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ARTIGO ARTICLE
Cuidados paliativos:
uma abordagem a partir das categorias profissionais de saúde
Palliative care:
an approach based on the professional health categories
Abstract Palliative care has emerged as a human- Resumo O Cuidado Paliativo surge como uma
itarian philosophy of caring for terminally ill pa- filosofia humanitária de cuidar de pacientes em
tients, alleviating their pain and suffering. This estado terminal, aliviando a sua dor e o sofrimen-
care involves the action of an interdisciplinary to. Estes cuidados prevêem a ação de uma equipe
team, in which all the professional recognize the interdisciplinar, onde cada profissional reconhe-
limits of their performance will help the terminal- cendo o limite da sua atuação contribuirá para
ly ill patient to die with dignity. This article deals que o paciente, em estado terminal, tenha digni-
with the issue of death and dying, both from the dade na sua morte. Este artigo trata a questão da
traditional and the contemporary standpoint, and morte e do morrer, tanto na visão tradicional como
how palliative care have been treated in the job na contemporaneidade, e como o cuidado paliati-
categories of medicine, social work, psychology and vo tem sido tratado nas categorias de trabalho de
nursing. The methodology of this study consists of medicina, serviço social, psicologia e enfermagem.
a literature review of articles in the SciELO data- A metodologia deste trabalho consiste na revisão
base, electronic journals and technical books re- bibliográfica de artigos localizados na base de da-
lated to the topic. Analysis of the articles revealed dos Scielo, revistas eletrônicas e livros técnicos re-
a shortage of subjects that deal with the theme of lacionados com o tema. A análise dos artigos apon-
death in professional curricula, as well as few pal- tou para uma carência de disciplinas que tratem
liative care services in Brazilian society and bar- da temática da morte nos currículos profissionais,
riers faced by this new approach to the terminal para poucos serviços de cuidados paliativos na so-
patient. This research aims to broaden the discus- ciedade brasileira e para barreiras que se colocam
sion of palliative care in public health, and pro- a esse novo olhar ao paciente terminal. Esta pes-
vide information for future studies that will ad- quisa visa ampliar a discussão dos cuidados palia-
dress the theme. tivos na saúde pública, e fornecer subsídios a futu-
Key words Death, Palliative care, Humanizati- ros estudos que tratarão da temática.
on, Interdisciplinary team Palavras-chave Morte, Cuidado paliativo, Hu-
1
Departamento de Ciências
manização, Equipe interdisciplinar
Sociais, Escola Nacional de
Saúde Pública, Fiocruz. R.
Leopoldo Bulhões
1480/923, Manguinhos.
21.041-210 Rio de Janeiro
RJ. helidaribei@hotmail.com
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Hermes HR, Lamarca ICA
Para Ariès24 durante os séculos XVI, XVII e Enquanto no modelo da morte moderna, “a
XVIII, a morte foi caracterizada de maneira dife- morte é, tanto para o médico como para o hos-
rente. O homem começa a pensar mais na morte pital, antes de tudo, um fracasso”25, no modelo
do outro, em virtude das transformações que contemporâneo da boa morte, a equipe de saúde
ocorrem na concepção de família, a qual passa a a compreende de modo distinto e, consequente-
ser mais fundada no afeto. A morte passa a ser mente, busca posicionar-se de nova forma. A
encarada como inimiga, como uma violação que proposta dos profissionais consiste em assistir o
arranca o indivíduo do seu seio familiar. paciente até seus últimos momentos, buscando
Ariès24, em seus estudos sobre a morte no minimizar, tanto quanto possível, sua dor e des-
ocidente, afirma que há uma mudança na forma conforto, e dar suporte emocional e espiritual a
de encarar esse fenômeno. No século XIX a mor- seus familiares25.
te era vista como transgressão ao afeto e à união, Para Floriani e Schramm26, o conceito de boa
ao tirar o homem de sua vida cotidiana, o que morte tem sido empregado em cenários que re-
gerava sentimento de melancolia nos familiares. querem certas características, como a morte sem
Já no século XX a morte deve ser escondida a dor, de acordo com os desejos do paciente, no
qualquer custo. O luto neste período é cada vez ambiente familiar, sem sofrimentos e em um
mais discreto, e as formalidades para enterrar o ambiente de harmonia. Os autores mencionam
corpo são cumpridas rapidamente, como se hou- que essa pode ser uma situação difícil quando
vesse uma ânsia por fazer desaparecer e esquecer há, por parte da equipe que acompanha o paci-
tudo o que pode restar do corpo. O indivíduo ente, uma postura mais rígida quanto aos co-
que antes morria junto aos seus familiares, pas- nhecimentos teóricos que baseiam as ações em
sa a morrer em centros médicos, compreendidos cuidados paliativos. Para eles, a alta tecnologia e
como os locais mais apropriados. os cuidados paliativos não deveriam ser vistos
Se antes o indivíduo morria rodeado de ami- como práticas contraditórias.
gos e familiares – um episódio público – agora A filosofia da morte contemporânea é mar-
morre só, internado, em unidades de terapia in- cada pelo empenho dos profissionais em tornar
tensiva, invadido por tubos, cercado por apare- o fim da vida do paciente em um momento dig-
lhos. Esse modelo de morte, como afirma Mene- no, em assisti-lo até seu último suspiro, dar voz
zes25 é denominado morte moderna, que vem ao mesmo, permitir escolhas, principalmente do
acompanhado de um profundo processo de des- lugar onde deseja morrer.
personalização dos internados em hospitais, o Menezes25 aponta que a morte contemporâ-
crescente poder médico e a desumanização dos nea deve acontecer da maneira mais natural pos-
pacientes. sível. Da mesma forma que o parto, onde a par-
Menezes25 considera que o processo de medi- turiente se prepara para dar à luz e existem exer-
calização social teria surgido no século XIX, e se cícios para diminuir a ansiedade, assim também
desenvolvido no século XX, onde foram criados deve ser o paciente diante da morte, e nesses ca-
vários recursos para manutenção da vida. Entre sos a família é de real importância. Quando o
eles estão: os pulmões de aço, respiradores artifi- indivíduo decide morrer no seu próprio lar, os
ciais, desfibriladores, monitores de funções cor- profissionais de saúde consideram os familiares
porais, aparelhos de diálise, afora as estruturas como membros da equipe de cuidados paliati-
institucionais e arquiteturas hospitalares que vos, pois os mesmos auxiliarão a equipe nos cui-
passavam por mudanças, com a criação das Uni- dados com o paciente.
dades de Terapia Intensivas, centro de tratamen- A filosofia da morte contemporânea ainda é
to para queimados, aparelhagem moderna e equi- recente, e será necessário um bom tempo para se
pes altamente especializadas. estruturar, não somente na sociedade brasileira,
Com isso, o homem moderno vive como se mas no mundo como um todo, tendo em vista a
jamais fosse morrer, e a morte se torna algo dis- dificuldade para o ser humano lidar com um as-
tante. Isto acontece devido ao avanço das tecno- sunto que, mais cedo ou mais tarde, passará tam-
logias, dos estudos genéticos, da biomedicina, o bém por ele. Em contrapartida, percebe-se tam-
ideário de culto ao corpo, excesso de atividades bém que já existe uma preocupação do estudo
físicas, a juventude sendo buscada a qualquer do assunto na sociedade brasileira e no mundo
custo, que traz a percepção de que a vida se pro- visto que há um envelhecimento da população,
longa e a morte se distancia3. assim como um aumento da prevalência do cân-
cer e outras doenças crônicas.
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Colaboradores
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