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Cartografias
da Edição
Independente
23, 24 e 25 de setembro
Campus 1 e 2 (Belo Horizonte)
Cartografias da Edição Independente
Neste trabalho apresentamos um panorama histórico de modalidades da prática editorial atreladas à qualificadores –
como a edição artesanal, alternativa, independente e a autopublicação – que, se apresentam nuances de significado por
vezes sutis, não deixam se interseccionarem frequentemente. Em um primeiro momento, dirigiremos o olhar ao contexto
mais amplo em que surgem esses circuitos editoriais paralelos, possibilitados em sua plenitude pela própria introdução e
disseminação da tipografia no Ocidente, a partir do século 15. Ao avançarmos essa narrativa ao longo dos séculos seguintes,
o foco começará a recair sobre os traços de recorrência encontrados nesses sistemas editoriais alternativos às estruturas
vigentes, direcionando progressivamente nossa atenção para o Brasil no geral e, por fim, para o caso específico de Minas
Gerais. Nosso recorte temporal é encerrado em meados dos anos 1980, década em que surge a editoração eletrônica,
importante mudança de paradigma tecnológico que multiplicará ainda mais exponencialmente as fontes historiográficas de
que se serve o pesquisador. Buscando compreender o(s) fenômeno(s) da edição alternativa em movimentos dialéticos de
contração/dilatação em relação às técnicas e ao espaço e tempo em que se situam essas edições, bem como guiados pelo o
objetivo de atualizar o olhar dirigido a nossas práticas e relações sociais, defendemos, ao longo deste trabalho, a
pluralidade epistemológica em detrimento do dogmatismo dicotômico que, em vários momentos no decorrer dos séculos,
permeou o debate em questão.
A trajetória do editor Massao Ohno (1936-2010) esteve voltada predominantemente para a publicação de literatura,
especialmente a poesia, gênero esse que, por conta das tiragens reduzidas em relação a outros gêneros, acabou sendo
fomentado, em parte significativa, por pequenas editoras, as assim chamadas independentes. Além de selecionar
pessoalmente os textos que editou, Massao também foi designer da maioria absoluta dos livros por intermédio dele
publicados, ademais de ter buscado e empreendido parcerias com outros editores no intuito de ampliar a disseminação de
sua produção. Nesse sentido, esta investigação propõe pensar se ou como a editora capitaneada por Ohno se configuraria à
luz de alguns conceitos relativos à edição e à independência, já consagrados no cenário contemporâneo. O objetivo é o de
atualizar, ainda que de maneira incipiente, a travessia editorial de Massao Ohno no campo literário brasileiro.
NAS ENTRELINHAS DOS LIVROS, AS TRAJETÓRIAS DOS EDITORES E DE SUAS EDITORAS: A LOTE 42 E
SEU ARQUIVO
Gabriela Costa Limão
Em O Beijo de Lamourette (2010), Darnton lamenta o fato de os editores tratarem seus arquivos como lixo. Esse não é o
caso da Lote 42 que, desde o início, tem materiais referentes a sua trajetória arquivados pela editora Cecília Arbolave. A
Lote 42 lançou-se com o livro Já Matei Por Menos, de Juliana Cunha, no final de 2013, em São Paulo. Com a abertura da
Banca Tatuí, na Santa Cecília, em 2014, marca presença no mercado editorial independente. Embora na primeira matéria
arquivada as linhas escritas localizem como personagens apenas João Varella e Thiago Blumenthal, o próprio ato do
arquivo revela a presença de Arbolave desde o início da editora. Ao longo da pesquisa que realizei no ano de 2018,
interessada pela formação da Lote 42, essa presença foi percebida não só no arquivo, mas também nas entrevistas
concedidas pelos editores, que também narram a participação de Arbolave nos primeiros projetos editoriais. Nesse
trabalho irei apresentar alguns materiais do arquivo da Lote 42, muitos deles organizados e catalogados por Cecília
Arbolave e por mim, durante minha Iniciação Científica. Nesse sentido, pretendo explorar a construção de uma narrativa a
respeito da trajetória da Lote 42, a gênese do arquivo e sua organização. Proponho uma reflexão partindo do pressuposto
de que a trajetória da editora e a de seus editores se entrelaçam. Focarei nos primeiros três anos da editora (2013, 2014 e
2015), em que eventos como a fundação e os primeiros lançamentos estão localizados.
O presente trabalho almeja evidenciar alguns aspectos da trajetória da editora paulista Laranja Original, a partir dos dados
coletados em uma entrevista no dia dois de agosto de 2019 com o produtor executivo da editora, Gabriel Mayor.
Formalizada em 2016 , a casa editorial se autointitula independente por nortear seu trabalho, primordialmente, por
questões ideológicas e não mercadológicas, buscando conjugar projetos gráficos cuidadosos com textos considerados de
alta qualidade literária, o que a fez alcançar importantes espaços, como indicações ao Prêmio Jabuti e o Prêmio Literário
Glória Sant’Anna, em Portugal. Assim, pensando nessa proposta de esmero literário, busca-se examinar o catálogo,
salientando suas características e facetas. Também objetiva-se apresentar o processo de produção da editora e mostrar seu
papel, destacando como ela se propõe a ser uma incentivadora cultural, ao dar voz a novos artistas e disseminar saberes
plurais, publicando gêneros marginais como a poesia, haja vista que esta não é uma líder de vendas no contexto brasileiro.
Além disso, baseando nas reflexões de Gilles Colleu (2007), que coloca a importância do editor independente como o
agente fundamental para fazer com que o livro chegue até o leitor, procura-se evidenciar os métodos de distribuição e
venda dos livros da Laranja Original, ressaltando seu engajamento em promover a circulação das obras, e também as
estratégias utilizadas por ela para manter-se no mercado.
A literatura juvenil é um nicho controverso, que atrai, ao mesmo tempo, desdém da crítica – por motivos similares aos que
levam à subavaliação da literatura infantil – e o interesse do mercado editorial. Todavia, alguns obstáculos ficam evidentes
quando é necessário efetuar uma conceituação de o que é juvenil. Sobre o que falamos quando enunciamos “literatura
para jovens”? A definição, ao levar em conta o público alvo, complexifica-se, na medida em que as várias faixas etárias
agrupadas no conjunto “adolescência” prefiguram consumidores e produtos muito diversos. É possível conceituarmos essa
produção a partir daquilo que atrai a atenção das escolas – livros que abordam temas ditos de interesse para os jovens,
como bullying, assédio, amizade, primeiras experiências, entre outros –, com tratamento linguístico apropriado para o
trabalho em sala de aula. Por outro lado, crescem os expoentes de uma literatura juvenil de mercado, lotando
rotineiramente as prateleiras e lugares de destaque das livrarias – narrativas fluidas, que proporcionam a construção de
fandoms, mas não necessariamente adequadas para o consumo escolar. Para quais idades se destinam os livros de
literatura juvenil? Como se delimita seu público alvo? Tais considerações serão feitas no âmbito da pesquisa “Mapeamento
de autoras negras na literatura juvenil brasileira”, na qual verificamos a presença de mulheres negras escrevendo para o
público jovem. Neste trabalho, especificamente, inquiriremos a conceituação de literatura juvenil não como gênero, mas
como nicho que se constitui como problema de pesquisa.
Palavras-chave: Literatura juvenil; Nicho editorial; Jovem.
Dia 23 - 16h30 - Sala 331
O caráter intensamente multimodal de grande parte dos livros para crianças possibilita a exploração de ferramentas
oferecidas pelo meio digital. Neste formato, Hunt (2010) afirma que a linearidade sai de cena e aquilo que tínhamos como
elementos externos ao texto passa a fazer parte da própria narrativa. Os hipertextos, associados ao tripé composto por
texto, ilustração e projeto gráfico (PINHEIRO, 2018), expandem o conceito de narrativa e exigem uma nova forma de ler,
sofisticada e habilidosa. Esta leitura demanda um letramento digital mais desenvolvido, que está relacionado, segundo
Gruszynski (2010), “ao domínio de técnicas e habilidades associadas ao desenvolvimento de múltiplas competências de
‘escrita’ e leitura, nas mais variadas mídias”. Sabemos, no entanto, que os livros digitais ainda não alcançaram “os níveis
de consumo pretendidos pela indústria ou pela visão otimista de muitos” (RIBEIRO, 2018). Lajolo (2013) aponta uma
coexistência híbrida, típica de tempos de transição cultural, em que os traços da cultura digital se manifestam nos livros de
papel e as características destes, por sua vez, ainda permanecem nos produtos digitais. Este estudo pretende refletir sobre
o modo como a linguagem multimodal dos livros para crianças, digitais ou impressos, condena a superficialidade das
leituras “tradicionais”. Para isso, propõe a análise de quatro livros infantis: o digital Nautilus, adaptação da obra Vinte mil
léguas submarinas, de Júlio Verne; a versão digital de Amal e a viagem mais importante de sua vida, de Carolina
Montenegro e Ricardo Moriconi; e os impressos Lampião & Lancelote, de Fernando Vilela, e Lulu e o urso, de Carolina
Moreyra e Odilon Moraes. A análise evidencia que vivemos um período em que impresso e digital compartilham linguagens
e estratégias de interatividade. Reitera-se a imprescindibilidade da busca pela harmonia entre texto, ilustração e projeto
gráfico nas edições de livros infantis.
Iniciativas Marginais e
Alternativas de Mercado
Luiz Eduardo Rodrigues de Almeida Souza, Karine Santos Oliveira e Dione Barbosa Machado
Pretende-se, nessa comunicação, construir um relato da experiência de publicação independente do livro “À luta, à voz –
Coletivoz sarau de periferia” que foi publicado em 2018 pela “Venas Abiertas”, uma editora alternativa de Belo Horizonte-
MG, por meio de autofinanciamento dos próprios 22 escritores convidados para a 1ª edição dessa coletânea poética de
comemoração aos 10 anos de história do Coletivoz que está em sua 2ª tiragem com 700 exemplares em circulação por
várias cidades e países. A importância desse depoimento prático-teórico se dá pela dimensão simbólica e histórica do
Coletivoz Sarau de Periferia que é o percussor da Literatura Marginal-Periférica na capital mineira e foi fundado no ano de
2008, sob a inspiração e contato direto com o Sarau da Cooperifa de São Paulo. Esta obra, talvez, marcaria uma entrada de
sujeitos, coletivos, periféricos no Campo da Literatura Contemporânea Brasileira, ou no jogo de forças institucionais da
produção literária-cultural de BH, quando apostam editar um livro num suporte tradicional do mercado livresco. Buscou-
se, então, um arcabouço teórico que perpassasse os conceitos de “sistema literário” (CANDIDO, 2000), de “campo
literário” (BOURDIEU, 1996), as discussões em torno da Literatura Brasileira Contemporânea (SCHOLLHAMMER, 2009;
DALCASTAGNÈ, 2012; ROCHA, 2015; RESENDE, 2017); da Literatura Marginal-Periférica (WALTY, 2014; OLIVEIRA JR., 2016;
TENNINA, 2017; COELHO, 2017); e da Voz Poética (ZUMTHOR, 2014).
Palavras-chave: Publicação Independente. Literatura; Marginal Periférica; Saraus; Literatura Contemporânea.
Dia 23 - 16h30 - Sala 433
O YouTube é uma plataforma de compartilhamento de informação via internet. O foco do website é a exposição de vídeos
de vários temas, inclusive sobre material literário, objetivo do presente trabalho. Os canais literários, encontrados na
plataforma, promovem a troca de opiniões e o aprofundamento do debate entre leitores e curiosos sobre obras de diversos
gêneros literários. Apesar de não estar entre as maiores audiências do YouTube, os canais literários atraem muitos
seguidores e, alguns deles, ultrapassam os 300 mil. Grande parte dessa discussão se origina pela iniciativa dos booktubers,
influenciadores digitais que falam sobre livros, literatura e leitores em seus canais do Youtube. Eles expandiram suas
publicações (escritas), feitas anteriormente em blogs, para a versão audiovisual. A investigação abordada neste artigo tem o
objetivo de mostrar como canais literários podem contribuir para a divulgação de livros produzidos por editoras, inclusive
independentes. Para isso, será analisado o quadro “Papo de Editora”, que consiste em entrevistas com editores sobre o
trabalho de edição, do canal “Litera Tamy”, conduzido pela booktuber Tamy Ghannam. Ao todo, são seis entrevistas, todas
realizadas com editores da cidade de São Paulo. O Litera Tamy, além das editoras independentes, apresenta também
autores independentes da literatura nacional contemporânea. O compartilhamento desse tipo de leitura possibilita que os
seguidores do canal possam conhecer autores, que estão à margem do cenário literário brasileiro. A divulgação de autores
independentes na plataforma desperta o interesse de leitores e gera a produção de livros nas editoras. Importante ressaltar
que os canais literários do Youtube são meios de divulgação do livro enquanto produto, incentivando, assim, o consumo e
a produção editorial para atender um público, cada vez mais, apaixonado e exigente pelo objeto livro.
Vivemos no Brasil um período de crise econômica que atingiu quase todos os mercados existentes, dentre eles, um dos
mais prejudicados foi o mercado literário. Tendo em vista esta situação, os autores recorrem às mais variadas formas de
conquistar seus espaços no mercado e garantir que suas obras cheguem às mãos dos leitores, dentre estas alternativas,
existe a possibilidade de autopublicação por meio do crowdfunding, ou financiamento coletivo, em que autores e/ou
editoras independentes buscam financiar seus projetos coletivamente prospectando leitores interessados e arrecadando
fundos diretamente entre estes leitores. Dentre estes casos, em 2019 aconteceu a campanha de financiamento do
Tormenta 20, uma nova versão do jogo brasileiro de RPG que comemora os 20 anos da criação deste universo fantástico, a
campanha foi bem sucedida e arrecadou um valor próximo aos dois milhões de reais. Tendo em vista este caso, surgiram os
seguintes questionamentos: quais seriam os fatores fundamentais para o sucesso desta campanha? O que outros
autores/editores têm a aprender sobre este caso? Seria o financiamento coletivo sempre a alternativa mais adequada para
a autopublicação? O presente trabalho pretende refletir sobre estas questões com o objetivo de investigar modos de
fortalecer e preservar o mercado literário independente brasileiro.
Periódicos Independentes
Embora haja muitos e significativos trabalhos referentes à história da imprensa brasileira, há ainda bastante a ser estudado,
principalmente se considerarmos as produções do século XIX e do início do século XX realizadas no interior do país.
ercebemos a necessidade de estudos mais regionalizados, que englobem pesquisas da área da história da imprensa, em
suas diferentes possibilidades e contextos de desenvolvimento de análises, em aspectos de linguagem, tecnologia e edição.
Dessa forma, avaliando a existência de várias produções jornalísticas, que acompanham historicamente o processo de
desenvolvimento de Carangola desde o final do século XIX, ressaltamos a grande potencialidade de estudo dos seus
jornais. A partir do entrecruzamento das informações levantadas sobre as condições de produção do discurso e a análise
do texto como produto, levantaremos algumas questões referentes a percepção do destinatário ideal e sobre o lugar da
produção de efeitos esperados. O objetivo deste trabalho é demonstrar, a partir da análise das “colunas sociais” presentes
no discurso dos jornais O Radical (1891) e O Rebate (1893), como se configuravam as relações sociais, por meio das
representações dos imaginários sociais nos jornais de Carangola. Trabalhamos com a hipótese de que a imprensa local era
o meio de comunicação que se encontrava mais próximo da realidade espacial da comunidade dos leitores no período, o
que também se traduzia na realidade de Carangola. Os jornais procuravam estabelecer vínculos entre órgãos de notícia e a
elite local. Os leitores eram personagens do discurso do jornal, os quais por sua vez, ajudavam na reprodução de
imaginários e estereótipos.
Palavras-chave: Imaginários Sociais; O Radical; O Rebate.
Dia 24 - 16h30 - Sala 423
REVISTA CIÊNCIA POPULAR: DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA PRODUZIDA FORA DOS ÂMBITOS ACADÊMICOS
NO PERÍODO PÓS-GUERRA
William Ferreira Matos
Ciência Popular é uma revista brasileira de divulgação científica e tecnológica publicada entre 1948 e 1960 pela Biblioteca
Profissional Brasileira, que pertencia a Ary Maurell Lobo, o diretor geral. Esse periódico foi concebido fora de ambiente de
ensino e pesquisa e, conforme o editorial da primeira edição publicada em outubro de 1948, Ary Lobo apontou que a
finalidade do periódico era mostrar “a verdade científica” e “a verdade técnica”, como uma forma de “servir” ao Brasil.
Lobo recebeu auxílio de agências internacionais. Este trabalho analisou as 17 primeiras edições, que estão disponíveis na
Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, em Belo Horizonte (MG), e considerou-se esse número de edições suficiente
para a análise das características editoriais. Dessa maneira, estudou-se a organização interna, como artigos, notícias,
editoriais, seções, notas e miscelâneas. As seções se relacionam a temas como curiosidades, jogos, questionários,
esoterismo e cartas dos leitores. Também foram analisados os elementos gráficos mo aspectos que contribuem para
apresentação de assuntos ao leitor, ou seja, as fontes, as colunas, as imagens e a diagramação em geral, tratados como
aspectos integrados ao conteúdo. Ademais, foram criadas categorias temáticas estabelecidas por meio de leituras e
agrupamentos dos assuntos nas 17 primeiras edições. Foram lidos e analisados 889 textos. Esse conjunto foi dividido em 18
categorias temáticas, como Ciências da Saúde, Ciências Exatas e da Terra e Engenharia, que são os temas com maior
número de textos, e isso vai ao encontro do que se considera ciência moderna na segunda metade do século XX. A revista
apresentou layout similar aos jornais da época e valorizou a divulgação cientifica e tecnológica em âmbito mundial no
Brasil, no período pós-guerra.
Durante o período da ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985), vários jornais alternativos surgiram e tiveram o seu fim
decretado devido a censura prévia e a repressão do período, entre eles, o jornal De Fato, que circulou em Belo Horizonte
entre 1976 e 1978 e caracterizou-se por introduzir em suas reportagens e artigos temáticas sociais singulares para o período,
tais como a luta feminista e a homossexualidade, distantes das pautas abordadas na imprensa nacional. Entre as pautas
trabalhadas em relação aos direitos da mulher e, principalmente, à violência de gênero, destaca-se a edição número dez,
acerca do assassinato de Ângela Diniz, em dia 30 de dezembro de 1976, com quatro tiros no rosto por seu companheiro,
Doca Street, em Búzios, no Rio de Janeiro. Naquele momento, Ângela foi transformada, nas páginas policiais dos jornais da
imprensa tradicional, em vilã, sem direito à defesa resguardado. Dentro deste contexto que De Fato tenta criar uma versão
diferente, em que a protagonista é uma das vítimas da violência masculina, ao dar voz a fontes e testemunhas que
defendiam Ângela. Ela passa a ser a heroína - símbolo inspirador do slogan “quem ama não mata”, que embalou o
ovimento feminista nos anos 1970. Além disso, De Fato faz a reconstituição da morte e da vida de Ângela, desde os vestidos
engomados usados nas missas de domingo em Belo Horizonte até se transformar na ‘Pantera de Minas”.
Nascido em 1799, na cidade de Genebra, o professor Töpffer foi ser conhecido em sua cidade graças a seus romances,
poemas e sua posição de docente. Mas ele se tornou conhecido fora dos limites de Genebra justamente por aquilo que
fazia sem aspirações literárias ou acadêmicas: foi pelas histoires en estampes que o professor suíço se consagrou Autor em
um tipo de domínio discursivo que bem mais tarde, só na década de 1970, seria considerado bande dessinée. Töpffer
iniciou sua trajetória de quadrinista em meio à idade de ouro da caricatura inglesa, que abrange o final do século XVIII e
início do XIX. Tendo sido fortemente rechaçado por causa de suas histórias em quadrinhos, o autor teve muitas vezes o seu
talento quadrinístico julgado dentro de padrões de estética literária, ficando, assim, relegado a uma posição muito pouco
privilegiada. Só depois de certa sistematização de um campo quadrinístico é que Töpffer angariou um posicionamento
central em relação a outros autores, para quem foi inspiração. Diante desses fatos, o objetivo deste trabalho é descrever
panoramicamente como se deu a formação do campo quadrinístico por meio de relações discursivas de ordens diversas,
advindas, principalmente, do embate com a Literatura, com uma tradição da imagem que se formava e com o
desenvolvimento de técnicas de impressão.
Palavras-chave: Campo Quadrinístico; Campo Literário; Rodolphe Töpffer.
Cartografias da Edição Independente
Campo Editorial e
Representatividade Negra:
leituras do contemporâneo
A proposta deste trabalho é analisar os discursos de apresentação contidos nos sites das editoras negras ou quilombos
editoriais (Pallas, Mazza, Nandyala, Malê, Ciclo Contínio Editorial e Ogum’s (Toques Negros). Para tanto, tomaremos duas
categorias essenciais: o quilombismo e o ethos discursivo. Os quilombos, segundo Henrique Cunha Jr. (2012), foram
arregimentações sociais, constituídas por pessoas escravizadas, em territórios de exploração colonial. A solidariedade e a
resistência são características marcantes destes coletivos. Tais características amparam a prática chamada por Abdias do
Nascimento (1980; 1985) de quilombismo. Nascimento propõe entender o quilombismo como estratégia contemporânea de
enfrentamento de diversas ordens promovida pelo coletivo afrodescendente diante das inúmeras formas de discriminação
e racismo. O campo editorial, por sua vez, não fica imune às práticas excludentes, conforme atestam trabalhos como os
Dalcastagnè (2012) e de Oliveira e Rodrigues (2016). Vale ressaltar que Oliveira (2018) propõe a noção de quilombos
editoriais para classificar as iniciativas responsáveis por grande parcela da produção e circulação intelectual afro-brasileira.
Já o ethos discursivo (Maingueneau) é construído em suas múltiplas relações com o outro (sujeitos e discursos) e como eles
emergem na articulação entre variados elementos (verbais e não verbais, éticos e estéticos) os quais necessitam da
incorporação do interlocutor para apreendê-los em um conjunto complexo de representações sociais e culturais.
Acreditamos que a junção entre quilombismo e ethos oferece mecanismos que auxiliam na compreensão do processo de
colocação no campo cultural das casas ou quilombos editoriais, justamente porque as imagens que veiculam pressupõem a
articulação solidária e a internalização do discurso pelos interlocutores.
Palavras-chave: Quilombos Editoriais; Quilombismo; Ethos Discursivo.
Dia 24 - 16h30 - Sala 313
Bruna Carla
Este trabalho propõe-se a refletir sobre o conto Ana Davenga, de onceição Evaristo (2018), pelo viés do silenciamento
identitário e o corpo negro. Veremos como estes elementos são abordados no conto, pois Ana e Davenga são assassinados
e o que promove tal ato se caracteriza como uma forma de silenciar, o dizível e indizível, proposições de (Pollak,), ato esse
caracterizado como fruto da violência que compõe a contemporaneidade. Outro ponto a ser analisado é a questão da
identidade de Ana, que se constitui, a partir da associação do sobrenome Davenga com o seu pré-nome, pois a partir deste
ato de junção dos sobrenomes seu elo com Davenga determinará sua posição na vida de Davenga “Ela queria a marca do
homem no seu corpo”. Assim, o corpo de Ana simbolizará sentidos múltiplos no conto, símbolo de vida, morte e espaço,
dos quais estes ocupam na história. Contaremos com aporte teórico de Stuart Hall (2014), questões da identidade, o
filósofo Michel Foucault, tratará da questão de vigiar e punir, pois a autora mostrará como este corpo será fruto de punição
e silenciamento e Michel Pollak sobre silenciamento (1989), e Achille Mbembe.
Este trabalho analisa as propostas editoriais de duas editoras que se intitulam “independentes” e que expressam a busca
pela representatividade das culturas afrodescendentes no Brasil: a Mazza Edições, localizada em Minas Gerais, e a Pallas
Editora, localizada no Rio de Janeiro. O foco está na análise comparada de seus catálogos, em uma pesquisa quali-
quantitativa, com a finalidade de demonstrar as similaridades e diferenças no modo de atuação de ambas no mercado
editorial brasileiro. O conceito de “editora independente” é discutido a partir de Colleu (2007), de um documento da
Aliança Internacional dos Editores Independentes (2014) e de Muniz Jr. (2016). Apoiamo- nos, também, no conceito de
“quilombos editoriais”, apresentado por Oliveira (2018), e nos estudos sobre o mercado editorial de Thompson (2011) e
Coutinho (2018). Com a análise dos dados já coletados, pode-se sustentar que, apesar das semelhanças entre ambas as
propostas editoriais, há especificidades no modo como cada uma das duas editoras dá visibilidade à produção cultural
afrodescendente, especificidades que estão relacionadas à trajetória de suas lideranças. Espera-se que, com a finalização
da pesquisa, seja possível chegar a conclusões mais detalhadas sobre a maneira como a Mazza Edições e a Pallas Editora
colocam em ação a ideia de “independência” para publicar autores, títulos e temas que, sendo objeto de estigmatização
secular, permanecem fora do cânone literário e intelectual brasileiro.
O presente trabalho tem como objetivo apresentar um breve panorama acerca da atuação da Editora Ogum’s Toques
Negros. Considerada um quilombo editorial, sua presença na sociedade brasileira se dá em um contexto de forte
associativismo, como uma ação de visibilidade, promoção e resistência da cultura negra. Os quilombos editoriais operam
no campo da publicação e da intervenção cultural, como agentes fomentadores de debate e engajados na formação de
leitores críticos e sensíveis ao lugar do sujeito negro na sociedade. São espaços de resgate de tradições religiosas,
linguísticas, literárias e culturais dos povos afrodescendentes, e acabam por fazer uma ponte entre passado e presente
recuperando elementos caros à formação da identidade negra. Sua atuação se dá a periferia do mercado editorial, muitas
vezes escapando à lógica pautada nos grandes centros financeiros brasileiros. Tomando como base seu funcionamento
enquanto uma iniciativa editorial independente, a pesquisa busca traçar o perfil da casa Ogum’s, investigar sua história,
analisar seu catálogo e sua linha de atuação. Através dessa investigação, deseja-se verificar o papel do editor como agente
promotor de resistência ao dispositivo discursivo ideológico vigente, além de entender as estratégias e especificidades da
Ogum’s Toques Negros como um quilombo editorial e parte da rede de sociabilidade entre afrodescendentes.
POESIA LIVRE E AS CHUVAS DE POESIA: A RELAÇÃO ENTRE A POESIA EM SACOS E A POESIA JOGADA AO
VENTO – BREVE ANÁLISE DE DOIS PROJETOS EDITORIAIS DE GUILHERME MANSUR
Ana Paula da Costa
Esta comunicação pretende abordar os aspectos editoriais do primeiro projeto editorial desenvolvido por Guilherme
Mansur, o Poesia Livre, com o selo da Tipografia do Fundo de Ouro Preto, cuja elaboração artesanal, por meio da tipografia,
produziu exemplares de tiragem limitada, colecionáveis, cujo formato e circulação desafiam os padrões editoriais,
fomentando não só a circulação da poesia, mas assumindo um caráter ideológico e político, pois cria uma grande rede de
pessoas envolvidas no fazer poético. Poesia Livre se iniciou na segunda metade dos anos 1970, perdurando até a primeira
metade dos anos 1980. Os exemplares circulavam pelos correios para seus destinatários, na era pré-internet, em pleno
regime ditatorial no Brasil, ajudando a conectar as pessoas interessadas no fazer poético contra o jugo. Nos anos 1990, a
poesia “ensacada” se liberta do seu invólucro, sendo libertada do alto das igrejas de Ouro Preto nas edições das Chuvas de
Poesia, que consistiam em ações poético-performáticas que transformavam a cidade em um grande suporte aberto para a
leitura. Mansur criava para cada edição das performances das Chuvas de Poesia, um nome diferente. Segundo Mello (2016)
essa característica reflete “a contínua reedição do nome, a reinauguração do ato editorial de cada obra”. Os dois projetos
se metamorfoseiam e evoluem em um jogo. Pretendemos mapear suas singularidades, apresentar essa cartografia própria
no território da expressão do desejo, do fazer poético, da política, que revoluciona com imensa liberdade o campo da
edição.
Palavras-chave: Edição; Poesia; Tipografia.
Dia 24 - 16h30 - Sala 334
Relato de experiência de organização dos acervos literários da Academia Mineira de Letras, instituição centenária fundada
por figuras importantes do cenário literário e cultural brasileiro. Mantendo-se fiel à sua missão de agregar cidadãos em
torno das letras, a instituição possui dez bibliotecas que registram um acervo de, aproximadamente, 37.000 livros e
periódicos, além de inúmeros arquivos de correspondências, documentos e objetos pessoais de ilustres personalidades da
literatura e da história do Brasil. Na Biblioteca Eduardo Frieiro, cuja coleção preserva as características originais da
formação rica, diversificada e cuidadosa por parte do acadêmico, foram identificados os manuscritos das obras O Club dos
Graphomonos (1927), Inquietude e Melancolia (1930) e A Ilusão Literária (1932) que apresentam registros de marcas do
autor, anotações para futuras edições e arcas de correções próprias do autor que conduzem o leitor no caminho da
genética literária dos primórdios do movimento modernista brasileiro. Frieiro é considerado um dos mais importantes
bibliófilos do estado de Minas Gerais e, segundo Carlos Drummond de Andrade, foi “uma das mais singulares figuras da
literatura brasileira, a se estudar e reverenciar”. Seguindo a orientação de Drummond, o presente artigo pretende
aprofundar o estudo dos manuscritos que compõem a coleção do acadêmico Eduardo Frieiro que além de escritor atuou
como tipógrafo, redator, crítico literário, professor universitário, editor, fundador e diretor da Biblioteca Pública de Minas
Gerais.
A seleção e organização de um conjunto de textos para montar um livro é o trabalho do organizador. Na Belas Artes, existe
um termo muito interessante para um processo similar feito com obras de arte: a curadoria. Pensando a figura de um
organizador como a de um curador e nos textos como obras de artes, é possível pensar em uma curadoria textual. O
trabalho busca conhecer como é feita a criação e edição de um livro feito através da curadoria. Para atingir esse
conhecimento, serão estudados os conceitos de curadoria e de obra, afim de compreender o significado dessas palavras e
como esses conceitos podem ser aplicados durante a criação do livro. Sendo assim, o objetivo é observar como é criar,
editar e curar um livro, acompanhando na prática essa construção durante a criação de um livro. Para essa análise, foi
observada a criação do primeiro volume de uma coleção que visa publicar textos literários escritos por discentes da
FALE/UFMG e que será publicado através do Laboratório de Edição. E como principal referencial teórico, pensando no que
é proposto por Groys (2015), em seu texto “Sobre Curadoria” publicado no livro Arte poder. Portanto, iremos observar
como o conceito de curadoria textual influenciou na criação desta coleção.
Palavras chaves: Curadoria; Edição; Criação Textual.
Dia 24 - 16h30 - Sala 334
Thyana Hacla
Este é um relato de percurso, como artista e editora que atua no meio da publicação independente desde 2014, através do
coletivo Phonte88, dedicado a criação, publicação e destruição de trabalhos autorais de seus membros. Onde cada artista é
responsável pela criação do conceito do seu trabalho, mas a execução e distribuição é feita de forma coletiva. Nesta
comunicação, pretendo trazer esta experiência com o coletivo, atrelada aos meus estudos sobre o livro de artista, para
pensar os meios de criação e produção desta categoria, bem como discutir como as escolhas gráficas e conceituais
interferem no produto final , tomando como exemplo alguns títulos do coletivos e suas mutações até a versão final.
Pretendo também pensar sobre essa dupla função entre artista e editor, e como ela se funde ou divide dentro do fazer
coletivo e como isso vai modificar o processo de criação de cada livro. Outro tema trabalhado será a relação que o coletivo
tem para categorizar sua produção e quais títulos são entendidos como livros de artista, ou seja livro como obra de arte, e
quais vão se inserir em outras categorias da produção independente, como por exemplo zines de poesia, e como o estudo
destas categorias e suas histórias influenciam na produção dos mesmos.
Sempre entendi a monografia como uma possibilidade de exercer os saberes adquiridos durante a graduação. Tendo
escolhido a habilitação em Estudos sobre Edição, me inspirava a ideia de pôr em prática o que aprendi em disciplinas como
Preparação de Originais, Paratextos Editoriais e Edição de Poesia. Por isso, ser apresentada à obra de Zuca Sardan pelo
meu orientador, Sérgio Alcides, e ter a oportunidade de propor uma edição para Mansão do Conde Arpad foram gratas
surpresas. Zuca Sardan é dono de uma vasta produção literária, iniciada em meados dos anos 1950 e construída quase
sempre à margem do mercado editorial. Ao descobrir no escritório do pai um mimeógrafo, ele enxergou, ali, uma
alternativa eficaz e barata à publicação, e começou a produzir seus próprios gibis. Foi assim que, em 1957, sob o
pseudônimo “Capitão Fantasma”, Zuca lançou, em edição mimeografada, Cadeira de bronze, o primeiro dos mais de 300
livretos produzidos pela sua “gráfica” – que, não por acaso, chama-se Gralha – e enviados por correio a um restrito círculo
de amigos. Anárquico, satírico, irreverente e delirante, Zuca Sardan transita entre diferentes gêneros literários, como a
poesia, a prosa, a fábula e a dramaturgia – além de seus trabalhos marcadamente visuais, como caricaturas e colagens. Em
seus livretos é possível identificar referências tão diversas como Mallarmé, Apollinaire e Max Ernst, tangos argentinos e
jogos de azar, fábulas e o mundo do circo – mistura que resulta em uma obra transgressora, experimental e vanguardista.
Editar um livro já existente – ainda que sua edição primeira seja “caseira” – mostrou-se um verdadeiro desafio. Nesta
comunicação, descrevo o trajeto percorrido e as decisões editoriais tomadas ao longo deste processo, bem como o produto
final de minha monografia.
Palavras Chaves: Edição de Poesia; Edição Independente; Livro-objeto.