TÓPICOS EM TEORIA PSICOLÓGICA CONTEMPORÂNEA II – PSICOLOGIA
SOCIAL E PROBLEMAS CONTEMPORÂNEOS: O DESASTRE DE MARIANA MATHEUS MAIA MARTINS
Diário de Campo: Desastre de Mariana
O desastre tecnológico ocorrido na barragem de rejeitos minerais de
Fundão na cidade de Mariana em Minas Gerais no dia 05 de novembro de 2015 ainda deixa seus rastros em todos aqueles que foram, de diferentes maneiras, atingidos por essa situação. Dentre os atingidos no distrito de Bento Rodrigues, um grupo de moradores fazem parte de uma cooperativa denominada AHOBERO – Associação dos Hortifrutigranjeiros de Bento Rodrigues – cuja principal atividade era a produção de pimenta biquinho para a confecção de uma geleia de pimenta. Tive o conhecimento dessa associação por meio de uma atividade de campo realizada em maio de 2016 em uma disciplina obrigatória do curso de Ciências Socioambientais. Nessa visita, fomos ao local onde a AHOBERO mantinha sua sede pós-desastre e isso foi possível com a ajuda de uma ex-aluna de Ciências Socioambientais, Mariana Costa, cujos pais de seu padrasto moravam no distrito em questão e fazem parte da cooperativa. Sendo assim, combinei com ela para encontramos para uma conversar sobre os acontecimentos. A partir disso, no dia 27 de setembro de 2017, quarta-feira, me encontrei com a Mariana para conversamos sobre esse ocorrido. Pelo fato dela ter uma ligação com a associação, decidi focar nessa conversa que tive com a Mariana sobre essa cooperativa. Segundo ela, a AHOBERO que teve sua sede tomada pela lama da barragem de Fundão tem sua sede agora no centro da cidade de Mariana em um espaço alugado onde estão os equipamentos recuperados estão produzindo a geleia. Ela me confirmou que a associação, fundada em 2002, encontrava-se em processo de expansão e os negócios estavam indo bem até que o desastre tecnológico interrompeu esse processo de empreendedorismo deles quando mais de 1000 pés de pimenta foram soterrados pela lama. As pimentas e geleias recuperadas agora encontram-se nesse espaço alugado e, para que esse trabalho persista, a cooperativa necessita de doações para a compra de embalagens e potes além do propósito de aumentar a produção para expandir o negócio. A participação em algumas feiras de produtos orgânicos e da agricultura familiar vem contribuindo para que a AHOBERO retome a sua atividade que tinha grande importância para os associados antes do desastre. Segundo ela, tinha a impressão que o ânimo dos participantes da AHOBERO para continuar com negócio está mais forte do que aparentou no trabalho de campo realizado em 2016, já que nessa ocasião a visita estava mais ligado aos efeitos causados por essa devastação, bem como os problemas enfrentados pela população, como a moradia improvisada, o cartão-“benefício” e também a triste situação de inveja social dos moradores do centro de Mariana para com os atingidos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. Dessa forma, a conversa realizada no ano passado foi mais sentimental e emocional em que as ações da cooperativa ficaram em segundo plano já que não era o foco principal de discussão. Com relação aos pais de seu padrasto eles vivem situação parecida com as que estão enfrentando os demais atingidos de Bento Rodrigues, residindo em casa alugada, participando de reuniões e audiências e vivenciando os direitos infringidos pela atividade mineradora.