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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS

CURSO DE PSICOPEDAGOGIA

MOACIR TADEU DE OLIVEIRA JÚNIOR

PSICOPEDAGOGIA E TÉCNICA VOCAL

SANTOS

2015
MOACIR TADEU DE OLIVEIRA JÚNIOR

PSICOPEDAGOGIA E TÉCNICA VOCAL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado a Universidade Católica de
Santos como exigência para a obtenção
título em Pós Graduação Lato Sensu em
Psicopedagogia Institucional e Clínica.
Orientadora: Profª Drª Luana Carramillo
Going.
Co-orientadora: Profª Mestranda Marinilza
Barbosa da Silva.

SANTOS

2015
MOACIR TADEU DE OLIVEIRA JÚNIOR

PSICOPEDAGOGIA E TÉCNICA VOCAL

Banca Examinadora

_________________________________________________

Profª Drª Luana Carramillo Going

_________________________________________________

Profª Esp. Marinilza Barbosa da Silva

_________________________________________________

Prof. Ms. Beatriz Piccolo Gimenes

_________________________________________________

Prof. Drª Lina Maria Ribeiro de Noronha

SANTOS

2015
PSICOPEDAGOGIA E TÉCNICA VOCAL

Moacir Tadeu de Oliveira Júnior1

Resumo

Esta pesquisa reflete sobre em que medida os fatores emocionais podem


interferir no aprendizado de canto e como a psicopedagogia pode intervir diante
deste quadro, compreendendo o ser humano como um todo, onde a evolução deste
aluno nem sempre está ligada a questões técnicas, mas também a questões
neurológicas e psicológicas. Ao abordar uma breve introdução à Psicologia
Emocional e à Neurociência, nas quais o corpo responde aos estados do indivíduo,
este trabalho pretende trazer ao conhecimento a importante ligação entre estes
impulsos e a voz. Trata-se de uma revisão bibliográfica que tem como eixo central a
pesquisa sobre psicopedagogia musical de Violeta Gainza, associando os fatores
psicológicos - emocional, estresse e ansiedade - ao desenvolvimento técnico vocal
do indivíduo. O encerramento deste trabalho se faz com relato de casos reais que
corroboram com as questões apresentadas. A partir desta pesquisa conclui-se a
importância de um olhar diferenciado para cada aluno como um ser que reflete
aspectos emocionais através da voz, e, que um trabalho em conjunto entre o
preparador vocal e o psicopedagogo pode potencializar ou trazer à normalidade, o
desenvolvimento técnico vocal deste indivíduo.

Palavras-chave: Técnica Vocal. Neurociência. Psicopedagogia. Emoção. Estresse.


Ansiedade.

Introdução

Sabe-se que a música faz parte de todas as comunidades como forma de


manifestação cultural ou religiosa e expressa ideias e sentimentos de alegria ou
tristeza, e que o canto, além de mais que um meio de expressão do ser humano, é
um instrumento musical “biológico”, ou seja, todos os que possuem voz estão

1
Licenciado em Música - Graduado em Licenciatura em Música - Universidade Católica de Santos.
Formado em técnica vocal na EMT - Escola de Música e Tecnologia. E-mail:
contato@tatooliveira.com.br.
4

sujeitos a fatores ambientais e psicológicos e podem cantar bem, desde que seja
feito um trabalho de desenvolvimento técnico vocal específico voltado para as
dificuldades do indivíduo. Porém, independente do nível técnico que o sujeito
apresente, sua voz irá refletir e/ou sofrer com aspectos emocionais, que,
geralmente, não são levados em consideração no momento do ensino da técnica
vocal.
Pela experiência de alguns professores de canto, nota-se que alguns alunos
apresentam um tímido desenvolvimento se comparado a outros, sendo que
tecnicamente apresentam os recursos necessários, porém, na execução, não
conseguem se expressar. Este artigo busca pesquisar sobre o processo de ensino-
aprendizagem das técnicas de canto, no qual, a partir das teorias do
desenvolvimento cognitivo, das descobertas científicas da Neurociência sobre
emoções, ansiedade e estresse e, sobre a pesquisa psicopedagógica musical, pode
ser realizado um trabalho em conjunto entre um psicopedagogo e o professor de
técnica vocal voltado para aquele aluno visto como difícil ou sem talento para a
música, que, por um motivo ou razão não técnica, apresente falta de habilidade na
área do canto.
Dessa maneira, é de grande importância o conhecimento estrutural de
formação da voz para que haja um trabalho específico para suprir as deficiências
apresentadas devido aos aspectos psiconeurológicos envolvidos. Portanto, além da
pesquisa acerca das emoções, ansiedade e estresse, este trabalho apresenta em
que medida esses fatores podem interferir no aprendizado do canto e como a
Psicopedagogia pode intervir diante deste quadro.
Em seguida, serão relatados alguns casos de alunos vistos como “difíceis” que
preparadores vocais encontram com freqüência e uma breve associação com os
fatores psicológicos apresentados.

1 Conceitos iniciais

Para Schoenberg2 (1965), a música funciona como um diálogo onde a


clareza de ideias é de extrema importância para que haja uma boa conversa.

2
Arnold Franz Walter Schoenberg (1874 – 1951) compositor austríaco, criador do dodecafonismo
(que é uma forma de composição musical), pintor e autor de tratados relacionados à teoria musical.
5

Sem organização, a música seria uma massa amorfa, tão inteligível


quanto um ensaio sem pontuação, ou tão desconexo quanto um
diálogo que saltasse despropositadamente de um argumento a outro.
Os requisitos essenciais para a criação de uma forma compreensível
são a lógica e a coerência: a apresentação, o desenvolvimento e a
interconexão das ideias devem estar baseados nas relações
internas, e as ideias devem ser diferenciadas de acordo com sua
importância e função (SCHOENBERG, 1965, p. 28).

Partindo deste pressuposto, a música pode ser entendida como um jogo de


regras composto por momentos de tensão e relaxamento capaz de expressar
emoções e ideias. Portanto, a música é mais uma forma de expressão do ser
humano.
Para o aprendizado do canto, que é uma das formas de expressão musical,
é importante que o aluno amplie algumas sensibilidades para que seja realizado um
trabalho de autoconhecimento corporal, no qual as sensações são o referencial do
que é certo ou errado quando se põe em prática técnicas que estão sendo
desenvolvidas.
Segundo Bicudo (2005), o mecanismo de produção da voz é composto pelas
cordas vocais (que se encontram na laringe), pulmões, sistema de ressonância
(boca, nariz e faringe) e órgãos fonoarticulatórios (lábios, dentes, língua, palato duro
e palato mole). Desta maneira, o corpo humano não disponibiliza de um órgão
exclusivo para a produção da voz.
Assim como qualquer outro instrumento, para se cantar bem - tendo em vista
que cantar bem envolve técnica - é necessário um pleno conhecimento do
instrumento para que o domínio do mesmo possa responder ao intento da música.
Pleno conhecimento do instrumento voz envolve conhecimento do corpo e de fatores
que podem alterar o bom funcionamento do mesmo. Vou dividir esses fatores em
três partes: físico, ambiente e psicológico 3.

1.1 Fator Físico

O ar que vem dos pulmões no processo de expiração passa pelas cordas


vocais fazendo com que elas vibrem em maior ou menor intensidade (som agudo ou
grave). Sendo assim, podemos entender a voz como um processo mecânico que
3
Sempre ao citar fator psicológico estarei me referindo aos fatores estresse, emocional e ansiedade.
6

pode vir a apresentar algum problema na sua formação estrutural. Caso isso ocorra,
Bicudo (2005) propõe em sua pesquisa que:

Quando um paciente apresenta disfonia, o principal objetivo é


modificar a produção vocal por meio de novos ajustes musculares
visando uma emissão com o mínimo de esforço e o máximo de
eficiência [...] Ao se trabalhar voz e motricidade oral, o objetivo da
terapia é, muitas vezes, compensar as alterações e otimizar a
produção da fala, além de ajudar o paciente a compreender que tipo
de problema tem, auxiliando-o a encontrar as soluções mais
pertinentes para o seu caso. Se as causas forem estruturais ou
mesmo funcionais, o terapeuta atua no sentido de melhorar o que
está impedindo ou dificultando a articulação de fonemas (p. 117).

Portanto, quando falamos de fator físico, falamos de problemas passíveis de


acompanhamento médico ou de uma terapia para a reeducação do controle dos
mecanismos da fala.

1.2 Fator ambiente

Nosso corpo é matéria e como todo corpo material, reagimos às condições


ambientais. Umidade relativa do ar 4 e temperatura estão entre os fatores que podem
alterar o rendimento de um cantor.

[...] não apenas os motivos pessoais, físicos e psíquicos incidem na


percepção musical, como qualquer outro tipo de percepção (quando
estamos mal nos sentimos desligados, embora tenhamos as maiores
aptidões e o melhor ouvido do mundo), mas também os motivos
externos, como por exemplo a temperatura, a pressão ou a umidade
ambiente. ([...] existe um fator ambiental que incide negativamente,
fazendo baixar o rendimento geral.) (GAINZA, 1988, p. 46).

1.3 Fator psicológico

Este fator apresenta toda uma complexidade do assunto que envolve


cérebro, cognição, afetividade e emoção em prol do canto.

4
De acordo com a NBR-17 (denominação de norma da ABNT), que é uma norma regulamentadora
voltada para o trabalho, os parâmetros estabelecidos de temperatura são entre 20ºC – 23ºC e
umidade relativa do ar não inferior a 40% visam uma adaptação das condições do trabalho às
características psicofisiológicas do trabalhador.
7

Para Gainza (1988): "Toda conduta envolve uma MUDANÇA" (p. 21).
Partindo desta afirmativa podemos dizer que toda dificuldade é acompanhada de
algum problema passível de solução, seja ela um fator físico, ambiental, psicológico
ou técnico. Howard (1984) também corrobora para essa questão quando afirma que
“[...] o homem não pode exteriorizar mais do que leva dentro de si” (p. 36).
Partindo destas duas afirmativas, podemos refletir sobre o significado das
palavras “dom” e “capacidade”. De acordo com o dicionário Michaelis on line5 (2015,
s. p.) “dom” significa “habilidade especial para”, e “capacidade”, a “possibilidade de
fazer ou produzir qualquer coisa”. Nota-se que em nenhuma das palavras diz ser
algo exclusivo, e sim, que dom pode ser entendido como uma facilidade em
aprender; enquanto capacidade, todos têm, desde que não haja uma impossibilidade
física na questão do cantar.
Tendo como referência o real significado das palavras acima definidas, se
buscam respostas que ultrapassam os limites da técnica, quando todo o repertório a
ser ensinado não é o suficiente para que o aluno alcance um resultado satisfatório
dentro do cantar, na qual através da visão do ser humano como um todo pode ser a
chave para um resultado musical esperado.
Segundo Bicudo (2005): "A voz, as emoções, a respiração e o corpo estão
intimamente ligados, portanto, mexer com a voz é mexer com o corpo todo [...]" (p.
51).
Há um contínuo movimento que envolve ajuste e equilíbrio do ser humano,
capaz de influenciar o resultado do processo de desenvolvimento musical deste.
Este movimento de ajuste e equilíbrio pode também ser compreendido através de
uma óptica piagetiana que fala sobre o conhecimento lógico-matemático
(conservação do número), onde o conhecimento é o desenvolvimento da ação do
indivíduo sobre o objeto6. Assim, o canto é resultado da relação entre o sujeito e o
objeto (música).
“Significado e compreensão são construídos através de ações sobre objetos
e de experiências com as coisas a serem conhecidas” (WADSWORTH, 1973, p. XV).
Da mesma maneira que o indivíduo age e reage sobre o objeto, este exerce
influência e pressão sobre o sujeito, nos levando a pensar sociologicamente que o

5
Disponível em http://michaelis.uol.com.br. Acesso em 29 Mar. 2015.
6
Entende-se como objeto, todo material concreto que pode ser manipulado. Segundo Wadsmorth
(1973) a ação do sujeito sobre o objeto constrói o conhecimento lógico-matemático que é um dos três
tipos de conhecimento piagetiano.
8

indivíduo além de ser resultado da sua interação com o meio, envia suas
percepções para este meio que o influencia a todo instante. Assim sendo, esta
interação é dinâmica e ativa. Portanto, devemos atentar para o fato de que um
cantor profissional sofre diferentes influências em relação ao amador, pois, segundo
Gainza (1988):

Músico profissional é, na minha opinião, a pessoa que mantém uma


relação madura, objetiva com a disciplina ou atividade que cultiva;
que a vê como algo claramente diferenciado dele mesmo, podendo –
como no caso da arte ou do artista - chegar a introjetar nela partes
ou aspectos de si mesmo – de maneira voluntária ou não -, mas sem
alterar ou perder de vista sua própria essência, nem a do objeto. Em
outras palavras, sem que se produza uma simbiose (p. 55).

Desta forma, pode-se entender que há uma relação diferenciada entre


amador-música e profissional-música, podendo ou não ser caracterizada por
produzir ou não uma relação simbiótica. Ou seja, não há uma fronteira que separa o
sujeito do objeto, e, por não ter uma fronteira definida, a ação do sujeito sobre o
objeto fica prejudicada. De acordo com a hipótese de Gainza (1988), “[...] um sujeito
tem problemas com a música quando não consegue tomar distância por causa de
uma relação simbiótica com ela” (p. 65).
Em outra situação, é que sendo a música um meio de expressão e toda
expressão ser projetiva, Gainza (1988) afirma que a música reflete aspectos da
personalidade e Bicudo (2005) vai mais além, quando diz que “[...] a voz reflete
imagens psicológicas em sons” (p. 47).
Se a imagem psicológica pode ser concretizada através do som, podemos
concluir que uma pessoa que apresenta algum desequilíbrio psicológico ou
emocional pode vir a concretizar o seu som de forma desequilibrada, pelo fato do
corpo estar totalmente interligado. Por exemplo, uma pessoa que se encontra em
um momento de tensão, ou seja, os hormônios adrenalina e cortizol e o químico
cerebral dopamina se encontram em um nível acima do aceitável para se garantir
um bom desempenho em qualquer atividade, este indivíduo apresenta
comprometidas as capacidades de escutar, de aprender ou de atenção, assim,
podendo possivelmente estar associado a algum quadro de dificuldade de execução
técnica vocal (KHALSA, 1997). Isso acontece porque, segundo Magalhães e
Camargo (2009):
9

O cérebro é a base material do nosso mundo mental, de nossa alma


- é nele que se formam os sentimentos, a visão de mundo de cada
um, os estados de espírito das pessoas e tudo o que elas percebem
de forma subjetiva. Aquilo que acontece na alma tem um
correspondente biológico no cérebro, e muitos dos processos
químicos que ocorrem no cérebro têm um parâmetro na alma. Esse
órgão tão complexo, composto por cerca de 86 bilhões de neurônios,
está envolvido tanto nas nossas emoções, pensamentos e
comportamentos ditos 'normais', quanto nas perturbações deles.
'Qualquer distúrbio emocional, mesmo que não seja tratado por meio
de remédios, consiste necessariamente num 'desequilíbrio
bioquímico do cérebro'. Biologia e psicologia, cérebro e psiquismo
são apenas duas faces da mesma moeda', diz Yovell (p. 20 - 21).

A partir desta visão, a integração de instrumentos psicopedagógicos para um


melhor aproveitamento de um aluno no aprendizado do canto se torna fundamental,
compreender que a voz é o reflexo do seu “eu interior”, que responde a situações,
momentos e fatores psicológicos, emocionais e neurológicos se torna tão importante
quanto os conhecimentos técnicos a serem ensinados.

1.3.1 Emoção

Segundo Goleman (1995), a palavra emoção vem do latim movere mais


prefixo e - que significa afastar-se. Portanto, quando falamos de emoções, estamos
falando de inclinações para um fazer súbito. Existem várias definições para emoção
e todas estão ligadas ao sentimento e ao agir, influenciado por um estado psíquico
ou biológico.
O corpo manifesta uma reação para cada tipo de emoção que desempenha
uma função específica. De acordo com Goleman (1995, p. 20 - 21):

 Na raiva, o sangue flui para as mãos, [...] os batimentos cardíacos


aceleram-se e uma onda de hormônios, a adrenalina, entre outros,
gera uma pulsação, energia suficientemente forte para uma atuação
vigorosa.
 No medo, o sangue corre para os músculos do esqueleto, [...] o
rosto fica lívido, já que o sangue lhe é subtraído (daí dizer-se que
alguém ficou “gélido”). Ao mesmo tempo, o corpo imobiliza-se, ainda
que por um breve momento, talvez para permitir que a pessoa
considere a possibilidade de, em vez de agir, fugir e se esconder.
Circuitos existentes nos centros emocionais do cérebro disparam a
torrente de hormônios que põe o corpo em alerta geral, tornando-o
inquieto e pronto para agir. A atenção se fixa na ameaça imediata,
para melhor calcular a resposta a ser dada.
10

 A sensação de felicidade causa uma das principais alterações


biológicas. A atividade do centro cerebral é incrementada, o que inibe
sentimentos negativos e favorece o aumento da energia existente,
silenciando aqueles que geram pensamentos de preocupação. Mas
não ocorre nenhuma mudança particular na fisiologia, a não ser uma
tranqüilidade, que faz com que o corpo se recupere rapidamente do
estímulo causado por emoções perturbadoras. Essa configuração dá
ao corpo um total relaxamento, assim como disposição e entusiasmo
para a execução de qualquer tarefa que surja e para seguir em
direção a uma grande variedade de metas.

 O Amor, os sentimentos de afeição e a satisfação sexual implicam


estimulação parassimpática, o que se constitui no oposto fisiológico
que mobiliza para ‘lutar-ou-fugir’ que ocorre quando o sentimento é
de medo ou ira. O padrão parassimpático, chamado de 'resposta de
relaxamento', é um conjunto de reações que percorre todo o corpo,
provocando um estado geral de calma e satisfação, facilitando a
cooperatividade.

1.3.2 Estresse

De acordo com Khalsa (1997): “O estresse é a sensação que pode resultar


de um fator estressante” (p. 280). Fator estressante é uma tensão causada por uma
ação ou um evento que atua sobre o sujeito como uma força exterior. O estresse
pode ser bom ou ruim, ele é bom quando os hormônios adrenalina e cortizol juntos
ao químico cerebral dopamina são acionados pelo cérebro e atingem um nível ideal
que nos faz entrar em uma região de motivação, entusiasmo e bom desempenho
para se realizar um trabalho com eficácia, e, ele é ruim quando esse nível ideal é
ultrapassado, fazendo com que a função neuroendócrina fique fora de forma e com
que haja uma desestabilidade nos sistemas nervoso e imunológico (GOLEMAN,
2012).
Para Goleman (2012), o cérebro atua auxiliando ou prejudicando o
desempenho do indivíduo em qualquer campo da habilidade através do "[...] impacto
do eixo HPA7, o circuito que secreta hormônios do estresse quando a amígdala é
acionada" (p. 61).
Para esta pesquisa, iremos abordar três estados de estresse representados
na lei de Yerkes-Dodson8: ócio, esgotamento e fluxo.

7
Eixo hipotálamo-pituitária-adrenal.
8
A relação entre estresse e desempenho, captada na lei de Yerkes-Dodson, mostra que o tédio e a
ociosidade disparam muito pouco dos hormônios de estresse secretados pelo eixo HPA – e o
desempenho fica para trás. Conforme ficamos mais motivados e empenhados, o “bom estresse” leva-
nos à zona ótima, na qual temos o melhor nível de desempenho. Se os desafios ficarem grandes
11

Segundo Goleman (2012), no ócio o indivíduo se apresenta entediado,


desinteressado e sem inspiração. Geralmente apresenta pouca ou nenhuma
motivação para dar o seu melhor na realização de uma determinada atividade, e isso
acontece por não haver uma quantidade suficiente de hormônios de estresse. No
esgotamento, o sujeito apresenta dificuldade na clareza de pensamentos e
desequilíbrios no relógio biológico, na função neuroendócrina, sistema imunológico e
nervoso, devido ao demasiado nível de hormônio de estresse que prejudica a
capacidade de desenvolver bem alguma atividade. E no fluxo, chamado de estado
de harmonia neural, o indivíduo além de sentir alegria ao executar a atividade em
questão, ele apresenta um elevado nível de concentração e rapidez na resposta aos
desafios variantes em que se encontra, devido às diferentes áreas do cérebro estar
trabalhando em conjunto. Neste estado, qualquer talento que o sujeito tenha pode
ser utilizado no nível máximo.

1.3.3 Ansiedade

Segundo Magalhães e Camargo (2012), a ansiedade é uma das emoções


mais úteis ao homem, pois, se não houvesse a ansiedade ele não se prepararia para
enfrentar os momentos difíceis. Portanto, a “ansiedade é positiva quando
experimentada em níveis moderados e atrelada a ameaças reais” (p. 67). Sendo
assim, podemos entender a ansiedade (moderada) como uma das emoções
responsáveis por tornar o homem mais eficiente e precavido.
Porém, quando a ansiedade é provada em níveis exagerados, há o
comprometimento do bem estar do indivíduo fazendo com ele que apresente um
quadro de ansiedade patológica, no qual, pode desenvolver dores de barriga,
insônia e falta de apetite, por exemplo.
Os transtornos mentais do grupo da ansiedade são variados, iremos abordar
apenas a fobia social e a ansiedade generalizada por serem de relevante
importância para esta pesquisa por apresentarem sintomas que podem prejudicar o
desenvolvimento técnico vocal do indivíduo.

demais e ficarmos esgotados, entramos na zona de exaustão, onde os níveis de hormônios de


estresse ficam altos demais e dificultam o desempenho (GOLEMAN, 2012, p. 62).
12

[...] na fobia social, a fonte de ansiedade é o julgamento alheio, por


isso, a pessoa fica muito nervosa se tiver que falar em público, comer
acompanhada ou escrever diante de alguém. É algo que vai muito
além de uma simples timidez. A pessoa não fica apenas corada e
sem jeito se tem que passar por situações – fica tão nervosa que não
dá conta de realizar essas tarefas [...] Na ansiedade generalizada,
como o próprio nome sugere, tudo é fonte de preocupação
desmedida. A pessoa simplesmente não consegue relaxar, está
cronicamente tensa, ruminando dúvidas e tomando providências para
evitar imprevistos e se sentir mais segura (MAGALHÃES E
CAMARGO, 2012, p.79).

Pode-se concluir que a ansiedade pode ser positiva ou negativa para a


realização de qualquer atividade. Para Goleman (2012), a ansiedade pode prejudicar
a eficiência cognitiva do indivíduo.
Diante dos aspectos psicológicos que podem interferir no desenvolvimento
da técnica vocal do indivíduo, podemos afirmar que, após um trabalho realizado em
conjunto entre o pedagogo musical e o psicopedagogo, é possível diagnosticar, ou
seja, identificar o problema que causa a dificuldade do sujeito (técnico ou
psicológico), e, a intervenção tende a auxiliar no aprendizado, modificando este
quadro que geralmente causa a visão distorcida: a “falta de dom”.
Para Gainza (1988):

Por isso, a única solução que vislumbramos por ora consiste em


fazer com que o pedagogo e o psicólogo intervenham
conjuntamente, e de maneira ativa, para corrigir e modificar esses
tipos de situações confusas tão freqüentes dentro do meio musical
(p.62).

É de extrema importância reforçar o fato de que nem todo problema ou


dificuldade é de caráter psiconeurológico, podendo ser também alguma limitação
física ou deficiência técnica.

2 RELATO DE CASO

Todos os casos relatados são reais e estão representados por nomes


fictícios por questões éticas.

2.1 Caso 1
13

Maria, 25 anos, estuda técnica vocal há aproximadamente um ano e seis


meses por indicação médica, após o diagnóstico de Miestenia Gravis, enfermidade
neuromuscular, caracterizada por um rápido estado de fadiga, após algum esforço
físico ou pela fraqueza muscular. No caso de Maria, a musculatura que apresenta
problemas é a da face, dificultando a articulação e o conforto na fala.
Porém, a dificuldade encontrada no aprendizado do canto é
potencializada pelo pós-operatório em virtude da enfermidade. Após a cirurgia
realizada, devido às complicações da doença, Maria ficou abalada psicologicamente
por seu rosto ter sofrido alterações na formação, mas nada que comprometa a sua
aparência física. Todavia, após 25 anos, ver seu rosto com outra aparência lhe
causava incômodo, e a falta de sensibilidade em perceber isso dos que estavam ao
seu redor, fez com que ela se fechasse e não mais falasse a respeito sobre esse
sentimento e, por consequência, sobre outros assuntos emocionais que a
incomodavam.
Após um ano e seis meses de técnica vocal, o desenvolvimento de Maria
nos exercícios foi aceitável, tendo em vista que o contato com a música se deu por
prescrição médica, para ajudá-la no controle dos músculos faciais, melhorando sua
articulação. Porém, a dificuldade para cantar uma música não correspondia ao
desenvolvimento apresentado durante os exercícios, já que a música é uma
expressão do ser humano, onde ele apresenta ao mundo, o seu ser interior. Para
Gainza (1988): “Expressar-se é, pois, demonstrar tanto as deficiências como as
capacidades” (p.31). E, Maria, ao se retrair, sem falar sobre esses sentimentos que
lhe causavam desconforto e por pensar que o que ela sentia não era importante,
também apresentou essa dificuldade no momento do canto, pelos mesmos motivos.
De acordo com Bicudo (2005) a expressão vocal é afetada, quando há o bloqueio de
qualquer sentimento.
Neste caso, podemos refletir sobre a música como uma das formas de
expressão do ser humano, onde a emoção interfere de forma ativa e constante,
fazendo com que os sons sejam o reflexo das imagens psicológicas através da voz.
A psicoterapia seria a intervenção mais adequada nesta situação.

2.2 Caso 2
14

Júlia, 28 anos, toca flauta doce com facilidade e faz aula de canto há
aproximadamente dois anos. Quando iniciou as aulas de canto, apresentava voz
“infantilizada”, problema superado tecnicamente com exercícios que a ajudaram no
desenvolvimento da articulação, contribuindo para aumentar sua consciência da
formação das vogais. Júlia também apresenta dificuldade na questão rítmica, a qual
foi amenizada com exercícios de percepção rítmica. Ela tem uma boa evolução nas
aulas, com bom controle da respiração, afinação aceitável e consegue ter uma boa
desenvoltura durante os vocalizes, porém, quando precisa cantar em público ou nas
aulas realizadas em grupo, Júlia não consegue ter o mesmo desempenho. Ao ser
questionada sobre a dificuldade apresentada, demonstrou insegurança diante do
seu conhecimento técnico vocal e receio de colocar em prática o que sabe perante
outras pessoas, por medo de errar ou ilações sobre que iriam pensar dela.
Para Magalhães e Camargo (2012):

[...] na fobia social, a fonte de ansiedade é o julgamento alheio, por


isso, a pessoa fica muito nervosa se tiver que falar em público, comer
acompanhada ou escrever diante de alguém. É algo que vai muito
além de uma simples timidez. A pessoa não fica apenas corada e
sem jeito se tem que passar por situações – fica tão nervosa que não
dá conta de realizar essas tarefas. Foge delas como o diabo foge da
cruz (p.79).

Júlia apresenta sintomas de fobia social, na qual a válvula de escape é o


julgamento alheio, sendo este o motivo de ficar nervosa a ponto de não conseguir
colocar em prática o que sabe sobre técnica vocal. Não é uma simples timidez, é um
nervosismo que faz com que ela não consiga desenvolver o que sabe em público.
Neste caso, o acompanhamento psicológico para superar esta dificuldade é a
intervenção indicada.

2.3 Caso 3

Mateus, 37 anos, sete meses de aula de técnica vocal. Desde o início sempre
apresentou muita facilidade na execução dos exercícios e boa afinação. Apesar de
não conseguir manter o mesmo nível de concentração em todas as aulas, sempre
manteve uma evolução técnica, acima da média. Porém, em algumas aulas, se
mostrou muito agitado e com baixa concentração, o que prejudicou a sua evolução
15

musical. No início, geralmente aparentava estar tenso, principalmente na região do


pescoço, o que prejudicava seu desempenho em notas agudas. Em várias
conversas foi relatado sobre o dia difícil que enfrentara antes de estar ali. Mateus
trabalhava na área da saúde, em uma instituição que estava passando por
problemas administrativos e financeiros.
De acordo com Khalsa (1997): “A mente é o “software”, o produto místico ou
misterioso de tudo o que somos. O cérebro é o “hardware”, um órgão físico que
requer nutrição, descanso, uso e cuidados médicos apropriados” (p.21).
Após um dia de trabalho desgastante é natural que o sujeito se encontre,
pela escala de Yerkes-Dodson, no estado de esgotamento, que é quando os
hormônios do estresse estão elevados.
Para Khalsa (1997), o cortizol retira do cérebro a glicose, que é a única fonte
de estímulo.

Ele também destrói os mensageiros químicos do cérebro – seus


neurotransmissores – que conduzem seus pensamentos de uma
célula para outra. Quando a função dos neurotransmissores é
interrompida, ou quando o suprimento de combustível para o cérebro
cai, você encontra dificuldade para se concentrar ou recordar alguma
coisa (KHALSA, 1997, p.21).

Mateus, ao se encontrar no estado de esgotamento (software), faz com que


seu corpo (hardware) não responda da maneira esperada.
Este caso é muito comum, pois o causador do estresse pode ser um dia ruim
ou uma situação que esteja sendo vivenciada pelo sujeito na sua casa, trabalho ou
relacionamento.
A intervenção pode se dar através de exercícios de relaxamento –
geralmente realizados no início das aulas – ou, pode ser através da meditação feita
de forma regular ou, ainda, através de acompanhamento psicológico adequado. A
intenção é fazer com que o sujeito atinja o estado de fluxo, que é o nível bom de
estresse para um ótimo desempenho. Para Goleman (2012): “Uma estratégia geral
para intensificar a probabilidade de fluxo é praticar regularmente métodos que
realcem a concentração e o relaxem fisiologicamente” (p.72). O relaxar
fisiologicamente é de extrema importância no canto, pois a “rigidez da nuca é
também a rigidez do corpo e de suas expressões” (BICUDO, 2005, p. 67).
16

Em todos os casos citados vemos a importância de um olhar para o


indivíduo como um todo. A voz não é apenas som, ela é um estado emocional,
psicológico e neurológico. Para Bicudo (2005):

A voz está no meio do caminho entre a cabeça e o coração. Nela se


encontra o que pensamos e o que sentimos. As emoções deságuam
na voz através de pelo menos dois mecanismos: 80% dos nervos
que atuam sobre a musculatura da laringe passam pela região do
hipotálamo, parte do cérebro responsável pelas emoções, e o estado
emocional afeta a respiração, que fornece o ar para a produção da
voz, afetando o nosso corpo. A voz, as emoções, a respiração e o
corpo estão intimamente ligados, portanto, mexer com a voz é mexer
com o corpo todo, é rever nossas atitudes frente ao mundo (p.51).

Considerações finais

A Psicopedagogia pode ser uma excelente ferramenta de aprendizagem da


técnica vocal, no qual, através da visão do indivíduo como um todo pode ser a
resposta para a dificuldade que ele encontra para melhor desenvolver sua
capacidade musical. As questões ligadas à emoção, estresse e ansiedade são
alguns dos aspectos que foram abordados neste artigo que são de grande
importância para o bem estar do aluno.
Quando um indivíduo consegue manter uma boa relação com a música, é
sinal de que ele está de bem consigo mesmo, ou, ela (a relação) pode estar sendo
uma maneira, talvez a única, que ele tenha para mostrar o seu verdadeiro “Eu” para
o mundo.
Por meio deste trabalho, pude confrontar e compreender melhor uma
afirmação de Howard (1984): “[...] é o ser dotado no plano artístico que geralmente
coloca os problemas mais contraditórios para serem resolvidos” (p. 13). No início
desta pesquisa, eu esperava encontrar algumas informações que ajudassem a
compreender e, ou, padronizar as dificuldades musicais encontradas pelos
estudantes da técnica vocal, porém, no decorrer deste trabalho, me deparei com um
leque de informações onde a compreensão da voz é o resultado do ser humano em
toda a sua complexidade física, emocional, psíquica e técnica.
17

Há muito mais o que ser pesquisado e observado, porém, este artigo pode
proporcionar uma visão inicial deste assunto complexo que é o desenvolvimento
técnico vocal a partir da Neurociência, Psicologia e Psicopedagogia.
Todos os indivíduos que se apresentam como “sem dom” ou “sem talento”
podem vir a cantar, através de um trabalho em conjunto, do preparador vocal e da
observação do psicopedagogo. Com amplo conhecimento de técnicas para ensino
do canto, é possível diagnosticar como deficiência técnica ou não, sendo possível
realizar um planejamento, traçando metas e definindo os objetivos para o
desenvolvimento vocal do aluno.

PSYCHOPEDAGOGY AND TECHNICAL VOCAL

Abstract

This research reflects about the way which emotional factors may operate in
the corner and learning as the psychopedagogy can intervene before this framework,
including the human being as a whole, where the evolution of this student is not
always linked to technical issues, but also the neurological and psychological issues.
In addressing a brief introduction to the emotional psychology and neuroscience, in
which the body responds to the individual states, elucidates this work needs attention
to the important link between these impulses and the voice. This is a literature review
which central axis research on about Violeta Gainza musical psychopedagogy, like
psychological factors - emotional, stress and anxiety - as the vocal coach of the
individual development indicators. The closing of this work is done with case reports
that corroborate the issues presented. From this research, it is clear the importance
to have a differentiated approach for each student, as a someone who reflects
emotional aspects through the voice, and that a joint effort between the vocal coach
and an psychopedagogist may potentiate or bring normalcy the vocal technical
development of this individual.

Keywords: Vocal Technique. Neuroscience. Psychopedagogy. Emotion. Stress.


Anxiety

Referências
18

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harmonização do ser. 1.ed. São Paulo: Altana, 2005. ISBN 8587770322.

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19

Agradecimentos

Aos meus familiares, em especial ao meu pai (in memorian) que me


ensinaram e ensinam o valor desta estrutura base da sociedade. Meus sinceros
agradecimentos aos amigos, companheiros de classe, que compartilharam comigo
seus medos e anseios diante da escolha que a psicopedagogia nos traz, ajudar o
próximo. Ao psicólogo André Funfas pelas conversas que foram esclarecedoras e
contribuíram para a construção deste trabalho. Aos professores deste curso que
dividiram conosco seu conhecimento. A todos os que contribuíram direta ou
indiretamente para a construção desta pesquisa, e, principalmente, a Deus pelo dom
da vida, pela arte enraizada em mim através da minha família e por mais esta
conquista.

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