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Circulação e Consumo
José Wellington Carvalho Vilar
São Cristóvão/SE
2011
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
Elaboração de Conteúdo
José Wellington Carvalho Vilar
Projeto Gráfico
Neverton Correia da Silva
Nycolas Menezes Melo
Capa
Hermeson Alves de Menezes
Diagramação
Neverton Correia da Silva
Vice-Reitor
Angelo Roberto Antoniolli
AULA 2
Os enfoques da geografia da produção, do consumo e da circulação.19
AULA 3
Fases da configuração territorial dos sistemas industriais. ............... 31
AULA 4
Inovação tecnológica e novos espaços industriais............................ 43
AULA 5
Problemas de localização industrial. ................................................. 57
AULA 6
Tipos de indústrias. ........................................................................... 71
AULA 7
Os impactos ambientais da atividade industrial ....................................81
AULA 8
O comércio nas cidades: uma visão geográfica ................................ 93
AULA 9
Os impactos territoriais do transporte ...............................................105
AULA 10
Dos combustíveis fósseis às energias limpas ................................. 121
Aula 1
OBJETIVOS
Entender a produção, a circulação e o consumo numa perspectiva territorial integrada.
PRÉ-REQUISITOS
Disciplinas anteriores da área de Geografia Humana e Econômica.
INTRODUÇÃO
Diferentemente do que ocorria na antiguidade, onde a produção e o
abastecimento da população se realizavam geralmente num mesmo lo-
cal ou em áreas relativamente próximas, diminuindo assim os efeitos da
distância, na atualidade existem grandes intercâmbios econômicos entre
as mais variadas regiões do planeta a ponto de se falar muito sobre fluxos
econômicos, circulação de produtos e pessoas, a respeito de redes e prin-
cipalmente sobre globalização.
A produção hoje já não se restringe a sua dimensão local e regional,
porque a circulação alcance cada vez mais escalas nacionais e internacionais
e o consumo amplia-se, deforma-se e confunde-se com o consumismo.
Com a evolução do sistema de transporte e a utilização de avançados meios
de comunicação, a circulação de produtos intensifica-se num ritmo que
permite o consumo de produtos diversificados, oriundos dos mais variados
países do globo. Os mercados se ampliam e assumem problemas cada vez
mais complexos que vão desde a logística que põe em funcionamento o
sistema territorial às desigualdades sociais e econômicas que dificultam ou
impedem o consumo e que se expressam ainda na relação perversa entre
pobreza-riqueza.
O objetivo da presente aula é entender a complexa relação entre produção,
circulação e consumo numa perspectiva geográfica integrada. Para tanto o
presente texto está dividido em quatro partes. Na primeira será abordada a
questão da produção em si. Na segunda, discute-se o circuito da distribuição
com ênfase no circuito inferior e no circuito superior da economia urbana.
Na terceira parte o foco está centrado no consumo. Por último, pretende-se
discutir esses três elementos no território por meio de uma visão geográfica
integrada, ou seja, a idéia de circuitos espaciais da produção e os círculos de
cooperação territorial que formam a geografia do movimento.
A PRODUÇÃO
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Produção, Circulação e Consumo: uma Visão Territorial Integrada Aula 1
Mas na atualidade não é suficiente somente produzir. É fundamental
para o capitalismo contemporâneo colocar de maneira mais rápida o re-
sultado da produção a caminho dos consumidores e agregar valor a seus
produtos. Na verdade, a produção não mais comanda a circulação, mas
é a distribuição e o consumo que controlam, conformam e presidem a
produção. O domínio da produção na geografia econômica é um produto
da primeira e da segunda Revolução Industrial (Figuras 1 e 2). A partir da
segunda metade do século XX e principalmente das últimas décadas do
milênio, a situação muda sensivelmente e as redes, a competitividade, o
poder da informação e a necessidade de fluidez territorial se impõe e criam
uma nova geografia da produção, da circulação e do consumo que se car-
acteriza, entre outras coisas, pela seletividade, pela concentração territorial
e ao mesmo tempo pela dispersão espacial ou geográfica.
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Geografia da Produção, Circulação e Consumo
A CIRCULAÇÃO
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Produção, Circulação e Consumo: uma Visão Territorial Integrada Aula 1
Cabe aqui fazer uma breve distinção entre distribuição e comércio.
O comércio corresponde a uma fase intermediária entre a produção e
o consumo propriamente ditos, tendo por função básica disponibilizar
mercadorias aos consumidores. De maneira geral, existem dois tipos de
comércio que correspondem às duas etapas no circuito de comercialização
dos produtos: o comércio atacadista e o comércio varejista (Figura 4 e 5).
O comércio no atacado estabelece o ponto de contato entre produtores
e varejistas, reunindo produtos variados em um só lugar com a possibili-
dade de diminuir o seu preço pela venda em grande quantidade. Embora
esteja disperso por todo o tecido urbano, o comércio varejista oferece seus
produtos diretamente ao consumidor, geralmente reunidos no centro da
cidade, em subcentros ou nas chamadas novas formas de comércio, como
é o caso de hipermercados e de shopping centers.
11
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
Essa visão geográfica da economia urbana não deve ser vista como
algo dual e sem relações entre os dois circuitos territoriais. Muito pelo
contrário, a presença dos dois circuitos da economia urbana corresponde
a uma fase onde a modernização ainda convive de maneira dinâmica com
atividades não modernas que muitas vezes são a única forma de viabilizar o
consumo de grande parte da população. É nesse contexto que se costuma
falar no Brasil de uma modernização conservadora, de uma modernidade
da pobreza, de uma racionalidade do sistema econômico, de desequilíbrios
territoriais e de desigualdade urbano-regional.
Vale ressaltar que grandes empresas, geralmente transnacionais, podem
organizar suas atividades através da criação de circuitos espaciais especial-
mente produzidos para dar fluidez aos seus produtos. Mas nesse processo
12
Produção, Circulação e Consumo: uma Visão Territorial Integrada Aula 1
de construção de sistemas de engenharias (portos, aeroportos, estradas, e
muitos outros) mais adequados para garantir competitividade, o papel do
Estado tem sido historicamente fundamental. O estado tem se caracterizado
fundamentalmente como grande agente regulador e como construtor de
obras de infra-estrutura territorial ou geográfica às vezes em parceria com
o setor privado da economia.
Nas três últimas décadas se defenda claramente a necessidade de priva-
tização de infra-estruturas como forma de garantir a fluidez territorial ou a
circulação necessária à disputa por mercados. No caso brasileiro, a privati-
zação de ferrovias e de rodovias são exemplos da vitória desse pensamento
neoliberal. A eliminação do chamado “Custo Brasil”, que está associado
ao déficit e à ineficiência da infra-estrutura geográfica, é um dos principais
argumentos para a privatização do setor de transporte, inclusive de alguns
terminais portuários. No entanto, com as sucessivas crises financeiras inter-
nacionais profundas dos últimos anos se verifica um novo questionamento a
respeito do real papel do Estado na economia e na construção da armadura
territorial que dá viabilidade à circulação geográfica.
O CONSUMO
O consumo não é algo estático, ele muda conforme o tempo e con-
forme o espaço geográfico onde se vive, embora haja uma tendência
à imposição das formas distorcidas de consumo, o consumismo. Num
primeiro momento do capitalismo industrial, registrava-se a autonomia da
produção, ou seja, a indústria usava o recurso da publicidade para “criar
a necessidade” daquele bem ou produto na sociedade. Hoje a situação se
inverteu e muitas mercadorias se sustentam numa propaganda insistente
e às vezes enganosa. Muitas vezes há mais uma preocupação em produzir
um perfil de consumidor do que reforçar a utilidade do produto em si, e
isso se coaduna com a valorização social da marca do produto e do poder
de distinção que sua posse e uso representam para os indivíduos e para
parcelas consideráveis da sociedade. Por isso existem tantos chocolates
diferenciados, com formatos, sabores e embalagens distintas, com muita
publicidade embutida, “fabricando” um gosto pelo produto. A idéia de
um produto “novo” hoje passa pela fabricação de um tipo específico de
consumidor pela mídia. Nesse sentido, não é difícil entender o poder do
império da informação e da publicidade e o despotismo do consumo na
contemporaneidade (Figura 6).
13
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
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Produção, Circulação e Consumo: uma Visão Territorial Integrada Aula 1
Cabe agora resgatar a visão ácida de Milton Santos sobre essa questão
do consumo que não está isenta de polêmica, de um debate com idéias
diferenciadas e até mesmo antagônicas: “O consumo é o grande emoliente,
produtor ou encorajador de imobilismos. Ele é, também, um veículo de
narcisismo, por meio dos seus estímulos estéticos, morais, sociais; e apa-
rece como o grande fundamentalismo do nosso tempo, porque alcança e
envolve toda a gente. Por isso, o entendimento do que é o mundo passa
pelo consumo e pela competitividade, ambos fundados no mesmo sistema
ideológico.” (SANTOS, 2001:49).
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Geografia da Produção, Circulação e Consumo
CONCLUSÃO
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Produção, Circulação e Consumo: uma Visão Territorial Integrada Aula 1
RESUMO
A geografia da produção, da circulação e do consumo preocupa-se
basicamente com as modificações que a atividade econômica produz no
espaço, seja na cidade seja no campo. Esses três momentos econômicos
causam repercussões territoriais às vezes sensíveis, cuja interpretação hoje
necessita de aportes de várias áreas do conhecimento para a obtenção de
uma visão integrada que realmente considere os principais elementos da
questão. O domínio atual do meio geográfico carregado de tecnologia,
ciência e de informação supõe a idéia de fluxos, de rede, de inovação e de
infra-estrutura geográfica adequada para alcançar um desenvolvimento
territorial equilibrado e coeso. Por isso elementos culturais, econômicos,
políticos, sociais e naturais são fundamentais na conformação da visão ter-
ritorial dos circuitos produtivos.
Vivemos hoje num mundo da informação, da velocidade, da ciência e da
tecnologia em suas mais variadas nuances. O circuito clássico da produção,
circulação e consumo assume hoje uma complexidade nunca vista na
história do homem e por isso não é fácil a devida compreensão das muitas
dimensões que assume o espaço humano nesse século XXI. A necessidade
de uma geografia que considere a diversidade e a cidadania, que respeite os
princípios democráticos e combata as desigualdades sociais e territoriais é
urgente e vital, e se constitui num verdadeiro desafio intelectual baseado
num conjunto de princípios norteadores das nossas ações e práticas sociais.
ATIVIDADES
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Geografia da Produção, Circulação e Consumo
AUTO AVALIAÇÃO
Após estudar o conteúdo da aula será que consigo entender a economia
de uma cidade através da integração dos elementos econômicos clássicos
da produção, da circulação e do consumo? É possível fazer uma leitura
geográfica mais completa de um determinado lugar através da idéia de
integração entre os elementos da cadeia produtiva? Os dois circuitos da
economia urbana (o circuito inferior e o circuito superior) realmente pos-
suem formas de integração territorial?
PRÓXIMA AULA
REFERÊNCIAS
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Aula 2
OS ENFOQUES DA GEOGRAFIA
DA PRODUÇÃO, DO CONSUMO E
DA CIRCULAÇÃO
META
Entender os três enfoques da geografia da produção, do consumo e da circulação.
OBJETIVOS
Entender as principais características dos enfoques históricos da geografia da produção, do
consumo e da circulação
PRÉ-REQUISITOS
Aula anterior e aulas das Disciplinas anteriores da área de Geografia Humana e Econômica.
INTRODUÇÃO
Grosso modo, a História do Pensamento Geográfico pode ser dividida
em três momentos históricos que correspondem basicamente a três maneiras
de entender e praticar a ciência geográfica: 1. Geografia como ciência de inte-
ração entre o meio físico e as atividades humanas; 2. Geografia como ciência
da localização e distribuição dos fenômenos sobre o espaço; 3. Geografia
como ciência da construção e da organização e da desorganização social e
política do espaço. A interação entre o espaço e o sistema econômico, seja
na produção, na circulação ou no consumo, também passou por três grandes
fases em seu desenvolvimento histórico, apresentando fundamentalmente
três paradigmas ou projetos científicos: 1. O projeto ambiental atento a
influência que o meio exerce na produção; 2. O projeto locacional em sua
busca pelas leis científicas que regem a organização do espaço geográfico;
3. O projeto estrutural que analisa as estratégias espaciais do capitalismo
no processo de globalização e seus matizes relacionados às peculiaridades
políticas, sociais e culturais da escala local. A divisão do texto para a pre-
sente aula respeita essa ordem de idéias, seja pelo seu caráter didático da
sua estrutura, seja por certa ordem cronológica que apresenta.
O objetivo da presente aula é discutir os principais aspectos dessas
três vertentes na perspectiva de contextualizar as idéias apresentadas e
entender as mudanças históricas da geografia da produção, da circulação
e do consumo.
Vale destacar que o presente texto foi redigido considerando a obra do
geógrafo espanhol José Luís SANCHEZ HERNÁNDEZ (2003), da Uni-
versidade de Salamanca, adaptada à realidade da geografia brasileira como
um todo e dos estudos sergipanos em particular. Utilizou-se aqui o recurso
de comentários da obra, da tradução livre e do uso de referências brasileiras
para contextualizar mais adequadamente as formas de pensamento, além da
utilização de figuras para ilustrar e sintetizar as principais idéias discutidas.
O PROJETO AMBIENTAL
DA GEOGRAFIA DA PRODUÇÃO, DO CONSUMO
E DA CIRCULAÇÃO
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Os Enfoques da Geografia da Produção, do Consumo e da Circulação Aula 2
George Chisholm, publicado originalmente em 1889, com muitas reedições
até a década de 1960, que representa bem a obsessão pela exatidão estatística
e enciclopédica e que inicia o longo caminho de uma geografia preocupada
com as cifras da produção, e para tanto se utiliza de um abundante e prolixo
aparato de dados estatísticos e descritivos.
Na verdade, nesse momento se constata o predomínio de uma visão
fortemente física, que concebe a produção como o resultado da ação
humana que busca na natureza os meios necessários para a satisfação de
suas necessidades. O foco da análise geográfica está centrado na produção
e muito pouco na circulação e menos ainda no consumo. Mas o interesse
não é para todo tipo de produção, e sim para aquela orientada para a
obtenção de bens materiais, ou seja, para o que os economistas clássicos
denominaram de fator Terra, com prioridade para as atividades agrárias e
extrativas. Ademais, atribui-se à natureza um excessivo poder explicativo
sobre as causas da riqueza das nações, registra-se um excessivo interesse
no ranking da produção regional e um desinteresse pela construção de um
edifício teórico sólido, por isso esse momento histórico foi muito criticado
pelos próprios geógrafos e visto com desconfiança e descrédito por parte
de outros cientistas sociais.
Esse momento da geografia da produção econômica apresenta três
enfoques com características bem definidas: preocupação com as ativi-
dades produtivas, foco nos produtos e ênfase nas regiões e nas paisagens
econômicas. A figura 1 ilustra graficamente os principais elementos desse
momento ambientalista da geografia da produção econômica.
Recursos naturais
c . Primazia da natureza
. Enfoque setorial
Produção
c
Regiões e
c
Paisagens econômicas
. Enfoque regional
. Descritivo
Agricultura Mineração Indústria
. Fragmentação setorial
. Sem substrato teórico
Transporte
comunicação
. Preocupação com as cifras
econômicas
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Geografia da Produção, Circulação e Consumo
PROJETO LOCACIONAL
DA GEOGRAFIA DA PRODUÇÃO, DO CONSUMO E
DA CIRCULAÇÃO
22
Os Enfoques da Geografia da Produção, do Consumo e da Circulação Aula 2
mento ganham relevância permitindo o trabalho de geógrafos nas esferas
do planejamento e do ordenamento territorial rural, urbano e regional.
d) As argumentações se enriquecem com a incorporação de formulações
positivistas baseadas em métodos quantitativos;
e) As leis espaciais, bases para os estudos empíricos, devem buscam as
regularidades das atividades econômicas;
f) As metodologias indutivas não devem impedir a aplicação crescente de
metodologias hipotético-dedutivas, baseadas na aplicação de modelos geo-
métricos ou matemáticos, ou seja, de representações estruturadas, precisas
e simplificadas de situações reais mais complexas;
g) O edifício teórico se fundamenta na teoria dos sistemas como guia para
o delineamento de problemas, para a construção de modelos, comprovação
empírica e formulação de explicações;
h) Verifica-se um predomínio da idéia de espaço isotrópico, ou seja, uma
superfície plana perfeita, homogênea e indiferenciada, ou seja, inexistente
no mundo real;
i) As teorias de localização baseiam-se na idéia do Homo economicus que
se comporta segundo os princípios da racionalidade econômica, um perfeito
tomador de decisões que tampouco existe no mundo real.
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Geografia da Produção, Circulação e Consumo
PROJETO ESTRUTURAL
DA GEOGRAFIA DA PRODUÇÃO, DO CONSUMO E
DA CIRCULAÇÃO
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Os Enfoques da Geografia da Produção, do Consumo e da Circulação Aula 2
trabalho, além do papel do estado como regulador e principal responsável
pela construção de infra-estrutura territorial. Reforça-se a idéia segundo a
qual a produção e a regulação carecem de sentido à margem da circulação
e, principalmente, do consumo, objetivo último da atividade econômica.
Novas questões geográficas surgem: o estudo do fluxo de capital financeiro,
a questão das telecomunicações, do ciberespaço e do consumo, que per-
manece ainda pouco estudado, algo paradoxal já que a finalidade da atividade
econômica é a satisfação das necessidades humanas, reais e ou fictícias.
25
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
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Os Enfoques da Geografia da Produção, do Consumo e da Circulação Aula 2
Projeto Economia Espaço Estado
Ambiental I Produção Natureza; espaço dos recursos Indiferente
Ambiental II Pressão sobre os recursos Natureza ameaçada Comprometido
Locacional Localização e Indiferenciado: superfície dos Agente externo
desenvolvimento custos
Estrutural (Des) Organização Território social: rede de Agente
relações. Desigualdades sociais estratégico
e territoriais fundamental
Quadro 2. Síntese das abordagens da Geografia da produção, do consumo e da circulação.
(Fonte: SÁNCHEZ HERNANDEZ, 2003) (Modificado)
Organização: José Wellington Carvalho Vilar.
CONCLUSÃO
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Geografia da Produção, Circulação e Consumo
RESUMO
A interação entre o espaço e o sistema econômico, seja na produção,
na circulação ou no consumo, passou por três grandes fases em seu desen-
volvimento histórico, apresentando fundamentalmente três paradigmas ou
projetos científicos na geografia: 1. O projeto ambiental atento a influência
que o meio exerce na produção; 2. O projeto locacional em sua busca pelas
leis científicas que regem a organização do espaço geográfico; 3. O projeto
estrutural que analisa as estratégias espaciais do capitalismo no processo de
globalização e seus matizes relacionados às peculiaridades políticas, sociais
e culturais da escala local.
O projeto ambiental apresenta uma visão fortemente física e três
enfoques com características bem definidas: preocupação com as ativi-
dades produtivas, foco nos produtos, e ênfase nas regiões e nas paisagens
econômicas. Por sua vez, o projeto locacional está centrado na localização
geográfica das unidades de produção e no desenvolvimento regional. Por
último, o projeto estrutural pode ser definido como o estudo da lógica es-
pacial do capitalismo. Este projeto pretende discutir as formas através das
quais este sistema de organização política da atividade econômica utiliza o
espaço geográfico para alcançar seu objetivo de acumulação, que implica
num processo de distintas modalidades de resposta e adaptação territo-
rial aos desafios que coloca a indissociável articulação entre localização e
acumulação de capital.
A discussão sobre os paradigmas existentes na História do Pensamento
Geográfico como um todo e nas disciplinas econômicas em particular tem
a vantagem de apresentar a trajetória temática e discutir as abordagens
utilizadas pela comunidade de geógrafos desde a sistematização inicial
no século XIX até o momento atual. Essa trajetória indica uma riqueza
de temas e de abordagens que são reflexos do momento histórico e das
escolhas da comunidade geográfica. A visão geográfica aberta pela análise
da produção, da circulação e do consumo deve conceber o espaço como
uma categoria em mutação, como algo heterogêneo, desigual e funcional,
em permanente construção, fruto da história e articulado, hoje, pelas redes
de fluxos materiais e imateriais.
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Os Enfoques da Geografia da Produção, do Consumo e da Circulação Aula 2
ATIVIDADES
Ao final da aula, o aluno deve escrever um texto de no mínimo dez e de
no máximo vinte linhas sobre um das três figuras apresentadas, comentando
as principais idéias de uma das correntes estudadas.
AUTO AVALIAÇÃO
Após estudar o conteúdo da aula será que consigo entender as carac-
terísticas principais dos três enfoques básicos da geografia da produção, da
circulação e do consumo? Na sua avaliação, qual a corrente mais representa-
tiva? Justifique com argumentos precisos. É possível pensar em tendências
da geografia do ciclo do capital?
PRÓXIMA AULA
Fases da configuração territorial dos sistemas industriais
REFERÊNCIAS
ANDRADE, M. C. Geografia econômica. 12 ed. São Paulo: Atlas, 1998.
BENKO, G. Economia, espaço e globalização na aurora do século
XXI. São Paulo: HUCITEC, 1996.
SÁNCHEZ HERNANDEZ, J. L. Naturaleza, localización y sociedad.
Salamanca: Ediciones de la Universidad de Salamanca, 2003.
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Aula 3
OBJETIVOS
Entender a configuração territorial da indústria desde a etapa manufatureira até a terceira
Revolução Industrial
PRÉ-REQUISITOS
Aulas anteriores e Disciplinas anteriores da área de Geografia Humana e Econômica.
INTRODUÇÃO
O objetivo da presente aula é entender a configuração territorial dos
sistemas industriais numa perspectiva histórica. Nesse sentido, o texto está
dividido em quatro momentos básicos fluindo desde a fase manufatureira
até as fases que correspondem ao que se convencionou denominar de
Revolução Industrial. Na primeira etapa, são tecidas considerações sobre a
manufatura, destacando a configuração geográfica produzida por esse mo-
mento de transição e de domínio do capital comercial. A partir da utilização
de diferentes fontes energéticas, a Revolução Industrial foi compartimentada
em três momentos que são didáticos o suficiente para entender o conjunto
das transformações geográficas ocorridas praticamente nos últimos duzen-
tos e cinqüenta anos. Essa divisão do tempo histórico é majoritariamente
tripartite e mais conhecida como primeira, segunda e terceira Revolução
Industrial. Considerando esse três momentos, o fio condutor da análise está
centrado nos seguintes a aspectos: recursos produtivos, regime de acumula-
ção, modo de regulação e, principalmente, na organização espacial da indús-
tria, conforme esquema desenvolvido pelos geógrafos espanhóis Ricardo
MÉNDEZ e Inmaculada CARACAVA (1996). Essa escolha intencional
permitiu um entendimento mais completo do processo de configuração
territorial da indústria em suas várias facetas ao longo do tempo histórico.
O PERÍODO PRÉ-INDUSTRIAL OU
MANUFATUREIRO
32
Fases da Configuração Territorial dos Sistemas Industriais Aula 3
No período pré-industrial, o regime de acumulação se destacava pela
presença de empresas de pequeno porte e de natureza familiar com escassa
divisão técnica e territorial do trabalho. Por último, cabe destacar que os
transportes eram lentos e ineficientes e o comércio a longa distância se
limitava praticamente aos meios aquáticos, como oceanos, mares e rios
(Figura 1).
33
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
34
Fases da Configuração Territorial dos Sistemas Industriais Aula 3
35
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
36
Fases da Configuração Territorial dos Sistemas Industriais Aula 3
37
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
38
Fases da Configuração Territorial dos Sistemas Industriais Aula 3
Informação, tecnologia, conhecimento, inovação, flexibilidade, com-
petitividade, neoliberalismo e globalização são algumas palavras chaves
para entender esse novo momento da história humana. Na verdade, a ter-
ceira Revolução Industrial supõe mudanças do capitalismo monopolista,
dominante na fase anterior, para o capitalismo global, também chamado de
transnacional e de informacional pelos variados especialistas, principalmente
advindos das ciências sociais puras ou aplicadas.
Todo esse conjunto de modificações nas estruturas produtivas e no
comportamento da indústria teve também um claro reflexo espacial ou
geográfico. Além dos Estados Unidos, o Japão e a União Europeia estão na
vanguarda da Terceira Revolução Industrial que também chega nos países
emergentes, como o Brasil e a Coreia do Sul, aumentando assim a atual
complexidade territorial do planeta. Uma nova geografia, agora comandada
pelos fluxos de capitais, de pessoas e de informações, é desenhada, e são
reforçados ou criados blocos econômicos que disputam a hegemonia do
planeta nesse momento de globalização (Figura 7).
Figura 7. A globalização
(Fonte: www.ficandoonline.com)
39
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
CONCLUSÃO
Registram-se fases ou momentos diferenciados na construção da
configuração territorial da indústria que acompanharam as inovações e
as necessidades do capitalismo, um sistema que vive das mudanças e das
crises que ele próprio gera. Se no período pré-industrial havia um domínio
do meio natural, hoje o meio técnico-científico e informacional aumenta
a densidade construída de forma desigual pelo homem. A certeza quanto
aos desdobramentos produzidos a partir do desenvolvimento científico
e tecnológico da indústria atual é generalizada. Não há dúvidas sobre a
ocorrência de desdobramentos em suas mais várias dimensões, entretanto
é muito difícil fazer prognósticos sobre qual o futuro da estruturação, do
funcionamento e da articulação dos territórios. Alguns estudiosos chegam a
propor a idéia de uma quarta Revolução Industrial, em curso na atualidade,
que estaria marcada, entre outras coisas, pelas tentativas de controle do
tempo e supressão da força do espaço. Um mundo dos fluxos e em rede
parece se impor, mas dificilmente irá anular as forças territoriais fixas do
espaço geográfico e o poder do lugar, mais próximo e em contato direto
com o homem.
RESUMO
40
Fases da Configuração Territorial dos Sistemas Industriais Aula 3
O meio geográfico não é estático, muito pelo contrário, é dinâmico e
assume formas diferenciadas com a ação da indústria ao longo do tempo.
Se hoje são os fluxos que prioritariamente organizam os sistemas industrias
e também os espaços da riqueza e do poder, ainda persiste o espaço dos
lugares onde se desenvolve a vida das pessoas e onde atuam os agentes
locais. A dinâmica territorial da indústria que pode ser inclusive observada
em variadas escalas (local, regional, nacional e internacional) é o reflexo das
mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais que também são influ-
enciadas pelo poder do espaço. O espaço dos sistemas industrias influencia
e é influenciado pelos demais elementos da sociedade.
ATIVIDADES
AUTO AVALIAÇÃO
Após estudar o conteúdo da aula será que consigo entende as principais
características das fases do processo de configuração territorial da indús-
tria? Como posso entender a relação entre indústria e espaço geográfico?
Que novas formas de (des)orgasnização do espaco a terceira Revolução
Industrial trouxe consigo?
41
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
PRÓXIMA AULA
REFERÊNCIAS
ARRUDA, J. J. de A. A revolução industrial. São Paulo: Ática, 1988.
CASTELLS, M. A era da informação. Volume 1. Sociedade em rede.
10 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
MANTOUX, P. A revolução industrial no século XVIII. São Paulo:
HUCITEC/Editora da UNESP, 1985.
MÉNDEZ, R.; CARAVACA, I. Organización industrial y territorio.
Madrid: Editorial Síntesis, 1996.
SANTOS, M. A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção.
São Paulo: HUCITEC, 1996.
42
Aula 4
OBJETIVOS
Entender o papel atual da inovação tecnológica na formação de novos espaços industriais.
PRÉ-REQUISITOS
Aulas anteriores e aulas das Disciplinas anteriores da área de Geografia Humana e
Econômica.
INTRODUÇÃO
Parece haver um consenso entre os estudiosos a respeito da inovação
como um processo que tem acelerado as mudanças tecnológicas e possibil-
itado o surgimento de novos processos e de novos produtos industriais e a
reestruturação do sistema produtivo. Tais mudanças não mais correspondem
à inovação adaptativa ou acumulativa e sim a uma verdadeira transformação
nas bases produtivas e em muitos componentes da realidade sócio-espacial,
afetando assim desde a maneira ou o modo de produzir, até a forma de
viver e a própria configuração da geografia econômica mundial.
A presente aula tem como objetivo principal entender o papel atual
da inovação tecnológica na formação de novos espaços industriais. Para
alcançar tal objetivo, o texto está dividido em três momentos: uma discussão
teórica sobre os componentes do sistema tecnológico na terceira Revolução
Industrial, uma análise dos impactos da inovação tecnológica nas empresas
e, por último, uma apreciação sobre os efeitos espaciais desse processo de
inovação, com uma preocupação central nos espaços geográficos formados
a partir das novas tecnologias produzidas na era da informação.
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Inovação Tecnológica e Novos Espaços Industriais Aula 4
c) A lógica da interconexão do sistema capitalista atual em rede;
d) A tecnologia da informação está baseada na flexibilidade;
e) A convergência crescente de tecnologias específicas num sistema alta-
mente integrado, dentro do qual as antigas trajetórias isoladas se tornam
praticamente indistinguíveis;
f) A convergência tecnológica se estende cada vez mais em direção a uma
interdependência crescente nas áreas da Biologia e Microeletrônica.
45
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
46
Inovação Tecnológica e Novos Espaços Industriais Aula 4
OS IMPACTOS DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
NAS EMPRESAS
47
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
48
Inovação Tecnológica e Novos Espaços Industriais Aula 4
a) Mudanças nas relações espaço-tempo e densificação das redes de fluxo.
Hoje se alteram as coordenadas do espaço-tempo onde se desenvolvem as
atividades industriais ao “contrair-se” a distância medida em tempo-custo
e são aumentadas as possibilidades de operar de forma sincrônica e orde-
nada a partir de vários lugares no mundo, o que propicia uma mudança de
escala nas relações que as empresas mantêm com seus provedores e clientes.
Origina-se assim uma densificação dos fluxos materiais e imateriais e um
aumento da dimensão das redes. Carregado de fixos e fluxos, O espaço
geográfico assume assim uma centralidade na vida social e econômica.
b) Nova hierarquia de fatores de localização. Valorizam-se os aspectos as-
sociados à qualidade do espaço produtivo. Sobre esse item outros elementos
serão discutidos na aula número cinco focada nos problemas da localização
industrial.
c) Redistribuição espacial da indústria e geração de novas desigualdades.
Embora tenha se registrado a migração de setores menos exigentes em
termos de inovação tecnológica para os países periféricos, o que se tem
observado é uma espécie de desnível tecnológico que se reflete em termos
sociais e territoriais. Mas os efeitos espaciais da inovação tecnológica tam-
bém se fazem sentir em setores industriais tradicionais principalmente em
países que passaram pela primeira e pela Segunda Revolução Industrial de
maneira mais impactante e pioneira, como é o caso da Inglaterra, da França
e dos Estados Unidos.
d) O surgimento de meios inovadores, ou seja, espaços com capacidade
para gerar ou difundir inovações, está associado a uma eficiente integração
entre os componentes do sistema regional e local na perspectiva de alcançar
mercados internacionais.
49
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
50
Inovação Tecnológica e Novos Espaços Industriais Aula 4
c) Economias externas de aglomeração metropolitana. Na acumulação
de capitais fixos (portos, aeroportos, autopistas, redes telemáticas, etc.) e
na presença de capital intangível (trabalhadores qualificados, amenidades
urbanas, inter-relações pessoais, etc.) em áreas suburbanas de metrópoles
como San Francisco, San Diego, Filadélfia ou Denver nos Estados Unidos,
junto com os nós de interconexões das redes de fluxo que mobilizam a
nova economia mundial, estão as razões da concentração geográfica de
polos de alta tecnologia.
d) Qualidade do entorno ambiental. Hoje, mais do que nunca, há a neces-
sidade de forças econômicas territoriais, ambientais e sociais em sinergia
para que a inovação tecnológica de ponta possa se desenvolver.
e) Proximidade de instalações militares. Esse fator locacional é mais típico
da economia norte americano em sua demanda para fins militares de ar-
mas de alta tecnologia. Os investimentos do poder público americano e
suas conexões com as empresas privadas do país favorecem a localização
industrial nas proximidades de grandes centros militares.
51
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
52
Inovação Tecnológica e Novos Espaços Industriais Aula 4
CONCLUSÃO
Nos últimos duzentos e cinqüenta anos aproximadamente, todas as
revoluções tecnológicas estão associadas ao desenvolvimento rápido de
uma série de atividades industriais que produzem e consomem de maneira
intensa as novas tecnologias que identificam formas novas de crescimento
econômico. Tal situação se repete no momento atual, mas com bases
centradas na tecnologia da informação e em inovações constantes, com
atividades intensivas em conhecimento, valorização do emprego qualificado,
forte terciarização e com oferta e demanda em escala mundial.
Inovação tecnológica e novos espaços industriais produzidos hoje não
estão isentas de polêmicas e de posturas antagônicas. Por um lado, estão os
que identificam claramente essas forças motrizes da nova onda tecnológica,
promovendo então a atração de indústrias de ponta que funcionariam como
indutoras tecnológicas do desenvolvimento regional. Por outro, estão os
que vêem dificuldades nessa atração de indústrias inovadoras para espaços
periféricos e deprimidos, uma vez que a terceira Revolução Industrial é
seletiva em sua localização. Questionam-se também as possibilidades reais
de difusão de inovação em espaços múltiplos.
Por último, vale ressaltar que o território hoje não é um elemento neutro
no processo de inovação tecnológica e na criação de novos espaços indus-
triais, muito pelo contrário, a indústria de alta tecnologia exige um território
de alta qualidade, com eficácia relacional e com um bom funcionamento
da infra-estrutura material. Nos novos espaços industriais os fluxos e as
redes não supõem a morte dos fixos construídos sobre espaço, uma vez que
o desenvolvimento industrial hoje é um desenvolvimento dependente de
recursos territorialmente específicos, por isso se fala de desenvolvimento
territorial como novo paradigma da teoria regional.
RESUMO
53
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
54
Inovação Tecnológica e Novos Espaços Industriais Aula 4
ATIVIDADES
Pesquise em dois livros didáticos de Geografia do Ensino Médio a
forma de abordagem do tema aqui estudado: inovação tecnológica e novos
espaços industriais. Verifique a ênfase dada nos livros didáticos pesquisados
à nova configuração territorial produzida pela inovação tecnológica e os
efeitos sociais resultantes dessa mudança rápida. A atividade deve ser feita
em um quadro com duas colunas; na primeira coluna se identificam os im-
pactos territoriais da inovação tecnológica e na segunda, seus respectivos
impactos sociais.
AUTO AVALIAÇÃO
A partir do estudo da presente é aula é possível entender os impac-
tos territoriais e sociais da inovação tecnológica atual? De que forma se
manifestam esses impactos? Como posso compreender a importância do
território para a produção de inovações tecnológicas na terceira Revolução
Industrial? Os novos espaços industriais são responsáveis pela concentração
ou pela dispersão espacial?
PRÓXIMA AULA
55
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
REFERÊNCIAS
ANDRADE, M. C. de. Geografia econômica. 12 ed. São Paulo: Atlas,
1998.
BENKO, G., Economia, espaço e globalização na aurora do século
XXI. São Paulo: HUCITEC, 1996.
BENKO, G.; LIPIETZ, A. (Orgs.), As regiões ganhadoras. Distritos e
redes. Os novos paradigmas da geografia econômica. Oeiras: Celta,
1994.
CASTELLS, M., A era da informação. Volume 1. Sociedade em rede.
10 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
FERREIRA, G., Atlas geográfico: espaço mundial. São Paulo, 2003.
MÉNDEZ, R.; CARAVACA, I. Organização industrial y territorio.
Madrid. Editorial Síntesis, 1996.
MÉNDEZ, R., Geografía económica. La lógica espacial del capital-
ismo global. Barcelona. Ariel, 1997.
PRECEDO LEDO, A.; VILLARINO PÉREZ. M. La localización in-
dustrial. Madrid: Editorial Síntesis, 1992.
SANTOS, M., Técnica, espaço e tempo. Globalização e meio técnico-
científico informacional. 2 ed. São Paulo: HUCITEC, 1994.
VELTZ, P., Mundialización, ciudades y territorios. La economía de
archipiélago. Barcelona: Ariel, 1999.
56
Aula 5
PROBLEMAS DE LOCALIZAÇÃO
INDUSTRIAL
META
Entender os fatores de localização da indústria ao longo do tempo.
OBJETIVOS
Entender a evolução dos fatores de localização da indústria
PRÉ-REQUISITOS
Aulas anteriores e aulas das Disciplinas anteriores da área de Geografia Humana e
Econômica.
INTRODUÇÃO
A localização industrial pode ser entendida a partir de três momentos
básicos que correspondem, grosso modo, aos três paradigmas da ciência
geográfica. No âmbito da Geografia industrial, esses momentos podem ser
sintetizados em três abordagens que na verdade são os três fios condutores
da nossa aula: os fatores clássicos, a teoria da localização industrial e os
sistemas industriais, e as tendências recentes associadas à alta tecnologia e
à desconcentração espacial.
Ao abordar a temática da localização industrial, a geografia tradicional
centrou seus esforços no estudo dos fatores físicas e históricos que geravam
pautas de localizações dispersas num primeiro momento, e posteriormente,
concentradas. Por sua vez, a geografia quantitativa resgata as idéias da
economia espacial clássica e utiliza amplamente os princípios neoclássicos
da economia e as teorias de localização. A preocupação com uma análise
geográfica do sistema industrial também é abordado no segundo momento
do desenvolvimento da aula na tentativa de estabelecer uma visão territo-
rial integrada. Mais recentemente, a geografia industrial é trabalhada numa
perspectiva crítica, associada às inovações tecnológicas e à configuração de
novos espaços industriais.
A presente aula está assim dividida em quatro blocos: a geografia industrial
clássica, os problemas da geografia industrial quantitativa, o sistema de localiza-
ção industrial e a geografia da indústria hoje. Vale ressaltar que esse último bloco
já foi estudado na aula quatro e por isso será aqui abordado de maneira sintética.
58
Problemas de Localização Industrial Aula 5
A GEOGRAFIA INDUSTRIAL QUANTITATIVA
Como foi estudado nas duas primeiras aulas do nosso curso, na esteira
das mudanças substanciais que se processaram nos países industrializados
depois da Segunda Guerra Mundial se verifica no âmbito da ciência geográ-
fica um momento de busca das leis e de regularidades observáveis no espaço.
Essa nova orientação da análise geográfica aplicada à indústria está voltada
para a classificação dos fatores de localização e para o aperfeiçoamento dos
instrumentos de medida utilizados pelos geógrafos. Esse novo momento
pode ser resumido nos seguintes pontos:
59
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
60
Problemas de Localização Industrial Aula 5
Cientistas de outras áreas também contribuíram com essa preocupa-
ção com a evolução espacial da atividade industrial, embora o foco das
análises fosse o estágio do que na época se denominava de desenvolvimento
econômico. É esse o caso do modelo proposto pelo economista John Fried-
man. De indubitável valor pedagógico, o modelo evolutivo de Friedman
(Figura 2) indica a existência de quatro momentos do crescimento industrial.
Na primeira fase, a indústria artesanal estaria localizada em centros locais
independentes, com escassa interconexão, mantendo uma estrutura espacial
estável. Na segunda fase se produz uma mudança e as indústrias passam a
se instalar nas áreas de maiores vantagens locacionais, dando lugar a uma
estrutura espacial do tipo centro-periferia com o crescimento industrial
concentrado num único centro. Na terceira etapa, que corresponderia a
uma espécie de momento de transição, iniciasse a descentralização (efeito
spread) industrial para as periferias do sistema territorial e formam-se novos
centros regionais. Por último, na quarta etapa, a descentralização industrial
é contínua integrando os sistemas regionais e verifica-se a revitalização de
centros obsoletos.
61
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
62
Problemas de Localização Industrial Aula 5
Vale ressaltar que uma das noções mais frutíferas no campo da geografia
industrial corresponde aos famosos complexos industriais de Chardonnet.
Para esse geógrafo francês, nem toda concentração industrial se constitui
num complexo. Para ser assim considerado, são necessários quatro com-
ponentes:
63
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
64
Problemas de Localização Industrial Aula 5
GEOGRAFIA DA INDÚSTRIA HOJE
65
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
CONCLUSÃO
A geografia industrial é um ramo derivado da geografia econômica e
da geografia humana que hoje assume um papel central dentro da ciência
geográfica. Vale ressaltar a herança dos pioneiros e os desdobramentos
do estudo da localização industrial em sua busca pelos princípios de or-
ganização do espaço, pelo estudo das pautas e dos fatores de localização,
pelo estabelecimento de associações espaciais, pela preocupação com o
dinamismo geográfico da indústria, pela tipologia do espaço industrial
e mais recentemente pelos impactos territoriais e ambientais desse setor
econômico. Embora hoje a geografia industrial tenha ampliado suas perspec-
tivas, os estudos sobre a problemática da localização permanecem atuais na
sua perspectiva de aplicação prática pelas empresas e pelo Estado em seu
desafio de elaborar políticas públicas de ordenamento ambiental e territorial.
Tradicionalmente, a regra básica da localização da atividade industrial
está associada à maior rentabilidade capitalista. Mas os fatores de localiza-
ção variaram muito desde a etapa inicial da industrialização e hoje se fala
muito de localização concentrada, a exemplo dos complexos industriais e
dos tecnopólos.
Como foram vistas anteriormente, as causas que induzem as mudan-
ças da localização industrial são múltiplas e variaram ao longo da História
do Pensamento Geográfico. De uma abordagem naturalista e historicista
partiu-se para uma visão idealizada do espaço industrial com uso de mod-
elos, de teorias de localização e da idéia de sistema industrial. Mas hoje é a
inovação tecnológica a principal responsável pela criação de novos fatores
de localização industrial o que possibilitou a geração de novas formas de
localização e de distribuição da indústria, tanto na escala nacional como
internacional.
A localização industrial deve ser concebida como um fenômeno
dinâmico que apresenta mobilidade dos fatores de produção ao longo do
tempo e que recebe influência e ajustes dos sistemas territoriais, das orga-
nizações e do próprio sistema industrial. A organização funcional do espaço
industrial ao se manifestar em forma de nós, eixos, complexos industriais e
tecnopólos revela uma riqueza morfológica, e ao mesmo tempo evidencia
uma trama geográfica de assentamentos que hoje, na era dos fluxos e da
informação, assume uma interação viva que coloca o território no centro
do interesse do capital.
66
Problemas de Localização Industrial Aula 5
RESUMO
A localização industrial pode ser entendida a partir de três momentos
básicos que correspondem, grosso modo, aos três paradigmas da ciência
geográfica. No âmbito da Geografia industrial, esses momentos podem ser
sintetizados em três abordagens: os fatores clássicos, a teoria da localização
industrial e os sistemas industriais e, por último, as tendências recentes as-
sociadas à alta tecnologia e à desconcentração espacial.
Ao abordar a temática da localização industrial, a geografia tradicional
centrou seus esforços no estudo dos fatores físicas e históricos que geravam,
num primeiro momento, pautas de localizações dispersas e, posteriormente,
concentradas. Por sua vez, a geografia quantitativa resgata as idéias da
economia espacial clássica e utiliza amplamente os princípios neoclássicos
da economia e as teorias de localização e considera também a noção de
sistema industrial. Esse novo momento pode ser resumido nos seguintes
pontos: a) Construção de modelos e teorias de localização; b) Consideração
dos processos espaciais resultantes da teoria da análise espacial; c) Busca de
localizações ótimas de um ponto de vista econômico e espacial.
A complexidade crescente das análises de localização industrial vai
configurar uma rede de inter-relações e por isso se pode falar num sistema
de localização com fatores diretos ou internos e os indiretos ou externos
também chamados de externalidades econômicas.
Simplificadamente, um sistema industrial compreende os seguintes
elementos: unidades de produção, relações funcionais entre elas e as inte-
rações dessas unidades com o mundo exterior. Os elementos, inter-relações
e interações do sistema de localização industrial constituem um dos fatores
mais decisivos na organização dos assentamentos industriais. Uma das
noções mais frutíferas no campo da geografia industrial corresponde aos
complexos industriais de Chardonnet.
Mais recentemente, a geografia industrial é trabalhada numa perspec-
tiva crítica, associada às inovações tecnológicas e à configuração de novos
espaços industriais, como é o caso dos tecnopólos.
ATIVIDADES
Elaborar um mapa dos principais complexos portuários do Brasil.
Sugere-se o uso da internet para pesquisa dos complexos portuários e de
um mapa base em branco somente com as divisões político administrativas
67
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
AUTO AVALIAÇÃO
É possível identificar os três momentos básicos da abordagem geográ-
fica da indústria? Quais os fatores internos e externos da localização in-
dustrial? Como se manifesta territorialmente os complexos industriais? A
abordagem sistêmica em geografia industrial pode ser considerada uma
visão territorialmente integrada da indústria? Como pensar na geografia
da indústria hoje em termos de parque tecnológicos e de novos espaços
geográficos?
PRÓXIMA AULA
Tipos de indústria.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, M. C. de. Geografia econômica. 12 ed. São Paulo: Atlas,
1998.
BEAUJEU-GARNIER, J. Geografia urbana. 2 ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1997.
BENKO, G., Economia, espaço e globalização na aurora do século
XXI. São Paulo: HUCITEC, 1996.
BENKO, G.; LIPIETZ, A. (Orgs.), As regiões ganhadoras. Distritos e
redes. Os novos paradigmas da geografia econômica. Oeiras: Celta,
1994.
CAMAGNI, R. Economía urbana. Barcelona: Antoni Bosh, 2005.
68
Problemas de Localização Industrial Aula 5
CHARDONNET, J., Geógraphie industriele. Paris: Sirey, 1965.
CHORLEY, R. J.; HAGGETT, P., Modelos sócio-econômicos em geo-
grafia. São Paulo/Rio de Janeiro: EDUSP/LITEC, 1975.
CORREA, R. L. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1989.
JOHNSON. J. H. Geografía urbana. Barcelona: Oikos-tau, 1987.
HAMILTON. F. E. I., Modelos de localização industrial. In: CHORLEY,
R. J.; HAGGETT, P., Modelos sócio-econômicos em Geografia. São
Paulo/Rio de Janeiro: EDUSP/LITEC, 1975.
MANZAGOL, C. Lógica do espaço industrial. São Paulo: DIFEL, 1985.
MÉNDEZ, R., Geografía económica. La lógica espacial del capitalismo
global. Barcelona. Ariel, 1997.
PRECEDO LEDO, A.; VILLARINO PÉREZ. M. La localización in-
dustrial. Madrid: Editorial Síntesis, 1992.
ZÁRATE MARTÍN, A. El espacio interior de la ciudad. Madrid: Edito-
rial Síntesis, 1991.
69
Aula 6
TIPOS DE INDÚSTRIAS
META
Entender a tipologia das indústrias.
OBJETIVOS
Entender os tipos de indústria.
PRÉ-REQUISITOS
Aulas anteriores e aulas das Disciplinas anteriores da área de Geografia Humana e
Econômica.
INTRODUÇÃO
Embora a localização industrial seja pontual e restrita a alguns lugares do
planeta, o papel dessa atividade econômica na sociedade é fundamental uma
vez que se estabelece uma teia de relações entre as escalas geográficas que
vai do local ao global, passando pelo regional e pelo nacional, envolvendo
fornecimento de matéria-prima, circulação de mercadorias, comércio, comu-
nicações, mão-de-obra e muitos outros elementos da geografia econômica.
Tradicionalmente, as atividades econômicas foram divididas em três
grandes grupos ou setores bastante conhecidos: primário, secundário e
terciário. Entretanto, essa classificação se mostrou insuficiente e alguns
pesquisadores propuseram as mais variadas subdivisões para adequá-la às
mudanças históricas e hoje, com a ampliação do terciário, a diversificação
do setor de transformação e a “industrialização do campo”, se verificam
processos de integração e interdependência entre as atividades dos três
setores originais propostos por Fischer em 1935 e popularizados por Clark
em 1940. Tal situação coloca em xeque a velha divisão tripartite da economia
e ao mesmo tempo abre caminho para novas classificações, mais atuais e
adequadas à realidade contemporânea, multidimensional e multifacetada
onde a indústria continua exercendo um papel chave, agora bem mais in-
tegrada aos demais setores.
No caso específico da indústria, a complexidade crescente da atividade,
sua diversificação e sua integração com outros setores da economia indicam
a necessidade de classificações cada vez mais complexas para permitir uma
análise territorial apropriada.
O objetivo da presente aula é unicamente discutir os principais tipos de
indústria existentes atualmente, identificando os critérios de classificação,
discutindo as características centrais de cada tipologia e apresentando ex-
emplos significativos para facilitar a compreensão dos grupos de indústrias
DESENVOLVIMENTO
A classificação das indústrias é algo recorrente na geografia desde o
domínio do paradigma regional num momento em que se ressaltavam as
particularidades da distribuição das atividades econômicas sobre o ter-
ritório. Na geografia quantitativa as propostas de divisões se multiplicaram
em função da incorporação da economia espacial e de toda a gama de
variáveis da perspectiva sistêmica. Como foi visto nas primeiras aulas, hoje
a geografia industrial amplia seu foco de atenção fundamentalmente para
os meios inovadores, para a força da globalização e para desenvolvimento
endógeno local, e com isso uma série de novos elementos classificatórios
entra em cena, ampliando a complexidade tipológica do espaço industrial.
Em qualquer caso, a classificação supõe o uso de critérios objetivos e
72
Tipos de Indústrias Aula 6
claros e convém destacar, por mais óbvio que isso possa parecer, que clas-
sificar significa agrupar o objeto de estudo em classes ou tipos com base em
alguma propriedade comum entre os elementos classificados. Esse agrupa-
mento por similaridade pode ser feito de duas maneiras: a divisão sucessiva,
mais convencional, e a aglutinação que parte do objeto, no nosso caso a
indústria, e se chega ao tipo de classe. A aglutinação emprega o princípio
básico da semelhança entre os indivíduos, maximizando as similaridades
internas e as diferenças intergrupais.
Entre os variados tipos possíveis para as indústrias, seis são aqui con-
sideradas a partir dos seus critérios definidores, a saber: tipo ou finalidade
do bem produzido, conforme o nível tecnológico empregado, pela forma de
produzir, segundo a aplicação dos recursos ou fatores, pelo setor de atuação
e por último, apresenta-se uma classificação de indústrias de alta tecnologia.
É muito comum classificar as indústrias simplesmente em pesadas e
leves. Mas em virtude da influência da economia na geografia humana,
generalizou-se também a classificação em três grandes grupos também
muito conhecidos na literatura acadêmica e muito presente nos livros
didáticos de ensino fundamental e médio que tratam da temática industrial:
73
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
74
Tipos de Indústrias Aula 6
de indústrias tradicionais as fábricas têxteis, moveleiras, indústrias alimentí-
cias e de caçados, as metalúrgicas e as siderúrgicas.
b) Indústrias dinâmicas ou modernas. São aquelas que utilizam recursos
tecnológicos avançados e apresenta níveis de automação maiores do que a
indústria tradicional. Em função da necessidade tecnológica de aumentar a
competitividade e de diminuir os custos sociais tem diminuído seu quadro
de operários ao máximo possível. São exemplos de indústrias modernas
as fábricas de papel e celulose, as indústrias químicas e petroquímicas e as
montadoras de automóveis.
c) Indústria de tecnologia de ponta. Caracterizam-se basicamente pela
produção de recursos tecnológicos altamente sofisticados resultantes da
aplicação das recentes descobertas científicas e dos meios de inovação (Fig-
ura 3). De maneira geral, essas indústrias de ponta comandam a produção
industrial contemporânea. Esse tipo de indústria possui flexibilidade loca-
cional maior do que as indústrias tradicionais e as indústrias dinâmicas. São
exemplos significativos de indústrias de ponta aquelas que trabalham no
setor de informática, as de produtos eletrônicos e aeroespacial e a variada
gama de empresas que operam na área de biotecnologia, um ramo que
incontestavelmente está na vanguarda da produção industrial.
75
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
76
Tipos de Indústrias Aula 6
condição de centros industriais dinâmicos e gerar novos empregos e novas
possibilidades para sua economia e para sua população;
b) Os Tecnopolos em espaços metropolitanos se beneficiam dos efeitos
positivos das economias de aglomeração e dos meios de inovação e da
concentração de Universidades e centros de pesquisa que geralmente os
grandes espaços urbanos apresentam. Esse tipo de tecnopolos está presente
principalmente em países ricos, mas também se encontra nas chamadas
economias em transição, nos países emergentes;
c) Tecnopolos em novos espaços sem tradição industrial.
CONCLUSÃO
Embora a classificação das indústrias seja algo recorrente na ciência
geográfica, essa tarefa não é simples, muito pelo contrário, ela se reveste de
uma enorme complexidade. Em primeiro lugar é preciso estabelecer critérios
e é necessário pensar qual o objetivo da classificação, para que e para quem
ela servirá, e qual o seu real propósito. O velho questionamento de Milton
Santos “medir para pensar ou pensar para medir” deve ser levado em con-
sideração nesse momento de escolha dos critérios e do tipo de classificação.
Mas as opções de escolha são sempre do pesquisador, que seguramente não
são neutras e tampouco estão isentas de interferências externas e da visão
de mundo do geógrafo e do professor de geografia.
A riqueza das classificações das indústrias foi evidenciada ao longo da
presente aula, embora os tipos pesados, intermediários e leves abundem
na literatura e sejam dominantes nas esferas de planejamento territorial e
no ensino de geografia em seus variados níveis.
A classificação das indústrias permite sistematizar e sintetizar os conhe-
cimentos sobre esse setor chave da economia urbana moderna e ao mesmo
tempo pode contribuir para iniciar uma análise crítica do sistema territorial
e dos impactos da produção do espaço urbano-industrial. Mas não se deve
esquecer que sem síntese e organização coerente do conhecimento não há
ciência e tampouco a pesquisa acadêmica pode se desenvolver. Nesse sentido
77
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
RESUMO
A classificação das indústrias é algo recorrente na geografia desde o
domínio do paradigma regional momento em que se ressaltavam as par-
ticularidades da distribuição das atividades econômicas no território. Na
geografia quantitativa as propostas de divisões se multiplicaram em fun-
ção da incorporação da economia espacial e de toda a gama de variáveis
da perspectiva sistêmica. A geografia industrial hoje amplia seu foco de
atenção fundamentalmente para os meios inovadores, para a força da glo-
balização e para desenvolvimento endógeno local, e com isso uma série de
novos elementos classificatórios entra em cena, ampliando a complexidade
tipológica do espaço industrial.
Entre os variados tipos possíveis para as indústrias, seis são aqui con-
sideradas a partir dos seus critérios definidores, a saber: tipo ou finalidade
do bem produzido, conforme o nível tecnológico empregado, pela forma
de produzir, pela aplicação dos recursos ou fatores, pelo setor de atuação e
por último, é se apresenta uma classificação de indústrias de alta tecnologia.
Essas classificações são aqui estudadas em termos de suas características
principais e de exemplos significativos.
É comum classificar as indústrias em pesada e leve, mas em virtude
da influência da economia na Geografia Humana, generalizou-se a classi-
ficação em dois grupos muito conhecidos na literatura acadêmica e muito
presentes nos livros didáticos de ensino básico: a) A indústria de base ou
de bens de produção; b) As indústrias intermediárias ou de bens de capital;
c) As indústrias de bens de consumo.
78
Tipos de Indústrias Aula 6
ATIVIDADES
Localizar no mapa da sua cidade exemplos de indústrias a partir do
critério tipo ou finalidade do bem produzido aqui estudado, ou seja, iden-
tificar indústrias de base ou de bens de produção, indústrias intermediárias
ou de bens de capital e indústrias de bens de consumo.
AUTO AVALIAÇÃO
PRÓXIMA AULA
79
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
REFERÊNCIAS
BENKO, G., Economia, espaço e globalização na aurora do século
XXI. São Paulo: HUCITEC, 1996.
BENKO, G.; LIPIETZ, A. (Orgs.), As regiões ganhadoras. Distritos e
redes. Os novos paradigmas da geografia econômica. Oeiras: Celta,
1994.
MÉNDEZ, R., Geografía económica. La lógica espacial del capital-
ismo global. Barcelona. Ariel, 1997.
PRECEDO LEDO, A.; VILLARINO PÉREZ. M. La localización in-
dustrial. Madrid: Editorial Síntesis, 1992.
ROSALES ORTEGA, R. Geografía económica. In: HIERNAUX, D.;
LINDÓN. A. Tratado de geografía humana. Barcelona/Cidade do
México: ANTHROPOS/Universidad Autónoma Metropolitana, 2006.
ROSS, J. L. S. (Org.) Geografia do Brasil. São Paulo: Editora da Univer-
sidade de São Paulo/EDUSP, 2003.
80
Aula 7
OS IMPACTOS AMBIENTAIS DA
ATIVIDADE INDUSTRIAL
META
Entender os impactos ambientais da atividade industrial.
OBJETIVOS
Entender as causas, as características e os efeitos dos impactos ambientais da atividade
industrial.
PRÉ-REQUISITOS
Aulas anteriores e aulas das Disciplinas anteriores da área de Geografia Humana e
Econômica.
INTRODUÇÃO
Frente a uma época onde era nítida a dicotomia entre paisagens agrárias
e industriais e espaços urbanos e rurais, hoje se pode falar em regiões in-
dustrializadas em declínio e de novos espaços industriais. No primeiro caso,
correspondem às áreas que não acompanharam as mudanças baseadas na
ciência, no desenvolvimento tecnológico e no primado da informação e
que recebeu mais precocemente os efeitos socioambientais da atividade
industrial. No segundo caso, os tecnopolos ou parques tecnológicos são
referências na concentração de atividades de ponta e ao mesmo tempo são
bastante exigentes quanto ao entorno produtivo, à qualificação profissional
e às formas de trabalho. Território, informação, ciência e tecnologia formam
um bloco básico para entender a inovação e os espaços industriais.
De maneira generalizada, a indústria pode ser considerada como um
das principais responsáveis pela degradação ambiental. Essa degradação
está estreitamente relacionada ao processo de concentração territorial das
atividades econômicas como um todo e da localização industrial em par-
ticular e também está associada à concentração demográfica. Em que pese
o processo recente de desconcentração industrial que inclusive alcança a
zona rural, é no espaço da cidade que mais se concentra a indústria e por
essa razão o meio ambiente urbano sente com mais vigor os efeitos ambi-
entais da industrialização.
A presente aula tem como objetivo geral entender os impactos am-
bientais da atividade industrial. Para tanto se optou pela estruturação do
conteúdo em quatro blocos: o contexto histórico do movimento ambien-
talista, as causas, as características e os principais efeitos dos problemas de
degradação ambiental. Vale ressaltar que algumas mudanças na configu-
ração territorial e paisagística também serão abordadas na perspectiva de
enriquecer a discussão da questão ambiental urbana e industrial.
A TRAJETÓRIA DO MOVIMENTO
AMBIENTALISTA
82
Os Impactos Ambientais da Atividade Industrial Aula 7
geral e de forma didática, pode-se dividir a degradação ambiental causada
pela indústria em três grandes momentos históricos, cada um com suas
características particulares (Figura 1):
83
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
84
Os Impactos Ambientais da Atividade Industrial Aula 7
85
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
86
Os Impactos Ambientais da Atividade Industrial Aula 7
Para analisar as diferenças existentes entre as variadas tipologias indus-
triais segundo seus efeitos negativos é válida a classificação que distingue
as atividades pelo seu nível de perigo e pelo seu meio geográfico. Nesse
sentido, quatro grupos de impactos ambientais urbano-industriais podem
ser considerados (Figura 4):
OS EFEITOS AMBIENTAIS DA
ATIVIDADE INDUSTRIAL
87
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
88
Os Impactos Ambientais da Atividade Industrial Aula 7
b) Impactos visuais na paisagem, definidos como a expressão territorial ou
como a materialidade do meio geográfico. Nas paisagens urbanas domi-
nam os elementos antrópicos sobre os bióticos e os abióticos, e a energia
humana predomina sobre a energia natural (BOLOS i CAPDVILA, 1992).
c) Os impactos socioeconômicos correspondem às inter-relações dos el-
ementos componentes do sistema de infra-estrutura territorial, do sistema
social e demográfico, do sistema econômico e do sistema cultural. A con-
strução desordenada e o fluxo contínuo e caótico de veículos são exemplos
representativos de impactos humanos no território.
CONCLUSÃO
O mundo se move hoje a partir de uma contradição clara: considera-se
a necessidade da conservação, mas ao mesmo tempo se deseja manter o
ritmo de crescimento industrial e melhorar o status econômico alcançado.
Essa equação não consegue uma solução adequada e por isso continuam
em escala crescente os impactos territoriais e a degradação ambiental. Cada
vez são mais numerosas e de maior magnitude os problemas ambientais
associados de maneira direta ou indireta ao espaço industrial. Se insistir-
mos no atual modelo de desenvolvimento insustentável a situação pode
alcançar um limite irreversível ampliando assim o desperdício energético,
a contaminação atmosférica em geral e a degradação urbana em particular.
Um dos traços característicos da atualidade é o desconcerto ante os
efeitos dos modelos de desenvolvimento típicos de sociedades industriais,
89
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
RESUMO
90
Os Impactos Ambientais da Atividade Industrial Aula 7
ATIVIDADES
Pesquisar a respeito da distribuição espacial dos índices de poluição
industrial da sua cidade identificando as causas, as características principais
e suas conseqüências diretas e indiretas para o meio ambiente e para os
cidadãos.
AUTO AVALIAÇÃO
Após estudar o conteúdo da aula, será possível identificar as causas
dos impactos ambientais do processo industrial? Quais as características
centrais da degradação ambiental em espaços urbanos industriais? Quais
as conseqüências diretas e indiretas dos efeitos territoriais e ambientais da
indústria? Como contribuir para modificar o atual modelo de desenvolvi-
mento industrial centrado na cidade?
PRÓXIMA AULA
O comércio nas cidades: uma visão geográfica
91
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
REFERÊNCIAS
BOLÓS I CAPDVILA, M. de. Manual de ciencia del paisaje. Barcelona:
Masson, 1992.
GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. da. Impactos ambientais urbanos no
Brasil. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
MÉNDEZ, R.; CARAVACA, I. Organización industrial y territorio.
Madrid: Editorial Síntesis, 1996.
RIBEIRO, W. C. Geografia política da água. São Paulo: Annablume, 2008.
PELICIONE, A. F. Trajetória do movimento ambientalista. In: PHILIPPI
JR. A. et al. Curso de Gestão ambiental. Barueri: Manole. 2004.
ZÁRATE MARTÍN, A. El espacio interior de la ciudad. Madrid: Edito-
rial Síntesis, 1991.
92
Aula 8
OBJETIVOS
Entender as principais formas geográficas de comércio nas cidades
PRÉ-REQUISITOS
Aulas anteriores e aulas das Disciplinas anteriores da área de Geografia Humana e
Econômica.
INTRODUÇÃO
Desde sua origem, a cidade aparece caracterizada pela presença das
atividades de troca e de comércio que disponibiliza bens, produtos e mer-
cadorias à sua própria população urbana e da sua área de influência direta
e indireta. Sem sombra de dúvidas, ao longo de sua trajetória os assenta-
mentos humanos sofreram influência do comércio, por isso o historiador
Henri Pirenne define a cidade como “filha do comércio” numa clara alusão
a relação histórica entre a cidade, o intercâmbio comercial e necessidade
básica de abastecimento da população.
O objetivo da presente aula é discutir a estrutura comercial intraurbana
com atenção especial no comércio varejista e na sua conformação territorial.
O texto está dividido em quatro partes: a hierarquia de centros comerciais
(os centros comerciais, os eixos comerciais urbanos e as áreas especializadas),
as críticas as aplicações urbanas da teoria de Christaller, as formas espaciais
da descentralização comercial e as novas formas de consumo.
O presente texto foi redigido com base na Tese de Doutorado de José
Wellington Carvalho VILAR defendida junto ao Departamento de Geo-
grafia Humana da Universidade de Granada (Espanha), no ano de 2000, e
nas contribuições de uma série de geógrafos espanhóis e anglo-saxões que
estudam o comércio e os serviços numa visão territorial.
94
O Comércio nas Cidades: uma Visão Geográfica Aula 8
Para alguns geógrafos, a hierarquia comercial intraurbana tem a mesma
natureza que a hierarquia de mercados formulados por Christaller para um
território mais amplo, embora com funcionamento mais complexo em fun-
ção da maior densidade populacional e de diferenças entre os agrupamentos
comerciais na cidade. Cabe aqui recordar, ainda que muito resumidamente, as
formulações de Christaller sobre a teoria dos lugares centrais. Segundo esse
geógrafo alemão, existem princípios gerais que regulam o número, o tamanho
e a localização dos assentamentos humanos que tem uma distribuição geográ-
fica central de atividades, bens e serviços para uma população residente em
sua região complementária. Os conceitos de fixidez, centralidade, aglomeração
e hierarquia são fundamentais para entender a distribuição geográfica do ter-
ciário. Na tentava de minimizar os custos da atividade é preferível selecionar
um local central em relação à área servida pelo produto e escolher a localização
do empreendimento próximo uns dos outros. Christaller define ainda dois
outros conceitos: alcance espacial máximo e alcance espacial mínimo a partir
dos quais se manifesta a oferta de produtos e serviços e se estabelece uma
hierarquia baseada em funções centrais.
A primeira tentativa de aplicar a teoria dos lugares centrais na cidade foi
levada a cabo por Hans Carol em 1960 (apud VILAR, 2000). Pesquisando
a cidade suíça de Zurique, Carol propôs quatro categorias de centro (CBD,
distrito comercial regional, de bairro e local) que posteriormente serviria
de base para e estudo clássico do prestigiado geógrafo americano Brian
Berry (1963) que consagraria uma tipologia de distritos comerciais. Nos
anos sessenta Berry desenvolveu um modelo tipológico de centros com-
erciais (Figura 2) que considera três espaços diferenciados do comércio e
dos serviços e que serviu de base para muitos estudos sobre a geografia
do terciário urbano em muitos países do mundo. Tal modelo se estrutura
em três grandes áreas de comércio urbano: o centro da cidade, os eixos
comerciais e as áreas especializadas.
95
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
OS CENTROS COMERCIAIS
Na proposta de Berry (1971) vale ressaltar a hierarquia dos centros que
vai do centro original, passa pelo centro expandido, pelos subcentros e pelo
último nível, o centro metropolitano. Vejamos as principais características
desses quatro tipos de centros intraurbanos.
96
O Comércio nas Cidades: uma Visão Geográfica Aula 8
b) Centro expandido que corresponde ao espaço periférico ao centro que na
literatura geográfica recebe a denominação de zona de transição, pericentro,
frame, zona de obsolescência ou periferia do centro. Situada entre o centro
propriamente dito e as áreas residenciais, a zona de transição se beneficia
da expansão das atividades comerciais e de serviços do núcleo central da
cidade. Essa zona costuma apresentar três setores básicos: um setor de ina-
tividade geral que freqüentemente coincide com áreas portuárias, terminais
de transporte e espaços residenciais degradados; um setor de assimilação
passiva que apresenta processos lentos de substituição de formas de uso
do solo; e um setor de assimilação ativa que se caracteriza basicamente
pela substituição acentuada de moradias antigas por usos comerciais e de
serviços de alta qualidade, além de corresponderem a espaços bastante in-
tegrados ao centro principal e por isso estarem mais sujeitos às operações
de renovação urbana.
c) Os subcentros são núcleos secundários que correspondem em certo sen-
tido a uma miniatura do centro principal; apresentam uma gama complexa
de lojas e dos mais variados serviços, incluindo uma também variada oferta
de tipos de mercadorias, de marcas, de artigos e de preços dos produtos.
Muitas das lojas dos subcentros são filiais de empresa do núcleo central e
estão localizados em importantes focos de linhas de transporte intraurbana,
podendo às vezes exercer influência na escolha do local de compra dos ha-
bitantes da região metropolitana. Mas em geral os subcentros se limitam a
um alcance local e de bairros. Em Aracaju o bairro Siqueira Campos pode
ser compreendido como o primeiro subcentro em nosso estado com área
de influência que alcança vários bairros e a região metropolitana da capital
sergipana, portanto seu alcance é local, urbano e regional. Outros subcen-
tros em Aracaju podem ser encontrados hoje, como é o caso do São José
dos bairros São Conrado, Bugio e Santos Dumont, cada um deles com sua
área de influência e seu perfil de consumidores;
d) Os Centros metropolitanos correspondem mais adequadamente à reali-
dade dos Estados Unidos e no Brasil algo equivalente existe em metrópoles
como Rio e São Paulo ou Salvador e Recife.
97
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
AS ÁREAS ESPECIALIZADAS
Por último, vale ressaltar do esquema de Berry (1971) as áreas espe-
cializadas. A maioria desses espaços funcionais requer fácil acessibilidade
e estão presentes em vários níveis da hierarquia dos centros comerciais
visto anteriormente. Na área central das grandes cidades, por exemplo, se
verificam a existência de setores onde se concentram teatros, cinemas e
várias opções de diversão e lazer. Mas as áreas especializadas estão também
presentes nos eixos comerciais, principalmente no setor de móveis, serviços
de saúde e complexos médicos.
As áreas especializadas em comércio e serviços urbanos são resultantes
de economias externas de aglomeração, ou seja, de ganhos de produtividade
atribuíveis à aglomeração geográfica de pessoas e de atividades econômi-
cas num dado espaço territorial. Diferentemente dos centros e dos eixos
comerciais, as áreas especializadas não se organizam na cidade segundo os
princípios hierárquicos da teoria dos lugares centrais de Christaller. Nesse
sentido, é necessário enfatizar que as áreas especializadas estão presentes
tanto no processo de centralização como de descentralização intraurbana,
tornando mais complexa e fragmentada a organização geográfica do ter-
ciário da cidade.
98
O Comércio nas Cidades: uma Visão Geográfica Aula 8
centros secundários, de eixos comerciais especializados ou não localizados
em avenidas, e mais recentemente a implantação de shopping centers e de
hipermercados. O comércio e os serviços se espalham por grande parte do
tecido urbano e velhas e novas formas de comércio convivem, de forma
nem sempre pacífica, no mesmo espaço geográfico.
99
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
100
O Comércio nas Cidades: uma Visão Geográfica Aula 8
e desenham uma geografia do terciário cuja seletividade depende do con-
teúdo técnico-científico-informacional existente nos diferentes espaços
interiores da cidade. Hoje se pode falar inclusive da revolução dos pontos
de venda, de novas estruturas empresariais e de mudanças nos hábitos de
consumo. Surgem novas técnicas de venda e de exposição dos produtos,
controle informatizado dos stocks e das vendas possibilitado pelo código
de barras e pagamento mediante uso de cartão de crédito. E essa tendência
a informatização parece ser irreversível e se configura como elemento chave
para entender a diferenciação terciária intraurbana hoje.
101
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
CONCLUSÃO
A visão geográfica do comércio nas cidades não pode ser entendida
sem um resgate das formas como os geógrafos trabalharam essa questão.
A abordagem de Brian Berry nos anos sessenta e setenta assentou as bases
da análise territorial da estrutura comercial, a partir principalmente das
contribuições da teoria dos lugares centrais, mas visões baseadas na idéia de
aglomeração e economia externas também contribuíram para a compreensão
dessa dinâmica. A hierarquia proposta por Berry e aperfeiçoada em vários
lugares do mundo, inclusive no Brasil, aliada à colaboração da geografia
crítica e mais recentemente da geografia cultural, com sua preocupação
com as imagens, com o consumo enquanto signo e com os espaços da
simulação, dão o tom dos novos ares da geografia do comércio urbano que
se vê convertida numa espécie de geografia do consumo e ampliada para
uma geografia do terciário, uma vez que hoje o comércio e os serviços se
imbricam bastante no território e verifica-se uma espécie de terciarização
econômica centrada na cidade e no urbano. Mas isso não significa de modo
algum a morte do comércio tradicional do centro, muito pelo contrário,
haja vista a quantidade de propostas de revitalização do centro comercial
principal.
Espaço, consumo, terciário, seletividade territorial, desenvolvimento
tecnológico e dos instrumentos de comunicação e desigualdades sociais
parecem abrir caminho para uma nova geografia do consumo, capaz de
compreender a complexidade que o comércio e os serviços em particular e
o terciário em geral assumem no mundo urbano com extensões e tentáculos
sobre o espaço territorial total.
RESUMO
O nosso tempo é o tempo do comércio e dos serviços, e as cidades são
fundamentalmente centros terciários, espaços onde se produzem trocas de
mercadorias, de contatos entre pessoas e se processa intercâmbio de idéias
e de informações. A relação geográfica do terciário com a cidade deriva da
forma como é modelado o espaço por essas atividades. O geógrafo Brian
Berry desenvolveu um modelo tipológico das atividades terciárias urbanas
que considera três espaços diferenciados do comércio e dos serviços: o
centro da cidade, os eixos comerciais e as áreas especializadas. Vale ressal-
tar no primeiro tipo a hierarquia dos centros comerciais que vai do centro
original, passa pelo centro expandido, pelos subcentros e pelo último nível,
o centro metropolitano. No segundo caso destacam-se as ruas comerciais
tradicionais, as artérias comerciais, as ruas comerciais de subcentro e os
102
O Comércio nas Cidades: uma Visão Geográfica Aula 8
eixos comerciais associados às rodovias. Por último, destacam-se as áreas
especializadas em algum tipo ou num conjunto de atividades comerciais e
de serviços.
Na atualidade, as novas formas de comércio e de serviços são exigências
do capitalismo em seus mecanismos nem sempre saudáveis de adaptação
aos domínios da tecnologia, da ciência e da informação. Hoje a geografia
do comércio urbano não se reduz a simples função de compras de merca-
dorias, mas sua atuação se amplia para funções sociais antes impensadas
como o passeio, o encontro e a promoção imobiliária, que faz com que as
estruturas do comércio, agora dilatada para todo o terciário e para grande
parte do tecido urbano, sejam mais rentáveis do que a velha forma clássica
de oferecer somente pontos de venda em lojas. É também notável o caráter
cambiante do comércio dentro da cidade ao longo do tempo, adaptando-se
às exigências do capitalismo. As configurações territoriais, velhas e novas,
que assumem a cidade pela força do terciário autorizam a definir um campo
do conhecimento geográfico em efervescência, atual e bastante útil para
compreender as mudanças verificadas na cidade e no mundo urbano.
ATIVIDADES
Utilizando um mapa base de Aracaju ou da sua cidade, identifique os
principais elementos da geografia urbana do comércio que foram destacados
em nossa aula (Centros comerciais, eixos comerciais e áreas especializadas).
Para tanto localize com legenda específica o centro histórico ou comercial
que também pode ser chamado de CBD (Central Business District em in-
glês), o centro expandido, alguns subcentros comerciais, algumas avenidas
comerciais e especializadas em determinado tipo de produto e os novos
espaços de consumo (Shoppings e hipermercados).
103
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
AUTO AVALIAÇÃO
É possível entender a tipologia dos centros comerciais para cidades?Até
que ponto o comércio das cidades se hierarquiza territorialmente? A aplica-
ção da teoria dos lugares centrais para as cidades apresenta limitações? Se
aplicada à realidade dos países com fortes distorções econômicas e sociais,
como é o caso do Brasil, a tipologia hierarquizada do comércio urbano tem
validade? Como as novas formas de comércio e de serviço constroem uma
nova geografia do terciário e do consumo urbano?
PRÓXIMA AULA
Os impactos territoriais do transporte.
REFERÊNCIAS
BEAUJEU-GARNIER, J. Geografia urbana. 2 ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1997.
BERRY, B. J. L. Consecuencias humanas de la urbanización. Madrid:
Ediciones Pirámides, 1975.
BERRY, B. J. L. Geografía de los centros de mercado al por menor.
Barcelona: Editorial Vicens-Vives, 1971.
CORREA, R. L. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1989.
COSTA, J. E da, os subcentros de Aracaju. In: ARAÚJO et al. O ambiente
urbano. Visões geográficas de Aracaju. São Cristóvão, EdUFS, 2006.
SANTOS, M. O espaço dividido. Os dois circuitos da economia urbana
nos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.
VILAR, J. W C. La expansión del área de consumo: la vieja y la nueva
centralidad intraurbana de Aracaju (Brasil). Tese de Doutorado em Geo-
grafia e Ordenamento Territorial. Universidade de Granada, 2000.
ZÁRATE MARTÍN, A. El espacio interior de la ciudad. Madrid: Edito-
rial Síntesis, 1991.
104
Aula 9
OS IMPACTOS TERRITORIAIS
DO TRANSPORTE
META
Entender os principais efeitos estruturantes do transporte sobre as formas organização
espacial.
OBJETIVOS
Entender os impactos estruturantes do transporte sobre o território.
PRÉ-REQUISITOS
Aulas anteriores e aulas das Disciplinas anteriores da área de Geografia Humana e
Econômica.
INTRODUÇÃO
Como foi visto nas aulas anteriores, um dos traços mais significativos
das sociedades industriais e pós-industriais é a mobilidade de pessoas, de
mercadorias e de informações. Essa mobilidade geográfica é resultado da
crescente complexidade da sociedade contemporânea e das demandas do
sistema capitalista e deriva do desenvolvimento tecnológico dos últimos
cinqüenta anos que possibilitou a conexão entre lugares e pessoas muito
distantes, diminuindo assim os efeitos dos fatores clássicos da distância e
da proximidade na organização espacial da sociedade.
Nesse primeiro momento, é conveniente ressaltar que os atuais meios
de circulação e comunicação são conseqüências das relações sistemáticas
entre ciência, tecnologia e informação que permitiram conexões na escala
planetária e possibilitaram o surgimento de um novo sistema mundo, ver-
dadeiramente global.
Da mesma forma que os demais ramos da ciência geográfica, a geo-
grafia dos transportes sofreu a influência de três paradigmas ou formas de
conceber a nossa ciência e por isso se verificam a existência de abordagens
qualitativas e descritivas sobre o transporte na geografia tradicional, a ênfase
no fator distância da visão quantitativa e modélica da segunda metade do
século XX e, mais recentemente, os enfoques sociais que se preocupam
com os impactos territoriais e com os efeitos espaciais estruturantes da
circulação e da comunicação.
Na verdade, sob o termo genérico e aparentemente simples de trans-
porte se esconde uma realidade extremamente complexa que aqui estudare-
mos em termos de sua organização espacial e de seus impactos territoriais.
O objetivo da presente aula é estudar os principais impactos estruturantes
do transporte sobre o território. Para tingir tal objetivo foram selecionados
quatro aspectos: os tipos de transportes e sua importância na economia
moderna, os transportes no ciclo de inovação tecnológica e os impactos
propriamente ditos dos transportes na cidade e no sistema territorial. Em
síntese, o fio condutor da nossa aula corresponde ao conjunto de modifi-
cações espaciais ou geográficas a partir do setor de transporte.
106
Os impactos Territoriais do Transporte Aula 9
transporte, as infra-estruturas geográficas ou territoriais e os bens, produtos
ou pessoas transportados (Figura 1).
107
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
108
Os impactos Territoriais do Transporte Aula 9
Figura 3. As ferrovias modernas e os trens de alta velocidade: o exemplo espanhol dos AVE
(Alta Velocidad Española).
(Fonte: www.chaiane.wordpress.com)
109
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
110
Os impactos Territoriais do Transporte Aula 9
Numa visão baseada na teoria geográfica estabelecida por Milton
Santos (1996), pode-se falar em fixos ou sistemas de objetos e de fluxos
ou sistemas de ação para entender a natureza do espaço geográfico. No
primeiro caso, as variadas infra-estruturas e os sistemas de engenharia se
destacam na paisagem, principalmente nos países industrializados, e for-
mam uma dada configuração territorial. No segundo caso se tenta captar
o movimento visível e invisível sobre o espaço por isso se advoga por uma
geografia das redes.
A geografia tradicional dos transportes foi por bastante tempo um
mero capítulo descritivo da geografia econômica. Mas essa visão parece
não mais dar conta da complexidade territorial crescente adquirida pelo
fenômeno da circulação e da comunicação no mundo atual. As imbricações
da circulação e da comunicação, as fortes inter-relações entre os fixos no
espaço e os fluxos territoriais são também evidentes e os transportes se
transformam num campo geográfico em rede e que não admite interpre-
tações segmentadas. Os transportes hoje são a chave para o entendimento
da dinâmica territorial.
Vale destacar nesse momento de nossa argumentação sobre a importân-
cia dos transportes uma distinção simples, mas crucial, entre a circulação e a
comunicação. A circulação diz respeito aos fluxos materiais típicos do setor
de transporte, a exemplo do movimento de cargas nas rodovias brasileiras.
Já a comunicação está relacionada aos fluxos imateriais, a exemplo das
telecomunicações. Além da ênfase na velha materialidade paisagística, na
análise geográfica hoje se acrescenta a força dos componentes imateriais
da comunicação, ou seja, do movimento invisível. Por isso a circulação as-
sume uma nova dimensão que se confunde com a comunicação. A realidade
atual do território pede um novo conjunto de conceitos, uma nova visão
do espaço geográfico, considerado como um híbrido, como um conjunto
de elementos visíveis e invisíveis inseparáveis. Nessa nova realidade, a geo-
grafia dos transportes e das comunicações assume um papel chave, porque
permite um olhar integrado, sistêmico e inter-relacionado.
111
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
112
Os impactos Territoriais do Transporte Aula 9
comunicação e o consumo têm uma forte conexão e imbricação entre si
que dão uma nova vida à geografia dos transportes e ao mesmo tempo
conformam elementos estratégicos na reprodução do capital. Com disse
de maneira acertada Milton Santos (1996:219), hoje não basta produzir, “é
indispensável por a produção em movimento.” Na esteira das inovações
tecnológicas, a geografia dos transportes, do movimento, dos fluxos e das
redes nunca esteve em tão alta conta na ciência geográfica. Na verdade, a
inovação tecnológica e seus efeitos na circulação e nas comunicações estão
no centro do entendimento do espaço contemporâneo.
Com o domínio das redes atuais, entendidas como um sistema integrado
de fluxos de circulação e de comunicação, o âmbito territorial do transporte
pode ser classificado quanto à forma da malha viária em redes de três tipos:
reticulares, polares e em árvores ou dendrítricas (Figura 7). As redes de
comunicação também podem apresentar essas três formas geográficas que
se destacam pela conectividade e pela densidade. Vale também ressaltar que
uma rede de transporte e de comunicação é formada por pontos de acesso,
arcos de transmissão e nós de bifurcação.
113
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
114
Os impactos Territoriais do Transporte Aula 9
OS IMPACTOS DO TRANSPORTE
NO SISTEMA TERRITORIAL
115
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
116
Os impactos Territoriais do Transporte Aula 9
possibilitou o abandono do modelo fordista de produção para um modelo
de múltiplas localizações em rede. Também vale ressaltar que a redução dos
custos de acesso as matérias-primas veio acompanhado desses impactos na
organização (ou desorganização?) geográfica do espaço.
No Brasil, a logística que une os centros produtores de commodities
(produtos primários para o comércio internacional) aos portos com seus
modernos contêineres e sistemas modais (terminais que permitem a inter-
ligação de mercadorias e de pessoas) foi configurando no espaço os famosos
corredores de exportação: eixos do território que articulam os meios de
transporte e os sistemas de armazenamento e de exportação.
No caso do Estado de Sergipe, vale ressaltar que o Planejamento Es-
tratégico do Governo Marcelo Déda (2007-2010) estabelece entre as suas
diretrizes estratégicas de inclusão pela renda a reconstrução e ampliação do
nosso sistema viário. Tal diretriz apresenta o desafio de implantar um novo
conceito de rodovias com segurança e qualidade, reconstruir e ampliar a
malha viária principal e construir novas rodovias vicinais para o escoamento
da produção nas áreas rurais. A partir desses princípios e objetivos, foram
construídas a Rota do Sertão e asfaltadas pequenas rodovias estaduais. A
recente política territorial sergipana parece estar ciente da importância do
debate sobre a geografia do movimento, sobre as redes e os fluxos e sobre
a necessidade de infra-estrutura material para dinamizar a configuração
geográfica de um dado espaço territorial.
CONCLUSÃO
A evolução do setor de transporte se configura como um dos eventos
que permitiram ao homem ocupar mais espaços, explorar de maneira mais
intensa os recursos ambientais e abrir a possibilidade de comercialização
de praticamente todos os tipos de mercadoria, impulsionando assim outras
atividades econômicas.
A rede de transporte desempenha um papel estruturador do território,
diminuindo o efeito da distância. A diversidade e a heterogeneidade espacial,
junto com as vias que possibilitam os fluxos viários, hierarquizam o ter-
ritório e ao mesmo tempo o estruturam geograficamente, desenvolvendo
centralidades variadas, espaços periféricos e centros de poder e de decisão.
A rede viária constitui um sistema de organização territorial que possibilita a
circulação de fluxos, seja de mercadorias, de pessoas e de informação. Nesse
sentido, as redes de circulação e de comunicação se encontram fortemente
imbricadas no território e a necessidade de mobilidade, de deslocamento e
de acessibilidade, típicos do setor de transporte, supõe movimento sobre
o espaço geográfico.
Os sistemas de movimento no território, ou seja, os vários sistemas
de engenharia e os diversificados sistemas de fluxo materiais e imateriais
117
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
RESUMO
Um dos traços mais significativos das sociedades industriais e pós-
industriais é a mobilidade de pessoas, mercadorias e informações. Essa
mobilidade geográfica é resultado da crescente complexidade da socie-
dade contemporânea e das demandas do sistema capitalista e deriva do
desenvolvimento tecnológico dos últimos cinqüenta anos que possibilitou
a conexão entre lugares e pessoas muito distantes, diminuindo assim os
efeitos dos fatores clássicos da distância e da proximidade na organização
espacial da sociedade.
Existe uma divisão clássica sobre os tipos de transporte, segundo o meio
ou o modo utilizado: transportes terrestres, marítimos, fluviais e lacustres e
transportes aéreos. A partir de outro critério de classificação, pode-se falar
também de ferrovias, rodovias, hidrovias, aerovias e de transporte por dutos.
Os transportes não ficaram imunes as mudanças do cenário econômico
e as transformações sociais e territoriais. Na verdade, esse setor acompanhou
os ciclos longos de inovação industrial assentados sobre um conjunto de
tecnologias com claros reflexos na circulação e nas comunicações, ou seja,
na geografia dos fluxos, das redes e dos movimentos visíveis e invisíveis.
Além dos transportes se configurarem como uma forma especial de
uso do solo urbano, vale ressaltar as mudanças e os impactos territoriais
associados à circulação de transporte registrada nas cidades. Verificam-se
também efeitos espaciais mais abrangentes e para o sistema territorial como
um todo.
O avanço técnico dos veículos e a melhora da infra-estrutura de
transporte permitiram mudanças territoriais significativas, a exemplo da
118
Os impactos Territoriais do Transporte Aula 9
flexibilização da localização industrial e da ampliação do circuito de comer-
cialização dos produtos. De modo amplo, a melhora do setor de transporte
possibilitou o abandono do modelo fordista de produção para um modelo
de múltiplas localizações em rede. Também vale ressaltar que a redução dos
custos de acesso as matérias-primas veio acompanhado desses impactos na
organização (ou desorganização?) geográfica do espaço.
ATIVIDADES
A partir do estudo da presente aula, elaborar um texto de no mínimo
dez e no máximo vinte linhas sobre o papel dos transportes nos ciclos de
inovação na economia industrial, destacando os impactos no território.
AUTO-AVALIAÇÃO
Após estudar o conteúdo da aula será que consigo identificar como os
tipos de transporte podem ser classificados a partir dos tipos de veículos
utilizados? Como o espaço é modificado pelos cinco tipos de transportes
na sua divisão clássica? Existe uma diferença clara entre circulação e comu-
nicação? Como os transportes hoje se comportam num mundo dominado
pelas redes geográficas?
119
Geografia da Produção, Circulação e Consumo
REFERÊNCIAS
ANDRADE, M. C. de, Geografia econômica. 12 ed. São Paulo: Atlas,
1998.
BEAUJEU-GARNIER, J. Geografia urbana. 2 ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1997.
CAMAGNI, R. Economía urbana. Barcelona: Antoni Bosh, 2005.
CASTELLS, M. A era da informação. Volume 1. Sociedade em rede.
10ª edição, São Paulo: Paz e Terra, 2007.
CONTEL, F. B. Os sistemas de movimento do território brasileiro. In:
SANTOS, M; SILVEIRA, L. O Brasil. Território e sociedade no início
do século XXI. 2 ed. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 357-374.
GALIANA. L; VINUESA, J. (Coord.) Transformación territorial y trans-
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Madrid: Editorial Síntesis, 2006.
GOMEZ OREA, D. Ordenación territorial. 2 ed. Madrid/Barcelona/
Cidade do México: Ediciones Mundi-Prensa. 2008.
LEITE, M. A. F. P. Uma história de movimentos. In: SANTOS, M; SIL-
VEIRA, L. O Brasil. Território e sociedade no início do século XXI.
2ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 433-445.
MÉNDEZ, R.; CARAVACA, I. Organización industrial y territorio.
Madrid: Editorial Síntesis, 1996.
SANTOS, M. A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção.
São Paulo: HUCITEC, 1996.
SEGUI PONS, J. M. PETRUS BEY, J. M. Geografía de redes y sistemas
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XAVIER, M. O sistema de engenharia e a tecnificação do território. O ex-
emplo da rede rodoviária brasileira. SANTOS, M; SILVEIRA, L. O Brasil.
Território e sociedade no início do século XXI. 2 ed. Rio de Janeiro:
Record, 2001, p. 329-343.
ZÁRATE MARTÍN, A. El espacio interior de la ciudad. Madrid: Edito-
rial Síntesis, 1991.
120
Aula 10
OBJETIVOS
Estudar a crise dos combustíveis fósseis e a necessidade atual de energias limpas
PRÉ-REQUISITOS
Aulas anteriores e aulas das Disciplinas anteriores da área de Geografia Humana e
Econômica.
INTRODUÇÃO
A questão energética hoje é fundamental em termos de promoção
do bem-estar social e de desenvolvimento das atividades econômicas. Na
verdade, energia e desenvolvimento estão estreitamente relacionados.
O aumento do consumo de energia e o crescimento das fontes ener-
géticas evoluíram ao longo da história humana à medida que o progresso
técnico, científico e tecnológico avançavam, tornando o trabalho humano
mais eficiente e menos necessário em função do surgimento de máquinas
e equipamentos cada vez mais avançados e que executam atividades de
maneira mais rápida e precisa. De maneira geral, quanto maior o grau de
industrialização, de urbanização e de consumo de uma dada sociedade,
maiores são as necessidades de energia e maiores os componentes das
matrizes energéticas utilizadas.
Na atualidade, os combustíveis fósseis são indiscutivelmente as
principais fontes energéticas do planeta, embora a crise do petróleo e os
problemas associados à questão ambiental tenham colocado em xeque a
matriz energética e evidenciado a necessidade de novos rumos em termos
de energias limpas.
A presente aula pretende discutir a questão energética a través da tra-
jetória histórica dos combustíveis fósseis até o momento atual no qual é
clara a necessidade de energias renováveis e não poluentes. Para alcançar
tal objetivo foram definidos três eixos norteadores: uma discussão sobre
classificação das fontes energéticas na perspectiva de apresentar um breve
panorama da energia hoje, a questão dos combustíveis fósseis, principal-
mente o petróleo, e por último, mas nem por isso menos importante, o
debate gira em torno das energias limpas.
122
Dos Combustíveis Fósseis às Energias Limpas Aula 10
correspondem àquelas utilizadas sem transformação, a exemplo de uma
simples lenha queimada diretamente em um fogão, já as fontes secundárias
equivalem àquelas utilizadas para geração de outro tipo de energia, como
as termoelétricas que utilizam biocombustíveis ou fontes não renováveis
para produzir energia elétrica. No caso específico das energias convencio-
nais tem-se como exemplos os combustíveis fósseis e a hidroeletricidade,
e como energias alternativas os exemplos mais emblemáticos são as fontes
eólicas e solares. Embora haja semelhanças entre a primeira classificação e
essa última, é conveniente ressaltar que todas as fontes energéticas geram
impactos positivos e negativos, mas o nível de degradação ambiental é
mais acentuado nas formas convencionais do que nas formas alternativas
que apostam na sustentabilidade, mas que ainda são insuficientes para
satisfazer as crescentes demandas econômicas e sociais, principalmente
das economias avançadas e dos países industrializados. Hoje, mais do que
nunca, a ampliação e a diversificação das fontes energéticas é um desafio
urgente para as sociedades contemporâneas, principalmente em termos de
energias renováveis e limpas.
COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS
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Santo e Santa Catarina. Apesar das incertezas, da falta de conhecimento por-
menorizado e das dificuldades tecnológicas para exploração de petróleo em
mar profundo, tal descoberta poderia colocar o Brasil entre os dez maiores
produtores do mundo, uma vantagem competitiva num momento de crise
internacional e de discussão sobre a diversificação da matriz energética.
ENERGIAS LIMPAS
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e modificando o ciclo natural das águas e da reprodução dos peixes, além de
muitas vezes desabrigar comunidades inteiras com a inundação completa de
assentamentos humanos, como vilas, povoados e inclusive pequenas cidades,
como ocorreu no sertão da Bahia por ocasião da construção do lago de
Sobradinho. As ameaças à sociodiversidade provocada pelas grandes obras
de engenharia, os desvios de rio e a inevitável construção de barragem para
geração de energia elétrica são muito conhecidas e discutidas no âmbito
acadêmico e de planejamento territorial no Brasil, mas é preciso considerar
que nossa matriz energética responde por 14,7% de energia hidrelétrica, algo
bastante expressivo na escala mundial, e a nossa energia elétrica tem 85,6%
de hidreletricidade, cifra também altamente significativa. Essa expressiva
presença da hidreletricidade permite ao país não ser totalmente dependente
dos combustíveis fósseis e isso configura uma vantagem estratégica para o
Brasil no cenário internacional, principalmente em momentos de incerteza
e crises como o que estamos vivendo nos últimos anos.
CONCLUSÃO
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RESUMO
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ATIVIDADES
A partir do estudo da presente aula, elabore um texto dissertativo sobre
a crise mundial do petróleo e destaque as alternativas energéticas para o
futuro da sociedade humana.
AUTO AVALIAÇÃO
Após estudar o conteúdo da aula, é possível entender que o setor en-
ergético é realmente estratégico para a economia atual? Os combustíveis
fósseis, principalmente o petróleo que contribuiu decisivamente para a
montagem da chamada “sociedade do automóvel”, tem sustentabilidade
garantida hoje? Como o petróleo atuou no centro da geopolítica do século
XX? Quais as tendências em termos de produção energética limpa?
REFERÊNCIAS
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1998.
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WALISIEWICZ, M. Energia alternativa: solar, eólica, hidrelétrica e de
biocombustíveis. São Paulo: Publifolha, 2008.
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