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AMANTES DE CORPOS ARDENTES

O silêncio impunha-se imperiosamente e não fosse o vento a bramir lá fora, e, o cantarolar de


um sabiá-laranjeira que bravamente resistia ao implacável calor agostino daquela cálida manhã,
dir-se-ia que aí não havia presença humana. No entanto, no silêncio que os separavam e uniam,
cada um estava mergulhado um no outro e em si mesmos a fazerem seu trabalho. Ele corrigindo
provas escolares, ela corrigindo testes psicológicos.
Muito embora o calor fosse de quase trinta e oito graus ele vestia calças e camiseta como era
habitual, sentado em seu escritório mergulhado em seu mundo de papeis e docência, vez ou
outra deslocava a orbita de seus pensamentos e atenção e vadiava pela imagem dela, impressa
em suas lembranças em seu corpo e em sua emoção. Ele estava apaixonado desde o primeiro
olhar, desde o primeiro instante que a viu. Por isso divagava entre suas tarefas docentes e seus
devaneios e fantasias de amor.
Ela também apaixonada, estava bem ali ao alcance do seu toque, bastando que ele deixasse o
escritório e fosse ao quarto aonde ela trabalhava. Embora vedada ao seu olhar pela parede que
dividia quarto e escritório ela podia sentir o seu olhar a perscrutá-la, a despi-la, a devorá-la
naquele silêncio eloquente que os envolviam.
Ele é sagitariano, metamórfico, calhiente, sob a regência do fogo é enigmático silencioso,
ensimesmado e amante voraz. Ela é taurina, determinada, teimosa, obstinada, intensa, generosa,
encantadora, sob a regência da terra, ancora e dá combustível, base ao fogo inextinguível que é
a essência dele. Os dois combinam de um modo inexplicável, mais do que isso, mais do que
combinam, os dois se atraem, se desejam, se buscam se entregam, com uma voracidade, uma
paixão, uma força que os oprimem, violentam, sem lhes deixar outra possibilidade e assim, eles
só podem obedecer aos ditames dos desejos, aos caprichos da paixão, aos apelos de seus corpos
ardentes.
A princípio eles se olharam, uma única vez, seus olhos foram como portais que os transportaram
para outras dimensões. Ele foi transportado para a dimensão dela, ela para a dimensão dele. E
seus corpos os condutores de energias poderosíssimas adormecidas a tempos imemoriais, que
silenciosamente aguardavam esse encontro para poderem eclodir. O primeiro contato foi visual,
acionou o timer da bomba e desde então foram os dois se unindo até tocarem-se, unirem-se num
mesmo corpo, num mesmo gozo, num mesmo teto, num mesmo sonho e como um universo em
contração, os dois se unem cada vez mais até que não possam ser mais que um, na plenitude do
ser.
Quando a pele dele tocou a pele dela, uma explosão de luz encheu o ambiente, foi como se uma
supernova explodisse enchendo o cosmos de fogo e luzes multicoloridas, os dois se atraíram,
um para o outro, como que sugados por uma corça centrípeta que os arrastavam para um eixo
central que se formava a partir do encontro dos dois corpos. O primeiro toque foi o das mãos.
As mãos dele estenderam-se até as mãos delas, que as tomou cálida e generosamente e as
envolveu com afeto e volúpia. O silêncio marcava o ambiente com sua musicalidade, ritmada
pelo arquejar da respiração descompassada. Os olhos flamejantes de ambos perpassavam as
barreiras do físico e trocavam afagos metafísicos de alma para alma. A órbita planetária
acelerou-se em milhões de quilômetros hora, a realidade desapareceu no horizonte e este
dissolve-se na branca luz da pureza do desejo manifesto, o céu, converteu-se em leito, o sol em
vela e as estrelas mutaram-se em majestoso cacho de cintilantes uvas cósmicas que caíam do
infinito sobre o templo de amor e luxuria, onde o desejo era cultuado em desmesura.
Lenta e ritualisticamente ele a despiu, seu corpo desnudo das vestes que o envolviam, mostrou-
se mais belo que a mais bela rosa púrpura e virgem de manhã primaveril, o rubor de sua pele
clara, dava-lhe um toque especialíssimo que aumentavam seus encantos. Desnuda, não poderia
ela estar melhor e mais requintadamente vestida, para aquele rito sagrado de louvor ao desejo e
culto à paixão.
Seus seios majestosos, eram dois montes belos e imponentes entumecidos pela energia voraz
que os envolviam, pareceriam de mármore, se não fossem quentes como brasa. Suas formas
arredondas e avolumadas, sem excessos, seus mamilos indefectíveis em tamanho cor e
tonalidade, lhes davam em tudo, uma perfeição poética. O vente belo, a cintura bem definida, o
quadril largo, os glúteos bem harmônicos e generosos, as coxas grosas firmes e imponentes, as
panturrilhas fortes e firmes, belas como a lua cheia, os pés de beleza comovente, pareciam feitos
por um artista, um anatomista perfeccionista.
Os braços, as mãos, as orelhas, o nariz, a nuca, os cabelos, nela tudo padecia de uma beleza
extravagante, de uma indefectibilidade exagerada, que levava ao excesso, aumentando nele seu
ardor e sua devoção, sua paixão e seu encantamento. Ela não era bela como impõe a beleza
convencional vigente, ela era bela como só ela é, bela como as deidades que só podem ser vistas
em sua plenitude e perfeição por aqueles a quem lhes é concedido essa dadivosa oportunidade,
e, a ele foi. E ele a viu e a concebeu em toda a sua beleza e esplendor. E a amou, a desejou mais
que à própria vida.
Com uma estatura modesta, de um metro e sessenta e seis centímetros de altura ela exibia tanta
beleza e tanta dignidade que arrastava os olhares por onde passava. Os olhares masculinos a
deseja-la, atraídos por sua força e viço feminil, e os olhares femininos, por ser ela o que era,
como era. Pois ao olharem para ela, as demais mulheres tinham um instante de conforto e
entendimento, de como exercer essa corça divinal surpreendente que é o ser feminino, o ser
mulher, que por ser tão grande e tão poderoso, é impossível de ser contido em um corpo tão
rudimentar e primitivo como o corpo humano, e, por isso mesmo, causa tanta dor e sofrimento,
àqueles seres cujo a vida convida a vestir o corpo físico sob o domínio da força feminina. Ela,
porém, estava num estágio à frente, ela aprendera a lidar com essa potência divina que emana
em si, essa essência sublime chamada feminilidade de uma maneira melhor que a maioria das
demais mulheres, por isso ela arrebatava tanto homens quanto mulheres. No entanto, raras vezes
tomava ela consciência disso.
Ele, um homem modesto, mas belo, no auge de seus trinta e cinco anos, esbanjando vigor e
criatividade, trabalhando com educação, era poeta e artista. Apaixonado pela essência divina do
feminino e, seu cultuador nas formas e nas palavras, ao deparar-se com a plenitude feminina
dela não hesitou nem por um fragmento de segundo, e assim, reconheceu nela a metade que lhe
completava.
Seu corpo magro de um metro e oitenta e quatro centímetros de altura, exibia saúde e virilidade.
Tronco mais largo que as pernas, tinha ritmo intenso e frenético, quase violento. É carinhoso,
gentil, e galante, importa-se com a pessoa amada, emociona-se com o realizar-se da amada e seu
ápice proporciona-lhe um gozo sublime. Desse modo, é generoso no ato de amar, dedicando-se
afetuosamente ao prazer da parceira levando-a aos mais longínquos voos nas asas do desejo.
Viajando na carruagem da excitação, faz do corpo um caminho de peregrinação, uma via-crúcis
da paixão, onde imola e é imolado em nome do desejo, da paixão e do amor, nos mais variados
ritos luxuriosos, para que o deus Eros santifique lhes e consume-lhes a união desse amor voraz
que os ensandecem desmesuradamente.
Quando seu corpo em chamas encaixou-se ao corpo dela, também em chamas, ambos vestindo,
tão somente a pele cauterizada pelo desejo e banhada nos fluídos de seus lábios vorazes, que
lhes sugara cada milímetro, num banho luxurioso de lábios e língua, de toques e carícias
ensandecidas que precedera o encaixe e elevou ao máximo a excitação, deixando os corpos
trêmulos e extenuados de tesão, ele a penetrou com força titânica, adentrou em suas carnes
úmidas e quentes como o sol, com tanta força e convicção que ambos soltaram um grito em
uníssono como um coro, numa prece de consumação.
Quando sua lança rija preencheu por completo a alcova quente que transbordante de lava do
desejo a acomodou generosamente como a mão acomoda a luva com perfeição, uma estática se
impôs a ambos, e aquele instante demorou-se pela eternidade de alguns segundos. Ambos
sentiam-se mutuamente um no outro, na completude plena de serem um, sendo dois, ou de
serem dois, sendo um. Assim, nos breves segundos daquela eternidade, sem palavras e sem
movimentos, sem outra expressão, senão a do olhar que fazia um penetrar o outro estabelecendo
a plena unicidade de corpos e almas, experimentaram e compreenderam a magnitude do
absoluto. Naqueles efêmeros segundos, encontram um sentido, aquele sentido que escapa à vida
humana, aquele sentido que move-nos pela vida a fora, aquele sentido, também chamado “elo
perdido”, naqueles efêmeros e eternos segundos, os amantes de corpos ardentes o encontraram,
para além das palavras.
Rompida a magia transitória daqueles segundos de êxtase, o absoluto que se revelara, ocultara-
se na animalidade do ato, na transitoriedade do rito, no frenesi do exercício. E os corpos
movimentaram-se vorazes em movimentos intensos e posições variadas, em horas e horas de
coitos e gozos que se prolongaram até o amanhecer. Não houve, pausa, não houve interrupções,
os amantes, semelhantemente aos deuses da criação, trabalharam em seis atos de amor, em
muitos ritos e exercícios, onde as mãos, os dedos, os lábios, todos os elementos corpóreos
participaram da celebração divina, do profano sagrado desejo e, extenuados e satisfeitos, viram
que suas obras eram boas e assim, no sétimo ato, adormeceram para descansar seus corpos
ardentes, que ansiavam pelo merecido repouso do sétimo dia.

Dom Teles
27/06/2019

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