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Júlia:
espírito perturbado
coração sobressaltado
via a cada hora uma desgraça em minha casa
aquele monstro não tem dignidade, não tem dignidade
ora ora abandonar meu marido
maldito senhor afonso
jamais serei uma amante
não vou ser amante
não fui amante
alberto era um homem bom, ele me tirou da pobreza
odeio todas essas mulheres que não reconhecem os deveres que tem que cumprir como
esposa e mãe
alguém atrás, sem corpo a mostra: Uma carta para dona júlia
entra afonso no plano de fundo ou ao lado, senta na mesa com cadeira e escreve enquanto
toca o áudio:, faz aviãozinho de papel, joga na júlia: “Querida Júlia, ontem, ao sair da sua casa,
fiquei bastante
triste com as palavras que me dirigiu. Peço-lhe que venha
encontrar-se comigo para contar-lhe uma trama que estão
preparando contra a senhora. Eu, porém, senhor de todas as
peripécias, hei de salvá-la custe o que custar...”
j. (outras vozes sem corpo): embusteeeeeeiro. (embusteiro, embusteiro, embusteiro (as vozes
alternadas criando a sensação de ser a cabeça atordoada de júlia)
e então ele entrou em minha casa, sem consentimento, com um tom irônico pra rasgar meu
destino (diz, olhando para baixo, talvez um paninho que seja a única lembrança de albertina,
com um tom de tristeza e desconsolação)
a intimidade não constitui licença - eu disse, eu dissee - intimidade não é licença (alterna raiva
na primeira frase, lamúria quando a repete)
sedutoooor, incivilizaaaado
alberto me amava alberto me amava
burra burra (bate em si) tentando preservar amizade do canalha
afonso (que depois de ler a carta senta (de costas ou atrás do banco), levanta e diz "a senhora
pensa estar em um mar de rosas, quando está prestes a submergir em um abismo")
j: CALÚUUUUUNIA
e aí ele escreve a carta áudio com afonso imitando a voz de uma mulher (não sei como
resolver o tempo das cartas agora que vão ser escritas)
ri, sozinha: as mulheres dispõem de uma arma terrível, as mãos para esbofetear a cara
daqueles que querem lhe faltar com o devido respeito
(afonso está possesso (teríamos que sincronizar o tapa na cara do ar e afonso levando o tapa
sobre a mesa, indignado. ou só depois do barulho ele reage com a mão no rosto incrédulo,
levanta, tira uma cigarreira do bolso e deixa em cima da mesa, furtivo)
Júlia acorda sobressaltada, ele tira uma faca da calça e corre até ela, dando uma chave de
braço: diz quem é teu amante para que eu lhe arranque o coração com esse punhal e a ti
desgraçada enforcarei alberto adúltera desprezível sai
b) não damos referência a cigarreira (ou alberto entra raivoso com a cigarreira)
alberto entra na cena raivoso e pega júlia pelo pescoço com uma faca na mão diz quem é teu
amante para que eu lhe arranque o coração com esse punhal e a ti desgraçada enforcarei
alberto adúltera desprezível sai
em ambos os casos:
júlia desesperada, olha pra baixo, sacode-se de raiva, responde olhando pra frente, como
quem tenta alcançar algo com as mãos, alberto eu não teeeenho amaaante. eu sou uma
mulher honeesta. eu sou uma mulher honeeeeesta. eu sou uma mulher honeeeeesta. diz até a
voz parar.
ajoelha-se no chão, olhando para algum lado: antes de matar-se ouve com atenção. te amei
como os anjos amam a deus. olha, num giro de pescoço expressivo, para a plateia: e aí chamei
ele de louco. senta no banco, atordoada, e aí disse que ia estar matando uma inocente.
alberto fala (fora de cena) vais viver coberta de andrajos, dormindo pelas calçadas (entra em
cena carregando uma boneca(bebê) como quem sai rápido de casa) caminha rápido e diz: levo
minha filha a quem nunca mais verás
alguém da praça (porque enquanto a cena se dá passantes passam ?) senta ao lado de júlia
ela diz, olhando para a pessoa: Sim, ele disse: hás de mendigar o pão de porta em porta,
exalarás teu último suspiro em uma calçada coberta de andrajos.
Hás de viver roída pelos vermes, perseguida pelos remorsos,
eis os vermes, eis os remorsos, fujam, fujam de mim que sou
pura, eu sou inocente.
j: Caluniaram-me, sou vítima... minha filha, minha filha! Albertiiina, Tua mãe é
inocente! (imagina a filha no alcance longe das mãos e dorme)
j:
(dança ao redor do banco enquanto canta e fica no banco dançandinho, arrumando suas
coisas)
Entra Alberto, como quem não vê Júlia, está no celular com antunes, bem em frente a plateia:
(alguém pode ligar de for a e ir dizendo a fala pra sam)
Albertina: ó papai, que saudade tive dessa terra enquanto estávamos no Rio. saí tão
pequenina, mas tudo aqui me retoma, como é bom sentir vívido o cheiro das lembranças (…)
ainda que pouco as compreenda, sinto que nessa terra há algo que me atrai, papai.
Alberto: Pois filha, por mais que a negócios tenha voltado, algo me brinda o coração em rever
esse recanto de mundo. Que o retorno a essa terra boas alegrias nos possa trazer. Vamos, que
Dona Matilde disse que a casa está pronta para nós e daqui não tardamos chegar em poucos
minutos.
Saem
Júlia atrás: Aquela menina, aquela menina é um doce coração nesse mundo que das injustiças
Deus ainda não tratou. Passei em sua casa e disse que me daria um vestido, soube ver nessa
pobre louca a mulher de bom coração, que sou. Contou-me suas histórias, me chamou mãe e a
verdade é que digo filha a todas as moças a quem mendigo, mas a essa realmente digo de
forma especial. Diz que se compadece das mulheres que sofrem por infortúnios que homens a
fizeram, a garota. Diz que quer me levar a viver consigo, que só precisa perguntar ao pai e ele
deve querer conhecer-me. Não me iludo, quem é que acolheria uma mulher em farrapos tal
qual estou desde que a desgraça me acometeu?
me resta cantar
(talvez aqui a gente possa fazer a cena (só as vozes no fundo enquanto albertina dorme) da
Albertina contando que conheceu uma senhora, que quer dar um vestido, que quer que venha
morar com eles, alberto contrariado, mas pode conhece-la (se acharem que sim me digam “sim
a cena em off”)
Senta no banco com Júlia, a abraça, apresenta o pai, se cumprimentam com a mão.
Antes de olhar para a Júlia, Alberto, que estava meio distraído e contrariado com a vontade da
filha em abrigar uma senhora louca da praça, mas não sabe dizer não a menina diz: minha filha
fala muito da se (e a olha, reconhecendo como quem fica com pulga atrás da orelha) nhora.
Albertina interrompe porque lembra que está com o vestido “ah, eu trouxe o vestido para a
senhora”. Alberto recebe um áudio no celular e estranha. Alberto diz: peço licença, um número
desconhecido acaba de me mandar um áudio enorme.
Alberto, imagino que te assustes com minha palavra, após passado tanto tempo. (Alberto
estranha e diz: Afonso, o banqueiro?) Soube que estás na cidade te mando esse áudio para
confessar algo terrível que fiz e então receber meu castigo, a você que outrora me deu o
doce nome de amigo. Fiz algo terrível contigo e com a sua antiga senhora, dona Júlia. Há
muito tempo atrás estive em sua casa para falar com a senhora sua esposa, a calúnia muitas
vezes nos faz alcançar aquilo que desejamos, então disse-lhe que o marido estava
falido e que tinha uma amante com quem gastava uma fortuna, e que iam fugir juntos. Fiz
também uma carta anônima a ela dirigida, convidando-a para um novo encontro no
caramanchão do seu jardim e mandei de propósito entregar a você. Sei que o atentado ao
relacionamento funcionou, ainda que a honra dessa mulher tenha sido tão incólume,
apesar de todas as minhas tentativas, que mesmo depois de ter sido ameaçada por ti,
preferiu viver da rua a juntar-se comigo. Sabia desde sempre o verme que eu era. Ao
reconhece-la aos trapos, pela rua, não pude não me sentir a pior das criaturas. E sou. Agora
revelo-me. (tiro)
(enquanto isso se dá, Albertina tira uma canga da bolsa e faz uma tendinha pra Júlia trocar-
se, colocar o vestido novo)
Albertina: Estás radiante! Agora a senhora precisa contar-me aquela história que ficou
prometida, aproveitemos que meu pai se foi longe e temos mais intimidade.
JÚLIA Fiquei órfã de pai e mãe aos doze anos. Não sei quem,
compadecendo -se de mim, botou-me em um colégio de
caridade onde passei nove anos. Um belo dia, conheci um
senhor rico e gentil e ele me pediu em casamento, ele me
amava com idolatria. Vivíamos na maior harmonia e, ao cabo
de dois anos, o primeiro fruto do nosso amor nasceu, uma
lha, como era linda minha lha...
chora
ALBERTINA abraçando-a
Não chore, eu lhe peço, continue sua história.
JÚLIA Mas, um dia, um amigo falso do meu marido, que queria me
conquistar, tentou me beijar. Então fui obrigada a dar-lhe uma
bofetada.
ALBERTINA Muito bem empregada.
JÚLIA Ele, tendo sido ferido em sua dignidade, fez uma carta falsa,
ngindo ser do meu suposto amante, e mandou-a entregar
de propósito a meu marido. Meu marido, homem de gênio
zeloso e arrebatado, no princípio, quis matar- me, não o fez
não sei por quê. Entretanto, deu-me a morte moral, que é pior
que a morte física... E o resultado dessa história é que fui
abandonada e, ainda, pior que tudo: fui privada de ver minha
lha... assim enlouqueci, e hoje me encontro neste estado de
miserabilidade.
ALBERTINA E como se chamava este indigno homem que tramou tudo isso
contra a senhora?
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JÚLIA Afonso. Afonso foi o causador da minha desgraça.
ALBERTINA E nunca mais teve notícias da sua lha e do seu marido?
JÚLIA Não, nunca mais.
ALBERTINA Como se chamava seu marido?
JÚLIA O nome do meu marido era Alberto.
ALBERTINA nervosa, a ita
O nome da sua lha, minha senhora?
Alberto, apertando as mãos e pondo-as na cabeça
JÚLIA Chamava-se Albertina.
ALBERTINA dramática
Que idade tem sua lha, minha senhora?
JÚLIA Se for viva, completará quinze anos.
ALBERTINA abraçando-a, chorando
Minha mãe, eu sou sua filha
Alberto retorna do fundo do palco, vê as últimas frases, se joga em frente de Júlia desolado:
Perdão, Júlia, perdão, Afonso acaba de contar-me tudo.