 >9,0

Irrigação por aspersão

Cloro (Cl)

Irrigação por superfície m.e./L <4,0 4,0 a 10,0 >10,0


Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 109

Irrigação por aspersão m.e./L <3,0 >3,0

Boro (Bo) m.e./L <0,7 0,7 a 3,0 >3,0

Miscelânea

Nitrogênio (NO3 – N) mg/L <5,0 5,0 a 30,0 >3,0

Bicarbonato (HCO3)

Irrigação por aspersão m.e./L <1,5 1,5 a 8,5 >8,5

pH Amplitude normal de 6,5 a 8,4


Baseada numa porcentagem de lixiviação entre 15 e 20%.
Nota
- milimhos/centímetro (mmhos/cm) = deciSiemen/metro (dS/M).
- miligrama/litro (mg/L)≈ partes por milhão (ppm).
- miliequivalente/litro(m.e./L) = mg/L + peso equivalente.

Tolerância das Plantas Quanto à Salinidade e


Toxicidade
Quando o solo é originalmente salino e a água disponível para irrigação também o é,
em certas condições, não é economicamente viável mantê-lo com baixa concentração de sais,
por exemplo, quando o lençol freático está próximo à superfície do solo, em solos com baixa
capacidade de infiltração etc. Em tais situações, é imprescindível que se faça seleção das
culturas que possam produzir satisfatoriamente, sob condições de salinidade e, ou, de
concentração mais elevada de íons de cloro, sódio e boro, e usar práticas apropriadas de
manejo do solo para minimizar os problemas de salinidade, a fim de que se possam obter
resultados econômicos na exploração agrícola.
Para o cultivo em solos salinos, a freqüência de irrigação independente do método,
bem como a localização da planta em relação ao sulco de irrigação, é fator de capital
importância. Em solos salinos e, ou, quando a água de irrigação é salina, quanto maior for a
freqüência, menor será o efeito da salinidade sobre a cultura. Na Figura 3.2 são ilustradas as
melhores posições para o plantio, ou seja, regiões com menor concentração de sais na
irrigação por sulco.
110 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

. . .
. . . . . .
. .
. . . .

. . . . .
. . . . .

concentração de sal . posição de plantio

Figura 3.2 - Posições de plantio em condições de salinidade.


Ao utilizar água com maior teor de sais na irrigação, além da importância da
freqüência da irrigação e da posição do plantio em relação ao sulco, deve-se evitar que a parte
aérea da planta seja molhada, pois as plantas são capazes de absorver íons pelas folhas e se
intoxicar mais rapidamente, principalmente com relação aos íons de cloro e sódio.

Na Tabela 3.5, Ayers e Westcot (1985) mostram os níveis de tolerância das principais
culturas à salinidade do solo, relacionando diversas concentrações de sais solúveis na solução
do solo e na água de irrigação com o potencial de produção das culturas, desde produção com
100% do potencial da cultura até condições em que não haverá mais produção. Os mesmos
autores também mostram, nas Tabelas 3.6, 3.7 e 3.8, os níveis de tolerância relativa das
culturas aos íons de cloro, sódio e boro, respectivamente.

Salinização do Solo
Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 111

Todos os solos contêm sais, porém alguns apresentam maiores teores. De modo geral,
os sais são carregados pela água que se movimenta no perfil do solo, podendo precipitar ou
ser conduzidos em solução até o mar.

Normalmente, os sais são encontrados no solo sob a forma de íons na sua solução e de
cátions adsorvidos às partículas do solo, e na forma de sal precipitado. A sua concentração
pode variar muito, tanto com o local (variação espacial), com o tempo (variação temporal) e
com a umidade do solo. Uma vez que a variação da umidade do solo e a movimentação da
água no seu perfil são intensas, também o é a variação da concentração de sais.

Após uma chuva ou irrigação por aspersão ou por inundação, o teor de sal na camada
superior do solo provavelmente aumentará com a profundidade deste, e, quando chegar a
época da próxima irrigação, o perfil da concentração de sal será o inverso, ou seja, haverá
maiores concentrações próximas à superfície do solo. Quanto mais profunda for a camada do
solo considerada, menor será essa variação, até atingir camadas em que a concentração de sal
permaneça constante.

Tabela 3.5 - Tolerância e produção potencial das principais culturas em função da salinidade
da água de irrigação (CEi) ou do solo (CEs), em dS/m, a 25 °C, segundo Ayers e
Westcot
Produção potencial
Culturas 100% 90% 75% 50% "Zero %"
Ces Cei Ces Cei Ces Cei Ces Cei Ces Cei
Algodão
7,7 5,1 9,6 6,4 13 8,4 17 12 17 18
(Gossypium hirsutum)
Arroz
3,0 2,0 3,8 2,6 5,1 3,4 7,2 4,8 11 7,6
(Oryza sativa)
Cana-de-açúcar
1,7 1,1 3,4 2,3 5,9 4,0 10 6,8 19 12
(Saccharum officinarum)
Feijão
1,0 0,7 1,5 1,0 2,3 1,5 3,6 2,4 6,3 4,2
(Phaseolus vulgaris)
Milho
1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10 6,7
(Zea mays)
Soja
5,0 3,3 5,5 3,7 6,2 4,2 7,5 5,0 10 6,7
(Glycine max)
112 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Sorgo
6,8 4,5 7,4 5,0 8,4 5,6 9,9 6,7 13 8,7
(Sorghum bicolor)
Trigo
6,0 4,0 7,4 4,9 9,5 6,3 13 8,7 20 13
(Triticum aestivum)
Abacate
1,3 0,9 1,8 1,2 2,5 1,7 3,7 2,4 6,5 4,4
(Persea americana)
Grapefruit
1,8 1,2 2,4 1,6 3,4 2,2 4,9 3,3 8,0 5,4
(Citrus paradisi)
Laranja
1,7 1,1 2,3 1,6 3,3 2,1 4,8 3,2 8,0 5,3
(Citrus sinensis)
Limão
1,7 1,1 2,3 1,6 3,3 2,2 4,8 3,2 8,0 5,3
(Citrus limon)
Pêssego
1,7 1,1 2,2 1,4 2,9 1,9 4,1 2,7 6,5 4,3
(Prunus persica)
Uva
1,5 1,0 2,5 1,7 4,1 2,7 6,7 4,5 12 7,9
(Vitis vinifera)
Alface
1,3 0,9 2,1 1,4 3,2 2,1 5,2 3,4 9,0 6,0
(Lactuca sativa)
Batata-doce
1,5 1,0 2,4 1,6 3,8 2,5 6,0 4,0 11 7,1
(Ipomoea batatas)
Batatinha
1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10 6,7
(Solanum tuberosum)
Beterraba
4,0 2,7 5,1 3,4 68 4,5 9,6 6,4 15 10
(Beta vulgaris L.)
Brócolis
2,8 1,9 3,9 2,6 5,5 3,7 8,2 5,5 14 9,1
(Brassica oleracea)
Continua...
Tabela 3.5 - Cont.

Produção potencial
Culturas 100% 90% 75% 50% "Zero %"
Ces Cei Ces Cei Ces Cei Ces Cei Ces Cei
Cebola
1,2 0,8 1,8 1,2 2,8 1,8 4,3 2,9 7,4 5,0
(Allium cepa)
Cenoura
1,0 0,7 1,7 1,1 2,8 1,8 4,6 3,1 8,1 5,4
(Daucus carota)
Melão cantaloup
2,2 1,5 3,6 2,4 5,7 3,8 9,1 6,1 15 10
(Cucumis melo)
Milho verde
1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10 6,7
(Zea mays)
Pepino
2,5 1,7 3,3 2,2 4,4 2,9 6,3 4,2 10 6,8
(Cucumis sativus)
Repolho
1,8 1,2 2,8 1,9 4,4 2,9 7,0 4,6 12 8,1
(Brassica oleracea)
Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 113

Tomate
2,5 1,7 3,5 2,3 5,0 3,4 7,6 5,0 13 8,4
(Lycopersicon esculentum)
CEs – Condutividade elétrica do extrato saturado do solo, em ds/m, a 25º C.
CEi – Condutividade elétrica da água de irrigação, em ds/m, a 25º C.

Tabela 3.6 - Tolerância de algumas culturas à concentração de cloro (Cl¯) na água de irriga-
ção ou no solo, segundo Ayers e Westcot

Concentração de Cl¯, em me/L


Culturas
No extrato saturado do solo Na água de irrigação
Abacate 6,0 4,0
Grapefruit 25,0 16,5
Tangerina 25,0 16,5
Limão 15,0 10,0
Poncã 15,0 10,0
Laranja 10,0 7,0
Uva 10,0 7,0
Ameixa 10,0 7,0
Morango 5,0 3,0
Tabela 3.7 - Tolerância de algumas culturas à concentração de sódio trocável no solo,
segundo Ayers e Westcot

Sensíveis Semitolerantes Tolerantes


Abacate Cenoura Alfafa
Aveia
Alface Beterraba
Feijão Cana-de-açúcar Grama-bermuda
Algodão (na germinação) Cebola Algodão
Milho Arroz
Grapefruit
114 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Laranja Sorgo
Pêssego Espinafre
Tangerina Tomate
Lentilha Trigo
Amendoim
Caupi

Atualmente, a principal causa do aumento da salinização dos solos agrícolas tem sido
as irrigações mal feitas. As opções para evitar a salinização dos solos irrigados ou cultivar
solos já salinizados são:
- realizar drenagem adequada;
- lixiviar o excesso de sais;
- usar culturas mais tolerantes; e
- empregar métodos de irrigação próprios às condições de salinidade do solo e da água
de irrigação.

Tabela 3.8 - Tolerância relativa de algumas culturas à concentração de boro na água do solo,
segundo Ayers e Westcot

Muito sensível Pouco tolerante


(<0,5 mg/L) (1,0 a 2,0 mg/L)
Limão Pimenta
Cenoura
Batatinha
Pepino
Sensível Moderadamente tolerante
(0,5 a 0,75 mg/L) (2,0 a 4,0 mg/L)
Grapefruit Alface
Laranja Repolho
Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 115

Pêssego Milho
Ameixa Fumo
Figo
Uva
Pecã
Cebola
Moderadamente sensível Tolerante
(0,75 a 1,0 mg/L) (4,0 a 6,0 mg/L)
Alho Sorgo
Batata-doce Tomate
Trigo Alface
Aveia
Girassol Muito tolerante
Morango (6,0 a 15,0 mg/L)
Feijão Algodão
Amendoim Aspargo

Para remover o excesso de sais trazidos para a área do projeto pela água de irrigação,
a lixiviação requerida pode ser assim calculada:
CEi
LR = L
CEd
em que:
LR = lâmina requerida para lixiviação, em mm;
CEi = condutividade elétrica da água de irrigação, em dS/cm, a 25 ºC;
CEd = condutividade elétrica da água de drenagem, em dS/m, a 25 ºC; e
L = lâmina total de irrigação, em mm.
Os solos com problemas de salinidade têm, na maioria das vezes, as mesmas
características de um não-salino, a não ser quando a concentração de sais for muito elevada.
Não se deve esperar que o solo mude sua aparência ou que as plantas demonstrem problemas
relacionados à salinização. O monitoramento pode ser contínuo, podendo ser feito pela
ascensão do lençol freático e por meio das análises químicas do solo, a fim de se evitar o
aumento da salinidade, pois os sintomas, tanto nas plantas como no solo, somente surgirão
quando o problema já estiver muito sério, e, assim, o custo de recuperação será muito elevado.
São estes os principais problemas causados pela salinização do solo:
- aumento do potencial osmótico da solução do solo, diminuindo a disponibilidade de
água para as plantas;
- dispersão das partículas do solo, diminuindo sua capacidade de infiltração; e
116 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

- possibilidade de toxidez às plantas.


Esses problemas somados resultarão no decréscimo da produção agrícola daquele
solo.
O Laboratório de Salinidade dos Estados Unidos estabeleceu, segundo o ponto de
vista de salinidade, quatro grupos de solos: normais, salinos, salinos-alcalinos ou salinos-
sódicos e solos alcalinos ou sódicos. Na Tabela 3.8 são mostrados os parâmetros básicos para
a classificação de um solo, segundo sugestões desse laboratório.
a) Solos Salinos – São aqueles cuja condutividade elétrica (CE) da solução de solo
saturada é maior que 4 dS/m, a 25 ºC, e cuja percentagem de sódio trocável (PST) é menor
que 15%. Normalmente, o pH é menor que 8,5.
Os solos salinos são freqüentemente reconhecidos pela presença de uma crosta branca
de sal em sua superfície. Por causa do excesso de sal e da ausência de quantidade significante
de sódio trocável, este tipo de solo é geralmente floculado e, conseqüentemente, sua
permeabilidade é igual ou superior à dos similares não-salinos.

Tabela 3.9 - Parâmetros para a classificação dos solos, segundo o Laboratório de Salinidade
dos Estados Unidos
CE*
Denominação (dS/m) PST** pH Recuperação
Normal <4 <15 4 a 8,5
Salino >4 <15 = 8,5 Lixiviação dos sais
Salino-alcalino ou Salino-sódico >4 >15 8,5 < pH > 10 Aplicação de corretivos
e lixiviação dos sais
Alcalino ou sódico <4 >15 8,5 < pH > 10 Aplicação de corretivos
e lixiviação dos sais
* Condutividade elétrica da solução do solo, em milimhos/cm ou dS/m, a 25 ºC.
** Percentagem de sódio trocável.
Os solos salinos podem ser recuperados por lavagens e adequada drenagem, de modo
que se possam remover os sais solúveis por lixiviação, deixando-os em condições normais.
b) Solos Salinos-Alcalinos ou Salinos-Sódicos – São aqueles cuja condutividade
elétrica da solução de solo saturada é maior que 4 dS/m, a 25 ºC, e cuja percentagem de sódio
trocável é maior que 15%. Formam-se em virtude do processo de acumulação de sais solúveis
e de sódio. Sempre que houver excesso de sais, a aparência e a propriedade desses solos serão
similares às do salino. Nessas condições, o pH raramente ultrapassa 8,5, e as partículas de
solo permanecem floculadas.
Caso o excesso de sais solúveis seja lixiviado, as propriedades desses solos mudam
significativamente, tornando-se sódicos, com pH acima de 8,5, e as partículas do solo se
dispersam, deixando-os com baixa permeabilidade, pesados e difíceis de ser trabalhados. O
manejo para recuperação destes é a sua lavagem, associada à aplicação de corretivos.
Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 117

c)Solos Alcalinos ou Sódicos – São aqueles cuja condutividade elétrica da solução do


solo saturado é menor que 4 dS/m, a 25ºC, e cuja percentagem de sódio trocável é maior que
15%. O pH comumente varia de 8,5 a 10. São encontrados em regiões áridas e semi-áridas.
Em virtude da saturação parcial de sódio, pode ocorrer dispersão da argila, que é
transportada, através do perfil do solo, e acumulada em camadas com estrutura prismática ou
calunar, apresentando maior densidade e baixa permeabilidade. Entretanto, a camada
superficial do solo pode apresentar textura grossa, dando a impressão de que ele não tem
problemas de drenagem.
Quando que o material originário do solo ou a água usada em irrigação não contêm
gesso, a lavagem dos solos salinos-sódicos, por meio da lixiviação dos sais solúveis, conduz à
formação de solos sódicos. Para recuperá-los, aplicam-se os corretivos.

Salinização do Solo no Brasil


Os principais problemas de salinização no País surgiram nos projetos de irrigação,
notadamente nos projetos públicos desenvolvidos no “polígono das secas”.
A principal causa da salinização ocorrida nestes projetos não está diretamente
relacionada com a qualidade da água usada na irrigação, mas sim com a falta de drenagem
associada à baixa eficiência da irrigação por superfície, conduzida na maioria dos projetos.
Isso tem causado uma rápida ascensão do lençol freático nas áreas dos projetos, que, reunida
à grande demanda evapotranspirométrica da região, propicia um fluxo ascendente a partir do
lençol freático e, conseqüentemente, maior concentração de sais à medida que se aproxima da
superfície do solo. Na Figura 3.3 é ilustrado um perfil de concentração de sais para as
condições de lençol freático elevado e alta demanda evapotranspirométrica.
Como na maioria das regiões do País ocorrem chuvas significativas, de modo geral,
não há necessidade de se aumentar a lâmina de irrigação para lixiviação de sais. O que se
precisa é implantar sistemas de drenagem e melhorar a eficiência de irrigação dos projetos,
para evitar a ascensão do lençol freático, bem como realizar um melhor manejo da irrigação,
para balancear a quantidade de sais no solo, monitorando a entrada destes através da água de
irrigação e a sua saída na água de drenagem.
118 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

CE da solução do solo (milimhos/cm)


0 15 30 45 60
0

Profundidade de solo (m) 25

50

75

100 Lençol
Lençolfreático
Freático

Figura 3.3 - Perfil de salinidade para a condição de lençol freático elevado e alta demanda
evapotranspirométrica.

Deve-se sempre ter em mente que, de modo geral, a produção vegetal decresce
linearmente com o aumento da salinidade do solo, a partir de um determinado nível de
salinidade. Uma vez que os problemas de salinidade são acumulativos, se os fatores que estão
provocando o aumento da salinidade do solo, em determinado projeto, não forem
diagnosticados e corrigidos a tempo, a sua produção vegetal decrescerá rapidamente, até se
chegar ao ponto de não ser mais viável, economicamente, sua exploração agrícola. Para torná-
lo viável, é necessária a sua recuperação, ou seja, lixiviar o excesso de sais do solo. É
interessante lembrar que o custo da recuperação de um projeto será sempre muito maior do
que o custo para evitar a sua salinização.

Referências
AYERS, R.S.; WESTCOT. Water quality for agriculture (Revised). Rome. FAO: Irrigation and Drainage
Paper nº 29. Food and Agriculture Organization of the United Nations, 1985. 174 p.
BERNARDO, S. Qualidade d’água para irrigação. Viçosa: Imprensa Universitária da UFV, 1978. 2 p.
(Boletim de Extensão nº 13).
CHRISTIANSEN, J.E.; OLSEN, E.; WILLARDSON, L.S. Irrigation water quality evalutation. Journal of the
Irrigation and Drainage Division, N. York, v. 103, n. 2, p. 155-169, 1977.
DAKER, A. Irrigação e drenagem. 4. ed. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1970. 453 p. (A água na
Agricultura 3º V.).
FAO. Irrigation and drainage of arid lands. Rome: Food and Agriculture Organization, 1967. 663 p.
GILBERT, R. G.; FORD, H. W. Operational Principles/Emitter Clogging. In: NAKAYAMA, F.S.; BUCKS,
D.A.; Trickle irrigation of crop production. [S.l.]: Elsevier Science Publishers, 1986. 383 p.
HAGAN, R.M.; HAISE, H.R., ADMINSTER, T.W. Irrigation of agricultural lands. 2. ed. Madison,
Wisconsin: American Society of Agronomy, 1967. 1180 p. (Agronomy Nº).
Qualidade da água para irrigação e salinização do solo 119

ISRAELSEN, D.W.; HANSEN, V.E. Irrigation principles and practices. 3. ed. N. York: John Wiley and
Sons, 1967. 447 p.
PITTS, D.J.; HAMAN, D.Z.; SMAJSTRLA, A.G. Causes and prevention of emitter plugging in
microirrigation systems. Florida: Cooperative Extension Service, 1990. 12 p. Bulletin 258.
RAVINA, I.; PAZ, E.; SOFER, Z.; MARCU, A.; SHISHA, A.; SAGI, G. Control of emitter clogging in drip
irrigation with reclaimed wastewater. Irrigation Science 13. Israel: 1992. p. 129-139.
THORNE, D.W.; PETERSON, H.B. Irrigated soils. 2. ed. Bombay-New Delhi: McGraw-Hill, 1954. 392 p.
UNITED STATES. Salinity laboratory staff – diagnosis and improvement of saline and alkaline soils. USDA:
1954. 160 p. (Agriculture Handbook nº 60).
Medição de água para irrigação 119

Capítulo 4

Medição de Água para Irrigação

Considerações Gerais
Com os conhecimentos atuais das relações solo-água-clima e planta, é possível e
desejável que os sistemas de irrigação sejam calculados de modo a aplicar quantidades
necessárias de água. Para isso, é preciso haver meios para a medição dessa água.
Existem vários métodos para medição de vazão – uns exigem equipamentos caros e
sofisticados, outros são simples e baratos. O melhor método para cada condição dependerá do
volume de água a ser medido, das condições onde serão realizadas essas medidas e da precisão
desejada.
Considerando a necessidade de medição de vazão sob o ponto de vista de irrigação, os
métodos, a serem discutidos, serão divididos em dois grupos:
Medição de água em canais de irrigação – Vertedor, Medidor Parshall.
Medição de água em sulco de irrigação – Método Direto, Sifão, WSC flume.

Medição de água em Canais de Irrigação–


Vertedor
Vertedores são simples aberturas ou entalhes, na parte superior de uma parede, por
onde o líquido escoa. Somente os vertedores de parede delgada, de formas retangulares,
triangulares e trapezóides, serão considerados nessa discussão, visto serem os mais usados
para medição de água em irrigação.
Como parede delgada consideram-se os vertedores com soleira em bisel, onde a água
toca a soleira, segundo uma linha.
120 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

O tipo e o tamanho do vertedor selecionado devem ser os que melhor se adaptarem às


condições onde ele será instalado. Nessa seleção serão observados os seguintes pontos:
- A carga a ser medida (H) não deve ser menor do que 5 cm, nem maior do que 60 cm.
- Para vertedores retangulares e trapezoidais, a carga (H) não deve ser maior do que
1/3 do comprimento da soleira.
- A soleira deve ser delgada, horizontal e perpendicular à direção do fluxo.
- A distância da soleira, ao fundo e aos lados do canal, deve ser de no mínimo 3H.
- A parede do vertedor deve ficar na vertical.
- O ar deve circular livremente, por baixo da lâmina de água que sai do vertedor.
- A carga (H) deve ser medida a montante do vertedor, a uma distância mínima de 5H;
em geral, usa-se uma distância de 1,5 m.
- O nível de água a jusante deve ficar abaixo da soleira, no mínimo de 10 cm.
Vertedor Retangular – É o mais antigo e mais usado; a sua simplicidade de
construção o tornou muito popular (Figura 4.1). Existem muitas fórmulas para determinar a
vazão em vertedor retangular, sendo a de Francis uma das mais usadas, principalmente nos
EUA. A vazão calculada por esta fórmula é apresentada na Tabela 4.1.

> 5H (1,50 m)
> 3H 3H
face H
soleira > 3H

Figura 4.1 - Vertedor retangular.

Vertedor Triangular – Os vertedores triangulares são mais precisos para medição de


pequenas vazões. É conveniente a colocação de chapas metálicas na sua crista (Figura 4.2).
Em geral, usam-se os que formam ângulo de 90º entre suas cristas.
A razão, nesse caso, é dada pela fórmula de Thompson, apresentada na Tabela 4.2.

> 5H

H
> 3H
> 3H

Figura 4.2 - Vertedor triangular.


Medição de água para irrigação 121

Vertedor Trapezoidal de Cipolletti - É um vertedor trapezoidal, com as faces


inclinadas de 1:4 (1 horizontal para 4 verticais) (Figura 4.3), cuja vazão é dada pela equação
de Cipolletti, mostrada na Tabela 4.3.
121
Medição de água para irrigação
Tabela 4.1 - Vazão, em litro/segundo, para vertedor retangular de parede delgada, segundo a fórmula de Francis, por metro de soleira*
3/2
Q = 1,838 . L . H

Carga - H Q Carga - H Q
Q Carga - H QQ Carga - H Q
-1 -1 -1 -1
(cm) (L s -1
(l.s ) ) (cm) (L s -1)
(l.s ) (cm) (L s -1)
(l.s ) (cm) (L -1
(l.ss ))
- - 16 117,6 31 317,2 46 573,4
- - 17 128,8 32 332,7 47 592,2
3 9,6 18 140,4 33 348,4 48 611,2
4 14,7 19 152,2 34 364,4 49 630,4
5 20,5 20 164,4 35 380,6 50 649,8
6 27,0 21 176,9 36 397,0 51 669,4
7 34,0 22 189,7 37 413,7 52 689,2
8 41,6 23 202,7 38 430,5 53 709,2
9 49,6 24 216,1 39 447,7 54 729,4
10 58,1 25 229,8 40 465,0 55 749,7
11 67,1 26 243,7 41 482,5 56 770,2
12 76,4 27 257,9 42 500,3 57 791,0
13 86,2 28 272,3 43 518,3 58 811,9
14 96,3 29 287,0 44 536,4 59 833,0
15 106,8 30 302,0 45 554,8 60 854,2
* Para vertedor com soleira maior ou menor do que 1 metro, multiplicar os valores da vazão indicados na tabela acima, pela largura real
da soleira em metros.
ni
122
Medição de água para irrigação 123

Tabela 4.2 - Vazão, em litro/segundo, para vertedor triangular de parede delgada, θ = 90°, segundo a fórmula de Thompson
5/2
5/2
QQ==0,014
1,4 . HH

Carga - H QQ Carga - H Q Carga - H Q


Q Carga - H QQ
-1 -1 -1
(cm) s-1-1))
(L(l.s (cm) (L
(l.ss ))
-1
(cm) (L -1
(l.ss )) (cm) (L -1
(l.ss ))
- - 16 14,3 31 74,9 46 200,9
- - 17 16,7 32 81,1 47 212,0

Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantova-


3 0,22 18 19,2 33 87,6 48 223,5
4 0,45 19 22,0 34 94,4 49 235,3
5 0,78 20 25,0 35 101,5 50 247,5
6 1,23 21 28,3 36 108,9 51 260,0
7 1,81 22 31,8 37 116,6 52 273,0
8 2,53 23 35,5 38 124,6 53 286,3
9 3,40 24 39,5 39 133,0 54 300,0
10 4,43 25 43,8 40 141,7 55 314,1
11 5,62 26 48,3 41 150,7 56 328,5
12 6,98 27 53,0 42 160,0 57 343,4
13 8,53 28 58,1 43 169,7 58 358,7
14 10,27 29 63,4 44 179,8 59 374,3
15 12,20 30 69,0 45 190,2 60 390,4
123
Medição de água para irrigação
124 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Tabela 4.3 - Vazão, em litro/segundo, para vertedor trapezoidal de Cipolletti de parede delgada, segundo a fórmula de Cipolletti,
por metro de soleira*
Q = 1,86 L H3/2

Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q


-1 -1 -1
(cm) (L s ) (cm) (L s ) (cm) (L s ) (cm) (L s-1)
- - 16 119,0 31 321 46 580
- - 17 130,4 32 337 47 599
3 9,66 18 142,0 33 353 48 619
4 14,88 19 154,0 34 369 49 638
5 20,80 20 166,4 35 385 50 658
6 27,34 21 179,0 36 402 51 677
7 34,45 22 191,9 37 419 52 697
8 42,09 23 205,2 38 436 53 718
9 50,22 24 218,7 39 453 54 738
10 58,82 25 232,5 40 471 55 759
11 67,86 26 246,6 41 488 56 779
12 77,32 27 261,0 42 506 57 800
13 87,18 28 275,6 43 524 58 822
14 97,43 29 290,5 44 543 59 843
15 108,06 30 305,6 45 561 60 864
* Para vertedor com soleira maior ou menor que 1 metro, multiplicar os valores da vazão indicados na tabela acima pela largura real
da soleira em metros.
Medição de água para irrigação 125
126 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 4.3 - Vertedor trapezoidal de Cipolletti (relação entre a e b é de 1:4).

Medidor Parshall
É um medidor que adota o princípio de Venturi para a medição de vazão em canais
abertos. Consta basicamente de três seções: uma a montante, com as paredes laterais
convergentes e o fundo nivelado; uma com as paredes paralelas e o fundo com declividade; e
outra a jusante, com as paredes laterais divergentes e o fundo em aclive (Figura 4.4). Nos
flumes maiores, em geral, constrói-se uma seção convergente e com aclive, de 1:4, na
extremidade anterior do Parshall (M e P).
Este medidor pode ser construído de vários tamanhos, podendo medir vazão desde 0,5
1/s até maiores do que 80.000 L s-1. A largura da garganta (W) é indicada para designar o
tamanho do Parshall, por exemplo: Parshall de 1 polegada, de 9 polegadas etc. Os menores,
com garganta de 1 a 3 polegadas, são usados na medição de pequenas vazões, variando entre
0,3 e 15 L s-1. Nas construções e instalações destes, deve haver bastante cuidado para obter
uma precisão satisfatória. Aqueles de tamanho intermediário, com garganta variando de 3
polegadas a 8 pés, são especialmente usados para medição de vazões em canais de
distribuição de água em irrigação, bem como em pequenos rios. Sua capacidade de medição
varia de 15 L s-1 até mais de 3.000 L s-1.
O tamanho do medidor a ser usado depende da vazão que se deseja medir, bem como
de sua possível variação. As dimensões padronizadas e a capacidade máxima e mínima de
vazão dos diversos tamanhos de Parshall estão apresentadas na Tabela 4.4, sendo as letras
correspondentes às respectivas dimensões da Figura 4.4.
Medição de água para irrigação 127

<<Ha>>

L <<Hb>>

2A/3
A
P D garganta Seção
divergente
C
Seção convergente

Planta

M B F G

superfície d´água
E
fluxo

aclive 1:4 Ha
Hb

K
N

Corte L - L´

Figura 4.4 - Planta e corte de um Parshall de concreto, mostrando suas partes constituintes.

A descarga, utilizando um medidor Parshall, pode ocorrer sob duas condições


diferentes de escoamento:

- Quando não há submersão, dá-se o nome de descarga livre.


vani
126
Tabela 4.4 - Dimensões em cm e vazão em L s-1, para medidores Parshall de vários tamanhos (largura de garganta – W) +

Garganta (W) A B C D E F G K N X Y M P R Vazão-Limite*


(L s-1)
Polegadas cm cm cm cm cm cm cm cm cm cm cm cm cm cm cm Mín. Máx.
e pés
1 '' 2,5 36,3 35,6 9,3 16,8 22,9 7,6 20,3 1,9 2,9 0,8 1,27 - - - 0,25 5

Salassier Bernardo, Antônio A. Soares e Everardo C. Manto-


2 '' 5,1 41,5 40,7 13,5 21,3 25,4 11,4 25,4 2,2 4,3 1,6 2,54 - - - 0,50 13
3 '' 7,6 46,6 45,7 17,8 25,9 45,7 15,2 30,5 2,5 5,7 2,54 3,81 - - - 0,75 32
6 '' 15,2 62,1 61,0 39,4 40,3 61,0 30,5 61,0 7,6 11,4 5,1 7,6 30,5 90,21 40,7 1,42 110
9 '' 22,9 88,0 86,4 38,0 57,5 76,3 30,5 45,7 7,6 11,4 5,1 7,6 30,5 107,97 40,7 2,50 252
1' 30,5 137,2 134,4 61,0 84,5 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 38,1 139,32 50,8 3,10 456
1 1/2 ' 45,7 144,9 142,0 76,2 102,6 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 38,1 167,70 50,8 4,20 697
2' 61,0 152,5 149,6 91,5 120,7 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 38,1 185,54 50,8 12,00 937
3' 91,5 167,7 164,5 122,0 157,2 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 38,1 222,37 50,8 17,00 1416
4' 112,0 183,0 179,5 152,5 193,8 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 45,7 271,32 61,0 37,00 1920
5' 152,5 198,3 194,1 183,0 230,3 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 45,7 308,18 61,0 45,00 2420
6' 183,0 213,5 209,0 213,5 266,7 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 45,7 344,37 61,0 73,00 2900
7' 213,5 228,8 224,0 244,0 303,0 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 45,7 381,20 61,0 85,00 3184
8' 244,0 244,0 239,2 274,5 340,0 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 5,1 7,6 45,7 417,44 61,0 100,00 3930
+ As letras referem-se às dimensões da Figura 4.4.
* Vazões mínima (Mín.) e máxima (Máx.) sob descarga livre.
Medição de água para irrigação 129

- Quando o nível d’água a jusante do medidor atingir uma altura suficiente, de modo a
retardar o fluxo, dá-se o nome de descarga afogada.
Em condições de descarga livre, a vazão de um Parshall depende da largura da
garganta e da altura de carga medida em um ponto, na seção convergente, afastado da entrada
da garganta de 2/3 de A. Essa carga pode ser medida com uma régua junto à parede do
Parshall, ou através de um poço lateral de medição que se comunica com o Parshall (Veja
Figura 4.4).
Uma das importantes características do Parshall é a sua capacidade de trabalhar sob
condição de descarga livre, mesmo havendo elevação de água a jusante dele.
A percentagem de submergência é a razão entre as duas cargas (Hb dividido por Há),
multiplicada por 100.
Hb
% de submergência = 100 (4.1)
Ha
Enquanto a percentagem de submergência não atingir certos limites, a descarga ou
vazão do Parshall não será afetada pela elevação de água a jusante, e ele funcionará sob a
condição de descarga livre.
Os limites para descarga livre dependem da percentagem de submergência e do
tamanho do Parshall, como se vê na Tabela 4.5.

Tabela 4.5 - Limites para descarga livre

Tamanho Submergência máxima

Parshall de 1 a 3 polegadas Hb/Ha = 0,5

Parshall de 6 a 9 polegadas Hb/Ha = 0,6

Parshall de 1 a 8 pés Hb/Ha = 0,7

Sempre que possível, deve-se trabalhar com Parshall em condições de descarga livre.
As vazões para os Parshall de 1, 2, 3, 6, 9 e 12 polegadas (1 pé) estão nas Tabelas
4.6, 4.7, 4.8, 4.9, 4.10 e 4.11, respectivamente.
Para ilustrar a determinação do grau de submergência e da vazão, será dado o
seguinte exemplo:
- No caso de um Parshall de 3 polegadas (W = 7,6 cm) com as cargas Ha e Hb de 25
e 10 cm, respectivamente. Ele está funcionando livre ou afogado? Qual é a sua vazão?
Hb 10
  0,4
Ha 25
130 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Tabela 4.6 - Vazão em L s-1 versus altura de carga (Ha) em cm, em Parshall de 1 polegada
(W = 2,5 cm)
Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q
-1 -1
(cm) (L s ) (cm) (L s ) (cm) (L s-1)
- - 9,5 1,57 17,0 3,87
- - 10,0 1,70 17,5 4,04
3,0 0,26 10,5 1,83 18,0 4,22
3,5 0,33 11,0 1,97 18,5 4,41
4,0 0,41 11,5 2,11 19,0 4,59
4,5 0,49 12,0 2,25 19,5 4,78
5,0 0,58 12,5 2,40 20,0 4,97
5,5 0,67 13,0 2,55 - -
6,0 0,77 13,5 2,70 - -
6,5 0,87 14,0 2,86 - -
7,0 0,98 14,5 3,02 - -
7,5 1,09 15,0 3,18 - -
8,0 1,20 15,5 3,35 - -
8,5 1,32 16,0 3,52 - -
9,0 1,44 16,5 3,69 - -

Segundo a Tabela 4.5, verifica-se que o Parshall está funcionando com descarga livre
(o grau de submergência é menor que 0,5). Assim, para determinar a vazão é só usar a Tabela
4.8, com Ha = 25 cm. A vazão é de 20,63 L s-1.
Quando o grau de submergência for maior que o limite para descarga livre, dado na
Tabela 4.5, o Parshall trabalha em condições de descarga afogada, tornando necessário
aplicar uma correção negativa à vazão que se teria com a mesma carga Ha em condições de
descarga livre, de modo que se obtenha a vazão real. Como se deve trabalhar sempre em
condições de descarga livre, serão omitidas as tabelas de correções para Parshall afogado.
A seleção do local de instalação do Parshall é muito importante. Ele deve ser instalado
em um local que possua um trecho reto de canal, a montante e a jusante do Parshall, nunca em
um trecho onde o regime de escoamento seja turbulento – por exemplo, após uma comporta,
queda de água, curva etc.
Para usar Parshall em condições de descarga livre na determinação de vazão, é
necessário definir com precisão a elevação da seção convergente, em relação ao fundo do
canal. Isso é problema em se tratando de um canal com pouco declividade, o que obriga
nesse caso a trabalhar com Parshall de tamanho maior que o indicado, de modo que se
obtenha descarga livre, sem elevá-lo muito em relação ao fundo do canal.
Medição de água para irrigação 131

Tabela 4.7 - Vazão em L s-1 versus altura de carga (Ha) em cm, em Parshall de 2 polegadas
(W = 5,1 cm)
Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q
-1 -1
(cm) (L s ) (cm) (L s ) (cm) (L s-1)
- - 9,5 3,14 17,0 7,72
3,0 0,53 10,0 3,40 17,5 8,09
3,5 0,67 10,5 3,66 18,0 8,45
4,0 0,82 11,0 3,94 18,5 8,81
4,5 0,98 11,5 4,22 19,0 8,10
5,0 1,16 12,0 4,51 19,5 8,56
5,5 1,34 12,5 4,80 20,0 9,95
6,0 1,54 13,0 5,10 20,5 10,33
6,5 1,74 13,5 5,41 21,0 10,73
7,0 1,95 14,5 6,04 22,0 11,53
7,5 2,17 15,0 6,37 22,5 11,94
8,0 2,40 15,5 6,70 23,0 12,35
8,5 2,64 16,0 7,04 23,5 12,77
9,0 2,88 16,5 7,38 24,0 13,19

Como ilustração, será dado o seguinte exemplo:


Precisa-se instalar um Parshall em canal cuja vazão varia em torno de 50
litros/segundo e a profundidade da água é de 40 cm. Qual é o tamanho do Parshall a ser
escolhido e a que altura ele deve ser instalado dentro do canal?
De acordo com a Tabela 4.4, verifica-se que esta vazão pode ser medida através de
vários tamanhos de Parshall, porém, por medida de economia, deve-se escolher o menor, desde
que ele possa trabalhar em condições de descarga livre.
Inicialmente será investigado o Parshall de 6 polegadas.
ni
130
Tabela 4.8 - Vazão em L s-1 versus altura de carga (Ha) em cm, em Parshall de 3 polegadas (W = 7,6 cm)

Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q


-1 -1 -1
(cm) (L s ) (cm) (L s ) (cm) (L s ) (cm) (L s-1)
3,0 0,77 10,5 5,38 18,0 12,40 25,5 21,27
3,5 0,98 11,0 5,78 18,5 12,94 26,0 21,92
4,0 1,21 11,5 6,19 19,0 13,48 26,5 22,58

Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantova-


4,5 1,45 12,0 6,61 19,5 14,03 27,0 23,24
5,0 1,70 12,5 7,04 20,0 14,60 27,5 23,91
5,5 1,97 13,0 7,49 20,5 15,60 28,0 24,59
6,0 2,26 13,5 7,94 21,0 15,74 28,5 25,27
6,5 2,56 14,0 8,40 21,5 16,33 29,0 25,96
7,0 2,87 14,5 8,87 22,0 16,92 29,5 26,66
7,5 3,19 15,0 9,35 22,5 17,52 30,0 27,36
8,0 3,53 15,5 9,83 23,0 18,13 - -
8,5 3,87 16,0 10,33 23,5 18,74 - -
9,0 4,23 16,5 10,83 24,0 19,36 - -
9,5 4,60 17,0 11,35 24,5 19,99 - -
10,0 4,99 17,5 11,87 25,0 20,63 - -
Medição de água para irrigação 133

131
Medição de água para irrigação
Tabela 4.9 - Vazão em L s-1 versus altura de carga (Ha) em cm, em Parshall de 6 polegadas (W = 15,2 cm)

Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q


-1 -1 -1
(cm) (L s ) (cm) (Ls ) (cm) (L s ) (cm) (L s-1)
3,0 1,49 10,5 10,81 18,0 25,34 26,0 45,30
3,5 1,91 11,0 11,64 18,5 26,46 27,0 48,10
4,0 2,35 11,5 12,48 19,0 27,60 28,0 50,90
4,5 2,84 12,0 13,35 19,5 28,76 29,0 53,80
5,0 3,35 12,5 14,24 20,0 29,93 30,0 56,80
5,5 3,90 13,0 15,15 20,5 31,12 31,0 58,80
6,0 4,47 13,5 16,08 21,0 32,33 32,0 62,90
6,5 5,07 14,0 17,04 21,5 33,55 33,0 66,00
7,0 5,70 14,5 18,00 22,0 34,70 34,0 69,20
7,5 6,35 15,0 19,00 22,5 36,05 35,0 72,60
8,0 7,04 15,5 20,01 23,0 37,32 36,0 75,80
8,5 7,74 16,0 21,04 23,5 38,61 37,0 79,10
9,0 8,48 16,5 22,08 24,0 39,92 38,0 82,50
9,5 9,23 17,0 23,15 24,5 41,24 39,0 86,00
10,0 10,01 17,5 24,24 25,0 42,58 40,0 89,50
134 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

vani
132
Tabela 4.10 - Vazão em L s-1 versus altura de carga (Ha) em cm, em Parshall de 9 polegadas (W = 22,9 cm)

Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q


-1 -1 -1
(cm) (L s ) (cm) (L s ) (cm) (L s ) (cm) (L s-1)
- - 11,5 19,16 20,0 45,17 32,0 93,60
3,5 3,03 12,0 20,46 20,5 46,93 33,0 98,20
4,0 3,73 12,5 21,80 21,0 48,72 34,0 102,80
4,5 4,47 13,0 23,17 21,5 50,53 35,0 107,50
5,0 5,27 13,5 24,56 22,0 52,36 36,0 112,30

Salassier Bernardo, Antônio A. Soares e Everardo C. Manto-


5,5 6,11 14,0 25,99 22,5 54,22 37,0 117,20
6,0 6,99 14,5 27,44 23,0 56,10 38,0 122,20
6,5 7,91 15,0 28,92 23,5 58,00 39,0 127,20
7,0 8,88 15,5 30,43 24,0 59,92 40,0 132,30
7,5 9,88 16,0 31,96 24,5 61,87 41,0 137,40
8,0 10,92 16,5 33,52 25,0 63,84 42,0 142,70
8,5 11,99 17,0 35,11 25,5 67,84 43,0 148,00
9,0 13,10 17,5 36,73 26,0 71,92 44,0 153,30
9,5 14,25 18,0 38,37 26,5 76,09 45,0 158,80
10,0 15,43 18,5 40,03 27,0 80,35 46,0 164,30
10,5 16,64 19,0 41,72 27,5 84,68 47,0 169,80
11,0 17,88 19,5 43,43 28,0 89,10 48,0 175,50
Medição de água para irrigação 135

Tabela 4.11 - Vazão em L s-1 versus altura de carga (Ha) em cm, em Parshall de 1 pé (W = 30,5 cm)

133
Medição de água para irrigação
Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q Carga - H Q
-1 -1 -1
(cm) (L s ) (cm) (L s ) (cm) (Ls ) (cm) (L s-1)
6,0 9,53 15,5 40,40 25,0 83,6 42,0 184
6,5 10,77 16,0 42,41 25,5 86,2 43,0 191
7,0 12,05 16,5 44,44 26,0 88,8 44,0 198
7,5 13,38 17,0 46,50 26,5 91,4 45,0 205
8,0 14,77 17,5 48,60 27,0 94,0 46,0 212
8,5 16,19 18,0 50,73 28,0 99,4 47,0 219
9,0 17,66 18,5 52,90 29,0 104,8 48,0 226
9,5 19,18 19,0 55,10 30,0 110,4 49,0 233
10,0 20,74 19,5 57,30 31,0 116,0 50,0 240
10,5 22,34 20,0 59,60 32,0 122,0 51,0 248
11,0 23,97 20,5 61,80 33,0 128,0 52,0 255
11,5 25,65 21,0 64,10 34,0 134,0 53,0 262
12,0 27,37 21,5 66,50 35,0 140,0 54,0 270
12,5 29,12 22,0 68,90 36,0 146,0 55,0 278
13,0 30,92 22,5 71,20 37,0 152,0 56,0 285
13,5 32,74 23,0 73,70 38,0 158,0 57,0 293
14,0 34,61 23,5 76,10 39,0 165,0 58,0 301
14,5 36,50 24,0 78,60 40,0 171,0 59,0 309
15,0 38,44 24,5 81,10 41,0 178,0 60,0 317
136 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Para uma vazão de 50 L s-1 neste Parshall, Ha será de 28 cm (limite máximo para
descarga livre – Tabela 4.5), razão de Hb para Ha é de 0,6; assim, Hb será igual a 16,8 cm.
Para uma submergência de 60%, a superfície da água em Hb estará praticamente no mesmo
nível d’água a jusante do medidor. A profundidade da água a jusante do medidor será
praticamente a mesma que existia antes de se instalar o Parshall, ou seja, 40 cm – na Figura
4.5, p representa esta profundidade. Subtraindo Hb (16,8 cm) de 40 cm, obtém-se o valor de
Z, que será igual a 23,2 cm. Nesta altura deve ser instalada a seção convergente do Parshall,
em relação ao fundo do canal. A perda de carga através do Parshall pode ser calculada,
aproximadamente, pela seguinte equação:
L = 1,2 (Ha + Z - p) (4.2)
Nesse caso, tem-se:
L = 1,2 (28 + 23,2 - 40)
L = 1,2 x 11,2
L = 13,4 cm
Dessa forma, a profundidade de água no canal, acima do medidor, será a soma da
profundidade antes de se instalar o Parshall mais a perda de carga, através do Parshall, ou
seja, de 53,4 cm.
É necessário verificar, no local, se esta elevação do nível de água, a montante do
Parshall, não a fará transbordar no canal.

L
Ha Hb
P
K

fundo do canal
fundo do canal

Figura 4.5 - Seção longitudinal de um Parshall ilustrando a determinação da altura (Z) entre o
fundo da seção convergente e o leito do canal.

Assim, a profundidade de água no canal, acima do medidor, será a soma da


profundidade antes de se instalar o Parshall mais a perda de carga através do Parshall, ou
seja, de 53,4 cm.
Precisa-se verificar, no local, se esta elevação do nível de água a montante do Parshall
não a fará transbordar no canal.
Medição de água para irrigação 137

Será examinado, agora, um Parshall de 9 polegadas, para as mesmas condições


anteriores, ou seja, vazão de 50 L s-1, profundidade de água no canal de 40 cm e abrangência
de 60%.
Segundo o mesmo raciocínio do caso anterior, tem-se:
Ha = 21,5 cm
Hb = 12,9 cm
Z = 27,1 cm
p = 40,0 cm
L = 10,3 cm
A profundidade da água no canal a montante do Parshall será de 50,3 cm.
Verifica-se, nos exemplos anteriores, que, quanto maior o tamanho do medidor, menor
será a perda de carga através dele e, em conseqüência, menor será a elevação da água a
montante; contudo, quanto maior ele for, mais cara será a sua construção. Se o canal permitir
uma elevação de água até 54 cm sem que esta transborde, será escolhido um Parshall de 6
polegadas, pois a sua construção será mais barata; caso contrário, escolhe-se um de 9 ou 12
polegadas.
Este tipo de medidor pode ser construído de folha de metal, madeira ou concreto,
dependendo da disponibilidade desses materiais e da duração desejada.
As principais vantagens deste medidor são: possibilidade de operação com uma única
medição de carga, custo baixo, pequena perda de carga através dele etc.

Medição da Água em Sulco de Irrigação


Método Volumétrico Direto
Consiste em determinar o tempo que a água levará para encher um recipiente de
volume conhecido. O volume do recipiente, dividido pelo tempo gasto para enchê-lo, será a
vazão.

volume do recipiente (litro)


Vazão (litros/segundo) = (4.3)
tempo gasto para enchê - lo (segundo)

Este método é simples, requer poucos equipamentos e apresenta boa precisão, quando
executado com certo cuidado. Em campo poderá ser usado satisfatoriamente para vazões de
138 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

até 1 litro/segundo. Pode, porém, ser usado em vazões acima deste limite, desde que se
disponha de recipientes maiores e condições especiais para manuseá-los.
Quanto maior o recipiente, maior será o tempo necessário para enchê-lo e maior será
a precisão da medição. Para que haja boa precisão, o tamanho do recipiente deverá ser tal que
o tempo mínimo necessário para enchê-lo seja de 20 segundos. O tempo gasto para encher o
recipiente, usado para determinar a vazão, deve ser a média de três medições, no mínimo.
Para usar este método na determinação da vazão, em sulcos de irrigação, deve-se
abrir uma trincheira transversal ao sulco, colocar uma calha, telha ou pedaço de cano na
extremidade do sulco, de modo que a água caia livremente no recipiente. A extremidade de
jusante da calha, telha ou cano deverá, no mínimo, estar 4 cm acima da borda do recipiente,
depois de instalado; a Figura 4.6 ilustra o uso deste método. Deve-se ter o cuidado de evitar o
represamento da água a montante do medidor, para que ela não se espalhe lateralmente no
sulco, aumentando, desse modo, a infiltração no solo e, em conseqüência, diminuindo a vazão
que será medida. Quando a medição for feita em terrenos muito planos, a fim de evitar
represamento a montante do medidor, deve-se usar calha ou telha mais larga do que o sulco,
ou, então, usar a modificação que se vê na Figura 4.7. Neste último caso, a água não cai
diretamente dentro do recipiente de volume conhecido, e sim dentro da trincheira,
transbordando depois para dentro do recipiente.
g
b
N.A f
a

c
e
d

a – 4,0 cm no mínimo; b – superfície da água no sulco; c – fundo do sulco; d – trincheira, transversal ao sulco;
e – recipiente de volume conhecido; f – calha ou cano; e g – dique.
Figura 4.6 - Instalações para determinar a vazão em sulco de irrigação, pelo método
volumétrico direto.

É o seguinte o material necessário para o uso deste método: um recipiente de volume


conhecido, um cronômetro ou relógio e uma calha ou pedaço de cano de 3 polegadas.
Exemplo do uso deste método: na determinação da vazão de um sulco pelo método
volumétrico direto usa-se um balde de 20 litros. Na primeira determinação, o tempo gasto
Medição de água para irrigação 139

para enchê-lo foi de 40 segundos; na segunda, 39; na terceira, 40; e na quarta, 41. Qual a
vazão do sulco em apreço?
1

2
4
3

1 – superfície da água no sulco; 2 – fundo do sulco; 3 – trincheira, transversal ou sulco; e 4 – recipiente de


volume conhecido.

Figura 4.7 - Modificação na instalação do método volumétrico direto, a fim de evitar


represamento da água no sulco.

40 + 39 + 40 + 41
Tempo médio = = 40 segundos
4
20 litros
vazão =  0,5 litros/segundo
40 segundos

Sifão
São tubos usados para remover água de diques ou canais e descarregá-la nos sulcos
ou em outros sistemas de distribuição. Eles não só distribuem água, como também medem a
vazão em que se está processando a distribuição.
Os tubos são geralmente de alumínio, plástico ou ferro, com diâmetros variando de ½
até 12 polegadas, – na irrigação em sulcos, usam-se tubos com diâmetro de até 3 polegadas,
com o comprimento, em geral, variando de 1,50 a 2,00 metros; outros comprimentos podem
ser usados, desde que sejam necessários.
A vazão do sifão depende do diâmetro, do comprimento, do material que constitui o
tubo (rugosidade interna), do número de curvas (quando existir) e da carga sob a qual o sifão
está trabalhando. Uma vez escolhido o tipo de sifão, os quatro primeiros fatores serão
constantes, e a vazão dependerá exclusivamente da carga sob a qual o sifão trabalhará. Na
medição de carga é necessário considerar dois casos:
140 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

 Quando a extremidade de saída do sifão estiver livre, isto é, acima da superfície da


água onde ele está descarregando, a carga sob a qual ele está funcionando é a diferença de
nível entre a superfície da água a montante do sifão e a sua extremidade de saída
(Figura 4.8a).
 Quando a extremidade da saída do sifão estiver submersa, a carga sob a qual ele
está funcionando é a diferença de nível entre as superfícies da água a montante e a jusante do
sifão (Figura 4.8b).

a
c
h

a) Sifão trabalhando livre


b

a
c
h

b) Sifão trabalhando afogado


a – nível da água a montante do sifão; b – sifão; c – nível de água a jusante do sifão; e h – carga sob a qual o
sifão está trabalhando.
Figura 4.8 - Ilustração da determinação da carga (h), em sifão.

Essas medições de carga estão ilustradas na Figura 4.8. A escolha do diâmetro


dependerá da vazão que se deseja medir. Na Tabela 4.12 é apresentada a vazão média de
sifões com 3/4, 1, 1 1/2, 1 3/4 e 2 polegadas de diâmetros, operando sob cargas de 5 até 50 cm,
sifões estes com 1,5 metro de comprimento e de PVC.
Medição de água para irrigação 141

Para instalar um sifão, deve-se primeiramente escorvá-lo, isto é, retirar todo o ar de


seu interior, o que poderá ser feito do seguinte modo: vedar com uma mão uma das
extremidades do sifão e enchê-lo de água. Mantendo-se uma extremidade vedada, submergir a
outra no canal de onde se vai retirar água e abaixar a extremidade vedada até que esta fique
em nível inferior à superfície da água no canal.
Ao se desvendar o sifão, a água começará a fluir.
Exemplo do uso deste método:
Um sifão de uma polegada de diâmetro, corretamente instalado, está trabalhando sob
uma carga de 14 cm. Qual é a sua vazão?
De acordo com a Tabela 4.12, para a carga de 14 cm e sifão de 1 polegada de
diâmetro, a vazão é de 0,45 L s-1.

Tabela 4.12 - Vazão (litros/segundo) versus altura de carga (cm) para sifão de 2, 1 3/4, 1 1/2,
1 e 3/4 de polegadas (diâmetro interno)

Carga - H Vazão em L s-1 de sifão com diâmetro de:


(cm) 2" 1¾" 1½" 1" ¾"
4 1,12 0,62 0,48 0,24 0,10
6 1,38 0,77 0,60 0,29 0,13
8 1,59 0,89 0,69 0,34 0,15
10 1,78 1,00 0,78 0,38 0,18
12 1,95 1,10 0,85 0,42 0,20
14 2,11 1,19 0,93 0,45 0,22
16 2,26 1,28 0,99 0,48 0,23
18 2,40 1,36 1,05 0,51 0,25
20 2,53 1,44 1,11 0,54 0,27
22 2,65 1,51 1,17 0,57 0,28
24 2,77 1,58 1,22 0,59 0,30
26 2,89 1,65 1,27 0,62 0,31
28 3,00 1,71 1,32 0,64 0,33
30 3,10 1,78 1,37 0,66 0,34
32 3,21 1,84 1,42 0,68 0,35
34 3,31 1,90 1,46 0,71 0,36
36 3,40 1,95 1,51 0,72 0,38
38 3,50 2,01 1,55 0,75 0,39
40 3,59 2,06 1,59 0,77 0,40
42 3,68 2,12 1,63 0,78 0,41
44 3,77 2,17 1,67 0,80 0,43
46 3,85 2,22 1,71 0,82 0,44
48 3,93 2,27 1,75 0,84 0,45
50 4,02 2,32 1,79 0,86 0,46
142 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Medidor WSC Flume


É um tipo de medidor que se adapta muito bem à medição da água em sulcos ou canais.
Ele foi desenvolvido no Washington State College, Washington – USA, adaptando o
princípio do Venturi para medição de vazões em canais. Pode ser encontrado em três
tamanhos: pequeno (A), médio (B) e grande (C). O WSC Flume-A é o que melhor se adapta à
medição de vazão em sulcos de irrigação; o B é usado em sulcos e em pequenos canais, e o C,
somente em canais.
Pode ser construído de folhas de metal e também de cimento ou madeira. As
dimensões e os modelos para construção dos flumes A e B estão nas Figuras 4.9, 4.10 e 4.11.
Possui basicamente quatro seções: de entrada, convergente, contraída e divergente.

Planta

2 3 4 3 5

6 6

Elevação

2
3
4
6
3
5

Figura 4.9 - Partes componentes do WSC Flume, mostrando sua planta.

Este tipo de medidor deverá ser instalado dentro do sulco, de modo que o seu fundo
permaneça na horizontal, quer longitudinal ou transversalmente. Seu fundo deve ficar no
Medição de água para irrigação 143

mesmo nível do fundo do sulco. Ele estará corretamente instalado quando a altura da água na
saída for menor que na entrada, o que normalmente acontece. Quando a água apresentar a
mesma altura ao longo do flume, este deverá ser elevado um pouco, até que as características
de lâmina da água, ao longo dele, sejam semelhantes às da Figura 4.12.
Quando o flume for construído de cimento ou madeira, as duas asas, cuja finalidade é
evitar a infiltração da água por baixo dele, poderão ser de pedaços de borracha (câmara de
ar).
Para medição da vazão, somente uma leitura na régua graduada em milímetro é
necessária. Esta régua deve estar encostada na parede lateral de entrada. A leitura (em
centímetro) é convertida em vazão (litros/segundo), usando as Tabelas 4.13 e 4.14,
respectivamente, para os flumes A e B.
Exemplo: um WSC Flume A, corretamente instalado, a altura da água medida na
régua é 5,4 cm. Qual é a vazão?
Usando a Tabela 4.13, ver-se-á que a vazão é de 0,40 litro/segundo.
144 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

12,7
10
5,1
(1) 12 12

(2)

a b
°

10,5

12,7
90

12 5,1 12
12 12

(3) (4)

(ab = 1,27)

60 °
2,5

15
5,1 13,5
5

12 12

(6)
(5)

Figura 4.10 - Partes componentes do WSC Flume A, com as respectivas dimensões em


centímetros.
Medição de água para irrigação 145

17,8
18

20 5,1 20
(1)
(2)

a b

17,8
17,8

20 20
20 5,1 20 (4)
(3)
(ab = 1,27)

7,6 23

60
2,5

°
20 5,1 20

(5)
20 20
(6)

Figura 4.11 - Partes componentes do WSC Flume B, com as respectivas dimensões em


centímetros.

h1
h2

Figura 4.12 - Características do funcionamento do WSC Flume, mostrando que a altura da


lâmina de água na entrada (h1) é maior do que na saída (h2 ).
146 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Tabela 4.13 - Vazão (litro/segundo) versus altura de carga (cm) do WSC Flume A
Altura* (cm) ,0 ,4 ,8
Vazão em L s-1
3 0,09 0,12 0,16
4 0,18 1,24 0,29
5 0,33 0,40 0,48
6 0,52 0,61 0,71
7 0,77 0,88 1,01
8 1,08 1,22 1,37
9 1,45 - -
* Este quadro foi construído de tal maneira que a altura de carga é apresentada com a parte inteira na primeira coluna e com a
parte decimal na primeira linha, estando a vazão no encontro das duas.

Tabela 4.14 - Vazão (litros/segundo) versus altura de carga (cm) do WSC Flume B

Altura * ,0 ,4 ,8
-1
(cm) Vazão em L s
7 0,87 1,00 1,12
8 1,19 1,33 1,48
9 1,55 1,72 1,90
10 1,98 2,17 2,37
11 2,45 2,68 2,90
12 3,02 3,26 3,50
13 3,63 3,89 4,17
14 4,31 4,60 4,90
15 5,05 5,37 5,69
16 5,86 6,20 6,56
17 6,74 7,11 7,49
18 7,69 - -
* Este quadro foi construído de tal maneira que a altura de carga é apresentada com a parte inteira na primeira coluna e com a
parte decimal na primeira linha, estando a vazão no encontro das duas.
Medição de água para irrigação 147

Referências
AZEVEDO NETTO, J.M. Manual de hidráulica. S. Paulo: Editora Edgard Bücher, 1969. v. 1 e 2.
BERNARDO, S. Medição d’água para irrigação. Viçosa, MG: Imp. Univ., 1979. 25 p. (apostila).
BERNARDO, S.; FERREIRA, P.A.; SILVA, J.S. Medição d’água em sulco de irrigação. Viçosa: Imprensa
Universitária, 1971. 18 p. (Bol. 30).
KING, H.W. et al. Hidráulica. Rio de Janeiro: Ed. Publicações Pan-Americana, 1945.
SCOTTI, V. H. et al. Measuring irrigation water. Davis, California: Agr. Exp. Station – Extension Service,
1959. 50 p. (Bol. 473).
USDA. Measuring of irrigation water. Washington, D.C.: SCS National Engineering Handbook. Section 15 –
Irrigation, 1962. chapter: 9. 72 p.
USDI, Water measurement manual. Washington, D.C.: Bureau of Reclamation, 1967. 329 p.
Condução da água para irrigação 145

Capítulo 5

Condução da Água para Irrigação

Considerações Gerais
Em qualquer método de irrigação a água tem que ser conduzida da captação até a
parcela irrigada. Nota-se, dessa maneira, a importância da condução da água dentro do
sistema de irrigação como um todo. Muitos são os projetos de irrigação que não atingiram os
objetivos preestabelecidos por causa de problema na condução da água.
Em geral, os principais problemas na condução da água são falhas estruturais,
infiltração excessiva e erro de dimensionamento.
São dois os tipos principais de condutos usados em irrigação: Canais ou Condutos
Livres e Encanamentos ou Condutos sob Pressão.

Canais
Forma Geométrica dos Canais
Quanto à forma geométrica, existem quatro tipos de canais: trapezoidal, retangular,
triangular e semicircular.
a) Canal trapezoidal, retangular e triangular – Na Figura 5.1 tem-se um corte
transversal, em um canal trapezoidal, com seus principais parâmetros.

BL

1
h
m

b
146 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 5.1 - Seção transversal de um canal trapezoidal.


A área transversal de um canal trapezoidal pode ser calculada pela seguinte
expressão:
A  h (b  m h ) (5.1)
sendo:
A = área da seção transversal, em m2;
h = altura da lâmina de água no canal, em m;
b = largura do fundo do canal, em m;
m = inverso da declividade das faces laterais; e
BL = borda livre do canal, em m.
E o perímetro molhado (P), pela seguinte expressão:

P  b  2 h 1  m2 (5.2)

Como o raio hidráulico (Rh) é o quociente da área dividida pelo perímetro molhado,
tem-se:
h ( b  m h)
Rh  (5.3)
b  2 h 1 m2
Para canais retangulares, m é igual a zero (m = 0). Assim:
A  b h e P  b  2h
Para canais triangulares, b é igual a zero (b = 0). Dessa forma:

A  m h 2 e P  2 h 1  m2
Determinação da seção de máxima eficiência – É feita considerando constantes a área
do canal (A) e a inclinação das paredes laterais (m) e variáveis a largura do fundo do canal (b)
e a altura da lâmina de água no canal (h).
Tirando o valor de b na equação da área do canal e o substituindo na equação do
perímetro molhado, tem-se:
A
P  m h  2 h 1 m2 (5.4)
H
A seção de máxima eficiência é aquela em que:
dP
0
dh
ou seja:
Condução da água para irrigação 147

A
  m  2 1  m 2  0 , ou
h2


A  h2 2 1 m2  m 
que é a área de máxima eficiência.
Como A = h(b + mh), substituindo esta equação na anterior, tem-se:

b  2h  1  m 2  m  ou
 

b
Z  2 1  m 2  m  (5.5)
h  
que é a relação entre b e h na seção de máxima eficiência. Assim, para
b
m  0,0   2,0
h
b
m  1,0   0,83
h
b
m  1,5   0,61
h
b
m  2,0   0,47
h
b
m  2,5   0,39
h
b
m  3,0   0,32
h
Como a base maior da seção trapezoidal é dada por B = b + 2mh, para a seção de
máxima eficiência têm-se as seguintes relações:

3 3 b 3 1
B  2b ; h  b ; P  3b ; A  b h ; Rh  ;e m  0,577 ,
2 2 4 3

ou seja, na seção de máxima eficiência o ângulo de inclinação da parede lateral do canal é de


60o. Observe que esta seria a seção de um canal trapezoidal que mais se aproxima de um
semicírculo.
b) Canais circulares e semicirculares
Canal cheio
148 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

 D2 D
A ; P   D e Rh  (5.6)
4 4
Canal pelo meio
 D2  D D
A ; P e Rh  (5.7)
8 2 4
Canal parcialmente cheio: Na Figura 5.2 encontra-se um canal circular parcialmente
cheio, com seus principais parâmetros.


Figura 5.2 - Canal circular parcialmente cheio.

D2
A   sen  (5.8)
8
sendo: A = área ocupada pela água;
D = diâmetro do canal; e
 = ângulo, em radiano, formado pelos raios laterais.
D 
P (5.9)
2

D sen  
Rh  1   (5.10)
4  
Condução da água para irrigação 149

D   
h 1  cos    (5.11)
2  2 

sendo h a altura da lâmina de água, no centro do canal.

Declividades Recomendadas para Taludes de


Canais Não-Revestidos
Para obter boa estabilidade das paredes laterais dos canais não-revestidos, a
declividade dos taludes deve ser determinada em função da estabilidade do material com o
qual se construirá o canal. Na Tabela 5.1 estão relacionadas as declividades mais usuais para
canais, não-revestidos, de diversos materiais.

Tabela 5.1 - Declividades recomendadas para taludes de canais não-revestidos


Material Declividade (horizontal: vertical)
Rocha firme 0,25:1
Rocha fissurada 0,50:1
Solo firme 1,00:1
Solo argilo-arenoso 1,50:1
Solo areno-argiloso 2,50:1

Velocidade da Água nos Canais


A magnitude da velocidade dos filetes de água em um canal varia parabolicamente,
tendo um valor mínimo, junto ao fundo do canal, e máximo, próximo à superfície livre da
água, conforme Figura 5.3. Por causa dessa variação da velocidade com a profundidade,
trabalha-se com a velocidade média.
150 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Nível da água
0
0,1
0,2
0,3
Profundidade (h)

0,4 e
ad
cid a
0,5 l o di
Ve mé
0,6
0,7
0,8
Fundo do canal
1,0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
Velocidade (V)

Figura 5.3 - Distribuição da velocidade em um canal.


Existem várias expressões para o cálculo da velocidade média (Vm):
- velocidade média = K x velocidade na superfície livre, com o valor de K variando de
0,8 a 0,9;
- velocidade média = velocidade a 0,6 da profundidade, a partir da superfície livre;
- velocidade média = média da velocidade a 0,2, 0,6 e 0,8 da profundidade
V  V2  2 V3
Vm  1 (5.12)
4
em que: V1 = velocidade da água a 0,2 da profundidade;
V2 = velocidade da água a 0,8 da profundidade; e
V3 = velocidade da água a 0,6 da profundidade.

Na Tabela 5.2 encontram-se os valores máximos recomendáveis da velocidade nos


canais, os quais foram determinados em função da erodibilidade do canal. Entretanto, outro
problema é a sedimentação nos canais. Nesse caso, são recomendados os seguintes valores
mínimos para velocidade média nos canais (Tabela 5.3).

Tabela 5.2 - Valores máximos recomendáveis da velocidade média no canal

Tipo de Canal Velocidade


Canal em areia muito fina 0,20 a 0,30 m/s
Canal em areia grossa pouco compactada 0,30 a 0,50 m/s
Condução da água para irrigação 151

Canal em terreno arenoso comum 0,60 a 0,80 m/s


Canal em terreno sílico-argiloso 0,70 a 0,80 m/s
Canal em terreno argiloso-compacto 0,80 a 1,20 m/s
Canal em rocha 2,00 a 4,0 m/s
Canal de concreto 4,0 a 10,0 m/s

Tabela 5.3 - Valores mínimos recomendáveis da velocidade média no canal

Tipo de Água Velocidade

Água com suspensão fina 0,30 m/s

Água com areia fina 0,45 m/s

Água de esgoto 0,60 m/s

Água pluvial 0,75 m/s

Perda de Água por Infiltração, em Canais


Não-Revestidos
O fator que, em geral, determina se deve ou não revestir um canal é a quantidade de
água que será perdida por ele quando não-revestido, ou seja, comparando o custo do
revestimento versus o custo da água perdida.
Há vários métodos para determinar a perda por infiltração em um canal, e os
principais são: a) Método do Infiltrômetro de Canal ou Açudagem, b) Método de “Entrada-
Saída” e c) Método do Medidor de Vazamento. O método do infiltrômetro de canal é o mais
preciso e consiste em isolar um trecho de 5 m do canal, por meio de comporta, canvas ou
diques, encher o trecho isolado com água e medir o volume infiltrado, em função do tempo. O
volume infiltrado menos a água evaporada será a água perdida por infiltração.
Na Tabela 5.4 encontram-se os valores médios da perda por infiltração, em canais
não-revestidos, de acordo com diferentes tipos de materiais.

Tabela 5.4 - Perda de água por infiltração em canais não-revestidos, segundo Linsley

Material Perdas m3/m2 por dia


Solo argiloso 0,08 a 0,25
Solo areno-argiloso 0,30 a 0,45
Solo arenoso 0,45 a 0,60
152 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Solo com cascalho 0,90 a 1,80

Borda Livre do Canal


Borda livre de um canal é a distância vertical entre o nível da água no canal,
determinada no dimensionamento, e a sua margem (Figura 5.1). Ela é necessária para evitar o
transbordamento da água durante o manejo do canal.
Existem várias equações e ábacos para o cálculo da borda livre, como:
BL  0,30  0,30 h (5.13)
1
3 (5.14)
BL  0,20  0,15 Q
BL  K h (5.15)
em que: BL = borda livre, em m;
h = altura da lâmina da água no canal, em m;
Q = vazão do canal, em m3/s; e
K = coeficiente, variando de 0,46 a 0,76.
De modo geral, podem-se usar os seguintes valores de borda livre para pequenos
canais:

Vazão do canal (m3/s) Borda livre (m)


Até 0,39 BL = 0,20 m
0,40 a 0,69 BL = 0,35 m
070 a 0,99 BL = 0,45 m
1,00 a 2,99 BL = 0,55 m

Movimento Uniforme nos Canais


Em condições normais, ocorre nos canais um movimento uniforme, ou seja, a
velocidade média da água é constante ao longo do canal.
No caso da equação de continuidade:
Q  A.V

em que: Q = vazão do canal, em m3/s;


A = área transversal do canal, em m2; e
Condução da água para irrigação 153

V = velocidade média da água, em m/s.


A área é determinada geometricamente, como visto no início deste capítulo, e a
velocidade pode ser medida no local ou, na maioria dos casos, determinada através de
equações. há várias equações para o cálculo da velocidade média da água em um canal, porém
as mais usadas são as de Chezy, Bazin e Manning.
a) A equação de Chezy e de Bazin pode ser escrita da seguinte forma:

V  C Rh S0 (5.16)

sendo: V = velocidade média da água, m/s;


C = coeficiente, dependendo do material;
Rh = raio hidráulico; e
S0 = declividade do canal, m/m.
O coeficiente de Bazin (C) pode ser calculado pela seguinte equação:

87 Rh
C (5.17)
m  Rh
sendo m fator que depende da natureza das paredes do canal, o qual é apresentado na Tabela 5.5.
Tabela 5.5 - Valores de m para determinação do coeficiente de Bazin
Natureza das paredes m
Muito lisas (cimento alisado) 0,06
Lisas (concretos, tijolos) 0,16
Pouco lisas (alvenaria de pedra bruta) 0,46
Paredes mistas (com ou sem revestimento) 0,85
Canais de terra normal 1,30
Canais de terra com grande resistência ao escoamento 1,75
(fundo com vegetação ou pedras soltas)

b) A equação de Manning é a seguinte:


1
V Rh 2 3 S 01 2 (5.18)
n
sendo: V = velocidade média da água, em m/s;
n = coeficiente de rugosidade, dependendo do material do canal;
Rh = raio hidráulico; e
S0 = declividade do canal, em m/m.
154 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Combinando as equações de Manning e de continuidade, tem-se:


23
1 A A 5 3 S01 2
QA VA   S01 2  (5.19)
nP n P2 3

São apresentados na Tabela 5.6 os valores de n para diferentes tipos de materiais.

Tabela 5.6 - Valores de n, para emprego na fórmula de Manning, citados por E.T. Neves
Condições
Natureza das paredes
Muito boas Boas Regulares Más
Tubos de ferro fundido sem revestimento 0,012 0,013 0,014 0,015
Idem, com revestimento de alcatrão 0,011 0,012* 0,013*
Tubos de ferro galvanizado 0,013 0,014 0,015 0,017
Tubos de bronze ou de vidro 0,009 0,010 0,011 0,013
Condutos de barro vitrificado, de esgotos 0,011 0,013* 0,015 0,017
Condutos de barro, de drenagem 0,011 0,012* 0,014* 0,017
Alvenaria de tijolos com argamassa de cimento; 0,012 0,013 0,015* 0,017
condutos de esgoto, de tijolos
Superfícies de cimento alisado 0,010 0,011 0,012 0,013

Continua...
Tabela 5.6 - Cont.
Condições
Natureza das paredes
Muito boas Boas Regulares Más
Superfícies de argamassa de cimento 0,011 0,012 0,013* 0,015
Tubos de concreto 0,012 0,013 0,015 0,016
Condutos de aduelas de madeira 0,010 0,011 0,012 0,013
Calhas de pranchas de madeira aplainada 0,010 0,012* 0,013 0,014
Idem, não-aplainada 0,011 0,013* 0,014 0,015
Idem, com pranchões 0,012 0,015 0,016
Canais com revestimento de concreto 0,012 0,015* 0,016 0,018
Alvenaria de pedra argamassada 0,017 0,020 0,025 0,030
Alvenaria de pedra seca 0,025 0,020 0,033 0,035
Alvenaria de pedra aparelhada 0,013 0,014 0,015 0,017
Calhas metálicas lisas (semicirculares) 0,011 0,012 0,013 0,015
Idem corrugadas 0,0225 0,025 0,0275 0,030
Canais de terra, retilíneos e uniformes 0,017 0,020 0,0225* 0,025
Canais abertos em rocha, lisos e uniformes 0,025 0,030 0,033* 0,035
Canais abertos em rocha, irregulares ou de 0,035 0,040 0,045
paredes de pedra irregulares e mal arrumadas
Condução da água para irrigação 155

Canais dragados 0,025 ,0275* 0,030 0,033


Canais curvilíneos e lamosos 0,0225 0,025* 0,0275 0,030
Canais com leito pedregoso e vegetação nos 0,025 0,030 0,035* 0,040
taludes
Canais com fundo de terra e taludes 0,028 0,030 0,033 0,035
empedrados
Arroios e rios
1) Limpos, retilíneos e uniformes 0,025 0,0275 0,030 0,032
2) Como em 1, porém com vegetação e pedras 0,030 0,033 0,035 0,040
3) Com meandros, bancos e poços pouco 0,035 0,040 0,045 0,050
profundos, limpos
4) Como em 3, águas baixas, declividades 0,040 0,045 0,050 0,055
fracas
5) Como em 3, com vegetação e pedras 0,033 0,035 0,040 0,045
6) Como em 4, com pedras 0,045 0,050 0,055 0,060
7) Com margens espraiadas, pouca vegetação 0,050 0,060 0,070 0,080
8) Com margens espraiadas, muita vegetação 0,075 0,100 0,125 0,150
* Valores aconselhados para projetos.

Dimensionamento do Canal
São seis os tipos de problemas que podem ser resolvidos com a equação de Manning,
de modo que se obtenham soluções específicas.
1) Conhecendo n, b, h, m e S0, calcular Q.
2) Conhecendo Q, n, b, h e m, calcular S0.
3) Conhecendo Q, m, b, h e S0, calcular n.
4) Conhecendo Q, n, b, m e S0, calcular h.
5) Conhecendo Q, n, h, m e S0, calcular b.
6) Conhecendo Q, n, b, h e S0, calcular m.
Os problemas (1), (2) e (3) são resolvidos analiticamente; já os três últimos são
encontrados com maior freqüência na vida prática. Trata-se do dimensionamento geométrico
de um canal, e a solução não é tão direta como nos outros casos, porque as equações não são
resolvidas analiticamente. Existem vários métodos para a solução desses problemas, entre
outros: numérico, tentativas, gráfico e direto. Em todos eles estão implícitas certas
considerações que definem a relação entre algumas variáveis, por exemplo: se o canal for
revestido, deve-se trabalhar com a seção de máxima eficiência para minimizar o consumo do
material de revestimento; se o canal for não-revestido, a inclinação da parede lateral é função
do tipo de solo; e a dimensão e forma do equipamento utilizado na escavação algumas vezes
definirão a largura da base menor e a inclinação das paredes.
156 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Método Numérico
Reescrevendo a equação de Manning como uma função de x, tem-se:
1/ 2
f x   n Q P 2 / 3  A 5 / 3 S0 (5.20)

em que x pode ser qualquer uma das variáveis do problema.


Neste livro será apresentado somente o método de Newton, que consiste num processo
interativo, partindo-se de uma estimativa da variável desconhecida (x0), que vai sendo
corrigida conforme equação a seguir, até que a correção (corr) seja desprezível.
f x i 
x i1  x i  corr  x i  (5.21)
f `x i 

em que f’(x) é a derivada da função f(x) em relação a x:


2 dP 5 1 2 2 3 dA
f ' x   n Q P 1 3  S0 A
3 dx 3 dx
(5.22)

dA dP
em que e dependem da variável desconhecida.
dx dx
Se h for desconhecido, tem-se x = h, e:

dA dA
  b  2m h
dx dh

dP dP

dx dh
 2 m2 1
12
 
Se b for desconhecido: x = b, e:

dA dA dP dP
 h e  1
dx db dx db

Se m for desconhecido: x = m e:

dA dA dP dP

dx dm
 h2 e 
dx dm
 h 2 m  m 2  1
1 2
 
Quando S0, n ou Q são desconhecidos, não há necessidade de utilizar o método de
Newton.

Exemplo
Condução da água para irrigação 157

Dimensionar, um canal revestido de concreto, com seção trapezoidal, para as


seguintes condições:
- cultura a ser irrigada – cana-de-açúcar
- demanda de irrigação – 4 mm/dia
- turno de rega – 14 dias
- período de irrigação – 12 dias
- eficiência de irrigação – 70%
- o sistema trabalhará 12 h/dia
- o canal será de concreto (n = 0,014), com declividade de 0,4%
- área a ser irrigada – 200 ha
- o solo não é fator limitante
- como o canal é revestido, deve-se trabalhar com a seção de máxima eficiência; logo,
a inclinação da parede lateral deve ser de 60o, ou seja, m = 0,577.

Cálculo da Vazão Necessária

ETpc A 104 TR
Q (5.23)
E TDF 3600 PI

em que: Q = vazão necessária, em L/s;


ETpc = evapotranspiração potencial da cultura, em mm/dia;
A = área a ser irrigada, em hectares;
TR = turno de rega, em dias;
E = eficiência do sistema, em decimal;
TFD = tempo de funcionamento por dia, em horas; e
PI = período de irrigação, em dias.
A vazão necessária será:

4 x 200 x 10 4 x 14
Q  309 L / s  0,309 m 3 s 1
0,7 x 12 x 3600 x 12

Método de Newton
158 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Como o canal deve ser dimensionado para a seção de máxima eficiência, tem-se
2h 1
que: b  e m  0,577 ; logo, a variável desconhecida x = h e a fórmula de Newton
3 3
podem ser escritas como segue:
f h i 
h i 1  h i  corr  h i 
f `h i 

O processo de solução começa assumindo-se um valor inicial estimado para h,


por exemplo, h(0) = 0,500 m, e estimando o valor corrigido h(1) até que a correção seja
desprezível. Os cálculos correspondentes à primeira interação são apresentados a seguir:

2 h 2 x 0,500
b   0,577 m
3 3

A  h b  m h   0,500 0,577  0,577x 0,500  0,433 m 2

P  b  2 h 1  m 2  0,577  2 x 0,500 1  0,577 2  1,732 m

dA
 b  2 m h  0,577  2 x 0,577 x 0,500  1,155
dh

dP
dh
 12
  1/ 2
 2 m 2  1  2 0,5772  1  2,3094 
12
f h   n Q P 2 3  A 5 3 S 0  0,014 0,309 1,7322 3  0,4335 3 x 0,0041 2   0,00944

5 dA 2 dP
f `h    S 0 1 2 A 2 3  n Q P 1 3
3 dh 3 dh
5 2
f `h    0,0041 2 x 0,433 2 3 x 1,155  0,014 0,309 x 1,732 1 3 x 2,309   0,0641
3 3
f h i   0,00944
h 1  h 0  corr  h 0   0,500   0,500  0,1472  0,353 m
f `h i   0,0641

Na planilha a seguir são apresentados os resultados para três interações, quando a


correção foi somente de 0,0008 m (praticamente desprezível); logo, tem-se que h = 0,354 m e
2 h 2 x 0,354
b   0,408 m , como solução do problema. Ou seja, o canal deverá ter altura
3 3
de 35 + 20 cm (segurança) = 55 cm e largura da base menor que 41 cm.
Condução da água para irrigação 159

h(1) b m A P f(h) dA/dh dP/dh f’(h) Corr.


0,5 0,577 0,577 0,443 1,732 -0,00944 1,155 2,3094 -0,0641 0,1472
0,353 0,407 0,577 0,2156 1,222 0,00004 0,8149 2,3094 -0,00247 -0,0017
0,355 0,409 0,577 0,2177 1,228 -0,0002 0,8187 2,3094 -0,025 0,0008
0,354 0,408 0,577 0,2166 1,225

O regime de escoamento em canais é caracterizado pelo adimensional denominado


Número de Froude (NF) – Equação 5.24. Ressalta-se que é recomendável que o canal trabalhe
em regime de escoamento subcrítico, caracterizado pelo número de Froude menor que 1,0.
Como NF = 0,88, o canal dimensionado trabalhará em regime de escoamento subcrítico.

V Q
NF   (5.24)
A A
g A g
B b  2 mh

0,309
NF   0,88
0,2167
0,2167 9,81
0,408  2 x 0,577 x 0,354

Método das Tentativas


Consiste em assumir valores para os parâmetros que definem a área e o raio
hidráulico de um canal e, em seguida, aplicar a equação de Manning e a equação de
continuidade, a fim de calcular qual será a vazão obtida, que é comparada com a vazão de
projeto. O processo é repetido até que os dois valores sejam aproximadamente iguais. A
relação entre os valores assumidos para os parâmetros geométricos do canal pode variar ou
permanecer constante. Para facilitar os cálculos, recomenda-se utilizar uma planilha conforme
Tabela 5.7.
Utilizando as relações entre as variáveis geométricas para a seção de máxima
eficiência, monta-se a planilha a seguir, dando valor para b ou h e determinando as demais
variáveis até que a vazão calculada seja aproximadamente igual à vazão de projeto, que neste
caso é 0,309 m3 s-1. Em seguida são apresentados os cálculos para a última linha da Tabela
5.7.
Considerando b = 0,409 m, tem-se:
1
m  0,577
3
160 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

3 3
hb  0,409  0,354
2 2
B  2 b  2 x 0,420  0,840

3 3
A b h  0,409 x 0,354  0,2173 m 2
2 2
P  3 b  3 x 0,420  1,260 m

A5 3 S 01 2 0,21735 3 x 0,0041 2
Q   0,310 m 3 s 1
n P2 3 0,014 x 1,2272 3

Q 0,310
V   1,42 m s 1
A 0,2173

Tabela 5.7 - Dimensionamento pelo método das tentativas


b h A P Rh 2/3 V’ Q’ Q’ = Q?
Rh S0
(m) (m) (m2) (m) n (m/s) (m3/s) (Q=309 L/s)
0,40 0,346 0,208 1,200 0,173 0,311 4,5175 1,40 0,2912 
0,45 0,390 0,263 1,350 0,195 0,336 4,5175 1,52 0,3994 
0,42 0,364 0,229 1,260 0,182 0,321 4,5175 1,45 0,3321 
0,42 0,355 0,218 1,230 0,178 0,316 4,5175 1,43 0,3117 
0,408 0,355 0,216 1,224 0,177 0,315 4,5175 1,42 0,3067 OK

Conclusão da largura do fundo = 41 cm.


Altura do canal = 35 + 20 + 56 cm.

Método Gráfico
Rearranjando a equação de Manning, tem-se:

Q m A5 3
 (5.25)
S 01 2 P 2 3

Analisando esta equação, verifica-se que o primeiro termo é uma constante para cada
problema específico; porém, o segundo varia com a forma geométrica e com a relação entre as
dimensões do canal. Uma vez definida a forma geométrica, pode-se estabelecer uma função da
área (A), perímetro molhado (P) e do raio hidráulico (Rh) do canal com uma de suas
Condução da água para irrigação 161

dimensões, como, por exemplo, a altura do canal (h); dessa forma, tem-se: A = f(h), P = f(h) e
Rh2/3= f(h).

Sendo assim:

nQ A5 3
  f h 
S0 P2 3

Ao dimensionar qualquer canal, calcula-se inicialmente o valor de n Q , para as


S0
condições em apreço, com o objetivo de saber qual magnitude do f(h) interessa. Em seguida,
5/ 3
calculam-se vários valores de f(h) = A a fim de poder representar graficamente h versus
p2/ 3
f(h). Após a construção do gráfico, entra-se com o valor de f h   n Q e determina-se o valor
S0
de h, o qual permite calcular A, P e Rh.

O uso deste método será ilustrado com o mesmo problema empregado no das
tentativas.
Para este caso:

n Q 0,309 x 0,014
f h     0,0684
S0 0,004

No intuito de facilitar os cálculos, usa-se a planilha a seguir, utilizando valores de h que


gerem alguns valores acima e outros abaixo de 0,0684, os quais são empregados para plotar a
Figura 5.4.

h b A P
f(h)
(m) (m) (m2) (m)
0,2 0,231 0,0693 0,693 0,0149
0,24 0,277 0,0998 0,831 0,0243
0,28 0,323 0,1358 0,97 0,0366
0,32 0,37 0,1774 1,109 0,0523
0,36 0,416 0,2245 1,247 0,0716
0,38 0,439 0,2501 1,316 0,0827

Entrando na Figura 5.4 com f(h) = 0,0684, tem-se h = 0,353 m = 35,3 cm; logo:
2 2
bh  0,353  0,408 cm  40,8 cm
3 3
162 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Assim, a largura do fundo é de 41 cm, e a altura do canal, de 35 + 20 = 55 cm.

0,09
0,08
0,07
0,06
f (h)

0,05
0,04
0,03
0,02
0,01
0,20 0,25 0,30 0,35 0,40
h (m)

Figura 5.4 - Dimensionamento de canal pelo método gráfico.

Nota – Uma das grandes vantagens deste método é que, uma vez construído o gráfico
de h em função de f(h), ele pode ser usado para dimensionar canais com diferentes valores de
n, Q e S0, porém com a mesma forma geométrica usada para construir a curva.

Método Direto
Neste método, como nos demais, somente pode ser usado quando se predetermina a
relação entre os parâmetros geométricos do canal.
Para o mesmo problema usado no método das tentativas, tem-se:
2h b 3 3
b ; Rh  ;A b h
3 4 4
Aplicando as equações de Manning e de continuidade, com todos os parâmetros
geométricos do canal, em função de h, obtém-se:

3 S0
Q h8 / 3
3 22 / 3 n

3/8
 22 / 3 3 n 
h Q
 3 S0 
 
Condução da água para irrigação 163

Substituindo os valores de S0, Q e n:


2 x 0,354
h = 0,354 m e b   0,41 cm
3
assim:
largura do fundo = 41 cm
altura do canal = 35 cm + 20 cm = 55 cm.
Nas Tabelas 5.16 a 5.20, no final deste capítulo, apresentam-se sugestões para
dimensionamento de canais retangulares e trapezoidais.

Energia Específica
Para o caso de movimento variado, em regime permanente nos canais, ou seja,
movimento com vazão constante, mas com variação da velocidade e da profundidade ao longo
do canal, a energia específica é um parâmetro muito importante para definir este tipo de
escoamento.
Energia específica de um líquido, que escoa em um canal, é a energia total por
unidade de peso deste líquido em relação ao fundo do canal, tomado como plano de referência,
V2
ou seja, a soma cinética e da energia estática, correspondente à profundidade do líquido
2g
(h):

V2
Eh (5.26)
2g

Para canais retangulares, pode-se definir o termo descarga unitária (q) como a
descarga por unidade de largura:
Q VA Vh L
q    Vh (5.27)
L L L
Substituindo (5.27) em (5.26):

q2
Eh (5.28)
2gh 2

Para q constante, E varia com h, ou seja:

q2
(E  h ) h 2  = constante (5.29)
2g
164 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Pode-se então traçar uma curva de variação da energia específica em função da


profundidade. Analisando a equação 5.28, verifica-se que esta curva tem uma assíntota para
(E-h) = 0 e outra para h = 0. Assim, a curva ficará entre as duas assíntotas que formam entre
si um ângulo de 45o, conforme Figura 5.5.
Verifica-se, nesta Figura, que para um mesmo valor de E existem duas profundidades
possíveis (ha e hb), chamadas de profundidades alternadas ou recíprocas. Dessa forma, esta
curva representa três regimes de escoamento:

ha
A

Regime subcrítico
h > hc

hc C Regime crítico

hb B Regime supercrítico
h < hc
45º D
Ec

Energia específica (E)

Figura 5.5 - Curva de energia específica (E) versus profundidade (h), para uma vazão
constante.
- um lento e profundo, no braço superior da curva, denominado regime subcrítico;
- um rápido e raso, no braço inferior da curva, denominado regime supercrítico;
- o ponto de convergência dos dois regimes, ponto C na Figura 5.5, é denominado
regime crítico.
Analisando a Figura 5.5, verifica-se que, no regime crítico (ponto C), tem-se um valor
mínimo para a energia específica. Matematicamente, pode-se obter o valor mínimo desta
curva diferenciando a equação 5.28, ou seja:

dE q2
 1 0
dh g h3
Condução da água para irrigação 165

q2 q2
1  0 hc  3 (5.30)
gh 3c g

sendo hc a profundidade crítica em um canal. Como q = V h, tem-se:

Vc  g hc (5.31)

sendo Vc a velocidade crítica em um canal. Substituindo estes valores na equação


5.26, obtém-se:
3
Ec  hc (5.32)
2

Analisando a Figura 5.5 e as equações 5.26 e 5.32, conclui-se que:

- no regime subcrítico, a profundidade da água no canal é maior do que a


profundidade crítica, e a sua velocidade é menor do que a velocidade crítica; e

- no regime supercrítico, a profundidade da água no canal é menor do que a


profundidade crítica, e a sua velocidade, é maior do que a velocidade crítica.

Comparando a equação 5.32 com a equação 5.26, tem-se que:

3 hc V2
 hc  c
2 2g

Vc
1
g hc

V
A expressão é denominada “número de Froude” (NF).
g h
Assim, pode-se afirmar que:
- para NF < 1 o regime é subcrítico
- para NF = 1 o regime é crítico
- para NF > 1 o regime é supercrítico
Portanto, o “número do Froude” (NF) constitui um critério simples para determinar o
regime de fluxo de determinado canal.

Energia Específica e Problema de Transição


166 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Muitas vezes, ao locar-se um canal, ele passará sob estrada ou ficará suspenso em
algum trecho. Assim, para economizar material ou para facilidade de construção, é preciso
mudar a forma geométrica do canal sobre esses trechos. Por isso, é de capital importância
conhecer a variação do nível da água quando a forma geométrica de um canal é alterada,
estreitamentos, ascensão ou depressão, no fundo –, a fim de se evitar represamento ou
transbordamento nessas transições. Em se tratando de uma elevação suave no fundo de um
canal, a variação da energia específica entre um ponto antes da elevação e outro sobre esta
será a altura de elevação, ou seja:

Z
1 2

E1  E2  Z (5.33)

Como a energia total (H) é a mesma em (1) e (2), pode-se escrever: H = E1 e H = E2


+ Z, ou, de modo genérico: H = E + Z, sendo H uma constante entre os pontos (1) e (2).
Derivando H, em relação à posição do ponto, ao longo do canal (x), obtém-se:
dh dE dz
0 
dx dx dx
ou
dE dh dZ
 0
dh dx dx
dE
Como  1  NF 2 , tem-se:
dh
dh dZ
dx

1  NF 2  
dx
0

Analisando esta equação, verifica-se:


a) Quando há uma ascensão suave no fundo do canal
dZ dh  2
é positivo (+). Assim,  1  Fn  tem que ser negativo (-).
dx dx  
dh
- Em regime subcrítico, NF < 1. Então, terá que ser negativo, ou seja, a
dx
profundidade da água no canal (h) decresce sobre o ressalto.
Condução da água para irrigação 167

dh
- Em regime supercrítico, Fn > 1. Neste caso, terá que ser positivo, isto é, a
dx
profundidade da água no canal (h) cresce sobre o ressalto.
b) Quando há uma descida suave no fundo do canal

dh dh  2
é negativo (-). Dessa forma, 1  Fn  tem que ser positivo (+).
dx dx  

dh
- Em regime subcrítico, NF < 1. Então, terá que ser positivo, ou seja, a
dx
profundidade da água no canal (h) cresce sobre a depressão.

dh
- Em regime supercrítico, NF > 1. Assim, terá que ser negativo, isto é, a
dx
profundidade da água no canal (h) decresce sobre a depressão.
c) Variação na largura do canal
Quando há contração no canal, segue-se o mesmo princípio da ascensão do fundo do
canal, ou seja, em regime subcrítico a profundidade da água diminui e em regime supercrítico
ela aumenta. No caso de uma expansão no canal, segue-se o mesmo princípio da depressão no
canal: em regime subcrítico a profundidade aumenta e em regime supercrítico ela diminui.
Serão dados exemplos para ilustrar estes cálculos:
1 - Dimensionar uma transição de um canal trapezoidal com m = 1,5 e b = 2 m para
um canal retangular com b = 2 m, de tal modo que para uma velocidade e profundidade no
canal trapezoidal de 1,3 m/s e 1,0 m, respectivamente, não haja variação no nível da superfície
da água.

2
1
Pela equação de continuidade, tem-se:
Q  A1 V1  A2 V2

Para que não haja variação no nível da água entre os pontos (1) e (2), a carga de
velocidade nos dois pontos terá de ser igual.
V12 V2
 2 , então V1 = V2 e, pela equação anterior, A1 = A2
2g 2g
168 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A1  b1 h 1  m h 1  2 1  1,5 1  3,5 m 2

A 2  b2 h 2

3,5  2h 2 h 2  1,75 m

Nota - Trata-se de variação simultânea da largura e da profundidade, com


predominância da última.
Com o nível de contração pretendido, deverá ocorrer uma descida no fundo do canal
de 0,75 m.

1m
1,75 m
1
0,75 m

2 - Em um canal retangular com 2 m de largura, a água flui com uma velocidade de 1


m/s e profundidade de 1,80 m. Deseja-se fazer uma contração no canal para 1,70 m. Qual
será a profundidade da água na seção contraída?
E1 = E2, Q1 = Q2
V12 12
E1  h 1   1,8   1,851 m
2g 2 x 9,81

Q1  b1 V1 h1  2 x 1 x 1,80  3,6 m 3 s 1

3,6
q2   2,117 m3s 1m 1
1,70
V22 q 22
E2  h 2   h2 
2g 2 g h 22

( 2,117) 2
1,851  h 2 
2 x 9,81 h 22

Resolvendo por tentativa, obtém-se h2 = 1,78


V1 1
NF1    0,237 (subcrítico)
gh 1 9,81 x 1,80
Condução da água para irrigação 169

V2 1,189
NF2    0,285 (subcrítico)
gh 2 9,81 x 1,78

Como na seção contraída o regime de escoamento também é subcrítico, a resposta


satisfaz.
Resposta: a profundidade da água na seção contraída será de 1,78 m.

Máximo Grau de Contração ou Elevação


A variação máxima na contração ou na elevação do fundo de um canal é aquela que,
se aumentada, causará alteração nas condições iniciais de escoamento, a montante do ponto de
variação, ou seja, é aquela variação que resultará na energia específica mínima, na região
modificada. Como se vê na Figura 5.5, para cada situação a energia específica será mínima no
regime crítico.
Para elevação do fundo do canal, o valor máximo da elevação é aquele em que se terá um
regime crítico sobre a elevação, bem como o valor máximo de contração será aquele que causará
um regime crítico na região contraída. Caso se ultrapasse este valor, ocorrerá represamento a
montante da seção alterada. Veja o exemplo a seguir.
A água flui em um canal retangular com velocidade de 3 m/s e profundidade de 1,8 m.
Determinar o valor máximo a que se poderá elevar o fundo do canal, sem que haja alteração
no escoamento a montante.

E1  E 2  Z

32
E1  1,8   2,259
2 x 9,81

E 2  E crítico

Vc2
Ec  hc 
2g

q1  q 2

q 1  h 1 V1  3 1,8  5,4 m 3s 1 m 1

q 2 3 (5,4 ) 2
hc  3   1,438 m
9,81 9,81
170 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

3 3
Ec  hc  1,438  2,157
2 2

como

E2 = Ec, então

 Zmax = E1 - Ec

 Zmax = 2,259 - 2,157 = 0,102 m

 Zmax = 10 cm

Encanamentos
Em encanamentos, geralmente tem-se o escoamento em condutos forçados, ou seja, a
água escoa sob pressão. O encanamento funciona totalmente cheio, e os condutos são sempre
fechados. Nos projetos de irrigação, a condução da água se processa, de modo geral, em
movimento permanente e uniforme, sob um regime de escoamento turbulento, ou seja, a vazão
e a velocidade média são constantes ao longo da tubulação, com as partículas de água
seguindo uma trajetória irregular, com exceção do regime de escoamento nos gotejadores, que
é laminar.
O melhor critério para determinar se o regime de escoamento em uma tubulação é
laminar ou turbulento é através do número de Reynolds (Rn).

V D 
Rn  (5.34)

em que: Rn = número de Reynolds, adimensional;


V = velocidade da água, m s-1;
D = diâmetro da tubulação, m;
 = massa específica da água, kg m-3; e
 = coeficiente de viscosidade dinâmica, kgf s m-2.

Como o coeficiente de viscosidade cinemática () é:   ; pode-se determinar o

número de Reynolds pela seguinte expressão:
V D
Rn  (5.35)

Condução da água para irrigação 171

Para as condições normais de escoamento nas tabulações, pode-se afirmar que Rn >
4000, para regime de escoamento turbulento; e Rn < 2000, para regime de escoamento
laminar.
Entre estes dois valores tem-se a “zona de transição”, na qual não se pode determinar
com segurança a perda de carga nas tubulações.
Como visto anteriormente, em geral, o regime de escoamento, na condução da água
nos encanamentos, é turbulento.
Sempre que a água flui de um ponto para outro, há certa perda de energia, comumente
denominada perda por atrito ou perda de carga. Quando o escoamento se faz em regime
turbulento, a resistência ao escoamento é atribuída às forças de viscosidade e de inércia.
Quanto mais rugosa a parede da canalização, maior será a turbulência do fluxo e, em
conseqüência, maior será a perda de carga.
Na prática, existem dois tipos de perdas de carga: ao longo da tubulação e localizada.

Perda de Carga ao Longo da Tubulação


É a perda de carga atribuída ao movimento da água ao longo das tubulações. É
considerada uniforme ao longo de qualquer trecho de uma canalização de diâmetro constante,
constituindo a principal perda de carga na maioria dos projetos de condução da água.
Há várias equações para o cálculo da perda de carga ao longo das tubulações, das
quais, as três mais comuns serão analisadas a seguir:

A) EQUAÇÃO DE HAZEN-WILLIAMS
Esta equação é mais usada no dimensionamento de condutos sob pressão, podendo
também ser empregada em dimensionamento de canais. É recomendada apenas para
escoamento de água à temperatura ambiente e para diâmetro igual ou maior que 2”.

V  0,355 C D 0,63 J 0,54 (5.36)

Q  0,2788 C D 2,63 J 0,54 (5.37)

1,852
1 V
J  6,806   (5.38)
D1,17  C 

1,852
1 Q
J  10,641   (5.39)
D 4,87 C

sendo: Q = vazão, m3 s-1;


172 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

V = velocidade média, m s-1;


D = diâmetro da tubulação, m;
J = perda de carga unitária, mca m-1; e
C = coeficiente que depende da natureza da parede do tubo (material e estado).
Na Tabela 5.8, tem-se o valor do coeficiente C para diversos materiais.

Tabela 5.8 - Valores do Coeficiente de Hazen-Williams (C)*

Tipos de conduto C
Alumínio 130
Aço corrugado 60
Aço com juntas “loc-bar”, novas 130
Aço com juntas “loc-bar”, usadas 90 a 100
Aço galvanizado 125
Aço rebitado, novo 110
Aço rebitado, velho 85 a 90
Aço soldado, novo 130
Aço soldado, usado 90 a 100
Aço soldado com revestimento especial 130
Aço zincado 120
Cimento-amianto 130 a 140
Concreto, bom acabamento 130
Concreto, acabamento comum 120
Ferro fundido, novo 130
Ferro fundido, usado 90 a 100
Plásticos 140 a 145
PVC rígido 145 a 150
* Citados por E. T. Neves.
B) EQUAÇÃO DE MANNING
Apesar de mais usada para o dimensionamento de canais, esta equação pode também
ser utilizada para o dimensionamento de condutos sob pressão, desde que se use o coeficiente
apropriado (Tabela 5.9).

Tabela 5.9 - Valores do Coeficiente de Manning (n)*


Condução da água para irrigação 173

Tipos de conduto Valor geralmente usado


Tubos de ferro fundido, limpo, sem revestimento 0,014
Tubos de ferro fundido, com revestimento de alcatrão 0,012
Tubos de ferro fundido, com incrustações 0,017
Tubos de aço rebitado 0,015
Tubos de aço soldado 0,012
Tubos de aço galvanizado 0,013
Tubos de latão ou cobre 0,013
Tubos de cimento-amianto 0,012
Tubos com revestimento de cimento bem alisado 0,012
Revestimento de argamassa de cimento 0,013
Condutos de concreto lisos (formas de aço) 0,013
Tubos de concreto com juntas 0,017
Condutos velhos de concreto ou toscamente alisados 0,015
Condutos cerâmicos de esgoto 0,015
Tubos de drenagem de cerâmica 0,014
*Citados por E. T. Neves.

0,397 2 3 1 2
V D J (5.40)
n
0,312 8 3 1 2
Q D J (5.41)
n

v2
J  6,345 n 2 (5.42)
D4 3

Q2
J  10,273 n 2 (5.43)
D16 3
em que: Q = vazão, m3 s-1;
V = velocidade média, m s-1;
D = diâmetro da tubulação, m;
J = perda de carga unitária, mca m-1; e
n = coeficiente que depende da natureza da parede do tubo (material e estado de
conservação).
Na Tabela 5.9 tem-se o valor do coeficiente n para diversos materiais.
174 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

C) EQUAÇÃO DE DARCY-WEISBACH
É uma equação muito usada para dimensionamento de tubulações de ferro fundido.

V2 Q2
hf  J L  f L ou hf = 1,621 f L (5.44)
2g D 2g D 5

em que: hf = perda de carga, m;


f = coeficiente de atrito;
L = comprimento da tubulação, m;
D = diâmetro da tubulação, m;
J = perda de carga unitária, mca m-1;
V = velocidade média, m s-1;
Q = vazão, m3 s-1; e
g = aceleração da gravidade, 9,81 m s-2, ao nível do mar, à temperatura de 20ºC.
Para regime laminar (Rn < 2000), o coeficiente f pode ser calculado pela seguinte
equação:
64
f= (5.45)
Rn
em que Rn é o número de Reynolds, concluindo-se que, em regime laminar, o coeficiente de
atrito depende exclusivamente do líquido escoado, do diâmetro da tubulação e da sua
velocidade de escoamento, sendo independente do material de que é feita a canalização.
No caso de regime turbulento (Rn > 4000), f é função do diâmetro da tubulação e da
rugosidade da parede interna da tubulação (e), do líquido escoado e de sua velocidade de
e
escoamento. A relação entre a rugosidade da parede e o diâmetro da tubulação ( ) é
D
denominada rugosidade relativa.
 e 2,51 
f  0,5  2 log   
0, 5  (5.46)
 3,71 D Rn f 
A solução das equações 5.46, 5.34 e 5.45a não é possível analiticamente; logo,
Moody desenvolveu um diagrama (Figura 5.6) que expressa o fator f em função da rugosidade
específica e/D e do número de Reynolds.
Rugosidade relativa, e/D
Condução da água para irrigação 175

hf
Fator de atrito f 
L V2
D 2g
Figura 5.6 - Diagrama de Moody para o cálculo do coeficiente f.
Combinando as equações 5.34, 5.44 e 5.45, Watters e Keller (1978) desenvolveram
as equações 5.47 e 5.48, para tubulações e mangueiras de plástico, com diâmetros menor que
125 mm e maior que 125 mm, respectivamente, trabalhando com água à temperatura de
20 ºC.

Q1,75
hf  J L  7,89 10 7 L (5.47)
D 4 ,75
176 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Q1,83
hf  J L  9,58 107 L (5.48)
D 4 ,83
sendo Q em L s-1, D em mm e L em m.

Perdas de Carga Localizadas


Sempre que ocorrerem mudanças de direção do fluxo e, ou, da magnitude da
velocidade, haverá uma perda de carga localizada, decorrente da alteração das condições do
movimento, a qual se adicionará à perda causada pelo atrito.
Essas perdas são ocasionadas por peças, como curvas, registros, tês, válvulas,
mudança de diâmetro etc., comumente existentes em qualquer encanamento, e a perda de
carga pode ser calculada pela seguinte equação:
V2
hfl = K (5.49)
2g
em que: hfl = perda de carga localizada, m;
K = coeficiente do elemento causador da perda de carga;
V = velocidade média na canalização, m s-1; e
g = aceleração da gravidade: 9,81 m s-2.
Na Tabela 5.10 encontra-se o valor de K para as peças e conexões mais comuns.

Tabela 5.10 - Valores do coeficiente de perda de carga localizada K, segundo J. M. Azevedo


Netto

Peça K
Ampliação gradual 0,30*
Bocais 2,75
Comporta, aberta 1,00
Controlador de vazão 2,50
Cotovelo de 90º 0,90
Cotovelo de 45º 0,40
Crivo 0,75
Curva de 90º 0,40
Tabela 5.10 - Cont. Continua...

Peça K
Curva de 45º 0,20
Curva de 22½º 0,10
Condução da água para irrigação 177

Entrada normal em canalização 0,50


Entrada de borda 1,00
Existência de pequena derivação 0,03
Junção 0,40
Medidor Venturi 2,50**
Redução gradual 0,15*
Registro de ângulo, aberto 5,00
Registro de gaveta, aberto 0,20
Registro de globo, aberto 10,00
Saída de canalização 1,00
Tê, passagem direta 0,60
Tê, saída de lado 1,30
Tê, saída bilateral 1,80
Válvula de pé 1,75
Válvula de retenção 2,50
Velocidade 1,00
(*) Com base na velocidade maior (seção menor).
(**) Relativa à velocidade na canalização.

Velocidade Admissível nas Tubulações


Quanto maior a velocidade da água na canalização, menor será o diâmetro necessário
para determinada vazão e, em conseqüência, menor será o custo fixo da canalização; contudo,
velocidades elevadas implicam grandes perdas de carga, aumento do perigo de corrosão das
tubulações e maior sensibilidade aos efeitos dos golpes de aríete.
Nas linhas de recalque, tendo-se em vista o dimensionamento econômico, a velocidade
pode variar de 0,6 a 2,4 m s-1, e os valores mais usados estão entre 1 e 2 m s-1.

Exemplo de Dimensionamento de Uma Tubulação


Em um sistema de irrigação precisa-se conduzir uma vazão de 30 l/s, numa distância
de 2 km, sendo a tubulação de ferro fundido usado, na qual serão instalados: uma curva de
45º, uma curva de 90º, um registro de gaveta e uma válvula de retenção.
Determinar o diâmetro da tubulação e a perda de carga correspondente.
Para uma tubulação de 5”, a velocidade da água seria:

Q 0,030 m 3 / s
V   2,445 m / s
A  0,1252
4
178 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A velocidade está alta.


Para uma tubulação de 6”, a velocidade da água seria:
0,30
V  1,698 m s 1
 0,150
2

4
Esta velocidade está dentro dos limites usuais. A perda de carga para este diâmetro
será:
1) Perda de carga ao longo da tubulação: aplicando a equação de Hazen-Williams,
tem-se, pela Tabela 5.8, C = 100.
1,852
1  0,030 
J  10,641 4, 87    0,03274 mca m 1
0,15  100 
hf1 = 2000 J
hfl = 65,51 mca

2) Perda de carga localizada

V2
hf2 = K
2g

Pela Tabela 5.10, têm-se os seguintes valores de K:


curva de 45º = 0,2
curva de 90º = 0,4
registro de gaveta = 0,2
válvula de retenção = 2,5
saída de canalização = 1,0

1,698 2
hf2 = (0,2 + 0,4 + 0,2 + 2,5 + 1,0) = 0,63 mca
2 x 9,81

3) A perda de carga total será


Hf = 65,51 + 0,63 = 66,14 mca.
Resposta:
Pode-se usar um diâmetro de 6”, com o qual a perda de carga será de 66,14 m e a
velocidade média da água, de 1,7 m s-1.
Condução da água para irrigação 179

Motobomba
Como a maioria das bombas usadas em irrigação pertence ao tipo centrífuga de eixo
horizontal, serão discutidas suas principais características.
Elas requerem escorvamento, válvula de pé e é necessário observar o limite máximo
de altura estática de sucção. Podem ser portáteis ou fixas e são acionadas por motores
elétricos, a óleo ou gasolina. As portáteis são montadas em bloco sobre rodas, o que facilita
sua movimentação.
Como em irrigação trabalha-se com água limpa, usam-se normalmente rotores
fechados. As bombas com um só rotor são denominadas bombas de simples estágio. Quando a
altura monométrica requerida na bomba for muito grande, serão usadas bombas com dois ou
mais rotores, denominadas bombas de dois, três ou mais estágios.
Nos projetos de irrigação, em geral, as bombas não trabalham afogadas, ou seja, são
sempre instaladas em posição acima do nível da água do poço de sucção (Figura 5.7).

Registro de gaveta

Válvula de retenção

Redução excêntrica

Redução excêntrica

Curva de 90º
Motor Bomba

Válvula de pé

Crivo

Figura 5.7 - Esquema de instalação de uma bomba centrífuga.

Velocidade de Rotação e Rotação Específica


A velocidade de rotação n é o número de rotações, dado pelo rotor da bomba, na
unidade de tempo, sendo geralmente expressa em rotações por minuto (rpm).
180 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Tanto o valor da velocidade de rotação do rotor (n) como o seu diâmetro (D) influem,
de maneira sensível, no funcionamento da bomba. São válidas as seguintes regras gerais:
- mantendo a forma e o diâmetro do rotor constantes:
2 3
Q 2 n 2 H 2  n 2  P2  n 2 
 ;   ;  
Q1 n 1 H 1  n 1  P1  n 1 

ou

3/ 2 3 3
P2 H  Q  n 
=  2 =  2 =  2
P1  H1   Q1   n1 

- mantendo a forma e a rotação do rotor constantes:

2 3
Q2 D2 H 2 D  P D 
= ; =  2 ; 2 =  2
Q1 D1 H1  D1  P1  D1 

ou
3/ 2 3 3
P2  H 2  Q   D2 
=  =  2  =  
H 1  H1   Q1   D1 

em que: n = rotação do rotor;

D = diâmetro do rotor;

Q = vazão da motobomba;

H = altura manométrica na motobomba; e

P = potência absorvida pela motobomba.

O índice 1 refere-se às características originais e o 2 às novas características.


Na Tabela 5.11, tem-se a percentagem de variação das vazões, altura manométrica e
potência, em função da percentagem de variação de n ou D.
Tabela 5.11 - Variação de vazão (Q), altura manométrica (H) e potência (P) de uma bomba, em
função da variação da rotação (n) ou do diâmetro (D) do rotor, em percentagem

Parâmetros Porcentagem de variação


n ou D 0 5 10 15 20 25
Condução da água para irrigação 181

Q 0 5 10 15 20 25
H 0 10 21 32 44 56
P 0 16 33 52 73 95

A rotação específica ns é o número de rotações, dado na unidade de tempo, por uma


bomba geometricamente semelhante, que, com a carga total igual a uma unidade, eleva uma
unidade de vazão, sendo determinada pela seguinte expressão:

Q 1/ 2
ns = n (5.50)
H 3/ 4
Analisando a equação 5.50, verifica-se que as bombas para maiores alturas
manométricas têm menor rotação específica.
A rotação específica é um índice do tipo de bomba para a vazão e a altura
manométrica, referida ao ponto de máxima eficiência.
Quando Q for em litros/minuto, H em metro e n em rpm, a equação de rotação
específica de uma bomba centrífuga poderá ser escrita deste modo:
Q 1/ 2
ns = 0,211 n (5.51)
H 3/ 4
As bombas centrífugas mais comuns apresentam ns = 4000.
Verifica-se que, para cargas mais elevadas, é necessário usar bombas com baixa
rotação específica.

Altura Máxima de Sucção (Hsmax)


As tubulações de sucção nas bombas que não trabalham afogadas, como as usadas na
maioria dos projetos de irrigação, trabalham com pressão inferior à pressão atmosférica. Se
na entrada da bomba houver pressão inferior à pressão de vapor da água, haverá formação de
bolhas de vapor, podendo até interromper a circulação da água ou formar muitas bolhas
menores, que, ao atingirem as regiões de pressão positivas, ocasionam implosões, causando
ruídos (martelamento) e vibrações no sistema. Tal fenômeno denomina-se cavitação e provoca
a “corrosão” das paredes da carcaça da bomba e das palhetas do rotor, bem como reduz a sua
eficiência. É o fator que limita o valor da altura máxima de sucção.
A queda de pressão desde a entrada da tubulação de sucção até a entrada da bomba
depende da altura estática de sucção, do comprimento e do material da tubulação e das perdas
de cargas localizadas ao longo da tubulação, por causa das peças especiais, como crivo,
válvula de pé, curvas, reduções etc.
182 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Considerando o nível da água a ser bombeada como plano de referência e aplicando a


equação da energia entre o plano de referência e a entrada da bomba, a altura máxima de
sucção será determinada pela seguinte equação:
V2
hsmax < Po – (Pv + + h), (5.52)
2g
em que: hsmax = altura máxima de sucção, em mca;
Po = equivalente à pressão atmosférica local, em mca;
Pv = equivalente à pressão de valor da água, à temperatura local, em mca;
V = velocidade da água na entrada da bomba, em m s-1; e
h = perda de carga acidental na tubulação de sucção, em mca.
Analisando a equação anterior, verifica-se que a altura máxima de sucção (hsmax) é
função da pressão atmosférica local, a qual varia com a altitude (Tabela 5.12) da pressão de vapor
da água, a qual varia com a temperatura (Tabela 5.13), da carga de velocidade na entrada da
bomba e das perdas de carga acidentais. Separando, nesta equação, de um lado as grandezas que
dependem das condições locais de instalação, e do outro as que dependem da bomba, inclusive a
perda de carga, em função do tipo de rotor (hr), ter-se-á:

V2
Po - (hsmax + Pv + h) > + hr. (5.53)
2g
Os membros desta expressão representam a carga de sucção expressa em termos de
pressão absoluta e são representados pelas letras NPSH (net positive suction head), sendo o
primeiro o NPSH disponível e o segundo o exigido, ou seja, (NPSH)d > (NPSH)r.

Tabela 5.12 - Pressão atmosférica, em função da altitude


Altitude (m) Pressão (mca) Altitude (m) Pressão (mca)
0 10,33 1.000 9,16
100 10,21 1.200 8,88
200 10,09 1.500 8,54
300 9,96 1.800 8,20
400 9,84 2.100 7,89
500 9,73 2.400 7,58
600 9,59 2.700 7,31
900 9,22 3.000 7,03
Tabela 5.13 - Pressão de vapor da água, em função da temperatura

Temperatura (ºC) Pressão (mca) Temperatura (ºC) Pressão (mca)


Condução da água para irrigação 183

15 0,17 35 0,57
20 0,24 40 0,75
25 0,32 45 0,97
30 0,43 50 1,26

A bomba jamais “cavitará” quando o NPSH disponível for maior do que o NPSH
exigido pela bomba, sendo este último uma característica da própria bomba, especificada pelo
fabricante.

Exemplo

Determinar a altura máxima de sucção permitida para uma bomba a ser instalada em local
cuja altitude é de 900 m, sendo a temperatura média de água de 30 oC, a perda de carga na
tubulação de sucção de 1,245 m e a velocidade da água na tubulação de sucção igual a 1 m/s.
Se não se considerar a perda de carga do rotor (hr):

V2
hsmax < Po - (Pv + + h)
2g

substituindo os valores, tem-se:


1
hsmax < 9,22 - (0,43 + + 1,24)
2 x 9,81

hsmax < 7,5 m, não considerando a perda de carga do rotor (hr).


Neste mesmo problema, caso a bomba disponível tenha o NPSH exigido igual a 3,0
m, qual deverá ser a altura máxima de sucção?
hsmax < Po – (Pv + h + (NPSH)r)
ou seja:
hsmax < 9,22 - (0,43 + 1,24 + 3,0)
hsmax < 4,5 mca
Na prática, recomendam-se os seguintes valores máximos para a altura de sucção: 6,5
m ao nível do mar, 5,5 m para a altitude de 1.500 m e 4,5 m para a altura de 3.000 m,
contudo, quanto menor for a altura de sucção, melhor será o desempenho da bomba.
184 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Curvas Características das Bombas Centrífugas


Cada tipo de bomba possui uma relação entre a vazão (Q), a altura manométrica total
(Hman), a potência absorvida (Pa), a velocidade de rotação (rpm) e o rendimento (E). Estas
variáveis geralmente aparecem associadas, formando as curvas características das diversas
bombas (Figura 5.8).
Quando se mantêm constantes a forma e a velocidade de rotação do rotor, a variação do
diâmetro do rotor dá origem a curvas características paralelas, conforme mostra a Figura 5.8.

Mark Peerless: GW (1750 rpm)

50

60 70 75
80
B 83
40
A
84
Altura Manométrica (m)

83
80
30

75
70
20
60

50
Ø 305
10 Ø 2 87
Ø 270
Ø 254
Ø 234

0
0 50 1 00 150 20 0 250 300 3 50
V azão (m ³/h)

12 Ø 305

9
NPSH (m)

0
0 50 1 00 150 20 0 250 300 3 50

50

40
Potência (cv)

30 Ø 305
Ø 287

20 Ø 27 0
Ø 254

10 Ø 234

0
0 50 1 00 150 20 0 250 300 3 50

Figura 5.8 - Curvas características de uma bomba centrífuga Mark Peerless.


Condução da água para irrigação 185

O ponto de funcionamento da bomba é a interseç ão das curvas características da


tubulação e da bomba (Figura 5.9). Como normalmente se dimensiona primeiro a tubulação,
para determinada vazão, e depois a bomba, o ponto de funcionamento será a interseção da
linha horizontal, passando pela altura manométrica total, com a curva característica da
bomba. No entanto, com o envelhecimento da tubulação, haverá variação na sua curva
característica, variando então o ponto de interseção com a curva característica da bomba e,
em conseqüência, diminuirá a vazão da bomba, como ilustra a Figura 5.9.
As bombas devem ser selecionadas de modo que o seu ponto de funcionamento se
localize na zona de máximo rendimento.

Curva característica da
tubulação velha

Tubulação nova
P2
H2
P1
H1
Curva característica
da bomba

Hman 2 Hman1

Figura 5.9 - Curvas características da bomba e da tubulação.

Potência do Conjunto Motobomba


A potência útil da bomba (Pu) corresponde ao trabalho por ela realizado, podendo ser
determinada pela seguinte equação:
Q Hman
Pu = (5.54)
75
sendo: Pu = potência útil da bomba, em cavalos-vapor (cv);
Q = vazão bombeada, em L s-1; e
Hman = altura manométrica total, em mca.
A potência absorvida pela bomba (Pa) é a potência necessária no eixo da bomba, ou seja:
186 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Q Haman
Pa = (5.55)
75 E b
em que Eb é a eficiência da bomba, em decimais (geralmente, Eb < 0,80).
De modo semelhante, define-se a potência útil e a potência absorvida pelo motor.
Quando a transmissão de movimento entre o motor e a bomba for por meio de um eixo rígido,
a potência útil do motor será igual à potência absorvida pela bomba. Os motores comerciais
são classificados em função de sua potência útil, denominada potência instalada. A potência
absorvida pelo motor é determinada pela seguinte equação:
Q Haman Q Hman
P= ( cv )  0,736 ( kw ) (5.56)
75 Emb 75 Emb

em que: P = potência necessária ao sistema;


Q = vazão bombeada, em L s-1;
Hman = altura manométrica total, em mca;
Emb = eficiência da motobomba, em decimais (geralmente, Emb < 70); e
(Emb = eficiência da bomba x eficiência do motor).
A altura manométrica total (Hman) representa o aumento de pressão que a bomba
deve transmitir ao líquido, a qual, na irrigação por aspersão, pode ser assim representada:
Hman = Hs + Hr + Hf + Hp + Ha, (5.57)
sendo: Hman = altura manométrica, mca;
Hs = altura geométrica de sucção, m;
Hr = altura geométrica de recalque, m;
Hf = perda de carga ao longo de toda a tubulação, mca;
Hp = pressão necessária no aspersor, mca; e
Ha = altura de elevação do aspersor, m.
A percentagem de sobrecarga que o motor elétrico suporta é chamada de fator de
serviço (FS) e não visa somente atender sobrecargas momentâneas do motor, mas também
condições de sobrecargas em regime contínuo, tratando-se de um fator multiplicador da
potência nominal.
Até por volta de 1996 as normas brasileiras de fabricação de motores não
apresentavam exigências de folgas internas, (ou seja FS = 1,0) no caso de utilização desses
motores é necessário um acréscimo na potência instalada que permita segurança no uso dos
mesmos, conforme indicação a seguir:
Potência necessária Acréscimo

< 2 CV 30%
2 a 5 cv 25%
Condução da água para irrigação 187

5 a 10 cv 20%
10 a 20 cv 15%
> 20 cv 10%

Mudanças na legislação fizeram com que, a partir de 1996, os motores fossem


fabricados com uma reserva de potência (FS > 1,0), de tal forma que variações de potência
dentro de certos limites fossem absorvidas, garantindo o funcionamento adequado do sistema
de bombeamento em situações de cargas variáveis. Portanto, quando FS > 1,0 não é
necessária a folga citada anteriormente.
A potência nominal é a potência mecânica máxima que o motor pode fornecer no seu
eixo em regime de trabalho e sob condições normais. Trata-se, portanto, da potência de saída
do motor – a qual está especificada na placa de identificação – e, em geral, refere-se ao regime
de trabalho contínuo.
Na Tabela 5.14, apresentam-se os valores do fator de serviço de motores elétricos
exigido pela norma 7094 da ABNT, de 1996.

Tabela 5.14 - Valores do fator de serviço e acréscimos na potência demandada no eixo de


bombas hidráulicas em função da potência nominal e do número de pólos de
motores elétricos
Potência Nominal do Motor Fator de Serviço - FS*
KW cv Número de Pólos
2 4 6 8
0,037 1/20 1,40 1,40 1,40 1,40
0,060 1/12 1,40 1,40 1,40 1,40
0,090 1/8 1,40 1,40 1,40 1,40
0,120 1/6 1,35 1,35 1,35 1,35
0,180 1/4 1,35 1,35 1,35 1,35
0,250 1/3 1,35 1,35 1,35 1,35
0,370 1/2 1,25 1,25 1,25 1,15
0,550 3/4 1,25 1,25 1,15 1,15
0,750 1 1,25 1,15 1,15 1,15
1,100 1,5 1,15 1,15 1,15 1,15
1,470 2 1,15 1,15 1,15 1,15
2,210 3 1,15 1,15 1,15 1,15
2,940 4 1,15 1,15 1,15 1,15
3,680 5 1,15 1,15 1,15 1,15
4,420 6 1,15 1,15 1,15 1,15
5,520 7,5 1,15 1,15 1,15 1,15
7,360 10 1,15 1,15 1,15 1,15
9,200 12,5 1,15 1,15 1,15 1,15
11,040 15 1,15 1,15 1,15 1,15
14,720 20 1,15 1,15 1,15 1,15
188 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

18,400 25 em diante 1,15 1,15 1,15 1,15


 ABNT 7094 (1996).

Os motores elétricos, a diesel e a gasolina são os principais tipos usados em irrigação


por aspersão, sendo os motores elétricos os de mais baixo custo.
Para determinar o custo de bombeamento, é necessário saber o custo do cv-hora. É
apresentado, na Tabela 5.15, o consumo médio de combustível por cv-hora produzido.

Tabela 5.15 - Consumo de energia em motores diesel e elétricos, segundo a CESP - São Paulo

Consumo do Motor
Potência do Motor
Diesel Mono e Bifásico Trifásico
HP
(litros/hora) (kilowatt-hora) (kilowatt-hora)
1 0,225 1,13 1,01
2 0,450 2,16 1,96
3 0,677 3,20 2,90
4 0,902 4,15 3,87
5 1,188 5,11 4,84
6 1,353 6,05 -
7,5 1,602 7,46 7,08
8 1,805 7,96 -
9 2,030 8,83 -
10 2,256 9,68 9,44
12,5 2,820 11,90 11,40
15 3,384 14,20 13,50
20 4,513 18,60 17,70
25 5,641 23,00 21,90
30 6,769 - 25,70
40 9,026 - 33,80
50 11,283 - 41,30
60 13,539 - 49,60
75 16,926 - 61,30
100 22,567 - 81,80
125 28,209 - 102,00
Condução da água para irrigação 189

150 33,852 - 123,00


200 45,135 - 164,00

Instalação e Manutenção das Motobombas


As bombas centrífugas, quando corretamente instaladas e manejadas, possuem uma
vida útil relativamente longa. É importante observar os seguintes pontos na instalação e no
manejo dos conjuntos motobombas:
- A altura de sucção deve ser a mínima possível. Devem-se evitar peças especiais ou
curvas desnecessárias na tubulação de sucção, para diminuir as perdas de carga.
- A tubulação de sucção deve ser isenta de entrada de ar e apresentar uma inclinação
ascendente para a bomba, sem pontos altos. Devem-se instalar válvula de pé e crivo no seu
início, para facilitar o escorvamento e evitar a entrada de corpos estranhos.
- O conjunto deve ser protegido contra inundação e chuva.
- A fundação sobre qual se apoiará o conjunto deve ser bem firme e nivelada, de modo
que permita um correto alinhamento e evite as trepidações.
- As tubulações de sucção e recalque devem ter suportes próprios e próximos à
bomba. Não devem apoiar sobre a bomba.
- Devem-se instalar na tubulação de recalque uma válvula de retenção e um registro
de fechamento lento (registro de gaveta). É necessário fechar o registro antes de desligar e
ligar o motor.
- A motobomba somente deve ser ligada após verificar se ela está escorvada. Os
principais defeitos que ocorrem em uma bomba centrífuga e as suas prováveis causas são:
Sem vazão: bomba não escorvada; velocidade de rotação muito baixa; altura de
sucção ou de recalque muito elevada; rotor completamente entupido; sentido de rotação
errado; crivo e válvula de pré enterrados no fundo do poço; ou registro fechado.
Com pouca vazão: bolsa de ar na tubulação de sucção; altura de sucção ou de
recalque elevada; rotor parcialmente entupido ou danificado; válvula de pé agarrada, de crivos
pequenos ou pouco submersos; sentido de rotação do rotor errado.
Com pouca pressão: velocidade de rotação muito baixa; rotor danificado ou com
sentido de rotação errado ou com diâmetro muito pequeno.
Com decréscimo de vazão num período de funcionamento: entrada de ar na tubulação
de sucção; entupimento do crivo; altura de sucção muito elevada.
190 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Consumo exagerado de energia: altura manométrica inferior à prevista, o que aumenta


a vazão bombeada; eixo não alinhado ou empenado; mancais muito apertados.
Condução da água para irrigação 239

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7094: máquinas elétricas, motores de
indução, especificação. Rio de Janeiro, 1996.
BERNARDO, S. Condução d’água para irrigação. Viçosa: Imprensa Universitária da UFV, 1979. 63 p.
BERNARDO, S. Irrigação por aspersão. Viçosa: Imprensa Universitária da UFV, 1980. 85 p.
DAUGHERTY, R.L.; FRANZINI, J.B. Fluid mechanics. 6. ed. New York: McGraw-Hill, 1965. 578 p.
FLAMMER, G.; JEPPSON, R.W. Fundamental principles and application of fluid mechanics Logan. Utah:
State University, 1974. 858 p.
HENDERSON, F.M. Open – channel flow. New York: MacMillan, 1966. 522 p.
LINSLEY, R.K.; FRANZINI, J.B. Engenharia de recursos hídricos. São Paulo: McGraw-Hill, 1978. 798 p.
RIBEIRO, M.C. Estudo sobre racionalização do uso de energia na irrigação. 2003. 142 p. Dissertação
(Mestrado em Eng. Agrícola),
NETTO, J.M.A.; VILLELA, S.M. Manual de hidráulica. 5. ed. São Paulo: Ed. Edgard Bucher, 1969. Vol. 1 e
2.
NEVES, E.T. Curso de hidráulica. 2. ed. Porto Alegre: Globo, 1968. 577 p.
STREETER, V. Mecânica dos fluidos. São Paulo: McGraw-Hill, 1974. 736 p.
Sistematização de terreno para irrigação por superfície 241

Capítulo 6

Sistematização de Terreno para Irri-


gação por Superfície

Considerações Gerais
A irrigação por superfície exige terreno sobre o qual a água possa fluir sem causar
erosão. Antes de iniciar a sistematização de um terreno, deve-se examiná-lo para ver se possui
condições de ser irrigado por este método.
Há várias condições que, provavelmente, tornam um terreno impróprio e
antieconômico para a irrigação por superfície, sendo as principais:
Solo excessivamente permeável – Solos arenosos ou solos muito ricos em matéria
orgânica são caracterizados por alta velocidade de infiltração. Em geral, os solos absorvem
água rapidamente no início da infiltração e depois mais devagar e com velocidade quase
constante. Se a velocidade de infiltração final for igual ou maior do que 4 cm/h, ou menor, em
alguns casos, pode-se dizer que esse solo é impróprio para irrigação por superfície, mas ideal
para irrigação por aspersão.
Solo raso ou pouco profundo – O solo raso talvez possa ser arado e irrigado em
condições naturais, porém não é bastante profundo para permitir uma sistematização,
principalmente quando a profundidade do “corte” exceder a profundidade do solo, causando a
exposição do subsolo. Em alguns casos, essa exposição não é problema sério, necessitando
apenas, para sua correção, de adubação (com parte em forma de matéria orgânica).
Topografia acidentada – Quanto mais acidentada for a topografia do terreno, maior
será o volume de terra a ser movimentado e mais cara ficará a sistematização do terreno. Em
geral, pode-se dizer que os trabalhos de sistematização que requerem movimentação de mais
de 1.000 m3 por hectare tornam a sistematização muito cara, sendo economicamente
imprópria em um empresa agrícola.
242 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Declividade do terreno – A limitação da declividade é necessária para o próprio


controle da irrigação. Em terrenos com declividade acentuada, em geral, a água tende a
movimentar-se na direção da declividade, causando erosão. Também, à medida que a
declividade aumenta, torna-se mais difícil umedecer o solo sem perda excessiva de água. As
limitações da declividade são as mesmas que serão vistas para os diversos métodos de
irrigação por superfície.
Instabilidade da superfície do solo – Existem certos solos que, sob irrigação por
superfície, desenvolvem crateras (sink hole) em proporção tal que a perda de solo e água
torna-os proibitivos para qualquer tipo de irrigação por superfície, devendo ser irrigados por
aspersão. Assim, é desaconselhável a sistematização desses tipos de solo, uma vez que
deverão ser irrigados por aspersão.
Outros aspectos que devem ser observados antes de se iniciar a sistematização de um
terreno é saber qual o método de irrigação por superfície será usado, pois a declividade que se
der ao terreno deverá ser condizente com o método de irrigação, bem como se há
disponibilidade de água na área suficiente para irrigar toda a área a ser sistematizada. Deve-se
lembrar que, dependendo do método de irrigação por superfície a ser usado, do tipo de solo e
da localização do projeto, a vazão contínua necessária poderá variar de 2 a 5 litros/segundo
por hectare.

Preparação para a Sistematização de um


Terreno
Depois de o terreno ter sido considerado propício e econômico para irrigação por
superfície, após a sistematização e escolhido o método de irrigação a ser usado, é necessário
observar os pontos a seguir.

Época a ser realizada a sistematização


É antieconômico e prejudicial ao solo realizar movimentação de terra em época
chuvosa. Assim, a sistematização de um terreno deve ser planejada para a época seca e
somente para uma área capaz de ser sistematizada no período seco.

Levantamento topográfico
Deve-se fazer um levantamento topográfico de toda a área, com piquetes distanciados
uns dos outros 20 m, nas duas direções, formando, então, quadrados de 20 m de lado (Figura
6.1). Os piquetes poderão também ser afastados uns dos outros 10 m ou 25 m, dependendo da
maior ou menor uniformidade da superfície, ou da precisão desejada. Os piquetes que
Sistematização de terreno para irrigação por superfície 243

constituem as linhas e colunas periféricas devem ficar afastados das margens da área a ser
sistematizada em uma distância igual à metade daquela a ser usada no piqueteamento,
conforme ilustrado na Figura 6.1.
10 m

20 m

10 m
20 m

Figura 6.1 - Piqueteamento de uma área para levantamento topográfico.

Para facilidade de identificação dos piquetes, colocam-se letras em uma direção e


números em outra.
Deve-se construir um mapa de modo que todas as anotações possam nele ser
registradas. Para isso, faz-se uma cruz (+) sobre a posição de cada piquete, ou simplesmente
quadricula-se o mapa, com as linhas passando sobre as posições dos piquetes. Todas as
Informações do campo deverão estar contidas neste mapa, da seguinte maneira:
- A leitura da mira deverá estar no quadrante à direita e acima do piquete.
- A “cota”original deverá estar no quadrante à esquerda e acima do piquete.
- Após cálculo, a cota calculada deverá estar à esquerda e abaixo do piquete.
- O corte (C) ou aterro (A) deverá estar à direita e abaixo do piquete.
A Figura 6.2 ilustra estas anotações:

Cota Leitura da
original mira 8,19 1,81
Cota Corte (C) ou 8,00 0,19C
calculada aterro (A)

Figura 6.2 - Exemplo de anotação no mapa de campo.

Curvas de Nível
Elas devem ser construídas de maneira que possam proporcionar melhor entendimento
da topografia do terreno, permitindo divisões em subáreas com topografia semelhante, de
244 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

modo a sistematizá-las independentemente, tornando menor o volume de terra a ser


movimentado e, por conseguinte, mais barato o custo de sistematização.
Essa operação de subdivisão do terreno em subáreas independentes para a
sistematização é muito importante. O terreno apresentado na Figura 6.3 foi dividido em três
subáreas, analisando suas curvas de nível.
subárea I subárea II subárea III

. .

10,00
9,40
8,20

8,50

9,70
8,80

9,10
7,90

Figura 6.3 - Divisão de um terreno em subáreas mais uniformes, para fins de sistematização.

Relação Corte e Aterro


Outro ponto a ser considerado é a relação entre volume de corte e volume de aterro.
Em conseqüência do problema de compactação do solo, sempre é necessário maior volume de
corte do que aterro. Usa-se, em geral, a seguinte relação: C/A = m (m deve variar de 1,2 a
1,4).

Cálculo da Sistematização
Há vários métodos para o cálculo de sistematização de terreno. Será apresentado
somente um método básico, o método do centróide, também conhecido como método dos
quadrados mínimos ou da média do perfil.
Este método é um procedimento estatístico que relaciona um grupo de pontos, o qual
será representado por partes.

Determinação (Posição e Cota) do Centróide


e da Declividade que Melhor se Adapta ao
Terreno
Sistematização de terreno para irrigação por superfície 245

Serão considerados dois casos: área retangular (A) e área não-retangular (B); em
ambos, cada piquete representa quadrículas de mesma área.

A) Determinação do centróide e da declividade de uma área retangular


A Figura 6.4 é uma área a ser sistematizada, piqueteada num intervalo de 10 metros,
nas duas direções (x e y). O piqueteamento iniciou-se a cinco metros da divisão do terreno.
Marcou-se um ponto de origem (“O”) a cinco metros norte e a cinco metros oeste do “corner”
noroeste da área. A orientação deve ser fictícia e de tal maneira que as direções norte-sul e
leste-oeste fiquem paralelas às linhas divisórias do terreno. Assim, o piquete de cota 9,15 m
está a dois piquetes leste e a quatro sul do “O”.
J x
x
"0" 1 2 3 4 5 6
N Total Média
a 9,20 9,17 9,17 9,21 9,16 9,07 54,98 9,16

b 9,19 9,15 9,21 9,18 9,05 8,94 54,72 9,12


(i) (9,15 - centróide)
c 9,22 9,19 9,25 9,09 9,01 9,00 54,76 9,12

d 9,18 9,15 9,25 9,09 9,06 9,16 54,89 9,14

e 9,22 9,18 9,28 9,15 9,19 9,25 55,27 9,21

y
Total 46,01 45,84 46,16 45,72 45,57 45,42 274,62
Média 9,20 9,16 9,23 9,14 9,09 9,08

Figura 6.4 - Área retangular a ser sistematizada.

Locação do centróide – O centróide está afastado do ponto de origem (“O”) em:


- na direção do eixo dos “X”.
M
S j
j=1
Xm = (6.1)
M
em que: Xm= distância, em piquetes, do centróide ao ponto de origem “O”, na direção do eixo
dos “X”;
Sj = distância, em piquetes, da coluna “J” ao ponto de origem “O”; e
M = número total de colunas.
Para a área representada pela Figura 6.4, tem-se:
1+ 2 + 3 + 4 + 5 + 6
Xm   3,5 piquetes
6
- na direção do eixo dos “Y”.
246 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

N
 Si
Ym = i =1 (6.2)
N

em que: Ym = distância, em piquetes, do centróide ao ponto de origem “O”, na direção do eixo


dos “Y”;
Si = distância, em piquetes, da linha i ao ponto de origem “O”; e
N = número total de linhas.
Para a área representada pela Figura 6.4, tem-se:
1+ 2 + 3+ 4 + 5
Ym   3 piquetes
5
Determinação da cota do centróide – A sua cota é a soma da cota de todos os
piquetes, dividida pelo número deles, ou seja:
N M
  Hij
i =1 jl 274,62
cota do centróide (H m )  =  9,15 m
N.M 30
Nota – Como a área é retangular, poder-se-ia localizar o centróide pela interseção das
duas diagonais do retângulo.
Determinação da declividade que melhor se adapta ao terreno – Caso seja de
interesse que a superfície fique na horizontal, simplesmente deve-se fazer com que a cota de
todos os pontos fique igual à cota do centróide. Nos pontos cuja cota original for maior do que
a cota do centróide, faz-se corte, e naqueles em que ela for menor, faz-se aterro. Contudo, no
caso de sistematização de terreno para irrigação, precisa-se de um pequeno declive. Este
método que está sendo considerado determina o declive a ser conseguido, de modo que este
cause o menor movimento de terra e, em conseqüência, seja o mais barato.
Para que seja melhor entendido, é desejável que se plote a média das cotas das linhas e
das colunas, o que é apresentado para os dados do problema da área retangular nas Figuras
6.5 e 6.6.
A fim de evitar confusão com os gráficos, as coordenadas serão designadas de: “H”
para cota e “S” para distância em piquetes do ponto de origem “O”.
De acordo com este método, as declividades que melhor se adaptam ao terreno nas
direções “x” e “y” serão dadas pelas equações 6.3 e 6.4, respectivamente:
Sistematização de terreno para irrigação por superfície 247

9,30
a
ad
c ul
c al
9,20 G

ns
Cota (H)

9,10 declividade média “norte-sul”

9,00

1 2 3 4 5
Distância (S)
Figura 6.5 - Média do perfil “norte-sul”.
9,30
declividade média
“oeste-leste”
9,20
Cotas (H)

Gwe calculada
9,10

9,00

1 2 3 4 5 6
Distância (S)

Figura 6.6 - Média do perfil “oeste-leste”.

 M  M 
  S j    Hc j 
M
 jl   j1 
 (S j Hc j ) -
j =1 M
Gx = 2
(6.3)
M 
 Sj 
M
2  j=1 
 (S j ) -
j=1 M
248 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

 N S   N Hl 
N   i   i 
(S Hl ) -  i l   i 1 
 i i
Gy = i =1 N (6.4)
2
N
 S 
N  i 
2  i l 
 (Si) -
j=1 N

em que: Gx = declividade que melhor se adapta ao terreno, da direção do eixo dos “x”;
Gy = declividade que melhor se adapta ao terreno, da direção do eixo dos “y”;
S = distância, em piquetes, da coluna ou linha ao ponto de origem “O”;
Hc = cota média de cada coluna;
Hl = cota média de cada linha;
M = número de colunas;
N = número de linhas;
(S Hc) ou (S Hl) = somatório do produto da distância, em piquetes, de cada
coluna ou linha pela cota média de cada coluna ou linha;
(S) (Hc) ou (S)(Hl) = produto do somatório das distâncias, em piquetes, das
colunas ou linhas ao ponto de origem “O” pelo
somatório das cotas médias das colunas ou linhas;
(S)2 e (S)2 = somatório dos quadrados e quadrado do somatório das distâncias, em
piquetes, de cada coluna ou linha ao ponto de origem “O”.
Calculando para os dados apresentados no terreno retangular da Figura 6.4, tem-se:
- para a direção “oeste-leste” (GWe ou Gx)
M=6
6

 S
j1
j hc j   1 x 9,20   2 x 9,16  3 x 9,23  4 x 9,14  5 x 9,09  6 x 9,08  191,70

6
 Sj  1  2  3  4  5  6  21
j1

6
 Hc j  9,20  9,16  9,23  9,14  9,09  9,08  54,90
j1

6
 S j   1  4  9  16  25  36  91
2

j1
Sistematização de terreno para irrigação por superfície 249

21 x 54,90
191,70 -
G we  6   0,0257
(21) 2
91 -
6
Nota - O sinal negativo indica declividade para leste a partir de “O”.
- para a direção “norte-sul” (Gns ou Gy)
N=5
5

 S
i 1
i hl i   1 x 9,16   2 x 9,12  3 x 9,12   4 x 9,14   5 x 9,21  137,37

S
i 1
i  1  2  3  4  5  15

5
 Hl i  9,16  9,12  9,12  9,14  9,21  45,75
i 1

5
2
 S 
i 1
i  1  4  9  16  25  55

15  45,75
137,37 -
G ns  5   0,012
(15) 2
55 -
5
Nota – O sinal positivo indica aclividade para sul a partir de “O”.
As declividades encontradas anteriormente são as diferenças de nível que deverão
existir entre dois piquetes consecutivos. Se os piquetes estiverem afastados 20 m, para
encontrar a declividade em percentagem, deve-se multiplicar o valor encontrado por 5, se a
distância entre piquetes for de 25 m, multiplica-se por 4 etc.
Nesse caso, em que os piquetes estão afastados uns dos outros 10 m, para se
conseguir a declividade em percentagem multiplica-se o valor encontrado por 10.
Assim, a declividade que melhor se adapta à área em estudo, causando o menor
movimento de terra, é de + 0,12% na direção norte e de - 0,257% na direção oeste-leste. Para
conferir o resultado com os dados de campo, pode-se plotar o plano com declividade + 0,12%
(N - S) e e - 0,257% (W - E) nas Figuras 6.5 ou 6.6, respectivamente.

B) Determinação do centróide e da declividade de uma área não-retangular


A Figura 6.7 é a área a ser sistematizada. Seguem-se as mesmas considerações no que
diz respeito ao piqueteamento do caso anterior.
250 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

O piquete de cota 8,82 está quatro piquetes ao norte e três ao leste de “O”.

e 8,93 8,84 8,79 8,83 8,83 8,80 5 6 30


N
d 9,06 8,95 8,82 8,79 8,85 8,81 4 6 24
Cota 8,858
c 9,00 8,99 8,91 8,75 8,81 3 5 15
( i) (3,12)
b 8,84 8,94 8,91 8,75 8,85 2 5 10
(3,28)
a 8,75 8,81 8,85 1 3 3
25 82

(j)
0 (1) (2) (3) (4) (5) (6) x
nº piquetes 5 5 4 4 4 2/25
Produto 5 10 15 16 20 12/78

Figura 6.7 - Área não-retangular a ser sistematizada.


Locação do centróide
– na direção do eixo dos “X”
M
 (S j N j )
j l
Xm  M
(6.5)
Nj
j l

em que Nj = número de piquetes na coluna J.


Para a área representada pela Figura 6.5, tem-se:
5 + 10 + 15 + 16 + 20 + 12 78
Xm  = = 3,12 piquetes
5+5+5+ 4 + 4 +2 25
ou seja, o centróide está a 3,12 piquetes, na direção x, a partir de “O”.
- na direção do eixo dos “Y”
N
 (Si M i )
i l
Ym  N
(6.6)
 Mi
i l

em que Mi = número de piquetes na linha i.


Sistematização de terreno para irrigação por superfície 251

Para a área representada pela Figura 6.5, tem-se:

3 + 10 + 15 + 24 + 30 82
Ym  = = 3,28 piquetes
3+5+5+6+6 25
ou seja, o centróide está a 3,28 piquetes, na direção y, a partir de “O”.
Determinação da cota do centróide – A cota do centróide é a soma da cota de todos
os piquetes, dividida pelo número deles.
221,46
Cota do centróide H m    8,858
25
Determinação da declividade que melhor se adapta ao terreno – Em se tratando de
área não-retangular, o procedimento é idêntico ao usado para área retangular (eqs. 6.3 e 6.4),
porém, neste caso, o método do centróide não é tão preciso como naquele.

Plano que Melhor se Adapta à Superfície


A terceira parte consiste em, usando as declividades Gy e Gx e a cota de centróide,
determinar a cota de todos os outros piquetes de modo que se obtenha o plano que melhor se
adapta à superfície, causando o mínimo de corte e aterro.
Conhecendo os valores de Gx, Gy e H(m) (cota de centróide), substitua-os na equação
6.7 para determinar a cota do ponto de origem “O”.
H m " O"G we X m   G ns Ym  (6.7)
em que: Hm = cota do centróide;
“O”= cota do ponto de origem no novo plano; e
Xm e Ym = distância horizontal e vertical em piquetes, do centróide, em relação ao
ponto de origem “O”.
Para o problema da Figura 6.4, tem-se:
Hm = 9,15 m;
Xm = 3,5 piquete;
Ym = 3,0 piquete;
Gns = + 0,0120 m/piquete;
Gwe = - 0,0257.m/piquete
Nota – Gns e Gwe não são declividades em percentagem, mas a diferença de nível entre
dois piquetes consecutivos.
Substituindo-os na equação 6.7, obtém-se:
" O"  9,15  ( 0,0257 x 3,50)  ( 0,012 x 3)
252 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

" O"  9,204 m


Dessa forma, a nova cota de qualquer piquete será dada pela equação 6.8, ou seja,
somando algebricamente à cota do ponto de origem o produto da declividade pela distância em
piquete de cada ponto ao ponto de origem “O”.

H ij  " O"  (G we ) (X ij )  (G ns ) (Yij ) (6.8)

Por exemplo, a nova cota do piquete com cota original de 9.19, em que X = 2 e Y = 3,
será:
H  9,202  (  0,0257 x 2)  (  0,012 x 3)

H = 9,189 m
Verifica-se, em alguns casos, que a declividade calculada por este método é muito
pequena ou muito grande para o método de irrigação que se tem em mente. Neste caso, pode-
se traçar um plano que passe pelo centróide com a declividade desejada. Por exemplo: pede-se
que a declividade no sentido norte-sul seja de 0,5%. Em dez metros (distância entre piquetes),
a diferença de nível será de 0,05, que é o valor de GNS; substitui-se este valor nas equações 6.7
e 6.8 e calculam-se as cotas dos outros piquetes. Após a sistematização, ter-se-á uma
declividade no sentido norte-sul de 0,5%.
Nesses casos, ou seja, quando a declividade não for a calculada e sim imposta para
satisfazer uma necessidade, o movimento de terra será maior.
Fazendo o cálculo para todos os piquetes do problema em questão, tem-se:
Piquetes Cota original Cota calculada
a. 1 9,20 9,190
a. 2 9,17 9,164
a. 3 9,17 9,139
a. 4 9,21 9,113
a. 5 9,16 9,088
a. 6 9,07 9,062
b. 1 9,19 9,203
b. 2 9,15 9,177
b. 3 9,21 9,151
b. 4 9,18 9,126
b. 5 9,05 9,100
b. 6 8,94 9,074
c. 1 9,22 9,215
Sistematização de terreno para irrigação por superfície 253

c. 2 9,19 9,189
c. 3 9,25 9,163
c. 4 9,09 9,138
c. 5 9,01 9,112
c. 6 9,00 9,086
d. 1 9,18 9,227
d. 2 9,15 9,201
d. 3 9,25 9,175
d. 4 9,09 9,150
d. 5 9,06 9,124
d. 6 9,16 9,098
e. 1 9,22 9,239
e. 2 9,18 9,213
e. 3 9,28 9,187
e. 4 9,15 9,162
e. 5 9,19 9,136
e. 6 9,25 9,110

Ajustamento de Corte e Aterro


A relação entre corte e aterro deve variar de 1,2 a 1,4, isto é, o volume de corte deve
ser de 1,2 a 1,4 vez maior do que o volume do aterro.
Se o sistema de piqueteamento for retangular e os piquetes da periferia estiverem
afastados do limite da área a uma distância igual à metade da distância entre eles, todos os
piquetes representam a mesma área; no caso, cada piquete representa uma área de 100 m2.
Assim, pode-se supor que a soma das profundidades de cortes em todos os piquetes ( corte) e
a soma dos aterros ( aterro) têm a mesma proporção entre si que a relação entre volume de
corte e volume de aterro. Se houver algum piquete na periferia que represente uma área maior
do que a dos piquetes do centro, deve-se dar maior ou menor peso à profundidade de corte ou
aterro dessa área, para igualar, em volume, às outras áreas.
Então, a fórmula para ajustamento de corte e aterro deve ser:

 corte
 m ( m deve var iar de 1,2 a 1,4)
 aterro

A profundidade de corte ou de aterro é obtida pela diferença entre a cota original e a


cota calculada. Quando a cota original for maior do que a calculada, deverá ser feito um corte
com profundidade igual à diferença entre as duas. Quando acontecer o contrário, faz-se um
aterro de profundidade igual à diferença.
254 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Se o somatório dos cortes for igual ao dos aterros ou pouco maior, deverá ser
abaixada a cota de todos os piquetes de uma determinada quantia, que nada mais é do que
aumentar a profundidade de todos os cortes de  e diminuir a profundidade dos aterros de .
O valor de  pode ser determinado por tentativa, usando-se múltiplo de 5 mm, ou por meio da
equação 6.9, que permite calcular qual deverá ser a variação da cota de todos os piquetes para
encontrar a relação m desejada.
mA - C
= (6.9)
mNa + Nc
em que:  = variação na cota de todos os piquetes;
(  (+) abaixar,   (-) subir);
m = relação desejada entre o volume de corte e o de aterro;
A = somatório dos aterros;
C = somatório dos cortes;
Na = nº de piquetes com aterro; e
Nc = nº de piquetes com corte.
Testa-se novamente a relação entre o corte/aterro para ver se atingiu a razão desejada.
Para ilustrar esse procedimento, apresenta-se a relação de corte com aterro do
problema.
Na primeira determinação, tem-se:
 Corte = 0,861
 Aterro = 0,745
 Corte
= 1,155
 Aterro
Por esta relação ser pequena, deve-se fazer o ajustamento, ou seja, abaixar a cota
calculada de cada piquete de 5 mm (0,005 m). Agora, tem-se:
 Corte = 0,94
 Aterro = 0,675
 Corte
= 1,394
 Aterro
Esta relação é satisfatória; assim, as primeiras anotações de Corte e Aterro no mapa
de Campo deverão ser modificadas, fazendo com que o plano passe 0,005 m mais baixo, ou
seja, aumentando os cortes e diminuindo os aterros em 0,005, como pode ser visto na Figura
6.8.
Sistematização de terreno para irrigação por superfície 255

(1) (2) (3) (4) (5) (6)

9,20 0,80 9,17 0,83 9,17 0,83 9,21 0,79 9,16 0,84 9,07 0,93
(a)
9,12 0,010C 9,164 0,006C 9,139 0,031C 9,113 0,097C 9,088 0,072C 9,062 0,008C
0,015C 0,011C 0,036C 0,102C 0,077C 0,013C

9,19 0,81 9,15 0,85 9,21 0,79 9,18 0,82 9,05 0,95 8,94 1,06
(b)
9,203 0,013A 9,177 0,027A 9,151 0,059C 9,126 0,054C 9,10 0,050A 9,074 0,134A
0,008A 0,022A 0,064C 0,059 0,045A 0,129A

9,22 0,78 9,19 0,81 9,25 0,75 9,09 0,91 9,01 0,99 9,00 1,00
(c)
9,215 0,005C 9,189 0,001C 9,163 0,087C 9,138 0,049A 9,112 0,102A 9,074 0,085A
0,010C 0,006C 0,092C 0,043A 0,045A 0,080

9,18 0,82 9,15 0,85 9,25 0,75 9,09 0,91 9,06 0,94 9,16 0,84
(d)
9,227 0,047A 9,201 0,051A 9,175 0,075C 9,15 0,060A 9,121 0,064A 9,098 0,069C
0,042A 0,046A 0,080C 0,055A 0,059 0,074C

9,22 0,78 9,18 0,82 9,28 0,72 9,15 0,85 9,19 0,81 9,25 0,75
(e)
9,239 0,010A
0,019A 9,213 0,0333A 9,187 0,093C 9,162 0,012A 9,136 0,054C 9,11 0,140C
0,014
0,014 0,028A 0,098C 0,007A 0,059 0,145C

Figura 6.8 - Mapa mostrando as cotas originais e as calculadas, bem como os cortes e aterros
necessários. No quadrante de cortes e aterros há dois números: o superior,
representando os cortes e aterros que foram calculados pelo método do centróide,
e o inferior, quando todas as cotas foram abaixadas de 0,005 m, para satisfazer a
relação C/A.

Cálculo do Volume de Terra


O volume total de terra proveniente do corte é a base principal para estimar o
equipamento necessário e o custo de sistematização.
O volume de terra a ser escavado nas unidades de áreas pode ser calculado por
diversos métodos, sendo o usual o método do “Somatório”, que apresenta precisão inferior à
dos outros, porém é o único viável quando se trata de cálculos manuais. Outros métodos
podem ser utilizados, principalmente em caso de programas de sistemas, como: método das
“subáreas” e método dos “quatro pontos”.
Método do “somatório” – Este método é baseado na seguinte fórmula:
Volume de corte = ( cortes) (área representada por piquete)
Volume de aterro = ( aterros) (área representada por piquete)
Tem-se, para o problema:
256 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Volume de corte = 0,941 m x 100 m2


= 94,100 m3

Marcação dos Cortes e Aterros no Terreno


Há vários métodos e várias maneiras de marcação de corte e aterro no terreno. De
modo geral, em qualquer que seja o método usado, existem os seguintes pontos em comum:
– Colocar estacas junto a cada piquete com marca, a uma distância constante da
superfície do terreno, a qual pode ser de 50 cm. Esta marca servirá como ponto de referência.
– A profundidade de corte ou aterro deverá ser pintada em cada estaca, de modo que
possa ser vista a uma distância mínima de 50 m.
– Estas marcações devem ter uma duração suficiente para que não desapareçam antes
de terminar a sistematização.
– Em geral, a profundidade de corte em cada estaca é indicada por uma faixa
vermelha, a partir do ponto de referência, para baixo, de comprimento igual à profundidade do
corte. A profundidade de aterro é indicada por uma faixa azul, a partir do ponto de referência,
para cima, de comprimento igual à profundidade de aterro. A profundidade de corte também
pode ser indicada por uma faixa vermelha, a partir da parte superior da estaca, para baixo, de
comprimento igual à profundidade de corte; e a profundidade de aterro, por uma faixa azul, a
partir da base da estaca, para cima, de comprimento igual à profundidade de aterro.
Nas Figuras 6.9, 6.10, 6.11 e 6.12 estão representados vários aspectos da
sistematização.
Sistematização de terreno para irrigação por superfície 257

Figura 6.9 - Acabamento da sistematização de um tabuleiro (PROVARZEAS - MG).

Figura 6.10 - Sistematização com niveladora (PROVARZEAS - MG).


258 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 6.11 - Sistema de irrigação por sulco em área sistematizada.

Figura 6.12 - Sistema de irrigação por inundação em área sistematizada.

Referências
BERNARDO, S. Sistematização de terreno para irrigação por superfície. Viçosa, MG: Imprensa
Universitária da UFV., 1976. 17 p. (Boletim nº 48).
GATTIS, J.L. et al. Land grading for surface irrigation. Arkansas: Agricultural Extension Service, 1959. 29
p. (bul. 491).
MARR, J.C. Grading land for surface irrigation. California: Agricultural Experimental Station. Extension
Service, 1957. 55 p. (bul. 438).
SHIH, S.F.; G.J. KRIZ. Tables and formulas for earthwork calculationin land forming. North Caroline:
Agricultural Experiment Station, 1970. 63 p. (bul. 203).
USDA. Land leveling. Washington, D.C.: SCS National Engineering Hand-book. Irrigation: chapter 12, 1961.
59 p.
WALKER, W.R.; SKOGERBOE, G.V. Theory and practice of surface irrigation. Utah State University.
1984. 467 p.
ZIMMERMAN, J.D. Irrigation. N. York: John Wiley & Sons, 1966. 516 p.
Irrigação por superfície 259

Capítulo 7

Irrigação por Superfície

Considerações Gerais
Os métodos de irrigação podem ser divididos em pressurizados e não-pressurizados.
Nos primeiros, a água é conduzida em tubulações sob pressão até o ponto de aplicação. Estão
incluídos nessa categoria os métodos de irrigação por aspersão, em que a água é aspergida na
atmosfera, caindo em forma de chuva artificial, e os métodos de irrigação localizada, em que a
água é aplicada diretamente sobre a região radicular com baixa intensidade e alta freqüência.
Nos métodos de irrigação não-pressurizados – ou irrigação por superfície – a água é
conduzida por gravidade diretamente sobre a superfície do solo até o ponto de aplicação,
exigindo, portanto, áreas sistematizadas e com declividades de 0 a 6 %, de acordo com o tipo
de irrigação.
A escolha do método de irrigação a ser usado em cada área deve ser baseada na
viabilidade técnica, econômica e ambiental do projeto e nos seus benefícios sociais. Em geral,
os sistemas de irrigação por superfície são os de menor custo por unidade de área; os de
aspersão, de custo médio; e os de irrigação localizada, de maior custo.
Na escolha do método de irrigação a ser usado, devem-se considerar os pontos vistos a
seguir:

Uniformidade da Superfície do Solo


A irrigação por superfície requer superfícies uniformes e com declividade não muito
acentuada. Assim, terrenos com declividade acentuada limitam o uso desse tipo de irrigação,
permitindo somente irrigação por aspersão e localizada. A uniformidade da superfície do
terreno é também muito importante. A irrigação por superfície exige áreas uniformes, sem
elevações e depressões, para evitar a falta ou o acúmulo de água. Para colocar a superfície do
260 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

terreno em condições de poder praticar uma eficiente irrigação por superfície, há, em geral,
necessidade de sistematizá-lo. Quanto maior for a desuniformidade natural do terreno, maior
será o custo e maiores os problemas com a sistematização. Dependendo do seu custo e da
profundidade dos cortes a serem realizados, expondo o subsolo, não se recomenda a
sistematização. Neste caso, as únicas opções são irrigações por sulco em contorno, por
aspersão ou localizada.

Tipo do Solo
Deve-se considerar também o tipo do solo da área a ser irrigada. Solos com baixa
capacidade de retenção de água exigem irrigações leves e freqüentes, as quais são de difícil
manejo na irrigação por superfície e de fácil manejo na irrigação por aspersão e localizada.
Solos com alta capacidade de infiltração facilitam o uso de irrigação por aspersão e
localizada, por permitirem irrigações com maior intensidade de aplicação, diminuindo assim o
tempo de irrigação por posição, e dificultam o uso de irrigação por superfície, por causa das
grandes perdas por percolação, a menos que os sulcos ou faixas sejam muito curtos. No
entanto, quanto mais curtos forem os sulcos, mais caros serão os sistemas de irrigação, em
virtude do aumento de mão-de-obra necessária para aplicá-la, do maior número de canais
exigidos pelo projeto, da maior perda de terreno com canais e da maior dificuldade de
mecanização.
Quando a área a ser irrigada apresenta diferentes tipos de solo, isso não causa sérias
dificuldades para projetar sistemas de irrigação por aspersão e localizada, porém dificulta
bastante o projeto e manejo de sistemas de irrigação por superfície.

Quantidade e Qualidade da Água


A quantidade, a qualidade e o custo da água também influem na escolha do método de
irrigação.
Quando a quantidade de água for fator limitante ou seu custo for muito elevado, ela
deverá ser usada com a máxima eficiência possível. Em geral, consegue-se maior eficiência
com irrigação localizada e por aspersão do que com irrigação por superfície.
Águas com muitas partículas sólidas em suspensão têm uso limitado em aspersão e
localizada, a menos que use filtros com melhores características, o que encarece o sistema.
Este tipo de água dificilmente causa problemas na irrigação por superfície, exceto a
sedimentação nos canais.
Águas com concentrações mais elevadas de cloreto de sódio, quando usadas na
irrigação, devem ser usadas pelo método de irrigação por superfície ou, em alguns casos, por
gotejamento, mas nunca por aspersão, porque haverá corrosão das tubulações, diminuindo sua
vida útil, e queima da parte aérea dos vegetais.
Irrigação por superfície 261

Os sistemas com fornecimento de água intermitente ou com programação rígida são


mais apropriados para irrigação por superfície, enquanto aqueles com vazão baixa e contínua
são recomendados para irrigação localizada ou por aspersão.

Clima
Em regiões em que a velocidade média do vento exceda a 5 m/s não é recomendada a
irrigação por aspersão, pois haverá muita perda de água por arrastamento pelo vento e
alteração do perfil de distribuição dos aspersores, causando baixa uniformidade de
distribuição. Em regiões com baixa umidade relativa do ar e alta temperatura, deve-se, sempre
que possível, evitar o uso da irrigação por aspersão, em virtude da grande perda por
evaporação, exceto em regiões onde o resfriamento da cultura também é objetivo da irrigação.

Cultura
É muito importante esclarecer que não há propriamente um método de irrigação mais
eficiente que outro, para quaisquer condições, mas sim que, para determinada condição, há
métodos que se adaptam melhor. Deve-se primeiro estudar bem as características da cultura e
da área a ser irrigada e depois escolher o método que melhor se adapte a essas características.
Geralmente, não se pode dizer também que um método de irrigação seja melhor que o
outro no que diz respeito à produção vegetal. Infelizmente, encontram-se, com muita
freqüência, técnicos dizendo que determinada cultura produz muitas vezes mais com
determinado método de irrigação que outro. O que ocorre, na realidade, é que o manejo da
irrigação com o método que produziu mais favorecia aquela combinação de cultura e solo.
Caso o método que produziu menos venha a ser usado com manejo que favoreça aquela
combinação de cultura e solo, a produção será tão boa com um método quanto com outro.
Normalmente, o que há é comparação entre dois métodos, com eles sendo manejados
diferentemente para as mesmas condições de cultura e solo em teste.
Deve-se deixar bem claro que, dependendo das condições locais de solo e da cultura a
ser irrigada, um método de irrigação pode ser de mais fácil manejo que outro. Nos métodos de
irrigação localizada e por aspersão há melhor controle da lâmina aplicada por irrigação.
Assim, para as culturas que requerem irrigações mais freqüentes ou para solos com menor
capacidade de retenção de água, em condições normais de manejo, podem-se obter melhores
resultados quando se usa irrigação por aspersão ou localizada. Por outro lado, para as
culturas que se desenvolvem bem em solos saturados, a irrigação por inundação é a de mais
fácil manejo.
262 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Manejo da Irrigação
De modo geral, os métodos de irrigação por aspersão e localizada são mais fáceis de
serem operados no campo do que os métodos por superfície, excetuando-se o de inundação.
Em virtude de a irrigação localizada e por aspersão estarem menos sujeitas à
interferência do irrigante no campo, estes métodos apresentam maior eficiência do que os de
irrigação por superfície. Na Tabela 7.1 têm-se os valores ideais e aceitáveis da eficiência de
aplicação (Ea), ou seja, da percentagem do total de água aplicada na irrigação, que é
considerada útil às culturas, para os diferentes métodos de irrigação.
Quanto ao reparo e à manutenção do sistema em condições de campo, o mais simples é
o da irrigação por superfície, e o mais complexo, o de irrigação por gotejamento.

Tabela 7.1 - Eficiência de aplicação (Ea) ideal e aceitável, para os diferentes métodos de
irrigação

Método de irrigação Ea ideal (%) Ea aceitável (%)


Superfície
sulco (convencional) ≥75 ≥60
corrugação ≥70 ≥60
faixa ≥80 ≥65
inundação ≥85 ≥65
Aspersão
convencional ≥85 ≥75
autopropelido ≥85 ≥75
pivô central ≥85 ≥75
Localizada
gotejamento ≥95 ≥80
microaspersão ≥95 ≥80
Subsuperficial
lençol freático estável ≥70 ≥60
lençol freático variável ≥80 ≥65
Irrigação por superfície 263

Irrigação por Superfície


A irrigação por superfície foi o primeiro método de irrigação a ser utilizado no mundo.
Há 6.000 anos a civilização da Mesopotâmia já empregava esse método de irrigação, ainda
que de forma rudimentar (KANG, 1972).
Cerca de 18% das terras cultivadas no mundo são irrigadas, e aproximadamente 56%
desse total é irrigado por superfície. Em 2002 estimou-se uma área irrigada no Brasil de 3,15
milhões de ha, distribuídos entre os seguintes métodos: irrigação por superfície (33,65%),
irrigação subsuperfial (18,23%), irrigação por aspersão convencional (19,54%), irrigação por
pivô central (20,69%) e irrigação localizada (7,89% ) (CHRISTOFIDIS, 2002).
Os projetos de irrigação por superfície, no Brasil, geralmente operam com baixa
eficiência de aplicação. Leal, citado por Coelho (1986), estudando a eficiência de irrigação em
nível de parcela no Projeto de Irrigação de Bebedouro (PE), concluiu que a eficiência média de
aplicação foi de 33%. Coelho (1986), trabalhando no Projeto de Irrigação do Estreito, Estado
da Bahia, encontrou uma eficiência de aplicação de 32%. Christofidis (2002) afirma que a
eficiência de aplicação de água varia entre 40 e 70% em sistemas de irrigação por superfície.
Existem, inicialmente, duas razões para a baixa eficiência de aplicação em um projeto de
irrigação por superfície. Primeiramente, pode-se obter uma baixa eficiência de aplicação devido à
falta de combinação adequada das variáveis comprimento da área, declividade da superfície do
solo, vazão aplicada e tempo de aplicação. Por exemplo, não é difícil cometer um erro na
determinação do tempo de aplicação, uma vez que este depende das características de infiltração de
água no solo, que têm grande variabilidade espacial e temporal.
Outra razão para a baixa eficiência de irrigação é o manejo deficiente. Muitas vezes o
engenheiro recomenda um tempo de aplicação de água de seis horas e o irrigante utiliza oito,
aplicando água em excesso.
Fazendo-se a avaliação de um projeto de irrigação, é possível detectar as falhas
existentes e, conseqüentemente, melhorar o seu desempenho, corrigindo tais falhas ou, até
mesmo, redimensionando o projeto.
Durante o processo de infiltração na irrigação por superfície, a água pode ser
acumulada sobre a superfície do solo, acumulada e movimentada sobre a superfície ou
somente movimentada sobre ela. Os sistemas de irrigação por superfície, em geral, exigem
sistematização dos terrenos. Eles se adaptam à maioria das culturas e aos diferentes tipos de
solos, com exceção daqueles muito permeáveis, ou seja, arenosos.

Tipos e Irrigação por Superfície


Existem vários tipos de sistemas de irrigação por superfície, e as condições em que eles
podem ser usados estão resumidas na Tabela 7.2. Estes sistemas são combinações dos
métodos de irrigação por superfície, citados a seguir.
Mantovani
264
Tabela 7.2 - Principais sistemas de irrigação por superfície e condições de uso
Sistema de Irrigação Aplicabilidade e condições de uso Observações
Culturas Topografia Solo
Inundação em pequenos Arroz, pomares e cereais Áreas relativamente planas. Pode ser usada em qualquer Custo inicial elevado, exige
tabuleiros retangulares Área nivelada, dentro dos tipo de solo, com baixa ou bastante mão-de-obra para
tabuleiros alta capacidade de irrigação. Quando usada
infiltração para culturas com pequeno
espaçamento entre plantas,
há uma percentagem
elevada de perda da área
com diques e canais.
Possível de se obter alta

Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C.


eficiência de irrigação. A
inundação pode ser
contínua ou intermitente
Inundação em grandes Arroz, cereais e pastagens Áreas planas exigem, em Solos de textura fina, baixa Custo inicial mais baixo e
tabuleiros retangulares geral, sistematização capacidade de infiltração menos mão-de-obra exigida
para irrigação do que nos
tabuleiros pequenos. Os
diques são maiores. A
inundação pode ser
contínua ou intermitente
Inundação em tabuleiros Arroz, cereais, capineiras e Áreas irrigulares, Solos de textura fina e média Não exige sistematização,
em contorno pastagens declividade igual ou menor mas apenas passagem de
do que 2% um pranchão nivelador
Faixa (largura de 2 a 30 m) Pastagens, arroz, pomares e Exige, em geral, Solos profundos e de textura Requer sistematização do
capineiras sistematização. Declividade fina e média terreno e pouca mão-de-
igual ou menor do que 1% obra para irrigação. Pouco
interferência com as
operações de mecanização
Continua...
Irrigação por superfície 265

265
Irrigação por superfície
Tabela 7.2 - Continuação
Sistema de Irrigação Aplicabilidade e condições de uso Observações
Culturas Topografia Solo
Sulcos comuns (retilíneos) Olerícolas, cereais, algodão, Áreas planas exigem, em Pode ser usada para a Ajusta-se bem às culturas
cana, batatinha, pomares e geral, sistematização. maioria dos tipos de solo, em fileiras e adapta-se às
uva Declividade igual a 2% ou desde que o comprimento do operações de mecanização
menor sulco seja ajustado para o
tipo de solo
Sulcos em contorno Olerícolas, cereais, algodão, Terrenos ondulados com Solos de textura fina e média Perigo de erosão por causa
cana, batatinha, pomares e declividade até 8%. Não das chuvas ou
uva exigem sistematização arrebentamento de sulco.
Exige bastante mão-de-obra
para irrigação
Corrugação Culturas pouco espaçadas, Terrenos uniformes com Solos de textura fina e média Tem-se que limitar a vazão
pastagem, alfafa e capineiras declividade até 15% por sulco para evitar erosão
Sulcos em tabuleiros Cebola, algodão, cereais e Terrenos relativamente Pode ser usado para a Idêntica ao sistema de
olerícolas planos maioria dos tipos de solo pequenos tabuleiros
retangulares, mas o plantio
é feito nas leiras, entre os
sulcos
Sulco em ziguezague Pomares e uva Terrenos sistematizados, Solos de textura fina É usado para aumentar a
com declividade até 1% infiltração por cova
266 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani
Irrigação por superfície 267

Irrigação por Sulco. É um método de irrigação que se adapta à maioria das culturas,
principalmente às cultivadas em fileira, como: olerícola, milho, feijão, algodão, batatinha,
trigo, pomares, uva etc.
Irrigação por Faixa. É um método de irrigação que se adapta melhor às culturas
cultivadas com pequeno espaçamento entre plantas, como: pastagens, arroz, trigo, alfafa,
capineiras etc.
Irrigação por Inundação. A irrigação pode ser permanente, quando a água é mantida
sobre a superfície do solo praticamente durante todo o ciclo da cultura. Este é um dos métodos
de irrigação mais simples e mais usados no mundo e o que melhor se adapta à cultura de
arroz. A irrigação por inundação também pode ser intermitente, semelhantemente à irrigação
por faixa, podendo ser usada em culturas como algodão, cebola, pastagens, capineiras,
pomares, feijão etc.
Posteriormente serão discutidas as características de cada um destes três métodos.

Infiltração de Água no Solo


A infiltração de água no solo é o parâmetro mais difícil de se avaliar em irrigação por
superfície, em razão da grande variabilidade espacial e temporal. Geralmente, necessita-se de
um grande número de medições no campo para se obter um valor médio representativo.
O processo de infiltração da água durante uma irrigação por superfície é função de um
grande número de variáveis, muitas delas sujeitas a variações espaciais e temporais, como,
entre outras, as citadas a seguir: vazão de entrada, declividade longitudinal da base de
escoamento, geometria e rugosidade da seção de escoamento, perímetro molhado,
profundidade da água sobre a superfície, umidade inicial do solo, rachaduras ou pequenas
cavernas no solo e características físico-químicas do solo e da água de irrigação.
A infiltração de água no solo pode ser medida diretamente no campo, conforme descrito
no Capítulo 1, ou simulada, utilizando modelos que descrevem a irrigação por superfície,
tendo como entrada os dados da fase de avanço medidos no campo. Para determinar as
características de infiltração diretamente no campo, podem-se utilizar o infiltrômetro de
cilindro ou o infiltrômetro de bacia, no caso de irrigação por faixa e inundação, e os
infiltrômetros de sulco, de entrada e saída ou de reciclagem, para irrigação por sulcos. Os três
primeiros utilizam condições de água estagnada, não simulando, portanto, as condições reais
de escoamento verificadas em irrigação por superfície. Embora os infiltrômetros de entrada e
saída e de reciclagem exijam mais equipamentos e sejam mais trabalhosos, utilizam condições
de água em movimento, o que representa a dinâmica do processo de infiltração na irrigação
por superfície. Tende a ocorrer, nos infiltrômetros com água estagnada, o selamento da
camada superficial do solo, provocando uma redução na capacidade de infiltração, não
representando, assim, as condições reais de campo.
268 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Inicialmente, a água infiltrada através do perímetro molhado do sulco movimenta-se


com a mesma magnitude, em todas as direções, determinando uma forma semicircular para a
seção transversal do perfil molhado. Isso porque, no início do umedecimento, o potencial
matricial é o principal componente do potencial total de água no solo. Após certo tempo,
quando a frente de umedecimento tiver avançado certo comprimento, o movimento vertical
para baixo será maior do que o das outras direções, fazendo com que a seção transversal do
perfil molhado adquira uma forma semi-ovalada – isso ocorre porque o potencial gravitacional
torna-se o principal componente do potencial total. Essa mudança de forma é mais acentuada
nos solos arenosos, conforme ilustrado na Figura 7.1. Deve-se ressaltar que os solos com
perfil não-uniforme, ou seja, estratificados, apresentam, em geral, maior movimento lateral de
água do que o mesmo solo com perfil uniforme.

1h
1h
2h
2h
4h

8h
4h

(solo argiloso)

8h

(solo arenoso)

Figura 7.1 - Seção transversal molhada por sulco para diferentes tempos de aplicação de água.

Fases da Irrigação por Superfície


A irrigação por superfície pode ser dividida em quatro fases distintas: avanço,
reposição, depleção e recessão. Na Figura 7.2 é representada a superfície líquida da água
sobre o solo para cada uma das fases.
A fase de avanço começa com o início da aplicação de água na área e termina quando a
água atinge o final da área. Essa fase pode ser representada por uma curva ou equação,
denominada curva ou equação de avanço. A duração dessa fase é denominada tempo de
avanço (ta).
A fase de reposição começa quando a água ou a frente de avanço atinge o final da área
e termina no instante em que a vazão é cortada no início da área, denominado ti. Logo, a
duração dessa fase é dada pela diferença entre ti e ta.
Irrigação por superfície 269

A fase de depleção corresponde à etapa entre o corte de água no início da área ti e a


exposição de qualquer ponto da superfície do solo ao longo da área irrigada, instante este
denominado td. A duração dessa fase na irrigação por sulco geralmente é pequena, sendo na maioria
das vezes desprezada; entretanto, na irrigação por faixa e por inundação ela é significativa.
A fase de recessão começa no instante td, quando qualquer ponto da superfície do solo é
exposto, e termina no instante tr, quando não há mais água sobre a superfície do solo ao longo
de toda a área. Essa fase também pode ser representada por uma curva ou equação,
denominada curva ou equação de recessão. Semelhantemente à fase de depleção, na irrigação
por sulco ela é geralmente de pequena duração, sendo na maioria das vezes desprezada, para
efeito de dimensionamento.
Na Figura 7.3 tem-se a representação de um evento completo de irrigação por
superfície num gráfico de tempo em função da distância. Observa-se que são as fases de
avanço e de recessão que definem o início e o final do evento de irrigação, respectivamente. A
diferença entre os tempos de avanço e de recessão em qualquer ponto x, obtidos por meio das
curvas ou equações de avanço e de recessão, é denominada tempo de oportunidade (tox) e
corresponde ao tempo em que ocorre infiltração naquele ponto. Portanto, as curvas de avanço
e recessão definem o tempo de oportunidade ao longo de toda a área.
O tempo de avanço em irrigação por superfície deve ser tal que a perda por percolação
no início da área não seja excessiva. Criddle et al. (1956) recomendaram que a determinação
do comprimento do sulco fosse feita analisando-se a perda por percolação, o escoamento no
final do sulco e a lâmina infiltrada ao longo do sulco, fazendo testes com diferentes vazões.
Recomendaram, ainda, como regra prática, que o sulco deveria ter um comprimento tal que o
tempo de avanço fosse 1/4 do tempo de oportunidade. Entretanto, com os modelos de
simulação disponíveis hoje, há possibilidade de se fazer o dimensionamento dos sistemas de
irrigação por superfície maximizando a eficiência de aplicação, sem a necessidade de utilizar
regras práticas.
Há vários tipos de equações que descrevem o avanço da água sobre a superfície do
solo, sendo a equação potencial a mais comum.
avanço

reposição

depleção
270 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

recessão

Figura 7.2 - Fases da irrigação por superfície.

tr
recessão
td
depleção
ti
Tempo

tox
reposição

ta
avanço
0
Xa
Distância L

Figura 7.3 - Representação de um evento completo de irrigação num gráfico de tempo em


função da distância.

r
x  p ta (7.1)
em que: x - distância atingida pela frente de avanço da água, m;
t a - tempo de avanço até o ponto x, min; e
p e r - parâmetros de ajuste.
Os parâmetros de ajuste p e r podem ser obtidos por meio de regressão linear, de papel
log-log ou utilizando o método dos dois pontos. Usando os pontos correspondentes à metade
do comprimento do sulco (Lmed) e ao comprimento total do sulco (Lmax), ou seja, o método dos
dois pontos, o erro da equação na extremidade final do sulco será zero. Esse procedimento é
importante, uma vez que a menor lâmina de água infiltrada geralmente ocorre no final da área.
Logo, devem-se evitar erros na estimativa do tempo de avanço para esse ponto. Resolvendo o
sistema de equações para as duas condições, tem-se:
lnL max   lnL med  (7.2)
r
lnt a max   lnt amed 
Irrigação por superfície 271

L max
p
t a max r (7.3)

em que: tamax = tempo de avanço para o comprimento Lmax, min; e


tamed = tempo de avanço para o comprimento Lmed, min.
A curva de recessão pode ser descrita pela seguinte equação:

t r  px r  t i (7.4)

em que: tr = tempo de recessão, min;


x = distância, m;
p' = parâmetro de ajuste, adimensional;
r' = parâmetro de ajuste; e
ti = tempo de irrigação, min.
Utilizando-se o mesmo procedimento descrito para ajustar a equação de avanço, obtém-
se:
ln t r max  t d  ln t rmed  t d  (7.5)
r 
ln L max  ln L med 

t r max t d
p 
L max r (7.6)

Desempenho da Irrigação por Superfície


A análise dos dados de campo permite uma definição quantitativa do desempenho de
um sistema de irrigação. Esse desempenho reflete não só as falhas de dimensionamento, como,
por exemplo, vazão ou tempo de irrigação inadequados, mas também as de manejo, como
aplicação de uma lâmina de água excessiva ou irrigação após a hora recomendada.
Para determinar o desempenho de um sistema de irrigação por superfície, podem-se
utilizar diferentes parâmetros; os mais comuns serão apresentados a seguir:
Eficiência de aplicação - A eficiência de aplicação (Ea) é a razão entre o volume de
água armazenada na zona radicular, ou seja, o volume considerado útil para a cultura, e o
volume total de água aplicada no sistema.
Perda por percolação - A perda por percolação (Pp) é a razão entre o volume de água
perdida por percolação e o volume total de água aplicada no sistema.
272 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Perda por escoamento - A perda por escoamento (Pe) é a razão entre o volume de água
perdida por escoamento no final da área e o volume total de água aplicada no sistema.
Eficiência de armazenamento - A eficiência de armazenamento (Er) é a razão entre o
volume de água útil aplicada e o volume de água útil requerida pelo sistema, ou seja, o volume
máximo de água possível de ser armazenado no sistema.
Dividindo o comprimento da área em n intervalos e utilizando a regra dos trapézios,
pode-se determinar o volume total de água infiltrada ao longo da área (equação 7.7).
L (7.7)
Vi  I 0 2I1 2I 2  ...... I n 
2n
em que: Vi = volume total de água infiltrado, m3;
Ii = infiltração acumulada no ponto i, m3 m-1;
L = comprimento da área, m; e
n = número de trechos ao longo da área.
Se o sulco for considerado como um único trecho, a equação 7.6 pode ser reescrita
como:

I I  (7.8)
Vi   0 f L
 2 
em que: Io = infiltração acumulada no início da área, m3 m-1; e
If = infiltração acumulada no final da área, m3 m-1.
A infiltração acumulada em cada ponto (i) pode ser determinada, utilizando-se a
equação 1.34, fazendo to(i) = tr(i) – ta(i):

I i  k t ao (i )  VIB t o ( i) (7.9)

em que: tr(i) = tempo de recessão no ponto i, min; e


ta(i) = tempo de avanço até o ponto i, min.
A irrigação real necessária corresponde ao déficit de água no solo imediatamente antes
da irrigação. Em caso de dimensionamento, a irrigação real necessária corresponde à
quantidade de água que está entre a umidade do solo à capacidade de campo e a umidade
mínima recomendada para a cultura e região em questão, definida pelo fator de
disponibilidade de água no solo, conforme abordado no Capítulo 1. Em condições de
avaliação de sistemas no campo, a irrigação real necessária corresponde à quantidade de água
que está entre a umidade do solo à capacidade de campo e a umidade imediatamente antes da
irrigação.
Na Figura 7.4 são apresentados os perfis de infiltração acumulada ao longo da área
para as condições de irrigação deficiente, adequada e excessiva. A irrigação pode ser total ou
Irrigação por superfície 273

parcialmente deficiente. Na condição de irrigação totalmente deficiente, a infiltração


acumulada ao longo de toda a área é menor que a irrigação real necessária. Já na irrigação
parcialmente deficiente tem-se um trecho da área adequadamente irrigado, em que a infiltração
acumulada é maior ou igual à irrigação real necessária, e outro deficientemente irrigado, no
qual a infiltração acumulada é menor que a irrigação real necessária. O volume de água
infiltrado no trecho adequadamente irrigado (Va), ou seja, do início da área até o ponto Xa,
pode ser determinado utilizando-se a equação 7.7. O volume de água infiltrado no trecho
deficientemente irrigado (Vd), isto é, de Xa ao final da área, também pode ser determinado
utilizando-se a equação 7.7, ou por diferença entre o volume total infiltrado e o volume
infiltrado no trecho adequadamente irrigado.
Vd  Vi  Va (7.10)

Comprimento
Xa L

IRN

I
L

IRN

IRN

Figura 7.4 - Perfil de infiltração ao longo do sulco em condições de irrigação deficiente


(acima), adequada (centro) e excessiva (abaixo).

Os parâmetros de desempenho podem ser determinados utilizando as seguintes


expressões:
274 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Ea 
IRN X a Vd  100 (7.11)
Q0 t i

Pp 
Va  IRN X a 
100 (7.12)
Q0 t i

Pe  100  E a  Pp (7.13)

Er 
IRN X a Vd 100 (7.14)
IRN L

em que: Ea= eficiência de aplicação, percentagem;


Er = eficiência de armazenamento, percentagem;
Pp = perdas por percolação, percentagem;
Pe = perdas por escoamento, percentagem;
IRN = irrigação real necessária, m3 m-1;
Qo = vazão no início do sulco, m3 min-1;
ti = tempo de aplicação de água no início do sulco, min;
Va = volume de água infiltrada na região adequadamente irrigada, m3; e
Vd = volume de água infiltrada na região deficientemente irrigada, m3.
Para condições de irrigação adequada ou excessiva, o valor de Xa será igual ao
comprimento total da área L, ou seja, toda a área irrigada estará recebendo uma infiltração
maior ou igual à irrigação real necessária, e, logicamente, toda a água infiltrou na região
adequadamente irrigada. Logo, Va = Vi e, conseqüentemente, Vd = 0. As expressões 7.11, 7.12
e 7.13 podem ser reescritas como:

IRN L (7.15)
Ea  100
Q0 t i

Vi  IRN L (7.16)
Pp  100
Q0 ti

E r  100 (7.17)

Pela análise dos parâmetros de desempenho, verifica-se que um parâmetro isolado não
reflete o desempenho de um sistema de irrigação. Por exemplo, um sistema totalmente
deficiente (Figura 7.5), em que a infiltração acumulada ao longo de toda área é menor que a
irrigação real necessária e que a perda por escoamento é zero, terá uma eficiência de aplicação
Irrigação por superfície 275

igual a 100%, isto é, toda a água aplicada ficará retida na região explorada pelas raízes e,
conseqüentemente, será útil para a cultura. No entanto, a cultura estará sofrendo com a
deficiência de água, principalmente na extremidade final da área, onde a infiltração acumulada
será zero. O outro parâmetro que deve ser analisado para contemplar esse aspecto é a
eficiência de armazenamento, que, no exemplo citado, analisando a Figura 7.5, talvez tivesse
um valor aproximadamente igual a 40%.
Blair e Smerdon (1988) sugeriram um parâmetro de desempenho que integra a
eficiência de aplicação e a de armazenamento, o qual foi denominado eficiência déficit excesso
(Ede), definido pela equação 7.18.

Ea E r
E de  (7.18)
Ea  E r  Ea E r
Analisando o exemplo citado anteriormente, em que Ea =1,0 e Er = 0,4, o valor de Ede
seria igual a 0,4, isto é, o parâmetro predominante seria a eficiência de armazenamento, que é
o crítico neste caso. Tomando um outro exemplo, em que Ea = 0,6 e Er = 1,0, tem-se Ede = 0,6,
novamente predominando o parâmetro crítico, que neste caso é a eficiência de aplicação.
Numa situação em que Ea = 0,8 e Er = 0,8, tem-se Ede = 0,67, que é inferior tanto a Ea quanto
a Er, indicando que a irrigação não está tão boa quanto parece, quando esses parâmetros são
analisados isoladamente. Logicamente, a Ede só é importante no caso de irrigações deficientes,
pois para irrigações excessivas Ede é igual a Ea.
Outro parâmetro de desempenho utilizado, mas menos importante que a eficiência de
aplicação, é a eficiência de distribuição (Ed), que reflete a uniformidade de infiltração ao longo
do sulco. Sob condições corretas de manejo da irrigação por sulco, ou seja, quando o tempo de
oportunidade de infiltração no final da área for suficiente para infiltrar naquela extremidade a
irrigação real necessária, o valor da eficiência de distribuição, normalmente, será maior do
que 70%, exceto nos solos muito permeáveis. Ela pode ser estimada pela seguinte equação:
Lf (7.19)
Ed = 100
(L 0 + L f )/2

em que: Ed = eficiência de distribuição, (%);


Lf = lâmina infiltrada no final do sulco, mm; e
L0 = lâmina infiltrada no início do sulco, mm.

Comprimento
L X

IRN
I
276 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 7.5 - Perfil de infiltração ao longo da área irrigada em condições de irrigação


totalmente deficiente.

Simulação de Irrigação por Superfície


O escoamento livre de um líquido sobre um meio poroso é um processo dinâmico e de
relativa complexidade. Esse fenômeno é verificado em sistemas de irrigação por superfície na
condução da água, em nível de parcela, até o ponto de aplicação. Ao contrário do que ocorre
em condutos forçados, em que as condições de contorno da seção de escoamento são
facilmente determinadas e previstas, o escoamento livre da água sobre a superfície do solo
apresenta algumas particularidades, o que o torna mais difícil de ser descrito
matematicamente. Mesmo que a vazão aplicada na entrada de uma área irrigada seja
constante, as vazões de jusante serão variáveis no espaço e no tempo. No espaço, porque parte
do volume de água aplicada é desviada no processo de infiltração; no tempo, porque os
parâmetros de infiltração de água no solo são dinâmicos. Há que se acrescentar, ainda, as
irregularidades comumente verificadas na superfície de escoamento e a heterogeneidade do
solo. Assim, hidraulicamente, o escoamento da água num sulco (ou faixa, ou bacia) é
classificado como sendo regime de escoamento não-permanente e não-uniforme e pode ser
descrito pelas expressões 7.20 e 7.21, denominadas equações de Saint-Venant ou equação da
continuidade e da quantidade de movimento, respectivamente.
A v A I (7.20)
A v    VI
t x x to

1  v v v  y c , vVI (7.21)
   So  Sf 
g t g x x gA

em que: A = área da seção transversal de escoamento, m2;


t = tempo acumulado, s;
v = velocidade média de escoamento, m s-1;
x = distância da entrada da área, m;
I = volume infiltrado acumulado, m3 m-1;
to = tempo de oportunidade de infiltração, s;
VI = volume infiltrado por unidade de tempo, por metro de sulco,
m3s-1m-1;
-2
g = aceleração da gravidade, 9,81 m s ;
Irrigação por superfície 277

y = profundidade de escoamento, m;
S0 = declividade longitudinal média da base de escoamento, m
m-1;
Sf = declividade da linha de energia, m m-1; e
c’ = constante numérica resultante da derivação, no uso do princípio da conservação
da quantidade de movimento ou da energia, adimensional.

Modelos de Simulação
Dependendo do grau de simplificações feitas nas equações 7.20 e 7.21, há,
basicamente, quatro grandes grupos de modelos disponíveis que permitem simular o
escoamento da água sobre a superfície do solo, os quais têm sido utilizados por vários
pesquisadores. Na ordem decrescente de complexidade, são eles: hidrodinâmico, zero-inércia,
onda-cinemática e balanço volumétrico.
O modelo hidrodinâmico resolve as equações da continuidade e da quantidade de
movimento na sua forma completa, sendo exatamente por isso o mais complexo.
No modelo zero-inércia os dois primeiros termos da equação 7.21, denominados termos
de aceleração, e o último termo, denominado infiltração dinâmica, são desprezados, ficando a
equação reduzida a:

y (7.22)
 So  Sf
x

No modelo de onda-cinemática considera-se ainda que a profundidade ao longo da área


é constante; logo, a equação 7.22 pode ser escrita como:
S o – Sf = 0 (7.23)
Finalmente, no modelo balanço volumétrico, a equação da energia é desprezada
completamente, sendo considerada somente a equação da continuidade.
O modelo do balanço volumétrico é simples e fácil de ser entendido, por não exigir um
conhecimento profundo de cálculo numérico – por isso, foi escolhido para ser utilizado neste
livro.

Balanço Volumétrico
Aplicando o princípio de conservação das massas, ou seja, o modelo do balanço
volumétrico, para qualquer instante durante a fase de avanço, observa-se que, do total de água
aplicada no início da área, parte fica armazenada sobre a superfície do solo e parte infiltra,
278 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

ficando armazenada abaixo dela, conforme mostrado na Figura 7.6. Matematicamente, isso
pode ser descrito pela equação 7.24.

Q0

Figura 7.6 - Perfil de água superficial e subsuperficial durante a fase de avanço.

a VIB t a X
Q 0 t a   y A 0 X   z kt a X  (7.24)
1 r
em que: Q0 = vazão na entrada da área, m3min-1;
ta = tempo de avanço, min;
A0 = seção transversal na entrada da área, m2;
X = distância avançada, m;
y = fator de armazenamento superficial que varia entre 0,70 e
0,80, sendo 0,77 o mais comum para irrigação por sulcos; e
z = fator de armazenamento subsuperficial, que é dado pela equação 7.25:

a  r 1  a 1
z  (7.25)
1  a 1  r 
O primeiro termo da equação 7.24 representa o volume de água aplicada no sulco; o
segundo, o volume de água armazenada na superfície do solo; e o terceiro e o quarto, o
volume de água infiltrada ao longo da área.
A seção transversal na entrada da área pode ser estimada pelo uso da equação de
Manning. De modo geral, a forma da seção de escoamento permite que sejam expressos a
largura da superfície líquida e o perímetro molhado em função da profundidade (equações
7.26 e 7.27).

B  a1 ya2 (7.26)

P  1 y 2 (7.27)

em que: B - largura da superfície líquida, m;


y - profundidade, m;
Irrigação por superfície 279

a1 - parâmetro de ajuste, m m-a2;


a2 - parâmetro de ajuste, adimensional;
P - perímetro molhado, m;
1 - parâmetro de ajuste, m1-2; e
2 - parâmetro de ajuste, adimensional.

Os valores de a1, a2, 1 e 2 podem ser estimados utilizando o método dos dois pontos e
conhecendo os valores de B e P correspondentes a ymax e ymed, de acordo com as equações a
seguir:

ln Bmax   lnBmed  (7.28)


a2 
ln y max   ln( y med )

Bmax (7.29)
a1  a
y max 2
ln Pmax   lnPmed  (7.30)
2 
lny max   lny med 
2 (7.31)
 1  Pmax y max

Na Figura 7.7 são apresentados os esquemas de um perfilômetro e do perfil de um sulco.


Assumindo o sulco prismático, ou seja, B dy = dA, pela equação 7.26 tem-se:

a1
A y a 2 1  1 y 2 (7.32)
a2  1

a1
1  (7.33)
a2  1

2  a 2  1 (7.34)
280 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

yo
yi Bmax

Po
Bmed
ymax

ymed

Figura 7.7 - Esquema de um perfilômetro (acima) e do perfil de um sulco (abaixo).

Os coeficientes e expoentes são empíricos. Para sistemas de irrigação por faixa, 1, 2 e
1 são iguais a um e 2 é igual a zero.
Para a determinação da área da seção molhada na entrada da faixa ou sulco pode-se
utilizar a equação de Manning:
2 1
A 0 R 3 S0 2 60 (7.35)
Q0 
n
em que: Q0 = vazão de entrada, m3 min-1;
A = área da seção transversal, m2;
R = raio hidráulico, m;
S0 = declividade, decimal; e
n = coeficiente de Manning.
Reescrevendo a equação 7.35 e assumindo a seguinte igualdade:
Irrigação por superfície 281

2 4
Q0 n 2 (7.36)
 A0 2 R 3   1 A0 2
S 0 3600

10 2  4  2 (7.37)
2 
3 2
10
1 3
1  (7.38)
4
2
1 3
1

em que 1 e 2 são parâmetros de ajuste.


A equação 7.35 pode ser resolvida para a área da seção molhada como segue:
1
 Q02 n 2   2
A0    (7.39)
 S 0  3600 
 1 
Para condições de declividade igual a zero em irrigação por inundação ou faixa,
assume-se a declividade da superfície do solo igual à profundidade na entrada da área dividida
pela distância de avanço (X), o que leva à seguinte equação para a área da seção molhada:
3
 Q 2 n 2 X  13
A0   0  (7.40)
 3600 
 
O coeficiente de Manning, n, varia em torno de 0,02 para solos previamente irrigados,
0,04 para solos recém-preparados e 0,15 para condições de vegetação cobrindo a superfície de
escoamento.

Irrigação por Sulco


É o método de irrigação que consiste na condução da água em pequenos canais ou
sulcos, situados paralelamente às fileiras das plantas, durante o tempo necessário para que a
água, infiltrada ao longo do sulco, seja suficiente para umedecer o solo na zona radicular da
cultura. Para obter boa eficiência de irrigação com este método, é necessário que o terreno
seja sistematizado.
Em contraste com outros métodos, a irrigação por sulco não molha toda a superfície do
solo, pois, normalmente, molha de 30 a 80% da superfície total, diminuindo, assim, a perda
por evaporação, reduzindo a formação de crosta na superfície dos solos argilosos e tornando
possível cultivar o solo e realizar colheitas logo após as irrigações, o que não ocorre com os
outros métodos, exceto o gotejamento.
282 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Este método de irrigação é o que exige, em geral, mais mão-de-obra por unidade de
área. Ele demanda também experiência do irrigante, para distribuir a água do canal
secundário para os sulcos e manter o controle da vazão durante a irrigação.
Em virtude de a condução da água ser feita por meio de sulcos, não exigindo tubulações
e pressão de serviço, este método de irrigação é um dos que apresentam menor custo de
implantação e operação.
Na Figura 7.8 têm-se vistas parciais de sistemas de irrigação por sulco.

Tipos de Sistemas de Irrigação por Sulco


Sulcos Comuns ou de Terras Planas
É o principal e o mais usado nos sistemas de irrigação por sulco. Os demais tipos
somente são usados quando existe restrição para este tipo de sulco.
Geralmente, exige sistematização do terreno, e todos os princípios discutidos até aqui
são aplicáveis a este tipo de sistema. As suas características técnicas podem ser, resumidas da
seguinte maneira:
Declividade: Ideal: 0,1%.
Aconselhável: de 0,05 a 0,5%.
Usável: de 0,02 a 1,0%.
Alinhamento: Retilíneo.
Forma: Em V.
Comprimento: Tão longo quanto possa ser eficientemente irrigado, e limites práticos entre
100 e 500 m.
Capacidade: Pode ser construído para diferentes vazões, dependendo das características do
solo, da declividade e da planta a ser cultivada.
Uso: É o tipo que melhor se adapta a cultivos em fileiras.
Potencialidade: Permite grande diversidade na vazão a ser usada, podendo-se então irrigar,
reduzindo a vazão inicial, o que proporciona maior eficiência nas irrigações.
Pelo fato de o sulco ser longo e reto, seu custo de construção é menor e exige
menos mão-de-obra para irrigação, proporcionando maior rendimento nos
tratos culturais mecanizados.
Irrigação por superfície 283

Figura 7.8 - Vista parcial de um sistema de irrigação por sulco.

Sulcos em Contorno
Em terrenos com declividade acentuada ou superfície desuniforme, geralmente não é
possível construir sulcos com alinhamento retilíneo. Nestes casos, os sulcos podem ser
construídos com determinada declividade e na direção das curvas de nível, sendo chamados de
sulcos em contorno.
A condução da água para distribuição nos sulcos é feita por canais revestidos ou
tubulações, na direção morro abaixo. A vazão aplicada por sulco é, em geral, pequena para
minimizar o perigo de transbordamento, o que causaria séria erosão; contudo, os sulcos devem
ter grande capacidade para reter as chuvas, sem causar transbordamento.
Exigem sistemas de drenagem para coletar o excesso de água de irrigação ou de chuva;
é exigida bastante atenção do irrigante durante a irrigação, a fim de evitar possíveis
transbordamentos. As suas características técnicas podem ser assim resumidas:
Declividade: Ideal: 1%.
Aconselhável: de 0,5 a 2%.
Alinhamento: Na direção das curvas de nível.
Forma: Entalhe, com banco no lado de baixo.
Comprimento: Geralmente entre 70 e 150 m.
284 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Capacidade: Devem ser construídos com capacidade extra, para retenção de enxurrada
proveniente das chuvas.
Uso: Para plantios em curva de nível, principalmente videiras, pomares etc.
Potencialidade: Permitem irrigação de culturas em solos com declividades e desuniformidades
de superfície e impróprios para o uso de sulcos comuns.
Limitações: Não devem ser usados em regiões sujeitas a precipitações intensas.

Corrugação
É o tipo de irrigação em que a água se movimenta sobre a superfície do solo, através de
pequenos sulcos construídos na direção da maior declividade do terreno. Este tipo de irrigação
se adapta melhor a culturas que não exijam capinas e com alta densidade de plantio por
unidade de área, como pastagem, alfafa e forrageiras, de modo geral. Recentemente, tem sido
tentado seu uso em plantas cultivadas em fileiras contínuas, como arroz e trigo, com as
fileiras de plantio em curvas de nível.
Os minissulcos possuem uma seção transversal em forma de V ou U, com profundidade
em torno de 10 cm, e são espaçados entre 40 e 75 cm. Toda a superfície do solo é umedecida
lentamente pelo movimento radial da água dentro dele, o que minimiza a formação de crosta
na superfície do solo – problema comum na irrigação por inundação intermitente.
Este método de irrigação adapta-se melhor a solos de textura média, que possuem boa
capacidade de movimentação de água na horizontal. Em solos muito pesados, cujo movimento
da água na direção horizontal é muito lento, é difícil seu uso, por exigir que a água fique nos
minissulcos por muito tempo.
É um método não recomendado para solos arenosos, ou seja, com alta capacidade de
infiltração, por causa das excessivas perdas por percolação; também não deve ser usado em
solos salinos ou com água de irrigação, com grande teor de sal, porque haverá concentração
de sal na superfície do solo. Só exige uniformização do terreno, após a aração e gradagem,
com um pranchão, para retirar algumas depressões e elevações naturais. Assim, o custo da
preparação do terreno para corrugação é bem menor do que o custo da sistematização
necessária na irrigação por sulco comum.
Os minissulcos devem ser construídos na direção da maior declividade, e a sua
declividade deve ser contínua, mas não necessariamente constante. A declividade máxima a
ser usada na irrigação por corrugação dependerá da erodibilidade do solo e do tipo de cultura.
Para pastagens em solos firmes, pode-se usar declividade de até 12%.
A vazão por sulco é pequena, razão pela qual os sulcos não devem ser muito longos; se
o forem, haverá uma grande perda por percolação no início dos sulcos e uma inadequabilidade
de irrigação no seu final.
O espaçamento entre sulcos dependerá da capacidade de movimentação lateral da água
no solo. Eles podem ser mais afastados em solos de textura fina do que nos de textura grossa,
Irrigação por superfície 285

bem como em terrenos com menores declividades do que nos mais declivosos. Na Tabela 7.3
há algumas recomendações de comprimento e espaçamento, sugeridas por L. J. Booher.

Tabela 7.3 - Comprimento e espaçamento dos sulcos na irrigação por corrugação

Solo e Declividade Textura fina Textura média Textura grossa


planta % Comp. Espaç. Comp. Espaç. Comp. Espaç.
2 180 0.75 130 0,70 70 0,60
4 120 0,65 90 0,65 45 0,55
Culturas 6 90 0,60 75 0,60 40 0,50
de raízes
8 80 0,55 60 0,55 30 0,45
profundas
10 70 0,50 50 0,50 -- --
12 60 0,45 40 0,45 -- --
2 120 0,65 90 0,55 45 0,45
4 85 0,60 60 0,50 30 0,45
Culturas 6 70 0,55 50 0,45 -- --
de raízes
8 60 0,50 45 0,45 -- --
rasas
10 55 0,45 40 0,40 -- --
12 50 0,40 35 0,40 -- --
Adaptado por Booher, em metros.

Nos sistemas de irrigação por corrugação, os sulcos são geralmente construídos após o
campo ter sido semeado. Para obter máxima capacidade de condução da água por sulco, o
solo, no perímetro dos sulcos, deve ser compactado e alisado. Existem vários tipos de
implementos para construção dos sulcos, desde pequenos sulcadores até estrados de madeiras,
conforme ilustrado na Figura 7.9.
Os espaçamentos entre os caibros sulcadores dependerão do espaçamento que se deseja
dar aos sulcos. Geralmente, adiciona-se peso sobre os estrados, a fim de permitir melhor
compressão do solo, em torno dos sulcos.
A vazão aplicada aos sulcos deve ser a vazão máxima não-erosiva que eles terão
capacidade de conduzir. Em virtude de serem estas vazões geralmente pequenas, não se reduz
a vazão na irrigação por corrugação. Para determinar a vazão máxima não-erosiva por sulco,
pode-se usar a equação de Criddle. A distribuição da água por sulco é feita geralmente através
de sifões, tubos ou com enxada; neste último caso, devem-se usar bacias de distribuição.
As características técnicas da irrigação por corrugação podem ser, assim, resumidas:
Declividades: Ideal: de 1 a 2%.
Aconselhável: de 0,5 a 12%.
286 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Usável: até 15%.


Alinhamento: Perpendicular às curvas de nível.
Forma: Em V ou U (pequenos).
Comprimento: Depende da cultura, do tipo de solo e da declividade, variando de 30 a 180 m.
Capacidade: Depende principalmente da declividade, variando entre 0,5 e 0,05 l/s.
Uso: Para culturas que cobrem toda a superfície do solo – ex.: pastagem, alfafa.

.. .. ..
.. ..
.. .. .. . .
.. .. ..

.. .. ..

Figura 7.9 - Estrado para construção de sulcos nos sistemas de irrigação por corrugação.

Sulcos em Nível
Trata-se de uma variação dos métodos tradicionais de irrigação por sulco. Existem dois
tipos básicos de sistemas de sulcos em nível. Um em que os sulcos são construídos dentro dos
tabuleiros ou bacias que foram usadas no cultivo tradicional de arroz por inundação. Este tipo
adapta-se muito bem a plantas cultivadas fora da época de cultivo do arroz, como trigo,
cevada, cebola, olerícolas etc. Possibilita um aproveitamento intensivo do terreno, porquanto
permite o cultivo do arroz, na época normal, por inundação, e, na entressafra de arroz, pode
ser ocupado com outros vegetais. Os sulcos são construídos dentro dos tabuleiros, com
espaçamento entre eles em torno de 1 m, dando a aparência de canteiros, dentro das bacias ou
tabuleiros, e a água circula entre os canteiros. Assim, durante a irrigação todos os sulcos
dentro do mesmo tabuleiro ficam cheios de água. Neste tipo de sistema não há perda de água
por escoamento no final dos sulcos. O outro tipo de sistema de sulco em nível consiste em
sulcos largos – sem declividade ou com declividade muito pequena – e fechados nas duas
extremidades. Coloca-se água dentro dos sulcos até enchê-los e, em seguida, dependendo da
quantidade total da água que se deseja aplicar por irrigação, corta-se ou reduz-se a vazão
aplicada, durante o tempo necessário para a irrigação. Em geral, estes sulcos são curtos e
empregados principalmente para irrigação de citros, banana, uva etc.
Irrigação por superfície 287

Sulcos em Ziguezague
São usados em terrenos com baixa capacidade de infiltração de água, ou seja, em
terrenos pesados e com declividade moderada, pois, aumentando o comprimento do sulco,
pode-se reduzir a sua declividade média e a velocidade de avanço da água no sulco. Aumenta-
se, desse modo, o tempo de oportunidade para infiltração da água no solo, bem como o
comprimento efetivo de sulco por planta. Este tipo de sulco é mais usado em irrigação de uva
e pomares.
Na Figura 7.10A é ilustrado um tipo de sulco em ziguezague, em terrenos com
moderada declividade, usado para irrigação de uva, e a Figura 7.10B ilustra outro tipo de
sulco em terreno com pouca declividade. Na Figura 7.10C encontra-se um tipo de sulco em
ziguezague usado para irrigação de árvores frutíferas.

(A) (B) (C)

Figura 7.10 - Esquema de sulcos em ziguezague: (A) para videira em terreno com declividade
moderada; (B) para videira em terreno com pouca declividade; (C) para
árvores frutíferas.
Os sistemas usados na construção dos sulcos em ziguezague dependerão dos
equipamentos disponíveis. Em pomares, em geral, os sulcos são construídos com máquinas no
sentido transversal e no sentido de declividade; depois disso, são bloqueados manualmente
com enxada, para direcionar o movimento da água.

Tipos Especiais
Existem disposições especiais de sulco, visando melhor adaptação às condições
particulares de solo e cultura.
288 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Uma variação utilizada na irrigação de árvores frutíferas em solos de baixa capacidade


de infiltração é a formação de quadros ou dentes em torno de cada árvore, conforme ilustrado
na Figura 7.11.

(A ) (B )

Figura 7.11 - Esquema de sulcos em quadras (A) e em dentes (B) utilizados em fruticultura.

Forma dos Sulcos


A forma geométrica dos sulcos influencia consideravelmente a adequabilidade e
eficiência da irrigação. Sua seção transversal deve ser suficiente para conduzir a quantidade
de água necessária, à obtenção de uma distribuição uniforme ao longo do sulco.
A mais comum das formas de sulcos é a do tipo V. Estes sulcos – de 15 a 20 cm de
profundidade e de 25 a 30 cm de largura, na parte superior – normalmente conduzirão uma
vazão menor do que 3 l/s em terrenos com pouca declividade. Se a água conduzida por esse
tipo de sulco tiver uma profundidade de 15 cm, a área da seção transversal do fluxo será de
250 cm2, aproximadamente, o que corresponde a uma lâmina de 2,5 cm sobre a área entre dois
sulcos adjacentes espaçados de 1 m.
Quando a irrigação é usada para germinação ou em culturas de sistema radicular raso,
em razão da necessidade de umedecer apenas o solo próximo à superfície, os sulcos devem ter
uma profundidade de 10 a 15 cm. Neste caso, para evitar o transbordamento nos sulcos, o
terreno deve ser cuidadosamente sistematizado, ou usar sulcos mais profundos, porém com
declividade muito pequena.
Irrigação por superfície 289

Na irrigação de culturas permanentes ou anuais, com sistema radicular profundo, o


objetivo é umedecer toda a zona radicular; neste caso, devem-se usar sulcos profundos, e a
uniformidade de sua declividade deixa de ser tão importante, como no caso dos sulcos rasos.
Em terrenos com baixa velocidade de infiltração, recomenda-se o uso de sulcos largos e
pouco profundos, pois, aumentando o perímetro molhado do sulco, aumenta-se a área de
infiltração. Estes sulcos apresentam a forma de U, com profundidade de 15 cm e largura do
fundo entre 15 e 25 cm; sulcos com largura do fundo de 60 cm ou mais têm sido usados para
irrigar pomares, uva, melão etc.

A irrigação por sulco em solos salinos ou com água salina pode trazer graves
problemas quando o manejo não for apropriado para essas condições. Os sais solúveis
movimentam-se com a frente de umedecimento e tendem a se concentrar nos pontos mais
elevados da superfície do solo. A concentração de sais na superfície inibe a germinação das
sementes e causa prejuízo às plantas sensíveis à salinidade. Para essas condições, os sulcos
devem ser construídos com os bordos pouco inclinados e formando um pequeno “dique” no
meio do canteiro, entre dois sulcos adjacentes. O sal se concentrará neste “dique”, e o plantio
deve ser feito na face lateral do sulco, próximo à água, conforme ilustrado na Figura 7.12.

Concentração
de sal

. . . .
Plantio

Figura 7.12 - Manejo de irrigação em sulco para controle de salinidade

Distribuição e Controle de Vazão


Há várias maneiras de distribuir e controlar a vazão aplicada em cada sulco. Como
geralmente o que se deseja é a distribuição ao mesmo tempo de mesma vazão, em determinado
número de sulcos, usa-se o conceito hidráulico de que em saídas do mesmo tamanho, operando
sob a mesma carga hidráulica, haverá a mesma vazão. Assim, a vazão por sulco pode ser
290 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

alterada, durante a irrigação, quando se modifica a área de saída da água ou a carga


hidráulica nas saídas.
Uma das maneiras – não muito recomendada, mas bastante usada – de distribuir água
aos sulcos, é abrir, com enxada, dentes na parede dos canais de distribuição, o que só deve ser
feito quando existirem bacias auxiliares de distribuição (forebay). Estas bacias são canais de
pequeno comprimento e sem declividade, construídos paralelamente aos canais de
distribuição, a partir dos quais a água é distribuída para um determinado número de sulcos.
Comportas ou sifões de maiores diâmetros são usados para distribuir uma vazão constante e
predeterminada do canal de distribuição para as bacias auxiliares, como pode ser observado
na Figura 7.13. Caso esses dentes sejam cortados diretamente na parede do canal, haverá
grande variação na vazão aplicada por sulco, descontrole da vazão aplicada, redução na vida
útil do canal e grande aumento de mão-de-obra na irrigação. Outra maneira muito comum de
distribuir água nos sulcos é por meio de sifões (Figura 7.14), os quais são fáceis de instalar,
não afetam a estabilidade dos canais, permitem bom controle da vazão aplicada e exigem
menos mão-de-obra para irrigação do que a construção de dentes na parede dos canais. A
vazão do sifão é dependente do seu diâmetro e da carga hidráulica. No capítulo 5, encontra-se
uma tabela de vazão versus carga hidráulica para os diâmetros comumente usados.
aux cia

irri os de
r
ilia

ão
ba

gaç
sulc
aux cia
r
ilia
ba
al
can

o
dren
aux cia
r
ilia

dentes
ba

sifão
aux cia
r
ilia

comportas
ba

Figura 7.13 - Bacias auxiliares (forebay) usadas em irrigação por sulco.


Irrigação por superfície 291

Figura 7.14 - Uso de sifões para distribuição da água do canal para os sulcos de irrigação.

O uso de sifões se presta muito bem para fazer irrigação com redução da vazão inicial.
Para isso, usam-se inicialmente dois ou três sifões por sulco, de modo a aplicar, de início, uma
vazão máxima não-erosiva, retirando-se um ou dois sifões, quando a frente de avanço chegar
ao final do sulco, deixando aquele que aplicará a vazão reduzida no restante do tempo de
irrigação. Podem-se também usar sifões nas bacias auxiliares de distribuição, para distribuir
água no sulcos.
Também podem ser usados, para distribuir água nos sulcos de irrigação, tubos de
comprimento curto, geralmente com 60 a 100 cm de comprimento, instalados
permanentemente na parede dos canais, sendo um tubo para cada sulco. A regulagem da
vazão nos tubos é obtida pela variação da carga hidráulica e, ou, variação do grau de
obstrução da entrada de água nos tubos.
Quando a condução de água para as parcelas de irrigação é feita por tubulações,
existem tubos portáteis janelados que distribuem a vazão por sulco (Figura 7.15). O controle
da vazão por sulco é feito por meio da regulagem das aberturas ou janelas de saída.
292 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 7.15 - Tubos janelados para distribuição de água nos sulcos.

Sistemas Semi-Automáticos de Irrigação por


Sulco
Em geral, os projetos de irrigação por superfície apresentam baixa eficiência, sendo
dois os principais fatores responsáveis por isso: projetos mal dimensionados e interferência do
irrigante no manejo do sistema.
Quanto ao primeiro fator (projetos mal dimensionados), uma das maneiras de resolvê-lo
consiste na melhoria dos conhecimentos técnico-científicos dos profissionais responsáveis
pelos projetos de irrigação, por meio de reciclagem, estágios e cursos de aperfeiçoamento,
melhoria do nível das disciplinas de irrigação nos cursos de graduação e maior número de
publicações sobre irrigação.
No que se refere à interferência do irrigante no manejo do sistema, a solução é melhorar
o nível educacional do irrigante ou projetar sistemas de irrigação que minimizem a sua
interferência.
Os sistemas de irrigação por sulco comumente utilizados exigem muita mão-de-obra e,
em geral, possuem baixa eficiência de aplicação. Essa eficiência pode ser aumentada com o
uso da técnica de redução de vazão após a fase de avanço, ou por meio de modelos
Irrigação por superfície 293

computacionais capazes de identificar a combinação, vazão e tempo de irrigação que


maximiza a eficiência do sistema.
Há, na prática, dois métodos para se calcular o valor da vazão reduzida. Um deles é
aplicado por meio do teste de campo, ou seja, medindo no final do sulco, para diferentes
vazões aplicadas no início, as vazões que saem. A diferença entre a vazão aplicada no início
do sulco e a que sai no final dele será o valor da vazão reduzida. O outro é executado por
meio do somatório das infiltrações parciais, ao longo do sulco, ou seja, depois de 10 a 30
minutos que a frente de avanço tenha chegado ao final do sulco, calcula-se, ao longo deste, o
tempo de oportunidade para infiltração em dez pontos eqüidistantes. Com o tempo de
oportunidade, calcula-se a velocidade de infiltração em cada ponto. Com esses valores,
calcula-se a média da velocidade de infiltração em cada segmento do sulco. O somatório dos
produtos das médias das velocidades pelo comprimento dos segmentos em que foi dividido o
sulco será a vazão que está sendo infiltrada naquele momento ao longo do sulco, a qual deve
ser igual à vazão reduzida. Este método de cálculo da vazão reduzida está ilustrado no projeto
de irrigação, no final deste capítulo. No entanto, irrigação com redução da vazão inicial
aumenta ainda mais a quantidade de mão-de-obra necessária. A única maneira de fazer
irrigação, reduzindo a vazão inicial, sem aumentar a mão-de-obra é por meio da semi-
automatização da irrigação por sulco. Ela proporciona economia de água, aumento da
eficiência de irrigação, economia de mão-de-obra necessária na irrigação e minimização da
interferência do irrigante no manejo da irrigação.
Há três métodos que permitem a semi-automatização: dos tubos, dos sifões e de
coblegação.

Método Semi-Automático dos Tubos


Usam-se tubos retilíneos, de comprimento variando entre 50 e 100 cm, instalados
horizontalmente, através da parede do canal. A vazão de cada tubo depende da carga
hidráulica na entrada do tubo (H) e do diâmetro deste. Na Figura 7.16 tem-se uma vista de um
tubo instalado num canal sob uma carga hidráulica “H”.

nível d'água no canal

H
294 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 7.16 - Esquema ilustrando a instalação de um tubo.


Na Figura 7.17 encontra-se a curva de vazão de tubos com diâmetros de 1’, 1 1/4”,
1 1/2” e 2” e comprimento de 70 cm.
Este método reduz ± 90% a mão-de-obra em relação ao sistema convencional de
irrigação por sulco. Nele também a água é aplicada com maior eficiência do que no sistema
convencional, por fazer irrigação com redução da vazão inicial, o que é inerente ao próprio
método.
Este sistema de irrigação consiste em um canal, comumente revestido, com declividade
uniforme, ou com uma série de seções em nível, com uma queda entre cada seção, conforme
ilustrado nas Figuras 7.18 e 7.19.

1'' 1 1/4 '' 1 1/2 '' 2''


30
Carga hidráulica (cm)

25

20

15

10

0
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5

Vazão L/s

Figura 7.17 - Vazão em função da carga e do diâmetro do tubo.

Na Figura 7.18 observa-se o perfil longitudinal de um canal com declividade uniforme,


no qual aparecem quatro seções. Em cada seção, os tubos são instalados num mesmo plano. A
diferença de nível dos tubos, entre duas seções consecutivas, é igual à diferença entre as
cargas hidráulicas para a vazão inicial e para a vazão reduzida.
Na Figura 7.19 tem-se o perfil longitudinal de um canal com seções em nível, no qual
aparecem quatro seções. Em cada seção, os tubos são instalados num mesmo plano, com
distância constante do fundo de cada seção. A queda entre duas seções consecutivas é igual à
diferença entre as cargas hidráulicas para vazão inicial e para vazão reduzida.
Em ambas as figuras (7.18 e 7.19) a primeira seção já foi irrigada, a segunda está
sendo irrigada com a vazão reduzida, a terceira está sendo irrigada com a vazão inicial e a
quarta ainda não foi irrigada. Quando a frente de avanço chegar ao final dos sulcos da terceira
Irrigação por superfície 295

seção, sua comporta será aberta e a irrigação será iniciada na quarta seção com vazão inicial,
passando a terceira a ser irrigada com a vazão reduzida.
O número de tubos na primeira seção dependerá da vazão total disponível no canal e da
vazão por tubo. O número de tubos da segunda seção em diante dependerá da vazão
disponível no canal, menos a vazão reduzida que está sendo aplicada na seção anterior.
Neste sistema não pode ocorrer fração de seções, havendo necessidade de ajustamento
no projeto para obter um número inteiro de seções. Também a queda entre seções deve ser
aproximadamente igual à diferença de nível, por causa da declividade da superfície do solo.
Quanto ao número de comportas, duas são suficientes: enquanto uma represa a água, a outra
fica instalada na próxima seção a ser irrigada.
posição da
comporta posição da
seção comporta
1
seção
2
seção
3
seção
nível d'água 4

tubos

Figura 7.18 - Esquema do sistema semi-automático dos tubos em canal, com declividade
uniforme.
posição da
comporta posição da
comporta
seção 1
seção 2
seção 3
nível d'água seção 4

tubos

quedas

Figura 7.19 - Esquema do sistema semi-automático dos tubos em canal, com seções em nível.

Métodos dos Sifões


Este método consiste em instalar dois sifões por sulco, com diâmetros diferentes, e,
quando a frente de avanço atingir o final do sulco, retirar o sifão de maior diâmetro. Neste
caso, a vazão inicial será a soma da vazão dos sifões e a vazão reduzida será a vazão do sifão
de menor diâmetro. Pode-se também usar dois sifões de diâmetros diferentes, em vez de três
296 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

sifões de mesmo diâmetro. Quando a frente de avanço atingir o final do sulco, retiram-se dois
sifões – no primeiro caso, gasta-se menos mão-de-obra no manejo da irrigação.
Quando se deseja maior uniformidade na vazão aplicada por sulco, pode-se fixar um
gancho na parte do sifão que fica do lado do sulco e instalar um arame na parte externa do
canal, onde se prenderá o ganho do sifão, após ter sido ele escorvado.
No projeto de irrigação por sulco será demonstrado como se calcula o número de sifões.

Método de cablegação
Este método consiste em colocar uma válvula que pode ser um balde de plástico dentro
de um tubo janelado, que vai sendo empurrado pelo próprio peso da água. A velocidade de
deslocamento é controlada por um contra-peso ou um motor, ajustada de acordo com a vazão
e o tempo de irrigação desejados.

Dimensionamento de Irrigação por Sulcos


Ao dimensionar um projeto de irrigação por sulcos, o engenheiro deve selecionar a
combinação das variáveis espaçamento, comprimento, declividade, vazão e tempo para aplicar
a irrigação real necessária definida de acordo com a cultura, o solo e o clima – conforme
abordado nos capítulos 1 e 2 – que melhor satisfaz um determinado objetivo, que na maioria
das vezes é maximizar a eficiência de uso de água.
Existem, essencialmente, quatro tipos de irrigação por sulco: comum, com redução de
vazão, com reutilização da água de escoamento no final do sulco e com aplicação intermitente.
Serão abordados somente os três primeiros tipos, uma vez que o quarto deve ser tratado em
um nível mais elevado.
A velocidade de infiltração de água e a rugosidade da superfície do solo reduzem de
irrigação para irrigação; essa redução é maior da primeira para a segunda irrigação,
permanecendo praticamente constante após a terceira. Portanto, a vazão e o tempo de
aplicação devem ser determinados para a condição da primeira irrigação, na qual têm-se
máximas rugosidade e velocidade de infiltração, e para a terceira, em que a rugosidade e a
velocidade de infiltração já estão praticamente estabilizadas.

Espaçamento entre Sulcos


O espaçamento entre sulcos dependerá da cultura a ser irrigada, do tipo de equipamento
que será usado nos tratos culturais e do perfil de umedecimento do solo.
Irrigação por superfície 297

O principal objetivo, ao determinar o espaçamento entre os sulcos, é assegurar que o


movimento lateral da água entre sulcos adjacentes umedecerá toda a zona radicular da cultura
antes de umedecer regiões abaixo dela. O perfil de umedecimento do sulco pode ser facilmente
determinado por meio de abertura de uma trincheira transversal ao sulco, após ele ter sido
irrigado, desde que o solo esteja seco, até certa profundidade, antes da aplicação da irrigação.
A análise de diversos sulcos nos quais a vazão tenha sido mantida, por diferentes tempos, é
uma das maneiras mais eficientes de determinar qual deve ser o melhor espaçamento para
cada situação, ou seja, para cada tipo de solo e cultura.

Declividade dos Sulcos


A eficiência da aplicação de água na irrigação por sulco ou faixa está diretamente
relacionada com a uniformidade da declividade dos sulcos.
Sulcos nada mais são do que pequenos canais, e os princípios que determinam o
movimento da água em canais também são aplicáveis a eles. A velocidade com que a água se
movimenta no sulco é diretamente proporcional à raiz quadrada da declividade. A velocidade
da água no sulco também é proporcional à forma geométrica do sulco, à sua rugosidade e à
quantidade de água conduzida.
A erosão do solo é o principal fator a ser considerado na determinação da declividade
dos sulcos. A erosão nos sulcos está associada com a velocidade da água e com a maior ou
menor erodibilidade do solo. Em geral, os solos argilosos são menos erodíveis do que os
arenosos, mas isso depende de as partículas se dispersarem, sob a ação da água, ou formarem
agregados estáveis, quando saturadas.
Para evitar erosão excessiva nos sulcos, sua declividade não deve exceder 2%. Em
áreas sujeitas a maiores precipitações pluviométricas, para evitar erosões ocasionadas pelas
chuvas, a declividade dos sulcos não deve exceder 0,5% , salvo em tipos especiais de sulcos,
que permitem maiores declividades, como no caso da corrugação. Entretanto, em solos
arenosos, quanto menor a declividade dos sulcos, maior será a perda de água por percolação.
Assim, na determinação da declividade a ser usada devem-se considerar estes fatores de ação
oposta, ou seja, erosão nos sulcos e perda por percolação – logicamente, sempre que possível,
deve-se trabalhar com a declividade que melhor se adapta, visando minimizar os custos com
sistematização.

Vazão
A vazão aplicada por sulco é um dos fatores mais importantes para obter uma eficiente
irrigação. Maiores uniformidades de aplicação da água geralmente podem ser obtidas quando
298 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

se usa irrigação com redução da vazão, ou seja, aplica-se inicialmente a maior vazão que o
sulco pode conduzir – sem transbordar e sem causar erosão – e, quando a frente de avanço
atingir o final do sulco, a vazão inicial é reduzida. Na prática, para facilitar o manejo da
irrigação, recomenda-se somente uma redução da vazão, isto é, usa-se uma vazão inicial e
uma vazão reduzida. A vazão inicial deve ser a vazão máxima não-erosiva que o sulco pode
conduzir, e a vazão final deve ser a menor vazão capaz de manter todo o comprimento do
sulco com água, durante o tempo necessário para aplicar a lâmina de irrigação desejada, no
final do sulco.
A vazão máxima, permitida no início da irrigação, deve ser a que não causará erosão no
sulco. Walker e Skogerboe consideram que a velocidade de escoamento correspondente à
vazão máxima não erosiva situa-se entre 8 e 13 m/min, para solos instáveis e estáveis,
respectivamente. Gardner, estudando o efeito da vazão e da declividade na erosão, em sulcos
de irrigação, propôs a seguinte equação empírica para a determinação da vazão máxima não-
erosiva:

c (7.41)
Q max 
Sa0
em que: Qmax = vazão máxima não-erosiva, em L s-1;
S0 = declividade do sulco, em percentagem; e
c e a = coeficientes em função do tipo do solo.
Na Tabela 7.4 estão indicados os valores C e a para os diferentes tipos de solo.
Em 1950, Criddle propôs os seguintes valores para os coeficientes da equação de
Gardner, C = 0,631 e a = 1, como valores únicos para os diferentes tipos de solo, os quais
representam a média da vazão máxima não-erosiva quando a declividade do sulco for igual a
0,5%.

Tabela 7.4 - Valores dos coeficientes c e a para diferentes tipos de solos, segundo S. N.
Hamad
Textura c a
Muito fina 0,892 0,937
Fina 0,988 0,550
Média 0,613 0,733
Grossa 0,644 0,704
Muito grossa 0,665 0,548
Irrigação por superfície 299

A equação de Criddle tornou-se mais conhecida na literatura, e é assim apresentada:

0,631 (7.42)
Q max =
S0
Esta equação superestima a vazão máxima não-erosiva para declividade menor que
0,5% e subestima a vazão não-erosiva para declividade maior que 0,5%.
Sempre que possível, deve-se usar a equação de Gardner com os coeficientes indicados
na Tabela 7.4 para o tipo de solo da área a ser irrigada.

Comprimento do sulco
Para dada condição de declividade da superfície do solo, rugosidade, irrigação real
necessária e vazão aplicada por sulco, o comprimento influencia na duração da fase de avanço
e, conseqüentemente, na eficiência de aplicação; entretanto, ele deve ser um submúltiplo do
comprimento da área a ser irrigada para que todos os sulcos do projeto sejam uniformes.
Quando não se tinham os modelos disponíveis hoje para simular a hidráulica de irrigação por
superfície, recomendava-se utilizar a vazão máxima não erosiva e utilizar o comprimento de
sulco que proporcionasse um tempo de avanço igual a um quarto do tempo de oportunidade.
Neste caso o melhor seria utilizar o comprimento de sulco que proporcione a maior eficiência
de aplicação.
Q max
L (7.43)
VIB
É preciso salientar que o comprimento deve ser o maior possível, uma vez que ele afeta a
eficiência de operação das máquinas agrícolas no campo. Por outro lado, o comprimento deve
satisfazer a equação a seguir para garantir que a água chegue ao final do sulco.

Tempo de Oportunidade
Uma vez conhecidos os parâmetros da equação de infiltração de água no solo, pode-se
determinar o tempo de oportunidade necessário para aplicar a irrigação real necessária (IRN).
Quando se trabalha com a equação de infiltração do tipo Kostiakov (equação 1.26), a
solução para to é implícita, mas quando se utiliza Kostiakov-Lews (equação 1.34), deve-se
utilizar um método numérico, como o de Newton, conforme procedimento a seguir.
a) Assume-se um valor inicial para to, to (i) = 100 min.
b) Calcula-se o tempo de oportunidade corrigido.
300 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

a
k t oi  VIB t oi  IRN
t oi1 = t oi  - a 1
k a t oi   VIB

c) Se a diferença entre to(i) e to(i+1) for menor que 0,1 min, o problema está solucionado
e to = to(i+1). Caso contrário, faça to(i) = to(i+1) e repita os passos b e c.

Determinação do Tempo de Avanço


Definido o comprimento do sulco, o tempo de avanço pode ser determinado utilizando-
se a equação de avanço (equação 7.1) ajustada aos dados determinados no teste de avanço
diretamente no campo.
Logicamente, o procedimento descrito anteriormente exige que o engenheiro tenha feito
um teste de avanço de água no sulco com as características de forma, declividade e rugosidade
do sulco e umidade do solo semelhantes àquelas de operação no campo. Isso é muito
trabalhoso e caro, pois, no momento da elaboração do projeto, nem sempre a área já está
sistematizada com água disponível no local para implementação do teste de avanço. Quando
isso acontece, o engenheiro precisa definir a vazão a ser utilizada no teste, que na maioria das
vezes é a vazão máxima não-erosiva, além de realizar o teste para o solo com umidade e
rugosidade para as condições de primeira e de terceira irrigações, respectivamente, pois estas
variáveis influenciam diretamente os resultados do teste e variam ao longo das irrigações.

Simulação do Tempo de Avanço


Conhecendo as características de infiltração de água no solo e a rugosidade, o
comprimento, a declividade e a geometria do sulco, pode-se utilizar um dos modelos
apresentados no item “Simulação de irrigação por superfície” para estimar o tempo de avanço
de qualquer vazão desejada.
Esse procedimento é de grande importância, visto que evita o trabalho de execução do
teste de avanço no campo e permite grande flexibilidade na escolha da vazão que maximiza a
eficiência de aplicação.
Neste livro será apresentada a metodologia do balanço volumétrico, devido à
simplicidade e facilidade de compreensão.
Reescrevendo a equação 7.24 para a distância X igual a L e Qo igual a vazão máxima
não-erosiva, tem-se:

a VIBt a L (7.44)
Q 0 t a = 0,77A 0 L +  z k t a L +
1+ r
em que z é definido na equação 7.25 e r na equação 7.1.
Irrigação por superfície 301

A equação 7.44 possui duas variáveis desconhecidas, ta e r, que são relacionadas pela
equação 7.1; portanto, deve ser resolvida numericamente usando por exemplo o método de
Newton, conforme o seguinte procedimento:
a) Assume-se um valor inicial para r entre 0,5 e 0,9, por exemplo r(i) = 0,7.
b) Calcula-se:

a  1  a r  1
z 
1 + r 1  a 
c) Calcula-se o tempo de avanço, ta, resolvendo a equação 7.44 pelo método de Newton-
Raphson:

i. t = 5,0 A 0 L (7.45)
a i 
Q0

ii. t = t a i  - corr (7.46)


a i 1

a VIB t a i  L
Q 0 t a  0,77A 0 L   z k t a i  L
corr  1 r (7.47)
z a k L VIB L
Q0  1 a

t a i  1 r

iii. Se o valor absoluto da correção (corr) for desprezível, assume-se ta = ta(i+1) e prossegue-se
no item d. Caso contrário, define-se ta(i) = ta(i+1) e repetem-se os passos ii e iii. Observe-se
que, se Q0 for muito pequeno para o comprimento L, esse procedimento não convergirá,
indicando que a vazão deve ser aumentada ou o comprimento reduzido.
d) Calcula-se o tempo de avanço (tamed) para a distância X igual à metade do
comprimento do sulco (L/2) utilizando o mesmo procedimento para calcular ta no passo c. No
caso de solos em declive, substitui-se L por 0,5L, na equação 7.44, para o cálculo de tamed.
Para solos em nível, em irrigação por faixa ou inundação, deve-se substituir também A0 nas
equações 7.44 e 7.47 pela equação 7.40.
e) Calcula-se o valor revisado para r:

ln 2  (7.48)
ri 1 =
ln t a   ln t amed 

f) Compare r(i) com r(i+1). Se a diferença for desprezível, ta = ta(i+1). Caso contrário, faça
r(i) = r(i+1) e repita os passos de b a f.
302 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Tempo de Irrigação
Como na irrigação por sulco geralmente a duração das fases de depleção e de recessão
é desprezível, pode-se considerar que a curva de recessão é uma função constante, ou seja, o
tempo de recessão é igual ao tempo de irrigação, determinado pela seguinte equação:

ti = t 0 + t a (7.49)

Parâmetros de desempenho
Conhecendo a equação de infiltração de água no solo e a curva de avanço e sabendo
que o tempo de recessão é igual ao tempo de irrigação ao longo de todo o sulco, pode-se
determinar a infiltração acumulada ao longo do sulco e conseqüentemente o volume de água
infiltrado (equação 7.7). Utilizando as equações 7.11 a 7.14, determinam-se os parâmetros de
desempenho.

Otimização do Projeto
Há várias soluções para melhorar o desempenho de um projeto de irrigação por
superfície. Geralmente a melhor consiste de várias modificações.
Os parâmetros hidráulicos de um sistema de irrigação (vazão, tempo de aplicação de
água, comprimento do campo, tempo de avanço, infiltração, escoamento no final da área etc.)
são interdependentes, ou seja, modificando um deles, esperam-se alterações nos demais.

Comprimento – Antes de surgirem os modelos de simulação da irrigação por


superfície, o engenheiro só tinha a opção de trabalhar com a vazão utilizada no teste de
avanço realizado no campo, que geralmente correspondia à vazão máxima não-erosiva. Logo,
a variável mais fácil de ser modificada era o comprimento do sulco. Neste caso, poderiam ser
visualizados cenários com diferentes comprimentos de sulco, visando identificar aquele que
maximizasse a eficiência de aplicação, lembrando das limitações na modificação desta
variável, abordadas anteriormente.
Vazão - A modificação da vazão aplicada na entrada da área implica modificação do
tempo de avanço e do tempo de irrigação e perdas de água por percolação e por escoamento e,
por conseguinte, da eficiência de aplicação. A vazão máxima a ser aplicada não deve causar
erosão significativa no solo, porém deve ser maior que um valor mínimo (vazão mínima),
correspondente à velocidade de infiltração básica ao longo da área, para que a frente de
avanço atinja o final desta. Geralmente, para um dado comprimento de sulco, existe uma
vazão entre a mínima e a máxima não-erosiva que minimizam as perdas por percolação e por
escoamento e, conseqüentemente, maximiza a eficiência de aplicação. Vazões maiores
Irrigação por superfície 303

implicam maior perda de água por escoamento no final da área (exceto para irrigação por
inundação intermitente), entretanto proporcionam menor tempo de avanço, maior
uniformidade de aplicação de água ao longo da área e menor perda por percolação. Por outro
lado, vazões menores implicam maior tempo de avanço e conseqüentemente maior perda por
percolação.
Quando se trabalha com simulação para obtenção do tempo de avanço, podem-se
visualizar cenários aplicando diferentes vazões, identificando a que maximiza a eficiência de
irrigação.

Às vezes, a vazão total disponível para o irrigante é fixa e insuficiente para irrigação de
toda a área do projeto. Nesses casos, a construção de pequenos reservatórios pode ser viável.
A água é armazenada por horas ou dias para ser utilizada durante a irrigação.

Vazão do Projeto
Uma vez definidos o comprimento, a vazão e o tempo de aplicação de água por sulco,
pode-se determinar a vazão total necessária no projeto de irrigação.
Turno de rega e período de irrigação – Estes parâmetros são determinados conforme
abordado no capítulo 2.
Número total de sulcos – O número total de sulcos (NTS) do projeto é dependente do
comprimento total da área (Lt), da largura total da área (Wt), do comprimento do sulco (L) e
do espaçamento entre sulcos (E) e pode ser determinado por:
L t Wt (7.50)
NTS 
LE

Número de sulcos por dia – O número de sulcos a serem irrigados por dia (NSD)
depende do número total de sulcos e do período de irrigação (PI) (equação 7.51).

NTS (7.51)
NSD 
PI

Tempo de irrigação por parcela – Além do tempo de irrigação por sulco (ti), deve-se
considerar no cálculo do tempo de irrigação por parcela (TIP) o tempo necessário para mudar
o sistema de distribuição de água para a outra parcela (tmu), ou seja:

TIP  t i  t mu (7.52)

Número de parcelas irrigadas por dia – Conhecendo a jornada de trabalho diária


pode-se definir o tempo de funcionamento por dia (TDF) na propriedade e calcular o número
de parcelas possíveis de serem irrigadas por dia (NPD), conforme a seguir:
304 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

TDF (7.53)
NPD 
TIP

Número de sulcos por parcela - O número de sulcos por parcela (NSP) pode ser
determinado por:

NSD (7.54)
NSP 
NPD

A vazão necessária no projeto (Q) é dependente do número de sulcos irrigados por vez e
das perdas ocorridas no sistema de distribuição de água (PC), por infiltração nos canais ou
vazamento nas tubulações, conforme abordado no capítulo 4.

Q  NSP Q O  PC (7.55)

Uma vez conhecida a vazão de projeto, podem-se dimensionar os canais ou tubulações


do sistema de distribuição de água e, se for o caso, o sistema de bombeamento, já abordado
anteriormente.

Irrigação com Redução de Vazão


São dois os métodos mais usados para calcular a vazão reduzida: a medição da vazão
de escoamento no final do sulco com diferentes vazões iniciais; e o método do somatório das
infiltrações parciais, o qual está ilustrado posteriormente, no exemplo de um projeto.

Nota – A fim de facilitar o manejo da irrigação no campo, o tempo de aplicação da


vazão reduzida (tr) deve ser a metade do tempo total de irrigação (tt).

Irrigação com Vazão Intermitente


Recentemente, têm surgido pesquisas mostrando a possibilidade de se obter maior
eficiência na irrigação por sulco quando esta é feita com a aplicação de vazão intermitente
(Surge Flow).

Avaliação da Irrigação por Sulco


A avaliação não só de sistemas de irrigação por superfície, mas de qualquer sistema de
irrigação, é de fundamental importância, pois, quando do dimensionamento, uma série de
Irrigação por superfície 305

considerações é feita; muitas vezes, o engenheiro tem de estimar algum dado de entrada, por
não ter conhecimento do seu real valor. Por outro lado, às vezes o projeto foi bem
dimensionado, porém não está sendo bem operado no campo. Por exemplo, o irrigante pode
estar aplicando uma vazão por sulco de 1,2 l/s, enquanto a vazão de projeto é 1,0 l/s. Na
avaliação, tantos os erros de projeto quanto os de manejo e operação são detectados.
O modelo Balanço Volumétrico tem sido utilizado por muitos pesquisadores na
avaliação ou dimensionamento de irrigação por superfície. Na avaliação, os dados de avanço
de água sobre a superfície do solo medidos no campo são utilizados para simular os
parâmetros de infiltração. Já no dimensionamento parâmetros de infiltração medidos no
campo são usados para simular a curva de avanço.

Medições no Campo
Utilizando a metodologia aqui apresentada, na avaliação dos sistemas de irrigação por
superfície, é necessária uma série de medições e observações no campo, como os dados de
avanço e de recessão de água ao longo da área, as hidrógrafas de entrada e de saída de água
na área, a geometria da seção de escoamento, a declividade da área e a umidade do solo
imediatamente antes da irrigação, entre outras.
Para realização dos testes de campo devem-se escolher sulcos ou faixas representativos
da área total do projeto com relação a solo, declividade, geometria de escoamento etc. Os
testes devem ter no mínimo três repetições; esse número deve ser maior no caso de áreas
desuniformes.
Nos sistemas de irrigação por sulco deve ser utilizado como bordadura pelo menos um
sulco de cada lado do que está sendo testado. Ao longo do sulco é colocada uma fileira de
estacas eqüidistantes, dividindo-o em pelo menos seis trechos. Ao aplicar a vazão no início do
sulco, registra-se o tempo que a frente de avanço gasta para atingir cada estaca. No caso de
faixas, deve-se utilizar mais de uma fileira de estacas e trabalhar com o tempo de avanço
médio para estacas correspondentes à mesma distância. Após o corte da água no início da
área, no instante ti, começa a fase de depleção, e quando qualquer ponto ao longo do sulco ou
faixa for exposto, no instante td, começa a fase de recessão. A partir de então, deve-se
registrar o tempo de recessão em cada estaca. Deve-se observar que os tempos são
acumulativos a partir do início da irrigação, conforme mostrado na Figura 7.3. Na Tabela 7.5
é apresentado o modelo de uma planilha para registro dos dados de avaliação de irrigação por
sulco, incluindo os testes de avanço, de recessão e levantamento altimétrico.
Na determinação da declividade deve-se fazer o levantamento altimétrico da área. Para
isso, podem-se utilizar as próprias estacas do teste de avanço, determinando a leitura de mira
(LM) e a cota de cada ponto (Tabela 7.5). A declividade média corresponde à declividade da
306 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

linha que melhor representa os pontos das cotas originais em função da distância, a qual pode
ser obtida por meio de regressão linear ou graficamente.
Calhas do tipo WSC ou Cutthroat devem ser instaladas no início e no final da área,
para medição das vazões de entrada e de saída (BERNARDO, 1996; WALKER e
SKOGERBOE, 1987). Caso o sistema utilize tubos janelados na distribuição de água, pode-se
fazer a calibração das janelas, utilizando o método direto, e estimar a vazão em função da
abertura da janela e da pressão de operação. No final da área, pode-se substituir a calha pela
medição direta da vazão, porém o mais prático é o uso das calhas tanto na entrada quanto na
saída.
Tabela 7.5 - Planilha para avaliação de irrigação por sulco

Leitura no perfilômetro
Hidrógrafas de entrada e saída

Propriedade: _______________________ Calha (Início) Calha (Final) Posição Antes Após


Data:__________ Sulco: _______ (cm) Leitura Perímetro Leitura Perímetro
Tempo Carga Vazão Tempo Carga Vazão
(cm) (cm) (cm) (cm)
Espaç.: _________ Vazão: ____________ Início: (min) (m) (l/s) (min) (m) (l/s)
__________Término: __________ 0
2
Observador:_________________________
Observações: ________________________ 4
6
Dados de avanço, recessão e altimétrico
8
Estaca X (ta) (tr) LM Cota 10
(m) (min) (min) (m) (m) 12
14
16
18
20
22
24
26
28

304
308 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Na determinação da irrigação real necessária, deve-se determinar a umidade do solo


imediatamente antes do teste e a verificar in locu a profundidade explorada pelas raízes. As
amostras para determinação da umidade do solo devem ser retiradas na região, ao longo da
área irrigada, onde estiver a menor lâmina aplicada, denominada região crítica. Geralmente,
em irrigação por superfície a menor lâmina aplicada ocorre no final da faixa ou do sulco, onde
devem ser retiradas as amostras. No caso de o sistema ter sido dimensionado para condições
de irrigação deficiente, por exemplo, para aplicar uma lâmina de água maior ou igual a IRN,
somente em 80% da área Xa = 0,8 L, as amostras devem ser retiradas no ponto localizado a
80% do comprimento área. Em caso de dúvida, deve-se determinar a umidade em diferentes
pontos ao longo da área para identificar a região crítica. Este deve ser, também, o local para
controle do manejo de irrigação em relação a quando irrigar.
Na medição do perfil do sulco pode-se utilizar um perfilômetro semelhante ao
apresentado na Figura 7.7. Devem ser tomadas duas ou três seções ao longo do sulco. O local
para medição deve ser escolhido ao acaso. Na seção do sulco a ser medida devem ser cravadas
duas estacas, uma de cada lado do sulco, de forma que o perfilômetro, quando apoiado nelas,
fique em nível. Na Tabela 7.5 é apresentada uma planilha para registro dos dados no campo.
A infiltração de água no solo pode ser determinada diretamente no campo, utilizando-se
o método de entrada-saída ou o de infiltrômetro de sulco, conforme abordado no capítulo 1,
sendo preferível o primeiro, por representar melhor as condições de campo.

Simulação dos Parâmetros de Infiltração de


Água no Solo
Com os dados de vazão na entrada e na saída do sulco podem ser obtidas as respectivas
hidrógrafas. Considerando que no final da irrigação o solo já tenha atingido a velocidade de
infiltração básica ao longo de toda a área, pode-se escrever a seguinte equação:
Q0  Qf (7.56)
VIB 
L
em que: Q0 - vazão na entrada da área, m3 min-1;
Qf - vazão de saída da área, m3 min-1; e
L - comprimento do sulco, m.
Os dados de avanço de água ao longo da área são usados para ajustar os parâmetros
“p” e “r” da equação de avanço. Conhecendo estes parâmetros, a vazão no início da área, a
velocidade de infiltração básica, o coeficiente de rugosidade e os comprimentos do sulco,
podem-se estimar os parâmetros “a” e “k” da equação de infiltração de água no solo
reescrevendo a equação 7.24 para x = Lmed e x = Lmax, como segue:
Irrigação por superfície 309

VIB t a max L max


Q 0 t a max   y A 0 L max   z k t aa max L max  (7.57)
1  r 
VIB t amed L med
Q 0 t amed   y A 0 L med   z k t aamed L med  (7.58)
1  r 
em que: tamed = tempo de avanço até uma distância intermediária, Lmed, min; e
tamax = tempo de avanço até o final da área, Lmax, min.
Resolvendo as equações 7.57 e 7.58 para a e k, tem-se:

ln w max   ln w med  (7.59)


a
ln t a max   ln t amed 

em que:

Q 0 t a max VIB t a max


w max   z kt aa max   y A0  (7.60)
L max 1  r 

Q 0 t amed VIB t amed


w med   z k t aa max   y A0  (7.61)
L med 1  r 

sendo z obtido por meio da equação 7.25 e k dado por:

w max
k (7.62)
 z t aa max

Esse procedimento pode ser utilizado para qualquer tipo de irrigação por superfície,
desde que a declividade da área não seja zero, pois nesse caso ocorre uma divisão por zero no
cálculo da seção de escoamento no início da área.

Parâmetros de Desempenho
Uma vez conhecidos os parâmetros da equação de infiltração, da equação de avanço e
da equação de recessão, pode-se determinar a infiltração em cada ponto “x”, utilizando as
310 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

equações 1.26 ou 1.34 (capítulo 1), e obter o perfil de infiltração de água ao longo da área.
Conhecendo também a irrigação real necessária, determinam-se os parâmetros de desempenho
do sistema de irrigação, utilizando as equações 7.10 a 7.13.

t
tr
trx

tox
ta
tax
X L

Ix
IRN
I

Figura 7.20 - Curvas de avanço e de recessão e perfil de infiltração.

Exemplo de Avaliação e Dimensionamento de


Irrigação por Sulco Comum
Um fazendeiro, preocupado com o desempenho de um sistema de irrigação por sulco,
contratou uma firma para fazer uma avaliação deste. O croqui da área é apresentado na
Figura 7.21.

Levantamento de Dados
Solo – O solo é franco-arenoso, com capacidade de campo (Cc) igual a 32% e ponto de
murcha (Pm) igual a 18% em peso. Foram retiradas amostras em dois pontos e duas
profundidades, imediatamente antes da irrigação, para determinação da umidade e da
densidade (Tabela 7.6).
Cultura – A área está sendo cultivada com milho com profundidade efetiva das raízes
de 40 cm, conforme observações em campo.
Irrigação por superfície 311

A evapotranspiração máxima estimada para a cultura (ETpcmax) é de 4,0 mm dia-1.


600 m

0,1% Canal

0,5%

Dreno
600 m
Canal

Dreno

Figura 7.21 - Croqui da área.

Tabela 7.6 - Dados de umidade do solo imediatamente antes da irrigação

Local Prof. M1 M2 M3 Anel da Up Uv


(cm) (g) (g) (g) H(cm) (cm) (g cm-3) (%) (%)
1 0-20 111 96,2 30 3 4,8 12 22,4 27,3
2 0-20 110,8 96,5 30 3 4,8 1,2 21,5 26,3
3 0-20 110,5 96,4 30 3 4,8 1,2 21,2 26
Média 1,2 21,7 26,5
1 20-40 110,4 95,2 30 3 4,8 1,2 23,3 28
2 20-40 110,6 96,5 30 3 4,8 1,2 21,2 26
3 20-40 111,3 96,4 30 3 4,8 1,2 22,4 27,4
Média 1,2 22,3 27,1
Média geral 1,2 22 26,8

Obs.: M1 – massa de solo úmido mais recipiente; M2 – massa de solo seco mais recipiente; M3 – massa do recipiente;
h – altura do anel; – diâmetro do anel.

Sulco – Foram selecionados dois sulcos representativos do projeto, os quais foram


estaqueados de 30 em 30 m, tendo sido determinada a leitura de mira referente a cada estaca;
os dados estão apresentados na Tabela 7.7. Foram selecionadas duas seções aleatórias, uma
em cada sulco, para o levantamento da geometria do sulco, utilizando-se um perfilômetro,
semelhante ao apresentado na Figura 7.7, com espaçamento entre medidas de 2 cm. Os sulcos
têm 300 m de comprimento, 0,90 m de espaçamento e coeficiente de rugosidade estimado em
0,04. Os dados de avanço e de recessão são apresentados na Tabela 7.7.
312 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Irrigação – Os dados referentes a curva de avanço, curva de recessão e hidrógrafas de


entrada e de saída são apresentados na Tabela 7.7. O tempo de irrigação foi de 400 min.
Infiltração – Durante o teste instalaram-se três calhas em cada sulco – uma no início,
uma a 40 m e outra no final do sulco – a fim de determinar velocidade de infiltração de água
no solo e as hidrógrafas de entrada e de saída nos sulcos.

Tabela 7.7 - Dados de avanço e recessão da irrigação e altimétrico do sulco

Estaca X (ta) (tr) LM Cota


(m) (min) (min) (m) (m)
0 0 0 410 0,42
1 30 2 418 0,55
2 60 6 420 0,75
3 90 10 425 0,95
4 120 16 430 1,05
5 150 23 430 1,28
6 180 30 432 1,42
7 210 40 534 1,55
8 240 47 438 1,6
9 270 57 438 1,83
10 300 67 440 1,9

Avaliação do sistema de irrigação


a) Irrigação real necessária
Utilizando as equações 1.2 e 1.8, obteve-se a densidade ou massa específica e a
umidade do solo nas camadas de 0-20 cm e 20-40 cm, cujos valores médios foram de 1,2 e de
22% em peso, respectivamente. Logo,
3
 Cc  Ua   32  22  m
IRN    da Z    1,2 x 40  48 mm = 0,048 x 0,9 ~
 0,043
 10   10  m
Para a cultura do milho sob condições de evapotranspiração potencial de 4 mm.dia-1,
pode-se adotar um fator de disponibilidade de 0,7. Logo, a umidade mínima recomendada
seria de:
Uc = Cc-f (Cc-Pm) = 32 - 0,7 (32-18) = 22%
Irrigação por superfície 313

que corresponde à umidade do solo imediatamente antes da irrigação; portanto, o manejo da


irrigação quanto à hora de irrigar está correto, ou seja, a irrigação foi feita na hora
recomendada.
b) Equação de avanço
ln L max   ln L med  ln 300  ln 150
r =  0,6483
ln t a max   ln t amed  ln 67   ln 23

L max 300
p =  19,6472 m. min r
t a max r 67 0,6483

c) Equação de recessão
lnt r max  t d   lnt rmed  t d  ln440 410  ln430 410
r  =  0,585
lnLmax   lnLmed ln300  ln150

t r max  t i 440  400


p  r
=  1,8747
L max 3000,585

d) Medição da infiltração de água no solo


Na Tabela 7.8 encontram-se os dados de vazão e da velocidade de infiltração obtida
pelo método de entrada e saída. Ajustando a equação de velocidade de infiltração em função
do tempo, utilizando regressão linear, conforme abordado no capítulo 1, e posteriormente
obtendo-se a equação de infiltração acumulada (L/m), tem-se:
VI  a k t ao1  0,98 t o0,327

I  k t ao  0,98 t o0,673

Tabela 7.8 - Velocidade de infiltração determinada pelo método de entrada e saída


Medidor 1 Medidor 2
Tempo (min) Carga Vazão* Carga Vazão* VI
(m) (l/s) (m) (l/s) (L/m/min
0 7,4 1,2
20 7,4 1,2 6,86 1,01 0,2895**
35 7,4 1,2 7,08 1,08 0,1842
50 7,4 1,2 7,1 1,09 0,1711
65 7,4 1,2 7,13 1,09 0,1579
80 7,4 1,2 7,13 1,09 0,1579
95 7,4 1,2 7,15 1,1 0,1447
110 7,4 1,2 7,15 1,1 0,1447
125 7,4 1,2 7,15 1,1 0,1447
140 7,4 1,2 7,18 1,11 0,1316
155 7,4 1,2 7,18 1,11 0,1316
170 7,4 1,2 7,2 1,12 0,12
184 7,4 1,2 7,2 1,12 0,12
210 7,4 1,2 7,2 1,12 0,12
314 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

* Determinada por meio da equação de calibração da calha: q = 0,0138 H2,216.


Q0  Qf 1,2  1,01
VI    0,2895 L / m / min
X 40
Quando a infiltração for determinada no campo por meio de um infiltrômetro, o leitor
pode passar diretamente para o item f.

e) Simulação da Infiltração de Água no Solo


e1 - Geometria do sulco – Para definição dos parâmetros geométricos dos sulcos, é
necessário primeiramente plotar os perfis dos sulcos (Figura 7.22) e identificar as bordas
superiores que limitariam a seção de escoamento máxima. Analisando o gráfico do sulco 1
antes da irrigação, verifica-se que a borda superior (Bmax) passa pela posição 25 do
perfilômetro, na borda direita, e praticamente toca a posição 4, na borda esquerda,
correspondendo a um valor de 42 cm. A diferença entre a leitura máxima no perfilômetro e a
leitura da posição 25 corresponde à profundidade máxima do sulco (ymax), que no caso é de
11,4 cm (Tabela 7.9). O perímetro molhado máximo é dado pela soma dos perímetros parciais
entre duas leituras consecutivas, entre as posições 4 e 25 (equação 7.63), que nesse caso é
49,3 cm. Passando uma horizontal pela profundidade média do sulco (ymed), que seria de 5,7
cm, tem-se a borda média (Bmed) que passa aproximadamente pelas posições 8 e 20 do
perfilômetro, correspondente a 24 cm. O perímetro molhado médio é de 27,5 cm, dado pela
soma dos perímetros parciais entre as posições 8 e 20. Utilizando o mesmo procedimento para
os demais perfis, obtêm-se os resultados apresentados na Tabela 7.10.

Tabela 7.9 - Leitura em função da posição no perfilômetro e perímetro molhado parcial para
dois sulcos antes e após a irrigação
Sulco 1 Sulco 2
Antes Após Antes Após
Posição Leitura Perímetr Leitura Perímetr Leitura Perímetr Leitura Perímetr
o o o o
(cm) (m) (cm) (m) (cm) (m) (cm) (m)
0 3,5 3,4 5,0 3,6
2 3,0 3,1 4,5 3,2
4 3,7 3,9 5,7 2,9
6 4,5 0,022 4,6 5,9 3,0
8 5,6 0,023 5,1 0,021 6,5 0,021 3,0 0,020
10 7,1 0,025 7,2 0,029 7,7 0,023 6,4 0,039
12 8,9 0,027 8,7 0,025 9,8 0,029 8,3 0,028
14 10,6 0,026 10,3 0,026 11,1 0,024 11,2 0,035
16 11,1 0,021 11,3 0,022 13,4 0,030 12,8 0,026
18 11,3 0,020 11,6 0,020 14,2 0,022 13,1 0,020
Irrigação por superfície 315

20 11,7 0,020 12 0,020 15,3 0,023 14,0 0,022


22 13,4 0,026 12,3 0,020 16,8 0,025 14,3 0,020
24 15,7 0,030 12,6 0,020 17,1 0,020 14,1 0,020
26 16,2 0,21 13,5 0,022 16,7 0,020 14,1 0,020
Continua...

Tabela 7.9 - Cont.


Sulco 1 Sulco 2
Antes Após Antes Após
Posição Leitura Perímetr Leitura Perímetr Leitura Perímetr Leitura Perímetro
o o o
(cm) (m) (cm) (m) (cm) (m) (cm) (m)
28 15,55 0,021 14,3 0,022 16,2 0,021 13,9 0,020
30 14,7 0,022 13,3 0,022 15,9 0,020 13,6 0,020
32 13,1 0,026 12,4 0,022 14,3 0,026 12,4 0,023
34 12,7 0,020 11,8 0,021 14,0 0,020 10,8 0,026
36 11,0 0,026 10,5 0,024 13,7 0,020 9,6 0,023
38 10,3 0,021 9,6 0,022 11,3 0,031 7,8 0,027
40 9,8 0,021 8,6 0,022 9,5 0,027 6,1 0,026
42 9,5 0,020 7,9 0,021 8,8 0,021 5,0 0,023
44 8,0 0,025 6,5 0,024 7,5 0,024 4,5 0,021
46 6,5 0,025 6,0 0,021 6,6 0,022 4,3
48 4,8 0,026 5,1 0,022 5,4 0,023 5,0
50 5,3 4,8 0,020 5,7 5,1

d 2  LE ( i 1)  LE ( i ) 
2
Pmax  ii 25 i  25
4 P( i )  i  4 (7.63)

em que: Pmax = perímetro molhado máximo, m;


LE = leitura no perfilômetro, m;
i = posição no perfilômetro;
n = número de posições entre as bordas esquerda e direita do sulco; e
d = distância entre leituras no perfilômetro, L.

Tabela 7.10 - Parâmetros geométricos dos sulcos antes e após a irrigação

Parâmetro Sulco 1 Sulso 2 Média


Geométrico Antes Após Antes Após
316 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Pmax 0,493 0,489 0,493 0,46 0,483


Pmed 0,275 0,262 0,279 0,276 0,273
Bmax 0,42 0,44 0,42 0,35 0,407
Bmed 0,24 0,248 0,24 0,23 0,24
ymax 0,114 0,095 0,117 0,098 0,106
ymed 0,057 0,047 0,058 0,049 0,053

Bmax = 42,0 cm

Bmed = 24,0 cm Ymax = 11,4 cm


Ymed = 5,7 cm

Bmax = 44,0 cm

Bmed = 24,8 cm Ymax = 9,4 cm


Ymed = 4,7 cm

Bmax = 42 cm

Bmed = 24 cm
Ymax = 11,7 cm

Ymed = 5,8 cm

Bmax = 35 cm

Bmed = 23 cm
Ymax = 9,8 cm
Ymed = 4,9 cm

Figura 7.22 - Perfis dos sulcos 1 e 2 antes e após a irrigação, na seqüência de cima para
baixo.

ln B max   ln B med  ln 0,408  ln 0,240


a2  =  0,7655
ln y max   ln y med  ln 0,106  ln 0,053
Irrigação por superfície 317

Bmax 0,408
a1  a2
=  2,2742 m.m a 2
y max 0,1060,7655

a1 2.2742
1  =  1,2881
1  a 2 1  0,7655

 2  a 2  1  0,7655  1  1,7655 m 2 .m   2
314 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

ln Pmax   ln Pmed  ln 0,484  ln 0,273


2  =  0,8261
ln y max   ln y med  ln 0,106  ln 0,053


 1  Pmaxymax 2 = 0,484x 0,106 0,8261  3,0906 m.m2

10 2  4  2 10 x 1,7655  4 x 0,8261


2  =  2,7095
3 2 3 x 1,7655

10 10
10
1 3 1,2881 3  2
1  4
= 4
 0,2609 m 3 .m 2
 1 3 12 3,0906 3 x 1,28812,6932

VT  Q o t i  1,2 x 400 x 60  28.800 L

e2 - Hidrógrafas de entrada e saída – Utilizando os dados apresentados na Tabela 7.11,


plotaram-se as hidrógrafas de entrada e de saída (Figura 7.23). As áreas representadas pelas
hidrógrafas de entrada e de saída correspondem ao volume total de água aplicado por sulco
(VT) e volume total escoado no final (VE), respectivamente, determinados por:
i n
VE   DelVolEsc(i)  (16,8  123,8  ...  77,7)  10.137,4 L
i 1

(0,112  1) (70  65) 60


DelVolEsc (1)  = 16,8
2
1,4
1,2
1,0
Vazão (L/s)

0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0 100 200 300 400 500
Tempo (min)
Irrigação por superfície 315

Figura 7.23 - Hidrógrafas de entrada (---) e de saída (------).


Tabela 7.11 - Vazão de entrada (Qo), vazão de saída (Qf) e volume escoado no intervalo de
tempo (DelVolEsc)

Tempo Qo Qf DelVolEsc
(min) (L s-1) (L s-1) (L)
0 1,2
65 1,2 0,000
70 1,2 0,112 16,8
80 1,2 0,301 123,8
90 1,2 0,335 190,7
120 1,2 0,420 668,7
150 1,2 0,460 766,8
180 1,2 0,490 819,0
210 1,2 0,510 852,3
240 1,2 0,530 876,6
270 1,2 0,545 895,5
300 1,2 0,565 909,9
330 1,2 0,575 921,6
360 1,2 0,59 931,5
390 1,2 0,600 939,6
400 1,2 0,600 314,7
410 1,2 0,550 315,0
420 1,2 0,47 298,5
430 1,2 0,323 218,7
440 1,2 0,000 77,7

e3 - Velocidade de infiltração básica – A velocidade de infiltração básica pode ser


estimada utilizando a equação 7.56, considerando que no final da irrigação a vazão na saída
do sulco é praticamente constante, o que pode ser comprovado analisando a Tabela 7.11.
316 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Q 0  Qf (1,2  0,60) 60
VIB    0,12 L / m / min
L 300
e4 - Área da seção molhada no início do sulco
1 1
 Q 0 2 n 2  2  0,072 2 x 0,040 2  2,7095
A0    =   0,00753 m 2
 So  3600   0,005x 0,2609 x3600 
 1   

Q 0 t a max VIBt a max


Wmax   z k t a max a    y A0 
L max 1  r 
0,07267 0,00012 x 67
Wmax   0,77x 0,00753  = 0,0054
300 1  0,6483

e5 - Expoente “a” da equação de infiltração

Q 0 t amed VIB t amed


Wmed   z k t amed a   y A0 
L med 1  r 
0,072 x 23 0,00012 x 23
Wmed   0,77x 0,00753  = 0,0036
150 1  0,6483

ln Wmax   lnWmed  ln0,0054  ln 0,0036


a =  0,3883
ln t a max   ln t amed  ln 67   ln 23

e6 - Coeficiente de armazenamento subsuperficial

a  r1  a   1 0,3883  0,6483 1  0,3883  1


z  =  0,78
1  a  1  r  1  0,3883 1  0,6483
e7 - Constante “k” da equação de infiltração
Wmax 0,0054
k =  0,00136
 z t a max 0,78 x670, 3883
a

f) Perfil de infiltração
Conhecendo as equações de avanço, de recessão e de infiltração de água no solo pode-
se estimar a infiltração acumulada em qualquer ponto X ao longo de todo o sulco (Tabela 7.12
e Figura 7.24). Ressalta-se que haverá alguma diferença ao se utilizar a infiltração de água no
solo determinada pelo método de entrada-saída ou a simulada utilizando o método do balanço
volumétrico, devido às considerações pertinentes a cada método. No presente exemplo
trabalhar-se-á com a equação simulada, ou seja:
Irrigação por superfície 317

0 ,3883
I  0,00136 t o  0,00012 t o , logo, pode-se escrever:

I x  0,00136 ( t rx  t ax ) 0,3883  0,00012 ( t rx  t ax )


g) Volume total infiltrado
Utilizando a equação 7.7, tem-se:

Vi  300
0,0637  2 x 0,0645    2 x 0,0598  0,0587  18,80 m3
20

h) Parâmetros de desempenho
Como a infiltração acumulada no final do sulco (0,0587 m3.m-1) é maior que a irrigação
real necessária, tem-se uma irrigação excessiva; logo, devem-se utilizar as equações 7.15 a
7.16 e 7.13 para determinar os parâmetros de desempenho.
IRN L 0,043 x 300
Ea  100 = 100  44,8%
Q0 t i 0,072 x 400

Vi  IRN L 18,8  0,043 x 300


Pp  100 = 100  20,5%
Q0 t i 0,072400

Pe  100  E a  Pp = 100  44,8  20,5  34,7%

E r  100%

Como a eficiência de armazenamento é de 100%, tem-se Ede = Ea = 44,8%.


Analisando os resultados da avaliação, observa-se que a irrigação foi realizada na hora
certa, ou seja, quando a umidade do solo atingiu a umidade mínima recomendada. Entretanto,
a infiltração acumulada no final do sulco foi de 0,0587 m3.m-1, ou seja, 65 mm, o que está
acima da irrigação real necessária (48 mm). Isso indica que o tempo de irrigação foi
excessivo.

Tabela 7.12 - Tempo de avanço, tempo de recessão e infiltração acumulada em função da


distância
X (m) ta (min) tr (min) I (m3.m-1)
0 0 410,0 0,0633
30 1,9 417,8 0,0640
60 5,6 421,7 0,0641
90 10,5 424,8 0,0638
120 16,3 427,6 0,0634
150 23 430,0 0,0629
180 30,5 432,3 0,0622
318 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

210 38,6 434,4 0,0614


240 47,5 436,3 0,0604
270 56,9 438,2 0,0594
300 67 440,0 0,0583

500
Tempo (min)

400

300
200

100
0
Infiltr. (L/m)

-100
20
40
-200

60
-300

80
-400
0 50 100 150 200 250 300
Distância (m)

Figura 7.24 - Perfil de infiltração de água ao longo do sulco.

Redimensionamento do Projeto de Irrigação


No redimensionamento de um projeto, pode-se alterar somente o tempo de aplicação da
água, mantendo a vazão constante, ou variar também a vazão. Nesse caso, devem-se fazer
novos testes de avanço no campo ou simular o avanço de água no sulco ou faixa, utilizando
um modelo como balanço volumétrico.

Redimensionamento com a mesma vazão


a) Tempo de oportunidade
Fazendo a infiltração acumulada igual à irrigação real necessária de 0,043 m3/m, tem-
se:
0, 3883
0,043 = 0,00136 t 0  0,00012 t 0

Utilizando o método de Newton-Raphson descrito anteriormente, pode-se escrever:


Irrigação por superfície 319

0 , 3883
0,00136 t 0(i)  0,00012 t 0(i)  0,043
t 0 ( i 1) = t 0(i) -
0,00136 x 0,3883t 00,(i)3883 1  0,00012

fazendo t0(0) = 100, pode-se resolver iterativamente para t0, obtendo os resultados
apresentados no quadro a seguir. Observa-se que na terceira iteração a correção já é
desprezível; logo, t0 é aproximadamente de 262 min.
Iteração t0(i) t0(i+1) t0(i)-to(i+1)
1 100 252,5 -152,5
2 252,5 261,9 0,66
3 261,9 261,9 0,00

b) Tempo de irrigação
t i  t 0  t a = 262  67  329 min

c) Eficiência de aplicação
IRN L 0,043 x 300
Ea  100 = 100  54,7%
Q0 t i 0,072 x 329

Observa-se que essa eficiência ainda está baixa. Para aumentá-la, poder-se-ia alterar o
comprimento do sulco, conforme quadro a seguir; entretanto, isso seria inviável, uma vez que
os canais e drenos já estão construídos.

L (m) Ta (min) Ti (min) Ea (%)


100 12 274 65,4
150 23 285 62,9
200 36 298 60,1
250 51 313 57,2
300 67 329 54,5

Uma técnica que pode ser utilizada para aumentar a eficiência é reduzir a vazão a um
valor correspondente à velocidade de infiltração ao longo do sulco, no instante em que o tempo
de aplicação da água atingir a metade do tempo de irrigação, ou seja, tre = ti/2, que neste caso
é igual a 165 minutos. Na Tabela 7.13 são apresentados os tempos de avanço e de infiltração,
a velocidade de infiltração instantânea e a vazão que deverá estar infiltrando em cada trecho
320 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

de 30 m no instante da redução. O somatório da última coluna corresponde à velocidade de


infiltração ao longo do sulco no instante da redução, devendo, portanto, ser a vazão reduzida,
isto é, qr = 0,044 m3 min-1 = 0,73 L s-1.

A eficiência de aplicação com redução de vazão será:

IRN L 0,043x 300


Ea  =  0,674  67,4%
t i  t re  Q 0  t re q r 165 x 0,072  165 x 0,044
Tabela 7.13 - Vazão média infiltrada por trecho no instante da redução da vazão
X (m) ta (min) tinf (mim) VI Q
(m3 m-1 min-1) (m m-1 min-1)
3

0 0 165 0,000143
30 2 163 0,000143 0,00430
60 6 159 0,000144 0,00431
90 10 155 0,000145 0,00432
120 16 149 0,000145 0,00433
150 23 142 0,000145 0,00435
180 30 134 0,000146 0,00438
210 39 126 0,000147 0,00441
240 47 117 0,000149 0,00444
270 57 108 0,000150 0,00448
300 67 98 0,000152 0,00452

Redimensionamento maximizando a eficiência de


aplicação
Outra maneira de melhorar a eficiência de aplicação seria variar a vazão por sulco;
para isso, seria necessário voltar ao campo e fazer o teste de avanço para diferentes vazões –
o que seria muito trabalhoso e caro – ou fazer a simulação do tempo de avanço utilizando
modelos matemáticos, conforme descrito anteriormente. Logicamente, a vazão por sulco deve
estar entre a máxima não-erosiva e a correspondente à velocidade de aplicação ao longo de
todo o sulco.
Vazão máxima não-erosiva – Considerando que se pode admitir uma velocidade de
escoamento máxima (Vmax) de 13 m min-1, combinando a equação da continuidade com a
equação 7.39, tem-se que a vazão máxima não-erosiva é dada por:
Irrigação por superfície 321

1
 2 n2   2 - 2  (7.64)
Q max   Vmax 
 3600 S0 1 

1
 0,40 2 (2,70952)
Qmax  0,132,7095   0,233m3 min1 3,88 Ls1
 3600x 0,005x 0,2609

Partindo da vazão máxima não-erosiva, criam-se cenários para vazões decrescentes


simulando o evento de irrigação para diferentes vazões até maximizar a eficiência de
aplicação. Na Tabela a seguir têm-se os resultados para diferentes cenários de vazão.
Observa-se que a eficiência de aplicação vai aumentando com a diminuição na vazão,
atingindo um máximo de 65% para 0,8 L s-1. Logo, a vazão de projeto deve ser de 0,8 L s-1,
com um tempo de irrigação de 415 min, aproximadamente sete horas, proporcionando uma
eficiência de 65%.

Qo ta ti Ea Pp Pe Er Ede
-1
(L s ) (min) (min) (%) (%) (%) (%) (%)
3,0 28 290 24,8 2,7 72,2 100,0 24,8
2,0 38 300 36,0 4,6 59,4 100,0 36,0
1,0 91 352 61,3 14,7 24,0 100,0 61,3
0,9 113 374 64,1 18,5 17,4 100,0 64,1
0,8 152 414 65,0 24,6 10,4 100,0 65,3
0,7 239 501 61,6 36,6 2,7 100,0 61,6

A seguir é apresentada, passo a passo, a simulação para a vazão de 0,8 L s-1.

Tempo de avanço
a ) Geralmente considera-se um valor inicial igual a 0,7 para r, mas neste caso, será
considerado r(i) = 0,6483, obtido na avaliação.
b) Calcula-se:
a  1  a  r  1 0,3883  (1  0,3883) x 0,6483  1
z    0,78
1 + r 1  a  (1  0,6483)(1  0,3883)

c) Calcula-se o tempo de avanço, ta, resolvendo a equação 7.44 pelo método de Newton-
Raphson:
322 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

i. t = 5,0 A 0 L  5 x 0,00558 x 300  174,4 min


ai 
Q0 0,048

ii. t
a i 1 = t a i  – corr  174,4 - 43,6  130,8 min (eq. 7.46)

a VIB t a i  L
Q 0 t a  0,77 A 0 L   z k t a i  L 
corr  1 r (eq. 7.47)
 a k L VIB L
Q 0  z 1 a 
t a i  1 r

0,00012 x 174,4 x 300


0,048 x 174,4  0,77 x 0,00558 x 300  0,78 x 0,00136 x 174,4 x 0,3883 300 
1  0,6483
corr 
0,78 x 0,3883 x 0,00136 x 300 0,00012 x 300
0,048  
174,410,3883 1  0,3883
iii. Como a diferença entre ta(i+1) e ta(i) é significativa, faz-se ta(i) = ta(i+1) e repete-se o
passo ii; quando ela for desprezível, tem-se que ta = ta(i+1). Observa-se na Tabela 7.14 que,
após três interações, a correção já é menor que 0,1 minuto. Logo, ta = 129,8 min.
d) Calcula-se o tempo de avanço (tamed) para a distância X igual à metade do
comprimento sulco (L/2) utilizando o mesmo procedimento para calcular ta no passo c. Pela
Tabela 7.14 tem-se tamed = 34,3 min.
e) Calcula-se o valor revisado para r:
ln 2  ln( 2 )
ri 1=   0,5212 (eq. 7.48)
ln t a   ln t amed  ln(129,8)  ln 34,3

f) r(i+1) – r(i) = 0,5188 – 0,6483 = –0,1295, que está muito além de uma precisão
razoável, que seria 0,01, logo, faz-se r(i) = r(i+1) = 0,5189 e repetem-se os passos de b a f.
Observa-se que, após três iterações, a correção para r é de 0,006 – assim, pode-se assumir
r = 0,4852.

Tabela 7.14 - Iterações para simulação do tempo de avanço


ta (i) correção 1 ta(i+1) tamed(i) correção 2 tamed(i+1)
(min) (<= 0.1 min) (min) (min) (<= 0.1 min) (min) r (i) r (i+1)
174,43 43,64 130,79 87,21 51,03 36,19 0,6483 0,5212
130,79 1,02 129,77 36,19 1,86 34,33
129,7 0,00 129,77 34,33 0,01 34,32
129,77 -17,59 147,36 34,32 -1,88 36,20 0,5212 0,4943
147,36 0,24 147,11 36,20 0,01 36,20
147,11 0,00 147,11 36,20 0,00 36,20
Irrigação por superfície 323

147,11 -4,57 151,69 36,20 -0,46 36,65 0,4943 0,4881


151,69 0,01 151,67 36,65 0,00 36,65
151,67 0,00 151,67 36,65 0,00 36,65

Tempo de irrigação
t i = t 0 + t a  262  152  414 min (eq. 7.49)

Eficiência de irrigação
IRN L 0,043 x 300
Ea =  100  65% (eq. 7.15)
Q0 t i 0,048 x 414

Turno de Rega e Período de Irrigação


CRA 48
TR   12 dias
ETc 4
Considerando uma folga de dois dias entre duas irrigações consecutivas para
manutenção do sistema e folga do irrigante, tem-se:
PI  TR  fo lg a 12  2 10 dias

Número total de sulcos


L t Wt 600 x 600
NTS    1332 sulcos (eq. 7.50)
L E 300 x 0,90

Número de sulcos por dia


NTS 1332
NSD    134 sul cos (eq. 7.51)
PI 10

Tempo de Irrigação por Parcela


Considerando um tempo 60 minutos para mudar o sistema de distribuição de água para a
outra parcela:
TIP  t i  t mu  414  60  474 min  8 horas (eq. 7.52)
324 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Número de parcelas irrigadas por dia


TDF 12
NPD    1 parcela / dia (eq. 7.53)
TIP 8

Número de sulcos por parcela


NSD 134
NSP    134 sul cos/ parcela (eq. 7.54)
NSP 1

Vazão total do projeto


Q = NSD QO + PC = 134 x 0,8 + PC = 107,2 L.S-1 + PC (eq. 7.55)

Irrigação por Faixa


É o método de aplicação de água ao solo por meio de faixas de terreno compreendidas
entre diques paralelos. Elas possuem pouca ou nenhuma declividade transversal, mas
apresentam declividade longitudinal que determinará a direção do movimento da água sobre a
faixa (Figuras 7.25 e 7.26).
É um método de irrigação que se adapta melhor a culturas que cobrem toda a superfície
do solo, como pastagens, alfafa, capineiras e algumas culturas em fileiras.
É geralmente usado com projetos com áreas iguais ou maiores do que quatro hectares e
exige sistematização do terreno e vazões relativamente grandes.
Adapta-se melhor a solos de textura média, podendo também ser usado em solos
pesados, principalmente quando se trata de culturas com sistema radicular pouco profundo.
Em solos muito leves, para evitar grandes perdas por percolação, as faixas teriam de ser
muito curtas, aproximando-se do método de irrigação por inundação em tabuleiros.
A capacidade de infiltração dos solos é fator mais importante na irrigação por faixa do
que na irrigação por inundação em tabuleiros, pois a eficiência de sua aplicação é tão variável
na irrigação por faixa quanto na irrigação por sulco.
A velocidade de avanço da água sobre a faixa é dependente da largura, do
comprimento, da vazão aplicada, da declividade e da resistência ao movimento da lâmina de
água por causa da cobertura vegetal e da capacidade de infiltração do solo.
Irrigação por superfície 325

e s
sifõ
s ou
rta
po
com

al
can
faixas

diques

direção da declividade
e do movimento
d´água na faixa

Figura 7.25 - Croqui de um sistema de irrigação com faixas.

Figura 7.26 - Vista de um sistema de irrigação por faixa.


326 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Declividade
A declividade na direção do comprimento deve ser uniforme ou, quando possível,
decrescente no final da faixa. Nos últimos 30 a 50 m, pode ser plana, ou seja, sem declividade
para acumular a água, evitando assim o escoamento, principalmente nos solos mais
permeáveis. Contudo, em solos de textura muito fina, onde a água ficaria retida sobre a
superfície por mais de 24 horas, é necessário construir drenos no final das faixas.
A declividade no sentido longitudinal da faixa pode variar entre 0,2% e 6%, devendo,
entretanto, estar próxima da declividade que melhor se adapta à superfície do solo para
minimizar a movimentação de terra com a sistematização desta.
Na direção transversal, o ideal é não ter nenhuma declividade, porém pode-se permitir
uma pequena declividade. A diferença de nível transversal máxima permitida é,
aproximadamente, de dois quintos (2/5) da lâmina normal que se movimentará sobre a faixa.
Por exemplo, se a declividade transversal for de 0,5% e a lâmina normal de água, que se
movimentará sobre a faixa, for de 10 cm, a diferença de nível transversal máxima
recomendada será:
2
10 cm = 4 cm = 0,04 m
5
e a largura máxima da faixa será:

0,04 x 100 = 8 m
L=
0,5

Como a lâmina normal que se movimenta sobre a faixa decresce com o aumento da
declividade longitudinal, verifica-se que, para mesma declividade transversal, a largura
máxima da faixa decrescerá com o aumento da declividade longitudinal.

Para permitir melhor distribuição da lâmina da água em toda a largura da faixa, devem-
se construir dois sulcos transversais e sem declividade, no início da faixa. Para as faixas com
declividades longitudinais maiores que 3%, devem-se também construir uns três destes sulcos
transversais e sem declividade, eqüidistantes ao longo da faixa.

Comprimento
Quanto ao comprimento, as faixas devem ser o mais compridas possível, desde que se
possa irrigar eficientemente, pois, quanto mais comprida for a faixa, menor será o custo com
os sistemas de distribuição de água, bem como a quantidade de mão-de-obra necessária para a
irrigação. Semelhantemente à irrigação por sulco o comprimento é função da velocidade de
Irrigação por superfície 327

infiltração básica do solo e da vazão máxima não-erosiva, (equação 7.41). O comprimento da


faixa é inversamente proporcional à capacidade de infiltração do solo, ou seja, quanto mais
baixa for a capacidade de infiltração do solo, maior poderá ser o comprimento da faixa. Este
comprimento também é dependente da forma e das dimensões da área a ser irrigada, bem
como da lâmina de água que se aplicará por irrigação.

Em geral, o comprimento das faixas varia entre 50 e 400 metros. De modo semelhante
ao da irrigação por sulco, geralmente fixa-se o comprimento e determina-se a vazão que
maximiza a eficiência de aplicação.

Largura
A largura das faixas depende da declividade transversal, da declividade longitudinal, da
vazão disponível e da largura das máquinas colheitadeiras que se movimentarão sobre a faixa.
Em geral, a largura das faixas varia entre 4 e 20 metros.

Na Tabela 7.15 encontram-se guias de dimensionamento das faixas sugeridas por Marr.

Tabela 7.15 - Sugestões para dimensionamento de faixas, segundo Marr

Tipo de Declividade Vazão unitária Lâmina aplicada Largura Comprimento


-1
solo % (L s /m) (mm) (m) (m)

0,15 a 0,6 3a4 100 a 150 5 a 18 150 a 300

Textura muito fina 0,6 a 1,5 2a3 100 a 150 5a6 150 a 400

1,5 a 4,0 1a2 100 a 150 5a6 200

0,15 a 0,6 6a8 50 a 100 5 a 18 90 a 180

Textura fina 0,6 a 1,5 4a6 50 a 100 5a6 100 a 200

1,5 a 4,0 2a4 50 a 100 5a6 100

Textura média 1,0 a 4,0 1a4 25 a 75 5a6 100 a 300

Manejo de Irrigação
328 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A aplicação de água na faixa é, em geral, por meio de comportas, tubos, sifões ou


válvulas. No início da faixa, deve-se fazer um ou dois sulcos transversais e sem declividade,
para que a lâmina de água se espalhe rapidamente sobre toda a largura da faixa. A vazão
aplicada na faixa, em geral, é cortada quando a frente de avanço atinge de 2/3 a 3/4 do
comprimento da faixa, desde que o tempo de aplicação de água seja igual ou maior do que o
tempo necessário para se aplicar a lâmina de irrigação desejada, a fim de evitar excesso de
escoamento no final da faixa.

Construção dos Diques


Os diques, também conhecidos como taipas, servem para limitar a largura das faixas e
podem ser classificados em duas categorias: temporários e permanentes. Os primeiros são
construídos para durarem somente um ciclo vegetativo e, por isso, são mais estreitos, não
sendo necessário fazer o acabamento final. São geralmente usados para culturas de ciclo
curto.
Os diques permanentes – usados na irrigação em pastagens, alfafa etc. – são mais
largos e mais bem acabados. Na Figura 7.27 têm-se alguns tipos de diques.
A altura dos diques deve ser a necessária para manter a água dentro das faixas, porém
sem que dificulte a passagem de máquinas de uma faixa para outra; em geral, suas alturas
variam de 15 a 20 cm. Normalmente, faz-se o plantio também sobre os diques.

0,6 m

1,20 m

1m
Irrigação por superfície 329

Figura 7.27 - Tipos de dique: temporário (A) e permanente (B e C).

Na construção dos diques podem-se usar diferentes tipos de equipamentos, como:


entaipadeiras, arado de disco, arado de aiveca e “zorra”. Na Figura 7.28 ilustram-se as
dimensões de uma “zorra” usada na construção de diques. Para melhor funcionamento da
“zorra”, deve-se colocar sobre ela um tambor cheio de terra.
2m

0,60 m

2,5 m
0,30 m

Figura 7.28 - Croqui de uma “zorra” para construção de diques (A-Frame).

Controle de Vazão
Como a vazão aplicada por faixa é relativamente grande, o seu controle é fundamental
para uma boa eficiência de irrigação. Como a distribuição de água no campo é normalmente
feita por meio de canais, os principais tipos de estruturas, normalmente usadas para controle
da vazão, vêm sendo: comportas retangulares, sifões de diâmetros grandes e tubos instalados
horizontalmente, através da parede dos canais (spiles). Para melhorar o controle da vazão,
recomenda-se instalar comportas ao longo dos canais secundários ou de derivação, de modo
que eleve e mantenha constante o nível da água dentro dos canais.
Deve-se evitar sempre a derivação da água, por meio de cortes com enxada, na parede
dos canais, pois isso não permite nenhum controle de vazão aplicada e provoca erosão nas
paredes dos canais.
Na Tabela 7.16 tem-se a vazão expressa em função da carga hidráulica para diferentes
diâmetros de sifões ou tubos.
Não se deve esquecer da construção dos dois sulcos transversais e sem declividade, a
fim de espalhar a água, após a derivação, para toda a largura da faixa.
330 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Tabela 7.16 - Vazão em litros por segundo, em sifões ou tubos usados para derivar água, em
irrigação por faixa, segundo Booher
Diâmetr Carga hidráulica (centímetro)
o(cm) 5 7,5 10 12,5 15 20 25
10 4,7 5,7 6,6 7,4 8,1 9,3 10,4
12,5 7,3 8,9 1,03 11,5 12,6 14,6 16,3
15 10,5 12,9 14,9 16,6 18,2 21,0 23,5
20 18,7 22,9 26,4 29,5 32,3 37,3 41,8
25 29,2 35,7 41,3 46,1 505,5 58,4 65,2
30 42,0 51,5 59,4 66,4 72,8 84,0 94,0
35 57,2 70,0 80,9 90,4 993,1 114,4 127,9

Avaliação da Irrigação por Faixa


A análise dos dados de irrigação por faixa pode ser feita seguindo o raciocínio
desenvolvido para irrigação por sulco ou o que será desenvolvido posteriormente para
irrigação por inundação. Nesse caso, deve-se usar vazão por unidade de largura em vez
de vazão por sulco, sendo retangular a área da seção transversal, também com largura
unitária.
A infiltração durante a recessão na irrigação por sulco geralmente é desprezível;
entretanto, na irrigação por faixa ela deve ser considerada. Após a fase de reposição, têm-se a
fase de depleção, que ocorre no período de tempo entre o corte da vazão no início e a
exposição da superfície do solo em qualquer ponto ao longo da área, e a fase de recessão, que
ocorre posteriormente.
A água é aplicada na faixa no tempo zero, chega ao final desta no tempo ta e continua
até o tempo ti. Depois disso, a lâmina de água na superfície do solo começa a diminuir, até
que a superfície deste em qualquer ponto ao longo da área comece a ser exposta
(correspondente ao tempo td), e finalmente recede de toda a superfície do solo, completando a
irrigação no tempo tr.
A equação de Manning pode ser utilizada para estimar a profundidade da água na
entrada da faixa yo como função da vazão, Qo.
A curva de avanço e de recessão é determinada pelo piqueteamento da faixa, na direção
do comprimento, com estacas distanciadas entre si de 10 a 30 m. Deve-se proceder como no
caso dos sulcos, ou seja, determinar o tempo que a frente de avanço leva para atingir as
estacas (na curva de avanço) e o tempo em que a lâmina de água vai sendo drenada da
superfície da faixa (na curva de recessão), conforme ilustrado na Tabela 7.17 e na Figura
7.27, para uma faixa de 200 m de comprimento.
Irrigação por superfície 331

Tabela 7.17 - Determinação da curva de avanço e recessão em uma faixa cuja distância entre
estacas é de 20 metros

Avanço Recessão Tempo de


Estaca Hora Acumulado Hora Acumulado oportunidade
(min) (min) para
infiltração/(min)
0 8h 0 9h30 0 90
1 8h5 5 9h35 5 90
2 8h14 14 9h44 14 90
3 8h26 26 8h55 25 89
4 8h40 40 10h08 38 88
5 8h56 56 10h22 52 86
6 9h15 75 10h35 65 80
7 9h36 96 11h01 91 85
8 9h59 119 11h29 119 90
9 10h25 145 12h05 155 100
10 10h55 175 12h30 180 95

Como se pode verificar na Figura 7.29, a irrigação em faixa apresenta uma curva de
recessão distinta, o que é atribuído ao grande volume de água acumulado sobre a faixa,
quando se suspende a vazão aplicada. Quanto mais paralela for a curva de recessão,
relativamente à curva de avanço, mais uniforme será a aplicação de água ao longo da faixa.
Essas duas curvas dão uma boa indicação da eficiência de irrigação do sistema, pois, de
acordo com a lâmina que se deseja aplicar por irrigação, determina-se, por meio da curva de
infiltração acumulada, o tempo de oportunidade para infiltração e, com ele, traça-se uma
curva paralela à curva de avanço (curva pontilhada, na Figura 7.30), denominada curva de
irrigação, destacando-se com estas três curvas o tempo útil de infiltração, o tempo de
percolação e o tempo de escoamento.

350
300
Tempo em minutos

250
200
150
100

50
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220
Comprimento da faixa em metros

Figura 7.29 - Curvas de avanço e recessão em irrigação por faixa.


332 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

C.R.
C.I.
C.R. C.I.
C.R.
T C.I. T T

C.A.
C .A. C .A.
L L L
Normal Muito longa Muito curta

C.I. C.R.
C.R. C.I.
T C.I. T T
C.R.
C.A.
C.A. C.A.

L L L
Muito longa Muito curta Vazão muito grande

C.R.
C.R. C.R. = C.I.
T T C.I. T
C.I.

C.A.
C.A. C.A.

L L L
Vazão muito pequena Vazão muito grande Ideal

Figura 7.30 - Curvas de avanço (C.A.), irrigação (C.I.) e recessão (C.R.) em irrigação por faixa.

A determinação da curva de recessão diretamente no campo muitas vezes é difícil,


devido à cobertura vegetal; por isso, em 1977, Strelkoff desenvolveu uma metodologia para
estimá-la, a qual será abordada a seguir.
O tempo de depleção (td) e a duração da fase de recessão (tr-td) podem ser estimados
utilizando as equações 7.65 e 7.66, respectivamente.

y0 L (7.65)
t d  ti 
2Q 0

0, 20725
0,095 n 0,47565 S y L0,6829 (7.66)
tr  td  0, 237825
VIM 0,52435 S0

em que:
yf (7.67)
Sy 
L
Irrigação por superfície 333

3
 Q 2 n 2  10 1 (7.68)
Sy   f  L
 3600 S0 

Q f = Q 0 - VIM L (7.69)

VIM 
2

a k a -1

a 1
t d  t d  t a  + VIB (7.70)

sendo VIM a velocidade de infiltração média ao longo da faixa no instante td, ou seja, no final
da fase de depleção.
Uma vez determinados os tempos de recessão e depleção, considera-se que a curva de
recessão seja uma reta passando por td e tr.
Conhecendo as curvas de avanço e de recessão, medidas no campo ou simuladas,
juntamente com a equação de infiltração de água no solo, pode-se determinar o perfil de
infiltração e, conseqüentemente, os parâmetros de desempenho, utilizando-se as equações 7.11
a 7.14.

Dimensionamento de Irrigação por Faixa


O dimensionamento da irrigação por faixa é similar ao da irrigação por sulco, com duas
importantes diferenças: a geometria de escoamento é mais simples, uma vez que ela pode ser
considerada um canal de grande largura; e as fases de depleção e recessão são muito
importantes na irrigação por faixa, enquanto estas poderiam ser desprezíveis na irrigação por
sulco.
As faixas podem ser abertas, permitindo o escoamento livre no final da área, ou
fechadas com diques. O dimensionamento para faixas fechadas é similar ao de irrigação por
inundação, que será tratado no próximo item.
O dimensionamento da irrigação por faixa pode ser com escoamento livre, com redução
de vazão e com reúso de escoamento superficial. Será apresentada aqui a metodologia para o
dimensionamento com escoamento livre.
a) Identifique os seguintes dados de entrada:
- características de infiltração de água no solo: a, k e VIB
- declividade (So), comprimento da área (L) e coeficiente de rugosidade (n)
- irrigação real necessária (IRN)
- vazão total disponível (Qt)
- largura da área a ser irrigada
334 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

b) Selecione a vazão por unidade de largura no início da faixa, Q0 (m3.min-1.m-1). Essa vazão
deve estar próxima da vazão máxima não-erosiva. Hart et al. (1980) sugeriram a equação
7.71 para o cálculo da vazão não-erosiva de solos com culturas que não cobrem toda a
superfície e um valor duas vezes maior para solos com culturas que cobrem toda a
superfície. A equação 7.64 também pode ser utilizada para estimar a vazão máxima não-
erosiva.

Q max  0,0105 9 S0
-0,75 (7.71)

Walker e Skogerboe (1984) consideram essa equação conservadora. Esses autores


sugeriram que a vazão de entrada deve ter um valor mínimo estimado por:

Q min  0,000357 L S0 n -1
0,5 (7.72)

c) Determine o comprimento da faixa utilizando a equação 7.43, arredondando o valor para o


submúltiplo do comprimento da área imediatamente inferior.
d) Determine a profundidade na entrada da faixa:
0,3
 Q 2 n2  (7.73)
y0   0 
 3600 S 
 0 

Verifique se esse valor não excede a altura dos diques.


e) Determine o tempo de oportunidade utilizando o mesmo procedimento para irrigação por
sulco.
f) Calcule o tempo de avanço usando o mesmo procedimento para irrigação por sulco.
g) Calcule o tempo de recessão para aplicar a irrigação real necessária (IRN) no final da
faixa.
tr = t0 + ta

h) Determine o tempo de depleção:


i. t d ( i )  t r


ii. VIM  0,5 a k t a 1  t  t
d i  d i  a   
a 1
+ VIB (7.74)

0,6
iii. Sy =  Q 0  VIM L  n  L-1 = y L-1 (7.75)
0, 5 f
 60S 0 
0, 2072
iv. t 0,095 n 0,47565 S y L0 ,6829 (7.76)
d i 1 = t r - 0, 2378
VIM 0,5243 S 0
Irrigação por superfície 335

Se t d i   t d i 1 , faça td (i) = td(i+1); repita os passos ii a v.

Se t d i   t d i 1 , td = td(i+1).

i) Determine a infiltração acumulada na entrada da faixa e verifique se a irrigação é adequada.


a
I 0  k t d  VIBt d (7.77)

Se I0 > IRN, a irrigação é adequada.


Se I0 < IRN, a irrigação é inadequada.
j) Se a irrigação for adequada, calcule a eficiência de aplicação (equação 7.15); o tempo de
irrigação será:
y0 L (7.78)
ti  td 
2 Q0
k) Se a irrigação é inadequada, significa que o tempo de depleção está menor que o tempo de
oportunidade; logo, deve-se agir da seguinte forma:
i. faça td = t0 e recalcule o tempo de irrigação, utilizando a equação 7.78.
ii. calcule VIM pela equação 7.74, utilizando t0 no lugar de td(i).
iii. calcule Sy, utilizando a equação 7.75.
iv. determine o tempo de recessão (equação 7.76), utilizando t0 no lugar de td(i+1).
v. I  Kt  t a  VIBt  t  (7.79)
f r a r a

l) determine Ea (equação 7.14).


m) A vazão inicial Q0 deve ser decrescida de um Q, por exemplo 0,05 L s-1, e o
procedimento de d) a l) deve ser repetido até que a eficiência de aplicação seja
maximizada. Quando isso acontecer, têm-se os valores da vazão a ser aplicada no início da
faixa, Q0, do tempo de irrigação, ti, e da eficiência de aplicação.
n) Conhecendo as equações de avanço e de infiltração e assumindo que o tempo de recessão
varia linearmente de td a tr, pode-se obter o perfil de infiltração ao longo da faixa e,
conseqüentemente, o volume total infiltrado. Utilizando-se as equações 7.16 e 7.17,
determinam-se as perdas por percolação e por escoamento superficial, respectivamente.
O tempo de irrigação por parcela (TIP) pode ser calculado utilizando a equação 7.52.
O número de parcelas irrigadas por dia (NPD) é calculado utilizando a equação 7.53.
A área irrigada por parcela (APP) depende, também, da largura (Wt) e do comprimento
(Lt) da área total irrigada e do período de irrigação (PI):
Wt L t (7.80)
APP 
NPD PI
336 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

o) A largura da faixa (WO) e o número de faixas por parcela (NFP) têm a seguinte relação:

APP (7.81)
WO 
NFP L

A largura da faixa deve ser um submúltiplo da largura da área para que todas as faixas
tenham a mesma largura. Além disso, a largura da faixa depende da declividade transversal,
como abordado anteriormente.
p) Conhecendo o período de irrigação, pode-se determinar o número total de faixas (NTF),
pela seguinte equação:

NTF  NFP NPD PI (7.82)

q) A vazão total necessária no projeto (Qt) é determinada por:

Q t  NFP WO Q O (7.83)

Projeto de Irrigação por Faixa


Deseja-se elaborar um projeto de irrigação por faixa para uma área cujos dados são
apresentados a seguir.
a) Dados de entrada:
i. Os testes de infiltração propiciaram as seguintes equações para condição de primeira
e terceira irrigações, respectivamente:
I = 0,0035 to 0,47 + 0,00011 to
I = 0,0034 to 0,45 + 0,00010 to
ii. A área é de 400 por 400 m, com declividade de 0,1% numa direção e 0,0% na outra,
com coeficiente de rugosidade estimado de 0,040;
iii. Os dados de solo, clima e planta propiciaram uma irrigação real necessária de 56
mm e uma evapotranspiração máxima de 8,0 mm/dia;
iv. vazão total disponível (Qt) é de 400 L s-1, disponível a cada sete dias.
b) Considerando uma velocidade máxima não-erosiva de 8,0 m/min, a vazão máxima por
unidade de largura no início da faixa (Q0) será de:
1 1
 2 n2   2 -2   3,33 0,04 2  3,33 2
Q max  Vmax    8   0,55 m 3 min 1
 3600 S 
0 1  3600 x 0, 001 1 

c) Comprimento da faixa
Irrigação por superfície 337

Q max 0,55
L   5000 m (eq. 7.43)
VIB 0,00011
Logo, pode-se trabalhar com o comprimento de 400 m, que é o comprimento da área.
O procedimento de dimensionamento consiste em criar cenários com diferentes vazões
de entrada, simulando os respectivos tempos de irrigação e parâmetros de desempenho. Nesse
caso, partiu-se de uma vazão de 5,0 L/s/m, que foi decrescida até 1,5 L/s/m, conforme Tabela
7.18.
A seguir será apresentada a solução para a vazão de entrada de 2,1 L s-1.
d) Determine a profundidade na entrada da faixa:
0,3 0 ,3
 Q 2 n2   0,1262 x 0,04 2 
y0   0      0,0284 m (eq. 7.73)
 3600 S 
 0   3600 x 0,001 
Esse valor não excede a altura dos diques comumente utilizados.

Tabela 7.18 - Parâmetros de desempenho em função da vazão

Qo (L s-1) ti (min) Ea (%) Pp (%) Pe (%)

5,0 161,5 46,2 0,4 53,3


4,0 177,6 52,5 2,4 45
3,0 208,0 59,8 6,7 33,4
2,2 263,9 64,3 14,9 20,8
2,1 275,8 64,5 16,5 19,0
2,0 289,7 64,4 18,3 17,3
1,9 306,0 64,2 20,4 15,4
1,8 325,7 63,7 22,8 13,5
1,7 349,6 62,8 25,5 11,7
1,5 417,1 59,7 32,3 8,1

e) Utilizando o procedimento adotado no exemplo de irrigação por sulco, têm-se os tempos de


oportunidades de 162 e 195 min para a primeira e terceira irrigações, respectivamente.

f) Utilizando o mesmo procedimento para irrigação por sulco, tem-se ta = 197 min e
r = 0,672;

g) Calcule o tempo de recessão para aplicar a irrigação real necessária (IRN) no final da
faixa.
338 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

p  L / t ar  400 / 1970 ,672 11,49

t r = t 0 + t a  195  197  392 min

h) Determine o tempo de depleção:

i. t  t  392 min
d ( i) r

ii. 
VIM  0,5 x 0,45 x 0,0034 392 0 ,45 1  392  197 
0, 45 1
+ 0,0001  0,0001707
0,6
iii. Sy =  0,126  0,000170 x 4000,040  400 -1 = 0,00004457
 0, 5 
 60 x 0,001 

0,47565
iv. t 0,095 x 0,04 x 0,00004457 0,2072 x 400 0,6829
d i 1  = 392 -  316,5 min
0,0001707 0,5243 x 0,0010, 2378

Como t  t , deve-se fazer td (i) = td(i+1) = 316,5 e repetir os passos de ii a v:


d i  d i 1


ii. VIM  0,5 x 0,45 x 0,0034 316,50,451  316,5  197 0,451 + 0,0001 0,0001873 
0,6
iii. Sy =  0,126  0,0001873x 4000,040  400 -1 = 0,00004143
 
 60x 0,0010 ,5 

iv. t 0,095 x 0,04 0,47565 x 0,000041430,2072 x 4000,6829


d i 1 = 392 -  321,2 min
0,00018730,5243 x 0,0010,2378

A diferença entre td(i+1) e td(i) ainda é grande, logo, faz-se td (i) = td(i+1) = 321,2 min e
repete-se os passos de ii a v.

 
ii. VIM  0,5 x 0,45 x 0,0034 321,2 0, 451  321,2  1970, 451 + 0,0001 0,0001859

0,6
iii. Sy =  0,126  0,0001859 x 4000,040  400-1 = 0,00004170
 
 60x 0,0010 ,5 
Irrigação por superfície 339

iv. t 0,095 x 0,040,47565 x 0,00004170,2072 x 4000,6829


d i 1 = 392 -  320,8 min
0,00018590,5243 x 0,0010,2378

Como a diferença entre td(i+1) e td(i) é de somente 0,4 min, pode-se assumir
td= td(i+1) = 321 min.

i) A infiltração acumulada na entrada (Io) e no final (If) da faixa será de:

a
I 0  k t d  VIB t d  0,0034 x 3210,45  0,0001x 321 0,078 m 3 / m

I f  k ( t r  t a ) a  VIB ( t r - t a )

I f  0,0034 (392  197) 0,45  0,00013(392  197)  0,056 m 3 / m

Como I0 > IRN = 0,056 m3/m, a irrigação é adequada e If = IRN.

j) A eficiência de irrigação e o tempo de irrigação serão:

y0 L 0,0284 x 400
ti  td   321  276 min
2 Q0 2 x 0,126

IRN L 0,056 x 400


Ea  100  100  64,5%
Q0 t i 0,126 x 276

k) Considerando que a curva de recessão é uma linha reta de td a tr e χ a distância a partir do


início da faixa, pode-se escrever que:

t r = t d + (t r  t d ) / L  321  (392  321)  / 400  321  0,1775 

Utilizando as equações de avanço, de recessão e de infiltração, pode-se gerar o perfil de


infiltração conforme Tabela 7.19 e determinar as perdas por percolação e por escoamento
superficial.

Tabela 7.19 - Perfil de infiltração ao longo do sulco

χ (m) ta (min) tr (min) t0 (min) I (m3/m) Vinf (m3)


0 0 321 321 0,0777 1,5543
340 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

40 6 328 322 0,0778 3,1135


80 18 335 317 0,0771 0,0847
120 33 342 309 0,0758 3,0338
160 50 349 299 0,0741 2,9348
200 70 356 286 0,0720 2,8797
240 92 363 272 0,0695 2,7799
280 116 371 255 0,0666 2,6659
320 141 378 237 0,0635 2,5380
360 168 385 217 0,0599 2,3962
400 197 392 195 0,0560 1,1200

L
Vi  I 0 2I1  ...... I n   400 400 (0,0777  2 x 0,0778 ......  0,056)  28,13 m3
2n 210

l) Perda por percolação:

Vi  IRN L 28,13  0,056 x 400


Pp  100  100  16,5%
Q0 t i 0,126 x 276

m) Perda com escoamento:

Pe  100  E a  Pp 100  64,5 16,5 19%

n) Tempo de irrigação por parcela (TIP):

TIP  t i  t mu  276  30  306 min  5 horas

o) Considerando um tempo de funcionamento (TDF) de 12 horas por dia, tem-se:

TDF 12
NPD    2,4  2 parcelas/d ia
TIP 5

p) Como toda a área deve ser irrigada em um dia (PI = 1 dia), a área por parcela é dada por:
Wt L t 400 x 400
APP    80.000 m 2
NPD PI 2 x1

q) A largura da faixa (Wo) e o número de faixas por parcela (NFP) têm a seguinte relação:
Irrigação por superfície 341

APP 80.000 200


WO    m
NFP L NFP 400 NFP

A largura da faixa deve ser um submúltiplo da largura da área; logo, pode-se trabalhar
com 1 faixa de 200 de largura, 2 de 100 etc. Neste caso, optou-se por trabalhar com 4 de
50 m, para garantir uma boa distribuição de água na superfície do solo.

r) O número total de faixas será:

NTF  NFP NPD PI  4 2 1  8 faixas

s) Vazão total necessária no projeto:

Q T  NFP WO Q O  4 x 50 x 2,1  420 L s-1

Como este valor é maior que a vazão disponível para o projeto (400 L s-1 a cada sete
dias), pode-se sugerir limitar a área irrigada, ou ajustar a vazão de entrada. Neste caso, pode-
se diminuir a vazão de 2,1 para 2,0 L s-1 sem afetar significativamente a eficiência de
aplicação. Portanto, os novos parâmetros serão: QO = 2,0 L s-1, Ea = 64,4%, Pp = 18,3% e
Pe = 17,3%.
t) Vazão por faixa = 50 x 2 = 100 L s-1

Irrigação por Inundação


É o método de irrigação em que a aplicação de água é feita por meio de bacias ou
tabuleiros, ou seja, áreas quase planas, de tamanho variado, limitadas por diques ou taipas.
É um dos métodos de irrigação mais simples e mais usados, inclusive no Brasil. Ele se
adapta à irrigação de diversos tipos de cultura, como algodão, feijão, cebola, pomares, sorgo,
milho, pastagens, aveia e forrageiras, quando o manejo da irrigação é intermitente, sendo o
principal método de irrigação usado na cultura do arroz, com inundação contínua ou
permanente, durante grande parte do ciclo da cultura do arroz. Este método de irrigação não
deve ser usado em culturas sensíveis à saturação do solo na zona radicular ou em solos que
formem uma crosta dura na superfície, quando saturados.
Nas Figuras de 7.31 a 7.36 estão ilustradas desde a sistematização do solo para
construção dos tabuleiros até a colheita do arroz.
Existem muitas variações desse método, mas todas elas envolvem a divisão do terreno
em tabuleiros de diferentes formas e tamanhos. Nos tabuleiros são colocadas lâminas de água
que se deseja aplicar na irrigação, e a água é retida dentro do tabuleiro, no caso de irrigação
intermitente, até que ela seja infiltrada ou drenada. No caso da irrigação contínua, em arroz,
ou lavagem de solos salinos, a lâmina de água é mantida nos tabuleiros, por meio da aplicação
de uma vazão pequena e contínua.
342 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Este método de irrigação é muitas vezes associado ao de irrigação por sulco, sendo, no
período do cultivo do arroz, usado como irrigação por inundação e, no período de entressafra
do arroz, como irrigação por sulco em nível, dentro dos tabuleiros, no cultivo de trigo,
forrageiras, feijão, olerícolas etc.

Figura 7.31 - Acabamento da sistematização de um tabuleiro (PROVARZEAS - MG).

As principais vantagens do uso deste método são: economia de mão-de-obra; pouca


perda de água por escoamento no final da área; dificuldade do desenvolvimento de planta
daninha; fácil manejo no campo; boa eficiência de irrigação e irrigação em solos com baixa
capacidade de infiltração, os quais são difíceis de irrigar por outros métodos; e, finalmente,
possibilidade de máximo aproveitamento da água de chuva. Suas principais limitações são: os
diques dificultam a movimentação dos equipamentos de tração mecânica ou tração animal
utilizados para cultivos e colheita; os diques e canais proporcionam perda na área de cultivo;
facilita a incidência de mosquitos, de esquistossomose; não pode ser aplicado em culturas
sensíveis à saturação do solo; e não deve ser usado em solos com alta capacidade de
infiltração.
Irrigação por superfície 343

Figura 7.32 - Nivelamento de um tabuleiro com tração animal (PROVARZEAS - MG).

Figura 7.33 - Tabuleiro concluído (PROVARZEAS - MG).


344 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 7.34 - Vista parcial de um conjunto de tabuleiros (PROVARZEAS - MG).

Figura 7.35 - Vista parcial de um projeto de irrigação por inundação em arroz


(PROVARZEAS - MG).
Irrigação por superfície 345

Figura 7.36 - Colheita de arroz em várzeas sistematizadas (PROVARZEAS - MG).

Tamanho dos Tabuleiros


O tamanho dos tabuleiros pode variar desde l m2, para irrigação de vegetais ou árvores
frutíferas, até áreas maiores do que cinco hectares, para irrigação de arroz, em solos planos e
argilosos. Em geral, o tamanho do tabuleiro é determinado pelo costume local, pelo tipo de
solos, pelas condições topográficas da área e pela vazão disponível. Quanto ao tipo de solo,
quando mais impermeável for o subsolo, maiores poderão ser os tabuleiros. Muitas vezes é
possível e aconselhável modificar a textura do solo para diminuir sua capacidade de
infiltração, por meio de compactação, sistematização do solo inundado ou dissolvendo argila
na água de irrigação. Em solos pesados, o tamanho normalmente usado varia entre 0,3 e 0,8
hectare. Quanto às condições topográficas, o tamanho deve ser tal que a diferença em
elevação, nas duas direções, entre o ponto mais elevado e o mais baixo, não deve exceder a
2/3 da altura da lâmina média que se deseja manter dentro do tabuleiro, no caso de inundação
permanente. Para inundação intermitente, o tamanho do tabuleiro depende da vazão disponível
e das dimensões da área. Em se tratando da inundação permanente ou contínua, o tamanho do
tabuleiro, por unidade de vazão, pode ser maior do que na irrigação intermitente.
Na Tabela 7.20 estão algumas sugestões de tamanho, expressas em função da vazão
disponível e do tipo de solo, que podem ser usadas como guia de dimensionamento.
346 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Henderson sugere a seguinte relação entre vazão disponível (Q), em m3/h, área dos
tabuleiros (A), em m2, e velocidade de infiltração básica do solo (VIB), em mm/h.

Tabela 7.20 - Sugestões de tamanho de tabuleiros, em função do tipo de solo e da vazão


disponível

Tipo de solo Tamanho em função da vazão disponível


Arenoso 0,01 ha por múltiplo de 10 L s-1
Franco-arenoso 0,02 ha por múltiplo de 10 L s-1
Franco-argiloso 0,03 ha por múltiplo de 10 L s-1
Argiloso 0,04 ha por múltiplo de 10 L s-1

Q
A = 100
VIB
Exemplo:
Qual deve ser a área de cada tabuleiro, quando se dispõe de uma vazão de 90 m3/h em
um solo, cuja velocidade de infiltração básica é 2 mm/h.
90
A = 100 = 4.500 m2 ou 0,45 ha
2

Forma dos Tabuleiros


Os tabuleiros são, basicamente, de dois tipos de construção, segundo suas formas
geométricas, ou seja, tabuleiros retangulares e tabuleiros em contorno.

Tabuleiros Retangulares
São constituídos de áreas planas, limitadas por diques retilíneos, formando tabuleiros
retangulares. Em geral, exigem terrenos sistematizados, com pequena declividade. Terrenos com
declividade natural inferior a 2% não exigem muita movimentação de terra durante a
sistematização, mas naqueles com declividade acima de 2% os tamanhos dos tabuleiros tornam-se
muito pequenos, havendo exigência de muita movimentação de terra na sistematização.
Por exemplo, se a lâmina média a ser mantida na irrigação por inundação for de 15 cm,
pode-se permitir uma variação na elevação entre a parte mais baixa e a mais elevada, nas duas
direções, de 10 cm (2/3 x 15). Se o terreno, após sistematizado, ficar com uma declividade de
Irrigação por superfície 347

0,25% em uma direção e 0,05% em outra, o tabuleiro poderá ter as dimensões de 20 por 100
m, sendo 20 m na direção da declividade de 0,25% e 100 m na direção da declividade de
0,05%.
O manejo da água na irrigação dos tabuleiros retangulares pode ser com derivação de
água e drenagem individual por tabuleiro, no caso de terrenos planos ou com pouca
declividade; com inundação contínua ou intermitente, como ilustrado na Figura 7.37; ou com
circulação de água, passando de uma tabuleiro para outro, em terrenos com maior declividade,
e somente para inundação contínua (Figura 7.38). No primeiro caso, geralmente os tabuleiros
são maiores do que no segundo.

canal principal

(0,80 ha)
(0,75 ha) (0,75 ha) (0,75 ha)

(0,80 ha)
(0,75 ha) (0,75 ha) (0,75 ha)

A
A D
(0,80 ha) D
D D C
(0,75 ha) C (0,75 ha) (0,75 ha)

T R
(0,80 ha)
(0,75 ha) (0,75 ha) (0,75 ha)

E S
(0,75 ha) (0,80 ha)
(0,75 ha) (0,75 ha)

dreno principal

C = canal secundário D = dreno secundário

Figura 7.37 - Tabuleiros retangulares com derivação de água e drenagem individual.

canal

(0,32 ha) (0,32 ha) (0,32 ha)

(0,32 ha) (0,32 ha) (0,32 ha)

(0,32 ha) (0,32 ha) (0,32 ha)

dreno
348 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 7.38 - Tabuleiros retangulares, com circulação de água.

Tabuleiros em Contorno
São formados por um sistema de diques em curvas de nível e diques retilíneos, em
direção transversal às curvas de nível (Figura 7.39).
Em geral, os tabuleiros em curva de nível são maiores do que os retangulares e exigem
menor movimentação de terra na sistematização do terreno, pois ela apenas elimina algumas
saliências e depressões mais pronunciadas.
Há basicamente dois tipos de tabuleiros em contorno. No primeiro, os diques em
contorno são paralelos entre si. Para a construção deste tipo de tabuleiro, o terreno tem de ser
bem sistematizado, mas as operações de cultivo e colheita mecanizadas serão mais facilitadas
(Figura 7.39). No outro tipo, cada dique segue exatamente uma curva de nível; neste caso, a
largura varia ao longo do tabuleiro, em função da declividade do terreno, em cada ponto
(Figura 7.40). Ele não exige propriamente uma sistematização, e sim simplesmente a
passagem de um pranchão destorroador, para tornar a superfície do solo mais uniforme. É
muito usado em regiões planas, como é o caso das áreas tradicionais de cultivo de arroz, no
Sul do Brasil. Em tais regiões, em virtude da pouca declividade do terreno, eles são bastante
largos, não dificultando muito o uso do cultivo mecanizado, pois a largura dos tabuleiros, ou
seja, a distância entre os diques adjacentes, dependerá da declividade do terreno, observando-
se que a diferença em elevação, dentro de cada tabuleiro, não deve exceder a 2/3 da altura da
lâmina média que se deseja manter no tabuleiro.
Uma variante da irrigação por inundação, com tabuleiros em contorno, é a inundação
por transbordamento de canais em contorno. Neste caso, em lugar dos diques, são construídos
canais em contorno, dos quais a água transbordará (Figura 7.41).
Irrigação por superfície 349

Planta baixa

Corte transversal

Figura 7.39 - Tabuleiros em curva de nível.

Figura 7.40 - Vista parcial de um sistema de irrigação, com diques em curva de nível.
350 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 7.41 - Irrigação por transbordamento de canais em contorno (PROVARZEAS - MG).

Construção dos Tabuleiros


Este tipo de irrigação adapta-se a solos com até 2% de declividade. Normalmente, exige
sistematização do terreno, a fim de obter maior uniformidade na irrigação e tabuleiros com
áreas maiores. Esta sistematização pode ser normal, com cortes e aterros realizados por
máquinas, ou, em áreas com menor declividade, um simples nivelamento com tabuleiro
coberto com uma lâmina de água, por meio de um pranchão, com tração animal (Figura 7.32).
Os diques usados para formar os tabuleiros devem ser mais bem construídos do que os
usados na irrigação por faixa. Seu tamanho e sua forma dependem da altura da lâmina de
água que se pretende manter dentro dos tabuleiros; da intensidade do vento na região; do
tamanho de cada tabuleiro, os quais determinarão o tamanho das ondas; da instabilidade do
solo; do seu assentamento; e do tipo e intensidade de tráfego sobre os diques.
As dimensões e o acabamento dos diques são, também, dependentes da duração
pretendida para o sistema de irrigação. Em tabuleiros temporários, ou seja, para serem usados
somente por uma irrigação, podem ser menores e sem acabamento. Em caso de sistemas
semipermanentes, devem possuir dimensões maiores e serem bem acabados.
Os equipamentos usados na construção de diques para irrigação por inundação são
idênticos aos descritos na construção dos diques para irrigação por faixa, porém suas
dimensões são um pouco maiores.
Os diques devem ter margem livre de 10 a 20 cm acima do nível da água dos tabuleiros.
Os temporários, normalmente, são construídos com 60 a 120 cm de largura na base e 20 a 40
Irrigação por superfície 351

cm de altura, enquanto os diques permanentes são construídos com 40 a 80 cm de altura e 150


a 180 cm de largura. Na parte interna dos diques em contorno, deve-se construir sulco
paralelo ao dique, a fim de facilitar a distribuição de água e a drenagem dos tabuleiros.
A distribuição de água para os tabuleiros, normalmente, é feita por meio de comportas,
sifões, tubos ou válvulas. Na Tabela 7.21 encontra-se a vazão, expressa em função da carga
hidráulica, de diferentes diâmetros de sifões e tubos.

Tabela 7.21 - Vazão em litros por segundo, de sifões ou tubos usados para derivar água, em
irrigação por faixa, segundo Booher
Carga hidráulica (cm)
Diâmetro (cm)
5 7,5 10 12,5 15 20 25
10,0 4,7 5,7 6,6 7,4 8,1 9,3 10,4
12,5 7,3 8,9 10,3 11,5 12,6 14,6 16,3
15 10,5 12,9 14,9 16,6 18,2 21 23,5
20 18,7 22,9 26,4 29,5 32,3 37,3 41,8
25 29,2 35,7 41,3 46,1 50,5 58,4 65,2
30 42 31,5 39,4 66,4 72,8 84,0 94,0
35 57,2 70 80,9 90,4 99,1 114,4 127,9

Dimensionamento de Irrigação por Inundação


Intermitente
O dimensionamento da irrigação por inundação intermitente é mais simples que o das
irrigações por sulco e faixa, pois no primeiro caso não há escoamento no final da área. A
declividade da superfície do solo é muito pequena ou nula, de forma que a fase de recessão
praticamente não existe, mas a de depleção é muito importante. O escoamento ocorre devido à
declividade da superfície de água, pois as declividades do rolo, tanto longitudinal quanto
transversal, são praticamente nulas. Conseqüentemente, a uniformidade da superfície do solo é
muito importante.
Será considerado aqui somente o dimensionamento de bacias ou tabuleiros com formas
geométricas regulares, com escoamento ocorrendo numa única direção. Serão feitas três
suposições: primeiro, a declividade da superfície líquida durante a fase de avanço pode ser
aproximada por:
y0 (7.84)
S0  Sf 
X
em que: y0 - profundidade no início da bacia, m;
X - distância do início da bacia até a frente de avanço, m;
352 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Sf - declividade da superfície líquida, m.m-1.


Substituindo a equação 7.84 na equação de Manning, tem-se:
5 1 5 1

Q 0  60
A 0 3 S0 2
= 60
y  y 
0
3
0
2
 60
y0
2,167
(7.85)
2 2 1
1 n X  n X 0 ,5
P3n 3 2

0,23
 Q 2 n2 X 
y0   0  (7.86)
 3600 
 
em que QO é a vazão na entrada da área, em m3 min-1 m-1.
A segunda suposição é de que, quando a vazão na entrada é cortada, a superfície
líquida é horizontal e a lâmina de água na superfície do solo infiltra verticalmente. Isso
significa que a lâmina infiltrada ao longo da bacia é igual à infiltrada durante a fase de avanço
mais a lâmina aplicada na bacia após a fase de avanço. A infiltração acumulada no início da
área (Io) pode ser estimada por:
a
I o  k t a + Vib t a + 0,80 y o + Q 0 t i - t a  L-1 (7.87)

Os dois primeiros termos da equação 7.87 correspondem à infiltração ocorrida durante


a fase de avanço; o terceiro termo é a profundidade média da água durante o tempo de avanço;
e o último, a lâmina média de água aplicada na bacia após a fase de avanço.
Finalmente, assume-se que o dimensionamento é feito para aplicar a irrigação real
necessária no final da bacia onde se tem menor lâmina aplicada. A equação 7.88 pode ser
aplicada no final da área, fazendo Io = IRN e resolvendo para ti, o que leva a:

IRN L  0,8y 0 L (7.88)


ti  + ta
Q0

O procedimento para o dimensionamento da irrigação por inundação intermitente é


apresentado a seguir:
a) Identifique os dados de entrada (ver irrigação por faixa).
b) Selecione a vazão Q0, em m3.m-1.min-1, próxima da vazão máxima não-erosiva, utilizando a
equação 7.89. Verificar se a profundidade da água não excede a altura dos diques, usando
a equação 7.86, fazendo X igual a L.
3
 V 13/3 n 2 L  7 (7.89)
Q 0max   max 

 3600 
c) Determine o tempo de avanço (ta), conforme feito na irrigação por sulco.
Irrigação por superfície 353

d) Determine o tempo de irrigação (ti) utilizando a equação 7.88. Se ti < ta, faça ti = ta.
e) Calcule a eficiência de aplicação (equação 7.15).
f) Repita os passos b) a e) até obter a máxima eficiência de aplicação.
g) A largura do tabuleiro e a vazão total necessária no projeto é determinada utilizando o
mesmo procedimento para irrigação por faixa.

Projeto de Irrigação por Inundação Intermitente


Dimensionar um projeto de irrigação por inundação intermitente para as condições do
exemplo de dimensionamento de irrigação por faixa, considerando que a área foi sistematizada
impondo declividade zero, formando dois planos de 200 por 400 m.
A área já está sistematizada em planos de 200 x 400 m; logo, será considerado o
comprimento de 200 m.
Considerando uma velocidade de escoamento máxima de 8,0 m min-1 para o solo em
questão; tem-se:
3
3/7
 V13/3 n 2 L  7  813 / 3 0,042 200 
Q 0max   max      0,873m 3 / min/ m
 3600   3600 
O procedimento a seguir consiste em criar cenários para diferentes vazões de entrada,
determinando os respectivos tempos de irrigação e eficiência de aplicação. Ressalta-se que se
deve trabalhar com uma vazão de entrada tal que o tempo de avanço seja menor que o tempo
de irrigação. No quadro a seguir têm-se os resultados para diferentes vazões de entrada.
Observa-se que, para vazões maiores ou iguais a 6,0 L s-1, o tempo de avanço é maior ou
igual ao tempo de irrigação. Quando isso acontece, as considerações feitas nesta metodologia
passam a não valer para as condições atuais; logo, deve-se trabalhar com vazões menores que
6,0 L s-1. Quanto maior for o tempo de irrigação em relação ao tempo de avanço, a
metodologia torna-se mais precisa. Como a eficiência de aplicação foi praticamente a mesma
para as vazões de 5,0 e 6,0 L s-1, optou-se por trabalhar com a primeira, com a qual serão
realizados, passo a passo, os demais cálculos.

A seguir serão apresentados os cálculos, passo a passo, para a vazão de 5,0 L s-1.

Qo (L s-1) ti (min) ta (min) Ea (%) Pp (%) Pe (%)


6 41 41 75,9 24,1 0
5 49 47 76,2 23,1 0
4 62 56 75,2 24,8 0
354 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

3 86 71 72,5 27,5 0
2 138 103 67,9 32,1 0

a) Tempo de avanço
Determine o tempo de avanço ta, conforme descrito no item Irrigação por Sulco,
lembrando que Ao deve ser calculado utilizando a equação 7.73.

ta (i) corr ta(i+1) tamed(i) corr tamed(i+1) r(i) corr r (i+1)


(mim) (<0,1) (mim) (mim) (<0,1) (mim) (<0,01)

224,18 172,62 51,55 112,09 91,58 20,51 0,6 01483 0,7483


51,55 3,29 48,26 20,51 1,4 19,11 0,7483
48,26 0,01 48,26 19,11 0 19,11
48,26 0 48,26 19,11 0 19,11
48,26 1,17 47,09 19,11 0,35 18,76 0,7483 0,0051 0,7534
47,09 0 47,08 18,76 0 18,76 0,7534
47,08 0 47,08 18,76 0 18,76
47,08 0 47,08 18,76 0 1876
47,08 0,02 47,06 18,76 0,01 18,76 0,7534 0,0001 0,7535
47,06 0 47,06 18,76 0 18,76

b) Tempo de irrigação
Utilizando a equação 7.88, tem-se:
IRN L  0,8y 0 L 0,056 x 200  0,8 0,067 x 200
ti  + ta   47  49 min
Q0 0,3

c) Eficiência de aplicação
A eficiência de aplicação (equação 7.15) será de:

IRN L 0,056 x 200


Ea  100  100  76,2 %
Q0 t i 0,3 x 49

d) Tempo de irrigação por parcela

TPP  t i + t m = 49  40 = 89 min  1,5 h


Irrigação por superfície 355

e) Número de parcelas irrigadas por dia (NPD)


Considerando o tempo de funcionamento por dia (TDF) igual a 12 horas:
TDF 12
NPD  =  8 parc/dia
TPP 1,5

f) Área por parcela


Como o período de irrigação é de um dia, a área mínima por parcela será:
área total 400 x 400
APP  = = 20.000 m 2
NPD PI 8 x1

g) Largura do tabuleiro
A relação entre o número de tabuleiros por parcela (NTP) e a largura do tabuleiro é
dada por:

APP 20.000 100


WO    m
NTP L NTP 200 NTP

logo, podem-se irrigar dois tabuleiros de 50 m de largura por vez, ou seja, NTP = 2
h) Número total de tabuleiros (NTT)
NTT  NTP NPD PI  2 x 8 x 1 16 tabuleiros

i) Vazão necessária
Q = Wo NTP Qo = 50 x 2 x 5 = 500 l.s-1
Portanto, seriam necessários 500 L s-1 para que toda a área fosse irrigada em um dia.
Como só há disponibilidade de 400 L s-1, seriam necessários 1,5 dias para irrigar toda a área;
como o irrigante só tem água um dia por semana, é preciso armazenar parte da água para
irrigar o restante da área ou alterar a vazão de entrada.

Dimensionamento de Irrigação por Inundação


Permanente
O dimensionamento da irrigação por inundação permanente é bem mais simples que o
dos demais tipos de irrigação por superfície. Uma vez sistematizada a área, o
dimensionamento consiste em determinar a quantidade de água necessária para saturar o solo
e estabelecer a lâmina de água desejada na sua superfície solo, no tempo máximo igual ao
turno de rega, caso a irrigação seja intermitente.
356 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Deve-se lembrar que durante o tempo de enchimento do tabuleiro estão ocorrendo


evapotranspiração e perda por percolação. A perda por percolação é limitada pela
condutividade hidráulica saturada do solo ou por uma camada impermeável que geralmente
existe, a uma dada profundidade, em solos de várzeas. Portanto, o levantamento do perfil do
solo e a determinação da condutividade hidráulica, que serão abordados no capítulo de
drenagem, são indispensáveis no dimensionamento do projeto.
A vazão necessária para o enchimento dos tabuleiros pode ser determinada pela
equação 7.90:
A
Q e  0,116  Z  L m  ETpc TR  K 0 TR  (7.90)
TR
em que: Qe = vazão necessária para o enchimento dos tabuleiros, l.s-1;
ø = porosidade do solo, decimal;
Z = profundidade do solo, mm;
Lm = lâmina média na superfície do solo, mm;
ETpc = evapotranspiração potencial da cultura, mm.dia-1;
TR = turno de rega, dias;
K0 = condutividade hidráulica do solo saturado, mm.dia-1; e
A = área irrigada, ha.
Após o enchimento do tabuleiro, a vazão necessária, denominada vazão de manutenção
(Qm), corresponde às perdas por percolação mais a evapotranspiração e pode ser determinada
utilizando-se a equação 7.91.
Q m  0,116 ETpc  K 0  A (7.91)

Projeto de Irrigação por Inundação Permanente


Deseja-se elaborar um projeto de irrigação para uma área de 20 ha, cujos dados são
apresentados a seguir. Na análise do perfil do solo verificou-se que existe uma camada
impermeável com profundidade (Z) de 50 cm.

 Solo:

DTA = 2,0 mm cm-1  = 0,50 mm3 mm-3

Z = 50 cm K0 = 7,0 mm dia-1

 Irrigação:
Irrigação por superfície 357

ET = 7,2 mm dia-1 Lm = 150 mm

f = 0,5

a) Tempo de enchimento (turno de rega):

DTA f Z 2,0 x 0,5 x 50


TR  =  7dias
ET 7,2

b) Vazão de enchimento:

A
Q e  0,116  Z  L m  ET TR  K 0 TR 
TR

20
Q e  0,116 0,50 x 500 1507,2 x 77,0 x 7  = 165,5 L s -1
7

Qe  165,5 Ls1 201 ha1 = 8,3 L s-1 ha-1

c) Vazão de manutenção:

Q m  0,116 ET  K 0  A  0,116 7,2  7,0  20  32,9 L s 1

32,9 L s 1
Qm   1,65 L s 1 ha 1
20 ha

Eficiência de Irrigação por Inundação Permanente


Os principais parâmetros usados para determinar a eficiência de irrigação por
inundação são:

Eficiência de Condução (Ec)


A eficiência de condução reflete a perda de água entre a captação e a parcela de
irrigação, podendo ser determinada pela seguinte equação:

Qm (7.92)
Ec  100
Qd

em que: Ec = eficiência de condução, %;


358 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Qm = vazão de manutenção, L s-1; e


Qd = vazão derivada da fonte de água, L s-1.
A eficiência de condução é um parâmetro de grande importância nos projetos que
exigem bombeamento na fonte de captação, nas regiões onde a água é fator limitante e nos
projetos com grande distância entre a fonte de captação e a área de irrigação.

Eficiência de Aplicação (Ea )


A eficiência de aplicação pode ser estimada utilizando a equação:
L es (7.93)
Ea = 100
L as
em que: Ea = eficiência de aplicação, %;
Les = lâmina evapotranspirada por semana, mm; e
Las = lâmina aplicada por semana, mm.
A lâmina evapotranspirada por semana (Les) pode ser estimada por meio de um “tanque
Classe A”, instalado ao lado do tabuleiro, e a lâmina aplicada, por meio da seguinte equação:
Qm ti (7.94)
L as = 3.600
A
em que: Qm = vazão de manutenção, L s-1;
A = área do projeto, m2; e
ti = tempo de irrigação, h.

Irrigação Subsuperficial ou Subirrigação


Subirrigação pode ser definida como o método de irrigação no qual a água é aplicada
diretamente sob a superfície do solo, geralmente por meio de criação, manutenção e controle
de lençol freático a uma profundidade preestabelecida. A umidade atinge as raízes das plantas
por meio da ascensão capilar. O lençol freático deve ser mantido a uma profundidade que
obtenha a melhor combinação entre umidade e ar na zona radicular.
São condições ideais para a subirrigação: a existência de uma camada de solo muito
permeável (solos arenosos, orgânicos ou argilosos estruturados) sobrepondo-se a uma camada
impermeável a ± 1,5 m de profundidade, topografia uniforme, pouca declividade e água
abundante e de boa qualidade, principalmente no que diz respeito à concentração de sal.
Um dos principais cuidados que se deve ter com a subirrigação é um rígido controle no
manejo do lençol freático, para evitar a salinização ou alcalinização da camada superficial do
solo, em razão da ascensão capilar da água proveniente do lençol freático. Esse é problema
Irrigação por superfície 359

muito mais sério em regiões áridas. Nas regiões úmidas podem-se aproveitar as chuvas para
lavar o perfil do solo e renovar a água do lençol freático. Isso pode ser feito abrindo as
comportas na época das chuvas, o que provocará uma lavagem do solo e renovação da água
do lençol freático, sem provocar demanda de água das plantas.
Existem, na prática, dois métodos de subirrigação: subirrigação com lençol freático
estável e subirrigação com lençol freático variável.

Subirrigação com Lençol Freático Estável ou


Constante
É o sistema de subirrigação com vazão constante, de modo que mantenha também
constante a altura do lençol freático. Somente deve ser usado quando a derivação da água para
a área do projeto for por gravidade e não por bombeamento. Adapta-se muito bem a solos
orgânicos ou arenosos, profundos, assentados sobre solo argiloso.
Este método consiste na construção de comportas ao longo dos riachos ou drenos
naturais, de modo que eleve o nível da água, fazendo com que ela se movimente para dentro
do solo permeável, elevando o nível do lençol freático. O controle da altura do lençol freático é
conseguido por meio do controle da altura das comportas, ou pela construção de canais-
drenos, distanciados entre si de 250 a 500 m e com 0,80 a 1,20 m de profundidade e sem
declividade, para os quais a água de irrigação é derivada por gravidade. A altura do lençol
freático é controlada pela altura do nível da água dentro dos canais.
Neste método, o custo de irrigação é relativamente baixo, pois ele exige pouca mão-de-
obra e se adapta à irrigação de arroz, pastagem, forrageiras, milho, trigo, girassol e olerícolas.

Subirrigação com Lençol Freático Variável


É o sistema de subirrigação com vazão intermitente, de modo que eleve o nível do
lençol freático até uma determinada altura, durante a aplicação de água. Depois de
interrompida a aplicação de água, o nível do lençol freático começará a descer, até se iniciar
uma nova aplicação, ou seja, é a subirrigação com turno de rega distinto.
Este método de irrigação, normalmente, está associado com o uso de bombeamento do
rio ou represa para o canal principal; deste, a água será distribuída nos canais secundários. Os
canais secundários têm de 15 a 30 cm de largura e 25 a 60 cm de profundidade, sendo
espaçados entre si de 15 a 45 m, além de um sistema de drenos abertos, espaçados entre si de
100 a 300 m, com profundidade variando de 1,0 a 2,0 m.
Ele se adapta às culturas supracitadas e possuem maior custo de implantação e
operação em virtude do conjunto motobombas. Contudo, são, muitas vezes, a única opção
para uso de subirrigação em grandes áreas planas com solo orgânico. O projeto de irrigação
360 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

do Delta Sacramento – São Joaquim é um bom exemplo de aproveitamento de uma grande


área de solo orgânico.

Referências
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Irrigação por superfície 361

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Irrigação por aspersão 361

Capítulo 8

Irrigação por Aspersão

Considerações Gerais

Irrigação por aspersão é o método em que a água é aspergida sobre a superfície do


terreno, assemelhando-se a uma chuva, por causa do fracionamento do jato de água em gotas,
devido a sua passagem sob pressão através de pequenos orifícios ou bocais. Para tal efeito, a
água é conduzida e aplicada às áreas por meio de equipamentos, como motobombas,
tubulações e aspersores das mais diversas capacidades e características de fabricação.
Quando a fonte de água estiver em um plano muito mais elevado do que a área a ser irrigada,
não haverá necessidade da motobomba.
Quanto mais grossa for a textura do solo, maior será a vantagem do uso da irrigação
por aspersão, pois solos arenosos e franco-arenosos possuem grande capacidade de infiltração
de água, o que ocasiona percolação quando se usa a irrigação por superfície. Estes tipos de
solos também possuem baixa capacidade de retenção de água, requerendo irrigações
freqüentes, com aplicação de menor quantidade da água por irrigação, o que é mais fácil de
ser conseguido com irrigação por aspersão e localizada do que por superfície.
Geralmente, os terrenos de várzeas, por causa de sua posição quanto à fonte de água,
textura, estrutura e de a superfície ser mais plana e uniforme, são irrigados por métodos de
irrigação por superfície, exceto os solos turfosos. A irrigação por aspersão é, na maioria das
vezes, mais usada em terrenos de encosta, terraços e nos platôs mais elevados. Naqueles com
declividade mais acentuada e superfície menos uniforme, a aspersão é mais empregada, por
não exigir a sistematização.
Em grandes projetos de irrigação, em que a água é distribuída por rotação entre os
proprietários, ou seja, maiores vazões por determinado tempo para cada proprietário, os
métodos de irrigação por superfície adaptam-se melhor do que os por aspersão, mas quando se
tem uma distribuição contínua, com menores vazões, estes últimos adaptam-se muito bem.
362 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

O vento, a umidade relativa do ar e a temperatura são os principais fatores climáticos


que afetam o uso da irrigação por aspersão. O vento afeta a uniformidade de distribuição de
água dos aspersores e, juntamente com a temperatura e a umidade relativa do ar, influencia a
perda de água por evaporação e arrastamento. Desse modo, em regiões sujeitas a ventos
constantes e fortes, a baixa umidade relativa do ar e a temperaturas elevadas, recomenda-se
irrigação por gotejamento ou por superfície.
A irrigação por aspersão adapta-se a quase todos os tipos de cultura, embora interfira
um pouco nos tratos fitossanitários, ou seja, pulverização e polvilhamento, por lavar a parte
aérea da cultura. Quanto à cultura, deve-se escolher o tipo e a altura do aspersor apropriado.
No método de irrigação por aspersão, não se recomenda usar água de irrigação salina,
por causa da redução da vida útil dos equipamentos e dos possíveis danos nas folhas dos
vegetais.

Componentes de Um Sistema de
Aspersão
Aspersores
Os aspersores são as peças principais do sistema de irrigação por aspersão. Operam
sob pressão e lançam o jato de água no ar, o qual é fracionado em gotas, caindo sobre o
terreno em forma de chuva.
Aspersores rotativos, aspersores estacionários, bocais e tubos perfurados são usados
em sistemas de irrigação por aspersão. Na maioria dos sistemas de irrigação, utilizam-se
aspersores rotativos (Figura 8.1).
Mola de controle Cabeçote
Braço oscilante

Deflector

Bocal Juntas autolubrificantes

Corpo
Irrigação por aspersão 363

Figura 8.1 - Corte esquemático de um aspersor rotativo.


Estes aspersores podem ser de giro completo ou do tipo setorial, permitindo a
regulagem da amplitude de giro. Este último é menos comum e só usado em áreas periféricas
do campo ou sob condições especiais. Quanto à velocidade de rotação, os tipos mais comuns
são os de baixa velocidade de rotação, em geral de uma a duas rotações por minuto (RPM)
para os aspersores pequenos e 0,5 RPM para os aspersores gigantes. Para um bom
desempenho dos aspersores, a velocidade de rotação deve ser uniforme.

Quanto ao ângulo de inclinação do jato com a horizontal, a maioria dos aspersores


possui uma inclinação em torno de 30º; já aqueles para uso na irrigação subcopa têm uma
inclinação de aproximadamente 6º.

Existem aspersores com um e com dois bocais e, normalmente, são caracterizados


pelos diâmetros, expressos em milímetros. Nos aspersores com dois bocais, o menor deles tem
um raio de alcance mais reduzido, molhando a parte interna do círculo.

Em um mesmo tipo de aspersor, podem-se usar bocais de diferentes diâmetros. Para


cada combinação entre pressão de serviço e diâmetro do bocal do aspersor têm-se diferentes
raios de alcance, vazão e intensidade de precipitação.

Quanto ao tipo de rotação, existem os aspersores com rotação causada pelo impacto
do braço oscilante, o qual é ativado pela ação do jato de água que sai do aspersor sobre o
deflector deste braço, provocando impactos pequenos e periódicos, e há aqueles com rotação
que ocorre devido à reação pela saída do jato. O primeiro tipo é o mais comum e o mais usado
na irrigação por aspersão das diversas culturas, o segundo apresenta, normalmente, maior
velocidade de rotação, menor diâmetro molhado e é usado principalmente na irrigação de
jardins.

Vários tamanhos de aspersores estão disponíveis no comércio. Para fins de


classificação, podem-se reuni-los em quatro grupos, segundo a pressão de serviço:

a) Aspersores de “pressão de serviço muito baixa” – Trabalham com pressão


variando entre 4 e 10 mca e possuem pequeno raio de ação. Compreendem os tipos especiais
de aspersores, como microaspersores e aspersores de jardim e são, em geral, do tipo
estacionário. São usados em jardins e pomares.

b) Aspersores de “pressão de serviço baixa” – Trabalham com pressão entre 10 e 20


mca e possuem raio de alcance entre 6 e 12 m. São, em geral, do tipo rotativo, movidos por
impacto do braço oscilante e usados, principalmente em irrigação subcopa dos pomares ou
pequenas áreas de cultivos (Figura 8.2). Uma vez que trabalham com baixa pressão, muitos
364 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

destes sistemas são instalados utilizando-se a diferença de nível entre a fonte de água e a área
a ser irrigada (por gravidade).

Figura 8.2 - Vista de um sistema de aspersores de “pressão de serviço baixa”.

c) Aspersores de “pressão de serviço média” – Trabalham com pressão entre 20 e


40 mca e possuem raio de ação entre 12 e 36 m. Constituem os tipos mais usados nos projetos
de irrigação por aspersão e se adaptam a quase todos os tipos de solo e cultura. São, em geral,
do tipo rotativo, movidos por impacto do braço oscilante e constituídos de um ou dois bocais
(Figuras 8.3 e 8.4).
Irrigação por aspersão 365

Figura 8.3 - Vista de um aspersor de um bocal.

Figura 8.4 - Vista de aspersores com dois bocais funcionando.


d) Aspersores “gigantes” ou canhão hidráulico – Existem aspersores do tipo canhão
(Figura 8.5) de médio e de longo alcance. Os de médio alcance trabalham com pressão que
varia de 40 a 80 mca e possuem um raio de ação entre 30 e 60 m. São usados para irrigação
366 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

de capineiras, pastagens, cereais, cana-de-açúcar e pomares. Os aspersores gigantes de longo


alcance trabalham com pressão entre 50 e 100 mca e possuem um raio de ação de 40 a 80 m.
São mais usados em sistemas autopropelidos para irrigação de cana-de-açúcar, pastagens e
capineiras.

Figura 8.5 - Vista de um aspersor gigante.


Na Tabela 8.1 têm-se as características técnicas de um aspersor comercial.

Tabela 8.1 - Características técnicas de um aspersor comercial


Diâmetro Pressão de Alcance ou Vazão Escapamento Área útil Precipitação
dos bocais serviço raio (m) (m3/h) (m) irrigação (mm/h)
(mm) (atm) (m2)
2,0 14,0 2,29 12/18 216 10,60
4,5 x 4,8 2,5 14,7 2,56 18/18 324 7,90
3,0 15,6 2,80 18/18 324 8,64
2,0 13,5 2,59 12/18 216 11,99
4,5 x 5,5 2,5 15,0 2,90 18/18 324 8,95
3,0 16,0 3,18 18/18 324 9,81
2,5 16,0 3,05 18/18 324 9,41
5,0 x 5,5 3,0 16,3 3,35 18/24 432 7,75
3,5 16,6 3,62 1824 432 8,38
4,0 17,0 3,87 18/24 432 8,96
2,5 17,3 3,84 18/24 432 8,89
Irrigação por aspersão 367

5,0 x 6,5 3,0 17,6 4,21 18/24 432 9,74


3,5 18,5 4,55 24/24 576 7,90
4,0 19,2 4,86 24/24 576 8,44
2,5 17,0 4,58 18/24 432 10,60
5,0 x 7,5 3,0 18,0 5,02 18/24 432 11,62
3,5 19,2 5,42 24/24 576 9,41
4,0 20,0 5,80 24/24 576 10,07
2,5 17,0 5,28 18/24 432 12,22
6,0 x 7,5 3,0 17,7 5,79 18/24 432 13,40
3,5 18,5 6,25 24/24 576 10,85
4,0 19,0 6,69 24/24 576 11,61
3,0 18,0 6,80 18/24 432 15,74
6,0 x 8,5 3,5 18,5 7,35 24/24 576 12,76
4,0 19,0 7,86 24/24 576 13,65
4,5 19,5 8,33 24/24 576 14,46
368 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Acessórios
Os sistemas de irrigação por aspersão, por conduzirem água sob pressão em
tubulações, requerem diversos tipos de acessório. Os mais comuns são: registro, curvas (30,
45, 60 e 90º), niple, tampão, tê, redução, cruzeta, cotovelo, manômetro, braçadeira, válvula
de derivação, válvula de retenção, válvula de pé, pé de suporte, tubo de subida e tripé. Alguns
destes acessórios estão representados na Figura 8.6.

Tubulações
A água da motobomba é conduzida até os aspersores por meio das tubulações de
diversos tipos de material, como: ferro fundido, aço, cimento amianto, concreto, aço zincado,
alumínio, PVC rígido e polietileno. Os tubos, em geral, têm um comprimento-padrão de 6 m,
exceto os de alumínio, que são de 10 m, cujos pesos, pressão de serviço e espessura da parede
variam de acordo com o material de que são constituídos.

Curva Tampão final Cotovelo de derivação


Derivação T

Braçadeira com niple


Engate rápido com Registro de gaveta Pé de suporte
válvula automática

Tubo de subida Braçadeira


Engate rápido com tripé Manômetro
com braçadeira

Figura 8.6 - Acessórios usados nos sistemas de irrigação por aspersão convencional.

O conjunto de tubulações em um sistema de irrigação por aspersão constitui-se de


linha principal, linhas secundárias (que nem sempre existem) e linhas laterais.
A linha principal conduz água da motobomba até as linhas secundárias ou laterais e
geralmente, são fixas. As linhas secundárias, quando existem, fazem a conexão entre as linhas
principais e laterais e, de modo geral, são fixas. As linhas laterais conduzem água das
principais ou secundárias até os aspersores, ou seja, são aquelas nas quais estes estão
instalados. No caso das linhas principais e secundárias, podem-se usar os diversos tipos de
material, pois, em geral, são fixas. Entretanto, nas linhas laterais e principais móveis, usam-se
Irrigação por aspersão 369

tubulações mais leves, como aço zincado, alumínio e PVC rígido, com engate rápido
(Figura 8.7).
O dimensionamento das linhas laterais e principais será discutido em itens específicos.

Figura 8.7 - Conexão com engate rápido.

Motobomba
O conjunto motobomba é um componente fundamental no sistema de irrigação por
aspersão. A motobomba pode ser do tipo centrífuga, de eixo horizontal, ou do tipo turbina de
poços profundos, sendo o primeiro o mais usado. Porém, em regiões onde se usa água
subterrânea para irrigação, o tipo turbina de poços profundos é o mais utilizado.
Os principais tipos de motores usados são os elétricos, a diesel e a gasolina; contudo,
com a crise de energia poderá aumentar o uso de motores movidos a outros tipos de
combustível, como álcool.
Será discutido, em item específico, o dimensionamento das motobombas.
370 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 8.8 - Vista de uma estação de bombeamento flutuante.

Sistemas de Aspersão
Os diversos sistemas de irrigação por aspersão serão classificados segundo a
tubulação usada, o modo de instalação no campo, os tipos de conexões ou engates entre tubos,
a movimentação das linhas laterais no campo e o manejo da irrigação.
Podem-se dividir os sistemas de irrigação por aspersão em dois grandes grupos:
sistemas móveis e sistemas fixos.
Os sistemas de irrigação por aspersão móveis são constituídos, pelo menos em parte,
de tubulações portáteis, instaladas sobre a superfície do terreno, permitindo que a mesma
linha lateral seja movimentada em diversas posições sobre a área do projeto, dependendo do
número de dias necessários para se irrigar toda a área e do tempo para se aplicar a lâmina de
água desejada. Tais sistemas podem ser de movimentação manual ou mecânica.
Nos sistemas portáteis manuais, esta vantagem de mobilidade, com o tempo, vai
sendo reduzida pelas dificuldades de mão-de-obra para a movimentação das linhas laterais
que, paulatinamente, crescem.
Os sistemas de aspersão fixos são constituídos de tubulações suficientes para irrigar
toda a área do projeto, sem mudanças das tubulações. Estes sistemas podem ser fixo-portáteis,
cujas tubulações são instaladas sobre a superfície do solo e permanecem no campo somente
Irrigação por aspersão 371

durante o ciclo vegetativo da cultura, ou fixo-permanentes, cujas tubulações são enterradas.


Os sistemas fixos somente são justificados, economicamente, pela escassez ou pelo elevado
custo de mão-de-obra, para a execução de irrigação, a qual poderá ser mínima ou quase não
existir nas instalações totalmente automatizadas. No Brasil, estes sistemas de irrigação têm
maior uso em praças de esporte, jardins e casas de vegetação.
Os diversos sistemas de irrigação e respectivos grupos serão descritos a seguir:

a) Sistemas de aspersão móveis


Sistemas com movimentação manual
– sistema de aspersão portátil;
– sistema de aspersão semiportátil;
– sistema de aspersão por canhão hidráulico portátil; e
– sistema de aspersão por mangueira.
Sistemas com movimentação mecânica
– sistema de aspersão sobre rodas, com deslocamento longitudinal;
– sistema de aspersão sobre rodas, com deslocamento lateral;
– sistema pivô-central; e
– sistema autopropelido, com canhão hidráulico.

b) Sistemas de aspersão fixos


– fixo-portátil;
– fixo-permanente; e
– em malha.

Sistema de Aspersão Portátil


São sistemas móveis, constituídos de tubulações portáteis, tanto na linha principal
como nas linhas laterais, com características que os tornam de fácil transporte, instalação e
montagem, de tal modo que tais operações sejam exeqüíveis, manualmente (Figura 8.9). As
linhas laterais cobrem parte do campo e são movimentadas normalmente para as demais
posições, por isso, as tubulações são leves e dotadas de juntas ou conexões de acoplamento
rápido. Já os aspersores são conectados às linhas laterais. Em alguns casos, as motobombas,
conforme tamanho e peso, podem ser montadas sobre carretas.
372 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Linha principal Linha lateral

Fonte de água

Motobomba

Já irrigado
Figura 8.9 - Esquema de um sistema de irrigação por aspersão portátil.

Os sistemas de irrigação por aspersão do tipo portátil, convencional, juntamente com o


semiportátil, são muito usados no Brasil, pois requerem menor investimento de capital; contudo,
exigem mais mão-de-obra no manejo e operação. Dependendo do comprimento da linha lateral, a
sua movimentação, de uma posição para outra, requer um tempo de mudança entre 20 minutos e
uma hora.
Geralmente, este sistema é projetado com uma, duas, três ou quatro linhas laterais e todas
trabalham simultaneamente.
Para minimizar o seu custo, recomenda-se que o sistema seja projetado para trabalhar o
máximo de horas possível diariamente, e, quando completar uma irrigação em toda a área, é o
momento de se iniciar a subseqüente. Quanto mais contínuo for o funcionamento do sistema, menor
será o custo por unidade de área. Com um tempo de mudança de lateral de uma hora, deve-se fixar o
tempo de funcionamento da lateral, por posição, em 3, 5, 7, 11 ou 23 horas, determinando-se a
intensidade de aplicação do aspersor, de acordo com a lâmina a ser aplicada na irrigação. Entretanto,
com o aumento do custo com energia pode ser recomendado o uso do sistema somente à noite,
Irrigação por aspersão 373

quando se trabalha com tarifa reduzida, proporcionando uma redução no custo de operação de até
75%, dependendo da concessionária e da região do país onde está localizado o projeto.

Sistema de Aspersão Semiportátil


É um sistema convencional muito usado no Brasil. As suas linhas laterais são móveis
e a principal é fixa (Figura 8.10).
As linhas principais podem ser enterradas ou ficar sobre a superfície do solo. São
geralmente de ferro fundido, aço zincado, PVC ou alumínio. As linhas laterais, por sua vez,
devem ter as mesmas características de mobilidade discutidas no sistema portátil.

Aspersores pequenos Linha principal Linha lateral


ou médios

Já irrigado
Válvula de
Fonte de água tomada de
linha

Motobomba

Já irrigado

Figura 8.10 - Esquema de um sistema de irrigação por aspersão semiportátil.


374 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Sistema de Aspersão por Canhão Hidráulico


Portátil
São sistemas portáteis compostos de uma ou mais linhas laterais, com apenas um aspersor
gigante, ou canhão hidráulico, por linha lateral. Terminada a irrigação numa posição, o canhão
hidráulico é removido para a posição seguinte, na mesma linha lateral (Figura 8.11). Este sistema se
adapta muito bem à irrigação de pastagens, capineiras e cana-de-açúcar.

Sistema de Aspersão por Mangueira


É um sistema de irrigação por aspersão semiportátil, em que as linhas laterais são de PVC
flexível (mangueiras) e as principais e secundárias, fixas, enterradas ou não. As linhas laterais são
geralmente mangueiras de 3/8” ou 1/2”, funcionando cada uma com um, dois ou três aspersores do
tipo subcopa, de pequena pressão e baixa intensidade de precipitação, em geral menor do que 8
mm/h. Cada mangueira irriga uma faixa de terreno ou as árvores de duas fileiras.
Na irrigação, as mangueiras são puxadas à mão, para mudar os aspersores de posição
(Figuras 8.12 e 8.13). Este sistema é mais usado para irrigação de pomares, jardins e estufas.
Aspersão em
funcionamento

Área
irrigada

Fonte de água

Tomadas de aspersor Tomadas de


e de linha de aspersão aspersor

Figura 8.11 - Esquema de um sistema de aspersão por canhão hidráulico portátil.


Irrigação por aspersão 375

Linha secundária

x x x x x x x x x x x x

Mangueira
x x x x x x x x x x x x

x x x x x x x x x x x x

x x x x x x x x x x x x Posição do
aspersor

x x x x x x x x x x x x

x x x x x x x x x x x x

x x x x x x x x x x x x

x x x x x x x x x x x x
7 7 8 8 9 9 10 10 11 11 12 12

x x x x x x x x x x x x
1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6

Linha principal

Adaptador para ramal


Aspersor da linha principal

Base suporte Mangueira de


do aspersor PVC flexível
Tampão final

Figura 8.12 - Esquema de um sistema de aspersão por mangueira.

Figura 8.13 - Vista de um sistema de aspersão por mangueira.


376 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Sistema de Aspersão Sobre Rodas, com


Deslocamento Longitudinal
É um sistema de irrigação com movimentação mecânica, constituído de tubulações do
tipo leve e de acoplamento rápido e próprio para tração, com múltiplos aspersores ou com um
aspersor apenas do tipo gigante, montado sobre pares de rodas, de modo que se desloque no
sentido longitudinal na mudança da linha lateral ou do aspersor gigante, de uma posição para
outra (Figura 8.14).
Linha lateral
sobre rodas
Trator
Torno

Fonte de água

Motobomba

Linha principal

Já irrigada

Figura 8.14 - Esquema de um sistema de aspersão sobre rodas, com deslocamento


longitudinal, puxado a trator.

Sistema de Aspersão Sobre Rodas, com


Deslocamento Lateral
As linhas laterais são montadas sobre rodas, para deslocamento lateral, por meio de um
mecanismo acionado por um motor (Figuras 8.15 e 8.16).
Irrigação por aspersão 377

Há dois tipos de sistema de aspersão sobre rodas: um em que a linha lateral é o eixo das
rodas, geralmente usado para irrigar culturas de pequeno porte, e o outro em que a linha lateral é
instalada em plano superior ao topo destas, suportada por torres ou armações em formato de A,
apoiadas nas rodas. Suas grandes vantagens são economia de mão-de-obra e alta uniformidade de
aplicação.

Sistema Pivô Central


É um sistema de movimentação circular, autopropelido à energia hidráulica ou elétrica. É
constituído, em geral, de uma linha, com vários aspersores, de 200 a 800 m de comprimento, com
tubos de aço de acoplamento especial, suportada por torres dotadas de rodas, nas quais operam os
dispositivos de propulsão do sistema, imprimindo à linha um movimento de rotação, em torno de
um ponto ou pivô, que lhe serve de ancoragem e de tomada de água, por bombeamento de poços
profundos, junto do pivô ou da adutora. O sistema é dotado de recursos de ajustagem de velocidade
de rotação e de alinhamento das tubulações. Sua capacidade varia entre 25 e 200 ha, por unidade
(Figuras 8.17, 8.18 e 8.19).
No Brasil, são fabricados diversos modelos de pivô para atender aos mais distintos
sistemas de produção, envolvendo culturas de baixo ou alto porte, sistemas de aplicação de água
com molhamento total ou limitado, sistemas fixos (mais comuns) e sistemas móveis, com raio de
até 800 m e área útil irrigada de cerca de 180 ha por unidade, embora recomenda-se utilizar no
máximo equipamentos de até 120 ha ou menor, dependendo do tipo de solo.

O sistema de irrigação pivô central apresenta vantagens e desvantagens em relação ao


sistema tradicional de irrigação por aspersão.

Principais vantagens:

a) Economia de mão-de-obra.

b) Economia de tubulações, pois quando se usa água subterrânea, a linha principal


não é utilizada.

c) Mantém o mesmo alinhamento e a mesma velocidade de movimentação em todas as


irrigações.

d) Após completar uma irrigação, o sistema estará no ponto inicial para começar uma
outra.

e) Boa uniformidade de aplicação, quando bem dimensionado.


378 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Linha lateral
sobre rodas

Equipamento
X
de propulsão

Área
irrigada

Linha principal
Motobomba
Fonte de água

Figura 8.15 - Esquema de um sistema de aspersão sobre rodas, com deslocamento lateral.

Figura 8.16 - Vista de uma área irrigada com sistema de aspersão sobre rodas, com deslocamento
lateral e canal no centro da área.
Irrigação por aspersão 379

Figura 8.17 - Vista parcial de um sistema de pivô central.

Figura 8.18 - Vista parcial de uma área com vários sistemas de pivô central.

Principais desvantagens:
a) É difícil mudá-lo de área, para poder aumentar a área irrigada, por unidade de
equipamento, quando o modelo é fixo.
b) Perde 20% da área, aproximadamente (com um raio de 400 m, irriga 50 a 54 ha de
cada 64 ha).
c) Tem alta intensidade de aplicação, na extremidade do pivô, geralmente variando
entre 40 e 140 mm/h para os pivôs com aspersores ou spray, e valores maiores do que esta
faixa para pivôs com aplicação localizada.
380 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

d) Por causa da alta intensidade de aplicação, na extremidade do pivô, precisa-se


tomar cuidado com o escoamento superficial, sendo o manejo adequado do solo, como plantio
direto, fundamental.

Linha adutora enterrada


ou poço no centro

Fonte de água

Pivô central

Tubulação de
aspersão
Torres

Figura 8.19 - Esquema de um sistema de pivô central.

Sistema Autopropelido, com Canhão


Hidráulico
Este sistema consiste em um canhão hidráulico, montado sobre carreta, que se desloca
sobre o terreno, irrigando-o simultaneamente, cobrindo em geral uma faixa de até 130 m de largura
por 500 m de comprimento. O conjunto é constituído de um motor para a autopropulsão, um
aspersor canhão, uma mangueira de alta pressão, com 200 m de comprimento, a qual é acoplada,
mediante engate rápido, à linha principal, que, normalmente, é enterrada, e de um cabo de aço de
400 m e instalado sobre uma carreta de quatro rodas.
O deslocamento do sistema sobre a faixa a ser irrigada acontece em virtude da ação do
carretel, acionado pelo pistão hidráulico, ou por motor próprio, enrolando o cabo de aço, o qual foi
previamente esticado e ancorado na outra extremidade da faixa a ser irrigada.
A carreta possui dispositivo para interrupção automática do funcionamento do sistema,
quando atingir o final da faixa, e então o sistema é transferido à faixa seguinte (Figuras 8.20 e 8.21).
Irrigação por aspersão 381

Este sistema é indicado para irrigação de cana-de-açúcar, pastagens, forrageiras, pomares e


cereais, em áreas de tamanho médio a grande.

Aspersor tipo canhão Cabo de aço


hidráulico rotativo
Ancoragem

Fonte de água

Mangueira
flexível

Irrigado

Linha principal

Figura 8.20 - Esquema de um sistema autopropelido, com canhão hidráulico.


382 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 8.21 - Vista parcial de um sistema autropelido, com canhão hidráulico.

Sistema de Aspersão Fixo Portátil


Sistema com tubulações leves e de acoplamento rápido, suficiente para irrigar todo o
campo, sem mudanças das linhas laterais. De modo geral, funciona somente um determinado
número de linhas laterais por vez, o que requer menor capacidade do sistema motobomba e menor
diâmetro da tubulação da linha principal, ou seja, o conjunto ficará menos tempo ocioso. Em casas
de vegetação, floricultura e jardins, pode-se dimensionar o sistema para funcionar todas as linhas
laterais ao mesmo tempo, ou seja, ele ficará desligado entre duas irrigações.
Este sistema requer o mínimo de mão-de-obra durante as irrigações, mas o seu custo
inicial é muito elevado, e somente deve ser usado em regiões em que a mão-de-obra é muito
escassa e cara e em culturas em que não é fácil movimentar as tubulações das linhas laterais
móveis. O sistema é instalado no campo, no início do cultivo, e removido somente no seu
término, para ser guardado até a época do próximo cultivo (Figura 8.22).

L in h a s
m o n ta d a s

F on te de águ a

M o to b o m b a
Irrigação por aspersão 383

Figura 8.22 - Esquema de um sistema de aspersão fixo-portátil, com 36 linhas laterais,


funcionando três de cada vez.

Sistema de Irrigação Fixo Permanente


Sistema em que as linhas principais, secundárias e laterais são enterradas e em quantidade
suficiente para irrigar toda a área. Os aspersores usados são, em geral, de tamanho pequeno ou
médio. É o sistema de irrigação com maior custo inicial por unidade de área. Como no caso anterior,
somente deve ser usado em regiões onde a mão-de-obra é muito escassa e cara.
Apesar de as tubulações serem suficientes para irrigar, ao mesmo tempo, toda a área,
a irrigação é feita com funcionamento de um determinado número de linhas laterais por vez,
de acordo com o turno de rega. Para isso, os sistemas são dotados de válvulas ou registros nas
linhas laterais, com controle manual ou por meio de estação de controle remoto.
Nos sistemas totalmente automáticos, há uma estação central, em conexão com uma
série de subestações, de acordo com o tamanho da área, para o controle do funcionamento das
linhas laterais, conforme plano preestabelecido. Outros tipos de sistema automático controlam
a irrigação em função do teor de umidade do solo que pode ser determinado utilizando
tensiômetros instalados no campo.

Sistema de Irrigação Fixo em Malha


A irrigação por aspersão fixa do tipo malha refere-se a um projeto que se caracteriza
pela utilização de tubulação de PVC de diâmetros pequenos (1/2 até 1”), que são enterradas e
interligadas em um sistema denominado malha.

Em cada um dos pontos de instalação dos aspersores é colocado um tubo de subida


fixo, que é vedado por um simples tampão de PVC, que são retirados manualmente para
instalação dos aspersores. Utilizam-se aspersores de diferentes tamanhos, que se movimentam
pelos suportes. Nas Figuras 8.23, 8.24 e 8.25 apresentam-se detalhes do sistema que podem
auxiliar o entendimento do sistema.
A irrigação por malha é um sistema muito utilizado em alguns países. No Brasil, teve
sua divulgação nos últimos anos na irrigação de pastagem e, atualmente, na cafeicultura, à
qual tem-se adaptado muito bem, irrigando inicialmente áreas pequenas ou médias, devido às
vantagens de se ajustar a diferentes tipos de terreno, ao baixo custo de implantação e baixo
consumo de energia e mão-de-obra quando comparados a outros sistemas, além da facilidade
384 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

de operação e manutenção. Como desvantagens, apresenta limitações de automação e exige


grande número de abertura de valetas.

Aspersores em
funcionamento

Linha lateral

Linhas de derivação

Pontos de aspersão

Linha
principal

Linha de recalque
Malhas

M B

Captação
Linha de sucção

Figura 8.23 - Croqui de um sistema de irrigação por malha.


Irrigação por aspersão 385

Figura 8.24 - Áreas de aspersão em malha na cultura do café.

Figura 8.25 - Áreas de aspersão em malha em pastagem.


386 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Planejamento de Sistemas de Irrigação


por Aspersão
Antes de decidir qual o método de irrigação a ser usado em determinada área, é necessário
analisar os pontos que se seguem.

Tamanho e Forma da Área


O método de irrigação a ser usado não depende apenas do tamanho da área, porém existem
algumas limitações que devem ser consideradas.
Áreas muito estreitas e longas dificultam o manejo da irrigação por aspersão com sistemas
portáteis. As de forma irregular requerem linhas laterais de diferentes comprimentos, o que também
dificulta o manejo nos sistemas de aspersão. Em contrapartida, áreas de forma quadrada ou
retangular facilitam o manejo na irrigação por aspersão. Em áreas muito pequenas, menores que
quatro hectares, é mais fácil conduzir irrigação por aspersão do que por sulco.

Topografia
O custo da irrigação por aspersão e a realizada por superfície aumenta com o
incremento da declividade e desuniformidade da superfície do solo; porém, este aumento de
custo é menor na por aspersão. Sendo assim, a irrigação por aspersão é mais propícia para
terrenos com maior declividade do que a por superfície.

Solo
A intensidade de aplicação de água na irrigação por aspersão deve ser tal que toda ela se
infiltre no solo, não havendo, assim, escoamento sobre a superfície. Como a capacidade de
infiltração dos solos depende basicamente de sua textura e estrutura, aqueles com textura grossa ou
com agregados possuem maior capacidade de infiltração. A irrigação por aspersão adapta-se melhor
a solos com textura média e grossa, pois nestes pode-se irrigar com maior intensidade de aplicação,
permitindo, assim, menor tempo por posição das linhas laterais, para uma determinada lâmina a ser
aplicada por irrigação, resultando em menor número de linhas laterais e, em conseqüência, num
menor custo do sistema.
Em solos com textura fina, em virtude da sua baixa capacidade de infiltração, a intensidade
de irrigação por aspersão teria que ser muito pequena, o que nem sempre é possível. A intensidade
de aplicação dos sistemas de irrigação por aspersão é maior que 4 mm h-1, o que pode limitar seu
uso em alguns solos.
Irrigação por aspersão 387

Suprimento de Água
A irrigação por aspersão adapta-se melhor do que a realizada por superfície, para vazões
pequenas e contínuas. No caso de grandes vazões, mas intermitentes, a irrigação por superfície
adapta-se melhor; porém, para vazões médias e grandes, contínuas, qualquer método ajusta-se bem.

Cultura a ser Irrigada


Sementeiras e culturas mais tenras somente podem ser irrigadas por aspersão, com pequena
intensidade de aplicação, ou seja, abaixo de 5 mm/hora ou irrigação localizada.
Culturas, com sistema radicular pouco profundo, requerem irrigações mais
freqüentes, com aplicação de pequenas lâminas por irrigação, e isto é mais fácil de conseguir
com irrigação por aspersão e localizada.
A altura de certas plantas e sua densidade de plantio, como no caso da cana-de-
açúcar, tornam estas culturas adaptáveis para irrigação por aspersão com canhão hidráulico.
Outro ponto que deve ser considerado é a incidência de doenças, lembrando-se de que
a irrigação por aspersão, periodicamente, lava as folhas da cultura e aumenta a umidade
relativa do ar em volta dela propiciando, em alguns casos, ambiente favorável ao
desenvolvimento de certas doenças.
A qualidade da água também pode afetar o uso da irrigação por aspersão. Por
exemplo, água com maiores teores de sódio e cloro, após evaporar das folhas molhadas por
aspersão, deixa o sal em contato com as folhas, podendo causar problemas para as culturas.

Disponibilidade de Mão-de-Obra
De modo geral, os métodos de irrigação por superfície requerem mais mão-de-obra do que
os por aspersão e localizada. Estes métodos também estão mais sujeitos à interferência do irrigante,
afetando, assim, em maior intensidade, a eficiência de irrigação do sistema, em condições de campo.

Clima
A intensidade do vento, a umidade relativa e a temperatura do ar são os principais
fatores que afetam a perda de água por evaporação na irrigação por aspersão. Em regiões
sujeitas a ventos com velocidade acima de 5 m/s, a perda por evaporação e arrastamento pode
chegar a 20% ou mais.
388 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Distribuição do Sistema no Campo


Há vários pontos que devem ser considerados ao distribuir, no campo, as tubulações
dos sistemas de irrigação por aspersão.
a) Localização da Fonte de Água
Poços: Se possível, localizá-los próximo ao centro do terreno.
Canais: Caso eles já existam na área, determinar a sua perda por percolação. Se o
canal for viável, estudar a possibilidade de usá-lo de modo que minimize o comprimento da
linha principal, bem como a possibilidade de se usar motobomba móvel ao longo dele.
Rios: Estudar a possibilidade de uso da motobomba móvel, ao longo do rio versus
uma ou duas estações fixas.
Barragem: Estudar a possibilidade de construir barragens, com o propósito de usar a
diferença de nível, para fornecer toda ou parte da pressão necessária ao sistema.

b) Tamanho e Forma da Área


Tamanho: Quando a área do projeto for muito grande, deverá ser subdividida em
subáreas e projetar um sistema para cada uma delas.
Forma: A área ou subárea deve ser retangular ou quadrada, para facilitar a
rotatividade das linhas laterais e economizar mão-de-obra.

c) Direção e Comprimento das Linhas Laterais


Vento: As linhas laterais, quando possível, devem ser instaladas perpendicularmente à
direção predominante dos ventos.
Declividade: As linhas laterais, quando possível, devem ser instaladas
perpendicularmente à maior declividade, para diminuir a variação de pressão entre os
aspersores.
Fileiras: A direção das linhas de plantio muitas vezes determina a direção das linhas
laterais, por causa da economia de mão-de-obra e facilidade de movimentação.
Comprimento: O comprimento das linhas laterais é limitado pelas dimensões da área
e pelo limite de perda de carga de 20% da pressão de serviço, incluindo a elevação.

d) Linhas Principal e Secundária


Direção: As linhas principais e secundárias devem ser instaladas na direção
predominante da declividade.
Posição: As linhas principais e secundárias devem ser instaladas de modo que
permitam a rotatividade das linhas laterais, minimizando, desse modo, consumo de mão-de-
obra para movimentá-las.
Irrigação por aspersão 389

e) Diâmetro das Linhas Principal, Secundária e Lateral


Lateral: As linhas laterais devem ser dimensionadas com um (1) ou no máximo dois
(2) diâmetros distintos.
Principal e secundária: As linhas principais e secundárias podem ter tantos diâmetros
diferentes quantas forem as razões de ordem econômica. Em geral, são dimensionadas com até
quatro diâmetros distintos.
As Figuras 8.26 e 8.27 ilustram diversos esquemas de linhas laterais e principais.
390 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

1
1

3
2

1
A
A - Duas linhas
linhas laterais
laterais B -- Três
Três linhas
linhaslaterais
laterais

7 5
3

8 6
2

1
4

2
1

CC--Quatro
Quatro linhas laterais
laterais DD- -Oito
Oitolinhas
linhas laterais,
laterais,
duas
duassecundárias
secundárias e uma
principal
principal
1

1
2

EE--Duas
Duas linhas
linhas laterais
laterais com
com FF -- Motobomba
Motobomba ee linhalinha
1/2linha
½ linhaprincipal
principalportátil
portátil lateral
lateralportátil
portátilaoaolongo
longodo
docanal
canalouourio
rio

Figura 8.26 - Esquemas de sistemas portáteis, em áreas sem problemas de topografia.


Irrigação por aspersão 391

2
115

2
110 110

105
105
1

100
1

100

A
A - Declividade suaveee
Declividade suave BB- -Declividade
Declividade suave
suave e uniforme
uniforme
uniforme, compoço
uniforme, com poço

100
97
93

86
94
88 91
79
85

CC - Pressão
- Pressão porpor causa
causa da DD--Lateral
Lateral morro
morro abaixo
abaixo para
paraevitar
evitar
da gravidade
gravidade grande variação
grande variação de
de pressão
pressão

100
100
97

97
94

91 94 91
88
82
85

EE- Duas
- Duaslinhas
linhasprincipais parapara
principais evitar F -FDuas
- Duaslinhas principais
linhas parapara
principais evitar
evitarlinha lateral
linha morro
lateral morroacima
acima linha
evitar lateral
linha morro
lateral acima
morro acima

Figura 8.27 - Esquemas de sistemas portáteis, em áreas com problemas de topografia (USDA).
392 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Distribuição de Água e Espaçamento dos


Aspersores
O objetivo básico da irrigação por aspersão é simular precipitações, de modo que se
apliquem uniformemente sobre a área a ser irrigada, quantidades de água preestabelecidas.
Como a maioria dos aspersores aplica água em áreas circulares, há necessidade de
superposição, para se obter uma uniformidade satisfatória, pois existe uma série de fatores
que afeta direta ou indiretamente esta uniformidade.

Fatores que Afetam o Desempenho dos


Aspersores
a) Bocal: A distribuição de água dos aspersores varia com o tipo de aspersor e bocais
usados. A maioria dos aspersores possui um ou dois bocais, mas há alguns com três. O diâmetro
dos bocais, em geral, varia de 2 a 30 mm. Existem duas categorias de bocais: um para longo alcance
e outro para espalhar o jato. Nos aspersores com três bocais, há um para longo alcance e os outros
dois são espalhadores. Nos com dois bocais, há um de cada tipo, e naqueles de um bocal, este terá a
função dupla.
b) Pressão: A descarga do aspersor vai depender do diâmetro e da pressão no bocal.
Os aspersores devem funcionar dentro dos limites de pressão especificados pelo fabricante,
para obter um bom perfil de distribuição. Pressão muito alta causará excessiva pulverização
do jato de água, diminuindo seu raio de alcance e causando precipitação excessiva próxima ao
aspersor. Pressão muito baixa resultará numa inadequada pulverização do jato de água, o que
causará um perfil de distribuição muito irregular.
O raio de alcance do aspersor amplia com o aumento de pressão até determinado
ponto. Pressões acima e abaixo desses valores causarão decréscimo do raio de alcance. O
efeito da pressão sobre o perfil de distribuição de um aspersor está esquematizado na
Figura 8.28.
c) Superposição: Para obter boa uniformidade de aplicação de água sobre a área
irrigada, os aspersores devem ser espaçados de modo que se obtenha uma superposição entre
os perfis de distribuição de água dos aspersores, ao longo da linha lateral e entre linhas
laterais ao longo da linha principal (Figura 8.29).
A percentagem de superposição requerida dependerá do tipo de aspersor e da
intensidade do vento na área a ser irrigada.
d) Vento: O vento afeta a uniformidade de distribuição de água dos aspersores.
Quanto maior for a velocidade do vento e menor o diâmetro das gotas de água, menor será a
uniformidade de aplicação.
Irrigação por aspersão 393

30 20 10 0 20 30
Pressão muito baixa

30 20 10 0 20 30
Pressão satisfatória

30 20 10 0 20 30
Pressão muito alta
Figura 8.28 - Variação na distribuição de água do aspersor, em virtude da pressão.

Superposição

Perfil de distribuição de cada aspersor

o o o
Aspersores
Figura 8.29 - Perfil de distribuição resultante da superposição.

O efeito do vento pode ser minimizado pelo decréscimo do espaçamento entre aspersores,
ao longo das linhas laterais, entre as linhas laterais. Na Figura 8.30 é mostrado o efeito do vento
sobre o perfil de distribuição dos aspersores.
Para minimizar o efeito do vento, deve-se:
– Diminuir o espaçamento entre aspersores, para maior uniformidade de distribuição e
intensidade de aplicação. Em regiões sujeitas a vento, o que se pode fazer é usar aspersores de
menor capacidade, os quais requerem, normalmente, menores espaçamentos.
– Colocar as linhas laterais perpendiculares à direção predominante dos ventos.
394 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

– Escolher aspersores com menor intensidade de aplicação, pois isto demanda maior tempo
de funcionamento por posição, para aplicar determinada lâmina de água, e, quanto maior for o
tempo de funcionamento por posição, melhor será a uniformidade de distribuição de água.
A Tabela 8.2 contém algumas recomendações gerais ao espaçamento entre os aspersores, de acordo
com o diâmetro de cobertura e da velocidade do vento.

Figura 8.30 - Efeito do vento sobre o perfil de distribuição de aspersor (SCS-USDA).

Tabela 8.2 - Espaçamento dos aspersores, de acordo com o diâmetro de cobertura e


intensidade do vento.

Velocidade do vento (m/s) Espaçamento em função do diâmetro de cobertura


Sem vento 65 a 75%
0 a 2,0 55 a 65%
2,0 a 4,0 45 a 55%
>4,0 30 a 45%

Espaçamento dos Aspersores no Campo


O objetivo básico da irrigação por aspersão é aplicar uniformemente uma lâmina de água
preestabelecida, com determinada intensidade de aplicação. Como a maioria dos aspersores aplica
água sobre uma área circular, será necessária certa superposição de áreas molhadas para se obter
razoável uniformidade. Para manter a mesma uniformidade sobre toda a área a ser irrigada, é preciso
que o posicionamento e o espaçamento entre os aspersores sejam constantes. A disposição dos
aspersores no campo, normalmente, é nas formas de retângulo, quadrado e triângulo equilátero,
sendo as duas primeiras as mais comuns. Quando a disposição for de forma retangular, o maior
espaçamento deverá ser entre linhas laterais e o menor entre aspersores, ao longo das linhas laterais.
Irrigação por aspersão 395

O comprimento-padrão das tubulações fabricadas no Brasil de seis metros, o espaçamento entre


aspersores e entre linhas laterais deverá ser múltiplo de 6 m.
Para os aspersores convencionais, os espaçamentos mais comuns, em metros, são: 12
x 12; 12 x 18; 12 x 24; 18 x 18; 18 x 24; 18 x 30; 24 x 24; 24 x 30; e 30 x 30. No caso de
aspersores gigantes ou canhão hidráulico, o espaçamento poderá variar de 36 até 78 m,
dependendo do raio de alcance.

Uniformidade de Aplicação de Água dos


Aspersores
O teste de uniformidade consiste em colocar coletores, por exemplo, uma lata de óleo vazia,
de um litro – em uma malha de pontos em torno do aspersor ou da linha lateral. Quando se utiliza
somente um aspersor no teste, os espaçamentos entre aspersores e laterais são simulados,
sobrepondo os dados convenientemente. No caso do teste com uma linha lateral trabalhando
diretamente no campo, o espaçamento entre aspersores é fixo; entretanto, podem-se simular
diferentes espaçamentos entre laterais. Na Figura 8.31 é ilustrada a disposição dos “pluviômetros”
em torno de um aspersor a ser testado.

Figura 8.31 - Disposição dos pluviômetros em torno de um aspersor instalado no centro da área.
A área em torno do aspersor é dividida em subáreas quadradas. Os coletores de
precipitação são colocados no centro de cada subárea. Assim, o volume ou a lâmina coletada em
396 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

cada pluviômetro representa a precipitação em cada subárea. O número mínimo de coletores a ser
instalado por teste geralmente varia com o raio de alcance do aspersor e com o espaçamento dos
coletores.
Ao realizar o teste de uniformidade, deve-se tomar nota de todas as características do
aspersor, como marca, diâmetro de bocais e condições de operação: altura de elevação, pressão de
operação, vazão, duração e hora de feitura do teste e velocidade e direção do vento. Quando o teste é
feito com a linha lateral diretamente no campo, geralmente tomam-se também os dados da cultura e
do solo para uma avaliação completa do sistema. Os coletores devem ser colocados em torno do
aspersor que represente a pressão de operação média. Para linhas em nível, esse aspersor geralmente
está localizado a uma distância de 40% do comprimento total a partir do início da linha.
O tempo ideal para cada teste deve ser igual ou maior do que a metade do tempo que o
sistema funcionará por posição, durante as irrigações normais.
O resultado deste teste representa o desempenho de um aspersor; porém, na irrigação no
campo, sempre existe superposição de vários aspersores sobre a mesma área. Para determinar a
uniformidade de distribuição do sistema, tem-se que considerar qual é o tipo de arranjo dos
aspersores no campo (retangular, quadrado, triangular) e simular as diversas combinações de
espaçamento entre aspersores, ao longo da linha lateral e entre linhas laterais; fazer a superposição,
para cada combinação de espaçamento, das precipitações sobre a área entre quatro aspersores,
considerando todos os aspersores periféricos que podem atingir a área; e calcular a uniformidade
com os totais superpostos em cada pluviômetro.
Pode-se também determinar a uniformidade em sistemas de irrigação já instalados no
campo. Neste caso, colocam-se os pluviômetros entre quatro aspersores de duas linhas laterais.
Existem diferentes coeficientes para expressar a uniformidade de aplicação de um sistema
de irrigação por aspersão, sendo o coeficiente de Christiansen, proposto por J.E. Christiansen, a
coeficiente de uniformidade de distribuição recomendado pelo serviço de Conservação do Solo dos
Estados Unidos e o coeficiente estático de uniformidade, proposto por Wilcox e Swailes, os três
mais usados.
– Coeficiente de uniformidade de Christiansen (CUC)

 iN1 L i  L m 
CUC  1  100
 NLm 
  (8.1)
em que: CUC - coeficiente de uniformidade, %;
N - número de coletores;
Li - lâmina coletada no ponto "i", mm; e
Lm - lâmina média de todas as observações, mm.
Considerando que os dados de precipitação seguem uma distribuição normal, o CUC pode
ser estimado utilizando-se a seguinte expressão
Irrigação por aspersão 397

lm
CUC  100
Lm (8.2)

em que lm é a média de 50% das precipitações com menores valores, ou seja, média da menor
mediana.
– Coeficiente de uniformidade de distribuição (CUD)
lq
CUD  100
Lm
(8.3)

em que lq é a média de 25% das observações com menores valores, ou seja, média do menor
quartil.
– Coeficiente estatístico de uniformidade (CUE)
 n 2 
  ( Li - L m ) 
i 1
 S 
CUE  100 1,0 -  = 100 1 -  = 100 - CV
 ( n - 1) L2m   Lm  (8.4)
 

em que: S = desvio-padrão dos dados de precipitação;


Lm= média das precipitações, mm;
Li = precipitação observada em cada pluviômetro, mm;
n = número de pluviômetros; e
CV = coeficiente de variação.
As seguintes expressões estabelecem a relação entre as três equações apresentadas:

CUE = 1,25 CUC - 25

CUD = 1,59 CUC - 59

Será dado um exemplo para ilustrar a determinação da uniformidade de distribuição de água na


aspersão, com os dados apresentados na Tabela 8.3.

Tabela 8.3 - Dados de um teste de precipitação de aspersor, em cm3, com pluviômetros


espaçados de 3 metros
Teste nº. 12b Altura do tubo de elevação – 1,50 m
Data – 18/02/2004 Pressão de operação – 3,0 atm
398 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Início – 9 h Vazão do aspersor – 4,32 m3/h


Término – 11 h Velocidade de rotação – 1,2 rpm
Duração – 120 min Velocidade do vento – 0,85 m/s
Aspersor – Modelo PXN Sentido do vento – + 210º em relação ao N
Área do coletor – 34,85 cm2
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
N
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 14 21 26 21 27 14 4 0 0 0
0 0 0 21 29 27 33 21 27 27 17 5 0 0
0 0 15 29 33 49 61 33 49 30 26 15 0 0
0 1 28 30 48 60 75 74 57 45 27 23 4 0

0 4 30 31 55 71 66 68 64 48 31 24 7 0

0 6 31 30 54 62 65 63 60 49 31 24 11 0
0 2 27 28 47 55 62 63 57 44 24 30 8 0
0 0 21 28 32 46 52 53 44 32 26 26 0 0
0 0 5 23 26 28 32 33 28 26 26 7 0 0
0 0 0 8 22 21 26 26 28 23 6 0 0 0
0 0 0 0 3 8 16 15 12 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

a) Determinar a uniformidade de aplicação do aspersor em teste para o espaçamento de 18 x 18 m.


Na Tabela 8.4 é apresentado o resultado da superposição da precipitação, para o
espaçamento de 18 x 18 m, em cm3.
Aplicando estes dados à equação de Christiansen, tem-se:

CUC  100 (
L i - Lm
) = 100 (1 -
384
)  88,67 %
n Lm 36 x 94,1

Aplicando-os na equação sugerida pelo Serviço de Conservação do Solo dos Estados


Unidos, tem-se:
lq 77,7
CUD  100 = 100 = 82,6 %
Lm 94,1
Irrigação por aspersão 399

Tabela 8.4 - Resultado da superposição da precipitação para aspersores espaçados de 18 m x


18 m, em cm3

69 91 79 85 86 76

86 111 86 89 106 96

74 92 108 104 104 85

66 97 108 111 99 93

101 113 106 103 104 105

87 106 79 89 103 89

b) Determinar a uniformidade para o espaçamento de 24 m x 30 m.


Na Tabela 8.5 é mostrado o resultado da superposição para o espaçamento de 24 x 30 m.

 1212 
CUC  100 1    64,4%
 80 x 42,5 

20,75
CUD  100  48,8%
42,54

Tabela 8.5 - Resultado da superposição da precipitação para aspersores espaçados de 24 m x


30 m
400 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

63 60 49 31 30 42 30 54 62 65

63 57 44 24 32 35 28 47 55 62

52 44 32 26 21 28 32 46 52 54

54 55 40 30 7 5 23 40 49 58

47 55 50 23 5 0 29 51 48 59

48 61 30 26 15 15 29 36 56 77

74 57 45 27 24 32 30 48 60 75

68 64 48 31 28 37 31 55 71 66

Verifica-se, pelos resultados, que não se deve usar, para o aspersor em teste, o espaçamento de 24 x
30 m. Ter-se-ia que testar também os espaçamentos 18 x 24 m e 24 x 24 m.
A vazão de um aspersor é função da raiz quadrada da sua pressão de operação e o
coeficiente de uniformidade do sistema de irrigação varia com a vazão média dos dois menores
quartis (Pm), enquanto a uniformidade de distribuição varia com a vazão média do menor quartil
(Pq). Portanto, o coeficiente de uniformidade e a uniformidade de distribuição de um sistema de
irrigação podem ser assim estimados:

1P min/ Pa0,5


CUCs  CUC
2 (8.5)

1  3P min/ Pa 0,5


CUD s  CUD
4 (8.6)

em que: CUCs - coeficiente de uniformidade do sistema, %;


UDs - uniformidade de distribuição do sistema, %;
Pmin - pressão de operação mínima nos aspersores, kPa; e
Pa - pressão de operação média dos aspersores, kPa.
Em se tratando de projeto, a pressão média é sempre estabelecida, e a mínima pode
ser determinada conhecendo-se as perdas de carga e a diferença de nível.
Na Tabela 8.6 são apresentados os dados de um teste de uniformidade realizado na unidade
de demonstração da CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco), em
Petrolina, PE, que a serão utilizados posteriormente no exemplo de avaliação por aspersão
convencional. Observe que a avaliação foi realizada em uma linha de aspersores, situação esta mais
comum em campo.
Irrigação por aspersão 401

Tabela 8.6 - Dados da avaliação da irrigação por aspersão em nível de parcela em Petrolina,
PE (VARGAS, 1989)
Local CODEVASF Parcela: 457-A Data: 22/04/89
Cultura Cebola Prof. raízes: 30 cm Fator (f): 0,3
Solo Textura arenosa CC: 9,98% (em peso) Pm: 3,13% (em peso)
d = 1,66 Umidade atual = 7,81% (em peso)
Aspersor Marca: Modelo: Haste: 1,0 m
Bocais: 3,2 x 2,5 mm (3,1 x 2,5 mm)* Rot.:2,47 rpm
Espaçamento: 12 m Pressão: 332 kPa Vazão: 0,31 L/s
Lateral Comp.: 100 m Espaçamento: 12 m Declividade: 0%
Teste Início: 10h15 Término: 11h15 Duração: 1 h
Irrigação Duração: ti = 2h TR: 2 dias
Vento Veloc.: 1,52 m/s Direção: SE
Coletores Diâmetro: 101,5 mm Espaçamento: 3,0m
Evaporação Vol. inicial: 100 mL Vol. final: 99,5 mL Perdas: 5,0 mL
*Diâmetro dos bocais originais.

0 0 0 0

0 0 2 0

58 60 64 48

86 120 118 114


---------A4------- -----------------------------A5--------------------------------------A6--------
86 118 130 138

70 84 112 120

50 64 68 48

8 10 10 10
402 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Eficiência de Irrigação
A eficiência de um sistema de irrigação, definida como a relação entre a quantidade de água
armazenada no sistema radicular e a quantidade total derivada da fonte, é um dos parâmetros mais
utilizados para avaliar o seu desempenho. Na realidade, a eficiência de um sistema deve levar em
conta todas as perdas possíveis, que no sistema de irrigação são: perda por percolação, perda por
evaporação e arrastamento pelo vento e perda por vazamento no sistema de condução de água.

Perda por Percolação e Eficiência de


Distribuição
Muitos ignoram que em irrigação por aspersão ocorre perda por percolação,
entretanto, isso acontece e é de grande importância, especialmente em regiões áridas com
problemas de elevação do lençol freático. Para uma dada adequação de irrigação, essa perda é
relacionada com o coeficiente de uniformidade do sistema. Quanto maior o coeficiente, menor
a perda em condições de manejo adequado.
Em irrigação por aspersão, geralmente não é econômico suprir o déficit de água no
solo em toda a área, devido à perda de água por percolação, ficando, portanto, parte desta
sub-irrigada. Observa-se que parte da área recebe uma lâmina maior ou igual à irrigação real
necessária, a qual é considerada irrigada adequadamente (Figura 8.32). O restante da área é
considerada irrigada deficientemente e recebe uma lâmina menor que a irrigação real
necessária. A percentagem da área irrigada adequadamente é função do custo do sistema e do
valor comercial da cultura, geralmente são utilizados 90%, para culturas de maior valor
comercial, e 80% para culturas menos valorizadas comercialmente.
A relação entre a lâmina mínima aplicada na área adequadamente irrigada e a
lâmina média total aplicada é definida como eficiência de distribuição (ED). Na Tabela
8.7 é apresentada a eficiência de distribuição de acordo com o coeficiente de
uniformidade para as percentagens de adequação de 50 a 90%, considerando que as
lâminas de água entre quatro aspersores tem uma distribuição normal. Por exemplo, em
um sistema com um coeficiente de uniformidade de 86 e 80% da área adequadamente
irrigada a ED80 será 85% (Tabela 8.7), ou seja, 80% da área receberá uma lâmina igual
ou maior a 85% da lâmina média aplicada. Para esse sistema, aplicar uma lâmina de 1,0
unidade é necessário aplicar 1,18 (1,0/0,85) unidades após descontarem-se as perdas por
evaporação e arrastamento pelo vento.
Para um sistema com um coeficiente de uniformidade de 70%, a ED80 é 69% e seria
necessária a aplicação de 1,45 unidade para se aplicar uma lâmina de 1,0 unidade. A Figura
8.32 representa esse exemplo graficamente.
Na realidade, o coeficiente de uniformidade, e, conseqüentemente, a eficiência de
distribuição refletem a perda de água por percolação, uma vez que a lâmina de água aplicada deve
ser suficiente para irrigar adequadamente de 80 a 90% da área, conforme o valor comercial da
Irrigação por aspersão 403

cultura. Na Figura 8.32, a área entre a reta correspondente à lâmina relativa igual a 1,00 e as
curvas referentes às lâminas aplicadas corresponde à perda por percolação. Observa-se claramente
que a perda é maior no sistema com coeficiente de uniformidade igual a 70% do que no de 86%.
Portanto, a eficiência de distribuição é um parâmetro que reflete a perda por percolação e é
utilizada como parte da eficiência de irrigação do sistema.
Área (%)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
0,0

0,5
Lâmina relativa

1,0
1,18
1,45
1,5
CUC = 70%

2,0
CUC = 86%
IRN

2,5

Figura 8.32 - Lâmina relativa aplicada de acordo com a percentagem de área irrigada para
sistemas de irrigação com coeficientes de uniformidade de 70 e de 86%.

Tabela 8.7 - Eficiência de distribuição (ED) de acordo com o coeficiente de uniformidade


CUC) para 60 a 95% de área adequadamente irrigada
ED (%)
CUC (%) Área adequadamente irrigada (%)
95 90 85 80 75 70 65 60
94 88 90 92 94 95 96 97 98
92 84 87 90 92 93 95 96 97
90 80 84 87 90 92 94 95 97
88 75 80 84 87 90 92 94 96
86 71 77 82 85 88 91 93 95
84 67 74 79 83 87 90 92 95
82 63 70 76 81 85 88 91 94
80 59 67 74 79 83 87 90 93
78 55 64 71 77 82 86 89 93
76 51 61 69 75 80 84 88 92
74 47 57 66 73 78 83 87 91
72 43 54 63 71 77 82 86 91
70 39 51 61 69 75 81 85 90
68 35 48 58 66 73 79 84 89
66 30 44 55 64 72 78 83 89
404 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Adaptado de Hart e Reynolds (1965).

Analisando a Tabela 8.7, verifica-se que a eficiência de distribuição para 80% da área
adequadamente irrigada é aproximadamente igual ao coeficiente de uniformidade. Portanto,
quando o coeficiente de uniformidade for utilizado como eficiência de distribuição, 80% da
área será irrigada adequadamente. Sabendo que CUD = 1.59 CUC – 59, para CUC = 80%
CUD = 68,2%, que é igual ao ED90% (Tabela 8.7). Logo, se se utilizar UD como eficiência
de distribuição, 90% da área será irrigada adequadamente.

Perdas por Evaporação e Arrastamento


A perda por evaporação e arrastamento pelo vento aumenta com a temperatura do ar,
com a velocidade do vento, com o fracionamento do jato de água e, conseqüentemente, com a
pressão de operação do aspersor e com a redução da umidade relativa. Um parâmetro que
reflete essa perda é a eficiência de aplicação em potencial (equação 8.7).

Lmc S1 S2
EAp 
qa ti 36 (8.7)

em que: EAp - eficiência de aplicação em potencial, %;


Lmc – lâmina média coletada, mm;
-1
qa - vazão média do aspersor, L s ;
ti - tempo de irrigação, h;
S1 - espaçamento entre aspersores, m; e
S2 - espaçamento entre laterais, m.
A perda por evaporação e arrastamento pelo vento (Pv) pode ser assim determinada:
Pv = 100 – EAp (8.8)

Keller (1984) apresentou uma metodologia (Figura 8.33) para determinar a eficiência de
aplicação de água em potencial em virtude da evapotranspiração da cultura de referência, da
velocidade do vento e do índice de pulverização do jato do aspersor (CI), definido pela equação 8.9.
CI = 0,032 Pa1,3 DB-1 (8.9)

em que: Pa = pressão de operação do aspersor, kPa; e


DB = diâmetro do bocal, mm.
O jato é considerado muito pulverizado para valores de CI maior que 17 e pouco
pulverizado para valores de CI menor que 7. Quando um dos dois casos ocorrer, pode-se determinar
a EAp diretamente da Figura 8.33. Entretanto, quando 7 < CI < 17, deve-se interpolar os valores de
EAp encontrados na Figura 8.33, utilizando-se a seguinte expressão:
Irrigação por aspersão 405

 CI  7   17  CI 
EAp    EAm    EApp
 10   10  (8.10)

em que EApp e EAmp são as eficiências de aplicação em potencial para os jatos pouco e
muito pulverizados, respectivamente, obtidas da Figura 8.33.
A expressão 8.11 pode ser utilizada para estimar EAp analiticamente, quando 7  CI  17 . Se CI
< 7 faça CI = 7, e se CI > 17 faça CI = 17.

EAp  0,976  0,005 ETo  0,00017 ETo 2  0,0012 Vv 

CI (0,00043 ETo  0,00018 Vv  0,000016 ETo Vv) (8.11)

em que: ETo = evapotranspiração de referência máxima mm dia-1; e


Vv = velocidade do vento km dia-1.
Observa-se na Figura 8.33 que a EAp mínima é de aproximadamente 78%, o que
corresponde a uma perda por evaporação e arrastamento pelo vento de 22%. As perdas
estimadas pelo método proposto representam uma média para as condições climáticas da
região, enquanto as determinadas num teste de campo podem indicar valores maiores, por
representarem situações específicas durante o teste.

Figura 8.33 - Eficiência de aplicação em potencial em função da evapotranspiração da cultura


de referência e da pulverização do jato de água.
406 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Perdas por Vazamento


A perda de água por vazamento vai depender das condições de manutenção do projeto. Em
condições de boa manutenção elas são menores que 1%; entretanto, em sistemas com manutenção
inadequada, esse valor pode passar de 10%, ou seja, a eficiência de condução de água (EC) será
menor que 90%. Essas perdas ocorrem, principalmente, nos acoplamentos da tubulação.

Eficiência de Irrigação em Aspersão


Ao avaliar a eficiência de aplicação em nível de parcela, em irrigação por aspersão, devem-se levar
em conta as perdas por evaporação e arrastamento pelo vento e a uniformidade de aplicação de água,
que, indiretamente, reflete as perdas por percolação (equação 8.12).
EApa = EDpa EAp (8.12)

em que: EApa = eficiência de aplicação para pa% de área adequadamente irrigada, %;


EDpa = eficiência de distribuição para pa% de área adequadamente irrigada, %; e
EAp = eficiência de aplicação em potencial, decimal.
Para efeito de projeto, geralmente, consideram-se 80% de área adequadamente irrigada para culturas
de menor valor comercial e 90% de área adequadamente irrigada para culturas de maior valor
comercial.
Como analisado anteriormente, para 90% de área adequadamente irrigada, a eficiência de
distribuição (ED90) é aproximadamente igual ao coeficiente de uniformidade de distribuição
(CUD), que é a relação entre a lâmina média do menor quartil e a lâmina média geral. Logo, a
eficiência de aplicação do menor quartil (EAq) pode ser assim definida:
EAq = CUD EAp (8.13)

em que CUD = coeficiente de uniformidade de distribuição, em %; e


EAq é a eficiência de aplicação do menor quartil, em %.
Ao utilizar esse parâmetro no dimensionamento, o projetista garante que,
aproximadamente, 90% da área receberá uma lâmina de irrigação maior ou igual à lâmina real
necessária. Portanto, recomenda-se esse parâmetro somente para sistemas cuja cultura a ser
irrigada é de alto valor comercial.
Com culturas de baixo ou médio valor comercial, pode-se trabalhar com 80% de área
adequadamente irrigada. Neste caso, a eficiência de distribuição (ED80) é aproximadamente igual
ao coeficiente de uniformidade, estimado pela relação entre a lâmina média da menor mediana, ou
seja, lâmina média dos 50% menores lâminas coletadas, e a lâmina média geral. Logo, pode-se
definir o termo eficiência de aplicação da menor mediana (EAm), em %, pela equação 8.14.
Irrigação por aspersão 407

EAm = CUC EAp (8.14)

em que CUC é o coeficiente de uniformidade de Christiansen, em %.


Quando esse parâmetro for utilizado no dimensionamento, aproximadamente 80% da área
receberá uma lâmina de irrigação maior ou igual à lâmina real necessária.
Na Tabela 8.8 são apresentados os valores prováveis para EAq e EAm, em diferentes tipos
de sistemas de aspersão.

Tabela 8.8 - Valores de EAq e EAm geralmente encontrados em diferentes sistemas de


aspersão
Sistema EAq(%) EAm(%)
Convencional com movimentação periódica 60-75 70-85
Autopropelido e convencional com canhão hidráulico 50-60 60-75
Convencional fixo 60-85 70-88

Exemplo de cálculo da eficiência


Avaliar o sistema de irrigação por aspersão cujos dados são apresentados na Tabela 8.6.

a. Uniformidade de aplicação
Como o teste foi realizado somente com uma linha lateral em operação, devem-se
sobrepor os dados para simular o espaçamento entre laterais de 12 m (Figura 8.34). Observe-
se que um mesmo coletor pode receber água correspondente a duas linhas laterais. Os dados
sobrepostos em milímetros, em função da percentagem da área irrigada, são apresentados na
Tabela 8.9 em ordem decrescente.
A4 A5 A6

86 118 130 138


. . . .
0 0 0 0
70 84 112 120
. . . .
0 0 2 0
50 64 68 48
. . . .
58 60 64 26
8 10 10 10
. . . .
A4 86 120 A5 118 114 A6

Figura 8.34 - Sobreposição para o espaçamento de 12 m entre laterais.


Tabela 8.9 - Volume e lâmina coletada em função da área irrigada
408 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Área Volume coletado (mL) Lâmina coletada (mm)


(%)
97,0 70 8,6
90,6 74 9,2
84,4 84 10,4
78,1 86 10,6
71,9 94 11,6
65,6 108 13,4
59,4 114 14,1
53,1 118 14,6
46,9 120 14,6
40,6 124 15,3
34,4 124 15,3
28,2 128 15,8
21,9 130 16,1
15,6 130 16,1
9,4 132 16,3
3,1 138 17,1

Ao calcular o coeficiente de uniformidade e a uniformidade de distribuição, tem-se:


 36,9 
CUC  1    0,832  83%
 16 x 13,7 

 9 ,7 
CUD     0,708  71 %
 13,7 

b) Déficit de água no solo ou irrigação real necessária


CcUa  9,987,81
IRN  da Z  1,66 x 30  10,8 mm
100 10
A lâmina aplicada em função da percentagem da área irrigada é apresentada na Figura
8.35. Observa-se que aproximadamente 77% da área recebeu uma lâmina maior ou igual a
IRN, ficando 23% da área deficientemente irrigada.
Irrigação por aspersão 409

Área (%)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
0
3
6
Lâmina
(mm)

9
12
15
18

Lâmina coletada Lâmina média coletada IRN

Figura 8.35 - Lâmina coletada (Lc), lâmina média coletada (Lmc) e irrigação real necessária
em função da área irrigada entre quatro aspersores numa situação real.

c. Eficiência de aplicação
13,2 x 12 x 12
EAp  100  88%
0,31 x 7200
Admitindo que houve 1% de perdas por vazamento (Ec = 0,99), tem-se:
EAm  0,83 x 0,88  0,73  73%
EAq  0,71 x 0,88  0,62  62%

Dimensionamento de Irrigação por


Aspersão Convencional
Um sistema de irrigação por aspersão pode ser dimensionado para suprir toda a necessidade de água
da cultura em regiões áridas e semi-áridas, onde a precipitação efetiva natural é praticamente
inexistente, ou apenas para suplementar a precipitação natural em regiões úmidas. Logicamente, um
sistema para irrigação total terá maior capacidade e, conseqüentemente, maior custo que um sistema
para irrigação suplementar. Somente um estudo da precipitação efetiva esperada poderá definir qual
o sistema a ser utilizado numa dada região.
410 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Levantamento de Dados
A primeira etapa no dimensionamento de um projeto de irrigação por aspersão consiste no
levantamento dos dados de campo, incluindo:
 mapa planialtimétrico com as fronteiras do projeto e possíveis obstáculos;
 qualidade e quantidade de água disponível e tipo de fornecimento;
 valores de temperatura, de umidade relativa, de precipitação, dentre outros, que
serão utilizados para estimar a evapotranspiração e a precipitação efetiva (maiores
detalhes no Capítulo 2);
 umidades correspondentes à capacidade de campo e ponto de murcha, e massa
específica do solo para o cálculo da disponibilidade de água;
 profundidade efetiva do sistema radicular, duração dos estádios fenológicos e fator
de disponibilidade da cultura;
 disponibilidade de mão-de-obra; e
 disponibilidade de energia.
Todos esses dados devem ser levantados com bastante critério, uma vez que são a base para o bom
desempenho do projeto. Às vezes, são necessários alguns dados tabelados como fator de
disponibilidade, profundidade efetiva das raízes etc. Quando isso acontecer, o projetista deve avaliar
o projeto, após a implantação, para corrigir possíveis erros.

Irrigação Necessária
A irrigação necessária para fins de projeto vai depender da capacidade de retenção de água no solo,
da cultura e das condições climáticas, conforme abordado nos Capítulos 1 e 2, cujas equações serão
aqui repetidas por conveniência.
a) Disponibilidade total de água no solo
Cc  Pm
DTA  da
10 (8.14)

em que: DTA = disponibilidade total de água no solo, mm cm-1;


Cc = capacidade de campo, % em peso;
Pm = ponto de murcha, % em peso; e
da = densidade do solo, adimensional.
b) Disponibilidade real de água no solo
Irrigação por aspersão 411

Somente parte do total de água disponível pode ser utilizada pela cultura, para que a sua
produtividade não seja afetada, conforme equação 8.15.
DRA = DTA f (8.15)

em que: DRA = disponibilidade real de água no solo, mm cm-1; e


f = fator de disponibilidade.
O fator de disponibilidade define a umidade mínima do solo a que a cultura pode ser submetida e é
função da própria cultura e da demanda evapotranspirométrica da região. Portanto, esse fator deve
ser determinado, por meio de pesquisas, para cada região. Quando esse fator não for conhecido para
uma dada região, podem-se utilizar os valores recomendados pela FAO, conforme Tabelas 1.2 e 1.3.
c) Capacidade real de água no solo
A capacidade real de água no solo (CRA) é a quantidade que estará nele armazenada, na região
explorada pelas raízes, quando o solo estiver em condições de capacidade de campo, que a cultura
poderá utilizar sem que sua produtividade seja afetada significativamente, conforme equação 8.16.
CRA = DRA Z (8.16)

em que: CRA = capacidade real de água no solo, mm; e


Z = profundidade efetiva das raízes, cm.
d) Irrigação real necessária
IRN  CRA e IRN =  (ETc) (com irrigação total) (8.17)
IRN  CRA – Pe e IRN   (ETc – Pe) (com irrigação suplementar) (8.17a)
em que: IRN = irrigação real necessária, mm;
ET = evapotranspiração potencial da cultura para dimensionamento de projeto ou
evapotranspiração da cultura para manejo de irrigação; e
Pe = precipitação efetiva esperada, mm.
Quando se trabalha em regiões áridas, geralmente a precipitação esperada é muito pequena ou nula,
usando-se irrigação total. Em regiões úmidas trabalha-se com irrigação suplementar e deve estimar a
precipitação efetiva esperada que pode ser feito, utilizando-se a série histórica dos dados de
precipitação, conforme abordado no capítulo 2. Entretanto, muitas vezes esses dados não existem, e
o projetista despreza a precipitação efetiva, superdimensionando o projeto.
É de grande importância o conhecimento da profundidade efetiva das raízes; portanto, esta deve ser
determinada diretamente no campo, sempre que possível.
e) Irrigação total necessária
No cálculo da irrigação total necessária deve-se levar em conta a eficiência do menor quartil ou da
menor mediana, conforme o valor comercial da cultura e a necessidade de lixiviação (equações 8.18
e 8.19).
412 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Ressalta-se que, para as condições de Brasil, na maioria das regiões a precipitação natural é
suficiente para proporcionar a lixiviação de sais, logo RL é igual a zero.
100 IRN
ITN 
EAq (1  RL) (8.18)

100 IRN
ITN 
EAm (1  RL) (8.19)

em que RL é a razão de lixiviação, em decimal, definida pela equação 8.20, e EAq e EAm são
as eficiências de aplicação do menor quartil e da menor mediana, respectivamente.
CEi
RL 
CEd (8.20)

em que: CEi - condutividade elétrica da água de irrigação, dS m-1, a 25 ºC; e


CEd - condutividade elétrica da água de drenagem, dS m-1, a 25 °C.
Ao utilizar a equação 8.20, considera-se que não há mudança na quantidade de sal solúvel devido à
precipitação, a dissolução dos minerais do solo ou a absorção de sais pelas plantas.
Ayers e Westcot (1976), considerando que a condutividade hidráulica da água de drenagem pode ser
estimada pela condutividade hidráulica do extrato do solo saturado (CEe), recomendaram a seguinte
equação para determinar a razão da lixiviação:
CEi
RL 
5 CEe  CEi (8.21)

em que CEe é a condutividade hidráulica do extrato do solo saturado na zona radicular para uma
dada redução na produtividade da cultura, conforme Tabela 3.5.
Muitas vezes o projetista prefere não utilizar toda a capacidade real de água no solo devido às
características do tipo de irrigação empregado. Nesse caso, a irrigação real necessária é determinada
por:
IRN   ET  Pe 
em que ET é a evapotranspiração potencial da cultura para efeito de projeto ou Etc para efeito de
manejo de irrigação.
Em condições de irrigação adequada, quando a razão de lixiviação é menor que 0,10, a própria
perda por percolação que ocorre naturalmente no sistema propicia a lixiviação, durante o ano bem
como as chuvas que ocorrem; e as equações 8.22 e 8.23 tornam-se:
100 IRN
ITN 
EAq (8.22)
Irrigação por aspersão 413

100 IRN
ITN 
EAm (8.23)

A equação 8.22 é utilizada quando a cultura tiver alto valor comercial (frutas, hortaliças etc.); e a
equação 8.23 é empregada quando a cultura for de baixo valor comercial (grãos de modo geral). Na
determinação de Eq e Em, necessita-se dos dados de diâmetro de bocal e pressão de operação do
aspersor que ainda não foi selecionado. Portanto, admite-se um valor inicial para a eficiência de
80%, por exemplo, o qual deve ser corrigido após a seleção do aspersor.

Evapotranspiração
A evapotranspiração potencial da cultura (ETpc) é função da evapotranspiração da
cultura de referência e do coeficiente de cultivo e deve ser determinada para os diferentes
estádios de desenvolvimento da cultura, conforme abordado no Capítulo 2. O ideal é que o
coeficiente de cultivo e a duração dos estádios fossem determinados por região. Entretanto,
para muitas regiões isso ainda não foi feito, e o projetista tem que adotar determinado
coeficiente. Na Tabela 8.10 são apresentados os coeficientes de cultura e a duração dos
estádios de desenvolvimento para algumas culturas (FAO, Boletim 33). A evapotranspiração
de referência pode ser determinada utilizando-se um dos métodos abordados no Capítulo 2, de
acordo com a disponibilidade de dados climáticos.

Geralmente, os sistemas de irrigação são dimensionados para atender à demanda de


irrigação média máxima durante o ciclo da cultura. Entretanto, em alguns casos, pode ser
mais viável, devido a fatores econômicos ou à limitação de água, aplicar uma lâmina de água
menor. Um sistema dimensionado para atender 80% da demanda de irrigação pode
proporcionar até 95% da produtividade potencial da cultura. De qualquer forma, parte da
água aplicada durante as fases de menor demanda da cultura fica armazenada nas camadas de
solo mais profundas, sendo utilizada na época de maior demanda.

Tabela 8.10 - Coeficiente de cultivo e duração dos estádios de desenvolvimento para algumas
culturas (FAO, 1979)

Cultura Estádios
I II III IV
Algodão 0,40-0,50* 0,70-0,80 1,05-1,25 0,80-0,90
414 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

20-30 40-50 50-60 50-55


Batata 0,40-0,50 0,70-0,80 1,05-1,20 0,85-0,95
20-30 30-40 30-60 20-35
Cebola 0,40-0,60 0,70-0,80 0,95-1,10 0,85-0,90
15-20 25-35 25-45 35-45
Ervilha 0,40-0,60 0,70-0,80 1,05-1,20 0,65-0,75
10-25 25-30 25-30 20-30
Feijão 0,30-0,40 0,65-0,75 1,05-1,20 0,65-0,75
15-20 15-20 20-30 5-20
Melancia 0,40-0,50 0,70-0,80 0,95-1,05 0,80-0,90
10-20 15-20 35-50 10-15
Milho 0,30-0,60 0,70-0,85 1,05-1,20 0,80-0,90
15-30 30-45 30,45 10-30
Soja 0,30-0,40 0,70-0,80 1,00-1,15 0,70-0,80
20-25 25-35 45-65 20-30
Sorgo 0,40-0,50 0,70-0,75 1,00-1,15 0,75-0,80
20-25 30-40 40-45 20-30
Tomate 0,40-0,45 0,70-0,80 1,05-1,25 0,80-0,90
10-15 20-30 30-40 30-40
Trigo 0,30-0,40 0,70-0,80 1,05-1,2 0,65-0,70
15-20 25-30 50-65 30-40
* - primeiro valor: sob baixa demanda evapotranspirométrica.
- segundo valor: sob alta demanda evapotranspirométrica.

Estádio I - germinação até 10% do desenvolvimento vegetativo.


Estádio II - de 10% a 80% do desenvolvimento vegetativo.
Estádio III - de 80% do desenvolvimento vegetativo até o início da maturação.
Estádio IV - do início do amadurecimento até a colheita.

Turno de rega e período de irrigação


O turno de rega (TR) corresponde ao intervalo de tempo, em dias, entre duas irrigações
consecutivas em um mesmo local (equação 8.24), que varia ao longo do ciclo da cultura, tendo um
valor mínimo na época de maior demanda evapotranspirométrica, o qual deve ser utilizado para
efeito de projeto.
CRA
TR 
ETpc  Pe
(8.24)
Irrigação por aspersão 413

No caso de irrigação em regiões áridas e semi-áridas, a precipitação efetiva esperada


é praticamente zero, devendo ser desprezada na equação 8.24.
O período de irrigação (PI) ou número de dias gastos para completar uma irrigação
em determinada área, devendo ser igual ao turno de rega menos uma folga para descanso do
irrigante ou manutenção do sistema.

Vazão do Sistema
A vazão do sistema pode ser determinada utilizando-se a equação 8.25a ou 8.25b.
A ITN  Pe 
Qs  2,78 (8.25a)
Ec PI TDF

 ( ET  Pe ) A TR
Qs  2,78 (8.25b)
Ec EA PI TDF

em que: Qs = vazão, L s-1;


A = área do projeto, ha;
Pe = precipitação efetiva esperada, mm;
PI = período de irrigação, dias;
TDF = tempo de funcionamento por dia, h;
Ec = eficiência de condução, decimal; e
EA = eficiência de aplicação do menor quartil ou da menor mediana, decimal.

Intensidade de Aplicação
É função da irrigação total necessária e do tempo efetivo de irrigação por posição
(equação 8.26). O tempo efetivo de irrigação mais o tempo necessário à mudança da linha
lateral para uma nova posição são denominados tempo de irrigação por posição, que deve ser
um submúltiplo do tempo diário de funcionamento do projeto ou jornada de trabalho. Esse
tempo deve ser o maior possível para maximizar o uso do equipamento e, conseqüentemente,
minimizar o custo do sistema por unidade de área irrigada. O ideal seria que o sistema
funcionasse 24 horas por dia. Entretanto, isso não é prático para alguns sistemas, devido à
dificuldade de mudança de posição durante a noite. O tempo de funcionamento também deve
estar de acordo com as normas de fornecimento de energia elétrica da concessionária. Em
determinadas regiões, os sistemas de irrigação não podem operar durante o horário de pico.
ITN
Ia  (8.26)
ti
em que: Ia - intensidade de aplicação, mm h-1; e
ti - tempo de irrigação, h.
414 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A intensidade de aplicação não deve ser maior que a velocidade de infiltração básica
do solo, para evitar problemas de escoamento superficial.

Tipo de Sistema a ser Utilizado


Nesta etapa devem-se considerar os diversos tipos de irrigação por aspersão,
selecionando o mais apropriado. Por exemplo, para áreas pequenas e com obstruções não é
recomendada a irrigação por aspersão (ver item 8.3).

Escolha do Aspersor
Esta e as próximas quatro etapas são realizadas somente em sistemas de irrigação
convencional. Se o sistema selecionado for autopropelido, rolão ou pivô central, o próprio
fabricante é responsável pelo dimensionamento.
Conhecendo a intensidade de aplicação a ser utilizada no projeto, pode-se selecionar
o aspersor, por meio dos catálogos dos fabricantes que, geralmente, trazem os dados de
vazão, espaçamento, diâmetro dos bocais, pressão de operação e intensidade de aplicação. O
ideal seria que também constasse do catálogo o coeficiente de uniformidade do aspersor em
condições normais de operação.
A intensidade de aplicação do aspersor pode ser modificada para satisfazer o projeto,
modificando-se a vazão.
Ia S1 S2
qa  (8.27)
3600
em que: qa = vazão do aspersor correspondente a Ia, l s-1;
S1 = espaçamento entre aspersores, m; e
S2 = espaçamento entre linhas laterais, m.

A vazão do aspersor é diretamente proporcional à raiz quadrada da pressão de


operação (equação 8.28), logo, pode-se determinar a nova pressão de operação utilizando a
equação 8.29.

qa  K Pa 0,5 (8.28)
2
 qa 
Pa    Pac (8.29)
 qac 
em que: Pa - pressão de operação do aspersor correspondente a qa, kPa;
qac - vazão do aspersor obtida do catálogo, m3 h-1 ; e
Pac - pressão de operação do aspersor obtida do catálogo, kPa.
Irrigação por aspersão 415

É importante salientar que em regiões com incidência de ventos fortes devem-se


selecionar aspersores com menor ângulo de trajetória (22 a 25º) e menores espaçamentos,
para minimizar a desuniformidade e as perdas por arrastamento.
Uma vez selecionado o aspersor, podem-se obter os coeficientes de uniformidade e
de pulverização e calcular a eficiência de aplicação do menor quartil ou mediana, ajustando o
valor admitido para o cálculo de ITN.

Número de aspersores e linhas laterais


O número total de aspersores necessários para o projeto (NTA) é dado por:
Qs
NTA  (8.30)
qa
Antes de determinar o número de linhas laterais do projeto é necessário definir o
esquema de funcionamento dessas linhas no campo e a localização da linha principal.
Geralmente, as linhas laterais são colocadas acompanhando as curvas de nível, sendo a
principal na direção da maior declividade, passando pelo centro da área. Na Figura 8.36 é
apresentado o esquema de um sistema com quatro linhas laterais.

MB

Figura 8.36 - Esquema de um sistema de aspersão convencional com quatro linhas laterais
trabalhando de forma rotativa.
416 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Do esquema de funcionamento do projeto pode-se obter o comprimento da linha


lateral e, conseqüentemente, o número de aspersores por linha lateral (NAPL) e o de linhas
laterais (NLL) (equações 8.31 e 8.32).
L
NAPL  (8.31)
S1
NTA
NLL  (8.32)
NAPL

Diâmetro das linhas laterais


Antes de estabelecer o comprimento e o diâmetro de uma linha lateral, devem-se
considerar os seguintes pontos:
a) O diâmetro e o comprimento de uma linha lateral devem ser tais que a diferença
de vazão entre o primeiro e o último aspersor na linha não exceda 10% da vazão do último
aspersor ou 20% da pressão média, ao longo da linha.
b) A direção da linha lateral, quando possível, deve ser perpendicular à direção
predominante dos ventos.
c) A linha lateral, quando possível, deve ser disposta perpendicularmente à maior
declividade e, de preferência, em nível. Excetua-se o caso de o projeto ficar mais barato com
as linhas laterais na direção da maior declividade, ou quando a fonte de água estiver
localizada acima da área a ser irrigada.
d) Em muitos casos, as linhas de cultura governam a linha lateral.
e) Em geral, recomenda-se um diâmetro ou, no máximo, dois diâmetros diferentes
nas linhas laterais.
As linhas laterais, nas quais são instalados os aspersores, são constituídas de tubos de
acoplamento rápido de PVC, alumínio ou aço zincado.
Conforme abordado no capítulo 5, existem várias fórmulas para o dimensionamento
de tubulações, entretanto, a de Hazen-Williams (5.34) é a mais utilizada no
dimensionamento de linhas laterais.
1,85
Q L
hf  J L  10,641  (8.33)
C D 4 ,87
em que: hf = perda de carga fictícia, mca;
J = perda de carga unitária, mca m-1;
Q = vazão da linha lateral, m3 s-1;
C = coeficiente de Hazen-Williams empírico;
D = diâmetro interno da linha lateral, m; e
L = comprimento da linha lateral, m.
Irrigação por aspersão 417

É importante ressaltar que a fórmula de Hazen-Williams foi desenvolvida para


tubulações com diâmetros superiores a 75 mm.
Para tubos ou mangueiras plásticas, as equações 5.42b e 5.42c, sugeridas por Watters
e Keller, apresentam maior precisão de que as de Hazen-Williams.
A fórmula de Hazen-Williams, assim como as demais usadas para estimar a perda de
carga, foi desenvolvida para a condição de vazão constante ao longo de toda a tubulação, o
que não ocorre na linha lateral, na qual a vazão varia devido aos aspersores. Para fazer essa
correção, trabalha-se com uma perda de carga fictícia, que é a perda que ocorreria caso a
vazão fosse constante ao longo de toda a linha (equação 8.34).

 Q ev 
hf '  J ' L  K  ed  L (8.34)
D 

em que: hf' = perda de carga fictícia, mca;


J´ = perda de carga unitária referente à vazão no início da linha lateral, mca m-1;

Q = vazão da linha lateral, m3 s-1;


D = diâmetro interno da linha lateral, m;
L = comprimento da linha lateral, m;
K = parâmetro dependente da equação de perda de carga e das dimensões;

ev = expoente da vazão na equação de perda de carga; e


ed = expoente do diâmetro na equação de perda de carga.

A perda de carga real (hf) é função da perda de carga fictícia ao longo da linha
lateral e de um parâmetro denominado fator de Christiansen (primeiro pesquisador a estudar
o problema), ou simplesmente fator de redução de perda de carga (F) (equação 8.35).

hf  F hf ' (8.35)
O fator de redução de perda de carga depende do expoente da vazão ou da
velocidade (ev) na equação de perda de carga, do número de aspersores na linha lateral e da
distância do início da linha ao primeiro aspersor (. As equações 8.36 e 8.37 podem ser
utilizadas para determinar o valor de F para as distâncias do primeiro aspersor até o início da
linha lateral igual ao espaçamento entre aspersores (S1) e a metade do espaçamento entre
aspersores (S1/2), respectivamente. Na Tabela 8.11 são apresentados os valores do fator
de redução de perda de carga, determinado experimentalmente, em função do número de
saídas e da posição do primeiro aspersor.
418 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Tabela 8.11 - Fator de redução de perda de carga, determinado experimentalmente, em


função do número de saídas e da posição do primeiro aspersor

Nº de saídas S1 S1/2 Nº de saídas S1 S1/2


1 1,00 1,00 8 0,42 0,38
2 0,64 0,52 9 0,41 0,37
3 0,53 0,44 10-11 0,40 0,37
4 0,49 0,41 12-15 0,39 0,37
5 0,46 0,40 16-20 0,38 0,36
6 0,44 0,39 21-30 0,37 0,36
7 0,43 0,38 31-100 0,36 0,36

1 1 (ev  1) 0,5
F   (8.36)
ev  1 2 N 6 N2

2 N  1  (ev  1) 0,5 
F    (8.37)
2 N  1  ev  1  6N2 
Revendo a equação de Hazen-Williams, em função do diâmetro, tem-se:
1,85 0, 205
 Q L 
D  10,641   
  C  hf F 1  (8.38)

Curva de perda de carga adimensional.


A perda de carga em uma tubulação com múltiplas saídas, uniformemente espaçadas,
como é o caso das linhas laterais em irrigação por aspersão, pode ser representada por uma
curva adimensional, conforme Figura 8.37. O eixo horizontal representa a fração do
comprimento total da linha lateral x/L, sendo x a distância do final da linha até o ponto
considerado. Logo, x varia de 0 a L e, conseqüentemente, x/L varia de 0 a 1. O eixo vertical
representa a razão entre a perda de carga até o ponto x e a perda de carga ao longo de toda a
linha lateral (hfx/hf).
A vazão em qualquer ponto x ao longo da linha lateral pode ser estimada por (x/L)Q.
Substituindo Q e L por (x/L)Q e (x/L)L, respectivamente, na equação 8.34 tem-se:
1ev 
x
hfx  J F L  (8.39)
L
ou seja
1ev 
x
hfx  hf   (8.40)
L
Irrigação por aspersão 419

Fração da perda de carga (hfx/hf)


1,0
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Fração do comprimento (x/L)

Figura 8.37 - Curva de perda de carga adimensional considerando o expoente da velocidade


na equação de perda de carga (ev) igual a 1,85.

A pressão ao longo da linha lateral varia de acordo com a perda de carga e a


diferença de nível, não devendo ultrapassar 20% da pressão de operação média dos
aspersores (Pa) para garantir uma variação de vazão máxima em torno de 10% (equação
8.41).
hf  DN  0,20pa (8.41)

A diferença de nível (DN) é função do comprimento da linha lateral e da declividade


da linha lateral na situação mais desfavorável na área do projeto, obtida no mapa
planialtimétrico. Na maioria das vezes, a linha lateral trabalhará ora em aclive, que é a
situação crítica, devendo considerar o sinal positivo na equação 8.38, ora em declive, quando
o sinal é considerado negativo.
O coeficiente de Hazen-Williams varia com o tipo de tubulação, apresentando
valores médios de 120, 130 e 140 para aço zincado, alumínio e PVC, respectivamente.
Uma vez calculado o diâmetro interno da tubulação, deve-se verificar se existe esse
diâmetro comercialmente, consultando as tabelas dos fabricantes. No capítulo 4 foram
apresentadas algumas dessas tabelas. O projetista deve ter especial atenção, pois o diâmetro
nominal, geralmente utilizado na comercialização, pode ser diferente do interno. Por
exemplo, o tubo de aço zincado de 70 mm de alguns fabricantes tem diâmetro interno de
68 mm.
Muitas vezes o diâmetro calculado (D) não existe comercialmente, estando entre um
diâmetro superior (D1) e um inferior (D2). Nesse caso, o projetista tem três opções, ou seja,
utilizar o diâmetro inferior, que causará aumento na diferença de pressão ao longo da linha
420 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

lateral, cujo limite máximo é 23,5% da pressão de serviço do aspersor; usar o diâmetro
comercial superior, que causará aumento no custo do sistema; ou empregar parte da linha
lateral com o diâmetro superior e parte com o diâmetro inferior.
O cálculo da linha lateral com dois diâmetros é laborioso, devendo ser feito
numericamente ou por tentativa, o que será apresentado a seguir:
a) admite-se um comprimento L1 para o trecho com diâmetro maior (D1) e um
comprimento L2 para o trecho com diâmetro menor (D2) (L = L1 + L2);
b) determina-se a perda de carga real (hf3) que ocorreria caso toda a linha lateral
fosse de maior diâmetro;
c) determina-se a perda de carga no trecho L2 (hf4), caso ele tivesse o diâmetro D1;
d) determina-se a perda de carga no trecho L2 (hf5) com o diâmetro D2;
e) determina-se a perda de carga ao longo da linha lateral com dois diâmetros (hfd),
utilizando a equação 8.42; e
f) se a perda de carga na linha lateral com dois diâmetros for menor que a perda de
carga permitida, reduz-se L1 e aumenta-se L2 ou vice-versa se for maior e repetem-se os
passos b a f até que hfd seja aproximadamente igual a hf.
hfd  hf 3  hf 4  hf 5 (8.42)

Denículi et al. (1992) apresentaram uma equação que permite dimensionar uma linha
lateral com dois diâmetros, de maneira bastante simples e rápida.
São estas as equações:
1
 ed  ev 1
  D1   1 
 D 
L 2     ed  L (8.43)
 D 
  1   1
  D 2  
 

L1  L  L 2 (8.44)

Pressão no início da linha lateral


A variação da pressão ao longo da linha lateral não é linear como em tubulações com
vazões constantes. Aproximadamente 75% da perda de carga ocorre até a metade da linha
lateral com um único diâmetro, conforme Figura 8.37. Para linhas laterais com dois
diâmetros, a variação da perda de carga é mais linear, e esse valor fica em torno de 63%.
A linha lateral é dimensionada para que a pressão média dos aspersores seja igual à
pressão de serviço recomendada (Pa), a qual ocorre, aproximadamente, de 0,4 a 0,5 L do
Irrigação por aspersão 421

início da linha. Logo, a pressão no início pode ser determinada utilizando-se as equações
8.45 e 8.46 para linhas com um e dois diâmetros, respectivamente.
Pin  Ps  0,75hf  0,5 DN  Ha (8.45)
Pin  Ps  0,63hfd  0,5 DN  Ha (8.46)
em que: Ha = altura do aspersor, isto é, o comprimento do tubo de elevação, que deve ser
aproximadamente 0,20 m maior que a altura da cultura a ser irrigada; e,
DN – diferença de nível ao longo da linha lateral.
A pressão mínima ocorrerá no final da linha lateral quando esta estiver em nível ou
em aclive. Entretanto, quando a linha lateral estiver em declive, a pressão mínima ocorrerá
quando a perda de carga unitária (J) for igual à declividade da superfície do solo (S0), num
ponto intermediário a x metros do início da linha (equação 8.47).
1,85
Q  1
J  10,641  x   S0 (8.47)
 C  D 4,87
em que Qx é a vazão da linha lateral no ponto X, obtida por:

X
Q x  Q  qa   (8.48)
 S1 
Substituindo a equação 8.48 na 8.47 e resolvendo para X, tem-se:
S1
X
qa

Q  0,2785 C S0 0 ,54 D 2 ,63  (8.49)

Finalmente, a pressão mínima na linha lateral pode ser assim determinada:


P min  Pin  hf  hfxl  X S 0 (8.50)

em que hfxl é a perda de carga real do ponto X ao final da linha lateral.

Linhas secundária e principal


A mais importante função da linha principal e da secundária é conduzir a água em
quantidade e pressão requeridas para o funcionamento das linhas laterais, em quaisquer
posições.
Os sistemas de irrigação por aspersão podem variar de uma simples e portátil linha
principal até sistemas mais complexos com linhas principais e secundárias ramificadas e
enterradas.
O principal objetivo no dimensionamento da linha principal é selecionar os
diâmetros das tubulações, de modo que ela possa cumprir sua função economicamente. A
fim de dimensionar as linhas principais e secundárias tem-se que analisar todo o projeto de
422 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

irrigação, para determinar o valor máximo de pressão e vazão requeridas, bem como a
variação da vazão ao longo da linha principal.

Condições Gerais para o Dimensionamento


No dimensionamento da linha principal, devem-se levar em conta algumas
condições:
a) A perda de pressão ocasionada pelo atrito, ao longo da tubulação, é o principal
fator a ser considerado. Dependendo da fonte de pressão, têm-se dois tipos básicos de
problema:
– Quando a pressão necessária para funcionar o sistema for suprida por motobomba,
o tipo e o diâmetro da tubulação devem ser selecionados de acordo com o balanço real do
custo inicial das tubulações escolhidas (custo anual fixo) com o custo anual do
bombeamento, de modo que dimensione o projeto que resultará no custo anual mínimo para
aplicação de água.
– Quando a pressão utilizada for motivada pela diferença de nível entre a fonte de
água e a área a ser irrigada, o objetivo é minimizar a perda de carga por atrito, ao longo da
tubulação, de modo que se evite o uso de motobomba, ou usá-la com a menor intensidade
possível; porém, quando a diferença de nível for muito grande, têm-se que selecionar
diâmetros, de forma a dissipar o excesso de pressão e obter boa uniformidade de aplicação,
protegendo as tubulações e os equipamentos do sistema.
b) Todas as perdas de carga que ocorrem no sistema devem ser consideradas, ou
seja, as perdas de carga por atrito, ao longo das tubulações, as localizadas nas conexões, nas
peças especiais, e as de carga, ocasionadas pela variação de nível, bem como deve-se
considerar a posição da linha lateral que resulte na maior perda de carga na linha principal.
c) A forma como a linha principal é distribuída pode ocasionar perdas de cargas
adicionais.
d) A pressão, ao longo da linha principal, não é a somatória das pressões das diversas
linhas laterais; porém, a vazão o é.
e) Em projetos de irrigação com ramificações da linha principal, será considerada
linha principal aquela que no ponto de ramificação requerer a maior pressão, e a outra será
considerada linha secundária. O dimensionamento da linha secundária será realizado em
função da diferença entre a pressão no ponto de entroncamento com a linha principal e a
pressão necessária, no início da linha lateral, na posição mais desfavorável.
f) No dimensionamento da linha principal, tem-se que determinar as vazões máximas
a serem conduzidas nos diversos trechos, bem como relacionar as vazões conduzidas em
cada condição com o comprimento dos trechos nos quais elas são conduzidas.
As linhas laterais devem, sempre que possível, trabalhar de forma rotativa em torno
da linha principal, para minimizar a mão-de-obra e o custo da tubulação, conforme mostrado
na Figura 8.36. Inicialmente, as linhas laterais estão nas posições A, C e E (linhas cheias);
Irrigação por aspersão 423

com a mudança destas para novas posições, as linhas da direita vão subindo e as da esquerda
descendo, encontrando-se nos pontos B e D (linhas descontínuas), definindo quatro trechos:
AB, BC, CD e DE, que conduzirão as vazões máximas de quatro, três, duas e uma linhas
laterais, respectivamente.
Existem basicamente três métodos para se dimensionar a linha principal: o da análise
econômica, o do limite de velocidade e o do limite de perda de carga. Aqui serão abordados
somente os dois primeiros.

Dimensionamento Baseado no Método do


Limite de Velocidade
É o mais utilizado, devido à sua praticidade. Consiste em limitar a velocidade de
escoamento na tubulação entre 1,0 e 2,0 m s-1. Uma vez fixada a velocidade, determina-se o
diâmetro da linha principal, usando-se a equação da continuidade:
0, 5
4Q
D    (8.51)
 V

Dimensionamento Baseado no Método da


Análise Econômica
Do ponto de vista técnico, a seleção econômica das tubulações de um sistema de
irrigação deve receber tanta consideração quanto a solução hidráulica do problema.
O dimensionamento baseado na análise econômica consiste em determinar, para
cada condição, os diâmetros com os quais o somatório do custo anual fixo com o custo anual
variável seja o mínimo.
– Custo anual fixo
Pode ser determinado pela seguinte equação:
CAF  (C  R ) FRC (8.52)
em que: CAF = custo anual fixo;
C = valor do investimento;
R = valor de resgate do equipamento, ao final do período de vida útil; e
FRC = fator de recuperação do capital.

FRC pode ser calculado pela seguinte equação:


(1 + i) n . i (8.53)
FRC 
(1 + i) n - 1
424 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

em que: i = taxa anual de juro, em decimal; e


n = vida útil do equipamento, em anos.
O valor de resgate do equipamento, para o caso de tubulações, normalmente é
considerado como 10% do valor inicial, mas como se estão comparando diferentes
diâmetros, pode-se, sem muito erro, desprezar o valor de resgate. Sendo assim, pode-se usar
a equação simplificada para determinar o custo anual fixo, ou seja:
CAF  C FRC (8.54)
– Custo anual variável
Corresponde aos custos anuais de energia, operação e manutenção do sistema.
O custo de energia depende da fonte de energia, do seu preço, da potência absorvida
do motor, do número de horas de trabalho e do consumo médio por hora. No caso da energia
elétrica, os projetos de irrigação, em geral, são considerados no grupo B, com dois
subgrupos: B1 e B2.
Subgrupo B1 – potência instalada superior a 75 KVA; o usuário paga tanto o
consumo como a demanda.
Subgrupo B2 – potência instalada inferior a 75 KVA; o usuário paga somente o
consumo.
Como se estão comparando diferentes diâmetros para uma mesma condição,
normalmente considera-se somente o custo da energia. Isso só não é válido quando, ao
modificar o diâmetro, se altera o subgrupo de classificação do projeto.
O custo de operação e manutenção para as tubulações varia em torno de 0,5% do valor
inicial; para motores, em torno de 2,0%; e para bombas, em torno de 4%. Como se estão
comparando diferentes diâmetros, pode-se desprezar o custo de operação e a manutenção.
O método-padrão para o dimensionamento econômico das tubulações envolve uma
solução por tentativa. A essência desse método está baseada na seleção das tubulações que
forneçam uma soma mínima do custo anual fixo com o custo de operação, para diversas
combinações de diâmetros, o qual, ao ser aplicado em sistemas mais complexos, demanda
muito tempo para investigar todas as combinações de diâmetros possíveis.
Keller desenvolveu um método mais direto para a determinação dos diâmetros mais
econômicos, o qual se aplica tanto aos sistemas de irrigação simples quanto aos mais complexos.
Apresentam-se, a seguir, os três principais métodos para o dimensionamento
econômico das tubulações para irrigação: método das tentativas, das tentativas simplificado e
de Keller. Estes métodos aqui descritos serão aplicados numa área de 70 ha,
aproximadamente, conforme Figura 8.38, de acordo com as seguintes condições:
– Toda a área está em nível.
– Os aspersores usados serão do modelo A, com espaçamento de 24 x 24 m, pressão
de serviço de 3,5 atm e vazão de 1,55 l/s, por aspersor.
Irrigação por aspersão 425

Custo da tubulação (custo por metro de tubo) em unidades de capital - UC:


100 5,00/m
125 7,00/m
150 13,00/m
200 25,00/m
250 38,00/m
300 48,00/m
350 54,00/m

264 m

A
MB
F

B
1056 m

792 m

C D

792 m

Figura 8.38 - Área de 70 ha aproximadamente, a ser irrigada, mostrando a distribuição das


linhas principais e laterais.
426 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Com a vida útil da tubulação de 10 anos, com juros de 10% ao ano, o fator de
recuperação de capital anual (FRC) será igual a 0,1628.
Horas de trabalho do sistema: 1.500 h/ano e 10h/dia.
Eficiência da motobomba = 60%.
Custo da energia, 0,05 unidades de capital, por CV-hora.
Coeficiente de Hazen-Williams para a tubulação, C = 120.
Para as condições acima, têm-se:
 a linha principal será MB-A-B-C-D;
 duas linhas secundárias, A-F e C-E;
 10 linhas laterais de 264 m;
 11 aspersores por linha lateral;
 uma vazão de aproximadamente 17 l/s por lateral;
 a vazão total do sistema será de 170 l/s;
 a vazão a ser conduzida nos segmentos será: 34 l/s em C - D, C - E e A - F; e
 102 l/s em B - C; 136 l/s em A - B e 170 l/s em MB - A.
Com estes dados, o custo da energia será:
1500 0,05
Custo do CV/ano = = 125,00 UC/CV-ano
75
A potência a ser fornecida pela bomba, para compensar a perda de carga, pode ser
calculada pela seguinte equação:
Q H 170 hf
CV  = ,
75 75
em que hf é a perda de carga em cada diâmetro.
O custo anual da perda de carga será igual a:
170 x hf x 125,00
75

Método das Tentativas


Este método consiste em determinar o custo fixo anual por metro de tubulação para
todos os diâmetros possíveis de usar, ou seja, o preço do metro da tubulação multiplicado
pelo fator de recuperação de capital (Tabela 8.12) e o custo anual relativo à energia gasta no
atrito, em cada segmento da linha principal. A seleção econômica para cada segmento será
aquela cuja soma do custo da tubulação com o custo da energia consumida na perda de carga
for menor (Tabela 8.13).
Irrigação por aspersão 427

Tabela 8.12 - Custo fixo anual por metro de tubulação, para vários diâmetros (período de dez
anos e juros de 10% - FRC = 0,1628)
Diâmetro (mm) Custo/metro Custo fixo anual/metro
100 5,00 0,81
125 7,00 1,14
150 13,00 2,12
200 25,00 4,07
250 38,00 6,19
300 48,00 7,81
350 54,00 8,79

Tabela 8.13 - Dimensionamento da linha principal, pelo método das tentativas


Combinação de diâmetros Perda de Custo Custo
Custo
MB-A A-B B-C C-D carga anual da fixo anual
total
(264 m) (264 m) (264 m) (528 m) total perda de da linha
anual
(mca) carga principal
350 350 350 350 5,41 1.532,83 11.604,38 13.137,22
350 350 350 300 5,68 1.609,33 11.088,63 12.697,97
350 350 350 250 6,47 1.833,17 10.229,05 12.062,22
350 350 350 200 9,06 2.567,00 9.111,59 11.678,59
350 350 350 150 20,94 5.933,00 8.080,09 14.013,09
350 350 300 300 6,76 1.915,33 10.830,76 12.746,09
350 350 300 250 7,55 2.139,17 9.971,17 12.110,34
350 350 300 200 10,14 2.873,00 8.853,72 11.726,72
350 350 300 150 22,02 6.239,00 7.822,21 14.061,21
350 350 250 250 10,51 2.977,83 9.541,38 12.519,22
350 350 250 200 13,01 3.686,17 8.423,92 12.110,09
350 350 250 150 24,90 7.055,00 7.392,42 14.447,42
350 350 200 200 22,94 6.499,67 7.865,19 14.364,86
350 350 200 150 34,82 9.865,67 6.833,69 16.699,36
350 300 300 300 8,64 2.448,00 10.572,88 13.020,88
350 300 300 250 9,43 2.671,83 9.713,30 12.385,13
350 300 300 200 12,02 3.405,67 8.595,84 12.001,51
350 300 300 150 23,90 6.771,67 7.564,34 14.336,01
Continua...
428 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Tabela 8.13 - Cont.


Combinação de diâmetros Perda de Custo Custo
Custo
MB-A A-B B-C C-D carga anual da fixo anual
total
(264 m) (264 m) (264 m) (528 m) total perda de da linha
anual
(mca) carga principal
350 300 250 250 12,39 3.510,50 9.283,51 12.794,01
350 300 250 200 14,98 4.244,33 8.166,05 12.410,38
350 300 250 150 26,86 7.610,33 7.134,55 14.744,88
350 300 200 200 24,82 7.032,33 7.607,32 14.639,65
350 300 200 150 36,70 10.398,33 6.575,82 16.974,15
350 250 250 250 17,38 4.924,33 8.853,72 13.778,05
350 250 250 200 19,97 5.658,17 7.736,26 13.394,42
350 250 250 150 31,85 9.024,17 6.704,76 15.728,92
350 250 200 200 29,81 8.446,17 7.177,53 15.623,69
350 250 200 150 41,69 11.812,17 6.146,03 17.958,19
350 200 200 200 40,82 11.565,67 6.618,80 18.184,46
300 200 200 150 52,70 14.931,67 5.587,30 20.518,96
350 300 300 300 11,44 32.41,33 10.315,01 13.556,34
300 300 300 250 12,23 34.65,17 9.455,42 12.920,59
300 300 300 200 14,82 41.99,00 8.337,96 12.536,96
300 300 300 150 26,70 75.65,00 7.306,46 14.871,46
300 300 250 250 15,19 43.03,83 9.025,63 13.329,47
300 300 250 200 17,78 50.37,67 7.908,17 12.945,84
300 300 250 150 29,26 82.90,33 6.876,67 15.167,01

Analisando a Tabela 8.13, verifica-se que as combinações mais econômicas são:


a) MB - A - B - C = 350 mm e C - D = 200 mm.
b) MB - A - B = 350 mm, B - C = 300 mm e C - D = 200 mm.

Método das Tentativas Simplificado


É uma simplificação do método anterior e consiste em determinar o custo total anual
por 100 m de tubulação dos diversos diâmetros para cada vazão que ocorrerá nos diferentes
segmentos, como ilustra a Tabela 8.14.
Irrigação por aspersão 429

Tabela 8.14 - Método das tentativas simplificado, por 100 m de tubulação


Curso da
perda de Custo fixo
Vazão (l/s) Diâmetro Perda de carga tubulação Custo total
carga
(Setor MB-A)
170 14 0,95 269,17 878,83 1.147,99
170 12 2,01 569,50 781,17 1.350,68
170 10 4,67 1.323,17 618,43 1.941,60
(Setor A-B)
136 14 0,63 178,50 878,83 1.057,33
136 12 1,34 379,67 781,18 1.160,84
136 10 3,23 915,17 618,43 1.533,60
(Setor B-C)
102 14 0,37 104,83 878,83 983,66
102 12 0,78 221,00 781,18 1.002,18
102 10 1,9 538,33 618,43 1.156,77
102 8 5,63 1.595,17 406,86 2.002,03
(Setor C-D)
34 14 0,05 14,17 878,83 892,99
34 12 0,1 28,33 781,18 809,51
34 10 0,25 70,83 618,43 689,27
34 8 0,74 209,67 406,86 616,53
34 6 2,99 847,17 211,57 1.058,74

Analisando a Tabela 8.14, verifica-se que as duas combinações mais econômicas são:
a) MB-A = 350 mm, A-B = 350 mm; B-C = 350 mm e C-D = 200 mm.
b) MB-A = 350 mm, A-B = 350 mm; B-C = 300 mm e C-D = 200 mm.
Estas combinações são as mesmas encontradas pelo método das tentativas. Nota-se,
porém, a grande simplicidade deste método em relação ao das tentativas.

Método de Keller
É um método direto, muito mais versátil, e, uma vez determinado seu gráfico, poderá
ser usado para a seleção do diâmetro econômico para qualquer vazão, como ilustrado na
Tabela 8.15 e nas Figuras 8.39.
430 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Verifica-se, pela Tabela 8.15, que vazões acima de 93,3 L/s devem ser conduzidas
em diâmetros de 350 mm; as de 71,7 a 93,3 L/s, em diâmetro de 300 mm; as de 43,1 a 71,7
L/s, em diâmetro de 250 mm; as de 18,1 a 43,1 L/s, em diâmetro de 200 mm; e, finalmente,
aquelas entre 8,8 e 18,1 L/s, em tubulações de 150 mm.
Para o problema, os diâmetros econômicos são:
MB-A (vazão de 170 L/s) = 350 mm
A-B (vazão de 136 L/s) = 350 mm
B-C (vazão de 102 L/s) = 350 mm
C-D (vazão de 34 L/s) = 200 mm
Este resultado é idêntico aos dos dois outros métodos.

Tabela 8.15 - Método de Keller, por 100 m de tubulação

Diâmetros (mm)
Parâmetros
125 150 200 250 300 350

Custo fixo anual/100m 113,92 211,57 406,86 618,43 781,18 878,83

Diferença no custo fixo 97,65 195,29 211,57 162,75 97,65


anual

CV economizado pela 0,781 1,562 1,693 1,302 0,781


diferença*

Perda de carga (hf), 0,345 0,689 0,747 0,574 0,345


correspondente a CV**

Vazão que proporciona a 8,8 18,1 43,1 71,7 93,3


diferença de perda de carga
entre os dois diâmetros***

* Baseado em 125,00 (unidades de capital)/CV-ano, exemplo CV  97,65  0,781


125
** Baseado na vazão de 170 l/s, exemplo hf = 0,781 x 75  0,345
170
*** Vazão correspondente à diferença de perda de carga entre os dois diâmetros adjacentes, obtida na Figura 8.39
ou utilizando-se a equação a seguir:
1 / 1,852 1 / 1, 852
 hf C1,852   0,345 x 1201,852 
Q  1000  4 ,87 4 ,87 
 1000  4 , 87 4 ,87 
 8,8 L s 1
1064,1( D1  D2   1064,1 (0,125  0,150 )

A Tabela 8.15 é válida para dimensionamento de diâmetros, para diferentes vazões,


porém com a vazão da motobomba de 170 L/s. Na Figura 8.39 é mostrado o gráfico geral
para o dimensionamento para qualquer vazão na motobomba.
Para o dimensionamento das linhas secundárias A - F e C - E, devem ser escolhidos
diâmetros tais que as velocidades resultantes estejam no limite superior permitido, de modo a
dissipar a energia disponível nos pontos A e C, respectivamente.
Irrigação por aspersão 431

1.000
125 150 200 250 350
300
Vazão na motobomba (L/s)

100
1,85

10

1
1 10 100 1.000

Vazão nos diversos setores (L/s)

Figura 8.39 - Seleção econômica das tubulações de sistemas de irrigação por aspersão, para
diversas vazões.

Linhas de recalque e sucção


As linhas de recalque são dimensionadas semelhantemente à linha principal, logo,
deverão ter o mesmo diâmetro do primeiro trecho da linha principal. Já as linhas de sucção
devem ter o diâmetro comercial imediatamente superior ao da linha de recalque.

Altura manométrica do sistema


A altura manométrica do sistema corresponde à pressão máxima que a bomba deve
fornecer e pode ser assim determinada:
Hm  Pin  hfp  DNp  hfr  DNr  hfs  DNs  hfl (8.55)

em que: Hm - altura manométrica, mca;


Pin – pressão no início da linha lateral, mca;
432 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

hfp - perda de carga na linha principal, mca;


DNp - diferença de nível ao longo da linha principal, m;
hfr - perda de carga na tubulação de recalque, mca;
DNr - diferença de nível de recalque, m;
hfs - perda de carga na tubulação de sucção, mca;
DNs - altura de sucção, m; e
hfl - perda de carga localizada, mca.
A perda de carga e a diferença de nível ao longo da linha principal, hfp e DNp, e,
conseqüentemente, a altura manométrica variam de acordo com a localização das linhas
laterais, devendo, portanto, ser determinadas para as duas situações extremas, selecionando o
valor máximo para efeito de projeto. Na Figura 8.36, por exemplo, linhas contínuas e
descontínuas representam essas duas situações.
As perdas de carga localizadas nas peças especiais como redução excêntrica,
registros de gaveta, entre outras, podem ser calculadas pela equação 8.56. Entretanto, alguns
autores assumem que essas perdas correspondem a aproximadamente 5% das perdas de
carga contínuas ao longo da linha principal.

V2
hfl  K 1 (8.56)
2g
em que: g - aceleração da gravidade, m s-2; e
Kl - coeficiente de perda de carga localizada, adimensional.
O coeficiente de perda de carga localizada é função do diâmetro e da peça especial,
podendo ser encontrado em livros de hidráulica básica. Para válvulas de linha ou de
derivação K1 e este coeficiente é de aproximadamente oito.

Conjunto motobomba
As bombas centrífugas são as mais utilizadas nos sistemas de irrigação, conforme
discutido de forma mais abrangente no Capítulo 5. Com a vazão e a altura manométrica do
sistema pode-se selecionar aquela que ofereça maior rendimento, usando o catálogo do
fabricante. Geralmente, o catálogo traz a potência necessária no eixo da bomba ou potência a
ser fornecida pelo motor (Pm). Entretanto, esta pode ser determinada pela equação 8.57.
Qs Hm
Pm  (8.57)
75 Eb

em que: Pm - potência do motor, cv;


Qs - vazão do sistema, l s-1; e
Eb - eficiência da bomba.
Irrigação por aspersão 433

A potência consumida pelo conjunto motobomba é função da eficiência do motor


(Em) e pode ser assim determinada:
Pm
Pc  (8.58)
Em
Conhecida a potência do motor, pode-se estimar o consumo médio unitário,
utilizando a Tabela 5.15 ou a 8.16.

Tabela 8.16 - Consumo médio de energia, em motores a diesel e elétricos, por CV-hora
produzido

Fonte de Energia Unidade Consumo por CV-hora


Óleo diesel litro 0,22 a 0,32
Mono e bifásico kilowatt-hora 0,96 a 1,13
Trifásico kilowatt-hora 0,82 a 1,01

Para a estimativa do consumo de energia por safra é necessário determinar o número


de horas provável (NHOS) para o qual o sistema vai operar (equação 8.59).
ETs A
NHOS  (8.59)
Ec EA Qs 3600
em que: ETs - evapotranspiração da cultura por safra, mm;
A – área irrigada, m2;
EA – eficiência de aplicação do menor quartil ou menor mediana de acordo com o
projeto, decimal;
Ec – eficiência de condução, decimal; e
Qs – vazão do sistema de irrigação, L s-1 .
No Capítulo 5 foram discutidas as folgas necessárias aos motores elétricos fabricados até
1996, onde eram necessários acréscimos de 10 a 30% em função da potência do motor, uma vez
que o fator de serviço dos motores naquela época, era igual a 1,0. Geralmente os motores
fabricados após esta data já incorporam estas folgas no fator de serviço (FS) que permite que o
motor suporte níveis de sobrecargas em regime contínuo.

Na Tabela 5.14 são apresentados os valores do fator de serviço de motores elétricos


exigidos pela norma da ABNT número 7094, de 1996.
O consumo de energia (CTE) por ano ou por safra em kWh pode ser estimado por:
CTE = 0,736 Pc NHOS (8.60)
Para determinar o custo de bombeamento, é só multiplicar o consumo total de
energia pelo ou de combustível pelos respectivos custos unitários.
434 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Projeto de Irrigação por Aspersão


Um fazendeiro do norte de Minas Gerais cultiva milho sem irrigar, com plantio em
novembro. De maio a outubro a área fica ociosa, devido à baixa precipitação natural. Esse
fazendeiro deseja plantar feijão irrigado por aspersão, tirando duas safras no período em que
a área fica subutilizada, pretendendo também, se necessário, fazer uma irrigação suplementar
na cultura do milho.

Foram levantados os seguintes dados:


a) Área - O croqui da área a ser irrigada é apresentado na Figura 8.40.
b) Fonte de água - Conforme apresentado na Figura 8.40, existe um curso de água natural,
passando próximo à área, cuja cota da superfície da água é 100,00 m. A água é de boa
qualidade, sem necessidade de lixiviação (RL < 0,10) e sem limitação de uso.
c) Dados climatológicos - O único dado climatológico disponível é a temperatura média
mensal tomada num posto meteorológico situado próximo à área, que está localizado a
15o sul de latitude (Tabela 8.17).
d) Solo - O solo é de textura argilosa, com umidades correspondentes às tensões de 0,3 e 15
bar de 38 e 18% em peso, respectivamente. Esses dados foram tomados como
capacidade de campo e ponto de murcha. A massa específica aparente é de 1,17 g cm-3 e
a velocidade de infiltração básica obtida com o infiltrômetro de cilindro, de 12 mm h-1.
e) Cultura - A profundidade efetiva das raízes para a cultura do feijão na região é em torno
de 35 cm.
f) Mão-de-obra - Na fazenda, não há limitação de mão-de-obra.
g) Energia - Há disponibilidade de energia elétrica na fazenda, mas o fazendeiro não poderá
operar o sistema de irrigação no período de 17 às 21 horas.
5%
0%

90 m
MB 312 m

558 m

Figura 8.40 - Croqui da área.


Irrigação por aspersão 435

Tabela 8.17 - Percentagem de insolação diária do total anual, temperatura média mensal e
evapotranspiração de referência

Mês P(%) T(OC) ETo(mm dia-1)


Jan. 0,29 25,1 6,4
Fev. 0,28 25,3 5,6
Mar. 0,28 25,2 6,2
Abr. 0,27 24,6 5,9
Maio 0,26 23,3 5,5
Jun. 0,25 22,2 5,1
Jul. 0,26 22,0 5,3
Ago. 0,26 23,4 5,5
Set. 0,27 24,4 5,8
Out. 0,28 26,4 6,3
Nov. 0,29 25,2 6,4
Dez. 0,29 24,7 6,3

Evapotranspiração
Como o único dado climatológico disponível é a temperatura média mensal, será
utilizado o método de Blaney-Criddle, modificado pela FAO (equação 4.1), admitindo-se
velocidade do vento média, brilho solar alto e umidade relativa mínima média, devido à área
estar localizada numa região semi-árida.
ETo  Cr P 0,457 T  8,13 (8.61)
-1
ETo = evapotranspiração de referência média, mm dia ;
Cr = fator de correção, adimensional;
P = percentagem diária do total anual de insolação (capítulo 2), %; e
T = temperatura média mensal, oC.

O fator de correção Cr é função do brilho solar, da velocidade do vento e da umidade


relativa mínima (Tabela 8.18).
Para velocidade do vento média, brilho solar alto e umidade relativa mínima média,
Cr = 1,12.
Os valores de Eto, calculados pela equação 8.59, são apresentados na Tabela 8.19. A
evapotranspiração potencial da cultura pode ser assim calculada:
436 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

ETpc  ETo kc (8.62)

Observa-se que a evapotranspiração diária máxima, que ocorre na segunda safra, é


de 6,96 mm dia-1, valor a ser utilizado no dimensionamento do projeto. O uso consultivo
máximo, evapotranspiração por safra, ocorre também na segunda safra e é de 374,4 mm.
Como não há dados suficientes para o cálculo da precipitação efetiva e como são
raras as precipitações na época do plantio, considerando-se que a região pertence ao
semiárido, o projeto será dimensionado para irrigação total, ou seja, Pe = 0.

Tabela 8.18 - Fator de correção para a equação de Blaney-Criddle, modificada pela FAO
Brilho solar Velocidade do vento Umidade relativa mínima (%)
(n/N) (m s-1) >20% 20 – 50% >50%
Baixo 0-2 0,92 0,82 0,64
(0,45) 2-5 1,06 0,91 0,72
5-8 1,16 0,98 0,77
Médio 0-2 1,02 0,91 0,75
(0,70) 2-5 1,19 1,06 0,83
5-8 1,35 1,12 0,88
Alto 0-2 1,14 1,02 0,83
(0,90) 2-5 1,23 1,12 0,91
5-8 1,49 1,24 0,97

Tabela 8.19 - Evapotranspiração potencial da cultura para os períodos de cultivo com plantio
em maio e agosto

Meses Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out.


-1
ETo(mm dia ) 5,5 5,1 5,3 5,5 5,8 6,3
Estádio I II III IV I II III VI
Duração (dias) 15 15 30 15 15 15 30 15
Kc 0,4 0,75 1,2 0,75 0,4 0,75 1,2 0,75
ETpc (mm) 2,20 4,12 6,12 3,98 2,20 4,12 6,96 4,72
ETpc (mm/Est.) 33,0 61,8 183,6 59,7 33,0 61,8 208,8 70,8
ETpc (mm/safra) 338,1 374,4
Irrigação por aspersão 437

Irrigação necessária
Como a cultura não tem alto valor comercial, será utilizada a eficiência da menor
mediana, admitindo-se um valor inicial de 80%.
Na Tabela 1.3, para o grupo de cultura 3, do feijão, e para a ETpc máxima de 6,96
mm dia -1, tem-se f = 0,42.

 Cc  Pm  38  18
DTA   d 1,17  2,34 mm cm 1
 10  10

DRA  DTA f  2,34 x 0,42  1 mm cm -1

CRA  DRA Z  1 x 35  35 mm

IRN  CRA  35 mm

IRN 35
ITN  100  100  44 mm
EAm 80

Turno de rega e período de irrigação


CRA 35
TR    5 dias
ETpc 6,96
Uma vez que o período de pico de evapotranspiração para a cultura do feijão é
pequeno, não será deixada nenhuma folga entre duas irrigações consecutivas. Logo, o
período de irrigação (PI) também será de cinco dias.

Intensidade de aplicação
Como não se pode operar o sistema de irrigação das 17 às 21 horas, restam apenas
20 horas de operação por dia. Para maximizar o tempo de operação, a linha lateral deverá
irrigar duas posições, de 10 horas cada uma delas. Portanto, serão admitidas nove horas de
funcionamento efetivo mais uma para mudança da linha lateral para uma nova posição.
Logo:
ITN 44
Ia    4,9 mm h -1
Ti 9
Portanto, a intensidade de aplicação é menor que a velocidade de infiltração básica
do solo.
438 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Escolha do aspersor
Observa-se, pelos catálogos, que existem aspersores de diferentes fabricantes com
precipitação igual ou próxima de 4,9 mm h-1. Selecionando determinado fabricante,
encontrou-se um aspersor com as seguintes características:
diâmetro dos bocais = 3,6 X 2,6 mm;
pressão de serviço (Pac) = 2,0 atm;
vazão (qac) = 1,07 m3 h-1;
espaçamento (S1 x S2) = 12 x 18 m;
precipitação = 5 mm h-1; e
CUC (coeficiente de uniformidade): 79,5%.
Observa-se que a precipitação do aspersor é maior que a intensidade de aplicação
desejada. Para que esse aspersor trabalhe com Ia = 4,9 mm h-1, a sua vazão e pressão de
operação devem ser as seguintes (equações 8.28 e 8.29):
Ia S1 S2 4,9 x 12 x 18
qa    1,06 m 3 h -1
1000 1000
2 2
 qa   1,06 
Pa    Pac    x 2  1,96 atm
 qac   1,07 

Após a instalação do sistema no campo, deverá ser determinado o valor real,


ajustando-se o projeto, caso necessário. O coeficiente de uniformidade para cada condição de
espaçamento e pressão de operação dos aspersores, na ausência de vento, deve ser fornecido
nos catálogos de fabricantes.

Eficiência
Se o projeto tiver boa manutenção, ou seja as perdas por vazamento são em torno de
1%, a Ec = 0,99 e o índice de pulverização será:
Pa 1,3 1961,3
CI  0,032  0,032  8,49
B 3,6

Como 7 < 8,49 < 17, deve-se utilizar a equação 8.9 para estimar EAp. Pela
Figura 9.3, tem-se EApp = 0,97 e EApm = 0,92, logo:
8,49 - 7 17 - 8,49
EAP  ( ) 0,97  ( ) 0,92  0,93
10 10
Irrigação por aspersão 439

EAm = CUC EAp = 79,5 x 0,93 = 74%


Uma vez que o valor de Em determinado é diferente do estimado (80%), devem-se
ajustar os valores de ITN e a vazão do aspersor, como se segue:
35
ITN  100  47,3 mm
74

47,3
Ia   5,25 mm h -1
9
5,25 x 12 x 18
qa   1,13 m 3 h -1  0,315 L s -1
1000
2
 1,13 
Pa    2  2,23 atm  22,3 mca
 1,07 

Vazão do sistema
A ITN 17,41 x 47,3
Qs  2,78  2,78  25,7 L s -1  0,0257 m 3 s -1
PI TDF Ec 5 x 18 x 0,99

Número de linhas laterais


Ao analisar a Figura 8.42, observa-se que o melhor esquema de funcionamento é
com uma linha principal passando no centro da área e linhas laterais de 150 m, considerando
que o final da linha lateral pode estar a seis metros da fronteira da área.
Qs 25,7
NTA    80 aspersores
qa 0,315
440 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

5%
0%
180 m

150 m

90 m
MB
1 2 3 4 5 6 312 m

558 m

Figura 8.41 - Distribuição das linhas na área.

L 156
NAPL    13 aspersores / lateral
S1 12
NTA 80
NL    6 linhas , como são seis linhas e treze aspersores em cada, o número
NAPL 13
total de aspersores será 78, e a vazão do sistema, 24,6 L s-1.

Diâmetros das linhas laterais


Para efeito de exemplo optou-se pela tubulação de PVC, com diâmetros internos de
50, 75, 100, 125 e 150 mm, conforme fórmula a seguir:

Q  NAPL qa  13 x 0,315  4,095 L s -1  0,004 m 3 s -1

L = 150 m
C = 140 (PVC)

1 1 ev - 1
F  
ev  1 2 N 6 N 2

1 1 1,85 - 1
F    0,390
1,85  1 2 13 6 132
Irrigação por aspersão 441

DN = 0 (linhas laterais trabalharão em nível)


Hf = 0,20 Pa – DN = 0,2 22,3 – 0 = 4,46 mca
4,46
hf '   11,43 mca
0,390

Q L 0, 205
D  (10,641 ( )1,85 )
C hf '
0, 205
 0,004 1,85 150 
D  10,641 ( )   0,052 m
 140 11,43 

Usando o diâmetro interno mais próximo da tubulação disponível, de 50 mm, tem-se:


0,004 1,85 150
hf '  10,641 ( )  13,57 mca
140 0,054,87
hf = 13,57 x 0,390 = 5,29 mca = 23,7% de Pa
valor este que ultrapassa o limite máximo de variação permitido, que é de 23,5% Pa.
Portanto, devem-se utilizar dois trechos na linha lateral, sendo um com 75 mm e outro com
50 mm. O comprimento de cada trecho pode ser calculado pelas equações 8.43 e 8.44 ou
pelo método das tentativas. Assim, ter-se-á:

Pelas equações
1
 D 4,87  1,851
  1  -1
 D  
L2   4 ,87  L
  D1  -1 
  D 2  
 
1
  75  4,87  1,851
   - 1
52
L 2     4,87  150  138,6 m , como os tubos são de 6 m o comprimento real do
  75  
   - 1
  50  
trecho 2 será de 138 m, uma vez que 138,6 é o valor máximo para este trecho.
L1 = 150 – 138 = 12m.
Para o cálculo da perda de carga, deve-se lembrar que a equação de Hazen-Willians
é utilizada apenas para finais de linha (vazão final igual a zero), por isso o cálculo é feito tal
como no método por tentativas.
a) L = 150 m, D = 75 mm:
1 1 1,85 1
F    0,390
1,85  1 2 x 3 6 x 132
442 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

0,004 1,85 150


hf1  10,641 ( ) 0,390  0,73 mca
140 0,0754 ,87

b) L2 = 138 m, D = 75 mm:
1 1 1,85 - 1
F    0,398
1,85  1 2 x 11 6 x 112
0,004 1,85 138
hf 2  10,641 ( ) 0,398  0,69 mca
140 0,0754,87

d) L2 = 138 m, D = 50 mm:
1 1 1,85 - 1
F    0,398
1,85  1 2 x 11 6 x 112
0,004 1,85 132
hf 3  10,641 ( ) 0,398  4,97 mca
140 0,054 ,87

e) hf = hf1 – hf2 + hf3 = 0,73 - 0,69 + 4,97 = 5,01 mca. Esse valor corresponde a 22,5% da
pressão de serviço (22,3). Dessa forma, tem-se o primeiro trecho com diâmetro 75 mm e
comprimento 12 m, e o segundo trecho com diâmetro 50 mm e comprimento 138 m.

Pressão no início da linha lateral


Para irrigação do feijão, pode-se trabalhar com o tubo de elevação de 2,0 m,
considerando que o sistema também será utilizado na cultura do milho. Logo, pela equação
8.26. tem-se
Pin  22,3  0,75 x 5,01  0,5 x 0  2  28 mca
Como a linha lateral trabalhará em nível, a pressão mínima de operação ocorrerá no
último aspersor, ou seja X = L, conforme equação 8.29, que pode ser assim calculada:
H min  Pin - hf  hf xL  X DN - Ha
H min  28 - 5,01  0  0 - 2  21 mca

Dimensionamento da linha principal


Analisando a distribuição das linhas laterais na Figura 8.41, observa-se que a linha
principal deve ser dividida em seis trechos e cada um conduzirá uma vazão máxima
conforme a localização das linhas laterais. Utilizando o método do limite de velocidade pela
equação da continuidade, têm-se os diâmetros apresentados na Tabela 8.20.
Irrigação por aspersão 443

Por exemplo, fixando a velocidade em 1,5 m s-1, o diâmetro do trecho um será:


4 Q 4 x 0,0246
D   0,144 m
 V  1,5
Utilizando o diâmetro comercial de 125 mm, a velocidade de escoamento será de
2 m.s-1, que se encontra dentro do limite permitido.

Tabela 8.20 - Vazão máxima, diâmetro, velocidade e comprimento para os diferentes trechos
da linha principal
Trecho Vazão (m3 s-1) Diâmetro (m) Velocidade (m s-1) Comprimento (m)
1 0,0246 0,125 2 90
2 0,0205 0,125 1,67 90
3 0,0164 0,125 1,34 90
4 0,0123 0,100 1,57 90
5 0,0082 0,075 1,86 90
6 0,0041 0,075 0,93 90

Para o cálculo da perda de carga (hfp) e diferença de nível (DNp) ao longo da linha
principal, devem-se considerar duas situações:
 linhas laterais representadas pelas linhas contínuas; e
 linhas laterais representadas pelas linhas tracejadas (Figura 8.41).
Na Tabela 8.21 são apresentados o diâmetro, a vazão e a perda de carga em cada trecho
para as duas condições. O sistema deve ser dimensionado para a situação que tiver o maior
valor de perda de carga. A perda de carga em cada trecho é calculada pela equação:
Qlp 1,85 L
hf  10,641 ( )
C D 4 ,87

Tabela 8.21 - Perda de carga na linha principal quando as linhas laterais estão localizadas nas
posições correspondentes às linhas cheias e tracejadas (Figura 8.41)
Trecho Compr. Diâmetro Linhas cheias Linhas tracejadas
(m) (mm) Vazão (m3 s-1) hf (mca) Vazão (m3 s-1) hf (mca)
1 90 125 0,0205 1,93 0,0246 2,70
2 90 125 0,0205 1,93 0,0164 1,28
3 90 125 0,0123 0,75 0,0164 1,28
4 90 100 0,0123 2,22 0,0082 1,05
5 90 75 0,0041 1,18 0,0082 4,26
6 90 75 0,0041 1,18 - -
hflp - - - 9,19 - 10,57
DNlp - - - 27,0 - 22,5
DNlp + hflp - - - 36,19 - 33,07
444 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Linhas de recalque e sucção


O recalque tem 90 metros e deverá conduzir a vazão suficiente para suprir as seis
linhas laterais. Assim, ter-se-á:

4 x 0,0246
D  0,144 m
 1,5

Testando o diâmetro de 125 mm, a velocidade encontrada é de 2 m.s-1. Então, este é


o diâmetro da linha de recalque.
O diâmetro da tubulação de sucção deve ser imediatamente superior ao de recalque.
Neste exemplo, a opção é pelo diâmetro superior, de 150 mm, com comprimento de 6 m.
As perdas de carga no recalque e na sucção são calculadas da mesma forma que na
linha principal, e os valores são Hfr = 2,97 mca e Hfs = 0,07 mca.

Altura manométrica do sistema


Da Figura 8.42 obtêm-se os seguintes dados: comprimento da linha principal, Lp =
540 m; diferença de nível da linha principal, DNp = 27 m; comprimento da linha de
recalque, Lr = 99 m; diferença de nível de recalque, DNr = 4,95 m; altura de sucção, DNs =
3,0 m; e comprimento da tubulação de sucção, Ls = 6,0 m.
Admitido que hfl seja igual a 5% de (hfp + hfr), tem-se: hfl = 0,05 (9,19 + 2,97) =
0,61 mca logo,
Hm  Pin  hflp  DNlp  hfr  DNr  hfs  DNs  hfloc
Hm  28  9,19  27  2,97  4,95  3  0,61  75,7 mca

Conjunto motobomba
Com a vazão e altura manométrica do sistema, 24,6 L s-1 e 75,7 mca,
respectivamente, seleciona-se a bomba a ser utilizada.
Pelo programa Agribombas, o conjunto motobomba selecionado foi o seguinte:
Marca: Mark Peerless
Modelo: HE
Velocidade do rotor: 7.500 rpm
Diâmetro comercial do rotor: 255 mm
Potência solicitada: 33,4 cv
Potência do motor elétrico: 40 cv
Rendimento da bomba: 76%
Rendimento do motor: 88%
Irrigação por aspersão 445

Diâmetro de recalque: 75 mm
Diâmetro de sucção: 100 mm
Número de estágios: 3

Qs Hm 24,6 x 75,7
Pm    32,7 cv , o motor comercial, com potência imediatamente
75 Eb 75 x 0,76
superior, é de 40 cv.

Pm 3,7
Pc    37,2 cv
Rm 0,88

Consumo de energia
O número total de horas de operação pode ser assim estimado:
ETs A ( 338,1  374,4 ) 558 x 312
NHOS    1.893 horas
Em Qs 3600 0,74 24,6 3600
O consumo total de energia (CTE) será:
CTE = Pc NHOS 0,763 = 37,2 x 1893 x 0,736 = 51.829 kWh

Lista de materiais
Item Descrição Unidade Quantidade
Componentes da linha lateral
1 Aspersor 3,6 x 2,6 mm, rosca fêmea 1” un. 78
2 Válvula reguladora de pressão 30 mca un. 78
3 Tubo de subida 1” PVC com 2 m un. 18
4 Saída para aspersor eng. rápido PVC 50 mm/1” un. 12
5 Saída para aspersor eng. rápido PVC 75 mm/1” un. 66
6 Tampão fim de linha macho eng. rápido PVC 50 mm un. 6
7 Tripé de sustentação do tubo de subida 1,5 m un. 78
8 Ponta fêmea solda/eng. rápido PVC 50 mm * un. 6
9 Ponta macho eng. rápido/solda PVC 50 mm * un. 6
10 Curva 45º PVC 50 mm * un. 12
11 Curva 90º PVC 50 mm * un. 6
12 Tubo PVC 50 mm * 6m 3
446 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

13 Tubo PVC eng. rápido 50 mm 6m 138


14 Tubo PVC eng. rápido 75 mm 6m 12
Componentes da linha principal
15 Ponta fêmea solda/eng. rápido PVC 75 mm ** un. 30
16 Registro solda PVC 75 mm ** un. 30
17 Tubo PVC 75 mm** 6m 4
18 Curva 90º solda PVC 75 mm ** un. 1
19 Conexão “T” solda PVC 75 mm ** un. 10
20 Conexão “T” solda PVC 100/75 mm ** un. 5
21 Conexão “T” solda PVC 125/75 mm ** un. 14
22 Redução solda PVC 125/100 mm ** un. 1
23 Redução solda PVC 100/75 mm ** un. 1
24 Tubo PVC solda 75 mm 6m 30
25 Tubo PVC solda 100 mm 6m 15
26 Tubo PVC solda 125 mm 6m 45
Componentes do conjunto motobomba recalque e
sucção
27 Tubo PVC solda 125 mm 6m 17
28 Ampliação excêntrica 75/125 mm un. 1
29 Bomba Mark Peerless un. 1
30 Motor 40 cv un. 1
31 Registro de gaveta 75 mm un. 1
32 Manômetro de glicerina un. 1
33 Redução excêntrica 150/100 mm un. 1
34 Curva 90º solda PVC 150 mm un. 1
35 Válvula de pé com crivo 150 mm un. 1
36 Tubo PVC 150 mm 6m 2
37 Lixa d’água un. 50
38 Cola para PVC lt 5
39 Fita veda rosca un. 5
* Peças componentes das curvas de nivelamento montadas no campo.
Irrigação por aspersão 447

** Peças dos hidrantes montados no campo, uma vez que hidrantes de PVC são de custo
elevado e de baixa duração.

Sistema de Irrigação por Pivô Central


Em 1952, criou-se o sistema de irrigação por pivô central, em Colorado (EUA), mas,
até 1960, seu uso ainda não estava consolidado. A partir de 1961 é que começou a ser
empregado com mais freqüência. Em 1973, somente nos EUA, já se irrigavam 800.000 ha
por pivô central. Atualmente, seu uso já está difundido na maioria dos países, existindo mais
de quatro milhões de hectares irrigados por este sistema. No Brasil, estima-se uma área de
cerca de 650.000 ha irrigados por pivô central. Nas Figuras 8.17, 8.18 e 8.19 está ilustrado
este tipo de sistema de irrigação.
O comprimento do raio do pivô pode variar de 200 a 800 m, sendo o mais comum o
de 400 a 600 m. A área irrigada por unidade de comprimento aumenta com o incremento do
raio. Por isso, o custo do sistema por hectare decresce com o aumento do raio do pivô.
As distâncias entre torres variam de 24 a 76 m, sendo mais comuns as de 30, 38, 52 e
54 m. Cada torre tem um sistema de propulsão próprio, mas existe um, central para controle
da velocidade e do alinhamento do pivô, tendo como referência a última torre. O sistema de
propulsão de cada torre é elétrico, com motores de 0,5 a 1,5 cv, os quais permitem melhor
controle da velocidade das torres.

Disposição dos Aspersores


Os aspersores utilizados em pivô central podem ser classificados em quatro tipos
mais comuns:
Tipo A – Aspersores de tamanho variável – O tamanho dos aspersores aumenta à
medida que se afasta do centro do pivô. A pressão requerida no centro do pivô varia entre 45 e
70 m.c.a., e a largura da faixa molhada na extremidade do pivô, normalmente, entre 50 e 60 m.
Tipo B – Aspersores de tamanho médio – Os aspersores são do mesmo tamanho, o
que varia é o diâmetro dos bocais, que aumenta à medida que se afasta do centro do pivô.
Quanto ao espaçamento entre aspersores, este diminui à proporção que se afasta do centro. A
pressão requerida no centro do pivô varia entre 45 e 55 mca. A largura da faixa molhada
próxima ao pivô é menor; a partir de  20% do seu comprimento, esta largura torna-se
constante, normalmente variando entre 25 e 30 m.
Tipo C – Difusores – O diâmetro do bocal ou tamanho do difusor aumenta à medida
que se afasta do centro do pivô, mas a largura da faixa molhada permanece praticamente
constante ao longo do pivô e é muito pequena, normalmente varia de 6 a 9 m. A pressão
requerida no centro do pivô varia entre 25 e 40 mca. Em virtude da possibilidade de
interferência do vento na uniformidade de aplicação da água devido ao menor tamanho de
448 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

gotas, várias possibilidades de posicionamento dos emissores estão disponíveis, sendo


utilizados pendurais que posicionam o emissor mais próximo da cultura. Também nesta área
tem havido grande desenvolvimento em novos modelos de emissores que possibilitam
menores perdas durante a aplicação.
Em razão da demanda de sistemas com menor consumo de energia e água, foram
desenvolvidos ou adaptados emissores que aplicam água de forma localizada,
caracterizando-se um novo tipo de aplicação de água (Tipo D).
Tipo D – Emissores de aplicação localizada – Estes emissores aplicam água de
forma localizada, permitindo, em caso de plantio circular, o molhamento subcopa ou sobre
as plantas. O alcance do jato é pequeno, proporcionando tempos de aplicação menores e
implicando elevadas taxas de aplicação de água, com alto potencial de escoamento
superficial e erosão nas fases iniciais do plantio, o que exige manejo (ou proteção) de solo
adequado, como é o caso do plantio direto.

Aspersores em tamanho variável (Tipo A)

53,2 m

Todos os aspersores em tamanho médio (Tipo B)

27,4 m

Difusores (Tipo C)
6,1 m

Figura 8.42 - Tipos de sistema de pivô central.


Irrigação por aspersão 449

Figura 8.43 - Emissores de aplicação localizada utilizados na cafeicultura irrigada com pivô
central.
As principais diferenças entre os quatro primeiro tipos de pivô são:
– Quanto à intensidade de precipitação
Como a maior largura da faixa de precipitação é no tipo A e a menor no tipo C, para
uma mesma lâmina de água a ser aplicada, a intensidade de precipitação no tipo A é menor
que no tipo B, e, neste último, menor que no tipo C. Este só deve ser usado em solos com
alta capacidade de infiltração ou quando a cultura cobre totalmente a superfície do solo e em
terrenos com pouca declividade. No caso do pivô tipo D a intensidade é muito elevada;
sendo, portanto, necessárias áreas de topografia uniforme e plana e manejo especial do solo.
– Quanto ao consumo de energia
O tipo A consome mais energia que o tipo B, e este, mais que o C. Como a menor
demanda de energia requer motor com menor capacidade e o custo de operação do sistema é
menor, o tipo C é o mais econômico. O tipo D utiliza emissores de menor exigência de
pressão de serviço e apresenta vazões menores em virtude da aplicação localizada, o que
possibilita o uso de motores menos potentes.
– Quanto à adaptação à topografia
Como a variação da pressão permitida depende da pressão de serviço dos aspersores,
os modelos que trabalham com maior pressão adaptam-se melhor às maiores declividades e
irregularidades do terreno. Assim sendo, o tipo A adapta-se melhor que o tipo B e este,
melhor que o tipo C, e, por último, o tipo D adapta-se melhor às diferenças de níveis no
terreno.
– Quanto ao grau de pulverização das gotas
De modo geral, o tipo C pulveriza mais do que o tipo B, e este, mais que o A.
450 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Aspersor do Final de Linha


A instalação de um aspersor maior (canhão hidráulico) na extremidade da linha para
aumentar a área irrigada pelo pivô já foi considerada um procedimento comum. Por
exemplo, um pivô com 400 m de raio irriga uma área de 50,2 ha; se na extremidade deste for
instalado um aspersor maior, com raio de alcance de 30 m, a área irrigada passará para
58,1 ha, ou seja, um aumento de 16%.
Deve-se sempre ter em mente que os “canhões” são mais susceptíveis à interferência
do vento na sua uniformidade de precipitação, e, devido aos problemas de uniformidade de
distribuição da água e outros fatores, a instalação de aspersores-canhões foi substituído por
vãos em balança, que permite ampliação da área com maior uniformidade de distribuição de
água.
Para o funcionamento do canhão hidráulico na extremidade do pivô é necessária,
naquele ponto, uma pressão de 40 a 60 mca, o que se consegue com o aumento da pressão
em todo o pivô ou colocando uma motobomba booster no final da linha. Esta segunda opção
normalmente é a mais econômica.

Vazão Aplicada ao Longo do Pivô


Uma característica do pivô central é que cada unidade de comprimento tem que
irrigar uma maior área, à medida que se afasta do seu centro. Sendo assim, para se ter uma
aplicação uniforme, é necessário que a vazão aplicada por unidade de comprimento aumente
à medida que se afastar do centro. Analisando a Figura 8.45, verifica-se que a mesma vazão
aplicada nos 200,6 m iniciais (metade do comprimento do pivô), para irrigar 25% da área
total, terá que ser aplicada nos últimos 53,8 m, que também irrigará 25% da área total.
Na Figura 8.45 tem-se a representação de dois anéis da área irrigada pelo pivô
central, sendo:
– comprimento AB = comprimento CD = y
– área irrigada pelo comprimento AB = (a + y)2 - a2 = y (2a + y)
– área irrigada pelo comprimento CD = (b + y)2 - b2 = y (2b + y)
Sendo a vazão necessária por unidade de área = q, tem-se:
q (C  D) 2b + y
=
q (A  B) 2a + y
Irrigação por aspersão 451

25% da área

25% da área

25% da área

25% da área

200,6 m

83,0 m

63,8 m

53,8 m

Figura 8.44 - Distribuição da área irrigada de acordo com o comprimento da tubulação.

Quanto maior for b em relação a a, maior será a relação q(C - D) em relação a q(A -
B) por unidade de comprimento. Por exemplo, em um pivô com 380 m de comprimento, área
irrigada de 50,3 ha, vazão total de 40 L s-1, sete torres, sendo o primeiro vão de 57 m e os
demais de 51,7 m, o balanço no final da última torre de 12,8 m, comparar a vazão aplicada
no vão compreendido entre a sexta e a sétima torre com a aplicada no vão compreendido
entre a primeira e a segunda torre. Neste caso, tem-se:
a = 57 m
b = 57 + 5 x 51,7 = 315,5 m
y = 51,7 m
q (6  7) 2 x 315,5  51,7 682,7
   4,1
q (1  2) 2 x 57  51,7 165,7

ou seja, aplicar-se-á uma vazão 4,1 vezes maior no trecho de 51,7 m, compreendido entre a
sexta e a sétima torre, do que no trecho de 51,7 m, compreendido entre a primeira e a
segunda torre.
452 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

a A B C D

Figura 8.45 - Croqui de dois anéis no sistema pivô central.

Intensidade de Precipitação
Um dos parâmetros de maior importância na irrigação por pivô central é a sua
intensidade de precipitação. Quando esta intensidade excede a capacidade de infiltração do
solo, ter-se-ão o acúmulo de água sobre a superfície do terreno e a possibilidade de
escoamento superficial, o que, tanto num caso como no outro, é incompatível com uma boa
eficiência de irrigação.
Na Figura 8.46 têm-se as curvas de velocidade de infiltração para dois solos distintos
e uma curva da intensidade de precipitação em um ponto ao longo do pivô. Para o solo A não
haverá problema de excesso na intensidade de precipitação, mas, para o solo B, a área em
que a curva de precipitação excede à da capacidade de infiltração do solo corresponde ao
acúmulo de água sobre a superfície do terreno com possibilidade de escoamento superficial.
Irrigação por aspersão 453

Solo B

intensidade de precipitação
Velocidade de infiltração e

Solo A

Intensidade
de aplicação

Tempo

Figura 8.46 - Curvas de velocidade de infiltração (VI) de dois solos e de intensidade de


aplicação (Ia) em um ponto ao longo do pivô central.

Conforme observado anteriormente, a vazão aplicada por unidade de comprimento


do pivô aumenta com o seu raio. Considerando que a largura da faixa molhada ao longo do
pivô não varia muito, pode-se afirmar que a intensidade de precipitação aumentará à medida
que se afastar do centro do pivô.
Uma vez que a lâmina a ser aplicada em cada volta do pivô deve ser constante, para
se ter uma boa uniformidade, e o seu valor é igual ao produto da intensidade de precipitação
média pelo tempo necessário para dar uma volta, a quantificação do tempo de irrigação
possibilita avaliar a intensidade de precipitação ou aplicação na irrigação com pivô.
Se se imaginar um ponto afastado de uma distância r do centro do pivô, este ponto
receberá irrigação durante um tempo tr, correspondente à passagem da faixa de precipitação
do pivô naquele ponto; faixa cuja largura corresponde ao diâmetro de cobertura do aspersor
(d), naquele ponto do pivô; e, sendo H o número de horas para o pivô dar uma volta
completa com uma velocidade V, pode-se escrever:
V = Vr
2r d

60 H tr

ou
454 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

60 H d Hd
tr   9,55 (8.60)
2r r

em que: V = velocidade da última torre, m min-1;


Vr = velocidade em um ponto r, m min-1;
tr = tempo de precipitação em um ponto qualquer, em min;
H = número de horas para uma volta do pivô;
r = distância do ponto ao centro do pivô, em m; e
d = diâmetro de cobertura do aspersor naquele ponto, em m.
Na Tabela 8.22 tem-se o tempo de aplicação a 50, 100, 200 e 400 m, nos três tipos
de pivô.

Tabela 8.22 - Cálculos para três tipos de pivôs


Tempo de rotação Tempo de irrigação no ponto situado a
(horas/volta)
50 m 100 m 200 m 400 m
(r = 50 m) (r = 100 m) (r = 200 m) (r = 400 m)
Pivô tipo A
d = 24 m d = 27 m d = 40 m d = 35 m
24 110 minutos 62 minutos 46 minutos 30 minutos
48 220 minutos 124 minutos 92 minutos 61 minutos
Pivô tipo B
d = 27 m d = 27 m d = 27 m d = 27 m
24 124 minutos 62 minutos 31 minutos 16 minutos
48 248 minutos 124 minutos 62 minutos 31 minutos
Pivô tipo C
d=9m d=9m d=9m d=9m
24 41 minutos 21 minutos 10 minutos 5 minutos
48 83 minutos 41 minutos 21 minutos 10 minutos

Analisando estes valores, conclui-se que:


– o tempo de irrigação por ponto diminui à medida que se afasta do centro do pivô;
para uma mesma lâmina aplicada, a intensidade de precipitação terá que aumentar à medida
que se afastar do centro do pivô, sendo o valor máximo o da extremidade deste;
– a intensidade de precipitação é mais uniforme ao longo do pivô do tipo A; e
Irrigação por aspersão 455

– a intensidade de precipitação será menor no tipo A que no B e no B será menor que


no C. Sendo assim, haverá maior perigo de acúmulo de água na superfície do solo e de
escoamento superficial no tipo C, depois no B e depois no A.

Lâmina Aplicada por Volta do Pivô


A intensidade de precipitação em um trecho entre duas torres quaisquer de um pivô
depende do comprimento do trecho, do tipo de aspersor, do espaçamento entre aspersores, da
pressão destes e dos respectivos diâmetros dos bocais. Em determinado pivô, estes
parâmetros terão determinado valor em cada trecho. Assim, a intensidade de precipitação
será preestabelecida para cada trecho e não dependerá da velocidade de rotação do pivô. O
que depende da velocidade de rotação do pivô é a lâmina aplicada por rotação. Desse modo,
para aumentar a lâmina aplicada por rotação, tem-se que reduzir a velocidade de rotação do
pivô e vice-versa.
A lâmina média aplicada, por volta, pode ser calculada pelas seguintes equações:
QH d
L  0,36 
A tr
em que: L = lâmina média aplicada por volta, em mm;
Q = vazão do pivô, L s-1;
H = tempo por volta, horas;
A = área irrigada, ha.
ou
QH
L com a vazão em m3 h-1, mm/volta.
10 A

A lâmina média aplicada, por volta, em um pivô com vazão de 40 L s-1, numa área
irrigada de 60 ha e dando uma volta em 30 horas, será:
40 x 60
L  0,36  7,2 mm / volta
60
Nota – Este valor L é a lâmina bruta aplicada por volta. Para determinar a lâmina
real tem-se que multiplicar este valor pela eficiência de aplicação da irrigação, em decimal.

Intensidade de Precipitação Média em Cada


Ponto
456 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A intensidade de precipitação média (Pmed), em um ponto qualquer, nada mais é do


que a lâmina média (L) aplicada naquele ponto dividida pelo tempo de aplicação naquele
mesmo ponto (tr), ou seja:
L( mm )
Pmed mm / h   (8.63)
1
tr (min)
60

Substituindo L e tr pelas respectivas equações, tem-se:

Q( L / s ) r ( m )
Pmed  2,26 , em mm h -1 (8.64)
A( ha ) d( m)

Pmed pode também ser determinado pela seguinte equação:

ET ( mm / dia ) 2 r
Pmed  , em mm h -1 (8.65)
24 Ea d

sendo r a distância do ponto considerado ao centro do pivô e d o diâmetro de cobertura do


aspersor naquele ponto.

Como se observa, a Pmed não depende da velocidade de deslocamento do pivô.

Exemplo:

Determinar a lâmina aplicada por volta e o tempo de irrigação e a intensidade de


precipitação média a 50, 100, 200 e 400 m, nos três tipos de pivôs com as seguintes
características:

Q = 40,7 L s-1, R = 400 m e A = 50,26 ha

Assim, tem-se:

40,7 H
L  0,36  0,2915 H mm / volta 
50,26

H d
tr  9,55 , em minutos
r

40,7 r r
Pmed  2,26  1,83 ( mm / hora )
50,26 d d
Irrigação por aspersão 457

Analisando a Tabela 8.23, verifica-se que a intensidade de precipitação média não


depende da velocidade de deslocamento do pivô. Ela é aumentada à medida que se afasta do
centro do pivô e sua variação e magnitude serão menores no pivô tipo A e maiores no tipo C.
456
Tabela 8.23 - Cálculos para os três tipos de pivô

Velocidade de L tr (min) Pmed L tr (min) Pmed L tr (min) Pmed L tr (min) Pmed


rotação (mm/volt.) (mm h-1 ) (mm/volt.) (mm h-1) (mm/volt.) (mm h-1 ) (mm/volt.) (mm h-1 )
(horas/volta)

Pivô do tipo A

r = 50, d = 24 m r = 100 m, d = 27 m r = 200 m, d = 40 m r = 400 m, d = 53 m

24 6,99 110 3,81 6,99 62 6.,77 6,99 46 9,15 6,99 30 13,8

Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani


48 13,99 220 3,81 13,99 124 6,77 13,99 92 9,15 13,99 61 13,8

Pivô do tipo B

r = 50 m, d = 27 m r = 100 m, d = 27 m r = 200 m, d = 27 m r = 400 m, d = 27 m

24 6,99 124 3,88 6,99 2 6,77 6,99 31 13,55 6,99 16 27,11

48 13,99 248 3,38 13,99 124 6,77 13,99 62 13,55 13,99 31 27,11

Pivô do tipo C

r = 50 m, d=9m r = 100 m, d=9m r = 200 m, d=9m r = 400 m, d=9m

24 6,99 41 10,20 6,99 21 20,3 6,99 10 40,7 6,99 5 81,3

48 13,99 82 10,20 13,99 41 20,3 13,99 20 40,7 13,99 10 81,3


Irrigação por aspersão 459

Precipitação Máxima em Cada Ponto


Considerando-se que o perfil de distribuição do aspersor tem uma forma semi-
elíptica, a intensidade de precipitação máxima pode ser estimada pela seguinte equação:

4
Pmáx = Pmed = 1,27 Pmed (8.66)

Se aplicar esta equação nos dados da Tabela 8.25, para a distância do centro do pivô
de 400 m (R = 400 m), ter-se-á:

Tipo do pivô Pmed Pmáx


A 13,80 mm h-1 17,53 mm h-1
B 27,11 mm h-1 34,43 mm h-1
C 81,30 mm h-1 103,25 mm h-1

Substituindo a equação 8.64 na equação 8.66, ter-se-á:

Q r
Pmáx  9167 , em mm h 1
2
d R

Para um ponto na extremidade do pivô, ou seja, quando r = R, tem-se:

Q L s 
Pmáx  9167 , em mm h 1 (8.67)
R m  d m 

Em um pivô com Q = 72 l/s e R = 427 m;

com d = 44 m, Pmáx = 35,13 mm h-1;

com d = 9 m, Pmáx = 171,75 mm h-1.

Efeito da Velocidade de Deslocamento do


Pivô
Na Figura 8.47 têm-se a curva da velocidade de infiltração do solo e duas curvas de
intensidade de precipitação em determinado ponto ao longo do pivô, para duas velocidades
de seu deslocamento.
460 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Velocidade de infiltração e
intensidade de aplicação

1 tr1
2 tr1
Tempo
Figura 8.47 - Curvas de intensidade de precipitação do pivô e de velocidade de infiltração do
solo em função de tempo.

Analisando estas curvas, verifica-se que:


– Em caso da menor velocidade de rotação (tr = tr1), haverá empoçamento de água
sobre a superfície do solo correspondente à área em que a curva de precipitação do pivô
excede à da velocidade de infiltração.
– Quando se aumenta a velocidade de rotação (tr = ½ tr1 ), não haverá alteração nos
valores de Pmáx e Pmed, e a intensidade de precipitação não excederá à capacidade de
infiltração do solo e, em conseqüência, não ocorrerá empoçamento de água na superfície.

Velocidade de Deslocamento da Última Torre


Definindo um diâmetro de cobertura do aspersor (de) de modo que:
d e pmáx  d Pmed ou
Pmed
de  d (8.68)
Pmáx
Para que não haja escoamento superficial ou empoçamento de água na superfície do
solo, é necessário que a velocidade mínima (Vmin.) da última torre seja tal que percorra a
distância de em um tempo máximo (Tmax), no qual a velocidade de infiltração do solo neste
período seja igual ou maior do que a intensidade de precipitação máxima do pivô nesta
última torre, ou seja:
Irrigação por aspersão 461

de
V min  (8.69)
Tmáx
Sendo assim, o período ou tempo máximo de rotação (TRmáx) pode ser calculado
pela seguinte equação:
2R
TRmáx  , horas / rotação (8.70)
V min
Dar-se-á um exemplo para melhor ilustrar:
Determinar a velocidade mínima de deslocamento (Vmin) da última torre de um
pivô e o seu tempo máximo de rotação para as seguintes condições:
Pivô: raio de 400 m e diâmetro de ação do último aspersor de 30 m
Solo: velocidade de infiltração (VI) = 0,25 T-0,4 cm min-1
Demanda de irrigação: igual a 6,0 mm/dia
Eficiência de aplicação: igual a 70%
ET 2  R 6 x 2  x 400
Pmed  24 Ea d
  30 mm min -1
24 0,7 x 30

4
P max  30  38,2 mm h 1  0,064 cm min 1

30
de  30  23,6 m
38,2

fazendo Pmax = VI

0,064 = 0,25 Tmax -0,4, Tmax = 30 minutos.


Nota – A lâmina máxima que se pode aplicar por irrigação sem haver empoçamento
30
será: 38,2 = 19,1 mm
60

de 23,6
Vmin = = = 0,8 m min-1 ou 48 m h-1.
Tmax 30

Ou seja, a velocidade mínima de deslocamento da última torre, para que não haja
empoçamento de água sobre a superfície do solo, deverá ser de 48 m/hora. Já o tempo
máximo de rotação do pivô deverá ser de 52,4 horas.
2 x 400
TRmáx   52,4 horas / rotação ou 2,2 dias / rotação
48
462 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Tempo Mínimo de Rotação do Pivô


Depende do limite superior da velocidade de deslocamento da última torre. Limite
este que é função da capacidade e estrutura do sistema. O tempo mínimo pode ser assim
determinado:
2 R
T min  (8.71)
Vmáx
Para um pivô com raio = 400 m e capacidade máxima de velocidade da última torre
de 120 m/h, o tempo mínimo será:
2 x 400
Tmin = = 21 horas
120

Uniformidade de Irrigação por Pivô Central


As razões que justificam o uso do pivô central são a economia de mão-de-obra e a
alta produtividade. Para se obter alta produtividade é preciso irrigar com freqüência e boa
uniformidade. A possibilidade de irrigação com alta freqüência é inerente ao sistema pivô
central. Quanto à uniformidade de aplicação, na irrigação com pivô facilmente se obtém
CUC  80%. Normalmente, recomendam-se os seguintes valores de CUC:
– cultivar com alto valor comercial ou sistema radicular raso: CUC  90%;
– cultivar extensivo e sistema radicular médio: CUC de 85 a 90%; e
– cultivar com sistema radicular profundo: CUC de 80 a 85%.

Eficiência da Irrigação por Pivô Central


Em trabalhos realizados a respeito da eficiência de aplicação (Ea), os valores
encontrados têm variado entre 70 e 90%, sendo o de 80% possível de ser conseguido sob
condições normais de dimensionamento e manejo.

Limitações para a Irrigação por Pivô Central

Solo
Como é característica do pivô central aplicar menor lâmina por vez e com maior
freqüência, este sistema se adapta melhor em solos com textura leve ou média do que em
solos com textura pesada. Quando se pretende usá-lo em solos com textura pesada, devem-se
caracterizar muito bem a intensidade de precipitação máxima do pivô e a capacidade de
Irrigação por aspersão 463

infiltração do solo, a fim de evitar o empoçamento de água na superfície do solo e o


escoamento superficial.
Uma vez que a intensidade se eleva com o aumento do comprimento do pivô, para
uma mesma cultura e demanda evapotranspirométrica, quanto mais permeável o solo, maior
poderá ser o comprimento do pivô e, conseqüentemente, menor será o seu custo por unidade
de área irrigada.
Quanto menor a capacidade de infiltração do solo (solo mais pesado) menor deverá
ser a lâmina aplicada por vez (maior deverá ser a velocidade de giro do pivô) e mais
freqüentes deverão ser as irrigações, a fim de se evitar que a curva de precipitação do pivô
atinja a de velocidade de infiltração de água do solo.

Topografia
Considera-se como limite superior a declividade de 15%. Quanto maior a inclinação
do terreno, menor deverá ser o espaçamento entre torres e maior será a sensibilidade dos
sistemas de baixa pressão à desuniformidade de aplicação de água.

Culturas
Adapta-se à maioria das culturas, desde cana-de-açúcar e milho até pastagens.

Área Irrigada (Custo e Percentagem de


Aproveitamento)
Como o custo do sistema é proporcional ao seu comprimento e a área irrigada é
proporcional ao quadrado deste e o que interessa é o custo por unidade de área, comparar-se-á
este custo em diferentes tamanhos de pivô.
Admitindo-se como constante o preço por unidade de comprimento (P) para
determinado tipo de pivô que possua na extremidade um aspersor de raio r, dois pivôs com
comprimento L e nL terão os seguintes custos:
P L( m )
Pivô n1  custo / ha 
( L  r ) 2
10.000
P nL
Pivô n 2  custo / ha 
( nL  r ) 2
10.000
464 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

2
Custo Pivô 1 1  nL + r 
= = 
Custo Pivô 2 n  L + r 

Se se comparar o custo/ha de um pivô de 300 m com um de 600 m (n = 2), cujo


aspersor na extremidade tenha um raio de 20 m (r = 20 m), ter-se-á:

2
1  nL  r 
   1,88
n  Lr 

ou seja, o custo por hectare irrigado do pivô com L = 300 m será 88% mais caro do que o do
pivô com L = 600 m.

Quanto à disposição dos pivôs em relação à área irrigável no campo, pode-se


facilmente comprovar que:

– disposição em quadrado – irrigam-se 78,5% da área total; e

– disposição em triângulo – irrigam-se 90,7% da área total.

Vazão Necessária
Há várias equações para estimar a vazão necessária ao sistema, como:

1 Lmm / volta  A ha 


Q L / s  2,78 L b A L / s ou (8.72)
0,36 H horas / volta  H

10 Lmm / volta  Aha  3 L A 3


Q
H horas / volta 

m / s  10 b
H

m / s ou   (8.72a)

ET mm / dia  A ha  10 4


Q L / s  ou (8.72b)
864 Ea % 

ET mm / dia  Aha 


Q  11,574 L / s ou (8.72c)
E a % 

ET mm / dia  Aha  3


Q  41,67
E a % 

m / s ou  (8.72d)
Irrigação por aspersão 465

Irrigação por Pivô Central com Aplicação


Localizada
O sistema de irrigação por aspersão usando-se pivô central ocupa área significativa
no Brasil e no mundo, sendo um dos grandes responsáveis pela expansão da irrigação nos
dias atuais. Esta crescente utilização do pivô central se deve às suas características de
funcionamento e aplicação de água, que conseguiu agrupar características adequadas de
eficiência no uso da água, custos competitivos e facilidades operacionais.
A manutenção e ampliação da área irrigada por pivô central exigem o
desenvolvimento de soluções tecnológicas que permitam maior eficiência no uso da água,
energia e outros insumos, destacando-se a aplicação de água de forma localizada.
A irrigação localizada via pivô central foi introduzida na região de Lubbock, Texas,
EUA, em 1983. A idéia básica era desenvolver um sistema de aplicação de água que pudesse
reduzir as exigências de energia e permitir uma aplicação mais precisa de água na irrigação. O
sistema denominado LEPA, Low Energy Precision Application, ou aplicação de precisão com
baixa utilização de energia consiste na aplicação de água diretamente ao solo ou sobre a cultura.
É possível também utilizarem emissores tipo spray com mangueiras ou “meias”, de maneira que
a água seja distribuída diretamente no solo ou próximo ao sistema radicular das plantas
(Figura 8.48).
A irrigação por pivô central com aplicação localizada pode ser caracterizada como
um sistema híbrido de aspersão com pivô central e a irrigação localizada. O alcance do jato é
pequeno, proporcionando tempos de aplicação menores em determinado ponto, o que
implica elevadas taxas de aplicação de água, com alto potencial de escoamento superficial e
erosão nas fases iniciais do plantio. Tal ocorrência exige adequado manejo (ou proteção) de
solo, utilizando por exemplo o plantio direto, sendo inadequados para terrenos ondulados e
com topografia cuja declividade ultrapasse 2%.
Consegue-se maior eficiência de irrigação com esse sistema, podendo atingir níveis
de 95%. As pressões utilizadas nos emissores são de 4 a 8 mca, sendo obrigatório o emprego
de reguladores de pressão. A área de plantio da cultura deverá ter forma circular.
466 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 8.48 - Vista de diversos sistemas de irrigação por pivô central com aplicação
localizada.

Irrigação por Pivô Central e o


Escoamento Superficial
A possibilidade de escoamento superficial em área irrigadas por pivô central tem sido
um dos principais problemas relacionados a este sistema, principalmente na periferia do
círculo irrigado.
Tal fato pode ser explicado pela evolução dos equipamentos que proporcionaram um
aumento da velocidade de rotação do equipamento, que era em média de 120 m h-1 e passou
para valores da ordem de 240 a 360 m h-1. Conclui-se que, para um dado alcance do jato, o
tempo de aplicação em um determinado ponto da periferia reduziu metade ou terça parte.
Também contribui para o maior potencial de escoamento a utilização de novos
emissores com menor alcance do jato e menores pressões de trabalho, que visam redução da
potência da motobomba e do consumo de energia, instalados mais próximos ao solo para
diminuírem a interferência do vento, melhorando a eficiência de irrigação.
Nos exemplos a seguir é discutido de forma quantitativa este fato:
Irrigação por aspersão 467

Pivô 1 Observações:
 Emissores: aspersores de média pressão  Tempo de aplicação no ponto A:
 Alcance: 30 a 50 m  - 15 a 25 min
-1
 Vel. da última torre (100%) = 120 m h  Intensidade de aplicação média:
 Lâmina média = 6 mm volta-1 - 6 mm em 15 a 25 min ou
 Pivô de 80 ha: 505 m de raio (sem vão - 24 a 14,4 mm h-1
em balanço)  Conclusão:
 Tempo para uma volta: 26 horas - Pouca possibilidade de
 Ponto A localizado a 500 m do ponto escoamento para maioria dos solos.
central
Pivô 2 Observações:
 Emissores: emissores “spray” de baixa  Tempo de aplicação no ponto A:
pressão  - 2 a 4 min;
 Alcance: 8 a 16 m  Intensidade de aplicação média:
 Vel. da última torre (100%) = 240 m/h - 4 mm em 2 a 4 min, ou seja,
 Lâmina média = 4 m h-1; - 120 a 60 mm h-1
 Pivô de 80 ha: 505 m de raio (sem vão  Conclusão:
em balanço) - Alta possibilidade de
 Tempo para uma volta: 13 horas escoamento;
 Ponto A localizado a 500 m do ponto - Necessidade de um sistema
central e special de proteção do
solo.

Para minimizar ou eliminar o problema do escoamento, os fabricantes


desenvolveram emissores com dispositivos especiais que aumentam o alcance do jato, sem,
contudo, aumentar a pressão de trabalho. Estes novos emissores apresentam normalmente
custo mais elevado, que são rapidamente amortizados pela maior eficiência de irrigação.

Sistemas Lineares
Os sistemas lineares normalmente fabricados no Brasil podem ser alimentados por
canal ou por mangueiras, com duas ou quatro rodas no sistema central. Irrigam áreas
quadradas, retangulares ou irregulares, sendo o ideal que o comprimento a ser percorrido seja
de no mínimo três vezes a largura. O menor custo ocorre na relação 1:5.
As principais vantagens são:
 Maior eficiência de aplicação de água, fertilizantes e inseticidas em função do
deslocamento frontal e de todas as torres estarem se movimentando ao mesmo
tempo. Uma outra vantagem é os bocais dos emissores serem iguais ou quase
iguais.
468 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

 Menor intensidade de aplicação de água em função de irrigar áreas iguais nas


diversas torres.
Como desvantagens principais pode-se citar a necessidade de construção de canais
ao longo da faixa irrigada (situação mais comum), sistema de movimentação e alinhamento
mais complexo, necessidade de motobomba a diesel (mais comum).
Outro ponto relacionado ao sistema linear que diminui sua competitividade em
relação a outros equipamentos, principalmente ao pivô central, é sua necessidade de
trabalhar com pequenas lâminas de água, para viabilizar o seu emprego em grandes áreas, da
ordem de 500 ha, com motores diesel de potência máxima da ordem de 250 a 270 CV. Como
a vazão máxima disponível é de cerca de 900 m3 h-1, a lâmina aplicada por dia é de 3,5 mm
dia-1, insuficiente para maioria das culturas em condições normais de campo.
Como comentado, sua grande vantagem é a precipitação constante ao longo da linha
de aplicação de água, conforme ilustrado na Figura 8.15. Nesse sistema, não existem as altas
intensidades de aplicação como no pivô central, a uniformidade de aplicação total necessária
(ITN) de irrigação é maior e é determinada de modo similar ao autopropelido.
Q( L / s) T( horas)
L.aplicada  0,36 ( mm ) , ou (8.73)
A( ha )

Q ( m 3 / h ) T( h )
L.aplicada  ( mm ) (8.74)
10 A( ha )

Velocidade de Deslocamento beto


A lâmina aplicada deve ser igual à lâmina bruta e

Q( m3 / h ) T ( h ) 103 Q 103 103 Q


Laplicada ( mm )    (8.75)
C( m ) ITN ( m ) C V L
L
T
portanto
1000 Q( m 3 / h )
V ( mm / h ) (8.76)
L( m) Lv ( mm )

Intensidade de Aplicação ( Ia )
_
ITN ITN V ITN
I   (8.77)
tempo no local DM DM
V
em que DM é o diâmetro de ação do aspersor, em metros.
Irrigação por aspersão 469

_ 
Intensidade Máxima de Aplicação  I a max 
 
 

4
Iamax = Ia

Na Figura 8.49 tem-se uma vista do equipamento em campo.

Figura 8.49 - Vista do carro central captando água do canal central.

Sistema de Irrigação por Autopropelido


O sistema autopropelido consiste em um aspersor de médio ou grande alcance
(canhão hidráulico), colocado sobre uma carreta com unidade acionadora e carretel enrolador
de mangueira, a qual pode ser tracionada por meio de um cabo de aço, pela própria
mangueira ou por unidade automotora, e uma mangueira que faz a conecção da unidade
móvel à linha principal (Figuras 8.20 e 8.21).
Quando a unidade é tracionada por um cabo de aço, a mangueira que conecta o
hidrante da linha principal à carreta tem um comprimento igual à metade do comprimento de
deslocamento na faixa a ser irrigada. Já o cabo de aço tem comprimento igual ao do
deslocamento. Quando o carrinho com aspersor é tracionado pela própria mangueira, esta é
bobinada em uma unidade com um carretel maior, o qual fica posicionado na metade da
faixa que está sendo irrigada.
Existem no comércio sistemas com capacidade para irrigar áreas de 5 a 70 hectares.
Nos sistemas cuja faixa irrigada em um percurso tem as dimensões de 100 m de largura por
500 m de comprimento, o cabo de aço terá uns 410 m de comprimento e a mangueira uns
470 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

205 m. Nos sistemas com faixa de 36 m de largura e 180 m de comprimento, o cabo de aço
terá uns 150 m de comprimento e a mangueira uns 75 m.
Nos sistemas em que a unidade móvel é tracionada pela própria mangueira ao se
enrolar no carretel, há maior perda de carga na mangueira e maior variação na velocidade de
deslocamento da unidade móvel ao longo da faixa. Podem, no entanto, apresentar vantagem
e desvantagens:
Vantagem: economia de mão-de-obra.
Desvantagem: grande consumo de energia.
– problemas com relação ao impacto das gotas;
– muito sensível à interferência do vento;
– uniformidade de aplicação e distribuição média; e
– problemas com a vida útil das mangueiras.

Dimensionamento de um Sistema
Autopropelido
Após verificação e elaboração do croqui da área a ser irrigada, recomenda-se:
– Determinar a capacidade real de água de acordo com a do solo e a cultura a ser
irrigada
(CC - Pm)
CRA = Da Z f, em mm
10
– Determinar a irrigação real necessária no período de maior demanda de irrigação
IRN  CRA - Pe
IRN =  (ETpc - Pe)
– Determinar o turno de rega e o período de irrigação
CRA CRA
TR = ( ETpc  Pe) ou = ETpc

PI  TR
– Determinar a irrigação total necessária ou a lâmina bruta
IRN
ITN 
Ea
– Escolher o autopropelido e o canhão hidráulico
Nesta escolha, há de se levar em conta a cultura que será irrigada, o tipo de solo e o
tamanho da área que se pretende irrigar e escolher o tipo de autopropelido que caracteriza a
Irrigação por aspersão 471

pressão de serviço (Pa), diâmetro do bocal (DB), diâmetro molhado (DM), vazão (Q), ângulo
de trajetória e ângulo do giro de aspersor () a ser usado.
– Determinar o espaçamento entre carreadores ou largura da faixa LF (Figura 8.52).
Condições do vento Largura da faixa
Sem vento 80% do diâmetro molhado do aspersor
< 8 km/h 70 a 80% do diâmetro molhado do aspersor
8 a 17 km/h 60 a 70% do diâmetro molhado do aspersor
> 17 km/h 50 a 60% do diâmetro molhado do aspersor

– Determinar o comprimento da faixa (CF)


CF = 2 vezes o comprimento da mangueira + largura da faixa = CP + LF (7.78)
– Determinar a velocidade de deslocamento do autopropelido (V)
Como a lâmina média aplicada (Lm) deve ser igual à irrigação total necessária, tem-se:

Q( m 3 / h ) t i ( h )
ITN  Lm  10 3 (mm) (8.79)
CF(m ) LF(m)
Sendo ti o tempo de irrigação por faixa, o qual corresponde ao tempo de percurso
(Tp) mais os dois tempos que o autopropelido deve funcionar parado nas extremidades da
faixa (Te), ou seja:

t i  Tp  2 Te (8.80)

Normalmente, Te varia entre 10 e 20% de Tp, de modo a satisfazer à seguinte


relação:

CF t i

CP Tp
Sendo assim, a velocidade de deslocamento em m/h será:
CP CF  LF
V  (8.81)
Tp Tp

ou

V

10 3 Q m 3 / h 
m / h  (8.82)
LFm  ITN mm 

– Determinar a intensidade de aplicação


472 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Considerando que a curva de precipitação do autopropelido em movimento tem a


forma de uma calota se movimentando sobre faixas a ser irrigadas e levando em conta a
existência da superposição entre estas, pode-se, para simplificar os cálculos, raciocinar por
que o autopropelido aplica água somente na faixa que está sendo irrigada, ou seja, como se o
diâmetro efetivo de molhamento do aspersor fosse a largura da faixa. Com este raciocínio, a
intensidade média de precipitação pode ser determinada pela seguinte equação:

ITN 360
IPmed  (8.83)
To 

em que To é o tempo de molhamento em um dado ponto da área.

diâmetro molhado ( DM )
To  (8.84)
velocidade de deslocamen to

DM DM ITN LF
To  3
 (8.85)
10 Q 10 3 Q
ITN LF

tem-se:

10 3 Q 360
IPmed  ( mm ) (8.86)
DM LF 

– Tempo de irrigação por faixa (TIF)

TIF = ti + tempo de mudança

O tempo de irrigação (ti) é igual ao tempo de percurso (Tp) mais o tempo que o
autopropelido deve funcionar parado em cada uma das extremidades da faixa (Te), ou seja:

ti = Tp + 2Te, os quais podem ser assim calculados:

comprimento da faixa m 
ti  h  (8.87)
velocidade de deslocamento m / h 

compriment o do percurso m 
Tp  h  (8.88)
velocidade de deslocamen to m / h 

t i  Tp
Te  (8.89)
2
O tempo de mudança de faixa normalmente varia de 0,5 a 1,5 hora.

– Número de faixas irrigadas por dia (NFD)


Irrigação por aspersão 473

n º de horas de funcioname nto por dia (TFD )


NFD  (8.90)
tempo de irrigação por faixa (TIF)

– Nº total de faixas irrigadas por autopropelido (NTF)


NTF = PI NFD (8.91)
– Área irrigada por autopropelido, em ha

CF LF NTF
A (8.92)
10.000
– Dimensionamento hidráulico
a) vazão do aspersor (L s-1);
b) pressão de serviço (mca);
c) altura do aspersor (m);
d) diferença de nível na área irrigada (m);
e) perda de carga na mangueira e turbina (m);
f) perda de carga na linha principal (m);
g) diferença de nível da captação à entrada da área (m);
h) altura de sucção (m);
e) perda de carga localizada ( 5% da perda de carga contínua subtotal); e
f) altura manométrica total =  (b a e).
g) potência necessária (potência nominal do motor (equação 8.57)) (P)

Exemplo
Dimensionar um sistema de irrigação por autopropelido para as seguintes condições:
– área a ser irrigada entre 30 e 40 ha;
– cultura – milho-doce, cultivo de inverno;
– demanda máxima de irrigação = 4 mm/dia;
– capacidade real de água do solo para o milho = 30 mm;
– nº máximo de horas de funcionamento por dia = 22 horas;
– eficiência de aplicação = 80%; e
– velocidade média do vento = 6 km h-1.
a) Irrigação real necessária
IRN = 28 mm (IRN  CRA)
28
b) Turno de rega = = 7 dias
4
474 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

c) Período de irrigação = 6 dias (folga no domingo)


28
d) Irrigação total necessária = = 35 mm
0,8

e) Escolha do autopropelido a ser usado


Escolheu-se o autopropelido cujo canhão hidráulico tem as seguintes características:
– diâmetro do bocal (D3) = 37,1 mm
– pressão de serviço (Pa) = 60 mca
– vazão (Q) = 98 m /h ou m3 h-1
3

– diâmetro molhado (DM) = 120 m


– ângulo de trajetória = 21º
– ângulo de giro () = 360º
f) Espaçamento entre carreadores ou largura da faixa
Considerando a velocidade média do vento, recomenda-se uma largura igual a 75%
do diâmetro molhado.
Largura = 120 x 0,75 = 90 m
g) Comprimento da faixa
Escolheu-se uma mangueira de 4,5” de diâmetro e 205 m de comprimento. Neste
caso, o comprimento do percurso do autopropelido será de 400 m e o comprimento da faixa
irrigada de 490 m.
h) Velocidade de deslocamento

1000 Q( m 3 / h ) 1000 x 98
V   31 m / h
LF( m ) ITN ( mm ) 90 x 35

i) Intensidade de precipitação média


10 3 Q 360 10 3 x 98 360
IPmed   x  9 mm / h
DM LF  120 x 90 360

j) Tempo de irrigação por faixa (T)


490
k) ti = = 15,8 horas
31
400
l) Tp = = 12,9 horas
31
15,8 - 12,9
Te = = 1,45 hora
2
Irrigação por aspersão 475

Admitindo um tempo de mudança de 42 minutos, tem-se:


TIF = 15,8 + 0,7 = 16,5 horas
m) Número de faixas irrigadas por dia
22
NFD = = 1,333
16,5

n) Número total de faixas irrigadas por autopropelido


NTF = 6 x 1,333 = 8 faixas
o) Área irrigada por autopropelido
490 x 90
A= 8  35,28 ha
10.000
p) Croqui do projeto

225 m 720 m
90 m 90 m 90 m 90 m

490 m

1 2 7 8

Figura 8.50- Distribuição do sistema no campo.


q) Dimensionamento hidráulico
– Q = 98 m3/h
– Ps = 60 mca
– altura do aspersor = 2,5 m
– diferença de nível na área irrigada = 19 m
– perda de carga na mangueira de 4,5” de diâmetro e 205 m de comprimento para
uma vazão de 98 m3/h. Segundo a curva característica do fabricante, hf = 7 mca
– perda de carga na turbina
476 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Para uma velocidade de deslocamento de 31 m/h e vazão de 98 m3/h, segundo a


curva característica do fabricante, ter-se-á uma perda de carga de 5 mca
– perda de carga na linha principal
Usando uma tubulação de alumínio, com comprimento de 900 m (675 m + 225 m) e
diâmetro de 6”, para uma vazão de 98 m3/h, ter-se-á uma perda de carga de 15 m.c.a. (1,661
m/100 m)
– diferença de nível entre a captação e a entrada da área do projeto = 3,5 m
– altura de sucção = 2,0 m
– perda de carga localizada = 0,75, representando 5% da perda contínua, cujo valor é
de 15 mca
– altura manométrica total
Hman = 60 + 2,5 + 19 + 7 + 5 + 15 + 3,5 + 2,0 + 7,5
Hman = 114.75 mca
– Potência nominal do motor
Admitindo uma eficiência da bomba de 60%, ter-se-á:

98m 3 / h 114,75m
Pm   69,4 CV
3,6 75 0,6

Nesta situação, recomenda-se a aquisição de um motor comercial de potência mais


próxima (75 CV). Caso haja grande diferença, pode ser necessária a implementação de
alguma medida que permita a alteração da vazão do sistema e da altura manométrica,
possibilitando a obtenção de valores mais próximos dos modelos comerciais.

Uniformidade de Aplicação e Eficiência,


em Potencial, de Aplicação na Irrigação
por Pivô Central

Uniformidade de Aplicação
Para determinar a uniformidade de aplicação em um sistema de irrigação com pivô
central, devem-se instalar coletores (pluviômetros) ao longo de dois diâmetros,
perpendiculares entre si. Em cada um dos quatro raios, os coletores devem ser numerados,
em ordem crescente, a partir do centro e afastados entre si de 4 a 10 m, conforme ilustrado
na Figura 8.51.
Uma vez que cada coletor representa uma área maior, à medida que se afasta do
centro do pivô têm-se que ponderar os valores coletados. O fator de ponderação é o número
de ordem do coletor.
Irrigação por aspersão 477

_
 Hi Ni
H (8.93)
 Ni
_
  
  H i H  
CUC 1001     (8.94)
 _ 
 NH 
 

44
43
ado
rrig
al i
ion
dic
oa

4
Rai

3
2 coletores

44 43 4 3 2 1 1 2 3 4 43 44
1
al 2
ter
. la 5:0 m
L 3
4

43
44

Figura 8.53 - Disposição dos coletores no campo.

Para determinar as perdas por evaporação durante o teste devem-se separar um ou


dois coletores com volume de água conhecido, próximo à área de teste. No final do teste,
mede-se o volume novamente e a diferença corresponde à perda por evaporação durante o
teste. Valor este que deve ser acrescido às leituras em todos os coletores sob o pivô.
Pode-se calcular a uniformidade de aplicação para cada um dos quatro raios, nos
quais a precipitação foi coletada, ou para a média dos valores coletados nos quatro raios. De
modo geral, os valores dos coeficientes de uniformidade são menores quando se trabalha por
raio do que quando se trabalha com a média.
478 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A seguir tem-se um exemplo para ilustrar a determinação da uniformidade de


aplicação (Tabela 8.24).
Tabela 8.24 - Dados de um teste de precipitação de um sistema pivô central, com coletores
espaçados de 5 m, em milímetro

Teste nº 3 Vazão = 80 m3 /h
Data – 11/02/86 Pressão no pivô = 3 5 mca
Vento a 2 m – 1,4 m s-1 Comprimento = 203 m
Cultura - feijão Regulagem da velocidade =
100%
Vão entre Número de Volume coletado (mL) Volume Volume
torres ordem do médio ponderado
R1 R2 R3 R4
coletor
1 3 14 17 15 13 14,75 44,25
1 4 36 14 13 15 19,50 78,00
1 5 11 18 7 19 13,75 68,75
1 6 11 7 10 14 10,25 61,50
1 7 14 16 9 18 14,25 99,75
2 8 23 23 41 30 29,25 234,00
2 9 18 12 8 18 14,00 126,00
2 10 14 12 19 19 16,00 160,00
2 11 17 16 13 19 11,25 123,75
2 12 14 13 17 19 15,75 189,00
2 13 14 14 17 22 16,75 217,75
2 14 20 14 17 19 17,50 245,00
2 15 15 11 13 17 14,00 210,00
3 16 16 10 19 15 15,00 240,00
3 17 20 14 24 17 18,75 318,75
3 18 18 12 15 14 14,75 265,50
3 19 21 12 17 19 17,25 327,75
3 20 18 8 16 19 15,25 305,00
3 21 16 14 17 16 15,75 330,75
3 22 16 10 16 18 15,00 330,00
3 23 18 13 18 16 16,25 373,75
4 24 19 10 19 17 16,25 390,00
4 25 16 7 20 16 14,75 368,75
4 26 15 11 28 15 17,25 448,50
4 27 19 11 20 20 17,50 472,50
4 28 19 11 15 16 15,25 427,00
4 29 18 10 18 18 16,00 464,00
4 30 17 9 18 17 15,25 457,50
5 31 20 14 13 16 15,25 472,75
5 32 23 13 19 18 18,25 584,00
5 33 19 13 21 22 18,75 618,75
5 34 19 15 18 27 19,75 671,50
5 35 23 14 22 25 21,00 735,00
5 36 23 16 18 20 19,25 693,00
5 37 25 14 18 21 19,50 721,50
5 38 22 15 27 24 22,00 836,00
6 39 24 19 19 23 21,25 828,75
6 40 30 27 17 19 23,25 930,00
6 41 48 21 17 11 24,25 994,25
6 42 44 40 55 34 43,25 1.816,50
6 43 27 36 33 28 31,00 1.333,00
Irrigação por aspersão 479

6 44 34 33 21 26 28,50 1.254,00
Total 987 19.866,50

Volume coletado, média ponderada, será:


_
19.866,5
H  20,13 mL
987
E o Coeficiente de Uniformidade de Christiansen será:
198,1
CUC  100(1  )  77%
42 20,13
Nota – Se se determinar o CUC por raio, tem-se:
R1) CUC = 72%
R2) CUC = 67%
R3) CUC = 72%
R4) CUC = 81%
A média do CUC dos quatro raios é 73%. O CUC calculado com os quatro raios
simultâneos é 77%.
E o Coeficiente de Uniformidade de Distribuição (CUD) será:
14,63
CUD = 100 20,14 = 73%

Nota – 14,63 é a média ponderada de 25% da área total que recebeu as menores
precipitações.

Eficiência, em Potencial, de Aplicação


A eficiência de aplicação em potencial, (EAp) na irrigação em pivô central, quando
não ocorre escoamento superficial em razão da alta intensidade de precipitação na
extremidade do pivô, pode ser determinada de modo semelhante ao autopropelido, ou seja:

Lmcp
EAp = 100
La
Sendo Lmcp a lâmina média coletada ponderada e La a lâmina média aplicada,
determinada pela seguinte equação:
Q T
La  mm 
10 A

em que: Q = vazão do pivô central (m3 h-1);


480 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

T = tempo gasto por rotação (h); e


A = área total irrigada (ha).
Observação: um dos problemas ao calcular a Epa é a determinação da vazão real do
pivô central, pois os medidores de vazão normalmente disponíveis apresentam erro de
medidas da ordem de 5%, inviabilizando a utilização destas medidas no cálculo do Hm.
Para o pivô testado, Q = 80 m3/h, T = 9 horas, raio irrigado = 232,7 m, A = 17 ha e
área do coletor = 59 cm2.
80 9
Lmcp   4,24 mm
10 17
20,15
La  20,15ml  10  3,41 mm
59
3,42
EAp  100  81%
4,24

Uniformidade de Aplicação e Eficiência,


em Potencial, de Aplicação na Irrigação
por Autopropelido
A uniformidade de aplicação de água em um sistema de irrigação por autopropelido é
um parâmetro tão importante quanto na irrigação por aspersão convencional. Neste caso, ela
depende do tipo de aspersor ou canhão hidráulico em uso, da largura da faixa irrigada por vez, da
pressão de serviço, da velocidade de deslocamento do autopropelido e da velocidade do vento.
Para determinar a uniformidade de aplicação em um sistema autopropelido, devem-
se instalar coletores (pluviômetros) em duas, três ou quatro linhas perpendiculares à direção
de deslocamento do autopropelido. A primeira e a última linha devem ficar afastadas no
início e no final da faixa, respectivamente, a uma distância tal que as precipitações do
autopropelido, quando no início e no final da faixa, não atinjam as linhas de pluviômetros,
conforme ilustrado na Figura 8.52.
Os coletores, em cada uma das linhas, devem ficar espaçados entre si de 2 a 5 m,
eqüidistantes em relação à linha de deslocamento do autopropelido, de modo a cobrir toda a
faixa irrigada.
Para determinar a uniformidade de aplicação, tem-se que fazer a superposição dos
dados do lado direito com o esquerdo, mantendo o sentido de afastamento do autopropelido.
Será dado um exemplo para ilustrar a determinação da uniformidade de aplicação de
um sistema autopropelido, cujos dados coletados estão nas Tabelas 8.25 e 8.26.
O Coeficiente de Uniformidade de Christiansen (CUC), portanto, será:
168
CUC = 100(1  )  93%
80 x 29
Irrigação por aspersão 481

E o Coeficiente de Uniformidade de Distribuição (CUD) será:


25,4
CUD = 100 = 88%
29
Irrigação por aspersão
Tabela 8.25 - Dados de um teste de precipitação de um sistema autopropelido, com coletores espaçados de 5 m, em mm
Teste nº 6 Vazão = 130 m3/h
Data – 06/07/85 Pressão de serviço = 50 mca
Início – 8 horas Largura da faixa = 100 m
Vento a 2 m/s – 1,7 m/s Comprimento da faixa = 400 m
Cultura - feijão Velocidade de deslocamento = 35 m/h
(Lado direito)
D1 D2 D3 D4 D5 D6 D7 D8 D9 D10 D11 D12 D13 D14 D15 D16 D17 D18 D19 D20
31 32 31 29 27 23 21 19 17 15 14 11 9 7 4 2 0 0 0 0
31 33 31 28 27 24 22 18 15 16 13 10 9 6 3 1 0 0 0 0
31 32 31 29 27 25 22 19 16 15 13 9 8 6 3 0 0 0 0 0
30 31 32 29 28 25 21 20 17 15 14 11 10 7 3 0 0 0 0 0
(Lado esquerdo)
E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10 E11 E12 E13 E14 E15 E16 E17 E18 E19 E20
30 31 32 31 28 27 23 21 18 15 13 9 7 4 1 0 0 0 0 0
31 32 33 32 29 26 24 22 18 16 12 8 6 3 2 0 0 0 0 0
31 34 33 31 29 27 22 20 17 15 14 9 7 3 1 0 0 0 0 0
31 31 32 31 28 27 23 21 17 14 13 9 6 2 0 0 0 0 0 0

Tabela 8.26 - Fazendo a superposição dos dados da Tabela 8.25

31 32 31 29 27 23 21 19 17 15 14 11 09 07 04 02 00 00 00 00
00 00 00 00 00 01 04 07 09 13 15 18 21 23 27 28 31 32 31 30
31 32 31 29 27 24 25 26 26 28 29 29 30 30 31 30 31 32 31 30

31 33 31 28 27 24 22 18 15 16 13 10 09 06 03 01 00 00 00 00
00 00 00 00 00 02 03 06 08 12 16 18 22 24 26 29 32 33 32 31
31 33 31 28 27 26 25 24 23 28 29 28 31 30 29 30 32 33 32 31

31 32 31 29 27 25 22 19 16 15 13 9 8 6 3 0 0 0 0 0
00 00 00 00 00 01 03 07 09 14 15 17 20 22 27 29 31 33 34 31
31 32 31 29 27 26 25 26 25 29 28 26 28 28 30 29 31 33 34 31

30 31 325 29 28 25 21 20 17 15 14 11 10 07 03 0 00 00 00 00
00 00 00 00 00 00 02 06 09 13 14 17 21 23 27 28 31 32 31 31
30 31 32 29 28 25 23 26 26 28 28 28 31 30 30 28 31 32 31 31

479
Irrigação por aspersão 483

Comprimento (C)

Rua

hidrante

coletores
L

Linha principal

MB

Ri
oL
am
b ari

Figura 8.52 - Esquema de um sistema de irrigação por autopropelido.

Eficiência, em Potencial, de Aplicação


A Eficiência de Aplicação em Potencial (EAp), é o parâmetro de maior importância
para analisar qualquer sistema de irrigação. Ela é a estimativa da percentagem do total de
água aplicada na irrigação que atinge a superfície do solo e, ou, as plantas. Na irrigação por
aspersão, ela estima a perda de água por evaporação e por arrastamento pelo vento, no trajeto
484 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

das gotas de água e, quando não existem perdas por percolação, é igual à eficiência de
aplicação (Ea).
Lmc
EAp = 100
La
em que: Lmc = lâmina média coletada mm; e
La = lâmina média aplicada, mm.
Na irrigação por autopropelido, La pode ser determinada pela seguinte equação:

Q ti
La  1.000 mm
LF CF
em que: Q = vazão do autopropelido (m3/h);
ti = tempo para irrigar uma faixa (h);
LF = largura da faixa (m); e
CF = comprimento da faixa (m).
Como o comprimento dividido pelo tempo é a velocidade média de deslocamento do
autopropelido (V), pode-se reescrever esta equação da seguinte forma:
Q ti
La  1.000 mm
LF V
Para os dados da Tabela 8.13, têm-se:
120
La  1.000  34,3 mm
100 35
29
EAp = 100 = 85%
34,3

Referências
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PAIR, C.H. (Ed.) Sprinkler irrigation 3 nd. ed. Washington, D.C.: Sprinkler Irrigation Association, 1969. 444
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PILLSBURY, A.F. Sprinkler irrigation. Rome, FAO, 1968. 179 p.
RIBEIRO, M.C. Estudo sobre a racionalização do uso de energia na irrigação. Tese de doutorado, 2003, 142 p.
SOARES, A.A. Curso de Engenharia e Manejo de Irrigação - irrigação por aspersão e localizada. Brasília,
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior, 2001. 65p.
USDA. Irrigation pumping plants. In: –––. Irrigation. Washington, D.C.: Soil Conservation service, 1959. 70 p.
(chapter 8).
USDA. Sprinkler irrigation, In: –––. Irrigation. Washington, D.C.: Soil Conservation service, 1968. 82 p.
(chapter 11).
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 483

Capítulo 9

Irrigação Localizada
(Gotejamento e Microaspersão)

Considerações Gerais
A irrigação localizada compreende os sistemas de irrigação nos quais a água é aplica-
da ao solo, diretamente sobre a região radicular, em pequenas intensidades (1 a 160 litros por
hora), porém com alta freqüência (turno de rega de um a quatro dias), de modo que mantenha
a umidade do solo na zona radicular próxima à “capacidade de campo”. Para isso, a aplicação
da água é feita por meio de tubos perfurados com orifícios de diâmetros reduzidos ou por
meio de gotejadores e microaspersores denominados emissores, dos mais diferentes tipos,
modelos e características.
Gotejamento e microaspersão são sistemas muito difundidos, sendo o primeiro mais
antigo no Brasil (1972) e o segundo mais recente (1982). Diferem entre si quanto à aplicação
de água: no gotejamento aplicam-se vazões menores, de 1 a 20 L/h, gota a gota, e na microas-
persão as vazões são aplicadas de forma pulverizada, de 20 a 150 L/h. Utilizam-se normal-
mente tubulações de pvc (linhas adutoras) e tubulações flexíveis de polietileno, nas quais são
inseridos os emissores, que trabalham a pressões variando entre 5 e 25 mca, embora a pressão
de serviço da maioria dos tipos de gotejadores esteja em torno de 10 mca e, na microaspersão,
em torno de 20 mca. São de maior custo por unidade de área irrigada, portanto devem ser
usados em culturas de alto retorno econômico, como café, tomate, morango, melão, pimenta-
do-reino, abacate, citros, manga, nogueira-pecã, seringueira, uva, banana, cacau, mamão, bem
como em atividades como viveiro de frutíferas, de essências florestais e de plantas ornamen-
tais.
A irrigação localizada não deve ser considerada somente como nova técnica para su-
prir de água as culturas, mas como parte integrante de um conjunto de técnicas agrícolas nos
cultivos de determinadas plantas, sob condições controladas de umidade do solo, adubação,
salinidade, doenças e variedades selecionadas, de modo que se obtenham efeitos significativos
484 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

na produção por área e por água consumida, assim como na época da colheita e na qualidade
do produto.
A aplicação de água ao solo, na irrigação por gotejamento, é sob a forma de “ponto
fonte”, ficando a superfície do solo com uma área molhada com forma circular (Figura 9.1) e
o seu volume molhado com forma de um bulbo (cebola). Quando os pontos de gotejamento
são próximos uns dos outros, forma-se uma faixa molhada contínua (Figura 9.2).
No caso da microaspersão, a área molhada apresenta-se em forma de discos ou faixas
molhados em baixo da copa das plantas (Figuras 9.3 e 9.4).
Assim, somente uma porção da superfície do solo será molhada, o que diminui a eva-
poração direta da água do solo para a atmosfera, quando comparada com a irrigação por as-
persão e por superfície.
A irrigação localizada é usada, em geral, sob a forma de sistema fixo, ou seja, o sis-
tema é constituído de tantas linhas laterais quantas forem necessárias para suprir toda a área,
não havendo movimentação das linhas laterais. Contudo, somente determinado número de
linhas laterais funciona por vez, a fim de minimizar a capacidade do cabeçal de controle.
Em se tratando de sistemas fixos, o custo torna-se mais elevado, o que limita seu uso
somente para culturas nobres, ou seja, culturas com alta capacidade de retorno. Também o
número de emissores por unidade de área afeta o custo do sistema, isto é, quanto maior for o
espaçamento entre plantas, maior será o espaçamento entre emissores e menor será o custo do
sistema. Nessas condições, a irrigação localizada somente é usada em fruteiras, cafeicultura e
alguns hortigranjeiros de maior valor comercial.
A partir do ano 2000, o grande desenvolvimento do setor de irrigação localizada e a
maior competitividade do agronegócio brasileiro tornaram esse tipo de irrigação viável em
diversas culturas e sistemas de cultivos antes impensados. Destaca-se que os maiores fabri-
cantes mundiais vêm dedicando atenção especial ao mercado brasileiro, com políticas de im-
plantação de fábricas no Brasil, que permitem disponibilizar equipamentos a custos mais
competitivos.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 485

Figura 9.1 - Vista parcial de um sistema de gotejamento, com irrigação em pontos distintos.

Figura 9.2 - Vista parcial de um sistema de gotejamento, com faixa molhada contínua.
486 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 9.3 - Vista parcial de um sistema de microaspersão, com disco molhado, em um pomar
de citros.

Figura 9.4 - Vista parcial de um sistema de microaspersão com faixa molhada contínua na
cultura da banana.

Principais Vantagens da Irrigação Localizada


Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 487

Dentre as principais vantagens da irrigação localizada, têm-se:


a) Maior eficiência no uso de água - Permite melhor controle da lâmina de água apli-
cada; diminui as perdas por evaporação (pois não há movimento de água no ar, não molha a
superfície dos vegetais e não molha toda a superfície do solo); diminui a perda por percolação
e não há perda por escoamento superficial; não irriga o mato entre as fileiras de cultura; e
permite maior eficiência de irrigação, a qual não é afetada por vento, tipo de solo e interferên-
cia do irrigante.
b) Maior produtividade - Em geral, obtém-se maior produtividade com irrigação por
gotejamento, principalmente para as culturas que respondem a maiores níveis de umidade no
solo, pois a maior freqüência de irrigação é inerente ao próprio método de irrigação localiza-
da. Em virtude de menores variações do nível de água no solo, os frutos, em geral, desenvol-
vem-se melhor e são mais uniformes, o que também pode ser obtido com os outros métodos de
irrigação, desde que o turno de rega seja menor.
c) Maior eficiência na adubação - A irrigação localizada permite a fertirrigação e,
em razão de concentrar o sistema radicular da cultura no “bulbo” ou “faixa” molhada, facilita
a aplicação do adubo.
d) Maior eficiência no controle fitossanitário - Esta prática não irriga o mato e não
molha a parte aérea dos vegetais, o que facilita o controle do mato, dos insetos e fungos, per-
mitindo maior eficiência no uso de defensivos.
e) Não interfere nas práticas culturais - Como na irrigação por gotejamento não se
molha toda a faixa entre as fileiras, podem-se fazer capinas, colheitas e aplicação de defensi-
vos antes, durante e depois das irrigações, o que é uma grande vantagem, principalmente no
cultivo das árvores frutíferas, embora seja importante considerar os possíveis danos que al-
gumas práticas ou falta de cuidado do pessoal de campo podem ocasionar à linha de polietile-
no.
f) Adaptação a diferentes tipos de solos e topografia - Como a aplicação de água na
irrigação ocorre em pequena intensidade, este método se adapta melhor do que qualquer outro
a diferentes tipos de solos e topografia, mesmo em terrenos irregulares e acidentados, confor-
me ilustrado na Figura 9.5.
g) Utilização com água salina ou em solos salinos - Como neste método de irrigação
o turno de rega é, em geral, muito pequeno, o teor de umidade dentro do “bulbo” ou “faixa”
molhada é sempre bastante elevado, mantendo menor concentração de sal dentro do volume de
solo molhado e maior concentração na sua periferia. Isso permite maior concentração das
raízes na região de menor concentração de sal.
h) Economia de mão-de-obra - Por se tratar de sistemas fixos, há grande economia de
mão-de-obra quando comparados com os sistemas convencionais de irrigação por aspersão e
por superfície.
488 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 9.5 - Vista parcial de um sistema de irrigação localizada em terreno irregular.

Principais Desvantagens ou Limitações da Irri-


gação Localizada
A irrigação localizada apresenta algumas limitações:
a) Entupimento - Uma das características gerais de qualquer tipo de gotejador (um ti-
po de emissor usado em irrigação localizada) é o fluxo de água através de pequenos orifícios,
cujo diâmetro varia com os diferentes modelos, em geral entre 0,5 e 1,5 mm. Assim, a exigên-
cia de água limpa é uma característica deste método de irrigação. A fim de minimizar a ocor-
rência de entupimento, a filtragem da água faz parte do próprio sistema, para evitar a obstru-
ção dos emissores com partículas minerais ou orgânicas. Contudo, persiste o problema de
entupimento em razão da precipitação de sais e, ou, sedimentação, dentro dos emissores, das
partículas de argila e silte, em suspensão na água de irrigação, que não são retidas nos filtros
comuns. Uma vez entupido o emissor, dificilmente ele será recuperado, exceto nos modelos
com dispositivos próprios para desentupir ou em tratamentos químicos de alto custo. O entu-
pimento não é tão importante quanto se trabalha com irrigação por microaspersão, devido à
maior área da seção de escoamento dos emissores.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 489

b) Distribuição do sistema radicular - Em virtude da formação e manutenção de um


volume constante de solo umedecido (bulbo molhado), as raízes dos vegetais tendem a concen-
trar-se nesta região, diminuindo a estabilidade das árvores frutíferas, podendo ocorrer tomba-
mento destas árvores em regiões sujeitas a ventos com maior intensidade.

Componentes do Sistema
Em geral, os sistemas de irrigação localizada são fixos (Figuras 9.6 e 9.7) e constituí-
dos de:
– motobomba;
– cabeçal de controle;
– linha principal;
– válvulas (facultativas);
– linha de derivação;
– linha lateral; e
– emissores.

Motobomba

Cabeçal de controle

Linha principal

Válvulas

Linha lateral

Linha de
derivação

Gotejadores

Figura 9.6 - Esquema de um sistema de irrigação por gotejamento.


490 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Linhas laterais

Linha de derivação

Divisor de setores

Figura 9.7 - Vista parcial de um sistema de irrigação por gotejamento, mostrando em detalhe
as linhas de derivação para dois setores distintos.

Motobomba
O conjunto motobomba é uma unidade de fundamental importância no sistema de irri-
gação localizada.
As bombas normalmente usadas na irrigação localizada são as do tipo centrífuga de
eixo horizontal, e os motores, elétricos e a diesel.

Cabeçal de Controle
O cabeçal de controle e os emissores (gotejadores e microaspersores) constituem as
principais partes de um sistema de irrigação localizada. Situado após o conjunto motobomba e
no início da linha de recalque, seu posicionamento deve possibilitar menor custo, pela otimiza-
ção da quantidade de tubulação a ser adquirida, e facilitar a distribuição e o controle do siste-
ma no campo (Figura 9.6). É constituído, em geral, das seguintes partes:
a) medidores de vazão;
b) filtros (dos mais diferentes modelos e características);
c) injetor de fertilizante;
e) válvulas de controle de pressão;
f) registros;
g) manômetros;
h) sistema de controle e automação.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 491

O cabeçal de controle de um sistema de irrigação localizada está ilustrado nas Figuras


9.8 e 9.9.
a) Medidores de Vazão – O uso de medidores de vazão no cabeçal de controle permite
maior controle do volume de água aplicado e facilita a automatização do sistema, porém eleva
o seu custo. Em regiões onde a água não é fator limitante ou seu custo não é muito elevado e
onde se tem mão-de-obra disponível, não sendo necessária a automatização do sistema, po-
dem-se dispensar os medidores de vazão do cabeçal de controle e, simplesmente com o uso de
registro, manômetro e vazão média dos gotejadores, fazer um controle da lâmina de água apli-
cada por irrigação.

5
12
11
10
2 3 6
1 4 7 9

8
1: motobomba; 2, 7, 9 e 10: registros; 3: medidor de vazão; 4: filtro de areia; 5 e 6: manômetro do filtro; 8:
injetor de produtos químicos; 11: filtro de tela ou disco; 12: linha principal.

Figura 9.8 - Esquema de um cabeçal de controle (sem automação), incluindo o conjunto mo-
tobomba e linha principal.
492 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 9.9 - Vista parcial de um cabeçal de controle.

b) Filtros – O entupimento dos emissores é um dos principais problemas encontrados


na irrigação localizada (Tabela 3.2). Os principais agentes causadores do entupimento dos
emissores são partículas sólidas minerais, partículas orgânicas e precipitações de silte, argila
ou sais dentro destes. Os dois primeiros agentes entupidores podem e devem ser evitados com
a filtragem da água de irrigação. Quanto às precipitações que ocorrem dentro dos emissores,
devem ser removidas com lavagem periódica do sistema com soluções de 1 a 2% de ácido
clorídrico.
Como citado no capítulo 3, o entupimento de emissores pode resultar de causas físicas
(areia, silte e argila), biológicas (bactéria e alga) ou químicas (deposição mineral), e a causa
exata do entupimento de emissores pode ser complexa, pois vários agentes na água podem
interagir entre si, agravando o problema.
As partículas sólidas são classificadas em função dos seus diâmetros, normalmente
relacionados com a passagem através de um conjunto de peneiras padronizadas. Essas penei-
ras são classificadas em função do número de malhas por polegada linear. Assim, o número
da peneira está relacionado com o diâmetro de sua malha; por exemplo, a peneira nº 10 tem as
malhas com 2 mm de diâmetro, e a nº 200, 0,074 mm de diâmetro.
Os filtros comumente usados na irrigação localizada são os de areia, tela, disco e ação
centrífuga. Normalmente, usam-se, no início do cabeçal de controle, um filtro de areia e, após
o injetor de fertilizante, um filtro de tela, conforme ilustrado na Figura 9.8. Utilizam-se tam-
bém dois filtros de tela, sendo o primeiro com malhas de maior diâmetro, para reter algas e
partículas maiores, e o segundo com malhas de menor diâmetro, para reter as partículas me-
nores.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 493

Filtro de Areia – O filtro de areia consiste em um cilindro contendo camadas de cas-


calho e de areia, conforme ilustrado na Figura 9.10, ou uma camada homogênea de areia com
espessura mínima de 50 cm. A areia deve ser bem lavada e pode ser substituída por material
de origem vulcânica ou sintético.
Os filtros de areia devem possuir um sistema de reversão de fluxo (Figura 9.10), para
facilitar sua limpeza. Esta deverá ser feita toda vez que houver aumento na perda de carga,
através do filtro, e, ou, no final da irrigação das culturas de ciclo curto. O valor desta carga
depende das características do filtro e do material filtrante e deve ser informado pelo fabrican-
te. O desempenho de um filtro depende da qualidade da água e da vazão a serem filtradas, das
características da areia e da perda de carga admissível.
A granulometria da areia é determinada pelo conjunto de peneiras padronizadas, e o
seu diâmetro efetivo é o da peneira que deixa passar somente 10% do seu peso. O diâmetro
dos poros de um filtro de areia corresponde, aproximadamente, a 1/7 do diâmetro efetivo da
areia.
A capacidade do filtro depende do diâmetro dos seus poros, e os filtros normalmente
usados para irrigação por gotejamento possuem capacidade em torno de 60 m3/h por m2 de
filtro. Por isso, em projetos maiores, trabalha-se com filtro em paralelo, de modo que atenda à
vazão do sistema.
A perda de carga no filtro depende do diâmetro dos seus poros e da vazão que está
sendo filtrada. Normalmente, quando limpo, a perda de carga varia de 1 a 3 mca. À medida
que o filtro vai retendo partículas, sua perda de carga vai aumentando, mas não se deve permi-
tir que essa perda de carga chegue a 6 mca, procedendo-se à limpeza do filtro.
Atualmente, em razão do grande desenvolvimento na área de sistemas automáticos de
filtragem, é comum a não-utilização do filtro de areia.
494 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 9.10 - Esquema de um filtro de areia em que se utilizam diversos diâmetros de materi-
al.
Filtro de Tela e Disco – Os filtros de tela foram os primeiros a ser desenvolvidos e
são simples, proporcionando um eficiente método de filtragem. Eles têm, em geral, forma
cilíndrica e são constituídos de um recipiente cilíndrico de plástico ou de metal não-corrosivo e
de um cesto móvel, também de plástico ou de metal não-corrosivo, o qual é revestido por uma
tela.
Os filtros de tela (Figura 9.11) são mais eficientes para reter partículas sólidas de di-
âmetros muito pequenos, como areia fina, mas entopem rapidamente quando usados para fil-
trar água com matéria orgânica e algas. A necessidade de limpeza é a mesma discutida para
os filtros de areia. A tela usada apresenta orifícios que podem variar de 0,074 mm (200 mesh
ou malhas por polegada) até 0,2 mm (80 mesh). Constitui, juntamente com o filtro de areia, o
sistema de filtragem mais usado.

Figura 9.11 - Foto de um filtro de tela e de elementos filtrantes (cilindros recobertos por tela).

Os filtros de discos (Figura 9.12) têm forma cilíndrica e são colocados na linha, em
posição horizontal. O elemento filtrante é composto por um conjunto de pequenos anéis, com
ranhuras, presos sobre um suporte central cilíndrico e perfurado. A água é filtrada ao passar
pelos pequenos condutos formados entre anéis consecutivos. A qualidade da filtragem vai
depender da espessura das ranhuras. Normalmente, são mais eficientes do que os filtros de
telas e mais fáceis de limpar, facilitando tanto a limpeza manual quanto a automática.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 495

Figura 9.12 - Foto de um filtro de disco e de elementos filtrantes (cilindros cobertos por discos).
c) Injetor de Fertilizante - A fertirrigação, ou aplicação de fertilizantes pela irrigação,
é parte integral do sistema de irrigação localizada. Ela é uma das maneiras mais eficientes e
econômicas de aplicar fertilizantes às plantas, principalmente em regiões de climas áridos e
semi-áridos, pois, aplicando-se os fertilizantes em menor quantidade por vez, mas com maior
freqüência, é possível manter um nível uniforme de nutrientes no solo durante o ciclo vegetati-
vo da cultura, o que aumentará a eficiência de uso dos nutrientes pelas plantas e, em conse-
qüência, a sua produtividade.
Os fertilizantes a serem aplicados por meio da irrigação localizada terão de ser solú-
veis em água. Em sua maioria, os fertilizantes ricos em nitrogênio e potássio são solúveis em
água e não apresentam nenhum problema para serem usados na irrigação por gotejamento. Já
os fertilizantes ricos em fósforo são mais problemáticos de serem usados na irrigação locali-
zada. Estes últimos, em sua maioria, são pouco solúveis em água, e mesmo nos solúveis, co-
mo o fosfato de amônia, em água de irrigação rica em cálcio, poderá ocorrer precipitação de
fosfato de cálcio dentro das tubulações e dos gotejadores, entupindo-os. Assim, a adubação
fosfatada deve ser aplicada na época da semeadura ou plantio, como é feito tradicionalmente.
A injeção dos fertilizantes nos sistemas de irrigação localizada pode ser feita mediante
diversos métodos, como o uso de tanque de fertilizante, motobombas independentes ou por
sucção.
Nas Figuras 9.8 e 9.9 há o tanque de fertilizante como parte do cabeçal de controle, e
a Figura 9.13 ilustra um tanque de fertilizante. A diferença de pressão entre a entrada e a
saída do tanque de fertilizante, causadora do fluxo, através do tanque, é conseguida por inter-
médio da instalação de um registro na linha principal do sistema, entre os pontos de saída para
o tanque e de retorno deste, conforme ilustrado nessas figuras.
A eficiência da aplicação de fertilizante depende da capacidade do tanque de fertili-
zante e da solubilidade do nutriente. A quantidade total de fertilizante a ser aplicada por uni-
dade de subárea de ação do sistema deverá ser diluída de uma só vez. Assim, é de capital im-
portância o dimensionamento do volume do tanque, o qual, segundo Keller e Karmeli (1975),
pode ser calculado pela seguinte equação:
496 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

N i As
Vt  (9.1)
Cn

em que: Vt = volume do tanque de fertilizante, em litros;


Ni = quantidade de nutriente a ser aplicado por irrigação, em kg/ha;
As = subárea que o sistema irriga por vez, em ha; e
Cn = concentração do fertilizante, em kg de nutriente/litro de fertilizante.

Em geral, os menores tanques têm um volume de 30 a 50 litros. Em sua maioria, os


tanques de fertilizantes são de metal, revestidos ou pintados com material não-corrosivo.

Dreno

Figura 9.13 - Esquema de um tanque de fertilizante.

d) Controle de Pressão e Vazão – É muito comum encontrar, em literatura provenien-


te de países onde a água é fator limitante para o aumento da área cultivada e a mão-de-obra é
cara e escassa, ênfase no controle de pressão e de vazão no sistema de irrigação localizada.
No entanto, acredita-se que, nos países em fase de desenvolvimento, não faz sentido elevar o
custo dos sistemas com reguladores de vazão ou válvulas métricas automáticas, quando este
controle pode ser conseguido por meio de uso de registros, manômetros e um pouco mais de
mão-de-obra, principalmente com o desenvolvimento de emissores que trabalham com vazão
constante, dentro de uma faixa maior de pressão.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 497

Uma vantagem inerente ao uso de reguladores de pressão e válvulas métricas é a au-


tomatização do sistema. Contudo, deve-se sempre ter em mente que o sistema de irrigação é
um meio, mas o objetivo final é aumentar a produtividade com um mínimo de aumento dos
custos, e nem sempre a automatização é a opção mais econômica. É importante lembrar tam-
bém que, quanto mais instrumentos se instalam em um sistema, maior é o número de pontos
suscetíveis de defeitos. Entretanto, deixa-se claro que existem condições em que a automatiza-
ção do sistema é a opção mais viável.

Linha Principal
A linha principal conduz a água da motobomba até as linhas de derivação (Figura
9.6). Geralmente, utilizam-se na linha principal tubos de polietileno, de PVC rígido ou flexí-
vel, galvanizados e de cimento. Ela pode ser instalada na superfície do solo ou ser enterrada –
este último caso facilita muito as operações com máquinas agrícolas na área.
O cabeçal de controle é, em geral, instalado no início da linha principal ou no ponto
mais elevado da área.
Em um item específico será estudado o dimensionamento da linha principal.

Linha de Derivação
A linha de derivação conduz a água da linha principal até as linhas laterais (Figura
9.6). Geralmente, utilizam-se, nas linhas de derivação, tubos de polietileno flexível, quando
instalados sobre a superfície do solo, ou tubos de PVC rígido, quando enterrados. É comum a
instalação de válvulas de controle de pressão no início das linhas de derivação, para controlar
a vazão do sistema.
O dimensionamento da linha de derivação e da linha lateral também será visto em item
específico.

Linha Lateral
As linhas laterais são as linhas nas quais estão instalados os gotejadores que aplicam
água nas plantas (Figura 9.6). Estas linhas devem ser dispostas em nível e são constituídas de
tubos de polietileno flexível, com diâmetro variando de 12 a 32 mm.
As linhas laterais são espaçadas ao longo das linhas de derivação com distâncias pre-
estabelecidas, normalmente determinadas em função do espaçamento entre as fileiras de plan-
tas. Os espaçamentos entre os gotejadores ao longo das linhas laterais são estabelecidos em
função do espaçamento entre as plantas ao longo da fileira e do tipo de planta a ser irrigada,
pois, no caso de irrigação de árvores frutíferas, é comum instalar mais de um gotejador por
cova.

Gotejadores
498 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Denominam-se gotejadores as peças conectadas às linhas laterais, capazes de dissipar


a pressão disponível na linha lateral e aplicar vazões pequenas e constantes. Eles são as peças
principais do sistema de irrigação por gotejamento
Quanto à conexão dos gotejadores na linha lateral, estes são, segundo Keller e Karme-
li (1975), conectados “sobre a”, “na” e “no prolongamento da” linha lateral, conforme ilustra-
do na Figura 9.14.
A velocidade da água nos gotejadores é baixa; assim, é importante caracterizar o re-
gime de escoamento. O melhor critério para caracterizar este regime é pelo número de Rey-
nolds (Rn), conforme abordado no capítulo 5 e repetido aqui por conveniência.
1 V d
Rn = (9.2)
1000 v
em que: Rn = número de Reynolds, adimensional;
V = velocidade de água no gotejador, em m/s;
d = diâmetro da seção transversal de fluxo, em mm; e
v = coeficiente de viscosidade cinemática, em m2/s
(v = 10-6 m2/s para água a 20 ºC).
Gotejador

Gotejador

a) gotejador "sobre a linha"

prolongamento
Gotejador

b) gotejador "na linha"

c) gotejador "integrado" d) gotejador "no prolongamento"

Figura 9.14 - Tipos de conexão do gotejador na linha lateral.


Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 499

A equação de continuidade apresenta:

Q 1 q 1 4q
V= = = (9.3)
A 3,6 a 3,6  d 2

em que: q = vazão do gotejador, em L/h; e

a = área de escoamento do gotejador, em mm2.

Assim, Rn no gotejador será:

1 4q q
Rn = = (9.4)
3600 v  d 2827 v d

Keller e Karmeli (1975) caracterizaram os seguintes regimes de escoamento dos gote-


jadores:
Laminar, Rn  2000;
Instável, 2000 < Rn  4000;
Parcialmente turbulento, 4000 < Rn  10000; e
Totalmente turbulento, Rn > 10000.
Em geral, a vazão nos gotejadores é baseada na vazão em orifícios ou em tubos de
longo percurso.
A vazão em orifício pode ser calculada pela seguinte equação:

Q = A Cd 2gH (9.5)

A perda de carga em tubos de longo percurso pode ser calculada pela equação de
Darcy-Weisbach:

L V2 L Q2
hf = f ou hf = 1,621 f (9.6)
D 2g D 5 2g

As principais características desejáveis nos gotejadores, segundo Keller e Karmeli,


são:
- fornecer vazão relativamente baixa, constante e uniforme;
- ter uma seção transversal de fluxo relativamente grande, para evitar problemas com
entupimento; e
- ser barato, resistente e compacto.
A vazão dos gotejadores, em geral, varia entre 1 e 20 L/h. Normalmente eles traba-
lham sob uma pressão de serviço de 10 mca, existindo tipos que trabalham sob pressões me-
500 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

nores (até 5 mca) e outros que trabalham sob maiores pressões (até 30 mca). Há gotejadores
que trabalham com vazão constante sobre uma faixa bem ampla de pressão, característica esta
bastante desejável, pois permite vazão constante ao longo da linha lateral, independentemente
da variação de pressão ao longo dela. O dimensionamento da linha lateral é função da varia-
ção de pressão da vazão entre o primeiro e o último gotejador na linha lateral, variação esta
que não deve exceder 10% da vazão média dos gotejadores, ao longo da lateral. Os gotejado-
res de vazão constante, sob diferentes pressões, permitem dimensionar sistemas com linhas
laterais mais longas, o que diminui o seu custo.
Para haver uma grande perda de carga e vazão pequena, a seção transversal de fluxo
é normalmente muito pequena, seu diâmetro em geral varia entre 0,3 e 1,0 mm e pode entupir
facilmente. Aumentando a seção transversal do fluxo para diminuir o problema de entupimen-
to, é preciso propiciar outras formas de dissipar a pressão, caso contrário a vazão do goteja-
dor aumentará muito. Isso pode ser conseguido de diferentes modos: aumentando o compri-
mento de percurso do fluxo, estabelecendo percursos em labirinto, adaptando válvulas para
controle da vazão etc., estabelecendo-se assim diferentes tipos de gotejadores.
Os principais tipos de gotejadores são:
- microtubos;
- gotejador com longo percurso integrado;
- gotejador tipo orifício;
- tubos perfurados; e
- microgotejadores.

Microtubos – O microtubo, também denominado spaghetti, foi o precursor da irriga-


ção por gotejamento. Data de muito tempo o seu uso em irrigação de vasos em estufas e resi-
dências. Consiste em um simples pedaço de microtubo, o qual é inserido diretamente na linha
lateral (Figura 9.15). É um tipo clássico de escoamento em longo percurso, sendo a perda de
carga ao longo do microtubo função direta do seu comprimento. Portanto, a vazão do micro-
tubo é função da pressão disponível na linha lateral, do diâmetro e do comprimento do micro-
tubo. Normalmente, os diâmetros internos dos microtubos variam de 0,5 a 1,5 mm.
Como existe variação de pressão ao longo da linha lateral, para uniformizar a vazão
podem-se usar microtubos de diferentes comprimentos ao longo dessa linha. Essa variação
não precisa ser individual, podendo ser em grupo de cinco ou dez microtubos.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 501

Figura 9.15 - Gotejamento por microtubo.

O comprimento do microtubo, necessário para ter dada vazão sob determinada pres-
são, pode ser estabelecido pela equação de Darcy-Weisbach, adaptada para as unidades nor-
malmente usadas em irrigação por gotejamento:

H d5
L= (9.7)
6,37 f q 2

em que: L = comprimento do microtubo, em m;


H = pressão na entrada do gotejador, em mca;
d = diâmetro interno do microtubo, em mm;
f = coeficiente de atrito; e
q = vazão do gotejador, em L/h.

Pela equação anterior, verifica-se a grande importância que deve ser dispensada à uni-
formidade do diâmetro do microtubo, pois qualquer variação no diâmetro afetará L, H ou q.
Em regime de escoamento turbulento, f pode ser determinado pelo diagrama de Mo-
ody (capítulo 5) e, em regime de escoamento laminar, pode ser calculado pela seguinte equa-
ção:
502 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

64
f= (9.8)
Rn

Em geral, o escoamento de água nos microtubos ocorre em regime laminar, e a equa-


ção para calcular o comprimento do microtubo será:

H d4
L= (9.9)
1,15 106 v q

Vermeiren e Jobling apresentaram a seguinte equação para calcular vazão em micro-


tubo:

Da h b
q=k (9.10)
Lc

em que: q = vazão do microtubo, em L/h;

L = comprimento do microtubo, em m;

D = diâmetro do microtubo, em mm;

H = pressão no início do microtubo, em mca; e

a, b, c e k = coeficientes, que dependem do diâmetro do microtubo.

Na Tabela 9.1 têm-se os valores de a, b, c e k, para diferentes diâmetros.


Tabela 9.1 - Valores de a, b, c e k para microtubos de diferentes diâmetros (D), segundo Ver-
meiren e Jobling
Coeficientes D, em mm
0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1
a 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1
b 0,85 0,82 0,78 0,75 0,72 0,69 0,65
c 0,78 0,75 0,72 0,68 0,65 0,62 0,58
k 0,86 0,91 1,02 1,14 1,16 1,28 1,38

Exemplo
Dimensionar o comprimento do microtubo de 1 mm de diâmetro para se ter vazão de
5 L/h, sob pressão de 10 mca a 20 ºC.
Para água a 20 ºC, v = 10-6 m2/s.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 503

Portanto, tem-se:
5
Rn = = 1768
2827 x 10-6 x 1

O regime de escoamento será laminar e o comprimento do microtubo, pela equação


9.9, será:

10 x 14
L= = 1,74 m
1,15 x 106 x 10 -6 x 5

ou, com a aplicação da equação 9.10:

1,0 3,1 x 100,69


5 = 1,28
L0,62

1 x 100,69 1/0,62
L = (1,28 ) = 1,44 m
5
Nota – A diferença no valor de L encontrado deve-se, provavelmente, à condição de a
equação 9.9 ser genérica e a 9.10 ser experimental.
Os microtubos, além de sua simplicidade, possibilitam ajustar o seu comprimento an-
tes ou após a instalação no campo, a fim de ajustar a vazão; contudo, são mais sensíveis à
variação da vazão com a variação da temperatura e a mudança de posição da extremidade
livre, em razão da ação do vento ou dos tratos culturais.
Gotejadores com Longo Percurso Integrado – Com base no mesmo princípio dos
tradicionais microtubos, porém com maior uniformidade e menor suscetibilidade a danos me-
cânicos, o longo percurso do fluxo foi concentrado em peças compactas, através de espiral ou
labirintos.
Gotejador Tipo Orifício – São os tipos de gotejadores em que a perda de carga é de-
vida ao fluxo de água, através de pequenos orifícios. A vazão desses gotejadores pode ser
determinada pela equação de vazão em orifícios, ou seja:

q = 3,6 a Cd 2gH (9.11)

em que: q = vazão do gotejador, em l/h;


a = área do orifício, em mm2;
Cd = coeficiente de descarga, normalmente entre 0,5 e 0,7;
g = aceleração da gravidade, m/s2; e
H = pressão na entrada do gotejador, em mca.
504 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Este tipo de gotejador requer, para pequenas vazões, orifícios com diâmetros muito
pequenos. Por exemplo, para uma vazão de 5 l/h, com H = 10 mca e Cd = 0,7, a área do orifí-
cio será de 0,14 mm2 e o seu diâmetro de 0,42 mm.
Para aumentar a perda de carga, de modo que permita maior área de fluxo, os fabri-
cantes construíram vários modelos de gotejadores do tipo orifício.
Tubos Perfurados – É o mesmo princípio do anterior, ou seja, vazão através de orifí-
cios; porém, para diminuir o custo e simplificar a construção, os orifícios são perfurados dire-
tamente na parede dos tubos, com pequenos espaçamentos entre eles. Assim, forma-se uma
faixa molhada sobre a superfície do solo. Esses tubos podem ser usados na irrigação de cultu-
ras com plantio em linha e com pequeno espaçamento entre plantas, como cana-de-açúcar,
hortigranjeiros em geral, cebola, alho etc.
Como foi visto no caso anterior, para se ter pequena vazão por orifício, a pressão de
serviço e, ou, o diâmetro do orifício terão de ser muito pequenos. Com orifícios de pequenos
diâmetros haverá facilidade de entupimento. Com baixa pressão de serviço, haverá grande
desuniformidade ao longo das linhas laterais, a menos que elas sejam muito curtas.
Para aumentar a uniformidade de aplicação de água ao longo da linha lateral, alguns fabri-
cantes usam tubos com paredes duplas, sendo os furos da parede interna muito mais espaçados que
os da externa, fazendo com que a água movimente entre as duas paredes, causando determinada
perda de carga, o que permite orifícios de maiores diâmetros na parede externa.
Têm sido usados com sucesso, na irrigação de árvores frutíferas, tubos perfurados
manualmente. Sobre cada furo com diâmetro de 2 a 3 mm coloca-se uma capa, constituída de
um pedaço de tubo com diâmetro um pouco maior do que o diâmetro da linha lateral e com-
primento de 10 a 20 cm. Cada furo deve ficar próximo à cova a ser irrigada.
Como a vazão por furo é relativamente grande, deve-se fazer um minissulco sob o
ponto de emissão de água, a fim de evitar o escoamento superficial.
Por se tratar de furos com diâmetro relativamente grande, praticamente não existe,
nesse caso, o problemático entupimento, tão comum na irrigação por gotejamento.
Microgotejadores – São os gotejadores de tamanho muito pequeno, geralmente com
formato de bocais e providos de diafragma para regular a vazão (Figura 9.16).
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 505

Figura 9.16 - Vista de dois modelos de gotejadores, do tipo labirinto, com inserção manual na
linha (A) e incorporado no processo de extrusão da tubulação (B).

Microaspersores
Em razão dos problemas de entupimento dos gotejadores, surgiram os microasperso-
res, os quais normalmente trabalham com pressão de 5 a 30 mca e com vazão de 20 a 160 l/h.
Existem no comércio vários tipos de microaspersores, desde os mais complexos até os consti-
tuídos de uma simples “espátula” na extremidade de um microtubo com diâmetro acima de 6
mm.
Eles são menos sensíveis ao entupimento, quando comparados aos gotejadores, e se
adaptam muito bem à irrigação em casa de vegetação e, principalmente, na fruticultura – nes-
te último caso, com um microaspersor por cova.
As Figuras 9.17 e 9.18 ilustram dois tipos de microaspersores.
506 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 9.17 - Microaspersores com placa difusora.

Figura 9.18 - Microaspersores com asa giratória.

Distribuição do Sistema no Campo


Os sistemas de irrigação por gotejamento devem ser dispostos de modo que tenham
menor variação de nível ao longo das linhas laterais. Em terrenos mais declivosos, as linhas
laterais devem ser dispostas em curva de nível. Sempre que possível, o cabeçal de controle
deve ficar situado na parte mais elevada do terreno, para que tenha menor variação de pressão
nas entradas das linhas laterais.
O cabeçal de controle deve ser instalado de forma que a linha principal seja do menor
comprimento possível. A área do projeto deve ser subdividida em subáreas retangulares.
Na prática, já foi confirmada a efetividade do uso de várias modalidades de distribui-
ção do sistema no campo, para as mais diversas culturas. Contudo, o espaçamento entre li-
nhas e entre gotejadores ao longo das linhas laterais, bem como a seleção do tipo de gotejador,
sua vazão e localização, devem ser determinados em função da cultura a ser irrigada, do solo,
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 507

da qualidade da água a ser usada na irrigação e das práticas culturais a serem empregadas no
cultivo.
As principais disposições das linhas laterais, em relação à fileira da cultura, estão i-
lustradas na Figura 9.19. Para as culturas de ciclo curto, principalmente hortaliças, normal-
mente usa-se uma linha lateral por uma ou por duas fileiras de cultura, com gotejadores espa-
çados ao longo da linha lateral, de 60 cm para solos pesados, 50 cm para solos médios e 40
cm para solos leves, o que resultará em uma faixa molhada contínua. Para as árvores frutífe-
ras, usam-se normalmente duas laterais por fileira de árvore ou uma lateral com ramificação
ou com ziguezague, ou com gotejadores de múltipla saída, ou por fileira de árvore.
A Figura 9.20 ilustra diversos esquemas de distribuição do sistema no campo.
508 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

a) uma linha lateral por fileira b) uma linha lateral por duas fileiras

Sg
Sa
S 1

Sf S
2

Sl
S 1

c) uma linha lateral por fileira de d) duas linhas laterais por fileira de
árvores árvores

e) uma linha lateral com ramificação f) uma linha lateral com semicírculo
por fileira de árvore em volta da árvore por fileira

g) uma linha lateral com gotejador de


h) uma linha com gotejadores de
múltipla saída por fileira
múltipla saída por duas fileiras

Figura 9.19 - Disposição das linhas laterais em relação às fileiras de cultura.


Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 509
510 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 9.20 - Esquemas de distribuição de sistemas de irrigação por gotejamento no campo.

Quantidade de Água Necessária


Os sistemas de irrigação localizada têm de satisfazer aos mesmos princípios básicos
dos outros métodos de irrigação, ou seja, eles precisam suprir de água ao sistema solo-planta,
de modo que satisfaça à demanda evapotranspirométrica da cultura, inclusive no seu período
de máxima demanda, ou seja, período crítico.
Por serem os sistemas de irrigação localizada fixos, o turno de rega deve ser pequeno,
normalmente variando de um a quatro dias, o que mantém a umidade do solo na zona radicu-
lar próxima à “capacidade de campo” e, em conseqüência, a planta transpira continuamente
em seu potencial máximo, o que é uma característica peculiar deste método de irrigação.
Na determinação da vazão necessária para projetar sistemas de irrigação por goteja-
mento, é necessário que se determinem os seguintes parâmetros.

Percentagem da Área Molhada


A percentagem de área molhada representa a razão entre a área molhada e a represen-
tada por planta, que é função da área molhada por emissor e do número de emissores por
planta. A área molhada por emissor pode ser estimada por:

AW  W 2  0,8 W 2  Se W
4
(9.12)
em que: AW = área molhada por emissor, m2;
W = diâmetro máximo do bulbo molhado por emissor, m; e
Se’ = espaçamento entre emissores para ter um volume de solo molhado contínuo, m.
O diâmetro máximo do bulbo molhado por emissor, sempre que possível, deve ser
medido diretamente no campo. Keller (1984) apresentou a Tabela 9.2 para estimativa do diâ-
metro máximo molhado em função da textura e do grau de estratificação do solo e da profun-
didade das raízes.

Linha lateral simples


Para uma única linha lateral por fileira de plantas, a percentagem de área molhada
(PW) pode ser dada por:

Se W
Se  Se, PW  NEP 100 (9.13)
Sp Sf
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 511

Se  W
Se  Se , PW  NEP 100 (9.14)
Sp Sf
Tabela 9.2 - Diâmetro molhado para diferentes texturas de solo, profundidades de raízes e grau
de estratificação do solo, para um gotejador de 4,0 l/h, operando no campo

Grau de Estratificação
Prof. das Raízes (m) Textura Homogêneo Pouco Estrat. Muito Estrat.
0,75 Grossa 0,5 0,8 1,1
Média 0,9 1,2 1,5
Fina 1,1 1,5 1,8
1,50 Grossa 0,8 1,4 1,8
Média 1,2 2,1 2,7
Fina 1,5 2,0 2,4

em que: Se = espaçamento entre emissores, m;


Sp = espaçamento entre plantas, m;
Sf = espaçamento entre fileiras, m; e
NEP = número de emissores por planta.

Linhas laterais duplas


Para a condição de duas linhas laterais por fileira de plantas, tem-se:

NEP Se Se   W 
Se  Se, PW  100 (9.15)
2 Sp Sf

NEP Se Se  W 


Se  Se, PW  100 (9.16)
2 Sp Sf

Para microaspersores, a percentagem de área molhada pode ser determinada por:

 Se  Pma 
 Ama  
2
PW  NEP   100 (9.17)
Sp Sf

em que Ama e Pma correspondem à área e ao perímetro, respectivamente, do círculo cujo raio
é igual ao alcance do microaspersor.
512 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A percentagem de área molhada deve ser maior que 33% em regiões áridas e maior
que 20% em regiões úmidas, para evitar problemas de tombamento das árvores devido à ação
do vento.

Controle de salinidade

A redução na produtividade de uma cultura devido à salinidade da água de irrigação


pode ser estimada por:
CE i  min CEe
Yr 
max CEe  min CEe
(9.18

em que: Yr - redução na produtividade em razão da salinidade da água, %;

CEi - condutividade elétrica da água de irrigação, a 25 ºC, mmhos.cm-1;

minCEe - condutividade elétrica do extrato do solo saturado que não causa decrés-
cimo na produtividade, mmhos.cm-1; e

maxCEe - condutividade elétrica do extrato do solo saturado que reduz a produtivi-


dade para zero, mmhos.cm-1.

Na Tabela 9.3 são apresentados os valores de minCEe e maxCEe para diferentes cul-
turas (KELLER, 1984).

Em regiões áridas, onde a salinidade tem grande importância, a irrigação também é u-


tilizada para fazer a lixiviação de sais.

A razão de lixiviação em irrigação localizada é a relação entre a lâmina de água que


deve ser aplicada no controle da salinidade (Lp) e a irrigação real necessária:
Lp CE i
RL  
IRN CEd
(9.19)

em que: RL = razão de lixiviação, adimensional;

IRN = irrigação real necessária, mm; e

CEd = condutividade elétrica da água de drenagem (percolação profunda), a 25 ºC,


mmhos.cm-1.

Para irrigações de alta freqüência, a condutividade elétrica da água de drenagem pode


ser igualada ao dobro da maxCEe apresentada na Tabela 9.3. Assim, a equação 9.22 pode ser
reescrita como:
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 513

CEi
RL 
(9.20) 2 max CEe 

Quando a irrigação tem também a função de controle de salinidade, o sistema deve ser
operado mesmo se houver ocorrência de chuvas.

Tabela 9.3 - Mínimo e máximo valores de CEe (ds m-1) para várias culturas

Cultura CEe Cultura CEe


Mín.* Máx.** Mín. Máx.
Algodão 7,7 27 Milho 1,7 10
Beterraba 7,0 24 Feijão 1,0 6,5
Trigo 6,0 20 Sorgo 4,0 18
Coco 4,0 32 Uva 1,5 12
Figo 2,7 14 Oliveira 2,7 14
Laranja 1,7 8 Ameixa 1,5 7
Limão 1,7 8 Abacate 1,3 6
Maçã, pêra 1,7 8 Morango 1,0 4
Castanha 1,7 8 Pêssego 1,7 6,5
Milho-doce 1,7 10 Brócolis 2,8 13,5
Tomate 2,5 12,5 Batata-doce 1,5 10,5
Pimenta 1,5 8,5 Alface 1,3 9
Pepino 2,5 10 Melão 1,2 16
Rabanete 1,2 9 Espinafre 2,0 15
Cebola 1,2 7,2 Repolho 1,8 12
Cenoura 1,0 8 Batata 1,7 10
* Mínima CEe não reduz a produtividade.
** Máxima CEe elimina a produtividade.

Evapotranspiração
Como a evapotranspiração normalmente é expressa em termos de lâmina de água e-
vaporada por dia em toda a área irrigada, e em irrigação localizada não se molha toda a área
irrigada, é necessário, ao calcular a evapotranspiração média na área do projeto, considerar
um fator de ajuste que leva em conta a porcentagem da área molhada, ou da área sombreada,
conforme equação a seguir:
514 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

ETg = ETpc KL (9.21)


em que: ETg = evapotranspiração média, na área irrigada por gotejamento, em mm/dia;
ETpc = evapotranspiração potencial da cultura, em mm/dia; e
KL = fator de ajuste devido à aplicação localizada da água.
Diversos autores têm estudado a relação entre KL e a porcentagem de área sombreada
e, ou, molhada, obtendo as mais variadas equações. Existem muitas dúvidas sobre quais valo-
res de KL utilizar, necessitando de pesquisas específicas para cada sistema de plantio.
A seguir são apresentadas algumas equações propostas para a determinação de KL. As equa-
ções 9.22 e 9.23, propostas por Keller (1978) e Bernardo (1996), têm sido mais utilizadas
para culturas com plantios mais adensados, como olerícolas e café em sistema de colheita
manual (adensado). As equações 9.24, 9.25 e 9.26, propostas por Fereres (1981), têm sido
recomendadas para culturas com maior espaçamento, como as fruteiras e café em sistema de
colheita mecanizada (menos adensado). Os valores observados na equação 9.27, proposta por
Keller e Bliesner (1990), estão entre aqueles obtidos nas equações 9.22 e 9.23.
1. Keller (1978)
P  P 
KL   0,15 1   (9.22)
100  100 
2. Bernardo (1996)
K L  P / 100 (9.23)
3. Fereres (1981)
Se P  65%  K L  1,0 (9.24)
P
Se 20%  P  65%  K L  1,09  0,30 (9.25)
100
P
Se P  20%  K L  1,94  0,1 (9.26)
100
4. Keller e Bliesner (1990)
K L  0,1 P (9.27)
em que P é a percentagem da área sombreada ou molhada (%) prevalecendo maior valor.
Na Figura 9.21 apresenta-se a comparação gráfica dos valores de KL das metodologias ci-
tadas, em função da porcentagem de área molhada ou coberta, prevalecendo a que for maior.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 515

1,20
1,00

KL 0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0 20 40 60 80 100
% Área molhada ou coberta

Keller Ferreres Salassier Keller-Bliesner

Figura 9.21 - Representação gráfica dos valores de KL em função da porcentagem da área


molhada ou coberta, por quatro metodologias usuais.
Como se viu no capítulo 2, a ETpc pode ser calculada pela seguinte equação:
ETpc = Kc ETo (9.28)
em que Kc é o coeficiente da cultura.
A evapotranspiração potencial de referência (ETo) pode ser determinada por vários
métodos, conforme apresentado no capítulo 2. Entretanto, em razão do uso de turno de rega
muito pequeno na irrigação por gotejamento, normalmente de um a quatro dias, é recomenda-
da a utilização da equação de Penman-Monteith, que necessita de informações sobre medidas
de temperatura, umidade relativa, velocidade do vento e radiação solar (ou horas de insola-
ção).

Irrigação Real Necessária


O cálculo da lâmina a ser aplicada na irrigação localizada é diferente dos demais mé-
todos, uma vez que neste somente parte da superfície do solo é molhada.
A lâmina de água máxima a ser aplicada por irrigação é dada por:
PW
IRNm  DTA f Z
100
(9.29)
em que: IRNm = lâmina de irrigação máxima, mm;
DTA = disponibilidade total de água no solo, mm de água por cm de solo;
f = fator de disponibilidade de água no solo, adimensional;
Z = profundidade efetiva do sistema radicular, cm; e
516 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

PW = percentagem de área molhada, %.


O turno de rega máximo recomendado (TRm), em dias, pode ser obtido por:
IRNm
TRm 
ETg
(9.30)
Entretanto, em irrigação localizada geralmente fixa-se o turno de rega (TR) de um a
quatro dias, desde que esse valor esteja abaixo do máximo recomendado, e calcula-se a lâmina
de irrigação a ser aplicada por:
IRN = TR ETg (9.31)
No cálculo da irrigação total necessária deve-se levar em conta a razão de lixiviação e
as perdas ocorridas devido à uniformidade de emissão do sistema de irrigação (UE) e às per-
das inevitáveis que ocorrem por vazamento ou por percolação profunda (Ppi), que são função
da espessura da camada explorada pelas raízes e do tipo de solo. A razão de transpiração
(RT) é função da textura do solo e da profundidade das raízes (Tabela 9.4). Quando a razão
de lixiviação é menor que 10%, as perdas inevitáveis são suficientes para proporcionar a lixi-
viação dos sais e a eficiência do sistema (Es) pode ser estimada pela equação 9.32-a.
A irrigação total necessária é calculada de acordo com as seguintes condições:
IRN
Se RL  0,10 ou Ppi  RL ITN  (9.32-a)
UE (1  Ppi)

IRN
Se RL  0,10 ou Ppi  RL ITN  (9.32-b)
UE 1  RL
em que UE é a uniformidade de emissão recomendada para o sistema em função da topografia
e do espaçamento entre emissores (Tabela 9.5) ou a medida no campo obtida por:
 
UE = 1,0 - 1,27 cv Np -0,5 qm qa -1 (9.33)
em que: UE = uniformidade de emissão, decimal;
cv = coeficiente de variação da vazão dos emissores, decimal;

qm = vazão mínima do emissor na subunidade, L h-1; e

qa = vazão média dos emissores na subunidade, L h-1.

Tabela 9.4 - Perdas por percolação inevitáveis (Ppi) em função da textura do solo e da profun-
didade das raízes
Prof. das Raízes Muito Grossa Grossa Média Fina
<0,80 0,10 0,10 0,05 0,00
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 517

0,80 - 1,50 0,10 0,05 0,00 0,00


>1,50 0,05 0,00 0,00 0,00

Tabela 9.5 - Uniformidade de emissão recomendada (decimal) em função da topografia e do


espaçamento entre emissores

Cultura Espaç. entre Topografia Topografia


Emissores Uniforme Acidentada
Perene > 1,8 0,90 - 0,94 0,88 - 0,92
Perene ou Anual <1,8 0,86 - 0,90 0,84 - 0,90
Anual <Se’ 0,80 - 0,90 0,70 - 0,85

O volume total de água requerido por planta por irrigação (Vp), em litros, será:
Vp = ITN Sp Sf (9.34)
em que: Sp = espaçamento entre plantas, m; e
Sf = espaçamento entre fileiras, m.
O requerimento de água por safra ou ano (IRNs), em mm, pode ser estimado por:
IRNs = (ETcs - Pe - DU)(0,1 P1/2 ) (9.35)
em que: ETcs = evapotranspiração da cultura por safra, mm;
Pe = precipitação efetiva, mm;
DU = variação na umidade do solo, mm; e
P = percentagem de área sombreada ou percentagem de área molhada, prevalecendo a
que maior.
A eficiência de aplicação representa a fração do total de água aplicada que é efetiva-
mente utilizada no uso consuntivo e na lixiviação de sais. É função da uniformidade de emis-
são, das perdas por escoamento, por percolação, devido a precipitações ocorridas quando o
solo está próximo à capacidade de campo, em razão do manejo inadequado e das perdas por
percolação inevitáveis (Ppis) (Tabela 9.6).
A eficiência de aplicação estacional (Es) pode ser determinada de acordo com as se-
guintes condições:
Se Ppis < RL, Es = UE (9.36-a)
UE (1  Ppis)
Se Ppis > RL, Es  (9.36-b)
1  RL

Tabela 9.6 - Perdas por percolação inevitáveis por safra (Ppis), para climas árido e úmido,
diferentes profundidades de raízes e texturas de solo
518 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Clima e Profundidade de Textura do Solo


Raízes Grossa Arenosa Média Fina
Árido
< 0,8 m 0,15 0,10 0,05 0,05
0,8 - 1,5 m 0,10 0,10 0,05 0,00
>1,5 m 0,05 0,05 0,00 0,00
Úmido
<0,8 m 0,35 0,25 0,15 0,10
0,8 - 1,5 m 0,25 0,20 0,10 0,05
> 1,5 m 0,20 0,10 0,05 0,00

A irrigação total necessária por safra ou ano (ITNs) pode ser determinada por:
IRNs
ITNs 
Es 1,0  RL 
(9.37)
Seleção dos emissores
São muitos os fatores que afetam a eficiência de um sistema de irrigação localizada;
entre outros, citam-se:
 variação de vazão devido ao processo de fabricação;
 expoente da pressão na equação de vazão do emissor;
 estabilidade da equação de vazão em função da pressão;
 variação na pressão de funcionamento;
 perda de carga em razão da inserção do emissor na linha lateral; e
 susceptibilidade a entupimento, sedimentação e precipitação de sais.

Uma das funções do emissor é dissipar a energia de pressão da água na linha lateral
que pode ocorrer de diferentes maneiras, de acordo com os seguintes tipos: orifício comum ou
em série, vórtice, microtubos ou longo percurso integrado.
A vazão dos emissores do tipo microtubo pode ser determinada, utilizando-se a
equação 9.9 como segue:
H g D4 
q (9.38)
3,56 107 v L
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 519

Para os demais emissores, a vazão é função da pressão de operação, de acordo com a


seguinte expressão:
q  K H xa (9.39)
em que K e x são parâmetros de ajuste, em função do tipo de emissor. Geralmente x assume os
seguintes valores: 0,5 para emissores de longo percurso integrado e orifícios, 0,4 para micro-
aspersores e 0,0 a 0,5 para emissor autocompensador.
Os fabricantes de emissores para irrigação localizada deveriam trazer os valores de K
e x nos seus catálogos, mas infelizmente no Brasil eles não o fazem.
Na seleção dos emissores devem ser considerados os seguintes fatores: adaptabilidade
do emissor, sensibilidade ao entupimento, variação devido ao processo de fabricação, variação
da vazão com a pressão, regime de escoamento, perdas localizadas, vazão de operação etc.
Quanto à sensibilidade ao entupimento, os emissores podem ser classificados de acor-
do com o diâmetro da seção de escoamento (ø), como: muito sensitivo, ø < 0,7 mm; sensitivo,
0,7 mm < – ø < – 1,5 mm; e insensitivo, ø > 1,5 mm.
A variação em razão do processo de fabricação é medida pelo coeficiente de variação
da vazão:
1

cv 
 q i
2
 1 2
nqa 2 n  1  (9.40)
qa
em que: cv = coeficiente de variação, decimal;
qi = vazão do emissor i, L h-1;
qa = vazão média dos emissores, L h-1; e
n = número de emissores testados.

Esse parâmetro deveria vir no catálogo do fabricante, para facilitar o dimensionamen-


to.
O coeficiente de variação do sistema (cvs) de irrigação localizada pode ser determina-
do por:
-1
cvs = cv NEP' 2 (9.41)
em que NEP´ representa o máximo número inteiro de emissores por planta.
As perdas de carga localizadas em termos de comprimento equivalente – devido à in-
serção do emissor, que pode ser na linha, sobre a linha ou no prolongamento da linha lateral –
podem ser estimadas utilizando-se a Figura 9.22.
520 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

75

60 Grande
a Tipo a (mm) b (mm)
b Grande 5,0 7,6
Normal 5,0 5,0
Comprimento

Normal Pequeno 5,0 3,8


equivalente

45
Le (cm)

30 Pequeno
Na linha

15

0
7,6 10,4 13,2 16,0 18,8
Diâmetro interno da lateral (mm)

Figura 9.22 - Comprimento equivalente para emissores na linha e sobre a linha em função do
diâmetro interno da linha lateral, para cálculo da perda de carga localizada
(KELLER e BLIESNER, 1990).

Tempo de Funcionamento por Posição


Uma vez selecionado o emissor, utilizando o catálogo de fabricantes, pode-se determi-
nar o tempo de de aplicação de água ou tempo de operação por sertor (Ta), que é função do
volume de água a ser aplicado por planta (Vp), da vazão média do emissor (qa) e do número
de emissores por planta (NEP), de acordo com a seguinte expressão:
Vp
Ta  (9.42)
NEP qa
Geralmente recomenda-se um tempo de funcionamento por setor seja um submúltiplo do
tempo de operação por dia do projeto. Considerando que atualmente no Brasil há restrição ao uso
de energia elétrica no horário de pico, que geralmente é em torno de quatro horas, o tempo de fun-
cionamento máximo seria de 20 horas. Além disso, utilizando o sistema somente à noite, no período
das 21 às 6 horas, pode-se obter uma economia de energia de até 70%, o que limitaria o tempo de
funcionamento diário em nove horas. Alterando a vazão do emissor ou o número de emissores por
planta, pode-se ajustar o tempo de funcionamento, utilizando a equação 9.39.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 521

Número de Unidades Operacionais


O número de unidades operacionais é função do turno de rega, do tempo de funciona-
mento do sistema por dia e do tempo de operação por setor, tendo a seguinte relação:
TR TDF
Nu 
Ta
Variação de pressão no setor
Existem diferentes metodologias para definir a variação de pressão permitida no setor
ou na subunidade (DHs). Alguns autores recomendam a variação máxima de 30% da pressão
de operação do emissor, sendo em torno de 20% na linha lateral e de 10% na linha de deriva-
ção. Outra metodologia recomendada baseia-se na determinação da vazão mínima permitida
no setor, que é função da uniformidade de emissão desejada (Tabela 9.5), do número de emis-
sores do qual a planta está recebendo água (Np) e do coeficiente de variação da vazão do e-
missor devido ao processo de fabricação, conforme equação 9.43.
qa UE
qm  (9.43)
1  1,27cv NEP 0 ,5

Conhecendo a vazão mínima do emissor no setor, pode-se determinar a pressão de ope-


ração mínima (hm) utilizando a equação 9.39 e variação de pressão conforme:
DHs = 2,5 (ha - hm) (9.44)

O número de subunidades irrigadas por vez


(NSIV).
NTS
NSIV =
NN

Vazão Necessária
A vazão total do sistema pode ser obtida pela equação 9.38 ou pela equação 9.39,
quando os emissores forem uniformemente espaçados ao longo da linha lateral.
A NEP qa
Qs  2,778 (9.45)
Nu Sp Sf

A qa
Qs  2,778 (9.46)
Nu Se S1
522 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

em que: Qs = vazão do sistema, L s-1;


A = área do projeto, ha;
Nu = número de unidades operacionais; e
Sl = espaçamento entre linhas laterais.

Dimensionamento de Linhas Laterais


Perda de carga nas linhas laterais
Para determinação da perda de carga contínua nas linhas laterais recomenda-se o uso
da equação de Darcy Weisbach:

f V2
J (9.47)
2g D

em que: J = perda de carga, mca m-1;


V = velocidade de escoamento da água, m.s-1; e
f = fator de fricção.
Para condições de regime laminar, o fator de fricção pode ser estimado por:
f = 64 Rn-1 (9.48)
Para condições de regime turbulento, o, fator de fricção é determinado pela equa-
ção 9.42 ou estimado pelas equações 9.50 e 9.51, para tubos de polietileno e PVC.
-1 1
f 2= 2 log (Rn - f 2 ) - 0,8 para 2000  Rn  3000 (9.49)

f = 0,32 Rn -0,25 3000 < Rn < 105 (9.50)

f  0,13Rn 0,172 105  Rn  107 (9.51)

A equação 9.43 pode ser reescrita como se segue:

J  7,89105 Q1,75 D 4,75 , para D  125 mm (9.52)

J = 9,59 10 5 Q 1,828 D -4,828 , para D > 125 mm (9.53)

em que: Q = vazão da linha lateral, L s-1; e


D = diâmetro interno da tubulação, mm.
Devido à perda de carga localizada na inserção do emissor, a perda de carga contínua
deve sofrer a seguinte correção:
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 523

Sp
J' = J ( + Le) Se -1 (9.54)
NEPL
em que Le é o comprimento equivalente à perda de carga em razão da inserção, que pode ser
estimado utilizando a Figura 9.22, e NEPL é o número de emissores por planta em cada linha
lateral.
A perda de carga ao longo de toda a linha lateral é determinada por:
hf = J' F L (9.55)
em que: hf = perda de carga, mca;
J' = perda de carga unitária, mca m-1;
F = fator de redução de perda de carga (equação 9.17), adimensional; e
L = comprimento da linha lateral.
As linhas laterais devem, sempre que possível, ficar em nível. Quando estas estiverem
com uma dada declividade, aquela que estiver morro acima deve ser menor do que aquela
morro abaixo, para que a pressão mínima nas duas linhas seja igual.
A seguir é apresentado um exemplo de cálculo com um procedimento gráfico para de-
terminar os comprimentos das linhas laterais morro acima e morro abaixo.

Dimensionamento de Linhas de Derivação


Linha de derivação é aquela na qual são conectadas as linhas de emissores ou linhas
laterais em um sistema de irrigação localizada. Essas linhas geralmente são de tubos de polie-
tileno, com diâmetros de 25 a 100 mm, e o dimensionamento é feito semelhantemente ao das
linhas laterais.
A distribuição do sistema no campo é função da geometria da área e das característi-
cas hidráulicas da linha de derivação. A diferença de pressão permitida na linha de derivação é
dada por:
DHd = DHs - Dhl (9.56)
em que: DHd = diferença de pressão permitida na linha de derivação, que satisfará a unifor-
midade de distribuição desejada, mca;
DHs = diferença de pressão permitida na subunidade, para propiciar a uniformidade
de distribuição desejada, mca; e
Dhl = diferença de pressão ao longo da linha lateral.
A DHd é função da uniformidade e das características de vazão dos emissores, do es-
paçamento entre eles e da uniformidade de distribuição desejada. De modo geral, pode-se
permitir variação de pressão de até 30% da pressão de operação do emissor.
524 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

As linhas de derivação geralmente são constituídas de dois, três ou quatro diâmetros.


Para assegurar uma lavagem adequada, o menor diâmetro não deve ser menor que a metade
do maior. A velocidade de escoamento deve ser limitada em 2,0 m s-1.

Pressão de entrada
De modo geral, o controle de pressão em um sistema de irrigação localizada é feito na
entrada da linha de derivação; portanto, deve-se conhecer a pressão a ser fornecida na linha de
derivação, a qual pode ser determinada por:
Hd = hl + hfd + DNd = hl + DHd' (9.57)
em que: Hd = pressão na entrada da linha de derivação, mca;
hl = pressão na entrada da linha lateral, mca;
hfd = perda de carga na linha de derivação, mca;
DNd = diferença de nível entre o início e o final da linha de derivação, positiva para
aclive e negativa para declive, m; e
DHd' = diferença entre as pressões de entrada das linhas de derivação e lateral, mca.

Dimensionamento de Linha Principal


As linhas principais são dimensionadas conforme apresentado no sistema de irrigação
por aspersão, utilizando o método de limite de velocidade ou o método econômico.

Altura Manométrica
A altura manométrica (Hmam) é determinada utilizando-se a equação 9.58.
Hm  Hd  hfp  DNp  hfs  DNs  hfcc  hfloc (9.58)
em que: Hm = altura manométrica, mca;
Hd = pressão no início da linha de derivação, mca;
hfp = perda de carga na linha principal, mca;
DNp = diferença de nível ao longo da linha principal, m;
hfr = perda de carga na tubulação de recalque, mca;
DNr = diferença de nível de recalque, m;
hfs = perda de carga na tubulação de sucção, mca;
DNs = altura de sucção, m; e
hfloc = perda de carga localizada, mca.
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 525

A perda de carga localizada pode ser estimada como sendo 5% da perda de carga con-
tínua na linha principal

Conjunto Motobomba
As bombas centrífugas são as mais utilizadas nos sistemas de irrigação, conforme
discutido de forma mais abrangente no capítulo 5. Com a vazão e a altura manométrica do
sistema pode-se selecionar aquela que ofereça maior rendimento, usando o catálogo do fabri-
cante. Geralmente, o catálogo traz a potência necessária no eixo da bomba ou potência a ser
fornecida pelo motor (Pm). Entretanto, esta pode ser determinada pela equação 8.57.
A potência consumida pelo conjunto motobomba é função do rendimento do motor
(Rm) e pode ser determinada utilizando a equação 8.58.
Conhecida a potência do motor, pode-se estimar o consumo médio unitário, utilizando
a Tabela 5.15 ou 8.18.

Projeto de Irrigação Localizada por Gotejamento


Dimensionar um projeto de irrigação localizada por gotejamento para a área da
Figura 9.23.
1 – Dados disponíveis
- Solo: - textura média;
- disponibilidade total de água, DTA = 1,58 mm cm-1;
- diâmetro do bulbo molhado com gotejador de 4 L h-1, W = 1,5 m;
- Clima: - clima árido
- precipitação efetiva provável, Pe = 0,0 mm;
- Água - sem limitação;
- condutividade elétrica a 25ºC, CEi = 1,7 dS m-1.
- Cultura: Citros
- espaçamento 5,5 (Sp) x 6,0 (Sf)
- profundidade do sistema radicular, Z = 100 cm
- área sombreada, Ps = 68%
- evapotranspiração potencial, ETpc = 5 mm dia-1 = 550 mm/safra;
- fator de disponibilidade de água no solo, f = 0,5.
- Energia: - disponibilidade de energia elétrica com economia de 75% no horário das 21 às 6
horas
526 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

r
c ó r o
e g

78 m
0,2 %

0,0 %

450 m

600 m

Figura 9.23 - Croqui da área.

2 – Escolha do gotejador
Como o tempo de irrigação máximo é de nove horas, para que o sistema opere somen-
te à noite, deve-se preferir gotejadores de maiores vazões, como o de fluxo turbulento azul da
AMANCO, cuja vazão (qa) é de 4 L h-1, pressão de serviço (PS) de 10 mca.

3 – Espaçamento entre emissores para obtenção de uma faixa molhada


Se = Se’ = 0,8 W = 0,8 1,50 = 1,20 m
4 – Número de emissores por planta (Np)

Sp 5,5
NEP    4,58
Se 1,2

logo, devem-se utilizar cinco emissores por planta; conseqüentemente:


Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 527

5,5
Se   1,10 m
5

5 – Percentagem de área molhada (Pw)

Se W
Pw  NEP 100
Sp Sf

1,1 1,5
Pw  5 100 = 25% < 33%
5,5 6,0

Logo, deve-se aumentar a percentagem de área molhada, o que poderá ser feito utili-
zando-se duas linhas laterais por fileira de plantas. Como o espaçamento entre plantas é rela-
tivamente grande, podem-se concentrar os emissores próximos às plantas, deixando-os mais
espaçados entre elas, conforme mostra a Figura 9.24.
Emissor LL

1,2 m

1,2 m 1,9 m
5,5 m LL

Figura 9.24 - Distribuição dos emissores ao longo da linha lateral.

Com essa distribuição, cada planta será irrigada por oito emissores, sendo quatro em
cada linha lateral; assim:

NEP Se' Se' W 


Pw  100
Sp Sf 2

8 1,2 1,2  1,5


Pw  100  39,3% > 33% OK.
5,5 6 2

5,5
Se   1,375
4

6 – Irrigação real necessária


Pw
IRN  DTA f Z
100
39,3
IRN  1,58 x 0,5 x 100  31,05 mm
100
528 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

7 – Turno de rega
No caso de irrigação localizada, a área não é totalmente molhada, havendo, por isso,
necessidade de corrigir a evapotranspiração máxima.

ETg  ETc (100 P 1 / 2 ) , usa-se o Ps porque é maior que o Pw.

ETg  5 (0,1 681 / 2 )  4,12 mm dia 1

IRN
TR 
ETg

31,05
TR   7,54 dias
4,12

Como em irrigação localizada existe a facilidade de se trabalhar com um turno de re-


ga menor, e considerando ainda que a cultura requer uma lâmina consideravelmente alta, será
adotado inicialmente para efeito de cálculo turno de um dia.
IRN  ETg  TR

IRN  4,12  1  4,12 mm

8 – Uniformidade esperada
Para emissores espaçados de 1,2 m, a uniformidade esperada (UE) é de 90% para
comprimentos de linha lateral de até 74,6 m, de acordo com o fabricante.

9 – Razão de lixiviação
A CE máxima para a cultura dos citros é de 8,0 ds m-1.
CEw
RL 
2 CE max

1,7
RL   0,11
2x 8

10 – Irrigação total necessária


Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 529

IRN
ITN 
UE (1 - RL)
4,12
ITN   5,14 mm
0,9 (1 - 0,11)

11 – Volume de água aplicado em cada planta por irrigação


Vp  ITN Sp Sf

Vp  5,14 x 5,5 x 6  169,62 litros

12 – Tempo de irrigação
Vp
Ta 
NEP qa

169,62
Ta   5,3 horas
8x 4
Com esse tempo de operação, o sistema ficará ocioso; seria interessante que o tempo
de funcionamento do sistema fosse um submúltiplo do tempo de operação por dia. Assim,
pode-se ajustar o sistema para funcionar 4,5 horas, trabalhando em dois turnos por dia consi-
derando o turno de rega de um dia, o sistema constará de seis setores ou subunidades opera-
cionais (Figura 9.25), sendo irrigadas três setores de cada vez. Para facilitar a operação no
campo será adotado um turno de rega de 2 dias e um tempo de aplicação por setor de 9 horas.
O ajuste pode ser feito aumentando a vazão dos gotejadores de acordo com a curva de vazão
em função da pressão, fornecida pelo fabricante.
Vp
qa 
NEP Ta

169,62
qa   4,71 L h -1
8 x 4,5

TR TDF 2 x 9
Nu =  2
TN 9
NTS 6
NSIV =   3 setores por vez
Nu 2
De acordo com o catálogo do fabricante, esse gotejador fornece uma vazão de 4,71 L
h-1 a uma pressão de 14 mca. Assim, o novo tempo de funcionamento será:
530 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

169,62
Ta   4,5 horas
8 x 4,71

13 – Variação da pressão permitida


DHs = DHl + DHd = 30%Ha
DHs = 0,3 14 = 3,2 mca

ó r r o
3m c e g
MB

0,2 % 78 m

0,0 %

1 2

300 m
4 3 450 m

4,8 m

75 m

6 5

1,2 m
600 m

Figura 9.25 - Distribuição das linhas na área.

14 – Vazão do sistema
A Np qa
Qs  2,778
Nu Sp Sf
27 x 8 x 4,71
Qs  2,778  42,82 L.s -1  154,16 m 3 .h -1
2 x 5,5 x 6
15 – Volume de água total requerido por safra
Considerando para fins de projeto que não houve precipitação nem variação da umi-
dade do solo, e considerando ainda que as perdas por percolação inevitáveis (Ppis) são de
0,005, portanto menor que RL (0,11), a eficiência de aplicação estacional (Es) será igual ao
UE (90%). Vs então será:
1
IRNs  ( ETcs  Pe  DU ) ( 0,1  Ps 2 )
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 531

1
IRNs  (550 - 0 - 0) (0,1 x 68 2 )  453,54 mm
IRNs
ITNs 
Es (1  RL)
453,54
ITNs   566,22 mm
0,9 (1 - 0,11)
Vs = ITNs A
Vs = 566,22 x 270.000 = 152.879,4 m3

16 – Tempo estimado de operação por safra


Vs
NHOS 
Qs
152.879,4
MHOS  = 992 horas
154,16

Dimensionamento da linha lateral


1 – Número de emissores por lateral (NEL)
LL
NEL  NEPL
Sp
75
NEL  4  54 ,55  56 emissores (deve ser múltiplo de 4).
5 ,5
2 – Vazão por lateral
Ql = NEL qa = 56 x 4,71 = 263,76 L h-1 = 0,073 L s-1.
3 – Perda de carga por lateral
Inicialmente será testado o tubo de polietileno PE1035 da AMANCO, com diâmetro
interno e nominal de 10 mm e pressão de operação de 40 mca. Para tubos de diâmetro menor
que 125 mm, utiliza-se a seguinte equação de perda de carga unitária.
J  7,89  105 Q1,75 D 4, 75

J  7,89 x 105 x 0,0731,75 x 10-4 ,75 = 0,144 mca m-1


Como os gotejadores estarão inseridos sobre a linha lateral, haverá uma perda de car-
ga adicional localizada no ponto de inserção, que pode ser estimada pela equação a seguir.
Considerando que a inserção é do tipo grande, ter-se-á um comprimento equivalente (Le) igual
a 0,35 m:
J (Se  Le)
J' 
Se
532 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

0,144 (1,375  0,35)


J'   0,181 mca .m -1
1,375

No cálculo da perda de carga ao longo da tubulação em tubos de inúmeras saídas po-


de-se utilizar a equação:
hfl  J ' F L

1 1 m 1
F  
m 1 2 N 6 N2

1 1 1,75 1
F    0,373
1,75  1 2 x 56 6 x 56 2
hfl  0,181x 0,373 x 75  5,06 mca

Como hfl permitido é de 30% da Ha, ou seja, 4,2 mca, ter-se-á de optar por uma tu-
bulação de maior diâmetro. Será testada então a tubulação de polietileno PE1330 da
AMANCO, com diâmetro nominal e interno de 13 mm e pressão de operação de 20 mca.
J  7,89 x 10 5 x 0,0731,75 x 13-4 ,75  0,041 mca .m -1
J (Se  Le)
J'  , Le igual a 0,20 m para D = 13 mm
Se
0,041 (1,375  0,20)
J'   0,047 mca m -1
1,375
hfl  0,047 x 0,373 x 75  1,31 mca
Como 1,31 é menor que 4,2 mca, pode-se utilizar a tubulação de 13 mm.

4 – Pressão no início da linha lateral


hl  Ha  0,75 hfl - 0,5 DNl
hl  14  0,75 x 1,31 - 0  13,75 mca
DHl  hfl  DNl
DHl  1,31  0  1,31 mca

Dimensionamento da linha de derivação


1 – Variação de pressão permitida na linha de derivação
DHd  0,3 Ha - DHl
DHd  0,3 x 14 - 1,31  2,89 mca
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 533

2 – Vazão na entrada da linha de derivação


Será assumido que a cada 6 m sairão quatro linhas laterais, sendo a vazão de cada
uma igual a 0,073 L s-1, ou seja, cada linha de derivação terá 50 saídas com vazão de 4 x Ql.
Ld
Qd  4 Ql
Sl
300
Qd  4 x 0,073  14,6 L s-1
6

3 – Perda de carga permitida na linha de derivação


hfd  DHd - DNld
hfd  2,89 - (0,002 x 300)  1,734 mca

1 1 1,75 - 1
F    0,374
1,75  1 2 x 50 6 x 50 2

hfd
J
L F

1,734
J  0,015 mca
300 x 0,374

4 – Diâmetro da linha de derivação


1
1  4,75
D    7,89  105  Q1,75 
J 
1
 1  4,75
D  7,89  105  14,61,75   113,3 mm
 0,015 

Considerando os diâmetros comerciais de 100 e de 125 mm, recomenda-se utilizar


uma linha com dois diâmetros, D1 = 125 > D = 113,3 > D2 = 100 mm. Logo,
534 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

1
  D1  4 ,75  2 ,75
   -1 
D
L 2     4,75  L
  D1  
  - 1
  D2  
1
  125  4 ,75  2,75
  - 1
  113,3  
L2   300  197,2 m  198 m (múltiplo de 6)
  125  4 ,75 
   -1 
  100  

L1 = 300 – 198 = 102 m

Como os tubos de PVC são comercializados com 6 m de comprimento, é interessante


ajustar o comprimento para um número múltiplo de 6. Assim, ter-se-á 102 m com diâmetro de
125 mm e 198 m com diâmetro de 100 mm.

5 – Pressão no início da linha de derivação


hd  hl  hfd  DNd
hd  13,75  1,734  (0,002  300)  16,10 mca

Dimensionamento da linha principal


A linha principal deverá conduzir a vazão de uma linha de derivação logo:
Trecho 1 – Qlp = 3 Qd
Qlp = 3 Qd = 3 14,6 = 43,8 L s-1 = 0,0438 m3.s-1
L = 150 m
4 Q
D
 v

4 x 0,0438
D  0,193 m
 1,5

Testando o diâmetro de 150 mm:


Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 535

4 Qlp
v
 D2
4 x 0,0438
v 2
 2,48 m s -1 , como o limite superior de velocidade é 2 m s-2, deve-se utilizar a
 0,15

tubulação de 200 mm.

Qlp1,83
hf 1  9,58 x 10 5 L
D 4 ,83

43,81,83
hf 1  9,58 x 10 5 150  1,11 mca
2004 ,83

Trecho 2 – Qlp = 2 Qd
Qlp = 2 Qd = 2 x 14,6 = 29,2 L s-1 = 0,0292 m3 s-1
L = 150 m
4 Q
D
 v

4 x 0,0292
D  0,157 m
 1,5

Testando o diâmetro de 150 mm:


4 Qlp
V
 D2
4 x 0,0292
V  1,65 m s -1 , como o limite superior de velocidade é 2 m s-1, pode-se utilizar a
 0,152
tubulação de 150 mm.
Qlp1,83
hf 2  9,58 x 105 L
D 4 ,83
29,21,83
hf 2  9,58 x 105 150  2,13 mca
150 4,83

Trecho 3 – Qlp = 1 Qd
Qlp = 1 Qd = 1 x 14,6 = 14,6 L s-1 = 0,0146 m3 s-1
L = 150 m
536 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

4 Q
D
 v

4 x 0,0146
D  0,111m
 1,5

Testando o diâmetro de 100 mm:


4 Qlp
V
 D2
4 x 0,0146
V 2
 1,50 m s -1 , como o limite superior de velocidade é 2 m s-2, pode-se utilizar
 0,111
a tubulação de 100 mm.
Qlp1,83
hf 3  9,58 x 105 L
D 4 ,83
14,61,83
hf 3  9,58 x 10 5 150  4,25 mca
1004 ,83
hfp = 1,11 + 2,13 + 4,25 = 5,49 mca.

Dimensionamento da linha de recalque e sucção


O recalque já está incluído no primeiro trecho da linha principal, e a sucção terá o di-
âmetro imediatamente superior ao diâmetro do primeiro trecho da linha principal e compri-
mento de 6 m.
14,61,83
hfs  9,58 x 105 6  0,010 mca
1254 ,83

Conjunto motobomba
De acordo com o catálogo do fabricante, as perdas de carga no cabeçal de controle estão
em torno de 5 mca. E a perda de carga localizada geralmente está em torno de 5% da perda de
carga contínua, ou seja hfloc = 5,49 x 0,05 = 0,27 mca.
Hm  hd  hfp  DNp  hfs  DNs  hfcc  hfloc
Hm  16,10  5,49  0  0,010  3  5  0,27  29,87 mca
Qs = 43,8 L s-1
De posse dos valores de Hm e Qs, pode-se escolher o conjunto motobomba mais ade-
quado através do programa Agribombas. Assim, será usado o seguinte conjunto motobomba:
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 537

Marca: Mask Peerless


Modelo: GW
Velocidade do rotor: 1.750 rpm
Diâmetro comercial do rotor: 287 mm
Potência solicitada: 22,5 cv
Potência do motor elétrico: 25 cv
Rendimento: 81,1%
Número de rotores: 1 (monoestágio)
Rendimento do motor: 90%
Qs Hm
pm 
75 Eb
43,8 x 29,87
pm   21,5 cv motor comercial de 25 cv
75 x 0,811
pm
Pc 
Rm
2,5
Pc   23,9 cv
0,9

Consumo de energia:
ETs A
NHOS 
Em Qs 3600
550 x 600 x 450
NHOS   1046 horas
0,9 x 42,82 x 3600
CTE = Pc 0,736 Ns = 23,9 x 0,736 x 1046 = 18.400 kWh

Lista de material:
Item Descrição Un. Quant.
Componentes da linha lateral
1 Gotejador FT azul Amanco un 67.200
2 Tubo de polietileno PE1330 Amanco 13 mm m 90.000
3 Anel fim de linha un 1.200
Componentes da linha de derivação
538 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

4 Conector saída para linha lateral 13 mm un 1.200


5 Tubo PVC solda 125 mm 6m 17
6 Tubo PVC solda 100 mm 6m 33
7 Tampão fim de linha solda PVC macho 100 mm un 6
Componentes da linha principal
8 Registro solda PVC 125 mm un 6
9 Conexão “T” solda PVC 125 mm un 1
10 Conexão “T” solda PVC 150/125 mm un 2
11 Conexão “T” solda PVC 200/125 mm un 2
12 Tubo PVC solda 100 mm 6m 25
13 Tubo PVC solda 150 mm 6m 25
14 Tubo PVC solda 200 mm 6m 25
Componentes do cabeçal de controle
15 Filtro de Disco Amanco Y 50/120 un 6
16 Filtro de Tela Amanco Y 50/150* un 6
17 Filtro de Areia Amanco completo 200 mesh un 2
18 Registro gaveta 200 mm un 1
19 Conexão “T” solda PVC 200 mm un 4
20 Conexão “T” solda PVC 200/50mm un 8
21 Curva 90º solda PVC 200 mm un 2
22 Curva 90º solda PVC 200/50 mm un 4
23 Curva 90º solda PVC 25 mm un 2
24 Injetor Venturi 25 mm un 1
25 Registro PVC 25 mm un 2
26 Conexão “T” solda PVC 200/25 mm un 2
27 Tubo PVC solda 200 mm 6m 4
38 Tubo PVC solda 50 mm 6m 4
29 Tubo PVC solda 25 mm 6m 1
Componentes do conjunto motobomba e sucção
30 Ampliação excêntrica 100/200 mm un 1
31 Bomba Mark Peerless/GW un 1
32 Motor 25 cv un 1
33 Registro de gaveta 100 mm un 1
34 Manômetro de glicerina un 1
35 Redução excêntrica 250/125 mm un 1
36 Curva 90º solda PVC 250 mm un 1
37 Válvula de pé com crivo 250 mm un 2
38 Tubo PVC 250 mm 6m 2
39 Lixa d’água un 50
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 539

40 Cola para PVC lt 5


41 Fita veda rosca un 5

Projeto de Irrigação Localizada por Microaspersão


1 - Dados
Um sistema de irrigação por microaspersão consistirá de três unidades de operação,
cada qual com duas subunidades. As subunidades são retangulares e possuem áreas iguais,
como mostra a Figura 9.26. Serão utilizadas duas laterais por fileira de plantas.

Cultura: citros Emissor: única saída DTA = 158 mm/m


Clima: árido Ha = 10 mca f = 50%
Solo: textura média kd = 11,88 (q(l/h), h(m)) Z = 1,00 m
UE = 90% (esperada) x = 0,5 W = 1,50 m
-1
CEi = 1,7 mmhos.cm cv = 0,10 ET = 5 mm/dia

Sf = 6,0 m Le = 0,0 m (perda de carga localizada) ETs = 550 mm


Sp = 5,5 m Pe = 0,0 mm Ps = 78%
540 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

r
c ó r o
e g

78 m
0,2 %

0,0 %

450 m

600 m

Figura 9.26 - Croqui da área.


2 – Escolha do microaspersor
De acordo com o catálogo de produtos da empresa AMANCO, disponível no site
www.amanco.com.br, optou-se pelo microaspersor fixo 330 X 11 jatos, com bocal bege, que
fornecerá uma vazão de 37 l.h-1 e diâmetro molhado de 5,6 m, a uma pressão de 10 mca. Des-
sa forma, pode-se utilizar um aspersor por planta.

3 – Espaçamento entre emissores


Os microaspersores obedecerão ao mesmo espaçamento das plantas: 5,5 m.

4 – Número de emissores por planta


Sp
NEP 
Se
5,5
NEP   1, logo, deve-se utilizar um emissor por planta; conseqüentemente:
5,5
5,5
Se   5,5 m
1
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 541

5 – Percentagem de área molhada


Se’ = 0,8 W = 0,8 x 1,50 = 1,20 m
Se' Pma
( Ama  )
Pw  NEP 2 100
Sp Sf

 5,6 2
Ama   24,63 m 2
4
Pm   5,6  17,59 m
1,2 x 17,59
( 24,63  )
Pw  1 2 100  104,7  100%
5,6 x 6
A distribuição dos emissores na linha lateral é mostrada na Figura 9.27.

Planta

5,5 m Emissor

Figura 9.27 - Distribuição dos emissores ao longo da linha lateral.


6 – Irrigação real necessária
Pw
IRN  DTA f Z
100
100
IRN  0,158 x 0,5 x 1000  79 mm
100

7 – Turno de rega
Como a porcentagem de área molhada é de 100%, não há necessidade de corrigir a
evapotranspiração máxima. Assim, ETg = ETc.
IRN
TR 
ETg
79
TR   15,8 dias
5
Como em irrigação localizada existe a facilidade de se trabalhar com um turno de re-
ga menor, será adotado o turno de rega igual ao período de irrigação de um dia; assim:
542 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

IRN  ETg TR
IRN  5 x 1  5 mm

8 – Uniformidade esperada
A uniformidade esperada (UE) é de 90%.

9 – Razão de lixiviação
A CE máxima para a cultura dos citros é de 8,0 mmhos.cm-1.
CEw
RL 
2 CE max

1,7
RL   0,11
2x8

10 – Irrigação total necessária


IRN
ITN 
UE (1  RL)

5
ITN   6,24 mm
0,9 (1  0,11)

11 – Volume de água aplicado em cada planta, por irrigação


Vp  ITN Sp Sf
Vp  6,24 x 5,5 x 6  205,92

12 – Tempo de irrigação
Vp
Ta 
Np qa

205,92
Ta   5,56 horas
1 x 37

Com esse tempo de operação o sistema ficará ocioso; por isso, seria interessante que o
tempo de funcionamento do sistema fosse um submúltiplo do tempo de operação por dia. As-
sim, pode-se ajustar o sistema para funcionar 4,5 horas, trabalhando em dois turnos por dia,
com o turno de rega de um dia. Para facilitar a operação no campo será utilizado o turno de
rega de dois dias irrigando uma unidade operacional por dia, com isto o sistema ficará com
seis subunidades sendo três irrigadas por vez. O sistema constará de seis setores, conforme
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 543

apresentado na Figura 9.28. O ajuste pode ser feito aumentando a vazão dos microaspersores
de acordo com a curva de vazão versus pressão fornecida pelo fabricante.
ó r r o
3m c e g
MB

0,2 % 78 m

0,0 %

1 2

300 m
4 3 450 m

6m

75 m

6 5

600 m

Figura 9.28 - Distribuição das linhas na área.


Vp
qa 
NEP Ta

205,92
qa   45,76 L h -1
1 x 4,5

TR TDF 2 x 9
Nu   2
Ta 9
NTS 6
NSIV    3 setores por vez.
Nu 2
De acordo com o catálogo do fabricante, esse microaspersor fornece uma vazão de 46
L.h-1 a uma pressão de 15 mca ((46/11,88)2 = 15). Assim, o novo tempo de funcionamento
será:
205,92
Ta   4,48  4,5 horas
1 x 46

13 – Variação da pressão permitida


DHs = DHl + DHd = 30%Ha
DHs = 0,3 x 15 = 4,5 mca
544 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

14 – Vazão do sistema
A Np qa
Qs  2,778
Nu Sp Sf

27 x 1 x 46
Qs  2,778  52,28 L s -1  188,2 m 3 .h -1
2 x 5,5 x 6

15 – Volume de água total requerido por safra


Considerando, para fins de projeto, que não houve precipitação nem variação da umi-
dade do solo durante a safra e, ainda, que as perdas por percolação inevitáveis (Ppis) são de
0,005, portanto menor que RL (0,11), a eficiência de aplicação estacional (Es) será igual ao
UE (90%). Vs então será:
1
IRNs  ( ETcs  Pe  DU ) (0,1 Pw 2 )
1
IRNs  (550  0  0) (0,1 100 2 )  550 mm

IRNs
ITNs 
Es (1 RL)

550
ITNs   686,6 mm
0,9  (1 - 0,11)
Vs = ITNs A
Vs = 686,64 x 270.000 = 185.392,8 m3

16 – Tempo estimado de operação por safra


Vs
NHOS 
Qs

185392,8
NHOS   492 horas
376,4

Dimensionamento da linha lateral


1 – Número de emissores por lateral
LI
NEL  NEPL
Sp
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 545

75
NEL  1  13 ,64 , logo, são 14 emissores de um lado da linha de derivação e
5,5
13 do outro lado, porém o dimensionamento será feito com 14 emissores por lateral.

2 – Vazão por lateral


Ql = NEL qa = 14 x 46 = 644 L h-1 = 0,179 L s-1.

3 – Perda de carga por lateral


Inicialmente será testado o tubo de polietileno PE1035 da AMANCO, com diâmetro
interno e nominal de 10 mm e pressão de operação de 40 mca. Para tubos de diâmetro menor
que 125 mm, utiliza-se a seguinte equação de perda de carga unitária.
J  7,89 105 Q1,75 D 4, 75

J  7,89 x 10 5 x 0,1791,75 x 10 -4 ,75  0,69 mca m -1

Como os microaspersores estarão inseridos sobre a linha lateral, haverá uma perda de
carga adicional localizada no ponto de inserção, que pode ser estimada pela equação a seguir.
Considerando que a inserção é do tipo grande, ter-se-á um comprimento equivalente (Le) a
0,35 m:
J (Se  Le)
J' 
Se
0,69 (5,5  0,35)
J'   0,73 mca m -1
5,5
No cálculo da perda de carga ao longo da tubulação em tubos de inúmeras saídas po-
de-se utilizar a equação:
hfl  J ' F L

1 1 ev -1
F  
ev  1 2 N 6 N 2

1 1 1,75 x 1
F   = 0,4
1,75  1 2 x 14 6 x 14 2

hfl  0,73 0,4 75  21,9 mca

Como o hfl permitido é de 30% da Ha, ou seja, 4,5 mca, é preciso optar por uma tu-
bulação de maior diâmetro. Será testada então a tubulação de polietileno PE1630 da
546 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

AMANCO, com diâmetro nominal de 16 mm e interno de 16,1 mm e pressão de operação de


20 mca.
4, 75
J  7,89 x 10 5 x 0,1791,75 x 16,1-  0,072 mca m -1

J (Se  Le)
J'  , Le igual a 0,15 m para D = 16 mm.
Se
0,072 (5,5  0,15)
J'   0,074 mca m -1
5,5
hfl  0,074 x 0,4 x 75  2,22 mca

Como 2,22 é menor que 4,5 mca, pode-se utilizar a tubulação de 16 mm.
4 – Pressão no início da linha lateral
hl  Ha  0,75 hfl - 0,5 DNl
hl  15  0,75 x 2,22 - 0  16,66 mca
DHl  hfl  DNl
DHl  2,22  0  2,22 mca

Dimensionamento da linha de derivação


1 – Variação de pressão permitida na linha de derivação
DHd  0,3 Ha - DHl
DHd  0,3 x 15 - 2,22  2,28 mca

2 – Vazão na entrada da linha de derivação


Será assumido que a cada 6 m sairão duas linhas laterais, sendo a vazão de cada uma
igual a 0,179 L s-1, ou seja, cada linha de derivação terá 50 saídas com vazão de 2 x Ql.
Ld
Qd  2 Ql
Sl
300
Qd  2 x 0,179 x  17,9 L s -1
6
3 – Perda de carga permitida na linha de derivação
hfd  DHd - DNld
hfd  2,28 - 0,002 300  1,68 mca
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 547

1 1 ev - 1
F  
m 1 2 N 6 N2

1 1 1,75-1
F    0,374
1,75  1 2 x 50 6 x 50 2

hfd
J
L F

1,68
J  0,015 mca .m -1
300 0,374

4 – Diâmetro da linha de derivação


1
1
D    7,89 105 Q1,75 4, 75
J
1
 1
D 
0,015
7,89 x 10 5 x 17,91,75 
4 , 75  122,2 mm

Considerando os diâmetros comerciais de 125 e 100 mm, recomenda-se utilizar uma
linha com dois diâmetros, D1 = 125 > D = 122,2 > D2 = 100 mm. Logo:
1
  D1  4,75  2,75
   -1 
D
L 2     4,75  L
  D1  
  - 1 
  D2  
1
  125  4 ,75  2 ,75
  - 1
  122,2  
L2  300  18 m
  125  4 ,75 
   -1 
  100  

L1 = 300 – 18 = 282 m
Assim, ter-se-á 282 m com diâmetro de 125 mm e 18 m com diâmetro de 100 mm.
5 – Pressão no início da linha de derivação
hd  hl  hfd  DNd
hd  16,66  1,68  (0,002 x 300)  16,79 mca

Dimensionamento da linha principal


548 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A linha principal pode ser dividida em três trechos de 150 m, com vazões diferentes.
Deve-se lembrar que, como haverá dois turnos de 4,5 h de funcionamento por dia, cada subu-
nidade terá apenas um setor trabalhando no mesmo período. Assim, o trecho 1 deverá condu-
zir uma vazão para suprir três linhas de derivação; o trecho 2, duas linhas de derivação; e o
trecho 3, apenas uma linha.
Trecho 1 – Qlp = 3 Qd
Qlp = 3 Qd = 3 17,9 = 53,7 l.s-1 = 0,0537 m3 s-1
L = 150 m

4 Q
D
 V

4 x 0,0537
D  0,213 m
 1,5

Testando o diâmetro de 200 mm:


4 Qlp
V
 D2

4 0,0537
V  1,71 m s -1 , como o limite superior de velocidade é 2 m s-1, pode-se
 0,2 2
utilizar a tubulação de 200 mm.

Qlp1,83
hf 1  9,58 x 10 5 L
D 4 ,83

53,71,83
hf 1  9,58 x 10 5 150  1,67 mca
200 4,83
Trecho 2 – Qlp = 2 Qd
Qlp = 2 Qd = 2 x 17,9 = 35,8 L s-1 = 0,0358 m3 s-1
L = 150 m
4 Q
D
 V

4 x 0,0358
D  0,174 m
 1,5

Testando o diâmetro de 150 mm:


Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 549

4 Qlp
V
 D2

4 x 0,0358
V  2,02 m s -1 , como o limite superior de velocidade é 2 m s-1, deve-se
  0,152
utilizar a tubulação de 200 mm.
Qlp1,83
hf 2  9,58 x 105 L
D 4 ,83

35,81,83
hf 2  9,58 x 10 5 150  0,77 mca
2004 ,83
Trecho 3 – Qlp = 2 x Qd
Qlp = 1 Qd = 1 x 17,9 = 17,9 L s-1 = 0,0179 m3 s-1
L = 150 m
4 Q
D
 V

4 x 0,0179
D  0,123 m
 1,5

Testando o diâmetro de 100 mm:


4 Qlp
V
 D2
4 x 0,0179
V  2,28 m s -1 , como o limite superior de velocidade é 2 m s-1, deve-se
 0,12
utilizar a tubulação de 125 mm.
Qlp1,83
hf 3  9,58 x 105 L
D 4 ,83
17,91,83
hf 3  9,58 x 105 150  2,1 mca
1254 ,83

hflp = 1,67 + 0,77 + 2,1 = 4,54 mca

Dimensionamento da linha de recalque e sucção


550 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

O recalque já está incluído no primeiro trecho da linha principal, e a sucção terá o di-
âmetro imediatamente superior ao do primeiro trecho da linha principal e comprimento de 6
m.

53,71,83
hfs  9,58 x 10 5 6  0,02 mca
2504 ,83

Conjunto motobomba
A perda de carga ocorrida no cabeçal de controle deve ser especificada pelo fabrican-
te; neste caso, está em torno de 5 mca. A perda de carga localizada geralmente está em torno
de 5% da perda de carga contínua na linha principal.
Hm  hd  hfp  DNp  hfs  DNs  hfcc  hfloc

Hm  16,79  4,54  0  0,02  3  5  0,05  4,54  29,6 mca

Qs = 53,7 L s-1

De posse dos valores de Hm e Qs, pode-se escolher o conjunto motobomba mais adequan-
do, através do programa Agribombas. Assim, será usado o seguinte conjunto motobomba:
Marca: Mark Peerless
Modelo: GW
Velocidade do rotor: 1.750 rpm
Diâmetro comercial do rotor: 287 mm
Potência solicitada: 35,9 cv
Potência do motor elétrico: 30 cv
Rendimento: 83,6%
Número de rotores: 1 (monoestágio)
Rendimento do motor: 85,7%
Consumo de energia
Qs Hm
Pm 
75 Eb
53,7 x 29,6
Pm   25,3 cv Pm  25 cv ( FS  1,15)
75 x 0,836
Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 551

Pm
Pc 
Em
25,3
Pc   29,5 cv
0,857
ETs A
NHOS 
Em Qs 3600
550 x 600 x 450
NHOS   853,5 horas
0,9 x 53,7 x 3600
CTE = Pc NHOS = 29,5 x 0,736 x 853,5 = 25.178,3 kWh

Lista de material
Item Descrição Un. Quant.
Componentes da linha lateral
1 Gotejador FT azul Amanco un. 67.200
2 Tubo de polietileno PE1330 Amanco 13 mm m 90.000
3 Anel fim de linha un. 1.200
Componentes da linha de derivação
4 Conector saída para linha lateral 13 mm un. 1.200
5 Tubo PVC solda 125 mm 6m 47
6 Tubo PVC solda 100 mm 6m 3
7 Tampão fim de linha solda PVC macho 100 mm un. 6
Componentes da linha principal
8 Registro solda PVC 125 mm un. 6
9 Conexão “T” solda PVC 125 mm un. 1
10 Conexão “T” solda PVC 200/125 mm un. 4
11 Tubo PVC solda 125 mm 6m 25
12 Tubo PVC solda 200 mm 6m 50
Componentes do cabeçal de controle
13 Filtro de Disco Amanco Y 50/120 un. 6
14 Filtro de Tela Amanco Y 50/150 un. 6
15 Filtro de Areia Amanco Completo 200 mesh un. 2
552 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

16 Registro gaveta 200 mm un. 1


17 Conexão “T” solda PVC 200 mm un. 4
18 Conexão “T” solda PVC 200/50mm un. 8
19 Curva 90º solda PVC 200 mm un. 2
20 Curva 90º solda PVC 200/50 mm un. 4
21 Curva 90º solda PVC 25 mm un. 2
22 Injetor venturi 25 mm un. 1
23 Registro PVC 25 mm un. 2
24 Conexão “T” solda PVC 200/25 mm un. 2
25 Tubo PVC solda 200 mm 6m 4
26 Tubo PVC solda 50 mm 6m 4
27 Tubo PVC solda 25 mm 6m 1
Componentes do conjunto motobomba e sucção
28 Ampliação excêntrica 100/200 mm un. 1
29 Bomba Mark Peerless/GW un. 1
30 Motor 30 cv un. 1
31 Registro de gaveta 100 mm un. 1
32 Manômetro de glicerina un. 1
33 Redução excêntrica 250/125 mm un. 1
34 Curva 90º solda PVC 250 mm un. 1
35 Válvula de pé com crivo 250 mm un. 2
36 Tubo PVC 250 mm 6m 2
37 Lixa d’água un. 50
38 Cola para PVC lt 5
39 Fita veda rosca un. 5

Referências
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Irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) 553

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Manejo racional da irrigação 549

Capítulo 10

Manejo Racional da Irrigação

Considerações Gerais
No manejo racional de qualquer projeto de irrigação, devem-se considerar os aspectos
sociais e ecológicos da região e procurar maximizar a produtividade e a eficiência do uso da
água e minimizar os custos, quer de mão-de-obra, quer de capital, mantendo as condições de
umidade do solo e de fitossanidade favoráveis ao bom desenvolvimento da cultura irrigada. É
necessário também ter em mente a necessidade de melhorar ou, no mínimo, manter as
condições físicas, químicas e biológicas do solo, pois isso afetará muito a vida útil do projeto.
Têm-se de considerar, no manejo da irrigação, parâmetros que dependem do tipo de
sistema de irrigação e do próprio projeto em si, como: grau de automação, reuso da água que
escoa no final da parcela, necessidade de sistematização, medição de vazão, custo e
disponibilidade de água e de mão-de-obra, características da cultura irrigada etc., e
parâmetros comuns a todos os sistemas de irrigação, ou seja, quando irrigar, quando aplicar
por irrigação, uniformidade de aplicação, eficiência de irrigação, benefício da irrigação etc.
É de suma importância que no projeto de irrigação não seja considerada apenas a
captação e a condução de água, ou somente a sua aplicação dentro da parcela, mas sim uma
operação integrada, incluindo, também, a eqüidade na distribuição da água, as práticas
culturais, a retirada do excesso de água da área irrigada e a relação solo-água-planta e clima.
Caso essa integração não seja considerada, quer por ignorância, quer por falta de
planejamento, a eficiência do projeto e sua vida útil serão muito prejudicadas.
Infelizmente, é muito comum, no desenvolvimento dos projetos públicos de irrigação,
tratar isoladamente as seguintes etapas: estudo de viabilidade, planejamento, dimensionamento
e construção. E, para complicar ainda mais, não se consideram os aspectos relacionados à
operação e manutenção do projeto após concluído. Não se pode esquecer de que um sistema
de irrigação é um processo dinâmico e que essas etapas não podem ser tratadas isoladamente,
mas sim como um todo, juntamente com os aspectos de agroengenharia, social e de impacto
ambiental.
550 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

São várias as causas que levam muitos dos projetos públicos a não alcançarem os
objetivos preestabelecidos, sendo as mais comuns:
- falta de programa e de oportunidade para treinamento dos técnicos e usuários dos
projetos;
- falta de drenagem na maioria dos projetos, conduzindo à salinização, frustrando os
objetivos e as expectativas destes projetos de irrigação;
- falta de programação e de disponibilidade de recursos para manutenção e melhoria
dos projetos; e
- baixo valor dos produtos agrícolas, principalmente dos produtos básicos de
alimentação.
Em geral, esses problemas, juntos, resultam em baixa eficiência da irrigação,
salinização do solo, insucesso do projeto e na necessidade de reabilitação e melhoria da
maioria dos projetos, poucos anos após implantados.
Ultimamente, o uso da irrigação tem aumentado muito, mas, infelizmente, muitos dos
novos projetos já estão obsoletos mesmo antes de entrarem em operação. Em muitos casos, o
sucesso que se tem conseguido é com um custo financeiro muito elevado, o que torna a cada
dia mais importante a necessidade de estudos e pesquisas em manejo de sistemas de irrigação
para as diferentes condições socioeconômicas e regionais.
Um bom programa de irrigação pode beneficiar uma cultura de muitos modos, a
saber: aumentando sua produtividade, permitindo maior eficiência no uso de fertilizantes,
permitindo uma programação de cultivo, isto é, a elaboração de uma escala de plantio que
possibilite a obtenção de duas ou mais colheitas, em um só ano, na mesma área, ou seja, o uso
intensivo do solo, e permitindo introduzir culturas caras, o que minimiza o risco do
investimento etc.
Há alguns conceitos básicos de irrigação que devem ser discutidos antes de se tratar
sobre o manejo propriamente dito do sistema.

Sistema Solo-Água-Planta-Atmosfera
Qualquer planejamento ou qualquer operação de um projeto de irrigação que vise à
máxima produção e à boa qualidade do produto, usando de maneira eficiente a água, requer
conhecimento das inter-relações entre solo-água-planta-atmosfera e manejo de irrigação.
Em regiões áridas, onde a água é fator limitante, as pesquisas devem ser conduzidas
de modo que se faça o planejamento de irrigações em termos de máxima produção por unidade
de água aplicada. Noutras condições, pode ser preferível orientar as pesquisas para a obtenção
de máxima produção por unidade de área cultivada, por unidade de custo de mão-de-obra, por
unidade de energia, ou para aumentar o emprego de mão-de-obra no meio rural, ou visando ao
assentamento de famílias marginalizadas, ou para assegurar a estabilidade social na região.
Manejo racional da irrigação 551

Infelizmente, as práticas irrigatórias em uso são, de modo geral, baseadas em


costumes herdados ou em conveniências particulares, em vez de em corretas análises para as
condições presentes.
Ao iniciar-se um projeto de irrigação, deve-se ter em mente alguns propósitos, como,
por exemplo, aumentar a produção, economizar trabalho e água e minimizar a deterioração da
estrutura do solo e a perda de nutrientes etc.
Há alguns princípios básicos que são úteis ao planejamento e à operação de um
projeto de irrigação:
– A evapotranspiração diária de uma superfície coberta com vegetal rasteiro, na
ausência de energia advectiva, dificilmente excede a evaporação de um recipiente raso que
contenha água com superfície exposta às mesmas condições climáticas.
– Para que haja o máximo crescimento vegetativo, a transpiração de uma superfície
vegetal deve ser mantida na sua capacidade potencial, nas condições climáticas prevalecentes.
– Durante o ciclo de irrigação, a tensão máxima da água do solo que se deve permitir,
sem afetar a produção, é aquela na qual ainda haverá suficiente absorção pela planta, de modo
a protegê-la de progressiva deficiência hídrica.
– A razão entre a água evapotranspirada pela cultura e a aplicada pela irrigação deve
aproximar-se de um, para que se tenha máxima eficiência de uso e de aplicação.
– Geralmente, a seleção de culturas ou de práticas culturais que visem ao aumento da
produção ou à diminuição do ciclo vegetativo aumentará a eficiência de uso de água.
– A água percolada abaixo da zona radicular deve ser retirada pela drenagem, natural
ou artificial.
– A quantidade de sal trazida pela água de irrigação deve ser contrabalançada pela
quantidade removida pela água de drenagem.
Em cada situação, as respostas para as mais importantes questões sobre irrigação,
como: quando irrigar? quanto de água aplicar? como aplicar a água?, devem ser baseadas nos
princípios já mencionados e em pesquisas locais, e não em práticas específicas que tiveram
sucesso em outras regiões.
Questões como: até quanto por cento de “água útil”? ou até que tensão pode ser
permitida na zona radicular de uma cultura sem reduzir a produção? não têm a mesma
resposta em todas as regiões. Esses limites devem ser determinados para cada situação ou
extrapolados de outras regiões que tenham o mesmo clima e solo. Em outras palavras, não há
práticas específicas que possam ser generalizadas universalmente.
Ao recomendar um sistema de irrigação, é necessário:
- analisar os fatores solo, clima, planta e suprimento de água;
- considerar os fatores de engenharia deste sistema;
- visar sempre à obtenção da melhor função econômica; e
- considerar os fatores operacionais da propriedade.
552 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

O déficit de água causa decréscimo acentuado nas atividades fisiológicas,


principalmente na divisão e no crescimento das células e, em conseqüência, no crescimento
das plantas. Quando o déficit ocorre em períodos curtos, normalmente após as 13 horas, na
hora de maior demanda evapotranspirométrica, seu efeito é mínimo, mas, quando persiste por
período maior, seu efeito é drástico.
Em geral, as plantas cultivadas são mais sensíveis ao déficit de água no período que
vai do início da formação floral até a fase inicial de enchimento de grãos.
A capacidade de retenção de água na zona radicular depende, basicamente, da textura
e da estrutura do solo, da profundidade efetiva do sistema radicular da cultura e da
profundidade da camada de solo. Quanto maior for a profundidade do sistema radicular,
maior a capacidade de retenção de água no solo, mas, quanto mais profunda for a camada do
solo, menor será a porcentagem de água aproveitável nessas camadas, por causa do
decréscimo da densidade de raízes com o aumento da profundidade e a necessidade de maior
gradiente de potencial para retirar água das camadas mais profundas. Isso pode ser visto na
Figura 10.1, determinada por Gardner, onde se observa o perfil da absorção de água pelas
raízes de sorgo, em função da profundidade do solo e do número de dias após a irrigação.
Para obter máxima produção, o turno de rega deve, portanto, ser realizado de forma
que a planta não precise extrair água das camadas mais profundas.

8 6 4 2 1 0
20

40
Profundidade do solo, cm

60

80

100

Sorgo
120
15 20 25 30 35 40
Teor de umidade (%)

Figura 10.1 - Perfil de extração de água pelas raízes de sorgo em função da profundidade do
solo e do número de dias após a irrigação, segundo Gardner.
Manejo racional da irrigação 553

Relação entre Produção e Disponibilidade de


Água
Na literatura, há vários tipos de funções que relacionam produção com
disponibilidade de água. Entre essas funções, é comum encontrar uma correlação entre
produção e evapotranspiração, conforme ilustrado por Alves e Bernardo na Figura 10.2.
Quando a produção relativa (P/Ppot) é plotada em relação à evapotranspiração
relativa (ET/ETpot), tem-se, em geral, uma função linear, e o eixo ET/ETpot é interceptado
no intervalo de 0,25 a 0,50, dependendo da tolerância da cultura ao déficit de água, da
uniformidade do déficit ao longo do ciclo da cultura e do estádio de desenvolvimento da
cultura em que ocorreu o déficit, conforme ilustrado na Figura 10.3.
O suprimento total de água (STA) nas áreas irrigadas é constituído pela sua
disponibilidade no solo na época do plantio (DAP), pela precipitação efetiva durante o ciclo
da cultura (PE) e pela irrigação aplicada (IR). Com base nos trabalhos de Stewart et al., pode-
se facilmente relacionar a produção com os fatores que compõem o suprimento total de água,
conforme ilustrado na Figura 10.4.
Analisando a Figura 10.4, verifica-se que, em agricultura não-irrigada (agricultura de
sequeiro), tem-se determinada produção, a qual dependerá da disponibilidade de água no solo
na época do plantio (DAP) e da precipitação efetiva durante o ciclo da cultura (PE). Na
agricultura irrigada, se a eficiência de irrigação fosse de 100%, toda a água aplicada por
irrigação seria consumida pela evapotranspiração; desse modo, ter-se-ia uma função linear
entre lâmina de irrigação e produção. Entretanto, como na realidade não se tem irrigação com
eficiência de 100%, parte da água aplicada não será convertida em produção, ou seja, não
será consumida pela evapotranspiração. Quanto maior a quantidade de irrigação a fim de se
obter máxima produção, menor será a eficiência de uso de água; em conseqüência, a função
de produção versus irrigação é convexa. Se a aplicação de água for em excesso, poderá haver
decréscimo da produção, conforme ilustrado.
70
Produção total de tomates (t/ha)

60

50

40

30

20
Kada
10 São Sebastião
Floralou
00
0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2
Lâmina aplicada, de acordo com a evaporação no USWB tanque classe “A”
554 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 10.2 - Curvas da produção total de tomate dos cultivares ‘Kada’, ‘São Sebastião’ e
‘Floralou’, segundo Alves e Bernardo.

1,0

íd o u
0,8

bu a
tri á gu
o
dis d’

ou
te it

tico a
en éfic

crí ’águ
0,6

em o d

s
Grão ou frutas, P/Ppot

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ifo nte

as
un l era

pe r dé
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em s a o
0,4

Fr
dé uras

icit ívei
it
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Cu

déf sens
as
0,2
l tur
Cu

0,2 0,4 0,6 0,8 1,0


ET/ETpot

Figura 10.3 - Relação entre produção relativa (P/Ppont) e evapotranspiração relativa


(ET/ETpt), segundo Stegman et al.
Manejo racional da irrigação 555

ET (DAP + PE) ET (IR) não ET

6,0
(Pmax, ETmax) (Pmax, IR)

5,0
Produção, t/ha

4,0

3,0

(sequeiro)

2,0 10 20 30 40 50 60

Irrigação, cm

1,0

10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Suprimento total de água, cm

Figura 10.4 - Relação entre produção, disponibilidade de água no solo na época do plantio
(DAP), precipitação efetiva (PE), irrigação (IR) e evapotranspiração (ET).

Programação de Irrigação
O planejamento e a operação de um sistema de irrigação têm de ser baseados nos
objetivos e nas condições em que se executará o sistema. Em regiões áridas, onde a água é
fator limitante, o objetivo deve ser a obtenção de máxima produção por unidade de água
aplicada. Noutras condições, o propósito pode ser a obtenção de máxima produção por
unidade de área cultivada ou por unidade de custo de mão-de-obra ou de energia consumida.
Esses aspectos serão minuciosamente discutidos ainda neste capítulo.

Maximização da Produção por Unidade de


Água Aplicada
Pode-se conseguir este objetivo da seguinte maneira:
a) Adequando melhor a irrigação aos períodos críticos de déficit de água – Para
isso, precisam ser conhecidas as fases críticas das diversas culturas nas diferentes regiões do
País e somente suprir adequadamente de água através da irrigação nesses períodos. Fora
desses períodos, deve-se realizar suprimento parcial de água somente por meio da irrigação e,
ou, trabalhar com maior probabilidade de chuva.
556 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Já são bastante conhecidos os seguintes períodos críticos de déficit de água, comuns à


maioria das culturas: germinação, floração e enchimento de grãos.
b) Irrigando com déficit de água em relação à evapotranspiração real – Consiste
em estabelecer um programa de irrigação em que a lâmina média aplicada seja sempre menor
do que a lâmina média evapotranspirada. Esse manejo é mais eficiente em sistemas de
irrigação que facilitam a aplicação mais freqüente (menor turno de rega) e com menor lâmina,
como é o caso de irrigação por gotejamento, microaspersão, autopropelido e pivô central.
Nesses dois últimos sistemas, haveria a preocupação somente de manter elevado o teor de
umidade nos primeiros 30 cm do solo, onde a demanda de umidade é maior, de acordo com a
Figura 10.1. Para isso, podem-se usar tensiômetros instalados até 30 cm de profundidade,
para funcionarem como indicadores de quando irrigar, uma vez que se sabe que os
tensiômetros só funcionam na faixa superior de umidade do solo, ou seja, até uma tensão de
aproximadamente 70 centibars.
Para as condições de Brasil, em que as irrigações, em razão da ocorrência de chuvas
no principal período de cultivo, devem ser suplementares, esse manejo, principalmente no
período das chuvas, é o recomendável, pois requer sistemas com menor capacidade, tanto da
motobomba como das tubulações, portanto com menor custo inicial e de operação. Ele aplica
menor lâmina total de irrigação durante o ciclo da cultura, causando menor decréscimo de
produção, quanto à produção potencial (Figura 10.3) e permite melhor aproveitamento das
chuvas.
Na fase inicial da cultura, como o consumo de água é menor do que a
evapotranspiração de referência (ETo), pode-se aplicar, por meio da irrigação, um pouco mais
do que a evapotranspiração real da cultura (ETc). Com isso, manter-se-á todo o perfil do solo
com elevado teor de umidade. No período de máxima demanda evapotranspirométrica,
manter-se-á o turno de rega pequeno e far-se-ão aplicações de quantidade um pouco menor do
que a ETrc; com isso, haverá reposição de umidade somente na camada superior do solo e a
planta retirará parte da água necessária das camadas mais profundas. Na época de enchimento
dos grãos, deve-se aplicar a lâmina necessária para atender à evapotranspiração real dessa
fase.

Maximização da Produção por Unidade de


Área
Este objetivo pode ser economicamente justificado quando se tem limitação de áreas
agricultáveis e, ou, não se tem limitação de água e o custo de operação do sistema de irrigação
é relativamente baixo.
Para conseguir máxima produção por unidade de área, é necessário dispor de um
suprimento de água suficiente para atender à demanda diária de evapotranspiração potencial e
de um sistema capaz de irrigar a área com alta freqüência, de modo que seja mantido em nível
elevado o teor de umidade da camada de solo na zona radicular, pois, para que a fotossíntese
Manejo racional da irrigação 557

seja processada em seu potencial, deve-se manter elevada a disponibilidade de água no solo,
para que seja mantida a evapotranspiração potencial. Em muitas culturas, para que se obtenha
máxima produção, em geral, deve-se permitir que somente sejam usados, entre duas irrigações
sucessivas, 25 a 40% da disponibilidade de água do solo. É bom lembrar que nem sempre se
deseja a produção da planta como um todo, mas somente de determinado órgão desta, e nem
sempre a maior produção desse órgão e, ou, sua melhor qualidade estão relacionadas com o
maior crescimento.
A maior ou menor freqüência de irrigação dependerá muito do método de irrigação. É
muito difícil e não faz muito sentido usar um turno de rega longo na irrigação por gotejamento
ou por microaspersão, bem como um turno de rega muito curto na irrigação por superfície.
Em geral, para obter boa produção, podem-se usar, entre duas irrigações sucessivas,
os seguintes percentuais de disponibilidade de água do solo:
– Verduras e legumes 20 a 60%
– Frutas 30 a 70%
– Feijão, milho e soja 40 a 70%
– Sorgo, trigo e algodão 50 a 80%
Quando se está praticando irrigação com alta freqüência (gotejamento, microaspersão,
pivô central) e suprindo a demanda evapotranspirométrica, não há necessidade de se
preocupar com o nível de disponibilidade de água no solo, pois, nesses casos, esta
disponibilidade será sempre elevada.

Maximização dos Lucros


Não se deve irrigar pelo simples prazer de dizer que está praticando agricultura
irrigada, mas sim com o objetivo de aumentar o lucro, obter maior produção, quer em
quantidade ou em qualidade, ou incorporar à agricultura terrenos que, sem o uso da irrigação,
não seria possível cultivar.
A estimativa do lucro é obtida por meio da comparação da estimativa do valor da
produção com a estimativa do custo. Para isso, é necessário que se conheça o custo da
irrigação por unidade de energia consumida, por unidade de volume de água aplicado e por
número de irrigações, bem como a função de produção versus irrigação e o valor da produção.
Para estimar a demanda e o custo da energia, usa-se a seguinte equação:
A D Hman
DE = 0,0271 (10.1)
Ei Emb

em que: DE = demanda de energia, em kWh;


558 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A = área a ser irrigada, em ha;


D = lâmina real por irrigação ou no ciclo, em mm;
Hman = altura manométrica, em mca;
Ei = eficiência de irrigação, em decimal; e
Emb = eficiência da motobomba, em decimal.

Manejo do Sistema de Irrigação


Após a instalação do sistema e durante o primeiro ciclo de irrigação, é necessário
avaliar e calibar os equipamentos, para garantir uma boa eficiência do sistema.
O acompanhamento, a análise e a avaliação de um sistema de irrigação são
fundamentais para o seu correto manejo, devendo a avaliação ser realizada periodicamente.
Um dos parâmetros de maior importância para se conduzir um sistema de irrigação é a
medição da vazão, tanto a aplicada na irrigação quanto a vazão de escoamento no final da
parcela, quando for o caso. Portanto, são de suma importância para o desenvolvimento da
irrigação no país a fabricação, a forma de comercializá-la e o uso de medidores de vazão.
Todo projeto de irrigação que foi calibrado e, em conseqüência, ajustado, para que as
demais irrigações sejam conduzidas com eficiência, permite que as operações de programação
das irrigações, monitoragem e avaliação do sistema sejam mais fáceis. Isso decorre da
necessidade, para uma calibração, da instalação de estruturas e equipamentos que permitirão
obter dados importantes para a análise do sistema, como vazão aplicada, vazão de escoamento
no final da parcela, características de infiltração do solo, tempo de irrigação etc.
Infelizmente, muitos dos sistemas de irrigação são instalados sem a devida avaliação e
monitoramento, e o seu desempenho, como não poderia deixar de ser, deixa muito a desejar.
O ponto-chave no manejo da irrigação é decidir quando irrigar e quanto de água
aplicar.
O quanto de água aplicar é normalmente calculado com base na quantidade
consumida pela cultura, dividida pela eficiência de aplicação. A quantidade consumida pela
cultura pode ser estimada por meio da evapotranspiração real ou por intermédio da variação
do teor de umidade do solo. Todavia, tem sido mais comum o uso da evapotranspiração real.
É óbvio que a quantidade de água a ser aplicada por irrigação tem de ser compatível com a
capacidade de retenção de água na zona radicular da cultura.
A questão de quando irrigar, que é, sem dúvida, um dos pontos mais importantes no
manejo da irrigação, pode ser determinada de diferentes modos: pela medição da deficiência de
água na planta, pelo sintoma desta deficiência, pela disponibilidade de água no solo, pela
evapotranspiração real, pelo turno de rega e pelo balanço de água no solo.
Um dos parâmetros que mais influenciam o quando irrigar é o tipo de distribuição de
água no projeto de irrigação. São estes os principais tipos de distribuição de água em uso nos
sistemas de irrigação com múltiplos usuários:
Manejo racional da irrigação 559

Distribuição por demanda – A água está continuamente à disposição do usuário. É


só abrir o registro ou a comporta e irrigar. Este tipo de distribuição é comum na França
(assemelha-se ao nosso sistema de distribuição de água potável). Geralmente requer sistemas
automatizados.
Distribuição por solicitação – O irrigante terá que comunicar à gerência do projeto
com determinado número de dias de antecedência, normalmente de dois a sete, quando e
quanto de água ele necessitará.
Distribuição contínua – Neste caso, cada usuário receberá uma vazão contínua
durante todo o ciclo de cultivo. Este método não deve ser recomendado quando a área a ser
irrigada por usuários for pequena, pois a vazão será muito baixa, o que tornará muito difícil
conduzir a irrigação.
Distribuição em rotação – Cada irrigante receberá água com determinado intervalo
de tempo. Este é um dos métodos mais usados, principalmente nos projetos de irrigação em
que a área a ser irrigada de cada usuário for média ou pequena.
A distribuição de água no projeto de irrigação pode ser com intervalo e vazão
constantes durante todo o ciclo da cultura; com intervalo variável e vazão constante ao longo
do ciclo (maior intervalo nos períodos de menor demanda e menor intervalo no período de
maior demanda); e com intervalo e vazão variáveis ao longo do ciclo da cultura.
Ao se tratar de sistema de irrigação para um único usuário, principalmente quando
envolve o uso de motobomba e, ou, longos canais ou tubulações, o tempo de funcionamento
deverá ser o maior possível, visando diminuir sua ociosidade e aumentar a sua capacidade de
irrigação por unidade de área, evitando o seu superdimensionamento, a não ser quando se
tratar de miniprojetos, pois existe uma vazão mínima para se poder conduzir satisfatoriamente
a irrigação. A irrigação deverá ser conduzida em rotação entre as subparcelas do projeto, com
o intervalo entre irrigação (turno de rega) e vazão variável ao longo do ciclo da cultura.
De modo geral, a questão de quando irrigar pode ser discutida sob dois aspectos,
conforme abordado subseqüentemente.

Irrigação com Turno de Rega Prefixado


Muitas vezes, em virtude das características de distribuição de água em sistemas de
múltiplos usuários ou em razão da capacidade do sistema em relação à área a ser irrigada,
tem-se de trabalhar com um turno de rega prefixado. Nesse caso, o turno de rega deve ser
definido de modo que atenda somente a 70 a 80% da demanda evapotranspirométrica no
período de maior demanda. Assim, antes do período de maior demanda evapotranspirométrica,
a irrigação reporá no solo toda a umidade consumida no intervalo entre cada duas irrigações,
mantendo assim todo o perfil do solo com a máxima disponibilidade de água. No período de
maior demanda evapotranspirométrica, já que o sistema não terá capacidade de suprir toda a
água necessária, a planta completará suas necessidades absorvendo a água das camadas mais
560 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

profundas ou das precipitações pluviométricas que porventura caírem nessa época; a lâmina
real a ser aplicada por irrigação deverá ser igual ao somatório, no período, da ETc para os
sistemas com irrigação total, ou igual ao somatório, no período, da ETc menos a precipitação
efetiva para os sistemas com irrigação suplementar, ou seja:

– Para irrigação total


TR
 (ETc) i
i=l
ITN = (10.2)
Ea

– Para irrigação suplementar


TR
 (ETc - Pe) i
i=k
ITN = (10.3)
Ea

em que: ITN = lâmina total a ser aplicada por irrigação, em mm;

ETci = evapotranspiração da cultura no dia i, em mm;

(Pe)i = precipitação efetiva no dia 1, em mm; e

Ea = eficiência de aplicação, em decimal.

Exemplos
Exemplo de Manejo com Irrigação Total
Calcular a lâmina a ser aplicada por irrigação, durante o mês de janeiro, em um
projeto de irrigação situado na região do Pirarucu, para as seguintes condições:
– Cultura de milho verde (comercialização em espiga).
– Turno de rega em janeiro = 7 dias.
– Evapotranspiração de referência (ETo):
de 1º a 10 de janeiro = 7,0 mm/dia
de 11 a 20 de janeiro = 7,8 mm/dia
de 21 a 31 de janeiro = 8,7 mm/dia
– Coeficiente da cultura:
O milho encontra-se na fase de enchimento dos grãos, Kc = 1,15.
– Capacidade total de água no solo nesta fase da cultura = 150 mm.
– Método de irrigação = aspersão, admitir Ea = 70%.
– A última irrigação foi realizada na manhã do dia 1º de janeiro.
Manejo racional da irrigação 561

Cálculos
– Período de 1º a 10 de janeiro
ETpc = Kc . ETo = 1,15 x 7,0 = 8,0 mm/dia
ETc = Ks . ETpc (equação 2.5). Para este período, a ETc será determinada utilizando a
equação 2.21 (Ks = Ln (LAA + 1.0)/Ln (CTA + 1,0) com CTA = 150 mm e ETpc = 8,0
mm/dia. Assim, tem-se:
dia 1º/jan., ETc = ETpc = 8,0 mm
dia 2/jan., ETc = 7,91 mm
dia 3/jan., ETc = 7,82 mm
dia 4/jan., ETc = 7,73 mm
dia 5/jan., ETc = 7,63 mm
dia 6/jan., ETc = 7,52 mm
dia 7/jan., ETc = 7.41 mm
dia 8/jan.
8,0 + 7,91 + ... + 7,41 54,02
ITN = = = 77 mm
0,7 0,7
ETc = ETpc = 8,0 mm
dia 9/jan., ETc = 7,91 mm
dia 10/jan., ETc = 7,82 mm
– Período de 11 a 20 de janeiro

ETpc = 1,15 x 7,8 = 9,0 mm; usando a equação 2.5, tem-se:

dia 11/jan., ETc = 8,65 mm

dia 12/jan., ETc = 8,52 mm

dia 13/jan., ETc = 8,38 mm

dia 14/jan., ETc = 8,24 mm

dia 15/jan.

8,0 + 7,91 + ... + 8,24 57,52


ITN = = = 82 mm
0,7 0,7

ETc = ETpc = 9,0 mm

dia 16/jan., ETc = 8,89 mm

dia 17/jan., ETc = 8,77 mm


562 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

dia 18/jan., ETc = 8,65 mm

dia 19/jan., ETc = 8,52 mm

dia 20/jan., ETc = 8,38 mm

– Período de 21 a 31 de janeiro

ETpc = 1,15 x 8,7 = 10 mm/dia; usando a equação 2.5, tem-se:

dia 21/jan., ETc = 9,04 mm

dia 22/jan.

9,0 + ... + 9,04 61,25


ITN = = = 88 mm
0,7 0,7

ETc = ETpc = 10,0 mm

dia 23/jan., ETc = 9,86 mm

dia 24/jan., ETc = 9,72 mm

dia 25/jan., ETc = 9,56 mm

dia 26/jan., ETc = 9,40 mm

dia 27/jan., ETc = 9,23 mm

dia 28/jan., ETc = 9,04 mm

dia 29/jan.

10,0 + ... + 9,04 66,81


ITN = = = 95 mm
0,7 0,7

ETc = ETpc = 10,0 mm

dia 30/jan., ETc = 9,86 mm

dia 31/jan., ETc = 9,72 mm

Exemplo de Manejo com Irrigação Suplementar


Calcular a lâmina a ser aplicada por irrigação, durante o mês de janeiro, em um
projeto de irrigação situado na região de Rio do Peixe, para as seguintes condições:
– Cultura de milho verde (comercialização em espiga).
Manejo racional da irrigação 563

– Turno de rega em janeiro = 10 dias.


– Evapotranspiração de referência (ETo):
de 1º a 10 de janeiro = 5,2 mm/dia
de 11 a 20 de janeiro = 6,1 mm/dia
de 21 a 31 de janeiro = 7,0 mm/dia
– Coeficiente da cultura:
O milho encontra-se na fase de enchimento dos grãos, Kc = 1,15.
– Capacidade total de água no solo nesta fase da cultura = 150 mm.
– Método de irrigação = aspersão, assumir Ea = 70%.
– A última irrigação foi realizada na manhã do dia 1º de janeiro.
Cálculos
– Período de 1º a 10 de janeiro
ETpc = Kc . ETo = 1,15 x 5,2 = 6,0 mm/dia
ETc = Ks . ETpc (equação 2.5). A ETc será determinada usando-se a equação 2.21
(Ks = Ln (LAA + 1,0)/Ln (CTA + 1,0) com CTA = 150 mm e ETpc = 6,0 mm/dia.
Dessa forma, tem-se:
dia 1º/jan., ETc = ETpc = 6,0 mm
dia 2/jan., ETc = 5,95 mm
dia 3/jan., ETc = 5,90 mm
dia 4/jan., ETc = 5,85 mm
dia 5/jan., ETc = 5,79 mm

No dia 6 de janeiro ocorreu uma chuva de 40 mm; considerando uma precipitação


efetiva de 3/5 do total precipitado, ter-se-ia uma Pe = 24 mm. Como até o dia 6 o total
evapotranspirado foi de 29,49 mm, a disponibilidade de água no solo tornou-se
aproximadamente igual à de um dia após a irrigação (dia 2/jan.).
dia 6/jan., ETc = 5,95 mm
dia 7/jan., ETc = 5,90 mm
dia 8/jan., ETc = 5,85 mm
dia 9/jan., ETc = 5,79 mm
dia 10/jan., ETc = 5,74 mm

– Período de 11 a 20 de janeiro
dia 11/jan.,
564 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

(6,0 + ... + 5,74) - 24,0 34,72


ITN = = = 50 mm
0,7 0,7

ETpc = Kc . ETo = 1,15 x 6,1 = 7,0 mm/dia


ETc = ETpc = 7,0 mm; usando a equação 2.5, tem-se:
dia 12/jan., ETc = 6,93 mm
dia 13/jan., ETc = 6,86 mm
dia 14/jan., ETc = 6,79 mm
dia 15/jan., ETc = 6,72 mm
dia 16/jan., ETc = 6,64 mm
dia 17/jan., ETc = 6,56 mm
dia 18/jan., ETc = 6,47 mm
dia 19/jan., ETc = 6,38 mm
dia 20/jan., ETc = 6,29 mm
– Período de 21 a 31 de janeiro
dia 21/jan.,

7,0 + 6,93 + ... + 6,29 66,64


ITN = = = 95 mm
0,7 0,7

ETpc = Kc ETo = 1,15 x 7,0 = 8,0 mm/dia


ETc = ETpc = 8,0 mm; usando a equação 2.5, tem-se:
dia 22/jan., ETc = 7,91 mm
dia 23/jan., ETc = 7,82 mm
No dia 24 de janeiro ocorreu uma chuva de 60 mm; como o solo somente podia reter,
até atingir sua capacidade total, uma lâmina de 23,73, a precipitação efetiva será: (Pe =
23,73)
dia 24/jan., ETc = ETpc = 8,0 mm
dia 25/jan., ETc = 7,91 mm
dia 26/jan., ETc = 7,82 mm
dia 27/jan., ETc = 7,73 mm
dia 28/jan., ETc = 7,63 mm
dia 29/jan., ETc = 7,52 mm
dia 30/jan., ETc = 7,41 mm
Manejo racional da irrigação 565

(8,0 + ... + 7,41) - 23,73 54,02


ITN = = = 77 mm
0,7 0,7

dia 31/jan., ETc = ETpc = 8,0 mm

Irrigação com Turno de Rega Variável


Sempre que possível, deve-se usar este procedimento, que permite adequar a irrigação
às diferentes fases do desenvolvimento vegetativo da cultura, bem como à variação da
demanda evapotranspirométrica ao longo do ciclo da cultura. Para esse caso, podem-se usar
quase todos os recursos já citados para decidir quando irrigar, ou seja, a medição da
deficiência de água na planta, o sintoma desta deficiência, a determinação da umidade do solo
e o balanço de água no solo. É mais comum, porém, decidir quando irrigar com base na
determinação da umidade do solo ou no balanço de água no solo.
Quando a decisão de irrigar é baseada no teor de umidade do solo, tem-se de definir,
a priori, qual nível de umidade no solo indicará quando irrigar. Esse nível deve ser definido
em função da cultura, do órgão a ser colhido, da localização geográfica da área do projeto e
das características de retenção de água do solo. Para a maioria das culturas, é comum usar a
média entre o teor de umidade equivalente à “Capacidade de campo” e o teor de umidade
equivalente ao ponto de murchamento, sendo o correto que este valor seja determinado por
meio de pesquisa, para cada cultura em cada tipo de solo da região.
Dentre os diversos métodos de determinação da umidade do solo, citados no capítulo
1 – Água no Solo, é mais comum usar, para determinação da época de irrigação, o método-
padrão de estufa, o método de Bouyoucos, o de Colman e o Tensiômetro. Esses três últimos
permitem a automatização do sistema no que diz respeito à decisão de quando irrigar.
Os métodos de balanço de água no solo, sem dúvida, têm se mostrado, ultimamente, mais
eficientes para programar as irrigações, ou seja, para definir quando irrigar. Citar-se-á o método de
balanço de água no solo, comumente usado em países com maior tradição na irrigação.
Di = Di - 1 + ETci - Pei (10.4)
em que: Di = lâmina de água consumida até o dia i, em mm (Di = 0 quando o teor de umidade
de solo for igual à “Capacidade de campo”);
Di - l = lâmina de água consumida até o dia anterior, em mm;
ETrci = estimativa da evapotranspiração real no dia i, em mm; e
Pei = precipitação efetiva do dia i, em mm.
O balanço é feito diariamente e, quando o valor de Di atinge um valor
preestabelecido, na dependência da percentagem de disponibilidade de água do solo que será
usada entre duas irrigações sucessivas, aplica-se a irrigação. Lembre-se de que esse valor
preestabelecido depende da capacidade de retenção de água do solo (em mm por cm de
566 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

profundidade do solo), do tipo de cultura e da profundidade do seu sistema radicular. Para


determinada cultura, em certo tipo de solo, o sistema radicular inicia-se na germinação e vai-
se desenvolvendo ao longo do ciclo vegetativo. Assim, o valor preestabelecido que definirá
quando irrigar será menor no início e crescerá até atingir o valor máximo, o que acontece a
partir do momento em que a planta atinge aproximadamente 60% do seu desenvolvimento
vegetativo.
Na Figura 10.5 está ilustrado graficamente esse balanço. Quando a precipitação
efetiva (precipitação – escoamento superficial) ou a irrigação excederem a lâmina de água
consumida até aquele dia, D será reduzido para zero.
Sempre que o sistema de irrigação permitir, a lâmina a ser aplicada na irrigação não
deverá reduzir D a zero, para que possa ser aproveitada alguma chuva que porventura ocorra
após a irrigação.
Plantio
(I) (I) (P) (I) (P) (I)

0 (CC)
Lâmina d'água consumida, mm

15

30

45

60
(I) Irrigação
(P) Precipitação y % da disponibilidade
75

Out Nov Dez

Figura 10.5 - Esquema do balanço de água no solo.


Exemplo
Será dado um exemplo do uso deste método de balanço de água no solo para
determinar quando irrigar.
Determinar quando irrigar, durante o mês de fevereiro, em um projeto de irrigação
situado na região do Rio Tucunaré, para as seguintes condições:
– Cultura: feijão.
– Evapotranspiração de referência (ETo):
de 1º a 10 de fevereiro = 7,0 mm/dia
de 11 a 20 de fevereiro = 6,0 mm/dia
de 21 a 28 de fevereiro = 5,0 mm/dia
– Coeficiente da cultura: A cultura encontra-se na fase final de enchimento dos grãos,
Kc = 1,0.
– Capacidade total de água no solo, nesta fase de desenvolvimento da cultura, 100
mm.
Manejo racional da irrigação 567

– Usar somente 60% da disponibilidade de água no solo entre duas irrigações


sucessivas (f = 0,6), ou seja, IRN  0,6 x 100  60 mm.
– Método de irrigação = sulco
– Considerar que a parcela em apreço foi irrigada na manhã do dia 1º de fevereiro.
Cálculos
Lâmina real a ser aplicada por irrigação no final do sulco = 60 mm.
– Período de 1º a 10 de fevereiro
ETpc = Kc ETo = 1,0 x 7,0 = 7,0 mm/dia
ETc será determinada usando as equações 2.5 e 2.21, com CTA = 100 mm.
dia 1º/fev., ETc = ETpc = 7,0 mm
D = 0 + 7,0 - 0 = 7,0 mm
dia 2/fev., ETc = 6,89 mm
D = 7,0 + 6,89 - 0 = 13,89 mm
dia 3/fev., ETc = 6,77 mm
D = 13,89 + 6,77 - 0 = 20,66 mm
dia 4/fev., ETc = 6,65 mm
D = 20,66 + 6,65 - 0 = 27,31 mm
dia 5/fev., ETc = 6,52 mm
D = 27,31 + 6,52 = 33,83 mm
dia 6/fev., ETc = 6,38 mm
D = 33,83 + 6,38 - 0 = 40,21 mm
dia 7/fev., ETc = 6,23 mm
D = 40,21 + 6,23 - 0 = 46,44 m
dia 8/fev., ETc = 6,06 mm
D = 46,44 + 6,06 - 0 = 52,50 mm
dia 9/fev., ETc = 5,89 mm
D = 52,50 + 5,89 - 0 = 58,39 mm
No dia 10 de fevereiro, será feita uma irrigação aplicando uma lâmina no final do
sulco de aproximadamente 60 mm (58 mm).
ETc = ETpc = 7,0 mm
D = 0 + 7,0 - 0 = 7,0 mm
568 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

– Período de 11 a 20 de fevereiro
ETpc = Kc ETo = 1,0 x 6,0 = 6,0 mm/dia, usando a equação 2.5, tem-se:
dia 11/fev., ETc = 5,92 mm
D = 7,0 + 5,92 - 0 = 12,92 mm
No dia 12 de fevereiro ocorreu uma chuva de 30 mm; destes, 20 mm foram
considerados efetivos (2/3 da chuva)
ETc = ETpc = 6,0 mm
D = 12,92 + 6,0 - 20  0 (solo saturado)
dia 13/fev., ETc = ETpc = 6,0 mm
D = 0 + 6,0 - 0 = 6,0 mm
dia 14/fev., ETc = ETpc = 6,0 mm
D = 6,0 + 6,0 - 0 = 12,0 mm
dia 15 fev., ETc = 5,92
D = 12,0 + 5,92 - 0 = 17,92 mm
dia 16/fev., ETc = 5,84 mm
D = 17,92 + 5,84 - 0 = 23,76
No dia 17 de fevereiro ocorreu uma chuva de 60 mm; destes, 30 mm foram
considerados efetivos (1/2 da chuva)
ETc = ETp = 6,0 mm
D = 23,76 + 6,0 - 30  0 (solo saturado)
dia 18/fev., ETc = ETpc = 6,0 mm
D = 0 + 6,0 - 0 = 6,0 mm
dia 19/fev., ETc = ETpc = 6,0 mm
D = 6,0 + 6,0 - 0 = 12,0 mm
dia 20/fev., ETc = 5,92 mm
D = 12,0 + 5,92 - 0 = 17,92 mm

– Período de 21 a 28 de fevereiro
ETpc = Kc ETo = 1,0 x 5,0 = 5,0 mm; usando as equações 2.5 e 2.21, tem-se:
dia 21/fev., ETc = 4,89
D = 17,92 + 4,89 - 0 = 22,81 mm
dia 22/fev., ETc = 4,83 mm
D = 22,81 + 4,83 - 0 = 27,64 mm
Manejo racional da irrigação 569

dia 23/fev., ETc = 4,76 mm


D = 27,64 + 4,76 - 0 = 32,40 mm
dia 24/fev., ETc = 4,70 mm
D = 32,40 + 4,70 - 0 = 37,10 mm
dia 25/fev., ETc = 4,63 mm
D = 37,10 + 4,63 - 0 = 41,73 mm
dia 26/fev., ETc = 4,56 mm
D = 41,73 + 4,56 - 0 = 46,29 mm
dia 27/fev., ETc = 4,48 mm
D = 46,29 + 4,48 - 0 = 50,77 mm
dia 28/fev., ETc = 4,40 mm
D = 50,77 + 4,40 - 0 = 55,17 mm
dia 1º/mar., ETc = 4,32 mm
D = 55,17 + 4,32 - 0 = 59,49 mm

No dia 2 de março terá de ser feita uma irrigação aplicando uma lâmina no final do
sulco de aproximadamente 60 mm.
Na Figura 10.6 é ilustrada a variação típica da disponibilidade da água no solo
durante o ciclo de uma cultura irrigada por pivô central. As duas curvas mostram que se pode
programar a irrigação de modo que seja mantido o teor de umidade mais elevado nos 30 cm da
camada superior do solo e, ao mesmo tempo, permitir contínuo consumo da água das camadas
inferiores. Nesse caso, ter-se-á muito pouca perda de água por percolação e maior
aproveitamento das chuvas que porventura ocorrerem durante o ciclo da cultura.
570 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

20
CC
Z = 90 cm

Disponibilidade d’água (DA), cm 15


50% DA

10
CC
Z = 30 cm
5
50% DA

0
15 15 15 15
jun. jul. ago. set.

Figura 10.6 - Variação típica da disponibilidade de água durante o ciclo de uma cultura
irrigada por pivô central, em função da profundidade (Z), segundo Heerman et
al.

É bem mais fácil programar quando e quanto irrigar nos sistemas de irrigação
localizada e aspersão do que nos de irrigação por superfície, pois na irrigação por sulco o
controle da irrigação não depende somente do sistema de irrigação, mas, principalmente, das
características de infiltração do solo que variam conforme os tratos culturais, o número de
irrigação, o tempo de avanço e de recessão etc.
Na prática, segundo Jensen et al., os usuários da irrigação não têm se mostrado muito
sensíveis a melhorar o manejo da irrigação. Dentre as diversas causas, podem-se citar:
– baixo custo da água de irrigação, em relação ao custo das práticas que melhorariam
a eficiência de irrigação;
– dificuldade de qualificar e quantificar funções de produção que mostrem o
decréscimo da produção em razão da falta ou do excesso de irrigação;
– falta de dados de campo para os que terão de decidir diariamente quando e quanto
irrigar; e
– muitas vezes, nos projetos, as decisões sobre quando irrigar são relegadas a plano
secundário.
Além do mais, é comum, nos meios empresarial, rural e governamental, acreditar-se
que com poucas informações e rápido treinamento se pode transformar qualquer pessoa num
especialista em irrigação.
Manejo racional da irrigação 571

Referências
BERNARDO, S.; HILL, R.W. Um modelo para determinação de irrigação suplementar. Rev. Ceres, v. 25, n.
138, mar-abr. 1978.
BERNARDO, S. Manual de irrigação. 3. ed. Viçosa: Impr. Univ. 1983. 463 p.
DOORENBOS, J.; PRUIT, W.O Crop water requirements. Irrigation and drainage paper nº 24. Roma, F.A.O.,
1975. 179 p.
GARDNER, W.R. Soil water mobement and root absorption. In: PIERRE H. et al. (Eds.) Plant environment
and efficient water use. W. Madison: Ann. Soc. and Soil Sci. Am. 1965. p. 127-149.
HANKS, R.J.; GARDNER, W.R.; FLORIAN, R.L. Plant growth - evapotranspiration relations for several crops
in Central Great Plains. Agron. Journal, v. 61, p. 30-34, 1969.
HEERMANN, D.F.; HAISE, H.R.; MICKEISON, R.H. Scheduling center pivot sprinkler irrigation for corn
production in easter Colorado. Transaction of the ASAE, v. 19, n. 1, p. 284-287, 1976.
JENSEN, M.E.; ROBB, D.C.N.; FRANZOY, G.E. Scheduling irrigation using climate-crop-soil data. Proc.
Am. Soc. Civ. Eng., J. Irrig. and Drain Div., v. 96 (IRI), p. 25-38, 1970.
JENSEN, M.E.; WRIGHT, J.L.; PRATT, B.J. Estimating soil moiusture deplition from climate, crop and soil
data. Transaction of the ASAE, p. 954-959, 1971.
WRIGHT, J.L. New evapotranspiration crop coefficients. Proc. Am. Soc. Civ. Eng., J. Irrig. and Drain. Div.,
v. 108 (IR1), p. 57-74, 1982.
STEGMAN, E.C.; MUSICK, J.T.; STEWART, J.I. Irrigation water management. In: JENSEN, M.E. (Ed.).
Design and operation of farm Irrigation systems. Ame. Soc. Agri. Eng. St. Joseph, MI. 1980. p. 763-816.
Drenagem 571

Capítulo 11

Drenagem

Considerações Gerais
O objetivo da drenagem em regiões úmidas e semi-úmidas é aerar a camada superior
do solo e aumentar sua resistência, de modo que permita sua exploração agrícola. O excesso
de água terá de ser removido e o lençol freático mantido a uma profundidade a ser
determinada em função do solo, do clima e da cultura a ser explorada na área. Na maioria das
áreas irrigadas, o objetivo da drenagem é retirar o excesso de água aplicado na irrigação, ou
seja, controlar a elevação do lençol freático, bem como possibilitar a lixiviação dos sais
trazidos nas águas de irrigação, a fim de evitar a salinização do solo.
Assim, a drenagem de terras agrícolas pode ser definida como o processo de remoção
de excesso de água dos solos, de modo que lhes dê condições de aeração, estruturação e
resistência, a fim de torná-los viáveis à exploração agrícola.
Em qualquer terreno existe normalmente drenagem natural, mas nem sempre ela é
suficiente para tornar os solos viáveis à exploração agrícola; por isso, sempre que a drenagem
natural não for satisfatória, deve-se fazer, em complementação, drenagem artificial.
As principais fontes do excesso de água no solo são as precipitações, as irrigações e
as infiltrações provenientes de lençol freático, canais e represas. Em regiões áridas e semi-
áridas, a fonte mais comumente causadora do excesso de água no solo em razão da elevação
do lençol freático é a irrigação, e em regiões úmidas e semi-úmidas é a chuva.
Os principais benefícios que se podem conseguir com a drenagem são os comentados
a seguir.

Incorporação de Novas Áreas à Produção


Agrícola
572 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Principalmente nas regiões úmidas e semi-úmidas, onde uma boa percentagem dos
terrenos encontra-se, em condições naturais, com excesso de umidade, como nos casos dos
brejos e pântanos, a única maneira de torná-los agricultáveis é por meio da drenagem. Esses
solos, em geral, são ricos e com topografia plana e uniforme, ou seja, com grande potencial
para agricultura mecanizada.

Aumento da Produtividade Agrícola


Muitos solos, apesar do excesso de umidade, são cultivados, porém com baixa
produtividade. Estes solos, quando drenados – em razão da melhor aeração, melhor atividade
microbiana, melhor fixação de nitrogênio e fósforo, do aumento da profundidade efetiva do
sistema radicular, da facilidade de preparação, da melhor estruturação e do decréscimo dos
problemas fitossanitários – aumentam muito sua produtividade agrícola.

Controle da Salinidade
As águas de irrigação, mesmo as de melhor qualidade, como as classificadas como C1
- S1 (capítulo 3), possuem uma certa quantidade de sal. Se toda água aplicada na irrigação for
evapotranspirada, haverá um acúmulo constante de sal no solo; com o passar do tempo o solo
será, indubitavelmente, salinizado, tornando-se evidente a necessidade de drenagem natural ou
artificial nessas áreas, quando irrigadas, para evitar sua salinização. Em regiões áridas e semi-
áridas, é necessário aplicar água em excesso para se ter água de drenagem, a qual terá maior
concentração de sal do que a de irrigação. Nas regiões úmidas e semi-úmidas, é preciso
somente construir os sistemas de drenagem quando a drenagem natural da área for
insuficiente, pois as águas das chuvas lixiviam o excesso de sal do solo, evitando assim a sua
salinização.

Recuperação de Solos Salinos e, ou, Alcalinos


A recuperação dos solos salinos ocorre por meio da lavagem deles, e a dos solos
alcalinos ou sódicos se dá mediante a aplicação de corretivos e em seguida lavagem. Por
lavagem de um solo entende-se a movimentação de grande quantidade de água através do seu
perfil, o que, em geral, somente pode ser feito por meio da construção de sistemas de
drenagem e aplicação de água, de modo que lixivie os sais do perfil do solo. Assim, a
drenagem é de capital importância para a recuperação de solos salinos.

Saúde Pública e Animal


Drenagem 573

Aqui se refere à eliminação, por meio da drenagem, das águas paradas, nas quais
proliferam os mosquitos e outros agentes causadores de doenças na espécie humana e em
animais, ou seja, o saneamento das áreas inundadas.

Ciclo Hidrológico
Na Figura 11.1 são ilustrados os componentes principais do ciclo hidrológico e seu
relacionamento com a drenagem.
(Precipitação)

(Evapotranspiração)

E
sub scoa Escoamento Superficial
Len çol s up men
fr eátic o erf to
ici
al
Esco Rios, lagos,
Subte amento
rrâne
o
oceanos

Figura 11.1 - Principais componentes do ciclo hidrológico.

Parte da precipitação que atinge a superfície da crosta terrestre se infiltra através da


superfície do solo, podendo ficar retida na camada subsuperficial ou na zona de umidade,
gerando o fluxo subsuperficial, ou percolar até o lençol freático, gerando o escoamento
subterrâneo. Quanto maior for a quantidade precipitada e, ou, mais raso for o lençol freático,
maior será a percentagem de água que atingirá o lençol freático.
Da parte da precipitação que não infiltra no solo, uma fração permanecerá retida nas
depressões existentes na superfície do solo, principalmente em microdepressões. Uma vez
preenchidas essas depressões, a água se movimentará no sentido da declividade do solo,
criando o escoamento superficial, até atingir os drenos naturais (córregos) ou artificiais, e daí
para os rios e depois lagos ou oceanos.
A evapotranspiração, que compreende a evaporação da água retida nas depressões da
superfície do solo, bem como a evaporação da umidade do solo e da água interceptada pela
cobertura vegetal e a transpiração através dos vegetais, transforma a água da forma líquida
em vapor, que ascenderá à atmosfera, condensará, produzindo as nuvens, e precipitará
novamente, formando o ciclo hidrológico. Do ponto de vista deste ciclo, o componente
principal da quantidade de água evapotranspirada é a evaporação da água retida nas
macrodepressões da superfície do globo terrestre.

Retenção da Água no Solo


574 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

A água pode ficar retida acima do lençol freático, nas condições de solo não-saturado,
o que normalmente denomina-se umidade do solo, e abaixo do lençol freático, nas condições
de solo saturado, normalmente denominada água subterrânea. A água subterrânea pode ser
encontrada em aqüíferos não-confinados, ou seja, quando o lençol freático está sob pressão
atmosférica – também conhecido como lençol freático livre; ou em aqüíferos confinados, isto
é, quando toda a água no aqüífero encontra-se sobre pressão positiva – também conhecido
como aqüífero artesiano.
Numa faixa estreita, acima do lençol freático, normalmente denominada “franja
capilar”, os poros do solo são preenchidos pela ascensão capilar da água do lençol freático.
Na parte inferior da franja capilar, o solo é saturado de umidade, como no solo abaixo do
lençol freático, porém existe uma grande diferença entre os dois casos: enquanto abaixo do
lençol freático a água se encontra sob pressão hidrostática positiva, acima do lençol freático
ela se encontra sob pressão negativa.
Em caso de lençol freático profundo, ou seja, lençol freático a mais de 5 m abaixo da
superfície do solo, a umidade do solo na camada superior – até 1 m de profundidade, por
exemplo – varia muito com o tempo, em razão da variação da demanda evapotranspiro-
métrica decorrente das variações diárias das condições climáticas, enquanto nas camadas mais
profundas as variações da umidade do solo se processam de maneira muito lenta, somente
detectadas em períodos longos, ou seja, acompanhando as variações climáticas sazonais.
Em se tratando de lençol freático muito raso, até 1 m da superfície do solo, a umidade
do solo, acima do lençol freático, varia muito pouco com o tempo, mantendo quase o mesmo
perfil de umidade durante todo o ano.
A pressão com que a água é encontrada no solo pode ser expressa em pascal
(newton/m2), em metro de coluna d’água (m.c.a.), em centímetro de coluna d’água (cm.c.a.),
em atmosfera (atm) ou em bar, sendo 1 bar = 105 pascal  1 atm  10 m.c.a.  1.000 cmca.
No estudo da água do solo é necessário considerar dois casos distintos:
Pressão abaixo do lençol freático
No nível do lençol freático, a água do solo está somente sob pressão atmosférica (P =
Patm). As forças que atuam na água do solo, abaixo do lençol freático, são as mesmas que
atuam em qualquer massa de água contida em um recipiente ou se movimentando lentamente.
Como o fluxo de água subterrânea é normalmente muito lento para gerar forças cinéticas
significativas, pode-se afirmar que prevalece a pressão hidrostática normal, conhecida também
como pressão piezométrica. Considerando a Patm como referência (Patm = 0), e como P >
Patm, P será sempre positiva, conforme ilustra o piezômetro da Figura 11.2.
Drenagem 575

Piezômetro Tensiômetro

Superfície do solo

b
P(-)

Lençol freático (P = Patm - 0)

P (+)

a
a - pressão abaixo do lençol freático b- pressão acima do lençol freático

Figura 11.2 - Representação da pressão da água no solo.


Pressão acima do lençol freático
Na água do solo, acima do lençol freático, prevalecem principalmente dois tipos de
forças: capilares e de adsorção.
As forças capilares são essencialmente forças em virtude da tensão superficial da
água, ativadas pela adesão entre a água e o solo nos microporos deste. As forças de adsorção
são geradas pelas cargas eletrostáticas entre as superfícies coloidais das partículas de solo e
da água.
Ambas as forças, capilares e de adsorção, mantêm água junto às partículas do solo,
criando o esqueleto ou matriz do solo e, em conseqüência, retendo contra a força gravitacional a
umidade do solo na região acima do lençol freático. A pressão da umidade do solo neste caso é
negativa, P > Patm, e é normalmente denominada tensão ou sucção, podendo ser medida com
tensiômetros, conforme ilustra a Figura 11.2. Ou seja, os tensiômetros medem a tensão matricial
gerada pela combinação das forças capilares e de adsorção.
Em solos salinos têm-se ainda as forças osmóticas, geradas pela concentração de sais
na água do solo, aumentando a sua tensão matricial. Infelizmente essas forças não são
medidas pelos tensiômetros, apesar de elas existirem com maior ou menor intensidade nas
camadas do solo acima do lençol freático. Elas somente podem ser quantificadas através de
membranas semipermeáveis, como as membranas das células das raízes das plantas.

Movimento da Água no Solo


Para estudar esse movimento, é fundamental quantificar o potencial da água no solo.
Por definição, o potencial da água, em qualquer ponto no perfil do solo, corresponde ao
trabalho necessário para movimentar uma quantidade unitária de água de um plano de
referência àquele ponto. Como, por definição, trabalho (W) = força (F) x distância (L), se o
potencial da água no solo for expresso por unidade de peso desta, a dimensão do potencial
576 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

será o comprimento (L). Assim, pode-se expressar o potencial nas unidades de metro (m) ou
centímetro (cm).
O potencial total ( total) da água no solo corresponde à soma dos seus diversos
potenciais, e os mais importantes são: potencial gravitacional ( g), potencial de pressão ( p),
potencial matricial ( m) e potencial osmótico ( os).
– O potencial gravitacional no plano de referência será igual a zero ( g = 0), acima do
plano de referência será positivo ( g > 0) e abaixo será negativo ( g < 0).
– O potencial de pressão correspondente à pressão hidrostática será igual a zero
(p = 0) no nível do lençol freático e positivo ( p > 0) abaixo deste.
– O potencial matricial ( m), também denominado tensão ou sucção, será igual a zero
(m = 0) no nível do lençol freático e negativo (m < 0) acima deste.
– O potencial osmótico ( os) depende da concentração de sais na água do solo. Como
os solutos se movem junto com a água, esse potencial somente tem importância na presença de
membranas semipermeáveis.
Assim:

 total =  g +  p +  m (11.1)
Em campo, sempre que possível deve-se tomar o lençol freático como plano de
referência. Neste plano,  g = 0,  p = 0,  m = 0 e  total = 0. Em laboratório, quando existir
superfície livre de água, sempre que possível deve-se tomar a superfície mais baixa como
plano de referência. Quando isso não for possível, toma-se um plano imaginário como plano
de referência.
Para as condições da Figura 11.3, no ponto A, tem-se  total =  g +  m = Za +
(-Pa) = Za + (-Za) = 0. Como no lençol freático  total também é igual a zero, isso representa
o que se denomina de “capacidade de campo”, ou seja, o perfil de umidade acima do lençol
freático está estático, não havendo movimento de umidade para cima ou para baixo. A
percolação da água, através do perfil do solo, cessa quando o potencial matricial em todos os
pontos acima do lençol freático ficar com a mesma magnitude, mas com sinal contrário ao
potencial gravitacional, e a evapotranspiração não for significativa.
Drenagem 577

(-) 0 (+)
Superfície do solo

Ponto A m Total g
(-Pa) Pa Za

Za

Lençol freático 45° 45°


Plano de Referência

Zb
g p
(+Pb) Zb Pb

Ponto B

Figura 11.3 - Potencial total ( total), gravitacional ( g), de pressão ( p) e matricial ( m), para
as condições de equilíbrio da umidade do solo na presença do lençol freático.

A água do solo sempre se movimentará do ponto de maior potencial para o de menor.


A magnitude do fluxo será diretamente proporcional ao gradiente do potencial da água no solo
e terá a condutividade hidráulica como o coeficiente de proporcionalidade, conforme descreve
a equação de Darcy para fluxo em meio poroso. O sinal negativo é porque o potencial
decresce no sentido do fluxo.
A - B
q = -K (11.2)
L
em que: q = fluxo de água no solo (L/T), cm/seg ou m/dia;
K = condutividade hidráulica do solo (L/T), cm/seg ou m/dia;
A = potencial total no ponto A (L), m ou cm;
B = potencial total no ponto B (L), m ou cm; e
L = distância entre os dois pontos ao longo da linha de fluxo (L), m ou cm.
A vazão (Q), através do solo, pode ser calculada multiplicando o fluxo de água (q)
pela área transversal ao fluxo (A), ou seja:
Q = A q (L3/T), cm3/seg ou m3/dia.
A equação de Darcy descreve o fluxo de água tanto em solo saturado como naquele
não-saturado. No primeiro caso, a condutividade hidráulica (Ko) é constante para cada tipo de
578 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

solo, ou seja, dependerá somente da textura e da estrutura do solo. Contudo, para solo não-
saturado a condutividade hidráulica (K) dependerá do tipo de solo (textura e estrutura), bem
como do seu teor de umidade.
Assim, para fluxo em um meio saturado, como K é constante (Ko), a equação de
Darcy pode ser escrita da seguinte forma:


q = -Ko (11.3)
L

Para um meio não-saturado, como a condutividade hidráulica K varia com o teor de


umidade ao longo da linha de fluxo (K()), a equação de Darcy deve ser aplicada na forma
diferencial, ou seja:

d
q = -K() (11.4)
dZ

Uma das maneiras de se determinar K() é através da curva característica de umidade


do solo, ou curva de retenção de umidade do solo, e da equação de Darcy.
Por curva característica de umidade do solo entende-se a relação entre o teor de
umidade e o potencial matricial correspondente. Quando se traça uma curva para diferentes
teores de umidade e os potenciais matriciais correspondentes, esta curva se chama curva de
retenção de umidade do solo, ou curva característica do solo.
Serão dados alguns exemplos para ilustrar o cálculo do fluxo de água no solo.
Em um solo com as seguintes características hidráulicas:
Tensão Condutividade hidráulica Teor de umidade
(cm) (cm/h)
(%)
0 2,8 45
25 1,3 44
50 1,2 42
75 0,17 35
100 0,037 30
1000 0,0048 20

Determinar o fluxo de água para as seguintes condições:


1 – Solo saturado
Drenagem 579

20 cm

1 2
10 cm

Solo

15 cm
30 cm

Plano de
Referência

1 = 20 + 15 = 35 cm

2 = 10 + 15 = 25 cm

Ko = 2,8 cm/h

 (25 - 35) 28
q = -Ko = - 2,8 = = 0,93 cm/h
L 30 30

2 – Solo não-saturado

110 cm
S
O
30 cm
L
O

Plano de
2
Referência

90 cm
580 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

1 = (+ 30 - 110) = - 80
2 = (0 - 90 = -90)
K100 = 0,037 XM/H
 (-90) - (-80) 0,37
q = -K100 = - 0,037 = = 0,012 cm/h
L 30 30
3 – Calcular o movimento vertical no perfil do solo, através da leitura nos dois
tensiômetros ilustrados a seguir:

35 cm 38 cm

10 cm
Superfície do Solo
Plano de Referência

100 cm

30 cm

1 = -100 - (35 x 13,6 - (35 + 10 + 100)) = -431


2 = -130 - (38 x 13,6 - (38 + 10 + 130)) = -469
Fazendo interpolação logarítmica, ter-se-á K335 = 0,0127 cm/h

q = -K335  = - 0,0127 (-469) - (-431) = 0,4826 = 0,016 cm/h


L 30 30

Drenagem
A drenagem de terras agrícolas pode ser dividida em duas grandes classes: Drenagem
Superficial e Drenagem do Solo ou Drenagem propriamente dita. Alguns tipos de drenos
atuam simultaneamente nas duas classes.

Drenagem Superficial
Drenagem 581

A drenagem superficial consta dos sistemas de drenos, visando à eliminação da água


que cobre a superfície dos terrenos, principalmente na eliminação, o mais rapidamente
possível, das águas da chuva ou na recuperação de zonas alagadas.
É uma drenagem normalmente necessária nas áreas planas, com solo de baixa
capacidade de infiltração, baixa permeabilidade ou com camadas impermeáveis logo abaixo
da superfície e, ou, com pouca diferença de nível em relação aos drenos naturais (riachos,
córregos etc.).
Dessa forma, podem-se considerar dois casos de drenagem superficial: drenagem
superficial para eliminação das águas das chuvas e drenagem superficial em áreas com
problemas de excesso de umidade.

Eliminação das Águas das Chuvas


A estimativa da vazão do escoamento produzido pelas chuvas em determinada área é
fundamental para o dimensionamento dos canais coletores, interceptores ou drenos. Existem
várias equações para estimar esta vazão, sendo muito comum o uso da equação racional e da
equação de McMath.
A equação racional estima a vazão máxima de escoamento de um determinada área
sujeita a uma intensidade máxima de precipitação, com um determinado tempo de
concentração, a qual é assim representada:
CIA
Q= (11.5)
360
em que: Q = vazão máxima de escoamento, em m3/s;
C = coeficiente de escoamento;
A = área de contribuição, em ha; e
I = intensidade máxima de chuva, em mm/hora.
Para o caso de drenagem com finalidade agrícola, a intensidade máxima de chuva (I)
pode ser calculada pela seguinte equação:
Id
I=
48
em que Id = total máximo de precipitação que ocorre em um período de 24 horas, em mm.
Em caso de drenagem urbana, a intensidade máxima de chuva (I) é o total máximo de
precipitação que ocorre em um período de tempo igual ao tempo de concentração (Tc), ou
seja, no tempo que leva a água para movimentar-se, do ponto mais afastado na área de
contribuição até o ponto de saída. O tempo de concentração pode ser calculado pela seguinte
equação:
Tc = 0,0256 K0,77 (11.7)
582 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

L L3
K= = (11.8)
S H

em que: Tc = tempo de concentração, em minutos;


L = comprimento máximo percorrido pela água dentro da área de contribuição, em
metros;
H = diferença de nível entre o ponto mais afastado e a saída, na área de contribuição,
em metros; e
S = declividade geral da área de contribuição.
Na Tabela 11.1 têm-se os valores do coeficiente de escoamento (C), em função do
tipo de solo, de declividade e de cobertura vegetal, segundo Millar.

Tabela 11.1 - Valores do coeficiente de escoamento (C), segundo Millar


Declividade (%) Solo arenoso Solo franco Solo argiloso
0–5 0,10 (Florestas)*
5 – 10 0,25 0,30 0,40
10 – 30 0,30 0,35 0,50
0,50 0,60
(Pastagens)
0–5 0,10 0,30 0,40
5 – 10 0,15 0,35 0,55
10 – 30 0,20 0,40 0,60
(Terras cultivadas)
0–5 0,30 0,50 0,60
5 – 10 0,40 0,60 0,70
10 – 30 0,50 0,70 0,80

Drenagem Superficial em Áreas com Problemas de


Excesso de Umidade
Há nas regiões úmidas e semi-úmidas grandes áreas planas com excesso de umidade,
o que se deve, principalmente, à falta de condições para a movimentação das águas das
chuvas para fora destas áreas ou, quando esta movimentação é muito lenta, à pouca
declividade existente nessas áreas.
Para essas áreas, normalmente, é necessário que associar a drenagem superficial com
a drenagem do solo, a fim de torná-las agricultáveis.
Drenagem 583

Sistemas de Drenagem Superficial


Existem vários tipos de sistemas de drenagem superficial, e os principais são:
sistemas naturais, sistemas de camalhões, sistemas interceptores, sistemas com drenos rasos e
paralelos e sistematização do terreno.
Sistema natural – Adapta-se a áreas que tenham depressões muito fundas e, ou,
muito largas, ou em grande quantidade, o que as tornam difíceis de ser aterradas. Consiste em
ligar as depressões por meio de drenos rasos, que conduzam a água para a saída natural da
área. Os drenos devem ser o mais rasos possível e com as faces laterais pouco inclinadas, para
não interferirem nas práticas agrícolas. No meio rural é muitas vezes conhecido como
esgotamento de várzeas.
Sistema em camalhão – Adapta-se a áreas úmidas com pouca declividade e com solo
pouco permeável. Consiste na construção de camalhões largos e em seqüência, de modo que
na interseção deles exista uma depressão, a qual funcionará como dreno, conforme ilustrado
na Figura 11.4.
Segundo sugestões do USDA-SCS, a altura do centro dos camalhões pode variar de
15 a 50 cm, o comprimento pode atingir até 300 m e sua largura varia com o tipo de solo. Em
solos com drenagem muito lenta, a largura varia de 6 a 12 m; com drenagem lenta, de 10 a 20
m; e com drenagem média, de 15 a 30 m.
As linhas de plantio podem ser na direção do comprimento dos camalhões ou
perpendicular a eles.
Sistema interceptor – É também denominado sistema de drenagem em terraços ou
sistema de drenagem transversal à principal declividade do terreno. Adapta-se a áreas de solos
pouco permeáveis, cuja principal fonte de água que mantém as áreas planas com alto teor de
umidade é o fluxo do lençol freático proveniente das encostas. Consiste em interceptar, por
meio de canais, o fluxo de água do lençol freático e, ou, escoamento da água das chuvas, dos
terrenos periféricos em relação às áreas baixas, e conduzi-la para fora da área com problema
de excesso de umidade. É um sistema bastante eficiente, por ser preventivo, o qual minimizará
a capacidade dos drenos necessários nas áreas baixas.
Sistema com drenos rasos a paralelos – Adapta-se a áreas planas, com solo de baixa
permeabilidade, e com muitas depressões. Consiste na construção de valetas ou canais, rasos e
paralelos, na mesma direção da linha de plantio.
O espaçamento entre os drenos depende da quantidade de depressões existentes na
área, variando normalmente entre 100 e 300 m.
584 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Comprimento
Sulco ou dreno
Camalhão

Altura Largura

Figura 11.4 - Sistema de drenagem superficial em camalhões.

Sistematização – Este sistema adapta-se a áreas planas com muitas depressões, porém
pequenas e rasas. Consiste na uniformização da superfície da terra, ou seja, aterro das depressões e
cortes das elevações. O seu uso depende do volume de terra que se terá de movimentar.

Capacidade dos Drenos


Para projetar um sistema de drenagem superficial em qualquer área, é necessário
determinar a capacidade dos drenos. Existem vários métodos para determinar esta capacidade,
sendo o do balanço hídrico um dos mais usados; ele pode ser assim representado:
Q = 2,78 Cd (11.9)
em que: Q = capacidade do dreno, em l/s por ha; e
Cd = coeficiente de drenagem.
O coeficiente de drenagem pode ser calculado pela seguinte equação:
P - Ev - VIB
Cd = (11.10)
Td
em que: P = precipitação máxima na área, em mm/dia;
Ev = evaporação na área, em mm/dia;
Drenagem 585

VIB = infiltração básica, em mm/dia; e


Td = tempo de drenagem, em horas por dia de balanço hídrico.

Na exploração agrícola, o tempo de drenagem normalmente usado é de 24 horas.


Para ilustrar este método, será determinada a capacidade de drenagem para uma área
com topografia plana, solo de textura média e coberto com pastagem, sob as seguintes
condições:
– Intensidade máxima de chuva = 100 mm/dia.
– Evaporação média = 4 mm/dia.
– Velocidade de infiltração básica = 2 mm/hora.
100 - 4 - 2 x 24
Cd = = 2,0 mm/hora
24
Q = 2,78 2,0 = 5,56 l/s por ha
A declividade dos canais pode variar de 0,1% a 1,0%.

Drenagem do Solo
A drenagem do solo, também conhecida como drenagem propriamente dita, consiste
nos sistemas de drenos, visando à eliminação do excesso de umidade da camada superficial do
solo, ou seja, da camada do solo onde se desenvolve o sistema radicular das plantas. Isso, em
geral, é conseguido por meio do abaixamento do lençol freático.
Nas áreas em que o lençol freático está abaixo de 2 m, geralmente não há problema de
drenagem. Em regiões úmidas e sem irrigação, podem ser desenvolvidas atividades agrícolas,
com o lençol freático na profundidade de 60 cm, sem muitos problemas. Contudo, em regiões
áridas ou semi-áridas, com irrigação e perigo de salinidade, deve-se manter o lençol freático a
uma profundidade mínima de 1,8 m, para evitar problemas de salinização.
A drenagem do solo melhora sua aeração, aumenta o volume de solo explorado pelas
raízes, melhora a estruturação do solo, facilita a decomposição da matéria orgânica a ele
incorporada, remove o excesso de sais e permite sua mecanização. Esses pontos justificam o
uso da drenagem, principalmente nas áreas irrigadas e na recuperação de áreas com excesso
de umidade ou de sais.
Em alguns casos, a melhor solução para os problemas causados pelo excesso de
umidade no solo é a mudança para culturas menos suscetíveis ao excesso de umidade.
586 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Entretanto, na maioria dos casos, tem-se mesmo é que fazer a drenagem do solo quando se
quer explorar áreas com problemas de excesso de umidade.
Afim de se poder dimensionar corretamente um sistema de drenagem para uma
determinada área, é necessário, primeiramente, quantificar a natureza ou a causa do problema,
bem como os seus efeitos, ou seja: se o problema é devido à existência de camada
impermeável não muito profunda; se a elevação do lençol freático se deve à baixa eficiência
da irrigação ou à grande quantidade de água percolada dos canais; se existem pontos de
estrangulamento nos drenos naturais (córregos); se o problema é decorrente da pouca
declividade na parte baixa da bacia etc. Além disso, é preciso determinar a origem da água
que abastece o lençol freático, o tamanho da área afetada, a freqüência e duração do
problema, os tipos de prejuízos que causa às culturas e às operações agrícolas etc. Essa
diagnose preliminar deve ser feita com base nas informações disponíveis no local e na
imprescindível inspeção da área.
Para dimensionar o sistema de drenagem, precisa-se definir ou determinar os seguintes
parâmetros:
– Tipo de dreno e tipo de sistema.
– Capacidade de descarga do sistema.
– Condutividade hidráulica do solo.
– Profundidade mínima do lençol freático.
– Profundidade do dreno.
– Espaçamento dos drenos.

Espaçamento e Profundidade dos Drenos


O espaçamento e a profundidade dos drenos são os dois principais parâmetros no
dimensionamento de um sistema de drenagem. Eles dependem do tipo de solo, da quantidade
de água a ser drenada, da linha de efeito útil de drenagem e da profundidade do solo que se
deseja drenar.
Na Figura 11.5 é ilustrado o efeito do dreno sobre o lençol freático, e na Tabela 11.2
encontram-se os valores médios de espaçamentos e as profundidades dos drenos em função da
condutividade hidráulica do solo, segundo Milar.
Drenagem 587

Lençol freático antes da


drenagem

Lençol freático após a


drenagem

Figura 11.5 - Efeito dos drenos (aberto e subterrâneo) sobre o lençol freático.

Tabela 11.2 - Valores médios de espaçamento e profundidade dos drenos, segundo Millar
Tipo de solo Condutividade Espaçamento (m) Profundidade (m)
hidráulica (mm/dia)
Textura fina < 1,5 10 a 20 1,0 a 1,5
Textura média 1,5 a 5,0 15 a 25 1,0 a 1,5
4 a 20,0 20 a 35 1,0 a 1,5
20,0 a 65,0 30 a 40 1,0 a 1,5
Textura grossa 65,0 a 125,0 30 a 70 1,0 a 2,0
Turfa 125,0 a 250,0 30 a 100 1,0 a 2,0

A maioria dos métodos para determinar o espaçamento dos drenos – incluindo o


método direto e as equações de Donnan e de Hooghoud apresentadas neste livro – foi
desenvolvida para as condições de fluxo em regime permanente, ou seja, quando o lençol
freático está em equilíbrio com a chuva ou a irrigação, ou, em outras palavras, quando a
quantidade de água que entra na área é igual à quantidade evapotranspirada mais a retirada
pela drenagem. Na verdade, as situações com regime permanente raramente ocorrem na
prática. Entretanto, considerando que a solução para regime permanente é muito mais simples
do que para regime não-permanente e que sempre se dimensiona para os períodos críticos,
pode-se assumir que durante o período crítico a situação é semelhante à do regime
permanente, o que justifica o uso dos métodos desenvolvidos para essas condições.
A determinação do espaçamento e da profundidade dos drenos pode ser feita pelos
métodos direto ou indireto.

Método direto
O método direto consiste na determinação in loco da declividade da linha de efeito útil
de drenagem do solo, a qual deve ser determinada na área a ser drenada, por meio da
588 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

instalação de um dreno aberto, e na direção perpendicular ao dreno aberto, por uma série de
poços, conforme ilustrado na Figura 11.6. A água do dreno aberto deve ser bombeada ou
derivada por gravidade para fora da área, até se tornar constante o nível da água dentro dos
poços. Unindo esses pontos em um gráfico, tem-se a declividade da linha de efeito útil de
drenagem daquele solo. Conhecendo esta linha, facilmente pode-se determinar qual deverá ser
a distância e profundidade dos drenos para uma determinada profundidade mínima do lençol
freático no meio de dois drenos. Após instalado o sistema de drenagem, a profundidade
mínima real do lençol freático será um pouco maior do que a profundidade mínima
preestabelecida; isso porque o lençol freático, na posição intermediária entre dois drenos,
estará sob a ação dos dois drenos, e, quando se determinou a declividade da linha de efeito útil
de drenagem, usou-se apenas um dreno.

Poços Linha de efeito útil


de drenagem

Figura 11.6 - Determinação in loco da linha de efeito útil de drenagem.

Método indireto
Existem várias equações e ábacos para estimar o espaçamento dos drenos em funç ão
do tipo de solo, da quantidade de água a ser drenada, da profundidade do dreno, da existência
e profundidade da camada impermeável etc.
Dentre as diversas equações, podem-se citar as da elipse ou de Donnan, da elipse
modificada ou de Hooghoudt, de Ernst, de Kirkham, do United States Bureau of Reclamation
(USBR) etc.
A escolha da equação a ser usada deve basear na experiência e na performance da
equação na região e, principalmente, nas condições e limitações físicas locais. Serão
apresentadas as equações de Donnan e de Hooghoudt, aplicáveis nas regiões em que o lençol
freático está em equilíbrio com a chuva e, ou, irrigação, ou seja, sob condições de fluxo em
regime permanente.
Para um determinado tipo de solo e uma determinada profundidade do dreno, quando
se usam equações para as condições de regime permanente, os parâmetros necessários para
determinar o espaçamento dos drenos são a quantidade de água a ser drenada da área (q) e a
profundidade mínima do lençol freático (H). A quantidade de água a ser drenada da área (q) é
determinada em função da distribuição média da chuva, e a profundidade mínima do lençol
freático (H) é determinada em função do solo, da cultura e do cultivo a serem usados na área.
Drenagem 589

O fluxo de água no solo em um sistema de drenos paralelos pode ser analisado pelos
componentes de fluxos horizontais, verticais e radiais. A resistência ao fluxo vertical é muito
pequena, quando comparada à resistência ao fluxo horizontal. A resistência ao fluxo radial se
deve à convergência das linhas de fluxo na proximidade do dreno. Assim, o espaçamento dos
drenos dependerá quase que exclusivamente das resistências aos fluxos radial e horizontal.
Mesmo assim, dependendo da situação, um pode prevalecer sobre ou outro, ou seja:
– Quando o dreno estiver situado muito próximo, ou sobre a camada impermeável,
predomina quase que exclusivamente a resistência ao fluxo horizontal.
– Quando a camada impermeável estiver muito profunda em relação ao dreno
(profundidade > ¼ do espaçamento), predomina quase que exclusivamente a resistência ao
fluxo radial.
– Quando a camada impermeável estiver abaixo do dreno, mas a uma profundidade
menor do que ¼ do espaçamento, tanto a resistência ao fluxo horizontal como ao radial são
significativas e devem ser consideradas na determinação do espaçamento dos drenos.

Equação da Elipse ou de Donnan


É uma equação muito usada para determinar o espaçamento entre drenos abertos ou
valetas, em áreas planas, com camada impermeável pouco profunda.
Normalmente, ela é apresentada sob a seguinte forma (referindo-se à Figura 11.7).

4 Ko (y 2 - Z2 )
L= (11.11)
q

Superfície do solo

H
LF
P
h
q
Y
z
D Camada impermeável

Figura 11.7 - Representação de drenagem com lençol freático estável, mostrando os termos
usados na equação de Donnan.
Para fins práticos de dimensionamento, os drenos são considerados vazios, ou seja, D
= Z; assim, a equação de Donnan pode ser escrita da seguinte forma:

4 Ko (Y 2 - D2 )
L= (11.12)
q
590 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Como y = h + D, e desenvolvendo a diferença de quadrado, tem-se:

4 K o ( h 2 + 2h D)
L= (11.13)
q

que é a forma mais generalizada da equação de Donnan, em que:


L = espaçamento entre os drenos, em m;
Ko = condutividade hidráulica do solo saturado, em m/dia;
y = distância entre o lençol freático e a camada impermeável, na seção média entre os
drenos, em m;
Z = distância da superfície da água do dreno até a camada impermeável, em m;
D = distância do fundo do dreno até a camada impermeável, em m;
h = distância vertical entre a linha horizontal, que passa pelo fundo dos drenos, e o
lençol freático, na seção média entre os drenos, em m; e
q = lâmina de água a ser drenada, ou coeficiente de drenagem, em m/dia.

Nota – Para que o lençol freático seja estável, a quantidade de água a ser drenada
deverá ser igual à quantidade de água que infiltra na área devido à chuva e, ou, irrigação (q).
O valor de q, em m/dia, corresponde a m3/m2 de área drenada por dia. Em um sistema
de drenagem com drenos paralelos, espaçados entre si de 30 m e comprimento de 90 m, cuja
lâmina de água drenada é 0,005 m/dia, a vazão por dreno será: Q = 0,005 m/dia x 30 m x 90
m = 13,5 m3/dia/dreno para a área de 2.700 m2, o que corresponde à vazão de 50 m3/dia/ha
ou, aproximadamente, 0,58 l/s/ha.
A equação de Donnan é baseada nas hipóteses de que as linhas de fluxos são
horizontais e de que a velocidade de movimentação da água no solo é proporcional ao
gradiente hidráulico do lençol freático. Apesar de estas hipóteses serem somente aproximadas,
elas representam satisfatoriamente as situações reais, sob certas condições. Dessa forma, o
uso da equação de Donnan deve ser limitado às seguintes condições:
– Lençol freático estável, ou seja, quantidade de água drenada constante (regime de
fluxo permanente).
– O fluxo do lençol freático é predominante na direção horizontal. Exemplo disso são
os solos estratificados, com as camadas funcionando como aqüíferos horizontais, ou quando
se tem a camada impermeável a pouca profundidade (profundidade da camada impermeável
menor do que duas vezes a profundidade do dreno, ou seja, (D < 2P).
– Quando se usam drenos abertos (valetas) ou, em alguns casos, drenos cobertos com
envelope.
– Sistema de drenagem com drenos paralelos.
Drenagem 591

Esta equação é bastante precisa quando a valeta de drenagem vai até a camada
impermeável.

Exemplo do uso da equação de Donnan

Determinar o espaçamento a ser usado em um sistema de drenagem de uma área


úmida, com as seguintes condições:

– dreno do tipo valeta, com profundidade de 1,2 m;

– profundidade da camada impermeável de 2,2 m;

– profundidade mínima desejada do lençol freático de 0,5 m;

– condutividade hidráulica do solo de 100 cm/dia; e

– lâmina de água a ser drenada de 6 mm/dia.

Com esses dados, tem-se:

dreno aberto, q = 0,006 m/dia

P = 1,2 m; P + D = 2,2 m; D = 1,0 m;

H = 0,5; H + h = 1,2; h = 0,7 m;

Ko = 1,0 m/dia.

Como D < 2P (1,0 << 2 1,2), pode-se aplicar a equação de Donnan, em que:

4 x 1,0 (0,7 2 + 2 x 0,7 x 1,0)


L= = 35,5 m
0,006

Os drenos devem ser espaçados de 35 m.

Equação da Elipse Modificada ou de Hooghoudt


A equação da elipse se aplica para as condições de fluxo horizontal ou fluxo com
pouca convergência. Contudo, na maioria das vezes, o fluxo convergente ou radial é
significativo, tornando necessária a modificação da equação da elipse.
Hooghoudt, trabalhando na Holanda, modificou a equação da elipse, considerando o
fluxo horizontal e o fluxo radial ou convergente, para as condições do lençol freático estável,
envolvendo o conceito de “profundidade equivalente”da camada impermeável, a qual substitui
a profundidade real da camada impermeável na equação de Donnan.
Normalmente, a equação de Hooghoudt é apresentada da seguinte forma (referindo-se
à Figura 11.8):
592 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

8 Ko 2 d h 4 Ko1 h 2
L =  (11.14)
q q
Superfície do solo

H
LF
P
h
K 01
K 02 q
L
d
D

Camada impermeável

Figura 11.8 - Representação de drenagem com lençol freático estável, mostrando os termos
usados na equação de Hooghoudt.

em que: L = espaçamento entre os drenos, em m;


Ko1 = condutividade hidráulica do solo saturado acima do nível do dreno, em m/dia;
Ko2 = condutividade hidráulica do solo saturado abaixo do nível do dreno, em m/dia;
d = profundidade equivalente da camada impermeável, em m;
h = distância vertical entre a linha horizontal, que passa pelo fundo dos drenos, e o
lençol freático, na seção média entre os drenos, em m; e
q = lâmina de água a ser drenada ou coeficiente de drenagem, em m/dia.

O parâmetro d pode ser estimado pela seguinte equação:


L
d= (11.15)
 ( L  1,4 D) 2 1 0,7 D 
8 + ln ( )
 8DL  r 

em que r é o raio do dreno, em m.


A Tabela 11.3 foi publicada por Hooghoudt para facilitar a determinação de d, a qual
pode ser usada para r variando de 0,04 a 0,10 m.
A equação de Hooghoudt é baseada na hipótese da existência de fluxo horizontal e
radial, o que é real para as seguintes condições:
– Regime de fluxo permanente.
– Para drenos cobertos (tubos).
Drenagem 593

– Regiões em que o solo é constituído de duas camadas com condutividades


hidráulicas distintas (Ko1Ko2) e com o dreno situado entre as duas camadas. Ela também se
aplica a solos profundos, sem distinção de camadas (Ko1 = Ko2).
– Camada impermeável, quando existente, a uma profundidade maior do que duas
vezes a profundidade do dreno (D > 2P).
– Ela é mais precisa para D > ¼ L, mas também pode ser usada quando D < ¼ L.
8 Ko 2 d H
– O primeiro termo da equação corresponde ao fluxo abaixo do nível do
q
4 K ol h 2
dreno e o segundo ( ) ao fluxo acima do nível do dreno.
q
Como a equação de Hooghoudt não é explícita para L (L depende de d e d depende de
L), ela somente pode ser resolvida por tentativa ou por meio de tabelas ou gráficos.

Solução por tentativa


a) Assuma um valor para L e determine o valor de d pela equação ou pela Tabela
11.3.
b) Resolva a equação de Hooghoudt, usando o valor de d, e compare o valor de L
encontrado como o valor assumido.
c) Modifique o valor de L em a, até q ue o valor calculado em b seja igual ao
assumido.

Exemplos
Determinar o espaçamento, em um sistema de drenagem de uma área úmida com as
seguintes condições:
– Raio do tubo de dreno: 7,5 cm.
– Profundidade da camada impermeável: 4 m.
– Profundidade do dreno: 1,0 m (P = 1 m).
– Profundidade mínima do lençol freático: 0,5 m.
– Condutividade hidráulica da camada superior do solo (Ko1): 1,5 m/dia.
– Condutividade hidráulica da camada do subsolo (Ko2): 1,0 m/dia.
– Lâmina de água a ser drenada: 5 mm/dia.
Com esses dados, tem-se:
r = 0,075 m;
P = 1,0 m; P + D = 4,0 m; D = 3,0 m;
H = 0,5 m, H + h = 1,0, h = 0,5 m;
594 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Ko1 = 1,5 m/dia, Ko2 = 1,0 m/dia;


q = 0,005 m/dia.
593
Drenagem
Tabela 11.3 - Valores da “profundidade equivalente” (d), para drenos com diâmetro de 8 a 20 cm, segundo W.F.J. van Beers

D L, em m.
(m) 5 7,5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 75 80 85 90 100 150 200 250
0,50 0,45 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 - - - - - - - - - - - -
0,75 060 0,5 0,70 0,70 0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 - - - - - - - -
1,00 0,65 0,75 0,80 0,85 0,90 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
1,25 0,70 0,80 0,90 1,00 1,05 1,10 1,10 1,15 1,15 1,15 1,15 - - - - - - - -
1,50 0,70 0,90 0,95 1,10 1,20 1,25 1,30 1,30 1,35 1,35 1,35 - - - - - - - -
1,75 0,70 0,90 1,00 1,20 1,30 1,40 1,45 1,50 1,50 1,55 1,55 - - - - - - - -
2,00 0,70 0,95 1,10 1,30 1,40 1,50 1,55 1,60 1,65 1,70 1,70 1,80 1,80 1,80 1,85 1,85 1,90 1,90 1,95
2,25 0,70 0,95 1,15 1,35 1,50 1,70 1,70 1,75 1,80 1,85 1,85 - - - - - - - -
2,75 0,70 0,95 1,15 1,40 1,65 1,75 1,90 2,00 2,00 2,05 2,10 2,20 - - - - - - -
3,00 0,70 0,95 1,15 1,45 1,65 1,85 1,95 2,10 2,15 2,25 2,30 2,50 2,50 2,55 2,55 2,60 2,70 2,80 2,85
3,25 0,70 0,95 1,15 1,50 1,70 1,90 2,05 2,15 2,25 2,35 2,40 - - - - - - - -
3,50 0,70 0,95 1,15 1,50 1,75 1,95 2,10 2,25 2,35 2,45 2,55 - - - - - - - -
3,75 0,70 0,95 1,15 1,50 1,80 1,95 2,15 2,30 2,45 2,55 2,65 - - - - - - - -
4,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,80 2,00 2,20 2,35 2,50 2,60 2,70 3,05 3,10 3,10 3,15 3,25 3,45 3,60 3,65
4,50 0,70 0,95 1,15 1,55 1,85 2,10 2,30 2,50 2,65 2,75 2,85 - - - - - - - -
5,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,15 2,40 2,60 2,75 2,90 3,00 3,50 3,55 3,60 3,65 3,80 4,10 4,30 4,45
5,50 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,20 2,45 2,65 2,85 3,00 3,15 - - - - - - - -
6,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,50 2,70 2,90 2,10 3,25 3,85 3,95 4,00 4,10 4,25 4,70 4,95 5,15
7,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,55 2,80 3,05 3,25 3,45 4,15 4,25 4,35 4,40 4,60 5,20 5,55 5,80
8,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,55 2,85 3,15 3,35 3,55 4,40 4,50 4,60 4,70 4,95 5,70 6,15 6,45
9,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,20 3,45 3,65 4,55 4,70 4,80 4,95 5,25 6,10 6,65 7,00
10,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,50 3,75 4,75 4,90 5,05 5,20 5,45 6,45 7,10 7,55
12,50 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,00 5,20 5,40 5,55 5,90 7,20 8,05 8,70
15,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,20 5,40 5,60 5,80 6,25 7,75 8,85 9,65
17,50 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,30 5,55 5,75 6,00 6,45 8,20 9,45 10,40
20,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,60 5,85 6,10 6,60 8,55 9,95 11,10
25,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,75 5,95 6,20 6,80 9,00 10,70 12,10
30,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,75 6,00 6,25 6,80 9,25 11,30 12,90
35,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,75 6,00 6,25 6,80 9,45 11,60 13,40
40,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,75 6,00 6,25 6,80 9,55 11,80 13,80
45,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,75 6,00 6,25 6,80 9,55 12,00 13,80
50,00 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,75 6,00 6,25 6,80 9,55 12,10 14,30
 0,70 0,95 1,15 1,55 1,90 2,25 2,60 2,90 3,25 3,55 3,90 5,40 5,75 6,00 6,25 6,80 9,55 12,20 14,70
596 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

1ª tentativa
 Assumindo L = 40 m
Com L = 40 m e D = 3,0 m, pela Tabela 11.3, d = 2.15, aplicando a equação de
Hooghoudt, tem-se:

8 x 1,0 x 2,15 x 0,5 4 x 1,5 x 0,52


L= + = 44,94  45 m
0,005 0,005

L maior do que os 40 m assumidos.

2ª tentativa
 Assumindo L = 45 m
Com L = 45 m e D = 3,0, pela Tabela 11.3, d = 2,25. Dessa forma:

8 x 1,0 x 2,25 x 0,5 4 x 1,5 x 0,52


L= + = 45,83  46 m
0,005 0,005

L maior do que os 45 m assumidos.

3ª tentativa
 Assumindo L = 46 m
Com L = 46 m e D = 3,0 m, pela Tabela 11.3, d = 2,26. Dessa maneira:

8 x 1,0 x 2,26 x 0,5 4 x 1,5 x 0,52


L= + = 45,91  46 m
0,005 0,005

L igual aos 46 m assumidos; assim, os drenos devem ser espaçados de 46 m.


Como visto, o método das tentativas toma tempo. Por essa razão, é muito comum a
solução da equação de Hooghoudt por meio de gráficos.

Solução por Meio de Gráficos


Há vários tipos de tabelas e gráficos para a solução da equação de Hooghoudt. Por
exemplo, o Serviço de Conservação de Solos dos EUA apresentou quatro gráficos para
facilitar a determinação do espaçamento entre os drenos por esta equação. Será usada neste
livro a solução gráfica para esta equação apresentada por W.F.J. van Beers (Figura 11.9).
Este gráfico pode ser usado para qualquer valor de q, h, Kol e Ko2.
Drenagem 597

Este gráfico está dividido em duas partes: uma para L variando de 5 a 25 m e outra
para L variando de 10 a 100 m.

Figura 11.9 - Solução gráfica da equação de Hooghoudt, segundo W.F.J. van Beers.

Exemplos
a) Determinar o espaçamento a ser usado em um sistema de drenagem com manilhas
porosas, para as seguintes condições:
– Dreno de manilha: profundidade de 1,0 m.
– Profundidade da camada impermeável: 4,0 m.
– Profundidade mínima desejada do lençol freático: 0,5 m.
– Condutividade hidráulica da camada superior do solo (Ko1): 1,5 m/dia
– Condutividade hidráulica da camada do subsolo (Ko2): 1,0 m/dia.
– Lâmina de água a ser drenada: 5 mm/dia.
– Dreno de manilha: raio de 7,5 cm.
Com esses dados, tem-se:
r = 0,075 m; q = 0,005 m/dia;
598 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

P = 1,0 m’P + D = 4,0 m’D = 3,0 m;


H = 0,5 m; H + h = 1,0 m; h = 0,5 m;
Kol = 1,5 m/dia; Ko2 = 1,0 m/dia.
8 K o 2 h 8 x 1,0 x 0,5
= = 800
q 0,005

4 K o l h 2 4 x 1,5 x 0,52
= = 300
q 0,005

D = 3,0 m.
Ligando o ponto 800 com o ponto 300, no gráfico da direita (Figura 11.9), esta linha
intercepta a de D = 3,0 no ponto de L  46 m.
Os drenos devem ser espaçados de 46 m.
b) Determinar o espaçamento a ser usado em um sistema de drenagem com tubos
corrugados, para as seguintes condições:
– Profundidade do dreno: 1,0 m;
– Profundidade da camada impermeável: 3,5 m;
– Profundidade mínima desejada do lençol freático: 0,6 m;
– Condutividade hidráulica da camada superior do solo (Kol): 2,0 m/dia; e do subsolo
(Ko2): 1,0 m/dia;
– Lâmina de água a ser drenada: 7 mm/dia’
– Tubo com raio de 10 cm.
Com esses dados, tem-se:
r = 0,10 m; q = 0,007 m/dia;
P = 1,0 m; P + D = 3,5 m; D = 2,5 m;
H = 0,6 m; H + h = 1,0 m; h = 0,4 m;
Kol = 2,0 m/dia; Ko2 = 1,0 m/dia.
8 K o 2 h 8 x 1,0 x 0,4
= = 457
q 0,007

4 K o l h 2 4 x 2,0 x 0,4 2
= = 183
q 0,007

D = 2,5 m.
Ligando o ponto 457 ao ponto 183 no gráfico da direita (Figura 11.9), essa linha
intercepta a imaginária para D = 2,5 no ponto de L = 32 m.
Drenagem 599

Os drenos devem ser espaçados de 32 m.


c) Determinar o espaçamento para um problema semelhante ao visto anteriormente,
mas não existindo camada impermeável:
8 Ko 2 h
= 457
q

4 K ol h 2
= 183
q
D = .
Unindo os pontos, encontra-se L = 41 m.
Os drenos devem ser espaçados de 41 m.
d) Qual será o espaçamento entre os drenos do exemplo usado, com a equação de
Donnan, se for usada naqueles dados a equação de Hooghoudt?
Naquele exemplo, tinha-se:
q = 0,006 m/dia;
P = 1,2 m; P + D = 2,2 m; D = 1,0 m;
H = 0,5; H + h = 1,2; h = 0,7 m;
Kol = Ko2 = 1,0 m/dia.
8 K o 2 h 8 1,0 0,7
= = 933
q 0,006

4 K o l h 2 4 1,0 0,7 2
= = 327
q 0,006
D = 1,0 m.
Pelo gráfico, tem-se L = 34 m.
Verifica-se que o espaçamento é um pouco menor do que o encontrado com a equação
de Donnan (L = 35,5 m); isso porque a equação de Hooghoudt considera a convergência das
linhas de fluxo, o que aumenta a resistência ao fluxo.
Analisando as equações de Donnan e de Hooghoudt, constata-se que, mantendo as
demais variáveis constantes, o valor de L aumenta com:
– aumento da condutividade hidráulica de solo (K);
– decréscimo da lâmina de água a ser drenada por dia (q);
– aumento da profundidade da camada impermeável; e
– aumento da altura do lençol freático no ponto intermediário entre os drenos (h).
600 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

O segundo termo da equação de Hooghoudt pode ser negligenciado quando o fluxo


acima do nível do dreno for muito pequeno. Isso ocorre quando h for muito pequeno ou
quando Ko2 >> Kol. Nesse caso, a equação de Hooghoudt é reduzida a:
8 Ko 2 d h
L=
q

Determinação da Condutividade Hidráulica


A condutividade hidráulica (Ko) de um solo saturado é o principal parâmetro que
determina a sua capacidade de drenagem. Assim, sua determinação é de capital importância
para o dimensionamento dos sistemas de drenagem. Existem vários métodos para determinar a
condutividade hidráulica dos solos; didaticamente, eles podem ser divididos em dois grandes
grupos: métodos de laboratório e métodos de campo.
Serão apresentados dois métodos: do permeâmetro de carga constante (método de
laboratório) e o de um poço na presença do lençol freático (método de campo).

Método do Permeâmetro de Carga


Constante
Este método consiste em colocar a amostra do solo, alterada ou sem alteração, em um
cilindro e sobre ele estabelecer uma lâmina de água constante de 2 a 4 cm, conforme
ilustração na Figura 11.10.
Fonte de água

h
Ladrão
L Anel de borracha
Tela coberta de gases
Cilindro Funil
com
solo

Proveta

Figura 11.10 - Esquema de um permeâmetro de carga constante.


Drenagem 601

O uso de solos sem estrutura natural, ou seja, amostra alterada, só é recomendado


para aqueles que em condições naturais não são estruturados. Isso porque o seu uso com solos
que em campo são bem estruturados normalmente dá valores de condutividade muito
diferentes dos valores reais daquele solo em condições de campo. Para minimizar o efeito da
alteração da estrutura do solo, recomendam-se no mínimo três ciclos de saturação e drenagem
da amostra do solo antes de saturá-la para a determinação de sua condutividade hidráulica,
sendo o mais recomendado o uso de amostra sem alterar sua estrutura natural, o que pode ser
obtido extraindo amostra do solo em anéis metálicos e sobre ele colocar a carga hidráulica e
medir a vazão percolada, através da amostra.
A condutividade hidráulica, após o fluxo de água que atravessa a amostra atingir um
valor constante, é calculada por meio da seguinte equação:
Q L
Ko = (11.16)
A (L + h)
em que: Ko = condutividade hidráulica do solo saturado, em cm/h;
Q = vazão percolada através da amostra, em cm3/h;
L = comprimento da amostra de solo, em cm;
A = seção transversal da amostra, cm2; e
h = carga hidráulica, em cm.
O diâmetro do cilindro com solo deve ser de 10 a 15 cm, e a altura, de 5 a 10 cm.
O infiltrômetro de anel (capítulo 1) também pode ser usado como permeâmetro de
carga constante, para determinar a condutividade hidráulica do solo – o valor obtido com ele é
muito mais representativo. Para usar os seus dados na equação anterior, a velocidade de
infiltração básica (VIB) é idêntica a Q/A, a profundidade do anel enterrado no solo é L e a
carga hidráulica é h, ou seja:
VIB L
Ko = (11.17)
L+h
A precisão do resultado dependerá da qualidade e da representatividade da amostra.
Assim, deve-se ter o máximo de cuidado para que a amostra que não foi alterada não contenha
furos devido a raízes ou microrganismos. Como a condutividade é determinada em uma
amostra muito pequena, é comum o seu valor variar muito de uma amostra para outra. Por
isso, recomenda-se usar pelo menos cinco amostras para cada área e tirar a média dos valores
encontrados, eliminando os valores extremos.

Método de Um Poço na Presença do Lençol


Freático (Auger-Hole)
602 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

É um método rápido, simples e preciso para medir a condutividade hidráulica, em


campo, na presença do lençol freático. Ele funciona da seguinte maneira: faz-se um furo com
trado até abaixo do lençol freático. Após o equilíbrio entre a água do poço e o lençol freático,
parte desta é removida. A água do solo, ao redor do poço, se movimentará para dentro deste,
elevando seu nível. A velocidade com que o nível da água subirá no poço está correlacionada
com a condutividade hidráulica do solo ao seu redor.
Este método estima a condutividade hidráulica do solo saturado, da faixa
compreendida entre o lençol freático e o fundo do poço. Ele está esquematizado na Figura
11.11.

Plano de referência

A
Superfície do solo

Z Z´

Lençol freático

Yn
Y
Yo P´
H Y P

Camada impermeável

Figura 11.11 - Esquema das medições para determinação da condutividade hidráulica, pelo
método de um poço na presença do lençol freático.

Nesta figura as letras representam:


A = distância da superfície do solo ao plano de referência;
H = distância do lençol freático ao fundo do poço;
P = profundidade do poço;
P’ = distância do fundo do poço ao plano de referência;
r = raio do poço;
S = distância do fundo do poço à camada impermeável.
Yo + Yn
Y = nível médio da água no poço, calculado pela equação Y = ;
2
Yo = nível da água no poço ao iniciar as medições;
Drenagem 603

Yn = nível da água no poço ao término das medições;


Y = Yo - Yn = variação do nível da água durante as medições;
Z = profundidade do lençol freático; e
Z’ = distância do lençol freático ao plano de referência.

A abertura do poço deve ser feita com cuidado para não alterar a estrutura do solo
junto à parede do poço. Em solos homogêneos, a profundidade do poço pode variar de 30 a
150 cm abaixo do lençol freático, e o raio do poço normalmente varia de 4 a 6 cm.
A retirada da água de dentro do poço pode ser feita por meio de uma pequena bomba
ou de um pedaço de tubo, com válvula de entrada na parte inferior. Antes de se fazerem as
medições para determinar Ksat, deve-se retirar a água de dentro do poço duas ou três vezes, a
fim de desobstruir os poros que porventura tenham sido entupidos durante a perfuração. Para
fazer as medições, tem-se que esperar que o nível da água dentro do poço atinja o nível do
lençol freático. Em seguida, deve-se retirar água do poço até o seu nível abaixar de 20 a 60
cm (Yo de 20 a 60 cm).
O objetivo das medições é determinar a velocidade com que o nível da água sobe no
poço, ou seja, Y e t. Normalmente as leituras do nível da água podem ser feitas ou usando
um intervalo de tempo constante, ou seja, a cada 10, 15, 20 ou 30 segundos, sendo que
durante o teste devem-se fazer cinco leituras; ou fixando um determinado comprimento e
medindo o tempo que o nível do poço levará para subir esta distância. Durante o teste devem-
se fazer de quatro a cinco leituras, com o objetivo de verificar se não ocorreu nenhuma
anormalidade. As variações intermediárias devem ser mais ou menos uniformes.
Um ponto de capital importância é que as leituras devem ser feitas antes que 25% do
volume de água retirado do poço tenha retornado a ele, ou seja, antes que Yn < 3/4Yo, ou
antes de Y>1/4 Yo.
Assim, para se obterem bons resultados com este método, devem-se observar as
seguintes condições:
– A medição da velocidade de elevação do nível da água dentro do poço deve ser
completada antes que Y seja maior do que ¼ Yo, ou seja, Y deverá ser igual ou menor do
que ¼ Yo.
– Antes de se fazerem as medições para determinar a velocidade de elevação do nível
da água no poço, deve-se bombear ou retirar a água do poço duas ou três vezes.

Cálculo da condutividade hidráulica


No cálculo da condutividade hidráulica com os dados obtidos no campo podem-se
usar equações ou gráficos. Como o uso de gráficos é mais comum e mais preciso, apresentar-
se-á somente o método dos gráficos.
Por este método, a condutividade hidráulica do solo saturado é calculada por:
604 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Y
Ko = C (m/dia) (11.18)
t
em que o fator C depende de Y, H, r e S e pode ser determinado pelas Figuras 11.12 e 11.13,
preparadas por W.F.J. van Beers, para poço com r = 5 cm e S = 0 ou S  ½ H. De modo
geral, a Figura 11.13 pode ser usada para qualquer valor de S  15 cm. Quando o raio do
poço for diferente de 5 cm, essas figuras podem ser usadas, desde que sejam corrigidos os
valores de H e Y. O fator de correção é 5/r. Por exemplo, quando o raio do poço for de 4 cm,
o fator de correção será 5/4 = 1,25, ou seja, os valores de H = 40 cm e Y = 16 cm serão
corrigidos para Hc = 50 cm e Yc = 20 cm e usados para determinar C.

Figura 11.12 - Valores de C, em função de Y, H, r e S, segundo W.E.J. van Beers.


Drenagem 605

A seguir serão mostrados alguns exemplos para ilustrar a determinação da


condutividade hidráulica de um solo saturado.

a) Na Tabela 11.4 são apresentados os dados obtidos no campo para determinar a


condutividade hidráulica pelo método de um poço na presença do lençol freático em um solo
homogêneo e profundo, cujas leituras foram feitas com intervalo de tempo constante. O plano
de referência está 30 cm acima da superfície do solo.

Figura 11.13 - Valores de C, em função de Y, H, r e S, segundo W.F.J. van Beers.

Tabela 11.4 - Determinação da condutividade hidráulica em um poço com raio de 5 cm

Distância do nível de água do poço ao plano de referência (cm)


Características Tempo
Antes do Após Durante o
do poço (segundo) Y’
bombeamento bombeamento enchimento
A = 40 cm - 115,0 - - -
606 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

r = 4 cm 0 - 146,0 - -
P = 200 cm 10 - - 144,6 1,4
S=4m 20 - - 143,1 1,5
30 - - 141,7 1,4
40 - - 140,4 1,3
50 - - 139,0 1,4
T = 50 Y = 7,0
Têm-se então os seguintes dados:
P = 200 cm e P’ = P + A = 230 cm
Z’ = 100 cm e Z = Z’ - A = 70 cm
H = P’ - Z’ = 230 - 100 = 130 cm
Yo = 160 - Z’ = 160 - 100 = 60 cm
Yn = 146 - Z’ = 146 - 100 = 46 cm
Yo + Yn 60 + 46
Y= = = 53,0 cm
2 2
Y = 14 cm e T = 75 segundos
(1/4 Yo = 15 cm, como Y < ¼ Yo, O.K.)
Y 14
= = 0,187
T 75
Usando a Figura 11.13 (S > 15 cm), para H = 130 cm e Y = 53, tem-se C = 5,2.
Y 14
Ko = C = 5,2 = 0,97 m/dia
T 75
b) Na Tabela 11.5 estão os dados obtidos em um poço com raio de 4 cm, cujas
leituras foram feitas com intervalo de tempo constante.

Tabela 11.5 - Determinação da condutividade hidráulica em um poço com raio de 4 cm

Distância do nível de água do poço ao plano de referência (cm)


Características Tempo
Antes do Após Durante o
do poço (segundo) Y’
bombeamento bombeamento enchimento

A = 40 cm - 115,0 - - -
r = 4 cm 0 - 146,0 - -
Drenagem 607

P = 200 cm 10 - - 144,6 1,4


S=4m 20 - - 143,1 1,5
30 - - 141,7 1,4
40 - - 140,4 1,3
50 - - 139,0 1,4
T = 50 Y = 7,0

Têm-se então os seguintes dados:


P = 200 cm e P’ = P + A = 240 cm
Z’ = 115 cm e Z = Z’ - A = 75 cm
H = P’ - Z’ = 249 - 115 = 125 cm
Yo = 146 - Z’ = 146 - 115 = 31 cm
Yn = 139 - Z’ = 140,4 - 115 = 24 cm
Yo + Yn 31 + 25,4
Y= = = 27,5
2 2
Y = 7,0 e T = 50
(1/4 Yo = 7,75, como Y , ¼ Yo, O.K.)
Y 7,0
= = 0,14
T 50
Como r = 4 cm, é preciso corrigir os valores de H e Y. O fator de correção para este
5
poço é
r
5 5
Hc = H = 125 = 156,25 cm
r 4
5 5
Yc = Y = 27,5 = 34,38
r 4
Usando a Figura 11.13 (S > 15 cm), para Hc = 156,25 e Yc = 34,38, tem-se C = 6,3.
Y 7,0
Ko = C = 6,3 = 0,88 m/dia
T 50
c) Na Tabela 11.6 encontram-se os dados obtidos no campo em um poço com raio de
5 cm, cujas leituras foram feitas com intervalo de profundidade constante.

Tabela 11.6 - Determinação da condutividade hidráulica em um poço com raio de 5 cm


608 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Características Distância do nível de água do poço ao plano de referência (cm) Tempo (segundos)
do poço Antes do bombeamento Após bombeamento T T
A = 40 cm 90 -
r = 5 cm - 130 0 -
P = 120 m - 128 19 19
S=0 - 126 39 20
- 124 59 20
122 80 21
Y = 8 cm T =
80

Têm-se então os seguintes dados


O = 120 cm e P’ = P + A = 160 cm
Z’ = 90 cm e Z = Z’ - A = 50 cm
H = P’ - Z’ = 130 - 90 = 40 cm
Yn = 122 - Z’ = 122 - 90 = 32 cm
Yo + Yn 40 + 32
Y= = = 36 cm
2 2
Y = 8 cm e T = 80 segundos
(1/4 Yo = 10 cm, como Y < ¼ Yo, O.K.)
Y 8
= = 0,1
T 80
Usando a Figura 11.12 (S = 0), para H = 70 cm e Y = 36 cm, obtém-se C = 14.
Y 8
Ko = C = 14 = 1,4 m/dia
T 80

Tipos de Dreno
Drenos Abertos
São as valetas, canais ou valas, que efetuam tanto a drenagem superficial como a do
solo. Por causa de sua profundidade e largura, os drenos são capazes de conduzir vazões
relativamente grandes. Eles se adaptam melhor a áreas grandes e planas, onde existe pouca
declividade natural.
Em relação àqueles cobertos ou enterrados, os drenos abertos apresentam as seguintes
vantagens e desvantagens:
Drenagem 609

Vantagens
– têm custo inicial mais baixo;
– são de fácil inspeção, limpeza e manutenção; e
– proporcionam tanto a drenagem do solo como a superficial.

Desvantagens
– apresentam perda de parte do terreno para cultivo;
– dificultam o manejo de máquinas; e
– exigem maior gasto com a manutenção.

Drenos Cobertos
Drenos cobertos, também conhecidos como subterrâneos ou subsuperficiais, referem-
se a qualquer tipo de conduto com aberturas nas conexões, ou com perfurações, ou
constituídos de material muito poroso, ou com espaço livre entre os condutos instalados sob a
superfície do solo, com o objetivo de coletar e conduzir água de drenagem.
Quando corretamente instalados, requerem pouca manutenção, não interferem nas
práticas culturais na área e não ocupam área de cultivo.
Estes drenos podem ser constituídos de diferentes tipos de materiais, como: pedra,
tijolo ou telha, bambu, tubos de argila (manilha), concreto, PVC etc.
Existem ainda os drenos livres (mole drains). Eles são condutos cilíndricos, não-
revestidos, construídos com subsolador, equipados com torpedo, em solos argilosos. Quando
construídos em solos apropriados, possuem vida útil de três a cinco anos. Após esse período
deve-se fazer nova subsolagem.
Dreno de pedra – Pode ser em forma de galeria ou colocando uma camada de brita
dentro de uma vala. Neste último caso, a camada de brita deve ser coberta com uma de capim
ou plástico e, em seguida, com terra.
Dreno de tijolo ou telha – Usado em pequenas áreas, consiste na construção de
pequenas galerias, com tijolo ou telha, dentro de uma vala previamente aberta.
Dreno de bambu – Consiste em colocar feixes de bambu dentro da valeta, cobrir com
capim ou plástico e depois com terra. A água de drenagem movimentar-se-á nos espaços livres
que ficam entre os bambus. Por ser um material farto e barato no meio rural, este tipo de
dreno é muito usado nos pequenos projetos de drenagem.
Tubo – Normalmente é o material usado nos projetos de drenagem de médio e grande
porte. Podem-se usar tubos de argila, concreto ou de PVC. Ultimamente têm sido usados, com
maior freqüência, tubos de PVC corrugado e perfurado. Existem máquinas que, em uma única
operação, abrem a valeta, colocam o tubo de PVC e o cobrem.
610 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Quando se usam tubos para drenagem, deve-se construir o envelope ou filtro


invertido, em torno do tubo, a fim de evitar o entupimento dos tubos com terra e aumentar o
diâmetro efetivo do dreno.

Sistemas de Drenagem
De acordo com a topografia da área a ser drenada, com a posição, nível e flutuação
do lençol freático e com o tipo de solo, os drenos podem ser alinhados, de modo que formem
um determinado padrão ou sistema de drenagem.
Em geral, podem-se assim classificar os sistemas: natural, interceptor, paralelo,
espinha de peixe, grade duplo principal, os quais estão ilustrados na Figura 11.14.
Em geral, os sistemas de drenagem são construídos a partir de um dreno principal,
drenos coletores e drenos laterais, parcelares ou de campo.
As Figuras 11.15, 11.16 e 11.17 ilustram fases da construção de sistemas de
drenagem.
Drenagem 611

o
ad
lev
oe

o
en

aix
r

ob
ter

re n
t er

o
reg
cór
dreno
Natural Interceptor

Valeta ou córrego paralelo Espinha de peixe

Grade Duplo principal

Figura 11.14 - Sistemas de drenagem.


612 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

Figura 11.15 - Abertura de valeta com retroescavadeira (PROVARZEAS - MG).

Figura 11.16 - Abertura de valeta com valetadeira (PROVARZEAS - MG).


Drenagem 613

Figura 11.17 - Construção de um sistema de drenagem com dreno de bambu (PROVARZEAS


- MG).

Referências
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FAO. Drainage machinery. Roma: Land and Water Development Division. FAO – UN, 1973. 122 p. (Irrigation
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ISRAELSEN, O.W.; HANSEN, V.E. Irrigation principles and practices. N. York: John Wiley and Sons,
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LUTHIN, J. Drainage engineering. N. York: John Wiley & Sons, 1966. 250 p.
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614 Salassier Bernardo, Antonio A. Soares e Everardo C. Mantovani

REICHARDT, K. Processos de transferência no sistema solo-planta-atmosfera. São Paulo: Fundação Cargil.


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SCHILFGAARDE, J.V. Drainage for agriculture. Madison: American Society of Agronomy, 1974. 700 p.
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U.S.D.A. – Soil Conservation Service. Drainage of agriculture lands. N. York: Water Information Center.
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Van BEERS, W.F.J. The Auger Hole method. Wageninger: International Institute for Land Reclamation and
Improvement, 1983. 24 p. (Bulletin nº 1).
Van BEERS, W.F.J. Some nomographs for the calculation of drain spacings. Wageningen: International
Institute for Land Reclamation and Improvement, 1979. 48 p. (Bulletin nº 8).

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