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BATALHA-PI
2015
MARCOS ROBERTO RIBEIRO PINTO
BATALHA-PI
2015
MARCOS ROBERTO RIBEIRO PINTO
BANCA EXAMINADORA
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Profª: Darkyana Francisca Ibiapina – Mestra em Letras.
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Examinador: Profº. Marcos Helam Alves da Silva – Especialista em Educação.
RESUMO:
Muitas escolas no Brasil adotam o modelo de classes multisseriadas ou unidocentes, modelo
de organização de classe muito comum também no sistema educacional do município de
Batalha-PI. O objetivo desse trabalho consiste em analisar a concepção dos professores do
Ensino Fundamental, de classes multisseriadas, no que se refere ao processo de ensino
aprendizagem nestas classes e como eles veem a qualidade desse processo, na Unidade
Escolar Gervásio Lages. Assim, procuramos descrever e analisar os métodos e estratégias
utilizados pelos professores, bem como as principais dificuldades enfrentadas no cotidiano
dessas classes, através de uma pesquisa de natureza qualitativa, do tipo descritiva. Para tanto,
os procedimentos de coleta de dados utilizados foram observação da sala de aula e entrevista
com dois professores da escola. As análises foram realizadas à luz dos estudos de autores
como Hage (2003), Berry (2001), Hargreaves (2001), Arroyo, Caldart e Molina, (2011),e
outros estudiosos deste tema. Dentre outros resultados, observamos que a concepção dos
professores sobre as classes multisseriadas revela um descrédito em relação a esse modelo e
que ambos os professores sonham em trabalhar com classes seriadas. Percebemos também
que, apesar das inúmeras dificuldades apontadas, eles procuram realizar um trabalho coletivo
e de agrupamento, fazendo com que os alunos de um nível mais avançado no processo de
ensino e aprendizagem auxiliem os demais no desenvolvimento desse processo.
ABSTRACT
The objective of this paper is to analyze the conception of elementary school teachers of
multigrade classes, how the process of teaching and learning in these classrooms is and how
they see the quality of it in Gervásio Lages Elementary School. Many schools in Brazil have
adopted the model of multigrade classes or unidocentes, very common class organization
model also in the educational system of Batalha - PI. So we try to describe and analyze the
methods and strategies used by teachers as well as the main difficulties faced in everyday life
of these classes through a descriptive and qualitative research. Therefore, the data collection
procedures used was watching the lecture and interview room with two teachers of Gervásio
Lages Elementary School. Analyses were carried out in the light of studies by authors such as
1
Graduando em Pedagogia pela Universidade Federal do Piauí - UFPI.
2
Mestra em Linguística pela UFPI. Professora Orientadora.
5
Hage (2003), Berry (2001), Hargreaves (2001), Arroyo, Caldart and Molina (2011), among
other scholars of this subject. Among other results, we observed that the conception of
teachers on multigrade classes reveals a discredit in relation to this model and that both
teachers dream of working with serial classes. We also realize that despite the numerous
difficulties indicated, they seek to realize a collective work and clustering, making the
students a more advanced level in the teaching and learning process assist others in
developing this process.
INTRODUÇÃO
As classes multisseriadas, presentes ainda hoje no Brasil e concentrando quase toda a
sua totalidade em escolas da periferia e, principalmente, na zona rural do interior do país,
contemplam alunos de diferentes séries (anos) em uma mesma sala, assistidos por um único
professor. Consideradas como de segunda categoria ou de baixa qualidade e eficiência,
mostram-se historicamente esquecidas por educadores e gestores que optaram por vê-la
desaparecer de maneira natural, no entanto, apesar das tentativas de se substituir esse modelo,
ele conseguiu resistir e adentrou ao século XXI. (apud Piza e Sena 2001)
A inquietação por conhecer mais sobre o trabalho pedagógico, didático e sistematizado
dos professores atuantes nesse modelo de classes no município de Batalha-PI, bem como sua
concepção sobre a qualidade do processo de ensino aprendizagem destinados às classes
multisseriadas, levou-nos à busca por um conhecimento mais amplo sobre tal questão e a
realizar este estudo nessa área.
Assim, o nosso objetivo geral consiste em analisar a concepção de dois professores do
Ensino Fundamental sobre como ocorre o processo de Ensino Aprendizagem em salas
multisseriadas da Unidade Escolar Gervásio Lages e como elas veem a qualidade desse
processo. Nesse contexto procuramos observar como ocorre o processo de ensino e
aprendizagem dos alunos nestas salas; descrevemos os métodos e estratégias utilizados pelos
professores nas salas multisseriadas e avaliamos como as professoras do Ensino Fundamental
concebem a qualidade do processo de Ensino Aprendizagem em salas multisseriadas da
Unidade Escolar Gervásio Lages.
Para obtenção dos resultados deste estudo, optamos pela pesquisa qualitativa do tipo
descritiva. Utilizamos como técnicas de coleta de dados a entrevista, pois permite o
tratamento de assuntos de natureza estritamente pessoal e íntima e um clima de confiança
entre o sujeito da pesquisa e o pesquisador, deixando o informante à vontade para dizer o que
6
estabelecia, em seu art.1º, que “em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, haverá as
escolas de primeiras letras que forem necessárias” (BRASIL, 1827, p.1apud BRASIL, 2014,
p. 27). Nesse contexto escolar não havia as turmas seriadas como conhecemos atualmente e,
aquelas existentes, destinavam-se somente à elite imperial. A referida lei sugeria ainda que o
ensino deveria ser destinado, preferencialmente, aos meninos.
Estas “escolas de primeiras letras” ou classes multisseriadas eram caracterizadas por
possuírem um rol de conteúdos comuns e existiram até o final do século XIX, quando
surgiram os grupos escolares e consecutivamente a diferenciação por série, semelhante à que
conhecemos hoje como classe seriada (BRASIL, 2014).
Outro fator a ser considerado sobre esse modelo de organização de classes segundo
Fagundes e Martini (2003) é que nas turmas multisseriadas existe um único professor,
assumindo, muitas vezes, múltiplas funções, as quais vão desde faxineiro até a de professor,
para duas, três e até quatro séries diferentes ao mesmo tempo e no mesmo espaço. A
existência das escolas multisseriadas denuncia a desvalorização e a sobrecarga de trabalho do
professor, que atende à demanda de várias séries e ainda desempenha todas as funções no
âmbito da escola, desde a docência, passando pelo preparo da merenda, até a limpeza do
estabelecimento (FAGUNDES e MARTINI, 2003).
Ainda sobre esse modelo de organização de classes Druzian e Meurer (2013), destacam
que:
A constituição dessas classes é formada como uma solução adotada em diferentes
países, principalmente para permitir que a população do espaço rural onde existe a
predominância desse modelo, tenha acesso à educação, já que a baixa densidade
demográfica nas respectivas áreas e o consequente baixo número de alunos
inviabilizam a organização seriada, justificando a falta de criação de turmas voltadas
ao atendimento de séries ou faixa etária específica, tornando-se uma imposição,
muitas vezes, vertical das políticas públicas. (LITTLE, 2001; BERRY, 2001;
HARGREAVES, 2001; COUTINHO e ABREU, 2011 apud DRUZIAN E
MEURER, 2013, p. 133).
Nesse sentido, Hage (2003) explicita que tal modelo é marcado pela heterogeneidade,
pois reúne grupos com diferenças de série, de sexo, de idade, de interesses, de domínio de
conhecimentos, de níveis de aproveitamento etc. Essa heterogeneidade, própria do processo
educativo desse modelo, articulada a particularidades identitárias, relacionadas a fatores
geográficos, ambientais, produtivos, culturais, dentre outros, são elementos imprescindíveis
na composição das políticas e práticas educativas a serem elaboradas para as regiões que
possuem esse modelo de organização. (HAGE, 2003)
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Sobre o assunto, Rocha e Hage (2003) apud Druzian e Meurer (2013) descrevem que
apesar do reconhecimento da necessidade e da importância das escolas multisseriadas, nem
sempre há uma completa consciência das dimensões reais da educação multisseriada e seu
potencial para todas as situações com grande diversidade.
Apesar da importância dessas classes para as crianças do espaço rural, o que
observamos é que os professores não são adequadamente preparados para trabalhar nesta
realidade e demonstram inúmeras dificuldades em organizar o processo pedagógico, muitas
vezes isso é feito apenas dividindo, no quadro, por série, os conteúdos que serão estudados ou
as atividades que serão realizadas em um determinado dia. Isso porque, na maioria das vezes,
trabalham com a ideia de união de várias séries e, consequentemente, com a elaboração de
tantos planos de ensino e de avaliação da aprendizagem diversificados para cada ano.
Assim, a escola multisseriada ainda é necessária em algumas regiões, entretanto, o que
faz com que a qualidade do processo de ensino aprendizagem seja desacreditada nesse modelo
educativo é a metodologia utilizada. Berry (2001); Hargreaves (2001); Arroyo, Caldart e
Molina, (2011) apud Druzian e Meurer (2013) evidenciam que:
É importante destacar que a busca pela qualidade da educação sempre teve papel de
destaque em nossa legislação, entretanto sabemos que as escolas públicas, tanto do ambiente
rural, quanto do urbano, enfrentam muitas dificuldades. Assim, compreendemos que a
infraestrutura e os materiais didáticos são instrumentos indispensáveis para que os
professores, em especial os de classes multisseriadas, consigam desenvolver o processo de
ensino aprendizagem das crianças em condições tão adversas.
A Lei de Diretrizes e Bases (1996) também evidencia que os sistemas de ensino
precisam garantir que a Educação Básica seja ofertada a todos, ainda que nas localidades mais
longínquas do nosso país. Assim, Haje (2011), sobre as classes e escolas multisseriadas,
principalmente aquelas localizadas na zona rural, destaca que:
Outro fator que merece atenção com relação às classes multisseriadas são as condições
de trabalho do professor e as dificuldades encontradas por ele nesse modelo de organização de
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classes. Sobre essas dificuldades, Rabello e Goldenstein (1986) apud Rosa (2008) apontam
que os professores, às vezes, idealizam uma sala de aula homogênea, pois acreditam ser mais
fácil de trabalhar. Ao imaginar uma turma multisseriada idealizamos uma série de
dificuldades, as quais dizem respeito ao planejamento, às metodologias que serão utilizadas, à
organização da sala, aos materiais que teremos a nossa disposição e ao apoio pedagógico que
iremos encontrar. Sabemos que tais condições representam um grande desafio para os
professores que trabalham em qualquer realidade. Mas os das classes multisseriadas além de
lidar com todas essas dificuldades precisam correr contra o tempo, uma vez que o seu trabalho
exige um planejamento de tempo adequado ao atendimento em cada série ou grupo de alunos.
Segundo Ferri (1994) apud Rosa (2008), o trabalho do professor das classes
multisseriadas é cercado por uma série de limitações tais como: solidão e isolamento;
dificuldade de atendimento individual aos alunos; acúmulo de cargos por parte do professor;
dificuldades de acesso ao material didático e às bibliotecas; planejar para várias séries ao
mesmo tempo; aprendizagem lenta dificultada pelo contexto em que vivem os alunos, dentre
outras.
Sobre esse aspecto, Hage (2011) também cita alguns fatores relevantes, tais como: a
precariedade de infraestrutura das escolas, as quais geralmente não apresentam as condições
necessárias para abrigar com segurança e conforto os alunos, pois muitas vezes funcionam em
locais inadequados, como por exemplo, barracões, alpendres e outras dependências; o
currículo deslocado da realidade rural ou do campo especialmente no que diz respeito ao livro
didático adotado que, na maioria das vezes, segue o mesmo modelo adotado pelas classes
seriadas, não se levando em conta as especificidades dos alunos e o contexto em que estão
inseridos; o fracasso escolar e defasagem idade-série elevados face às condições de ensino e
aprendizagem; a falta de acompanhamento pedagógico das secretarias de educação e política
de nucleação vinculada ao transporte escolar, pois grande parte das escolas com classes
multisseriadas não recebem a atenção e acompanhamento necessários, geralmente essas
escolas por serem consideradas de pequeno porte são deixadas de lado. Em muitos casos um
suporte pedagógico, uma orientação, uma sugestão de atividades para atingir determinados
objetivos, ou até mesmo um diálogo com professores mais experientes poderia ajudar os
professores das classes multisseriadas a superarem algumas dificuldades.
Quanto à política de nucleação vinculada ao transporte escolar, Hage (2011) menciona
que esta vem sendo adotada pelos gestores como a principal saída para a assistência a alunos
de comunidades rurais que apresentam baixa densidade populacional. Nesse contexto é
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comum o transporte de alunos de várias comunidades a outra que disponha de uma escola
maior com capacidade de abrigar os alunos de determinada região, porém o que se observa é
que o transporte utilizado por esses alunos é de péssima qualidade, sem nenhum conforto e
geralmente insuficiente para acomodar a todos ficando estes expostos a imensos riscos,
percorrendo muitos quilômetros, às vezes em carros abertos sujeitos a chuva, poeira e outros
riscos à saúde.
Ou seja, as dificuldades enfrentadas pelos professores desse modelo de classe são de
toda ordem. Acrescentamos a estas elencadas aqui, uma não menos importante, que é a
formação do professor para lidar com estas classes. Ao final de um curso de licenciatura,
pouca coisa ou nada se estudou em relação às metodologias que seriam mais adequadas ou
como deveria ser um trabalho produtivo com esse tipo de classe. Se elas ainda existem, é
necessário mais atenção por parte das instituições de ensino e da legislação para incluir nos
currículos dos cursos de licenciaturas metodologias voltadas para trabalhar com esta
realidade.
Para Salvador (1994) o aluno aprende algo quando precisa resolver determinado
problema, uma norma de comportamento, um valor que precisa ser respeitado, ou seja,
quando é capaz de atribuir-lhe um significado. Toda aprendizagem, seja de um conteúdo, de
um conceito, de um procedimento, de uma explicação, de um fenômeno físico ou social,
precisa fazer sentido para quem irá aprendê-lo.
Sobre o processo de aprendizagem Ausubel (1980) apud Ferro e Paixão (2009)
também afirma que este precisa ser significativo e para que isso aconteça é fundamental
considerar o conhecimento prévio do indivíduo. Para o autor um conteúdo é aprendido de
forma significativa quando se articula com outras ideias, com outros conceitos, sendo
necessário ainda que o aluno tenha uma disposição para aprender, o que não significa
memorizar conceitos já pré-estabelecidos, pois a aprendizagem não é algo mecânico. Como
afirma Morin (2007) o pensamento é complexo e não linear o que significa que a aquisição do
conhecimento também não é algo simples, e para acontecer depende da articulação entre as
diferentes disciplinas e os diversos campos do saber.
Outra condição para uma aprendizagem significativa, de acordo com Ausubel (1980),
diz respeito ao conteúdo escolar a ser aprendido, o qual deve ser também significativo para o
aluno, ou seja, precisa ter sentido lógico e psicológico. Para o autor, o significado lógico
depende somente da natureza do conteúdo, e o significado psicológico é uma experiência que
cada indivíduo tem de acordo com o significado que cada conteúdo tem ou não para si
próprio. Ou seja, os indivíduos apresentam uma organização cognitiva interna baseada em
conhecimentos de caráter conceitual, sendo que a sua complexidade depende muito mais das
relações que esses conceitos estabelecem em si do que do número de conceitos presentes.
Nesse contexto, não podemos deixar de mencionar que a aprendizagem também é um
processo de interação e que acontece a partir do momento em que o indivíduo interage com os
outros e com o mundo. Concordamos com as ideias de Vygostsky (1998) apud Ibiapina,
Ibiapina e Carvalho (2012) para quem a construção do pensamento e da subjetividade é um
processo cultural, pois à medida que interagimos uns com os outros em tarefas culturalmente
estruturadas, criamos “sistemas partilhados de consciência” culturalmente elaborados e em
transformação. Isso porque segundo o autor somos seres sociais e, construímos conhecimento
a partir das interações com o meio.
Ainda segundo Vygotsky (1998) apud Ibiapina, Ibiapina e Carvalho (2012) para
realizar uma tarefa, mesmo tendo todo o aparato biológico da espécie, um indivíduo precisa
participar de ambientes e de situações específicas que propiciem esta aprendizagem, pois não
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Fundamental de 1º a 9º ano nos turnos matutino e vespertino. A escola possui uma boa
estrutura física e conta com mobília adequada para atender as necessidades de alunos e
professores. Com relação ao quadro de professores, a maioria destes é formada ou está em
formação universitária.
A primeira turma, a que denominamos T1, possui alunos do 1º, 2º e 3º ano e é
composta por 10 alunos na faixa etária de 6 a 10 anos, dos quais apenas três sabem ler e
escrever com certa fluência e os demais ainda estão na fase de aprendizagem destas
capacidades. Durante a pesquisa observamos que há um descompasso muito grande com
relação à capacidade de aprendizagem dos alunos ali assistidos, uma vez que percebemos que
os alunos, principalmente os do 1º ano, já possuem uma boa capacidade de compreensão da
leitura e escrita, contrastando com alunos de 2º e 3º ano que ainda não desenvolveram essas
capacidades fazendo com que o processo seja bastante lento e demorado. A professora (P1)
responsável pela turma é formada em Geografia e tem 10 anos de experiência em sala de aula
com Ensino Fundamental (1º a 9º ano), mas há apenas dois anos começou a trabalhar com
classes multisseriadas. Percebemos que ela utiliza um repertório vasto de metodologias para
tentar assegurar um bom trabalho na sala de aula. Apesar dos poucos recursos tecnológicos de
que a escola dispõe, a professora busca diversificar as estratégias para proporcionar uma aula
agradável e proveitosa aos alunos recorrendo principalmente a variados tipos de materiais
didáticos como jogos e principalmente muitos e variados livros na tentativa de propor bom
rendimento e aproveitamento por parte dos alunos. Assiste a todos de forma paciente,
procurando elucidar as dúvidas e auxiliando nas tarefas diárias. Os alunos dessa sala são
agrupados todos juntos, segundo a professora essa maneira de organização da sala permite
uma troca maior de informações entre os alunos, dessa maneira aqueles que sabem mais
podem auxiliar aqueles que sabem menos.
A segunda turma, a que denominamos T2, possui alunos no 4º e 5º ano e é formada
por 14 alunos na faixa etária de 8 a 12 anos, onde 6 destes apresentam distorção idade-série.
Também a exemplo da primeira turma apresentando baixo desempenho com relação à leitura
e à escrita. Nessa turma, os alunos são separados em dois grupos de acordo com a série/ano,
dessa maneira o professor acredita que a sua fala é mais bem direcionada e assim o
aproveitamento é maior. O professor (P2) desta segunda sala atua há nove anos em turmas de
Ensino Fundamental e é graduado em História. Percebemos que o professor se esforça muito
no seu trabalho diário, mostra-se também muito paciente e flexível, procurando auxiliar os
alunos um a um, permitindo o trabalho coletivo, ou seja, permitindo que aqueles alunos que já
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mesma o livro está totalmente fora do contexto e do nível de aprendizagem dos alunos. O que
compreendemos como uma atitude positiva da professora, pois demonstra sua preocupação
em relacionar o que é estudado ao contexto vivenciado por eles. Como destaca Haje (2011),
não adequar o conteúdo ao nível e à realidade dos alunos é um dos problemas enfrentados
nesse modelo, em que na maioria das vezes, o currículo é deslocado da realidade rural ou do
campo, especialmente, no que diz respeito ao livro didático utilizado que segue o mesmo
modelo adotado pelas classes seriadas, não se levando em conta as especificidades dos alunos
e o contexto em que estão inseridos.
Ao questionarmos sobre os conteúdos trabalhados, ela explica que são basicamente
das disciplinas de Português e Matemática, reservando pouco tempo para as outras matérias
por acreditar que o fundamental é aprender a ler e a escrever e resolver as operações
matemáticas. Segundo a professora há alunos do 3º ano que ainda não conhecem o alfabeto,
mesmo sabendo escrever todo o conteúdo do quadro negro, no entanto sem conhecer tais
palavras. A professora diz ainda que desejaria ter um modelo que solucionasse todos os
problemas, algo que pudesse solucionar a baixa aprendizagem na classe. O que demonstra sua
insatisfação em relação ao modelo de classes multisseriadas, o qual não está possibilitando à
professora alcançar os objetivos pretendidos em relação à aprendizagem dos alunos. Sobre
isso Hage (2006) afirma que: é muito forte na fala de alguns que lidam com essa forma de
organização escolar o fato de considerar que, para desenvolver uma educação de qualidade
em áreas rurais, é preciso que essas sejam transformadas em escolas com classe seriada, para
que o sucesso na aprendizagem ocorra. A professora ressalta que sente muitas dificuldades em
trabalhar nesse modelo de classe e diz que preferia uma classe seriada mesmo sabendo,
segundo ela, que nas classes seriadas também existe essa heterogeneidade. “No entanto,
bastaria um rápido olhar nas escolas urbanas, seriadas, para perceber que os problemas não
cessariam”. (BRASIL, 2014). Isso revela que a heterogeneidade não é exclusividade das
classes multisseriadas, mas sim um fato comum em todo o sistema educacional brasileiro.
Os professores citam ainda a falta de atenção dos alunos como um fator negativo uma
vez que segundo eles, os alunos se distraem com facilidade, observando atividades externas à
sala de aula, pois a escola não é murada e o movimento fora da escola acaba atrapalhando a
concentração dos alunos. Concordamos com a posição dos mesmos sobre a influência do
ambiente para o sucesso no processo de ensino e aprendizagem, pois sabemos o quanto um
ambiente acolhedor, com salas bem arejadas e de boa iluminação é favorável à aprendizagem
das crianças. O espaço tem que gerar ideias, sentimentos, movimentos no sentido da busca do
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conhecimento, tem que despertar interesse em aprender; precisa ser alegre aprazível e
confortável, e acima de tudo tem que ser pedagógico. “Há uma docência do espaço”. Os
alunos aprendem dele lições sobre a relação entre o corpo e a mente, o movimento e o
pensamento, o silêncio e o barulho do trabalho, que constroem conhecimento. (LIMA, SUELI
E NASCIMENTO, 2010 apud BRASIL, 2006).
Ao questionarmos sobre as principais dificuldades enfrentadas P1 destaca que alguns
alunos faltam muito em decorrência da distância entre a casa e a escola, por conta da falta de
transporte escolar regular, uma vez que ele não funciona normalmente. De forma geral, a
concepção dos professores sobre essas classes demonstram que eles não acreditam no sucesso
desse modelo e que o mesmo já deveria ter sido suplantado, pois prejudica a aprendizagem
das crianças. P1 afirma que:
Esse modelo deveria não existir porque atrofia os alunos, no final do ano
percebemos que não houve um resultado significativo com relação à aprendizagem,
esse resultado é bem menor do que os obtidos em classes normais (seriadas) porque
o tempo em que deveríamos atribuir a apenas uma turma, é dividido entre duas ou
até três turmas em alguns casos (P2).
Percebemos pela fala do professor que ele está preocupado com o rendimento dos
alunos e que aponta o sistema de classes seriadas como mais eficiente na obtenção de uma
melhor qualidade da aprendizagem dos alunos. Percebemos que nesse sentido os professores
P1 e P2 dividem a mesma opinião acreditando em uma qualidade superior das classes
seriadas. Ao questionarmos P2 sobre as avaliações, este comenta que geralmente propõe um
trabalho extra como complemento de nota, uma vez que o rendimento da maioria dos alunos,
não é satisfatório. O que podemos perceber com essa atitude de P2 é que ele é flexível com os
critérios de avaliação, permitindo que os alunos possam tentar assegurar uma nota mais
elevada frente a uma primeira mais baixa.
Quando questionado sobre o apoio pedagógico por parte da secretaria de educação, P2
relata que este apoio inexiste uma vez que a secretaria de educação delega esse apoio apenas
aos professores e ao gestor da escola Gervásio Lages, incubindo a eles toda a responsabilidade
de orientar o planejamento e discutir estratégias para superar as dificuldades. Sobre isso o
artigo 10, inciso 2° da Resolução CNE/CEB determina que:
P2 organiza a sala de aula com dois grupos um de cada série, pois acredita que desta
forma é melhor para direcionar sua fala sem ter que interferir totalmente nas atividades que
um ou outro grupo esteja realizando e até mesmo para fazer o acompanhamento individual de
cada aluno. Assim como P1, P2 também cita a ausência dos pais na escola como um ponto
muito negativo e ressalta que percebe que eles sequer auxiliam nas atividades que os filhos
fazem em casa referentes à escola, e cita que os alunos parecem não ser estimulados pelos
pais a frequentarem a escola assiduamente, uma vez que muitos são faltosos e só vão quando
querem,cita inclusive casos de alunos que chegam a faltar às aulas por até 15 dias, sofrendo
um prejuízo muito grande segundo a opinião de P2.
Quando questionado sobre a sua concepção sobre as classes multisseriadas, P2 afirma
que este modelo de organização é um atraso na educação pela falta de rendimento, e acredita
que o fim dessas turmas seria a única forma de melhorar a qualidade da aprendizagem dos
alunos. Isso vai ao encontro das constatações de Hage (2006), o qual salienta que:
Em face do isolamento a que estão sujeitos e do pouco preparo par lidar com a
heterogeneidade de idades, anos, ritmos de aprendizagem, entre outros desafios que
se manifestam nesse modelo de classes, cresce entre os docentes o desejo de acabar
com as classes multisseriadas. É muito forte na fala de alguns que lidam com essa
forma de organização escolar o fato de considerar que, para desenvolver uma
educação de qualidade é preciso que essas sejam transformadas em escolas com
classe seriada, para que o sucesso na aprendizagem ocorra. (HAGE (2006) apud
BRASIL 2014 p.28 )
5 Considerações finais
nucleação de escolas que possuem um suporte estrutural melhor para abrigar alunos de várias
outras localidades. Percebemos, no entanto, que esta forma de organização escolar é rotulada
como um modelo fracassado e que não oferece condições suficientes e necessárias para o bom
desenvolvimento do trabalho docente e de uma qualidade satisfatória da aprendizagem dos
alunos, ficando assim fadada ao descrédito e a pouca importância por parte dos órgãos
governamentais.
Constatou-se que existem muitos entraves que impossibilitam que as classes
multisseriadas sejam consideradas de boa qualidade, uma vez que não há políticas
educacionais específicas e abrangentes voltadas para o atendimento destas, restando ao
professor a grande responsabilidade de amenizar com base em variadas técnicas as condições
de baixo nível de qualidade tanto das estruturas físicas das escolas, do transporte escolar
irregular, da falta de apoio da família na educação dos filhos, quanto do suporte técnico e
pedagógico das secretarias de educação, demonstrando assim, a árdua tarefa de quem trabalha
com esse modelo.
Percebemos também a necessidade de investimentos na formação continuada de
professores, capacitando-os para a aquisição de novas metodologias e técnicas, capazes de
promover o dinamismo do trabalho pedagógico nessas classes, assegurados por uma proposta
educativa específica para o sistema de multisseriação.
Observamos que por um lado esse modelo traz a vantagem de ofertar a educação a
todas as crianças, mesmo nos mais longínquos rincões do município, mas, por outro,
destacamos também o grande desafio do professor em trabalhar com públicos tão distintos,
sendo necessária a construção de planejamentos e atividades diversificadas para atender os
mais diferentes níveis de aprendizagem e particularidades de cada aluno.
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