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Gluckman
Max Gluckman (1911-1975) estudou Antropologia Social em Johanesburgo
(Universidade de Witwatersrand), África do Sul. Neste período, os estudantes de
antropologia de sua geração entendiam seus envolvimentos com a Antropologia
“parcialmente em termos políticos” (KUPER, 1978: 172). Conforme coloca
Kuper, os contemporâneos desses antropólogos, baseados na Grã-Bretanha, “se
mostravam propensos a desviar os olhos da realidade do poder e das privações
nas sociedades coloniais” (id, p. 172).
Assim, autores como Gluckman, foram marcados pelo contexto dos sistemas
que investigavam. Este traço na sua formação inicial, fica evidente em seu
ensaio Análise de uma situação social na Zululândia Moderna (1958), onde o
autor deixa claro que “quando se explicitam os problemas estruturais [...] é
preciso analisar amplamente como e em que profundidade” esses problemas
estão inseridos no “sistema social do país”, isto é, conhecer quais relações estão
envolvidos e como são afetados e afetam a estrutura de cada grupo (cf.
Gluckman, 2010 [1958], p. 238). A pesquisa no qual resultara o ensaio seminal
de Gluckman, no entanto, viera somente depois que se transferiu para Oxford,
como bolsista, em 1934. Realizado trabalho de campo entre 1936-1938 na
Zululândia (antigo Reino Zulu, hoje território da África do Sul).
Leach
Edmund Leach (1910-1989), por sua vez, “graduou-se em Matemática e
Ciências Mecânicas no Clare College de Cambridge em 1932” (PEIRANO,
2015, p. 181). Após um período de quatro anos na China como funcionário de
uma empresa de comércio (desde 1933), onde teve a oportunidade de aprender
um pouco de chinês e viajar de férias para a ilha de Botel Tobago, uma pequena
ilha a sudeste de Formosa, na península coreana, convidado pelo antropólogo
norte-americano, Kilton Stewart. Em 1937, Leach retorna a Inglaterra e passa a
estudar Antropologia Social com Malinowski na London School...
Ritual em Leach
Para Leach, essa busca por poder e prestígio é expresso nos rituais. Leach
retoma o postulado de Durkheim e de seus discípulos para tratar do ritual. De
acordo com esta tradição, os “ritos religiosos” estariam na esfera do “sagrado”
(ideal, consciências coletivas), enquanto os “atos técnicos” estariam na
dimensão do que é “profano” (material, carnal, etc.). São, portanto, totalidades
distintas. Leach, no entanto, irá pensar o ritual em outra chave analítica. Em sua
concepção: “O ritual serve para expressar o status do indivíduo enquanto pessoa
social no sistema estrutural em que ele se encontra temporariamente” (LEACH,
1996, p. 74). Em outra formulação Leach diz que “ética e estética são idênticas”,
buscando no filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein (Tractatus Logico
Philosophicus, 1922), caminhos que permitissem pensar os rituais em um
sistema total de comunicação interpessoal entre os indivíduos e o grupo. Apenas
como breve consideração, retomo na integra da obra de Wittgenstein o trecho
que Leach menciona em uma nota de pé de página (ver nota 22, pág. 75).
Aforismos:
6.42. Por isso não pode haver proposições da ética.
Proposições não podem exprimir nada além.
6.421. É claro que a ética não se deixa exprimir.
A ética é transcendental.
(Ética e estética são um só)
(Wittgenstein; Tratactus...; pág. 127).
Com isto, Leach irá assumir a comunicação de uma forma ampliada. Ele está
pensando em ações simbólicas verbais como não-verbais. Para ele, as ações
simbólicas e as representações estão muito além da esfera do sagrado, conforme
colocava a tradição de Durkheim. Sagrado/Profano são apenas virtualidades,
pois, na prática estão juntos. Na mesma medida, Leach irá colocar que mito e
ritual implicam um no outro, “ambos são uma só e a mesma coisa”. Ritual e
crença corresponderiam assim à afirmação simbólica da ordem social. Por fim,
seu principal argumento, se pudermos reduzir em poucas palavras, é de que:
palavras e ação dizem coisas. Assim, o ritual é tomado por Leach como uma
ação que explicita a estrutura social.
Ao tratar do seu modo de fazer antropologia, Leach lança questões como “o que
os antropólogos sociais realmente fazem?”, ou, “como é possível fazer o que
fazem?”. Para Leach, os antropólogos se esforçam para chegar às ideias
presentes em toda a humanidade. Contudo, a maneira como os antropólogos
fazem seu trabalho, muitas vezes, foi sobrecarregada por imagens de um “outro
exótico”, onde o pressuposto inicial é de que esse “outro” é um “primitivo”,
portanto, está em oposição as sociedades modernas e tecnológicas. Neste
sentido, Leach observa que seu interesse pelo outro surge exatamente por ser um
“outro”. Ao longo do texto, Leach levanta diversas considerações sobre a forma
como os antropólogos fazem antropologia, discutindo principalmente as
terminologias que procuram dar conta da realidade social estudada. Para Leach,
nenhum pesquisador de campo conseguiria apreender o que é a “economia”, a
“religião”, o “ritual”, etc., tal como os modelos de análise sugerem. Essas
categorias não existem dessa forma na realidade. Para Leach, existe uma
dimensão econômica, religiosa, ritualística, etc., contudo, os antropólogos
carecem de melhores formas (terminologias) de expressão para darem conta
dessas dimensões da vida do outro.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
PEIRANO, Mariza. Edmund Leach (1910-1989). In: ROCHA, E.; FRID, M. (orgs.) Os
Antropólogos. De Edward Tylor a Pierre Clastres, 2010.