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PRESENÇA DO HUMORISMO NA LITERATURA

CEARENSE (*)

Sânzio de Azevedo

Numa conferência proferida aqui em Fortaleza, na Casa de


Juvenal Galeno, pelos anos 50 , o famoso ator Procópio Ferreira
afirmou, a certa altura:

O homem ri por dois motivos: os eternos e os


transitórios. Os motivos transitórios do riso é que
variam de época para época, de dia para dia, con-
forme as circunstâncias da própria· vida, segundo as
variações desses próprios motivos e a formação dos
contras:t~~s. (1)

Isso explicaria por que as grandes comédias de Moliêre,


com tipos que transcendem seu tempo, fazem rir ainda hoje,
o que não acontece com todos os poemas satíricos de um
Gregório de Matos, alguns dos quais voltados para aspectos
locais e temporais. ,
Nosso objetivo aqui é detectar o humorismo na literatu-
rs do Ceará, ao longo dos tempos, e se vários dos textos es-
colhidos não parecerem tão cômicos, isso pode-se dever não
só a•o problema dos motivos transitórios, de que fala Procópio
Ferreira, mas também ao próprio · gosto do selecionador.
As mais remotas atividades literárias da nossa Província,
por volta de 1813, estive~am circunscritas aos Oiteiros do Go-
vernador Sampaio, d .~ que nos fala Dolor Barreira. Mas nada
t*) Palestra proferida no curso O Cômico na Literatura, · na UFC, em no ·
vembro de 1986.
1) FERREIRA, Procópio. " Como se ria antigamente." Anais da Casa de
fuvenal Galena. Fortaleza, Imprensa Oficial, t. li, 1958; p . 48 .

• Rev: de Letras, Fortaleza, 12 (1/2) - jan./dez. 1987 83


nos ficou de humorismo desse tempo de louvações em odes Há uma diferença de gradação entre os dois textos de
e sonetos neoclássicos. Galena : em A Machadada, o poeta pode ter feito rir , mas ele
No Romantismo é que vamos encontrar aqueles que tal- mesmo estava indignado com a detenção que sofrera; em
vez sejam os primeiros versos humorísticos de nossa terra . '·Outrora e Hoje ", ele apenas faz rir e ri também, ingenua-
O episódio é conhecido: sendo alferes da Guarda Nacio- mente, sem nenhum intuito vindicativo
nal , Juvenal Galena deixou , em 1859, de compa•recer a uma X . de Castro, nome literário de Augusto Xavier de Ca•s-
revista da tropa, preferindo almoçar um peru com o poeta tro, escreveu poemas românticos, alguns dos quais musica-
Gonçalves Dias, que estava no Ceará na famosa Com1ssao dos e cantados na velha Fortaleza das serenatas ao luar. Mas,
Científica . O coma•ndante do batalhão, João Antônio Macha- sob nítida influência de B. Lopes, começou a publicar no Liber-
dú, aplicou ao poeta cearense, como castigo , seis dias de de- tador, nos anos 80 do século passado , os cromos que seriam
tenção. O resultado foi A Machadada, " poema fantástico " , se- mais tarde, em 1985, enfeixados em livro pelos seus compa-
gundo lhe chamou o autor, e editado em 1860. nheiros da Pa•daria Espiritual. Antes disso , porém, vários des-
Não cremos que provoque risos hoje, mas na• época os ses cromos foram est ampados n'O Pão, órgão do grêmio. Inau-
amigos do jovem poeta, conhecendo a figura satirizada, devem gurando o Realismo na poesia cearense, X. de Castro coloriu
ter gargalhado com versos como estes: seus cromos de notas não só graciosas , mas até anedóticas,
não faltando a nota regional. É o caso de " Malicioso" :
" Senhor, - dizem alguns, fique tranqüilo ,
Tanta raiva p'ra quê. Neste a-Imo dia Da casinha ali ao lado
Não receia morrer de apoplexia? " Reverdeja a mongubeira;
- " Deixe estar, deixe estar! - Diz o camelo, Brinca, à sombra, n'uma esteira
Eu pretendo ensiná-lo. . . caia o pêlo Nenê já todo rajada .
Que me enfeita o carão , se na cadeia
O va•te não cantar, como a sereia! Outro , nos galhos trepado ,
E por isso hoje mesmo, ó comandante, - O Tonho - esquece a canseira
O vate quero preso, o petulante De pegar a /avandeira,
A minha ordem , entendeu?" No ninho lá pendurado ,
Diz o sendeiro ,
Bufando, como bufa o seu traseiro, Quando vê que nos banquinhos
Dando sobre o arção da sela ornada, A rir, conversam , sozinhos
Qual se fora no bardo a ma·chadada! O pai e a mãe. . . mais ninguém ...

No seu livro principal, as Lendas e Canções Populares, Ri-se o Tonho e grita: - Ai! ai!
não na primeira edição , de 1865, mas na segunda, de 1892, Muito bom! Heim, seu papai?!
onde figuram as Novas Lendas e Canções, compostas de Namorando c'a mamãe?!
1866 a 91, vamos encontrar o poema " Outrora e Hoje", o qual,
baseado em uma cantiga popular, filosofa de maneira• jocosa O poema é cearense, apesa•r da rima lusitana.
sobre o passar dos tempos : Um dos cromos mais divulgados de X. de Castro é " Con-
tratados ", de caráter claramente anedótico sobretudo pelo im·
Quando eu era pequenino, previsto do verso final:
Que inda andava em camisão,
As faceiras me diziam: Ela agora foi pedida
- Venha cá, meu coração! Para- em agosto casar-se ,
Agora como estou grande: E desde logo paga~se
- Saia daqui , paspalhão! Terna promessa devida.

84 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 <1/2) - jan./dez. 1987 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 <1/ 2) - jan./dez. 1987 85
nos ficou de humorismo desse tempo de louvações em odes Há uma diferença de gradação entre os dois textos de
e sonetos neoclássicos. Galena: em A Machadada, o poeta pode ter feito rir, mas ele
No Romantismo é que vamos encontrar aqueles que tal- mesmo estava indignado com a detenção que sofrera; em
vez sejam os primeiros versos humorísticos de nossa terra. ··outrora e Hoje " , ele apenas faz rir e ri também, ingenua-
O episódio é conhecido: sendo alferes da Guarda Nacio- mente, sem nenhum intuito vindicativo
nal, Juvenal Galena deixou, em 1859, de compa-recer a uma X. de Castro, nome literário de Augusto Xavier de Ca•s-
revista da tropa, preferindo almoçar um peru com o poeta tro, escreveu poemas românticos, alguns dos quais musica-
Gonçalves Dias, que estava no Ceará na famosa Com1ssao dos e cantados na velha Fortaleza das serenatas ao luar. Mas,
Científica. O comandante do batalhão, João Antônio Macha- sob nítida influência de B. Lopes, começou a publicar no Liber-
dú, aplicou ao poeta cearense, como castigo, seis dias de de- tador, nos anos 80 do século passado, os cromos que seriam
tenção. O resultado foi A Machadada, " poema fantástico ", se- mais tarde, em 1985, enfeixados em livro pelos seus compa-
gundo lhe chamou o autor, e editado em 1860. nheiros da Padaria Espiritual. Antes disso, porém, vários des-
Não cremos que provoque risos hoje, mas na• época os ses cromos foram estampados n'O Pão, órgão do grêmio. Inau-
amigos do jovem poeta, conhecendo a figura satirizada, devem gurando o Realismo na poesia cearense, X . de Castro coloriu
ter gargalhado com versos como estes: seus cromos de notas não só graciosas, mas até anedótica-s,
não faltando a nota regional. É o caso de "Malicioso":
"Senhor, - dizem alguns, fique tranqüilo,
Tanta raiva p'ra quê. Neste almo dia Da casinha ali ao lado
Não receia morrer de apoplexia?" Reverdeja a mongubeira;
- " Deixe estar, deixe estar! - Diz o camelo, Brinca, à sombra, n'uma esteira
Eu pretendo ensiná-lo. . . caia o pêlo Nenê já todo rajada .
Que me enfeita o carão, se na cadeia
O va•te não cantar, como a sereia! Outro , nos galhos trepado,
E por isso hoje mesmo, ó comandante, - O Tonho - esquece a canseira
O vate quero preso, o petulante De pega-r a lavandeira,
A minha ordem, entendeu?" No ninho lá pendurado,
Diz o sendeiro.
Bufando, como bufa o seu traseiro, Quando vê que nos banquinhos
Dando sobre o arção da sela ornada, A rir, conversam, sozinhos
Qual se fora no bardo a ma•chadada! O pai e a mãe . .. mais ninguém ...

No seu livro principal, as Lendas e Canções Populares, Ri-se o Tonho e grita: - Ai! ai!
não na primeira edição, de 1865, mas na segunda, de 1892, Muito bom! Heim, seu papai?!
onde figuram as Novas Lendas e Canções, compostas de Namorando c'a mamãe?!
1866 a 91, vamos encontrar o poema "Outrora e Hoje", o qual,
baseado em uma cantiga popular, filosofa de maneira• jocosa O poema é cearense, apesa•r da rima lusitana.
sobre o passar dos tempos: Um dos cromos mais divulgados de X . de Castro é " Con-
tratados", de caráter claramente anedótico sobretudo pelo im·
Quando eu era pequenino, previsto do verso final:
Que inda andava em camisão,
As faceira•s me diziam: Ela agora foi pedida
- Venha cá, meu coração! Para em agosto casar-se,
Agora como estou grande: E desde logo paga~se
- Saia daqui, paspalhão! Terna promessa devida.

84 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 <1/2) - jan./dez, 1987 • Rev. de Letras, Fortaleza, 12 <1/2) - jan./dez. 1987 85
Ao vê-la já prometida álbuns", sendo ainda vedado o recitaotivo ao piano e "o tom
Vai o noivo retirar-se ... oratório, sob pena de vaia" . O autor desse Programa, que ob-
Mas dela ao aproximar-se teve tanto exito no Ceará e até no Rio de Janeiro, foi Antônio
Sente-a triste. . . comovida! ... Sales, que havia estreado em livro em 1890, com os Versos
Diversos.
Diz-lhe então: - Tens pena, filha•, Nesse livro encontramos poemas com certa graça, :: mas
De abandonar a família? . . . nenhum que possa ser chamado de cômico. Já no segundo li-
Responde ela com ardil: vro, Trovas do Norte, de 1899, há um cromo que retrata "O Gil",
criança terrível, que mata passarinhos, fura o olho do gato,
Ah! meu Deus, fazei-me um gosto .. . despenca da escada etc., cromo cujos tercetos dizem:
Permiti que o mês de agosto
Caia este ano em abri I ... Se a mãe o perde de vista,
A conversar com os parentes,
A exemplo de X. de Castro, vários outros poetas cearen- O Gil percorre as alcovas
ses compuseram cromos, entre eles Fernando Weyne, Antônio.
bales, Antônio Martins, Amadeu Xavier de Castro (filho do. - Que barbeiro e que dentista!
peeta). e o padre Antônio Tomás. Deste último, vamos ler Tirando os dentes aos pentes,
este "Cromo", transcrito do livro Padre Antônio Tomás, prín- Fazendo a barba às escovas!
cipe dos poetas cearenses (1958), de sua sobrinha Dinorá
Tomás Ramos:
Mas, quem ler os livros de poesia publicados por Antô-.
Voltando o Zeca da roça, nio Sales não terá certamente idéia da singular veia humorís-
Não sei do que ele deu fé, tica do poeta. É que nunca chegou a ser editado o livro que o
Com a Rita zanga-se e até poeta anunciara com o título de Fora do Sério. Desse livro
Dispõe-se a dar-lhe uma "coça". constariam alguns textos que Leonardo Mata reproduziu no
seu livro A Padaria Espiritual, de 1938 . . Como esta quadra:
Ela porém se alvoroça,
E diz-lhe batendo o pé: . "É muito cheio de si!"
- Não venha não, seu José, Dizem de ti. Frase errada!
Se vier, a causa engrossa'! . . . Eu coisa alguma já vi
Que esteja cheia. . . de nada ...
Pelo barulho atraído,
Contempla os dois espantado Ou esta outra:
O filhinho mais crescido.
Vi um médico fardado;
Que perfeito matador!
Diz um outro se safando:
Quem escapar do soldado
- Credo! O papai está danado,
Não escapa do doutor.
E a mamãe já está ficando.

A Parclaria Espiritual, há pouco mencionada, foi, esclareça- Ou ainda estas duas:


mos para quem acaso não saiba, o mais original de todos os
grêmios culturais de nossa terra. Fundada em 1892 em For- É difícil que aconteça
taleza, seu Programa de Instalação proibia aos "padeiros" Dor de cabeça ela ter:
(membros do grupo) "fazer qualquer referência à Rosa de Ma- Pode a dor aparecer,
lherbe e escrever nas folhas mais ou menos perfumadas dos Mas não encontra a cabeça.

86.•, Rev. de Letras, Fortaleza, 12 0/2) - · jan,fdez, 1987 ., Rcv. de Letras, Fortaleza, 12 0/2) - jan,fdez. 1987 87
Ao vê-la já prometida álbuns", sendo ainda vedado o recita•tivo ao piano e "o tom
Vai o noivo retirar-se ... oratório, sob pena de vaia" . O autor desse Programa, que ob-
Mas dela ao aproximar-se teve tanto exito no Ceará e até no Rio de Janeiro, foi Antônio
Sente-a triste. . . comovida! .. . Sales, que havia estreado em livro em 1890, com os Versos
Diversos.
Diz-lhe então: - Tens pena, filha•, Nesse Iivro encontramos poemas com certa graça, ·: mas
De abandonar a família? .. . nenhum que possa ser chamado de cômico. Já no segundo li-
Responde ela com ardil: vro, Trovas do Norte, de 1899, há um cromo que retrata "O Gil",
criança terrível, que mata passarinhos, fura o olho do gato,
Ah! meu Deus, fazei-me um gosto ... despenca da escada etc., cromo cujos tercetos dizem:
Permiti que o mês de agosto
Caia este ano em abril. .. Se a• mãe o perde de vista,
A conversar com os parentes,
A exemplo de X. de Castro, vários outros poetas cearen- O Gil percorre as alcovas
ses compuseram cromos, entre eles Fernando Weyne, Antônio
t>ales, Antônio Martins, Amadeu Xavier de Castro (filho do. - Que barbeiro e que dentista!
peeta), e o padre Antônio Tomás. Deste último, vamos ler Tirando os dentes aos pentes,
este "Cromo", transcrito do livro Padre Antônio Tomás, prín- Fazendo a barba às escovas!
cipe dos poetas cearenses (1958), de sua sobrinha Dinorá
Tomás Ramos:
Mas, quem ler os livros de poesia publicados por Antô2.
Voltando o Zeca da roça, rio Sales não terá certamente idéia da singular veia humorís-
Não sei do que ele deu fé, tica do poeta. É que nunca chegou a ser editado o livro que o
Com a Rita zanga-se e até poeta anunciara com o título de Fora do Sério. Desse livro
Dispõe-se a dar-lhe uma "coça". constariam alguns textos que Leonardo Mata reproduziu no
seu livro A Padaria Espiritual, de 1938. Como esta quadra:
Ela porém se alvoroça,
E diz-lhe batendo o pé: - "É muito cheio de si!"
- Não venha não, seu José, Dizem de ti. Frase errada!
Se vier, a causa engrossa•! ... Eu coisa alguma já vi
Que esteja cheia. . . de nada .. .
Pelo barulho atraído,
Contempla os dois espantado Ou esta outra:
O filhinho mais crescido.
Vi um médico fardado;
Diz um outro se safando: Que perfeito matador!
- Credo! O papai está danado, Quem escapar do soldado
E a mamãe já está ficando. Não escapa do doutor.

A Padaria Espiritual, há pouco mencionada, foi, esclareça- Ou ainda estas duas:


mos para quem acaso não saiba, o mais original de todos os
grêmios culturais de nossa terra. Fundada em 1892 em For- É difícil que aconteça
taleza, seu Programa de Instalação proibia aos "padeiros" Dor de cabeça ela ter:
(membros do grupo) "fazer qualquer referência à Rosa de Ma- Pode a dor aparecer,
lherbe e escrever nas folhas mais ou menos perfumadas dos Mas não encontra a cabeça .

86-v Rev. de Letras, Fortaleza, 12 0/2) - jan./dez. 1987 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 <1/2) - jan./dez. 1987 87
Devido ao êxito dessa campanha, que culminou com a
Em certo escritor satírico, saída de Nuno de Andrade, o poeta repetiu a dose logo de-
De uma irreverência atroz, pois, focalizando desta vez o ministro J. J. Seabra, do go-
Nós a•chamos muito espírito, verno Rodrigues Alves. O verso final era "Só tu, Seabra, não
Quando não fala de nós. sais":

E este epigrama, sobre um professor: Sai o cobre do Tesouro


(E ao sair não volta• mais)
Durante a vida inteira ele ensinou, Sai do povo a pele e o couro,
Sem uma folga ter, Só tu, Seabra, não sais!
De maneira que o tempo lhe faltou
Para aprender ... Ocorre, porém, que, no tempo de Nuno de Andrade, inte-
ressava ao governo a nomeação de Osvaldo Cruz, como lem-
bra Pedro Nava, que acrescenta·: "No caso Seabra os ata-
Nos primeiros anos do século, o Correio da Manhã, do ques atingiam ministro prestigiado e com a Bahia por trás." (2)
Rio, é contra a permanência de Nuno ue Andrade na diretoria Assim, quem saiu foi o poeta, que se despediu com esta
ela Saúde Pública, ao tempo de Campos Sales, mas o higienis- quadra:
ta não arreda o pé. E então que Antônio Sa•les, na secção
''Pingos & Respingos", que mantém com outros escritores no Sai o Sales do Tesouro,
prestigioso jornal, publica, diariamente, uma quadrinha de sua Va·i para as plagas austrais
autoria, terminando sempre com o verso "Tudo passa e o Nuno Comer churrasco com couro ...
fica". Ficou famosa esta: Só tu, Seabra, não sais!

De certas damas, às vezes, Mas é evidente que não detectamos humorismo apenas
A barriga estica, estica, nos versos dos autores cearenses: embora com menor fre-
Mas, ao fim de nove meses ... qüência, vamos encontrá-lo também na prosa de ficção.
Tudo passa. E o Nuno fica. Talvez nem todos os que leram Luzia-Homem, o conheci-
do romance de Domingos Olímpio , se lembrem de uma pas-
sagem cômica, uma verdadeira anedota. Trata-se de um episó-
Pedro Nava, sobrinho afim de Sales, transcreve em seu dio que fala de figuras reais, ou seja•, os membros daquela
Baú de Ossos (1972) várias dessas quadras, como esta: Comissão Científica da qual fazia parte Gonçalves Dias. Está
no capítulo 27, e é narrado pelo personaqem Ra•ulino.
O Manuel José de Soisa Depois de falar dos cientistas que andaram pelos sertões
Idolatrava a Xumbica; a pesquisar, e de citar os nomes dos principais, narra o va•-
Agora nem cu mo coisa . .. queiro:
Tudo passa, e o Nuno fica .
Depois de jantarem um bom traçalho de carne
de vaca gorda que parecia um leitão, a•ssada no es-
Sabendo Sales que Nuno de Andrade, furioso, havia dito peto, algumas lingüiças e um chibarro aferventado
que uma das rimas o poeta guardara para a mãe, no outro com pirão escaldado, armaram as redes nos es-
dia aparecia esta quadra picante: teios. Veio a noite, clara como dia, sem uma nuvem
no céu, liso como espelho. Convidava mesmo a
Morre a flor que mais se estima,
Morre o espinheiro que pica. 2) NAVA , Pedro. Balão Cativo. 2. ed . Rio de Janeiro, J, Olympio, 1973,
(Seu Nuno, gostou da rima?) p. 247-8.
Tudo passa, e o Nuno fica.
Rev. de Letras, Fortaleza, 12 0/2) - jan./dez. 1987 89
ás Rev. de Letras, Fortaleza, 12 0/2) - jan./dez. 1987 o)
Devido ao êxito dessa campanha, que culminou com a
Em certo escritor satírico, saída de Nuno de Andrade, o poeta repetiu a dose logo de-
De uma irreverência atroz, pois, focalizando desta vez o ministro J. J. Seabra , do go-
Nós a•chamos muito espírito , verno Rodrigues Alves. O verso final era "Só tu, Seabra , não
Quando não fala de nós. '3ais":

E este epigrama, sobre um professor: Sai o cobre do Tesouro


(E ao sair não volta• mais)
Durante a vida inteira ele ensinou , Sai do povo a pele e o couro,
Sem uma folga ter, Só tu, Seabra, não sais!
De maneira que o tempo lhe faltou
Para aprender . . . Ocorre, porém, que, no tempo de Nuno de Andrade, inte-
ressava ao governo a nomeação de Osvaldo Cruz, como lem-
bra Pedro Nava, que acrescenta•: " No caso Seabra os ata-
Nos primeiros anos do século , o Correio da Manhã, do ques atingiam ministro prestigiado e com a Bahia por trás." (2)
Rio, é contra a permanência de Nuno ue Andrade na diretoria Assim, quem saiu foi o poeta , que se despediu com esta
ela Saúde Pública, ao tempo de Campos Sales, mas o higienis- quadra:
ta não arreda o pé . É então que Antônio Sa•les, na secção
'" Pingos & Respingos " , que mantém com outros escritores no Sai o Sales do Tesouro,
prestigioso jornal, publica, diariamente, uma quadrinha de sua Va•i para as plagas austrais
autoria, terminando sempre com o verso "Tudo passa e o Nuno Comer churrasco com couro . ..
fica" . Ficou famosa esta: Só tu, Seabra, não sais!
De certas damas, às vezes , Mas é evidente que não detectamos humorismo apenas
A barriga estica, estica, nos versos dos autores cearenses: embora com menor fre-
Mas, ao fim de nove meses ... qüência , vamos encontrá-lo também na prosa de ficção.
Tudo passa. E o Nuno fica. Talvez nem todos os que leram Luzia-Homem , o conheci-
do romance de Domingos Olímpio , se lembrem de uma pas-
sagem cômica , uma verdadeira anedota. Trata-se de um episó-
Pedro Nava, sobrinho afim de Sales , transcreve em seu d jo aue fal a de figuras reais, ou seja•, os membros daquela
Baú de Ossos (1972) várias dessas quadras, como esta : Comissão Científica da aual fazia parte Gonçalves Dias. Está
no capítulo 27, e é narrado pelo personaaem Ra•ulino.
O Manuel José de Soisa Depois de falar dos cientistas aue andaram pelos sertões
Idolatrava a Xumbica; a pesquisar, e de citar os nomes dos principais, narra o va•-
Agora nem cu mo coisa . . . queiro:
Tudo passa, e o Nuno fica .
Depois de jantarem um bom traçalho de carne
de vaca gorda que parecia um leitão, a•ssada no es-
Sabendo Sales que Nuno de Andrade , furioso , havia dito peto, a•lgumas lingüiças e um chibarro aferventado
que uma da·s rimas o poeta guardara para a mãe, no outro com pirão escaldado, armaram as redes nos es-
dia aparecia esta quadra picante: teios. Veio a noite, clara como dia, sem uma nuvem
no céu, liso como espelho. Convidava mesmo a
Morre a flor que mais se estima,
Morre o espinheiro que pica. 2) NAVA, Pedro. Balão Cativo. 2. ed . Rio de Janeiro, J. Olympio, 1973,
(Seu Nuno, gostou da rima?) p. 247-8 .
Tudo passa, e o Nuno fica.
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as Rev. de Let ras, Fortaleza, 12 0/2) - jan./dez. 1987
que pontificaram ao tempo do poeta: pa•ssada as personagens
gente a dormir na fresca do alpendre. Ali pelas sete que serviram de modelos aos versos, a sátira perde muito
horas, disse a eles o velho: "Achava melhor vossas de sua graça. Se as pessoas satirizadas o foram sem a com-
senhorias passarem cá parao dentro, porque vem aí petente identifica•ção, menor ainda será a dose de humoris~
um pé-d'água de alagar." Ora, os doutores, que sa- rr:o, pois, em muitos casos, cada vez será mais difícil a identi-
biam tudo e adivinhavam pelas estrelas as mudan- ficação dos retratados.
ça•s de tempo, zombaram do aviso; saíram para o Tudo isto é dito tendo em vista o livro Maricas & Maricões,
terreiro e olharam para o céu, sempre limpo e cla- de Gilberto Flores, obra que, editada em 1912, teve segunda
ro, para verem o que diziam as estrelas. O mais edição duplamente aumenta•da em 1915. Esse livro, cujo autor
sabido deles, o doutô Capanema, disse que o velho era na verdade lrineu Filho, causou escândalo em sua época,
estava sonhando com chuva•, mania de sertanejos, quando era mais fácil reconhecer a maioria dos focalizados.
que não pensam noutra coisa. Teimaram em ficar Entretanto, sua•s sátiras não deflagram hoje o riso que deflagra-
no alpendre, embora o velho continuasse a assegu- ram há mais de 70 anos.
rar que se arrependeriam. Ouaondo estavam ferra- Ainda hoje discutem os pesquisadores para saber quem
dos no sono, ali pelas onze horas, acordaram debai- rea•lmente era o "Ceguinho", ou o "Formigão", ou, ainda, o
xo d'água e correram com a rede nas costas, em '·Tenente Vate". Mas todos os que tratam de nosso passa•do
procura de abrigo dentro da• casa, todos admirados literário sabem que "Adão" é Ulisses Bezerra; que "'Eva" ·é
uns dos outros, como haviam mangado do velho. De Alba Valdez; que o "Benemérito" é Rodolfo Teófilo; que "O
manhã, antes de deixarem o rancho, foram agrade- Oculista" é Paula Rodrigues; que "Aicuim" é Frota Pessoa
cer a hospedagem, e um deles perguntou ao velho: etc.
"Como é que vossa senhoria• percebeu sinais de Para dar um exemplo da• sátira de lrineu Filho, leiamos o
chuva, que escaparam a nós outros científi,..ns en-
soneto "O Marreco", no qual é caricaturado Alf. Castro, poeta
verqonhados do quinau de mestre que nos deu?" O parnasiano de valor, tradutor de Heredita, e cujo único livro
velho sorriu, e respondeu: "É muito simples Te- publicado foi De Sonho em Sonho, de 1906: -
nho ali, no cercado, um burro velho que, quando se
está formando chuva, rincha de certo modo: é aque-
Vem agora um Maricas convencido
la certeza. A chUva• vem sem demora. Foi por isso
De ser o maior vate. . . depois de Eva!
que avisei a vossa senhoria." O tal de Gonçalves
É baixo, e loiro e rubro ... e é tão nutrido
Di::Js, pequenino. muito la0ino e esperto. começou a
Como um porquinho ruivo que se ceva!
bulir com os outros, dizendo a eles: "Estamos numa
terra, onde burros sabem mais que a•strônomos."
Fabricou muito verso desmedido.
No hemistíquio, ninguém o sobreleva;
Para quem estranhe essa páqina alegre num romance de Lê e traduz Heredia com espri mido
fabulação tão trágica, valemo-nos de um dado extraliterário
Rigor de forma, que é o que mais o enleva!
·parao sugerir que o · ficcionista deve ter-se servido do vaquei-
ro Raulino para pôr no seu romance um pouco da sua própria
Hoje - não sei que torvo cataclismo
verve, pois, segundo o depoimento de Antônio Sales, que con-
Na alma lhe entrou com estrépito medonho,
viveu ·com ele · no Rio, "Domingos Olímpio, se era um cearen-
Alma e crânio deixando-lhe carecas ...
se legítimo pela inteligência e pela sensibilidade, o era tam-
bém pela; graça às vezes picante e mordaz do seu espírito." (3)
Sei, porém, que perdeu todo o lirismo ...
Como lembrou Procópio Ferreira, há motivos perenes e
E a lira, que nasceu de sonho em sonho,
motivos transitórios para o riso. Destes últimos o mais típico
Foi morrer ao compasso das marrecas! .. .
talvez seja aquele que preside à sátira endereçada a pessoas
3) SALES, Antônio. Retratos e Lembranças. Fortaleza, Castro e Silva -'- Irineu Filho, autor do poema "O Saara", foi logo indigita-
Editor, 1938, p. 212. do 'como sendo o Gilberto Flores, desde a primeira edição ·do

I :90 Rev. de L-etras, Fortaleza, 12 U/2) - jan./dez. 1987 1 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 U/2) - jan./dez. 1987 '91
(lo)
que pontificaram ao tempo do poeta: passada as personagens
gente a dormir na fresca do alpendre. Ali pelas sete que serviram de modelos aos versos, a sátira perde muito
horas, disse a eles o velho: " Achava melhor vossas de sua graça. Se as pessoas satirizadas o foram sem a com-
senhorias passarem cá para- dentro, porque vem aí petente identifica•ção, menor ainda será a dose de humoris-
um pé-d'água de alagar." Ora, os doutores, que sa- mo, pois, em muitos casos, cada vez será mais difícil a identi-
biam tudo e adivinhavam pelas estrelas as mudan- ficação dos retratados.
ça•s de tempo, zombaram do aviso; saíram para o Tudo isto é dito tendo em vista o livro Maricas & Maricões,
terreiro e olharam para o céu, sempre limpo e cla- de Gilberto Flores, obra que, editada em 1912, teve segunda
ro, para verem o que diziam as estrelas. O mais edição duplamente aumenta·da em 1915. Esse livro, cujo autor
sabido deles, o doutô Capanema, disse que o velho era na verdade lrineu Filho, causou escândalo em sua época,
estava sonhando com chuva, mania de sertanejos, quando era mais fácil reconhecer a maioria dos focalizados.
que não pensam noutra coisa. Teimaram em ficar Entretanto, sua•s sátiras não deflagram hoje o riso que deflagra·
no alpendre, embora o velho continuasse a assegu- ra m há mais de 70 anos.
rar que se arrependeriam. Quando estavam ferra- Ainda hoje discutem os pesquisadores para saber quem
dos no sono, ali pelas onze horas, acordaram debai- rea•lmente era o " Ceguinho", ou o "Formigão", ou, ainda, o
xo d'água e correram com a rede nas costas, em '·Tenente Vate " . Mas todos os que tratam de nosso passado
procura de abrigo dentro da• casa, todos admirados literário sabem que " Adão" é Ulisses Bezerra; que '"Eva" ·é
uns dos outros, como haviam mangado do velho. De Alba Valdez; que o " Benemérito" é Rodolfo Teófilo; que "O
manhã, antes de deixarem o rancho, foram agrade- Oculista" é Paula Rodrigues; que "Aicuim" é Frota Pessoa
cer a hospedagem, e um deles perguntou ao velho: etc . ~-
"Como é que vossa senhoria• percebeu sinais de Para dar um exemplo da• sátira de lrineu Filho, leiamos o
chuva, que escaparam a nós outros científi,..ns P.l'l- soneto "O Marreco", no qual é caricaturado Alf . Castro, poeta
verqonhados do quinau de mestre que nos deu?" O parnasiano de valor, tradutor de Heredita, e cujo único livro
velho sorriu, e respondeu: "É muito simples Te- publicado foi De Sonho em Sonho, de 1906:
nho ali, no cercado, um burro velho que, quando se
está formando chuva, rincha de certo modo: é aoue- Vem agora um Maricas convencido
la certeza. A chuva• vem sem demora. Foi por isso De ser o maior vate. . . depois de Eva!
oue avisei a vossa senhoria." O tal de Gonçalves É baixo , e loiro e rubro . .. e é tão nutrido
DiF~S, pequenino. muito lar1ino e esperto. começou a Como um porquinho ruivo que se ceva!
bulir com os outros, dizendo a eles: "Estamos numa
terra, onde burros sabem mais que a•strônomos." Fabricou muito verso desmedido.
No hemistíquio, ninguém o sobreleva;
Para quem estranhe essa páqina alegre num romance de Lê e traduz Heredia com esprimido
tabulação tão trágica , valemo-nos de um dado extraliterário Rigor de forma, que é o que mais o enleva!
'Parao sugerir que o ficcionista deve ter-se servido do vaquei-
ro Raulino para pôr no seu romance um pouco da sua própria Hoje - não· sei ·que torvo cataclismo
verve, pois, segundo o depoimento de Antônio Sales, que con- Na alma lhe entrou com estrépito medonho,
viveu ·com .ele no Rio, "Domingos Olímpio, se era um cearen- Alma e crânio deixando-lhe carecas . . .
se legítimo pela inteligência e pela sensibilidade, o era tam-
bém pelao graça às vezes picante e mordaz do seu espírito." (3) Sei, porém, que perdeu todo o lirismo . . .
Como lembrou Procópio Ferreira , há motivos perenes e E a lira, que nasceu de sonho em sonho,
motivos transitórios para o riso. Destes últimos o mais típico Foi morrer ao compasso das marrecas! . . .
talvez seja aquele que preside à sátira endereçada a pessoas
lrineu Filho, autor do poema "O Saara", foi logo indigita-
3) · SALES, Antônio. Retratos e Lembranças. Fortaleza, Castro e Silva - do · como sendo o Gilberto Flores, desde a primeira edição do
Editor, 1938, p . 212.
1 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 (1/2) - jan,fdez. 1987 '9"1
~ ;go Rev. de Letras, Fortaleza, 12 (1/2) - jan./dez, 1987
livro. Por isso, na segunda•, de 1915, há um soneto retratando chamou de "o primeiro ironista do Ceará de todos os tem-
"O Pigmeu", que é chamado de "Vate do Saara de apertado pos", (4) que é Quintino Cunha.
piso". Esse poema foi feito evidentemente para despistar os Advertimos, porém. que o poeta de Pelo Solímões, no
acusadores, e termina com estes versos: que tange ao cômico, talvez não apa•r3ça aqui em toda a sua
verve esfuziante, famosa em todo o País. É que, sendo nossa
- Quebre a lira•, abandone essas pieguices, proposta tratar de literatura, aqui certamente não aparecerão
Destruía o que escreveu. . . Versos de amores, as famosas anedotas do Quintino, que pertencem, na verda-de. à
Por melhores que sejam, são tolices! ... vida literária. No poema humorístico tem o poeta página•s dig-
nas de nota, mas o seu forte era a resposta de imoroviso.
Entre na vida real, enfrente as dores . .. No livro Diferentes, com que estreou em 1895, há con-
E - sobretudo! - deixe as gabolices ~os e poemas, como informa a filh:t do escritor, Lourdite
De andar passando por Gilberto Flores! . .. Cunha, no livro Quintino Cunha no Conceito de Seus Contem-
rorâneos (1964). Um dos poemas é este cromo, "Cena de
Mais tarde, no jornal A Nota, em 1919, sob o pseudônimo 1893", que reproduzimos de Verve CEarense (1969). de Rena-
de Dr. Rábula, fez os perfis de todos os bacharéis em Di- to Sóldon:
reito de 1918. Dolor Barreira, no v. 3 de sua História da Lite·
ratura Cearense, de 1954, reproduz alguns desses perfis em
sonetos, inclusive o que retrata o próprio autor, isto é, "I. F.": Por um rancho aonde está
reunida muita gente,
É das melhores raças dos nanicas passa uma rede. . . e se sente
Este bacharelando pequenino, que coisa de novo há.
Autor de versos próprios de meninos
E melosas estrofes impudicas . .. Um molecote de lá
do rancho, tomando a frente,
Dão-lhe a odiosa autoria do "Maricas" pergunta, curiosamente,
Que causou tanto a•larme e desatino, aos carregantes: - "Olá! . . .
La•nçando humor sarcástico, ferino ,
Contra as gentes mais nobres e mais ricas. Vai morto ou vivo?" - E o doente
que vinha, pela• aguardente,
Da vida apenas aprecia o cômico ... toldado de cabo a rabo,
Não leva nada a sério neste mundo,
Nem nada lhe parece encantador ... ergue o lençol que o esr.onde,
bota a cabeca e responde:
No estudo sempre foi muito econômico ... - Vai é bebo como o diabo! ...
Mas, para não ficar um vagabundo,
Sem ter o que fazer, se fez doU-tor.
Sóldon, que é sobrinho do poeta, reproduz nesse seu li-
vro o poema "Spes Unica", acrescentando que os versos lhe
O autor destas notas teve oportunidade de conversar fMam ditados por Quintino Cunha•, estando este enfermo, "pe-
com o poeta uma única vez, da• Praça do Ferreira para a dindo deooi8 que os mostrasse à sua amantíssima terceira es-
Praça do Coração de Jesus, e ao lhe perguntar se ele era real- posa": (5)
mente o autor dos Maricas & Maricões, ouviu o já velho poe-
4j Apud CUNHA, Lourdite. Quitino Cunha no Conceito de Seus Con-
ta responder: "Não. O autor do livro é o Gilberto Flores .. . " temnorâneos. 2 . ed . Rio de Janeiro. Continente, 1964, p. 138.
Num trabalho sobre o cômico nas letra•s do Ceará não SôT,DON. Renato. Verve Cearense. Rio de Janeiro, Edição do Autor,
poderia naturalmente faltar aquele que Agrippino Grleco 1969, p . 37.

92 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 <1/2) - jan./dez, 1987 Rcv. de Letras, Fortaleza, 12 {1/2) - jan./dez. 1987 93
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livro. Por isso, na segunda•, de 1915, há um soneto retratando chamou de " o primeiro ironista do Ceará de todos os tem·
" O Pigmeu " , que é chamado de " Vate do Saara de apertado pos", (4) que é Quintino Cunha.
piso". Esse poema foi feito evidentemente para despistar os Advertimos , porém, que o poeta de Pelo Solimões, no
acusadores, e termina com estes versos: que tange ao cômico, talvez não apa·reça aqui em toda a sua
verve esfuziante, famosa em todo o País. É que, sendo nossa
- Quebre a lirao, abandone essas pieguices, proposta tratar de literatura, aqui certamente não aparecerão
Destrui a o que escreveu . . . Versos de amores, as famosas anedotas do Quintino, que pertencem , na verda·de , à
Por melhores que sejam, são tolices! . . . vida literária. No poema humorístico tem o poeta página•s dig-
nns de nota, mas o seu forte era a resposta de imoroviso.
Entre na vida real, enfrente as dores . .. No livro Diferentes, com que estreou em 1895, há con·
E - sobretudo! - deixe as gabolices i:os e poemas , como informa a filha do escritor , Lourdite
De andar passando por Gilberto Flores! . .. Cunha, no livro Quintino Cunha no Conceito de Seus Contem-
porâneos (1964). Um dos poemas é este cromo, " Cena de
Mais tarde, no jornal A Nota, em 1919, sob o pseudônimo 1893", que reproduzimos de Verve Cearense (1969), de Rena·
de Dr. Rábula, fez os perfis de todos os bacharéis em Di· to Sóldon:
reito de 1918. Dolor Barreira, no v. 3 de sua História da Lite ·
ratura Cearense, de 1954, reproduz alguns desses perfis em
sonetos, inclusive o que retrata o próprio autor, isto é, "1 . F.": Por um rancho aonde está
reunida muita gente,
É das melhores raças dos nanicas passa uma rede . . . e se sente
Este bacharelando pequenino, que coisa de novo há .
Autor de versos próprios de meninos
E melosas estrofes impudicas . .. Um molecote de lá
do rancho, tomando a frente ,
Dão-lhe a odiosa autoria do "Maricas" pergunta, curiosamente,
Que causou tanto a•larme e desatino, aos carregantes: - "Olá! .. .
La•nçando humor sarcástico, ferino,
Contra as gentes mais nobres e mais ricas. Vai morto ou vivo? " - E o doente
que vinha, pela• aguardente,
Da vida apenas aprecia o cômico ... toldado de cabo a rabo,
Não leva nada a sério neste mundo,
Nem nada lhe parece encantador .. . ergue o lençol que o esr.onde ,
bota a cabeca e responde:
No estudo sempre foi muito econômico . . . - Vai é bebo como o diabo! . ..
Mas , para não ficar um vagabundo,
Sem ter o que fazer, se fez doutor.
Sóldon, que é sobrinho do poeta, reproduz nesse seu fl.
vro o poema "Spes Unica", acrescentando que os versos lhe
O autor destas notas teve oportunidade de conversar foram ditados por Quintino Cunha•, estando este enfermo , " pe-
com o poeta uma única vez, da• Praça do Ferreira para a dindo deoois que os mostrasse à sua amantíssima terceira es-
Praça do Coração de Jesus, e ao lhe perguntar se ele era real- posa": (5)
mente o autor dos Maricas & Maricões, ouviu o já velho poe-
4i Apud CUNHA, Lourdite. Quitino Cunha no Conceito de Seus Con-
ta responder: "Não. O autor do livro é o Gilberto Flores ... " tem norâneos. 2 . ed . Rio de Janeiro. Continente, 1964, p. 138.
Num trabalho sobre o cômico nas Jetra•s do Ceará não 5} SóT"DON . Renato. V erve Cearense. Rio de Janeiro, Edição do Autor,
poderia naturalmente faltar aquele que Agrippino Grleco 1969, p . 37 .

92 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 <1/2) - jan./dez. 198'1 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 (1/2) - jan./dez, 1987 93
Morto, dentro da fria sepultura, Na Arábia , foi Herói; na Grécia , Trono;
sem te poder falar? em Roma, Senador!
E tu que me amas , boa criatura, Hoje, no mais humílimo abandono,
indo me visitar .. . mal chega a ser doutor . ..

Banhada de suspiros, de soluços,


desmaiada, talvez . . . Eurico Facó, autor do livro Pingos d'Agua (1918) e de inú-
Muita vez reclinada, até de bruços , meros sonetos esparsos, compôs um dia o poema " Enganos" ,
na altura dos meus pés. hnseado nos equívocos da vida . É ma·is um texto cuja comici-
dncle advém do imprevisto final, contrastando com o seu iní-
Pedindo a Deus o meu viver eterno •:lo:
junto das glórias su as;
que me livre das penas do inferno . .. Eu disse: Eu morro! - Espero! Ela me disse
E a chorar continuas, Quando a sorte cruel nos separou .
Parti. Voltei anos depois. . . Alice
lembrando nossa vida, a todo instante , Mostrou-me seu marido ... Que tolice!
Repassada· de dor . .. Nem eu morri, nem ela me esperou .
A lembrar-te que fui o teu amante
- o teu único amor!
Otacílo de Azevedo, autor do soneto "Carro de Bois" , pu-
Mal pensando na horrífica caveira , hllcou em 1920 uma plaqueta constituída por um só poema ,
em que me transformei, l11tltulado Musa Risonha. Apesar do título , traz esse livro , como
exausto de fadiga , de canseira , j (l se observou , momentos de humorismo e momentos de tris-
ima•gin_ar não sei . .. 1070 . Musa Risonha, que é uma espécie de autobiografia do
roota•, é composto de quadras, mas abre exceção para um so-
Para evitar essa hora amargurada , noto, retratando um dos companheiros de Otacílio de Azeve-
essa quadro de dor, tão verdadeiro, do na mocidade, "O Cunha" :
Deus há de ser servido , minha amada,
que tu morras primeiro! . .. Eu tive um qrande amigo , um belo moço ,
que apesar de ser pobre, às vezes tinha
Trata...se de um poema de humor negro , valendo-se o autor o orqulho de dizer sem mais sobrosso ,
do recurso da surpresa: composto em seis estrofes , até che- só passa•r a perus, frangos, galinha ...
garmos à quinta , e mesmo ao iniciarmos a última, aoarece-nos
o poema como um poema elegíaco , de trágica e pesada a•t mos- Convidou-me, um domingo , para o almoço,
fera , quebrada, porém , pela boutade final, que destrói todo a e eis uma estreita e mísera banquinha,
solenidade dos versos anteriores ... uns três pratos carne , arroz , um osso ,
É ainda Renato Sóldon quem conta• que, logo depois de e uma lata• pequena de sardinha . . .
1930 houve uma desmoralização do ensino no Brasil , dando ,
.::amo conseqüência, uma chusma de dout ores apenas semi- Depois de me dizer que, mesmo pobre ,
alfabetizados, o que levou Quintino Cunha a escrever " O Ca- passava a vida como gente nobre
valo" : toda a sopa no mel súbito cai . . .
O mérito , em declínio, é sempre oriundo
de um suposto valor: Grita um menino que matava a fome:
o cavalo foi tudo, nest e mundo , - "Hoje sim, hein mamãe, a gente come ,
desde escravo a Senhor! como é bom este amigo do papai! "
94 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 0/2) - jan./dez. 1987 ltcw. de Letras, Fortaleza, 12 0 / 2) - jan./dez. 1987 95
Morto, dentro da fria sepultura, Na Arábia, foi Herói; na Grécia, Trono;
sem te poder falar? em Roma, Senador!
E tu que me amas, boa criatura , Hoje, no mais humílimo abandono,
indo me visitar ... mal chega a ser doutor .. .
Banhada de suspiros, de soluços ,
desmaiada, talvez .. . Eurico Facó, autor do livro Pingos d'Agua (1918) e de inú-
Muita vez reclinada, até de brucos, llloros sonetos esparsos, compôs um dia o poema "Enganos ",
na altura dos meus pés . -
hnseado nos equívocos da vida. É ma·is um texto cuja comici-
dnde advém do imprevisto final, contrastando com o seu iní-
Pedindo a Deus o meu viver eterno olo:
junto das glórias su as;
que me livre das penas do inferno ... Eu disse: Eu morro! - Espero! Ela me disse
E a chorar continuas, Quando a sorte cruel nos separou.
Parti. Voltei anos depois. . . Alice
lembrando nossa vida, a todo instante, Mostrou-me seu marido . . . Que tolice!
Repassada• de dor ... Nem eu morri, nem ela me esperou.
A lembrar-te que fui o teu amante
- o teu único amor!
Otacílo de Azevedo, autor do soneto " Carro de Bois", pu-
Mal pensando na horrífica caveira, blicou em 1920 uma plaqueta constituída por um só poema ,
em que me transformei, Intitulado Musa Risonha. Apesar do título , traz esse livro, como
exausto de fadiga, de canseira, jé se observou, momentos de humorismo e momentos de tris-
ima•gin_ar não sei . .. teza . Musa Risonha, que é uma espécie de autobiografia do
poeta, é composto de quadras, mas abre exceção para um so-
Para evitar essa hora amargurada , neto , retratando um dos companheiros de Otacílio de Azeve-
essa quadro de dor, tão verdadeiro, do na mocidade, "O Cunha":
Deus há de ser servido , minha amada,
que tu morras primeiro! ... Eu tive um grande amigo , um belo moço,
que apesar de ser pobre , às vezes tinha
Trata..se de um poema de humor negro, valendo-se o autor o orgulho de dizer sem mais sobrosso,
do recurso da surpresa: composto em seis estrofes, até che- só passa•r a perus, frangos, galinha ...
garmos à quinta, e mesmo ao iniciarmos a última, aoarece-nos
o poema como um poema elegíaco , de trágica e pesada a•tmos- Convidou-me, um domingo, para o almoço,
fera, quebrada, porém, pela boutade final, que destrói todo a e eis uma estreita e mísera banquinha,
solenidade dos versos anteriores .. . uns três pratos carne , arroz , um osso ,
É ainda Renato Sóldon quem conta• que, logo depois de e uma lata• pequena de sardinha . . .
1930 houve uma desmoralização do ensino no Brasil, dando,
como conseqüência, uma chusma de doutores apenas semi- Depois de me dizer que, mesmo pobre,
alfabetizados, o que levou Quintino Cunha a escrever "O Ca- passava a vida como gente nobre
valo": toda a sopa no mel súbito cai ...
O mérito, em declínio , é sempre oriundo
de um suposto valor: Grita um menino que matava a fome:
o cavalo foi tudo, neste mundo , - "Hoje sim, hein mamãe, a gente come,
desde escravo a Senhor! como é bom este amigo do papai!"
94 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 0/2) - jan./dez. 1987
Rev. de Letras, Fortaleza, 12 0/2) - jan./dez. 1987 95
Júlio Maciel, o cantor de Terra Mártir (1918), vez por ou-
tra gostava de praticar o epigrama. Como este, " Um Médico": - Mas, seu Dotô, bem que se diz que neste
mundo tem gente pra tudo e ainda sobra! Ora .Vos-
Vendo-o baixar à campa fria, senhoria - um Doutô! - pra que é que havéra de
Um verme triste assim dizia: dar'! Pra juntar as besteims da gente e andar fazen-
do discurso com elas . ..
- Lá na cidade, onde morava,
Este doutor mais nos convinha: Fato real ou anedota no sentido mais comum do termo,
Cada receita, que passava, o episódo a que o escritor dá tratamento literário entra for-
Era um defunto que nos vinha. osamente para a• literatura. Como, entre tantos, o caso de
" A água se acabava " , breve narrativa que figura no livro Ser-
iDo Alegre, de 1928, o tercei ro livro de Leota. A Chiquinha,
Não poucas vezes fazem os poetas humorismo com sua i1ha do velho Galdino, era, em sua• terra, " a mais linda pro·
própria tristez!'l. É o caso de Aug usto Linha•res, neste poema, messa de mulher bonita" , como diz o narrador. que prosse-
" Retratos": uue:

Retratos ... Antigamente, Noite de São João, houve um arrasta-pés na


Lembras-te? Nossos retratos casa de Galdino. As danças iam muito an1 madas,
Pareciam-se com a gente; quando a Chiquinha sentiu súbita indisposição:
Mas hoje. . . tempos ingratos! dois ou três cálices de licor de tangerina lhe tinham
Queremos forçosamente subido à cabeça. Desculpando-se de não poder
Parecer com tais retratos! dança•r aquela " figurada " , ela tratou de ir repousar
um pouco. Na alcova, cuja porta aberta dava para
o corredor que levava à sala de jantar, estirou-se a
A nosso ver, um dos mel hores momentos da verve céiml- fio comprido numa rede. Mas, naquele estado de
ca de Auausto Unhares rnue às vezes se assinava Bóris Frei- torpor, e quase inconsciência, não cuidou em ajei-
re) é a trova intitulada "Preguiça": tar as saias curtas, resultando disso ficar meio des-
nuda. Um rapaz viu-a assim e saiu bisbilhoteira-
Quando sinto o oue se chama mente a avisar os companheiros. Daí a• pouco, sob
Vontade de trabalhar, o pretexto da procura de água na sala de jantar,
Deito-me logo na cama, havia intenso trânsito no corredor .. . O velho Galdi-
Até a vontade passa•r! no observou a coisa e acabou descobrindo a razão
de tanta sede. Mas, não deu nenhum escândalo.
Chamou a mulher e ordenou-lhe calmamente:
Leonardo Mota , o folclorista dos Cantadores (1921), escre- - Biluca, vá dizer à Chiquinha que se deite
veu sonetos na moci dade , mas não nos const a haver perpe- direito senão esta rapaziada me seca os potes .. .
trado nenhum verso de caráter facet a. O que ele fez foi reco-
lher, nos vários livros que publicou, inúmeros poemas popu- Sabemos que, com o advento do Modernismo, surgiu no
lares, cheios do fino humor do nosso povo simples , bem como Hrosil um tipo de poema que Sérgio Milliet chamou de "poema-
episódios que são o rel Mo de cenas vistas por ele ou das plnda " , e que tinha o objetivo de quebrar a solenidade do dis-
quais teve notícia, em suas andanças pelo int erior nordestino. cmso parnasiano-simbolista.
Esses versos e esses caso s ele os reunia para expô-los em No Ceará, o livro inaugural da• nova estética, O Canto
conferências e enfeixá-los em livros. Por isso ele próprio , no Novo da Raça, apareceu em 1927, e era assinado por quatro
final do livro Violeiros do Norte, de 1925, contou que, à saída po etas: Jáder de Carvalho, Mozart Firmeza, Franklin Nascimen-
de uma de suas palestra•s, um velho matuto lhe disse, sorrindo: lo o Sidney Neto. Há nesse livro um poema-piada, de Jáder, in-
lllul ado " Modernismo" :
SG Rev. de Letras, Fortaleza, 12 (1/2) - jan./dez. 1987
ltov. de Letras, Fortaleza, 12 (1/2) - jan./dez. 1987 97
Júlio Maciel, o cantor de Terra Mártir (1918), vez por ou-
tra gostava de praticar o epigrama. Como este, " Um Médico": - Mas, seu Dotô, bem que se diz que neste
mundo tem gent e pra tudo e ainda sobra ! Ora .Vos-
Vendo-o baixar à campa fria, senhoria - um Doutô! - pra que é que havéra de
Um verme triste assim dizia: dar '! Pra juntar as best eiras da gent e e andar fazen-
do discurso com elas . ..
- Lá na cidade, onde morava,
Este doutor mais nos convinha: Fato real ou anedota no sentido mais comum do termo,
Cada receita, que passava, o ep isódo a que o escritor dá tratamento literário entra for-
Era um defunto que nos vinha. <(osam ente para a• literatura. Como, entre tantos, o caso de
" A água se acabava " , breve narrativa que figura no livro Ser-
IDo Alegre, de 1928, o terceiro livro de Leota. A Chiquinha,
Não poucas vezes fazem os poetas humorismo com sua firha do velho Galdino, era, em sua• terra, "a mais linda pro·
própria tristez~. É o caso de Aug usto Linha•res, neste poema , messa de mulher bonita", como diz o narrador, que prosse-
" Retratos": gue :

Retratos .. . Antigamente, Noite de São João, houve um arrasta-pés na


Lembras-te? Nossos ret ratos casa de Galdino. As dancas iam muito am madas,
Pareciam-se com a gente; quando a Chiquinha sen-tiu súbita indisposição:
Mas hoje . . . tempos ingratos! dois ou três cálices de licor de tangerina lhe tinham
Queremos forçosamente subido à cabeça . Desculpando-se de não poder
Parecer com tais retratos! dançar aquela "figurada", ela tratou de ir repousar
um pouco. Na alcova, cuja porta aberta dava para
o corredor que levava à sala de jantar, estirou-se a
A nosso ver, um dos mel hores momentos da verve comr- fio comprido numa rede. Mas, naquele estado de
ca de Auqusto Unhares fn ue às vezes se assinava Bóris Frei- torpor, e quase inconsciência, não cuidou em ajei-
re) é a trova intitulada "Preguiça" : tar as saias curtas, resultando disso ficar meio des-
nuda. Um rapaz viu-a assim e saiu bisbilhoteira-
Quando sinto o oue se chama mente a avisar os companheiros. Daí a pouco, sob
Vontade de trabalhar, o pretexto da procura de água na sala de jantar,
Deito-me logo na cama, havia intenso trânsito no corredor ... O velho Galdi-
Até a vontade passa•r! no observou a coisa e acabou descobrindo a razão
de tanta sede. Mas, não deu nenhum escândalo.
Chamou a mulher e ordenou-lhe calmamente:
Leonardo Mata, o folclorista dos Cantadores (1921). escre- - Biluca, vá dizer à Chiquinha que se deite
veu sonetos na mocidade, mas não nos const a haver perpe- direito senão esta rapaziada me seca os potes . ..
t rado nenhum verso de caráter faceta. O que ele fez foi reco-
lher, nos vários livros que publicou, inúmeros poemas popu- Sabemos que, com o advento do Modernismo, surgiu no
lares, cheios do fino humor do nosso povo simples, bem como Brasil um tipo de poema que Sérgio Milliet chamou de "poema-
episódios que são o rela•to de cenas vistas por ele ou das piada" , e que tinha o objetivo de quebrar a solenidade do dis-
quais teve notícia, em suas andanças pelo interior nordestino. curso parnasiano-simbolista.
Esses versos e esses casos ele os reunia para expô-los em No Ceará, o livro inaugural da• nova estética, O Canto
conferências e enfeixá-los em livros. Por isso ele próprio , no Novo da Raça, apareceu em 1927, e era assinado por quatro
final do livro Violeiros do Norte, de 1925, contou que, à saída poetas: Jáder de Carvalho, Mozart Firmeza, Franklin Nascimen-
de uma de suas palestra•s, um velho matuto lhe disse, sorrindo: to e Sidney Neto. Há nesse livro um poema-piada, de Jáder, in-
titulado "Modernismo":
56 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 (1/2) - jan./dez. 1987
Rev. de Letras, Fortaleza, 12 <1/2) - jan./dez. 1987 97
Teu cabelo à Rodolfo, Edigar de Alencar, modernista da primeira hora e epigra-
tuas olheiras românticas, mista aos bons , já no seu livro de est ré ia, Carnaúba, de Hl32,
teus quadris inquiet os e atordoadores , fala do casamento em duas trovas:
teus seios bico-de-pássaro
dão-me a• idéia cabal deste século ultra chie! Himeneu

Ontem, quando deixavas o cinema, Amor. Sorriso. Alegrias .


- o colo nu, Pretor. Latim engrolado.
os braços nus, E dentro de poucos dias
a perna escandalosamente nua, Mais um homem desgraçado.
eu tive a súbita impressão de que,
na bolsa de ouro a te pender da mão, Tragédia
vinha• (de precavida que és!)
- o teu vestido ... Ato primeiro: Namoro.
Segundo ato: Casamento.
Terceiro ato: Desaforo.
Franklin Nascimento, outro dos quatro autores do livro, ha- Finaol: Arrependimento.
veria de compor, posteriormente, algumas trovas cômicas, como
esta•s duas, que figuram na Coletânea de Poet::oc; Cearenses Edigar chegou a publicar um livro só de versos humorís-
( 1952), de Augusto Unhares: ticos, Mocororó, em 1942. Desse livro é o mordaz epigrama
" Piscina" :
Caim, garoto, comia
Massapê de causar dó , Madama é um poço de virtudes,
Pelo que Abel lhe dizia ninguém nega o conceito transparente.
- Tu acabas com vovó! Pena é que no poço não mergulhe
o marido somente.
Casamento é loteria,
Desde os tempos de Labão:
Jacó, recebendo Lia, Na Geração do Grupo Clã o destaque maior, no campo de
Pegou a aproximação. que ora tratamos, é para Mílton Di a•s, que fez do humor a ma-
téria-prima da maior parte de sua obra literária•, composta de
o:;rônicas e de estórias, como ele mesmo chamou seus contos .
E por falar em casamento, Martins d'Aivarez compôs sobre Pintando as peripécias e sobretudo as desventuras da gente
o tema diversas quadras, das quais destacamos estas : $lmples, principalmente aos domésticas e as prostitutas, isto é,
IS cunhãs, que focalizou em mais de um livro, Mílton Dias,
Moço sem eira nem beira :orno já tivemos ocasião de observar, narra fatos cheios de
que ao casório se aventura, humor, mas sem disfarçar a simpatia e mesmo a piedade que
compra ingresso de primeira lhe inspira essa pequena humanidade. Muitas vezes , à manei-
para o drama da amargura. rn dos filmes de Chaplin , misturam-se cenas tristes a episó-
rllos hilariantes, mas o que predomina é o cômico.
Em As Cunhãs, de 1966, há uma Laurinda que faz desa-
Casar é propor-se ao ato porecerem os objetos mais amados da patroa , que, entretanto ,
de domar um touro a unha! nno se preocupa e, quando ela sai , consegue reaver tudo de
Por isso exigem contrato, novo . Numa dessas batidas encontra várias carta•s, com coisas
compromisso e testemunha. rloste teor:

98 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 <1/2) - jan./dez. 1987 Rov. de Letras, Fortaleza, 12 U/2) - jan./dez. 1987 99
-:-eu cabelo à Rodolfo, Edigar de Alencar, modernista da primeira hora e epigra·
tuas olheiras românticas, mista aos bons, já no seu livro de estréia, Carnaúba, de HJ32,
teus quadris inquietos e atordoadores, fala do casamento em duas t rovas:
teus seios bico-de-pássaro
dão-me a• idéia cabal deste século ultra chie! Himeneu

Ontem, quando deixavas o cinema, Amor. Sorriso. Alegrias.


- o colo nu, Pretor. Latim engrolado .
os braços nus, E dentro de poucos dias
a perna escandalosamente nua, Mais um homem desgraçado.
eu tive a súbita impressão de que ,
na bolsa de ouro a te pender da mão, Tragédia
vinha• (de precavida que és!)
- o teu vestido ... Ato primeiro: Namoro.
Segundo ato: Casamento.
Terceiro ato: Desaforo.
Franklin Nascimento, outro dos quatro autores do livro, ha- Fina•l: Arrependimento.
veria de compor, posteriormente, algumas trovas cômicas, como
estas duas, que figuram na Coletânea de Poetas Cearenses Edigar chegou a publicar um livro só de versos humorís-
(1952), de Augusto Unhares: ticos, Mocororó, em 1942. Desse livro é o mordaz epigrama
" Piscina":
Caim, garoto, comia
Massapê de causar dó, Madama é um poço de virtudes,
Pelo que Abel lhe dizia ninguém nega o conceito transparente.
- Tu acabas com vovó! Pena é que no poço não mergulhe
o marido somente.
Casamento é loteria,
Desde os tempos de Labão:
Jacó, recebendo Lia, Na Geração do Grupo Clã o desta•que maior, no campo de
Pegou a aproximação. quo ora tratamos, é para Mílton Dias, que fez do humor a ma-
l t)rfa-prima da maior parte de sua obra literária•, composta de
·~ rô n ic as e de estórias, como ele mesmo chamou seus contos.
E por falar em casamento, Martins d'Aivarez compôs sobre Pintando as peripécias e sobretudo as desventuras da gente
o tema diversas quadras, das quais destacamos estas: lmpl es, principalmente aos domésticas e as prostitutas, isto é,
w cunhãs, que focalizou em mais de um livro, Mílton Dias,
Moço sem eira nem beira t:omo já tivemos ocasião de observar, narra fatos cheios de
que ao casório se aventura, lnunor, mas sem disfarçar a simpatia e mesmo a piedade que
compra ingresso de primeira lho Inspira essa pequena humanidade. Muitas vezes, à manei-
para o drama da amargura. 111 dos filmes de Chaplin, misturam-se cena•s tristes a episó-
di os hilariantes, mas o que predomina é o cômico.
Em As Cunhãs, de 1966, há uma Laurinda que faz desa-
Casar é propor-se ao ato pnroco rem os objetos mais amados da patroa, que, entretanto,
de domar um touro a unha! 1111o so preocupa e, quando ela sai, consegue reaver tudo de
Por isso exigem contrato, IHlVO . Numa dessas batidas encontra várias cartas, com coisas
compromisso e testemunha. dou to teor:

98 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 0/2) - jan./dez, 1987 H11 v. <lo Letras, Fortaleza, 12 (1/2) - jan./dez. 1987 99
Laurinda saudações espero que esta vá te en- Do mesmo ano de Tijolo de Barro, de Horácio Dídimo, é o
contrar no gozo aa mais perteita saúde juntamente Strip Tease aa GicJade, de César Coelho, troveiro, radialista e
com toaos. t-aça esta caninha someme para saoer jorna•Iista. Seu livro reúne crônicas que publicou na imprensa.
suas notícias. Laurinda· a mamãe manda dizer que 13asra ler alguns títulos do livro para ver o caráter humorístico
Deus te abençôe e que tu tenha comportamento e dessas narrativas: "E deu a vaca " , "Uma mulher na rifa" , "Até
aprenda bem a ler. Laurinda manda dizer urgente a dentadura" , "Era uma vez Pedro Manso" etc.
o que é que está mais em moda na•s irradiadoras "O Gênio do Vestibular" fala do Lobinho, filho do seu
daí pois aqui o sucesso é Partiste aquela que tem Lobo, rapaz esnobe que tem fama de intelectual, um verdadei-
um pé que diz deixaste de ser mãe para ser mu- ro Rui Barbosa. Era o tempo em que Rachei escrevia suas crô-
lher da rua. nicas na revista O Cruzeiro, e o moço se preparou para o ves-
tibular de Direito. Vamos dar a palavra ao narrador:
Em outra estória do mesmo livro, desfilam, uma a uma•,
três irmãs, filhas da velha Hermínia, cuja condição de ex- Chegou finalmente o dia do vestibular. Prova
prostituta parece refleti r-se no destino dessas Marias. Fa- de Português na parada·. Lobinho saiu de casa com
lando da primeira• delas, diz o narrador que ela " é o orgulho a frieza e a paz das genialidades. Não levou livro,
ela mãe, que continua no sertão". E con_tinua: caderno, coisa alguma. la com toda a a-utoridade de
Está no Rio a Maria. É a que está melhor de to- seu talento. Beijou a mãe e esnobou:
das, mora num ''departamento" , casou com um grin- - Velha, fique certa de que a Salamanca num
go, tem automóvel e todo conforto. se manca com o seu filho. Eu taco um dez nessa
Uma vez lhe perguntaram se Ma•ria está mais provinha de português.
gorda, ela respondeu com alegria d'alma: - Nem Foi-se com tudo. Muito cedo retornou. Vinha
gorda, nem magra, está assim medieval . . . triunfante. Da porta, deu o berro para o pessoal de
casa, numa euforia que explodia por todos os po-
Horácio Dídimo, que estreou em 1967 com Tempo de ros:
Chuva, não é bem o que se poderia chamar de um poeta• cô- - Lavei. Lavei. Sabe quem foi que ca•iu? Quá
mico. Mas na sua poesia o humor (ou o húmor, como prefere quá quá quá. Parece até piada. A Eça de Queiroz,
Sud Mennucci) se instala vez por outra, não para nos fazer aquela dona que escreve no CRUZEIRO. Que tal,
gargalhar, é claro, mas para nos fazer levemente sorrir. turma? Que tal? Quá quá quá quá. Eu acho é graça!
Do seu livro Tijolo de Barro, de 1968, é este micropoema,
"a sobremesa":
Henri Bergson, em seu livro O Riso, depois de afirmar
quem sabe o que vem depois? aue não há comicidade fora do que é propriamente humano,
jantamos nossos churrascos sendo o homem não apenas um animal que sabe rir. mas igual-
contra a vontade dos bois. mente um animal que faz rir, fala da insensibilidade que
acompanha o riso, e observao:
Ou este outro, "o circo dos pequenos desvelos":
a avestruz pensava com os seus botões A indiferença é o seu meio natural. O riso não
procurando um meio de comê-los. tem maior inimigo que a emoção. Não quero dizer
E mais este, "a solução", que já dissemos uma vez ter que não possamos rir de uma pessoa que nos ins-
o recorte aparentemente humorístico, mas na essência guar- pire piedade, ou mesmo afeição: apenas, por al-
do uma dolorosa• (ou consoladora) verdade: guns instantes, dever-se-á esquecer esta afeição,
fazer calar esta piedade. (!l)
daqui a cem anos,
todos os nossos problemas 6) BERGSON, Henri. Le Rire. Deuxiéme édition. Paris, Félix Alcan, 1913,
nos terão resolvido. p. 4.

100 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 (1/2) - jan./dez, 1987 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 U/2) - jan./dez. 1987 101
Laurinda saudações espero que esta vá te en- Do mesmo ano de Tijolo de Barro, de Horácio Dídimo, é o
contrar no gozo aa mais perteita saúde juntamente Strip Tease aa Giaade. de César Coelho , troveiro, radialista e
com todos. t-aço esta can:1nha someme para saoer j orna•lista. Seu livro reúne cronicas que publicou na imprensa.
suas notícias. Laurinda a mamãe manda dizer que PasTa ler alguns tí t ulos do livro para ver o caráter humorístico
Deus te abençôe e que tu tenha comportamento e dessas narrativas: " E deu a vaca" , " Uma mulher na rifa" , "Até
aprenda bem a ler. Laurinda manda dizer urgente a dentadura" , " Era uma vez Pedro Manso" etc.
o que é que está mais em moda na•s irradiadoras "O Gênio do Vestibular" fala do Lobi nho, filho do seu
daí pois aqui o sucesso é Partiste aquela que tem Lobo, rapaz esnobe que tem f ama de int electual, um verdadei-
um pé que diz deixaste de ser mãe para ser mu- ro Rui Barbosa. Era o tempo em que Rachei escrevia suas crô-
lher da rua. nica•s na revista O Cruzeiro, e o moço se preparou para o ves-
ti bular de Direito . Vamos dar a pa lavra ao narrador:
Em outra estória do mesmo livro, desfilam, uma a uma•,
três irmãs, filhas da velha Hermínia, cuja condição de ex- Chegou finalmente o dia do vestibular. Prova
prostituta parece refletir-se no destino dessas Marias. Fa- de Português na parada•. Lobinho saiu de casa com
lando da primeira• delas, diz o narrador que ela " é o orgulho a frieza e a paz das genial idades. Não levou livro,
da mãe, que continua no sertão" . E con.tinua: caderno, coisa alguma. la com toda a autoridade de
Está no Rio a Maria. É a que está melhor de to- seu talento. Beijou a mãe e esnobou:
das, mora num "departamento", casou com um grin- - Velha, fique certa de que a Salamanca num
go, tem automóvel e todo conforto . se manca com o seu filho. Eu taco um dez nessa
Uma vez lhe perguntaram se Ma•ria está mais provinha de português.
gorda, ela respondeu com alegria d'alma: - Nem Foi-se com tudo. Muito cedo retornou. Vinha
gorda, nem magra, está assim medieval .. . triunfante. Da porta, deu o berro para o pessoal de
casa, numa euforia que explodia por todos os po-
Horácio Dídimo , que estreou em 1967 com Tempo de ros:
Chuva, não é bem o que se poderia chamar de um poeta• cô- - Lavei. Lavei. Sabe quem foi que caiu? Quá
mico. Mas na sua poesia o humor (ou o húmor, como prefere quá quá quá. Parece até piada. A Eça de Queiroz,
Sud Mennucci) se instala vez por outra, não para nos fazer aquela dona que escreve no CRUZEIRO. Que tal,
gargalhar, é claro, mas para nos fazer levemente sorrir. turma? Que tal? Quá quá quá quá. Eu acho é graça!
Do seu livro Tijolo de Barro, de 1968, é este micropoema,
" a sobremesa":
Henri Bergson, em seu livro O Riso, depois de a·f irmar
quem sabe o que vem depois? aue não há comicidade fora do que é propriamente humano,
sendo o homem não apenas um animal que sabe rir. mas igual-
jantamos nossos churrascos
mente um animal que faz rir, fala da insensibilidade que
contra a vontade dos bois.
acompanha o riso, e observao:
Ou este outro, "o circo dos pequenos desvelos" :
a avestruz pensava com os seus botões A indiferença é o seu meio natural. O riso não
procurando um meio de comê-los. tem maior inimigo que a emoção. Não quero dizer
E mais este, "a solução", que já dissemos uma vez ter que não possamos rir de uma pessoa que nos ins-
o recorte aparentemente humorístico, mas na essência guar- pire piedade, ou mesmo afeição : apenas, por al-
dê.J uma dolorosa (ou consoladora) verdade: guns instantes, dever-se-á esquecer esta afeição,
fazer calar esta piedade. (&)
daqui a cem anos,
todos os nossos problemas 6) BERGSON, Henri. Le Rire. Deuxiéme édition. Paris, Félix Alcan, 1913,
nos terão resolvido. p. 4 .

100 Rev. de Letras, Fort aleza, 12 0/2) - jan./dez, 1987 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 0/2) - jan./dez. 1987 101
Talvez, por isso, jamais tenhamos aceito falar-se de poe-
~•la cômica, preferindo sempre fa•lar em poema ou verso cô-
mico. Todavia, é preciso ser poeta, aqui tomando-se o termo
poema no sentido original, aristotélico, de criação, para pro-
duzi!· uma arte que desperte o riso.
Nem todos os autores cearenses que escreveram pági-
O NíVEL NARRATIVO E METAFóRICO DA HORA DI
nas humorísticas estão aqui. (7) Valha, porém, a coletao que a
nossa sensibilidade, ou melhor, que a nossa insensibilidade BAI DE MANUEL FERH.EIRA
(segundo Bergson) conseguiu fazer ...

João Ferreira

1 - A NARRATIVA

Globalmente, a narrativa de Manuel Ferreira atinge seus


objetivos oferecendo ao leitor os dados de uma estaria trá-
gica cujo começo se situa na fome que avassalou a ilha de
S. Nicolau e cujo desfecho termina no saque e na chuva da
i lha de S. Vicente.
Ao nível de pragmática narrativa, Manuel Ferreira obtém
em Hora di Bai (1) o sucesso de um emérito narrador. Toda• a
projeção simbó-lica carregada através do discurso prende o
leitor, num movimento progressivo que o faz caminhar desde
a descrição do flagelo da fome e da estiagem a•té às estórias
individuais e biográficas dos humildes que participam . da me-
táfora maior que é a fome e a luta pela sobrevivência. O am-
biente entre os migraontes da leva a caminho de São Vicente,
a descrença do povo nas propostas de emigração para S. Tomé
- onde a qualidade de vida é comparada à escravidão, as far-
ras, os amores, a prostituição e a arte de construir os perso-
nagens maiores e menores como Chico Afonso, . Xandinha,
Juca, Nha Venância, Dr. César, Dr. Maia, Dr. França, capitão
Fonseca Morais, Beatriz, alferes Viega•s, Sebastião Cunha
etc. são pontos altos do vigor narrativo de Manuel Ferreira.
O movimento dos signos de superfície, que são os sig-
nos lingüísticos, levam-nos aos signos de profundidade psico-
lógica e simbólica. Através destes, os termos de uma nova
unidade se estabelece: aquilo a que Todorov ou Rolland Bar-
thes chamariam de gramática narrativa.

7) Não falamos, por exemplo, em Emídio Barbosa (o Chammarion, ou


João dos Gatos), em José Gil Amora (o José da Rua), em Abílio Mar- (1) A edição usada nesta pesquisa literária é a da Editora Ática , São Paulo ,
tins e vários, vários outros ... 1980. As páginas indicadas em nosso textc são referentes a esta edição.

Rev. de Letras, Fortaleza, 12 (1/2) - jan./dez. 1987 Rev. de Letras, Fortaleza, 12 (1/2) - jan./dez. 1987 ' 103
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