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FACULDADE DB FIROSOFIA TENCIAS © METRAS sI¥LIOTECA BEOWWTRG v- 903600 wero. paca QBVNV¥L ( PES EHH eee ieee CHE eee Stee See eee Cee | | Direitos exclusivos desta edigio : DIFEL/DIFUSAO EDITORIAL S.A. * | Avenida Passos, 122 — 11.0 andar — CEP 20000 Fones: 223-2365 ¢ 243-1802 RIO DE JANEIRO Rua Marqués de Itu, 79 — GEP 01223 { Fones: 221-7725 © 221-8599 | SKO PAULO INDICE PREFACIO ~ Prof, Joio Graz Costa 7 NOTA INTRODUTORIA los Guilherme Mota. ve od ROPEIA Nunes f 15 Ny © BRASIL NOS QUADROS DO A NIAL — Fernando A. Novais 47 2 AO ESTLDO DA Emilia Viotti da Costa . 64 FORMACOF lio N Pinto M FACE DAS REPUBLICAS & Ribeiro Janior 146 © POLITICO-PARTIDARIO NA PRIMEIRA RE- : \ == Maria do Carmo Campello de Souza ....... 162 A REVOLUGAO DE 1930 =. Boris Fausto oo... Pm O GOLPE DE 37 EO ESTADO NOVO == Laudes Sola occ. 256 PROBLEMAS DA JNDUSTRIALIZ Gabriel Cohn O PROCESSO POLITICO-PARTIDARIO BRASILEIRO DE 1915 AO PLEBISGITO -- Paula Beiguelman 317 O BRASIL NAS RELACGOE == Jaime Pinsky . 337 © BRASIL NAS RI — Nilo Odalia 350 O PROCESSO POLITICO-PARTIDARIO NA PRIMEIRA REPUBLICA A MARIA DO CARMO CAMPELLO DE sou2 is do “A autonomia das provincia & para, 6s MI oy que um interesse imposto pela solidariedade rors solene e das relagdes provinciais, € um principio carde# que inserevemos na nossa bandeira. Ea O regime da Federagio, baseado, portanto, aategoria pendéncia reciproca das provincias, elevando-as 4, A804, de Estados préprios unicamente ligados pelo VINNY te. mesma nacionalidade ¢ da solidariedade dos grande resses da representagio e da defesa exterior, € #4" adotamos no nosso partido,” (1870) — Trecho do Manifesto do Partido Republican A Reptblica viria concretizar ‘tais idéias. federati- cém-inau: incia, A Constituicio Brasileira de 1891 impés a forma va de governo.e a importincia dos Estados pata_a_tece™. gurada ordem politica. A imagem do Estado, a sua importer” seu controle politico, foram os principais temas de constes: tas e juristas responsdveis pela elaboragio da Carta Com ait cional. Esta assegurava a cada Estado o direito de ee. empréstimos no exterior, decretar impostos de exportastts reger-se por suas. préprias constituigées, ter corpos militates prdprios, bem como cédigos eleitorais e judicidrios (1): 1) © problema da descentralizagio da Justica se revelou fun- damental a instituicio do regime federativo. A defesa de nova Jegis- lagao judicidria, adaptada importancia dos Estados no quadro politico, foi feita principalmente por Campos Sales — Ministro da Justica — autor de um projeto que invocava a unidade de direito ¢ dualidade 162 et Os intimeros ditcitos estaduais compunham a segio into- cdvel da Constituigio republicana. Os cmbates violentos ¢ as cisdes polfticas havidas no correr da histéria do perfodo fize- ram-se certamente cm torno do principio da autonomia estadual. A Constituigio instaurou, por outro lado, 0 presidencia- lismo. Vez assim a passagem de um regime mondrquico, que resguardava contra os interesses da politica 0 posto do chefe supremo da nacio, para uma estrutura que se firma ¢ revigora has sucessdes presidenciais, momentos decisivos da vida politica que se inaugurava. Ao instituir 0 regime’ representative democritico, as leis republicanas abriam — embora formalmente — a_patticipagao no proceso politico a um grande contingente eleitoral antes marginalizado. Federalismo,. presidencialismo ¢ ampliagio do regime re- presentativo so as trés grandes coordenadas legais da Primeira Republica. Nossa andlise iré se referir a elas, associadas As ca- racteristicas de uma estrutura econdmica definida pela grande propriedade. Nao iremos, entretanto, nos deter na descrigdo sociolégica do latifiindio, j4 por demais conhecida. Bastard para nosso propésito atentar nas linhas gerais do quadro econé- mico do pais. de magistratura. A aceitagio pela maioria maciga do Congreso € ilustrada por trechos de discursos parlamentares: “Perguntarei ao ilustre autor da emenda o que veio fazer no Brasil a Reptiblica, quando quereis que o regime inaugurado a. 15 de novembro, modificando os costumes, afetando a organizagao politica e administrativa do pais, nio afete igualmente a organizagio do poder judiciério?... ++. $s. Excias, hio de convir que h& poderes inerentes aos Es- tados, como Estados, como entidades autondmicas... e neste caso, a Unifo, a tnica soberana na opinifio de Ss, Excias., encontrarao 0 limite de seus poderes nos poderes dos Estados”... (Augusto de Freitas — Anaes do Congreso Constituinte Nacional, vol. II, pag. 68 — sesso 6-1-1891). “HA porventura, maior perigo para os Estados do que deixé-los entregues a uma magistratura da Unido nomeada pelo poder central ¢ superior a todas as autoridades locais?. . « Se querem uma magistratura unitéria, independente dos Estados, aceitem em tudo as leis da Unido... declarem impossivel a Federacao\- (Justiniano Serpa -— Anaes do Congresso Constituinte Nacional, vol. J), pag. 462 — sessio 31-12-1891). 163 ‘cado pelas caracterfsticas de scu desenvolvi- mento como colénia exportadora de matérias-primas, apresen tava-se_ como um ajuntado de unidades primério-exportadoras em varios estégios de evolugio, dependente cada uma dos embs los da demanda externa para a determinagio de seu peso ¢ importincia na economia do pafs. Cada unidade produters atrelava-se ao mercado internacional, indiferente 2 sorte das demais ¢ independente delas. Quando o elo que as ligava — o mercado nacional de escravos — se desfez, resultou o pals composto de pequenas segdes justapostas, que conservavam entre si alguns frdgeis vinculos, suficientes apenas para que a Nagao nao se desintegrasse totalmente. A Carta Constitucional Republicana parece ter vindo pro- piciar os meios jurfdicos para o funcionamento de uma estfu- tura que a precedera historicamente, Dentre as regides produtoras, uma, a cafeeira, Jocalizada no centro-sul do pais, constituira-se como pélo dinamico 4 economia, Suas necessidades de expansio, estimuladas pelo mercado externo, estavam contidas pela rfgida centralizagio mondrquica. Nesse sentido, 0 movimento republicano, ao Jutat pela autonomia regional de modo a promover ligagées diretas dos Estados com o mercado internacional sem as injungoes Unitio, simbolizava as reivindicacées daquele setor. stabelecidos tais pontos, & possivel afirmar que a Fede- tagao surge em atendimento as necessidades de expansio € dina- mizagio da agricultura cafeeira, desfeitas, j4 na Aboligao, a8 10° tivagdes econémicas que ligavam as vétias regides produtoras- A agio estatal no primeiro periodo republicano ( 1889-1930) vai, portanto, corresponder ao desenvolvimento e as necessida- des do novo setor da economia, A estrutura econémica, baseada no setor cafeeiro, apresen- tava, porém, caracterfsticas diversas das anteriores, embora aind4 definida pelo latifindio e voltada Para © mercado externo- Assumia nova configuragio, desde que o pafs detinha 0 mono pélio da exportacio mundial do café (?) e a produgio agricola Passava a se basear no braco assalariado, A primeira condi¢a0 assegutava aos produtores um certa margem de manobra em telagio a0 mercado exterior quanto as medidas de defesa dos nf- (2) O Brasil nos fins do século XIX supria em dois tergos 0 mercado mundial de café, 164 —S ice HERE = de renda ¢ de emprego do setor cafeciro, concreti adas du- ‘ante todo 0 perfodo na “polftica de valorizagio do café”, Por outro lado, organizado A base do trabalho assalariado, que permitia melhor utilizagio dos fatores de produgio ja existentes maces G aeaelto caer to propiciou o desenvolvimento de wm ade de tra a 1 (4). ‘Trouxe dentro de si, a possibili- prada basen do pats para um tipo de economia mais inte: treat or a i mercado interno, Nele, embora incipicmte- encoitieal coastal © desenvolvimento econdmico brasi ciro trinta, possibilidades de expansio, a partir da década de) dro mae hos interessa estabelecer aqui, todavia, é que 0 qua- sétie de ico republicano nao deve ser entendido como uma tios do momentos de suposta luta entre intercsscs contradité- tee ee exportador e urbano interno. Ligado umbilical- snes Sy itil cafeeira, crescendo a_sombra de sua politica oposica 7 ‘inanceira, © setor interno nao apresentava qualquer pel io ‘undamental & estrutura vigente que levasse seus tepre- entantes a tentativas de superdla (*). Como a evolugio do sistema industrial se fez nitidamente vinculada 4 economia cxportadora, surge como problema o estabelecimento de even- fa diferenciagio ideolégica entre seus representantes. A and. ise da politica republicana se torna mais frutifera na medida em que se questiona a natureza e 0 significado dos lagos de solidatiedade existente entre a estrutura agréria ¢ a urbana Nascente. Desse modo, é possivel rever também a nogio geral- Mente aceita de que, 4 semelhanga da revolugio burguesa no desenvolvimento capitalista europeu, os interesses urbanos pu- dessem por si sé desmantelar, em 1930, 0 regime politico agré- mo tradicional, © desenvolyimento econémico assim entendido, definido no perfodo que nos interessa pela fase de expansio do sector caféeito, seré o marco de xeferéncia sécio-politica da Primeira Repiiblica, , Dadas as linhas gerais que definem o quadro legal € eco- némico, resta ainda apontar os grupos condutores do processo ———. (3) Vide Celso Furtado —- Formagéo econdmica do Brasil — Cap. XXVI — “O fluxo da renda na economia de trabalho assalaria- do” — Editora Fundo de Cultura, Rio, 1959. 4) Tais afirmagées serdo melhor esclarecidas no correr da ex- 165 politico republicano, Eram de modo geral, os mesmos grupos politicos civis do Império, com nova nomenclatura, detentores também de privilégios especialmente os de propricdade, acom- panhados do grupo militar ativo recém-chegado 4 arena politica, Depois de anos de incidentes e de tentativas pata Poor par na vida politica do pais, 0 exército derrubou o Imperadot ¢ a Monarquia com o assentimento ou alivio de grande parte dos setores influentes da nagio. O golpe vitorioso de Deodoro da Fonseca tornava clara a eficdcia do instrumento militar para as providéncias ou forgosas mudangas de regime. “Quem garante ao Brasil que a revolucio de 2 de novembro seré a tiltima?... Mas apesar do ‘ly . cito ¢ da marinha, ou sobretudo gracas 4 cle se um dia, n’estas mesmas paginas, um outro ¢ OE ta... venha contar aos leitores da revista como s¢ desfaz uma revoluggo no Brasil. A politica no Brasil esté hoje seduzida a arte de adular com mais ou menos successo os militares. E indtil que os brasileiros estejam alimentando ilu sdes puetis. Os partidos politicos, hoje, so poderio galgar o poder agarrado 4 cauda do cavallo de um general 7 A Constitui¢fo doada pelo st. Deodoro, é intel ramente de sua prdpria auctoridade, nenhum repre- sentante da nacio foi ouvido, Quem garante a obser- vagdo d’essa lei que pode ser desfeita por quem fez, sem que haja possibilidades de alguém impedit ou punit a sua violacio por parte do soldado omni- potente ¢ irresponsivel? ene __._ Tudo isto, pois, nao passa de um bysantinismo irrisério: todo o mundo sabe que dois regimentos na rua acabam com os Plebiscitos, fazem evaporar qual- quer ‘governo ¢ desaparecer num momento qualquet Assembléia” (5), O panorama geral da Primeira Republica que vimos esbo- gando, encontra correspondéncia num sistema polftico cujo foco (5) Eduardo Prado — Fastos da Ditadura Militar no Brasil (1890). Livraria Magalhies, Sio Paulo, 1923, 5.* edigio, pags. 18/19 e 284 a 286. : 166 a. 4 de poder se localiza nos Estados, sob a hegemonia dos econo- micamente mais fortes, liberal na sua forma, oligétquico quanto ao funcionamento efetivo. Nao obstante o quadro leval instaurado com a Reptiblica permite © funcionamento de um Estado demoeratico, as elites irigentes, como veremos, nio compartilhavam o poder com os Hovos grupos que tinham tcoricamente, asscpu la sua repre: sentagio no processo politico. Assi, a elite proprictiria, ao mesmo tempo que aspirava, do ponto de vista ideolégico a uma democracia liberal, agia de modo que a participagio politica se restringisse a seus repr sentantes, Dentro dos limites de uma primeira abordagem, algunas consideracées sobre o Estado republicano, nessa fase, podem set aventadas, Seu carater ambiguo, oligérquico, liberal, pode ser aventadas. Seu cardter ambiguo, oligdrquico Jiberal, pode ser explicado, em grande medida, pelas ‘catacteristicas do Brasil como pais economicamente periférico. A uma nagio dependente, Para seu desenvolvimento, do mercado exterior, na condigio de exportador de bens primdrios, impunham-se ¢ vinham se impon- do no. seu passado histérico — os principios liberais, econdmicos € politicos, vigentes nas _relagGes jnternacionais. O_ capitalismo do século XIX, invocando a filosofia do dircito inaliendvel dos homens para determinar os limites ‘da interferéncia do Estado nas relagdes econdmicas, vinculou-se ao laissez faire. ‘Tal prin- cipio, que se constituiu num amparo ideolégico ¢ institucional das nacgées mais poderosas, a0 ser adotado pelas mais fracas, Passou a garantir o sistema de desigualdade, desenvolvido nas relagdes comerciais entre os diversos paises. : ‘As normas liberais que regiam 0 quadro politico ¢ econ6- mico brasileiro, contudo, no devem ser vistas somente enquanto caracteristicas impostas externamente, Sua utilizagio foi pos- sivel desde que também se revelou instrumental no processo Po- litico e econémico do pais. ‘Os exportadores brasileiros, especi- ficamente aqueles ligados a0 mercado cafeeito que detinham 90 monopélio do fornecimento do produto para o consumo mun- dial, mostravam-se permedveis a Iégica do liberalismo econémico, segundo a qual a liberdade de iniciativa e de comércio resultava no predominio do melhor produto a menor prego. Por outro lado, essa mesma condigo de monopélio e mais © fato do controle da produgiio ser exercido por uma classe na- tiva (e nio estrangeira como em outros paises latino-america- 167 nos) permitiu a execugio de medidas internas contrdrias 20 liberalismo econémico. Quando se fizeram necessftias tais me didas, de modo a atender a scus interesses, a classe divergente soube reformular o principio do Estado nao-intervencionista. A politica de defesa dos pregos do café, do nfvel de renda ¢ de emprego no setor cafeciro, foi uma constante na Primeira Republica, Assim, enquanto pais que se regia pelos interesses pragmf ticos dos exportadores de café ¢ que objetivamente dependia lo mercado externo na determinagio de quotas, prego & inversOet 0 Brasil podia proclamar o laissez faire econdmico. Suas condi- g6es especificas, entretanto, vio permitirlhe desviar-se do a delo, levando-o a sobrepor-se ao mercado, concretizando no infcio| do século as primeiras medidas de ditigismo econémico (°). _) As normas econdmicas liberais exigiam naturalmente on respondéncia no plano das instituigdes politicas. lém_ at influéncia da Constituigao americana — modeladora da Carta de 1891, que invocava o Estado democrdtico — a absorsa0 do liberalismo politico foi possivel e desejavel internamente, dentro das novas caracteristicas do quadro politico inaugurado. Que brada a legitimidade da dominacio politica vigente justificada a partir dos direitos mondrquicos, a classe dirigente foi capaz (6) © convénio de Taubaté, realizad 6, representou 3 primeira medida governamental efetiva, paca “iofanie, cat pregos Pelo acordo desenvolvide entre os 7 7 passaria a comprar e estocar o excesso. da wicca eiliprando. OF quadros de oferta © procura de modo a mantra Sto CP ios, prego! Zal politica foi efetuada, embora representarce seen eae ec ae fitmas importadoras intermediérias, desde que o preso Gee nae ny wneread® commenidor se mantinha ‘praticamente inafersgor ae clement. Politica de defesa, foram instituidas medias tenet a eenadas a proteger a renda dos cafeicultores, A’ Caixa de tens, Cceanismo qque executava as medidas propostas, favorecia q Conversa: OTB a Oa. do-the as divisas estrangeiras auferidas, por ‘pyre Orador, Oe do mercado, Como a politica instaurada implicava re? notes so pedet opinavam que o abandono do saneamen, Gnancelr 0 Pel governo brasileiro, podia dificultar o parctife, antes adotade externas, Nao tardaram, porém, estes mesmos grata 6, fuss Aivisas proveito do sistema, financiando para 0 goverso cone et Cale Embora 0 capitalismo internacional se beneficiary e tagio — fatal conseqiiéncia da natureza de suas eriférico — coube acs interesses internos a dee deaea das limitagdes de uma nagio dependente do Mercado externo. fo \ 168 de utilizar 0 mecanismo da ampliagio do regime representativo como meio de manter a eficdcia ¢ validez, de sua posigio perante a coletividade, O poder republicano, se pretendesse se legiti- timar em termos de uma classe minoritaria, teria escassas possi- bilidades de sobrevivéncia, Ao nivel da pritica politica, porém, 0 sistema liberal nito podia se efetivar em todo o pais. A inclusiio dos demais grupos sociais no processo politico acabaria por pressionar mentos da estrutura de poder necessdrios A tema produtivo monocultor-latifundidrio existente. A prod macio republicana pode, assim, ser vista como ume férmula de sobrevivéncia utilizada pela sociedade agraria, cabendo-lhe o monopélio do uso do poder em nome da nagio. _ A existéncia de um marco institucional avangado_em rela- so a0 funcionamento concrcto dos quadros _politico-sociais vigentes, permitiu que em momentos criticos — no fim da Pri- meira Reptiblica por exemplo — 0 srupo dominante pudesse utilizar elementos constitutives desse marco, ainda nio efeti- vados, de modo a dinamizar seu proprio poder. Na existéncia de_uma estrutura politica flexivel, a capula dirigente encontrou mais tarde meios de renovat-se no poder, ampliando efetiva- mente as bases de legitimagao politica. ; FE no quadro de referéncia acima delineado que se insere a andlise da estrutura politico-partidaria da Primeira Repiblica. A partir da histéria de alguns momentos politicos do perfodo, esperamos mostrar as linhas getais da constituisio € funciona- mento do processo da “politica dos governadores”, definidor dessa estrutura. Instituida a forma federativa de governo, 0S anos que vio da Proclamagiio da Republica aos principios do quatriénio Cam- pos Sales (1889-1900) definem-se, no nivel politico, pela luta em torno da formagio das estruturas de dominasao nos Estados. A quebra dos quadros politicos estaduais, terminada a Mo- narquia, trouxe ao Governo Provisrio da Repiblica problemas bastante sérios, relativos 4 reorganizagéo dos poderes estaduais, cujo controle era desejado por varias facgdes. A forma federa- tiva de governo estabelecida com a Republica, ao transferir 0 foco do poder para os Estados, tornou a organizacdo destes um problema fundamental do novo regime. A nio ser o principio da autonomia estadual, basicamente, nao havia nenhuma idéia nova ou aspiracdo relativas 4 ordem administrativa, capazes de as 169 caracterizar intuitos em contraste que dessem sentido ideoldgico as lutas partiddrias que se iniciavam. Cinco dias apds a Proclamagio da Republica (20-11-1889), Deodoro da Fonseca expediu um decreto com o objetiva de re- gularizar, provisoriamente, as varias unidades da Fe sree Nomeou juntas governativas para cada Estado até que fos votada a Carta Constitucional ,brasileira que determinaria 4s condigées legais para a estruturagao polftica dos Estados. : Logo foi convocada uma Assembléia Constituinte destin da a discussfio e votagio de uma Constituigéo para o Bras republicano. Antes mesmo de ser promulgada a Constituigio (24-2-1891 ) © Governo Provisério com suas medidas centralizadoras seguiu que parte da Assembléia Constituinte viesse a lhe de * rar luta, desde que nela estavam representados os desgostos : grupos partiddrios, preteridos em seus Estados pelas primeira medidas do governo federal, a A excesiio dos representantes das varias ctipulas entao do- minantes em cada Estado, todos os outros levantavam 4 ee deira de defesa do principio da autonomia estadual, afirmando que a revolugio de nada servira aos ideais federalistas reivin- dicados. Paralelamente, a perturbacio politica local chega # refletit-se no Congresso Constituinte, Elementos do P.R.P. (Partido Republicano Paulista), po forte desde que precedera 4 Republica ¢ que concorrera organizadamente para sua proclamagao, reagiram contra as me didas “unionistas” do chefe do Governo Provisério: “... jamais seriamos um embarago ao governo desde que este, por sua vez, nao tentasse impedir a cons@ Staci dos nossos princfpios na Constituinte; ramos unionistas, mas nio duvidarfamos ir até a separagao, si houvesse no governo quem tentasse fundar um4 Republica unitdria” (7). A oposigao cresceu com a demissio coletiva do primeiro Ministério Republicano; substituido por outro, este se tornou suspeito aos novos grupos politicos desde que sé apresentava um “republicano histérico” em suas fileiras. (7) Campos Sales “- Da Propaganda a Presidéncia — Typ, “A Edlitora”, Lisboa, 1908 — pig. 61. 170 a lata See civis juntava-se outra desenvolvida cias octal siietubetae interior do Congresso. As dissidén- aur entio se reunir. fete eee a _cleigio constituicional do Presidente da th Tonseca sd et ser feita pelo Congreso. Deodoro piblica ae sponsive pelo golpe militar gue instalara a Re ae chefe do Governo Provisério, era 0 candidato natural. cio atid et a oposigitio parlamentar inicion_a coordena- tinha aa atte Marechal Floriano Peixoto, T 1 articulagio pelo Rio c : oe os politicos Demétrio Ribeiro (deputade nambuco) oe do Sul ), Gal, José Simefio (senador por Per- pela Babi . ontra-Almirante Custédio de Mello (deputado don it); todos, ressentidos oposicionistas ao Marechal Deo- doto, pelas medidas impostas nos Fstados ¢ contrérias a scus Anteresses, muit a iliansa entre Sio Paulo ¢ Deodoro, que j4 se mostrava dene Hoe finalmente foi quebrada com 0, langamento de a a Pav Moraes (Presidente do Senado pelo Partido Repub i- 10 Paulista) como candidato 4 Presidéncia dos opositores 20 finde federal. Acompanhava-o na chapa Floriano Peixoto, fort uate que pretendia canalizar, de um sé golpe, 4 e bancada paulista ¢ parte do exército. de = partir desse momento comegou a Ser colocada a questéio saber para que lado penderia a maior parte do grupo militar. hi © balanco das forgas militares indicava que, seniio a tota- idade, a maior parte dos corpos de guarnigio tinha tomado 0 partido de Deodoro e — corriam rumores — © aclamariam ditador caso fosse outro candidato vencedor, na Constituinte. Temendo essa possibilidade Campos Sales, mais tarde, diria que Procurava convencer 0 grupo paulista a recuar, baseando-se nas Seguintes ponderagdes: «a candidatura de Prudente, levada exclusi- gema de guerra contra Deo- ‘contava como elemento de vamente como estrata doro, a meu ver nao éxito; 7 : — dado, porém, © seu triunpho, parecia certo que uma parte do Exército, pessoalmente dedicado a Deodoro, nao se resignaria a deixal-o cahir. _— nestas condigses, 0 primeiro effeito da victéria do candidato civil seria uma divisiio ¢, consequente- mente, um choque entre duas facgdes do Exér- 171 cito, acarretando as mais funestas consequencias e até a guerra civi — na hypothese mais provavel, sinio certa, de preva- lecer a candidatura de Deodoro, deviamos prever que 0 scu governo niio deixaria de adoptar contra nds uma politica de reac¢io, afastando da ditesio, no nosso Estado, ‘como nos outros, o elemento republicano. . . (*), Embora Prudente de Moraes nio retirasse sua candidatura, parte da oposi¢io recuou nao querendo se arriscar a um movi- mento militar que ocorreria caso se mantivesse inflexivel e que ; ‘certamente a marginalizaria no poder. Deodoro da Fonseca venceu a eleigio por pequena margem de votos. Mesmo assim, o Congresso acentuou sua prevengao contra o Governo Provisério dando ao Marechal Floriano, .can- didato a vice-presidéncia pela oposigo, maior itimero de votos que os-dados a Deodoro, derrotando 0 Almirante Wandenkolk, nome lembrado pelo govertio para prestigiar a Marinha (°). A bancada paulista contentava-se na espera de circunstén- cias mais favordveis, certa dos frutos de sua alianga com o grupo - militar fiel a Floriano. Apés a eleicio presidencial tornou-se necesséria a organt- zacio legal dos Estados. Sob os conselhos do Bardo de Lucena, figura dominante no governo, iniciaram-se as reviravoltas das politicas estaduais. Os componentes do grupo oposicionista, Ror ocastio da elei¢io constitucional de Deodoro, foram afasta- dos da cipula politica em seus Estados ou entdo mantidos na mesma situa¢o de ostracismo, No Estado de Sio Paulo, a eleigfio de Américo Brasiliense para presidente teve © sentido de arrancar o dominio politico local das maos dos Tideres do P.R.P. que se haviam oposto 20 Governo Provisério ( ). Em todos os outros Estados repe- tia-se o fendmeno. (8) Campos Sales — of. cit, pags. 66/67, (9) Mal. Deodoro da Fonseca recebeu 129 — Prudente de Moraes, 97 — Almirante Wandenkolk, 57 —- Mat" Floriano Pei xoto, 153. (10) Em Sio Paulo governava’ Jorge Tibirigé, em substituigao a Prudente de Moraes que havia sido ‘eleito senader no ano anterior, ambos elementos da mesma facgio do partido paulista. No din 6 de m2 | Como 0 Congresso Constituinte, ao invés de ser dissolvido, se transformara em Congresso Ordindrio, as bancadas permane- ceram cm seus postos. A maioria delas era formada por depu- tados ¢ senadores qu encontravam 2 margem do poder cm seus Estados, If ficil perceber a violenta oposigio que ent fio Se organizou contra o presidente da Reptiblica, impotente ainda para realizar nova eleigio legislativa. O desentendimento entre Legislative ¢ Hxccutivo 3 se de tal modo que Deodoro da Fonseca, procurando se forta- lecer, dissolveu 0 Congresso ¢ decretou o Estado de sitio. O golpe recebeu o apoio de todos os presidentes de Estados, 4 excegio de Lauro Sodré no Para. “(,..) mas, no préprio momento em que estas me- didas eram postas em pritica, os congressistas trata- vam, em reunifio secreta, de congregar elementos contra a dictadura... Uns retiraram-se para levar a agitacio aos Estados e outros permaneciam na capi- tal da Republica, promovendo ahi a aggremiagao de forcas 20 mesmo tempo que preparavam e concen- travam a accdo directora. Entre estes encontravam- “se Floriano Peixoto, Wandenkolk, José Simeio ¢ Custédio de Mello. (...) Os chefes de S. Paulo comunicavam-se com @ capital da Republica por meio de emissarios, que cui- dadosamente, os punham em contacto com o pensa- mento director do centro, onde se salientava a per- sonalidade de Floriano Peixoto, vice-presidente, a quem caberia 0 governo da Republica, caso triun- phasse 0 contragolpe” ("7). Nao resistindo & pressio militar que se unira ao grupo civil comandado pelos _paulistas, dispostos agora A guerra civil, © Presidente da Republica renunciou (23-11-1891) (27). frargo de 1091, o presidente do Estado foi demitido de suas fungies, Take eo Remeado e em seguida eleito para o cargo Américo Bra- Sih de acordo com a nova politica de Deodoro ¢ Lucena. (11) Campos Sales — of. cit, pags. 95/96. (12), O Almirante Custédio de Mello, a 23 de novembro de 1901 tinha também a esquadra revoltada sob seu comando, ¢ enviow ho Breidente da Repéblica um “ultimatum” no qual se Ihe concedia 173 A queda de Deodoro da Fonseca pode ser atribuida a duas causas, Uma delas reside nas dissensdes surgidas em torno da aprovaciio de algumas medidas fundamentais ) ordem_ federa- tiva, dificultada pelo presidente da Republica. Confirmando essas tendéncias do governo quanto is Jeis que referiam a ordem politica instaurada, Tobias Monteiro, relata: “Dissolvido 0 Congresso cabia ao governo esbogar as idéias principaes da reforma da constituicio. A que Deodoro considerava capital era a da unidade da ma- gistratura, Elle costumava mostrar 4 margem do Projecto confeccionado pelo governo provisdrio as obsetvagdes que fizera pleiteando-a. a camara dos deputados seria reduzida 4 metade dos seus membros havendo como no senado igualdade de representagio por Estado... (...) mas Deodoro,. embora partiddrio da autonomia administrativa, ten- dia muito para fortificar a unidade politica” ("°)- Unidade de magistratura, igualdade de representagio esta- dual, cram normas que sofriam oposi¢éo dos “defensores da Federago” e das bancadas majoritérias, de Minas e de Sio Paulo especificamente. A atitude de Deodoro acabou por ligar a politica paulista aos grupos civis -e militares oposicionistas, numa unido que fora fatal ao governo, A faléncia do primeito governo republicano, prende-se, POF outro lado, as divergéncias entre elementos civis e militares do governo, na disputa do apoio federal as suas facgdes que Iuta- vam nos Estados. Esse foi o eixo em torno do qual se congre- garam os mais violentos opositores do Marechal Deodoro: De- métrio Ribeiro, Aristides Lobo (polftico de Minas, elemento da facgio que se opunha ao Presidente do Estado Cesério Alvim, indicado por Deodoro), Custédio de Mello, José Simeao e, mais tarde, os paulistas Prudente de Moraes, Bernardino de Campos entre muitos outros. A politica governamental estava fadada a0 desmoronamento desde o momento em que afirmara minorias © prazo de 4 horas para renunciar. Antes mesmo di bom- bardear a cidade do Rio de Janeiro, a reniineia de. Beodoro. foi no- ticiada. (13) Tobias Monteiro — Pesquisas ¢ Depoimentos para a His téria — Typ. Aillaud Alves & Cia, — pdgs. 357/358, 174 no poder de alguns Estados importantes. Em conseqiiéncia, verificou-se uma “decalage” entre os interesses dessas_minorias ¢ os dos representantes estaduais no Congr seus adversé- ios. Caso iinico na hist6rin da Primeira Reptiblica, Deodoro da Fonseca comegou seu governo constitucional em minoria parlamentar. __A ascensio de Horiano Peixoto } presidéncia da Reptiblica, exigiu transformagées na ordem politica da nagio. A exemplo do que acontecera antes, foram depostos os governadores que haviam apoiado o golpe de Deodoro. Os novos substitutos por sua vez, dissolveram as ‘Assembléias Legislativas e os tribuna judicidrios e apearam todas as autoridades para substituf-las por representantes de outras facgdes locais 4). _ Se Floriano houvesse mantido os presidentes de Estado, teria prolongado a luta com o Congresso, cuja maioria se ¢! gira em oposigio a Deodoro, exatamente devido 3 eleigio da- queles presidentes. Como na nova ordem federativa as eleigdes para o Congresso Nacional passavam a depender de quem esti- vesse no poder nos Estados, a acio do governo federal para com os grupos no poder estadual cra 0 Unico principio que tragava a linha de conduta politica dos parlamentares. Tal esquema definiu relagdes entre Executivo-Legislativo durante todo 0 pe tiodo republicano. Dentre os movimentos de deposigio efetivados, 0 do Rio Grande do Sul foi o que trouxe conseqiiéncias mais sérias, per- meando a politica nacional nos anos subseqiientes. O problema “gadcho” mostrou-se de tal importincia que as posigdes assu- midas em torno dele passaram a determinar aquelas em relagao a0 préprio governo da Repiblica. Julio de Castilhos ( presidente provisério do Estado e diri- gente do Partido Republicano gaicho) por ter sustentado © golpe de Deodoro, foi destituido quando consumado o contra- golpe. Deméttio Ribeiro apresentava-se como seu sucessor natural, na condigfio de chefe de uma dissidéncia republicana que vinha se firmando desde o inicio do reinado. (id) As cifras doe governadores © juntas governativas a, cujo dominig cade Estado da Federagio se submeteu, mostram a turbulén- sen dn politica estadual durante 0 curto periodo de dois anos de fekime vepublieano. Por ex. Rio Grande do Norte — 10; Sergipe eee pemnambuco — 8; Minas Gerais —~ 13; Parand — 11. 175 Nao possuindo, entretanto, grande forga | cletiial: ot alguns elementos do antigo Partido Liberal, no a dirigido por Gaspar A grupo uniu-se a ostracismo (que sob o Império er aa veira Martins) formando o Partido Federalista Brasileiro. métrio dava, assim, aos liberais gatichos a entrada para a Re. publ e aqueles davam-lhe um partido, —Em_ consequéncia dessa composi¢io partiddria, 0 governo gaticho foi entregue 4 um triunvirato que a representava (5). : Dentro de poucos dias a junta se dissolveu ficando om governador provisério 0 Gal. Barreto Leite. Por essa hen Silveira Martins (que voltara do exilio a que fora 7 i ido com a Proclamagio da Repiiblica) assumiu a direco do - art 7 Federalista, opondo-se ao governo e a Demétrio Ribeiro q perde a chefia da agremiacio. 7 f No governo federal, as trés facgdes politicas gaichas i nham seus defensores: 9 ministro da Agricultura ( visio Faria) requetia 0 apoio de Floriano ao governador provi ost empossado, ligado a Demétrio: 0 ministro da Guerra Ue flmeio) defendia Silveira Martins; a maior parte de = ederal gaticha ligava- ili aakanuiua & gava-se ao grupo de Julio de er -neutto O presidente Floti i ‘manec i iano Peixoto resolveu pet " . métrio a os dois stupos republicanos. Quando, po! ém, De ¢ Silveira Martins firmaram um acordo politico pata so” problema das eleics, ‘ Gt ublicanos ou peiacigh Ses, coagido a decidir pelos rep’ Casti- ® SP Stas, Pronuticiou-se pelos primeiros chefiados por diverso dagucle wi ccetal dispensava a este grupo trainer” . : “ dispensado as outras faccdes estaduais | iam apoiado © golpe de Deodoro, A atitude de Silveira Mar ‘a de governo a ser ad fs is a ee a di . lotar 0 pais, ma) . 23 Se Rotana tina do apie da grance banca republics D » foram . nga da atitude presidencial, “SP"S4veis certamente pela mudans Em 1892, Castilho: oO je P enuetithos reconquistou o poder do Estado. eae ea “civ done no ddemorou, Iniciou-se "0 a civil fi =) KF is ue 36 terminou on 1895 enominada Revolugao Federalista 4 a ae Custédio de Mello, nio se conformando com’ as medidas Ce apoio do governo federal aos republicanos do Sul, (15) Barros Casal, Assis Brasil © Gal. Barreto Leite. 176 que prejudicava scus interesses, deu infcio & Revolta da Arma- da, procurando se aliar aos federalistas. Aderiu A reyolta o Almirante Luiz Filipe Saldanha da Gama, identificado com © governo monarquist \ A resisténcia do Governo Federal aos federalistas no Sul ¢ ‘A revolta da Armada — ambas vinculadas a_um sentido de res-, ‘tauragio da Monarquia — levou 4 identificagio de Floriano: Peixoto com a “consolidagio da Repiiblica”. Até que ponto: as diferengas de programa dos dois partidos gatich pondiam a doutrinas particulares é dificil dizer, Gaspa Martins, no Império, chegou a manifestar preferéncias pela Re. publica, convidando’o Gal. Osério a desembainhar a espada pela Republica. Na ‘Assembléia Legislativa da Provincia, nos Uiltimos anos da Monarquia, sustentava a tese da indiferenga pelas formas de governo, De qualquer modo, a figura de Flo- tiano Peixoto passou a set 0 s{mbolo do republicanismo mais radical. Os grupos estaduais que ascenderam a0 poder ou nele Se firmaram, durante sua gestao presidencial, identificavam-se € procurariam, nos perfodos subseqtientes identificar-se com © exército e a “salvacio da Reptiblica”. Os grupos “jacobinos”, como passaram a ser chamados, utilizavam a bandeira do repu- blicanismo puro, como garantia da Repiblica € de seu dominio Politico (28), Durante todo seu governo, Floriano Peixoto, como seu ante- cessor, sofreu cerrada oposigio no Congtesso. De infcio, esta era formada por elementos jdentiticados com o quadro politico anterior, mais tarde aumentada pelos que temiam seu continuis- mo na Presidéncia. O chefe da na¢io encontrava-se, porem, mais fort: que Deodoro. ‘A bancada compacta do PRP., que havia domirado a situacio politica no Estado de Sio Paulo, ¢ © exército coeso por causa das lutas atmadas surgidas no pais, deram-lhe 0 apoio necessério pata s¢ firmar no Congresso e no Poder (17), . i 6 te de Floriano, seria o re- (16) Jlilio de Castithos, apés a morte de Ploriano, protect te ie, fmportante do grupo “jacobino”, totalmente iden- fifleade como presidente que Ihe dera aberto apoio nas lutas gaiichas. (17) Bemardino de Campos, presidente do Estado de Sdo Paulo, , apoide militar s financeiramente 0 presidente da Repiblica na revo- Iugdo federalista ¢ na revolta da Armada. Francisco Glicério, membro do PRP, lider da _maioria no Congresso, sustentava Florian Peixoto no legislativo federal, comandando toda a bancada paulista. a 177 A eleigio de Prudente de Moraes, para o terceiro quatrié- nio presidencial, foi possfvel, de um lado pela posigo assumida pela sua agremiagio (P.R.P.) nos acontecimentos de contra: golpe ¢ na garantia do governo Flotiano e, de outro, pelo proprio desgaste sofrido por este no tumulto revoluciondrio ¢ politico 'de sua gestio. Sob a influéncia das eleigdes legislativas ¢ presidenciais, Francisco Glicério (paulista), com os elementos heterogéneos que apoiavam o governo de Floriano, fundou o Partido Repu- blicano Federal (P.R.F.) em 1893. Esse partido procurou abri- gar 4 sua sombra a maioria macica dos blocos estaduais, numa tentativa de resolver os problemas de estabilizagio e ajusta- mento do regime politico federativo, O nticleo da agremiasio era formado pelos elementos identificados com o ‘florianismo”. As divergéncias entre o P.R.F. ¢ o presidente da Republica surgiram sem muita demora em torno da disputa pelo maior poder, nas decisdes relativas 4 politica dos Estados. Enquanto © micleo do Partido Republicano Federal desejava a inalteragao das varias situagdes regionais surgidas ¢ estabelecidas com Flo- tiano, o presidente entendia que devia proceder a uma série de mudangas nas mesmas. Nessa luta, os florianistas foram levados a identificar Prudente de Moraes com a restauragio da Monar- quia, a propdésito de medidas tomadas pelo executivo federal nas questées, relacionadas A pacificagio do Rio Grande do Sul ("*), (18) Continuava a -ameaga federalista no Sul. Prudente de Moraes tomou a iniciativa de pacificar o Estado, enviando ao Rio Grande do Sul o Gal. Inocéncio Galvao de Queiroz, disposto a realizar a pacificagio mesmo & revelia de Jiilio de Castilhos, A 1.° de julho de 1895, 0 Cel. Silva Tavares (chefe federalista) em entendimento com Silveira Martins, negociou com o representante do governo um armisticio seguido de um aconlo. Segundo tal acordo, os revoltosos deporiam as armas, desde que o governo federal Ihes garantisse todos os direitos e procedesse A revisio da Constituigio do Rio Grande do Sul, especificamente no ponto que permitia a reeleigio do presidente do Estado. Os dois delegados em telegrama conjunto pediram ao Congress que a revisio fosse sancionada, pois disso dependia a pacificagio do Estado, Embora o lider da _minoria da CAmara Federal, Francisco Glicério, recusasse 0 pedido, Castilhos rompeu com o enviado do g0- verno da Republica ao Sul, afastando-se de Prudente de Moraes. O préprio Castilhos mais tarde iniciou o restabelecimento da ordem ptiblica e a pacificagio foi completada pelo Congresso ao votar a anistia geral; as relagdes entre o chefe da nagio e a politica republi- cana gaticha, contudo, jA se tinham enfraquecido. 178 na revolta de Canudos () © na insubordinagio da Escola Militar (). A. soluo que o presidente supostamente pre: tendia dar ao problema “gaticho” foi considerada por Julio de astilhos como prejudicial ao seu partido. Sendo — como jd apontamos — o sucessor do “florianismo republicano”, nao tardou a ser aventada uma identificagio do presidente da Re- publica com a restauragio da Monarquia, [im relacko A revolta 7 Canudos também foi o mesmo tipo de vinculagio, As agées federais, sem sucesso contra os jagungos, cram interpretadas como condescendéncia de Prudente de Moraes para com 08 reaciondrios que insuflavam a insubordinagio monarquista no intetior baiano (7). A atitude presidencial em relagio 4 Escola Militar (ver nota 20), servia ainda mais aos adversarios para definirem_o executive federal como antimilitarista ¢ anti-republicano. Foi em torno desse wiltimo incidente que se realizou a separagao toni (19) Revolta sertaneja_no_ interior da Bahia, chefiada por An- Ihelgy cae Uma comunidade se formou em torno de Conse- theiro, baseada em lagos de solidariedade a partir da fé, cm seus poderes essidnicos. Comecando em 1896, a revolugiio dos jagungos s6 terminou em outubro de 1897. (20) Em 26-5-1897, amotinou-se 2 Escola Militar, inflamada com Sees de Canudos ¢ contra o pseudo-antimilitarismo do Fresidem da Repiiblica. O governo cercou a Escola ¢ obteve a ren- gio dos rebeldes. (21) Muitos tentam ver o movimento de Canudos, entre outros aspectos como uma luta desencadcada pela preservagio do. regime mo: narquico, Seu sentido pode ser melhor nuangado se 0 inserimos na estrutura politica do periodo: we PRruto do. ineio ristico, o messias esposalhe muito natural- mente’ ‘as divisoes (da estrutura politica) ¢, conforme Ihe acontese ter um padrinho poderoso ¢ influente na situagao politica, ou aliar-se a uma oposigio em vias de enfraquecimento, assim também ter& con- digdes Ge aee oe Nerd perseguida... Como a politica interna das provincias ¢ mais tarde dos Estados era de luta constante entre as facgSes que ora se erguiam ao poder ¢ entio protegiam os seus, ora quedavam por terrae enti os partidarios incorriam em perseguigdes inimeras, dg messias partithavam das vicissitudes daqueles aos quais se aliavam, A constatagio de uma insergdo no sistema sécio-politico existente, que nig contraria, ¢ mais uma comprovante de que os movimentos Inessignicos brasilefros, muito embora abertamente combatam, As vezes, 2 forma republicana, ‘nao #40 na verdade... revolucionSrios”, Maria Isaura Pereira de Queiroz. O. messianismo — no Brasil ¢ no mundo, Dominus Ba. Editora da Universidade de Sio Paulo, Sp., 1965, pigs. 324/305. 179 oficial entre o bloco “florianista” do Partido Republicano Fe- deral ¢ o presidente da Reptiblica. Mais uma vez a crise polftica, embora acirrada pelos acon- tecimentos acima descritos, era causada basicamente pelas dis. sensdes surgidas entre os varios grupos estaduais que porfiavam pelo apoio presidencial aos seus interesses de ascensio ou ma- nutengio do poder nos Estados. Vejamos mais de perto os acontecimentos. Aqueles clementos que tinham formado na oposigio du rante o governo de Floriano Peixoto (por serem geralmente da “situagio” no governo Deodoro) procuraram se achegar 20 presidente recém-cleito, em nome dos “‘interesses da nagao e nto de um partido”. Dentro do prdprio P.R.F. também surgiram problemas. Logo apés 0 contragolpe militar os elementos que haviam ascendido ao poder estadual viam-se em situacio insus- tentdvel depois das eleicdes legislativas, ou mesmo fora do do- minio politico do Estado, em conseqiiéncia das varias divis6es e subdivisdes surgidas em seus blocos partiddrios (#). Tais ele mentos, que embora pertencessem ao P.R.F. nao tinham fortes ligagdes com o grupo “florianista”, tentaram se aproximar 40 presidente. : Por outro lado, o grupo do P.R.F. tentava atrair o presi dente da Repiiblica para’que governasse com suas facsoes. Finalmente veio a separacio entre Prudente de Moraes € © partido que surgita para o apoiar. No dia imediato a0 Jevante da Escola Militar, um deputado (ligado & situagao polftica ¢¢ Deodoro), procurando se aproximar do chefe da nagao, propds a nomeagiio de, uma comissiio para congratular-se com 9 exe cutivo federal : pela salvaguarda da ordem ¢ prestigio da Rept- blica civil . A “mogio Seabra”, como Passou a ser chamada 4 proposta, tinha o claro sentido de manobra provocadora contra Francisco Glicério ¢ 0 P.R.F. face 4 identificagio destes com 0 exétcito. Glicério tentou revidar a manobra afirmando que © (22) As cleigées legislativas federais munca coincidiam com aque- Jas que designavam os presidentes de Estado, Nesse espago intermediario, ocorriam freqiientemente remaneiamentos dos Srupos estaduais que for- mavam aliangas. pactos ou se cindiam. Comumente, parlamentares j4 eleitos para o Congresso Federal deixavam de pertencer A facqao que ascendia ao poder no Estado. Desde que o quadro estadual perma- necesse o mesmo até as eleicdes seguintes, resultava fatalmente a “degola”” desses deputados e senadores. 180 au fe presidente da Reptiblica desconhecia a “proposta Seabra” cujo objetivo era dividir as forgas politicas que apojavam 0 governo e que a “Fiscola Militar cra um reduto das glérias brasileicas”. Ainda dominando 0 Congreso, 0 chefe do partido conse- guiu que a Camara rejeitasse a mogio (7*). Artur Rios, polftico baiano presidente da Camara, re Aunciou ao posto por ter votado com a haneada de seu Bstado a favor da “mogo Seabra”, Entretanto, aparentemente sob a inspiragio do presidente da Reptiblica, safa no mesmo dia uma nota no “Jornal do Comércio” afirmando que 0 deputado Gli- cétio no representava mais o pensamento do governo federal no Congtesso. Ao realizar-se a cleigaio para 0 pr nnchimento da cadcira vaga do presidente da Cimara (quatro dias apés 0 inci- dente parlamentar) dois candidatos se apresentaram: o mesmo Glicério de um Jado, e de outro 0 mesmo ‘Artur Rios, respecti- vamente em nome do grupo “florianista” € “prudentista”. Gli- cétio foi vencido. Apoiaram-no as bancadas do Rio Grande do Sul, Amazonas, Distrito Federal ¢ Cearé. Artur Rios teve_a seu favor a maior parte das bancadas de Sio Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro ¢ a totalidade baiana. Os representantes dos outros Estados menores, dividiam-se oe os dois grupos, sem que se alterasse © equilibrio de forgas, favordvel ao exccutivo federal. Aproximavam-se novas eleigdes legislativas € presidenciais. Congresso se organizara grosso modo em dois grupos: Con- centrados ¢ Republicanos, divisdes do antigo Partido Repub i- cano Federal. Os primeiros ligavam-s¢ a linha “jacobina”) a camente sustentada pelas representages do Rio Grande do Sul, Parad eee ee esas IQ segundo grupo eta vinculado no presidente da Republica, formado de modo geral pelos Estados da Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Maranhio, Rio de Janeiro € a maioria paulista (74)- ; Campos Sales, que ocupava naquele momento a presi déncia de Sio Paulo, deu seu apoio 2 Prudente de Moraes, for- talecendo-o na luta contra o nucleo jacobino do P.RF. Nessa (23) 86 votos contra 66. : | ately oe). ceonetentagio paulista nfo apeiava compactamente Prac den eee ee fate le Francisco Glicério paver atraldo. para dente ‘de Moraes poly ervos da bancads, dada sua posicio de Tideransa no PRP. 181 rondigio, obteve o assentimento do governo federal a que s¢ candidatasse 4 sucessfo presidencial, A indicagio de Campos Sales surgiu oficialmente pelo Estado da Bahia, imediatamente seguido por Minas Gerais, Rio de Janeiro e o Distrito Federal: Pernambuco também se atrelou % candidatura oficial, com a indicagio de Rosa e Silva, politico do Estado, 4 vice-presidéncia, Os oposicionistas (Rio Grande do Sul, Parand, Santa Ca- tarina ¢ Para) Jevantaram a candidatura de Lauro Sodré, que\ foi mantida até o dia da cleigio “como uma homenagem pes soal ao candidato”. A percepedo clara da fatal derrota da opo- si¢io Ievou alguns de seus grupos estaduais a transferir-se pata 0 lado do novo presidente antes mesmo do pleito eleitoral. Mais tarde, todos os Estados se uniam, reconhecendo por una- -nimidade e sem. dontestagio o poder dos candidatos eleitos. Campos Sales havia sido eleito oficialmente em nome dos “republicanos”. A partir daf, achavam-se estes mais autorizados a dominar as eleicdes Jegislativas. Os “concentrados”, por outro lado, fundamentavam seus direitos na necessidade imperiosa de preservar seus feudos politicos. Tendo mostrado solidariedade 40 novo presidente, mesmo tardiamente, esperavam o apoio do governo federal, LE preciso apontar aqui o seguinte fato: o poder legislativo, ¢ nfio o judicidtio, era o Stgio verificador dos poderes dos depu- tados, senadores, presidente e vice-presidente da Republica. Dominar as eleicdes significava controlar automaticamente 4 comissio reconhecedora de diplomas, onde residia o fulcro das decisdes, na fase de verificagio dos pods Alguns anos mais tarde (1908), Campos Sales procuratia interpretar a situagdo politica federal wand ximavam as cleigdes legislativas de 1900: fears “Ao primeiro aspecto convenci-me de que ne- nhum dos lados aptesentava symptomas de hostilida- de ao governo, si bem ‘que fosse Patente o intuito, em cada um, de fundar a sua Preponderancia na politica. (...) . Os agrupamentos politicos que encontrei jo disse, eram facgdes do Partido Republicano Federal, que nao era propriamente um partido politico, sinto apenas uma grande aggregacio de elementos anta- gonicos. (...) 182 Nio me achei, portanto, entre partidos oppos- tos, mas simplesmente entre faces rivaes, que se haviam desaggregado com o objetivo no governo da Republica, Era tal a ambigio de vencer, que, sepundo st tornou_ ptiblico, de ambos os _lados mandavamn instrugGes aos andidatos nos Fstados, para que se fizessem diplomar a todo o transe. A palavra de ordem era o diploma” (9). Ante 0 perigo de Jutas ¢ de um Congresso fracionado como 0s anteriores, decidiu Campos Sales garantir-se 0 suport das grandes bancadas de Minas, $io0 Paulo ¢ Bahia e, fundado em an langa do Regimento Interno da Cimara, impor a0 Congreso Nein linha de conduta na fase de reconhecimento dos po- condi Definia-se ela por reconbecer somente of diplomas dos : latos cleitos pelas situagoes nO poder naquele momento dos espectivos Estados, nao importando a que grupo pertencessert. © Regimento Interno do Congresso indicava que a0 mais velho dos diplomados deveria caber a presidéncia interina da Camara que, por sua vez, nomearia uma comisso encarregada he organizar a lista dos deputados presumivelmente legitimos. © mais velho parlamentar_cabia, em Yiltima andlise, o princi- pal papel na formagio da Cimara. A nova reforma, aprovada pelo Congresso, segundo proposta de Campos Sales, indicava que © presidente interino da Camara seria o mesmo da anterior, ado com os problemas do Congreso”. Como nesse momento especifico tal cargo era ocupado por um politico mi- neiro, Campos Sales escreveu (8-2-900) ao Presidente de Minas, Silviano Brandio, pedindo sua solidariedade as medidas pre- tendidas: «©. © Estado de Minas acha-se destinado a representar o mais importante papel na verificagao de poderes da: futura Camara. ‘A reforma do regimento, 20 findar-se a passa- da legislatura, deu 20 dr. Vaz de Mello, deputado mineiro, a jnvestidura da presidéncia interina desta casa do Congresso na proxima sesso. A elle cabera formar a comissfio, 4 qual incumbe 0 inicio, a base dos trabalhos na verificagao dos poderes. (..-) (25) Gampos Sales - op. cit., pigs. 230/237. 183 Ao Iado desta reforma estatuiu também o regi- mento as condigdes do que seja, em princfpio, o di ploma legal ou presumidamente legftimo: aquelle que & expedido pela maioria das juntas apurado- ras” (2°), Escreveu ao governador da Bahia, Luiz Viana: “... Como chefe politico de um Estado, que exerce justa influéncia no seio do Congresso,..+ cabe a V. exc. inestimavel collaboragdo no patriotico trabalho de organizar e arregimentar os elementos que terfio de agir com efficacia na execugio do pen- samento que presidiu 4 reforma do regimento 4a Camara. Essa execucio, para ser util, precisa set severa, inflexivel e isenta de preoccupagées parti- darias” (77). A. Rodrigues Alves, senador por Sao Paulo € chefe do P.R.P. dizia: “O que é indispensavel é organizar desde logo, no inicio dos trabalhos, uma maioria arregimenta- da e resoluta, que nfo tenka outra preocupacao a nao ser a de constituir uma Camara nas melhores condigdes de legitimidade. _ Esta maioria, para bem desempenhar-se da sta misséo, no deveré olbar para os dois lados da anti- ga Camara, niio deveré distinguir entre os antigos matizes — Republicanos e Concentrados — tendo em vista somente as condicées de legalidade, ov, pelo menos de presumpoao de legitimidade do diplo- ma de cada um dos candidatos, Como tenho dito, 4 presumpsio, salvo prova em contrérig € a favor da- quelle que se diz eleito pela Politica dominunte 10 respectivo Estado” (78), 7 Com o apoio de trés bancadas numerosas, Campos Sales conseguiu que suas diretrizes fossem cumpridas, Resolveu assim (26) Campos Sales — of. cit., pigs. 239/240. (27) Idem — phg. 243. 184 os problemas partidérios mais importantes da atividade pollftica, aqueles relacionados 4 formagio das estruturas de dominagio hos Hstados. A partir daf, deputados © senadores garantiam-se asi préprios mandatos sdélidos ¢ intermindveis no Congresso ¢ @ seu partido longo dominio do poder no_ Jistado. Iniciou-se a implantagio das oligarquias estaduais, cujo poder se fechari as tentativas conquistadoras das oposicSes que surgissem, Insti- tufra-se a norma basica da “politica dos governadores” que de- -veria propiciar ao regime federativo © equilibrio procurado nos anos anteriores (7°), Sob sua égide fluiria a Reptblica até 1930. No sistema constituido, os verdadeiros protagonistas do processo politico eram os Estados, os quais, dotados dos neces- sétios suportes legais, dominavam a politica nacional, Em troca da garantia de tal autonomia, sem intervengiio da Unifio ¢ do direito de controlar as nomeagdes federais, os Estados davam apoio ao presidente da Republica, sem o qual este nfo subsis- tiria no poder. Embora tal compromisso nfio se coneretizasse em relacio As pequenas unidades da federagae, como vercmos adiante, esse cra o princfpio implicito nas relagdes da Unido com os Estados, A forca de uma oligarquia estadual advinda do controle exercido sobre os grandes coron¢is municipais, condutores da massa eleitoral incapacitada ¢ impotente para participar do pto- cesso politico que Ihes fora aberto com o regime representative imposto pela Constituigio de 1891. | “Despejando seus votos nos candidatos governistas nas eleigées estaduais e federais, os ditigentes politicos do interior azem-se ctedores de especial recompensa, que consiste em fica- Fem com as mfos livres para consolidarem sua dominagio no municipio, Essa funcio eleitoral do “coronelismo” € tao impor- tante que sem cla dificilmente se poderia compreender 0 dont des que anima todo o sistema. O regime federativo também contribuiu, relevantemente, para a produsio do fendmeno: (coronelismo) ao tornar inteiramente eletivo o governo, dos Estados, permitiu a montagem, nas antigas provincias, de sdlidas , mAquinas eleitorais; essas mAquinas cleitorais estaveis, que de-) (28) Idem — pag. 284 (grifo nosso). bts “politi (29) A. caracterizagio. do quadro_da, constituigio da “politica dos governadores” foi montada na descrigio do periodo feito por Eduar- do Kugel, mas em manuscrito a ser publicado sobre O proceso polt- tico de 1891-1909, 185 terminaram a instituigio da “polftica de governadores”, repou- savam justamente no compromisso “coronclista”. “(...) 0 fendmeno estudado € caracterfstico do regime republicano, embora diversos dos elementos que ajudam a com- por o quadro do “coronelismo” fossem de observacio freqiiente durante o Império ¢ alguns deles no prdprio perfodo colo- nial” (3°), : O fulcro do poder ou das decisées polfticas nao residia, contudo, nos municipios como pode parecer A primeira vista. As faccées municipais s6 subsistiam enquanto emanagdes dos desejos do poder estadual e em nome da oligarquia instaurada no Estado. Existiam hutas politicas municipais: segundo prética firmada de longa data dois grupos se engajavam em luta, divi- dindo verticalmente as comunidades. Nao importava, porém, qual fungao ganhava o poder Jocal, pois as gragas Ihe seriam dadas de qualquer modo, seguidas da absorgio pelo govern estadual, com vantagens para ambos os lados (31). Com o poder judicidrio, militar e policial em_ suas ma0s, © Estado garantia sua posigio de parte forte, numa barganha na qual o municfpio, ao nao entrar nas tegras do jogo, teria muito | a perder, e, ao cumpri-las, ganhava o que podia receber. a No nivel nacional, sob a hegemonia dos Estados mais fortes, Minas Gerais e¢ Sao Paulo, desenrolava-se 0 process politico: um ajustamento e compromisso entre todos os Esta dos da Federagio para a escolha do presidente da Republica, Bene crucial e€ quase tnico importante no quadro da vida/ ‘epublicana. __ Dos papéis reservados a cada um dos Estados no compto- misso da “politica dos governadores”, Sio Paulo e Minas Ge- rais detinham os mais importantes, seguidos pelo Rio Grande de Sal Sem encanto foam al 7 unidades da Federagio balangavam-se 40 seu redor em busca ¢ A espera de serem carreadas ao poder depois de tomadas as grandes decisdes. 7 Num sistema onde estavam ausentes os partidos nacionais, 0 encaminhamento sucessério assumia. uma forma bastante com- (30) Victor Nunes Leal — Coronelismo; enxad > Municlpio © @ Regime Representative no Brasil” alghy ‘Keoista, Foe rense, pag. 184. (31) Nem todos os municipios acompanhavam esse modelo: alguns desvios se observaram sobretuclo no Estado de Sio Paulo, apesar dessa ser a tendéncia geral. : 186 plexa, A strutura partidaria de da Estado tornava-se ponto fundamental na determinagio da importincia que competia a , avocada pelos Esta- fica, Minas ¢ Sio Paulo Apre cada um deles. A hegemonia do proce dos de grande forga econdmica ¢ demopr! cra garantida por suas organizagées polftico-partidéri sentavam quase o mesmo quadro: partido tinico que a totalidade das forgas politi (P.R.P. em Sito” P.R.M. em Minas Gerais) comandado por uma Comissi tral Executiva; lutas canalizadas para _o nivel intrap: cardter monolitico no plano federal. De modo geral as repre- sentagées paulista e¢ mineira formavani grupos compactos no Congtesso Federal e, em scu nome, Minas ¢ Sfio Paulo assegu- ravam-se o controle da vida politica nacional. No Rio Grande do Sul a divisio nftida das forgas polfticas em dois grandes blocos: 0 Partido Republicano ¢ 0 Partido Pe- deralista (mais tarde Libertador) compunha um quadro diverso. Esta situagio, concretizada em Iutas violentas dentro do Estado e desenvolvidas desde o inicio da Reptblica, enfraquecia o Rio Grande do Sul em relacio aos dois outros Estados. Mostrava a fragilidade dos partidos gatichos que nao congregavam sob suas legendas a totalidade das falanges estaduais. Dentro do quadro da “politica dos governadores”, era fatal obstdculo as pretensdes de um candidato & presidéncia da Repiblica o fato de nfo ser em nome de todas as facces politicas do Estado que represen tava. Essa circunstincia sempre colocou o Rio Grande do Sul Mais como um peso na balanca da luta pelo poder do que um sério pretendente a_ ele. Por outto lado, essa mesma bipolarizagio partidaria fir- mava a coesio e disciplina interpartidaria necessfria A manuten- Gio do poder no convulso Estado gaticho. A unidio partidaria ea peculiar Constituicio riograndense que permitia a reeleicao do presidente do Estado indefinidamente garantiram 0 controle do governo estadual pelo Partido Republicano, primeiramente com Julio de Castilhos, seguido de Borges de Medeiros e Getilio Vargas até o fim da Primeira Reptiblica. Os bem atmados gru- pos e milfcias dependentes dos presidentes sulinos garantiram © Estado contra a intervencao federal, pratica freqiientemente inflingida aos pequenos Estados. ; ‘A disciplina partidéria permitia ainda que os republicanos desfrutassei de posicao invejével no cendrio federal. Possuiam uma bancada unida em torno de um representante de todo o partido, o qual no era vulnerdvel a possiveis lutas intraparti- détias (comuns em Sao Paulo e Minas). Os lideres paulistas 187 ¢ minciros, embora o fossem cm nome da situagio estadual na sua totalidade, estavam sujeitos, enquanto filiados a uma facgio especifica dentro do partido, aos sabores da luta interna intra- partiddtia em seus Estados. Assim, eles se sucediam uns 208 outros, de acordo com o setor que assumisse a diregio da Comissio Executiva. As bancadas paulista e mineira tinham Iideres diferentes em cada novo quatriénio presidencial. O Senador Pinheiro Machado, na condigao de Tepresentante a situacionismo gaticho, permaneceu como lider incontestéve' lo Rio Grande do Sul até sua morte. O privilégio advinha do ato de que o partido, sustentava em bloco Borges de Medeiros Laid muitos anos no poder gaticho, e com este scu representante ia plano nacional. Borges de Medeiros era o chefe no nivel esta dual e Pinheiro Machado no Congresso. Em conseqiiéncia, pode-se apontar como pilares da politica federal: 0 + P.R.P. e Pinheiro Machado. : ae A posigio do Estado do Rio Grande do Sul ficou mats ie talecida ainda, pelo menos até 1910, pelo fato de Pinheiro ‘do chado ter conseguido o controle de algumas oligarquias Norte e Nordeste. Por época da instalagao da “politica dos cee vernadores”, como figura importante no Senado e no, reco! Has cimento dos poderes, fizera ligacgdes vantajosas com ee grupos daquelas regides. Ai seu poder sé era rivalizado an pernambucano Rosa e Silva que também pretendia 0 dominio politico regional. O desencontro entre esses dois chefes sempre teve papel importante nas articulagdes sucessdrias. De vm as modo, tornava mais dificil a unio entre aquelas oligarqu que se estendiam do Amazonas 4 Bahia, enfraquecendo-se em relagao as do Sul. : Estruturadas diversamente dos trés Estados acima mencio- nados as demais unidades da Federagio caracterizavam-se Pet existéncia de lutas violentas entre, varias facgdes, mais numero- Sas € menos coesas que as congéneres gatichas. Dependiam das demarches fedetais pata se manterem no poder ou para atingilo. Como pegas pouco importantes no jogo politico nacional as “situagdes” desses Estados podiam ser descartadas ao perigat © equilibrio nacional. Nesse momento as oposigdes estaduais surgiram como ameagadores concorrentes ao poder controlado pelas cipulas dominantes. Nem mesmo os Estados mais fortes, politica ¢ economicamente, como Pernambuco e Bahia, deixa- ram de sofrer intervencio federal. A Unifio, encarnada nos Estados de Sio Paulo e Minas Ge- tais encontrou como meio de defesa quanto A excessiva autono- 188 a dos outros Estados, 0 uso attificioso de uma técnica pe- iar para garantir suat prioridade, o que vale dizer a priori- dade do PRM. ¢ do PRP, Através do artigo 6.° da Consti- tuigio, que se torna’ tucional, o que der avancas do arcabougo insti- i ‘ interpretagdes ambiguas, pa- roe interesses politicos dominantes; ao mesmo ter mon ra irmado 0 principio da supremacia dos grandes » ficavam juridicamente seguradas as condigdes pa Possiveis intervengdes federais (™). fee a determinagio do suftigio universal ¢ a da pto- rasileina : le representativa proclamadas pela Constituigio da reg a eae possivel garantir a hegemonia dos Estados ade gor entro-Sul. A eleicgio presidencial direta pela_maio- Federal e ssl fe proporcionalidade de representagio na CAmara Mentete m relagdo 4 populagio de cada Estado, firmava legal- mico ck controle do poder por aqueles de maior peso econd- projeto emesrifico, Nio é surpreendente, pois, que 0 primeiro dando le legislagao cleitoral que pretendia eleigdes indiretas a a cada Estado no cémputo final um foto, foi decidida- nte recusado pelos sulistas (8). ah Alguns trechos do discurso de Epiticio Pessoa, represen: ‘ante da Paraiba, evidenciam o que vimos apontando sobre 2 questo da representagio parlamentar na Camara Federal: “_- Pelo modo porque a Constituicao estabe- leceu a representacio dos Estados — Senado e Cama- ra — é facil verificar que 4 ou 6 Estados podem, cles sd, decidir os negécios que dizem respeito aos 20 ou 21 Estados que compoem a Uniio... 4 tivemos a comprovacio dessa verdade na votacio de certas emendas em que os interesses do —__ (32) Constituigio brasileira de 24 de fevereiro de 1891. ; Are 62 © Gaverne Federal nio poders intervir em neg6cios Peculiares aos Estados salvo: ; 1° — Para repelir invasées estrangeiras, ou de um Estado em outro: : 2° — Para manter_a forma republicana federativas Zo pas Watipelecer a ordem ¢ @ tranqiiilidade nos Estados A requisiggo dos respectivos governos; 4 42 —— Para assegurar a execugao das leis e sentengas federais. (83) Nem todos os municipios acompanhavam esse modelo: alguns desvios se observavam sobretudo no Estado de Sio Paulo, apesar dessa ser a tendéncia geral. 189 maior ntimero dos Estados foram abafados pelo me nor mimero, e, isto porque, imensa ¢ injusta desi- gualdade se estabeleceu entre a representagio 0s Estados do Norte ¢ do Sul, Estes tiltimos foram arbitrariamente melhor aquinhoados do que os do Norte, por ocasiio de se confeccionar o regulamento eleitoral...” “| No Brasil € 0 que se vai dar, Os Estados grandes disputario entre si a gestZo dos negécios pi- blicos e¢ os Estados pequenos, arrastari ingléria, obscura, nio ho de ter a minima interfe- réncia nos negécios de nossa patria, hiio de ser sei pre esmagados pela enorme superioridade com qv aos outros dotou a Constituigao do pats...” (*) io uma vida 7 O quadro teérico liberal, embora invocasse a equivaléncia al direitos entre todos os Estados — implicita na organizage? lo regime federativo ¢ necessdria A sua manutengio — signifi cava concretamente a supremacia dos representantes do. setor b + ip) 108 P! ’isico da economia brasileira, i pbeter-nos-emos na histéria do perfodo que vai da sucessi0 a0] residente Afonso Pena (1908), passando pelo governo Her fhe ‘bee até a escolha de Wenceslau Brés a presidéncia proces a oliti losso objetivo é o de mostrar o funcionamento 40 ae esethn ma - me Sucessdes presidenciais, dentro do quadro de nos estenderm scolhemos esse perfodo, na impossibilidade denciais: um, Tecate englobar dois tipos de sucessdes pres tivo dos normais eb ae politica do pais, outro represents: sucessérios Por outro lado, 7 , englol trazem a conveniéncia dle a no mesmo perfodo (1908-19 14), esperamos, também a leitura Permitir a exposisio mals fil © O sucesso de d uma i Abdi dependia do apoio de candidature a0 governo da Republica A sustentacao posterior do ci dois dos grandes Estados. contava pelo menos com e = lente do poder era firmada s¢ representava. ipoio compacto do Estado que Apés Floriano Peixo 4, 0 — e dk também, como vimos — i le jum ‘certo modo este os_presidentes da Republica procediam _. (34) Anacs do Co! i i — sessies de" 29-12-1800 € de 29-Ligo1, Consitvinte, Rio de Janeiro 190 da alianga politica de Minas ¢ Sio Paulo, 4 excegio de Hermes da Fonseca (1910-1914) ¢ de Getilio Vargas (1930) que surgiram da uniio de Minas ¢ Rio Grande do Sul. 5 Nos primeitos anos da_gestio Afonso Pena (1907-1908) © panorama politico do pais apresentayase estivel. Os. situa conismos estaduais -niio faziam oposigio ao poder federal, fi¢s € passivos aos seus objetivos, como sempre aconte ia antes dos. perfodos sucessérios, Conseguira 0 presidente da Reptiblica © apoio compacto dos grupos paulistas em troca da aprovagio ¢ ne dos projetos referentes 4 valorizagio do café ¢ A Caixa lc Conversao (35) ie (35) As superprodugdes cafeeiras_vinham-se avolumando dada a xpansio das lavouras; a superioridade da oferta sobre a procura pro- vocava queda sensivel nos precos do café, Os governadores dos Ustados Gafeciros (Minas Gerais, $40 Paulo e Rio de Janeiro) reuniram-se em ate (26-2-1906) onde firmaram um acordo cujos, itens capitals stimulados para um programa de valorizagio cafceira foram: — a obrigagio, assumida pelos Estados, de sustentar determinado Pteso minimo por saca de café nos portos de embarque. (Foi estipu- lado, de infeloo minimg de 55 a 65 francos ouro, ao cambio do diay tipo'7 americano, até 0 maximo de 70 francos, aumentando-se propor cionalmente os pregos para as categorias superiores) ; — retengio e compra de parte da produgio equivalente ao excesso sobre © consumo mundial; . 7 Os capitais destinados A compra dos estoques do produto, se- nlam_ fornecidos por empréstimos feitos no exterior no valor de 15 milhes de esterlinos; —— seria institu(da uma sobrotaxa de exportagio, de 3 frances (que poderia ser aumentada ou diminuida), como garantia para 0s juros © amortizagdes dos capitais destinados a executar o programa de defesa, ‘Ao mesmo tempo assentou-se a criagio de uma Caixa de Con- versio monetivja deninada a receber o produto das operagtes oe crédito exterior, as moedas brasileiras de_ouro que tivessem curso Tegal © quais- quer somas em moeda estrangeira que entrassem no pais, A Caixa trocatia por bilhetes ao portador, a um cambio de 15 pence por mil-téis, um pouce inferior A taxa média em curso de 17 pence por mil-réis. A emisdo desses bilhetes, que teriam curso legal ¢ seriam reembolsados @ pages ao portador em moeda de ouro,, era feita contre depbsito de soma. correspondente, em metal. A Caixa teria um depésito limite Jo20 “wilhde de esterlinos. A conversibilidade do mefo circulante era assegurada pela liberdade de exportagio do ouro ou de valores inter- nacionais que o representassem. © ouro afluindo ao mercado, teria vantagem em canalizar-se para a Caixa de Conversig, onde o mil-éis valia menos. Nesse sentido, 191 A luta por essas medidas, concretizadas no convenio de Taubaté, levara paulistas, em 1906, a fazer oposi¢ao ao governo Rodrigues Alves ¢ a apoiar Afonso Pena que mais de perto se identificava com aquela politica ¢ em nome da qual havia galgado a presidéncia (7°). Os Estados cafeciros formavam a base de sustentagio do governo federal, expressa na direcio do grupo chatmado “Jar 7 da Infancia” (#7) que dominava a politica no Congreso. 2 perigo que podia surgir 20 dominio presidencial vinha, tate mente, do Rio Grande do Sul, na pessoa de Pinheiro Machado, lider do “Bloco”, partido que congregava varios representantes no Legislativo (38), as E preciso esclarecer que esse partido nfo fazia oposie aberta ou oficial ao presidente da Republica; representava m enquanto se pudesse verificar a emissio, a Caixa impediria « alta do cambio. Para evitar a baixa, no parccia 0 novo érgio, tio ficient Em caso de crise no pais, quando a moeda no mercado descesse abane do nivel da Caixa de Conversio, seus depésitos ndo demorariam & it esvariar. A Caixa de Conversio era por conseguinte um mecanist de repressiio 4 alta do cdmbio, limitada pelo montante dos dep em ouro, sem efeito sobre a baixa. ‘ign A. redugio do valor da moeda brasileira, tinha, como conseaiiée- cia, diminuir 0 prejuizo dos cafeicultores, com a queda dos press Produto, Vendendo o café em délares, a0 diminuir o valor do mir © cafeicultor brasileiro recebia maior volume de dinheiro nacional: > mecanismo da taxa cambial fazia com que a porcentagem do Pre] a ser assumido pelos eafeicultores pudesse ser diminulda, = Vide Celso Furtado — Formagdo Econémica do Brasil ban th XXVIIL — ““A defesa do nivel de emprego ¢ a concentragao renda”, Editora Fundo de Cultura S.A., Rio de Janeiro — 959. (36) Tremos nos referir a tais acontecimentos politico rolar da exposigio. (37) Nome dado a equipe que ocupava postos imp ; governo, formada por elementos da nove geragio’ politica’, Carlos Pel xoto, lider da bancada mineira e presidente da Camara; Davi Campista, Ministro da Fazenda; Miguel Calmon, Ministro da Viaggo; James Darcy, lider da maioria, eet (oe), .O partido “Bloco” se formara em principios de 1905: uma alianga, sob o comando de Pinheiro Machado, entre alguns chefes estaduais, com 0 objetivo de acabar com o poder, reconhecido até entio, que tinha o presidente de instituir seu sucesso.” Tal prerrogativa, no obstante, se manteve nos anos posteriores, com o préprio assenti- mento desses mesmos politicos. 5 no desen- ortantes nO 192 A uma possibilidade de disputa pelo controle do poder caso as circunstincias permitissem. O dominio do Presidente Pena cra bastante precirio, po- rém, dada sua posigio ¢ a de scus lideres parlamentares na poli- tica interna mincira, Além de nao ter raizes muito fortes dentro de scu préprio Estado, 0 presidente da Reptiblica trouxera a0 poder, no Congresso ¢ nos Ministérios, um grupo rentes de bases sdlidas dentro dos partidos estadu os mineiros em relagio ao PRM. Afonso Pena fora apontado como candidato su terior, mais por nao desgostar as varias facgdes do partidg mi- neiro, que por ser o nome preferido por elas. Nessa época 0 PRM. dividia-se em lutas interpartiddrias a propdsito da esco- tha do candidato de Minas 4 presidéncia da Republica. O nome escolhido em cada grupo nfo conseguia atrair 0 apoio de todos eles. A beira de uma cisio, dividem-se pela indicagio de Afonso Pena que menos attitos traria ao conjunto das forgas politicas do Estado, Por essa raziio mesma — fraqueza relativa dentro do PRM. — Rio Grande do Sul e¢ Sao Paulo terminaram por apoid-lo. Em 1908, o chefe da nagio agitou pretocemente 0 proble- ma sucessério. Joao Pinheiro, presidente de Minas, era 0 candi- dato natural. Sua escolha era produto de uma barganha entre os dois presidentes, desde que Jodo Ribciro fora, em grande medida, responsdvel pela indicagao de Afonso ‘Pena a sucessio anterior. Face & morte répentina desse candidato, 0 chefe do executi- vo federal coordenou o nome de Davi Campista, Ministro da Fazenda, para sucedé-lo, Este, sem grande forca no P.R.M., como dissemos, viu-se recusado, em cardter néio oficial, pelos homens fortes que dirigiam o partido. Pena conseguiria manter sua lideranga no encaminhamento sucessério se mantivesse unida a politica mineira. Essa unida- de de fato, vinha existindo, gragas a0 chefe do governo de Minas, elemento de -ligagio entre os varios grupos partiddrios e denominador comum dos diversos interesses. Sua morte ines- perada abalou a coesio das forgas politicas do Estado e no Con- gresso Federal, quebrada finalmente pela inabal4vel decisio de Afonso Pena em apoiar um candidato sem “prestigio” perante © quadro dirigente mineiro. ‘A cisio politica em Minas Gerais veio a constituir-se nado apenas no dado mais importante da crise que se instaurou i 193 apés 1908, mas também no fator responsdvel pelo seu desen- cadeamento, Na cena que vem sendo descrita, torna-se necessdtio apon- tar a diregao tomada pelas forgas paulistas ¢ gatichas. Sio Paulo, de infcio, nao se mostrou favordvel 4 candi- datura Campista, embora tivesse sido este o concretizador das medidas de salvagio da lavoura cafeeira. Os grupos paulistas nao viam porque deixar, no momento, que os assuntos relativos ao café interviessem, 3 semelhanga da sucessao anterior € na mesma proporgiio nas suas pretensdes de dominar as atticula- g6cs sucessdrias (%). Dantes, no periodo 1905-1906, 0 P.RP., que desde 1894 elegera os presidentes da Reptiblica, viu-se na necessidade de atrair o legislative e o executivo federais para a execucio de medidas intervencionistas no mercado cafeeito € ha politica monetétia vigente. Para_o. Estado de-.Sio-Paulo. Pesava, entio, muito mais a necessidade. de. reservar-amigos_¢ aliangas de modo a aumentar as possibilidades de-solucionar-o. problema do café, que impor um candidato paulista a0 posto: -chave da nagio. A necessidade de congregar, no Parlamento, bases favordveis As medidas pretendidas pelos cafcicultores desde que a efetivacio do projeto do Convénio de Taubaté passou a depender da aprovagio do Legislativo, levou a situagao paulista fi de aproximar do grupo politico congregado no “Bloco”, che- eoamense Pinheiro Machado (#), Embora houvesse entre os ong ‘as um aparente consenso sobre a necessidade impe- tiosa de proteger o café, dado seu cardter bésico na economia nacional, a diversidade de posigdes referentes 4 forma de se conseguir tal medida ¢ 4 quebra dos padrdes vigentes do /aissez faire econdmico foi utilizada Por grupos ities que procura- vam reunir melhores condigées de bargavha e maiores trunfos Para o embate, sucessério (#1), Desse modo, a orientagdo eco- (40) Rodrigo Soares Jinio; i i d a rem ibirigdé if dencia a questio, fornecendo informagses eye eid € sua short Sil entre o presidente de S&0 Paulo e Pinheiro Machade rl (41) B ilustrativo o fato de ¢ i 5 J que © projeto instituia, as_pri- imelras medidas de defesa do café foi aprovado pos oravde maiona. do Congreso, ifs ancadas ds diverton Estados, & excecio de elementos a a cana e do Maranhio sob a lid de Rosa ¢ Silva, © de vozes individuais, oposicionsstas, rom tans, “tavonavels A intervengio estatal no mercado cafeeiro, (Na Camara 106 votos a favor da aprovago e 15 votos contrdrios; no Senado 31. x favor ¢ 6 con 194 ndmica para a valorizagio do café veio a ser o pelo grande- mente utilizado para dirigir 0 movimento da indicagao do su- cessor de Rodrigues Alves. No que diz respcito & sucesso de Afonso Pena, entretanto, a conjuntura apresentava-se aos paulistas diversamente confi- gurada: exportagdes do café clevavam-se € 9 prego do pro- duto comegaya a se recuperar novamente ("); a politica desen- cadeada no governo Pena aparentava ser irreversivel dado © assentimento dos varios grupos a defesa do sctor cafeciro © 0 sucesso, obtido pelas primeiras medidas efetuadas com esse objetivo, Mesmo na impossibilidade de indicar wm nome paulista A presidéncia da Republica, no interessava a Sfo Paulo, de outro lado, ligarse a uma candidatura que jd fora recusada por Minas, sacrificando sua velha alianga com os mineiros, Assim sendo, nao se manifestou de imediato 3s primeiras de- marches inquiridoras. O grupo gaticho, comandado por Pinheiro Machado, pro- curou. encontrar um candidato por ele articulado que, ao_mes- mo tempo, atraisse o governo federal. Sendo possivel levantar uma candidatura em nome de scu Estado, nao itia Pinheiro dispensar 0 apoio do Catete, sem o qual as possibilidades de vitéria se faziam ténues. _ Rui Barbosa, representante da situagio baiana, e, o Mi- nistro da Guerra, Hermes da Fonseca, vetando o candidato oficial, surgiram como forcas passiveis de serem empalmadas pelos condutores do quadro sucessério, Rui, como elemento chegado ao presidente da Reptiblica ¢ entre os preferidos do senador riograndense, a cujo partido pettencia, tinha grandes possibilidacies de congregar em torno de si as varias aspiragces tua.) Vide —- Documentos Parlamentares, Politica Eeondmica — Valo- Heagdo de Café (1895-1906), 12 volume, Rio de Janciro — Typ. do Jornal do Comércio Ridrigues & Cia., 1915, pags. 408/429 ¢ 428/429. (42) As exportagées, que haviam caido para 12,6 milhdes de sacas em 1908, se elevaram a 16,9 milhdes em 1909. O prego eleva; Fase de 6,28 cents por libra-peso no segundo semestre de 1908, a 7,97 no primeigo semestre de 1909. Por outro lado, 0 fato da safra de 1906/1907 ter sido excepcional (duas vezes a média da produgéo no periodo) firmava a iia, comprovada anteriormente, de que por alguns hnos nio se repetiria o fendmeno. Os exportadores estrangeiros, temen- do as pequenas safras que elevariam ainda mais os pregos dos produtos, refariany seus estoques ¢, em conseqiincia, as vendas do produto arma- zenado pelo governo realizavam-se mais facilmente. 195 ¢ intetesses colocados na arena politica. A er st sugerida por Lauro Sodré ¢ por alguns mi ie oc feliz, Nao representando nenhum grande Tstad e nfo recede de raizes politicas em qualquer um deles, sew ois ‘ de inicio, a protegio dos representantes estadual fo guisess tosos. Mesmo que, porventura, alguns grupos 5 ral apoiar naquele momento, estariam praticando aha elcito Para quem conhecia as dificuldades de uma ane sem 0 apoio indispensdvel do chefe da nagio © decisérias. até aguele definitive as 2 ums As posigdes de todos os gtupos envolvidos, momento, nao tinham cardter explicito, menos ain i ,s50es cautelosas dos, interessados —_proptias 2 90° fase de “ausculta da situagio”, como afirmavam 0s PO desgest® ¢ram motivadas sobretudo pela necessidade de evitar © eigdes junto 20 governo central, com a aproximagao das legislativas federais, ainda Em margo de 1909, eleita a Nova Camara, embors que nao reconhecida totalmente, A excecio da bancada_ gatic te das nfo se comprometia em nenhuma diregiio, a maior pat! blica bancadas_parlamentares dizia apoiar o presidente da Repu stat © seu futuro sucessor. O equilibrio politico parecia ainda ¢ ta jptato, ¢; tudo indicava, seria garantido. poly nova legislate Na realidade, porém, ele j4 se quebrara antes mesmo do inlc dos trabalhos parlamentares pois a base de sustentac4o governo, a politica mineira, se cindira. Garantida a cleigio da bancada de Minas, alguns cheles do PRM. (®) passaram a dat caréccr publico 4 recusa candidatura Davi Campista, embora os meh de Contes? Se mantivessem formalmente atados & situagiio federal, na de pendéncia da decisio de Wenceslay Bri i que nao rompera ainda com Afonso oO Legislativo, €m suspenso, esperaya também uma palavra de desmentido por parte do Mal. Hermes quanto aos rumores dé sua_candidatura, Inversamente, Porém, o que se viu foi a confirmagio de seu nome seguida do pedido definitiyo de de- missio do cargo de ministro da Guerra, numa a uiescéncia a0 movimento contra o chefe da nacio, i (43) Os maiores op osicionistas 8 candidatura Campy, fl i ‘ampis ins Fortes ¢ Francisco Sales. pista eram B: 196 } _, Pinheiro Machado tentou ainda uma solucio junto ao pre- sidente da Reptiblica levando-the uma lista de nomes — Rui Barbosa, Quintino Bocaitiva,’ Rodrigues Alves, Ubaldino do Amaral — que teriam o beneplicito da politica do Rio Grande do Sul, obtendo como resposta a insisténcia de Afonso Pena na indicagio de seu ministro da Fazenda. A partir daf, os penderam para a candidatura militar, desde que a cle’ Campista itia confirmar a marginalizagio da polftica riograndense junto ao poder federal, j& iniciada pelo grupo do “Jardim da Infancia”, Afirmou o Gal. Dantas Barreto, militar hermista la época, que as tiltimas indecisdes de Pinheiro Machado em rela- So A candidatura Hermes foram esquecidas quando este amea- Gou 0 senador gaticho com a possibilidade de Rosa ¢ Silva tomar a dianteira do movimento hermista e a paternidade da candi- datura militar, De qualquer forma, o petigo de ser superado dentro das articulagdes sucessdérias, ou por elas e a intransi- géncia de Afonso Pena, inflexivelmente assentado numa can- didatura adversa ao Rio Grande do Sul, acabaram por levar o Partido Republicano gaticho a corrente hermista. atichos: Ante a crescente desuniZo entre os representantes mineiros No Congresso, Carlos Peixoto, lider da politica oficial, renun- ciou A presidéncia da CAmara por sentit que nfo mais exprimia © pensamento da bancada mineira. Essa decisdéo marcava 0 des- moronamento da hegemonia do grupo “Jardim da Infancia”, Porta-voz do governo federal, no legislativo. Deputados e sena- dores, na sua maioria,. faltavam ao ptesidente da Reptblica, mas, como as posigdes nio estavam muito claras, a0 mesmo tempo nfo se arriscavam a conceder a remtincia pedida, embora em expectativa, j4 sabia o Congresso com quem estava 0 con- trole da situaco. “Esto todos certos de que a nova situagio se- r4 dirigida por Minas e R. Grande do Sul, o gover- nador Wenceslau Braz ¢ o General Pinheiro Macha- do. Affirma-se duvidosa a solidariedade de Ruy Bar- bosa com o movimento antipenista, apesar de haver s. exc, manifestado contra a candidatura Campista e ser o mais decidido amigo politico do general Pi- nheiro” (*). (44) José Vieira — A cadeia velha — Jacintho Silveira — Li- vreire Baits, Rio de Janeiro, 1912, pags. 13/114 YT — BA ae O oferecimento da indicagio para a vice-presidé cialismo mincito Jevou-o, finalmente, a se_solidarizar com a candidatura militar, Com a “distingiio” conferida a Wenceslau Brds, a politica mincira, com pequenas excegdes, colocowse passivamente ao lado de Hermes da Fonseca. Efetivada a uniio entre os Estados de Minas Gerais Rio Grande do Sul, 0 Mal, Hermes comunicou ao presidente da Repiblica o assentimento A indicaggo de seu nome pas \concorrer ao posto de chefe do executivo federal. . O quadro da disputa sucesséria se formava. De as politicas situacionistas mineira e gaticha soliddrias com > Mal. Hermes; de outro, 0 presidente Afonso Pena ¢, eventual mente, a reptesentacio paulista, Faltavam as decisbes oficiais dos Estados menores ¢ das “situages” politicas de Per nammbueo, da Bahia e Rio de Janeito. Rosa e Silva, pelo primeiro Estado, aderiu 4 candidatura militar; 0 presidente do Estado do Rio, seguiu a corrente governista a cuja politica se ligava nos anos anteriores (*°), Restava saber a posicto da Bahia. Rui in bosa, que comandava a politica local através do governacor Aratijo Pena, havia-se aproximado do governo da Unifio, ante: vendo possibilidades de surgir como o candidato de conciliagio. Consultado por Pinheiro Machado a respeito da escolha do Marechal Hermes, escreveu uma carta condenando o cunho militar daqucla candidatura ¢ apontanda para o tato de que 0 acordo em torno ‘do Ministro da Guerra sd surgira como recurso da oposigio em contar com o exército para sua [uta contra Pena. De um lado, “(.+.) A autoridade central est4 momentanea- mente abolida pelas circunstincias de uma conjun pita sem exemplo a meu ver na histéria do regime. E 6 nestas circunstancias que o elemento civil deli- _ (45) Alguns anos antes, © “Jardi ancia” tinha dado ini- cio seu pao de Toray base cin da. Talat” dina onde dlo executivo federal. Explorando as circunstincise cantajesas da politica interna de alguns Tstados, Carlos Peixoto chanca’ a iee area. 0. situa cionismo fluminense sob a chefin de Alfredo ‘Back eventio um dos redutos do esquema politico do “Bloco”, Surgiu war desentendimento entre Nilo Peganha ¢ Afonso Pena: em toro dessas medidas, Nilo era membro do “Bloco” ¢ fora quem colocara Backer ma presidéncia do Estado de Rio de Janeiro. Caindo do poder estadual, pentou intervir na politica do Estado, no que foi impedido pelos lideres do governo no Congreso. A ligagio de Pecanha & candidatura militar obrigara Backer a pender para outra candidatura, dada a situagio ertadual fy 198 bera, por sua vez, abolir-se, tomando por Unico expe diente possivel de salvagio a candidatura do Minis- tro da Guerra. Se na escatha nfo entra como razio determinan- te a consideragio da classe, a que cle pertence, csca- pa ao meu entendimento 9 motivo da preferénci que a fez recair sobre o scu nome. Se, ao contririo, entrou, acho que Jaboraram em cngano os meus ani- gos. I, neste terreno, niio me seria dado acompa- nha-los. (...) Primeiramente_ninguém The poderia dis- simular o caracter. No Brasil ¢ no exterior todo mundo a olharia como inaugurasio do regime mi- Titar...” (4), _ Avcarta de Rui, publicada em varios jornais, de um golpe 86 retirava o grupo situacionista baiano da agremiagio pinhei- tista, atrelando-o A politica oficial e fornecia subsidios & cam- panha militarista que se desencadearia logo depois. Os partidérios da candidatura Hermes, de modo geral, os mesmos situacionistas de antes, reuniram-se cm convengio, a fat maio de 1909, Jangando a chapa Hermes-Wenceslau ‘as, Patenteada a desagrcgasio da politica oficial, a remtincia do presidente da CAmara, Carlos Peixoto, foi aceita por maio- tia de votos. Passando a controlar a verificagio dos poderes, gatichos e mineiros garantiram a adesio de alguns grupos poli- ticos de pequenos Estados, ainda no diplomados. __ Sio Paulo nfo via vantagens em sc desligar do bloco po- litico situacionista, nem, ao mesmo tempo, em partilhar a vitd- tia com Minas ¢ 0 Rio Grande do Sul, aos quais se subme- teria caso participasse da candidatura militar. _ Sua grande espe- Tanga era a de que 0 Congresso recuasse ¢ firmasse 0 apoio a indicagéo do nome de Davi Campista. Com tal objetivo, re- presentantes do PJP. exigiram do presidente da Republica que, em troca da solidariedade paulista, aceitasse 0 pedido de de- Imissio feito pelo ministro da Guerra dias antes. Um novo ministro afinado com a politica federal tiraria certamente algo (iG) Maria Mercedes Lopes de Souza — Ruy Barbosa ¢ José Mardslino -- Casa de Rui Barbosa — 1950, pégs. 206/207/209. 199 da forga da candidatura Hermes em proveito de sua rival ¢ dividiria ainda mais 0 grupo militar que jé nio estava coeso. No dia 29 de maio de 1909 0 Gal. Mendes de Moraes assumia a pasta da Gucrra A descrigio de José Vieira a respeito da sessio do Con gresso (8-6-1909), dezesseis dias apds o langamento oficial da chapa oposicionista, confirma a posigo do grupo de Sio Paulo: “Corre na Camara que Cincinato Braga (paulis- ta) escreve diariamente um memorial ao presidente de S. Paulo, sobre a situagio. N’esse memorial aconselha o Sr. Albuquerque Lins a continuar a resisténcia. Diz estar convencido da victoria contra a candidatura Hermes. Nao sé porque as bancadas podem mudar de opiniao vendo o governo do pté- sidente Penna disposto, como estd, a nao desistir da candidatura Campista, como por contar o consclhei- to com a marinha e boa parte do exército” (""). A morte do presidente Afonso Pena veio dar, porém, 0 solpe fatal 4 candidatura governista, Ascendendo’ ao poder 0 Vice-Presidente Nilo Pecanha, partidério de Pinheiro Machado ¢ , inimigo politico do presidente da Repiiblica (ver nota 54), /[ a candidatura Hermes livrava-se de seu cardter oposicionista. © novo presidente tentou apresentar-se neutro em relacio ao problema sucessério, afirmando o desejo de governar sem predile: io por nenhum dos grupos em luta. Em vista disso, varios micleos estaduais se abstiveram de. fitmar quaisquer compromissos definitivos frente 4 questo. “A maioria esquiva-se sempre que tem de acom- panhar © seu leader comprometendo-se na quest#o presidencial. | Diz-se que ha Estados, cujos repre- sentantes assignaram o manifesto Hermes, que, em segredo Prometteram aos chefes da liberdade civil a sua solidariedade. O que se Pode assegurar é que. varios deputados hermistas mostram nao cret na victoria do marechal, Entretanto procedem de maneira que, embora nao leve a combate franco, fica valendo pela nao disergao” (4). (47) José Vieira — op. cit., pag. 153, (48) José Vieira — op. cit, pag. 178. 200 Parece ser verdadcira a afirmagio, presente em_ alguns autores, de que Nilo Peganha, na visio de que poderia vir a ser candidato dos dois blocos politicos rivais, tomara atitude neutra face ao problema sucessdério. — Pensou mesmo em e~ nunciar A presidéncia da Reprtblica para que Quintino Bocaitiva © substituisse, prcsidindo uma cleigio na qual cle fosse 0 can- didato de conciliagio, Mais tarde, ciente da inviabilidade de seus objetivos, resolyen apoiar o grupo politico com o qual mais se identificava. Nesse momento, todos os Hstados que ainda se equilibravam nos compromissos, sem firmar decisdes, ligaram-se 4 corrente do governo federal. __ O grupo paulista que jé se havia oposto A candidatura nao tinha como, ou, mesmo, nfo podia recuar devido 10 quadro politico interno de scu Estado. Tornava-se problematica a com- posigio politica em $40 Paulo pois algumas facgées, relativa- Mente marginalizadas na diregio da Comissio Executiva do PRP, se haviam solidarizado com Hermes da Fonseca, na esperanga de conseguir, com isso, emergit do plano secundério a que se encontravam relegadas desde o governo Tibirigd (1904-1908)(#9), Com o mesmo objetivo todas as oposicées estaduais cultivavam a corrente federal rival daquela escolhida pela oligarquia dominante. Decididas as posicées, o grupo da situagio em Sio Paulo acabou por abandonar a candidatura campista em busca de outta com melhores condigées para enfrentar 0 embate com 0 candidato oficial. A carta de Rui Barbosa, publicada em varios jornais, j4 abrira 0 caminho por onde a oposigio iria correr. Desenca- deou-se violenta campanha civilista que procurara ferir a can- didatura Hermes em seu ponto fraco perante 0 opinifio publica: seu cardter militar. Comandando-a estavam Albuquerque Lins (presidente de $40 Paulo) ¢ Rui que dera infcio ao movimento antimilitarista. Sem muita perplexidade, a chapa_civilista foi derrotada por Hermes da Fonseca ¢ Wenceslau Bras nas duas fases da disputa: a eleitoral e a de reconhecimento de poderes. LA. descrigiio do quadro sucessério Afonso Pena evidencia as caracterfsticas da estrutura politica republicana, apontadas (49) "Na corrente hermista do Bstado de Sio Paulo, encontra- vamese, entre outros: Campos Sales, Francisco Glicério, Rodolfo Miran- da, sempre mais ligados a Pinheiro Machado ¢ ao Partido Republicano do Rio Grande do Sul. a 201 anteriormente, enquanto ilustra outras complementares. Aponta_ para o fato de que o presidente da Republica, enfraquecendo- ssc em fins de mandato, devia congregar previamente a poll- tiva dos grandes Estados e compor-se com cla, de modo a encaminhar com sucesso uma candidatura presidencial. Quando, 4 semelhanga dos acontecimentos do perfodo descrito, 0 exe cutivo federal nfo chamava a solidaricdade macica de seu Es. tado, mas facilmente se esboroavam os pretendidos objetivos de controlar uma sucessio nacional. As oposigdes_de alguns Istados no representaram perigo 4 lideranga do Conselheiro Pena; esta se quebrou pela divisio Iatente entre os préprios seguidores do Catete que aflorou vigorosamente ao se colocar o problema sucessério, patente a fraqueza do Presidente da Re- publica junto as forcas mineiras, Parecia a todos os grupos politicos que a ascensio do novo presidente da Reptiblica nio iria alterar o quadro de do- minago nos vatios Estados. ‘Tudo indicava que este prossegul- tia, de um modo geral, com 0 mesmo aspecto, que adquirira no inicio do século. Sertério de Castro descreve o mapa das oli- garquias estaduais em 1904 que corresponde aquela vigente 4 época da elei¢io de Hermes da Fonseca: “Imperavam no norte as oligarquias que cons: titufam © sélido alicerce do dominio de Pinheiro Machado. O Amazonas estava, inteiro, nas méos do St. Sylverio Nery, como nas do Sr. Antonio Lemos estava o Pard. Imperava no Maranhio o Sr. Be nedito Leite, no Piauhy a familia Pires Ferreira. Cearé pertencia A Familia Accioly; em Pernambuco, era a vontade soberana e dominante o Sr. Rosa ¢ Silva. (...) : Pedro Velho era o chefe supremo da politica do Rio Grande do Norte. Era o da Parayba © monsenhor Walfredo Leal; em Alagoas, imperava a oligarchia dos Maltas;... em Sergipe, dominava um outro sacerdote — monsenhor Olympio de Cam- pos. O Espirito Santo era uma’ suserania dos irmaos Monteiro... Vicente Machado mandava dis- cricionariamente no Parand, e o Sr. Borges de Me- deiros, que j& havia firmado no Rio Grande a era do set dominio, comprazia-se, por uma questao de orgulho regional, em respeitar a dignidade de chefe fe da politica nacional de que se revestia Pinheiro Ma- chado. . . (5°), Se a sedimentacio de oligarquias garantira o fortalecimen- to do sistema politico federativo, também era responsivel pela sua fraqueza: nfo permitia, diversamente do quadro_impeti al, que os grupos estaduais se revi em no poder, © poverno Hermes da Fonseca corresponderg a um dos momentos em que tal revezamento foi em parte efetivado. A gestitio Hermes da Fonseca iria repousar, aparentemente, has seguintes forgas: Rio Grande do Sul, F tados do Norte, satélites de Pinheiro Machado; Pernambuco ¢ Minas Gerais, (© grupo formado por militares mais ligados ao marechal e por , ‘familiares do presidente (3) ingressos na politica, ‘Tais forgas, que se haviam congregado ‘para dar a vitéria ao Presidente Hermes, dispersaram-sc, entretanto, logo apés sua posse, tio frégil eram os lacos e tio antagénicos os interesses que as conjugavam no hermismo. A precatiedade da base politica do hovo governo juntava-se o fato de o presidente nao possulr taizes politicas em qualquer dos grandes Estados. Assim, di- versamente dos preside: anteriores, nao possufa atrés de si Fed Brande partido unificador que o sustentasse no Congreso ‘ederal, Procurou-se preencher tal lacuna com a rpida criaciio do Partido Republicano Federal (P.R.C.), chefiado por Pinheiro Machado, que tentou congregar as forcgas hermistas ao nivel federal (®), _ Aparentemente unidas sob a mesma égide, as correntes Politicas do novo partido disputariam ferozmente o controle do campo oficial, Aquelas forgas hermistas, fora do poder em (50) Sertério de Castro — A Repiidlica que @ Revolugdo des truiu — Edigho Popular, 1933, pgs. 223/224. et (51) Familiares do. presidente. da Reptblica constituiam-se em grupo decisive na vida politica do inicio do quatrignio, Eram_ eles: Fonseca Hermes, deputado e lider da maioria na Camara Federal; Tenente Mario Termes, ajudante de ordens do presidente da_Rept- blica; Gal, Percilio da Fonseca, chefe da Casa Militar; José Olimpio da Fonseca, comandante da 1.* Brigada. Prestigiado pelo cli domés~ tico do governo federal, 0 Deputado J. J. Seabra era elemento que contribuiu intensamente para a luta da-facgdo militar contra o poder de Pinheiro Machado. (52) © Partido foi fundado em 17-11-1911. 203 alguns Estados, ou que, mesmo de posse dele nao desejavam compartilhé-lo, viram surgir 0 momento de se apoderarem da respectiva politica estadual. 4H Com o auxilio do governo federal varios grupos estaduais , foram alijados do poder, iniciando-se 0 perfodo das “salvagées militares, para “a depuragio do regime republicano e pata de-/ fender a democracia.” / “Disputando as conquistas dos estados aparece sempre um soldado, como se o exército quizesse re- tomar a posi¢io dos primeiros dias da Repiblica como se a propaganda do civilismo houvesse provo- cado_o surto de energias novas. ‘Tendo-se comba- tido Hermes pelo fato de ser militar, de set somente militar, a caserna se agrupava a fim de dar uma ligfo aos homens de casaca... Assim o Piaui sai com Coriolano de Carvalho: Bezerril e Franco Ra- belo disputam o Ceard, J. da Penha € 0 cavalheiro andante do Rio Grande do Norte, o Pard traz a tona mais uma vez Lauro Sodré, Rego Barros pen- sa na Paraiba, Dantas Barreto se volta para Pernam- buco, Clodoaldo se reserva para Alagoas, Siqueira Menezes pensa em Sergipe, Mato Grosso desperta Caetano de Albuquerque, o Espirito Santo se emba- langa para Gettilio dos Santos, enquanto o ptdprio R. Grande do Sul chega a sentir a ronda de Menna Barreto”(5), Os novos grupos do hermismo, mesmo antes da posse do Presidente Hermes, iniciatam os primeiros movimentos de 10 tervencio nos Estados. Em outubro de 1910 tentou-se_contta 0 Estado do Amazonas, seguindo-se 0 Estado do Rio de Janeito” cujo controle politico era desejado por Nilo Pesanha, Neste Ultimo, apés as eleigdes para a sucesso do presidente do Esta- do (Alfredo Backer) surgiram duas Assembléias fluminenses e dois candidatos eleitos © reconhecidos, Sob a pressiio de um contingente militar que comunicou 4 tomada do palicio presidencial, Backer se tetirou. Tomou posse, entio, o candidato escolhido e apoiado pelo. centro, ligado a (53) Costa Posto — Pinheiro Machado ivrari José Olympio, Rio de Janeiro, 1951, pig. 153, © ““" ‘™be, Livraria 204 Ie jf Nilo Peganha, politico hermista que tomava de volta seu feudo politico (54). Hl Em Sergipe ascendeu ao poder o Gal, Siqueira Menezes, © mesmo que, antes daqucla militarizagio que ia sofrendo a politica, havia pleiteado inutilmente, apesar de amparado por uma boa votagio, o reconhecimento para ocuy uma cadcira de deputado como candidato da oposigo local”(®*). No Estado de Pernambuco a situagio politica achava-se nas mios de Rosa e Silva. Tmbora houvesse apoiado a can- didatura militar, nio era muito bem visto por Pinheiro Ma- chado — como j& apontamos — nem por Dantas Barretd, Ministro da Guerra, candidato ao controle politico de Per buco, Explorando essa rivalidade politica, as_ oposigées nambucanas, fora do poder desde 0 governo de Floriano Peixoto, Juntaram-se para levantar a candidatura de Dantas Barreto presidéncia do Estado, Realizaram-se as eleigées ¢, apesar de a maquina oficial estar nas mios de Rosa ¢ Silva, o que lhe Ptopiciara a vitéria nas urnas, a tropa federal, que dominava a cidade do Recife, interveio no Congresso. Este, intimidado e mutilado, reconheceu os poderes do Ministro da Guerra (*). A Pernambuco seguiu-se a Bahia, Estado desejado por J. J. Seabra, antigo politico do esquema Deodoro, ligado a Mario Hermes (filho do Presidente da Reptiblica)(*). As. “'salyaces” estenderam-se por todos os Estados do Norte ¢ Nordeste empregando, ora a oposigdo estadual, ora as tropas federais, comumente as duas. Apoiava 0 governo as aspiragdes de todas as reduzidas oposicées estaduais, até ent@o sem qualquer importincia na politica federal, desde que esco- Ihessem elementos — militares de preferéncia — bem vistos pelo Catete, Alatmando-se com a perda de seus préprios feudos, Pi- nheiro Machado tentou conter o movimento “salvacionista”. Pressionou o presidente da Republica, que nfo tomou atitude decisiva, deixando-se dominar pelos acontecimentos. Enviou (54) Vide Brigido Tinoco: A Vida de Nilo Peganha,. Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1962. (55) Sertério de Castro — op. cit., pag. 282. (56) Vide Costa Porto, op. cit. (57) Vide Joio Mangabeira, Ruy, 0 Estadista da Repiiblica, Livratia Martins Editora, S40 Paulo, 1946 e Maria Mercedes Lopes de Souza, op. cit. ae 205 mesmo um ultimato ao Catete, no qual a Comissio Executiva do P.R.C. observava que a oposigio dos Estados nfo devia sequer contar com a indiferenga do governo para as suas agi tagdes partiddrias, cabendo-lhe, ao contrdrio, favorecer os pat- tidos situacionistas e ajudar os correligiondrios do P.R.C. O ministro da Guerra, porém, convocou uma reunifio de generais que fizeram sentir ao presidente a impossibilidade dele conti- ob 0 dominio de Pinheiro Machado, sob pena de “contra- riar scus companheiros de farda”. Estava-se ainda na fase em que Hermes se dividia entre os compromissos partidarios, neces: sdrios & sustentagio no Congresso, ¢ o circulo de militares, favo- recendo sem sombra de divida os interesses politicos dos uiltimos. A opiniio politica era levada, porém, a ver no desenca- dcamenio das salvagdes um acordo entre militares e Pinheiro Machado, dadas as ligagdes deste com o presidente e suas res: ponsabilidades na formagio do novo governo. Ninguém atenta- va para o fato —-muitos autores 0 omitem — de que as intet- veng6es, mesmo quando nao objetivavam quebrar 0 poderio pinheirista, acarretaram exatamente isso como conseqiiéncia. O senador gaticho, inicialmente, procurou aproveitar-se das intervengSes para colocar em Minas ¢ em S40 Paulo bases politicas que Ihe compensariam a perda de outras. __ Se, porém, 0 Comité das “salvagdes” revolucionou a poli- tica de quase todos os Estados, nada conseguiu, entretanto, nos trés mais importantes: Minas Gerais, Sio Paulo e Rio Gran- de do Sul. As situagdes especificas desses Estados dificultavam a tarefa dos salvadores. Nem Minas nem Sio Paulo eram Es- tados fracos perante 0 Catete, Seus partidos, apesar das fissutas internas, nao se apresentavam dispersos por cisées profundas ¢ minadoras. ee eee ) » demasiado importante para que 0 governo federal se dispusesse a perdé-lo. Além do fato de que sn ga ela sh er era importaria no desaparecii 0 Estado, a efetiva intervengao portal | desaparecimento da base legal do poder federal, que dai em diante sé subsistiria fora da lei, a qual, diziam os militares querer cumprir. se a aa et grande sustentdculo do candidatorcivllina 6 oe Sia oo zs la vilista ¢ continuava, no infcio do governo Hermes, a se colocar oficialmente na oposigio. Do nuar 206 / NK mesmo modo que Minas Gerais, possufa uma forga policial em condigdes de enfrentar 0 exército numa futa aberta, se este a isso se dispusesse (8). O P.R.P., 4 semelhanga do partido mineiro, tampouco se caracterizava pela existé éncia de grandes divisées internas, Aquelas facgées que se haviam ligado ao blo- co hermista nfo tansferiram sua futa interna para o plano fe- deral; arregimentaram-se As outras forgas estaduais, unifican- do a politica de Sio Paulo por completo na escolha de seu novo chefe de governo, Rodrigues Alves. Congregando-se em torno deste problema ¢ obtendo maior participacio na renovagio da legislatura federal, as forgas paulistas unidas, assim, mais uma vez, evitaram um pronunciamento mais violento por parte do executivo federal. O Rio Grande do Sul, no que se refere_ a sua politica estadual, parecia mais vulnerdvel que Minas ¢ Sio Paulo, pois contava com oposicio numerosa e agressiva, passivel de mani- pulagio por parte dos “salvacionistas”, Ela, porém, identifi- cara-se de tal modo com o candidato civilista da sucesstio_pre- cedente que sua arregimentagiio se tornava problemética. Era o mesmo grupo politico que se havia colocado contra Floriano, eixoto ¢ contra o “militarismo” por ocasiio da Revolugio Fe- deralista, O ministro da Guerra, Mena Barreto, interessado no controle da politica do Rio Grande do Sul, langou mio de sua possivel candidatura 4 presidéncia do Estado pata atingit tal fim. Uma intervengio federal ser-lhe-ia favordvel, portanto, mas em contrapartida a queda de Borges de Medeiros desencadearia um movimento que poderia se alastrar por todo o pais. Assim, Procurando cvitar pronunciamento mais efetivo por parte de Mena Barreto, Pinheiro Machado criou junto ao ministfo um desentendimento politico do qual resultou seu pedido de exo- neracio da pasta da Guerra 4 qual ascendeu o Gal. Vespasiano de Albuquerque, ‘correligiondrio certo ¢ leal” dos interesses gatichos, Mesmo conseguindo evitar a tomada de seu feudo politico, Pouca compensagiio teve Pinheiro Machado com o periodo das salvagdes: seus aliados do Norte ¢ Nordeste (principalmente os Lemos no Pard, Aciolly no Ceard e os Malta em Alagoas) ha- viam sido derrotados; séu proprio Estado vira-se ameacado e as (58) - O governo do Estado de Sio Paulo encarregou 0 chefe da missio. francesa, Coronel Balangny, de organizar amplo sistema de defesa nas fronteiras. 207 situagdes de Minas ¢ Sio Paulo continuavam. praticamente inal- teradas. A recuperagio da politica riograndense junto a0 go- verno federal ocorreu mais tarde por varias razdes: de um Jado, © afastamento dos militares mais importantes — Dantas Barreto ¢ Clodoaldo da Fonseca, sobretudo — aquietados no controle de seus feudos estaduais; além disso, outras circuns- tincias de menor importincia como o desentendimento ocorrido entre Hermes ¢ 0 grupo familiar e cortesfio que o rodeava; por Ultimo, mas menos importante, o apoio oferecido pelos Estados de Sio Paulo e Minas, naquele momento mais inclinados a uma ligagio com Pinheito do que com o “Comité das salvacdes”. Embora a intervengio militar pretendesse e efetivasse somente uma mudanga superficial na estrutura politica, as consegiiéncias da desordem causada pela intromi do exército num dominio monopolizado por paulistas e¢ mineiros acabaram pot afasté-los daqueles militares inspiradorés das intervengdes federais. As bancadas cleitas para a legislatura 1912-1914 eram © teflexo de situagdes estaduais novas que se formavam ¢ do prestigio de Pinheiro. que se clevava. ci Fi f Mesmo encerrado © periodo das ‘salvacdes” militares, 140 cessaram porém os embates partidérios entre alguns militares e familiares do presidente e 0 chefe do P.R.C. Mais tarde, por ocasiio da eleigio de Wenceslau Brds, | Dantas Barreto ¢ J. J. Seabra, antigos hermistas e chefes de Per \ ) f \ nambuco e Bahia, respectivamente, unit-se-iam a Minas Gerais e a Sao Paulo contra o mesmo Pinheiro Machado, inversio na- tural num universo caracterizado pela auséncia de partidos ass ‘ a, ) ciados por algum programa administrativo ou, menos ain por quaisquer doutrinas politicas, 7 No pétiodo final do quatriénio Hermes da Fonseca, ° PRC. dominou o quadro politico nacional, enfrentando espo- radicamente, como sempre, questées relativas 4 situagio dos 7 > lativas A situagao Estados (°°). O governo federal tornava-se de responsabilidade inteiramente riograndense. Procediam do Rio Grande do Sul, (59) Uma das mais importantes Iu inhet chado ¢ seu opastores surgia em torko ds aap ert, Pinhelze, Machado 1914, o chefe do P-R.C. tentou recuperar o controle do governo cea rense, perdido para o Cel, Franco Rebelo pela €poca das “salvacics”- Amparada por um “habeas-corpus” da justia federal, 4 maioria da Assembléia local transferiu sua sede para a cidade de’ Juazeiro € declarou deposto o Cel Rebelo, entregando a chefia do governo a Floro 208 além do chefe do partido oficial, Barbosa Gongalves, Vespa- siano de Albuquerque, Rivadévia Correa ¢ 0 Gal. Bento Ribeiro ocupando, os trés primeiros, importantes cargos ministeriais ¢, o tiltimo, a prefeitura do Distrito Federal. No inicio do movimento sucessério em 1913 surgiu a ocasiio propicia para que os stados de Minas ¢ Sitio Paulo “yecuperassem a liberdade compromctida com 0 partido gover namental, Pinheiro Machado surgia como o candidato natural, dada sua condigio de chefe politico nacional, lider efetivo do Se-/ nado, que dominava ferrcamente, de representante do situa- cionismo gaticho, [Era ainda prestigiado por alguns grupos das Forgas Armadas, nfo obstante as lutas surdas desenvolvidas com outros, Procurando afastar as possibilidades de sua candidatura, os dois grandes Estados procuraram se aproximar, na tentativa de articular uma oposigio. Bias Fortes, do P.R.M., em meados de margo escreveu a Rodrigues Alves, do P.R.P., propondo unio entre os dois partidos; mais tarde, encontraram-se cm Ouro Fino, Bueno Brandio ¢ Cincinato Braga que cfetivaram um pacto em nome dos Tistados de Minas ¢ Sio Paulo relativamente A sucessiio que se avizinhava. O PRP, estava concorde com respeito A recusa de Pinhe:- ro Machado. Cincinato chegara a escrever a Rodrigues Alves quando se iniciaram os rumores sobre a candidatura gaticha: “| Uma circunstancia nos determinou agit- mos com presteza. I que desde esta manhi_ es- tamos informados, por pessoa amiga vinda do Rio, que a candidatura do senador riograndense vai ser langada “por fas ou por nefas”, se é que jé nao o esté. Essa noticia motivou e apressou para hoje mesmo conferéncia entre os chefes do partido repu- blicano paulista para resolver oficialmente a respeito da aludidla candidatura. Bartolomen, ligndo a0 P.R.C. Floro nfo teve dificuldade em evar as hostes sertanejas do famoso Padre Cicero, do qual era porta-voz, a uma luta armada contra o presidente do Estado, chegando até Fortaleza. O executive federal. que se recusara a ajudar 0 governo instituido segundo 0: desejos de alguns militares, interveio na luta cearense, nomeando como interventor o Cel. Setembrino de Carvalho, supostamente alheio as lutas locais. _ 209 ve , \ A opinio unanimemente: adotada é pela _im- pugnagio franca ¢ desde jf A candidature referi- da..."(). Em maio de 1913 respondeu Bueno Brando a politica paulista firmando sua posiggo relativamente indicagio de Pi- nheiro Machado: “Reuniu-se hoje a comissio executiva do Par- tido Republicano Mineiro... A Comisso represen tada por todos seus membros resolveu unanimemente nfo accitar essa candidatura que nfo encontra sim patias na opinizio piblica mineira, com a qual estd de inteiro acordo 0 governo do Estado’(™). Além da recusa ao nome do senador gaticho, mincitos € paulistas comprometiam-se a vetar as candidaturas de Dantas Barreto, Nilo Peganha e a nfo aceitar a indicagio para nenhum de seus correligiondrios. O Partido Republicano Mineiro fatia politica nacional de acordo com o P.R.F., prontos para uma luta eleitoral em favor de um candidato que ambos aceitassem, O grupo situacionista mineiro, logo apés a finalizagao do acordo — pacto de Ouro Fino como passou a ser chamado = comunicou a decisio ao presidente da Republica, nfo obstante, sua fidelidade A politica oficial. Por essa ocasiio Rodrigues Alves, Francisco Sales e, nova mente Rui Barbosa, apareceram como possiveis nomes a disputar a sucesso. © primeito desviowse da indicagio por saber que no receberia o beneplicito do Oficialismo, colocando assim seu Estado em nova campanha de oposi¢ao,” Francisco Sales, mem- bro do P.R.C. e ministro da Fazenda de Hermes, nao foi aceito pela totalidade das forgas do partido mineizo, nem pelos grupos civilistas ou sequer por Pinheiro Machado. -Rui Barbosa, cuja indicagio sugeria algumas possibilidades de vitéria, acabou nao sendo aceito por Dantas Barreto, Oliveira Botello (chefe do (60) Guerino Casassanta — “Correspondéncia de Bueno Brandao”, Revista do Instituto Histérico ¢ Geogrdfico de Mince Conn, Ho. rizonte, 1958, p4gs, 40/41/42, Neo de Mines Gerais, Belo (61) Guerino Casassanta, op. cit., pag. 43. 210 governo fluminense) e por alguns membros da Comissio Exe- cutiva do P.R.P. Se a candidatura Pinheiro Machado era desej4vel por alguns antigos polfticos do Norte ¢ dos pequenos Estados do Sul, nfo 'a toleravam outros ligados ao movimento das. “salva- ges”. Entre estes tiltimos se destacavam Dantas Barreto ¢ Seabra, j4 mencionados, além dos partidarios de Franco Rebelo e do chefe do Estado do Rio de Janciro (*)- Apés 0 veto minciro A candidatura gaticha, irrompeu_ um agrupamento no Congresso com 0 nome ‘de “Coligagio” forma; do pelos Estados de Sio Paulo, Rio de Janciro, Pernambuco; © os dissidentes de Minas Gerais e Ceard, congtegados na recusa ao predominio do P.R.C. e ao nome de seu representante a Sucessio, Minas Gerais detinha posiciio privilegiada: ao mesmo tem- Po era membro da “Coligacio”, na condi de impugnador de Pinheiro Machado, ¢ se associava as hostes governamentais € ao seu porta-voz partidario. Nessa condicio, firmou-se junto as forcas politicas 0 nome do vice-presidente da Repiblica ¢ um dos chefes do P.R.M.: Wenceslau Bras. A unio em torno deste nao correspondia aos objetivos da_ politica riograndense, que nao conseguira porém enfrentar a forca de Minas e Sio Paulo, avolumada pelo apoio dés demais grupos apontados. As decisdes dos demais Estados pareciam tender & “Coligagio” que surgia como vitoriosa. Finalmente, foram adotados os nomes de Wenceslau Brés ¢ Urbano dos Santos por todos os (62) Como vimos anteriormente, a alianga de Nilo com a con Tente hermista favorecera-o na consolidagio de seu controle da politica fluminense, Por ocasiio das démarches sucess6rias, agora analisadas, o ministre Rivadavia Correa, a mandado do presidente da ‘Repiblica, consultou o governador fluminense, Oliveira Botelho, sobre o nome de Pinheiro Machado para o seguinte quatriénio presidencial. Foi repe- lida a sugestio. Se nessa repulsa dava Botelho provas de sua posigao individual em relago ao chefe do P.R.C., nfo havia dividas de que sa decisio era ditada pela influéncia de’ Peganha em sua orientaco Politica, Nilo, de outro lado, tomara tal atitude porque sentia possi- bilidades de sda eandidatura, ‘caso articulasse um acordo com Dantas Barreto, ‘A aproximagio entre os Estados de Pernambuco ¢ do Rio de Janeiro, mostrou uma tentativa de formar um terceiro grupo politico em contraposigdo 20 de Pinheiro ¢ ao dos Estados de Minas ¢ Séo Paulo, ‘Negociagées devem ter sido entabuladas entre os dois chefes, pois Dantas chegou a langar o nome de Nilo como candidato 4 pre- sidéncia, 211 partidos. situacionistas estaduais. Langados em agosto de 1913 por uma convengio de coligados ¢ perrecistas, Pinheiro Machado obtinha parcela de vit6ria, na condigio de um dos responsiveis pela indicagéo do futuro presidente, membro oficial de seu partido. Ruif que mantinha sua propria candidatura e a de seu companheiro de chapa, o Senador Alfredo Ellis, com o apoio do oficialismo baiano, acabou por desistir do prélio eleitoral. Oo Partido Liberal por cle criado, tendo em vista defender 0 pto- grama do civilismo, iria desaparecer logo depois, como sucedeu a outros durante a Primeira Reptiblica. O revisionismo da Cons- tituigao, pretendido por Rui Barbosa e alguns seguidores, nao conseguiu criar rafzes nos grupos partiddrios. O_reptidio 4 idéia revisionista, manifestado principalmente do P.R. gaticho, constitufa-se numa defesa contra possivel vitéria de uma dou- trina que implicitamente significava um desafio as posisdes adquiridas. A. debilitagio do poder de Pinheiro Machado pelo milita- tismo hermista veio permitir melhor funcionamento da orienta so politica emanada do cixo Minas-Sio Paulo. A unio dos dois Estados que se iniciara no governo Floriano e se firmara com Campos Sales solidificava-se mais uma vez apds os fea justes efetuados no quatriénio 1910-1914, Anuladas as pretel sdes do Rio Grande do Sul, talvez as mais promissoras -que tivera até entdo, a politica do “ 7 : “café com Ieite” passou..a com trolar a vida republicana até 1930, O poder do novo presidente solidificou-se paralelamente 4 decomposicio do P.R.C. © chefe do executivo federal nao se mostrou disposto a governar submisso ao partido oficial ¢, apés alguns embates em torno da intervengio no Estado do Rio de Janeiro e sobre eleigdes legislativas, deu-se o rompimento final entre 0 presidente da Reptiblica ¢ Pinheiro Machado. subseqiiente desaparecimento deste (setembro de 1915) deu 0 golpe de morte ao partido que chefiava, cuja forca provinha de sua militincia. Um partido que nio representaya aan © ponto de vista do exccutivo federal estava destinado a desaparecet 0U ser absorvido pela politica do presidente da Reptblica. Co- locando-se em oposicio frontal ao governo federal uebrava 0 P.R.C, 0 tinico lago que realmente congregava ainda ie corre- ligiondrios, Nao possuia programa ou principios que o tornassem duradouro e agora deixava de ter a Unica caracteristica que 0 sustentava enquanto agrupamento politico, 212 _Os partidos surgidos até entio pautavam-se por set congre- gagdes de forgas estaduais sob a égide do governo central, tendo como porta-vozes um Pinheiro Machado no governo Hermes ou um Glicério na gestio Prudente de Moracs. Assim como Pru- dente sufocara o P.RE. a0 se desligar de Glicério, Wenceslau anulou o P.R.C. ao romper com a orientagiio de scu dirigente. As correntes que formavam tais partidos poderiam reagrupar-se em outra agremiagio, sob outra Iependa, mas sempre unidas. pelo laco essencial’ de solidariedade ao poder presidencial ow A politica dos Estados de Minas ¢ Sio Paulo que 0 incorporavam. _O poder do executive federal nfo decresceu ou se hiper- trofiou, como querem alguns autores, com © desaparecimento de Pinheiro Machado. Na federagio republicana, o presidente sem- pre deteve grande poder, encontrando sua forga na propria estrutura institucional que Ihe permitia dominar o Legislativo e manobrar a seu-favor os meios de coergio, Assim prosseguiri, A agio executiva de Wenceslau Brés ird se exercer de modo dominador sobre as teptesentagdes estaduais na medida em que seu poder emana dos grandes Estados num sistema onde conti- nuava a florescer a “politica dos governadores”. __As eleigdes subseqiientes, de Rodrigues Alves (1918), de Epitacio Pessoa (1919), de Artur Bernardes (1922), de Was- hington Luis (1926) ¢ a que antecedeu a revolugio de trinta, se desenvolveram dentro das coordenadas de um sistema no qual cram ausentes os partidos nacionais, definido pela “po- jlitica dos governadores”, sob a dirccio dos Estados de maior exptessao sécio-econémica. A gesto Epitdcio (1918-1922), embora possa parecer uma brecha na hegemonia dos Estados mais fortes, representou, no obstante, sua efetivacio. Com a morte do candidato eleito, Ro- drigues Alves, 0 PRM. ¢ o PRP. se congregaram em torno ‘do representante da Paraiba. Anuladas as possiveis candidaturas mineiras ¢ paulistas () a escolha recaiu sobre um clemento de (63) A candidatura Altino Arantes, presidente de Sao Paulo, foi anulada dentro de seu proprio Estado, por nao conseguir trazer todas as correntes do PJRP, ¢ nessa circunstincia recusada por Minas Gerais. "Artur Bernandes, presidente de Minas. recém-cleito, optou por se firmar primeiramente dentro de seu Estado, para depois aspirar mais solidamente ao Catete. "A. morte. de Rodrigues Alves reabriu o debate entre os dois Estados, cujas figuras politicas mais . importantes haviam desapa- 213 pequeno Estado que, forcosamente, iria se apoiar na politica das maiores unidades federativas. ki A ascensio ao poder de Artur Bernardes, cea = damente pelo presidente do Estado de Sio Paulo, Washing Luis, deu-se num clima menos propicio, intercalado pot movi mentos de indisciplina militar e civil, adquirindo um aspee | de efervescéncia, de um certo modo nio atingido nos pr Y anteriores, A disputa em relagio ao cargo de vice-presidente rovers a unio da Bahia, Pernambuco, Rio de Janciro e Rio ian do Sul no movimento da “Reagio Republicana”, que ange Nilo Peganha e J. J. Seabra, candidatos oposicionistas, we uma vez os grupos em luta procuraram mobilizar os Scie militares para a disputa eleitoral. As correntes politicas 7 ° descontentes com a marginalizacio junto a presidéncia da a blica, procuraram atrair a solidariedade do Marechal Hermes, entio presidente do Clube Militar. Em nada diferiam as convencées que indicavam a0 ce torado a chapa oficial ou a oposicionista, sustentadas, uma outra, pela. elite parlamentar, representante dos mesmos inte- tesses e propdsitos, ¢ diversas apenas quanto a nomenclatura das correntes que as apoiavam ( governadores e pattidos domi- nantes em seus Estados), A campanha sucesséria atingiu o auge com 0 episédio ee “cartas falsas”, contra o exército, atribuidas a Bernardes (“). recido, substituidas por elementos novos sem grande forga no plano federal. (64) © Gorrcio da Manha publicou no dia 9-10-1921 documen- tos insultuosos a Hermes ¢ ao exército, cuja autoria era atribuida a Bernardes. “Am? Raul Soares, (.;-) Estou informado do ridicule ¢ acintoso ban- quete dado pelo Hermes, esse SargentZo sem compostura, Benet’ aPaniguados e de tudo que nessa orgia se passou- Espero que use de toda energia, de acordo com as minhas lltimas instrugées, pois esse canalha precisa de uma re- primenda para entrar na disciplina, (...) A situagio nio admite contemporizagées € 03 que forem venais, que é a quase totalidade, compre-os com todos os seus bordados © galdes..” S6 mais tarde apés o término da campanha gucesséria foi con- fessada a falsidade das cartas pelos Srs, Oldemar Lacerda e Jacinto 214 -membros do governo federal foi Outros episddios ocorreram ainda para a exaltagio do mo- vimento silitar cujas conseqiincias se estenderiam até 1930. _ Antes da posse de Bernardes a sucessiio presidencial do Estado de Pernambuco veio a se constituir em novo foco de perigosa cbuligio partidaria civil ¢ militar (), O chefe da si- tuagio pernambucana, Manuel Borba, denunciou da tribuna do enado as manifestas simpatias de Epitdcio pelo candidato opo- sicionista, acusando-o de intervir no_pleito através de forga federal sedinda no Hstado. O Clube Militar, pela voz de Ter- mes, scu presidente, expediu um telegrama ao inspetor da re- giao, convocando-o a reformular sua posigio perante a politica pernambucana, Depois de uma séric de conversages centre os inado um decreto que fecha- va o Clube Militar pelo espago de seis meses. Ao insurgir-se contra a medida presidencial, 0 Mal, Hermes foi conduzido A prisio, Em_ represdlia, sublevou-se o Forte de Copacabana (1922), _ Mais tarde, ja eleito ¢ empossado 0 novo presidente, os atritos surgidos entre Bernardes ¢ alguns grupos militares mais exaltados acabaram por desencadear as sedigdes armadas de 1924, chefiadas por Isidoro Dias Lopes, ¢ a Coluna Militar sob a ditegio de Luis Carlos Prestes, globalmente denominadas movimentos “‘tenentistas”. As questdes relacionadas com o setor civil desenvolviam-se da maneita habitual por ocasiio da nova gestio presidencial. As unidades, cujas oposigdes haviam apoiado a chama vitoriosa, esperavam a recuperacio do dominio politico em seus Estados. Detrotadas com a “Reagio Republicana” as demais procuravam se aproximar do rebanho governista, temerosas de pronuncia- mentos mais violentos por parte do governo federal. Multipli- caram-se as intetvengdes, instrumento usual para o término das lutas politicas nos Estados ¢ pata assegurar A situagao nacional © equilibrio desejado. Bernardes jnterveio nas politicas da Bahia, Rio de Janeiro ¢ Rio Grande do Sul e¢ expungiu do Congresso algumas vozes que haviam formado na oposicao. Guimaries, que afirmaram terem-se colocado a soldo da candidatura Nilo Peganha. (65) Dois candidatos apresentaram-se para o pleito sucessbrio, vago pela morte de José Bezerra, Um, 0 Sr. José Henrique, sustentado pela politica do Senador Manuel Borba; outro, o Sr. Lima de Castro, apoiado pelos elementos oposicionistas que se congregavam ao redor de Dantas Barreto ¢ Estdcio Coimbra em coligagio. 215 A mais importante intervengio exercida pelo oficialismo federal foi a que atingin o Estado do Rio Grande do Sul, na época da sucessfio presidencial. Borges de Medeiros, chefe do governo sulin, era mais uma vez o candidato do P.R, gaticho, enquanto a oposigéo local Iangava a candidatura de Assis Bra- sil. Reconhecidos os poderes do candidato situacionista, 4 0po , depois de malograda tentativa de acordo, partiu para 4 siga futa ‘armada esperangosa de que Bernardes, que recebera a apoio na campanha sucesséria e, inversamente, fora combatido pelos republicanos, interviesse em seu favor. a O presidente da Reptiblica conseguiu finalmente conciliar os dois Iados em uta por meio de um acordo que passou 4 Ser designado pelo nome de pacto de Pedras Altas. Por cle, Bor- ges continuaria no governo do Estado, mas a Constitui¢io Ho grandense seria reformada, climinando-se entre outras as Car sulas que permitiam as reeleigées presidenciais e a nomeasi© do vice-presidente pelo executivo. Algum tempo depois, quando se realizaram as eleigdes para a bancada federal, sete elementos da oposi¢io gaticha conse: guiram o reconhecimento de seus diplomas parlamentares. . Os dois partidos riograndenses vieram a congregar-se sob bases mais sdlidas por ocasito de nova eleigio no Estado, quando, em “frente tinica”, clegeram Getélio Vargas para a chefia do 8 verno, até ento sob o controle de Borges de Medeiros. Embora o quatriénio Bernardes transcorresse sobte 2 con tante pressio do estado de sitio, a campanha Washington fs ¢ Melo Viana a presidéncia de Sio Paulo e Minas respective mente desenvolveu-se sem qualquer oposig%o por parte 40s outros grupos estaduais, correspondendo, mais uma vez, 2 indicasoes es gandidatos, 4 aglutinagio da politica dos pattidos maa Tee OS anes vinte, jd cram vistveis os sinais de relor ¢! ‘ma politico republicano, A prova mais contun dente de que as bases federalistas se enfraqueciam, estd na re visio da Constituicto realizada em 1926, promovida pelo €XC- cutivo, visando ampliar as faculdades ¢ direitos do. governo central perante os Estados (5%), (66) O art, 6° da Constituigio foi reform, rg ee te 7 7 i limites“do poder de intervengio a ser exercide pele goss federal nos Estados. Art. 6.° — O Governo Federal niio poder4 intervir em negécios peculiarcs nos Estados salvo: 216 A ampliagio da autoridade federal sobre o regionalismo foi patente na interferéncia na politica do Rio Grande do Sul em 1923 que resultou no pacto das Pedras Altas (indicado acima) & mais tarde, em Minas, por ocasiio das elcigdes presidenciais, Por e \ época o Presidente Washington rompeu uma tradigio. jamais violada no sistema republicano, tentando impor um can- didato seu a chefia do governo minciro. _ Mais tarde, no fim de sua gestio (inicio de 1930), Was- hington Luis manter-se-ia na mesma linha de quebra de uma das regras fundamentais da “politica dos governadores”, a0 dei- xat de reconhecer diplomas dos representantes do PRM, Nao podendo “degolar” toda a bancada, que era a maior da Cimara, © governo federal reconhecen 14 elementos de um pequeno gtupo que © apoiara em Minas (Concentragito Conservadora) em detrimento do partido situacionista, Interferindo nas deci- sdes do oficialismo de Minas ¢ ferindo a autonomia da Comissio Executiva de seu grupo partiddrio, o chefe da nagio efetivava alteragio bisica no equilibrio federal. Muitos minciros eram de Opiniao que, a uma intervengio, Minas reagiria violentamente, Nao se sujeitando aos usuais processos de intimidagio desferi- los contra os pequenos Estados, pelo presidencialismo brasi- leito; © caminhava a idéia, raramente explicita, de que se Sio H1) para assegurar_a integridade nacional ¢ o respeito aos se Buintes principios constitucionais: a) a forma republicana; b) © regime representatives ¢) © governo presidencial; @) a independéncia e harmonia dos Poderes; Ee ©) a temporariedade das fungées eletivas ¢ a responsabilidade dos funcionarios; {) a autonomia dos municipios; ) a capacidade para ser elcitor ou elegivel nos termos da Cons- tituicio; ef 7 h) um ‘regime cleitoral que permita a representacio das mino- ria; i) a inamovibilidade e vitalicicdade dos magistrados e a irredu- tibilidade dos seus vencimentos; j) 0s dircitos politicos ¢ individuais assegurados pela Consti- tuigio; k) a niio reeleigio dos Presidentes ¢ Governadores; 1) a possibilidade de reforma constitucional e a competéncia do Poder Legislative para decreté-la. 217 Paulo ousasse interferir na orientag%o mincira, legitimar-se-ia uma revolugio, Durante 0 encaminhamento suc triénio presidencial (1930-1934) dew Jiticas mineira e¢ paulista: Minas Gerais al do Sul e A situagio paraibana; ¢ Sio Paulo formou com os outros grupos estaduais na corrente do governo federal. Torna-se desnecessdrio refazer toda a tela das articulacées politicas que antecedeu a Revolugio de Trinta, bastando-nes mostrar alguns pontos gerais do quadro_ partiddrio a Jilio Prestes, paulista e Iider da maioria na Camara Federal, surgiu como o candidato de Washington Luis. Anténio Carlos, chefe do governo de Minas, Estado ao qual caberia @ Presidén- cia da Repiblica dentro dos compromissos firmados com Sio Paulo, ao se convencer da impossibilidade de contat com Was- hington ou de fazé-lo desistir da candidatura oficial, apro*® mou-se da politica riograndense. Os dois Estados TL um pacto para a indicacio do candidato oposicionista 4 chefia drio para o seguinte qua ¢ uma cisio entre as po- liou-se ao Rio Grande do executivo federal Formou-se a Alianga Liberal que, sobre as méquinas oficiais do Rio Grande do Sul, Minas ¢ Paraiba, reunia todas as oposicdes estaduais, descontentes civis © te- nentes” militares. Os candidatos oposicionistas in licados foram Getilio Vargas ¢ Joio Pessoa, Desencadeado © processo eleitoral as urnas deram a vitéria as candidaturas oficiais, oe __Por vétias vezes, anteriormente, a maioria dominante he via-se cindido em relagio aos nomes indicados a sucessio fede- ral, sem contudo ptovocar alteragdes profundas na ordem vigen- te. Pela primeira vez, entretanto, o presidente de Minas tomava de modo radical e aberto, posigio contratia ao oficialismo gover namental, ¢ a politica do Rio Grande do Sul, por outro lado, apresentava-se menos vulnerével desde a unido entre os dois pat~ tidos gatichos. Finalmente, levada pela luta em busca do poder estadual, a politica paulista se dividira, surgindo em conseqiién cia o Partido Democratico ( 1926) em. openigio ao P.R.P. Considerada a crise na qual se debatia o pats no fim da década de vinte, tal aglutinagio de forcas oposicionistas teve efei- to singular, constituindo-se num dos fatores que tornaram vidvel © desencadeamento revoluciondrio em trinta, No sistema que emerge apds a revolugio, 0 foco de poder politico ¢ administrativo ira se transferir dos Estados pata a Unifio. A fungao de organizar e pensar o pats, passou a ser atri- 218 | bufda & Unido, ¢ des: ses papéis comegou a derivar-se o sentido de lideranca presidencialist: A transformagio crescente da es- tratura politica nacional ¢ a continua diferenciacio dos grupos partiddcios estaduais, dustrializagio, vio se causadas pela crescente urbanizagio e in- refletir sobre a organizagiio do poder local, pe se desaprega lentamente perdendo sua feigio monolitica, Em- bora ainda hoje, de modo geral, um tinico grupo domine politi- camente © municipio, vem se tornando comum a presenga nas posigdes do poder mu dominante ou mesmo Tso, no obstante sobrevivam — mais pre: legislativas que nas executivas — 2 mais fracas ¢ 0 processo politico nacional em conseqii nova fei¢ko (°7). Podemos retirar unicipal de elementos independentes do cla oposicionistas. O coronelismo ¢ 0 regiona- entes nas cleigées ente formas tncia toma stimem continuam: ontecimentos algumas consideragdes dos aqui descritos. Interessa-nos sua colocagio, mesmo em linhas Berais, por corresponderem os momentos histéricos analisados a Pontos fundamentais de interpretagdes que varios autores pto- péem para o estudo da vida politica do perfodo. Como o processo de industrializagio teve um grande impeto a partir da década de trinta, hé uma tendéncia geral, em s¢ construit uma antinomia politica entre a Republica Velha € 0 periodo de Vargas, ¢ a atribuir anacronicamente aos revolucio- nétios de 1930 uma deliberada politica industrialista. Nesse contexto, os primeiros anos republicanos, 0 governo Floriano Peixoto, a gestéo Hermes da Fonseca, seriam instantes da pre- senga no poder de uma classe média — a partir da componente militar af presente — supostamentc identificada com os inte- tesses industriais. A So Republicana” e campanha civilista, 0 movimento da “Rea- as agitagdes “tenentistas” corresponderiam 4 episddios da luta continua desenvolvida pela burguesia, obje- tivando a tomada do poder e sua subseqiiente transformagao. As testantes fases do periodo, logicamente colocar-se-iam como momentos da recuperagao do poder pelo latifindio ou sua) sedimentagio_nele._._ f (67) Vide Marcos Vinicius Vilaga e Roberto C. de Albuquerque — Coronéis, corondis. Edigdes Tempo Brasileiro Ltda., Rio de Janeiro, 1965. ‘Através de estudos sobre as atitudes © agéo politicas de quatro coronéig merdestinos, 0 autores analisam o processo de ruptura da socicdadle rural € ae repercussies sobre a estrutura do poder “corone- lista”. « y 219 Na realidade, os estudos feitos sobre a evolugio brasileira, parecem indicar que 0 processo de industrializagio formado no pafs, nfio sc desenvolveu nos moldes da instauragio da ordem econdmica competitiva clissica! O desenvolvimento industrial nao se formou em antagonismo com o setor exportador. A com- plementaridade dos interesses que ligavam as duas esferas eco- némicas vem firmando que nio se constituiu no pals uma ideo- logia industrialista capaz de projetar-se significativamente no nivel politico. No perfodo assinalado, os interesses urbanos-industriais se beneficiavam do quadro montado para atender as reivindicagdes da atividade exportadora, A politica de defesa do café estabe- lecida durante a Reptiblica Velha, operava em dois sentidos como beneficigria do mercado interno, Primeiramente a0 man- ter a renda agricola, sustentava sur redistribuigéo em paga mentos diversos, fundamental ao crescimento do mercado; s& undo, a desvalorizago da moeda, conseqiiéncia da politica cam- bial entéo desenvolvida, ao dificultar as importagées, constitula “se em instrumento de projecao as indistrias ja instaladas (). Alguns autores, ao sobrestimarem a importancia do setor voltado para o mercado interno e a contradigao entre este ¢ 0 nticleo cafeciro, sio levados a ver os governos republicanos apon- tados como representantes de um e outro pélo econémico, desen- volvendo medidas que altetnadamente os favorece ou desfavo- rece. A constatagio de que, do crescimento do nticleo cafecito se nutria 0 organismo econédmico do pats, conduz 4 afirmacio de que os objetivos da acio estatal se referiam ao. atendimento das exigéncias de crescimento daquele niicleo e nao as reivin- dicagées do mercado interno destitufdo de importancia vital. Favordveis ou desfavordveis a este, as medidas governamentais parecem ter sido movidas pelo fim primdrio de defender a ativi- dade bisica da economia, influenciando sé secundéria € 2ceSS0- riamente a urbano-industrial. Sob essa perspectiva devem set vistas a politica econdmico-financeita (emissio ¢ crédito fécil) instaurada pelo primeiro ministro da Fazenda Rui Barbosa ¢ @ de deflasio € saneamento da moeda do governo Campos Sales. Inflacionistas ou deflacionistas, as varias fases nao representavam ascensio ou queda de interesses econdmicos contraditérios: fo- peed Vide Celso Furtado — of. cit, caps. XXVI, XVII e 220 ~ eC» tam sempre respostas diversas do governo as diversas variagdes das cxigéncias cafeciras. Desse modo, nfo se mostra muito adequada a idéia de que ha histéria politica do period ocorressem instantes de “reforgo” do latiftindio precedidos por uma fase de enfraquecimento (quando se vé obrigado a partilhar o poder com outros grupos) ou de ascensio da burgucsia seguida pelo seu desalojamento do dominio politico, Nao se quer negar o predomjnio do setor agricola no quadro econdmico da Primeira Reptiblica, antes ver que o nticleo voltado para o mercado interno nio se encontrava esmagado pelos interesses agritios aos quais se vinculavam, ou oprimido pelo status quo vigente onde encontrava condigées de existéncia ¢ desenvolvimento. Vem sendo também exagetado o papel da classe média urbana brasileira no processo politico do perfodo. O conheci- mento das limitagdes sociais ¢ politicas desses setores, mostra a dificuldade de se imputar a eles condigdes de formular uma perspectiva propria de acordo com seus interesses de classe em telagio as instituigGes politicas ou ao processo de producio vigente. Numericamente inexpressiva, socialmente dependente das classes dominantes (sendo em boa parte composta de ramos empobrecidos das familias oligérquicas) identificadas as atitu- les ¢ valores tradicionais, a classe média njo parece ter conse guido ultrapassar o plano das definigdes eleitorais ou de reivin- | dicagdes liberais que sfio ao mesmo tempo pontos de referéncia ideoldgicos da clite dominante. _ _ A composigio social do Brasil neste periodo é um problema ainda nao suficientemente estudado; 0 que nos parece certo, contudo, € que dada a pequena extensio ¢ profundidade dos conflitos entre interesses agratios ¢ utbanos, nfo € possivel Montar esquemas explicativos do processo politico em torno dessa luta aparente. Como mostra Celso Furtado, um dos aspectos bisicos do drama politico brasileiro é 0 nfo surgimento de uma oposigiio insofismavel entre aquelas esferas econémicas. Os perfodos mais detalhadamente vistos ‘nessa exposigio podem ser encarados sob outra perspectiva. A republica federativa, antes que conseqiiéncia de progres- siva ascensiio burgucsa, correspondeu As _exigéncias de = maior autonomia e expansaio da regifio cafccira, vindo ao encontro dos interesses das outras providéncias primério-exportadoras que rei- vindicavam do mesmo modo o afrouxamento dos lacos centrali- zadores, Dada a crise politica, referida a deteriorizagao das insti- 221 os, fio militar tomou corpo, revelan- tuigdes imperiais, a inquiet ¢ crise ¢ instrumento que do-se ao mesmo tempo indicio de: efetivou a passagem para a nova ordem republicana. A subse- qiiente fluidez do poder, exigiu a manifestagio militar ¢ 0s pté- prios civis exigiram sua intervengio no proceso politico, ausentes os caminhos institucionais por onde este pudesse cotter, As disputas pelo poder estadual, resolvidas pela inter- vengio armada assim como a dispersio das forgas que nao se haviam ainda integrado partidariamente, as revoltas civis ¢ militares, tornaram fundamental e necessdria a intervengao 40 exército. Sua agao foi bdsica e imprescindivel na adaptacio das praticas' do regime federativo e presidencialista as circunstancias do pais. O governo Floriano Peixoto pode ser colocado mais como um momento de reajustamento do proceso politico federativo em crise, que um “governo onde a classe. média fez seu Pt meito ensaio de radicalizagio, marcada pela ideologia de classe”. A ascensio militar realizou-se sobretudo em nome dos interesses expressos no partido que mais simbolizava as reivindicagdes exportadoras: o P.R.P. : Ha a considerar que tampouco € significativa da pretensa luta entre interesses agrétios e urbanos, a sucessio de Afonso Pena. As atitndes assumidas pelos dois candidatos ou pelos gu pos que os representavam jamais os qualifica como represeh tantes de interesses econédmicos contraditérios. Hermes da Fon seca nunca se fizera ouvir em relagio a uma linha politica eco” némica; Pinheiro Machado que Ihe garantira a vitdria fora, POF seu turno, um dos grandes sustentadores dos interesses cafeeitos na defesa do Convénio de Taubaté e da Caixa de Conversto. Francisco Sales, ministro da Fazenda do governo Hermes € ilo Peganha que ditigira a eleigio ¢ dera posse ao Marechal, eram os. mesmos que haviam assinado o convénio cafeeiro em 1906, entéo como presidentes de seus Estados. Rui Barbosa, por outro Papen reat MAT tape pet beter pee pn politico-econémica ou mesmo uma explicitagao contréria ou de apoio aos interesses da lavoura ca- feeira, Mineiros e paulistas — como podemos observar pela descrigéo do embate politico — acreditavam itéria de um outro candidato, findada a gesto Af Donat eee ‘i profundamente o prosseguimento da cond ee sf ente x conduta econédmica até entio seguida pelo executivo federal. Por outro lado, a ascensio de’ elementos militares a0 go- verno em 1910, nao nos permite antever quaisquer divergéncias 222 mais profundas entre cles e os representantes das oligarquias, a nio ser aquelas referentes A partilha pelo poder. Foram os grupos dominantes ou sustentadores da candidatura do ministro da Guerra A presidéncia da Reptiblica. Seu reconhecimento no Congresso foi possivel pelo apoio da minoria das bancadas esta- duais ligadas ao sistema politico vigente, que da mesma forma © sustentou posteriormente no exercicio de suas fungdes exccutivas, As “salvagdes” que se sucederam so comumente vistas como uma afirmagio antioligérquica de um governo que se identificava com uma ideologia de classe média. A partir de outra perspectiva podemos ver que a deposigiio das oligarquias teve como alvo e conseqiiéncia colocar outros tantos grupos semelhantes nos Estados. Representava antes um Tevezamento no poder de duas alas, com as mesmas caracterfs- ticas sdcio-econémicas que nao encontrayam possibilidades de compattilhar a dominacao politica. Realizando as “‘salvagdes”, © exército de um certo modo exercera a fungZo do poder mode- tador no Império, que, ao permitir a alternancia entre gabi- netes conservadores ¢ liberais procedia ao revezamento das ctipu- las politicas provinciais. O sentido antiolig&rquico do governo Hermes perde um pouco de sua forca quando se atenta para 0 fato de que as inter- vengdes nao tocaram nos grandes redutos, simbolos mais pa- tentes de uma ordem, que supostamente se pretendia mudar: Minas Gerais, Sio Paulo e Rio Grande do Sul. Certamente a tarefa salvadora fora dificultada af porque cram Estados que possuiam poderosa forga publica (como Sto Paulo ¢ Minas) ou milicias armadas ¢ corpos “yvoluntarios’ (como no Rio Grande do Sul). © fundamental porém é que as faccdes “salvacionistas” nao desejavam o desencadeamento le uma guerra civil, fatal conseqiiéncia de um embate com aquelas forcas, Identificadas basicamente com o status quo, nao propugnavam pela sua transformacio, que certamente com- pensaria uma revolta armada ¢ pressionaria seu desencadeamento. Os interesses dos militares se dirigitam 4 obtengio do poder nos Estados para si préprios ou para as faccdes a que se ligavam. Com esse intuito intetvieram sempre que a estrutura local permitia sua insercio sofrendo “salvagdes” os Estados nos quais as oposigdes se deixaram utilizar, permitindo ou desejando a intervencio militar. Cansados do ostracismo a que estavam relegados dentro do quadro da “politica dos governadores”, os [> 223 grupos oposicionistas encontraram em alguns oficiais © instru: mento para a subida ao poder, Minas ¢ Sio Paulo, diversamente constitufdos em relagio aos outros Estados, isto é, com um quadro politico mais compacto, sem divisées profundas ‘Ou Opo- sigdes aguerridas, acabaram por frear as tentativas armadas. Por outro Iado parece ser fundamental para o esclarecimento de algumas “derrubadas” o fato de que, comumente, 03 mu tares que assumiram os postos de mando apds as antes representavam grupos que haviam sido apcados do poder a gest6es Ploriano, Prudente de Moraes ou Campos Sales. figs se opunham 4s oligarquias que haviam colocado seus prosti! ia ¢ familiares numa situagio de marginalidade da qual no sn tho facilmente, Nao menos significativos do que vimos ait mando sio os relatos histdricos que mostram como os wie governantcs militares ou seus porta-vozes percorreram 9 mesmo caminho utili.sdo pelas oligarquias depostas em relagio 20 ee cesso eleitoral e politico: atas falsas e votos de cabresto cont nuavam comuns nos Estados salvados onde campeava, come sempte a pressiio policial e judicidria, Nesse perfodo, como em anteriores (no golpe de 23 novembro e na campanha sucessdéria em 1909) o comport mento do exército, pode, de um lado, ser compreendido com? equivalente ao do grupo civil, isto é intimeros. setores que 5° aglutinavam ¢ se separavam de acordo com as diregdes da Juta pelo poder. Por outro lado, porém, era superior aos outros POF deter a forga armada, e nessa condigio 0 grupo militar fez us dela para garantir 0 status guo em nome dos interesses de UPS de elite civil, que no todo ou parcialmente coincidiam com 05 seus. Parece frégil, da mesma mancira, a suposig¢io de que ° movimento revoluciondtio de 30 Mostrou-se como a continua Gio de anteriores expressos na campanha civilista ou na “Rea cio Republicana”. O fato de todos ostentarem a mesma ban- deira liberal, no era indicio da existéncia de uma corrente politica seqiiente, irmanada pelos mesmos ideais. Os grupos politicos que se uniram em 1910 eram diversos daqueles que desencadearam o movimento da Reagio Republicana ou do movimento da Alianga Liberal, unidos em alguns momentos, separados em outros mas sempre congregados primordialmente pelo objeto comum de ascender ao poder. Dentro do sistema republicano, um programa iniciado e sustentado pelos prdéprios grupos detentores do poder sécio-econdmico somente podia se 224 7 definir pela demincia dos costumes eleitorais corrompidos que asseguravam o controle do poder As facgGes contra as quais se opunham, A existéncia de um aparato juridico, nZo cumprido na pritica politica, permitia 4 oposi¢io oligérquica a formulagio de um programa liberal que reivindicava sua efetivagio; 0 que nfo deixava de ser o horizonte mais Jonginquo de seus iguais no poder, A ocorréncia de cisdes na ciipula civil dominante estimu- lava a participagio do grupo militar na condigio de guardiso da ordem institucional, Sempre que se_vir cnvolvido, ou se envolvia no debate politico, o setor militar expressava — for- malmente muitas vezes — a fungio de Arbitro que o corpo Politico Thes destinava, Motivado ou nao pelo objetivo de assumir o poder, afirmava que agia porque cra scu dever inter- vir em tempos de crise para salvar a nagio. ‘Tal preceito iniciado nos primeiros anos de Republica, firmou-se entre os militares, muitas vezes pela falsa consciéncia de si prdprios, aliada A ati- tude dos civis que os atrafa para a arena politica toda vez que sentiam perigar o pais e com cle seus interesses. _ _A fungio do exército (que reunia condigdes para se cons- tituir no mantenedor da ordem ou no fator de transformagio do regime) dentro da estrutura politico-administrativa, parece melhor elucidar o comportamento militar, do que uma proble- mitica composicio social (©) que faria dele o representante dos setores intermedidrios da populagio ¢ a expressao de suas teivindicagdes_politicas. "A agitacio “tenentista”, nao deve ser vista como 0 motor da queda das instituigdes politicas republicanas ou compreendida em termos de um pseudo-embate_latifiindio-incistiia. Sua critica reformista surge como uma componente dentro de um difuso complexo ideoldgico que expressava uma necessidade de modernizagiio do pais, permeando também as classes tradicionais, desenvolvido no bojo de um processo que s¢ referia 4 ruptura (69) A idéia, presente em varios autores, de que o exército assumia um cardter mais democritico por proceder majoritariamente dos setores pobres ou médios da populacdo, necessita de maiores nuan- gamentos. £ preciso ver, entre outros pontos certamente, que se a incorporagio militar significava para alguns grupos, ascensio social € econémica, comumente se revelava também como possibilidade de no descer mais na escala social. Menos no Sul que no Norte e Nordeste onde a crise econémica era continua e a mobilidade social menos flexivel, o ingresso de elementos da classe agréria no era incomum. ia 225 boty an “AQ “pul, Ha *asoly - e[pug’ do sistema federativo. Essa crise institucional dizia respeito, em grande medida, a necessidade de reformulagio das relagées do Estado com um organismo econdédmico que passava a exigit atuagio nZo somente sobre alguns focos regionais mas sobre as exigéncias de seu conjunto. A superagio da ordem federativa descentralizada, j4 pet ceptivel nos anos vinte, encontrou condigdes de viabilidade pata seu desencadeamento em 1930, efetuando-se de forma mais nitida com a promulgacio do Estado Novo. 226 A REVOLUGAO DE 1930 BORIS FAUSTO As disputas politicas em torno da sucesso presidencial que marcam a Historia da Primeira Repiblica, ganham, em: 1929, uma expressio mais ampla, com a formagao da Alianga Liberal Entre a trajetéria politico-eleitoral da Alianca e 0 movi- mento revolucionétio de 1930 — salto operado em poucos me- ses — nio hé uma relagio imediata de causa e efcito: as forgas ne realizam a revolugio nao siio exatamente as mesmas que ‘ormam a Alianga ¢ a derrota eleitoral explica apenas em parte 4 op¢io revoluciondria. _ Reflexo e ao mesmo tempo parte constitutiva de um con- junto de transformages que ocorre na sociedade brasileira, os acontecimentos que se. desenrolam em poucos meses, entre mea- dos de 1929 e outubro de 1930, e nos primeiros anos apdés 1930, no podem ser entendidos sem que se faca um balango, embora esquemitico, das principais Jinhas da estrutura econd- mica e social da Reptblica Velha. ‘As modificagdes que sé veri- ficam no perfodo si0 0 resultado de um processo cumulativo que se configura ao longo de trinta anos e desemboca em con- digdes peculiares — nacionais € jnternacionais — no movi- mento revoluciondrio. ( A. sociedade brasileira, "Primeira Republica, tem sido. definida, simplificadamente, comd_um Organismo social em que predominam os interesses do setor ‘agrario-exportador, voltado para’a ptodugao do café, fepresentado “pela “burguesia paulista - € parte da burguesia mineira. Este setor, dependente de uma mercadoria sujeita as oscilacées de prego no mercado internacio- nal, tinha seu destino diretamente vinculado a0 jogo de forgas dos grandes centros consumidores, que Ihe era impossivel con- 227

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