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Revista de Economia Politica, Vol. 4, n° 4, outubro-dezembro/ 1984 Renda da terra: uma concrec4o teérica necessaria REINALDO A. CARCANHOLO* Estdo se generalizando, em varios paises da América Latina, interpretagoes histéricas sobre 0 proceso de desenvolvimento industrial que tem 0 conceito de transferéncia de valor, explici- tamente, como elemento te6rico central. Em geral, a idéia é que, devido as particularidades da estrutura nacional de pregos relativos, © setor agroexportador financia a expansdo industrial através da transferéncia de significativas massas de valor (riqueza), pelo menos em determinadas conjunturas. Normalmente, a andlise se estende até considerar as razOes que garantem, ao setor exportador, a capacidade de produzir volume de riqueza (valor) suficientemente grande nfo s6 para atender as necessidades da sua propria expansdo (portanto, a uma taxa de remuneragdo adequada) como também para transferir volumes considerdveis de valor, necessérios para a expansfo indus- trial. Essa capacidade de produgdo de riqueza deve ser tao grande que permita, além do mais, que o setor exportador tenha a possibi- lidade de atender 0 considerdvel volume de valor transferido a0 exterior, devido & evolugdo da estrutura dos pregos do mercado internacional (““deteriorago dos termos de troca”). Algumas vezes, a elevada capacidade de produgdo de valor por parte do setor agroexportador, que Ihe permite ser fonte de transferéncia de riqueza (ou “recursos”), é atribufda a elevada magnitude de renda diferencial que € possivel produzir nesse setor. * Do Mestrado em Economia, Universidade Federal da Paraiba, Campina Grande. 108 ‘Acreditamos que um enfoque desse tipo é bastante adequado ¢ relevante, particu- larmente nos casos de paises onde a exportagdo de café teve ou tem grande importéncia, como Brasil, Colombia, Costa Rica, Bl Salvador. Além da relevancia de tal enfoque, € evidente sua coeréncia te6rica, se levarmos em conta que a teoria da renda da terra nfo é mais do que continuidade da teoria do valor. No entanto, atribuir aquela capacidade as condiges que permitam a produgdo de renda diferencial, nfo resolve o problema. Na verdade, se ndo dprofundamos a explicagao, analisando 0 assunto em todas as suas implicag6es tedricas, a solugfo do problema nfo consistiu sendo em encontrar uma palavra mdgica, capaz de satisfazer os leitores. A teoria apareceria, assim, e isso ocorre freqientemente, como um simples depésito de palavras mégicas, para o qual apelamos quando encontramos dificuldades na nossa andlise concreta. Para a utilizagdo, teoricamente adequada, da renda diferencial como explicagao da capacidade do setor agroexportador de transferir valor ao resto da economia, uma série de perguntas tedricas deve ser respondida; entre outras as seguintes: a. Para permitir a transferéncia, os capitais que operam no setor agroexportador renunciam a apropriarse da renda diferencial que produzem? Essa rentincia € total ou parcial? Se parcial, qual é a parte a que so obrigados a renunciar? b. Que acontece com os diferentes capitais que operam em terras de diferente qualidade? A rentncia A renda diferencial (que, como o seu mesmo nome indica, varia em termos absolutos com o tipo da terra) é de valor absoluto por unidade produzida ou esse valor é varidvel (maior para as melhores terras, menor para as piores)? Que acontece com os capitais que operam nas piores terras € nfo produzem renda diferencial? Renunciam a uma parte de sua remuneragdo normal (a taxa média de lucro)? c. Apesar da renda diferencial, os capitais agroexportadores sfo obrigados a renun- ciar, também, a taxa média de lucro (ou da remunerago normal)? Em que medida se apresenta essa rentincia? . Qual o significado, dentro de toda essa problemftica, da coexisténcia de formas no capitalistas, na atividade agroexportadora? eo Esses sfo exemplos de perguntas que devem ser respondidas para que o conceito de renda diferencial possa ser usado adequadamente na explicagdo da problemdtica assinalada, Observe-se que, na verdade, so perguntas teéricas e, portanto, suas respostas tém (cada uma delas) diferentes niveis de abstrago. Inclusive, a formulacdo das mesmas nesta introdugdo, sem especificar o nivel de abstragdo correspondente, ndo tem preciso teGrica; muitas vezes os termos utilizados nao correspondem a verdadeiros conceitos ¢ deverfo, por isso, ser modificados. Em certos niveis de abstracdo, as respostas a essas perguntas e a algumas outras sdo ‘© tema dos pardgrafos seguintes. Para chegar a essas respostas, serd inevitdvel partir da categoria renda diferencial, precisé-la e, através de um processo de concregao, ir desco- brindo novas categorias que s6 diferem das j4 conhecidas pelo seu nivel de abstragao. 109 Assim, no texto que segue, teremos como ponto de partida a sego sexta do terceire livro de O Capital. GERACAO, APROPRIACAO E TRANSFERENCIA DA RENDA DIFERENCIAL Para precisar 0 conceito de renda diferencial, é indispensdvel identificar o nivel de abstragdo em que é definida, de maneira que, entre outras coisas, possamos responder a seguinte pergunta: as variagdes dos pregos de mercado dos produtos agricolas ao redor da magnitude do valor (ou do prego de produg%o) determinam variago na magnitude da renda diferencial “produzida”? Em outras palavras, so as condigdes da apropriaga0 que definem a magnitude da renda diferencial? Estamos convencidos de que a resposta correta a essas duas perguntas é negativa. A determinagao da magnitude da renda diferencial nfo depende dos pregos de mercado, mas do prego de produgio, isto é, do prego de custo (dos pregos de custo dos diferentes tipos de terra) e da taxa média de lucro (que se define ao nivel global da economia e, nfo simplesmente, no setor agricola). Assim, 0 conceito de renda diferencial nfo leva em conta as condig6es circunstanciais da apropriag&o, mas exclusivamente as condig6es de produgio. A apropriagfo s6 ¢ importante no nivel de abstrago correspondente a0 prego de produco, que é reflexo praticamente imediato das condig6es de produgdo. Outra coisa seria 0 conceito de apropriagdo de renda diferencial ou magnitude apropriada de renda diferencial, que depende do prego de mercado. Poderiamos formalizar nossa concep¢Zo sobre o assunto, da seguinte maneira:! a. O valor é uma categoria com existéncia real, independente de que realmente © prego de mercado corresponde a ele no momento, ou independente de que em alguma etapa histérica tenha correspondido ou nfo. Os desvios do prego de mercado com relagdo & magnitude de valor nfo alteram em nada a verdadeira produgdo de riqueza (valor). O que fazem é modificar sua apropriagdo?, sua distribuigdo. A magnitude de valor é um ponto de referéncia, a partir do qual podemos falar de transferéncia de riqueza de um produtor a outro, podemos falar de magnitude da transferéncia Entdo, se o prego de mercado corresponde A magnitude do valor, a produgdo © a apropriagdo de valor por parte de um produtor qualquer so iguais em termos de grandeza. Nesse caso, a transferéncia de valor é igual a zero. 1 _As formalizages deste texto tém origem no Capitulo 1 de: Carcanholo, Reinaldo. Desarrollo del Capitalismo en Costa Rica. San José, Costa Rica, Editorial Universitaria Centroamericana (EDUCA), 1981 2 A categoria de apropriagfo aparece explicitada em: Carcanholo, Reinaldo. Dialéetica de la Mer- eancfa y Teorta del Valor. San José, Costa Rica, Editorial Universitaria Centroamericana (EDUCA), 1982, p. 72a 77. 110 b. A taxa média geral de lucro* 6 uma categoria teérica, com existéncia real, independente de que efetivamente os pregos de mercado determinem ou nfo um montante de lucro real correspondente aquela, independente, também, da existéncia de uma tendéncia a igualagdo das taxas de lucro. A taxa média geral de lucro & um ponto de referéncia teérico, a partir do qual podemos falar de gerag&o de renda diferencial. Se os pregos de mercado determinam ou nio que os lucros dos capitais sejam iguais ao lucro médio geral, ndo altera em nada a geragdo da renda diferencial. © que fazem é modificar sua apropriagdo, sua distribuigdo. As variagBes nos pregos de mercado alteram a magnitude da transferéncia de renda diferencial, da riqueza na forma de renda diferencial. Ento, se a massa de lucro real é igual ao montande do lucro médio geral, é gerada apropriada a mesma magnitude de renda diferencial; geragdo © apro- priagdo sfo em grandeza, iguais, nesse caso. c. Consideremos um produto de um setor qualquer de uma sociedade capitalista. Somando ao prego de custo (c + v)* médio de uma unidade desse produto 0 Tucro médio geral correspondente, encontraremos 0 prego de produggo médio de uma unidade de produto, para os capitais daquele setor. Esse prego seré denominado de prego de producto médio geral. d. Se estivéssemos considerando um setor produtivo ndo agricola, 0 prego de produgdo médio geral seria o prego de produedo regulador de mercado. Isto 6, aquele ao qual devem corresponder os pregos de mercado na auséncia de forgas que obriguem a desviacdo necessdria entre o lucto médio de cada setor e 0 lucro médio geral. Em outras palavras, ¢ aquele que determina a igualdade oferta Vs, produzirse-4 transferéncia de valor, desde o resto da economia para os capitais que operam no setor A. Se PPR > Vs e, além disso, PPR — — Vg = Rp, entdo, a renda diferencial gerada e totalmente apropriada pelos capitais de A é a forma de um valor totalmente produzido no resto da economia e transferido a A. Isso € resultado do fato de que, nessas condigdes, a mais-valia produzida em A se converte, totalmente, em massa de lucro de A (correspon- dente a taxa média geral de lucro) e, a renda diferencial, ndo pode ser mais que um valor produzido em outro setor. f. Se PPR < Vg, produzir-se-4 uma transferéncia de valor desde A para o resto da economia, embora a Rp seja totalmente apropriada em A e, portanto, nenhuma parte transferida. g. Consideremos agora um subconjunto J dos capitais de A, sendo que, pelo menos um deles, gera renda diferencial. Na verdade, esse subconjunto poderia repre- sentar 0 conjunto dos capitais que operam no setor agroexportador de determi- nado pats. Seja Vj 0 valor individual médio produzido pelos capitais J de A, sendo que, pelo menos um deles, gera renda diferencial. Se Py = PPR, toda a renda diferencial gerada pelo subconjunto J & apropriada ai mesmo. Nao existe transferéncia de renda diferencial. PPR pode ser maior, menor ou igual a Vj. Se PPR = Vj, nfo se produz transferéncia de valor entre os capitais J e os demais da economia. Se PPR > Vj, existe transferéncia de valor para J. Se PPR < Vj, existe transferéncia de valor desde J. e 115 ABANDONA-SE A SUPOSICAO DE INEXISTENCIA DE FORMAS NAO CAPITALISTAS Nesta seco nos interessa, exclusivamente, chegar a determinagdo tedrica do prego de produgdo regulador de mercado, num setor agricola, no qual coexistam, ao lado do capital, formas nfo capitalistas de produgo. Por isso, nossa andlise, embora mais con- creta por considerar a existéncia da pequena produgo subordinada ao capital, dar-se-4 em alto nivel de abstrago. Desejar nivel maior de concregdo seria uma exigéncia meto- dologicamente inadequada. A determinagfo tebrica da magnitude do prego de produgdo regulador de mercado 6 de fundamental importincia, pois permite definir, com toda preciso, 0 conceito de geraco de renda diferencial, como foi visto anteriormente. Finalmente, faremos, também, alguma referéncia 4s modificagdes na determinagao da magnitude do valor social, nas condigdes explicitadas e em suas implicagdes desde 0 ponto de vista da transferéncia de valor. ‘+. Admitiremos, para simplificar, que todos os capitais produtores do valor de uso A, que operam em cada uma das diferentes classes de terra, tém pregos de produgfo individual (PP) iguais. . Admitiremos, também, que os camponeses podem estar operando em qualquer classe de terra mas, seguramente, operam na mais inadequada. c, Para seguir produzindo A, a pequena empresa camponesa, por definicdo, nfo exige © lucto médio, e nem mesmo lucro. Para simplificar, suponhamos que exija o prego de custo individual, PCe.! d. Se o prego de mercado (Py) correspondesse ao prego de producfo individual dos capitais que se encontram na terra menos favordvel (PPyp), teriamos que: s — se PCe Pip, teria perda e tenderia a abandonar a produgao de A. Neste ultimo caso, quando se produzisse o abandono, a oferta de A diminuiria, © que incrementaria o prego de mercado, de maneira que Py > PPyp.!? Mas se isso acontecesse, ingressariam novos capitais na atividade produtiva de A até que, novamente Py = Pip. Entdo PPyp (prego de produgdo individual dos capitais que operam na terra menos adequada) é 0 prego de producfo regulador de mercado. A geragio de renda diferencial define-se a partir desse Pip. Evidentemente, 0 prego de produgSo regulador de mercado seria maior que 41 Nfo se trata, na verdade, da pequena empresa camponesa real, se é que existe. Aqui, utilizase a abstragZo de uma empresa que opera com essas caracterfsticas. E, talvez, um recurso formal. 12 Enquanto PCe > PM, nfo haveria tendéncia de retorno a A, por parte das pequenas empresas camponesas. 116 PPip, se os novos capitais s6 pudessem ingressar no setor A, em terras inferiores 4s que determinam PPyp. f. Portanto, em uma rama agricola qualquer, para a determinagdo da magnitude de seu prego de produgdo regulador de mercado sé importam as condigées de produ- ‘go das empresas capitalistas; as condigdes de produgdo do ndo-capital, ndo tém importincia. Se Py regulado por PPyp, chegasse a ser inferior as condigdes de existéncia de empresas nfo capitalistas do setor, esse espago tenderia a ser ‘ocupado por novos capitais. g. A mesma coisa nfo se pode afirmar da determinagdo do valor social produzido nessa rama. Dentro de nossa interpretagdo sobre a determina4o quantitativa do valor,"® 0 gasto de trabalho necessério de qualquer empresa do setor (capital ou nfo- capital) soma-se ao das demais para determinar a magnitude do valor total produzido. Isso significa que os pequenos produtores (no-capital) que recebem como remu- nerago preco préximo a seu prego de custo, estarao transferindo valor a outros produtores. Se o prego de mercado é superior ou igual ao valor social, essa transferéncia estaré dirigida a produtores de dentro do mesmo setor. Se é infe- rior, a transferéncia destina-se a produtores de outros ramos e, possivelmente, também a alguns situados no mesmo setor. h, Isso significa que o lucro total do capital social, além de estar formado por mais-valia (produto de si mesmo), inclui o valor produzido e nfo apropriado pelo nZo-capital (apropriado pelo capital). Dessa maneira, a existéncia de pequena produgfo nffo capitalista faz com que o lucro total do capital seja mais elevado e mais elevada a taxa de lucro. Portanto, o prego de produgao calculado com base nesse lucro incrementado, serd maior. i, Logo, embora o prego de producdo seja uma categoria tedrica que supde 0 no- monopélio no ambito do capital, seu contetido neste novo nivel de abstracdo supe © monopélio do capital sobre 0 ndo-capital. ABANDONA-SE A SUPOSICAO DE INEXISTENCIA DE FRONTEIRAS NACIONAIS Nesta sego vamos introduzir novo conceito: o de renda diferencial nacional em ‘oposig#o a renda diferencial geral. Na verdade, em termos mais apropriados, nao se trata de novo conceito, mas do resultado necessdrio do processo de concregao da andlise. Em nivel mais concreto, a categoria renda diferencial desdobra-se nos dois conceitos referidos. 13 Carcanholo, R. Dialéctica de la Mercancta y Teorta del Valor. San José, Costa Rica, EDUCA, 1982, especialmente p. 153 a 190. M17 ‘Veremos, posteriormente, que as duas “novas” categorias nos permitirfo definir, em certo nivel de abstrag4o, o que chamaremos renda absoluta nacional de monopélio. 118 a. Se abstrairmos a existéncia de fronteiras nacionais que limitem a mobilidade do capital, a taxa média de lucro serd igual 4 massa de mais-valia e valor produzido pelo ngo-capital, apropriado pelo capital total (de toda a sociedade) dividido por sua magnitude. A existéncia de fronteiras nacionais; ao determinar monopélios, faz com que as taxas médias nacionais de lucro nfo sejam iguais & taxa média geral. No entanto, isso nfo significa a inexisténcia da taxa média geral de lucro, pois se mantém como ponto de referéncia tebrico (alids, como sempre foi). b. Se perguntissemos sobre a geragdo de renda diferencial na atividade produtiva de um valor de uso agricola A, de ampla circulaggo no mercado mundial, 0 ponto de referéncia tedrico seria a taxa média geral de lucro, ¢ no a nacional. Se 0 prego mundial de mercado corresponde ou ndo Aquele que garante o lucro* médio geral para essa atividade, nfo importa nada para a geracdo da renda diferencial, s6 modificando sua apropriaga0. Poderfamos demonstrar facilmente que: RD = (1 + 8’) + [Pep — Pen-1) Xn-1 + (Pen — Pen-2) Xn-a + +... + (Peq — Poy) x1] ° onde: RD = volume total de renda diferencial gerada no setor A. = taxa média geral de lucro. n = nero de classes diferentes de terra usadas na produgio de A. Pcy+Pc2,..., PCy = prego de custo médio de uma unidade do valor de uso A nas diferentes classes de terra, Pep o mais elevado. X1, X2,..-.%n = volume de produgdo de A nos diferentes tipos de terra. Consideramos, para maior simplicidade, que o capital constante total ¢ igual a0 capital consumido. |. Tomemos, agora, um pais qualquer (j), produtor de A, no qual a taxa média nacional de lucro é inferior A geral. Isso significa que 0 preco de produgdo regulador do mercado nacional € inferior a0 preco de produgdo regulador do mundial, por exemplo, do valor de uso A. Poderfamos distinguir, entio, no pais j, a gerago de renda diferencial geral, da geragdo de renda diferencial nacional. No caso do pais j, esta é apenas uma parte daquela. f. Seja RD; = arenda diferencial eral que se gera em j, na produgo de A, Rd; = a renda diferencial nacional que é gerada em j, na produgdo de A, e Y1s You «+++ Yn = Volume de produgdo nacional de A, nos diferentes tipos de terra, gi = taxa média nacional de lucro. Entao: RD; = (1 + 8’) * (Pen — Pen-1)yn-1 + --- + Pen —Pes)yil, e Rj = (1 + 8')[(Pen — Pen-1)¥n-1 + .-. + Pen ~ Per)ysh, como: a

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