Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
“O jurista, se não quer ser infiel à sua profissão, não pode entender o
Direito positivo, no seu conjunto, senão como uma via (entre várias
possíveis) de realizar a maior justiça possível”
(Karl Larenz in “Metodologia da Ciência do Direito”)
CONCEITO
1
A palavra Hermenêutica segundo alguns autores origina-se do nome do deus
grego Hermes, o qual teria o dom de dizer qual era a vontade divina, ou seja, seria uma espécie
de mensageiro dos deuses.
A referência a mitologia grega é rica em significados para nós, pois serviu para
comparar os nossos juízes a Hermes, tendo os nossos magistrados a honrosa função de “dizer
aquilo que está na lei”, ou seja, serem mensageiros dos nossos “deuses” modernos, os
legisladores.
Essa idéia é resquício da ilusão de que o legislador fez obra tão perfeita, que
deverá somente ser seguida literalmente pelo juiz, o qual é um “escravo” a seu serviço.
2
in Ciência do Direito, Norma, Interpretação e Hermenêutica Jurídica. Rio de Janeiro : Forense Universitária,
1997, p.118.
3
in Hermenêutica e Aplicação do Direito. 17ªed. Rio de Janeiro : Forense, 1998, p.1.
4
in , Hermenêutica Jurídica. 6ª ed. São Paulo : Saraiva, 1997, p.3.
2
Introdução ao Estudo do Direito II
Profª. Alessandra Moraes Teixeira
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Por essas razões preferimos usar um conceito mais abrangente, em que a
hermenêutica é o estudo dos métodos através dos quais os operadores do Direito
solucionam um problema jurídico aplicando a norma correspondente ao caso concreto,
quer através da interpretação (quando esta norma já se encontra posta), quer através da
integração (quando a norma é extraída, ou mesmo construída pelo aplicador).
Enfim, a crítica é uma seleção inicial pela qual a norma tem obrigatoriamente
que passar a fim de então chegarmos à fase da INTERPRETAÇÃO, momento no qual se fará
um estudo aprofundado a fim de extrair, pelos métodos que iremos aprender, o sentido que
melhor satisfaça às peculiaridades do caso concreto.
Para explicar melhor essa idéia, Carlos Maximiliano 5 faz referência a chamada
Teoria da Projeção de Carlos Jorge Wurzel, o qual compara a norma jurídica a uma fotografia,
afirmando que a princípio a figura nela estampada nos parece nítida, até que passamos com
mais atenção a buscar os seus contornos e então percebemos ser difícil definir onde
verdadeiramente estão as linhas distintivas. Assim também ocorre com as normas, que para
um olhar menos atento podem parecer claras, perfeitas, mas após um estudo mais apurado
deixam perceptíveis suas ambigüidades e indefinições.
Óbvio está que esse cuidado com as finalidades da lei somente se efetivará via
da interpretação realizada pelo magistrado, razão pela qual ‘não interpretar’ é absolutamente
impossível.
ESCOLAS DE INTERPRETAÇÃO
5
ob.cit., p.15.
4
Introdução ao Estudo do Direito II
Profª. Alessandra Moraes Teixeira
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------
de relacionamento entre a norma e seu aplicador, tentando determinar quais seriam as
interpretações possíveis e qual o grau de liberdade a ser conferida ao juiz.
Essa escola não aceitava quaisquer outras fontes senão a própria lei, esta
representava todo o Direito existente, havia o endeusamento das codificações que eram
consideradas obras perfeitas e completas, não se aventando a possibilidade de lacunas ou a
atividade criativa da jurisprudência.6
7
O próprio Napoleão tinha esta visão ao registrar : “Minha verdadeira glória não está em ter ganho quarenta
batalhas; Waterloo apagará a lembrança de tantas vitórias. O que não se apagará, o que viverá, eternamente,
é o meu Código Civil.” (Cf. Pinheiro, Ralph Lopes. História Resumida do Direito. Rio de Janeiro : Rio, 1981,
p.88).
8
Herkenhoff, João Baptista. Como Aplicar o Direito. 5ª ed. Rio de Janeior : Revista Forense, 1999, p.43.
6
Introdução ao Estudo do Direito II
Profª. Alessandra Moraes Teixeira
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------
o conjunto de fatos que acarretaram a criação da norma, ou segundo registrou Carlos
Maximiliano 9, é :
Esta última facção mais radical foi a que se tornou mais conhecida, tendo como
representante maior o jurista alemão, Hermann U. Kantorowicz, segundo o qual, se o texto da
9
ob.cit., p.148.
7
Introdução ao Estudo do Direito II
Profª. Alessandra Moraes Teixeira
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------
lei tem um único sentido e sua aplicação está em harmonia com o “sentimento da comunidade”
o juiz deve utilizá-lo, devendo deixá-lo de lado se for de interpretação duvidosa ou se sua
convicção levá-lo à conclusão de que o legislador não teve em mente a hipótese surgida com o
caso concreto.
Ao deixar de lado o texto legal, segundo essa teoria mais exacerbada, o juiz
decidiria como se fosse o legislador, do modo como acredita que teria sido feita a norma para
aquele caso concreto. Em última hipótese, o juiz recorreria ao “sentimento da comunidade”,
representado pelas convicções predominantes em certo tempo e lugar sobre aquilo que é justo.
O Direito Livre fixou todas a sua atenção no papel do juiz, colocando sobre
seus ombros a responsabilidade de realizar justiça, teve seu aspecto positivo na medida em que
ressaltou a importância da atuação jurisdicional para o Direito e a partir do momento em que
colocou em foco a questão da Justiça. Entretanto, como é facilmente verificável essa escola
peca por ser tão radical quanto a escola exegética, e sua maior crítica refere-se a excessiva
liberdade conferida ao juiz, que pode fazer com que este se deixe levar por sentimentalismos,
passando a julgar com “intuição” e não com argumentos sólidos, o que abalaria um dos nossos
princípios jurídicos mais importantes que é a segurança jurídica, constituindo uma ameaça à
ordem jurídica vigente e um convite ao arbítrio.
ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO
Classicamente, a doutrina se preocupa em organizar sistematicamente a
Interpretação, classificando-a segundo a sua origem, método e resultado.
Vejamos:
1.) QUANTO ÀS ORIGENS : a divisão a seguir demonstrada não é pacífica havendo entre
os autores uma séria divergência a respeito, entretanto buscamos o maior número de espécies
catalogadas pelos juristas a fim de que o nosso aluno seja conhecedor das terminologias
utilizadas e possa posteriormente analisá-las uma a uma.
8
Introdução ao Estudo do Direito II
Profª. Alessandra Moraes Teixeira
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Vejamos :
A) Autêntica : será tão-só a interpretação levada a efeito pelo órgão criador da norma. Assim
será interpretação autêntica a explicação que um dispositivo legal dá a um
outro, ou que uma lei dá a outra e assim por diante.
C) Administrativa : esta é interpretação elaborada por aquele órgão que irá executar a norma,
assim ocorre, por exemplo, quando o Secretário da Fazenda, através de uma
Portaria explica como devem ser cumpridas as determinações de um decreto
governamental, etc...
9
Introdução ao Estudo do Direito II
Profª. Alessandra Moraes Teixeira
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------
quaisquer autoridades ou poderes, o doutrinador só deve fidelidade às suas
próprias convicções e à Ciência Jurídica.
A) Gramatical ou Literal12 : busca o sentido da norma pelo significado dos vocábulos nela
inscritos. Parte-se do pressuposto de que toda coletividade possui
determinados usos lingüísticos e que o legislador no momento de elaboração da
norma ficou atento a esses usos e foi fiel ao que desejou expressar. O ideal é
portanto que ao elaborar a norma tenha-se o cuidado de recorrer a termos com
sentido unívoco ou o mais técnico possível, sem ceder a modismos ou
regionalismos. Em havendo duplo significado o intérprete deve optar sempre
pelo mais técnico em detrimento do sentido vulgar, bem como procurar
interpretar as palavras em conexão com o resto do texto.
10
in “Direito Penal - 3º Vol. - Parte Especial”, 8ª ed., São Paulo : Saraiva, 1992., p. 101.
11
Alguns autores também denominam essa classificação de “classificação segundo os modos ou critérios de
interpretação”.
12
Alguns autores também o denominam de método filológico.
13
Também denominado pelo jurista Reis Friede de “racional”(in Ciência do Direito, Norma, Interpretação e
Hermenêutica Jurídica. Rio de Janeiro : Forense Universitária, 1997, p.125).
10
Introdução ao Estudo do Direito II
Profª. Alessandra Moraes Teixeira
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------
* o acessório segue o principal;
* quem não pode fazer o menos, não pode fazer o mais; etc....
A) Declarativa : aqui o legislador foi feliz ao usar as palavras e o intérprete chega a conclusão
de que o texto exprime satisfatoriamente o conteúdo da norma. Essa espécie de
interpretação é usada no direito penal, preferencialmente quando tratamos de
agravar a situação do acusado.
B) Restritiva : ocorre quando o legislador disse muito mais do que deveria ter dito, ou seja,
exagerou nas palavras que usou, cabendo ao intérprete corrigir os excessos,
reduzindo o sentido.
17
ob.cit., p.129.
13
Introdução ao Estudo do Direito II
Profª. Alessandra Moraes Teixeira
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Exemplo : Na Constituição Federal de 1967, o constituinte disse que o
casamento era indissolúvel, mesmo antes do divórcio ele não era indissolúvel,
pois a morte e a anulação eram casos de dissolução.
C) Extensiva : aqui o legislador foi tímido ao usar as palavras, e elaborou uma norma com
um sentido menos abrangente do que o necessário, cabendo ao intérprete
corrigir o defeito, ampliando o sentido da norma, a fim de que ela cumpra os
seus objetivos.
BIBLIOGRAFIA
ANDRADE, Christiano José de. O Problema dos Métodos da Interpretação Jurídica. São Paulo : RT,
1992.
AZEVEDO, Plauto Faraco de. Método e Hermenêutica Material no Direito. Porto Alegre : Livraria
do Advogado, 1999.
BETIOLI, Antonio Bento. Introdução ao Direito. 3ª ed. São Paulo : Letras & Letras, 1995, pp.285-
292.
14
Introdução ao Estudo do Direito II
Profª. Alessandra Moraes Teixeira
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 9ª ed. São Paulo : Saraiva,
1997, pp.407-429.
FRANÇA, R. Limongi. Hermenêutica Jurídica. 6ª ed. São Paulo : Saraiva, 1997.
FRIEDE, Reis. Ciência do Direito, Norma, Interpretação e Hermenêutica Jurídica. 1ª ed. Rio de
Janeiro : Forense Universitária, 1997.
GIORDANI, Francisco Alberto da Motta Peixoto. Estudos sobre a Interpretação das Leis. 1ª ed.
Campinas : Copola, 1998.
GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao Estudo do Direito. 20ª ed. Rio de Janeiro : Forense, 1997,
pp.205-220.
HERKENHOFF, João Baptista. Como Aplicar o Direito. 5ª ed. Rio de Janeiro : Revista Forense,
1999.
JUNIOR, Tércio Sampaio Ferraz. Introdução ao Estudo do Direito. São Paulo : Atlas, 1988, pp.231-
280.
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 17ªed. Rio de Janeiro : Forense,
1998.
MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 24ª ed. São Paulo : RT, 1997, pp.369-
385.
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 15ª ed. Rio de Janeiro : Forense, 1997, pp.303-334.
NUNES, Luiz Antonio. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 1ªed. São Paulo : Saraiva, 1996,
pp.189-215.
POLETTI, Ronaldo. Introdução ao Direito. 3ª ed. São Paulo : Saraiva, 1996, pp.276-294.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 23ª ed. São Paulo : Saraiva, 1996, pp.273-289.
15