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A EXPERIÊNCIA DO SAGRADO E A INSTITUIÇÃO DA


RELIGIÃO

O sagrado

O medo do desconhecido e a necessidade de dar sentido ao mundo que o


cerca levaram o homem a fundar diversos sistemas de crenças, cerimônias e
cultos - muitas vezes centrados na figura de um ente supremo - que o ajudam a
compreender o significado último de sua própria natureza. Mitos, superstições
ou ritos mágicos que as sociedades primitivas teceram em torno de uma
existência sobrenatural, inatingível pela razão, equivaleram à crença num ser
superior e ao desejo de comunhão com ele, nas primeiras formas de religião.
O sagrado é uma experiência da presença de uma potência ou de uma
força sobrenatural que habita algum ser –planta, animal, humano, água, vento,
fogo. O sagrado é a experiência simbólica da diferença entre os seres, da
superioridade de alguns sobre os outros, o poder sentido como misterioso,
desejado e temido.
A sacralidade introduz uma ruptura entre o natural e o sobrenatural; é
sobrenatural a força ou potência que os humanos julgam impossível realizar
contando apenas com as forças e capacidades humanas.
O sagrado opera o encantamento do mundo, habitado por forças poderosas
que agem magicamente.
Todas as culturas possuem vocábulos para exprimir o sagrado como força
sobrenatural que habita o mundo.
O sagrado pode despertar devoção e amor, repulsa e ódio, que acabam
gerando o respeito feito do temor. Nasce, aqui, o sentimento religioso e a
experiência da religião.

A religião

Religião (do latim religio, cognato de religare, "ligar", "apertar", "atar",


com referência a laços que unam o homem à divindade) é como o conjunto de
relações teóricas e práticas estabelecidas entre os homens e uma potência
superior, à qual se rende culto, individual ou coletivo, por seu caráter divino e
sagrado. Assim, religião constitui um corpo organizado de crenças que
ultrapassam a realidade da ordem natural e que tem por objeto o sagrado ou
sobrenatural, sobre o qual elabora sentimentos, pensamentos e ações.
A religião é um vínculo entre o profano e o sagrado, ou seja , a natureza
(água, fogo ar, terra, humanos) e as divindades, os deuses que habitam a
natureza ou um lugar separado dela.
Essa ligação é simbolizada no momento de fundação de uma aldeia, vila
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ou cidade. O guia religioso traça figuras no chão e repete o mesmo gesto no ar,
delimitando o espaço novo, o sagrado (no ar) e consagrado (no solo). Nesse
novo espaço ergue-se o templo e à sua volta a nova comunidade.

A história sagrada narra como e por que a ordem do mundo existe e foi
doada pelos deuses aos humanos. Narra o nascimento, a finalidade e o
perecimento de todos os seres sob a ação dos deuses. Assim o ser humano
procura entender e explicar aquilo que ele não domina, não consegue entender
através da razão.
A religião é crença, não é saber, se dirige ao despertar dos sentimentos e
emoções.

Ritos

A religião liga humanos e divindades, organiza o tempo e o espaço, e os


ritos são criados para que a organização e a ligação se mantenham e sejam
sempre propícias.
O rito é uma cerimônia em que palavras, gestos, pessoas, objetos e
emoções determinadas adquirem o poder misterioso de estreitar os laços entre a
divindade e os humanos.
Um rito religioso é repetitivo em dois sentidos principais: a cerimônia
deve repetir um acontecimento essencial da história sagrada; e, em segundo
lugar, atos, gestos, palavras, objetos devem ser os mesmos, porque foram, na
primeira vez, consagrados pelo próprio deus. Assim é abolida a distância entre o
presente e o passado.
Seres e objetos são transformados em símbolos religiosos, passam a não
poderem ser tocados nem manipulados por ninguém que não esteja
religiosamente autorizado para isso, por exemplo, certos animais, o pão e o
vinho, os pergaminhos judaicos, certas pedras, etc. A religião vincula seres e
qualidades à personalidade de um deus.
A figuração do sagrado é feita por emblemas, por exemplo, o de Iemanjá,
o vestido branco, as águas do mar, e os cabelos ao vento.
São duas as modalidades de religião, a religião natural e religião revelada,
o que recebeu significação especial nas teologias judaica e cristã. O americano
Mircea Éliade, historiador das religiões, denominou "hierofania" a essa
manifestação do sagrado, ou seja, algo sagrado que é mostrado ao homem. Seja
a manifestação do sagrado uma pedra ou uma árvore, seja a doutrina da
encarnação de Deus em Jesus Cristo, trata-se sempre de uma hierofania, de um
ato misterioso que revela algo completamente diferente da realidade.
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A lei divina

Os deuses são poderes misteriosos, são forças personificadas. Suas


decisões são imprevisíveis e incompreensíveis para os critérios humanos de
avaliação.
A vontade divina pode tornar-se parcialmente conhecida dos humanos sob
a forma de leis emanadas da divindade, por exemplo, os Dez Mandamentos,
dados por Jeová a Moisés.
O modo como a vontade divina se manifesta em leis, podem ser
distinguidos de duas formas, aquela em que a divindade usa intermediários para
revelar a sua lei, e aquela em que os deuses manifestam sua lei diretamente,
através do êxtase místico ou da iluminação individual, como ocorre nas religiões
orientais.
O transe dos profetas e adivinhos difere do êxtase místico dos iluminados,
porque, no primeiro, o indivíduo tem acesso a um conhecimento que pode
compreender e assim transmiti-lo aos outros, enquanto no segundo, não há
conhecimento, há mergulho e fusão do indivíduo na divindade, o que se torna
uma experiência intraduzível e intransmissível.

Morte

No princípio os homens eram imortais, e viviam na companhia dos


deuses, mas devido a uma transgressão imperdoável, o homem é privado de sua
companhia, expulso do paraíso e punido também com a mortalidade.
No entanto a imortalidade não está totalmente perdida, cada religião trata
do assunto através de uma forma peculiar.
Se os humanos acreditarem e respeitarem a lei divina escrita nos textos
sagrados e se guardarem a esperança na promessa de salvação que lhes foi feita
por Deus, poderão receber o perdão divino, retornando assim à sua condição
primeva.

O bem e o mal

As religiões ordenam a realidade segundo dois princípios fundamentais: o


bem e o mal.
Sob esse aspecto, há três tipos de religiões: as politeístas, em que há
inúmeros deuses, que podem ser uns bons, outros maus, ou cada um deles bons
ou maus dependendo das circunstâncias; as dualistas, onde o bem e o mal estão
encarnados em divindades antagônicas, que se combatem; e as monoteístas, com
um só deus, que é tanto bom quanto mau. Mas no caso do islamismo, judaísmo e
do cristianismo, a divindade é o bem supremo e o mal provém de entidades
demoníacas, inferiores à divindade e em luta contra ela, o que faz gerar várias
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perguntas e dúvidas, e se fossemos entrar neste debate teríamos muitas teorias e


opiniões tentando explicar este dualismo de sentimentos, partindo de um deuses
considerado bom, justo, misericordioso, clemente, criador único de todas as
coisas, onipotente, onisciente, e sobretudo eterno e infinito.

O pecado

Há religiões da exterioridade e da interioridade . Nas primeiras, a falta ou


pecado é uma ação externa visível, cometida voluntária ou involuntariamente
contra a divindade, e que contamina o faltoso e o seu grupo, exigindo rituais de
purificação. Mesmo assim, o perdão pode ser dado ou não pela divindade.
Na da interioridade, como é o caso do cristianismo, a falta ou pecado é
uma ação interna invisível, causada por uma vontade má. É uma transgressão
experimentada na forma de culpa, exigindo arrependimento e expiação, para que
se obtenha o perdão. Aqui também, vamos encontrar várias dúvidas e
explicações, devido os atributos dados ao seu Deus.

Imanência e transcendência

As primeiras experiências religiosas são panteístas (theos = deus; pan =


todos, tudo ), nelas tudo são deuses e estes estão em toda a parte, espalhados
pela natureza. Os seres e os objetos sacros habitam nosso mundo, são imanentes
a ele.
Já nas religiões teístas, os deuses são transcendentes, ou seja, os deuses
estão separados do mundo natural e humano, vivem noutro mundo agindo sobre
o nosso.
Magos, astrólogos, videntes, profetas, xamãs, sacerdotes e pajés possuem
saberes e poderes especiais, sendo capazes de curar, de prever o futuro, aplacar a
cólera dos deuses, enfim, sua função inicialmente é trazer o sagrado para o
grupo e aí conservá-lo, mas por representarem um elo de ligação com os deuses,
vão adquirindo poderes junto ao grupo cada vez maiores.
Nas religiões da transcendência, três são as conseqüências principais
desse desenvolvimento histórico:
1. a formação de uma autoridade que detém o privilégio do saber, porque
conhece a vontade divina e suas leis. Com ela, surge a instituição sacerdotal e
eclesiástica. Tais saberes lhes dão os seguintes poderes: mágico, divinatório,
propiciatório e punitivo;
2. a formulação de uma doutrina religiosa baseada na idéia de hierarquia,
isto é, realidade organizada sob a forma de graus superiores e inferiores, fixos e
imutáveis, onde se situam todos os seres, por vontade divina;
3. o privilégio do uso da violência sagrada para punir os faltosos ou
pecadores.
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Assim o sagrado dá origem à religião, enquanto a sociedade faz aparecer


o poder teológico da autoridade religiosa, podendo com isso exercer seu poder
controlador social, moral e econômico.

A finalidade da religião

O sagrado dá significação ao espaço, ao tempo e aos seres que neles


nascem vivem e morrem.
A passagem do sagrado à religião determina as finalidades principais da
religião e de suas instituições. Dentre essas finalidades podemos destacar:
- proteger os seres humanos da natureza, nela encontramos forças
benéficas, contrapostas às maléficas e destruidoras;
- dar aos humanos um acesso à verdade do mundo, encontrando
explicações para a origem, a forma, a vida e a morte de todos os seres e dos
próprios humanos;
- oferecer aos humanos a esperança de vida após a morte, seja de qual
forma for;
- oferecer consolo aos aflitos, dando-lhes uma explicação para a dor, seja
ela física ou psíquica;
- garantir o respeito às normas, às regras e aos valores da moralidade
estabelecida pela sociedade, sob pena de sanções sobrenaturais.

A religião recebe críticas, no pensamento ocidental, desde os pré-


socráticos, que criticaram o politeísmo ( pluralidade dos deuses) e o
antropomorfismo ( reduz os deuses à condição de seres super-humanos, quando
deveriam ser supra-humanos).
Epicuro, filósofo greco, diz ser a religião, fabulação ilusória, nascida do
medo da morte e da natureza.
Espinosa fala da religião como superstição no século XVII.
No século XVIII, a diferença entre religião e verdadeiro conhecimento de
Deus levou, à idéia de religião natural e deísmo. Voltando-se contra a religião
institucionalizada como poder eclesiástico e teológico-político, os filósofos da
Ilustração afirmaram a existência de um só Deus que é força e energia
inteligente, imanente à natureza, conhecido pela razão e contrário à superstição.
No século XIX, o filósofo Feuerbach criticou a religião como alienação,
cuja análise foi retomada por Marx, de quem conhecemos a expressão: “A
religião é o ópio do povo”. Com essa afirmação Marx pretende mostrar que a
religião amortece a combatividade dos oprimidos e explorados, por prometer-
lhes uma vida futura feliz.
A maior crítica, que vamos encontrar à religião, vem da ciência, junto com
todo o desenvolvimento tecnológico, inicialmente parece que o choque entre as
duas é inevitável. Mas, atualmente, o que observamos é a ciência comprovando
fatos, que antes se achavam improváveis, e eram citados pela religião e nos
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livros sagrados.
Assim como a religião, a ciência também é criada para que possamos
compreender melhor o mundo à nossa volta, e conseqüentemente, nosso lugar
neste vasto universo. O destino como um todo, vêm inspirando o pensamento
científico desde as suas origens. Qual a origem do homem, o que será do seu
futuro, são questões tanto da ciência como das religiões.

Filosofia e religião

Filosofia e ciência elaboram explicações cujos princípios são diferentes


dos da religião.
A filosofia ocupou-se dos temas da religião do ponto de vista da razão.
Assim procedendo, despojou-os de sua condição de mistérios para transformá-
los em conceitos e teorias. Para a alma religiosa há um Deus; para a Filosofia, é
preciso provar a existência da divindade.
Para competir com a Filosofia e suplantá-la, a religião precisou oferecer-
se sob forma de provas racionais, teses, teorias. Tornou-se teologia, ciência
sobre Deus. Todavia, certas crenças religiosas parecem não poder serem
transformadas em teses e demonstrações racionais.
Vários foram os filósofos que procuraram conciliar filosofia e religião.
Notamos que existem pontos convergentes e divergentes entre religião,
ciência e filosofia. Um dia os divergentes já foram em maior quantidade,
diminuiram, mas muitos ainda permanecem.
Será que em algum tempo futuro religião, ciência e filosofia conseguirão
obter respostas para todas as suas dúvidas, angústias, desejos e anseios
humanos?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 5 ed., São Paulo: Ática, 1996.

2. GLEISER, Marcelo. O fim da terra e do céu: apocalipse na ciência e na


religião. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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