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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


UFRJ
Reitor
Vice-reitor
Coordenadora do Forum de Ciência e Cultura

Diretora
Editora Executiva
Coordenadora de Produção
Conselho Editorial

Paulo Alcantara Gomes


José Henrique Vilhena de Paiva
Myrian Dauelsberg

EDITORA UFRJ Heloísa Buarque de Hollanda Lucia Canedo Ana Carreiro Heloísa Buarque de Hollanda (Presidente)
Carlos Lessa, Fernando Lobo Carneiro, Flora Süssekind,
Gilberto Velho, Margarida de Souza Neves.

CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Richard Graham

Editora UFRJ
1997
Copyright O 1990 by the Board of Tmstees of the
Leland Stanford Junior University. All rights reserved.
Translated and published by arrangement with Stanford University Press.

Ficha Catalográfica elaborada pela Divisão de


Processamento Técnico - SIHIICIFRJ

6741 c Graham, Richard

Clientelismo e política no Brasil do século XIX - Richard Graham.

Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997.

Tradução de: Patronage and Politics in Nineteenth-century Brazil

544 p.; 14 X 21 cm.

1. História Política-Brasil, 1822-1889. I. Título

CDD: 981.04

ISBN 85-7108-155-7

Tradução
Celina Brandt

Editora UFRJ, adaptada da edição americana

Preparação de texto e revisão


Alexander Mark Salz

Editoração eletrônica
Janise Duarte
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Crédito das fator e charger


A fotografia de Lacerda Wemeck pertence à coleção particular de Eduardo Silva e foi gentilmente cedida Todas as
outras são de S.A. Sisson, Galeria dos representantes
da nação (1861) (Rio de Janeiro, 1862). As charges são da Semana Ilustrada: Eleições violentas, 25 de agosto de 1872;
Francisco Belisário Soares de Souza e seu livro,
8 de fevereiro de 1873.

Universidade Federal do Rio de Janeiro


Forum de Ciência e Cultura
Editora UFRJ
Av. Pasteur, 250/sala 106 - Rio de Janeiro
Cep:22295-900
Tel.: (021) 295 1595 r. 124 a 126
Fax: (021)542-3899

Apoio:

Fundação Universitária José Bonifácio

Sumário

índice de Quadros 12
Índice de Ilustrações 13
Introdução 15

PARTE UM
AS ESTRUTURAS DA POLÍTICA

1 Famílias, Clientes e Controle Social 27


2 Quem Retinha o Poder? 67
3 Eleições e Clientelismo 103

PARTE DOIS
A ATUAÇÃO POLÍTICA

4 O Teatro das Eleições 139


5 Liderança, Fraude e Força 165
6 Facção e Partido 195
7 Reforma Eleitoral 239

PARTE TRÊS
A PRÁTICA DO CLIENTELISMO70

8 Padrões Clientelísticos 271


9 Ligações Ansiosas 301

Epílogo 339

Notas 351

Referências 495

Índice Remissivo 519

Prefácio à Edição Brasileira

Um livro sempre se escreve para um certo público. No presente caso, escrevi pensando no leitor norte-americano- e
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expliquei muitas coisas que são evidentes
a um leitor brasileiro. Não penso agora em escrever novo livro. Aqui está meramente uma tradução; quase tudo vai
como no original.
Minha pesquisa sobre o clientelismo no Império se estendeu por muitos anos. Assim mesmo, pude descobrir no
meu fichário as palavras originais de quase todas
as citações textuais que aparecem neste livro, sofrendo apenas uma atualização ortográfica. Em pouquíssimos casos - 14
de um total de 946 - não pude encontrar a
ficha original. Nestes, as notas trazem a indicação "traduzido do inglês". Mantive a grafia original apenas onde era
impossível atualizá-la, ou seja, nos títulos
das obras publicadas. Em todos os outros casos (citações, onomástica etc.) usou-se a grafia atual.

Para Sandra

Prefácio

Comecei a interessar-me pelo papel do clientelismo na vida política quando era estudante universitário e conheci,
por intermédio de Robert Walcott, meu professor
no College of Wooster [Faculdade de Wooster], as obras de Lewis Namier sobre as clientelas na Inglaterra do século
XVIII. Anos depois, estudando o papel dos ingleses
no Brasil, iniciei um levantamento sobre questões relacionadas à escravidão. Para tentar explicar a Abolição, tive que
levar em conta a realidade política no Brasil,
a atitude dos proprietários de escravos e as relações entre Estado e sociedade. Ao pesquisar a correspondência oficial e
pessoal de líderes políticos - a maior parte
da qual jamais havia sido consultada por historiadores -, percebi que sua maior e constante preocupação era o
clientelismo. Daí, este livro.
Para estudar a natureza da política brasileira no século XIX, recebi recursos da John Simon Guggenheim
Foundation e do National Endowment for the Humanities,
e atuei como Senior Fulbright-Hayes Research Fellow. A Universidade do Texas, em Austin, por meio do Instituto de
Estudos Latino-Americanos e do Departamento de
História, também contribuiu para o financiamento da viagem que precisei fazer para consulta aos arquivos brasileiros.
Particularmente, William Glade, diretor do
Instituto de Estudos Latino-Americanos, e Standish Meacham, chefe do Departamento de História, apoiaram as várias
fases dessa pesquisa.

VIII CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


No Brasil, beneficiei-me, como tantos outros, do dedicado trabalho de arquivistas e bibliotecários. Os arquivos que
consultei estão listados nas Referências,
e estendo meus agradecimentos aos seus funcionários, especialmente ao pessoal do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro
e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Leslie Bethell, Warren Dean, Joan Meznar e Fernando Novais leram partes de primeiras versões deste livro e
deram sugestões para melhorá-lo. Às vezes não
aceitei seus conselhos, mas sempre achei valioso examiná-los. E, acima de tudo, desfrutei do sentido de um
empreendimento compartilhado, resultado do estímulo intelectual,
da crítica provocativa, de sugestões criteriosas e da participação generosa de Sandra Lauderdale Graham.

Richard Graham

Introdução

O CLIENTELISMO constituía a trama de ligação da política no Brasil do século XIX e sustentava virtualmente todo ato
político. A vitória eleitoral dependia sobretudo
de seu uso competente. Meu objetivo aqui é investigar o modo específico como a concessão de proteção, cargos oficiais
e outros favores, em troca de lealdade política
e pessoal, funcionava para beneficiar especialmente os interesses dos ricos. Detalhar a natureza e os mecanismos das
relações patrão/cliente serve não apenas para
ampliar nossa compreensão da história política do Brasil, mas também para esclarecer o vínculo entre elites sociais e o
exercício do poder. Talvez possa também nos
ajudar a entender relações de autoridade em toda a América Latina e, talvez, no mundo mediterrâneo de um modo geral.
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Sem dúvida, as técnicas pelas quais aqueles
que deveriam ser controlados aparentemente vieram a consentir - e talvez algumas vezes até mesmo a aprovar - o
sistema de seu próprio controle são relevantes para
outros períodos e lugares. A natureza e o significado de eleições manipuladas constituem temas de particular
importância para todo latino-americanista, como também
as questões dos partidos que se formam e reformam com programas imprecisos, a constante procura por vagas e
sinecuras e as transações que surgem dos relacionamentos
pessoais dentro de uma ordem política ostensivamente impessoal. Mas como é apenas na prática concreta do
clientelismo, dentro de determinadas instituições

16 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


políticas, que se pode realmente apreender seus funcionamentos e importância, optei por focalizar o Brasil de 1840 a
1889, isto é, durante o reinado de Pedro II.
Homens abastados dominavam o Estado brasileiro no século XIX. Os contemporâneos entenderam bem esta
questão, e os que escreviam sobre esses assuntos de um
modo geral não consideravam isso ruim. Talvez porque alguns historiadores marxistas posteriormente tenham destacado
isso, outros se esforçaram para negar essa dominação,
fosse atribuindo uma qualidade democrática ao Brasil do século XIX, fosse considerando que a maior parte do poder
residia em outros grupos que não a oligarquia agrária.
Minha intenção não é preencher um vazio ideológico, mas sim entender como a política aparecia àqueles que a
exerciam, o que pretendiam, e como suas ansiedades e
medos traduziam-se na ação política. Evitar que conflitos sociais eclodissem em desordem e destruíssem um modo de
vida que favorecia os donos de terras foi uma consideração
predominante na formação do sistema político brasileiro, como provavelmente foi e ainda é em outros lugares. Nesse
sentido, minha tarefa não é levantar uma nova
questão, mas explorar em detalhes uma antiga, rastreando o modo como o clientelismo vinculava-se às estruturas sociais
e econômicas.
Clientelismo significava tanto o preenchimento de cargos governamentais quanto a proteção de pessoas humildes,
mesmo os trabalhadores agrícolas sem terra.
Neste livro, mostro como no Brasil do século XIX esses dois tipos de clientelismo entrelaçavam-se através das eleições.
Os dois níveis de clientelismo - o local
e o nacional - têm sido estudados, em geral, separados, tipicamente por antropólogos, de um lado, e cientistas políticos,
do outro. Os historiadores geralmente têm
ignorado as eleições nas vilas e cidades do Brasil do século XIX, não as considerando importantes, pelo fato de a
composição do Congresso não depender delas. Mas,
se não tinham importância, por que pessoas em todo o Brasil, até mesmo em seus mais

Introdução 17
remotos confins, ficavam tão perturbadas por causa delas, ao ponto de arriscar suas vidas, em nome da vitória nas
urnas?
Meu argumento é que as eleições testavam e ostentavam a liderança do chefe local. Através de um sistema de
eleições indiretas de dois turnos, os votantes
escolhiam as figuras mais proeminentes do local para formar os colégios eleitorais, os quais, por sua vez, escolheriam
deputados para o Congressos. A família e a
unidade doméstica constituíam os fundamentos de uma estrutura de poder socialmente articulada, e o líder local e seus
seguidores trabalhavam para ampliar essa rede
de dependência. Numa sociedade predominantemente rural, um grande proprietário de terras contava com a lealdade dos
seus trabalhadores livres, dos sitiantes das
redondezas e dos pequenos comerciantes da vila, lealdade que seria demonstrada por várias maneiras, não menos pelo
apoio nas eleições. Uma parcela muito maior de
brasileiros do que se tem reconhecido até agora atuava nas eleições, aumentando assim o número de participantes nos
atos eleitorais, que demonstravam publicamente
a superioridade "natural" de uns sobre os outros. Alguém que desafiasse a liderança de um potentado local tinha de
arrebanhar um séquito pessoal; exibir seu poderio
levava facilmente ao uso da violência direta para derrubar o principal chefe anterior. Por conseguinte, eleições e
violência caminhavam juntas.
Em nível nacional, o resultado das eleições era quase inteiramente previsível, mas localmente, para alguns, tudo
dependia do resultado. Indicações para cargos
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oficiais ajudavam a ampliar o círculo de um chefe, e esse fato impelia-o a fazer pedidos às autoridades provinciais, aos
membros do Congresso nacional, a ministros
de Gabinete e até ao presidente do Conselho de Ministros. Para demonstrar seu mérito para tais indicações, tinha de
vencer nas eleições, de forma que, de uma maneira
circular, mas real, ele era uma liderança por ganhar a eleição, e ganhava por ser uma liderança. Por conseguinte, o
próprio chefe local estava enredado num sistema
que o fazia cliente de

18 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


outra pessoa, a qual também dependia de outras, numa série de ligações que iam até a capital nacional. Os Gabinetes
não exerciam sua autoridade contra as lideranças
locais, mas através delas, e esses chefes agrários, por sua vez, procuravam não se opor ao governo, mas sim participar
dele. Esse ponto, essencial para a compreensão
da política do Brasil do século XIX, diminui enormemente a importância de uma oposição hipotética entre poder
público e poder privado.
Este livro focaliza a política interna do Brasil. Nisso contrasta com obras, entre as quais uma das minhas, que se
dedicaram principalmente à economia brasileira
de exportação. Embora eu partilhe da opinião de Fernando Henrique Cardoso, de que no Brasil as relações políticas e de
classe entrelaçam-se com as exigências da
economia internacional, concentro minha atenção na política, e não na economia, ou seja, mais na rede de clientelismo
do que na de produção e troca. Ao invés de
acentuar a dependência internacional, enfatizo como as relações de classe no Brasil criaram a dependência pessoal de
clientes em relação a patrões e deste modo modelaram
a política interna do país 2.
Durante muito tempo, e até certo ponto mesmo atualmente, a história política do Brasil do século XIX foi tratada
como a história de gabinetes e reis. Mesmo
os melhores autores, começando com Joaquim Nabuco, em 1897, e incluindo Sérgio Buarque de Hollanda, em 1972,
fizeram pouco esforço para compreender os mecanismos
internos da ação política, ou para relacionar essa ação à sociedade. Além disso, a maioria dos historiadores do século
XX vê o Império com nostalgia, usando suas
descrições do período para criticar - algumas vezes sutilmente, outras não - os regimes brasileiros subseqüentes,
republicanos ou ditatoriais. Ao fazerem isso, deram
indevida ênfase à figura de Pedro II ou, na melhor das hipóteses, às de alguns de seus conselheiros. No presente livro,
dedico pouca atenção às ações particulares
do Imperador, já que ele desempenhava apenas uma função limitada nas práticas políticas

Introdução 19
cotidianas, cujo sentido para os contemporâneos procuro entender. E muitas das características da vida política brasileira
posterior, depreciadas por observadores
brasileiros e estrangeiros, estavam tão presentes no Império como em qualquer outro período.

Os historiadores têm divergido sobre se o Estado brasileiro do século XIX servia basicamente aos interesses de
uma classe dominante de latifundiários e donos
de escravos, ou se possuía vida e objetivos inteiramente próprios. A controvérsia tem implicações não apenas para a
condição brasileira atual, mas também para a
teoria do Estado. Na década de 1930, Caio Prado Júnior sustentava, como vários historiadores que o seguiram, que o
único problema real na história brasileira era
determinar quem constituía a classe dominante - se proprietários de terra ou comerciantes; o governo refletiria
inevitavelmente suas vontades. Em seu livro Evolução
política do Brasil - que originalmente trazia o subtítulo interpretação dialética da história brasileira -,ele argumentou que
o rompimento do Brasil com Portugal,
em 1822, originou-se do desejo da classe proprietária de terras de libertar-se de uma metrópole colonial dominada por
comerciantes. Os proprietários de terra construíram
então um sistema político que pudessem controlar, e só quando uma nova e progressista burguesia de comerciantes e
banqueiros desafiou seu poder agrário o sistema
enfraqueceu, entrando em colapso em 1889. com a derrubada do Império3.

Eu também vejo os ricos usando uma estrutura de governo que eles próprios criaram para promover seus
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interesses. Mas não vejo esses interesses levando tão
diretamente à adoção dessa ou daquela política, como seja uma lei de impostos, regulamentação tarifária ou decretos
trabalhistas. Eu os vejo antes em sua influência
sobre os próprios conceitos do bem e da verdade, a conduta devidamente obseqüente em uma estrutura social
hierárquica, a lealdade aos patrões e o cuidado com os
clientes. Em suma, embora houvesse algumas questões políticas em torno das quais as classes convergiam ou
divergiam, entendo

20 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


que, mais freqüentemente, os interesses classistas eram mediados através da ideologia, uma ideologia demonstrada e
fortalecida pela ação política. Tampouco acredito
que comerciantes e proprietários de terra, como tais, colidissem uns com os outros, pois penso que muitos ou eram a
mesma pessoa ou eram intimamente relacionados,
e que as divisões se davam segundo outras linhas. Por fim, não vejo que o fim do Império tenha sido causado pela
ascensão de uma nova classe com uma ideologia distinta.
Tanto os proprietários de terra do começo quanto os do fim do século XIX sentiram a pressão da economia mundial
capitalista, tendo todos desenvolvido relações senhoriais
com seus trabalhadores e dependentes. Por isso é que a procura de cargos públicos por parte da autoridade local
continuou a caracterizar a República, como ocorrera
durante o Império.

Uma corrente historiográfica alternativa enfatiza os fatores culturais e a busca de status como determinantes das
características políticas brasileiras.
Nestor Duarte declarou em 1939, por exemplo, que o poder no Brasil sempre se manteve na esfera privada da família,
uma instituição que nutria profunda hostilidade
para com o Estado. Mesmo admitindo que por família se referia à da "casa-grande", isto é, à do grande proprietário
rural, ele recusou-se a focalizar os interesses
econômicos, ou a maneira como o governo os atendia. Para ele, "a casa-grande (...) é o maior índice de uma organização
social extra-estatal que ignora o Estado,
que dele prescinde e contra ele lutará"5. Oliveira Viana desenvolveu um argumento semelhante, embora de outra
perspectiva, em uma série de estudos que começaram
na década de 1920, mas tiveram sua formulação mais clara em 1949. Ele reconheceu, como reconheço, o poder dos
grandes latifundiários sobre seus dependentes, e sabia
que cada proprietário tinha relações de aliança com outros, por meio de laços familiares. Mas os via atuando sob uma
oposição determinada de um Estado que procurava
restringir sua influência, dominá-los, disciplinálos. A introdução de eleições e a aparência de democracia, dizia,
complicou e retardou grandemente esse esforço
construtivo do

Introdução 21
Estado, já que os latifundiários controlavam os votos dentro de seu feudo 6. Neste livro, os leitores encontrarão muitas
provas de eleições controladas e influência
familiar, mas rejeito a separação

implícita entre o Estado - mesmo o Estado central - e os chefes agrários. E certamente não sugiro, como ele, que
aumentar o poder de um Estado autoritário, para
ser exercido sobre um povo que de outro modo seria predestinado ü anarquia, era uma meta que deveria ser
ardentemente desejada. Mais ainda, para mim a cultura é
formada e conformada; ela própria é um

processo, não apenas um dado, e nesse processo privilegiam-se os interesses de alguns e negligenciam-se os de outros.
No Brasil do século XIX, cultura e tradição
favoreciam o lugar dos poucos,

o dos proprietários. Classe e status entrelaçavam-se.

Uma obra mais recente, e bastante influente, de Raymundo Faoro, significativamente intitulada Os donos do poder,

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argumenta com muita verve e força literária que toda a história luso-brasileira, desde 1385, pode ser entendida como
uma

tentativa do "estamento burocrático" de ganhar ascendência sobre o resto da sociedade: sob o imperador Pedro II, sua
luta

parecia vitoriosa, visto que o Partido Conservador em geral vencia os liberais, os quais (ele diz) representavam os donos
de

terras; a criação da República, em 1889, inverteu momentaneamente o quadro e colocou os fazendeiros no poder7.
Discordo
de Faoro em quase todos os pontos, mas sobretudo no tocante ao Estado. Não o vejo tão autônomo e livre de seu
contexto social e econômico, nem creio que políticos,
juízes e outras autoridades representassem apenas os interesses de um Estado reificado, assim que atravessassem os
portões de uma agência

governamental. Ocupantes de cargos, em diferentes níveis do governo, chocavam-se freqüentemente uns com os outros,
tanto que as autoridades centrais algumas vezes
lutavam contra os donos do poder local, mas, nos dois extremos e em todo o
sistema político, fosse qual fosse seu partido, as autoridades eram extremamente sensíveis aos interesses agrários,
quando não eram elas próprias proprietárias de
terra.

22 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Todos esses enfoques impõem categorias atuais a atores históricos que não necessariamente as reconheciam;
contudo, os historiadores deduzem dessas categorias
o que os atores pretendiam, e atribuem-lhes papéis que talvez não tivessem escolhido. Em contraste, desejo aqui
focalizar os significados que eles próprios deram
às suas ações, considerando os indivíduos, seja dentro ou fora do governo, como pessoas completas, com múltiplos
compromissos, algumas vezes em conflito, outras
em dúvida. O que almejavam? Os políticos, por exemplo, preocupavam-se sobretudo em promover os interesses
econômicos particulares dos proprietários de terra e dos
comerciantes, ou concentravam-se principalmente no fortalecimento dos nervos do poder central? Minha conclusão é
que não faziam nenhuma das duas coisas. Como revela
sua correspondência, gastavam a maior parte de sua energia na formação de redes de clientelismo, ampliando seu
séquito ou encontrando um protetor poderoso para suas
fortunas políticas. Os políticos do século XIX preocupavam-se predominantemente (embora não exclusivamente) com o
clientelismo, fosse concedendo favores ou buscando-os
(muito freqüentemente, as duas coisas ao mesmo tempo). Nessa preocupação, e através das ações que a exprimiam, eles
de fato legitimavam a estrutura social existente,
em cujo topo situavam-se os proprietários. Os políticos efetivamente trabalhavam para este fim, mas não apenas, ou
sobretudo, perseguindo políticas governamentais
específicas. Em vez disso, atingia-se esse objetivo na amplitude de seu estilo e prática de vida.
Finalmente, ao mesmo tempo em que a ideologia do clientelismo servia aos interesses da elite econômica, também
fornecia um parâmetro segundo o qual se podia
medir e verificar o comportamento daquela classe dominante. Por isso, seus membros só violavam o código do sistema
com muita cautela. Por esta razão, esse padrão
de conduta era aceito por mais gente do que se poderia esperar. Suas raízes aprofundavam em um sistema social antigo,
baseado no final das contas em relaciona-

Introdução 23
mentos familiares e interpessoais construídos ao longo de muito tempo. Não o vejo como um estágio a ser substituído
pela vitória inevitável de uma burocracia "racional",
impessoal e universalista, nem penso que o clientelismo era uma circunstância patológica. O clientelismo funcionava a
favor de alguns, e não de outros, e preservou
uma estrutura que só uma revolução poderia ter destruído.

PARTE UM
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AS ESTRUTURAS DA POLÍTICA

UM

Famílias, Clientes e Controle Social

QUANDO O PRíNCIPE REGENTE DE PORTUGAL, que depois


seria coroado como João VI, chegou ao Brasil, em 1808, expulso
da Europa pelo Exército de Napoleão Bonaparte, não estabeleceu
apenas uma corte no exílio, mas o aparato completo de seu
governo. Evidentemente, gostou do Brasil, e mesmo a derrota de
Napoleão não o persuadiu a regressar para Portugal. Só o fez, relutantemente, em 1820, quando as recém-criadas Cortes
Portuguesas assim o exigiram, e ameaçaram seu
trono se ele permanecesse além-mar. O Brasil caminhou então, inexoravelmente, para a independência, formalmente
declarada em 1822
por seu próprio filho, que se coroou Imperador Pedro I. Os brasileiros começaram então a elaborar as instituições
formais de seu novo governo, o que levou outros
vinte anos. Esse processo completou-se nos primeiros anos do longo reinado de Pedro II (1840-89), e o capítulo
seguinte examinará tais instituições, que permaneceram
mais ou menos inalteradas por quase meio século. Outras instituições, menos formais, foram herdadas dos tempos
coloniais, e ninguém pensou em criá-las ou modificá-las:
existiam. Em todas as partes do país se podia verificar o peso da família e da casa, a tensão latente entre pobres e ricos,
um
agudo senso de hierarquia social e a prática constante de prestar favores em troca de obediência. Esses padrões sociais
influenciavam enormemente a política e davam
às estruturas de
governo um significado particular, brasileiro.

28 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Regiões

Antes de passarmos àquelas persistentes realidades que possibilitavam a todos os brasileiros se compreenderem uns
aos outros, precisamos reconhecer uma outra,
que provocava divisões: a força do regionalismo. Os homens sentiam-se fortemente presos ao lugar, talvez precisamente
por causa dos laços familiares e dos vínculos
de proteção, mas também, para alguns, pela propriedade da terra. As atividades agrícolas e de criação de gado,
sobretudo para exportação, definiam zonas distintas
com laços políticos, e o primeiro passo para uma interpretação da vida política brasileira é identificar os vínculos
regionais. Historiadores do Brasil novecentista
já delimitaram nitidamente suas economias regionais, cada uma concentrada num único produto. Café, açúcar e algodão
encabeçavam a lista das exportações, e a criação
de gado também era lucrativa; cada produto caracterizava uma região distinta. Suas rivalidades
muitas vezes revelavam-se problemáticas para o sistema político, contribuindo até mesmo para solapar o Império -
substituído por uma República em 1889. Assim, este
estudo começará tratando das divisões regionais nessa imensa terra, ainda que, no final das contas, elementos de
unidade tenham prevalecido.
A área de assentamento mais antigo dedicou-se durante muito tempo à produção de açúcar, com mão-de-obra
escrava, para o mercado internacional. Uma faixa
estreita de 80 a 160 quilômetros de largura, caracterizada por chuvas abundantes e solo rico, estendia-se ao longo da
costa, desde a extremidade que aponta para
o Atlântico, no Rio Grande do Norte, até o Sul, logo além da cidade de Salvador. Quase todo o açúcar exportado pelo
Brasil saía dessa região nordestina e de um pequeno
centro de cultivo de açúcar perto de Campos, na província do Rio de Janeiro. O Brasil há muito perdera a posição, que
desfrutara no século XVII, de quase monopólio
na produção mundial, mas seus fazendeiros continuaram prosperando até a década de 1870, e mesmo depois podiam
contar com um mercado interno que se expandia gradualmente1.
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Entretanto, de 1840 em diante, os

Famílias, Clientes e Controle Social 29


cafeicultores do Sul assumiram a dianteira, e os líderes nordestinos sentiram profundamente a perda de sua
predominância econômica e política no Brasil.

Política e economicamente, a região cafeeira constituía o outro pólo da atividade brasileira. Por volta de 1840, o
café representava aproximadamente metade
das exportações brasileiras, e seus lucros propulsionaram um crescimento sem precedentes na riqueza e nas receitas do
Brasil. Tipos de solo, altitude e clima favoreciam
o café no Sudeste brasileiro, e a partir de 1820 seu cultivo espalhou-se rapidamente pelo vale montanhoso do rio Paraíba
do Sul, ao longo da faixa paralela à costa
que ele percorre. Por volta de 1850, o café também se tornou a principal lavoura a oeste da cidade de São Paulo, embora
essa área nova não tenha desafiado a antiga
até a década de 1880 2.

30 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Numerosos fazendeiros amealharam fortunas substanciais com o café. Mas o sucesso de Francisco Peixoto de
Lacerda Werneck (1795-1861) - que recebeu o título
de barão de Pati do Alferes em 1852 - excedeu o da maioria deles, e a extensa correspondência que ele deixou, bem
como sua proeminência política local, o tornam
digno de atenção especial como membro da classe agrária. Seu pai, um imigrante das ilhas dos Açores, casara-se numa
família que possuía alguma riqueza, acumulada
no comércio do século XVIII na então próspera região da mineração de ouro (cerca de 480 quilômetros ao norte do Rio
de Janeiro). A uma sesmaria que a mãe de Francisco
já recebera seu pai acrescentou outra, no vale do Paraíba do Sul. Filho único, Francisco herdou as duas e passou a
plantar café. Seu próprio casamento, numa importante
família de comissários de café, ajudou-o ainda mais, e ele acabou proprietário de sete fazendas, com cerca de mil
escravos. Suas terras principais localizavam-se
no município de Vassouras, mas ele possuía propriedades
rurais e urbanas em outros lugares, entre elas uma casa na capital, de onde saía em uma carruagem deslumbrante para
participar dos eventos de gala na corte do imperador.
Ele tinha um forte interesse nos negócios de toda a economia cafeeira. Em 1847, quando seu filho, recém-chegado dos
estudos na Europa, herdou uma fazenda através
da própria mulher, Francisco escreveu uma famosa Memória, reeditada muitas vezes, sobre como estabelecer uma
fazenda, cuidar dos pés de café, organizar a produção
e administrar os escravos. Como muitos outros contemporâneos, ele deve ser compreendido como um empresário
agrário dinâmico e progressista, interessado tanto no
lucro quanto no poder. Terei mais a dizer sobre seu papel político e o de sua família.
Nenhum produto marcou tão nitidamente uma região, do ponto de vista da direção da lealdade política, como
fizeram o açúcar e o café. Em primeiro lugar, nenhum
outro correspondia a mais de um décimo das exportações brasileiras na década de 1840. A maior parte da produção de
algodão de fibra longa natural do Brasil - concentrava-se
nas regiões ligeiramente

Famílias, Clientes e Controle Social 31


mais altas e menos úmidas do Nordeste, distantes da costa uns 50 a 150 quilômetros. Nessa área, predominavam os
pequenos donos de terras, embora alguns homens fossem
proprietários de grandes fazendas. O algodão permaneceu um item de pouca importância para os plantadores brasileiros,
apesar do breve e alvoroçado interesse por
sua produção na província de São Paulo, provocado pela Guerra Civil dos EUA3. O tabaco predominava na região em
redor da cidade de Cachoeira, na província da Bahia,
do outro lado da baía, defronte a Salvador. Também costumava ser produzido em pequenas propriedades, cujos donos
tinham pouca influência política. A região do rio
Amazonas produzia cacau e borracha, coletados das árvores que cresciam naturalmente na floresta, mas só no final do
Império a riqueza

32 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


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da região proporcionou uma base para desafiar (mesmo assim, apenas ligeiramente) o domínio político dos plantadores
de açúcar e café. Na verdade, muitas lideranças
na Amazônia sonhavam plantar cana-de-açúcar na região, lamentando a tendência contrária dos trabalhadores, que
penetravam a esmo na floresta para coletar borrachas.

A criação de gado estabeleceu algumas regiões com certa importância política. Observadores estrangeiros
descreveram três economias pecuárias distintas, cada
uma com sua cultura própria. Nos trechos áridos do Nordeste, distantes da faixa costeira produtora de açúcar e a oeste
das áreas intermediárias de algodão, a criação
de gado era uma ocupação principal desde o século XVI. Secas ocasionais devastavam esse sertão, mas o gado e os
vaqueiros retornavam sempre com as primeiras chuvas.
Mais ao Sul, os habitantes de Minas Gerais concentravam sua economia na produção de gado de corte, com resultados
mais regulares. Dessa região de planícies ondulantes,
e cerrados, os vaqueiros conduziam seu gado para o Rio de Janeiro, onde a demanda por carne fresca aumentava
maciçamente, enquanto a cidade crescia em dimensões
e riqueza, com as crescentes exportações de café. Contudo, de todos os estancieiros do Brasil do século XIX, os do Rio
Grande do Sul emergiram como os mais prósperos
e poderosos. Os pastos suavemente ondulados e as ricas planícies da região favoreciam especialmente a pecuária, e por
volta de 1863 a província exportava aproximadamente
70% do couro brasileiro. Também produzia carne salgada ou charque para consumo dos escravos nas plantações de
açúcar e café. Nessa, a mais meridional das províncias,
uma cultura distinta e uma intensa lealdade regional desafiavam continuamente as tendências centralizadoras de
políticos no Rio de Janeiro6.

Fatores de Unidade

Os brasileiros permaneciam predominantemente rurais.


Com exceção do Rio de Janeiro - 206.000 pessoas em 1849,
229.000 em 1872 -, as cidades tendiam a ser pequenas. Se

Famílias, Clientes e Controle Social 33


considerarmos as sete maiores cidades do Brasil em 1872, a lista inclui uma com apenas 11.730 habitantes, e as sete
juntas correspondiam a apenas 617.428 pessoas,
em uma população de cerca de 10 milhões, ou seja, 6% do total. Sem dúvida, as cidades cresceram rapidamente: em
1890, o Rio de Janeiro possuía uma população de 430.000,
e 11% dos brasileiros já viviam em cidades com mais de 10.000 habitantes7. Os principais líderes políticos sempre
viviam nas cidades, pelo menos enquanto o Congresso
se reunia, e esse fato imprimia uma pátina urbana à ação política. Mas, sendo este o caso de uma sociedade
predominantemente rural, a verdadeira base da vida política
assentava-se no campo, nas fazendas e estâncias.

Além do baixo nível de urbanização, várias outras características da sociedade brasileira abrangiam todas as
regiões. Primeiro, fosse nas cidades ou nas
plantações, a maior parte do trabalho físico era feita por escravos negros. Embora praticamente todo tipo de atividade
agrícola (assim como a criação de gado) dependesse
de escravos, eles concentravam-se nas regiões produtoras de açúcar e de café do Nordeste e do Sudeste,
respectivamente. Os escravos também trabalhavam como artesãos
e criados domésticos, não apenas nas fazendas, mas nas vilas e cidades. Os 2 milhões e 500 mil escravos do Brasil
representavam entre um quarto e um terço da população
em meados do século XIX. Muitos donos tinham só um escravo ou um pequeno lote de dois ou três, e a extensa difusão
da escravidão assegurava, deste modo, um amplo
apoio entre os livres para a sobrevivência da instituição. Alguns fazendeiros, contudo, possuíam centenas, às vezes
milhares, fazendo do Brasil um lugar onde a riqueza
media-se em grande parte por seres humanos. O Congresso só aboliu a escravatura em 1888, e os escravos continuaram
trabalhando até aquela data, embora o fim efetivo
do comércio de escravos, em 1850, e a aprovação da Lei do Ventre Livre em 1871, libertando, desde então, todas as
crianças nascidas de mulheres escravas, tivessem
sinalizado que a escravidão, mesmo que tardiamente, acabaria. Após 1850, um
Página 10
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

34 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


comércio interno de escravos do Nordeste para o Sudeste havia separado aos poucos algumas regiões de outras, pelo
menos até certo ponto8.
Ainda menos influenciados por diferenças regionais do que na questão da escravidão, os conceitos de casa e família
afetavam profundamente a natureza da política.
A importância dessas instituições, como unidades básicas da ordem política, exige que nos estendamos um pouco em
sua discussão, tanto mais porque esses elementos
culturais mostraram-se particularmente resistentes à mudança. Embora na realidade famílias e unidades domésticas
aparecessem de várias formas, o ideal partilhado
universalmente tomava como certo que fossem chefiadas por um homem. O pai exercia autoridade legal sobre toda a
unidade doméstica, e a lei delegava a ele o direito
de punir seus membros, fosse esposa, filho, criado ou escravo. Um pai podia, legalmente, encarcerar os filhos de
qualquer idade que vivessem com ele, e o fazia para
"castigar e puni-los de más manhas e costumes". A lei considerava a propriedade dos filhos vivendo com a família,
também independentemente de sua idade, como pertencente
ao pai9. Quando a Constituição proibiu que um adulto vivendo com o pai (filho-família) votasse, tentando com isso
assegurar que cada família dispusesse de apenas
um voto, reconheceu a autoridade paterna; pois, como explicou um comentarista de leis a respeito de filhos morando
com a família: "sua vontade é ainda dependente
da de seus pais". Os legisladores, disse um jornalista, queriam assegurar que o votante não estivesse "para com outros
numa dependência pessoal muito estreita, como
os filhos-família, as mulheres casadas, os fâmulos e os que vivem de esmolas". E certamente, acrescentou, "a fraqueza
do sexo (...) não permite que se presuma nas
mulheres, ainda que maiores, solteiras ou viúvas, independência de vontade"10. O termo "pai de família" (paterfamilias)
implicava não apenas cuidado, mas autoridade.
Um dicionário do século XIX definiu a expressão como "cabeça do casal" e "chefe da família"11.

Famílias, Clientes e Controle Social 35


O Estado dava proteção especial à família. A lei proibia uma pessoa de legar a maior parte de sua propriedade a
qualquer um que não fosse da família, protegendo-a
assim dos caprichos do interesse individual. Contudo, algumas exceções a essa regra são indicativas: um filho podia ser
deserdado por insultar publicamente o pai,
ou uma filha por se casar sem o consentimento dele - a não ser que, ao fazê-lo, ela subisse de posição social12. Os
funcionários públicos levavam muito a sério sua
responsabilidade em relação a famílias particulares. Diplomatas e policiais consideraram seu dever informar a um
padeiro que sua filha casada abandonara o marido
por outro homem; sua desobediência ao marido tornava-se responsabilidade do pai e um assunto de interesse oficial. Era
freqüente a correspondência governamental
aparecer com uma tarja preta, indicando a morte de um parente do missivista e simbolizando a centralidade dos laços
familiares. Assim, ao adotar papel como esse
para toda sua correspondência, durante um ano inteiro após o falecimento de seu "primo e cunhado", o ministro da
Guerra chamava a atenção para o relacionamento
pessoal, e acentuava sua importância e relevância para a ação pública)13.
As famílias representavam importante fonte de capital político. Naturalmente, como em outros lugares, elas
dedicavam-se a aumentar sua propriedade, e, ao
longo de várias gerações sucessivas, famílias bem-sucedidas acumularam recursos significativos. Os vínculos que
levavam homens a cargos oficiais e ao domínio local
constituíam parte importante desses recursos e, através da política, famílias lutavam para preservá-los, muitas vezes
contra outras famílias. Não por acaso, um jornal,
louvando um falecido fazendeiro de café, justapôs as duas qualidades: "chefe de uma importante família, tendo exercido
os mais elevados cargos municipais". Na busca
de seus interesses políticos, as famílias em geral votavam juntas: "Votou [no candidato] mais um cunhado meu que era
eleitor e todos os meus genros e meu filho que
se achavam no Colégio [Eleitoral]

36 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


trabalharam dedicadamente por ele", escreveu um político na Bahia. De uma paróquia rural no Rio Grande do Sul, um
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
cabo eleitoral listou "os Conservadores daqui em
quem mais se deve confiar, além dos membros da minha família". O presidente do Conselho Liberal, em 1885,
queixou-se amargamente que um candidato Liberal "nenhum
auxílio teve dos Leões", que ele evidentemente esperava agissem unidos14.

As famílias nem sempre permaneciam unidas, mas o não fazê-lo merecia comentários. No Pará, por exemplo, "há
um grupo de homens que se odeiam de morte e nem
o parentesco próximo de alguns os contém". Na Bahia, em 1856, Manuel Pinto de Souza Dantas, jovem candidato ao
Congresso, desejava

Famílias, Clientes e Controle Social 37


que seus dois tios o apoiassem, mas reconhecia que um deles ajudaria o próprio filho. "Meu [outro] tio José Dantas, por
maior desejo que tenha em auxiliar-me, não
entrará em guerra com meu tio João" e, de qualquer modo, acrescentava Manuel, não seria correto "plantar a intriga
entre eles". Manuel relatou mais tarde, contudo,
que seu primo, não tão escrupuloso, dera "um passo que talvez possa ser qualificado de imprudente, porque arrasta
consigo a quebra de um princípio [importante],
qual o da união entre as famílias". Membros de uma família às vezes lutavam uns com os outros, mas tal prática
provocava surpresa, condenação,

ou pelo menos preocupação15.


Os limites de uma família iam muito além do pai, da mãe e dos filhos. A proteção em troca de lealdade, imposta
pelos vínculos familiares, estendia-se primeiramente
a uma ampla gama

de relacionamentos consangüíneos e, em seguida, a um número igualmente grande de ligações por meio de casamento.
Embora

um pouco mais tênues, os laços de parentesco ritual também eram importantes. Ser padrinho, afilhado, compadre ou
comadre
no Brasil, como em outras culturas ibéricas, envolvia obrigações religiosas e materiais importantes, e portanto de
influência e até mesmo de autoridade. Todos esses
laços familiares implicavam obrigações mútuas de ajuda nas eleições ou na garantia de cargos

no governo, de tal modo que, por extensão, muitas vezes alguém se referia de forma figurada a um protegido como
afilhado, e a seu protetor como padrinho.
Qualquer distinção entre família e unidade doméstica permanecia vaga na percepção dos contemporâneos. Eles
usavam com freqüência a palavra "família" para
incluir várias pessoas não relacionadas por sangue nem por casamento ou compadrio. No caso de uma fazenda, o termo
podia indicar escravos, empregados, arrendatários,
compadres, afilhados, parentes afastados e próximos. Em suma, todos os que viviam na ou da
propriedade. Deste modo, um chefe de família expandia o círculo daqueles que, como dependentes, reconheciam sua
autoridade 16. Muitas vezes os documentos descreviam
uma pessoa livre como

38 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


um "agregado à minha família" ou como um "morador nas minhas terras", abreviados na prática como agregado e
morador.
Um agregado ou morador dependia de outra pessoa, especialmente para ter casa, ou pelo menos um espaço onde
viver e, mais importante, um lugar social. Podia
até ser um membro da família, mesmo um parente respeitado, irmã ou irmão desprovidos de uma fonte de renda
independente 17; com mais freqüência, o agregado era um
trabalhador agrícola pobre, livre, mas provavelmente preto ou mulato, a quem o dono da terra concedia o direito de
cultivar colheitas de subsistência, em algum pedaço
da grande propriedade. Em troca, os agregados ofereciam sua aliança em tempos de luta armada contra donos de terra
vizinhos, e lealdade nas disputas eleitorais18.
Como um engenheiro descreveu a situação em 1879, nas fazendas de café grande parte da terra não era usada pelo
cafeicultor ou seus escravos; na "grande área restante,
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
(...) nota-se um grande número de indivíduos que aí se estabelecem, com a permissão do senhor das terras, ou
fazendeiros, e que são denominados agregados. Esses
agregados, em número muitas vezes superior ao dos escravos, são cidadãos pobres (...) Pela dependência em que se
acham dos proprietários, constituem aqueles agregados
uma classe escravizada, que, se bem não estejam sujeitos a tributo algum de dinheiro ou trabalho, (...) estão-no,
entretanto, pelo imposto eleitoral [isto é, o voto],
que em ocasião oportuna pagam à boca do cofre, sob pena de expulsão". No Nordeste, na região de cultivo de algodão e
alimentos, entre a costa produtora de açúcar
e o interior de criação de gado, os senhores de terra - proprietários de extensões agrárias menores e menos prósperas do
que na costa- muitas vezes não possuíam
nenhum escravo e povoavam suas propriedades quase inteiramente com moradores20. Ali, como em qualquer canto do
país, do ponto de vista da elite, o que dominava o
relacionamento era, por um lado, a assistência do protetor, e por outro, a lealdade ou o serviço prestado; os agregados
provavelmente tinham outras idéias, mas,
com raras exceções, guardavam-nas para si mesmos.

Famílias, Clientes e Controle Social 39


Alguns chefes de família lideravam um grupo ainda maior composto de outros pais de família, que lhes deviam
favores ou para os quais os primeiros podiam
representar uma ameaça. "Os sitiantes", dizia um contemporâneo, "vivem à sombra das grandes" famílias latifundiárias
e escravocratas21. Os pequenos sabiam que o
caminho mais sábio era buscar a proteção dos mais poderosos. Comerciantes de pequenas cidades e proprietários de
vendas rurais também dependiam dessas grandes famílias,
pois mesmo quando membros destas deviam dinheiro a um comerciante, o eventual pagamento dependia da boa vontade
do devedor, a não ser que o dono da loja encontrasse
um magnata ainda mais poderoso para defender seus interesses.
Da família, membros da casa, agregados e outros dependentes, um fazendeiro formava seu séquito, ou clientela. Os
clientes dependiam de seu chefe, e em retribuição
ofereciam-lhe lealdade. Para isso, não tinha a menor importância se o caso específico pertencia à esfera política ou à
econômica: um patrão poderia tanto oferecer
emprego como proteger seus dependentes de quaisquer reivindicações de autoridade alegadas por outros22. A palavra
patrão passou a significar sobretudo empregador.
Esse emprego nem sempre precisava ser lícito. Um administrador provincial na Bahia queixava-se de que "os chefes
mandões (...) fornecem carne e farinha (...) àqueles
vadios e malfeitores que escolheram por seu único modo de vida servir de guarda-costas - ou, como aqui são
denominados, `peitos-largos' - e os defendem quando a
Justiça os quer perseguir por sua criminosa conduta". Mesmo escravos fugitivos podiam receber essa proteção de um
escravocrata23. Em troca, o chefe assumia a responsabilidade
pelas ações daqueles que chefiava. Quando o dono de uma loja queixou-se de um fazendeiro, que protegia um "mulato,
não muito claro, seco de corpo, com calça azul.
jaqueta branca, um chapéu de palha, (...) munido de uma faca de arrasto e uma espingarda", que "tinha atirado alguns
caroços de chumbo grosso" na venda do queixoso,
a polícia em vez de prender o delinqüente solicitou ao fazendeiro que assinasse um "termo de

40 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


bem-viver", responsabilizando-o, assim, pelo comportamento de seus protegidos24. Se o chefe de uma unidade
doméstica exercesse com sucesso autoridade sobre seus
membros, podia esperar que outras instituições do Estado reconhecessem a sua jurisdição; por conseguinte, em geral
exigia obediência estrita dentro dos limites de
seu domínio.
O tamanho da clientela era a medida de um homem. A posse de vasta quantidade de terra - e, quando necessário, a
propriedade de escravos - demonstrava sucesso
e ajudava enormemente a ampliação do séquito de uma pessoa, mas o recurso crucial continuava sendo a lealdade de
outros. Com o apoio desse grande séquito, um chefe
rural podia exercer bastante influência sobre juízes e agentes de polícia (ou assegurar tais indicações para si mesmo), a
fim de oferecer proteção e garantia de
favores a pessoas respeitáveis, aumentando portanto o número de seus amigos, assegurando a lealdade de uma crescente
clientela pela gratidão, quando não pela força.
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Por esse motivo, cada homem buscava um patrão para protegê-lo, e cada um se esforçava para arrebanhar seu próprio
grupo de seguidores.
Enquanto os clientes eram de fato beneficiados e buscavam ativamente patrões, eram os latifundiários que
modelavam a sociedade de forma a que isso se tornasse
necessário25. O sistema fundiário, por exemplo, era um poderoso estímulo à prática do clientelismo. Sesmarias
sobrepostas umas às outras, e os direitos tradicionais
de posseiros, junto à virtual ausência de agrimensura, ou registros territoriais, criavam um sistema caótico de
reivindicações potencialmente conflitantes, que sacrificava
o fraco e premiava a força, fosse esta medida em riqueza, homens armados ou influência política26. Como explicou o
filho do barão de Pati do Alferes, na medida que,
tipicamente, uma sesmaria implicava salvaguardar as reivindicações de possíveis beneficiários anteriores, e só podia ser
legalmente válida se a propriedade recebesse
melhorias dentro de alguns anos, alguém que fizesse uma contra-reivindicação podia, muito tempo depois, contestar a
legitimidade da posse por qualquer um

Famílias, Clientes e Controle Social 41


desses motivos. Seria então difícil encontrar um juiz imparcial para avaliar depoimentos conflitantes. Ao vender terra, o
vendedor indicava que o fazia "tais como
as 'adquiriu", não assumindo nenhuma responsabilidade pela validade do título. Poucos agrimensavam suas terras e cada
proprietário via na imprecisão de seus limites
uma oportunidade de aumentar seus bens. Decerto, quando uma região já se achava ocupada por um bom período de
tempo, com a associação clara de algumas terras a determinadas
famílias, esses conflitos deviam diminuir; então, a eqüidade dos julgamentos de processos judiciais significaria apenas
uma legitimação da liderança política exercida
pelas famílias estabelecidas. Mas quando as circunstâncias promoviam a utilização até então inédita de certos recursos
agrícolas, em regiões econômicas até então
praticamente inexploradas, elevando muitíssimo seu valor, os conflitos rompiam as relações consuetudinárias, e só um
bom grupo de sequazes assegurava a propriedade
da terra. Por outro lado, os agregados só eram atraídos pelos que possuíam terra. O jovem Lacerda Werneck observou
que esse fato fazia com que a propriedade da terra
adquirisse mais importância que seu uso, de modo que, "como o cão, na fábula de La Fontaine, eles não a aproveitam,
mas também não permitem que outros a aproveitem".
Sem dúvida, toda a evidência é de que poucos retinham a maior parte da terra, ao passo que a maioria dos trabalhadores
rurais permanecia sem terra. A força política
do chefe rural se originava sobretudo desse fato. Os clientes o procuravam por causa de sua riqueza agrária e ele era
capaz de conservar e estender suas propriedades
porque os comandava27

Controle Social

O objetivo da ação política, das eleições e das nomeações para cargos públicos originava-se das diretrizes da
organização social brasileira, duas em particular:
primeira, prática e prédica infundiam constantemente a idéia de que todas as relações sociais consistiam de uma troca de
proteção por lealdade, benefícios por
42 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

obediência, e que a recalcitrância merecia punição; segunda, toda instituição servia virtualmente para acentuar a
hierarquia social, insistindo em que para cada
indivíduo havia um lugar bem determinado, embora a mais importante distinção fosse entre os ricos e os pobres. Por
causa dos obstáculos à imposição do controle
social no Brasil - particularmente a mobilidade geográfica dos sem terra livres - ,medidas que buscassem esse controle
eram muito necessárias. Mais importante
ainda era o problema universal de que os que deviam ser controlados tinham vontade própria. A política tanto contribuía
para fortalecer essas preocupações sociais
maiores como extraía delas sua razão de ser.
O paradigma familiar orientava as relações sociais entre lideranças e liderados, e em seu interior mesclavam-se
força e benevolência28. Obediência e lealdade
compravam favores. Obediência e lealdade permitiam ao dependente escapar ao uso da força pelo patrão. Obediência e
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
lealdade asseguravam assistência protetora e por
conseguinte criavam uma importante defesa contra a força que outros possíveis líderes empregassem. Como
conseqüência inevitável, a falta de obediência ou lealdade
submetia o indivíduo à punição do patrão e o deixava exposto, de forma vulnerável, à exploração de outros. Não havia
qualquer dicotomia entre força e benevolência:
uma extraía seu sentido da outra. Representavam apenas dois aspectos da mesma técnica para controlar os outros. Na
família figuravam os dois. Do mesmo modo que um
pai escrevia "abraça e abençoa por mim todos os nossos filhos. [Que] eles se lembrem também de mim fazendo tudo o
que devem fazer, para merecerem a minha amizade",
um ex-escravocrata também podia declarar que um fazendeiro devia "tratar do liberto como trata seus filhos: com
bondade e energia, isto é, com amor" 29. A ameaça
de punição e a promessa de benevolência descreviam as vidas de esposas e filhos, escravos, agregados, pequenos
proprietários, comerciantes de vilas e outros seguidores
do patrão, envolvendo-os numa poderosa rede de obrigações devidas e doações esperadas. Essas realidades também
tingiam todas as outras relações de poder, sobretudo
as

Famílias, Clientes e Controle Social 43


francamente políticas. Todos eram enredados num processo constante de troca mútua, embora desigual. Em suma, a
elite mantinha a ordem social por meio de uma visão
(geralmente compartilhada) de que a obediência fazia juz à proteção30.

É preciso examinar ainda com mais detalhe a barganha tácita, uma técnica de dominação que permeava a política e
a sociedade como um todo. O senador José
Tomás Nabuco de Araújo a observou, quando se referiu aos moradores de engenhos de açúcar no Nordeste: "que desde
tempos imemoriais têm considerado aos senhores de
tais propriedades como seus sustentáculos e protetores, que sempre têm tido para com estes um justo respeito
reverencial, como para aqueles que lhes dão terras para
lavrar e caça para comer; que não pagam por isso a menor retribuição pecuniária, o menor serviço pessoal, a menor
prestação em gêneros, nem fazem o menor benefício
às terras. (...) Uniam-se aos senhores de engenho pela força do hábito, pela influência dos costumes antigos, pelos laços
de gratidão". Contudo, quando esses moradores
votaram contra os candidatos dos senhores de engenho, supostamente persuadidos pelo uso da força, "destruiu-se assim
a justa relação que existia entre os proprietários
dos engenhos e os seus moradores, alterou-[se] os costumes e só se produziu males, porque tais homens não podem
mais ficar nos engenhos que atraiçoaram de certo
modo". Também na região do café, o filho de Lacerda Werneck notou que o direito do agregado em relação à segurança
era tênue, e ele podia ser despejado ao bel-prazer
do proprietário31. Como numa família, a concessão de proteção e benevolência por parte do patrão implicava também
no direito de castigar.

A generosidade para com os pobres era constantemente louvada, pois os proprietários de terra em geral
reconheciam que tais atos legitimavam a troca implícita
e preservavam a correta estrutura da sociedade. Um padre, em um enterro, teve o cuidado de mencionar que o falecido
mantinha "a bolsa sempre aberta ao venerando
ancião". Outro orador de funeral, em 1860, enfatizou o "auxílio da esmola" que o morto generosamente garantira:

44 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


"a sua casa, a sua estima, e o seu dinheiro, eram tesouros da pobreza". Não importa muito se o rico era realmente tão
generoso, mas sim a insistência em relação
a isso como uma virtude maior. Aqui temos uma celebração de valores clientelistas. E até certo ponto, os membros de
famílias de classe alta internalizavam esses
valores: numa carta particular, o barão de Pati do Alferes escreveu que "acodir a uma família desgraçada, ser um anjo da
guarda e dar a mão ao infeliz (...) é das
almas grandes, é, enfim, próprio do homem [de] circunstâncias independentes]32.
Essas técnicas de controle - premiar a obediência com benevolência e usar a força para punir a desobediência -
foram elaboradas de modo específico para os
escravos. O escravocrata, mais do que qualquer um, embora da mesma forma que todos aqueles que pertenciam às
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camadas superiores, enfrentava o problema fundamental
de como fazer os outros agirem de acordo com a sua vontade e não segundo a deles mesmos. Com essa finalidade, os
senhores combinavam a disciplina rígida ao transgressor
com favores ao dócil e obediente. A gentileza do patrão, vale repetir, adquiria sentido conquanto acompanhada de seu
direito de exercer força máxima. Muitos fazendeiros
ou seus feitores não hesitavam em usar o chicote, o tronco ou outros castigos para conseguir dezesseis ou até dezoito
horas de trabalho diário daqueles que comandavam.
Outros escravocratas, contudo, como o barão de Pati do Alferes, percebiam que o controle total também exigia cuidado:
"o extremo aperreamento desseca-lhes o coração,
endurece-os e inclina-os para o mal. O senhor deve ser severo, justiceiro e humano". Sem dúvida os escravos
domésticos, bem como os artesãos, desfrutavam de comida
e roupas melhores do que os escravos da lavoura, e sobretudo tinham maiores possibilidades de serem libertados por
serviços de excepcional lealdade; mas com igual
facilidade podiam ser rebaixados ao trabalho agrícola. Tais relações entre senhores e escravos simplesmente exageravam
os controles que os pais exerciam sobre suas
famílias e unidades domésticas, e assim a família fornecia a linguagem da escravidão. O filho do barão de

Famílias, Clientes e Controle Social 45


Pati do Alferes declarou: "à solicitude paternal pela sorte dos escravos, acompanham a boa disciplina e o regime
[ordeiro]". Em troca dessa solicitude, o senhor
esperava lealdade. Ao morrer, louvou-se um fazendeiro por conseguir boa conduta: "Foi sempre um senhor humano, e
por isso mesmo era querido pelos escravos (...)
Como os velhos patriarcas bíblicos, viveu sempre no meio de seus servos e fâmulos cercado de todos os respeitos e
afetos"33. Por conseguinte, o relacionamento de
senhores e escravos refletia a família, embora de maneira distorcida. Como meio de controle isso nem sempre
funcionava: os escravos resistiam de várias formas, desde
trabalhar "indolentemente" a fugir, da sabotagem à revolta, do infanticídio ao suicídio, e não é meu propósito sugerir
outra coisa34. Mas o objetivo essencial dos
senhores era, sem dúvida, o exercício da autoridade.

A alforria dos escravos, por exemplo, estimulava o bom comportamento, pois comprovava que a lealdade e a
obediência eram premiadas. A freqüência com que
os escravocratas outorgavam liberdade a escravos individualmente surpreendia os visitantes estrangeiros no século XIX,
e a sociedade manifestava aprovação àqueles
que o faziam. A proporção dos livres entre negros e mulatos no Brasil chegou a 74% em 1872, o que correspondia a
44% da população total-35. Mas a libertação dos
escravos dependia de sinais de que aceitavam os valores daqueles que os emancipavam. Embora incomum na sua
particularidade, o exemplo seguinte ilustra aquela regra
mais geral: quando um grupo de maçons enterrava um dos seus, numa cerimônia assistida por "muitos da mais elevada
posição social", eles libertaram "uma preta escrava
que apareceu à porta do edifício, deprecando os sentimentos maçônicos em memória do nosso irmão finado". Pode-se
ter certeza de que poucos que desafiassem os valores
de hierarquia e deferência seriam premiados com a alforria, e os senhores, logicamente, contavam que a lealdade dos
libertos continuasse, mesmo depois da alforria.
Algumas vezes, eles alforriavam um escravo sob a condição específica de que continuasse trabalhando lealmente
durante um certo número

46 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


de anos, ou até a morte do dono, e a lei permitia que a alforria pudesse ser revogada em caso de ingratidão, como
insultar o antigo dono36. Visto que a liberdade
era um presente do superior para o inferior, e não resultado de um acordo entre iguais, ela bem exemplifica a troca ou
barganha desigual que caracterizava a maioria
das relações, fossem sociais ou, como mostrarei nos próximos capítulos, políticas.
Para lidar com os pobres livres, a elite também contava
com a ameaça de punição. A conscrição servia bem a este fim.
O recrutamento forçado parecia uma resposta apropriada aos
delitos considerados menores. Como relatou sobre um jovem o
chefe de polícia do Rio de Janeiro: "estando convencido de que
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ele tenha roubado a uma francesa, na rua dos Ourives, duas
peças de seda (...) tomei a deliberação de mandar assentar-lhe
praça por não haverem as necessárias provas de seus crimes para
se lhe instaurar um processo". Outros viam-se "presos por desor
deiros" e recrutados "para fazê-los corrigir seus vícios". José
Muniz, levado preso por deflorar uma criança de sete anos,
"nunca trabalha, por ter uma conduta irregular, e mora com a
mãe, que é quem o sustenta", relatou um oficial de polícia na
Bahia; "acho bom que V .S. mande-o para o Exército ou Marinha,
visto [que] a mãe da menor decididamente recusa que ele [se]
case com sua filha". Um juiz municipal na Bahia mandou
assentar praça três recrutas. Um deles, um mulato, "tem por
várias vezes querido matar o sogro, e dado algumas facadas no
mesmo, além de ter posto fogo em algumas casas de palha, e [no]
canavial de um seu compadre, por não o poder matar, segundo
a voz pública". O segundo, um negro, "usava de andar armado
com uma espingarda, e por qualquer coisa prometia tiros e por
várias vezes escondeu escravos alheios na casa onde morava,
também [de acordo com a] voz pública". Quanto ao terceiro, um
mulato "sem ofício, valente, quando lhe cerquei a casa, carregou
uma espingarda e declarou de dentro que resistia". Um oficial
de polícia julgou que diversos homens eram os "que se achavam
nas circunstâncias de serem recrutados por serem reconhecidos

de que [e

Famílias, Clientes e Controle Social 47


capoeiras e capangas". Por crimes como esses, mandavam-se para o Exército homens que não haviam sido julgados37.
Como demonstram alguns desses exemplos, obrigar homens ao trabalho era um dos propósitos do recrutamento militar.
A justificativa para a convocação podia residir
no fato

"ele nunca trabalha", ou é um homem "sem ofício".

Como relatou um nordestino, "muitos proprietários rurais (...) querendo tirar proveito" do recrutamento, "os acolhem e
protegem, para o fim de se servirem de seu
trabalho gratuito, mediante comida e roupa". Mais tarde, quando o Congresso tentou substituir o recrutamento forçado
pelo sorteio, um membro da Sociedade Auxiliadora
da Agricultura de Pernambuco observou que "antes da lei de recrutamento por sorteio, aqueles que não trabalhavam, e
não tinham meio algum de vida, eram mandados
para o exército; tendo-se extinto esse meio de corrigir os que não trabalham, muito necessário será [agora] uma lei que
torne o trabalho obrigatório". O sorteio,
contudo, tornou-se letra morta, e o recrutamento forçado continuou
- sem dúvida com a mesma finalidade38. Obediência e lealdade significavam antes de tudo trabalho, e os que
desafiavam as regras terminavam recrutados39.
Os observadores freqüentemente descreviam os alistados como negros ou mulatos, e por isso pode-se concluir que
eram pobres. Já que, além de recorrer a um
patrão para obter proteção,

um alistado podia legalmente comprar sua isenção do serviço militar, como fez um pai para o filho em 1859, os mais
ricos safavam-se. O autor de um editorial jornalístico
manifestou-se em nome "daqueles cuja extrema pobreza impedia-os de pagar quinze mil-réis para isentar seus filho, do
recrutamento, ou daqueles cuja sorte era ser
um morador de um patrão que não pertencia ao partido governante"39. Um viajante inglês talvez tenha errado quando
supôs solidariedade racial, mas identificou
corretamente a origem de classe daqueles recrutas, ao argumentar que "se ocorresse uma insurreição de escravos, o
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
resultado poderia provar-se desastroso, já que
a maior parte dos praças no

48 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


exército é de negros ou mulatos e a maioria dos negros libertos, pelo menos no Rio, constitui, notoriamente, a ralé e a
escória da população"40.
O destino dos recrutas era lastimável. As condições no Exército ou na Marinha eram tão deploráveis que o ministro
da Guerra teve de dizer a um presidente
provincial, em 1856, que os recrutas deviam marchar para o Rio "com toda a segurança, mas livres de ferros". Como um
comentarista descreveu a situação: "A autoridade
pode legalmente e a seu talante mandar agarrar qualquer cidadão dos não excetuados; metê-lo num calabouço; fazê-lo
caminhar para a capital da província a pé e com
as cautelas necessárias para não fugir; assentar-lhe praça no exército ou na armada; embarcá-lo e obrigá-lo a viajar para
a capital do Império no convés de um vapor;
remetê-lo daí para os confins deste vasto país; retê-lo no serviço militar, por tempo longo e indeterminado; [e] fazê-lo
morrer longe de sua terra". E concluiu:
"Se o recrutamento [forçado] fosse aplicado às classes abastadas", se a repressão "recaísse sobre as pessoas gradas", esse
sistema de arrolamento militar teria "voado
pelos ares"41. Mas o recrutamento forçado continuou para os pobres, e servia de instrumento através do qual eles
podiam ser controlados por seus superiores e até
mesmo, como veremos, obrigados a votar conforme as ordens.
Proteger alguns pobres da ameaça do recrutamento surgia como tema tão freqüente nos documentos da época que
se pode acreditar que a sua verdadeira finalidade
era obrigar a todos a se identificarem com quem pudesse oferecer essa ajuda. A obediência merecia essa proteção, e os
pobres trabalhavam desesperadamente para assegurar
que um patrão os ajudasse a escapar à transferência da Guarda Nacional para o Exército, ou, o que era mais provável, o
recrutamento forçado. Líderes rivais demonstravam
sua influência protegendo os seus. Um comandante da Guarda Nacional queixou-se em 1842 dos "proprietários e
fazendeiros, debaixo da proteção dos quais se acham os
guardas que se têm de destacar [para o exército], já

Famílias, Clientes e Controle Social 49


como seus camaradas, já como agregados de suas fazendas, empenhando-se por eles ou, por fim, aconselhando-os a se
esconderem". Mesmo durante a guerra com o Paraguai
(1865-70), um comandante da Guarda informou que não podia enviar tropas para a frente de batalha, porque eles eram
"protegidos dos
próprios que os deveriam aconselhar para que tomassem parte numa causa que é toda nossa"42. Também na capital um
subdelegado admitiu, em 1873, que muitos haviam
escapado
de sua rede de recrutamento forçado, "apadrinhados por respeitáveis famílias desse local". Foi a Lacerda Werneck que
um rapaz recorreu, pedindo ajuda, quando, ao
ir à cidade, fora agarrado como recruta; o fazendeiro escreveu para as autoridades provinciais e pediu que o soltassem,
alegando que o rapaz, como filho único, sustentava
a mãe viúva, e acrescentando,
num apelo paternalista, que ele, Lacerda Werneck, não agüentava "ver as lágrimas de uma mulher desvalida"43.
Proteger os pobres do recrutamento forçado também significava
formar uma clientela.
A aceitação de uma hierarquia social de vários estratos focalizando as tensões ao longo de toda a sua extensão, ao
invés de entre dois grupos - ajudava mais
ainda os proprietários a exercer sua autoridade. Aqui está um outro meio de garantir a ordem social: permitir que quase
todo mundo se sinta superior
a alguém. As distinções matizadas de classificação social coibiam a ameaça que os homens livres talvez pudessem, de
outra maneira, representar, e isso explica em
parte porque se encorajava a alforria de escravos: os negros livres inseriam-se facilmente num dos muitos nichos sociais
possíveis. As variações da cor da pele também
contribuíam para classificar as pessoas - algumas sendo mais escuras, outras mais claras - ao longo de um continuum de
status. Os brasileiros tomavam por certo que,
de um modo geral, era possível distinguir as pessoas, como se expressou um dos Lacerda Werneck: "segundo a ordem,
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
escala, ou categoria em que se situavam na sociedade".
Essa visão significava que ninguém se julgava igual a qualquer outro; todos tinham um lugar dentro de uma hierarquia e
encontravam-se ou

50 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


acima ou abaixo dos demais. Um juiz, tendo chegado ao interior da Bahia e encontrado preso "um bacharel em letras
pela Universidade de Paris, proprietário", considerou
"sumamente escandaloso e abusivo que um homem honesto, um pai de família, um brasileiro honrado com um título
acadêmico, ache-se em uma prisão imunda como a dessa
vila". Aparentemente, contudo, a prisão era boa o suficiente para a gente comum. Nem mesmo os filhos de uma mesma
família, embora igualmente ligados ao pai, eram
considerados iguais entre si. Ainda menos podia-se dizer que a igualdade aplicava-se aos outros membros da casa, nem
mesmo àqueles de alguma posição. Embora um fazendeiro
de café pagasse pela escolaridade do filho órfão de um amigo, ele demonstrava clara irritação quando as contas vultosas
do rapaz chegavam à sua mesa: "tenho de lhe
dizer que a despesa que fez esse rapaz (...) não está em harmonia com a sua posição, e nem eu estou de acordo a tê-lo aí
como um lorde, e a fazer mais despesa do
que suas circunstâncias permitem". Se mesmo os da casa-grande reafirmavam tão decididamente sua posição uns em
relação aos outros, pode-se imaginar até que ponto
eles asseguravam sua superioridade sobre os pequenos donos de terra, os agregados e os empregados assalariados.
Como percebeu um autor em 1890, quando ouviu falar
em reforma democrática, os "plutocratas, afeitos a grandes desigualdades sociais, dificilmente hão de considerar seus
iguais em direitos, já não digo seus empregados,
mas nem o pequeno plantador, nem o agregado"44. Os chefes das unidades domésticas classificavam-se, portanto, uns
em relação aos outros.
A Guarda Nacional imitava a sociedade em suas gradações. Criada como milícia em 1831, por proprietários de
terra ansiosos por conter a influência desestabilizadora
de um exército indisciplinado44, suas fileiras distinguiam nitidamente as classes sociais. Todos os cidadãos do sexo
masculino, entre 18 e 60 anos, com uma renda
acima de determinado mínimo, podiam ser convocados legalmente. Fossem eleitos - como ocorria antes de 1850 - ou
nomeados, os oficiais vinham das

Famílias, Clientes e Controle Social 51


"classes abastadas". O nascimento legítimo fornecia apenas um dos vários quesitos para a nomeação, e de modo geral os
oficiais
eram donos de terras e escravos48.
Um presidente provincial descreveu um coronel, que escolhera para a Guarda Nacional, como "o cidadão mais rico e
mais ilustrado
do distrito", enquanto um presidente em Sergipe admitiu enfrentar problemas para encontrar homens adequados, que
pudesse recomendar como oficiais, sobretudo
na capital, "onde a riqueza é rara". Ele analisou uma indicação, mas rejeitou-a ao saber ser o candidato "filho de um
homem pobre e nada possui além de seu salário".
Recomendou um outro porque, "independente da fortuna do pai, que é um dos mais abastados proprietários na
Província, POSSUI ele fortuna própria". O presidente também
exortou a nomeação de um terceiro, observando que, embora ele próprio não fosse rico, era "sobrinho de um rico velho
sem filhos, do qual me consta que
com ele despende parte de seus rendimentos.
Esse velho ( ... ) é um dos homens mais abastados e mais bem reputados da Província". No Rio de Janeiro, um
comentarista
no Ministério da Justiça acrescentou uma nota à margem: "O velho ( ... ) cujo sobrinho é proposto ( ... ) é o homem
talvez mais rico de Sergipe ( ... ) A nomeação
do sobrinho será como homenagem ao tio de quem deve ser herdeiro". Por sua vez, uma patente servia como uma
declaração da posição social: se presos,
os oficiais da Guarda Nacional não iam para celas Comuns, mas permaneciam em uma "sala aberta"46.
Em contraste com os oficiais, os soldados rasos eram "os artistas, os operários e os homens do roteamento de
terras",
"feitores das fazendas [de café], arriadores de tropas", pequenos
posseiros ou "homens de cor". As instruções governamentais excluíam especificamente, do corpo de oficiais,
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
taberneiros,
artesãos, donos de vendas o pescadores. Além disso, a existência de duas categorias de homens - ativistas e reservistas -
assegurava que pessoas respeitáveis só servissem como oficiais. Muitas profissões ou cargos, como juízes, advogados,
tabeliães e
médicos, davam o direito, especificamente, a alguém de ser

52 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


agrupado na reserva. Mesmo aqueles que pertenciam à ativa podiam ser isentos do serviço, se fossem estudantes,
funcionários de hospitais e instituições de caridade,
membros da Câmara Municipal, empregados de correio, proprietários ou gerentes de estabelecimentos particulares, com
mais de vinte empregados ou, no caso de administradores
de fazendas, se criassem gado suficiente para produzir mais de cinqüenta novilhos por ano. Se um homem não
conseguisse atender a nenhuma dessas exigências, a influência
política sobre a junta de qualificação ainda podia assegurar a isenção. De qualquer modo, mesmo para estabelecer o
direito legal de alguém ser classificado na reserva,
e assim ser dispensado do serviço cansativo, exigiam-se vários documentos, de difícil obtenção para um trabalhador47.
Não é de admirar que, nesse domínio como em
outros, aqueles da classe mais pobre, para os quais o serviço na Guarda era verdadeiramente oneroso, já que os afastava
de seus pequenos lotes de terra, muitas vezes
na época da colheita, ansiavam por encontrar um protetor que pudesse protegê-los da junta de alistamento. Deste modo,
um proprietário de terras procurou Lacerda
Werneck, o futuro barão de Pati do Alferes, então coronel na Guarda Nacional, em nome do filho de sua comadre. Disse
que uma convocação errônea havia sido editada,
visto que o jovem não tinha a renda mínima para servir na Guarda; "e quando veja que por este meio não tem caminho
[de exonerálo], diga-me se quer alguma certidão
de moléstia, mas eu julgo que não precisará"48.
Uma hierarquia social nítida não impedia a possibilidade de mobilidade social mas, pelo contrário, dela retirava
sua força. O fato de alguns subirem ou descerem
um ou dois degraus tanto legitimava a escala de estratificação quanto tornava mais necessário insistir na sua existência.
Mudar de lugar social exigia que o indivíduo
constantemente definisse e redefinisse sua própria posição em relação aos outros. Alguns mulatos até entraram na
Câmara dos Deputados, e pelo menos um em um Gabinete,
mas isso não impedia que os brasileiros aplicassem,

Famílias, Clientes e Controle Social 53


sem vacilar, categorias de raça e cor - na verdade, exigiam-nas, Um político declarou: "Estamos em plena democracia
no Brasil (...) Nós vivemos com todos; nós sentamos
o liberto à nossa mesa e damos mais importância ao liberto de confiança do que a muitos cidadãos brasileiros"49.
Tolerância não significava o fim dos estratos sociais,
mas antes demonstrava-os. A existência simultânea de múltiplas camadas sociais e a fluidez real, embora limitada, entre
elas, levou alguns historiadores a descrever
o Brasil do século XIX como uma sociedade de estamentos imutáveis, ou como um exemplo de democracia totalmente
liberal50. Precisamente por ele não se inserir em
nenhum destes modelos é que os homens daquela época davam tanta atenção às gradações sociais, e usavam a política e
o clientelismo como um meio de afirmar a justeza
dos estratos. Em suma, o próprio movimento dos brasileiros do século XIX, tanto geográfico quanto social, exigia o
predomínio de uma ideologia de hierarquia.
Contudo, não devemos nos deixar cegar pela complexidade da hierarquia social. não observando que, sem contar
os escravos, em seus extremos encontram-se os
muitos desvalidos e os poucos proprietários. Os homens daquela época encaravam essa polaridade como norteadora da
vida social, constituindo por isso também a diferenciação
mais adequada que o historiador pode adotar. A despeito de sua noção de gradação social, as pessoas do século XIX não
faziam tanta distinção entre determinadas ocupações
ou fontes de renda - advogado ou médico, comerciante ou fazendeiro - quanto o faziam em relação à principal divisão
entre ricos e pobres. Numa extremidade estavam
os "cidadãos influentes em virtude de suas posses e papel social". Na outra, os "trabalhadores exalando um sórdido
miasma de cachaça e fumaça de cigarro". Um oficial
da Guarda Nacional, no Rio Grande do Sul, via a principal divisão da sociedade como sendo entre a "classe (...) dos
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
cidadãos abastados" e a "classe dos menos favorecidos
pela fortuna"51. Decretando que as bengalas só podiam ser usadas por velhos,

54 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


doentes ou "pessoas decentes", os legisladores municipais pressupunham que todos reconheciam automaticamente tais
pessoas. Vendeiros e artífices, não importa se
possuíam alguma coisa, eram reunidos junto com trabalhadores braçais e sumariamente excluídos de consideração.
Quando um presidente provincial na Bahia encaminhou
as queixas recebidas sobre o comportamento de uma junta eleitoral durante uma eleição, o presidente da mesa
respondeu: "É para lamentar que (...) homens que se dizem
artistas, aliás operários mecânicos, bem como os representantes que pela maior parte são [um] relojoeiro, [um] ourives,
[um] alfaiate, [um] encadernador etc. - exceto
um ancião procurador de causas judiciais - se tornassem audazes a ponto de dirigirem-se a V. Exa. (...) conspurcando
sobremodo a honrada Mesa Paroquial (...) cuja
ilustração não vulgar bem se depreende dos seus feitos públicos". De modo semelhante, um padre relatou que alguns
membros de uma irmandade leiga "que eram ferreiros,
alfaiates, sapateiros etc., entenderam que deviam argumentar com ele acusado sobre direito canônico, mas o acusado
repeliu-os dizendo que não estavam no caso de
entrarem em discussão com ele"52. Também eles tinham de demonstrar deferência e subserviência, ou seriam
seriamente repreendidos.
Um grupo social intermediário parecia escapar à autoridade, e por isso era tratado como potencialmente perigoso:
os tropeiros. Na realidade pequenos negociantes
de mobilidade social ascendente, que algumas vezes se tornavam até mesmo fazendeiros53, os tropeiros, para a elite,
não passavam de vagabundos indisciplinados,
que perambulavam pelo Brasil sem motivo legítimo. Assim eram considerados, apesar de os fazendeiros de café, por
exemplo, dependerem deles para o transporte de seus
produtos do Vale do Paraíba até os pequenos portos costeiros, ao longo do Atlântico Sul, ou até o próprio Rio de
Janeiro. A maioria das cidades do interior dependia
dos tropeiros para ligá-las comercialmente umas às outras. Eram esses homens que estabeleciam a conexão terrestre das
ricas regiões cafeeiras de São Paulo e Rio
de Janeiro com a Bahia e

Famílias, Clientes e Controle social 55


Pernambuco, onde se produzia açúcar, indo bem mais além até Piauí, Maranhão e Pará, atravessando as caatingas
nordestinas "ou transportando seus animais em
balsas, para atravessar os inúmeros rios no Sul". Por essa razão - o largo âmbito de sua movimentação - os tropeiros não
se podiam identificar com
nenhuma família. Um senhor de engenho queixou-se que "os tropeiros, vivendo como nômades, sem o hábito precioso
do trabalho, sem uma fixação ao solo, (...) além
de serem tantos braços roubados da agricultura, constituem um viveiro do qual têm saído quase todos os assassinos e
ladrões de cavalos mais famosos (...) Quem quer
que tenha viajado pelo interior de nossas províncias deve ter encontrado esses inúmeros bandos de tropeiros que
obstruem as estradas"54.

Os tropeiros, contudo, somente exemplificam um problema mais geral, pois as classes inferiores, apesar do
recrutamento, ou por causa dele, desfrutavam de mobilidade
geográfica considerável. A disponibilidade
de terra não ocupada, cujos direitos não se podiam reivindicar de modo definitivo e com alguma garantia, e, por isso
mesmo, nunca recebia uma
melhoria duradoura, incentivava muitos a vagarem a esmo de lugar em lugar. Os agregados eram legalmente livres para
deixar seus patrões, o que faziam quando encontravam
outro. Os proprietários de terra às vezes se queixavam da maneira como os agregados os abandonavam. "sem dar a
menor satisfação"56. Para lidar com a mobilidade dos
pobres
livres, supostamente preguiçosos e sem ambição, era preciso que os patrões prestassem uma atenção constante e
utilizassem cuidadosamente Os instrumentos de autoridade
já provados através dos tempos. Em cada localidade, os notáveis e terratenentes exigiam que os recém-chegados logo
aprendessem sua posição social.
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
A superioridade de um senhor local tinha de ser clara e incontestavelmente afirmada. para que o deslocamento
geográfico não tendesse a enfraquecer a deferência,
ou
a permitir que alguns escapassem ao seu controle. Grande parte da ação política não tinha outra finalidade57.

56 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Qual a dimensão desse deslocamento? É difícil verificar a mobilidade geográfica, porque sua maior parte ocorria
dentro da província e, por conseguinte, não
aparece nos números do recenseamento impresso (os únicos que temos). Investiguei o lugar de nascimento dos livres,
em algumas paróquias que selecionei, localizadas
ao longo de fronteiras provinciais, e descobri que uma proporção significativa nascera do outro lado da fronteira, como
mostra o Quadro 1. Considerando que os números
representam a imigração a partir de apenas uma direção ou, no máximo, duas, supõe-se que a proporção dos nascidos
fora das paróquias era consideravelmente mais alta.
As grandes dimensões geográficas de algumas paróquias do século XIX significavam, além disso, que uma pessoa podia
percorrer uma grande distância, e ainda assim
continuar na mesma paróquia. Finalmente, como esses números não podem ser desmembrados por idade, eles incluem
todas as crianças numa população muito jovem. O quadro
portanto não reflete inteiramente a mobilidade de adultos; mas esta obviamente era ampla e apresentava um desafio para
os líderes estabelecidos.
A despeito de todos os instrumentos empregados para assegurar o controle social, a própria exigência de respeito
revelava que os pobres às vezes tinham uma
opinião alternativa sobre a ordem social justa. Um subdelegado de polícia achou que tinha de prender um desordeiro
"insolente", pois este o insultara num interrogatório.
"Tomou ele esta justa prisão por afronta, porque conquanto tenha praticado [outros] atos dignos de correção, não a tem
ainda tido". Um juiz queixou-se amargamente
da falta de "respeito às autoridades" que encontrou numa cidadezinha na Bahia. Tendo ido para lá presidir um
julgamento, ele relatou que cerca de quarenta pessoas
"em trajes caseiros (...) passaram a fazer uma demonstração pelas ruas (...) sem o menor respeito à minha presença". Na
sala do tribunal, dez ou doze pessoas "apressadamente
e com arrastamento de pés, levantaram-se, interrompendo o silêncio do tribunal". No final das contas, concluiu, sua
tarefa não pôde ser executada por causa do "estado

Famílias, Clientes e Controle Social 57


de desrespeito e insubordinação". Entre esses arruaceiros, pelo menos um homem pobre foi descrito com desprezo como
tendo deixado "sua roça para insultar ( ... )
e fazer barulhos". Em outro exemplo, um padre suportou "bastantes insultos (e) ditos jocosos" quando se soube que ele
não conseguira obter uma transferência
para outra paróquia. Ele declarou que não rezaria missa lá a não ser que as autoridades públicas garantissem "a boa
ordem na matriz, fazendo reinar o devido silêncio".
Entre aqueles que desafiaram sua autoridade, apontou em particular "UM mancebo ainda há pouco chegado do
Paraguai, para onde seguiu recrutado [i.e., não como oficial,
que entende que deve fazer guerra ainda mesmo na Igreja". Esse jovem liderou "um grUPO de desordeiros, pretos
cativos, rapazes sem educação, armados de facas,
cacetes e lanças", que cercou sua casa na véspera do Ano Novo, lançando ( ... ) garrafas na frente de minha casa",
provocando "grande algazarra
[e] amotinando todo aquele arraial"58. Embora os ricos e respeitáveis buscassem deferência dos pobres, nem sempre
conseguiam obtê-la.

QUADRO I

Mobilidade Geográfica dos Nascidos Livres,


Paróquias Selecionadas, 1872

Na-1--- ion, da provícia

PROVINCIA, 1);S1RIFO ELEITORAL F PAROUU1A Total 1--- ,1 de P- tag-,


1,,,1 wlação Liva, Na.,,inu,nU, N,naun, lotal
Página 22
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

P1AUí
PA R N A i R
N, Sia. Ja Giaça da Painaffia 4.726 MA 1 23,1 26,1
CE 1 995 40,7
N. Sra dos Reinédios do Buriti do Lopes 3S80 MA 1.210 3
CE 1.073 27,7
PIRARURUCA
N. Sra do Carnin de Naruruca 2,945 eE 148 5,0
N. Sia. da Coneciçao de Pedro 11 4.123 MA 156 8,6
CE 154 3,7
INIV7PFNFIÉNCIA
N. Sia. do Bonfini cio Prin. Inipeãa] 8.581 MA 2.645 30,S
CF 2,3 1,1 27,3

58 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Nascidos io,a da p,-íricia
PROViNCIA, DISTRITO ELEITORAL E PAROQUIA Total da Lo-1 d, h
população Liviv Nascárienio Nein-o do fotal
PARNAGUÁ
N. Sra. do Livramento de Parnaguá 5.187 BA 238 4,6
MA 230 4,4
S. RAIMUNDO NoNAFO:
S. Raimundo Nonato 5.702 BA 629 11,0
PERNAMBUCO
BOA VISTA
Sta. Maria da Boa Vista 2.241 BA 119 5,3
BARREIROS
S. Miguel de Barreiros 8.724 AI, 1.244 14,3
MINAS GERAIS
MURIAÉ
S. Paulo de Muriaé 2.987 RI 282 9,8
LVOPOLDINA
S. Sebastião de Leopoldina 4.835 RJ 499 9,9
N. Sra, da Conceição do Laranjal 3.247 RJ 457 14,1
Santana de Pirapetinga 3.275 Ri 300 9,2
N, Sra da Piedade 3.523 RI 288 8,2
N, Sra. da Conceiçao da Boa Vista 3.019 RI 360 11,9
Bonn Jesus do Rio Pardo 1.687 RJ 421 25,0
SÃO PAULO
BANANAL
Bom Jesus do Livramento do Ilananal 7.325 Ri 63 0,9
MG 743 10,1
MoGI-MIRIM
S. José do Mogi-Mirini 8.520 MG 396 4,7
N. Sra. da Conceição cio Mogi-Mirim 3.492 MG 324 9,3

CASA BRANCA
Sta. Rita do Passa Quatro
2.064 MG 143 6,9

FONTLs: ALMEIDA, Cândido Mendes de. Atlas elo Imperio do Brasil compreliendendo as respeclivas divisões
adntínisírativas,
ecclesiasticas, eleitoiaes e judiciarias.
Rio de Janeiro, 1868, especialmente p. 10, rnapa 1113; BRASIL, Directoria Geral de Estatistica. Recenseamento da
população
elo Imperio do Brazil ti que se procedeu
no dia 1` ele agosto de 1872- Rio de Janeiro, 1873-76.
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Nota: as paróquias foram selecionadas arbitrariamente entre as que se encontravam ao longo de certas
fronteiras
provinciais.

Famílias, Clientes e Controle Social 59


O protesto era provável sobretudo se os de cima transgredissem as regras de comportamento consideradas corretas.
Os pobres de cor, por exemplo, não hesitavam
em recorrer às armas quando se sentiam ameaçados pela escravidão. Em 1851, em várias partes do Nordeste, "pardos,
pretos e cabras", a "maioria da população menos
abastada", "o povo mais miúdo", constituíram grupos de 400, 200, e 80, "todos armados", para resistir a uma lei sobre
registro civil e recenseamento, por medo
de que seu objetivo de fato fosse rebaixar homens livres de cor à escravidão59. Os agregados nas fazendas de café do
Rio de Janeiro também defenderam com violência
seus interesses num determinado momento. Acreditando erroneamente que a lei os autorizava a reivindicar quaisquer
terras nas quais estivessem trabalhando há dez
anos pelo menos, vários deles "em comum acordo" escreveram ao presidente da província para exigir os títulos, que
achavam ser deles. Quando se prenderam alguns,
outros pegaram em armas para assegurar a libertação dos companheiros. A não ser pela prisão dos "amotinados", o
incidente não surtiu nenhum efeito, mas revelou
um consenso comum a respeito da exploração e a firme determinação de usar a força em defesa de um objetivo
compartilhadoo60. O protesto mais significativo dos pobres
livres ocorreu em meados da década de 1870, no Nordeste, UM pouco a oeste da zona açucareira, quando a imposição
de uma nova taxação sobre os produtos que OS
camponeses vendiam na feira incitOU-os a uma revolta importante que dUrou vários meses. Eles ainda temiam que o
recenseamento nacional se destinasse a escravizar
os homens livres de cor, e que a utilização do sistema métrico, recém-adotado pelos comerciantes, fizesse com que
fossem enganados nas contas61.
Diante dessa potencial resistência dos pobres, os ricos viram-se obrigados a expressar a dimensão de sua
autoridade com Muito cuidado; um gesto desafiante
podia até vir a solapar a própria visão das elites sobre si mesmas. Por conseguinte, trabalhavam diligentemente para
superar a própria insegurança, mantendo a relação
de distância social e proximidade física através de

60 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Medidas que acentuavam a hierarquia e sua superioridade dentro dela.
A exibição de status era um instrumento para a manutenção da relação adequada entre aqueles
que ocupavam lugares sociais diferentes: pela defesa de honra e posição - que algumas vezes exigia pródigas despesas
ou mostra aberta de generosidade, e outras impelia
ao desprezo pelos pobres - os abastados procuravam legitimar a deferência que recebiam dos demais. Na inauguração da
capela de sua fazenda, o barão de Pati do Alferes
explicou que não podia "deixar de fazer alguma demonstração pública", e o "remédio" foi encomendar doces do Rio,
mas "só secos, porque de calda cá se faz"63. Uma
ocasião suntuosa assegurava o direito à autoridade e arrebanhava novos clientes. Isso não apenas enaltecia a posição do
indivíduo, mas fortalecia todo um sistema.
A prática política servia ao mesmo propósito.

Governo

As instituições políticas tinham como um de seus principais objetivos a manutenção da ordem, e isso derivava dos
imperativos da dominação de classe. Os contemporãneos
aceitavam como ponto passivo que a preservação da ordem política vinculava-se às necessidades dos ricos. Um panfleto
político reconhecia que os fazendeiros, "notáveis
pela fortuna adquirida", seriam "homens da ordem, proprietários interessados na Sua conservação"64. O desejo pela
conduta obediente no organismo político mesclava-se
às exigências de trabalhadores dóceis pelos empregadores, sendo difícil saber qual dos princípios sustentava o outro.
Manter a maior parte da população livre trabalhando,
escrevia um jornal, não só canalizava suas energias na produção mas "acostuma-os à obediência". Um industrial
concordou, argumentando que "as fábricas são em miniatura
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
a representação do Estado. O operário está sujeito a uma disciplina rigorosa que vai inoculando em seu espírito idéias de
ordem e o hábito da obediência e respeito
aos superiores [de modo que] em sua vida de cidadão, respeita as autoridades

Famílias, Clientes e Controle Social65


instituídas (...). Ninguém dirá que cidadãos educados no respeito e obediência aos superiores lembrem de perturbar a
ordem pública"64. Viesse o que viesse primeiro,
os proprietários encaravam a firme autoridade governamental como sendo de seu interesse.

O foco na disciplina era uma conseqüência da convicção, por parte da classe proprietária, de que as classes
inferiores podiam facilmente ser desencaminhadas.
Uma autoridade na província do Ceará, lastimando a má conduta do "homem mais qualificado e prestigioso" de uma
determinada cidade, perguntava: "O que devemos esperar
das massas ignorantes que por ele são dirigidas?" De modo semelhante, uma outra na Bahia esbravejou contra "as
intrigas mais perigosas"" de que participava a oposição
"para excitar as paixões da multidão inexperta". Essas massas ignorantes e multidões inábeis representavam um perigo
constante para a sociedade pois, segundo uma
comissão parlamentar, eram "receptivas à voz de homens malévolos, ambiciosos, que perturbam a ordem pública".
Mesmo quando o pobre ameaçava revoltar-se, ipso era
entendido como o resultado da agitação de seus superiores, traidores de sua classe66.
Portanto, não eram apenas - nem mesmo sobretudo - as classes inferiores que ameaçavam a paz social, pois elas
meramente respondiam aos incitamentos irresponsáveis de outros. A ordem tinha de ser imposta também a
muitos dos ricos, pela causa de sua própria classe. Todos tinham de aprender a prática da deferência. Por isso, quando
um Gabinete pedia a dissolução do Congresso,
enunciava seu requerimento na linguagem da sujeição, denunciando as táticas da oposição que "tendiam (...) a
enfraquecer o princípio da autoridade". Também o imperador,
ao analisar os ataques de alguns políticos a determinado Gabinete, propôs a criação de um jornal oficial "que defenda o
princípio da autoridade que é imutável"66.
Uma vez que, em troca de lealdade, deferência e obediência, os membros da classe superior apresentavam-se como
pais atenciosos embora severos em relação
a seus escravos,

62 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


dependentes, membros da família extensa e outros clientes, consideravam que o imperador desempenhava o mesmo
papel para com eles. Um número infindável de petições
terminava com a frase sugestivamente humilde, ainda em voga hoje em dia, "esperando receber mercê". O soberano
desempenhava o papel de um pai para o país inteiro.
Um requerente referiu-se ao imperador como "pai comum de todos nós" e pediu sua "paternal munificência". Um
administrador provincial relatou as medidas que tomara
para ajudar as vítimas da febre amarela: "de modo que o Governo Imperial sempre apareça como o Pai dos Povos". E
quando alguns contestaram a antiga cerimônia da
corte de beijara mão do rei, um defensor das instituições insistiu em que "esse ato de deferência não é tributo de
vassalagem; é marca excepcional de consideração
(-) O monarca é chefe, é pai da nação; degradam-se os filhos ao beijarem a mão de seus pais?"67 Senadores, juízes,
policiais e outras autoridades, cada qual por
sua vez, usavam de bom grado o manto da autoridade paterna. A estrutura da família, casa e clientela ganhava
legitimidade em ser refletida no Estado e no universo,
onde a autoridade fluía de cima para baixo, de Deus para o rei, para o chefe da família e para o escravo, com gratidão e
obediência sendo oferecidas em retorno.
Um conjunto imaginário de elos servia em proveito, senão de Deus, ao menos dos humanos nos níveis superiores da
escala social. Assim, não é de admirar fossem os
ricos quem recorriam com mais freqüência à metáfora da família que permeava o discurso político. Se, como o
imperador, eles conseguissem assegurar a deferência que
convinha ao chefe de uma família, não precisariam lançar mão do emprego ostensivo - tão custoso - da força para
defender seus interesses de classe e manter a ordem68.
Por baixo de sua insistência no princípio da autoridade há um profundo pessimismo sobre o Brasil e os brasileiros.
Já que viam a si mesmos como atrasados,
ingovernáveis, indolentes e anárquicos, eles concluíam que só um governo forte teria sucesso. Deus deu aos brasileiros
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"discernimento" e "liberdade", disseram

Famílias, Clientes e Controle Social 63


os injuriados membros de uma junta eleitoral local, mas "ou por uma fraqueza inerente á nossa espécie, ou pela
degeneração e perversão, [aqui] transformam-se os
elementos de verdade em mentira, os da justiça em iniqüidade, os da razão em erro, os da virtude em vício". O Conselho
de Estado, ao recusar uma alteração proposta
na legislação empresarial, queixava-se que, embora a proposta estivesse "de acordo com as condições do povo inglês,
com o seu self-government, com o caráter sisudo
do cidadão britânico, do homem político, refletido, que respeita sua própria dignidade, que sabe manter ilesa a sua
liberdade política e que, portanto não há de
abusar dessa liberdade, (...) é doloroso (...) o dever de atentar para o estado do Brasil que é realmente infeliz". A
população, dizia o Conselho, consistia de aventureiros,
sem tradições, "sem a independência que caracteriza o inglês". Portanto, o Conselho decidiu adiar quaisquer mudanças
até "melhores tempos". Nenhum conselheiro especificou,
contudo, o que fazer para que esses tempos chegassem. Um requerente a um caro governamental num governo
Conservador reconheceu que na juventude participara de uma
rebelião política em Pernambuco. mas agora "abandonei a idéia de um governo democrático para o Brasil" pois "o nosso
povo não foi educado para uma tal forma de governo"69.
Outros, outrora como ainda hoje, afirmavam faltar aos brasileiros a educação e a formação necessárias à
democracia. Por dedução, os defeitos na natureza
dos brasileiros teriam tornado essas tentativas ineficazes ou impossíveis. Mesmo aqueles que desejavam o progresso
muitas vezes se desesperavam por causa das supostas
falhas do caráter brasileiro. Logo após a abolição da escravatura, em defesa da qual Joaquim Nabuco lutara por tanto
tempo, o notável abolicionista declarou que
a pobreza de espírito em seus conterrâneos subvertia qualquer tentativa de melhoria: "Não há no Brasil uma idéia sã que
não dê imediatamente origem a explorações
desonestas". Duas qualidades, escreveu mais tarde, caracterizavam de forma mais destacada os brasileiros: "a moleza, a
indolência", Queriam

64 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


apenas "lazer, a liberdade de estirar-se e dormir"; a corrupção política do Brasil originava-se do "problema nacional
todo, o da raça, do [extenso] território, e
do clima". Um governo nas mãos de homens morais teria que exercer uma sobre uma cidadania tão desregrada 70.
O argumento de que faltava aos brasileiros a capacidade de liberdade com ordem constituiu a base da defesa de um
governo autoritário. Obrigados a escolher
entre liberdade e ordem, os ricos preferiam a ordem. O Estado, como a família, enfatizava a obediência e a deferência
em troca da proteção complacente. Em primeiro
lugar, essa ênfase favoreceu as instituições estatais; mas, em última instância, reforçou toda a rede de dependência e
clientelismo e a posição de todos os patrões.
Como qualquer outra medida de controle social no Brasil, a ação governamental funcionava para fortalecer uma
sociedade hierárquica e promover os interesses dos poucos.
Muitas cláusulas legais defendiam os direitos do indivíduo, mas na prática tudo dependia de conquistar a boa vontade
de um protetor concreto.

disciplina necessária

Independente dos interesses regionais, os proprietários uniram-se em torno de seu interesse em manter a ordem e a
paz social. Uma visão - amplamente compartilhada-
da sociedade como uma ordem estratificada formou uma base fundamental, a partir da qual se podia empenhar por tal
objetivo, tanto mais necessário porque, em toda
a parte, o deslocamento constante e desestabilizador dos homens ameaçava as concepções de lugar fixo. O alistamento
militar, obrigando cada indivíduo a buscar
um protetor, contribuía para incutir uma atitude de deferência entre os pobres. E a troca de obediência leal, pelo socorro
de um protetor, envolvia todas as relações, inclusive entre pais e filhos. Mesmo quando o Estado exercia
rígida disciplina sobre os

Famílias, Clientes e Controle Social 65


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próprios ricos, entendia-se isso como servindo paternalmente aos interesses deles, pois reforçava o princípio de
autoridade que eles defendiam com tanto apreço.
Os abastados também concordavam ao admitir que o governo atingia com mais competência esses objetivos
quando oferecia lugares em troca de lealdade, mostrando
em sua própria estrutura as relações adequadas a todos os atores sociais. Um lugar na estrutura clientelista, portanto,
constituía o prêmio que eles disputavam,
mesmo quando definiam seus interesses econômicos em termos de exportações e almejavam proeminência política para
sua própria região. Pois, quando tudo indicasse
que conseguiriam cargos de autoridade, podiam se sentir confiantes em sua habilidade de formar suas clientelas e
garantir, por meio disso, a segurança de sua classe.

DOIS

Quem Retinha o Poder?

NO INÍCIO DO SÉCULO XIX os proprietários no Brasil tinham opiniões ambivalentes sobre o governo central.
Embora este
fosse um instrumento eficaz para manter a subordinação dos pobres, também constituía uma ameaça à sua própria
autoridade
no interior. Para resolver esse dilema, finalmente, os homens de posses asseguraram que eles mesmos, ou amigos seus,
ocupassem
cargos de poder em todos os níveis do aparato governamental.
Apesar de incertezas e retrocessos, decidiram, na década de 1840, apostar no governo central sem ambigüidades. Foi
uma
escolha sábia para eles, pois de fato as várias instituições de controle que criaram comprovaram ser um poderoso
baluarte
contra a desordem. Essas duas questões - a emergência de sua crença na eficácia do governo central e as instituições
políticas
que então estabeleceram - exigem nossa maior atenção, pois as nomeações para cargos na estrutura governamental
permitiam
aos ricos fortalecer sua posição de classe e ampliar suas clientelas individuais. Eles se apropriaram do governo central,
contando
então com o clientelismo para manter localmente sua dominação.

A Criação de Novas Instituições

Desde os antigos tempos coloniais, os oligarcas brasileiros haviam se acostumado a exercer um poder considerável
através do Senado da Câmara Municipal, opondo-se
às tentativas de governos distantes de interferir naquilo que consideravam

68 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


assuntos só seus. A primeira dessas câmaras, escolhida entre os homens bons, "os respeitáveis - e respeitados", para usar
a expressão de Charles Boxer, assumiu suas
funções em São Vicente, no exato momento da fundação da colônia, em 1532. Sua contrapartida mais famosa, criada em
1549 em Salvador, adotou quase imediatamente uma
atitude adversa em relação aos administradores enviados de Portugal e, em geral, desfrutou de liberdade considerável
para tomar decisões, justamente devido à sua
influência na própria Lisboa. Em áreas mais remotas, era ainda mais fácil às Câmaras Municipais agirem por conta
própria. A partir da década de 1740, contudo, em
todos os lugares, a autoridade dos vereadores sobre assuntos de interesse local foi sofrendo um desgaste paulatino. Os
líderes em Portugal, assim como os "déspotas
esclarecidos" em outros lugares, procuravam revitalizar a economia imperial e garantir mais rendas. Por isso interferiam
com freqüência cada vez maior nos negócios
municipais. Ainda que os brasileiros de nascença muitas vezes ocupassem cargos de grande responsabilidade na
burocracia imperial, e também servissem na Ásia e na
pátria mãe, e embora Portugal continuasse a governar através da elite colonial, e não realmente contra ela, qualquer
administração enérgica tendia a corrigir a negligência
anterior, reduzindo deste modo o espaço de decisão deixado aos notáveis nas localidades. Tanto que, de vez em quando,
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
como ocorreu em 1789 em Minas Gerais, homens
abastados conspiravam a favor de uma república independente, ainda que inutilmente1.
Em fins do século XVIII, os proprietários também começaram a perceber que uma certa ameaça à sua posição
vinha de baixo. Ainda que o medo de uma revolta
generalizada de escravos proviesse sobretudo de sua imaginação, as histórias de sublevações sangrentas no Haiti e o
conhecimento que tinham de quilombos no interior
do Brasil intensificavam suas apreensões. Concordaram prontamente com a punição severa daqueles artesãos mulatos
em Salvador que, em 1798, conspiraram para estabelecer
uma república com fraternidade,

Quem Retinha o Poder? 69


igualdade e liberdade para todos, inclusive os escravos, alguns dos quais até se juntaram ao movimento. A maioria dos
líderes brasileiros não tolerava qualquer desafio
ao governo de Portugal, se isso provocasse desordem social, não importando a que ponto se aborrecessem com o
controle cada vez maior que os governantes portugueses
exerciam sobre suas vidas e negócios2.
Embora a transferência da corte de Lisboa para o Rio de Janeiro, em 1808, tenha a princípio resolvido o dilema,
mais tarde a situação piorou. A chegada do
Rei e de todo o aparato do Estado significava que o núcleo do governo encontrava-se agora em território brasileiro e que
as restrições mercantilistas ao comércio
com outras nações terminavam; mas também significava a presença imediata dos homens do rei. Minas Gerais e São
Paulo, que devido às dificuldades de transporte sempre
haviam oferecido barreiras especiais à intromissão da burocracia, agora sentiam mais intensamente a proximidade do
governo. Por outro lado, os líderes do Maranhão
e do Pará, que outrora haviam se beneficiado da rápida comunicação com Lisboa, por causa dos ventos favoráveis
através do Atlântico, descobriram então que o tempo
de viagem para a capital aumentara. Se, num caso, as elites locais ressentiam-se da proximidade, em outros sentiam-se
prejudicadas pela distância. Na verdade, o
surgimento
de um sentimento de interesse local, em contraposição ao controle central, manifestava-se em qualquer mudança. Mas,
ao mesmo tempo, sentia-se na pele o medo dos
escravos e a constante necessidade de manter os pobres vigiados.
A divisão do sentimento oligárquico veio nitidamente à tona no início da década de 1820 e nos anos imediatamente
seguintes. No final de 1820, uma revolta
Liberal irrompeu em Portugal, visando substituir a monarquia absolutista por uma constitucional. A comunidade
mercantil de Lisboa assumiu a liderança na elaboração
das metas desse movimento, entre as quais, junto com a criação de um sistema parlamentar, o restabelecimento de
restrições comerciais ao Brasil. Mesmo assim, vários
notáveis brasileiros apoiaram a causa constitucio-

70 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


nalista, como um meio de reduzir a autoridade do rei e ao mesmo tempo evitar no Brasil um movimento em favor da
criação de uma república - que eles viam como uma
ordem social corrosiva. Dom João VI condescendeu diante dessa aliança de portugueses e brasileiros, aceitando o
princípio do governo constitucional em fins de fevereiro
de 1821.
Mas a coalizão de portugueses e brasileiros logo se dividiu sobre a questão das tentativas de recolonizar o Brasil.
Assim que as cortes reuniram-se em Lisboa,
exigiram o regresso de Dom João VI para Portugal. Ele aceitou relutantemente, em meio às objeções da facção
brasileira, deixando seu filho Pedro como príncipe regente
no Brasil. Quando a corte decretou também o desmantelamento de todas as instituições separadas de governo que
haviam sido criadas no Brasil desde 1808, e sua centralização
em Lisboa, a nomeação de governadores militares para todas as províncias, bem como o retorno de Pedro a Portugal, os
brasileiros cerraram fileiras em firme oposição.
Entre esses brasileiros devemos contar muitos imigrantes nascidos portugueses, que haviam criado raízes no Brasil,
investindo seu dinheiro, e aqui esperavam permanecer;
alguns estavam aqui muito antes da chegada do rei em 1808. Esse grupo "brasileiro" consistia sobretudo de proprietários
de terra conservadores e comerciantes, porém
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incluía também vários líderes mais liberais e mesmo radicais, sobretudo profissionais liberais e artesãos, e até alguns
mulatos e negros livres. Tal aliança não
podia sobreviver por muito tempo.
Em janeiro de 1822, o impetuoso Pedro declarou que não obedeceria à corte, preferindo continuar no Brasil.
Nomeou José Bonifácio de Andrada e Silva para
chefiar um ministério brasileiro. Filho de uma família abastada em Santos, José Bonifácio vivera e trabalhara durante
muitos anos na Europa, como engenheiro e mineralogista.
Fosse por seu conhecimento da Revolução Francesa, ou pelos interesses de classe de sua família, ele trabalhou
habilmente para encontrar um meio-termo, opondo-se
à autoridade portuguesa, mas ao mesmo tempo sem

Quem Retinha o Poder? 71


ceder terreno aos brasileiros mais radicais, a quem acusava de defender "demagogia e anarquia"3. As Forças Armadas
portuguesas no Rio de Janeiro, superadas em número
e intimidadas pelas pretensões do príncipe, fugiram para Salvador em março de 1822. Pedro logo deu outros passos para
libertar o Brasil de Portugal. Declarou formalmente
a independência em setembro, e em dezembro coroou-se Pedro I, Imperador do Brasil. Em julho de 1823, tropas leais a
ele expulsaram o exército português de Salvador
e logo as últimas guarnições portuguesas no Maranhão e no Pará também se renderam. Dom Pedro I agora governava
todo o Brasil, embora muitos de seu defensores nas
províncias conservassem algumas dúvidas sobre um governo centralizado no Rio de Janeiro, em vez de na sua própria
região.
Uma Assembléia Constituinte convocada em junho de 1822 reuniu-se em maio do ano seguinte. A princípio, a
estrutura do governo surgiu como a questão mais
importante. Quase imediatamente, os membros da Assembléia manifestaram sua desconfiança em relação a um sistema
altamente centralizado, e Dom Pedro I entrou em desavença
com eles, por causa do anteprojeto de uma Constituição, que restringia seriamente o poder do soberano. Antes que
tivessem terminado, ele dissolveu causticamente
a Assembléia Constituinte, promulgando em seu lugar uma Constituição redigida por seu próprio Conselho de Estado
(março de 1824). Na verdade, ela incorporava a maioria
dos pontos essenciais da minuta anterior, entre eles um Congresso bicameral, com um Senado e uma Câmara de
Deputados, um Judiciário independente e um governo de
estilo ministerial4. Contudo, especialmente importante entre suas mudanças, garantia-se ao imperador um "Poder
Moderador", isto é, o direito, entre outros, de demitir
o Congresso, nomear Gabinetes e escolher senadores vitalícios entre os três candidatos mais votados.
Mais uma vez, a sucessão dos acontecimentos revelou que a tensão entre coroa e país encobria outra, entre senhor e
escravo, entre ricos e pobres. Quando
Dom Pedro I submeteu sua Consti-

72 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

tuição às câmaras municipais para ratificação, os líderes de Pernambuco não a aceitaram; ao invés disso, revoltaram-se,
exigindo um governo republicano com autonomia
provincial. Mas os senhores de engenho, que a princípio lideravam esse movimento de oposição, logo tremeram diante
da sugestão de seus aliados urbanos - profissionais
liberais e artesãos - de que se devia abolir a escravidão. Igualmente significativo, a maioria das câmaras no resto do
Brasil já parecia preferir a nova Constituição,
com sua autoridade real firme e central, às incertezas de uma república possivelmente descentralizada. A revolta em
Pernambuco desfez-se em seis meses.
Embora o governo central forte parecesse vitorioso, os líderes regionalistas encontraram imediatamente outras
formas de se opor ao autoritarismo do imperador.
Na verdade, a própria Constituição oferecia meios legítimos para a manifestação de oposição, e faltava a Dom Pedro I o
temperamento para a luta política prolongada.
A insatisfação com seu governo intensificouse. Um ponto particularmente delicado foi que, ao nomear ministros
nascidos em Portugal, ele negligenciou a avidez que
os brasileiros tinham pelo poder, para ampliar o controle que tinham sobre o clientelismo. Em abril de 1831, líderes
políticos brasileiros, ajudados pelas manifestações
do populacho nas ruas do Rio de Janeiro, persuadiram-no a abdicar em favor do filho de cinco anos, também chamado
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Pedro (1825-91), e partir para Portugal. Uma regência
de três escolhidos pelo Congresso e, esperava-se, mais suscetíveis aos interesses regionais, governaria durante a
minoridade do jovem Dom Pedro. O governo central
sofrera um sério golpe.
Nesse acontecimento, os vitoriosos na luta contra o imperador revelaram-se uma facção moderada de liberais
brasileiros. Embora extraíssem sua principal força
do importante segmento das classes agrárias, também desfrutavam do apoio e da competência criativa de advogados e
outros profissionais. Patrocinados por uma rede
de sociedades secretas do tipo maçônicas (Sociedades Defensoras da Liberdade e Indepen-

Quem Retinha o Poder? 73


dência Nacional), especialmente poderosas nas províncias do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, esses homens
começaram a instituir uma série de medidas de
reformas. Mesmo antes da abdicação de Dom Pedro I, conseguiram criar juízes de paz eleitos, a maioria das vezes
escolhidos da aristocracia agrária e para os quais
eles garantiam poderes amplos a fim de enfraquecer os juízes da coroa. Com Dom Pedro I fora do caminho, em 1831,
eles passaram a se mover com mais desenvoltura.
Elaboraram e promulgaram um Código Penal, instituindo o sistema de júri e declarando o direito de habeas-corpos. O
Código também permitia que os juízes de paz eleitos
acumulassem ainda mais autoridade combinando funções policiais e judiciais, autorizando-lhes, por exemplo, prender e
interrogar. Os líderes liberais então reduziram
o contingente do Exército e criaram, em contrapartida, a Guarda Nacional, formada por cidadãos locais com oficiais
eleitos. Por fim, decretaram uma lei pela qual
as câmaras municipais preparariam listas de candidatos localmente aceitos, para serem designados como juízes
municipais, resgatando, deste modo, parte da autoridade
que as câmaras haviam perdido.
Em 1834, o movimento em favor da autonomia local chegava ao fim e uma emenda à Constituição, chamada Ato
Adicional, indicava um certo recuo cauteloso do
liberalismo inicial6. É verdade que as duas casas do Congresso, reunidas conjuntamente como uma Assembléia
Constituinte, aboliram o Conselho de Estado, um órgão
não eleito que aconselhava o Imperador no exercício do Poder Moderador, visto por muitos como o bastião do
autoritarismo. E o Ato Adicional convocou a eleição de
Assembléias Provinciais, com responsabilidades importantes, entre elas a eleição de vice-presidentes provinciais (com
os presidentes ainda nomeados centralmente).
Os poderes dessas legislaturas, contudo, davam-se sobretudo às custas das câmaras municipais, cujas medidas as
Assembléias podiam agora vetar7. Devido à sua redação
ambígua, podia-se também interpretar o Ato Adicional como conferindo às Assembléias

74 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Provinciais o direito de nomear executivos municipais, uma inovação importante. Mesmo as Câmaras das capitais
perderam o último quinhão de sua antiga autoridade
e a Câmara do Rio de Janeiro - cidade não contida por qualquer província, mas agora colocada separadamente, como
"município neutro" entrou em atrito constante, embora
impotente, com o Ministério do Império. Embora geralmente se considere o Ato Adicional como uma medida de
scentralizadora, no todo ele tendeu a reduzir a verdadeira
autonomia local, embora ainda não levasse à centralização no Rio de Janeiro. Em outras palavras, os ricos viam agora o
governo provincial como o lugar adequado para
exercer seu poder8.
Logo os abastados começaram a perceber também as vantagens de um governo central forte. Um dos motivos da
abordagem cautelosa do Ato Adicional consistiu
em que os próprios líderes que haviam condenado a centralização exercida pelo arbitrário Dom Pedro I sentiram logo
seu apelo quando assumiram eles próprios o poder.
Além disso, as primeiras reformas liberais, ao restituírem alguns dos poderes de decisão às localidades, tiveram o efeito
de estimular indecorosamente o faccionalismo
local (sobretudo em relação à eleição de juízes de paz), disputas que algumas vezes fugiam ao controle, e fomentavam o
desrespeito pelos de "melhor sina". E os princípios
de liberdade individual também podiam facilmente encorajar a agitação social.
Finalmente, e mais importante, uma série de rebeliões regionais, além de solapar a unidade do Império, tendeu a
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enfraquecer a autoridade dos proprietários
sobre as classes inferiores, intensificando o espectro de desordem social. O medo de revolução cerceava o desejo de
autonomia local. Várias dessas revoltas regionais
tinham objetivos muito vagos, sendo estimuladas principalmente pelas rivalidades paroquiais entre as elites, e logo
escapavam ao controle daqueles que as haviam
deflagrado. Assim, em setembro de 1831, manifestantes no Recife atacaram lojistas portugueses que pareciam
monopolizar

Quem Retinha o Poder? 75


o comércio a varejo, prejudicando os consumidores. Escravos também participaram, acreditando em sua liberdade
próxima. Embora a sublevação tenha sido logo reprimida,
a imagem de desordem social deixou profundas marcas na consciência política. Seis meses depois, um movimento mais
sério ao sul do Recife, apesar de seu teor conservador,
teve o mesmo efeito perturbador. Com o apoio dos comerciantes portugueses na cidade, seus líderes exigiam a volta de
Dom Pedro I ao trono, enquanto os participantes
declaravam veementemente sua oposição ao que consideravam a tendência ímpia dos reformadores no Rio de Janeiro.
Formadas por pequenos proprietários agrários, agregados
e escravos, essas guerrilhas lutaram até 1835, e seu principal líder continuou a luta com um pequeno grupo de
seguidores até 1850. Os senhores de engenho consideraram
toda a aventura alarmante. Em 1835, irrompeu uma rebelião em Belém, onde homens de consideráveis recursos
iniciaram um movimento por uma independência limitada;
mas, à medida que a luta se prolongava, os negros e índios tornavam-se mais destacados nesse movimento. Sua raiva
contra os brancos e os ricos extravasava-se em
saques,
assassinatos e violência. O governo compreendeu claramente o significado social do movimento e, após dominar
cruelmente os rebeldes em 1840, ordenou a formação de
um "corpo de trabalhadores" para todos os homens com mais de dez anos que não tivessem propriedade ou ocupação
aceitável. O número total de mortos chegou a trinta
mil, talvez um quinto da população provincial.

Em 1835, uma revolta de escravos e libertos africanos em Salvador mostrou-se muito mais ameaçadora. Já haviam
ocorrido outras rebeliões de escravos, mas
nenhuma tão organizada e tão impregnada de matizes de uma guerra racial. Planejada para coincidir com um importante
festival religioso, porém descoberta e por isso
deflagrada na véspera, a rebelião envolveu centenas de negros, liderados por africanos muçulmanos. Foi dizimada em
horas, mas o interrogatório dos prisioneiros revelou
uma união insuspeita entre os africanos, e extensas redes de comunicação

76 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


com o interior, atemorizando grandemente não apenas os brancos, como também mulatos livres que eles planejavam
assassinar. O promotor vinculou claramente o medo
racial e o interesse de classe às necessidades políticas, quando sentenciou que os rebeldes "traçaram em seus
conventículos os mais horrorosos planos, que, se porventura
vingassem, importariam a extinção dos homens de cor branca e parda, a destruição da Constituição e do Governo, [e] a
perda de nossas propriedades". Em conseqüência
disso, a ordem pública pareceu precária não apenas na Bahia, mas em outros lugares. No Rio de Janeiro, alguns meses
depois, o ministro da Justiça alertou ao chefe
de polícia sobre boatos de complôs semelhantes ali e exortou "a maior vigilância para que não se propaguem entre os
escravos, e menos se levem a efeito, doutrinas
perniciosas que podem comprometer o sossego público, que tem exemplo em algumas províncias, principalmente na
Bahia"10.
Os resultados de dois movimentos autonomistas contrastantes revelam claramente a dinâmica social atuante no
Brasil naquela época. Só no Rio Grande do Sul
os proprietários mantiveram-se firmes no controle de um movimento insurgente. Chefiados desde o seu início, em 1835,
pelos principais pecuaristas da região, insatisfeitos
com a política tarifária sobre o charque, seu objetivo geral era, apesar das divisões entre os líderes, criar uma república
independente, talvez em confederação
com Uruguai e Argentina11. Em 1837, a tentativa prometia ser bem-sucedida. O oposto ocorreu na Bahia. Um grupo de
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comerciantes, profissionais e militares na cidade
de Salvador rebelou-se em 1837, exigindo uma forma federal de governo, talvez uma república. A organização de um
batalhão de escravos libertos, contudo, provocou
uma grave divisão entre as outras fileiras e a imediata oposição dos senhores de engenho do Recôncavo. Em semanas, o
movimento malogrou. O êxito requeria coesão
social e o domínio incontestável dos endinheirados.

Quem Retinha o Poder? 77


Quando os primeiros reformadores olharam à sua volta, viram discórdia onde haviam sonhado com a paz, violência
em vez de discurso racional, desagregação
quando esperavam pela união confederada. Por todo o Brasil, as elites locais começaram a temer mais a desordem que o
poder central. Na capital, muitos de seus porta-vozes
tornavam-se agora conservadores e todos moderavam sua retórica, passando a iniciativa para os restauradores da
"ordem".
Além disso, nesse mesmo período, a produção de café deu um salto impressionante. As exportações de café
triplicaram entre 1822 a 1831, e até 1840 aumentaram
outras duas vezes e meia, ultrapassando o açúcar como o principal produto do Brasil12. Como a província do Rio de
Janeiro produzia quase todo esse café, seu peso
político no governo também cresceu, e muitos fazendeiros do Rio tornavam-se agora inflexivelmente empenhados na
meta de uma autoridade central forte, proveniente
de sua capital. Simultaneamente, as receitas cada vez maiores aumentavam a capacidade governamental de afirmar seu
poder. A combinação de recursos ampliados, uma
devoção renovada ao poder central na província do Rio de Janeiro e, nos outros lugares, uma apreensão generalizada em
relação à agitação social, ou mesmo a uma rebelião
de escravos, provocou uma brusca guinada para o conservadorismo, um recuo que foi logo rotulado de "Regresso".
A virada conservadora implicou uma mudança de liderança. Já o Ato Adicional, além de restringir a autoridade
local, convocara a eleição, em âmbito nacional,
de um único regente, em vez da escolha de um triunvirato pelo Congresso. As distintas bases eleitorais do Congresso e
do regente produziram uma acentuada divisão.
Diogo António Feijó, o primeiro vencedor, embora firme defensor do liberalismo, mostrou-se pessoalmente autoritário.
Sua decepção ao lidar com um Congresso recalcitrante,
enquanto o país parecia desmoronar, logo o levou a renunciar. Em setembro de 1837, sucedeu-o o

78 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


conservador Dom Pedro de Araújo Lima, mais tarde marquês de Olinda. Senhor de engenho de Pernambuco, Araújo
Lima opusera-se ferrenhamente à reforma liberal.
A partir desse momento até 1850, a história política do Brasil caracteriza-se pela bem-sucedida elaboração das
instituições que iriam garantir a ordem social,
sob o pulso firme de homens de posses. Araújo Lima imediatamente designou um Gabinete centralizador, chefiado por
Bernardo Pereira de Vasconcelos. Este, outrora
um líder liberal, defendia agora medidas conservadoras como o único meio pelo qual o Império poderia ser salvo da
desintegração e da anarquia. Passara a acreditar
que o governo tinha de ser apoiado por aquelas classes proprietárias que "nas mudanças repentinas têm tudo a perder e
nada a ganhar"13. Vasconcelos portanto refletia
a guinada geral na opinião da elite. Em seu Gabinete, colocou um proprietário agrário do Rio de Janeiro, Joaquim José
Rodrigues Torres, o futuro visconde de Itaboraí,
e mais tarde acrescentou um dos parentes próximos de Rodrigues Torres, Paulino José Soares de Souza, o futuro
visconde do Uruguai, um juiz formado nas tradições
legais do Império português, na Universidade de Coimbra. Ambos em seus trinta e poucos anos na época, esses dois
homens emergiriam posteriormente como o núcleo do
Partido Conservador, exercendo sua influência durante várias décadas. As pessoas gostavam de chamá-los de
"Saquarema", nome de uma cidadezinha próxima às propriedades
dos líderes, onde a violência garantira sua vitória14.
As primeiras tentativas para o "regresso" esbarraram em algumas dificuldades. Com a ajuda de Paulino de Souza,
Vasconcelos começou a redigir um projeto de
lei que anularia as reformas liberais dos últimos dez anos. Em maio de 1840, o Parlamento aprovou uma reinterpretação
do Ato Adicional. Com justificativas capciosas,
reduzia os poderes das Assembléias Provinciais, sobretudo aqueles relativos a nomeação e afastamento de funcionários
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públicos. Uma minoria no Congresso considerou
essa medida como o fim da autonomia

Quem Retinha o Poder? 79


provincial e em particular temia que os líderes regionais perdessem clientelas. Recorreram ao Imperador de quinze anos,
e em julho de 1840 organizaram manifestações
no Rio de Janeiro, exigindo sua imediata coroação, três anos antes da idade decretada constitucionalmente. Como Dom
Pedro concordou, os Conservadores tiveram dificuldade
em contestar. Terminava então a regência, e o jovem foi coroado como Dom Pedro II. Em reconhecimento, nomeou um
Gabinete de oposição, ou seja, das fileiras do Partido
Liberal. Contudo, esse logo caiu em discórdia e não conseguia chegar a um acordo sobre como lidar com os rebeldes no
Rio Grande do Sul, para os quais alguns desejavam
uma anistia geral. Então, em março de 1841, os conselheiros particulares de Dom Pedro II o convenceram a dissolver o
Gabinete Liberal e nomear um Conservador em
seu lugar. Mais uma vez, Paulino de Souza foi chamado para o novo Gabinete, que dois anos depois também incluiria
Rodrigues Torres e um outro Conservador, Honório
Hermeto Carneiro Leão, o futuro marquês do Paraná, também um fazendeiro do Rio de Janeiro. Os interesses dos
cafeicultores, por conseguinte, controlavam metade das
pastas ministeriais.
Agora era Paulino de Souza quem dependia da ajuda de Vasconcelos, no Senado, para fazer aprovar uma série de
leis Conservadoras. Em fins de 1841 ele conseguiu,
de um Congresso complacente, a aprovação da mais importante delas: a reforma do Código Penal. Essa legislação dava
poderes adicionais aos juízes de direito; convocava
o ministro da Justiça a nomear os juízes municipais, que agora também tinham de ser formados em Direito; e tirava dos
juízes de paz eleitos a maior parte de sua
autoridade, transferindo grande parte de seus poderes para os delegados de polícia nomeados e seus vices, ou
subdelegados. Esses oficiais de polícia tinham poder
não apenas de prender os suspeitos de crimes, mas emitir ordens de busca, ouvir testemunhas e redigir o processo contra
os acusados - a única base para julgamentos
-, assim como julgar alguns casos menores. A nova lei também autorizava à polícia, ao invés de

80 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


aos juízes de paz eleitos, nomear os inspetores de quarteirão, levando assim a autoridade do governo central, pelo menos
em teoria, a todos os cantos do Império15.
Outras medidas incluíam a reinstituição do Conselho de Estado vitalício; a duplicação da propriedade necessária para a
qualificação de jurados; o aumento do contingente
do Exército; e a transferência, para o governo central, do direito de nomear os vice-presidentes de cada província.
A gota d'água surgiu com a decretação de uma nova lei eleitoral em maio de 1842, que designava como
supervisores da votação nas mesas eleitorais os delegados
de polícia nomeados pelo governo central. Os Conservadores, escreveu um antigo cronista, tentavam com isso
"estabelecer seu domínio eleitoral". A oposição, sentindo
que, através de tal medida, perderia para sempre sua chance de recuperar o poder, achou que só lhe restava um recurso:
pegar em armas. Uma revolta irrompida em São
Paulo logo ecoou em Minas Gerais. Mas a rebelião fracassou algumas semanas depois, apesar do prestígio que em São
Paulo lhe deu o apoio de Diogo Antônio Feijó, outrora
regente do Império, e da ilimitada energia do jovem Teófilo Otoni em Minas Gerais. Os fazendeiros de café do Rio de
Janeiro, com poucas exceções, como o abastado
Joaquim José de Souza Breves, apoiaram o governo. Mais uma vez, o medo de uma revolta de escravos arrefeceu o
entusiasmo dos líderes potenciais16. Enquanto isso,
a revolução no Rio Grande do Sul começava a entrar em sua fase de declínio e o governo conquistou várias vitórias
nessa longa luta. A autoridade central começava
a criar raízes.
Mesmo muitos líderes que formalmente permaneceram Liberais agora começavam a ver as vantagens do poder
central. Em 1844, uma discórdia interministerial levou
os conselheiros do jovem Dom Pedro II a recomendar uma nova mudança no Gabinete, e ele nomeou um
moderadamente Liberal. Ao invés de revogar as medidas Conservadoras
de seus antecessores, os novos ministros conservaram as principais leis. Deram anistia a

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Quem Retinha o Poder? 81
todos os envolvidos nas revoltas regionais passadas e com isso puseram fim à guerra civil no Rio Grande do Sul.
Aprovaram uma nova lei eliminando os delegados das
mesas eleitorais. Por outro lado, contudo, fizeram poucas mudanças no sistema político (como ocorreu também nos
períodos posteriores de dominação Liberal), para
o grande desgosto dos membros mais radicais de seu partido, como Teófilo Otoni.

Em 1848, Dom Pedro II mais uma vez trocou os Liberais pelos Conservadores. A eleição que então
supervisionaram comprovou uma vitória - só se elegeu um Liberal
para o Congresso - que abriu caminho para o fortalecimento ainda maior do teor Conservador do Gabinete. Chefiado
pelo exregente Araújo Lima, então visconde e mais
tarde marquês de Olinda, logo incluiu (mais uma vez) Paulino de Souza e o cunhado de sua mulher, Rodrigues Torres.
Um outro membro era Euzébio de Queirós Coutinho
Matoso da Cãmara, que, através da família e amigos, também era estreitamente ligado a fazendeiros de café. A firme
liderança que esse Gabinete exerceu permitiu a
aprovação e a execução de vários projetos de lei, não necessariamente conservadores, que anteriormente haviam
provocado demasiada polêmica para ter êxito. Suspendeu
o comércio de escravos africanos para, finalmente, pôr fim à pressão inglesa sobre o Brasil, e simultaneamente liberar
os fazendeiros de sua dívida com os comerciantes
ilegais de escravos; aprovou uma lei sobre terras públicas (nunca realmente executada) para evitar a livre aquisição de
terra por posseiros; finalizou um código
comercial há muito tempo discutido e desejado pela comunidade mercantil; e empreendeu medidas destinadas a atrair
capital estrangeiro para a construção de ferrovias
nas regiões voltadas à exportação. Em 1850, acabou com a eleição de oficiais na Guarda Nacional, tornando esses
cargos sujeitos a nomeação. Esse governo concluiu,
portanto, a tarefa de estabelecer as instituições de um poder central firme, que se conservaram inalteradas até o fim do
Império em 1889. Joaquim Nabuco, o primeiro
historiador importante do período,

82 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


ainda enredado pela mística do Império, manifestou a aprovação de muitos, quando disse em 1898 que aquele Gabinete
"fez nascer a ordem em todo o Império, antes anarquizado"17.
É importante lembrar, contudo, que os do centro, como nos tempos coloniais, impunham a ordem através das
proeminências locais. Na maioria das vezes, esses
homens continuaram ocupando os cargos públicos, mesmo que suas nomeações viessem do Rio de Janeiro. Tinham
poucas queixas contra o governo central, pois (como descreveu
um estudioso em relação a um período posterior) "a centralização prejudicava apenas seus adversários". Desse modo, os
políticos na capital ao mesmo tempo assentiam
aos interesses dos proprietários em lugarejos de todo o país e asseguravam que as elites locais transmitissem suas
opiniões até mesmo ao presidente do Conselho de
Ministros.

O Aparato Governamental

As instituições políticas brasileiras, da forma como foram solidamente implantadas desde 1850, resultaram da
necessidade percebida pelos homens de posses
de um sistema em que pudessem resolver suas diferenças sem solapar a ordem. Decidiram, conscientemente, elaborar
um sistema político centralizado e estável. Não
lhes foi imposto por uma elite política abstrata19. Como uma conseqüência do aparato que criaram, os detentores do
poder no Rio de Janeiro nomeavam legalmente uma
lista imensa de funcionários por todo o Brasil. E foi através do uso competente do apadrinhamento que a capital
tornou-se realmente um centro nacional.
Quando se examinam essas instituições e os cargos a serem ocupados, as ações do imperador mostram-se
visivelmente grandiosas. Dom Pedro II, ensinado desde
menino por homens escolhidos pelo Congresso, aprendera a ser mais atento que o pai à complexa interação entre poder
político e econômico no Brasil, enquanto adotava,
ao mesmo tempo, a linguagem legitimadora

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Quem Retinha o Poder? 83
do Iluminismo para descrever as relações entre Estado e cidadão. A partir de 1850, à medida que consolidava seu estilo
próprio, passou a usar as prerrogativas que
recebeu da Constituição, com o cuidado de não ferir os economicamente poderosos; na verdade, trabalhava a favor do
domínio deles. É certo que constantemente defendia
reformas moderadas, mas os membros do Gabinete só levavam em conta sua opinião quando esta convinha aos
interesses de sua classe; nunca pôde - e raras vezes desejou
impor regras que ameaçassem os proprietários que possuíam a autoridade. Esforçou-se para nunca desacreditar seu
cargo por atos pessoais imorais ou momentos de leviandade.
Homem sóbrio, muitas vezes sombrio, Dom Pedro II dava uma torrente de instruções aos primeiros-ministros sobre as
menores questões, até mesmo revisando as instruções
deles aos subordinados. Atendo-se às minúcias do governo, contudo, não demonstrava exercer grande poder, mas
exercer muito pouco sobre qualquer problema fundamental.
No fim, quando alguns dos proprietários passaram a desejar seu afastamento, ele caiu do seu trono sem nenhuma luta20.
Ainda assim, o imperador desempenhou um papel crucial no sistema político. Quando o país mandava deputados
ao Congresso, a maioria deles invariavelmente
apoiava o Gabinete. Somente o imperador, então, ao demitir um primeiro-ministro e convocar algum rival seu, poderia
colocar um novo partido no controle da máquina
do governo e com isso conseguir uma vitória eleitoral para o que fora a oposição. Mas ele não escolhia automaticamente
o líder da oposição: quando, em 1874, os políticos
Liberais, então fora do governo, encontraram-se para planejar sua estratégia e alguns propuseram indicar um chefe
partidário para se tornar primeiro-ministro, assim
que Dom Pedro II afastasse os Conservadores, um membro mais sábio do grupo advertiu: "É preciso não esquecer que
estamos no Brasil e não na Inglaterra (...) Aqui
é chefe do Gabinete quem o imperador escolhe". O papel do imperador

84 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


como árbitro supremo, cujas decisões eram aceitas sem perda de prestígio ou status, é coerente com uma visão
hierárquica da sociedade: não importa o quanto uma pessoa
lutasse pela superioridade sobre outra, os dois competidores sabiam que acima deles alguém ocupava uma posição ainda
mais alta. Embora um político pudesse às vezes
insistir em que o imperador agia apenas como um "funcionário e delegado, não seu guia nem tutor", a maioria dos
líderes políticos, ao menos até fins da década de
1860, preferia exatamente essa imagem paternal. Seu lugar tinha uma finalidade. Um escritor observou em 1882 que
mesmo o chamado "poder pessoal" do imperador, isto
é, a supostamente caprichosa escolha que ele fazia entre os partidos, continuava sendo "indispensável à conservação da
paz pública". Além disso, como os partidos
políticos dependiam virtualmente da mesma base econômica e social - e em alguns casos alternavam o apoio dos
mesmos eleitores -, Dom Pedro II não ameaçava nenhum
grupo social ou interesse econômico quando trocava o partido no poder. Ao contrário, respondia aos ritmos que
impeliam ou restringiam pequenas mudanças de direção
entre os líderes políticos e burocráticos, intimamente em contato com as preocupações regionais e locais; servindo
pacificamente de árbitro entre eles, mantinha
- talvez de modo involuntário - a predominância política dos economicamente poderosos. Como dizia um pregador, do
mesmo modo que Deus sustentava a harmonia das esferas
através de uma "ordem maravilhosa que resulta de forças opostas [sem as quais] os astros se precipitariam uns sobre os
outros", a monarquia constitucional, "colocada
acima de todas as paixões, reguladora de todos os interesses [é a] mantenedora da ordem pública"21.

O imperador nomeava os membros do Conselho de Estado, constituído de doze experientes políticos vitalícios. Ao
escolhê-los ele contava, como de hábito, com
indicações do primeiro-ministro. Por sua vez, Dom Pedro II pedia orientação ao Conselho quanto ao exercício de seu
Poder Moderador, sobretudo seu direito de nomear
e afastar o Gabinete. Além

Quem Retinha o Poder? 85


disso, como cada Gabinete ou tinha de ter a confiança do Congresso, ou solicitar ao imperador novas eleições, o
Conselho de Estado opinava sobre a concessão do pedido.
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O Conselho também fazia recomendações sobre outros atributos do Poder Moderador, entre os quais a seleção de
senadores vitalícios, escolhidos entre os três candidatos
com o maior número de votos em cada província. Já que todo decreto ou lei requeria a sanção do imperador, e ele
normalmente consultava o Conselho antes de dar sua
aprovação, o Conselho de Estado (através de suas seções) também se tornou um órgão consultivo do Gabinete em
assuntos legislativos. Algumas vezes, a lei atribuía
especificamente ao Conselho obrigações extras, como por exemplo aprovar a criação de novas empresas com
responsabilidade limitada. Por fim, o Conselho de Estado
atuava como um tribunal para julgar casos envolvendo disputas entre setores governamentais e processos jurídicos
levantados contra o governo, praticando portanto
uma revisão judicial sobre a constitucionalidade de leis e decretos. Ser nomeado para o Conselho de Estado era o
coroamento máximo de uma carreira política22.
O presidente do Conselho de Ministros, ou primeiroministro 23, selecionava os membros de seu Gabinete com
muita atenção para equilibrar ambições políticas
competitivas, forças regionais, habilidades e contatos parlamentares. O Gabinete então orientava as políticas do
governo; elaborava o orçamento para submissão ao
Congresso; propunha a legislação para ser discutida; redigia anualmente a Fala do Trono, discurso a ser proferido pelo
imperador no dia de abertura do Congresso24.
Mais importante, o Gabinete, direta ou indiretamente, nomeava todos os funcionários públicos, entre eles os delegados
de polícia de todo o país; escolhia os oficiais
da Guarda Nacional; indicava, sujeito a restrições, todos os juízes e bispos; e autorizava a maioria das promoções
militares. Como já indiquei, contudo, seria um
engano vê-lo como uma instância que impunha suas ordens a chefes municipais relutantes, pois os próprios ministros
haviam ascendido na política cultivando cuidadosamente
esses

86 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

líderes, que compartilhavam seus objetivos. Os ricos assumiam um importante papel na política, tanto em nível local
quanto nacional, e um acadêmico, baseando-se
principalmente na informação existente em dicionários biográficos, conseguiu demonstrar que, de 1840 a 1889, pelo
menos 57% dos membros do Gabinete tinham ligações
com a terra, diretas ou através da família25. O Gabinete permanecia, portanto, aliado aos oligarcas locais, mesmo que
seus membros chefiassem um vasto sistema de
clientela.
A nomeação dos presidentes provinciais era de decisiva importância, pois a lei os chamava, adequadamente, "a
primeira autoridade" das províncias. Um presidente
representava o próprio imperador e, quando chegava à capital provincial, era cerimoniosamente recebido nesse papel: se
chegasse de navio, a bandeira imperial vinha
hasteada, e uma guarda de honra davalhe as boas-vindas, enquanto ele desembarcava em meio a fogos de artifício e
música. A legislação exigia que os presidentes provinciais
executassem as diretrizes estipuladas pelo Gabinete e assegurassem o cumprimento das leis do Império. Responsáveis
pelo cumprimento da lei e pela defesa da Constituição,
os presidentes intervinham em numerosos assuntos, pequenos e grandes, vetando ou (mais tarde) suspendendo a
aplicação de leis provinciais, anulando o trabalho de
uma equipe de agrimensores que estabelecera os direitos de um posseiro, ou especificando que terras públicas deviam
ser entregues aos ex-combatentes. Os presidentes
emitiam passaportes para viagens de uma província à outra, e respondiam a petições de pescadores humildes pela
devolução de suas licenças26. Contudo, sua principal
função era gerar dividendos eleitorais a favor do Gabinete, e eles usavam o apadrinhamento como o principal
instrumento de realização dessa tarefa. Com a mesma finalidade,
para nomear partidários leais, o Gabinete dependia muito da informação política e da avaliação correta que recebia dos
presidentes.
Ou porque logo realizavam sua tarefa principal, ou para que ficassem à parte de determinadas facções provinciais,
os

Quem Retinha o Poder? 87


presidentes ocupavam o cargo por um tempo muito curto. Serviam ao bel-prazer do primeiro-ministro que, em seu
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constante rearranjo da burocracia nacional, mudava-os
de uma província para outra, trazia-os para o Rio de Janeiro para ocupar posições-chave, promovia-os a cargos no
Gabinete ou jogava-os em sinecuras menores, quando
os julgava incompetentes. Um número significativo de presidentes ocupava simultaneamente cadeiras no Congresso e,
no início de cada período legislativo, partiam
de suas capitais provinciais para o Rio de Janeiro, deixando a administração diária da província nas mãos dos
vice-presidentes. Seis desses, em cada província, em
geral homens fortes do partido, sucediam os presidentes pela ordem27.
Os principais agentes dos presidentes provinciais, tanto para fazer cumprir a lei quanto para aglutinar a inteligência
política, eram os chefes de polícia
- um para cada província e seus delegados em cada município e subdelegados em cada paróquia. Cada delegado e
subdelegado contava com seis (mais tarde três) substitutos28.
Tirando o chefe de polícia, essas autoridades não recebiam salários e seus rendimentos provinham de suas atividades
particulares. Em geral, eles viviam na localidade
e eram homens "abastados"29. No interior, a maioria possuía terras e buscava esses cargos públicos para exercer
autoridade extra e estender favores, isenções e proteção
aos seus apadrinhados. Nas cidades, os presidentes preferiam nomear advogados e juízes, mas de vez em quando
achavam vantajoso indicar oficiais militares para esses
cargos. Esperava-se que todos eles favorecessem os imperativos da ordem e os interesses dos proprietários. Não
delegando a burocratas de carreira a execução de suas
instruções, o Gabinete mantinha abertos os canais de comunicação e reconhecia o poder e a importância dos chefões
locais.
Esses líderes, por sua vez, dependiam dessas nomeações para ampliar suas clientelas. A aprovação da controvertida
lei de 1841, que consignava responsabilidades
judiciais a delegados, transformou-os no centro de tomada de decisões para os cidadãos

88 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


comuns. Vale repetir que os delegados não apenas acusavam, mas também reuniam provas, ouviam testemunhas e
apresentavam ao juiz municipal um relatório escrito da
investigação, sobre o qual o juiz baseava seu veredicto. Além de expedir mandados de prisão e estabelecer fianças, eles
mesmos julgavam delitos menores, como a infração
de normas municipais. Os delegados podiam contar com instrumentos legais poderosos para fazer cumprir suas decisões
- por exemplo, o direito de prisão preventiva
para quase todos os crimes e o direito de requerer "termos de bem viver" que, se violados, podiam levar à prisão e à
condenação quase automática30. Os delegados
podiam temperar a severidade da lei com misericórdia paternalista, sobretudo para os politicamente submissos; mas não
restava a menor dúvida na mente de qualquer
um que essa complacência poderia facilmente transformar-se em punição. Seu primeiro dever era manter a paz: "Os
municípios (...)sob minha jurisdição não têm sofrido
a menor alteração. Tenho feito várias prisões por correção e feito assinar termos de bem-viver aos que não procedem
regularmente". Um subdelegado orgulhosamente
relatou que ele e seus homens postaram-se no Largo da Saúde, uma das principais praças na cidade de Salvador,
"durante as horas de maior concurso das novenas de
Nossa Senhora da Boa Morte, a fim de acautelar e dispersar os grupos de moleques que, me consta, ali reúnem-se com
vozeria e chumilhadas (Sic)"31.
Para impor a lei e a ordem, o subdelegado confiava nos inspetores de quarteirão. Cada um tinha autoridade sobre
um mínimo de 25 "fogos" e atuava sob a direção
do subdelegado. Podiam interferir em qualquer aspecto da vida de uma pessoa, embora o que realmente faziam variava
de acordo com a energia de cada um. Expediam passes
para aqueles que desejavam ir a outro distrito, e pelo menos um deles forçou um jovem que chegara à cidade "sem
apresentar o respectivo guia" ao recrutamento no
Exército32. O cidadão comum obtinha dos inspetores de quarteirão uma declaração que atestava sua ocupação e boa
conduta, a fim de conseguir uma licença para

Quem Retinha o Poder? 89


portar uma espingarda de caça. Esperava-se que os inspetores de quarteirão soubessem quem estava com varíola em seu
distrito. Eles faziam rondas noturnas para verificar
se os policiais uniformizados da cidade cumpriam sua obrigação32. Sua principal tarefa, como a dos delegados, era
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garantir a ordem pública. Um chefe de polícia enfatizou
que os inspetores de quarteirão deviam concentrar sua atenção, em primeiro lugar, nos "vadios, mendigos, bêbados por
hábito, prostitutas que perturbam o sossego
público, os turbulentos que (...) ofendem os bons costumes e a paz das famílias". Ele também encarregou os inspetores
de quarteirão de "dispersar os ajuntamentos
ilícitos" e de certificar-se de " que nas tabernas e em qualquer casa de negócio (...) não haja desordens, tocatas, danças,
vozerios, ajuntamento de escravos ou
jogos proibidos". Os inspetores de quarteirão deviam ficar especialmente atentos às aglomerações de escravos nas ruas
ou em estradas, e impedir "que usem de paus
ou qualquer instrumentos com que possam fazer mal, ou que andem com vozerios, palavras, e ações desonestas". Os
inspetores de quarteirão, além disso, asseguravam
que todos os outros cidadãos vivessem em paz, evitando "motins, tumultos ou caçoadas". Quando a ordem parecia
ameaçada, um delegado podia instruir os inspetores
de quarteirão a "notificarem em seu quarteirão o maior número possível de policiais para se apresentarem, no dia 6 de
setembro próximo futuro, no quartel (cadeia),
todos armados para o serviço policial". Tanto os homens quanto os oficiais tinham de ser informados a respeito de que
prédio havia sido designado como quartel, já
que todos tinham outras ocupações comuns33. Essa situação também significava que prevalecia uma certa definição de
ordem: algumas pessoas acusavam os inspetores
de
usar seu poder para garantir vantagem pessoal. Pelo menos um inspetor aliou-se àqueles que desejavam impedir uma
investigação feita por um juiz municipal34.
O maior poder local de delegados e subdelegados originava-se de seu direito de recrutar à força. Se, como observei
no capítulo anterior, o alistamento forçado
era o instrumento de

90 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


controle social por excelência, ele era manejado por essas autoridades policiais locais, em geral homens de posses. Os
inspetores de quarteirão rascunhavam a lista
inicial dos recrutáveis, e os subdelegados, juízes de paz e padres paroquiais reuniam-se para concluir a tarefa,
dispensando alguns ao seu belprazer36. Algumas
vezes, o recrutamento parecia ser a principal função dos policiais. Nos últimos dois meses de 1859 (período que escolhi
arbitrariamente), o presidente da Bahia enviou
trinta e cinco cartas para subdelegados; dessas, dezesseis referiam-se à convocação de recrutas ou à captura de
desertores, cinco a escravos, e as quatorze restantes
a uma ampla variedade de crimes. Um subdelegado na cidade do Rio de Janeiro conseguiu sua parcela de incorporados
postando-se no lado de fora de uma igreja no dia
de Natal. "Quando terminou a missa de Natal, recrutei os indivíduos que se achavam no caso de servir ao Exército ou
Armada, bem como aqueles que me não apresentaram
documento legal". Sem dúvida, como os juízes de paz que tinham essa responsabilidade antes deles, os delegados
recrutavam homens "muitas vezes por capricho e inimizades".
De qualquer modo, assim os titulares desses cargos passaram a deter autoridade total sobre os de sina mais pobre, e um
cargo como esse era instrumento poderoso na
formação de uma clientela 37. Ao mesmo tempo, com a quantidade de delegados, subdelegados e inspetores de
quarteirão, era provável que líderes potenciais dos insatisfeitos
fossem enquadrados na estrutura de autoridade, e o sistema de clientela possibilitava isso.
Ao contrário de delegados, subdelegados e inspetores de quarteirão que, como civis, detinham simplesmente a
autoridade legal sobre os cidadãos, outros, munidos
de armas e organizados em regimentos oficiais, exerciam força física sobre os recalcitrantes. A íntima ligação entre o
centralismo do governo e o controle social
baseava-se no apoio dessas forças, fosse a polícia provincial, a Guarda Nacional ou o Exército. Financiadas por
impostos provinciais e sob o controle direto dos
presidentes provinciais, as corporações policiais provinciais trabalhavam em

Quem Retinha o Poder? 91


tempo integral. Ostentando diversos nomes nas várias províncias e ao longo do tempo - Pedestres, Ligeiros, Corpo
Policial, Caçadores de Montanha e Urbanos, para
mencionar alguns -, todas foram absorvidas pelo Exército durante a Guerra do Paraguai (1865-70), para serem recriadas
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depois, em geral com o nome de Polícia Militar,
o que indicava sua organização militar, uniformes, armas e ocupação integrais38. Essas corporações nunca contaram
com muitas tropas. Em 1862, a de toda a província
da Bahia tinha apenas 336 homens, chefiados por trinta oficiais; quase todos serviam no interior e não na capital.
Mesmo o chefe de polícia da província do Rio de
Janeiro queixava-se de que suas tropas eram muito pequenas: "O Corpo Policial dispõe de muito poucas praças (...) A
força de Pedestres acha-se de tal modo disseminada
(...) que as freguesias [da capital] só contêm um e algumas nem isso". Entretanto, elas desempenhavam um papel
crucial. Havia instruções especificando que quando
delegados e subdelegados "necessitarem de torça armada para manter a ordem (...) terão como regra requisitá-la do
chefe de polícia", mas se isso fosse impraticável,
"farão tais requisições diretamente aos comandantes da força armada existente no lugar, dirigindo-se primeiramente aos
Corpos de Polícia e, na sua falta (...) aos
da Guarda Nacional". Pois, como expressou-se um primeiro-ministro, "depois da religião, (...) a polícia é o fator mais
importante na tranqüilidade das nações"39.
De longe mais numerosa que a Corporação de Polícia, a Guarda Nacional era teoricamente constituída de cidadãos
comuns de quase todas as posições sociais.
Organizada em companhias de 60 a 140 homens, a Guarda dividia-se em cavalaria e infantaria. Administrativamente, a
Guarda pertencia à alçada do Ministério da Justiça,
embora em tempos de guerra suas unidades pudessem ser convocadas para tarefas militares regulares, recebendo deste
modo ordens do ministro da Guerra. Seus oficiais,
geralmente ricos proprietários de terras, como vimos, recebiam suas patentes (após 1850) ou do presidente provincial ou
do ministro da Justiça, dependendo do nível
hierárquico da

92 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


patente. A patente mais alta era a de coronel, mais tarde rebatizada de Comandante Superior, um para cada município. O
objetivo formal da Guarda era "conservar ou
restabelecer a ordem e a tranqüilidade pública". Diariamente, seus homens participavam de tarefas como capturar
criminosos, conduzir prisioneiros a julgamento, transportar
valores, patrulhar as cidades e municípios, vigiar a cadeia e, não menos importante, dispersar comunidades de escravos
fugitivos40. Um velho estadista observou na
época que a fraqueza das outras forças fazia com que "em muitos lugares, a maior parte do serviço policial vem a recair
sobre a Guarda Nacional". As queixas contra
o uso arbitrário de seus poderes acabou resultando numa lei que, em 1873, retirou suas funções policiais 41.
O Exército - chamado de tropa de primeira linha também proporcionava força física a ser usada contra o
transgressor. Até 1865, contudo, manteve-se relativamente
fraco. Sem nenhuma verdadeira guerra de independência, na qual demonstrar seu patriotismo, e na verdade carregando o
peso da lembrança do papel do Exército português,
que lutou contra a milícia chefiada por fazendeiros na Bahia, o Exército começou com uma reputação ruim, em nada
melhorada depois pelos motins de tropas indisciplinadas,
nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador na década de 1830. Em 1831 os líderes Liberais reduziram o contingente do
Exército a uma força nominal de seis mil homens;
embora mais tarde, na mesma década, os Conservadores tenham triplicado esse número, seu poder manteve-se
limitado42. Em 1850, o presidente da Paraíba queixou-se
de
que podia recorrer a muito poucos soldados para ajudar na resistência aos "revoltosos", homens livres de cor vindos de
Pernambuco, e o presidente do Rio Grande do
Norte acrescentou: "A tropa de linha é muito relaxada e não merece confiança alguma. Estão divididas pela província
em pequenos destacamentos às ordens de alguns
mandões, e um grande número de soldados são casados e carregados de filhos. O Corpo Policial é ainda pior e passa
meses sem receber soldo". A Guerra do

Quem Retinha o Poder? 93


Paraguai levou a um aumento acentuado no contingente do Exército. Além disso, enquanto a guerra se prolongava, a
proporção de tropas retiradas da Guarda Nacional
caiu de 74 para 44% e o número de homens recrutados diretamente pelo Exército cresceu de forma correspondente,
assim como o número de seus oficiais43. Depois da
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
guerra, o Exército continuou a ser convocado para manter a ordem pública, sobretudo após as obrigações da Guarda
Nacional terem sido liberadas dessa função; um político
na década de 1880 descreveu numa carta particular os soldados como "mais aptos por sua organização, educação e
instrução para o serviço da polícia civil do que para
os encargos de guerra"44.
A Igreja também dependia do apadrinhamento do governo, unindo-se às outras instituições na manutenção da
ordem. Havia doze bispados. Seguindo o precedente
colonial, o governo propunha suas escolhas para essas sés ao Vaticano e Roma consagrava-as. De modo semelhante, os
presidentes provinciais nomeavam (para os bispos)
padres para uma paróquia e dessa forma o clero dependia; pelo menos parcialmente, do favoritismo para sua promoção
ou transferência. A Igreja não era quem recolhia
o dízimo e os eclesiásticos recebiam apenas salários modestos, pagos pelo governo; sua sobrevivência dependia muitas
vezes de taxas de batismo, enterro e casamento
- a não ser que tivessem terra e escravos, como ocorria com muitos. (Outros padres ordenados procuravam emprego
como capelães em fazendas ou nas prósperas irmandades
das cidades.) Os líderes nacionais reconheciam francamente que a Igreja servia a um propósito particular: sem ela, disse
um membro do Gabinete, as pessoas, "soltas
inteiramente do jugo salutar da Religião, se precipitam no caminho do vício, com prejuízo delas e da sociedade".
Enquanto, em épocas anteriores, os padres haviam
participado ativamente de rebeliões, em meados do século pregavam ordem e obediência à autoridade constituída.
Como foi visto por um comitê parlamentar: "Os conflitos
sociais nascem sempre da ausência de subordinação do homem a Deus, do

94 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


direito ao dever, da razão à fé". Claro que, na década de 1870, alguns bispos questionaram se a autoridade provinha do
imperador ou do Papa; mas o padre paroquial
tinha poucas dúvidas de que devia sua nomeação aos homens no Rio de Janeiro45.
Uma outra pirâmide de controle centralizado ligava os cargos judiciais. Em contraste com os delegados e os
comandantes da Guarda Nacional e mais de acordo
com os eclesiásticos e oficiais do Exército, os juízes esperavam progredir numa hierarquia profissional. Embora
pudessem possuir sua própria terra, escravos ou negócios,
e desejassem ser nomeados para localidades onde sua família tivesse força, recebiam um salário do governo e sofriam
freqüentes transferências de um lugar para outro.
No topo da hierarquia judicial (fora o Supremo Tribunal, que atendia a um número muito limitado de casos) erguiam-se
as quatro Relações (aumentadas para 11 em 1873).
Os desembargadores eram vitalícios, embora não se desconhecessem medidas para obrigá-los a renunciar. Sua
substituição era feita de uma listagem dos quinze juízes
de direito mais antigos da região46.
A maioria dos juízes servia ou num tribunal de comarca ou num de município. O juiz de uma comarca - o juiz de
direito - podia contar em permanecer num lugar
durante seus primeiros quatro anos; no fim desse período, ou era renomeado para um prazo de três anos ou promovido
para um tribunal de comarca de nível mais alto
(havia três gradações), embora a promoção nem sempre o transferisse para um lugar mais atraente. Depois, enfrentava a
probabilidade de mais uma transferência. A
qualquer momento, um juiz de direito podia perder seu cargo, sendo nomeado chefe de polícia provincial; após ocupar
um cargo como esse, mesmo por pouco tempo, seria
mandado de volta para a magistratura, embora não necessariamente para sua antiga localidade. Ele também podia ficar
sem posto, recebendo seu salário enquanto esperava
uma vaga. Os tribunais de comarca atuavam como tribunais de primeira instância em muitos casos,

Quem Retinha o Poder? 95


mas em outros examinavam apelações dos juízes municipais. Na maioria dos lugares, um juiz municipal também
ocupava os cargos rentáveis de juiz de órfãos e juiz comercial,
mas nos centros maiores o governo nomeava juízes especiais para esses tribunais. Os juízes municipais cumpriam um
mandato de quatro anos, após o que podiam ser promovidos,
demitidos, ou continuar no mesmo nível. Não podiam ser transferidos nesses quatro anos 47. De qualquer modo, mesmo
os juízes vitalícios sabiam que o governo "verifica
as promoções e distribui as graças, as honras e as gratificações pecuniárias". O Judiciário, reconheceu um autor, não
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
podia ser um poder realmente separado, "desde
que os magistrados estão na dependência do governo que os nomeia, remove e aposenta, quando lhe convém à
satisfação dos presidentes"48.
Os juízes municipais substitutos (seis em cada município; três depois de 1871) não precisavam ter formação
jurídica, não tinham mandato nem recebiam salário
ou procuravam progredir no sistema judicial. A lei especificava que deviam ser "cidadãos notáveis do lugar por sua
fortuna, inteligência e boa conduta". Eles desempenhavam
um importante papel. Às vezes, um juizado municipal permanecia vago durante meses e mesmo anos, enquanto os
substitutos (segundo a ordem) julgavam os casos. Ou um
substituto podia assumir a jurisdição em uma parte do município, enquanto o titular ocupava o cargo em outro lugar.
Como um juiz municipal automaticamente substituía
um juiz de direito na ausência do último, um fazendeiro local podia acabar, pelo menos temporariamente, ocupando
também este posto. Quase por definição, os juízes
substitutos mesclavam-se aos interesses locais do mesmo modo que os delegados e os oficiais da Guarda Nacional.
Num dos casos, em uma região distante da Paraíba,
um terceiro juiz municipal substituto assumiu o tribunal porque o juiz municipal e seu primeiro substituto estavam
ausentes e o segundo adoecera. Mal ocupou o cargo,
soltou um culpado de assassinato e deixou de lado um pleito contra um ladrão de cavalo. Alarmado, o juiz de direito
apelou ao presidente

96 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


da província para que nomeasse um "juiz letrado", e enquanto isso ordenou ao substituto doente que reassumisse as
funções judiciais mesmo que as audiências tivessem
que ser feitas em sua casa. Assim, o juiz de direito deixava implícito que um juiz profissional seria mais leal ao amplo
arcabouço legal que esses substitutos, motivados
como estavam por seus interesses particulares49.
O sistema judicial contribuía substancialmente para ampliar o poder de apadrinhamento do governo central. Por
volta de 1865, o Brasil dividia-se em 208 comarcas
judiciais, das quais oito encontravam-se vagas; 21 juízes de direito extras exerciam temporariamente a função de chefes
de polícia - um em cada província - e outros
34 aguardavam nomeação. Em 1889, o número de comarcas subira para 461, e o pessoal judicial incluía também 521
juízes municipais e de órfãos, 91 nas Relações e 17
do Supremo Tribunal, assim como 438 promotores. Na maioria das comarcas, o Gabinete ou seus agentes podiam
nomear não apenas o delegado e seus suplentes, mas de
dois a quatro subdelegados ainda com seus substitutos e de dez a vinte, ou mais, inspetores de quarteirão, como também
um juiz municipal e seus substitutos, um promotor
público e, em geral, um juiz de direito, assim como inúmeros escrivães, oficiais de justiça, carcereiros e vigias. Se ainda
assim os que estavam no centro não conseguiam
um controle absoluto, ao menos dispunham de um fluxo de informações por parte de alguns de seus indicados sobre os
mandos e desmandos dos demais, e de uma via de
acesso desobstruída para contato com as menores vilas50.
Os juízes de direito e municipais, que necessariamente deveriam ter uma formação jurídica, compartilhavam
educação semelhante em uma das duas faculdades
de direito do país, situadas em São Paulo e Recife. O espírito comum, o senso de superioridade intelectual e a cultura
forense compartilhados daí resultantes revelaram-se
cruciais para seu papel na perpetuação de uma atitude favorável à hierarquia e ao controle paternalista.

Quem Retinha o Poder? 97


Ao solidificar a unidade nacional, o Império contou especialmente com esses bacharéis, com sua formação, educação e
experiência semelhantes. Nem todos viriam a se
tornar juízes ou mesmo advogados, pois apenas a faculdade de direito proporcionava o equivalente a um curso de
Humanidades no Brasil; muitos diplomados ingressavam
no jornalismo ou buscavam outras profissões. As faculdades de direito supriam os quadros políticos de todo o país, e a
maioria dos políticos era formada nessas faculdades51
Uma origem social correta costumava caracterizar esses graduados, fato de grande importância para se
compreender quem detinha o poder no Brasil do século
XIX. Entrar na faculdade de direito dependia tanto do apadrinhamento das pessoas certas quanto das provas de
admissão. Isso também ocorria para se conseguir a aprovação
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
no curso: como explicou, em 1860, um preocupado paia um importante fazendeiro na província do Rio de Janeiro, "as
cartas que lhe tinha pedido para o meu filho em
S.P. ele não recebeu, assim como mais algumas que eu lhe escrevi (...) Ele mandou dizer que por falta delas foi
reprovado em Retórica"52. Muitos jovens da classe
média das cidades, mesmo alguns mulatos, davam um jeito de encontrar um protetor e conseguir ingressar, mas é
provável que a maioria dos candidatos bem-sucedidos
contasse com parentes ricos. A mudança da faculdade de direito da então pequena cidade de São Paulo para o Rio de
Janeiro, argumentava-se abertamente, "pela facilidade
que se abriria para os seus estudos às classes inferiores, entregaria a instrução superior e a magistratura nas mãos dela
(sic), com grave risco para o futuro das
instituições desse país "53.
A faculdade de direito certamente colocava os estudantes em contato com os membros da elite econômica e
política. Como Francisco Peixoto de Lacerda Werneck,
o barão de Pati do Alferes, escreveu a seu filho Manoel, aluno da escola em 1854: "Estimei muito que estejas vivendo
em companhia do filho do Euzébio [de Queirós
Coutinho Mattoso da Câmara], cuja amizade te pode a todo o tempo [ser] vantajosa. Mas é preciso

98 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

dar-lhe ao mesmo tempo bons exemplos, já de estudioso, prudente, e de bons costumes, porque é uma testemunha de
vista temivel para o teu futuro, porque o Pai ha
de ser sempre um dos nossos melhores homens de Estado, e muito poderá te ajudar depois. Mas é necessário que o não
deixe a entender nunca ao teu colega, porque então
dirão que obsequiaras com 2ª tenção, e perde todo o mérito tudo quanto fizeres em favor"54. Não dispomos das cartas
que Euzébio de Queirós escreveu ao seu filho,
mas outras evidências sugerem que um pai na política certamente aconselharia seu filho a aproximar-se de um colega de
turma tão intimamente ligado a um homem da
riqueza e prestígio social de Lacerda Werneck. Por meio desses contatos na faculdade e posteriormente outros, mesmo
juízes de origem modesta podiam estabelecer alianças
com os abastados ou encontrar noivas entre as melhores famílias, e deste modo saltar para dentro da elite.

Essas ligações também podiam mostrar-se cruciais para o futuro sucesso profissional de um juiz, cuja utilidade ao
governo central dependia delas em grande
parte. Pois, paradoxalmente, embora a lealdade de juízes ao governo central fosse crucial, igualmente importante era o
estreito contato que tivessem com os líderes
locais, em praticamente todos os municípios. Essas ligações permitiam-lhes transmitir as opiniões exatas dos potentados
do interior à capital. Simultaneamente, os
poderosos locais contavam com os juízes tanto quanto o faziam os líderes nacionais, e com os mesmos objetivos. Os
juízes serviam principalmente, nas palavras do
historiador Thomas Flory, como um "fulcro escorregadio", por meio do qual se empregava o poder de influência em
ambas as direções. Os juízes urdiam contatos que
às vezes duravam uma vida inteira. Como colocou um político, referindo-se a uma determinada localidade, "onde fui
juiz, tenho alguns amigos". E, claro, embora os
juízes tivessem que tomar decisões que contrariavam os interesses de certos proprietários individualmente, raras vezes,
se é que algum dia o fizeram, contestavam
a posse da propriedade em si; nisso, refletiam o objetivo comum dos líderes políticos e econômicos.

Quem Retinha o Poder? 99


Não apenas sua educação jurídica em direito romano enfatizava o princípio da autoridade, mas o lugar dos proprietários
na sociedade de um modo geral significava
que mesmo aqueles de origem social menos abastada seguiam a carreira jurídica precisamente para se unir à elite, não
para subvertê-la. Por isso, é um engano imaginar
uma dicotomia entre o Estado e aqueles que dominavam a sociedade 55.
Do mesmo modo que a estrutura social caracterizava-se por uma hierarquia de vários segmentos. as instituições
políticas também eram marcadas por uma ordem
claramente estratificada, com o ocupante de cada posição ostentando um status muito particular, que sempre o colocava
acima ou abaixo de outros. Não me refiro apenas
às elaboradas cerimônias que caracterizavam a vida na corte onde, como observou um dos mais eminentes juízes do
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Brasil, o imperador devia "estar cercado de todos
os respeitos, tradições e esplendor [pois] a consciência nacional precisa crer [que] (...) ele (...) está sobre a cúpula social,
vigiando os destinos da nação"55.
Em menor grau, todo funcionário público desempenhava um papel parecido. A lei especificava com detalhes o uniforme
a ser usado, como um signo do cargo oficial de
uma pessoa. Assim, um participante do Conselho de Estado podia ser visualmente diferenciado de um membro do
Gabinete. Tais roupas não eram reservadas a raras ocasiões
especiais; ministros de Estado, por exemplo, usavam-nas em seus encontros semanais com o imperador, e os deputados
o faziam ao menos durante as sessões anuais, quando
debatiam uma resposta à Fala do Trono. Um presidente provincial devia atrair logo a atenção com seu paletó verde
escuro e calças brancas, com listras douradas verticais
nas laterais externas das pernas, sobretudo se também usasse sua espada. De modo não surpreendente, aqueles que se
defrontavam com tanto refinamento, ao se saudar
a chegada de um presidente a uma província, empenhavam-se em exibir suas próprias "comendas e galões". O
regulamento descrevia minuciosamente o uniforme de muitos
burocratas, assim como a forma de tratamento

100 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


apropriado às suas categorias. Os rituais elaborados da corte do imperador, e as complexas normas do protocolo que
determinavam a precedência e a conduta entre a
nobreza, os cortesãos, juízes, senadores e conselheiros de Estado, mostravam ao país inteiro que os fundamentos da
identidade social de uma pessoa formavam-se a
partir de um lugar particular56.
A centralização, ao invés de ser imposta da capital, consolidou-se pela participação ativa dos proprietários em
todos os níveis da política, mesmo os mais
altos. Os homens de posses sabiam que as lutas em favor da autonomia regional ameaçavam muitas vezes desestabilizar
sua posição de superioridade sobre outros. Em
conseqüência, resolveram esse dilema jogando sua força nas instituições da autoridade central, enquanto mantinham
cuidadosamente seu controle sobre elas. Para manter
a ordem, estabeleceram sólidos vínculos para além das fronteiras regionais, apesar das lealdades locais. Decerto, como
observaram alguns dos que enfatizam a dependência
internacional do Brasil, o foco comum nas exportações deve ter incentivado seu esforço para construir um Estado
através do qual pudessem vincular-se aos mercados
externos57. Mas esse interesse não é suficiente para explicar seu apoio a um governo centralizado; ao contrário, como
esclareceu este capítulo, os homens de posses
escolheram esse caminho porque o Império, ao lhes conceder uma sólida autoridade legal e legitimar essa autoridade
com o peso de uma monarquia tradicional, servia-lhes
melhor do que poderiam esperar de repúblicas fragmentadas.
Inspetores de quarteirão, subdelegados, delegados e oficiais da Guarda Nacional trabalhavam junto com membros
do Gabinete, reforçando a ordem pública sobre
os escravos e os pobres. Uma devoção comum à coroa expressava simbolicamente essa unidade, mas sua essência
residia nas redes que se

Quem Retinha o Poder? 101


dedicavam, nacionalmente, a manter os princípios de hierarquia, deferência e obrigação. Essa aliança entre o governo
central e os que detinham o poder local explica
a longevidade do sistema. Após 1840 ou 1850, deve-se duvidar que tenha ocorrido qualquer divisão entre Estado e a
elite econômica nas diferentes províncias; naquela
época, a maioria dos potentados rurais em todo o Brasil passou a reconhecer o valor da autoridade central, até porque
esta reforçava a deles.

O clientelismo forjava os vínculos essenciais. Os líderes locais precisavam de nomeações para cargos de
autoridade, a fim de estender sua clientela e avançar
na escala de poder e status. Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro dependia da influência desses homens, mesmo na
mais remota vila dos sertões, para reforçar o poder
do governo central. Por esse motivo, a competência do juiz municipal na ligação dos figurões locais com os dirigentes
do sistema político imperial era crucial à
sua própria promoção a juiz de direito ou à sua eventual entrada para uma Relação. De modo semelhante, os chefes de
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
polícia e presidentes provinciais, de olho no
Gabinete para o futuro, certificavam-se de manter contatos estreitos com os notáveis locais. O Gabinete ponderava
cuidadosamente as vantagens de fazer nomeações
e ordenar promoções, transferir alguns, afastar outros, sempre atento aos interesses dos latifundiários. Preencher os
cargos com os clientes, amigos e parentes deles
constituía a essência mesma da política nacional. Nisso tudo, o Congresso desempenhava um papel central, pois o
Gabinete, mesmo que nomeado pelo imperador, devia
conquistar seu apoio. Com essa finalidade, era preciso que os Gabinetes vencessem as eleições.

TRÊS

Eleições e Clientelismo

DURANTE TODO O REINADO DE MEIO SÉCULO de Dom Pedro


II, o Brasil exibiu a completa aparência de uma democracia
representativa. Observadores estrangeiros eram praticamente
unânimes em louvar um sistema político tão parecido com os
regimes burgueses da Europa. O principal foco de seu entusiasmo
era a regularidade de eleições e a alternância de partidos no
poder. O governo tinha escrúpulos em respeitar a Constituição,
os direitos individuais pareciam protegidos, e nenhum líder
militar ou outro ditador derrubara o poder eleito. Um Senado
com cerca de 50 membros, eleitos por toda a vida, e uma Câmara
com aproximadamente 120 deputados, constituíam a legislatura.
O governo parlamentar significava que, na prática, os Gabinetes
tinham que receber a aprovação da legislatura para governar,
ainda que o imperador pudesse demitir um Gabinete e convocar
outro; quando um deles não conseguia a confiança da Câmara
de Deputados, pedia ao imperador que a dissolvesse e convocasse
novas eleições. Até 1881, essas eram indiretas, realizadas em
dois turnos: os votantes escolhiam seus eleitores, que se reuniam
nos Colégios Eleitorais, um por distrito; os eleitores votavam
para deputados, e quando um senador morria eles escolhiam três
nomes, dos quais o imperador selecionava um substituto. Os
Gabinetes Liberais revezavam-se com os Conservadores (quando
não se juntavam em coalizão, como fizeram de 1853 a 1856) e
um Partido Progressista, combinando elementos Liberais e

104 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Conservadores, teve algum sucesso na década de 1860. Até mesmo um Partido Republicano, organizado em 1870,
conseguiu obter uma pequena representação parlamentar
em 1884.
Para descobrir, sob as aparências, o que significavam as eleições para os seus participantes, é preciso estar atento às
várias dimensões interrelacionadas
da política brasileira, tanto em nível local quanto central. É esse o meu objetivo, neste e nos próximos capítulos.
Conseguir formar um grupo de seguidores, locais
ou nacionais, obviamente implicava assegurar a lealdade de outros; a fidelidade de um grupo podia ser demonstrada
mais efetivamente vencendo-se eleições. Por isso,
o governo - isto é, o Gabinete governante - usava o poder do clientelismo para garantir a eleição da Câmara de
Deputados que quisesse. E o chefão local usava sua
vitória nas urnas para mostrar que merecia receber os cargos públicos, para si ou seus amigos, enquanto seus adversários
faziam o que lhes era possível para desafiar
seu domínio eleitoral. Ao mesmo tempo, como a manutenção da ordem exigia a crença generalizada de que todos
tinham liberdade, e de que os oponentes tinham chances
de ganhar eleições, os que participavam do sistema enfatizavam a justeza do processo eleitoral. Os esforços para
garantir eleições abertas e livres, ao lado da preocupação
não menos real de vencê-las, naturalmente geravam muita angústia nos responsáveis pela votação.

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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Impulsos Contraditórios

De fato, os líderes políticos do século XIX lutavam com três impulsos conflitantes. Primeiro, sabiam que a
legitimidade do sistema político estava nos mecanismos
que possibilitavam a todos os membros da elite exercerem alguma autoridade, ou a certeza de poder fazê-lo se assim o
quisessem. Eleições honestas garantiam esse
fim. Segundo, sentiam como os alicerces do edifício social eram precários e tentavam consolidá-los, impondo
tranqüilidade pública e comportamento ordeiro. Por conseguinte,
as eleições não deveriam disseminar violência,

Eleições e Clientelismo 105


pois as dissensões poderiam destampar um vulcão. Terceiro, a liderança numa sociedade hierárquica dependia de
demonstrações públicas de lealdade. Não se podia perder
eleições. Em suma, elas deviam ser honestas e ordeiras, mas o partido governante deveria vencer sempre. No final, a
elite política brasileira resolvia seu problema
exercendo um firme controle eleitoral através do uso do clientelismo, e a principal preocupação deste capítulo é
examinar as técnicas específicas empregadas para
esse fim. Primeiro, contudo, sejamos claros num ponto: os líderes do país desejavam sinceramente, e acreditavam ser
possível, organizar eleições de tal modo que
a oposição ficasse satisfeita, contando que ela tivesse ao menos alguma voz. Realizar eleições significava sobretudo que
as elites brasileiras se preocupavam com
esse problema, pois do contrário, se a vitória do governo estivesse garantida, por que realizá-las? Além de outros
objetivos que podem explicá-las, as eleições adquiriam
importância porque legitimavam a estrutura de poder. O constante esforço de legislar eleições justas demonstrava uma
preocupação em abrir a política a homens de
opiniões divergentes, que assim não se voltariam contra o regime.
Poderíamos achar surpreendente essa preocupação com as eleições. O governo representativo não era uma herança
dos tempos coloniais, mas uma exótica ideologia
importada; e os princípios democráticos não se ajustavam à estratificada sociedade brasileira, razão pela qual a crença
contrária, na necessidade de impor a ordem,
vinha à tona com tanta obstinação, junto como - ou acima da - crença em liberdade eleitoral. Mas os brasileiros
persistiam em realizar eleições, e sua crença no
aperfeiçoamento eventual do processo continuava sincera, apesar de toda prova em contrário. Duas considerações
sustentavam essa insistência nas eleições. Primeiro,
como muitos povos na época, os brasileiros sentiram o impacto esmagador da "Era das Revoluções" e da crença
européia e norte-americana na liberdade. Toda pessoa
educada - não apenas os intelectuais -

106 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


sentia o impulso de um sistema de idéias proveniente dos centros mundiais de poder político e econômico. Exatamente
por causa da energia do capitalismo, sua ideologia
liberal exercia atração mesmo em regiões que não haviam sido centrais em seu nascimento e desenvolvimento, como o
Brasil. Um outro estímulo a favor do liberalismo
talvez esteja no fato de o Brasil estar tão envolvido numa economia de exportação, e portanto estreitamente ligado ao
mundo capitalista. Sem dúvida, membros da classe
superior viam-se como parte de uma civilização européia, enaltecendo então a liberdade e a vontade do povo.
Certamente, havia alguns raros dissidentes, como o membro
do Congresso que insistia em que "uma coisa (...) nos faz muito mal: é o exemplo da prática do estrangeiro. O nosso
governo, em regra geral, é exercido por homens
que (...) legislam essa terra como (...) Locke para a Carolina". Mas a maioria dos lideres políticos achava os princípios
de John Locke perfeitamente aplicáveis
à sua terra, se não no presente, então no futuro. Eles concluíam, sem muito entusiasmo, que as liberdades individuais
tinham que ser protegidas, a imprensa aberta
a todas as opiniões, e as eleições não apenas realizadas, mas livres, permitindo direitos significativos à minoria1.
Realizando eleições, eles definiam-se como parte
do mundo civilizado e europeu.
Havia uma segunda e mais pragmática consideração: com as eleições livres vinha a legitimidade que iria garantir a
ordem. Reconhecia-se amplamente que não
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
se poderia eternamente manter o comportamento pacífico apenas de cima para baixo. Como alguns, que julgavam ter
direito ao poder, inevitavelmente não o conseguiriam,
seu protesto precisava ser acomodado para que não ameaçasse a estabilidade. Era preciso arranjar um meio de
reassegurar-lhes que sua vez chegaria. Dom Pedro II observou
que, "para que o governo mesmo mantenha a ordem com toda a superioridade que lhe compete, é preciso que ele evite
as exclusões injustas"2. A harmonia pública exigia
pelo menos a crença no liberalismo, quando não a sua prática. Para conservar

Eleições e Clientelismo 107


a legitimidade do regime, as condições da vida política tinham que garantir aos adversários o direito de expressar sua
opinião, organizar seu partido e nutrir a
esperança de vitória. Essa esperança, por sua vez, dependia da percepção de justiça nas eleições. As eleições livres, ao
lado dos direitos individuais, não apenas
encorajavam a oposição politizada a aceitar o sistema existente, mas, num sentido maior, legitimavam o controle que
alguns poucos tinham sobre toda a sociedade e
desviavam a hostilidade dos despossuídos, onde essa existisse. Mais importante ainda, o liberalismo aparente do regime
talvez atenuasse a culpa tácita das classes
que monopolizavam o poder. Embora uma doutrina importada, o liberalismo servia a um propósito e ajustava-se a uma
necessidade.
Portanto, era importante garantir aos adversários que eles poderiam ganhar algumas vezes. Já que era impossível
cuidar de todas as ambições de um adversário
em potencial, era preciso procurar constantemente mecanismos novos e aperfeiçoados que dessem ao menos a
impressão de que as eleições eram justas. Toda lei eleitoral
tentava novas medidas para proteger o direito da oposição, limitar o controle governamental sobre as eleições e
aumentar a representação da minoria -isto é, os perdedores.
Tal esforço revelava a necessidade social de se acreditar na honestidade eleitoral. O fato de que as leis freqüentemente
tinham o resultado oposto daquilo que visavam
não minimiza a seriedade de propósitos daqueles que as redigiam. Os direitos da minoria a participar livremente das
eleições, ter uma voz, e até mesmo ganhar aqui
e ali, constituíam uma parte essencial das prioridades dos legisladores.
A lei eleitoral de 1846, que constituiu a lei básica durante trinta e cinco anos, dispôs deliberadamente uma série de
cláusulas destinadas, como descreveu
um contemporâneo, a "libertar o voto público, arredando dos atos eleitorais a interferência oficial dos agentes policiais".
Os críticos sustentaram, contudo, que,
uma vez que os candidatos lançavam-se em âmbito provincial, o sistema impedia a minoria de

108 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


conseguir quaisquer cadeiras parlamentares. Em maio de 1853, José Tomás Nabuco de Araújo, um estadista prestigiado
e brilhante, então Conservador, observou didaticamente,
em um Congresso inteiramente formado por membros de seu partido, que qualquer partido governante podia se
beneficiar da presença de alguns representantes da oposição.
Exortou o Gabinete a apoiar no futuro a eleição de "oposicionistas esclarecidos e moderados", visto que "desta maneira
se coloca o país nas verdadeiras condições
do sistema representativo, que não pode deixar de morrer se ficar falseado pela unanimidade". Em setembro daquele
ano, Dom Pedro II indicou um Gabinete que afirmou
que reconciliaria Liberais moderados e Conservadores, criando um espaço para ambos os grupos no sistema. O
Conservador Honório Hermeto Carneiro Leão, visconde e
mais tarde marquês do Paraná, presidiu um Gabinete que incluiu, por exemplo, o famoso ex-líder da revolta liberal de
1842, Antônio Paulino Limpo de Abreu, visconde
de Abaeté, ao lado de Luiz Alves de Lima e Silva, marquês e depois duque de Caxias, que devia seu nome em grande
parte ao feito militar de subjugar essas revoltas.
Também incluiu Nabuco de Araújo como ministro da Justiça. Com o apoio desses homens, Paraná apresentou uma
medida em 1855 - primeiro proposta pelos Liberais em 1847
-que pedia a divisão de cada província em vários distritos eleitorais, sendo que cada qual escolheria apenas um
deputado5. Vários Liberais conquistaram cadeiras
na eleição seguinte e o jurista Liberal José Antônio Pimenta Bueno acreditava, pelo menos em 1857, que o objetivo da
lei tinha se realizado, e que ela fortalecera
as liberdades da minoria6.
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Outros logo observaram que na realidade a medida dava ao partido do governo ainda mais poder do que antes, pois
os líderes dos partidos podiam agora concentrar
todos os seus esforços em alguns poucos distritos incertos. De fato, um aspirante a político na Bahia escreveu a um
membro do Gabinete que,- graças a essa lei, "só
sairá deputado (ao menos nesta província) (...) quem o governo quiser (...) Assim. V. Exa. me

Eleições e Clientelismo 109


protegendo, eu serei eleito". Numa eleição de âmbito provincial, prosseguiu, ele não temia competir com alguns dos
candidatos menores, "mas desgraçadamente, é de
círculos [distritos] e então a influência do governo é a única eficaz." Se o primeiro-ministro não pudesse apoiá-lo em
seu distrito natal, concluiu, "então me designe
para um outro círculo (do sertão), e aí a ação do governo ainda será mais infalível"7. Um comentarista observou que a
lei de 1855 cedia alguns deputados à oposição
"quando o governo os manda ou deixa eleger"8. Assim, em 1860, apenas cinco anos após essa primeira reforma, o
Congresso respondeu a tais queixas aumentando grandemente
os distritos para criar unidades das quais se elegeriam três deputados, a não ser nas províncias menores, onde as eleições
mais uma vez seriam em âmbito provincial9.
O princípio de possibilitar alguma representação da oposição persistiu. Em 1868, com os Conservadores outra vez
recém-empossados, um político na Bahia escreveu
para João Maurício Wanderley, barão de Cotegipe, membro do Gabinete, dizendo: "Sei quanto V. Exa. abunda nas idéias
de que façamos alguma concessão justa- mesmo
para que os nossos contrários não clamem que fechamos completamente as urnas". Alguns dias antes, esse mesmo
político observara que seria aconselhável permitir que
um liberal obtivesse uma das quatorze cadeiras da Bahia, "para mostrar que a eleição foi livre". No ano seguinte, o
Partido Liberal propôs que o problema fosse resolvido
pela modificação da lei, para que cada eleitor votasse em apenas dois terços do número dos deputados a serem eleitos
em seu distrito, dando assim alguma chance à
minoria de eleger delegados. Em 1875, um Congresso Conservador aceitou essa proposta e também retornou, mais uma
vez, às eleições em âmbito provincial. Contudo,
a lei, alcunhada de Lei do Terço, logo provocou outras críticas da oposição. Um político Liberal, ignorando o papel de
seu próprio partido na gestão desse plano,
achou "até uma ignomínia para a oposição quando, por grande favor, se lhe concede a representação do terço". E, claro,
um

110 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


planejamento cuidadoso entre eleitores sensíveis ao partido governante ainda podia assegurar que todos os seus
candidatos vencessem10. Em 1881, um governo Liberal
rejeitou a cláusula do terço, criando novamente distritos de um único membro, em mais uma fútil tentativa de
salvaguardar os interesses da minoria, isto é, dos adversários
do Gabinete então no poder11. A procura por um arranjo que carreasse a ampla aceitação do sistema político do
Império, e com isso a preservação da paz, continuava.
Era justamente em relação às eleições que os membros da elite exibiam com mais nitidez as contradições que
permeavam sua atitude em relação à ordem e à liberdade.
A liberdade constituía parte importante de sua retórica e vinha constantemente à baila como tema no discurso político.
Mas a ordem continuava sendo a preocupação
predominante; somente a ordem podia assegurar a verdadeira liberdade, já que "anarquia e despotismo" caminhavam
juntos, na realidade eram virtualmente sinônimoS12.
As eleições desmascaravam o autoritarismo que enrijecia sua concepção de liberdade e testavam a possibilidade de
coexistência desses princípios. Por um lado, de
todas as liberdades, as eleições livres eram as mais vitais. Por outro, contudo, a contestação de eleições disseminava a
desordem, capaz de ameaçar com a dissolução
da sociedade. Observem como se justificava o emprego oficial de força nas eleições: o presidente do Ceará, nas
instruções eleitorais enviadas a delegados e subdelegados,
insistia que "em hipótese nenhuma" se devia usar a força "como um instrumento de coação e de terror, a menos que seja
contra os provocadores de distúrbios e de cenas
desagradáveis". A exceção citada permitia a coerção ou terror contra os que solapavam o decoro. Uma mesa eleitoral
captou o tom correto ao relatar que a eleição
tinha sido "calma, moderada e justa", e a força usada apenas na "manutenção da ordem pública", já que muitos daqueles
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
que agora protestam contra a conduta da mesa
"prometiam ganhar por meio de desordem"13. Se as autoridades governamentais, representando o partido no poder,
acreditavam que as eleições podiam ser ao

Eleições e Clientelismo 111


mesmo tempo tranqüilas e honestas, então, logicamente, a desordem devia provir apenas daqueles que se opunham ao
partido governante, "o lado interessado na desordem"14.
E estavam certas: somente a oposição ao partido no poder se beneficiaria em desafiar a autoridade. Nesse sentido, a
liberdade era para quem apoiasse o candidato
do governo.
Também se empregavam com tal facilidade medidas para supostamente evitar a anarquia e manter a disciplina ao
nível local, a fim de garantir a vitória do
partido governamental, que, se uma eleição transcorria pacificamente, muitos brasileiros presumiam que ela havia sido
manipulada e sua liberdade comprometida: os
vencedores teriam subjugado totalmente os perdedores pelo medo. Se, por outro lado, a oposição ousava exigir seus
direitos, enfrentava com muita freqüência a força,
diante do que só a força era uma resposta adequada: então, a anarquia reinava. Portanto, se honestas, as eleições eram
tumultuadas, e se tranqüilas, eram desonestas.
Um presidente provincial se deleitou ao informar que não se precisava temer nada em um distrito, famoso por suas
"turbulências" eleitorais, porque um partido simplesmente
não participaria da eleição. Lamentavelmente, porém, acrescentou, em outro distrito a Relação concedera qualificação
para mais de 800 pessoas serem incluídas na
lista dos votantes registrados, estimulando assim a oposição a acreditar que tinha chance de ganhar; por isso tentariam
lutar agora "por todos os meios"15.
Seja como for, a ênfase oficial na liberdade, nas eleições livres e em outras liberdades conseguiu estabelecer a
legitimidade do sistema político por um
longo tempo. Existia liberdade suficiente, ou acreditava-se que existia, para comprar cumplicidade. Os que perdiam as
eleições não deixavam de protestar, mas não
se revoltavam em grande escala, pelo menos entre 1848 e 1889. Em 1876, Manuel Pinto de Souza Dantas queixou-se de
que "nunca foi maior nem tão indecente a farsa
eleitoral neste pobre Brasil", e perguntou: "que importa que o povo sofra, que as garantias políticas e civis lhe estejam
seqüestradas [e] que o

112 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


país seja presa de um partido intolerante e reator". Mas Dantas nunca tolerou qualquer intriga que implicasse a violenta
derrubada do governo ou do Gabinete.
Na verdade, quando no poder, manipulou as eleições tanto quanto qualquer um. Como explicou um escritor sardônico,
quando os Conservadores exerciam o poder, os líderes
Liberais "dizem aos de baixo, `cala a boca', que nós logo subimos, e então morderemos por nossa vez"16.
Um estímulo final complicava mais a prática política. Os que estavam no poder não podiam se dar ao luxo de
perder eleições porque a medida de um homem
dependia
do tamanho de seu grupo de seguidores e uma eleição perdida reduziria visivelmente essa comitiva. Ser demitido por
um superior no governo era tolerável, pois assim
é que devia ser; mas ser rejeitado por seus próprios seguidores indicava um fracasso de liderança, força, caráter, enfim,
da própria clientela. Exatamente porque
a elite local mudava e renovava-se com freqüência, seus membros mais fortes precisavam afirmar o tempo todo sua
autoridade por meio da vitória eleitoral. No nível
do Gabinete, a rejeição dos votantes iria solapar a própria hierarquia que as eleições deviam manter de pé, enquanto ser
demitido pelo imperador reforçavaa. Uma
derrota nas urnas implicava que os de baixo podiam, pelo próprio esforço, chegar ao topo; tal exemplo também seria
muito perigoso, se testemunhado pelos despossuídos.
Isso nunca acontecia. Nem o Gabinete nem o chefão local toleravam qualquer dúvida sobre o poder de comandar. Como
observou um contemporâneo, a maioria na junta eleitoral
necessariamente perguntaria: "O que querem? A mesa é nossa; por força devemos ganhar a eleição, sob pena de
desmoralizar-nos". Pois a dominação tinha que ser visivelmente
mantida e a vitória assegurada, mesmo em eleições aparentemente livres. O governo geralmente limpava o terreno e
sempre ganhava maioria parlamentar. Como primeiro-ministro,
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
em 1886, o barão de Cotegipe encolheu os ombros aos críticos que acharam a vitória Conservadora naquele ano
suspeitamente uniforme: "Quanto aos ataques da oposição,
ela que grita é porque lhe dói"18.

Eleições e Clientelismo 113


Encontrar um meio de satisfazer essas exigências conflitantes demonstrava o gênio dos que controlavam a política.
Eles trabalhavam de dois modos. Primeiro,
a legalidade de qualquer eleição podia conciliar-se com a necessidade de vencer eleições, se os responsáveis por cada
passo formal do processo eleitoral devessem
fidelidade ao Gabinete e sempre pendessem para o interesse do partido. Essa dependência mantinha a base legal da
eleição e os contestadores deparavam-se com obstáculos
esmagadores ao tentarem desacreditar seus resultados. Segundo, também se podia empregar o clientelismo para reduzir
uma potencial oposição, colocando seus pretensos
líderes em cargos de autoridade no governo. Fazer isso possibilitava que as eleições se realizassem com total legalidade,
enviando-se ao mesmo tempo para o Rio de
Janeiro deputados que apoiariam o Gabinete. O clientelismo tornava possível conciliar vitória com ordem e aparente
justiça.

A Estratégia do Clientelismo

O grande esforço para o exercício do clientelismo começava, de certa forma, com o próprio imperador. Ao nomear
o Gabinete, ele ocupava um lugar no topo da
"grande pirâmide", como um jurista a chamou. O poder moderador, que ele exercia junto com o Conselho de Estado,
"nomeando e demitindo livremente os ministros de
estado", incluía o direito de dissolver a Câmara dos Deputados e convocar novas eleições. De 1840 a 1889, Dom Pedro
II, sempre aconselhado pelo Conselho de Estado,
dissolveu o Congresso onze vezes; e sete Congressos cumpriram seu mandato completo de quatro anos. Houve,
portanto, um total de dezoito eleições nacionais durante
seu reinado. Como o Gabinete que supervisionava as eleições podia, pelo uso do clientelismo, conseguir a Câmara de
Deputados que quisesse, seguia-se que, como comentou
ironicamente um político na época, "a melhor e mais pensada atribuição do poder moderador" consistia em "o direito de
eleger representantes da nação". Em 1868, o
senador Nabuco de Araújo, então Liberal,

114 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


condenou sucintamente o "silogismo fatal" pelo qual "o poder moderador chama a quem quer para organizar o
Ministério; o Ministério faz a eleição; a eleição faz a
maioria. Eis aqui o sistema representativo em nosso país!"19
O primeiro-ministro capitaneava o trabalho eleitoral, pois sua vida política dependia disso. Escolhia seu Gabinete
com as eleições em mente, e ninguém duvidava
dos resultados. Como Paulino José Soares de Souza (depois visconde do Uruguai) escreveu em particular para um
amigo, em 1852: "A oposição disputou aqui a eleição
com grande fúria, e com grandes meios. Batemo-la completamente porque estamos no governo. Se ela estivesse no
governo, teria vencido completamente (...) Assim é
o sistema". Em 1866, quando os Liberais "puros" lutaram contra

Eleições e Clientelismo 115


o Partido Progressista, um político observou que "se o governo for puro, a eleição tomará essa cor (...) e se for
progressista, serão progressistas os votados".
Quando um primeiro-ministro percebeu a capacidade de um jovem auxiliar, disse-lhe um dia: "Precisamos fazê-lo, pelo
menos, deputado". E o fez. Outro político prometeu
a um amigo em busca de saúde em centros de tratamento europeus: "Se nossos amigos subirem ao poder, para sua
eleição não é mister precipitar sua volta. Efetue sua
segunda cura em Karlsbad e venha bom". Um crítico do regime resumiu assim: "Os representantes da nação só
representam o governo"20.
O Gabinete sempre assegurou resultados eleitorais favoráveis porque detinha o poder de fazer todas as outras
nomeações. Eles deviam prestar atenção a três
tipos de cargos. Primeiro, havia cargos que implicavam o controle direto de certos aspectos do processo eleitoral.
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Segundo, os que ocupavam alguns cargos - freqüentemente
os mesmos - podiam usar sua autoridade para influenciar o comportamento dos votantes, influenciando e mesmo
forçando o seu voto. Finalmente, os votantes, ou melhor,
seus protetores e eleitores, podiam ser ganhos com a garantia de cargos públicos que desejassem para si mesmos ou para
clientes seus.
O Gabinete indicava ou controlava a nomeação de um grande número de pessoas que desempenhavam legalmente
uma função pública nas eleições. Mesmo antes da
dissolução de um Congresso, o Gabinete esforçava-se, "nomeando presidentes e chefes de polícia de sua confiança,
removendo juízes de direito e dando as comarcas
aos seus protegidos, demitindo alguns empregados, reintegrando outros (...) [procedendo] a todos os atos preparatórios,
necessários ao bom êxito da eleição". Um
crítico veemente, Aureliano Cândido Tavares Bastos, execrava o sistema em que "um poder judicial dependente do
executivo. [e] uma centralização policial, administrativa
e política que lhe assegura a obediência da nação, bastam - com o auxílio das corporações religiosa e militar- para
consolidar a supremacia do executivo, isto é,
a dominação do soberano". Claro, o sistema nem sempre

116 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


funcionava com a certeza que lhe atribuíam seus críticos ou defensores, e em determinados lugares o governo podia
perder uma eleição. Afinal, um número muito grande
de pessoas moldava seu resultado, e as providências algumas vezes davam errado. Era preciso levar em conta também
as rivalidades locais. O controle efetivo do Congresso,
contudo, nunca falhava enquanto os membros do partido permanecessem unidos ali.
Para assegurar um Congresso cooperativo, o Gabinete dependia acima de tudo da força dos presidentes das
províncias. Um observador contemporâneo notou que
"o mais desconhecido cidadão nomeado presidente de província constitui-se logo, e por este simples fato, o único poder
eleitoral da província a que preside". Dom
Pedro II observou que "os presidentes servem, principalmente, para vencer eleições", e esperava que eles fossem
plenamente informados e se envolvessem nas organizações
eleitorais, embora afirmasse que "os que eu souber que intervieram em eleições nunca serão mais presidentes, se minha
opinião prevalecer"22. Aparentemente, sua
opinião nunca prevaleceu. Repreendidos às vezes por fazer com que os presidentes se imiscuíssem em objetivos
eleitorais, membros do Gabinete enfrentavam igual condenação
daqueles que os apoiavam se não o fizessem: "perderam os nossos amigos a eleição porque a província não tinha um
presidente [e por causa da] inépcia inqualificável
do vice-presidente". Dependendo da preferência política de uma pessoa, ela via a chegada de um novo presidente com
medo ou esperança: "Estamos vendo se podemos ultimar
a nossa chapa de d[eputados] Provinciais; o que muito dependerá do presidente que vir, que muito desejamos seja o
Tiberio, ou outro bom amigo. Qualquer que elle
seja, porem, V. Exa. recomende a mais séria cooperação para o triumpho da chapa"23.
Os bons presidentes já conheciam sua tarefa. Em 1871, o
presidente do Rio Grande do Sul escreveu ao primeiro-ministro para informar sobre as profundas divisões no Partido
Conservador daquele lugar e a falta de qualquer
líder capaz de reunir

Eleições e Clientelismo 117


as facções. Acrescentou confidencialmente, porém, que "assumindo eu, como delegado político do Gabinete presidido
por V. Exa., a direção suprema do partido, substituo
facilmente a ausência de outro chefe". Por isso, concluía, todo o faccionalismo local não seria "obstáculo à realização do
pensamento político do Gabinete (...)
quando ele tiver de apresentar-se no campo eleitoral". Nem todos os presidentes gostavam de fazer o que tinham de
fazer, e um deles, escrevendo do Pará, desejava
poder "desprender-me totalmente das considerações do partido e atenções que devo ter com os amigos do governo".
Outro presidente, este em Minas Gerais, enviando
ao Gabinete "um resumo das informações que tenho coligido a respeito dos candidatos que se apresentam em cada um
dos distritos eleitorais", acrescentava esperar
que fosse "exonerado logo que termine a campanha das eleições dos deputados", argumentando que, por motivos
pessoais urgentes, ele tinha que deixar o cargo 24.
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Assim que o presidente assumia seu posto, iniciava a ação eleitoral em todos os níveis. Exercendo com energia seu
direito legal de supervisionar o apropriado
cumprimento das leis, e sempre recorrendo à sua letra, quando não ao seu espírito, ele podia demitir um juiz de paz, que
normalmente presidiria a reunião do Colégio
Eleitoral, pelo motivo de ele não residir na paróquia. Ou podia afastar o presidente de uma mesa eleitoral local porque
acumulava um outro cargo público que havia
sido declarado incompatível com tal autoridade, ou mesmo com base em que uma pessoa culpada de um crime, embora
pudesse votar, não podia presidir à mesa 25. Algumas
vezes, as mudanças necessárias não chegavam a ser feitas a tempo. Nesses casos, um presidente tinha a surpreendente
autoridade de adiar uma eleição, reprogramando-a
para um momento mais oportuno, embora legalmente dentro de, no máximo, três meses. Também podia estabelecer
normas sobre a legalidade das eleições para juízes de
paz e membros das câmaras municipais - e portanto sobre quem presidiria as mesas eleitorais das paróquias e quem
contaria os votos dos Colégios Eleitorais. Tal autoridade
podia ser crucial

118 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


em época de eleição. A decisão de um presidente podia ser anulada por um ministro do Império, assim como pelos
tribunais, mas nesse ínterim seu poder era considerável26.
A nomeação de juízes dava aos Gabinetes uma alavanca ainda mais poderosa na máquina eleitoral. As Relações
examinavam recursos a respeito dos procedimentos
de qualificação e decidiam sobre casos envolvendo comportamento ilegal em eleições. Intermináveis discussões
centravam-se na presença de supostos falsos votantes,
ou "fósforos", e as Relações formulavam a decisão final. Um líder político na Bahia escreveu ao primeiro-ministro
sugerindo a nomeação de alguns juízes para uma
Relação porque: "estamos agora em minoria e tememos injustiça nos recursos da qualificação". Um presidente
Conservador relatou de Minas Gerais que, uma vez que contam
"os Liberais com todos os desembargadores da Relação (excetuado o Belém), crescem de arrogância". Decidindo sobre
a legitimidade dos procedimentos de qualificação,
um tribunal podia incluir "um número crescido de `fósforos'! Só pela freguesia de Santana admitiu ele [um
desembargador], nesta última revisão, perto de 200!" As
Relações também deliberavam sobre a validade de uma eleição, e podiam declará-la nula e suspensa. "Caí das nuvens",
escreveu um político experiente, "com a notícia
do que fez a Relação, e do número de eleitores a que ficou reduzida a província do Rio de Janeiro. Qual será, à vista
disso, o resultado da eleição na mesma província?
Até onde chega a paixão partidária? E depois queixam-se"28.
Juízes de direito e municipais também exerciam grande poder sobre os resultados eleitorais. Juízes de direito
podiam ser colocados em jurisdições difíceis
para criar um compromisso eleitoral, porém, com mais freqüência, eles pareciam desavergonhadamente parciais em
relação a uma ou outra facção. O presidente da província
do Rio de Janeiro escreveu a um juiz de direito em 1860, alertando-o para algumas trapaças em sua jurisdição e
instruindo-lhe que fosse à paróquia encrencada,

Eleições e Clientelismo 119


"sendo melhor prevenir do que punir tais abusos". Em 1856, na Bahia, quando um grupo de eleitores que tivera seu voto
recusado no Colégio Eleitoral veio apresentar
suas queixas ao juiz de

direito, este disse-lhes que "não se toma protestos por ordem do governo", e supostamente ordenou ao tabelião que
emitisse declarações falsas contra a contestação
deles. Os presidentes informavam com especial cuidado a preferência política de cada juiz municipal. No Rio Grande do
Sul, um presidente Conservador, recém-nomeado,
começou o trabalho verificando imediatamente, e com cuidado, a lista dos juízes existentes e seus substitutos. Depois
pedia aos líderes partidários locais suas sugestões
para juízes municipais, delegados e subdelegados. As respostas revelaram-se previsíveis: "esses três", disse um dos
interrogados, não devem ser mantidos "porque
aqueles dois são Liberais exaltados e este é duvidoso"; outro fez uma lista de substituições potenciais, dizendo: "a
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qualidade de qualquer destes indivíduos é boa
e todos são Conservadores"29.
A lei, como mostrei, tentava circunscrever o direito do governo de transferir juízes e limitava severamente o poder
de demiti-los. Contudo, sobrava um espaço
enorme para manobra. Podia-se usar até mesmo uma promoção judicial para prejudicar um inimigo: "A apregoada
nomeação do Dr. Afonso de Carvalho
para uma Relação longínqua, afirma-se, [é] para que não possa ele presidir a apuração eleitoral". Um deputado alegou
que
algumas longínquas comarcas, do interior remoto, haviam sido propositalmente elevadas ao mais alto nível para que
essas transferências de juízes municipais se tornassem
legais - lugares "para degredo mais tarde dos juízes de excelentes comarcas [mas] de segunda entrância, que tenham
incorrido no desagrado do governo"30. De vez
em quando, o governo recorria a meios mais radicais: em 1862, João Lins Vieira Cansansão de Sinimbu, um ministro da
Justiça Liberal num Gabinete de coalizão, impôs
a muitos juízes vitalícios aposentadorias forçadas, com salário mas sem cargo. Com propósitos eleitorais em mente, o
Gabinete Liberal em 1844 transferiu 52 dos 116
juízes de direito; em 1848,

120 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


os Conservadores transferiram 700. Os juízes municipais - não vitalícios - eram naturalmente ainda mais vulneráveis
que os de direito. Como se expressou o autor
de
uma carta em 1878: "Todas as varas [municipais] no Piauí estão ocupadas por juízes que findaram o quatriênio". Agora,
com a "subida do Partido Liberal", esses lugares
podiam ser ocupados por "amigos correligionários". Os candidatos sabiam muito bem que a substituição de juízes
municipais era a chave para sua eleição. Esperando
se tornar deputado, Manuel Pinto de Souza Dantas sugeriu que seu irmão fosse nomeado juiz municipal, na cidade de
Pombal: "sem pão nem pedra ele chamará os pombos
à nossa bandeira"31.
Por todos esses meios, o presidente do Conselho de Ministros, agindo diretamente ou através de outros, podia
quase determinar os resultados das eleições,
e fazê-lo inteiramente dentro da lei. Ele nomeava os presidentes das províncias, que podiam anular a eleição de juízes de
paz (que presidiam as mesas e os Colégios
Eleitorais) e dos membros das câmaras municipais (que controlavam o recurso do processo de qualificação e, nas
cidades que encabeçavam os distritos eleitorais, apuravam
os resultados dos Colégios Eleitorais). Aconselhado pelos presidentes, o ministro da Justiça podia transferir e afastar
juízes de direito e municipais, assim como
os que tinham assento nas Relações, e assim obter acórdãos favoráveis sobre a legalidade de qualquer processo eleitoral.

O Poder de Coagir

Um meio ainda mais direto pelo qual o partido no poder moldava os resultados eleitorais era controlando cargos
que, embora não diretamente relacionados ao
processo eleitoral, influenciavam os votantes. Na ausência de uma cédula secreta - as cédulas consistiam de listas de
nomes depositadas na urna eleitoral à vista
de todos os espectadores - a pressão governamental era altamente efetiva. Apesar de "o mais simples campônio sabe[r]
empalmar uma cédula para deixar cair outra

Eleições e Clientelismo 121


anteriormente recebida"33, uma ação como essa constituía deslealdade e implicava sério risco. A maioria dos votantes
não teria tido suficiente independência para
manter em segredo o conteúdo de suas cédulas. Um membro do Congresso descreveu como "os `fósforos' e os votantes
da polícia servem para a depuração dos eleitores:
(...) A polícia se encarrega disso por

meio dos votantes fracos, dependentes, que se deixam intimidar ou ameaçar, por ela ou por esses que [na verdade]
merecem tanta má vontade do governo, os potentados
das aldeias e das paróquias". Com essas palavras, o narrador também sugeria em que sentido os interesses locais e
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centrais entrelaçavam-se. Por outro lado, os choques
entre líderes locais, associados à imensa extensão do território nacional, significavam que as pessoas nomeadas podiam
nem sempre agir de acordo com as instruções
que recebiam. Um político observou que, nas eleições para membros das assembléias provinciais "entra muito o
interesse local, e a pressão do governo sobre o eleitorado
não é tão forte nem tão sistemática como em uma eleição de senador na
província inteira". Além disso, as eleições nas cidades mostravam-se difíceis de manipular. Os Conservadores sabiam
que a cidade do Rio de Janeiro constituía o "baluarte da dissidência". Acima de tudo, porém, o Gabinete contava com
reações favoráveis devido a nomeações cuidadosas 34.
Praticamente todo cargo público tinha, por definição, poder para exercer sanções ou conceder recompensas. Se os
ocupantes usavam rotineiramente esses poderes
para ganhar eleições é mais difícil de provar, porém os fragmentos de informação que vêm à tona indicam que os
contemporâneos viam todo cargo nomeável em termos
de possível ganho eleitoral. Alguns até se prevaleciam de seus subordinados no serviço público. Um inspetor da
alfândega, por exemplo, organizou seus funcionários
em turnos e depois, junto com os chefes Conservadores de outros departamentos, "levaram [com] 12 guardas e vigias da
Alfândega (...) os empregados (...) da Alfândega
(...) e muitos outros empregados do Tesouro, Marinha

122 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


e Telégrafo, debaixo de guarda e constante vigilância, às urnas. (...) Os nossos adversários intimidam votantes
Liberais"35.
Até o corpo docente das faculdades de direito e medicina podia exercer uma significativa influência sobre os
votantes. O presidente de São Paulo relatou,
em 1861, que um juiz de direito caiu sob o jugo dos professores da Faculdade de Direito, na esperança de sucesso
acadêmico "de dois filhos, um dos quais se acha
matriculado no 1º ano e outro no 3º, e de um genro no 5º". Acrescentou que seis catedráticos "se apresentaram
candidatos nas últimas eleições gerais, prevalecendo-se
principalmente para isso do poder discricionário da aprovação e reprovação de seus alunos". Docentes da faculdade de
Medicina na Bahia exerciam um poder semelhante,
e um Conservador observou preocupado que a escola "está ficando um ninho de Liberais". Manuel Vitorino Pereira, que
ali era o líder político Liberal, a quem um Conservador
acusou de ser "um energúmeno que persegue e hostiliza ostensivamente a tudo que é Conservador", fiava-se no irmão,
vice-diretor da escola médica e "instrumento cego"
de Vitorino para "fazer politicagem até mesmo na distribuição de equipes de examinadores!"36.
Com essas realidades em mente e motivado pela preocupação constante de atenuar as acusações de ilegitimidade, o
Congresso interditou o exercício de várias
funções por candidatos a cargos eletivos, proibindo os ocupantes de certos postos de concorrer a cargos nos municípios
onde exerciam autoridade. Por uma lei de 1855,
essas "Incompatibilidades" aplicavam-se não apenas aos presidentes das províncias e aos chefes de secretariados
provinciais, mas também a oficiais comandantes da
Guarda Nacional, generais do Exército, inspetores do Tesouro, chefes de polícia, delegados, subdelegados e juízes de
direito e municipais. Aqueles que desejassem
se candidatar tinham que renunciar um número especificado de meses antes de uma eleição37. Em reação, pelo menos
um candidato achou aconselhável pedir "uma comissão
que me possa dar algum brilho (...) visto que a nova lei de

Eleições e Clientelismo 123


incompatibilidades (...) de alguma maneira ofende as aspirações da magistratura"38.
Uma idéia de como os cargos públicos pareciam suscetíveis aos propósitos políticos pode ser deduzida da lista
cada vez maior de incompatibilidades. Em 1860,
os legisladores acrescentaram os juízes de órfãos, assim como os substitutos de todas as autoridades mencionadas
acima; em 1875 expandiram ainda mais a lista, sem
dúvida em resposta às queixas contra a influência sobre os votantes, e incluíram bispos, vigários, inspetores
alfandegários, desembargadores, promotores públicos
e mesmo inspetores e diretores de escolas públicas; e em 1881 acrescentaram o diretor geral do Tesouro Nacional, os
chefes das burocracias dentro de cada ministério,
os chefes de todas as repartições arrecadadoras de impostos, os administradores do Correio, professores nas faculdades
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
de direito e medicina e todas as outras instituições
de ensino superior e os juízes dos tribunais eclesiásticos39. Muitos comentaristas, contudo, questionaram a eficácia
dessas leis. Como se expressou Joaquim Nabuco,
sobre a lei que proibia aos presidentes provinciais disputarem uma cadeira no Congresso em suas próprias províncias:
"puseram em prática o sistema de eleição mútua,
do `Elege-me tu que te elegerei eu"'. De qualquer modo, devido ao poder do governo para esmagar protestos da
oposição, os atores políticos muitas vezes ignoravam
a lei ou, como explicou um observador: "ficavam as incompatibilidades só para os adversários". Um deputado observou
em 1875 que jamais uma cadeira no Congresso fora
recusada a alguém devido a essas leis 40.
Malogrando tudo mais, os ocupantes de cargos públicos usavam a força direta para coagir os votantes. O emprego
de métodos violentos, é verdade, tinha a desvantagem
de solapar a reivindicação de legitimidade, pondo assim em risco os interesses sociais mais amplos a que serviam as
eleições. Algumas vezes, contudo, o ganho parecia
compensar o risco e, de qualquer modo, podia-se sempre recorrer ao pretexto de que se usara a força para manter a
ordem.

124 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


O governo procurava influenciar os votantes nomeando os que eram capazes de usar a força contra eles: em
primeiro lugar os chefes de polícia, delegados,
subdelegados e inspetores de quarteirão. Como reconheceu um membro do Senado em 1868, com um Gabinete
Conservador designado para substituir o Progressista, ele "não
concebe a possibilidade de fazer-se uma eleição (...) sem uma inversão geral nos agentes da administração, desde o
inspetor de quarteirão até o mais elevado empregado
policial". Os contemporâneos geralmente concordavam que, se um novo partido assumisse o Gabinete, não podia
"prescindir, sob pena de suicídio, de mudar a imensa
falange de autoridades policiais". Os presidentes eram os principais responsáveis por fazer essas nomeações policiais.
Preparando-se para as eleições no Ceará, um
presidente demitiu "três promotores, cinco delegados, três adjuntos de promotor, 10 ou 12 subdelegados, dois
carcereiros e um administrador da cadeia dessa capital"Além
de fornecer informações às mesas eleitorais e de qualificação, nenhuma dessas autoridades exercia uma função oficial
no processo da eleição. Sua importância provinha
antes de sua prerrogativa legal de dispor de
força e deste modo, basicamente, de sua capacidade de ameaçar ou "comprimir o voto [pressionar o votante]". Um
delegado na província de São Paulo chamou inspetores
de quarteirão para "intimar os votantes para em tempo receberem as cédulas do delegado, sob pena de quinze dias de
prisão e trinta mil-réis de multa no caso de desobediência".
Portanto, tornou-se lugar-comum, como relatou um crítico, que essas autoridades policiais passassem a "Intimidar" a
população na época de eleição: "os votantes que
não se curvam de modo algum a essas exigências são convidados a passar uma péssima noite sob boa guarda". Outro
observador disse que essas funções davam a polícia
o poder de "fazer eleições"42.
Os delegados empenhavam-se com entusiasmo na fraude eleitoral. Vale repetir que os delegados, embora
nomeados pelo governo, provinham em geral da classe
dos proprietários rurais e cada um chefiava uma clientela local. Dispor de autoridade

Eleições e Clientelismo 125


legal para controlar os votantes ou desarmar adversários ajudava em muito suas tentativas de formar um grupo de
seguidores, mesmo que eles sempre agissem em nome
da ordem. Em 1863, um subdelegado num canto distante do sertão da Bahia informou que, embora achasse "os ânimos
alguma coisa exaltados (...) pretendo conseguir que
a eleição corra placidamente". Depois explicou seu método. Quando o presidente da mesa eleitoral o convocasse "para
manter a tranqüilidade e a segurança da urna
na Igreja Matriz" (o lugar normal de votação em todo o Brasil), ele punha de sentinela três dos seis homens da
corporação policial da província que haviam sido designados
para sua comarca "nas portas principais [da igreja para que] fossem revistadas todas as pessoas que entrassem a fim de
proibir entrar algum armado", e os outros
três para vigiar "o armamento [confiscado] em um lugar fora da matriz". O presidente do Ceará autorizou os delegados e
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
seus substitutos a estender a vigilância além
das portas da igreja, para que pudessem "recolher" quaisquer "homens embriagados" perto da igreja e revistar todas as
pessoas suspeitas de portar "armas proibidas".
Cabia aos delegados decidir quem revistar43.
Na Guarda Nacional, o governo descobriu outro meio importante de influenciar as eleições. "Aqui o meio mais
fácil
de V. Exa. contar ganhas as eleições é V. Exa. nomear o capitão
(...), cidadão honrado e de muito séquito (...) para o lugar de
Comandante Superior e eu chefe do Estado-Maior e reformar o
tenente-coronel João (...). Se V. Exa. não puder fazer esta
nomeação antes de setembro, ordene-me e mande a força
necessária que hei de ganhar nem que seja à força de armas",
escreveu um ambicioso líder local44. Uma das principais
responsabilidades dos presidentes provinciais, portanto, consistia
em influenciar nas nomeações para o corpo da Guarda Nacional.
João José de Oliveira Junqueira, quando se candidatou a
deputado na Bahia, insistiu em que, para seu partido ter êxito,
"os comandantes superiores da Guarda Nacional, os comandantes
dos Corpos [Policiais] e o pessoal da polícia administrativa de-

126 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


vem ser quanto antes mudados". Mais tarde, quando o próprio Junqueira ocupou o gabinete, vangloriou-se de que estava
fazendo várias nomeações para a Guarda em preparação
para as eleições próximas45.
As forças armadas regulares constituíam um instrumento de força final, a ser usado pelo governo na época da
eleição. Como um primeiro passo, os oficiais
do Exército podiam modificar os votos de seus oficiais subordinados (os soldados rasos não votavam). Como relatou o
presidente Conservador do Rio Grande do Sul em
1871, um general veterano da Guerra do Paraguai - Manuel Luís Osório, o marquês do Herval promoveu a causa Liberal
entre seus oficiais na província, enquanto outro
usava seu cargo de inspetor de tropas para "exercer mui decisiva influência" sobre eles. Deste modo, o objetivo político
vinha logo à tona nas nomeações militares.
Quando o marquês do Herval tornou-se ministro da Guerra em 1878, mexeu com a maior desfaçatez em todos os
escalões do pessoal militar até segundos-tenentes, com
base em suas preferências políticas. Em 1882, seu sucessor, também um Liberal, recebeu uma carta de um
correligionário de Pernambuco, pedindo que um certo major
do Exército fosse nomeado diretor do Arsenal de Guerra no Recife. O autor da carta acrescentou: "devemos nos preparar
para a oposição, criando elementos de força
e adesão. (...) O major (...) neutralizou as perseguições políticas a correligionários, quando ajudante no Arsenal de
Guerra, ao tempo dos Conservadores"46.
Na melhor das hipóteses, o objetivo de garantir a ordem separava-se do objetivo de vencer uma eleição apenas por
um tênue fio, e os militares desempenhavam
seu papel nesse quadro. Em 1860, os candidatos da oposição empreenderam uma ativa campanha na cidade do Rio de
Janeiro. Teófilo Otoni, líder da rebelião Liberal
de 1842, em Minas Gerais, foi rejeitado para senador duas vezes, embora tivesse recebido mais votos do que cada um
dos dois candidatos da "lista tríplice" apresentada
ao imperador. Ele se tornara um símbolo de dissidência, e em 1860,

Eleições e Clientelismo 127


então com cinqüenta e três anos, comandou a campanha nos distritos urbanos do Rio de Janeiro. Usando um lenço
branco como símbolo, conseguiu mobilizar o populacho
urbano. Encontrou um aliado em Francisco Otaviano de Almeida Rosa, trinta e quatro anos, filho mulato de um médico,
que subira no Partido Liberal graças à sua mente
afiada e competência jurídica, porém ainda mais por causa de sua pena mordaz de redator de um jornal do partido. A
candidatura desses dois homens despontou como
um desafio direto ao governo Conservador; com os ânimos incendiados, as ameaças à ordem pareciam um perigo maior
que a perda de uma ou duas cadeiras no Congresso.
O ministro da Justiça informou ao chefe de polícia local que pedira ao ministro da Guerra "que da tropa de linha (...)
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
mande algum auxílio ao Corpo Policial para
as patrulhas que devem rondar a cidade nos dias 7, 8 e 9 do corrente", ou seja, nos dias de eleição. Além disso, o chefe
de polícia podia convocar outras tropas
nos quartéis,
"para alguma ocorrência extraordinária". Acrescentou que "a firmeza e energia da autoridade [civil] suprem com grande
vantagem o emprego da força", admitindo assim
que um apelo às forças armadas revelava derrota. Numa reunião do Gabinete, os ministros determinaram exatamente
que unidades deviam estar prontas para a ação na
cidade, paróquia por paróquia. Por exemplo, na turbulenta comarca popular de Santana haveria "duas patrulhas de
cavalaria e três de infantaria no alcance do apito
e 30 homens (...) postados no Quartel do Campo [de Santana]". Ainda se pode ver os rabiscos do ministro da Justiça
("Fósforos! Petição/Bombeiros") sugerindo que
o aparecimento de votantes supostamente falsos exigiria ações para reprimir as multidões furiosas. Suas notas
prosseguiam: "No posto central da Polícia 30 homens
do Corpo Policial para quaisquer diligências além de 20 à paisana à disposição do Chefe de Polícia para serem
empregados nas diversas freguesias". No entanto, a
eleição revelou-se turbulenta assim mesmo, e Otoni e Otaviano saíram vitoriosos47. A eleição de 1860 também se
mostrou ameaçadora para
os Conservadores em outros lugares no país, e líderes repetidas

128 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

vezes recorreram às forças armadas regulares para "manter a ordem". O presidente da província do Rio de Janeiro pediu
ao ministro da Marinha: "faça sair um navio
de guerra que vá ancorar nas proximidades da Freguesia da Ribeira e Saco de Jerumerin, e cujo comandante se entenda
com as respectivas autoridades para prestar-lhes
qualquer auxílio que se torne necessário à manutenção do sossego, caso ele seja perturbado". O presidente do Espírito
Santo foi mais cauteloso, insistindo para que
as Forças Armadas que enviara para Itapemirim agissem apenas quando as autoridades civis locais pedissem ajuda "por
escrito", e não fossem usadas para favorecer
qualquer um dos "partidos locais" contra o outro. No Ceará, como no Rio de Janeiro, o presidente provincial lançou
mão do envio de tropas de linha para vários pontos.
E no Pará, um colérico juiz de direito informou que o delegado chegara à igreja da paróquia acompanhado por "quatro
ordenanças, todos anspeçadas, segundo denotavam
as divisas bem largas e vivas que traziam nos braços", para intimidar assim os votantes 48 .
As queixas contra o papel dos militares nas eleições eram inevitáveis. Uma mesa eleitoral incluiu em suas atas o
protesto de seus membros minoritários, de
que no dia 10 de janeiro "fora colocada nas portas da Matriz uma força de linha composta de quatorze praças com
baionetas colocadas sob o comando do tenente Figueiredo
por ordem do delegado, (...) a qual dava busca rigorosa nos eleitores e suplentes que ali concorriam para a formação da
mesa paroquial; (...) com o que se espalhou
o terror e a coação da população". Trinta anos depois, o presidente de uma mesa eleitoral relatou que, quando chegou no
lugar estipulado para a eleição, encontrou-o
fechado e cercado pela "força pública atualmente destacada nesta cidade e composta de soldados de linha e de polícia,
todos eles armados de carabinas e baionetas,
estando as imediações (...) ocupadas por capangas armados". Os soldados lhe disseram que estavam ali "por ordem
superior" e o prédio permaneceu fechado o dia inteiro".
O reconhecimento de que se usavam as forças armadas não apenas

Eleições e Clientelismo 129


para manter a ordem, mas também para impor a vontade de um grupo sobre outros, reflete-se nas cláusulas da lei,
freqüentemente repetidas, que proibiam os "arrumamentos
de tropas", ou qualquer "ostentação de força militar" num raio de uma légua ou seis quilômetros do local da eleição.
Não obstante, como observou um contemporâneo:
"destacamentos de tropa de linha, da Guarda Nacional ou da polícia fazem, ao sabor do presidente da província, os mais
dóceis e arregimentados votantes"50.
Por ser tão temido, o recrutamento para a Guarda Nacional ou as forças armadas regulares logo se tornou a ameaça
preferida para se ganhar apoio eleitoral.
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
O uso tão especializado desse meio habitual de coação merece uma atenção específica aqui. Um estadista afirmava que
a autoridade para intimar homens para o serviço
na Guarda Nacional mostrava-se um "terrível instrumento eleitoral", que os "prepotentes do lugar", que geralmente são
"chefes da Guarda Nacional, usam para os seus
próprios fins". Essas acusações são sustentadas por muitos exemplos específicos nos registros da época. Um capitão da
Guarda Nacional supostamente tentou forçar
"um votante do lado Conservador a aceitar uma cédula do Partido Liberal,

intimando-o com prisão e serviços, por ser esse votante guarda de sua companhia"51. Em 1846, os legisladores acharam
necessário especificar que a partir de dois
meses antes de qualquer eleição, e até um mês depois, não devia haver recrutamento para o Exército ou a Marinha. As
autoridades locais, contudo, muitas vezes ignoravam
ou se esquivavam da lei. Um juiz de direito relatou de São Paulo, em 1860, que o delegado usou o "recrutamento (...)
para aterrar o povo (...) para o obrigar a
votar como ele no Partido Liberal". Quando o juiz o advertiu que, segundo a lei, não se podia fazer nenhum
recrutamento em época de eleição, o delegado respondeu
que "só na ocasião da eleição se poderia realizar, porque é quando apareciam os indivíduos que estavam no rol dos
recrutáveis"52. A Guerra do Paraguai intensificava
a demanda por soldados, aumentando as oportunidades de pressão eleitoral. "A ineficiência de tal sistema de

130 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


recrutamento, como meio de preencher as fileiras do exército, está mais que provada", concluiu um observador; "não
resta dúvida, porém, da sua eficácia como meio
eleitoral"53.
O principal uso da força residia na oportunidade que ela abria para o exercício da coação benevolente, ou seja, as
pessoas ficavam gratas quando seu uso
era suspenso. Se usada com demasiada freqüência, como medida coercitiva, ela perdia sua eficácia; mas empregada com
reserva podia despertar gratidão. Segundo notícias,
um delegado ordenava um recrutamento em massa sempre que se aproximavam as eleições. "Pensais", perguntou um
comentarista, "que as fileiras do exército engrossassem
com tamanha leva? Engano. Os pais, mães, irmãs e mais parentes dos recrutas corriam a lançar-se aos pés do nosso
delegado, e o bom homem, enternecido, acabava sempre
satisfazendo-os `por aquela vez' e recebendo as bênçãos e a sincera gratidão de todo aquele povo. Era gente certa com
que (...) podia contar na próxima campanha
eleitoral". Um presidente provincial explicou que os oficiais rotineiramente dispensavam seus homens do serviço na
Guarda quando eles "os tinham auxiliado nas eleições"54.
Como todo poder de coerção, seu verdadeiro uso está em isentar aqueles que se demonstraram leais e obedientes.

Recompensa por Cargos

Em alguns aspectos, o uso convencional do patronato, a concessão de cargos como prêmios e recompensas pelo
apoio eleitoral demonstravam ser até mais eficientes
que a indicação para cargos que controlassem diretamente o processo de votação ou que pudessem pressionar os
votantes. Os interesses dos chefes locais visavam esse
tipo de benefício, e portanto as colocações atraíam de forma mais imediata aqueles que sempre exerciam a autoridade
do sistema sobre os votantes e sobre todos os
demais. Os cargos mais cobiçados ampliavam a autoridade do nomeado, que, pelo simples fato da nomeação, já
angariava clientes para si. Para um protetor, a procura
de cargos e a luta eleitoral formavam dois lados de um único esforço: ampliar a clientela.

Eleições e Clientelismo 131


Assegurar indicações resultava em seguidores leais, que demonstrariam sua fidelidade votando como lhes mandavam; a
vitória eleitoral comprovava sua autoridade local
e ajudava a lhes garantir nomeações públicas.
Após uma eleição, os líderes políticos usavam regularmente as nomeações como recompensas aos que haviam sido
fiéis ao partido e aos seus parentes. Postos
na Guarda Nacional eram especialmente procurados. Algumas vezes os candidatos ofereciam antecipadamente os cargos
àqueles que os ajudariam nas eleições; um comandante
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
afirmou que os Liberais uma vez prometeram "cada um dos postos vagos a 10 ou 20 indivíduos". As coleções de leis,
escreveu um crítico, abarrotavam-se de editais
"criando, dividindo e subdividindo incessantemente os comandos (...) para se poderem fazer nomeações de oficiais,
alargar e aguarentar [cercear] influências eleitorais".
Não era fácil contrapor-se à atração de tais cargos: o marquês do Herval tentou conquistar alguns eleitores que haviam
recebido dos Conservadores postos na Guarda
Nacional, dizendo com uma desastrada bajulação: "tenho certeza de que você não liga mais importância à posição
oficial fictícia que lhe deu o governo à afeição de
seus amigos, camaradas, correligionários políticos, por isso que você não precisa de posição oficial para ter verdadeira
importância social e ser considerado"55.
Afonso Celso de Assis Figueiredo, mais tarde visconde de Ouro Preto, afirmava que na Guarda Nacional, mesmo depois
de ter perdido suas funções policiais em 1873,
os postos de oficiais continuaram sendo "verdadeiras distinções honoríficas, com que os partidos galardoam seus
melhores cabos". Na verdade, as nomeações para oficiais
da Guarda Nacional eram feitas de forma tão consistente para os que possuíam proeminência eleitoral que a própria
palavra coronel passou a ser sinônimo de chefão
político 56.
Muitos outros cargos variados eram usados como recompensas ou então como promessas: "Com uma vaguinha no
Supremo Tribunal e uns pequenos retoques pela Recebedoria,
a

132 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


felicidade dos candidatos Conservadores pela capital seria completa". Uma concessão comercial, disse um candidato,
"me dará três votos: tudo agora são eleições".
E muitas vezes a ocupação de um cargo trazia consigo o direito de ocupar outros. Assim, uma carta, ao recomendar
alguém para um cargo, observava que, "além de ser
rendoso, é de suma importância política para o sul da província [pois por ela] poderão ser acomodados muitos
correligionários e amigos". Parentes compartilhavam
a generosidade. Um candidato bem-sucedido no interior da Bahia sondou um cargo para o irmão de um homem "a quem
sou muito obrigado porque foi todo nosso"56.
Assim, em última análise, o Gabinete conseguia controlar as eleições por meio de suas concessões aos chefões
locais. Tendo recebido um cargo, eles ligavam-se
àqueles que o haviam concedido. "Uma certa nomeação (...) não deixou de concorrer para que ele compreendesse que a
beijos não se opõe senão com abraços", escreveu
um político. Sobre outro caso, reconheceu que não toleraria deslealdade: "Eu tomo conta dele se porventura se esquecer
dos benefícios recebidos". Pode-se ter uma
medida da tarefa do Gabinete quando ela não era cumprida. Um político Conservador chamou a atenção de um novo
primeiro-ministro para a necessidade de readmitir um
chefe Conservador no cargo que ele ocupara antes em Lençóis, no sertão da Bahia, um emprego do qual o homem fora
afastado pelos Liberais. Se o que está ocupando
o cargo continuasse a "servir, apesar de grande Liberal e preposto do Sr. Zama, então é o mesmo que o Governo dar um
público testemunho de que auxilia esse caudilho
da desordem, nosso inimigo nato e irreconciliável". Quatro dias depois, retornou veementemente ao assunto,
reclamando que o candidato ao cargo fora "iniquamente
esbulhado [de seu emprego] pelos nossos adversários; a demora é de grande alcance moral"58.
O poder de nomear trazia consigo o poder de demitir, recompensas implicavam punições, e protegidos
desobedientes às vezes precisavam receber uma lição. O
ministro da Guerra observou em 1872 que, da Bahia, "me escrevem que o Inspetor

Eleições e Clientelismo 133


do Arsenal portou-se mal nas eleições e auxiliou os Liberais. Está assentada a substituição dele pelo (...)". Tanto os
Liberais quanto os Conservadores teriam provavelmente
aprovado a inclusão, numa lista de oficiais do Corpo Policial a serem demitidos "para bem da moralidade e disciplina",
um deles que "além disso é Republicano". A
punição também podia cair sobre o protetor local de um membro do Congresso que não se comportara: "Leu no Jornal
do Comércio de hoje o artigo do deputado (...)?
Devo dizer-lhe com franqueza que, se eu governasse só, responder-lhe-ia propondo amanhã a demissão de quem o fez
deputado"59.
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Nem todos os líderes aprovavam essas técnicas. Como primeiro-ministro em 1885, o formidável barão de
Cotegipe, tendo esquecido as próprias ações violentas
em momentos passados, e de certo modo desculpando-se por aquelas que ainda praticava, exclamou: "Basta de
demissões? O sistema de terror é mau sistema". Reagiu às
críticas à sua recusa a demitir Liberais em massa, dizendo: "A voracidade com que se atiram aos empregos, a [ilegível]
que. querem fazer contra todos os liberais,
além de injusta, em muitos casos é impolítica, porque atira com
fúria ao campo contrário homens que não seriam hostis, uns por lealdade, outros por temor". Outros também sabiam que
a prática podia ter conseqüências terríveis.
Em 1855, um político baiano escreveu a Cotegipe: "Lamento o que aconteceu ao meu amigo Manuel Dantas e creio que
houve alguma precipitação em demiti]o( ...) Eu suponho que ele está muito irritado,
e talvez a família (...) Temo que o despeito os faça contrair comprometimentos que nos sejam nocivos, com certa gente".
Ele tinha razão de temer
o pior. Não na época, porém mais tarde, Dantas emergiu como um dos principais adversários do poder nacional dos
Conservadores60.
Mas o uso do apadrinhamento para ganho eleitoral não parecia totalmente condenável. O próprio Dom Pedro II, em
geral tão angustiado pelo mau emprego do patronato,
permitia que, para posições "de confiança", se pudesse negligenciar as

134 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


qualificações dos nomeados61. Um programa de reforma partidária reconhecia de forma ainda mais específica que um
primeiro-ministro devia ser livre para fazer nomeações
para os cargos "de confiança necessários à manifestação e execução de seu pensamento político". Um primeiro-ministro
negou especificamente que a competência - em
vez da afiliação partidária - devesse ser o único critério para o emprego público, já que esses cargos, criados para servir
ao Estado, podiam ser dados apenas àqueles
que aderiam plenamente aos planos de seus dirigentes: "O funcionário público que, esquecido dos deveres de sua
posição, ligar-se aos adversários do governo e maquinar
contra sua causa, constitui-se na impossibilidade de continuar a servir". O mesmo se aplicava em nível provincial.
Como se podia esperar que um presidente, perguntou
um político, não demitisse aqueles que "lhe faziam guerra aberta (...) que vivem de mãos dadas com aqueles que lhe
faziam as mais insólitas agressões. Isto seria
uma anomalia em matéria de administração"62. Não jogar o jogo do apadrinhamento indicava fraqueza política. Quando
um governo Liberal nomeou alguns Conservadores
como juízes, um político pernambucano exclamou: "O Partido Liberal está sempre fazendo essas asneiras". Mas os
Liberais não eram, na verdade, tão ingênuos. Como
um Conservador informou da Bahia: "Acabam de conquistar esse Conselheiro dando-lhe, como transação, a nomeação
de Juiz de direito para o Bacharel (...)" 63.
A prerrogativa de fazer nomeações públicas proporcionava os instrumentos por meio dos quais os gabinetes
asseguravam maioria no Congresso. Fosse como prêmios
e punições ou pela seleção daqueles que podiam mudar favoravelmente o comportamento dos votantes, ou então
interferir diretamente no processo eleitoral, o Gabinete
procurava garantir sua vitória nas urnas. Perder uma eleição significaria a rejeição de seus seguidores, implicaria o
malogro da liderança e poderia até mesmo solapar
todo o sistema de clientela. As eleições tinham que ser ganhas. A eficácia do clientelismo refletia-se no apoio

Eleições e Clientelismo 135


parlamentar de que cada Gabinete desfrutava após uma eleição por ele supervisionada. Ao mesmo tempo, a observação
escrupulosa das cláusulas eleitorais legais, pelo
menos na maioria das vezes, assegurava que os adversários se contentassem em esperar sua vez.
Não era nenhum mistério que a interferência do governo nas eleições prejudicava todas as instituições, até mesmo
as do centro, por diminuir sua legitimidade.
Como o Gabinete sempre podia conseguir os resultados eleitorais que quisesse, somente o imperador podia alterar os
grupos no poder, e quando o fazia atraía a hostilidade
daqueles que haviam ficado de fora. Como José Antônio Saraiva se expressou com tanta clareza logo depois que o
imperador, num controvertido ato, em 1868, demitiu um governo Liberal: "Esse excesso de poder
é fatal à monarquia". Extinguir o Poder Moderador seria desnecessário, acrescentou, "desde que uma Câmara eleita
livremente firmar a regra" de que "ao direito [do imperador] de dissolvê-la corresponde, por parte do país, o de reeleger
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
a mesma câmara
para dizer-lhe: `Erraste"'64. Como isso nunca aconteceu, os políticos dos dois extremos criticavam o imperador, quando
eram afastados dos cargos públicos, e não
faziam qualquer tentativa de mudar as práticas eleitorais assim que os reassumiam.

Os líderes políticos do Brasil do século XIX viam-se puxados em várias direções. A sobrevivência do sistema
político dependia da manutenção de sua legitimidade,
tanto perante os grupos permanentemente excluídos de uma efetiva participação quanto os que pertenciam à elite
política, mas que se encontravam temporariamente fora
do poder. Tal meta exigia uma crença generalizada na proposição de que o povo tinha liberdade

individual e participava de eleições honestas e imparcialmente conduzidas. Esses mesmos líderes, não obstante, temiam
que o

136 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


menor sinal de desordem abrisse caminho a distúrbios mais amplos, ameaçando a própria sobrevivência da sociedade.
As eleições tinham de se realizar em paz e não
se podia permitir à oposição quebrar a tranqüilidade. Finalmente, contudo, as eleições tinham de ser vencidas pelo
governo. Do contrário, os princípios básicos da
hierarquia podiam ser destruídos. Essas ambições contraditórias impunham desafios sérios e contínuos à liderança
política do país.

PARTE DOIS

A ATUAÇÃO POLÍTICA
QUATRO

O Teatro das Eleições

AO NÍVEL LOCAL, o processo eleitoral no Brasil do século XIX patenteava um sistema social dramaticamente
estratificado e instruía as pessoas sobre sua adequação,
propriedade e valor. Desse modo, as eleições funcionavam de forma a alcançar fins

inteiramente congruentes com as necessidades e desejos dos senhores de terras, e imperceptivelmente emaranhavam-se
com a estrutura da sociedade. Em parte, o que
tornava as eleições tão importantes, para a maioria dos participantes, fossem patrões ou clientes, era a preocupação
permanente com a hierarquia social.

Satisfazendo uma necessidade quase inconsciente, as eleições funcionavam para consolidar, entre uma população
móvel, a ordem hierárquica nitidamente estratificada.
Esse é um dos empregos menos reconhecidos de eleições, e, contudo, o mais profundamente enraizado na estrutura
social brasileira. Um amplo sufrágio tornava-o possível.

A Lei

As eleições em âmbito nacional começaram no Brasil em 1821, depois que os revolucionários liberais em Portugal
reivindicaram às cortes eleitas que elaborassem
o anteprojeto de uma constituição. Assim como Portugal adotara provisoriamente a Constituição espanhola de 1812,
também retirou da Espanha as diretrizes para esse
primeiro ato eleitoral. Essas diretrizes, com comentários ou emendas adicionais, inseridas onde

140 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


aplicáveis ao Brasil, instituíram uma eleição indireta em três turnos nas várias províncias brasileiras para ocorrer entre
maio e setembro, resultando na escolha
de representantes que saíram para Lisboa. Quando Dom Pedro I decidiu, em 1822, deixar de obedecer às cortes,
convocou uma reunião de representantes para redigir
leis só para o Brasil. Seu principal conselheiro, José Bonifácio de Andrada e Silva, desejava limitar a participação
simplesmente designando representantes das câmaras
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municipais das capitais de cada província; mas esses homens nem chegaram ao Rio de Janeiro antes de líderes mais
radicais que, impelidos por noções de governo representativo
novas para o Brasil, conseguiram, em vez disso, obter de Dom Pedro I uma Assembléia Constituinte, com deputados
popularmente eleitos. Mas José Bonifácio pelo menos
conseguiu evitar eleições diretas; copiando algumas características das diretrizes portuguesas, determinou que os
votantes em cada paróquia escolheriam pessoas que
por sua vez designariam seus representantes. As diretrizes especificavam ainda que um eleitor devia não apenas ser uma
pessoa "virtuosa e renomada de discernimento
e lealdade incontestáveis à causa brasileira", mas também "de meios coerentes à sua
posição"1.
Sem surpresa, aqueles eleitos indiretamente para uma Assembléia Constituinte reivindicaram eleições indiretas no
esboço de Constituição que prepararam. Especificaram
também os requisitos de propriedade para os votantes paroquiais, e outras ainda mais elevadas para os que eles
escolhessem como seus eleitores. A Constituição que
Dom Pedro I na realidade outorgou por decreto em 1824 conservou essas cláusulas, embora com algumas alterações de
detalhes. Decretos executivos estabeleceram então
as normas específicas para a condução de eleições. De 1824 a 1842, os membros eleitos das câmaras municipais
atuavam como presidentes de assembléias eleitorais nas
várias paróquias de seus municípios. O padre paroquial elaborava a lista dos votantes qualificados e auxiliava o membro

O Teatro das Eleições 141


da câmara no trabalho da eleição. Os outros membros das mesas eleitorais eram escolhidos por aclamação, método que
logo resultou em cenas de tumulto e violência.
Para conter essa tendência, o Gabinete Conservador, em 1842, decidiu que os delegados de polícia centralmente
nomeados deveriam presidir as eleições, junto com um
juiz de paz eleito e o padre paroquial2.
Todas as normas eleitorais até esse ponto eram resultado de diretrizes ou decretos emitidos pelo Gabinete e não de
uma legislação deliberada pelos deputados.
Em 1845, contudo, uma vez de novo no controle do Congresso, os Liberais iniciaram a elaboração de uma lei eleitoral
abrangente e minuciosamente
específica, que tentava antever qualquer contingência. A lei que resultou em 1846 continuou sendo a básica até 1881,
embora se tenham alterado alguns detalhes3.
Foi no contexto dos termos dessa lei que as eleições adquiriram todo o seu sentido e propósito, em meio a uma
sociedade nitidamente hierarquizada e uma política
articulada através do clientelismo.
As eleições ocupavam a atenção das comunidades locais quase todo o tempo. Ocorriam freqüentemente para um ou
outro cargo, e o processo de elaborar a lista de votantes qualificados, muitas vezes um negócio em si mesmo,
de longa duração, começava a cada Ano Novo. Os votantes elegiam diretamente juízes de paz e membros das câmaras
municipais a intervalos de quatro anos. No mínimo com essa regularidade, e mais freqüentemente se o Congresso fosse
dissolvido,
eles escolhiam aqueles que, um mês depois, designariam os deputados para a Câmara nacional. Do mesmo modo, a cada
dois anos os votantes selecionavam os membros das
assembléias provinciais. Depois de 1860, os votantes também (ainda indiretamente) elegiam deputados sempre que um
falecia, renunciava, optava por representar outro distrito em que também fora eleito,
tornava-se senador vitalício ou aceitava um cargo oficial no Gabinete. Podiase contestar qualquer eleição, e a anulação
de eleições significava

142 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


a realização de novas. As eleições, repetidas com tanta freqüência, tornaram-se uma preocupação constante na vida
local, e poucos se mantinham afastados do processo4.
Os historiadores, como os contemporâneos, deparam-se com um emaranhado de ambigüidades na definição de
quem podia legalmente votar. A Constituição de 1824
estendeu o voto à "massa de cidadãos ativos"5, e, pelos seus termos, abrangia de longe mais pessoas que o eleitorado
dos membros das câmaras municipais nos tempos
coloniais - ultrapassando mesmo a prática da maioria dos países europeus de então. Para ser exato, é óbvio que se
excluíam escravos e mulheres, sem mesmo mencioná-los,
embora as urnas se abrissem aos homens livres e analfabetos, sem enunciar qualquer distinção baseada em raça. Como
observei, a lei excluía filhos que viviam com
Página 61
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
seus pais. As exceções a essa regra permitiam que os funcionários públicos votassem mesmo que ainda vivessem com a
família, presumivelmente porque aquele emprego
representava uma aliança compensatória. Embora a idade normal de voto fosse 25 anos, um homem votava desde os 21,
contanto que fosse casado, tivesse recebido consagração
religiosa ou uma patente de oficial militar.
As cláusulas legais sobre idade e residência eram bem definidas e pouco discutidas. Contudo, o debate
concentrava-se interminavelmente na exigência constitucional
de que cada eleitor tivesse no mínimo uma "renda líquida" de 100 mil-réis anuais, elevada para 200 mil-réis em 1846
(100 dólares da época aproximadamente)6. Após
meados do século, comentaristas admitiram que o valor estipulado era tão baixo que quase todo mundo podia ganhar
aquele tanto, com exceção de "mendigos" e "vagabundos".
Um ensaísta político observou que a lei excluía apenas "mulheres, crianças e o idiota da vila". Um membro
Conservador do Congresso disse com algum desgosto: "Temos
o sufrágio universal; qualifica-se todo o mundo"; e embora um opositor Liberal não fosse tão longe, reconheceu que
"aquele que [só] tem 200 mil-réis de renda é um
pobre no Brasil8. Na

O Teatro das Eleições 143


realidade, com dois mil-réis em média por dia, segundo um observador estrangeiro nos anos 1880, os trabalhadores
livres nos cafezais podiam ganhar a quantia exigida
em apenas cem dias. Mesmo empregadas domésticas, se não estivessem excluídas por outras cláusulas da lei, podiam
ganhar o suficiente para se qualificar, ou pelo
menos isso podia se aplicar àquelas especialmente procuradas, como cozinheiras e amas-de-leite9.
Mas um importante ponto de atrito era se qualquer rendimento podia ser considerado renda "líquida". No caso da
renda proveniente de bens de raiz ou da indústria,
podia-se compreender facilmente o significado do enunciado constitucional, mas quando a lei usava a mesma frase para
referir-se à renda de empregos, as dúvidas surgiam.
Um defensor da restrição do sufrágio argumentou que este deveria ser estendido apenas àqueles cuja remuneração anual,
se investida a 5%, rendesse 200 mil-réis. Uma
opinião contrária defendia que "o simples operário (...) emprega (...) o capital de suas forças"; portanto, toda a sua
remuneração seria considerada renda líqüida
sobre seu investimento)10. A questão nunca foi legalmente resolvida.

Outra complicação surgiu da cláusula em que se dizia que se deveriam excluir "criados de servir". Quem eram
eles? A Constituição declarava especificamente
quem não devia ser considerado um criado: guarda-livros e "primeiros caixeiros das casas de comércio (...),
administradores de fazendas rurais e fábricas", e criados
na família imperial acima de determinado nível. Essas cláusulas deixavam implícito que todos os outros empregados
podiam ser considerados criados. Mas a primeira
lei eleitoral redigida especificamente para o Brasil e precedente à Constituição não excluía "criados de servir" como tais,
mas "todos os que recebem salários ou
soldadas sob qualquer forma". A elaborada - mas jamais promulgada - Constituição de 1823 também excluíra os
"Jornaleiros". Os juristas argumentavam razoavelmente que a omissão óbvia dessa linguagem na Constituição
significava que a exclusão de criados
não se estendia à maioria dos empregados. Esta interpretação poderia,

144 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


à primeira vista, parecer certa levando em consideração a cláusula constitucional de que a renda anual exigida tinha de
provir de "bens de raiz, indústria, comércio
ou empregos"11. No uso do século XIX, contudo, emprego habitualmente referia-se apenas a emprego público; como se
consideravam esses cargos uma forma de propriedade
da qual provinha renda como de qualquer investimento, a inclusão de emprego ali fazia sentido12.
Um reformador moderado reconheceu que o verdadeiro espírito da lei fora excluir qualquer indivíduo que
dependesse de outro para o "seu pão de cada dia",
perdendo portanto sua "independência" e um comentarista legal explicou que os criados "são pessoas totalmente
dependentes, até mais que os filhos-famílias"; conceder-lhes
o voto seria dá-lo aos senhores "a quem servem". Mas, se aqueles que recebiam remuneração ou salários perdiam sua
identidade civil independente, esta permaneceu
Página 62
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
uma questão em aberto. Um crítico censurou a suposta vulgaridade dos votantes nas juntas de qualificação, grande parte
das quais costumava enfatizar sobretudo a
renda, sem considerar sua origem, de tal modo que a maioria dos votantes, dizia, "nada possuem [e] vivem de soldada
em terras alheias". Outro observador salientou
que nas "nossas eleições têm voto o vagabundo sem ofício ou meio de vida, o indigente notório, os próprios criados de
servir transfigurados em `camaradas'". Um requerente,
protestando contra a exclusão de alguns pretensos votantes, argumentou ser claro que todos tinham suficiente renda
líqüida anual, visto que "uns são negociantes,
outros criadores, outros agricultores, e outros jornaleiros". Ele considerou ponto passivo que salários satisfaziam às
exigências13
É importante observar que, de qualquer modo, não se considerava um agregado como um criado ou empregado.
Embora alguns julgassem o direito de voto dos agregados
uma falha no sistema, poucos questionavam sua prerrogativa legal de exercê-lo. De fato, na família ampliada dos chefes
políticos, os agregados eram cruciais para
o êxito eleitoral. Como o filho de Lacerda Werneck expressou-se: "Os grandes possuidores do solo

O Teatro das Eleições 145


consentem ainda os agregados, porque nosso sistema eleitoral assim o reclama". Um fazendeiro no Ceará, com terras
medindo 16 léguas quadradas, "tem estabelecidos
em suas terras 360 moradores, que não pagam arrendamento, mas diz ele que quando precisa de trabalhadores eles se
prestam de graça, dando-lhes só alimentos, e que
às vezes reúne duzentos ou trezentos homens. Em ocasião de eleições dá ele uma carga de quatrocentos votantes [na
cidade de] Icó". Um cafeicultor na província do
Rio de Janeiro assegurou a um amigo que "com o visconde de Baependi [outro fazendeiro] me entendi para que lá me
mandem a lutar dez votantes que tenho nas minhas
terras (...) Pode, pois, V. Mercê ficar sossegado porque se farão todos os esforços para que V. Mercê não seja vencido".
Os participantes do Congresso Agrícola de
1878, representando sobretudo os interesses dos fazendeiros de café, debateram demoradamente o papel eleitoral dos
agregados. Se as novas normas de votação propostas
viessem a se tornar lei, afirmaram dois delegados, "os fazendeiros deixarão de conservar e alimentar em suas terras
inúmeros agregados, que não se dão ao trabalho
contando com os celeiros das fazendas mediante seu voto"; alguns fazendeiros tinham transformado suas terras em
"viveiros de votantes". Um outro fazendeiro declarou
que "nas grandes propriedades (...) a população livre quase se reduz ao que se chama agregados, ou antes, espoletas
eleitorais". Ao falarem do que sabiam em primeira
mão, esses homens manifestavam sua compreensível frustração ao se verem dependentes de seus próprios protegidos.
Fica claro que a lei não excluía o agregado per
se das urnas, embora se pudesse alegar o pequeno montante de sua renda anual como uma objeção ao seu acesso a
elas14
Outra pergunta, bem diferente, é: quem votava? Ou, mais precisamente: quem realmente constava da lista dos
votantes qualificados? Os teóricos discutiam extensamente
o verdadeiro significado das cláusulas constitucionais, o direito dos empregados de votar ou a conveniência de mudar a
lei para excluir agregados, mas a prática
concreta da qualificação

146 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


dependia da facção local dominante. O juiz de paz que conseguisse uma maioria relativa dos votos na última eleição
presidia a junta de qualificação de cinco membros,
tornando-se assim "a chave da eleição". Os eleitores da paróquia, ou seja, os vencedores da última eleição geral,
escolhiam os outros quatro membros da junta, embora
a lei procurasse assegurar a representação da minoria através de procedimentos que variavam ao longo do tempo15. Em
geral, pelo menos dois deles eram amigos ou aliados
do presidente, ou mesmo parentes dele. Como escreveu confidencialmente um cafeicultor: "Desejo formar antes da
missa do dia 17 a junta de qualificação e por isso
irei cedo, convindo que V.S. e seu mano estejam na Matriz até 10 horas da manhã. (...) Se quiser dar-nos o prazer de vir
cá jantar no sábado, 16 do corrente, muito
estimaremos e o mesmo fará o obséquio de dizer a seu mano. São anos de minha filha Rosa, porém não fazemos
convites a muitas pessoas que não sejam da família [sic]"16.
Página 63
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Assim, o fazendeiro presidente da mesa comprava a lealdade com uma irresistível exibição de intimidade. Em suma, o
estreito círculo social dos poderosos locais decidia
quem votava.
Para elaborar a lista de votantes, a junta de qualificação ou trabalhava a partir de novas listas fornecidas pelos
juízes de paz em cada distrito eleitoral,
vitoriosos na última eleição, ou usava a lista anterior, apenas riscando ou acrescentando nomes. Já que a lei não
especificava que documentos comprovariam se um
eleitor tinha renda suficiente, se era ou não um criado, ou possuía outras qualificações requisitadas, em caso de
contestação ajunta recorria a declarações juramentadas
de testemunhas. Como alguns juravam sim e outros não, ajunta de qualificação permanecia livre para decidir, e o fazia
segundo sua própria preferência política. No
fim, então, as qualificações legais para o voto - renda, ocupação, residência e mesmo idade - tinham muito pouco a ver
com quem votava17. Como percebeu um político:
"No sistema atual, o que é votante? É um homem que, qualificado hoje, amanhã é desqualificado por uma junta
contrária"18.

O Teatro das Eleições 147


É impossível determinar exatamente que proporção dos homens adultos livres fazia parte da lista de votantes
qualificados. Em 1870, o ministro do Império
publicou uma relação de todas as paróquias do país que mostra o número de votantes qualificados em cada uma delas.
Dois anos depois, o Brasil começou um recenseamento
da população nacional resumido por paróquia; digo começou porque em 1876, quando se enviaram os resultados para a
imprensa, ainda não se tinham todas as respostas.
Nos anos intermediários, algumas paróquias haviam sem dúvida se expandido, outras haviam sido divididas, e outras
ainda completamente extintas. O censo designa várias
paróquias que não constam da lista de 1870, e vice-versa. A população nesse meio tempo crescera e se mudara. Por fim,
como o próprio censo tinha um efeito determinado
sobre o número de eleitores em cada paróquia (embora praticamente nenhum sobre o número de deputados de cada
província), um possível propósito político torna seus
números suspeitos. Por todos esses motivos, para não mencionar a fraude eleitoral, descobrem-se grandes anomalias ao
se comparar as duas fontes, e muitas paróquias
tinham mais votantes qualificados que homens adultos livres 19.
No entanto, calculando a taxa de participação mediana, de todas as 1.157 paróquias encontradas nas duas listas, o
historiador pode formar uma idéia geral
das expectativas que caracterizavam o processo de qualificação. Para todo o Brasil, 50,6% de todos os homens adultos
livres, de 21 anos ou mais. independente de
raça ou instrução, constavam dos róis de votantes qualificados20. Metade de todas as juntas paroquiais permitia que
entre um terço e um quarto de seus homens adultos
se inscrevessem. Não existem registros do número de votantes qualificados que realmente votavam, mas as juntas
elaboravam as listas de propósito para convocar os
qualificados para ajudar seus chefes. Os líderes paroquiais, que podiam excluir ou incluir com a mesma facilidade,
queriam evidentemente um grande número de homens
para participar do processo eleitoral21. Contudo, como se vê no Quadro 2, havia variações regionais

148 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


significativas, Os chefões das paróquias no Leste, São Paulo e províncias mais ao sul, ou tinham em baixa estima um
amplo setor da população livre, ou menos confiança
em sua própria capacidade de controlar o comportamento eleitoral do que suas contrapartes em outros lugares: pelo
menos, eles registravam uma proporção menor, embora
também bastante ampla.
Essa grande inclusão contrasta acentuadamente com a situação em momentos posteriores. Até 1881, quando uma
lei eleitoral reduziu drasticamente o número de
votantes, a renda tinha um impacto relativamente pequeno na qualificação. A maioria dos livres era desqualificada
apenas com base em idade e sexo e não pela exigência
de propriedade22. Os historiadores, deixando de calcular a capacidade de ganho dos contemporâneos, aumentaram
indevidamente o significado daquela restrição; um deles
até mesmo afirma que isso limitava a participação política à "classe dominante23. Basta um exame das atas eleitorais
para afastar tal impressão, pois as urnas,
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
embora fechadas para aqueles que apoiavam o candidato errado, ou dependiam do protetor errado, eram abertas em
outro sentido a quase todos os homens adultos livres,
independente de classe ou raça 24.

QUADRO 2

Porcentagem dos homens adultos livres, de 21 anos,


qualificados a votar por Região e Província.
Início dos anos 1870
(mediana de todas as paróquias)

REGIÃO E PROVÍNCIA % REGISTRADOS

Norte 66,0
Amazonas 41,5
Pará 62,7
Maranhão 82,5
Piauí 57,7

O Teatro das Eleições 149


REGIÃO E PROVíNCIA % REGISTRADOS

Nordeste 64,1
Ceará 49,5
Rio Grande do Norte 47,5
Paraiba 73,5
Pernambuco 64,5
Alagoas 86,5
Sergipe 46,0
Bahia 68,5
Leste 38,2
Espfrito Santo 54,0
Rio de Janeiro 52,6
Minas Gerais 32,7
São Paulo e Sul 39,0
São Paulo 35,5
Paraná 40,0
Santa Catarina*
Rio Grande do Sul 43,0
Oeste 60,4
Goiás 61,5
Mato Grosso 56,0
Todo o Brasil 50,6

Fontes: BRAZIL, Ministerio do Imperio, Relatorio, 1870, Anexo Q BRAZIL, Directoria Geral de Estatistica.
Recenseamento da população do Imperio do Brazil a
que se procedeu no dia 1º de agosto de 1872. Rio de Janeiro, 1873-76.

Nota: o número total de votantes registrados foi de 1.039.659, ou 44,1 % de


todos os homens livres de 21 anos ou mais.

A relação do Ministério do Império permite calcular que 48,6% foram registrados na província de Santa Catarina como
um todo; mas não desagrega os números por paróquia,
portanto é impossível calcular a mediana por paróquia. Assim sendo, os totais regional e nacional não incluem essa
província.

150 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Um sufrágio amplo não significava uma política democrática, mas tornava possível atingir um importante objetivo
Página 65
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
das eleições: servir de teatro no qual os
participantes usavam a linguagem da estratificação social para, mais que excluir os votantes, diferenciá-los. E os
endinheirados definiam essa estratificação. A
mobilidade geográfica de tantos brasileiros requeria que os "inferiores" conhecessem seu lugar abaixo dos "superiores".
E como os chefões rivais subiam e caíam,
precisavam de um palco para deixar claro seu lugar atual.

Teatro

Não havia qualquer dúvida de sua autoridade quando, na manhã do dia da eleição, o juiz de paz entrava a passos
largos na igreja de um vilarejo remoto e,
destemido, ocupava seu lugar "no topo da mesa", com dois membros da junta em cada lado, e "tendo à sua esquerda a
mim, escrivão". Uma vez que, como fazendeiro, estancieiro
ou homem de outras posses, ele tinha fontes adicionais de autoridade, o lugar do presidente da mesa mostrava e
afirmava a organização apropriada da sociedade, e
os outros atores assim eram instruídos sobre as posições protetoras ou deferentes próprias aos seus respectivos lugares.
Tal como testemunhada e exercida, a natureza
hierárquica da sociedade representava-se aí repetidas vezes25.
Para essa representação ter sucesso, era necessário não apenas haver muitos participantes, mas também que todas
as operações eleitorais fossem insistentemente
públicas. "Naquele tempo, uma eleição era (...) muita gente, muita animação", relembrou mais tarde um juiz. Elas
começavam aos domingos, dia em que a maioria das
pessoas podia comparecer. Realizavam-se nas igrejas paroquiais, centrais e bem conhecidas de todos. Uma referência a
uma eleição ocorrendo "a portas abertas e francas"
data da mais antiga votação no Brasil independente, e a lei de 1846 exigia, especificamente, portas abertas. A lei
também enfatizava que se anunciassem as eleições
por "editais afixados nos lugares públicos e publicados pela imprensa onde

O Teatro das Eleições 151


a houver". A lista de votantes qualificados tinha que ser afixada "no interior da igreja matriz em lugar conveniente e à
vista de todos". E os votantes tomavam realmente
conhecimento, pois viajavam de longe, como na Bahia, "cobrindo-se de poeira". Nada se fazia à noite; as eleições eram
um negócio diurno. Os trabalhos começavam às
9h da manhã e terminavam ao "sol posto". Às vezes, a junta eleitoral, como uma em São Paulo, apressava-se para
terminar: "estando o sol já quase posto". Outra,

em Minas Gerais, cogitou mas descartou a alternativa de trabalhar à noite: "E, sendo duas horas da tarde, interrompeu-se
os trabalhos da assembléia paroquial a requerimento
dos mesários a fim de irem jantar e (...) voltando à igreja, eram cinco horas

da tarde e o sol posto, e discutindo-se se poderiam fazer ao menos uma chamada, unicamente, decidiram que não". O
fato de que se podia falsificar e preparar as atas
das juntas eleitorais, até mesmo em total privacidade, não diminuía a expectativa da sociedade de que as eleições seriam
enfaticamente públicas. Somente uma realização
pública com muita visibilidade cumpriria a importante tarefa de classificar papéis sociais26.
As próprias campanhas concentravam a atenção pública.
Embora os candidatos solicitassem votos dos eleitores quase que exclusivamente por meio de cartas a eles endereçadas,
ou a outros notáveis paroquiais, cada chefe
local demonstrava sua importância estimulando os votantes, seus protegidos, a participar de ruidosas manifestações.
Grupos adversários proclamavam simultaneamente idéias comuns e
fidelidades rivais, quando "percorrendo e noite as ruas desta Villa com músicas e foguetes [dando] vivas a S. M. o
Imperador, à Religião, e a pessoas partculares
segundo as affeições de cada

grupo". Essas atividades às vezes viravam folguedos generalizados, ou degeneravam em confrontos armados, e em 1860
o presidente da província do Ceará teve de decretar
ordens proibindo "passeatas em grupos pelas ruas que só servem para provocar maior excitação dos ânimos",
acrescentando que "reuniões populares, de qualquer espécie,
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

152 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


com toques e bebidas espirituosas, e especialmente aquelas a que vulgarmente se dá o nome de `samba"' deviam ser
particularmente proibidas27. No dia da eleição,
os chefes dispensavam "iguarias" aos seus votantes. Quando os chefões políticos reuniam seus agregados e dependentes
na cidade, procuravam algumas vezes isolá-los
como num curral, para impedir que fossem tentados a aceitar uma cédula de um campo adversário, em troca de dinheiro
ou outra recompensa. Ou, como explicou um delegado,
para exibir sua força, esses grupos podiam "entrar arregimentados em coluna cerrada nas ruas desta cidade ao som de
estrepitosos vivas e (...) depois de um esplêndido
lanche exortador e vitoriador [sic], eles irão depositar seus votos na urna, seguindo em coluna cerrada à igreja, tendo
seus chefes à frente" 28.
Concentrando inteiramente a atenção do público, o processo eleitoral proporcionava uma excelente oportunidade
para elaborar os detalhes da hierarquia social.
Embora no final a maioria dos protegidos dos poderosos votasse, o vocabulário do procedimento de qualificação já
enfatizara a importância da posição social. Para
a junta de qualificação poder eliminar os criados, mas não os guarda-livros e os primeiros-caixeiros de casas comerciais
ou administradores de fazendas e fábricas,
tinha de considerar publicamente ocupação, residência, idade, renda - em suma, status29. Entre os de idade entre 21 e 25
anos, ajunta destacava especialmente os
oficiais militares, os bacharéis e "clérigos de ordens sacras", que podiam votar apesar de sua juventude. Entre os
eclesiásticos, contudo, a junta distinguia entre
o clérigo secular e o religioso "que vive em comunidade claustral" e tinha feito um voto formal de obediência; o último,
por não ser independente, não podia votar.
Para cada caso, ocorria uma avaliação pública da posição social. O votante pretendente vivia na casa do pai, e, caso
vivesse, era casado? Que idade tinha? Qual era
sua renda e de onde provinha? Todas essas perguntas separavam alguns de outros, realçando sutis distinções. Mesmo
quando ocorria algum desacordo e um votante em

O Teatro das Eleições 153


potencial, confiante no poder e apoio de seu protetor, rejeitava uma objeção, a questão da posição social permanecia
essencial à discussão. Depois de 1875, a junta
de qualificação também identificava o votante, verificando se ele sabia ou não ler, bem como os nomes de seus pais,
obrigando, desse modo, alguns a não apenas admitir sua ignorância, mas também a confessar seu
nascimento ilegítimo30.
No dia da eleição, o presidente lia em voz alta os nomes dos votantes da lista elaborada pela junta de qualificação.
Ao enunciar cada nome, o votante dava
um passo à frente, apresentando-se ao público, cédula na mão. Mas espere um momento: era essa a mesma pessoa cujo
nome constava da lista? Segundo a lei, confirmar a identidade do votante era o primeiro dever da mesa eleitoral. A
identificação
dos votantes contribuía para que se fizessem distinções de classe. Um escritor observou que nos bairros "mais
importantes" do Rio de Janeiro, onde "todos os seus
votantes são pessoas conhecidas: é o negociante de pequeno ou grosso trato, o capitalista, o banqueiro, o
proprietário, o médico, o advogado. (...) A cada nome chamado responde um indivíduo conhecido de todos". Em
contraste estavam os pobres, os recém-chegados, "o operário
nômade, que trabalha hoje aqui e amanhã acolá (...) sem que, fora do pequeno raio de sua moradia, alguém mais na
freguesia o conhece'". Em caso de dúvida ou objeção,
a junta chamava testemunhas. As aceitáveis incluíam o próprio juiz de paz, o padre paroquial ou qualquer cidadão a
quem a mesa julgava ser uma testemunha

"abonada"; como a mesa tinha que estar de acordo e portanto discutir quem seria uma testemunha aceitável, fazia-se
então distinções mesmo entre aqueles que testemunhavam31.
Nesse momento a excitação atingia o auge. Aqui surgiam as objeções, a máscara da deferência podia desaparecer e o
trabalho ordenado descambar em explosão violenta.
Prevaleceria a autoridade da mesa eleitoral e, acima de tudo, de seu presidente? Ou um chefão rival conseguiria
enfraquecer aquela autoridade, talvez deixando escapar
momentaneamente ressentimentos reprimidos entre os

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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
154 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX
votantes, apenas para voltar a impor o respeito ao status e à posição hierárquica na eleição seguinte?
À medida que cada homem votava, o presidente riscava seu nome da lista dos votantes. Depois que todos os nomes
haviam sido chamados uma vez, os nomes dos
que não estavam presentes eram chamados uma segunda vez. A essa altura, os trabalhos poderiam já ter se estendido por
um segundo ou terceiro dia; mas ocorria um
intervalo mínimo de uma noite antes de o presidente chamar os nomes dos ausentes uma terceira e última vez, como
"uma garantia do exercício do direito do votante".
Algumas vezes, um votante tinha de esperar vários dias até que seu nome fosse chamado. Cada votante depositava uma
cédula, isto é, uma lista de nomes na urna. Ele
fazia isso publicamente porque, como explicou um comentarista, só se faz escondido o que em público se sente
vergonha de fazer. Quando terminava a terceira chamada
dos nomes dos votantes, a junta abria a urna eleitoral e contava as cédulas para certificar-se de que correspondiam ao
número de votantes 32.
Enquanto a junta abria a urna eleitoral, seguiam-se mais discussões sobre qualificação - e por conseguinte de
posição social. Será que o candidato a eleitor
tinha renda duas vezes maior que a exigida do votante comum, como especificava a Constituição? Haveria alguma
possibilidade de ele ser excluído como um liberto que
podia votar, mas não ser escolhido como eleitor? Os votantes deviam indicar as ocupações dos candidatos em suas
cédulas; embora a intenção fosse a de identificar
com segurança as pessoas nas quais votavam, a cláusula sugeria que todos os eleitores tinham de ter ocupações
conhecidas, reconhecidas por todos33. Enquanto a junta
anotava essa informação, pode-se imaginar a oportunidade para perguntas impertinentes, ou risadinhas da multidão, se
algum votante identificasse um fazendeiro que
se empobrecia, por exemplo, como um sitiante. Embora preparados para aceitar a noção de hierarquia, os presentes
talvez brincassem com a especificidade da situação,
permanecendo assim fora da ideologia imposta por outros.

O Teatro das Eleições 155


Instruções detalhadas orientavam a contagem dos votos. Enquanto um dos membros da mesa eleitoral fazia a
leitura dos nomes de cada cédula, os outros, assumindo
a responsabilidade por certas letras do alfabeto, escreviam os nomes. Quando se chamava um nome pela segunda vez, o
membro da junta anotava o número "dois" por extenso
ao lado do nome na lista, e assim por diante; o último número escrito seria então o número de votos que o candidato
havia recebido. Após a leitura de todas as cédulas,
cada membro da junta anunciava os nomes na sua lista, com o número total dos votos que cada pessoa recebera, e o
escrivão registrava esses nomes, colocando-os em
ordem

descendente na contagem de votos. Em caso de empate, um garotinho (com menos de sete anos) metia a mão na urna
decidindo o vencedor pela sorte. Todos os candidatos
que recebiam votos, não importa se poucos, eram listados. O presidente da junta lia então a lista para todos ouvirem e o
escrivão copiava-a no livro que mantinha
especialmente para esse fim, afixando outra lista na porta da igreja. A cota de eleitores da paróquia era preenchida pelos
homens que encabeçavam a lista e os candidatos
imediatamente seguintes

eram seus substitutos34.


Trinta dias depois de serem selecionados, os eleitores
reuniam-se, na cidade indicada como cabeça do distrito, para o terceiro e último ato da eleição. Os trabalhos desses
Colégios Eleitorais, como os de qualificação
de votantes e de contagem de votos, permaneciam abertos ao público, mas a essa altura nenhum ator secundário
participava, e a audiência minguava. Nesse ponto, eram
outros os objetivos das eleições que sobressaíam, mas os passos formais merecem uma breve referência aqui. Só nesse
momento apareciam os nomes dos candidatos a deputado,
e os eleitores votavam para tantos deles quantos a província iria mandar ao Rio de Janeiro. Contudo, sua tarefa não
terminara, pois eles continuavam como eleitores
até que se realizasse a votação seguinte, e portanto desempenhavam um importante papel na organização das
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
subseqüentes juntas de

156 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


qualificação paroquiais. Eles também podiam ser convocados para escolher um senador ou executar outros atos
eleitorais no intervalos. A Câmara Municipal da capital
da província registrava os resultados de cada Colégio Eleitoral e listava na ordem - do maior ao menor número de votos
- as pessoas que haviam recebido votos36 e
distribuía cópias de suas atas a cada deputado. Esses levavam-nas para o Rio de Janeiro e as apresentavam ao Congresso
37. Para se compreender inteiramente a importância
social das eleições, contudo, temos de olhar não para o Rio de Janeiro, mas para os lugarejos e vilas.
O processo da votação - e do registro de qualificação ocorria na igreja da paróquia, impregnada de símbolos de
autoridade inconteste e níveis diferenciados
de autoridade. As igrejas até exibiam, pelo seu visual interno, os diferentes status de vários santos. E alguns espaços
causavam um impacto simbólico maior do que
outros: as autoridades eleitorais reuniam-se em torno de uma mesa "no corpo da igreja matriz", e grupos rivais
disputavam o controle daquele terreno sagrado; uma
facção teve de se instalar no fundo de uma capela lateral. Se a qualificação anual e a votação coincidissem, era preciso
tomar uma decisão sobre onde cada atividade
realizar-se-ia. Num dos casos, a votação ocorreu na nave, e a junta de registro teve que se deslocar para um "corredor"
da igreja - necessariamente, como explicou
um dos membros da junta, porque não se podia usar a sacristia, onde a hóstia sagrada estava depositada para o culto
religioso de todos. O acontecimento também ganhava
mais importância de acordo com a igreja usada: algumas mesas eleitorais reuniam-se ostensivamente numa catedral,
mas nos lugares rurais os trabalhadores às vezes
apressavam-se para concluir a construção de uma igreja, ou pelo menos uma parede, onde se pudesse afixar o edital
convocando os votantes38.
A realização das eleições em igrejas ligava a ordem social a uma ordem sagrada que se estendia até a Deus, e a
repetida execução dos rituais na igreja enaltecia
ainda mais a santidade do teatro cívico. Uma vez aberta a cerimônia pelo presidente da

O Teatro das Eleições 157


mesa eleitoral, mas antes de se iniciar a votação, "fez o Reverendíssimo pároco um discurso análogo ao ato eleitoral,
tendo depois celebrado a missa". Alguns padres
recebiam remuneração por celebrar missas eleitorais; outros não cobravam nada. Uma vez
que a votação e a contagem estavam terminadas, o presidente da mesa "convocou os eleitores recém-escolhidos para a
igreja, onde se entoou um solene te deum". De
modo semelhante, Colégios Eleitorais desempenhavam suas tarefas só depois de ouvirem a missa e, assim que a Câmara
Municipal apurasse os resultados, seguiam -junto
com os deputados eleitos, os eleitores que estivessem presentes, c"o povo" - para a "igreja matriz" da capital provincial,
cantar o te deum39. A visível importância
da cerimônia religiosa, e a execução fiel da lei, levavam os opositores a questionar se as eleições eram válidas, caso não
houvesse a cerimônia religiosa "por incômodo
do vigário". Eram Costumeiramente, contudo, o incenso, os sinos e a solenidade do ritual sagrado acompanhavam a
realização não menos teatral da eleição.
Nos atos cívicos, como nos sagrados, a ênfase recaía na diferença concreta entre cada nível social. O juiz de paz e
os
membros das juntas eleitorais ocupavam nitidamente um lugar à parte da grande massa popular. A lei especificava que,
durante o processo de organização da mesa, devia
haver uma balaustrada,

ou qualquer outra divisão adequada, entre a mesa e os votantes reunidos, para a "inspeção e fiscalização dos cidadãos",
deixando os mesários livres para trabalhar.
Contudo, uma vez que ajunta se constituísse de forma adequada, a separação entre ela e os votantes tinha de ser
removida, para permitir aos presentes

"rodear e examinar os (...) trabalhos [da] mesa". Portanto, com a distinção acentuadamente marcada, as testemunhas
legitimavam-na com sua presença".
Numa sociedade predominantemente analfabeta- apenas
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
21% dos adultos livres sabiam ler e escrever-, a palavra escrita e os livros de atas adquiriam poder próprio. Uma cultura
forense determinava que os atos ganhavam
validade só por serem registrados em ata pública. Por isso, aqueles que podiam

158 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


manipular essa realidade `esotérica' gozavam de esplêndida vantagem. A atenção concentrava-se sempre no registro
escrito. Durante um "pequeno tumulto", numa cidadezinha
do Nordeste, "foi arrebatado o livro das atas [da mesa]". A lei incluía cláusulas específicas para garantir a segurança do
"livro", sua guarda segura nos arquivos
da Câmara Municipal, o cuidadoso registro de suas atas naqueles arquivos, as assinaturas de todos os membros da mesa
no final de cada parte e a rubrica do presidente
em cada página. As atas constituíam a única prestação de contas com estatuto legal, de forma que, em 1881, uma lei
estipulou uma pena rigorosa por "rasgar ou inutilizar
livros e papéis relativos ao processo de eleição": de um a três meses de trabalhos forçados e fiança de um mil a três
mil-réis (que seriam, na época, 440 a 1.320
dólares). Isto estava acima e além de qualquer punição por outros crimes aos quais um ato como esse contribuía.
Destinadas a evitar fraudes, essas cláusulas acentuavam
a importância do livro e elevavam mais ainda a posição social dos alfabetizados42.
O voto não era restrito àqueles que sabiam ler e escrever, mas a alfabetização separava claramente os poucos que
dirigiam as eleições dos muitos que apenas
votavam. O simples fato de os iletrados votarem tornava-os simultaneamente atores e público, num drama que os
rebaixava. Em outros contextos, os contemporâneos reconheciam
uma nítida divisão entre os que sabiam ler e escrever e os que não sabiam43. E as funções envolvidas na condução do
processo eleitoral só podiam ser executadas por
homens que lessem e escrevessem com facilidade. O presidente da junta eleitoral, por exemplo, abria a sessão lendo
"em voz alta e inteligível" os dois primeiros
capítulos da lei eleitoral, cerca de seis páginas impressas ao todo. Embora o escrivão, que guardava as atas, talvez
tivesse de `soprar' para os outros membros da
mesa, esses também tinham de ser alfabetizados, já que, ao abrirem as cédulas, "[um mesário] lia, e os outros escreviam
cada um em sua relação os nomes dos votados".
Em contraste, quando o votante comum queixava-se

O Teatro das Eleições 159


das ações da mesa eleitoral, ele provavelmente teria de pedir a outra pessoa que assinasse por ele. Os eleitores
escolhidos também tinham de ser alfabetizados -
embora a lei não fizesse uma exigência específica a esse respeito -,pois no lugar de um escrevente o Colégio Eleitoral
elegia dois de seus membros para trabalhar
como secretários, e todos os membros assinavam suas cédulas. Por fim, o fato de as autoridades eleitorais serem
alfabetizadas pode ser demonstrado pela reação a
uma episódica exceção: o ministro do Império achou necessário escrever a um presidente provincial que um membro da
Câmara Municipal, "que confessa não saber ler
ou escrever, mas somente assinar o seu nome com dificuldade", devia entretanto ser considerado elegível, visto que "a
lei não [o] exclui" do cargo. O fato parece
ter sido bastante raro e significativo para exigir uma consulta especial44. A concessão do voto aos analfabetos
assegurava sua presença como atores secundários num
drama teatral, onde os alfabetizados tinham sua supremacia social visivelmente reforçada.
Sem dúvida, as penas rabiscavam muito nos dias de eleição. O processo começava com o preenchimento das
cédulas, isto é, da lista dos candidatos propostos
ao Colégio Eleitoral, e sua distribuição entre os votantes. Como um fazendeiro instruiu a um amigo: "Mande fazer as
cédulas [apenas] com sete nomes, deixando o
oitavo [lugar] para, no sábado, pôr-se o do Mateus ou o de outro que nos pareça [conveniente]". Um outro proprietário
de terras pagou pela despesa de mandar fazer
essa lista, mas um delegado foi demitido por tê-la preenchido "por sua própria letra", mostrando assim falta de
imparcialidade45. Antes do término da eleição, a importância
do escrivão tornava-se duplamente evidente. Ele copiava seus rascunhos de atas no livro oficial e fazia uma lista
separada dos vencedores, para afixar na porta da
igreja. Em seguida, transcrevia as atas repetidas vezes, uma cópia para a Câmara Municipal, outra para o presidente
provincial e uma para cada eleitor escolhido.
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Não é de admirar que a lei exigisse das Câmaras Municipais, antes de cada eleição,

160 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


"aprontarem mesa, assentos, papel, tinta (...) e o mais que necessário for para se efetuar com toda dignidade esse solene
ato". Mesmo assim, um juiz de paz reclamou
que, embora tivesse recebido a lista de qualificação, ele não recebera "o papel pautado" para os membros da junta46. As
eleições eram realmente a apoteose da escrita
numa sociedade iletrada.
Como em todos os espetáculos planejados e apresentados, o traje revelava o papel. Por meio de suas roupas, os
atores exibiam seus status e autoridade, a
superioridade de alguns e a inferioridade de outros. O juiz de paz, embora fosse a figura mais inferior na pirâmide
judiciária, aparecia muitas vezes como o único
representante daquele sistema hierarquizado na paróquia, orgulhosamente adornado com a faixa do cargo, "da largura de
um palmo", consistindo de um galão amarelo
entre dois verdes e colocada "do ombro direito descendo para o lado esquerdo". Um juiz de paz, importante cafeicultor
em Valença, teve que lembrar ao seu sucessor
que a faixa "não é propriedade do juiz, mas da jurisdição". O padre paroquial ou vigário, paramentado especialmente
para oferecer a hóstia na missa, dificilmente
seria confundido com um votante comum, ou mesmo com um simples membro da mesa eleitoral, quando participava de
seu trabalho (embora pelo menos um padre, "tendo (...)
celebrado a missa conventual", foi para "sua casa mudar suas vestes e tomar algum alimento", antes de retornar à sua
tarefa na mesa). Um traje para cada papel reforçava
o impacto dramático da cena48.
Os mais coloridos de todos, os oficiais da Guarda Nacional - provenientes, como vimos, da classe proprietária e
escravocrata -, mantinham a ordem nas eleições
vestindo "ricos uniformes", que eles mesmos providenciavam. O uniforme de um oficial de cavalaria, por exemplo,
compunha-se de calças verde-escuro, com um galão
vermelho duplo correndo verticalmente do lado externo da perna, e uma jaqueta vermelha, justa, com a parte de trás
curta e um colarinho amarelo engomado. Pesadas
dragonas douradas trançadas, atavios amarelos debruados na parte da frente e nos punhos, e botões de metal, ornavam

O Teatro das Eleições 161


a jaqueta. Sobre o peito, diagonalmente de seu ombro direito até a cintura, usava uma tira de couro branco ostentando
um medalhão com a insígnia imperial; e em volta
da cintura, uma faixa escarlate com uma borla dourada, sobreposta por um cinto branco ao qual se ajustava uma bainha
para sua espada de cabo dourado. Arrematando
sua elegância, luvas brancas, botas pretas brilhantes e um capacete preto debruado de ouro com uma pluma vermelha
em cima. Numa armadura completa como essa, os oficiais
da Guarda Nacional eram figuras imponentes, elegantes, rijas e inacessíveis, intérpretes de um papel particular,
assinalando superioridade, bem como autoridade inconteste.
Quando convocavam e despachavam seus homens, ou se encontravam em dia de eleição, fazendo saudações e batendo
os calcanhares, expressavam nitidamente as relações
hierárquicas que impregnavam os vínculos cotidianos49.
O votante comum também se vestia para a ocasião: calçava sapatos. E sapatos diziam tudo. Em 1860, houve um
pequeno tumulto numa paróquia quando um cocheiro,
conhecido como escravo, chegou ao local de votação calçando sapatos, pois todos supuseram que, estando calçado, ele
havia sido trazido para votar pela facção de
seu senhor. Os patrões forneciam com tanta freqüência "sapatos e roupas" novos para os votantes que esses benefícios
passaram a ser encarados como um direito. Um
exjuiz mais tarde comparou os votantes a soldados de infantaria, que "tinham direito à etapa que se lhes fornecia com
toda a largueza [e] tinham igualmente o direito
a todo o fardamento ou pelo menos a uma certa porção dele; porque havendo então de fato o sufrágio universal, e nem
todos podendo se apresentarem forma de um modo
suficientemente decente, tornava-se necessário que da caixa saísse o preço de uma roupa mais ou menos apresentável, e
muito mais ainda de um bom par de sapatos".
Por suas roupas, os votantes reclamavam um lugar acima daqueles sem permissão para votar50.
Mesmo os que não votavam desempenhavam um papel nos bastidores do teatro, por assim dizer. Mulheres e
escravos
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

162 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


costuravam e passavam os uniformes e trajes. Sem dúvida, demonstravam essas e outras habilidades com orgulho.
Cozinhavam enormes quantidades para os votantes que
se reuniam, esperando sua vez na praça, ou preparavam iguarias para os membros da mesa, que poderiam retornar à casa
para "comer alguma coisa" às duas da tarde51.
Mesmo a limpeza da igreja e de suas relíquias para a grande ocasião consistia em uma oportunidade para demonstrar
preciosismo. Aí, sem dúvida, alguns lidavam com
as vestimentas, enquanto outros apenas varriam. Mulheres e escravos assumiam um papel que revelava sua posição
social, testemunhando e ao mesmo tempo reconhecendo
os papéis mais importantes desempenhados por outros, situados mais acima no sistema social.
Uma exibição sumária dessas diferenciações ocorria ao pôr-do-sol de cada dia de eleição. Num ritual concentrado
na urna eleitoral, os participantes demonstravam
toda a gama de posições sociais e reforçavam o foco da atenção na natureza problemática dos resultados eleitorais.
Essas urnas eram às vezes "baús pequenos de marroquim
encarnado", com três fechaduras e uma "fenda", através da qual os votantes faziam deslizar as cédulas. À noite o juiz de
paz, que era o presidente, lacrava a fenda
com cera, na qual imprimia seu lacre. Depois, colocava a urna eleitoral "dentro de um cofre de três chaves, ficando em
poder do presidente uma chave e outra em poder
do mesário (...) e outra em poder de mim secretário, sendo o cofre [também] lacrado [e] preso por um cadarço branco".
A mesa eleitoral transportava então essa caixa
para a parte mais visível e pública da igreja matriz, que permanecia aberta a noite inteira. Os homens da Guarda
Nacional revezavam-se para vigiá-la e a troca da
guarda era executada de modo formal e cerimonioso, provavelmente sob a luz bruxuleante de tochas, velas, ou lampiões
de óleo de baleia. Um ritual como esse atraía
assistência. Quando certa vez um juiz municipal sugeriu que mandassem a urna eleitoral para a guarda segura do
sacristão da paróquia, outros insistiram que, pelo
contrário, devia ser vigiada pela

O Teatro das Eleições 163


"Guarda Nacional e mais cidadãos, que se puseram a zelar sobre ela, que se conservou no mesmo lugar ostensivo da
matriz". Na manhã seguinte, o público os observava
desatar a tira, girar publicamente as três chaves e retirar a urna da caixa-forte; todos podiam inspecionar o lacre quando
ele era solenemente quebrado. Por esses
espetáculos elaborados, os atores não apenas afirmavam a honestidade do procedimento, mas desempenhavam papéis
distintos de acordo com sua posição 52 .
Dois atos finais apontavam para o lugar exato do poder, e enfatizavam a importância dos trabalhos eleitorais.
Enquanto a junta eleitoral concluía suas tarefas,
elaborava uma lista dos votantes que não haviam comparecido. O voto era compulsório para aqueles que constavam da
lista de qualificação, mas a junta em geral desculpava
e perdoava as multas de todos os que não compareciam, acrescentando assim mais um gesto de paternalismo
magnânimo ao distinguir aqueles que tinham poder dos que
não o tinham53. Depois, para levar essa longa cerimônia a um desfecho adequadamente apoteótico e público, a própria
junta carregava as cédulas para os degraus frontais
da igreja e queimava-as numa pequena fogueira, atraindo indubitavelmente a viva atenção não apenas dos participantes
do processo, mas de mulheres, crianças, escravos
e outros excluídos do grande acontecimento54.
Estender o voto a um segmento mais amplo da população servia a um propósito particular. Em cada ritual, todo
indivíduo afirmava seu lugar e desempenhava
um papel preestabelecido. Os oficiais da Guarda Nacional, o juiz de paz, o vigário, o votante, cada um representava um
papel distinto. Os indivíduos não ocupavam
sempre o mesmo lugar na pirâmide social - um homem com sapatos podia saltar de escravo para votante -, mas as
eleições afirmavam, repetidas vezes, as gradações da
socie-

164 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


dade. Conquanto existisse alguma fluidez e mobilidade, esta mobilidade se dava para cima e para baixo numa escala
fixa, claramente reconhecida e enfatizada pelos
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
trabalhos eleitorais. Os ritos repetidos a cada eleição reafirmavam e reforçavam a classificação da sociedade e sua
conveniência. Eles definiam e preservavam as
várias e particulares gradações que compunham o todo, e instruíam da mesma maneira os atores e o público sobre a
natureza e a adequação daquela ordem.
As eleições eram, acima de tudo, exibições teatrais elaboradas, que reiteravam insistentemente a convicção de que
a única base própria da organização social
residia no claro reconhecimento da superioridade e inferioridade social de cada um. Muitos mais participavam desses
acontecimentos eleitorais do que é comumente
conhecido - na verdade mais do que na maioria dos países europeus naquela época -, ainda que essa participação
servisse não para manifestar uma ideologia igualitária,
mas para assegurar que alguns fossem chamados para representar pontas, enquanto outros, de posição superior,
sobressaíam à luz da ribalta. Como as eleições eram
indiretas, esse sistema de participação ampla não ameaçava a estrutura imperial ou o controle governamental dos
resultados finais. Ao contrário, atribuindo papéis,
fosse na elaboração da lista de votantes qualificados e na verificação de sua identidade, ou determinando as
qualificações dos eleitos, os procedimentos eleitorais
imprimiam, repetidamente, na consciência pública, a conveniência da desigualdade. O palco desse drama, bem como
seus trajes, coro e equipe técnica, tudo servia para
antecipar aquele fim indizível.

CINCO

Liderança, Fraude e Força

UM LÍDER MUNICIPAL LUTAVA pela vitória eleitoral não para se opor ao governo, mas para ser o governo. Se
conseguisse amealhar a maioria dos votos para si mesmo ou
seus protegidos, isto seria uma prova de sua liderança. Poderia então contar com uma nomeação para importantes cargos
locais. Além de uma patente na Guarda Nacional,
conseguiria ser designado delegado ou juiz municipal substituto, com poder para nomear clientes seus como
subdelegados, inspetores de quarteirão, tabeliães e carcereiros.
Se não chegasse a indicar quem seria o juiz municipal, como era bastante provável, sem dúvida se certificaria de que o
indivíduo indicado concordasse em não se opor
a ele. A posse desses cargos, por sua vez, ampliava a clientela do chefe e assegurava sua influência no processo eleitoral,
tornando ainda mais certa sua vitória
no pleito seguinte.
Desafiar essa liderança, portanto, exigia a formação de um grupo alternativo. Exibir a dimensão de um tal grupo
significava levantar publicamente acusações
de fraude eleitoral ou, de um modo mais imediatamente efetivo, usar diretamente a força para derrubar o ocupante do
cargo. Por esse motivo, eleições e violência
caminhavam juntas. Para se opor ao poder de um chefe, um adversário tinha de usar a força ou a ameaça de força.
Quando obtivesse algum poder, ele podia acusar o
chefe do município de atos ilegais nas eleições. Isto é, as mesas eleitorais e as autoridades locais só anotavam por
escrito as acusações de

166 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


fraude quando um adversário já conquistara suficiente influência para insistir em que as opiniões da facção que liderava
fossem registradas. Do mesmo modo que tanto
o grupo governante local quanto seus adversários sempre baseavam seus processos na reivindicação de "ordem" contra
"anarquia", o mesmo ocorria em relação a honestidade
contra fraude: quando aparecia a acusação de fraude, isso queria dizer que uma força de oposição já obtivera suficiente
poder para exigir ter alguma voz nos documentos
cruciais. Para chegar a esse extremo, assegurar um espaço para fazer acusações contra a conduta ilegal de alguém,
exigia-se primeiro o domínio da força, extralegal
por definição. Depois, à medida que um chefe em ascensão fazia sentir cada vez mais sua presença, também ele podia
ser pacificado, concedendo-se alguns cargos de
autoridade a ele e a seus protegidos. Ele sabia que, quando tornasse seu poder conhecido, não poderia mais ser ignorado
pelo governo central. Se o sucesso não viesse
então, com o partido que se encontrava no poder no momento, certamente viria depois, com o outro. Quando um novo
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
líder conseguia finalmente controlar todos os cargos
investidos de autoridade legal, as acusações de fraude deixavam de vir à baila. Enquanto isso, impor-se como líder da
facção mais forte às vezes exigia meios inescrupulosos
e ação decisiva. A violência - de um lado ou do outro, real ou apenas como ameaça - não ia contra o processo eleitoral,
mas constituía parte essencial dele.
Como conseqüência necessária da ambição de chefes locais, os líderes nacionais governavam através de uma
facção ou de outra. Um ministro da Justiça o expressou
de forma abrupta, ao discutir sua política para nomear oficiais da Guarda Nacional: nos lugares "onde houver um só
batalhão e influências rivais, a mais forte, legítima
e que mais garantias oferece de lealdade, dedicação e aptidão deve ser preferida". Assim, o resultado era uma
manipulação de mão dupla, não apenas de "cima" para
"baixo", mas do governo local para o central, assegurando nomeações para o poderoso escolhido do lugarejo. Do ponto
de vista dos que estavam na capital nacional,
o segredo

Liderança, Fraude e Fora 167


do bom governo estava em saber quando conceder ao menos alguns cargos de autoridade legal a um adversário. Isso
significava manter um permanente contato com o fluxo
de poder ao nível do lugarejo, e deliberadamente ignorar os choques que obrigatoriamente ocorreriam para conquistá-lo.
As raízes daquilo que mais tarde veio a se
chamar coronelismo - a tendência de permitir o livre reinado dos chefões locais, contanto que as eleições restituíssem
congressistas que apoiassem os propósitos
dos líderes nacionais e regionais - foram profundamente plantadas no século XIX1.
O objetivo deste capítulo é examinar a base local do comportamento eleitoral, pois é nesse nível que nitidamente se
revelam os importantes significados da
luta política. E só quando se compreender essa dimensão é que a natureza do clientelismo como um fluxo de mão dupla
se tornará clara. Contudo, antes de examinar
como os líderes das facções locais usavam a fraude eleitoral e a violência para afirmar seu poder, temos de investigar
primeiro que tipo de homens eram eles, como
se relacionavam com o governo central e o que visavam nas eleições locais.

Líderes

Tipicamente, os homens que governavam em âmbito local tinham condições de atrair uma clientela, em primeiro
lugar a partir do fato de possuírem terras, ainda
que nem todos os proprietários se envolvessem da mesma maneira na política municipal. Como expressou-se com
acuidade, em 1878, um representante dos fazendeiros,
num congresso de agricultores: "É preciso respeitar o fato social e econômico que presenciamos no país onde grande
parte da população do campo - a população preponderante
do Império - sob uma ou outra forma, está sujeita aos grandes lavradores e [que] as explorações mais produtivas
também lhes pertencem". Ninguém se envergonhava então
daquela realidade: ela era o que era e como devia ser.

Sem dúvida, nas áreas de exportações mais ricas, os fazendeiros surgiam inevitavelmente na vanguarda da política
local.

168 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Entre as famílias cafeicultoras no município de Vassouras (no Vale do Paraíba), essas seis despontavam em riqueza:
Ribeiro de Avellar, Souza Werneck, Lacerda Werneck,
Santos Werneck, Correia de Castro e Paes Leme. Duas outras, as famílias Miranda Jordão e Teixeira Leite, eram donas
de negócios locais, sobretudo emprestando dinheiro
a fazendeiros e trabalhando como comissários para eles, embora também possuíssem alguma terra2. Essas oito famílias
juntas controlavam a política municipal. Em 1842,
quando ainda se organizavam as mesas eleitorais paroquiais sob a liderança de um triunvirato composto pelo padre, o
delegado ou o subdelegado e o juiz de paz. Paulo
Gomes Ribeiro de Avellar, como juiz de paz, e José Pinheiro de Souza Werneck, como subdelegado, uniram-se ao padre
na mesa de uma paróquia. Entre os outros três
membros da mesa, estavam Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, o futuro barão de Pati do Alferes, que naquele
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
mesmo ano, como comandante da Guarda Nacional, liderara
suas forças na luta contra os rebeldes em São Paulo e Minas Gerais. Quando se realizou a votação para eleitores, oito
dos dez vitoriosos ostentavam nomes conhecidos:

Joaquim Ribeiro de Avellar


Claudio Gomes Ribeiro de Avellar Manoel Gomes Ribeiro de Avellar Paulo Gomes Ribeiro de Avellar
José Gomes Ribeiro de Avellar
José Pinheiro de Souza Werneck Francisco das Chagas Werneck
Francisco Peixoto de Lacerda Werneck5.
Treze anos depois, em 1855, essas famílias continuavam monopolizando os cargos municipais e paroquiais: entre
os vereadores e seus substitutos, encontramos
os nomes Teixeira Leite, Souza Werneck, Paes Leme e Miranda Jordão. Na paróquia central do município, Pedro
Correia de Castro (barão de Tinguá) trabalhava como juiz
de paz, junto com três Teixeira Leite. Na paróquia de Pati do Alferes, o subdelegado pertencia à família Ribeiro de
Avellar; seu substituto era Augusto Soares de
Miranda

Liderança, Fraude e Força 169


Jordão - um fazendeiro abastado e banqueiro -,que ao mesmo tempo era membro da Câmara Municipal. Três dos quatro
juízes de paz dessa paróquia ostentavam o nome Ribeiro
de Avellar, inclusive o chefe da família, Joaquim Ribeiro de Avellar, barão de Capivarib.
Outro exemplo de proprietário de terra abastado, que exercia muito poder local, era Joaquim José de Souza Breves
(1804-89). Já em 1822, a propriedade do
pai
dos Breves - que
então iniciava sua plantação de café no município de Piraí, no Vale do Paraíba - pareceu um lugar adequado para Dom
Pedro I passar a noite quando em viagem para
São Paulo, onde iria
declarar a independência do Brasil. Em 1831, o Breves filho casou-se com a filha de um vizinho, José Gonçalves de
Morais, mais tarde barão de Piraí, uma aliança
que o tornou um dos
maiores proprietários de terra da região (acabou dono de cerca de vinte fazendas de café). Seu irmão, José Joaquim,
casou-se com outra filha de Morais. Além das
ricas terras cafeeiras, banhadas pelo rio Paraíba do Sul, Breves tinha propriedades que se estendiam das montanhas até a
costa, e uma propriedade na península de
Marambaia, para além da Baía de Sepetiba, defronte ao pequeno porto de Mangaratiba7. Sua riqueza aumentou
rapidamente: em 1861, os dois irmãos (e seus filhos) embarcavam cerca de 4,6 milhões de toneladas de café por ano,
sem falar no café produzido nas terras de seu
sogro. A produção dessa única
família correspondia a pelo menos um terço de todo o café embarcado de dois municípios no Vale do Paraíba, e a talvez
3,2% das exportações totais do paíss.

Mais que um proprietário de terra, Breves era um escravocrata. Para expandir rapidamente o número de seus pés de
café, procurou uma abundante fonte de mão-de-obra
e logo passou a proteger os traficantes de escravos. Talvez a energia que dedicou à causa da autonomia local - despontou
nas décadas de 1830 e 40 como o campeão
local dos programas liberais - decorresse de sua necessidade de fazer com que as autoridades legais fechassem os olhos
para excessos em relação

170 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


a esse assunto. Ao menos sabemos que ele usava o porto de Mangaratiba para importar ilegalmente grandes quantidades
de africanos. Ainda em 1851, o ministro das Relações
Exteriores britânico queixava-se iradamente ao ministro brasileiro em Londres de que "Joaquim Breves, o famoso
importador de escravos de Marambaia, a quem o tribunal
competente acabou de condenar por importação de escravos no Brasil, foi absolvido numa apelação ao Superior
Tribunal no Rio de Janeiro". Diziam que Breves era dono
de mais de quatro mil escravos. Nos campos se cantavam modinhas sarcásticas sobre os conflitos dele com o sogro por
causa das fazendas e suas relações sexuais com
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
as escravas9.

Breves exibia sua opulência com exuberância. Tinha dois pequenos barcos a vapor para embarcar seu café de
Mangaratiba para o Rio de Janeiro, mas muitas vezes
ele mesmo os navegava quando desejava comparecer a cerimônias na corte. Em 1855, pagou uma quantia substancial à
Igreja para que se permitissem rezar missas na capela
de sua fazenda, e dez anos depois construiu em sua propriedade uma deslumbrante mansão, projetada por seu genro,
diplomata italiano no Brasil. Seus contatos no Rio
de Janeiro mostraram-se úteis quando, após a morte de sua filha, ele trabalhou para impedir que aquele diplomata
levasse de volta para a Itália sua filha nascida
no Brasil. Quando os pedidos malograram, Breves ordenou o seqüestro da própria neta; diante do fato consumado, o pai
por fim concordou em deixá-la com ele, embora
só depois de o problema ter provocado uma confusão diplomática, envolvendo até mesmo o Conselho de Estado10.
Como líder político local, Breves usava pulso de ferro. Em 1840, com os Liberais temporariamente em ascendência
na capital, os juízes de paz, que eram seus
clientes, conseguiram manter os adversários permanentemente indiciados. Quando seus próprios seguidores mais tarde
foram presos, ele organizou uma invasão da cadeia,
que resultou na morte de um homem e em vários feridos. Em fins de 1841, os Conservadores assumiram o

Liderança, Fraude e Força 171


poder no Rio de Janeiro e nomearam o cafeicultor Honório Hermeto Carneiro Leão, futuro visconde do Paraná,
presidente provincial; ele ordenou que o juiz de direito
realizasse um "rigoroso recrutamento dos inúteis que infestam a área", uma batida policial destinada a reduzir as fileiras
dos asseclas de Breves. Com os Liberais
mais uma vez no poder, em 1844, a manipulação de uma eleição local, por Breves, causou tanto barulho que provocou
uma denúncia do padre da paróquia. Em 1849 ele
continuava a agir, pois suas ações como chefe de uma facção no Colégio Eleitoral de novo provocaram protestos. Como
ele confidenciou na época ao senador José Tomás
Nabuco de Araújo, ele tinha tantos inimigos que temia ser assassinado, e só viajava por "estradas secundárias", não
deixando ninguém saber de seu itinerário. Em
1860, o presidente da província do Rio de Janeiro ainda admitia ao ministro do Império: "Eu também receio a
intervenção maléfica de Joaquim José de Souza Breves
nas eleições". Na realidade, Breves parece ter chefiado o bando de cerca de duzentos homens que naquele ano desceu a
serra para Mangaratiba e arrasou o trabalho
de uma
mesa eleitoral pouco atenta a seus desejos, uma ação que provocou o envio de uma
canhoneira do Rio de Janeiro. Em 1871, ele foi acusado de receber o juiz municipal em sua fazenda e prestar-lhe
"favores de importância" em troca de julgamentos
favoráveis11.
Do mesmo modo, no rico município açucareiro de Escada, em Pernambuco, os fazendeiros monopolizavam os
cargos de autoridade local. O fazendeiro e senhor de
terras Henrique Marques Lins tinha um genro na função de delegado e um cunhado na de subdelegado. Como
comandante do batalhão da Guarda Nacional, o próprio Lins
dava as ordens, através de 15 comandantes da corporação, dos quais oito eram donos de 16 engenhos de açúcar. A
Câmara Municipal dali incluía três membros que juntos
possuíam 13 fazendas. Dos 17 juízes de paz
nas várias paróquias, 12 eram donos de 19 engenhos de açúcar12. Nabuco de Araújo, quando ainda era um líder
Conservador, em 1841, achava correto que esses homens
tão abastados

172 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


governassem. Falando da família Cavalcanti, em Pernambuco, disse: "Esses Cavalcanti antes de nossa emancipação
política já figuravam como capitães-mores, tenentes-coronéis,
coronéis e oficiais da ordenança e milícia, e em todos os cargos da governança; os engenhos, que a maior parte deles
tem, foram havidos por heranças transmitidas
por seus maiores, e não adquiridos depois da revolução; enumerai os engenhos da província, e vos damos fiança que um
terço deles pertence aos Cavalcanti. (...) Uma
família antiga, rica, numerosíssima, composta de membros que sempre ocuparam as melhores posições sociais (...) só
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
não terá influência quando a sociedade estiver
transtornada, quando todos esses elementos de influência [política] e legítima estiverem obliterados pelo predomínio da
violência, pela confusão da anarquia, pelo
revolvimento da sociedade"13.
Também em outras partes do Brasil, em áreas não tão prósperas, os ricos geralmente ocupavam os cargos de poder
local, ou decidiam quem os ocuparia, como
talvez aconteça universalmente. Assim, Francisco Fernandes Vieira, visconde de Icó, um pecuarista no interior do Ceará,
cujo primogênito era senador, também podia
se orgulhar do fato de que outro filho era delegado e o terceiro subdelegado, enquanto o genro era juiz de direito, o
primo juiz municipal, e um sobrinho promotor
público. Já dei exemplos de muitos outros chefões locais como esses, homens de posses a quem o governo nacional
nomeava delegados, juízes municipais substitutos
e oficiais da Guarda Nacional. Quase todos eles chefiavam facções eleitorais em seus municípios, formadas por
seguidores leais14.
Um líder local bem-sucedido providenciava vínculos sólidos com legisladores locais, membros do Congresso,
figuras do Gabinete e até o primeiro-ministro.
As relações entre a corte e o interior permaneciam íntimas, diretas, freqüentes, apesar de vários níveis formais de
autoridade. Por esse motivo, é um engano diferenciar
com demasiada ênfase o governo central das facções locais. Um coronel da Guarda Nacional na Bahia "tem amigos na
maioria Liberal da Assembléia [provincial], alguns

Liderança, Fraude e Força 173


dos quais devem-lhe a eleição, um que, além disso, é seu genro, e todos eles compreendem bem seus serviços [ao
partido]". Outros recorriam aos membros do Congresso
Nacional: comunicando as ações de um latifundiário nos sertões distantes da Bahia central (Pilão Arcado e Sento Sé)
que se recusou a aceitar a interferência de qualquer
outra autoridade nas eleições, o presidente da província informou que sua imunidade resultava "sobretudo da proteção
[que ele recebe] daqueles a quem dá votos para
deputados, os quais empregam aqui [em Salvador], e mesmo nessa corte, todos os meios que a ambição lhes sugere para
o defender". Através dessas ligações, um chefão
local podia chegar até o próprio Gabinete. Quando um juiz de direito no
município de Bananal (São Paulo) advertiu um delegado por má conduta eleitoral, a autoridade, com a maior desfaçatez,
retrucou
que agira sob a autoridade direta de um ministro. O presidente provincial que informou o incidente não apenas defendeu
o delegado, mas acrescentou que o parceiro
do delegado naquilo,
seu primeiro substituto, "me fora recomendado por pessoas muito importantes dessa corte e da confiança íntima de
alguns dos colegas de vossa excelência [no governo]".
Dessa maneira, como disse um político, "firma o predomínio de uma oligarquia de um ou dois chefes que se uniram
para fazer deputados os seus filhos,
seus sobrinhos, seus parentes, seus afilhados, seus compadres; (...) ou o governo chamará a si estas influências,
prometendolhes mundos e fundos, com que obterá
tudo"15.
José Dantas (1816-67), grande proprietário de terras no nordeste da Bahia, ostentava a patente de capitão da Guarda
Nacional e ocupava o cargo de juiz municipal
substituto. Podia
até mesmo proteger ladrões de gado e de cavalo, mas se esses o desagradassem, matava-os a tiros até na igreja durante a
missa.
"Em razão de sua influência eleitoral, [ele] é extraordinariamente
protegido na Bahia (...) e sua influência maléfica estende-se até
esta província [de Sergipe]. Nunca se encontrará autoridade
policial que (...) atreva-se a pisar o feudo de José Dantas." Em
1856, cinco anos depois desse relatório ter sido preparado, José

174 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Dantas apoiou as ambições eleitorais de seu sobrinho e afilhado, Manuel Pinto de Souza Dantas, que venceu a eleição
para deputado e logo surgiu como um importante
político, vindo a se tornar primeiro-ministro. Portanto, se os presidentes provinciais às vezes procuravam reforçar sua
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
autoridade sobre os chefões locais, eles
logo compreendiam que o mesmo sistema que lhes rendera sua posição também assegurava ligações permanentes entre
seus superiores no Gabinete e justamente tais chefões16.
Isso não quer dizer que os membros do governo central se sujeitassem incontestes à pressão do partido local mais
forte por muito tempo, pois assim desistiriam
de conseguir algum espaço de manobra para ampliar sua própria clientela. O presidente recém-empossado do Rio
Grande do Norte, por exemplo, lamentava o fato de que
naquela província: "todos os membros da Assembléia Provincial, as Câmaras Municipais, os militares, os oficiais da
Guarda Nacional, os magistrados, os empregados
provinciais, os juízes de paz, os eleitores, os delegados e, em suma, todo o poder pertence a um partido que há dezoito
anos está de posse do domínio, à exceção
de pequenos intervalos de tempo. A tendência deste partido é garantir os seus lugares e diminuir a autoridade central. De
tudo isto se segue que em pouco tempo não
terá o governo nada que fazer a respeito desta província, senão nomear um presidente, de seis em seis meses, para ser
um autômato, só próprio para assinar o expediente,
[e] sancionar leis provinciais (...) A um homem de braços amarrados não se pode dizer: seja enérgico !17" E não importa
quanto um chefão regional ganhasse, ele jamais
se satisfazia. Ele tentava então exercer mais pressão no Rio de Janeiro, para o descontentamento de líderes nacionais,
que sem a menor dúvida se ressentiam de ter
sua liberdade de ação restringida. Um senhor de engenho de Alagoas chegara à capital nacional "arisco e agitadiço,
porque não se lhe concede a demissão do presidente
[da província] sem motivo plausível, já supondo que queremos penetrar os seus domínios, e muito queixoso de nada se
ter feito, embora esteja juiz de direito onde
tem o engenho e [um amigo

Liderança, Fraude e Força 175


e parente] desembargador, e [outro] senador, e o irmão deputado, e um amigo barão etc. etc.". Portanto, chegava um
momento em que os políticos que tinham chegado
ao centro tinham de dizer "não" a um determinado chefão local. Contudo, do mesmo modo que um juiz de direito podia
tomar uma decisão contra um potentado rural individualmente,
mas não contra todos eles, também os presidentes provinciais e até mesmo o primeiroministro muitas vezes tinham que
desagradar a alguns valentões do interior, mas
jamais ousavam contrariar a todos de uma só
vez. "Fazer uma limpeza geral", explicou um presidente, "suscitaria a oposição dos amigos do governo"18.
Os atritos entre presidentes e chefões locais tornavam-se particularmente prováveis quando os Gabinetes trocavam
de mãos. Esses conflitos não revelavam visões
diferentes sobre o locus do poder-público ou privado-mas apenas expressavam as ligações entre a capital e o interior.
Um proprietário de terras como José Antônio
Saraiva, apelidado de "messias de Pojuca" (nome de seu engenho de açúcar), cuja habilidade para obter o
apoio de líderes faccionais e suas clientelas acabou levando-o à liderança nacional, podia ser nomeado para a
presidência de uma província precisamente para que
diminuísse o poder desses
feudos privados. Em 1859, de Pernambuco, ele informou sua conversa com um chefão local: "Tive ocasião de fazer
sentir àquele coronel que o Governo Imperial e a
Presidência não tinham senão motivos para o ter no número dos homens mais dedicados à ordem e respeitadores da Lei;
(...) que para acharse sempre em boas relações
com a Presidência, convinha ser muito escrupuloso na escolha de seus agregados, e entregar os criminosos que
estiverem em seus engenhos às autoridades locais; (...)
que lhe dizia isso para que não me visse na necessidade, uma ou outra vez, de mandar entrar força em seus engenhos, do
que ele seguramente se desgostaria. Prometeu-me
fazer o que [eu] lhe dizia". Saraiva acrescentou que este "coronel (...) pode perder a mania de valentão que tem e
gradualmente o prestígio de ser tudo. Se [eu]
tivesse
força, colocaria uma boa porção

176 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


dela ao seu lado, e em pequena distância, e bastaria isso para que ele (...) fosse aceitando com bom modo todas as
modificações necessárias à sua existência de cidadão"19.
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Os presidentes, entretanto, não tinham tropas suficientes para fazer isso.
A preocupação de manter a parafernália do liberalismo queria dizer, além disso, que os adversários não podiam ser
varridos de suas posições de uma só vez.
Isso significava que os juízes, por exemplo, aliados da "oposição", tinham independência suficiente para frustrar o
esforço de um presidente em dominar os líderes
locais. Saraiva transformou então seu relatório numa lamentação, chorando a falta de apoio das autoridades. A Relação,
por exemplo, deferiu um recurso de habeas-corpos
a favor de um criminoso condenado. "Com gente tão boa na magistratura, a ação da administração e da polícia nunca
produzirão efeito, e os donos da terra serão os
advogados e os escrevinhadores, com as costas guardadas pelos senhores de engenho valentões"20. A linguagem é a de
uma luta entre civilização e barbárie; mas os
Conservadores que haviam nomeado tais juízes entoariam o mesmo tema, apenas lançando a injúria contra um grupo
diferente de donos de terras e chefões locais.
A mudança caleidoscópica das alianças locais, combinadas com as alternâncias no partido governante em nível
nacional e toda tentativa partidária de apaziguar
a facção derrotada com uma aparência de honestidade, significava que outros representantes da oficialidade (o
comandante da Guarda Nacional e os delegados, por exemplo)
também podiam, de vez em quando, estranhar-se uns com os outros. Até certo ponto, essas tensões serviam para
perpetuar o sistema mais amplo, deixando a informação
sobre a força local fluir constantemente. Do contrário, uma facção emergente podia explodir de forma imprevisível.
Como Conservadores e Liberais tinham informações
tanto sobre quem liderava a política local no momento quanto sobre quem ameaçava chegar ao topo, eles podiam alterar
as nomeações, mudar sua base e dar a impressão,
assim, de justiça e ordem. Tanto o comandante quanto o delegado podiam alegar - e o

Liderança, Fraude e Força 177


faziam - estar falando em nome do governo, da lei e da ordem, da preservação do sistema, e estar impondo sua
autoridade contra os "turbulentos" ou "desordeiros",
os violadores da vontade do eleitorado, os "desfavoráveis à liberdade do voto", e os propagadores da "desordem"21. Na
verdade, sempre falavam em nome de uma ou
outra facção, cada uma com seu coronel-chefe.
Uma tarefa comum para um presidente provincial consistia em selar cuidadosamente acordos entre facções rivais
locais, possibilitando a ambas participar dos
espólios dos cargos. Se bem idealizado, esse arranjo tinha a vantagem de evitar a violência, ao mesmo tempo em que se
mantinha o controle. Assim, em 1851, o presidente
do Sergipe apresentou uma lista de nomeações propostas para a Guarda Nacional, composta por nomes de dois grupos
rivais, e exortou o governo central a assegurar
uma nomeação mista, para que nenhum grupo pudesse reivindicar vitória sobre o outro. Em troca, pedia que os líderes
rivais locais apresentassem uma cédula unificada
de candidatos a deputados, representando os dois grupos, antes que ele lançasse seu apoio a qualquer um. Quatro anos
depois, um ministro da Justiça observou que,
nas localidades em que havia dois batalhões da Guarda Nacional, os postos militares deviam corresponder "às
influências de ambos os lados". Essas iniciativas evitavam
que um chefão paroquial precisasse usar meios extralegais para demonstrar a força de sua posição22.
Pois, na tentativa de demonstrar tal força, um chefe local podia estimular sua facção a denunciar atos de fraude ou,
algumas vezes, a cometer atos de violência.
As exigências contraditórias de ordem, liberdade e hierarquia tinham como resultado nas eleições locais ênfases
inconstantes e de diferentes matizes, que variavam
desde o rígido controle exercido pela facção que ocupava os cargos de autoridade constituída, passando por uma
indulgência suficiente para se permitir que a oposição
denunciasse a fraude, até a evidente fraqueza que consistia no fato de um adversário acreditar que poderia ter êxito em
recorrer à violência para impor sua vontade,
ou ao menos ser notado.

178 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Quando o grupo dominante mantinha um controle firme, a eleição ocorria em perfeita paz, e os meios legais - mesmo
que gritantemente parciais - mostravam-se suficientes
para garantir a vitória. Se os adversários da facção dominante ganhassem alguns votos, eles tinham a boa vontade ou a
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perspicácia política de reconhecer seu sucesso
como um presente que devia ser recebido com gratidão. Cada eleição, contudo, podia pôr em risco as relações do poder
local. Como reconheceu o ministro da Justiça,
o partido majoritário nas mesas eleitorais muitas vezes era "arrastado, [pelo] desejo de vencer a todo transe, ou de
ostentar uma influência além da realidade, (...)
a praticar atos atentatórios aos direitos políticos dos cidadãos [e] a provocar perigosos conflitos". Se um chefe rival
ampliava seu grupo, exigia voz na política
local; isso parecia simplesmente justo. "Se havia violência", lembrou um participante, "e muitas vezes havia, quem
vencia era sempre a maioria; isto é, quem tinha
mais gente e por conseqüência mais força". Por isso, explicou um presidente provincial: "fraudes e distúrbios"
freqüentemente se acompanhavam23.
Do outro lado do conflito, fraude e força também andavam juntas. A fraude era apoiada pela força da facção
dominante, isto é, pela ameaça de força que
conseguia
evitar a anulação de uma prática eleitoral fraudulenta. Nada sabemos sobre os casos de fraude que realmente
`funcionassem'; a maior parte das atas das mesas eleitorais
tem linguagem seca e denota decoro, e os perdedores talvez nem percebessem que ocorrera fraude, ou, mais
provavelmente, sentiam-se demasiado fracos para protestar.
Essa fraqueza podia ser conseqüência ou da falta de homens para votar e pegar em armas, isto é, do fracasso de um
chefe como protetor, ou das tênues relações que
ele tinha para cima, com o Gabinete, isto é, o seu fracasso como cliente. De qualquer modo, a maior parte da fraude não
deixava qualquer vestígio; nas contestações
de fraude, o historiador tem apenas um vislumbre de uma realidade que suspeita ser muito maior.

Liderança, Fraude e Força 179


Em resumo, os grupos rivais sempre dependiam da violência: ou pela força legalmente sancionada da Guarda
Nacional, do Corpo Policial e do Exército, que garantiam
que determinados votantes, fossem eles realmente majoritários ou não, se saíssem vitoriosos nas urnas; ou por votantes
armados que contestavam tal poder e estabeleciam
seu próprio direito de controlar a eleição. Apenas uma tênue linha separava o controle legal das eleições exercido pelo
Gabinete, que agia por meio de seus agentes
leais e fundava-se no monopólio governamental da força legítima, e a violência ou fraude cometidas pelos chefões
locais. E nos dois casos obtinha-se a mesma meta:
demonstrar superioridade eleitoral e com isso conquistar um novo ou maior apoio governamental.

Fraude

A fraude, ou melhor, a alegação de fraude nos documentos oficiais, tinha suas raízes na ameaça de violência. Dessa
forma, um adversário podia garantir o
direito de apresentar queixa contra uma suposta desonestidade praticada pela maioria da mesa eleitoral e uma declaração
dessas podia ser registrada em suas atas.
Ou, se a junta eleitoral já tivesse caído nas mãos dos adversários, a fraude era denunciada por aqueles que ainda se
aliavam ao chefe anteriormente dominante. Essas
atas, ao mesmo tempo, reconheciam a força significativa de cada facção, preservavam a aura de legitimidade e davam o
exemplo de comportamento adequado, passando
a decisão para as mãos das autoridades superiores, supostamente fora dos limites do conflito.
Também se denunciavam práticas desonestas aos juízes ou outras autoridades. Na gangorra do poder paroquial,
choviam cartas de delegados, juízes de paz, juízes
municipais e juízes de direito na sala do presidente, cada qual descrevendo os mesmos acontecimentos sob uma
perspectiva diferente. Não se escreviam essas cartas
só para encher papel: elas destinavam-se a chamar atenção para a existência de uma facção, para a liderança de

180 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


alguém dentro dela e para a candidatura de outra pessoa para um cargo de ainda maior autoridade local.
Como um primeiro passo para a vitória, um grupo adversário tentava desqualificar o presidente de uma junta de
qualificação. Embora isso requeresse a ação
de uma autoridade constituída, podia ser considerado uma desonestidade, se os que detinham o controle em um nível
ainda mais alto discordassem do resultado. A lei
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de 1846 especificava que o presidente devia ser o homem que recebesse mais votos na última eleição para juiz de paz,
mesmo que tivesse sido dispensado de seus deveres
ou indiciado por crime de responsabilidade. Isso deixava em aberto, contudo, a possibilidade de indicíá-lo por outro tipo
de crime. Um juiz de direito, agindo a
favor dos interesses de uma facção local, acusou o presidente da junta eleitoral de ter alterado as listas de qualificação;
indiciou-o por "crime de falsificação";
e por isso afastou-o da junta, permitindo assim ao líder de uma facção rival, o segundo colocado para juiz de paz,
substituí-lo. O juiz de direito não tinha, na
verdade, qualquer esperança de que a acusação fosse aceita; precisava apenas manter o presidente sob acusação formal
na época da eleição. Dois outros meios de substituir
o presidente da mesa eleitoral vieram à baila através de um único caso em que o titular morrera: podia-se envenenálo;
ou apenas alegar que ele fora envenenado e
acusar seu sucessor pelo crime, permitindo assim que uma terceira pessoa assumisse a responsabilidade pelo processo
eleitoral24.
Quando um chefe que havia ascendido recentemente procurava demonstrar de público o seu poder, nenhuma
situação melhor podia se apresentar que o momento da
eleição em que seus rivais chegavam para votar. Na hora em que a mesa eleitoral decidia sobre a identidade dos
votantes, a maioria dos membros podia se recusar a
reconhecer que um votante era quem alegava ser, "sem embargo de afirmação em contrário de pessoas [sie]
conceituadas". Numa paróquia, "nada valia para o reconhecimento
da identidade de seus votantes: o pároco, o subdelegado, o juiz de paz em exercício, e inspetores de quarteirão eram

Liderança, Fraude e Força 181


nulidades (...) para informações a respeito". Punha-se claramente em dúvida o verdadeiro detentor do poder local. Os
membros majoritários de uma outra mesa anunciavam
publicamente que não reconheceriam a identidade dos votantes da outra facção, mesmo aqueles que haviam sido
confirmados em suas qualificações como votantes por uma
Relação. Quando um votante "mui conhecido na freguesia" dirigiu-se para a urna eleitoral, os outros saudaram-no com
gritos e repetidos epítetos de `fósforo'. Um
partido lesado reclamou que uma mesa permitiu "um menino que terá dezesseis anos, (...) desconhecido neste lugar", a
votar, quando chamaram o nome de um homem que,
"constando na lista [de qualificação tem] 48 anos". A mesa também podia eliminar votantes quando seus nomes não
conferiam exatamente com o que estava escrito nas
listas, "por falta de pingo no i", disse uma testemunha. Deste modo, "por frívolos pretextos", uma mesa negava aos
votantes seus direitos25. Particularmente exasperante
para um cidadão excluído dessa maneira era a escolha de uma pessoa de classe inferior para tomar o seu lugar como o
votante legítimo: "Sabemos de uma eleição em
que, apresentando-se a votar um comendador de duas ordens [honoríficas imperiais], proprietário de vários
estabelecimentos rurais e milionário, a mesa decidiu que
não era ele o indivíduo que fora chamado e se achava qualificado, levando o capricho ao ponto de fazer votar por ele,
em sua presença, o carcereiro do lugar! Votar
em sua presença! Nessa mesma eleição, por um proprietário e bacharel em direito, a mesa fez votar um liberto, e pelo
coletor de rendas provinciais, um moleque a
quem haviam chamado para isso, dando-se-lhe alguns vinténs"26. Alguns alegavam que até escravos substituíram
eleitores legítimos em 1840 27. Por conseguinte, a
facção que ganhava o poder na mesa esfregava a ignomínia da derrota no rival; quem podia ser cliente de um homem
que fora desafiado dessa maneira e deixava ficar
por isso mesmo?
Um meio de obter vitória era fazer o votante colocar mais de uma cédula na urna eleitoral. Para acabar com esse
abuso, em

182 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


1856, o governo emitiu instruções de que as cédulas deveriam "ser fechadas por todos os lados". Além disso, a fenda da
urna eleitoral devia ter largura suficiente
apenas para permitir a introdução de uma cédula de cada vez. "Quando, no ato da apuração, se achar debaixo do mesmo
invólucro mais de uma cédula, serão inutilizadas
todas as que forem encontradas". Mais tarde a lei especificou que os invólucros deviam ser "fechados por todos os lados
com obreia, lacre ou outra substância apropriada".
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Se as juntas eleitorais encontrassem uma cédula junto com outra, a cédula externa devia ser considerada um envelope,
se tivesse nomes riscados ou mudados; do contrário,
deviam-se considerar inválidas as duas cédulas28. As notícias dessas medidas legais aparentemente não chegaram à
fronteira longínqua do Rio Grande do Sul. Em 1861,
segundo alguns membros de uma mesa local, quando abriram a urna eleitoral, "achavam-se cédulas maiores que,
estando fechadas sobre si [mesmas], ocultavam outras
menores, e nestas, outras ainda menores, às quais cédulas menores eram introduzidas, encostadas nas maiores, que os
falsificadores dobravam em duas, passando um
ferro de engomar por cima, e por isso eram falsas as pequenas". Essa suposta fraude era fácil de praticar por causa das
"cédulas pequeninas (...) em papel de seda
fino branco (...) de polegada e meia [5 cm] de comprido e uma [3,50 cm] de largura", dentro de maiores, "de três quartos
de palmo comprido, sobre uma mão travessa
de largura". Outros mesários, contudo, alegaram que a maioria simplesmente desejava lançar fora aquelas cédulas não
preenchidas - no "papel que usara seu partido".
Em resposta a essas práticas, os legisladores em 1881 especificaram que os eleitores deviam usar "papel branco ou
anilado, não devendo ser transparente nem ter marca,
sinal ou numeração"29.
As facções rivais descobriam inúmeras modalidades de fraude. Um membro da junta podia deliberadamente ler
errado uma cédula e anunciar o nome de outro candidato.
Ou aumentar os números escritos para um nome escolhido. Podiam-se alterar as atas da junta eleitoral. Um subdelegado
gabou-se publicamente

Liderança, Fraude e Força 183


"bem na Matriz" de que o fizera, desafiando quem quer que fosse a fazer alguma coisa em relação a isso. Para reduzir a
chance de se fazerem tais alterações, a lei
especificava que os números anotados nas atas deviam ser escritos por extenso, não em algarismos. Algumas vezes,
podiam-se detectar as alterações comparando o número
de linhas nas diferentes páginas das atas, ou a caligrafia dos números das páginas, ou observando-se que algumas
páginas não haviam sido rubricadas por todos os
membros da junta eleitoral. Finalmente, num local todos os votantes "foram dispensados de votar, [e.] as atas foram
lavradas em casas particulares, e até na ausência
de alguns dos indivíduos mencionados nelas como membros da mesa". Essa técnica se tornou famosa como eleição a
bico-de-pena, uma expressão usada até hoje
Mesmo quando os atuantes violavam o espírito da lei, prestavam atenção às minúcias legais que evidenciavam seu
éthos forense. Numa localidade, os membros
do partido derrotado não puderam votar porque, embora a Relação tivesse sancionado sua petição contra a sua exclusão
da lista de qualificação, um juiz de paz anunciou
publicamente que antes do dia da eleição ele não ia "abrir os ofícios que lhe são dirigidos", para não receber a
notificação da ação do tribunal31. Embora não lhe
faltassem outros meios para a mesma finalidade, sua preferência por este é reveladora: ainda que fosse excluir votantes
legítimos, ele observaria o texto da lei
e preservaria o fundamento legal para depois justificar sua ação. Mais ainda, mesmo as ações com a maior garantia de
legalidade podiam, na verdade, ser usadas para
defender os interesses de apenas um dos lados.
Muitas vezes, cada grupo rival organizava uma eleição sua e elaborava simultaneamente diferentes atas da mesa
eleitoral. As atas "duplicatas" tornaram-se
um Leitinotiv do discurso político e alvo constante dos reformadores. A própria lei previa que eleitores rivais
aparecessem no Colégio Eleitoral, cada um portando
um conjunto de atas como suas credenciais. Algumas vezes, dois Colégios Eleitorais inteiros se reuniam para

184 CLIENTELISMO E EOLíTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


representar um único distrito, e a Câmara Municipal, que contava seus votos, embora solicitada a dar os resultados de
ambos, pendia mais para aquele que considerava
mais legítimo. Mesmo essas câmaras podiam dividir-se e um grupo formar uma dissidência, de forma que dois
deputados podiam chegar no Rio de Janeiro, cada um com
credenciais fornecidas por uma única câmara, ainda que dividida32.
O suborno era um crime muito mais sério do que qualquer das práticas discutidas até aqui. Violava os padrões
aceitáveis de comportamento, pois sugeria que
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faltava a um líder a habilidade de comandar seguidores simplesmente por seu magnetismo, verve ou posição social.
Num certo sentido, todos os agregados que votavam
recebiam suborno, já que nos dias de eleição o patrão lhes oferecia comida e dava-lhes sapatos; mas isso não era
considerado suborno. Um crítico do sistema eleitoral,
ao argumentar sobre essa prática, manifestou mais preocupação em relação "às fortunas que se arruínam" do que com
sua moralidade. Um cafeicultor reclamou que uma
eleição local "já tem custado e há de custar muito dinheiro a ambos os lados, orçandose em mais de 20 contos [10.400
dólares da época] para cada um deles. (...)
Aqui mesmo em Sta. Teresa [Valença], a oposição promete dinheiro aos votantes e diz-se disposta a gastar o que for
preciso a fim de vencer [a eleição], ou pelo menos
incomodarnos"33. Contudo, os pagamentos a eleitores diretamente em dinheiro pareciam ser considerados um exagero,
e esbarravam na desaprovação do Conselho de Estado.
Talvez esses subornos subvertessem a dignidade própria dos senhores de terra que constituíam tipicamente os Colégios
Eleitorais. Na realidade, relativamente poucas
acusações de suborno escancarado vinham à tona. Um político confidenciou a outro, entretanto, que na elaboração da
chapa do partido dera preferência a Artur. "É
preciso empregar certos meios convenientes (financeiros). O Artur está no propósito de empregá-los por sua conta e vai
em pessoa percorrer o distrito". Podem-se
encontrar nos papéis particulares de um outro líder listas de nomes sem data, ao lado

Liderança, Fraude e Força 185


dos quais aparecem escritas significativas quantias de dinheiro;
nelas se encontrava grifado o título: "relação dos votantes a
quem dei dinheiro" e "vários que receberam dinheiro para as eleições34.
As descrições de fraude acima revelam duas dimensões problemáticas que tornavam as eleições emocionantes.
Primeiro, a facção minoritária iria desafiar a
facção dominante? E, caso afirmativo, como isso seria feito? Um adversário talvez visasse apenas uma posição melhor
na hierarquia local, por exemplo, a registrar
seu protesto, assegurando talvez uma posição suficientemente alta entre os escolhidos como eleitores substitutos para ter
lugar na junta eleitoral seguinte; mas
mesmo esse pequeno objetivo podia despertar a desconfiança do ex-chefe dominante. Quanto aos meios de fraude, qual
deles escolheria a facção dominante? Conseguiria
levá-lo a cabo? Se não, será que o adversário recorreria a meios mais violentos para mostrar sua força? De repente, não
se tratava mais de uma disputa em torno de
prepotência e personalidade, mas de pistolas e facas.

Força

Se a fraude malograva, os concorrentes recorriam à força. A violência local mostrava-se tão endêmica quanto sua
condenação. Um membro do Congresso referia-se
ao "emprego de força (não de força pública), mas de força vinda de fora, de homens conhecidos com a denominação de
capangas". Um dicionário do século XIX define
capanga como um "valentão que é pago para guarda-costa de alguém ou para serviços eleitorais; mas neste caso, [ele] é
mais que um galopim eleitoral, é um caceteiro,
às vezes um assassino". Uma opinião mais branda, embora irônica, descreve o capanga como "um indivíduo que se
lança nas lutas eleitorais em busca de um salário e
muito mais ainda por gosto". A definição de capanga dependia de quem assinava o documento. Do ponto de vista de
alguns, os capangas podiam ser chefiados até por
autoridades governamentais: um juiz municipal passava seu tempo "percorrendo os

186 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


diversos bairros de Caçapava, acompanhado de capangas armados, intimando os votantes para votarem com ele". Como
uma facção nem sempre detinha todos os cargos de
autoridade, a linha divisória entre a ordem e a violência dependia do observador35.
As armas variavam. No Rio de Janeiro, os votantes trocavam "cacetadas". Golpeavam com "instrumentos
pontudos" as costas de um votante. Segundo um líder Conservador,
em 1872, "empregaram o punhal e o cacete. (...) Zacarias, Otaviano e tutti quanti nas igrejas concitando os capangas".
Numa localidade, membros de partidos também
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
atiraram uns contra os outros tijolos e pedras arrancados das próprias paredes da igreja. "Por ocasião das eleições",
relatou o ministro do Império, "uma porção
de armamentos" estava sendo embarcada de Pernambuco para a província vizinha de Alagoas. Quando um delegado
prendeu um votante que havia sido descoberto "de punhal,
no recinto da igreja", um "sério tumulto" resultou, e o delegado mudou de idéia, soltando seu prisioneiro ao ver que seus
amigos estavam "armados de clavinotes,facas,
cacetes etc.". Empregavase força física nos inimigos até mesmo sem armas. Um homem "foi precipitado pela escada de
frente da Matriz, do que lhe resultou ficar muito
pisado e ser conduzido em uma rede"36.
Os conflitos nos locais de eleição podiam disseminar-se facilmente por toda a cidade. Quando um grupo de
homens armados se reuniu no "pátio da igreja" numa
cidade do Ceará, intencionando "o arrombamento das portas", o delegado foi até eles para dissuadi-los. Não chegaram
nem a ouvi-lo, matandoo com dois tiros. Mas o
delegado não fora sozinho, estando acompanhado de "alguns amigos" e no mínimo nove membros da Guarda Nacional.
Deflagrou-se uma guerra entre os dois grupos, resultando
na morte de sete homens, além do delegado. Em 1886, enquanto o Colégio Eleitoral se preparava para se reunir, o
presidente provincial da Bahia telegrafou ao primeiroministro
sobre os acontecimentos dos dias 15 e 16 de janeiro,

Liderança, Fraude e Força 187


na cidade de Lençóis: "Cidade invadida a [dia] 14, capangas e criminosos. Mesa formada ilegalmente, protesto maioria.
Dia 15, capangas armados em hostilidade força
pública. Tentativa invasão na Câmara proibida pela força pública. Não houve eleição. Eleitores Liberais cercados massa
enorme capangas na residência chefe Liberal.
Descargas e tiroteios deste ponto sobre a cidade. Três homens feridos. (-) Força pública aliás composta somente de dez
praças de linha. Ordenando incontinente a
ida

amanhã de 30 praças de linha (...) para restabelecer a ordem"37


A mera ameaça de força - de qualquer lado - podia ser tão eficaz quanto seu emprego real, pois uma facção
conseguia assim que a outra se abstivesse de votar.
Para fazer isso, contudo, tinha de espalhar a notícia de que ia usar violência e usá-la mais efetivamente que seus rivais.
"Estou certo", escreveu um delegado, "que
esses boatos aterradores são principalmente espalhados para incutir terrores nos ânimos mais fracos ou mais pacíficos, e
fazer recuar a população [leia-se: adversários]
receosa de qualquer espécie de conflito, antes de se ver nele comprometida". Na guerra pela supremacia local, cada
grupo adversário esforçava-se para assustar o
outro; à medida que uma
eleição se aproximava, os agentes de cada líder "cruzam-se em todos os sentidos pelos ângulos do território deste termo,
notificando e aliciando gente a qual tem
de comparecer a essa eleição; dizendo-se mesmo que os partidos têm de entrar arregimentados nesta cidade a fim de
melhor ostentarem suas forças". Se ocorria derramamento
de sangue numa eleição para juízes de paz e vereadores, a votação subseqüente de eleitores,

para escolher os deputados nacionais, podia transcorrer de forma totalmente pacífica, já que os adversários não ousariam
organizar
mesas eleitorais alternativas para preparar atas duplicadas e enviar delegados rivais para o Colégio Eleitoral: "Não
houve duplicatas porque o muito sangue, as muitas
violências e
perseguições que sofreram (...) lhes ensinaram a abandonar o campo"38.

188 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Eleições violentas, 1872

Violência na época da eleição revelava uma ou outra de três falhas da facção dominante: incapacidade de dominar
completamente a oposição de forma a mantê-la
quieta; incapacidade de ceder espaço bastante para apaziguar um líder rival, para manter, em suma, a aparência de
honestidade; ou o não reconhecimento de que as
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
condições haviam mudado e ela devia aquiescer ao domínio de um novo grupo. A manipulação do processo pela facção
dominante podia ser tão ultrajante, a força da autoridade
constituída tão arbitrariamente exercida, que a violência parecia um recurso lógico e único. Como se expressou um
membro majoritário, que preparara as atas de uma
mesa eleitoral: "os turbulentos (...) sabendo-se derrotados", recorreram à violência. Ora, como já vimos, quem quer que
dominasse a mesa eleitoral vencia a eleição,
logo essa afirmação tinha de ser o reconhecimento de que não se mantivera nem mesmo a

Liderança, Fraude e Força 189


aparência de honestidade. Já que se podia também ignorar o resultado de uma apelação judicial, a violência surgia como
a única alternativa para os que ficavam de
fora: "Os Liberais, tendo abandonado o processo da qualificação, recorreram (...) à intimidação". O emprego da força
antecipava a derrota. A eleição de juízes de
paz indicava quem iria presidir a votação para deputados; portanto, "se esta eleição não for anulada", escreveu um juiz
de direito em outubro de 1860, "pode vossa
excelência contar com derramamento de sangue na [eleição] de dezembro [para o Congresso]". Algumas vezes os
adversários falavam claramente: quando um grupo compreendia
que ia perder, seus líderes reuniam-se em particular com os membros majoritários da junta eleitoral e anunciavam que,
ou a junta aceitava "a partilha da eleição
[isto é, dividir eleitores] ou o derramamento de sangue seria inevitável"39. A violência também exibia o erro do
adversário desafiante em não deixar claro de antemão
seu poder (e sua determinação em usá-lo), ou em superestimar a probabilidade de sua vitória militar.
Dispor da força necessária significava que o chefe local tinha que confiar na lealdade de agregados e moradores.
Nesse sentido, eles talvez levassem vantagem,
pois podiam barganhar e passar tal lealdade a um outro que oferecesse mais em termos de proteção e benefícios. Mas
um agregado que escolhesse o lado errado sacrificava
tudo, muitas vezes a própria vida. O voto em si não custava nada ao agregado, mas, como a violência era parte e parcela
das eleições, ele renunciava muito para garantir
a proteção do padrinho. E não podia evitar a escolha. Quando confrontado, por exemplo, com a ameaça de recrutamento
forçado para o Exército como alternativa, tornava-se
lógico lutar valentemente em nome de seu protetor, já que, como disse um comentarista durante a Guerra do Paraguai,
pelo menos assim se morria lutando perto de casa,
enquanto, se se perdesse as eleições, seguia-se recrutado como ovelha "para os matadouros do Sul e os charcos do
Paraguai"'40.

190 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Também tem de ser lembrado que, no final das contas, mesmo a violência não afetava a força parlamentar de um
partido. Usava-se a força não para se ter eleitores
suficientes para eleger um deputado, mas sim para afirmar quem tinha força na paróquia. Por esse motivo, os Gabinetes
permitiam amplamente que a realização dos eventos
locais seguisse seu curso até que facções rivais, cansadas de lutar, apelassem às instâncias superiores. Com a violência
ocorria o mesmo que com a fraude: "ordem"
significava fingir que não se estava vendo, e depois nomear para posições de poder os que já tinham vencido no campo
de batalha, pois qualquer um dos dois lados
poderia ser útil na eleição seguinte. Mesmo um conselheiro de Estado reconhecia que "em eleição cumpre vencer,
porque uma vez vencida sempre se aprova". Como os
Gabinetes só podiam mobilizar relativamente poucos homens do Exército e do Corpo Policial, eles não os espalhavam
por todo o território nacional, e tomavam cuidado
para usá-los criteriosamente. Porque, mesmo que as tropas tomassem parte, os eleitos sob sua proteção temiam
represália no dia em que elas partissem: como relatou
um delegado, as coisas agora pareciam calmas "devido à presença do comandante do destacamento, mas aparecem
boatos mui sérios de que, na ausência daqueles praças,
aparecerão reações terríveis"41.
Portanto, os vencedores tinham as mãos livres. Escrevendo em 1860, um juiz de direito contou de maneira
acusadora que, quatro anos antes, um mandachuva local
"cercou de madrugada com vários criminosos a Igreja Matriz e dela expulsou a Mesa, nada sofrendo por esse ato".
Segundo um relato de um Liberal sobre acontecimentos
em Uberaba (Minas Gerais), o Partido Conservador recompensou "todos os indivíduos que tomaram parte nas
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
violências" nas eleições de janeiro de 1886, nomeandoos para
cargos de delegado, primeiro e segundo delegadossubstitutos, promotor público, coletor de imposto imperial e coletor
de imposto municipal; e fez, de dois outros,
tabeliães. Os líderes locais vitoriosos sentiram-se deste modo encorajados, alguns meses depois, a perseguir o chefão
municipal anterior, "o

Liderança, Fraude e Força 191


chefe do Partido Liberal, o tenente-coronel [da Guarda Nacional] Antônio Borges Sampaio, pessoa qualificada,
advogado distinto e pai de família exemplar". Eles "expeliram
de seu domicílio o referido tenente-coronel, sob ameaças de morte, à frente de capangas armados, e no meio de cenas da
maior selvageria". Como o Gabinete ainda não
transferira o juiz municipal para outro lugar, a nova facção obrigou-o a renunciar e "retirar-se da cidade". Também se
estabeleceu um prazo final para o juiz de
direito fazer o mesmo. As facções locais, pela violência, conseguiam o apoio do Gabinete para seus excessos e
perpetuavam deste modo sua autoridade. A fraude, ou
mesmo a violência, encontrava mais tarde sua justificação legal42.
Contudo, o ideal de ordem algumas vezes ditava outro procedimento. Para evitar a aparência descarada de
anarquia, o governo de vez em quando decidia apoiar
uma facção, mas o fazia cautelosamente, esperando evitar tomar partido até que se determinasse o naturalmente
vitorioso. Quando um comandante superior da Guarda
Nacional anunciou publicamente que pretendia ganhar a eleição "a todo custo, que tinha muito cartuchame e muito
armamento, para repelir os seus adversários da Igreja",
o presidente provincial despachou documentos para o juiz de direito, rebaixando o comandante de seu posto e
ordenando ao novo: "Faça recolher imediatamente todo
o armamento e cartuchame que porventura tenham sido distribuídos para a Guarda Nacional". Porém, ao mesmo tempo
e mais significativamente, por carta, o presidente
instruiu o juiz a manter essas ordens em segredo, caso houvesse alguma perspectiva de se conseguir uma eleição
pacífica, e só usá-las se nada mais funcionasse. Adotando
deliberadamente essa abordagem, o presidente permitia que a ameaça de violência atemorizasse os oponentes, já que
uma eleição "pacífica" não significava necessariamente
que fosse honesta. O governo se preocupava ao máximo com a aparência de tranqüilidade, e preferia de longe apoiar
aquela facção que pudesse ganhar sem o emprego
exagerado de força 43.

192 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


O governo muitas vezes tentava o caminho de conseguir um acordo eleitoral. Em 1860, o presidente do Ceará disse
que "tinha a satisfação de declarar" que,
numa localidade onde ele temera violência, "estão desvanecidos todos os receios (...) em conseqüência de terem
chegado os dois partidos a um acordo de fazerem a
eleição amigavelmente, distribuindo-se entre eles, com igualdade, o número de eleitores"44. Um juiz de direito, ao
enfrentar duas facções conflitantes, lideradas
pelo primeiro e terceiro juízes de paz, sugeriu que o segundo juiz de paz assumisse a presidência da mesa eleitoral;
quando ambos os grupos rejeitaram aquela alternativa,
ele conseguiu persuadi-los a pelo menos realizar suas eleições em salas separadas e a submeter atas duplicadas, e isso,
jactou-se, eles fizeram "sem o mais pequeno
embaraço e agitação"45.
A condenação da violência caracterizava o discurso público tanto porque a violência contradizia a crença na ordem
quanto porque punha em questão a legitimidade
do liberalismo brasileiro. Moradores da capital, de orientação européia, achavam a violência eleitoral especialmente
detestável. Após a eleição de 1872, o bispo
do Rio de Janeiro deplorou a violência que ocorrera no interior das igrejas. "Ainda está quente o sangue brasileiro e
católico derramado dentro dos pacíficos muros
dos templos de Deus; (...) em vez do tabernáculo de Jesus Sacramentado, reverentemente guardado por sacerdotes, vê-se
uma urna eleitoral rodeada dia e noite por
soldados e partidários". Depois, chegou direto ao ponto: "Nesta opulenta e populosa capital, grande é a multidão de
estrangeiros que entre nós vive. (...) E que
dirão eles vendo que periodicamente (...) os templos de Deus se convertem em campo onde se pleiteiam eleições? (...) E
que diremos dos protestantes? (...) Que dirão
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
(...) de nossas igrejas em dias de nossas eleições?" E concluiu: "Quando na corte há tantos excessos a deplorar, onde há
boa educação, a macieza de costumes, o fino
trato de seus habitantes, a posição elevada de tantos moradores, a presença das mais altas autoridades do país, e as
relações com estrangeiros de países cultíssimos,
(...) não será

Liderança, Fraude e Força 193


para temer [o que acontecerá] no restante do Império'?"'46 Resumindo, essas ações afrontavam os padrões de
comportamento europeizado.

Embora escandalosa para alguns moradores da cidade, a violência eleitoral sobrevivia, era esperada pela maioria, e
realmente não chocava. A violência era
parte necessária da luta política, pois de que outro modo poderia um aspirante a líder local chamar a atenção para sua
força em ascensão? Como as relações de poder
entre os poucos ricos locais sempre mudavam, as eleições tinham que ser realizadas freqüentemente, para que todos
tivessem a oportunidade de medir forças. Se esse
alguém fosse delegado, juiz municipal substituto ou comandante da Guarda Nacional, sua clientela automaticamente se
expandia, e ele podia garantir resultados eleitorais
subseqüentes com mais facilidade. Portanto, embora os líderes de conflitos locais pretendessem diretamente ganhar
eleições, indiretamente pretendiam ocupar as posições
de poder local - que por sua vez serviam para ganhar eleições. A rota dessas nomeações passava pela via da ação
violenta. A denúncia de fraude em documentos oficiais
já significava um certo grau da força de um aspirante a chefe, consistindo num passo intermediário rumo ao domínio
local, mas a força era a única verdadeira fonte
de poder. Os contemporâneos explicavam comumente a violência eleitoral em termos de partidos situacionista e
oposicionista: "As posições oficiais são ocupadas por
pessoas pertencentes a esta segunda parcialidade [enquanto o outro] lado [que] estava fora das posições oficiais"
formava a oposição. Ou: "um partido, o Liberal,
tinha em seu favor a delegacia de polícia e a vara municipal". Logicamente, a violência acompanhava. Embora um lugar
pudesse gozar de paz e estabilidade durante
certo período de tempo, todos os anos a luta violenta devastava alguma

194 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


localidade no Brasil. Observadores estrangeiros, e também mais tarde alguns historiadores, aceitaram com demasiada
facilidade a versão, que os homens no Rio de Janeiro
tão desesperadamente desejavam credibilizar, de que o Brasil era uma terra de eleições calmas e sérias, e de transições
políticas ordeiras. A realidade era exatamente
o contrário.
Homens de posses locais buscavam cargos públicos para si mesmos, sua família e seus protegidos, chegando, por
intermédio de políticos e burocratas, diretamente
aos ministros de Gabinete. Um Breves, um Lacerda Werneck, um Lins ou um Dantas contava em ser recompensado com
cargos para si e seus seguidores, a fim de aumentar
sua já substancial autoridade. Conquistando tais cargos, esses homens estendiam os recursos existentes à sua família. Na
realidade, os chefes locais lutavam para
ser o governo.

SEIS

Facção e Partido

Às 4:00 h DO DIA DE ELEIÇÃO, domingo, 30 de dezembro de 1860, a casa da fazenda de José Dutra de Faria
fervilhava de atividades. Durante a semana anterior, sob a
liderança de Francisco Alves Moreira, outro fazendeiro do local, cerca de trezentos correligionários Conservadores
haviam se reunido ali, preparando-se para uma
luta armada, a fim de ajudar o juiz de paz Faria a assumir o controle da igreja matriz, da vila de Caçapava, cem
quilômetros de São Paulo. Eles achavam que um dos
vizinhos de Faria, o Liberal Venâncio Félix da Rocha, conseguira manter os Conservadores fora do poder durante
demasiado tempo, com o apoio de pistoleiros e o abuso
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
de sua função como juiz municipal. Acusavam Rocha de ter sido ajudado nesses esquemas por seu amigo íntimo, o
delegado João Moreira da Costa, um tenente-coronel
na Guarda Nacional e irmão do chefe Liberal no importante município vizinho de Taubaté. Costa chegara mesmo,
diziam, sob vários pretextos, a prender diversos correligionários
de Faria no dia de Natal e trancá-los na cadeia da cidade para impedi-los de votar. Mas agora Faria acreditava ter
recebido autorização oficial do juiz de direito
de Taubaté, um Conservador, para "reclamar o auxílio dos cidadãos presentes, para fazer respeitar sua autoridade"; e,
deste modo, contava com o poder armado de seus
seguidores para restaurar o devido equilíbrio à vida política local1. Os inimigos de Faria, contudo, alegavam que, além
de cidadãos

196 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


locais, seus homens incluíam "desertores e outros criminosos de municípios diversos" e "assalariados e capangas, cegos
e abjetos instrumentos de meia dúzia de caudilhos"2.
Faria, com a faixa verde e amarela de seu cargo, e seus homens, puseram-se a caminho ao primeiro romper de uma
aurora de verão, pretendendo entrar na cidade
enquanto os habitantes ainda dormiam e tomar posições no pátio da igreja. Mas, ao se aproximar da vila, encontraram
alguns dos habitantes em alerta e homens armados
nas esquinas. Isso não intimidou Faria, pois ele sabia que seus homens excediam os adversários em número. Deteve-se à
frente de suas tropas e ergueu dramaticamente
os braços para gritar: "Viva a Paz! Viva Sua Majestade o Imperador!" Mais tarde, outros afirmaram que ele gritara:
"Abaixo as autoridades! Abaixo o delegado!" Sejam
quais tenham sido suas palavras, foram respondidas pelo grito: "Aqui vai bala!" e uma saraivada de balas3. Os homens
de Faria procuraram cobertura e começaram a
contra-atirar. Logo, como ele esperava, a superioridade numérica lhes valeu a vitória e, meia hora depois, após soltar os
presos da cadeia, Faria prosseguiu para
a igreja. Três pessoas jaziam mortas e outras cinco gravemente feridas, entre elas a mulher de um dos próprios
partidários de Faria, que viera à porta de casa para
ajudar os feridos. Os mortos incluíam dois membros do Corpo Policial da província, cuja casual passagem pelo lugar
possibilitara a Costa, o delegado, arregimentá-los
para o lado de suas forças muito menos numerosas, e ao menos levar adiante uma luta. Rocha, que na época do conflito
estava, tardiamente, arrebanhando suas tropas
na sua fazenda, fugiu a pé para Taubaté, distante 13 quilômetros, enquanto seus seguidores escondiam-se nas matas.
Assim os dois Conservadores, Faria e Moreira,
levaram a melhor sobre seus rivais Liberais, Rocha e Costa. O delegado e o juiz municipal perderam para o juiz de paz.
Apesar do derramamento de sangue, Faria trabalhou durante aquele dia e no seguinte para conduzir a eleição da
maneira normal, agindo na sua qualidade de
presidente legalmente

Facção e Partido 197


constituído da mesa eleitoral. Os votantes escolheram dez eleitores, que mais tarde, no Colégio Eleitoral, apoiaram
unanimemente a lista de candidatos Conservadores4.
Quando terminou a votação, Faria montou em seu cavalo e seguiu para a capital da província para comunicar os delitos
de seus adversários Liberais ao presidente Conservador
da província.
Qual não foi sua surpresa, então, ao ser detido a 3 de janeiro, a dois terços do caminho para São Paulo, pelo chefe
de polícia da província e trinta soldados
do exército com ordens do presidente para prendê-lo. O chefe de polícia levou Faria de volta a Caçapava, "para não
dificultar seus meios de defesa", e o pôs na mesma
cadeia de onde ele libertara há tão pouco tempo seus partidários 5. O presidente Conservador, que a 31 de dezembro
ordenara que as tropas se colocassem sob o comando
do juiz de direito Conservador, agora acusava aquele mesmo juiz de interferir de forma indevida na eleição, tomando
partido ilegalmente de uma facção contra a outra
e mandando que todas as tropas recebessem ordens apenas do chefe de polícia.
Essa história exemplifica várias características da vida política já discutida nos capítulos anteriores. O delegado e
membros do Corpo Policial colocaram-se
em posição antagônica, contra capangas liderados por um mandão ansioso por afirmar sua força. Os líderes de ambos os
lados possuíam terras. Brigavam para conquistar
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
cargos de autoridade e apelavam à aprovação das instâncias superiores. Se os instrumentos de controle político
funcionassem à perfeição, não haveria quaisquer incidentes
como esse de Caçapava, poisa desesperança da luta eleitoral seria clara; contudo, os dois lados acreditavam que seus
superiores os apoiariam e por isso entraram
em conflito, cada qual seguro de que se ignorariam seus excessos. Nenhuma facção tentava opor-se aos superiores, na
cadeia de autoridade que conduzia ao Gabinete.
Embora os líderes políticos quisessem realmente que as eleições fossem ordeiras e honestas, os próprios vínculos entre a
corte e a província - porque as mensagens

198 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


podiam ser mal-entendidas - produziam a erupção da violência. Essa tendência, como mostrei, era comum.
Aqui, contudo, quero usar esses eventos para discutir duas outras características que definiam a política. Primeiro,
os cidadãos se dividiam politicamente
não por causa de lealdades partidárias, e muito menos por considerações ideológicas, mas por causa de laços pessoais,
tornando as siglas dos partidos seriamente
enganosas tanto em nível nacional quanto local. Segundo, o poder fluía simultaneamente "de cima para baixo" do
Gabinete e através do presidente provincial, e de
"baixo para cima", dos mandachuvas locais ao presidente e até o Gabinete em redemoinhos e espirais que desafiam um
simples resumo. Identificar seu curso é uma empreitada
complexa.
Essa complexidade explica a dificuldade enfrentada pelos Gabinetes na manutenção da disciplina sobre os
deputados, isto é, na criação da lealdade partidária
entre eles. Os candidatos à eleição para o Congresso tinham de ser endossados tanto pelo Gabinete quanto pelos chefes
locais. Só quando um líder político abria caminho
até o Gabinete é que ele se interessava pela disciplina do partido, isto é, em definir linhas claras de comando para
formar uma maioria dócil; até esse momento,
os políticos davam a mesma atenção aos seus protetores locais. Apesar da fingida dedicação ao valor de partidos
nacionais, construí-los era algo que impunha dificuldades
quase intransponíveis. Conseqüentemente, "partido" significava apenas uma afiliação de deputados, e não um
compromisso duradouro com um programa ou uma política.
Os partidos parlamentares constituíam-se, dissolviam-se e reformavam-se, e pelo menos até 1889 adotavam posições
aparentemente contraditórias sobre importantes questões.
Essa precária qualidade dos partidos políticos serve para explicar as visíveis contradições na história política brasileira,
que viu os Conservadores apoiando causas
liberais e os Liberais votando de forma conservadora. Obstinadamente, os historiadores têm insistido em ignorar essas
realidades, com a conseqüência de que muito
do que foi escrito

Facção e Partido 1 99

sobre a vida política durante o Império é necessariamente confuso e confunde. Ter em mente a influência que o chefe
local possuía sobre o deputado esclarece o sentido
que os participantes davam aos acontecimentos políticos de seu tempo. Também indica como o império prefigurava
práticas muitas vezes associadas à Primeira República
(1889-1930) e mesmo às de hoje.

Política e Lealdade a Pessoas

Caçapava se separara administrativamente do município de Taubaté apenas cinco anos antes dos sangrentos
acontecimentos de 1860. Embora há muito tempo essa
área ao longo do rio Paraíba fosse um terreno para engorda do gado que vinha do Sul para venda na cidade do Rio de
Janeiro, após 1830 os proprietários começaram
a plantar café na região. O número de fazendas de café no município de Taubaté (então incluindo Caçapava) subira,
entre 1836 e 1854, de 86 para 240, e o resultado
foi um salto na produção, que passou de 354 para 5.320 toneladas. A população do município de Caçapava em 1872,
doze anos depois dos acontecimentos narrados acima,
era de 8.969 habitantes. Cerca de um quinto dessas pessoas eram escravos, e só 1.423 homens livres tinham idade
suficiente para votar, dos quais 860 qualificados
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
em 1870. Homens em ascensão, que haviam ficado ricos recentemente, lutavam para afirmar seu domínio sobre o que
devia ser uma população móvel e em crescimento. O
fluxo social impelia tanto à luta quanto à incerteza da situação políticab.
Divisões políticas acentuadas caracterizavam o município. Ao comentar a eleição de 1860, o deputado
Conservador vitorioso declarou que o "Partido Conservador
é muito grande; mas está sempre dividido e, nas eleições, os Liberais ora se reúnem a esta ou àquela parcialidade".
Contudo, Costa, o delegado, talvez tenha sido
mais honesto quando falou de "as duas parcialidades políticas [ou melhor], pessoais". O juiz de direito de Taubaté
admitiu que se podia chamar um lado de "Conservador",
enquanto outro se compunha de "uns que se dizem

200 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Liberais e outros que se diziam Conservadores, todos coligados por antigos ódios e inimizades particulares". Nos
registros de eleições passadas, desde 1842 os mesmos
nomes alternavam-se nas atas das mesas eleitorais.
Um dos principais motivos da repentina explosão de violência em Caçapava, em 1860, foi a crença em que o
governo aprovaria o apelo às armas por parte dos
Conservadores. O fato de um Gabinete Conservador governar no Rio de Janeiro estimulava essa crença, do mesmo
modo que a afiliação do juiz de direito. Quando, mais
tarde, o juiz viu a repentina mudança de reação do presidente provincial, apressou-se a negar que tomara partido. Alegou
que se mantivera totalmente afastado das
rivalidades eleitorais e que apenas uma eventual relação burocrática - referente a assinaturas de uma petição que a
Câmara Municipal fizera para ele - vinculara
seu nome ao de Moreira, o chefe Conservador local. Admitiu, contudo, que havia recomendado ao chefe de polícia
provincial o afastamento de Rocha como delegado e
que "foi isto sabido, não sei como"; por isso, na cabeça das pessoas seu nome ficara firmemente associado ao grupo de
Faria. Outros viram a coisa de modo diferente.
Mais tarde, o presidente da província relatou, de modo acusador, o "vivo interesse" que o juiz de direito "tomava (...)
pela eleição a deputado geral de um candidato"8.
Mas o próprio presidente provincial censurara a certa altura o mesmo juiz, pelo fato de ele não ter sido ainda mais
enérgico, isto é, mais partidário. Quando o juiz
de paz Faria escreveu pela primeira vez ao juiz de direito, comunicando as ações supostamente arbitrárias do delegado,
o juiz respondeu que, pela lei, tudo o que
ele podia fazer era escrever ao delegado, aconselhando-o a cumprir sua obrigação; acrescentando, significativamente
como vimos, que se necessário o juiz de paz convocasse
a ajuda de cidadãos para manter sua autoridade. A 27 de dezembro, o juiz de direito explicou ao presidente provincial
que achava que não devia "intrometer (...)
em uma luta de paixões desarraivadas [desasadas], das em risco de não ser devidamente atendido e de ser mal
interpretado". Quando o

Facção e Partido 201


presidente soube disso, quatro dias depois, castigou severamente o juiz de direito por sua pusilanimidade. Um juiz de
direito, insistiu, tinha a prerrogativa de
"inspecionar e instruir" os locais, e o presidente ordenou-lhe que fosse imediatamente a Caçapava e abrisse um processo
legal para levar Rocha e Costa a julgamento
por abuso de autoridade. O juiz de direito - cautelosa e sabiamente, como se revelou depois - evitou fazê-lo, explicando
que precisava de mais provas e uma acusação
formal de uma autoridade policial. Nesse meio tempo, a 31 de dezembro, o presidente provincial ordenou as tropas a
colocarem-se sob o comando do juiz de direito,
notícias muito bem-vindas para o juiz, pois do contrário, como ele já se queixara, não teria "força pública" com a qual
executar a leis.
De repente os sinais mudaram. O presidente, que agora acusava o juiz de direito de parcialidade licenciosa, retirou
as tropas de seu comando, despachou o
chefe de polícia para Caçapava a fim de manter a ordem e enviou novas instruções exigindo a prisão não de Rocha e
Costa, mas a de Faria. O motivo dessa súbita inversão
está numa carta que o presidente recebeu, a 2 de janeiro, de Marcclino José de Carvalho, um chefão Conservador em
Paraibana. Paraibana era vizinha de Caçapava e
suas sedes municipais ficavam a apenas cinqüenta quilômetros de distância uma da outra. Ali, Carvalho possuía no
Página 90
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
mínimo cinco propriedades agrícolas, entre elas
uma fazenda de café chamada Fartura, que herdara através da mãe, vinda de uma sesmaria colonial. Ele se considerava
dono de uma outra fazenda de café e de gado por
direitos de posse estabelecidos há mais de quarenta anos10. Carvalho fora eleito deputado provincial e ostentava a
patente de coronel na Guarda Nacional. Todos o
descreviam como um líder Conservador. Sua filha, contudo, e aqui está a chave, casara-se com Rocha, chefe dos
Liberais em Caçapava. A 29 de dezembro, véspera da
eleição, Carvalho foi para Caçapava, como Rocha explicou, "só com o fim de conciliar as duas parcialidades- ou, como
Faria entendia, "pôs-se à testa

202 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


do grupo [do Rocha] dirigindo os negócios de maneira desfavorável à liberdade do voto"11.
Carvalho, "um dos homens de reconhecida influência da província", aconselhou seu genro Rocha, que tentou
seguir seu conselho, a não permitir a entrada de
homens armados na igreja paroquial. Nesta ação, Rocha provavelmente foi encorajado pela amizade pessoal com o
promotor público de Taubaté, genro de um importante
latifundiário de Caçapava, também aparentado com a principal família política de Taubaté. Rocha contava também com
o apoio do irmão de seu aliado Costa, um líder
Liberal em Taubaté e homem de "prestígio importante". Com tal endosso, Rocha duvidou que seus oponentes
recorressem à força. Esse erro de cálculo resultou no derramamento
de sangue. Até mesmo Carvalho teria caído vítima do tiroteio, "se logo não se retirasse"12. Por isso, as duas linhas
convergentes de autoridade agora se chocavam:
alguns contavam com o juiz de direito, que presumivelmente estaria em boas graças com o presidente provincial, e
portanto com o Gabinete, enquanto outros confiavam
nos chefes dos dois partidos nos municípios vizinhos, resultando daí mortes e ferimentos graves. O presidente da
província mudou abruptamente seu apoio de uma parcialidade
a outra quando o Conservador Carvalho lhe escreveu em defesa do Liberal Rocha. A influência desses chefes não podia
ser ignorada. Tendo primeiro encorajado o juiz
de direito a intervir, mais tarde o presidente o acusou de usar indevidamente sua influência.
O ministro da Justiça João Lustosa da Cunha Paranaguá, depois visconde e marquês de Paranaguá, o único Liberal
num gabinete que, de resto, era solidamente
Conservador. talvez tenha sido escolhido exatamente por causa do que alguns consideravam sua pusilanimidade. O
barão de Cotegipe escreveu mais tarde sobre a "fraqueza
de seu espírito em tudo quanto possa haver comprometimento, especialmente precisando de força que lhe prestam esses
a quem necessitaria ferir". Quando o relatório
do presidente provincial chegou ao Rio de Janeiro, o principal burocrata no Gabinete, observando o rumo dos
acontecimentos depois da

Facção e Partido 203


intervenção de Carvalho, sugeriu que o juiz de direito fosse imediatamente investigado. O ministro da Justiça, embora
concordasse, observou que o papel dos Liberais
Rocha e Costa também exigia uma averiguação. As siglas dos partidos tinham pouco significado real no trabalho diário
de ganhar as eleições e conquistar os cargos
públicos13.
Quando o Congresso se reuniu, embora dominado pelos Conservadores, a Comissão de Verificação de Poderes deu
parecer contrário ao reconhecimento da legitimidade
dos eleitores Conservadores escolhidos em Caçapava pelo grupo de Faria, conseguindo que a eleição fosse anulada.
Essa ação não teve nenhum efeito na escolha dos
deputados, já que os eleitores de Caçapava não tinham, de qualquer maneira, votos em número suficiente para
influenciar o resultado global. A escolha dos eleitores,
contudo, tinha muito a ver com quem governaria localmente. Uma nova eleição em Caçapava, realizada em agosto

204 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


de 1861, escolheu apenas eleitores Liberais; entre os votantes que não apareceram estavam Francisco Alves Moreira e
José Dutra de Faria14. A ação do Congresso poderia
ser considerada uma demonstração de seu compromisso com a honestidade, não tivessem as eleições de 1860 provado o
contrário; sua decisão mostrava, antes, como o
partido era permeável. O apoio aos Liberais de Caçapava, oferecido por um Congresso, um Gabinete e um Presidente
Página 91
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Conservadores, lança muita luz sobre a história
dos partidos no Brasil do século XIX.
O que predominava era a lealdade à pessoa, não ao partido ou ao programa. Podemos presumir que os agregados
analfabetos, que se reuniram na casa de Faria,
sabiam pouco e se preocupavam menos ainda com questões como a lei tarifária ou a política monetária. Não sabemos se
acreditavam que os delegados deveriam renunciar
à sua função judicial em favor de juízes municipais, mas em Caçapava o delegado e o juiz municipal uniram-se para
liderar a outra facção. Os programas não mobilizavam
o homem comum. Embora lealdade talvez seja uma palavra forte demais - ou sugira antes a opinião de Faria do que a de
seus seguidores -,esses homens o procuravam
pela proteção, pelo uso da terra, por um lugar social. Por ele morreram. Ainda mais diretamente, os membros da família
eram ligados por laços pessoais. A Câmara
Municipal incluía sobrinhos, tios, primos e parentes por afinidade. Os partidos exerciam apenas um tênue apelo sobre os
de Caçapava. Assim como ali, o mesmo ocorria
em todo o Brasil. Quarenta anos antes um inglês, falando de eleições, observara que "essas ocasiões festivas são
especialmente escolhidas pelos valentoens [sic],
com o propósito de saciar sua vingança nos chefes dos outros". Os contemporâneos muitas vezes identificavam os
partidos pelos nomes dos candidatos, enquanto as siglas
ficavam esquecidas: "Acham-se vivamente empenhados na luta dos dois partidos, Vasconcelista e Teixeirista", disse um
presidente de Minas Gerais. Ou, como explicou
alguns dias depois: "Nesta capital, venceu o partido do dr. [Francisco Diogo Pereira de] Vasconcelos

Facção e Partido 205


numa freguesia, e o de Manoel Teixeira de Souza na outra, cada um com onze eleitores"15.
Em toda a parte os chefes locais detinham a chave para a eleição de deputados. Esses mesmos chefes eram
freqüentemente eleitores e sem dúvida determinavam
quem se tornaria um. Elaboravam as cédulas com a lista dos nomes e passavamnas para seus seguidores. Certamente, os
eleitores escolhidos dessa forma sabiam a quem
deviam sua escolha, e as traições provocavam comentários chocados. Um missivista da Bahia, após referir-se a um
eleitor como "criatura do Luiz Antônio, que o nomeou",
passou a descrever o comportamento de outro, "Augusto França, (...) que soube enganar o Pedro Brandão, que o meteu
na sua chapa. Entretanto estava já peitado na
do [Manuel Pinto de Souza] Dantas, e só na [organização da] mesa [do Colégio Eleitoral] é que se descobriu votando
contra o protesto de Luiz Antônio". Normalmente,
contudo, os eleitores seguiam as instruções dos chefes que os haviam colocado no Colégio, quando não eram eles
mesmos tais chefes. Como exclamou um deputado desgostoso,
havia alguns municípios "onde a maioria dos votantes é de índios, homens por bem dizer selvagens, e que se prestarão a
fazer eleitores os indivíduos indicados por
João ou Joaquim. Esses mesmos eleitores (em certos lugares) não sabem qual a missão política e social que eles têm a
desempenhar; não, ao contrário (...) tendo escrito
na sua lista [para deputado] o nome dado pela potência do lugar, julgam [ter] satisfeito plenamente o soberano direito
político"16.
Os candidatos a deputado, portanto, dirigiam seus pedidos para eleitores ou seus chefes, não para os votantes. A
natureza personalística dos partidos políticos
significava que as campanhas concentravam-se não em definir um programa, mas em angariar a lealdade de indivíduos
particulares. Isso era feito pessoalmente ou através
de cartas. Quando um presidente provincial experiente aconselhava um jovem candidato a escrever "algumas cartinhas"
para os proeminentes do local, expressava uma
dimensão significativa da realidade política: tais chefes

206 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


determinariam o resultado. As cartas eram breves e objetivas: "Muito me honrará e obrigará dignando-se sustentá-la
[minha eleição] no Colégio de Valença", escreveu
um candidato. Algumas vezes recorria a um só modelo de carta, fazendo um secretário copiá-las repetidas vezes, com
um apelo vago "ao eficaz apoio de sua merecida
influência nesse Colégio Eleitoral". O deputado em perspectiva não economizava bajulação. Um referia-se ao
destinatário como "uma das mais conhecidas e distintas
influências eleitorais" que "representam a nossa força real na Província". Aludindo à possibilidade de seu próprio futuro
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
papel na garantia do clientelismo, acrescentava:
"Ponhome à disposição de V.S. onde quer que me ache [sie], assim como os meus amigos", e arrematou com a frase:
"seu correligionário, amigo e servo", uma expressão
um pouco mais humilde, que a usual". Os mandachuvas locais em alguns lugares esperavam que o candidato os
visitassem: "Já com Sta. Rita [do Rio Negro], [S. Sebastião
do] Alto, e Sta. Maria Madalena. Cheguei esta madrugada e sigo de tarde para S. Francisco [de Paula]. Pelo menos
seremos os suplentes e há esperanças de mais alguma
coisa. Só lá por 6 de agosto terei concluído minha romaria"18.
Quando os candidatos à eleição para o Congresso não contatavam os eleitores pessoalmente, recorriam a um
terceiro, a um amigo ou parente tanto do candidato
quanto do chefe local, ou a uma cadeia de contatos desse tipo. Um desses intermediários relatou que escrevera em nome
de um candidato para seus amigos, "que têm
relações no distrito e que têm ascendência sobre os Gomes, pai e filho, de Brejo Grande. Outro tanto fiz para Poções
etc., do distrito do [Luís Acioli Pereira] Franco
[outro candidato], onde influi muito um judeu que me é dedicado, um tal Fortunato". O caráter personalístico da
campanha significava que a importância dos laços
familiares aumentava. E, assim como as mulheres desempenhavam um papel importante na preservação da propriedade
dentro dos limites da família, proporcionavam também
os contatos com todos os afins a quem os políticos apelavam com tanta regularidade. As mulheres

Facção e Partido 207


uniam-se no esforço de conseguir vitória eleitoral para sua parentela masculina, escrevendo em seu nome e recorrendo
às próprias relações familiares. Mulheres também
escreviam cartas para assegurar nomeações para os que solicitavam cargos, em geral com propósitos eleitorais em
mente19.
Assim, os deputados eram escolhidos por meio de eleições dominadas por chefes locais motivados pelas
rivalidades do lugar. Mesmo que depois fizessem alianças
com outros deputados e passassem a chamar-se de Liberais ou Conservadores, eles permaneciam leais aos chefes que os
haviam eleito. A maioria dos deputados não chefiavam
clientelas, embora pudessem ser parentes dos chefes locais. Quase por definição eram bacharéis em direito. Sua
educação e experiência urbana distanciava-os dos chefes
rurais que controlavam os Colégios Eleitorais. O bacharel muitas vezes manifestava seu desprezo por aqueles homens,
tanto mais porque dependia deles para seu próprio
sucesso. No Congresso, o deputado podia exibir sua instrução, inteligência e urbanidade, seu conhecimento do mundo
além do Brasil; mas em campanha, sentia o peso
de seu protetor. que às vezes era analfabeto. À medida que fazia arranjos para garantir cargos locais de mando para o
chefe municipal, o deputado dispunha freqüentemente
de uma ampla margem para o seu comportamento legislativo, tendo a liberdade de assumir posições filosóficas de
acordo com seus desejos20. No Congresso, contudo,
ele se deparava com outra restrição: a influência do próprio Gabinete, onde se decidiam todas as nomeações.
O principal interesse das elites locais que escolhiam os deputados era conquistar posições. Como vimos, o figurão
municipal desejava - e de certo modo exigia
- a nomeação para cargos de mando a fim de manter seu séquito. Embora os deputados, ministros, presidentes e juízes
desprezassem o controle do chefão, o poder dos
potentados locais provinha daqueles mesmos homens, que os nomeavam delegados ou oficiais da Guarda Nacional. O
vice-presidente da província de Sergipe relatou em
1851 sobre João Gomes de Melo, barão de
208 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Maroim: "um homem robusto, de pouco mais de quarenta anos, ativo, de presença alegre e amigo de agradar", que, por
causa de sua riqueza, encabeçava a facção provincial
chamada Camundongo. "Até o presente, o barão, qualquer que fosse o governo, procura sempre captar-lhe as boas
graças", pois "o que o barão prefere a tudo é ver os
seus parentes e amigos nas posições oficiais; o que ele não quer, de maneira alguma, é verse esbulhado (são expressões
dele) da vila de Maroim". O próprio barão
de Maroim concorreu para deputado e venceu (ou, poderse-ia dizer, elegeu-se) em 1853, tornando-se senador em 1861.
Talvez o maior constrangimento em tudo isso, tanto
para os outros deputados quanto para os administradores, fossem "os defeitos de sua educação". Em 1885, um político
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
manifestou algum alívio, pois, em notar que,
apesar "do apoio do Maroiln, que creio valeu em tempo bastante, tem decaído um pouco ultimamente". Contudo, eles
nada tinham a temer; em toda a sua vida política,
a lealdade de Maroim ia não para o partido, mas para os ministros que lhe podiam garantir o controle local. Como o
presidente de Sergipe explicou, de um modo mais
geral, em outra carta: o apoio aos Conservadores provinha de homens de propriedade, "que têm [o] que perder, e por
isso tendem pela ordem. Mas, superior a essas
tendências, lá está o cego amor pela influência local: quando sua conservação depender da aliança com um Governo de
crença oposta, hão provavelmente de ser sacrificadas
as tendências às conveniências'". E discorreu sobre como isso funcionava em outra carta: assim que os Conservadores
assumiram o poder no Rio de Janeiro, os membros
de uma parcialidade mudaram sua legenda partidária e declararam-se Conservadores e "fizeram um livro onde se devem
alistar os Saquaremas [i.e., Conservadores] de
Sergipe (_) e declararam que tais e tais indivíduos não hão de ser Saquaremas, (...) batizando por Santa Luzias [Liberais]
os seus desafetos"21.
Quando um Gabinete enfrentava o Congresso, buscava apoio para seus atos legislativos. Se as sessões
parlamentares se

Facção e Partido 209


revelassem cáusticas, e os deputados votassem de maneira imprevisível, o Imperador poderia questionar a eficácia do
primeiro-ministro como líder. Como Dom Pedro
II explicou uma vez à filha, "se a oposição for tal que embarace a marcha de um Ministério Conservador, eu chamaria os
Liberais para o governo"22. O Gabinete, por
conseguinte, lutava constantemente pela disciplina do partido, isto é, para assegurar que os deputados apoiassem seu
programa. Por outro lado, visto que de qualquer
modo o Imperador mais cedo ou mais tarde colocaria o partido de oposição no poder, os chefes locais tinham que
proteger seus flancos e certificar-se de não demonstrar
excesso de lealdade aos situacionistas, para que isso não os impossibilitasse de apoiar o partido de oposição num
momento posterior. Os membros do Gabinete, por
sua vez, enfrentavam o desafio de controlar a equipe como uma parelha, usando um conjunto de rédeas para dirigir os
deputados e o outro para orientar os chefões
locais no apoio ao candidato certo. Nos dois casos, o clientelismo era crucial. Um deputado dependia do Gabinete para
garantir nomeações para o chefe local e seus
clientes, nomeações que reforçariam o poder do chefe em época de eleição. AO mesmo tempo, o Gabinete tinha que
deixar claro para o chefe paroquial que os cargos
de autoridade local para ele e seus clientes exigiam seu apoio para eleger um certo deputado. Levar essa parelha de
chefe e deputado a andar em conjunto desafiava
as habilidades de cocheiro do melhor primeiro-ministro.
Em geral, o aspirante a político que se candidatava a deputado pela primeira vez buscava o endosso de qualquer
Gabinete que estivesse no poder. Como observou
um contemporâneo: "Ser candidato do Governo é o anelo de todo indivíduo que almeja um assento no Parlamento;
proclamar-se, e ser reconhecido como tal, é seu primeiro
e principal cuidado"23. Se um candidato não recebia esse endosso, ainda podia recorrer ao chefão local que, pensando
no futuro, achava útil demonstrar sua força, isto
é, a habilidade de conseguir que alguns eleitores nessa situação o apoiassem assim mesmo. Portanto, ainda que não
tivesse espe-

210 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


rança de vitória, o indivíduo tentava se tornar conhecido: "Penso que Rodolfo vencerá; mas o Cícero poderá talvez levar
uma reclamação à Câmara de Deputados". Na
verdade, naquela eleição para o 9º distrito, realizada sob um Gabinete Liberal, Rodolfo Epifânio de Souza Dantas
derrotou Cícero Dantas Martins, barão de Geremoabo.
Embora já se soubesse de antemão o resultado desfavorável a Cícero, ele considerou importante mostrar sua capacidade
de desafiar o vencedor. Na eleição seguinte,
realizada sob um Gabinete Conservador (1886), seu esforço foi recompensado: ganhou24. Nada excepcionalmente, um
político observou: "Só queremos salvar a honra na
derrota". "Contento-me em que não desapareçamos do mapa"25. Somente o apoio dos chefes nas freguesias, apesar de
sua provável mas temporária perda de posições de
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
autoridade, poderia tornar isso possível. Assim, o deputado ficava na interseção de dois planos de poder, um dominado
pelo Gabinete, outro pelo chefão da vila26.
A filiação partidária representava um papel menor nessa luta. Se as facções brigavam entre si para serem
reconhecidas como as beneficiárias legítimas do
clientelismo, e dos cargos políticos de quem quer que controlasse o governo central, o Gabinete desejava apoio eleitoral
de qualquer facção local com probabilidades
de vencer, isto é, a que tivesse mais força. Portanto era irrelevante o rótulo que uma facção local adotava. Em Caçapava,
um Gabinete Conservador podia defender
uma facção "Liberal" sobretudo se, ao fazê-lo, consolidasse a lealdade de um chefe num município vizinho. O governo
Conservador não teve nenhum escrúpulo em apoiar
o barão de Maroim em Sergipe, ainda que ele e seus seguidores tivessem mudado de legenda partidária quatro vezes, de
acordo com as tendências nacionais, e recebido
proteção semelhante dos governos Liberais27. Quando um Gabinete Liberal chegava ao poder, dependia dos mesmos
chefes. "Em geral", escreveu um comentarista político,
"nossos partidos [locais] têm sido favoráveis ao governo central e só lhe declaram guerra quando de todo perdem a
esperança de obter o seu apoio". Como exemplo,
citou um

Facção e Partido 211


Colégio Eleitoral no qual todos os membros concordaram em cooperar entre si na nomeação de um deputado, mas
esticaram seu trabalho por dois dias até ficar sabendo
quem vencera na capital provincial, de modo que sua escolha tosse a mesma28. Muitas vezes, a rivalidade e a violência
da política local situavam-se não entre dois
grupos ostentando nomes de partidos diferentes, como ocorreu em Caçapava, mas entre duas facções reivindicando
pertencer ao partido então no poder.
Esta realidade chocava-se com o conceito idealizado de partido e governo defendido pelos próprios políticos em
nível nacional. Os líderes brasileiros tendiam
a buscar na Europa (como o fizeram mais tarde com os Estados Unidos) modelos de ação e as categorias nas quais
colocar sua própria experiência. Corretamente ou não,
pensavam os partidos europeus como corpos disciplinados, coesos, separados uns dos outros ao longo de fronteiras
políticas, ideológicas e programáticas claramente
demarcadas. Nenhuma dessas qualidades caracterizava o Brasil, e os mesmos homens que subiam ao poder, ignorando
esses preceitos, depois lamentavam sua ausência.
Um festejado estudante contemporâneo do sistema político, Francisco Belisário Soares de Souza, afirmava: "Não há
quem tenha refletido sobre o sistema parlamentar,
em qualquer parte do mundo, que possa desconhecer a utilidade de partidos políticos unidos e compactos, com idéias
próprias, com tendências conhecidas, dirigidos
pelos homens mais eminentes da política. São, na frase de BulwerLytton, os nervos da liberdade parlamentar". Em
relação a esse ideal, o autor contrastava "os partidos
dividindo-se em grupos, em conventículos de meia dúzia de indivíduos, sem nexo, sem ligação, sem interesses comuns
e traços de união". Como uma comissão do Senado
concluiu: "desgraçadamente, partido quer dizer parcialidade". Quando alguns acusaram o Gabinete da Conciliação, de
1853, de visar destruir os partidos políticos,
sobretudo o Liberal, um Conservador retrucou: "Se por partidos se entendem o antigo arregimentar de gladiadores, o
permanente alarme social, a ferocidade de canibálicos
[sie] programas (...)

212 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


oh! sim, bem haja a `conciliação', se é que tendia a destruir tal praga; porém, a isso e a esses não se chamam de partido e
partidários, mas facção e facciosos".
Curiosamente, ninguém sugeriu que os próprios partidos, pela sua característica divisora, representavam uma ameaça à
sobrevivência nacional e deviam ser evitados
como impatrióticos, como ocorrera antes nos Estados Unidos. Em 1854, um estudante de direito, refletindo sem dúvida
as opiniões de seus mais velhos, escreveu que
"no sistema representativo há necessidade de oposição constante e constitucional"29.

Construindo Partidos

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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Um dos motivos para deplorar o faccionalismo local provinha do fato de que, assim que um homem chegava ao
poder central, desejava linhas claras de comando.
As rivalidades entre os grupos locais tornavam seu trabalho mais árduo, mesmo quando ele próprio ascendera
explorando-as. Parte da obsessão por ordem e harmonia,
que discutimos anteriormente, podia realmente refletir o desejo pessoal do político de ter uma trajetória serena. Ele
queria apoiar um chefe municipal, um grupo
provincial, não vários30. Dessa preocupação surgiam as tentativas de formação de um partido, ou seja, de disciplinar os
membros do Congresso, estabelecer alianças
firmes e contínuas entre eles, e deste modo expandir a autoridade dos primeirosministros e Gabinetes. Na verdade, os
líderes nacionais tentavam fazer com que os
deputados devessem mais favores a eles do que aos chefes locais. Esse esforço também se fundava na idéia de nação,
reforçando-a, pois partia da premissa de que todo
o Brasil constituía um só domínio no qual se realizava a luta política. Numa nação, as incontáveis pirâmides locais de
clientelismo dariam lugar a duas maiores,
enfrentando-se entre si. Assim como o chefe de uma localidade alargava seu séquito, unindo famílias para formar uma
facção, um chefe nacional formaria seu partido
unindo as facções locais. Nem é preciso dizer que a construção desse partido não implicava elaborar um programa,

Facção e Partido 213


muito menos um programa que pusesse em risco a ordem social estabelecidas31.
O chefe do partido em uma província - às vezes o presidente, às vezes outra pessoa - enfrentava uma dura tarefa,
pois tinha que lutar contra "a maior dificuldade,
[que] é a dos candidatos, pelo seu número e indisciplina. (...) Surgem como cogumelos". Quando todos os eleitores de
um Colégio pretendiam apoiar o Gabinete, escreveu
um observador, podia-se pensar que eles agiriam em "paz e harmonia"; mas como havia 15 candidatos para cinco
lugares, o partido majoritário imediatamente rachava.
O Gabinete tinha que decidir entre os candidatos à eleição para o Congresso, todos reivindicando compartilhar suas
opiniões, e todos recorrendo à ajuda de pelo menos
alguns eleitores. Um presidente então tinha que agir com energia e só os perdedores reclamavam: "No palácio da
presidência, fizeram-se clubs dirigidos pelo presidente,
para se designarem os candidatos que deviam merecer o apoio do governo"32.
Existe uma extensa série de cartas entre dois líderes Conservadores, João Maurício Wanderley, barão de Cotegipe,
e João José de Oliveira Junqueira Júnior,
que se revezavam na liderança do partido na Bahia e no trabalho no Rio de Janeiro. Eles lutavam para formar um
partido disciplinado. "Não posso deixar", escreveu
Cotegipe, do Rio de Janeiro, "de agradecerlhe em nome do partido e no meu a iniciativa que V. Exa. tomou para dar
conveniente direção à luta que se vai travar"33.
Em toda a sua correspondência, eles confrontavam o problema básico, de como manter os candidatos Conservadores
unidos, e evitar que lutassem entre si, fazendo, isso
sim, com que cedessem e estabelecessem acordos mútuos, possibilitando vitórias contra os Liberais. Para isso, os
vencedores tinham que ser levados a reconhecer que
deviam sua eleição ao apoio recebido dos chefes do partido e não apenas ao endosso dos chefes locais. Nesse esforço,
percebem-se os limites do Gabinete para exercer
o controle eleitoral. Quando, no início da década de 1870, os parlamentares Conservadores dividiram-se em relação à
Lei do

214 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Ventre Livre, os líderes do partido tornaram-se particularmente sensíveis à questão da lealdade. Considerando a quem se
devia endossar da Bahia, Cotegipe, então
agindo como chefe do partido provincial, observou que, entre os três deputados do segundo distrito, dois haviam
apoiado o programa do governo e o terceiro "não foi
à Câmara e não se pronunciou. Há contra ele suspeitas (...) dos nossos e inimizade pessoal de alguns (...) Convirá
excluílo? Entendo que não. (...) Prevendo a dificuldade,
o sondei e este [disse] que se for contemplado, poderemos contar com seu apoio". O membro do Gabinete, Junqueira,
respondeu: "Terá ele aderido à nossa chapa? É indispensável
que ele seja explícito". O Gabinete não estava preparado, acrescentou Junqueira, para "sofrer qualquer decepção como,
por exemplo, a eleição [dele] sem prévio acordo
conosco, de forma que ele venha depois alardear vitória, que ninguém lhe disputou". Alguns anos depois, em 1881, com
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Cotegipe no Rio de Janeiro e Junqueira em Salvador,
eles novamente abordaram o problema da escolha de candidatos para apoiar. Dois homens no 8º distrito da Bahia
buscavam aprovação partidária. Junqueira escreveu que
"Inocêncio [Marques de Araújo Góes Júnior] tem defeitos, e eu mesmo tenho algumas vezes sofrido suas ingratidões,
mas [ele prestou] alguns serviços ao partido, e
tem uma certa roda que o apóia". Cotegipe achou que José Augusto Chaves teria mais probabilidade de vencer, "apesar
de que este [Inocêncio] tem votos exclusivamente
seus e não do partido". Dessa forma, eles reconheciam o poder do padrinho de Inocêncio e talvez por esse mesmo
motivo Cotegipe preferiu Chaves, que ficaria devendo
mais ao Gabinete34.
Mesmo os líderes nacionais não colocavam lealdade a um programa - ou mesmo a uma abstração como "partido" -
à frente das ligações individuais, pessoais.
Para começar, solapavam as suas próprias tentativas de criar instituições partidárias, deixando suas preferências
particulares interferirem. O principal problema
em junho de 1881 ocorreu no distrito formado pela capital provincial, onde dois Conservadores

Facção e Partido 215


desejavam a aprovação do partido. Um deles era compadre de Junqueira, que tentara persuadir o outro a concorrer no 6º
distrito, "onde temos alguns elementos e há
dois candidatos Liberais encarniçados" competindo um contra o outro, mas o candidato não quis concorrer naquele
distrito. Junqueira não podia recorrer aos líderes
partidários, porque um dos prováveis candidatos pertencia ao diretório do partido e seus outros membros eram
candidatos em outros lugares; porém, mais importante,
segundo ele, "não julgo que devamos entregar ao Conselho tanto poder". Por isso, preferia a ligação pessoal - a própria -
a institucionalizar a máquina do partido.
A meta relativamente abstrata de vitória do partido confundia-se com a ambição de promover os amigos. Cotegipe
também, apesar da conversa freqüente sobre os objetivos
do partido, foi obrigado a confessar que, pessoalmente, não podia apoiar um certo candidato porque ele "ofendeume
profundamente; abstenho-me, não ocultando que politicamente
é ele preferível"35.

216 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Por muito tempo Cotegipe tentara estabelecer disciplina partidária não apenas na Bahia, mas no país inteiro. Em
1876, João Alfredo Correia de Oliveira escreveu-lhe
de sua casa, em Pernambuco, que, juntamente com outros líderes Conservadores, haviam estabelecido ali "um acordo
para a boa direção do partido". Agora "trato de
entender-me com outros amigos" e elaborar uma chapa partidária "de acordo com as idéias que eu daí trouxe [do Rio de
Janeiro]". Nesse tipo de trabalho, João Alfredo
tinha muita experiência. Seis anos antes, quando fora designado presidente para a província do Pará, informara que "o
Partido Conservador do Pará está profundamente
desunido e, como está organizado e dirigido, não é um partido em que o governo possa apoiar-se confiadamente". Na
verdade, seus líderes "brigam como comadres". No
entanto, acabou conse-

Facção e Partido 217


guindo: "Fez-se o acordo, [e] fizeram a lista dos futuros membros da Assembléia Provincial". O máximo que se podia
esperar, acrescentou, era a "aparência de união,
que não me parece possível converter-se em paz sincera, solidariedade e coesão. Procuro o Partido Conservador do Pará
e não o encontro". No Rio Grande do Sul, as
condições não pareciam melhores. O presidente da província relatou em 1871 que o Partido Conservador consistia de
dois grupos, "os lobos e os cordeiros". Sua divisão
não advinha de "idéias e aspirações" ou de uma "causa política", mas surgira de considerações "puramente pessoais". A
um posterior presidente do Rio Grande do Sul.
Cotegipe declarou: "Os Conservadores estão ficando ingovernáveis e perdem-se"36.
Os Liberais sofriam da mesma indisciplina que os Conservadores. Seus candidatos no Rio de Janeiro, mesmo
durante a crucial eleição de 1860, algumas vezes
punham-se a brigar uns com os outros em torno da urna eleitoral. Do Rio Grande do Sul, um observador relatou em
1871: "O denominado Partido Liberal (...) subdivide-se
Página 97
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
em tantas pequenas facções quantos são os diferentes chefes que aspiram à honra de dirigir o partido. (...) Reina entre
eles grande desarmonia". Em reação a essas
condições, alguns Liberais, reunidos no Rio de Janeiro em 1875, decidiram imitar os Conservadores em sua
organização. Exortaram então à criação de diretórios partidários
em cada província, pois, disse o presidente do encontro, "a disciplina do partido não se pode dar sem a mais completa
uniformidade de esforços, coesão e harmonia".
Quando reconquistaram o poder, os Liberais de fato despenderam muita energia para esse fim. Manuel Pinto de Souza
Dantas, membro do Gabinete em 1880, gastou algum
tempo desfazendo as diferenças entre os deputados de Pernambuco, a fim de "restabelecer nessa província a união do
Partido Liberal". De uma eleição para o Senado
no Ceará, o primeiro-ministro José Antônio Saraiva observou que "a divisão do Partido Liberal é um mal que muito
concorre para que as eleições não tenham a regularidade
necessária". Ele escreveu

218 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


para o presidente provincial desejando que não "nos pareçamos inclinados a uma das facções do Partido Liberal", mas
prosseguiu lamentando "as conseqüências deploráveis
de uma divisão do partido". De modo semelhante, Afonso Celso de Assis Figueiredo, visconde de Ouro Preto, trabalhou
fervorosamente, como primeiro-ministro em 1889,
para conseguir que alguns possíveis candidatos Liberais desistissem de competir para garantir a vitória de outros. Como
explicou para um político em Minas Gerais:
"Não podemos prescindir de maioria numerosa e arregimentada na próxima Camara. Esse resultado conseguil-ohemos
não havendo em cada districto sertão hum candidato
recomendado pelo directorio [do partido]". Mesmo o Partido Republicano enfrentava esse problema, e seus líderes
vigilavam cuidadosamente a fidelidade dos eleitores37.
Do ponto de vista do jovem aspirante a político, a disciplina do partido naturalmente exercia poucas atrações, e a
ajuda de um padrinho local parecia bastante
satisfatória. Em 1875, um deles pediu ao Centro Liberal, no Rio de Janeiro, que aprovasse seu nome como candidato a
deputado por Minas Gerais. Considerava o apoio
local que desfrutava como um trunfo, de tal modo que, se não tivesse que concorrer em âmbito provincial, frisava, não
teria se preocupado em conseguir o apoio do
partido. Contudo, como as eleições não mais se realizavam apenas dentro dos distritos, ele só podia ameaçar: no caso de
não encontrar um espaço na chapa, "absterei
de tomar parte na eleição em meu município, o que provavelmente significará a perda total para os Liberais [aqui]". Ao
mesmo tempo, reclamou com outro amigo sobre
o "nepotismo" das chapas de candidatos organizadas no Centro do partido. No ano seguinte, prosseguiu: "Desagrada-me
soberanamente a posição de pedinte, em que se
quer colocar hoje os candidatos, em frente dos figurões da corte". Alguns meses depois, queixou-se amargamente de que
"nas chapas organizadas nos Centros [partidários],
os nomes de nós, provincianos, apenas entram para encher lugar". Por outro lado, se os chefes centrais do partido não
faziam nada, os candidatos também se queixavam.

Facção e Partido 219


Um Conservador praguejava contra o "abandono ou a indiferença dos nossos [líderes] barrigudos da corte, que não dão
sinal
nenhum de vida!"38
As ligações pessoais dos próprios líderes constituíam,
tanto para os Liberais quanto para os Conservadores, um impedimento ao seu esforço para construir um partido
disciplinado. Manuel Pinto de Souza Dantas, primeiro-ministro
Liberal, enfrentava restrições devido aos seus laços familiares e de amizades. Em 1884, mandou seu filho à Bahia para
resolver diferenças
partidárias e, entre outras coisas, colocar seu bom amigo Rui Barbosa como candidato no distrito que certamente era o
mais
Liberal. O primo de Dantas, contudo, filho do chefão agrário da região, queria esse lugar para si mesmo, e o conseguiu.
Rui Barbosa teve de se contentar em
concorrer no 8º distrito, e perdeu 39. A própria volubilidade de Dantas provavelmente feria o princípio de lealdade
partidária, pois algumas vezes ele se
submetia à influência das ligações - ou animosidades - pessoais, e outras trabalhava em favor de metas partidárias mais
Página 98
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
abstratas. Em 1881, a fim de derrotar seu
"mais desapiedado inimigo", apoiou o normalmente Conservador Joaquim Elísio Pereira Marinho, barão de Guaí;
porém, três anos depois, aparentemente julgando outras
reivindicações mais importantes, deu todo o
apoio governamental àquele mesmo inimigo para vencer Guai40. As ambigüidades no comportamento eleitoral vieram à
tona nas campanhas de dois candidatos. Em 1878,
um chefão local na Bahia indicou que apoiaria Rui Barbosa na eleição, porque o nome de Rui Barbosa fora incluído na
"relação que
mandou-me o nosso amigo dr. Zama". Acrescentou depois que sem dúvida apoiaria Rui Barbosa "não só como
correligionário distinto, mas também como parente". Laços
pessoais e partidários fundiam-se, e o programa não parecia ser importante. Quando, em 1885, o abolicionista Joaquim
Nabuco tez campanha como Liberal em Pernambuco, um mandachuva provincial
confessou que "a campanha eleitoral de Nabuco acabou, e participei ativamente dela, não porque concorde com suas
idéias, mas

220 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


porque vi que precisávamos erguer nosso partido (...) O resultado da eleição foi tal que surpreendeu um monte de gente,
sobretudo os Conservadores"41. É claro que
o escritor dessas palavras não apoiava um programa. Mas quando falava de partido, será que se referia à lealdade aos
chefes partidários que colocaram Nabuco em sua
chapa? Ou ao fortalecimento das reivindicações dos chefes nas paróquias, em seus pedidos clientelistas? Seu verdadeiro
sentido permanece obscuro.

Inconstância Partidária

Quando um partido conquistava o poder, raras vezes fixava-se a seu programa pré-anunciado, para desgosto de
alguns membros do Congresso que realmente esperavam
levá-lo a cabo. Dantas teve que tranqüilizar Rui Barbosa, em 1878, dizendo-lhe que "um programa de Ministério não
pode abranger todo o programa da mesma situação".
Rui Barbosa devia prosseguir, disse Dantas, e falar, mas, embora criticasse o governo na imprensa, deveria votar com o
Gabinete: eles podiam discordar em "questões
econômicas ou administrativas; (...) saibamos, porém, cumprir o dever de políticos"42. Dever político não tinha nada a
ver com programa, mas com lealdade, e em última
instância a lealdade permanecia pessoal. O poder que o Gabinete exercia sobre um deputado estava no apadrinhamento
que dispensava ou não ao seu chefe local. O deputado,
por sua vez, tinha que pesar o apoio do chefe contra sua própria dedicação a princípios mais elevados. Com um sistema
nacional partidário tão fragmentado assim,
não é de admirar que os deputados, assim que chegavam ao Rio de Janeiro, só formassem alianças temporárias, ou que
as legendas partidárias significassem relativamente
pouco no que dizia respeito ao programa.
O sistema partidário, ou melhor, a falta de um sistema, facilitava a comunicação entre a elite política. O governo
continuava sendo um arranjo entre amigos.
Sem dividir-se com demasiada rigidez em partidos distintos, eles podiam continuar a conversar para além das fronteiras
partidárias, trazendo para

Facção e Partido 221


o Gabinete informações essenciais para o seu êxito. Dantas começara sua carreira política como protegido do chefão
Conservador Cotegipe. Depois tornou-se líder dos
Liberais, mas ainda podia contar com Cotegipe para, por exemplo, determinar a discussão sobre o orçamento, como
Dantas desejasse. Enquanto isso Cotegipe, quando
na oposição, podia esperar que um presidente provincial Liberal, em nome de sua amizade, mostrasse algum empenho
em proteger os interesses locais do Partido Conservador 43.
Do mesmo modo, um correligionário em Salvador escreveu a Cotegipe pedindo-lhe que falasse com o primeiro-ministro
Liberal, Lafaiete Rodrigues Pereira, em nome
de um funcionário da Alfândega em Salvador, que estava sendo perseguido por ter ajudado o Partido Conservador em
sua campanha política: "Não seria mal, se não lhe
fosse muito difícil, prevenir Lafaiete". Por outro lado, a disputa por cargos e poder também significava que os políticos
perdiam oportunidades de tomar medidas
Página 99
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
que beneficiariam o país, pois, se um partido apoiava determinada ação, o outro se oporia a ela independentemente de
seu mérito"44.
O clientelismo fornecia a chave para assegurar a lealdade ao Gabinete. Primeiro, as ligações do "partido" entre os
níveis provincial e nacional espelhavam
a relação entre facção local e governo central, poisa vitória eleitoral na província conquistava o direito à proteção do Rio
de Janeiro. Esse fato se reflete claramente
nas duas cartas enviadas, em curto espaço de tempo, de Junqueira (então membro do Gabinete) a Cotegipe, o chefe do
partido na Bahia. Na primeira, Junqueira congratulava-se
com Cotegipe pelos eleitores escolhidos e lhe agradecia pela promessa de seu apoio: "V. Exa. é um grande general".
Duas semanas depois, Junqueira acrescentou: "Fique
V. Exa. certíssimo que não faremos aí [na Bahia] coisa que lhe desagrade, pois o tenho e [o] reconheço como o Chefe
natural do partido"45. Segundo, o apadrinhamento
do governo central podia ser usado diretamente para disciplinar candidatos e modelar uma chapa que assegurasse um
Congresso cooperativo. Em 1884, um pos-

222 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


sível candidato escreveu a Cotegipe que talvez um rival seu à nomeação do partido pudesse ser persuadido a desistir se
ele, Cotegipe, lhe prometesse "por si, alguma
compensação imediata ou próxima; (...) fingir-se-á contrariado, declarando recolher-se à vida privada, mas no fundo,
estimá-lo-ia imenso [sic], porque libertava-se
do 1º distrito, que o amedronta". Quando, alguns meses mais tarde, os Conservadores anunciaram sua chapa partidária,
aquele candidato "continua a fingir-se contrariado",
mas aceitou concorrer em outro distrito. Essa mudança, contudo, desagradou a um chefão municipal, que achava que o
filho tinha direito àquela cadeira: "uma pequena
animação emanada de si o confortaria um pouco"46.
Um presidente provincial via-se numa posição duplamente difícil. De um lado, tinha de canalizar o clientelismo do
governo central para reagir à genuína força
de uma facção local dominante. Por isso, exigia a cooperação total das autoridades centrais para nomear e demitir
pessoas segundo a vontade de um líder local, sabendo
qual dos chefes liderava a maior clientela. Ao mesmo tempo, contudo, o presidente tinha de ser capaz de, vez por outra,
desviar o apoio governamental de uma facção
para outra, a fim de eleger os deputados certos. Depois, tinha que usar outras alavancas, empregar força oficial, demitir
alguns delegados e oficiais da Guarda Nacional
ou até mesmo anular eleições. Ao arranjar apoios para candidatos, tinha de fazê-lo "de modo que não crie embaraços ao
governo, ou [estimule] a oposição dos deputados
[vindos daquela província] na próxima sessão"47. O presidente de São Paulo sabia que não existia contradição alguma
entre sua atribuição geral de produzir uma vitória
Conservadora e sua tarefa específica de apoiar uma facção vencedora em Caçapava; apenas, a avaliação da força local
confundiu-o, poisa princípio ele não considerara
as ligações familiares por sobre as fronteiras municipais. O importante era manter a autoridade do verdadeiro chefe na
região.
Muitos historiadores observaram com perplexidade que durante o Império o Partido Conservador empreendia
reformas

Facção e Partido 223


liberais, e os Liberais reforçavam medidas conservadoras. Esse comportamento provinha da própria natureza dos
partidos políticos e não merece surpresa. Faltavam
às aglomerações de políticos no Congresso elos fortes unindo-os entre si, ou a distintas máquinas eleitorais alternativas
e auto-sustentáveis, e menos ainda a movimentos
definidos ideologicamente ou a eleitorados disciplinados 48. Vários políticos importantes abandonaram os Liberais para
unir-se aos Conservadores, e viceversa; e
apenas alguns identificavam-se com uma determinada reforma, firmemente vinculada a uma visão baseada em
princípios, ou adotavam atitudes inabaláveis em relação a
questões polêmicas. Como expressou um observador: "As maiorias parlamentares já não se fazem pelas convicções, e
sim pela senha de que os ministros se dizem portadores
[vinda do imperador]. Os grupos se aglomeram e se dispersam como a areia ao sopro da brisa"49. Adotavam legendas
partidárias com pouca consistência, e grande parte
da luta em nível paroquial e provincial ocorria dentro dos - e não entre os - chamados partidos. Decerto, quando fora do
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
poder, os membros minoritários do congresso,
liderados pelos senadores de seu "partido", assumiam posições um pouco mais doutrinárias, porém ainda assim
brandamente. E é verdade que nas cidades os votantes
começaram a identificar-se cada vez mais com certas posições e a dar seus votos para eleitores com nome e partido dos
deputados em mente. Mas eram poucas as cidades.
Uma olhada em vários acontecimentos famosos do período confirma a inconstância da lealdade partidária, a
permeabilidade e a tendência à fragmentação do partido,
bem como a relativa desimportância de um programa partidário. Estabeleciam-se e dissolviam-se alianças, e os mesmos
deputados eram algumas vezes "Liberais", outras
vezes "Conservadores". Os historiadores tentaram impor uma visão de partido extraída de outros lugares ou outros
tempos, mas as siglas partidárias deveriam ser sempre
imaginadas colocando-as entre aspas.

224 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


A fraqueza dos laços partidários tornou-se visível na década de 1840 em Pernambuco, onde o Partido Liberal
apresentava divisões profundas50. Um grupo de políticos
Liberais, liderado por senhores de engenho e chefiado por Antônio Francisco de Paula Holanda Cavalcanti, tinha
estreitas ligações familiares com os líderes do Partido
Conservador, e muitas vezes trabalhava com eles na Assembléia Provincial, enquanto se opunha aos Conservadores no
Congresso Nacional; outro grupo, liderado por Antônio
Pinto Chichorro da Gama, que também dependia do apoio dos senhores de engenho, mas que se concentrava nos
distritos da cidade, cooperava com os Conservadores no
Congresso e ao mesmo tempo lhes fazia feroz oposição na Assembléia Provincial. Em 1841, o Gabinete Conservador
ofereceu nomeações clientelistas para a ala dos Liberais
liderados por Chichorro da Gama, em troca de que eles aprovassem no Congresso as leis criando os delegados e
centralizando o poder no Rio de Janeiro. Essa ala do
partido aceitou a oferta e recusou-se a aderir à revolta Liberal que, em 1842, irrompeu em Minas Gerais e São Paulo,
tornando a derrota ali tanto mais certa. Contudo,
assim que a revolta terminou, o Gabinete Conservador retirou seu apoio à facção de Chichorro da Gama e garantiu, em
vez disso, cargos para os Conservadores de Pernambuco.
À medida que "seus" Liberais perdiam os cargos, tendiam a unir-se com os outros Liberais - tanto que, quando o
governo finalmente caiu, o novo Gabinete Liberal de
1844 incluiu representantes de ambas as facções do partido em Pernambuco.
Essa unidade mostrou-se tênue, e os Liberais logo entraram em luta novamente, precisamente em torno da
nomeação de Chichorro da Gama como presidente de Pernambuco.
Quando seus amigos foram forçados a sair do Gabinete, seus aliados Liberais em Pernambuco começaram a votar contra
o Gabinete Liberal. O Gabinete então foi ainda
mais longe, e demitiu Chichorro da Gama da presidência da província. Os ânimos acirraram-se. A gota d'água veio em
1848, com a nomeação,

Facção e Partido 225


pelo imperador, de um novo Gabinete liderado por um senhorde-engenho Conservador de Pernambuco, Pedro de Araújo
Lima, visconde de Olinda, antigo Regente do Império.
A facção de Chichorro da Gama em Pernambuco rebelou-se. Tirando seu nome da rua onde se localizava o escritório do
seu jornal, os Praieiros não receberam o apoio
incondicional dos senhores de engenho do interior e certamente eram vistos com pouca simpatia pelos Liberais de
Minas Gerais e São Paulo, que há tão pouco tempo
haviam desdenhado; sua revolta logo entrou em colapso. Mas tanto eles quanto seus adversários continuaram a se
intitular Liberais. Sua luta era em torno do clientelismo,
não de uma filosofia política51
O Partido Conservador não se amoldou a um programa conservador, mesmo quando parecia mais unido. Embora o
Gabinete Conservador de 1848, liderado inicialmente
pelo visconde de Olinda, fizesse aprovar várias medidas para fortalecer o governo central e a posição dos cafeicultores
do interior do Rio de Janeiro, muitas das
medidas que empreendeu haviam sido defendidas pelos Liberais no passado e podiam ter sido apoiadas por deputados
Liberais, caso algum se encontrasse ali. A mais
notável foi a proibição do comércio internacional de escravos pelo governo. A medida já fora defendida por um
Gabinete Liberal no início de 1848 52. O Gabinete Conservador
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
também conseguiu aprovar o Código Comercial, que, apresentado pela primeira vez no Congresso pelos Liberais na
década de 1830, ajudou os comerciantes no Brasil a
se ligarem à economia internacional. Além disso, iniciou um movimento na direção do livre comércio, meta defendida
por pessoas que tendiam ideologicamente ao liberalismo,
quando não por políticos Liberais em particular. Por fim, afirmou a tendência do Brasil a ter ascendência sobre as
nações limítrofes em sua fronteira sudoeste, defendendo
assim os interesses locais de pecuaristas no Rio Grande do Sul que, chamando-se Liberais, há apenas cinco anos haviam
se revoltado contra a autoridade central.

226 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Fragmentação e alterações nas alianças entre os membros do Congresso são mais uma vez exemplificadas
claramente pelo racha entre os Conservadores no início
dos anos 1870. Em 1868, o imperador nomeou um gabinete arquiconservador, liderado pelo defensor dos interesses
agrários, Joaquim José Rodrigues Torres, visconde
de Itaboraí. Pela primeira vez desde 1842, os políticos Liberais formaram um grupo partidário nitidamente definido. Em
maio de 1869, seu Clube da Reforma publicou
um manifesto clamando por uma completa reforma da Constituição, a revogação da lei de 1841, o fim da Guarda
Nacional da forma como então existia, a abolição do sistema
de alistamento forçado e a emancipação gradual dos escravos53. Alguns ex-Conservadores assinaram o documento; e
alguns membros do partido, achando que Itaboraí fora
longe demais ao manipular a eleição de 1868, excluindo todos os oponentes, também se opuseram a ele, apesar de se
auto-intitularem Conservadores. Por causa dessas
críticas, o Gabinete não sobreviveu por muito tempo e, após um intervalo, em março de 1871, o imperador nomeou
como primeiro-ministro José Maria da Silva Paranhos
(pai), visconde do Rio Branco. Seu começo Liberal na vida política e sua participação no Gabinete de "Conciliação"
(1853-58) pressagiavam posições moderadas. Poucos,
contudo, esperavam sua impressionante capacidade política, sua sagacidade e seu desinteresse pessoal como estadista.
Rapidamente, o Conservador Rio Branco decretou uma série de medidas impressionantemente inovadoras que os
liberais só podiam aplaudir. Começou separando
algumas funções policiais das judiciais, restringindo o papel judicial dos delegados, medida longamente esperada. A lei
que aprovou limitava aos delitos menores
a responsabilidade policial para ouvir depoimentos, preparar o processo e redigir indiciamento, e retirou totalmente da
polícia o direito de julgar esse casos. Dali
em diante, os juízes municipais exerceriam essas funções, e Rio Branco estendeu o mandato dos juízes. Retirou da
Guarda Nacional a atribuição de força policial e
de recrutamento para

Facção e Partido 227


o Exército; somente as forças policiais pagas pela Província ou, se essas se mostrassem insuficientes, o próprio Exército
podiam agora ser convocados para manter
a ordem, recorrendose à Guarda Nacional apenas em ocorrências de emergência nacional, declarada por ato do
Congresso. Rio Branco também sugeriu a necessidade de
representação proporcional nas eleições, estimulando por conseguinte o estudo de reformas que resultaram enfim na lei
eleitoral de 1875, já discutida, aprovada por
um Gabinete posterior, mas igualmente Conservador. De modo mais surpreendente, ele persuadiu o Conselho de Estado
a apoiar seu esforço para aprovar a Lei do Ventre
Livre, garantindo, a partir de então, liberdade a todas as crianças que nascessem de escravas. Com essas medidas, Rio
Branco tanto satisfazia a opinião liberal e
muitos Liberais no Congresso quanto colocava uma cunha entre seus seguidores e a ata direita de seu partido. Essa ala
fez uma dura campanha contra ele em 1872, mas
ganhou poucas cadeiras; Rio Branco exerceu habilmente o poder do clientelismo para assegurar a eleição de deputados
leais a ele54. Quando, em 1878, o imperador finalmente
recorreu mais uma vez aos Liberais para chefiar o governo, pouca coisa do programa original do Clube da Reforma em
1868 não havia sido realizada. Em suma, o governo
de Rio Branco ocupara firmemente o centro predominante, rompendo com correligionários Conservadores, apoiando
medidas ditas liberais, e mais uma vez demonstrando
a falta de sentido das legendas partidárias55.
Na década de 1880 surgiu uma divisão ainda mais devastadora entre os deputados Liberais sobre a perturbadora
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
questão da escravidão. Compelido pela força
abolicionista em ascensão nas cidades, pelo enfraquecimento do compromisso com a instituição tanto no oeste de São
Paulo quanto no Nordeste, e pela agitação escrava,
o primeiro-ministro Manuel Pinto de Souza Dantas apresentou uma medida conclamando à libertação sem indenização
dos escravos que atingissem os sessenta anos. Muitos
de seus correligionários no Congresso correram a fazerlhe oposição e um deles chegou a apresentar uma moção de

228 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


desconfiança. Apesar de os Liberais terem uma clara maioria de 65 a 46, apenas 52 deputados o apoiaram, entre eles
quatro Conservadores. Novas eleições resultaram
no mesmo racha: apesar da presença de 77 Liberais, Dantas sofreu outra derrota parlamentar em 1885, 52 a 50x6.
Essa derrota, mesmo com a estreita supervisão da eleição pelo Gabinete de Dantas, reflete a incapacidade do
sistema político para tratar das questões sobre
as quais se dividiam os proprietários agrários. Como todas as anteriores, a própria eleição desenvolvera-se em torno do
clientelismo. Nesse assunto, Dantas venceu
habilmente. Foi somente seu programa que ficou derrotado. A emancipação, aos olhos de alguns, ameaçava a própria
existência de sua classe, enquanto para outros,
entre os

Facção e Partido 229


quais muitos escravocratas, ela representava a única esperança de sobrevivência. Os deputados eleitos eram Liberais
mas não emancipacionistas. Um abolicionista reclamou
na época que não se conduzira a eleição em torno da questão da escravidão57. Esse voto parlamentar revelou alguns dos
limites do poder do Gabinete em controlar as
eleições e levar para o Rio de Janeiro homens que apoiassem o programa legislativo do governo. Com todas as
alavancas de poder sob seu comando, o governo central
não podia agir autonomamente, desconsiderando os interesses dos latifundiários escravocratas, que formavam o outro
lado do clientelismo, ao qual os deputados eram
sensíveis. Na maioria das vezes, as leis aprovadas no Congresso não se chocavam diretamente com os interesses dos
chefes locais; mas, quando isso ocorria, os deputados
deixavam de ser clientes obedientes do Gabinete. O historiador Robert Conrad argumentou de modo convincente que as
diferenças regionais entre o Nordeste e o Centro-Sul
produtor de café afetavam grandemente as divisões parlamentares, porque os representantes do Nordeste tendiam a
apoiar a abolição". Ainda a serem examinadas, contudo,
estão as características de determinados distritos eleitorais e as preferências de chefes municipais. Além disso, se é
impressionante que muitos deputados preferiam
arriscar suas cadeiras a apoiar o programa do governo, também é notável que tantos deputados tivessem votado em
Dantas numa questão cujo eventual resultado era duvidoso.
Avaliar com rigor o peso relativo que possuíam o compromisso ideológico, a fidelidade pessoal ao primeiro-ministro e a
obediência cautelosa aos protetores locais
continua sendo uma tarefa para o futuro.
A questão da escravidão continuava a expor a fragilidade da aliança partidária. Após a queda do Gabinete Dantas, o
imperador convocou o Liberal José Antônio
Saraiva para encontrar um meio-termo. Para tornar o projeto de lei de Dantas agradável aos escravocratas, ele alterou-o
em muitos aspectos, incluindo a cláusula
que ditava que os escravos de sessenta anos deviam trabalhar mais três anos, como indenização a seus

230 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


senhores, antes de serem libertados de vez. A alteração do projeto de lei angariou o apoio da maioria dos Conservadores,
mas era agora contestada pelos Liberais
que anteriormente haviam apoiado a medida de Dantas. Passou com estreita margem na Câmara dos Deputados.
Politicamente, Saraiva viu-se fraco demais para continuar
e, com os Liberais agora demasiadamente fragmentados para formar um novo governo, o imperador logicamente
voltou-se para os Conservadores, nomeando como primeiro-ministro
o barão de Cotegipe59. O Conservador Cotegipe supervisionou então o trâmite final do projeto de lei DantasSaraiva
pelo Senado, o que, portanto, sugere mais uma vez
que as legendas partidárias tinham pouco significado. Cotegipe também supervisionou novas eleições que, apoiadas no
poderoso uso do clientelismo, conseguiram extrair
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do mesmo eleitorado uma esmagadora maioria Conservadora.
Finalmente, em 1888, quando o Conservador Cotegipe recusou-se a levar a cabo a abolição total da escravidão, seu
fiel aliado de longa data, o igualmente
Conservador João Alfredo Correia de Oliveira, realizou a tarefa em seu lugar. Nisso, trabalhou com o mesmo Congresso
Conservador que Cotegipe. Quando acusado de
ser desleal ao Partido Conservador, João Alfredo replicou: "O que nunca ninguém admitiu, na organização dos partidos
políticos [brasileiros], é que haja uma autoridade
infalível, com poder sobre todos, para decretar quem está fora do partido e quem o acompanha". Paulino José Soares de
Souza (2º), filho do visconde do Uruguai e
forte Conservador como seu pai, desapontado por não ter sido nomeado primeiro-ministro, para poder incluir numa lei
abolicionista uma indenização aos senhores de
escravos, uniu-se aos Liberais em outra questão, para derrubar o governo do Conservador João Alfredo. Apesar de
divididos, tanto em 1871 quanto em 1888, os Conservadores
conseguiram o crédito pela aprovação das principais reformas liberais. Como um cáustico observador salientou: "O
Partido Conservador continua sendo o partido das
reformas (...) porque (...) se o país caminha, ele caminha para trás"60.

Facção e Partido 231


Essas características da história partidária resultavam diretamente do fato de que, ao longo de todos os anos do
Império, os partidos não tinham programas
consistentes e simplesmente representavam alianças momentâneas entre deputados em torno de assuntos particulares.
Os membros deviam sua eleição não à defesa que
fizessem de questões, mas, em geral, ao apoio
combinado do Gabinete e dos chefões locais, interessados no clientelismo. Alguns políticos podiam tentar construir
unidade e disciplina partidárias, mas isso nunca
se tornou um objetivo em si, e esses mesmos homens muitas vezes rompiam seus
princípios quando lhes convinha, quer dizer, quando as expectativas de sua cultura o exigissem. Durante quase
cinqüenta anos, os partidos parlamentares formaram-se,
dividiram-se e
reformaram-se, mas os governos conseguiram manter a estabilidade e a unidade políticas, adjudicando diferenças entre
os membros da elite econômica e mantendo os
pobres em seu lugar. Em suma, os partidos funcionavam bem o suficiente para manter a hegemonia dos ricos.

A Base Social dos Partidos

Antes de concluir este capítulo, seria útil examinar a base social dos alinhamentos partidários. Já que acabei de
mostrar os partidos como sendo inconstantes
e transitórios, talvez pareça estranho suscitar o assunto. Mas certas afirmações merecem um exame específico. O que se
coloca é que uma classe média urbana composta
por profissionais liberais, funcionários públicos, negociantes e comerciantes afluía ao Partido Liberal, um partido
presumivelmente visto como um grupo de votantes,
não de legisladores61. Como a maioria dos mitos, esse contém algum grão de verdade. Nas cidades, onde os votantes
eram menos facilmente controlados e os apelos a
programas poderiam mostrar-se mais efetivos, a classe média tinha ao mesmo tempo um maior espaço na política e
achava a ideologia dos direitos individuais mais atraente
que as pessoas no interior. Na década de 1840, por exemplo, os líderes da ala Praieira, do Partido

232 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Liberal Pernambucano, conseguiram força suficiente de um grupo urbano que se sentia inseguro financeiramente para,
como parte de seu programa, opor-se aos negociantes
portugueses. Da mesma forma, os proprietários de terra nas regiões mais novas, empenhados em fincar suas
propriedades na floresta virgem, em áreas onde a ambição
individual tinha maior liberdade, onde a maioria dos colonizadores só chegara recentemente, onde os homens
mantinham a propriedade de modo mais precário e a terra
se concentrava de forma menos maciça nas mãos de poucos, esses homens talvez se irritassem com o controle exercido
por políticos no centro, mesmo que - ou talvez
justamente porque -, ao se nomearem delegados e oficiais da Guarda Nacional, a escolha recaísse num deles, isto é, num
rival que ainda não constituíra claramente
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
uma clientela por conta própria. Uma maior autonomia provincial talvez reduzisse o alcance nacional dos cafeicultores
mais abastados no Rio de Janeiro e dos magnatas
do açúcar mais solidamente estabelecidos ao redor de Salvador e Recife, ou seja, de homens que tinham acesso direto a
esses líderes políticos, como o marquês do
Paraná, o barão de Cotegipe e o marquês de Olinda. É preciso lembrar que "liberalismo" no Brasil significava sobretudo
favorecer as elites locais em detrimento das
nacionais. Nesse sentido, os candidatos do Partido Liberal ao Congresso talvez recorressem a homens de menor riqueza,
embora normalmente não se pudesse descrever
esses fazendeiros como "classe média". Algumas vezes os próprios contemporâneos alegavam que as diferenças na
riqueza conduziam a interesses políticos diferentes;
um fazendeiro disse que se unira aos Conservadores porque "tinha alguma coisa a perder". Um juiz de paz no Crato, no
Ceará, declarou que os Conservadores haviam
sido derrotados pelo "Partido Liberal, mais pequeno [sie] em número e riqueza, porém mais cheio de arrogância e
animosidade, influído [sie] por homens (...) [de]
vistas ambiciosas e deficientes de fortuna"62.
A evidência apresentada neste livro torna claro por que, no todo, nem os Liberais nem os Conservadores podiam
ser

Facção e Partido 233


descritos como pertencentes à classe média ou à burguesia. Homens de posses em suas localidades, contando com seus
agregados, os membros da família extensa e outros
dependentes, constituíam o sustentáculo de ambos os partidos, e podiam mesmo apoiá-los alternadamente, como fez o
barão de Maroim. Tanto os Liberais quanto os Conservadores
em Caçapava possuíam terras, aparentemente propriedades igualmente grandes. Como vimos, Joaquim José de Souza
Breves, o cafeicultor de Piraí a quem ninguém podia
descrever como de riqueza média, liderava o Partido Liberal em seu município, enquanto o barão de Pati do Alferes, na
vizinha Vassouras, defendia firmemente os Conservadores.
Ambos assumiram suas posições políticas em um momento em que aquela região ainda podia ser descrita como
inexplorada. De modo semelhante, senhores de engenho com
riqueza equivalente lideravam cada lado em Pernambuco: por exemplo. Holanda Cavalcanti, um Liberal; e Araújo Lima
(marquês de Olinda), um Conservador. Em contraste,
nem os pequenos proprietários agrários nem os habitantes de cidades controlavam agregados em número suficiente para
fazer alguma diferença. E os partidos venciam
ou perdiam eleições no campo, não na cidade.
Além disso, os principais negociantes, empenhados por necessidade no comércio de exportação, tinham íntimo
contato com a classe fazendeira: os cafeicultores
com freqüência eram sócios dos comissários, e algumas vezes eles mesmos organizavam tais firmas. Os fazendeiros
também emprestavam dinheiro a outros fazendeiros,
e alguns tornavam-se banqueiros, enquanto era muito comum que comerciantes ricos, com seus lucros, comprassem
terra. Em questões políticas importantes, como escravidão,
imigração, terras públicas e federalismo, encontravam-se normalmente fazendeiros e comerciantes nos dois lados63.
Finalmente, como o Partido Liberal não se amoldava
realmente a nenhum programa liberal (em termos de direitos individuais ou de descentralização), se votantes urbanos e
fazendeiros ambiciosos voltavam-se para ele,
faziam-no apenas por falta de

234 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


alternativa. Sem dúvida, poucos Liberais falavam deliberadamente a favor dos pobres, embora alguns atacassem os
muito ricos. Estranhos à vida política, como Miguel
Lemos, líder positivista, observavam com desprezo que o Congresso era uma "assembléia de fazendeiros ou prepostos
de fazendeiros"64.
Até os Republicanos provinham dos mesmos tipos de família e algumas vezes das mesmas famílias que os Liberais
e os Conservadores. Na década de 1880, Joaquim
José de Souza Breves Júnior tornou-se Republicano, como o fizeram dois netos de Francisco Peixoto de Lacerda
Werneck, o barão de Pati do Alferes. No Pará, um ativo
centro de agitação republicana, os Republicanos pertenciam às mesmas famílias que os políticos dos principais partidos,
embora aliados à pequena burguesia. Sob tais
circunstâncias, não é de admirar que Conservadores e Republicanos freqüentemente cooperassem durante os últimos
Página 105
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
meses do Império 65.
Os próprios deputados, independente de partido, não provinham necessariamente de famílias de grande riqueza ou
tradição. Uma carreira profissional podia
ser cavada por filhos de famílias urbanas de classe média, sobretudo se obtivessem a proteção e complacência de um
padrinho rico. Com um diploma de Direito na mão,
contatos com filhos de famílias proeminentes, uma inteligência afiada e um olho atento para a principal oportunidade,
um homem de recursos modestos podia muito bem
chegar até o Congresso. Se seu desempenho fosse bom como promotor público, juiz, presidente provincial ou deputado,
podia receber uma ótima nomeação para uma Relação,
ou mesmo fazer parte do Gabinete. O jornalismo algumas vezes revelava-se um caminho para o mesmo fim. Alguns
jornalistas-deputados preferiam servir àqueles que exortavam
causas reformistas, mas para cada exemplo dessa tendência - Rui Barbosa é o mais notável - descobrem-se outros que a
contradizem - como Francisco de Sales Torres
Homem, o visconde de Inhomerim, que se tornou o paladino das políticas retrógradas após uma juventude rebelde.
Nunca se fez qualquer estudo estatístico dos

Facção e Partido 235


deputados, tentando associar origem de classe a posição política. Embora a ocupação fosse declarada em suas
credenciais, com freqüência aparecia apenas a palavra
"bacharel"66. Os juízes constituíam um número maior, sobretudo em meados do século. A ocupação, mesmo quando
mais específica, nos diz pouco
sobre a riqueza e sua fonte, e ainda menos sobre as ligações. No geral, os membros do Congresso atuavam como
clientes de chefões locais, ou como porta-vozes de seus
próprios parentes mais ricos, mesmo quando serviam obedientemente ao Gabinete 67. Os que conseguiam levar adiante
alguma reforma liberal faziam-no apenas quando
apoiados por um segmento significativo dos ricos. Com certeza, o verdadeiro sucesso de um político, o ingresso no
Gabinete, por exemplo, significava no Brasil como na maioria dos lugares - um histórico
de evitar medidas que ameaçassem alterar radicalmente o sistema social68.
A vida política também supunha uma estreita relação com outros homens influentes, tipicamente os homens de
posses. Os principais políticos mantinham casas
adequadas para receber visitas, que serviam como locais informais para tomadas de
decisões políticas - suas casas ou os escritórios do jornal do partido. Como escreveu Cotegipe, ele mesmo um senhor de
engenho, a seu protegido, João Alfredo Correia
de Oliveira:
"Estou hoje em meu novo aposento à rua Marquês de Abrantes. Se não tem destino, venha hoje às cinco horas partilhar
nosso jantar"; ele também convidaria outro político,
e "conversaremos". Quando juntos no Rio de Janeiro, Junqueira, em seu aniversário, convidou Cotegipe para "cear seta
a mínima formalidade". Em Salvador, o político-comerciante
barão de Guaí convidou Cotegipe para jantar "conosco e o dr. Eduardo Ramos, completamente en famille. Nossa
refeição é normalmente servida mais ou menos às cinco".
Homens mais moços faziam o mesmo. Um jovem comerciante enviou uma nota para Rui Barbosa: "Rodolfo [Dantas],
Chico e Juca, jantam hoje às 5:30 conosco em família;
e desejando completar a panelinha (de tão bons amigos), peço-te de fazer o sacrifício, aceitando este meu humilde
convite".

236 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Ceia, jantar, festas de aniversários, tudo indica criados, uma casa relativamente grande, maneiras corretas, aceitação
entre pessoas de certo nível, uma rara posição
numa sociedade em que tão poucos tinham alguma propriedade 69. (Essas práticas também implicam uma íntima
ligação entre política e família; não eram duas esferas
separadas, mas uma só. E conversava-se sobre política à mesa com as mulheres presentes, mulheres que muitas vezes
assumiam um vivo interesse na ampliação dos recursos
familiares, fossem materiais ou políticos.)
Independente das tendências menores que os Liberais pudessem ter em falar pelos interesses de um grupo urbano,
ou por aqueles cuja riqueza não era tão proeminente,
ou dos Conservadores em ganhar eleições nas regiões mais antigas e prósperas, os deputados compartilhavam uma
origem social comum, e a direção influente de ambos
os partidos apontava para a verdadeira questão: a proteção dos chefes locais. Os senhores de terra de Caçapava, Liberais
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
e Conservadores, só se dividiam a respeito
desse problema essencial e nenhum outro. Os líderes locais não davam importância especial à realização de algumas
metas específicas, que para uma geração posterior
talvez parecessem instintivas. A questão dos recursos não surgia, obrigatoriamente, na medida em que tais líderes
adquiriam o controle dos cargos de autoridade.
Ainda que os recursos com os quais se pagavam as nomeações locais fossem primeiro para o governo central, antes de
retornar, isso não perturbava o chefe local, cujo
poder independia de um eleitorado potencialmente insatisfeito com o nível de impostos (que, de qualquer modo, recaía
principalmente nas importações). Contanto que
pudesse nomear seus favorecidos para todos os cargos no serviço público, e não houvesse nenhum outro pedido de
colocação que competisse com o seu, ele não pedia
que se aumentassem os cargos disponíveis, e portanto, os recursos. Além disso, ele e muitos de seus clientes estavam
interessados nesses cargos mais pela autoridade
que conferiam que pelos salários que traziam.

Facção e Partido 237


O Congresso não se dividia em relação a demandas conflitantes de grupos de interesse ou classes sociais. Quando
ocorriam nuanças levemente diferentes quanto
à ênfase - por exemplo, de uma região a outra -,isso se manifestava dentro dos partidos e não entre eles. Liberais e
Conservadores concentravam-se igualmente em
suas bases rurais, no Norte e no Sul. E como nas áreas rurais, quase por definição, as facções locais eram lideradas por
grandes proprietários de terra, podemos
ver porque jamais se tomava alguma medida que contrariasse todos esses homens de uma só vez. A abolição da
escravatura em 1888
só se realizou quando uma larga fatia dos proprietários agrários não se importava mais (como no Nordeste, de um modo
geral), ou era ativamente a seu favor. A autoridade
dos chefes rurais permanecia intocada. Como um observador notara muito antes: "Vamos ver se o Gabinete pode demitir
e transferir os fazendeiros de suas propriedades"70.

As facções paroquiais e municipais estavam na base da


divisão política do Brasil do século XIX, e a instabilidade dos alinhamentos partidários entre os deputados derivava,
logicamente, dessa realidade. Lealdades e ligações
pessoais faziam de qualquer deputado no Congresso um devedor de dois senhores: o chefe da localidade, cujos amigos e
parentes eram eleitores, e o membro do Gabinete,
que nomeava tal chefe para os almejados cargos de delegado, comandante da Guarda Nacional ou juiz municipal
substituto. No nível local, "dois partidos, ou antes
dois bandos", ou grupos rivais "de todo tamanho, nome e qualidade"; competiam pelo domínio71. Dessas
facções surgiam os eleitores que escolhiam os deputados. Apesar de tentativas vigorosas de alguns líderes políticos de
formar partidos nacionais, as facções locais
permaneciam mais

238 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


significativas. Não é de admirar que a política parlamentar constantemente transformasse ex-inimigos em aliados, e se
vestisse e despisse de legendas partidárias
com quase tanta facilidade como se fazia com um conjunto de roupas. Claro, alguns políticos pareciam mais afinados
com políticas destinadas a proteger os direitos
individuais, acelerar a autonomia provincial e reduzir as prerrogativas do imperador, mas nenhum partido defendia com
firmeza essas medidas. Na verdade, era tão
provável que os Conservadores fizessem aprovar leis liberais quanto os próprios liberais. Pois o eleitorado do deputado
votara não no defensor de um programa, ou
mesmo num obediente agente do partido, mas num homem que podia garantir colocações do Gabinete. Em qualquer
lugar, se havia os que estavam "por dentro", tinha de
haver os "de fora", e a questão essencial, como em Caçapava, girava em torno de quem conseguiria os cargos oficiais.
Mesmo depois da reforma no sistema eleitoral,
esta foi a questão soberana durante todo o Império, e de fato manteve sua importância no século XX adentro.

SETE

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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Reforma Eleitoral

A MUDANÇA SOCIAL E ECONÔMICA NAS DÉCADAS de 1860 e 1870


levou a algumas alterações na cultura política brasileira, com conseqüentes resultados nas instituições eleitorais. O
impacto da reforma eleitoral sobre questões
como lealdade pessoal e disputa
faccional mostrou-se mínimo, mas essa reforma revela modificações importantes nos critérios da sociedade. Pode-se
resumir brevemente as mudanças maiores. Primeiro,
as estradas de
ferro aceleraram o ritmo e mudaram o centro da vida econômica. Em 1868, os trilhos já haviam alcançado desde o Rio
de Janeiro
até o vale do rio Paraíba, e de Santos aos planaltos paulistas. A construção das ferrovias desenvolveu-se amplamente a
partir
daí, de 552 km construídos na década de 1860 para 2.653 km durante a década seguinte, permitindo à produção de café
propagar-se para outras áreas, sobretudo na província de São Paulo. O valor total das exportações brasileiras de café
subiu
sete vezes entre 1841 e 1881. Segundo, o comércio de exportação, cada vez maior, estimulou o desenvolvimento de
interesses urbanos. Um número crescente de habitantes
da cidade
administrava os novos bancos, empresas de transporte e companhias de seguro, organizados para atender às demandas
crescentes do comércio de café. As receitas governamentais
em expansão, derivadas do café, também financiaram uma proliferante
burocracia sediada na cidade. Mesmo as menores cidades na região cafeeira ganhavam importância como centros
distribui-

240 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


dores de gêneros alimentícios e importações. Terceiro, o mercado urbano ampliado e o leque desdobrado de linhas
férreas, combinados com os efeitos das compras de
material bélico para a Guerra do Paraguai (1865-70), estimularam algumas indústrias, sobretudo na cidade do Rio de
Janeiro. Em meados de 1870, fundições de ferro,
indústrias têxteis e de sapatos, cervejarias e chapelarias, tinham todos adquirido alguma importância, de modo que os
residentes urbanos agora passavam a ter interesses
mais variados, e uma classe operária industrial começava a despontar. Finalmente, a proibição do comércio de escravos
africanos, em 1850, e a sanção em 1871 da lei
que libertava os filhos de mães escravas apontavam clara, embora tardiamente, para o fim da escravidão. Em 1879,
vozes no Congresso começaram a exigir a emancipação
mais rápida, quando não a abolição imediata.
Tanto os habitantes da cidade quanto os fazendeiros ricos, por diferentes motivos, pressionavam por reformas no
sistema eleitoral. Grupos urbanos, embora
dependentes em último caso da economia de exportação, questionavam agora alguns dos velhos modelos da vida
política. Citadinos educados criticavam sobretudo o excessivo
poder político do chefe rural, um poder que obstruía qualquer tentativa de aumentar seu próprio espaço no processo
político. Vivendo nas cidades, burocratas, comerciantes,
industriais, engenheiros e profissionais liberais, agora mais que nunca, buscavam na Europa modelos de comportamento
político. Começaram a considerar o oligarca
do interior uma indicação do atraso e da barbárie brasileiros, opinião compartilhada por muitos bacharéis, mesmo filhos
de chefões agrários1. Como viam que os agregados
analfabetos davam a esses chorões uma vantagem injusta nas eleições, sugeriam que a votação se restringisse aos
alfabetizados e proprietários, com o que designavam
principalmente a si mesmos. Com esse procedimento, também queriam colocar-se à parte das massas urbanas, já que
roçar ombros com o trabalhador pobre da cidade durante
eleições caóticas ofendia sua sensibilidade. Além disso, com o ritmo cada

Reforma Eleitoral 241


vez maior da atividade econômica e a disseminação de padrões que premiavam o sucesso econômico, homens
medianamente ricos começaram a aceitar a idéia de que a posse
da riqueza demonstrava a virtude de uma pessoa. Apenas um pequeno passo separava essa crença de seu corolário: ao
pobre faltava virtude e por isso ele não merecia
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
votar. Os brasileiros instruídos passaram a ouvir que os "males" do sistema eleitoral estavam em sua abrangência.
Alguns fazendeiros, por sua vez, temiam o surgimento de um grande grupo de libertos com direitos políticos.
Quando avaliaram o efeito da Lei do Ventre Livre,
de 1871, duvidaram (ao menos momentaneamente) de sua própria capacidade de controlar os recém-libertos, assim
como os agregados. Embora muitos fazendeiros encarassem
a própria emancipação sem temor, tinham maus presságios em relação ao papel político do exescravo. O fim da
escravidão revelou-se pior na antecipação que no fato.
Revendo o passado, o historiador descobre que a técnica de combinar violência e benevolência seletiva continuou
funcionando após a abolição da escravatura, em 1888,
exatamente como antes; na época. contudo, os donos de escravos talvez não tivessem certeza, Como disse um
nordestino: "Senhores de engenho, rendeiros, e todos nós
(...) a classe mais interessante da população (...) a primeira garantia da ordem pública, (...) está sob o peso iminente da
desapropriação dos seus instrumentos
de trabalho". Um político captou os ânimos temerosos da época quando, em 1883, ao rever as mudanças aprovadas
desde 1871, pediu o aumento do destacamento policial,
dizendo: "Mais que nunca se faz sentir a falta de forças locais (...) habilitadas a prestar seu apoio Li segurança das
pessoas e da ordem pública. A transformação
social que vai se operando, e que de dia a dia mais e inevitavelmente se acelerará, exigeo imperiosalnento"3. Ao menos
naquele momento, os latifundiários tinham
mais confiança nos bacharéis citadinos que nos agregados, e dispuseram-se a incentivar a influência das elites letradas
nas eleições, se os libertos pudessem ser
excluídos.

242 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Este capítulo examina, primeiro, as críticas dirigidas ao antigo sistema de eleições indiretas, e depois o processo
legislativo que criou um novo. Os preconceitos
de classe que levaram ao medo cada vez maior em relação aos agregados e libertos encontram clara expressão nas várias
propostas de reforma. A lei eleitoral de 1881
reduziu o número daqueles que votavam de um milhão para cerca de 150 mil pessoas, ainda que curiosa - e
sintomaticamente - essa lei muitas vezes tenha sido mal interpretada,
na época e mais tarde, como uma medida democrática, aclamada como uma grande vitória do esclarecimento e da
liberdade. A verdade é que o medo de um número crescente
de trabalhadores livres, que pudessem utilizar mal seus direitos de voto, obscurecia as possíveis vantagens que
anteriormente haviam justificado um amplo eleitorado,
como testemunhos de um teatro hierárquico. Tal ritual não parecia mais valer a pena. De forma cada vez mais intensa, as
classes trabalhadoras despontavam como classes
perigosas.

O Ataque às Eleições Indiretas

O crescimento urbano e a iminente libertação dos escravos criaram a clássica tensão entre liberalismo e
democracia, levando à exclusão das massas dos locais
de votação. "Liberdade e igualdade", escreveu um comentarista, "são diametralmente opostas e só andam juntas na boca
dos demagogos ou na dos tiranos". Rui Barbosa,
jovem e enérgico jornalista, concordava, argumentando que a maior ameaça à liberdade estava na "tirania (...) exercida
pela democracia contra o indivíduo". Enfatizando
a importância da "molécula humana, o indivíduo vigoroso, educado e livre", ele salientava que a igualdade política era
relativa, dependendo da "desigualdade social
das condições" e da "desigualdade natural de aptidões'". Exigir igualdade para todos refletia "a eiva do erro socialista'".
Noventa anos depois da Revolução Francesa,
um orador no Congresso acusou-a de introduzir "o princípio da igualdade, que é o maior perigo que se encontra na
sociedade". Outro escritor acrescentou: "Deus

Reforma Eleitoral 243


criou livres os homens, e desde então começou a desigualdade entre eles pelo bom ou mau uso da liberdade natural: daí
as inferioridades e superioridades sociais".
As normas vigentes sobre eleições, contudo, "negam tudo isso e ousam até corrigir a obra de Deus. (...) querendo que
todos os homens sejam iguais para serem livres!"
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Essa desconfiança da democracia refletia um medo renovado em relação aos pobres. Um ideólogo Conservador
perguntou: "Pois que! Ensinar-se-á ao analfabeto, ao proletário,
ao louco, ao mendigo, que a sua opinião e seu voto pesam tanto como o do sábio, o do proprietário, o do cidadão
distinto?" Isso seria o mesmo que "os pés ditando
as leis à cabeça"4.
Tanto liberais quanto conservadores - ideologicamente definidos - concordavam agora em que só os homens de
posses deviam votar. José Antônio de Figueiredo,
um destacado reformador liberal, sustentava que "todo bom sistema eleitoral deve ter por fim: que o maior número
possível de proprietários concorra para a escolha
de deputado; que todos os interesses sobre os quais repousam as instituições sejam representados; que sejam chamados
[a votar só] os cidadãos que, (...) [se distinguem]
por sua educação, moralidade, ilustração e prática dos negócios". Um conservador concordava: "Não há sociedade em
que a parte ínfima e mais numerosa da população
goze o mínimo quinhão na partilha do poder; são, em toda a parte, as minorias numéricas as que ditam a lei". Esses
eram "os tutores natos de seus concidadãos". Outro
conservador, o romancista e político José de Alencar, acrescentava com requinte: "A dignidade e independência eleitoral
não podem existir nas massas", pois "o lavrador,
o operário, o homem do povo, têm um horizonte muito acanhado; seu espírito não se eleva além das mesquinhas
dissidências locais. Essas classes são pois inábeis para
escolher um representante da nação". Ainda outro escritor insistia em que a única solução para alterar as eleições seria
entregá-las "às classes menos numerosas,
menos necessitadas, menos dependentes, menos ignorantes, menos propensas a cenas de violência - mais livres,
portanto, das sugestões da anarquia". Um número cada
vez maior de vozes

244 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


começava a pleitear eleições diretas com uma rígida qualificação de propriedades.
Figueiredo também detalhava os perigos contidos no sistema eleitoral existente, perigos para a ordem
representados pelas classes inferiores. Observando as
baixas qualificações de propriedade então vigentes, que possibilitavam a praticamente qualquer um votar, perguntava-se
como o país podia continuar funcionando com
um sistema eleitoral que, "ao invés de chamar às urnas [eleitorais] as capacidades, classes inteligentes e superiores",
fazia exatamente o oposto. Depois de descrever
os pobres como "incapazes" de independência eleitoral, prosseguiu: "Na sociedade política eles são, com razão,
equiparados aos menores na sociedade doméstica". O
resultado tem sido "esse desprestígio geral que vai minando o princípio da autoridade. Ora, nada mais assustador nem
mais prejudicial à sociedade que o descrédito
do poder". Figueiredo sarcasticamente declarava-se perplexo por descobrir entre os defensores do sistema existente
alguns conservadores, que "se dizem fiéis e exclusivos
sectários do princípio da autoridade e amigos da ordem". Permitir a votação de uma faixa da população tão ampla como
essa, dizia, era uma idéia "verdadeira comunista,
[pois] ela quisera conferir a todos, sem distinção de capacidade, os mesmos direitos políticos". As leis eleitorais
existentes apoiavam-se nos "princípios os mais
subversivos da ordem, da moral, e até da religião"; o verdadeiro perigo é que em potencial a lei eleitoral "compromete a
ordem social". Outro liberal incendiário,
José Inácio de Abreu e Lima (2º), também advertiu contra um sistema que entregava "o dever mais sagrado e importante
da sociedade àqueles que mais reclamam vigilância5.
As críticas urbanas às práticas eleitorais tanto atacavam os chefões como os votantes. Figueiredo acusava o sistema
eleitoral de "perpetuar o predomínio
de mandões de aldeia". Desprezava esses potentados rurais: "indivíduos que não têm posição e nenhum préstimo,
apenas servem ou para eleitor, ou para juiz de paz".
Voltando-se para aqueles que defendiam a lei eleitoral

Reforma Eleitoral 245


em vigor, perguntava: "Que nos dai em troca? (...) O reinado da cegueira, do arrebatamento, da corrupção, da desordem
- a imprudência da classe assalariada! (...)
O que quereis é que uma pequena classe de potentados, ajudados por uma clientela servil, cega e imprevidente, dirija
exclusivamente as eleições". Só com relutância,
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
admitia os donos de terra no grupo a ser dotado com direitos políticos: "os proprietários, os capitalistas, os agricultores
de certa ordem, os médicos, os oficiais
de Marinha e Exército, os bacharéis, advogados, sacerdotes etc.". Em contraste, profissionais liberais e homens de
negócio mereciam sua atenção especial, pelos "direitos
que brilham", pedindo aos demais que os respeitassem onde quer que estivessem: "no foro, no púlpito, nos bancos, nas
praças de comércio, no magistério, no Exército,
na Marinha, e no governo"6.
O debate incitou alguns escritores a defender o sistema existente. Esse sistema exemplificava, diziam, a união
corporativa da sociedade, a solidariedade
da unidade doméstica patriarcal e os princípios do paternalismo. Esses conservadores argumentavam que o sistema
funcionava bem, que as qualificações de propriedade
propostas iriam segregar "as classes e os indivíduos", enquanto um sufrágio amplo "aproxima-os em virtude da (...)
mútua dependência providencialmente estabelecida
entre todas as classes e indivíduos". Homens que prezavam status e dominação condenavam a alta qualificação de
propriedade para os votantes, já que isso tornaria
o governo representativo não "da nação", mas da "classe rica". Pois ela "degenera o governo em aristocracia de dinheiro,
que de todas é a pior". Tudo isso, lembremos,
era dito em defesa de um sistema eleitoral de dois turnos que salvaguardava claramente uma estrutura social desigual!
José de Alencar, de fato, defendia o antigo
sistema precisamente por excluir o pobre do direito de exercer concretamente poder. O Partido Progressista, em 1862,
defendendo a tese de que o sufrágio universal
era impossível, retirara especificamente as eleições diretas de seu programa, pois necessariamente exigiria uma
"distinção de classes sociais",

246 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


medida que privaria "a muitos cidadãos brasileiros do exercício de seus direitos políticos"8.
Pode-se encontrar a ênfase urbana da reforma em muitas das propostas. O Partido Liberal, fundado em 1869 sob a
liderança de José Tomás Nabuco de Araújo,
sugeria em seu programa que se fizesse uma clara distinção entre distritos rurais e urbanos. Nas cidades com população
superior a dez mil habitantes, todos aqueles
com renda suficiente para se qualificar como eleitores sob a lei vigente deveriam poder votar diretamente, mas em todos
os outros lugares o sistema eleitoral permaneceria
inalterado. Cidades desse porte, além de serem centros de riqueza comercial e industrial, e congregar um número
considerável de profissionais, provavelmente se restringiriam
apenas às capitais provinciais, com seus inúmeros funcionários públicos. Nabuco de Araújo explicava que nessas
cidades "está a força democrática, a influência de
opinião, a publicidade, a possibilidade de fiscalização, a independência. A eleição direta no interior é mil vezes pior que
a indireta". Definir qualificações de
propriedade adequadas seria impossível, pois "não há imposto territorial", enquanto nas cidades se podia usar como
orientação o imposto existente sobre bens imóveis.
Se uma lei estendesse as eleições diretas ao campo, dizia, "OS grandes senhores não teriam necessidade das influências
intermediárias; com os capangas, fariam os
deputados"9.
Outra reforma proposta automaticamente acrescentaria determinados membros ao Colégio Eleitoral, além daqueles
escolhidos pelos votantes. Vários deputados
Liberais e Conservadores uniram-se no co-patrocínio de um projeto de lei, em 1868, que teria incluído em cada Colégio
Eleitoral todos os clérigos, oficiais das Forças
Armadas, graduados de estabelecimentos de ensino superior e professores de escolas primárias e secundárias e ainda
todos aqueles que pagassem adiantado um aluguel
acima de certo valor. A proposta foi para uma comissão e ficou esquecida, mas seu viés a favor dos profissionais é
nítido. Em 1870, o ministro do Império, Conservador,
que era membro

Reforma Eleitoral 247


de uma destacada família de proprietários de terra no Rio de Janeiro, opôs-se àquela sugestão, recorrendo a uma antiga
fórmula colonial: como membros adicionais
dos Colégios, ele recomendava "os homens bons de todos os partidos", mais "os cidadãos que possuírem as
características presumíveis de independência e desenvolvimento
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
intelectual acima do nível ordinário". Dava ênfase assim à inclusão de fazendeiros e homens de propriedade rural, ainda
que vagamente definidos10. Essas idéias sugerem
que forças alternativas pressionavam pela reforma das leis eleitorais vigentes.
Entre aqueles que defendiam eleições diretas restritas a uns poucos estava Francisco Belisário Soares de Souza, a
quem os contemporâneos chamavam Belisário.
Membro de uma família política ultraconservadora, enraizada nas fazendas da província do Rio de Janeiro, e sobrinho
do Conservador visconde do Uruguai, opusera-se
ao esforço de Rio Branco para aprovar a Lei do Ventre Livre. Para vencer a eleição em 1872, Belisário tivera de superar
a influência de Rio Branco, ou seja, a oposição
dos moderados em seu próprio partido, e essa traição (como ele a considerava) deixou-o amargurado. Via a origem do
controle das eleições pelo governo como proveniente
do poder exercido sobre votantes ignorantes. Fez publicar às pressas uma série de artigos clamando pelo sufrágio direto,
limitado. Quando compilados num livro, no
mesmo ano, esses artigos passaram a exercer grande influência sobre os que analisaram o problema das eleições durante
toda a década seguinte. Uma revista de humor,
ilustrada, publicou uma caricatura que mostrava Belisário a segurar seu livro, junto a uma janela, através da qual vemos
eleitores empenhados em violenta pancadaria
na escadaria de uma igreja11.
Belisário manifestava profundo desprezo pela classe inferior e estreita identificação com os interesses dos ricos.
Descrevendo as eleições na cidade do Rio
de Janeiro, escarnecia: "o operário nômade que trabalha hoje aqui e amanhã acolá, o servente de repartição pública, (...)
o mascate, o pombeiro [traficante de escravo]
itinerante". Talvez seu compromisso

248 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


emocional com a reforma eleitoral se originasse do medo de que a emancipação dos escravos provocasse o caos, pois
ele enfatizava que "o voto universal é um imenso
perigo nas crises sociais, ou por ocasião de comoções populares". Imprecava contra "as paixões populares, inflamáveis,
irrefletidas e muitas vezes brutais". Independentemente
de qual lei eleitoral estivesse em vigor, prosseguia, se alguém estendesse as eleições "à parte ínfima da sociedade, a
mais ignorante e dependente", só conseguiria
criar um travesti. Sob o presente sistema, "os votantes são a grande massa arrolada nas listas de qualificação, a
turbamulta, ignorante, desconhecida e dependente".
O processo de votação atraía "multidões desconhecidas, cegas - instrumentos ora das paixões individuais, ora das
autoridades". Era de opinião que:

Reforma Eleitoral 249


"Para o indivíduo ignaro e analfabeto que habita nosso país, é bem indiferente ser deputado Pedro ou Paulo". Se "as
massas populares, alternadamente indiferentes
ou apaixonadas e desvairadas", conseguissem espaço, nenhuma lei eleitoral poderia salvar a sociedade12.
Outro defensor persistente de mudança eleitoral foi Aureliano Cândido Tavares Bastos. Apesar de alguns impulsos
contraditórios, ele lutava geralmente em
favor dos interesses dos cafeicultores de São Paulo nas regiões mais recentes. Crente fervoroso do livre comércio e da
necessidade de atrair capital estrangeiro
para empreendimentos ferroviários, sempre fazia passar medidas que expandissem as exportações brasileiras. Embora
desejasse incentivar a imigração da Europa, mantinha
uma opinião negativa sobre os trabalhadores brasileiros - restanos especular se para ele a principal diferença entre
trabalhadores brasileiros e europeus era a raça.
Se fosse, o espectro dos libertos votando só podia enchê-lo de maus presságios. Em 1873, ele publicou um panfleto
veemente no qual denunciava o papel "em nossas
eleições [das] classes mais rudes da população, essas hordas barbarizadas que se desvivem no vício e no crime".
Convocava então tanto os fazendeiros quanto as classes
urbanas, alegando - com uma espantosa perversão de raciocínio - que o sistema vigente tornava os pobres preguiçosos e
com mávontade para trabalhar: "Esse direito
de voto (...) os mantém no ócio e na dependência dos ricos ou poderosos"13. Em poucos anos, os próprios fazendeiros
diriam coisas muito parecidas.

Legislação
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

O governo Rio Branco, embora tenha chegado ao poder em 1871 com o objetivo expresso de realizar uma série de
outras reformas, também estudou as reformas
eleitorais. Àquela altura, vários defensores de mudanças haviam ultrapassado em muito o programa liberal de 1869, e
pediam agora eleições diretas em âmbito nacional,
tanto no campo quanto na cidade, restritas, claro, aos proprietários. Outros se mantinham mais cautelosos.

250 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Sentiam que modificações em outras áreas - a diminuição do poder dos delegados, a criação de um sorteio ao invés do
recrutamento forçado, a extinção das obrigações
policiais da Guarda Nacional e a redução do poder governamental para transferir juízes - resolveriam o problema de
eleições controladas. Além disso, esses espíritos
mais tímidos, entre os quais o imperador, temiam que a instituição de eleições diretas fosse exigir emendas na
Constituição, e abrisse portanto a porta para outras
mudanças de maior alcance e potencialmente perigosas, em toda a estrutura política14. Por fim, Rio Branco, além de
suas muitas outras reformas, apresentou um projeto
de lei para alterar a legislação eleitoral em vários aspectos. O Gabinete Conservador que o sucedeu sancionou a lei de
1875, baseada nessa proposta. Como já observei,
ela incluía várias cláusulas que permitiam a representação proporcional dos interesses da minoria.
Essa lei de 1875 introduziu várias outras inovações, que estabeleceram precedentes importantes, embora não
atingissem as metas propostas pela maioria dos
reformadores. Primeiro, estipulava a qualificação definitiva dos votantes, em vez do procedimento anual, segundo o
qual os votantes do ano anterior podiam ser excluídos,
enquanto se legitimavam outros. Segundo, a lista dos eleitores qualificados, embora elaborada pelas juntas de
qualificação locais, só seriam concluídas pelas juntas
de revisão, presididas pelo juiz municipal em conjunto com dois outros cidadãos escolhidos pela Câmara Municipal.
Terceiro, a lei especificava que se distribuísse
um título de qualificação (certificado de registro) a cada votante, trazendo sua assinatura (se ele soubesse escrever) e sua
idade, estado civil, profissão, renda
e nome dos pais. Quarto, não se poderia negar a nenhum votante o direito de votar, contanto que sua assinatura
conferisse com a do título em sua posse; se os membros
da mesa eleitoral tivessem alguma dúvida sobre sua identidade, não deviam rejeitar sua cédula, mas aceitá-la e guardá-la
separada das demais 15.
Mais importante, a lei de 1875 especificava como o pretendente a votante provaria ter a renda exigida de 200 mil-

Reforma Eleitoral 251


réis. Embora ainda deixasse a porta aberta para muita gente pobre, tornou-se muito mais difícil provar a renda anual de
alguém. Isso não seria mais deixado às declarações
sob o juramento de eventuais testemunhas. Agora exigia-se prova afirmativa. O eleitor podia, por exemplo, apresentar
recibos dos impostos pagos naquele ano, ou uma
cópia de um contrato, oficialmente reconhecido, de um arrendamento por três anos, "dos terrenos que cultiva".
Alternativamente, podia apresentar uma certidão judicial
em que comprovava sua renda. Ao mesmo tempo, contudo, a lei abria exceções para vários grupos, permitindo que
indivíduos provassem sua renda apenas em virtude de
sua ocupação ou status, como "advogados, solicitadores, médicos, cirurgiões, farmacêuticos", oficiais das Forças
Armadas, clérigos, comerciantes inscritos na Câmara
do Comércio, donos de fábrica ou fazenda, capitães ou comandantes de navios mercantis licenciados, e todos com um
diploma de qualquer instituição de ensino secundário
ou superior. O votante tinha agora um trabalho considerável para preenchera papelada; em um volume de documentos
relativos a petições daqueles que haviam sido excluídos
no processo inicial de qualificação, encontramos pilhas de atestados de terceiros sobre renda, endereço, idade e aluguel
pago16.
De acordo com o espírito da lei, o imperador instruiu sua filha, a quem deixou como regente quando visitou os
Estados Unidos em 1876, a insistir com o Gabinete
para tomar medidas que assegurassem a comprovação de renda e garantissem que seus subordinados não "contradigam
esse desejo (...) [por uma] leal execução da nova
lei de eleições". Prosseguiu indicando a necessidade de uma nova norma que excluísse os analfabetos de votar. Como
comentou depois: "Não é o vestido que tornará
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
vestal a Messalina, porém, sim a educação do povo e portanto a do governo". Ao dizer isso, captava fielmente os
preconceitos dos proprietários contra os ignorantes17.
As reivindicações por mais reformas eleitorais intensificavam-se e, em janeiro de 1878, Dom Pedro II, por fim,
demitiu

252 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


os Conservadores (no poder há quatorze anos) e convocou um líder Liberal, João Lins Vieira Cansansão de Sinimbu,
para formar um Gabinete". Sinimbu então supervisionou
as eleições, que visavam trazer para a capital um Congresso disposto a colaborar com ele, em sua anunciada intenção de
reformar a lei eleitoral, embora a essa altura
possamos observar que as medidas que propunha carreariam o apoio de muitos Conservadores e a oposição de muitos
Liberais - como em outras questões, os partidos não
brigavam por programas. É irônico que um Gabinete desejoso de fazer aprovar uma lei que teoricamente iria restringir o
poder do governo de controlar eleições não
tenha hesitado em empregar os meios habituais para garantir seu próprio sucesso.
Enquanto se realizava essa campanha eleitoral, Sinimbu, atuando como ministro da Agricultura, reuniu o primeiro
Congresso Agrícola brasileiro. Convocara-o
para analisar as necessidades da agricultura de exportação da região Centro-Sul, e quase todos os delegados eram
cafeicultores; o congresso volveu-se para a questão
da reforma eleitoral, debatida acaloradamente. A maioria dos delegados queria que o eleitorado se restringisse a uma
estreita camada da sociedade, que elegeria diretamente
os representantes do país. Como se expressou um fazendeiro: a única solução era excluir "da urna [eleitoral] a escória
do povo". "É incontestável", acrescentou outro
participante, "que, com o fim de ostentar grande influência política em seu município, muitos dos nossos patrícios
sacrificam os interesses de sua lavoura, entregando
a homens ociosos e vadios grande parte de suas terras". Concluiu: "É necessário afastar das urnas a massa ignorante que
tem concorrido para falsear a representação
nacional". Um fazendeiro do Vale do Paraíba sugeriu que se adotassem medidas de "proibição do agregado ser votante".
Outro argumentou em vez disso que se proibissem
aos proprietários de terra acolher trabalhadores brasileiros livres "como agregados, senão para empregá-los em suas
culturas". Só dois oradores se opuseram a essas
opiniões. Um negou que os fazendeiros mantivessem agregados com fins eleitorais: "A

Reforma Eleitoral 253


índole brasileira é em geral generosa; os lavradores, benevolentes, como são, aceitam esses pobres homens, que lhes
prestam serviço, agregando-os aos seus estabelecimentos.
Pode ser que eles se tornem elementos de eleição, entendendo dever acompanhar os seus patronos; mas não são por isso
espoletas". O cafeicultor e político Liberal
Joaquim José de Souza Breves Júnior também argumentou contra limitar o direito ao voto. Alegou que tal medida
desestimularia a imigração de trabalhadores rurais
da Europa, embora se possa imaginar se ele não temia mais por sua própria máquina política em Mangaratiba. Por trás
de todas essas discussões, assomava o medo do
fim iminente da escravidão19.
Enquanto isso, durante todo o ano de 1878, o recémconstituído Gabinete de Sinimbu enfrentou dificuldades para
resolver suas disputas internas sobre reforma
eleitoral20. A maioria dos membros desejava restringir o voto, enquanto um, Gaspar Silveira Martins, mantinha-se firme
em estendê-lo. Este líder veemente vinha do
Rio Grande do Sul, região com um número cada vez maior de pequenas lavouras cultivadas por imigrantes europeus,
muitas vezes protestantes, embora ele próprio fosse
um grande estancieiro21. Quando o novo Congresso se reuniu em dezembro, o governo ainda não tinha elaborado seu
projeto de reforma eleitoral, depois de 11 meses
de trabalho. Finalmente, a 5 de fevereiro de 1879, Silveira Martins abandonou o Gabinete, e em uma semana o governo
propôs eleições diretas com sufrágio restrito.
Enquanto o Gabinete se debatia em torno de suas divisões internas, o Conselho de Estado também se reuniu para
discutir o assunto. Concordou unanimemente
que o sistema deveria ser alterado, e a maioria dos membros acreditava que o voto teria de restringir-se aos
alfabetizados. Contudo, sobre quase todos os outros
assuntos, dividiu-se. Vários membros exortaram medidas para se definir com mais precisão a "renda líquida". O
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
problema crucial para o Conselho entretanto era o fato
de o sistema de eleições indiretas estar encastelado na Constituição promulgada

pelo próprio Dom Pedro I, em 1824. Até mesmo a qualificação

254 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


de propriedade fora estipulada nela. O sistema eleitoral não podia ser mudado sem adulterar aquele texto, uma idéia
alarmante. Um Congresso com poderes para sancionar
uma emenda constitucional também podia alterar outras instituições. Alguns membros sugeriram que talvez se pudesse
dissolver uma assembléia convocada para deliberar
sobre a reforma de um artigo da Constituição, caso abordasse outras questões. O Conselho não chegou a uma decisão
sobre esse assunto22.
E quando o Gabinete, em fevereiro de 1879, apresentou sua proposta de reforma eleitoral, de fato reivindicava uma
emenda constitucional. Propunha que os
deputados eleitos para o Congresso seguinte se encarregassem de alterar a Carta Magna da nação, de modo a instituir
eleições diretas e limitar o sufrágio àqueles
cuja renda equivalesse à já requerida aos eleitores. O projeto de lei implicava que só se estabeleceria essa quantia como
limite mínimo, que mais tarde poderia ser
elevado por lei. Além disso, não se permitiria que analfabetos (nem protestantes) votassem, independentemente de sua
renda23.
Junto com vários outros dissidentes Liberais, Silveira Martins agora unia-se à oposição, exigindo, ao contrário,
uma ampliação do eleitorado por meio do
cancelamento de todas as restrições baseadas na propriedade. Um orador chegou ao ponto de ameaçar que, se tantos
perdessem seu direito a votar, "só lhes resta opor
a força à força". Esses oradores negavam que apenas a classe inferior tendesse à corrupção: "O pobre (...) vende-se por
dinheiro, o advogado por contratos administrativos,
o cortesão por títulos, o negociante por subvenções e privilégios, os ambiciosos por empregos e posições". Muito mais
"escandaloso" que permitir analfabetos votarem
era acusá-los de processos de qualificação fraudulentos, ou de falsificação e duplicação de minutas de juntas eleitorais,
assuntos que eram efetuados, afinal, só
pelos que sabiam ler e escrever 24.
Outros, também Liberais, defenderam o projeto de lei. Expressaram as opiniões de sua classe, contrastando a
ignorância do pobre com a sabedoria do rico.
Rui Barbosa disse que os

Reforma Eleitoral 255

desejosos de manter o voto de analfabetos defendiam "a soberania da ignorância, mãe da miséria, mãe da subserviência,
mãe da imoralidade, mãe de todas as ruínas
sociais". Um ex-republicano, agora membro do Gabinete Liberal, perguntou retoricamente: "A ignorância, a cegueira,
porque se tornam vastas e numerosas, porque se
generalizam, adquirem o direito de governar?" E respondeu: "Se há no Império oito décimos de analfabetos, esses oito
décimos devem ser governados pelos dois décimos
que sabem ler e escrever"25. Se os proprietários achavam que esses votantes analfabetos agora representavam uma
ameaça, mas anteriormente não, pode-se concluir que
a mudança originava-se de sua compreensão de que a escravidão chegava ao fim.
Embora Sinimbu tivesse argumentado antes contra Silveira Martins que o voto restrito era uma concessão
necessária à garantia da aprovação de eleições diretas
pelo Senado, este, assim mesmo, rejeitou a medida daquele. Um poderoso senador Conservador - Cotegipe - observou
que, sem mudar o sistema existente, um Gabinete
"que mantenha a mais escrupulosa imparcialidade e moderação, durante uma eleição, pode diminuir, senão de todo
evitar", as deficiências do sistema. "Quando a tendência
geral [no mundo] é a de alargar o círculo interessado ao maior número possível na causa pública", parecia-lhe estranho
"reagir contra os princípios altamente proclamados
há mais de meio século, pela nossa Constituição, e isto quando há maior difusão de instrução, maior riqueza, maior
facilidade de comunicação, e maior conhecimento
das coisas e do homem". Além disso, a exclusão de analfabetos poderia atingir muitas pessoas importantes, protetoras
dos próprios legisladores. Um senador refletia
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
o desprezo do fazendeiro pelo intelectual urbano, argumentando que "poderia apresentar exemplos numerosos de
homens que, não sabendo ler nem escrever, têm acumulado
fortunas avultadas; e esses homens têm certamente mais interesse pelo bem da sociedade, que outros que passam [a
vida] a ler romances e não servem para mais nada"26.
Contudo, não é difícil descobrir o verdadeiro motivo da oposição senatorial. O projeto

256 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


de lei estipulava que se desse poder constituinte ao Congresso seguinte, e os senadores não deviam desconhecer a
exigência, freqüentemente argüida, de se acabar
com seu mandato vitalício. Viam qualquer remendo na Constituição como um perigo ainda maior para o Império que a
participação popular nas eleições. A idéia de que
se podia alterar a Constituição com tanta facilidade assustava-os. O Gabinete de Sinimbu, enfraquecido pela oposição a
essa medida no Senado, viu-se ainda mais debilitado
quando o descontentamento urbano com outros assuntos na cidade do Rio de Janeiro acabou se manifestando num
motim contra o imposto de um vintém nas passagens de
bonde. O emprego indiscriminado da força pelo governo para reprimir os revoltosos desacreditou completamente o
Gabinete, que logo caiu27.
Substituiu-o outro Gabinete Liberal, liderado por José Antônio Saraiva, em março de 1880. Saraiva também apoiou
a reforma eleitoral, mas decidiu fazê-la
passar por lei em vez de emenda constitucional. Saraiva revelou-se um político muito mais competente que Sinimbu, e
ocupava uma posição de líder do partido já consolidada
há mais tempo. Sempre conhecido como um Liberal conservador, vinha de uma família de proprietários de terra e era
ele próprio senhor de engenho. Sua proposta de
lei visava limitar a participação política à minoria; não obstante, empenhou-se suficientemente em trocas de favores
para ganhar até mesmo o apoio de muitos legisladores
que desejavam o sufrágio universal. Assim, por exemplo, a Silveira Martins, de uma província com muitos imigrantes,
ofereceu uma cláusula que abria as urnas aos
protestantes, e até lhes permitia serem eleitos para o Congresso, embora essa medida esbarrasse na oposição da maioria
dos membros do Conselho de Estado29 . Ao mesmo
tempo, Saraiva atraiu o apoio dos conservadores, opondose à nova geração de políticos que levantava outras medidas
reformistas, como a completa emancipação dos escravos.
No golpe mais audacioso de todos, Saraiva aceitou reduzir à metade a renda requerida aos eleitores, tornando-a
equivalente à exigida constitucionalmente
aos votantes, derrubando assim a

Reforma Eleitoral 257


distinção entre eles. Daí em diante, a lei passou a referir-se
apenas a eleitores, e não a votantes30, e as eleições para deputado e senador seriam diretas. Mas Saraiva especificou
uma lista de documentos extremamente complicados
de se obter, necessários para comprovar a renda anual exigida. Embora, como vimos, praticamente todos tivessem
renda suficiente, muito poucos
teriam condições de providenciar essas provas específicas. Saraiva argumentou que "a prova de renda estará prejudicada
desde que se admitir a prova testemunhal,
ou qualquer outra, que não for documento, e documento que taça fé". Enfatizou que não ia abrir mão dessa questão da
prova de renda; e assim procedeu31. Como não
privara ninguém de seu direito constitucional de votar, Saraiva sustentou que não era necessário aprovar nenhuma
emenda constitucional. Podia-se instituir a reforma
através de uma lei ordinária.

258 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Saraiva rascunhou as cláusulas que idealizara mesmo antes de deixar Salvador para aceitar o posto de
primeiro-ministro. Pediu a Manuel Pinto de Souza Dantas
que recrutasse os conhecimentos que Rui Barbosa possuía da língua para redigir o anteprojeto de lei, mas cabe apenas a
Saraiva o crédito ou a censura por suas cláusulas.
Mesmo sem alterar as normas sobre quem poderia ser qualificado como eleitor, pensou, muito se podia fazer para
colocar o poder nas mãos dos endinheirados. Algumas
medidas sugeridas por ele, que não entraram na lei final, indicam o seu pensamento. As mesas eleitorais, por exemplo,
podiam ser organizadas pelos "eleitores de
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
mais renda da paróquia". Outra idéia, mais tarde eliminada, estabelecia que o senador seria escolhido por todos os
senadores, deputados e vereadores de sua província,
mais 50 eleitores escolhidos entre os homens de renda mais alta em cada paróquia32.

Do modo como afinal foi sancionada, a lei expressava claramente o viés de classe de seus criadores, nas
especificações que determinava para a comprovação
de renda. Como essas especificações são fundamentais para entender sua importância, vale a pena examiná-las em
detalhe. A lista dos documentos requeridos para comprovar
a renda era extremamente precisa:

Um conjunto de provas, por exemplo, referia-se à renda de bens imóveis. Havia apenas três provas aceitáveis: (1)
para um imóvel ocupado pelo proprietário,
a escritura com um preço de compra que, a 6%, rendesse os 200 mil-réis requisitados, ou uma avaliação judicial,
estipulando aquele valor; (2) para uma propriedade
rural arrendada a outro, um contrato de arrendamento que especificasse o valor da renda, apropriadamente registrado em
um tabelião público; e (3) para propriedades
urbanas, um certificado da Receita onde constasse que o imóvel fora avaliado em um valor de renda anual não inferior a
200 mil-réis.

Um arrendatário precisava de um parecer oficial de um juiz de direito, baseado em documentos da Receita,


contratos de aluguel e recibos provando que pagava
200 mil-réis por ano por uma propriedade rural, ou uma quantia variável em uma escala móvel de pagamentos, por uma
propriedade urbana, atingindo mais de 400 mil-réis
na cidade do Rio de Janeiro.

Reforma Eleitoral 259


Comerciantes tinham de apresentar prova de sua inscrição no registro do comércio, demonstrando também
investimento de capital suficiente para render 200
mil-réis anualmente. O mesmo se aplicava a capitães de navio.
Donos de fábricas ou oficinas também tinham de provar ter capital suficiente que, investido a 6%, rendesse a
quantia anual exigida.
Administradores de fábricas, ou primeiros caixas de estabelecimentos comerciais, tinham de provar que a empresa
onde trabalhavam possuía capital suficiente
para produzir duas vezes a renda
anual exigida.
Só o pagamento de certos impostos específicos determinaria essas fontes de renda, em si mesmas extremamente
modestas, e todas as provas tinham que exibir
a data de um ano antes da qualificação do votante. Como Saraiva explicou, só serviam os impostos sobre propriedade e
sobre negócios; de outro modo, alguém podia
pagar impostos para vinte ou trinta pessoas de uma vez, transformando-as em eleitores.
Acionistas em bancos ou outras empresas, ou depositantes nas instituições de poupança administradas pelo
governo, tinham de
apresentar comprovantes mostrando seu suficientes para gerar a renda necessária. Servidores públicos tinham de
mostrar vários documentos
respectivos a seus salários, mas outros tipos de empregados não podiam apresentar de forma alguma os salários como
comprovação de
renda. Isentas de apresentar qualquer comprovação de renda estavam várias categorias de servidores públicos, de
ministros de Estado, senadores e deputados a presidentes
provinciais, juízes, clérigos, burocratas superiores em
repartições específicas, delegados, subdelegados e oficiais das Forças Armadas.
Além disso, qualquer diplomado em uma escola legalmente reconhecida, que pudesse mostrar seu diploma,
professores de escola pública, catedráticos, administradores
e professores em escolas particulares publicamente inspecionadas, eram todos isentos da apresentação de comprovação
de renda33.
Portanto, com muita clareza, a capacidade de arranjar certas provas de posse de propriedade ou capital ou poupança
ocupação substituía um

260 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
nível mais elevado de renda, assegurando que só a elite, rural
ou urbana, votaria. A lei barrava o caminho à urna para a grande massa de pessoas. Como Joaquim Nabuco definiu,
colocava os brasileiros "entre duas aristocracias:
a dos títulos e a do capital"34.
O processo de qualificação agora passava inteiramente às mãos dos juízes. Todo pretendente a eleitor apresentava a
um juiz municipal um requerimento escrito
para se qualificar. O juiz rascunhava uma lista de eleitores registrados em cada paróquia e a passava ao juiz de direito,
que emitia a lista final e oficial. O juiz
de direito depois também assinava um título para cada eleitor, e os enviava ao juiz municipal para distribuição35. Com
essa medida, acabava o controle das eleições
pelas juntas de qualificação formadas por fazendeiros, estancieiros e seus aliados. E esperava-se que os juízes, fossem
homens de propriedades (ou dependentes de
um protetor latifundiário), ou realmente independentes, sem hesitação excluíssem o agregado.
Esses artigos da lei, como foram sancionados, demonstram o preconceito dos legisladores. Mais evidência se pode
encontrar no discurso de Saraiva, quando
apresentou seu projeto de lei. O sufrágio universal, acreditava, significaria o domínio dos pobres sobre as pessoas com
bens e educação, um grupo que naturalmente
tinha maior interesse na preservação da tranqüilidade pública e no correto funcionamento das instituições. "O voto a
toda gente", acrescentou depois, "não pode produzir
a verdadeira democracia, senão a demagogia ou o absolutismo". Ainda assim, afirmava que seu projeto de lei
encorajaria os pobres esforçados a lutarem para ascender
na vida. O comportamento virtuoso podia garantir o direito de votar: "O operário que hoje ganha 800 mil-réis, um conto
ou dois, e cuja inclusão se pede, sem que
possa apresentar [um desses] documentos com facilidade, com alguma economia, em dois ou mais anos terá um título
de eleitor. Se não tem um pequeno prédio, uma pequena
loja de alfaiate, ou de sapateiro etc., por onde pague algum imposto, economizará alguma coisa, depositará em um
banco e tornar-se-á um eleitor"36.

Reforma Eleitoral 261


Apesar de muitas críticas, Saraiva formara cuidadosamente a maioria necessária para aprovar a lei. Conseguira que
cada grupo fosse cedendo, ponto por ponto.
Abandonou seu próprio desejo anterior da exigência de alfabetização
para todos os eleitores, e até desistiu de uma cláusula segundo a qual o próprio eleitor era quem sempre devia assinar o
título de eleitor; mas, para satisfazer
àqueles que desejavam um teste de alfabetização, incluiu uma cláusula especificando que, após a primeira inscrição, as
pessoas subseqüentemente incluídas nas listas
de qualificação teriam de ser alfabetizadas37. Saraiva incluíra no projeto de lei governamental uma garantia de que os
libertos pudessem ser eleitores (antes podiam
ser votantes, mas não eleitores), e até se elegerem para o Congresso38. Esse passo suscitou tantas contestações que ele
então omitiu a referência específica aos
libertos,
redigindo contudo a lei de maneira tal que eles - supondo-se que satisfizessem as outras exigências de renda e
comprovação - poderiam de fato votar.
O mesmo artifício permitia aos protestantes não apenas votar, mas serem eleitos para os mais altos cargos, contanto
que jurassem fidelidade à Constituição
que fazia da "religião Católica Apostólica Romana (...) a religião do Império"39. Aqui, contudo, encontra-se o símbolo
de uma secularização complexa demais para
ser discutida adequadamente em poucas linhas. No último quartel do século XIX, a antiga identificação do Estado com a
religião, previamente tomada como óbvia, fora
solapada. Não me refiro necessariamente a um declínio do sentimento religioso, mas a uma aceitação crescente do
conceito de esferas separadas, da opinião de que
a religião envolvia um conjunto de crenças, não a definição da sociedade. O cristianismo católico não mais era
contérmino à autoridade do rei. Por isso, sob a nova
lei, as igrejas deixaram de ser o local das eleições. Em 1868, o Conservador José de Alencar, ele próprio filho de um
padre, criticara a prática de realizar eleições
nas igrejas, não só porque diminuía o prestígio da religião, mas porque "não há direito de exigir do cidadão judeu que
entre no templo cristão para votar". Bons

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262 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX
católicos encontravam outros motivos: em 1872, o bispo do Rio de Janeiro fez uma petição ao ministro do Império,
dizendo: "Os brasileiros são religiosos, Exmo. Sr.;
já é por demais sabido que desde muito, acham eles feio e indecoroso, que as eleições se façam em igrejas". Embora o
projeto original de Saraiva continuasse a prever
a realização de eleições em igrejas, ele logo abandonou esse ponto. Segundo a lei, finalmente aprovada em 1881, "só na
falta absoluta de outros edifícios, poderão
ser designados para esse fim [eleições] os templos religiosos"40.
As igrejas não precisavam mais servir de lugar para eleições, devido ao abandono da maioria dos rituais eleitorais.
Agora que não se intimaria mais a participação
da grande massa da população em uma encenação de hierarquia, podia-se abandonar a elaboração teatral. Como
declarava a lei sucintamente: "São dispensadas as cerimônias
religiosas". Para evitar qualquer possibilidade remanescente de empurrões e atropelos, durante toda a eleição se
colocaria no local uma balaustrada para separar
a mesa eleitoral dos eleitores, e cada eleitor só cruzaria aquela barreira quando o presidente o chamasse pelo nome. A
eleição agora seria feita num único dia, e
podia até começar às 9:OOh e terminar às 12:30h, um procedimento enxuto e eficiente. Um eleitor, em 1887, recordava
com nostalgia o antigo tumulto das igrejas abarrotadas,
que contrastavam tão acentuadamente com as eleições "que hoje nós temos, e nas quais algumas dezenas de cidadãos,
com muita dificuldade qualificados, e todos de
gravatas e meias, [votam] e sem mesmo sequer se interessarem pelo resultado da apuração, tratam logo de retirarem-se e
irem cuidar dos seus negócios"41.
A reação à lei foi generalizadamente branda, ainda que, segundo uma contagem - e isso merece ser repetido -, em
todo o Brasil apenas cerca de 150 mil eleitores
conseguiram qualificar-se sob a nova lei, em contraste com mais de um milhão de votantes registrados em 1870 42.
Mesmo alguns dos ricos viram-se excluídos do processo
eleitoral. Na primeira qualificação, vários juízes de direito perguntaram ao governo central o

Reforma Eleitoral 263


que fazer em relação a proprietários que eram donos de suas terras apenas por usucapião ou posse (uma prática comum).
Esses homens não tinham quaisquer documentos
sobre seu valor. Outros haviam comprado suas terras há muito tempo, quando eram apenas "matas virgens", e por isso
seus títulos falavam de valores muito baixos,
embora as propriedades valessem então somas enormes. Essas questões, encaminhadas ao Conselho de Estado,
receberam uma resposta inequívoca: a lei excluía claramente
aqueles que não pudessem comprovar sua renda pelas formas especificadas. Esses homens de propriedades, acrescentou
o Conselho, apesar da "garantia de circunspecto
exercício do direito de voto, assinalado pela renda", continuavam suspeitos "à vista dos abusos da prova admitida na
anterior legislação [1875]". Os legisladores,
prosseguiu o Conselho, preferiram
excluir esses homens "a alargar as malhas por onde entrariam talvez, no novo alistamento, os votantes das antigas
qualificações, com descrédito da tentativa"43.
Alguns,
entretanto, conseguiram se fazer passar, encontrando artifícios engenhosos. Por exemplo, arrendadores em conluio
assinaram contratos de
arrendamento "feitos somente" para proporcionar as qualificações necessárias a "eleitores (...) que vivem em estado de
pauperidade, que nunca pagaram impostos, que
nunca exerceram
funções públicas e não têm meios para pagarem o preço de tais arrendamentos" - técnica que logo originou novos e mais
detalhados regulamentos específicos em contrário"44.
Resultados

Na primeira eleição realizada sob a nova lei, Saraiva insistiu em que suas cláusulas fossem observadas
escrupulosamente e fez uma genuína tentativa de evitar
a imposição da vontade governamental. Na verdade, vários candidatos do governo perderam suas cadeiras, entre eles um
membro do Gabinete. Em
1881, um político Liberal que há menos de seis meses concordara com Saraiva em que as eleições deviam por todos os
meios ser honestas, "ainda quando esta [a verdade
Página 119
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
da eleição] não fosse

264 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


o [interesse] do nosso partido, como felizmente é", agora
reclamava, como presidente de uma província, que os Conser
vadores se aproveitavam das restrições que Saraiva impusera às
autoridades Liberais: "Não me parece justo que nós, que
tolhemos nossos amigos, toleremos esse desbragamento de
funcionários Conservadores, liderados por senadores e chefes
Conservadores". Para ele, ao menos, era claro que, fosse ou não
pela lei, nada substituía a vitória. Mesmo antes de sua aprovação,
os políticos manobravam para traçar fronteiras distritais em seu
favor. E imediatamente perceberam que a qualificação era um
passo essencial, ainda maior que sob a lei anterior. Como
escreveu um político ao amigo do interior da Bahia: "Não assisti sua passagem pela capital desta província para
abraçá-lo e
hospedá-lo, porque aqui estava, e continuo a cuidar do alistamento. Sabe você que é esse o mais importante e sério
trabalho da [nova] lei; e que aquele que não tiver seus amigos e aliados terá a eleição perdida". De uma cidade em
Minas
Gerais, um político Liberal relatou: "O eleitorado aqui ficará composto de 450 a 470 eleitores, dos quais apenas 60 ou
70
Conservadores. Quase todo o alistamento foi feito por mim, pois apresentei [ao juiz] mais de 400 petições". Contudo,
muitos
acreditavam que a lei modificara profundamente a prática política. Em 1882, um orador jactava-se de que "por honra do
país, a eleição direta conseguiu expurgar para sempre dos nossos certames políticos (...) as cenas tumultuárias" de
antes"45.
Embora as restrições colocadas pelo governo tenham feito das eleições de 1881 uma das mais honestas que o
Brasil conhecera, o efeito não perduraria. Como
reparou um observador perspicaz, não foi a natureza da lei, mas a conduta do governo que fez do trabalho um sucesso.
Se os mesmos limites tivessem sido impostos
sob a lei anterior, também levariam à derrota de alguns candidatos governamentais. "Outros virão" que não serão tão
honestos"46. Na eleição seguinte, em dezembro
de
1884, realizada por um Gabinete novo, mas ainda Liberal, a tentação dos políticos de impor sua vontade foi irresistível.
Um

Reforma Eleitoral 265


Conservador reclamou da Bahia que "um número crescido de fósforos!" estava sendo incluído nas listas de qualificação.
E quando os Conservadores realizaram a eleição
seguinte, no início de 1886, muitos fizeram as mesmas alegações de fraude que haviam sido tão freqüentes
anteriormente: a qualificação ilegal
de eleitores, "analfabetos", votando por eleitores qualificados que
estavam ausentes" e "eleição tumultuária ,47 . O Congresso resultante revelou-se em peso disposto a apoiar o Gabinete.
Durante a década de 1880, para uma Câmara
dos Deputados cujo tamanho variou de 122 a 125 membros, a oposição elegeu 47 em 1881, 55 em 1884, e apenas 22 em
1886. Segundo notícias, o último Congresso eleito
sob um governo Liberal não teria praticamente nenhum deputado Conservador, se algum dia tivesse sido empossado;
mas a derrubada do Império impediu a demonstração
da futilidade dessa legislação eleitoral48.
De qualquer modo, nos municípios rurais, o poder dos grandes latifundiários permanecia incólume, ainda que as
opiniões urbanas encontrassem agora maior representação
no
Congresso. Os juízes de direito revelavam-se simpáticos aos interesses dos mais abastados. Delegados e subdelegados
continuavam saindo do meio dos proprietários
rurais, embora, segundo notícias, os donos da terra se tornassem menos generosos com seus agregados. No fim, os que
já eram poderosos quase não tiveram dificuldade
para reunir os documentos necessários,

Página 120
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
por mais volumosos que fossem49. Além disso, o retorno, em 1881, a distritos de um único representante deu a alguns
"coronéis" rurais maior acesso ao Congresso,
como ocorrera em 1856. Permitiu, por exemplo, a alguns cafeicultores republicanos em São Paulo concentrar suas
forças em 1884 para eleger dois republicanos para
a Câmara dos Deputados, assim como
intensificar grandemente seu poder na Assembléia Provincial de São Paulo. Ao mesmo tempo, outros republicanos mais
radicais
reclamaram que o sistema continuava a perpetuar "as condições aviltantes de dependência e protetorado" no campo,
com os

266 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


"galos da aldeia" dominando, uma situação que só o "sufrágio universal" corrigiria50.
Algumas almas corajosas continuavam exigindo sufrágio mais amplo, porém, quando o faziam, deparavam-se com
observações deste tipo: "Eu sou Liberal, mas
não
desejo o alargamento do sufrágio porque não desejo que a eleição seja feita pela policia". Alguns entendiam muito bem
o que significava esse liberalismo, como o
Conservador que declarara na tribuna da Câmara que a lei parecia tudo, menos liberal, "a não ser que se dê este nome a
uma lei que arrancou o direito do voto a quase
nove décimos daqueles que bem ou mal o exerciam". Prosseguiu dizendo que gostava da lei, mas se opunha ao "zelo
farisaico" com o qual os Liberais afirmavam estar
defendendo os "intitulados direitos do povo"51. Em 1887, quando os Conservadores controlavam o Gabinete, um
orador Liberal, filho do visconde de Ouro Preto, observou
no Congresso: "Qualquer reforma da lei [eleitoral] (...) deve ter por base o alargamento do voto, tão sacrificado em 1880
[sicl às necessidades da ocasião. As circunstâncias
obrigaram o Gabinete [Liberal] de então a fazer concessões aos seus adversários. (...) As exigências da lei (...) para o
cidadão adquirir o título de eleitor são
exorbitantes - impostos, capital, e prova severíssima de modo que às vezes torna-se impossível. O rigor foi tão
excessivo que há não pequeno número de municípios
no Império, onde o número de eleitores é inferior a trinta, de modo que não existem aí cidadãos em número suficiente
para ocuparem os cargos públicos para os quais
se exige a qualidade de eleitor" 52. Em 1889, o pai desse orador - que em 1880 afirmara ser necessário excluir as classes
inferiores, devido "à facilidade com que
a nossa população deixa-se seduzir, corromper, ou intimidar"-, agora como primeiro-ministro, pedia um pequeno
"alargamento do direito de voto, mantido o alistamento
vigente, e considerando-se como prova de renda legal o fato de saber um cidadão ler e escrever, com as únicas restrições
da exigência do exercício de qualquer profissão
lícita, e do gozo dos direitos civis e políti-

Reforma Eleitoral 267


cos"53. Disseminara-se o reconhecimento de que um teste de alfabetização seria o suficiente para excluir as massas
indesejáveis.
Posteriormente, na República, os legisladores também entenderam que apenas a exigência de alfabetização bastava
para manter as eleições sob o firme controle
dos grandes proprietários, e em 1892 fizeram desse o único pré-requisito54. E já que, como antes, o que os eleitores
desejavam do governo era sobretudo autoridade
local, continuaram a apoiar candidatos a deputado ou senador indicados pelos que se encontravam no centro do poder. A
princípio alguns hesitaram. Um político desiludido,
republicano recém-convertido, expressou seus temores dizendo: "Em uma eleição por estados e com o sufrágio
universalizado, será preciso não conhecer absolutamente
o nosso estado social, [para] pensar que se poderá fazer vingar os `chapões' dos outros tempos". Estava errado: muitas
pessoas acusaram a ampla interferência das
autoridades, até mesmo na eleição de 1890, para a nova Assembléia Constituinte, e os candidatos do governo venceram

com facilidade. As eleições posteriores logo repetiram, talvez com escândalo ainda maior, as manipulações de períodos

anteriores. Um monarquista responsabilizou então o sufrágio universal pela "vitória das multidões incapazes", com o
que contrastou a saudável reforma de 1881, que
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
"excluiu do voto as classes analfabetas e o proletariado". Os defensores da República, contudo, continuaram a afirmar
que a lei de 1881 não passara de uma "pseudo-reforma"55.

Com todas as recriminações mútuas, as duas leis eleitorais - Imperial e Republicana - apontavam na mesma
direção: a exclusão dos despossuídos das urnas.
Mudanças sociais e
econômicas por volta de 1880 levaram à procura por um sistema eleitoral diferente. Motivados pelo medo de que
escravos libertos pudessem soterrar os mecanismos do
controle eleitoral, os chefes

268 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


rurais aceitaram medidas que impediam a maioria dos votantes de participar, ainda que esse passo diminuísse seu
próprio poder em comparação com o dos profissionais
urbanos politicamente ativos. A propriedade agora delimitava claramente o cidadão que votava, como não o fizera antes.
O desempenho teatral que demonstrava a hierarquia
da sociedade não mais se concentrava em torno da urna eleitoral. Os ex-escravos juntaram-se aos agregados e à maioria
dos sitiantes entre os que não representavam
nenhum papel oficial no processo eleitoral, embora, como parte de uma clientela, ainda emprestassem força ao poder
físico e simbólico do "protetor". Tivesse ou não
o profissional urbano aumentado seu peso relativo nos assuntos do governo central, a autoridade local dos coronéis
rurais permaneceu inconteste. E para eles a busca
de cargos continuou essencial à vida política.

PARTE TRES

A PRÁTICA DO CLIENTELISMO
OITO

Padrões Clientelísticos

O MAIS ANTIGO RELATO da descoberta do Brasil, escrito como carta ao rei português por Pero Vaz de Caminha em
1500, terminava com um rogo de clemência em favor de
seu genro. Esse pedido foi a marca de nascença da política brasileira, e a troca de apadrinhamento por serviços e
lealdade continua sendo um sinal visível até nossos
dias. Os primeiros donatários na colônia receberam do rei a autorização expressa para nomear pessoas a cargos dentro
de seu domínio. Quando a corte portuguesa exilada
chegou ao Brasil, em 1808, veio com um número extraordinário de funcionários públicos, e o príncipe regente, agindo
como "um verdadeiro pai de seus vassalos", recompensou-os,
disse uma testemunha, por "tão grande sacrifício, segundo a [sua] condição, préstimo e capacidade". Ele também
estendeu sua "generosa liberalidade (...) profusamente
pelos habitantes do Brasil, (...) concedendo (...) a uns, hábitos e comendas; a outros, postos e ofícios; a estes, dignidade
e empregos; àqueles, honras e mercês;
a todos, amor e solicitude paternal". Providenciou emprego até para os artesãos portugueses que o acompanharam,
criando fábricas "reais", isto é, empresas manufatureiras,
financiadas com dinheiro público, para empregálos. A revolta de 1831, que levou Dom Pedro I a abdicar do trono,
deu-se em torno dos grandes números de portugueses
que ainda ocupavam cargos de emprego público; Dom Pedro queixou-se de que o principal objetivo dos líderes do
movimento

272 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


era "empolgarem empregos". O Ato Adicional de 1834, ao reformar a Constituição, visou entre outras coisas ampliar o
poder das autoridades provinciais de exercer
o clientelismo, e portanto a lei de 1841 pode ser entendida como um meio de fazer com que esse poder voltasse ao
governo central1. Sem dúvida o número de funcionários
públicos continuou crescendo durante todo o resto do século2. Em vez de encarar o clientelismo como um obstáculo a
um governo eficaz, os contemporâneos entendiam
que expandir tais oportunidades constituía a própria razão de ser do Estado.
Este capítulo focaliza os canais do clientelismo. A reforma eleitoral de 1881 não teve nenhum efeito visível sobre
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
ele, e eu examino os padrões clientelísticos
tanto antes quanto depois dessa data. De particular importância é a análise de aproximadamente seiscentos pedidos,
escritos por particulares em favor de pretendentes
a cargos. Era através desse tipo de correspondência - fora da estrutura institucional formal - que a política era exercida e
as transações de poder ocorriam. Os
mais freqüentes autores desses pedidos eram deputados e senadores que escreviam a membros do Gabinete em favor de
terceiros. Escrever tais cartas era uma das principais
atividades de um deputado. Os pretendentes a cargos almejavam sobretudo serem nomeados juízes, mas também
buscavam posições de poder como oficiais da polícia e da
Guarda Nacional, membros das Forças Armadas ou burocratas. As ligações pessoais entre o pretendente a um cargo e o
missivista, e entre este e o destinatário, eram
cruciais, infundindo um sabor regionalista ao sistema, apesar da rede disseminada de correspondentes por todo o país.
OS bacharéis, fossem juízes ou membros do Congresso,
não atuavam apenas ou principalmente como agentes na imposição da autoridade pública contra o domínio privado, mas
antes ligavam as esferas nacional e local de governo
por meio de poderosos laços de amizade, ligações familiares e lealdade pessoal. Mapear as linhas do clientelismo ajuda
a esclarecer isso.

Padrões Clientelísticos 273


Os Canais do Clientelismo

Quem exercesse autoridade literalmente possuía-a, e podia legitimamente concedê-la, ou parte dela, a outrem. O
cargo público tornava-se portanto um recurso
a lançar mão, como qualquer outro. Podia `pertencer' a alguém, ser concedido ou retirado. Aquele que recebesse um
cargo, recebia-o como um presente. Em 1808, um
governador admitiu que, teoricamente, a melhor burocracia era aquela na qual os empregados estavam "sujeitos a serem
expulsos logo que deixarem de cumprir suas obrigações".
"Contudo, esta observação", acrescentou significativamente, "não se dirige a restringir a generosidade do soberano". Os
brasileiros muitas vezes referiam-se a alguém
como O "proprietário" de um cargo, sobretudo na primeira metade do século, mas também pelo menos até a década de
1860. Quando alguém assumia o cargo, dizia-se que
"tomou posse" dele, locução usada até hoje; naquele momento pagava um imposto. como era usual que se fizesse ao
adquirir alguma propriedade. Em 1889, o compilador
didático de um dicionário, com uma sensibilidade apurada para a mudança nos padrões, indicou que embora a palavra
"mercê" tivesse como um de seus significados a
concessão de emprego, "tratando-se de nomeação para cargo público o termo é hoje impróprio, por não poder admitir-se
em princípio que seja concedido por favor o
que a lei prescreve seja dado ao merecimento". O uso impróprio, contudo, continuou refletindo a opinião corrente.

Assim como a autoridade podia ser subdividida, também algumas pessoas controlavam apenas seus canais de
passagem, na medida que ia passando, como que por
uma série de cascatas, do primeiro doador - o imperador - ao último recebedor - o ocupante do cargo. Considerava-se
que o poder de controlar a distribuição de favores
ficava atrás em importância somente do poder de doá-los. Ser capaz de distribuir colocações fazia automaticamente de
alguém um protetor, e facilitava enormemente
o trabalho de formar um grupo de seguidores. Pois a

274 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


concessão do soberano incluía não apenas a autoridade, porém, mais particularmente, a possibilidade de exigir lealdade
e deferência dos protegidos. Embora o próprio
imperador teoricamente concedesse a maioria dos cargos, ele o fazia sob a recomendação de seu Gabinete; desse modo,
poucas posições podiam competir com a de um ministro,
pelo seu potencial de ampliar uma clientela. Algumas descrições da política do gabinete mostram isso explicitamente,
assinalando as reverências e rapapés diante
do imperador, a fim de conquistar o cobiçado poder de nomear 4. Com cada ministro no ápice, construíam-se pirâmides
de clientelismo formadas por sucessivas camadas
de distribuidores.
Além disso, muitos intermediários tinham a prerrogativa legal de apresentar nomes de pessoas a serem nomeadas.
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Por exemplo, o subdelegado apresentava ao
delegado os nomes de inspetores de quarteirão a serem nomeados, o delegado apresentava os de subdelegados ao chefe
de polícia, este os de delegados ao presidente
da província, que apresentava o nome do chefe de polícia ao ministro da Justiça, que por sua vez propunha os nomes
dos presidentes ao imperador. As nomeações de
oficiais da Guarda Nacional seguiam o mesmo padrão. A prática, na verdade, caracterizava quase todas as nomeações;
por exemplo, o ministro da Justiça nomeava tabeliães
públicos cujos nomes eram apresentados pelos presidentes provinciais, a quem se requeria declarar "explicitamente se
estão no caso de merecer o provimento". O direito
de apresentar os nomes era especialmente importante porque os que eram propostos podiam servir interinamente até o
deferimento da nomeação, e por conseguinte gozar
das benesses do cargo. Para um chefe local que trabalhava sistematicamente para compor um séquito, ser nomeado
como delegado ou comandante da Guarda Nacional tinha
uma atração óbvia, permitindo-lhe propor imediatamente os nomes de seus apadrinhados e fazê-los tomar posse de seus
cargos5.
O poder de demitir acompanhava o de nomear. O ocupante de um cargo com autoridade legal para propor a
nomeação de alguém mais tarde também podia afastar
essa pessoa, enquanto

Padrões Clientelísticos 275


encaminhava à instância seguinte uma recomendação para sua demissão. Por exemplo, um delegado tinha o direito de
afastar um carcereiro, embora somente o chefe de
polícia pudesse demiti-lo. Um subdelegado, logo que assumia o cargo, afastava
todos os inspetores de quarteirão que seu antecessor nomeara6. As demissões, como as nomeações, eram usadas para
formar um grupo de seguidores e afirmar a força
de uma pessoa, não apenas contra adversários políticos, mas contra inimigos pessoais. Um
presidente provincial - Manuel Pinto de Souza Dantas -, por ocasião de queixas contra as demissões que havia feito,
respondeu: "Outras não podiam ser, a menos que
eu adotasse o princípio de que certas ofensas devam não só ser esquecidas mas premiadas por minhas próprias mãos.
Não são ofensas meramente políticas; mas ofensas
pessoais que se vingassem"7. Dez anos antes, como candidato a eleição, e baseado em canais informais,
ele escrevera: "Consta-me que bacharel Lopes pretende a [sua] remoção para Itapicuru. Peço-lhe que dê outro destino ao
Lopes porque não me será agradável tal nomeação
- somente porque entre mim e ele não há boas relações, e bem vê que se eu puder conseguir que ele para lá não vá,
melhor me será". Negar algum pedido era uma forma
de punir aqueles que não demonstravam
lealdade.
A formação de uma clientela operava-se de forma igualmente intensa nos níveis nacional e local. Um homem que
logo entraria no Gabinete intitulou um capítulo,
num livro de 1876, de "Empregomania": "Esta moléstia - endêmica no Brasil - é um dos seus grandes males. E vem ele
principalmente de que
ministros e presidentes de província consideram, como o mais eficaz e seguro meio de fomentar e consolidar clientela,
estabelecer rendas vitalícias ou temporárias
em favor dos filhos, genros, parentes ou protegidos de magnatas políticos [locais]"8. João Maurício Wanderley, barão de
Cotegipe, descreveu como certa
vez usou o poder de nomear simultaneamente para punir e premiar. Um juiz de direito na Paraíba ousara organizar uma
coalizão de alguns Conservadores e Liberais dissidentes
para

276 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


derrotar o candidato do governo. Como havia queixas do presidente provincial contra ele, sua transferência para outro
local poderia se justificar como uma "providência
administrativa", mas naquela localidade seria logo vista como o que de fato era, uma punição política. Ao mesmo
tempo, em outro lugar a mesma transferência podia
ser efetuada também com vantagem política, já que o juiz era afilhado de um deputado da província vizinha do Rio
Grande do Norte, que ficaria satisfeito em vêlo
retornar à sua terra natal, para um juizado de comarca em um nível mais alto. Finalmente, isso deixaria vago seu cargo
na Paraíba, resolvendo assim outro problema
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
importante: para o cargo, haveria vários pretendentes, que dois deputados e dois senadores - dentre os quais um barão e
um visconde desejavam proteger. Um dos candidatos
tinha muito a seu favor: não apenas era filho de um ex-deputado; era pobre e sobrecarregado com uma família grande, e
já cumprira três mandatos de quatro anos como
juiz municipal. Portanto, a transferência múltipla podia ser feita "com agrado destes seus amigos e conveniência do
serviço público"9. Cotegipe entregava-se simultaneamente
aos impulsos do clientelismo e do paternalismo. Controlar as nomeações do governo era um poder que em si
transformava alguém em protetor e ampliava a própria clientela,
incluindo os protetores de outros.

Se indiquei aqui que o clientelismo fluía do rei para baixo, até o pretendente ao cargo, os capítulos anteriores
esclarecem que outra pirâmide se cruzava
com aquela num plano diferente e levava ainda mais além. A família e a unidade doméstica construíam e dependiam de
generalizadas relações de dependência e deferência.
Todo o grupo de um protetor, seus seguidores imediatos, assim como os que lhe prestavam lealdade e obediência como
empregador, senhor de terra ou emprestador de
dinheiro, procuravam-no em busca de proteção e apoio. Se os símbolos externos e os meios particulares de seu poder
estavam no controle que ele exercia sobre cargos
locais, fosse pela prerrogativa oficial de indicar candidatos, fosse pela expectativa

Padrões Clientelísticos 277


não oficial de que os recomendaria, uma fonte igualmente rica de poder era o fato de ele possuir recursos físicos, como
terra, escravos ou gado. Podia fazer os pretendentes
aos cargos dependerem dele, mesmo candidatos à Câmara dos Deputados. O padrinho que tinha raízes locais agia sobre
o sistema nacional do clientelismo tanto quanto
o sistema nacional agia sobre ele. A interseção entre os planos do clientelismo reflete-se numa carta do jovem João José
de Oliveira Junqueira Júnior que, ao concorrer
a deputado pela primeira vez, jactava-se de que um mandachuva "compromete-se a me fazer deputado. Basta que o
governo não tenha outro candidato e me preste uma sombra
de apoio ou aprovação moral e não distribua este círculo para algum outro candidato". Não é surpreendente, portanto,
descobrir que um membro do Gabinete mantinha
listas detalhadas das pessoas de influência local em cada distrito eleitoral, pois ele dependia tanto delas quanto elas dele.
Mesmo para um primeiro-ministro, os
potentados locais tornavam-se os protetores últimos10.

Mas um chefe paroquial ou municipal cobiçava cargos, o que também o tornava dependente do governo. Com tal
nomeação ele podia, por exemplo, ir além de deixar
agregados ocuparem algum pedaço de sua propriedade e começar a distribuir generosamente seus recursos políticos
particulares. Quer lutasse ele para ser reconhecido
como chefe de uma única família extensa ou como o protetor de uma grande clientela, os cargos de autoridade eram
cruciais. Presentear ou punir podia então ser um
ato com sanção oficial. Um orador num funeral elogiou um fazendeiro morto porque, "quando seu partido estava no
poder, a benéfica influência que ele exercia (...)
só servia para beneficiar e proteger a quem quer que lhe suplicasse proteção"11. Esta declaração indica a capacidade do
protetor de retirar sua proteção, a eficácia
de sua mediação, ao menos algumas vezes, e a ameaça que sua posição sofria quando seu partido caía do poder.
A estrutura formal do clientelismo encontrava um reflexo preciso na esfera informal. Nas inúmeras cartas de
recomendação enviadas por fora dos canais oficiais,
os protetores na verdade

278 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


'apresentavam' os nomes de pretendentes a cargos. Algumas vezes, remetiam esses pedidos diretamente àqueles com o
poder de nomear; em outras, pediam que o destinatário
apresentasse o nome do candidato a um terceiro. Assim como, formalmente, o direito de apresentar um nome
significava na realidade o direito de nomear, algumas cartas
de recomendação tinham poder equivalente. Os atores políticos passavam muito tempo escrevendo ou recebendo essas
cartas e, nessa demonstração de confiança social,
revelavam mais uma vez como o poder político estava exclusivamente com os alfabetizados. O preenchimento de
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
cargos para um país tão extenso como o Brasil implicava
uma grande dependência, por parte de protetores e clientes, da correspondência privada na gestão da troca de deferência
por favores. A própria centralização, operando
para criar uma unidade nacional, levava a rede a abranger todo o país.
Às vezes os historiadores comentam entre si com certo desânimo que os `documentos' de proeminentes líderes
políticos brasileiros do passado muitas vezes
não passam de gavetas cheias de pedidos, isto é, cartas pedindo emprego e outros favores, para os próprios remetentes
ou para seus clientes. Mas a presença de
tantas
cartas destinadas a este fim indica sua importância para os políticos; indica um aspecto do comportamento político que
não se percebe na correspondência oficial,
mas que requer muita atenção. Decidi examinar detalhadamente esse tipo de carta, particularmente as recebidas por
quatro homens cuja vida política se estendeu por
todo o reinado de Dom Pedro II. Pedro de Araújo Lima, marquês de Olinda (1793-1870), servira em vários Gabinetes
antes de 1840, e mesmo como regente, de 1837 a 1840.
Dom Pedro II nomeou-o primeiro-ministro quatro vezes, em 1848, 1857, 1862 e 1865. João Lustosa da Cunha
Paranaguá, marquês de Paranaguá (1821-1912), ocupou pastas
ministeriais em quatro Gabinetes, além de ser primeiro-ministro em 1882. Franklin Américo de Menezes Dória, barão
de Loreto
(1836-1906), serviu em apenas dois Gabinetes
e nunca se tornou primeiro-ministro; como genro de Paranaguá, contudo, comparti-

Padrões Clientelísticos 279


lhou com este o acesso ao imperador e portanto a vários Gabinetes. Por fim, Afonso Moreira Pena (1847-1909) foi
membro de três Gabinetes antes de chegar ao coroamento
de sua carreira como presidente da República, de 1906 até a morte em 1909. Esses quatro políticos receberam 577
pedidos durante o Império12.
Segundo o padrão mais comum o autor da carta, assim como o fizera Pero Vaz de Caminha em 1500, não escrevia
em seu próprio favor, mas sim de uma terceira
parte que buscava alguma vantagem ou emprego. Só 68 desses missivistas (12%) escreveram para assegurar alguma
coisa para si mesmos. Em um número significativo de
casos (10%), as cartas revelam ainda uma outra camada das relações, pois seus autores não pediam por alguém que os
houvesse procurado diretamente, mas para o amigo
de um parente, um parente de um amigo, ou um amigo de um amigo. Naturalmente, essa prática de escrever cartas por
instigação de outros levava algumas vezes a que
se concedesse uma posição de poder a um candidato totalmente inadequado. Um remetente defendeu-se dizendo: "Não
conheço o indivíduo de que se trata e, se o recomendei
foi a pedido de um parente próximo que ele aqui tem e que é correligionário nosso muito firme". Algumas vezes o
próprio pretendente ao cargo entregava as cartas:
"Cada um se apresenta com (...) um saco de cartas de empenho dos influentes
À medida que os políticos iam subindo na escada do poder, iam recebendo mais cartas. Os quatro homens cujos
documentos examinei nesse estudo receberam mais
recomendações enquanto serviam como ministros da Justiça (26% do total) do que quando ocupavam qualquer outra
pasta. Os dois que se tornaram primeiros-ministros
receberam mais 19%, e os pedidos também choviam quando eles eram simples membros da Câmara dos Deputados
(18%). Receberam tantos pedidos como ministros da Agricultura
e Obras Públicas quanto como ministros da Guerra (10%). Como presidentes de províncias, receberam apenas 8%13.
Como primeiros-ministros, os políticos recebiam cartas
de ocupastes de todos os outros principais cargos

280 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


governamentais; uma clientela tão extensa nunca existia antes de eles atingirem esse escalão.

PRETENDENTES MISSIVISTAS DESTINATÁRIOS


A CARGOS
Primeiro
Deputados e Ministro
Senadores
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Juízes
Ministro da
Presidentes Justiça
Forças provinciais
Armadas \"
~~ Ministro da

Regulares `~-y ' Agricultura e

Juízes
Obras Públicas

Profissionais Ministro da
Liberais % - Guerra

Profissionais Liberais

í _

Ministro do

Forças i Império

Armadas

Regulares ~ Presidentes
prouinciais
Pessoal
Público e
Tesouro Deputados e
SCnadJLeS

O sistema dependia dos membros do Congresso, que trabalhavam diligentemente para recomendar os pretendentes
a cargos ou outras pessoas que desejavam favores.
Como indica o quadro anexo, mais de um terço de todas as cartas recebidas vinha de deputados e senadores,
comparados a apenas 16% dos presidentes provinciais e 9%
de juízes. Com o passar do tempo, a proporção de cartas recebidas de legisladores aumentou, e a de presidentes
declinou15. Essa mudança sugere um papel cada vez
maior dos deputados na rede do clientelismo, exatamente num período, como mostrarei no próximo capítulo, em que as
considerações partidárias cresceram de importância.
Embora os jornais no Rio de Janeiro dessem muita atenção às atividades parlamentares, onde elaboradas normas
consuetudinárias

Padrões Clientelísticns 281


orientavam os trabalhos, os debates atraíssem multidões, e um discurso de posse surgisse como uma grande ocasião,
percebe-se claramente, a partir de um exame dos
pedidos, que uma importante - senão a principal - tarefa dos legisladores era a de costurar a rede de clientes e protetores.
Como alegou um observador sardônico,
os deputados "têm [como clientes] seus filhos, irmãos e parentes, e todos os parentes,
amantes e os chichisbéus de suas amantes"16.
Era atribuição dos deputados saber a quem mandar o pedido. De suas cartas, quase três quartos iam para os
ocupantes de três pastas ministeriais: o primeiro-ministro,
o ministro da Justiça e o ministro da Agricultura e Obras Públicas. Só um décimo das cartas dos deputados ia para os
presidentes provinciais. Ao decidir sobre o
alvo de sua carta, um deputado tinha que saber não apenas quem possuía a prerrogativa legal de fazer certas nomeações,
mas quem exercia o poder real: isso também
implicava saber com quem se podia contar. Uma carta recomendando um candidato para nomeação na burocracia, em
nível central ou provincial, ia com maior probabilidade
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
para o próprio primeiro-ministro, e só alternativamente para o ministro da Agricultura e Obras Públicas. Por outro lado,
se o pretendente ao cargo desejava um juizado,
o destinatário mais apropriado era o ministro da Justiça, e só depois o primeiro-ministro. E se o cliente de alguém visava
um cargo na policia, ou uma patente na
Guarda Nacional, a melhor pessoa para se dirigir depois do ministro da Justiça era um presidente provincial. Essas
decisões exigiam ao mesmo tempo discernimento
político e sensibilidade para as nuanças da posição social. Sem dúvida, a proximidade geográfica também
desempenhava seu papel. Um contemporâneo observou que, embora
os presidentes fizessem nomeações para níveis interiores, "em regra o maior empenho é [o do] deputado, mas este não
está sempre em contato direto com o presidente
[para apresentar pedidos]. Assim, por qualquer ridículo emprego, apresenta-se o deputado [com um] saco de cartas ante
o ministro [no Rio de Janeiro]". Contudo, quando
o deputado não estava

282 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


no Rio de Janeiro, com toda certeza estava importunando o presidente em sua província natal: "Não passa um dia em
que ele não aparece com um pacote de pedidos",
escreveu o presidente do Pará sobre um deputado17.
Em seguida aos deputados, eram os presidentes provinciais que redigiam mais cartas de recomendação. Como os
presidentes eram escolhidos pelo primeiro-ministro,
eles tinham uma ligação direta com o governo, e os solicitantes percebiam imediatamente esse importante fato. Como
um deles expressou: "Bem sabe que não se perde
nada em ter as boas graças da presidência, principalmente quem mora no mato". Assim que um presidente
recém-nomeado chegava a uma província, era assediado com "imensas
visitas, felicitações", que interrompiam seu trabalho; esses votos cumpriam seu propósito claramente, já que, "tendo
recebido imensos obséquios (deputação) jantar,
baile etc. etc.", ele sentia que não podia romper com a facção dominante de um momento para o outro. Contudo, se o
pretendente ao cargo deveria proceder por intermédio
do presidente ou do deputado no Rio de Janeiro, isso permanecia uma questão em aberto. Um membro do Gabinete
disse a um missivista, em resposta ao seu pedido: "Enquanto
o Sinimbu for ministro, tudo se alcançará mais facilmente pelo Lourenço [Cavalcanti de Albuquerque, o presidente
provincial]"17.
Embora os missivistas desempenhassem simultaneamente os papéis de protetor e cliente, à medida que um homem
envelhecia, esperava ser mais freqüentemente
protetor do que cliente. Uma análise das idades e posições indica que, quando os remetentes entravam na casa dos trinta,
eram com mais freqüência deputados que juízes.
E enquanto deputados escreviam um quarto de suas cartas no interesse de juízes, em nossa amostra nenhum juiz jamais
escreveu em favor de um deputado. Os juízes às
vezes escreviam em favor de si mesmos; de deputados, jamais.

Padrões Clientelísticos 283


Cargos Procurados

O cargo mais freqüentemente procurado era o de juiz (ver Quadro 3). Cartas pedindo juizados chegavam de todas
as regiões brasileiras. Posições de poder como
juízes de direito ou municipais eram as mais desejadas (ver Quadro 4), mas uma porção considerável de pretendentes a
cargos procurava colocações lucrativas como
juízes de órfãos. Alguns pediam para serem juízes substitutos, cargo para o qual não se exigia formação em direito, mais
sim um protetor. Um quadro de juízes substitutos
do Rio Grande do Sul lista-os por comarca ou município com os seguintes dados: na primeira coluna estão anotações
como "capitalista", "médico", "negociante rico"
e "proprietário abastado"; na segunda estão suas funções anteriores, como "vereador", "deputado provincial",
"tenente-coronel da Guarda Nacional" e "ex-suplente
de juiz municipal"; por fim, de forma cabal, a terceira indica seu padrinho: "apresentado pelo juiz de direito",
"apresentado pelo comandante [da Guarda Nacional]",
ou "apresentado pelo bacharel [tal]" 19. Da mesma forma, um juizado podia aumentar o séquito do juiz e torná-lo
protetor de outros.
Muitos homens pediam outros cargos associados à atividade judicial. Mais de 5% das 577 cartas tinham a ver com
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
colocações como tabeliães e escrivães. O escrivão
e o tabelião desempenhavam tarefas-chave em todas as ações legais. Podiam até bloquear investigações criminais, e não
poucos redigiam a decisão dos juízes para estas20.
Deste modo, como reclamou um deputado no Rio de Janeiro ao Congresso, "se vaga um lugarzinho de partidor ou
escrivão em uma vila ou cidade, apresentam-se logo quarenta
ou cinqüenta pretendentes aqui na corte21.

284 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


QUADRO 3

Cargos Requisitados

Cargo Número Porcentagem


Judiciário 164 28,4
Burocracia 109 18,9
Profissão liberal 62 10,7
Forças Armadas Regulares 69 12,0
Polícia e Guarda Nacional 40 6,9
Outros 133 23,1
TOTAL 577 100,0

Nota: algumas das cartas aqui examinadas recomendavam pessoas não para cargos, mas para títulos de nobreza, auxílio
em eleições ou outros favores. Estas cartas estão
incluídas na categoria "outros".

QUADRO 4

Cargos Jiuliciais Requisitados

Cargo Número Porcentagem


Desembargador na Relação 1 O,6
Juiz de Direito 46 28,0
Juiz Municipal 47 28,7
Outro juiz 13 7,9
Juízes pedindo promoções
não especificadas 14 8,5
Promotor Público 13 7,9
Escrivão, tabelião 30 18,3
TOTAL 164 99,9

Nota: as porcentagens neste e nos quadros subseqüentes não totalizam necessariamente 100% por causa do
arredondamento.

Padrões Clientelísticos 285


QUADRO 5

Cargos Administrativos Solicitados

Cargo Número Porcentagem


Governo central 37 33,9
Governo provincial 18 16,5
Tesouro 48 44,4
Correios 6 5,5
TOTAL 109 99,9

Pouco menos de um quinto dos cargos eram requisitados para a própria burocracia. Nessa categoria, incluí
membros do secretariado de cada ministro, da equipe
dos presidentes provinciais, todas as autoridades do Tesouro e funcionários do Correio (ver Quadro 5). Todos os cargos
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
burocráticos traziam benefícios além do salário,
ou até mesmo a oportunidade de suborno; mais importante, possibilitavam o exercício do poder
sobre outros. Uma pessoa no gabinete de um ministro ou de um presidente provincial estava em posição de selecionar
qual das petições despachar ou deixar na gaveta22.
Três dias depois da nomeação de um ministro do Império, um membro de sua equipe recebeu uma carta endereçada a
"meu caro amigo", dizendo: "É chegada poisa ocasião
de [você], pelo meu ver, auxiliar-me"; o pedinte entendia claramente o poder do burocrata. Os cargos do Tesouro
ofereciam grandes oportunidades de obter ganhos ilegais
e eram sempre atraentes. Em 1862 uma autoridade do Tesouro admitiu, em uma investigação sobre uma antiga
malversação de fundos, que na Alfândega "todo mérito consistia,
então como hoje, na importância do patrono: a aptidão e a probidade mediam-se, como ora se medem, na escala
gradativa das proteções". Um negociante no início da
República observou que, para um cargo na Alfândega, o Tesouro agora devia exigir alguém que fosse "sobretudo
honesto"; ele propôs um candidato que "foi um dos raros
que em tempos passados não defraudaram as rendas públicas"23. Em um sistema como o do Brasil, em que

286 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


as relações protetor/cliente permeavam tão profundamente todos os cargos, o Correio não era um lugar particularmente
desejável. Como relatou um ministro do Império,
já que os agentes não recebiam salário, mas só uma porcentagem da renda de sua agência, os bons trabalhadores não
podiam sentir-se atraídos pelo cargo, e de qualquer
modo tinham que viver de alguma outra coisa. Entretanto, seu antecessor informou a um colega de Gabinete em 1853
que devia enviar logo os documentos sobre "o pretendente
ao lugar no correio. (...) Não convém demorar muito as nomeações porque formigam os pretendentes. De lá e por cá
tenho dito já imensidade de empenhos e crescem estes
todos os dias". Talvez o papel político dos chefes de agências postais fosse o ímã que os atraía: um missivista, ao fazer
uma recomendação, observou: "É esse um
cargo que muito importa para a política das localidades, porque em épocas eleitorais os agentes embaraçam as
comunicações dos adversários, retardando a remessa e
entregas das suas cartas"24.
Como os brasileiros há muito reconhecem, o governo era e é o principal empregador de profissionais liberais.
Nessa categoria, não incluí juízes e deputados,
a maioria dos quais possuía diploma de direito, ou os promotores públicos, que normalmente esperavam promoção para
um juizado. Contudo, incluo pedidos para outras
colocações como advogados (3). O restante dos cargos solicitados era de médicos ou farmacêuticos (19), professores ou
funcionários das faculdades de direito ou medicina
(15), outros professores (12), estudantes (2), um jornalista e dez outros variados. Juntos, esses cargos correspondiam a
quase 11% do total. As cartas de São Paulo
tinham o dobro da média de possibilidades de solicitar essas colocações; as do extremo Sul raramente as visavam. Os
médicos ocupavam muitos cargos governamentais
que não exigiam suas qualificações específicas, e outras que sim. A fundição de propriedade do governo em Ipanema,
São Pauto, por exemplo, precisava de um médico
residente, e médicos também trabalhavam como fiscais de saúde nos portos. Médicos e advogados valorizavam muito as
posições

Padrões Clientelísticos 287


no corpo docente das faculdades de direito ou medicina, sem dúvida em parte devido ao papel político que ali podiam
exercer. Multiplicavam-se os candidatos a esses
cargos, escreveu Cotegipe. Alguns queriam empregos menores nessas escolas apenas como sinecuras: o chefe de um
secretariado provincial, na Bahia, desejava ser transferido
para um posto no corpo administrativo na faculdade de medicina, para que pudesse ter tempo de administrar um jornal
defendendo a Liga Progressista. Um critico alegou
que "o espírito de partido que é sempre mau conselheiro, muitas vezes faz arredar da concorrência e mesmo da cadeira
de professor um homem de bem e de capacidade
para substituí-lo por um inepto"25. Já observei como o clientelismo podia assegurar a admissão para as faculdades de
direito e medicina, por isso as cartas em favor
de estudantes não surpreendem. De outra correspondência, fica claro que passar no exame e obter provisão para advogar
exigia "proteção", a fim de que se designasse
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
uma junta examinadora favorável. De modo semelhante, para um estudante de medicina conseguir ser residente em um
hospital militar era preciso `pistolão', e o mesmo
ocorria para a admissão no prestigiado colégio secundário Pedro II, no Rio de Janeiro, ou na escola para cegos. Até
mesmo a admissão em hospícios dependia de uma
carta de recomendação 26.
A procura por postos nas Forças Armadas regulares correspondia a quase um oitavo de todos os pedidos. Era
prática comum as pastas dos Ministérios da Marinha
e da Guerra serem ocupadas por promissores e jovens políticos e, dos quatro destinatários de cartas que estudei,
somente o visconde de Olinda não ocupou o Ministério
da Guerra em nenhum período. Apesar das medidas incentivando a profissionalização dos serviços militares e a garantia
de promoções por tempo de serviço ou por formação
especial, as cartas de recomendações continuavam a fluir em favor de oficiais, mesmo aqueles dos escalões mais
baixos27 . Num dos casos, uma proposta para que se
demitisse um tenente do Exército acompanhava um pedido a favor de um outro para ocupar seu lugar naquele batalhão.
Um primeiro-tenente

288 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


conseguiu que tanto o seu sogro quanto o cunhado usassem sua influência política para lhe arranjar uma promoção.
Seguindo o que se poderia esperar da concentração
de Forças Armadas no Rio Grande do Sul, mais cartas vinham do Sul pedindo patentes nas Forças Armadas regulares do
que de qualquer outra região fora da capital28.

Dois tipos específicos de posições conferiam autoridade sem salário: oficiais da Guarda Nacional e autoridades
policiais. Aproximadamente 7% dos pedidos
eram para esses postos. Claro, os nomes também eram apresentados da maneira normal; mas o ministro da Justiça e os
presidentes tinham o direito de nomear candidatos
que não haviam sido apresentados formalmente. As cartas que examinei consistiam de correspondência particular, não
oficial, e procuravam influenciar a decisão fora
dos canais regulares. Em 1872, o ministro da Justiça escreveu: "Tenho feito e estou fazendo algumas nomeações para
[oficiais da] Guarda Nacional na Bahia. Suponho
que nenhum ministro da Justiça de 16 de julho [ 1868] pra cá as tez em maior número, em tão pouco tempo, para essa e
outras províncias. Já me chamam de reacionário.
Ossos do ofício?"29.
Embora a maioria dos pedidos envolvesse cargos de juízes, burocratas, profissionais liberais, oficiais nas Forças
Armadas, polícia ou Guarda Nacional, muitos
tratavam com uma variedade de outros cargos e benefícios. A Igreja e o serviço diplomático ofereciam carreiras
prestigiadas. Quinze dos pretendentes a cargos eram
clérigos. O novo ministro da Marinha, o baiano Cotegipe, recebeu uma carta do ministro do Império pedindo-lhe para
conseguir que o arcebispo da Bahia agisse logo
em relação à apresentação, pelo ministro do Império, de um certo padre para uma paróquia. "Estimo o Sr. Padre (...)",
acrescentou o ministro do Império, "e por ele
se interessa um amigo meu muito prezado". Essa carta indica que os bispos nem sempre acorriam a nomear os indicados
pelo ministro, e que elos regionais e ligações
pessoais também continuavam sendo importantes nos assuntos da Igreja. Oito homens pediam colocações como

Padrões Clientelísticos 289


funcionários do serviço diplomático. Muitas vezes, desejavam a transferência para um local mais agradável. Um
contava com o apoio de seu genro, amigo íntimo do ministro
do Exterior, para tirá-lo de Lima, Peru. Como escreveu o jovem: "Não haveria meio de, com a vaga de São Petersburgo,
remover alguém para ali [sic] e encostarem o
velho sogro em Lisboa, ou Buenos Aires?" Como se verificou, o "velho sogro" teve de satisfazer-se com Assunção 30.
Até mesmo para se assegurar das posições menores era preciso apadrinhamento. Quatro pretendentes a cargo, do
grupo que examinei, ansiavam pela função de
porteiro, embora o ocupante também viesse a ser o arquivista da mesma repartição, responsável pela procura de
documentos relacionados a petições
e recebendo emolumentos proporcionais das partes interessadas. Um deputado recomendou o "filho de um [meu]
empregado" para o cargo de assistente de museu. O padrinho
de um candidato
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
a administrador do teatro público em Salvador lembrou a um amigo no Rio de Janeiro de "sua promessa: uma
palavrinha sua ao novo presidente e tudo se arranjará".
O mesmo protetor queixou-se amargamente, contudo, de que até para a "música de festas da igreja" ele tinha de escrever
cartas de recomendações, e se perguntava se
poderia repartira música para a tradicional

"Festa do Bonfim" entre dois concorrentes31. Esses pedidos menores, juntamente com os que solicitavam cargos na
Igreja e no serviço diplomático, seis pedindo apoio
nas eleições, e os que
pediam uma variedade de outros favores, representavam quase um quarto das cartas (ver Quadro 3).
Em sete casos, os pedidos indicavam que se queria promoções apenas visando a abertura de espaço para outros. Na
verdade,
a busca de lugares para novas nomeações provavelmente explica a maioria das demissões. Uma complexa transação na
década de 1880 envolveu o cargo de guarda-mor
da Alfândega. Um missivista em Salvador tentava ajudar o guarda-mor local a obter uma transferência para a cidade do
Rio de Janeiro. O obstáculo à transferência
era a ocupação daquele cargo, no Rio

290 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


de Janeiro, por um homem chamado Pires. Pires gostaria de se aposentar com seu atual salário, explicava a carta, mas,
apesar de seus 30 anos de serviço, de acordo
com as normas, não ocupara a posição durante tempo suficiente para fazê-lo; contudo, se fosse promovido a uma
posição ainda mais alta, estaria autorizado a se aposentar
imediatamente com o salário que ganhava. Se o promovessem (e esta é a questão), isso abriria uma vaga para o
pretendente ao cargo. Malsucedido nesta proposta, o
missivista retornou à mesma questão um ano depois, observando que outro cargo ficara vago por aposentadoria e
sugerindo que ele poderia ser dado ao chefe da Alfândega,
abrindo assim um lugar para Pires, que desocuparia então o cargo de inspetor. De modo incrível, a mesma carta
reclamava que o governo transferira um funcionário
da Alfândega de Salvador para Corumbá, em Mato Grosso, comentando que "realmente eles foram muito duros com
esse empregado, que por sua categoria [social] tinha
direito a um pouco de consideração, e tanto mais odiosa foi a remoção, quanto sabe-se perfeitamente bem foi ela feita
tão-somente para abrir espaço para um afilhado"32.
Um contemporâneo reclamou que "neste triste país (...) o preceito inglês `o homem certo no lugar certo' é
inteiramente desconhecido". Pelo menos se preferia
criar o lugar certo. Um clientelismo eficiente freqüentemente exigia o aumento do número de postos governamentais.
Em alguns casos, o próprio candidato propunha
que se instituísse uma nova posição. Um crítico descreveu isso com escárnio: "Além dos lugares necessários para a
governança desta fazenda ([e] como os altos lugares
não chegam para todos os altos protegidos), muitos lugares se criam sem necessidade alguma33.

Alguns cargos, como vimos, eram muito mais procurados que outros. A atração exercida pelos juizados está
relativamente clara segundo esses documentos. Quando
jovem, Junqueira Júnior escreveu de Salvador ao barão de Cotegipe, observando que fora juiz municipal na vizinha
Cachoeira e agora era promotor público em Salvador,
mas preferiria ser juiz municipal

Padrões Clientelísticos 291


em Salvador ou, "ainda melhor", deputado no Congresso Nacional. Seu contemporâneo Dantas, que já ocupava a
posição de juiz municipal, buscava transferência para
um lugar melhor, "a menos que por um milagre, como o feito com (...) e outros, seja eu despachado juiz de direito, e
nesse caso aceitaria a pior comarca do Império,
porque depois disso daríamos o jeito". Trinta anos depois, agora desempenhando o papel de protetor a título próprio,
Junqueira pedia para um amigo um juizado municipal
no interior da província da Bahia. "No caso de não ser possível uma comarca, lembraria a V. Exa. que lhe dê uma
comissão administrativa, uma presidência de província
que possa ser por ele desempenhada, ou mesmo qualquer emprego que esteja no caso de lhe ser dado." Certa vez, como
ministro da Guerra, Junqueira observou: "Quis
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
dar algumas presidências a moços hábeis dessa província [Bahia]; e assim consultei (...) e (...) cujos nomes já estavam
aceitos pelo ministério e pela coroa; mas
eles não quiseram aceitar, preferindo ser magistrados. Haverá ainda alguém que aceite, e que reúna os requisitos?"34.
Enquanto 29% dos pedidos que examinei solicitavam
empregos judiciais, só 1 % referia-se a uma colocação como presidente provincial. Comparando o lugar já ocupado com
o solicitado, descobri que em quase todas as
categorias de cargos havia alguns pretendentes que desejavam ser juízes, inclusive um quinto de todos os oficiais de
polícia e da Guarda Nacional. Já que, como observei,
esses oficiais costumavam provir das fileiras de proeminentes proprietários, não é surpreendente descobrir que nenhum
deles quisesse ser burocrata, ou vice-versa.
Nenhum burocrata, juiz ou oficial de polícia ou da Guarda Nacional, pedia para ingressar nas Forças Armadas. Nenhum
juiz desejava um cargo que se pudesse classificar
de profissional liberal.
Ao longo do tempo, ocorreram algumas mudanças em relação aos cargos solicitados. Como as faculdades de
direito continuavam a produzir uma grande quantidade
de bacharéis, ingressar no judiciário tornava-se cada vez mais difícil, e pretendentes

292 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


desencorajados aparentemente nem mesmo pediam isso. Comparando dois períodos de vinte anos, antes e depois de
1870, descobri que a proporção de pedidos para juizados
caiu de 32 para 27%, enquanto a proporção de posições procuradas como profissionais liberais aumentou
acentuadamente, de 6 para 14%35. A Guerra do Paraguai (1865-70)
e a posterior redução do papel da Guarda Nacional também influenciaram os cargos requeridos. Os pedidos de cargos
policiais e patentes da Guarda Nacional caíram
de 11 para 4%, enquanto aqueles para lugares ou promoções nas Forças Armadas regulares subiram de 11 para 13%.
Igualmente notável, contudo, é que, com o passar do tempo, a proporção de pedidos de cargos na burocracia não
mudou, mantendo-se entre 18 e 19% em todo o
período. Alguns escritores argumentaram que, com o declínio do café no Vale do Paraíba, um grande fluxo de
aristocratas empobrecidos dirigiu-se para a cidade, em
busca de emprego governamental. Mas a proporção estável de pedidos de cargos burocráticos parece desmentir essa
afirmação. Embora seja verdade que mais pretendentes
a cargos da rica província de café do Rio de Janeiro buscavam nomeações na cidade do Rio de Janeiro do que os das
outras províncias, isso pode ser facilmente explicado
pela sua proximidade com a capital. E mais: essa era uma característica constante, independente dos altos e baixos
econômicos. Esses padrões invariáveis também lançam
dúvida sobre o argumento do cientista político Hélio Jaguaribe, quando sugeriu que a decadência da economia
nordestina impelia pretendentes a cargos ao Rio de Janeiro.
Em suma, o declínio de um grupo da elite significava exatamente isso: quando perdiam recursos econômicos, seus
membros também perdiam força política. O apadrinhamento
era para os vencedores36.
Em 1899, um comentarista sustentou que o baixo nível de desenvolvimento econômico no Brasil alimentava a luta
por cargos. Baseando seu argumento em observações
feitas em 1854 por Auguste van der Straten-Ponthoz, ele prosseguiu dizendo que "a violência das eleições é um dos
resultados da tendência

Padrões Clientelísticos 293


do salário público para converter-se em princípio dominante (...) Não se derivando o impulso eleitoral do interesse das
classes (...) e sim das atrações do orçamento.
Fazem-se eleições para conseguir o emprego ou para conservá-lo". Um historiador recente concordou com essa opinião,
contrapondo a situação brasileira à da América
do Norte jacksoniana, onde uma classe média próspera usava o empreguismo como arma contra a aristocracia da
Virgínia. Enquanto nos Estados Unidos havia até empregos
melhores para os competentes, e podia-se prever a rotatividade dos empregos públicos pela regularidade das eleições, no
Brasil, ele afirma, não havia muitos cargos
alternativos, e o emprego público virtualmente criou a classe média37.
Contudo, essa interpretação pode ser colocada em questão
pelo fato de a procura por cargos oficiais - avaliada pelas cartas de recomendação - não se ter alterado em períodos de
prosperidade e não ter caracterizado mais
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
as regiões decadentes que as prósperas. A dificuldade está na equação do emprego público com um rendimento. Sem
dúvida, o salário era a primeira preocupação de muitos
pretendentes a burocratas: de fato, 10%
das cartas referiam-se à sua pobreza (ou sua idade avançada, ou à grande família que sustentava)38. Mas esse número
pode ser comparado aos mais de 40% de cargos que
eram atraentes
sobretudo pela autoridade que carreavam, embora seus ocupantes algumas vezes também recebessem algum salário:
juízes, promotores públicos, membros da Guarda Nacional
ou tabeliães públicos (estes recebiam remuneração fixa, mas a principal fonte de sua riqueza provinha do dinheiro
recebido por influenciar o resultado de questões
judiciais). Mesmo a riqueza era relativamente inútil sem um certo grau de poder: ser inimigo de um juiz
de órfãos, por exemplo, podia retardar o inventário de uma grande propriedade, negando assim ao sobrevivente do casal
o direito de hipotecá-la e tomar financiamento
emprestado. O desejo de autoridade caracterizava a procura de nomeações, como ocorrera nos tempos coloniais e
ocorreria mais tarde durante a República39. Essa era a meta. As eleições
eram dirigidas para

294 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


assegurar empregos, mas não ameaçavam o orçamento. Seguramente, o limitado desenvolvimento econômico
freqüentemente fazia do emprego oficial a única esperança para
trabalhos assalariados ou de "colarinho branco" e, em uma sociedade escravocrata, isso era crucial à manutenção de
status quando se tinha que ganhar a vida. Mas
o sistema clientelista almejava coisas muito mais altas.

Laços Regionais

A natureza pessoal do clientelismo dava um sabor fortemente regionalista à correspondência. As cartas de


recomendação provinham, de modo desproporcional,
de pessoas cujas raízes regionais coincidiam com as dos destinatários. Freqüentemente também recomendavam
pretendentes a cargos que se encontravam na região. Mesmo
quando o destinatário atingia os mais altos degraus de sua carreira, seus laços com a província natal, onde ele tinha
ligações pessoais, permaneciam muito mais fortes
que com outros lugares. O reconhecimento dessa tendência corrige parcialmente a opinião de alguns historiadores, de
que o movimento sistemático dos políticos os
levava a conseguir uma clientela permanente em todas as partes do país; de fato, eles adquiriam clientes em outros
lugares, e isso é significativo, mas seus principais
vínculos continuavam no lugar de origem. Sem dúvida, nenhum quadro de "mandarins" agia independentemente "de
interesses familiares e econômicos regionais"40. Um
terço das cartas recebidas pelo marquês de Olinda, o senhor de engenho de Pernambuco, partiu de pessoas
principalmente identificadas com Pernambuco, e também um
terço tratava de pretendentes a cargos ali, sendo que o maior grupo seguinte estava na capital. O baiano Loreto recebeu
45% de suas cartas de baianos, embora os
aspirantes aos cargos estivessem quase tão freqüentemente em Pernambuco, ou na capital nacional, quanto na Bahia.
Pena, natural de Minas Gerais, recebeu 61 % de
suas cartas de mineiros, embora estas fossem relativas não apenas a solicitantes em Minas e na cidade do Rio

Padrões Clientelísticos 295


de janeiro (26% cada), mas também a candidatos em São Paulo (12%). Paranaguá, que era originalmente do Piauí, mas
em geral identificava-se com a Bahia, onde começou
sua carreira como juiz de direito, recebeu 29% de suas cartas de pessoas identificadas com a Bahia e 16% de naturais de
Pernambuco; ainda assim, a maior proporção
de pretendentes a cargos envolvidos nas cartas que recebeu (20%) estava na obscura província do Piauí. Além disso. 7%
de todas as cartas referiam-se especificamente
ao aspirante ao cargo como o "conterrâneo" do remetente. Embora seja verdade que os políticos estabeleciam contatos
em outros lugares, eles mantinham laços fortes
com suas próprias regiões.
Os contemporâneos reconheciam claramente as ligações regionais que vinculavam os aspirantes a cargos aos
membros do Gabinete. Um político na Bahia regozijava-se,
Página 134
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
"como baiano", que Cotegipe tivesse se tornado um membro do Gabinete, pois Cotegipe "tem sempre propugnado pelos
interesses da Bahia". Os interesses a que se referia
encontravam-se nas nomeações. Esperava-se que outros membros do Gabinete vindos da Bahia também demonstrassem
lealdade ao seu estado e apoiassem baianos para cargos
ali41. Ou, se não o fizessem, o fato podia
ser comentado em forma de protesto na Câmara. De modo semelhante, como dois membros do Gabinete eram do Pará,
o senador daquela província achou inconcebível que
o ministro da Fazenda desejasse suspender as obras numa alfândega e evitar aumentos para o pessoal do Tesouro ali42.
Como escreveu um político descontente, logo
depois do fim do Império: "conheço como marcham as coisas e não ignoro que o [ministro da Justiça, Manuel Ferraz
de] Campos Sales nada sabe das coisas da Bahia.
Assim os atos do ministro da Justiça devem ser inspirados por alguém (...) Sendo você ministro e baiano é natural que
eu pense que você tem parte direta e imediata
em todos eles"43.
Formar um Gabinete exigia sensibilidade para o equilíbrio regional. Assim que se pediu a José Antônio Saraiva
para formar um Gabinete, ele escreveu a um
importante político em Minas

296 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Gerais dizendo: "Desejo (...) ter no Ministério um representante de Minas, província importante, e cujos interesses não
são muito conhecidos de nós outros. (...)
Peço-lhe que pense nisso para darme o nome que mais convém à província de Minas". Quando se espalhou a notícia de
que o imperador escolhera Saraiva, outras pessoas
começaram a especular sobre suas escolhas regionais e as próprias chances. "Creio que ainda desta vez não teremos
ministro de Pernambuco", escreveu Manuel Buarque
de Macedo a Luís Felipe de Souza Leão. "O fato de seres candidato talvez seja obstáculo à tua entrada, que eu tenho
lembrado. (...) Não creio que se lembrem de mim
porque meus amigos particulares, em cujo número estão Dantas e Saraiva, sabem que eu não posso ser ministro. (...) Em
todo caso fiquem certos de que se tal se der,
eu não aceito e será ocasião de eu tentar a entrada de um de vocês". Os documentos silenciam sobre como Buarque de
Macedo explicou o fato de que, quando Saraiva
anunciou seu Gabinete, ele era o novo ministro da Agricultura e Obras Públicas. Como se verificou, o Gabinete não
incluiu ninguém de Minas Gerais. Oito anos depois,
quando João Alfredo Correia de Oliveira organizou um Gabinete Conservador, um Liberal de Minas Gerais salientou
maliciosamente que o primeiro-ministro lançou sobre
Minas Gerais um certo desprestígio, "porquanto nenhum de seus senadores e deputados, correligionários do Gabinete,
foi julgado apto para exercer uma pasta, quando
São Paulo e Rio de Janeiro forneceram dois ministros cada um"44.
A ênfase regional na correspondência também comprova a importância duradoura dos laços pessoais entre cliente e
protetor, pois descobrimos que, quando um
missivista mudavase de um lugar a outro, na maioria das vezes ele escrevia em nome de pessoas da área em que se
encontrava. Com exceção dos pedidos provenientes
da capital nacional, de 70 a 100% daquelas originárias de uma região referiam-se a pedintes que desejavam lugares
naquela região.

A maioria dos pretendentes a cargos buscava colocações nas mesmas províncias onde moravam (ver Quadro 6). As

Padrões Clientelísticos 297


dificuldades de viajar contribuíam para o desejo de ficar no próprio local. Ao nomear desembargadores para uma
Relação, por exemplo, tinha-se que considerar o problema
de chegar à sede: para Goiás, só se podia enviar solteiros, por causa da longa viagem a cavalo, enquanto Mato Grosso
significava uma longa viagem por mar e rio,
mas pelo menos "não se põe pé em estribo"; para o Rio Grande do Sul podia-se enviar homens casados. Certamente
poucos aspirantes a qualquer cargo queriam ir para
a região Oeste: nenhum pediu Mato Grosso, e só um desejava um emprego em Goiás. Quando um pretendente ao cargo
pedia para mudar para outra província, podia ser porque, como explicou um juiz municipal, "[Estou] persuadido de que
ficaria em mais contato com a capital desta
província, onde tenho família". O mesmo sentimento impulsionava candidatos à eleição para o Congresso. Um deles
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
escreveu dizendo "Sabe que aspiro a uma cadeira no
parlamento. (...) Por mais de uma província eu poderia ser eleito sem repugnância, apenas com algum bafejo, mas tenho
pendor por Sergipe onde (...) deixei relações
e
amizades"45.
Em geral as pessoas também queriam uma colocação num lugar do mesmo nível (capital ou interior) daquele onde
trabalhavam no momento, sobretudo se estivessem
lotados na capital
nacional, ou em algum país estrangeiro (ver Quadro 7). Entre os que não desejavam ficar nas capitais provinciais, o
maior número queria ir para o interior e não
para a capital nacional; a atração pelos juizados explica sua preferência. Os pretendentes que já ocupavam cargos na
capital nacional, contudo, nunca pediam para
serem colocados num cargo no interior. Essas preferências refletem as ambições de carreira. Alguém que já ocupasse um
juizado mas esperava tornar-se deputado, por
exemplo, provavelmente procuraria um emprego na capital provincial, que, como disse um deles, "é o grande centro da
política provincial"46. Quanto mais velho ficava
o pretendente ao cargo, maior a probabilidade de pedir um emprego na capital nacional, e menor a de procurar uma
transferência para o interior 47.

298 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


QUADRO 6

Preferências dos Aspirantes a Cargo por Área


(Número e percentual de referências)

Lugar atual

Não querendo mudar

Total Número Percentual

Norte 15 13 86,7
Pernambuco 43 40 93,0
Bahia 27 26 96,3
Outros no Nordeste 38 29 76,3
Províncias
do Espírito Santo
e Rio de Janeiro 12 7 58,3
Cidade do
Rio de Janeiro 21 20 95,2
Minas Gerais 14 10 71,4
São Paulo 15 13 86,7
Sul 9 8 88,9
País estrangeiro 10 10 100,0
TOTAL 204 176 86,3

QUADRO 7

Preferências dos Aspirantes a Cargo por Nível Administrativo


(Número e percentual de referências)

Querendo ficar no mesmo nível


Lugar atual Total Número Percentual
País estrangeiro 10 10 100,0
Capital nacional 23 22 95,7
Capital provincial 96 80 83,3
Interior 65 51 78,5
TOTAL 194 163 84,0
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

Padrões Clientelísticos 299


De todos os presentes que um protetor podia dar aos seus clientes, os mais cobiçados eram aqueles que lhes davam
posições de autoridade, sobretudo a de juiz.
Para esse fim, alguém tinha que escrever os pedidos, e os deputados faziam isso mais que qualquer outra pessoa. A vida
política dependia desse exercício, ou de uma
ação efetiva para atender aos pedidos recebidos. Uma disputa bem-sucedida por uma cadeira no Congresso significava
que as pessoas que apoiavam o deputado fossem
elas seus protetores ou clientes - receberiam então, para eles próprios, nomeações para juizados ou patentes na Guarda
Nacional, e para seus protegidos, cargos burocráticos
no Tesouro ou em outras repartições. Ou podiam ser recompensados com promoções no Exército ou cargos na
Alfândega, no corpo docente
da faculdade de medicina, ou na Igreja. Um bom deputado podia conseguir tudo isso.
O clientelismo ao mesmo tempo sustentava a parafernália do Estado e era sua razão de ser. Se, para os
contemporâneos, o ganho eleitoral parecia o principal
objetivo do clientelismo,
vencer eleições era também a melhor maneira de garantir ou conservar cargos. Um juiz municipal, "um dos chefes mais
influentes", compreendeu isso claramente, desejando
vencer uma eleição porque, como dizia, "uma eleição é o melhor meio para este alcançar uma vara de direito". Um
membro do Congresso alegou que os próprios juízes
inevitavelmente "se têm lançado na carreira política principalmente com o fim de segurar[-se em]
seus empregos"48. Em última instância, todos os cargos eram usados para ganhar eleições. Portanto, o clientelismo
alimentava
o sistema padrinho-afilhado de modo muito semelhante àquelas árvores altas da floresta amazônica que extraem
alimento das próprias folhas que caem, assim que elas
chegam ao chão. O clientelismo vicejava em si mesmo. E o círculo de apadrinhamento-eleições-apadrinhamento
fortalecia os valores do próprio sistema clientelista,
baseado na troca de gratidão por favor.

300 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


À medida que subiam os degraus da carreira, os homens que se dedicavam a essa correspondência espalhavam-se
por uma imensa área, estabelecendo elos de protetores-protegidos
que ajudavam a unir todo o território brasileiro num único sistema clientelista, apesar das tendências regionais. Ano sim,
ano não, os estreitos laços pessoais
provavam-se cruciais, e isso significava proximidade, conhecimento direto. Esse extenso sistema, que alcançava
milhares de quilômetros, era integrado por meio de
pedidos de favores e pela conseqüente correspondência entre pretendentes, missivistas e aqueles que nomeavam os
ocupantes dos cargos. A busca de posições governamentais
dependia da manipulação de uma extensa trama de ligações, de modo tal que, neste sentido, o Estado ajudava a formar a
nação. Mais uma vez se pode dizer: o clientelismo
gerou o Brasil.

NOVE

Ligações Ansiosas

A ORDEM ESTRATIFICADA da sociedade brasileira dava forma à prática clientelista, e a mobilidade dos indivíduos
dentro desta ordem imprimia direção àquela prática.
Entre os politicamente ativos, cada participante procurava nervosamente preservar ou melhorar sua posição, assim
reafirmando, legitimando e expressando seu compromisso
com um sistema caracterizado por
relações de superioridade e inferioridade. Cada pedido, seja a favor de alguém, seja para conseguir uma posição para si
mesmo, revelava um status relativo. A maior
parte deles também sugeria certas ligações entre os indivíduos, ligações importantes para os participantes - laços
familiares, relações de clientela ou o
pistolão da lealdade partidária. Além de expressar sua crença geral no clientelismo como algo apropriado, os
argumentos dos missivistas em favor dos que buscavam
colocações acentuavam
Página 137
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
as virtudes do paternalismo e a extrema importância da posição social. A primeira parte desde capitulo explora as
ligações entre os que escreviam cartas de recomendação
e os que as recebiam,
assim como entre os que procuravam nomeações e os missivistas, fossem eles parentes, amigos ou companheiros de
partido. As variações nesses padrões esclarecem bastante
a estrutura do clientelismo. Em seguida, uma vez que os participantes na troca
de cartas estabeleciam e reiteravam constantemente sua posição relativa como patrão ou cliente, é preciso reconhecer a
profunda ansiedade que marcava toda essa correspondência.
Finalmente,

302 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


os motivos que se alegavam para reconhecer uma nomeação revelam o valor que se atribuía à posição social, ao
comportamento deferencial e à permanente lealdade.

Relações

O sistema clientelista baseava-se fundamentalmente na unidade básica da sociedade - a família. Dos pedidos que
examinei, um terço esforçava-se em apontar
o parentesco entre o missivista e quem procurava a colocação. Sem dúvida, outras relações familiares não eram
declaradas. Uma vez que os contemporâneos viam a ocupação
de uma posição oficial como um importante recurso, eles logicamente defendiam os interesses de suas famílias
procurando cargos públicos para os parentes. Uma família
desejava que seus membros fossem juízes, burocratas e sobretudo representantes no Congresso, a fim de assegurar ainda
mais nomeações, patentes e sinecuras, e assim
transmitir sua posição para a geração seguinte. Em 1848, José Antônio Saraiva mobilizou de forma efetiva seus parentes
a fim de garantir o cargo de promotor para
si mesmo, como provavelmente aconteceu com a maioria daqueles que jamais se tornaram famosos o bastante para que
sua correspondência fosse guardada. Um diplomado
em direito cujo pai pertencesse à elite judiciária ou política tinha pelo menos o dobro das possibilidades de penetrar no
mesmo círculo do que um colega de turma
que não tivesse a mesma condição. Os interesses da família também se estendiam a parentes fictícios e a membros da
grande unidade doméstica. A fim de assegurar para
um afilhado um lugar como padre de paróquia em Paraíba do Sul, a poderosa família Werneck, de cafeicultores, uniu-se
para que o titular fosse afastado. A "família
(...) e seus parentes" chegaram ao ponto de recusarem comparecer à missa até conseguir seus objetivos1.
As mulheres desempenhavam um importante - embora não reconhecido - papel na política, como também o faziam
no esforço familiar de acumular outras propriedades.
Era através delas que se ligavam todos os parentes por afinidade referidos

Ligações Ansiosas 303


em tantas recomendações, e elas próprias às vezes escreviam os pedidos (3% do total). No início do século, os pais de
uma jovem obrigaram-na a romper o noivado porque
seu futuro noivo estava então "fora do Ministério e, sem o imperador, (...) já não podia dar títulos e favores". O barão de
Maroim, tendo desposado uma rica viúva,
"da sua fortuna tem ele sabido fazer bom uso, dispensando as rendas com generosidade, sobretudo em favor dos
parentes, dos quais grande parte lhe deve a boa posição
[oficial] em que se acha. [Portanto] a essa fortuna deve ele a sua posição com influência no partido"2.
Os favores concedidos a uma pessoa podiam conseguir a lealdade de toda a sua família - ou afastar aqueles que
haviam sido esquecidos. Cargos e honras eram
concedidos "para conservar em gratidão a família que é numerosa e influente e de origem Liberal", ou "para mais se
radicarem as relações da família Castro e Silva
com o governo". As famílias que ficavam de fora da corrente clientelista sentiam essa exclusão como uma ameaça. O
presidente de Minas Gerais advertiu a seus superiores
no Rio de Janeiro que não seria aconselhável indicar um certo candidato ao posto de comandante da Guarda Nacional
em Pitangui porque "o predomínio de sua família,
proveniente da acumulação de muitos cargos públicos, já é alegado como motivo ou pretexto de descontentamento de
outras pessoas gradas e influentes no município"3.
O nepotismo não constituía uma prática vergonhosa; não havia nada a esconder. Em 1884, o presidente de
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Pernambuco explicou francamente que desejava promover
o promotor público para um juizado municipal a fim de abrir uma vaga para seu próprio filho. Sem dúvida era mais
comum reconhecer a existência da lealdade familiar
e simplesmente tentar restringir seus abusos mais flagrantes. Pela lei, "pai, filho, irmãos ou cunhados" não podiam
participar conjuntamente de uma câmara municipal.
A lei eleitoral de 1846, época em que os eleitores ainda assinavam suas cédulas, especificava que eles não poderiam
votar em seus ascendentes ou descendentes, nem
em seus irmãos, tios ou

304 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


primos de primeiro grau. No entanto, mesmo as regras limitando o nepotismo eram freqüentemente colocadas de lado.
Um observador reclamou que as autoridades ignoravam
a "incompatibilidade legal" que deveria ter evitado que um juiz dos feitos tivesse um tio na Relação, um outro como
juiz de órfãos e um filho como promotor público,
todos no mesmo distrito. Essas leis apenas impunham certos limites ao nepotismo, sem considerá-lo essencialmente
condenável. Um chefe rural, ao recomendar vários
homens para cargos, explicou porque os laços de família eram melhores: estes "são meus parentes, o que decerto V. Exa.
deve tomar em conta, (-) mas (...) devo dizer
aquilo que entendo, indicando quem me merece inteira confiança pelo conhecimento pessoal que tenho [deles]". Uma
pessoa que se recusasse a usar seu cargo público
para ajudar um parente seria considerado violador de um preceito básico da vida social4.
Depois da família vinha a clientela. Na maioria das vezes, a palavra amigo significava protetor ou cliente. O
protetor era o amigo do cliente ou vice-versa5.
Segundo um dito popular da época: "Quem de todos é amigo ou é muito pobre ou muito rico". Portanto, tratava-se de
uma "amizade assimétrica", para usar a apropriada
frase de Pitt-Rivers. Usava-se a palavra amigo neste sentido sem constrangimento, e desconfio que ainda se usa assim.
Mesmo quando usada entre pessoas aparentemente
iguais, ela comumente implicava a troca de favores, e não necessariamente intimidade ou profundos sentimentos
compartilhados. Um missivista colocou a coisa na negativa:
"Não tenho relações de amizade com ele, nem ele nada me pediu". Um aspirante a político viu claramente que "nenhum
moço (...) na vida política se avantajará desde
que não tiver para sustentá-lo, para protegêlo, um amigo que ocupe no país uma posição tão elevada como a que V. Exa.
felizmente ocupa"6. Nas relações entre os três
elos do clientelismo - os que desejavam cargos, os que escreviam cartas e os que as recebiam - a palavra amigo ocupava
um lugar de destaque.
Os amigos ofereciam uma ferramenta a mais, com a qual uma pessoa cavava recursos, mas como os amigos não
eram

Ligações Ansiosas 305


literalmente ligados através da propriedade, o laço com eles era mais tênue e efêmero do que com os membros da
família. Um membro do Congresso explicou: "quando
se trata de política não há amigos", e isso significava que não se podia contar com eles. Um político, confessando sua
aspiração de ser eleito senador, disse: "Não
sei se conseguirei, embora muito tenha melhorado a minha posição. Entretanto (...) os adversários dizem daí que eu sou
guerreado pelos meus próprios amigos, em cujo
número citam os teus parentes"; isto é, ele contava que os parentes seriam leais uns aos outros, mesmo que os amigos se
mostrassem falsos. Um dito popular enfatizava
a visão comum sobre a maior confiança na família, em comparação com a confiança nos protetores, afirmando o seu
oposto: "Mais vale um bom amigo que nem parente nem
primo". No entanto, mesmo que acreditassem que aqueles fossem menos confiáveis que os parentes, os líderes políticos
despendiam muito esforço construindo redes de
amigos. Os presidentes de província, diziase, gastavam seu tempo "quase que exclusivamente em angariar afeições,
empregando amigos e criando prosélitos". João Maurício
Wanderley, barão de Cotegipe, insistia em que nunca permitiu que a amizade interferisse na coisa pública, "mas quando
vejo que a política lucra, abster-me, só porque
sou amigo e posso ver o bem daqueles com quem tenho relações, seria fraqueza e talvez alguma coisa mais"7.
Em outro e relacionado sentido, amigo significava companheiro de partido ou partidário da mesma causa política,
também chamado de correligionário. Em suas
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
cartas particulares, os políticos muitas vezes usavam a palavra amigo nesse sentido. É difícil dizer se os autores das
cartas de recomendação - a maioria das quais
era muito breve - também davam esse sentido à palavra. Como descrito acima, devido à natureza dos partidos e das
eleições, era muito freqüente que um correligionário
fosse de fato ou o patrono ou o cliente de quem pedia. O fato de os dois termos freqüentemente aparecerem na mesma
carta não significa que o missivista fizera conscientemente
uma distinção entre eles: podia apenas estar usando duas expressões para a

306 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


mesma relação. De modo geral, penso que "correligionário" possuía um objetivo imediato e específico, enquanto um
amigo também poderia ser protetor ou cliente de
alguém para outros fins.
Um resumo de todas as relações especificadas nas cartas de recomendação que examinei encontra-se no Quadro 8.
Como fica claro, as ligações familiares eram
muito mais importantes no primeiro nível (ou inferior) do sistema clientelista que no segundo, enquanto os laços
partidários eram mais importantes entre o remetente
da carta e seu destinatário. Como os mais freqüentes missivistas eram deputados, e a maior parte dos destinatários
membros do Gabinete, não é surpreendente encontrar
laços partidários assomando nessa parte "superior" da rede. O Quadro 8 também mostra o amigo como um elo válido
em ambas as direções: "para baixo" ao que procura
o cargo e "para cima" ao destinatário da carta. Como sempre, nessa análise, confio inteiramente nas relações
especificadas na carta: sei, por exemplo, de algumas
ligações familiares que os correspondentes não mencionaram, mas não as incluí no quadro.

QUADRO 8

Relações Declaradas; Entre Protetores e Clientes

"Para baixo", "Para cima",


entre o missivista e o entre o missivista
pretendente ao cargo e o destinatário

Relação Número Percentual Número Percentual

Membro da Família

Amigo

Correligionário 38

103

82 34,6

43,5
16,0

22 4,0
199 36,6
232 42,6

Colega de governo 11 4, 6 91 16,7

Outro 3 1,3 - -
TOTAL 237 100,0 544 99,9

Nota: as cartas freqüentemente mencionavam mais de uma relação.

Página 140
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Ligações Ansiosas 307
Poderia ser colocada a hipótese de que quanto mais cedo no tempo e mais distante do centro, mais freqüentemente
os correspondentes apelariam para as relações
familiares, e quanto mais tardio no tempo e próximo ao centro - isto é, quanto mais "moderno" - mais freqüentemente
eles referir-se-iam a partido e interesses. Na
medida em que "partido" significava principalmente facção ou clientela, e não um programa, o argumento torna-se um
tanto acadêmico. No entanto, vale a pena um exame
mais preciso da freqüência relativa com a qual os contemporâneos usavam esses termos, justamente por causa da
compreensão que se pode adquirir da cultura política.
Quando consideramos essa questão, é importante distinguir entre os dois níveis do clientelismo, isto é, entre quem
pretendia o cargo e seu protetor imediato, e entre
este e o seu protetor, para quem ele escrevia. Tomando apenas o nível "inferior" do clientelismo, realmente encontramos
uma queda de 42% em 1850-69 para 31 % em
1870-89, na proporção dos que apelavam para os laços de família, e um leve incremento, de 16% para 17%, nas
menções a partidos. Contudo, de um exame de mais 127
cartas
escritas durante os primeiros vinte anos da República - a maioria para Afonso Pena -, conclui-se que as referências às
ligações partidárias então caíram substancialmente
(para 3%), enquanto as familiares subiram novamente, para 35%. Esse fato vem questionar se a mudança anterior tinha
muito a ver com a modificação do modo de vida
e dos valores. Além disso, no segundo nível do clientelismo, isto é, entre o missivista e o destinatário, ambas as
categorias - partido e família -, ainda que levemente,
declinaram em importância durante o Império. Ao mesmo tempo, as referências a amigos aumentaram
consideravelmente nos dois níveis. Esse incremento na clientela e
nos laços pessoais contradiz qualquer suposta "modernização".
Será verdade que, quanto mais distante do centro, menor a tendência dos candidatos a dar atenção a ligações
partidárias? No nível inferior da clientela,
definitivamente não. As ligações partidárias do candidato a um cargo eram mais enfatizadas nas

308 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


cartas provenientes do Norte e Nordeste, que se referiam muito menos a amigos do que em geral se fazia se tomarmos o
Brasil como um todo. Em contraste, as cartas
de São Paulo e do Rio de Janeiro, mais próximas à capital nacional, apresentavam a maior incidência de referências à
família. Na parte superior desta rede, entre
missivistas e destinatários, a hipótese seria verdadeira somente se aplicada ao extremo Sul, onde 19% das cartas
referiam-se à família, bem acima da média de 4%9.
A menor freqüência de referências a ligações partidárias encontra-se nas cartas de São Paulo e outras províncias sulistas,
assim como a própria capital. Evidentemente,
nem a proximidade nem uma suposta visão "moderna" implicava uma ênfase no partido. No Nordeste, geralmente
considerado tradicional, os missivistas mencionavam suas
ligações familiares aos destinatários somente 4% das vezes, comparados aos 46% de menções a laços partidários.

QUADRO 9

Relações dos Missivistas com Pretendentes a Cargos,


por Nível Administrativo do Cargo Solicitado
(Número e percentual de referências)
Capital Capital da
Nacional Província Interior

Número % Número % Número %

Membro da

família Amigo Correligionário Colega no governo


TOTAL

17 44,7
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
14 36,8
3 7,9

27 39,1
32 46,4
8 11,6

4 10,5 2 2,9

38 99,9 69 100,0

9 17,3
22 42,3
19 36,5

2
52

99,9

Nota: em muitas cartas não se menciona o local do cargo pretendido.

Se o que se quer dizer com maior distância em relação ao centro é o interior em oposição às capitais provinciais e
nacionais, a hipótese está novamente errada.
Lá era menos provável que se

Ligações Ansiosas 309


mencionasse a família como a relação entre um missivista e um candidato a um cargo do que na capital provincial ou
nacional (veja Quadro 9). Em contraste, cartas
solicitando cargos no interior faziam muito mais referências a partido do que as outras. Pode-se concluir que a hipótese
da modernização política tem pouca validade
para o Brasil no século XIX. Idéias semelhantes no que se refere às relações entre protetores e clientes impregnavam
todas as regiões durante todo o período.
Contudo, como pode ser visto no Quadro 10, segundo a posição que os missivistas detinham havia variações

significativas quanto à relação que enfatizavam. Para cima, os deputados mencionavam principalmente as ligações
partidárias, mas para baixo referiam-se a amigos.
Raramente mencionavam os laços partidários de seus clientes. Nenhum deles falava de
seus laços familiares com o destinatário, mas 9% admitiam ter alguma relação de parentesco com o candidato ao cargo.
Os presidentes de províncias, sendo nomeados
pelo Gabinete e compartilhando seus objetivos políticos, referiam-se tão freqüentemente ao seu coleguismo no governo
quanto às suas ligações partidárias. Eles eram
geralmente cautelosos em chamar
o membro do Gabinete de amigo, mas usavam o termo para referir-se a cerca de três entre dez pretendentes a cargos. Os
presidentes possuíam um número consideravelmente
maior de laços familiares com os pretendentes do que os deputados, mas, assim como esses, não costumavam ter
vínculos familiares com o destinatário. Cerca de um
terço das vezes (isto é, duas vezes mais que os deputados) referiam-se às ligações partidárias dos pretendentes, talvez
porque soubessem que tais lealdades seriam
vistas não apenas como uma ajuda a si mesmos, mas ao futuro político do Gabinete. Mais da metade das vezes, os
juízes, ao referirem-se aos destinatários das cartas,
chamavam-nos de amigos, mas só usavam essa palavra para referir-se àqueles que recomendavam em 8% dos casos,
embora a aliança partidária do candidato - outro tipo
de clientela - aparecesse com enorme freqüência em sua correspondência. Os clientes dos juízes

310 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


também os assediavam muito mais por razões de família do que quando apelavam a deputados ou presidentes. Os
profissionais liberais consistiam o grupo que mais freqüentemente
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
mencionava o parentesco com o destinatário da carta, mas em geral eram descarados em chamá-los de antigos. E,
quando escreviam em favor de alguém, chamavam-no de
amigo mais da metade das vezes.

Entre os pretendentes a cargos - mais do que entre os missivistas -, o grupo mais provável de ser recomendado com
base em ligações familiares era o dos membros
das Forças Armadas (veja Quadro 11). Ao recomendar juízes, os missivistas tendiam a enfatizar mais suas ligações
partidárias do que faziam para outras categorias
de candidatos a cargos. Todos os grupos confiavam nos amigos, mas as cartas sobre profissionais liberais mencionavam
este laço mais freqüentemente.

Raramente o historiador consegue saber que ação era empreendida para atender a uma carta de recomendação. O
diário oficial não publicava os nomes de todos
os detentores de cargos públicos em um lugar. Algumas vezes, no próprio arquivo, de notas marginais ou de uma carta
subseqüente, pode-se deduzir o resultado. Consegui
fazê-lo para apenas 32 entre 577 cartas. Dessas 32, oito tiveram sucesso em suas aspirações. Se esse pequeno grupo
indica algo a respeito da tendência maior, uma
conclusão seria de que um quarto de todas essas cartas alcançou seus objetivos, embora quase todas as posições
pareçam ter sido preenchidas por intermédio do processo
de recomendações. Seis das 32 cartas não indicam a relação entre o missivista e o destinatário (a conexão para cima);
das restantes, as cartas indicando um laço
familiar tinham a maior taxa de sucesso (38%). Em apenas 19 casos conhecemos tanto a taxa de sucesso como a relação
"para baixo" entre o pretendente e o missivista.
Cinco deles conseguiram uma posição: três amigos, um parente e um adepto do partido de quem escreveu a carta.

Ligações Ansiosas 311


QUADRO 10

Relações dos Missivistas com os Destinatários

e Pretendentes a Cargos pela Posição do Missivista


(Percentual de referências)

Posição do Missivista

Relação Deputado

Profissional
Presidente Juiz Liberal

"Para cima", para o destinatário

Membro da
família O,0 3,2

Amigo 30,4 9,6


Correligionário 49,7 43,6
Colega no

governo 19,9
TOTAL 100,0
(n. = 171)

0,0
52,8
47,2

43,6
Página 143
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
100,0

0,0

100,0

6,3
75,0
12,5

6,3
100,1

94) (n. = 36) (n. = 16)

"Para baixo", para o candidato

Membro da
família 9,1 19,0 30,8 28,6
Amigo 72,7 28,6 7,7 57,1
Correligionário 16,4 33,3 61,5 O,0
Colega do
governo 1,8 19,0 O,0 14,3
TOTAL 100,0 99,9 100,0 100,0
(n. = 55) (n. = 21) (n. = 13) (n. = 7)

312 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


QUADRO 11

Relações dos Missivistas cora os


Pretendentes por Posição do Pretendente
(Percentual de referências)

Posição do Pretendente

Forças

Todos os

Armadas Profissional Grupos

Relação Juiz Burocrata Regulares Liberal(n. = 104)

Membro da
família 30,4 16,7 47,1 18,2 30,8
Amigo 30,4 50,0 47,1 72,7 43,3
Correligionário 34,8 8,3 5,9 9,1 17,3
Colega no
governo 4,3 25,0 O,0 O,0 8,7
TOTAL 99,9 100,0 100,1 100,0 100,1

Ansiedade

Não importa se amigos ou parentes, pretendentes a cargos ou missivistas, todos os participantes engajavam-se em
uma (roca carregada de apreensão. Como em
qualquer relação pessoal, a correspondência entre protetor e cliente provocava complexas reações emocionais. A política
oferecia uma arena a mais para que as qualidades
do líder, do "pai de família" ou protetor, se afirmassem. O que estava em jogo era poder, auto-estima e sobrevivência
Página 144
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
familiar. Jamais duas pessoas, mesmo da mesma
"classe", colocavam-se como absolutamente iguais: uma sempre dependia da outra; uma sempre solicitava, enquanto
outra concedia ou negava. Além disso, os relacionamentos
não eram estáticos, sendo preciso testá-los regularmente. Escrever uma carta de recomendação definia o lugar relativo
de três pessoas naquele momento, indicando
as posições desiguais de cada uma. E quando se procurava obter status uma emoção predominava: a ansiedade. O
pretendente ao cargo naturalmente sofria enquanto esperava
a nomeação; mas quem havia escrito a carta em seu

Ligações Ansiosas 313


favor também precisava mostrar que podia conseguir, pois de
outra forma sua posição como padrinho seria posta em dúvida. O protetor podia recusar o cliente quando este pedisse
que escrevesse uma carta, mas essa ação não poderia
ser tomada sem o risco de o cliente voltar-se para outra pessoa, e ser bem-sucedido.
Da mesma forma, o protetor do protetor poderia estar ansioso por agradar o missivista ou por desculpar-se, caso não
pudesse prestar o favor solicitado, embora ele também pudesse assumir o risco e dizer "não". Em cada caso, qualquer
incerteza poderia provocar dúvida a respeito
do lugar social dos três
participantes na transação.
O próprio pretendente ao cargo ao mesmo tempo tentava manter uma aparência de segurança e esperava
tensamente pelo
resultado de seu trabalho de alinhar os patronos. Uma carta de recomendação pedia que se arranjasse algum cargo,
qualquer cargo, enquanto o homem esperava nomeação
para uma possível presidência provincial, "a fim de que não pareça que ele está no Rio de Janeiro como um pretendente
em expectativa". Este homem procurava evitar
que sua dependência, sua fraqueza, seu
status como cliente, aparecesse. Uma medida da apreensão que permeava o sistema é que 13 missivistas pediam apenas
que se mantivesse o favorecido na posição atual.
E, à medida que novas nomeações eram feitas, outros que ocupavam lugares ao longo do canal clientelista tinham
razões para ficarem receosos. Quando um novo presidente
de província chegava, "ninguém mais se julga seguro desde que está sabido que quem governa
é o Afonso [Celso de Assis Figueiredo, membro do Gabinete], cuja família e aderentes estão já todos arranjados, e seus
desafetos punidos pela mão do governo"10.
A tensão que um jovem sentia ao buscar o apoio do Gabinete para as eleições vindouras é particularmente clara.
Como aspirante a político, João José de Oliveira
Junqueira Júnior
confessou a Cotegipe: "confio muito, muito no [senhor] ministro, no senador e mais que tudo no amigo. O meu futuro
depende de minha eleição neste ano". Um mês mais
tarde ele pareceu

314 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


ameaçar seu protetor com uma possível deserção, ao mesmo tempo em que jurava fidelidade eterna: "Os meus esforços,
e o meu trabalho, que resultados me hão de trazer,
se não me trouxerem o de uma eleição? Seria até desanimador. V. Exa., V. Exa. só me poderá tirar deste estado de
ansiedade e incerteza, e constituir em mim, não
direi um amigo mais dedicado, mas uma dessas obrigações, que jamais se romperiam porque importam o meu futuro".
Resumindo, ele acrescentou: "Não abandone um amigo
dedicado como eu nem consinta que o Círculo da Chapada venha a ser presa de um ingrato ou coisa pior". Seu protetor,
contudo, limitou-se a fazer promessas de outras
recompensas e persuadiu-o a candidatar-se só ao cargo de deputado suplente. Depois das eleições, Junqueira escreveu
novamente, dizendo não esperar que o titular
lhe desse a oportunidade de assumir seu lugar como suplente no Rio de Janeiro, e pediu a Cotegipe que desse "outra
prova de consideração (...) seria doloroso ver
meus colegas contemporâneos adiantarem-se sobre mim (pois que alguns têm de ir à Câmara) sem que eu tenha uma
compensação qualquer". Então, agradecendo a seu protetor
pela "promessa que me faz da próxima realização de uma prova de consideração do Governo Imperial", insistiu: "Agora
é a ocasião mais azada, visto como, com as câmaras
abertas, aparecem as ambições e as exigências". Logo teve sua recompensa e agradeceu efusivamente a Cotegipe por
Página 145
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
tê-lo nomeado presidente da província do Piauí.
Isso, contudo, não o satisfez por muito tempo, e em menos de um ano ele requereu a criação de um novo distrito
eleitoral pelo qual pudesse concorrer: "Complete V.
Exa. a sua bela obra, colocando-me na Câmara dos Deputados". A preocupação e a tensão de Junqueira predominam em
toda essa correspondência11.
Em uma cultura genuinamente paternalista, o favorecido deve se ver como uma criança que, cheia de gratidão pela
benevolência de um pai, disfarça um enorme
alívio em escapar da punição. Manuel Pinto de Souza Dantas, quando era um
jovem político, reconheceu a atenção de Cotegipe nessas

Ligações Ansiosas 315


palavras: "A bondade com que V. Exa. me distingue autoriza pensar-se que alguma coisa valho - e por isso toma-se-me
como padre a certas crianças". Em seguida, comparou-se
com um arbusto sob um carvalho. Suas expressões de gratidão aparentemente fizeram com que os presentes
continuassem chegando,

pois menos de dois anos depois ele poderia exclamar com júbilo: "Estou deputado geral e a V. Exa. dou também os
emboras por semelhante resultado"12. A ansiedade
tinha sua recompensa.
Em outras ocasiões, uma atitude de autocensura camuflava a ansiedade real que permeava a relação entre cliente e
protetor. O missivista protegia-se do sentimento
de inferioridade se o pedido não fosse atendido. "Meu cunhado (...) escreveu-me que desejava ser vereador (...) Se isso
puder ser, sem o menor inconveniente nem
atrapalhação ao plano geral, V. Exa. o taça". Um jovem político, querendo o endosso do partido, dirigiu-se a dois
homens, referindo-se a cada um deles como "um dos
eminentes chefes do partido", pretextando consultá-los se ele tinha "suficientes títulos para tão elevada pretensão". Ao
sugerir que não, afirmava na verdade que
sim: mas sua necessidade de
afirmação mostra sua dúvida mais profunda13.
Às vezes pode-se perceber um tom queixoso na correspondência, revelando tanto uma aguda sensibilidade em relação
ao desequilíbrio de poder entre protetores e clientes
quanto uma crença em sua injustiça. Uma carta
de José Bento da Cunha Figueiredo, presidente de Pernambuco (1853-56) e primeiro
presidente de Alagoas (1849-53), revela tão claramente este sentimento que vale a pena citá-la em sua extensão:
Creio que hás de saber, que vai completar sete anos, que

estou preso ao cambão que me pôs o governo; e que, abandonando


a minha família e cortando todos os meus interesses pessoais, estou
mais pobre do que era, quando deveria ter adquirido, com o suor
do meu rosto, uma fortuna sofrível para deixar aos meus nove filhos,

se para eles estivesse trabalhando e não para a pátria. Sabes que


assim tenho obrado a fim de não partir a excessiva condescendência

316 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


para com os Gabinetes, sob cujas ordens tenho estado; que nunca pedi nada para mim e nem para parente meu; que não
reclamei gratificações, nem os vencimentos que
perdi como deputado, quando fui mandado ficar nas Alagoas com o triste ordenado que então se dava aos presidentes, e
que não chegava para sustentar a mim só, quanto
mais à minha família, que deixei ficar em Pernambuco.

Agora estou ainda preso ao cambão, e já ouço que, falandose no Rio de Janeiro de círculos, se diz: e o José Bento
quererá ser ainda deputado? Mas o que querem
que eu seja? Senador, não, porque isso é para beiços mais finos, e eu reconheço que sou mole. Mas nem ao menos
querem que eu seja deputado? Assim se paga o amor
com ingratidão? [Acham que ser presidente é] um mar de rosas? (...) O que é isto, João?! Então está em questão se
quererei ser deputado? Quero, sim senhor, quero;
o que não choro é por ser presidente 14.
Página 146
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

Os dois níveis do clientelismo deixavam algumas vezes um jovem juiz municipal em um aperto martirizante entre
seus protetores locais e os membros do Gabinete
que o haviam nomeado. "Assim compreende V. Exa.", escreveu o jovem José Antônio Saraiva em 1849, "que me não é
possível trair o governo que tanto confia em mim,
e entretanto a oposição me há sido recomendada por amigos que deviam conhecer e se esquecem da minha posição. (...)
Como sustentarei o governo? Como servirei aos
meus amigos?"15. Sem dúvida, essas perguntas angustiadas deixavam muitos políticos, velhos e novos, sem dormir.

A posição dos solicitantes aumentava a possibilidade de ressentimento de ambos os lados. Um proeminente


fazendeiro de café pedira a um membro da Assembléia
provincial para apoiar um pedido ao governo. O homem nada fizera. O fazendeiro escreveu-lhe: "Acho-me bastante
magoado com V. Exa. tendo por motivo o pedido que
fiz a V Exa. (...) As razões que tenho creio que V. Exa. em meu lugar ficaria do mesmo modo molestado, tendo relações
de amizade com V. Exa. desde 1868. (...) Já
vê V Exa. que eu confiei demais nas nossas relações de amizade. (...) Se V. Exa. tivesse tomado em consideração o meu

Ligações Ansiosas 317


pedido, teria me escrito dando motivos e razões pelos quais não tinha podido satisfazer a ele. (...) Mas V. Exa. (...)
tratou-me não gomo amigo dedicado que sempre
fui; não como correligionário sempre pronto para sacrificar-se pelo seu partido, mas sim como a um importuno pedinte
quotidiano [sic] de emprego ou de alguma protata
[pessoa protática]. Assim vê V. Exa. que são motivos que levam todo homem que tenha dignidade e caráter a
molestar-se"16. Um político baiano relatou a irritação
dos mandachuvas do interior com um deputado, "por não ter feito caso dos amigos". Um membro do Congresso mais
tarde lembrou-se como os eleitores do interior "julgam
que o deputado deve ser uma espécie de procurador ou comissário geral para todas as incumbências, mesmo as de
ordem mais particular. (...) Escrevem a miúdo e exigem
pronta resposta". Um outro deputado lamentava a prática por meio da qual "temos pois o deputado dependendo do
capricho, da má vontade de um Colégio [Eleitoral] a
quem ele aliás tem servido sempre, porque, infelizmente, esquecem-se todos os serviços, ou benefícios recebidos por
um único que afinal não se pôde conceder"17.
Algumas vezes, a profunda irritação com essa necessária subserviência aos chefes rurais traduzia-se em uma
atitude arrogante para com os matutos, a quem
faltava o polimento urbano. Um deputado reclamava que seu papel era o de constantemente conseguir favores do
governo para os eleitores, atendendo às "pequenas frivolidades
que entram por muito na vida de aldeia". Também deve ter havido algum conflito de gerações, à medida que aqueles que
menosprezavam os valores e os costumes do interior,
freqüentemente, ainda que de forma inconsciente, atacavam seus pais ou os amigos de seus pais18. Como vimos, a
carreira de um juiz que viesse a ser deputado costumava
começar em uma remota cidade do interior, onde as questões filosóficas que o haviam animado na faculdade de direito
não tinham muito espaço. João Lustosa da Cunha
Paranaguá, mais tarde visconde de Paranaguá, lembrou que "há lugares em que a residência do magistrado pode
considerar-se

318 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


como um verdadeiro degredo. O homem habituado a um trato social um pouco mais polido acha-se ali segregado de
tudo aquilo que pode alimentar o seu espírito, acha-se
privado de todas as comodidades da vida; este magistrado, além disso, achase inibido de exercer conscientemente suas
atribuições, porque quase sempre está sujeito
à prepotência de um outro indivíduo".
A última frase torna clara a relação: a dependência juntamente com um desprezo íntimo torna essa dependência muito
mais intolerável. Um juiz de direito no interior
do Ceará deplorou: "quanto sofre um juiz que se aprecia, mas tem a pouca sorte de viver no mato"19.
De um juizado menor, um bacharel poderia passar para uma presidência de província, onde novamente sentiria o
poder daqueles que considerava seus inferiores
intelectuais. O desagrado dos presidentes em relação ao comportamento dos habitantes locais ocultava um pouco de
desconforto sobre seu próprio status. Um presidente
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
no Rio Grande do Norte, por exemplo, afirmava que "não há província mais ingovernável do que esta". A incapacidade
para governar quer dizer que o poder estava em
outro lugar. A fanfarronice substituía pobremente a calma segurança: em Sergipe, o presidente descrevia os homens que
ficavam em seu redor como "estúpidos e ao mesmo
tempo orgulhosos, intrigantes, mentirosos, falsos e corrompidos, e só governáveis porque no meio de tudo isto são
covardes e medrosos"20.
Para escapar da tensão constante criada por esta dupla dependência - em relação ao Gabinete e ao chefe local - o
deputado tinha que escolher: ou afastar-se
da política ou persegui-la para conseguir uma cadeira vitalícia no Senado, onde ao menos poderia ter paz. Como
colocou um observador: "Quem não é senador não é nada".
De fato, alguns preferiam antes uma cadeira no Senado do que um cargo no Gabinete21.
Seguramente, um cargo no Gabinete não trazia paz. Em 1856, Antônio Clemente Pinto, barão de Nova Friburgo,
cafeicultor no Vale do Paraíba, talvez o homem
mais rico do

Ligações Ansiosas 319


Brasil, solicitara ao ministro do império, um político originário da província do Rio de Janeiro, que encaminhasse uma
matéria apostamente rotineira à Fazenda. O
ministro
submeteu-a a seu colega recentemente indicado na Fazenda, mas acrescentou que "se você não pode dar esse
deferimento, tenha a bondade de mandar-me pelo portador
ao menos uma carta que eu possa mostrar ao dito meu amigo e que me justifique para com ele". Duas semanas depois,
contudo, ele viu-se forçado a escrever novamente
ao ministro da Fazenda: o barão, "desconfiado com a demora de mais de um mês [sic] que o Tesouro tem tido em
negócio tão simples e que todos lhe informam que é de
mero expediente", tinha mandado nova carta "dispensando-me do incômodo que supõe ter-me dado (...) e pedindo-me a
restituição dos papéis anexos ao seu requerimento,
com o que já se contenta, talvez porque, não confiando mais na minha intervenção, quer incumbir a outrem os mesmos
papéis. Tenho sentido bem o desfecho deste negócio".
Ë difícil saber se o ministro do Império, ao considerar sua resposta ao cafeicultor, sofreu mais do que o ministro da
Fazenda, que lutava por controlar seu novo
cargo22.
O cruzamento entre as linhas do clientelismo e de
lealdades conflitantes podia levar a complicações consideráveis, e era comum os membros do Gabinete discutirem entre
si por
causa de tais nomeações, explicava um mexeriqueiro crítico do sistema em 1864: "Destes diferentes valimentos entre
deputados, senadores, cortesãs, presidentes e
altos personagens femininos nascem pequenas rivalidades que o governo (...) acomoda, ou grandes, que nem sempre se
contêm, que produzem a queda de ministérios"23.
A queda do Gabinete Itaboraí em 1870 foi conseqüência desse atrito. Além da estreita relação familiar entre
o primeiro-ministro e o ministro do Império (pai e filho), surgiram complicações porque o ministro da Guerra insistiu
em que o Gabinete nomeasse três amigos de seu
filho e de seu genro para presidências provinciais. Então, quando o ministro da Justiça ficou doente e o ministro da
Guerra temporariamente assumiu seu lugar, o
genro tornou-se o chefe de gabinete do secretariado

320 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


de Justiça e "as nomeações da magistratura fizeram-se no sentido dos mesmos interesses": o mesmo acontecia quanto à
Guarda Nacional. Pior ainda, "[os outros] ministros
na Câmara dos Deputados já não eram procurados", isto é, eles haviam perdido seu controle sobre o clientelismo.
Finalmente, segundo seu relato, Cotegipe conseguiu
que o Gabinete renunciasse24. O apadrinhamento exigia muita habilidade dos
membros do Gabinete, mesmo quando exercido da forma mais circunspecta. Demitir o apadrinhado de outra pessoa
exigia um cuidado
especial. Quando um funcionário público não só deixou de executar suas tarefas, mas desapareceu por meses a fio, seu
supervisor no Gabinete escreveu para José Antônio
Saraiva: "sabendo que V. Exa. interessa-se pelo (...), não quis tomar resolução alguma a respeito da irregularidade do
procedimento deste empregado sem previamente
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
ouvir a V. Exa.25. O clientelismo não era crucial apenas para conseguir empregos, mas para mantê-los.
Não se pode atribuir apreensão apenas ao cliente. Um protetor deparava-se constantemente com desafios à sua
posição, à sua habilidade em manter a lealdade
de clientes. Junqueira advertiu Cotegipe que na Bahia várias pessoas desejavam diminuir sua posição como patrão: "O
plano do Sr. Martins é alardear que fez dez ou
doze deputados e ir para o Ano [Novo] como chefe ou diretor da deputação da Bahia". Algumas semanas antes, o
próprio Junqueira havia incitado Cotegipe a agir, contando
um boato de que o Gabinete daria sua concordância para que o rival de Junqueira se candidatasse no distrito: "Com que
título quer ele isto? Dizem que o Conselheiro
Martins é quem o protege". Assim, a habilidade de conseguir que um cliente se elegesse e assegurar outras posições para
eles media a posição de uma pessoa como protetor26.

Um patrono tinha de ser capaz de proteger seus clientes e promover seu bem-estar; de outro modo, deixaria de ser
seu patrono. Mas, ao exercer tal proteção,
via-se forçado a tornarse cliente de outra pessoa, e assim acabava partilhando do

Ligações Ansiosas 321


nervosismo do cliente. Um missivista confessou à sua esposa: sou muito infeliz nos meus pedidos". Cotegipe,
momentaneamente fora do Gabinete e na Bahia, mas com um grupo
para proteger, escreveu a seu antigo protegido Junqueira, agora ministro da Guerra, para perguntar sobre uma
recomendação ,anterior que fizera para um homem que
desejava uma promoção na Guarda Nacional: "Já eu disse que não tinha em tal negócio interesse pessoal de amizade;
mas, tendo o homem sido proposto por indicação
minha e não supondo eu que houvesse dúvida, afiancei-lhe que seria escolhido. Agora como fico? É capaz o indivíduo e
de mais fortuna da freguesia. ( ... ) O échec
em que está a nomeação já é para mim bem pouco lisonjeiro. Não desejo nem quero figurar de pretendente em objeto
tão mínimo"27.
O protetor também temia que clientes potenciais fizessem seus pedidos através de outra pessoa, em vez de
juntar-se ao seu grupo. Ao recomendar um candidato
a emprego, um míssivista em Salvador acrescentou que a indicação "me quadrava muito para [eu] dar uma lição a
alguém na corte, que está persuadido de que este (
... ) meu amigo nada obterá senão pelo conduto dele". Se os protetores freqüentemente reclamavam do grande número
de pedidos que recebiam de seus clientes, por outro
lado eles os encorajavam como uma forma de expandir sua clientela. Assim, o já prestigiado Cotegipe poderia escrever
em 1870 para o enérgico e ambicioso João Alfredo
Correia de Oliveira: "Talvez não saiba quanto o aprecio depois que o conheço de mais perto; digo-lhe isto para que não
me poupe se vir que lhe posso prestar algum
serviço"28.
O protetor também passava a ser um prisioneiro do cliente. É claro que o primeiro não era tão dependente quanto o
segundo, e certamente não da mesma forma.
Mas, como um comentarista observou: "Não há aqui quem tenha liberdade de ação: são todos patronos e clientes". Um
político disse que não queria concorrer às eleições
no distrito da capital provincial porque havia eleitores demais lá, todos juntos, e "quase todos, funcionários públicos
com aspirações". Ele esperava diminuir sua
dependência em

322 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


relação à própria clientela. Outro candidato a deputado concordou, dizendo que ele também se encontrava na posição
especialmente delicada de enviar muitos pedidos,
pois, nos distritos que abarcavam uma capital de província, "o funcionalismo coloca-nos em verdadeira roda viva". Com
o
advento de eleições diretas, acrescentou mais tarde, o regime
"identifica (...) o deputado com o eleitor", e só muitos favores
podiam garantir sua reeleição29. Em certo sentido, as queixas freqüentes sobre a quantidade de cartas que tinham de ser
escritas refletiam essa falta de independência,
ao mesmo tempo em que eram uma ostentação pelos números de clientes. Como exclamou um candidato a deputado:
"Vou aliviando como posso o saco que os amigos vão enchendo
sem dó"30. Quando se entrava no Gabinete, a dificuldade só aumentava. Junqueira desesperava-se com as "pretensões
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
de gente dessa nossa província que me chegam em
massa". Mais tarde acrescentou: "V. Exa. bem sabe quanto é difícil contentar os digníssimos [deputados] que andam
sempre se queixando. A pior tarefa que têm os governos
são as nomeações. Vamos agüentando a carga"31.

Se o pedido de um cliente não pudesse ser atendido, o protetor tinha que lhe dar essa informação com delicadeza,
para manter sua lealdade apesar da falha.
Nos anos 1850, um membro do Gabinete escreveu uma longa carta a Cotegipe, dizendo-lhe que não podia dar ao seu
afilhado um cargo como funcionário dos Correios, explicando
os obstáculos para a nomeação e assegurando-lhe que um cargo novo e mais bem pago logo estaria disponível em outra
repartição. Sugeriu que "seu afilhado espere".
Quase vinte anos depois, o ministro das Relações Exteriores teve de confessar a Cotegipe: "fiquei muito embaraçado
com o insistente pedido de V. Exa. em favor de
seu especial amigo o Sr. barão de Penedo. V Exa. deve acreditar que o desejo servir; e se, neste caso (-) não o puder
fazer, espero que V. Exa. não atribuirá isso
a má vontade minha, que não pode haver". Um membro do Gabinete que levou dois meses para nomear alguém
recomendado por um senador sentiu necessidade de explicar
que

Ligações Ansiosas 323


não conseguira fazer isso antes "por falta de vaga e dificuldades provenientes de fatos antigos relativos à sua vida de
funcionário público. (...) Paranaguá [outro
membro do Gabinete] pode dizer com que interesse tratei de desempenhar-me para com V. Exa.". protetores
preocupados procuravam aplacar mágoas ou orgulhos.
Somente uns poucos mantinham-se suficientemente à margem do sistema para evitar suas tensões. No Paraná, um
líder político local e membro de uma família dominante escreveu: "Nada pretendendo, nada pedindo para mim,
posso conservar mor prestígio". Aceitar uma posição como diretor da Caixa Econômica, disse, diminuiria "[minha]
força moral e minha posição política na província".
Para alguns, a lisonja de um cargo público não era atraente. Um proprietário de terras no início da República escreveu
do Vale do Paraíba ainda rico pelo café para
dizer "com orgulho ao amigo Dr. Brás que eu não preciso de apoio do governo para que tenha ao meu lado os meus
correligionários e leais amigos de lutas eleitorais,
porque quase nenhum deles precisa de empregos públicos e nem precisam viver das sopas do governo". Era o governo
que precisava deles, de nós "que esposam[os] as
idéias do atual governo, para [preencher] os lugares de posição local", acrescentou. Vinte anos antes, um membro de
uma família política em Minas Gerais afirmou:

"Abandonei essa carreira [política] para dedicar-me à lavoura. Prefiro atualmente ver nascer o café; é vida mais
independente"33. A verdadeira medida de protetores
e clientes estava no seu grau
de independência. Dom Pedro II, que parecia estar no topo, na verdade dependia de outros; ao sair, eles continuaram
como
antes. Contudo, cada um deles também dependia nervosamente de clientes e sofriam ansiedades coletivas que se
expressavam nos repetidos apelos à família, à clientela
e à hierarquia.

Bases Para Recomendação

Em uma carta de recomendação, o remetente expressava atitudes que esperava compartilhar com o destinatário,
tocando

324 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


nos pontos que atingiam o centro nervoso da cultura política. E fazendo um apelo conjunto a parentesco, amizade e
posição social, essas cartas não apenas adiantavam
as oportunidades da nomeação de um candidato, mas também fortaleciam a validade desses mesmos princípios, para
que não fossem postos em dúvida. Quando um missivista
mencionava suas relações familiares com o pretendente ao cargo, reiterava inconscientemente a importância da família
como unidade básica da sociedade. Também expressava
Página 150
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
o intenso interesse em preservar os recursos de sua família, preocupação que esperava que o destinatário compreendesse
e aceitasse. Do mesmo modo, quando chamava
o candidato de amigo, estava apelando para uma crença compartilhada a respeito da validade de se formar uma clientela.
Na base do empreendimento como um todo, encontravam-se
os pressupostos coletivamente aceitos a respeito de uma ordem social estratificada, cujos cimentos eram a família e a
clientela. Devido à carga emocional implícita
na carta, mesmo a mais simples, é instrutivo deter-se nas características do pretendente ao cargo que o missivista
considerava potentes e eficazes.

A medida de um homem não era dada por uma qualidade, mas por muitas. É verdade que as relações entre o
pretendente ao cargo e o missivista freqüentemente
pareciam suficientes para assegurar a nomeação: dizer que ele era um parente ou um amigo geralmente parecia ser a
razão para esperar que o pedido fosse atendido.
Algumas vezes, o missivista indicava outras extensões da rede de protetor-cliente como uma justificativa suficiente,
dizendo que o candidato ao cargo possuía "ligações
respeitáveis", ou havia sido recomendado por certa pessoa. O fato de que, em 121 dos 577 casos que examinei, o
missivista não adiantava qualquer argumento a favor
do pretendente, indica que ele considerava seu próprio lugar como patrão ou cliente como uma base bastante
adequadas34. Nas páginas que seguem, contudo, ignorei essas
cartas, embora tenha notado algumas outras que falavam o bastante para indicar que a autoridade do missivista consistia
em motivo suficiente para conceder o pedido.
Em outros

Ligações Ansiosas 325


casos ainda, o missivista apenas descrevia o candidato como "qualificado", o que significava que ele atendia aos padrões
mínimos estabelecidos por lei. Em cinco
casos o missivista admitiu francamente que não tinha qualquer conhecimento das qualificações do pretendente ao cargo.
A maioria das cartas, todavia, incluía alguns
motivos pelos quais o destinatário poderia fazer a nomeação ou apresentar o nome para alguém que o fizesse. Nessas
justificativas, pode-se perceber as questões mais
amplas que permeavam a comunidade política.

A lealdade de um candidato ou de sua família pesava muito. Os contemporâneos consideravam a fidelidade, tanto
política quanto pessoal, uma das virtudes mais
importantes, e de um homem que detivesse um cargo esperava-se lealdade a seus aliados. Um presidente provincial
explicou em 1860 que, embora tivesse demitido "não
poucos delegados e subdelegados de polícia" por causa de desmandos políticos, "não se pode razoavelmente esperar que
os indivíduos que ocupam [os] cargos ( ... )
[de] autoridades policiais, magistrados, e oficiais da Guarda Nacional ( ... ) quebrem ( ... ) de um momento para outro,
os seus compromissos e afeições". Os homens
bons "conservam-se fiéis à bandeira jurada". Alguns acreditavam que a vida comercial ou urbana provocava erosão de
tal virtude: "Apesar das perfídias de supostos
amigos, das traições e conspirações de partidários desleais, estou ainda em segundo lugar na lista [dos eleitos] e se o
sertão não está ainda contaminado pela hipocrisia
dos grandes centros e observa ainda as tradições de lealdade, [serei eleito]". O interior, contudo, nem sempre se
mostrava tão virtuoso: um candidato parlamentar
confessava sua exasperação em relação aos eleitores no distrito de Jacobina, lá no poeirento sertão da Bahia, onde "não
tive um só voto, apesar das reiteradas promessas
e oferecimentos de meus amigos e do juiz municipal". A lealdade política também tinha de durar: um prinieiro-ministro
respondeu a uma carta de recomendação com
a observação: "As informações do Tesouro não o abonam; o ser agora Conservador não o abona"35. Dez por cento das
razões alegadas para nomea-

326 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


ções nas cartas de recomendação referiam-se à confiabilidade política. Essa atenção também implica dúvida. Era preciso
afirmar a lealdade do pretendente porque do
contrário ele poderia ser uma fonte de preocupação.

Página 151
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
É verdade que um bom número das razões dadas para justificar um pedido tinha relação com o mérito particular do
pretendente. Sua atuação passada era exemplar
ou sua especialidade necessária; podia-se elogiar seu senso de responsabilidade ou enfatizar seu grau de instrução. Os
missivistas referiam-se à honestidade do postulante
com alguma freqüência. Às vezes descreviam-no como apolítico, para acentuar que as razões para a nomeação residiam
em suas qualificações. Quando recomendou um nomeado
a um ministro Conservador, um missivista reconheceu que o candidato "pode ter idéias liberais, mas posso também
assegurar que de há muito não milita e não faz política
de magistratura"36. Às vezes os missivistas afirmavam que os candidatos mereciam a nomeação por justiça, isto é, eles
haviam sido preteridos em favor de homens menos
qualificados devido ao favoritismo; agora o candidato devia ser reconduzido ao seu merecido lugar. De forma diversa,
dizia-se que outros deviam ser nomeados pela
sua antigüidade ou por seus vários anos de serviço. Como Dom Pedro II recomendou em relação aos juízes, a melhor
política era "muito escrúpulo na primeira escolha
e depois a antigüidade"37. Claro que um sistema impessoal, baseado na antigüidade, não exigiria, de forma alguma,
qualquer carta de recomendação. Podia-se também
expor motivos impessoais para apoiar um pedido muito pessoal. Um pai escreveu em favor de seu filho esperançoso de
conseguir uma posição de docente na faculdade
de direito, porque ele era um "doutor de borla e capelo, é o mais velho em idade, é o mais antigo"38.

Tentando prevenir alguns dos piores abusos do sistema clientelista, os legisladores brasileiros determinaram a
exigência de concurso para algumas funções;
mas isto não eliminava a importância de um protetor. Em 1872, por exemplo, os candidatos

Ligações Ansiosas 327


aos cargos na Fazenda provincial da Bahia tinham que fazer uma prova de contabilidade comercial, aritmética e
caligrafia. Contudo, antes mesmo que os candidatos realizassem
a prova, era preciso fazer um requerimento que mais parecia uma petição. Um requerente mencionou sua grande família
e a pobreza, assim como seu serviço na Guerra
do Paraguai, assim apelando aos valores paternalísticos daqueles que permitiriam que ele se submetesse à prova. Além
disso, convenceu dez diferentes tabeliães a
comprovar, investigando em seus arquivos, que não constava qualquer ação judicial contra ele, e conseguiu, tanto do
subdelegado quando do pároco, declarações de
elogio à sua boa conduta, que eram virtuais cartas de recomendação. Em suma, para ser admitido na prova ele precisou
conquistara boa vontade de muitos a quem então
deveria favores, ou seja, exigiu um esforço inteligente e enérgico em agrupar protetores. A lei também exigia que os
futuros tabeliães passassem por uma prova ministrada
por um juiz legalmente instruído; ainda assim, 50% dos pedidos que examinei solicitavam posições de tabelião, o que
testemunha que o desempenho só era ineficaz
como meio de assegurar tais posições. Outros postos, preenchidos ostensivamente por concursos públicos - nos quais os
candidatos apresentavam suas credenciais e
algumas vezes, como no caso de cargos nas faculdades de direito ou medicina, tinham que demonstrar seu desempenho
-, ainda assim baseavam-se em favoritismo e uma
carta de recomendação poderia mudar os resultados. Cotegipe, por exemplo, afirmava que um concurso havia sido
ganho "devido à proteção", argumentando pela nomeação
do segundo colocado39.
É impossível ter certeza de que objetivos políticos e pessoais, de forma semelhante, também não estivessem por
trás de pedidos que os missivistas justificavam
por outras razões. No entanto, se todas as referências às qualificações externas comensuráveis - conhecimentos técnicos,
zelo, honestidade, educação, anterioridade,
tempo de serviço, experiência, eqüidade, conduta apolítica - forem somadas, elas respondem

328 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


por apenas um quarto das razões alegadas para as nomeações. Os missivistas consideravam melhor focalizar outros
assuntos.

Algumas bases para nomeação parecem à primeira vista referir-se a qualidades de desempenho, mas,
examinando-se mais detidamente, na verdade tratam mais da
Página 152
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
posição social do pretendente ao cargo. Cheguei a essa conclusão em parte devido ao caráter vago de alguns termos
usados e em parte pelo contexto no qual eles apareciam,
tanto nos pedidos quanto em outros documentos da época. Refiro-me a palavras como "hábil", "apto", "capaz",
"talentoso" e "competente". Em caso algum usaram-se essas
palavras para descrever habilidade, aptidão, capacidade ou competência para uma tarefa ou posição particular. Em vez
disso parecem ter-se referido às qualidades
inerentes ao tipo de pessoa que poderia ser considerada apropriada para o emprego público. Assim, além de ser parente
por afinidade do missivista, a única qualificação
de um homem que desejava ser superintendente do almoxarifado do departamento de Obras Públicas em Salvador
consistia em ser "apto", enquanto a "grande habilidade"
justificava a nomeação de um secretário, proposta ao presidente do Ceará, e "grande talento" era a única coisa que
descrevia um homem que se sugeria para administrador
de uma Escola Normal 40.
A palavra "inteligente" implicava também a origem social e as qualidades apropriadas que se enfatizavam na
educação de um bacharel: significava participar
de uma cultura retórica, ter uma fala elegante e eloqüente, e a habilidade social para conviver com pessoas educadas,
muito mais que ter um raciocínio rápido ou
a habilidade de resolver problemas. A palavra não se aplicava às camadas mais baixas da sociedade. Um dicionário do
século XIX começa sua definição de inteligência
caracterizando-a como uma "faculdade da alma": ser inteligente era ter "elevadas qualidades do espírito"41. Da mesma
forma, a partir do contexto e da comparação com
outras evidências contemporâneas, concluí que mesmo "bom caráter", "caráter puríssimo", "honradez" e "probidade"
não se referiam tanto à firmeza de princípios morais

Ligações Ansiosas 329


quanto ao comportamento adequado para os ricos e seus amigos.

Caráter era algo que a classe superior possuía, mas não as outras. Em contraste, "moralidade", "honestidade" e
"integridade" referiam-se a qualidades morais particularmente
necessárias para os empregos em que se manuseava dinheiro, por exemplo.
Uma quantidade de adjetivos referia-se claramente à distinção do candidato: "homem de bem", "estimável", "muito
conceituado", "honrado", "digno", "bom moço"
e as freqüentemente usadas, mas jamais especificadas, "boas qualidades". Ainda mais nitidamente relacionada à posição
social era "homem distinto", que um contemporâneo
definiu como alguém "que não é do comum; que não é do povo por nascimento, mérito ou graduação etc.; que tem
nobres qualidades de caráter42. Os que escreviam cartas
de recomendação também assinalavam os "excelentes costumes" do candidato, ou que era "polido" ou "bem-educado".
É provavelmente verdade que as referências à formação
geral do candidato também se aplicavam mais à classe que às suas habilidades específicas, mas eu não as levei em conta
assim: interpretei a formação como algo referente
a uma necessidade genuína desse cargo, mesmo que o adjetivo fosse simplesmente "formado", ou o missivista se
referisse, de um modo geral, à "ilustração" do candidato43.
Algumas cartas referiam-se especificamente à riqueza do candidato e à sua importância social ou à de sua família
("abastado", "homem importante", "família importante")
como motivos para a concessão de um favor ou um cargo. De certo a riqueza, assegurando uma independência em
relação às tentações da corrupção, podia ser considerada
uma qualificação objetiva para alguns cargos. O ministro da Fazenda recebeu o conselho de um homem de negócios
contra uma nomeação na Alfândega, porque o candidato
devia dez contos a "aproximadamente 48 credores, quase todos no comércio, lojistas etc. Como funcionário público e
empregado numa repartição fiscal em contato imediato
com o comércio, pode a sua reputação ser posta em dúvida"44. Contudo, na maioria das vezes a riqueza indicava uma
posição social apropriada, não

330 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


uma qualidade específica útil ao trabalho. A posição social responde por quase um quarto das razões alegadas para
alguém proceder a uma nomeação.

O fato de tantas cartas mencionarem essas qualificações sociais revela uma ansiedade generalizada. Ocorrera, e
Página 153
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
poderia ocorrer, mobilidade em demasia para
simplesmente se supor que cada pretendente a um cargo tinha a origem social certa. A importância da posição tinha de
ser reiterada para defender tanto o missivista
quanto o destinatário.

Finalmente, um conjunto de argumentos apelava para a preferência compartilhada por modos de comportamento
paternalistas. O fato de um candidato ter uma grande
família para sustentar costumava ser uma razão alegada para recomendar um candidato. Com alguma freqüência, os que
escreviam os pedidos expressavam sua preocupação
por alguém velho ou pobre, embora a pessoa também tivesse que ser humilde e leal. Um homem cuja lealdade partidária
não era muito clara devia no entanto ser mantido:
"Se para adiante for necessário colocar no lugar que ele exerce amigo nosso, combinar-se-á o meio prático de
harmonizar as conveniências partidárias com a situação
excessivamente precária do funcionário que tem família grande e tem procedido bem comigo"45. Assim, benevolência
comprava lealdade e obediência.

As referências a um pretendente a um cargo como um "bom pai de família" tinham o mesmo propósito. Por um
lado, significavam que ele sustentava sua família,
cuidava das necessidades materiais de seus dependentes e talvez mesmo fosse um pai carinhoso. Mas também queriam
dizer que exercia controle sobre sua família e responsabilizava-se
pelos membros de sua casa e suas ações. Ele cumpria as expectativas de uma cultura patriarcal. Um firme chefe de uma
casa sustentava a base da estrutura social.
Não por acaso, um protetor ligou essas qualidades de um pretendente: ele "é um cidadão prestimoso e bom pai de
família". Vários indicados foram recomendados porque
desejavam estar perto de sua família e parentes, como é o exem-

Ligações Ansiosas 331


plo de uma carta em favor de um médico do quadro sanitário municipal do Rio de Janeiro, que queria uma transferência
para Salvador: "Este moço é aparentado com pessoas
a quem muito desejo prestar-me, e tem mãe e família que dele esperam socorros de que necessitam"; longe de casa e
portanto dividindo seus rendimentos "lhe será difícil
cumprir com os deveres de bom filho". À medida que a família era o modelo para ao Estado, a prática de virtudes
familiares tornava-se fundamental para a preservação
da autoridade, e portanto da sociedade, merecendo assim proteção46.
O Quadro 12 mostra as razões adiantadas em prol de quem procurava algum favor, por categoria e subcategoria. As
várias referências ao lugar social enfatizavam
as hierarquias da sociedade de um modo geral, ao mesmo tempo em que asseguravam aos destinatários das cartas que a
pessoa em questão estava entre aquelas que mereciam
seu apoio. Uma vez que ela não tivesse tal posição, um missivista poderia recorrer aos valores paternalistas que
asseguravam o controle: quem necessitava de ajuda
ficava como um filho de quem exercia a benevolência. As ligações construídas por clientelismo contribuíam para o
mesmo fim, porque enfatizavam a pertinência da `amizade
assimétrica' e dos laços familiares na busca de cargos públicos. Somente um quarto dos motivos apresentados na
solicitação envolviam o mérito e as habilidades do
candidato ou critérios burocráticos impessoais.

QUADRO 12

Motivos Apresentados pelos Missivistas em


Favor dos Candidatos a Cargos ou Favores
(rr. = L360")

Motivos Percentual

Relação
Amigo
Família

Página 154
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
8.7
7,4

332 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Motivos Percentual

O próprio sistema clientelista 7,1


Boas ligações 2,6
"Qualificado" 4,1
Autoridade do missivista O,4
Lealdade política 9,3
Mérito do candidato ou
qualidades impessoais 25,6
Competência ou
conhecimentos técnicos 7,5
Zelo, honestidade, moralidade 4,3
Instrução, geral ou específica 4,5
Antigüidade, tempo de serviço 5,3
Eqüidade 3,2
Conduta apolítica O,8
Lugar social 23,5
"Hábil", "inteligente" etc. 9,8
"Homem de bem" etc. 9,6
Riqueza ou status social 4,1
Valores paternalistas do missivista 12,1
Candidato pobre 5,5
Candidato com família
grande para sustentar 4,0
Candidato velho ou doente 1,0
Bom pai de família, bom filho 1,6
Outros 6,3
TOTAL 100,0

Muitos missivistas apresentavam mais de uma razão para recomendar a nomeação ou o favor.
As amplas categorias do Quadro 12 pertencem ao historiador, não aos contemporâneos. Para os missivistas, as
qualidades que identifiquei como indicando lugar
social constituíam critério tão legítimo para nomeação ou outro

Ligações Ansiosas 333


benefício quanto competência ou grau de instrução. Ser um bom pai de família parecia tão relevante quanto ser honesto,
porque em ambos os casos a principal tarefa
era dar um exemplo. Uma carta resume claramente as qualidades desejadas para um funcionário público. João Alfredo
Correia de Oliveira, presidente do Pará em 1870,
logo partiria para o Rio de Janeiro para assumir sua cadeira na Câmara dos Deputados, assim como dois de seus
vice-presidentes. Preocupado com a capacidade dos quatro
vicepresidentes restantes, que pela ordem iam sucedê-lo se nenhuma alteração ocorresse na lista, ele enviou uma carta
confidencial ao ministro do Império discutindo
a adequação de cada um deles. Da crítica que lhes fez pode-se perceber as qualidades desejáveis para um presidente, e,
em certo grau, admiradas em cada servidor
público, qualidades que João Alfredo compreendia como válidas e sabia que o ministro reconheceria como tal.

Todos os quatro vice-presidentes careciam da combinação das características que João Alfredo considerava
necessárias ou até tinham qualidades que ele achava
positivamente desagradáveis. Um era um "homem honrado", mas muito velho, precisando de um assistente para
conduzi-lo em seus atos, e em ocasiões anteriores mostrara-se
fraco e fora facilmente "iludido"; na realidade, ele era "sempre cercado e apertado pelos amigos", os quais, discordando
entre si, não deixavam que ele soubesse
o que fazer. Um outro, embora "reputado pessoa honesta", também era muito maleável e ávido por agradar, "sem forças
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
para livrar-se dos amigos". Quando atuara como
auxiliar do velho, ele "cedia mais facilmente do que (...) o bom velho". O terceiro na fila "já foi Liberal e é
presentemente odiado pelos antigos correligionários".
Além disso, vendia sua influência aos que pagassem mais, e "costuma obter favores e dinheiro (...) dos que requerem
[cargos]". Nem os amigos políticos nem os inimigos
tinham qualquer consideração por ele, a quem simplesmente faltava aquilo que era mais necessário em um presidente
provincial: "a força moral que lhe dê a boa opinião
do público". Finalmente, o quarto homem era "honrado" e cumpridor de seus deveres, mas

334 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


do Partido Liberal, da oposição, e "adversário declarado e exaltado do governo". Mais ainda, freqüentemente se
descontrolava e "tem jogado soco na praça pública".
Em contraste com todos esses candidatos impróprios, João Alfredo propôs a nomeação de um novo vice-presidente
que se tornasse automaticamente o chefe da
administração quando ele (João Alfredo) estivesse fora da província. O "moço honesto" que ele tinha em mente, além de
sensível, prudente e "inteligente", era "um
Conservador dedicado". Somando-se a isso, como irmão de um deputado do Maranhão e genro de um importante
político e senador do Pará, pertencia a uma família influente.
E, ainda mais importante, era também "meu amigo de muitos anos". Finalmente, como juiz de direito, tivera um bom
desempenho;

Ligações Ansiosas 335


embora conhecido por não ser " juiz político" durante as eleições, havia realizado "comissões importantes e delicadas".
Sua nomeação, sem desagradar aos Liberais,
satisfaria às três facções Conservadoras em luta. Ele saberia "atender aos interesses legítimos do partido (...) [e] corrigir
e conter as más tendências e pretensões
dos amigos". Se, ao alterar a lista dos vice-presidentes, o ministro do Império também quisesse se livrar do desonesto -
em nome da causa da "moralidade" - ou do
Liberal - em nome da "política" -, João Alfredo tinha um outro candidato para sugerir, um homem que, além de seu
"caráter honesto", e política "moderada", era um
"proprietário rico [e] comandante superior da Guarda Nacional"47.
Um nomeado ideal, portanto, não tinha apenas uma qualidade desejável, mas várias. O pretendente ao cargo tinha
que ser zeloso no desempenho de suas tarefas,
mas ainda assim apresentar as necessárias graças pessoais e dispor do respeito dos outros homens, ser "inteligente"
e "honrado". Devia ter
protegidos, sim, mas também a força de resistir aos seus avanços (não permitindo que se tornassem protetores), e ao
mesmo tempo tinha de, ele mesmo, se colocar como
um cliente leal. Deveria ser firme em suas lealdades políticas, carreá-las para o partido do missivista, e também
conseguir o respeito de seus adversários por meio
de prudência e moderação. Devia desfrutar de boas ligações familiares e, de preferência, ser rico. Como era difícil
encontrar a combinação de todas essas qualidades
em um único indivíduo, algumas delas certamente eram sacrificadas no caso de nomeações menos importantes. Para um
vice-presidente de quem não se esperava que ocupasse
senão o cargo de presidente em exercício, posição social e riqueza seriam suficientes. João Alfredo não mencionou o
conhecimento da lei, as necessidades do desenvolvimento
do Pará ou alguma noção do orçamento. Sem dúvida seu amigo conseguiu o cargo porque, ao escrever em seu favor,
João Alfredo soubera tocar nos pontos certos, tendo
a sensibilidade de compartilhar as ansiedades sociais em relação a liderança, poder e posição sociais48.

336 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Talvez a característica mais surpreendente das qualidades mencionadas nos pedidos que examinei seja a sua
consistência ao longo do tempo. A freqüência com
que os missivistas mencionavam os méritos específicos do pretendente não variou sensivelmente. Houve uma pequena
diminuição nas referências à posição social nas
últimas duas décadas do Império (de 29% nos anos 1850 e 1860 a 20% depois), mas, olhando para os primeiros vinte
anos da República, notei que os pedidos novamente
insistiam na posição social (25%).

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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Ocorria, contudo, uma variação significativa segundo o cargo solicitado. Por exemplo: as habilidades específicas
dos candidatos a promoção nas Forças Armadas
eram mencionadas quase duas vezes mais que a média de todos os pretendentes a cargos, enquanto a classe social era
menos significativa entre eles. Em contraste,
era muito menos provável para a Guarda Nacional ou oficiais de polícia: para eles, as ligações partidárias assumiam
uma importância muito maior. Enquanto, para os
pedidos tomados como um todo, a importância de classe e mérito equivalesse, era mais provável que a posição social
dos que buscavam posições na burocracia fosse
mais notada que sua competência para a tarefa, em um coeficiente de 3:2. Essas observações confirmam aquilo que se
poderia prever para os homens das Forças Armadas,
os quais, acredita-se, não provinham das famílias de classe alta; e o que expliquei neste livro acerca do papel dos
funcionários da polícia e dos oficiais da Guarda
Nacional também faz com que a pouca importância atribuída às suas habilidades não seja surpreendente.
Alguma variação regional também aparece nessa correspondência. Por exemplo, enquanto as qualidades
específicas apropriadas à função respondiam por 25% dos
motivos mencionados para o grupo como um todo, o número sobe para 38% em São Paulo e 40% no Sul (de onde se
originava a maioria dos pretendentes a cargos militares).
Não eram os tradicionais Norte e Nordeste ou a província do Rio de Janeiro que puxavam a média para baixo: na
realidade, naquelas regiões as referências

Ligações Ansiosas 337


a essas qualidades excediam ligeiramente a média. Cartas da própria capital e da província de Minas Gerais respondem
pela diferença, com a menção do mérito de um
candidato caindo para 16% e 12% respectivamente. As cartas escritas de Minas Gerais mencionavam as ligações
pessoais duas vezes mais que as do resto do país. Como
o Nordeste diferia tão acentuadamente de Minas Gerais a esse respeito, não acredito que o padrão de Minas
Gerais possa ser atribuído simplesmente ao suposto tradicionalismo de sua sociedade.
Os motivos alegados para colocar um candidato em um cargo refletem a maneira pela qual os contemporâneos
julgavam e classificavam uns aos outros. A análise
quantitativa dessas cartas especifica aquilo que poderíamos imaginar: a posição social, a relação de clientela e o impulso
paternalista contribuem com três quartos
das razões dadas para a recomendação dos pretendentes a colocações. Os missivistas viam as qualificações específicas
do candidato a uma posição como apenas complementares
a essas outras características. A consideração
crucial para um missivista era combinar as razões que ele aduzia com os valores do destinatário. A importância da
posição social como qualificação à nomeação para
cargos burocráticos e políticos indica uma relação entre Estado e sociedade que até

agora não tem sido suficientemente acentuada. Preenchiam-se deliberadamente os cargos da burocracia com homens de
uma certa classe porque sua função pública era
justamente vincular tal classe ao governo e não agir independentemente dela. A esse respeito, pelo menos, é difícil ver
qualquer base para um suposto conflito entre
o Estado e as classes dominantes brasileiras.

Quando escreviam fazendo pedidos, homens que eram ao


mesmo tempo protetores e clientes preparavam de forma incerta seu caminho para um lugar melhor na escala social. Ao
formar

338 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


sua própria clientela, os protetores preferiam enfatizar não apenas os laços de família e de amizade, mas também o lugar
social correto do pretendente ao cargo e
sua lealdade política, juntamente com o mérito. A reiteração dessas qualidades por todo o período imperial reflete as
incertezas não apenas dos que escreviam as
cartas, mas da sociedade como um todo. Os missivistas também pesavam com cuidado as relações que convinham ser
mencionadas em tais pedidos. Essas diferiam acentuadamente,
conforme se referissem às ligações que o autor reivindicava para com o destinatário da carta ou às que ele mantinha com
o pretendente ao cargo: no total, quem fazia
os pedidos acreditava que as ligações de família, alianças partidárias e relações entre amigos eram o mais importante.
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Cada pessoa procurava estabelecer sua posição
relativa, afirmando laços de amizade, se os de família não fossem suficientes, formando um grupo de seguidores,
solidificando a estrutura das gradações e ao mesmo
tempo esperando alcançar o próximo nível, ou pelo menos evitando cair.

Epílogo

A 15 DE NOVEMBRO DE 1889, oficiais militares no Rio de Janeiro derrubaram o Império brasileiro. No mesmo dia,
em
nome da República, os cafeicultores paulistas tomaram o governo de seu estado. Em outros lugares, os latifundiários
nada fizeram. alguns porque não ligavam e outros
porque culpavam o antigo regime pelo fim da escravidão em 1888. Na cidade do Rio de
Janeiro e em outras capitais, muitos demonstravam júbilo. Esses acontecimentos já foram muito estudados e suas causas
ainda são muito debatidas; não é minha intenção
aqui entrar nesse debate. Ainda assim, o reconhecimento do papel fundamental que a
formação de uma clientela tinha na política brasileira pode alargar nossa compreensão dos fatores que encorajaram a
mudança do regime. Mesmo se considerarmos os
cafeicultores paulistas, os oficiais militares ou os grupos urbanos descontentes como os principais responsáveis pela
derrubada do Império, o clientelismo era uma
de suas preocupações centrais.
Em São Paulo, à medida que as estradas de ferro começaram a espalhar-se para o interior após 1868 e os preços do
café subiram, a aquisição de terras tornou-se
crucial. Ser bemsucedido nessa tarefa dependia da força, medida pelo número de clientes que se podia reunir para a luta
concreta ou pelas posições
de autoridade legal controladas por cada família. Os fazendeiros disputavam a liderança em suas esferas locais e
perseguiam tão freneticamente o objetivo de construir
uma clientela quanto o de

340 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


ganhar dinheiro. Ainda assim, o número de paulistas no Gabinete, a quem os proprietários ou seus deputados podiam
apelar para garantir nomeações e outros favores,
ficava bem atrás da riqueza da província. Após 1871, as posições-chave de primeiro-ministro e ministro da Justiça não
caíram uma vez nas mãos de um paulista. Assim
como a direção dos pedidos dependia de laços de família ou de amigos, a falta, no Gabinete, de homens com quem se
tivesse ligações pessoais, revelava-se uma fraqueza
maior. Por sua vez, para que as autoridades centrais mantivessem sua eficácia em São Paulo, precisavam ter reagido
com presteza às rápidas mudanças nas posições
relativas dos chefes locais, e formar estreitas ligações com as elites do interior. Malograram nas duas coisas. Decerto,
muitos fazendeiros faziam objeções às políticas
fiscal ou monetária empreendidas pelo governo imperial (embora tais objeções permanecessem vagas e contraditórias).
Mas os fazendeiros nas regiões mais recentes
de São Paulo também devem ter se ressentido da dificuldade que encontravam para transmitir a medida de seu poder
local ao governo imperial. Devido ao peso econômico
que as novas regiões de café podiam dar ao seu protesto, seus interesses deveriam ter sido atendidos prontamente.
Assim como as forças centralizadoras haviam ganho
nos anos de 1830 e 1840, quando as terras adjacentes à capital nacional se tornaram economicamente predominantes, a
perda de tal predominância minou a habilidade
do governo central em agüentar as tendências centrífugas.

Os oficiais militares também achavam que o governo imperial ignorava sua busca de cargos e colocações. Para
eles, o fim da guerra com o Paraguai, em 1870,
encerrara um período de rápidas promoções e expansão de oportunidades. O avanço profissional diminuiu para passo de
tartaruga. Os soldos permaneceram estáveis enquanto
o custo de vida subia firmemente. Sucessivos governos tentaram reduzir o tamanho do Exército e as vagas tornaram-se
raras. Com anos de ressentimento acumulado, o
descontentamento dos oficiais aumentou1. Decerto, quando o Exército conquistou o poder em 1889, dificilmente se

Epílogo 341
Página 158
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
poderia encontrar um plano consistente de governo, com uma única exceção: logo se dobrou o tamanho do Exército. É
verdade que uma retórica nacionalista e uma ideologia
positivista tingiam o pensamento dos líderes militares, mas a falência do clientelismo constituía o cerne de sua profunda
e crescente hostilidade em relação ao velho
regime.
Uma outra fonte de mal-estar no Império consistiu na sua inabilidade em expandir o número de cargos públicos
disponíveis paca bacharéis com a mesma rapidez
com que os candidatos apareciam. Na década de 1830-39, as faculdades de direito produziram somente 710 diplomados;
entre 1880-89, o número
de formados atingiu um pico de 1.9662. Uma parte do crescente excesso fora absorvida simplesmente expandindo-se o
número de jurisdições, mas esse expediente já não
era mais suficiente para lidar com a grande demanda. À medida que diminuía o ritmo de ascensão dentro das hierarquias
judicial e política, o desencanto com o Império
disseminou-se entre a geração mais
jovem de profissionais liberais. E os bacharéis foram ativos em inventar diversas justificativas intelectuais para a
abolição da
Monarquia, fosse enfatizando a democracia, o republicanismo e o federalismo, ou o progresso industrial, o avanço
cientifico e a necessidade de um governo forte,
autoritário.

Outros grupos urbanos podem ter se sentido genuinamente barrados pelo Império na luta pela afirmação de seus
interesses econômicos. Como vimos em relação
à reforma eleitoral, o crescimento das cidades impulsionou mudanças significativas. A expansão dos portos significou
uma população ainda maior de profissionais urbanos
e trabalhadores, de magnatas de estradas de ferro a funcionários de grandes armazéns, de gerentes de bancos a
comerciantes. Seus interesses certamente não eram os
mesmos dos latifundiários. Ainda assim, o clientelismo podia ser e tinha sido ampliado prontamente para proteger os
empreendimentos empresariais e financeiros de alguns, e por isso pode-se perguntar em que medida a estrutura política
do Império realmente atrapalhava os industriais
e outros homens de

342 CLIENTELISMO E BOLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


negócios. Quando alguns acadêmicos argumentam que a mudança de regime de 1889 foi conseqüência (mesmo parcial)
das demandas dos novos grupos de interesse, estão,
ao menos implicitamente, argumentando que a prática imperial de conceder benefícios, a uns poucos favorecidos por
laços pessoais, provocou uma demanda de políticas
imparciais que tornaria os recursos públicos igualmente acessíveis para cada um, ou pelo menos a cada um dentro de
cada setor econômico. O que eu suspeito, contudo,
é que muitos dos que apoiaram a República desejavam não o fim de tal parcialidade, mas a sua própria parte nos
favores. Certamente, como cafeicultores, bacharéis,
oficiais militares ou industriais, os homens olhavam o governo como um meio de atingir um certo fim, e contavam com
suas relações pessoais para ajudá-los nesse objetivo.

Finalmente, sempre houve demandas de descentralização do poder de nomear pessoas para cargos públicos. Trazer
esse poder para a própria província seria muito
facilitado se os presidentes provinciais fossem eleitos, e não nomeados a partir do Rio de Janeiro. Esse era um desejo de
longa data de vários reformadores. O manifesto
liberal-radical de 1868 incluíra a eleição de presidentes entre as suas reivindicações. Manuel Pinto de Souza Dantas,
deplorando os supostos desmandos de um presidente
provincial da Bahia na década de 1870, perguntou a um amigo: "Não é urgente a reforma (...) autonomia, federação ou
coisa que isto seja?" Em 1887, Francisco Otaviano
de Almeida Rosa propôs que ao menos os nomes dos presidentes fossem lançados em eleições provinciais para a
eventual nomeação pelo imperador. Mesmo o grande monarquista
Afonso Celso de Assis Figueiredo, mais tarde visconde de Ouro Preto, reconheceu em 1883 a força dessa demanda de
"federalização" do clientelismo e clamou para que
a nomeação de juízes de direito e municipais se desse em âmbito provincial. Várias legislaturas provinciais expressaram
seu desejo de nomear juízes municipais, padres,
funcionários da saúde pública, secretários do chefe de polícia e carcereiros2. Com a República, tiveram seu desejo
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
satisfeito. Um

Epílogo 343
(os primeiros atos do novo governo foi dar aos presidentes dos estados o direito de "criar empregos, provê-los, (...) e
marcar-lhes os vencimentos"5.
Embora a República invertesse a tendência de centralização das nomeações começada em 1837, ela não diminuiu o
apelo aos padrinhos. Os gastos nacionais com
pessoal permaneceram geralmente nos níveis anteriores a 1889. O presidente federal era a principal figura na
distribuição dos cargos, e assim não é surpresa saber
que as elites políticas de São Paulo e Minas Gerais - os centros então mais fortes economicamente - logo concordaram
em revezar-se para indicá-lo. Mais ainda, estados
prósperos como São Paulo agora desfrutavam de novos poderes
tributários próprios, com os quais aumentaram os recursos públicos e expandiram o emprego público. A eleição dos
presidentes dos estados e dos prefeitos intensificava
a luta eleitoral pata conseguir o poder de fazer nomeações locais, e a criação de tribunais estaduais aumentou as
oportunidades para o inchado
número dos diplomados em direito. Muitas das práticas políticas do Império logo reviveram. Assim que Quintino
Bocaiúva, importante propagandista da República, entrou
no Gabinete em
1889, transferiu seu genro de um juizado municipal no norte do Rio de Janeiro para a chefia de polícia no Distrito
Federal; e logo
o jovem conseguiu o cargo de juiz de direito e depois de juiz de órfãos. Como um político observou mais tarde: "A
República nasceu com o genrismo". Um diplomata
americano em 1890 descreveu sucintamente o novo regime como um "governo militar misturado ao nepotismo "6.
O sistema de governo daí resultante, firmemente estabelecido em 1898, foi apelidado de "coronelismo"7. O coronel
o título derivava da Guarda Nacional imperial
-,geralmente um proprietário de terras, recebia carta branca para tomar decisões locais e, assim que os resultados
eleitorais de seu município favoreciam os candidatos
da situação, podia usar mão forte contra os opositores locais. De forma semelhante, os presidentes de cada estado
desfrutavam de grande liberdade de ação, mas tinham

344 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


a responsabilidade de verificar se os coronéis conseguiam eleitorados confiáveis. E as eleições logo se sujeitaram às
mesmas forças de antes: o chefe local e o governo
central, em relação simbiótica, ligados pelo presidente do estado, contavam um com o outro e fortaleciam-se. Assim,
como antigamente, uma rede intrincada de influências
ligava os governos locais e o central.
Um fator, contudo, fora omitido na nova fórmula: os políticos não podiam mais contar com alguém no topo para
agir como árbitro de suas disputas, como havia
sido o papel do imperador. As máquinas políticas adquiriram mais longevidade, e não havia qualquer técnica para
alternar a facção dominante ou arranjar uma solução
pacífica para as diferenças entre os líderes políticos. Em conseqüência disso, a violência deve ter se tornado ainda mais
comum em nível local; algumas ações militares
pontuaram a história das quatro décadas seguintes. Finalmente, em 1930, Getúlio Vargas, ele próprio um produto da
rede de coronelismo no Rio Grande do Sul, insatisfeito
com a insistência de São Paulo em estender sua influência à presidência nacional, e aproveitando competentemente
várias fontes de insatisfação com a Primeira República,
derrubou-a. Seu arquivo está abarrotado de pedidos.
Neste livro, argumentei que o entrelaçamento do clientelismo com as eleições serviu mais diretamente às classes
abastadas. Embora a ligação entre o líder
e o seguidor não tenha apagado as tensões entre os que possuíam e os que não possuíam, o sistema possibilitou
contê-las. As lutas regionais por supremacia local
deram lugar a um Império centralizado, porque isso convinha aos poucos que se viam cercados por muitos - os escravos
e os pobres livres. Os ricos usavam então as
eleições como dramatizações para enviar uma clara mensagem aos

Epílogo 345
participantes menores, identificando para estes os grandes personagens a quem deveriam render deferência, lealdade e
Página 160
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
obediência. No entanto, como os participantes
no primeiro nível
das eleições indiretas poderiam se revelar uma multidão numerosa e violenta, e o iminente fim da escravidão ameaçava
mandar uma torrente de libertos para as urnas,
a "reforma" eleitoral de 1881 diminuiu drasticamente seu número.
Retrospectivamente, o historiador pode ficar tentado a pensar que as elites brasileiras eram paranóicas em seu
constante
medo da desordem-pois, de fato, nenhuma revolução ocorrera. Mas essa não ocorrência pode ser vista, ao invés disso,
como um
grande tributo à sua habilidade em combinar força e persuasão. Pois um movimento constante de pessoas, o repetido
questionamento do lugar de cada um e um contínuo
tremor de protestos menores contra as violações do código paternalista sacudiam a
vida social e política brasileira. Os pequenos desafios que a qualquer momento se repetiam, milhares de vezes por todo
o Brasil,
podiam muito bem deixar qualquer elite eternamente ansiosa. O sistema clientelista, ao trazer alguns benefícios para os
clientes, prevenia o acúmulo de tais tensões
e amortecia as potenciais animosidades. A ética do amigo funcionava para evitar que se estendessem as irradiações dos
conflitos menores, e se transformassem em um
terremoto.
O princípio da liderança dependia de se vencerem eleições.
Desafios políticos vindos de baixo, quando bem-sucedidos, podiam ameaçar a aceitação da hierarquia como algo
adequado e correto em cada relação. Um Gabinete sempre
garantia uma maioria em qualquer Congresso cuja eleição supervisionasse; e um líder local só perdia uma eleição
quando já estava fora do poder, que se media por
meios menos formais, porém mais
fortes. Os acontecimentos políticos, fossem na localidade rural ou na capital, só podem ser compreendidos à luz da
ideologia da desigualdade que justificava a ação
política. Ainda assim, os legalismos elaborados em função das eleições, e a repetida tentativa de legislar eleições
honestas, garantiam que os

346 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


perdedores, em vez de abandonarem o sistema e derrubá-lo, se sentissem envolvidos nele e aceitassem suas regras. Tais
esforços mitigavam o sentido de injustiça,
que de outro modo poderia ter provocado uma violência generalizada entre elites, ou mesmo encorajado uma mudança
social radical. Ainda assim, a firmeza em controlar
as eleições, juntamente com a aparência de generosa imparcialidade, resultava não de conspirações maquiavélicas entre
uns poucos políticos, mas de padrões de comportamento
considerados naturais, aplicáveis tanto à família e à fazenda quanto à política. Se a cultura política conformava-se de
modo a beneficiar uns em detrimento de outros,
a própria cultura impunha limites à ação.
Os partidos constituíram-se em veículos para ganhar e distribuir favores. Grande parte da história política do
Império pode ser explicada levando-se em consideração
essa base fundamental da vida partidária, segundo a qual os votos eram trocados por cargos públicos. Os membros da
Câmara dos Deputados desempenhavam um papel crucial
ao possibilitar tais transações entre dois planos, um encabeçado pelo primeiroministro e o outro pelo potentado
municipal. O deputado assegurava o fluxo de cargos
de autoridade aos notáveis locais e simultaneamente transmitia ao Gabinete o instável equilíbrio de forças entre os
chefes rurais, dos quais, em último caso, ele
dependia. Desempenhando esse papel, os deputados escreviam infindáveis pedidos, apelando para os códigos gerais a
respeito de posição social e atenção paternalista,
e faziam com que o clientelismo cobrisse toda a vasta nação. O fato de que, em certo sentido, nessa troca todos agissem
ao mesmo tempo como padrinho e apadrinhado,
dava alento à busca permanente de vantagens sociais e políticas. Certamente, o objetivo fundamental de conseguir uma
colocação pública, e a dependência do cliente
da benevolência de um protetor, mostraram-se duradouros mesmo após a queda do Império.
Pois não houve qualquer diminuição do clientelismo com a mudança de regime em 1889. Entre os ricos, novos
grupos

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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Epílogo 347
alcançaram destaque, mas sem abandonar sua prática. Esse ponto exige especial atenção, porque vai contra a posição
daqueles
teóricos que vêem todas as sociedades como progredindo unilinearmente em direção a um governo "racional",
impessoal e imparcial. Alguns historiadores, por exemplo,
argumentaram
que os cafeicultores nas regiões mais antigas do Rio de Janeiro e os donos de engenhos de açúcar do Nordeste
apresentavam atitudes mais senhoriais e menos empreendedoras
que a elite agrícola paulista, e essa diferença explicaria porque os primeiros apoiaram o antiquado Império clientelista,
enquanto os fazendeiros
de São Paulo, mais modernos e com um espírito mais empresarial, apoiaram as instituições impessoais radiantemente
novas da República8. Mas o bem-sucedido
barão de Pati do Alferes, um dos cafeicultores com espírito mais empresarial, apoiou de todo o coração o Império
centralizador - com uma
perspicácia política tão afiada quanto a de seus sucessores paulistas, meio século depois. Os fazendeiros-homens de
negócios em ambos os lugares e momentos procuraram
usar os instrumentos do clientelismo para seus próprios fins, e nenhum grupo desejava estragar alavancas tão úteis. O
sistema de protetores e clientes não representa
um "estágio" na história do Brasil, a não ser no sentido de que serviu aos interesses de uma classe cuja vida se espera
não seja eterna.

Além disso, os contemporâneos sempre criticaram o sistema clientelista. Durante todo o Império, atacaram sua
"corrupção", seu favoritismo, sua sustentação
no "filhotismo" e a eterna dependência de cada um em relação às ligações pessoais. Aventaram então sua capacidade de
ficar de fora do sistema, de considerar que
o objetivo mais amplo do Estado devia consistir em servir a todas as pessoas de modo igual e impessoal. Ainda assim,
de todo o coração participaram dos pedidos e
da distribuição de favores e nomeações, sem tomar qualquer medida para combater a dependência generalizada dos
protetores que, por definição, protegiam primeiro
seus
próprios clientes. Por suas ações, sinalizaram que para eles um Estado impessoal

348 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


continuava sendo um sonho irreal, que a função real e persistente do Estado consistia em prover empregos e distribuir
cargos de autoridade. O Estado defendia os
interesses dos ricos sobretudo através da reprodução e manutenção do próprio sistema clientelista. Pode-se concluir que
somente profundas mudanças na estrutura da
sociedade modificariam de forma significativa tais práticas. Mesmo assim, não se deve esperar qualquer mudança
súbita, pois novos grupos podem usar antigos instrumentos
para exercer sua dominação, e a cultura tem vida própria. Certamente, como instrumento decisivo na política brasileira
do século XIX, como expectativa dominante
e como modelo de ação não-consciente, mas generalizado, o clientelismo provia o principal elo de ligação entre a
sociedade e o Estado.

NOTAS

Ao citar as cartas de altos burocratas e juízes, adotei a convenção de usar hífens entre o nome abreviado do cargo
correspondente e o local de sua jurisdição.
Por isso PP-ES referese ao presidente provincial do Espírito Santo. Para cargos inferiores, não indico a jurisdição, a não
ser que eles sejam receptores de correspondência
ou texto de um lugar diferente da sede de sua jurisdição. O emprego de sobrescritos do Arquivo Nacional, no seu
sistema de catalogação, apresenta desafios especiais
aos datilógrafos e impressores, portanto usei em vez disso um hífen; assim IJJ530 é apresentado como IJJ 5-30. As
obras publicadas são citadas na íntegra, em sua
primeira ocorrência em cada capítulo e em sua forma abreviada em seguida. Para manter as notas tão compactas quanto
possível, forneço apenas a informação necessária
para ir ao encalço da obra: autor, título, local e data de publicação; as particularidades sobre a série das monografias,
número de volumes e equivalentes constam
Página 162
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
das Referências. Para facilitar a recuperação das obras, manteve-se sua ortografia no original. Usaram-se as seguintes
abreviaturas nestas notas:

ACMRJ Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro


AGCRJ Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
AESP Arquivo do Estado de São Paulo

352 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


AHI Arquivo Histórico do Itamaraty
AIHGB Arquivo do instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
AL Alagoas
AM Amazonas
AMIP Arquivo do Museu Imperial, Petrópolis
AN Arquivo Nacional, Rio de Janeiro
APEB Arquivo Público do Estado da Bahia
APEP Arquivo Público do Estado de Pernambuco
APERJ Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro
ASCM-BA Arquivo da Santa Casa de Misericórdia, Bahia
BA Bahia
BCCD Brasil, Congresso, Câmara dos Deputados
BCS Brasil, Congresso. Senado
BN/SM Seção de Manuscritos, Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
Calif. Califórnia
CC Coleção Cotegipe
CE Ceará
Cotegipe João Maurício Wanderley, barão de Cotegipe
CP Chefe da Polícia
CRB Casa de Rui Barbosa
Decreto, 1855 LB, Decreto 842 de 19/9/1855
Decreto, 1860 LB, Decreto 1.082 de 18/8/1860
Decreto, 1875 LB, Decreto 2.675 de 20/10/1875
Decreto, 1881 LB, Decreto 3.029 de 9/1/1881
ES Espírito Santo
Fla. Flórida
Ga. Geórgia
GN Guarda Nacional
GO Goiás
Guaí Joaquim Elísio Pereira Marinho, barão e depois visconde de Guaí
Notas 353
HGCB Hollanda, Sérgio Buarque de (ed.). História Geral da Civilização Brasileira
JD Juiz de Direito
JM Juiz Municipal
JP Juiz de Paz
JUNQUEIRA João José de Oliveira Junqueira Jr.
LA Louisiana
Brasil, Colleção das Leis do Imperio do Brasil
LB, Lei 387 de 19/8/1846
MA Maranhão
MASS Massachusetts
MD Maryland
MRE Ministro de Relações Exteriores
MF Ministro da Fazenda
MG Minas Gerais
MGUERRA Ministro da Guerra
MI Ministro do Império
MJ Ministro da Justiça
MM Ministro da Marinha
MN Município Neutro
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
MT Mato Grosso
N.C Carolina do Norte
N.J Nova Jersey
N.M Novo México
N.Y Nova York
PA Pará
PB Paraíba
PE Pernambuco
PI Piauí
PM Primeiro-Ministro (Presidente do Conselho) Paraná
PPPresidente da Província
RI Rio de Janeiro (cidade)

354 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


RJ Rio de Janeiro (província)
RN Rio Grande do Norte
RS Rio Grande do Sul
SAP Seção de Arquivos Particulares,
AN Arquivo Nacional
SC Santa Catarina
S.C. Carolina do Sul
SE Sergipe
SP São Paulo
SPE Seção do Poder Executivo, Arquivo Nacional
SPJ Seção do Poder Judiciário, Arquivo Nacional
VPP Vice-presidente da Província

Introdução

1. Até o Capítulo 7, onde se discute a lei de 1881, estipulando


as eleições diretas, uso a palavra "eleitor" para designar um membro dos colégios eleitorais.

2. CARDOSO, Fernando Henrique e FALETTO, Enzo. Dependency and Development in Latin America. Berkeley
(Calif.), 1979, p. 89-91.

3. NABUCO, Joaquim. Um Estadista do Império. 3ª ed. Rio de Janeiro, 1975; HGCB nº 7.

4. PRADO JR., Caio. Evolução Política do Brasil e outros Estudos. São Paulo, 1957. Uma relação ainda mais
mecanicista entre interesse de classe e política governamental
é
desenvolvida por SODRÉ, Nelson Werneck. História da Burguesia Brasileira. Rio de Janeiro, 1964. Embora trabalhando
a partir de premissas um pouco diferentes, Décio
Saes
chega à conclusão de que os escravocratas dominaram o Estado brasileiro durante o Império. Ver seu A Formação do
Estado Burguês no Brasil (1888-1891). Rio de Janeiro, 1985.

5. DUARTE, Nestor. A Ordem Privada e a Organização Política Nacional (contribuição à sociologia política brasileira).
São Paulo, 1939, p. 137.

356 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


6. VIANA, Francisco José de Oliveira. Instituições Políticas Brasileiras, 2 v. Rio de Janeiro, 1949.

7. FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: formação do patronato político brasileiro, 2ª ed., 2 v. Porto Alegre, 1975;
essa é uma versão muito ampliada da original,
publicada em 1958.

Capítulo 1

Página 164
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
1. EISENBERG, Peter L.. The Sugar Industry in Pernambuco: Modernization Without Change, 1840-1910. Berkeley
(Calif.), 1974, p. 3-62; SANT'ANA, Moacir Medeiros de.
Contribuição
à História do Açúcar em Alagoas. Recife, 1970; NORMANO, J. F. Brazil, a Study of Economic Types. Chapei Hill (N.
C.), 1935, p. 19-27.

2. TAUNAY, Afonso d'Escragnolle. Pequena História do Café no Brasil (1727-1937). Rio de Janeiro, 1945;
LAERNE, C. F. van Delden. Brasil and Java: report on
coffee culture in Arnerica, Asia and Africa to H. E. the Minister of the Colonies. Londres, 1885; STEIN, Stanley J.
Vassouras, a Brazilian Coffee County, 1850-1900.
Cambridge (Mass.), 1957; COSTA, Emília Viotti da. Da Senzala à Colônia. São Paulo, 1966. Sobre a substituição do
açúcar pelo café, na região central de São Paulo,
vide PETRONE, Maria Thereza Schorer. A Lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio (1765-1851). São
Paulo, 1968, p. 22.

3. VERNEK. Francisco Peixoto de Lacerda, i.e., Werneck, mais tarde 2º barão de Pati do Alferes. Memória sobre a
fundação de huma fazenda na província do Rio
de Janeiro, sua administração, e épocas em que se devem fazer as plantações, suas colheitas, etc. etc. Rio de Janeiro,
1847

358 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


(a mais recente edição tem uma valiosa introdução de Eduardo Silva; Brasília, 1985); SILVA, Eduardo. Barões e
Escravidão: três gerações de fazendeiros e a crise
da estrutura escravista. Rio de Janeiro, 1984, p. 47-85; STEIN, S. J., Vassouras, p. 21 (nota).

4. BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.. Anuário Estatístico do Brasil, 1939-40, p. 1.381;
SOARES, Sebastião Ferreira. Elementos de Estatística
comprehendendo a theoria da sciencia e a sua applicação á estatística commercial do Brasil. Rio de Janeiro, 1865, v. I,
p. 133 e v. II, p.53, 72, 116, 166 ,181,
194, 248 e 260; MEZNAR, Joan E.. Deferente and Dependente: the world of small farmers in a northeastern brazilian
community, 1850-1900. Tese de doutoramento Univ.
do Texas em Austin, 1986; CANNABRAVA, Alice P.. Desenvolvimento da Cultura do Algodão na Província de São
Paulo (1861-1875). Tese de Doutoramento, São Paulo, 1951.

5. SOARES, Sebastião Ferreira. Notas Estatísticas sobre a produção agrícola e a carestia dos generos alimentícios
no Imperio do Brasil. Rio de Janeiro, 1860,
p. 63-100, 111-20; SOARES, S. F., Elementos de Estatistica,v. I, p.10; PENNA, Domingos Soares Ferreira. A Região
Occidental da Província do Pará: resenhas estatísticas
das comarcas de Obidos e Santarem. Pará, Belém: 1869, p. 186-200; WEINSTEIN, Barbara. The Amazon Rubber
Boom, 1850-1920. Stanford (Calif.), 1983, p. 9, 38-52, 53;
SILVA, Moacir Fecury Ferreira da. O Desenvolvimen to Comercial do Pará no Período da Borracha
(1870-1914).Dissertação de Mestrado, Univ. Federal Fluminense, 1978.

6. SOARES, S. F, Elementos de Estatística, v. I p. 104, v. II, p. 99; DACANAL, José Hildebrando e GONZAGA,
Sergius (ed.), RS: Economia & Política. Porto Alegre,
1979; o relato clássico do contraste entre os vaqueiros do Sul e do Norte encontra-se em CUNHA, Euclides da.

Notas do capítulo 1 359


Rebellion in the Backlands. Chicago, 1944, p. 89-110; ver
também KIDDER, Daniel Parish e FLETCHER, James Cooley. Brazil and the Brazilians Portrayed in Histarical and
Descriptive Sketches. Filadélfia, 1857, p. 348-51, 521-22.
Sobre a relação entre as diretrizes comerciais do Rio Grande do Sul e suas revoluções, vide LEITMAN, Spencer. Raízes
Sócio-Econômicas da Guerra dos Farrapos: um
capítulo de história do Brasil no século XIX. Rio de Janeiro, 1979.

7. SILVA, Joaquim Norberto de Souza. Investigações sobre os recenseamentos da população geral do Imperio e de
cada provincia de per si tentados desde os tempos coloniais até hoje... Rio de Janeiro, 1870, p. 102; BRASIL.
Directoria Geral de Estatística. Recenseamento da população do Imperio do Brazil a que se procedeu no dia 1 ° de
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
agosto de 1872. Rio de Janeiro, 1873-76; BRASIL.
Directoria Geral de Estatística. Synopse do Recenseamento de 31 de Dezembro de 1890. Rio de Janeiro, 1898 (pelas
sete maiores cidades, refiro-me às paróquias urbanas
do Município Neutro e aos municípios de Salvador, Recife,
Belém, Porto Alegre, São Paulo e Curitiba); SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Nicolás. The Population of Latin America: a
history. Berkeley (Calif.), 1974, p. 178-79. Nenhuma avaliação
correta da densidade urbana ou populacional
é possível, porque os recenseamentos brasileiros apresentavam números da população por paróquia nos municípios,
sem diferenciação entre áreas urbanas e rurais, e ninguém ainda calculou a área de cada paróquia ou município em
nenhum dos períodos.

8. Para a extensa literatura sobre esse assunto, ver CONRAD, Robert Edgar. Brazilian Slavery: an annotated research
bibliography. Boston, 1977. Especialmente úteis
são STEIN, S. J, Vassouras. COSTA, E. V. da, Da Senzala; DEAN,
Warren. Rio Claro: a brazilian plantation system,

360 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


1820-1920. Stanford (Calif.), 1976; SLENES, Robert Wayne. The Demography and Econornics of Brazilian Slavery,
1850-1888. Tese de Doutoramento. Stanford University,
1975; CONRAD, Robert Edgar. The Destruction of Brazilian Slavery (1850-1888). Berkeley (Calif.), 1975. Sobre
escravidão urbana, ver GRANAM, Sandra Lauderdale. House
and Street: the domestic world of servants and masters in nineteenth-century Rio de Janeiro. Cambridge (Ingl.), 1988;
KARASCH, Mary C.. Slave Life in Rio de Janeiro,
1808-1850. Princeton (N. J.), 1987; SOARES, Luís Carlos. A Manufatura na Formação Econômica e Social Escravista
no Sudeste. Um estudo das atividades manufatureiras
na região fluminense: 1840-1880. Dissertação
de Mestrado, Univ. Federal Fluminense, 1980. Sobre escravidão rural, fora das áreas de plantações, ver MARTINS,
Roberto Borges. Growing in Silence: the slave economy
of nineteenth-century Minas Gerais, Brazil. Tese de Doutoramento, Univ. de Vanderbilt, 1980.

9. O filho-família foi definido como "aquele que está debaixo do poder de seu pai, e isto de qualquer idade que
seja", e pode ser comparado com o pater-familias:
ALMEIDA, Cândido Mendes de (ed.), Codigo Philippino ou Ordenações e Leis do Reino de Portugal. Rio de Janeiro,
1870, Liv. IV, Tít. LXXXI, par. 3, Tít. XCVII, par.
17, 19; Liv. V, Tít. XXXVI, par. 1. Tít. XCV, par. 4. Um pai podia conceder permissão ao filho, vivendo com a família,
para comerciar por conta própria a partir
dos 18 anos, contanto que ele fizesse o pedido por escrito: LB, Lei 556, 25/6/ 1850, Codigo Commercial, Tít. I, Cap. I,
art. I, par. 3.

10. BRASIL. Constituição Política do Império do Brasil, art. 92, par. 2; BUENO, José Antônio Pimenta. Direito
Publico Brazileiro e Analyse da Constituição
do Imperio. Rio de Janeiro, 1857, p. 193; Pedro Autran da Matta e Albuquerque. In: BANDEIRA, Antônio Herculano de

Notas do capítulo I 361


Souza (ed.), Reforma Eleitoral, Eleição Directa: colleÇão de diversos artigos sobre a eleição directa dos quaes são
autores os seguintes senhores... Recife, 1862,
p. 236. Em 1831 apresentou-se uma lei ao Congresso sem sucesso, para garantir às "mães de família viúvas", ou
materfamilias, o direito de voto "por intermédio de
um dos seus filhos, genros, netos, ou qualquer parente [homem], na falta deles". BCCD. Reforma Eleitoral: projectos
offerecidos á consideração do corpo legislativo
desde o anuo de 1826 até o anno de 1875... colligidos na secretaria da Camara dos Deputados. Rio de Janeiro, 1875, p.
10. Mulheres não podiam trabalhar no comércio
sem a permissão dos maridos; LB, Lei 556, 25/6/1850 Codigo Commercial, Tít. I, Cap. I, art. 1, par. 4.

11. SILVA, Antônio de Moraes. Diccionario da Língua Portugueza, 8ª ed. Rio de Janeiro, 1889-91. Os estudiosos
brasileiros reconhecem há muito tempo a importância da família; ver FREYRE. Gilberto. The Masters and the
Slaves (Casa-Grande & Senzala): a study in the develop
ment of brazilian civilization. Nova York, 1956; VIANA,
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

Francisco José de Oliveira. Instituições Políticas Brasi


leiras. Rio de Janeiro, 1949, especialmente v. I, p. 235-74;

e ZENHA, Edmundo. O Município no Brasil (1532-1700). São Paulo, 1948, p. 131-40. Ver também STEIN, S. J.,
Vassouras, p. 147-49.

12. ALMEIDA, C. M. de, Codigo Philippino, Liv. 4, Tít.


LXXXVIII, par. 1. 4, 5, Tít. XCVI; METCALF. Alida C..

Families of Planters, Peasants, and Slaves: strategies for


survival in Santana de Parnaíba, Brazil, 1770-1820. Tese
de Doutoramento, Univ. do Texas em Austin, 1983, p. 4.
O cônsul brasileiro no Paraguai para MJ, Assunção,

1412/1870, CP-Corte para MJ, Rio, 1/3/1870, 2/4/1870,


todas em AN, SPE, IJ, 6-518; exemplos de cartas com tarjas pretas de Junqueira para Cotegipe, Rio, 19/1/1886.

362, CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


13. AIHGB, CC, L31, D115, e subseqüentes cartas dele; multiplicavam-se às centenas.

14. Um jornal não identificado apud BARROS, José Antônio Nogueira de. Tributo de Gratidão à Memória do
Capitão João Pinheiro de Sousa. Rio de Janeiro, 1860,
p. 11; João José de Oliveira Junqueira (pai) a Cotegipe, Salvador, 8/12/1856, AIHGB, CC, L30, D152; Antônio José
Centeno para PP-RS, São João de Camaquã, 8/6/1872,
AN, SAP, Cx. 781, Pac. 2, Doc. 11; Manuel Pinto de Souza Dantas para José Antônio Saraiva, Rio, 29/1/1885, AIHGB,
L272, D42. Esperava-se a mesma coesão de famílias
comerciais na cidade de Salvador, negando portanto qualquer qualidade particularmente rural a essa tendência: Guaí
para Cotegipe, Salvador, 25/9/1884, AIHGB, CC,
L38, 139. Ver também NABUCO, Joaquim. Um Estadista do Império, 3ª ed. Rio de Janeiro, 1975, p. 67. A hostilidade
política entre uma família e outra podia durar várias
gerações; PINTO, L. A. Costa. Lutas de Famílias no Brasil: introdução ao seu estudo. São Paulo, 1949, p. 73-132;
CHANDLER, Billy Jaynes. The Feitosas and the Sertão
dos Inhamuns: the history of a family and a community in Northeast Brazil, 1700-1930. Gainesville (Fia.), 1972; PANG,
Eul-Soo. Bahia in the First Brazilian Republic:
eorónelismo and oligarchies, 1889-1934. Gainesville (Fia.), 1979, p. 40.

15. Rufino Enéas Gustavo Gaivão, visconde de Maracaju, a Cotegipe, Belém, 29/7/1883, AIHGB, CC, L25, D83;
Manuel Pinto de Souza Dantas a Cotegipe, Salvador e Santo
Amaro,
3115, 18/7/1856, ibidem, L19, D14, D19. Tio José Dantas Itapicuru também era o padrinho do candidato: Dantas a
Cotegipe, Salvador, 2/6/1856, ibidem, L19, 1317. "Tio
João" é uma referência a João Dantas dos Reis, que algumas vezes adicionava Portátil Júnior ao nome: DANTAS
JÚNIOR, C.. O Capitão-mor João d'Antas

Notas do capítulo 1 363


e sua Descendência, Revista Genealógica Brasileira, I:2 (2° sem. 1940), p. 387-88, 395-96, 406. Como a tentativa de
estabelecer vínculos com todos os principais
competidores pelo poder local instigava estratégias de casamento, uma certa hostilidade interfamiliar emergia,
inevitavelmente, como é salientado por LEWIN, Linda.
Polirics arzd Parentela in Paraíba: a case study of family-based oligarchy in Brazil. Princeton (N. J.), 1987, p. 156-57.

16.Para um exemplo de como os contemporâneos descreviam suas famílias incluindo escravos, ver Actas da Mesa
Parochial de Pirassinunga, 7/9/1872, cópia anexa em PP-SP
para MI, São Paulo, 25/11/1872, AN, SPE, IJJ 5-30. Tendo cortado as relações dos escravos com suas próprias famílias,
o fazendeiro esperava se tornar a pessoa mais
importante na vida deles, e deste modo um tipo de família; ver BLASSINGAME, John W.. The Slave Community:
plantation life irr the Ante-Beflum Sou1h. Nova York, 1971,
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
especialmente cap. 3; e NISHIDA, Mieko. Negro Slavery in Brazil: master-slavc relations on the sugar plantations in the
Northeast. Manuscrito de posse do autor.
Sobre o poder de ligação de família e de lar. ver LE ROY LADURIE, Emmanuel. Montaillou, the Promised Land
of Error. Nova York, 1978, p. 49,52. Observe também estruturas similares na Hungria, relatadas por FÉL, Edit e
HOFER, Tamás. Tanyakert-s, Patron-Client Relations
and Política! Factions in Atány. American Anthropologisr, 75:3, p. 796-97.

17. Para exemplos dos membros da família como agregados, ver LB, Decisões 1848, Additamento, Aviso, 1/2/1848;
BRAZIL, Directoria de Estatística. Arrolamento
da População do Município da Corte (São Cristóvão) 1870. Manuscrito no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(Rio de Janeiro), Departamento de Documentação e Referência, dono da casa Januário [ilegível] da Silva, Casa 1,

364 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


rua do Campo de S. Cristóvão, 1° quarteirão, e dono da casa Francisco Ferreira Pitança, Casa s. n., rua da Feira, 2°
quarteirão. Nesse distrito do Rio de Janeiro
(São Cristóvão), 68% de todos os donos das casas mantinham agregados, e 6% dos agregados eram parentes do dono da
casa, segundo uma análise feita por Sandra Lauderdale
Graham. Sobre padrões similares em cidades pequenas, ver Mappa dos habitantes existentes na 1ª companhia das
ordenanças da villa de Guaratinguetá... 1829, AESP,
População, n. 55, L55, donos de casa 70, 76, 138, 150, 164, 169, 181, 262. Um estudo útil é o de MESQUITA, Eni de.
O Papel do Agregado na Região de Itu - 1780 a
1830. Coleção Museu Paulista, 6, 1977, p. 13-121. O sentido do termo nos documentos que eu vi estende-se a um grupo
muito maior do que aqueles estritamente assim
chamados por recenseadores: ver MARCÍLIO, Maria Luísa. Crescimento Demográfico e Evolução Agrária Paulista,
1700-1836. Tese de Livre-Docência, Univ. de São Paulo,
1974, p. 178-79. A contribuição do agregado para a economia familiar, nos assentamentos urbanos em geral,
assemelhava-se à de um aprendiz ou criado doméstico.

18. WERNECK, Luís Peixoto de Lacerda. Idéias sob. Colonização, Precedidas de uma Sucinta Exposição dos
Princípios que Regem a População. Rio de Janeiro, 1855, p.
36; LAERNE, C. F. van. Brazil and Java, p. 309 (nota);
WELLS, James W.. Exploring and Travelling Three Thousand Miles Through Brazil from Rio de Janeiro to Maranhão.
Londres, 1886, p. 168: discurso de SILVA, Joaquim
José Álvares dos Santos. In: CONGRESSO AGRICOLA Coleção de documentos. Rio de Janeiro, 1878, p. 156; discurso
de TORRES, Barbosa. Assembléia Legislativa. Anais,
1880, p. 593, apud SANTOS, Ana Maria dos.Agricultural Reform and the Idea of "Decadente" in the State of Rio de
Janeiro, 1870-1910. Tese de

Notas do capitulo 1 365


doutoramento, Univ. do Texas em Austin, 1984, p. 126; STEIN, S. J., Vassouras, p. 32 (nota), 57 (nota), 58;
FRANCO, Maria Sílvia de Carvalho. Homens Livres na ordem Escravocrata, 2ª ed. São Paulo, 1974, p. 94-107.

19. FRAGOSO, João da Rocha. Relatório. In: Brasil, MF, Relatorio, 1891, v. 2, Anexo C, p. 4-5.

20. SMITH, Herbert H.. Brazil - the Amazons and the Coast. Nova York, 1879, p. 402-3; Imperial Instituto Bahiano de
Agricultura. Relatório. In: BRASIL, Ministério da Agricultura. Relatório, 1871, Appenso C, p. 7; SCHWARTZ,
Stuart B.. Elite Politics and the Growth of a Peasantry in Late Colonial Brazil. In: RUSSEL-WOOD, A. J. R. (ed.),
From Colony to Nation: essays on the Independente
of
Brazil. Baltimore (Md.), 1975, p. 144-54; ANDRADE, Manuel Correia de. A Terra e o Homem no Nordeste. São Paulo,
1963, p. 93-95. Como mostrarei abaixo, um agregado
podia trocar de patrão e mudar-se, o que lhe dava algum poder de barganha.

21. Discurso de BARROS, Moreira de. Congresso Agrícola.

Coleção de documentos, p. 190.

22. A natureza dessa relação não era particular ao Brasil ou


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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
mesmo a países "católicos", como supunha DEALY, Glen
C.. The Public Man: an interpretation of latin american and other catholic conntries. Amherst (Mass.), 1977,
p. 9, 12-25. Bibliografias úteis sobre relações cliente-patrão são: SCOTT, James C.. Political Clientelism: a
bibliographical essay. In: SCHMIDT, Steffen W. et al.
(ed.),
Friends, Followers, and Factions: a reader in political clientelism. Berkeley (Calif.), 1977, p. 483-505; RONIGER,
Luís. Clientelism and Patron-Client Relations: a bibliography. In: EISENSTADT, S. N. e LEMARCHAND, Renê (ed.),
Political Clientelism, Patronage artd DeveIopment.
Beverly Hills (Calif.), 1981, p. 297-330. A importância da

366 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


família e da clientela na política eleitoral da Roma antiga é resumida habilmente por SCULLARD, H. H.. Roman
Politics, 220-150 BC. Oxford, Ingl., 1951, p. 12-30.
A América Latina contemporânea tem sido o foco de muitos estudos sobre o tema; ver, por exemplo, STRICKON,
Arnold, GREENFIELD, Sidney M. (ed.). Structure and Process
in Latin America: patronage, clientage, and power systems. Albuquerque (N. M.), 1972.

23. PP-BA para MJ, Salvador, 24/1011848, apud URICOECHEA, Fernando. O Minotauro Imperial: a
burocratização do Estado patrimonial brasileiro no século XIX.
São Paulo, 1978, p. 208; denúncia perante o juiz municipal, Pirassinunga, 2019/1872, cópia anexa, in PP-SP para MI,
São Paulo, 23/111873, AN, SPE, IJJ 5-30. Ver
também FLORY, T.. Judge and Jury in Imperial Brazil, 18081877: social control and political stability in the New State.
Austin (Tex.), 1981, p. 72-73.

24. Antônio José Machado ao Subdelegado, Freguesia do Monte (termo de S. Francisco da Barra do Sergipe do Conde,
Comarca de Santo Amaro), [1857], e anexos, APEB,
Presidência,
Polícia, Subdelegados, M.6231.

25. Aqui discordo dos teóricos que, apoiando-se nos elos verticais do clientelismo, defendem a ausência de
interesses de classes. A opinião deles é resumida
(e criticada) por GILSENAN, Michael. Against Patron-Client Relations. In: GELLNER, Ernest e WATERBURY, John
(ed.), Patrons and Clients in Mediterranean Societies.
Londres. 1977, p. 167-82. Ver também FLYNN, Peter. Class, Clientelism, and Coercion:somemechanism of interna!
dependency and control. Jorcrnal of Cornrnonwealth
and Comparative Politics, 12:2, julho de 1974, p. 133-56.

26. Ver, por exemplo, Câmara de Vila Viçosa para PP-BA, 1/9/1842, anexo em PP-BA para MF, 9/12/1842, AN,

Notas do capítulo I 367


SPE, IJJ 9-338. Sobre a lei das terras (usucapião) e sua aplicação, ver DEAN, Warren. Latifundia and Land Policy in
Nineteenth-Century Brazil. Hispanic American
Historical Review 51:4, novembro 1971, p. 606-25; COSTA, Emília Viotti da. The Brazilian Empire: myths and
realities. Chicago, 1985, p. 78-93; FRANCO, M. S. de C..
Homens Livres, p. 80-94; STEIN, S. J., Vassouras, p. 1317; HOLLOWAY, Thomas H.. Immigrants on the Land: coffee
and society in São Paulo, 1886-1934. Chapei Hill (N.
C.), 1980, p. 112-14.

27. WERNECK, Luís Peixoto de Lacerda. Le Brésil. Dangers de sa situation politique et économique; moyens de
les conjacrer: Lettre à son fils... Ouvrage posthacme
revir par F. P. de Lacerda Werneck. Rio de Janeiro, 1889, p. 26-30; STEIN, S. J., Vassouras, p. 224-25.

28. Beneficiei-me particularmente ao escrever este parágrafo


dos discernimentos de Sandra Lauderdale Graham.

29 Henrique Pereira de Lucena para Zília (sua mulher), Rio, 3/6/1887, APEP, Col. Lucena, 661: WERNECK, André
Peixoto de Lacerda. A Lavoura e o Governo, 2
2º Apelo aos Fazendeiros. Artigos publicados no Jornal do Comércio de 15 a 21 de junho de 1890. Rio de Janeiro, 1890,
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
p. 6-9; STEIN, S. J., Vassouras, p. 134.

30 Compare o emprego similar do paternalismo na Inglaterra: HAY, Douglas. Property, Authority and the Criminal
Law. In: HAY, Douglas et al. (ed.), Albion's
Fatal Tree: crime and society in eighteenth-century England. Nova York, 1975, p. 52, 61-62.

31 José Tomás Nabuco de Araújo apud NABUCO, J.. Um

Estadista do Império, p. 101-2; WERNECK, L. P. de L.. Idéias sobre Colonização, p. 36.

32 SANTOS, Luís Alves dos. Discurso Pronunciado no dia 9


de Julho de 1882 Pelo Vigário... In: WERNECK, Manoel

368 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Peixoto de Lacerda. O Visconde de lpiabas, Peregrino José de América Pinheiro: perfil biographico, acompanhado do
retracto do finado e seguido de algumas allocuções
pronunciadas por ocasião de seus funeraes. Rio de Janeiro, 1882, p. 30; BARROS. Tributo de Gratidão, p. 10, 15;
WERNECK, Francisco Peixoto de Lacerda, 2° Barão de
Pati do Alferes, para José Maria Pinto Guerra, Pati do Alferes, 11/9/1858, AN, SAP, Cód. 112, v. 3, fl. 42. Ver também
DEAN, W.. Rio Claro, p. 123.

33 WERNECK, F. P. de L.. Memória, p. 17; WERNECK, Luís Peixoto de Lacerda, apud SILVA, E.. Barões e
Escravidão, p. 214; WERNECK, M. P. L.. O Visconde de piabas,
p. 15.

34 A literatura sobre a resistência dos escravos é relativamente extensa, e a questão controvertida; como pontos de
partida para o Brasil, ver MOURA, Clóvis.
Rebeliões da Senzala (quilombos, insurreições, guerrilhas). São Paulo, 1959; e GOULART, José Alípio. Da Fuga ao
Suicídio (aspectos da rebeldia dos escravos no Brasil).
Rio de Janeiro, 1972.

35 KOSTER, Henry. Travels in Brazil in the Years from 1809 to 1875. Filadélfia, 1817, II, p. 191-96, 215; WALSH,
Robert. Notices of Brazil in 1828 and 1829.
Londres, 1830, 11, 342, 350-51, 365-66; KIDDER, D. P. e FLETCHER, J. C.. Brazil, p. 133; WILLIAMS, Mary
Wilhelmine. The Treatment of Negro Slaves in the Brazilian
Empire: a comparison with the United States of America. Journal of Negro History, 15:3, julho 1930, p. 328-34;
TANNENBAUM, Frank. Slave and Citizen: the Negro in
the Americas. Nova York, 1947, p. 57-58; KLEIN, Herbert S.. Nineteenth-Century Brazil. In: COHEN, David W. e
GREENE, Jack F. (ed.), Neither

Notas do capítulo 1 369


Slave nor Free: the freedman of African descem in the slave societies of the New World. Baltimore (Md.), 1972, p. 314.

36 Honras funebres em memoria do... visconde de Inhaúma, Gran-Mest... do Gr' Or°, e Sup° Cons" do Brasil. Rio
de Janeiro, 1869, p. IX, XIV; MALHEIRO, Agostinho
Marques Perdigão. A Escravidão no Brasil. Ensaio histórico, jurídico, social, 3ª ed. Petrópolis, 1976, I, 132. Para a
aplicação dessa lei, ver Letter of Freedom.
23/8/1827. In: CONRAD, Robert Edgar. Children of God's Fire: a documentary history of black slavery in Brazil.
Princeton (N. J.), 1983, p. 320. A cláusula sobre
ingratidão foi revogada pela Lei do Ventre Livre (LB, Lei 2.040, 28/9/1871, art. IV, par. 9), mas a liberdade condicional
continuou legal e era algumas vezes ainda
concedida; ver Locação de Serviço, AN, SPJ, Cartório do Primeiro Ofício, Escrituras, 1871, Liv. 313, fl. 125-26, 363, e
Cartório do Segundo Ofício, Escrituras, 1880,
Liv. 245, fl. Sv-6, 71, 82v, 120. Ver também GRAHAM, Sandra Lauderdale. Slavery's Impasse: slave prostitutes,
small-time mistresses, and tlle Brazilian Law of 1871.
Comparative Studies in Society and History, 33:4, outubro de 1991, p. 669-694.

37 CP-Corte para MJ, Rio, 5/1/1855 (ver também 16/3/1855), AN, SPE, IJ 6-219; Delegado do 3° distrito, Engenho
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
de Sta. Luísa, para CP-BA, 17/1/1855, APEB,
Presidência, Polícia, Delegados, M.6188; JM-Cachoeira para PP-BA, Cachoeira, 1/6/1840, APEB, Presidência, Juízes,
Cachoeira, M.2273; Subdelegado de Lagoa para CP-Corte,
Rio, 3/1/1872, isto é, 1873, AN, SPE, IJ 6-518.

38 Domingos de Souza Leão para Pedro de Araújo Lima, marquês de Olinda, Recife, 21/8/1865, AIHGB, L207,
D72; Sociedade Auxiliadora da Agricultura de Pernambuco.
Trabalhos do Congresso Agrícola do Recife em

370 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


1878 comprehendendo os documentos relativos aos factos que o precederam (1879). Recife, fac-símile., 1978, p. 136.
Significativamente, a Guerra do Paraguai tornou
mais fácil para os senhores de engenho encontrar trabalhadores livres para empregar: PANG, Eul-Soo. O Engenho
Central do Bom Jardim na Economia Baiana. Alguns aspectos
de sua história, 1875-1891. Rio de Janeiro, 1979, p. 52. Sobre a loteria, ver NABUCO, J.. Um Estadista do Império, p.
852-55; DUDLEY, William S.. Institutional Sources
of Officer Discontent in the Brazilian Army, 1870-1889. Hispanic American Historical Review, 55:1, fevereiro de 1975,
p. 60 (nota 42); e HGCB, n. 7, p. 168, 172.
Ser recrutado continuou sendo o medo constante da classe inferior, década de 1890 adentro, se não além: [Afonso
Henrique de] LIMA BARRETO. Triste Fim de Policarpo
Quaresma, 7ª ed. São Paulo, 1969, p. 184-85.

39 CP-Corte, Mapa Semanal, 26/1/1859, AN, SPE, IJ 6-842, n. 4; Diário Novo, 21/1/1845, apud NARO, Nancy.
The 1848 Praieira Revolt in Brazil. Tese de doutoramento,
Univ. de Chicago, 1981, p. 49 (em 1845, 15 mil-réis valiam US$ 7,80). Mesmo a simples reunião de todos os
documentos necessários para provar isenção legal de alistamento
era onerosa para os pobres: CP-BA para Delegado-Maragogipe, Salvador, 26/7/1869, cópia, APEB, Presidência, Polícia,
Delegados, Registro, M.5802.

40 DENT, Hastings Charles. A Year in Brazil, with Notes on the Abolition of Slavery, the Finances of the Empire,
Religion, Meteorology, Natural History, etc..
Londres, 1886, p. 287.Descrições de desertores quase sempre referiam-se a um "mulato" ou a um "negro liberto"; ver,
por exemplo, CP-BA para Delegado do 1ºdistrito
da capital, Salvador, 11/12/1868, cópia, APEB, Presidência, Polícia, Delegados, Registro, M.5802.

Notas do capítulo 1 371


41 MGuerra ao PP-MG, em LB, Aviso 317 (Guerra), 27/9/ 1856; CARVALHO, Antônio Alves de Souza. O Brasil
em 1870, Estudo Político. Rio de Janeiro, 1870, p.
43-45. Ver também, sobre as condições entre os recrutas, CASTRO, Jeanne Berrance de. A Milícia Cidadã: a Guarda
Nacional de 1831 a 1850. São Paulo, 1977, p. 38,
56 (nota 13).

42 Comandante Superior da GN ao PP-RJ, 21/211842, e Comandante Superior da GN ao PP-BA, Ilhéus, 11/111


1867, ambos apud URICOECHEA, F.. O Minotauro Imperial,
p. 205, 207; Subdelegado-Lagoa ao CP-Corte, Rio, 3/111873, anexo em CP-Corte ao MJ, Rio, 3/1/1872 [i.e. 1873), AN,
SPE, IJ 6-518; Francisco Peixoto de Lacerda Werneck
ao CP-RJ, Monte Alegre, 3/7/1852, apud SILVA, E.. Barões e Escravidão, p. 76. Sobre oficiais da Guarda Nacional
protegendo seus homens do recrutamento forçado, ver
Tenente-Coronel da GN para PP-BA, Salvador. 6/9/1855, APEB, Presidência. Militar, GN, M.3583. Sobre a finalidade
do recrutamento forçado, compare a cláusula adotada
em Salvador após uma rebelião, obrigando os africanos livres ou a pagar um pesado imposto ou a encontrar um patrão
que assumisse a responsabilidade por sua conduta:
REIS, João José. Rebelião Escrava no Brasil: a história do levante dos malês, 1835. São Paulo, 1986, p. 277.

43 WERNECK, L. P de L.. Idéias sobre Colonização, p. 28 (traduzido do inglês); JD-Valença ao


Subdelegado-Santarém, Santarém, 7/9/1857, cópia, APEB, Presidência,
Polícia, Subdelegados, M.6231; 2º barão de Pati do Alferes para João Batista Leite & Cia., Conceição, 12/9/1859. apud
SILVA, E.. Barões e Escravidão, p. 77; OTONI,
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Cristiano Benedito. Advento da República no Brasil. Rio de Janeiro, 1890, p. 79. A hierarquia numa família de elite é
descrita por José de Alencar no seu romance
de 1871,

372 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

O Tronco do Ipê. A hierarquia tem servido ao mesmo propósito em outros lugares; ver DUMONT, Louis. Homo
Hierarchicus: the caste system and its implications, ed.
revista. Chicago, 1980, p. 18. Sobre a hierarquia de cor no Brasil, ver DEGLER, Carl N.. Neither Black nor White:
slavery and race relations in Brazil and the United
States. Nova York, 1971, p. 88-112. Compare a aceitação das complexas gradações sociais no Brasil com o argumento
de OAKES, James. The Ruling Race: a history of
american slaveholders. Nova York, 1982. Segundo ele, a maioria dos escravocratas nos EUA aceitava uma ideologia de
igualdade - para os livres.

44 Ou, em certo sentido, recriada, já que nos tempos coloniais os proprietários de terra também comandavam uma
milícia: MORTON, F. W. O.. The Conservative
Revolution of Independence: economy, society and politics in Bahia, 1790-1840. Tese de doutoramento, Univ. de
Oxford, 1974, p. 80-87; KUZNESOF, Elizabeth A.. Clans,
the militia, and Territorial GoverrIment: the articulation of kinship with polity in eighteenth-century São Paulo. In:
ROBINSON, David J. (ed.), Social Fabric and
Spatial Structure in Colonial Latin America. Siracusa (N. Y.), 1979, p. 181-226.

45 CARVALHO, A. A. de S.. O Brasil em 1870, p. 45. Sobre a propriedade dos oficiais, ver, por exemplo, Proposta para
as vagas dos officiaes do esquadrão n° 4, anexo,
em Comandante Superior da GN para PP-BA, Feira de Santana, 22/8/1856, APEB, Presidência, Militar, GN, M.3583; e
Comandante do 30° Batalhão de Infantaria para o Comandante
Superior Interino de Angra dos Reis e Parati [ilha Grande], 22/12/1857, apud URICOECHEA, F.. O Minotauro
Imperial, p. 212 (ver também p. 172, 185).

46 PP-BA para MJ, Salvador, 618/1849, AN, SPE, IJJ 5-25;


PP-SE para MJ, Sergipe, 3/9/1851, AN, SAP, Cx. 783,

Notas do capítulo 1 373


Pac. 2; MAGALHÃES, Basilio de. Note on the Term Coronelismo. In: LEAL, Victor Nunes. Coronelismo: the
municipality and representative governrnent in Brazil. Cambridge,
Ingl., 1977, p. 16.

47 Comandante Superior da GN para VPP-RJ, [Niterói], 21/4/1866, e Coronel Chefe para VPP-RJ, Valença,
11/9/1839, ambos citados por URICOECHEA, F., O Minotauro
Imperial, p. 186, 206; CARVALHO, A. A. de S.. O Brasil em 1870, p. 45; LB, Lei 602, 1919/1850, art. 12, 14; junta de
recrutamento para MJ, Rio, 26/7/1858, apud RODRIGUES,
Antônio Edmilson Martins, FALCÓN, Francisco José Calazans e NEVES, Margarida de Souza. Estudo das
Características Histórico-Sociais das Instituições Policiais
Brasileiras, Militares e Paramilitares, de suas Origens até 1930: a Guarda Nacional do Rio de Janeiro, 1831-1918. Rio
de Janeiro, 1981, p. 360-66; URICOECHEA,
F., O Minotauro Imperial, p. 168-71, 178 (nota 39).

48 Joaquim Ribeiro Avelar para Francisco Peixoto de Lacerda


Werneck, s.l., sal., AN, SAP, Cód. 112, v. 4.

49 Discurso de Saraiva, 4/6/1880, BCCD, Anais, 1880,11, 3.

50 Por exemplo, FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder.


Formação do patronato político brasileiro, 2ª ed. Porto Alegre, 1975; e TORRES, João Camilo de Oliveira. A
Democracia Coroada (Teoria política do Império do Brasil).
Rio de Janeiro, 1957.

Página 172
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
51 Arcebispo-BA para PP-BA, Salvador, 12/3/1845, APEB, Presidência, Religião, Arcepispado, M.5205 (traduzido
do inglês); O Brasil, apud FLORY, T.. Judge,
p. 169; Comandante Superior da GN para PP-RS, Rio Pardo. 3/1/1859,
apud URICOECHEA, F., O Minotauro Imperial, p. 240. Sobre a concentração de riqueza, ver GRAHAM, Richard.
Slavery and Economic Development: Brazil and

374 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


the United States South in the Nineteenth Century. Comparative studies in society and history, 23:4, outubro 1981, p.
644-48. Ilmar Rohloff de Mattos, em seu O Tempo
Saquarema (São Paulo, 1987), chama a atenção para como os contemporâneos criaram uma divisão tripartite da
sociedade: aqueles que não possuíam nem eles mesmos (os
escravos); aqueles que possuíam apenas suas próprias pessoas (os desvalidos); e aqueles que possuíam propriedades.

52 Rio de Janeiro, Prefeitura, Codigo de posturas da Illma. Camara Municipal do Rio de Janeiro e editaes da
mesma Camara, nova edição. Rio de Janeiro, 1870,
2ª seção, Tít. IX, par. 22; João Gonçalves dos Santos para PP-BA, Salvador, 15/11/1856, APEB, Presidência, Eleições,
M.2794; declaração da defesa, Moradores da Freguesia
de São José do Rio Preto versus Pe. Manoel Florentino Cassiano de Campos, São José do Rio Preto (município de
Paraíba do Sul), 1863, ACMRJ, Queixas contra padres,
sem núm. O padre também queixou-se das maneiras rudes dos moradores.

53 Um tropeiro que ficou riquíssimo foi Domingos Custódio de Guimarães (pai), que adquiriu várias fazendas perto
de Valença (RJ) e conquistou o título de
barão em 1867; MONBEIG, Pierre. Pionniers et Planteurs de São Paulo. Paris, 1952, p. 84.

54 MORSE, Richard M.. Some Themes of Brazilian History. South Atlantic Quarterly, 61 (primavera de 1962), p.
169; GOULART, José Alípio. Tropas e Tropeiros
na Formação do Brasil. Rio de Janeiro, 1961; ALMEIDA, Luís C.. Vida e Morte do Tropeiro. São Paulo, 1971;
SCHMIDT, Carlos Borges. Tropas e Tropeiros. São Paulo,
1932.

55 Apud EISENBERG, P. L.. Sugar Irzdustry, p. 195.

56 Idem, ibidem, p. 148.

Notas do capítulo 1 375

57 Sobre a identificação de uma população móvel com uma população vagabunda, ver WEINSTEIN, B.. Amazon,
p. 43. Sobre mobilidade geográfica, ver VANGELISTA,
Chiara. Le Braceia per Ia Fazenda: immograti e "caipiras" nella formazione del mercato del lavoro paulista (1850-1930).
Milão, 1982, p. 220.

58 Subdelegado para Delegado, Santo Amaro, 1/14/1856, cópia, e JD-Valença para Subdelegado-Santarém,
Santarém, 7/9/1857, cópia, APEB, Presidência, Polícia,
Subdelegados, M.6231; Vigário para Arcebispo-BA, Valença, 5/1/1873, anexo em Arcebispo-BA para PP-BA, Salvador,
14/1/1873, APEB, Presidência, Religião, Arcebispo,
M.5205.

59 CP-PE para PP-PE, Recife, 3/1/1852, APEP, Polícia Civil, 1852, 39; [Delegado] para PP-PE, Nazaré,
26/12/1851; SP do 2° Distrito para PP-PE, Santo Antão,
21/12/1851; Diretor Geral dos Índios para PP-PE, Lage, 24/12/1851, cópias de todas as três anexas em PP-PE para MJ,
AN, SPE, IJ 1-824; Delegado para CP-PE, Recife,
1/1/1850; CP-PE para PP-PE, Recife, 3/1/1852; Tenente-Coronel para CP-PE, Nazaré, 30/12/1851, todas as três em
APEP, Polícia Civil, 1852, 39; PP-PE para MJ, 30/12/1851,
AN, SPE, IJ 1-824; Paraíba, Presidente, Relatório, 1852, p. 3. Devo todas essas referências a Joan Meznar.

60 RJ, Presidente, Relatório, 1858, p. 3-4, apud STEIN, S.


J., Vassouras, p. 58-59.
Página 173
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

61 BARMAN, Roderick J.. The Brazilian Peasantry Reexamined: the implications of the Quebra-Quilos Revolt,
1874-75. Hispanic American Historical Review,
57:3, agosto 1977. p. 401-24; MEZNAR, J.. Deferente arzd Dependente, p. 190-243.

62 2º barão de Pati do Alferes para Bernardo Ribeiro de Carvalho, Monte Alegre. 13/2/1857 e 21/2/1857, apud
SILVA. E.. Barões e Escravidão, p. 84.

376 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


63 SOUZA, Paulino José Soares de. (2º) [Um Conservador]. Carta aos fazendeiros e commerciantes fluminenses
sobre o elemento servil ou, Refutação do parecer
do Sr. Conselheiro Christiano Benedicto Ottoni acerca do mesmo
assumpto. Rio de Janeiro, 1871, p. 4, 6.

64 O Despertador, 5/8/1839, apud FLORY, T.. Judge, p. 151; Associação Industrial, Rio de Janeiro, O Trabalho
Nacional e seus Adversarios. Rio de Janeiro,
1881, p. 165-66.

65 PP-CE para JD, cópia anexa em PP-CE para MJ, Fortaleza, 14/12/1860, AN, SPE, IJJ 5-43; PP-BA para MI,
Salvador, 6/8/1849, ibidem, 5-25; BRAZIL, Commissão
Encarregada da Revisão da Tarifa em Vigor. Relatório... que acompanhou o projecto de tarifa apresentado pela mesma
commissão ao governo imperial. Rio de Janeiro,
1853, p. 342 (traduzido do inglês).

66 Discurso de Sales Torres Homem, 11/8/1859, BCCD.


Anais, 1859, IV, 78. Pedro II apud VIANA, Hélio. D. Pedro I e D. Pedro II: acréscimos às suas biografias.
São Paulo, 1966, p. 158.

67 Pleiteante apud CHAGAS, Paulo Pinheiro. Teófilo Ottoni, Ministro do Povo, 2ª ed. revista. Rio de Janeiro,
1956, p. 47; PP-BA para Ml, 19/1/1850, AN, SPE,
IJJ 9-339, 1850; CAMPOS, Joaquim Pinto de [Um Pernambucano]. Os Anarquistas e a Civilização: ensaio político
sobre a situação. Rio de Janeiro, 1860, p. 83.

68 Sobre o objetivo de inculcar deferência, ver THOMPSON, E. P.. Patrician Society, Plebeian Culture. Journal of
Social History, 7:4 verão 1974, p. 387.

69 Mesa Paroquial para PP-BA, Vitória, 1919/1860, AN, SPE, IJJ 525 (traduzido do inglês); Parecer das Secções de
Justiça e Fazenda do Conselho de Estado,
9/7/1866, AIHGB, Coleção Senador Nabuco, L381, D4 (numeração

Notas do capítulo 1 377


original); José Bernardo Fernandes Gama para Euzébio de Queirós Matoso da Câmara, Rio, 28/11/1851, AN, SAP, Cx.
783 (rotulado como estando no Pac. 4 mas encontrado
no Pac. 2).

70 Discurso de Joaquim Nabuco, 10/7/1888, BCCD, Anais. 1888, III, 87; NABUCO, J.. Um Estadista do Império,
p. 83, 466 (citado), 467, 942 (citado).

Capítulo 2

1 BOXER, Charles R.. Portuguese Society in the Tropics: the municipal councils of Goa, Macao, Bahia, and
Luanda. Madison (Wis.), 1965, p. 5-6 (6), 72-109;
ZENHA, Edmundo. O Município no Brasil (1532-1700). São Paulo, 1948; RUSSELL-WOOD, A. J. R.. Local
Government in Portuguese America: a study in cultural divergence.
Comparative Studies in Society and History, 16:2, março 1974, p. 187-231; PRADO JR., Caio. The Colonial
Background of Modern Brazil. Berkeley (Calif), 1967, p. 366-73;
MORSE, Richard M. Brazil's Urban Development: Colony and Empire. In: RUSSELL-WOOD, A. J. R. (ed), From
Colony to Nation: essays on the lndependence of Brazil. Baltimore,
Página 174
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
1975, p. 158-65; KENNEDY, John N.. Bahian Elites. Hispanic American Historical Review, 53:3, agosto 1973, p.
415-39; MAXWELL, Kenneth R.. Conflicts and Conspiracies:
Brazil and Portugal, 1750-1808. Cambridge, Ingl., 1973.

2 MAXWELL, Kenneth R.. The Generation of the 1790s and the Idea of a Luso-Brazilian Empire. In: ALDEN,
Dauril (ed), Colonial Roots of Modern Brazil. Papers
of the Newberry Library Conference. Berkeley (Calif), 1973, p. 107-44; MATOSO, Kátia M. de Queirós. A Presença
Francesa no Movimento Democrático Baiano de 1798.

380 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Salvador, 1969; NOVAIS, Fernando A.. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). São Paulo,
1979; MORTON, F. W. O.. The Conservative Revolution
of Independente: economy, society and politics in Bahia, 1790-1840. Tese de doutoramento, Univ. de Oxford, 1974, p.
113-45; DIAS, Maria Odila L. da Silva. Ideologia
Liberal e a Construção do Estado do Brasil. Anais do Museu Paulista, 30, 1980-81, p. 211-25. A imagem de "uma
república miserável de negros como no Haiti" ainda
despertava medo até 1853: Sérgio Teixeira de Macedo (ministro brasileiro na Inglaterra) para Lord Clarendon, Londres,
23/5/1853, cópia anexa em Macedo para ME, Londres,
616/1853, AHI, 21713/7, n. 12.

3 Este parágrafo e as páginas seguintes sobre os acontecimentos até 1850 foram extraídos, a não ser quando
anotados de outra maneira, de ARMITAGE, John. The
History of Brazil from the Period of the Arrival of the Braganza Family in 1808 to the Abdication of Don Pedro the First
in 1831, 2 v. Londres, 1836; LIMA, Manuel
de Oliveira. Dom João VI no Brasil, 1808-1821, 2ª ed., 3 v. Rio de Janeiro, 1945; RODRIGUES, José Honório.
Independência: revolução e contra-revolução, 5 v. Rio
de Janeiro, 1975; MANCHESTER, Alan K.. The Transfer of the Portuguese Court to Rio de Janeiro. In: KEITH, Henry
e EDWARDS, S. F. (ed.), Conflict and Continuity in
Brazilian Society. Columbia (S. C.), 1969, p. 148-83; COSTA, Emília Viotti da. The Political Emancipation of Brazil.
In: RUSSELL-WOOD, A. J. R. (ed.). Froco Colony
to Nation: essays on the Independence of Brazil. Baltimore, 1975, p. 67-70; MAGALHÃES, Basílio de. Estudos de
História do Brasil. São Paulo, 1940; BEIGUELMAN, Paula.
Formação Política do Brasil, II. São Paulo, 1967; MONTEIRO, Tobias. História do Império: a elaboração da
independência. Rio de Janeiro, 1927; MONTEIRO,

Notas do capítulo 2 381


Tobias. História do Império: o primeiro reinado, 2 v. Rio de Janeiro, 1939-46; HGCB, n. 4 e 5; MOTA, Carlos
Guilherme e NOVAIS, Fernando A.. A Independência Política
do Brasil. São Paulo, 1986; e os resumos de BETHELL, Leslie. The Independente of Brazil, e BETHELL, Leslie e
CARVALHO, José Murilo de. Brazil froco Independente
to the Middle of the Nineteenth Century. In: BETHELL, Leslie (ed.), The Cambridge History of Latin America.
Cambridge, Ingl., 1985, III, p. 157-96, 679-746. Ver
também DIAS, Maria Odila Silva. The Establishrnent of the Royal Court in Brazil. In: RUSSELL-WOOD, A. J. R.
(ed.), From Colony to Nation, p. 89-108; e NABUCO,
Joaquim. Um Estadista do Império, 3ª ed. Rio de Janeiro, 1975, p. 1-75. BARMAN, Roderick J.. Brazil: the Forging of
a Nation, 1798-1852. Stanford (Calif.), 1988,
oferece uma narrativa detalhada.

4 Apud BETHELL, L.. Independente of Brazil, p. 186.

5 BRAZIL, Constituição Política do Império do Brasil.

6 BRAZIL, Ato adicional à Constituição Política do Império do Brasil.

7 Posturas e orçamentos municipais preenchem a maior parte das páginas das coleções de leis provinciais; mesmo
questões como proibição de banho público durante
o dia, ou o financiamento de um asilo para mendigos no interior, constituíam assuntos para deliberação de legisladores
provinciais: por exemplo, Resolução, 25/4/1862,
Página 175
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Posturas de Canavieiras, e Lei 891, 22/5/1862, ambas na Bahia, Colleção das leis e resoluções da Assembléa Legislativa
e regulamentos do governo da Bahia, sanccionadas
e publicadas no anno de..., 1862, parte I; ver também cartas tratando de pontes, igrejas e outras questões locais em
Câmara Municipal para PP-RJ, Piraí, 1844-46,
APERJ, Col. 37, PP 2/5, 22. Membros das Assembléias Provinciais

382 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


estavam em contato próximo com chefes locais (do mesmo modo que os membros do Congresso, como mostrarei nos
capítulos subseqüentes), e o direito de vigiar as Câmaras
Municipais não necessariamente implicava conflito entre os vereadores e seus chefes. Ver QUEIRÓS, Maria Isaura
Pereira de. O Mandonismo Local na Vida PolíticaBrasileira
(da Colônia à Primeira República): ensaio de sociologia política. São Paulo, 1969, p. 41.

8 É preciso observar que já se tinha retirado das Câmaras Municipais as funções judiciais que ainda lhes restavam
de acordo com o Codigo Philippino de 1603;
a lei de 1828 ainda mais enfatizava e especificava a proibição de as Câmaras Municipais deliberarem sobre questões
respectivas às áreas além das fronteiras do município
(isto é, questões de importância nacional), de tomar decisões "em nome do povo" e de interferir na autoridade de
presidentes provinciais: LB, Lei de 1/10/1828, art.
24 e 78. Uma análise detalhada do status legal das Câmaras Municipais é a de LAXE, João Batista Cortines. Regimento
das Camaras Municipais ou, Lei de 1 º de outubro
de 1828, annotada com leis, decretos...; precedida de uma introdução histórica e seguida de sete appensos... Rio de
Janeiro, Antônio Joaquim de Macedo Soares (ed.),
2ª ed. 1885. Ver também MOURÃO, João Martins de Carvalho. Os Municipios, sua Importância Politica no
Brasil-colonia e no Brasil-reino. Situação em que Ficaram no
Brasil Imperial pela Constituição de 1824 e pelo Ato Adicional. In: Primeiro Congresso de História Nacional, Anais. Rio
de Janeiro, 1916, III, p. 299-318; e LEAL,
Victor Nunes. Coronelismo: the Municipality and Representative Government in Brazil. Cambridge, Ingl., 1977, p.
32-34. Sobre a identificação do liberalismo brasileiro
com direitos antes provinciais que individuais, ver CARVALHO, José Murilo de. A Composição Social dos Partidos
Políticos

Notas do capítulo 2 383


Imperiais. Cadernos, n. 2, Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Ciências Políticas, dezembro 1974,
p. 7-8, 24-25.

9 SOUZA, Otávio Tarquínio de. História dos Fundadores do Império do Brasil. Rio de Janeiro, 1957, p. 251.

10 Ângelo Muniz da Silva Ferraz (o promotor), apud REIS, João José. Rebelião Escrava no Brasil: a história do
levante dos malês, 1835. São Paulo, 1985, p.
248 (ver também p. 42 sobre o medo geral da anarquia); MJ para CP-Corte, Rio, 1/11/1835, apud NEDER, Gizlene,
NARO, Nancy e SILVA, José Luís Werneck da. Estudo das
Características Histórico-Sociais das Instituições Policiais Brasileiras, Militares e Paramilitares, de suas Origens até
1930: a polícia na Corte e no Distrito Federal,
1831-1930. Rio de Janeiro, 1981, p. 191-92. Ver também MJ para PP-BA, 27/2/1835, apud FLORY, T Judge and Jury in
Imperial Brazil, 1808-1871: social control and political
stability in lhe New State. Austin (Tex.), 1981, p. 234 (nota 20) e p. 135 sobre os primeiros temores de rebeliões
escravas como conseqüência da reforma liberalizadora.
O grau em que os medos raciais provocavam uma reação conservadora é explorado por FLORY, Thomas. Race and
Social Control in Independent Brazil. Journal of Latin
American Studies, 9:2, novembro 1977, p. 199-224.

11 LEITMAN, Spencer L.. Raízes Sócio-Econômicas da Guerra dos Farrapos: um capítulo de história do Brasil no
século XIX. Rio de Janeiro, 1979. Em Pernambuco,
para cotejar, as rivalidades entre as elites podiam perturbar as relações sociais e pareciam encorajar a desobediência dos
inferiores: NABO, Nancy. The 1848 Praieira
Revolt in Brazil. Tese de doutoramento, Univ. de Chicago, 1981, p. 147, 150, 154, 156, 163, 171, 175, 188, 203.

Página 176
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
384 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX
12 BRAZIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Anuário Estatístico do Brasil, 1939-40, p. 1.374.

13 O Sete de Abril, 19/11/1838, apud BETHELL, L. e CARVALHO, J. M. de. Brazil from Independence, p. 712.

14 MATTOS, Ilmar Rohloff de. O Tempo Saquarema. São Paulo, 1987, p. 43, 106-7. Do começo ao fim desse livro,
Mattos analisa criteriosamente as forças que
impeliram a centralização descrita neste capítulo. A tradição da lei romana, de líderes brasileiros formados em Portugal,
foi enfatizada como um elemento da unidade
imperial por CARVALHO, José Murilo de. Political Elites and State Building: the case of nineteenth-century Brazil.
Comparative Studies in Society and History, 24:3, julho 1982, p. 378-99. Havia, claro, ainda outras considerações,
sobretudo econômicas, que figuravam no desejo
das elites de um Estado forte: ALENCASTRO, Luís Felipe de. Le Traite Négrière et 1'Únité Nationale Brésilienne.
Revue Française d'Histoire d'Outre-Mer, 66:244-245
(3º-4º trimestres 1979, p. 415-16. Mas não estou convencido de que o desejo de manter um único mercado para escravos
pudesse ter sido proeminente entre esses motivos,
como argumenta SAES, Décio. A Formação do Estado Burguês no Brasil (1888-1891). Rio de Janeiro, 1985, p. 170.

15 LB, Lei 261, 3/12/1841; LB, Regulamento 120, 3/11/1842. Para um resumo útil desta legislação e seus antecedentes,
ver WILLIAMS, Lesley Ann. Prostitutes, Policemen
and Judges in Rio de Janeiro, Brazil, 1889-1910. Dissertação de Mestrado, Univ. do Texas, Austin, 1983, p. 20-52.

16 SOUZA, Joaquim Rodrigues de. Systema Eleitoral da Constituição do Imperio do Brazil. São Luís: 1863, p. 32
(citado) Traduzido do inglês; ALMEIDA, Aluísio
de [Luís Castanho de Almeida]. A Revolução Liberal de 1842. Rio de Janeiro, 1944; MARINHO, José Antônio. História

Notas do capítulo 2 385


do Movimento Político de 1842, 3ª ed. Belo Horizonte, 1977, especialmente p. 74, 85, sobre a resposta para a lei
eleitoral; IGLESIAS, Francisco. O Cônego Marinho
e 1842. In: MARINHO, J. A.. História do Movimento Político, p. 13-36; FILLER, Victor M.. Liberalism in Imperial
Brazil: the regional rebellions of 1842. Dissertação
de Ph.D., Stanford University, 1976, p. 64, 160, sobre como a causa liberal se enfraqueceu por medo de revoltas
escravas. Ver também CONTIER, Arnaldo Daraya. Imprensa
e Ideologia em São Paulo (1822-1842): matizes do vocabulário político e social. Petrópolis, 1979, p. 100-105.

17 NABUCO, J.. Um Estadista do Império, p. 945. A opinião favorável a essa centralização obrigatória, que tanto
beneficiava a classe superior, foi perpetuada
por gerações de historiadores brasileiros. Ver, por exemplo, CALMON, Pedro. Organização Judiciária: (a) na Colônia;
(b) no Império; (c) na República. In: Livro do
Centenário dos Cursos Jurídicos. Rio de Janeiro, 1928, I, p. 95. O objetivo consciente e inconsciente dessa visão
historiográfica ainda não recebeu a atenção que
merece.

18 LEAL, V. N.. Coronelismo, p. 139.

19 Compare EISENSTADT, S. N.. The Political Svstems of Empires. Nova York: 1963, p. 14. Ver também
FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: formação do patronato
político brasileiro, 2ª ed. Porto Alegre, 1975, I, p. 33236. Discussões úteis de questões historiográficas encontram-se em
BEIK, William. Absolutism and Society
in Seventeenth-Century France: srate power and provincial aristocracy in Languedoc. Cambridge, Ingl., 1985, p. 3-33; e
STEPAN, Alfred. The State and Society: Peru
in comparative perspective. Princeton (N. J.), 1978, p. 3-45.

386 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


20 Ver os relatórios semanais sobre reuniões do Gabinete, Abaeté para Pedro II, fevereiro-abril 1859, AMIP,
CXXVIII, 328. Sobre as trivialidades que ocupavam
seu tempo, ver Pedro II, diário, 1861-63, AMIP, maço XXV, Doc. 1055 passim. Para um exemplo de suas correções
relatoriais na cópia editada dos relatórios e legislação
Página 177
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
proposta pelos ministros, ver Junqueira para Cotegipe, Rio, 5/5/1886, AIHGB, CC, L31, D136, e Pedro II para Afonso
Celso de Assis Figueiredo, Rio, 22/10/1879, L427,
D5. Sobre a tentativa constante de Pedro II, sempre malograda, de impor eleições honestas, ver LYRA, Heitor. História
de Dom Pedro II, 1825-1891, 2ª ed. revista.
Belo Horizonte, 1977, II, p. 293-94. A opinião tradicional, então e depois, aprovando ou desaprovando, é de que Pedro
II exercia muito poder; ver, por exemplo, FIALHO,
Anpriso [Anfriso]. Biographical Sketch of Dom Pedro II, Emperor of Brazil. In: Smithsonian Institution, Annual Report
of the Board of Regents. Washington (D. C.),
1877, p. 173-204; e FIALHO, A.. Processo da Monarchia Brazileira: necessidade da convocação de uma constituinte.
Rio de Janeiro, 1885. Nabuco contraditoriamente
afirma
que Pedro II tinha grande poder, e que era frustrado pelo poder exercido por outros: Um Estadista do Império, p. 937-45.
Alguns estudantes do período concordaram
comigo que ele tinha pouco poder real, só para defender que a democracia fosse o regime, o que não é meu ponto de
vista; TORRES, João Camilo de Oliveira. A Democracia
Coroada (Teoria política do Império do Brasil). Rio de Janeiro, 1957.

21 Martinho [Álvares da Silva] Campos, 23/12/1874, Atas do Centro Liberal, 1870-76, AIHGB, L495, D6, fl. 12v;
FIGUEIREDO, Afonso Celso de Assis. As Finanças da Regeneração:
estudo político offerecido aos mineiros. Rio de Janeiro, 1876, p. iii; MILET, Henrique Augusto.

Notas do capítulo 2 387


Miscellanea Economica e Política. Recife, 1882, p. 75; MARINHO, José Antônio. Sermão que Recitou na Capela
Imperial... por ocasião do baptisado da sereníssima princeza
a sra. D. Leopoldina Thereza... Rio de Janeiro, 1847, p. 15. Importante crítica do princípio do Poder Moderador
encontra-se em VASCONCELOS, Zacarias de Góes e. Da
Natureza e Limites do Poder Moderador, 2ª ed. Rio de Janeiro, 1862; e uma impressionante réplica é SOUZA, Brás
Florentino Henriques de. Do Poder Moderador: ensaio
de direito constitucional contendo a análise do título V, capítulo I, da Constituição Política do Brasil, 2ª ed. Brasília,
1978.

22 RODRIGUES, José Honório. O Conselho de Estado: o quinto poder? Brasília, 1978; TORRES. João Camilo de
Oliveira. O Conselho de Estado. Rio de Janeiro, 1956;
MATTOS, I. R. de. O Tempo Saquarema, p. 107-38; LB, Lei 1083, 2218/1860, art. 1-2; LB, Decreto 2711, 19/12/ 1860.
Para a deliberação do Conselho sobre os estatutos
de uma empresa ferroviária, ver Luís Pedreira do Couto Ferraz para Cotegipe, [Rio, abril de 1855], AIHGB, CC, L22,
D115. Sobre como o imperador escolhia os membros
do Conselho de Estado, ver NABUCO, J.. Um Estadista do Império, p. 705. 1.004.

23 Já que havia tantos "presidentes" - da província, da Câmara Municipal, da junta de qualificação de votantes, da
mesa eleitoral -, resolvi usar, na maioria
das vezes, o termo "primeiro-ministro" para referir-me ao presidente do Conselho de Ministros, apesar da diferença
jurídicoconstitucional entre os dois termos.

24 Alguns historiadores têm falado dessas Falas do Trono como se elas representassem as opiniões do próprio
imperador; existem provas abundantes de que elas
resultavam de breves declarações preparadas por cada membro do

388 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Gabinete, e que um deles, em geral o primeiro-ministro, as reunia, condensando-as: ver Luís Pedreira do Couto Ferraz
para Cotegipe, 4/5/1856, AIHGB, CC, L22, D130;
discurso de Zacarias, 18/7/1870, BCS, Anais, 1870, li, 120; discurso de Rio Branco, 8/5/1871, BCS, Anais, 1871,
p. 24; José Bento da Cunha Figueiredo para Cotegipe, Petrópolis, 1/10/1875, e Rio, 20/1/1877, AIHGB, CC, L23, D132,
D152; Pedro Leão Veloso para Pedro II, Rio,
27/10/1882, AMIP, M.190, D.8634; Joaquim Delfino Ribeiro da Luz para Cotegipe, São Cristóvão, 30/4/1886, AIHGB,
CC, L35, D140; Ambrósio Leitão da Cunha, barão de
Mamoré, para Cotegipe, Rio, 27/4/1886, AIHGB, CC, L18, D104; e OTONI, Cristiano Benedito. O Advento da
República no Brasil. Rio de Janeiro, 1890, p. 20.
Página 178
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

25 CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política imperial. Rio de Janeiro, 1980, p. 87. Os
dicionários biográficos brasileiros são compreensivelmente
reticentes sobre o assunto, por isso se pode presumir que a proporção dos proprietários agrários era até maior.

26 LB, Lei de 20/10/1823, art. 1-3, 24; Lei 40, 3/10/1834, art. 1, 5; Lei 207, 18/9/1841; PINTO, Caetano José de
Andrade. Attribuições dos Presidentes de
Província. Rio de Janeiro, 1865; Cotegipe para Henrique Pereira de Lucena, Rio, 3/12/1885, APEP, Col. Lucena, 564;
MA para PPBA, Rio, 5/2/1875, minuta, e MA para
PP-ES, 7/4/1875, minuta, AN, SPE, IA 6-19; vários pedidos de passaportes em APEB, Presidência, Polícia, Licenças,
M.6403; petição de Cezario Telles do Carmo, Salvador,
10/1/1855, APEB, Presidência, Agricultura, Pesca, M.4634; ver também TORRES, J. C. de. A Democracia Coroada, p.
325. Sobre a recepção de presidentes provinciais,
ver LISBOA, João Francisco. Obras, 2ª ed. Lisboa, 1901, 1, p. 82-84; SOUZA, José Antônio Soares de. A Vida do
Visconde do

Notas do capítulo 2 389


Uruguai (1807-1866) (Paulino José Soares de Souza). São Paulo, 1944, p. 49.

27 GALVÃO, Miguel Arcanjo. Relação dos Cidadãos que Tomaram parte no Governo do Brasil no Período de Março de
1808 a 15 de Novembro de 1889, 2ª ed. Rio de Janeiro,
1969, p. 61; João Alfredo Correia de Oliveira para
Cotegipe, Belém, 3/11/1870, e Cotegipe para João Alfredo Correia de Oliveira, Rio, 23/3/1870, cópia datilografada do
rascunho, AIHGB, CC, L50, D84, D89; LB, Decreto
207, 18/9/1841. Sobre a extensão do mandato dos presidentes, ver CARVALHO, José M. de. A Construção da Ordem, p.
95. Sobre a residência local de vice-presidentes,
ver NARO, N.. The 1848 Praiera Revolt, p. 80, 118.

28 LB, Lei 261, 3/12/1841, art. 1, 4; LB, Regulamento 120, 3/11/1842; LB, Lei 2.033, 20/9/1871, art. 1, par. 13, e
art. 10, 11; VASCONCELOS, José Marcelino
Pereira de. Roteiro dos Delegados e Subdelegados de Polícia; ou, Colleção dos Actos, Atribuições e Deveres Destas
Autoridades. Rio de Janeiro, 1862; CARVALHO, Antônio
Alves de Souza. O Brasil em 1870, estudo político. Rio de Janeiro,
1870, p. 21.

29 Ver, por exemplo, Manoel José Gomes de Freitas, Lista para Piratinim, apresentada a PP-RS por J. Jacinto de
Mendonça, s.l., sal., AN, Cx. 781, Pac. 2,
Doc. 9. Direi mais sobre essa preferência em capítulos posteriores.

30 VASCONCELOS, J.. Roteiro dos Delegados, p. 55 e passim; CP-BA para Delegado,-Santo Amaro, Salvador,
10/12/1868, cópia APEB, Presidência, Polícia, Delegados,
M.5802; CARVALHO, A. A. de S.. O Brasil em 1870, p. 22; Cotegipe, [Pareceres... sobre a eleição direta], 1880,
AIHGB, CC, L88, P28; WERNECK, Luís Peixoto de
Lacerda. Le Brésil. Dangers de sa situation politique et économique; moyens de les conjurer, Lettre à son fils...

390 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Ouvrage posthume revu par F. P. de Lacerda Werneck. Rio de Janeiro, 1889, p. 73; WILLIAMS, L.. Prostitutes,
Policemen and Judges, p. 103-8. Como faltavam às Câmaras
Municipais funcionários executivos, com exceção
dos fiscais que taxavam, cobravam multas e inspecionavam, cabia aos delegados fazer cumprir as posturas municipais:
depoimento de Antônio Ferreira Viana, Rio, 29/8/1889,
AGCRJ, 61-4-12, fl. 104; LEAL, V. N.. Coronelismo, p. 58. Os contemporâneos compreendiam o rei como sendo
sobretudo um juiz, por isto não faziam qualquer distinção
entre a autoridade judicial e a imposição de funções policiais: CAMPOS, Joaquim Pinto de [Um Pernambucano]. Os
Anarquistas e a Civilização: ensaio político sobre
a situação. Rio de Janeiro, 1860, p. 40.

31 Delegado para CP-BA, Inhambupe, 15/8/1855, e Subdelegado para CP-BA, Freguesia de Santana [Salvador], 13/
Página 179
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
8/1858, APEB, Presidência, Polícia, Delegados, 1855-56,
M.6188, M.6231. O chefe de polícia submetia relatórios diários ou semanais ao presidente, sobre ocorrências na
província, baseados em relatórios que ele recebia
dos delegados: ver, por exemplo, CP-BA para PP-BA, Salvador, 8, 9, 12/6/1857, APEB, Presidência, Polícia, Chefes,
M.2953. No Rio de Janeiro, o chefe enviava seu
relatório semanal para o ministro da Justiça: Mappa Semanal, Secretaria de Policia da Côrte, 1855, AN, SPE, IJ 6-219.
Podem-se encontrar relatórios similares para
a maioria das províncias; ver HOLLOWAY, Thomas. The Brazilian Judicial Police in Florianópolis, Santa Catarina,
1841-
1871. Journal of Social History, 20:4, verão, 1987, p. 733-56.

32 Subdelegado para CP-BA, Santo Amaro, 20/10/1857, APEB, Presidência, Polícia, Subdelegados, M.6231. Sobre
os passaportes, ver também AGCRJ, 62-I-28, fl.
336-37; e WERNECK, L. P. de L.. Le Brésil, p. 73, 76.

Notas do capítulo 2 391


33 João Francisco Alves de Carvalho para CP-BA, Salvador,
4/6/1856, APEB, Presidência, Polícia, Licenças, M.6403; Comissário de Higiene para PP-BA, Feira de Santana,
11/6/1878, APEB, Presidência, Saúde, M.1589; Subdelegado-S,
Pedro para CP-BA [Salvador], 30/11/1858, APEB, Presidência, Polícia, Subdelegados, M.6231.

34 ARARIPE, Tristão de Alencar [CP-ES]. Instruções Provisorias para os Inspectores de Quarteirão dos Termos da
Província do Espirito Santo, 22/5/1857. In: VASCONCELOS,
J. M. P. de. Roteiro dos Delegados, p. 235-36; Delegado
para Inspetor de Quarteirão, Pirassinunga, 25/8/1872, anexo em PP-SP para MI, São Paulo, 23/1/1873, AN, SPE, IJJ
5-30.

35 Inspetor do 11º quarteirão para Subdelegado, Freguesia do


Sacramento, Rio, 18/1/1855, anexo em CP-Corte para MJ, Rio, 24/1/1855, AN, SPE, IJ 6-219; GRANAM, Richard.
Escravidão, Reforma e Imperialismo. São Paulo, 1979, p.
90-93.

36 Por exemplo, Acta da Junta Parochial de Alistamento,


1618/1887, paróquia de Santana, Salvador, cópia anexa in PP-BA para MI, Salvador, 15/11/1887, AN, SPE, IJJ 9-354.

37 Registro da correspondência expedida para subdelegados,


[novembro-dezembro] 1859, APEB, Presidência, Policia, Subdelegados, M.5737; Subdelegado-Lagoa para CPCorte,
Rio, 3/1/1872 [i.e., 1873], AN, SPE, IJ 6-518; JDCachoeira
para PP-BA, Cachoeira, 28/11/1840, APEB, Presidência, Juízes, M.2273. Os oficiais da Guarda Nacional também
recebiam cotas de recrutas para serem preenchidas: Comandante
do 4º batalhão-paróquia do Riachão de Jacuípe para Comandante Superior, Feira de Santana, Jacuípe, 27/8/1856, cópia,
APEB, Presidência, Militar, GN, M.3583.

392 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


38 Uma lei de 1831 autorizara os presidentes provinciais a criar essas unidades: SOUZA, Paulino José Soares de,
visconde do Uruguai. Estudos Praticos sobre
a Administração das Provincias do Brasil... Primeira parte: Acto Addicional. Rio de Janeiro, 1865,11, p. 159-62 e
seguintes; ver também BRAZIL, Acto Addicional,
art. 11, par. 2; BARROSO, Gustavo. História Militar do Brasil, 2ª ed. São Paulo, 1938, p. 57-58 e seguintes; e HGCB n°
4, p. 501. Para relatos das tropas nas províncias
do Rio de Janeiro e São Paulo, ver PRADO, F. Silveira do. A Polícia Militar Fluminense no Tempo do Império
(1835-1889). Rio de Janeiro, 1969; e FERNANDES, Heloisa
Rodrigues. Política e Segurança: força pública do Estado de São Paulo, fundamentos histórico-sociais. São Paulo, 1974,
p. 53-145. Essas corporações provinciais estavam
sob o comando nominal do ministro da Guerra, um fato que algumas vezes complicava sua administração; ver, por
exemplo, PP-SE para MJ, Sergipe, 2217, 1/8/1851, AN,
SAP, Cx. 783, P2. Embora as Câmaras Municipais também pudessem organizar seu próprio corpo policial, faltava à
maioria delas receitas para pagá-los. Só a da cidade
Página 180
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
do Rio de Janeiro tinha um corpo substancial: Rio de Janeiro (cidade), Prefeitura. Consolidação das Leis e Posturas
Municipais. Rio de Janeiro, 1905. la parte, decreto
sem número, 9/11/1831, Decreto 2.081, 16/1/1858, Decreto 3.598, 27/1/1866, Decreto 9.395, 7/3/1885, Decreto 10.222,
5/4/1889; NEDER, G. et al.. Estudo..., p. 126-33,
139-44, 161-71.

39 Acto do Governo, 12/2/1862. In: Bahia, Colleção das Leis, 1862, parte II; CP-RJ para PP-RJ, Niterói, 4/8/1860,
anexo em PP-RJ para MJ, s.l., 7/8/1860,
AN, SPE, IJJ 543; VASCONCELOS, J. M. P. de. Roteiro dos Delegados, p. 22; Manuel Alves Branco, apud FLORY, T..
Judge, p. 137. Sobre o tamanho reduzido desse regimento
no Rio

Notas do capítulo 2 393


de Janeiro, ver BRANDÃO, Berenice Cavalcante, MATTOS, Ilmar Rohloff de e CARVALHO, Maria Alice Rezende de.
Estudos das Características Histórico-Sociais das Instituições
Policiais Brasileiras, Militares e Paramilitares, de suas Origens até 1930: a polícia e a força policial no Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, 1981, p. 134-65.

40 LB, Lei de 18/8/1831, Lei 602, 19/9/1850 (a citação é do art. 1 de ambas essas leis); ver também Decreto 722,
25/10/1850; e BRAZIL, Ministério da Justiça
e Negócios Interiores. Notícia Histórica dos Serviços, Instituições e Estabelecimentos Pertencentes a esta Repartição,
Elaborada por Ordem do Respectivo Ministro,
Dr. Amaro Cavalcanti. Rio de Janeiro, 1898, cap. 6. Sobre a transferência de unidades inteiras da Guarda Nacional para
o serviço do exército, ver Comandante do 22º
batalhão de infantaria para Comandante da 3ª companhia, Valença, 17/9/1865, AN, SAP, Cód. 112, v. 6, Doc. 29. Sobre
patrulhas de cidade, ver CP-Corte para MJ, Rio,
3/2/1854, AN, SPE, IJ 1-80. Para a história e responsabilidades da Guarda Nacional, ver CASTRO. Jeanne Berrance de.
A Milícia Cidadã: a Guarda Nacional de 1831 a
1850. São Paulo, 1977; HGCB, n. 6, p. 274-98; URICOECHEA, F.. O Minotauro Imperial: a burocratização do Estado
patrimonial brasileiro rio século XIX. São Paulo,
1978, especialmente p. 130-40; e RODRIGUES, Antônio Edmilson Martins, FALCON, Francisco José Calazans e
NEVES, Margarida de Souza. Estudo das Características Histórico-Sociais
das Instituições Policiais Brasileiras, Militares e Paramilitares, de suas Origens até 1930: a Guarda Nacional no Rio de
Janeiro, 1831-1918. Rio de Janeiro, 1981,
p. 3-277.

41 SOUZA, P. Estudos Práticos. II, 179; LB, Lei 2.395, 10/9/1873. Em 1880 havia 918.017 homens da
Guarda.

394 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Nacional contra apenas 7.410 policiais provinciais: CARVALHO, José Murilo de. Teatro de Sombras: a política
imperial. São Paulo, 1988, p. 39.

42 HGCB, n. 6, p. 235-58, especialmente p. 244; MORTON, F. W. O.. Conservative Revolution, p. 70-80, 313-21.

43 PP-PB para MGuerra, s.l., 11/1/1850, PP-RN para MGuerra, Natal, 11/5/1850, AN, SAP, Cx. 823, Pac. 2, fl. 43,
273; HGCB, n. 6, p. 294.

44 Junqueira para Cotegipe, Rio, 4/2/1886, AIHGB, CC, L31, D118; Henrique Francisco de Ávila para COtegipe,
Rio, 3/9/1887, ibidem, L7, D41 (citado); DUDLEY,
William S.. Institutional Sources of Officer Discontent in the Brazilian Army, 1870-1889. HispanicAmerican Historical
Review, 55:1, fevereiro 1975, p. 44-65.

45 LB, Aviso (Império), 21/10/1843, apud SOUZA, P. J. S. de. Estudos Práticos, I, p. 180 (nota); Parecer da
Commissão. BCCD. Reforma Eleitoral: projectos
offerecidos á consideração do corpo legislativo desde o anno de 1826 até o anuo de 1875... colligidos na secretaria da
Camara dos Deputados. Rio de Janeiro, 1875,
p. 553. Sobre o lugar da igreja, ver ALMEIDA, Cândido Mendes de (comp./ed.). Direito Civil Ecclesiastico Brazileiro
Página 181
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Antigo e Moderno em suas Relações com o Direito
Canonico ou, Colleção completa... a que se addicionão notas historicas e explicativas, indicando a legislação
actualmente em vigor e que hoje constitue a jurisprudencia
civil ecclesiastica do Brasil. Rio de Janeiro, 1866, Tomo I, v. 2, especialmente p. 563-608; HAUK, João Fagundes et al..
História da Igreja no Brasil: ensaio de
interpretação a partir do povo. Segunda época: a Igreja no Brasil no século XIX. Petrópolis, 1980, p. 81-95, 200-205.
Alegouse que os clérigos fomentavam a ameaça
de violência dos camponeses contra a tentativa de implementação de um

Notas do capítulo 2 395


registro civil em 1851: PP-PE para JDs, circular, Recife, 24/12/1851, cópia, AN, SPE, IJ 1-824; devo esta referência a
Joan Meznar.

46 BRAZIL, Ministerio da Justiça e Negocios Interiores. Noticia Historica, cap. 7, p. 46, 88; SOUZA, José A. S. de.
Vida, p. 626; NABUCO, J.. Um Estadista
do Império, p. 290; CARVALHO, A. A. de S.. O Brasil em 1870. p. 29.

47 LB, Lei 261, 3/12/1841, art. 14, 117, 118; LB, Regulamento 120, 3/11/1842; LB, Decreto 559, 28/6/1850, e o
debate sobre esta legislação, primeiro em 7
e 1613 e 16, 17 e 18/4/1850. BCCD, Anais, 1850, 11, p. 77, 160, 33548, 351-63, 365-75, e depois, em 2515 e 1, 3, 4, 20
e 21/6/1850. BCS, Anais, nova ed. (1978),
sessões de maio de 1850, p. 97-100, e sessões de junho de 1850, p. 1079, 254-318; CARVALHO, A. A. de S.. O Brasil
em 1870, p. 27-29. Até 1871, os juízes municipais
algumas vezes combinavam suas obrigações com aquelas do delegado; ver, por exemplo, APEB, Presidência, Polícia,
Delegados, 1855-56, M.6188; Exeqüente: Lucas Lezler
- executado: José Ribeiro Pereira Guimarães. Cachoeira. 1860, n. 9, APEB, Judiciário, M.1662. Sobre a rentabilidade de
uma vara de órfãos, ver JD para MJ, Jacobina,
10/9/1862, AN, SPE, IJ 1-922. Em 1871 mais autoridade foi delegada aos juízes de direito às custas dos juízes
municipais, mas parte da autoridade previamente exercida
por delegados foi para os juízes municipais, e um homem só não podia ocupar os dois cargos: LB, Lei 2.033, 20/9/1871.
Para um resumo dessas mudanças, ver LEAL. Aurelino.
História Judiciária do Brasil. In: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Diccionario Historico, Geographico e
Ethnographico do Brasil. Rio de Janeiro, 1922,
I, p. 1.107-1.187; e OLIVEIRA, Cândido de. A justiça. In: FIGUEIREDO.

396 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Afonso Celso de Assis, visconde de Ouro Preto et al., A década Republicana. Rio de Janeiro, 1900, III, p. 7-148.

48 BUENO, José Antônio Pimenta. Direito Publico Brazileiro e Analyse da Constituição do Imperio. Rio de Janeiro,
1857, p. 330; GALVÃO, M. A.. Relação dos Cidadãos,
p. 58. Os presidentes provinciais podiam recomendar a demissão ou rebaixar um juiz municipal, embora a decisão final
coubesse ao Conselho de Estado.

49 LB, Lei 261, 3/12/1841, art. 19 (ver também art. 13), Lei 2.033, 20/9/1871, art. 1, par. 3; JD-Taubaté para PP-SP,
Caçapava, 3/1/1861, cópia anexa em PP-SP
para MJ, 20/1/1861, AN, SPE, IJJ 5-43: JD-Pombal para PP-PB, Vila de Patos, 20/2/1861, cópia anexa em PP-PB para
MJ, 9/3/1861, AN, SPE, IJJ 5-43; CHANDLER, Billy
Jaynes. The Feitosas and the Sertão dos Inhamuns: the history of a family and a community in Northeast Brazil,
1700-1930. Gainesville (Fla.), 1972, p. 51. Os vereadores
podiam servir ainda como juízes substitutos "de segundo grau": ALMEIDA, Cândido Mendes de (ed.). Codigo
Philippino; ou Ordenações e Leis do Reino de Portugal. Rio
de Janeiro, 1870, p. 372 (nota).

50 BRAZIL, MJ, Relatório, 1865, Anexo C; BRAZIL, Ministerio da Justiça e Negocios Interiores. Noticia
Historica, cap. 7, p. 88; MELLO, Afonso d'Albuquerque.
A Liberdade no Brasil: seu nascimento, vida, morte e sepultura. Recife, 1864, p. 111.

51 PANG, Eul-Soo e SECKINGER, Ron. The Mandarins of Imperial Brazil. Comparative Studies in Society and
Página 182
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
History, 14:2, março 1972, p. 215-44; BARMAN, Roderick
J. e BARMAN, Jean. The Role of the Law Graduate in the Political Elite of Imperial Brazil. Journal of Inter-American
Studies, 18:4, novembro 1976, p.
42-350; LEONZO,
Nanci e BARBOSA, Rita Maria Cardoso.

Notas do capítulo 2 397


As "Virtudes" do Bacharelismo. In: Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica. II Reunião, Anais. São Paulo, 1983, p.
125-28.

52Não-identificado para Brás Carneiro Nogueira da Costa e Gama, conde de Baependi, Saudade, 27/7/1860, AN, SAP,
Cód. 112, v. 8, Doc. 36. Para outro exemplo, ver
José
Antônio Saraiva para Henrique Garcez Pinto de Madureira, São Paulo, 15/3/1842, 13/5/1845, 5/11/1845. In: PINHO,
José Wanderley de Araújo. Política e Políticos no
Império. Rio de Janeiro, 1930, p. 12, 20, 21. Ver também BARROS, Roque Spencer Maciel de. A Ilustração brasileira e
a idéia de universidade. São Paulo, 1959, p.
203.

53 Antônio Augusto da Costa Aguiar para Pedro II, São Paulo, 30/1/1862, AMIP, CXXXI, 6422.

54 Barão de Pati do Alferes para Manoel Peixoto de Lacerda Werneck, Monte Alegre, 31/3/1854, AN, SAP, Cód.
112, v. 3, fl. 165-66.

55 FLORY, T.. Judge, p. 181-99; Junqueira para Cotegipe; Salvador, 9/7/1856, AIHGB, CC, L30, D178;
CARVALHO, J. M. de. A Construção da Ordem, p. 51-72. Observe
que, quando os proprietários começaram a discutir se se devia continuar a escravidão na década de 1880, do mesmo
modo fizeram os juízes.

56 BUENO, J. A. P.. Direito Publico, p. 205.

57 CARVALHO, João Manuel de. Reminiscencias sobre Vultos e Factos do Imperio e da Republica. Amparo, 1894,
p. 90; MAGALHÃES JR., Raimundo. José de Alencar
e sua Época, 2ª ed. Rio de Janeiro, 1977, p. 215; HGCB, n. 7, p. 139; FIGUEIREDO JR., Afonso Celso de Assis, conde
de Afonso Celso. Oito Annos de Parlamento. Poder
pessoal de D. Pedro II. Reminiscencias e notas, ed.

398 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


rev. [2ª]. São Paulo: Melhoramentos, sal., p. 126; RODRIGUES, José W. de. Fardas do Reino Unido e do Império,
Anuário do Museu Imperial. 11 (1850), p. 45-47; LISBOA,
J. F.. Obras, p. 84 (citado); BCCD. Manual Parlamentar. Regimento interno da Camara dos Deputados (Rio de Janeiro,
1887), p. 67 (nota); Adolfo Hasselman para Rui
Barbosa, Salvador, 14/11/1878, CRB, sem número (sobre o uniforme de um burocrata menor); BRAZIL, Constituição,
art. 16; LB, Decreto 1.482A, 21/2/1854, Decreto de
2/9/1825; MF, circular (para outros ministros), Rio, 17/4/1883, AN, SPE, IG 1-377. Sobre a faixa do cargo de
delegados, ver LB, Decreto 584, 19/2/1849, art. 2.
Argumentos acalorados vinham à tona sobre questões como se o uniforme dos vereadores também podia ser usado pelo
secretário da câmara: PP-BA para MI, Salvador, 22/5/1843,
AN, SPE, IJJ 9-338, 1843, fl. 5. Também se levava em conta a idade para intitular alguém na hierarquia (Bernardo de
Souza Franco para Zacarias de Góes e Vasconcelos,
Rio, 14/4/1867, AMIP, I-ZGV14,4.867-Fr.o), mas não encontrei nenhuma prova de que status e honra eram mais
valorizados no Rio de Janeiro do que em outros lugares,
como afirma URICOECHEA, F.. O Minotauro Imperial, p. 236.

58 Por exemplo, CARDOSO, Fernando Henrique e FALETTO, Enzo. Dependency and Development in Latita
America. Berkeley (Calif.), 1979, p. 66-9, 89-91.

Notas do Capítulo 3
Página 183
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

1 Discurso de Coelho Rodrigues, 26/10/1888, BCCD, Anais, 1888, VI, p. 403.

2 BUENO, José Antônio Pimenta. Direito Publico Brazileiro e Analyse da Constituição do Imperio. Rio de Janeiro,
1857, p. 389-489 (Pimenta Bueno, é claro,
sabia que não estava basicamente descrevendo uma realidade, mas defendendo um ideal). Embora escrito no
século XX, TORRES, João Camilo de Oliveira. A Democracia Coroada (Teoria política do Império do Brasil). Rio de
Janeiro, 1957, p. 245-52, apreende fielmente a opinião
de muitos brasileiros do século XIX, as quais o autor toma ao pé da letra. Ver também SCHWARZ, Roberto. Ao
vencedor as Batatas: forma literária e processo social
nos inícios do romance brasileiro. São Paulo, 1977, p. 13-25; COSTA, Emília Viotti da. The Brazilian Empire:
myths and realities. Chicago, 1985, p. 53-77; e MACEDO, Ubiratan Borges de. A Liberdade no Império. São Paulo,
1977.

3 PEDRO II. Normas de D. Pedro II Quanto a Política


Interna e Externa (c. maio 1857). In: VIANA, Hélio. D.
Pedro I e D. Pedro II: acréscimos às suas biografias. São Paulo, 1966, p. 158.

4 SOUZA, Joaquim Rodrigues de. Systema Eleitoral da Constituição do Imperio do Brazil. São Luís: 1863, p.
33;
José Tomás Nabuco de Araújo, discurso de 2/5/1853, BCCD, Anais, 1853, I, p. 138.

400 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


5 Decreto, 1855, art. 1, par. 3. Um projeto de lei intencionando o mesmo resultado foi introduzido no Senado quase
antes de a tinta secar sobre a lei de 1846: BCCD.
Reforma Eleitoral: projectos offerecidos á consideração do corpo legislativo desde ao ano de 1826 até o anno de 1875...
colligidos na secretaria da Camara dos Deputados.
Rio de Janeiro, 1875, p. 258-74. Sobre estas reformas em geral, ver WERNECK, Luís Peixoto de Lacerda. Le Brésil,
Dangers de sa situation politique et économique:
moyens de les conjurer, Lettre à son fils... Ouvrage posthume revu par F. P. de Lacerda Werneck. Rio de Janeiro, 1889,
p. 48-49; LEAL, Victor Nunes. Coronelismo:
the municipality and representative government in Brazil. Cambridge, Ingl., 1977, p. 119-20; BARMAN, Roderick J..
Brazil at Mid-Empire: political acommodation and
the pursuit of progress under the Conciliação Ministry, 1853-1857. Tese de doutoramento, Univ. da Califórnia, Berkeley,
1970, p. 205-34; e CARVALHO, José Murilo
de.
Teatro de Sombras: a política imperial. São Paulo, 1988, p. 144-45, 155.

6 BUENO, J. A. P.. Direito Publico, p. 199.

7 Junqueira para Cotegipe, Salvador, 31/5/1856, AIHGB, CC, L30, D 177. Ver também SOUZA, J. R. de. Systema
Eleitoral, p. 28, 30, 37. Sobre a manipulação de
eleições favorecidas por uma lei similar na Itália, ver LYTTLETON, N. A. O.. El Patronazgo cri Ia Italia de Giolitti
(1892-1924). Revista de Occidente, n. 127, outubro
1973, p. 112.

8 CARVALHO, Antônio Alves de Souza. O Brasil em 1870,


Estudo Político. Rio de Janeiro, 1870, p. 41. Um historiador contudo alega que, apesar da interferência governamental
na eleição seguinte, em 1856, os Liberais da
oposição elegeram um terço da Câmara: CALMON, Pedro.

Notas do capítulo 3 401


História de D. Pedro II. Rio de Janeiro, 1975, II, p. 550. Mas compare SOUZA, Francisco Belisário Soares de. O
Sistema Eleitoral no Império (com apêndice contendo
a legislação eleitoral no período 1821-1889). Brasília, 1979, p. 83-84, afirmando que só 12 dos cem deputados
eleitos eram Liberais. Essa inconsistência pode ser devida à ambigüidade das definições de partido, tema que exploro
em capítulo posterior. O número específico de
Liberais eleitos para o Congresso é também discutido em BARMAN, R. J.. Brazil at Mid-Empire, p. 240.
Página 184
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

9 Decreto, 1860, an. 1, par. 2; a história legislativa desta lei pode ser encontrada em BCCD. Reforma Eleitoral, p.
354-67.

10 Junqueira para Cotegipe, Salvador, 29, 27/8/1868,


AIHGB, CC, L31, D9, D8, respectivamente; BRASILIENSE, Américo [de Almeida Mello]. Os Programas
dos Partidos e o 2º Império. Primeira parte: Exposição de Princípios. São Paulo, 1878, p. 45-46; Decreto, 1875, art. 2,
par. 17; CAMPOS, Maninho. In: Centro Liberal,
Atas (reunião 30/7/1875), AIHGB, L495, D6. ALENCAR, José de. Systema Representativo. Rio de Janeiro, 1868, p. 3,
alega ter proposto a medida dos "dois terços" em
1859;
posteriormente nesse mesmo livro (p. 72) ele propõe algo semelhante ao sistema Hare de representação exatamente
proporcional.

11 Decreto, 1881, art. 17. Tentativas de proteger os direitos da minoria finalmente conduziram a um sistema de votação
proporcional no século XX; ver LOVE, Joseph
L..
São Paulo in the Brazilian Federation, 1889-1937. Stanford (Calif.), 1980, p. 134.

12 JM para PP-SP, Caçapava. 30/12/1860, cópia anexa em PP-SP para MJ, São Paulo, 20/1/1861, AN, SPE, IJJ 5-43;
FIGUEIREDO, Afonso Celso de Assis. As Finanças da
Regeneração:
estudo político offerecido aos mineiros.

402 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Rio de Janeiro, 1876, p. iv. A anarquia era comumente identificada com tirania também fora do Brasil: HOFSTADTER,
Richard. The Idea of a Party System: the rise of
legitimate opposition in the United States, 1780-1840. Berkeley (Calif.), 1969, p. 12. Sobre o apelo conflitante de
liberdade e ordem por parte dos líderes brasileiros
durante a primeira metade do século, ver MATTOS, Ilmar Rohloff de. O Tempo Saquarema. São Paulo, 1987, p. 133-38.

13 PP-CE para delegados e subdelegados, circular, cópia anexa em PP-CE para MI, Fortaleza, 13/8/ 1860, AN,
SPE, IJJ 5-43; Actas da Mesa Parochial de Pirassinunga,
7191 1872, cópia anexa em PP-SP para MI, 25/11/1872, ibidem, IJJ 5-30.

14 PP-RJ para MJ, Niterói, 2/1/1861, ibidem, IJJ 5-43. Ver também PP-BA para MI, Salvador, 6/8/1849, ibidem, IJJ
5-25.

15 PP-CE para MI, 13/8/1860, ibidem, IJJ 5-43.

16 Manuel Pinto de Souza Dantas para Rui Barbosa, Salvador, 5/6/1876. In: DANTAS, Manuel Pinto de Souza.
Correspondência. Rio de Janeiro, 1962, p. 20; MELLO,
Afonso d'Albuquerque. A Liberdade no Brasil: seu nascimento, vida, morte e sepultura. Recife, 1864, p. 90.

17 José Antônio de Figueiredo. In: BANDEIRA, Antônio Herculano de Souza (ed.), Reforma Eleitoral, Eleição
Directa: colleção de diversos artigos sobre a eleição
directa dos quaes são autores os seguintes senhores... Recife, 1862, p. 202.

18 Cotegipe para Henrique Pereira de Lucena, Rio, 17/1/1886, APEP, Col. Lucena, 603.

19 BUENO, J. A. P Direito Publico, p. 256; BRAZIL, Constituição Política do Império do Brasil, art. 101, par. 5, 6;
discurso de Maninho Campos, 24/9/1875,
apud MOREI-

Notas do capítulo 3 403


RA, [Artur] Colares. A Câmara e o Regime Eleitoral no Império e na República. In: BCCD. Livro do Centenário da
Câmara dos Deputados. Rio de Janeiro, 1926, II, p.
40; discurso de Nabuco de Araújo, 17/7/1868, BCS, Anais, 1868, 111, p. 115.
Página 185
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

20 Paulino José Soares de Sousa para Firmino Rodrigues Silva, s.l., 27/12/1852, apud MASCARENHAS, Nelson
Lage. Um Jornalista do Império (Firmino Rodrigues
Silva). São Paulo, 1961, p. 172; Manuel Pinto de Souza Dantas para Zacarias de Góes e Vasconcelos, s.l., 15111 [1866],
AMIP, I-ZGV 15.1.866 Dan.c.; TAUNAY, Afonso
d'Escragnolle. Prefacio. In: TAUNAY, Alfredo d'Escragnolle. Homens e Cousas do Imperio.São Paulo, 1924, p. vü; João
Lins Vieira Cansansão de Sinimbu para Aureliano
Cândido Tavares Bastos, 1874, apud PONTES. Carlos. Tavares Bastos (Aureliano Cândido), 1839-187. São Paulo,
1939, p. 347; MILET, Henrique Augusto. Auxílio a Lavoura
e Credito Real. Recife, 1876, p. vi.

21 O Abolicionismo Perante a História ou, O Dialogo das Tres Provindas. Rio de Janeiro, 1888, p. 61; BASTOS,
Aureliano Cândido Tavares. Os Males do Presente
e as Esperanças do Futuro ([e outros] estudos brasileiros), 3ª ed. São Paulo, 1976, p. 116.

22 SOUZA, F. B. S. de. O Sistema Eleitoral, p. 6; Pedro II, apud NABUCO, Joaquim. Um Estadista do Império.
Rio de Janeiro, 1975, p. 1.004; Pedro II para Cotegipe,
Rio, 23/1/1886. In: PEDRO II, Cartas do Imperador D. Pedro II ao barão de Cotegipe. São Paulo. 1933, p. 268; Pedro II,
comentário na margem em ALMEIDA, Tito Franco
de. O Conselheiro Francisco José Furtado. Biografia e estudo da história política contemporânea, 2ª ed. São Paulo.
1944, p. 100 (nota). Ver também PEDRO II. Conselhos à Regente. Rio de Janeiro, 1958, p. 33, 60; mas compare
p. 67.

404 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


23 Ambrósio Leitão da Cunha para Cotegipe, Maranhão, 20/9/1868, AIHGB, CC, L18, D63; Junqueira para
Cotegipe, Salvador, 4/7/1855, ibidem, 130, D169 (Álvaro
Tibério de Moncorvo Lima foi nomeado PP-BA em 1/8/1855).

24 PP-RS para PM, Porto Alegre, 9/12/1871, minuta, AN, SAP, Cx. 781, Pac 2; PP-PA (João Alfredo Correia de
Oliveira) para MM (Cotegipe), Belém, 9/3/1870,
AIHGB, CC, L50, D89; PP-MG (Pena) para M7 (Nabuco de Araújo), Ouro Preto, 2/11/1856, AIHGB, L365, P11.

25 PP-BA para MI, Salvador, 15/11/1867, AN, SPE, IJJ 90 343, fl. 175; PP-CE para MJ, Fortaleza, 29/12/1860,
ibidem, 5-43; anexos em JM para PP-PI, Mamanguape,
7/9/1860, anexo em PP-PI para MI, s.l., 11/2/1861, ibidem, 5-43. A autoridade de um presidente para agir como nesse
último caso estava em seu direito de suspender
qualquer funcionário público por não cumprimento do dever, de qualquer tipo: LB, Lei de 3/10/ 1834, art. 5, par. 8.

26 Processos de Presidentes, Bahia, 1879, AN, Cód. 954, v. 19, fl. 87; Lei, 1846, art. 111, 118; CP-BA para
DelegadoAlagoinhas, Salvador, 10/12/1868, cópia,
APEB, Presidência, Polícia, Delegados, Registro, M.5802; PP-MG para MGuerra, Ouro Preto, 5/3/1888, AIHGB, CC,
L35, D172; MI para PP-CE, Rio, 22/10/1860, cópia, AN,
SPE, IJJ 5-3, fl. 29; LEVI, Darrel E.. The Prados of São Paulo Brazil: an elite family and social change, 1840-7930.
Athens (Ga.), 1987, p. 226 (nota 15). Quando
um presidente julgava a eleição de uma câmara municipal inválida, ele restituía a câmara anterior, e aguardava-se novas
eleições: Consulta do Conselho de Estado,
Seção Justiça, 28/6/1881, AN, SPE, Cx. 558, Pac. 3.

27 Junqueira para Cotegipe, Salvador, 4/4/1876, AIHGB, CC; L31, D70; PP-MG para MGuerra, Ouro Preto,
5/3/1888. ibidem, L35, D172.

Notas do capítulo 3 405


28 Guaí para Cotegipe, Salvador, 16/10/1885, ibidem, L38,
D19; Luís Pedreira do Couto Ferraz, visconde do Bom Retiro, para Cotegipe, Constantinopla, 12/10/1876, ibidcm, L22,
D167.

29 PP-RJ para JD, [Niterói], 6/12/1860, cópia anexa em PP RJ para MI, Niterói, 31/12/1860, AN, SPE, IJJ 5-43;
CASTRO, José Antônio de Magalhães. Refutação da
Página 186
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Exposição Circunstanciada que Fez o Doutor Justiano Baptista de Madureira... ao Presidente da Província da Bahia,
sobre as elleições do Collegio de Villa Nova da
Rainha. Rio de Janeiro, 1857, p. 6 (citado), 8; [PP-RGS], Relação dos Juizes Municipaes da Província e seus
Supplentes... Porto Alegre, [1872]; Domingos F. dos
Santos para PP-RS, s.l., 10/2/1872; outras notas não assinadas e não datadas, todas em AN, SAP, Cx. 781, Pac. 2. Sobre
a tentativa de um juiz de assegurar um acordo,
ver PP-CE para MJ, Fortaleza, 19/12/1860, AN, SPE, IJJ 5-43. As apelações respectivas à qualificação dos votantes iam
para as Relações após audiências nas Juntas
de
Apelações Municipais, formados pelo juiz municipal, por aquele vereador mais votado na Câmara Municipal e pelo
eleitor mais votado na paróquia central da comarca
(Lei,
1846, art. 33-38); JM para MI, Mariana (MG), 17/9/1860, AN, SPE, IJJ 5-25. Após 1875, os juízes de direito receberam
mais poder porque decidiam sobre a exclusão
de
cidadãos das listas de qualificação dos votantes, antes que esses pudessem apelar para as Relações (Decreto, 1875), art.
1, par. 14, 17, 18); também ganharam a autoridade,
anteriormente exercida apenas por presidentes provinciais, para declarar nulas e inválidas eleições de juízes de paz e
vereadores (ibidem, art. 2, par. 30-32).

30 Guaí para Cotegipe, Salvador, 8/10/1884, AIHGB, CC, L38, D13; discurso de Olegário, 15/7/1880,
BCCD,Anais, 1880, 111, p. 290.

406 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


31 SOUZA, José Antônio Soares de. A Vida do Visconde do Uruguai (1807-1866) (Paulino José Soares de Souza).
São Paulo, 1944, p. 626; NEQUETE, Lenine. O Poder
Judiciário no Brasil a partir da Independência. Porto Alegre, 1973, I, p. 102-3; FLORY, T.. Judge and Jury in Imperial
Brazil, 1808-1871: social control and political
stability in the New State. Austin (Tex.), 1981, p. 184.

32 José Manuel de Freitas para João Lustosa da Cunha Paranaguá, São Luís, 24/1/1878, AMIP, I-DPP, 24.1.878,
Fre-cl.4; Manuel Pinto de Souza Dantas para Cotegipe,
Salvador, 24/6/1856, AIHGB, CC, L19, D17.

33 ALENCAR, J. de. Sistema Representativo, p. 118.

34 Discurso de Maninho Campos, 24/9/1875, BCCD, Anais, 1875, V, 209; José Antônio Saraiva para Franklin
Américo de Menezes Dória, Salvador, 2/1/1887, AIHGB,
L173, D I, fl. 6; Junqueira (MGuerra) para Cotegipe, Rio, 22/8/ 1872, AIHGB, CC, L31, 030.

35 PP-RJ para PM, Niterói, 19/11/1881, AIHGB, L270, 138. Ver também Junqueira para Cotegipe, Salvador,
6/1/1884, AIHGB, CC, L31, 094.

36 PP-SP, para MJ, São Paulo, 25/3/1861, AN, SPE, IJJ 5-43; Cotegipe para Junqueira, Salvador, 26/11/1874, cópia
de minuta, AIHGB, CC, L31, 060; Guaí para
Cotegipe, Salvador, 28112, 23/11/1885, AIHGB, CC, L38, 034, 026, respectivamente.

37 Decreto, 1855, art. 1, par. 20. Um passo em favor dessas incompatibilidades fora proposto em 1845 mas
malogrado: BCCD. Reforma Eleitoral, p. 153, 156.
O princípio
aplicava-se às Câmaras Municipais desde os tempos coloniais, e no século XIX havia uma extensa lista de cargos
julgados incompatíveis com a vereação: Lei de 1/10/1828,
art. 23 em Additamentos. In: ALMEIDA, Cândido Mendes de (ed.), Codigo Philippino; ou, Ordenações e Leis do

Notas do capítulo 3 407


Reino de Portugal. Rio de Janeiro, 1870, p. 372 (nota). Havia também o medo de que, como funcionários públicos,
aqueles que fossem eleitos seguiriam com demasiado
servilismo o partido do governo.
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

38 Junqueira para Cotegipe, Salvador, 12/10/1855, AIHGB, CC, L30, D 171.

39 Decreto, 1860, art. 1, par. 13-14; Decreto, 1875, art. 3; Decreto, 1881, art. 11.

40 NABUCO, Joaquim. Eleições Liberais e Eleições Conservadoras. Rio de Janeiro, 1886, p. 55; SOUZA, M. R. de.
Systema Eleitoral, p. 37; discurso de Maninho Campos,
24/9/1875, BCCD, Anais, 1875, V, 213. Ver também LYRA, Augusto Tavares de. Esboço Historico do Regimen
Eleitoral do Brasil (1821-1921). Rio de Janeiro, 1992, p.
40; e CARVALHO, José M. de. Teatro de Sombras, p. 147-53.

41 Declaração de Jequitinhonha, 18/7/1868. In: BRAZIL, Conselho de Estado, Atas. Brasília, 1978, VIII, p. 52;
[CARVALHO, Antônio Alves de Souza]. O Imperialismo
e a Reforma, Anotado por um Constitucional do Maranhão. São Luís, 1866, p. 41; Tomás Pompeu de Sousa Brasil para
José Antônio Saraiva, Fortaleza, [fins de 1880 ou
início de 1881], AIHGB, L270, D6.

42 José Antônio Saraiva para José Tomás Nabuco de Araújo. 24/12/1868, apud NABUCO, J.. Um Estadista do
Império, p. 675; JP para PP-SP, Caçapava, 1/1/1861,
cópia anexa
em PP-SP para MJ, 20/1/1861, AN, SPE, IJJ 5-43; WERNECK, L. P. de L.. Le Brésil, p. 78; CARVALHO, A. A. de S..
O Brasil em 1870, p. 23. Ver também D
Brasil, 18/12/1848, apud FLORY, T.. Judge, p. 226, n. 40.

43 Subdelegado para PP-BA, Bom Conselho [da Amargosa] (termo de Geremoabo), 7, 13/8/1863, APEB,
Presidência, Polícia, Subdelegados, M.3005 [2005]; PP-CE para

408 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


delegados e subdelegados, circular, cópia anexa em PP CE para MI, Fortaleza, 13/8/1860, AN, SPE, IJJ 5-43. Ver
também PP-BA apud Mesa Paroquial de Vitória para PPBA,
Vitória, 14/9/1860, AN, SPE, IJJ 5-25.

44 Amaro Ferreira de Camargo para PP-RS, Passo Fundo, 11/5/1872, AN, Cx. 781, Pac. 2, Doc. 11.

45 Junqueira para Cotegipe, Salvador e Rio, 2/8/1868, 6171 1872, AIHGB, CC, L31, D7, D21. Os presidentes
tinham o direito de suspender os oficiais da Guarda
Nacional e nomear substituições, aguardando aprovação do ministro da Justiça; nesse meio tempo, eleições cruciais
podiam realizar-se; PP-PA para MI, Belém, 24/1/1861,
AN, SPE, IJJ 5-43; CARVALHO, A. A. de S.. O Brasil em 1870, p. 40. Sobre uma proposta para que um presidente
demitisse numerosos oficiais, ver Comandante Superior
da GN para PP-RS, Cruz Alta, 7/4/1863, apud URICOECHEA, Fernando. O Minotauro Imperial: a burocratização do
estado patrimonial no século XIX. São Paulo, 1978, p.
246.

46 PP-RS para PM, Porto Alegre, 9/12/1871, minuta, AN, SAP, Cx. 781, Pac. 2; HGCB, 6, p. 251; José Mariano
Carneiro da Cunha para Afonso Pena (MGuerra), Rio.
6/4/1882, AN, SAP, Documentos de Afonso Pena, L5, 1.2.314, L:C. Para outro exemplo de um oficial conseguir que
seus subordinados votassem de determinada maneira,
ver PP-ES para PM, Vitória, 15/7/1863, AIHGB, L207, D 120.

47 HGCB, 5, p. 80; CHAGAS, Paulo Pinheiro. Teófilo Otoni, Ministro do Povo, 2ª ed. rev. Rio de Janeiro, 1956, p.
465-74; MJ para CP-Corte, Rio, 5/9/1860,
minuta, e notas respectivas à eleição de 1860, AN, SPE, IJJ 5-43. Otoni também venceu em Minas Gerais.

Notas do capítulo 3 409


48 PP-RJ para MJ, [Niterói?], 20/8/1860; PP-ES, Instruções [para cap. do exército]. 28/8/1860, anexo PP-ES para
MJ, Vitória, 28/8/1860; PP-CE para MI, 13/8/1860;
JD para PP-PA, Macapá, 27/10/1860, cópia anexa em PP-PA para MJ, Belém, 26/1/1861, todos em AN, SPE, IJJ 5-43.
Página 188
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Os presidentes provinciais tinham autoridade sobre
os contingentes do exército em suas províncias.

49 Acta da Mesa Eleitoral da Villa do Príncipe e Santa Arma de Caeteté, 15/1/1858, ibidem, 5-25; Presidente da
Mesa Eleitoral da Paróquia da Cidade para PP-BA,
Barra do Rio Grande, 21/12/1887, ibidem, 9-355. v. I, fl. 53.

50 Lei, 1846, art. 108; LB, Decreto 8.213, 13/8/1881, art. 240; SOUZA, F. B. S. de. O Sistema Eleitoral, p. 6.

51 SOUZA, Paulino José Soares de, visconde do Uruguai. Estudos Práticos sobre a Administração das Províncias
do Brasil... Primeira parte: Acto Addicional.
Rio de Janeiro, 1865, II, p. 179; JD para PP-PA, Macapá, 22/10/1860,
cópia anexa em PP-PA para MJ, Belém, 26/1/1861, AN, SPE, IJJ 5-43. Ver também PP-RS para MJ, Porto Alegre,
13/4/1860, ibidem.

52 Lei, 1846, art. 108; JD para PP-SP, Bananal, 13/9/1860, anexo em PP-SP para MJ, São Paulo, 25/9/1860, AN,
SPE, IJJ 5-43.

53 CARVALHO, A. A. de S.. O Brasil em 1870, p. 14. Sobre como a guerra abriu o caminho para uma pressão
eleitoral cada vez maior, ver JP para MI, Campanha
(MG), 28/2/ 1867, AN, SPE, IJJ 5-34; e Junqueira para Cotegipe, Salvador, 29/7/1868, AIHGB, CC, L31, D6.

54 CARVALHO, A. A. de S.. O Brasil em 1870, p. 44; PP ES para MJ, Vitória, 22/6/1861, AN, SPE, IJJ 5-43.

55 Comandante Superior da 9ª Legião para PP-RJ, Resende. 4/5/1849, apud URICOECHEA, F.. O Minotauro
Imperial,

410 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


p. 220 (nota 36); CARVALHO, A. A. de S.. O Brasil em 1870, p. 19; Manuel Luís Osório, marquês do Herval, para
eleitores selecionados, circular [1872], minuta, AIHGB,
L233, D7959.

56 FIGUEIREDO, Afonso Celso de Assis. Reforma Administrativa e Municipal: parecer e projectos. Rio de
Janeiro, 1883, p. 72-73. Discutindo o papel eleitoral
da Guarda Nacional, URICOECHEA, F.. O Minotauro Imperial, não distingue suficientemente entre o emprego da força
e a maneira como o governo usava os cargos (altamente
valiosos pela posição social que conferiam) para recompensar a lealdade eleitoral; isso leva-o contraditória mas
corretamente a dizer que a lei de 1873 ao mesmo
tempo diminuía e aumentava a importância da Guarda nas eleições: p. 244-45.

57 Guaí para Cotegipe, s.l., sal., AIHGB, CC, L37, D106; Guaí para Cotegipe, Salvador, 25/9/1884, ibidem, L38,
D9; José de Araújo Costa para José Lustosa
da Cunha Paranaguá, Teresina, 21/3/1872, AMIP, I-DPP, 21.3.872, Cos-c1.2; Dantas para Cotegipe, Salvador,
31/1/1857, AIHGB, CC, L19, D36.

58 Guaí para Cotegipe, Salvador, 6/9/1877, 19/12/1882, AIHGB, CC, L37, D144, D165; Junqueira para Cotegipe,
Rio, 16, 20/12/1885, ibidem, L31, 13110,
DI11. É
instrutivo contrastar a experiência brasileira com a dos EUA, onde os pretendentes a cargos também formavam o que
Thomas Jefferson chamava de "uma tribo numerosa
e ruidosa"; mas Jefferson fez um acordo com seus oponentes, concordando em não demitir os nomeados por eles, se ele
fosse eleito: HOFSTADTER, R.. The Idea of
a Party System, p. 127, 133-34, 154 (ver também p. 126 e 163).

Notas do capítulo 3 411


59 Junqueira (MGuerra) para Cotegipe, Rio, 30/9/1872, AIHGB, CC, L31, D35; Comandante do Quartel do Comando
do Corpo Policial para PP-RS, Porto Alegre, 20/12/1871,
AN, SAP, Cx. 781, Pac. 2 [Doc. 20]; Ambrósio Leitão da Cunha para Cotegipe, s.l. 4/2/1887, AIHGB, CC, L18, D131.
Página 189
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

60 Cotegipe (PM) para Henrique Pereira de Lucena (PP-RS), Rio, 3112, 20/11/1885, APEP, Col. Lucena, 564, 562;
Junqueira para Cotegipe, Cachoeira, 2/11/1855,
AIHGB, CC, L30, D 172.

61 Pedro II para Luís Alves de Lima e Silva, marquês de Caxias, 1856, apud VIANA, H.. D. Pedro I e D. Pedro II,
p. 145. Ver também LYRA, Heitor. História
de Dom Pedro II, 1825-7891; 2ª ed, rev. Belo Horizonte, 1977. II, p. 269.

62 O Programa do Partido Progressista. In: BRASILIENSE [de Almeida Mello], Américo (ed.), Programas dos
Partidos, p. 16-17; PM (Alves Branco) para PPs, circular,
1847, apud HGCB, 7, p. 82; discurso de Pacheco, 18/4/ 1861, BCCD, Anais, 1861, I, p. 20.

63 Lourenço de Albuquerque para Luís Felipe de Souza Leão, Engenho Velho, 1/3/1885, AIHGB, L456, D48;
Junqueira para Cotegipe, Salvador, 11/10/1884, AIHGB,
CC, L31, D99.

64 José Antônio Saraiva para José Tomás Nabuco de Araújo, 24/12/1868, apud NABUCO, J.. Um Estadista do
Império, p. 676. Pedro II disse à sua filha que ele
também desejava eleições livres, mas achava-as improváveis: PEDRO II, Conselhos à D. Isabel (1871). In: VIANA, H..
D. Pedro I e D. Pedro II, p. 241.
Capítulo 4

1 LB, Decreto, 7/3/1821, Decisão 57 (Reino), 19/6/1822, cap. 2, art. 6 (traduzido do inglês). As eleições para
vereadores, claro, eram conhecidas há muito
tempo:
ALMEIDA, Cândido Mendes de (ed.), Codigo PhiIippino; ou, Ordenações e Leis do Reino de Portugal. Rio de Janeiro,
1870. Liv. I, Tit. 67. Sobre a tentativa de Bonifácio
para
evitar eleições diretas, ver COSTA, Emília Viotti da. The Political Emancipation of Brazil. In: RUSSELL-WOOD, A. J.
R. (ed.), From Colony to Nation: essays on the
Independence of Brazil. Baltimore, 1975, p. 82.

2 Projecto de Constituição, art. 122-37. In: BRAZIL, Assembléia Geral Constituinte e Legislativa. Diário (1823;
fac-símile, Brasília, 1973), II, 694-95; BRAZIL,
Constituição Política do Império do Brasil, art. 90-97; LB, Decreto, 7/3/1821, Decreto 3/6/1822, Decisão 57 (Reino),
19/6/1822, Decreto 26/3/1824, Decreto 157, 4/5/1842;
RODRIGUES, José Honório. Conciliação e Reforma no Brasil. Um desafio histórico-político. Rio de Janeiro, 1965, p.
135-38. Antes de 1842, nas poucas paróquias que
tinham um juiz de fora residente, ele ocupava a função de presidente da assembléia eleitoral em vez da de vereador.

3 Lei, 1846. Uma história legislativa dessa lei encontra-se resumida em BCCD. Reforma Eleitoral: projectos offe-

414 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


recidos á consideração do corpo legislativo desde o anno de 1826 até o anno de 1875... colligidos na secretaria da
Camara dos Deputados. Rio de Janeiro, 1875, p.
127-226. Muitas dessas leis são reproduzidas em SOUZA, Francisco Belisário Soares de. O Sistema Eleitoral no
Império (com apêndice contendo a legislação eleitoral
no período 1821-1889). Brasília, 1979, p. 163-208.

4 Lei, 1846, art. 40, 92; BRAZIL, Acto Addicional [à Constituição política do Império do Brasil], art. 4; Decreto,
1855, art. 1; Decreto, 1860, art. 1; Decreto,
1875, art. 1. Quando um deputado ingressava no Gabinete, ele tinha de submeter-se à reeleição: BRAZIL, Constituição,
art. 29, 30. Antes de 1860, os suplentes de
deputados eram simplesmente aqueles que se situavam abaixo na lista na ordem dos votos recebidos: Lei, 1846, art. 89.
Ver também SOUZA, Paulino José Soares de, visconde
do Uruguai. Estudos Praticos sobre a Administração das Provincias do Brasil... Primeira parte: Acto Addicional. Rio de
Janeiro, 1865, I. 76-85. A atenção cuidadosa
Página 190
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
ao cronograma eleitoral se reflete em Brás Carneiro Nogueira da Costa e Gama, visconde de Baependi, para
não-identificado, Sta. Rosa, 27/1/1857, AN, SAP, Cód. 112,
v. 8, 2ª parte, fl. 28. Claro que, por negligência ou interesse, às vezes passavam-se anos sem que se elaborasse uma nova
lista: MI para PP-PE, Rio, 22/10/1860,
cópia, AN, SPE, IJJ 5-3, fl. 34. Começando em 1875, o processo de elaboração da lista de votantes qualificados era
requerido apenas de dois em dois anos.

5 BRAZIL, Constituição, art. 90.

6 Ibidem, art. 92, par. 5. A lei eleitoral acrescentou gratuitamente a frase "em prata" (Lei, 1846, art. 18), e o governo
então declarou que isso tinha de
equivaler a 200 mil-réis em dinheiro, quantia mantida até o final do Império: LB, Decreto 484, 25/11/1846.

Notas do capítulo 4 415


7 Segundo BUENO, José Antônio Pimenta. Direito Publico Brazileiro e Analyse da Constituição do Imperio. Rio de
Janeiro, 1857, p. 472, a exigência de renda só excluía
"vagabundos e vadios", mas ele modifica isso ligeiramente, na página 194, dizendo que alguém teria de ser "quase (...)
mendigo para não possuir tal renda, ou pelo
menos um homem perfeitamente vadio e inútil". ALENCAR, José de. Systema Representativo. Rio de Janeiro, 1868, p.
93, concorda que só o "vagabundo" era portanto excluído.
Já em 1837, um jornal conservador alegava que o sufrágio estendera-se a homens "da mais infeliz situação social depois
dos escravos e réus de polícia": O Constitucional
Cachoeirano, 21/11/1837, p. 3, em AN, SPE, IJ 1-708.

8 Justiniano José da Rocha, apud FLORY, T.. Judge and Jury in Imperial Brazil, 1808-1871: social control and
political stability in the New State. Austin
(Tex), 1981, p. 118 (ver também p. 141); discurso de Martinho Campos, 24/9/1875, BCCD, Anais, 1875, V, 208;
discurso de Saraiva, 4/6/1880, BCCD, Anais, 1880, II,
35. Um defensor posterior do Império também dizia que a lei de 1846 realmente implicava "sufrágio universal":
[SOUZA, João Cardoso de Meneses e], barão de Paranapiacaba.
Elleições. In: FIGUEIREDO, Afonso Celso de Assis, visconde de Ouro Preto, et al.. A Década Republicana. Rio de
Janeiro, 1900, 111, 252.

9 LAERNE, C. F. van Delden. Brazil and Java: repor( on coffee-culture in America, Asia and Africa to H. E. the
Minister of the Colonies. Londres, 1885, p.
304. Cozinheiras podiam ganhar 300 mil-réis anualmente em 1877, e uma ama-de-leite, se amamentando, até 600, no
início de 1881: GRAHAM, Sandra Lauderdale. House
and Street: the domestic world of servants and rnasters in nineteenthcentury Rio de Janeiro. Cambridge, Ingl., 1988, p.
14; ver

416 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


também SOARES, Ubaldo. O Passado Heróico da Casa dos Expostos. Rio de Janeiro, 1959, p. 48. Pedro Carvalho de
Mello mostra que, de 1852 em diante, o custo médio
de alugar escravos era de mais de 200 mil-réis anualmente: The Economics of Labor in Brazilian Coffee Plantations
1850-1888. Tese de doutoramento, Univ. de Chicago,
1977, p. 66, Quadro 19. O intransigente reformador André Rebouças chegou a uma conclusão muito diferente para os
trabalhadores no interior, como citado em HGCB,
7, p. 223.

10 Pedro Autran da Matta Albuquerque. In: BANDEIRA, Antônio Herculano de Souza (ed.), Reforma Eleitoral,
Eleição Directa: colleção de diversos artigos sobre
a eleição directa dos quaes são autores os seguintes senhores... Recife, 1862, p. 243; ALENCAR, J. de. Systema
Representativo, p. 92.

11 BRAZIL, Constituição, art. 92 (itálicos meus); LB, Decisão, n° 57 (Reino), 19/6/1822, cap. I, par. 8 (traduzido
do inglês); Projecto de Constituição, art.
124, par. 7. In: BRAZIL, Assembléia Geral Constituinte e Legislativa. Diário, p. 694.

Página 191
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
12 Explicitou-se a definição em Decreto, 1881, art. 3, par. 3. Sobre uma opinião similar de emprego público em outros
lugares, ver HOFSTADTER, Richard. The Idea
of
a Party System: the rise of legitimate opposition in the United States, 1780-1840. Berkeley (Calif.), 1969, p. 157.

13 José Antônio Saraiva, apud HGCB, n° 7, p. 242; BUENO, J. A. P.. Direito Publico, p. 194; SOUZA, F. B. S. de.
O Sistema Eleitoral, p. 26; BASTOS, Aureliano
Cândido Tavares. Os Males do Presente e as Esperanças do Futuro ((e outros) estudos brasileiros), 3ª ed. São Paulo,
1976, p. 143; Recurso de Qualificação, 1860,
Francisco Antônio Feiteiro recorrente, Conselho Municipal de Recurso da

Notas do capítulo 4 417


Villa de Caçapava [RGS] recorrido, AN, SPJ Apelação, n° 1.242, Cx. 11.880 [antigo Cx. 32, Gal. C].

14 WERNECK, Luís Peixoto de Lacerda. Idéias sobre Colonização, Precedidas de uma Sucinta Exposição dos
Princípios que Regem a População. Rio de Janeiro, 1855,
p. 38; Francisco Freire Alemão, anotação de diário em 19/11/1859. In: DAMASCENO, Darcy e CUNHA. Waldyr da
(ed.), Os Manuscritos do Botânico Freire Alemão. Rio de
Janeiro, Biblioteca Nacional, Anais, v. 81 (1961), p. 293; José Pereira da Câmara para Peregrino José de América
Pinheiro, Ubá (RJ), 7/7/1863, AN, SAP, Cód. 112,
v. 8, Doc. 4; declaração de Antônio Borges Rodrigues e Antônio Lourenço Torres, discurso de Manoel Furtado da Silva
Leite, discurso de Júlio César de Morais Carneiro,
todos no Congresso Agrícola. Coleção de documentos. Rio de Janeiro, 1878, p. 32, 47, 147; ver também STEIN, S. J..
Vassouras, a Brazilian Coffee County, 1850-1900.
Cambridge (Mass.), 1957, p. 57 (nota).

15 Lei, 1846, art. 2, 8-14; Decreto, 1855, art. 1, LB, Decreto 1.812, 23/8/1856, art. I-17; MELLO, Afonso
d'Albuquerque. A Liberdade no Brasil: seu nascimento, vida,
morte e sepultura. Recife, 1864, p. 111.

16 [Brás Carneiro Nogueira da Costa e Gama], visconde de Baependi, para João Vieira Machado da Cunha, Sta. Rosa,
8/1/1858, AN, SAP, Cód. 112, v. 8, Doc. 32.

17 Lei, 1846, art. 19, 25, 26; Recurso de Qualificação, 1860, Francisco Antônio Feiteiro recorrente, Conselho
Municipal de Recurso da Vila de Caçapava [RGS]
recorrido, AN, SPJ, Apelação, n. 1.242, Cx. 11.880 [antiga Cx. 32, Gal. C]; SOUZA, F. B. S. de. O Sistema Eleitoral, p.
26. Nunca encontrei uma instância em que
as acusações de perjúrio nesse assunto foram levadas a julgamento.

418 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


18 Discurso de José Antônio Saraiva, 4/6/1880, BCCD, Anais, 1880, 11, 39.

19 BRAZIL, Ministerio do Imperio. Relatorio, 1870, Anexo C; BRAZIL, Directoria Geral de Estatistica.
Recenseamento da População do Imperio do Brazil a que
se Procedeu no dia 1 ° de agosto de 1872. Rio de Janeiro, 1873-76.

20 Em relação aos de 25 anos e mais, a proporção dos qualificados seria ainda mais alta, porém como alguns
votantes de 21 anos podiam legalmente votar, e
visto que os dados do censo permitem cálculos somente para o grupo de 26 anos e mais, e como quero usar a menor
base possível para o meu argumento de ampla participação
eleitoral, decidi usar a idade mais baixa.

21 As atas das mesas eleitorais que examinei mostram que a maioria dos votantes qualificados tinha votado. Como
os manuscritos de recenseamentos muitas vezes
mostram um grande número de mulheres chefes de família no Brasil, muitas famílias inteiras não eram representadas:
RAMOS, Donald. Marriage and the Family in Colonial
Vila Rica. Hispanic American Historical Review, 55:2, maio de 1975, p. 218-23; KUZNESOF, Elizabeth. The Role of
the Female-Headed Household in Brazilian Modernization,
Página 192
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
1765-1836. Journal of Social History, 114, verão de 1980, p. 589-613.

22 A população total do Brasil de todas as idades e ambos os sexos, escrava e livre, era de 9.930.478 em 1872;
portanto, mais de 10% eram qualificados. Durante
a República, depois de 1889, sabemos que a participação dos eleitores permanecia inferior a 6% da população: LOVE,
Joseph L.. Political Participation in Brazil,
1881-1969. Luso-Brazilian Review, 7:2, dezembro 1970, p. 3-24; TOPIK, Steven. The Political Economy of the
Brazilian

Notas do capítulo 4 419


State, 1889-1930. Austin (Tex.), 1987, p. 8. Esses autores não baseiam seus cálculos nos números dos adultos homens
apenas, uma medida especialmente importante,
dada a juventude daquela população. Mesmo em 1945, quando mulheres podiam votar, o índice de registro atingia
apenas 16% da população total: GRANAM, Lawrence S..
Civil Service Reform in Brazil: principles versus practice. Austin (Tex), 1968, p. 117.

23 SODRÉ, Nelson Werneck. História da Burguesia Brasileira. Rio de Janeiro, 1964, p. 102-3. A confusão
continuou, a despeito dos dados apresentados por CARVALHO,
José Murilo de. Teatro de Sombras: a política imperial. São Paulo, 1988, p. 140-43.

24 Ver, por exemplo, Recurso de Qualificação, 1860, Francisco Antônio Feiteiro recorrente, Conselho Municipal de
Recurso da Villa de Caçapava [RGS] recorrido,
AN, SPJ, Apelação, n° 1.242, Cx. 11.880 [antiga Cx. 32, Gal. C]. A lista de votantes registrados usada por MOTT, Luís
R. B.. Sergipe del Rey: população, economia
e sociedade. Maceió, 1986, p. 60, inclui raça, com o seguinte desmembramento:

Brancos 136 35,05%


Pretos 41 10,57%
Pardos 211 54,38%
TOTAL 388 100,00%

25 Acta da Mesa Parochial, Freguesia de S. Sebastião dos Aflitos, Ubá, 7/9/1860, cópia anexa em PP-MG para MI,
Ouro Preto, 19/10/1860, AN, SPE, IJJ 9-482;
Ata da Mesa Eleitoral da Vila Nova do Príncipe e Santana de Caeteté, 10/1/1858, ibidem, 5-25. Para um exemplo
envolvendo a propriedade rural do presidente de uma
mesa eleitoral, ver

420 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Depoimento, Pirassinunga, de 2/2/1873, anexo em PP-SP para MI, São Paulo, 15/2/1873, ibidem, 5-30. Normalmente,
os que organizavam ajunta de qualificação também
formavam a mesa eleitoral, mas o processo de estabelecêla podia facilmente ocupar metade de um dia.

26 REZENDE, Francisco de Paula Ferreira de. Minhas Recordações. Rio de Janeiro, 1944, p. 124 (vale lembrar,
Rezende está falando especificamente da eleição
de 1840, mas ele a contrasta com os negócios tranqüilos e fechados que começaram só em 1881; deste modo, podemos
entender que ele está descrevendo todo o intervalo);
Acta de Recolhimento, numeração das listas, apuração dos votos, e reunião de Eleitores desta freguezia, N. Sra. do
Livramento das Minas do Rio das Contas, 26/2/1823,
AN, SPE, IJJ 5-26; Lei, 1846, art. 4, 8, 20, 21, 42 (ver também Decreto, 1860, art. 6; e Decreto, 1875, art. 2, par. 10);
Mesa Paroquial de Vitória para PP-BA, Vitória,
19/9/1860, AN, SPE, IJJ 5-25; Acta da Mesa Parochial de Pirassinunga, 18/8/1872, cópia anexa em PP-SP para MI, São
Paulo, 15/2/1873, AN, SPE, IJJ 5-30; Acta da Mesa
Parochial, Freguesia de S. Sebastião dos Aflitos, Ubá, 7/9/1860, cópia anexa em PP-MG para MI, Ouro Preto,
19/10/1860, AN, SPE, IJJ 9-482. Um edital convocando os
votantes, datado de Santa Teresa (Valença), 7/8/1860, encontra-se em AN, SAP, Cód. 112, v. 8, Doc. 13.

27 Delegado para PP-PA, Breves, 27/7/1860, cópia anexa em PP-PA para MJ, Belém, 1/8/1860, AN, SPE, IJJ 5-43;
PP-CE, circular, para delegados e subdelegados
Página 193
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
da província, anexo em PP-CE para MI, 13/8/1860, ibidem, 5-43.

28 SOUZA, F. B. S. de. O Sistema Eleitoral, p. 34; REZENDE, F. de P. F. de. Minhas Recordações, p. 126;
Delegado para PP-CE, Sobral, 12/12/1860, cópia anexa
em PP-CE para MJ, Fortaleza, 29/12/1860, AN, SPE, IJJ 5-43.

Notas do capítulo 4 421


29 Recurso de Qualificação, 1860, Francisco Antônio Feiteiro recorrente, Conselho Municipal de Recurso da Vila
de Caçapava [RGS] recorrido, AN, SPJ, Apelação,
n. 1.242, Cx. 11.880 [antiga Cx. 32, Gal. C].

30 Lei, 1846, art. 18; LB, Decreto 6.097, 12/1/1876, art. 27. Vale comparar esses propósitos com os da Virgínia do
século XVIII: ISAAC, Rhys. The Transformation
of Virginia, 1740-1790. Chapel Hill (N. C.), 1982, p. 110-14. Sobre eleições na Virgínia do século XIX, ver JORDAN,
Daniel P_ Political Leadership in Jefferson's
Virginia. Charlottesville (Va.), 1983, p. 103-56.

31 Lei, 1846, art. 46; SOUZA, F. B. S. de. O Sistema Eleitoral, p. 31-32.

32 Actas da Mesa Parochial de Pirassinunga, 7/9/1872, cópia anexa in PP-SP para MI, 25/11/1872, AN, SPE, IJJ
5-30:
JD-Muriaé para PP-MG, Ubá, 12/10/1860, anexo em PP
MG para MI, Ouro Preto, 19/10/1860, ibidem, 9-482; Ml
para PP-SE, Rio, 4/1/1858, cópia, ibidem, 5-8, fl. IV; Lei,
1846, art. 48, 49; LB, Aviso 298 (Imperio), 11/9/1856;
Alencar, J. de. Systema Representativo, p. 118.

33 Lei, 1846, art. 51; Acta da Mesa Eleitoral de São Brás do Porto de Moz, 1/11/1824, AN, SPE, IJJ 5-18.

34 Actas da Mesa Parochial de Pirassinunga, 7/9/1872, cópia anexa em PP-SP para MI, 25/11/1872, ibidem, 5-30;
Acta da Mesa Eleitoral de Nazareth da Vigia
(Pará), 2/11/1824,
ibidem, 5-18; [Acta da Mesa Eleitoral da Freguezia de Inhaúma, MN], 9/11/[1852], AGCRJ, 61-4-14, fl. 133;
Lei, 1846, art. 54, 56, 115. Sobre o sorteio em um Colégio Eleitoral, ver Brás Carneiro Nogueira da Costa e Gama,
conde de Baependi, para Jerônimo José Teixeira Júnior, Sta. Rosa [Valença], 26/12/1860, AN, SAP, Col.
Teixeira
Júnior, AP23, Correspondência Passiva, Doc. 99.

35 Um conjunto de atas típicas e de rotina, de um Colégio Eleitoral, é a Acta da Reunião do Colegio Eleitoral da

422 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Comarca de Caravellas, 14/2/1856, AN, SPE, IJJ 5-25. Ver também Actas da Mesa Eleitoral do 2º Districto, Salvador,
11/2/1858, ibidem, 5-25; Lei, 1846, art. 69, 70,
71, 73; e LB, Decreto 565, 10/7/1850, art. 1.

36 De 1855 a 1875, quando as províncias incluíam vários círculos, a Câmara Municipal que encabeçava cada
círculo cumpria essa função.

37 Lei, 1846, art. 85-89. Para exemplos do trabalho das Câmaras, ver Atas de Apuração de Eleições, Arquivo
Municipal de Salvador, 12.1. Elas desempenhavam
um
papel similar na eleição de deputados provinciais: VARO, Nancy. The 1848 Praieira Revolt in Brazil. Tese de
doutoramento, Univ. de Chicago, 1981, p. 183.

38 Acta da Mesa Parochial na freguesia de S. Sebastião dos Aflitos, Ubá, 7/9/1860, cópia anexa em PP-MG para
MI, Guro Preto, 19/10/1860, AN, SPE, IJJ 9-482;
Acta da Mesa Eleitoral de Vila Nova do Príncipe e Santana de Caeteté, 10/1/1858, ibidem, 5-25; Actas da Mesa
Parochial de Pirassinunga, 7/9/1872, cópia anexa em
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
PP-SP para MI, 25/11/1872, ibidem, 5-30; Mesa Parochial de Victoria para PP-BA, Vitória, 1919/1860, ibidem, 5-25;
[Brás Carneiro Nogueira da Costa e Gama], visconde
de Baependi, para João Vieira Machado da Cunha, Rio, 6/6/ 1856, AN, SAP, Cód. 112, v. 8, Doc. 69; PP-BA para MI,
29/5/1867, AN, SPE, IJJ 9-343 e anexos, especialmente
fl. 63v. Ver também o inquérito sobre a legalidade de uma eleição que fora realizada numa capela, porque a igreja da
paróquia ainda não estava terminada: Domingos
Cardoso N. para Padre Manoel José Alvim, Paripe, 25/9/1852, e resposta, APEB, Presidência, Religião, Vigários,
M.5215. Sobre o uso de uma catedral, ver Acta da Mesa
Eleitoral de Santa Maria do Belém do Grão Pará, 2/11/1824, AN, SPE, IJJ 5-18.

Notas do capítulo 4 423


39 Actas da Mesa Parochial de Pirassinunga, 7/9/1872, cópia anexa em PP-SP para MI, 25/11/1872, AN, SPE, IJJ
5-30; Recibo, Rio, 3/7/1847, AGCRJ, 61-4-34,
fl. 20; Procurador para Presidente da Câmara, Rio, 30/3/1869, AGCRJ, 62-1-21, fl. 2; Acta de Recolhimento, numeração
das listas, apurações dos votos e reunião de
Eleitores desta Freguezia de N.S. do Livramento das Minas de Rio das Contas, 26/2/1823, AN, SPE, IJJ 5-26; Acta da
Mesa do Colegio Eleitoral do 2º Districto, Salvador,
11/2/1858, AN, SPE, IJJ 5-25. Essas práticas estavam conforme a Lei, 1846, art. 42, 58, 72, 90.

40 Parecer da 1ª Commissão de Verificação de Poderes, 17/4/1861, BCCD, Anais, 1861, I, 14; ver também LB,
Aviso 168, 28/6/1849, art. 15.

41 Lei, 1846, art. 42-44. Sobre a construção da balaustrada, ver Joaquim Pinheiro de Campos para Presidente da
Câmara Municipal, Rio, 14/10/1847, AGCRJ, 61-4-34.
A lei
indicava que todos os outros sentariam na igreja "sem precedência", indicando ao mesmo tempo a tentativa de
democracia e a contrastante ordem normal das coisas:
Lei,
1846, art. 42.

42 PP-RN para MJ, Natal, 24/9/1860, AN, SPE, IJJ 5-43; Lei, 1846, art. 15, 21, 24, 36, 43, 67; Decreto, 1881, art.
29, par. 8. Uma lista de votantes qualificados
foi devolvida pelo presidente provincial porque não tinha sido rubricada em cada página: comentário na margem, SP
para PP-BA, Sta. Ana do Catu, 8/6/1855, APEB, Presidência,
Eleições, M.2794. Os 21 % alfabetizados foram calculados segundo BRAZIL, Directoria Geral de Estatistica.
Recenseamento... 1872, e refere-se à população livre com
mais de seis anos de idade.

43 Ver, por exemplo, Comandante do Quartel do Comando do Corpo Policial em Porto Alegre para PP-RGS,
201121

424 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


1871, AN, Cx. 781, Pac. 2, [Doc. 20]; e PP-RN para MJ, Natal, 24/9/1860, AN, SPE, IJJ 5-43. Delegados e
subdelegados, por exemplo, não podiam ser analfabetos: PINTO,
Caetano José de Andrade. Attribuições dos Presidentes de Provincia. Rio de Janeiro, 1865, p. 182.

44 Actas da Mesa Parochial de Pirassinunga, 7/9/1872, cópia anexa em PP-SP para MI, 25/11/1872, AN, SPE, IJJ
5-30; Acta da Mesa Eleitoral de Nazareth da Vigia, Pará, 2/11/1824, ibidem, 5-18; Votantes do 3º districto da Villa
de Victoria para o Juiz de Paz, 12/9/1860, anexo em Mesa Parochial de Victoria para PP-BA, Vitória, 14/9/1860,
ibidem, 5-25; Lei, 1846, art. 22, 43, 51, 54, 70, 73, 100.
Decreto, 1855, art. 1, retirou a exigência de que os eleitores assinassem suas cédulas; por outro lado, a lei de
1875, que requeria títulos para os votantes, exigia que eles fossem assinados, e que essa assinatura fosse repetida no
ato de votar, mas também reconhecia o direito dos analfabetos de fiarem-se em declarações juramentadas de
outros: Decreto, 1875, art. 1, par. 20.

45 MI para VPP-ES, 14/6/1858, cópia, AN, SPE, IJJ 5-8, fl. 6. Ver também Manoel Caetano Ribeiro, Justificação, sal.,
anexo em PP-MG para MI, Ouro Preto, 19/10/1860,
ibidem, 9-482; e JD-Muriaé para PP-MG, Ubá, 12/10/1860, anexo em ibidem.
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

46 [Brás Carneiro Nogueira da Costa e Gama], visconde de Baependi, para João Vieira Machado da Cunha, Sta.
Rosa, 28/10/1856, AN, SAP, Cód. 112, v. 8, Doc.
26; PP-SE para MI, Sergipe, 10/12/1851, AN, SAP, Cx. 783, Pac. 2; PP-RJ para MJ, s.l., 17/9/1860, AN, SPE, IJJ, 5-43.

47 Lei, 1846, art. 57-59, 79; JP-Freguesia de S. José para Presidente da Câmara Municipal, Rio, 23/1/1849,
AGCRJ, 61-4-14, fl. 108. Em lugares mais prósperos,
as atas, em vez de serem copiadas à mão, eram impressas em um tipo parecido com caligrafia: Copia Authentica da Acta
da

Notas do capítulo 4 425


Apuração dos Votos para os Doze Eleitores da Parochia de Sta. Thereza do Município da Cidade de Valença, 19/8/1862,
AN, SAP, Cód. 112, v. 7.

48 LB, Decreto, 14/6/1831, art. 2 (traduzido do inglês); [Brás Carneiro Nogueira da Costa e Gama], visconde de
Baependi, para não-identificado, Sta. Rosa,
27/1/1857, AN, SAP, Cód. 112, v. 8, 2ª parte, fl. 28; Vigário para PPBA, Canavieiras, 18/1/1858, APEB, Presidência,
Religião, Vigários, M.5215. As atas de pelo menos
um Colégio Eleitoral eram guardadas por "mim, vigário, secretário": Actas da Mesa do Colegio Eleitoral do 2º Districto,
Salvador, 1/12/1858, AN, SPE, IJJ 5-25. Antes
de 1846, o pároco era por definição um membro da junta eleitoral.

49 Comandante Superior de [?] para PP-RJ, s.l., 1/2/1845, apud URICOECHEA, Fernando. O Minotauro imperial.
a burocratização do Estado patrimonial brasileiro
no século XIX. São Paulo, 1978, p. 200 (ver também p. 292); Uniformes dos Officiaes aos Commandos Superiores da
Guarda Nacional do Império, AN, S AP, Cód. 112, v.
7, fl. 1.

50 JP para MI, Rio, 31/12/1860, anexo em Acta da Mesa Parochial da Freguezia de Sant'Anna,
30/12/1860-20/1/1861, AGCRJ, 63-3-32; [CARVALHO, Antônio Alves
de Souza], O imperialismo e a Reforma, Anotado por um Constitucional do Maranhão. Maranhão [São Luís?], 1866, p.
42; REZENDE, F. de P. F. de. Minhas Recordações,
p. 126. Sobre os sapatos como "a marca de liberdade", ver GRAHAM, Maria Dundas (Lady Maria Calcou). Journal of a
Voyage to Brazil and Residente There during Part
of the Years 1821, 1822, 1823 (1824). (Nova York, 1969), p. 108.

51 Vigário para PP-BA, Canavieiras, 18/1/1858, APEB, Presidência, Religião, Vigários, M.5215; Acta da Mesa
Parochial, Freguesia de S. Sebastião dos Aflitos,
Ubá,

426 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


7/9/1860, cópia anexa em PP-MG para MI, Ouro Preto, 19/10/1860, AN, SPE, IJJ 9-482.

52 Procurador da Câmara Municipal para Presidente da Câmara Municipal, Rio, 1/6/1847, AGCRJ, 61-4-34, fl. 15; Acta
da Mesa Parochial de Pirassinunga, 18/8/1872,
cópia
anexa em PP-SP para MI, São Paulo, 15/2/1873, AN, SPE, IJJ 5-30; Actas da Mesa Parochial de Pirassinunga, 7/9/1872,
cópia anexa em PP-SP para MI, São Paulo, 25/11/1872,
AN, SPE, IJJ 5-30; JM apud Mesa Parochial de Victoria para PP-BA, Vitória, 14/9/1860, AN, SPE, IJJ 5-25. Sobre o
tamanho e construção da caixa-forte, ver Acta da
Mesa Eleitoral de Villa Nova do Principe e Sant'Anna de Caeteté, 15/1/1858, AN, SPE, IJJ 5-25; e notas na margem,
datadas de 19/2/1847 em Procurador da Câmara para
Presidente da Câmara, Rio, 9/2/1847, AGCRJ, 61-4-34, fl. 14.

53 Lei, 1846, art. 126, par. 7; Actas da Mesa Parochial de Pirassinunga, 7/9/1872, cópia anexa em PP-SP para MI,
São Paulo, 25/11/1872, AN, SPE, IJJ 5-30. Eleitores que não apareciam para a organização da mesa eleitoral, contudo,
podiam ser multados como ato de vingança
política: Padre paroquial para PP-BA, Canavieiras, 18/11/1858, APEB, Presidência, Religião, Vigários, M. 5215.
Página 196
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

54 Acta da Mesa Eleitoral de Santa Maria de Belém do Grão Pará, 2/11/1824, AN, SPE, IJJ 5-18; Acta da Mesa
Parochial, Freguesia de S. Sebastião dos Aflitos,
Ubá, 9/9/1860, cópia anexa em PP-MG para MI, Ouro Preto, 19/10/1860, ibidem, 9-482; Acta da Mesa do Colegio
Eleitoral do 2º Districto, Salvador, 11/2/1858, ibidem,
5-25; LB, Aviso 168, 28/6/1849, art. 22; Lei, 1846, art. 59 e 78. Como a maior parte da população brasileira morava fora
das grandes cidades, concentrei minha atenção
nas eleições rurais. É claro que nas capitais realizavam-se outros teatros para reforçar a hierarquia. Quando a Câmara

Notas do capítulo 4 427


Municipal do Rio de Janeiro, como estipulado por lei, pediu ao melhor orador para rezar a missa na reunião do Colégio
Eleitoral, ele respondeu bruscamente que não
podia porque ia celebrara Pontifícia Missa das Cinzas para o imperador e a corte: Monsenhor Félix... de Freitas e
[ilegível] para Presidente da Câmara Municipal
da Corte, Rio, 18/2/1867 AGCRJ, 61-4-12, fl. 68. Eleições, contudo, deviam realizar-se especificamente em "todo o
Império" (Lei, 1846, art. 40) e só havia uma corte.
Capítulo 5

1 José Tomás Nabuco de Araújo para Paes Barreto, 1855, apud NABUCO, Joaquim. Um estadista do Império, [3ª
ed]. Rio de Janeiro, 1975, p. 289.

2 Mais tarde, em seu desejo de criticar a Primeira República, alguns comentaristas tenderam a ignorar esse fato.
ROMERO, Sílvio. A Bancarrota do Regime Federativo
no Brasil: ação dissolvente das oligarchias, ação indispensavel do exército. Porto, 1912, p. 14, chega ao ponto de
afirmar que o Império, exercendo o controle centralizado
através dos presidentes e juízes, "deu por terra com o caudilhismo e impossibilitou a formação de oligarquias". VIANA,
Francisco José de Oliveira. Instituições Políticas
Brasileiras. Rio de Janeiro, 1949, I, 286, revela uma melhor compreensão das origens do coronelismo do século XIX.
Sobre as práticas do século XX que reproduzem
as que descrevo aqui, ver LEAL, Victor Nunes. Coronelismo: the municipality and representative government in Brazil.
Cambridge, Ingl., 1977, p. 19. A política dos
governadores sob a Primeira República, isto é, a tendência dos presidentes da República a aceitarem como legítima
qualquer facção local ou estadual que se mostrasse
mais forte, era também prefigurada no Império.

430 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


3 CONGRESSO Agricola. Coleção de documentos. Rio de Janeiro, 1878, p. 17.

4 STEIN, S. J.. Vassouras, a Brazilian Coffee County, 1850-1900. Cambridge (Mass.), 1957, p. 16-20, 120, 159;
SWEIGART, Joseph E.. Coffee Factorage and the Emergence
of a Brazilian Capital Market, 1850-1888. Nova York, 1987, p. 86.

5 Acta da Eleição de Eleitores, Freguesia de N. Sra. da Conceição de Pati do Alferes, 9/9/1842, AN, SAP, Cód. 112,
v. 4, Doc. 110. Lacerda Werneck tornou-se
deputado provincial no ano seguinte: Actas da Camara de Nictheroy para a apuração de 36 deputados á Assembléa
Provincial, 22/12/1843, ibidem.

6 Almanak (Laemmert) Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro e indicador... Obra estatística e de
consulta. Rio de Janeiro, 1855, Suplemento,
p. 135-41. Para um exemplo mais antigo do monopólio dos cargos oficiais dessas famílias, ver FLORY, T.. Judge and
Jury in Imperial Brazil, 1808-1871: social controle
political stability in the New State. Austin (Tex.), 1981, p. 95. Laureano Correia de Castro, barão de Campo Belo,
proprietário da Fazenda do Secretário, com sua
mansão imponente, foi o primeiro comandante da Guarda Nacional em Vassouras: LAMEGO, Alberto Ribeiro. A
Aristocracia Rural do Café na Província Fluminense. Anuário
do Museu Imperial, 7, 1946, p. 88, 90.

7 DANTAS, Luís Ascendino. Esboço Biographico do dr. Joaquim José de Souza Breves. Origem das fazendas S.
Página 197
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Joaquim da Gramma e Sto. Antônio da Olaria. Subsidios para
a historia do municipio de S. João Marcos. Rio de Janeiro, 1931, p. 17-18; declaração de José [Joaquim] de Souza
Breves, 27/2/1856, APERJ, Livros Paroquiais de Registros
de Terras, n. 66, Arrozal, não-paginados, soltos,

Notas do capítulo 5 431


sem número. Uma outra filha de Morais casou-se com José Joaquim de Lima e Silva, conde de Tocantins, irmão do
duque de Caxias: TAUNAY, Afonso d'Escragnolle. História
do Café no Brasil. Rio de Janeiro, 1939, VI, 265 (ver p. 259-83 para uma descrição geral da família Breves).

8 Os dados sobre a produção foram extraídos dos números em SOARES, Sebastião Ferreira. Historico da Companhia
Industrial da Estrada de Mangaratiba e Analyse Critica
e Economica dos Negocios desta Companhia. Rio de Janeiro, 1861, p. 232-50.
9 FLORY, T_ Judge, p. 100; STEIN, S. J.. Vassouras, p. 208-9; Henry John Temple, visconde Palmerston, para José
Marques Lisboa, Londres, 30/9/1851, AHI, 216/2115;
TAUNAY, Afonso d'E.. História do Café, VI, 259. O biógrafo de Breves negou depois que o fazendeiro maltratasse seus
escravos: ao contrário, ele "não poupava esforços
através de conselhos, sacrifício e ajuda" para transformar os libertos de suas fazendas em "trabalhadores honestos".
DANTAS, L. A.. Esboço Biographico, p. 19, 20
(traduzido do inglês).

10 ACMR1, Visitas Pastorais, Livro 35, 1855, fl. 3; Ata de 1/8/1887. In: BRASIL, Conselho de Estado. Atas
(Brasília, 1978), VI, 363-83; DANTAS, L. A.. Esboço
Biographico, p. 6, 19. Ver também TAUNAY, Afonso. História do Café, VI, 259, 272-73.

11 FLORY, T.. Judge, p. 100, 125-26, 232 (nota 74); Leão, apud ibidem, p. 189 (e ver p. 243 nota 24); Pároco, apud
Câmara Municipal para PP-RJ, Piraí, 20/10/1844,
APERJ, Col. 37, PP 215.22; Protesto de Antônio Perier Barreto [ilegível] para a Câmara Apuradora, s.l., sal. [recebido a
19/12/1849], AGCRJ, 61-4-12, fl. 46-49v;
Breves para José Tomás Nabuco de Araújo, Fazenda São Joaquim da Gramma, 7/2/1859, apud BARMAN, Roderick J..
Brazil

432 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


at Mid-Empire: political accommodation and the pursuit of progress under the Conciliação Ministry, 1853-1857. Tese
de doutoramento, Univ. da Califórnia, Berkeley,
1970, p. 69; PP-RJ para MI, Niterói, 31/12/1860, 2111 1861, AN, SPE, IJJ 5-43; JD de [?] para MJ, 9/7/1871, citado no
sumário sobre os JMs: Magistratura, Registro
dos Fatos Notaveis, AN, SPE, IJ4-32, fl. 26v.

12 EISENBERG, Peter L.. The Sugar Industry in Pernambuco: modernization without change, 1840-1910. Berkeley
(Calif.), 1974, p. 131-34. Sobre o controle semelhante
das famílias de senhores de engenho, ver FLORY, T.. Judge, p. 78-80.

13 ARAÚJO, Nabuco de, apud NABUCO, J.. Um Estadista do Império, p. 67.

14 CHANDLER, Billy Jaynes. The Feitosas and the Sertão dos Inhamuns: the history of a family and a community
in Northeast Brazil, 1700-1930. Gainesville (Fla.),
1972, p. 58 (e ver p. 83). FRANCO, Maria Sílvia de Carvalho. Homens Livres na Ordem Escravocrata, 2ª ed. São
Paulo, 1974, p. 154, cita vários observadores com o
mesmo fim.

15 Câmara Municipal para PP-BA, Urubu, sal. [antes de 12/7/1888], APEB, Presidência, Agricultura,
Abastecimento, M.4632 (traduzido do inglês); PP-BA para
nãoidentificado, 16/8/1848, apud URICOECHEA, Fernando. O Minotauro Imperial: a Burocratização do Estado
patrimonial brasileiro no século XIX. São Paulo, 1978, p.
273; PP-SP para MJ, São Paulo, 25/9/1860, e anexos, AN, SPE, IJJ 5-43; discurso de Saraiva, 4/6/1880, BCCD, Anais,
1880, II, 37. Para uma visão diferente sobre o
relacionamento entre governo central e facção local, ver URICOECHEA, F.. O Minotauro Imperial, p. 156; e FLORY,
Página 198
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
T.. Judge, p. 86, 103, 107.

Notas do capítulo 5 433


16 PP-SE para MI, Sergipe, 10/12/1851, AN, SAP, Cx. 783, Pac. 2; Manuel Pinto de Souza Dantas para Cotegipe,
S. Amaro, 31/3/1856, Salvador, 24/6/1856, AIHGB,
CC, L19, D14, D17. Sobre os cargos oficiais de José Dantas, ver DANTAS JR., J. C.. O Capitão-mor João d'Antas e sua
Descendência. Revista Genealógica Brasileira,
1:2 (2º semestre 1940), p. 384. Sobre a riqueza e controle de cargos oficiais de sua família, ver Dossiê sobre João
Dantas dos Reis Portátil, APEB, Seção de Registros
Documentais e Arquivos Privados, sem número. Sobre o papel do clã dos Dantas na guerra de independência (1822-23),
ver MORTON, F. W. O.. The Conservative Revolution
of lndependence: economy, society and politics in Bahia, 1790-1840. Tese de doutoramento, Univ. de Oxford, 1974, p.
266.

17 PP-RN para MGuerra, Natal, 11/5/1850, AN, SAP, Cx. 823, Pac. 2, fl. 273.

18 João Alfredo Correia de Oliveira para Cotegipe. Rio, 30/6/1872 (itálicos no original; a referência é a Manuel
Joaquim de Mendonça Castelo Branco, barão
de Anadia), Belém, 9/3/1870, AIHGB, CC, L50, D98, D89 (traduzido do inglês). Ver também João Alfredo Correia de
Oliveira para Cotegipe, Belém, 8/12/1869, ibidem,
D81.

19 José Antônio Saraiva [PP-PE] para José Tomás Nabuco de Araújo [MJ], Recife, 4/3/1859, AIHGB, L386, 1314
(o coronel era José Pedro da Lage).

20 Ibidem.
21 Essas acusações eram proferidas de um lado ao outro por várias autoridades numa localidade: JP para JD,
Caçapava, 26/12/1860, JP para PP-SP, Caçapava,
1/1/1861, e JM para PP-SP, Caçapava, 30/12/1860, todas cópias anexas em PP-SP para MJ, São Paulo, 20/1/1861, AN,
SPE, IJJ

434 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


5-43. Um exemplo particularmente revelador de um choque entre um comandante da Guarda Nacional e o delegado
encontra-se em PP-SP para MI, São Paulo, 2311/1873, ibidem,
5-30.

22 PP-SE para MI, Sergipe, 1/8, 3/9/1851, AN, SAP, Cx. 783, Pac. 2; José Tomás Nabuco de Araújo [MJ] para
Francisco Xavier Paes Barreto, 1855, apud NABUCO, J.. Um
Estadista
do Império, p. 289.

23 MJ para CP-Corte, Rio, 28/12/1860, minuta, AN, SPE, IJJ 5-43 (itálicos meus); REZENDE, Francisco de Paula
Ferreira de. Minhas Recordações. Rio de Janeiro,
1944, p. 124; PP-RJ para MI, Niterói, 31/12/1860, AN, SPE, IJJ 5-43.

24 Lei, 1846, art. 2; PP-CE para MJ, Fortaleza, 14, 291121 1860, AN, SPE, IJJ 5-43. A lei de 1846 tentava corrigir
abusos como aqueles relatados em 2º JP
para PP-BA, Cachoeira, 26/11/1840, APEB, Presidência, Juizes, Cachoeira, M.2273.

25 Actas da Mesa Parochial de Pirassinunga, 7/9/1872, cópia anexa em PP-SP para MI, São Paulo, 25/11/1872, AN,
SPE, IJJ 5-30; Mesa Parochial de Victoria para PP-BA,
Vitória, 19/9/1860, ibidem, 5-25; JM para PP-SP, Pirassinunga,
sal., anexo em PP-SP para MI, 25/11/1872, ibidem, 5-30; Acta da Mesa Parochial da Freguezia de Sant'Anna, Rio de
Janeiro, 30/12/1860-22/1/1861, AGCRJ, 63-3-32; Acta
da Mesa Parochial da Freguesia de S. Sebastião dos Aflitos, Ubá, 9/9/1860, cópia anexa em PP-MG para MI, Ouro
Preto, 19/10/1860, AN, SPE, IJJ 9-482; Delegado para
PP-PA, Macapá, 6/1/1861, cópia anexa em PP-PA para MJ, Belém, 26/1/1861, AN SPE, IJJ 5-43; PP-CE para JP-Crato,
Fortaleza, 4/12/1860, cópia anexa em PPCE para MJ,
Página 199
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Fortaleza, 14/12/1860, AN, SPE, IJJ 5-43.

Notas do capítulo 5 435


26 [CARVALHO, Antônio Alves de Souza], O Imperialismo e a Reforma, anotado por um constitucional do
Maranhão. Maranhão [São Luís?], 1866, p. 46-47.

27 BCCD. Secretaria, comp. Falas do Trono desde o ano de 1823 até o ano de 1889, acompanhadas dos respectivos
votos de graça da Câmara temporária e de diferentes
informações, [2ª ed.?]. São Paulo, [1977?], p. 222.

28 LB, Decreto 2.621, 22/8/1860, art. li, 13 e Instruções anexas de 27/9/1856 (compare Lei, 1846, art. 50).

29 JD para PP-RS, São Borja, 6/1/1861, Acta da Mesa Parochial de São Francisco de São Borja, 30/12/1860, ambas
as cópias anexas em PP-RS para MJ, Porto Alegre,
13/5/ 1861, AN, SPE, IJJ 5-43; Decreto, 1881, art. 15, par. 19. A primeira lei eleitoral da República exigia que a urna
vazia fosse mostrada aos votantes antes que
o primeiro votante fosse chamado para votar, indicando por meio disso outro modo comum de vitória fraudulenta: LB,
Lei 35, 26/1/1892, art. 43, par. 8.

30 Cotegipe para Junqueira, Rio, 4/10/1884, cópia de minuta, AIHGB, CC, L31, D97; Acta da Mesa Parochial da
Freguezia de Sant'Anna, Rio de Janeiro, 30/12/1860-22/1/1861,
AGCRJ, 63-3-32; PP-RN para MJ. Natal, 24/9/1860, AN, SPE, IJJ 5-43; LB. Aviso 168, 28/6/1849; Auto de Exame,
Freguesia da Conceição da Feira, Cachoeira, 2/12/1856,
cópia em [LIMA, Álvaro Tibério de Moncorvo e]. Eleição do 3º Distrito da Província da Bahia. Salvador, 1857, p. 40;
Actas do Conselho de Estado Pleno, 14/10/1858,
AN, Cód. 307, v. 3, fl. 33; CARVALHO, A. A. de S.. Imperialismo, p. 47; SOUZA, Francisco Belisário Soares de. O
Sistema Eleitoral no Império (com apêndice contendo
a legislação eleitoral no período 1821-1889). Brasília, 1979, p. 33. Só em 1881 a

436 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


lei decretou fiscais na apuração: LB, Decreto 8.213, 13/8/1881, art. 131. Em 1892 os legisladores especificaram que
dois membros da mesa deviam ver cada cédula antes
de um terceiro ler o nome "em voz alta", e que ainda outro membro escrevesse o nome enquanto "somava os votos em
voz alta": LB, Lei 35, 26/1/1892.

31 Manoel de Freitas Belo para JD, 27/8/1860, anexo em PP-MG para MI, Ouro Preto, 19/10/1860, AN, SPE,
IJJ 9-482.

32 Lei, 1846, art. 87; Antônio Moreira de Barros para Cotegipe, s.l. 21/12/1880, AIHGB, CC, L9, D42; LISBOA,
João Francisco. Obras, 2ª ed. Lisboa, 1901, I, 158; discurso de Viriato Bandeira Duarte, 15/4/1861, BCCD, Anais,
1861, I, 4.

33 SOUZA, F. B. S. de. O Sistema Eleitoral, p. 40; Brás Carneiro Nogueira da Gama, conde de Baependi, para
Jerônimo José Teixeira Júnior, Sta. Rosa, 26/12/1860,
AN, SAP, Col. Teixeira Júnior, AP 23, Correspondência Passiva, Doc. 99.

34 Actas do Conselho de Estado Pleno, 14/10/1858, AN, Cód. 307, v. 3, f1. 36; Junqueira para Cotegipe, Salvador,
26/9/1884, AIHGB, CC L31, D97 (itálicos no
original); OSÓRIO, Manuel Luís, marquês do Herval. Papéis Relativos a Eleições, AIHGB, L233, D7950, D7959.

35 Discurso de Antônio Gonçalves Barbosa da Cunha, 10/6/ 1861, BCCD, Anais, 1861, 11, 93; SILVA, Antônio de
Moraes. Diccionario da Lingua Portugueza, 8ª ed.
Rio de Janeiro, 1889-91 (a palavra tem origens africanas); SOUZA, F. B. S. de. O Sistema Eleitoral, p. 31; JP para
JD-Taubaté, Caçapava, 26/12/1860, cópia anexa
em PPSP para MJ, São Paulo, 20/1/1861, AN, SPE IJJ 5-43.

36 Acta da Mesa Parochial da Freguezia de Sant'Anna, 30/12/1860-22/1/1861, com anexo JP-Freguezia de

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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Notas do capítulo 5 437
Sant'Anna para MI, Rio, 31/12/1860, cópia, AGCRJ, 63-3-32 (traduzido do inglês); Junqueira para Cotegipe, Rio,
22/8/1872, AIHGB, CC, L31, D30; Delegado para PP-CE,
Sobral, 12/12/1860, cópia anexa em PP-CE para MJ, Fortaleza, 29/12/1860, AN, SPE, IJJ, 5-43; MI para PP-PE,
13/8/1863, minuta, AN, SPE, IJJ, 1-316; PP-CE para MJ,
28/9/1860, CP-Corte para MJ, Rio, 30/12/1860, ambas em ibidem, 5-43.

37 PP-CE para MJ, 28/9/1860, AN, SPE, IJJ 5-43; PP-BA para PM, Salvador, 19/1/1886, telegrama reproduzido na
nota do redator em PEDRO II. Cartas do Imperador
D. Pedro II ao Barão de Cotegipe. São Paulo, 1933, p. 268.

38 Delegado e JM para PP-CE, Quixeramobim, 10/12/1860, anexo em PP-CE para MJ, Fortaleza, 29/12/1860, AN,
SPE, IJJ 5-43; Delegado para PP-CE, Sobral, 12/12/1860,
cópia anexa em PP-CE para MJ, Fortaleza, 29/12/1860, ibidem, 5-43; discurso de Silveira Lobo, 18/4/1861, BCCD,
Anais, 1861, I, 21. Ver também CARVALHO, Antônio Alves
de Souza. O Brasil em 1870, Estudo Político. Rio de Janeiro, 1870, p. 39.

39 JP-Freguesia de Santana para MI, Rio, 31/12/1860, anexo em Acta da Mesa Parochial, 30/12/1860-22/1/1861,
AGCRJ, 63-3-32; Manoel Francisco Correia para
Cotegipe, Rio, 22/8/1872, AIHGB, CC, L17, D58; JD-Muriaé para PP-MG, Ubá, 12/10/1860, anexo em PP-MG para
MI, Ouro Preto, 19/10/1860, AN, SPE, IJJ 9-482, fl. 147
e seguintes; PP-CE para MJ, Fortaleza, 28/9/1860, AN, SPE, IJJ 5-43.

40 CARVALHO, A. A. de S.. O Brasil em 1870, p. 40. Sobre os custos e benefícios do clientelismo eleitoral,
compare LYTTLETON, N. A. O.. El Patronazgo en
la Italia de Giolitti (1892-1924). Revista de Occidente, 127, outubro de 1973, p. 95, com POWELL, John Duncan.
Peasant

438 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Society and Clientist Politics. American Political Science Review, 64:12, junho de 1970, p. 416.

41 Actas do Conselho de Estado Pleno, 14/10/1858, AN, Cód. 307, v. 3, fl. 36v; Delegado suplente para JD,
Taperoa, 12/12/1856, APEB, Presidência, Eleições,
M.2794.

42 JD para PP-PB, Pombal, 26/12/1860, cópia anexa em PPPB para MJ, 9/3/1861, AN, SPE, IJJ 5-43; Afonso
Celso de Assis Figueiredo [pai] para Cotegipe, Rio,
25/1/1888, AIHGB, CC, L23, D93.

43 Anexos em PP-CE para MJ, Fortaleza, 14/12/1860, AN, SPE, IJJ 5-43.

44 PP-CE para MJ, Fortaleza, 29/12/1860, ibidem, 5-43. A mesma técnica foi usada em Sergipe dois anos antes:
Actas do Conselho de Estado Pleno, 14/10/1858,
AN. Cód. 307, v. 3, fl. 33v. Já em 1655 o Governador Geral de São Paulo resolvia as brigas interfamiliares conseguindo
que um número igual de autoridades de cada
clã trabalhasse na Câmara Municipal: Provisão que veiu do Senhor Governador Geral da Cidade da Bahia, Dom
Jeronymo de Athaide, conde de Athougia, [Salvador, 24/11/1655].
In: SÃO PAULO (cidade), Prefeitura, Arquivo Municipal. Registro Geral da Câmara da Cidade de São Paulo, 11:
1637-1660. São Paulo, 1917, p. 440-47.

45 JD para PP-BA, Caeteté, 12/12/1856, cópia, APEB, Presidência, Eleições, M.2794. Encorajar a aceitação de atas
duplicadas não era incomum. Ver também PP-BA
para MI, Salvador, 16/2/1867, AN, SPE, IJJ 9-343.

46 RIO DE JANEIRO (diocese), Bispo. Representação Dirigida ao illm. e exm, sr. Ministro e Secretario de Estado
dos Negocios do Imperio pelo bispo de S. Sebastião
do Rio de Janeiro pedindo para que as eleições politicas se

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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Notas do capítulo 5 439
fação fóra das igrejas. Rio de Janeiro, 1872, p. 3-4, 1011, 12-13. Na verdade, os estrangeiros ficaram escandalizados:
CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados:
o Rio de Janeiro e a república que não foi. São Paulo, 1987, p. 175 (nota 32).

47 JD-Taubaté para PP-SP, Caçapava, 3/1/1861, cópia anexa em PP-SP para MJ, 20/1/1861, AN, SPE, IJJ 5-43;
Parecer da Commissão de Poderes, 27/5/1861, BCCD,
Anais, 1861, 1, 414.

Capítulo 6

1 JD-Taubaté para JP-Caçapava, Pindamonhangaba, 27/12/1860, cópia anexa em PP-SP para MJ, São Paulo,
20/1/1861, AN, SPE, IJJ 5-43. A não ser quando anotado
de
outra maneira, o relato desses acontecimentos foi extraído desse relatório do presidente provincial ou dos seguintes
anexos (todos cópias): JP para JD-Taubaté, Caçapava,
26/12/1860; JM para PP-SP, Caçapava, 30/12/1860; Delegado- Caçapava para PP-SP, Taubaté, 30/12/1860; PP SP para
JD-Taubaté, São Paulo, 31/12/1860; JM-Caçapava
para PP-SP, Taubaté, 30/12/1860, 1/1/1861; JP para PP SP, Caçapava, 1/1/1861; JD-Taubaté para PP-SP, Caçapava,
3/1/1861 (duas cartas dessa data); PP-SP para CP
SP, São Paulo, 5/1/1861. Vou me referir a essas cartas e outros anexos de forma resumida a partir daqui.

2 JM para PP-SP, Caçapava, 30/12/1860; Marcelino José de Carvalho apud ibidem. Sobre as terras de propriedade
desses quatro homens e os nomes de seus vizinhos,
ver Registro de Terras, AESP, n. 51: Caçapava, Reg. 4, 92, 138, 236, fl. 2v, 28v, 43, 70v, respectivamente.

3 JP para PP-SP, Caçapava, 1/1/1861; Delegado-Caçapava para PP-SP, Taubaté, 30/12/1860.

4 BCCD, Anais, 1861, I, 415.

5 CP-SP para PP-SP, Itaquaquecetuba, 3/1/1861.

6 PETRONE, Maria Teresa Schorer. Terras Devolutas, Posses, e Sesmarias no Vale do Paraíba Paulista em 1854.
Revista de História, 52, julho-setembro de 1975,
388; BRAZIL, Directoria Geral de Estatistica. Recenseamento da População do Imperio do Brazil a que se procedeu no
dia 1 ° de agosto de 1872. Rio de Janeiro, 1873-76;
BRAZIL, MI. Relatório, 1870, Anexo C, p. 48. Taubaté tinha uma população de 18.933 em 1872, incluindo 3.708
escravos.

7 Discurso de Joaquim Otávio Nebias, 7/6/1861, BCCD, Anais, 1861, II, 65; Delegado-Caçapava para PP-SP,
Taubaté, 30/12/1860, JD-Taubaté para PP-SP, Caçapava,
3/1/1861; Lista dos Cidadãos Votantes e Elegiveis da Freguezia de Cassapava e seu Termo, 19/8/1842, Copia
Autentica da Acta de Qualificação, Caçapava, 18/1/1847,
6/1/1848, Acta da Revisão Qualificadora, Caçapava, 21/1/1849, Lista dos Cidadãos Votantes, Caçapava, 16/1/1853,
Acta da Apuração das Listas, Caçapava, 8/11/1856,
Copia da Lista Geral dos Cidadãos Votantes, Caçapava, 17/1/1860, todos no AESP, L47, n. 5.735. Ver também Câmara
Municipal de Caçapava para PP-SP, 8/4/1856,
AESP, Cx. 52, n. 846.

8 JD-Taubaté para PP-SP, Caçapava, 3/1/1861 (primeira carta dessa data); PP-SP para MJ, São Paulo, 20/1/1861.

9 JD-Taubaté para PP-SP, Pindamonhangaba, 27/12/1860; PP-SP para JD-Taubaté, São Paulo, 31/12/1860; JD para
CP-SP, s.l., 5/1/1861; JD-Taubaté para PP-SP, Caçapava,
3/1/1861; PP-SP para JD-Taubaté, São Paulo, 31/12/1860.

10 Além disso, ele tinha uma procuração bastante de vários outros donos de terras, entre eles um analfabeto que
comprara sua terra de Carvalho. Registro de
Terras, AESP, n. 43: Paraibuna, Reg. 355, 380, 381, 382, 383, 385, 387, fl. 93v, 100-120v.
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442 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Notas do capítulo 6 443


11 Delegado-Caçapava para PP-SP, Taubaté, 30/12/1860; JP para PP-SP, Caçapava, 1/1/1861.

12 JM para PP-SP, Caçapava, 30/12/1860; JD-Taubaté para PP-SP, Caçapava, 1/1/1861 (segunda carta dessa data);
JM-Caçapava para PP-SP, Taubaté, 30/12/1860
(o promotor era o genro de Joaquim Francisco de Moura). Sobre a propriedade de Moura, uma grande fazenda, ver
AESP, Registro de Terras, n. 51: Caçapava, Reg. 185,
fl. 56, 14/4/1856; e sobre o cargo de Moura como delegado em Taubaté e a importância de sua família naquele
município, ver COSTA, Emílía Viotti da. Da Senzala à
Colônia. São Paulo, 1966, p. 47.

13 Cotegipe para Junqueira, Rio, 231/1/1882, AIHGB, CC, L31, D86; comentários nas margens (por "Silva",
30/1/1861, e João Lustosa da Cunha Paranaguá, 3/2/1861),
da carta de PP-SP para MJ, 20/1/1861, AN, SPE, IJJ 5-43. Sobre Paranaguá, ver também TOPLIN, Robert Brent. The
Abolition of Slavery in Brazil. Nova York, 1972, p.
81; e CONRAD, Robert Edgar. The Destruction of Brazilian Slavery, 1850-1888. Berkeley (Calif.), 1972, p. 183.

14 BCCD, Anais, 1861. I, 418; Acta da Installação da Mesa para a Nomeação de Quinze Eleitores. Caçapava,
25/8/1861, AESP, L47, n. 5.735. Caçapava ainda era
considerada um local de provável desordem em época de eleição quinze anos depois: JD-Taubaté para PP-SP, Caçapava,
20/10/1876, telegrama, ibidem.

15 Venâncio Félix da Rocha para JD-Taubaté, Caçapava, 10/2/1859, AESP, Cx. 52, n. 846; ARMITAGE, John. The
History of Brazil from the Period of the Arrival
of the Braganza Family in 1808 to the Abdication of Don Pedro the First in 1831. Londres, 1836, II, 148; Herculano
Ferreira Penna (PP-MG) para José Tomás Nabuco
de Araújo (MJ), Ouro Preto, 2, 6/11/1856, AIHGB, L365, D 11. Sobre

444 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


laços pessoais nas eleições, ver também PP-RS para PM, Porto Alegre, 9/12/1871, minuta, AN, SAP, Cx. 781, Pac. 2; e
FIGUEIREDO IR., Afonso Celso de Assis. Oito Annos
de Parlamento. Poder pessoal de D. Pedro II. Reminiscencias e notas. São Paulo: Melhoramentos, sal., p. 15, 20-21.
Uma situação comparável na Sardenha é descrita
por WEINGROD, Alex. Patrons, Patronage, and Political Parties. Comparative Studies in Society and History 10:4,
julho de 1968, p. 392; observe também o relacionamento
entre as estruturas políticas, formais e informais, descritas por WOLF, Eric R.. Kinship, Friendship, and Patron-Client
Relations in Complex Societies. In: BANTON,
Michael (ed.), The Social Anthropology of Complex Societies. Londres, 1966, p. 1-2.

16 João Antônio de Vasconcelos para Zacarias de Góes e Vasconcelos, Salvador, 24/11/1865, AMIP, I-ZGV,
24.11.865, Vasc.c.; Manuel Pinto de Souza Dantas para
Cotegipe, Salvador, 18/7/1856, AIHGB, CC, L19, D19. Ver também HGCB, n. 5, p. 52.

17 João Lins Vieira Cansansão de Sinimbu, apud Manoel Pinto de Souza Dantas para Cotegipe, Salvador, 26/9/
1856, AIHGB, CC, L19, D25; Francisco de Paula de
Negreiros Saião Lobato para João Vieira Machado da Cunha, Rio, 21/7/1863, AN, SAP, Cód. 112, v. 8, Doc. 13w;
Paulino José Soares de Souza (2°), carta repetidamente
copiada, Rio, 26/8/1872, AN, SAP, Cód. 112, v. 6, Doc. 38; Rui Barbosa para Francisco Gomes de Oliveira, Salvador,
2/8/1878, minuta, CRB, sem número. Ver também
Rui Barbosa para Antônio Coutinho de Souza, Salvador, 19/8/1878, cópia, CRB, Col. F. Nery, sem número.

18 Paulino José Soares de Souza (2º) para Francisco Belisário Soares de Souza, Cantagalo, 29/6/1863, AIHGB,
L277, D71. Referir-se à campanha como uma "romaria"
não era
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Notas do capítulo 6 445


incomum; ver Francisco Primo de Sousa Paraíso para Rui Barbosa, Cachoeira, 29/11/1885, CRB. Dados os riscos da
viagem, o termo era apropriado: durante todo o Império,
apenas um candidato ao Congresso visitou o distrito eleitoral do norte de Minas Gerais: FIGUEIREDO JR., A. C. de A..
Oito Annos, p. 16. Sobre ligações entre deputados
nacionais e facções locais na Espanha e na Itália, ver LYTTLETON, N. A. O.. El Patronazgo en la Italia de Giolitti
(1892-1924). Revista de Occidente, 127, outubro
1973, p. 98.

19 Guaí para Cotegipe, Salvador, 19/12/1885, AIHGB, CC, L38, D32 (itálicos no original). Sobre cartas de
mulheres, ver Manuel Pinto de Souza Dantas para Cotegipe,
Salvador, 18/1/1856, ibidem, L19, 139; e Ana Benigna de Sá Barreto Nabuco de Araújo para João Lustosa da Cunha
Paranaguá, visconde de Paranaguá, Santa Catarina,
19/10/1884, AMIP, 1-DPP, 19.10.884. Nab.c. Mulheres escreveram 3% dos 577 pedidos examinados no Capítulo 8;
outros 3% das cartas referiam-se aos aspirantes ao cargo
como parentes por afinidade.

20 FIGUEIREDO JR., A. C. de A.. Oito Annos, p. 121-26.

21 VPP-SE para MJ, Sergipe, [1851], AN, SAP, Cx. 783, Pac. 2; Guaí para Cotegipe, Salvador, 19/12/1885,
AIHGB, CC, L38, D32; PP-SE para MJ, Sergipe, sal.
[1851] e 3/2/1851, AN, SAP, Cx. 783, Pac. 2 (também PPSE para MJ, Sergipe, 3/9/1851, ibidem). Sobre o lugar de
Maroim no Congresso, ver BRAZIL, Arquivo Nacional
[Jorge João Dodsworth, 2° barão de Javaril. Organizações e Programas Ministeriais. Regime parlamentar no Império, 2ª
ed. Rio de Janeiro, 1962, p. 315, 416.

22 PEDRO II. Conselhos à Regente d. Isabel (1876). In VIANA, Hélio, D. Pedro I e D. Pedro II: acréscimos ás suas
biografias. São Paulo, 1966, p. 241.

23 SOUZA, Francisco Belisário Soares de. O Sistema Eleitoral no Império (com apêndice contendo a legislação
eleitoral no período 1821-1889). Brasília, 1979,
p. 6.

24 Junqueira para Cotegipe, Salvador, 6/9/1881, AIHGB, CC, L31, D84; BRAZIL, Arquivo Nacional. Organizações
e Programas, p. 262, 375, 394. Cícero Dantas Martins,
barão de Geremoabo, realmente apresentou uma queixa ao Congresso: Relação da 2ª Comissão, sessão preparatória,
5/1/1882, BCCD, Anais, 1881 [i.e., 1881-821, 1, 60.

25 Cotegipe para Junqueira, Rio, 23/8, 15/9/1881, cópias datilografadas de minutas, AIHGB, CC, L31, D82, D84.

26 A ambigüidade do impulso do deputado tem de ser mantida constantemente em mente, já que as lealdades
pessoais também o ligavam aos membros do Gabinete,
e, se um Gabinete caía, ele não podia estabelecer uma aliança com o novo primeiro-ministro sem pôr em risco sua
credibilidade como político sério e homem de caráter.
Os dois planos de poder foram inadvertidamente apreendidos pela declaração de que "os deputados eleitos, em vez de
representarem a opinião do país, não representam,
na realidade, outra coisa mais que os caprichos de ministérios partidários com seus presidentes-manivelas e até mesmo
seus potentados de aldeia": SOUZA, Brás Florentino
Henriques de. Do Poder Moderador: ensaio de direito constitucional contendo a análise do título V, da Constituição
Política do Brasil, 2ª ed. (la ed. 1864). Brasília,
1978, p. 134.

27 VPP-SE para MJ, Sergipe, [1851], AN, SAP, Cx. 783, Pac. 2.

28 LISBOA, João Francisco. Obras, 2ª ed. Lisboa, 1901, 1, 110, 158. A tendência continua hoje: GROSS, Daniel
R.. Factionalism and Local Leve] Politics in
Rural Brazil. Journal of Anthropological Research, 29:2 (verão 1973),
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

446 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Notas do capítulo 6 447


29 SOUZA, F. B. S. de. O Sistema Eleitoral, p. 80. Relatório da Commissão do Senado, 5/6/1846, in BCCD.
Reforma Eleitoral: projectos offerecidos á consideração
do corpo legislativo desde o ano de 1826 até o anno de 1875... colligidos na secretaria da Câmara dos Deputados. Rio de
Janeiro, 1875, p. 208; CAMPOS, Joaquim Pinto
de [Um Pernambucano]. Os Anarquistas e a Civilização: ensaio politico sobre a situação. Rio de Janeiro, 1860, p. 25;
Antônio Ferreira Viana, apud MAGALHÃES JR.,
Raimundo. Três Panfletários do Segundo Reinado: Francisco de Sales Torres Homem e o Libelo do Povo; Justiniano
José da Rocha e Ação; Reação; Transação; Antônio Ferreira
Viana e A Conferência dos Divinos. São Paulo, 1956, p. 223. Compare HOFSTADTER, Richard. The ldea of a Party
System: the rise of legitimate opposition in the United
States, 1780-1840. Berkeley (Calif.), 1969, p. 2-65, 224, 258-60. Hofstadter salienta que é o desenvolvimento de um
eleitorado em massa que leva à criação de partidos
no sentido moderno, pois eles são necessários para servir de intermediários entre os "partidos" meramente parlamentares
e os votantes. Isso só despontou nos EUA
na década de 1820; na Inglaterra, na de 1860: p. 41-42, 45. Alguns historiadores têm seguido o exemplo dos
contemporâneos, lamentando o abismo entre políticos brasileiros
e a situação imaginada na Europa: compare FIGUEIREDO JR., A. C. de A.. Oito Annos, p. 216-20, com VIANA,
Francisco José de Oliveira. Instituições Políticas Brasileiras.
Rio de Janeiro, 1949, 1, 203.

30 Por exemplo, PP-SE para MI, Aracaju, [22/7/1851], AN, SAP, Cx. 783, Pac. 2; Cotegipe para Junqueira, Rio,
7/8/1881, cópia datilografada de minuta, AIHGB,
CC, L31, D81.

31 Ver, sobre esse ponto, CHAMBERS, William Nisbet. Political Parties in a New Nation: the american expe-

448 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


rience, 1776-1809. Nova York, 1963, p. 82; e POWELL, John Duncan. Peasant Society and Clientist Politics. American
Political Science Review, 64:2, junho de 1970,
p. 416.

32 Cotegipe para Junqueira, Salvador, 7/6/1872, minuta, AIHGB, CC, L31, D19; LISBOA, J. F.. Obras, I, 158;
discurso de Martin Francisco, 18/4/1861, BCCD,
Anais,
1861, I, 18.

33 Cotegipe para Junqueira, Rio, 8/4/[1856?], minuta, AIHGB, CC, L30, D166.

34 Cotegipe para Junqueira, Salvador, 7/6/1872, cópia datilografada de minuta, Junqueira para Cotegipe, Rio,
6/7/1872, Junqueira para Cotegipe, Salvador,
2/7/1881,
Cotegipe para Junqueira, Rio, 7/8/1881, cópia datilografada de minuta, todas em AIHGB, CC, L31, D19, D21, 1380,
D81.

35 Junqueira para Cotegipe, Salvador, 2/7/1881, ibidem, L31, D80 (sobre seu compadrio, ver Guaí para Cotegipe,
Salvador, 24/1/1884, ibidem, L37, D178); Junqueira
para
Cotegipe, Salvador, 26/7/1881, Cotegipe para Junqueira, Rio, 7/8/1881, cópia datilografada de minuta, ambas ibidem,
L31, D81.

36 João Alfredo Correia de Oliveira para Cotegipe, Recife, 28/9/1876, Belém, 8/2, 20,8/4/1870, todas em AIHGB,
CC, L50, D109, D81, D83, D85, D91; PP-RS
para PM, Porto Alegre, 9/12/1871, minuta, AN, SAP, Cx. 781, Pac. 2; Cotegipe (PM) para Henrique Pereira de Lucena
(PPRS), Rio, 20/11/1885, APEP, Col. Lucena, 562.
Página 205
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Os diretórios dos partidos eram formados e dissolvidos incessantemente; ver, por exemplo, Domingos de Sousa Leão,
barão de Vila Bela, para Pedro de Araújo Lima,
marquês de Olinda, Recife, 28/10/1869, BN/SM, Col. Tobias Monteiro, Pasta 7.

Notas do capítulo 6 449


37 Acta da Mesa Parochial da Freguezia de Sant'Anna, 30/12/1860-22/1/1861, AGCRJ, 63-3-32; PP-RS para PM,
Porto Alegre, 9/12/1871, minuta, AN, SAP, Cx. 781,
Pac. 2; Atas do Centro Liberal, 29/12/1875, AIHGB, L495, D6, fl. 18v (ver também 13, 23/12/1874, fl. 7v, lOv);
Manuel Pinto de Souza Dantas para Luís Felipe de Souza
Leão, Rio, 6/6/1880, telegrama, AIHGB, L457, D46; José Antônio Saraiva (PM) para André Augusto de Pádua Fleury
(PP-CE), Rio, [fins de 1880], minuta, AIHGB, L275,
P40; Afonso Celso de Assis Figueiredo, visconde de Ouro Preto, para Joaquim José de Sant'Anna, Rio, 8/7/1889,
minuta, AIHGB, L427, D17; SALES, Campos. Caderno de
Apontamentos sobre sua Vida Política (manuscrito). Museu Republicano da Convenção de Itu, sem número.

38 Afonso Pena para as seguintes pessoas, todas em AN, Documentos de Afonso Pena, não catalogados na época
em que foram usados: José Rodrigues, Santa Bárbara
(MG), 27/6/1875; Inácio Antônio de Assis Martins, Santa Bárbara, 1/7/1875; e Cândido de Luís Maria de Oliveira,
Santa Bárbara, 2713, 15/11/1876; José Bento da Cunha
Figueiredo para Cotegipe, Recife, 16/12/1858, AIHGB, CC, L23, D143.

39 Guaí para Cotegipe, Salvador, 25/9/1884, AIHGB, CC, L38, D9; Junqueira para Cotegipe, Salvador, 11/10/1884,
ibidem, L31, D99; BRAZIL, Arquivo Nacional.
Organizações e Programas, p. 375. Ver o franco reconhecimento de nepotismo na formação de legendas partidárias em
FIGUEIREDO JR.. Oito Annos, p. 13-15.

40 Guaí para Cotegipe, Salvador, 25/9/1884, AIHGB, CC, L38, D9. Sobre a opinião de Cotegipe em relação ao
apoio de Dantas a Guaí, ver Cotegipe para Junqueira,
Rio, 9/9/1881, cópia datilografada de minuta, ibidem, L31, D83.

450 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


41 Inocêncio de Almeida para Rui Barbosa, Macaúbas, 6/9/1878, CRB, sem número; Lourenço Albuquerque para
Luís Felipe de Souza Leão, Engenho Velho (PE), 11/6/1885,
AIHGB, L456, D47 (itálicos no original, traduzido do inglês).

42 Manuel Pinto de Souza Dantas para Rui Barbosa, Petrópolis, 12/1/1879. In: DANTAS, Manuel Pinto de Souza.
Correspondência. Rio de Janeiro, 1962, p. 34.

43 Manuel Pinto de Souza Dantas para Cotegipe, Sto. Amaro, 31/3/1856, Salvador, 24/6/1856, Rio, 7/6/1884, todas
em AIHGB, CC, L19, D 14,1319, D55; Rufino
Enéas Gustavo Galvão, visconde de Maracaju (PP-PA), para Cotegipe, 20/5/1883, ibidem, L25, D82.

44 Guaí para Cotegipe, Salvador, 31/10/1883, ibidem, L37, 13173; WEINSTEIN, Barbara. The Amazon Rubber
Boom, 1850-1920. Stanford (Calif.), 1983, p. 102, 298
(nota 8).

45 Junqueira para Cotegipe, Rio, 14, 30/9/1872, AIHGB, CC, L31, D33, D35.

46 Guaí para Cotegipe, Salvador, 514, 14, 25/9/1884, AIHGB, CC, L38, D5, D8, 139.

47 João Alfredo Correia de Oliveira (PP-PA) para Cotegipe, Belém, 8/2/1870, ibidem, L50, D85.

48 Referências ao "partido" permeavam o discurso político contemporâneo, mas o que aquele termo significava
para os que o usavam não foi bem examinado; a
não ser que o foco permaneça exclusivamente nos membros ou pretensos membros do Congresso, o termo pode ser
seriamente mal-entendido, como por exemplo em FRANCO,
Afonso Arinos de Melo. História e Teoria dos Partidos Políticos no Brasil, 2ª ed. São Paulo, 1974, p. 29-53;
CARVALHO, José Murilo de. A Composição Social dos Partidos
Página 206
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Políticos Imperiais. Universidade Federal de

Notas do capítulo 6 451


Minas Gerais, Departamento de Ciências Políticas, Cadernos, n. 2, dezembro de 1974, p. 14; e CARVALHO, J. M. de.
Teatro de Sombras: a política imperial. São Paulo,
1988, p. 150-57. Para uma análise da historiografia dos partidos antes de 1850, ver MATOS, Ilmar Rohloff de. O Tempo
Saquarema. São Paulo, 1987, p. 129-132 (nota).

49 ALENCAR, José de. Cartas de Erasmo. In: Obra Completa. Rio de Janeiro, 1960, IV, 1074 (Mary Goodwin
mostrou-me essa referência). Sobre a tendência parlamentar
de evitar as questões verdadeiras, ver SOUZA, F. B. S. de. O Sistema Eleitoral, p. 46; e discurso de Leopoldo Bulhões,
10/8/1882, BCCD, Anais, 1882, III, 431.

50 O material sobre os acontecimentos políticos do Império nessas páginas, a não ser quando anotados de outra
forma, é extraído de NABUCO, Joaquim. Um Estadista
do Império, [3ª ed.?]. Rio de Janeiro, 1975; CUNHA, Euclides da. À Margem da História. In Obra Completa. Rio de
Janeiro, 1966, I, 326-76; SANTOS, José Maria dos.
A Politica Geral do Brasil. São Paulo, 1930, p. 11-185; MAGALHÃES, Basílio de. Estudos de História do Brasil. São
Paulo, 1940, p. 40-68; BEIGUELMAN, Paula. Formação
Política do Brasil, v. I: Teoria e Ação no Pensamento Abolicionista. São Paulo, 1967; HGCB, n. 5-7; LYRA, Heitor.
História de Dom Pedro II, 1825-1891, 2ª ed. rev.
Belo Horizonte, 1977, li, 295-98; e CALMON, Pedro. História de D. Pedro II. Rio de Janeiro, 1975, v. 2.

51 NARO, Nancy. The 1848 Praieira Revolt in Brazil. Tese de doutoramento, Univ. de Chicago, 1981, p. 105-9,
116-17, 129-36. Os Conservadores em Pernambuco
também estavam divididos: ibidem, p. 98-99.

52 O processo de acabar com o comércio de escravos é explorado por BETHELL, Leslie. The Abolition of

452 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


the Brazilian Slave Trade: Britain, Brazil, and the slave trade question, 1807-1869. Cambridge, Ingl., 1970; e
CONRAD, Robert Edgar. World of Sorrow: the african
slave trade to Brazil. Baton Rouge (La.), 1986.

53 BRASILIENSE [de Almeida Mello], Américo. Os Programas dos Partidos e o 2º Imperio. Primeira parte:
Exposição de Principios. São Paulo, 1878, p. 33-57.

54 LB, Lei 2.033, 20/9/1871, Decreto 4.824, 22/11/1871, Lei 2.395, 10/9/1873; SOUZA, F. B. S. de. O Sistema
Eleitoral, p. 15 (nota); CONRAD, R. E.. Destruction
of Brazilian Slavery, p. 90-117; PARANHOS, José Maria da Silva (2º), barão do Rio Branco. O Visconde do Rio
Branco, [2ª ed.?]. Rio de Janeiro, [1943?]; BESOUCHET,
Lidia. José Ma. Paranhos, Vizconde do Río Branco. Buenos Aires, [ 1944].

55 É significativo que João Camilo de Oliveira Torres seja obrigado a incluir mesmo os chefes dos gabinetes
Liberais em seu panteão de grandes conservadores
em Os Construtores do Império: ideais e lutas do Partido Conservador brasileiro. São Paulo, 1968.

56 CONRAD, R. E.. Destruction of Brazilian Slavery, p. 217, 221, 302. A segunda votação ocorreu antes que todos
os deputados tivessem chegado no Rio e sido
credenciados.

57 OTONI, Cristiano Benedito. O Advento da República no Brasil. Rio de Janeiro, 1890, p. 44-45.

58 CONRAD, Destruction of Brazilian Slavery, p. 121-277.


A origem da força emancipacionista é muito debatida; ver GRAHAM, Richard. Causes for the Abolition of Negro
Slavery in Brazil: an interpretive essay. Hispanic
American
Historical Review, 46:2, maio de 1966, p. 123-38;
Página 207
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
GRAHAM, R.. Brazilian Slavery Re-Examined: a review

Notas do capítulo 6 453


anicle. Journal of Social History, 3:4, verão de 1970, p. 431-53; e COSTA, E. V. da. Da Senzala, p. 428-55.

59 Alguns contemporâneos atribuíram a maior freqüência do Partido Conservador no poder à preferência do


imperador por ele: discurso de Maninho Campos, 24/9/1875,
BCCD, Anais, 1875, V, 212; NABUCO, Joaquim. Eleições Liberaes e Eleições Conservadoras. Rio de Janeiro, 1886, p.
54; WERNECK, Luís Peixoto de Lacerda. Le Brésil.
Dangers de sa situation politique et économique; moyens de les conjurer. Lettre à son fils... Ouvrage posthurne revu par
F. P. de Lacerda Werneck. Rio de Janeiro,
1889, p. 54.

60 Discurso de João Alfredo, 5/10/1888, BCCD, Anais, 1888, VI, 122; WERNECK, L. P. L. de. Le Brésil, p. 62.
Sobre a Motivação de Paulino de Souza, ver CARVALHO,
João Manuel de. Reminiscencias sobre Vultos e Factos do Imperio e da Republica. Amparo, 1894, p. xi.

61 Um exemplo muito notável desse argumento encontra-se em SODRÉ, Nelson Werneck. História da Burguesia
Brasileira. Rio de Janeiro, 1964, p. 102, 172, 196-203.

62 [RODRIGUES, Antônio Coelho]. Manual do Subdito Fiel (pseud.) ou, Cartas de um lavrador a sua magestade o
Imperador sobre a questão do elemento servil. Rio de
Janeiro,
1884, p. 12; JP para PP-CE, Crato, 19/11/1860, cópia anexa em PP-CE para MJ, Fortaleza, 14/12/1860, AN, SPE, IJJ
5-423. FLORY, T.. Judge and Jury in Imperial Brazil,
1808-1871: social controle political stability in the New State. Austin (Tex.), 1981, p. 182-83, explora algumas dessas
questões para a primeira metade do século
XIX; CARVALHO, José M. de. A Composição Social dos Partidos, p. 18, 21, faz o mesmo para a segunda.

454 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


63 Sobre ligações entre comerciantes e proprietários de terra, ver SWEIGART, Joseph E.. Coffee Factorage and the
Emergence of a Brazilian Capital Market,
1850-1888. Nova York, 1987, p. 66-108; MONBEIG, Pierre. Pionniers et Planteurs de São Paulo. Paris, 1952, p. 84;
LENHARO, Alcir. As Tropas da Moderação (O abastecimento
da Corte na formação política do Brasil, 1808-1842). São Paulo, 1979, p. 47, 76; e RIDINGS, Eugene W. Class Sector
Unity in an Export Economy: the case of nineteenth-century
Brazil. Hispanic American Historical Review, 58:3, agosto de 1978, p. 432-50. Tirando sua inspiração de outras terras
ou do Brasil em outras épocas, alguns autores
têm visto mais oposição entre estes dois grupos econômicos do que eu; ver, por exemplo, BESOUCHET, Lidia. Mauá y
su Época. Buenos Aires, 1940, p. 74; e FAORO, Raymundo.
Os Donos do Poder: formação do patronato político brasileiro, 2ª ed. Porto Alegre, 1975, 11, 418-20.

64 LEMOS, Miguel. A Incorporação do Proletariado Escravo. Protesto da Sociedade Positivista do Rio de Janeiro
contra o recente projecto do governo. Recife,
1883, p. 10.

65 DANTAS, Luís Ascendino. Esboço Biographico do dr. Joaquim José de Souza Breves. Origem das fazendas S.
Joaquim da Gramma e Sto. Antonio da Olaria. Subsidios
para a história do municipio de S. João Marcos. Rio de Janeiro, 1931, p. 12; SILVA, Eduardo. Barões e Escravidão: três
gerações de fazendeiros e a crise da estrutura
escravista. Rio de Janeiro, 1984, p. 99; WEINSTEIN, B.. Amazon, p. 106-7; João Vieira Machado da Cunha (2º) para
Brás Carneiro Nogueira da Gama, [Valença], 6/5/[1890],
minuta, AN, SAP, Cód. 112., v. 9, Doc. 57. Ver também LUZ, Nícia Villela. O Papel das Classes Médias Brasileiras no
Movimento Republicano. Revista de História,
28:57, janeiro-março de 1964, p. 13-27, e GRANAM,

Notas do capítulo 6 455


Richard. Landowners and the Overthrow of the Empire. Luso-Brazilian Review, 7:2, dezembro de 1970, p. 44-56.
Página 208
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

66 CARVALHO, José Murilo de. Elite and State Building in Imperial Brazil. Tese de Doutoramento. California:
Stanford University, 1974, p. 99. Nesse trabalho,
Carvalho mostra que 75% dos senadores eram formados em Direito, com o restante sendo quase que exatamente
divididos entre os que estudaram medicina, religião, ciência
e assuntos militares. LOVE, Joseph L.. São Paulo in the Brazilian Federation, 1889-1937. Stanford (Calif.), 1980, p.
285. Love diz mais ou menos o mesmo para um
período posterior. Compare o comentário de GENOVESE, Eugene D.. Yeoman Farmers in a Slaveholders' Democracy.
Agricultural History, 49:2, abril de 1975, p. 339, que
os políticos no Sul dos EUA eram em geral advogados, "como qualquer tolo sempre soube". Sobre Rui Barbosa, ver
GRANAM, Richard. Britain and the Onset of Modernization
in Brazil, 1850-1914. Cambridge, Ingl., 1968, p. 267-76, e as referências citadas ali. Sobre Inhomerim, ver
MAGALHÃES JR., R.. Três Panfletários, p. 126-59; e HOMEM,
Floriano Torres. Francisco de Sales Torres Homem, visconde de Inhomerim. In: 3º Congresso de História Nacional
(1938), Anais. Rio de Janeiro, 1942, VI, 85-165.

67 Alguns analistas chamariam os deputados de corretores com base em que, embora eles próprios não
controlassem os recursos, podiam colocar os que controlavam
(chefes locais e membros do Gabinete, fossem clientes ou protetores) em contato uns com os outros. Ver SALLER,
Richard P.. Personal Patronage Under the Early Empire.
Cambridge, Ingl_ 1982, p. 74; KETTERING, Sharon. Patrons, Brokers, and Clients in Seventeenth-Century France.
Nova York, 1986, p. 4-11, 40-67; e VALENZUELA, Arturo.
Political Brokers in Chile: local govern-

456 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


ment in a centralized polity. Durham (N. C.), 1977, p. 158-61, 166-68. Eu mesmo não acho a terminologia
particularmente útil.

68 Analisando as propriedades daqueles deputados que se tornaram senadores ou membros do Gabinete,


CARVALHO, José M. de. A Composição Social dos Partidos,
p. 14, 26, acha que ambos os partidos arrebanhavam membros da classe proprietária agrária, mas também observa que
os Conservadores dependiam mais maciçamente de
juízes (a quem chama de burocratas) do que os Liberais, e que os Liberais atraíam Senadores e Ministros de outras
profissões liberais. Como a maioria dos profissionais
liberais diferia de juízes não em educação, mas no seu sucesso em ganhar boas colocações, pode-se concluir do sucesso
deles (corretamente, penso) que uma das diferenças
entre os partidos consistia no grau de satisfação de seus membros. Ver também CARVALHO, José M. de. Elite and State
Building, p. 145. Sobre juízes no Congresso,
ver FLORY, T.. Judge, p. 195.

69 Cotegipe para João Alfredo Correia de Oliveira, Rio, 3/7/[1875?] cópia datilografada de minuta, AIHGB, CC,
L50, DIW; Junqueira para Cotegipe, Rio, 20/2/1873,
ibidem, L31, D45; Guaí para Cotegipe, [Salvador], 2/10/1883, ibidem, L37, D170; Adolfo Hasselman para Rui Barbosa,
Salvador, 23/3/1875, CRB, sem número. Sobre o
lar como local de discussão política, ver também Paulino José Soares de Souza, visconde do Uruguai, para José Maria
da Silva Paranhos (1º), Rio, 1/11/1858, AHI,
Visc. R. B., L321, M2, P1.

70 O BRASIL, 24/11/1840, apud FLORY, T.. Judge, p. 153.

71 MELLO, Afonso d'Albuquerque. A Liberdade no Brasil: seu nascimento, vida, morte e sepultura. Recife, 1864,
p. 8; LISBOA, J. F.. Obras, I, 107.

Capitulo 7

1 JESUS, J. Palhano de. Rapida Noticia da Viação Ferrea do Brasil. In: Instituto Historico e Geographico Brasileiro,
Diceionario Historico, Geographico e
Ethnographico do Brasil (Commemorativo do primeiro centenario da independencia). Rio de Janeiro, 1922, 1, 736-37;
Página 209
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
BRAZIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Anuário Estatístico do Brasil, 1939-40, p. 1.381; STEIN, S. J.. The Brazilian Cotton Manufacture: textile enterprise in
an underdeveloped area, 1850-1950. Cambridge
(Mass.), 1957, p. 21, 191; CONRAD, Robert Edgar. The Destruction of Brazilian Slavery, 1850-1888. Berkeley (Calif.),
1972, p. 135. Ver também, mais geralmente, LEFF,
Nathaniel H.. Underdevelopment and Developrnent in Brazil. Volume I: Economic Structure and Change, 1822-1947.
Londres, 1982; PRADO JR., Caio. História Econômica
do Brasil, 5ª ed. São Paulo, 1959; SODRÉ; Nelson Werneck. História da Burguesia Brasileira. Rio de Janeiro, 1964; e
SINGER, Paul. Desenvolvimento Econômico e Evolução
Urbana (análise da evolução econômica de São Paulo, Blumenau, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife). São Paulo,
1968.

2 Ver, por exemplo, João Alfredo Correia de Oliveira para Cotegipe, Belém, 8/4/1870, AIHGB, L50, D91.

458 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


3 MILET, Henrique Augusto. Os Quebra-Kilos e a Crise da Lavoura. Recife, 1876, p. 3; FIGUEIREDO, Afonso Celso
de Assis. Reforma Administrativa e Municipal: parecer
e projectos. Rio de Janeiro, 1883, p. 73-74. Os temores paralelos na cidade são explorados por GRAHAM, Sandra
Lauderdale. House and Street: the domestic world of
servants and masters in nineteenth-century Rio de Janeiro. Cambridge, Ingl., 1988, p. 108-16.

4 José Antônio de Figueiredo. In: BANDEIRA, Antônio Herculano de Souza (ed.). Reforma Eleitoral, Eleição Directa:
colleção de diversos artigos sobre a eleição directa
dos quaes são autores os seguintes senhores... Recife, 1862, p. 146; BARBOSA, Rui. Liberdade Commercial. O partido
liberal bahiano. Discurso proferido... na Assembléa
Provincial da Bahia, na sessão de 27 de junho de 1878. Bahia, 1878, p. 8; Rui Barbosa e Francisco de Paula Belfort
Duarte, apud HGCB, n. 7, p. 219, 210, respectivamente;
CAMPOS, Joaquim Pinto de [Um Pernambucano]. Os Anarquistas e a Civilização: ensaio politico sobre a situação. Rio
de Janeiro, 1860, p. 58-59.

5 José Antônio de Figueiredo. In: BANDEIRA, A. H. de S. (ed.). Reforma Eleitoral, p. 146, 164-65; CAMPOS, J. P. de.
Os Anarquistas, p. 58; ALENCAR, José de. Systema
Representativo. Rio de Janeiro, 1868, p. 96, 103; [CARVALHO, Antônio Alves de Souza]. O Imperialismo e a Reforma,
Anotado por um Constitucional do Maranhão. Maranhão
[São Luís?], 1866, p. 57. Longe de ser uma idéia nova, as eleições diretas tinham sido defendidas por vários escritores
muito tempo antes: LYRA, Augusto Tavares
de. Esboço Historico do Regimen Eleitoral do Brasil (1821-1921). Rio de Janeiro, 1922, p. 21.

6 José Antônio de Figueiredo. In: BANDEIRA, A. H. de S. (ed.). Reforma Eleitoral, p. 143, 145, 147, 152, 159,
183; ABREU e LIMA, ibidem, p. 276.

Notas do capítulo 7 459


7 José Antônio de Figueiredo, ibidem, p. 143, 158-59, 169-70.

8 SOUZA, Joaquim Rodrigues de. Systema Eleitoral da Constituição do Imperio do Brazil. São Luís, 1863, p. 19,
21, 43; ALENCAR, J. de. Systema Representativo,
p. 103; BRASILIENSE [de Almeida Mello], Américo. Os Programas dos Partidos e o 2º Imperio. Primeira parte:
Exposição de Princípios. São Paulo, 1878, p. 16.

9 Annexo n. I, art. 1-2. In: BRASILIENSE [de Almeida Mello], Américo. Os Programas dos Partidos, p. 45; José
Tomás Nabuco de Araújo para Domingos de Sousa
Leão, barão de Vila Bela, [Rio], 6/5/1869, apud NABUCO, Joaquim. Um Estadista do Império, [3ª ed.?]. Rio de
Janeiro, 1975, p. 677-78 (nota). LYRA, A. T. de. Esboço
Histórico, p. 22, entende corretamente o pensamento de Nabuco de Araújo como sendo que, sob as eleições diretas, os
"servos" votariam como os mandassem, enquanto
nas eleições indiretas os potentados rurais "dependeriam de uma classe intermediária", ou seja, juízes, advogados e
servidores civis, que se uniam a eles nos Colégios
Eleitorais, um ponto que LEAL, Victor Nunes. Coronelismo: the municipality and representative government in Brazil.
Página 210
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Cambridge, Ingl., 1977, p. 144 (nota 7), não
compreende corretamente.

10 BCCD. Reforma Eleitoral: projetos offerecidos á consideração do corpo legislativo desde o anno de 1826 até o
anho de 1875... colligidos na secretaria da
Camara dos Deputados. Rio de Janeiro, 1875, p. 416-20; BRAZIL. Ministerio do Imperio [Paulino José Soares de
Souza (2º)], Relatório, 1870, p. 19.

11 SOUZA, Francisco Belisário Soares de. O Sistema Eleitoral no Império (com apêndice contendo a legislação
eleitoral no período 1821-1889). Brasília, 1979.
Sobre os

460 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


artigos que levaram ao livro, ver p. 1-2. Sobre a formação do autor e histórico de suas votações, ver HGCB, n. 7, p. 141,
148-49, 151.

12 SOUZA, F. B. S. de. O Sistema Eleitoral, p. 21, 31-34, 36, 86, 116-17, 131. Para sua opinião negativa sobre a
Revolução Francesa, ver p. 127.

13 BASTOS, Aureliano Cândido Tavares. Os Males do Presente e as Esperanças do Futuro ((e outros] estudos
brasileiros), 3ª ed. São Paulo, 1976, p. 143-44.
Sobre sua formação, ver GRAHAM, Richard. Britain and the Onset of Modernization in Brazil, 1850-1914. Cambridge,
Ingl., 1968, p. 108-9. Tavares Bastos acreditava
que, dando maior peso eleitoral aos eleitores urbanos, ajudaria a causa abolicionista: Aureliano Cândido Tavares Bastos,
álbum de recortes e diário, [depois de 1873],
BN/SM, 11, 1, 29.

14 PEDRO II. Conselhos à Regente. Rio de Janeiro, 1958, p. 29-30, 57; Pedro II para José Antônio Pimenta Bueno,
visconde de São Vicente, 29/9/1870. In: NABUCO,
J.. Um Estadista do Império, p. 1.003-1.004. Para uma resposta cética à representação proporcional, ver SOUZA, F. B.
S. de. O Sistema Eleitoral, p. 15.

15 Decreto, 1875, art. 1, par. 2, 21; art. 2, par. 16. Ver título modelo anexo à LB, Decreto 6.097, 12/1/1876. Sobre a
história legislativa dessa lei desde a introdução do projeto de lei em abril de 1873, ver BCCD. Reforma Eleitoral, p.
565-90, 603-5.

16 Decreto, 1875, art. 1, par. 4; AGCRJ, 62-1-28.

17 PEDRO II. Conselhos à Regente (1876). In: VIANA, Hélio. D. Pedro I e D. Pedro II: acréscimos às suas
biografias. São Paulo, 1966, p. 241-42; Pedro II,
apud NABUCO, J.. Um Estadista do Império, p. 674 (nota). Ver também TORRES, João Camilo de Oliveira. A
Democracia Coroada (Teoria política do Império do Brasil).
Rio de Janeiro, 1957, p. 257-58.

Notas do capítulo 7 461


18 Pedro II para Luís Alves de Lima e Silva, duque de Caxias, [janeiro 1878], apud VIANA, H.. D. Pedro I e D.
Pedro II, p. 184-85. Ver também LYRA, Heitor.
História de Dom Pedro II, 1825-1891, 2ª ed. rev. Belo Horizonte, 1977, II, 277-78; e HGCB, n. 7, p. 185-88.

19 CONGRESSO Agricola. Coleção de documentos. Rio de Janeiro, 1878, p. 43, 48, 49, 156, 196, 207. Ver
também p. 32, 47, 52, 147, 222. Sobre a iminência do
fim da escravatura, ver a longa declaração de um dos participantes do Congresso: ROHAN, Henrique de Beaurepaire. O
Futuro da Grande Lavoura e da Grande Propriedade
no Brazil: memoria apresentada ao Ministerio de Agricultura, Commercio e Obras Publicas. Rio de Janeiro, 1878.

20 Para o restante deste capítulo, baseei-me principalmente em HGCB, n. 7, p. 176-243. Ver também RODRIGUES,
José Honório. Conciliação e Reforma no Brasil: um desafio
histórico-político. Rio de Janeiro, 1965, p. 138-63.
Página 211
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

21 LOVE, Joseph L.. Rio Grande do Sul and Brazilian Regionalism, 1882-1930. Stanford (Calif.), 1971, p. 21-23.

22 Acta da Conferencia de 7/11/1878. BRAZIL, Conselho de Estado. Atas. Brasília, 1973. X, 137-67; citação na p.
162.

23 Projecto de Reforma da Constituição, 13/2/1879, BCCD, Anais, 1878 [sic], II, 492.

24 José Bonifácio de Andrada e Silva (o filho) e Joaquim Nabuco, apud HGCB, n. 7, p. 205, 207, 209.

25 Rui Barbosa e Lafaiete Rodrigues Pereira, apud ibidem, p. 215, 219. Ver também p. 211, 216.

26 [Cotegipe, Parecer sobre a eleição directa], 1879[?]; manuscrito, AIHGB, CC, L88, D28; discurso de João da
Silva Carrão, 28/12/1880, BCS, Anais, 1880,
Sessão Extraordinaria, 111, 293.

462 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


27 LYRA, H.. História de Dom Pedro II, II, 277; GRAHAM, Sandra Lauderdale. The Vintém Riot and Political
Culture: Rio de Janeiro, 1880. Hispanic American
Historical Review, 60:3, agosto de 1980, p. 431-49.

28 PINHO, José Wanderley de Araújo. Política e Políticos no Império. Rio de Janeiro, 1930, p. 7-11; PANG, EulSoo. O
Engenho Central do Bom Jardim na Economia Baiana.
Alguns aspectos de sua história, 1875-1891. Rio de Janeiro, 1979, p. 45.

29 Acta da Conferencia de 7/11/1878. BRAZIL, Conselho de Estado. Atas, X, 142, 144, 149-51, 159-60, 163.

30 Uma prática que seguirei daqui em diante, embora os Colégios Eleitorais não tivessem mais se reunido.

31 Discurso de Saraiva, 7/6/1880, BCCD, Anais, 1880, II, 92. A idéia básica não era nova. Francisco Gê Acaiaba de
Montezuma, visconde de Jequitinhonha, argumentara há
anos que, se a renda líquida fosse definida corretamente, poder-se-iam conduzir as eleições diretas com segurança
sem emenda constitucional; apud José Antônio de Figueiredo. In: BANDEIRA, A. H. de S. (ed.), Reforma Eleitoral, p.
226. Francisco Belisário Soares de Souza
fizera a mesma observação em seu O Sistema Eleitoral, p. 26; e, como vimos, essa era a idéia da lei de 1875, embora
essa possibilitasse muitas evasões.

32 SARAIVA, José Antônio. Bases para Projeto da Reforma Eleitoral. [março ou abril 1880], fac-símile. In:
BARBOSA, Rui. Discursos Parlamentares, Camara dos
Deputados, In: Obras Completas, 7 (1880), tomo I. Rio de Janeiro, 1945, p. 259-79. Sobre a história dessa lei, ver
ibidem, p. 283-313, 321-58; e Américo Jacobina
Lacombe, ibidem, p. 4-5. As idéias do próprio Rui Barbosa eram certamente congruentes com o impulso da lei, ainda
que algumas vezes ele se imaginasse do lado dos
trabalhadores: Rui

Notas do capítulo 7 463


Barbosa para Manuel Pinto de Souza Dantas, Rio, 17/5/1880. In: DANTAS, Manuel Pinto de Souza. Correspondência.
Rio de Janeiro, 1962, p. 39-43; Estatutos... de 1876,
anexo em Sociedade Liga Operária Baiana para PPBA, Salvador, 18/8/1876, APEB, M.1575, caderno 35.

33 Decreto, 1881, art. 2-4; discurso de Saraiva, 7/6/1880,


BCCD, Anais, 1880, II, 92.

34 Joaquim Nabuco, apud RODRIGUES, J. H.. Conciliação e Reforma, p. 150.

35 Decreto, 1881, art. 6. No século XX, essa tendência completou-se com a criação de um sistema de tribunais
separados, para tratar exclusivamente de assuntos eleitorais:
LEAL, V. N.. Coronelismo, p. 66; VIANA, Francisco José de Oliveira. Instituições Políticas Brasileiras. Rio de Janeiro,
Página 212
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
1949, p. 200-201.

36 Discursos de Saraiva, 4, 7/6/1880, BCCD, Anais, 1880, 11, 34-44, 91.

37 Projeto, art. 4, par. 9, 2/7/1880. BCS, Anais, 1880, III, 30; Decreto, 1881, art. 8. Ver também LB, Decreto 8.213,
13/8/1881, art. 60; e Consultas sobre
o projecto de regulamento para execução da Lei n. 3.029 de 9 de janeiro de 1881, 11 de agosto de 1881. Manuscrito em
Consultas do Conselho de Estado, Seção do Imperio,
AN, SPE, Cx. 558, Pac. 3, D47. Embora se diga sempre que a República, declarada em 1889, tenha instituído um teste
de alfabetização para votar, isso não é inteiramente
verdade. Os que foram eleitores em 1881, mesmo os não alfabetizados, continuavam sendo qualificados para votar sob a
República, mas novos eleitores, como ocorria
desde 1882, tinham de provar sua alfabetização: LB, Decreto 200-A, 8/2/1890, art. 58, 69, Lei 35, de 26/1/1892, art. 22.

38 Proposta, art. 2, 8, BCCD, Anais, 1880, Extraordinaria, I, 30-31.

464 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


39 BRAZIL. Constituição Política do Império do Brasil, art. 5. O art. 95 excluíra do Congresso aqueles que não
professavam a religião do Estado, e a prova
de elegibilidade dependia de juramentos orais; agora a lei exigia declarações sob juramento escritas, cobrindo vários
assuntos (p. ex., renda, idade), mas a religião
não se incluía entre eles.

40 ALENCAR, J. de. Systema Representativo, p. 145; Rio de Janeiro (diocese), Bispo. Representação dirigida ao
illm. e exm. sr. ministro e secretario de estado
dos negocios do Imperio pelo bispo de S. Sebastião do Rio de Janeiro pedindo para que as eleições politicas se fação
fóra das igrejas. Rio de Janeiro, 1872, p. 13;
Decreto, 1881, art. 15, par. 6. O projeto de lei original colocara ainda as eleições nas igrejas: Proposta, art. 14,
BCCD,Anais, 1880, Extraordinaria, 1, 32.

41 Decreto, 1881, art. 15, par. 1, 2, 4 (eleições não mais ocorriam nos domingos, sendo realizadas no primeiro dia
útil do mês); REZENDE, Francisco de Paula Ferreira de.
Minhas Recordações. Rio de Janeiro, 1944, p. 124. Um exemplo das novas e eficientes normas encontra-se em Acta...
da mesa eleitoral... parochia do Espirito Santo...
Municipio Neutro, 31/8/1889, AGCRJ, 65-2-51, 17. 1-3; ver também os lances recebidos, para a construção da
balaustrada de ferro de "sete palmos de altura": AGCRJ,
61-4-34, fl. 58-59.

42 Sobre o número de eleitores qualificados, compare SILVA, João Manuel Pereira da. Memorias do Meu Tempo.
Paris, [1896?], II, 225, de onde tirei essa estimativa
para 1881, com BRAZIL, Ministerio do Imperio. Relatório, 1870, p. 20, que mostra 1.039.659 votantes qualificados em
1870. O número de eleitores que realmente votou
em 1881 (e não daqueles qualificados) foi de 96.411: BRAZIL. Arquivo Nacional [Jorge João Dodsworth, 2º barão de
Javari]. Organizações e Programas Ministeriais.
Regime

Notas do capítulo 7 465


parlamentar no império, 2ª ed. Rio de Janeiro, 1962, p. 379. Reconheço que havia só 20.006 eleitores em 1870, portanto
o número dos que diretamente escolhiam os
deputados sem dúvida aumentou. Sobre a reação à nova lei, ver LYRA, H.. História de Dom Pedro II, II, 289.

43 Consultas do Conselho de Estado, Secção de Justiça, 10/5/1881 AN, SPE, Cx. 558, Pac. 3. Um Conselheiro
observou tentativas de escapar à lei com contratos
de venda de terra, que reverteriam automaticamente ao proprietário original após determinado período: Luís Pedreira do
Couto Ferraz, visconde do Bom Retiro, Parecer,
11/8/1881, ibidem. Outras questões relativas à aplicação da lei encontram-se em Consultas de 9/8/1882, ibidem, Cx.
559, Pac. 4, D49.

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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
44 Recurso eleitoral, 30/12/1882, Antônio Alves da Rocha, recorrente, Juizado do Direito de Piraí, recorrido, AN,
SPJ, Appellação, n. 664, Cx. 11.917 [antiga Cx. 69. Gal. C]; LB, Decreto 3.133, 7110/1882. O locador em questão era
um parente próximo de Joaquim José de Souza Breves
em Piraí.

45 Martinho Álvares da Silva Campos para José Antônio Saraiva, Rio, 1/5/1880, Niterói, 19/11/1881, AIHGB,
L270, D8; José Luís de Almeida Nogueira para Martim
Francisco Ribeiro de Andrade (sobre divisas distritais), Bananal, 11/10/1880, AIHGB, L325, D15; F. Sodré para
Cupertino do Amaral, Santo Amaro (BA), 29/3/1881, AN,
SAP, Documentos de Amaro Cavalcanti (sendo renumerados na época de uso); Afonso Pena para José Antônio da Silva
Drummond. Santa Bárbara, 23/4/1881, AN, SAP Documentos
de Afonso Pena (não catalogados na época de uso); [WERNECK, Manoel Peixoto de Lacerdal. 0 Visconde de lpiabas,
Peregrino José de America Pinheiro: perfil biographico,
acompanhado do retracto do finado e

466 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


seguido de algumas allocuções pronunciadas por ocasião de seus funeraes. Rio de Janeiro, 1882, p. 20.

46 MILET, Henrique Augusto. Miscellanea Economica e Politica. Recife, 1882, p. 73.

47 Guaí para Cotegipe, Salvador, 16/10/1885, AIHGB, CC, L38, D19; PP-BA para PM, Salvador, 18/2/1886, citado
na nota do editor em PEDRO II. Cartas do Imperador
D. Pedro II ao barão de Cotegipe. São Paulo, 1933, p. 273.

48 BRAZIL, Arquivo Nacional. Organizações e Programas, p. 379, 388, 398; LYRA, H.. História de Dom Pedro II,
II, 290-91. NABUCO, Joaquim. Eleições Liberaes
e Eleições Conservadoras. Rio de Janeiro, 1886, p. 51-52, ainda acusava os Conservadores da principal
responsabilidade de impedir a vontade do povo, pelo controle
das eleições.

49 LAERNE, C. F. van Delden. Brazil and Java: report on coffee-culture in America, Asia and Africa to H. E. the
minister of the colonies. Londres, 1885, p. 309 (nota).
Sobre a reunião dos documentos necessários, ver, por exemplo, Zacarias Vieira Machado da Cunha para JD-Valença,
Sta. Teresa de Valença, 17/1/1883, AN, SAP, Cód.
112, v. 9, D 130.

50 LOVE, Joseph L.. São Paulo in the Brazilian Federation, 1889-1937. Stanford (Calif.), 1980, p. 105-6;
WERNECK, Luís Peixoto de Lacerda. Le Brésil. Dangers
de sa situation politique et économique; moyens de les conjurer Lettre à son fils... Ouvrage posthume revu par F. P. de
Lacerda Werneck. Rio de Janeiro, 1889, p.
47 (citado). Raymundo Faoro engana-se, contudo, argumentando que as classes agrárias desejavam eleições diretas para
aumentar sua influência: Faoro, R.. Os Donos
do Poder: formação do patronato político brasileiro, 2ª ed. Porto Alegre, 1975, I, 374.

Notas do capítulo 7 467


51 Lourenço de Albuquerque (Min. do Exterior) interrompendo o discurso de Felício dos Santos, 23/8/1882,
BCCD, Anais, 1882, IV, 133; discurso de Carvalho
Rezende, 15/9/1882, ibidem, p. 555.

52 Discurso de Afonso Celso Júnior, 17/8/1887, ibidem 1887, IV, 261.

53 Afonso Celso de Assis Figueiredo, visconde de Ouro Preto, Parecer, Rio, 13/4/1880, AIHGB, L222, D20; A. C.
A. Figueiredo, [Programa], 7/6/1889, apud MAGALHÃES,
Basílio de. Estudos de História do Brasil. São Paulo, 1940, p. 71.

54 LB, Lei 35, 26/1/1892.

55 César Zama para Rui Barbosa, Salvador, 6/1/1890, CRB, sem número. SOUZA, João Cardoso de Meneses e.
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
barão
de Paranapiacaba. Elleições. In: FIGUEIREDO, Afonso Celso de Assis, visconde de Ouro Preto et al.. A Decada
Republicana. Rio de Janeiro, 1900, v. III, p. 252, 254,
256; CUNHA. Euclides da. À Margem da História. In: Obra Completa. Rio de Janeiro, 1966, 1375. Para queixas sobre a
eleição de 1890, ver SILVA, Eduardo. Barões e
Escravidão: três gerações de fazendeiros e a crise da estrutura escravista. Rio de Janeiro, 1984, p. 105 (e sobre a de
1897, ver p. 116-17); ver também LOVE, J.
L.. São
Paulo, p. 132. Como observei, aqueles que haviam sido eleitores em 1881, mesmo os analfabetos, tiveram permissão
para votar na República, portanto Paranapiacaba
estava duas vezes errado.
Capítulo 8

1 ARROYO, Leonardo. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Ensaio de informação à procura de constantes válidas de
método, 2ª ed. São Paulo, 1976, p. 118; SANTOS,
Luís Gonçalves dos (Padre Perereca). Memórias para Servir à História do Reino do Brasil, 3ª ed. (la ed. 1825). Belo
Horizonte, 1981, I, p. 185; PEDRO I, apud HGCB,
n. 7, p. 87; FLORY, T.. Judge and Jury in Imperial Brazil, 1808-1877: social control and political stability in the New
State. Austin (Tex.), 1981, p. 163-67; BEIGUELMAN,
Paula. Formação Política do Brasil. Volume 1: Teoria e Ação no Pensamento Abolicionista. São Paulo, 1967, p. 60. Para
exemplos dos poderes dos donatários ver Carta
de Poder para o Capitão-mor Criar Tabeliães e mais Officiaes de Justiça [20/11/1530] e Carta de Doação da Capitania
de Pernambuco a Duarte Coelho (5/9/1534). In:
DIAS, Carlos Malheiro (ed.), História da Colonização Portuguesa do Brasil. Edição monumental comemorativa do
primeiro centenário da independência do Brasil. Porto,
1924, III, p. 160, 309-12. Sobre as fábricas reais, ver ANDRADE, Rõmulo Garcia de. Burocracia e Economia na
Primeira Metade do Século XIX (A Junta do Comércio e
as atividades artesanais e manufatureiras na cidade do Rio de Janeiro, 1808-1850). Dissertação de Mestrado. Univ.
Federal Fluminense, 1980. Sobre a burocracia, ver

470 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


MANCHESTER, Alan K.. The Transfer of the Portuguese Court to Rio de Janeiro. In: KEITH, Henry e EDWARDS, S.
F. (ed.), Conflict and Continuity in Brazilian Society.
Columbia (S. C.), 1969, p. 148-83; MANCHESTER, A. K.. The Growth of Bureaucracy in Brazil, 1808-1821. Journal
of Latin American Studies, 4:1, maio de 1972, p. 77-83;
e CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política imperial. Rio de Janeiro, 1980, p. 111-31. Ver
também Petições para Conselho Interino 1822, APEB,
Cx. 322 [antigo M.637], pasta 6, cuja grande maioria, mesmo quando o governo provisório na Bahia ainda lutava pela
independência, já se concentrava em adquirir ou
ocupar postos e cargos.

2 URICOECHEA, Fernando. O Minotauro Imperial: a burocratização do Estado patrimonial brasileiro no século


XIX. São Paulo, 1978, p. 98-101, demonstra o firme
crescimento na burocracia, usando números tirados dos orçamentos governamentais, mas ele não ajusta os dados pela
inflação. Gastos com propósitos administrativos
correspondiam a cerca de um quinto do orçamento do governo central, na última década do Império: GRAHAM,
Richard. Government Expenditures and Political Change in
Brazil, 1880-1899. Journal of Inter-American Studies, 19:3, agosto de 1977, p. 368.

3 Conde da Ponte para Fernando José de Portugal, Salvador. 17/5/1808 (citado), 5/9/1808, AN, SPE, IJJ 9-317;
Leonardo José Duarte Gameleiro para visconde
de Camamu (PP-BA), Salvador, 19/3/1829, APEB, M.1609; PP-SP para MJ, São Paulo, 25/3/1861, AN, SPE, IJJ 5-43;
Francisco de Paula da Silveira Lobo para Paranaguá,
Recife, 28/2/1867, AMIP, I-DPP, 9.2.867, LOB-C.; SILVA, Antônio de Moraes. Diccionario da Lingua Portugueza, 8ª
ed. Rio de Janeiro, 1889-91. No Brasil colonial,
como em outros lugares na época, alguns cargos podiam

Notas do capitulo 8 471


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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
ser herdados; um passou até mesmo para um genro: NAZZARI, Muriel Smith. Women, the Family and Property: the
decline of the dowry in São Paulo, Brazil (1600-1870).
Tese de doutoramento, Yale University, 1986, p. 119. Em pleno século XX, um cargo público na Espanha era tido como
uma propriedade: PITT-RIVERS. Julian Alfred. The
People of the Sierra. Londres, 1954, p. 126 (nota 1).

4 NABUCO, Joaquim. Um Estadista do Império, [3ª ed.]. Rio de Janeiro, 1975, p. 938; FIALHO, Anfriso. Processo
da Monarchia Brazileira: necessidade da convocação
de uma constituinte. Rio de Janeiro, 1885, p. 5-27.

5 VASCONCELOS, José Marcelino Pereira de. Roteiro dos Delegados e Subdelegados de Policia; ou, Colleção dos
actos, atribuições e deveres destas autoridades.
Rio de Janeiro, 1862, p. 9, 18, 21; Manuel Pinto de Souza Dantas para Franklin Américo de Menezes Dória, Rio,
4/9/1880, AIHGB, L173, D1, v. 1, fl. 56; PEDRO II.
Conselhos à Regente. Rio de Janeiro, 1958, p. 33, 60; LB, Lei 40, 3/10/1834, art. 5, par. 6; PP-RS para MJ, Porto
Alegre, 30/8/1860, AN, SPE, IJJ 5-43; LB, Decreto
817, 30/8/ 1851, art. 13; LB, Regulamento 120, 31/1/1842. O padrão é conhecido dos historiadores no caso das
nomeações eclesiásticas: os bispos nomeavam como vigários
paroquiais apenas aqueles cujos nomes lhes foram apresentados por autoridades civis.

6 VASCONCELOS, J. M. P. de. Roteiro dos Delegados, p. 20; CP-BA para Delegado, Lençóis, Salvador, 9/3/1869,
cópia, APEB, Presidência, Policia, Delegados,
Registro, M.5802; LB, Regulamento 120, 3/11/1842, art., 48; discursos de Nebias e Lessa, 8/6/1861, BCCD, Anais,
1861, II, 76; CP-BA para Delegado, Santa Rita do
Rio Preto, Salvador, 11/12/1868; CP-BA para Delegado,

472 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Pombal, Salvador, 9/3/1869, ambas as cópias em APEB, Presidência, Polícia, Delegados, Registro, M5802.

7 Manuel Pinto de Souza Dantas para Cotegipe, Salvador, 16/ 12/ 1865, 11/10/1856, AIHGB, CC, L 19, D51, D27,
respectivamente; CONGRESSO Agricola. Coleção
de documentos. Rio de Janeiro, 1878, p. 191.

8 FIGUEIREDO, Afonso Celso de Assis. As Finanças da Regeneração: estudo politico offerecido aos mineiros. Rio
de Janeiro, 1876, p. 23. O barão de Guaí usava
a mesma palavra, "empregomania": Guaí para Cotegipe, Salvador, 16/11/1885, AIHGB, CC, L38, D24, embora fosse ele
próprio um dos solicitadores mais freqüentes de
cargos para seus protegidos.

9 Cotegipe, Confidencial: Parahyba do Norte [1886], anotações, AIHGB, CC, L90, D29.

10 Junqueira para Cotegipe, Salvador, 9/7/1856, ibidem, L30, D178; Cotegipe, anotações não tituladas, ibidem,
L19, D20. Ver a análise similar sobre a Espanha
em ROMEROMAURA, Joaquim. Caciquismo as a Political System. In: GELLNER, Ernest e WATERBURY, John
(ed.), Patrons and Clients in Mediterranean Societies. Londres,
1977, p. 53-62.

11 Luís Alves dos Santos, Discurso pronunciado no dia 22 de julho de 1882 pelo vigario... [WERNECK, Manoel
Peixoto de Lacerda]. O Visconde de /piabas, Peregrino
José de America Pinheiro: perfil biographico, acompanhado do retracto do finado e seguido de algumas allocuções
pronunciadas por ocasião de seus funeraes. Rio de
Janeiro, 1882, p. 34.

12 As cartas estão nos seguintes arquivos: Arquivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Arquivo do
Museu Imperial de Petrópolis e Arquivo Nacional,
Rio de Janeiro. Olinda recebeu 82 delas, Paranaguá 308, Dória 86, e Pena

Notas do capítulo 8 473


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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
101. Como em geral ocorre com as fontes históricas, essas cartas não foram selecionadas como amostra estatisticamente
significativa; eu simplesmente as enumerei,
assim como as citei. Devo especiais agradecimentos a Fernanda Maria Monte] de Batissaco, que ajudou-me a contá-las.

13 Afonso Pena para Olegário Herculano de Quino e Castro, Sta. Bárbara, 28/11/1884, cópia, AN, SAP, Afonso Pena,
Documentos não catalogados; MELLO, Afonso d'Albuquerque.
A Liberdade no Brasil: seu nascimento, vida, morte e sepultura. Recife, 1864, p. 106. A carta de recomendação era
também uma prática comum na Espanha e na Itália:
KENNY, Michael. Patterns of Patronage in Spain. Anthropological Quarterly, 33:1, janeiro de 1960, p. 20;
SILVERMAN, Sydel F.. Patronage and CommunityNation Relationships
in Central Italy. Ethnology, 4:2, abril de 1965, p. 187, 189 (nota 6); MARASPINI, A. L.. The Study of an ltalian Village.
Paris, 1968, p. 110-12.

14 Primeiros-ministros, claro, também tinham suas próprias pastas: Olinda preferia ser ministro do Império,
Paranaguá, ministro da Fazenda. Mas quando os
destinatários das cartas ocupavam os cargos do Império ou da Fazenda, sem ser primeiro-ministro, eles recebiam poucas
cartas. Claro, também, os primeiros-ministros
muitas vezes passavam as cartas para outros membros do Gabinete agirem: ver, por exemplo, Diogo Velho Cavalcanti
de Albuquerque, visconde de Cavalcanti (MJ) para
Cotegipe (PM), Rio, 5/5/1876, AIHGB, CC, L1, D118.

15 As cartas de deputados correspondiam a 25% do total no período de 1850-69, mas eram 44% nos 20 anos
seguintes; a proporção de cartas de presidentes caiu
de 22% para 11 % no mesmo período.

16 MELLO, A. d'A.. A Liberdade, p. 104.

17 Ibidem, p. 106, João Alfredo (PP-PA) para Cotegipe, Belém, 8/4/1870, AIHGB, CC, L50, D91 (traduzido do
inglês).

18 José Bento da Cunha Figueiredo para Cotegipe, Recife, 16/12/1858, AIHGB, CC, L23, D143; PP-RN para M
Guerra, Natal, 11/5/1850, AN, SAP, Cx. 823, Pac. 2,
fl. 272; Manuel Buarque de Macedo para Luís Felipe de Souza Leão, [janeiro-março 1880], s.l., AIHGB, L456, D76.
Ver também Manoel Pinto de Souza Dantas (PP-BA) para
Cotegipe, Salvador, 13/12/1865, AIHGB,CC,L19, D50.

19 Quadro dos Suplentes de Juizes Municipaes nomeados de conformidade com a nova lei de reforma judiciaria,
[Porto Alegre, 1872?], AN, SAP, Cx. 781, Pac.
2, Doc. 12. Um historiador conservador, contudo, alega que durante o Império "as promoções [judiciais] (...) obedeciam
ao mais rigoroso exame de honestidade profissional
e das virtudes públicas": CALMON, Pedro. Organização Judiciária: (a) na Colônia; (b) no Império (c) na República. In:
Livro do Centenário dos Cursos Jurídicos. Rio
de Janeiro, 1928, I, 95.

20 ALMEIDA, Cândido Mendes de (ed.). Codigo Philippino; ou, Ordenações e leis do reino de Portugal. Rio de
Janeiro, 1870, Liv. I, Tít. 78-85, e notas; LB,
Decreto de 30/1/1834; BAHIA. Colleção das leis e resoluções da Assembléa Legislativa e regulamentos do governo da
Bahia, sanccionadas e publicadas..., Lei 723,
17/12/1858, Lei 801, 4/6/1860; JM para PP-SP, Taubaté, 1/1/1861, cópia anexa em PP-SP para MJ, São Paulo,
20/1/1861, AN, SPE, IJJ 5-43; PP-AL para MJ, Alagoas, 13/10/1868,
apud Magistratura, Registro de Fatos Notaveis, AN, SPE, IJ 4-32.

21 Discurso de Silveira da Mota, BCS, Anais, 1880, Extraordinaria, III, 291.

474 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Notas do capítulo 8 475


22 E talvez exercesse alguma sutil influência na política: o relatório anual do ministro da Guerra, por exemplo, foi
Página 217
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
escrito pelo diretor da secretaria do
Ministério; ver [José Maria Lopes da Costa], barão de Piraquara, para Franklin Américo de Menezes Dória (MGuerra),
Rio, 31/10/1881, AIHGB, L172, D2, fl. 157.

23 Leôncio de Carvalho para Cupertino do Amaral, São Paulo, 6/7/1882, AN, SAP, Documentos de Amaro
Cavalcanti, sendo recatalogados na época de uso (antiga
Cx. 998); Antônio Nicolau Tolentino, apud HGCB, n. 7, p. 89 (nota); Luís Tarquinio de Souza para Serzedelo Correia,
Salvador, [1890?], apud PINHO, Péricles Madureira
do. Luís Tarquínio, Pioneiro da Justiça Social no Brasil. Salvador, 1944, p. 71, 72.

24 BRAZIL, Ministerio do Imperio. Relatório, 1857, p. 104; Luís Pedreira do Couto Ferraz para Cotegipe, Rio,
26/11/[1853], AIHGB, CC, L22, 13101; Firmino
de Sousa Martins para João Lustosa da Cunha Paranaguá, Buritisinho, 28/3/1876, AMIP, I-Dpp, 28.3.876, MAR-C.

25 Afonso Pena para Lima Duarte, Rio, [outubro de 1883], AIHGB, CC, L21, D85; PP-BA para MI, Salvador, 4/9/
1867, AN, SPE, IJJ 9-343, fl. 149 e seguintes;
Cotegipe para Junqueira, Salvador, 26/11/1874, cópia de minuta, AIHGB, CC, L31, D60; Cincinatto Pinto da Silva para
Pedro de Araújo Lima, marquês de Olinda, Salvador,
15/12/1862, AIHGB, L213, D 114; PENNA, Domingos Soares Ferreira. A Região Occidental da Província do Pará:
resenhas estatísticas das comarcas de Ohidos e Santarem.
Pará [Belém], 1869, p. 230. Ver também Manuel Pinto de Souza Dantas para Pedro de Araújo Lima, marquês de Olinda,
s.l., 13/10/1862, AIHGB, L213, D113. Sobre a faculdade
de Direito do Recife como uma fonte de clientelismo, ver LEVINE, Robert M.. Pernam-

476 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


buco in the Brazilian Federation, 1889-1937. Stanford (Calif.), 1978, p. 79.

26 José Gomes de Sousa Portugal, barão do Turvo, para Jerônimo José Teixeira Jr., Dores do Piraí, 27/8/1863, AN,
SAP, Col. Teixeira Jr., AP 23, Correspondencia,
Doc. 104; Junqueira (MGuerra) para Cotegipe, Rio, 5/10/1872, AIHGB, CC, L31, D36; Ambrósio Leitão da Cunha,
barão de Mamoré, para Cotegipe, Rio, [março de 1887],
AIHGB, CC, L18, 13133; Henrique Francisco de Ávila para Cotegipe, Rio, 3/5/1886, AIHGB, CC, L7, D39; PP-BA
para MI, Salvador, 20/11/1867, AN, SPE, IJJ 9-343, 1867,
fl. 176; Guaí para Cotegipe, Salvador, 28/3-5/4/1884, AIHGB, CC, L38, D4, D5.

27 Ver, por exemplo, Joaquim Raimundo de Lamare para Franklin Américo de Menezes Dória, Rio, 19/8/1881,
AIHGB, L172, D2, v. II, fl. 110, onde pede um posto
de sargento para um protegido seu.

28 João José de Oliveira Junqueira (pai) para Cotegipe, Salvador, 6/8/1855, AIHGB, CC, L30, 13147; Junqueira
para Cotegipe, Salvador, 4/7/1855, ibidem, L30,
13169; José Mariano Carneiro da Cunha para Afonso Pena, s.l, sal., AN, Documentos de Afonso Pena, Lata 5, 1.2.338
L:C. Sobre a concentração de tropas no Rio Grande
do Sul, ver LOVE, Joseph L.. Rio Grande do Sul and Brazilian Regionalism, 1882-1930. Stanford (Calif.), p. 15-16.

29 Manuel Antônio Duarte de Azevedo para Cotegipe, Rio, 14/7/1872, AIHGB, CC, L7, D80.

30 Luís Pedreira do Couto Ferraz para Cotegipe, [Rio], 15/5/[1854 ou 1855], ibidem, L22, 13108; Guaí para
Cotegipe, Salvador, 26/5, 6/8/1874, ibidem, L37,
13108, 13113. Ver também Guaí para Cotegipe, Salvador, 26/10/1872, ibidem, L37, 13148.

Notas do capítulo 8 477


31 José Rodrigues de Lima Duarte para Afonso Pena, Rio, 5/10/1883, AN, Documentos de Afonso Pena, Lata 5,
1.2.371, L:D; Guaí para Cotegipe, [Salvador], sal.,
AIHGB, CC, L37, 13107; Guaí para Cotegipe, Salvador, 17/3/1884, AIHGB, CC, L38, 132. Sobre as responsabilidades
de porteiros, ver Regulamento da Secretaria Provincial,
APEB, Secretaria, 1837-71, M.1513.

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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
32 Guaí para Cotegipe, Salvador, 19/12/1882, AIHGB, CC, L37, 13165; Guaí para Cotegipe, Salvador, 19/4/1884,
ibidem, L38, 135.

33 Antônio Augusto da Costa Aguiar. A Continuação da Confissão dos meus Intimos Pensamentos, 28/9/1862,
manuscrito, AMIP, CXXI, 6.422, fl. 2; Bernardo Avelino
Gavião Peixoto para João Lustosa da Cunha Paranaguá, São Paulo, 18/1/1860, AMIP, I-DPP, 18.1.860, Pei-C1.2;
MELLO, A. d'A.. A Liberdade, p. 105. Compare KENNY, M..
Patterns of Patronage, p. 21.

34 Junqueira para Cotegipe, Salvador, 11/3/1856, AIHGB, CC, L30, D 175; Manuel Pinto de Souza Dantas para
Cotegipe, Salvador, 18/2/[1857], ibidem, L19, 1337;
Junqueira para Cotegipe, Rio, 21/5/1886, ibidem, L31, 13140; Junqueira (MGuerra) para Cotegipe, Rio, 13/11/1872,
ibidem, L31, 1343.

35 Compare a opinião de João Lins Vieira Cansansão de Sinimbu em Congresso Agrícola. Coleção de documentos,
p. 127. Ver também BARMAN, Roderick J. e BARMAN,
Jean. The Role of the Law Graduate in the Política! Elite of Imperial Brazil. Journal of Inter-American Studies, 18:4,
novembro de 1976, p. 423-50.

36 JAGUARIBE, Hélio. Política! Development: a general theory and a latin american case study. Nova York, 1973,
p. 480. A chegada de aristocratas empobrecidos
foi primeiro citada em 1883 por NABUCO, Joaquim. O Aboli-

478 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


cionismo, [2ª ed.?]. Rio de Janeiro, 1938, p. 179, e repetida por ele em seu discurso de 10/7/1888, BCCD, Anais, 1888,
III, 86. Lyttleton, N. A. O.. EI Patronazgo
cri Ia Italia de Giolitti (1892-1924). Revista de Occidente, 127, outubro de 1973, p. 105, também argumenta que o
declínio de uma classe impele seus membros a buscarem
empregos públicos.

37 [SOUZA, João Cardoso de Meneses e], barão de Paranapiacaba. Elleições. In: FIGUEIREDO, Afonso Celso de
Assis, visconde de Ouro Preto, et al., A Decada
Republicana. Rio de Janeiro, 1900, fII, 244 (citando STRATENPONTHOZ, Auguste van der. Le Budget du Brésil ou,
Recherches sur les ressources de cet empire dans leurs
rapports avec les intérêts européens du commerce e de L'émigration. Bruxelas, 1854); HOLLANDA, Sérgio Buarque de.
HGCB, n. 7, p. 86. Essa observação é feita também
por ROTHSTEIN, Frances. The Class Basis of Patron-Client Relations. Latin American Perspectives, 6:2, primavera
1979, p. 28.

38 Outros 3% mencionavam a riqueza ou a proeminência da família do pretendente.

39 BOXER, Charles R.. Portuguese Society in the Tropics: the Municipal Councils of Goa, Macao, Bahia, and Luanda.
Madison (Wis.), 1965, p. 149; LEVINE, R. M.. Pernambuco,
p. 115-16. Alguns historiadores têm expressado surpresa com o fato de que a procura por cargos atraía a atenção até de
homens ricos; ver, por exemplo, DIAS, Maria
Odila Silva. The Establishment of the Royal Court in Brazil. In: RUSSELL-WOOD, A. J. R. (ed.), From Colony to
Nation: essays on the Independence of Brazil. Baltimore,
1975, p. 102 (nota).

40 PANG, Eul-Soo e SECKINGER, Ron L.. The Mandarins of Imperial Brazil. Comparative Studies in Society and

Notas do capítulo 8 479


History, 14:2, março de 1972, p. 217, 223-26; CARVALHO, José M. de. A Construção da Ordem, p. 93-96. Compare
BARMAN, R. J. e BARMAN, J.. The Role of the Law Graduate,
p. 446 (nota 13).

41 Manuel Pinto de Souza Dantas para Cotegipe, Salvador, 6/7/1855, AIHGB, CC, L19, 136; Antônio Paulino
Limpo de Abreu, visconde de Abaeté, para Cotegipe,
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Rio, 29/3/ 1859, ibidem, L1, D20. Abaeté explicou ao baiano Cotegipe que ele não precisava preocupar-se com as
nomeações ali: o "filho predileto" da Bahia, ministro
da Justiça Manuel Vieira Tosta, barão de Muritiba, "há de atender com todo o cuidado aos interesses da terra que o viu
nascer".

42 Discurso de Araújo Góes, 5/11/1888, BCCD, Anais, 1888, VII, 21; Ambrósio Leitão da Cunha, barão de
Mamoré, para Cotegipe, Rio, 9/3/1887, AIHGB, CC, L18,
D134.

43 César Zama para Rui Barbosa, Salvador, 6/1/1890, CRB, sem número. Sobre a resposta de Zama, ver
ABRANCHES [MOURA], João Dunshee de (ed.). Actas e Actos
do Governo Provisorio, 3ª ed. Rio de Janeiro, 1953, p. 374.

44 José Antônio Saraiva para Afonso Celso de Assis Figueiredo, [Salvador], 11/3/1880, AIHGB, L427, D23; Manuel
Buarque de Macedo para Luís Felipe de Souza Leão, [Rio],
9/3/1880, AIHGB, L456, D74; discurso de Afonso Celso de Assis Figueiredo Jr., 19/7/1888, BCCD, Anais, 1888, III, p.
214.

45 Junqueira para Cotegipe, Rio, 25/10, 8/11/1873, AIHGB, CC L41, D51, D52; JD para PP-BA, Caeteté,
12/12/1856, cópia, APEB, Presidência, Eleições, M.2794;
Pedro Leão Veloso para João Lustosa da Cunha Paranaguá, Salvador, 28/9/1865, AMIP, I-DPP, 30.5.865, Vel. cl-2.

480 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


46 Junqueira para Cotegipe, Salvador, 2/11/1855, AIHGB, CC, L30, D 174.

47 Com a exceção de que após os 60 anos, quando o número de cartas diminuía acentuadamente, a proporção dos
homens pedindo para ir para o interior aumentava.

48 Mesa Parochial para PP-BA, Vitória, 19/9/1860, AN, SPE, IJJ 5-25; discurso de D. Manuel [de Assis
Mascarenhas], 21/3/1850, BCCD Anais, 1850 (P sessão),
II, p. 193. Ver também CARVALHO, Antônio Alves de Souza. O Brasil em 1870, Estudo Político. Rio de Janeiro, 1870,
p. 34-35.

Capitulo 9

1 José Antônio Saraiva para Henrique Garcez Pinto de Madureira, Rio, 2, 10/4/1848, apud PINHO, José Wanderley
de Araújo. Política e Políticos no Império.
Rio de Janeiro, 1930, p. 35-37; BARMAN, Roderick J. e BARMAN, Jean. The Role of the Law Graduate in the
Political Elite of Imperial Brazil. Journal of Inter-American
Studies, 18:4, novembro de 1976, p. 441, 447 (nota 16). João de Souza Werneck e seus dois filhos, Paulino de Souza
Werneck (juiz de paz) e Saturnino de Souza Werneck
(4º suplente de subdelegado), junto com Inácio Barbosa dos Santos Werneck (1º suplente de subdelegado) e José Luís de
Azevedo [Santos?] Werneck, assinaram uma petição
para o afastamento do vigário: Moradores da Freguesia de São José do Rio Preto versus Pe. Manoel Florentino Cassiano
de Campos, Município de Paraíba do Sul, 7/7/1863,
ACMRJ. Queixas contra padres, 1863.

2 Miguel Calmon du Pin e Almeida para condessa de Itapagipe, Salvador, 25/11/1833, apud CALMON, Pedro.
História de D. Pedro II. Rio de Janeiro, 1975, I, 328;
VPPSergipe para MJ, Aracaju, [1851], AN, SAP, Cx. 783, Pac. 2. Um exemplo da participação de uma mulher no
processo de garantir a nomeação para membros da família
servirá: João Vicente Torres Homem, depois barão de

482 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Torres Homem, pediu a Joaquim Henrique de Araújo, barão de Pirassinunga, para ajudá-lo a conseguir um cargo.
Pirassinunga então escreveu a sua mulher, pedindo-lhe
que falasse com seu pai, o marquês de Olinda: Pirassinunga para Bambina (sua mulher), 27/11/1865, AIHGB, L210,
D77.
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

3 Domingos de Souza Leão para Pedro de Araújo Lima, marquês de Olinda, 21/8/1865, AIHGB, L207, D72; PPCE
para MJ, Fortaleza, 8/11/1849, apud URICOECHEA, Fernando.
O Minotauro Imperial: a burocratização do Estado patrimonial brasileiro no século XIX. São Paulo, 1978, p. 114;
Herculano Ferreira Penna (PP-MG) para José Tomás
Nabuco de Araújo (MJ), Ouro Preto, 6/11/1856, AIHGB, L365, D 1 I .

4 José Manoel de Freitas (PP-PE) para João Lustosa da Cunha Paranaguá, visconde de Paranaguá, [Recife], 15/4/
1884, AMIP, I-Dpp, 3.1.884, Fre-cl. 18; LB,
Lei de 1/10/1828, art. 23; Lei, 1846, art. 125; Guaí para Cotegipe, Salvador, 16, 31/10/1885, AIHGB, CC, L38, D19,
D21; Antônio Alves Guimarães de Azambuja para
PP-RGS, Rio Pardo, 1872, AN, SAP, Cx. 781, Pac. 2, Doc. 15. Exclusões de cargos da Câmara Municipal
estenderam-se em 1861 aos sogros e genros: LB, Aviso 386 (Império),
6/9/1861. Ver também ALMEIDA, Cândido Mendes de (ed.). Codigo Philippino; ou, Ordenações e Leis do Reino de
Portugal. Rio de Janeiro, 1870, p. 372 (nota), 373 (nota).
Nos tempos coloniais, uma Câmara Municipal exortou a que não se nomeassem brasileiros para cargos de autoridade
pública no Brasil porque "laços e amizades familiares
pervertem aquela integridade que eles devem ter": BOXER, Charles R.. Portuguese Society in the Tropics: the
Municipal Councils of Goa, Macao, Bahia, and Luanda.
Madison (Wis.), 1965, p. 88 (nota). O rei de Portugal tomou medidas elaboradas - embora inúteis -

Notas do capítulo 9 483


para impedir as conexões familiares entre juízes das Relações e potentados locais no Brasil: SCHWARTZ, Stuart B..
Sovereignty and Society in Colonial Brazil: the
High Court of Bahia and its judges, 1609-1751. Berkeley (Calif.), 1973, p. 177-81. Famílias associavam-se também nos
negócios e pelas mesmas razões; como esse tipo
de vínculo persiste até hoje, dispensam-se maiores comentários.

5 A esse respeito, os brasileiros seguiam o precedente romano: SALLER, Richard P.. Personal Patronage Under the
Early Empire. Cambridge, Ingl., 1982, p. 11,
13.

6 SILVA, Antônio de Moraes. Diccionario da Lingua Portugueza, 8ª ed. Rio de Janeiro, 1889-91; PITT-RIVERS,
Julian Alfred. The People of the Sierra. Londres.
1954, p. 140; Luís Tarquínio de Souza para Serzedelo Correia, Salvador, sal., apud PINHO, Péricles Madureira do. Luís
Tarquínio, Pioneiro da Justiça Social no Brasil.
Salvador, 1944, p. 72; Manuel Pinto de Souza Dantas para Cotegipe (MM), Santo Amaro, 31/3/1856, AIHGB, CC, L19,
D14. Um missivista disse que um aspirante a cargo
era "um amigo de serviços": Domingos de Souza Leão para Pedro de Araújo Lima, marquês de Olinda, Caraúna,
9/10/1865, AIHGB, L207, D72. Lembre-se do caso visto em
um capítulo anterior, de um pai que queria que seus filhos merecessem a "amizade" dele, ou seja, seu patronato.

7 Discurso de Pedro de Calazans, 20/4/1861, BCCD, Anais, 1861, I, 39; Manuel Buarque de Macedo para Luís Felipe
de Souza Leão, [Rio], 9/3/1880, AIHGB, L456, D74; SILVA,
A. de M.. Diccionario; GALVÃO, Miguel Arcanjo. Relação dos cidadãos que tomaram parte no govêrrzo do Brasil no
período de março de 1808 a 15 de novembro de 1889,
2ª ed. Rio de Janeiro, 1969, p. 61; Cotegipe para João Alfredo Correia de Oliveira, Salvador, 21/7/1872, cópia
datilografada, AIHGB, CC, L50, D99.

484 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


8 URICOECHEA, F.. O Minotauro Imperial, p. 116, diz isso; depois é repetido por SAES, Décio. A Formação do
Estado Burguês no Brasil (1888-1891). Rio de Janeiro,
1985, p. 125.

9 Compare LOVE, Joseph L.. Rio Grande do Sul and Brazilian Regionalism, 1882-1930. Stanford (Calif.), 1971, p.
73, que diz que, pelo menos depois da guerra
civil de 1893-95, "família e emprego, que contavam tanto para tantos em outras partes do país, significavam
relativamente menos no Rio Grande [do Sul]".
Página 221
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

10 João Lins Vieira Cansansão de Sinimbu para Pedro de Araújo Lima, marquês de Olinda, Rio, 13/4/1863,
AIHGB, L213, D38; Olinda para Luís Carlos (seu sobrinho),
Ouro Preto, 2/2/1867, AIHGB, L211, D54. O que mais perturbava Olinda era a nomeação de um Joaquim, "o ente mais
desprezível que aqui há, pela incontestável imoralidade;
ébrio incorrigível (...) [apesar de] casado, não duvida, nas perturbações da embriaguez, prestar-se até a outros que têm o
fazer o ofício de outro sexo".

11 Junqueira para Cotegipe, Salvador, 9/7, 5/8, 23/8, 2/10/1856, 9/1, 3/2, 24/3/1857, e, de Teresina, 30/1/1858,
AIHGB, CC, L30, 13178-80, 13182, 13185, 13187, 13190,
13195.

12 Manuel Pinto de Souza Dantas para Cotegipe, Salvador, 31/5/1855, Sto. Amaro, 31/3/1856, Salvador, [início de
1857, ibidem, L19, D3, D14, D2.

13 Junqueira para Cotegipe, Rio, 30/7/1872, ibidem, L31, 1325; Afonso Augusto Moreira Pena para Francisco de
Paula da Silveira Lobo e Afonso Celso de Assis
Figueiredo (1°), Santa Bárbara, 19/3/1876, cartas separadas, ambas em AN, SAP, Documentos de Afonso Pena, não
catalogados na época do uso.

Notas do capítulo 9 485


14 José Bento da Cunha Figueiredo para Cotegipe, Recife, 16/10/1855, AIHGB, CC, L23, 13138. Um tom similar
de ressentimento caracteriza algumas cartas de
Luís Pedreira do Couto Ferraz, visconde do Bom Retiro, para Cotegipe: por exemplo, a de Gastain (Áustria), 11/8/1876
e a da Tijuca, 17/5/1881, ibidem, L22, 13165,
13174. Sobre salários de presidentes, ver PINTO, Caetano José de Andrade. Attribuições dos Presidentes de Provincia.
Rio de Janeiro, 1865, p. 18-22; e NABUCO, Joaquim.
Um Estadista do Império, [3ª ed.?]. Rio de Janeiro, 1975, p. 582; mesmo o rico cafeicultor Brás Carneiro Nogueira da
Costa e Gama, conde de Baependi, teve de pedir
dinheiro emprestado para cobrir suas despesas como presidente de Pernambuco: GAMA, Manuel Jacinto Carneiro
Nogueira da, barão de Juparanã, Testamento. Freguesia
de Santa Teresa [Valença] 1883, p. 8(nota). (O lugar da publicação pode ser fictício.)

15 José Antônio Saraiva para Henrique Garcez Pinto de Madureira, Jacobina, 18/6/1849, apud PINHO. J. W. de A..
Política e Políticos, p. 45-46. Ele finalmente escolheu
ficar do lado do Gabinete: "[Eu] me saí bem na eleição, devendo estar contente o governo pela exclusão completa da
oposição": 10/12/1849, ibidem, p. 47.

16 [João Vieira Machado da Cunha (2º)] para Luís Alves Santos, s.l., [depois de 1882, minuta, AN, SAP, Cód. 112,
v. 9, Doc. 50.

17 Junqueira para Cotegipe, Rio, 5/8/1872, AIHGB, CC, L31, 1327; FIGUEIREDO JR., Afonso Celso de Assis.
Oito Annos de Parlamento. Poder pessoal de D. Pedro
II. Reminiscencias e notas. São Paulo: Melhoramentos, sal., p. 21; SOUZA, Francisco Belisário Soares de. O Sistema
Eleitoral no Império (com apêndice contendo a
legislação eleitoral no período 1821-1889). Brasília, 1979, p. 44.

486 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


18 SOUZA, F. B. S. de. O Sistema Eleitoral, p. 20; MARTINS, Luís de. O Patriarca e o Bacharel. São Paulo,
[1953].

19 Discurso de João Lustosa da Cunha Paranaguá, 16/4/1850, BCCD, Anais, 1850, II, 336; JD para PP-CE, Icó,
19/9/1860, anexo em PP-CE para MJ, Fortaleza, 4/10/1860,
AN, SPE, IJJ 5-43.

20 PP-RN para MJ, Natal, 11/5/1850, apud URICOECHEA, F.. O Minotauro Imperial, p. 271; PP-SE para MJ,
Sergipe, 3/2/1851, AN, SAP, Cx. 783, Pac. 2.

Página 222
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
21 CARVALHO, Antônio Alves de Souza. O Brasil em 1870, Estudo Político. Rio de Janeiro, 1870, p. 62; Manuel
Buarque de Macedo para Luís Felipe de Souza Leão,
[Rio], 9/3/1880, AIHGB, L456, D74.

22 Luís Pedreira do Couto Ferraz, visconde do Bom Retiro, para Cotegipe, Rio, 13/9, 2/10/[1856], AIHGB, CC,
L22, O135, D136. Sobre a riqueza do barão de Nova
Friburgo, ver SWEIGART, Joseph E.. Coffee Factorage and the Emergence of a Brazilian Capital Market, 1850-1888.
Nova York, 1987, p. 78-80.

23 MELLO, Afonso d'Albuquerque. A liberdade no Brasil: seu nascimento, vida, morte e sepultura. Recife, 1864, p.
107.

24 COTEGIPE. Circumstancias que Precederam a Retirada do Ministerio de 16 de julho. In: PINHO, J. W. de A..
Política e Políticos, p. 166-70; citações nas
páginas 166, 167. O ministro da Guerra era Manuel Vieira Tosta (1º), e o Ministro do Império, Paulino José Soares de
Souza (2º).

25 Afonso Celso de Assis Figueiredo, visconde de Ouro Preto, para José Antônio Saraiva, 17/2/1880, Rio, AIHGB,
L274, P 16.

Notas do capítulo 9 487


26 Junqueira para Cotegipe, Salvador, 2/10, 23/8/1856, AIHGB, CC, L30, D 182, D 180, respectivamente (a
referência é ao senador Francisco Gonçalves Martins,
1831-72). Sobre Martins, ver FLORY, T.. Judge and Jury in Imperial Brazil 1808-1871: social control and political
stability in the New State. Austin (Tex.), 1981,
p. 72-73; BARMAN, Roderick J.. Brazil at Mid-Empire: political accommodation and the pursuit of progress under the
Conciliação Ministry, 1853-1857. Tese de doutoramento,
Univ. da Califórnia, Berkeley, 1970, p. 143, 238; PINHO, José Wanderley [de Araújo]. Cotegipe e seu Tempo, primeira
phase 1815-1867. São Paulo, 1937, p. 494-98.
O rival de Junqueira para a nomeação era Zacarias de Góes e Vasconcelos.

27 Joaquim Henrique de Araújo, barão de Pirassinunga, para Bambina (sua mulher), Barbacena, 27/11/1865,
AIHGB, L210, O77; Cotegipe para Junqueira, Salvador,
25/10/ 1872, cópia de rascunho, AIHGB, CC, L31, O40. Sobre a contrastante eficácia de patronos na Inglaterra do
século XVIII, ver HAY, Douglas. Property, Authority
and the Criminal Law. In: HAY, Douglas et al. (ed.), Albion's Fatal Tree: crime and society in eighteenth-century
England. Nova York, 1975, p. 46.

28 Guaí para Cotegipe, Salvador, 19/12/1882, AIHGB, CC, L37, D 165; Cotegipe para João Alfredo Correia de
Oliveira, Rio, 14/2/1870, cópia datilografada de
minuta, ibidem, L50, 086.

29 MELLO, A. d'A.. A Liberdade, p. 114; Junqueira para Cotegipe, Rio, 6/7/1872, AIHGB, CC, L31, 021; Guaí
para Cotegipe, Salvador, 8/10/1884, 10/10/1887,
AIHGB, CC, L38, 013, 072. Um estudioso do Brasil no início do século XX concluiu similarmente que "o líder político,
embora parecesse ser o dono de tudo, passou
a ser ele mesmo propriedade de todos": Rubens do Amaral, apud

488 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


LEAL, Victor Nunes. Coronelismo: the municipality and representative government in Brazil. Cambridge, Ingl., 1977,
p. 150 (nota 41). Ver também FRANCO, Maria Sílvia
de Carvalho. Homens Livres na Ordem Escravocrata, 2ª ed. São Paulo, 1974, p. 86-88 e KENNY, Michael. Patterns of
Patronage in Spain. Anthropological Quarterly, 33:1,
janeiro de 1960, p. 23.

30 Guaí para Cotegipe, Salvador, 23/11/1885, AIHGB, CC, L38, D26.

31 Junqueira (MGuerra) para Cotegipe, Rio, 31/8/1872, 24/11/1873, ibidem, L31, D32, D53.
Página 223
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

32 Luís Pedreira do Couto Ferraz, visconde do Bom Retiro, para Cotegipe, Rio, 10/1/[1854], ibidem, L22, D104;
Manuel Francisco Correia para Cotegipe, Rio,
13/8/1872, ibidem, L17, D57; Afonso Celso de Assis Figueiredo para José Antônio Saraiva, Rio, 2/2/1880, AIHGB,
L274, P16.

33 Ildefonso P. Correia para Manoel Francisco Correia, Curitiba, 11/11/1885, AIHGB, CC, L17, D60; [João Vieira
Machado da Cunha (2º)] para Dr. Brás [Carneiro
Nogueira da Gama (3º), Valençal, 6/5/[1890], minuta, AN, SAP, Cód. 112, v. 9, Doc. 57; discurso de Antônio Cesário de
Faria Alvim, em Congresso Agricola. Coleção
de documentos. Rio de Janeiro, 1878, p. 132.

34 Compare SILVERMAN, Sydel F.. Patronage and Community-Nation Relationships in Central Italy. Ethnology,
4:2, abril de 1965, p. 189 (nota 6).

35 PP-CE para MI, Fortaleza, 29/8/1860, AN, SPE, IJJ 5-43;


FIGUEIREDO JR., A. C. de A.. Oito Annos, p. 21; Guaí para Cotegipe, Salvador, 6/2/1888, AIHGB, CC, L38, D94;
Luís Pedreira do Couto Ferraz, visconde do Bom
Retiro, para Cotegipe, Salvador, 3/3/1856, AIHGB, CC, L22, D95; Cotegipe (PM) para Henrique Pereira de

Notas do capítulo 9 489


Lucena (PP-RS), Rio, 20/11/1885, APEP, Col. Lucena, 562. Ver, para padrões similares posteriores e em outros lugares,
LEAL, V. N.. Coronelismo, p. 15; e LYTTLETON,
N. A. O.. El Patronazgo en la Italia de Giolitti (1892-1924). Revista de Occidente, 127, outubro de 1973, p. 110. O
conjunto de valores que informava o sistema de
clientelismo é discutido criteriosamente por COSTA, Emília Viotti da. Brazil: the age of reform, 1870-1889. In:
BETHELL, Leslie (ed.), The Cambridge History of Latin
America. Cambridge, Ingl_ 1987, V, 735-50.

36 Guaí para Cotegipe. Salvador, 6/9/1877, AIHGB, CC,


L37, D144.

37 PEDRO II. Conselhos à regente (1876). In: VIANA, Hélio. D. Pedro I e D. Pedro II.: acréscimos às suas
biografias. São Paulo, 1966, p. 245.

38 João Mendes de Almeida para Franklin Américo de Menezes Dória, barão de Loreto, Olinda, 8/6/1889, AIHGB, L
174, D2, v. 2, fl. 15.

39 APEB, Presidência, Tesouraria, Exames, M.4588; LB, Decreto 817, 30/8/ 1851, art. 13, Decreto 1.294, 16/12/
1853, art. 9; Cotegipe para Junqueira. Salvador,
26/11/ 1874, cópia de minuta, AIHGB, L31, D60. Sobre os primórdios dos concursos, ver LOPES, Tomás de Vilanova
Monteiro. A Seleção de Pessoal para o Serviço Público
Brasileiro. Revista do Serviço Público, 4:1, outubro de 1952, p. 19.

40 Franklin Américo de Menezes Dória para João Lustosa da Cunha Paranaguá, Salvador, 20/3/1868, AMIP, I-DPP,
20.3.868, Lat-c.; Francisco do Rego Barros, visconde
de Boa Vista, para Pedro de Araújo Lima, marquês de Olinda, Recife, 6/7/1863, AIHGB, L213, D122; Manuel Buarque
de Macedo para Paranaguá, s.l., 6/12/1879, AMIP,
I-DPP, 10.10.879, Mac-c.

490 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


41 SILVA, A. de M., Diccionario.

42 Ibidem.

43 O homem ilustrado é claramente contrastado com o rude homem da roça no discurso de Otoni, 7/3/1861, BCCD,
Anais, 1861, I, 243.

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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
44 Guaí para Cotegipe, Salvador, 16/10/1885, AIHGB, CC, L38, D18.

45. Guaí para Cotegipe, Salvador, 19/12/1885, ibidem, L38, D32.

46 Carlos Luís de Amour para João Lustosa da Cunha Paranaguá, visconde de Paranaguá, 7/11/1882, AMIP, I-DPP,
7.11.882, Amo-cl.; Cotegipe para Junqueira, Salvador,
6/3/1875, cópia de minuta, AIHGB, CC, L31, D64.

47 PP-PA para MI, Belém, 31/1/1870, cópia anexa em João Alfredo Correia de Oliveira para Cotegipe, Belém,
3/11/1870, AIHGB, CC, L50, D84.

48 E quando João Alfredo tornou-se ministro do Império, alguns meses depois, nomeou o mesmo "moço honesto",
presidente do Pará. GALVÂO, Miguel Arcanjo. Relação
dos cidadãos que tomaram parte no governo do Brasil no período de março de 1808 a 15 de novembro de 1889, 2ª ed.
Rio de Janeiro, 1969, p. 147.

Epílogo

1 DUDLEY, Wílliam S.. Institutional sources of Officer Discontent in the Brazilian Army, 1870-1889, Hispanic
American Historical Review, 55:1, fevereiro de
1975, p. 44-65. Em junho de 1889 o general Floriano Peixoto escreveu ao ministro do Império (um civil) em favor de
um amigo, só para ter seu pedido negado: Floriano
Peixoto para Franklin Américo de Menezes Dória, barão de Loreto, Rio, 13/6/1889, AIHGB, L174, D2. Sobre tais
questões talvez dependesse o futuro do Brasil: Peixoto
apoiou o golpe republicano cinco meses depois e tornou-se o primeiro vice-presidente do novo governo, conseguindo
chegar ao cargo máximo em 1891. Supõe-se que quando
ele era presidente suas cartas revelaram-se mais eficazes: Peixoto para não-identificado, Rio, 17/3/1892, BNISM, Col.
Tobias Monteiro, n. 55. Ver também HAHNER,
June E.. Civilian-Military Relations in Brazil, 1889-1898. Columbia (S. C.), 1969, p. 134 (nota 23). No período de
1853-71, 20% dos membros do Gabinete tinham sido
oficiais militares, comparados com meros 6% em 1871-1889: CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a
elite política imperial. Rio de Janeiro, 1980, p. 79.

2 BARMAN, Roderick J. e BARMAN, Jean. The Role of the Law Graduate in the Political Elite of Imperial Brazil.

492 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX


Journal of Inter-American Studies, 18:4, novembro de 1976, p. 436.

3 BRASILIENSE [de Almeida Mello], Américo. Os Programas dos Partidos e o 2º Imperio. Primeira parte:
Exposição de Principios. São Paulo, 1878, p. 30; Manuel
Pinto de Souza Dantas para Rui Barbosa, s.l., [entre 1875 e 1877]. In: DANTAS, Manuel Pinto de Souza,
Correspondência. Rio de Janeiro, 1962, p. 14; Francisco Otaviano
de Almeida Rosa para Afonso Celso de Assis Figueiredo, Rio, 22/12/1882, AIHGB, L427, D24.

4 FIGUEIREDO, Afonso Celso de Assis. Reforma Administrativa e Municipal: parecer e projetos. Rio de Janeiro,
1883, p. xxxvii, xl, 66, 78-81. A ação de várias
legislaturas provinciais é relatada em BRAZIL, Commissão Encarregada de Rever e Classificar as Rendas Geraes,
Provinciaes e Municipaes do Imperio. Relatório e projeto
de lei. Rio de Janeiro, 1883, p. 89.

5 LB, Decreto 7 de 20/ 11 / 1889, art. 2, par. 6.

6 GRAHAM, Richard. Government Expenditures and Political Change in Brazil, 1880-1899. Journal of
InterAmerican Studies, 19:3, Agosto de 1977, p. 368; LOVE,
Joseph L.. São Paulo in the Brazilian Federation 1889-1937. Stanford (Calif.), 1980, p. 302-3; CARVALHO, João
Manuel de. Reminiscencias sobre Vultos e Factos do Imperio
e da República. Amparo, 1894, p. xxiv-xxv; James Fenner Lee para [Secretário de Estado dos E.U.A., James G.] Blaine,
12/12/1890, apud HAHNER, J. E.. Civilian-Military
Página 225
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Relations, p. 35. Ver também César Zama para Rui Barbosa, Salvador, 6/1/1890, CRB, não numerado; [João
Francisco?] Barcellos para Ernesto Vieira, Niterói, 30/8/1892,
AN, SAP, Cód. 112, D70; WEINSTEIN, Barbara. The Amazon Rubber Boom, 1850-1920. Stanford (Calif), 1983, p.
247; WIRTH, John D..

Notas do epílogo 493


Minas Gerais in the Brazilian Federation, 1889-1937.
Stanford (Calif.), 1977, p. 178-80; FORMAN, Shepard e RIEGELHAUPT, Joyce F.. The Political Economy of
Patron-Clientship: Brazil and Portugal Compared. In: MARGOLIS,
Maxine L, e CARTER, William E. (ed.), BRAZIL, Anthropological Perspectives: essays in honor of Charles Wagley.
Nova York, 1979, p. 379-400.

7 Muitas das questões tratadas neste livro, referentes às relações entre líderes locais e nacionais, também são
calorosamente debatidas em relação ao século
XX. Para uma introdução ao debate, ver MARTINS FILHO, Amílcar. Clientelismo e Representação em Minas Gerais
Durante a Primeira República: uma crítica a Paul Carnmack.
Dados- Revista de Ciências Sociais, 27:2, 1984, p. 175-97. Também útil é CARONE, Edgard. Coronelismo: definição,
história e bibliografia. Revista de Administração
de Empresas, 11:3, julho-setembro de 1971, p. 85-92. Como as práticas de clientelismo na Europa são hoje afetadas por
estruturas governamentais antigas é um assunto
explorado por SHEFTER, Martin. Party and Patronage: Germany, England, and Italy. Politics and Society, 7:4, 1977, p.
403-51.

8 FERNANDES, Florestan. A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. Rio de Janeiro,
1975, p. 31-146; CANO, Wilson. Raízes da Concentração
Industrial em São Paulo. São Paulo, 1977, p. 20-87; SAES, Décio. A Formação do Estado Burguês no Brasil
(1888-1897). Rio de Janeiro, 1985. Essa opinião geral do contraste
entre as duas regiões também fundamenta o argumento básico de COSTA. Emília Viotti da. Da Senzala à Colônia. São
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Documentos de Afonso Pena
Seção de Arquivos Particulares
Seção do Poder Executivo
Seção do Poder Judiciário
Arquivo Público do Estado da Bahia, Salvador
Arquivo Público do Estado de Pernambuco, Recife
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Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
Seção de Manuscritos
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-4196 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

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Índice de Ilustrações 13

Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, barão de Pati do Alferes (1824-61), c. 1855 3


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José Tomás Nabuco de Araújo (1813-78), 1861 114
Eleições Violentas, 1872 188
João Lustosa da Cunha Paranaguá (1821-1912), 1861 203
João José de Oliveira Junqueira Júnior (1822-88), 1861 215
João Maurício Wanderley, barão de Cotegipe (1815-89), 1861 216
José Maria da Silva Paranhos (pai; 1819-80), 1861 228
Francisco Belisário Soares de Souza (1839-89) e seu livro, 1873 24~
José Antônio Saraiva (1823-95), 1861 2?~
O Fluxo da Clientela 280
João Alfredo Correia de Oliveira (1835-1919), 1861 334

12 Índice de Quadros

1. Mobilidade Geográfica dos Nascidos Livres, Paróquias Selecionadas, 1872 57


2. Porcentagem de Homens Livres de 21 Anos Registrados para Votar por Região e Província, Início da
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Década de 1870 148
3. Cargos Solicitados 284
4. Cargos Judiciais Solicitados 284
5. Cargos Administrativos Solicitados 285
6. Preferências dos Pretendentes a Cargos por Área 298
7. Preferências dos Pretendentes a Cargos por Nível Administrativo 298
8. Relações Declaradas Entre Patrões e Clientes 306
9. Relações dos Missivistas com os Pretendentes a Cargos por Nível Administrativo do Posto Solicitado
308
10. Relações dos Missivistas com os Destinatários e Pretendentes a Cargos por Posição do Missivista 311
11. Relações dos Missivistas com os Pretendentes a Cargos por Posição do Pretendente 312
12. Razões Alegadas pelos Missivistas em prol de Candidatos a Posições ou Favores. 331

Índice Remissivo

A
Abaeté, visconde de (Antônio Paulino Limpo de Abreu), 108

Abolição da Escravatura, 33, 227-30, 237, 240-256; ver também Emancipação dos Escravos; Escravatura

Abreu, Antônio Paulino Limpo de, visconde de Abaeté,108

Açúcar, 28, 30, 33, 77

Afilhado: definição, 37

Africanos Muçulmanos, 75

Agregados: definição, 38, 50, 55; como votantes, 38, 144-5, 267-8: como lutadores, 39-40, 75, 188-90; e terra, 41, 59;
protegidos do recrutamento forçado, 48-9;
mobilidade geográfica de, 55; como agentes em seu próprio interesse, 59, 188-90; e eleições, 144-5, 184, 252-3; e chefe
local, 175, 188-9, 204, 232-3, 240-

Agrícola, Congresso, 145,167, 252

Albuquerque, Lourenço Cavalcanti de, 282

Alencar, José de, 243, 245, 261

Alfabetização: quando exigida para votar, 142, 158-9, 24D-1, 243, 251, 254, 261, 266-7, 463 (nota 37); extensão
limitada da, 157-8; entre os que conduziam as eleições,158-9

Alforria, ver Emancipação dos escravos

Alfredo Correia de Oliveira, João, 216, 230, 235, 296, 321, 334-5

Algodão, 30

Amazonas, região do Rio, 31-2

Amigos, 40, 303-10; ver também Clientela, Amizade

Amizade, 323-4, 330-3; ver também Amigos

Anadia, barão de (Manuel

Joaquim de Mendonça Castelo


520 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX
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Branco), 433 Atitudes Senhoriais 347


(nota 18) Ato Adicional, 73-4, 77, 272;
Analfabetismo, Reinterpretação do, 77-8
ver Alfabetização
Autonomia provincial,
Anarquia, 110-1 ver Federalismo
Andrada e Silva, José Bonifácio Autoridade do pai
de Andrada e, 70, 140 (paterfamilias), 34
Ansiedade nas cartas de Autoridade Moral, 112-3
recomendação, 312-23
Autoridade pública e
Aparato governamental, domínio privado, 17-8, 272
82-100
Avaliação a respeito de
Araújo, José Tomás nomeações para cargos, 326-7
Nabuco de, 43, 108,
113-4, 171-2, 246
Arcebispo, 288 Bacharel (bacharéis), 245;
Argentina, 76 definição, 96-7, 328; e chefes
locais, 207, 240-,318; como
Armas usadas na
"ocupação" de deputados, 234;
violência eleitoral, 186
papel na unificação do Brasil,
Arrendatários, 37 272; e a República, 340
Arsenal de Guerra, 126 Baependi, conde de (Brás Carneiro
Artesãos, 33, 54, 68 Nogueira da Costa e Gama), 145

Aspirantes a cargos,
Bahia, 295

bases para recomendação Baía de Sepetiba, RJ, 169


de, 323-38
Banqueiros, 233, 341-2
Assalariados, ver Pobres livres
Barbosa, Rui, 219-,
Assembléia Constituinte, 234-, 242-3, 254, 258
71, 73, 143
Base social dos partidos, 231-7
Assembléias Provinciais,
73-4, 78, 172, 316-7, Bastos, Aureliano Cândido
342-3, 381 (nota 7) Tavares, 115, 249
Atas da mesa eleitoral, Bêbados, 89
158-, 182- Belém, PA, 75

Índice Remissivo 521

Benevolência, 43-, 130

Bico de pena, 183

Bispos, 85, 123,


192, 261-2, 288

Bocaiúva, Quintino, 343

Bonifácio de Andrada e Silva, José, 70, 140


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Borracha, 32

Breves Júnior, Joaquim José de Souza, 234, 253

Breves, Joaquim José de Souza 169

Bueno, José Antônio Pimenta, 108

Bulwer-Lytton, Edward George, 211

Burocracia, 239-40, 344

Burocratas: os principais instrumentos de execução da lei, 87-8; papel nas eleições, 121-4; voltados para a Europa, 240;
nomeações, mencionadas nas cartas de recomendação,
280, 284-5, 292, 336-7; como clientes, 322

Cabeça do lar, 34-5,


39-40, 418 (nota 21)

Caçapava, SP, 195-205


pa.s.sim, 210, 222

Cacau, 31

Cachoeira, BA, 31

Café, 28-30, 33, 77, 199, 239, 292

Câmara dos Deputados, 52, 71, 103, 113, 265; ver também Deputados

Câmaras Municipais: origens e poder, 67, 73, 79-80, 382 (nota 8); e a elaboração da Constituição, 71-2, 140-1; e juízes
municipais. 73, 79-80; membros das, eleitos
diretamente, 141; papel nas eleições para Deputados, 155-6, 159-60, 250; e classe proprietária, 171; de Caçapava, 200;
parentes próximos não podiam servir juntos
nas, 303-4

Câmara, Euzébio de Queirós Coutinho Matoso da, 81, 97

Caminha, Pero Vaz de, 271, 279

Campanhas eleitorais, 150-2, 186-9

Campos, RJ, 28

Canais de clientelismo, 273-82

Cantigas de escravos (modinhas), 170

Capangas, 46-7, 128, 185; papel nas eleições, 128, 246

Capelas em fazendas, 60, 93, 170

Capitalismo, 105-6

Capoeira, 46-7
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Carcereiros, 96, 124

Cardoso, Fernando
Henrique, 18
522 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Cartas como parte de campanha política, 205-6

Cartas de recomendação, 271, 277-338, 344

Carvalho, Marcelino José de, 201-2

Castelo Branco, Manuel Joaquim de Mendonça, barão de Anadia, 433 (nota 18)

Castro e Silva, família, 303

Cavalcanti, Antônio Francisco de Paula Holanda, 224, 233

Cavalcanti, família, 172

Caxias, duque de (Luiz Alves de Lima e Silva), 108

Ceará, 172, 217

Cédulas: descrição, 120-1, 154, 159, 181-; queimadas, 163; falsas, 181-2; preparada por chefes locais, 104-5

Celso, Afonso, 131, 218, 313, 342; ver Figueiredo, Afonso Celso de Assis, visconde de Ouro Preto

Celso Júnior, Afonso, ver Figueiredo Júnior, Afonso Celso de Assis, 266

Censo, 59, 147

Centralização do governo, 69, 75, 82; ver também Descentralização

Centro Liberal, 218-9

Centro-Sul, 33, 229

Certificado de registro, 250

Cervejarias, 240

Chapelarias, 240

Chaves, José Augusto, 214

Chefe de Polícia, 87, 94, 115,


124, 127, 197, 200, 274

Chefe rural, ver Chefes locais

Chefes locais: e eleições, 16-7, 124-5, 130-6, 150-3, 167-81, 188-9, 193-4, 244-, 259-61; e clientelismo do governo
central, 17, 87, 207-8, 221-2, 235-6, 276-7,
293; dependentes de seus próprios protegidos, 17, 188-9, 233; como protetores, 39-40, 48, 55-6, 87-8, 165, 175, 204,
240-; uso de violência pelos, 39, 177-8, 188-9,
196, 204; e juízes e oficiais de polícia, 40, 87, 94-5, 98, 293, 318; como homens ricos, 40-1, 87, 167-79, 201-2, 441
(nota 2); e Guarda (Nacional, 50, 91, 131;
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e instituições do governo, 68, 165; e Gabinete, 84-7, 132, 172-6, 208-9, 220, 346; e a necessidade de vitória eleitoral,
111; e Juntas de qualificação (registro
eleitoral), 146; nas pro-víncias, 167-72, 175-6, 340; e Deputados, 172-3, 205-9, 220-1, 229-31, 235, 317-23, 346; e
presidentes provinciais, 175-7, 196-7, 318; e
acontecimentos em Caçapava, 195-205; e Colégio Eleitoral, 205-7; e escravatura, 228-9; não comprometidos com
programas, leis, ou partidos, 229, 232, 235-6; e grupos
urbanos

índice Remissivo 523

e bacharéis, 183-4, 244-5, 318; sob a República, 343; ver também Coronel

Chefes Municipais, ver Chefes Locais

Chichorro da Gama,
Antônio Pinto, 224

Cidades: número e tamanho, 32-3, 239-40, 359 (nota 7); eleições na, 121; tendências políticas das, 169-, 231-2; e
agregados, 233, 363 (notal7); e Deputados, 234;
e chefes locais, 240-, 244-5, 317-; e reforma eleitoral, 245-6; e lealdade política, 325-6; e a República. 341-2

Classe inferior, ver Pobres livres

Classe média, 53-4, 231-4, 239-41

Classe proprietária: desejo de ordem, 16, 60, 208; e instituições governamentais, 19-20, 40, 60-4, 75. 82-7, 167-79,
228-9, 236-7, 265-6; e sistema fundiário, 40;
e delegados, 40, 87, 167-75; e juízes, 40, 94, 99, 171: como chefes locais, 40-1, 167-79, 265; diferenciada dos pobres,
53; valores da, 61-2, 240-1; teme os escravos
e os pobres, 68-9, 74-5; e revoltas regionais, 74-5; e Pedro II, 82-5: e a Guarda Nacional, 91, 168, 171-9; e partidos,
231-2; e reforma liberal, 235; propostas
para restringir o voto para. 243-5; e reforma eleitoral, 258-60, 260-I, 262-3: e clientelismo, 344-5, 348;

ver também Proprietários de terras; Comerciantes; Agricultores; Estancieiros

Classe social. 53-4, 60-5, 76, 231-7, 366 (nota 25); ver também Pobres livres; Proprietários de terras; Comerciantes;
Classe média; Classe proprietária; Hierarquia
social

Clientela, 39-40, 131, 165, 274-5, 304-6; ver também Amigos

Clientela: definição, 38

Clientela, valores da, 323-4

Clube da Reforma, 226

Código Comercial, 81, 225

Código Penal, 73, 79

Coerção nas eleições, 120-30

Colégios Eleitorais: escolhem deputados e senadores, 17, 103; atribuições e atividades dos, 155-6; dominados por
chefes locais, 20512: reforma proposta dos, 246;
ver também Lei eleitoral; Eleitores

Comadre: definição, 37
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Comerciantes de vilas e aldeias rurais, 39

Comerciantes portugueses. 232

Comerciantes, 20, 53. 232, 341; urbanos, 232, 240, 251, 259

Comércio de escravos, 33. 81, 170, 225, 240


524 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Comércio livre, 225

Compadre: definição, 37

Concessão de cargos, 273

Concursos, 326-7

Condição social, 49; ver também Hierarquia social

Conflito de gerações, 317

Congresso Agrícola, 145, 167, 252

Conrad, Robert, 229

Conscrição, 46-9, 89-90, 129-30, 189, 226, 250

Conselho de Estado: anteprojeto da Constituição de 1824, 71; abolida e restabelecida, 73, 79-80; participação e funções,
84-5, 100; envolvido na briga da família
Breves, 170; e escravatura, 227; nas eleições, 254-63,

Conselho, ver Conselhos eleitorais; Conselhos de registro

Conselhos de registro (juntas de qualificação), 146, 155-6, 419-20 (nota 25)

Conservador, Partido, ver Partido Conservador

Constituição de 1812 (espanhola), 139

Constituição de 1823, anteprojeto, 71, 143

Constituição de 1824, 34, 71, 140-4 passim, 226, 254-

Construção do país (nação), 212, 299

Controle social, 41-60, 106-7, 345-6

Coronel (coronéis) e coronelismo, 92, 131, 167, 175, 343-4; ver também Chefes locais

Corporação de trabalhadores no Pará, 75

Corporação (Corpo) Policial provincial: estrutura e função, 91-2, 227, 241, 392 (nota 38); em Caçapava em 1860, 197;
papel nas eleições, 125, 127-30, 190

Correia de Castro, família, 167-8

Correio, 123, 285


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Correligionário: definição, 305

Corte transferida para o Rio de Janeiro, 69, 271

Cortes (Parlamento Português), 70, 139

Costa, João Moreira da, 195-204 passim

Cotegipe, barão de (João Maurício Wanderley): nas questões políticas e personagens, 109, 112, 202, 255, 320; e
clientelismo, 133, 275, 305, 321-3, 327; esforço na
construção do partido, 212-7; e Junqueira, 213-6, 221, 235, 290, 313-4, 320-3; e lealdades pessoais, 214-7, 304-5; e
Dantas, 220, 314; como chefe de Gabinete, 230;
como senhor de engenho, 235; e João Alfredo Correia de Oliveira, 235, 321; e Guaí, 235; e

Índice Remissivo 525

regionalismo, 295-6; e José Bento da Cunha Figueiredo, 315

Coup d'etat, ver Revolta

Couro, 32

Crescimento econômico e desenvolvimento, 28-9, 239-40, 292-4

Criados de servir, 143

Criados domésticos, ver servos

Danças, 89, 152

Dantas Itapicurú, José, 37, 173

Dantas, Manuel Pinto de Souza: começo de carreira, 36, 120, 174, 205, 291; na política, lll, 342; demitido do governo
local, 133; e chefes locais, 174; e disciplina
partidária, 217, 220; e lealdade pessoal, 219; e Guai, 219; e Barbosa, 219, 258; e Cotegipe, 314-5; como
primeiro-ministro, 228; e emancipação dos escravos, 228-30;
demite seus inimigos, 275

Dantas, Rodolfo Epifânio de Souza, 210, 235

Dantas-Saraiva, projeto de lei, 230

Deferência, 56-60, 61-2

Delegados e subdelegados: definições, 79-80; e chefes locais, 40; e a classe proprietária, 40, 265; e eleições, 80-2, 122,
124-5, 130, 195-204 passim, 250; e leis
de 1841, 1846, 1871, e 1881, 80-2, 87, 226-7, 259; e gabinetes, 85; e

outros ocupantes de cargos, 87, 176, 179-80, 274; substitutos de, 87; riqueza de, 87, 171-2; número e poderes de, 87-8,
96; e recrutamento forçado, 89-90; em Caça-pava,
195-204 pascim; nas cartas de recomendação, 280, 281, 288, 291, 325, 336; lealdade pessoal esperada em, 325; têm de
ser alfabetizados, 423-4 (nota 43)

Delitos menores, 46

Demissões, 132, 274

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Democracia, 103, 242-3

Dependência internacional, 18, 100

Deputados: uniformes de, 99-100; e eleitores, 103, 205-7, 317; credenciais de, 155-6; e chefes locais, 172-3, 205-9,
220-1, 229-31, 235, 317-23, 346; garantia de
nomeações, 206; educação dos, 207; e Gabinetes, 134-5, 208-10, 220, 229-30, 318, 346-7; e disciplina partidária, 218-9;
e relações de classe de, 234-5; e cartas
de recomendação, 279-82; ver também Câmara dos Deputados

Derrubada do Império, 339

Descentralização, 341-3; ver também Centralização do governo

Desembargadores, 94

Desenvolvimento e crescimento econômico, 28-9, 239-40, 292-4

Desertores, 370 (nota 40)

Desigualdade, ideologia da, 242-3


5267 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Desobediência, ver Obediência

Despotismo, 110

Deter propriedade como exigência para votar, 142, 256

Direito, Faculdade de, ver Faculdade de Direito

Direito, juiz de, ver Juiz de direito

Direitos de posse da terra alheia (ou devoluta), 41, 262-3

Direitos individuais, 103, 231

Diretórios partidários, 217

Distritos Eleitorais, 108-9, 264-7

Dízimo, 93

Domínio particular e autoridade pública, 17-8, 273

Donos de armazém
(no interior), 39

Dória, Franklin Américo de Menezes, barão de Loreto, 278, 294

Duarte, Nestor, 20

Duplicatas de atas de mesas eleitorais, 183, 192

219; de 1886, 112, 210, 265;


de 1890, 267
Eleições: condução das, 17-8,
120, 140, 150-63; decididas pelo
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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Conselho de Estado, 84-5; e
presidentes provinciais, 86, 116-7,
118; freqüência e regularidade das,
103, 113, 141-2; indiretas e depois
diretas, 103, 140-1, 242-9, 256-7;
impulsos contraditórios por trás
das, 104-13; e o imperador, 113-4,
133, 135; e o Gabinete, 114-5,
134; anulação das, 117-8, 141-2,
203; e juízes, 118-20, 123, 134;
e professores, 122; e "incompatibi
lidades", 123; e delegados, 124-5;
e Exército e Guarda Nacional,
125-9, 131; e recrutamento forçado,
129-30; teatro das, 150-63, 242,
262; violentas, 165-6, 185-93;
fraudulentas, 179-85; e compro
misso, 191-2; em Caçapava, 197;
número de candidatos nas, 213; em
programas partidários, 245-6, 250;
durante a República, 267, 344; ver
também Eleição; Juntas (mesas)
eleitorais; Campanhas eleitorais;
Colégios Eleitorais; Distritos
eleitorais; Lei eleitoral; Eleitores;
Conselhos de qualificação;
Votação; Votantes

Eleitores, 256; e Deputados, 103,


Editais, 150-1 205-7, 317; como eram eleitos,

Educação, 207, 329; 142; funções dos, 142, 145, 155-6:


ver também Alfabetização freqüentemente chefes locais, 205;
depois de 1881, 256, 263

Eleição: de 1848, 81; de 1856,


400 (nota 8); de 1860, 126-8, 217;
de 1872, 186; de 1881, 214, 219,
263-4; de 1884, 264-5; de 1885,

Emancipação dos Escravos, 45-6, 225-30, 256; ver também Abolição da escravatura; Escravatura

Índice Remissivo 527

Empregomania, 275

Engenheiros, 240

"Era das Revoluções", 105

Escada, PE, 171

Escola, ver Faculdade de Direito; Faculdade de Medicina; Professores

Escravatura: presente em todo O Brasil, 33; e a "família", 34, 37, 44-5; abolição da, 33, 237; como uma causa política,
227-30, 232, 240; e Gabinete Saraiva, 256;
ver também Abolição da escravatura; Emancipação de escravos; Escravos

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Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Escravos: seus números, 33; como criados e trabalho na agricultura, 33; fugas, 39, 68, 92; troca de obediência por
benevolência, 44; punições de, 44; resistência
de, 45; alforria e emancipação de, 45-6, 226; temidos, 68-9, 75-6; e revoltas, 74-5; e inspetores de quarteirão, 89;
pertencentes a padres e juízes, 93-4; e eleições,
142, 162; e suas cantigas, 170; e Breves, 170; ver também Escravatura

Escrivães, 96, 283

Estados Unidos, L05-6, 211, 251, 293

Estamento, ver Ordens, Brasil como uma sociedade de

Estancieiros, 32, 76, 225, 253; ver também Gado

Estradas de Ferro,
81, 239, 339, 341

Euzébio de Queirós Coutinho Matoso da Câmara, 81, 97

Exames para o serviço civil, 326-7

Exército: alistamento forçado, 46-9; condições no, 47; raça dos recrutados no, 47; e a Guarda Nacional, 48; portugueses,
71; dimensões do, 73, 80, 92, 190, 340;
promoções no, 85, 340; e chefes locais, 92; motins, 92; e a manutenção da ordem, 92, 196, 226-7; oficiais no, como
candidatos à eleição, 122; e coação nas eleições,
126, 128-9; oficiais no, como votantes, 142, 245, 251, 259; e presidente provincial, 409 (nota 48); ver também Forças
Armadas

Exportações, 28-30, 32, 100

Fábricas de Sapatos, 240

Facção ou Partido liberal: e eleições, 21, 126-7, 266; no poder em nível nacional, 72, 79, 81, 224, 227; e Exército e
Guarda Nacional, 73, 92; e lei eleitoral, 80-2,
109, 141, 252-8, 265-7; política conservadora da, 81, 223; disciplina e organização da, 207, 217, 227-30; e Gabinete da
Conciliação, 211; nas províncias, 216-20,
224-5, 231-2; programa da, 226, 233-4, 252, 342; e a questão da escravatura, 227-30; e classe social, 232

Facções: locais, 74-5, 166, 173-4, 176-7, 191-2, 199-200, 2 I O- I , 237-8; provinciais, 221-2, 282

Faculdade, ver Professores


528 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Faculdade de Direito, 96-7, Feijó, Diogo Antônio, 77, 80


122, 286, 291, 341, 343;
Ferrovias, ver Estradas de ferro
ver também Professores

Faculdade de Medicina, 122, 286;


ver também Professores

Fala do trono, 85

Família: e política, 34-6, 206-7,


235-6, 319-20; imagem da, 34, 42,
62, 331; e o Estado, 35, 62, 331; e
a escravatura, 44-5; em Caçapava,
204; e clien-telismo, 302-3, 305-10,
Página 250
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
323-4, 347

Faoro, Raymundo, 21
Faria, José Dutra de,
195-204 passim
Fatores de Unidade entre
os brasileiros, 32-41
Fazendas, capelas de,
60, 93, 170
Fazendeiros: e revolta
de 1842, 80; e Gabinete,
79-82, 225, 318; como chefes
locais, 168-72; papel nacional dos,
231-2; como emprestadores de
dinheiro e banqueiros, 233; e
grupos urbanos, 233, 241, 255;
interesses dos, 249; e lei eleitoral
de 1875, 251; no Congresso
Agrícola, 252; e vereador
provincial, 316-7; e a República,
339-40; e valores senhoriais, 347;
ver também Café; Proprietários de
terras; Classe proprietária; Açúcar;
Pequenos fazendeiros; Sitiantes;
Gado; Estancieiros

Federalismo, 233, 342

Festas, 151-2, 289

Figueiredo, Afonso Celso de Assis, visconde de Ouro Preto, 131, 218, 313, 342

Figueiredo Júnior, Afonso Celso de Assis, 266

Figueiredo, José Antônio de, 243-4

Figueiredo, José Bento da Cunha, 315

Filhos-famílias (dependentes do pai), 34, 142

Filhotismo: definição, 347

Fiscais de apuração de votos, 435-6 (nota 30)

Flory, Thomas, 98

Força, ver Violência

Forças Armadas, 287, 292, 310, 336, 491 (nota 1); ver também Exército; Marinha

"Fósforos": definição, 118; mencionado, 181

Franco, Luiz Acioli Pereira, 206

Fraude, 179-85

Fronteiras, do sul, 225

Página 251
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Fundições de Ferro, 240, 286

Gabinete de Conciliação, 103, 108, 211-2, 226

Índice Remissivo 529

Gabinete, membros do,


71-2, 100, 207, 279-80

Gabinete: mulatos no, 52-3; devem ter apoio do imperador e confiança da Câmara, 71, 83-4, 103, 113, 134-5; e o
Conselho de Estado, 85; responsabilidades do, 85-6;
e interesses dos donos de terra, 86; e chefes locais, 86, 209, 220, 277, 318-9, 347; papel nas eleições, 115, 127, 132,
213; e juízes, 118-9, 316; e deputados, 134-5,
208-10, 220, 229-30, 318, 346-7; e violência local, 190-4; e facções locais, 210-2; e o exercício do clientelismo, 273-4,
319-20; balanço regional no, 295-6, 339;
nos laços de família, 319-20; de 1837, 77-8; de 1841, 79; de 1844, 224; de 1848, 81, 224-32; de 1853 (Conciliação),
103, 108, 211-2, 226; de 1868, 226; de 1871,
226, 249-50; de 1875, 250; de 1878, 227, 251-6; de 1880, 256, 296; de 1884, 227-8, 264; de maio de 1885, 228-9; de
agosto de 1885, 229-30, 265; de 1888, 296; primeiro
Republicano, 343

Gado, 32, 199; ver também Estancieiros

Gama, Antônio Pinto


Chichorro da, 224

Gama (3°), Brás Carneiro


Nogueira da Costa e, 323

Gama, Brás Carneiro Nogueira da Costa e, conde de Baependi, 145

Gêneros alimentícios, laxação sobre, 59

Generosidade com os pobres, 43, 60

Genrismo, 343

Geremoabo, barão de (Cícero Dantas Martins), 210

Góes Júnior, Inocêncio Marques de Araújo, 214

Goiás, 297

Governo Central, 166, 172-6, 221, 229, 344

Governo Colonial, 68

Governo de Coalizão, ver Gabinete de Conciliação

Governo Parlamentar, 71, 103

Guaí, barão de (Joaquim Elísio Pereira Marinho), 219, 235

Guarda Nacional: e o Exército, 48; organização e estrutura da, 50-1, 73, 81, 91-2, 226; e estrutura de classe, 50-I, 91,
171-2; e Liberais e Conservadores, 73, 81;
e clientelismo, 81, 91, 207, 281, 288. 291, 336; e Gabinetes, 85, 207; e presidentes provinciais, 91; e eleições, 125-9,
131, 160-3, 250; uniformes de oficiais na,
160-1; e delegados, 176; lealdade pessoal esperada na, 324-5
Página 252
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

Guerra, ministro da, 287

Guerra Civil no Rio Grande do Sul, 76, 79


530 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Guerra do Paraguai, 49, 91, Idade para votar, 142


92-3, 129, 189, 240, 292, 340
Identificação dos votantes, ver
Votantes, identificação dos
Ideologia, 20, 22, 105-6,
Haiti, 68
229, 231, 243, 345

Herval, marquês do
(Manuel Luís Osório), 126, 131
Hierarquia social: em toda insti
tuição, 42-3, 49-50, 59-60; como
forma de controle social, 49-53; e
mobilidade social, 52-3; e eleições,
139, 152-4, 156-7, 164; em cartas
de recomendação, 301, 312, 323-4,
328-9, 331-2; ameaçada por
desafios políticos, 345
Hollanda, Sérgio Buarque de, 18
Homem, Francisco de Sales Torres,
visconde de Inhomerim, 234

Homens bons, 68, 247

Homens livres: na sociedade, 49,


53; e revolta, 76; como votantes e
eleitores, 142-50, 241, 249, 260,
267-8, 344-5
Homens: autoridade dos,
sobre as famílias, 34;
voto de, 142-3

Igreja, 93-4, 288; ver também


Bispados; Igrejas, edifícios das;
Padres; Religião

Igrejas, edifícios das, 156, 262

Igualdade, valores de, 242-3

Iluminismo, 82-3

Imigração, 233, 249, 253, 256

Imperador, 61, 83> 103,


113, 342, 344; ver também
Pedro I; Pedro II

Impostos, 59, 236, 343

"Incompatibilidades", 123

Página 253
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Índios, 75

Indústrias, 240

Industriais, 240, 251, 259, 341

Influência européia,
105-13, 192-3, 211, 240

Inhomerim, visconde de
Homossexualidade,

(Francisco de Sales 484 (nota 10)


Torres Homem), 234

Honestidade, 326
Inspetor de alfândega, 290

Inspetores de quarteirão,
79-80, 89-90, 96, 124
Icó, Ceará, 145

Interino, 274

Icó, visconde de (Francisco

Fernandes Vieira), 172 Irmandade leiga, 54, 93

Índice Remisrivo 531

Itaboraí, visconde de (Joaquim José


Rodrigues Torres), 78, 81, 226, 319

Itapicuru, José Dantas, 37

Jaguaribe, Hélio, 292

Jefferson, Thomas, 410 (nota 58)

Jequitinhonha, visconde de
(Francisco Gê Acaiaba de
Montezuma), 462 (nota 31)

João VI, 27, 70

Jornaleiros, 143

Jornalismo, 234

Juiz comercial, 95

Juiz de direito: e chefes locais, 40, 171, 318; nomeação de, 73, 79, 343; c delegados, 87; mandato c promoção do, 95;
número de juízes, 96; e eleições, 118-20, 123,
180, 250, 260; e classe proprietária. 171; e presidentes provinciais, 179; funções do, 226; cargos procurados como, 283;
e Gabinete, 118-9, 316; ver também Juiz
municipal substituto; Juízes

Juiz de órfãos, 95
Página 254
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

Juiz municipal substituto, 95

Juiz municipal: funções do, 79; mandato e promoção do. 95; número de juízes, 96; e eleições, 115, 118-20, 123, 180,
260; e presidentes provinciais, 180, 195, 200;
nos acontecimentos em Caçapava, 195, 201; e classe

proprietária, 265; cargos procurados como, 283

Juízes, coroa, 73

Juízes de Paz, 73, 79, 141, 146, 168, 171, 180, 183, 195-204 passim

Juízes: e Gabinete, 85, 98, 119-20; educação e carreira dos, 94, 96-7, 234, 317; riqueza dos, 94, 99, 171; e chefes locais,
98, 207. 318; e eleições, 118-20, 123,
134, 250, 260; mandato e transferência dos, 119-20, 226, 250; e presidentes provinciais, 176; nas cartas de
recomendação, 280, 310; cargos procurados como, 283,
291; lealdades pessoais dos, 325: ver também Juízes de Paz; Juiz de direito; Juiz municipal; Superior Tribunal Regional

Junqueira Júnior, João José de Oliveira: e eleições, 125-6; e partido, 213-7; e Cotegipe. 213-6, 221, 235, 290, 313-4,
320-3: e lealdades pessoais. 214; começo de
carreira de, 277. 290-1, 313-4; como protetor, 291

Justiça nas nomeações. 326

Lacerda Werneck, família, 168; ver também Werneck como sobrenome

Lafaiete Rodrigues Pereira, 221

Lar, 37-8

Lealdade: trocada por benefícios (favores), 42, 61, 130, 271;


532 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

demonstrações de, 47, 105, 204; e ações de políticos, 205, 214-7, 219, 228-9; pessoal, 214, 219-; ao partido, 214,
222-31; valorizada, 324-5

Leão, família de Pernambuco, 36

Leão, Honório Hermeto Carneiro, marquês do Paraná, 79, 108, 171

Leão, Luís Felipe de Souza, 296

Legislação, ver Lei

1, 107, 141, 180, 303; de 1855, 108; de 1860, 109, 141; de 1875 (lei do terço), 109, 250; de 1881, 110, 148, 158,
256-63; sob a República, 267; ver também Eleições;
Juntas eleitorais, Colégios eleitorais,

Lei Rio Branco, ver Lei do Ventre Livre

Lei sobre a terra,


81, 233; ver também
Sistema fundiário

Lençóis, Bahia, 187

Legitimação, 105, 106, 113


Página 255
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

Ler e escrever, ver Alfabetização


Lei Áurea, ver Abolição
Liberalismo, 53, 103, da Escravatura

105-13, 231-7, 242-3

Lei comercial, 81, 225

Liberdade e ordem, 110

Lei da Abolição da Escravatura,

Liberdade. 105, 110 ver Abolição da escravatura

Lei de 1841, dando funções


judiciais à polícia, 79, 226, 272

Libertos, ver Homens Livres

Líderes locais, ver chefes locais

Lei de 1871, separando funções Liga ou Partido Progressista,


judiciais e policiais, 226 103-4, 114-5, 245, 287
Lei do Terço, 109 Lima (2°), José Inácio
de Abreu e, 244
Lei do Ventre Livre,
33, 213-4, 227, 241, 247 Lima, Álvaro Tibério de
Moncorvo, 404 (nota 23)

Lei dos sexagenários, 229-30


Lei eleitoral: destinada a intensi
ficar a honestidade, 107-9; sobre a
presença de militares, 129-30; sobre
quem podia votar, 142-5; sobre as
cédulas, 182; carta da, observada,
183; atacada e defendida, 242-9;
reforma da, 249-67; de 1822, 139
40, 143; de 1842, 80; de 1846, 80-

Lima, Pedro de Araújo, marquês de Olinda, 78, 81, 225, 233, 278, 287, 294

Lins, Henrique Marques, 171

Lisboa, 69, 289

Locais, interesses, 69, 121

Locke, John, 106

Loreto, barão de (Franklin Américo de Menezes Dória), 278, 294

Luto, 35

Luzias, ver Facção ou Partido liberal

Macedo, Manuel Buarque de, 296,

Página 256
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Magistrados, ver Juízes

Mangaratiba, RJ, 169, 170, 171, 253

Manifesto Liberal-Radical, 342

Manufaturas, 240

Mão-de-obra contratada, ver Pobres livres

Marambaia, 169, 170, 171

Maranhão, 69, 71

Marinha, 46, 48, 90, 121, 128, 245; ver também Forças Armadas

Marinho, Joaquim Elísio Pereira, barão de Guaí, 219, 235

Maroim, barão de (João Gomes de Melo), 208, 210, 303

Martins, Cícero Dantas, barão de Geremoabo, 210

Martins, Francisco Gonçalves, 320, 487 (nota 26)

Martins, Gaspar Silveira, 253. 256

Mato Grosso, 290, 297

Matoso da Câmara, Euzébio de Queirós Coutinho, 81, 97

fndice Remirrivo 533

Médicos, 287; ver também Faculdade de Medicina

Mesas eleitorais de votantes; formação das, 81, 140-1; atribuições e atividades das, 153-4; atas das, 158-63, 183-5, 200;
desqualificação do presidente das, 180;
e conselho de qualificação (registro), 419-20 (nota 25); ver também Eleições; Lei eleitoral

Melo, João Gomes de, barão de Maroim, 208, 210, 303

Membro do partido, colega, ver Correligionário

Mendigos, 89

Mérito de pretendentes a cargos, 326

Mesa, ver Juntas eleitorais: Juntas (conselhos) de qualificação (registro)

Minas Gerais: e pecuária, 32; e revoltas, 68, 80, 224; ressente-se com a proximidade da corte, 69; liberais em, 72-3, 218,
224; e cartas de recomendação, 294, 337;
na República, 343

Ministro da Agricultura e Obras Públicas, 279, 281, 296

Ministro da Guerra, 91, 127, 392 (nota 38)

Ministro da Justiça, 91, 129, 127. 274, 279. 281, 288, 295

Página 257
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Ministro da Marinha, 287

Ministro do Império,

118, 285, 288


5334 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Minoria, 105, 106-9, N


111-13, 265-6, 400-1 (nota 8)
Nabuco de Araújo, José Tomás,
Miranda Jordão, família, 168 43, 108, 113-4, 171-2, 246
Missa, celebrada em Nabuco, Joaquim, 18, 63,
atos eleitorais, 157 81, 123, 219, 260

Mobilidade geográfica, 42, 54-7, 345

Nacionalismo. 341

Negros livres e mulatos: proporção


Mobilidade social, de, 45; no exército, 46; na política,
52-3. 301, 310-2 52-3. 127; medo da escravidão
Moleques, 88 entre os, 58-9; em Salvador, 68,
75; revolta dos, 68, 92; crianças
Montezuma, Francisco Gê (moleques), 88; na escola de
Acaiaba de, visconde de Direito, 97; ver também Pobres
Jequitinhonha, 462 (nota 31)
livres; Libertos
Morador, ver Agregados
Nepotismo, 303, 343
Morais, José Gonçalves de,
Nível de posição desejado por
barão de Pirai, 169
aspirantes a cargos, 297-8
Moreira, Francisco Alves,
Nobre rural, ver Chefes locais
195-204 pa.c.sim

Moreira, Francisco Inácio de


Carvalho, barão de Penedo, 302
Moura, Joaquim Francisco
de, 443 (nota 12)

Mulatos, ver Negros


livres e mulatos

Mulheres: e cabeças do lar, 34-5,


418 (nota 21); excluídas do direito
de votar, 142; e eleições, 162;
papel na política, 206-7, 236; e
rede de clientelismo, 302-3;
mantidas fora do comércio,
360-1 (nota 10)
Muritiba, barão de (Manuel
Vieira Tosta), 479 (nota 41),
486 (nota 24)

Nova Friburgo, barão de


(Antônio Clemente Pinto), 318
Página 258
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

Obediência, 42-6, 48, 60-I, 130

Ocupações dos Deputados. 234-5

ocupantes de cargos públicos,


121-3, 130-5, 141-2, 274

Oficiais de polícia, ver


Delegados e subdelegados

"O fico", 70

Oligarquias, ver Chefes locais

Olinda, marquês de, ver Lima, Pedro de Araújo, marquês de Olinda

Índice Remissivo 535

Oliveira, João Alfredo Correia de, 216, 230, 235, 296, 321, 334-5

Oposição, ver Minoria

Orçamento, 85

Ordem, 61-4, 77, 89-90, 105, 110, 244, 248-9, 260

Ordens, Brasil como uma sociedade de, 21, 53, 245

Osório, Manuel Luís, marquês do Herval, 126, 131

Otaviano de Almeida Rosa, Francisco, 127, 186, 342

Otoni, Teófilo, 80, 81, 126, 127

Ouro Preto, visconde de (Afonso Celso de Assis Figueiredo), 131, 218, 313, 342,

Padres (sacerdotes), 90, 93, 140, 153, 157, 160, 245, 261, 342; ver também Igreja

Padrinho: definição, 37

Paes Leme, família, 168

Pai de família: definição, 34

Pará, 69, 71, 216, 234, 295

Paraz'ba do Sul, rio, ver Vale do rio Paraíba do Sul

Paraibana, 201

Paraná, marquês do (Honório Hermeto Carneiro Leão), 79, 108, 171

Paranaguá, João Lustosa da Cunha, marquês de Paranaguá, 202, 278, 295, 317, 323

Paranhos, José Maria da Silva (o pai), visconde do Rio Branco, 226-8, 247, 249-50

Parentesco, ver Família


Página 259
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

Partido Conservador: e Pedro II, 21, 453 (nota 59); no poder, 21, 78-, 224, 250; origens do, 77; e exército, 92; programa
e políticas do, 109-10, 222, 225, 230;
nas províncias, 116-7, 216-7; dividido, 207-8, 226; e classe proprietária, 232

Partido Liberal, ver Facção Liberal

Partido Progressista, 103-4, 114-5, 245, 287

Partido Republicano, 104, 218

Partidos: legendas para, 198, 203, 220, 222-3; formação (construção) dos, 198, 212-20, 305-6; programas dos, 203, 213,
223, 230; falta de coesão nos, 207, 220-31,
307; e facções locais e provinciais, 211-2, 221; base social dos, 231-7; e clientelismo, 305-10, 345-6

Passaportes, 86

Paternalismo, 43-, 61-2, 84, 130, 329, 346

Pati do Alferes, barão de (Francisco Peixoto de Lacerda Werneck), 30, 43-, 49, 52, 60, 97-8, 168, 233-4, 347
536 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Patrão: definição, 39

Paulino José Soares de Souza, visconde do Uruguai, 78, 79, 81, 114, 247

Pedido: definição, 271; ver também Cartas de recomendação

Pedro I, 27, 70-4 passim, 140, 253; ver também Imperador

Pedro II: seu papel político, 18, 83; citado como protetor dos Conservadores, 21, 453 (nota 59); sucede ao trono, 72, 79;
nomeia e dissolve Gabinetes, 81, 108, 134-5,
251-2; comportamento pessoal, 823; e reformas, 82-3; e classe proprietária, 82-5; e o Conselho de Estado (Senado), 85;
e a Constituição, 84, 251-2; nas eleições,
106-7, 116, 135, 251-2; na nomeação de juízes, 326; mencionado, 16; ver também Imperador

Peixoto, Floriano, 491 (nota I)

Pena, Afonso Augusto Moreira, 279, 307

Penedo, barão de (Francisco Inácio de Carvalho Moreira), 302

Pequenos fazendeiros, 38, 75, 232, 268; ver também Sitiantes

Pereira, Lafaiete Rodrigues, 221

Pereira, Manuel Vitorino, 122

Pernambuco, 63, 72, 172, 175, 217, 224, 225, 231-2, 294

Personalismo, 199-212

Pescadores, 86

Pessimismo sobre o Brasil, 64

Piauí, 295

Página 260
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Pinto, Antônio Clemente, barão de Nova Friburgo, 318

Pirá, 169, 233

Pirá, barão de (José Gonçalves de Morais), 169

Pitt-Rivers, Julian Alfred, 304

Pobre, o, ver Pobres livres

Pobres livres: no interior, 37-8; mobilidade geográfica dos, 42; controlados, 46-60, 69; diferenciados dos proprietários,
53-4; autoridade desafiada, 56-60; nas
cidades, 60-1, 341; trabalhando na indústria, 60, 240-1; atitudes para com os, 60-1, 69, 241, 244, 247, 260; como
votantes, 142-50, 241, 260, 267-8; e o Partido
Liberal, 234; ver também Agregados; Artesãos; Negros livres e mulatos; Homens livres; Jornaleiros; Criados;
Comerciantes

Poder Moderador, 71, 73, 84, 113

Polícia militar, ver Corporação Policial (Corpo policial), provincial

Polícia provincial, ver Corporação Policial provincial

Política fiscal, 340

Política monetária, 340

Políticos, ver Deputados

Portátil Júnior, João Dantas dos Reis, 37

Porteiros (vigias), 96, 289

Portugal, 68-72

Posição social nas cartas de recomendação, 329

Posições procuradas nas cartas de recomendação, 283-94

Positivismo, 341

Potentado, ver Chefes locais

Prado Júnior, Caio, 19

Praia (Praieiros), Revolta da, 225, 231-2

Prefeitos, 343

Presidente do Conselho, ver Primeiro-ministro

Presidentes provinciais: srarus e responsabilidades dos, 73, 86-7, 90-1, 274, 409 (nota 48); e Gabinete, 86, 313-4; e a
Guarda Nacional, 91-2; e a Igreja, 93; e
uniformes, 99; e eleições, 116-7, 159, 177, 213; e chefes locais, 175-7, 196-7, 318; e juízes, 176; e delegados, 179; nos
acontecimentos em Caçapava, 197, 200-I;
e clientelismo, 222, 274, 279-82; ambição pela posição de, 290-I, 313; qualidades ideais dos, 333-6; e Exército, 409
(nota 48)

Página 261
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Primeiro-ministro (presidente do Conselho de Ministros), 85, 114, 120, 279-82; ver também Gabinete

Princípio hierárquico, 83-4, 112, 346

Índice Remisrivo 537

Privilégios em negócios como recompensa política, 131-2

Professores, 286-7

Professores, 122, 259, 286; ver também Faculdade de Direito; Faculdade de Medicina

Profissões liberais, 231-2, 240, 246, 251, 286, 341

Promotores, 96, 123, 124, 172

Proprietários de terras, 2D-I, 233; ver também Fazendeiros; Classe proprietária

Proprietários de Fábricas, ver Indústrias

Prostitutas, 89

Proteção trocada por obediência e lealdade, 42, 48, 204

Protestantes, 192, 253, 256, 261

Prova (comprovação) de renda para votar, 256-60

Províncias, Presidentes, ver Presidentes provinciais

Qualificação de votantes, ver Registro de votantes

Quarteirão, inspetores de, ver Inspetores de Quarteirão

Quebra-Quilos, revolta do, 59

Queirós Coutinho Matoso da Câmara, Euzébio de. 81, 97

Quilombos. 68
538 CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Religião, 91, 244, 261;


ver também Igreja; Edifícios
Raça, 49, 75-6, 142,
das Igrejas; Padres; Protestantes
148, 419 (nota 24)
Renda como exigência para
Ramos, Eduardo, 235 eleição, 142, 250-1, 258-60
Recife, 74, 96 Rendimentos públicos (receitas
Recomendação de aspirantes a do governo), 77, 236, 239, 343
cargos, bases para, 323-37 República, 21, 28, 68, 70,
Recrutamento forçado, 72, 267, 339, 463 (nota 37)
ver Conscrição Republicanos, 133, 234, 265
Recrutamento militar, Resistência ao controle
ver Conscrição social, 58-9
Reforma do Código Penal, 79 Revolta com o preço
Regência de 1831, 72, 77-8 da passagem do bonde, 256

Página 262
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Região Nordeste, 30-, 38, 43, 59,
227-9, 292, 307, 336, 347

Região Sudeste, 33, 229

Região Sul, 229, 286, 336

Regiões do Brasil, 28-32

Regionalismo, 69, 71-7,


229, 237, 294-8, 339-43

Registro civil, 59

Registro de votantes, 141,


145-50, 152-4, 250, 259-60, 264

Regresso, 77-82

Reinterpretação do
Ato Adicional, 78

Relação (Relações),
94, 111, 118, 176

Relações de remetentes de cartas, 302-12, 324

Revolta do Vintém, 256

Revolta: de 1789 em Minas Gerais (Inconfidência), 68-9; de 1820 em Portugal, 69-70, 139; de 1824 em Pernambuco,
63, 71-2; de 1831 no Rio de Janeiro, 72, 271; de
1831 em Recife, 74-5; de 1835 em Belém, 75; de 1835 em Salvador entre os Africanos, 75-6; de 1835-45 no Rio
Grande do Sul, 76, 79; de 1837 em Salvador, 76; de 1842
em São Paulo e Minas Gerais, 80, 224; de 1848 em Pernambuco (da Praia), 225; de 1850 em Pernambuco dos livres de
cor, 92; de 1874-75 no Nordeste (do Quebra-Quilos),
59; de 1880 no Rio de Janeiro (Vintém), 256; de 1889 derrotando o Império, 339; dos escravos temidos, 68-9, 77; papel
dos padres, 93; freqüência das revoltas sob
a República, 344

Índice Remissivo 539

Revoltas regionais, 71-7

Revolução Francesa, 242

Revolução, ver Revolta

Ribeiro de Avellar, família, 168

Ricos, os, ver Classe proprietária

Rio Branco, visconde do (José


Maria da Silva Paranhos, o pai),
226-8, 247, 249-50

Rio de Janeiro, cidade, 30, 32,


69, 72, 92, 121, 126, 127, 239

Página 263
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Rio de Janeiro, província, 28,
77, 80, 225, 232, 292, 336, 347

Rio Grande do Norte, 28, 174

Rio Grande do Sul: e estâncias pecuárias e pequenas propriedades, 32, 253; e governo central, 32, 225; revolta no
(1835-45), 76, 79; partidos no, 116-7, 217; nomeação
de juízes municipais substitutos no, 119; Protestantes no, 253; concentração das forças armadas no, 288; cartas de
recomendação do, 288; fácil acesso, 297; e Vargas,
344

Riqueza, a, ver Classe proprietária

Rocha, Venâncio Félix da, 195-204 passim

Rosa, Francisco Otaviano de Almeida, 127, 186, 342

Salários, 87, 236, 485 (nota 14)

Sales, Manuel Ferraz de Campos, 295

Salvador, 28, 31, 68, 71, 75, 92

Samba. 152

Sampaio, Antônio Borges, 191

Santos, 239

Santos Werneck, família, 168

São Cristóvão, 363-4 (nota 17)

São Paulo, cidade, 29

São Paulo, província: economia de, 29, 31, 239. 339; e governo central, 69, 339-40; e Liberais, 72-3> 224-5; revolta de,
em 1842, 80; registro de votantes em, 148;
e Revolta da Praia (Praieira), 225; e escravatura, 227; e cartas de recomendação, 286, 294-5, 308, 336; e Gabinete,
339-40; e a República, 339, 343; e os valores
modernos, 347

São Vicente, 68

Sapatos, 161, 184, 425 (nota 50)

Saquaremas, ver Partido Conservador

Saraiva, José Antônio: na política. 135, 217-8; e chefes locais, 175-6; e a questão da escravidão, 229-30, 256; faz passar
a reforma eleitoral, 256-62; e a eleição
de 1881, 263-4; forma Gabinete (1880), 295-6; começo de carreira, 302, 316; mencionado, 320

Secularização, 261

Segunda linha, ver Guarda Nacional

Senado da Câmara Municipal, ver Câmaras Municipais


iO CLIENTELISMO E POLITICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Página 264
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Senado, 5, 103, 155-6

Senadores, 71, 85, 100, 103, 126, 156, 255-6

Sergipe, 207-8, 210

Sermões, 157
Servos, 143-4

Silva, Luiz Alves de Lima e, duque de Caxias, 108

Silva, José Bonifácio de Andrada e, 70, 140

Sinimbu, João Lins Vieira Cansansão de, visconde de Sinimbu, 119, 252, 253, 255, 256, 282

Sistema fundiário, 40, 55, 59, 81, 86, 233, 339


Sistema métrico, 59

Sitiantes: definição, 39

Sociedades Defensoras da Liberdade e Independência Nacional, 72-3


Sociedades Secretas, 72-3

Souza Werneck, família, 168

Souza, Francisco Belisário Soares de, 211, 247-9


Souza, Manoel Teixeira de, 205

Souza, Paulino José Soares de, visconde do Uruguai, 78, 79, 81, 114, 247

Souza, (2°), Paulino José Soares de, 230, 486 (nota 24)
Status, ver Hierarquia social

Straten-Ponthoz, Auguste van der, 292

Subdelegados, ver Delegados e subdelegados

Suborno, 184-5
Sufrágio universal, 142,

260, 265-8, 415 (nota 8)

Superioridade em indicações, 326

Tabaco, 31
Tabeliães, 96, 283

Tabernas, 89

Taubaté, 195-204 passim

Taxas (impostos), 59, 236, 343


Tecelagem (indústria têxtil), 240

Teixeira Leite, família, 168

Página 265
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word
Termo de bem viver: definição, 39-40, 88

Tesouro, 121, 285

Tibério de Moncorvo
Lima, Álvaro, 404 (nota 23)

Título de qualificação
(de eleitor), 250, 260

Torres Homem, Francisco de


Sales, visconde de Inhomerim, 234

Torres, Joaquim José


Rodrigues, visconde de
Itaboraí, 78, 81, 226, 319

Tosta, Manuel Vieira, barão de Muritiba, 479 (nota 41), 486 (nota 24)
Trabalhadores, ver Pobres livres

índice Remissivo 541

Trabalho em fábricas, 60
Trabalho no exterior, 288-9
Tropeiros, 54

Uberaba, MG, 190


Unidade, ver Fatores de
Uniformes, 99-100, 160-1
Universidade de Coimbra, 78
Urna eleitoral, 154, 162, 181-2
Uruguai, 76

Uruguai, visconde do
(Paulino José Soares de
Souza), 78, 79, 81, 114, 247

Vadios, 89

Vale do Rio Paraíba do Sul,


29, 30, 54, 169, 239, 292, 318
Valores patronais, 43-4

Vargas, Getúlio, 344


Varíola, 89

Vasconcelos, Bernardo
Pereira de, 78, 79

Vasconcelos, Francisco
Diogo Pereira de, 204-5

Vasconcelos, Zacarias de
Góes e, 186, 487 (nota 26)
Página 266
Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX- Richard-Graham- Versão em word

Vassouras, 30, 168, 233


Vaz de Caminha, Pero, 271, 279

Vereadores, ver Câmaras Municipais

Vestuário no teatro das eleições, 159-61

Viajar, dificuldade de, 296-7, 444-5 (nota 18)

Viana, Francisco José de Oliveira, 20

Vice-presidentes provinciais, 73, 80, 87

Vida e interesses urbanos, ver Cidades

Vida rural da maioria dos brasileiros, 32-3

Vieira, Francisco Fernandes, visconde de Icó, 172

Vigias, 96,

Violência: e benevolência, 42, 130; em eleições, 110, 123-30, 165-6, 185-93; sempre presente no nível local, 179; e
governo central, 190-4; usada na aquisição de
terras, 339; ver também Ordem
Vitorino Pereira, Manuel, 122

Votantes: qualificação para, 142-6, 256; número de, 146-50, 264; identificação dos, 153, 180-1, 250; ver também
Eleições; Conselho eleitoral; Lei eleitoral

Voto compulsório, 163

Votos, apuração, 155

Wanderley, João Maurício, ver Cotegipe, barão de


542 CLIENTELISMO E POLÍTICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

Werneck, família, 168, 302

Werneck, Francisco Peixoto de Lacerda, barão de Pati do Alferes, 30, 43-, 49, 52, 60, 97-8, 168, 233-4, 347

Werneck, Luís Peixoto de Lacerda, 41, 43, 44-5, 49, 144-5

Werneck, Manoel Peixoto de Lacerda, 97

Zacarias de Góes e Vasconcelos, 186, 487 (nota 26)

Zama. César, 132, 219

Página 267

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