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“O CASO É O SEGUINTE...

” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 18


Autora:
Inamar Ribeiro de Souza
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso
pela PUC Minas.

Dislexia: O que é? Tem cura?


Resumo mento era ruim. Ele se mostrava desatento, tinha
disgrafia (letra feia), discalculia (dificuldade com
O presente artigo tem por objetivo apresentar um a matemática, sobretudo na assimilação de sím-
estudo de caso realizado em uma escola pública, bolos e em tabuada) e não produzia o esperado,
com um aluno da 6ª série do ensino fundamental,
dessa forma não acompanhava a turma.
que sofre do distúrbio de dislexia e, por conseqüên-
cia, repetiu pela terceira vez a série atual. A coordenadora chamou a mãe do aluno para
obter mais informações sobre as mudanças de
Carlos sempre estudou em escolas públicas, escolas e a repetência de Carlos pela segunda
foi matriculado na atual escola em agosto de vez, com grandes possibilidades de repetir pela
2007 e já havia passado por quatro escolas ante- terceira vez, o que acabou acontecendo no final
STUDOS DE CASOS

riormente. de 2007, pois Carlos já tinha vindo de outra esco-

Carlos apresentava dificuldades em acompa- la com notas muito baixas.

nhar a turma e o seu rendimento escolar era A mãe do aluno alegou que o filho não apren-
muito baixo. dia e sempre teve muita dificuldade em Portu-

Durante o terceiro bimestre daquele ano, a guês e Matemática. Quanto à mudança de esco-

coordenadora da escola, que tem especialização la, a mãe colocou que mudava o filho de escola,

em Psicologia, recebeu muitas reclamações por porque acreditava que eram os professores que

parte dos professores a respeito do aluno. Os não sabiam ensinar o seu filho.

professores de Português e Matemática, princi- A coordenadora aconselhou a mãe a procurar


palmente, alegavam que, embora fosse um aluno um profissional para se ter um diagnóstico mais
que não fizesse bagunça em sala, o seu rendi- preciso, pois, na escola, ela havia feito alguns
testes com Carlos e, pelos resultados obtidos,
pode-se dizer que existiam indícios de que ele
sofria do distúrbio de dislexia.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


Dislexia: O que é? Tem cura? Inamar Ribeiro de Souza

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


Segundo Ianhez e Nico (2002, p. 30-31), A dislexia é, basicamente, um distúrbio ou
transtorno de aprendizagem na área da leitura,
esse diagnóstico deve ser obtido mediante uma
avaliação ministrada por uma equipe multidisci- escrita e soletração, causado por desmotivação,
plinar [...]. A equipe multidisciplinar pesquisará condição socioeconômica ou baixa inteligência.
todas as possibilidades com o objetivo de esta-
belecer um diagnóstico preciso, identificando, Em contrapartida, os professores não sabiam
ainda, as dificuldades e necessidades específi-
cas da pessoa em processo de avaliação, bem como lidar com aquele aluno. Diante disso, a
como seus potenciais preservados. coordenadora procurou informar melhor esses
professores, trazendo-lhes textos e discutindo
Esse tipo de avaliação dá condições de um
com eles o assunto. Dessa forma, os professores
acompanhamento mais efetivo das dificuldades
buscaram novas formas de trabalho, utilizando
após o diagnóstico.
novas metodologias.
A mãe de Carlos acatou o que lhe foi coloca-
No ano de 2007, não se pôde fazer muito pelo
do, embora estivesse assustada, pois era leiga
Carlos, já que ele tinha vindo de uma outra esco-
no assunto. O que é dislexia? Tem cura?
la com o rendimento escolar muito baixo, e um
A coordenadora adiantou que não se tratava bimestre apenas era pouco para se recuperar.
de uma doença e sim de um distúrbio. Portanto,
Agora, em 2008, a coordenadora pediu que
não tem cura e sim melhoras. A criança pode sim
os professores dessem uma atenção especial ao
ser capaz de buscar o conhecimento e absorver
Carlos. E, devido a isso, ele tem acompanhado
as informações.
mais as aulas, continua com certas dificuldades,
Carlos foi levado para fazer o diagnóstico, que mas as médias estão razoáveis.
comprovou o distúrbio de dislexia.
A coordenadora vem acompanhando de perto
Segundo Ianhez e Nico (2002, p. 21-22), o rendimento e a evolução de Carlos. Ele não é o
único aluno da escola a ter esse distúrbio, há
A primeira definição é do neurologista america-
no, Dr. Samuel T. Orton, a quem foi dedicado o
outras crianças com o mesmo problema, mas,
nome da primeira instituição para pesquisas e muitas vezes, passa despercebido, porque a
estudos sobre a dislexia, a Orton Dyslexia Soci-
criança, quando não dá conta de acompanhar a
ety, atual International Dyslexia Association (I-
DA): (1925). turma, se torna indisciplinada, faz bagunça etc.
É uma dificuldade que ocorre no processo de
leitura, escrita, soletração e ortografia. Não é Segundo dados da Associação Brasileira de
uma doença, mas um distúrbio com uma série
de características. Torna-se evidente na época
Dislexia (ABD), o distúrbio de dislexia é uma das
da alfabetização, embora alguns sintomas já es- mais comuns deficiências de aprendizado e atin-
tejam presentes em fases anteriores. Apesar de
ge 15% da população mundial.
instrução convencional, adequada inteligência e
oportunidade sociocultural e ausência de distúr-
bios cognitivos fundamentais, a criança falha no Alguns dos principais sinais do distúrbio são
processo da aquisição da linguagem. A dislexia desatenção e dispersão; desorganização geral e
independe de causas intelectuais, emocionais e
culturais. É hereditária e a maior incidência é
constante; confusão entre direita e esquerda;
em meninos na proporção de três para um (ou falta de traquejo com mapas e dicionários; pro-
seja, a cada três meninos que nascem com dis- blema de memória de curto prazo; disnomias
lexia, apenas uma menina nasce dislexia).
(dificuldade em dar nomes a objetos e pessoas).

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Dislexia: O que é? Tem cura? Inamar Ribeiro de Souza
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

Além disso, o aluno apresenta insegurança


para fazer cópias de livros ou do quadro; leitura
Notas de rodapé:
lenta e sem fluência; inabilidade na matemática; 1. Nome fictício, para preservar a identidade do
aluno.
pouca coordenação motora. Esses são alguns
dos sinais para os quais os professores e os pais
têm que ficar atentos. Referência:
Quanto mais cedo for diagnosticado o distúr- IANHEZ, Maria Eugênia; NICO, Maria Ângela.
bio, mais facilidade o educador poderá ter para Nem sempre é o que se parece: como enfrentar
a dislexia e os fracassos escolares. São Paulo:
ajudá-lo.
Alegro, 2002, 166p.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 19
Autora:
Jucelí Piovezan
Endereço eletrônico: irmaju@ig.com.br
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC
Minas e professora da Escola Madre Luíza Locatelli

Fala: sinônimo de desenvolvimento e crescimento

Resumo da audição, cujos resultados foram categóricos


em afirmar que Pedro não possui qualquer tipo
Este artigo tem como objetivo relatar o caso de um de problema relacionado à audição.
menino pobre da região oeste de Belo Horizonte,
que apresenta dificuldades na fala. E este fato o está Especialistas como Ingram (1976), que se de-
impossibilitando de desenvolver com sucesso seu dicou ao estudo do desenvolvimento da fala de
processo aprendizagem. O que uma escola pode crianças, afirmam que cada criança possui sua
fazer para que essa realidade seja transformada?
própria maneira de desenvolver a fala, sendo
essa variação muito importante, devendo ser
Na escola em que realizei o estágio de obser-
levada em consideração tanto no inicio como no
vação, foi onde conheci o Pedro1. Ele sempre
decorrer do tratamento. Em muitos casos, não se
STUDOS DE CASOS

estudou nessa instituição educacional. Durante


observam distúrbios, o que dificulta o tratamento.
os dias do estágio, se mostrou um menino como
tantos outros. Mas, infelizmente, segundo a fo- Segundo a mãe de Pedro, quando ele entrou
noaudióloga que o acompanha, ele não aprendeu na fase de desenvolvimento da linguagem, já
o som correto das palavras. Wertzner (2002), apresentava determinadas dificuldades em pro-
especialista em fonoaudiologia, em suas pesqui- nunciar algumas palavras, ou seja, não conse-
sas define: guia produzir os sons corretos de algumas letras
como o “r” e o “t”. No decorrer dos anos da edu-
[...] o transtorno fonológico como uma alteração
de fala caracterizada pela produção inadequada cação infantil, Pedro era como as outras crian-
dos sons, bem como pelo uso inadequado das
regras fonológicas da língua quanto à distribui- ças, não havendo, portanto, por parte da família
ção do som e ao tipo de estrutura silábica. Sua ou da escola, uma maior preocupação em procu-
causa é desconhecida, o grau de gravidade e
inteligibilidade de fala é variado. rar um profissional qualificado para fazer um
acompanhamento das dificuldades constatadas,
É importante ressaltar que foram realizados
mas não levadas a serio como deveria. Existia
todos os exames necessários para a verificação
por parte da família a esperança de uma melhora
súbita, como um milagre. E, nessa espera, as
dificuldades foram aumentando. As conseqüên-
cias para ele serão, ao longo de sua existência,
marcas profundas.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


Fala: sinônimo de desenvolvimento e crescimento Jucelí Piovezan

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


Essa deficiência o tem prejudicado em múlti- os familiares, não possuía tanta importância, pois
plos aspectos. Seu processo de socialização e imaginavam que o tempo se encarregaria de
adaptação, quando passou para as séries iniciais solucionar a deficiência.
do Ensino Fundamental, foi marcado por obstá-
Segundo a escola, que conhece melhor a si-
culos, dificuldades e até mesmo preconceito por
tuação, um dos principais problemas da família
parte de seus colegas que não entendiam o que
seria o financeiro. Não existia a possibilidade de
ele dizia. No seu processo de aprendizagem,
buscar um profissional qualificado para cuidar do
atualmente no terceiro ano do Ensino Fundamen-
caso, devido ao alto custo do tratamento. Nos
tal, de modo especial na disciplina Português,
grandes centros, como é o caso, isso ocorre em
que requer uma compreensão da língua falada e
grandes proporções. De um lado, não se conse-
escrita, ele vem encontrando muitas dificuldades.
gue atendimento na rede pública de saúde e, de
Segundo relatos da professora, o problema na
outro, não há recursos financeiros suficientes
fala do Pedro o prejudicou na aprendizagem da
para se arcar com os custos de um profissional
leitura. Nas outras disciplinas, suas dificuldades
particular.
não estão sendo menores.
A escola, para ajudar o Pedro a ter uma vida
Somente em 2007, quando Pedro já estava
normal e ter possibilidades de desenvolver seu
no segundo ano do Ensino Fundamental, a esco-
processo de aprendizagem de maneira satisfató-
la, numa atitude de dar um basta aos sofrimentos
ria e com sucesso, buscou uma primeira ajuda
de Pedro, convocou a família a estarem buscan-
com um fonoaudiólogo que já havia ministrado
do, juntos, uma perspectiva de melhora para ele.
algumas palestras na instituição. Este realizou,
Segundo os relatórios existentes na escola, a
gratuitamente, as avaliações do aluno, encami-
primeira atitude foi a elaboração de um encami-
nhando-o a uma fonoaudióloga especializada em
nhamento para a unidade de saúde do bairro,
tratamento infantil. No entanto, seriam necessá-
evidenciando a gravidade e a complexidade do
rios recursos para a realização do tratamento.
caso. Esta, por sua vez, apenas se pronunciou
Após algumas tentativas frustradas, a pedido da
afirmando que a fila de espera para esse tipo de
diretora da escola, Pedro está recebendo ajuda
atendimento era grande, chegando a 600 pesso-
de uma família, que paga as consultas, e a pró-
as apenas em uma região.
pria escola ajuda com o transporte. A fonoaudió-
Enquanto isso, Pedro enfrentava, no decorrer loga, diante do quadro, concordou em receber
dos dias, dificuldades em desenvolver as ativida- apenas a metade do valor cobrado para cada
des corriqueiras de uma sala de aula, como co- seção.
municar-se com seus colegas, solucionar algu-
Atualmente, após esses três primeiros meses
mas dúvidas sobre esse ou aquele conteúdo.
de tratamento, Pedro vem apresentando peque-
Segundo a mãe e as professoras, esse problema
nas melhoras, segundo a mãe e a constatação
na fala nunca o tinha impossibilitado tanto como
da professora. Existe, por parte da família e da
agora, vindo à tona um problema que, segundo
escola, grande expectativa em relação aos resul-
tados do tratamento. Esta é a oportunidade que
Pedro tem de recuperar o que perdeu e de abrir
novos horizontes para seu futuro, tanto na sua
vida escolar como na sua vida social.

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Fala: sinônimo de desenvolvimento e crescimento Jucelí Piovezan
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

Notas de rodapé:
1. Nome fictício, para preservar a identidade do
aluno.

Referências:
PAPP, Ana Carolina C. Salvatti; WERTZNER, H.
F. O aspecto familial e o transtorno fonológico.
Pró-Fono: Revista de Atualização Científica,
São Paulo, v. 18, maio/ago. 2006. Acessado em
11 maio 2008.

WERTZNER, H. F. et al. Classificação do distúr-


bio fonológico por meio de duas medidas de
análise: Porcentagem de consoantes corretas
(PCC) e índice de ocorrências dos processos
(PDI). Pró-Fono: Revista de Atualização Cientí-
fica, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 90-97, mar. 2001.

WERTZNER, H. F.; OLIVEIRA, M. M. F. Existem


semelhanças entre os sujeitos com distúrbio
fonológico? Pró-Fono: Revista de Atualização
Científica, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 143-152,
maio-ago. 2002.

WERTZNER, H. F. O distúrbio fonológico em


crianças falantes do português: descrição e
medidas de severidade. 2002. 228 f. Tese (Livre-
Docência, Departamento de Fisioterapia, Fono-
audiologia e Terapia Ocupacional) - Faculdade
de Medicina, Universidade de São Paulo, São
Paulo.

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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 20
Autora:
Júnia Valéria Silveira Nogueira Reis
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela
PUC Minas.

Trauma intra-uterino
Resumo inato do indivíduo e o adquirido do meio ambien-
te começa muito mais cedo do que normalmente
Este artigo relata o caso de uma criança, vítima de se considera; certas experiências pré-natais po-
um trauma de nascimento, que se reflete na sua dem ter efeito emocional profundo sobre a crian-
relação com as pessoas, tanto na escola quanto fora
ça, especialmente se tais acontecimentos são
dela, e a intervenção da escola a partir da observa-
ção do comportamento da aluna.
reforçados pelas experiências pós-natais. Ela
ainda refere que, embora os “ventres” possam

A gravidez de sete meses transcorre tranqüi- ser considerados como espaços seguros, estão

lamente numa família constituída de pai, mãe e muito longe de serem considerados neutros, pois

duas filhas, uma de cinco e a outra de sete anos. muitas das emoções, pertencentes aparentemen-
STUDOS DE CASOS

Nesta terceira gestação, novamente seria uma te à vida pré-natal, podem ficar indissoluvelmente

menina que iria se integrar àquela família. Tudo ligadas ao modo habitual de se relacionar com a

corria bem até que uma crise conjugal causa a vida (12).”

separação do casal. A gravidez chega ao final em meio a esse tur-

“Alessandra Piontelli realizou um estudo ob- bilhão de emoções e expectativas. A mãe, sofrida

servacional e psicanalítico, acompanhando ges- e fragilizada por causa da separação, dá a luz a

tações, através de imagens ultra-sonográficas, uma bela menina. O pai vai conhecer a nova

desde a 16ª semana e continuou acompanhando filha, criando, desse modo, na mãe uma grande

as crianças até 4 anos de idade. Os seus acha- expectativa de uma possível reconciliação, que

dos sugerem que: 1) há uma notável continuida- não acontece.

de em aspectos comportamentais e psicológicos “Os novos estudos têm realçado o papel do


da vida pré e pós-natal; 2) a interação entre o pai na gravidez. Durante a gestação, a relação
com um homem carinhoso e sensível proporcio-
na à mulher e ao filho um sistema constante de
apoio emocional. Não há nada que afeta mais
profundamente uma mulher grávida e o seu filho
intra-uterino, que as preocupações com o com

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Trauma intra-uterino Júnia Valéria Silveira Nogueira Reis

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


panheiro. Portanto, é muito perigoso para uma Num dia de aula especializada, o professor de
criança, tanto emocional como fisicamente, um Educação Física foi buscar os alunos na sala
pai que maltrate ou abandone uma mulher grávi- para a aula. Ele, sem saber, pegou na mão da
da (12).” aluna para conduzi-la até a quadra. A aluna co-
meçou a chorar e não quis ir com ele para a qua-
O tempo foi passando e o pai, sempre que
dra. Foi um custo para acalmá-la. A professora,
possível, visitava as filhas e a ex-esposa e, sem-
diante daquela cena, fez a ligação entre as cenas
pre que ocorriam essas visitas, pairava no ar a
anteriores que ela presenciara em sala com rela-
oportunidade de um novo recomeço. Essa situa-
ção aos meninos e notou que a aluna tinha uma
ção perdurou por três anos, até que o casal, após
enorme rejeição à figura masculina. Ao constatar
resolver as suas diferenças, decidiu novamente
essa realidade, ela relatou o caso para a coorde-
investir na relação, mesmo porque os dois se
nadora e pediu que fosse agendado um atendi-
amavam e amavam as filhas, sendo assim reata-
mento com os pais para tratarem do assunto.
ram o casamento. Foi um momento de comemo-
ração, felicidades e de muitas alegrias para todos No dia marcado, a mãe compareceu sozinha
os familiares, em especial para as três filhas do à reunião, pois o marido estava viajando, sendo-
casal. lhe relatado o comportamento apresentado pela
sua filha na escola.
A vida dessa família transcorria na mais per-
feita harmonia. Um ano se passou e a filha caçu- Após o relato da professora à mãe, a coorde-
la, já com quatro anos, foi matriculada no 1º perí- nadora perguntou à mãe se aquele tipo de com-
odo na mesma escola em que estudavam as portamento apresentado na escola também ocor-
irmãs mais velhas. ria fora dali. A mãe relatou que sim, que já vinha
observando esse comportamento há tempo. Dis-
A filha caçula era uma criança um pouco tími-
se que a filha não ficava à vontade na frente de
da e retraída, porém se adaptou bem a essa
nenhum homem, fosse ele adulto ou criança. Até
nova etapa de sua vida. No decorrer dos dias
mesmo com o pai ela não se abria muito, embora
letivos na escola, a professora foi observando
ele a cercasse de todo amor e carinho.
que a aluna não interagia com os meninos da
sala. Ela se dava bem com as meninas, brincava A mãe relatou que estava fazendo obras em
com elas, partilhava os brinquedos e tudo o mais, casa e que a filha não saía no terreiro da casa
porém era só qualquer um dos meninos da sala enquanto os pedreiros não fossem embora. Ela
se aproximar dela para que se tornasse retraída disse que, se pedisse à filha que fosse lá fora,
num canto e começasse a chorar. A professora ela demonstrava medo, mesmo a mãe dizendo
ficou intrigada com aquela situação e passou a que os pedreiros eram de confiança e que ela
observá-la mais de perto. poderia ficar tranqüila que eles não iam fazer
nenhum mal a ela. Ela relatou também que,
quando fosse levar a filha a um médico ou ao
dentista do sexo masculino, precisava, antes,

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conversar bastante com ela e explicar que ela para o meu colo. Se eu não estiver por perto, ela
estava ali para protegê-la e que não ia acontecer chora, entra em pânico até me encontrar, quando
nada. Mesmo na presença da mãe, a menina se acalma.”
comparecia às consultas tensa. Relatou também
Ainda, segundo depoimento da mãe, no início,
que uma vez foi a uma festa de casamento com
achava que não era nada, mas a situação ficou
a filha e não teve sossego de permanecer lá, pois
pior de uns tempos para cá, pois moravam em
a filha, sempre que se aproximava um homem,
outro estado, perto dos familiares, e como o ma-
chorava muito e não saía do seu colo. Desse
rido foi transferido pela firma para a cidade de
modo, como não podia circular livremente e par-
Contagem, a insegurança dela aumentou, pois só
ticipar da festa, teve de ir embora com a filha.
tem quatro meses que estavam morando aqui.
Diante dessas declarações, a coordenadora Ela não sabia se era a saudade dos familiares ou
perguntou à mãe se ela sabia por que a filha se se ela ainda não se adaptou, é tudo muito novo
comportava desse modo. A mãe relatou que a para ela. Estava muito preocupada com a filha,
filha sempre foi cercada de todos os cuidados e pois esse comportamento a constrangia perante
carinhos, e que sempre foi amada por todos da as pessoas.
família, tanto materna quanto paterna, e que ela
A coordenadora perguntou à mãe se já tinha
não via claramente nenhum motivo para a filha
procurado ajuda de um profissional da área. Co-
agir desse modo. A mãe disse que, durante o
mo a resposta foi negativa, sugeriu que o fizesse,
período em que esteve separada, chorou e so-
pois a filha precisava de um tratamento com uma
freu muito e que acreditava que a filha estava
psicopedagoga o mais rápido possível. E mais:
apresentando esse comportamento por causa da
que, após algumas sessões de terapia, era para
falta que a menina sentiu do pai durante o perío-
a psicopedagoga entrar em contato com a escola
do de gestação e no período de três anos que
para que fosse agendado um encontro para se
ainda permaneceu longe do marido.
avaliar como estava o andamento da terapia, os
Ela acredita que a filha fez essa associação: avanços obtidos pela aluna, etc., pois, desse
que a figura masculina representava sofrimento. modo, o colégio ficaria a par do andamento do
A mãe falou que essa é a única explicação para caso.
o comportamento da filha perante a figura mas-
A gestação é um momento único na vida das
culina. Deve ser um trauma. “Eu até a encorajo a
mulheres, porém, como a mulher fica mais sensí-
se aproximar da figura masculina, mas ela sem-
vel, nesse período podem ocorrer situações con-
pre recua. É assim como os avôs, com os tios,
flitantes vivenciadas pela mãe, que poderão in-
com os primos, com o padrinho, e com qualquer
fluenciar na gestação do feto e até mesmo criar
figura masculina. Se tiver só menina, ela brinca,
um trauma que poderá acompanhá-lo pelo resto
fica solta. É só chegar um menino, e ela corre
da vida.

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Trauma intra-uterino Júnia Valéria Silveira Nogueira Reis
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

Todos nos já sabemos que existem diversos


estudos a respeito do assunto, e estes conheci-
mentos comprovam que o bebê, mesmo estando
dentro da barriga da mãe, sente tudo que a mãe
sente, portanto esse é um período muito delicado
em que mãe e filho precisam de muito carinho,
proteção, amor e respeito. Portanto, devemos
respeitar os sagrados vínculos fisiológicos e psi-
cológicos que unem mãe e filho. Desse modo,
não podemos mais desconsiderar os aspectos
emocionais e psicológicos que envolvem o gerar
um filho.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 21
Autora:
Karla Cristine de Oliveira Cota Nascimento
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC
Minas e professora de ensino religioso dos anos iniciais do ensino fun-
damental na rede estadual de ensino.

Separação de pais é causa de indisciplina escolar

Resumo postas, ela queria intimidar todo mundo que jul-


gava entrar em seu caminho.
Em uma Escola da Rede Municipal de Belo Horizon-
te, uma aluna de apenas 12 anos se recusa a conti-
O coordenador então chamou a aluna para
nuar sua caminhada de estudos e chega a ser a- uma conversa informal para sondar o que estava
gressiva com todos os seus professores A causa é a acontecendo, pois aquela conduta não era nor-
separação de seus pais. Ela e a mãe moram com o mal para a aluna que tinha entrado no começo do
padrasto e o irmão recém-nascido.
ano e tinha um bom comportamento. Na conver-
sa, Milena não abriu a boca nem sequer olhava
Milena¹ entrou para atual escola com 11 anos
para o coordenador, apenas o ouvia. Foram vá-
de idade na 5ª série do Ensino Fundamental. Era
rias as tentativas de conversa para fazer com
STUDOS DE CASOS

uma aluna como outra qualquer, ia para a escola


que Milena abrisse seu coração e aceitasse ser
todos os dias, fazia suas atividades e tinha notas
ajudada, mas não houve sucesso.
boas. Quando foi se aproximando o final do ano,
Milena passou a ter seu rendimento escolar baixo Imediatamente, o coordenador chamou a mãe
e começou a ser agressiva com seus professores da aluna para uma conversa e ela não compare-
e quase não ia mais as aulas. Os professores ceu, sempre fugia do assunto dizendo que era
foram notando aquele comportamento estranho por causa do trabalho que não tinha tempo de ir
da aluna e logo acionaram o coordenador peda- à escola. O coordenador, no entanto, não desis-
gógico, notificando-o sobre o fato. Milena passou tiu e persistiu até que um dia, finalmente, ela
a agredir os professores verbal e fisicamente, apareceu para uma conversa. Na conversa com
falava palavrões em alto e bom som, tentava dar a mãe, ela disse que havia se separado do mari-
tapas e chutes quando algum professor lhe cha- do (pai de Milena) e que tinha arrumado outro
mava a atenção e lhe cobrava as atividades pro companheiro do qual estava grávida e foi morar
com ele, levando junto sua filha Milena que, na
separação, ficou sob sua guarda. A mãe de Mile-
na disse, ainda, que a menina, não conformada
com a situação, passou a ficar muito agressiva
com tudo e a não querer mais estudar.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


Separação de pais é causa de indisciplina escolar Karla Cristine de Oliveira Cota Nascimento

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


Diante do quadro, o coordenador começou a Nesse quadro, há que se considerar, ainda, a
pensar sobre o que poderia fazer para reverter posição do coordenador pedagógico. Segundo
essa situação e tentar ajudar a aluna a superar a Vieira (2003, p. 87),
separação dos pais e a continuar a sua vida
Além de lidar com o sentimento dos professo-
normalmente como qualquer outra pessoa da res, dos alunos e dos gestores da escola, o co-
mesma idade. ordenador pedagógico irá trabalhar também
com seus próprios e com o fato de que, muitas
A primeira medida foi colocar Milena em tem- vezes, os sentimentos demonstrados por cada
um dos participantes da escola são contraditó-
po integral na escola para que pudesse participar rios entre si. Portanto, torna-se importante com-
das oficinas disponibilizadas na escola de Tempo preender a afetividade humana e encaminhar as
situações com sabedoria.
Integral para que ela pudesse despertar o gosto
por alguma atividade e ocupasse a sua mente
com algo que lhe desse prazer. No começo foi
difícil, mas ela foi se adaptando devagar. Parecia Notas de rodapé:
que estava gostando. Ela mesma chegou a dizer 1. Nome fictício, para preservar a identidade da
que preferia ficar na escola a estar em casa, aluna.
porque não gostava do padrasto e queria morar
com o pai e com a mãe novamente. Só que Mile-
na continuou com o seu rendimento escolar bai- Referência:
xo, mas conseguiu ser aprovada para a 6ª série. VIEIRA, Marili M. da Silva. O coordenador pe-
dagógico e o cotidiano da escola. 2003.
Neste ano, ela ainda participa da Escola de
Tempo Integral, mas não quer saber de estudar,
continua violenta com todos os professores e
colegas. Então foi encaminhada para atendimen-
to psicológico com um psicólogo da comunidade
missionária da Igreja Católica. O coordenador
conseguiu o atendimento para Milena. Ela diz
que se sente bem quando está lá. Só que ainda
não melhorou o seu comportamento e devido a
fatos extremos de violência verbal e física, Milena
teve que ser encaminhada para o Conselho Tute-
lar e aguarda-se um retorno deles. A mãe fala
“não sei o que fazer, milha filha precisa entender
que nos separamos e que cada um tem que viver
sua vida. Milena tem um irmãozinho e uma nova
família para conviver”.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 22
Autora:
Lílian Maria Ribeiro da Silva
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela
PUC Minas.

Família, escola e unidade social: os caminhos para que todos aprendam

Resumo cimento, além de uma observação de que, quan-


do contrariado, ficava agressivo e não fazia as
Este artigo apresenta o estudo de caso de um ado- atividades propostas.
lescente com defasagem no processo de aprendiza-
gem e desenvolvimento, superprotegido pela família, A mãe do adolescente foi chamada para pre-
que foi encaminhado por uma escola da rede muni- encher a ficha de inscrição e, posteriormente,
cipal de Ribeirão das Neves para um grupo de Apoio visitada pela psicóloga. No diagnóstico familiar, a
Pedagógico de uma unidade social, com o intuito de
mãe declarou que sua gravidez foi tumultuada e,
superar suas limitações e ampliar suas possibilida-
des de participação e crescimento como ser humano
pelo fato de o esposo beber muito, ela se sepa-
e cidadão. Esse documento foi construído a partir de rou dele quando o filho tinha apenas seis meses,
entrevista com a família, diálogo com a escola e saindo fugida de casa com os filhos para morar
STUDOS DE CASOS

diagnósticos realizados pela obra social. em outro lugar. A mãe declarou que, desde a
infância, o filho apresentava alguns retardos no
seu desenvolvimento, mas era um menino tran-
Murilo¹ nasceu em 1989, atualmente freqüen-
qüilo. A partir dos quatro anos de idade começou
ta uma escola da rede municipal de Ribeirão da
a apresentar exagerada irritação quando queria
Neves e, em setembro de 2003, aos 15 anos de
algo e não conseguia, e apresenta esse compor-
idade, foi encaminhado pela pedagoga da escola
tamento até hoje. A mãe demonstrou não aceitar
para uma unidade social, visando participar de
bem que o filho tinha dificuldades no desenvolvi-
um grupo de Apoio Pedagógico para crianças e
mento e na aprendizagem, julgava-o muito frágil
adolescentes em defasagem de aprendizagem
e incapaz de realizar uma série de coisas para
nas séries iniciais do ensino fundamental. A es-
sua idade. Foi percebida na fala uma superprote-
cola alegava que o mesmo possuía dificuldades
ção. Provavelmente, Murilo não recebeu estímu-
específicas na assimilação e retenção de conhe-
los suficientes, o que teria dificultado a constru-
ção de esquemas que favorecessem desenvolver
o equilíbrio entre assimilação e acomodação.
Murilo passou por acompanhamento com espe-
cialistas, mas a mãe não trouxe dados precisos,
somente que abandonou, não tendo registrado o
motivo da desistência do tratamento.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


Família, escola e unidade social: os caminhos para... Lílian Maria Ribeiro da Silva

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


O Apoio Pedagógico oferece para os alunos Analisando as informações do diagnóstico
aulas especializadas do tipo: flauta doce, capoei- familiar, o acompanhamento e os registros feitos
ra, arte e educação, informática e atendimento pela unidade, e tendo por base a psicologia do
com psicólogo. Após o encaminhamento, a pe- desenvolvimento infantil, o desenvolvimento psi-
dagoga da unidade social realizou um diagnósti- coneurológico do ser humano e a teoria de
co de leitura de escrita, no qual o aluno demons- Weiss, acredito na hipótese de que, durante a
trou que não conhecia ainda as letras do alfabeto gravidez, possa ter ocorrido uma má alimentação
e sendo seus registros feitos com a letra em cai- da mãe ou devido a uma possível desnutrição de
xa alta, já que não dominava ainda a escrita cur- Murilo no período da infância, gerando problemas
siva. As informações do diagnóstico equipararam no seu desenvolvimento cognitivo e neurológico.
com as transmitidas pela coordenadora pedagó- O crescimento físico do aluno é bem aquém de
gica da escola. seus pares e o desenvolvimento motor compro-
metido (lento e limitado), complicando o desen-
Nos primeiros meses, durante o processo de
volvimento da habilidade motora nas aulas espe-
alfabetização, o adolescente demonstrou muita
cializadas como flauta doce (abstração na leitura
insegurança, resistência às atividades e necessi-
de partituras), capoeira (movimento corporal),
dade de intervenções nos momentos de leitura e
além da dificuldade do raciocínio lógico-
escrita, sendo uma de suas maiores dificuldades
matemático.
reter as informações transmitidas. As estratégias
usadas foram jogos pedagógicos, rodas de con- Nessa perspectiva, a falta de acompanha-
versa, leitura em grupo e individual. mento com profissionais que diagnosticassem de
fato as causas dos entraves no desenvolvimento
Mesmo demonstrando muita resistência às a-
e aprendizagem Murilo impede a escola e a uni-
tividades propostas, sua participação no Apoio
dade social de lidarem com os limites e possibili-
Pedagógico favoreceu resgatar a auto-estima, a
dades do adolescente, e o caso já não pode ser
sociabilidade, o fortalecimento da autoconfiança
encaminhado para o Conselho Tutelar, dada a
perdida devido à defasagem e o reconhecimento
maioridade de Murilo.
da escrita cursiva.
Faz-se necessário elaborar uma proposta de
Em novembro 2004, aconteceu o desligamen-
articulação que aguce a família, a escola e a
to do Apoio Pedagógico, mas Murilo continuou a
unidade social a repensarem sua atuação na
participar das atividades especializadas ofereci-
inserção e promoção da criança e/ou adolescen-
das para pessoas com idade acima da de refe-
te com defasagem no processo de aprendiza-
rência do Apoio Pedagógico.
gem. No caso descrito, o compromisso familiar
A escola ainda vive o dilema de lidar com um foi insuficiente na vida do adolescente, o que veio
aluno de 18 anos, na 4ª série, sem ser alfabeti- a refletir na vida escolar.
zado e sem um diagnóstico preciso dos seus
Qual seria uma outra sugestão de intervenção
problemas.
a ser aplicada pela escola ou pela unidade soci-
al? Seria um diálogo efetivo para melhor com-
preensão dos fatos? Ou a revisão das meto-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


Família, escola e unidade social: os caminhos para... Lílian Maria Ribeiro da Silva
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

dologias? Quem sabe, enfrentar a própria história


do processo, buscar a compreensão dos porquês
Notas de rodapé:
e conviver com as novas angústias de reconhe- 1. Nome fictício, para preservar a identidade do
aluno.
cer aquilo que ainda não se sabe.

Para Cagliari (1999, p. 9): Referências:


CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e lingüís-
“O processo de alfabetização inclui muitos fato- tica. 9. ed. São Paulo: Scipione, 1999.
res, e, quanto mais ciente estiver o professor de
como se dá o processo de aquisição do conhe- WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia
cimento, de como a criança se situa em termos Clínica, uma visão diagnóstica. 12 ed. Revisa-
de desenvolvimento emocional de como vem
da e ampliada. Rio de Janeiro. Lamparina, 2007.
evoluindo o processo de interação social, da na-
tureza da realidade lingüística envolvida no
momento em que está acontecendo a alfabeti-
zação, mais condição terá esse professor de
encaminhar de forma agradável e produtiva o
processo de aprendizagem, sem sofrimentos
habituais”.

É consenso no país que se precisa buscar


melhor qualidade na educação oferecida e, tam-
bém, que o maior nó que precisamos desatar é a
dificuldade em lidar com as limitações das crian-
ças e dos adolescentes no processo de alfabeti-
zação. Mas, para isso, não se pode prescindir de
uma efetiva parceria entre família, escola e uni-
dade social.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 23
Autora:
Lúcia de Fátima Araújo Mendonça
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC
Minas. Professora de Educação Religiosa na Escola Estadual Dom
Cabral e na Escola Estadual Emília Cerdeira, de Belo Horizonte.

A inclusão de aluno com necessidades educacionais especiais

Resumo tismo), ainda a esclarecer, e que a criança


havia abandonado o tratamento havia mais ou
O presente artigo trata da inclusão de um aluno com menos um ano e meio, só retornando em 2008.
hipótese diagnóstica de F84.0 ainda a esclarecer Esse diagnóstico foi feito por uma Terapeuta
(autista), em uma escola pública. Ele não usa medi-
Ocupacional.
camento e acredita-se que a escola poderia contri-
buir imensamente para seu desenvolvimento. A escola solicitou essa avaliação da criança
para um possível acompanhamento e orienta-
ções, a fim de promover seu desenvolvimento
O aluno Charles¹, 8 anos de idade, foi matri-
dentro da sala de aula e no ambiente escolar.
culado numa escola pública, em fevereiro de
STUDOS DE CASOS

2006. A criança apresenta movimentos involuntá- Na convivência cotidiana, o aluno mostra-se


rios, inquietação e não tem centramento. Segun- muito carinhoso, mas prefere brincar sozinho; só
do a mãe, a criança não faz nenhum acompa- algumas vezes apresenta iniciativa de se aproxi-
nhamento médico, não toma remédio e não tem mar dos colegas. Tem uma boa relação com as
um diagnóstico completo, ou seja, mais aprofun- professoras, demonstrando mais tranqüilidade
dado, com esclarecimento de suas necessidades com a professora referência. Demonstra confian-
educacionais. ça e carinho pela estagiária. Nos últimos dias, no
entanto, tem mostrado bastante agressividade
Para o melhor acompanhamento do aluno, a
com ela, agredindo-a com palavras e até fisica-
supervisora pedagógica solicitou ao Centro de
mente. Às vezes quer sair correndo da sala e faz
Saúde um relatório diagnóstico de Charles. O
pirraça para não voltar. Ele gosta muito de ficar
Centro de Saúde encaminhou um relatório com a
na biblioteca e não participa das atividades pro-
hipótese diagnóstica de F84.0 (denominado au-
postas na quadra.

Nas propostas de trabalho e construção do


conhecimento, ele participa pouco das discus-
sões, não conseguindo fazer intervenções apro-
priadas nem verbalizar suas dúvidas, demons-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


A inclusão de aluno com necessidades educacionais... Luciana Pereira Leal Pinheiro

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


trando-as às vezes através do olhar. Mostra-se fundamental definir um bom planejamento, ter
atento aos seus materiais. Necessita ainda de criatividade e contar com a boa vontade dos pro-
atenção individualizada da estagiária para com- fessores. No entanto, embora importantes, po-
preender, realizar ou concluir as atividades pro- dem não ser suficientes para que o aluno com
postas. Muitas vezes é preciso que sejam inter- deficiência se desenvolva como poderia. Para se
caladas atividades lúdicas, como: quebra- promover a inclusão, são necessários recursos
cabeça, jogos de encaixe, ligue-ligue, mosaico e técnicos e financeiros, materiais adequados e
outros, demonstrando sua criatividade em vários alterações arquitetônicas para criar acessibilida-
tipos de objetos e de acordo com a realidade. de aos alunos que necessitam transitar pela es-
cola.
Apresenta muita facilidade nas atividades que
envolvem cálculo, raciocínio lógico e memória. Segundo Guimarães (2003), “mais do que cri-
ar condições para os deficientes, a inclusão é um
Lê qualquer tipo de texto, porém sem usar a
desafio que implica mudar a escola como um
entonação adequada. Interpreta oralmente e, por
todo, no projeto pedagógico, na postura diante
escrito, apenas com intervenção. Produz frases
dos alunos, na filosofia...”
com sentido, mas necessita de ajuda para escre-
vê-las. Sua grafia é insegura, mas legível.

A intervenção pedagógica para o Charles na


Notas de rodapé:
escrita tem sido colorir as linhas para que ele
1. Nome fictício, para preservar a identidade do
escreva no lugar certo; no espaçamento entre as
aluno.
palavras costuma-se usar o dedo para que ele dê
o espaço, mesmo assim tem momentos que ele
não aceita ajuda. Respeitando os momentos em Referência:
que ele não tolera uma atividade com papel e GUIMARÃES, Arthur. Inclusão que funciona.
lápis, empregam-se outras táticas, levando-o Revista Nova Escola, Ed. Abril, setembro 2003
para a biblioteca, para a sala de computação, p. 42.
que tem muitos jogos educativos que aumentam
seus conhecimentos.

Foi solicitado um acompanhamento psicológi-


co para diagnóstico preciso, mais detalhado,
buscando-se melhor desempenho do aluno no
seu processo educacional, pois até hoje a escola
não tem um real diagnóstico do aluno.

É importante uma estrutura adequada para se


criar uma escola inclusiva. Da mesma forma, é

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 24
Autora:
Luciana Pereira Leal Pinheiro
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela
PUC Minas.

Reprovação e reavaliação: como a coordenação pedagógica pode proceder

Resumo dade de raciocínio e interpretação o prejudicou


nos conteúdos de matemática, não conseguindo
Este artigo relata a situação de um aluno cuja acompanhar o desenvolvimento da turma. Consi-
reprovação no 3º ano do ensino fundamental dere-se, ainda, que o Bruno, regularmente, não
não era aceita pela família, que exigia reavalia- fazia as atividades ou as apresentava incomple-
ção do aluno, e mostra a forma como a coor- tas. A professora informou ter percebido a dificul-
denação pedagógica conduziu a questão. dade do aluno ao longo do ano, porém todas as
tentativas de marcar reuniões com a família re-
No Colégio Rio Branco , que atende alunos de sultaram em nada, pois não havia resposta aos
classe média, a coordenadora pedagógica rece- pedidos, nem mesmo compareciam às reuniões
STUDOS DE CASOS

be a mãe de Bruno , aluno do 3º ano do ensino trimestrais promovidas pelo Colégio. Era uma
fundamental, que havia sido reprovado. A mãe clara demonstração de ausência de acompa-
solicita uma reavaliação do filho por não concor- nhamento da vida escolar do filho.
dar com o resultado, alegando que ele sempre foi
A professora, graduada em Pedagogia, com
bom aluno.
pós-graduação em Psicopedagogia, leciona na
A coordenadora ouve os argumentos da mãe, rede particular de ensino há 15 anos, sem qual-
que insiste na afirmação de que seu filho sempre quer reclamação sobre seu trabalho.
foi dedicado aos estudos e que dificuldade é algo
Os pais de Bruno são microempresários, tra-
comum na idade, não sendo necessária uma
balham o dia todo e viajam constantemente a
“punição” como a reprovação. A coordenadora
negócios. Quem cuida do Bruno e de seus dois
expõe o fato à professora, que também explica
irmãos não chegou a completar nem mesmo a 4ª
os motivos da reprovação do aluno: sua dificul-
série.

Após ouvir as explicações e os relatos, a co-


ordenadora, após longa reunião com a diretora,
decidiu pela realização de um teste diagnóstico
para reavaliação do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


Reprovação e reavaliação: como a coordenação... Luciana Pereira Leal Pinheiro

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


A professora se mostra contrária à decisão, Acredito que, naquele momento, talvez fosse
por julgar que o Colégio, não apoiando sua deci- realmente a melhor decisão. A coordenadora
são, estava colocando em dúvida sua competên- agiu com bastante seriedade, expondo a situação
cia, seu trabalho e seu esforço para ajudar o para a família, que ficou a par de tudo e pôde
aluno. Para ela, a decisão de não aprovar o alu- acompanhar, inclusive, o processo de correção
no recaía sobre a falta de pré-requisitos para do teste, o que expressou transparência no pro-
acompanhar o 4º ano. cesso. A professora, por sua vez, demonstrou
profissionalismo diante da situação, acompanha-
Apesar da discordância da professora, o colé-
do o processo e a reafirmando que sua decisão
gio decide aplicar a reavaliação.
pela reprovação do aluno tinha fundamento e se
Como combinado, o aluno fez o teste diag- fez necessária para o crescimento do próprio
nóstico de acordo com os conteúdos do 3º ano, aluno e para que a família percebesse a impor-
elaborado pela própria coordenadora. Para ser tância de um acompanhamento mais efetivo no
promovido, ele deveria alcançar um resultado processo escolar do filho.
igual ou superior a 60%. A correção do teste foi
feita pela coordenadora na presença da mãe do
aluno, que pôde verificar as dificuldades do filho.
Como previra a professora, Bruno não alcançou
a pontuação necessária para ser promovido.

A mãe admitiu as dificuldades do filho e afir-


mou que, no próximo ano, acompanharia mais de
perto a vida escolar do filho. Pediu desculpas à
professora e agradeceu a atenção e o profissio-
nalismo do colégio diante da situação.

A posição assumida pela coordenadora desa-


gradou a professora. No entanto, se apoiasse a
professora e mantivesse a decisão, desagradaria
à família que, provavelmente, retiraria o filho do
colégio. A coordenadora agiu de forma diplomáti-
ca, talvez considerando que escolas da rede
particular são empresas que, como qualquer
outra, devem ouvir o cliente, tratando-o com a-
tenção, para evitar maiores constrangimentos.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 25
Autora:
Maria de Fátima Diamantino Attoni
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela
PUC Minas.

Hiperatividade: um caso de respeito à diferença

Resumo A mãe é separada, empregada doméstica,


trabalha oito horas diárias, tem muitos filhos e um
O presente artigo relata o estudo de caso de uma deles está preso.
criança com transtorno de déficit de atenção e hipe-
ratividade (TDAH) em uma escola pública estadual. Na infância, Luigi passou por muitas dificulda-
Este estudo de caso foi realizado durante o estágio des de aprendizagem, tendo sido atendido por
de supervisão, através de entrevista com a Supervi- psicólogos e psicopedagogo. Já nos primeiros
sora Pedagógica e a Orientadora Educacional. Essa
dias, Luigi conheceu a escola e a sua integração
entrevista se fez necessária devido a minha não
atuação no âmbito escolar. Lembrando Yin (2005, p.
foi tranqüila.
26-27), “o poder diferenciador do estudo de caso é
A escola é a melhor opção para os alunos a-
sua capacidade de lidar com uma ampla variedade
STUDOS DE CASOS

de evidências – documentos, artefatos, entrevistas e


prenderem os conteúdos e realizarem a sociali-
observações – além do que pode estar disponível no zação. O professor regente deve estar atento ao
estudo histórico convencional”. aprendizado do aluno, para realizar a avaliação.
Lembrando Luckesi (2006, p. 66), “a avaliação da
Luigi¹ tem 7 anos, freqüenta a primeira série aprendizagem existe propriamente para garantir
do ensino fundamental numa escola da rede a qualidade da aprendizagem do aluno”.
estadual de ensino, para a qual foi transferido
O respeito mútuo é importante para a apren-
devido ao seu baixo desempenho no processo de
dizagem fluir normalmente, mas isso não estava
aprendizagem e com o objetivo de obter melhori-
acontecendo com Luigi que, aos poucos, estava
as. A Supervisora Pedagógica e a Orientadora
atrapalhando as aulas levantando-se da carteira
Educacional conversaram muito com a mãe para
constantemente, esquecendo as atividades diá-
que a mesma estivesse ciente do desempenho
rias, um sonhar acordado, dando a impressão de
escolar do seu filho.
que não estava ouvindo, preocupando pais e
professores, além de não ter paciência de espe-
rar a sua vez nos jogos e filas, e por perder obje-
tos com facilidade.

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Hiperatividade: um caso de respeito à diferença Maria de Fátima Diamantino Attoni

Notas de rodapé:

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


A equipe pedagógica, juntamente com o pro-
fessor regente, chamou a mãe e descreveu o
comportamento do filho, informando ainda que 1. Nome fictício, para preservar a identidade do
aluno.
ele não estava fazendo o para casa, o que dei-
xou a mãe mais preocupada.

Diante do exposto, a equipe pedagógica, a- Referências:


través de consulta com psicólogos, pedagogos,
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da apren-
realizou, de acordo com a ficha de Luigi, um di- dizagem Escolar: estudos e proporções. 8 ed.
agnóstico que concluiu que ele apresentava qua- São Paulo: Cortez, 2006.
dro de hiperatividade, conforme Reed (1989)
REED, U.C.; LEFEVRE, A.B.; BACCHIEGA M.C.
“seria devido à incapacidade de manter a aten- Síndrome do déficit de atenção: disfunção cere-
ção”. bral mínima. In: DIAMENT, A.; CYDEL, S. Neuro-
logia infantil. Rio de Janeiro: Atheneu, 1989.
O diagnóstico é um processo de avaliação
que envolve necessariamente a coleta de dados YIN, Robert. Estudo de Caso: planejamento e
métodos. 3 ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
com os pais, o aluno e professor.

Para ser correto, deve-se fazer uma avaliação


interdisciplinar, envolvendo profissionais como
neurologista infantil, psicólogo e psicopedagogo,
que, dentro de seus conhecimentos e práticas,
irão selecionar as metodologias mais adequadas
para se estudar o caso e traçar possíveis inter-
venções.

A escola, diante da definição do problema a-


presentado pelo aluno, deve adotar alguns pro-
cedimentos, a fim de minimizar as suas dificulda-
des com esse transtorno. Assim que foi estabele-
cido o diagnóstico, a escola se torna um local de
apoio à família e à criança, para que elas se sin-
tam integrantes da comunidade escolar, respei-
tando-se a diferença.

Em um Estudo de Caso não podemos nunca,


antecipadamente, afirmar que as soluções suge-
ridas sejam únicas, precisamos nos lembrar
sempre da importância de se ter uma atitude de
humildade, sinal de reconhecimento de nossas
próprias limitações.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 26
Autora:
Michelle Conceição Hipólito Silva
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela
PUC Minas.

Disciplina, a grande chave da educação

Resumo com a equipe pedagógica, deve tomar medidas


cabíveis para que a turma se comporte, impondo
Este artigo trata da questão da disciplina no limites, buscando ensinar como lidar com a disci-
ambiente escolar, de maneira especial na sala plina dentro da sala de aula no dia-a-dia escolar.
de aula, e apresenta sugestões de como inter-
Diante desses fatos, com tantas reclamações
vir para superar a dificuldade.
do corpo docente, a equipe pedagógica tem bus-
cado novos projetos, na perspectiva de melhoria
A disciplina é a grande chave que os profes- da disciplina no ensino fundamental e médio,
sores tendem a buscar cada vez mais, para a sobretudo dos alunos da 5ª série.
melhoria da educação em diversas escolas do
O Colégio afirma nunca ter passado por ta-
STUDOS DE CASOS

Brasil. Muitos professores reclamam que as cri-


manha dificuldade quanto à indisciplina. A equipe
anças e os adolescentes bagunçam, brigam com
pedagógica, dada a gravidade do quadro, criou
os colegas e não fazem atividades; outros pro-
um projeto interdisciplinar, em que cada profes-
fessores demonstram seu desencanto e deses-
pero por serem tão desrespeitados, xingados e sor e disciplinário têm a tarefa primordial de, to-

até agredidos fisicamente pelos seus alunos. dos os dias, observarem as turmas quanto a
algazarras, brigas, xingamentos, depredação e
A disciplina na escola não é questão de boa
até agressões físicas. Foi colocado em cada
conduta nem de formação trazida de casa. Disci-
turma um quadro educativo, com diversas pala-
plina se aprende e é do interesse de todo mundo,
vras e frases de boas maneiras, deixando-se um
porque facilita a relação das pessoas com o
espaço para todos os dias serem observados os
mundo. Entretanto, cada professor, juntamente
fatores negativos. Cada turma que comportar de
maneira inadequada, não receberá o carimbo de
boas maneiras ou bom comportamento. Ao final
de cada mês, a equipe pedagógica passará de
sala em sala para analisar o quadro educativo. A
turma que obtiver mais carimbos de bom compor

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


Disciplina, a grande chave da educação Michelle Conceição Hipólito Silva

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


tamento ganhará uma excursão de um dia inteiro Além de impor esses limites, passando a tur-
de lazer. ma a ter sua própria autonomia no cotidiano es-
colar, uma medida eficaz para cultivar a disciplina
Essa metodologia vem sendo aplicada desde
durante a aula e acabar com os conflitos entre
o início do mês de abril, e tem-se obtido um bom
professor e aluno são os contratos didáticos ou
resultado nas turmas do Ensino Médio. No Fun-
combinados didáticos. Trimestralmente, os pro-
damental, os resultados são totalmente negati-
fessores estabelecem roteiros de estudos que
vos.
discutem com a turma. Assim proporcionarão ao
Além do “Quadro Educativo”, a equipe peda- aluno um conhecimento prévio-geral sobre todo
gógica criou também um Diário de Bordo, para o tema proposto para a etapa, os meios didáticos e
professor fazer anotações diárias, descrevendo as metas a serem alcançadas.
os pontos positivos e negativos ocorridos dentro
Após todas as propostas apresentadas pela
da sala de aula. Até o momento, não tem se obti-
equipe pedagógica do Colégio, tem-se obtido
do um resultado gratificante, a favor dessas ano-
melhores resultados até o presente momento. A
tações.
expectativa é de que essa melhoria na disciplina
Logo no início de maio, durante a reunião pe- seja durante todo o ano letivo.
dagógica da semana, foram discutidos todos os
Seguem algumas dicas de como agir com a
aspectos do projeto interdisciplinar, (quadro edu-
classe na hora da bagunça:
cativo e diário de bordo). E uma das coordenado-
ras colocou a seguinte questão: “Manter a disci- • Não grite. Se o barulho se sobrepõe à sua
voz, espere em silêncio: a turma vai perceber
plina é, sem dúvida, uma arte que poucos mes-
que isso está prejudicando a aula.
tres dominam. O autoritarismo do professor, os
• Recorra aos contratos. Se as regras coletivas
gritos e o bom e velho “já para a diretoria” não são claras e todos estiverem de acordo, fica
funcionam mais. A melhor saída para manter a mais fácil chamar a atenção quando ocorre
ordem é a negociação de objetivos e regras com uma transgressão.

os estudantes, que vão aos poucos aprendendo • Seja coerente com o que pede aos alunos.
Não adianta cobrar pontualidade se você
a ter disciplina. Já que os projetos não têm obtido
chega atrasado.
um bom resultado, podemos tentar impor esses
• Não considere a indisciplina um ataque pes-
limites de regras aos alunos x da escola. Ao ler e soal. Não aceite provocações para não refor-
analisar as críticas dos professores descritas no çar comportamentos indesejados.
Diário de Bordo, verifiquei que muitos professo- • Seja enérgico quando necessário sem perder
res não estão aptos para lidar com a questão de o afeto. Faltas graves merecem atitudes fir-
mes. O diálogo e a reflexão não eliminam a
disciplina, devido à sua formação acadêmica, e
sanção prevista.
ainda não sabem diferenciar o aluno que é indis-
• Não desanime. A assimilação da disciplina é
ciplinado somente por causa de problemas en- um processo gradativo e exige investimento.
frentados dentro ou fora da escola”. Você terá que repetir o discurso para o mes-
mo aluno várias vezes.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


Disciplina, a grande chave da educação Michelle Conceição Hipólito Silva
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

Referências:
AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na Escola:
Alternativas Teóricas e Práticas. São Paulo: Ed.
Summus.

ARAUJO, Ulisses Ferreira. Assembléia Escolar:


Um caminho para a resolução de conflitos. São
Paulo: Ed. Moderna.

VINHA, Telma. O Educador e a Moralidade


Infantil numa visão construtiva. São Paulo: Ed.
Mercado de Letras.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 27
Autora:
Mirian Botelho Gomes Perpetua
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela
PUC Minas.

A formação continuada em serviço: os coordenadores e os sen-


timentos dos professores

Resumo vância: a formação continuada em serviço dos


professores e o papel do coordenador pedagógi-
Partindo de um conflito existente entre um adoles- co na implantação de novas concepções peda-
cente e um professor de História, a autora reflete gógicas.
acerca da importância da formação continuada em
serviço, da valorização dos sentimentos expressos A função do coordenador pedagógico nas es-
pelos professores e do papel do coordenador peda- colas, seja pública seja particular, tem se alicer-
gógico como líder e agente de mudanças.
çado em tarefas burocráticas, hierárquicas e
pedagógicas. Um dos aspectos pedagógicos
Realizando estágio de supervisão escolar em
que, atualmente, mais causam impacto na ação
uma escola de ensino médio da rede estadual,
do coordenador é o de promover a formação
STUDOS DE CASOS

presenciei a conversa da coordenadora pedagó-


continuada em serviço dos professores, ação que
gica com um adolescente de 17 anos que se
tem reflexo direto na qualidade do processo de
queixava das aulas e do comportamento de seu
ensino e aprendizagem. Cada vez mais a im-
professor de História. Segundo ele, as aulas não
prensa (televisiva e escrita) e o mercado têm
eram interessantes, pois o que lhe interessava
atribuído uma grande importância à educação e à
memorizar datas comemorativas, sendo que
formação de um “novo cidadão” que seja: apto,
assuntos muito mais interessantes estavam sen-
competente, criativo, crítico, que saiba trabalhar
do discutidos na atualidade, como, por exemplo,
em equipe, consiga atuar em sociedade, preocu-
a invasão dos países estrangeiros na Amazônia.
pe-se com as questões ambientais e seja uma
Diante do argumento desse aluno, comecei a
mão-de-obra qualificada para as exigências do
refletir sobre qual o papel do coordenador peda-
mercado trabalhista.
gógico no auxílio ao docente e gostaria de anali-
sar um aspecto que considero de grande rele- Demo (2000, p. 92) diz que: “Estamos inseri-
dos em sociedades que se movem pelo mercado
como última instância. Forçoso é reconhecer que
a educação volta a ser considerada importante,
não por causa da cidadania, mas porque é útil à
competitividade globalizada.”

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


A formação continuada em serviço: os coordenadores... Mirian Botelho Gomes Perpetua

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


As exigências sobre a escola e sobre a atua- sitará de apoio, confiança e um diálogo franco
ção do professor têm aumentado consideravel- tanto com seus colegas de trabalho como com
mente nos últimos anos. Vários autores têm co- seu coordenador pedagógico. Este, por sua vez,
mentado essas exigências e como elas têm afe- deve estar preparado para lidar com esses sen-
tado o papel do professor. Rodrigues e Esteves timentos negativos que podem “paralisar” os
(1993); Esteves (1993); Codo (1999) são alguns processos de mudanças. Segundo estudiosos da
desses autores. Pesquisas relacionadas ao tema área, diversos podem ser os motivos que provo-
têm evidenciado que essas exigências e rápidas cam sentimentos negativos nos professores:
mudanças no meio educacional têm encontrado desestabilizações do status quo, questões de
os professores despreparados profissionalmente, tempo de carreira, desvalorização social da pro-
o que acaba por abalar sua auto-estima e auto- fissão, dentre outros.
imagem.
Mahoney e Almeida (2000, p. 45) nos apon-
É importante argumentar que, geralmente, tam que “o homem deve sempre ser considerado
nos tornamos professores mediante a imagem em todas as suas dimensões, pois elas são in-
dos professores que tivemos e de nossas lem- terdependentes, mesmo que às vezes haja pre-
branças como alunos. Portanto, a maioria, senão ponderância de uma sobre a outra.” Portanto, o
a totalidade dos professores que se encontram coordenador deve sempre se perguntar: Como
ativos, viveram sob uma outra concepção de estará a produção de conhecimento desse pro-
educação. Por isso, as reações dos professores fessor? Como estará a sua capacidade de a-
à aprendizagem de novos conhecimentos podem prender? Como ele estará se relacionando com
ser caracterizadas por resistências e ou pelo não seus alunos? E com seus colegas? Como se
desejo de aceitar o novo. Ensinar ao professor sente diante de si mesmo e de sua profissão?
um novo método, apresentar-lhe uma nova con-
Um professor desmotivado e frustrado, prova-
cepção de educação implica envolver o professor
velmente, apresentará mais dificuldades de pro-
com seus sentimentos positivos e negativos.
dução de conhecimentos do que outro que se
Segundo Moreira (1999, p. 141), “Mudar vi- encontra satisfeito consigo mesmo e com sua
sões sobre a função social da escola, sobre co- profissão, pois produzir conhecimentos e apren-
mo o aluno aprende e constitui novas competên- der implica estar em um processo de ação-
cias tem como condição primeira comprometer o reflexão-ação constante, de questionamento e,
professor com o processo.” A efetiva mudança na conseqüentemente, de mudanças.
concepção de educação por parte do professor
Estando na liderança de um processo de re-
somente ocorrerá se este se sentir inserido no
flexão da prática dos professores, com a intenção
processo de mudança. Além disso, o professor
de identificar as dificuldades, buscar alternativas
precisa estar disposto a desconstruir suas bases,
e adotar novas concepções, o coordenador deve
rever seus valores e este é um processo muito
sempre estar atento aos sentimentos que surgi-
difícil para o ser humano, para o qual ele neces-
rem e, principalmente, aos efeitos destes sobre
os professores para, caso seja necessário, reori-
entar sua ação. Assim, faz-se necessário que o

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A formação continuada em serviço: os coordenadores... Mirian Botelho Gomes Perpetua

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


professor tenha um espaço onde possa expor ao
outro o seu sentimento, a sua reflexão, e a co-
Referências:
municação pode ser um dos instrumentos mais ALMEIDA, L. A Dimensão Relacional no Proces-
so de Formação Docente. In: BRUNO, Eliane,
eficazes para isto. ALMEIDA, Laurinda, CHRISTOV, Luiza (org.) O
Ao proporcionar as interações grupais, os Coordenador Pedagógico e a Formação Do-
cente. São Paulo: Loyola, 2000.
sentimentos poderão estar sempre presentes
para serem identificados, discutidos, nomeados e CODO, W. Educação: Carinho e Trabalho: Burn
utilizados como impulsionadores do processo de Out, A Síndrome da Desistência do Educador,
mudança, sempre em um processo de comuni- Que Pode Levar à Falência da Educação. Petró-
polis (RJ): Vozes, 1999.
cação clara e transparente onde a atitude de
“ouvir o outro”, conforme afirma Almeida (2000, DEMO, P. Ironias da Educação: Mudança e
p. 91) “possa sempre ser valorizada em todas as Contos sobre a Mudança. Rio de Janeiro: DP&A,
2000.
dimensões pelo coordenador pedagógico com
seus professores.” ESTEVE, J. M. O Mal-Estar Docente: a sala de
aula e a saúde do professor. Bauru: EDUSC.
O coordenador é o responsável pelo clima do 1999.
grupo de professores que acompanha e, caso
não tenha a oportunidade de se encontrar com
sua equipe para que possam expressar e comu-
nicar seus sentimentos, não haverá explicitação
desses, o que pode ocorrer por vias transversais
como: ironias, não realização de tarefas, agres-
sões etc.

Nessa perspectiva, é de fundamental impor-


tância que a instituição escolar promova momen-
tos de diálogo e troca de experiências entre os
professores e o coordenador pedagógico, propi-
ciando assim a construção de um trabalho inova-
dor, dinâmico e comprometido com as reais ne-
cessidades da sociedade atual.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 28
Autora:
Patrícia de Souza Goulart
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela
PUC Minas.

Os diversos papéis em um ambiente escolar

Resumo Segundo Souza (2006, p. 110),

O coordenador pedagógico deve buscar com-


Os estudos de casos em nossas escolas são duras preender a realidade tal como ela se apresenta,
realidades às vezes deixadas de lado, sem nenhuma reconhecendo seu caráter complexo. [...] cada
intervenção de profissionais especializados, ficando problema, cada conflito e cada crise vividos na
escola constituiriam oportunidade de aprendiza-
inúmeras crianças abandonadas, desassistidas em do para todos os envolvidos no processo educa-
suas necessidades. tivo.

Esse é um dos propósitos deste artigo que,


como foco principal, traz o estudo de caso de
Atualmente, profissionais da área educacional
uma criança do ensino fundamental da rede mu-
se deparam todos os dias com diversos proble-
nicipal, que vem sendo acompanhada por um
STUDOS DE CASOS

mas vivenciados por alunos que levam sua vida


psicólogo desde que perdeu sua irmã, falecida na
para o ambiente escolar. São casos gritantes que
piscina de sua casa, tendo ela, infelizmente, pre-
passam pelo crivo psicológico e emocional e
senciado o fato. Desde então não consegue se
afetam, diretamente, o cognitivo, deixando o alu-
concentrar nas atividades, seu desenvolvimento
no com grande defasagem no processo ensino-
em nível de aprendizagem caiu consideravelmen-
aprendizagem.
te, tornando-se uma criança agressiva, revoltada
O que muito vem preocupando os profissio- e com baixa auto-estima.
nais da educação nas diversas reuniões pedagó-
A família foi assistida por uma psicóloga, que
gicas é o fato de serem inúmeros e freqüentes os
casos que devem ser trabalhados e acompanha- fez o primeiro atendimento à mãe no ambiente

dos para um melhor desempenho educacional e escolar. Diante do que já foi relatado, essa psicó-
para o resgate da auto-estima, do convívio social loga vem acompanhando a criança uma vez por
e, acima de tudo, da valorização de si próprio. mês, juntamente com a mãe, e, como é um caso
que ocorreu recentemente, ainda não se pode
dizer que já teve grandes avanços, pois, como
relatou a coordenadora, esse aluno, em seu dia-
a-dia, se expressa com agressividade em sala,

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


Os diversos papéis em um ambiente escolar Patrícia de Souza Goulart

Referências:

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


não se apresenta sociável, é resistente a conta-
tos físicos (abraços) com pessoas de seu conví-
NOGUEIRA, Tomás de Andrade: Ciclo básico
vio e, quando se expressa pela arte, sempre se de alfabetização, ensino fundamental. Belo
remete à fatalidade ocorrida, deixando transpare- Horizonte: SSE/MG, 1997.
cer o motivo de seu fechamento e de seu blo- SOUZA, Vera Lucia Trevisan. O coordenador
queio. pedagógico e o atendimento à diversidade.
São Paulo: Loyola, 2003.
Para Nogueira (1997, p. 10),

O homem antecipa em idéias os objetivos da


sua ação. Neste processo, ele se educa e pode
educar os outros. Pela investigação, o homem
conhece as propriedades do mundo real e pro-
duz a Ciência, prioriza princípios e valores [...]
produzindo a educação.

Logo, é importante ressaltar que tais casos só


poderão ser sanados se tiverem um trabalho
integrado entre professores, coordenadores,
direção e psicólogos, ou outros especialistas,
dependendo do caso assistido, e principalmente
em parceria com a família, que deve, além de
acompanhar, se deixar envolver na busca pela
solução do problema, tomando medidas positivas
e de cunho contínuo e compromissado.

Portanto, como neste caso e em inúmeros ou-


tros que afetam o espaço educacional, em um
mundo com problemas das mais diversas ordens,
é de extrema relevância que o corpo de profis-
sionais que percebe um caso o analise cuidado-
samente, reflita sobre ele e decida o que fazer
para solucioná-lo, em tempo hábil.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 29
Autora:
Rachel Diniz Teixeira da Silva
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela
PUC Minas.

Hiperatividade
Resumo colegas, ele logo ficava confuso, não entendia
que não podia fazer aquilo, que a sua atitude era
O presente artigo relata o estudo de caso de um errada e perigosa.
aluno que, aparentemente, apresentava hiperativi-
dade, identificada pela professora, que o encami- A professora conversava, explicava, punia...
nhou a uma psicopedagoga. Ao longo do artigo, Mas nada resolvia. Segundo a professora, Lucas
descreve-se o problema diagnosticado na criança, continuava totalmente inquieto, disperso, desa-
como se deu o início do tratamento, seu relaciona-
tento quanto às atividades em sala de aula e
mento em sala, seu desenvolvimento escolar duran-
te o ano. A hiperatividade manifesta-se de forma
agressivo com os colegas.
significativa, evidenciando a necessidade de que as
Ela concluiu, então, que poderia ser hiperati-
pessoas envolvidas diretamente com a criança este-
STUDOS DE CASOS

jam atentas para os sintomas, pois a falta do diag-


vidade e o encaminhou a um psicopedagogo.
nóstico correto e do tratamento agrava o problema Após quatro seções de terapia, a psicopedagoga
na criança. pediu uma outra avaliação médica. Encaminhou
a criança ao neurologista e foram feitos alguns
Através de uma pesquisa, realizada em uma exames cerebrais, sendo diagnosticado TDAH
escola da rede privada de Contagem, foi-me (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperativida-
relatado o caso do aluno Lucas¹, que entrou na de). O aluno continuou o tratamento e a psicope-
escola em 2007. Com o passar dos dias, a pro- dagoga notou também certa tristeza e baixa auto-
fessora percebeu que o aluno era muito agitado estima. Em conversa com os pais, notou uma
dentro e fora da sala de aula, tinha muita falta de desestruturação familiar conseqüente de agressi-
atenção, apresentava um comportamento agres- vidades, falta de diálogo e separação dos pais.
sivo com os colegas. Quando ela chamava sua Lucas se encontrava morando com a avó, mas
atenção pelas brincadeiras maldosas com os presenciava, às vezes, situações violentas e
discussões entre os pais, acarretando também
uma depressão infantil.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


Hiperatividade Rachel Diniz Teixeira da Silva

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


Após algumas sessões de tratamento e medi- A professora agiu corretamente ao encami-
cação, o aluno ficou muito “pacato”, ou seja, ex- nhá-lo a uma psicopedagoga, pois, pelo relato, o
cessivamente quieto. Adveio, então, uma preo- caso realmente é bem grave. No entanto, ela
cupação da parte da professora com o aluno, precisava ter ido mais além; por mais que se
afinal, ele não estava participando das aulas, preocupasse com o aluno, não procurou desen-
com isso, não estava se desenvolvendo adequa- volver nem adaptar suas aulas para que o aluno
damente. Houve esquecimento de matérias pas- conseguisse ter atenção às aulas.
sadas, excesso de sono, falta de participação...
O aluno com hiperatividade precisa de alguns
A psicopedagoga falou que eram normais essas
cuidados e estímulos para prender sua atenção.
reações, pois o organismo estava se adaptando
Para que ele se desenvolva melhor no nível de
à medicação neuroestimulante.
aprendizagem, é recomendável colocá-lo nas
Segundo a professora, após um tempo o alu- primeiras carteiras, próximo do professor, delegar
no veio a ter uma melhora em todos os aspectos, atividades para que ele faça, com o intuito de
bem significativa. ocupá-lo, estimular seu raciocínio, propor ativida-
des físicas que trabalhem sua coordenação mo-
Após um tempo de tratamento, a psicopeda-
tora, colocar limites claros e objetivos; ter uma
goga chamou a professora para uma conversa.
atitude disciplinar equilibrada e proporcionar ava-
Explicou que o caso do Lucas realmente era
liação freqüente, com sugestões concretas e que
sério, foi diagnosticado por neurologista e psiqui-
ajudem a desenvolver um comportamento ade-
atra que o menino tinha TDAH. Com isso Lucas
quado, estimular os alunos à “ajudá-lo”, enfim,
entrou com mais uma medicação A professora
criar na sala de aula um ambiente em que o alu-
relatou-me que continuou com as atividades
no se sinta acolhido, fazer atividades que estimu-
normais em sala. O aluno foi se adaptando ao
lem sua atenção, criar rotinas, fazer com que ele
longo do ano e conseguiu se desenvolver, mas
se sinta útil e importante, mas tudo isso sem que
não satisfatoriamente como os demais alunos.
ele se sinta diferente dos demais.
Segundo a mãe, ele ainda se encontra em trata-
mento com o neurologista, o psiquiatra e a psico- Ao conversar informalmente com a professo-
pedagoga. ra, percebi que ela usava pouco esses artifícios,
desenvolvendo suas aulas normalmente, espe-
Crianças hiperativas têm dificuldade em pres-
rando que o aluno se adaptasse e melhorasse
tar atenção, aprender e são, facilmente, distraí- com o tratamento a que ele estava se submeten-
das. Pelo que me foi relatado, Lucas é um aluno do.
muito impulsivo, que não conseguia concentrar
Através dessa experiência, temos a oportuni-
em suas atividades e atrapalhava toda a turma,
dade de refletir sobre a formação e a atuação do
dificultando o desenvolvimento das aulas. coordenador e do professor, pois é função deles
criar condições para que o aluno seja acolhido na
escola de forma a desenvolver-se em todos os
aspectos. No caso de Lucas, o relato nos mostra
que o papel de encaminhá-lo foi apenas da pro-
fessora e o coordenador nada fez para ajudá-la
ou ajudar o aluno.

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Hiperatividade Rachel Diniz Teixeira da Silva
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

Como observamos, o papel do professor é


fundamental para auxiliar no diagnóstico do
Notas de Rodapé:
TDAH, visto que a hiperatividade só fica evidente 1. Nome fictício, para preservar a identidade do
aluno.
no período escolar, quando é preciso aumentar o
nível de concentração para aprender. Desse
modo, é importantíssimo o professor está bem Referências:
orientado para distinguir uma criança sem limites
ANDRADE, Ênio Roberto de. Indisciplinado ou
de uma hiperativa. O aluno portador do TDAH
hiperativo. Nova Escola, São Paulo, n. 132, maio
precisa ter na escola um acompanhamento es- 2000.
pecial, já que não consegue conter seus instin-
tos, agitando a sala de aula, atrapalhando os GENTILE, Paola. Indisciplinado ou hiperativo.
Nova Escola, São Paulo, n. 132, maio 2000.
colegas e a aula do professor. É preciso aplicar
uma ação didático-pedagógica direcionada para
esse aluno, visando estimular sua auto-estima,
levando em conta a sua falta de concentração,
criando atividades diversificadas para que não
haja um comprometimento durante sua aprendi-
zagem, e essa ação deverá ser feita através do
coordenador juntamente com o professor.

Assim, escola e família trabalhando juntas,


auxiliando no tratamento do aluno, socializando,
mostrando ao aluno as regras para se viver em
sociedade, com certeza o aluno poderá seguir
com suas atividades normais e ter uma vida es-
colar e social bem desenvolvida.

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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 30
Autor:
Reginaldo Quirino de Almeida
Endereço eletrônico: realmeida-pedagogia@hotmail.com.br
Graduando do Curso Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Acompanhamento afetivo e efetivo


Resumo demonstrou ser indiferente aos conselhos e não
quis ouvi-la, foi embora por sua conta sem assis-
Este artigo apresenta um estudo de caso com tir a nenhuma aula.
base em informações da Coordenação Peda-
A mãe do aluno também queixa sobre a mu-
gógica e em Relatório de Acompanhamento
Pedagógico de um aluno do Ensino Fundamen- dança no comportamento de seu filho, relatando
tal com problemas de relacionamento. à equipe pedagógica que ele não aceita diálogo
em casa nem com ela nem com o padrasto e,
freqüentemente, está muito nervoso, respondão
Pedro (nome fictício) estuda na mesma escola
e hostil. Por muitas vezes, já disse a ela que não
desde 2005. De acordo com a Coordenadora
quer mais estudar na escola, porque tudo o que
STUDOS DE CASOS

Pedagógica, quando a escola o recebeu na 5ª


acontece por lá, só ele é o culpado.
série, ele se mostrava sempre inquieto, apreensi-
vo, ansioso e aflito. A partir de 2007, houve uma A Coordenadora há muito tempo, vem fazen-
mudança súbita no seu comportamento, tornan- do um trabalho de encaminhamento com o aluno;
do-se cada vez mais agressivo. Entre suas ações atualmente ele participa do Projeto "Acelerar para
e atitudes com os colegas de classe, um dos Vencer" e faz um acompanhamento terapêutico
seus professores e a equipe pedagógica da es- psicológico; entretanto, sem ter, ambos, nenhum
cola, ameaçou uma aluna dizendo que iria “ra- resultado satisfatório.
char a cabeça” dela e desrespeitou, em seguida,
Todo problema de relacionamento começa
a professora de português que estava na sala,
quando um dos indivíduos se sente desmoraliza-
usando palavrões e vocabulário obsceno quando
do por outro e procura evitá-lo. Para o caso estu-
foi repreendido. A professora o encaminhou para
dado, podem-se citar os problemas de ordem
uma conversa com a Coordenadora, mas ele
afetivo-emocional-social como: desestruturação
pessoal, desânimo, vontade de desistir das au-
las; decepções com relação ao ideal e ao real;
não saber estabelecer os limites ideais no com-
portamento afetivo; ansiedade em ser o centro
das atenções. (SILVA, 1998, p. 2).

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


Acompanhamento afetivo e efetivo Reginaldo Quirino de Almeida

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


De acordo com Stryjer (1980, p. 39), o início lar, onde exerce influência e pode desenvolver
da sociabilização de uma criança se caracteriza ações de: a) Acompanhamento afetivo – apon-
por uma agressividade que já é esperada, pois tando e confrontando a qualidade de experiên-
suas manifestações de independência represen-
cias agradáveis ou desagradáveis do aluno em
tam o instinto de sobrevivência, próprio de toda
relação ao ambiente escolar; b) Acompanhamen-
criança em seu desenvolvimento e compreendido
como normal e construtivo. to efetivo – documentando e propondo as respos-
tas ou soluções para os problemas identificados
Entretanto, pode-se considerar a agressivida-
no âmbito escolar quanto aos sintomas diagnos-
de como um distúrbio de conduta quando a cri-
ança se torna um agressor em potencial, ou seja, ticados pela avaliação psicológica.
quando há ataque físico, destruição e hostilidade Daí a necessidade de que o Coordenador fa-
contra outro. voreça um vínculo entre família, terapeuta e es-
cola, auxilie a família na avaliação terapêutica e
Nesse sentido, é necessário analisar se os
comportamentos da criança são: a) Reações do psicológica do aluno, como também ajude na
tipo ativo: turbulência, birra, teimosia, agressivi- construção de relatórios mensais de acompa-
dade, irritabilidade e ciúme; b) Reações do tipo nhamento psicopedagógico e promova reuniões
passivo: medo, timidez, choro excessivo, depen- com a família no sentido de identificar, discutir e
dência. Para a família, chama mais atenção o
propor intervenções baseadas num acompanha-
tipo ativo, que eles chamam nervosismo. A mes-
mento consistente.
ma criança pode desenvolver reações dos dois
tipos, simultânea ou alternadamente, em diferen- Baseando-se nas evidências, há muitas espe-
tes fases de seu desenvolvimento. O mais co- culações que podem ser feitas sobre este caso.
mum é que sejam do mesmo tipo. (STRYJER, Por esse motivo, criar condições que garantam a
1980, p. 39). promoção de um diagnóstico sólido é também

Contudo, ressalta Stryjer (1980, p. 44) que os tarefa do Coordenador Pedagógico.

distúrbios emocionais requerem psicoterapia, Da mesma forma, a avaliação de atividades

muitas vezes associada à terapêutica familiar. de acompanhamento afetivo e efetivo oferece

Assim, só um estudo cuidadoso dos fatores am- uma boa oportunidade de verificação do diagnós-

bientais, somáticos e psíquicos, em cada caso tico do aluno e deve fazer parte do cotidiano des-

particular, pode conduzir ao diagnóstico etiológi- se profissional, posto que, cada criança é diferen-

co (ethos + logos), ou seja, o estudo das causas, te uma da outra, embora possam apresentar

e, conseqüentemente, ao tratamento adequado sintomas idênticos.

dos distúrbios de conduta da criança em questão. Assim, não se podem esperar soluções mági-

Para isso, o Coordenador Pedagógico tem um cas ou soluções únicas para todos os casos. O

papel importante, principalmente no âmbito esco- importante do acompanhamento é fornecer uma


base que possa indicar soluções específicas para
cada caso.

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Acompanhamento afetivo e efetivo Reginaldo Quirino de Almeida
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

Referências:
FERREIRA, Marlene de Cássia Trivellato & MAR-
TURANO, Edna Maria. Ambiente familiar e os
problemas do comportamento apresentados por
crianças com baixo desempenho escolar. Psico-
logia Reflexão e Crítica, 2002, v. 15, n. 1, p. 35-
44.

LAHAYE, Tim. Por que agimos Como agimos?


1ª ed. São Paulo: Abba Press, 1996. 369 p.

SILVA, Sheila Aparecida Pereira dos Santos.


Formação de professores de Educação Física: a
dimensão humanística-interacional. Revista Digi-
tal - Lecturas: Educación Física y Deportes.
Ano 3. n. 11. Buenos Aires, out. 1998, p. 1-6.
Disponível em:
<http://www.efdeportes.com/efd11/sheila.htm>
Acesso em: 19/05/2008.

STRYJER, Roberto S. O.; STRYJER, Luiz Júlio


(Ed.). Projeto Saúde - Aspectos fisiológicos e
psicológicos do desenvolvimento sexual. Rio de

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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 31
Autora:
Rejane Alvarenga Silva Colares
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela
PUC Minas.

A coordenação escolar interligada a uma educação ampla

Resumo
tatar seu nível socioeconômico, pois mora num
bairro da região periférica de Belo Horizonte,
tomei a iniciativa de encaminhá-la ao Hospital
Na história de Jéssica¹, vemos o amor incondicional da Baleia. Lá foram feitos vários exames neuro-
à profissão de educador numa visão abrangente da lógicos, psicológicos e físicos. Quando Jéssica
retornou às aulas, estava usando bota ortopédi-
realidade escolar onde se vêem maus-tratos, dro- ca e óculos. Encaminhei-a para uma psicope-
gas, abuso infantil, desnutrição, levando-se em con- dagoga que lhe dá assessoria até hoje. Jéssica
ta a total ausência do Estado no que tange às suas agora freqüenta o 5º ano razoavelmente, dentro
de suas possibilidades. A avó se sente mais
principais obrigações.
apoiada e conta conosco para ajudá-la nos pro-
blemas que vão surgindo.
Aprender a observar as crianças e dialogar
Neste artigo, tenho como objetivo refletir um
com elas é uma das melhores maneiras de se
pouco sobre os diversos tipos de linguagens
STUDOS DE CASOS

apropriar de sentimentos que, por vezes, estão


existentes no processo ensino-aprendizagem, no
presentes de forma silenciosa. É assim que en-
qual os educadores fazem suas observações e
tendi o que me disse a coordenadora pedagógi-
são mediadores e orientadores na busca de um
ca, no contexto de um estudo de caso feito por
ensino eficiente. Captar situações que são, por
ela:
vezes, empecilho para que a aprendizagem a-
Jéssica entrou aos 6 anos em nossa escola. Em conteça é fundamental no desempenho do edu-
atividades de psicomotricidade, observei que ti-
nha muita dificuldade, possuía entendimento li- cador. Nessa perspectiva, considera-se que a
mitado e parecia não ter convívio com crianças. coordenadora pode perceber situações e lidar, no
Solicitei que a professora a acompanhasse mais
de perto e a mesma veio a perceber que não cotidiano, com os sentimentos que abrangem as
havia acompanhamento familiar e também difi- dimensões afetiva, cognitiva e de movimento.
culdades nas áreas motora, afetiva e cognitiva.
Chamamos a família e constatamos que a aluna Sabemos que o resultado disso tudo é que abar-
era criada pela avó, filha de drogados, já havia cará a totalidade do comportamento do aluno.
sofrido violência e outros tipos de maus-tratos e,
a meu ver, até suspeita de estupro. Após cons-
O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embo-
ra cada um desses aspectos tenha identidade
estrutural e funcional diferenciada, estão tão in-
tegrados que cada um é parte constitutiva dos
outros... Uma das conseqüências dessa inter-
pretação é de que qualquer atividade humana
sempre interfere em todos eles. (MAHONEY,
2003, p. 12-15).

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


A coordenação escolar interligada a uma educação ampla Rejane Alvarenga Silva Colares

Notas de rodapé:

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


Tomemos como base o artigo 2º da LDBEN -
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Lei n. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996): 1. Nome fictício, para preservar a identidade da
aluna.
Art. 2º. A educação, dever da família e do Esta-
do, inspirada nos princípios de liberdade e nos
ideais de solidariedade humana, tem por finali-
dade o pleno desenvolvimento do educando, Referências:
seu preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho.
BRASIL; CURY, Carlos Roberto Jamil. Lei de
Diretrizes e Bases da educação nacional (1996).
A visão da coordenadora pedagógica foi a- Lei de diretrizes e bases da educação. 4. ed.
Rio de Janeiro: DP&A, 2001. 197 p.
brangente no que tange à realidade escolar hoje,
pois ela viu além da dificuldade apresentada por MAHONEY, Abigail A.; ALMEIDA, Laurinda R.
Jéssica. A diversidade de características que Henri Wallon: psicologia e educação. São Paulo:
Loyola, 2003.
habitam a escola nos faz pensar sobre os valores
e as crenças que antecedem o comportamento
desses alunos em sua heterogeneidade, que
demanda dos educadores algo mais do que o
simples ensinar. É preciso fazer dessa diversida-
de um desafio no desempenho do papel de edu-
cador.

A ineficiência do Estado interligada à acomo-


dação da sociedade nos torna reféns da impuni-
dade e nos leva à falência das instituições, entre
elas, o ensino. Não podemos e não devemos nos
acomodar diante da realidade negativa da au-
sência do poder no cotidiano das pessoas, pois é
dever de todos incentivar uma ligação família,
sociedade e escola, para uma ampla consciência
cidadã. Quando não vemos ou não queremos ver
além das fronteiras, nos acomodamos, abrindo
as portas para o negativismo.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 32
Autora:
Rejane Kássia dos Reis Silva
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela
PUC Minas.

O brincar e a aprendizagem: concepções de professores do ensi-


no fundamental

Resumo uma sala em que a professora não ficasse “ma-


tando o tempo”, pois o seu filho estava na escola
No processo de aprendizagem dos alunos das esco- para aprender a ler e a escrever e não para brin-
las de ensino fundamental, as brincadeiras são opor- car.
tunidades para a satisfação de algumas necessida-
des nesse processo. No entanto, o papel que o pro- Muitas são as discussões sobre a função, a
fessor desempenha é fundamental, tanto como inici- importância e a relação envolvendo o jogo edu-
ador e mediador da aprendizagem, quanto como
cativo, o processo de ensino-aprendizagem e o
observador e avaliador dos processos ocorridos na
aquisição de novos conceitos e conteúdos. Mas,
brincar. Dentre elas encontra-se a grande dificul-
quais serão as concepções que os professores do dade de definição dos termos jogo educativo e
ensino fundamental têm sobre o brincar e sua rela- brincar, por parte dos professores. As discussões
STUDOS DE CASOS

ção com a aprendizagem? O que acham que seja o que existem em torno do jogo educativo estão
jogo educativo e a brincadeira?
relacionadas a duas funções: a lúdica e a educa-
tiva. De acordo com Silva (2003), entre os profis-
Durante a realização do estágio no ensino
sionais da área, parece haver muitas dúvidas
fundamental, deparei com o caso de uma mãe
quando o jogo é associado à educação e ao de-
que exigia explicações da escola acerca do tra-
senvolvimento infantil: se há diferença entre o
balho da professora de seu filho, que se encon-
jogo e o material pedagógico, se o jogo educativo
trava na terceira série. Reclamava de que, todos
é, realmente, um jogo e se o jogo tem um fim em
os dias, conferia os seus cadernos e quase nada
si mesmo ou se é um meio para atingir um objeti-
via escrito. Em compensação, quando pergunta-
vo específico.
va ao filho o que havia feito na escola, ele res-
pondia que havia brincado. Sendo assim, exigia O jogo educativo envolve ações mais ativas
da direção escolar que mudasse seu filho para das crianças, permitindo assim a exploração e
possibilitando efeitos motores, cognitivos, sociais
e afetivos. O jogo didático, por sua vez, é mais
restrito, está atrelado ao ensino de conteúdos
específicos, tornando-se, por isso, inadequado
para o desenvolvimento infantil por limitar o pra-
zer e ser monótono e repetitivo.

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O brincar e a aprendizagem: concepções de professores... Rejane Kássia dos Reis Silva

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


Segundo Silva (2003, p.194): “qualquer jogo yles, 2002, p. 95): “o brincar é necessário e vital-
empregado pela escola aparece como um recur- para o desenvolvimento normal do organismo,
so educativo e, ao mesmo tempo, é um elemento para o seu amadurecimento como um ser social,
indispensável ao desenvolvimento infantil, desde pois o brincar está presente em todas as culturas
que a natureza lúdica seja respeitada”. e, muitas vezes, serve como uma linguagem
universal.”
A verdade é que o brincar nas escolas é mui-
tas vezes omitido, pelo receio de que “não se Na escola, por trás do jogo, surge uma dupla
está fazendo nada”. Por isso, muitos professores ação: de um lado se propõem às crianças jogos
não desenvolvem uma atividade lúdica com as dirigidos e coletivos e, de outro lado, é dado aos
crianças, primeiro porque a sua formação profis- exercícios um caráter divertido e atraente para
sional não contempla conhecimentos nem vivên- aproximá-las do jogo – os jogos educativos. Os
cias sobre o brincar e, segundo, porque receiam brinquedos, os jogos e o brincar como atividades
a reação e as críticas dos familiares das crian- livres da criança parecem excluídos da escola,
ças. Segundo Fortuna (2004, p.13): “os educado- pois o brincar é visto como algo sem importância,
res são os mais resistentes a assimilar o jogo ao algo somente para passar o tempo, pois a crian-
processo de ensino e aprendizagem, ainda que ça não aprende quando brinca. Como afirma
reconheçam sua importância para o desenvolvi- Moyles (2002, p. 114): “o brincar aberto, aquele
mento infantil.” que poderíamos chamar de a verdadeira situação
de brincar, apresenta uma esfera de possibilida-
Para a utilização das brincadeiras nas esco-
des para a criança, satisfazendo suas necessi-
las, o lúdico deveria estar presente nas ativida-
dades de aprendizagem e tornando mais clara a
des propostas pelos professores, como uma par-
sua aprendizagem explícita”. Sendo assim, parte
ceria. Para Maluf (2005), o professor deve “orga-
da tarefa do professor de proporcionar situações
nizar suas atividades de aula, selecionando a-
de brincar livre e dirigido que procurem atender
quelas mais significativas para seus alunos e, em
às necessidades de aprendizagem das crianças
seguida, o professor deveria criar condições para
e, nesse papel, o professor pode ser chamado
que essas atividades significativas sejam realiza-
um iniciador e mediador da aprendizagem.
das”.
Kishimoto (2001) aponta a necessidade da
Na brincadeira, a criança tem a oportunidade
formatação dos cursos de formação inicial dos
não apenas de vivenciar as regras impostas, mas
professores e, talvez, sua reformulação. Diz que:
também de transformá-las e recriá-las de acordo
“os cursos de formação inicial em nível médio e
com as suas necessidades. Além disso, o ato de
superior, durante décadas, não contavam em
brincar permite à criança o desenvolvimento de
seus currículos com disciplinas de Literatura In-
funções mentais importantes, como o desenvol-
fantil, Teatro, Música, Dança, Artes Visuais e
vimento de seu raciocínio lógico e a linguagem.
Plásticas, dentre outros.” (p. 229-245).
Permite, também, a compreensão e a incorpora-
ção de regras e papéis pré-definidos pela socie- Enfim, levando-se em consideração que o su-
dade da qual faz parte. Para Stevens (apud Mo- cesso da criança na escola vai depender, em
grande parte, de sua atuação nas atividades

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O brincar e a aprendizagem: concepções de professores... Rejane Kássia dos Reis Silva
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

propostas pelos educadores, é importante que


ela domine as habilidades consideradas habituais
de sua idade e não há uma maneira melhor de
aprender estas habilidades que pela brincadeira.

Referências:
FORTUNA, T.R. O Brincar na Educação Infantil.
Pátio Educação Infantil. 2004:13: 6-9.

KISHIMOTO, M.T. Brinquedos e materiais pe-


dagógicos nas escolas infantis. Educação e
Pesquisa. 2001; 27(2): 229-45.

MALUF, A.C.M. O Brincar na Escola. Psicope-


dagogia On Line [artigo na internet]. Jan. 2000
[citado em 20 de agosto de 2005]. Disponível em:
http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.
asp? entr ID =270.

MOYLES. J.R. Só brincar? O papel do brincar


na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed,
2002.

SILVA, C.C.B. O Lugar do brinquedo e do jogo


nas escolas especiais de Educação Infantil.
[Tese]. São Paulo: Instituto de Psicologia da Uni-
versidade de São Paulo: 2003.

SPODECK, B. e SARACHO, O. Ensinando cri-


anças de três a oito anos. Porto Alegre: Art-
med;1998.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 33
Autora:
Sandra Antoninha Dalla Libera
Graduanda do Curso de Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso
pela PUC Minas.

A criança vítima de abuso sexual no ambiente escolar

Resumo tando novo comportamento, com dificuldade de


concentração e aprendizagem, brincadeiras ero-
O objetivo deste artigo é apresentar um estudo tizadas, isolamento e agressividade com colegas,
de caso de uma aluna de nove anos, vítima de ansiedade e medo quando se fala em conversar
abuso sexual intrafamiliar, conforme observa- com sua mãe sobre sua conduta.
ção e constatação de informações pela super-
visora pedagógica e pela mãe. No intuito de entender a situação e buscar so-
luções, a supervisora pediu o comparecimento da
mãe de Maria à escola, e relatou a ela o compor-
A supervisora pedagógica acompanha o caso
tamento da menina. A mãe comentou que Maria
de Maria , nove anos, que mora com sua mãe e o
não era filha de seu atual companheiro, e que
STUDOS DE CASOS

padrasto em imóvel de dois cômodos, cedido


vinha suspeitando que ele pudesse estar moles-
pela avó paterna, em local de vulnerabilidade e
tando sua filha. As suspeitas da mãe se basea-
risco social. A renda da família provém do traba-
vam no medo que a filha vinha apresentando em
lho da mãe como doméstica, pois seu padrasto
ficar sozinha com o padrasto, no sono agitado e
está desempregado.
no fato de, em um determinado dia, ter encontra-
Em sua trajetória escolar, Maria freqüentou do o lençol da cama sujo de sangue.
duas escolas distintas, estando na atual desde
A supervisora pedagógica ficou impressiona-
fevereiro deste ano, matriculada no 1º ano do 3º
da com os relatos da mãe e, munida das infor-
ciclo. Segundo a supervisora, desde sua chega-
mações sobre os indícios de abuso sexual no
da à escola, Maria foi uma criança participativa,
seio familiar e das suspeitas da mãe, redigiu um
comunicativa e com rendimento escolar satisfató-
relatório e encaminhou o caso ao Conselho Tute-
rio. Porém, desde o mês de abril, vem apresen
lar para as providências cabíveis.

Em contato posterior com o Conselho, a su-


pervisora foi informada de que Maria e a mãe
foram encaminhadas ao Serviço Sentinela. In-
formaram-lhe que esse Serviço realiza atendi

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


A criança vítima de abuso sexual no ambiente escolar Sandra Antoninha Dalla Libera

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


mento e acompanhamento especializado a crian- Segundo a Constituição Federal (1988), no
ças e adolescentes vítimas de abuso e explora- seu art. 227,
ção sexual, bem como a seus familiares, por
É dever da família, da sociedade e do Estado
meio de uma equipe composta por assistentes assegurar à criança e ao adolescente, com ab-
sociais, psicólogos, educadores sociais e estagi- soluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à a-
limentação, à educação, ao lazer, à profissiona-
ários de direito. lização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à li-
berdade e à convivência familiar e comunitária,
Diante deste caso, podemos nos perguntar além de colocá-los a salvo de toda forma de
como identificar uma criança ou adolescente que negligência, discriminação, exploração, violên-
cia, crueldade e opressão.
pode estar sendo vítima de abuso sexual, quais
os indícios para uma suspeita e quais os proce- Segundo o Código Penal Brasileiro (1982), no
dimentos a serem tomados pelo supervisor pe- seu art. 214, “Constranger alguém, mediante
dagógico diante de alguma evidência ou suspei- violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir
ta. que com ele se pratique ato libidinoso diverso da
conjunção carnal”. Pena: de 6 a 10 anos de re-
Ao buscar maiores informações sobre abuso clusão.
e exploração sexual com crianças e adolescen-
tes, deparei-me com relatos de especialistas que E, segundo o Estatuto da Criança e do Ado-
afirmam existir no Brasil um verdadeiro muro de lescente (1990, p. 15), no seu art. 5º:
silêncio em relação aos casos de abuso e explo- Nenhuma criança ou adolescente será objeto
ração sexual contra crianças e adolescentes. de qualquer forma de negligência, discriminação,
Isso se deve, na maioria das vezes, ao medo de exploração, violência, crueldade e opressão,
represálias, à impunidade ao abusador ou mes- punido na forma da lei qualquer atentado, por
mo à falta de informações de como proceder a ação ou omissão, aos seus direitos fundamen-
uma denúncia. tais.
O abuso sexual é definido como práticas eró- A criança e o adolescente podem demonstrar,
ticas e sexuais impostas às crianças ou adoles- no ambiente escolar, alguns comportamentos
centes por meio de violência física, ameaça ou que auxiliarão no desvelar da suspeita do abuso
sedução, envolvendo um adulto: pais, padrastos, sexual. Vejamos alguns desses indicadores:
tutores, cuidadores e outros membros da família,
conhecidos ou desconhecidos.
• Físicos: traumatismos, corrimentos, lesões
A Constituição Federal, o Código Penal Brasi- nas genitálias e/ou no ânus, sangramentos,
dores abdominais etc.
leiro e o Estatuto da Criança e do Adolescente
• Cognitivos: alterações no rendimento esco-
dispõem sobre a proteção da criança e do ado- lar, dificuldade de concentração e aprendi-
lescente contra qualquer forma de maus-tratos, e zagem etc.
determina penalidades, não apenas para os que • Sociais: problemas de relacionamento in-
terpessoal no contexto familiar, escolar e
praticam o ato, mas também para os que se omi- comunitário, como a falta de diálogo e con-
tem. fiança.
• Comportamentais: agressividade, apatia,
timidez, isolamento, sexualidade exacer-
bada, hostilidade etc.
• Emocionais: ansiedade, depressão, altera-
ções alimentares, isolamento, fadiga crôni-
ca, medo, baixa auto-estima, somatização
de doenças, entre outros.
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A criança vítima de abuso sexual no ambiente escolar Sandra Antoninha Dalla Libera
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

Os sentimentos que geralmente acompanham atitudes, possíveis indícios de um abuso sexual


uma criança ou adolescente após a revelação de e, munido de seus conhecimentos sobre o assun-
um abuso sexual são: alívio por descarregar o to, buscar estratégias de superação da violação,
peso do segredo, culpa por ter gostado da ativi- por meio de denúncia anônima, orientação aos
dade sexual, sentimento de deslealdade por ter responsáveis ou encaminhamento aos órgãos
traído o agressor. Constata-se, também, que há competentes.
uma tendência dos familiares em negar a situa-
ção de abuso, não fornecendo informações e
rejeitando intervenções externas.
Notas de rodapé:
1. Nome fictício, para preservar a identidade da
aluna.
A sociedade se relaciona com a questão do
abuso sexual de forma ambígua. Essa ambigüi- Referências:
dade que, ao mesmo tempo, estimula, condena e
BRASIL, [Constituição (1988)] Constituição
culpa, é a mesma que respalda toda a constru- Federal: atualizada até a Emenda Constitucional
ção da estrutura social e legal que deveria estar n. 47, de 05 de julho de 2005. Belo Horizonte:
a serviço da proteção de crianças e adolescen- Mandamentos, 2005.
tes. A omissão dos poderes constituídos é, sem
BRASIL, [Estatuto da criança e do adolescente
dúvida, o principal fator responsável pela impuni- (1990)] Estatuto da criança e do adolescente: Lei
dade da maioria dos casos de abusos sexuais. n. 8.069, de 13 de julho de 1990 / org.: VAL-
VERDE, Iracema Almeida; LEAL, Ana Cláudia da
Ou seja, a escola como um local de proteção à
Silva; SHAN, Lou Shen P. – Rio de Janeiro: Ex-
criança e ao adolescente pode, por motivos di- pressão e Cultura, 2001.
versos, também ser omissa ao saber de algum
caso. RIZZINI, Irene; RIZZINI, Irma; NAIFF, Luciene;
BAPTISTA, Rachel (coordenação). Acolhendo
Dessa maneira, podemos destacar a evidente crianças e adolescentes: experiências de pro-
moção do direito à convivência familiar e comuni-
responsabilidade da escola no que diz respeito tária no Brasil. – São Paulo: Cortez; Brasília:
ao assunto, pois a criança ou o adolescente po- UNICEF; CIESPI; RJ. PUC – Rio, 2006.

dem demonstrar na escola comportamentos que


reflitam algo de suspeito em relação ao abuso e
à exploração sexual. O coordenador pedagógico,
assim como todo o corpo docente, deve estar
atento para identificar, através de determinadas

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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 34
Autora:
Shirlei Aparecida Silva
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela
PUC Minas.

Ser “certinho” é sinal de adequação?


Resumo presença era indiferente para ele. Passava em
minha sala e gritava, batia nos colegas, xingava
A partir da apresentação da história de um adoles- todos os educadores. Procurei a ajuda da família,
cente, são analisadas questões relacionadas com a mas confessaram não saberem mais o que fazer.
“adequação” e “inadequação” do aluno na escola, a
noção de limite e respeito e a relação entre adoles- Inicialmente, as intervenções eram muito difí-
cência, família, escola e violência. ceis, porque ele gritava e dava murros no ar, ao
mesmo tempo em que chorava e ficava com rai-
Conheci Rodrigo em 2007, quando assumi o va. Também comecei a conversar com os edu-
cargo de pedagoga do Programa de Educação cadores, conscientizando-os da realidade de sua
Profissional de uma ONG. Contaram-me que era vida e do desespero de seus pais. Avalio que
STUDOS DE CASOS

um adolescente de 17 anos muito problemático, essa parte foi a mais difícil, pois todos já se en-
agressivo, usuário de entorpecentes, difícil de se contravam exaustos de suas atitudes e, definiti-
relacionar, pois não conversava, mas sim gritava vamente, haviam desistido dele.
com todas as pessoas, impunha sua presença e
não realizava as atividades propostas pelos edu- Aos poucos, a partir de muitas conversas em

cadores. O pai de Rodrigo morreu de overdose, reuniões pedagógicas com os educadores, e com

quando ele tinha 10 anos e, segundo a mãe, foi Rodrigo e a família em particular, a situação co-

um marido violento e as agressões foram pre- meçou a melhorar, pois ele não grita mais com

senciadas pelo filho. Há cerca de dois anos, ele as pessoas e o seu convívio social tornou-se

perdeu um irmão em um acidente de bicicleta. satisfatório.

No início, tive muitos problemas com Rodrigo, Aproveito essa experiência com Rodrigo para

pois ele procurava deixar bem claro que a minha introduzir uma reflexão a respeito da “adequação
ou inadequação” escolar. Inúmeros exemplos
semelhantes fazem parte do dia-a-dia das esco-
las e, por isso, merecem uma atenção especial
dos profissionais. Em que podemos nos basear
para qualificar um comportamento como adequa-
do ou inadequado? O que esse comportamento

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral


Ser “certinho” é sinal de adequação? Shirlei Aparecida Silva

“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


nos mostra? Quando ocorre a inadequação, ela é experiências emocionais vivenciadas dentro da
só do aluno ou parte também do professor? Da família, no entanto, a influência do meio ambiente
escola? ajudará o indivíduo a ressignificar suas experiên-
cias emocionais ao longo de sua vida”.
Penso que o comportamento de Rodrigo é um
modo de expressão, uma maneira que encontrou O papel da escola é criar esse espaço de aco-
de tornar visível algo que, para os outros, é invi- lhimento e reflexão que promova o desenvolvi-
sível. Quando ele se sente discriminado pelos mento da capacidade de aprender, não somente
educadores ou pelos colegas, sua defesa é cha- conteúdos pedagógicos, mas também a percep-
mar a atenção, competir e atacar. É sabido que a ção de respeito ao outro e a si mesmo, a noção
qualidade do vínculo afetivo é de fundamental de cidadania e de responsabilidade social. Tam-
importância para a adequação do sujeito e para o bém considero que seria útil aos professores
sucesso do seu processo de ensino e aprendiza- conhecerem um pouco mais sobre o funciona-
gem. mento mental do ser humano. Esse conhecimen-
to auxiliaria o professor na compreensão de cer-
A possibilidade de um indivíduo ser “adequa-
tos comportamentos adotados pelos alunos e
do” ou “inadequado”, muitas vezes, é compreen-
evitaria os rótulos, as inadequações e, conse-
dida somente pela capacidade ou não de ele se
qüentemente, os desentendimentos e desgastes
adaptar ao seu meio. No entanto, os comporta-
psicológicos.
mentos humanos exteriores dependem, sobretu-
do, das vivências emocionais internalizadas du- Na escola, é freqüente a dificuldade dos pro-
rante o seu processo de desenvolvimento da fessores em conterem certos alunos que desres-
personalidade, e das heranças culturais e éticas peitam o andamento das atividades, ou seja, o
recebidas ao longo das gerações. Winnicott dizia professor não consegue ocupar o lugar que lhe
que: “um jovem se torna delinqüente quando algo cabe na hierarquia escolar. Isso tem se tornado
lhe faltou em sua vida. Esse ato de comunicação cada vez mais comum, principalmente porque
é o seu grito desesperado para ser olhado e ou- está havendo um equívoco de confundir demo-
vido, onde existe um jovem, é preciso ter um cracia e liberdade de expressão com falta de
adulto para confrontá-lo.” educação.

Não se pode deixar de mencionar que alguns Em sua história de vida, Rodrigo tem muitos
casos de inadequação escolar têm origem orgâ- elementos que evidenciam a violência que viveu
nica e pedagógica e, por isso, merecem atendi- e que continua vivendo: o seu pai era agressivo e
mento especializado. Mas, infelizmente, a maio- usuário de drogas e ele mesmo é um iniciante
ria das manifestações de inadequação são de nesse uso. No entanto, a violência não é, como
ordem emocional, em que as questões com a muitos pensam, fruto somente de desigualdades
família, com o professor e com a escola podem sociais. Ela, no entender de muitos estudiosos, é
estar presentes. Segundo Levisky (2001, p.101): gerada pela inter-relação de fatores biopsicosso-
“a qualidade dos vínculos afetivos está ligada às ciais – é uma energia inata, presente em todos
os seres vivos, e que pode ter um investimento
construtivo ou destrutivo.

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Ser “certinho” é sinal de adequação? Shirlei Aparecida Silva
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

A violência vai sendo internalizada pelo indi- fissional, principalmente, acreditar que o ser hu-
víduo em seu processo de desenvolvimento de mano não é algo pronto, acabado, mas sim um
sua personalidade, pelas identidades que surgem ser passível de mudanças, de transformações.
de suas relações no dia-a-dia com os pais, na
escola, na rua etc. Dependendo de como os mo-
delos de conduta são transmitidos pela família,
pela mídia, pela escola, pela sociedade como um Notas de rodapé:
todo, essa internalização pode acontecer de uma 1. Nome fictício, para preservar a identidade do
forma banalizada. Por exemplo: atos de violência aluno.
a que as crianças assistem todos os dias pela
televisão nos desenhos animados podem ser Referências:
internalizados como valores de coragem, valentia
BLAY LEVISKY, R. Adolescência, violência e a
e heroísmo. família na cultura atual. Técnicas de Trabalho
grupal e familiar. In: Adolescência e violência:
A adolescência é um período de grandes ações comunitárias na prevenção. “Conhecendo,
transformações emocionais, corporais, hormo- articulando, integrando e multiplicando.” Org.
nais, psíquicas e sociais em que é possível viver David Léo Levisky, p. 227, São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2001.
o processo de ressignificação das experiências
vividas na infância. Assim, o papel da família e WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio
da escola na formação desse adolescente é de de Janeiro: Ed. Imago, 1975.
fundamental importância, no sentido de amparar
e conter esse jovem, até o momento em que ele
tenha condições de caminhar sozinho: é impor-
tante o adulto saber dizer não, estabelecendo
limites claros. O difícil é agüentar essa luta, pois,
nesse período, ele é inseguro, vulnerável, rebel-
de e desafiador. Por isso que, creio, é tão comum
a entrada de adolescentes em caminhos que
representam uma violência tanto para a socieda-
de como para ele próprio.

Essa luta é difícil sim, mas não impossível!


Trabalhar com relações humanas requer do pro-

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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 35
Autora:
Vanessa Delfina Alves
Graduanda do Curso de Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso
da PUC Minas.

Inclusão nas escolas públicas: alunos com necessidades educa-


cionais especiais

Resumo A matrícula dos alunos com deficiências exige


uma mudança na atitude da escola, devendo ser
A inclusão vem sendo discutida há algum tempo, seu desafio estimular e promover a aprendiza-
tendo sido objeto de grandes controvérsias. A edu- gem desses alunos sem excluí-los. O cotidiano
cação ainda está fundamentada em um ideal de
da escola deverá se basear na diversidade exis-
saber e em alunos homogeneizados e, certamente,
um aluno diferente, ao ingressar nessa estrutura,
tente na sociedade e no espaço escolar. Segun-
será excluído.O desafio é construir alternativas para do Santos (2004, p. 61), “Temos o direito a ser
lidar com a diversidade. A inclusão de alunos com iguais quando a diferença nos inferioriza, temos o
necessidades educacionais especiais se concretiza direito a ser diferentes quando a igualdade nos
com a adoção de práticas na sala de aula, a cons-
descaracteriza”.
trução de um projeto pedagógico que considere a
STUDOS DE CASOS

diversidade do aluno, a capacitação de profissionais Os profissionais devem se conscientizar de


e a participação ativa da família, do governo e dos
que, em uma educação moderna, os alunos,
serviços da área da saúde.
independente de alguma deficiência específica,
precisam receber uma atenção pedagógica ade-
A inclusão escolar é um caminho que preci-
quada às suas necessidades educacionais, cada
samos aprender a trilhar. A escola enfrenta uma
um com seu ritmo.
gama de demandas apresentadas pelos alunos,
que pode ir desde uma simples dificuldade audi- Na escola campo de estágio, da rede estadual
tiva, visual ou motora até outras mais complexas, de ensino, de nível fundamental, situada em uma
que exijam da escola uma assistência social e o região de classe média baixa, acompanhei o
apoio da área de saúde, como é o caso de al- caso do aluno Pedro1, uma criança de 7 anos,
guns alunos com Transtorno de Déficit de Aten- matriculada na fase introdutória (antiga 1ª série).
ção / Hiperatividade (TDAH). Ele apresenta alguns problemas de comporta-
mento e aprendizagem. Algumas vezes é agres-
sivo, em outros momentos, amável, sua coorde-
nação motora é deficitária e sua impulsividade
gera conflitos na escola.

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A professora regente - que trabalha com 26 importante ressaltar a participação ativa dos pais
alunos - não foi preparada para lidar com esse do Pedro que, embora sejam de classe muito
problema. Por isso, quando o Pedro se manifes- baixa, trabalhem durante todo o dia e nem sem-
tava de maneira impulsiva, ela o encaminhava pre estão presentes na higienização do filho,
para sala da coordenadora, que o acompanhava buscam na escola um apoio e se prontificam
quando possível. Hoje, a escola conta com uma sempre que necessário.
profissional especializada que tem disposição e
O trabalho da coordenação pedagógica e da
muita paciência para acompanhar o Pedro.
direção também foi árduo. A principio, não con-
O trabalho de uma profissional capacitada seguiram verba para contratar um profissional
que acompanha diretamente o aluno hiperativo é específico, não havia ninguém capacitado e a
fazer uma análise mais completa da sua situa- criança ficava de sala em sala conforme seu
ção. É durante o período escolar que aparecem comportamento ia mudando, sem uma atividade
as manifestações mais evidentes desse déficit específica, sem limites.
que, muitas vezes, é comparado à preguiça ou à
Como pudemos perceber, a inclusão se dá a
falta de interesse.
passos lentos e, muitas vezes, não são liberados
Uma criança não aprende a ler e a escrever os recursos necessários para seu sucesso. O
normalmente, tem dificuldades motoras, se mos- ideal é que os profissionais se informem sobre a
tra agressiva e chora muitas vezes, o que pode questão, leiam e procurem remover as barreiras
resultar em sua baixa auto-estima. que o impedem de ser um bom educador. De-
pois, com o auxílio constante da família e da
A partir de uma análise, foi feito um laudo de
escola, procurar identificar o aluno com deficiên-
encaminhamento médico, que resultou em um
cia e suas condutas típicas, promover atividades
acompanhamento em uma instituição específica
em pequenos grupos, sem isolar o aluno, traba-
na parte da manhã. Pedro é assistido por médi-
lhar com jogos e regras, orientar os pais que
cos, psicólogos, fisioterapeutas e pedagogos.
procurem outros especialistas (psicólogos, neuro-
Para o trabalho na escola, foi necessário de- logistas etc.), entre outras ações pertinentes.
senvolver um repertório de intervenções e ativi-
dades que consigam manter o aluno ativo e em
sala de aula por maior tempo.

Na escola fundamental, a criança já está mais


socializada. O que, no início, era motivo de trans-
torno e medo, principalmente por parte das ou-
tras crianças, está se tornando integração. Os
pais que, muitas vezes, reclamavam da presença
de uma criança especial “agressiva” entre seus
filhos já se posicionam de maneira diferente. É

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Notas de rodapé:
1. Nome fictício, para preservar a identidade do
aluno.

Referências:
BRASÍLIA. Secretaria Municipal de Educação e
Cultura. O acesso de alunos com deficiência
às escolas e classes comuns da rede regular.
Brasília, set. 2004 (PFDC) 59 p.

FERRAZ, Wagner de Angeli. A diversidade como


desafio. Pátio educação infantil. Porto Alegre,
ano III, n. 9, p. 9-11, nov. 2005 / fev. 2006.

MINAS GERAIS. Secretaria de Estado da Edu-


cação. Políticas e Práticas da Educação Inclusiva
em Minas Gerais. Projeto incluir rede de esco-
las inclusivas. Governo de Minas Gerais. 2005,
17 p.

SANTOS, Boaventura Souza. 2004.

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