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Definição da filosofia:

-Etimológica: filosofia vem do grego ILOLYD WKC VRILYD , isto é, amor da sabedoria,
ou amor à sabedoria.
-Definição real: “É a ciência das causas últimas de todas as coisas”
Divisão Histórica
Filosofia Antiga (sécs. VI a.C.- II d.C.): Os primeiros filósofos, chamados de “pré-
socráticos”: Tales de Mileto; Anaximandro; Anaxímenes; Anaxágoras; Pitágoras; Parmênides;
Heráclito. Sócrates e os Sofistas. Os socráticos: Platão e Aristóteles. Os pós-socráticos:
Estóicos; Epicuristas. Plotino (neoplatônico).
Característica básica: a descoberta da razão como a melhor maneira de conhecer a realidade.
Filosofia Medieval (sécs. II - XV ): Patrística: filosofia dos Padres da Igreja. O nome mais
importante é Agostinho. Escolástica: é a mais técnica que a anterior; a razão é o grande trunfo
do homem na apresentação de sua fé.
Filosofia Moderna (sécs. XVI - XVIII ): O “eu” é a base do pensamento moderno
(antropocentrismo). O grande nome da revolução moderna foi René Descartes (“Penso, logo
existo”).
Característica básica: matematização (sistematização) do saber.

SANTO AGOSTINHO (354-430)


Quem é Deus? É com certeza, Senhor, e não com dúvida que em minha consciência eu Vos
amo. Vós atingistes meu coração com a Vossa palavra e assim Vos amei. O céu, a terra e tudo
que neles existe conclamam-me por toda parte a amar-Vos. Não cessam de repetir a todos os
homens que não têm desculpas (Epístola de São Paulo aos romanos, 1, 20). Vós tereis mais
compaixão com aqueles por quem já tivestes compaixão e tereis misericórdia por aqueles com
quem já fostes misericordioso. Ou então apenas a ouvidos surdos o céu e a terra cantariam os
Vossos louvores. Mas o que amo, quando Vos amo? Não amo a beleza física, nem a glória
temporal, nem o brilho da luz, tão agradável a meus olhos, nem as doces melo- dias de vários
tipos de canções, nem o suave perfume das flores, nem os aromas, nem as especiarias, nem o
mel ou o maná, nem os membros tão disponíveis aos abraços da carne. Nada disso eu amo,
quando amo o meu Deus. E, contudo, amo uma luz, uma voz, um perfume, um alimento e um
abraço, quando amo o meu Deus, luz, voz, perfume e abraço do homem interior, onde brilha em
minha alma uma luz que nenhum espaço pode conter, onde soa uma voz que o tempo não
enfraquece, onde se exala um perfume que o vento não dissipa, onde se saboreia um alimento
que a voracidade não diminui, onde se sente um contato que a saciedade não elimina. Isso é o
que amo quando amo o meu Deus. Mas quem é Deus? Perguntei à terra e esta me disse: “Não o
sou.” E tudo que nela se encontra respondeu-me o mesmo. Perguntei ao mar e às profundezas
dos abismos e as criaturas que aí habitam responderam: “Não somos o teu Deus, busca acima de
nós.” Perguntei aos ventos que sopram e ao ar, com seus habitantes, que responderam,
“Anaxímenes estava enganado, não sou o teu Deus.” Interroguei o céu, o sol, a lua e as estrelas,
que me disseram: “Tampouco nós somos o Deus que procuras.” E disse a todas as criaturas que
rodeiam as portas de minha carne: “Já que todos vós dizeis que não sois o meu Deus, dizei-me
então algo sobre Ele.” E todos exclamaram em alto e bom som: “Foi Ele quem nos criou.” A
minha pergunta consiste em contemplá-las e sua beleza era a sua resposta. Voltei-me então para
mim mesmo e perguntei: “E tu, quem és?” “Um homem, respondi.” E sou composto de um
corpo e de uma alma, o primeiro, exterior, a segunda, interior. A qual destes eu deveria
perguntar quem é o meu Deus, uma vez que já tinha procurado com meu corpo desde a terra até
os céus, até onde pude enviar como meus mensageiros os raios de meus olhos? Mas a melhor
parte é a interior, pois é a ela, como aquela que preside e julga, que os mensageiros do corpo
reportam todas as respostas dos céus, da terra e de todas as coisas que aí se encontram, dizendo:
“Não somos Deus, mas foi Ele quem nos criou.” O homem interior conheceu esta verdade
através do ministério do homem exterior. Eu, homem interior, dotado de uma alma, soube disso
por meio dos sentidos de meu corpo. Perguntei a toda a imensidão do universo sobre o meu
Deus e tive como resposta: “Não sou eu, mas foi Ele quem me criou.” Mas não se manifesta
esta beleza a todos que têm os sentidos perfeitos? Porém, por que não fala a todos do mesmo
modo? Os animais, pequenos e grandes, veem a beleza, mas não a podem interrogar, já que não
possuem a razão, juiz que julga aquilo que os sentidos lhe reportam. Os homens podem
interrogar, já que as perfeições invisíveis de Deus são visíveis em suas obras, para a inteligência
(Epístola de São Paulo aos romanos, 1, 20). Mas submetem-se a elas pelo amor e assim já não
as podem julgar. As criaturas não respondem a todos que as interrogam, mas apenas aos que as
julgam. Não mudam sua voz, isto é, sua aparência, se alguém apenas a vê ou se a vê e a
interroga. Portanto não aparecem de um modo a um e de outro modo a outro, mas se aparecem
do mesmo modo a ambos, a um são mudas, a outro falam. Na verdade, falam a todos, mas
apenas a compreendem aqueles que comparam a voz exterior com a verdade interior. A verdade
interior diz: “O teu Deus não é o céu. Nem a terra, nem nenhum corpo.” E a natureza de tudo
isso exclama: “Vede que a matéria é menor na parte que no todo.” Por isso te digo, oh minha
alma, que és superior ao corpo, pois dás vida à matéria de meu corpo, o que nenhum corpo pode
fazer a outro, e o teu Deus é também para ti vida de tua vida.
A Cidade de Deus e dos homens “[...] quando falta essa justiça em virtude da qual o único e
supremo Deus ordena à Cidade que lhe obedeça segundo a lei de sua graça, que a mais ninguém
senão a Ele ofereça sacrifícios e, consequentemente, que em todos os homens, membros desta
cidade e obedientes a Deus, a alma domine fielmente o corpo e a razão domine os vícios em
conformidade com uma ordem legítima, e que, tal como um justo sozinho vive da fé, assim
também uma comunidade inteira e um povo de justos vivam da fé que se pratica por amor – por
um amor pelo qual o homem ama a Deus como deve ser amado e ao próximo como a si mesmo,
- quando falta esta justiça, com certeza que não há uma comunidade de homens unidos pela
adoção de comum acordo de um direito e de uma comunhão de interesses – quando isso falta, se
é verdadeira essa definição de povo, o que é certo é que não há povo, nem, portanto, Estado (res
publica), pois não há empresa do povo (res populi) onde nem sequer povo há.”
TOMÁS DE AQUINO (1225-1274)
SE DEUS É? “O ser é presente em todas as coisas, em algumas de modo mais perfeito e em
outras de modo menos perfeito. Isso ocorre porque o ser que possuem não é idêntico à natureza
das próprias coisas. Do contrário, o ser seria parte da definição da essência da coisa, o que é
evidentemente falso, já que se pode inteligir a essência de uma coisa sem inteligir se a mesma é.
Logo, deve-se concluir que as coisas recebem o ser de outro e é necessário alcançar aquilo cuja
natureza é seu próprio ser, do contrário proceder-se-ia ao infinito.”

Comumente se diz que Santo Agostinho cristianizou Platão, assim como Aquino cristianizou
Aristóteles. Como este, Aquino parte do sensível para chegar ao inteligível como processo de
conhecimento.

Assim, o filósofo cristão distingue cinco vias para caracterizar o conhecimento e provar a
existência de Deus. Vejamos quais são:
1. Primeiro motor imóvel: esta primeira via supõe a existência do movimento no universo.
Porém, um ser não move a si mesmo, só podendo, então, mover outro ou por outro ser movido.
Assim, se retroagirmos ao infinito, não explicamos o movimento se não encontrarmos um
primeiro motor que move todos os outros;
2. Primeira causa eficiente: a segunda via diz respeito ao efeito que este motor imóvel acarreta:
a percepção da ordenação das coisas em causas e efeitos permite averiguar que não há efeito
sem causa. Dessa forma, igualmente retrocedendo ao infinito, não poderíamos senão chegar a
uma causa eficiente que dá início ao movimento das coisas;
3. Ser Necessário e os seres possíveis: a terceira via compara os seres que podem ser e não ser.
A possibilidade destes seres implica que alguma vez este ser não foi e passou a ser e ainda vem
a não ser novamente. Mas do nada, nada vem e, por isso, estes seres possíveis dependem de um
ser necessário para fundamentar suas existências;
4. Graus de Perfeição: a quarta via trata dos graus de perfeição, em que comparações são
constatadas a partir de um máximo (ótimo) que na verdade contém o verdadeiro ser (o mais ou
menos só se diz em referência a um máximo);
5. Governo Supremo: a quinta via fala da questão da ordem e finalidade que a suprema
inteligência governa todas as coisas (já que no mundo há ordem!), dispondo-as de forma
organizada racionalmente, o que evidencia a intenção da existência de cada ser.
Todas essas vias têm em comum o princípio de causalidade, herdado de Aristóteles, além de
partirem do empírico, ou seja, de realidades concretas e de um mundo hierarquicamente
ordenados. Vale também notar como Tomás de Aquino concebe o homem. Para ele, o homem é
um ser intermediário. É composto de corpo (matéria) e alma (forma) sem as quais nada
significa, isto é, nada é isoladamente. Assim, o homem é um ser intermediário entre os seres de
forma mais elementar, como os minerais, as plantas e os animais, e os seres mais perfeitos como
os anjos e Deus. O homem possui as características dos anteriores a ele e também dos
procedentes na hierarquia do universo.

AS FILOSOFIAS DA SUBJETIVIDADE MODERNA

Michel de Montaigne (1533-1592)


“Em verdade, o homem é de natureza pouco definida, estranhamente desigual e diverso.
Dificilmente o julgaríamos de maneira decidida e uniforme. ” (Montaigne.Ensaios I, cap. 1 Por
diversos meios chega-se ao mesmo fim). “Os que censuram aos homens de ir sempre
perseguindo boquiabertos as coisas futuras, e ensinam a gozar os bens atuais e a sossegarmos
neles por não termos nenhum domínio sobre o que está para vir, até bem menos do que o temos
sobre o que passou, referem-se ao mais comum dos erros humanos - se é que ousam chamar de
erro algo que a própria natureza nos encaminha para servirmos à continuação da sua obra,
imprimindo-nos, como muitas outras, essa fantasia enganadora, mais ciosa da nossa ação que do
nosso saber. Nunca estamos em nós, estamos sempre além. O temor, o desejo, a esperança
lança-nos para o futuro e rouba-nos a percepção e o exame do que é, para entreter-nos com o
que será, até mesmo quando não existirmos mais. Infeliz é o espírito que se preocupa com o
futuro (Séneca). Este grande preceito é frequentemente citado em Platão: Faz o teu feito e
conhece-te a ti mesmo. Cada um desses dois membros engloba em geral todo o nosso dever, e
igualmente engloba o seu companheiro. Quem tivesse de fazer o seu feito veria que a sua
primeira lição é conhecer o que é e o que lhe é próprio. E quem se conhece já não toma como
seu o feito alheio: ama-se e cultiva-se acima de qualquer outra coisa; rejeita as ocupações
supérfluas e os pensamentos e projetos inúteis. Assim como a loucura não ficará contente
quando lhe concederem o que deseja, assim a sabedoria se contenta com o que está presente, e
nunca se desagrada de si (Cícero). Epicuro dispensa o seu sábio da previsão e da preocupação
quanto ao futuro.” (Montaigne. Ensaios I, cap. 3 Dos nossos ódios e afeições)
René Descartes (1596-1650)
“1. A Meditação que fiz ontem encheu-me o espírito de tantas dúvidas, que doravante não está
mais em meu alcance esquecê-las. E, no entanto, não vejo de que maneira poderia resolvê-las; e,
como se de súbito tivesse caído em águas muito profundas, estou de tal modo surpreso que não
posso nem firmar meus pés no fundo, nem nadar para me manter à tona. Esforçar-me-ei, não
obstante, e seguirei novamente a mesma via que trilhei ontem, afastando-me de tudo em que
poderia imaginar a menor dúvida, da mesma maneira como se eu soubesse que isto fosse
absolutamente falso; e continuarei sempre nesse caminho até que tenha encontrado algo de
certo, ou, pelo menos, se outra coisa não me for possível, até que tenha aprendido certamente
que não há nada no mundo de certo. 2. Arquimedes, para tirar o globo terrestre de seu lugar e
transportá-lo para outra parte, não pedia nada mais exceto um ponto que fosse fixo e seguro.
Assim, terei o direito de conceber altas esperanças, se for bastante feliz para encontrar somente
uma coisa que seja certa
René Descartes (1596-1650)
. Mas que sei eu, se não há nenhuma outra coisa diferente das que acabo de julgar incertas, da
qual não se possa ter a menor dúvida? Não haverá algum Deus, ou alguma outra potência, que
me ponha no espírito tais pensamentos? Isso não é necessário; pois talvez seja eu capaz de
produzi-los por mim mesmo. Eu então, pelo menos, não serei alguma coisa? Mas já neguei que
tivesse qualquer sentido ou qualquer corpo. Hesito no entanto, pois que se segue daí? Serei de
tal modo dependente do corpo e dos sentidos que não possa existir sem eles? Mas eu me
persuadi de que nada existia no mundo, que não havia nenhum céu, nenhuma terra, espíritos
alguns, nem corpos alguns; não me persuadi também, portanto, de que eu não existia?
Certamente não, eu existia sem dúvida, se é que eu me persuadi, ou, apenas, pensei alguma
coisa. Mas há algum, não sei qual, enganador mui poderoso e mui ardiloso que emprega toda a
sua indústria em enganar-me sempre. Não há pois dúvida alguma de que sou, se ele me engana;
e, por mais que me engane, não poderá jamais fazer com que eu nada seja, enquanto eu pensar
ser alguma coisa. De sorte que, após ter pensado bastante nisto e de ter examinado
cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que esta proposição,
eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira, todas as vezes que a enuncio ou que a concebo
em meu espírito” (Descartes. Meditações Metafísicas)
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
“O sentimento da existência, despojado de qualquer outro apego é, por si mesmo, um
sentimento precioso de contentamento e de paz, que sozinho bastaria para tornar esta existência
cara e doce a quem soubesse afastar de si todas as impressões sensuais e terrenas que vêm
continuamente nos afastar dela e perturbar, na terra, sua suavidade. Mas a maioria dos homens,
agitados por paixões contínuas, conhece pouco esse estado e tendo-o experimentado apenas de
forma imperfeita, durante poucos instantes, dele não conserva senão uma idéia obscura e
confusa que não lhes faz sentir seu encanto” (J.-J. Rousseau. Os Devaneios do Caminhante
Solitário, 1986, p. 76). “Vamos estabelecer como regra incontestável que os primeiros impulsos
da natureza são sempre corretos; não há pecado original no coração humano” (J.-J. Rousseau.
Emílio, livro II).
David Hume (1711-1776)
“Há muitos filósofos que imaginam que estamos a cada momento intimamente conscientes do
que chamamos de nosso eu (self); que sentimos sua existência e permanência, e que temos
certeza, além da evidência de uma demonstração, de sua perfeita identidade e simplicidade. A
mais forte das sensações, a mais violenta paixão, dizem eles, em vez de nos afastarem deste
ponto de vista, apenas o reforçam ainda mais intensamente, fazendo-nos considerar sua
influência no eu, seja pelo prazer ou pela dor que causam. Tentar uma prova mais básica disto
seria enfraquecer a própria evidência, uma vez que nenhuma prova pode ser derivada de
nenhum fato do qual estamos tão intimamente conscientes, nem há nada de que possamos estar
certos, se duvidarmos disto. Infelizmente todas estas asserções positivas são contrárias à
experiência que é evocada neste caso, nem temos nenhuma ideia do eu, do tipo que explicamos
aqui. Pois de que impressão poderia esta ideia ser derivada? A esta questão não podemos dar
uma resposta sem um absurdo ou contradição manifesta; e, no entanto, trata-se de uma questão
que deve necessariamente ser respondida, se quisermos considerar a ideia do eu como clara e
inteligível. Deve haver alguma impressão que sirva de fonte para cada ideia real. Mas eu ou
pessoa não corresponde a nenhuma impressão, consistindo naquilo a que todas as nossas várias
impressões e ideias estão supostamente referidas. Se alguma impressão der origem à ideia de eu,
esta impressão deve permanecer invariavelmente a mesma, durante toda a duração de nossas
vidas, uma vez que supõe-se que o eu exista desta maneira. Mas não há nenhuma impressão
constante e invariável. A dor e o prazer, a tristeza e a alegria, as paixões e as sensações
sucedem-se umas às outras, e nunca existem todas ao mesmo tempo. Não pode ser, portanto, de
nenhuma destas impressões, nem de nenhuma outra, que nossa ideia de eu é derivada, e
consequentemente essa ideia não existe.
David Hume (1711-1776)
Mas, além disso, o que aconteceria com todas as nossas percepções particulares se aceitássemos
esta hipótese? Todas elas são diferentes, distinguíveis e separáveis umas das outras, e não
necessitam de nada em que basear a sua existência. De que modo, portanto, pertenceriam ao eu;
e como se relaciona- riam a isso? De minha parte, quando entro do modo mais íntimo em
contato com isso que denomino eu mesmo (myself), sempre encontro uma ou outra percepção
particular, de calor ou frio, de luz ou sombra, de amor ou ódio, de dor ou prazer. Nunca posso
apreender a mim mesmo (myself), a qualquer momento, sem nenhuma percepção, e nunca posso
observar nada além da percepção. Quando minhas percepções são eliminadas por algum
momento, como no sono profundo, durante esse período sou insensível em relação a mim
mesmo, e posso verdadeiramente dizer que não existo. E se todas as minhas percepções fossem
eliminadas pela morte, e se eu não pudesse pensar, sentir ou ver, nem amar, nem odiar, após a
dissolução de meu corpo, eu seria inteiramente aniquilado, e nem posso imaginar o que mais
seria necessário para tornar-me um perfeito não-ser. Se alguém, a partir de uma reflexão séria e
isenta de preconceitos, pensa ter uma noção diferente de si mesmo (himself), devo confessar que
não sou mais capaz de acompanhar o seu raciocínio. Tudo que posso lhe conceder é que talvez
ele esteja tão certo quanto eu e que diferimos de modo essencial nesse particular. Ele talvez
perceba algo simples e permanente, que denomina o seu eu (himself), embora eu esteja certo de
que não há em mim tal princípio.
David Hume (1711-1776)
Mas, excluindo um metafísico desse tipo, eu me aventuro a afirmar que o resto da humanidade
não é nada além de um feixe ou coleção de diferentes percepções, que se sucedem umas às
outras com rapidez inconcebível e se encontram em fluxo e movimento perpétuos. Nossos olhos
não podem mover-se em suas órbitas sem mudar nossas percepções. Nosso pensamento é ainda
mais variável que nossa visão, e todos os nossos sentidos e faculdades contribuem para esta
mudança; nem há nenhum poder da alma que permaneça inalterado, sequer por um momento. A
mente é uma espécie de teatro, onde várias percepções se sucedem, passam, repassam,
desaparecem e se misturam em uma variedade de maneiras e situações. Não há propriamente
nenhuma simplicidade nela em nenhum momento, nem uma identidade na diferença; apesar de
alguma tendência natural que possamos ter para imaginar esta simplicidade e identidade. A
comparação com o teatro não deve nos enganar. Não possuímos a mais remota noção do lugar
onde essas cenas são representadas, nem do material de que são compostas.” (David Hume.
Tratado sobre a Natureza Humana)
Immanuel Kant (1724-1804)
“E sem dúvida também assim que se devem entender os passos da Escritura em que se ordena
que amemos o próximo, mesmo o nosso inimigo. Pois que o amor enquanto inclinação não pode
ser ordenado, mas o bem-fazer por dever, mesmo que a isso não sejamos levados por nenhuma
inclinação e até se oponha a ele uma aversão natural e invencível, é amor prático e não
patológico, que reside na vontade e não na tendência da sensibilidade, em princípios de acção e
não em compaixão lânguida. E só esse amor é que pode ser ordenado.” (Kant. Fundamentação
da Metafísica dos Costumes, p. 30) “ Ponhamos, por exemplo, a questão seguinte: — Não posso
eu, quando me encontro em apuro, fazer uma promessa com a intenção de a não cumprir?
Facilmente distingo aqui os dois sentidos que a questão pode ter: — se é prudente, ou se é
conforme ao dever, fazer uma falsa promessa. (...)E poderia eu dizer a mim mesmo: — Toda a
gente pode fazer uma promessa mentirosa quando se acha numa dificuldade de que não pode
sair de outra maneira? Em breve reconheço que posso em verdade querer a mentira, mas que
não posso querer uma lei universal de mentir pois, segundo uma tal lei, não poderia
propriamente haver já promessa alguma, por que seria inútil afirmar a minha vontade
relativamente às minhas futuras acções a pessoas que não acreditariam na minha afirmação, ou,
se precipitadamente o fizessem, me pagariam na mesma moeda. Por conseguinte a minha
máxima, uma vez arvorada em lei universal, destruir-se-ia a si mesma necessariamente.” (Kant.
Fundamentação da Metafísica dos Costumes, p. 34-35)
Immanuel Kant (1724-1804)
“No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço,
pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de
todo o preço, e portanto não permite equivalente, então tem ela dignidade. O que se relaciona
com as inclinações e necessidades gerais do homem tem um preço venal; aquilo que, mesmo
sem pressupor uma necessidade, é conforme a um certo gosto, isto é a uma satisfação no jogo
livre e sem finalidade das nossas faculdades anímicas, tem um preço de afeição ou de
sentimento; aquilo porém que constitui a condição só graças à qual qualquer coisa pode ser um
fim em si mesma, não tem somente um valor relativo, isto é um preço, mas um valor íntimo,
isto é dignidade. Ora a moralidade é a única condição que pode fazer de um ser racional um fim
em si mesmo, pois só por ela lhe é possível ser membro legislador no reino dos fins. Portanto a
moralidade, e a humanidade enquanto capaz de moralidade, são as únicas coisas que têm
dignidade.” (Kant. Fundamentação da Metafísica dos Costumes, p. 77-78

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