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O Marxismo e a Luta dos Negros

George Breitman
1964

Primeira Edição: ....


Fonte: Marxism and the Negro Struggle
Tradução: Carlos Alberto Silva de Souza, Marcos Jundensaider Knijnik e Lars Moirai
HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.

O que é o marxismo e como ele se desenvolve

O movimento negro continua a crescer com


uma força e alcance cada vez maiores, mas,
assim como a maioria dos movimentos de
massa, o faz de maneira empírica –
descobrindo o seu caminho através da
experiência, da tentativa e erro. E ele ainda
está elaborando sobre suas posições, políticas
e orientações, pouco a pouco conforme as
pressões da realidade imediata.

Sendo o capitalismo o sistema contra o qual o


movimento se rebela, suas políticas estão
assumindo um caráter cada vez mais
anticapitalista, na maioria dos casos, de
maneira implícita, mas eventualmente de
maneira explícita também. Entretanto, os
elementos mais avançados do movimento
(racialistas e nacionalistas) ainda não
elaboraram nem adotaram uma ideologia clara
ou um amplo programa de revolução social
baseado em uma análise detalhada do sistema
capitalista monopolista norte-americano, e os caminhos e meios para a sua destruição.

A necessidade de teoria

A necessidade é sentida pelo movimento, para possibilitar uma ampliação de suas


perspectivas e a formulação de uma teoria fundamental para sua ação. Alguns
intelectuais negros estão tentando superar essa necessidade. Isso começa,
inevitavelmente, com a análise e crítica das teorias existentes na atualidade. Tendo
rejeitado o liberalismo, isto é, o liberalismo capitalista, defendido de maneira unificada
por Lyndon Johnson, Walter Reuther, Roy Wilkins, James Farmer e Martin Luther King,
os intelectuais do movimento negro são confrontados com a tarefa de definir sua atitude
frente ao marxismo, a teoria e prática do socialismo revolucionário científico.

Os marxistas recebem alegremente a busca e crítica dos ativistas negros. Apenas


pedimos que o marxismo seja discutido como ele realmente é, e não como uma das
muitas distorções pelas quais foi substituído, pela malícia ou ignorância, no lugar onde a
produção de interpretações erradas do marxismo virou uma indústria nacional.

Essa condição elementar para uma discussão frutífera não é atingida no artigo de Harold
Cruse, “Marxism and the Negro” (Marxismo e o Negro), publicado nas edições de maio
e junho da Liberator. Inicialmente uma polêmica contra a Socialist Workers Party(1),
esse artigo é projetado para sustentar a tese de Cruse de que o marxismo é irrealista,
incapaz de se ajustar à realidade revolucionária, dominada por pensamentos “brancos”,
e que tem a intenção de explorar e dominar o movimento negro. A representação de
Cruse do marxismo está um nível acima da representação da maioria da imprensa
capitalista, mas ela também sofre de muitos erros e distorções. Vamos começar,
portanto, com a concepção geral dele sobre o marxismo.

Simpatizante de Marx

Cruse tira o chapéu para Marx, reconhecendo que ele foi um grande pensador, cujo
método do materialismo dialético aumentou grandemente a compreensão mundial sobre
a sociedade. Porém, ele é incapaz de dizer algo positivo ou crível sobre os marxistas do
século XX. Os acusa todos de meramente repetirem o que Marx disse, de serem
inflexíveis, de se prenderem a ideias ultrapassadas e fracassarem em se ajustar às novas
condições. Ao mesmo tempo, ele os acusa, também, de cometerem os erros exatamente
opostos – de não repetirem o que Marx disse, de serem muito flexíveis, de se desviarem
tanto de Marx que sequer merecem serem chamados de marxistas.

De uma forma ou de outra, estaremos sempre errados(2): quando marxistas modernos


repetem exatamente o que Marx disse, eles estão sendo meros papagaios, e quando eles
não o fazem, então não são marxistas. Para começar, vamos analisar o segundo desses
crimes – o “desvio” de Marx.

Enquanto teoria, o marxismo começou com Marx, porém ele não terminou com ele. Se
este fosse o caso, se o marxismo fosse apenas o que Marx descobriu e formulou há um
século ou mais, então ele não teria nenhum direito de ser chamado de científico; ele
seria classificado, atualmente, como um tipo de dogma ou culto, e o mundo teria parado
de debater sobre ele há muito tempo. Marx desenvolveu sua teoria e algumas de suas
leis tendo como base o conhecimento e condições de seu tempo. Sua teoria seria de fato
inútil para a atualidade se outros pensadores, utilizando-se de seu método, não
houvessem adicionado ao marxismo e o atualizado frente aos novos conhecimentos,
diferentes condições e novas experiências.

Cruse crítica os marxistas do século XX por incrementarem àquilo que Marx deu início,
adaptando suas ideias a condições que não existiam em seu tempo, e aplicando sua
teoria a circunstâncias que nem Marx nem qualquer outro ser humano de seu tempo
poderiam ter previsto. Isso apenas faria sentido se esperássemos que sua teoria tivesse
algum tipo de qualidade mágica: estar desenvolvida logo após sua concepção, para
poder ser aplicada a qualquer tempo e lugar, da mesma forma, perfeita e irrefutável. Tal
exigência jamais é feita a nenhuma outra teoria e ciência. A teoria moderna da evolução
não é, e não o pode ser, a mesma de quando foi descoberta por Darwin há um século;
ela se desvia do original, é sua extensão. O mesmo se aplica ao marxismo.

“Desvios de Marx”

Cruse provavelmente concordaria de maneira geral com essas afirmações, dizendo que
suas críticas não são contra as extensões da teoria de Marx, mas sim desvios dela –
desvios estes tão grandes que levaram o marxismo a uma crise incorrigível. Nós
poderemos entender o que ele quer dizer com desvios do marxismo, e, portanto, o que
ele quer dizer com marxismo, quando nos voltamos aos únicos exemplos que ele
fornece sobre tais desvios: a Revolução Russa de 1917. (Como veremos mais a frente, o
papel do marxismo na Revolução Russa nos dá importantes esclarecimentos sobre a real
relação entre o marxismo e a luta negra.)

O máximo usurpador de Marx, diz Cruse, foi Leon Trotsky, “quem afirmou pela
primeira vez que a revolução era sequer uma possibilidade na Rússia. Isso foi em 1905,
momento em que nenhum outro marxista russo concordou que isso era possível (nem
mesmo Lênin). Trotsky foi denunciado como um visionário ridículo, porém mais tarde
acabou por ganhar outros marxistas russos para seu pensamento”.

Sério Dilema?

“O marxismo, da maneira como Marx o desenvolveu, não previa uma ‘revolução


socialista’ em um país atrasado como a Rússia. De acordo com Marx, a revolução que
ele previu teria de acontecer em um país altamente industrializado, que necessariamente
haveria de ter criado uma grande classe de trabalhadores industriais [...] (que) se
revoltariam e expropriariam os donos [...]

(A Revolução Russa) colocou os partidos marxistas da Europa ocidental, Estados


Unidos, etc., em um sério dilema – que só se aprofundaria com o passar dos anos em
uma série de crises. Isso se deu porque toda a revolução que aconteceu desde a
Revolução Russa se desenvolveu em condições agrárias, de indústria atrasada, de
semicolônia ou de colônia [...]

De acordo com uma interpretação ortodoxa das formulações marxistas, Trotsky


adulterou as ‘leis’ marxistas, e colheu uma tormenta [...]”

É verdade que Marx esperava que a revolução do proletariado contra o capitalismo


começasse nos países com um desenvolvimento industrial avançado, e também é
verdade que ela se deu em um país atrasado e semicolonial. Mas nenhum desses fatos
invalida o marxismo ou condenam Lênin e Trotsky de terem “adulterado” o marxismo.
Pelo contrário! A derrubada do capitalismo na Rússia sinalizou o começou do fim do
capitalismo como o sistema dominante mundial, e portanto foi, na realidade, a primeira
grande confirmação da teoria de Marx.

As previsões temporais de Marx sobre as revoluções se mostraram erradas ou


ultrapassadas, mas isso é apenas um detalhe frente ao fato de que a revolução proletária
prevista por Marx de fato aconteceu, de que os trabalhadores demonstraram de maneira
decisiva a sua habilidade para tomar o poder dos capitalistas, de que uma enorme ferida
foi aberta dentro do mundo capitalista.

Uma crise? Sim, de fato a Revolução Russa criou uma crise – para o capitalismo e o
imperialismo, uma crise que ainda assombra eles. Pois, apesar da subsequente
degeneração da União Soviética, a Revolução Russa se tornou um exemplo para as
massas oprimidas de tantos países e serviu de inspiração para outras revoluções
vitoriosas contra o capitalismo e o imperialismo, em outros países coloniais e
semicoloniais. Mais algumas dessas “crises do marxismo”, e o sistema capitalista estará
liquidado.

Lênin e Trotsky foram capazes, ao contrário de Marx, de ver a possibilidade de a


revolução acontecer primeiro em um país com um desenvolvimento industrial atrasado,
pois viveram anos depois de Marx e, “subindo em seus ombros”, foram capazes de
enxergar mais longe. Muito aconteceu para mudar o mundo durante o terço de século
que separou a morte de Marx e a Revolução Russa. Esse foi o período em que o
capitalismo definitivamente passou de seu estágio industrial, e entrou definitivamente
em seu estágio monopolista (imperialista).

Capitalismo Monopolista

Marx havia mostrado que o capitalismo estava inevitavelmente em direção aos


monopólios, mas ele não viveu para ver isso acontecer. A conquista do mundo pelo
imperialismo, o domínio e divisão da Ásia e África pelas potências capitalistas, criou
uma nova situação. Fez com que se apresentassem novas e mais profundas contradições
no capitalismo – e abriu novas possibilidades para a revolução contra o capital.

Nessa nova situação, Lênin e Trotsky aplicaram o método que fora deixado por Marx. A
teoria de Lênin sobre o imperialismo, e seu perspicaz estudo sobre o colonialismo e
nacionalismo, junto com a teoria da revolução permanente de Trotsky, adicionaram
novos e indispensáveis aspectos à teoria marxista. Revelaram fraquezas na estrutura
capitalista que não podiam ser vistos na metade do século XIX: o imperialismo
quebraria primeiro em seu elo mais fraco, as classes dominantes em países
industrialmente atrasados não poderiam resistir com tanta força à revolução como seus
irmãos mais avançados.

Principal Exemplo

Aplicadas com consequência na Rússia, essas contribuições à teoria marxista resultaram


na separação de um sexto do mundo da fortaleza capitalista. Como alguém pode pedir
por um exemplo mais magnífico da aplicação inovadora do marxismo para um país
específico com problemas e relações específicas? O que Cruse chama de “adulterar” é
apenas o enriquecimento da teoria marxista e sua aplicação concreta em condições
únicas e especiais. O marxismo estaria hoje morto se não fosse por essas contribuições.

Quando Cruse vê desvios porque Lênin e Trotsky não meramente repetiram aquilo que
Marx disse, ele mostra uma inabilidade, ou relutância, em reconhecer importantes
aspectos do marxismo – sua riqueza, variedade, habilidade para lidar com situações
diversas, sua incompletude. O marxismo não é apenas o que Marx elaborou há mais de
um século, nem é apenas o que Lênin e Trotsky adicionaram quando aplicaram o
método marxista às condições de seu tempo, mas também é o que marxistas posteriores
fizeram, fazem e farão conforme eles aplicam a teoria marxista a diferentes situações,
incluindo algumas que podem ser inteiramente novas.

O marxismo é uma teoria em processo de desenvolvimento, que cresce em potência e


alcance conforme é aplicado a situações específicas e a condições novas. Ele cresceu
quando Lênin e Trotsky o aplicaram às condições específicas da Rússia na época do
imperialismo (o “russificaram”). Ele cresceu quando o Socialist Workers Party o
aplicou às condições específicas dos Estados Unidos (o “americanizaram”). E ele
continua a crescer conforme a SWP o aplica às condições específicas da comunidade
negra nos Estados Unidos (o “enegrece”, conforme a SWP colocou nas resoluções da
convenção de 1963, Freedom Now: The New Stage in the Struggle for Negro
Emancipation, Pioneer Publishers).

Base na realidade

Teoria é algo derivado da realidade; quanto melhor uma teoria corresponder à realidade,
melhor ela é. Marx estudou as condições e dificuldades dos trabalhadores da Europa
ocidental, aprendeu suas lições e as incorporou em sua teoria. Lênin e Trotsky fizeram o
mesmo com os trabalhadores e camponeses russos. E desde sua fundação a SWP vêm
fazendo o mesmo com as condições e dificuldades da população negra dos Estados
Unidos, que sempre foram únicas em vários aspectos. Em sua teoria e programa, estão
incorporadas muitas lições aprendidas da luta dos negros, e de ideias, sentimentos e
perspectivas do “gueto negro”

E isso não é tudo. As dificuldades dos negros em 1964 não são as mesmas que existiram
há dez ou cinco anos – muito mudou. Falando no recente comício da Freedom Now
Party(3) em Detroit, seu presidente estadual, Albert B. Cleage, observou:

“em todo lugar a concepção geral do negro sobre si mesmo, de sua luta, mudou. Você
pode não saber o dia em que começou a pensar de modo diferente, mas isso
definitivamente aconteceu.” (Illustrated News, Junho de 1929)

Com essa mudança da percepção do negro sobre si mesmo e sua luta, veio muitas outras
mudanças – seus objetivos, estratégicas, táticas – e mesmo mudanças na maneira como
certas palavras são definidas.

O SWP vem tentando estudar essas mudanças, tentando entender suas causas, sua
direção, e encaixar suas características revolucionárias em um programa de ação capaz
de substituir o capitalismo pelo socialismo. Ele vem escutando e aprendendo de figuras
não-marxistas – como Malcom X, Rev. Cleage, William Worthy, Jesse Gray, Daniel
Watts, James Baldwin, os exilados Robert F. Williams e Julian Mayfield, e
eventualmente até de Harold Cruse – que, em certo grau, expressam o sentimento,
aspirações e pensamentos da comunidade negra que, como Robert Bernon recentemente
colocou, “é mais verdadeiramente trabalhadora e revolucionária que os sindicatos, ou
qualquer outra coisa nos Estados Unidos atualmente”.

Destes estudos e de sua própria participação nas lutas, a SWP no último ano ou dois
desenvolveu uma variedade de ideias – ideias marxistas – sobre o nacionalismo-negro,
separatismo, independência de ação política dos negros, a relação dos negros com os
capitalistas, com os trabalhadores brancos, etc. Independentemente de essas ideias
serem perfeitas ou quase perfeitas, de estarem completas ou apenas em seu começo,
rumo a uma compreensão mais completa da realidade, ninguém pode negar que elas
lidam com questões vitais no que toca a comunidade negra e seus aliados. Certamente
nenhum outro partido nesse país avançou mais nesse sentido do que a SWP.

Falácia do espantalho

O mais desencorajador no artigo de Cruse não é que ele rejeita o marxismo, mas que ele
deliberadamente se recusa a confrontar ou ao menos mencionar as ideias que a SWP
defende e pelas quais ela luta. Dando preferência a construir uma visão distorcida do
marxismo(4) que até mesmo alguém sem uma grande inteligência(5) conseguiria refutar,
ele simplesmente ignora o que o marxismo de fato defende e propõe. Por exemplo, a
SWP é a única das organizações que reivindicam o marxismo nesse país que diz que o
nacionalismo-negro é algo progressivo, oferecendo sua ajuda e colaboração. Não é
estranho que Cruse não pode achar nenhum espaço para esse fato em seu artigo sobre a
SWP e o movimento negro? Ou será que mencionar tal fato enfraqueceria toda a
estrutura de sua polêmica?

Nos casos em que as posições da SWP são bem conhecidas, Cruse acusa a SWP de fazer
afirmações sem de fato acreditar nelas, mas sempre de maneira cuidadosa para não
informar aos seus leitores quais são exatamente esses casos, para que eles possam então
fazer seu próprio julgamento. Ele nunca oferece evidência da tal desonestidade,
meramente afirmando que marxistas não podem acreditar em tais coisas (sem nunca
mencioná-las), pois então eles seriam obrigados a abrir mão do marxismo (em qualquer
caso, da versão de Cruse do marxismo). Sobre os esforços pioneiros da SWP de
enegrecer o marxismo, o que seria de interesse aos leitores de um artigo chamado
“Marxismo e o Negro”, ele jamais sequer menciona.

Essa pode ser uma maneira de “ganhar” o debate, ou de criar e fortalecer preconceitos
contra o marxismo. Porém, é uma maneira errada de educar os militantes negros, ou
qualquer outra pessoa, sobre o marxismo, ou sobre qualquer outra coisa. Cruse tem o
direito de não discutir o que a SWP de fato defende, porém um artigo que discute
justamente o que a SWP defende é um lugar estranho para exercer tal direito.

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Notas de rodapé:

(1) N.T. – SWP, seção da Quarta Internacional dos EUA. (retornar ao texto)

(2) N.T. – Do original “heads I win, tails you lose”, traduzido literalmente para “cara eu
ganho, coroa você perde”. (retornar ao texto)

(3) Freedom Now Party (ou Freedom Now Movement) (literalmente: Partido Liberdade
Já! ou Movimento liberdade já!) foi uma organização norte-americana que tinha como
objetivo criar um partido político negro, independente dos brancos. (retornar ao texto)
(4) N. T. – do original “straw man”: chamado em português de falácia do espantalho
(intencionalmente distorcer a posição do adversário em um debate para facilitar sua
refutação), foi traduzido nesse trecho por seu significado, para que seu conteúdo seja
mais acessível. (retornar ao texto)

(5) N. T. – do original “mental flyweight”: expressão que combina a palavra mental,


referente à mente, e flyweight, que é o “peso-pluma” (entre o peso-leve e o peso-médio)
no esporte de boxing. Ou seja, um pensador leve, pouco pesado, fraco. (retornar ao
texto)

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