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Salvador
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Salvador
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AGRADECIMENTOS
Aos espaços compartilhados nos quais pude vivenciar intensas experiências: turma
de 2014 da Licenciatura em Dança do curso noturno com Daniela Guimarães,
outro grande amor e paz que encontrei no caminho. Cada olhar carinhoso, cada
conselho gentil e cada gesto de amor dançado são parte de mim; o elenco e a
equipe da intervenção Trilhos e Estações: uma viagem dançada da Calçada a
Paripe; e o Grupo X de Improvisação em Dança.
À Leda Muhana por ter confiado, amado, dançado. Aprendi anos-luz com seu
sorriso! A David Iannitelli, pelos conselhos, iluminações, improvisações. Admiro o
amor de vocês à arte da vida, a vida na arte, a vida da arte, a arte na vida...
À Jussara Setenta, pela acolhida, aprendizagens, sorrisos e compromisso com a
produção de conhecimento em Dança.
A Jacson Espírito Santo que me ensina sobre honestidade, conhecer, gestão com
amor, jogo de cintura, compromisso e, acima de tudo me ensina sobre o poder de
uma boa gargalhada!
À Tamires Maia e Larissa Medeiros, mais uma tríade que os tempos presentes
trouxeram para mais perto. Gratidão pelas experiências em movimento desde 1998.
“Tudo que nunca foi achado ficará também conhecido se procurado com
curiosidade”.
Tom Zé
8
RESUMO
Esta é uma pesquisa artístico-educacional que busca discutir e apresentar indícios
afetivos nos quais as ações corporais enquanto ações comuns entre a maioria de
nós, possam ser potenciais motes cocriativos em Dança. As ações corporais
consideradas aqui a partir de pressupostos da Arte do Movimento de Rudolf Laban
(1978) e autores atualizadores como Rengel (2015), são ações comuns entre nós,
ações que todos podem fazer, de acordo com as possibilidades de cada um. Essas
ações são compreendidas de maneira não dualista, portanto corponectiva
(RENGEL, 2007). O prefixo co, articulado com criação, traz uma inclusiva
contribuição para compreendermos que nossas ações corporais, presentes em
nossas relações diárias, se afetam simultaneamente, cenicamente ou não, de
maneira assimétrica. Sob atualizações de estudos provenientes das Ciências
Cognitivas e pesquisadores de processos de criação em Dança, descobrimos um
caminho transdisciplinar para efetivarmos as ações corporais como mote para
propostas cocriativas em Dança. Os conceitos de amor nos auxiliam a compreender
processos artístico-educacionais enquanto espaço de aceitação do outro como
legítimo na convivência (MATURANA, 1998), do diálogo (FREIRE, 1967, 2016) e da
cooperação (SENNETT, 2013) para agirmos cocriativamente. Ações corporais não
bastam em suas definições. É necessário buscar caminhos para efetivar seus
enunciados enquanto ação comum, compartilhada. Encontramos indícios para o
estudo dessas ações: improvisação, estudos sob o prisma da atenção e da
percepção de padrões de movimento e aspectos qualitativos do movimento. A
experiência, enquanto conceito abordado para nos auxiliar na compreensão da
nossa integralidade enquanto pessoa e espécie, é considerada enquanto fazer e
estar sujeito a algo, sob a perspectiva também das Ciências Cognitivas, dessa vez
com contribuições de Lakoff e Johnson (1999), além de autores como Dewey (2010)
e Larrosa (2014). Sendo assim, o intuito de estudar Dança de maneira
corresponsável, de modo que não restrinja seu fazer a determinado tipo de pessoa,
se faz necessário para assumirmos uma postura amorosa em mediações artístico-
educacionais. A abordagem metodológica adotada foi a bricolagem (DENZIN;
LINCOLN, 2006) enquanto postura ativa, flexível e estimuladora na construção e
reconstrução de conhecimento. As proposições apresentadas nesta pesquisa
encontraram seu espaço de movimento em três ambientes artístico-educativos
(“Quebra-cabeças Diários”, “Trilhos e Estações: uma viagem dançada da Calçada
a Paripe” e “Se quiser, deixe sua lembrança”), com três características em comum:
improvisação, apresentação em espaço público e criação compartilhada, ou
seja, cocriação.
LUCENA, Aline Soares de. Co-creative processes in dance: labanist bodily action on
the experiences of what is common for us. 119 pp. ill. 2017. Master Dissertation –
Escola de Dança, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.
ABSTRACT
This is an artistic-educational research that aims at discussing and presenting
affective evidence, in which the body actions as common actions among the majority
of us, may be potential co-creative themes in Dance. The body actions considered
here, from presuppositions of the Art of Movement by Rudolf Laban (1978) and
updating authors like Rengel (2015), are common actions, that everybody can
perform according to each one’s possibilities. Those actions are comprehended on a
non-dualist manner, therefore bodyconnective (RENGEL, 2007). The prefix co, linked
to creation, brings an inclusive contribution to the understanding that our bodily
actions, which are present in our daily relationships, affect themselves
simultaneously, scenically or not, in an asymmetrical way. Under study updates from
the Cognitive Sciences and researchers on creation processes in Dance, we
discovered a trandisciplinary way to carry out the bodily actions as a theme for co-
creative proposals in Dance. The concepts of love help us understanding artistic-
educational processes a space of acceptance of the other as legitimate in the
coexistence (MATURANA, 1998), of the dialogue (FREIRE, 1967, 2016), and of the
cooperation (SENNETT, 2013) to act co-creatively. Bodily actions do not suffice in
their definitions. It is necessary to seek ways of effect their enunciations as shared
common action. We have found indications for the study of those actions:
improvisation, studies on the prism of the attention and perception of movement
patterns and qualitative aspects of the movement. The experience, as an
approached concept to help us comprehend our integrality as a person and as
species, is considered as making and being subject to something, also under the
perspective of the Cognitive Science, this time with contributions from Lakoff and
Johnson (1999) besides authors like Dewey (2010) and Larrosa (2014). Therefore,
the intent of studying Dance in a co-responsible way, not restricting its making to a
specific kind of person, is necessary to assume a loving attitude on artistic-
educational mediations. The adopted methodological approach was the bricolage
(DENZIN; LINCOLN, 2006) as an active stance, flexible and stimulator the building
and re-building of knowledge. The propositions presented in this research found their
movement space in three artistic-educational environments (“Quebra-cabeças
Diários”, “Trilhos e Estações: uma viagem dançada da Calçada a Paripe” and “Se
quiser, deixe sua lembrança”), with three characteristics in common: improvisation,
perform on public space and shared creation, that is, co-creation.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 Lista das oito ações básicas, de acordo com Laban ............................. 34
Figura 2 Aula na turma de Estudos dos Processos Criativos IV, 2016 ............... 76
Figura 3 Aula na turma de Estudos dos Processos Criativos IV, 2016 ............... 77
Figura 4 Aula na turma de Estudos dos Processos Criativos IV, 2016 ............... 78
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
MERGULHO CONTÍNUO...
Observar...
Observar os movimentos das outras pessoas e os nossos.
Observar de que maneira nos sentamos, como nos locomovemos ou como
correspondemos a um gesto de afeto. De que jeito nos relacionamos com pessoas
íntimas ou desconhecidas, observar como nos comportamos socialmente.
7
A perspectiva de ações cotidianas articulada no trabalho de conclusão da Licenciatura em Dança,
foi a partir de breves noções sobre os estudos de Laban. Principalmente em maneiras de criação a
partir de níveis, planos, direções, fatores e qualidades de movimento em ações familiares, a fim de
proporcionar uma criação compartilhada e a descoberta de novas possibilidades em movimento. É
válido lembrar que dançarinos e coreógrafos como Steve Paxton e Yvonne Rainer, durante a
atividade da Judson Dance Theater (1962-1964), em Nova Yorque, experimentavam levar para cena
ações do cotidiano, ou comportamentos do cotidiano, porém o recorte desta pesquisa difere desse.
18
cocriamos, não estamos isolados das nossas emoções, das outras pessoas, de
quem somos, é tudo correlacionado.
No decorrer das experiências datadas no nosso histórico, as concepções
sobre o que é/pode ser Dança começaram a ser modificadas a partir de perspectivas
contemporâneas, de transdisciplinaridade perante as formas de conhecimento.
Quem pode fazer Dança? Como se pode criar em Dança? Posso dançar sem
necessariamente estar em movimento perceptível? Desvincular a Dança da Música,
de passos codificados, de tempos preestabelecidos e de outros padrões do que se
espera que seja uma dança, foram partes dessa mudança de paradigma.
Argumentamos que a potência da Dança está presente também na
disponibilidade em compartilhar, em propor ações artístico-educativas amorosas.
Isso implica abrir um espaço de escuta que não doutrina a partir de relações
hierárquicas autoritárias, mas que pode provocar transformações em relações
assimétricas, no sentido de cada pessoa ter garantido seu espaço e importância de
atuação, independentemente do grau de criação cênica ou atuação na sala
(professor e aluno, por exemplo). O desenvolvimento de uma escuta refere-se ao
estar atento ao outro, seja pessoa, situação ou algum elemento cênico. Talvez, a
mais importante das mudanças de paradigmas tenha sido: compreender que só
somos possíveis via corpo que não é dualista (corpo e mente separados) e que esse
corpo necessita estar em contato, correlação com o outro, necessita estar em
vínculo para coexistir.
A respeito do termo vínculo, Sodré8 (2002) observa:
para abarcar tudo que foi, está sendo e o que desejamos que continue a ser
experienciado, essa palavra seria amor.
Para dissertar sobre as experiências vivenciadas, faz-se necessário
argumentar sobre o entendimento de Educação, aqui em consonância com Paulo
Freire9 (1967, 1996, 2016), pelo caráter pedagógico do Tirocínio Docente10 e das
outras experiências. Argumentamos ainda que mesmo em processos artísticos,
acontecem processos educacionais, independentemente de estarmos inseridos em
ambiente institucionalmente educacional. Portanto, “[...] ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção”
(FREIRE, 1996, p. 22). Frisamos também que os termos educativo, educação,
educacional ou outro relacionado à Educação, utilizados nessa pesquisa, não se
referem apenas ao ambiente escolar formal ou não formal, mas abarca o conhecer,
a Educação em termos de aprender/ensinar algo, de ensino/aprendizagem. Para
evitar desalinhos com nomenclaturas, denominaremos dois agentes: professor e
aluno, ou às vezes dançarino e coreógrafo/propositor quando nos referirmos a
aspectos com ênfase cênica. Em algumas partes do texto separamos o termo
artístico do termo educacional/educativo apenas por uma adaptação ao contexto
escrito ou quando desejamos dar ênfase a um aspecto mais do que outro. Porém é
necessário saber que os dois coexistem e suas características singulares são
coimplicadas, encarando assim o ato de fazer Dança como um modo de
ensino/aprendizagem do movimento como um todo.
A diversidade de conceitos abordados requereu buscar por um procedimento
metodológico que auxiliasse na compreensão da complexidade dos processos
cocriativos experienciados e que respeitasse a particularidade de cada um deles. O
modo que escolhemos para atuar nos processos foi o do bricoleur interpretativo,
como proposto por Denzin11 e Lincoln12 (2006).
9
Paulo Freire foi educador e filósofo brasileiro, considerado mundialmente um expoente pensador da
Pedagogia e da Pedagogia crítica, que acredita na emancipação do sujeito e em ações amorosas em
Educação.
10
Atividade obrigatória do Mestrado em Dança (UFBA) que consiste em ministrar aulas na
graduação, sob supervisão do professor do módulo/disciplina.
11
Norman Denzin é professor de Comunicação da University of Illinois, Urbana-Champaign (EUA). É
pesquisador nas áreas de Comunicação, Sociologia e Humanidades.
12
Yvonna Lincoln é professora na área de Administração Educacional do Departamento de
Desenvolvimento de Recursos Humanos na Texas A&M University, (EUA).
20
13
Joe Kincheloe (1950-2008) foi professor na faculdade de Educação em Montreal – Canadá, a
McGill University. Pesquisador nas áreas de Educação, Cognição, Estudos Culturais, entre outras.
Estudou e publicou sobre a bricolagem proposta por Norman Denzin e Yvonna Lincoln.
14
Odailso Berté é coreógrafo, professor de Licenciatura em Dança, na Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM) – RS. Mestre em Dança (UFBA) e doutor em Arte e Cultura Visual pela Universidade
Federal de Goiás (UFG).
21
15
Humberto Maturana é biólogo chileno e professor da Universidade do Chile. Junto com Francisco
Varela criou a biologia do conhecer. Pesquisa assuntos sobre Educação, Linguagem, Emoção, entre
outros temas.
16
Ciências Cognitivas é uma recente reunião de disciplinas, datada por volta de 1970.
Resumidamente, seus esforços são em volta da compreensão da mente humana através de uma
abordagem altamente interdisciplinar, permitindo a contribuição de várias linhas de pesquisa nas
áreas da Neurociência, Matemática, Filosofia, Linguística, Psicologia, Ciência da computação,
Biologia, entre outros.
17
Jonas Karlos Feitoza é professor assistente no curso de Licenciatura em Dança da Universidade
Federal de Sergipe (UFS), atua em danças de salão, dança contemporânea, entre outras.
18
Ivana Menna Barreto é bailarina e pesquisadora carioca. Doutora em Comunicação e Semiótica
pela PUC-SP e fundadora da companhia Movimento e Luz.
19
Richard Sennett é professor da London School of Economics (RU), New York City University e
Massachusetts Institute of Technology (EUA). Historiador e sociólogo norte-americano.
20
Neide Neves é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Organizou didaticamente,
junto com Rainer Vianna a denominada Técnica Klauss Vianna.
21
Rosa Hercoles é professora do curso de Comunicação e Artes do Corpo da PUC-SP. Atua
principalmente nos seguimentos: Eutonia, Dança contemporânea, Dramaturgia e Ensino da Dança.
22
Daniela Bemfica Guimarães é professora doutora da Escola de Dança da UFBA e pesquisadora do
Grupo de Pesquisa Poéticas Tecnológicas (UFBA) desde 2008. Suas pesquisas são em torno da
improvisação, composição e processos criativos em Dança, Vídeo e Cinema. Daniela Guimarães foi
professora do módulo Estudos dos Processos Criativos IV.
23
Hugo Leonardo da Silva é doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA e
atua principalmente em improvisação e contato improvisação em Dança sob aspectos das Ciências
Cognitivas.
23
24
Christine Greiner é jornalista e atua principalmente nos temas: Teoria da Comunicação, corpomídia
(juntamente com Helena Katz), Cultura japonesa, Artes e Comunicação. É professora assistente da
PUC-SP, e atua também como membro do corpo editorial de diversos periódicos.
25
John Dewey (1859-1952) foi psicólogo, pedagogo e filósofo norte-americano. Embora seja
conhecido por suas publicações sobre educação, Dewey também escreveu sobre muitos temas, tais
como: Arte, Estética, Epistemologia, Ética, entre outros.
26
Jorge Bondía Larrosa é professor de Filosofia da Educação da Universidade de Barcelona (ESP).
Atua em temas como: Literatura, Educação, Filosofia e Linguagem.
27
George Lakoff aposentou-se como professor de Linguística e Ciência Cognitiva na University of
California, Berkeley (EUA). Atualmente é diretor no Center for the Neural Mind & Society.
28
Mark Johnson é professor de Artes Liberais e Ciências no departamento de Filosofia da University
Of Oregon (EUA). Atua em áreas como: Filosofia incorporada, Ciência e Linguística Cognitiva.
29
Sugestão de consulta: 2.2 ATENÇÃO E PERCEPÇÃO: experiência em ação, p. 56.
30
Patrícia Leal é artista, professora no departamento de Artes da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN) e pesquisadora. Doutora em Artes na Unicamp – SP.
31
“Quebra-cabeças Diários” foi um espetáculo cocriado com a turma Estudos dos Processos Criativos
IV, curso de Licenciatura em Dança – noturno (UFBA), semestre 2015.2 com a profa. Dra. Daniela
Guimarães.
32
“Trilhos e Estações: uma viagem dançada da Calçada a Paripe” foi uma intervenção em espaço
público, contemplada pelo edital Arte em Toda Parte 2016, pela Fundação Gregório de Mattos
(Salvador – BA). Direção: Lilian Graça.
33
“Se quiser, deixe sua lembrança” foi uma instalação itinerante proposta pelo Grupo X de
Improvisação em Dança, em 2016.
24
34
Sugestão de consulta: 1.2 COCRIAÇÃO: ações compartilhadas, p. 35.
25
26
CAPÍTULO I
CORPO, MOVIMENTO, DANÇA
A dança pode ser considerada como a poesia das ações corporais no espaço.
Rudolf Laban, 1978
O que de comum tem entre você e eu? Temos pele, temos músculos, ossos,
somos seres humanos, temos algumas ideias de passado, buscamos viver o
presente e quem sabe um futuro. Existem diferentes maneiras de lidarmos com o
tempo, com o espaço, com normas e regras... Temos interesses, hábitos, formas de
agir em determinadas situações. E tudo isso vai mudando conforme o passar do
tempo. Conhecemos, transformamos, criamos, tríade constante. E para não
esquecer, Boaventura de Sousa Santos35: “[...] todo conhecimento é
autoconhecimento”36. Conhecemos através de quem somos (ou de quem estamos?),
de quem os outros são/estão, da imagem, do som, do toque, do movimento, do
texto, dos sentidos. Ah! Outra coisa que temos em comum, não menos importante:
ações corporais37.
- Nossa, mas que óbvio! Todo mundo sabe andar, sorrir, falar, correr...
- Sim! Ou melhor, nem todo mundo, nem tudo igual. A grande maioria sabe
como se locomover, se comunicar... Se considerarmos o quê e como cada um faz
determinada ação, em determinado momento, sob determinada emoção...
No fim das contas nunca é tão simples, não é mesmo? Apesar de não ser
imediato de explicar como são de fazer, aqui nos perguntamos, por que essas ações
se tornam tão óbvias com o passar do tempo, ao ponto de nem questionarmos sua
existência? Ao ponto de não argumentarmos suas possibilidades de transformação,
portanto, de criação?
35
Boaventura de Sousa Santos é professor doutor aposentado da Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra, em Portugal. Cientista social, atua com o objetivo de desenvolver novos
paradigmas políticos para transformação social.
36
SANTOS, Boaventura de S. Um discurso sobre as ciências. 5ª edição. São Paulo: Cortez, 2008.
37
Em algumas vezes no decorrer da dissertação escrevemos apenas ações, ao invés de ações de
esforço básica, ação corponectiva ou ação corporal, por exemplo. Mas saibamos que tratam-se todas
de ações corporais, porque são corpo. Conversaremos sobre o assunto nas páginas a seguir.
27
[...] Laban foi uma pessoa muito eclética, visto que seu trabalho
recebera influências dos mais diversos tipos: tanto da filosofia
chinesa de Lao-tsé e K’ung Fu-tsé, como de filósofos como
Nietzsche, Kierkegaard e Heidegger; tanto da psicologia de Freud
como da de Jung; tanto do misticismo do tarô, dos princípios da
maçonaria, da antropossofia de Rudolf Steiner, da cristalografia de
Goldschmidt, como também da matemática de Platão e Pitágoras, da
obra de Darwin, de estudos sobre anatomia e fisiologia [...].
(GUIMARÃES38, M. C., 2006, p. 40)
40
O termo teóricoprático, escrito junto, indica a não dicotomia da teoria e da prática. Quando lemos
ou escrevemos, estamos praticando, quando dançamos, estamos teorizando, cada um com sua
ênfase.
41
Sugestão de consulta: 2.3 FATORES E QUALIDADES DE MOVIMENTO: a transformação de
padrões nas ações corporais, p. 63.
30
47
Lenira Rengel prefere usar a expressão eucorpo do que meu corpo, que acaba por reforçar o
dualismo.
32
48
Laban denomina o centro do corpo na região do umbigo e sua conceituação espacial parte desse
centro. Porém o coreógrafo contemporâneo William Forsythe, estudioso das pesquisas de Laban,
propôs outra maneira de pensar o centro do corpo, a partir de centros do corpo que ocorrem
simultaneamente ou em sucessão (RENGEL, 2015). Ou seja, o centro é determinado a partir do
impulso criativo do dançarino/professor e não mais restrito a apenas uma região do corpo.
34
Laban também utilizou outros termos para falar sobre ação básica, tais como:
ação corporal completa, ação primária, ação de esforço completo, ação elementar e
dinâmica de movimento. Ao analisarmos e esmiuçarmos as ações presentes no
nosso dia-a-dia (ações combinadas, ações incompletas, ações derivadas, dentre
outras), descobrimos que elas se transpõem nas ações básicas. Apesar da
conceituação sobre ação corporal, que tratamos aqui, não desejamos enclausurar a
ação somente dentro das oito possibilidades de ações básicas, apresentadas por
Laban, mas possibilitar através de relações teóricopráticas e experiências dançadas,
a reconfiguração dos seus estudos e disparar questionamentos. Aqui nesse estudo
propormos aprofundar em duas dessas noções, a saber: ação básica e ação
combinada.
Será que temos uma breve percepção da quantidade de informação presente
na ação de se deslocar em linha reta, por exemplo? Quais as ações presentes
nesse ato? No caso de pessoas que se locomovam com o uso das pernas,
precisamos esticar uma perna em direção à frente do corpo, repousar o pé sobre o
chão, suspender o pé de trás, dobrando o joelho e repetindo a ação de esticar a
perna em direção à frente do corpo e assim por diante, alternadamente. Somente
nesse exemplo no mínimo quatro ações predominantes: esticar (a perna em
determinada direção), levantar (o pé para dar outro passo), dobrar (o joelho) e
pressionar (o pé sobre o chão). Assim, há uma aglutinação de ações, deduzimos,
portanto, que por esse motivo Laban as denominou de ações combinadas. Isso sem
considerarmos toda a sensação, juntamente com as conceitualizações e correlações
35
que fazemos durante o ato de andar. As ações combinadas permeiam esta pesquisa
no que concerne ao processo de criação a partir de ações que todas as pessoas
sejam capazes de executar (considerando as possibilidades de cada um), ações do
dia-a-dia como pegar um copo, andar, varrer o chão, deitar, subir uma escada.
As ações tornam-se movimentos comuns entre as pessoas. Porém, o fato de
ser comum não significa que são idênticas entre si, muito menos se trata de uma
propriedade, enquanto algo que se possui. Esposito49 (2007) afirma que a
comunidade (o comum), não é um conjunto de pessoas que têm uma propriedade
(“propriedade”, nesta pesquisa, pode ser um repertório de ações, por exemplo). O
radical munus, significa dom, dívida, falta. Mas o sentido de “dom” não é algo que se
recebe, ao contrário, é algo que se deve doar, ou melhor, condoar. As nossas ações
atuam neste condoar, já que se manifestam em respeito a, em relação a, através do
vínculo. Em relação ao outro, à alteridade, ao mundo, ao espaço. Por isso, nas
experiências artístico-educacionais em Dança, ainda que ações sejam um repertório
reconhecido por várias pessoas, elas não caracterizam uma homogeneidade. O
comum e/ou sermos em comum e/ou termos em comum, sejam ações, movimentos,
danças, pensamentos, é buscarmos encarar os limites, nos expor, partir para o
outro. Onde não seja necessário chegar em uma ação única para todos, em um
espaço e em uma dança que se fecha em si mesma (RENGEL; LUCENA, 2015),
onde se considere as potências presentes na heterogeneidade das ações.
Dizemos que nossas ações corporais são comuns por serem comuns a outras
pessoas como locomover-se, girar, torcer, dobrar. E dizemos também que nossas
ações, ao longo do tempo se tornam um padrão de movimento50. O que queremos
dizer é que nossas ações corporais, enquanto comuns, pertencem a nossa esfera
coletiva, como ações que todos podem fazer (salvo possíveis limitações) e nossas
ações corporais enquanto padrões de movimento se referem à esfera particular, ao
jeito de fazer que cada um encontra em termos de movimento. Portanto, afirmamos
que possuímos ações em comum porém elas não são homogêneas, não são iguais
para todos. A cada dia em que andamos, mesmo que seja o mesmo trajeto, durante
uma média recorrente de tempo, esse andar nunca será igual, mesmo que se trate
da mesma ação de andar ou, na tentativa de um esforço intencional em “fazer do
49
Roberto Esposito é um filósofo italiano e professor de Filosofia Teórica. Atuante em temas como
Política, Bioplítica, Arte, Antropologia, e Teologia.
50
Sugestão de consulta: 2.1 AÇÃO ENQUANTO PADRÃO DE MOVIMENTO: questionamentos e
pistas nas ações corporais, p. 49.
36
51
Albert Einstein (1879-1955) foi um expoente físico teórico alemão, da Física moderna, criador da
teoria da relatividade geral. Cientista de vanguarda, dispondo de teorias comprovadas até hoje como
a existência das ondas gravitacionais.
52
Craig Stanford é professor de Antropologia e Ciências Biológicas e Antropologia na University
Southern California (EUA).
37
53
Afetar aqui é tratado não como noção de afeto, amizade ou simpatia. Afeto ou afetivo não é só
emocional. Afeto pelo fato de nos afetar, nos atingir, sem juízo de “bom” ou “mau”.
54
Lucas Valentim Rocha é professor da Escola de Dança da UFBA, mestre pela mesma instituição e
atua também como dançarino, produtor, coreógrafo, diretor e ator.
39
55
[…] a cocondução, ou seja, a cooperação não como uma questão simétrica, ou medida das
qualidades e/ou quantidades de ações de movimento nesta dança, mas como corpohomólogo,
entendendo que as diferentes ações do corpo em relação aos diversos ritmos que compõem a prática
a dois se coadunam (FEITOZA, 2011, p.12).
40
56
Sugestão de consulta: 3.3 SE QUISER, DEIXE SUA LEMBRANÇA, p. 100.
57
Sugestão de consulta: 3.2 TRILHOS E ESTAÇÕES: UMA VIAGEM DANÇADA DA CALÇADA A
PARIPE, p. 87.
41
58
Humberto Maturana argumenta sobre animais sociais e comunidades sociais: “[...] todas as
comunidades atuais de insetos sociais, colmeia, formigueiro ou cupinzeiro, qualquer que seja sua
42
todos os animais têm consciência disso, nem todos os animais operam no domínio
de ação que o amor sugere, o do compartilhamento, mas o aparato biológico dos
animais sociais, no qual nos encaixamos enquanto seres humanos, nos permite
essa condição. Isso não implica dizer que nos tornamos como uma só pessoa
quando trabalhamos em conjunto, implica dizer que nos tornamos uma unidade
coletiva. Ou seja, trabalhamos em prol de uma heterogeneidade respeitada e não de
uma homogeneidade imposta.
complexidade, são o presente de uma história de conservação de relações de aceitação mútua entre
seus membros, que começa na relação fêmea-ovo. Se as fêmeas tivessem se separado de seus
ovos ou os tivessem destruído ao tocá-los ou chupá-los, essa história não teria ocorrido. [...] Relações
humanas que não estão fundadas no amor — eu digo — não são relações sociais. Portanto, nem
todas as relações humanas são sociais, tampouco o são todas as comunidades humanas, porque
nem todas se fundam na operacionalidade da aceitação mútua” (MATURANA, 1998, p. 26).
59
Gladistoni Tridapalli é bailarina e produtora. Mestre em Dança pela UFBA. Professora da
Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR.
43
É frequente o pensamento de que diferimos dos outros seres vivos pelo fato
de sermos racionais. A característica racional, de acordo com esta doxa, nos afasta
das emoções, ditas puramente instintivas, animais. O que significa isso senão a
cisão razão-emoção (e humano-animal, natureza-cultura), na qual atitudes
denominadas racionais são postas em evidência, em detrimento das emoções? Ao
nos declararmos seres racionais acabamos por viver
porque seu cotidiano na dança é tão cruel que não se possa agir com amor.
Não porque uma coisa dita na raiva seja menos racional que uma
coisa dita na serenidade, mas porque sua racionalidade se funda em
premissas básicas distintas, aceitas a priori, fundada numa
perspectiva de preferências que a raiva define. Todo sistema racional
se constitui no operar com premissas previamente aceitas, a partir de
uma certa emoção. (MATURANA, 1998, p. 15-6)
Segundo Freire (1967, 2016) o amor é a condição para o diálogo, para uma
atitude dialógica, ou seja, uma atitude de olhar para o outro, de alteridade. Rita
Aquino (2015), em vínculo com Paulo Freire, comenta que o diálogo trata de uma
relação horizontal entre duas (ou mais) pessoas, criticamente em sua origem e em
sua capacidade geradora de criticidade. “[...] quando os dois pólos do diálogo se
ligam assim, com amor, com esperança, com fé um no outro, se fazem críticos na
busca de algo. Instala-se, então, uma relação de simpatia entre ambos. Só aí há
comunicação” (FREIRE, 1967).
60
Rita Ferreira de Aquino é professora doutora na Escola de Dança e no Programa de Pós-
Graduação em Dança na UFBA. Atua como artista, educadora e pesquisadora com interesse em
práticas colaborativas.
47
Isto ocorre porque, nesses casos, não importa o que os outros digam
ou pensem, os interesses que tenham, nem se eles vivem em
domínios de coerências de ação diferentes das nossas. Nós os
aceitamos, sem dúvida alguma. No caminho explicativo da
objetividade-entre-parênteses não há verdade absoluta nem verdade
relativa, mas muitas verdades diferentes em muitos domínios
distintos. (MATURANA, 1998, p. 48)
61
Sugestão de consulta: 1.2 COCRIAÇÃO: ações compartilhadas, p. 35.
49
CAPÍTULO II
POSSIBILIDADES EM AÇÃO
Esse meio do caminho vem fazer perguntas, indicar pistas, sugerir ações. A
maneira que encontramos de prosseguir com os estudos sobre ações corporais foi
através de indícios contidos nas pesquisas das Ciências Cognitivas e nos estudos
de Laban, novamente. Consideramos argumentos sobre padrão (ou, padrão de
movimento), atenção, fatores e qualidades de movimento, enquanto conhecimentos
colaboradores para o estudo de ações corporais. Descobrimos pistas de um espaço
dinâmico de cocriação nos estudos sobre improvisação, por esse ter sido um fio
condutor nas três experiências artístico-educativas relatadas no terceiro capítulo.
Cocriamos, juntos: Richard Sennett, Christine Greiner, George Lakoff, Rudolf
62
Helena Katz é crítica de Dança e professora do curso de Comunicação e Artes do Corpo e no
Programa em Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Desenvolve, em parceria com Christine Greiner,
o conceito de corpomídia.
50
Laban, Lenira Peral Rengel, Patrícia Leal, Lia Sfoggia, Francisco Varela, Linda
Davidoff, Neide Neves, Helena Katz, Daniela Guimarães, Mark Johnson, Jorge
Vieira, Eleanor Rosch, Camila Gonçalves, Humberto Maturana, Maria Claudia
Guimarães, John Dewey, Kathya Godoy, Evan Thompson, Rosa Hercoles, Hugo
Leonardo Silva, Alva Nöe, Jorge Larrosa e todos os nossos outros co.
Vale lembrar, mais uma vez, o indício apresentado na primeira parte: são as
ações corporais que permitem a cocriação, que por sua vez requer ações amorosas
para serem adequadas ao tipo de troca que propõe. Porém, percebemos que não
basta apenas saber sobre estes assuntos mas buscar caminhos de efetivar seus
enunciados. Durante o processo dessa pesquisa foram necessárias abordagens de
outros assuntos e caminhos para potencializar nossa ação principal, que aconteceu
também em forma de tríade: problematização, atenção, qualidade.
63
Texto original: “Living systems must categorize. Since we are neural beings, our categories are
formed through our embodiment. What that means is that the categories we form are part of our
experience! […] Categorization is thus not a purely intellectual matter, occurring after the fact of
51
experience. It is part of what our bodies and brains are constantly engaged in” (LAKOFF; JOHNSON,
1999, p. 19).
64
Sabemos que isso não é possível considerando nosso inconsciente cognitivo, assunto que
apresentaremos no item a seguir. Sugestão de consulta: 2.2 ATENÇÃO E PERCEPÇÃO: experiência
em ação, p. 56.
52
65
Kathya Maria Ayres de Godoy é professora no Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista
(UNESP), no curso de bacharelado em Artes Cênicas e Visuais, licenciatura em Arte e Teatro e no
Programa de Doutorado e Mestrado em Artes. É também bailarina e coreógrafa.
53
Por exemplo: uma coisa é fazer aulas de balé com o propósito final
de ser um exímio bailarino, fato que requer a completa formatação do
movimento em um tipo definido de configuração neuromuscular,
portanto, menos plástica. Outra é fazer esse tipo de aula com o
propósito móvel de apreender as instruções de movimento e o
conhecimento que elas agregam. Trata-se, portanto, do estudo das
estruturas lógicas que operam naquele tipo de linguagem e, isto, é
possível de manipulação. (HERCOLES, 2011a, p. 28)
55
66
Sugestão de consulta: CAPÍTULO III – EXPERIÊNCIAS EM COCRIAÇÃO, p. 69.
56
67
Sugestão de consulta: 2.1 AÇÃO ENQUANTO PADRÃO DE MOVIMENTO: questionamentos e
pistas nas ações corporais, p. 49.
58
não), a proposição é a de que nos atentemos ao fato de que em grande parte dos
acontecimentos diários “pensamos e agimos mais ou menos automaticamente,
seguindo certas linhas de conduta, que não se deixam apreender facilmente”
(LAKOFF; JOHNSON, 1980, p. 46). E por isso, essas ações corporais requerem
atenção. O automatismo afasta nossa atenção. Nossa atenção possibilita uma
postura cuidadoso, amorosa, sendo estes argumentos básicos para uma cocriação
em Dança.
Christine Greiner (2010a), apresenta alguns conceitos considerados ao longo
do tempo sobre o que seria o ato de perceber, a percepção. O mais comum deles
diz respeito a considerar que a percepção é algo apenas conceitual (no senso
comum de que conceito é algo externo ao corpo) e anterior à ação corporal. Porém a
autora nos atenta à pesquisas recentes sobre a perspectiva das Ciências Cognitivas,
que afirmam uma mente corporificada68 (VARELA; THOMPSON; ROSCH, 1991), ou
seja, a integração dos nossos processos corporais, coimplicados em sistema
sensório-motor e conceitual. Vale lembrar:
Greiner (2010a), de acordo com Alva Nöe70 (2004), comenta que a percepção
é algo que fazemos, como uma ação, e não algo que acontece conosco.
68
Termo original: embodied mind.
69
Texto original: “The embodied-mind hypothesis therefore radically undercuts the
perception/conception distinction. In a embodied mind, it is conceivable that the same neural system
engaged in perception (or in bodily movement) plays a central role in conception. That is, the very
mechanisms responsible for perception, movements and object manipulation could be responsible for
conceptualization and reasoning” (LAKOFF; JOHNSON, 1999, p. 37-8).
70
Alva Nöe é professor de Filosofia na University of California, Berkeley (EUA), seu foco de pesquisa
é a consciência e as teorias da mente.
59
73
Texto original: “[…] Accessing memories relevant to what is being said; Comprehending a stream of
sound as being language, dividing it into distinctive phonetic features and segments, identifying
phonemes, and grouping them into morphemes; Assigning a structure to the sentence in accord with
the vast number of grammatical constructions in your native language; Picking out words and giving
them meanings appropriate to context; Making semantic and pragmatic sense of the sentences as a
whole; Framing what is said in terms relevant to the discussion; Performing what is said in terms
relevant to what is being discussed; Constructing mental images where relevant and inspecting them;
Filling in gaps in the discourse; Noticing and interpreting your interlocutor's body language;
61
Mas, esse algo sempre acontece em relação a nós mesmos, portanto, há que
levarmos em conta a argumentação de Larrosa. Silva (2014), com referências em
Dewey (2010) e também em Nöe (2004) faz uma articulação entre percepção e
experiência, considerando-as enquanto ações do corpo, ou seja, elas são vistas de
acordo com uma abordagem enativa74, corponectiva, como vimos no capítulo
anterior. “Uma experiência tem padrão e estrutura porque não apenas é uma
alternância do fazer e do ficar sujeito a algo, mas também porque consiste nas duas
coisas relacionadas” (DEWEY, 2010, p. 122). Silva (2014), diz que para Dewey é
justamente na simultaneidade desses dois aspectos que os processos de percepção
são intensificados além da mera capacidade de reconhecimento.
Ajudando-nos com esses estudos introdutórios sobre o que é uma
experiência, Larrosa (2014) propõe dois lugares que nos interessa saber enquanto
mais uma postura acessível para possibilitar os estudos das ações corporais em
processos cocriativos em Dança: o sujeito da experiência e o saber da experiência.
O sujeito da experiência é um ser passivo, mas essa passividade se caracteriza
como disponibilidade, abertura e receptividade, em detrimento de uma mera
oposição entre ativo e passivo. Sujeito da experiência é considerado sujeito exposto,
espaço de acontecimentos, superfície sensível (LARROSA, 2014). É importante
frisar que esse espaço de acontecimentos não acontece como algo de fora que vem
para dentro, mas sempre numa permuta, de correlações corpo/mente,
corpo/ambiente, eu/você. Já o saber da experiência trata do sentido ou do não
sentido que damos ao que (nos) acontece, trata-se de um saber pessoal e relativo.
E, ainda que duas pessoas passem pelo mesmo acontecimento, a experiência de
cada uma é singular (DEWEY, 2010; LARROSA, 2014), assim como nossas ações
corporais.
não nos damos conta das possibilidades expressivas que podem ser estimuladas
em seu estudo. Predispor-se a aprimorar os processos atentos é relevante nessa
pesquisa por argumentarmos que deste modo podemos observar o que ocorre
conosco quando nos movemos e as possibilidades de compartilhamento que temos
a partir do aparato corporal que temos/somos, sem restringir ninguém.
Compreendendo também que o nosso processo de percepção (que é ação corporal)
se organiza como mediador em tudo o que nos circunscreve, sendo nós construtores
do que percebemos, numa espécie de coautoria ininterrupta com o ambiente onde
cada processo implicará numa forma singular de organização (KATZ, 2003).
75
A partir de pesquisas em Laban, Rengel (2015) descreve nos movimentos de um bebê, a
emergência de cada um dos fatores. O primeiro fator a surgir é a Fluência, como quando um bebê
ainda não tem um controle mais refinado/objetivo de seus movimentos e se move em fluência livre ou
controlada. O segundo é o Espaço, quando o bebê descobre sua mão, o berço, a mãe, ou seja, o seu
vínculo com o outro. Quando compreende que existe o “eu” e o “outro”. Em seguida vem o fator Peso,
quando o bebê começa a engatinhar e (salvo as possibilidades de cada um) a por força para ficar de
pé, lidando com a gravidade. E por último, o fator Tempo, quando a criança começa a compreender
que sua mãe sai para fora de casa mas volta. Quando existe a hora de dormir, de comer, etc. Porém,
nós não experienciamos esses fatores de maneira fragmentada ou linearmente consecutiva, os
quatro fatores acontecem de forma simultânea, o que modifica são as ênfases dadas em cada tipo de
movimento, em cada tipo de ação, de acordo com o contexto.
65
é uma coisa só (como acontece com o fator fluência)” (RENGEL, 2015, p. 142),
facilitando assim o reconhecimento do eu e do outro, seja objeto ou pessoa. Sua
função é a comunicação, pode indicar aspectos intelectuais, expressando o onde do
movimento (RENGEL, 2015; SFOGGIA, 2010). O espaço direto é um uso mais
restrito e o espaço flexível o uso mais amplo do espaço (RENGEL, 2015).
Nomenclaturas possíveis: espaço indireto, único foco, multifocal, multifocado.
76
Sugestão de consulta: 2.1 AÇÃO ENQUANTO PADRÃO DE MOVIMENTO: questionamentos e
pistas nas ações corporais, p. 49.
70
CAPÍTULO III
EXPERIÊNCIAS EM COCRIAÇÃO
AÇÃO.
COMUNICAÇÃO. CRIAÇÃO. COOPERAÇÃO.
IMPROVISAÇÃO.
COCRIAÇÃO.
AÇÃO.
Como criamos? O que nos motiva criar? Quando estamos criando, ou quando
não? O que impede criar? Criação é momento de dúvida, de crise, de...
Durante a terceira e última etapa desta pesquisa, vamos narrar como a tríade
corpo, movimento e dança, que desdobrou em ação, cocriação e amor em termos de
problematização, atenção e qualidade, se articulou com três espaços artístico-
educativos, a saber:
77
Referenciamos esses dois termos (coartístico e coeducativo) citados por Kathya Maria Ayres de
Godoy, no parecer da qualificação desta pesquisa.
78
Estudos dos Processos Criativos IV (EPC IV) é um módulo obrigatório nos cursos de Licenciatura e
Bacharelado em Dança, na Escola de Dança da UFBA. O Tirocínio Docente aconteceu no semestre
2015.2 (que aconteceu em 2016 devido à greve na UFBA).
79
Alexandre Espinheira é doutor em Música pela UFBA. Atualmente é músico na Escola de Dança da
UFBA, atua nas áreas de Artes com composição, música eletroacústica e computacional, e é
percussionista.
80
Gilberto Santiago é músico e atua como percussionista na Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA),
além de compor o corpo de servidores técnicos da Escola de Dança da UFBA, atuando como
percussionista.
73
proposto, reconhecidos pelo grupo que estava de fora, observando o jogo. Esse foi
um dos jogos de improvisação em que mais comentamos sobre saber quando e
como sair ou entrar em cena, prestar atenção no todo para ponderar se deve ou não
compor a cena ou se deixa ela acontecer sem você. “Abandonar para acontecer83”,
Daniela Guimarães frisava bastante sobre o aspecto da generosidade na
composição em improvisação, em deixar uma cena acontecer mesmo que você não
faça parte dela.
Durante os nossos processos criativos diários, os jogos em improvisação e as
indicações pertinentes de Daniela Guimarães nos fizeram compartilhar experiências
nas quais estávamos engajados no momento. Ou seja, compondo com o mesmo
objetivo: dançar juntos. Essas sensações e considerações eram apresentadas em
nossas conversas após cada dia de aula, momento que prezávamos bastante,
espaço de escuta e diálogo. As proposições de Daniela Guimarães auxiliaram na
busca de momentos mais presentes em cena e de certa forma na vida. O ambiente
que cocriamos era composto de intensidades presentes em nossos dias e solicitava
atenção e carinho com a Dança que compúnhamos em tempo presente. Um
ambiente de amor, de cocriação.
As aulas mediadas por mim tiveram um planejamento, porém o mesmo foi
flexível e decidido em partes no momento, enquanto acontecia a aula. Devido ao
desejo de transdisciplinaridade incluído nesse semestre84, também busquei articular
os planos de aula aos temas propostos por Daniela Guimarães, compondo também
com proposições em jogos de improvisação. Durante as aulas em que mediei,
estudamos mais especificamente as ações corporais (ações comuns), fatores e
qualidades de movimento e três ações, a saber: dobrar, esticar e torcer. Daniela
Guimarães também compunha seus jogos articulados com aulas que mediei,
tornando assim nosso trabalho cocriado. Como não abordamos nenhuma técnica
preestabelecida ou maneira fixa de criar em Dança, usamos aquilo que já sabemos
fazer ou que podemos fazer enquanto mote de cocriação, considerando as
especificidades de cada participante.
83
Frase dita por Daniela Guimarães, em aulas de EPC IV.
84
Durante esse semestre os professores dos módulos EPC IV, Estudos do Corpo IV e Estudos
Críticos-analíticos IV compuseram um planejamento compartilhado.
76
Em uma das aulas, a proposição foi: andar pela sala, refletindo sobre nosso
dia, sobre o que vivemos85. Após um tempo de caminhada, cada um poderia
procurar um local no espaço da sala para ficar de maneira confortável e
experimentar ações corporais presentes nesses momentos pensados. Essa primeira
ação serviu para focalizar a atenção em si e em como cada um desenvolve as ações
corporais, sendo as indicações postas de maneira contextual e a favor do corpo,
sem impor um modo específico de fazer, apenas sugerindo possibilidades em
direções, níveis e qualidades de movimento. Após o momento solo, propus que eles
se juntassem em duplas, trios ou grupos (o critério de escolha era de cada um) e
experimentassem dançar juntos, articulando suas cinesferas com as ações que
haviam experimentado no momento anterior. Surgiram encaixes, contato através do
olhar, sobreposições, articulação de cinesferas com ou sem contato tátil, atenção ao
movimento do parceiro, entre outras possibilidades. A experiência de composição
entre as cinesferas ajudou a compreender que a cocriação não necessariamente
precisa ocorrer de maneira simétrica entre os participantes, e que também não
precisa ser preestabelecida para acontecer, ela acontece o tempo inteiro.
85
Enfatizo o uso do plural porque na maioria das aulas eu comentava a proposição e fazia junto o
máximo possível, tomando distanciamento às vezes para observar.
77
porta em minha direção, dobrando (ação principal dobrar) levemente o braço. Ou,
quais ações faço ao abrir a porta de casa? Estico (ação principal esticar) o braço em
direção a porta, com a mão giro (ação principal torcer) a chave, seguro na maçaneta
e puxo a porta em direção a mim, dobrando o braço (ação principal dobrar). O
terceiro e último momento: cocriar uma cena com referência às etapas anteriores.
Nesta última etapa, Daniela Guimarães interferiu propondo mudanças na trilha
sonora que estava tocando. Por vezes ela abaixava o som ou tirava totalmente, para
podermos observar o que acontecia com o grupo diante essa intervenção.
Observamos o quanto ficamos suscetíveis a tantos fatores consideráveis à cena
como com quem dançamos, o tipo de chão onde dançamos, a disponibilidade do
grupo que dançamos, o som, como já citado, entre outros. A trilha sonora, neste
caso, geralmente os levava para um lugar menos atento e mais solto, sem muito
compromisso com o que estavam fazendo. Daniela Guimarães, ao perceber isso, fez
uma certeira intervenção.
Um dia, poucas horas antes da nossa aula, Daniela Guimarães avisou que
não iria comparecer porque o restaurante que estava durante o almoço havia sido
assaltado e ela até o momento prestava depoimento. Pediu para que eu explicasse
a situação e mediasse a aula. Quando cheguei na Escola de Dança, alguns já
sabiam o que havia acontecido e quando fomos confortados com a notícia de que
estava tudo bem, decidimos o que fazer enquanto grupo. Decidimos cocriar a aula.
79
86
Viewpoints é uma técnica de composição desenvolvida por volta de 1970 por Mary Overlie,
coreógrafa, dançarina e professora. É dividido em seis categorias para analisar e criar danças:
espaço, movimento, emoção, tempo, forma e história.
87
Fatima Wachowicz é professora doutora da graduação e pós-graduação na Escola de Dança da
UFBA. Desenvolve pesquisas com temas em Dança, Teatro e Ciências Cognitivas.
80
88
O Painel Performático é um evento que acontece a cada final de semestre, promovendo mostras
processuais dos alunos da Escola de Dança da UFBA e turmas que tem atividades na escola, sendo
turmas de alunos regulares ou não.
89
A Virada Artística foi um evento promovido pela Escola de Teatro da UFBA, que fez parte do
Congresso da UFBA – 70 anos, em julho de 2016.
90
Teatro construído recentemente na Escola de Dança, além do Teatro do Movimento.
81
tempo: súbito). A observação e análise desses detalhes fazia com que nós
mantivéssemos a qualidade de movimento durante os encontros seguintes.
totalmente rígido. O espaço que cada um ocupava, em algumas cenas, poderia ser
modificado a cada vez que ensaiávamos e certamente foi outro quando nos
apresentamos no Painel Performático e na Virada Artística. Sendo assim, o
espetáculo foi cocriado sob forma de improvisação estruturada, sendo esta quando
há direcionamentos temporais e/ou espaciais porém com certa abertura ao que
possa acontecer no momento presente.
91
William Gomes atualmente é graduando em Licenciatura em Dança pela UFBA. Artista pesquisador
em Arte, Performance e Dança contemporânea.
85
É melhor se sentir leve, porque o tempo é breve. Tente, olhar pra si e ver o outro.
Por um triz.
92
Esse texto foi transcrito de um áudio enviado por Géssica Moura e livremente cocriado para
compor esse espaço escrito. Os espaçamentos são como os silêncios na fala dela.
93
Géssica Moura é aluna do Bacharelado Interdisciplinar de Artes (UFBA), compositora, cantora e
atriz no Grupo Harambê Nós é Nóis de Teatro (Salvador – BA).
87
SOBRE viver
LiberDaDE, na viDa ou no
. A
conexão, relação (GRAÇA et al., 2016). Lilian Graça, enquanto coreógrafa não
exigia homogeneidade, mesmo que os passos fossem coreografados, mas havia
uma qualidade de tempo e espaço mais definidas, sincronizadas entre os
dançarinos. As sequências coreográficas eram marcadas de acordo com a trilha
sonora, presente apenas em uma parte da intervenção na estação da Calçada.
A malha ferroviária foi inaugurada em 1860, construída pela Bahia and San
Francisco Railway Company na intenção de ir de Salvador até Juazeiro, mas só foi
até Alagoinhas, na estação São Francisco97. Durante o processo da videodança, o
grupo gravou algumas cenas em Alagoinhas e quando nós, os dançarinos da
segunda etapa do processo de criação, tivemos acesso as imagens, para contribuir
com o processo de criação da intervenção, adquiri mais um sentido para estar no
trabalho: as minhas memórias da estação. O projeto acabou tornando-se mais
pessoal por conta dessa ligação com a cidade onde mora minha família, onde morei
boa parte da minha vida e comecei a dançar. A estação São Francisco continua
belíssima, e ainda é palco de grande parte dos ensaios fotográficos na cidade. E
mesmo em ruínas e abandonada, a estação ainda mantém seu ar de imponência e
importância histórica.
Durante o processo de criação da segunda etapa estudamos relatos dos
dançarinos da etapa anterior, fotografias e fizemos visitas às estações onde
aconteceram as apresentações. Como durante a primeira etapa os dançarinos
tiveram vivências em outras estações e participaram de um processo criativo com
outras pessoas (Daniela Guimarães participou como assistente de direção), os
relatos e movimentos que chegaram para nós, participantes da segunda etapa, já
estavam contaminados com muitas informações. Algumas estruturas já estavam
consolidadas e o novo grupo de dançarinos apenas ia se adaptar àquela sequência.
Poucos dias antes de iniciarmos a temporada de apresentações, uma das
dançarinas se machucou, sendo substituída por outra que teve que se adaptar ao
que já estava estruturado. Esse momento foi desafiador para os dançarinos e mais
ainda para a nova dançarina, que não havia participado do processo de criação da
intervenção. Entretanto, consideramos essa mudança enquanto parte dos acasos
que podem ocorrer durante o processo e conseguimos lidar com isso de maneira
97
A Estação São Francisco foi construída em 1880, uma parte da malha ferroviária que ia de
Salvador a Juazeiro. Em 1990 o prédio já em ruínas foi tombado como patrimônio histórico da cidade
de Alagoinhas porém hoje está completamente abandonado.
90
afetiva. E de certo modo, tendo cocriado o início do processo com o grupo maior, de
oito pessoas, a dançarina que se machucou permaneceu conosco devido ao vínculo
criado durante os ensaios. No fim das contas, era como se estivéssemos dançando
nove dançarinos e não apenas oito, além de contaminações de pessoas envolvidas
durante o processo de criação da intervenção desde o início, os transeuntes que
assistiram e os que dançaram conosco.
Fotógrafo: Mário Neto (2016). Fonte: Site oficial do projeto “Trilhos e Estações: uma viagem dançada
da Calçada a Paripe” (http://trilhoseestacoes.wixsite.com/videodanca).
supor. Quanto mais fazíamos esta cena, mais tranquila de ser feita ela se tornava
para nós, então para não perder a característica do risco, estávamos sempre atentos
em nos desafiar, buscar outras configurações para as estruturas produzidas.
Durante os momentos que chamamos de improvisação temática, não
tínhamos indicação temporal, espacial ou de movimento muito definida. Era como se
o tempo não dependesse tanto de nós, era sempre o tempo do trem, o tempo da
viagem, o tempo do outro. Nesta estrutura de improvisação pudemos nos relacionar
de maneira mais pessoal com o espaço e com o que vivemos durante os ensaios,
nos articulando com a temática da intervenção, a arquitetura da estação, do trem, a
relação entre nós, dançarinos e o público.
Fotógrafo: Mário Neto (2016). Fonte: Site oficial do projeto “Trilhos e Estações: uma viagem dançada
da Calçada a Paripe” (http://trilhoseestacoes.wixsite.com/videodanca).
Com citamos anteriormente, iremos escrever sobre as partes 02, 03 e 04, pois
quando estávamos dançando dispostos regularmente em um espaço delimitado com
atitudes mais voltadas para uma partitura coreográfica, não tivemos um contato
direto como o público como quando estávamos improvisando. E esse ponto de
relação com o outro e com o espaço, nos interessa enquanto potência cocriativa.
Fotógrafo: Mário Neto (2016). Fonte: Site oficial do projeto “Trilhos e Estações: uma viagem dançada
da Calçada a Paripe” (http://trilhoseestacoes.wixsite.com/videodanca).
A dança que acontecia em contato mais direto com o público, era a parte que
instigava em termos de descoberta de novas possibilidades a partir do que já
sabíamos fazer. Nós dançarinos, éramos solicitados a encontrar maneiras de se
comunicar com o público, de afetar. Buscávamos a aproximação através de ações
comuns a todos, nós dançarinos e eles: andar, sentar, segurar (nas alças de ferro do
trem), balançar (impossível não balançar com o movimento do trem), além de outras
ações que surgiam a cada dia. A partir dessas ações corporais, desdobrávamos elas
cenicamente, utilizando as nuances de qualidades de movimento. Encontramos
várias formas de nos aproximar do público, seja por gesto, por olhar, por disposição
espacial e através de uma explicação verbal. Com o número rotativo de pessoas
transitando naquele espaço, vivenciar maneiras de aproximação do público, se
tornou objetivo comum do grupo.
Fotógrafo: Mário Neto (2016). Fonte: Página do Facebook oficial do projeto “Trilhos e Estações: uma
viagem dançada da Calçada a Paripe”
(https://www.facebook.com/pg/trilhoseestacoes/photos/?ref=page_internal).
um dia de apresentação, criamos uma estrutura nos segurando uns aos outros ao
longo do corredor do trem, criando uma espécie de corrente. Essa estrutura de
repetiu algumas vezes, sendo composta algumas vezes com ajuda do público. As
cenas de amontoamento em cima dos bancos também se tornaram recorrentes
desde que achássemos algum banco vazio para poder fazermos a cena, ou adaptá-
la a outros lugares do trem como o final do corredor, por exemplo. Ou seja, mesmo
as cenas que se tornavam recorrentes entre nós, nunca eram exatamente iguais,
eram adaptadas de acordo com o que estava acontecendo no momento.
Como lidar com minha cinesfera menor e por vezes em total contato
epidérmico com o público? Como explorar movimentos amplos, por exemplo,
utilizando o vagão quase vazio? Como e quando amorosamente nos aproximar ou
nos afastar do público que nos assistia?
A recorrência dos corpos (dançarinos), o compartilhamento de espaço (vagão
de trem) e o vínculo afetivo que criamos durante o processo, proporcionou que
reconhecêssemos códigos, alguns sinais de movimento, como já falamos
anteriormente. Porém não tão recorrente ao ponto de determinar a improvisação,
afinal, estávamos sujeitos à muitas outras condições que não tínhamos controle.
Imprevistos aconteceram e não foram poucos: dias de trem muito cheio ou vazio;
dias em que haviam muitas pessoas conhecidas (e isso influenciava na nossa
postura em cena); dias de trem quebrado, onde não aconteceu essa parte da
intervenção; dias de chuva (bastante); dias com convidados especiais (um vagão
somente com crianças de uma escola); dias de duas sessões seguidas; dançarina
machucada... Estar em cena exigiu de nós uma tomada de decisão coletiva, estar
em exercício perceptivo constante.
As experiências em improvisação no vagão do trem, demandaram de nós
posturas atentas mais precisamente ao tempo e ao espaço. O trem tinha hora de
sair, nós não podíamos atrapalhar a fruição do fluxo de passageiros, o trem apitava
e as portas fechavam, o tempo em cada estação era curto, a superfície era instável,
às vezes estava molhada, sempre sujo. Tínhamos que estar atentos o tempo inteiro,
perceber detalhes, perceber potência no olhar curioso das crianças ou no rapaz
tirando foto. Atentos para encontrar possibilidades de movimento dentro do trem,
com um pregador das palavras de Deus que nos chamava de zombadores,
enquanto outros agradeciam pela sensibilidade, alegria, energia que nossa dança
95
havia proporcionado àquele dia comum. Nós, enquanto dançarinos, tínhamos que
estar atentos aos pequenos sinais que o público nos dava.
Fotógrafo: Mário Neto (2016). Fonte: Página do Facebook oficial do projeto “Trilhos e Estações: uma
viagem dançada da Calçada a Paripe”
(https://www.facebook.com/pg/trilhoseestacoes/photos/?ref=page_internal).
Registro: Autor desconhecido (2016). Fonte: Página do Facebook oficial do projeto “Trilhos e
Estações: uma viagem dançada da Calçada a Paripe”
(https://www.facebook.com/pg/trilhoseestacoes/photos/?ref=page_internal).
Certa vez, durante uma das apresentações percebi um dos meus colegas de
cena bem perto de um homem. Estranhei porque fomos avisados para ter cuidado
com as aproximações mais diretas com o público, afinal, tínhamos que respeitar o
espaço do outro. E se fosse o caso de se aproximar, no caso de um desconhecido,
que não fosse de maneira incisiva. Depois de um tempo observando, pelas ações
deles pude perceber que estavam conversando, e tempos depois, percebi que o
homem era deficiente visual. Aproximei-me e a partir disso eu e meu colega, sem
indicar verbalmente um para o outro, começamos uma dança que fizesse com que o
97
nosso novo amigo percebesse a nossa dança através de outros sentidos. Guiamos
ele para andar no corredor sem se segurar, onde, apesar do medo e da instabilidade
causada pelo balanço do trem, ele aceitou nossa proposta e confiou em nós dois.
Fizemos barulho nas estruturas do trem, portas, no chão, falamos com ele,
dançamos bem perto dele, contato pele com pele.
Fotógrafo: Mário Neto (2016). Fonte: Página do Facebook oficial do projeto “Trilhos e Estações: uma
viagem dançada da Calçada a Paripe”
(https://www.facebook.com/pg/trilhoseestacoes/photos/?ref=page_internal).
sensibilidade. Aumentando sempre o desejo de horizontalizar algo que não deve ser
tratado como especial, ou algo difícil de se conseguir: o amor.
“Só pode falar de vida quem vive. Só pode falar de sofrimento quem sofre. Só
pode falar de amor quem ama. Só pode falar de flow quem desenvolve.”
Vivo, sofro, amo e com certeza por isso desenvolvo. Hoje, como dançarina e
improvisadora em um feliz encontro dançado, vivi experiências que me deixaram
tonta de vida. Tenho uma certeza: a dança é meu estilo de vida, hoje sei o que ela
me causa, ela me causa amor.
Os últimos dias tem sido intensos. Solar. Fogo. Trocas energéticas, mãos.
Subir montanhas pra olhar pra lua. Vênus em Câncer. Chorosa que só. Hoje, até
agora foram 5 pequenos choros. Água. A baía de todos os santos. A Bahia do
caminho até o trabalho, dos encontros calados e barulhentos das companhias das
cucas maravilhosas. O estar junto, o estar no mundo.
Assim que fomos a caminho do trem, já bati os olhos numa mulher que tinha
nos visto algumas vezes e que havia dançado conosco. Aquela que estava
segurando muitas sacolas pesadas de compras e deixou fluir o movimento, pulando
e falando: “pega a sacola!”, e “tira a calcinha da bunda!”, e “pega o celular!” e “olha
pra não perder o ponto!”. Um momento feliz lembrado em segundos de um gesto de
tchau afetuoso.
“Não quero ver você triste assim, não. Que a minha música (nesse caso a
Dança) possa te levar amor...”
Em uma das últimas estações entra um grupo de jovens, a maioria com farda
de escola, na faixa de uns 15/17 anos. Ouvimos: “Vigi, que porra é essa?” “Menina,
isso é Dança? É sim, é Dança, sabia!”. Quando eles entraram ficamos eu e mais
alguns amigos em movimento, perto deles. Uns olhavam com medo, gritavam
eufóricos, riam, se afastavam. Em algum momento cogitaram a possibilidade de
mudar de vagão mas permaneceram. Começamos a nos movimentar timidamente
aguardando as reações. De repente, uma das meninas do grupo começou a dançar
conosco, fazendo o que estávamos fazendo, entrando em contato. Desmoronando e
construindo sobre o chão instável e sujo do trem. “Isso, ai! Tudo junto e misturado!”
De repente, muitos deles estavam dançando conosco. Eu não conseguia conter o
riso. Corremos todos para o fundo do trem e nos apertamos, um por cima do outro.
Juntos. Risos. Foram muitos risos durante a interação. Antes de sair formamos uma
grande corrente, com ajuda dos braços deles e de outras pessoas. Antes de sair do
trem para a finalização, continuei com uma experimentação com as mãos. Que
acabei me dando conta que é bastante recorrente, talvez seja meu ponto (um dos)
de troca de energia. E lembrei dos encontros que a Dança me proporcionou e que
permitiram isso. Mãos. Coloquei-as abertas, de frente pra pessoas, perto do meu
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queixo. Alguns dos jovens fizeram a mesma coisa, bem perto das minhas mãos,
tocando-as suavemente e uma delas disse, meio eufórica: “Meu deus, eu quero
trocar essa energia!” A euforia foi minha. Depois dali senti a brisa no meu cabelo, vi
os meus amigos se movimentando, vi olhares acalentados para nós. Eu senti amor.
“Eu tenho fé nessa nova geração, nesse povo maravilhoso, a nossa juventude
toda. (...) Só a gente sabe que o sol pode iluminar a cabeça, a mente e os corações
de todos. Axé. Amém. Só o amor pode mudar. Não vamo perder nossa fé jamais.
Jamais desconectar da esperança em nossa geração.”
aproximava era aquele pequeno gesto, o ato de sentar-se perto da pessoa, mover-
se de maneira parecida como ela se move, promover outras danças a partir do que
sabemos fazer.
Registro: Autor desconhecido (2016). Fonte: Página do Facebook oficial do projeto “Trilhos e
Estações: uma viagem dançada da Calçada a Paripe”
(https://www.facebook.com/pg/trilhoseestacoes/photos/?ref=page_internal).
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O Grupo X de Improvisação em Dança foi criado por Fátima Daltro (Fafá) e David Iannitelli, em
1998. O X faz da improvisação a própria cena e não um meio para dançar. Além de improvisação, a
acessibilidade de pessoas com deficiência a bens culturais é assunto recorrente no grupo.
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“Se quiser, deixe sua lembrança” foi uma intervenção itinerante apresentada no Congresso da
UFBA – 70 anos, em julho de 2016. Cocriamos: Fafá Daltro, Eduardo Oliveira (Edu O.), Greyce
Sposito, Taynah Mello, Cyça Lopes, Giorrdani de Souza (Kiran), Juliana Castro, Natalia Ribeiro,
Sônia Gonçalves e Sueli Ramos.
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Fátima Daltro ou Fafá Daltro, como é conhecida artisticamente, atua no X até hoje e em pesquisas
no que concerne à processos colaborativos em improvisação em Dança e acessibilidade. É doutora
em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e hoje é professora aposentada da Escola de Dança da
UFBA.
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você quiser deixe eu me deixar em ti, se deixe também aqui nas memórias dos meus afetos.
Deixemo-nos um tanto de cada um em nós para que haja flores, toques e sons pelas nossas
estradas de nuvens...
(Edu O., 2017)
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Eduardo Oliveira, ou Edu O. é membro do Grupo de X de Improvisação em Dança desde 1999.
Hoje é professor efetivo da Escola de Dança da UFBA. Atua com pesquisas nos temas em Dança,
improvisação, arteterapia e política cultural. Atua também ministrando oficinas de artesanato e dança
para pessoas com deficiência.
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sejam flexíveis, permite que qualquer membro possa sugerir e transformar uma
indicação.
Ainda neste dia, durante o percurso até a praça das Artes103 , fomos
interagindo com as pessoas que transitavam, compondo também com lógicas
preestabelecidas de filas, fileiras e grupos. Nossos trajes chamavam atenção por
conter elementos extravagantes, apesar de mantermos uma ideia de “traje à rigor”.
Saias rodadas pouco abaixo dos joelhos, calças sociais, perucas coloridas, salto
alto, acessórios como lenços e tecidos, além de outros materiais do acervo do Grupo
X compunham o figurino. Imitávamos o movimento um do outro, as ações corporais
das pessoas que passavam por nós. A cena era totalmente coimplicada na relação
espacial que estabelecíamos entre nós, as outras pessoas e o próprio espaço. No
nosso caminho as potências criativas estavam dispostas a todo momento e exigia de
nós um constante exercício perceptivo para captar essas possibilidades. Os
integrantes mais habituados com performances em espaços públicos, iam ajudando
iniciantes a tatear o espaço através da atenção ao que acontece ao redor. Os
transeuntes eram instigados à cocriar conosco e a maneira como eles interagiam
interferia na criação, sendo o público também gerador de ideias de composição em
improvisação.
No decorrer da cocriação até apresentarmos “Se quiser, deixe sua
lembrança”, reunimos indicações e estímulos criativos emergidos a cada encontro
do Grupo X: disposição espacial em filas, fileiras e grupos; espaços restritos
transformados em espaços potentes para dançar; fita crepe; espaço público;
barbantes; contaminação por ações comuns, cotidianas; varais de memórias com
fotos, escritos, recortes e desenhos; interação com o ambiente; atenção; presença;
compra e proposta de ideias; registros de celular; trajes à rigor e músicas antigas.
Propomos compor o espaço público com os transeuntes de maneira afetiva e bem-
humorada, através do estímulo sensível das lembranças amorosas tanto do Grupo X
quanto dos transeuntes.
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A Praça das Artes fica no campus de Ondina da UFBA, em frente ao Restaurante Universitário.
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composto de toda sorte de materiais, tais como perucas, blusas, calças sociais,
botas, sapatos de salto, roupas feitas de sacos (bordados ou não), pregadores de
roupas, papéis escritos, tênis, saias rodadas, tudo em apenas três cores: preto,
branco e vermelho. O nosso traje à rigor.
Como tudo no Grupo X, as coisas vão se construindo e se delineando no seu próprio fazer,
no seu improvisar. “Se quiser, deixe sua lembrança” é um experimento performativo de
ocupação do espaço urbano que tenta acionar memórias, intervir na poética do espaço
público e produzir afetos. Um experimento de liberdade e compartilhamento, um exercício
de criatividade e construção coletiva que me colocou em um estado de atenção
desinteressada. Uma atenção aos meus estados corporais, aos dos companheiros de
performance, ao espaço e as pessoas que compartilhavam daquele espaço público, tudo
com o objetivo de produzir afetos sem a expectativa de um resultado pré-fixado ou um
produto, uma atenção aberta ao processo. Uma experiência de risco, onde o certo e o
errado deixam de existir para dar espaço a um caminho do meio, no qual tudo pode ser
poesia. Aproveitar cada momento imediato para retirar dele aquilo que pode afetar, a si e ao
outro. A princípio tanta liberdade me assustou, mas com o exercício e a prática, este lugar
do deixar vir e deixar ir sem apegos e de corpo aberto, foi intensificando em mim uma
prontidão para o presente potente. Consegui vivenciar no corpo o que entendo por devir, por
mergulhar de cabeça em um oceano infinito de possibilidades que se atualizam na ação
compartilhada. Um lugar de intensa produção de conhecimento sobre o fazer artístico
através da improvisação. Revelando para mim todo o potencial desta linguagem em criar
mundos e abraçar o desconhecido. Serei sempre grato por esta experiência.
(Giorrdani Gorki (Kiran), 2017)
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O Microtrio é projeto do músico Ivan Huol que consiste no desfile de um trio elétrico de pequenas
proporções que faz alusão a Fubica (o primeiro trio elétrico). Eles tocam músicas de diversas épocas
de carnaval, de samba reggae a marchinhas.
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público. Naquele momento, para mim, a água já não era mais água e sim alguma
bebida que me deixou em uma espécie de embriaguez. O axé tocado pelo Microtrio,
a bebida nas mãos, muita gente... Carnaval. Em alguns momentos estávamos todos
compartilhando dessas sensações através de movimentos desequilibrados, afetados
pelo axé tocando, as pessoas dançando, a cocriação acontecendo.
Nossa última cena compartilhada não poderia ser mais certeira: um grupo de
improvisação em Dança, intervindo dentro de uma universidade pública, durante um
cenário atual sociopolítico de horror. Fazendo Arte para todos, caminhando e
cantando... Cantarolando “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo
Vandré, em ritmo de marchinha de carnaval. Essa foi a nossa última cena, antes de
decidirmos nos despedirmos e dispersarmos de vez, afinal já estávamos esgotados.
Finalizamos assim mais um dia de afetos trocados, ali, em meio a uma multidão que
nos acompanhava com movimentos e olhares, e nós cocriamos com eles.
dos afetos do outro, sem nem saber o que está movendo o outro, também não importa.....
Sigo junto e vou por outras rotas criando com esses pedaços dos outros.... Penso que meus
pedaços também se espalham em seus mundos.... Às vezes fico rindo por dentro sentindo
essa emoção caótica que gruda em mim.... Eu vou vivendo intensamente cada instante,
cada sorriso, cada corpo esparramado. jadour! E você Aline, quanto me inspira e desafia....
jadour! E Kiran com seu tempo esgarçado, Edu em seu deslizar sutil, Nat e as imagens que
expõe e tantos outros com suas espertezas e sugestões.... É um mundo de afetações sem
fim... Sem fim... Sem fim... Escrevo pensando em você e em meus saltos altos coloridos nos
caminhos que o X impõe e das deliciosas provocações que vivemos juntos..... É uma delícia
dançar... Sempre... Sempre... Sempre... Não sei onde vou chegar.........
(Fafá Daltro, 2017)
INDÍCIOS
As experiências vivenciadas neste bricolado processo cocriativo, com todas
as mudanças de rota e gestos detalhados, nos fizeram perceber que encontramos
indícios, pistas que nos fazem querer continuar...
Em um tempo em que criatividade é estilo de vida, onde o dia-a-dia nos exige
muitas alterações de postura, tomada ágil de decisão e criação de estratégias,
referenciar os anteriores em busca do novo é tomar parte de um passado
pertencente e relevante para a dança de hoje. É dessa maneira que refletimos sobre
os estudos da Arte do Movimento de Rudolf Laban. Não é a sua manutenção ao
nível de enclausurar teorias, exercícios e técnicas no pedestal intocável do tempo,
mas a proposição de desmistificar, tirar do uso comum, mobilizar, transformar.
Consideramos que os estudos de Laban, além de potencial na contemporaneidade,
possuem conhecimentos estruturais para uma experiência em Dança que respeita
as singularidades, criando com o que já sabemos fazer e assim descobrindo novas
possibilidades. O respeito às diferenças, enquanto postura, não é exclusiva das
pesquisas de Laban, pode ser coimplicada em qualquer processo em Dança, sendo
a técnica ou o fim um fator não limitador.
Os processos cocriativos em Dança, nos três ambientes artístico-
educacionais, foram diferentes em seus propósitos porém mantiveram uma
característica compartilhada que nos fez compreender que nossas ações corporais,
comuns entre nós, são potências geradoras e transformadoras da cocriação.
Enquanto tirocinante, improvisadora, intérprete e observadora, pude perceber que o
espaço incerto da improvisação e as experiências em público nos solicitaram
movimentos que nos aproximassem das pessoas, que gerasse uma ação afetuosa,
de preferência. As ações corporais foram recorrentes durante essas experiências: se
deslocar, sentar, tocar, sorrir, ações que todos sabem como fazer, que todos podem
retribuir da sua maneira.
Apresentamos nossos indícios e considerações abertas:
As ações corporais não são ações meramente mecânicas, são definidas de
maneira não dualista, vista enquanto ação integrada, corpomente;
Por serem ações que se tornam amplamente padronizadas, solicitam
experiências que trabalhem a atenção;
Por serem ações comuns nos aproximam do outro;
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REFERÊNCIAS
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2002. p. 86.
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uma visão a partir da complexidade. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2006b.