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@ Faculdade 7 de Setembro / Universidade Estadual do Ceará

Especialização em Linguística Aplicada

EXPEDIENTE

Organização
Ana Paula Rabelo e Silva (FA7 / UFC)
Claudiana Nogueira de Alencar (UECE)
Dawton Lima Valentim (UECE)
Rayana Vasconcelos da Costa (UFC)
Ticiane Rodrigues Nunes (UECE)

Revisão de Texto
Carlos Eduardo Ferreira Cruz (UECE)
Dawton Lima Valentim (UECE)
Francisco Douglas Costa (UAB/UECE)
Hugo Leonardo Gomes dos Santos (UECE)
Jony Kellson de Castro (UECE)
Kélvia Cristina de Menezes Arrais (UECE)
Mádja Diógenes Maia (UECE)
Marco Antonio Lima do Bonfim (UECE)
Maria Eduarda Gonçalves Peixoto (UECE)
Nádja Diógenes Maia NJ (UECE)
Sabrina Costa Tanaka (UECE)
Sâmara Natasha Valente de Oliveira (UECE)

Projeto Gráfico, Diagramação e Capa


Rayana Vasconcelos da Costa (UFC)

Projeto Editorial
Especialização em Linguística Aplicada – FA7

ISBN 978-85-62641-06-0
COMISSÃO ORGANIZADORA
Coordenação Geral
Claudiana Nogueira de Alencar (UECE)

Coordenação Adjunta
Ana Cristina Cunha da Silva (UNILAB)
Ana Paula Rabelo e Silva (FA7/UFC)
Dina Maria Martins Ferreira (UECE)
Maria de Fátima Vasconcelos da Costa (UFC)
Maria Izabel Santos Magalhães (UFC)
Nelson Barros da Costa (UFC)

Comissão Científica
Alice Cunha de Freitas (UFU)
Ana Paula Rabelo e Silva (FA7/UFC)
Angela Derlise Stübe (UFFS)
Anna Lúcia dos Santos Vieira e Silva (UFC)
Beatriz Maria Eckert-Hoff (UDF/ Brasília)
Catarina Tereza Farias de Oliveira (UFC)
Cicilia Maria Krohling Peruzzo (UMESP)
Celina Aparecida Garcia de Souza Nascimento (UFMS)
Claudiana Nogueira de Alencar (UECE)
Daniel do Nascimento e Silva (UNIRIO)
Deusa Maria de Souza Pinheiro Passos (USP)
Dina Maria Martins Ferreira (UECE)
Djane Antonucci Correa (UEPG)
Dylia Lysardo-Dias (UFSJ)
Ernesto Sérgio Bertoldo (UFU)
Geovani Jacó de Freitas (UECE)
Guilherme Veiga Rios (UnB/INEP)
Ines Silvia Vitorino Sampaio (UFC)
Jaileila de Araújo Menezes (UFPE)
Joana Plaza Pinto (UFG)
João Batista Costa Gonçalves (UECE)
José Ernandi Mendes (UECE)
José Wellington Dias Soares (UECE/FECLESC)
Liliana Cabral Bastos (PUC-Rio)
Lucineudo Machado Irineu (UERN)
Magna Maricelle Fernandes Moraes Valle (UECE)
Maria Bernadete Fernandes de Oliveira (UFRN)
Maria das Dores Alves Sousa (UECE)
Maria das Dores Nogueira Mendes (UFC)
Maria das Graças Dias Pereira (PUC-Rio)
Maria de Fátima Vasconcelos da Costa (UFC)
Maria Helena da Paula Frota (UECE)
Maria Izabel Santos Magalhães (UFC)
Maria José Rodrigues Faria Coracini (UNICAMP)
Maria Luiza Monteiro Sales Coroa (UnB)
Milena Marcintha Alves Braz (FGF)
Nádia Marques Gadelha (FGF)
Nelson Barros da Costa (UFC)
Raimundo Augusto Martins Torres (UECE)
Raimundo Ruberval Ferreira (UECE)
Renata Rosa Russo Pinheiro Costa Ribeiro (UECE)
Sandra Maia Farias Vasconcelos (UFC)
Sandra Maria Gadelha de Carvalho (UECE)
Vania Maria Lescano Guerra (UNICAMP)
Vera Regina Rodrigues da Silva (UNILAB)
Viviane de Melo Resende (UnB)

Comissão Técnica
Antonio Oziêlton de Brito Sousa (MAIE/UECE)
Elenice Rabelo Costa (MAIE/UECE)
Gustavo Cândido Pinheiro (UECE)
Kélvia Cristina de Menezes Arrais (UECE)
Paulo Martins Pio (MAIE/UECE)

Comissão Financeira
José Ernandi Mendes (MAIE/UECE)
Sebastião Wellington Veras (UECE)

Comissão de Comunicação
Benedita França Sipriano (UECE)
Catarina Tereza Farias de Oliveira (UECE/ UFC)
Dawton Lima Valentim (UECE)
Elayne Gonçalves Silva (UECE)
Filipe Fontenele Oliveira (UECE)
Hylo Leal Pereira (UECE)
Humberto Queiroz Santos da Silva (FA7)
Isabela Karízia Ramos Cavalcante (FA7)
Janaina Lisboa Lopes Freire (UECE)
Jony Kellson de Castro Silva (UECE)
Marco Antonio Lima do Bonfim (UECE)
Maria de Fátima Medina Lucena (UECE)
Morgana Ferreira de Lima (UECE)
Rayana Vasconcelos da Costa (UFC)
Thaysa Maria Braide de Moraes Cavalcante (UECE)

Demais membros da Comissão Organizadora


Alan George Félix Mendonça (UECE)
Carmem Silva de Carvalho Rêgo (UFC)
Diltino Ferreira do Livramento (UECE)
Francisca Josélia Inocêncio de Lima (UFC)
Fúlvio de Oliveira Saraiva (UFC)
Geranilde Costa e Silva (UNILAB)
Ingrid Xavier dos Santos (UECE)
João Batista Costa Gonçalves (UECE)
José Wellington Dias Soares (FECLESC/UECE)
Kaline Girão Jamison (UNILAB)
Leticia Adriana Pires Ferreira dos Santos (UECE)
Lucineudo Machado Irineu (UNILAB)
Luis Tomás Domingos (UNILAB)
Marcélia Marques do Nascimento (FECLESC/UECE)
Marco Aurélio de Ribeiro Patrício (Fa7)
Maria Eduarda Gonçalves Peixoto (UECE)
Marília Silva Pontes (UECE)
Mário Henrique Castro Benevides (UNILAB)
Meysse Mara Santos de Oliveira (UECE)
Milena Marcintha Alves Braz (FGF)
Nádia Marques Gadelha (FGF)
Raimundo Augusto Martins Torres (UECE)
Robson Luís Batista Ramos (UECE)
Sandra Maria Gadelha de Carvalho (MAIE/UECE)
Shara Lylian de Castro Lopes (UFC)
Suelene Oliveira Nascimento (UECE)
Tatiane Almeida Guimarães (UECE)
Tibério Caminha Rocha (UECE)
Ticiane Rodrigues Nunes (UECE)
MESAS DE DIÁLOGOS

DISCURSOS, FRONTEIRAS E HIBRIDISMO


ANÁLISE DO DISCURSO: DAS FRONTEIRAS AO HIBRIDISMO
Nelson Barros da Costa
Nossas palavras nesse evento encenam um fluxo de consciência sobre a
caminhada pelos princípios teóricos e temáticas que temos adotado nesses
vinte e poucos anos de trabalho acadêmico. Olhando esse percurso nos damos
conta de seu caráter híbrido e fronteiriço, e o propósito de nossa palestra é
refletir sobre suas motivações: trata-se de uma preferência excêntrica ou sinal
dos tempos. O investimento em uma perspectiva como a Análise do Discurso e
a escolha de objetos tão diversos como a canção popular (inicialmente a
dirigida para adultos e posteriormente aquela destinada às crianças) e o
palavrão sinalizam um gosto pessoal por objetos exóticos, descentrados e
pouco prestigiosos na esfera acadêmica ou apenas a manifestação individual
de uma tendência geral dos saberes contemporâneos cada vez mais voltados à
impureza? Nessa reflexão há espaço para posições graduais ou que podem
incluir respostas polares ou sintéticas.

ENTRE SOMBRAS E VERDADES, MÃES E GUERREIRAS: AS RELAÇÕES


ENTRE A FICÇÃO E A HISTÓRIA DAS MULHERES NEGRAS NO BRASIL
Vânia Vasconcelos

A ligação entre a história e a ficção se estabelece a partir do fato de que a


forma narrativa tem sua primeira ocorrência escrita na poesia épica, que
misturava história e ficção , tecendo ali uma primeira forma de memória
coletiva inventada. Bem mais tarde, o romance histórico configuraria a forma
estética consagrada da ambição de preencher com a imaginação as lacunas
deixadas pelos registros da história. Na contemporaneidade, muitos
historiadores propõem uma releitura de episódios e personagens da história,
devido às novas abordagens das identidades contemporâneas, seja a partir de
uma perspectiva gendrada, seja a partir do questionamento do viés
eurocêntrico, ou seja, do colonizador. No caso da história das mulheres e,
sobretudo, das mulheres africanas e afrodescendentes no Brasil, temos a
conexão entre duas categorias (raça e gênero) que proprõem a revisão dos
papéis das mulheres negras, sua representação e protagonismo na história do
Brasil. As ficções históricas ou as visões históricas contidas em alguns textos
literários afro-brasileiros propõem tal revisão.
Palavras- chave: Ficção histórica. Mulheres. Relações raciais.

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DISCURSOS, IDENTIDADES E QUESTÕES DE GÊNERO

ST
REINVENTING 21 CENTURY EMANCIPATION: THE FEMINISATION OF
RESISTANCE IN THE NETWORK OF PAZIFICA WOMEN, CALI, COLOMBIA

Sara C. Motta

The geopolitics of knowledge of coloniality is constituted through a violent


relation against the raced and gendered ‘other’ who is denied the capacity of gift
and subject to the gaze which asks ‘are you like us’; ‘are you truly human’. Such
logics enact a dehumanisation of the other who becomes an object that is to be
known and assimilated to become ‘like us’. This is particularly acute for the
‘raced’ woman whose body becomes a legitimate object of surveillance,
interventions and disciplinary practices which leave as Gil, Purru and Lin
describe ‘epistemological wounds and ontological wounds.’ Yet those who are
pushed out and dehumanised speak from a privileged site of epistemological
possibility for as bell hooks argues ‘[this] offers…the possibility of radical
perspective from which to see and create, to imagine alternatives, new worlds’.

In this piece I demonstrate the epistemological possibility offered by women of


colour on the margins by opening reflexive dialogue with and about the Pazifica
Women’s Network in Cali, Colombia, who contest and transgress the processes
of subjectification through which they are interpolated as subjects and transform
the wounds of displacement and state violence in their struggles for
decolonisation. By engaging philosophically with the decolonising
epistemological praxis of this network in particularly their embrace of a dialogue
of knowledges, politicisation of the everyday, social relationships and
subjectivities, and experimentation with affective and embodied pedagogies I
hope to demonstrate their centrality in the broader process of envisioning 21t
century emancipation and to offer tools of epistemological decolonisation for
others.

"TIRE SEUS PADRÕES DA MINHA FODA": ENTEXTUALIZAÇÃO,


TRANSLOCALIZAÇÃO E INTERSECCIONALIDADES NA BLOGESFERA
Luiz Paulo da Moita Lopes

Apesar dos movimentos sociais ativos em muitas partes do mundo que têm
colaborado com a aceitação relativa de vidas queer, dos vários discursos que
circulam na mídia e na Internet sobre tais performatividades, e da possibilidade
de usar a web para facilitar encontros sexuais queer, o que como nunca antes
aumentou a visibilidade de tais vidas, viver tais sexualidades distante da matriz
heterossexual (Butler, 1990), como um princípio orientador, é ainda uma
grande questão em muitos lugares. Tal ponto implica que a etiqueta
"modernidade reflexiva" (Giddens, Beck & Lash, 1995), criada para explicar o
tipo de mundo no qual vivemos ao questionarmos continuamente princípios

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sociais entendidos como naturais - "as vozes da modernidade" (Bauman &
Briggs, 2003) - está ainda bem longe de dar conta da vida de uma grande parte
da população no mundo. A reflexividade é típica das vidas contigentes que
muita gente vive mais e mais performativamente hoje em dia, mas ao mesmo
tempo há discursos reacionários e efetivos em circulação em toda parte que
requerem que tal reflexividade seja escondida em muitos círculos. Esta
apresentação examina como a reflexividade tem lugar em um blog chamado "
A vida no armário", alimentado por um estudante de graduação mineiro entre
2011-2014. Acompanhei o blog durante dois anos, usando os princípios da
metodologia etnográfica virtual (Hine, 2005). Em particular, nessa apresentação
estudo a trajetória textual (Blommaert, 2010) de uma propaganda no you-tube
chamada "O homem homem", e analiso como ela é entextualizada (Bauman &
Briggs, 1990; Blommaert & Rampton, 2011) na postagem do blogueiro e re-
entextualizada nas postagens de 18 participantes do blog em um mundo de
intensa mobilidade de textos e pessoas. Em outras palavras, descrevo a
translocalização (Blommaert, 2005) do texto vídeo do you-tube, que o coloca
sob o escrutínio dos participantes. Na análise, chamo atenção para: a) como
escalas sociais diferentes (Blommaert, 2010) de gênero, sexualidade, raça e
classe social são indexadas interseccionalmente (Penedo, 2008; Somerville,
2000; Barnard, 2003; Sullivan, 2003; Halberstam, 2005, 20011), trazendo à
tona saltos escalares nessas trajetórias textuais, e b) como tais processos
sociolinguísticos são constitutivos da metareflexividade com a qual os
participantes estão envolvidos ao queerizar ordens heteronormativas de
indexicalidade (Blommaert, 2010), apesar de tudo isso ser feito em segredo na
blogesfera.

DISCURSOS, IDENTIDADES E QUESTÕES DE GÊNERO


Guacira Lopes Louro
Orlando, escrito por Vírginia Woolf em 1928, parece “bom para pensar”
identidades de gênero e de sexualidade. No romance é possível perceber as
identidades como construções culturais feitas e marcadas pelos discursos de
uma época, portanto mutantes, transitórias, instáveis. Orlando permite pensar
queer, pensar o movimento, a ambiguidade, a precariedade, a subversão.
Recortes de uma leitura particular deste romance são feitos para provocar
reflexões sobre os temas desta mesa.

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DISCURSOS DE RESISTÊNCIA, IDENTIDADES EM EDUCAÇÃO POPULAR

DISCURSOS DE RESISTÊNCIA, IDENTIDADES EM EDUCAÇÃO POPULAR


Joyce Canaan
English higher education, like other parts of the public sector and higher
education in other countries, is currently undergoing considerable change; it is
currently being restructured as if it were a market in which universities,
departments and academics compete against one another. This restructuring is
producing new processes of subjectivity that discipline those who work and
study in higher education institutions. Feminist poststructuralists have
suggested that this restructuring is enabled partly through new forms of
accountability that seemingly offer the ‘carrot’ of self-realisation alongside the
‘stick’ of greater management surveillance of the burgeoning number of tasks
that academics, amongst others, must perform. This paper is located in the
context of these changes,; it builds on Judith Butler’s insight that processes of
subjection to the dominant order through which the self is produced entail both
mastery and subjection. That is, submission requires mastery of the underlying
assumptions of the dominant order, which concomitantly introduces possibly
subversive responses to subjection. This paper explores a ‘neoliberal moment’ I
recently experienced when I had to fill out a form introduced for modules that
failed to reach newly introduced marking ‘benchmark’ criteria. As I suggest, the
process of being subjected to the disciplining that this new criterion demanded,
brought me the mastery necessary to avoid such disciplining in future. However,
individual subversion did not significantly challenge these forms of
accountability; only a collective ‘scholarship with commitment’ could do so.

DISCURSOS DE RESISTÊNCIA, IDENTIDADES EM EDUCAÇÂO POPULAR


Vera Dantas

Trazer a cena a reflexão sobre identidade e resistência em diálogo com a


educação popular nos remete a buscar caminhos que incluam questões
fundamentais que ancoram esse campo de conhecimento, falo da educação
popular, que ousa abstrair da prática cotidiana as questões que vão permitir
olhar criticamente sobre ela, problematiza-la e construir coletivamente atos de
superação. Nos remete a falar de perspectiva popular compreendida como o
olhar de atores e atrizes dos movimentos populares que protagonizam ações
de transformação às situações-limite da sua realidade, sempre na perspectiva
da emancipação; de um popular que se tece na busca de superação da
consciência ingênua rumo ao inédito viável: como inacabamento, formação
permanente que se constitui em determinados princípios e se orienta por uma
ética que busca a justiça, a solidariedade nas relações e nas políticas. Que traz
a tensão permanente entre ação política e o fortalecimento dos espaços
organizativos que animam a luta popular em sua mediação com a esfera
institucional. Buscamos o popular que, ao produzir atos-limite transformadores

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da realidade, atualiza sua potência criativa. Assim, trazemos alguns elementos
que consideramos fundamentais no contexto das experiências que temos
vivenciado no Ceará e no Brasil como trilhas de educação popular e que têm
sido base, esteio, para que essas histórias de luta e resistência se efetivem
gerando discursos que não se expressam de forma fragmentada mas em sua
inteireza, onde seres individuais e coletivos se expressam de forma polifônica
em múltiplas linguagens. A arte para nós é um desses elementos, olhar que
traz também a estética popular que nos pergunta por dimensões da vida que
constituem a saúde das comunidades. Arte como diálogo, “este encontro dos
homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando,
portanto, na relação eu-tu”, já nos dizia Freire (2000, p. 154) e que parece
expressar nos contextos dos movimentos e práticas populares, como espaço
de criação – transcendência, capaz de produzir sentidos e sentimentos,
contribuindo para conformar as trilhas dos caminhos, dos atos que ultrapassam
limites e transformam realidades. Nesse debruçar sobre os discursos de
resistência que reafirmam as identidades, referenciamos sinfonias ensaios da
alteridade como espaço polifônico do dizer das culturas humanas no universo
de Fortaleza e de outros contextos no Ceará e Rio Grande do Norte, que
advém da caminhada pelos territórios, cenários-campos de ação-reflexão onde
nos movemos. Dessa forma trazemos referencias ancoradas na experiência
das Cirandas da Vida no mangue em Vila Velha- Fortaleza -CE, na qual a arte
como potência de humanidade e devir social nos ajudou a pensar o cuidado
com a vida das comunidades e desvelou o potencial de apreensão da arte
como teia capaz de enlaçar a intersetorialidade em meio aos tensionamentos
das políticas públicas locais. A inserção do diálogo como prática de
intersetorialidade, pareceu-nos trazer para a comunidade novas dimensões da
luta popular, como a articulação de saberes e experiências no planejamento,
realização e avaliação de ações para alcançar efeito sinérgico em situações
complexas vividas do território como a saga da luta pela moradia daqueles que
ocuparam o mangue. Revelou como a ação ostensiva (e expulsiva) do Estado,
no sentido de dar lugar a empreendimentos privados, de grandes empresas em
detrimento da vida no território acirra as contradições de um modelo de
desenvolvimento acumulador de riquezas. A reflexão sobre o cuidado com a
vida nos revelou que não se tem ouvido o que a população tem a dizer sobre
cuidado. A arte, nesse campo dos diálogos, mostrou seu o dialogismo e trouxe
as subjetividades para tomar a cena junto às questões cotidianas resultando
em uma espécie de ressemantização das discussões vividas e que tentam
atos-limite (atos de transformação das situações-limite), que em sua polifonia
pareceu-nos, também, apontar caminhos metodológicos de realizar a
suspensão crítica e os ensaios de utopia necessários à problematização das
situações-limite em seu exercício transformador. Ação de subjetivação (e
sujeitificação) que alcança as interferências no mundo público, em um diálogo
com dimensões cujos resultados, pode aflorar também de grupos pequenos e
de ensaios de subjetivação, feitos com a reflexão sobre o feminino como
pudemos ver na experiência com as Mulheres em Movimento no Conjunto
Palmeira, Fortaleza – CE =, que, partindo de vivências com teatro fórum
montaram um espetáculo que problematiza a violência e referenda a
importância de discutir a Lei Maria da Penha. Considerando essa

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contextualização e reconhecendo o Movimento Escambo Popular Livre de Rua,
originário do RN e que há duas décadas re-existe no contexto distante dos
grandes centros do RN e CE, como importante escola popular onde a
linguagem “cenopoética” ocupou o centro das rodas parecendo revelar-se ao
mesmo tempo como uma forma singular de produção artística onde dialogam
diversas linguagens e também como estratégia educativa a partir da qual é
possível refletir e problematizar a realidade, lançando mão de inumeráveis
possibilidades de criação e expressão considerando as possibilidades do
diálogo entre as linguagens sem que elas percam suas identidades estéticas,
mas, ao mesmo tempo, produzindo outra que as contém, parece-nos que a
“cenopoesia” se aproxima da noção de polifonia trazida por Bakhtin. Outra
reflexão, que gostaríamos de trazer diz respeito à experiência vivida no Espaço
Ekobé delineado na interface da Articulação Nacional de Movimentos e
Práticas de Educação Popular e Saúde (ANEPS), a Universidade Estadual do
Ceará (UECE), a Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza e o Ministério da
Saúde, como forma de estabelecer diálogos entre os saberes disciplinares da
Universidade, aqueles desenvolvidos na prática profissional e os gestados com
amparo nas experiências de movimentos populares. Tentando uma urdidura
que parte da busca da memória das lutas populares sem perder a ideia de que
a história é criação permanente, o percurso da ANEPS tem potencializado
leituras de compreensão do vivido e exercícios de intervenção e produção da
vida coletiva a partir da interação entre os diversos atores envolvidos,
concretizadas através de ações de formação, fortalecimento da articulação e
de comunicação na perspectiva de superação dos contextos de opressão
vividos pelos grupos e comunidades estruturando ações de transformação a
partir das potencialidades dos atores envolvidos e do agir solidário. O Ekobé,
gerido coletivamente por atores dos movimentos e práticas populares de saúde
de Fortaleza, atua com a ação militante dos sujeitos populares especialmente
com o cuidado, a formação e a ação cultural iniciadas com o protagonismo
desses atores e atrizes populares que desencadearam movimentos de
aproximação com os conteúdos temáticos de disciplinas integrantes dos cursos
da área da saúde na graduação e pós-graduação, bem como com os
processos de educação permanente desenvolvidos nos serviços de saúde de
Fortaleza e movimentos populares, ao mesmo tempo que produz diálogos
entre as práticas integrativas e populares de cuidado, a arte e a educação na
saúde, produzindo como um saber sobre cuidado que incorpora estratos
significativos da experiência popular e que parece realizar o que Boaventura
Santos nomeia de ecologia de saberes onde é possível se promover uma
tradução intercultural, que inclui a arte e as práticas populares de cuidado,
como expressões singulares dessa experiência, criando zonas de contato para
a efetivação do diálogo intercultural feito princípio de resistência, solidariedade
e caminho de emancipação. Nesse caminhar, vimos a educação popular, arte e
as práticas populares de cuidado constituírem-se linguagens de resistência e
vozes de emancipação.

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DISCURSOS, FRONTEIRAS E ETNICIDADE NA AMÉRICA LATINA

GUADALUPE, A DEUSA DO SEXO:


DISPUTAS EM TORNO DE UM CORPO COLONIAL
Maurício de Bragança

Nesta apresentação, pretendemos problematizar algumas questões identitárias


referentes à cultura chicana a partir da apropriação das imagens guadalupanas
feitas por artistas/intelectuais chicanas e chicanos. O discurso feminista
chicano, aliado às manifestações queer que se constroem a partir da imagem
da Virgem de Guadalupe, traz as marcas do processo transfronteiriço no qual
se (des)localiza a experiência da comunidade chicana, configurada por
atravessamentos raciais, de classe, de gênero e de sexualidades. Ocupando
lugares de fala que @s coloca no embate entre o poder patriarcal mexicano, a
voz do feminismo norte-americano, e as reivindicações generalistas das
“comunidades latinas” nos Estados Unidos, a produção cultural da arte chicana
frequentemente se apropria subversivamente da imagem da Virgem de
Guadalupe para manifestar a potência de seu discurso.
A iconografia guadalupana compõe um amplo repertório em torno daquilo que
Serge Gruzinski define como “a guerra das imagens” empreendida pelo
processo de modernidade/colonialidade levado à cabo nas Américas.
Articulando-se nos interstícios da linguagem colonial, a Virgem mestiça, mãe
das Américas e padroeira da nação mexicana, teve um papel fundamental no
processo de construção da hegemonia que definiu os espaços de poder e
articulou os territórios simbólicos nos quais se ergueu a sociedade colonial. A
Virgem mestiça esteve a frente também da modernização efetuada pelo projeto
pós-revolucionário mexicano, ao consolidar de forma ampla um imaginário em
torno de um consenso nacionalista. Sob esta imagem da integração nacional,
definiam-se os papeis sociais de mexicanos e mexicanas, agenciados por
categorias de raça, etnia, sexo, gênero e sexualidade.
Procurando denunciar os efeitos das práticas de colonização que objetificaram
e tentaram silenciar o corpo da mulher mestiça num modelo misógino e
heteronormativo produzido pela sociedade patriarcal mexicana, escritoras
feministas chicanas produziram uma literatura que acabou por se constituir
numa cartografia de testemunhos que redesenharam o corpo, a sexualidade e
o desejo desta mulher mestiça. Para isso, são relidos poderosos mitos e
arquétipos femininos pré-coloniais e coloniais inscritos no interior das
representações da cultura mexicana, dentre as quais a Virgem de Guadalupe.
O movimento é acompanhado pela apropriação destas imagens guadalupanas
através de uma arte queer, que também produz novos sentidos a partir desta
iconografia religiosa, desvelando sua potência política associada a sua
potência sexual.
Tal processo de identificação com a imagem guadalupana já não está mais no
plano de um discurso nacionalista - que vislumbrava no projeto de
miscigenação hegemônico das práticas de modernização da sociedade dos
anos 1930 e 1940 um emblema catalizador de uma conciliação interclasses,
muito bem traduzido no mito da Virgem mestiça – mas numa prática discursiva
transgressora que percebe a força de mediação atravessada no poder

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subversivo da santa. Assim, a longa história de subalternização colonial do
pensamento e do corpo da mulher mestiça encontra uma frente de combate
exatamente através da subversão de sentidos efetuada pela sexualização da
imagem antes casta da Virgem de Guadalupe. Este movimento percorre o
corpo físico da santa, marcando o lugar de fala de sua escritura.

MIGRAÇÕES TRANSNACIONAIS, NARRATIVAS MIDIÁTICAS E O DIREITO


À MOBILIDADE HUMANA
Denise Cogo
Em 2013, relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU)
apontava para a existência de 232 milhões de migrantes internacionais no
mundo (3,2% da população mundial), projetando uma cifra de 405 milhões para
2050. Dados divulgados, em 2014, pela ONU, registravam a presença 51,2
milhões refugiados no mundo, o maior contingente desde a Segunda Guerra
Mundial. De um ponto de vista qualitativo, pesquisadores da área das
migrações têm evidenciado, ainda, um aprofundamento na diversidade e
complexidade dos movimentos migratórios contemporâneos com uma
ampliação dos países envolvidos nas redes migratórias; uma maior diversidade
de grupos étnicos e culturais que compõem essas redes; um número
significativo de mulheres que migram de maneira independente ou como
chefes de família; um incremento do número de pessoas que vivem e
trabalham no estrangeiro sem regularização jurídica; assim como de refugiados
e asilados; um crescimento de migrações decorrentes de catástrofes
ambientais; e uma intensificação de movimentos migratórios temporários.
No campo das interfaces entre cultura, comunicação e imaginário, Appadurai
(2005) chama a atenção para o caráter recente da visibilidade pública e
midiática atribuída aos imaginários sobre as migrações de massa (voluntárias
ou impostas), embora, segundo o autor, o próprio fenômeno das migrações
transnacionais não seja novo. Appadurai sugere, em sua reflexão, que a
justaposição dos movimentos migratórios aos fluxos acelerados de imagens,
cenários e sensações difundidos pelos meios de comunicação poderia se
tornar provocadora de uma nova ordem de instabilidade na criação das
subjetividades modernas.
É em torno desse reordenamento na produção das subjetividades que
propomos focalizar as narrativas midiáticas contra-hegemônicas produzidas, na
atualidade, em espaços da internet, por imigrantes e redes de apoio às
migrações na perspectiva de descriminalizarem as migrações e postularem o
direito à mobilidade humana em um contexto de aprofundamento das fronteiras
e políticas que visam impedir ou restringir essa mobilidade e ao mesmo tempo
de produção e consumo de imagens geradoras de uma hipervisibilidade dos
movimentos migratórios.
Trata-se de narrativas construídas a partir da apropriação de linguagens e
estéticas das mídias digitais pelos migrantes e/ou seus mediadores com vistas
a enunciarem o sujeito migrante não como herói, revolucionário ou vítima, mas
como um agente de processos de subjetivação que constitui e disputa espaços
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de cidadania social, cultural, política e universal. Narrativas que colaboram,
ainda, para evidenciar e posicionar, no centro do debate epistemológico e
político, a ambivalência de uma globalização vivenciada como ponto de
intersecção entre a liberdade do sujeito e a ação de barreiras e limites impostos
a essa liberdade por instituições e tecnologias de poder, muitas das quais
circunscritas aos Estados-nação.
Empiricamente, observamos e refletimos especificamente sobre quatro
experiências geradoras dessas narrativas: a do porta-voz da comunidade de
refugiados somali em Portugal; a do coletivo de jovens exilados espanhóis
Marea Granate, a dos imigrantes haitianos no Brasil em espaços do Facebook
e as do coletivo Visto Permanente – projeto de acervo vivo das culturas
imigrantes em São Paulo.

AFROLATINOAMÉRICA
Vera Rodrigues da Silva

O contexto sociopolítico latino-americano vem se modificando nas últimas


décadas por conta de processos de redemocratização política que
evidenciaram as seguintes questões: 1) Estados que se reconheceram como
multiculturais e pluriétnicos; 2) Estados que adotaram políticas públicas de
reconhecimento de direitos culturais e etnicorraciais direcionados às
populações negras e indígenas. Esse é o caso de Brasil e Colômbia, países em
que as ideologias de “mestiçagem” e “democracia racial” vêm perdendo espaço
para a problematização das “desigualdades sociorraciais” e “políticas de
reconhecimento”. A partir desse quadro situacional analiso os processos de
construção e desenvolvimento das políticas públicas para comunidades negras
(quilombos) no Brasil e palenques na Colômbia. Nesse objetivo estão
enquadradas a construção e aplicação do Programa Brasil Quilombola (2004) e
a Lei 70 colombiana (1991), mais conhecida como a “Lei dos Negros”, entre
ambas há um ponto em comum: a garantia de direitos territoriais para
populações negras. Isso faz com que Estado e sociedade enfrentem
problemáticas sociais, até então, ignoradas ou minimizadas: territorialidade e
racismo. Nessa perspectiva quero abordar as políticas públicas e a luta por
diretos das populações negras na América Latina, especialmente atentando
para os casos brasileiro e colombiano. Assim, convidamos a refletir sobre
questões cruciais, tais como: Quais são os desafios na luta antirracista latino-
americana? Quem são os atores sociais envolvidos? Quais os discursos e
práticas que engendram as nossas políticas públicas? Quem somos nós nesse
cenário?

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DISCURSO, IDENTIDADES E INFÂNCIA

NARRATIVAS SOBRE INFÂNCIA NUMA PERSPECTIVA


INTERGERACIONAL
Maria de Fátima Vasconcelos da Costa

Os estudos da infância vêm merecendo atenção crescente de diferentes


disciplinas para além das clássicas abordagens do desenvolvimento ou da
educação em função das transformações do contemporâneo. Como um entre-
lugar, ou conceito fronteiriço, definido pelas demandas dos adultos e seus
próprios agenciamentos, a infância, do ponto de vista sociológico (Sarmento,
2004, Proud, 2005, Ferreira, 2010) fornece importantes elementos para o
entendimento das práticas sociais. Debruçando-nos sobre narrativas
(auto)biográficas (Josso, 2008, Delory-Momberger, 2008) de memórias lúdicas
num estudo intergeracional, pretendemos alimentar a discussão sobre a crise
das formas do infantil e suas condições de possibilidade no cenário
contemporâneo, marcado, paradoxalmente, pela aparente valorização da
infância e violações crescentes de seus direitos fundamentais.

A CRIANÇA E SUAS NARRATIVAS: A (AUTO)BIOGRAFIA NO ESPELHO


Sandra Maia

Os estudos sobre narrativas produzidas por crianças ainda é incipiente nos


campos da Linguística, embora já encontrem uma efetiva difusão nas áreas da
Sociologia, da Psicologia e da Pedagogia. Nossa pesquisa pretendeu contribuir
com a ciência trazendo para o campo da Linguística essa abordagem que pode
trazer um apoio à formação docente nas áreas de línguas, em particular no
ensino de língua materna, quando busca, pela valorização da criação verbal,
entreter uma relação entre o universo lexical da criança e sua disposição à
descoberta da narrativa como gênero de intuito criador. É importante que
ressaltemos o que vêm a ser narrativas infantis: ora nós precisaremos
narrativas infantis como sendo narrativas contadas porcrianças, histórias
narradas por crianças, ora histórias contadas para crianças por algum adulto
presente, ora histórias universais criadas para o público infantil em geral. Deste
modo, diferenciaremos narrativas infantis como histórias universais contadas
para crianças e as histórias narradas pelas crianças como sendo suas histórias
serão as narrativas das crianças, suas próprias vidas ou adaptações que elas
fazem de suas próprias vidas a partir de histórias populares ficcionais ou não.
Para esse intuito, traremos à tona as precisões de detalhes que as crianças
elaboram em seus discursos narrados.

15
A PERCEPÇÃO DE RISCOS E OPORTUNIDADES
NO USO DA INTERNET POR MENINAS
Ana Cesaltina Barbosa Marques

A pesquisa TIC Kids Online Brasil Portugal se apoia em um projeto de


cooperação estabelecido entre a Universidade Federal do Ceará (BR) e a
Universidade Nova de Lisboa (PT), por meio das professoras Inês Vitorino e
Cristina Ponte, respectivamente. O projeto, em curso desde 2013, busca
identificar a visão de crianças, pais e professores, cearenses e lisboetas, sobre
os riscos e as oportunidades presentes na relação com a internet e, em
especial, com mídias móveis como tablet e celular. O estudo analisa como as
crianças usam e se apropriam dessas novas tecnologias de comunicação e
informação, considerando os conceitos de risco e oportunidade empregados na
pesquisa Eu Kids Online, realizado simultaneamente em 33 países desde
2006, sob a chancela da London School of Economics and Political Science.
Também é objeto de investigação a mediação desses usos por pais e
professores. As percepções das crianças pais e professores estão sendo
identificadas por meio da realização de grupos focais em escolas particulares e
públicas de Fortaleza e Lisboa. As crianças que participaram da pesquisa têm
entre 11 e 12 anos de idade. A dinâmica de grupo focal com crianças foi feita
em grupos de meninos e meninas separadamente. Os resultados preliminares
indicam que meninos e meninas realizam atividades semelhantes na rede,
contudo as atividades relativas a jogos on-line são mais realizadas por
meninos. Dados da pesquisa TIC Kids Online 2014, do Cetic.br, indicam que,
enquanto 38% dos meninos afirmaram jogar com outras pessoas na Internet,
essa proporção é de apenas 15% entre as meninas. Os grupos focais já
realizados pela pesquisa confirmam essa preferencia entre os garotos,
enquanto ‘revelam a predominância do uso para acesso a sistemas de redes
sociais por parte das meninas. Referências à exposição de corpos são mais
frequentes entre as meninas, sejam em práticas efetivas de produção e
divulgação de fotografias por meio de seus perfis pessoais; ou por meio de
recomendações de pais e professores, para que evitem riscos ou danos
decorrentes de tais práticas. A partir da análise da fala de crianças, pais e
professores, refletirei sobre as percepções de riscos e oportunidades pela
perspectiva das questões de gênero. São autores de referência para esse
recorte: Livingstone, Sônia (2011); Ponte, Cristina (2012); Perrot, Michelle
(2003).

16
CONSTITUIÇÃO DO ETHOS ESCOLAR EM NARRATIVAS DA INFÂNCIA
Maria da Conceição Passeggi

Como os discursos escolares ressurgem em narrativas de crianças de 04 a 10


anos de idade? O que desvelam sobre um ethos escolar que vão elaborando
ao longo da escolaridade? Com base nessas questões, apresentaremos uma
reflexão sobre as estreitas articulações entre discurso, identidade e infância,
fundamentando-nos em resultados de pesquisas que realizamos com crianças
numa rede internacional com o apoio do CNPq. Discutiremos, inicialmente,
princípios e métodos utilizados em nossas pesquisas com crianças e como o
giro biográfico ao reconhecer a criança, enquanto ser ativo, capaz de narrar
sua própria história e de refletir sobre ela, distancia-se de uma epistemologia
adultocêntrica. Apresentaremos a seguir a metodologia da pesquisa, realizada
numa diversidade de situações investigadas por nossos grupos de pesquisa
(escolas de aplicação, escolas da periferia, zona rural, comunidades
remanescentes quilombolas, indígenas e em ambiente hospitalar), cuja
principal preocupação é buscar apreender o ponto de vista da criança sobre o
seu acolhimento na cultura escolar e como ela se constitui, ou não, como
sujeito de direitos. Procuraremos mostrar como entrecruzamos perspectivas
teóricas que abordam as narrativas como fenômeno antropológico na
constituição de si e do desenvolvimento do psiquismo humano (Bruner, 1997,
2014; Bronckart, 1999; Brockmeir e Harré, 2003; Ricoeur, 1991), assim como
método de pesquisa e formação (Ferrarotti, 2014; Josso, 2010, Delory-
Momberger, 2008, 2012, 2014; Passeggi, 2010, 2014). Observa-se que se na
escola regular as crianças vão construindo um ethos escolar que vai perdendo
a alegria de aprender, nas classes hospitalares a aprendizagem escolar é vista
por elas como esperança de vida e de retorno à normalidade. Concluiremos
sobre a importância da escuta sensível da criança, para compreendermos
como o ethos escolar se sobrepõe, positiva ou negativamente, à subjetividade
da criança ao longo da escolaridade e da vida. O debate aberto centra-se nos
seus desejos, seus medos, suas potencialidades individuais e de cooperação
na constituição de si mesma como ator-autor-agente numa sociedade
biográfica em que se exigem indivíduos mais autônomos, mais conscientes de
si e de seus projetos de vida.
Palavras-chave: Pesquisa com crianças; narrativas, ethos escolar

17
DISCURSO, IDENTIDADES E CRISE AMBIENTAL

ÉTICA PLANETÁRIA E CONVIVÊNCIA NA DIVERSIDADE:


POR UM PENSAMENTO ECOSSISTÊMICO
Patrícia Limaverde

Observamos aflitos sintomas de uma crise (ou serão várias?) que nos afeta,
direta ou indiretamente, a todos os seres humanos e, sistemicamente, a toda a
vida no planeta. É bem possível que esta seja a maior crise de repercussão
planetária que já presenciamos na história da humanidade.

A globalização, a ocidentalização, o desenvolvimento são, assim, os


três alimentos da mesma dinâmica que produz uma pluralidade de
crises interdependentes, justapostas, entre elas a crise cognitiva, as
crises políticas, as crises econômicas, as crises sociais que, por si
sós, produzem as crises da globalização, da ocidentalização, do
desenvolvimento. A gigantesca crise planetária é a crise da
humanidade que não consegue atingir o estado de humanidade.
(MORIN, 2013, p. 33, grifo do autor)

Subjugados a um imperialismo sem assinatura, da economia globalizada, os


povos da Terra vão rendendo-se mais e mais. Rendemo-nos pois as armas do
Império da Globalização são invisíveis e agem de forma submersa afetando-
nos a partir de nossos próprios sistemas de crenças, evoluindo de maneira
extremamente adaptativa, criando dispositivos refinados e capazes de adentrar
os mais diferentes contextos culturais. Códigos dogmáticos do “livre mercado”
infectaram as mais diferentes culturas, introjetando-se sem seus códigos
específicos e sendo compartilhados entre os membros do sistema social do
qual fazem parte. Assim propaga-se a homogeneização, a padronização, a
alienação "bem informada".
A nova "colonização" não é amedrontadora, ela entra pela porta da frente, é
sorridente e sedutora. Esconde-se (e revela-se) nos currículos sociais: da mídia
televisiva, nos livros didáticos, no ritmo e formas de trabalho, nas condutas
cotidianas. A nova colonização é refinada, age de forma submersa, contudo
não é menos violenta: seu rastro de destruição é implacável explorando (e
escravizando) populações inteiras, extorquindo e degradando recursos
naturais. Tal Imperialismo colonizador marginaliza, discrimina e exclui quem
não comunga de sua doutrina, de seus dogmas, verdadeiros códigos sociais
nucleares.
Para Maturana (2013), nosso momento histórico é marcado pela hegemonia da
doutrina do livre mercado. Tal doutrina busca nos privar da liberdade reflexiva e
do poder de escolha. Valorizando as relações de dominação e de submissão,
nós, seres humanos, perdemos a capacidade de confiar. Como perdemos a
confiança, queremos dominar, controlar nossos contextos, queremos certezas,
rechaçamos o que é marginal, diferente e causador de “desordem”.

Com uma população que cresce velozmente, a exploração voraz dos


recursos naturais da Terra e o consumismo insaciável, a humanidade
está, de forma rápida e radical, alterando a biosfera de um modo que

18
a vem tornando cada vez menos capaz de conduzir à sobrevivência e
ao florescimento humanos. (WALLACE, 2011, p. 232)

Maturana (1997) também nos fala da crise da ambição, de origem no apego ao


pensamento linear causal, derivado da desconfiança e da necessidade de
controle. Apple (2002) nos fala da crise originada a partir da cisão entre o
trabalho mental e o trabalho manual, que gera fragmentações e desigualdades.
Morin (2007) chama de “paradigma da simplificação" o sistema de crenças que
impera a partir dos princípios de disjunção, de redução e de abstração.

Este paradigma, que controla a aventura do pensamento ocidental


desde o século XVII, sem dúvida permitiu os maiores progressos ao
conhecimento científico e à reflexão filosófica; suas consequências
nocivas últimas só começam a se revelar no século XX. (MORIN,
2007, p.11)

Sintomas de crise que afetam os dispositivos sociais instituídos nos últimos


séculos, incluindo a escola, num sentido mais amplo, acabam por provocar as
próprias chances de reflexão sobre a educação como um todo.

Um dos problemas fundamentais que temos que encarar é o da forma


através da qual os sistemas de dominação e exploração persistem e
se reproduzem sem que isto seja conscientemente reconhecido pelas
pessoas envolvidas. Isto tem particular importância na educação […].
(APPLE, 2002, p.29)

O currículo de uma escola é parte preciosa do conjunto de códigos sociais


nucleares compartilhados nesse sistema. Ao mesmo tempo que possui um
poder imobilizador do pensamento criativo docente e discente, o currículo pode
desencadear transformações bastante significativas.
Mesmo como um código exógeno, ou seja, sem ser um produto significativo,
dialogizado, ecologizado, por parte da maioria dos membros dos sistemas
sociais educativos, o currículo tradicional disciplinar e descontextualizado
adentra-se, quase de forma automatizada e não reflexiva, nos códigos sociais
nucleares desses sistemas educativos. Tal código curricular, assim como
qualquer código nuclear, transcreve fenótipos comuns aos meios e às condutas
desses sistemas sociais educativos, ou seja, estabelece parâmetros de
estratégias, processos e outros fenótipos como a estrutura física escolar e
padrões de avaliação.

Todos os nossos referenciais culturais ou epistemológicos estão


mediados por uma estruturação do saber fragmentado em múltiplas
disciplinas. Essa maneira de vez e interpretar o mundo é o resultado
e a consequência de uma formação que aceitou a compartimentação
do saber em cadeiras ou matérias como a única forma de apresentar
e organizar o currículo escolar. (ZABALA, 2002, p.49)

Como um verdadeiro vírus, o currículo exógeno garante sua perpetuação até


que a própria célula consiga localizá-lo como externo a ela. “A conclusão é que
qualquer tipo de organização de conteúdos escolares que não siga a lógica
disciplinar dificilmente será entendido e aceito. É totalmente compreensível a

19
tendência a se refugiar na segurança do que sempre foi igual.” (ZABALA, 2002,
p.49)
Para Le Moigne, Bogdanov foi o primeiro no mundo científico, e por muito
tempo o único, a anunciar que o processo mental e a ação que provoca a
construção e a criação de conhecimento "não é talvez a disjunção, mas a
conjunção." (LE MOIGNE in PENA-VEGA & ALMEIDA, 1999, p.57)
A criação de conhecimentos não pode ser uma ação meramente analítica e
destacada de seus contextos. Nada pode ser exclusivamente disjunto, se não
partir de uma comparação aproximada entre dois ou mais contextos. Isso quer
dizer que não devemos perder de vista que só é possível compreender as
partes de um todo se pudermos entender como essas partes se conjugam
entre si e como essas relações influenciam o todo. Bogdanov, em 1914, já
questionava a “doutrina dualista de Descartes" (1980, p.259) que reforçava a
fragmentação entre as disciplinas e conhecimentos científicos, deixando de
lado a visão orgânica e sistêmica das relações das partes entre si e com o
todo.
Almeida (2008) nos fala que a escola, sendo um espaço privilegiado de
experimentação e reconstrução culturais, deverá promover uma “aprendizagem
mestiça, capaz de transformar experiências singulares em configurações mais
híbridas, abertas, policompetentes." (ALMEIDA, 2008. p.138)
O efeito transdisciplinar na construção de um novo modo de pensar deve partir
de operações mentais distintas das que se operam em um pensamento
cartesiano e mecanicista.
Uma primeira e mais original característica-base do pensamento
Transdisciplinar é a não-separatividade. Esta característica permite a
reintrodução do sujeito (MORAES, 2008, p.105) no processo do conhecimento,
associando o ato de conhecer à história de vida, ao “que fazer” de quem
conhece. Essa integração entre sujeito e objeto em si já é uma grande
mudança, pois caracteriza, nesta simples, embora essencial idéia, um novo e
real paradigma, já que a dissociação sujeito e objeto está na gênese do
pensamento científico moderno.
Também são características relacionadas a um currículo Transdisciplinar: a
associação do corpo com o pensar e o sentir; a associação entre ciência,
tradição e arte; entre teoria, prática e sentido; a interligação de diferentes níveis
de realidade e a convivência harmoniosa com diferentes níveis de percepção;
dentre outras associações que com irão repercutir no currículo transdisciplinar
e na evolução humana que sua aplicação no ensino possivelmente
desencadeará.
Essa evolução humana possivelmente dará indícios através da incorporação no
comportamento humano de uma Ética humana planetária (MORAES, 2008, p.
110). Essa ética, genuína, não seria portanto um sistema de regras sociais a
serem seguidas. Teria origem no interior dos seres humanos, em seus
espíritos, como decorrência de uma nova operação lógica transdisciplinar.

No momento em que aprendemos o "respeito" que a teoria física nos


impõe para com a natureza, devemos aprender igualmente a
respeitar as outras abordagens intelectuais, quer sejam as
tradicionais, dos marinheiros e camponeses, quer as criadas pelas
outras ciências. Devemos aprender, não mais a julgar a população

20
dos saberes, das práticas, das culturas produzidas pelas sociedades
humanas, mas a cruzá-los, a estabelecer entre eles comunicações
inéditas que nos coloquem em condições de fazer face às exigências
sem precedentes da nossa época. (PRIGOGINE & STENGERS,
1984, p.225)

O amor, que nos torna cada vez mais humanos (MATURANA & VARELA,
2001), que nos permite a aceitação de si e do outro com legitimidade, é o
componente absoluto desta nova Ética.
A Ética em ação, provinda dos espíritos humanos, na interação social, a partir
da linguagem, é o melhor indicador de mutação paradigmática que podemos
ter. É o indicador do nascimento de um paradigma da convivência na
diversidade, mais responsivo para com os povos da humanidade e para com a
Terra, como um todo inseparável.

“CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL? NÃO, OBRIGADO.”


HERMAN L. DALY
Aécio Alves de Oliveira

O que há de insustentável no progresso material alcançado pela humanidade?


Esta pergunta nos remete ao discurso que se disseminou por todo o mundo
com a publicação do Relatório Brundtland. Refiro-me à panaceia que se criou
em torno da positividade do conceito de “desenvolvimento sustentável”.
O Relatório tinha a “boa” intenção de minimizar o conflito entre a retomada do
crescimento econômico – promovido pela onda neoliberal que se instalava
desde Margareth Thatcher (1979) e Ronald Reagan (1981) – e a degradação
ambiental que se acentuava à escala global. O desafio posto no início dos anos
de 1980 era dar continuidade ao progresso material sem degradar o ambiente,
com a inclusão dos países do chamado terceiro mundo nos circuitos
econômicos globais do comércio e da finança. “Desenvolvimento sustentável”
foi a denominação encontrada para atribuir um novo significado a crescimento
econômico. Esse é o foco do documento intitulado Nosso Futuro Comum,
publicado em outubro de 1987.
Estaria essa nova qualificação anunciando uma mudança paradigmática? Por
que o adjetivo “sustentável”? Era o reconhecimento de que o progresso se
tornara economicamente insustentável?
A premissa do Relatório está ecologicamente correta: ambiente (onde vivemos)
e desenvolvimento (o que fazemos, que é o processo econômico) são
inseparáveis. Mas, a sustentabilidade do desenvolvimento restringe-se ao
atendimento das necessidades do presente sem comprometer o atendimento
de necessidades das gerações futuras. Uma sentença moral que passa a ser
repetida como uma verdade absoluta.
Além de ser antropocêntrico, o discurso reafirma a economia – mesmo que
verdoenga – como dimensão central da vida. Para sermos mais exatos, a
economia que adquire centralidade é aquela que se instituiu na Europa
Ocidental, notadamente desde meados do século XVIII, e que, no século XX,
desenvolveu um enorme potencial de degradação e de ruptura
sociometabólica. Desenvolvimento sustentável é assemelhado à ideia de

21
crescimento firme e continuado, em conformidade às teorias do crescimento
econômico que estabelecem a expansão do PIB como prioridade. Ao lado, uma
cultura que redefine o ser social como aquele indivíduo hedonista e insaciável,
ávido pela diversidade de bens de consumo a sua disposição nas “catedrais”
das mercadorias.
Da perspectiva que orienta a economia na sociedade capitalista, atender
necessidades das gerações atuais e futuras é um pacto complexo, pois envolve
gerações que ainda não nasceram. Em termos culturais, esta mesma economia
coloniza os significados “atribuídos à vida pelos diferentes povos, etnias e
nações” (Walter Porto-Gonçalves). As afetações ambientais ficam expressas
na matriz energética que alimenta o modo de produção e de vida nela vigente
que é a fonte principal da geração de gases de efeito estufa (GEE). Além de
inseparáveis, ambiente e economia precisam ser olhados como partes de um
mesmo processo de coevolução. Ademais, a primeira terá que determinar a
segunda.
Mas, de que necessidades estamos falando? Aquelas vitais ou aquelas
artificiais? Aquelas que movimentam os negócios ou aquelas necessidades que
são essenciais à vida? E o que dizer do aparato tecnológico e da organização
social e política que delimitam nosso modo de vida?
Temos que combinar algo muito importante! Em nome da prudência, a
finalidade da economia capitalista e o modo de vida a ela adequada – que
envolvem o quê, como e para quem fazemos – teriam que ser redefinidos para
dar conta, adequadamente, do atendimento das necessidades no presente e
no futuro. A relação de coevolução entre economia e ambiente terá que compor
o pacto de equidade entre gerações – atuais e entre estas as gerações futuras
– cujo teor nos remete, pelo menos, ao atendimento de necessidades básicas e
essenciais de cada indivíduo e de todos.
O problema econômico central, qual seja, o quê, como e para quem produzir,
nos coloca diante de uma escolha. Até o presente, essas decisões simultâneas
são resolvidas pelas “forças cegas dos mercados”, o que não se coaduna ao
conceito de “desenvolvimento sustentável” em Nosso Futuro Comum. Temos
uma questão política (por excelência) que subordina a economia a outros
objetivos que não o lucro e a acumulação de capital. Essas decisões
simultâneas terão de ser tomadas de maneira consciente (e não “cegas”); terão
que ser tomadas com a efetiva participação de todos os indivíduos que
compõem a sociedade humana. Não podemos deixar nossas vidas serem
conduzidas pela cegueira. (Lembram José Saramago?) Esta outra política
adquire uma dimensão humana fundamental para respaldar outra economia e
outro modo de vida.
Uma formação socioeconômica dominada pela lógica da acumulação de
riqueza abstrata e que pouco (ou nada) tem a ver com as necessidades
humanas e das demais espécies. Terá que ser substituída por outra na qual
prevaleça outro tipo de relação entre mulheres e homens e que nos atos da
produção material e cultural a biodiversidade e as condições termodinâmicas
onde se realizarem sejam adequadamente consideradas. Trata-se de outra
formação com outros valores, outros fins e outra dinâmica.

22
A ressignificação assim sugerida põe em questão o conceito de
desenvolvimento sustentável na sociedade capitalista e o torna “essencial para
uma sociedade de produtores associados” (FOSTER, 2005: 230-231).
Como se desenrola o processo econômico capitalista e o que o torna
ecologicamente insustentável?
Nicholas Georgescu-Rögen tornou-se um economista dissidente a partir do
momento em que tomou a iniciativa de questionar a teoria econômica
neoclássica com base na Termodinâmica. Segundo Óscar Carpintero (Ensayos
bioeconómicos, 2007: 11), no final da década de 1940, o matemático,
estatístico e economista neoclássico se deu conta de que a teoria econômica
ortodoxa ensinada em Harvard, bem como suas recomendações de políticas
econômicas, somente era aplicada – quando o fosse – em sociedades
industriais avançadas.
Com a publicação, em 1971, de sua obra decisiva estabeleceu importantes
relações entre a entropia e o processo econômico. Trata-se de The entropy
Law and the economic process na qual demarca seu reconhecimento de que a
produção econômica consiste na transformação de recursos de baixa entropia
em resíduos de elevada entropia. De acordo com o segundo princípio da
termodinâmica, essa transformação implica em perda de qualidade e
degradação da matéria e energia utilizada e redução das possibilidades de seu
reaproveitamento. (As cinzas de carvão são matéria e energia inutilizável
(elevada entropia); um metro cúbico de gás possui baixa entropia e é utilizável.)
O reconhecimento de que a Terra é um sistema aberto em termos de energia e
fechado em termos de matéria, fornece a chave para compreendermos por que
iremos nos defrontar com escassez de recursos naturais (estoques) e não de
energia (fluxos). Como consequência, esse reconhecimento decreta o
esvaziamento dos modelos de crescimento econômico, uma vez que os limites
físicos são visíveis. Pelo mesmo motivo, não é possível admitir que o progresso
tecnológico seja a solução para os problemas ambientais. Desse modo, a
economia terá que ser redirecionada para dar conta de mudanças qualitativas e
não quantitativas, como estabelece o pensamento econômico hegemônico.
A nova visão de economia terá que contemplar os direitos das espécies e da
Terra; uma distribuição equitativa dos bens comuns, entre as gerações atuais e
as futuras. Claramente, estamos diante de confrontos econômicos, culturais e
socioambientais cuja compreensão inicia-se com abordagens interdisciplinares,
mas com a perspectiva da necessária e vital transdisciplinaridade (fronteiras do
conhecimento). Ou seja, precisamos de diálogos para além das ciências
estabelecidas (cada uma em seu “quadrado”), enraizadas no paradigma do
crescimento econômico ilimitado como determinante da vida de todas as
espécies neste pequenino e frágil Planeta.

23
EIXO TEMÁTICO 1 – TERRITÓRIOS, FRONTEIRAS E ETNICIDADE

A HETEROGLOSSIA DIALOGIZADA NOS ENTENDIMENTOS DE


CRIANÇAS SOBRE RAÇA/ETNIA NA ESCOLA
Nara Maria Forte Diogo (UFC)

Resumo: Ao que respondem e o que articulam os sentidos construídos pelas


crianças em relação aos saberes evocados pela Lei 10.639/03? Esta é a
pergunta que mobiliza uma etnografia escolar com crianças realizada em uma
turma de educação infantil de uma instituição particular de ensino.
Investigaram-se as relações étnico-raciais na transmissão da história e cultura
africana e afro-brasileira na perspectiva das culturas da infância neste contexto,
tendo como fruto a escrita de uma tese. Procurou-se examinar os momentos de
irrupção de um discurso "diferente" no discurso "mesmo", fraturas e rupturas do
fio discurso, os mal-entendidos, os equívocos, as contestações e as
contradições, em uma escola muito recomendada no trabalho com a
diversidade em Fortaleza-CE. A Heteroglossia Dialogizada foi a categoria
bakhtiniana que permitiu compreender a multiplicidade de vozes presentes na
cultura de pares e na escola sobre a questão étnico-racial. Encontrou-se que
as crianças, nas culturas de pares, mobilizam todo um conjunto de discursos
sobre a questão étnico-racial quando o trabalho com a cultura africana está em
pauta na escola. São indicadores da Heteroglossia Dialogizada nas produções
discursivas das crianças sobre as relações étnico-raciais: a) a presença da
cultura global mediada pela família (nas quais a cultura europeia é
hegemônica); b) as marcas da cultura para a infância (principalmente as
narrativas dos desenhos animados); c) os tensionamentos da cultura escolar
(na qual a cultura indígena é tomada como paradigmática e a cultura africana
como enigmática pela escola). Discutiu-se ainda que a Heteroglossia
Dialogizada não se organiza de modo aleatório, mas sua intencionalidade está
fortemente orientada segundo a Invisibilidade Seletiva, velando a valorização
positiva dos negros e exaltando a branquitude, de acordo com o racismo
estrutural da sociedade brasileira. Concluímos que a Heteroglossia Dialogizada
permite encontrar, nos discursos sobre raça/entia, os modos pelos quais as
crianças constroem paradoxos que, ao reproduzir o racismo estrutural,
possibilitam e convidam ao seu enfrentamento.

Palavras-chave: Discurso. Raça/etnia. Crianças.

24
A MÚSICA E AS LUTAS POR INCLUSÃO DOS NEGROS NA BAHIA: OS
BRASILIANS BOYS
Débora Carla Pereira Guimarães (UFBA)

Resumo: O estudo de uma orquestra de negros na Bahia, a Brasilian Boys,


revelou aspectos da vida de alguns músicos, da importância da música
enquanto profissão e, para futuros aprofundamentos, a sua constituição como
um possível nicho profissional de negros na cidade de Salvador e na Bahia. A
análise dos depoimentos de dois músicos integrantes dessa orquestra - em
especial de mestre Cacau do Pandeiro - foi um estímulo, pois, acompanhando
a sua trajetória de formação, compreende-se como ele chegou a tocar em
grupos musicais diversos, permitindo aos nossos protagonistas ajustes e
reajustes nas suas práticas, ampliando e aperfeiçoando seus conhecimentos. A
escolha dos Brasilian Boys surgiu no desenrolar de uma pesquisa de mestrado
sobre os aspectos educativos das orquestras que se apresentavam no rádio na
cidade de Salvador nas décadas de 1940 e 1950, pela presença e
possibilidade de acesso a alguns integrantes seus. Os depoimentos colhidos
inicialmente para falar de orquestras em geral na década estudada abriram a
possibilidade de aprofundar a natureza das aprendizagens realizadas na
prática musical desse grupo em especial, sendo apresentadas algumas de
suas vivências e experiências que contribuíram para a construção do seu
conhecimento da vida e da música. Mestre Cacau do Pandeiro atribui aos seus
irmãos, Belmiro Cruz e João Cruz, a fundação da orquestra Brasilian Boys.
Porém, antes de se formar a "Brasilian Boys", uma orquestra de músicos
negros de Salvador, Belmiro e João iniciaram seus trabalhos como músicos
desde jovens, quando se apresentavam nas festas da família e de amigos e
nas comemorações e eventos da Vila Matos, bairro de Salvador, sendo assim,
a família e questões como a religiosidade e as lutas cotidianas tiveram papel
importante na trajetória dessa orquestra.

Palavras-chave: Práticas musicais. Memória. Inclusão.

ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES MIGRANTES NA OBRA HÍBRIDA "SI


ME QUERÉS QUEREME TRANSA" DO ESCRITOR CRISTIAN ALARCÓN
Dalva Desirée Climent (UFRJ)

Resumo: A questão da imigração torna-se novamente tema de grande debate


e discussão na sociedade contemporânea. A quebra de fronteiras e territórios,
fruto da globalização, trazem a cena enfrentamentos e diálogos entre diversas
culturas e povos. Na literatura argentina atual, percebe-se um tema comum
entre os escritores, o chamado Conurbano Bonarense, que traz um olhar ao
território periférico, que na Argentina é ocupado principalmente por imigrantes
de países limítrofes. Na década de 90, percebe-se o aumento dessa imigração

25
que gera diversos discursos e negociações entre os novos habitantes e a
sociedade receptora, e que persiste até os dias atuais. O escritor Cristian
Alarcón em seu segundo livro "Si me querés quereme transa" lança seu olhar
para esses territórios e sujeitos, e nos revela suas práticas culturais como
forma de negociação e afirmação da identidade e cultura dos imigrantes.
Utilizamo-nos como base teórica a hibridação de culturas de Nestor García
Canclini, os estudos referentes a quebra de territórios de Arjum Appadurai, a
formação de identidades de Stuart Hall e Maurice Halbwachs, a leitura das
cidades por Beatriz Sarlo e, ainda, os estudos dos que estão à margem de
Paulo Roberto do Tonani. Para a abordagem da questão religiosa dos
imigrantes nos apoiamos na "desritualização" do rito de Roberto da Matta. A
partir de trechos da obra realizamos a leitura de ditas representações,
atualmente, em nossa pesquisa, percebemos que estamos diante de uma obra
literária complexa, na qual a narrativa dialoga abertamente com o cânone da
literatura latino americana, transitando entre escrita literária e
jornalística. Nossa proposta é ler a representação desses sujeitos a partir de
seus Ritos, voltando o olhar a aqueles que estão à margem da sociedade a
partir de uma obra atual e um escritor que nos apresenta uma nova forma de
narrar a realidade.

Palavras-chave: Imigração. Hibridismo. Narrativa atual.

CIDADES NEGRAS E TERRITÓRIOS AFRODIASPÓRICOS: O AXÉ NA


PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO
Ronaldo Laurentino de Sales Júnior (UFCG)

Resumo: A pesquisa em andamento vem trabalhando com a hipótese da


relação significativa entre as demandas dos movimentos religiosos
afrodiaspóricos como religiões "territoriais" e a luta pelo uso e ocupação do
espaço urbano e pelo direito à cidade. A partir do levantamento da participação
de terreiros na formulação e implantação de políticas de ações afirmativas em
quatro capitais brasileiras, a pesquisa aqui apresentada se propõe a identificar
os modos de uso, ocupação e (re)produção do espaço urbano pelos terreiros,
apontando suas influências na constituição da agenda pública de promoção da
igualdade racial. A constituição desses sujeitos políticos, mediante suas
demandas sociais, está relacionada à dinâmica populacional, ao
desenvolvimento urbano e à segregação espacial de cidades como Recife,
Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. A ancestralidade, como relação entre
"negritude/africanidade", converte-se em lugar de uma tensão, conformando as
demandas dos movimentos religiosos afrodiaspóricos como religiões
"territoriais" em sua luta pelo uso do espaço urbano. Nesse contexto, o
candomblé é o que podemos denominar de "religião territorial", ou seja, os
espaços sagrados ou rituais se estendem para além do espaço do terreiro ou

26
ilê, ocupando o território circunvizinho: linha cruzada, encruzilhada fechada,
cruzamento de praia, terreiro, assentamento, ir ao chão, isolar, cruzar, abrir os
caminhos são parte de noções espaciais, por meio da qual se constrói toda
uma cartografia. Em consequência, o candomblé é altamente sensível a
processos de urbanização intensa e precária, de deslocamento forçado ou que
impliquem em alto impacto ambiental. Processos estes que exigem amplas
readaptações simbólicas das casas de axé ou podem levar à sua extinção.
Essa dinâmica influenciará a organização política dos segmentos religiosos dos
movimentos sociais negros, a formulação de suas demandas sociais e a
implantação das políticas públicas. A identidade "negro-africana" articula as
diversas identidades sociais, políticas ou religiosas do campo afrodiaspórico. O
"retorno à África" é um modo de territorialização diaspórica do espaço urbano,
condicionando a organização política dos movimentos religiosos, a formulação
de suas demandas sociais e a implantação das políticas públicas, influenciadas
pelos discursos políticos dos movimentos sociais negros, da academia e do
Estado.

Palavras-chave: Terreiros. Espaço urbano. Políticas públicas.

CONTEXTO RIBEIRO E O "ENSINO" DO PORTUGUÊS


José Maria Damasceno Ferreiro (E. E. F. E M. Tenente Rêgo Barros)
Carla Soares Pereira (E. E. F. E M.Tenente Rêgo Barros)

Resumo: O presente trabalho procura relacionar contexto/identidade/"ensino"


da língua portuguesa, em região ribeira; buscando uma postura pedagógica,
que leve em consideração, principalmente, o educando e o seu meio social,
dando maior expressão à cultura dessa sociedade, numa postura
interacionista. Para isso, deve-se romper com o rótulo escolar de disciplina e
estabelecer-se uma consciência do papel social da língua; no entanto, uma
nova didática deve provocar o choque com uma série de interesses que
advêm, principalmente, da classe dominante. Os percursos estabelecidos neste
estudo têm como fundamento a Teoria Dialógica da Comunicação, de Paulo
Freire, o qual parte do princípio de que a comunicação transforma os homens
em sujeitos de suas ações; e as teorias dos Estudos Culturais, as quais
identificam o homem como ser em constante mobilidade.

Palavras-chave: Contexto. Identidade. Ensino.

CONTRADIÇÕES E HIERAQUIZAÇÕES NAS POLÍTICAS LINGUÍSTICAS E


METAPRAGMÁTICAS DE REGULAÇÃO DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS NO
BRASIL
Ana Luiza Kruger Dias (UFG)

27
Resumo: Este trabalho resulta de projeto de pesquisa na área de Linguística
Aplicada aos Direitos Linguísticos realizado entre outubro/2014 e julho/2015, no
qual procuramos compreender a articulação entre regimes metadiscursivos e
corpos falantes em contextos migratórios, a partir da análise de políticas
linguísticas explícitas no Brasil. Considerando a relação entre as novas
dinâmicas de circulação de pessoas e línguas ao redor do globo e o
fortalecimento dos Estados Nacionais enquanto instâncias reguladoras de
fronteiras, e tomando como referencial teórico estudos sobre ideologias e
diferenciações linguísticas (BLOMMAERT, 2014; BRAH, 2006; SILVERSTEIN,
1979), investigamos como os recursos linguísticos são significados nos
instrumentos legais sobre migração no Brasil, discutindo a relevância das
políticas linguísticas vigentes na hierarquização de identidades. Para tanto,
mapeamos os registros sobre práticas linguísticas no rol da legislação
migratória brasileira (CLARO, 2015), sistematizando-os em termos de
permissões, proibições, promoções e exigências. Os resultados mostram um
pequeno e genérico número de registros legais, limitados quase
completamente a exigências de uso do português - uma incongruência diante
de um ordenamento jurídico caracteristicamente extenso e detalhado. O
aparente incentivo à assimilação do(a) estrangeiro(a) por meio do uso e
aprendizado da língua nacional, associado à neutralidade das instâncias
oficiais e à despolitização das diferenças conduz, assim, a reflexões sobre o
apagamento institucionalizado de práticas linguísticas estrangeiras
indesejáveis, acompanhado da homogeneização linguística como parte das
estratégias de controle de territórios e legitimação nacional. Desse modo,
percebe-se que, enquanto o mercado globalizado e as forças de consumo e de
textualidade digital atuam em direção oposta ao controle nacionalista e
ameaçam padrões de estabilidade e linearidade, o projeto moderno de
concepção do Estado enquanto comunidade de fala territorialmente delimitada
insiste em manter determinados parâmetros discursivos, operando por meio de
nuances institucionais e assinalando relações assimétricas de poder
construídas num contexto de globalização.

Palavras-chave: Ideologias. Linguísticas. Políticas linguísticas. Migração.

DA COLÔNIA AO BRASIL CONTEMPORÂNEO: CONSIDERAÇÕES SOBRE


A OCUPAÇÃO PREDATÓRIA DO ESPAÇO TERRITORAL INDÍGENA
Francisco Carlos Carvalho da Silva (UECE)
Geórgia Gardênia Brito Cavalcante Carvalho (UECE)

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo discorrer acerca do espaço


indígena na sociedade brasileira, observando de que maneira esse espaço tem
sido alterado, reduzido e negado. Ao longo da história do Brasil, as ações de

28
apropriação inescrupulosa dos territórios indígenas sempre foram
acompanhadas de violência extremada. No período colonial, por exemplo,
embora os dados sejam discordantes sobre o tamanho da população brasileira,
especificamente no ano de 1500; os números mais aceitos, conforme Oliveira
(apud Fragoso e Gouvêa 2014), são os do historiador John Hemming (1978).
Hemming, afirma Oliveira, tomou por base tanto as fontes quinhentistas e
seiscentistas quanto criou índices de densidade populacional consoante à
fertilidade e potencialidade de 28 nichos ecológicos em que dividiu o território
brasileiro. Como resultado, as estimativas do referido historiador apontam para
uma população de 2,4 milhões de pessoas no Brasil de 1500. Setenta anos
depois, em 1570, Oliveira afirma que a população indígena era de
aproximadamente 800 mil, ou seja, estava reduzida a um terço de seu volume
demográfico do início do século XVI. Assim sendo, "conquista", "holocausto" e
"extermínio" são lexias passíveis de definir as ações portuguesas sobre os
nativos brasileiros. Tais ações implicaram não apenas na perda da identidade,
mas também na ocupação pela força daqueles territórios que sempre foram de
domínio das inúmeras e variadas etnias habitantes da terra recém-conquistada.
Dessa forma, os nativos brasileiros, em pleno século XXI, foram transformados
em estrangeiros, quase párias, em sua própria terra, tendo sido desde então
lesados em seus direitos mais elementares. Embora, na última década, a
delimitação de reservas e o reconhecimento de terras indígenas tenha se
tornado lei, o que em tese é uma vitória para os índios; na prática, a ocupação
predatória das suas terras continua sendo feita, seja por madeireiros,
mineradoras ou usinas, por exemplo, o que ocorre, na maioria das vezes, com
o beneplácito do Estado. Como aporte teórico para o desenvolvimento desta
pesquisa, recorremos aos trabalhos de Abreu (1954), Hemming (1978), Cunha
(1992, 2009), Gomes (2008) e Fragoso & Gouvêa (2014).

Palavras-chave: Brasil. Nativos. Território.

DIFFERENTIATION AND NEGOTIATION IN JEANNETTE ARMSTRONG’S


POETRY: STRATEGIES IN BEHALF OF OKANAGAN CONSCIOUSNESS
Mariese Ribas Stankiewic (UTFPR)

Resumo: By pointing at an Indigenous community fragmented by colonization,


Jeannette Armstrong writes about the tension of walking in the city, amid loss
and absence. In doing so, the poet recentralizes the idea of that which is
marginal in order to make the dormant not only speak, but reclaim what is being
lost. In the light of Homi Bhabha's notions of hybridity and of Fred Wah's
elaborations on hyphenated identities, this work addresses a brief reading of
Armstrong's commitment to reassert her people's culture and history, while
voicing a hyphenated Okanagan discourse that may allow for reterritorialization,
that is, land/place/placement in her poetry and critical material are recreated

29
from characteristics such as race, religion, and ethnicity to shield from
homogenising Canadian nationality.

Palavras-chave: Okanagan-canadian poetry. Cultural hybridity. Hyphenated


discourse.

ENSINO E DIVERSIDADE NA FRONTEIRA: CONTORNOS FLUIDOS,


DESENHOS MÓVEIS
Fernando Vilela de Melo (UFGD)
Rita de Cássia Aparecida Pacheco Limberti (UFGD)

Resumo: Este trabalho aborda a importância do "Programa Escolas


Interculturais de Fronteira" em desenvolvimento, atualmente, na fronteira entre
Brasil e Paraguai, nas cidades-gêmeas de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero,
nas respectivas escolas "João Brembatti Calvoso" e "Defensores del Chaco".
Para a clara compreensão da necessidade do programa, faz-se, antes de sua
abordagem, a conceitualização de dois termos essenciais: "Língua Materna" e
"Fronteira". Assim, o ensino intercultural bilíngue mostra-se como importante
ferramenta para o conhecimento recíproco e o fortalecimento da identidade
fronteiriça. Com a utilização de conteúdo teórico vindo das ciências humanas,
como a Linguística, e de uma metodologia inspirada pela etnografia, que
consiste do contato entre o pesquisador e seu objeto (aqui por meio de visitas e
entrevistas com participantes do projeto), busca-se desvelar desde os motivos
pelos quais o mesmo foi implantado até seus perceptíveis
resultados. Inicialmente, verificavam-se, na escola brasileira, diversas formas
de preconceitos vividas pelos paraguaios diante dos nacionais. Não somente
pelo fato de serem estrangeiros, como também poderiam ser reforçadas por
características particulares de cada um, sobretudo, pela língua materna, o que
resultava em grave violência simbólica. Essa violência não encontrava
resistência por parte dos indivíduos que as sofriam por eles se encontrarem em
posição assimetricamente inferior àqueles que a produziam. Os mesmos são
oriundos de um país mais pobre e vêm para o Brasil em busca de melhores
condições de vida. Dentre tais condições, buscam uma melhor educação, a
qual, paradoxalmente, transforma-se em instrumento de tortura para sua
subjetividade. Por esses problemas, viu-se necessária a criação de um projeto
que buscasse estudá-los e tratá-los pela preparação do ambiente escolar de
fronteira para o recebimento de alunos estrangeiros. Consequentemente, foi
estendido às duas cidades dessa fronteira o "Programa Escolas Interculturais
de Fronteira", acordado desde 2008 entre a Argentina e o Brasil, seguindo-se a
elas várias outras cidades entre países-membro do MERCOSUL. O acordo tem
como objetivo melhorar o entendimento entre educadores e estudantes,
trazendo para o grupo dos primeiros, indivíduos da nacionalidade dos

30
segundos, e vice-versa, gerando com isso uma atenuação e o controle dos
problemas da fronteira linguística e cultural entre ambos os grupos.

Palavras-chave: Educação. Fronteira. Diversidade.

ENTRE O INGLÊS E O PORTUGUÊS: ANÁLISE DAS SITUAÇÕES


CONFLITIVAS VIVENCIADAS NA COMUNICAÇÃO ORAL INTERCULTURAL
POR NORTE-AMERICANOS NO BRASIL
Gabriel Vinícius Dangió (UFSCAR)

Resumo: Considerando a grande demanda de estrangeiros no contexto


brasileiro, realizamos uma pesquisa de iniciação científica com o objetivo de
contribuir para uma compreensão mais aprofundada sobre as relações
interculturais entre brasileiros e norte-americanos. Sob a ótica da Linguística
Aplicada e amparados por ciências de contato, como a Linguística e a
Antropologia, objetivamos com este estudo investigar quais são as situações
conflitivas vivenciadas por estadunidenses que vivem no Brasil na
comunicação oral intercultural com brasileiros (em contexto brasileiro) e como
elas se dão. Tivemos para esta pesquisa três instrumentos diferentes de coleta
de dados. O primeiro foi um questionário aplicado aos sete participantes
contendo perguntas sobre a vida pessoal e a rotina destas pessoas nos
Estados Unidos e no Brasil. Realizamos também entrevistas gravadas com
esses participantes, as quais continham muitos relatos das situações conflitivas
em questão. Por fim, alguns participantes produziram narrativas para uma
melhor compreensão acerca da vivência desses estadunidenses no Brasil. Os
dados revelaram, portanto, que apesar de o brasileiro ser bem receptivo com
os estadunidenses, alguns fatores inerentes às relações interculturais foram
incisivos nas mesmas e geraram situações conflitivas simples e complexas. Por
exemplo, o uso da língua estrangeira, tanto pelos estadunidenses como pelos
brasileiros, acarretou a formação de situações conflitivas simples, as quais
foram resolvidas apenas com um esforço maior na troca de significados. Por
outro lado, a falta de proficiência nas línguas estrangeiras tanto dos
estadunidenses como dos brasileiros acarretou na formação de situações
conflitivas graves, nas quais não havia comunicabilidade entre as partes. Do
mesmo jeito, questões etnocêntricas também comprometeram as relações
interculturais a fim de não permitir a plena comunicação entre as partes.

Palavras-chave: Situações conflitivas. Interculturalidade. Comunicação oral.

ENTRE TERRITÓRIOS, SUJEITOS E DISCURSOS, O JOGO IDENTITÁRIO


DO POVO INDÍGENA KAIOWÁ
Vania Maria Lescano Guerra (UFMS)

31
Resumo: Este trabalho vem problematizar o movimento identitário dos
indígenas guarani kaiowá, a partir do discurso do livro didático intitulado
"Kaiowá: um povo que caminha", organizado por Cledes Markus (2013) e
utilizado como guia pedagógico. Trata-se de uma oportunidade para conhecer
a história e a cultura kaiowá, por ocasião da "Semana dos Povos Indígenas",
ocorrida de 14 a 20 de abril de 2013. As teorias de cunho transdisciplinar desta
pesquisa, com base na visada discursivo-desconstrutivista, articulam estudos
de Coracini (2003, 2007), Deleuze (1992), Bhabha (1998) e Pêcheux (2009), ao
empreenderem reflexões sobre a alteridade e a desnaturalização dos
estereótipos. A coleta e a análise/discussão dos dados, fundamentadas nas
teorias e no método arqueogenealógico foucaultiano, utilizam distintos
procedimentos, a saber: (1) pesquisa em bibliografia pertinente; (2) pesquisa
documental; (3) seleção de enunciados; (4) constituição de corpus; (5) análise
de discursos (mediante seleção de enunciados e constituição de corpus), que
partem de uma representação das condições e do processo de produção do
discurso e consideram formações discursivas e os interdiscursos (CORACINI,
1991). Na relação entre memória coletiva, memória histórica e produção de
identidades, apesar de assumirmos que o passado ressurge nos discursos
didáticos, ele se configura como uma fonte para a construção, no presente, de
uma memória que fornece elementos para a construção de identidades; ele
não pode ser sujeito a qualquer apropriação. Resultados preliminares apontam
que nesse discurso manifesta-se um conjunto de questões que fomentam seu
aparecimento-acontecimento: as condições dos povos indígenas de Mato
Grosso do Sul (Brasil), as relações de poder, os interesses contraditórios, a
iminente destruição do espaço (u)tópico de nascimento desses povos. Nesses
enunciados, a disputa pela posse de terras e fronteiras ainda é o principal fator
desencadeador dos conflitos existentes entre o povo kaiowá e o branco. O
valor atribuído à terra se difere entre essas culturas: enquanto o branco
apropria-se dela, para explorá-la e tirar-lhe as riquezas, para a cultura indígena,
a terra é um bem sagrado, - por isso, deve ser preservado, pois simboliza a
vida e o seu povo.

Palavras-chave: Identidades. Discursos. Indígenas.

“EU SOU A NATA DO LIXO, EU SOU O LUXO DA ALDEIA, SOU DO


CEARÁ”: O CEARÁ COMO TERRITÓRIO DE PERTENCIMENTO EM ANA
MIRANDA
Maria Lílian Martins de Abreu (UFC)

Resumo: O presente trabalho busca averiguar o sentimento de


"pertencimento" (BAUMAN, 2005) da escritora Ana Miranda (Fortaleza, 1951) à
sua terra natal, manifestada literariamente, especialmente, no livro de crônicas

32
Deus-dará (2003) e na obra infantil Flor do cerrado: Brasília (2004). Pretende-
se verificar de que maneira o Ceará apresenta-se como um espaço geográfico-
afetivo de pertencimento da sua identidade e abrigo da sua infância. Para isso,
veremos o conceito de desterritorialização delineado por Gilles Deleuze (1925 -
1995) e Félix Guattari (1930 - 1992) e refletiremos sobre o sentimento de exílio
a partir das contribuições teóricas de Maria José de Queiroz (1934).
Discutiremos também a experiência do deslocamento no contexto atual da
globalização, problematizando o contínuo "estar em trânsito" da escritora, a
partir dos estudos de Zygmunt Bauman (1925) e Stuart Hall (1932-2014).
Entendemos como um dos resultados obtidos neste estudo, o papel da
memória na construção do sentimento de louvação da sua cearensidade, que,
amparado nas recordações de infância, transcreve uma cartografia sentimental
dos diferentes locais que a escritora percorreu ao passo que ratifica sua
identidade. Neste transcurso literário perpassam impressões e reminiscências
ligadas à sua biografia, despertadas a partir de impressões multissensoriais.
Essa memória, ligada ao pertencimento e aos cinco sentidos, cria no trabalho
ficcional da autora uma lírica narrativa de saudades, influenciando, assim, na
criação e recriação da imagem do Ceará de sua meninice e aquela
representada em seus textos literários. Norteia a presente investigação, a
tentativa de perceber de que forma os conceitos de pertencimento, identidade,
desterritorialização, memória e exílio podem ser pensados também à luz da
Teoria Literária. É relevante, ainda, mencionar a investigação do universo
ficcional de Miranda como contributo da difusão das pesquisas sobre os
escritores contemporâneos, sobretudo, os cearenses em âmbito acadêmico.

Palavras-chave: Território. Pertencimento. Identidade.

IDEOLOGIAS LINGUÍSTICAS EM CONTEXTO DE MIGRAÇÃO


QUALIFICADA NO BRASIL: O CASO DO PROGRAMA MAIS MÉDICOS
Daniella do Amaral (UFG)

Resumo: A pesquisa apresentada pretende discutir a relação entre ideologias


linguísticas e identidade a partir dos estudos sobre metapragmática e
interseccionalidade (categorias de diferença) em contexto de migração
qualificada no Brasil, especificamente as migrações associadas ao Programa
Mais Médicos. O que se objetiva é explorar, conforme Bucholtz e Hall (2004, p.
369), o movimento de produção e reprodução de "identidades específicas por
meio do uso da linguagem" e articular as ideologias linguísticas e os
marcadores de diferença encontrados em contextos de migração. A pesquisa
advém da compreensão de que a naturalização de muitas das fronteiras
construídas por determinados grupos sociais foram possíveis, sobretudo,
devido às ideologias linguísticas representativas e recorrentes nesses grupos.
Além disso, admite-se que tanto os estudos sobre metapragmática quanto os

33
estudos sobre interseccionalidade fundamentam a discussão sobre ideologias
linguísticas e identidades em contexto migratório. Cabe aqui considerar o
corpus a ser utilizado neste estudo qualitativo de base documental, a saber,
textos públicos brasileiros multimodais de circulação ampla e variada relativos
ao Programa Mais Médicos, um programa implementado pelo governo
brasileiro que inclui, entre outras ações, uma política migratória (nacional e
transnacional). Diante disso, tem-se por questão norteadora da pesquisa: como
as ideologias linguísticas e de marcação dos corpos (categorias de diferença)
se articulam em contexto de migração de mão-de-obra qualificada,
principalmente no contexto do Programa Mais Médicos? Por fim, admite-se a
necessidade de se extrapolar as projeções ideológicas sustentadas pelo
processo de midiatização a partir da comunicabilidade mediada a fim de
compreender e, mais que isso, transformar e/ou atualizar o movimento de
produção e reprodução das identidades culturais e sociais nacionais
dominantes difundidas e assimiladas por meio da linguagem e da diferenciação
dos corpos em contextos de migração qualificada e planejada, como é o caso
do Programa Mais Médicos.

Palavras-chave: Ideologias linguísticas. Migração. Programa Mais Médicos.

IMAGENS DE SI PROJETADAS NO DISCURSO JORNALÍSTICO DA


AMÉRICA LATINA: A TRADIÇÃO EDITORIALÍSTICA DO JORNAL DO
BRASIL E DO CLARÍN NOS SÉCULOS XX E XXI
Lucineudo Machado Irineu (UFC)

Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar como se configura


diacronicamente o conjunto de múltiplas imagens de si projetadas em editoriais
do Jornal do Brasil e do Clarín que tratam de questões relacionadas à
identidade cultural de países que integram a América Latina, entre os anos de
1945 e 2014. Para tanto, debruçamo-nos sobre os conceitos de ethos e de
tradições discursivas a partir dos postulados de Maingueneau (2008a, 2008b) e
de Kabatek (2001, 2005) no âmbito da Análise do Discurso e da Filologia
Românica, nesta ordem. De início, tratamos de situar teoricamente os referidos
requisitos conceituais para, em seguida, analisar a configuração dos múltiplos
ethé que são projetados no discurso jornalístico dos dois periódicos
investigados, entre os séculos XX e XXI, em um exercício epistemológico
transdisciplinar que intitulamos filologia do discurso.

Palavras-chave: Identidade. América latina. Tradições discursivas.

34
INDÍGENAS NO FACEBOOK: NOVOS LOCI DE INTERAÇÃO
TRANSIDIOMÁTICA E DE PERFORMANCES IDENTITÁRIAS
FRONTEIRIÇAS
André Marques do Nascimento (UFG)

Resumo: Nos estudos da linguagem de tradição ocidental, as chamadas


sociedades indígenas têm sido foco de análise sob duas diferentes
perspectivas hegemônicas que compartilham a pressuposição de que há uma
relação unívoca e estável entre língua, povo e cultura: a da descrição das
características sistêmico-estruturais de suas línguas; e a de uma vertente
sociolinguística tradicional que, na maior parte dos estudos que a constitui,
busca apresentar a situação das chamadas línguas indígenas em contínuos
classificatórios cujos pólos vão da vitalidade funcional à extinção e morte,
passando por diferentes situações e níveis de ameaças externas. Em ambas
as vertentes, pode-se facilmente inferir a necessidade epistemológica de uma
prefiguração identitária da pessoa indígena que a prende em limites fundados
em uma modernidade eurocentrada. Visando a uma abordagem menos
essencialista e mais coerente com a contemporaneidade indígena, este
trabalho analisa, sob o pano de fundo da sociolinguística da mobilidade e de
estudos descoloniais latino-americanos, como a apropriação de infraestruturas
de globalização por comunidades e pessoas indígenas tem gerado novos
ambientes de interação comunicativa transidiomática, bem como visibilizado
dimensões identitárias híbridas, fronteiriças e contextualmente posicionadas.
Partindo do pressuposto de que os processos de construção de identidades
envolvem atividades semióticas de (auto)representação, a análise aqui
apresentada enfoca elementos de discursos que se emergem em mensagens
postadas publicamente no Facebook por pessoas indígenas e busca destacar
como, num movimento dinâmico, tais textos tornam-se elemento de afirmação
e valorização de uma identidade indígena mas, ao mesmo tempo, que estas
identidades são diversas, híbridas e não essencializadas, o que se reflete e se
constitui no uso de recursos linguístico-discursivos diversos, seja das
chamadas línguas indígenas, seja de línguas não indígenas, como o português
e mesmo o inglês, bem como de outros recursos multimodais.

Palavras-chave: Globalização. Identidade indígena. Práticas transidiomáticas.

MIGRANTES NOS (DES)FOCOS DA MÍDIA DIGITAL E TELEVISIVA NO


PAÍS
Marilda do Couto Cavalcanti (UNICAMP)

Resumo: O foco desta apresentação está no fenômeno da mobilidade em


tempos de avanço no campo do acesso à informação e à comunicação
transnacional e em tempos de globalização (Sousa Santos, 2012). O interesse

35
específico da investigação está em como a mídia (principalmente, a disponível
digitalmente) apresenta os migrantes recebidos no país em caráter humanitário
(ou como refugiados). Esse interesse se estende ao espaço de posts que
geralmente segue as notícias disponibilizadas online. A pergunta de pesquisa
que direciona este estudo qualitativo-interpretativo é: como, quando e de que
modo a mídia brasileira online, grande ou alternativa, focaliza e narra os
migrantes (e seus repertórios linguísticos) nas ondas migratórias recentes? Se,
na mídia investigada, há espaço para comentários (posts), o que dizem os
internautas? A geração de registros foi realizada em sites de jornais e canais
de TV, contudo, para esta apresentação, vou me deter a um recorte feito na
mídia comercial no período entre 2013 e 2015. A análise dos dados, ora em
andamento, vem indicando uma invisibilização desses migrantes no país. Ou
seja, as notícias na TV aparecem, esporadicamente, e muitas vezes, de forma
rápida, na esteira de manchetes sobre a crise dos refugiados na Europa ou,
então, na esteira de manchetes sobre o aumento do desemprego no país. Na
mídia online, encontra-se mais informação. Quanto aos posts até agora
compilados, nota-se, de um lado, uma mistura de onda de solidariedade, às
vezes, com notas de condescendência, e, de outro lado, uma reação negativa
aos migrantes/refugiados no Brasil. Essa reação negativa é atravessada por
comentários tanto xenofóbicos (ideologia nacionalista) como racializados
(ideologia de inferiorização do outro, empobrecido, enegrecido, usurpador de
empregos). O estudo, situado na (vertente Indisciplinar, Moita Lopes, 2006, da)
Linguística Aplicada, utiliza os seguintes conceitos teóricos: narrativas
(Threadgold, 2005), ideologias (Woolard, 1998), racialização (Butler, 1990),
multilinguismo (Martin-Jones et al, 2012), conceitos esses presentes nas
discussões sobre uma nova sociolinguística que contemple a complexidade
(Blommmaert, 2014, entre outros autores). Em relação ao olhar sobre a mídia,
a base é Briggs (2011) e Jackemet (2005).

Palavras-chave: Migrantes. Ideologias. Invisibilização.

MUDANÇA DE PELE: A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO PÓS-COLONIAL NA


OBRA MAYOMBE, DE PEPETELA
Maiane Pires Tigre (UESC)
Karoline Vital Góes (UESC)

Resumo: O romance Mayombe, de Pepetela apresenta um painel social e


político do processo de libertação de Angola, fazendo entrever o conjunto de
fraturas expostas da sociedade angolana: tribalismo, sexismo, socialismo,
corrupção e ingerências no seio do Movimento Popular de Libertação de
Angola (MPLA). Tomando como objeto o romance Mayombe, o trabalho
propõe-se a analisar a construção do sujeito pós-colonial na obra supra,
através da metáfora "mudança de pele", elegendo como ponto fulcral das

36
discussões, a experiência da construção do sujeito angolano pós-colonial no
seio da luta de independência de Angola. A inevitável "mudança de pele" surge
à proporção que são questionadas a usurpação do território e dos sujeitos
angolanos pelo colonialismo e capitalismo português, revelando um novo
sujeito inserido em uma geografia específica do pós-colonial. O trabalho possui
capital importância visto que inaugura uma discussão sobre a metamorfose do
sujeito colonial para pós-colonial, a partir da metáfora empregada Mudança de
pele, ilustrando a transformação sofrida pelo sujeito pós-colonial. De cunho
bibliográfico, a pesquisa fundamenta-se no campo dos Estudos culturais e Pós-
coloniais. A grande eloquência demonstrada por Pepetela na obra Mayombe
(1980) reúne em si os esforços de um autor emblemático, dentro e fora da
história. Além disso, Pepetela traz a lume, a própria trajetória política
demonstrada a partir da escrita, de modo particular, com Mayombe, já que
Pepetela participou pessoalmente da Guerra de Independência de Angola,
entrelaçando o escrito ao vivido na obra em apreço. Na obra Mayombe, de
Pepetela projeta-se um sujeito que renasce e se redescobre em meio a uma
Angola destruída pela guerra colonial e pela guerra civil, apresentando esse
sujeito "com uma nova pele", sob a nova roupagem do pós-colonial, não
fechado, acabado, mas em constante mutação política, cultural, social,
metaformoseando-se cada vez que as circunstâncias e o arranjo da Angola
atual o exigirem.

Palavras-chave: Sujeito. Pós-colonial. Angola.

O PROCESSO IDENTITÁRIO NO DISCURSO CIENTÍFICO SOBRE AS


PLANTAS MEDICINAIS
Carla Andreia Schneider (UFGD)
Rita de Cássia Aparecida Pacheco Limberti (UFGD)

Resumo: Historicamente, o uso de plantas medicinais sempre ocorreu em


nossa sociedade, tendo sido o principal recurso terapêutico no passado para
tratamento da população. No Brasil, foram e ainda são amplamente utilizadas
pelos povos indígenas e, atualmente, há notável crescimento, no meio
acadêmico, no número de pesquisas com abordagem etnodirigida procurando
explicar o potencial terapêutico das plantas medicinais ou de seus princípios
ativos. Dessa forma, este estudo tem por objetivo descrever, a partir de uma
abordagem teórica da Semiótica greimasiana, o processo identitário resultante
do encontro étnico-racial entre a comunidade acadêmica e a comunidade
indígena com relação ao conhecimento sobre as plantas medicinais
(conhecimento científico versus conhecimento tradicional), nos resumos de
trabalhos científicos sobre as plantas medicinais produzidos pela comunidade
acadêmica de Dourados-MS com abordagem etnodirigida. O corpus constituiu-
se de seis resumos científicos provenientes de Trabalhos de Conclusão de

37
Curso e de pesquisas publicadas online em anais de eventos científicos em
Dourados-MS. Os resultados mostram que a construção da identidade
apresentada no discurso científico sobre as plantas medicinais apresenta-se
como consolidada e generalizada no estereótipo do especialista competente
que ora evidencia mais claramente o conhecimento científico como legítimo e
apropriado, ora sutil, quando atua apenas como inventariante, colocando-se
como resgatador, registrando, catalogando e preservando o conhecimento
tradicional. Essa identidade foi construída para movimentar-se no espaço social
por meio de um comportamento autorizado para informar, contribuindo para
reforçar a autoridade e legitimidade do conhecimento científico sobre o
conhecimento tradicional. Dessa forma, o processo identitário construído no
discurso científico sobre as plantas medicinais revela o conflito das identidades
entre as comunidades indígena e científica, assim como a busca pela
agregação das culturas no processo identitário resultante desse encontro
étnico-racial, porém, a assimilação promovida pelo conhecimento científico é
preponderante.

Palavras-chave: Discurso. Identidade. Plantas medicinais.

PORTUGUÊS DE QUEM PARA QUEM? BARREIRA LINGUÍSTICA COMO


MARCA CORPORAL NAS ATAS DO CONSELHO NACIONAL DE
IMIGRAÇÃO
Joana Plaza Pinto (UFG)

Resumo: Este trabalho visa discutir a articulação entre regimes


metadiscursivos e indexicadores metapragmáticos sobre línguas, referentes a
contextos de mobilidade nacional ou transnacional no Brasil, e as
diferenciações corporais marcadas nesses regimes e indexicadores e sua ação
performativa no acesso a direitos linguísticos para migrantes. O material
selecionado para este trabalho são as atas do Conselho Nacional de Imigração
(CNIg), órgão do Ministério do Trabalho e Emprego do Estado brasileiro. Foram
analisadas 94 atas publicadas de 16 de fevereiro de 2004 a 10 de dezembro de
2013. Os resultados mostram que há uma exigência da língua portuguesa para
certos grupos de migrantes, outros estão autorizados a conduzir suas
interações oficiais (faladas ou escritas) em língua inglesa. Para alguns, a
ideologia do monolinguismo (aqui se fala português): o "estrangeiro" (leia-se,
haitianos, bolivianos, cubanos) deve aprender o português; para outros, a
ideologia do inglês como língua franca: o "estrangeiro" (leia-se, asiáticos e
europeus) só precisa saber o inglês. Essa ideologia do monolinguismo não se
limita a centralizar o português como língua evidente nacional, mas também
pressupor o conhecimento amplo e homogêneo de práticas letradas: folhetos
informativos e cartilhas de orientação do CNIg são os principais materiais de
mediação entre as leis nacionais e "o estrangeiro", mesmo que eventualmente

38
sejam bilíngues. Além disso, nas atas são evidenciadas ideologias sobre
falantes nacionais: há a presunção de que brasileiro "de rincões do país" não
sabe sequer falar português, "quanto mais escrever". O monolinguismo seletivo
para certos grupos de estrangeiros se combina com a centralidade da escrita
na descrição das competências de falantes que importam no cenário nacional.
Para os que devem aprender o português, os desafios da mobilidade
(estrangeira ou nacional) e a centralidade da escrita como forma de
comunicação. Que fator(es) é(são) usado(s) para determinar que corpos para
que ideologias? Há uma corporificação da legitimidade
linguística/comunicacional, combinada com certas hegemonias sobre língua no
Brasil, daí a centralidade do letramento na avaliação de falantes e na "solução"
para problemas de contato linguístico. Trata-se de um campo de disputas de
representações em que o racismo é um forte componente nessas disputas,
uma xenofobia seletiva articulada com as hierarquias raciais no Brasil, assim
como o monolinguismo. Há a passagem entre avaliações identitárias e
avaliações linguísticas, das identidades (racismo, sexismo, xenofobia) para as
ideologias linguísticas, e a "barreira linguística" é enfrentada como uma marca
corporal.

Palavras-chave: Mobilidade. Ideologias linguísticas. Monolinguismo.

SELFIES E CIBERCULTURA: UM TERRITÓRIO IDENTITÁRIO


Dina Maria Martins Ferreira (UECE)
Tibério Caminha (UECE)

Resumo: Neste artigo, visamos demonstrar que o computador não é apenas


um instrumento tecnológico, mas um território cultural, a cibercultura, em que a
interação social se processa. O computador não seria considerado uma
prótese para o desenvolvimento das habilidades humanas, conforme afirma
Mey (2006), prótese esta que exigiria um processo de adaptabilidade entre o
'real' e o 'virtual', até porque nesta adaptabilidade o instrumento mudaria de
tarefa em um espiral infinito (SALOMON, 1993). Não negamos que as redes
sociais não estão consubstanciando um indivíduo, mas representando uma
persona, aquele que escolhe se posicionar nessa ou naquela rede social, para
demonstrar o que deseja ser aos olhos dos outros. E, em nosso objeto de
estudo, a selfie representaria a mis-em-scène de si mesmo, em cujo território (o
computador/espaço da cibercultura) estaria a partilha do sensível (RANCIÈRE,
2002), passível de dar conta da interação social. E nesse sentido, a tecnologia
não seria apenas um meio-instrumento, mas uma mensagem de re-
encantamento identitário de uma geração pós-moderna que emerge, cujas
mensagens que se estruturam pelo conhecimento de um espaço cultural -
cibercultura. Sendo assim, podemos considerar a cibercultura como o território
identitário da pós-modernidade.

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Palavras-chave: Cibercultura. Identidade. Território.

TERRITÓRIO NEGRO NO DISCURSO INSTITUCIONAL EM UMA


INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Marcelle Arruda Cabral Costa (UFC)

Resumo: O trabalho apresenta um recorte de uma pesquisa de doutorado, que


a partir de uma pesquisa-ação investigou, de forma colaborativa - com
professoras da educação infantil -, estratégias para a Educação das Relações
Étnico-raciais empreendidas nessa escola entre os anos de 2007 e 2013.
Pretendemos suscitar reflexões sobre as fronteiras encontradas nos discursos
presentes na escola que, herdeiros do racismo historicamente enraizado em
nosso país, propagam a manutenção das diferenças de maneira
escandalosamente invisível, recaindo sobre a educação das relações étnico-
raciais de maneira inversa a prevista em lei, ou seja, nutrindo a discriminação e
o racismo. Em nossa análise nos debruçamos sobre as estratégias didáticas
escolhidas para intervenção junto às crianças de 3 a 6 anos, em um evento
comemorativo, na "Semana da Consciência Negra", em 2007, na cidade de
Fortaleza. A perspectiva da Análise do Discurso (MAINGUENEAU, 1989, 1997;
FARACO, 2009) oferece-nos lentes para garimpar esses sentidos fortemente
ancorados nas condições imediatas da produção discursiva. As relações
dialógicas para a Análise do Discurso não coincidem com o diálogo concreto,
sendo mais amplas e complexas. Reconhecendo que o dizer é um lugar
habitado que replica ou confirma outros ditos, os resultados apontam que
muitas vezes as estratégias metodológicas escolhidas pelos professores para a
Educação das Relações Étnico-raciais são orientadas pela lógica da
branquitude (BENTO, 2002), alimentada pela ideologia do branqueamento e o
mito da democracia racial, os quais atuam no imaginário de grande parte de
nossa população. No entanto, ultrapassando a perspectiva binária, foi evidente
que um mesmo educador pode construir práticas pedagógicas menos ou mais
democráticas. A própria metodologia investigativa, que permitiu que as
educadoras analisassem suas próprias práticas, foi indicativa de outro
resultado: a relevância da formação em serviço, com estratégias que alcancem
o sensível e que possam apoiar as professoras em seus anseios e dúvidas na
prática diária.

Palavras-chave: Racismo. Branquitude. Educação Infantil.

A “ANTROPOLOGIA DEL PAESAGGIO” DE EUGENIO TURRI (1974): UM


LIVRO PARA INDIVIDUALIZAR O VISÍVEL PELA GEOGRAFIA DA
EXPLORAÇÃO CENTRADA NA PERCEPÇÃO E NO SIMBOLISMO

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Margarida do Amaral Silva (UFG)

Resumo: Esta proposta de estudo está sendo finalizada no estágio pós-


doutoral desenvolvido na Faculdade de Artes Visuais/FAV da Universidade
Federal de Goiás. O objetivo inicial é gerar produtos resultantes da leitura e da
compreensão do livro Antropologia del Paesaggio, uma das principais obras de
Eugenio Turri, pesquisador da geografia cultural que está entre os mais
relevantes da Itália, tanto por sua vasta bibliografia, quanto por ser um dos
responsáveis pela renovação da geografia que se iniciou nas décadas de 1960
e 1970. Trata-se de um estudo que almeja a observação e a compreensão da
paisagem em um material que ainda é desconhecido do público brasileiro, já
que o exposto nessa obra de Turri pode se tornar relevante para estudiosos da
cultura na medida em que tem como temática uma apreciação
geoantropológica dos componentes e motivações culturais que orientam a
leitura paisagística. Mais precisamente, o que está em vista é o
encaminhamento de uma investigação iniciada desde a tradução informal do
livro até o desfecho do projeto com a produção de material bibliográfico sobre
essa temática. Este estudo então se dedica à compreensão da proposta
apresentada em Antropologia del Paesaggio, na medida em que este livro
propõe a existência do olhar revestido pela posição espacial que ocupamos em
nível topográfico, psicológico e social. Ademais, este estudo está se
aprofundando no princípio veiculado por Eugenio Turri, segundo o qual a leitura
das paisagens é, de certo modo, uma construção social da realidade, o que
transforma a paisagem em representação no corpus dos ambientes de cultura
em que esteja estabelecida como realidade física e psicossocial. O que se
pretende, finalmente, é divulgar a temática de um livro transdisciplinar e
bastante expressivo, dentro da geografia cultural italiana, uma vez que ele nos
apresenta um trabalho desenvolvido a partir do que Turri denominou de
"antropologia da paisagem", ou seja, a possibilidade correlação da leitura
paisagística ao papel humano de reconhecimento e interpretação dos
componentes culturais de um território por meio de um expoente cognitivo.

Palavras-chave: Antropologia da paisagem. Leitura paisagística. Componen-


tes culturais.

PODER E DOMINAÇÃO NA FRONTEIRA DO ENTRELUGARES DE


MASSANGANA
Gilvânia Bergamo Moratto (UNIR)
João Carlos Gomes (UNIR)

Resumo: O presente estudo busca refletir sobre o modo como se formam os


sujeitos nos 'entre lugares' com base nos excedentes da soma das partes da
diferença no contexto cultural comunidade de Massangana, localizada no

41
Município de Monte Negro, região central do Estado de Rondônia, distante
cerca de 220 quilômetros ao sul da Capital do Estado, Porto Velho. A
comunidade de Massangana encontra-se numa região que abriga os principais
depósitos de estanho de cassiterita da Província Estanífera de Rondônia que
foi base de intensa atividade de mineração por cerca de 40 anos. O estudo
propõe um passeio pela ambivalência das fronteiras do entre lugares de
Massangana que contribui para o processo de hibridizada cultural no processo
de ocupação do norte do Brasil. A partir do olhar dos estudos culturais pós
críticos, este estudo propõe a desconstrução das histórias escritas no processo
de colonização na Amazônia. Massangana como um dos lugares de
hibridização da cultura amazônica passou por intensos processos de
colonização ocasionando vários momentos de diásporas relacionado as
ambivalências culturais do bioma amazônico. Na fronteira dos estudos culturais
relacionados a território, fronteira e etnicidade Massangana possui marcas
culturais constituídas pelos povos indígenas, seringueiros, ribeirinhos, entre
outros. Neste arco íris de cores das identidades culturais dos processos de
hibridização do bioma amazônico o presente estudo mostra as fronteiras dos
entre lugares de Massangana.

Palavras-chave: Pós-Colonialismo. Território. Massangana.

REPRESENTAÇÕES E ESTEREÓTIPOS LEGITIMADOS


EM DISCURSOS OFICIAIS
Eliane Valente de Araújo (UNIR)

Resumo: O processo de colonização em países pós-coloniais continua


presente na atualidade exercendo seu poder através de discursos que foram
institucionalizados no passado, mas que se mantêm vivos no momento
presente. Nesses discursos, conserva-se um olhar hegemônico que busca
identificar o colonizado a partir de visões superficiais e estereotipadas. O
poema "Céus de Rondônia" de autoria de Joaquim Araújo Lima, oficializado
como Hino de Rondônia na década de 80, apresenta bem essa realidade, pois
nele ecoa-se a voz do colonizador que através de seu discurso busca justificar
suas ações. Esse hino constitui representações parciais sobre esse estado a
partir de uma perspectiva de exploração, camuflada em exotismo,
nacionalismo, religiosidade e incentivo à visão desenvolvimentista. Destacam
as belezas naturais dessa região e o sentimento de posse sobre ela. É o
colonizador determinando como a "colônia" deve ser vista, identificada.
Predomina-se um discurso em primeira pessoa, voz que se denomina como a
do próprio pioneiro, bandeirante, desbravador e possuidor dessas terras e
consequentemente de todas as riquezas que podem ser exploradas. Diante
disso, propõe-se analisar o referido hino através de um estudo qualitativo, de
cunho exploratório, com uma abordagem teórico-metodológica realizada a

42
partir de contribuições da Crítica Pós-colonialista e da Análise do Discurso de
linha francesa. Perceber a presença desse discurso colonial em textos oficiais
como o hino analisado torna-se importante para se buscar compreender como
foi forjada a identidade dessa região e como essas representações perduram
até os dias atuais. Esse é o primeiro passo para se pensar na construção de
novos discursos que possam contra argumentar, combatendo-se estereótipos e
preconceitos.
Palavras-chave: Discursos oficiais. Representações. Estereótipos.

43
EIXO TEMÁTICO 2 – CORPO, SAÚDE E IDENTIDADE

ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA E SEMIÓTICA SOCIAL: UMA


PROPOSTA PARA A COMPREENSÃO DE IDENTIDADES EM CONTEXTOS
DE SAÚDE
Claudênia de Paula Lemos (UFC)
Rebeca Sales Pereira (UFC)

Resumo: Neste trabalho, apresentamos duas abordagens teórico-


metodológicas de caráter interdisciplinar, fundamentadas, primordialmente, na
existência de uma relação dialética entre linguagem e sociedade, as quais
possuem como disciplinas de base, sobretudo, a Linguística e as Ciências
Sociais. Trata-se da Análise de Discurso Crítica (ADC), proposta por Norman
Fairclough (2001; 2003) e da Semiótica Social desenvolvida por Kress e Van
Leeuwen (1996). Ambas pretendem estabelecer métodos para estudar como a
linguagem é utilizada em determinados contextos sociais e culturais,
focalizando as relações de poder e as construções identitárias que se realizam
em tais contextos através das práticas sociais. Nosso intuito é apresentar uma
proposta de estudo que contemple categorias analíticas que subsidiem o
entendimento da construção social das identidades de atores sociais em um
contexto específico: as relações entre profissionais e usuários nos postos de
atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso, discorreremos
especificamente acerca do significado identificacional do discurso proposto
pela ADC e da função interativa da Gramática do Design Visual (GDV)
proposta pela Semiótica Social. Através dessas abordagens, mostraremos as
categorias analíticas que podem ser identificadas nas múltiplas manifestações
semióticas da linguagem, tanto por traços linguísticos quanto não-linguísticos,
que permitem perceber os estilos e modos de interação presentes na relação
entre profissionais e usuários do SUS. Assim, mostraremos como aportes
teórico-metodológicos, fundamentados em estudos linguísticos, podem ser
utilizados para realizar investigações empíricas de questões sociais,
especificamente, como o estudo de processos de identificação em contextos de
saúde, pode apontar assimetrias de poder no processo interativo entre os
atores sociais desse contexto.

Palavras-chave: Análise de Discurso Crítica. Semiótica Social. Identidades.

A PÍLULA DA EFICIÊNCIA: A MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA NA


CONTEMPORANEIDADE
Raimundo Edmilson Pereira Silva Junior (INCERE)

Resumo: O vertiginoso fenômeno de medicalização da vida assola a


sociedade contemporânea, alcançando índices até então impensáveis há

44
alguns anos. O avanço da ciência, mais precisamente nos campos da
biotecnologia e da medicina, tem fomentado um movimento de psiquiatrização
da vida cotidiana e de psicopatologização do mal-estar subjetivo. A pluralidade
de abordagens, que outrora gozavam de reputação frente às vicissitudes
individuais, declina diante das concepções fisicalistas, reduzindo-as à sua
dimensão orgânico-biológica. Assistimos a uma série de ofertas e procuras no
campo do desenvolvimento de potencialidades e habilidades. Nestas
condições, o corpo, em sua materialidade, é tomado como objeto de
investigação, diagnóstico e medicalização. Uma lógica semelhante se estende
ao corpo infantil, associada a descrições psicopatológicas, ganhando espaço
na grande mídia. O presente trabalho pretende analisar o fenômeno da
medicalização da infância, especialmente, a partir de uma categoria nosológica
que desponta no discurso médico, se expandindo velozmente às outras áreas
não-médicas: o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Comumente associado à categorização diagnóstica e utilizado amplamente no
tratamento do TDAH, o cloridrato de metilfenidato, conhecido como ritalina,
desponta um crescimento exponencial de sua prescrição. Segundo relatórios
da ONU, sua produção mundial cresceu em torno de 357% entre os anos 1996
e 2012. Nesse mesmo período, sua comercialização no Brasil, saltou de 9 Kg
para 578 Kg, significando um aumento de aproximadamente 6.322%.
Portanto, partimos de uma reflexão de natureza eminentemente teórica,
baseada numa crítica de cunho psicanalítico, dialogando com dados
quantitativos coletados em diversos âmbitos. Considera-se que o TDAH é
ilustrativo do processo de psiquiatrização e psicopatologização do infantil,
evidenciando o lugar deste na contemporaneidade marcado pelas demandas
de adequação e de desempenho que orbitam na dinâmica social.

Palavras-chave: Psicanálise. Medicalização. Infância.

ASPECTOS IDENTITÁRIOS NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA:


DUAS ABORDAGENS ETNOGRÁFICO-DISCURSIVAS
Rebeca Sales Pereira (UFC)
Claudênia de Paula Lemos (UFC)

Resumo: Neste trabalho, apresentamos duas abordagens de análise dos


discursos presentes no contexto do Programa de Saúde da Família (PSF),
advindas de nossa participação no projeto de pesquisa "O dialogo como
instrumento de intervenção de profissionais da saúde na relação com
pacientes", financiado pela FUNCAP e coordenado pela Profa. Dra. Izabel
Magalhães na Universidade Federal do Ceará. As teorias que norteiam nossa
pesquisa são a Análise de Discurso Crítica, postulada por Fairclough (2001;
2003), com foco no significado identificacional do discurso, e uma proposta de
análise que alia os estudos críticos do discurso à teoria da Multimodalidade e

45
ao método de análise da Gramática do Design Visual (GDV), cujos maiores
representantes são Kress e Van Leeuwen (1996). Ambos focos analíticos
apontam para a construção social das identidades de atores sociais em relação
à saúde no Sistema Único de Saúde, destacando a importância da etnografia
como método de imersão do pesquisador no campo de pesquisa e de sua
compreensão ampla das questões que lhe são inerentes. Para compreender
aspectos identitários dos atores sociais envolvidos no contexto pesquisado,
analisaremos o discurso em entrevistas semi-estruturadas com usuários e
profissionais de saúde e em cartazes disponibilizados nas unidades básicas de
saúde de municípios do Estado do Ceará. Os dados dessa pesquisa fazem
parte do conjunto de artefatos fotografados e gravados em áudio durante
visitas feitas aos postos de saúde dos municípios de Crato, Fortaleza,
Pacatuba e Salitre, selecionados pelo projeto de pesquisa que integramos. Os
resultados apontam que o significado identificacional dos cartazes analisados é
construído por meio de uma relação entre o discurso preventivo e a prática
social de informar preconizados pelo PSF, sendo o "prevenir" um ato
característico da identidade dos usuários do PSF e o "informar" um ato
característico da identidade dos profissionais e do próprio PSF. Quanto aos
discursos em entrevistas, as identidades revelam-se a partir de
posicionamentos avaliativos acerca do PSF. Destacamos que esses são
resultados parciais de duas dissertações de mestrado em andamento e que
novos aspectos podem surgir com o aprofundamento da questão e de estudos
sobre a relação entre identidades e contextos de saúde.

Palavras-chave: Análise de Discurso Crítica. Significado identificacional.


Multimodalidade.

CONEXÃO ANTICÂNCER - UM PROJETO TRANSMÍDIA QUE ATUALIZA O


DISCURSO DE SIGNIFICAÇÃO DA RELAÇÃO DO PACIENTE COM A
DOENÇA
Lisiane Fagundes Cohen (UNISINOS)

Resumo: A presente pesquisa parte do livro "Conexão Anti-câncer: as


múltiplas faces do inimigo interno", do oncologista James Fleck. A publicação
conta 13 histórias ficcionais de pacientes que tiveram câncer e que utilizaram
uma nova postura proposta pela oncologia, chamada de "decisão
compartilhada", que coloca o paciente como agente ativo nas decisões sobre
seu tratamento. Acredita-se que a sua participação de forma ativa traz grandes
benefícios e resultados positivos para o tratamento da doença. A fim de que o
projeto ultrapassasse as páginas do livro, foi proposto um projeto transmidiático
que expandisse o conteúdo para um site, uma série de televisão e um jogo
digital. O primeiro, já concluído, tem o objetivo de ser uma fonte de informação
cotidiana baseado em conteúdo acadêmico, que vai muito além do que é

46
divulgado pela mídia tradicional, pois está sempre atualizado com as pesquisas
do campo. Além disso, possui espaço para reunir profissionais da área,
familiares e pacientes em tratamento, em torno de inovações relacionadas ao
combate da doença. Para a proposta transmidiática, foi desenvolvido um
projeto de série para televisão com 13 episódios de 26 minutos cada. A série
venceu o edital PRODAV/TVE/2014 e será produzida em 2016. Os roteiros
foram inspirados no livro e criaram um universo médico com o oncologista
como protagonista e a cada episódio, há um paciente e um tipo de câncer que
reforçará esta nova postura e relação médico-paciente que coloca este como
co-protagonista no tratamento da doença. A série, em função do formato e do
tempo determinado de cada episódio, não abordará os detalhes do tratamento.
Para que se complete a informação às pessoas, objetivo desta pesquisa está
sendo desenvolver um game, no qual o jogador é o paciente e vivencia o
tratamento onde suas decisões determinarão o caminho do personagem. Os
resultados preliminares apontam para a ressignificação da identidade do
paciente com câncer, que demonstram incrementos nos índices de resposta ao
tratamento na clínica do Dr. James Fleck, com tempo de sobrevida cerca de
82% acima dos índices norte-americanos.

Palavras-chave: Identidade. Câncer. Transmídia.

CORPO E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NOS TEMPOS


HIPERMODERNOS
Crislanny Fonteles da Silva (UFC)
Gabrielle Lima Feitosa (UFC)
Evelyn Cristina de Sousa Penas (UFC)
Raissa Sousa Osterno (UFC)
Renata Eudócia Melo Barreto (UFC)
Jurema Barros Dantas (UFC)

Resumo: O presente trabalho pretende apresentar uma discussão sobre a


relação do corpo e os processos de construção da identidade no contexto da
contemporaneidade a partir de uma visão fenomenológica hermenêutica. Esse
estudo faz parte de uma pesquisa vinculada ao LAPFES - Laboratório de
Estudos em Psicoterapia, Fenomenologia e Sociedade do Departamento de
Psicologia da UFC, sobre o processo de construção da autoimagem e sua
intrínseca relação com o fenômeno do culto ao corpo nos tempos
hipermodernos a ser realizada em sete academias de ginástica em fortaleza
por meio de questionário estruturado com questões fechadas e abertas. O
estudo traz um destaque à temática dos enlaces do corpo com as questões da
identidade, tendo como base analisadora a condição do corpo enquanto
visibilidade social, ou melhor, a condição do corpo como imagem - tornando-o
objeto primordial no mercado de consumo, cujas estratégias se orientam para a

47
preservação da saúde e o aperfeiçoamento da aparência. O corpo, marcado
pelo surgimento de um novo imaginário social, torna-se matéria-prima para a
construção da identidade. Atualmente, imerso no cenário do excesso e da
urgência, como bem nos lembra Lypovetsky (2004), parece que essa relação
corpo e identidade ganha cada vez mais vitalidade. A idéia de identidade
enquanto projeto particular, de responsabilidade de cada indivíduo, faz com
que o valor de exposição do corpo assegure não apenas a difusão, mas
também a própria construção da identidade, situação que gera ansiedade e
sofrimento por parte dos indivíduos. Nessas circunstâncias, podemos verificar
que construir corpo é construir tacitamente uma identidade. Assim, as
prerrogativas de um corpo adaptado às exigências e voltado para performance
atendem aos ditames de um processo de construção identitária voltada para a
beleza, a juventude e o bem estar.

Palavras-chave: Corpo. Identidade. Tempos hipermodernos.

CORPOS EM DORES DO PARTO


Nadia Marques Gadelha (UFC)

Resumo: Este trabalho busca situar uma reflexão crítica de identidades das
mulheres em trânse e em trânsito, sob o impulso caótico e transgressor dos
corpos em dores do parto. Caracteriza-se por um estudo etnográfico realizado
em uma maternidade de baixo risco para parto no nordeste do Brasil. As
principais questões teóricas abordadas estão situadas no campo
epistemológico da Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 1999, 2003), a
Teoria Crítica do Discurso e Texto (MAGALHÃES, 2004), relacionando-a, à
Teoria Social Crítica. A Teoria Crítica do Discurso (TCD) oferece uma
contribuição na identificação dos processos sociais relacionados às
transformações econômicas e culturais contemporâneas (GIDDENS, 1991;
HARVEY, 2000). O gineceu é a força catalizadora da norma que instaura uma
práxis médica obstétrica iluminada por concepções ideológicas onde o feminino
é satanizado e as mulheres aprisionadas ao sopro do Gênese lido pelas
instituições epistemológicas, como pecadoras condenadas ao sofrimento no
parto. O Gênese e gineceu aliados naturalizam os gritos de mulheres tidas
pecadoras atiradas nos abismos com seus castigos. O gineceu crava as garras
da águia protegendo ‘fragilidades' e desenvolvendo todo um arsenal científico
para vencer a morte. Entretanto, nas periferias da miséria social e política,
investe com a violência científica e discursiva com seus mantras da sujeição
sobre ‘corpos nus (AGAMBEN, 2002) nas maternidades do Sul do sofrimento
põe as mulheres num novo ordálio sem as místicas da sacralidade da dádiva
da vida. Sob tais sistemas de representação no sofrimento, as identidades das
mulheres em transes de dores, submissas, aflitas transitam.

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Palavras-chave: Corpos em parto. Identidades. Análise de Discurso Crítica.

“EM DEFESA DA HIGIENE”: INTELECTUAIS CEARENSES E POLÍTICAS


DE SAÚDE EM FORTALEZA (1892-1930)
Karla Torquato dos Anjos Barros (PUC-SP)

Resumo: A transição do século XIX para o XX no Brasil foi marcada pelo


intenso debate sobre civilizar o país. A medicina, sobretudo a higiene, era vista
como a ferramenta mais eficaz e indispensável para impulsionar os estados no
rumo da civilização. Combater as doenças, epidemias reinantes e higienizar a
população foram as principais bandeiras defendidas pelas elites locais. A
presente pesquisa analisa então os discursos produzidos pelos intelectuais
cearenses deste período no intuito de compreender a trajetória de sua
produção e sua influência na proposição e execução das políticas de saúde em
Fortaleza entre os anos de 1892 a 1930, período durante o qual os serviços de
saúde ficaram a cargo dos governos estaduais, cabendo então à elite
intelectual local um maior protagonismo na interlocução com os poderes
públicos e a população urbana sobre o planejamento, o encaminhamento e a
efetivação das políticas de saúde na cidade. Para isso, nos debruçaremos
sobre um variado conjunto documental composto por jornais, revistas
acadêmico-científicas, relatórios administrativos, tratados de higiene, manuais
de medicina, obras de época, entre outros, através dos quais foram compostas
as tramas e tensões em torno das questões de higiene e saúde pública na
capital do Ceará. Faremos uso deste material considerando o contexto e os
interesses em jogo quando foram produzidos; as concepções em que se
baseavam; a forma como eram estruturados e a finalidade de sua produção.
Visamos o agrupamento destas fontes, possibilitando a realização de
comparações, o estabelecimento de contrastes e a percepção de possíveis
articulações entre elas. Realizaremos também um profícuo diálogo
interdisciplinar com diversas obras produzidas por antropólogos, geógrafos,
arquitetos, linguistas, médicos, bem como historiadores, especialmente os da
recente área de produção historiográfica da história da saúde e das doenças,
que muito têm contribuído para o desenvolvimento da presente pesquisa.
Acreditamos que a análise das questões aqui propostas possibilitará uma
melhor compreensão das tramas em meio às quais foram percebidas e
vivenciadas as problemáticas da higiene pública em Fortaleza entre fins do
século XIX e as primeiras décadas do século XX.

Palavras-chave: Saúde Pública. Discurso. Corpo.

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PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA AUTOIMAGEM NA
HIPERMODERNIDADE E SUA INTRÍNSECA RELAÇÃO COM A NOÇÃO DE
SAÚDE E ESTÉTICA
Gabrielle Lima Feitosa (UFC)
Crislanny Fonteles da Silva (UFC)
Evelyn Cristina de Sousa Penas (UFC)
Raissa Sousa Osterno (UFC)
Renata Eudócia Melo Barreto (UFC)
Jurema Barros Dantas (UFC)

Resumo: Este trabalho pretende elucidar algumas considerações preliminares


acerca de uma pesquisa, que está sendo realizada em academias de ginástica
de Fortaleza, que visa compreender como se estabelece o processo de
construção da autoimagem na hipermodernidade e sua intrínseca relação com
a noção de saúde e estética. A pesquisa está vinculada ao Departamento de
Psicologia da Universidade Federal do Ceará e baseia-se na premissa de um
corpo que não se restringe ou se explica apenas por seus aspectos biológicos,
mas, sobretudo, por sua condição cultural, como um corpo perpassado por
questões históricas, políticas, sociais e econômicas que está circunscrito na
atualidade pelo panorama da hipermodernidade descrito por Lipovetsky (2007
apud LEMOS; RODRIGUES e MONTEIRO). Panorama que torna o corpo
cenário da urgência, do excesso, do movimento permanente de uma busca
vazia de significado. Assim, o corpo enquanto território da cultura torna-se o
cenário da promoção de uma saúde vinculada a padrões estéticos. Uma saúde
atrelada a obtenção de um corpo jovem, magro e permanentemente bem-
disposto. A saúde se mercantilizou e o corpo se tornou sua máxima
mercadoria. Tais discussões dialogam com a chamada "ditadura da estética
corporal" (ANZAI, 2000) que, no contexto da contemporaneidade, constrói
diferentes formas de subjetivação e promove de modo perverso enunciações
de sofrimento psíquico amparados pelo discurso biomédico que reafirma
práticas que cultuam o corpo, transformando-o cada vez mais em objeto de
consumo, com um padrão estético a ser alcançado. Segundo Dantas (2011),
estabelecer um padrão único que se torna ideal faz com que emerjam as
chamadas distorções da autoimagem, sendo o corpo o palco de paradoxos e
conflitos, pois o mesmo corpo que busca sua singularidade é o que tenta negar
a diferença e a alteridade. Para finalizar essas considerações teóricas
preliminares advindas da pesquisa, torna-se relevante parafrasear Bauman
(2007) dizendo que a busca da forma, do contorno, da simetria, da volúpia
estética se afasta, diariamente, no conceito de saúde enquanto modo de vida
voltado para o bem-estar físico, psíquico e social.

Palavras-chave: Corpo. Autoimagem. Saúde.

50
REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO HISTÓRICO DAS POLÍTICAS DE
DOAÇÃO DE SANGUE: UM ESTUDO SOBRE OS CENTROS DE
HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA
Thinally Ribeiro Abreu (UECE)
Talita Cumme Gomes Mesquita (UECE)

Resumo: O trabalho pretende realizar um paralelo entre o processo


institucional da doação de sangue no Brasil no período anterior a Constituição
de 1988 até o atual momento, analisando os avanços tecnológicos, à
superação da mercantilização do sangue e a repercussão social que se deu
nessa transição histórica de uma perspectiva de Saúde Previdenciária para a
Saúde como uns dos componentes da Seguridade Social em seu caráter
universal. Propõe-se levantar reflexões críticas acerca de uma sociedade que,
muitas vezes, encontra-se imbuída de ideias preconcebidas a respeito da
doação e que por estar dentro de uma lógica capitalista alienante, favorecedora
do individualismo e fragmentadora das ações coletivas, condiciona o sujeito a
não se reconhecer dentro dos processos solidários. A elaboração partiu de um
viés qualitativo, visto que contribui para um aprofundamento dos propósitos da
temática. Foi realizada uma entrevista semi-estruturada com profissionais do
Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) para obter
informações sobre a instituição em seus primórdios e no contexto
contemporâneo. Compreendendo a doação de sangue como um ato
espontâneo e essencial, o trabalho busca construir conhecimentos com a
finalidade de trazer essa discussão para o âmbito das Ciências Sociais e
desmitologizar vários aspectos enraizados na sociedade.

Palavras-chave: Saúde. Doação de sangue. Política pública.

CORPOS SEM TERRA, LINGUAGEM E INDEXICALIDADE NO MOVIMENTO


DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA DO CEARÁ
Marco Antonio Lima do Bonfim (UECE)
Claudiana Nogueira de Alencar (UECE)

Resumo: Situado no campo da Linguística Aplicada INdisciplinar e crítica


(MOITA LOPES, 2006; PENNYCOOK, 2006), especificamente na esteira da
Nova Pragmática (RAJAGOPALAN, 2010; SILVA et. al., 2014), que
compreende a linguagem em todas as suas dimensões (social, cultural,
econômica e política), este estudo procurou discutir a materialidade do sujeito
discursivo através da sua corporalidade, isto é, argumentamos aqui por uma
compreensão discursiva de sujeito que leve em conta o corpo -
suas estilizações no discurso (PINTO, 2014). Para tanto, analisamos a
produção performativa de corpos militantes Sem Terra no MST-CE a fim de
demonstrar como nossos corpos são indexados linguisticamente. Os dados

51
foram gerados e coletados através de uma etnografia da linguagem no MST
durante dois anos. São registros em notas de campo, gravações de conversas
com militantes Sem Terra, fotografias e gravações em vídeo de várias práticas
linguísticas em momentos variados dentro deste movimento social camponês.
A análise foi realizada com base na noção de ordens de indexicalidade
(BLOMMAERT, 2005, 2010), ato de fala (AUSTIN, 1962; RAJAGOPALAN,
2014), jogos de linguagem (WITTGENSTEIN, 1989; ALENCAR, 2014) e
de pistas indexicais (WORTHAM, 2001), que podem ser entendidas como
índices linguísticos que sinalizam nossos posicionamentos interacionais na
negociação de sentidos. Percebemos que ordens de indexicalidade diversas
(socialismo, esquerda, feminismo) direcionam e selecionam o uso de
determinadas palavras empregadas pelos integrantes do MST-CE em seu
cotidiano de luta produzindo desta forma corpos militantes (o revolucionário, a
Mulher feminista, o jovem anti-capitalista) que materializam os valores, as
bandeiras de luta, as dores, as tarefas, estratégias dos/as agricultores Sem
Terra em luta pela Reforma Agrária popular no Brasil.

Palavras-chave: Corpos Sem Terra. Indexicalidade. Nova Pragmática.

52
EIXO TEMÁTICO 3 – NARRATIVA E MEMÓRIA

A CONSTRUÇÃO DA DEVOÇÃO À SANTA RITA DE REDENÇÃO


Maria Valdelia Carlos Chagas de Freitas (UNILAB)

Resumo: A pesquisa analisa a festa de Santa Rita de Cássia realizada no


município de Redenção no Ceará. A festa quase centenária atrai devotos de
várias localidades circunvizinhas. Durante onze noites os fiéis mostram sua
devoção à santa das causas impossíveis pagando suas promessas e cultuando
a maior festa do município.O que leva tanta genteas ruas da cidade em uma
procissão gigantesca em devoção a Santa Rita? Porque a maior festa religiosa
do município é de sua co-padroeira e não da padroeira da cidade (a maioria
das pessoas pensam que Santa Rita é a padroeira do município)? O que levou
uma pessoa a construir uma igreja em homenagem a ela em Redenção? É
sobre esse conjunto de problemas, para os quais a historiografia local ainda
não havia produzido respostas consistentes, que esta pesquisa se debruçou. A
persistência de um "vazio historiográfico" sobre o tema foi uma das maiores
motivações do estudo realizado. As fontes orais e o Livro do Tombo dão a
verdadeira dimensão do significado destes festejos. As entrevistas realizadas
foram fundamentais para compreensão da importância que a festa tem na vida
religiosa das pessoas da cidade.O trabalho também faz uma abordagem da
interdependência entre o sagrado e o profano. Émile Durkheim, nos dá o aporte
teórico necessário na definição de "religião" e de "fenômeno religioso" para que
assim fosse feita a diferenciação entre sagrado e profano, e a relação de
interdependência entre os dois. Por ocasião desta dualidade entre o sagrado e
o profano ocorrem diversos conflitos na comunidade.A meta, que se espera ter
alcançado, foi a de contribuir para uma compreensão mais substancial e
qualitativa da experiência da população de Redenção com religiosidade
popular, em especial a devoção a Santa Rita de Cássia, compreendendo-a
como um mosaico complexo moldado a partir e dentro do espectro mais amplo
da cultura local.

Palavras-chave: Devoção. Religião. Co-padroeira.

A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES EM UMA HISTÓRIA DE


DESLOCAMENTO
Carla Mirelle de Oliveira Matos Lisboa (PUC-RIO)
Maria do Carmo Leite de Oliveira (PUC-RIO)

Resumo: Um dos dramas sociais das cidades contemporâneas é o das


pessoas que são forçadas, por diferentes causas, a deixar suas casas sem a
opção de retorno. Neste trabalho, propomo-nos suprir a falta de pesquisas
sobre deslocados internos, examinando a história de deslocamento de uma

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moradora de uma área de risco que, após as fortes chuvas que atingiram o Rio
de Janeiro em 2010, perdeu sua casa e foi morar na rua com sua família.
Nosso objetivo é o de verificar como as repercussões individuais e sociais do
deslocamento se manifestam no modo como a narradora constrói e reconstrói
suas identidades (SHOTTER & GERGEN, 1989; HALL, 1996) de mulher, mãe
e esposa. A narrativa oral de deslocamento foi gerada a partir de uma
entrevista aberta, posteriormente transcrita conforme notações da Análise da
Conversa (OCHS; SCHEGLOFF & THOMPSON, 1996). Entendendo a
narrativa como a forma típica de esquematização da experiência e a memória
que temos dela, como tal, construída em torno das experiências canônicas
instituídas e do manejo mental dos desvios que incidem sobre as expectativas
(BRUNER, 1997), verificamos que a construção das identidades pessoais da
narradora é moldada pelos significados atribuídos à casa e à rua. É a partir
desse dualismo que ela reivindica quem ela é: apesar da rua (boa mãe e
esposa) e por causa da rua (viciada e sem direito à guarda dos filhos). O modo
como a trama é construída tira das mãos da narradora a responsabilidade não
só pelo seu sofrimento, mas também pelo esforço de superação. Se o primeiro
é explicado pela ação de agentes naturais, institucionais, biológicos,
psicológicos ou condições socioeconômicas, a superação é explicada pela
agência divina.

Palavras-chave: Narrativa. Deslocamento. Identidades.

A DITADURA REVIVIDA – REMINISCÊNCIAS TEMPORAIS NA PROFISSÃO


DOCENTE
Maurício Signorini Dias (UFPEL)

Resumo: Durante a ditadura militar no Brasil, professores de inúmeras


instituições de ensino foram presos e torturados, quando, de alguma forma,
questionaram ou ultrapassaram as barreiras do sistema vigente na época. A
prática docente era acompanhada pela apreensão, pois a escolas eram alvo de
espionagem constante, normalmente por algum dos alunos. Nesse sentido,
este estudo parte da análise de dois textos que se complementam: o primeiro
refere-se a uma narrativa de um antigo professor da disciplina de "Educação
Moral e Cívica", preso em frente aos alunos e torturado psicologicamente por
militares, em 1976, na cidade de Porto Alegre (RS); o segundo é uma
reportagem publicada no dia 01/07/2015, no site "Último Segundo" do IG, sobre
um professor que, após fazer denúncias sobre irregularidades políticas na
escola em que trabalha, foi preso perante os alunos e maltratado pelos
policiais. Trinta e nove anos depois, o primeiro evento parece repetir-se com
outra roupagem, atingindo pessoas na mesma situação, por motivos
semelhantes - questionar e argumentar. devido a isso, preocupa-se, aqui, em
analisar as trajetórias textuais desses materiais e compreender os processos

54
de constituição de identidades por meio do processo de rememoração no
testemunho. Além disso, conforme já sinalizado, busca-se analisar a maneira
como essas histórias se relacionam, ou seja, de que forma a segunda revive
elementos da primeira, mesmo com um vasto intervalo de tempo entre elas.
Para atingir os objetivos mencionados, este artigo situa-se nas fronteiras
epistemológicas que incluem os campos da Linguística Aplicada Indisciplinar,
da Memória Social e de Teorizações da Narrativa, com o intuito de
problematizar a vida social e a prática docente em seu contexto sócio histórico.
Os resultados apontam para uma surpreendente conexão entre significados
que permanecem e que se renovam, em um contexto no qual a profissão
docente é inserida.

Palavras-chave: Profissão docente. Ditadura militar. Memória.

A GENEALOGIA DA FAMÍLIA APRESENTADA ATRAVÉS DAS MEMÓRIAS


LITERÁRIAS: LAÇOS E RECORDAÇÕES NARRADOS SOB A ÉGIDE DA
LITERATURA
Ana Valéria Silva Pinheiro (UEFS)
Almirene Maria Vital da Silva Sant’anna (Colégio Estadual Governador Luiz
Viana Filho)
Luciana de Souza Pereira Cerqueira (UNEB)

Resumo: O projeto tem como objetivo suscitar nos alunos a produção escrita,
através das narrativas literárias autobiográficas, na qual esses alunos poderão
contar as histórias de suas famílias, com base na fluidez literária. Com isso,
eles irão relatar, através da produção de uma árvore genealógica narrada,
respeitando os princípios éticos, as memórias, as tradições e as heranças de
suas famílias, culminando na produção de um livro. Dessa forma, espera-se
que os alunos possam compreender melhor suas origens, aptidões,
preferências, dentre outros elementos que, possivelmente, podem ter reflexo
na sua identidade linguística e cultural. Sendo assim, esse projeto surge como
uma forma de ajudar na solução de problemas nas produções escritas, além de
contribuir para o estreitamento dos laços entre os membros da família e
manutenção dos valores familiares para as futuras gerações. A metodologia
aplicada é a pesquisa-ação, na qual o pesquisador busca melhorar suas
próprias práticas sociais e educacionais. Tem como base teórica COSSON
(2014), ROJO (2009) SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J (2004). Em consonância com
a era atual que apresenta grande uso das redes sociais, procura-se através
dessas redes uma maneira de auxiliar na colaboração da busca dos dados e
da concretização desse trabalho; uma vez que, através desses meios, as
informações podem ser coletadas e armazenadas de forma mais célere. dentre
alguns pontos importantes no desenvolvimento dessa atividade é possível
destacar: maior envolvimento da família com as atividades escolares dos

55
alunos, o que pode gerar numa melhora na progressão desses alunos; serve
de instrumento para auxiliar o professor na tentativa de compreender as
dificuldades dos alunos no que diz respeito à escrita, buscando alternativas
para sanar tais dificuldades e procurar estimulá-los nas produções escritas a
partir de textos voltados para suas realidades sociais e históricas; além de
valorizar o respeito às diferenças, potencialidades e limitações de cada ser
humano.

Palavras-chave: Genealogia. Identidade. Memórias.

ANÁLISE DA MEMÓRIA POLÍTICA E SOCIAL EM CARTAS


ADMINISTRATIVAS DO SÉCULO XVIII DA CAPITANIA DO CEARÁ
Monique Cordeiro Martins de Sousa (UECE)
Expedito Eloísio Ximenes (UECE)

Resumo: Os textos antigos são fontes fundamentais para a investigação sobre


a língua, a história, a memória e a cultura de um povo. Através dos registros
dos documentos, podemos remontar narrativas e compreender melhor nossos
costumes e nossa identidade. A Filologia é uma ciência antiga com métodos
específicos que ajuda, através da Edição de Textos, delinear tanto aspectos
linguísticos como políticos, sociais e culturais de um povo. Buscamos aqui
resgatar três cartas administrativas do século XVIII da capitania do Ceará.
Essas cartas tratam sobre o óbito de D. José I, sobre o casamento do Príncipe
da Beira e sobre o nascimento de sua filha e têm o objetivo de anunciar
medidas administrativas, além de orientar sobre o comportamento dos colonos
em cada situação. O objetivo desse trabalho é, inicialmente, resgatar o texto e
discorrer sobre uma pequena parte de nossa história, contribuindo dessa forma
para o resgate da memória cearense e, consequentemente, brasileira. Para
isso, foi necessária uma transcrição das cartas em que trouxemos à tona o
material linguístico submerso e uma pequena parte da história perdida a
respeito dos acontecimentos na distante Coroa Portuguesa. Para essas
tarefas, primeiro houve uma leitura minuciosa a fim de se fazer a edição
semidiplomática baseada nas normas de edição do grupo de Práticas de
Edição de Texto do Ceará (PRAETECE), que sugere uma transcrição com a
mínima intervenção do editor, mantendo a pontuação original, a ligação entre
as palavras caso exista, a observação de intervenção de terceiros, dentre
outros aspectos. Em seguida, tratamos da análise dos acontecimentos
observando a narrativa construída nessas cartas. Tomamos como base teórica
os textos de Cambraia (2005), Prado Jr (2000) e Araripe (2002) para nossas
reflexões. Dessa forma, pudemos resgatar uma parte de nossa história e
contribuir com elementos para a construção da memória do nosso povo.

Palavras-chave: Filologia. Narrativas. Memória.

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ANÁLISE DO DISCURSO EM DOIS ENFOQUES: O DISCURSO ORAL DOS
RIBEIRINHOS E O PAPEL DA MÍDIA NA CONSTRUÇÃO SIMBÓLICA DOS
ENUNCIADOS SOBRE A CONSTRUÇÃO DAS USINAS HIDRELÉTRICAS
José Gadelha da Silva Junior (UNIR)

Resumo: Este artigo pretende fazer uma análise do discurso oral de


moradores ribeirinhos da antiga comunidade de São domingos, na Vila de
Santo Antônio, região afetada pela construção da usina hidrelétrica de Santo
Antônio, no rio Madeira, em Porto Velho/RO. A obra, financiada com recursos
do Programa de Aceleração do Crescimento, PAC 1, no primeiro mandando do
presidente Lula, se apresentou com o discurso de "estruturante" para o setor
de energia elétrica, do país. Mas, trouxe impactos relevantes na vida de
comunidades ribeirinhas, alterando de forma significativa as práticas culturais e
simbólicas ligadas aos rios e às matas. Logo, buscamos verificar a produção de
sentidos a partir de enunciados, bem como as condições de produção desses
enunciados. Nosso objeto de estudo são depoimentos gravados em 2008,
durante a produção do vídeo-documentário intitulado "Para onde o destino
mandar". Nosso foco é, também, fazer uma análise de textos apresentados por
sites de notícias, locais, no período que compreende os primeiros meses de
instalação do canteiro de obras da usina hidrelétrica de Santo Antônio. Tais
observações se fazem necessárias para a compreensão de acontecimentos
discursivos como elementos responsáveis pela construção de um dado
momento histórico em nossa sociedade, uma vez que os discursos são
tomados como práticas sociais, historicamente determinadas, que constituem
os sujeitos e seus respectivos objetos. Para isso, recorremos aos estudos de
Orlandi (1996; 1999; 2012) sobre Linguagem, Discurso e Análise do Discurso;
de Enunciado em Foucault (2012) e Maingueneau (2002; 2013); de Identidade
e Cultura em Hall (1998), Bhabha (2013) e Balman (2005); além de autores
regionais como Loureiro (1995; 2008) e Amaral (2011). Também fazemos uso
dos estudos sobre Mídia em Gregolin (2003) e Silverstone (2002).

Palavras-chave: Análise do discurso. Ribeirinhos. Acontecimentos discursivos.

A NARRATIVA DE IDENTIDADE NACIONAL NA OBRA, “MACUNAÍMA”, DE


MÁRIO DE ANDRADE
Karine Maria Lima Lopes (IFRN)
Antonio Cleonildo da Costa Silva (IFRN)

Resumo: Embora sejamos alvo de um processo de massificação


contemporânea, que define a identidade como mera condição biológica e pré-
determinada, somos formados por múltiplas identidades, produzidas por

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contínuos e inconscientes processos de transformação. Para consolidar-se
como nacional, a literatura modernista concebeu a identidade no sentido de
sua dessacralização e, portanto, subverteu a ideologia romântica sobre a "alma
brasileira imutável". Tematizando essa pluralidade étnica e cultural brasileira,
Mário de Andrade em sua obra emblemática da primeira fase do Modernismo
"Macunaíma", publicada em 1928, cria um sujeito permeado por ambiguidades,
repleto de avessos, acumulado de baixezas e descrito sem idealizações.
Simbolicamente, "o herói sem nenhum caráter" foi trabalhado como síntese de
um presumido "modo de ser brasileiro" - sem caráter definido e em constante
metamorfose, concentrando em si virtudes e defeitos inerentes ao indivíduo
multifacetado. Durante toda a narrativa, o protagonista percorre várias regiões
do Brasil numa incessante busca pela muiraquitã, pedra preciosa, única
lembrança de seu amor Ci. Através dos desdobramentos de diversas lendas,
fundidas para mostrar uma nação multirracial, Macunaíma vivencia diversas
aventuras na tentativa de recuperar o amuleto, mas o perde definitivamente.
Finalmente, o herói sem nenhum caráter, autodenomina-se uma estrela de
brilho inútil. Com base nas leituras teóricas de Zilá Bernd (2003), Stuart Hall
(2006), Manuel Cavalcanti Proença (1987) e Zygmunt Bauman (2005), entre
outras, este escrito visa analisar a questão da identidade nacional na obra de
Mário de Andrade, sua construção enquanto entidade abstrata e a relevância
da heterogeneidade cultural, na perspectiva de evidenciar a importância do
resgate da cultura popular brasileira no que tange à representação das
propostas estéticas e temáticas modernistas das primeiras décadas do século
XX.

Palavras-chave: Identidade. Macunaíma. Heterogeneidade cultural.

A PERFORMANCE NARRATIVA DA “MULHER SOFRIDA” EM UM


PROGRAMA DE RÁDIO
Luciana Azevedo Camara (PUC-RIO, Colegio Pedro II)

Resumo: Este trabalho é um estudo sócio-discursivo da narrativa que busca


por meio da observação das características e estrutura da narrativa enquanto
texto (Labov, 1972) e enquanto prática discursiva (Garcez, 2001, Bastos,
2005), pautando-se na premissa de que atribuímos sentido não só ao mundo a
nossa volta, como também a quem somos nele através de narrativas (Moita
Lopes, 2002: 64), melhor compreender as identidades e valores construídos
por uma ouvinte ao contar sua(s) história(s) em um programa de rádio. A
pesquisa foca na história de uma ouvinte do programa de rádio em questão
que é narrada por meio de um e-mail escrito por ela. Este e-mail é enviado
para a rádio e lido pelo apresentador do programa durante um quadro de
aconselhamentos. O objetivo é que dois outros ouvintes liguem para a rádio e
aconselhem a autora do e-mail. Buscamos por meio da análise dos dados do

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programa alcançar as razões pelas quais a autora constrói sua história da
forma como constrói e, ao fazê-lo, automaticamente também se constrói. A
análise dos dados nos permite concluir que a narrativa da ouvinte foi toda
construída em cima da figura de mulher sofrida, vítima da tirania e dos
desmandos dos homens e do mundo por eles dominado. Considerando que as
histórias não apenas relatam eventos passados, mas também, e
principalmente, representam a atitude moral do falante em relação a esses
eventos (Linde, 2001), percebemos que fazer uso dessa imagem não muito
compatível com o que se esperaria de uma mulher contemporânea,
contextualizada da maneira como ela se contextualizou, é uma escolha
consciente dela e corroborada por parte da rádio, sem qualquer
problematização. A comoção causada por uma história de sofrimento feminino
parece ser mais benéfica para os fins do programa. Outra observação traçada
a partir da análise dos dados é a de que as particularidades discursivas como
as que buscamos apontar nesse trabalho que nos levam a perceber que às
vezes, o "coitadinha", a avaliação da narrativa de uma dada maneira, antecede
a história da coitadinha, ao mesmo tempo em que a gera, ao invés de ser
gerado por ela.

Palavras-chave: Narrativa. Mulher. Rádio

"A QUESTÃO É SIMPLES, (...) LICENCIANDO É UM ESTORVO" - A


CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA E CRÍTICAS AO ESTÁGIO
SUPERVISIONADO EM UMA NARRATIVA DE FORMAÇÃO DE
PROFESSOR.
William Soares dos Santos (UFRJ)
Cláudia Maria Bokel Reis (UFRJ)

Resumo: Todas as experiências de formação de estágio supervisionado são


marcantes e positivas? Partindo de uma análise alinhada a uma perspectiva
sociointeracional do discurso, esta pesquisa investiga a narrativa de um
estudante de Prática de Ensino de Português/Língua estrangeira do curso de
licenciatura em Letras da UFRJ, na qual se evidenciam a prevalência de
construções discursivas críticas em relação à experiência de formação. Esta
pesquisa, de natureza interpretativista, envolve os múltiplos aspectos da
construção da narrativa de formação (memorial) em que se privilegia
compreensões advindas dos estudos sobre construção de narrativas e
memória, performances identitárias e de formação de professores. Em nossa
análise, focalizamos as relações entre discurso e performances identitárias a
fim de traçar compreensões a respeito da construção discursiva da experiência
de formação de um estudante extremamente crítico e, por vezes, refratário ao
ambiente de formação no campo de estágio. Através de uma análise que
considera a produção narrativa um processo discursivo, dialógico e ideológico,

59
esta pesquisa se propõe a compreender experiências e movimentos de
resistência narrados de forma a nos ajudar a pensarmos estratégias que
contribuam para a formação de futuros professores de línguas para atuação em
diferentes espaços de construção de saberes. Os resultados indicam a
necessidade de se atentar para a construção crítica de saberes sobre a prática
de ensino, relacionando percepções individuais com o pensamento coletivo,
através do desenvolvimento de pontes entre universidade e escola e entre
todos os envolvidos no processo de formação.

Palavras-chave: Estudo de Narrativas. Educação. Formação de Professores.

A (RE)CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA COLETIVA EM NARRATIVAS


AFILIADAS AO UNIVERSO DO LENDÁRIO DA AMAZÔNIA: IMPLICAÇÕES
SOCIOCOGNITIVAS E CULTURAIS.
Heliud Luis Maia Moura (UFOPA)

Resumo: O meu objetivo, neste trabalho, é apresentar um estudo acerca da


referenciação, considerando a relevância desse fenômeno para a compreensão
de elementos ligados ao universo lendário da Amazônia, incluindo-se nos
processos referenciais entidades constitutivas da memória cultural amazônica.
O corpus deste trabalho constitui-se de 17 (dezessete) narrativas escritas, de
autoria do escritor paraense Walcyr Monteiro. Nos textos destas histórias,
detectei uma série de elementos em que estão envolvidos processos
sociocognitivos, sociodiscursivos e cognitivo-culturais ligados à construção das
entidades Boto, Cobra, Matintaperera e Curupira e a eventos ligados a elas.
Por conseguinte, tais processos estão também conectados ao contexto
sociocultural de produção desses artefatos simbólicos, que, por seu turno,
reconstroem práticas sociais (re)correntes nesse lócus. Tomo, então, como
base para este estudo as formulações teóricas da Linguística Textual, do
Sociocognitivismo, do Sociointeracionismo, da Semântica Cognitiva, Estudos
Culturais e da Literatura precisamente no que concerne a gêneros relacionados
ao universo das lendas, cujos teóricos mais representativos aqui apresentados
são: Koch, Marcuschi, Mondada e Dubois, Conte, Fillmore, Goffman, Bauman,
Eliade, Propp e Sperber, para os quais, sob diferentes prismas
epistemológicos, as ações linguísticas reconstituem simbolicamente tipos de
crenças e ações sociais situadas, inseridas em determinado universo biossocial
e cultural. De acordo com as análises feitas, nas narrativas escritas estudadas,
as estratégias de referenciação são tão complexas e variadas quanto aquelas
que podem ser encontradas em narrativas orais, o que pode diferir é o modo
como essas estratégias operam em termos de modalidade nessas duas formas
de narrar. Isto traz evidencias de que, no caso de termos narrativos escritos
como os estudados, o narrador/produtor tem um controle ou monitoramento
maior do uso de recursos propriamente estruturais, mas não das estratégias

60
sociocognitivas envolvidas na construção dos processos referenciais. Desse
modo, o escritor traz para o lócus dos textos dessas narrativas um
conglomerado de construções sociocognitivas e cognitivo-culturais,
especificamente no que se refere à reconstrução da memória coletiva da qual
faz parte.

Palavras-chave: Linguística Textual. Sociocognitivismo.Cognição-Cultural.

BRANCOS, CABRAS, ÍNDIOS E PRETOS: UM ESTUDO DAS


DENOMINAÇÕES ÉTNICAS NOS AUTOS DE QUERELA DO SÉCULO XIX,
SEGUNDO A JUSTIÇA COLONIAL
Ticiane Rodrigues Nunes (UECE)
Nadja Maria Pinheiro (ALCE)
Expedito Eloísio Ximenes (UECE)

Resumo: A presente pesquisa busca com as denominações étnicas atribuídas


aos querelantes, querelados e testemunhas no discurso dos autos de querela
analisar como os grupos étnicos tinham acesso à justiça colonial no século XIX,
mais precisamente na antiga Capitania do Siará Grande. A partir dos autos de
querela, é possível elucidar como os sujeitos eram considerados perante à
sociedade em relação a sua origem étnica, em casos extremos como os de
denúncia de crimes dos mais diversos como defloramentos, roubos, agressões,
raptos. As narrativas expostas nos autos revelam ainda as relações sociais e
culturais vivenciadas na época. O corpus selecionado para análise é composto
por dezoito autos de querela e denúncia compilados no livro trinta e nove, que
faz parte do acervo do Arquivo Público do Estado do Ceará e são parte dos
documentos editados filologicamente por Ximenes (2006). Para as análises,
percorremos os autos e selecionamos as lexias que denominam as etnias e/ou
indicações étnicas referentes aos envolvidos nos crimes relatados nos
documentos. A partir daí, investigamos quais as denominações étnicas
presentes nos relatos, quais atores sociais são representados por cada
designação e qual o papel que esses atores assumiam diante da justiça
colonial. Como base teórica para a realização deste estudo, utilizamos os
escritos de Ximenes (2009; 2013), Bluteau (1712), Diégues Junior (1980) e
Matos (2011). Diante das análises, podemos destacar que foram denominadas
nove etnias distribuídas entre setenta e oito atores sociais, dentre as quais
constatamos como a mais representada a etnia branca, comportando trinta e
quatro indivíduos, seguida da etnia parda com vinte. As demais etnias somam
apenas vinte e quatro sujeitos, o que nos atenta para observar que há uma
grande discrepância ao acesso à justiça no século XIX no estado do Ceará,
pois os grupos étnicos dos com casta da terra, caboclos, cabras, criolos,
mamelucos, índios e pretos, além de aparecerem em menor número, são na
maioria das vezes os acusados dos crimes relatados.

61
Palavras-chave: Etnias. Justiça Colonial. Auto de Querela.

CAMINHOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO


EM DIREITOS HUMANOS (EDH): A LEITURA NA FORMAÇÃO
HUMANIZADORA
Silvana Dias Cardoso Pereira (ALLE-FE-UNICAMP)
David da Silva Pereira (UTFPR)
Jacqueline Lidiane de Souza Prais (UTFPR)

Resumo: A leitura representa um requisito primordial para conhecer, aprender


e compreender o mundo, bem como uma necessidade humana de produção
social. Este artigo trata das experiências de leitura, no processo inicial de
alfabetização, como mobilizadoras da memória no processo de formação
escolar e extraescolar da criança. Nesta investigação bibliográrica foram
empregados autores como Manguel, Cândido, Petir, Mortatti, Ferreira e
Panizzolo como fundamentos de uma alfabetização e leitura humanizadoras.
Essa discussão circunscreve, ainda, a história da educação no Brasil,
indicando que os métodos de alfabetização e leitura praticados nos séculos XIX
e XX influenciam os encaminhamentos metodológicos empregados ainda hoje,
no século XXI, nas escolas de Educação Básica. As memórias de leituras
registradas em textos narrativos são significativa no resgate da dignidade da
pessoa humana, valor maior da República brasileira, visto que a criança por
meio da leitura desenvolve o sentido de criticidade e de sensibilidade e,
também passa a formar suas opiniões e percepção do mundo em que vive.
Nessa perspectiva, pretende-se oferecer uma contribuição aos estudos
relacionados à leitura e suas relações com os princípios da Educação em
Direitos Humanos (EDH) na formação inicial de crianças em fase de
alfabetização. Para tanto serão analisadas algumas narrativas de autores hoje
consagradas, entre eles João Ubaldo Ribeiro, Mario Quintana, Lygia Bojunga,
Ana Maria Machado, Carlos Drummond de Andrade, Marcel Proust e Elias
Canetti. Tais autores narram em suas obras as experiências com a leitura, com
o livro e o significado deles para sua existência e experiências numa formação
humanizadora.

Palavras-chave: Educação. Leitura. Formação Humanizadora.

CORPO, VOZ E MEMÓRIA: CONSTRUÇÕES NARRATIVAS ENTRE OS


DEDOS DO ARTESÃO.
Olga Valeska Soares Coelho (CEFETMG)

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Resumo: Este trabalho analisa a relação narrativa/memória/identidade usando,
como fundamentação teórica, os conceitos de narrativa e história, de Walter
Benjamim e os conceitos de otredad,agoredad e corporeidade, de Otavio Paz.
Ora, sabemos que a memória não se constitui somente de lembrança. Na
Teogonia de Hesíodo, as Musas, filhas de Mnemosyne, além de proporcionar o
esquecimento também atuam na esfera do "pseudés". Assim, esse movimento
de perpetuar, esquecer e (re)inventar define a própria natureza da(s)
imagem(ns) que a sociedade faz de si mesma. E a identidade social imita o
traçado das narrativas de memória e também é constituída na matéria incerta
da lembrança, do esquecimento e da ficção. Walter Benjamin, em "O
Narrador", faz da oficina do artífice um ponto de convergência onde o saber
ancestral do camponês e o "saber das terras distantes" do viajante se
interpenetram constituindo a matéria viva do saber narrativo. Ambos trazem,
em sua própria voz, ecos de vozes emudecidas, fragmentos de mundos em
ruína. Assim o conhecimento do narrador benjaminiano pode ser pensado
como conhecimento tátil da experiência. Em seu texto repetido como camadas
translúcidas de laca sobre a madeira, podem-se perceber os traços do arcaico.
De maneira semelhante, Octavio Paz, em "Os filhos do Barro" e
"Convergências", analisa as construções sociais de memória como uma obra
de artesanato, elas compartilham com o corpo o seu caráter de ser-mortal e
inclui em seu formato a dimensão das narrativas orais. A obra do oleiro, para
Paz, transpira a linguagem da terra antiga e se deixa tocar pelo "outro". As
marcas dos dedos que se deixam ver na superfície do barro são vestígios,
fragmentos de passados distantes que convergem num agora cristalizado no
corpo do objeto. Dentro dessa lógica ligada à imagem do artesanato, pode-se
pensar as narrativas de memória como um momento de convergência entre a
sabedoria transmitida pela tradição e a própria vida experimentada no "agora"
do corpo. E os eixos: eu/outro e polifonia/monologia, opostos pela lógica da
exclusão, teriam, também, suas margens rasuradas constituindo um lugar de
convergência entre o encontro e exílio.

Palavras-chave: Corpo. Memória. Identidade.

DE FRONTEIRAS E TRÂNSITOS: A ESCRITA FRONTEIRIÇA DE JULIA


ALVAREZ EM HOW THE GARCÍA GIRLS LOST THEIR ACCENTS
Tito Matias Ferreira Júnior (IFRN)

Resumo: As mediações entre a condição do imigrante, sua relação com a


fronteira, com o seu exílio e, principalmente, com o sujeito da cultura
hegemônica do país que vive, apreendem diretamente o processo de
posicionamento do sujeito diaspórico contemporâneo. Na descrição da
imigração das irmãs García para os Estados Unidos, Julia Alvarez, por meio do
romance How the García Girls Lost their Accents, retrata como as personagens

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constantemente agenciam suas porções caribenha e estadunidense tanto em
solo caribenho quanto em solo estadunidense. Com efeito, essas relações
procuram dar conta da questão da identidade do imigrante e sua inserção tanto
na sociedade dominante de seu novo território quanto nos grupos minoritários
que tendem a pertencer, pois tais relações realçam a noção de que os
imigrantes tendem a ser "amphibians who do not have an old home and a new
home to so much as two half-homes simultaneously (IYER, 1993, p. 49)
[anfíbios que não possuem um velho lar e outro novo lar, mas sim dois meio-
lares simultaneamente] (IYER, 1993, p. 49, tradução nossa). A tentativa do
imigrante de se posicionar perante a sua situação diaspórica é propícia para
produzir diálogos entre os povos do mundo contemporâneo resultando na ideia
de que o sujeito, quando imerso na condição diaspórica, não está ligado
somente a uma localidade, já que tem a capacidade de reconhecer sua
identidade em qualquer lugar que ocupe. Dessa forma, o objetivo deste artigo é
compreender as transformações vivenciadas pelas personagens do romance
alvareziano depois que elas, juntamente com sua família, são forçadas a migrar
para os Estados Unidos e aprender a conciliar sua identidade fronteiriça com
os dois territórios, o da República dominicana, terra natal da família García, e o
dos EUA, terra escolhida por eles para escapar da ditadura militar que assolava
a ilha na década de 60.

Palavras-chave: Fronteiras. Ficção. Julia Alvarez.

“DE REPENTE, VEIO INESPERADAMENTE UM QUINHENTOS REAIS


EXTRA" - ANÁLISE DE NARRATIVAS EM TESTEMUNHOS ALINHADOS À
TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
Alexandre Florêncio dos Santos (PUC-RIO)

Resumo: O presente trabalho procura interpretar e compreender, em âmbito


discursivo, de que forma uma pessoa, adepta de uma igreja alinhada à
Teologia da Prosperidade, (para a qual deus deseja que seus filhos sejam em
tudo bem-sucedidos, vitoriosos e triunfantes) organiza, constrói e dá significado
a sua experiência profissional/religiosa no mundo social. As reflexões deste
trabalho basear-se-ão nas noções de princípio e sistema de coerência (LINDE,
1993), pelas quais tentaremos depreender os estados intencionais (acreditar,
desejar, pretender, comprometer-se) que influenciariam e justificariam as ações
dos que compartilham desse sistema de interpretação. Além disso, articulando
as ponderações de Mishler (2002) sobre tempo no discurso narrativo com os
aspectos da sequencialidade, da indiferença factual e do manejo no
afastamento do canônico (Bruner, 1997), procuraremos ratificar a ideia de que
é a sequência das sentenças de uma narrativa que determinará sua
configuração geral ou enredo. Por fim, posto que acreditamos na
"impossibilidade de geração de conhecimento acerca da organização da vida

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social desligada de seus atores e de sua produção discursiva" (Fabrício e
Bastos, 2009) e crendo que "contar histórias por meio de narrativas orais
constitui-se numa forma privilegiada de projeção de sentido para a experiência
humana" (idem), este trabalho consistirá, quanto a seus aspectos
metodológicos, na análise da transcrição de testemunhos de vitória financeira
(em forma de narrativa de estrutura relativamente canônica quanto aos critérios
labovianos (cf. LABOV, 1972). No caso deste trabalho, os dados estão
disponíveis na página oficial de uma igreja evangélica alinhada ao evangelho
da prosperidade. A análise do testemunho sugere que a Teologia da
prosperidade é um sistema de coerência que subsiste como versão popular do
sistema de coerência experto constituído pelo protestantismo clássico. Além
disso, quanto aos aspectos de construção identitária, os dados mostram como
o narrador, ao longo do seu discurso, vai sofrendo uma metamorfose
relativamente ao seu engajamento com o evangelho da prosperidade, o que
corrobora a tese de que a organização das experiências feita por uma
narrativa, bem como a re-historiação estabelecida por ela, podem sim criar
perspectivas antes não previstas e também levar o narrador a um senso de si
próprio diferente (MISHLER, 2002).

Palavras-chave: Teologia da Prosperidade. Narrativa. Sistemas de Coerência.

ENTRE CULTURAS E IDENTIDADES


Priscila Viviane Carvalho (UFPI)
Saulo Cunha de Serpa Brandão (UFPI)

Resumo: O objetivo proposto neste artigo é analisar sobre a dialética entre


identidade, território e cultura. No conto Intérprete de Males (2001) como
suporte para uma reflexão sobre a identidade hibrida, discutindo, a partir da
trama proposta por Jhumpa Lahiri, a representação dos estudos identitários à
luz da perspectiva pós-colonial. Para tanto é necessária interpretação crítica do
conto para fundamentar a conceituação de identidade e hibridismo cultural na
pós-modernidade. A pesquisa tem por problemática o hibridismo identitário da
família das. Por ocuparem um espaço que não é americano e nem indiano,
mas sim espaço hibrido, ou como Bhabha (1996) designa: O terceiro espaço.

Palavras-chave: Hibridismo. Pós-Colonial. Identidade.

ENTRE MEMÓRIA E HISTÓRIA: TEODORICO MAJESTADE, AS ÚLTIMAS


HORAS DE UM PREFEITO
Karoline Vital Góes (UESC)

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Resumo: Na análise da peça teatral "Teodorico Majestade - as últimas horas
de um prefeito" publicada em 2012, de autoria de Romualdo Lisboa, nos é
possível observar possíveis maneiras que o teatro pode funcionar enquanto
mecanismo de mobilização social, bem como de preservação da memória. As
bases teóricas desta abordagem se assentam nas premissas relativas ao
teatro, sobretudo a partir de Sábato Magaldi, bem como relativas à memória
em Joel Candau e Jacques Le Goff. Trata-se de pesquisa descritiva-
interpretativa, cujas bases de compreensão se assentam na formulação que
faz com que a peça tenha funcionado como mecanismo de intervenção na
realidade local, fazendo uma clara opção pelo panfletismo político. A peça, uma
sátira em cordel montada pelo Teatro Popular de Ilhéus, estreou em 2006, e se
coloca entre a história recente do município e seus fragmentos negativamente
revelados, e a memória de uma época fausta construída e assentada na
produção cacaueira e ampliada simbolicamente na cultura nacional, sobretudo
na literária através de Jorge Amado. Deste modo, a peça imprime seu ponto de
vista acerca da história local, reinterpretando fatos, reconstruindo vivências e
experiências a partir das críticas presentes no texto. A Literatura de Cordel
empresta suas rimas soantes e ritmo para o texto bem como o vocabulário
repleto de coloquialismos que evidenciam seu apelo popular. O sarcasmo e
ironia presentes no tom da reinterpretação histórica evidencia o recorte
escolhido pelo grupo, destacando escândalos políticos de maior repercussão
na imprensa. Por outro lado, o estilo satírico não se compromete com a total
verossimilhança dos acontecimentos reais, todavia propõe a crença no teor da
peça, o qual vai além do entretenimento, assumindo um caráter de denúncia e
questionamento das relações entre os cidadãos e o poder público. "Teodorico
Majestade" ainda faz parte da identidade cultural da comunidade que reproduz
artisticamente. A peça, como também a montagem, integra suas práticas e
seus discursos particulares aos pontos de convergência históricos, mostrando
a capacidade da representação ficcional de intervir nos modos que
determinado grupo social pode representar de si mesmo.

Palavras-chave: Memória. História. Teatro Popular.

“EU LARGUEI TUDO DE MÃO...ELE VOLTOU A ME PROCURAR”: A


PRODUÇÃO DE NARRATIVAS E A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA SOCIAL
EM INTERAÇÕES TELEFÔNICAS PARA O SERVIÇO DE EMERGÊNCIA DA
BRIGADA MILITAR (190) DE PORTO
Márcia de Oliveira del Corona (UNISINOS)

Resumo: Para Ochs e Capps (2001), o ser humano atribui coerência e


autenticidade a sua própria vida ao narrar as suas experiências,
ressignificando, assim, a sua autobiografia a cada novo evento narrado. Para
as autoras, a forma como essas experiências são formuladas depende das

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condições da narrativa (tellership), como por exemplo, quem são os
interlocutores, e qual a sua agentividade na interpretação, na elaboração e no
resgate da memória do que está sendo narrado. Esse estudo, de cunho
etnográfico (O'REILLY, 2009) e fundamentado pelo arcabouço teórico-
metodológico dos estudos de Fala-em-interação social (GARCEZ; RIBEIRO,
2002) entende que toda narrativa se insere em um contexto único de produção
e é localmente coconstruída, turno após turno, na e pela interação. As análises
de interações telefônicas entre comunicantes e atendentes do serviço de
emergência "190" revelam que este(a)s participantes se engajam na
coconstrução de narrativas, enquanto negociam a prestação do serviço.
Nossos dados demonstram a orientação do(a)s comunicantes para a produção
de narrativas que buscam a construção de uma imagem positiva de si
consoante com os valores morais vigentes localmente situados (DEL
CORONA, 2011).

Palavras-chave: Narrativas. Ligações de Emergência. Fala-Em-Interação


Social.

EVENTOS E PRÁTICAS DE LETRAMENTO: CONTOS DE POVOS


INDÍGENAS
Monica Filomena Caron (UFSCAR)

Resumo: No trabalho apresentam-se narrativas elaboradas por alunos


indígenas em atividade de extensão oferecida no campus Sorocaba da
UFSCAR, tratando-se de uma proposta que busca desenvolver uma
experiência educativa, mas também cultural e científica. Adotando uma
perspectiva discursiva da linguagem (FRANCHI, 1987; COUDRY, 1986), são
consideradas questões relativas ao ensino de linguagem na universidade.
Considerando-se a narrativa como um gênero textual que tem o potencial de
trazer para o presente práticas de letramento internalizadas, marcantes nas
trajetórias de formação dos alunos, enquanto ouvintes guardiães das tradições
e lendas de seus povos, a concepção de letramento é sócio-histórica e define o
estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como
consequência da (con)vivência com a escrita, o que abrange uma ampla gama
de pesquisas que investigam as habilidades e práticas sociais de leitura e
escrita, a ausência da escrita e suas consequências, as práticas culturais orais
dos grupos sociais compostos por indivíduos analfabetos - relegadas ao
esquecimento já que não são valorizadas socialmente - os discursos das
práticas de produção de texto, de leitura e as relações autor-texto-leitor - e
suas consequências na produção de diferentes práticas e diferentes gêneros
discursivos. Busca-se abordar as produções linguísticas dos estudantes,
explorando-se as contribuições da Linguística Aplicada para o desenvolvimento
dos processos de inserção destes sujeitos na universidade, buscando

67
elementos para entender como representam a universidade, assim como lhes
tem sido oferecida, e como lidam com as diferenças linguístico-culturais e com
as normas impostas; diferenças que compreendem desde a indumentária às
condutas, valores, princípios e filosofias de vida aos padrões que
compreendem nosso forte comportamento grafocêntrico, específico de uma
sociedade letrada. A perspectiva teórico-metodológica é a do linguista aplicado,
conforme definida por Kleiman (1998), que ao se separar dos paradigmas
privilegiados da linguística passou a construir seus próprios objetos de
pesquisa, suas próprias perguntas, seus próprios métodos e reformulações
teóricas; tem ficado evidente, no percurso dessa separação, que para o
linguista uma questão linguística interessa na medida em que é,
prioritariamente, uma perspectiva de ação social realizada discursivamente.

Palavras-chave: Letramento. Narrativas. Contos.

FIOS DE MEMÓRIA E TRADIÇÃO: O DISCURSO REGIONALISTA EM POR


ONDE DEUS NÃO ANDOU
Kerllen Miryan Portela de Paiva Norato (UFMA)

Resumo: O Nordeste surge enquanto região na primeira década do século XX,


quando o discurso regionalista é construído na busca de uma identidade para
esse espaço do Brasil de que até então não se falava. Antes dessa data, não
se pensava nessa parte do país e só por volta de 1910 se tem o nascimento de
um espaço social, atravessado por diversos discursos carregados de
estereótipos e mitos, que de forma positiva ou negativa se instituem para assim
criar a ideia de Nordeste. A partir da teoria de Foucault, em um trabalho de
arqueologia e genealogia, Durval Muniz (2011) desconstrói os discursos que
deram visibilidade e dizibilidade a esse canto do Brasil e que promoveram a
instituição cultural e social desse lugar e de sua gente. O Nordeste surge assim
como um objeto de saber e um espaço de poder, que se manifesta em um
arquivo de imagens e enunciados, condições de possibilidade que originaram
um recorte espacial, como entrecruzamento de discursos regionalistas. Desse
modo, é preciso pensar na idéia de Nordeste a partir da regularidade que esta
aparece em enunciados de diferentes discursos sobre a região, sendo que a
própria ideia de região se dá dentro de determinado contexto, situando-se num
plano histórico. O presente trabalho pretende analisar de que forma o discurso
regionalista emerge na construção do romance Por onde deus não andou do
escritor maranhense Godofredo Viana, a partir do estudo de Durval Muniz de
Albuquerque Junior (2011) o qual se ancora na teoria de Foucault (2010).
Trataremos também a ideia de região de Pierre Bourdieu (2011) e os estudos
de Alfredo Bosi (2008) sobre o chamado "romance de 30".

Palavras-chave: Nordeste. Discurso Regionalista. Literatura.

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FRADIQUE MENDES, O FAUSTO DA ALTA MODERNIDADE
José Carlos Siqueira (UFC)

Resumo: Fradique Mendes, sua correspondência, seus poemas e,


principalmente, a personagem em si têm se constituído num dos maiores
desafios da crítica queirosiana. O fato de o poeta fictício ter uma gênese bem
conhecida de ordem coletiva, aparecer furtivamente em outras obras e, mais
tarde, ganhar uma biografia bastante completa por parte de Eça de Queirós,
parece contribuir mais para sua complexidade do que para sua elucidação.
Some-se a isso a índole semipóstuma (conforme a nomenclatura de Guerra da
Cal) da publicação de sua correspondência em livro - que tudo indica deveria
receber outras coletâneas, configurando-se assim numa obra em aberto -, e
teremos uma das mais requintadas experiências literárias em língua
portuguesa. Dessa forma, Fradique granjeou análises e interpretações muito
variadas: alguns o consideram um alter ego do nosso romancista; outros, um
exercício sofisticado de estilo; ou, então, o porta-voz de concepções estéticas
da época em que foi criado; e, com maior força, o percursor da heteronímia
pessoana. Apesar de serem contribuições relevantes para os estudos
fradiquistas, tais leituras não resolvem o enigma literário proposto por Eça. A
pesquisa que venho desenvolvendo também não arroga a resolução definitiva
desse desafio, mas propõe uma perspectiva de análise que pode ser útil ao
esforço da crítica: pensando-se na natureza representacional da personagem
Fradique, seria possível descobrir nele traços de um sujeito social que
começava a tomar corpo no final dos Oitocentos, o burguês internacional.
Amparado nos conceitos da Teoria Crítica europeia, da corrente Literatura e
Sociedade, de origem brasileira, e, em especial, das ideias do critico e filólogo
alemão dolf Oehler, detectei nas cartas do poeta satanista um possível caráter
fáustico de Fradique que, até onde alcancei na fortuna crítica dessa obra, não
possui ainda nenhuma abordagem de peso. Pretendo nesta comunicação
delinear a figura do pactuário em Fradique Mendes e propor que essa nova
apropriação do mito de Fausto, a partir das peças de Goethe, pode ser uma
forma instigante de exprimir literariamente o surgimento de um novo tipo de
burguesia, definidora, em parte, do período que designo de Alta Modernidade.

Palavras-chave: Fradique Mendes. Mito Fáustico. Burguesia Internacional.

HISTÓRIA, CULTURA E AS NARRATIVAS ORAIS NA CONSTRUÇÃO DA


CULTURA MARAJOARA
Iana Rocha Pinho (UFPA)

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Resumo: O registro das narrativas orais é de suma importância para a análise
no desenvolvimento social, econômico, histórico e cultural na região marajoara,
uma vez que a cultura se transforma a cada momento. A cultura mitológica
marajoara surgiu a partir da união da criatividade cabocla com a cultura
europeia, recebendo influência cultural também de outros estados.
Trabalharemos, especificamente, conhecimentos históricos e culturais da
região marajoara visando integrar suas narrativas ao mundo acadêmico,
contribuindo na qualificação e formação cultural na perspectiva inclusiva
sociocultural. Discutiremos o poder dessa cultura como lugar de reafirmação de
experiências históricas e a preservação da cultura a partir das narrativas orais
buscando aproximar a comunidade a sua formação histórica. Os
procedimentos teórico-metodológicos dar-se-ão através da fundamentação
teórica dada por Geertz (1997) que tem por consequência a reconfiguração do
pensamento social que se dá pela interação entre as diversas culturas,
Bauman (1990), Cascudo (1989 e 1972), que define a literatura oral como
conjunto de manifestações artísticas que advém da cultura popular e ainda por
Santos (1994), antropólogo, que nos lembra que o origem latina da palavra
cultura, ligada as atividades agrícolas, a partir do verbo colere que significa
cultivar. As narrativas marajoaras são representadas pelas lendas e mitos
contados pela população e que são passadas através das gerações. Também
esta relação é objeto de estudo de nosso projeto.

Palavras-chave: Narrativas Orais. História. Cultura. Marajó.

IDENTIDADE, DIFERENÇA E SENTIDO: O PERCURSO DO OLHAR E DA


PENA NA NARRATIVA SOBRE O OUTRO
Rita de Cássia A. Pacheco Limberti (UFGD)

Resumo: Este trabalho trata das relações identitárias de sujeitos de culturas


diferentes em contato. Perscrutam-se as nomeações e as categorizações
feitas pelo sujeito enquanto sujeito-destinatário de uma dada realidade, que
consistem num processo que opera com os sentidos fazendo escolhas capazes
de configurar, o mais proximamente possível, um mundo anteriormente
concebido, por isso mitológico e real - na medida em que se sustenta desde um
longo tempo anterior no imaginário popular - ao mesmo tempo em que produz,
pelos mesmos procedimentos, a imagem do sujeito destinador (o outro). O
conceito de Greimas (1987) em "de l'imperfection","l'ecran du paraître qui se
décrire entrevoie l'autre sens", bemdefine a dificuldade em se lidar com o
figurativo que não diz de si, que quase dissimula e conduz a percepção a uma
reabilitação. O contato intercultural propõe, no entanto, uma dupla orientação à
noção de "apreensão": uma, através da percepção e do sensível (estesia);
outra, através da cultura, seus paradigmas e sua evolução (estética). Para
Merleau Ponty (1999, p. 42), entre a primeira e a segunda orientações ocorre

70
uma amplificação, uma complexificação, vai-se mais longe em termos de
produção de sentido, até esbarrar-se na questão: "Les choses je regarde ou je
suis regardé par les choses?" O "mergulho" em outra formação cultural traz o
contato com o novo, porém em que momento do percurso da percepção e da
estesia pode-se classificar algo como "novo"? Paul Valery (s.d., p. 22), em
"Discours sur l'esthétique", propõe uma formulação que sugere o mecanismo
de apreensão do "novo": "l'innovation n'est pas seulement la nouveauté.C'est
une réponse a um problème qui n'existe pas comme un problème et qui devient
a être un problème aprés la posé de la réponse." Os primeiros resultados
apontam para imagens pré-concebidas do outro ou, quando não, imagens
refratadas pelos conceitos cristalizados - que não deixam de ser pré-conceitos.

Palavras-chave: Narratividade. Identidade. Sentido

"LEMBRAR, LEMBRAR MUITO, LEMBRAR BEM..." MEMÓRIAS DE


VELHOS E OS DICURSOS SOBRE SUA FUNÇÃO SOCIAL
Juliana Brondani da Costa (UFPI)
Rafael Galeno Machado (UFPI)

Resumo: O presente artigo pretende-se analisar os discursos auferidos sobre


a função social dos velhos a partir de suas memórias compartilhadas e o papel
do pesquisador nesse percurso. O mundo dos velhos é de modo mais ou
menos intenso, o mundo da memória. Somos aquilo que pensamos, amamos,
realizamos, porém podemos acrescentar que somos aquilo que lembramos. O
relembrar é uma atividade mental que não exercitamos com frequência porque
é desgastante ou embaraçosa. Mas é uma atividade salutar. Na rememoração
reencontramos a nós mesmos e a nossa identidade, não obstante os muitos
anos transcorridos, os mil fatos vividos. Então chegamos ao principal
questionamento: Para que servem os velhos? Para lembrar, lembrar muito e
lembrar bem. A função social exercida durante a vida ocupa parte significativa
da memória dos velhos, e isso não ocorre por acaso. É uma narrativa de
homens e mulheres que já não são mais ou menos membros ativos da
sociedade, mas que já foram. Isso significa que os velhos, apesar de não
serem mais propulsores da vida presente de seu grupo na sociedade, têm uma
nova função social: lembrar e contar aos jovens a sua história, de onde eles
viviam o que fizeram e aprenderam. Na velhice as pessoas tornam-se a
memória da família, do grupo, da sociedade. As vozes dos velhos enquanto
autonomia de expressão se constituem como sujeitos reais, sociais e ativos na
construção da realidade. Sendo o pesquisador membro da sociedade, coloca-
se, inevitavelmente, a questão de seu lugar e de suas possibilidades de
relativizá-lo ou transcende-lo e poder pôr-se no lugar do outro. O pesquisador
ao mesmo tempo pode ser sujeito e objeto nesse percurso. Sujeito enquanto
indaga e procura saber, e objeto enquanto ouve, registra sendo um instrumento

71
de receber e transmitir lembranças. Com isso, dos velhos espera-se a
lembrança. Mas quando não se valoriza essa função social há um
esvaziamento e desvalorização dessa nova etapa da vida. Metodologicamente
a pesquisa é bibliográfica com aporte teórico em: Bosi(1994), Bobbio (1997),
Velho (1987), Lima (2008) e também obras de Gabriel García Marquez e
Machado de Assis.

Palavras-chave: Velhos. Memória. Função Social.

MEMÓRIA: A CONSTRUÇÃO POÉTICA DO EU EM DUAS OBRAS DE MIA


COUTO
Ilse Maria da Rosa Vivian (URI)

Resumo: O trabalho que ora apresento se origina da reflexão sobre a


construção da personagem na narrativa literária contemporânea, cujos efeitos
exigem a pré-compreensão do agir humano, o elo mais forte que une texto e
leitor. As estratégias de composição do eu têm promovido, não sem polêmicas,
amplas discussões a partir das identificações com dadas realidades, instigando
o reordenamento ideológico e conceitual do homem sobre si mesmo e sobre
tudo que o cerca. dado que a instância discursiva do eu obriga a pensar a
linguagem não mais como mero instrumento, mas como exercício de uma fala,
pressupondo, assim, o interlocutor no próprio discurso, a personagem passa a
ser o principal elemento narrativo a colocar em relação as diferentes
perspectivas histórico-culturais. Compreendo, então, que ler a personagem
significa refletir sobre as complexas, heterogêneas e conflitantes relações que
se instauram entre sujeitos, o que torna cada vez mais premente a
comunicação entre o que é reconhecido como diferente e o que se integra na
construção da mesmidade. Com o objetivo de analisar a construção do eu,
concentro-me na ficção pós-colonial das Literaturas Africanas, especificamente,
em duas narrativas de Mia Couto, cujas temáticas problematizam, hoje de
forma mais aguda que em outras literaturas, as relações interculturais e o
processo de formulação das identidades: Terra Sonâmbula e Um rio chamado
tempo, uma casa chamada terra. A personagem, com o destino de alcançar o
próprio reconhecimento e abarcar o sentido da própria vida, aparece como
dimensão subjetiva articulada pelas aporias da memória. Para a abordagem
analítica do corpus, tomo como principais referências de apoio as teorias de
Paul Ricoeur e de Gaston Bachelard. Parto da visão de narrativa como
formulação que só pode acontecer pela interação entre o domínio do mundo
real e suas qualificações éticas e o domínio do mundo imaginário e suas
qualificações estéticas.

Palavras-chave: Narrativa Pós-Colonial. Memória. Mia Couto.

72
MEMÓRIA DISCURSIVA E INTERDISCURSO: A CONSTRUÇÃO DOS
EFEITOS DE SENTIDO NO DISCURSO DA INCLUSÃO DO SUJEITO COM
DEFICIÊNCIA NA MÍDIA.
Antonia Janny Chagas Feitosa (UERN)
Maria Eliza Freitas do Nascimento (UERN)

Resumo: A mídia, através de suas produções discursivas faz circular discursos


sobre a inclusão social do sujeito com deficiência em diferentes âmbitos. Neste
sentido este trabalho tem como objetivo analisar os efeitos de sentido nos
enunciados de capa da revista Sentidos, observando a relação do interdiscurso
e da memória discursiva na produção desses efeitos de sentidos. Utilizamos
como aporte teórico a Análise do Discurso de linha francesa, com base nas
teorias dos autores Michel Pêcheux e Michel Foucault, que respaldam
discussões acerca do discurso, através do entrelaçamento da língua com a
história, no qual os dizeres são constituídos por diferentes vozes sociais,
oportunizando assim, uma leitura discursiva dos enunciados. Por meio da
produção e circulação do discurso, a revista Sentidos ao falar sobre a inclusão
do sujeito com deficiência seja na escola, no mercado de trabalho, no esporte
ou no lazer produz diferentes efeitos de sentidos sobre a deficiência e o sujeito.
Quando levamos em consideração que o discurso da inclusão social está
inserido em uma formação discursiva constituída por outras vozes, ou seja,
pelas legislações que formam o discurso jurídico e pelas políticas públicas já
existentes, produz um efeito de sentido de igualdade para os sujeitos, tendo em
vista que a historicidade sempre colocava esses sujeitos à margem da
sociedade. Com isso há deslocamentos nesse discurso que promove um efeito
de conquistas por direitos iguais, o que faz mudar o perfil do sujeito com
deficiência na sociedade contemporânea. Observamos, portanto que a revista,
ao favorecer esses efeitos de sentido sobre a deficiência na sociedade,
também atua como espaço midiático que permite demonstrar em seu interior a
presença de vários discursos oriundos de diferentes momentos na história, já
que pela retomada da memória discursiva, é possível perceber como os
sentidos se movem na historicidade dos enunciados.

Palavras-chave: Memória. Interdiscurso. Identidade.

MEMÓRIA EM CONSTRUÇÃO: REPRESENTAÇÕES IDENTITÁRIA DO


SUJEITO IDOSO
Silvana Cosmo Dias Silvane (UEMS)

Resumo: Na pesquisa que ora apresentamos, nosso olhar é voltado para a


memória discursiva, uma vez que esta concepção de memória desarticula a
memória como rememorar, lembrar de acontecimentos que, supostamente

73
podem ter acontecido. Esta condição de memória desloca para a constituição
de sujeitos e de discursos. Entendemos, portanto, que a memória é constituída
de esquecimentos; de fragmentos que formam o inconsciente; de fagulhas de
acontecimentos que cruzam com os traços significantes responsáveis pela
constituição da subjetividade. É, portanto, atravessada pelos discursos
construídos socialmente. Nosso objetivo, nesta pesquisa, é analisar o discurso
de um idoso inserido no processo de Letramento do sistema Educação de
Jovens e Adultos da Escola Municipal Cirley Volpe Lopes, no Município de
Santa Fé do Sul-SP, ao relatar suas memórias, e, interpretar as representações
que circulam no imaginário desse idoso, estabelecendo, possíveis relações
com o processo de constituição identitária. Esta pesquisa situa-se sob os
pressupostos teóricos da Análise do Discurso de linha francesa, do Discurso,
Memórias e Representações em torno dos aparatos teóricos de Foucault
(1997), Pêcheux (1999), Coracini (2007) e outros. Ancoramos a identidade,
considerando que ela está em processo de transformação, portanto, torna-se
difícil identificá-la. O corpus foi constituído pela memória desse idoso, coletada
e transcrita em forma de narrativas e analisada de acordo com os pressupostos
teóricos da abordagem discursiva. Assim, a análise, foi direcionada por
questões como: problematizar a questão do idoso na sociedade
contemporânea, entender os ditos e não ditos presente em sua narrativa, que
ideologias defende, que valores apregoa, e como valoriza o letramento em sua
vida. A metodologia utilizada, nesta pesquisa, advém do método arqueológico
de Foucault, aliando aos pressupostos teóricos da Análise do Discurso de linha
francesa. Assim, ao analisar esse discurso, foi possível entender as
identificações do sujeito idoso e as múltiplas identidades constitutivas do sujeito
analisado, que está em processo mutável e contínuo.

Palavras-chave: Letramento. Memória. Processos.

MEMÓRIA E NARRATIVA CONTEMPORÂNEAS ATRAVÉS DE IMAGENS:


UMA ANÁLISE DA FOTOGRAFIA NOS SITES DE REDES SOCIAIS
Jessica de Souza Carneiro (UFC)
Idilva Maria Pires Gernamo (UFC)

Resumo: O estudo da memória e da narrativa no campo das imagens se


mostra como um caminho desafiador, sobretudo na contemporaneidade,
quando tentamos compreender estas duas instâncias circunscritas nos
ambientes digitais. A fotografia, em alguma instância, opera nos processos de
significação, isto é, nos significados que os sujeitos conferem a um dado
acontecimento, como também produz um tipo de memória peculiar. Essa
fotografia não apenas produzida, mas pensada com a finalidade última de ser
compartilhada online, é o que muito interessa. Propomo-nos a estudar como as
fotografias compartilhadas no Facebook atuam sobre a produção de memórias

74
autobiográficas e coletivas, com efeitos sobre atuais formas de narração de si.
Em outras palavras, procuramos entender como as novas formas de fazer
imagem digital (principalmente aquelas que são produzidas para serem
compartilhadas) operam na forma como os usuários guardam memórias e
usam a fotografia para construí-las, forjando concepções de passado-presente-
futuro a partir da imagem que foi midiatizada. Além disso, investigamos como
essas novas maneiras de guardar memória atuam sobre a fabricação das
atuais narrativas de si. Para realizar a pesquisa, apoiamo-nos nos conceitos de
memória, narrativa e novas mídia de Van Dicjk, Brockmeier e Sibilia, e em
Dubois e Samain para construir os pilares do que compreendemos como
fotografia. O estudo qualitativo analisou fotografias compartilhadas em algum
álbum do Facebook, selecionadas de forma aleatória. O convite à participação
foi realizado pelo próprio Facebook. Através de um questionário semi-
estruturado digital, os respondentes dissertaram sobre a relação entre a
produção de fotografias digitais e a elaboração de memória e narrativa
autobiográficas. Dentre os resultados, percebeu-se que os indicativos materiais
de apreciação à imagem compartilhada (número de curtições e comentários)
predominam como preocupação primordial ao compartilhar uma fotografia,
moldando assim as memórias autobiográficas dos sujeitos. Ademais,
constatou-se também certos padrões de enquadramento e conteúdo da
imagem que parecem revelar um ethos negociado na rede que nivelam os tipos
de fotografias "publicizadas", e por consequência a produção de uma narrativa
e uma memória autobiográficas inspiradas em uma narrativa mestra.

Palavras-chave: Memória. Fotografia. Redes Sociais.

MEMÓRIA E NARRATIVAS NA (RE)CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO


MOBRAL, NO SERTÃO ALAGOANO
Jailson Costa da Silva (UFAL)
Marinaide Lima de Queiroz Freitas (UFAL)

Resumo: Este trabalho é um recorte de uma pesquisa de mestrado (2011-


2012), que fez uma (re)construção histórica do Movimento Brasileiro de
Alfabetização (MOBRAL), após quatro décadas sobre os
impactos/contribuições do referido Movimento, especificamente o Programa de
Alfabetização Funcional (PAF), na formação de sujeitos ex-alunos, da cidade
de Santana do Ipanema, sertão alagoano. A investigação partiu de um contexto
mais amplo, que diz respeito aos Centros de Referência e Memória de EJA, e
sua continuidade em formação de doutorado, articulando-se em rede na
interlocução de pesquisadores da UFAL e UERJ, por meio do Programa Capes
PROCAD/Casadinho. Neste recorte, objetivamos apresentar as contribuições
das narrativas memorialísticas dos ex-alunos sertanejos, partícipes das ações
do PAF/MOBRAL no período de 1970 a 1985. O corpus constituiu-se a partir

75
das narrativas advindas de entrevistas semiestruturadas, tomando como base
à abordagem qualitativa da história oral, a partir dos postulados teóricos de
Bosi (1994), Halbwachs (2006), Pollak (1989), Portelli (1997) e Thompson P.
(1992). Enfatizamos a importância das memórias que afloraram nas narrativas
orais para a evocação do passado silenciado, esse posicionamento de luta pela
preservação da memória, no intuito de reinterpretar o passado, advém do
pressuposto de que os fatos, com pouca ou nenhuma visibilidade na
historiografia têm, no testemunho oral, a oportunidade de serem contados por
meio das narrativas dos sujeitos ordinários e anônimos das culturas
minoritárias Certeau (2011a e b), Benjamin (2012) Thompson, E. P. (1998). O
encontro com as memórias evidenciou a relevância das contribuições advindas
das ações de alfabetização e outras, que foram implementadas posteriormente
dentro do Movimento, a exemplo da mobilização da comunidade sertaneja em
torno das ações culturais do MOBRAL.

Palavras-chave: Memória. Narrativas. Sertão Alagoano.

MEMÓRIA FAMILIAR: REPRESENTAÇÃO ÍNTIMA E SOCIAL DA CASA NO


CONTO E NA LÍRICA DE MARIA LÚCIA DAL FARRA
Ingrid Suanne Ribeiro Costa (UFPI)

Resumo: Em seus estudos sobre a fenomenologia da criação poética,


Bachelard (2008) afirma que a casa é uma das imagens que revela com mais
clareza a intimidade e as lembranças do homem. Já, Luis Alberto Brandão
(2001) mostra como a intimidade da casa pode se relacionar com questões de
ordem social e estrutural. Percebe-se, portanto, que a casa é uma imagem cara
para a Literatura de diversas nações. Na lírica de Maria Lúcia dal Farra, por
meio da memória tanto a vida íntima quanto as cenas coletivas e familiares são
retratadas através de cômodos e objetos espalhados pela casa. Já, no livro
Inquilina do Intervalo (2005) verifica-se em alguns contos a relação amorosa e
saudosista com a Nona (vó em italiano), representada de modo memorialista.
Dessa maneira, o objetivo deste trabalho é analisar a imagem da casa através
de uma perspectiva social salientada pela memória. Para tanto, analisamos o
poema "Manhã" do Livro de Auras (1994) averiguando a relação da poetisa
com a sua Nona no espaço da casa, especialmente na cozinha, comparando
com o conto "A árvore" o qual também narra de modo autobiográfico a relação
afetiva com a avó. Observa-se que o sujeito lírico e o contista relembram as
cenas da infância ocorridas com a Nona através, principalmente da imagem da
casa e dos objetos presentes no ambiente domiciliar, como o fogão de lenha.
Logo, esses elementos são responsáveis por despertar e aquecer a memória
familiar. Conclui-se, portanto, que as dimensões íntima e social do espaço têm
um caráter extremamente humanizador, sempre revelando uma densa e aguda
experiência de vida.

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Palavras-chave: Espaço Ficcional. Casa. Memória.

MEMÓRIAS DE UM APRENDIZ ESCRITOR: A QUESTÃO DA


AUTOBIOGRAFIA
Rafaela Silva Nunes (UECE)

Resumo: O livro Memórias de um Aprendiz Escritor, do gaúcho Moacir Scliar,


é uma história narrada em primeira pessoa e configura-se como um relato
autobiográfico. Nele, através das memórias, desde o tempo da infância até a
faculdade, o escritor narra o processo de como se tornou escritor. Como é um
livro narrado em primeira pessoa e há a junção do escritor-narrador, através de
elementos da própria vivência, talvez fique difícil para o leitor saber quando é
um fato histórico ou apenas um elemento ficcional, para deixar a obra mais
atrativa para quem ler. Quando se fala em autobiografia, costuma-se pensar
em relato da vida de uma pessoa baseada apenas em fatos concretos, sem a
interferênciada imaginação do sujeito-narrador. O intuito do gênero é fazer o
leitor acreditar na verossimilhança da história através das memórias vividas e
escritas pelo autor. Contudo, quando, descreve fatos reais, está criando um
sujeito real (eu) que inventa fatos, e isso é possível pois o autor desdobra-se
em vários sujeitos, consequentemente, adquire uma nova identidade uma
maneira, talvez, que este gostaria de ser enxergado na obra. Neste ponto,
surge o questionamento: a partir do momento em que o sujeito-narrador cria
novos fatos por via das suas memórias, a obra produzida pode ser considerada
autobiografia? Para ajudar a clarificar essa indagação, recorre-se à
contribuição oferecida pelos estudos de Phillippe Lejeune, cujo livro O pacto
autobiográfico insiste na discussão do par realidade-ficção, Walter Benjamin,
com foco no texto "O Narrador", além de outros estudiosos como Paul Ricoeur.

Palavras-chave: Memórias. Autobiografia. Experiência. Ficção-Realidade.

MEMÓRIAS DO CÁRCERE: NARRATIVA, MEMÓRIA, VISÕES LITERÁRIAS


E POLÍTICAS
Marcio Fonseca Pereira (UECE)

Resumo: Este trabalho é o resultado de uma pesquisa de doutorado em Teoria


Literária na UFRJ. O objetivo foi investigar as relações de acordo e desacordo
entre os aspectos intelectual e político em Memórias do cárcere (1953),
autobiografia de Graciliano Ramos, cujos traços ficcionais se apresentam em
tom variado ao longo da obra. Esses traços ficcionais se prestam de maneira
eficaz para a reconstrução do sentido da experiência no cárcere,
frequentemente difícil por meio do simples depoimento; igualmente, aliam-se

77
ao relato para dar notícia da evolução da consciência histórica e social de
Graciliano, bastante focada no papel do escritor na sociedade brasileira de sua
época. Desse modo, as Memórias assumem o duplo valor das grandes obras
literárias que - além de revelar um profundo senso de mediação artística-
jogam luz sobre a realidade social, criando um novo modo de conhecimento
dos homens pelo tratamento literário de suas contingências históricas e sociais.
Nossa base teórica foi variada, partindo de Ficção e Confissão, de Antonio
Candido (panorama clássico da obra do escritor alagoano) e se estendendo
para estudos históricos e sociológicos como, por exemplo, a obra Intelectuais à
brasileira, de Sergio Miceli, que monta um quadro muito importante para o
conhecimento das razões da atuação literária de diversos escritores da década
de 30. Como metodologia de pesquisa, empregamos uma análise dialética das
relações entre forma literária e processo social, calcada especialmente nos
ensaios de Roberto Schwarz já que estes realçam a riqueza e a contradição
das posições nos textos literários, frequentemente jogando luz sobre homens e
obras. Em termos de resultados, as contribuições fundamentais da tese foram
se afastar da exploração exclusiva da visão do pessimismo atribuída ao escritor
(às vezes, obsessiva em sua fortuna crítica) bem como realçar questões de
posicionamento literário e político do escritor, as quais se entrelaçam num
relato que deixa de ser apenas pessoal e atinge o status de verdadeiro
documento literário de sua época.

Palavras-chave: Narrativa. Memória. Intelectual.

MEMÓRIAS NARRATIVAS DE SURDOS: HISTÓRIAS E RELATOS DE VIDA


GARIMPADOS EM REDES SOCIAIS TECNOLÓGICAS
Ricardo Santos dantas (UESC)

Resumo: Este trabalho buscará examinar a relação entre Memória e História


de Surdos nos Espaços e Tempos socioculturais antes e após o surgimento
das tecnologias de incormação e comunicação. O objetivo é pesquisar através
da internet, em redes sociais, as narrativas de vida de pessoas surdas de
diversas partes do território nacional brasileiro, na perspectiva de como as
tecnologias têm contribuído para que esses sujeitos contem a própria história
pelo viés da identidade surda, ação negada desde os primórdios das
concepções sobre a surdez tanto pela família quanto pela escola e pela
sociedade, caracterizando-os como sujeitos patológicos em contextos
apresentados pelo universo oral, silenciando-os no constructo de suas
memórias individuais e coletivas. Espera-se que os surdos representem-se
como parte do sistema de inclusão, negando as concepçoes dos modelos
médico e social que reiteram o papel hegemônico da exclusão. O referencial
teórico se embasará em Frazer (2004), Halbwachs (2006), Le Goff (2003),
Pollak (1992; 1989), Nietzsche (2002; 2005), Nora (1984) e outros. A pesquisa

78
terá como proposta a análise de textos enviados por pessoas surdas de
diversos teritórios do Brasil, compreendendo que as redes sociais extrapolam
os limites espaciais quando as tecnologias digitais são utilizadas. Como
proposta de análise dos resultados utilizar-se-á o método qualitativo, conforme
Minayo (2001) e o método comparativo segundo Schneider; Schmitt (1998) e
Boas (2009).

Palavras-chave: Memória e História. Tecnologia. Surdez e Inclusão.

MODOS DE VER E MODOS DE VIVER: A CONSTRUÇÃO VISUAL NA


FORMAÇÃO DO SUJEITO
Cecília de Fátima Boaventura de Macedo (C. Estadual Luiz Viana Fº)
Marysther Oliveira do Nascimento (SEDUC - BA)

Resumo: Estamos vivendo no momento uma condição contemporânea


marcada profundamente no reino da imagem. E esse desejo de visibilidade
atinge de modo particular os adolescentes e jovens. Trazemos à discussão um
projeto de sala de aula baseado na teoria da Cultura Visual (Mitchell, 2003), e
(Escosteguy, 2010). Através da percepção visual do seu contexto buscamos
entender as narrativas desse aluno em relação ao seu papel, enquanto sujeito
histórico, seus valores e suas práticas cotidianas e como essas práticas fazem
parte de uma história coletiva. A importância desse redimensionamento está na
construção de memórias significativas (Le Goff) e da própria identidade
(Gladdis) como algo que se transforma, com o passar do tempo, mas que não
pode ser desvinculado de uma consciência histórica. A metodologia utilizada foi
na confluência de várias abordagens tendo como ponto de partida o
levantamento da prática social e cultural vivida pelos estudantes em seu
cotidiano no contato com as diversas linguagens, seus interesses e vivências
em seguida partimos para os relatos, a leitura crítica das imagens a
decodificação, apreciação e interpretação. Conforme Stuart Hall e Jessica
Evans (1999), discutir cultura visual é trazer à tona as práticas cotidianas de
olhar e exposição. Neste sentido, os modos de olhar e representar visualmente
o que nos rodeia são, histórica e culturalmente modelados.

Palavras-chave: Cultura Visual. Estudantes. Identidade.

MOVIMENTO BRASILEIRO DE ALFABETIZAÇÃO – MOBRAL: AÇÕES E


MEMÓRIAS NO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DO JAGUARIBE/CE (1972-1979)
João Paulo Guerreiro de Almeida (UECE)
Elenice Rabelo Costa (UECE)
Sandra Maria Gadelha de Carvalho (UECE)

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Resumo: O Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL foi um Programa
criado durante o Regime Militar no ano de 1969, com o objetivo de erradicar o
analfabetismo no Brasil em um período de dez anos. Para isto, desenvolveu
atividades de alfabetização funcional, educação integrada e educação cultural.
Neste trabalho, teve-se como objetivo analisar o funcionamento do MOBRAL
no município de São João do Jaguaribe, de 1972 a 1979, de forma
contextualizada, a partir da reconstituição das memórias de ex- participantes,
observando os limites enfrentados e possibilidades de criatividade e autonomia
na prática pedagógica. Para o desenvolvimento desta pesquisa, recorreu-se a
Ricoeur (2007), acerca da importância da categoria memória; Paiva (1973),
Paiva (2005), Coelho (2007) e Furtado e Pereira (2015), a fim de discutir a
Educação de Jovens e Adultos com um breve histórico das ações
desenvolvidas entre as décadas de 1950 e 1960, culminando com criação do
MOBRAL. Realizaram-se entrevistas com a participação de ex-professoras, ex-
alunos e membros da Comissão Municipal do MOBRAL, na perspectiva de
(re)construir a memória existente sobre o Programa. Constatou-se a existência
de atividades de turmas de alfabetização funcional e educação integrada,
desenvolvidas nos contextos rural e urbano, nos anos de 1972 e 1978-1979,
respectivamente. Refletiu-se, diante das narrativas das professoras, sobre o
rendimento das atividades nestes contextos, em que as atividades
desenvolvidas no âmbito rural tiveram rendimento abaixo do esperado, evasão
acentuada, desestímulo e cansaço físico dos alunos. Na turma de educação
integrada, segundo a professora, alguns alunos conseguiram ter bom
rendimento, concluindo os estudos e recebendo habilitação para o magistério.
Sobre os alunos, constatou-se que a maioria buscava a alfabetização na
perspectiva de aprender a escrever a fim de participar como eleitor, e alguns
relatam terem sido vítimas de preconceito. O Programa teve também atividades
inovadoras, como a MOBRALTECA, a biblioteca ambulante que trazia livros
para emprestar à população. Constatou-se que através das memórias os
participantes enriquecem suas narrativas, incorporando avaliações do que
representou a experiência em suas vidas. Por fim, o MOBRAL foi um programa
que beneficiou parte da população São-Joanense, entretanto, alguns dos seus
objetivos e práticas pedagógicas deveriam ter sido repensados e melhor
desenvolvidos.

Palavras-chave: Mobral. Memória. São João do Jaguaribe.

NARRATIVA E HISTÓRIA POLÍTICA: O OLHAR DA REVISTA O CRUZEIRO


SOBRE A REVOLUÇÃO DE 30 NO BRASIL
Thalyta Cristine Arrais Furtado Araújo Gonçalves (UFPI)
Pedro Júlio Santos de Oliveira (UFPI)

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Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar como é construída a
narrativa sobre a Revolução Nacional na revista O Cruzeiro. O periódico que
circulou entre 1928 e 1975 era editado pelos Diários Associados, comandado
por Assis Chateaubriand, e tornou-se uma das principais revistas brasileiras do
século XX. O Cruzeiro trazia em suas páginas temáticas variadas - moda,
esporte, colunismo social, política, história, cinema, arte - em modalidades de
escritas diferenciadas - crônicas, contos, charges, poesias - e com uma
estética que valorizava a fotografia. Desenvolvemos este trabalho adotando o
conceito de narrativa a partir da perspectiva de Genette (2011) e Paul Ricoeur
(2010), que entendem a narrativa como elemento de representação da
realidade social, onde o fato representado não significa a coisa em si,
verdadeira e autêntica, mas um retrato imaginário e simbólico. Desta forma,
buscamos aproximar aspectos da narrativa jornalística e histórica na revista O
Cruzeiro, a partir de uma análise qualitativa da edição especial Revolução
Nacional - documentos para a História -, publicada no fim do ano de 1930. O
exemplar traz reportagens que abordam esse momento político mostrando
como se organizou a revolução, fatos que corroboraram para a ascensão de
Getúlio Vargas ao poder e personagens históricos que participaram
diretamente deste contexto. Ao final, é possível constatar que a publicação de
natureza memorialística mostra o alinhamento do periódico aos ideais
getulistas e legitima, através de sua narrativa, o movimento conhecido como
Revolução Nacional. Assim, a edição especial de O Cruzeiro, embora reflita o
posicionamento político da revista, possui uma potência multiplicadora de criar
novos significados sobre este momento da história política brasileira.

Palavras-chave: Narrativa. O Cruzeiro. Revolução Nacional.

NARRATIVA E MEMÓRIA NO ENTRECRUZAMENTO DA HISTÓRIA E DA


FICÇÃO DE ANTÔNIO CONSELHEIRO
Marcos Roberto dos Santos Amaral (SEDUC-CE)

Resumo: Ricoeur (1994) introduz o entrecruzamento da história e da ficção


explicando que a sobreposição recíproca da história e da ficção justifica-se a
partir do confluente paralelismo fenomenológico entre as heterogêneas
reinscrição (da primeira) e imaginação (da segunda) refigurativas do tempo
cósmico (cria-se, assim, o tempo humano). Explica que o momento
fenomenológico do ato da leitura de uma teoria ampliada da recepção (da
literatura) converge a história e a ficção a partir do entrecruzamento concreto
das intencionalidades de ambas. A noção de "figurar-se que" triunfa nessa
concretização recíproca. Ricoeur conclui explicando que o tempo humano
"conjuga a representância do passado pela história e as várias imaginativas da
ficção, sob o pano de fundo das aporias da fenomenologia do tempo" (332). Ele
é derivado do entrecruzamento do momento quase histórico da ficção com o

81
momento quase fictício da história. Nesse sentido, a partir da leitura comparada
de trechos referentes a representação da imagem e personagem histórica e
ficcional Antônio Conselheiro, em Os Sertões, Euclides da Cunha (1984), A
Guerra do Fim do Mundo, Llosa (2008), e História do Brasil, Boris Fausto
(1995), teceremos algumas considerações dos processos convergentes de
construção das narrativas e representação das memórias presentes nas obras
citadas. Apoiaremos nossa análise nos conceitos, nas modalidades e
problemas que Ricouer propõe. No caso da ficcionalização da história, os
conceitos de conectores, rastros e reentrâncias e as modalidades do papel
mediador do imaginário; do efeito de ficção e de dicção e dos acontecimentos
marcantes (epoch-making); já para o caso da historicização da ficção,
voltaremos atenção ao problema da marcação temporal de passado e da
verossimilhança. Nosso objetivo, portanto, é pautado em leituras sobre Antônio
Conselheiro, discutir os entrecruzamentos entre as intencionalidades da ficção
e da história na construção - reinserção e imaginação - das representações
culturais de fenômenos sociais nas memórias e narrativas, enquanto
refigurações do tempo humano.

Palavras-chave: Narrativa. Memória. Antônio Conselheiro.

NARRATIVAS DE ESTUDANTES DA UFC: MOTIVAÇÕES E SENTIDOS NA


ESCOLHA DO CURSO DE PEDAGOGIA
Francisca Josélia Inocêncio de Lima (UFC)

Resumo: Este trabalho é um recorte da tese em andamento: "Gênero na


trajetória de vida dos estudantes do curso de Pedagogia da UFC: um estudo
sobre o impacto desse marcador no perfil acadêmico". A partir dele,
objetivamos compreender as motivações e sentidos dados pelos estudantes
que os impulsionaram à escolha do curso de Pedagogia da Universidade
Federal do Ceará. Para tanto, utilizamos a pesquisa qualitativa, através da
abordagem metodológica da pesquisa autobiográfica, com um grupo de 6
estudantes de ambos os sexos (duas mulheres e quatro homens) dos cursos
de Pedagogia diurno e noturno. Para a constituição do corpus, foram realizados
8 encontros formativos na Faculdade de Educação (Faced-UFC), com o intuito
de possibilitar a produção das narrativas orais dos sujeitos no grupo e a escrita
autobiográfica individual referente ao percurso escolar. Os encontros foram
registrados em áudio, foto e vídeo. As bases teóricas que fundamentaram as
reflexões deste trabalho foram: pesquisa autobiográfica (COSTA, 2011;
MOMBERGER, 2008; PASSEGI, 2008; JOSSO, 2008; SOUZA, 2008; GÓRRIZ,
2008), formação docente (TARDIF, 2006), identidade (SILVA, 2007, 2000),
alteridade (COSTA, 2011; WULF, 2003), análise do discurso (MAINGUENEAU,
2005) e gênero (BUTLER, 2000; LOURO, 2000). Os resultados mostram que
cada um dos sujeitos escolheu o curso de pedagogia a partir de um conjunto

82
de motivações, que variam desde querer seguir o exemplo de uma pessoa
estudiosa da família ou próxima ao sujeito, passando pela realização de testes
vocacionais, e também, pela identificação com a profissão docente, dentre
outras motivações. Sendo que a escolha do curso, a partir do conjunto de
motivações de cada um, foi determinada por um sentido afetivo atribuído pelos
sujeitos.

Palavras-chave: Narrativas. Percurso Escolar. Sentido.

NARRATIVAS ORAIS: METÁFORAS DA VIDA SOCIAL


Ana Lúcia Gomes da Silva (UNEB)
Nádia Barros Araújo (UNEB)
Charles Maycon de Almeida Mota (UFG)

Resumo: O artigo em tela pretende discutir como as narrativas orais se


constituem em representações sociais que evidenciam os modos de observar,
ler, (des)ler e compreender o mundo, sendo elas instrumentos importantes de
preservação e transmissão das heranças identitárias e das tradições. Para
tanto partimos do entendimento das narrativas orais como produtos culturais,
caracterizadas pelo discurso ficcional que funde o real e o imaginário,
reivindicando um olhar interpretativo capaz de perceber as tessituras do
simbólico como desenho da vida social. Nossa escolha metodológica é a
pesquisa de campo, fundamentada a partir dos estudos dos autores João
Álvaro Ruiz (1990) e Antônio Carlos Gil (2000), que aponta as potencialidades
da pesquisa de campo e suas características e de como essa metodologia
torna a pesquisa mais rica e profunda, à medida que integra vários dados a
partir de fontes variadas, tais como: análise de documentos, filmagens, áudio,
arquivos, entre outros. Como instrumento de construção de dados foram
realizadas entrevistas narrativas com três contadores de história da cidade de
Tapiramutá, interior da Bahia. Tomamos como base teórica as discussões de
Bourdieu (2002), Maffesolli (2001) e Jodelet (2001). Este trabalho contribuiu
para compreendermos a importância das narrativas orais como elemento de
subjetivação dos sujeitos contadores de histórias, como também, constructos
sociais que se efetivam na multiplicidade/polifonia de vozes, na tessitura de
enredos que entrelaçam lembranças, reflexões, imaginário, emoções, silêncios
e testemunhos, numa trama constante onde se entrecruzam histórias que estão
relacionadas a contextos sócios históricos e culturais, evidenciando uma marca
potencial de identificação dos indivíduos.

Palavras-chave: Narrativas Orais. Representações Sociais. Subjetividades.

O PROFUNDO RIO DA MEMÓRIA

83
Bárbara Silva Teles de Menezes (UECE)
Elayne Castro Correia (UECE)

Resumo: José Maria Arguedas (1911 - 1969), escritor e antropólogo peruano,


entrelaça a sua vida à literatura quando traz as suas experiências multiculturais
vividas ainda na infância para o enredo de Los Rios Profundos (1958), romance
com caráter autobiográfico e traços ficcionais que narra as angústias e as
esperanças da vida do menino Ernesto. Arguedas recupera sua infância,
marcada pelo profundo confronto entre a cultura inca (indígena) e a espanhola
(ocidental), vivenciada ficcionalmente pelo personagem Ernesto, que também
protagoniza um embate multicultural da obra. Tais semelhanças entre autor e
personagem nos leva a investigar como a memória, que é carregada de
aspectos pessoais, sociais e culturais, se faz presente na obra e de que forma
o multiculturalismo - conjunto de fenômenos históricos que se inter-relacionam
e redundam na complexidade das sociedades multiculturais - por meio do
contato com a cultura ocidental e indígena, influenciou na formação identitária
do autor, sem prevalência ou desprezo de uma ou outra cultura. Para isso,
utilizaremos como aporte teórico os estudos de Eclea Bosi, sobre memória
social; de Helena Buescu, que tem como foco a memória em suas diversas
manifestações (natural, individual e cultural); e de Stuart Hall, sobre identidade
multicultural. O estudo só vem a retificar aquilo que é característico de uma
escrita autobiográfica que se constituiu por meio do contato entre culturas
distintas: a riqueza de vivências só é permitida por conta do embate e entrelace
de distintas culturas e experiências, que criam uma mescla original e única
para quem vivenciou, especialmente quando vindoura de uma pátria singular: a
infância.

Palavras-chave: Memória. Infância. Multicuturalismo.

OPSANIE SWIATA: REPRESENTAÇÕES DE DESLOCAMENTO E


IDENTIDADE NO ROMANCE DE VERÔNICA STIGGER
Lara Ferreira da Silva (UFPI)
Wander Nunes Frota (UFPI)

Resumo: O trabalho em questão analisa, segundo o prisma do deslocamento,


como se dá esta fundamentação e seu estudo na obra de Verônica Stigger,
Opsanie Swiata, que é mostrado como um fenômeno cada vez mais comum na
atualidade e parece-nos bastante presente em alguns textos literários dos
últimos vinte e cinco anos: trata-se dos deslocamentos humanos, que têm
motivações e implicações diversas, seguindo também com a contribuição de
Todorov a partir da noção de desenraizado. Em seu livro "A literatura em
perigo" (2007), Tzvetan Todorov utilizando sua abordagem arqueológica,
discute as diferentes concepções de literatura na história ocidental, para

84
marcar sua trajetória. Marcar não no sentido teleológico, evolutivo, que esta
palavra pode dar a entender, mas para demonstrar as diferentes concepções a
respeito da arte e da literatura, bem como procurando reforçar o caráter
relacional da literatura com os demais saberes e o mundo. No século XVIII,
segundo Todorov, há uma espécie de deslocamento, do criador para o
observador, ou seja, "o objetivo da poesia não é nem imitar a natureza nem
instruir e agradar, mas produzir o belo, que "se caracteriza pelo fato de não
conduzir a nada que esteja além de si mesmo". No texto literário, as
consequências do deslocamento para as construções identitárias são
discutidas em um leque de representações variadas que confirma a pertinência
de seu estudo como um dos traços presentes na literatura contemporânea,
como argumenta o escritor argentino Juan José Saer. Na obra de Verônica
Stigger, o deslocamento, se configura como a viagem de volta, de volta ao
mundo.

Palavras-chave: Deslocamento. Identidade. Stigger.

O “RICO” DISCURSO DE D. LOURA: NUANÇAS DA MEMÓRIA NO ECO DA


VOZ
Antônio Cleonildo da Silva Costa (IFRN)

Resumo: O ato de narrar histórias está intrínseco ao discurso, o qual


condiciona localizar uma memória de lembranças, esquecimentos, silêncios e
atemporalidades; ao mesmo tempo em que propicia entender uma identidade
fluida, repleta de mitos e crenças. Este trabalho visa analisar as narrativas dos
sonhos com botijas de ouro, externado por Neusa Fernandes Cavalcante,
cognominada em sua comunidade, sítio Quintas - Riacho de Santana/RN, por
D. Loura. Nessa localidade, a narradora irrompe com as tradições folclóricas de
sigilo propostas por alguns moradores de seu entorno discursivo, para trazer à
tona, juntamente com as botijas de ouro enterrado, artefatos da vida cotidiana.
A narradora ecoa suas histórias através das experiências particulares e
coletivas alocadas na mente, invocando-as, por vez, consciente e/ou
inconscientemente. No intuito de mapear a voz propulsora das informações
vivas, nos pautamos pela metodologia da história oral à luz dos estudos de
Thompson (2002), o qual esclarece sobre as contribuições metodológicas da
história para as análises discursivas e literárias, e pela técnica da história de
vida pelo que aduz Queiroz (1991) que nos ensina a proceder com as
entrevistas, transcrições e proposições teórico-analíticas. Para entender o
universo narrativo da colaboradora, nos foi indispensável o suporte teórico de
Xidieh (1976, 1993), Benjamin (1994), Bosi (1994), Halbwachs (2006) e
Candau (2011), entre outros. Neste sentido, o discurso analisado, repleto de
outros discursos, configura um sujeito de personalidade sociocultural marcada
que encontra no sonho um jeito de existir. Nosso trabalho é, pois, uma

85
oportunidade de participar da caça ao tesouro de D. Loura, sem deixar,
contudo, de entender a inovadora aventura que é desbravar os enigmas
escolhidos por suas memórias.

Palavras-chave: Memória. Narrativa. Botija de Ouro.

PERANTE AS JUSTIÇAS DE SUA ALTEZA REAL QUERELAM E


DENUNCIAM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL NOS
SÉCULOS XVIII E XIX
Expedito Eloísio Ximenes (UECE)

Resumo: O presente trabalho é resultado de vários anos de pesquisa que


investiga os documentos judiciais do Ceará, escritos nos séculos XVIII e XIX,
especificamente, os autos de querela e denúncia. Esses documentos
pertencem ao acervo do Arquivo Público do Estado do Ceará (APEC) e
constituem fontes de estudo para diversas áreas do conhecimento. Nosso foco
principal aqui é a violência sexual contra as mulheres. O primeiro passo a ser
adotado em nossa pesquisa foi a transferência dos manuscritos do suporte
original para o suporte word em que adotamos o modelo de edição
semidiplomática que preserva todas as características linguísticas e todo o
conteúdo do texto. Em seguida fizemos o levantamento dos tipos de crimes
registrados e apresentamos em formas de tabelas. Nossa base de análise trata
sobre a estrutura organizacional do sistema colonial brasileiro, das deficiências
da justiça da época e do contexto histórico que envolve as relações sociais e
culturais muito marcadas nas formas de narrativa. Apoiamo-nos em autores
como Prado Jr (1999), Vieira Jr. (2004), Martins (2004) e as Ordenações
Filipinas de 1603, código de lei que regia toda a vida da colônia, principalmente
o Livro V, que trata das questões judiciais. Os autos de querela e denúncia
registram os vários tipos de crimes como furtos, roubos, assassinatos,
espancamentos, mas o que mais nos chamou a atenção foi o alto índice de
ocorrência contra a "honra" feminina, como os casos de estupros e
defloramento, além de indução e rapto de jovens. As mulheres, na maioria das
vezes eram enganadas pelos namorados com promessa de casamento, depois
do ato sexual, os noivos fugiam e deixavam a moça desonrada e "perdida" para
desespero de toda família. Dos 133 autos analisados, há registros de 17 casos
de estupros, 14 de defloramento e ainda 16 casos de raptos de moças. Em um
período tão distante do atual, acreditamos ser um número relevante de
criminalidade.

Palavras-chave: Autos de Querela. Violência Sexual. Desonra Feminina,

86
“POR QUE O DISCURSO ERA UM HINO DE LIBERDADE”: NARRATIVAS
DE MÃES CHOPES SOBRE MUDUNGAZI/NGUNGUNHANA: CONTO DE
PAULINA CHIZIANE (1955)
Denise Rocha (UNILAB)

Resumo: Primeira mulher moçambicana a escrever um romance, Balada de


amor ao vento (1990), Paulina Chiziane aborda a opressora situação da mulher
na sociedade patriarcal, as restrições impostas a ela, a preservação dos rituais
e da tradição, como a poligamia. Nascida em Manjacaze, província de Gaza, a
escritora evoca a trajetória de Ngungunhana (c. 1850-1906), o último rei desse
grande território localizado no sul de Moçambique, que rompeu o tratado de
vassalagem estabelecido com os portugueses e se associou aos ingleses,
sendo por isso, perseguido, preso (1895), deportado para Lisboa, exposto à
humilhação popular e enviado em exílio perpétuo para a Ilha Terceira dos
Açores, onde foi batizado e alfabetizado. No conto Quem manda aqui? (2009),
Paulina elabora, por meio das narrativas das mães chopes, etnia subjugada
pelo grande soberano, uma imagem relativamente positiva dele que teve uma
grande lição de vida com as andorinhas antes de seu aprisionamento. O estudo
será baseado nas concepções da oralidade (Paul Zumthor) e da imagem (Peter
Burke).
Palavras-chave: Literatura Moçambicana. Mulher. Oralidade.

SARAMAGO EM ESTOCOLMO: O DISCURSO AUTOBIOBIBLIOGRÁFICO


Denise Noronha Lima (UFC)

Resumo: "De como a personagem foi mestre e o autor seu aprendiz" é o título
do discurso que o escritor português José Saramago (1922-2010) proferiu em
dezembro de 1998, em Estocolmo, ao receber o Prêmio Nobel de Literatura.
Nesse texto, publicado posteriormente (SARAMAGO, 1999), o autor faz uma
espécie de balanço da sua produção literária até então, acentuando, de um
lado, a estreita relação entre vida e obra, bem como a influência de suas
personagens na sua formação como escritor e como homem; e de outro, o
papel da memória como fundamento dessa formação. Evidentemente
autobiográfico, o discurso contém as marcas que delinearam a obra do autor,
oriundas todas dessa relação com a memória (pessoal, histórica e da tradição
literária que o formou), constatação que não é consensual entre os críticos
literários. O objetivo deste trabalho é analisar alguns aspectos da memória
embutidos no discurso de Saramago, utilizando categorias ou conceitos
fundamentais para os estudos que tratam da relação entre literatura e vida: a
escrita de si, considerando o pressuposto de que toda escrita literária é uma
escrita autobiográfica (GUSDORF, 1991), o espaço autobiográfico (LEJEUNE,
1996), que abriga tanto as obras ficcionais quanto as autobiográficas de um
autor, contribuindo para a construção de sua imagem; o campo literário

87
(BOURDIEU, 1986), de cuja relação com outros campos dependeria a
ocupação do escritor no espaço de uma tradição; o contexto da obra literária
(MAINGUENEAU, 2001), que admite a existência de reciprocidade entre a vida
e a obra de um autor. Diante dessas categorias, que serão colocadas em
discussão, o texto de Saramago revela-se como uma defesa da presença do
autor em sua obra, considerada esta não como o reflexo de sua vida, mas
como a transfiguração do seu pensamento, da sua memória e, em última
instância, da sua subjetividade.

Palavras-chave: Saramago. Memória. Contexto.

SIGNIFICAÇÃO DA VIVÊNCIA ESCOLAR NA NARRATIVA DOMÉSTICO-


FAMILIAR: MEMÓRIAS (RE)CONSTRUÍDAS NA INTERAÇÃO SOCIAL
Cristiane Maria Schnack (UNISINOS)

Resumo: Narrativas são, antes de uma sequência encadeada de fatos, uma


conquista interacional. São oportunidades para significar a experiência vivida e
inscrevê-la na memória autobiográfica. As vivências e a sucessão de narrativas
são centrais na construção e manutenção das memórias individuais e coletivas
(OCHS; CAPPS, 2001). Pautado nesse entendimento, esse estudo debruça-se
sobre as memórias do cotidiano escolar reconstruídas na convivência
doméstico-familiar, e analisa especificamente como duas famílias distintas
orientam-se para a atividade de "narrar a experiência escolar". Participar de
uma narrativa projeta e atualiza posicionamentos e identidades em relação aos
eventos e aos interlocutores em interação (OCHS, 1997; C.GOODWIN, 1986).
O estudo está alicerçado nos pressupostos teórico-analíticos da Análise da
Fala-em-Interação (SACKS, 19992) e da Etnografia (O'REILLY, 2009) e analisa
os momentos do narrar a experiência escolar, buscando os modos como cada
família constitui-se em relação à instituição escola. No processo de coleta de
dados, as interações familiares foram filmadas e gravadas ao longo de um ano
escolar, pelas próprias famílias. Após as filmagens, os momentos de vivência
escolar no contexto doméstico-familiar foram segmentados, transcritos e
analisados. Estruturas internacionais distintas na atividade de narrar a escola
constroem repertórios de significação e de atuação distintos, projetando
memórias (re)construídas de maneiras muito peculiares em cada uma das
famílias estudadas. Em um contexto familiar, a narrativa da vivência escolar
encontra-se imbricada na rotina familiar, usufruindo de espaço privilegiado, e
possibilitando uma projeção afetivo-emocional personalizada da experiência.
Em outro contexto familiar, a vivência escolar requer um esforço interacional
para manter-se em curso, projetando fronteiras para a imbricação entre o
espaço doméstico-familiar, personalizado, e o espaço institucional escolar. Tais
configurações possibilitam a construção de repertórios e memórias familiares e
individuais distintas no que diz respeito aos entendimentos sobre o lugar de

88
cada criança em relação à escola, sejam estes de pertencimento ou de
cumprimento de um mandato jurídico-institucional.

Palavras-chave: Narrativa. Memória Escolar. Fala-Em-Interação.

TRANSFORMANDO A FRAGMENTAÇÃO E O CAOS DAS MEMÓRIAS DE


ABUSO SEXUAL EM NARRATIVAS: UMA APROXIMAÇÃO INTERACIONAL
Mariléia Sell (UNISINOS)

Resumo: Esta pesquisa, inserida nos marcos teóricos da Etnometodologia


(GARFINKEL, 1967) e da Análise da Conversa (SACKS, 1992) analisa
qualitativamente interações entre um conselheiro tutelar e crianças e
adolescentes vítimas de abuso sexual. Os resultados analíticos mostram que o
conselheiro tutelar se orienta para a sua meta de construir uma narrativa
convincente e reportável para o sistema judiciário, conduzindo a atividade com
as vítimas de modo a contemplar os itens considerados necessários. As
narrativas funcionam como uma "cola" que junta pedaços de experiências de
vida, conferindo-lhes um senso de coerência e unidade (OCHS; CAPPS, 2001).
O processo de codificação da memória em narrativas depende, em larga
escala, das circunstâncias interacionais situadas. Dessa forma, alguns
episódios de vida nunca são narrados, ou por serem dolorosos e caóticos
demais para serem transformados em palavras, ou por serem considerados
moralmente inadequados demais. Nesta pesquisa, o conselheiro se envolve
ativamente na ação de significar a experiência com a vítima, acionando
diversas estratégias interacionais, como a oferta de itens lexicais para
descrever os sentimentos e as emoções da criança, adequando a narrativa às
expectativas sociais. O engajamento do conselheiro na ação de significar a
experiência assume um valor prescritivo de significação da experiência do
abuso e de performance da identidade de vítima. Ao realizar a atividade de
significar as experiências das vítimas, o conselheiro traz para a superfície da
fala os valores morais que permeiam as práticas institucionais e os discursos
da área jurídica, que são também elementos de socialização sobre como sentir
e sobre como narrar a violência sofrida. A presente pesquisa se propõe a
refletir sobre a coconstrução de narrativas com crianças e adolescentes vítimas
de abuso sexual, considerando que as práticas interacionais institucionais, se
inadequadas, podem resultar em silenciamento, revitimização e
aprofundamento da sensação de trauma. Muitas vítimas sentem-se
desencorajadas a narrar suas histórias, o que representa um impedimento a
mais para superar o sofrimento e "retornar à terra firme" (OCHS; CAPPS,
2001).

Palavras-chave: Narrativas. Memórias. Abuso Sexual.

89
UM GRITO SUSPENSO NO AR: O RESGATE DA MEMÓRIA NO CONTO IN
THE VILLAGE, DE ELIZABETH BISHOP
Georgia Gardenia Brito Cavalcante Carvalho (UECE)
Francisco Carlos Carvalho da Silva (UECE)

Resumo: No presente trabalho apresentamos uma análise da narrativa


autobiográfica "In the village" ("Na vila"), escrita pela poeta norte-americana
Elizabeth Bishop (1911 - 1979). O referido texto foi publicado em português em
2011, contando com a tradução das pesquisadoras Silvia Anastácio, Sandra
Corrêa e Andréa Gomes. A narrativa, originalmente publicada em 1953 na
revista The New Yorker, ambientada na Nova Escócia do início do século XX
discorre sobre as percepções de uma criança acerca do desequilíbrio e da
ausência da figura materna. A autora, que perde o pai antes de completar um
ano e é afastada da mãe aos cinco, muda-se de casa e de família duas vezes
na primeira infância, iniciando muito cedo um processo de apagamento de sua
identidade familiar. A história da qual tratamos voltou a ser publicada em
Questions of travel (1956) e na publicação póstuma, The Complete Poems
(1984). Em português, além da publicação de 2011, já referida, contam-se
ainda a publicação do mesmo conto em Esforços do Afeto (1996), Iceberg
Imaginário (2001) e Prosa (2014), traduzido em todas as edições por Paulo
Henriques Britto. Para Gilberto Velho (1994), a memória é essencialmente
fragmentada e a (re)construção da identidade depende de como se reorganiza
os episódios fragmentados e descontínuos em um passado coeso e contínuo.
Assim sendo, no conto "Na vila", de Bishop, é possível perceber o resgate de
um passado distante e fraccionado, tornando-o uma memória consistente e
homogênea. Para subsidiar a referida análise utilizaremos como suporte os
escritos de Velho (1994), Lejeune (2012), Maingueneau (1995) e Monteiro
(2013), dentre outros.

Palavras-chave: Memória. Identidade. Narrativa.

AS DICOTOMIAS SAUSSURIANAS NO POEMA EVOCAÇÃO DO RECIFE,


DO POETA PERNAMBUCANO MANUEL BANDEIRA.
Yuri José Manique (UNICAMP)

Resumo: As quatro dicotomias propostas pelo físico, químico, filósofo e filólogo


Ferdinand de Saussure, a saber, Língua versus Fala, Significante versus
Significado, Diacronia versus Sincronia e Relação Paradigmática (Associativa)
versus Relação Sintagmática são apresentadas, explicadas e explicitadas
através deste estudo de caso, no qual são analisados trechos do poema
"Evocação do Recife", escrito no Rio de Janeiro, em 1925, pelo poeta
pernambucano Manuel Bandeira, que expressa seu saudosismo de seus

90
tempos de criança em sua cidade natal, Recife, capital de Pernambuco, estado
do Nordeste do Brasil, ditando moldes a serem seguidos na Fase Iconoclasta
do Modernismo Brasileiro, chamada também de "A Primeira Geração Poética",
de 22. Para tanto, são definidas segundo a organização, a edição e a
publicação dos escritos reunidos por Albert Sechehaye e Charles Bally, com a
colaboração de Albert Riedlinger, da então obra do mestre genebrino intitulada
de Cours de Linguistique Générale ("Curso de Linguística Geral"). Eles a
apresentam ao mundo sendo fieis aos escritos realizados, às anotações feitas
e aos cursos ministrados pelo considerado "pai" da Linguística Moderna. Têm-
se como objetivos, tanto apresentar o belíssimo poema que localiza e
representa a cidade do Recife do início do século XX sob a ótica de um dos
maiores escritores do Modernismo Iconoclasta Brasileiro de 1922, da Literatura
Brasileira e da Literatura Moderna de Língua Portuguesa de todos os tempos,
como explicitar tais teorias, de uma forma sucinta e didática, em excertos do
corpo poético do supracitado, das quatro oposições da Ciência denominada de
Linguística Estrutural, fundada por tal pensador, estudioso e teórico dos
Conhecimentos Linguísticos.

Palavras-chave: Linguística Estrutural. Dicotomias Saussurianas. Poema


“Evocação Do Recife”.

AS MARCAS DA ORALIDADE E ELEMENTOS AFRICANOS NOS CONTOS


TRADICIONAIS DO BRASIL
Edna Carlos de Almeida Holanda (UECE)
Marcela Magalhães de Paula (UNILAB)
Ailene Cristina Brito Soares Rosa (UNILAB)

Resumo: Este trabalho propõe analisar a obra Contos Tradicionais do Brasil


(1946) de Câmara Cascudo, identificando os contos populares africanos. A
pesquisa foi realizada também tendo como premissa a teoria do alemão Walter
Benjamin sobre a arte de narrar. Por sua vez, na escritura do autor potiguar,
podemos perceber que o verdadeiro narrador é aquele que atinge uma
originalidade, fugindo da mesmice dos contos clássicos ao acrescentar uma
variedade de temas e motivos, como os da literatura africana. Desse modo, o
narrador cascudiano elege uma linguagem popular, calcada nas tradições e na
memória social. Assim, abordamos também conceitos como o de "literatura
oral", "elementos pretextuais", "intertextualidade", "categorias paratextuais" e
elementos de origem africana na contística popular.

Palavras-chave: Câmara Cascudo. Contos Tradicionais. Influência Africana.

91
CARNAVALIZAÇÃO EM TEXTOS SAGRADOS: UM ESTUDO
BAKHTINIANO DA NARRATIVA BÍBLICA DO EVANGELHO DE MATEUS
COMO UMA SÁTIRA MENIPEIA
João Batista Costa Gonçalves (UECE)

Resumo: Este trabalho preocupa-se com analisar, a partir da teoria da


carnavalização proposta pelo pensador russo Mikhail Bakhtin (1981; 1993;
2002), como a lógica carnavalizada de pôr o mundo às avessas adentra no
espaço dos textos bíblicos, em especial dos evangelhos, para construir aí
diversos efeitos de sentido. Bakhtin (1981), embora não tenha desenvolvido e
levado às últimas consequências a discussão em torno da importância dos
textos cristãos para a análise dos gêneros carnavalizados, reconheceu, ao
indicar as fontes mais remotas da carnavalização, que este fenômeno deita em
bases da literatura cristã antiga, a exemplo dos evangelhos cristãos.
Procuraremos, assim, desenvolver a ideia que Bakhtin (1981) deixou apenas
esboçada em Problemas da Poética de dostoievski, em especial, no capítulo
"Peculiaridades do gênero, do enredo e da composição das obras de
dostoievski." Porque é nela em que o autor sublinha mais claramente a
presença dos textos bíblicos cristãos como elemento formativo nos gêneros
carnavalizadores. Nesta obra, o teórico russo se dedica a estudar um campo
especial da literatura marcada por uma cosmovisão carnavalesca que os
antigos denominaram de campo de sério-cômico, presente em gêneros como o
diálogo socrático e a sátira menipeia. Com respeito à menipeia, Bakhtin (1981,
p.135) sublinha que os evangelhos, enquanto pertencentes à literatura cristã
antiga, "desenvolveram-se na órbita da menipeia" e estão impregnados de
elementos da menipeia e da carnavalização. A partir destas reflexões teóricas,
escolhemos, para efeito de análise, a o capítulo 1 do Evangelho de Mateus,
mais especificamente o relato sobre a genealogia (Mt. 1: 1-1-17) e a narrativa
do nascimento de Jesus (Mt. 1: 18-25), para mostrar como estes textos bíblicos
acerca de Jesus apresentam peculiaridades formais e conteudísticas do gênero
sério-cômico, em especial da sátira menipeia. Da análise dos textos em relevo,
identificamos vários elementos da menipeia apontados por Bakhtin (1981), das
quais destacamos a presença de gêneros intercalados, a interação entre os
sujeitos numa zona de contato profundamente familiar, a utilização de um jogo
de oximoros e contrastes agudos (mésalliances), bem como o uso do fantástico
livre combinado ao elemento místico-religioso com o naturalismo de submundo
e de cenas consideradas escandalosas e excêntricas.

Palavras-chave: Gêneros Sério-Cômicos. Sátira Menipeia. Evangelho de


Mateus.

COMUNICAÇÃO ENTRE ALUNOS SURDOS E PROFESSORES OUVINTES:


MEDIAÇÃO A PARTIR DE NARRATIVAS

92
Alecrisson da Silva (UFS)

Resumo: Este trabalho é um recorte oriundo de uma pesquisa de mestrado na


qual discute-se sobre as barreiras e as possibilidades que os discentes surdos,
matriculados no fundamental I, enfrentam para se comunicarem em um
contexto onde nem os discentes nem seus professores têm domínio da Língua
Brasileira de Sinais - Libras. Para tanto se fez necessário descrever a
experiência, no aspecto comunicacional, de dois professores que não têm
domínio Libras que relatarão quais os aspectos semióticos (símbolos, gestos,
informação de familiares etc.) que levam a compreenderem as narrativas
contadas pelos alunos surdos sobre suas experiências fora da sala de aula.
Nesse sentido, nota-se que a interação dos participantes e a vivência de novas
experiências por eles dentro da sala de aula é o ponto forte dessa tendência de
compreensão do outro, uma vez que o conteúdo programático nem sempre é
tão importante para o aluno surdo. Com isso, nota-se que para os sujeitos
surdos, uma boa história a ser "contada" por eles é mais importante que seguir
um programa de conteúdo seguida pelos seus professores. Esse tipo de
estratégia didática favorece ao entendimento não só das narrativas "contadas"
pelos surdos bem como possibilita a convenção e o estabelecimento de
estratégias de comunicação nesse contexto, de modo que os gestos e sinais
feitos pelos surdos sinalizem o entendimento de suas narrativas pelos
docentes. Esse pode ser um caminho a ser trilhado para a minimização desses
limites quanto aos sujeitos envolvidos, encolhendo as barreiras físicas,
atitudinais, procedimentais entre professores e alunos surdos quanto a
comunicação onde ninguém tem conhecimento de Libras. Sendo assim, a via
de aproximação entre professores e alunos surdos perpassa pela percepção da
sensibilidade ao outro para a superação das barreiras.

Palavras-chave: Surdos. Gestos. Narrativas.

TESTAMENTOS DO CEARÁ COLONIAL: RESQUÍCIOS HISTÓRICOS DA


COMARCA DE ARACATI ATRAVÉS DE SEUS TESTAMENTOS
Katharine Silva de Oliveira Soares (UECE)
Expedito Eloísio Ximenes (UECE)

Resumo: Testamentos são registros preciosos de como uma sociedade faz a


distribuição de seus bens e fortuna. Mas além de registros sócias, eles também
são fontes preciosas de fatos históricos que marcaram uma determinada
época. O ato de documentar se relaciona estreitamente com a necessidade de
registrar e arquivar aquilo que se considera importante, e documentar os fatos
sempre se fez necessário, várias civilizações se utilizaram dessa prática para
preservar a memória de seu povo. Este trabalho é parte integrante de minha
pesquisa de mestrado intitulada TESTAMENTOS NA CAPITANIA DO CEARÁ:

93
UM ESTUDO HISTÓRICO-LINGUÍSTICO. Estudar os testamentos se faz
relevante, pois por meio dessa fonte histórica é possível recuperar vivências da
mais variada gama social, ou seja, o ato de testar e as referências existentes
no testamento revelam dados importantes da população residente em uma
determinada região (LIMA; SILVA, 2010). Nossa proposta com este trabalho é
alertar para importância dessa espécie documental e apontar os resquícios
históricos pertencentes a sociedade aracatiense através de seus testamentos.
Os documentos analisados foram produzidos na antiga capitania do Ceará,
durante o período colonial brasileiro, mais precisamente no século XVIII, e
fazem parte do acervo do Arquivo Público do Estado do Ceará (APEC). A
primeira etapa de nosso trabalho foi a coleta dos documentos e, em seguida,
foi feita a edição semidiplomática dos mesmos. Posteriormente iniciamos a
análise dos aspectos históricos, diplomáticos, linguísticos e filológicos, em que
descreveremos a estrutura textual da espécie documental. Para tanto,
baseamos nossas análises em Bellotto (2002), (2004), e (2008), Spina (1977),
e Cambraia (2005).

Palavras-chave: Filologia. Testamentos. Memória.

SIGNIFICAÇÃO DA VIVÊNCIA ESCOLAR NA NARRATIVA DOMÉSTICO-


FAMILIAR: MEMÓRIAS (RE)CONSTRUÍDAS NA INTERAÇÃO SOCIAL
Cristiane Maria Schnack (UNISINOS)

Resumo: Narrativas são, antes de uma sequência encadeada de fatos, uma


conquista interacional. São oportunidades para significar a experiência vivida e
inscrevê-la na memória autobiográfica. As vivências e a sucessão de narrativas
são centrais na construção e manutenção das memórias individuais e coletivas
(OCHS; CAPPS, 2001). Pautado nesse entendimento, esse estudo debruça-se
sobre as memórias do cotidiano escolar reconstruídas na convivência
doméstico-familiar, e analisa especificamente como duas famílias distintas
orientam-se para a atividade de "narrar a experiência escolar". Participar de
uma narrativa projeta e atualiza posicionamentos e identidades em relação aos
eventos e aos interlocutores em interação (OCHS, 1997; C.GOODWIN, 1986).
O estudo está alicerçado nos pressupostos teórico-analíticos da Análise da
Fala-em-Interação (SACKS, 19992) e da Etnografia (O'REILLY, 2009) e analisa
os momentos do narrar a experiência escolar, buscando os modos como cada
família constitui-se em relação à instituição escola. No processo de coleta de
dados, as interações familiares foram filmadas e gravadas ao longo de um ano
escolar, pelas próprias famílias. Após as filmagens, os momentos de vivência
escolar no contexto doméstico-familiar foram segmentados, transcritos e
analisados. Estruturas internacionais distintas na atividade de narrar a escola
constroem repertórios de significação e de atuação distintos, projetando
memórias (re)construídas de maneiras muito peculiares em cada uma das

94
famílias estudadas. Em um contexto familiar, a narrativa da vivência escolar
encontra-se imbricada na rotina familiar, usufruindo de espaço privilegiado, e
possibilitando uma projeção afetivo-emocional personalizada da experiência.
Em outro contexto familiar, a vivência escolar requer um esforço interacional
para manter-se em curso, projetando fronteiras para a imbricação entre o
espaço doméstico-familiar, personalizado, e o espaço institucional escolar. Tais
configurações possibilitam a construção de repertórios e memórias familiares e
individuais distintas no que diz respeito aos entendimentos sobre o lugar de
cada criança em relação à escola, sejam estes de pertencimento ou de
cumprimento de um mandato jurídico-institucional.

Palavras-chave: Narrativa. Memória escolar. Fala-em-interação.

ENTRE A MEMÓRIA E A HISTÓRIA: AS CONTRIBUIÇÕES DE MAURICE


HALBWACHS E MARC BLOCH PARA A DISCUSSÃO
Elane Marcia Silva Viana (UESB)

Resumo: Este estudo é oriundo de reflexões realizadas acerca dos campos do


saber: memória e História. Por conseguinte propõe-se a verificação das
especificidades da História e da memória, assim como a identificação de seus
possíveis pontos de intercessão, observando o entrecruzamento destes
âmbitos no decorrer da experiência humana. A História confundiu-se com a
memória, em diversos momentos de sua fundamentação como saber,
chegando ao ponto de haver a criação de uma história-memória, entretanto por
meio de avaliações teóricas é possível que seja estabelecida a demarcação
entre estas áreas do conhecimento. Para tanto, a obra de Maurice Halbwachs
será revisada, buscando a compreensão deste pesquisador sobre a História e
a memória. Todavia é sabido que a perspectiva de Halbwachs foi criticada
veementemente pelo historiador Marc Bloch, pertencente à primeira geração da
Escola dos Anais, este realizou múltiplas ressalvas ao uso da memória pela
História. A primeira geração da Escola dos Anais rejeitou a memória e tratou os
relatos feitos a partir dela de forma crítica, negando-lhe a validade total quanto
àquilo que está sendo informado. Assim sendo, abarcar esta contenda
científica é vital para a constituição da análise de saberes que os leigos no
assunto acreditam serem sinônimos, todavia mesmo havendo o
entrelaçamento da memória com a História em momentos significativos da vida
humana, há distinções epistemológicas fundamentais entre ambas. Esta é uma
pesquisa de base bibliográfica, realizada com o intuito de aprimorar e difundir o
conhecimento à respeito da memória no meio acadêmico, e é fruto das
reflexões concebidas durante a Pós-Graduação Stricto Sensu em Memória:
Linguagem e Sociedade - Universidade do Sudoeste da Bahia - Uesb.

Palavra-chave: Memória e História. Maurice Halbwachs. Marc Bloch.

95
AUTORITARISMO, SILÊNCIO E MEMÓRIA EM EL SIGLO DEL VIENTO DE
EDUARDO GALEANO: NARRATIVAS A CONTRAPELO
Liana Márcia Gonçalvez Mafra (IFMA)

Resumo: A presente proposta de comunicação tece algumas considerações


acerca da pesquisa em andamento no Programa de Pós-Graduação em
História, Ensino e Narrativas-PPGHEN/UEMA, partindo do pressuposto de que
a história e a literatura, apesar de suas singularidades, são formas de
desvelamento e apreensão da realidade, atribuindo-lhe sentido, oferecendo o
mundo como texto. Tal reflexão tem como objeto as narrativas do escritor
uruguaio Eduardo Galeano, especificamente o último livro da trilogia Memoria
del fuego - Siglo del Viento, publicado em 1986 -, cuja escrita foi direcionada a
narrar a memória da América Latina, voltando-se aos explorados, excluídos e
esquecidos, com destaque para a representação dos temas que abordam os
fatos sociais, políticos e históricos ocorridos na América Latina. À vista disso,
objetiva refletir como o autor representou em sua narrativa a memória do
autoritarismo da ditadura militar no Uruguai, pois a literatura tornou-se um meio
de denúncia das atrocidades cometidas pelo regime, tentando evitar o
silenciamento e o esquecimento. Assim, a literatura apresenta-se como um
campo de resistência e testemunha histórica, trazendo consigo as marcas do
tempo em que foi produzida. Desse modo, englobando história, memória e
literatura verifica-se que a ligação entre essas áreas é muito fecunda, uma vez
que a literatura pode ser utilizada consideravelmente como material de
inquirição para histórica e para a compreensão e esclarecimentos dos fatos
políticos e sociais. A análise foi produzida a partir de pesquisa bibliográfica,
com teóricos dos três campos, entrelaçando memória, história e literatura.
Também ressalta-se a característica da escrita do escritor, como uma escrita
subversiva, que desobedece os aduaneiros dos gêneros literários e da fronteira
entre história e literatura.

Palavras-chave: Literatura Latino-Americana. Memória. Ditadura Militar.

ESCRITA E ORALIDADE: ENTRE AS NARRATIVAS,


A MEMÓRIA DE UM CLÃ
Catarina Labouré Madeira Barreto Ferreira (Universidade da Força Aérea)

Este artigo tem a finalidade de apresentar um estudo sobre narrativa e


memória com base em trechos extraídos de cartas de família, originadas de
dois diferentes contextos de guerra - a Revolução Constitucionalista de 1932 e
a Segunda Guerra Mundial. Por tratar-se de um estudo de cartas e por adotar-
se a metodologia preconizada pela História Oral, foram também utilizadas
entrevistas com 4 (quatro) pessoas dos laços de família do autor das cartas,

96
partindo-se, assim, para um trabalho à luz da história oral híbrida, em que a
memória traz à tona lembranças de um ou de ambos os contextos aqui
delimitados. Desse modo, pelos itinerários estabelecidos pelo conhecimento
acadêmico, e mais especificamente pela História Oral, são ressaltados os
valores universais de justiça, de liberdade e de compromisso moral para com a
formação, a integridade e a sobrevivência da família. Neste estudo, as formas
de linguagem que expressam os valores éticos, presentes nas cartas e nas
entrevistas com os colaboradores, fazem permanecer vivas as mensagens
originadas de guerras. Entre o referencial teórico, encontram-se consagrados
estudos da linguagem, da memória, da história oral, da ética, entre outros, de
renomados historiadores. Para a busca da resposta à questão norteadora
deste trabalho, estabeleceu-se, por objetivo geral, detectar e analisar, à luz de
referenciais teóricos e por meio de estudo comparativo e pormenorizado, o
legado de afeto, conhecimentos e valores, expresso na linguagem que compõe
as cartas originadas de guerras, considerados o contexto histórico-social a que
elas se prendem e as narrativas das entrevistas com os colaboradores. Por
meio deste estudo sobre narrativa e memória em escritos de guerras e na
oralidade, sob as orientações expressas na metodologia preconizada pela
História Oral, que prevê a preponderância das ideias, e não exclusivamente
das palavras, buscou-se dar vez e voz àqueles que, em meio às incertezas de
um tempo e às agruras da guerra, viveu e sobreviveu às angústias de seu
próprio tempo.
Palavras-chave: Escrita e oralidade. Narrativa e memória. Legado de Família.

97
EIXO TEMÁTICO 4 – EXCLUSÃO E VIOLÊNCIA

A CANÇÃO “TERRA VERMELHA” DO GRUPO INDÍGENA DE RAPBRÔ


MC´S: UM OLHAR DISCURSIVO PARA OS SENTIDOS SILENCIADOS DE
‘VIOLÊNCIA’ E ‘DISCRIMINAÇÃO’
Anderson Aparecido Pires (UFGD)
Rita de Cássia Pacheco Limberti (UFGD)

Resumo: O objetivo deste trabalho consiste em compreender, por meio da


Análise do Discurso (AD) de linha francesa, os sentidos não ditos das palavras:
violência e discriminação, do grupo de rap indígena Brô MC´s. Composto por
jovens indígenas pertencentes às aldeias Jaguapirú e Bororó, situa-se no
município de Dourados, estado de Mato Grosso do Sul (MS), considerado o
segundo estado com maior população indígena do Brasil. Pautados pelo
conceito de linguagem pelo viés discursivo da AD de que a palavra ultrapassa
os limites daquilo que diz para significar e que assim, muitas vezes, atinge os
sentidos daquilo que silencia, pretendemos, com base nos teóricos Orlandi
(2011, 2012) e Pechêux (2009), descobrir como a interpelação do indivíduo em
sujeito pela ideologia faz com que o jovem indígena silencie palavras, como
violência e discriminação, e não as insira na canção intitulada "Terra
Vermelha". Considerando o contexto indígena de MS, pelo olhar de Rivoredo &
Nolasco (2011), Limberti (2009, 2012) e Nascimento (2013), sabe-se que
problemas como a demarcação de terras, as péssimas condições de vida, os
problemas com drogas e o alcoolismo estão presentes nas aldeias
douradenses. Dessa forma, é possível compreender a escolha do gênero
musical rap, por parte dos indígenas, como forma de expressão e tradução da
realidade indígena, pois, segundo Cano, Moreno & Chaves (2013) ao citar Écio
de Salles, o rap vem para abalar as estruturas de poder e conscientizar as
populações excluídas pelo sistema. Os resultados obtidos de nossas análises
mostra-nos que o rap é um meio de que os indígenas se valem para dar
visibilidade às condições de exploração, abandono e exclusão social. Também
é possível observar que o rap enaltece o protagonismo indígena no meio social
e o aproxima do outro, o qual se vê frente a frente com a realidade (in)visível
daquele que compõe as canções. Os silenciamentos são tão eloquentes
quanto as palavras ao denunciar o sofrimento histórico e atual das
comunidades indígenas de Dourados. As letras do rap indígena são um grito
veemente pela igualdade e respeito entre as pessoas.

Palavras-chave: Discurso. Indígena. Brô MC´s.

A CIDADE EM (DES)ORDEM: MORAL URBANA, EXCLUSÃO E VIOLÊNCIA


NA FORTALEZA DO SÉCULO XIX.
Walter de Carvalho Braga Júnior (UFC)

98
Resumo: Concomitante ao processo das transformações do espaço urbano de
Fortaleza, em meados do século XIX, surge todo um conjunto de discursos
construídos por uma elite política e econômica que busca delimitar espaços e
moralizar práticas daqueles que não se enquadravam no projeto de civilização
construído para a cidade. A partir dos conceitos de civilização em N. Elias e de
discurso em M. Foucault, propomo-nos a analisar o processo de construção de
estereótipos marginalizadores sobre as camadas mais pobres da população
fortalezense. A construção desta identidade transgressora dos pobres urbanos
permite a concretização da diferença entre "nós” e “eles" tão desejada pelas
elites. Esta construção simbólica reafirma um conceito de cidadania que
distingue e delimita espaços que devem ser apropriados pelos civilizados
cidadãos membros da elite em contraposição aos espaços da massa turbulenta
de pobres e indesejáveis que insistiam em desfrutar da urbanidade. Uma
pobreza que aumentava assustadoramente, principalmente nos períodos de
seca, quando então proporcionavam verdadeiro espetáculo de horror aos
distintos membros da sociedade. Não podendo livrar-se efetivamente desta
massa, que afinal compunha a reserva de trabalhadores e consumidores da
lógica burguesa que se estabelecia da cidade, a elite urbana se arma de um
complexo sistema de discursos - morais, médicos e jurídicos - para disciplinar
as formas de viver na cidade. Da análise dos códigos e posturas (1835 a 1879),
de dois dos jornais de maior circulação na Província e dos relatos dos viajantes
estrangeiros e nacionais que percorreram as ruas de Fortaleza, conseguimos
compreender a transformação da pobreza urbana em alvo da vigilância e
violência das políticas de controle social impostas pela elite fortalezense.

Palavras-chave: Discurso. Civilização. Exclusão.

A CONSTRUÇÃO DISCURSIVA DO SUJEITO MULHER NA LEI MARIA DA


PENHA
Nívea Barros de Moura (UERN)
Maria Eliza Freitas do Nascimento (UERN)

Resumo: Sob as bases teóricas da Análise de Discurso francesa, que


investiga a construção do sentido em diferentes enunciados, analisaremos a
linguagem enquanto lugar de conflitos e de confrontos ideológicos na Lei nº
11.340, de 07 de agosto de 2006, conhecida popularmente e até mesmo no
meio jurídico, como Lei Maria da Penha. Segundo Pêcheux (1988), as
condições de produção dos discursos instituem os papéis que os protagonistas
do discurso se atribuem, as imagens que cada um faz de si mesmo e do outro,
sendo pertinente escavar o lugar ideológico do discurso. Nesse sentido,
consideramos importante a escolha da Lei Maria da Penha para se discutir
interdiscursivamente o modo como se concebe o sujeito mulher

99
contemporânea em nossa sociedade. Como metodologia, faremos pesquisa
bibliográfica sobre a Análise do Discurso para marcar o lugar teórico de
Pêcheux e as categorias que serão mobilizadas no percurso analítico. Em
seguida, realizaremos a análise da materialidade, observando a produção de
sentido no enunciado jurídico da Lei Maria da Penha, buscando enfocar as
ideologias, o interdiscurso e o resgate da memória discursiva. De acordo com
a Constituição Federal do Brasil de 1988, é defendida a ideia de que homem e
mulher são iguais, por isso, pretende-se averiguar como o contexto histórico e
ideológico propiciou o surgimento da Lei Maria da Penha. Consideramos que
persiste nesta lei uma concepção sobre a mulher vinculada a uma sociedade
com ideologias machistas e que, por isso, concebe-a como a parte mais frágil
na relação homem/mulher. Nossa reflexão aponta para esse discurso jurídico
que revela as relações de poder e as ideologias que o formam representando a
mulher como alguém que necessita de amparo legal para firmar-se e constituir-
se enquanto cidadã e sujeito de direitos.

Palavras-chave: Lei Maria da Penha. Discurso. Mulher.

A ESCRITA ENGAJADA NO JORNALISMO LUSÓFONO: UMA ANÁLISE DE


PERFIS DISCURSIVOS DE ESCRITORES AFRICANOS NO PERÍODO
COLONIAL (SÉCULOS XIX E XX)
Tércio de Abreu Paparoto (USP)

Resumo: O presente tema para pesquisa intenta, como objetivo central, propor
um estudo que visa à investigação, à descrição e à análise de determinadas
estruturas linguísticas presentes em artigos, editoriais, informes e panfletos
publicados em jornais africanos lusófonos - especificamente os de Angola e os
de Moçambique-, durante o correr dos séculos XIX e XX, textos estes de
autoria de escritores, poetas e intelectuais da África sob o período de
colonização. A partir dessas fontes, este trabalho busca uma observação
minuciosa das referidas estruturas (como as estruturas narrativas e discursivas,
as formulações/organizações discursivas, as enunciações e relações
intertextuais etc.), baseando-as em estudos insertos no contexto da Análise
Crítica do Discurso (ACD) e nas inter-relações próprias da diacronia,
possibilitando estabelecer paralelos entre perfis reconhecidamente ideológicos,
bem como o de propiciar a apresentação de modelos de análise de Retórica
que certifiquem o caráter do que se entende por discurso "engajado".
Periódicos como O Progresso, O Africano, O Brado Africano e O Itinerário, de
Moçambique; de Angola, A Aurora, A Civilização da África Portuguesa, Jornal
de Luanda, O Futuro de Angola ou O Pharol do Povo, Echo de Angola, A
Província de Angola, Jornal de Angola, Vozd'Angola, entre outros, são as
fontes de onde parte o exame científico aqui desejado. Dessa forma, poder-se-

100
á edificar um material que vise a contribuir com a diminuição de possíveis
lacunas existentes na direção pretendida por esta pesquisa que tem como
fulcro a conjugação do pensamento literário-jornalístico sob a África colonizada
de língua portuguesa com os estudos linguísticos que pensam a complexa
natureza dos fenômenos discursivos.

Palavras-chave: Linguística.Análise do Discurso.Jornalismo.Angola.

“A GALERA ENCOSTADA NA PAREDE COM A MÃO PRO ALTO E OS


CARAS APLICANDO BALA DE BORRACHA” – A TENTATIVA DE
RESISTÊNCIA À REPRESSÃO POLICIAL E AS CONSTRUÇÕES
IDENTITÁRIAS DE UMA MANIFESTANTE DE JUNHO DE 2013
Etyelle Pinheiro de Araújo (PUC-RIO)

Resumo: Em junho de 2013, milhares de brasileiros foram às ruas protestar


contra o aumento das tarifas de transporte coletivo. O movimento tomou
proporções maiores e a pauta de reivindicações se estendeu para o combate à
corrupção e o questionamento da qualidade dos serviços públicos. Apesar do
caráter alegadamente pacífico das manifestações, elas, em boa parte das
vezes, terminavam em violentos confrontos entre a polícia e os manifestantes.
Partindo disso, esta pesquisa problematiza, centralmente, a relação entre as
identidades que os manifestantes reivindicam para si e os episódios de
violência policial. Desse objetivo mais geral, desdobram-se as seguintes
perguntas de pesquisa: como os manifestantes das Jornadas de Junho se
constroem identitariamente ao narrar suas experiências nos protestos? Que
papel teria a repressão policial na construção dessas histórias e identidades?
Este estudo se alinha à proposta de Análise de Narrativa (BASTOS,
2004,2005) e à metodologia qualitativa interpretativista de pesquisa (DENZIN;
LINCOLN, 2000), com observação participante. Os dados foram gerados com
entrevistas em profundidade com dois manifestantes presentes nas principais
atividades de ocupação do espaço público no período. Partindo do caráter
sociointeracional da entrevista (MISHLER, 1986) e entendendo a narrativa
como forma de organização da experiência (BRUNER, 1973), a análise foi
orientada pela visão socioconstrucionista do discurso e das identidades
(MOITA LOPES, 2003). Esta comunicação, mais especificamente, apresentará
os modos como uma manifestante constrói suas identidades ao narrar
episódios de violência. Percebemos que a manifestante reivindica identidades
que a projetam numa luz favorável, como uma ativista que faz parte da 'galera
da resistência', porque resiste e permanece nas ruas apesar da repressão
policial. Destacamos, também, o conjunto de ações complicadoras que
colaboram para a sua construção como heroína, uma vez que ajudou várias
pessoas a escapar da repressão policial. Partindo da noção de choque moral

101
(JASPER, 1997), observamos que essas construções identitárias são
marcadas por avaliações (LABOV, 1972) que expressam como essa
manifestante entende que o choque produzido pela violência policial levou ao
'esvaziamento das ruas', quando os protestos já não reuniam multidões.

Palavras-chave: Narrativa. Identidades. Manifestações.

A VIOLÊNCIA LINGUÍSTICA E SEUS ALVOS NAS MANIFESTAÇÕES


POLÍTICAS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2014: ANTAGONISMO E
ALTERIDADE
Raimundo Ruberval Ferreira (UECE)

Resumo: A eleição presidencial de 2014 foi marcada não apenas pelo elevado
grau de disputa entre os dois partidos que a protagonizaram, mas
principalmente pelo acirramento de tensões sociais e políticas em algumas
manifestações populares que mostraram não apenas o uso de violência
simbólica, mas também de violência física. Este trabalho parte da hipótese de
que o acirramento dessas tensões, que se deu na passagem da violência
simbólica para a violência física, em alguns casos, deve ser analisado em
função de dois fatores: o primeiro é o uso da internet e das redes sociais como
novo espaço de ação, intervenção e mobilização política; o segundo é o tipo de
visibilidade que a questão da corrupção vem ganhando, no Brasil, nos últimos
anos, no chamado segmento hegemônico da mídia brasileira. A hipótese em
relação a este segundo fator é a de que o tipo de tratamento jornalístico que a
mídia hegemônica brasileira tem dado à questão da corrupção no Brasil, por
não conferir visibilidade às razões estruturais do problema, pouco tem
contribuído para um debate esclarecedor para tal questão. Nesse sentido,
tomando como referência a discussão de Zizek (2014) sobre a dimensão
espectral das formas de violência e sua tese de que "a realidade em si própria
nunca é intolerável: é a linguagem que a torna intolerável", a teoria do discurso
de Ernesto Laclau (1990) segundo a qual os discursos e as relações sociais se
constituem antagonicamente, e algumas proposições da nova pragmática, este
trabalho tem por objetivo discutir a relação entre os atos de fala violentos do
curta-documentário produzido pela TV Carta, por ocasião da manifestação
política que aconteceu na véspera da realização do segundo turno da eleição
presidencial de 2014, em Belo Horizonte, e o tratamento discursivo da revista
Veja para os escândalos de corrupção do chamado "mensalão" e da Petrobrás.
Considerando as teses de que todo discurso se constitui antagonicamente
(LACLAU, 1985) e a de que é a linguagem que torna toda realidade
insuportável (ZIZEK, 2014), a segunda hipótese deste trabalho é a de que o
alvo das formas de violência em questão configura três instâncias de
alteridade: a) uma empírica (atores políticos e grupos sociais específicos); b)
uma simbólica (a perspectiva ideológica suposta para o projeto político

102
antagonizado nos atos de fala em questão); c) uma espectral que, de acordo
com a hipótese zizekiana sobre a dimensão fantasmática da violência, por
constituir o alvo obsessivo de toda violência dirigida contra toda forma de
alteridade, pode ser concebida, em última instância, como o elemento fundador
da política e de toda demanda de democracia.

Palavras-chave: Eleições presidenciais. Antagonismo. Violência.

BIOPOLÍTICA E VIOLÊNCIA NA CIDADE DE FORTALEZA: UMA ANÁLISE


DO ÍNDICE DE HOMICÍDIOS NA ADOLESCÊNCIA (IHA)
Bruna Maria Rodrigues Lopes (UFC)
João Paulo Pereira Barros (UFC)
Ana Carolina Marcon Maciel (UFC)

Resumo: Assistimos ao aguçamento das disputas de narrativas acerca da


relação entre violência e adolescência/juventude. Pululam apelos em torno da
redução da idade penal de 18 para 16 anos, respaldados por um discurso
segundo o qual a inimputabilidade de sujeitos nessa faixa etária é a principal
responsável pela intensificação da violência urbana. Por sua vez, temos a
mobilização de coletivos que denunciam os processos de invisibilização
simbólica, desigualdades e violações que vitimam majoritariamente
determinados segmentos adolescentes e jovens. A partir da arquegenealogia
de Michel Foucault, este trabalho visa realizar uma análise documental do
Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) 2012, problematizando como se dá
a objetivação da violência por ele. Discutiremos a situação da cidade de
Fortaleza apontada por tal documento, que foi publicado em 2015 e produzido
pelo Programa de Redução da Violência Letal (PRVL). Esse recorte se justifica
em razão de ser Fortaleza a capital brasileira que apresenta maior índice de
homicídios na adolescência (IHA). Além de situar os índices relativos à cidade
de Fortaleza, o presente trabalho busca utilizar a própria produção de tais
estimativas como analisadora dos movimentos, confrontos e agenciamentos da
multiplicidade de forças em jogo na questão da violência urbana envolvendo
adolescentes e jovens. Observamos que o IHA 2012 lança mão da noção de
"risco relativo" para endossar discursividades que articulam os homicídios na
adolescência a dimensões territoriais, de gênero e de raça. A análise das
práticas de saber-poder propaladas por esses levantamentos permite apontar
que, se, por um lado, estes operam com tecnologias biopolíticas em ascensão
no contexto do que os estudos foucaultianos denominam de "dispositivos de
segurança", como a noção de "adolescência/juventude em risco", tais dados
também têm sido usados como ferramenta para a formação de um campo de
enfrentamentos em torno dos direitos humanos. Isso porque tem dado
visibilidade a diferentes desigualdades que atravessam a problemática da

103
violência urbana e fundamentando práticas de resistência a discursos
majoritários de criminalização de adolescentes e jovens negros e pobres.

Palavras-chave: Biopolítica. Violência letal. Adolescência.

DEFESA CIVIL, RISCO E SUBALTERNIDADE - CONSTRUÇÕES


DISCURSIVAS SOBRE O GERENCIAMENTO DE RISCO EM DEFESA CIVIL
Juliana Catarine Barbosa da Silva (UFPE)
Jaileila de Araújo Menezes (UFAL)

Resumo: O presente estudo objetiva refletir a respeito das produções


discursivas sobre risco de desastres no contexto da Defesa Civil, sob a luz dos
estudos subalternos. Em nossas revisões de literatura, observamos que o
crescente número de pessoas vulneráveis aos desastres está relacionado ao
crescimento populacional, ao impacto das mudanças climáticas, à pobreza, ao
aumento da urbanização com falhas de planejamento, à falta de gestão no
ordenamento territorial e à degradação dos ecossistemas, sendo mais de 70%
dos desastres registrados nos últimos anos ocorridos em países em
desenvolvimento. Realizamos uma breve reflexão sobre os saberes que são
produzidos e utilizados no gerenciamento de risco nas ações de defesa civil,
assim como, uma análise do perfil da população que é alvo das políticas de
defesa civil atualmente. Para nossas análises, utilizamos como referencial as
reflexões trazidas sobre a produção de saberes dos estudos subalternos, além
da proposta de Michel Foucault sobre análise do discurso. Compreendemos
que os saberes que circulam no cenário das políticas de defesa civil são
marcados por relações de saber-poder na produção histórica dos processos de
subalternização. Nossas análises tiveram como foco a leitura de 25 processos,
redigidos por equipes multiprofissionais em defesa civil, que fundamentam a
inserção de famílias no programa de auxílio aluguel. Nossas reflexões iniciais
focaram nos discursos produzidos por profissionais para fundamentar o risco
no qual estão expostas as pessoas que foram ou estão na iminência de serem
atingidas por sinistros. A análise do material permite-nos observar que grande
parte dos desastres descritos são favorecidos por dificuldades estruturais e
falhas nos processos de urbanização que levaram pessoas pobres a viver em
áreas de risco. Refletimos ainda que nas grandes metrópoles brasileiras, para
as classes menos favorecidas são reservados os guetos, os morros e as áreas
sujeitas às sazonalidades das marés. Ao mesmo tempo em que as políticas
econômicas excluem as populações para as periferias pobres, o governo
sinaliza os referidos espaços como espaços de risco, que precisam de
cuidados e de profissionais especializados. Cria-se um olhar e uma linguagem
referentes às vulnerabilidades as quais estão expostos tais grupos de "risco".

Palavras-chave: Defesa Civil. Risco. Subalternidade.

104
DIREITO, LINGUAGEM E VIOLÊNCIA NA INTERPRETAÇÃO DA LEI MARIA
DA PENHA
Kélvia Cristina de Menezes Arrais (UECE)

Resumo: Situando-se no campo de estudos linguísticos denominado de nova


pragmática (RAJAGOPALAN, 2010), investigou-se, nessa pesquisa, as
identidades de gênero enquanto performatividade (BUTLER, 2001, 2004, 2013)
nos e pelos atos de fala (AUSTIN, 1990) que compõem os jogos de linguagem
(WITTGENSTEIN, 1984) em articulação com a concepção de que é na
enunciação concreta que a palavra ganha um acento valorativo
(BAKHTIN/VOLOCHÍNOV, 2004) com o intuito de compreender como a
identidade de gênero influencia a interpretação da Lei 11.340/2006, nomeada
de Lei Maria da Penha, a partir da análise do discurso jurídico sobre a violência
contra mulher. Dessa maneira, analisou-se como as identidades influenciam a
interpretação da Lei pelos operadores jurídicos na perspectiva da pragmática
cultural (ALENCAR, 2010; BONFIM, 2011), que estuda as práticas culturais
como jogos de linguagem. A pesquisa, de natureza qualitativa e de caráter
interpretativista, teve como corpus de análise três decisões judiciais, uma
sentença e dois acórdãos. A discussão empreendida aponta que, no discurso
jurídico dos operadores, a despeito da igualdade constitucional de todos
perante a lei, as desigualdades de gênero restaram expressas, sendo
percebidos embates em torno da representação da "mulher". Nesse aspecto, o
principal fator de tensão que influenciou a interpretação da lei foi a
"vulnerabilidade" da mulher.

Palavras-chave: Discurso jurídico. Lei Maria da Penha. Violência.

GESTOS DE EXCLUSÃO: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DA CARTA DE


SEATTLE
João Paulo Ferreira Tinoco Machado (UFMS)

Resumo: Neste trabalho, temos como objetivo estudar as representações de


terra e os gestos de exclusão no discurso proferido pelo Cacique Seattle em
1854. Diante da condição proposta pelo governo norte-americano de comprar
parte das terras indígenas e da promessa de lhes dar outra em troca, o
Cacique mobiliza um apelo que faz emergir sua história, memória e cultura,
relacionando-as com o acontecimento. A resposta de Seattle foi traduzida para
a língua inglesa pelo médico Henry Smith em 1887, com o intuito de facilitar
sua divulgação, a qual pode ser encontrada em vários sites na internet.
Entendemos que é muito importante trazer à baila os sujeitos sócio-históricos
que estão à margem, com o intuito de mostrar as injustiças naturalizadas e

105
cristalizadas pela sociedade contemporânea. E neste estudo, partimos das
questões indígenas, pois pesquisas nos relatam que ainda este povo enfrenta
discriminação (GUERRA, 2010). Neste trabalho, propomo-nos rastrear os
conflitos e tensões que Seattle enfrentou na relação com o branco ao proferir o
seu apelo sobre a terra e tudo que está posto sobre ela. Sua resistência à
imposição do governo de compra e venda da Terra fez com que Seattle
questionasse suas ações e práticas ao se ver no olhar do outro. Para que
pudéssemos alcançar os objetivos que propomos, nos apoiamos nos
procedimentos teóricos e metodológicos da Análise do Discurso, de linha
francesa (PÊCHEUX, 2002; CORACINI, 2011; AUTHIER-REVUZ, 1998), em
uma perspectiva foucaultiana, sobretudo tendo como base as fases
arqueológica e genealógica (FOUCAULT, 1995). Valemo-nos também nas
concepções postuladas por sociólogos e filósofos sob a pluma da
transdisciplinaridade, como Homi Bhabha (1998), Néstor Canclini (2011),
Sousa Santos (2010), Stuart Hall (2006), Zygmunt Bauman (2005) que
discorrem a respeito do processo identitário diante da crise da modernidade
ocidental. Até o momento, foi possível perceber que ao ser confrontado, Seattle
recorre à sua história para buscar na memória concepções culturais e sociais
que o ajude a compreender o pensamento capitalista, assim engendrando uma
(des)construção de identidades ao tentar negociar as diferenças diante das
dimensões proporcionadas pela alteridade.

Palavras-chave: Discurso. Cacique Seattle. Exclusão.

IMIGRAÇÃO BOLIVIANA EM SÃO PAULO: (DES)CONSTRUÇÃO


IDENTITÁRIA E INCLUSÃO DOS (IN)VISÍVEIS
Rubens Lacerda de Sá (UnB)

Resumo: Ao contextualizar essa pesquisa, parto do pressuposto de que se


espera que todos os imigrantes recebam um trato social verdadeiramente
inclusivo e igualitário balizado nos direitos de universalidade e individualidade,
e despojado de paradigmas excludentes aonde quer que imigrem. Concebo a
sociedade paulistana como culturalmente híbrida, plurilíngue e oblíqua, cujo
tecido social tem sido, ao longo dos anos, desenhado pelo fluxo de incontáveis
imigrantes das mais remotas partes do planeta, resultando em complexidade
de acomodação (CANCLINI, 2007; BAENINGER, 2012). Esta pesquisa
justifica-se a partir da observação empírica de que aos imigrantes que
possuem razoável poder aquisitivo ou conhecimentos técnicos especializados
reservam-se invariavelmente espaços sociais inclusivos, ao passo que aos em
desvantagem social permite-se apenas a pseudo-integração a um sistema que
os deixa à mercê de toda uma estrutura social segregacionista (ADORNO;
HORKHEIMER, 1985; GUEBERT, 2012). Trata-se de uma pesquisa de cunho
etnográfico, realizada com parte da comunidade de imigrantes bolivianos num

106
bairro paulistano, balizada nos princípios de estudos linguísticos críticos e
transgressores (PENNYCOOK, 2008; SÁ, 2015). É levada à termo num grupo
focal por meio de entrevistas, histórias de vida e narrativas orais e visuais.
Dentre as constatações que elenco até este momento, ressalta-se: i) o modo
como tais imigrantes são afetados individual e coletivamente por esse tsunami
social a partir do enfeixamento dos construtos: inclusão e identidade; ii) como
são tornados invisíveis socialmente, embora não o sejam, de fato, no cotidiano
da cidade; iii) como são alocados numa lógica binária de normalidade e
anormalidade; iv) como tal evento afeta de forma nevrálgica a identidade de
tais imigrantes envolvidos nessa diáspora internacional (SILVA, 2014; HALL,
2008); e, por fim, v) como a composição de uma (nova) identidade de espectro
(bi)nacional formata-se em detrimento da identidade primeira dos imigrantes
visto que almejam ser aceitos socialmente (RAJAGOPALAN, 2003; SILVA,
2008).

Palavras-chave: Imigrantes bolivianos. Inclusão social. Identidade(s).

O CORPO E SUAS VICISSITUDES: O CASO DE MULHERES EM SITUAÇÃO


DE RUA
Maria José Coracini (Unicamp)

Resumo: Com base na perspectiva discursivo-desconstrutivista, tendo por


base Foucault, Derrida e Lacan, respectivamente, para as noções de discurso,
desconstrução e subjetividade, esta comunicação tem o objetivo de discutir a
questão da mulher e seu corpo, ou melhor da mulher em situação de rua na
relação com o corpo. Sabemos que o corpo é portador de valores, de poder e
de controle exercido massivamente pelo marketing principalmente no meio
urbano, o que afeta sobremaneira as representações do corpo e do belo. As
mulheres em situação de rua não ficam imunes às investidas publicitárias, pelo
contrário, são movidas pelo desejo de atrair homens pela beleza do corpo,
revestido de roupas "da moda". Nosso objetivo é estudar a relação de mulheres
em situação de rua com o seu corpo, sofrido, marcado pela privação, pelas
experiências e pela violência, bem como suas reações diante da moda. Assim,
se o corpo atende às expectativas do momento, ele é também lugar de
"marcas", cicatrizes decorrentes de atos de violência durante a infância, já na
juventude e/ou na fase adulta, na rua, rugas que não desaparecem com
cosméticos baratos, deformações advindas de frustrações e ressentimentos,
doenças causadas pelas drogas e pela pouca higiene. Apesar disso, percebe-
se, nos dizeres das participantes de pesquisa, a preocupação com a limpeza
do corpo: diariamente, passam pelo abrigo para tomar banho e lavar as roupas,
mantendo os hábitos antigos. O sofrimento se manifesta na linguagem e no
corpo... A constituição identitária das participantes passa pelo outro e pelo
Outro de si, na medida em que as representações de si são inevitavelmente

107
construídas pelo outro que constitui sua subjetividade. Foram gravados,
transcritos e analisados para esta comunicação 10 relatos de vida, obtidos na
rua ou em um abrigo na cidade de Campinas (SP).

Palavras-chave: Violência. Gênero. Corpo.

O ESPAÇO DA ESCOLA EM UM CENTRO SÓCIO-EDUCATIVO: O (NÃO)


LUGAR PARA O MENOR INFRATOR NO DISCURSO CONTEMPORÂNEO
Ernesto Sérgio Bertoldo (UFU)

Resumo: Neste trabalho, tomamos como material de reflexão resultados de


uma pesquisa realizada com alunos de uma escola de um Centro Sócio-
educativo que acolhe menores infratores em uma cidade do interior de Minas
Gerais. De forma mais específica, interessamo-nos em problematizar a relação
dos alunos com o espaço desse centro. Partimos do pressuposto lacaniano,
segundo o qual o espaço diz de quem somos, questionando como a sociedade
insiste, ao prover aos menores um espaço que acaba por deteriorá-los,
sobretudo moralmente, em condená-los a um determinismo de não sair de um
lugar que seria a eles pré-determinado. Se é verdade, então, que o espaço diz
de quem o habita, o espaço da escola do Centro Sócio-educativo mostra que
essa tolerância com aquilo que está deteriorado está associada aos que lá
habitam. O espaço da escola deixa de ser, assim, um ambiente que
proporcionaria experiências educativas que marcassem que a relação com o
espaço poderia ser outra. Parece haver, então, um pressuposto de que por se
tratar de menores infratores as condições físicas do espaço de trabalho da
escola poderiam ser aquelas de deteriorização, já que a eles não caberia outro
modo de relação com o espaço. Metodologicamente, optamos por analisar a
relação dos menores com o espaço do centro a partir de depoimentos abertos
em que é possível recortar dizeres que constituem discursivizações dos
participantes sobre a problemática do espaço abordada. Os resultados indicam
que a relação com o espaço, ao invés de ser marcada como um lugar
desencadeador de cenas educativas, marca, ao contrário, um lugar em que as
coerções e/ou as regras são privilegiadas, não possibilitando rupturas que
fizessem desestabilizar essa relação, caracterizada, paradoxalmente, como o
(não) lugar, destinado ao menor infrator, uma vez que qualquer possibilidade
de deslocamento subjetivo, advindo de ações educativas, parece não se
constituir nesse espaço em função justamente dessa relação aí (im)posta. A
possibilidade de essa relação ser favorável aos menores reside justamente na
tensão que também constituem as discursivizações enunciadas nesse espaço
cujo efeito discursivo é o de questionar o determinismo (im)posto, nesse
espaço, aos menores.

Palavras-chave: Menores infratores. Espaço. Centros sócio-educativos.

108
OS DISCURSOS MIDIÁTICOS DOS ARTIGOS DE OPINIÃO DA REVISTA
VEJA ACERCA DA “LEI DA PALMADA”
Marcela Pachêco Chaves (UFPI)
Francisco Laerte Juvêncio Magalhães (UFPI)

Resumo: A pesquisa em desenvolvimento tem como objetivo realizar uma


análise dos discursos dos artigos publicado na revista Veja sobre a Lei Menino
Bernardo. Aprovada no Congresso Nacional Brasileiro e sancionada pela
Presidente Dilma Rousseff no dia 27 de junho de 2014, a lei visa a proibir o uso
de castigos físicos ou tratamentos cruéis ou degradantes na educação de
crianças e adolescentes, mas, de forma inadequada, parte da imprensa
brasileira apelidou a lei de "Lei da Palmada", induzindo o entendimento da
mesma de forma errônea. Assim, essa designação proposta por parte da mídia
aciona uma polêmica porque induz a que se pense que a referida Lei pretende
interferir na utilização da palmada (ato que não se constitui como agressão
severa) ou na educação familiar. Tal entendimento equivocado provocou a
rejeição da lei por parte dos brasileiros, levados pela ideia de que o Estado
passaria a ditar as normas para se educar os filhos ou que simplesmente tal lei
é desnecessária. Torna-se significativo, assim, analisar se tal efeito foi
consequência da nomeação errada e significação derivada desta. Foi adotada
como metodologia a Análise de Discurso Crítica (ACD), definido como o aporte
teórico metodológico que mantém foco sobre questões sociais de forma crítica.
Segundo Van Dijk, "ao invés de focalizar problemas puramente acadêmicos ou
teóricos, a ciência crítica toma como pontos de partida problemas sociais
vigentes, e assim adota o ponto de vista dos que sofrem mais" (1986, p. 4). A
ACD tem um interesse maior na relação existente entre dois elementos:
linguagem e poder. Considera também as questões ligadas à dominação em
que os discursos não apenas tornam perceptíveis as diferenças sociais, mas,
acima disso, as sustentam. Considerando-se tal aporte teórico, a metodologia
será então aplicada ao material colhido, resultante em oito artigos de opinião
retirados da revista de circulação nacional Veja que tratam sobre o assunto em
questão, sobre a Lei Menino Bernardo. Dessa forma, propõe-se também
constatar como a linguagem e o uso do discurso ideológico, firmado em
argumentação pessoal, formaram uma visão sobre determinado tema; como
um conjunto de crenças e ideologias pessoais, restritas a alguns autores ou
meio de comunicação interferem nas crenças de um grupo social, podendo
chegar a transformar e ou ressignificar hábitos, valores e normas.

Palavras-chave: Discurso. Palmada. Veja.

109
POLÍTICA DE ESCRITA E PRÁTICAS DE RESISTÊNCIA NO ESPAÇO
PRISIONAL: A TRAJETÓRIA DE ADÃO
Leonardo Damasceno de Sá (UFC)
Izabel Accioly (UFC)
Deiziane Aguiar (UFC)

Resumo: Adão é um detendo da Casa de Privação Provisória de Liberdade III


do sistema penitenciário do Ceará. Ele se tornou um escritor durante sua
experiência prisional, de modo que experiência a prisão numa relação com a
escrita de livros artesanais, fanzines e outros objetos semióticos, o que o difere
da maioria dos internos. Adão faz experimentações literárias com suas
experiências de vida no confronto com as questões da punição e da liberdade.
No dia a dia da prisão, ele segue construindo livros de forma artesanal,
utilizando as tampas das quentinhas, que possuem uma face branca propícia
para o estilo de Adão, quentinhas que recebe diariamente para sua
alimentação. Depois de usar as faces brancas das quentinhas como suporte de
sua prática de escrita, ele as encaderna com fios trabalhados a partir de sacos
plásticos em livros que cheiram literalmente e literariamente a alimento. Os
poemas e a prosa que recheiam essas tampas de papelão de ex-quentinhas
transformadas em livros contam sobre sua vida 'de dentro' e sua vida 'de fora',
tendo como marco sociotemporal e espacial do seu discurso o contexto de
aprisionamento de seu corpo e de sua subjetividade: ele escreve sobre como é
viver encarcerado, estabelecido entre "homens de pó e pedra", e escreve
também sobre lembranças e imaginações sobre a esposa, a família, o lugar de
onde ele veio; sobre a liberdade, e, inclusive, sobre o tempo futuro do que
ainda não é; o tempo após a tão esperada soltura, entre outros recortes
temáticos, que se configuram a partir de suas condições existenciais no seu
devir, para a recriação do seu poder de resistência e de luta. Assim, resiste ao
embrutecimento que o presídio lhe impõe através da criação de uma literatura
própria, que lembra a obra de Jean Genet e Lima Barreto. O objetivo deste
paper é analisar as estratégias discursivas do detento-escritor Adão e seus
agenciamentos de desejo em torno de uma política da escrita que se faz contra
as paredes e as grades que o cercam, mas também contra os fantasmas que o
oprimem e as fantasias que o liberam. Do ponto de vista teórico, recorre-se aos
pensamentos de Michel Foucault, Judith Butler, Jean Genet, Lima Barreto e
Jacqueline Rose. Estas analíticas da experiência de Adão estão baseadas em
trabalho de campo etnográfico na prisão em um contexto de conversas
informais e entrevistas em profundidade com o detento-escritor, além de
análise de seus textos.

Palavras-chave: Sujeição prisional. Discurso encarcerado. Escrita marginal.

110
PRÁTICAS DISCURSIVAS E MÚLTIPLAS POSSIBILIDADES DE LEITURA:
O BULLYING E O PRECONCEITO RACIAL
Hely Cantalice Neto (UERN)

Resumo: A violência nas escolas vem se tornando uma problemática


constante. É na instituição escolar, local onde se pressupõe o exercício efetivo
da democracia que vemos, com grande recorrência, cristalizar-se
comportamentos intolerantes e violentos contra discentes. Conforme a
intensidade ou modo de violência praticados, teremos a consumação do ato de
bullying. A discussão sobre o bullying, uma das formas discriminatórias mais
cruéis, hodiernamente. Socialmente, temos como resultado desta conduta
nefasta, vítimas que sofrem de forma repetitiva agressões físicas ou
psicológicas massivas. Possíveis vítimas, quando em idade escolar, perdem a
autoestima, distanciando-se do convívio social perdendo a motivação de
frequentar a escola, por exemplo (FANTE, 2005). A partir dessa
problematização, nessa pesquisa, em fase exploratória, investigamos a posição
discursiva de alunos da educação básica a respeito da temática do bullying,
com foco no tratamento verbal dado a sujeitos negros na escola ou fora dela.
Os dados são construídos em salas de aulas do 8º e 9º ano, em uma escola
pública municipal da cidade de Canindé-CE. As principais bases teóricas
advêm dos estudos da área de leitura: Kleiman (2000), Antunes (2003), Geraldi
(1997); e sobre a diversidade étnico-racial e social: Cavalleiro (2000), Munanga
(2005, 2006), Gomes (2006), Guimarães (2004, 2008), Ramos-Lopes (2010,
2015), Fante (2005), Pereira (2009), dentre outros. A pesquisa é de base
qualitativa (MOITA-LOPES, 1996), perscrutando o viés da pesquisa ação, em
seu caráter intervencionista (THIOLLENT, 2008). Os dados a serem
apresentados procedem da aplicação da oficina: Refletindo a temática da
diversidade étnico-racial a partir de anúncios publicitários (LIMA & RAMOS-
LOPES, 2015). A oficina se constituiu de quatro momentos: a) leitura de
anúncios publicitários, observando os efeitos de sentidos que as imagens
traduzem aos colaboradores da pesquisa; b) discussão oral sobre a
representação das imagens; c) produção escrita na qual os discentes se
posicionaram a respeito da discriminação racial; d) produção de um anúncio
em que o cidadão negro se perceba de forma positiva. Compreendemos,
conforme Pereira (2009), que o bullying é um problema antigo que vem
ganhando força no espaço escolar. No entanto, muitos não o reconhecem,
carecendo ainda de estudos aprofundados sobre sua dinâmica principalmente
no Brasil.

Palavras-chave: Bullying. Discriminação. Práticas de leitura eescrita.

SOBRE MENINAS KALUNGA, ESTUPROS E PONTES OU, COM QUANTAS


MENINAS NEGRAS SE CONSTRÓI UMA PONTE?

111
Joelma Rodrigues Da Silva (UNB)

Resumo: É sabido que as Representações Socais (RS) formam a grade de


leituras de mundo, instauram práticas, fornecem os elementos para a
construção das identidades individuais e sociais que garantem a
inserção/reconhecimento do individuo pelo grupo, uma vez que organiza as
relações entre indivíduos e grupos de indivíduos. Ao nos debruçarmos sobre as
violências sexuais/estupros de crianças e adolescentes das comunidades
kalunga de Goiás, apoiamo-nos no instrumental teórico das RS para articular
as categorias raça, gênero e geração por entendermos que essa articulação
amplifica a vulnerabilidade dessas meninas e adolescentes, responsabilizando-
as pelas violências ao mesmo tempo que inocenta seus agressores. A
naturalização das violências sexuais/estupros atualiza violências ancestrais
que atravessam a existência das mulheres negras na sociedade brasileira,
atualiza sua exploração como mão-de-obra barata e como sexo disponível.
Nesse artigo, iremos verificar como as RS presentes no Território Kalunga têm
possibilitado uma série de explorações/violências que têm como autores
pessoas (homens e mulheres) não kalunga e que têm como alvo o corpo e o
sexo de meninas/adolescentes Kalunga.

Palavras-chave: Meninas kalunga. Estupro. Racismo.

VIOLÊNCIA LINGUÍSTICA EM DISCURSOS INCLUSIVOS: UM ESTUDO DE


(IM)POLIDEZ NA INTERAÇÃO PROFESSOR E ALUNO AUTISTA
Lúcia Kátia Maia Rocha (UECE)
Reginaldo Gurgel Moreira (UECE)
Letícia Adriana Pires Ferreira Dos Santos (UECE

Resumo: Os estudos sobre o autismo têm rompido as fronteiras positivistas


das pesquisas em saúde mental para entrar na pauta dos estudos da
linguagem ordinária, como a Nova Pragmática. Isso ocorre devido às
interpelações de realidades de exclusão geradas por violência linguística nas
interações entre sujeitos com autismo e seus interactantes, mediante a
necessidade de afirmação da identidade dos autistas, construída dentro do
discurso. Por isso, para pesquisar tal fenômeno, faz-se necessário partir da
transdisciplinaridade linguística que possibilita analisar as práticas sociais de
autistas transpassadas por suas práticas discursivas, em vista de relações
sociais mais inclusivas, afirmando identidades. Este artigo aborda a temática
da interação sócio-discursiva de um sujeito com autismo em contexto escolar,
em meio ao conflito exclusão/inclusão presente nas estratégias de (im)polidez
linguística entre aluno e seus professores. O objetivo deste estudo é identificar
a violência linguística/exclusão social que se camufla em discursos inclusivos
nas interações (im)polidas entre professores e aluno com autismo em sala de

112
aula. Pretende-se ainda observar como essa violência linguística causa danos
na construção da identidade dos sujeitos. A base teórica se constitui em duas
vertentes que se entrecruzam para assegurar maior aprofundamento nas
análises. Primeiramente, a Nova Pragmática, de Silva & Alencar (2014) e
Rajagopalan (2010) que aponta perspectivas para estudar os fenômenos
linguísticos transpassados pelo social, pela história e pela cultura, assumindo
uma postura contra-hegemônica e crítica dessas relações que são
indissociáveis. Em segundo, as máximas e princípios de (Im)Polidez Linguística
de Leech (1983, 2005), especialmente ao que ele chama de banter ou mock-
impoliteness, ou seja, viola-se a polidez nos turnos da interação ao usar termos
de sentido amigável dissimulando ofensas. A metodologia utilizada foi
observação participante em sala de aula, acompanhando por um ano aluno
autista em escola do ensino regular. Os principais resultados indicam que há
ocorrências constantes de violências linguísticas dos professores para com o
aluno, mas de forma velada e sem a intenção de agir com impolidez.
Observou-se ainda o despreparo profissional para lidar com a subjetividade do
autista em sala, reforçando sensação de distanciamento social do autista em
relação ao grupo.

Palavras-chave: Autismo. (Im)Polidez. Exclusão.

EXCLUSÃO OU INCLUSÃO: O DISCURSO MIDIÁTICO NA ALEMANHA


SOBRE A EDUCAÇÃO INCLUSIVA PARA SURDOS E SEUS EFEITOS
CONSTITUTIVOS NA IDENTIDADE SURDA
Romana Castro Zambrano (UFS)

Resumo: A exclusão do sistema educacional traz graves consequências para


as pessoas afetadas. Além de serem privadas das chances para o futuro
laboral, as pessoas são marginalizadas e excluídas da sociedade e do
discurso, com bastante efeitos na constituição das suas identidades. Nas
sociedades de hoje, é fato inconteste que os excluídos do sistema educacional
façam parte dos "já excluídos", das minorias sociais, como podemos constatar,
por exemplo, no caso dos surdos. Embora seja fortemente criticada pela
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) por
sua exclusão de minorias das oportunidades educacionais, a Alemanha
continua tendo um sistema de educação bastante diferenciado e seletivo.
Apenas nos últimos anos, depois de ter ratificado a Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência das Nações Unidas no ano 2008,
observam-se algumas mudanças para uma abertura das escolas regulares
para os surdos - mudanças que são acompanhadas criticamente pelo discurso
midiático. Focando esse discurso midiático alemão, a pesquisa (dentro do
contexto do projeto de pós-doutorado realizado na UFS, "Estudos das
identidades surdas nas práticas sociais e discursivas inclusivas no Brasil e na

113
Alemanha"), com bases teóricas na Análise Crítica do Discurso (ACD) e nos
Estudos Críticos do Discurso (ECD), parte do pressuposto de uma relação
dialética entre o discurso e a sociedade na qual a socio-cognição opera como
interface. Essa posição teórica oferece a possibilidade de uma análise social
através de métodos linguísticos aplicados. Na tradição da ACD, que propõe um
engajamento social para mudar as estruturas de desigualdade e exclusão,
nesta pesquisa estuda-se o debate sobre a inclusão de surdos no sistema de
educação regular na Alemanha. A aplicação dos métodos da Linguística
Cognitiva (LC) permite focar os processos mentais evocados pelo discurso e
explicar a contribuição do discurso à construção e constituição de identidades.
Pelos resultados da análise, demostra-se que a inclusão educativa para os
surdos é um conceito ainda não aceito pela sociedade alemã inteira. Além
disso, indicam-se as consequências que a discussão pública sobre a exclusão
ou inclusão pode trazer para a constituição da identidade surda.

Palavras-chave: Identidade surda. Educação inclusiva. Análise Crítica do


Discurso.

MACHADO DE ASSIS E A PROBLEMÁTICA DA ESCRAVIDÃO: UMA


ANÁLISE DE “PAI CONTRA MÃE”
Tatielly Pinho Farias (UECE)

Resumo: Este trabalho tem como objetivo geral analisar o conto "Pai contra
mãe", de Machado de Assis, sob o prisma da instituição da escravidão. Nesta
obra, o autor traz essa temática de forma dramática e contundente, pois a
insere num contexto ambíguo e complexo. Para auxílio da análise, foi feito um
estudo sobre a sociedade da época (focalizando a questão da escravidão, do
trabalho, da família e da desigualdade) e, a partir deste, realizamos
comparações com as situações postas pelo enredo: instrumentos de tortura,
caça aos escravos fugidos, o papel do feitor, a roda dos enjeitados. Foi
observado também o papel do homem e da mulher no âmbito familiar e social.
Em função desse paradigma de leitura, concluímos que Machado de Assis
constrói um enredo cruel, porém real, além de observarmos a desigualdade de
papel e funções exercidos pelos personagens (brancos e negros) numa
sociedade escravagista. Tais funções divergem e refletem a exclusão e a
desigualdade vigentes na época, que depreendemos também estarem
fortemente presentes nos dias de hoje. O autor faz uma crítica forte e expõe as
deficiências dessa sociedade que não vê o outro como igual, mas como
desmerecedor de seu amparo. Escravismo e trabalho, portanto, atravessam os
tempos e adquirem na sociedade brasileira significados que têm sua origem na
manutenção de estruturas patriarcais que datam de séculos atrás, o que
comprova a atualidade do texto machadiano e a inquietação da sua leitura.

114
Palavras-chave: Escravidão. Desigualdade. Análise comparativa.

OS EFEITOS DO ESTEREÓTIPO – UMA ESTRATÉGIA DISCURSIVA: A


CONSTITUIÇÃO DE IDENTIDADES, RELAÇÕES SOCIAIS E SISTEMAS DE
CONHECIMENTO E CRENÇA
Dulce Valente Pereira (UECE)

Resumo: A violência é somente física? Sabemos que não, pois, na atualidade,


muitas pesquisas têm argumentado sobre a existência de tantas outras formas
pelas quais o referido fenômeno social se realiza, dentre elas, a saber:
linguístico-discursiva. Se o estereótipo é uma "estratégia discursiva" paradoxal
(Bhabha), pois tanto reivindica fixação quanto movimento, o mesmo consistirá
num mecanismo por meio do qual a violência de gênero também se realiza? Ao
que parece, o estereótipo estabelece e sustenta relações assimétricas de
poder entre os gêneros. Assim sendo, faz-se necessário apreendermos o
estereótipo como algo complexo, e não de modo simplificado, ou seja, como
algo que simplesmente revela a natureza de homens e mulheres, pois, disso
resulta, a reiteração do modo essencialista oriundo de toda uma tradição
filosófica ocidental. A linguagem tem uma natureza de "iterabilidade",
propriedade que permite o movimento da significação ao longo dos "contextos",
pois os mesmos são insaturados. Dessa forma, "traços" de significação de
estereótipos são reiterados pela linguagem para além do instante de sua
inscrição (Derrida). Dizemos "traços" pois tal estratégia discursiva não carrega
a presença plena da significação constituída num dado momento, mas
resíduos. É dada a "iterabilidade", ou seja, a repetibilidade que os sujeitos se
entendem quanto aos resíduos de sentidos (re) produzidos nos mais diversos
contextos de práxis humana. Com essa compreensão, a nossa pesquisa busca
investigar os sentidos linguístico-discursivos do estereótipo no discurso de
mulheres em situação de risco, ou seja, que se encontram situadas numa casa
abrigo, amparadas pelo Estado. Contudo, muito mais do que isso, buscamos
não somente investigar os efeitos de tal estratégia discursiva na constituição de
identidades, de relações sociais e de sistemas de crença e conhecimento nos
termos de uma "ordem social" falocrática (Bourdieu), mas performances
feministas, posicionamentos políticos frente ao fenômeno da violência e aos
sentidos de tal ordem histórica.

Palavras-chave: Linguagem. Violência.Estereótipo.

115
116
EIXO TEMÁTICO 5 – SEXUALIDADE E GÊNERO

A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO REFERENTE A HOMOSSEXUAIS EM


DICIONÁRIOS ESCOLARES
Gislene Lima Carvalho (UECE)

Resumo: A língua é forma de transmissão de conceitos e ideologias. Palavras


e expressões utilizadas no discurso dos falantes demonstram em sua carga
semântica a cultura e os valores enraizados na sociedade que compartilha esta
língua. Maingueneau (2015) aponta, como característica do discurso, a
construção social do sentido no que se refere às práticas sociais discursivas. A
interação entre sujeitos é o que leva à interatividade do discurso. Neste
sentido, os gêneros discursivos têm um propósito comunicativo e uma
finalidade que será completada na interação com o público ao qual se destina.
Com base na ideia de que não há discurso desprovido de ideologias, neste
trabalho, temos o objetivo de analisar o discurso construído nos verbetes de
dicionários referentes a palavras e expressões utilizadas para se referir a
homossexuais, masculinos e femininos. Para tal análise, iremos nos pautar nos
estudos lexicográficos de Pontes (2009) e Welker (2011). Delimitamos dez
palavras utilizadas para fazer referência a homossexuais e buscamos seus
significados em dois dicionários escolares, destinados ao Ensino Fundamental.
A escolha de dicionários deve-se ao fato de estes materiais serem vistos como
manuais do ‘bem falar' e do ‘bem escrever', por prescreverem as formas ditas
‘corretas' de uso da língua, além de ser de fácil acesso a estudantes e falantes
em geral quando se busca tirar dúvidas sobre a língua. Acredita-se também,
erroneamente, que o dicionário apresenta um discurso neutro, trazendo apenas
a definição do termo de forma imparcial. A análise das definições relacionadas
aos homossexuais nos mostra que o discurso presente no dicionário define de
forma direta estes termos. Percebe-se um cuidado ao abordar tais lexias, o que
faz com que as definições sejam curtas e sem muitos exemplos de uso,
apresentem sempre marcações sociolinguísticas que restringem o uso ou, até
mesmo, a omissão desses termos. Tendo em vista que estes materiais se
destinam a estudantes jovens do Ensino Fundamental, cabe uma reflexão
sobre a forma como estas definições são feitas para que o aluno tenha acesso
a suas definições, porém, sem que este aprendizado se torne constrangedor no
ambiente escolar.

Palavras-chave: Discurso. Dicionário. Léxico.

A DISCURSIVIDADE SOBRE A CATEGORIA GÊNERO NO PLANO


MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE IGUATU – PME: SUPRESSÕES E
OPRESSÕES
Jonas Mateus Ferreira Araújo (IFCE)

117
Resumo: O artigo em questão analisa o debate em torno da supressão dos
termos "orientação sexual" e "identidade de gênero" do Plano Municipal de
Educação, a partir da realidade do município de Iguatu, considerando a tônica
que o debate ganhou no cenário nacional e quais os seus rebatimentos para a
realidade objetiva do contexto educacional no que tange à formação de sujeitos
e à evasão escolar. Essa análise busca sua luz no referencial marxista e no
seu método histórico dialético e na análise de discurso por considerar que
essas vertentes teóricas são capazes de acompanhar o movimento da
realidade de forma a suspender o cotidiano e perceber quais determinações da
realidade objetiva incidem ideologicamente sobre a formação da prática
discursiva dos sujeitos. Entendendo dessa forma, que o contexto educacional
assim como todas as demais instituições não são espaços neutros,
representam interesses de classe e que são passíveis de disputa hegemônica,
é que a problemática causada pela supressão dos termos ganha mais
relevância, por produzir evidências (ORLANDI, 2013) sobre como os sujeitos
que compõem o espaço público veem a importância de abordar os temas
suprimidos com vistas a evitar a evasão escolar e a discursividade que
envolvem a situação. Compreendendo, também, como a história e os discursos
se escrevem dialeticamente no cotidiano e como as relações de gênero são
determinantes para entender como esse processo diário influi na perpetuação
de opressões sobre as sexualidades que transgridam a heteronormatividade
(TOITIO, 2013) e firam princípios patriarcais. O estudo considerou a análise
dos posicionamentos públicos dos sujeitos envolvidos no processo, desde
postagens no Facebook até a observação participativa em sessão da Câmara
dos Vereadores. Podemos concluir que dentro da fenda das contradições da
sociedade capitalista é que o terreno de atuação mostra-se necessário e a
situação que envolve a questão dos Planos Municipais de Educação tem
evidenciado o crescente desafio que é promover o debate sobre gênero e
sexualidade dentro do âmbito educacional, ficando clara a imagem cristalizada
que a escola carrega como sendo uma mera reprodutora de discursos
"neutros".

Palavras-chave: Relações de Gênero. Planos Municipais de Educação.


Discursividade.

ADOÇÃO HOMOAFETIVA: GÊNERO, SEXUALIDADE E AFETIVIDADE NA


CONSTITUIÇÃO DA IDEIA DE FAMÍLIA EM UMA SENTENÇA JURÍDICA
Ana Raíza da Silva Casusa (UERN)
Edgley Freire Tavares (UERN)

Resumo: O discurso jurídico além de definidor de normas e regulamentos deve


ser abordado enquanto prática que dota de significados as relações sociais,

118
funcionando como modalidade enunciativa (FOUCAULT, 2007, 2009; DE
CERTEAU, 2007), a partir de um lugar institucional definido por regras,
modalizações e textualizações específicas. Apresentamos neste estudo uma
análise da prática jurídica numa perspectiva socioconstrucionista do discurso e
das identidades sociais (MOITA LOPES, 2003). Enquanto delimitação,
objetivou-se, especificamente, empreender uma análise discursiva de um
pedido de adoção homoafetiva, deferido pelo juiz da infância e juventude de
Goiânia, Maurício Porfírio Rosa, em junho de 2009. Tomado enquanto
materialidade discursiva, o parecer do jurista foi analisado em sua
historicidade, nas regras do funcionamento jurídico e na especificidade do
posicionamento enunciativo do juiz em meio às memórias das relações de
gênero e sexualidade atuais. Do ponto de vista da análise do discurso francesa
(ORLANDI, 2009; SARGENTINI, CURCINO & PIOVEZANI, 2011; GREGOLIN
& KOGAWA, 2012), a descrição e interpretação do enunciado jurídico em
questão apontou para movimentos da memória e do sentido que marcam a
sentença enquanto um posicionamento afirmativo em relação às novas
dinâmicas sociais e ao direito do instituto da adoção por parte de casais
homoafetivos, mesmo na ausência de lei específica, projetando-se no parecer
do juiz uma atualização dos discursos de identidade de gênero e sexualidade
que apontam para um conceito de família baseado na afetividade. Da análise,
evidenciou-se, ainda, o modo como a materialidade discursiva jurídica redefine
certos conceitos sociais e os recontextualiza no cenário atual marcado por
novos modos de subjetivação e novas práticas identitárias de gênero e
sexualidade, a exemplo da possibilidade de amparo legal para adoção
homoafetiva à luz dos princípios da dignidade humana, da isonomia e da ideia
de família alicerçada na dimensão da afetividade.

Palavras-chave: Discurso jurídico. Adoção homoafetiva. Afetividade.

A DOCILIZAÇÃO DO DISCURSO SEXUAL DO FUNK DA PERIFERIA PARA


SUA CIRCULAÇÃO NA MÍDIA HEGEMÔNICA: UMA ANÁLISE A PARTIR
DAS MÚSICAS “AGORA EU SOU PIRANHA” E “AGORA EU SOU
SOLTEIRA” DE VALESCA POPOZUDA
Eduardo Bruno Fernandes Freitas (UECE)

Resumo: O funk é um estilo musical que surge no contexto da periferia e que,


inicialmente, era desenvolvido por seus habitantes para ser "consumido" sem
intermediários. Todavia, no começo dos anos 80, a indústria fonográfica
passou a investir na criação de um mercado ampliado para o funk. Tal
acontecimento não ocorre de qualquer modo, pois o discurso literomusical
desse gênero musical, principalmente o sexual, precisa ser docilizado e
"controlado" para circular nas mídias hegemônicas. Partindo dessa perspectiva,
o presente trabalho intenciona analisar, a partir de duas versões da música

119
“Agora eu sou piranha” da cantora Valesca Popozuda, como o discurso sexual
do funk é modificado do baile-funk, consumido na periferia, para circular nas
mídias hegemônicas. Nessa perspectiva, o que se pretende observar é como e
de que modo o discurso sexual feminino é docilizado, de uma versão para a
outra da música, para evitar a circulação de um discurso feminino que é oposto
ao socialmente aceito no imaginário vigente. Tal análise será basificada nas
perspectivas da análise do discurso propostas por Dominique Maingueneau,
juntamente a Michael Foucault e outros pensadores que versam sobre a
sociedade de controle e as discussões acerca da sexualidade. De todo modo, é
importante ressaltar que a utilização de uma das músicas da Valesca
Popozuda se faz necessário para que diálogo bibliográfico seja melhor
exemplificado, não para tomá-lo como ícone, mas para a partir dele criar
diálogos com outras músicas e outras funkeiras.

Palavras-chave: Sexualidade. Funk. Valesca Popozuda.

A EQUIDADE DE GÊNERO NAS ESCOLAS DA REDE PÚBLICA DE ENSINO


EM PERNAMBUCO: DISCURSOS DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA
CONTRA A MULHER
Karinny Lima de Oliveira (UFPE)
Anna Luiza Araújo Ramos Martins Oliveira (UFPE)

Resumo: A atenção da escola em torno das relações de gênero,


historicamente, aparece enviesada por concepções essencialistas e
normalizadoras, que reforçam relações assimétricas de poder entre homens e
mulheres. Tal cultura patriarcal tem servido de égide para a violência doméstica
contra mulheres, meninas e adolescentes. A violência de gênero atravessa
todos os setores da sociedade e já se tornou pandemia no Brasil. Por muito
tempo, a legislação brasileira amparou esta lógica. A aprovação da Lei Maria
da Penha, em 2006, se transformou no principal instrumento legal de
enfrentamento à violência contra a mulher no país. Ela prevê um conjunto de
ações sociais, preventivas, protetivas e repressivas que deve ser assumido por
diversas instâncias do governo, inclusive, as educacionais. Chama a atenção o
investimento discursivo efetivado pelas diversas campanhas e ações
formativas de enfrentamento à violência doméstica e familiar em torno da
escola. Apoiado na teoria pós-estruturalista do discurso de Laclau e Mouffe,
este trabalho, como parte de uma pesquisa de mestrado em andamento,
apresenta uma análise exploratória da configuração do "Projeto Lei Maria da
Penha Vai à Escola" em Pernambuco. O corpus foi constituído por entrevistas
com as coordenações do projeto em Caruaru, Garanhuns e Recife. Análises
iniciais indicam que: as ações pedagógicas foram iniciativas das Secretarias da
Mulher; Caruaru foi o município precursor; não houve apoio financeiro federal
ou privado; as formações envolviam roda de diálogo com estudantes e

120
produção de materiais pedagógicos; algumas foram realizadas em parceria
com secretarias de educação e universidades; todas enfatizaram discussões
sobre gênero e violência contra a mulher; percebeu-se resistência de escolas
em relação à discussão sobre violência de gênero e em apresentar a temática
numa perspectiva transversal. Os resultados parciais reforçam a necessidade
de se analisar os discursos de gênero e enfrentamento à violência contra a
mulher presentes nas formações em andamento, assim como os processos de
recepção e (re)articulação destes discursos no campo escolar, como condição
para se investir em intervenções que permitam modificar o contexto de
violência de gênero ainda presente em nossa sociedade.

Palavras-chave: Discurso. Violência de gênero. Escola.

A INSERÇÃO DA MULHER NA ÁREA DAS CIÊNCIAS EXATAS: UMA


RELAÇÃO DE GÊNERO
Cristina Silva dos Santos (UESB)

Resumo: Neste artigo, propomo-nos a refletir sobre as questões que estão


relacionadas com a inserção de mulheres no ensino superior, bem como os
processos de dinamização e popularização das ciências exatas como espaços
ocupacionais para feminilidade. Assim, desenvolvemos uma pesquisa
documental, tendo como base os construtos sociais da relação de gênero
presentes nos cursos de graduação nas áreas das Ciências Exatas. Para
embasarmos e mantermos diálogo com o corpus de nossa pesquisa,
apresentamos como nossos principais interlocutores Beauvoir (1980), Louro
(2007, 2001), Touraine (2007), dentre outros autores, além de recorrermos aos
bancos de dados do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico). Deste modo, percebemos que a inclusão da mulher nas
Ciências Exatas perpassa por uma construção histórica marcada pela
exploração e submissão nos aspectos biológicos e sociais traçados pela
sociedade.

Palavras-chave: Mulher. Ciências Exatas. Construtos sociais.

A PRODUÇÃO DE SENTIDOS SOBRE HOMOSSEXUALIDADE NO JORNAL


“DIÁRIO DO POVO”
George José dos Santos Lima (UFPI)

Resumo: Este trabalho se propõe a refletir sobre o artigo de opinião Gays


avançam sobre Belos Jovens que têm como foco a produção de sentidos
acerca da homossexualidade. O presente artigo foi publicado no jornal
piauiense Diário do Povo. A seleção e análise do artigo ocorreram no período

121
de abril e julho de 2015. Trata-se de um estudo sobre mídia, tendo o artigo de
opinião como objeto de análise, com discussão acerca das categorias de
ideologia, discurso e poder. Nessa perspectiva, podemos partir da seguinte
questão: quais sentidos são produzidos pela mídia acerca da
homossexualidade? Para responder à questão, este trabalho se fundamenta
nas perspectivas teóricas de Pinto (2002), Dijk (2008), Thompson (1995).
Como resultados, percebe-se que o artigo constrói uma imagem negativa dos
homossexuais como indivíduos promíscuos que seguem um estilo de vida que
o autor considera errado, associando-os à imagem de transgressores da lei,
que não respeitam as outras pessoas, estimulando o preconceito e
discriminação.

Palavras-chave: Discurso. Ideologia. Poder.

AS REPRESENTAÇÕES DE MASCULINIDADES E FEMINILIDADES NOS


ROMANCES DE BANCA DE DIANA PALMER NOS ANOS DE 1990
Tatiane Lima de Freitas (UECE)
Roberta Manuela Barros de Andrade (UECE)
Antônio Marcos Fonseca do Nascimento (UECE)

Resumo: Diana Palmer é uma das autoras mais lidas de romances


sentimentais mundo afora. No Brasil, seus livros viraram "best-sellers" de
bancas de revistas, estando no patamar dos mais vendidos durante toda a
década de 1990. Entrementes, a forma peculiar como a autora descreve as
relações de gênero em seus romances é motivo de controvérsias entre seus
próprios leitores. O perfil traçado como característico para suas personagens,
tanto masculinos quanto femininos, de viés extremamente conservador, parece
entrar claramente em choque com os valores que regiam as relações entre os
sexos na última década do século XX, o que torna o seu sucesso estrondoso
digno de um maior escrutínio acadêmico. A autora personifica a fragilidade no
"ser" feminino e a força viril no "ser" masculino. Assim, tomamos como
pergunta-chave deste estudo, como as relações de gênero são apresentadas
por Diana Palmer e em que medida refletem posicionamentos patriarcais
encontrados na sociedade maior. Baseados neste contexto, este trabalho tem,
pois, como foco analisar as representações de masculinidade e de feminilidade
presentes nas obras da autora durante o período histórico citado. O presente
trabalho tem como objetivo produzir uma análise do discurso, nos moldes de
Thompson (1995), destas representações a partir de três de suas obras mais
populares neste período, as quais tornaram-se corpus de análise para esta
pesquisa:"Acreditar outra vez", "Anjo do Oeste" e "Adeus ao Amor". Para tal,
traçamos uma relação entre o seu discurso e a ideologia que o suporta no que
diz respeito às representações do masculino e do feminino ali presentes.

122
Palavras-chave: Literatura de massa. Romances sentimentais. Relações de
gênero.

“AZUL É A COR MAIS QUENTE”: A ADAPTAÇÃO DO GRAPHIC NOVEL


PARA O CINEMA E SUAS QUESTÕES DE GÊNERO E HOMOAFETIVIDADE
FEMININA
Ana Cláudia Pinheiro Dias Nogueira (UFRN)

Resumo: O presente artigo visa abordar as representações de identidades


sexuais, a homoafetividade e os discursos de gênero conforme é mencionado
no romance gráfico (graphic novel) Azul é a cor mais quente (Le Bleu est une
couleur chaude, original em francês, 2010) de autoria da quadrinista Julie
Maroh e na versão adaptada para o cinema dirigida por Abdellatif Kechiche (La
vie d'Adèle no original francês, 2013). Para isso, será necessário analisar os
caminhos percorridos da história em quadrinho para a adaptação fílmica e as
considerações adotadas por cada autor ao expressar opiniões sobre a obra.
Logo, o trabalho apresenta reflexões e polêmicas proporcionadas pelo estudo
comparativo estabelecido entre a narrativa gráfica e a adaptação fílmica.
Pretende-se evidenciar as diferenças presentes nas representações de
identidades e como cada autor construiu um discurso em torno das questões
de gênero e sexualidade, articulando códigos e elementos próprios de cada
uma das linguagens. Serão utilizados, como referencial teórico-metodológico,
conceitos propostos por Louro (2013), Hutcheon (1991, 2013), Swain (1999),
Butler (2003), Giddens (1993) e Mulvey (1983).

Palavras-chave: Adaptação. Homoafetividade. Sexualidade.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMBRICAMENTO ENTRE LINGUAGEM,


CORPO E SEXUALIDADE A PARTIR DO KIT “ESCOLA SEM HOMOFOBIA”
Guilherme Figueira-Borges (UEG)

Resumo: O corpo, em práticas cotidianas, tem a sua materialidade delineada a


partir de exercícios de poder (BUTLER, 2012), delimitando práticas que podem
e devem ser realizadas pelos sujeitos (FOUCAULT, 2008). Neste trabalho,
objetivo analisar a constituição do corpo homossexual no kit "Brasil Sem
Homofobia", evidenciando os efeitos de sentido que emergem da materialidade
linguístico-visual dos materiais audiovisuais "Medo de quê?", "Boneca na
mochila" e "Torpedo". Para tanto, buscarei estabelecer um diálogo entre os
campos da (i) Análise do Discurso francesa, especificamente, nos trabalhos de
Pêcheux (2009) e de Foucault (1996, 2008, 2011), da (ii) Pragmática,
notadamente, a partir dos trabalhos de Austin (1990) e Pinto (2007), e os
estudos de (iii) Butler (2012). Com este diálogo, poderei evidenciar que, nos

123
materiais audiovisuais, há a emergência de padrões corporais homossexuais
que, performativamente, delineiam padrões de normalidade para o corpo
homossexual no fio da história. O corpo é, notadamente, ritualizado, sendo
inserido, por isso, em uma cadeia de acontecimentos na história. Pode-se dizer
que, no e pelo corpo, há a manifestação de uma iterabilidade. Há práticas que
são imputadas aos corpos para que os seus atos de linguagem produzam
efeitos na sociedade. O que pode e deve fazer o corpo homossexual? Nesse
sentido, vejo que o kit atende aos requisitos de uma sociedade heteronormativa
que, antes de impedir a emergência do corpo homossexual, quer regular, de
forma sutil, as suas práticas nos ambientes escolares. A emergência do kit, no
fio da história, traz à tona a tensão que questões de sexualidade causam na
educação e, especificamente, na escola.

Palavras-chave: Corpo. Discurso. Sexualidade.

CORPO E IDENTIDADE: A SIGNIFICAÇÃO DA TRANSGENERIDADE NO


DISCURSO
Manuella Felicissimo (CEFET)

Resumo: Neste estudo, buscamos apreender as representações da


homossexualidade e da homofobia que circulam no imaginário social brasileiro.
Para isso, partimos da análise do vídeo "Encontrando Bianca", um dos
materiais produzidos para o chamado kit "Escola Sem Homofobia", projeto
criado em 2004, com o apoio do Ministério da Educação/Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (MEC/SECAD), cujo
principal objetivo era promover o enfrentamento da homofobia no ambiente
escolar e a educação para a diversidade sexual. Vídeos e outros materiais
seriam destinados a seis mil escolas do ensino médio. Em 2011, porém, a
presidente Dilma Rousseff, cedendo a fortes pressões advindas da Câmara
dos Deputados e da sociedade em geral, vetou a distribuição de todo o kit. O
vídeo em questão é tomado neste trabalho como texto/discurso que significa a
homofobia e a homossexualidade, produzindo sobre elas sentidos e
representações. A partir da análise do discurso de linha francesa, no seu
diálogo com a semiótica greimasiana, procedemos ao exame do texto, no
intuito de conhecer o discurso que por meio dele se projeta, situando-o no
quadro social e na memória que permitem sua emergência. O material em
análise aborda o tema da transgeneridade, evidente na representação do
sujeito da narrativa, Bianca. Através da análise, pudemos verificar que a
temática do gênero é construída, especialmente, a partir do tema da identidade
e da figura do corpo. A homofobia, por sua vez, tangencia o discurso,
integrando o percurso da sanção (cognitiva e pragmática): o reconhecimento e
o castigo atribuídos ao sujeito que não age em conformidade com os padrões
heteronormativos que regulam a sociedade. No caso de Bianca, isso se dá

124
através da negação do corpo e da identidade de Bianca, especialmente pela
escola e pela família.

Palavras-chave: Análise do discurso. Gênero e identidade. Transgeneridade.

CORPO TRAVESTI E CORPO EDUCADO: FRONTEIRAS CURRICULARES


Aline Ferraz da Silva (IFRS)

Resumo: Neste trabalho apresentamos a construção do Corpo Travesti em


suas relações com o Corpo Educado heteronormativo. Ao desenharmos a
cartografia de um corpo de diferença, utilizamos o discurso produzido por Érika
de Luna a respeito de seu currículo travesti. Costuramos tal narrativa de vida
com as linhas disponibilizadas pelas ferramentas dos estudos queer, de
Derrida, de Deleuze & Guattari, de Michel Foucault e do pensamento da
diferença. Da parte de Érika, coletamos histórias das quais destacamos linhas
criadoras de um modo de vida que é deslegitimado pela ordem social
heteronormativa. Tais episódios versam sobre viagens, família, escola, prisões,
festas: linhas costumeiras, flexíveis e de fuga; linhas de vida e de morte que se
cruzam, se misturam e se alimentam mutuamente compondo o Corpo Travesti
de Érika. Sustentamos que o Corpo Travesti carrega a diferença que se opõe à
fixação identitária e, portanto, não encontra eco em práticas curriculares
(escolares ou não) pautadas pelo pensamento realista que não admite a
inserção de saberes que não tenham sido autorizados por discursos sérios que
devem fixar a identidade do Corpo Educado. O discurso heteronormativo
constrói as travestis como seres em desacordo com a realidade, como
marginais à sociedade da scientia sexualis e da moral e bons costumes. A
constituição identitária travesti desafia a suposta funcionalidade natural dos
corpos e o próprio conceito de humano. O Corpo Travesti cria problemas para
o discurso realista ao transitar entre os polos homem e mulher da equação
binária que separa o mundo entre masculino e feminino; seu caráter móvel e
fluído desestabiliza a lógica heterossexista do dispositivo da sexualidade. Por
vezes, essa desestabilização desencadeia violentas reações institucionais
contra esse corpo transgressor que entra em choque, por exemplo, com a
cultura escolar formal. Assim, o Currículo Oficial, que visa produzir o Corpo
Educado, entra em conflito com o currículo de corpos que não se encaixam nos
padrões pré-estabelecidos pelo discurso biológico da heterossexualidade
compulsória.

Palavras-chave: Travesti. Corpo. Currículo.

DE MULHER PRA MULHER: ANÁLISE DO DISCURSO SOBRE O FEMININO


EM GRUPO TERAPÊUTICO

125
Idilva Maria Pires Germano (UFC)

Resumo: Este trabalho apresenta os resultados de pesquisa cujo objetivo é


compreender como os discursos sobre o feminino são construídos e
negociados em um grupo psicoterápico de mulheres no contexto de um serviço
de saúde mental. Busca-se conhecer que discursos são produzidos pelas
mulheres nas trocas conversacionais durante os encontros, como o grupo
confere sentido às relações de gênero e ao lugar da mulher na família, na
sociedade, bem como no grupo em si. Como as mulheres descrevem, avaliam
e legitimam o mundo feminino e que termos utilizam para afirmar ou recusar tal
mundo? Que ações são produzidas a partir desse conversar terapêutico e
como as práticas do feminino no grupo estão atravessadas por relações de
poder? O estudo baseia-se na Psicologia Discursiva Crítica, alinhada à
epistemologia construcionista social, focalizando o modo como as mulheres
participantes usam certos repertories interpretativos, adotam certas posições
de sujeito e vivem certos dilemas ideológicos. Essa perspectiva reconhece que
tanto a feminilidade quanto a masculinidade se tornam hábito ou rotina,
podendo existir como um conjunto de práticas discursivas que orientam o modo
como as pessoas sentem, pensam e falam. Foram transcritos e analisados
trechos das conversas de 07 participantes em quatro sessões de terapia de
grupo num CAPS geral do tipo III. Entre os principais repertórios destaca-se o
da "árvore seca" empregada quando a mulher não cumpre o que consideram
seu principal papel, o da maternidade. As posições de sujeito variam e
envolvem os papéis de esposa, mãe, filha, avó entre outras negociadas no
fluxo das interações. Entre os dilemas ideológicos, sublinham-se as
polarizações coletivismo X individualismo e patriarcado X igualitarismo. Tais
dilemas orientam, por exemplo, a atitude de denunciar ou não maridos
abusivos. Entre as conclusões, percebe-se que, apesar do discurso
contemporâneo de garantia de direitos, essas mulheres muitas vezes
reproduzem discursos dominantes e opressores que podem limitar a
construção de novos sentidos sobre o feminino e sua abertura para relações de
gênero mais simétricas.

Palavras-chave: Discurso sobre o feminino. Repertórios interpretativos.


Posicionamento e dilemas.

DESCONTINUIDADES DE GÊNERO E SEXUALIDADE NO DISCURSO


PUBLICITÁRIO: SABER-PODER-SUBJETIVIDADE, MEMÓRIA E EFEITOS
DE SENTIDO
Isabela Jade Martins Cunha (UERN)
Edgley Freire Tavares (UERN)

126
Resumo: Este trabalho, inserido nos debates em torno dos modos de
subjetivação e práticas identitárias na contemporaneidade, numa perspectiva
socioconstrucionista das identidades sociais e do discurso (FABRÍCIO &
MOITA LOPES, 2002; MOITA LOPES, 2003), reflete a mídia enquanto prática
e modalidade enunciativa (FOUCAULT, 1995, 2007, 2009) de dizibilidade e
visibilidade das inflexões, incertezas, angústias e rupturas com a tradição que
marcam nossos modos de vida e que, entre outros pontos, definem a
modernidade líquida (BAUMAN, 2005) e as formas de tematizar, interpretar,
questionar, assumir e construir identidades de gênero e sexualidade no cenário
atual. Enquanto gesto inicial de pesquisa no Programa Institucional de Iniciação
Científica - PIBIC, objetivamos, na análise do discursivo publicitário produzido
para o grupo empresarial O Boticário, descrever e analisar nos movimentos da
memória e do sentido o modo como as campanhas publicitárias desta marca
vem construindo discursivamente novas identidades de gênero e sexualidade
por meio de descontinuidades, na forma de deslocamentos, rupturas e
transformações no modo de refletir e tematizar as práticas identitárias e os
modos de subjetivação. Orientado nos procedimentos teóricos e metodológicos
que norteiam a análise histórica e semiológica desenvolvida em diversas
frentes de análise do discurso (SARGENTINI, CURCINO & PIOVEZANI, 2011;
GREGOLIN & KOGAWA, 2012), nosso percurso analítico tem apontado
descontinuidades nos discursos de identidade materializados nas campanhas
de O Boticário, entre recorrências, repetições e diferenças nos jogos de
memória e nos efeitos de sentido em torno das relações de gênero e
sexualidade historicamente construídas. Além disso, a análise dos enunciados
publicitários possibilita-nos teorizar as identidades sociais enquanto efeitos de
sentido (GREGOLIN, 2008), ou seja, enquanto processos históricos de
produção de sentido em torno de relações de saber, poder e subjetividade,
construções na e pela linguagem.

Palavras-chave: Identidades de gênero e sexualidade. Discurso. Publicidade.

DESEJO E TRANSGRESSÃO DA IDENTIDADE SEXUAL NO ROMANCE


QUEER “GIOVANNI'S ROOM” (O QUARTO DE GIOVANNI)
Paulo Rogério Bentes Bezerra (UFG)

Resumo: Propõe-se neste trabalho cartografar o desejo e o processo de


transgressão da identidade presentes na narrativa do romance “Giovanni´s
Room” (O Quarto de Giovanni) de 1956, do autor afroamericano James
Baldwin. Com a percepção de que o desejo e a transgressão da identidade
fazem-se presentes na narrativa através da relação amorosa e sexual do casal
protagonista do romance, irei investigar e discutir o processo de construção
desses elementos na narrativa e na composição dos personagens de James
Baldwin, segundo uma perspectiva pós-moderna, que vai ao encontro da

127
literatura proposta pelo escritor. Esta pesquisa investigará o desejo e a
transgressão da identidade sexual como ponto de partida para a verificação
dos conflitos sexuais que permeiam a relação homoafetiva do casal de
amantes David e Giovanni no romance “Giovanni's Room”, de James Baldwin.
Essa relação antagônica entre o comportamento hétero-normativo e o
comportamento homossexual aponta, na interpretação do romance, uma
perspectiva crítica de caráter ideológico, social e identitário, que irá traçar a
problemática da marginalização da homossexualidade calcada na
transgressão, no desejo proibido e na subversão. Marginalização que, ao longo
da narrativa, trará efeitos danosos no plano das relações interpessoais e no
campo das performances homoafetivas vividas pelo casal. “Giovanni´s Room” é
a história dos amores silenciados e abafados nas ruas, mas regados a suor e
êxtase entre as quatro paredes de um quarto. O quarto de Giovanni abre em
suas páginas o espaço para o errante, o cambiante, que vivencia seu desejo
maldito nos guetos e nos becos. “Giovanni's Room” é a manifestação da arte
literária, em sua expressão mais libertária, marginal, subversiva e
transgressora. Ao publicar “Giovanni's Room”, em plenos anos 50, Baldwin deu
voz ao homoerotismo, à multiplicidade, ao amor entre os iguais, à transgressão
das identidades. James Baldwin criou, em “Giovanni's Room” o quarto-fronteira,
o entre-lugar, o espaço da margem. Sobre as questões da identidade e do
desejo, utilizarei as teorias e considerações de Michel Foucault (1984, 1988),
Judith Butler (2010, 2012, 2013), Guacira Lopes Louro (2008), Gilles Deleuze,
(1995, 2003), Stuart Hall (2011), George Bataille (1993), entre outros.

Palavras-chaves: Desejo. Identidade. Transgressão.

DISCURSO, GÊNERO E SEXUALIDADE: EM TORNO DOS G0YS,


ENQUANTO IDENTIDADE SOCIAL
Antonio Pablo Moura Lima (UERN)
Edgley Freire Tavares (UERN)

Resumo: Em meio às novas expressões de gênero e sexualidade próprias da


modernidade líquida (BAUMAN, 2005), surge o grupo denominado G0ys. Em
seus modos de produzir sentidos sobre si e sobre outras identidades de gênero
e sexualidade, este grupo masculino assume essa prática e se caracteriza
como homens que praticam atos sexuais com outros homens, com a
particularidade de não haver penetração anal. Segundo declarações dos
membros dessa comunidade, a restrição de determinados tipos de práticas e
desejos, como comportamento de gênero considerados "afeminados", seria um
dos traços diferenciais dos G0ys em relação aos gays, constituindo-os como
hetero G0ys. Na mídia, em diversos segmentos, a discursivização em torno
dessa nova identidade social de gênero e de sexualidade tem possibilitado a
proliferação e circulação de discursos de confronto e/ou de pertencimento em

128
torno dos efeitos de sentido construídos pelo grupo G0ys. Enquanto objetivo
deste estudo, analisamos a formação e funcionamento deste discurso de
identidade em torno do grupo G0ys, numa perspectiva socioconstrucionista dos
discursos e das identidades sociais (MOITA LOPES, 2003) e a partir dos
pressupostos e das categorias analíticas da análise do discurso francesa
(FOUCAULT, 1995, 2007, 2009; ORLANDI, 1999; FERNANDES, 2007;
SARGENTINI, CURCINO & PIOVEZANI, 2011; GREGOLIN & KOGAWA,
2012). De forma preliminar, a análise vem apontando para a constituição
discursiva da identidade G0ys enquanto espaço de debates e polêmicas,
formas de se posicionar em relação a si e ao Outro que materializam de forma
singular a memória social e discursiva em torno das relações de gênero e
sexualidade e dos modos de subjetivação contemporâneos.

Palavras-chaves: Gênero. Sexualidade. G0ys.

DISCURSOS JUVENIS SOBRE SEXUALIDADES E GÊNEROS: DIÁLOGOS


ENTREMEADOS PELA WEB RÁDIO
Raimundo Augusto Martins Torres (UECE)
Talyta Martins Neves (UECE)
Samylla de Fátima Veras Sabóia (UECE)
Marcos Renato de Oliveira (UECE)
Maria Rocineide Ferreira da Silva (UECE)
Joana Darc Martins Torres (FAMETRO)

Resumo: O estudo teve enfoque nos discursos dos/as jovens acerca das
sexualidades e das relações de gêneros a partir de programas realizados na
web rádio, que é um canal online na internet de comunicação, cultura e saúde.
É uma pesquisa descritiva e exploratória, com abordagem qualitativa. A coleta
de dados ocorreu através das interações nos programas "Em Sintonia com a
Saúde" veiculados na Web Rádio AJIR. Esta emissora digital é utilizada como
estratégia de educação em saúde com as juventudes a partir do
desenvolvimento de práticas pedagógicas realizadas pelos estudantes do curso
de graduação em enfermagem e de outras graduações das áreas de humanas
e exatas, para promover o cuidado dialogado mediados pelos ambientes
virtuais. Os instrumentos de coleta de dados foram a observação in lócus e as
interações escritas postado no site da web rádio, no Skype, no Facebook e
Twitter. A análise dos dados ocorreu a partir das "perguntas-discursos" geradas
nas interações nos programas e amparadas pela produção discursiva em
Foucault (1979, 1984, 1985, 1988, 1996, 2006, 2007). Este estudo tem registro
no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará - No. FR
424380/2011. Participaram 49 jovens em 04 programas sobre sexualidades,
gêneros e diversidade sexual. As perguntas-discursos mostraram que eles/elas
têm interesses pelos temas e conhecimentos prévios, expressados pela

129
convivência social, familiar, religiosa e escolar. E ansiavam em entender o "por
quê" das diferenças e discriminações de gêneros e como superá-las. Sobre as
sexualidades, buscaram explicações sobre como assumir suas orientações
sexuais, tendo em vista que algumas perguntas expressavam o medo de se
assumir publicamente. A influência da mídia televisiva também foi considerada,
visto que atualmente peças novelística de televisões de sinal aberto, exibiram
beijos entre homens e homens e mulheres com outras mulheres. Contudo, as
juventudes veem na web rádio um meio de problematizar questões não são
feitas no cotidiano escolar e familiar, seja por medo, receio ou
desconhecimento. Portanto, a partir dessas trocas dialógicas construídas pelas
demandas dos sujeitos foi possível compreender melhor seus discursos sobre
sexualidades e relações de gêneros.

Palavras-chaves: Sexualidades. Relações de gêneros. Juventudes.

ENTEXTUALIZAÇÕES ESTRATÉGIAS EM PRÁTICAS INTERACIONAIS NA


WEB 2.0: PERFORMANCES IDENTITÁRIAS, INTERSECCIONALIDADE E
AGENCIAMENTO
Thayse Figueira Guimarães (UFRJ)

Resumo: Neste trabalho, proponho utilizar a noção de entextualização em um


exercício teórico-analítico sobre as práticas discursivas de um jovem na web
2.0. Nessa perspectiva, textos são compreendidos como "projéteis
transportáveis que viajam através dos contextos" (WOYDACK & RAMPTON,
2015, p.4), ao serem descontextualizados e recontextualizados (BLOMMAERT,
2005). Bauman & Briggs (1990, p. 22) vêm chamando de entextualização "o
processo de tornar o discurso passível de extração, de transformar um trecho
de produção linguística qualquer em uma unidade - um texto - que pode ser
extraído do seu cenário interacional". Em diálogo com a dimensão performativa
da linguagem, o fenômeno da entextualização sinaliza que, na repetição de
textos sedimentados na cultura, sentidos inéditos nascem, visto que, ao
realocar tais textos sempre o fazemos de forma diferente. No presente estudo,
tal articulação é a chave de leitura para a compreensão de como Luan, garoto
negro e gay, negocia coletivamente e estrategicamente suas performances de
gênero/sexualidade e raça nas suas redes sociais on-line. Os dados foram
gerados em uma investigação etnográfica, no contexto interacional da rede
social Facebook e Twitter. A noção de entextualização e de performances são
privilegiadas para dar conta da observação dos processos de circulação e
apropriação de discursos cristalizados de raça, na construção das
identificações de Luan como garoto negro e sensual. Na construção de sua
participação, nessas redes sociais, Luan vai entextualizar estrategicamente
signos das masculinidades hegemônicas e a matriz racial idealizada, quanto ao
quesito sensualidade e construir sociabilidades valorizadas em oposição a

130
discursos racializados que inferiorizam suas performances em suas práticas
interacionais. Defende-se que as noções apontadas acima são a chave de
leitura para a compreensão de como tais discursos são estrategicamente
utilizados pelo jovem, ao construir suas performances nas interações com
amigos dessa rede social. As análises apontam ainda que identificações de
raça são entremeadas por marcas de gênero/sexualidade e que estratégias de
agenciamento surgem associadas a significados normativos.

Palavras-chaves: Entextualizações. Performances identitárias. Agenciamento.

ENTRE A CRUZ E A ESPADA: FORMAÇÃO DE MASCULINIDADES,


MORAL SEXUAL E PROSTITUIÇÃO DE HOMENS NA COSTA RICA
Luis Pablo Orozco Varela (UFRS)
Fernando Seffener (UFRS)

Resumo: O processo de pesquisa que envolveu este artigo está baseado num
estudo da formação das masculinidades no âmbito do trabalho sexual de
homens para outros homens na Cosa Rica. Nesse sentido, inspiramo-nos a
partir dos aportes teóricos que provem de diversas vertentes do pós-
estruturalismo, além da problematização que se faz desde as teorias de gênero
e a teoria queer sobre a performatividade na formação dos discursos sobre
identidades. Em termos metodológicos, procuramos nos aproximar aos aportes
do método etnográfico, operando com observação participante, entrevistas,
análises do discurso com respeito as falhas dos sujeitos, os conteúdos que
aparecem em jornais, entre outros. Quando investigamos uma questão que
envolve a formação de masculinidade e trabalho sexual, possivelmente, seja a
metáfora daquele que anda através de territórios minados, atravessa rotas
tensionadas, onde circulam discursos da cultura sexual hegemônica que é
fundamentalmente heteronormativa e baseia-se nos valores do cristianismo
católico e se cruzam com testemunhas de lutas, solidariedades, violência,
decisões e outras experiências que envolvem as biografias dos rapazes que se
prostituem nos parques de San José, Costa Rica. Pesquisamos as marcas
morais produzidas pelo trabalho sexual, a partir da narrativa dos sujeitos:
ganhos, perdas, transformações em suas vidas, dinâmicas de ocultação. A
tarefa de encontrar saídas para estes desafios nos leva à análise de projetos
de vida, para tornar visíveis os sonhos, objetivos, os porquês das atividades,
cujos conteúdos têm permitido a estes jovens investir seu corpo para que
também outros façam fantasias possíveis. Finalmente, analisamos as
formações discursivas que provém das políticas de Direitos Humanos
desenvolvidas pelas populações LGTB e problematizamos como elas resgatam
as necessidades e experiências dos trabalhadores do sexo. Além disso,
desafiamos a ficção binária construída ao redor da convivência histórica entre
discursos morais com base na moral cristã heteronormativa e o

131
reconhecimento mundial da Costa Rica como destino para o prazer a partir dos
mercados do sexo e como eles se materializam.

Palavras-chaves: Masculinidades. Trabalho sexual. Performatividade.

“FAZ CARÃO, BABADO E CONFUSÃO”: PERFORMATIVIDADE DOS


CORPOS TRANSGÊNEROS COMO DESTERRITORIALIZAÇÃO DAS
REFERÊNCIAS HETEROSSEXUAIS
José Carlos Lima Costa (UFG)

Resumo: O gênero é uma identidade instável, rizomática, cujos efeitos não são
produtos de atos intencionais desempenhados pelos indivíduos. Os sujeitos no
processo de engendramento dos corpos vão se emaranhando às redes
instáveis e multidirecionais do gênero. Eles vão tomando contornos específicos
ao longo de suas existências; seus corpos são nomeados e com isto assumem
uma coerência segundo códigos de inteligibilidade culturais. Não é um
processo que inspira a finitude, mas uma constante materialização corporal.
Suas identidades vão sendo modeladas ao longo do tempo por meio da
repetição estilizada de atos. As normas do gênero são apreendidas em um
processo pedagógico no qual os indivíduos vão incorporando, através da
reprodução de gestos, movimentos, estilos corporais entre outros. Em suma,
toda performance de gênero é efeito de materialização corporal dentro do
campo da linguagem. O gênero é performativo, porque as ações resultantes
dele não procedem da subjetividade de um ator, tudo o que é presentado é
efeito de solidificação discursiva. O conceito de performatividade atribui à
linguagem a qualidade de veículo de ação. Por meio de um processo de
nomeação dos corpos e reiteração dos discursos, os seres vão tomando forma.
Os proferimentos performativos carregam em si ações ritualísticas que trazem
a existência aquilo que ainda não existe. Materializam e constituem aquilo que
não está formado. Neste sentido, o discurso desempenha um papel
performativo importante, ele modela os sujeitos ao nomeá-los. Ao produzir as
esferas binárias do masculino e feminino, estabelece fronteiras e espaços
inóspitos. Entre lugares reservados a "vidas infames", os transgêneros são
nômades que circulam por estes territórios, seus corpos demonstram as
incertezas presentes no processo de constituição das identidades. Eles
desterritorializam as referências, colocando em crise a noção de permanência
e naturalidade do gênero. Transgêneros são sujeitos que intervêm em seus
corpos, muitas vezes, desejando estar em outro território, mascarando-se por
algumas horas ou simplesmente exacerbando determinadas referências e
elementos da heterossexualidade. Seus corpos muitas vezes encenam, outras
vezes assumem e trocam papéis ou simplesmente caminham por eles
despreocupadamente. São sujeitos, cujas performances desterritorializam as
normas constitutivas na noção de gênero.

132
Palavras-chave: Performatividade. Discurso. Transgêneros.

GÊNEROS, SEXUALIDADES E DESEJOS EM CENA: SOCIABILIDADES


“PORNOGRÁFICAS” NOS CINEMÕES DO CENTRO DE FORTALEZA (CE)
Juliana Frota da Justa Coelho (UFSCar)

Resumo: Os "cinemões", espaços de exibição de filmes pornográficos e outras


sociabilidades, estão espalhados pelo centro da cidade de Fortaleza, capital do
estado do Ceará. Esses estabelecimentos, vistos como marginais por parte dos
habitantes dessa cidade devido a práticas consideradas pornográficas, podem
figurar como diversão e/ou abjeção, por exemplo, àquelas pessoas que por
eles passam/adentram. A partir das sociabilidades que se dão nesses
"cinemões", que podem incluir shows de sexo explícito (nos quais a plateia
interage com strippers); "pegação" em banheiros, poltronas e cabines; sentar
ao bar em animadas conversas, entre outras, proponho que binarismos tais
quais palco/plateia, homossexual/heterossexual, masculino/feminino,
erótico/pornográfico, corpo abjeto/corpo saudável são borrados. O borrar
dessas categorias dar-se-ia pelo exercício de desejos considerados
pornográficos, obscenos (quem em latim significa fora de cena), estimulados
por esses espaços, ou seja, a plateia dos "cinemões" também pode ser palco a
partir de agenciamentos corpo-sensação-discurso que visibilizam práticas de
gênero, sexualidade e desejo ao mesmo tempo em que velam tais práticas ou
as subvertem. A pesquisa de doutorado, em andamento, tem como
metodologia a participação observante proposta por Loïc Wacquant. Nela, estar
em campo é uma prática intensamente corporal, na qual muitas das nuances
do que nele acontecem são desdobradas e transmitidas aquém da linguagem e
da consciência. O autor, com isso, certamente não pretende descartar a
cognição na produção de conhecimento, mas permite ao/à pesquisador/a
apropriar-se dela na e pela prática de esquemas cognitivos, éticos, estéticos e
conativos, já que aquele/a que pesquisa coloca seu próprio organismo,
sensibilidade e afetos no cerne de sua metodologia e produção, considerando
o corpo como vetor de conhecimento. Ressalto, também, a importância de
pesquisas sobre esse tema serem realizadas por mulheres, algo quase
inexistente na literatura sociológica brasileira. Entre os referenciais teóricos
estão os estudos queer, pós-coloniais e a literatura socioantropológica
brasileira sobre sexualidade e gênero.

Palavras-chave: Pornografia. Sexualidade. Gênero.

GÊNEROS SOCIAIS: A VOZ DO POVO VS A VOZ DA ACADEMIA


Ana Paula Rabelo e Silva (UFC)

133
Pedro Henrique Lima Praxedes Filho (UECE)
Izabel Santos Magalhães (UFC)

Resumo: Nosso estudo apresenta resultados de uma pesquisa que analisa o


discurso não acadêmico sobre gênero social, a partir de quatro aspectos
(expressão de gênero social, identidade de gênero social, orientação sexual e
gênero social) escolhidos pelo uso recorrente em banners veiculados na
internet. Foram analisados 36 banners que circularam em redes sociais nos
anos de 2014 e 2015, dos quais 14 tratam de conceituar gênero; 12 trazem o
'olhar leigo de si'; 10 descrevem o 'olhar [não-acadêmico] do outro'. No Brasil
(MAGALHÃES, 2005, 2009), a Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH,
1999, 2003) tem contribuído para pesquisas sobre situações de transformação
social e/ou de opressões no que diz respeito aos gêneros sociais.
Consideramos a Análise Crítica do Discurso (FAIRCLOUGH, 1999;
CHOULIARACHI; FAIRCLOUGH, 2003) e a Multimodalidade (KRESS; VAN
LEUWEN, 1996) como teoria e método para análise, destacando, da ADC, a
intertextualidade e interdiscursividade, com ênfase nos significados
representacionais e ideacionais. No que se refere ao conceito de gênero social,
reconhecemos as construções teóricas de Butler (2013), Ostermam (2010) e
Cameron (2010); contudo, é a partir do olhar do sujeito afetado (oprimido), seus
testemunhos, suas críticas e caracterizações que abrimos um diálogo sobre a
fragilidade de qualquer sistematização teórica sobre as categorias sob análise.
A relevância do 'olhar leigo de si mesmo' e do 'olhar teorizador do outro
acadêmico' foi o caminho para o nosso estudo. Os resultados indicam que há
um descompasso entre o 'olhar leigo de si' e o 'olhar teorizador do acadêmico'
relativamente aos três primeiros aspectos, havendo concordância apenas
quanto à quarta. A motivação para o descompasso e a concordância é a
defesa do ponto de vista teórico segundo o qual os quatro "conceitos" se
manifestam no cotidiano dos indivíduos como construções sociodiscursivas.

Palavras-chave: Gênero social. Análise de Discurso Crítica. Multimodalidade.

IDENTIDADE DE GÊNERO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA A PARTIR DE


ENTREVISTA FACE-A-FACE
Magda Renata Marques Diniz (UFRN/IFRN)
Cíntia Daniele Oliveira do Nascimento (UFRN)

Resumo: Compreendendo o caráter da representação coletiva e da identidade


como um conjunto de significados partilhados, estudar a identidade cultural é
de nenhuma forma constituir um conjunto de padrões, mas sim dar a permissão
de os sujeitos se posicionarem e perceberem que as diferentes temporalidades
podem ocupar um mesmo espaço. Ademais, estabelece-se uma interconexão
com os estudos culturais à medida que utiliza o conceito de identidade cultural

134
na pós-modernidade, em particular, com o processo de formação das
identidades. Partindo desse entendimento e aliando-se à pesquisa qualitativa
com enfoque sócio-histórico, em que a linguagem é diretamente correlacionada
ao contexto do qual os sujeitos fazem parte, esta comunicação objetiva
apresentar uma pesquisa realizada com mulheres que concluíram o curso
denominado Beneficiamento do Pescado, no ano de 2013, inserido no
“Programa Mulheres Mil: educação, cidadania e desenvolvimento sustentável”,
no município de Macau, localizado no estado do Rio Grande do Norte/Brasil.
Esse programa foi promulgado pela Organização das Nações Unidas no ano
2000 e aprovado por, aproximadamente, duzentos países a partir da análise
dos maiores problemas mundiais. Em contribuição para o alcance das metas
do milênio, o Programa Mulheres Mil corresponde ao conjunto de prioridades
das políticas públicas brasileiras, especialmente, nos eixos da promoção da
equidade, igualdade entre gêneros, combate à violência contra a mulher e
acesso à educação. No referido percurso investigativo, o corpus está composto
de questionários aplicados a partir de entrevista face-a-face, com questões
abertas. Assim, na perspectiva da Linguística Aplicada de enfoque
transdisciplinar, a análise dos enunciados ajuda a compreender algumas
questões acerca da identidade de gênero e de como as entrevistadas
constroem significados para suas vidas.

Palavras-chave: Linguagem. Identidade cultural. Entrevista face-a-face.

UMA DAMA DO FEMINISMO BRASILEIRO: UMA REFLEXÃO SOBRE O


LEGADO DE CARMEN DA SILVA
Maristela Rodrigues Lopes (UESC)

Resumo: O feminismo não é recente, e o legado deixado pelas gerações


anteriores não deve ser esquecido, porque ele ainda continua, acompanhando
o movimento da história e atendendo a novos apelos. Em sua trajetória,
encontram-se incontáveis representantes, que assumiram a luta contra a
opressão, comprometendo-se com uma causa que diz respeito, não só a si
mesmos(as), mas também à coletividade. Embora os nomes de
alguns/algumas não apareçam nos livros de História, os legados estão aí,
incomodando ou impulsionando. Nesse sentido, propõe-se com este trabalho
refletir sobre a memória e a contribuição de Carmen da Silva para a divulgação
do feminismo no Brasil, evidenciando a importância e a atualidade de sua obra,
frente aos desafios e contradições do tempo presente. Aqui, são consideradas
as obras A arte de ser mulher (1966), O homem e a mulher no mundo moderno
(1971) e Histórias híbridas de uma senhora de respeito (1984). Inicialmente, o
feminismo, cujo referencial teórico tem uma tradição de pelo menos três
séculos, é apresentado como uma teoria crítica, que questiona as visões
estabelecidas na sociedade, possibilitando uma nova interpretação da

135
realidade, conforme Amorós y Álvarez (2010). Além disso, é um movimento
que, no decorrer do tempo, tem agregado as contribuições de todas as ondas.
É, pois, considerado, dentre outros, o pensamento de Simone de Beauvoir,
para quem a mulher é um constructo social; Judith Butler, que reconsiderou o
conceito "mulher" como representante do feminismo e fez a distinção entre
sexo e gênero, concebendo-os como construções discursivas e culturais; Joan
Scott, por acreditar que os sujeitos são construídos discursivamente, cujas
experiências são coletivas e também individuais. Depois, tem-se a
apresentação de Carmen da Silva e os processos pelos quais ela passou, até
descobrir-se um "ser plural", momento em que aparece sua consciência
coletiva e a descoberta de sua identidade feminista. Finalmente, o foco recai
sobre o seu pensamento em relação à condição da mulher e à sociedade de
um modo geral, evidenciando a atualidade de sua obra e a necessidade de
(re)conhecê-la, como bem defende Ana Rita Fonteles Duarte.

Palavras-chave: Identidade. Feminismo. Gênero.

UMA ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA DO TEXTO PUBLICITÁRIO


“MULHER CAFÉ COM LEITE”
Tisciany Teixeira Oliveira (FA7)
Ana Paula Rabelo e Silva (UFC)

Resumo: O presente trabalho analisou as identidades de gênero social no


discurso publicitário da campanha de cosmético "Você tem poder" da marca
Eudora/O Boticário. A peça analisada foi ao ar em março de 2013 em rede
nacional brasileira por meio de comercial televisivo e redes sociais de vídeo
(YouTube), e traz em seu título a assinatura da marca "Você tem poder". O
comercial tipifica duas categorias de mulheres durante alternância de quadros.
Utilizamos como fundamentação teórica e princípio metodológico a Análise de
Discurso Crítica, de Fairclough (2001). Para estudos das relações de gênero
social baseamo-nos em Beauvoir (2010), Butler (2007, 2013) e Louro (2014),
bem como em Perrot (2006), no tocante à imagem das mulheres e ao direito de
voz da mulher através da história. O conceito de discurso como prática social
implica que os sujeitos agem por meio da linguagem, e que textos e estruturas
sociais interagem dialeticamente. No caso da peça publicitária analisada,
tipificaram-se dois tipos de perfis de mulher, um evidenciado pela narrativa e
imagens, e outro desqualificado pela ausência de uma construção textual e,
mesmo, de uma elaboração imagética mais coerente. Por intermédio da
Análise de Discurso Crítica (2001), o trabalho constatou que as práticas
discursivas e as práticas sociais interligaram-se à medida que as construções
ou os discursos de gênero foram afetados ou atravessados por orientações
culturais e ideológicas que circulam na esfera social. A peça publicitária "Você
tem poder", por nós caracterizada como "mulher café com leite", defende o

136
padrão de beleza consolidado pelo discurso hegemônico, fazendo crer que
somente este estilo de vida/modo de consumo é o adequado e que qualquer as
outras alternativas são inaceitáveis.

Palavras-chave: Gênero. Publicidade. Análise de Discurso Crítica.

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA VELHICE E DO ENVELHECIMENTO


FEMININOS EM UM JORNAL DE FORTALEZA-CE: DISCURSOS E
(PRÉ)CONCEITOS
Kelly Maria Gomes Menezes (UFC)

Resumo: Essa pesquisa abordou a representação social da velhice e do


envelhecimento relacionados às questões de gênero, através da análise das
matérias publicadas no primeiro semestre de 2015, em um jornal impresso de
Fortaleza. Utilizamos uma abordagem quanti-qualitativa a partir da análise
documental e bibliográfica, baseada na metodologia de Representação Social
de Moscovici (2012). Para a interpretação dos dados, lançamos mão,
fundamentalmente, do aporte teórico de Beauvoir (1990), Bosi (2004), Butler
(2000, 2003), Debert (1999), Louro (1997), Neri (2007), Piscitelli (2008) e
Pocahy (2011). De acordo com os dados levantados, das 49 matérias que
continham os termos "velhice" e/ ou "envelhecimento", 24 estavam
relacionadas com o gênero feminino. Quanto à forma de se referir à mulher que
se encontra na fase da velhice, observamos uma maior incidência dos termos
"mulheres idosas" (17), "velhinhas" (5), "mulheres na terceira idade" (4),
"mulheres maduras" (4), "vovó" e/ou "avó" (3), "senhora" (3) e, em menor
medida, "velha" (2), "supercentenária" (1) e "idosa lésbica" (1), os quais podem
remeter a uma visão estereotipada da velhice e do envelhecimento femininos.
Verificamos ainda que o jornal trouxe mais matérias sobre o envelhecimento
populacional (8), haja vista o fenômeno de "feminização da velhice", onde há
um crescimento quantitativo e qualitativo (presença nos espaços públicos) das
mulheres na fase da velhice. Há ênfase nas matérias sobre alimentação e
saúde (5), trazendo à tona a cultura do corpo da mulher jovem e das
possibilidades de adiar as marcas do envelhecimento. O jornal também
abordou as relações de beleza e estética (4), o que também denota uma fuga
do envelhecimento, sobretudo feminino, com a recorrência a procedimentos
cirúrgicos e estéticos diversos. Observamos que há pouca menção nas
matérias sobre os direitos sociais das mulheres velhas (3), cultura (2) e menos
ainda com relação às questões que envolvem gênero e sexualidade (1). Não
podemos, pois, descartar a influência da mídia sobre a velhice e o
envelhecimento femininos, uma vez que as informações podem apresentar
uma imagem fantasiosa dessa fase da vida, reforçando estereótipos e
colaborando para processos de múltiplas exclusões.

137
Palavras-chave: Velhice. Envelhecimento. Gênero.

REPRESENTAÇÃO DO GÊNERO NO LÉXICO QUANTO ÀS PROFISSÕES


Giselly Oliveira de Andrade (UECE)
Gislene Lima Carvalho (UECE)

Resumo: É sabido que, em nossa sociedade, a diferença entre os gêneros


persiste e ainda é relevante mesmo com todos os avanços que tenhamos
passado, sendo facilmente observada e reforçada em vários espaços sociais,
como: na escola, na igreja, no lar, no ambiente de trabalho etc. Levando-se em
consideração a este último aspecto, verifica-se que, apesar de todos os últimos
feitos conquistados pelas mulheres, elas continuam auferindo salários bem
menores do que os homens mesmo exercendo cargos semelhantes e tendo as
mesmas atribuições. Esta distinção acaba se refletindo em muitas outras áreas,
tais como: na música, nos filmes, nas novelas, nas propagandas, na literatura
e, curiosamente, nos dicionários. E foi com base nestes que, no presente
trabalho, buscou-se averiguar e analisar como o gênero pertinente às
profissões está representado. Para tanto, fez-se necessário listar algumas
palavras referentes às profissões retiradas de três dicionários (Silveira Bueno,
Aurélio e Sérgio Ximenes), compará-las e analisá-las no tratamento relativo ao
gênero de quem as exerce com o intuito de mostrar como ainda é marcante a
presença do discurso masculino em nossa cultura. Tomamos como base a
noção de discurso proposta por Maingueneau (2015) e, na área da lexicografia,
Forgas Berdet (1999) e Pontes & Santos (2014). Ao ser esta discussão
transposta para o léxico, observou-se que, na verdade, a diferença de gênero
nele encontrada é muito mais veemente do que aquela verificada na realidade
existente em nosso meio social, pois, não só nas áreas profissionais
tipicamente taxadas como pertencentes ao universo masculino, mas também
naquelas tidas socialmente como femininas, bem como nas especificadas
como comum de dois gêneros no contexto dicionarístico, percebeu-se uma
preponderância do gênero masculino.

Palavras-chave: Gênero. Profissão. Léxico.

REPETIR-REPETIR ATÉ FICAR DIFERENTE: ITERABILIDADE,


PLASTICIDADE E SEXUALIDADES EM UM BLOG EDUCACIONAL
Branca Falabella Fabrício (UFRJ)
Angela Sousa-Aguiar Cassinelli (UFRJ)

Resumo: As formas de aprendizagem e de produção-circulação discursiva


mudaram dramaticamente, em razão do desenvolvimento da Web 2.0. Por seu
alcance e velocidade informacionais, pelas inúmeras comunidades de usuários

138
que propiciou, e pelos novos modos de significação e de construção identitária
hipersemióticos que o caracterizam, o ciberespaço passou a ser uma realidade
inescapável para muito/as estudantes. Pode-se dizer, assim, que os
letramentos escolares convencionais são, cada vez mais intensamente,
afetados pelos letramentos virtuais. Tendo em vista esse cenário, o presente
trabalho propõe-se a investigar processos de produção de significados e rituais
interacionais envolvendo práticas comunicativas entre aluno/as de ensino
médio e sua professora de História em um blog educacional, por ela elaborado
e batizado de "FALLA TU!" - um espaço de reflexão conjunta sobre padrões de
normatividade, estereótipos sociais e diferenças. Meu interesse pontual é
observar as relações entre cadeias textuais, atribuição de sentido e
performances semiótico-identitárias de sexualidade coconstruídas ao longo de
sucessivos encontros interativos nesse contexto virtual, atentando tanto para o
diálogo entre processos sociohistóricos persistentes e experiências sociais
contingentes. Como referencial teórico-metodológico-analítico norteador, o
trabalho articula nexus analysis (SCOLLON; SCOLLON, 2004) - na projeção de
conectividade entre diferentes "ciclos do discurso”- e os conceitos de
iterabilidade (DERRIDA, 1977), entextualização (SILVERTEIN; URBAN, 1987),
plasticidade (MALABOU, 2009) e footing (GOFFMAN, 1981) - construtos
teórico-analíticos que, associados, permitem descrever e criar entendimento
sobre a construção de paisagens espaço-temporais e intersubjetivas instáveis,
em diálogo com algum nível de durabilidade. Os dados, gerados a partir de
etnografia virtual, seguindo trajetórias de socialização de alguns/mas aluno/as
focais, apontam para o potencial de ressemiotização, advindo de processos
incessantes de repetição-transformação.

Palavras-chave: Iterabilidade. Plasticidade. Sexualidades.

RELAÇÕES DE GÊNERO NO DISCURSO PUBLICITÁRIO


AUTOMOBILÍSTICO
Lara Liliane Holanda (UERN)
Edgley Freire Tavares (UERN)

Resumo: No mundo globalizado, as práticas de consumo definem


comportamentos, modos de subjetivação e demarcam práticas identitárias de
gênero. Consumir tornou-se uma estética de si valorizada na atualidade,
definidora das relações intersubjetivas (BAUMAN, 2008). Partindo disso, nosso
trabalho tem por objetivo analisar discursivamente as relações de gênero no
domínio da publicidade automobilística contemporânea, numa perspectiva
socioconstrucionista das práticas identitárias e discursivas (MOITA LOPES,
2003). Teórica e metodologicamente, o presente estudo fundamentou-se na
análise do discurso francesa (FOUCAULT, 1995, 2007, 2009; SARGENTINI,
CURCINO & PIOVEZANI, 2011; GREGOLIN & KOGAWA, 2012), para realizar

139
um trabalho de seleção, organização e análise de materialidades discursivas
da publicidade focada para o setor automobilístico, recuperadas em revistas e
em sites da internet. Para tanto, buscou-se problematizar: como a memória em
torno das relações de gênero se atualiza no discurso publicitário
automobilístico? Que representações e efeitos de sentido em torno do
masculino e do feminino são construídos nos enunciados publicitários de
marcas de automóveis nacionais e importadas? Previamente, o percurso
analítico evidenciou especificidades no modo como a publicidade
automobilística atualiza a memória das relações de gênero para produzir
efeitos de sentido que materializam permanências e redefinições no modo
como são significados o masculino e o feminino enquanto objetos do discurso
publicitário. Ademais, a análise aponta para a centralidade da publicidade
enquanto operadora de memória e enquanto prática de visibilidade para novas
formas de pensar a vida social, os modos de subjetivação e as práticas
identitárias de consumo.

Palavras-chave: Discurso. Relações de Gênero. Publicidade automobilística.

PROBLEMATIZANDO O PODER DO MACHO NA TEORIA FREUDIANA:


ELEMENTOS PARA UMA CRÍTICA
Ana Catarina Muniz Pereira (UEMA)

Resumo: Este trabalho tem como objetivo problematizar a teoria do


desenvolvimento sexual de Sigmund Freud tendo como foco a questão do
Complexo de Édipo. Por outro lado, se apropria da crítica de Heleith Safiotti a
respeito da supremacia masculina baseada no falo. Analisando de outro lugar
teórico, Safiotti critica essa noção de que a presença do falo ou mesmo do
pênis representa uma supremacia masculina, um poder desfrutado socialmente
pelo macho, e que este caráter biológico de faltar um pedaço no corpo da
mulher apenas a possibilitaria urinar mais longe, com maior força, maior
alcance e maior pujança. A teoria da Sexualidade Infantil de Sigmund Freud
tem como base fundamental o Complexo de Édipo - um conjunto de desejos
amorosos e hostis alimentado pela criança em relação aos seus genitores,
onde esta nutre um desejo sexual e incestuoso pelo progenitor do sexo oposto
e deseja a morte ou desaparecimento do outro de mesmo sexo ou vice-versa.
Tal processo encerra-se sob a ameaça de castração sofrida pela criança, isto
é, o menino ao aperceber-se da ausência do pênis na menina irá temer pelo
seu próprio pênis, já a menina sentirá esta ausência como um dano sofrido, ao
qual procurará negar, compensar ou reparar ou mesmo invejar este órgão
genital. Além disso, este é o período onde a criança se identificará com um de
seus progenitores; a menina com a mãe e o menino com o Pai. Freud ressalta
que tal angústia de castração na mulher a incute um eterno sentimento de
angústia por saber que não é detentora do falo, assim se sente incompleta.

140
Entretanto, no atual contexto, as mulheres ao se empoderarem constroem na
sua luta contra o poder do macho o seu próprio falo - o seu lugar de
independência e autonomia como um ser social.

Palavras-chave: Falo. Castração. Poder.

PARADIGMA DE GÊNERO COMO EXPRESSÃO DE UMA EDUCAÇÃO


INCLUSIVA
Vicente Gregório de Sousa Filho (Escola Superior de Teologia)

Resumo: Um paradigma supõe um conjunto de conceitos e teorias que


possam balizar a pesquisa e a práxis pedagógica dentro de uma área do
conhecimento como lentes que nos permitam fazer hermenêuticas e análises
científicas do objeto de estudo. Em sua abordagem metodológica, a pesquisa
fez uso de questionários abertos e fechados aplicados a adolescentes na faixa
etária de 15 a 17 anos, como instrumentos de coleta, e posteriores discussões
dos dados obtidos. Nesta perspectiva, a comunicação pretende discorrer sobre
a premência de utilização do paradigma de gênero a fim de a escola criar
estratégias de ensino, debates e convivência entre os alunos que sejam
capazes de subsidiar uma convivência humana mais tolerante e equitativa no
que tange às diferenças culturais e de gênero. A partir de uma experiência
investigativa ocorrida nas escolas públicas em Parnaíba-PI, os resultados
apontam para postulações de adolescentes que permitem vislumbrar a
necessidade de respeito e tolerância entre rapazes, moças e homossexuais.
Oxalá, tais percepções se configurem como o limiar não apenas de uma
educação inclusiva, mas, sobretudo de uma sociedade que seja capaz de criar
espaços de convivência justa e respeitosa entre os diferentes, dando a todos a
oportunidade de trabalho e o uso de suas prerrogativas enquanto sujeitos de
direitos iguais.

Palavras-chave: Paradigma de gênero. Educação inclusiva. Diversidade


sexual.

MULHERES NA PARTICIPAÇÃO POLÍTICA


Tiago Fernando Hansel (UNIOESTE)

Resumo: É evidente o aumento de discussões e trabalhos sobre a temática de


gênero - em especial sua participação e inserção no campo político,
discriminação, mercado de trabalho, opressões, violência, sexualidade e luta
pelos seus direitos - nos centros acadêmicos e no cotidiano da sociedade.
Neste mesmo sentido, produz-se a cada ano uma extensa bibliografia a
respeito do assunto, sobre diferentes aspectos e fontes teóricas, além de

141
muitos movimentos de militantes em prol das mulheres pela conquista de seu
espaço e pela igualdade de direitos. O alvo deste trabalho é enriquecer o
debate no campo das ciências sociais e políticas, tendo em vista as pesquisas
decorrentes dessa área no que tange à participação das mulheres no campo
político partidário. A busca pelo entendimento do processo participativo é
constante, pois sempre se encontra novas indagações que fazem deste tema
um campo inesgotável de investigação. Neste artigo, serão apresentados
contextos históricos sobre lutas, sufrágio feminino, as principais mulheres na
política brasileira, militâncias e batalhas no campo político.

Palavras-chave: Mulheres. Política. Igualdade.

IDENTIDADE GAY NO DISCURSO RELIGIOSO DO PASTOR


PENTECOSTAL SILAS MALAFAIA
Tiago Vieira Fernandes de Paiva (FA7)
Ana Paula Rabelo e Silva (UFC)

Resumo: Este artigo tem por objetivo analisar de que maneira o pastor
pentecostal Silas Malafaia constrói a identidade gay em seus discursos orais
em seu programa de TV Vitória em Cristo, tendo como uma das principais
preocupações a violação da dignidade da pessoa homossexual. Para a análise
dos discursos de Malafaia, buscou-se o pressuposto teórico da Análise do
Discurso de Patrick Charaudeau (2008; 2009), mais especificamente o seu
contrato de comunicação. O contrato de comunicação é resultado de
características inerentes a situação de troca: os dados externos e os dados
internos. Além dos conceitos de Análise do Discurso, foi necessário utilizar Hall
(1999) para uma reflexão sobre o conceito de identidade cultural. A pesquisa
qualitativa, desenvolvida como trabalho de conclusão de curso, deu subsídio
para o desenvolvimento deste artigo. Os discursos analisados foram retirados
da internet, tanto do site pessoal do pastor, quanto na mídia social Youtube.
Pôde-se entender, ao final, que Silas Malafaia é responsável por uma série de
discursos com teor homofóbico, pois demonstra hostilidade psicológica e social
contra os indivíduos que sentem desejo ou mantêm práticas sexuais com
pessoas do mesmo sexo.

Palavras-chave: Análise do discurso. Identidade. Homofobia.

A (RE/DES) CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ABORDADA NA COLEÇÃO


CERCANÍA JOVEN

Alessandra Ferro Salazar Caro (IFMA)

142
Resumo: A presente proposta de comunicação tem como objetivo investigar
a (re/des) construção das identidades apresentadas nos livros didáticos da
coleção Cercanía Joven 1º, 2º e 3º anos do ensino médio 2015/2017, escolhido
pelo PNLD/MEC. Para tanto, iremos analisar os textos, as imagens,
analisando-os no que concerne ao trato dado à categoria gênero e à formação
familiar do sujeito no contexto de uma época denominada de pós-moderna.
Desse modo, em virtude da "crise de identidade" o sujeito pós-moderno é visto
como fragmentado ou deslocado. Segundo Hall (2005), este sujeito que antes
era visto como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando
fragmentado, composto não de uma única, mas de várias identidades. O "efeito
da pós-modernidade" vem afetando a humanidade em diferentes esferas,
modificando o ideológico, o cultural e o social, favorecendo novos costumes e
atitudes comportamentais. Sendo o livro didático, com suas plurais linguagens,
conceitos, ilustrações e distintos gêneros discursivos, uma ferramenta usada
no processo aprendizagem o mesmo assume um papel relevante na
construção da identidade dos indivíduos enquanto aluno. Lopes (2007) define o
livro didático como uma versão didatizada do conhecimento para fins escolares
e/ou com o propósito de formação de valores que configuram concepções de
conhecimentos, de valores, identidades e visões de mundo. Para ampliar nossa
investigação buscaremos através da pesquisa bibliográfica literaturas que
abordem o diálogo existente entre identidade, gênero e livro didático. As teorias
que irão ancorar essa investigação serão: Stuart Hall (2005) Guacira Louro
(2007), Judith Butler (2003), Alice Lopes (2007) dentre outros, pois têm a visão
de uma identidade descentralizada, onde a formação dos indivíduos constrói-se
em contato com a sociedade.

Palavras-chave: Identidade. Livro Didático. Pós-Modernidade.

LITERATURA AFRO-BRASILEIRA: GÊNERO EM FRONTEIRAS


Cláudia Maria Ceneviva Nigro (UNESP/IBILCE)

Resumo: A estratégia de invisibilidade é promovida por meio de apagamentos


de sujeitos em identidades epistêmicas. Grosfoguel (2008), ao refletir sobre os
lugares estabelecidos pelo sujeito geopolítico e epistêmico, afirma que o
conhecimento dito universal e verdadeiro oculta aquele que fala fora da
epistemologia normativa europeia e projeta a inaceitação desses sujeitos. Ao
negar e regular os dominados, interferem em intersubjetividades,
principalmente nas manifestações ligadas à raça e gênero. Esse trabalho
objetiva mostrar como na literatura produzida por escritoras afro-brasileiras
(Conceição Evaristo, Cristiane Sobral, entre outras) colocam-se em evidência
questionamentos sobre o dado. Tanto a categoria de raça quanto à de gênero
dão a materialidade pelo discurso necessária ao corpo constituído de
feminilidades e masculinidades, trazendo as múltiplas significações e os

143
campos de discurso e de poder (Butler, 2003/2007). Nesse contexto do corpo
como construção discursiva, carregada de simbologias de valor positivos ou
negativos que adquirem significados politicamente em contextos específicos,
questiona-se o eurocentrismo como perspectiva que ignora o pluriversal e o
abjeto. As escritas que não reproduzem padrões eurocêntricos e (des) coloniza
o imaginário dos colonizados, proposta por Quijano (2002), faz-se impeditiva na
publicação - as escritoras publicam em pouquíssimas editoras - e na crítica -
quase inexistente fora da academia e também dentro dela.

Palavras-chave: Literatura Afro-brasileira. Gênero. Judith Butler.

EXPOSIÇÃO DE PROFESSORES NOS PERFIS DE IDENTIDADES SEXUAIS


NO INTERIOR DA BAHIA
Priscila Lima de Carvalho (UNEB)

Resumo: As histórias de vida de professores da cidade de Pojuca/Ba são


dados importantes para tratar dos perfis girados em torno de suas identidades
sexuais. Trata-se de relatos que serão investigados, à medida em que esses
sujeitos falam de si, como lidam com a orientação sexual no espaço escolar
distante da metrópole, como se posicionam, expressam eles próprios ao lidar
com os desejos homoeróticos. Um modo de retratá-los é considerar não
somente a expressão subjetiva, porém, como enunciam a si, como são
visados, se mostram ou não fora do armário, como exercita este poder de
discurso em sala de aula. Um dos exercícios para colher a análise dos
depoentes professores diz respeito à recepção da literatura que configura
sentidos sobre o homoerotismo. A leitura dos textos ficcionais é uma fonte
cultural significativa que forma sentidos e reflexões ativas, quero dizer, como os
professores recepcionam esses textos e lidam com temáticas específicas frente
aos personagens, espaços narrativos, enredos, tramas sobre os quais
presentificam na ficção significados para a diversidade sexual. O objetivo é não
somente apontar os registros de semelhanças e dessemelhanças dos sujeitos
da pesquisa no universo da literatura, mas o de perceber situações em que
eles podem mover para a sala de aula, refletir a noção de identidades sexual e
de gênero, permitindo com o texto literário se questionar e questionar possíveis
entradas do leitor aluno para compreensões de uma realidade existente. O
fundamento da análise crítica do discurso é significativo para empreender
esses contextos sociais marcados. Portanto, neste estudo, os depoentes
professores são focos de enunciação para saber como falam, de onde falam e
se revelam com os discursos de si mesmos e, através dos textos literários,
situem uma cultura que também possa requisitar estilos diversos de vida.
Palavras-chave: Identidades sexuais. Literatura. Recepção crítica. Relatos.

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EIXO TEMÁTICO 6 – LINGUAGEM E SUBJETIVIDADES

A CONSTRUÇÃO DO ETHOS DO SUJEITO NEGRO NO GÊNERO


PUBLICITÁRIO: O CASO COCA-COLA
Ana Lourdes Queiroz Da Silva (IFMA)

Resumo: A temática do racismo é uma marca que transversaliza nossa


história. A construção de uma identidade marcada pela ideologia do
preconceito é uma realidade manifestada nos mais diversos tipos de discurso.
Questiona-se como o ethos (identidade dita ou mostrada e sócio historicamente
determinada) se inscreve na memória coletiva através dos objetos culturais.
Neste trabalho, descrevemos a construção do ethos discursivo do sujeito negro
que se constitui a partir da análise do texto transcrito de um gênero anúncio
publicitário, da Campanha da Multinacional Coca-cola, "Adotar alimenta a
felicidade" (2015), pois é na instância do discurso que as escolhas linguísticas
e estilísticas se manifestam, demonstrando o modo como as representações do
mundo foram historicamente delimitadas e categorizadas nos paradigmas de
signos próprios de uma língua natural, projetando a imagem implícita e o
comportamento ideológico dos sujeitos no ato de interação social. O trabalho
apresenta como aporte teórico a conjunção entre o Interacionismo
sociodiscursivo, nos estudos voltados para as modalizações enunciativas e
vozes (BRONCKART), a categoria do Ethos em Análise do Discurso
(MAINGUENEAU) e as estratégias de controle dos enunciados nas situações
de comunicação (FOUCAULT). O estudo comprova que a construção da
identidade está ligada às escolhas ou omissões de palavras e estratégias de
fala que orientação a produção do efeito de sentidos. Demonstra ainda, através
da análise das materialidades linguísticas presentes nas vozes (sociais e dos
personagens) e nas escolhas lexicais responsáveis pelas verdades produzidas,
os procedimentos de domínio e de silenciamento dos sentidos contidos na
construção da imagem do sujeito negro em circulação na sociedade.

Palavras-chave: Ethos. Modalizações. Silenciamento.

A CONSTRUÇÃO DE SENTIDO: OS DESLIZES DISCURSIVOS NO


DISCURSO DE TIRIRICA
Maria Jackeline Rocha Bessa (UERN)
Ana Michele de Melo Lima (UERN)

Resumo: Entendendo a análise do discurso como um campo do saber que tem


por objetivo compreender a produção social de sentidos e levando em
consideração a posição discursiva dos sujeitos na sociedade é que nosso
trabalho busca analisar uma propaganda eleitoral de um dos políticos mais
irreverentes da história política brasileira. O trabalho surgiu do interesse em

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discursivizar sobre os sentidos construídos em uma propaganda eleitoral do
candidato Tiririca, na ocasião da eleição de 2014. Com um humor sarcástico e
irônico sobre o atual momento da política brasileira, o candidato usa isso a seu
favor e acaba com um resultado satisfatório que foi a reeleição. Com isso,
nosso objetivo com a pesquisa é analisar a construção de sentidos na
materialidade propaganda eleitoral, para isso, buscamos nas categorias;
discurso, memória discursiva, interdiscurso e sujeito entender como esses
sentidos foram sendo construídos. Para tanto, nos firmamos nos pressupostos
teóricos da análise do discurso de vertente francesa e, principalmente, nos
estudos de Michel Foucault (1999, 2010), Michel Pêcheux (1997, 2007) e de
pesquisadores brasileiros que estudam o discurso, tais como: Gregolin (2001),
Nascimento (2010) e Santos (2008) que contribuíram para tal discussão sobre
as categorias analíticas. Os resultados nos mostraram como os sentidos foram
sendo construídos a partir de discursos que em outros momentos foram
discursivizados e que ao serem retomados pelo sujeito Tiririca há um deslize e
outros sentidos são construídos, isso se dá tanto pela posição do sujeito, no
caso, Tiririca conhecido como um palhaço, o que permite, nessa posição
discursiva, brincar com a linguagem de modo a fugir daquilo que outros
candidatos não poderiam fazer em uma propaganda eleitoral, como também
por uma memória discursiva, por interdiscursos, ou seja, por discursos que
foram ditos em outros momentos e que ao serem discursivizados novamente
pelo político ganham outros sentidos, havendo assim um deslocamento de
sentidos.

Palavras-chave: Memória discursiva. Interdiscurso. Sujeito.

ACORDES DOS CORDÉIS DAS AMAZÔNIAS ORIENTAIS


Larissa da Silva Sousa (UNIFESSPA)

Resumo: A pesquisa tem por finalidade estudar manifestações da literatura


popular, oral e escrita, sob a forma de cantigas e desafios adaptados ao
contexto da Amazônia Oriental paraense, mais precisamente em Marabá,
cidade que convergiu grande número de migrantes nordestinos. Na opinião de
Luiz Tavares Jr. (1980), essas produções literárias apresentam componentes
históricos reatualizados, através dos temas eleitos pelos próprios poetas de
cordel. Argumenta o escritor que, não se deve contrapor essas composições
poéticas à chamada literatura erudita, mas considerá-la como uma variável
dinâmica que se constrói, por meio da palavra. Para o teste da hipótese
levantada, tem-se a pretensão de cartografar informações sobre a origem
desse cantares; elencar o maior número de poetas - homens e mulheres que
cultivam o gênero; as diferentes manifestações do gênero; trovas, desafios, e
folhetos de cordel, além de recursos estilísticos e as temáticas mais evidentes.
O estudo também se propõe a observar aspectos histórico-sócio-culturais

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ligados às produções poéticas. Não se trata de um estudo folclórico, dentro dos
moldes tradicionais, acerca das lendas e dos costumes regionais, mas sim um
trabalho visando aos aspectos literários, históricos e sociais que emanam
desses cantares. Fazer Arte com e na fronteira representa experimentação
subversiva e tentativa de ruptura epistêmica estratégica, a partir da inserção de
humanidades e suas culturas recheadas de sentidos tencionadas com os
processos recolonizadores do poder, do saber e do ser. Essas manifestações
literárias constituem cena cultural recorrente na literatura nortista, no entanto
alguns pesquisadores não tem sensibilidade para reconhecer os meandros
dessa estética subalterna-resistente. Abrir passagens para outras alteridades
requer uma polissemia de ações, a partir da pesquisa, há o desejo de
desnaturalizar certos projetos imperialistas partindo de um estado de Arte
paradoxal "articulado", mas ao mesmo tempo, devorador das práticas das
literaturas hegemômicas.

Palavras-chave: Cordel. Marabá. Literatura subalterna-resistente. Arte de


fronteira.

A HISTORICIDADE DAS PALAVRAS E DOS DISCURSOS NA INVENÇÃO


DO HIPOTRÉLICO
Maryllu de Oliveira Caixeta (USP)

Resumo: Este trabalho propõe a análise do prefácio "Hipotrélico" de Tutaméia:


terceiras estórias, de João Guimarães Rosa. A narração do prefácio orquestra
algumas vozes que formam uma espécie de coro clássico que ironiza a defesa
romântica da expressão subjetiva e, consequentemente, da neologia. O
prefácio narra também uma anedota de português ao qual atribui o neologismo
do título. O português acabou chamando de hipotrélico um colega que havia
dito que a palavra não existia. Como hipotrélico designa um sujeito intolerante
a neologismos, por não senso esse sujeito nega-se nominalmente quando se
referem a ele como um hipotrélico. No ensaio "O aparelho formal da
enunciação", Benveniste afirma que toda enunciação, mesmo quando se trata
de um monólogo, postula um alocutário com quem o falante compartilha um
quadro de referências. Graças às referências que mobiliza, a enunciação
produz índices de pessoa: como um eu que se dirige a um tu. Cabe a cada
pessoa converter a língua em discurso, o que tem implicâncias
sociolinguísticas e psicológicas nas quais o discurso literário interfere quando
coloca um debate sobre neologismos. A existência do nome acompanha a do
ser que ele designa e o "eu" é um produto da enunciação. Em "Hipotrélico" o
ponto de vista clássico-sertanejo do coro sobre os neologismos sofre variações
conforme as motivações dos neologistas: afetivas, a defesa nacionalista do
português vernáculo, poéticas, políticas, éticas, etc. O prefácio faz um uso
moderado de neologismos, quase sempre dando atenção às formas históricas

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dos morfemas. Este trabalho relaciona a posição do prefácio sobre o
neologismo à avaliações acerca da invenção e da autoria que interagem com a
historicidade da matéria linguística e dos discursos nos quais intervém.

Palavras-chave: Guimarães Rosa. Autoria. Hipotrélico.

A IRONIA DO DISCURSO EM CHARGES: O CASO DA FALTA D’ÁGUA EM


CRATEÚS – CE.
Expedito Wellington Chaves Costa (IFCE)
Talyson Marques da Silva (IFCE)

Resumo: O discurso é um modo de ação social historicamente situado e


ideologicamente marcado, através do qual os sujeitos agem sobre o mundo e,
especialmente, sobre os outros sujeitos; sendo assim, contribui para a
construção das relações sociais e dos sistemas de conhecimento e crença
Fairclough (2001, 2008). A charge é caracterizada pela ironia, cujas intenções
são desmascarar valores que se colocam como únicos e verdadeiros e
denunciar problemas e acontecimentos culturais, sociais e históricos. Para
Brait, "O produtor de ironia encontra formas de chamar a atenção do
enunciatário para o discurso, e através desse procedimento, contar com sua
adesão. Sem isso a ironia não se realiza" (2008, p. 129). O objetivo deste
trabalho é analisar o discurso veiculado em charges a respeito da crise hídrica
que afetou o município de Crateús, em 2014. Aqui se considera, também, que
a charge é "um estilo de ilustração que tem por finalidade satirizar por meio de
caricatura algum acontecimento atual (FERREIRA (Org.), 2010, p. 47).
Metodologicamente, será utilizada a concepção tridimensional do discurso
(Fairclough, 2001, 2008): texto, prática discursiva e prática social. O texto e a
prática social são descritos como uma dimensão do evento discursivo e
mediados pela prática discursiva, que enfatiza os processos sociocognitivos de
produção, distribuição e consumo do texto. Espera-se, com o trabalho,
comprovar que a linguagem é constituída socialmente e, ao mesmo tempo,
constitutiva de identidades sociais, relações de poder e sistemas de
conhecimento e de crença, representativos de diferentes momentos históricos
da sociedade.

Palavras-chave: Discurso. Ironia. Charge.

A IRONIA E O IRÔNICO NOS DISCURSOS MIDIÁTICOS E POLÍTICOS


Francisco Laerte Juvêncio Magalhães (UFPI)

Resumo: As disputas de sentido ocorrem pelo tensionamento do tecido


discursivo. O uso de ironias é, certamente, uma das possibilidades de

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produção de sentidos com que essas disputas se efetivam. Nosso trabalho
centra-se exatamente nesse universo: 2 articulistas do jornal Folha de São
Paulo, Guilherme Boulos e Reinaldo Azevedo, publicam textos em que se
atacam mutuamente. Boulos publica primeiro. No dia 27de novembro de 2014
publica o artigo intitulado "Sugestões para o Ministério de Dilma". Boulos é
professor, psicanalista e membro da Coordenação Nacional do MTST -
Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto. Nesse artigo, Boulos produz um texto
repleto de ironias, sugerindo a presidente Dilma Rousseff, recém-eleita, um
ministério com nomes como, por exemplo, Reinaldo Azevedo e o Deputado
federal, Bolsonaro. Azevedo, além da Folha de São Paulo é também articulista
da revista Veja. As ironias no texto de Boulos são produzidas por conta da
presença de Kátia Abreu no Ministério da Agricultura e de Kassab no Ministério
das Cidades de Dilma Rousseff. No dia 28 de novembro, Reinaldo Azevedo, a
pretexto de responder ao artigo de Boulos, publica um texto agressivo contra
Boulos, sob o título "A galinha pintadinha de vermelho". É esse material, esses
dois artigos, que pretendemos pesquisar em buscar de compreender as
estratégias enunciativas empreendidas pelos autores dos textos com o objetivo
de posicionarem na luta política. Nosso aporte teórico metodológico é a Análise
de Discurso. Trazemos, então, para nossa análise autores tais como
Fairclough, Resende, Ramalho, Verón e Pinto, além de outros que produzem
nessa área. Mas também recorremos a autores tais como Bakhtin,
Kierkegaard, Muecke e Eco, com seus estudos acerca da ironia e do irônico,
além de outros recursos discursivos. Entendemos que esse tipo de estudo
contribui para compreendermos os mecanismos de ataque e defesa com que
agentes políticos se digladiam na oferta de suas matérias enunciativas,
especialmente, pelo agenciamento de ideologias que constituem o tecido
discursivo. De um certo modo, essas estratégias, que são comuns na
cotidianidade, ganham amplitude quando ocorrem no campo da mídia, dado o
alcance dos sentidos, então, produzidos.A disputas de sentido ocorrem pelo
tensionamento do tecido discursivo. O uso de ironias é, certamente, uma das
possibilidades de produção de sentidos com que essas disputas se efetivam.
Nosso trabalho centra-se exatamente nesse universo: 2 articulistas do jornal
Folha de São Paulo, Guilherme Boulos e Reinaldo Azevedo, publicam textos
em que se atacam mutuamente. Boulos publica primeiro. No dia 27de
novembro de 2014 publica o artigo intitulado "Sugestões para o Ministério de
Dilma". Boulos, é professor, psicanalista e membro da Coordenação Nacional
do MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto. Nesse artigo, Boulos
produz um texto repleto de ironias, sugerindo a presidente Dilma Rousseff,
recém-eleita, um ministério com nomes como Reinaldo Azevedo, também
articulista do mesmo Folha de São Paulo e da revista Veja. O Deputado
Federal Bolsonaro. As ironias vêm por conta da presença de Kátia Abreu no
Ministério da Agricultura e de Kassab no Ministério das Cidades. No dia 28 de
novembro, Reinaldo Azevedo, a pretexto de responder ao artigo de Boulos,
publica um artigo agressivo contra Boulos, sob o título "A galinha pintadinha de

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vermelho". Azevedo é jornalista, blogueiro e escritor. Bom, é esse material,
esses dois artigos que pretendemos pesquisar em buscar de compreender as
estratégias enunciativas empreendidas pelos autores dos textos com o objetivo
de em encetar uma luta política. Nosso aporte teórico metodológico é a Análise
de Discurso. Nesse sentido, trazemos para nossa análise autores tais como
Fairclough, Resende, Ramalho, Verón e Pinto, além de outros que produzem
nessa área. Mas também recorremos a autores tais como Bakhtin,
Kierkegaard, Muecke, Aistóteles e Eco, com seus estudos acerca da ironia e do
irônico além de outros recursos discursivos. Entendemos que esse tipo de
estudo contribui para compreendermos os mecanismos de ataque e defesa
com que agentes políticos se digladiam na oferta de suas matérias discursivas,
especialmente pelo agenciamento de ideologias que constituem o tecido
discursivo. De um certo modo, essas estratégias que são comuns na
cotidianidade ganha amplitude quando ocorrem no campo da mídia, dado o
alcance dos sentidos, então, produzidos.

Palavras-chave: Azevedo. Boulos. Discursos.

“A LEITURA”: UMA ÁRIA SERTÂNICA


Darcilia M. P. Simões (UERJ)

Resumo: O Cancioneiro Elomariano consiste num vasto conjunto de obras


multimodais (letras, músicas, romances, roteiros, desenhos, pinturas etc.) que
permite ao estudioso falar de um Brasil conhecido por poucos. Apesar da
exploração midiática do adjetivo sertanejo, classificando objetos de vária
natureza, o verdadeiro sertão nacional ainda se encontra em fase de
desbravamento, e Elomar é um dos que elegeu o Sertão Profundo (segundo
ele designa) como seu objeto de pesquisa e produção. A discussão de sua
obra à luz da variação linguística propicia a identificação de um eu lírico a um
só tempo original (o ethos do homem do Sertão Profundo) e plural (parcela
sofrida do povo brasileiro). Considerando-se a imensidão de nosso território e a
pluralidade de nossa origem mestiça, não é difícil imaginar uma produção
cultural e artística com essas características. Elomar comprova essa riqueza e
em seus textos verbais acolhe traços representativos das raízes ibéricas, das
comunidades aborígenes e dos descendentes mestiços que constituem o povo
brasileiro. Portanto, sua obra configura uma expressão singular que vem
chamando a atenção dos pesquisadores interessados na subjetividade na
linguagem. "As óperas de Elomar Figueira Mello, tal como as canções
do cancioneiro apresentam abrangente variedade de traços hibridizados em um
discurso de considerável riqueza musical, linguística e cultural" Ribeiro (2014).
O cenário predominante em sua obra é marcado pela seca que expulsa de sua
terra o homem sertanês (neologismo de Elomar), levado pela ilusão de trabalho
mais rendoso, ou de ganhos mais rápidos e mais fáceis, na cidade grande.

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Elomar consegue soluções inusitadas a partir da mescla do gênero lírico
operístico ao canto sertanês, criando assim insólitos contextos dramáticos.
Reelabora, em seu cancioneiro, a cantoria regional tradicional, e as formas
literárias por ele utilizadas resultam em qualidade estética inigualável. Nesta
comunicação faz-se uma análise das marcas da subjetividade e das estratégias
discursivas em "A Leitura", a partir da discussão do léxico atualizado em um
excerto do 4º ato da ópera A Carta. O subsídio teórico é a teoria da iconicidade
verbal (Simões, 2009).

Palavras-chave: Elomar Figueira. Sertão Profundo. Estratégias Discursivas.

AMOR E CORPO (RE)SIGNIFICADOS NA CIBERCULTURA NOS SENTIDOS


DO FILME ‘A GAROTA IDEAL’
Jonathan Raphael Bertassi da Silva (USP)

Resumo: Por meio deste trabalho buscamos compreender os efeitos de


sentido sobre o amor na contemporaneidade, inscritos no longa-metragem A
Garota Ideal (Lars and the Real Girl, 2006), dirigido por Craig Gillespie. Para
tal, empregamos postulados teórico-metodológicos da Análise do Discurso
(AD) de filiação francesa. Por meio deste referencial teórico, visa-se o estudo
da linguagem em suas práticas sociais, pois a compreensão do discurso passa
necessariamente pela sociedade, visto que história e linguagem se afetam e
alimentam mutuamente. Além disso, nos interessa embasar a pesquisa nos
postulados de autores que refletem sobre as condições de produção da
cibercultura. Tal como descreve David Bell (2003), a cibercultura tem muitas
histórias pelas quais poderíamos percorrer nosso trajeto de pesquisa - nos
interessando, no caso deste trabalho, as histórias política e simbólica, em
especial a segunda por nos remeter às narrativas da/sobre a cibercultura
evidenciadas no discurso da/na arte. O corpo é um dos conceitos em movência
na era da cibercultura. No âmbito da Análise do Discurso, o trabalho de Dias
(2008) questiona como se dá a inscrição de alternativas corpográficas na
língua na era no chamado internetês, como no uso de "emoticons" que dão
fluidez e abertura ao sistema da língua, afetando assim o modo mesmo da
constituição do sujeito nas suas relações afetivas. Acrescentamos aqui que a
cibercultura, com o acontecimento que marca as novas relações entre afeto,
linguagem e tecnologia, não marca só a textualização do corpo na letra; o
mundo hiper-quantificado e hiper-racionalista descrito por Lemos e Lévy como
origem da cibercultura também fazem o outro caminho, o da máquina
personificada em corpo, mudando as relações afetivas entre as pessoas.
Nesse sentido, o manifesto teórico de Donna Haraway (2013) sobre os
ciborgues e a ressignificação dos corpos e do amor a partir da
contemporaneidade - algo verificável nas regiões de sentido que emergem

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em A Garota Ideal - também nos auxilia a interpretar o discurso do longa
estadunidense. Apoio FAPESP 2013/14759-9.

Palavras-chave: Discurso. Cibercultura. Cinema.

A MULHER É NOSSA: OS MODOS DE OPERAÇÃO DA IDEOLOGIA NA


PROPAGANDA DA CERVEJA ITAIPAVA
Lorena Araújo de Oliveira Borges (UNP)

Resumo: O presente artigo tem o objetivo de verificar como a ideologia age na


constituição das identidades de gênero da mulher no Brasil. Para tanto,
analisamos os modos de operação da ideologia no comercial Vai e Vem, criado
pela agência de publicidade Y&R para o Grupo Petrópolis - responsável pela
fabricação e comercialização da cerveja Itaipava - e lançado em fevereiro de
2015. A peça publicitária traz a bailarina Aline Riscado interpretando o papel de
Vera, a Verão, atendente de um bar de praia. Uma vez que os meios de
comunicação, na sociedade ocidental, funcionam como ferramentas de
representação social e determinam modos de se comportar, aplicamos as
categorias de análise propostas por Thompson (1995) com o intuito de
compreender de que forma a imagem da mulher é submetida e subordinada à
ideologia machista, dominante na sociedade patriarcal brasileira. Também
utilizamos os aportes teórico-metodológicos da Linguística Sistêmico-Funcional
(Halliday, 2014) e da Análise de Discurso Crítica (Chouliaraki e Fairclough,
1999; Fairclough, 2003) para sustentar o estudo realizado. A análise dos dados
revela a presença de quatro dos cinco modos de operação da ideologia
discriminados por Thompson: a dissimulação, a legitimação, a unificação e a
reificação. A partir desses procedimentos, a propaganda em questão garante
que a mulher seja representada de acordo com a ideologia patriarcal e
machista predominante na sociedade ocidental, tendo seu corpo, sua
personalidade e, consequentemente, sua identidade submetidos às vontades
masculinas.

Palavras-chave: Identidades de Gênero. Mulher. Modos de Operação da


Ideologia.

A PROPÓSITO DA OBRA AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA:


FLUXOS DE SIGNIFICAÇÃO E SUBJETIVIDADE
Maria de Fátima Medina Lucena (UECE)
Claudiana Nogueira de Alencar (UECE)

Resumo: Neste trabalho pretendemos analisar a produção de subjetividade e


de significação na recente polêmica em torno da obra As veias abertas da

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América Latina, de Eduardo Galeano. A obra, escrita na década de 1970,
quando grande parte da América Latina era governada por regimes ditatoriais
apoiados pelos Estados Unidos, tornou-se um dos clássicos de economia
política por apresentar os modos como a América Latina foi espoliada pelos
países europeus e pelos Estados Unidos e como esse continente sofreria ainda
a expropriação por seus exploradores. Recentemente, em entrevista ao jornal
El Pais, mais de 40 anos do lançamento do clássico, Eduardo Galeano rejeita a
própria obra, dizendo-se incapaz de reler o livro, pois "cairia dormindo". O
enunciado de Galeano repercutiu em vários textos de jornalistas, em uma
citabilidade de negação ao discurso da esquerda clássica que teria
"desmascarada" sua bíblia anticolonialista e anticapitalista e, em textos de
intelectuais, que, por sua vez, posicionaram-se textualmente em defesa do
valor histórico da obra, independente do que hoje pensa o seu autor. Com foco
na polêmica, pretendemos investigar o modo como os textos viajam, a partir
das categorias de transcontextos, citabilidade e iterabilidade de atos de fala,
para mostrar que os estados de fluxo e mudança contínuos da atividade de
significar e interpretar textos são constitutivos dos processos de subjetivação.
Para isso, utilizamos os estudos da nova pragmática em seu foco tanto sobre
os processos de manutenção de certos regimes de significação, quanto pelos
processos culturais e históricos de ressignificação. Percebemos, com a análise
pragmática dos diversos textos sobre a polêmica, divulgados na imprensa
nacional e internacional, que a produção, circulação e consumo de um texto
seguem os fluxos de seus atos de fala, conforme os efeitos do performativo,
mostrando o deslocamento de uma visão de contexto saturado e de
significação cristalizada no autor como sujeito autônomo, para a noção de
construções fluidas das subjetividades e de significação histórica e cultural, que
podem ser sempre negociadas e subvertidas.

Palavras-chave: Transcontextos. Citabilidade. Iterabilidade.

ARTICULANDO TIJOLO COM TIJOLO, DISCURSO COM TRABALHO:


REFLEXÕES BAKHTINIANAS E VYGOTSKIANAS DA CANÇÃO
CONSTRUÇÃO
Mariana Aguiar Alcântara de Brito (UFC).

Resumo: Discurso e trabalho são categorias sociais e históricas por


excelência, e como tal devem ser consideradas em suas dimensões
processuais, explicativas e transformadoras da realidade. A proposta deste
trabalho é analisar discurso e trabalho através da canção Construção de
autoria de Chico Buarque de Hollanda, partindo das contribuições do círculo
dialógico de Bakhtin e do arcabouço de uma concepção psicológica de base
materialista, histórico e dialética, representada por autores da psicologia como
Vygotsky e Clot. No que compete ao método de análise utilizado no estudo,

153
configura-se como histórico-genético com foco no desenvolvimento da
atividade discursiva e laboral. A canção Construção faz parte do discurso
literomusical brasileiro e está inserida no movimento intitulado música popular
brasileira - MPB, caracterizada como um tipo de canção urbana, geralmente
consumida pela população da classe média, com intenção de fortalecer a
identidade nacional. A canção analisada foi composta em um contexto sócio
histórico da realidade brasileira caracterizada pela ditadura militar e pela forte
censura e repressão. A canção é emblemática da vertente crítica das
composições do autor, configurando-se como um testemunho doloroso das
relações aviltantes entre o capital e o trabalho. Contribuições acerca da noção
de sujeito, do social como constitutivo do humano e de sentidos foram
discutidas a luz dos referenciais citados. A canção sugere um processo de
repetição em relação às ações executadas na vida e no trabalho de um
operário do segmento da construção civil, denunciando uma mecanização do
corpo e da vida. A canção Construção nos ajuda a entender que uma atividade
esvaziada de sentido perde-se em seus objetivos e em potência de ação,
destruindo sua vitalidade. A produção de sentidos favorece a tomada de
consciência e amplia o poder de agir sobre a realidade. O discurso
literomusical é pois um recurso apropriado para a análise social e política da
realidade, e também favorece uma compreensão integradora de aspectos
cognitivos e afetivos. A análise da canção Construção apontou caminhos
interventivos na emergência de um discurso crítico capaz de reverberar em
trabalho vivo.

Palavras-chave: Análise de Discurso. Psicologia do Trabalho. Canção


Construção.

AS FACES DA SECA NAS MÚSICAS: TRISTE PARTIDA E SECA D’ ÁGUA


DE PATATIVA DO ASSARÉ
Maria José Lima (UFPI)

Resumo: Patativa do Assaré, pseudônimo de Antônio Gonçalves da Silva, era


poeta, compositor e cordelista nordestino que cantou e encantou gerações com
seu linguajar coloquial e sua criatividade ao retratar a seca vivenciada no
Nordeste brasileiro, demostrando por meio de seus versos a maneira como ela
aflige e perturba a paz de seu povo. Para tanto, o presente trabalho visa
analisar como a seca é representada nas composições:Seca d' água e Triste
partida, de Patativa do Assaré, a partir da perspectiva da Análise de Discurso.
Verificamos ainda como o poeta caracteriza o nordestino diante da vivência da
seca e correlaciona seu sofrimento à espera de uma solução divina. Utilizamos
como aporte teórico Koch (2007), Orlandi (2009), Maingueneau (2015). Diante
da análise constatamos que: a) Por meio de experiências feitas com pedras de
sal o nordestino busca saber quais serão os períodos chuvosos; b) A seca é

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vista como um castigo divino; c) O nordestino é forçado, devido à falta de
recursos, a migrar para outros estados, sendo explorado e humilhado, perde
sua dignidade; d) O Nordeste e o nordestino são retratados como pobres,
porém guerreiros; e) O povo nordestino é dividido pelo poeta entre os que
sofrem mais e os que sofrem menos em virtude da seca. Doravante,
perceberemos que Patativa do Assaré retrata em suas canções a realidade de
seu povo, tanto pelas suas manifestações na escrita (texto oralizado), quanto
pela caracterização e descrição da seca, que segundo ele é um dos principais
males que atinge o Nordeste.

Palavras-chave: Patativa do Assaré, Música, Análise de Discurso.

BREVE ANÁLISE SEMIÓTICA DE ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, DE JOSÉ


SARAMAGO
Raíne Simões Macedo (UNEB)

Resumo: Propôs-se analisar a obra Ensaio sobre a cegueira, de José


Saramago, de acordo com a teoria Semiótica Greimasiana, também conhecida
como Semiótica da Narrativa ou Semiótica Discursiva. Caracterizada como
uma "teoria da significação", esta teoria procura analisar o texto no seu aspecto
interno e externo, níveis acima e abaixo dos signos com o intuito de observar
como o contexto sócio-histórico influencia na construção da trama de sentidos
da obra em estudo. Considerando que se trata de um estudo da linguagem e
suas subjetividades, a metodologia utilizada para alcançar os objetivos desta
pesquisa foi uma abordagem qualitativa, uma vez que aborda o universo dos
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes (MINAYO, 1999).
Além disso, tendo em vista que a teoria Semiótica Greimasiana foi utilizada
para a análise da obra Ensaio sobre a cegueira, buscou-se empregar a
concepção de texto ponderada por Greimas (1993). Para isso, foram feitos
levantamentos bibliográficos sobre a teoria em questão, bem como leituras e
fichamentos da obra Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, além de
estudos dos teóricos: Oliver (2013), Barros (2007), Fiorin (2014) e Greimas e
Fontanille (1993).

Palavras-chave: Linguagem. Semiótica Greimasiana. Ensaio Sobre a


Cegueira.

CUTUCAR, CURTIR, COMENTAR, COMPARTILHAR: UMA ANÁLISE DOS


RELACIONAMENTOS AFETIVOS NA CONTEMPORANEIDADE NA REDE
SOCIAL FACEBOOK
Kassios Cley Costa de Araújo (UNP)

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Resumo: Este trabalho tem como foco de estudo os
verbos cutucar, curtir, comentar e compartilhar como expressões das relações
virtuais afetivas contemporâneas na rede social Facebook. Constituem-se
objetivos deste trabalho identificar e descrever os sentidos e valores dos
verbos cutucar, curtir, comentar e compartilhar em esferas de circulação
discursivas virtuais. O referencial teórico ancora-se nas concepções de
linguagem dos autores do Círculo de Bakhtin que levam em conta os sujeitos
envolvidos, a situação sociodiscursiva e as posições axiológicas desses
sujeitos; bem como nos estudos da modernidade líquida (BAUMAN, 2001) e de
identidade do sujeito contemporâneo (HALL, 2011). Quanto à metodologia,
configura-se como uma pesquisa qualitativa, ancorada em critérios da
abordagem qualitativa dos dados de base interpretativista. O corpus de análise
constitui-se de enunciados nos quais os sujeitos virtuais esboçam práticas
discursivas de toda ordem e reveladoras das fugazes relações afetivas,
construídas a partir dos contatos virtuais pela rede mundial de computadores.
Diante disso, buscamos entender como se constroem e como se desfazem
essas relações, bem como os discursos encontrados por ocasião do uso
desses verbos. A pesquisa encontra-se em desenvolvimento e observa-se que
as primeiras análises parecem revelar nuanças das relações afetivas na
contemporaneidade, em que se percebem a busca pelas relações instantâneas
e sem compromissos mais sérios, como também o uso da tecla delete nas
situações em que não se deseja discutir a relação e, assim, buscar uma outra
na velocidade do mundo virtual. Nessa perspectiva, ratificam não só a fluidez
dos relacionamentos afetivos, os chamados relacionamentos de bolso, mas
ainda a multiplicidade e fragmentação do sujeito contemporâneo.

Palavras-chave: Relações Afetivas, Rede Social, Práticas Discursivas.

DO LUXO AO POPULAR: OS DISCURSOS ACERCA DA CULTURA


CARNAVALESCA NO PROGRAMA PROFISSÃO REPÓRTER
Pedro Júlio Santos de Oliveira (UFPI)
Thalyta Cristine Arrais Furtado Araújo Gonçalves (UFPI)

Resumo: O presente trabalho visa analisar como o programa Profissão


Repórter constrói o discurso acerca do carnaval, tendo como observável a
reportagem "Desfiles do Rio de Janeiro revelam a riqueza e as dificuldades de
diferentes agremiações", exibida no dia 08 de fevereiro de 2015. A matéria
retrata o carnaval nas duas principais cidades brasileiras - Rio de Janeiro e São
Paulo - com abordagens diferentes, tomando como exemplo as escolas
cariocas Portela e Chatuba de Mesquita e as paulistas, Sociedade Rosas de
Ouro e Tucuruví. Para compreendermos os processos de construção de
sentido nesta matéria utilizamos como aporte teórico-metodológico a Análise
de Discurso Crítica (ADC). Essa perspectiva, que tem seus alicerces nos

156
Estudos Culturais ingleses, percebe que o discurso é fruto das condições
sócio-histórico-ideológicas em que é produzido e também da posição discursiva
que o sujeito ocupa no momento de/do dizer. Articulando o pensamento de
Norman Fairclough (2001) e Teun van Dijk (2008), esta pesquisa observa como
o discurso desse meio jornalístico constrói a cultura do carnaval, atentando
para as relações ideológicas e para a representação dos sujeitos presentes na
reportagem. Ao final, é possível constatar que o enunciado divide-se em dois
momentos: primeiro o carnaval do Rio de Janeiro é apresentado a partir das
desigualdades financeiras que existem entre as escolas de samba que figuram
no grupo especial e aquelas que estão na quinta divisão. Essas condições
influenciam nos papeis que os sujeitos ocupam dentro de suas agremiações e
no modo de significação do carnaval. No segundo momento, a reportagem se
passa em São Paulo abordando a importância do carnaval enquanto símbolo
de expressão cultural e a emoção daqueles que se envolvem nesse evento,
mostrando o trabalho das agremiações a partir do olhar do repórter francês
Pierre Morel. Os sujeitos nesse ponto são construídos a partir da criatividade e
do envolvimento emocional com a realização do carnaval.

Palavras-chave: Carnaval. Discurso. Profissão Repórter.

EFEITOS DE SENTIDO NO DISCURSO DAS CHARGES:


REPRESENTAÇÕES DO ATENTADO AO CHARLIE HEBDO
Thiago Ramos de Melo (UFPI)

Resumo: Neste trabalho, procuramos analisar como são construídas em


charges brasileiras as representações acerca do atentado ao semanário
satírico francês Charlie Hebdo. O atentado aconteceu do dia 7 de janeiro de
2015, quando dois homens armados invadiram a sede do jornal em Paris,
matando 12 pessoas, incluindo dois agentes da polícia nacional francesa e
parte da equipe do jornal, dentre eles os cartunistas Stéphane "Charb",
Wolinski, Jean Cabu e Bernard "Tignous", e ferindo outras 11 pessoas. Os
executores do ataque queriam vingar-se do semanário pelas charges que
ridicularizavam o profeta Maomé. Em protesto pelo atentado, milhões de
pessoas saíram às ruas em várias cidades da França e do mundo. Após o
evento, cartunistas de todos os continentes também prestaram homenagens às
vítimas através de charges. Com isso, foram selecionadas duas (02) charges
publicadas originalmente em jornais nacionais impressos e de circulação diária.
O material foi coletado no domínio http://www.chargeonline.com.br, que é um
site que compila charges de grande parte dos jornais diários brasileiros.
Entende-se que a charge é uma representação caricatural, uma crítica
humorística vinculada à realização de algum tipo de reflexão sobre
acontecimentos de uma determinada época. Como meio de relato do cotidiano,
devido à sua linguagem crítica e reflexiva, a charge possibilita um olhar

157
diferenciado sobre a realidade e as questões sociais que a envolvem. Diante
disso, adotamos a Análise de Discursos (AD), na perspectiva da Teoria dos
Discursos Sociais, que compreende os fenômenos sociais como fenômenos de
produção de sentido (PINTO, 1994; 1995; 1999; ARAÚJO, 2000; LOPES,
2004). De acordo com Pinto (1999), esta proposta procura, através de uma
análise comparativa, descrever, explicar e avaliar criticamente os processos de
produção, circulação e consumo dos sentidos vinculados a determinados
produtos culturais em sociedade. Na análise é possível constatar que as
charges constroem seus dizeres através da ressemantização de determinados
elementos presentes na cultura, buscando legitimar sua fala, convidando o
leitor a partilhar de seu ponto de vista.

Palavras-chave: CHARGES, CHARLIE HEBDO, DISCURSO

EFEITOS PATÊMICOS NA PUBLICIDADE ENQUANTO GÊNERO


MULTISSEMIÓTICO
Giselle Maria Sarti Leal Muniz Alves (URFJ)

Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo analisar os efeitos patêmicos


desencadeados por elementos linguísticos, discursivos e icônicos em quatro
peças publicitárias direcionadas ao público masculino. Parte-se do pressuposto
de que a relação entre esses elementos constitui-se como estratégia para
otimizar o potencial patemizante dos textos analisados. Os pressuspostos
teóricos que norteiam esta análise relacionam-se à teoria Semiolinguística do
Discurso preconizada por Patrick Charaudeau, bem como a teorias dos
gêneros do discurso, da publicidade e das multimodalidades. Os dados são
analisados a partir do método qualitativo, pelo qual são interpretados as
diferentes linguagens empregadas nos anúncios selecionados. Foi possível
observar que a relação entre as múltiplas semioses - escrita, visual, espacial,
gestual e tátil - evidenciadas nas quatro peças publicitárias, são otimizadoras
do potencial patêmico desses textos. Embora a dimensão verbal e a imagética
tenham sido analisadas separadamente, e se tenha percebido esse potencial
em ambas, é na conexão entre elas que o apelo às emoções do interlocutor se
dá de modo pleno, e que os efeitos patêmicos são, de fato, repercutidos. Não
se pode prescindir, portanto, desse caráter multissemiótico fundamental na
análise do pathos no gênero publicitário, enquanto prova persuasiva.

Palavras-chave: Pathos. Publicidade. Multissemioses.

ENTRE O VALOR, O RISO E O ENUNCIADO: UMA ANÁLISE VALORATIVA


DE PIADAS
Fernanda de Moura Ferreira (IFRN)

158
Resumo: Os enunciados que circulam em nossa sociedade, conforme postula
Bakhtin e o círculo, apresentam em si avaliações sobre as mais diversas
situações, sujeitos, vida e mundo, de modo que é por meio da análise e estudo
do enunciado que se podem alcançar os diversos acentos de valor, sendo seu
ponto de intersecção. Isto posto, é o enunciado o espaço em que se gestam,
apresentam e disseminam as avaliações em embate presentes tanto nas
práticas linguísticas quanto nas práticas sociais. Se todos os enunciados
carregam consigo julgamentos os mais variados, com os textos de viés
humorístico não poderia ser diferente. Sob tal perspectiva, a piada se
apresenta como um campo fértil para a análise da disseminação e do
entrecruzamento dos pontos de vista existentes em nossa sociedade, em
virtude da especificidade do riso apresentar um tom positivo na atualidade e
apaziguar as tensões nos embates valorativos. Assim, em consonância com o
já exposto, este trabalho tem por objetivo analisar os acentos de valor
presentes em piadas que circulam no meio social, atentando para o uso das
diversas avaliações e dos estereótipos sociais. Para a realização desta
pesquisa, utilizamo-nos do aporte teórico da Análise Dialógica dos Discursos
(ADD) com foco principalmente nos conceitos de língua, riso (BAKHTIN, 2010,
1987) e axiologia (VOLOCHINOV, 2010). A respeito do gênero piada,
recorremos às postulações teóricas pensadas por Ramos (2012). Este trabalho
se enquadra na área de investigação da Linguística Aplicada em virtude de ser
um estudo acerca das práticas de linguagem na sociedade e pela contribuição
de diversas áreas do conhecimento. Esta pesquisa é qualitativa em função de
trabalhar com a construção de sentidos a partir da análise de enunciados e ser
recomendado para a área das Ciências Humanas.

Palavras-chave: Enunciado. Acentos de Valor. Riso.

159
ESTRATÉGIAS PROSÓDICAS:
CONTRIBUIÇÃO PARA LEITURA ORAL DE TEXTO
Luciana Virgínia Prazeres Teixeira Santos (FADIMAB)
Marcia Perecin Tondato (ESPM-SP)

Resumo: O ponto de partida para este estudo surgiu da constante contestação


entre a leitura de texto oral e a análise compreensiva de texto escrito dos
alunos. Assim, esta pesquisa tem por objetivo investigar se a falta de êxito nas
respostas de interpretação de texto é de responsabilidade do professor, do
aluno, do grau de dificuldade do texto, ou se há outros elementos relacionados
às ações corporais que acompanham a fala, bem como as expressões faciais
(paralinguístico) ou aos aspectos extralinguísticos (relacionados, por exemplo,
à idade do leitor), que interferem na construção de sentido de texto. Este
estudo é descritivo e observacional, de caráter qualitativo. O corpus para esta
pesquisa é constituído a partir da leitura de dois gêneros textuais distintos: a
crônica "A Descoberta" e o poema "Sobradinho". Foram realizadas 23
gravações (em áudio) da leitura do professor e de 11 alunos do 7º ano, do
Ensino Fundamental II, de uma escola particular da Região Metropolitana do
Recife-PE. A fundamentação teórica tem como ponto de partida a Teoria
Interacional da Entonação (TIE) de Brazil (1985) que compreende que as pistas
fornecidas pelo leitor/ouvinte/autor/texto são constitutivas de sentido, e que as
escolhas tonais, feitas pelos interlocutores, auxiliam na construção de sentido
de texto oral, que está diretamente ligado à compreensão de texto escrito. Os
principais resultados revelam que a leitura oral e a análise compreensiva de
texto escrito não é um ato solitário. Se, durante a leitura de texto, a criança teve
dificuldade para ouvir o que o professor diz, terá a mesma dificuldade na
compreensão do aspecto cognitivo da leitura. Concluiu-se que os recursos
extralinguísticos e paralinguísticos são essenciais na construção de sentido de
texto. E quando o professor não faz uso destes como ferramentas no processo
interativo, dificulta a construção de sentido de texto, confirmando a teoria da
multimodalidade discursiva defendida por McNeill (1992), que afirma que a
entonação e a oralidade funcionam simultaneamente na compreensão do dito.

Palavras-chave: Oralidade. Leitura. Prosódia.

FEMINISMO EM REDE: UMA ANÁLISE DA MOBILIZAÇÃO DA IRONIA EM


PÁGINAS FEMINISTAS DA REDE SOCIAL FACEBOOK
Luana de Melo Lucena (UECE)

Resumo: A denúncia da violência simbólica e física sofrida pelas mulheres,


bem como a luta por uma igualdade de gênero, ganharam materialidade em
diferentes sistemas semióticos, sendo divulgadas em diversos espaços de
comunicação. Neste sentido, o facebook passou a ser um importante veículo,

160
não só de divulgação, mas também um de auto-organização do discurso
feminista, possibilitando discussões sobre os temas do feminismo, do gênero e
da violência. Este trabalho buscou realizar uma análise de postagens de duas
páginas feministas do facebook: Frieda Explica se Precisar Repete e Moça,
você é machista. Foi possível apontar que a ironia é uma estratégia linguístico-
discursiva constante nas páginas elencadas para compor nosso corpus, e foi a
partir dessa visão que buscamos compreender o porquê e a forma de
aparecimento da ironia, a partir da análise da mobilização dessa estratégia nas
postagens dessas páginas. O discurso das páginas em estudo caracterizou-se,
então, pelo uso da ironia, no sentido de se contrapor aos valores expressos por
discursos anteriores a ele, apresentando, portanto, uma dimensão crítica e
ideológico-valorativa. Para a análise, tomamos como base o pensamento de
Lévy (1990), no que se refere à cibercultura e às relações entre o virtual e o
real, associado às perspectivas de gênero de Butler (2010) e aos estudos de
ironia de Brait (2008). Sendo assim, acreditamos que a linguagem teve um
papel fundamental na construção e na subversão de certas características
associadas às identidades femininas e, sobretudo, à desigualdade de gênero
presente na nossa sociedade. Além disso, com essa pesquisa, foi possível
concluir que, através do uso dessa estratégia linguístico-discursiva, as
postagens das páginas, de certa forma, contribuem para uma deslegitimação
de discursos depreciativos, bem como para uma auto-afirmação do feminismo
e da necessidade da luta contra o machismo.

Palavras-chave: Feminismo. Facebook. Ironia

FORMA(TA)ÇÃO DE PROFESSORES: INJUNÇÕES E RESISTÊNCIAS A


PARTIR DO PACTO NACIONAL DA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA
(PNAIC)
Andreza Roberta Rocha (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO)

Resumo: É possível apreender indícios de alguma influência dos cursos de


formação nas representações dos professores a respeito de si, como
profissionais, e da realização do seu trabalho? Norteando-se por esta pergunta,
o presente estudo toma como objeto a influência dos dizeres dos cursos de
formação de professores nas representações dos professores a respeito de si e
da realização do seu trabalho. Para tanto, analisa excertos retirados do
material escrito produzido em função do Pacto Nacional Pela Alfabetização Na
Idade Certa (Pnaic), cotejando-os com depoimentos de professores da escola
básica a respeito de sua prática em sala de aula. O exame dos dados obtidos a
partir dos depoimentos de cinco professores que participaram e/ou participam
do curso de formação continuada que consiste em uma das iniciativas do
referido Pacto foi realizado na perspectiva discursivo-desconstrutivista, sendo
que os gestos interpretativos realizados assumiram a própria noção de

161
desconstrução (DERRIDA:1992) como referência para analisar os dizeres
sobre os quais este estudo incide, buscando apreender os sentidos que deles
emergem. Como resultados preliminares, verificou-se, em relação aos dizeres
dos participantes, a tendência de afirmarem que a contribuição do curso foi
nula. Em relação aos materiais escritos dirigidos aos professores, foi possível
elencar uma série de injunções pelas quais se identifica uma tentativa de
padronizar o modo de exercer a docência e de realizar o ensino de língua
materna.

Palavras-chave: Formação de professores. PNAIC. Desconstrução

GÊNERO, NARRATIVA, E VÍDEO GAME: APRENDENDO A SER HOMEM


DURANTE UMA PARTIDA DE COUNTER STRIKE
Daniel de Augustinis Silva (UFRJ)

Resumo: Baseado em uma teorização sócio-construcionista (BUTLER,


1990/2008), busco mostrar como um jogo eletrônico facilita, porém não
restringe, as performances de masculinidade de três jovens adultos. Ao mesmo
em que busco fazer uma contribuição para os estudos de masculinidade
(MOITA LOPES, 2006; 2009; BAMBERG & GEORGAKOPOULOU, 2008; O'
CONNOR, 1997), caminho em direção a um entendimento de que os jogos
eletrônicos e os letramentos de que os jogadores participam não são um
espaço de isolamento e alienação. Para alcançar este objetivo, recorro a uma
teorização de narrativa como forma de geração de dados. Recorrendo ao
conceito de "pequenas narrativas", Bamberg & Georgakopoulou (2008)
identificam que a análise narrativa tradicional tem se concentrado em eventos
bem descritos, inseridos de forma clara no tempo e no espaço, com começo,
meio e fim. As "pequenas narrativas", por outro lado, podem incluir "eventos
bastante recentes ou eventos que ainda estão acontecendo" (: 381), e também
podem ser inventadas (cf. BAUMAN, 1986). Em outras palavras, não importa
se aconteceram de fato, mas a função retórica que elas têm em uma interação
específica. Por fim, as pequenas histórias podem ser "sobre nada" em
particular para um observador externo, o que enfatiza a necessidade de fazer
um trabalho etnográfico detalhado para dar conta de como uma determinada
performance narrativa se articula com os valores de um grupo de afinidade
específico. Recorro às pistas de indexicalização (referência e predicação,
descritores metapragmáticos, citação, índices avaliativos, e modalização
epistêmica) de Wortham (2001) para dar conta da análise textual das
narrativas. A análise mostra como os conarradores se constroem como
homens heterossexuais, fazendo uso de expressões misóginas e homofóbicas,
porém, no meio dessa performance de masculinidade hegemônica, é possível
entrever palavras de carinho. Essas observações são complementadas com
dados etnográficos que mostram que um dos participantes passou por um

162
processo de socialização de "menino educadinho" para "homem mal-educado".
Concluo, portanto, que a masculinidade encenada pelos participantes é
construída discursivamente e aprendida, e que, portanto, pode ser feita de
forma diferente e menos violenta.

Palavras-chave: Masculinidades. Narrativa. Vídeo Games.

GÍRIAS LUDOVICENSES
Erika Nunes da Silva (UEMA)
Auristélia dos Santos Sodré (UEMA)

Resumo: Esta pesquisa trata das gírias ludovicenses em um contexto


sociocultural dos falantes da cidade de São Luís-MA. O estudo apresenta
considerações sobre a linguagem, cultura, condições sociais e forma de ver o
mundo a partir de uma perspectiva da variedade linguística baseando-se em
estudos da Sociolinguística. Então, importa ainda as representações das
linguagem- gírias analisadas como uma linguagem básica que guarda muita
afinidade com a alma popular, servindo como substituição do valor linguístico
dos termos e o estabelecimento de novos símbolos que exprimem o
pensamento e ação sociocultural, pois a gíria não é uma linguagem
independente, mas um componente da língua, da qual utiliza a fonética, a
morfologia, a sintaxe e o léxico , ou seja, os processos de criação da gíria são
os mesmos da língua comum. São os objetivos deste trabalho analisar os
termos utilizados pela população ludovicense e identificar as expressões
cotidianas comuns em seu meio. Observando a linguagem nos contextos
sociais em que os indivíduos se encontram inseridos, considerando-se que a
manifestação linguística revela-se como identidade de uma localidade através
de estratégias enunciativas. Portanto, para desenvolvimento deste trabalho
servimo-nos da coleta de dados sistemática para melhor compreensão do
assunto tratado e ao uso de algumas pesquisas que abordam a gíria como um
processo cultural da linguagem e em alguns casos, originado das mídias que
garantem o uso lexical no Brasil, inclusive entre os ludovicenses visto que no
século XXI, as classes sociais e todas as faixas etárias usam a gíria. Embora
usada comumente na comunicação diária poucas pessoas conseguem definir o
que é gíria e como ela opera nos diferentes níveis sociais e nos contextos de
fala, já que língua é variável e muitas palavras entram em desuso e outras são
agregadas com o passar do tempo.

Palavras-chave: Gírias Ludovicenses. Cultura. Terminologia. Classes


socioeconômicas.

163
HIBRIDISMO DE PAPEIS DO INSPETOR NOS INTERROGATÓRIOS
POLICIAIS NA DELEGACIA DA MULHER
Priscila Júlio Guedes Pinto (UJFJ)

Resumo: Este trabalho integra os artigos do GT da ANPOLL Práticas


Identitárias na Linguística Aplicada sobre o tema hibridismo e fronteiras.
Entendemos territórios de maneira relacional (HAESBAERT, 2004), e
hibridismo como mescla, mestiçagem, mistura (SARANGI, 2011). A vida
humana na contemporaneidade apresenta uma verdadeira complexidade em
suas formas de existência, colocando-nos em constante desafio de
compreensão de novas práticas, e de novas descrições, tematizando a questão
de territórios e fronteiras. Por outro lado, manuais de atuação profissional,
como é o caso dos manuais de treinamento policial, são em geral prescritivos,
e, portanto, muitas vezes desatualizados, em relação ao que se faz na prática.
No caso da delegacia da mulher, pouco ou quase nada se sabe sobre a prática
policial com base em evidências empíricas. Em interrogatório policial entre
vítima e suspeito, o policial deve interrogar para apurar um suposto crime,
porém apenas essa descrição não dá conta da complexidade de suas tarefas
cotidianas nesse evento. Berger & Luckmann (1996), em visão
socioconstrucionista, propõem que uma instituição define-se, não tanto por
suas formas de representação clássicas (espaço físico, emblemas, etc.), mas
sim pela conduta humana real, contínua, ou seja, por aquilo que é vivo em uma
instituição, o que nos leva às práticas de linguagem e à perspectiva interacional
dos papéis (SARANGI, 2000, 2010, 2011). Segundo eles, "a representação de
uma instituição em papéis, e por meio destes, é assim a representação por
excelência, de que dependem todas as outras representações" (ibidem, p.
105). Assim, analisamos em 10 interrogatórios policiais de uma delegacia da
mulher os papéis de um policial através do instrumental teórico-metodológico
da Análise da Conversa, em segmentos de fala-em-interação. Os resultados da
pesquisa mostram alguns papéis exercidos por ele, tais como o de
investigador, avaliador, expert legal, e negociador, o que nos permite esposar
um hibridismo de papéis para a sua função institucional. Criticamente, esses
papéis devem ser analisados em termos de sua (não) complementaridade, o
que abre discussão sobre a (re)descrição de sua prática profissional em
contribuição aplicada.

Palavras-chave: Papéis. Interrogatórios policiais. Delegacia da mulher.

HIBRIDISMOS NAS LINGUAGENS: UMA VISADA TEÓRICA VOLTADA AOS


ESTUDOS DAS IDEOLOGIAS LINGUÍSTICAS E DAS POLÍTICAS
LINGUÍSTICAS
Clóris Porto Torquato (UEPG/UFPR).

164
Resumo: Este trabalho caracteriza-se como um estudo de cunho teórico e
propõe articular estudos sobre políticas linguísticas (RICENTO, 2006;
JOHNSON, 2013; McCARTY, 2011) e ideologias linguísticas (WOOLARD,
1998; KROSKRITY, 1998; 2004) à perspectiva de que a linguagem é
constitutivamente híbrida (BAKHTIN, 1975/1998), pois 1) os signos configuram-
se como arenas de conflitos sociais e a linguagem é constitutivamente
dialógica (hibridizando valores provenientes de diferentes posições ideológicas)
(BAKHTIN/VOLOSHINOV, 1929/1986; BAKHTIN, 1975/1998); 2) os usos da
linguagem frequentemente configuram-se pela articulação entre diferentes tipos
de signos (produzindo multissemioses). Tal proposta parte da compreensão de
que os estudos da linguagem precisam levar em consideração os hibridismos
implicados nos fenômenos contemporâneos relacionados às globalizações
(SANTOS, 2002; CANCLINI, 2007) - que se referem às mobilidades dos
sujeitos e suas línguas e culturas, às reconfigurações das políticas nacionais e
globais, aos processos de interação no contexto do ciberespaço caracterizado
pelos multiletramentos, pelas multissemioses e pelos multilinguismos e,
sobretudo, às (re)construções das identidades (sociais, étnico-raciais, de
gênero, sexuais, culturais, religiosas) dos sujeitos em relação a esses
fenômenos. Partindo de textos que tem assinalado a necessidade de romper a
noção de sistema que historicamente orientou os estudos de linguagem e a
necessidade de focalizar aqueles usos linguísticos/discursivo constitutivamente
híbridos (CÉSAR; CAVALCANTI, 2007; ASSIS-PETERSON; COX, 2007;
CAVALCANTI; CÉSAR, 2004; SANTOS; CAVALCANTI, 2008; CAVALCANTI,
2013; CANAGARAJAH, 2013a; 2013b), busco refletir sobre as contribuições da
concepção de linguagem do Círculo de Bakhtin para os estudos das ideologias
linguísticas e das políticas linguísticas nesse contexto de globalizações. Para
os estudos de políticas linguísticas, tem se mostrado fundamental a
investigação sobre as ideologias linguísticas (Woolard, 1998; Blommaert,
2006), como afirma Rampton (2006). Compreende-se que uma língua constitui-
se como "um projeto discursivo e não um fato estabelecido" (Woolard, 1998:
20). Assim, uma língua configura-se como uma construção dos sujeitos
falantes não-especialistas e dos especialistas; o que os sujeitos dizem que é e
como é uma língua.

Palavras-chave: HIBRIDISMOS, IDEOLOGIAS LINGUÍSTICAS, POLÍTICAS


LINGUÍSTICAS

“HUNI KUI - OS CAMINHOS DA JIBOIA”: UM VIDEOGAME E A


TRAJETÓRIA DE POSICIONAMENTOS DE UM PROFESSOR INDÍGENA
ACREANO FRENTE ÀS TECNOLOGIAS
Terezinha de Jesus Machado Maher (UNICAMP)

165
Resumo: As tecnologias vêm, de há muito, sido apropriadas por povos
indígenas brasileiros: a escrita, gravadores e vídeos, por exemplo, têm sido
frequentemente utilizados como instrumento de suas ações políticas e de
expressão de suas identidades culturais particulares. Mais recentemente,
vimos assistindo, como atestam Ferreira (2009), Tavares (2012) e Bessa Freire
e Leite (2015), também à apropriação de novas tecnologias digitais por esses
povos para registrarem suas manifestações culturais e performatizarem o que
Nunes (2009) denomina suas interneticidades. Tendo como pano de fundo
esse panorama, pretendo, nesta comunicação, refletir sobre o impacto
do videogame "Huni Kui - Yube Baitana (Os Caminhos da Jiboia)", produzido
pelo coletivo Beya Xina Benã e coordenado pelo antropólogo Guilherme
Menezes, no modo como um professor indígena Huni Kui, Ibã Sales, se
posiciona frente ao papel das tecnologias no registro do "patrimônio cultural" de
seu povo. Para tanto, compararei um depoimento dado por esse professor em
1994 com o que ele afirma, em 2015, isto é, 21 anos depois, em entrevista hoje
disponibilizada na internet. Argumento, em primeiro lugar, que o discurso de
Ibã sobre o videogame em questão, que conjuga sonoridades do meio oral com
intertextualidades imagéticas e da escrita, evidencia o fato de que "o que a
tecnologia mobiliza e catalisa hoje não é tanto a novidade de alguns aparatos,
mas, sim, novos modos de percepção e de linguagem, novas sensibilidades e
escrituras" (MARTÍN-BARBERO, 2002, p. 13). E, em segundo, que o discurso
desse professor indígena contribui para deslegitimar a imagem paternalista de
uma suposta fragilidade das culturas indígenas frente às novas tecnologias
(GALLOIS; CARELLI, 1995) aprisionando-os no papel de vítimas de suas
próprias ancestralidades (MAHER, 2013). Os dados a serem analisados nesta
comunicação fazem parte do corpus gerado para o projeto de pesquisa
etnográfica, por mim coordenado, "Retratos de um Brasil Plural: línguas,
culturas e identidades em práticas discursivas". O aparato teórico de referencia
para a análise desses dados está assentado no conceito de identidade cultural,
tal como proposto em Hall (2005) e Bhabha (2005), e no conceito de
posicionamento discursivo descrito por Jaffe (2009).

Palavras-chave: Indianidades. Novas tecnologias. Posicionamento

IDENTIDADE FEMININA E ACENTOS DE VALOR: UMA ANÁLISE


BAKHTINIANA DA CAMPANHA #LIKEAGIRL
Marília Silva Pontes (UECE)

Resumo: O trabalho procurou realizar, a partir da perspectiva dialógica do


discurso, uma análise da construção da identidade feminina através dos
discursos apresentados na campanha #LikeAGirl, criada pela marca Always e
lançada em 2014. No vídeo da campanha publicitária, a diretora orienta as
pessoas a realizarem determinadas ações assim como uma menina as faria. A

166
partir daí, um grupo de enunciadores caracteriza de forma pejorativa sobre o
que significa agir "tipo menina", e somente um enunciador se posiciona de
forma positiva em relação ao enunciado "tipo menina". A análise da campanha
em questão apoiou-se nos postulados de Mikhail Bakhtin e de seu Círculo,
mais especificamente na obra Estética da Criação Verbal (BAKHTIN, 2003) e
no texto Discurso na vida e Discurso na arte (VOLOSHÍNOV, 2010). Na análise
do vídeo, buscamos mostrar que as escolhas verbo-visuais que implicam
discursos do que corresponderia agir "tipo menina" estão impregnadas de
traços subjetivos e de índices de valor. A partir desse estudo, foi possível
identificar que a campanha acaba por retomar um conjunto de
enunciados/discursos que se caracterizam por atribuir valores negativos a
expressão "tipo menina", associando-a à falta de capacidade/habilidade de
realizar determinada coisa, à fraqueza, à ideia de sexo frágil e mesmo à
vulnerabilidade. Por fim, podemos observar que é com esse conjunto de
discursos que o enunciado em questão se relaciona e é, também, a eles que tal
construção responde. Além disso, identificamos que o propósito
da Always, junto com a audiência da campanha, de promover, uma
ressignificação da expressão #LikeAGirl corresponde uma iniciativa notável e
permite-nos perceber como a linguagem atua no sentido de representar
determinadas identidades sociais.

Palavras-chave: Discurso. Identidade feminina. Acentos de valor.

UM OLHAR DISCURSIVO SOBRE O MATERIAL DIDÁTICO A RESPEITO


DO INDÍGENA: IDENTIDADE E CIBERESPAÇO
Icléia Caires Moreira (UFMT)

Resumo: Embasado em uma episteme capaz de compreender os sujeitos à


margem, este estudo busca, de forma transdisciplinar, respaldo teórico na
perspectiva da Análise do Discurso de linha francesa (PÊCHEUX, 1988); no
artifício metodológico foucaultiano (1988, 1997, 2013), especificamente, o
arqueogenealógico; e na visada culturalista (MINGNOLO, 2003; CASTRO-
GOMES, 2005; BHABHA, 2013). A fim de problematizar os possíveis efeitos de
sentido de marginalização do indígena, (d)enunciados no guia didático
"Cineastas indígenas para jovens e crianças", mobilizamos a hipótese de que a
representação identitário-cultural do indígena, nesse material voltado ao ensino
fundamental regular de escolas públicas, subsidiado pelas novas tecnologias e
publicizado no ciberespaço, se constitui via discurso do branco: disso emerge
um processo de subjetivação/identificação a respeito do sujeito indígena.
Inicialmente, observamos que esse guia didático constrói modos de
subjetivação dos traços identitário-culturais de seis etnias indígenas (Wajãpi,
Ashaninka, Kisêdjê, Ikpeng, Panará e Mbya-Guarani), por meio de narrativas,
comentários, imagens e brincadeiras infantis, relegando a tais sujeitos o entre-

167
lugar da exclusão sócio-historicamente marcado. Especificamente, temos por
meta desvelar o gesto interpretativo e compreender como se dá a
materialização, em seus enunciados, da subjetivação do sujeito indígena, via
subsídio das novas tecnologias articuladas na produção de vídeos; e observar
como se legitimam as políticas reguladoras, que criam perfis de subjetividade
estatalmente coordenados, instituindo, dessa maneira, um processo de
"invenção do outro" por meio de dispositivos de saber-poder que funcionam
como o cerne da construção de representações no bojo da sociedade
contemporânea.

Palavras-chave: Material didático. Subjetivação. Indígena.

UM LUXO VITAL: ANA CRISTINA CESAR E O FLERTE POÉTICO COM O


DIÁRIO
Priscila Pesce Lopes de Oliveira (USP)

Resumo: Em sua produção poética Ana Cristina Cesar faz do "eu" questão de
escrita, tensionada entre adesão à consciência crítica de que "o "eu" é uma
ação discursiva" (difundida na vanguarda dos estudos literários da década de
1970) e uma prática de escrita coalhada de elementos e dispositivos
indissociáveis de algum "eu": o corpo, a confidência, o afeto. Dentre esses
procedimentos destaca-se a aproximação do gênero diário, que propicia a
exploração de questões como a subjetividade, o oferecer-se ao olhar do outro e
a intimidade. O tema é extensamente abordado pela fortuna crítica da escritora,
com privilégio para os deslocamentos literários que Ana C. faz do diário, na
contrapartida de muitos coetâneos que trabalhavam a relação entre escrita e
cotidiano sob a estética do flagra, do despojamento de artifícios literários.
O diário é terreno fértil para trânsitos entre subjetividade, escrita e experiência.
Consideramos a subjetividade conforme proposta por Benveniste ("La nature
des pronoms") - a capacidade do locutor de se colocar como sujeito no e pelo
discurso, e o autor à maneira esboçada por Barthes no prefácio de seu Sade,
Fourier, Loyola: um nome que não designa uma unidade nem propicia ao texto
uma origem ou um sentido uno; inversamente, uma subjetivação dispersa que
tem no texto um espaço de coagulação de seus traços, ou ainda um
receptáculo de todo o afeto que o texto propicia mas não pode acolher. Em
nossa apresentação leremos o poema "Guia semanal de ideias". Buscaremos
traçar opções de um projeto poético que, se investe em um intrincado trabalho
literário que fragiliza protocolos da leitura diarística - como a sinceridade e uma
concepção da escrita como expressão -, não abre mão de modulações do
biográfico. Explorando o gênero diário no limite do funcional, Ana C. opera uma
indiferenciação entre o que reconhecemos como literário e o que
reconhecemos como linguagem comum, propondo essa coexistência como
uma imbricação entre escrita e experiência, onde distinguimos uma

168
subjetividade que não se esgota em nenhuma das duas, nem tampouco em
sua intersecção.

Palavras-chave: Ana Cristina César. Diário. Subjetividade.

UM ESTUDO ETNOGRÁFICO DOS SENTIDOS PERFORMATIVOS SOBRE


MASCULINIDADES NO FORRÓ ELETRÔNICO EM FORTALEZA-CE
Gustavo Cândido Pinheiro (UECE)

Resumo: Neste trabalho discuto os resultados de uma pesquisa de cunho


etnográfico em que tive o objetivo de analisar a natureza performativa da
política de representação sobre masculinidade presente naquilo que chamei de
forma de vida cultural forró eletrônico. Situamos esta pesquisa no Campo
Interdisciplinar de Estudos da Nova Pragmática (RAJAGOPALAN, 2010;
SILVA; MARTINS FERREIRA; ALENCAR, 2014), uma perspectiva teórica que
tem evidenciado os aspectos éticos, político e ideológicos de nossos usos
linguísticos (RAJAGOPALAN, 2003) e um diálogo com estudos sobre
identidades sociais (ALBUQUERQUE, 2010; BUTLER, 2003; CONNELL, 2005;
HALL, 2003; MOITA LOPES, 2005; PINTO, 2009). Os dados foram gerados em
contextos de produção, circulação e consumo de forró em Fortaleza-CE,
especificamente no Clube de shows Street Beer e nas residências dos
participantes. Ao pensar as vivências culturais do universo forrozeiro, considero
as regras sociais, as convenções ritualizadas, os hábitos, os costumes e
instituições recorrentes a esta prática e sua citacionalidade e iterabilidades
(BUTLER, 2004; DERRIDA, 1991) na construção de identidades sociais. Como
resultados, percebemos que o forró eletrônico, embora recorra ao imaginário
de um mundo globalizado e contemporâneo que desestabilizaria a "tradição",
acaba por dialogar com formas históricas de definir a masculinidade na região
Nordeste, notadamente em suas reivindicações identitárias para o homem, em
outras palavras, o forró eletrônico demanda uma masculinidade "nova", mas
repleta de resquícios de sentidos hegemônicos. Concluímos salientando a
relevância de pensar formas de desestabilizar as identidades, sobretudo, por
seu poder de gerar desigualdades de gênero e estigmas, exclusões e punições
àqueles que não desempenham corretamente seu gênero, tal como pensado
hegemonicamente.

Palavras-chave: Identidade Performativa. Forró eletrônico. Políticas de


Representação.

UMA ANÁLISE DO DISCURSO DAS TIRINHAS DA MAFALDA: IDEOLOGIA


E MEMÓRIA EM FOCO
Ana Michelle de Melo Lima (UERN)

169
Maria Jackeline Rocha Bessa (UERN)
Maria Eliza Freitas do Nascimento (UERN)

Resumo: Partindo de uma análise do discurso das tirinhas da Mafalda,


objetivamos verificar como a ideologia se materializa nesse gênero discursivo,
buscando o resgate da memória discursiva na construção do sentido. Nessa
materialidade, é possível observar questões de luta de classes, reveladas por
meio das injustiças sociais, em virtude de um regime político autoritário,
contribuindo para a formação de uma sociedade oprimida. Isso é percebido por
meio das condições de produção do discurso. Para esta análise, recorremos
aos pressupostos teóricos da Análise do Discurso de linha francesa, a partir da
contribuição de Michel Pêcheux, mobilizando categorias como: discurso,
interdiscurso, memória discursiva, condições de produção, sujeito, formação
discursiva, formação ideológica para discutir os efeitos de sentido no discurso.
Destacamos como objeto de estudo, as tirinhas da Mafalda criadas pelo
desenhista argentino Joaquim Salvador Lavado mais conhecido como (Quino),
que apresentam uma visão estereotipada sobre a representação da mulher na
sociedade, marcando seu lugar social a partir da posição de esposa, mãe,
dona de casa, silenciando outros lugares sociais que poderiam ser ocupados
pela mulher, dentre eles o de profissional de sucesso. Como metodologia,
faremos pesquisa bibliográfica sobre a Análise do Discurso para marcar o lugar
teórico de Pêcheux e as categorias que serão mobilizadas no percurso
analítico. Em seguida, realizaremos a análise da materialidade, explorando os
sentidos ideológicos, os quais desencadeiam discussões ainda calorosas sobre
a posição social da mulher com relação ao sexo masculino, marcada
ideologicamente como "melhor profissionalmente". Por meio da retomada da
memória discursiva, será possível mobilizar sentidos cristalizados socialmente
e retomados na materialidade do discurso da tirinha da Mafalda. Com base
nessas discussões, salientamos que os discursos que se constroem e se
materializam nos meios sociais pelas diferentes formações discursivas, faz
circular sentidos que legitimam preconceitos contra o sujeito mulher em
diferentes contextos sociais.

Palavras-chave: Ideologia. Memória. Sentido.

SUJEITOS PÓS-HUMAN@S: A (TRANS)EXPERIÊNCIA CORPORAL SOB


OS PROCESSOS DE RE-DES-FAZER-SE E DE COMPARTILHAR-SE NAS
REDES SOCIAIS
Luiz Claudio Kleaim (UNINORTE).

Resumo: Disse Judith Butler que "como corpos, sempre somos algo mais que
nós mesmos e algo diferente de nós mesmos. Articular isto como um direito
não é sempre fácil, mas talvez não é impossível". Os sujeitos trans estão em

170
nossa sociedade se articulando no campo do possível no sentido de questionar
o que pode ser dito enquanto homem/mulher real e/ou o que deve sê-lo,
mostrando como a viabilidade e as condições de inteligibilidade do que seja o
humano perpassam normas/discursos e práticas sociais naturalizadas a
respeito do gênero e do corpo. O propósito deste estudo se baseia na busca
por elucubrações acerca dos investimentos dos diversos sujeitos trans, os
quais passam por processos diversos de transexualização, que estabelecem
por meio de suportes da rede (como páginas web, blogs e perfis de Facebook)
a exposição dessas transformações de seus corpos corroborando na
transgressão e desnaturalização dos estatutos do gênero e do sexo, como
também nos de corpo e humanidade, a partir das perdas dos limites entre
orgânico e tecnologia, químico/fármaco e subjetividade. O que se tem visto é
que o narrar, dialogado e polissêmico, dessas experiências tem estabelecido
uma ideia compartilhada de corpo a qual se intenta compreender tendo apoio
os estudos pós-gênero (Judith Butler, Donna Haraway, Teresa de Lauretis e
Paul B. Preciado), pós-humanistas e pós-históricos (Lúcia Santaella, Erick
Felinto e Vilém Flusser). Também a filosofia da comunicação de Vilem Flusser
sobre imagem, discurso e diálogo contribuíram em tal empreitada, assim como
os estudos de discurso de Teun A. van Dijk.

Palavras-chave: Redes Sociais. Subjetividades. Transexualidade.

SUBJETIVAÇÃO AUTÔNOMA, INDEPENDENTE E LETRADA:


CONCEPÇÕES CONTRA-HEGEMONICAS SOBRE LINGUAGEM EM
PRODUÇÕES ESCRITAS DE MULHERES NEGRAS
Michel Soares do Carmo (UFG)

Resumo: Esta comunicação apresenta os resultados do estudo das ideias e


dos argumentos sobre linguagem e seus derivados presentes em produções de
mulheres autoras autoidentificadas negras (plano de trabalho de iniciação
científica voluntária UFG/CAPES/CNPq, desenvolvida em 2012-2013). Essas
produções foram interpretadas no pano de fundo dos estudos culturais e pós-
coloniais contemporâneos (FROW & MORRIS, 2006; HALL, 2002;
MAKONI & PENNYCOOK, 2007; MIGNOLO, 2003) e também com
fundamentação nas discussões teóricas feita por bell hooks (1984; 1994a;
1994b, 1995), pois sua obra relaciona questões relativas às mulheres
negras com questões relativas à produção do conhecimento. Para isso, foi
efetuado levantamento de produções escritas de mulheres autoidentificadas
negras, disponíveis em acervos online, que contivessem as palavras-chave
"língua", "linguagem", "escrever", escrita", "discurso", "oral/oralidade" e "fala".
Foram encontradas vinte produções. Para estas escritoras, a linguagem,
principalmente a escrita por ter sido a literatura o contexto temático da maioria
dos textos encontrados, é marcada pelo corpo, isto é, pela raça e pelo gênero

171
que guiam suas escritas, mesmo que para algumas isto não deva ser
considerado o foco de sua escrita. É peculiar às produções aqui estudadas que
sua circulação se dê em contextos individualizados (colunas em blogues e
entrevistas etc.) e letrados (fortemente acadêmico), em que as autoras, para
ganhar espaço legitimado, investem na construção de uma subjetivação
autônoma, independente e letrada como ganho e rebeldia para o lugar
discursivo da mulher negra. Basicamente, portanto, essas produções defendem
a busca de elementos identitários e de resistência por meio das práticas
linguísticas que se vinculam ao campo da literatura e se baseiam em suas
experiências corporais.

Palavras-chave: Corpo. Concepções de Linguagem. Mulheres negras


escritoras.

SIGNO IDEOLÓGICO MULHER EM PERSPECTIVA DISCURSIVA: UMA


ANÁLISE BAKHTINIANA DO DISCURSO PUBLICITÁRIO DE DEVASSA
Jamille Maranhão de Sousa (UECE)
João Batista Costa Gonçalves (UECE)

Resumo: Este trabalho corresponde a um recorte de um estudo mais amplo e


tem o propósito de analisar a construção ideológica do signo mulher em peças
publicitárias da marca de cerveja Devassa a partir de uma perspectiva
discursiva. Tomou-se como referencial teórico-metodológico a Análise
Dialógica do Discurso (ADD), desenvolvida por Brait (2010), a partir do estudo
dos escritos bakhtinianos. O discurso publicitário da marca supracitada traz em
sua composição verbo-visual signos que, a nosso ver, podem, além de reforçar
estereótipos, refletir e refratar a realidade existente, ressignificando, assim, as
mulheres nele presentes ideologicamente. A análise das peças publicitárias
baseou-se nas noções de signo ideológico, pensadas por Bakhtin/Volochínov
(2009), e nas de acento apreciativo e de significação e tema, pensadas pelos
mesmos autores e comentadas por Cereja (2013). A partir da análise das
peças, foi possível identificar que o discurso publicitário de Devassa constrói
uma imagem sígnica acerca da mulher eivada de entonações próprias. Assim,
chegamos, basicamente, a duas conclusões: a primeira, de ordem teórica, é a
de que não se deve privilegiar a dimensão verbal ou a dimensão visual da
linguagem, pois é da relação de complementaridade entre as duas que
emergem os efeitos de sentido acerca do signo ideológico mulher; a segunda,
por sua vez, de ordem analítica, é a de que todos os elementos presentes nas
peças publicitárias analisadas conferem novos matizes de sentidos à imagem
feminina.

Palavras-chave: Análise Dialógica do Discurso. Signo Ideológico. Devassa.

172
SELFIE: IMAGEM E SUBJETIVIDADE EM TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
Fernanda Carvalho de Almeida (UFC).

Resumo: No contexto da Sociedade de Consumo e da tecnocultura,


observamos crescente virtualização das relações humanas. Os indivíduos
transformam-se em potenciais terminais receptores e transmissores de
múltiplas informações que trafegam pela web, principalmente sob a forma de
imagens. De fato, a linguagem imagética tem ganhado prevalência junto ao
homem contemporâneo, a exemplo da rede social virtual instagram, baseada
unicamente em imagens: 80 milhões de fotos são postadas nesta rede social
diariamente. Dentre estas imagens, observa-se a recorrência de selfies,
autorretratos compartilhados em redes sociais virtuais. Esta prática tem
crescido por toda web e abrange tanto aspectos corriqueiros da vida, como a
hora de dormir (bedtimeselfie), quanto aspectos inusitadas, como
o braggie, selfie que busca gerar inveja através da ostentação de objetos ou
experiências desejáveis, idealizadas pelo consumo. Os selfies despontam,
portanto, como linguagem contemporânea. Este trabalho propõe-se a analisar
a emergência do fenômeno selfie, considerando o culto à autoexposição
estetizada, modelada por ideais de consumo, assim como as repercussões
deste fenômeno na subjetividade e sociabilidade dos indivíduos. Nesse
sentido, objetiva-se uma reflexão crítica, tendo por eixo teórico-metodológico
privilegiado a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, em especial as reflexões
sobre a Indústria Cultural como fator relevante na produção de subjetividades.
Em termos de estratégia metodológica, adotou-se uma abordagem qualitativa,
teórico-crítica e micrológica. Efetuou-se uma etapa documental onde foram
coletadas reportagens, hashtags, comentários de cibernautas e selfies.
Coletou-se ainda documentários, tutoriais e vídeos concernentes ao fenômeno
estudado. Procedeu-se, então a uma análise teórico-crítica, na qual os dados
recolhidos foram articulados dialeticamente junto à teoria. Como resultado, a
pesquisa vem nos apontando que os selfies possuem conteúdos fortemente
influenciados pelo discurso midiático e pelo consumo, visto que o indivíduo
veicula a si próprio enquanto um produto, modelado por ideais culturais
próprios aos media. Ainda, nossas reflexões finais apontam para a tendência à
instrumentalização da experiência humana e da alteridade.

Palavras-chave: Subjetividade. Selfie. Imagem.

RESISTÊNCIAS JUVENIS: A PARTICIPAÇÃO DOS JOVENS NAS


CONFERÊNCIAS
Rodrigo Crivelaro (USP)

173
Resumo: Este artigo é produzido a partir de parte da pesquisa de mestrado em
andamento no Programa de Mestrado e Mudança Social, da Escola de Artes,
Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo e está estruturada a
partir dos seguintes pontos: a construção discursiva, os processos de
subjetivação e a produção de subjetividades juvenis e a partir das conferências
de juventude no município de Santa Bárbara d'Oeste-SP. Através de revisão
bibliografia a autores como Michel Foucault, Félix Guattari, Gilles Deleuze,
Suely Rolnik, Maria Rita de Assis Cesar, Ricardo Castro e Silva, Maria Tereza
Arruda Campos, Luiz Antônio Groppo, Renato Janine Ribeiro, Jurandir Freire
Costa, Maria Rita Kehl, Regina Novaes, Helena Wendel Abramo, Paulo
Carrano, Elizabete Franco Cruz, Guita Grin Debert, Claudia Mayorga e Norma
Missae Takeuti se busca refletir a juventude e o jovem como uma construção
histórica, produzida por um conjunto de procedimentos discursivos que lhe
conferiu o caráter de verdade. Estas discursividades são produzidas por
adultos, mas também por jovens que são subjetivados por uma série de
dispositivos, tornando a juventude como identidade fixa. Tal construção é
engendrada a partir do viés da diferença, narrada em diversas enunciações no
campo educacional, psicológico, médico, jurídico, bem como na participação
social. Através de entrevistas semi-estruturadas de participantes das
Conferências de Juventude em Santa Bárbara d'Oeste realizadas em 2008,
2011 e 2014, bem como análise de documentos e relatórios aí produzidos,
buscou-se para além dos enunciados e da programação oficial, observar como
a juventude tem desterritorializado e reterritorializado os espaços das
conferências construindo novos discursos sobre o “ser jovem”, sobre a
juventude e a participação, produzindo assim possibilidades de “potência” e
“resistência”. A partir da participação juvenil, é possível transformar em espaço
liso, o espaço estriado das conferências?

Palavras-chave: Participação. Juventude. Conferência.

REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA


VISUAL E A ORDEM VISIOCÊNTRICA DO DISCURSO
Beatriz Furtado Alencar Lima (UFC)

Resumo: Este trabalho trata sobre as representações discursivas de pessoas


com deficiência visual (DV), no tocante à acessibilidade de leitura e escrita.
Para a proposta que ora apresentamos, nos deteremos em como essas
pessoas posicionam-se a respeito das práticas de letramento em que se
encontram situadas, em um cenário semiótico ainda fortemente marcado por
hegemonias, no tocante à produção e ao acesso de informações por/para
pessoas com DV. Objetivamos, pois, apresentar os discursos, letramentos e
identidades de pessoas com deficiência visual, a partir de suas representações
sobre o acesso à leitura e à escrita. Para a análise dessas representações,

174
valemo-nos da Metafunção Ideacional (Halliday e Matthiessen, 2004) e do
Significado Representacional (Fairclough, 2003). A partir de algumas das
categorias analíticas que esses aportes teóricos nos proporcionam,
apresentaremos como os/as participantes da pesquisa posicionam-se a
respeito do que conceituamos como uma ordem visiocêntrica do discurso.
Adotamos, portanto, a perspectiva teórico-metodológica da Análise de Discurso
Crítica (ADC), mais especificamente, a versão encontrada em Fairclough
(2001, 2003) em seu diálogo teórico com a Linguística Sistêmico-Funcional
(LSF) (Halliday e Matthiessen, 2004); valemo-nos, igualmente, do Modelo
Social de Letramento (Magalhães, 2012; Rios, 2009, 2010, 2012, 2013; Street,
1984, 2012) e da perspectiva do Modelo Social de Deficiência (Martins, 2006;
Diniz, 2012). Tratando-se de um estudo discursivo crítico de caráter
etnográfico, a investigação adotou métodos da pesquisa etnográfica, quais
sejam observações participantes, entrevistas semi-estruturadas e diários de
participante (Magalhães, 2000; Rios, 2009; Bhatt, Martin-Jones, Jones, 2012).
Os resultados advindos de nossas análises interpretativas revelam que os
posicionamentos dos/as participantes oscilam entre uma conformação à ordem
visiocêntrica do discurso, bem como em uma resistência a ela. Com base
nesses resultados, concluímos que do embate entre essas representações
discursivas é possível - levando-se em conta a perspectiva do discurso como
mudança social (Fairclough, 2001) - pensar a reestruturação e consequente
desestruturação de uma forma simbólica ideológica (Thompson, 2011) que
imprime às pessoas com DV os "referentes do infortúnio e da incapacidade"
(Martins, 2006), enquanto uma narrativização (Thompson, 2011) característica
da vida das pessoas com DV.

Palavras-chaves: Deficiência visual. Representação Discursivas. Ordem


visiocêntrica.

REFLEXÕES ACERCA DA CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE ATRAVÉS


DO DIÁLOGO ENTRE LINGUAGEM E CULTURA - OS MALUCOS DE BR
Gabriela Barboza (UFRGS)

Resumo: Objetiva-se com este trabalho incitar reflexões a respeito das


relações entre linguagem, cultura e subjetividades a partir de discursos
contemporâneos em conflitos com a cultura hegemônica. Os fatos de cultura-
linguagem, enunciados por sujeitos, escolhidos para esta pesquisa estão
inseridos no documentário "Malucos de Estrada - a reconfiguração do
movimento hippie no Brasil", do coletivo A beleza da margem, obra que aborda
a temática dos hippies brasileiros da atualidade, seus diferentes modos de
organização e sua busca por reconhecimento enquanto elementos genuínos da
cultura nacional por órgãos do Estado. Por pretender estabelecer uma relação
de fato mais aprofundada entre cultura e a construção da subjetividade na

175
linguagem, ancoramos nossos estudos em autores que dialogam entre si, tais
como Benveniste (1995, 2006), Le Breton (2010, 2012), Agamben (2005,
2008), Dufour (2000) e Ginzburg (1989). De modo geral, almejamos - com base
nos fatos de cultura-linguagem retirados do documentário e nas reflexões
propostas pelos autores acima - responder a questões que norteiam nossa
pesquisa, quais sejam: como o homem faz para se inscrever em determinadas
esferas da cultura? Se a linguagem é o fio condutor da dispersão desses
sujeitos que se colocam/são colocados à margem da cultura hegemônica,
como uma realidade tão dispersa e desterritorializada se une na linguagem?
Como o homem faz para poder falar de si e ao mesmo tempo se unir ao outro
(Outro) dessa cultura? As análises e reflexões buscarão, em alguma medida,
apontar para possíveis respostas para esse diálogo entre culturas em conflito.

Palvras-chave: Linguagem-cultura. Subjetividade. Malucos de BR.

PROCESSOS IDENTITÁRIOS DO TRABALHADOR DAS MURALHAS


Evelyn Yamashita Biasi (UFMS)

Resumo: O presente trabalho refere-se a uma pesquisa de mestrado que


propõe a análise dos processos identitários do agente de escolta e vigilância do
estado de São Paulo. A base teórica está fundamentada na Análise do
Discurso de linha francesa que compreende o discurso como lugar onde se
pode observar a relação entre língua e ideologia do sujeito que é clivado,
incompleto e inconsciente. Para tanto, propõe-se investigar como os riscos
pessoais influenciam na formação dos processos identitários desse trabalhador
e descrever as relações ideológicas e de saber-poder presentes nas relações
do trabalho do sistema penitenciário. O córpus foi constituído por meio de
entrevistas semi-dirigidas com oito profissionais que atuam na função há mais
de cinco anos e em diversas localidades do interior do Estado de São Paulo. A
escolha dos recortes de análise se deu a partir do método foucaultiano
arquegenealógico, pautado nas regularidades do discurso. Os resultados
encontrados indicam que as representações no trabalho são permeadas por
contradições que envolvem a invisibilidade e a visibilidade no trabalho. O
sujeito acredita que quanto maior invisibilidade tem o seu trabalho maior é a
eficácia do mesmo, pois para que seu trabalho se torne efetivo é necessário
que não apareça. No entanto, o sujeito marca a representação do risco pessoal
a partir das condições de trabalho que envolve uma condição de panóptico
invertido imposto entre as condições precárias de vigia e o fato de ser vigiado
pelo outro. As formas de reconhecimento no trabalho são permeadas pelo
esvaziamento do sentido do trabalho a partir da não-produção de aspectos
materiais. Por outro lado, o sujeito estabelece uma relação de poder do
trabalhador frente à população carcerária e a geral; o sujeito se vê como sendo
um agente da ordem e da proteção social.

176
Palvras-chave: Identidade. Trabalho nas muralhas. Discurso.

PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO E MODOS DE EXPRESSÃO DO


SOFRIMENTO PSÍQUICO: UM OLHAR A PARTIR DA
CONTEMPORANEIDADE
Adryssa Bringel Dutra (UFC)
Jurema Barros Dantas (UFC)
Evelyn Cristina de Sousa Penas (UFC)
Renata Eudócia Melo Barreto (UFC)

Resumo: O presente trabalho, contando com o apoio do PIBIC/FUNCAP,


pretende apresentar algumas considerações preliminares sobre as
transformações históricas e sociais ocorridas ao longo do tempo e como essa
dinâmica vem instaurando uma nova forma de constituição de subjetividades e
expressões de sofrimento psíquico. Para tanto, foi realizada uma revisão
bibliográfica tomando como base analisadora uma pesquisa teórico-crítica, com
solo epistemológico e metodológico na Fenomenologia. Com o anúncio, desde
o início da modernidade, da morte das estruturas normalizadoras, bem como a
necessidade de uma transvaloração de todos os valores, os sujeitos passaram
a co-existir em uma sociedade imediatista, na qual o consumo desenfreado e a
busca pelo prazer são marca de um sujeito que se identifica como
hipermoderno. Assim, o advento da contemporaneidade marca uma nova
dinâmica na maneira como o sujeito se relaciona, se comunica, se percebe e
se sente, interferindo, consequentemente, sobre os seus modos de
subjetivação. Imerso nesse cenário, o homem acaba por ter sua subjetividade e
seus modos de existir perpassados por uma lógica de patologização daquilo
que foge às regras. Não é dada mais ao homem a possibilidade de sofrer.
Qualquer perturbação e incômodo deve ser medicado, a fim de que o bem-
estar do sujeito possa ser preservado de forma veloz e imediata. Dessa forma,
o sofrimento, que esteve presente durante toda a história da humanidade de
diversas formas e terminologias passa também a se expressar segundo os
efeitos do discurso contemporâneo. Esse homem da urgência, fragmentado e
inseguro mergulha na ansiedade, na fadiga, na indecisão, assimiladas a um
quadro de sofrimento que se naturaliza como um modo de ser e de estar-no-
mundo. Assim, entende-se que o sofrimento depende da significação que
assume no tempo e no espaço, bem como no corpo que ele toca e se
manifesta.

Palvras-chave: Subjetividade. Sofrimento psíquico. Contemporaneidade.

177
POR TRÁS DO POSTO, A FORÇA IDEOLÓGICA PRECONIZADA PELAS
CAPAS DA VEJA
Ana Cláudia Soares de Paiva (UNICAP)

Resumo: Neste trabalho, tomamos como suporte de discursão a Análise do


Discurso Crítico (ADC), em sua vertente sociocognitiva, a qual estabelece uma
relação de interface entre discurso, cognição e sociedade (VAN DIJK, 2010).
Tendo por objetivo analisar como a instância simbólica VEJA apresenta e
constrói através do seu discurso a representação social da presidenta Dilma e
como tal prática busca controlar os modelos de contextos/modelos mentais dos
leitores-eleitores. É importante ressalvar que esta abordagem não propõe uma
análise de cunho psicológico, mas um enfoque que considera a prática
discursiva integrando o funcionamento social. Por meio desse enfoque na
sociocognição e no discurso de van Dijk, observa-se que a relação
discurso/texto e sociedade não é uma relação diretiva, mas, antes, uma prática
de subjetividade que é construída por cada sujeito, a partir das construções dos
modelos mentais ou modelos de contextos que os sujeitos elaboram. Para essa
comprovação, selecionamos neste artigo 5 capas da revista Veja, no período
de Março a Abril de 2014, aplicando sobre estas a abordagem sociocognitiva e
discursiva de van Dijk, evidenciando como tal instância de poder conjura uma
ideologia por meio de um jogo estratégico de paralelos recursos semióticos e
discursivos, capazes de promover um apagamento da responsividade
locucionaria e ao mesmo tempo agindo sobre a representação cognitiva do
indivíduo interlocutor. Diante de tal comprovação, vê-se que o discurso é uma
prática subjetiva construída a partir de uma pretensão comunicativa, que se
propõe alcançar e "controlar" a representação cognitiva dos sujeitos da
interação.

Palavras-chave: Modelos de contexto. Discurso. Cognição.

POLÊMICA EM 140 CARACTERES: A EXPRESSÃO DA AVALIATIVIDADE


COMO MARCA DA INTERINCOMPREENSÃO NO TWITTER
Maria Leidiane Tavares (UFC)

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo investigar as marcas


linguísticas que explicitam a interincompreensão constitutiva no Twitter,
tomando, como fulcro da análise, a expressão da avaliatividade na constituição
da polêmica. O alicerce teórico no qual fundamentamos esse objetivo procedeu
da conjuntura teórica que elaboramos a partir das relações entre a teoria da
avaliatividade, com ênfase no sistema de julgamento e no aspecto dialógico do
engajamento (MARTIN; WHITE, 2005; WHITE, 2004), e o entendimento de
interincompreensão constitutiva de Maingueneau (2005), problematizado por
Marques (2014) e Siqueira (2005). A operacionalização do objetivo se deu por

178
meio de uma abordagem de natureza etnometodológica (COULON, 1983), vez
que a coleta dos tweets que compuseram o corpus foi guiada pelos princípios
de indicialidade, reflexividade, reportabilidade e as noções de membro e grupo,
que apontam para as regras do engajamento dos sujeitos nas interações.
Chegamos a um conjunto de sessenta capturas de tela compostas por tweets
que faziam referência às denúncias de abuso sexual relacionadas a um perfil
influente entre determinado grupo de perfis, em debate que emergiu na rede
entre novembro e dezembro de 2014. Categorizamos os tweets à luz de uma
visão da aceitabilidade social do comportamento dos sujeitos no ambiente em
tela, através de expressões que referenciam a estima (nos termos de
normalidade, capacidade e tenacidade) e a sanção social (em termos de
veracidade e propriedade) do objeto de discurso avaliado. Procedemos ao
exercício de análise dos dados, que nos permitiu perceber que a expressão da
avaliatividade como julgamento dos participantes do Twitter se dá,
sobremaneira, pelo expediente da ironia e do sarcasmo com os quais os
termos de uma formação discursiva são apropriados por outra. Tal opacidade
fundamenta o que chamamos de "polêmica infinita", processo no qual a
interincompreensão entre os sujeitos é continuamente reforçada, o
que confirma o caráter constitutivo da interimcompreensão, da impossibilidade
de trégua quando do embate entre arautos da sanção e guardiões da estima.

Palavras-chave: Twitter. Interincompreensão. Avaliatividade.

PERFIL JORNALÍSTICO NA WEB: UMA ANÁLISE POSSÍVEL DO GÊNERO


NO BLOG “CONVERSA SUJA”
Vitor Luiz Silva Barros (FAINTIPI)
Auricely Crispim (FAINTIPI)

Resumo: Quando o texto jornalístico foge à regra da pirâmide invertida, ou


seja, das informações mais importantes no primeiro parágrafo, pode se tornar
interessante e revelar possibilidades criativas na prática da escrita em um meio
que costuma ser bastante técnico, mas não isento de subjetividade. Isso
acontece com o perfil jornalístico, gênero que tem como característica
fundamental a caracterização de personagens reais, sendo eles conhecidos ou
anônimos, por meio da descrição de aspectos físicos, psicológicos, ideológicos
e morais. Com o objetivo de apontar particularidades do gênero em questão no
ambiente da web, este trabalho definiu como objeto de análise quatro textos
representantes desse gênero, presentes no blog "Conversa Suja", cujas
histórias abordam a relação de seus perfilados com o tema da sexualidade.
Para isso, buscou-se verificar o que é gênero textual e seus aspectos, através
do trabalho de Marcuschi (2002) e sua teoria sócio comunicativa dos gêneros.
O trabalho de Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari (1986) contribuiu ao
apresentar modelos estruturais do texto jornalístico, bem como a natureza

179
textual-linguística dos seus gêneros. Coimbra (1993), outro autor estudado,
aponta em seus trabalhos caminhos de análise e abre horizontes para
possibilidade nos estudos dos gêneros jornalístico, em específico o perfil
jornalístico. Verificou-se que, embora o gênero estudado guarde sua essência
de reportagem descritiva, ele passa a se comportar de outra forma no blog em
questão, revelando que os gêneros são dinâmicos e ao circularem em outros
suportes podem perder ou agregar características, nas especificadas da
estrutura, na economia das palavras, na produção de sentido, etc. configurando
uma nova forma de produção e recepção dos textos.

Palvras-chave: Gênero. Texto. Perfil jornalístico.

O PROFESSOR E O PODER EM MONTESSORI: ANÁLISE DISCURSIVA DE


TRECHO DE REPORTAGEM DE 1911 PUBLICADA NA REVISTA
MCCLURE’S
Gabriel Merched Salomão (USP)

Resumo: Nesta apresentação, expomos resultados preliminares de nossa


pesquisa de Mestrado em andamento, na qual analisamos, pela visada
discursiva de linha francesa (FOUCAULT, 1983, 2014; GRIGOLETTO, 2011)
discursos sobre Maria Montessori e a perspectiva pedagógica do método
Montessori na mídia escrita estadunidense. O corpus aqui pertinente consiste
em um excerto de reportagem publicada em 1911 pela revista
investigativa McClure's. O subtítulo do excerto é "Montessori Methods Of
Discipline" e ele consiste em uma paráfrase de um capítulo de um livro de
Montessori até então inédito nos Estados Unidos. O corpus foi analisado a
partir das noções de identidade (CORACINI, 2003), poder (FOUCAULT, 1983),
liberdade (idem) e memória discursiva (GRIGOLETTO, 2011). A pesquisa
encontra relevância em dois aspectos. Primeiro, a revista McClure's foi o
estopim da propagação do método Montessori nos Estados Unidos no começo
do século XX (KRAMER, 1988). Segundo, a análise que fazemos de textos
produzidos mais recentemente nos leva a crer que a compreensão da
enunciação de disciplina e liberdade em Montessori no começo do século XX
possa contribuir para maior elucidação de discursos de mesma temática no
começo deste século. Em nossa análise, buscamos compreender como se
construíram as identidades dos professores e as conceituações ideológicas
de liberdade e disciplina no corpus. Buscamos identificar como essas
conceituações se parecem, ou se igualam, às proposições que FOUCAULT
(1983) faria mais tarde sobre uma disciplina que não deve anular a liberdade
do sujeito e um poder que atua sobre a ação dos sujeitos. Como exemplo,
encontramos na análise desenvolvida, a noção de uma liberdade perfeita, que
teria como forma uma suposição de universalidade em comportamentos
humanos. Também, há a presença enunciada de tecnologias de controle

180
(idem) do alunato utilizadas por professores ao mesmo tempo identificados
como observadores e como responsáveis por sufocar e destruir ações inúteis
ou perigosas. Sabemos que ao longo dessa pesquisa encontraremos traços,
complementares e contrastantes, e esperamos compreender como ocorrem
essas construções e, possivelmente, a que ponto os enunciados de 1911 se
reatualizam em monumentos (FOUCAULT, 2014) muito mais recentes.

Palavras-chave: Montessori. Análise de Discurso. Métodos Montessoriano.

O PAPEL DA LINGUAGEM NA REPRESENTAÇÃO DO “EU” NAS REDES


SOCIAIS
Michele Cristina Ramos Gomes (UFJF)
Ana Cláudia Peters Salgado (UFJF)

Resumo: Este trabalho tem por objetivo refletir sobre o papel da linguagem na
representação do "eu" no mundo moderno com o advento das redes sociais.
Buscamos refletir de que forma as relações sociais são significadas e
atualizadas na internet, em especial no facebook, e qual o papel da linguagem
na representação do "eu" nesse contexto. Para isso, utilizamos o conceito de
identidade (BAUMAN, 2001); (HALL, 2006); (SILVA, 2009), uma vez que
refletimos de que modo as relações sociais são delineadas em relação aos
grupos que os indivíduos consideram ou não que fazem parte na rede. Além
disso, consideramos as perspectivas de cultura (CUCHE, 1999) e de língua
atrelada a poder (BOURDIEU, 1974), já que parece haver relações de poder
que envolvem a expressão pela linguagem na rede e cerceiam a interação
entre os usuários. Consideramos a linguagem, dessa forma, não como um
meio neutro de comunicação, mas sim como um conjunto de práticas
socialmente incorporadas nas quais certos tipos de discurso podem refletir e
formar identidades sociais (AHEARN, 2011). Para realização desta pesquisa,
também nos valemos do conceito de footing, criado por Goffman (1985), uma
vez que os internautas parecem assumir alinhamentos que são expressos na
maneira como conduzem as interações. Desse modo, através da análise de um
evento ocorrido no país, procuramos refletir de que forma os usuários
do facebook expressam suas opiniões, demarcando sua identidade e seus
posicionamentos culturais através da linguagem. Dentro dessa perspectiva, a
abordagem qualitativa foi empregada, de modo que realizamos um recorte
temporal dos dados que foram analisados. Esperamos, com este trabalho,
contribuir com a análise do papel da linguagem na representação do "eu" e,
desse modo, elaborar possíveis conclusões acerca de questões identitárias e
sociais.

Palavras-chave: Linguagem. Identidade. Redes Sociais.

181
O MANUAL DO PROFESSOR DE UM LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS: A
OBJETIVAÇÃO DE UM SUJEITO PROFESSOR
Wesley Luis Carvalhães (UFG-FAPEG)
Eliane Marquez da Fonseca Fernandes (UFG).

Resumo: O livro didático de português (LDP), ao lado do manual do professor


que o acompanha, é um instrumento frequente na atividade pedagógica do
professor da língua materna. Os manuais do professor nos LDP surgem a partir
da década de 1970 e, por meio de ações governamentais, fixam-se como parte
fundamental de qualquer obra didática. Nos LDP atuais, o manual do professor
é elaborado segundo o que prescrevem documentos oficiais, como os que
regulam o desenvolvimento do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).
Nesse sentido, o LDP e o manual que o acompanha são produzidos sob
condições de produção determinadas. A presente pesquisa, de caráter
bibliográfico-documental, objetiva analisar o manual do professor de um LDP
destinado ao trabalho com língua portuguesa no 9º ano do ensino fundamental.
Para a análise, o estudo baseia-se em contribuições teóricas dos estudos do
discurso, por meio da apropriação de noções teóricas de Foucault (2010, 2012,
2012b), especialmente aquelas ligadas ao eixo poder-saber e às discussões
sobre o modo como se ordenam os discursos. A pesquisa apoia-se também em
estudos sobre discurso e educação como os desenvolvidos por Paniago
(2005), Popkewitz (1995) e Veiga-Neto (2001). Como principais conclusões,
pode-se afirmar: a) que o manual do professor nos LDP configura-se como um
espaço no qual se travam relações de poder que tomam o professor como
alguém que precisa ser apoiado e conduzido em sua ação pedagógica; b) que
o manual do professor, no LDP analisado, é construído com base no que
prescrevem documentos oficiais sobre a elaboração de obras didáticas; nesse
sentido, inscreve-se em uma ordem do discurso sobre o livro didático que pode
instaurar práticas sociais definidas e formatadas.

Palavras-chave: Livro didático de português. Manual do professor. Sujeito


professor.

O ESTRANHO EM SI E A REVELAÇÃO DO OUTRO EM A PAIXÃO


SEGUNDO G.H., DE CLARICE LISPECTOR
Francisca Gilmara da Silva Almiro (E. M de Ensino Infantil e Fundamental
Agrimar Peixoto).

Resumo: A escrita clariceana vem inaugurar um novo modo de produção


literária. Com um caráter introspectivo e intimista, Clarice Lispector traz para o
cenário literário nacional inovações na linguagem, as quais se tornaram o
marco de seus escritos e inspiram a produção de traços inéditos que não mais

182
se baseiam nos moldes oitocentistas de produção. Nessa perspectiva,
objetivamos nesse trabalho realizar um estudo acerca do momento
espelhístico, de estranhamento que permite a narradora-personagem, G.H., se
construir ao longo da narrativa enquanto ser identitário na obra "A Paixão
Segundo G.H." Como subsídio teórico selecionamos autores com Gotlib (1995),
Hall (2006), Maffesoli (2001), Sá (1993), Kristeva (1994), dentre outros que
tratam das personagens clariceanas e da construção nômade do ser humano.
Ao longo da narrativa, G.H. vai ao deserto quarto da empregada e lá busca a
fonte que saciaria sua sede existencial. No mesmo ambiente, encontra-se com
uma barata da qual bebe seu líquido branco. Esse fato desencadeia uma série
de inferências, tais como o instante epifânico de transformação humana ao
espelhar-se num inseto; o estranhamento e o nomadismo na busca pela
identidade em meio ao reconhecimento de si; e a construção da alteridade, um
espelhar-se no outro que refrata e reflete traços do ser. Para a concretização
deste estudo, realizamos pesquisa bibliográfica acerca dos principais teóricos
que discutem o nomadismo e a estrangeiridade que constituem a identidade do
ser humano na pós-modernidade, bem como análise dos escritos clariceanos.
Pela paixão narrada por G.H., chegamos mais perto da introspecção, do
monólogo interior, do intimismo, do fluxo de consciência, da crise de identidade
e do estranho que há em nós mesmos.

Palavras-chave: Clarice Lispector. Identidade. Estranhamento.

IDENTIDADES CULTURAIS: UMA BREVE REFLEXÃO NA PÓS-


MODERNIDADE
Sheila da Silva Monte (E.M PROFª ALZELINA DE SENA VALENÇA)
Kéfora Janaína de Medeiros (IFRN).

Resumo: Na dinâmica da vida social, podemos observar que o ser humano


está cada vez mais inserido em um mundo globalizado, onde muitos estão
buscando um grupo a que devem pertencer, mesmo que esse grupo seja
momentâneo, fluido. Atualmente, podemos perceber que as mudanças
ocorridas foram muitas, uma vez que o processo de globalização estabeleceu
um deslocamento das identidades culturais nacionais, o que implicou um
movimento de distanciamento da ideia clássica de sociedade como sistema
bem delimitado, padronizado. As identidades são tanto uma questão
de ser quanto de se tornar, tendo em vista que pertencem ao passado, mas
também ao futuro. Não é algo que já exista, transcendendo a lugar, tempo,
cultura e história. Essas identidades culturais nada mais são do que os nomes
que aplicamos às diferentes maneiras que nos posicionam e pelas quais nos
posicionamos e, sendo assim, elas têm histórias e sofrem constantes
transformações, uma vez que não são fixas. Desse modo, está ocorrendo uma
reconfiguração de sujeitos dentro da nova sociedade globalizada, uma vez que

183
se tornou necessário pensá-los em sua nova posição, seja ela deslocada ou
descentrada. Conforme Bauman (2005), a identificação se torna cada vez mais
importante para os sujeitos que buscam desesperadamente um nós a que
possam pedir acesso. As novas relações começam a interferir em nossas
construções cotidianas, nossas práticas sociais, como forma de entendimento
do mundo. Com isso, as identidades, antes consideradas seguras e estáveis,
começam a fragmentar-se. Nesse contexto, o objetivo deste artigo é o de fazer
uma reflexão acerca das identidades culturais nesse indubitável mundo
globalizado, pós-moderno, líquido, no qual estamos inseridos, e, para tanto,
respaldamo-nos nos estudos de Hall (1996, 2001, 2012), Bauman (2001,
2005), dentre outros, que corroboram com a questão das identidades nesse
novo contexto social.

Palavras-chave: Identidade cultural. Práticas discursivas. Globalização.

IDENTIDADES (DES)COLONIAIS NAS PRÁTICAS DE LETRAMENTOS DA


POPULAÇÃO CAMPONESA
Antonio Oziêlton de Brito Sousa (UECE)
Claudiana Nogueira de Alencar (UECE)
Paulo Martins Pio (SEDUC-FOR)
Joyce Costa Gomes de Santana (12ª CREDE-QUIXADÁ)

Resumo: Este trabalho é resultado de uma pesquisa que visou à analise de


como ocorrem os processos de construção de identidades dos moradores do
campo a partir das práticas linguísticas educacionais, considerando o
letramento como uma interface entre linguagem e (des)colonialidade no
Projovem Campo - Saberes da Terra. Questionamos como se dão os
processos de construção de identidades dos moradores do campo a partir das
práticas linguísticas educacionais. Para esse fim, delimitamos para análise
um corpus constituído por trechos do Projeto Base do Projovem e uma
ampliação etnográfica. Desenvolvemos uma pesquisa conduzida pelo
programa de estudos linguísticos críticos elaborado e difundido por Fairclough
(2001, 2003) e Chouliaraki e Fairclough (1999). Buscamos aliar uma
compreensão sobre Educação do Campo aos Letramentos Críticos, à Análise
de Discurso Crítica (ADC), às Identidades e à Descolonialidade. Consideramos
a atuação simultânea e dialética dos três tipos de significados - acional,
representacional e identificacional - os quais estão relacionados às dimensões
constituintes do discurso - texto, prática social e prática discursiva
(FAIRCLOUGH 2001,2003). Os dados gerados indicam que os diversos
sentidos construídos para os sujeitos do campo fazem com que a identidade do
camponês seja múltipla, não temos um perfil identitário homogêneo para os
moradores e moradoras do campo. Identificamos na análise tanto a presença
de identidades legitimadoras, através das práticas alienadoras, quanto as

184
identidades de resistência, criadas pelos próprios camponeses diante das
contradições. Os processos de letramentos vivenciados nas práticas
educacionais desenvolvidas no Projovem se materializaram tanto como
representativas do modelo ideológico quanto do modelo autônomo, temos,
assim, um espaço de disputas, onde os letramentos têm contribuído com os
processos de opressão e libertação, colonialidade e descolonialidade. Portanto,
embora o Projovem seja construído com base em diversas experiências dos
povos do campo não chega a construir um processo emancipatório ou
libertador semelhante ao que Freire postula, mas se constitui como uma
iniciativa de mediação, na medida em que oferece as condições necessárias
para que os sujeitos reflitam sobre a realidade em que estão inseridos.

Palavras-chave: Discurso. Identidades. (Des)colonialidade.

IDENTIFICAÇÕES DOS SUJEITOS DE ENSINO CONSTRUÍDAS NOS


DISCURSOS DAS NOTÍCIAS
Silvanya Suellem de Lima Romeu (Rede Pública Municipal de Caruaru).

Resumo: A proposta deste estudo parte do princípio de que a linguagem é


constitutiva do sujeito. Heterogênea e multifacetada, ela é a mediação
necessária entre o homem e a realidade social, o que possibilita diferentes
maneiras de significar. Nos discursos midiáticos, a linguagem tem influência
sobre o comportamento humano e o discurso transmitido por ela, carrega
consigo valores que constituem parte da visão de mundo que ele faz circular. É
na e pela linguagem que determinados valores são transmitidos e propagados
pelo discurso. Nesse sentido, observamos a mídia como uma das maiores
produtoras de identidades para os sujeitos sociais, mostrando-se como terreno
fecundo para representar modelos sociais desses sujeitos. Assim, o presente
estudo tem como objetivo analisar os discursos acerca dos sujeitos de ensino
produzidos nas materialidades jornalísticas. Para isso, nos dispomos a analisar
a produção e circulação dos efeitos de sentido, bem como as relações de
poder e as vontades de verdade sobre a identificação dos sujeitos professor e
aluno construídas no gênero notícia. Analisamos as materialidades que tratam
dos sujeitos de ensino em sua relação com as temáticas de greve e de
violência. Esses temas constituem uma rede discursiva que remete à desordem
causada por professores e ao perigo de ser professor na atualidade. As
notícias evidenciam os modos pelos quais os sujeitos de ensino se comportam,
intensificando as identidades de vítima e de agressor, tanto para o aluno
quanto para o professor. Nossas análises estão pautadas na perspectiva
teórica dos Estudos Culturais e da Analise de Discurso de vertente francesa, na
literatura de Stuart Hall (2006), Orlandi (2008, 2009), Fernandes (2008) e
Gregolin (2006), principalmente, nos estudos foucaultianos (2004c, 2009, 2010,
2011). Por este norte teórico, metodológico e analítico, esperamos contribuir

185
com as discussões acerca dos estudos da linguagem e do campo dos estudos
identitários.

Palavras-chave: notícia, discurso, sentido, identificação, sujeitos de ensino.

IDENTIDADES EM DISPUTA: ENTRE SER “MORENO” E SER “NEGRO”,


QUANDO A PALAVRA NEGRO/A OFENDE MÍDIA IMPRESSA
Diltino Livramento Moniz Ferreira (UECE)
Marco Antonio Lima do Bonfim (UECE)
Dina Martins Ferreira (UECE)

Resumo: Este trabalho teve por objetivo analisar discursivamente a


representação das identidades negras a fim de problematizar a diversidade da
nação brasileira no que diz respeito à recriação das identidades sociais
provocadas por relações étnico-raciais no contexto do discurso da imprensa
brasileira. De forma específica, investigamos como o negro/a brasileiro/a é
representado discursivamente na imprensa cearense (Diário do Nordeste).
Para tanto, utilizamos em termos de fundamentação teórica, a Análise de
Discurso Crítica, elaborada por Norman Fairclough (1999, 2001, 2003) que
concebe o discurso num modelo tridimensional e vê o evento discursivo como
texto, prática discursiva e prática social, simultaneamente bem como as
reflexões de Hall (2000, 2003), Munanga (2010) e Muniz (2009) a respeito da
representação discursiva da negritude no Brasil. Percebemos, através da
análise discursiva de nomeações e designações utilizadas pela mídia imprensa
cearense, que o/a negro/a neste estado é representado de maneiras
multifacetadas e hieraquizadas corroborando posições de exclusão deste
sujeito social nas formas de vida cearenses. Temos a (re)produção do/a
"moreno"/a, do/a afrodescendente, etc, que entram em conflito com a
identidade negra (" o negro") que é entendida pela mídia local e pelo senso
comum como ofensiva. Concluímos que é perigoso essencializar identidades
sociais, principalmente, as relativas ao negro, à negra, pois esta posição acaba
dificultando a luta deste segmento por seus direitos.

Palavras-chave: Representação discursiva. Identidade negra. Mídia.

IDENTIDADES EM RESISTÊNCIA: UMA DISCUSSÃO SOBRE O


ENCARCERAMENTO E A IDENTIDADE CULTURAL DO SUJEITO
Judsonia Pereira dos Santos Curte (CEFET-MG)
Silvani dos Santos Valentim

186
Resumo: Esse artigo é uma reflexão sobre o encarceramento e seus impactos
sobre a identidade cultural dos indivíduos que são privados de liberdade. Ele
analisa o depoimento dos indivíduos presos sobre suas experiências
vivenciadas durante o encarceramento que influenciaram sua identidade
cultural. Para tanto foi utilizada uma abordagem qualitativa e realizou-se um
grupo focal com seis presos do sexo masculino, com idades entre 28 e 66
anos, que cumprem pena privativa de liberdade, em regime fechado, em uma
Unidade Prisional da Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Minas
Gerais. Esta amostra é conveniente[1] e foi selecionada com base no tempo de
encarceramento a que esses presos estão submetidos. Este tempo varia de
vinte e cinco anos a um ano e dois meses de prisão. Foram feitas quatro
perguntas básicas a estes presos: (1) como era sua vida antes da prisão? (2)
No seu estilo pessoal de vida o que mudou com a prisão? (3) O que mais o
incomodou depois de ser preso, no que tange o encarceramento? Como você
vê ou interpreta as normas e regras da prisão? Foi realizada também uma
pesquisa documental de autores que transitam sobre o tema como Stuart Hall
(2006), Erving Goffmam (1999) e Michel Foucault (2011). O artigo inicia pelo
olhar de Stuart Hall na desconstrução da idéia de uma identidade única. Pelo
contrário, surge multifacetada e fragmentada em muitas outras identidades.
Contraditórias, concordantes, incompletas e em constante transmutação. Em
contra partida a tais mudanças, surge uma nova identidade para contrapor a
essa explosão de liberdade: a identidade institucional, cujo principal objetivo é
manter a dominação e exercer o poder pela vigilância. Nesse artigo destaca-se
o exercício desse poder em uma instituição específica - a prisão. E por fim,
apresenta-se o resultado da pesquisa realizada com o grupo focal, buscando
construir uma discussão sobre as experiências encontrada a luz da reflexão
teórica apresentada. A principal descoberta é o surgimento de uma nova
identidade como resistência ao encarceramento.

Palavras-chave: Identidade cultural. Disciplinamento. Prisão.

INDÍCIOS DE AUTORIA E MARCAS IDENTITÁRIAS EM TEXTOS NOTA MIL


DO EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO (ENEM)
Maristela Rabaiolli (UNIRITTER)

Resumo: Desde 1998, ano de sua primeira versão, o Exame Nacional do


Ensino Médio (Enem), tem se consolidado como um dos principais
instrumentos de avaliação da educação básica. Avaliar a aprendizagem não é
uma preocupação apenas dos professores, mas também do Ministério da
Educação que, de posse dos dados, pode construir estratégias para superar os
desafios relativos à qualidade da educação. Uma dessas avaliações diz
respeito ao nível de proficiência dos estudantes em leitura e escrita,
habilidades que o Enem também avalia quando solicita, por exemplo, a escrita

187
de uma redação. Um dos critérios utilizados para avaliar as redações, e
explicitado no manual do candidato, relaciona-se à construção autoral. Assim, a
capacidade do candidato de exercer uma autoria na redação, posicionando-se
frente aos temas propostos é testada. Diante desse contexto, a presente
dissertação objetiva investigar os indícios de autoria e as marcas identitárias
presentes em redações nota mil dos candidatos participantes do Enem. Para a
referida investigação, são utilizadas dez redações do concurso 2014 que
obtiveram nota máxima e foram publicadas na internet por seus próprios
autores. Para discutir as questões autorais são usados os estudos de Michel
Foucault, Roland Barthes, Mikhail Bakhtin e também obras de autores
brasileiros como Maria José Coracini, Sirio Possenti e outros estudiosos que se
debruçam sobre o tema. Da mesma forma, para tratar das questões identitárias
são utilizados os estudos de Stuart Hall, de Eni Orlandi e de outros autores.
Além disso, propõe-se uma matriz de avaliação inovadora cujos critérios
contemplam também alguns indícios de autoria.

Palavras-chave: Autoria. Identidade. Avaliação.

LEITURA: A INTERFACE PEDAGÓGICA NO MATERIAL DIDÁTICO DA EJA


NO CAMPO PELO VIÉS DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA
Maria D'ajuda Alomba Ribeiro (UESC)
Alane Batista dos Santos (UESC)

Resumo: Os sujeitos da Educação de Jovens e Adultos no Campo voltam aos


bancos escolares motivados por necessidades diversas, como inserção ou por
melhores colocações no mercado de trabalho. Apesar da pouca escolaridade
estes educandos vivem em um ambiente letrado e possuem experiências
diversas de leitura. Nessa concepção é que nesta pesquisa investigamos em
que medida o livro didático EJA-Moderna materializa as estratégias de leitura e
de exercícios para os alunos e qual a potencialidade funcional desses
procedimentos para a construção de saberes com/pelos alunos a que se
destinam. Para tanto, realizamos uma pesquisa pautada na perspectiva
educacional de FREIRE (2000, 2005), na perspectiva sócio-histórica de
VYGOTSKY (1998, 2001) e para o estudo da leitura adotamos os preceitos de
SOLÉ (1998); KLEIMAN (1999); LEFFA (1996). O enfoque teórico-
metodológico baseia-se na pesquisa qualitativa de cunho etnográfico GEERTZ
(1998), nas proposições do PNLD para a análise crítica dos textos da obra em
questão. Delimitamos para este estudo o livro do 9º Ano da Coleção EJA-
Moderna (2013), obra coletiva, organizada e distribuída pela Editora Moderna
e, na qual buscamos identificar quais estratégias foram utilizadas para o
desenvolvimento de habilidades e competências a partir das leituras e das
atividades de compreensão leitora no livro da supracitada coleção. Em seguida,
apresentamos uma proposta de ensino pautada em sequências didáticas

188
aplicadas à leitura como um instrumento metodológico de mediação
pedagógica para docentes da área de Língua Portuguesa, uma vez que
consideramos esta atividade um importante meio de aquisição de
conhecimento e desenvolvimento da compreensão leitora.

Palavras-chave: Leitura. Mediação. EJA no campo.

LEITURA E ESCRITA NA EJA, RESSIGNIFICANDO O TRABALHO


ATRAVÉS DE SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS
Alane Batista Dos Santos (UESC)

Resumo: O trabalho com a leitura e a escrita é na verdade, o centro das


práticas educativas em nossas escolas. No entanto, temos visto muitas vezes,
o trabalho docente acabar por legitimar o fracasso do aluno à medida que não
consegue "alcançar" o objetivo maior que é letrar, promovendo a integração
social do aprendiz ao meio em que vive. Este artigo objetiva promover ações
educativas que favoreçam o desenvolvimento da competência leitora e escrita
nas turmas de EJA, pautada em sequência didática, nas experiências
adquiridas ao longo de anos de exercício docente nesta modalidade de ensino
e nos pressupostos teóricos observados em Bazerman (2007); Kleiman (1989).
Para desenvolvermos este estudo partimos do trabalho com sequência didática
proposto por Dolz e Schneuwly (2004) onde os autores realizam uma releitura
do interacionismo sociodiscursivo proposto por Bronckart (1999) e que servirá
para determinar a metodologia aqui utilizada. É importante lembrar que o
domínio da leitura e da escrita torna-se requisito essencial para a aquisição de
novas aprendizagens e é imprescindível para a inserção social desses sujeitos
aprendizes no mundo letrado, pois se o aluno for capaz de reconhecer e
produzir diferentes gêneros, ele aumentará seu nível de letramento e,
consequentemente, irá dominar outros em diferentes situações comunicativas.

Palavras-chave: Leitura. EJA. Sequência didática.

LÍNGUA, CULTURA E IDENTIDADE EM COMUNIDADE MULTILÍNGUE E


MULTICULTURAL: O CONTEXTO DE WALACHAI
Ângela Kroetz dos Santos (UNIRI)
Valeria Silveira Brisolara (UNIRI)

Resumo: As comunidades de imigrantes alemães fundadas em várias regiões


brasileiras a partir do início do século XIX são marcadas por traços que
mesclam características das culturas brasileira e alemã, a ponto de serem
visualizadas e de se autocompreenderem como grupos distintos. Muitas delas
vivem em contextos de entre-línguas e entre-culturas, situação que traz marcas

189
definitivas para a sua constituição. Com base em tal realidade, objetiva-se
problematizar, nesta pesquisa, a construção identitária dos habitantes de uma
dessas comunidades de colonização alemã, processo que é forjado na tensão
que se estabelece nesses contextos interlinguísticos e interculturais que são
resultado, em grande parte, da globalização e de seus desdobramentos. As
diversas culturas são, assim, produto de hibridização cultural e linguística, de
modo que se pode afirmar que são formadas pela alteridade, caracterizando-se
por ser resultado de vários "dizeres" e de múltiplas "vozes". A pesquisa em
questão centra-se em uma representação fílmica da localidade de Walachai,
povoado fundado em 1829 por imigrantes alemães e ainda hoje habitado por
descendentes desses colonizadores. Dessa forma, a análise é realizada com
base no documentário Walachai (2009), obra cinematográfica brasileira dirigida
e roteirizada por Rejane Zilles, que recolhe impressões dos descendentes de
imigrantes que ainda vivem no distrito a respeito da vida, do tempo, da língua,
da cultura e da identidade, de modo a instigar o estudo do plurilinguismo
dialógico e intercultural que se estabelece nos enunciados postulados. A
realidade de vivência entre-línguas e entre-culturas experienciada pela
comunidade teuto-brasileira em questão justifica o trabalho analítico que leva
em consideração as falas dos habitantes do lugar. Assim, como procedimento
metodológico, efetua-se uma análise dos discursos registrados no
documentário, a fim de se evidenciarem marcas culturais e traços identitários
construídos por fenômenos como hibridismo, multilinguismo e plurilinguismo.

Palavras-chave: Língua. Cultura. Identidade.

LÍNGUA E CORPO: ENUNCIAÇÃO E SISTEMA AFETIVO


Renata Severo (IFRS)

Resumo: A reflexão que apresentamos aqui faz parte da nossa tese de


doutorado, que se encontra em produção. Nela, observamos a enunciação
produzida por sujeitos definidos em sua relação com religiões afro-gaúchas
(ORO, 2008). O que denominamos "enunciação do sagrado" diz respeito a uma
enunciação que não se restringe à língua, mas que coloca em evidência outros
sistemas semiológicos. Nesse artigo, justificaremos de forma sucinta nossa
proposta de alargamento da ideia de enunciação - não apenas a língua
transformada em discurso por meio de um locutor, mas uma integração de
sistemas em prol da significação; abordaremos um sistema semiológico que
consideramos imprescindível na enunciação do sagrado: o afetivo; e falaremos
sobre voz, o elo entre língua e afetividade. É à significação que precisamos
relacionar a linguagem para que possamos perceber que a enunciação não
está restrita à língua. Em nossa perspectiva, o querer significar a que
corresponde o intentado é o que desencadeia a enunciação e coloca em
movimento modos de significar que se complementam e se informam

190
mutuamente, dos quais a língua é apenas o principal, não o único. Em virtude
de um intentado, sobre o tecido significativo da instância de discurso, instaura-
se a categoria da pessoa e, com ela, a intersubjetividade, por meio de uma
semantização que não é exclusiva da língua. O sujeito se vale de sistemas
semiológicos cuja materialidade é expressa pelo/no corpo, seja com a voz, com
o olhar, com gestos ou com formas ainda mais sutis e específicas de
determinada enunciação - o balanço do corpo, sua vibração, por exemplo.
Partimos dos textos de Émile Benveniste (2005; 2006; 2011; 2012) que dão
corpo à teoria da enunciação e encontramos nos estudos de David Le Breton
(1992; 1998; 2004; 2011) a reflexão que nos permite construir um arcabouço
teórico que nos auxilia a compreender o que está para além da língua na
enunciação do sagrado.

Palavras-chave: Enunciação. Corpo. Semiologia.

LINGUAGEM E CULTURA, OU DAS PALAVRAS DE ORDEM ENQUANTO


PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADE CAPITALÍSTICA
Jony Kellson de Castro Silva (UFC)

Resumo: Considerando a relação existente entre linguagem e produção de


subjetividade, este trabalho traça uma produção de subjetividade capitalística
que se faz quando o conceito de cultura permeia os processos linguajeiros de
subjetivação. Para tanto, apoia-se na perspectiva de uma linguagem que dá
ordem à vida, a partir de palavras de ordem como variações de agenciamentos
e atos de fala atribuídos a corpos, expressando sentidos de morte ou de fuga
(DELEUZE; GUATTARI, 2011). Uma política da língua, uma pragmática, em
que a sentença de morte, quando aceita pelo corpo, configura a este uma
organização, uma significação e uma subjetivação. Como um modo de
subjetivação, a subjetividade capitalística (GUATTARI; ROLNIK, 1996) se serve
do termo cultura - englobado em seus três sentidos (cultura-valor, cultura-alma
coletiva e cultura-mercadoria) - para se apresentar como mais-valia de poder,
aliando-se ao capital, à mais-valia econômica. Assim, mapeamos palavras de
ordem expressas a um corpo que, fixadas em pontos de subjetivação baseados
por uma cultura, processualizam produção de subjetividade capitalística. O
corpo nesta cartografia é o geek, construído subjetivamente como o nerd (ou
não) contemporâneo, apto socialmente, aficionado por tecnologia e/ou por
cultura pop - alguns de seus pontos de subjetivação. Este mapeamento se fez
em jogos de linguagem (WITTGENSTEIN, 1999) propiciados pela Rede Geek,
um site com podcasts, vídeos, blog e outros conteúdos que agenciam uma
subjetivação geek. Desse modo, por um mapeamento intensivo, tem-se uma
produção de subjetividade capitalística geek devinda com palavras de ordem,
quando sentenciam morte ao um corpo, organizando, significando e

191
subjetivando-o à mais-valia de poder, que toma conta da subjetividade e a
transforma em produto, em identidade.

Palavras-chave: Palavras de ordem. Cultura. Subjetividade capitalística.

LINGUAGEM KEIGO (敬語) – RELAÇÕES COM O USO DA LINGUAGEM


FORMAL JAPONESA COM A CULTURA
Janaina Farias de Melo (UFC)
Veriana de Fátima Rodrigues Colaço (UFC)

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo discutir o uso da linguagem


honorífica japonesa (敬語) e sua relação com a cultura e com os conceitos
bakhtinianos de dialogismo, polifonia e alteridade constitutiva. Partimos aqui do
pressuposto de que a linguagem é social e dialógica, sendo os discursos
produtos e produtores das relações sociais, e é por meio dela que
compreendemos e significamos o mundo e as coisas. A cultura japonesa é bem
marcada por tradições e delimitações hierárquicas, o que aparece claramente
também no uso de sua língua oficial. O japonês se destaca da maioria dos
idiomas, não apenas pela utilização de seus alfabetos diferenciados (hiragana,
katakana e kanji), mas também por seu sistema léxico gramatical possuir
diferentes graus de cortesia, utilizados conforme o nível de intimidade e
hierarquia entre aqueles que se comunicam. Então, buscou-se uma articulação
teórica com os conceitos bakhtinianos, na perspectiva de compreender essa
interrelação entre a língua e a cultura japonesa. Tratou-se de uma pesquisa
documental, baseada em material didático utilizado nos cursos de língua
japonesa, em bibliografias específicas sobre a linguagem honorífica nipônica e
em blogs relacionados a experiências de convívio com a cultura, e blogs sobre
a utilização da linguagem formal nipônica no cotidiano. Concluímos que o uso
do keigo (敬語) expressa de forma explícita as demarcações sociais e,
portanto, demonstra como a cultura e as relações sociais estão presentes na
linguagem, na forma como a utilizamos e para quem a destinamos, o que
reafirma a concepção de linguagem como constitutiva e constituinte da cultura.

Palavras-chave: Cultura. Linguagem. Keigo.

MEDICALIZAÇÃO E TECNOLOGIA: UMA ANÁLISE SOBRE OS


PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO CONTEMPORÂNEOS
Jurema Barros Dantas (UFC)

192
Resumo: A medicalização da sociedade é um fenômeno que tem sido
sinalizado por vários autores desde o século XIX, quando o saber científico se
espalhava pelos vários domínios sociais. Mas foi a partir da década de 1940,
com a introdução dos psicofármacos, que este fenômeno se tornou cada vez
mais intrusivo na vida cotidiana. A discussão que se pretende aqui diz respeito
ao processo de medicalização da existência na contemporaneidade, tomando
como base analisadora uma fenomenologia dos discursos desta medicalização
na forma de tecnificação do viver cotidiano. Ao pensar a relação entre
medicamento e tecnologia queremos problematizar o aprisionamento quase
total da vida nas malhas de uma lógica técnica que pretende entender a
existência humana por princípios deterministas. Percebemos que o homem
moderno parece estabelecer com a técnica uma relação instrumental e utilitária
em busca não apenas de um viver satisfatório, mas, essencialmente, de uma
solução para quase todos os seus problemas. Há a implicação de uma prática
social, que por meio de todo um aparato tecnológico, tem transformado a vida
cotidiana num problema médico-farmacológico e é esta prática que
pretendemos compreender. Trata-se de pensar o fenômeno da medicalização
como um operador do poder (Foucault, 1977), como uma estratégia e uma
forma de assujeitamento. Um fenômeno produtor de tecnologias que operam
nos corpos como estratégias de controle legitimadas político e socialmente por
estarem acopladas aos modos de subjetivação contemporâneos. Na condição
de uma das principais tecnologias contemporâneas de cuidado, o consumo de
psicofármacos aparece associado à instalação de uma eficaz química no
organismo e emerge como um veículo de acesso à saúde. Parece haver um
processo perverso onde o consumo de substâncias, ou melhor, de pílulas cada
vez mais diversificadas, torna-se uma forma de produzir equivalências às
noções atribuídas à saúde e uma forma de gerar pertencimentos de
normalização legitimados socialmente. Assim, compreender os efeitos
agenciadores do fenômeno da medicalização nos modos de subjetivação
contemporâneos implica em entender como se atualizam as estratégias
biopolíticas que instauram uma normalidade medicalizada, na qual a expressão
de qualquer sofrimento não se torna objeto de reflexão e busca de construção
de outras formas de ser, mas sim de um entorpecimento das emoções.

Palavras-chave: Medicalização. Tecnologia. Biopolítica.

O DISCURSO RELIGIOSO E A RELAÇÃO ENTRE LÍNGUA E IDEOLOGIA:


UMA ABORDAGEM DA DESIGNAÇÃO DADA AO PAPA FRANCISCO
PELAS CAPAS E EDIÇÕES ESPECIAIS DA REVISTA VEJA
Anderson Nascimento dos Santos (UFPI)

Resumo: Tenciona-se com este estudo analisar a construção da imagem do


papa Francisco através dos discursos das capas e edições especiais da revista

193
Veja, buscando compreender a produção de sentidos e as estratégias
construídas, pelas quais a Veja designa o papa Francisco como o papa dos
pobres comparando-o com os seus antecessores. Analisar-se-á a construção
do discurso através da imagem que se pretende passar sobre o papa
Francisco, sobretudo pelo contexto sociodiscursivo através da formulação de
um dado momento e de dadas situações em que o discurso foi veiculado pela
revista. Será, portanto analisada de que forma a Veja tem contribuído para a
construção da imagem do papa Francisco pelo imaginário construído
correlacionado aos sentidos que os dizeres o caracterizam. Como base para
este estudo Bakhtin (2000) explica que as diversas esferas das atividades
humanas estão ligadas ao uso da linguagem, a concepção de Orlandi (2005)
toma a linguagem como mediadora indispensável entre o homem e o meio
social e natural em que vive e afirma que o discurso é o lugar em que se pode
observar a relação entre língua e ideologia Peirce (1977) diz que o signo
exerce uma representatividade na realidade natural e social e Aumont (1993)
diz que toda imagem tem suporte material, afirmando que toda imagem é
também um objeto, portanto está carregado de sentidos. Pretende-se
comprovar que a produção de sentidos e a imagem repassada pela Veja sobre
o papa Francisco busca categoriza-lo como o papa dos pobres, designando-o
como um papa diferente e mais próximo de todos, portanto exerce um papel
privilegiado de influencia que através das suas praticas religiosas arraigadas
em sua pregação faz tornar-se um referente pela fidedignidade do seu
discurso.

Palavras-chave: Discurso. Papa Francisco. Revista Veja.

O DISCURSO POLÍTICO NA REVISTA VEJA ACERCA DO SEGUNDO


TURNO DAS ELEIÇÕES 2014
Ana Paula Carvalho Diniz (UFPI)
Francisco Laerte Juvêncio Magalhães (UFPI)

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar como a imagem dos
candidatos à presidência da república brasileira foi construída durante o
segundo turno das eleições de 2014 pela revista Veja. Para isto, foram usadas
as três edições semanais do mês de outubro após a votação do primeiro turno
e uma antecipada do mês de novembro, totalizando quatro capas, onde
pudemos perceber marcas enunciativas que demonstram uma posição parcial
em relação à construção da imagem dos sujeitos evidenciados. Adotamos o
método de Análise do Discurso Crítica, pois ela permite compreender a
linguagem segundo as suas práticas sociais, usando autores como: Fairclough
(2003), Bakhtin (1997), bem como Resende & Ramalho (2011) e Magalhães
(2003). Utilizamos intertextualidade e representação de atores sociais como
categorias analíticas. A partir da análise crítica através das categorias

194
utilizadas, levando em consideração as discussões sobre a imagem como
possibilidade de sentido e o lugar do jornalismo na fabricação de comentário
político, podemos perceber marcas enunciativas na revista Veja no período do
segundo turno das eleições presidenciais de 2014 a partir de suas capas, uma
posição parcial em relação à construção da imagem dos sujeitos evidenciados.
Através da Análise do Discurso Crítica, que se interessa sempre pelas relações
de poder e de dominação, observando o modo como atuam discursivamente
em suas estratégias de produção de consenso, o que, particulariza um e outro,
opondo-os discursivamente e definindo seus lugares na rede social do sentido,
percebe-se uma preferência pelo candidato Aécio Neves, evidenciada pela
maneira pela qual se dá a ordem do discurso vigente na capa das revistas
veiculadas durante o processo de campanha, supondo que tem o intuito de
influenciar eleitores para optar pelo candidato pelo qual a revista apresenta
positivamente. Através da categoria de identificação de atores sociais em
textos, pode-se dizer que a identidade da candidata Dilma Rousseff foi
construída negativamente, pois é trazida à tona a partir da representação de
seu partido associado à corrupção a partir caso da Petrobras, que foi exposto
repetidas vezes junto ao nome do partido político representado pela candidata.
A repetição do tema credita o interesse da revista em dar a voz ao assunto,
mesmo que seja através de depoimentos de apenas dois personagens. E
assim, pode formar uma opinião coletiva sobre determinado tema a partir da
interpretação de seus leitores. Independente das ideologias políticas que
constituem os sujeitos que fazem a revista, o papel do jornalismo nesta época
decisiva é buscar dar a informação buscando imparcialidade e deixar com que
seus leitores tirem suas próprias conclusões.

Palavras-chave: Discurso. Política. Eleições.

O DISCURSO EM FOUCAULT
Maria Adriana de Souza (UERN)
Gessione Morais Da Silva (UERN)
Cícera Alves Agostinho de Sá (UERN)

Resumo: O presente artigo tem por objetivo discorrer sobre os conceitos


acerca da teoria do discurso em Michel Foucault, especialmente sobre o
sujeito, enunciado, formação discursiva e discurso, que contribuem para se
compreender com maior densidade a noção do discurso nas análises desse
pensador. Analisa, ainda, a relação entre discurso e poder como elemento
basilar e fundamental para se compreender a constituição dos discursos na
sociedade. Por fim, afirma-se que o pensamento de Foucault é indispensável
para se compreender a relação poder e saber como base para a função do
sujeito na produção discursiva As condições de produção que constituem os
discursos funcionam de acordo com certos fatores. Um deles é o que

195
chamamos relação de sentido. Segundo esta noção, não há discurso que não
se relacione com outros. Dessa forma, os sentidos resultam de relações e o
discurso passa a ser múltiplo porque traz marcas de vários outros e está
interpelado por todas as instâncias sociais, fazendo com que os efeitos de
sentido variem de acordo com o contexto histórico que nos inserimos. A
contribuição de Foucault para a Análise do Discurso é fundamental ao
demonstrar a importância e função do discurso nos processos de comunicação.
De um estilo literário instigante, o autor analisa conceitos que são pertinentes à
compreensão do discurso. Para ele, as formulações discursivas, os processos
interacionais entre os interlocutores e o contexto de enunciação entram como
elementos basilares na constituição de um processo comunicacional. Além de
Foucault, utilizamos as concepções de Orlandi como uma autora secundária
que trás suas contribuições teóricas para o artigo. O objetivo deste artigo é
apresentar elementos para uma discussão teórica sobre o conceito de discurso
em Foucault, bem como uma respectiva contribuição para possíveis reflexões
acerca da temática. Serão discutidos, aqui, conceitos como sujeito, enunciado,
formação discursiva, relação poder/conhecimento e interdiscurso para
chegarmos à noção de discurso apresentada por Foucault.

Palavras-chave: Foucault. Discurso. Sujeito.

O DISCURSO DA SAUDABILIDADE NA PUBLICIDADE DOS ALIMENTOS


INDUSTRIALIZADOS: UMA ANÁLISE DA CAMPANHA PUBLICITÁRIA DA
MARCA DEL VALLE “O SEGREDO É CARINHO”
Virginia Albuquerque Patrocínio Alves (ESPM)
Marcia Perencin Tondato (ESPM-SP)

Resumo: Aspectos característicos da contemporaneidade, como os avanços


da tecnologia, a pulverização da informação e o maior acesso aos meios de
comunicação, se inserem em nosso cotidiano trazendo práticas e
comportamentos que modificam nossas relações com o consumo de produtos.
Devido à crescente industrialização de alimentos no começo do século XXI,
surgiu um movimento discursivo contrário ao argumento da facilitação das
tarefas domésticas: o de alimentos saudáveis. Com isso, a publicidade de
alimentos tidos como prejudiciais à saúde ou inadequados a uma dieta
equilibrada e saudável readequou seu discurso comunicativo, explorando a
questão da saudabilidade como forma de mantê-los nas relações de consumo.
Diante disso, refletimos sobre esse processo de subjetivação para
compreender de que forma o discurso publicitário utiliza-se de uma estratégia
de retorno à natureza e aproximação familiar para ressignificar o consumo de
alimentos industrializados. Para isso, analisamos a campanha publicitária da
marca Del Valle sob o slogan "O segredo é carinho", que se apropria do
discurso identitário que envolve o estereótipo de mãe como provedora de afeto

196
para os filhos e cuidados com a família, associando tal identidade ao processo
de fabricação de seus produtos, sucos de fruta, destacando associações entre
as características da relação mãe e filhos e o discurso da saudabilidade,
utilizando argumentos como "100% suco, sem conservantes e só com açúcares
da fruta, tudo que você sempre quis em uma caixinha". Para melhor
caracterizar os estereótipos utilizados, serão também analisados blogs com
conteúdos voltados para o perfil identitário de mães, como "Macetes de mãe",
"Mil dicas de mãe" e "De mãe para mamãe". Conduziremos nossos olhares a
partir das imbricações conceituais de sociedade, cultura, mídia e consumo com
base em Kellner, Slater, Baccega, Martín-Barbero e Garcia Canclini. Os
conceitos sobre identidade, sistemas de significação e representação cultural
postulados por Stuart Hall e Manuel Castells também irão permear a análise
proposta, possibilitando, enfim, uma reflexão consistente sobre as teias de
sentido que engendram o campo midiático e, especificamente, a publicidade de
produtos industrializados, no atual cenário de ênfase em uma alimentação
saudável.

Palavras-chave: Comunicação. Consumo. Discurso. Saudabilidade.

O DISCURSO CIENTÍFICO NOS ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS DE


COSMÉTICOS
Jammara Oliveira Vasconcelos de Sá (UFC).

Resumo: A presente pesquisa tem como objetivo investigar o uso do discurso


científico como estratégia persuasiva nos anúncios publicitários de cosméticos.
Para este estudo, consideramos anúncio um gênero textual pertencente à
colônia dos gêneros promocionais, marcado pelos propósitos comunicativos do
enunciador (BHATIA,1993). Segundo Fairclough (2003), os discursos não
apenas refletem ou representam as identidades e relações sociais, eles as
constroem ou as constituem, sendo, portanto, ação, representação e
identificação. Neste sentido, eles também projetam diferentes possibilidades da
realidade, ou seja, relacionam-se a projetos de mudança do mundo de acordo
com perspectivas particulares. Partindo deste pressuposto, admitimos que o
gênero discursivo anúncio publicitário encaixa-se perfeitamente nestas
possibilidades de realidade devido às suas características que ultrapassam a
linguagem verbal e abrangem uma mistura de diversas modalidades semióticas
que incluem o escrito, o oral e o visual. Na procura por desvendar as questões
que motivaram nossa pesquisa, utilizamos o método qualitativo com a
observação de 20 artefatos (anúncios) em diálogo com a teoria que ampara
nossas reflexões. É importante destacar que duas questões norteiam nossa
pesquisa: como os anunciantes utilizam o discurso científico nos textos dos
anúncios publicitários de cosméticos objetivando a persuasão das mulheres na
sociedade atual? Como o discurso científico atua na persuasão das

197
consumidoras para adquirir o produto anunciado? Nesta perspectiva, o
resultado do estudo ressalta que os anunciantes utilizam o discurso científico
no gênero discursivo publicitário como estratégia persuasiva para convencer as
leitoras destes textos a adquirir o produto anunciado, alimentando, neste caso,
práticas sociais da sociedade pós-moderna que se refletem, também, em
outros aspectos de circulação do gênero. Esta tendência apresenta-se nos
anúncios contemporâneos, revelando diferentes desdobramentos do discurso
científico no gênero anúncio publicitário.

Palavras-chave: Anúncios. Discurso científico. Persuasão.

MULHERES DO CAMPO: DISCURSO, IDEOLOGIA E PODER


Vicentina Maria Ramires Borba (UFRPE)

Resumo: O presente estudo tem como objetivo identificar em que medida os


discursos das mulheres no campo reforçam, ainda que de forma inconsciente,
a discriminação da mulher, nas mais diversas manifestações discursivas. Para
isso, pretendemos analisar a presença de marcas discursivas indicadoras de
discriminação e sujeição nos discursos proferidos sobre mulheres e por
mulheres; examinar ações de organizações de mulheres em prol de sua
emancipação e empoderamento e avaliar o papel da Casa da Mulher (CMN) na
promoção/realização da igualdade e da justiça de gênero em razão da situação
de pobreza e exclusão sofrida pelas mulheres rurais. Observando as
dimensões de análise textual e de análise da prática discursiva, analisaremos o
discurso de mulheres trabalhadoras e mães de família na região rural do
estado de Pernambuco, a partir da adaptação de modelos de Análise Crítica de
Discurso, desenvolvidos por Fairclough (2001) e Chouliaraki e Fairclough
(1999), e também com base em modelo adaptado de análise Thompson (1990)
para identificar como essas estratégias estão presentes nos discursos de forma
a legitimar, dissimular, unificar, fragmentar e reificar relações de dominação.
Questionários e entrevistas narrativas serão aplicados às agricultoras, a fim de
compreender, com base nas análises de seus discursos, as relações de gênero
e o papel das mulheres na unidade de base familiar no meio rural. Serão
analisados nesta pesquisa 12 grupos do município de São José do Egito
acompanhados pela CMN, por representarem, quantitativa e qualitativamente,
aqueles em que as mulheres obtiveram maior acompanhamento e
monitoramento sistemático pela assessoria e nos quais as mulheres tiveram
maior participação nas atividades e ações realizadas por aquela Associação. É
possível antecipar que essas mulheres - nas suas formas particulares de
representar, de interagir, de situar e de se identificar em diferentes práticas
sociais - incorporam e reproduzem os discursos discriminatórios como
explicação para as condições precárias de vida e trabalho em que estão
situadas, sugerindo que as ideologias embutidas nas práticas discursivas

198
podem ser muito eficazes quando se tornam naturalizadas e atingem o status
de ‘senso comum'.

Palavras-chave: Análise de Discurso. Análise Crítica de Discurso. Gênero.

COMO TRABALHAR EM SALA DE AULA A EXISTÊNCIA DE


PRECONCEITO LINGUÍSTICO EM LINGUAGENS VERBAIS E NÃO
VERBAIS
Dayse Cristina de Sousa Costa (UEMA)
Luzia Passos Silva (UEMA)
Maria Helena Macêdo e Silva Navis(UEMA)

Resumo: Este trabalho tem o objetivo de estudar a presença do preconceito


linguístico em sala de aula, a partir da análise de linguagens verbais e não
verbais. Para isso utilizou-se como aparato teórico-metodológico os estudos de
Bortoni-Ricardo (2005). Visa-se então uma abordagem dinâmica de fatos da
vivência do aluno e a maneira como se expressa verbalmente ou não em um
contexto social que é a escola, onde os fatores referentes à língua falada são
pouco explorados. Como resultados percebeu-se que as instituições de ensino
devem tratar a questão do ensino da norma culta e das variantes linguísticas
de maneira com que os alunos consigam compreender a norma e suas
variantes e promover aos alunos uma reflexão sobre a língua materna,
distinguindo o que é adequado ou inadequado em determinadas situações de
uso. Nesse sentido, a consideração da modalidade linguística que o educando
traz de casa é essencial, uma vez que, por meio dessa linguagem, é possível
estabelecer a comunicação. Com respeito à linguagem do aluno, o trabalho
permitiu compreender que é possível levá-lo a aprimorar-se da variedade
linguística valorizada socialmente, o que possibilitará a ele a adequação de uso
da linguagem às diversas situações sociais em que precise se manifestar. Ao
contrário do ensino tradicional, que silencia, e contribui desse modo, para a
manutenção da ordem social vigente. Mesmo com inovações para auxiliar
profissionais os mesmos não buscam aperfeiçoar ou inovar seus métodos de
ensino para fazer com que o aluno se sinta motivado a buscar novos rumos
para aprender mais sobre os desdobramentos da língua.

Palavras-chave: Preconceito Linguístico. Linguagem. Sala de Aula.

O TRABALHO DE PURIFICAÇÃO NA ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA


(ADC) ENQUANTO TRANSCENDENTALIZAÇÃO DA CIÊNCIA PARA
PESQUISAS SOCIAIS COM DISCURSO: UMA APROXIMAÇÃO TEÓRICA
ENTRE ADC E TEORIA DO ATOR-REDE

199
Emanoel Pedro Martins Gomes (UECE)

Resumo: Este trabalho faz uma reconsideração crítica à prática de análise dos
discursos teorizada por Norman Fairclough para a Análise de Discurso Crítica
(ADC) buscando trazê-la para os trilhos das redes de práticas dos discursos,
como são discutidas e preconizadas nos trabalhos de Bruno Latour.
Considerou-se como as justificativas ontoepistemológicas construídas na ADC,
uma vez baseadas no Realismo Crítico (RC) de Roy Bhaskar, recaem nas
"grandes divisões" modernas, como discutidas por Bruno Latour (2009): a
separação entre conhecimento científico e o conhecimento comum; entre
percepção crítica e percepção empírica; entre o resgate transcendental dos
sentidos e a compreensão imanente deles. Encarando as práticas de análise
do discurso em termos de práticas de purificação (que atestam a
transcendência da natureza e, por conseguinte, da ciência/teoria) ou de
tradução (que defendem a imanência da própria natureza e, por extensão, da
ciência/teoria), como se veem em Latour, percebeu-se que o trabalho da ADC
via RC é tanto o de purificação, quanto o da negação da purificação. Este duplo
trabalho constitui o científico e o crítico que se imiscuem nos resultados
calculados na ADC, bem como nos princípios advogados na agenda do
pesquisador em ADC, já que há a primazia da representação-mor da natureza
(tratada aqui como a dos sentidos) pela ciência, mas não da ciência pelos
homens, a fim de assegurar à ciência o juízo societário de sua transcendência.
Dessa forma, notou-se que ou aí reside um ponto artificializado de sustentação
- o impedimento tradutório da ciência pelos homens -, ou surge uma eleição
sem eleitores, uma transcendência do tradutório - o locamento da ciência na
imanência transcendentalizada, mas não na transcendência imanentizada. Ou
seja, a ciência traduz transcendentalmente a natureza e purifica-se
imanentemente dos homens. Com essa discussão, tentou-se, por fim,
aproximar a proposta teórica da ADC da Teoria do Ator-Rede de Latour, para
que seja possível vislumbrar uma análise que, em vez de cair na aporia
epistemológica de justificar para quais resultados pode ser auferido o título de
científico, crítico, religue-o aos mundos sustentados pelo discurso, aos sujeitos
envolvidos na significação, à transcendência nesta pressuposta, mas
construída como fruto de lutas para tal.
Palavras-chave: Análise do Discurso Crítica. Realismo Crítico. Purificação.

LÍNGUAS ENTRELAÇADAS: ESCRITAS DE SI DE “HOMENS INFAMES”


EM CARTAS E EM CENAS DO FILME “DIE ANDERE HEIMAT”
Beatriz Maria Eckert-Hoff (UDF)

Resumo: Voltados para questões de memória, língua, imigração, nossos


estudos buscam estudar, via discurso, inscrições, traços e rastros que sujeitos
imigrantes alemães deixaram em suas escritas de si, tendo como corpus
Cartas escritas por imigrantes alemães aos seus familiares que na Alemanha
200
ficaram, datadas do século XIX, e cenas recortadas do filme Die Andere Heimat
- Chronik einer Sehnsucht (A Outra Pátria - Crônica de um Desejo), do cineasta
Edgar Reitz. O filme (lançado em 2013 e premiado nos Festivais de Berlim e de
Veneza) foca o cenário da metade do século XIX, anos de onda forte de
emigração da Alemanha para o sul do Brasil, época em que a exclusão social e
a fome pairavam na vida dos habitantes das aldeias (da região de Hunsrück, na
Renânia-Palatinado) e o desejo era migrar para o "Novo Mundo". Tendo como
aporte teórico os estudos de Derrida, Robin, Coracini, nosso olhar se dirige às
in(e)scritas de si para analisar a relação do sujeito com as línguas, as nações,
bem como as questões de memória e de identidade - dos que migraram e dos
que ficaram. Vale dizer que entendemos interpretação como um gesto de
captura; o que se vislumbra são rastros do sujeito cindido, uma vez que há
sempre alteridade: é um eu Outro e um Outro eu quem fala, havendo sempre
uma incorporação, uma não-separação. Nossa análise mostra que as escritas
de si marcam errâncias e inscrições, passagens e demarcações nas e pelas
línguas. Isso nos permite dizer que há sempre um processo de ruptura, de
exclusão, de captura, de enraizamento, de hospitalidade, de exílio, de errância,
de inscrição na relação do sujeito com a(s) língua(s), que constituem memória,
identidade.
Palavras-chave: Língua. Escritas de si. Memória

HIBRIDISMO DE PAPEIS DO INSPETOR NOS INTERROGATÓRIOS


POLICIAIS NA DELEGACIA DA MULHER
Paulo Cortes Gago (UFRJ)

Resumo: Este trabalho integra os artigos do GT da ANPOLL Práticas


Identitárias na Linguística Aplicada sobre o tema hibridismo e fronteiras.
Entendemos territórios de maneira relacional (HAESBAERT, 2004), e
hibridismo como mescla, mestiçagem, mistura (SARANGI, 2011). A vida
humana na contemporaneidade apresenta uma verdadeira complexidade em
suas formas de existência, colocando-nos em constante desafio de
compreensão de novas práticas, e de novas descrições, tematizando a questão
de territórios e fronteiras. Por outro lado, manuais de atuação profissional,
como é o caso dos manuais de treinamento policial, são em geral prescritivos,
e, portanto, muitas vezes desatualizados, em relação ao que se faz na prática.
No caso da delegacia da mulher, pouco ou quase nada se sabe sobre a prática
policial com base em evidências empíricas. Em interrogatório policial entre
vítima e suspeito, o policial deve interrogar para apurar um suposto crime,
porém apenas essa descrição não dá conta da complexidade de suas tarefas
cotidianas nesse evento. Berger & Luckmann (1996), em visão
socioconstrucionista, propõem que uma instituição define-se, não tanto por
suas formas de representação clássicas (espaço físico, emblemas, etc.), mas
sim pela conduta humana real, contínua, ou seja, por aquilo que é vivo em uma
instituição, o que nos leva às práticas de linguagem e à perspectiva interacional
dos papéis (SARANGI, 2000, 2010, 2011). Segundo eles, "a representação de
201
uma instituição em papéis, e por meio destes, é assim a representação por
excelência, de que dependem todas as outras representações" (ibidem, p.
105). Assim, analisamos em 10 interrogatórios policiais de uma delegacia da
mulher os papéis de um policial através do instrumental teórico-metodológico
da Análise da Conversa, em segmentos de fala-em-interação. Os resultados da
pesquisa mostram alguns papéis exercidos por ele, tais como o de
investigador, avaliador, expert legal, e negociador, o que nos permite esposar
um hibridismo de papéis para a sua função institucional. Criticamente, esses
papéis devem ser analisados em termos de sua (não) complementaridade, o
que abre discussão sobre a (re)descrição de sua prática profissional em
contribuição aplicada.
Palavra-chave: Delegacia da mulher. Interação. Papéis do inspetor.

202
EIXO TEMÁTICO 7 – COMUNICAÇÃO, DESIGN E VIDA URBANA

A ARGUMENTAÇÃO E O CONTRATO DE COMUNICAÇÃO EM


PROGRAMAS ELEITORAIS
Ana Miriam Carneiro Rodriguez (UNINCOR)

Resumo: A língua é a ferramenta de comunicação exclusiva dos seres


humanos. Através dela compreendemos e organizamos o mundo que nos
rodeia, interagimos com ele e com outras pessoas, nos entendemos e
organizamos nossos pensamentos e nossa vivência em sociedade. Para nos
formarmos como grupos sociais, desenvolvemos a política que é um
mecanismo de gerenciamento de comunidades. Segundo Hannah Arendt, a
função da política é tratar da convivência entre os diferentes integrantes de
grupos. Ainda que sendo integrantes de um mesmo grupo, indivíduos podem
ter interesses diferentes. No Brasil, o sistema utilizado para gerir esses
diferentes interesses é a democracia que pode ser definida como um sistema
de governo no qual a população elege periodicamente seus governantes. Para
que os cidadãos possam escolher seus representantes, é veiculado na
televisão aberta, o horário eleitoral gratuito, momento no qual os candidatos
apresentam suas ideias através de uma produção discursiva. Mas toda ação
humana é intencionada e, sendo uma produção discursiva uma atividade
humana ela também está imbuída de uma intencionalidade. A propaganda, de
maneira geral, é uma atividade na qual a intenção de persuadir o interlocutor é
sabida por todos de maneira que, para funcionar em seu contexto de
circulação, seu público-alvo precisa estabelecer um contrato de comunicação
com o texto. Pensando na união propaganda e política, objetivamos perceber
as instâncias desse contrato de comunicação, bem como as estratégias
argumentativas em vídeos de campanha eleitoral do presidenciável Aécio
Neves, veiculados em 2014 pela TV aberta no horário nobre. Para cumprir
nosso intento, nos basearemos nas Teorias Semiolinguística, de Patrick
Charaudeau, e Argumentativa, de Chaim Perelman.

Palavras-chave: Teoria Semiolinguística. Teoria da Argumentação. Programas


Eleitorais.

ATOS ILOCUCIONÁRIOS E VOZES NO FAZER JORNALÍSTICO: UM


OLHAR A PARTIR DA PERSPECTIVA DA PRAGMÁTICA SOCIAL
Naiara Longhi Maia (UFPR)

Resumo: Neste trabalho de cunho teórico buscamos mostrar como os


conceitos de atos ilocucionários e vozes interagem na construção de um
percurso metodológico para a análise pragmática do fazer jornalístico. Para

203
tanto, partimos do conceito de atos ilocucionários desenvolvido por Austin
(1990) e do conceito de vozes apresentado por Mey (2000). Este trabalho tem
como pano de fundo a perspectiva da pragmática social, em que os atos de
fala realizados pelos falantes são entendidos como uma ação, ou parte de uma
ação, "expressão linguística que não consiste, ou não consiste, apenas, em
dizer algo, mas em fazer algo, não sendo um relato verdadeiro ou falso sobre
alguma coisa" (AUSTIN, 1990, p.38). Neste sentido, a análise pragmática do
fazer jornalístico leva a uma reflexão mais profunda sobre a prática jornalística
como uma ação política sobre a realidade e sobre a própria ética profissional.
O panorama que hora apresentamos é parte de um estudo mais amplo que
busca analisar os usos de linguagem realizados pelo jornal Gazeta do Povo
(Curitiba/PR) na cobertura jornalística dada ao Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR) entre os anos de 2008 e 2014. Neste
estudo maior, o jornalista é encarado como um falante e também como um
personagem-narrador que desempenha um papel central dentro de uma
formação societal específica, que é o campo jornalístico. Desta formação
societal resultam as notícias e reportagens, textos que não são formados
unicamente pela voz do jornalista, mas também pelas vozes de outros falantes,
que auxiliam na construção dos relatos sobre a realidade. "Uma voz pressupõe
um papel [role] (cf. latim rotula) um personagem; portanto, uma atividade, uma
ação" (MEY, 2001, p. 19).

Palavras-chave: Atos ilocucionários. Vozes. Pragmática Social.

ESTUDO METODOLÓGICO DA CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE


VISUAL EM UM PROJETO PARTICIPATIVO EM FORTALEZA
Carlos Eugênio Moreira de Sousa (UFC)
Anna Lúcia dos Santos Vieira e Silva (UFC)
Naggila Taissa Silva Frota (UFC)

Resumo: Um projeto participativo necessita de uma identidade visual? Qual a


relação entre a construção de um lugar e a de uma identidade? Como fazer
com que uma comunidade seja representada em uma visualidade? Como
traduzir os conceitos de projeto social em uma identidade visual? Estas
perguntas vieram à tona em um processo que tem início em 2014, quando
algumas instituições se reuniram com o objetivo comum de regenerar um
espaço utilizado como "lixão", no bairro Serrinha, em Fortaleza. Deste encontro
nasce o "Projeto de Transformação Ativa Praça Ecológica Guaribal", ainda em
desenvolvimento. Em meio a propostas sociais, paisagísticas, ambientais,
urbanísticas e de design, surge a demanda de um sistema de comunicação
que abarcasse a complexidade crescente do projeto ao longo do processo.
Este artigo tem como objetivo analisar a construção desse sistema com
fundamento semiótico, pautado na metodologia da Crítica de Processo, que

204
utiliza toda qualidade de índices, registros e rastros, como documentos de
processo criativo. Neste caso, não apenas rascunhos e estudos visuais são
analisados, mas também propostas que alunos desenvolveram nos cursos de
Design e de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará, além
da manifestação da própria comunidade em forma de grafite no local. Como
resultados parciais temos a elaboração de estratégias comunicativas para a
inclusão da comunidade na construção do lugar e um sistema de signos
gráficos que habilitam a aplicação de uma identidade visual do projeto em
diferentes meios. Isto passa por soluções que variam desde o uso da fotografia
como um tipo de plataforma de observação e interação com o mundo social,
até a apropriação das mídias sociais como ferramentas de disseminação de
informações que tornam públicos e inclusivos os eventos relativos ao projeto.

Palavras-chave: Design social. Semiótica. Identidade Visual.

LEITURA ACESSÍVEL E SUSTENTÁVEL: INCLUSÃO DE DEFICIENTES


VISUAIS E O PROJETO PONTO A PONTO
Diego Normandi Maciel Dutra (USP)

Resumo: Bonsiepe defende que o discurso do Design permeia a teoria e a


prática desse campo. Rafael Cardoso apresenta as questões do Design como
integrantes de um sistema complexo, no qual as partes integrantes estão
intimamente conectadas e não podem ser questionadas individualmente.
Nesse mesmo sentido, Adryan Forty apresenta as práticas do design como
reflexo dos interesses da indústria, do mercado e do sistema capitalista. Nesse
contexto, o Design pode se encontrar como mais um dos componentes para a
continuação do atual modelo de consumo capitalista ou como entidade atuante
na mudança para uma sociedade mais justa e sustentável. Algumas das
questões que se apresentam hoje são a inclusão de pessoas com
necessidades especiais e o melhor aproveitamento dos resíduos sólidos. Um
projeto de 1994, chamado Ponto a Ponto, de Sílvia Valentini, aborda essas
duas temáticas, utilizando papéis de grande gramatura já impressas e
descartadas para a impressão de material em braille. Esse artigo traz o assunto
à tona como uma solução de design eficiente, ecológica e socialmente
responsável.

Palavras-chave: Deficiência visual. Acessibilidade. Leitura.

AGORA VOCÊ TÁ FALANDU A MINHA LÍNGUA! O RAP NA TRAJETÓRIA


ACADÊMICA DE ESTUDANTES DE PAÍSES AFRICANOS DA UNILAB -
CEARÁ
Ana Lucia Silva Souza (UFBA)

205
Resumo: A comunicação apresenta alguns aspectos relacionados a analise
dos dados gerados durante a realização do projeto "AGORA VOCÊ TÁ
FALANDU A MINHA LÍNGUA! O RAP NA TRAJETÓRIA ACADÊMICA DE
ESTUDANTES DE PAÍSES AFRICANOS DA UNILAB - CEARÁ", desenvolvido
junto com um grupo de estudantes oriundos de diversos países africanos de
língua oficial portuguesa - Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique
e São Tomé e Principe, e também Timor Leste. A centralidade recai sobre a
constituição identitária que se dá em meio a um processo de letramento,
desenvolvido entre os anos de 2014-2015, no qual os elementos políticos e
artísticos do hip hop, em especial o rap, possibilitaram trazer ressignificações
da palavra/conceito integração sob a ótica do grupo de rap A.SE.Front, e em
diálogo com os estudos decoloniais. Ressalta-se que os estudantes deslocados
de seus espaços de origem, e quase sempre chamados de "alunos africanos",
por meio de seus discursos e performances forjaram outros espaços de viver e
nos mostram quais foram os efeitos do projeto em suas trajetórias dentro e fora
da Universidade. Salienta-se que esta comunicação, a partir de um corpus de
letras de rap, videos, fotografias e entrevistas analisa de que
maneira, linguístico discursivamente, a poesia-rap oferece caminhos para
pensar conexões e desconexões entre os países africanos de língua oficial
portuguesa.

Palavras-chave: Linguagem. Reexistências. Discursos.

ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO NEGRO EM FORMA DE GRAFITE:


QUESTIONANDO SENTIDOS DOMINANTES ATRAVÉS DO DISCURSO
MULTIMODAL
Francisca Poliane Lima de Oliveira (UECE)
Hiran Nogueira Moreira (UECE)

Resumo: O racismo contra negros no Brasil é um problema latente,


provocador e complexo, por mais que alguns setores sociais tentem tornar
invisível tal situação. Essa realidade torna essa pesquisa relevante por levantar
questões críticas a respeito das constituições dos sujeitos e seus discursos a
respeito do racismo, mas, principalmente por abranger o discurso que está
inserido em práticas sociais tensas de resposta ao discurso dominante e
estabelecedor de relações assimétricas de poder. A partir da Teoria Social do
Discurso de Norman Fairclough (2001), da Gramática do Design Visual de
Gunther Kress e van Leeuwen (2006) e da concepção de texto de Hanks
(2008) realizamos a análise crítica de três imagens (grafites) presentes em
espaços públicos (muro e calçada) na rua Juvenal Galeno (Bairro do Benfica) e
na avenida Treze de Maio (Bairro de Fátima), na cidade de Fortaleza.
Buscamos, assim, relacionar as implicações desses três referenciais teóricos

206
na nossa análise: a definição de discurso, enquanto prática social, de
Fairclough, aliada à sua concepção de texto como formação social, o processo
conceitual simbólico sugestivo da Gramática do Design Visual e a concepção
dinâmica de texto proposta por Hanks. O conjunto visual formado por texto e
imagem nos grafites revela o discurso multimodal de um movimento negro que
busca questionar os sentidos impostos pelo discurso racista dominante.
Imagem e textos se relacionam para contraporem-se à ordem imposta nas
práticas discursivas e sociais assimétricas do racismo contra negros. Ao
contrário do que o senso comum defende, os grafites são construções
fecundas de sentido que produzem subjetividades e podem transformar o
imaginário social.

Palavras-chave: Racismo. Análise do Discurso Crítica. Discurso multimodal.

ANÁLISE SEMIÓTICA DO GÊNERO CAPA DE REVISTA: DESPERTANDO


HABILIDADES INTERPRETATIVAS EM SALA DE AULA
Glaunara Mendonça de Oliveira (UEA)

Resumo: Gêneros multimodais fazem parte do cotidiano de todos os leitores,


entretanto, pouco se ensina nas escolas sobre como interpretá-los. O conceito
de multimodalidade está ligado à Teoria Semiótica Social (KRESS e VAN
LEEUWEN 2001, 2006), focalizando a inter-relação de diferentes modos de
significação ou modos semióticos, que incluem o linguístico, o visual, o gestual.
Este trabalho objetiva fazer uma análise do gênero capa de revista, tendo
como corpus três capas de VEJA, ISTO É e ÉPOCA, de setembro de 2014,
aplicando-se as categorias relativas às Metafunções Representacional, que
analisam as imagens quanto à capacidade de representar a experiência,
podendo ser narrativas ou conceituais; Composicional, quando, a partir de três
aspectos principais (o valor informacional, a saliência e o enquadre), analisa-
se a organização dos elementos formadores da imagem no espaço que ocupa
no todo da capa da revista; e Interativa, que avalia as imagens por meio das
relações construídas entre os participantes representados e o leitor através de
recursos visuais. Tais metafunções fazem parte da Gramática do Design Visual
(KRESS e van LEEUWEN, 1996, 2006). Além delas também será usada a
relação de imagem e texto (SANTAELLA e NÖTH, 1998) analisando três
possíveis casos que vão da redundância à informatividade. Os resultados
dessa análise revelam que as capas de revistas objetivam não só apresentar
as manchetes dos assuntos principais da semana, mas também carregam
elementos discursivos em seus códigos semióticos, exigindo do leitor
habilidades interpretativas que precisam ser estimuladas no contexto da sala
de aula. Contribuindo, assim, para a formação de leitores competentes,
capazes de compreender o valor semântico e o argumentativo dos códigos
semióticos impressos nesse gênero.

207
Palavras-chave: Capa das revistas Veja e istoé. Gramática do design visual.
Habilidades interpretativas.

RÁDIO CUCA (BARRA DO CEARÁ):


UM NOVO OLHAR SOBRE OS SUJEITOS SOCIAIS
Catarina Tereza Farias de Oliveira (UECE/UFC)
José Augustiano Xavier dos Santos (UFC)

Resumo: O trabalho analisa as produções da rádio do Centro Urbano de


Cultura, Arte, Ciência e esporte (Cuca) do bairro Barra do Ceará, em Fortaleza.
Busca refletir sobre como as produções da rádio do Cuca vem colaborando
para construir outra forma de comunicação, pautada na promoção de um
“novo” olhar sobre os sujeitos sociais, que possa romper com as imagens que a
grande mídia construiu ao longo do tempo. O artigo pretende discutir as
produções radiofônicas e as práticas culturais cotidianas que perfazem esse
contexto, a partir dos olhares de Escosteguy (1998) e Hall (2002) sobre os
estudos culturais. Para o desenvolvimento da analise dos programas, optamos
pela metodologia de análise de conteúdo, focalizando em uma de suas
técnicas denominada análise temática. A análise temática compreende três
etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos
e interpretação (GOMES, 2002). Nosso corpus será composto por quatro
programas radiofônicos da rádio do Cuca (análise de três edições de cada
programa – Entre fevereiro e maio de 2015) e de entrevistas com participantes.
Ao final, trazemos pistas , com base no levantamento de dados e nas análises,
como as produções radiofônicas da rádio do Cuca Barra do Ceará, colaboram
para construção de um “novo” olhar sobre os sujeitos sociais, para uma“nova”
forma de comunicação, e para a reflexão sobre “o papel dos meios de
comunicação na constituição de identidades”.A partir das análises de conteúdo
das produções, foi possível verificar que, assim com aponta Hall (1980), os
jovens participantes das produções radiofônicas da rádio do Cuca Barra do
Ceará, passam por um processo de interpretação das mensagens que a
grande mídia constrói, sobretudo as imagem sobre as juventudes, e a partir
dessas reflexões saem de uma posição de receptores, para uma postura de
receptores produtores.Desse modo, compreendemos que o papel que a rádio
do Cuca tem exercido é de grande importância para o desenvolvimento de um
olhar mais critico sobre os meios de comunicação, mas também entendemos
que é fundamental avançar no que se refere agarantias de espaços que
possibilitem a promoção da cultura local e do fortalecimento das questões
sociais, buscando dar repostas concretas ao impacto das produções midiáticas
e garantido esforços para a valorização da cultural popular.

Palavras-chave: Rádio. Estudos culturais. Comunicação popular.

208
TEORIA GERAL DOS SISTEMAS NO ENTENDIMENTO DA VIDA URBANA
EM UMA PRÁTICA DE DESIGN SOCIAL
Naggila Taissa Silva Frota (UFC)
Anna Lúcia dos Santos Vieira E Silva (UFC)
Carlos Eugênio Moreira de Sousa (UFC)

Resumo: O presente trabalho trata do entendimento de uma realidade urbana


complexa a partir de uma lógica sistêmica. Para tanto, é adotado como modelo
a Teoria Geral dos Sistemas (BUNGE, 1977), de onde se traz alguns conceitos
mais importantes à investigação, que possui como objeto o "Projeto de
Transformação Ativa: Praça Ecológica Guaribal", na Serrinha, em Fortaleza. A
partir dessa fundamentação teórica e com base em atuações práticas é
investigada a modificação de um espaço público. Diversas camadas de
complexidade definem a situação: problemas físico-espaciais como o esgoto a
céu aberto, alagamentos na época da quadra chuvosa (fevereiro a maio), uma
área ambientalmente frágil, falta de iluminação pública, de pavimentação, e um
depósito de resíduos domésticos; problemas sociais em uma área de
habitações subnormais e o hábito comunitário de uso do espaço como um
"lixão"; problemas de caracterização do espaço, com sobreposições formais e
informais que fazem dele ao mesmo tempo público e privado, tudo isso às
margens de um recurso hídrico. Ainda em andamento, o projeto se realiza a
partir de atuações do "Varal - Laboratório de Iniciativas em Design Social", do
"Canto - Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo", ambos da
Universidade Federal do Ceará, em parceria com a Universidade Estadual do
Ceará, organizações não governamentais, órgãos públicos, privados, técnicos
especialistas, a sociedade civil organizada e os próprios moradores. O objetivo
é analisar a situação com base nos conceitos trazidos pela Teoria Geral dos
Sistemas relacionada ao Design Social, para averiguar o projeto sob diversos
ângulos: 1) visualização de informações complexas; 2) criação e
desenvolvimento de um sentido de pertencimento e de identidade da
comunidade com o local; 3) estabelecimento de conexões entre os agentes
envolvidos e o processo de realização do espaço; 4) direcionamento das ações
para a elaboração de uma autonomia que propicie a evolução e permanência
do sistema estudado. Como resultado parcial obtido se observa o papel do
designer social em um sistema complexo de atuação, na criação de interfaces
que facilitam a elaboração do ambiente e contribuindo para uma possível
autonomia, com potencial regenerativo do espaço para integrar a vida pública
da comunidade.

Palavras-chave: Teoria Geral dos Sistemas. Design Social. Vida Urbana.

209
PESQUISA-AÇÃO, IDENTIDADE E DESIGN SOCIAL APLICADOS EM UMA
INICIATIVA DE REGENERAÇÃO URBANA EM FORTALEZA
Anna Lúcia dos Santos Vieira E Silva (UFC)
Carlos Eugênio Moreira de Sousa (UFC)
Nággila Taissa Da Silva Frota (UFC)

Resumo: O artigo aborda o estudo de caso de um espaço aberto no bairro


Serrinha, na cidade de Fortaleza. Área ambientalmente frágil por conter um
sangradouro da Lagoa de Itaperaoba, com diversas ligações de esgoto, é um
misto de loteamento privado e parcelas de espaço público, especialmente as
vias não pavimentadas. Utilizado, a princípio, como um lixão pelos moradores
do bairro, o local passa atualmente por um processo de transformação
participativa que opera no sentido de realizar uma praça ecológica, projeto que
conta com a participação de diversas instituições públicas, não governamentais
e da própria comunidade. Inicialmente o fundamento da pesquisa-ação (Tripp,
2005; Barbièr, 2007), foi utilizado para direcionar as intervenções e interações
no local, mas a necessidade de construir uma identidade da comunidade em
relação ao espaço e a ampla interdisciplinaridade apresentaram uma dinâmica
própria, responsável por uma constante revisão metodológica. O objetivo é
analisar as transformações no processo, especialmente por meio das
atividades do Varal - Laboratório de Iniciativas em Design Social, e do
programa de extensão Canto - Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo,
ambos da Universidade Federal do Ceará, com foco nos procedimentos de
construção de lugar (Duarte, 2002), da identidade da comunidade com o local.

Palavras-chave: Design Social. Pesquisa-Ação. Identidade.

MIDIATIZAÇÃO E O SUJEITO PÓS-MODERNO: UMA QUESTÃO DE


IDENTIDADE
Maríllia Graziella Oliveira da Silva (UFRN)

Resumo: A pós-modernidade é compreendida na Sociologia como o período


histórico que caracterizou a sociedade e a cultura logo após o final da Segunda
Guerra Mundial. Esta etapa foi marcada por importantes mudanças nas
identidades sociais tais como eram definidas ou por, simplesmente, um surto
de crises identitárias, como definiu Stuart Hall (2000). Este artigo tem como
objetivo descrever os pressupostos teóricos acerca da identidade,
contextualizando e caracterizando o sujeito pós-moderno diante da
midiatização. Para tanto, adotaremos uma metodologia bibliográfica e
conceitual, de natureza qualitativa.

Palavras-chave: Identidade. Midiatização. Sujeito.

210
REQUALIFICAÇÃO DE VIAS COMERCIAIS: ANÁLISE E REFLEXÕES DOS
PROJETOS EXECUTADOS NAS RUAS OSCAR FREIRE (SÃO PAULO/SP)
E VIDAL RAMOS (FLORIANÓPOLIS/SC)
Karine Petry de Aguiar (USP)

RESUMO: Requalificação, reestruturação, revitalização, reabilitação e diversos


outros foram os termos cunhados durante a história que buscam definir a
estratégia de gestão urbana, a qual possui o intuito de atrair novas atividades
econômicas e, assim, trazer vida às áreas tidas como decadentes da cidade.
Estes processos de remodelação de regiões da cidade permitem que os
espaços urbanos incorporem o valor histórico da cidade e do homem cultural,
uma vez que o próprio prefixo - "RE", nos indica a retomada, neste caso, do
valor do tempo na análise do espaço. No entanto, tais práticas nem sempre são
consideradas, o que tornam muitos destes projetos alvos de discussões,
sobretudo quando estes favorecem fenômenos como da gentrificação. Neste
sentido, este artigo busca analisar e trazer reflexões de dois projetos de
requalificação de vias comerciais implantados em capitais de regiões distintas
do país: Rua Oscar Freire (São Paulo/SP) e Vidal Ramos (Florianópolis/SC).
Busca-se através da análise destes projetos entender o modo como estão
sendo atribuídos estes juízos de valores, daquilo que se julga como regiões
decadentes e mortas da cidade, e a forma como tais planos pretendem
solucionar estes problemas.

Palavras-chave: Requalificação urbana. Intervenções urbanas. Ambientes


comerciais.

211
EIXO TEMÁTICO 8 – AÇÃO POLÍTICA E MOVIMENTOS SOCIAIS

A AÇÃO POLÍTICA E EDUCATIVA DO MOVIMENTO DOS


TRABALHADORES RURAIS – MST E SEUS DESDOBRAMENTOS NA
RESSIGNIFICAÇÃO DA IDENTIDADE DOS POVOS DO CAMPO: AVANÇOS,
DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA DA TERRA
Célia Maria Machado de Brito (UECE)
Sandra Maria Gadelha de Carvalho (UECE)

Resumo: A educação e a escola, pensada pelos movimentos sociais do


campo, especialmente pelo MST, é compreendida como uma ferramenta de
luta em busca do desenvolvimento do campo, em continuidade à luta pela terra
livre, espaço em que são cultivados os valores camponeses e a solidariedade,
rumo à construção de uma nova sociedade. Nessa perspectiva, o MST tem se
constituído referência nas práticas educativas do campo, contribuindo,
sobremaneira, com a formação da identidade de jovens e adultos campesinos.
O Programa Nacional de Educação em Áreas de Reforma Agrária - Pronera,
fruto da luta coletiva dos movimentos sociais do campo tem no MST um dos
mais fortes aliados. Implementado no Ceará, desde o ano de 1998, representa
uma importante intervenção sócio-educacional junto aos assentamentos e
acampamentos de reforma agrária, constituindo um esforço conjunto de
consolidar uma educação/escola não apenas no campo, mas uma
educação/escola do campo, demanda acumulada durante décadas nas
comunidades rurais do Estado. O objetivo deste artigo é analisar as
contribuições do MST e do Pronera no desenvolvimento da educação do
campo, abordando os compromissos e estratégias político-pedagógicas no
âmbito da gestão e da luta dos movimentos sociais, de forma especial, sua
contribuição na ressignificação da educação dos povos do campo. Como
estudo de caso, a pesquisa recorreu a diferentes procedimentos
metodológicos: observação, entrevistas, grupos focais com professores, alunos
e militantes dos programas de alfabetização/escolarização, analisando
aspectos relacionados à contribuição do Pronera no desenvolvimento da
educação do campo. Ao final, são feitas considerações e sugestões com o
intuito de contribuir com o debate e reformulação das políticas voltadas para as
práticas educativas do campo, destacando o papel do MST e do PRONERA na
ressignificação da educação e da identidade dos jovens e adultos do campo.

Palavras-chave: Movimentos sociais. Educação. Identidade dos povos do


campo.

A CONSCIENTIZAÇÃO EM PAULO FREIRE: INTERRELAÇÃO ENTRE


EDUCAÇÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS NA CONTEMPORANEIDADE
Elenice Rabelo Costa (UECE)

212
José Ernandi Mendes (UECE)
Sandra Maria Gadelha de Carvalho (UECE)
João Paulo Guerreiro de Almeida (UECE)

Resumo: A conscientização se constrói a partir do processo de reflexão e ação


dos homens sobre a realidade, por exemplo através das lutas sociais por
educação e um país com mais justiça social e ambiental. Este trabalho tem
como objeto aprofundar a concepção de conscientização de Paulo Freire
identificando seus significados e interrelações entre a educação e os
movimentos sociais na contemporaneidade. Para tanto, tem-se como objetivo
geral aprofundar a compreensão dos elementos constitutivos do processo de
conscientização em Freire, analisando sua contemporaneidade na educação,
nos movimentos sociais na proposta do ecossocialismo e ações formativas do
Movimento 21. A investigação desdobrou-se em pesquisa bibliográfica e
observação participante. Desta maneira, foram lidas e analisadas as obras de
Paulo Freire em que o mesmo se reporta ao processo de conscientização tais
como Freire (1996, 2001, 2008). Dialogamos também com os autores
clássicos: Brandão (2006), Paiva (1980), Marx (1983) e com autores atuais:
Carvalho (2012, 2013, 2014), Mendes (2013) Picetti (2008) e Oliveira (2007,
entre outros). Na vertente empírica, desenvolvi instrumentos da metodologia
participante, notadamente, a observação que realizei dos momentos formativos
do Movimento 21 (M21), durante o período como bolsista do Programa
Institucional de bolsas de Iniciação Cientifica (PIBIC) do CNPQ. Neste tratando
especificamente a relação do M21 com a educação e conscientização
defendidos por Paulo Freire. O M21 é uma rede política que aglutina diversos
movimentos sociais destacando-se o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), Caritas Diocesana, Associações de comunidades da
Chapada do Apodi, Organizações Sindicais, Núcleos Universitários da
Universidade Federal do Ceará - UFC E FAFIDAM/UECE. A partir do estudo
conclui-se que o processo de conscientização implica em um desafio e
construção permanente nos momentos formativos do M21 contribuindo assim
para o processo de ação e reflexão dos sujeitos envolvidos nas lutas sociais,
na educação e na proposta do ecossocialismo.

Palavras-chave: Conscientização em Freire. Educação. Movimentos Sociais.

A CONSTRUÇÃO PERFORMATIVA DE RAÇA E GÊNERO NOS JOGOS DE


LINGUAGEM DO GRUPO TAMBORES DE SAFO ESTABELECIDOS EM
ATOS PÚBLICOS
Gabriela de Sousa Costa (UECE)

Resumo: O presente estudo, resultante de minha pesquisa de mestrado, ao


conceber a linguagem como prática, a partir dos estudos de Wittgenstein

213
(1999) e de Austin (1990), distancia-se de pesquisas que adotam concepções
essencialistas da linguagem e trabalham com um uma noção sujeito idealizado,
individualizado e abstraído de suas formas de vida e de seus jogos de
linguagem. Nesse sentido, este trabalho não poderia negligenciar as pessoas
como agentes da linguagem e nem as sociedades das quais elas/eles fazem
parte. Desse modo, adotando a perspectiva teórica da Pragmática Cultural
(ALENCAR, 2008), essa pesquisa foi desenvolvida a partir da etnografia do
grupo Tambores de Safo com o intuito de compreender a (re)construção e
(re)afirmação performativa das identidades de gênero e raça das integrantes do
grupo em seus jogos de linguagem. Para o alcance desse objetivo, foi reunido
um corpus composto por gravações e vídeos de ensaios, apresentações e atos
públicos do grupo, letras de músicas do repertório, bem como entrevistas com
algumas das integrantes. No entanto, como recorte para esse estudo,
analisaremos os jogos de linguagem das integrantes em suas participações em
atos públicos. A análise dos atos de fala das integrantes nos possibilitou
compreender que as identidades de gênero e, principalmente, as identidades
de raça, ritualizadas a partir dos modos de se vestir e da cor da pele, são,
antes de tudo, um posicionamento político. Também pudemos identificar que
os atos de falas proferidos em atos públicos dialogam e ganham força com a
sua repetição em outros jogos de linguagem de outros grupos, em outras
manifestações e por serem enunciados por outras mulheres em jogos de
linguagem diferentes.

Palavras-chave: Identidades performativas. Gênero e raça. Tambores de safo.

A EDUCAÇÃO POPULAR E A LUTA CONTRA O CAPITAL: EXPERIÊNCIAS,


DISCURSO E PERSPECTIVAS
Mádja Diógenes Maia (UECE)
Sandra Maria Gadelha de Carvalho (UECE)
Nádja Diógenes Maia NJ (UECE)

Resumo: A Educação Popular é uma proposta educacional que leva em


consideração a cultura do povo, suas experiências, ideologias, crenças e
perspectivas, tendo como objetivo a conscientização política que move para a
conquista de direitos sociais, culturais e políticos. Essa proposta de educação
vem ocorrendo em congruência com os movimentos sociais que visam
alcançar o mesmo objetivo, apontando caminhos para superação de
problemas, sendo uma prática emancipadora. Assim, a educação popular
passa a ser um mecanismo de conscientização utilizada por muitos
movimentos sociais enquanto forma de luta emancipadora e contra-
hegemônica, destacando-se por sua atuação nas áreas rurais do Brasil, o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)". O presente trabalho
tem por objetivo analisar a relação entre educação popular e a luta contra o

214
capital, destacando experiências sócio-educativas do MST, e as categorias do
discurso sobre a educação popular que a elegem como metodologia para uma
consciência política e uma possível reestruturação social. Como metodologia, o
estudo insere-se numa abordagem qualitativa, fundamentando-se em pesquisa
bibliográfica e documentos e falas de militantes do MST. Destacam-se na
fundamentação teórica as obras que abordam as categorias Educação Popular
e Movimentos Sociais, dentre elas destacam-se os autores: Brandão (2013),
Gohn (2013), Vendramini (2000). Dessa forma, os estudos revelaram que a
Educação Popular aparece como mecanismo de conscientização no MST,
incidindo na luta pela terra, saúde, educação e condições de vida. Assim, no
discurso que a fundamenta como instrumento de conscientização destacam-se
as categorias de criticidade, reflexão coletiva e politização as quais são
avaliadas como proporcionadoras da formação dos sujeitos sociais tornando-os
ativos socialmente na luta contra-hegemônica.

Palavras-chave: Educação Popular. Movimentos sociais. Discurso.

ANÁLISE TRANSLINGUÍSTICA DO PROCESSO DE EDUCAÇÃO POPULAR


MATERIALIZADO ENTRE A CÁRITAS E OS CATADORES DE MATERIAL
RECICLÁVEL DE LIMOEIRO DO NORTE
Benedito Francisco Alves (UECE)
João Batista Costa Gonçalves (UECE)

Resumo: O presente trabalho realiza uma investigação das formas como a


Cártias diocesana de Limoeiro do Norte realiza um processo de educação
popular junto aos catadores de matérias reciclável da referida cidade. A
pesquisa se baseia, primordialmente em Bakhtin (2002a, 2002b e 2010),
Brandão (1986) e Freire (1979, 1983, 1986 e 2013). A categoria bakhtiniana da
exotopia e a categoria freireana do ser-mais são empregadas para embasar
uma análise translinguística baseada numa perspectiva qualitativa e
interpretativa para perceber as formas como os catadores materializam
discursiva e ideologicamente suas experiências de vida e sua visão de mundo
para se perceberem como sujeitos com direito a intervir nos rumos que suas
formas de vida significam. O método de observação participante permitiu a
interação entre o pesquisador e os catadores em reuniões quinzenais
realizadas num prédio da igreja cedido à prefeitura de Limoeiro. Os
participantes observados apresentam um discurso pleno de reservas que
explicitam o nível de confiança dos engajados num processo de formação
implementado pela Cáritas a partir do primeiro semestre de 2015. A análise dos
dados gerados e colhidos com o apoio de notas de campo revela que o olhar
dos agentes da Cáritas funciona como um ponto de vista exotópico para as

215
discussões realizadas a partir das memórias e realidades dos sujeitos
observados estão.

Palavras-chave: Discurso. Exotopia. Ser-mais

A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE EM UMA PESQUISA-AÇÃO - PRAÇA


ECOLÓGICA DA SERRINHA
Beatriz Perote Fernandes (UECE)

Resumo: Esta pesquisa iniciou-se no mês de março de 2015 na comunidade


da Serrinha, que está localizada na cidade de Fortaleza - CE, a princípio com o
intuito de apenas contribuir no projeto construção da Praça ecológica Guaribal,
que é uma parceria entre a Universidade Federal do Ceará, a Universidade
Estadual do Ceará, o Instituto educacional Irmã Giuliana Galli e a associação
de moradores da Serrinha. Alguns atores da comunidade como o diretor do
Instituto Irmã Giuliana Galli e os líderes da associação já haviam iniciado o
diálogo com os professores da Arquitetura e designer da UFC e com a Pro-
reitoria de Extensão da UECE, a fim de que estas instituições de ensino
superior pudessem somar esforços na valorização do espaço público naquela
comunidade. Trata-se de uma pesquisa participante, na qual se utilizou o
método da observação para obter dados sobre o espaço dado pelos
idealizadores da praça ecológica à participação e intervenção de agentes da
comunidade, assim como para perceber como se deu o diálogo entre a
academia e os moradores. Esta pesquisa teve como objetivo identificar os
métodos utilizados para alcançar a participação da comunidade na execução
do projeto da Praça ecológica. Buscando perceber se estas atividades eram
realizadas a partir das necessidades dos moradores ou se partiam apenas das
necessidades dos idealizadores da praça. Partimos de bases teóricas que
abordassem a atuação das ONGs (Organizações Não-Governamentais) como
instrumentos de democratização, assim como também optamos por literaturas
que analisam a atuação da academia em suas pesquisas nas comunidades e
os papéis de cada ator social, instituição de ensino (professor ou aluno) e
moradores. Desta forma, utilizamos teses de Sociologia Política que abordam a
problemática das ONGs, como outros textos científicos que se atentam à
metodologia em pesquisas-ação. Observamos, na construção da praça, que o
acesso da comunidade ao projeto é limitado pelas idealizações dos agentes da
academia, percebemos que a linguagem é o principal fator que distancia os
grupos sociais, assim como é verificável que existência de divisão de tarefas
entre esses grupos é determinada por poucos agentes e não por um consenso.

Palavras-chave: Pesquisação. Comunidade. Participação.

216
BREVE TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO BRASIL
Diana Nara da Silva Oliveira (UECE)
Elenice Rabelo Costa (UECE)
Luis Távora Furtado Ribeiro (UFC)
Sandra Maria Gadelha Carvalho (UECE)

Resumo: A educação brasileira tem suas origens em uma situação de


opressão e exclusão da classe dominante sobre a maioria da população
brasileira, sendo esta maioria, pessoas que vivem no campo ou dele vieram e
que, durante muito tempo esses métodos serviram para estabelecer as
relações sociais em que vivemos ao longo do nosso processo histórico,
tornando a educação escolar como uma demonstração das formas de
dominação. Deste modo, pretendemos fazer uma breve revisão bibliográfica de
alguns autores que discutem sobre a educação do campo no Brasil no tocante
a sua trajetória histórica, seu desenvolvimento e as dificuldades existentes para
seu crescimento. Apontado alguns caminhos que a educação do campo seguiu
ao longo da sua trajetória histórica, de forma teórica. Esse trabalho foi realizado
a partir de leituras realizadas para a produção do projeto de mestrado
apresentado para a seleção do Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação
e Ensino da Universidade Estadual do Ceará, campi da Faculdade de Filosofia
Dom Aureliano Matos e Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão
Central. Através de leituras realizadas juntamente com reflexões, de autores
que discorrem sobre a temática da educação do campo há algum tempo.
Autores como Bernardo Mançano, Roseli Salete Caldart, Sandra Maria
Gadelha Carvalho, Alexandre Peixoto Faria Nogueira, Neli Pereira Souza;
Rosini Mendes Reis, entre outros que contribuíram de forma teórica para o
enriquecimento deste trabalho. Como conclusão podemos perceber que a
educação do campo esta em crescente desenvolvimento, mesmo que de forma
lenta, felizmente os estudos na área já estão tomando grandes proporções,
faltando ainda muitas politicas publicas voltas para a área, haja visto que
convivemos com a dominação do latifúndio desde a colonização do Brasil, fato
que justifica avanço lento no enfrentamento dessa dominação.

Palavras-chave: Educação do campo. História. Escola.

(DES) OCUPANDO SENTIDOS: ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO DO


JORNAL O POVO SOBRE A OCUPAÇÃO DA REITORIA DA UFC DURANTE
A GREVE ESTUDANTIL DO SEGUNDO SEMESTRE DE 2015
Marco Antônio Vasconcelos (UECE)

Resumo: Desde 2011, ano da Primavera Árabe e do Movimento Occupy Wall


Street, o espectro do descontentamento social fez-se carne e passou a rondar,
na forma de movimentos sociais e de ocupações, as ruas das grandes cidades

217
do mundo. Em 2013, este espírito chegou às terras brasileiras, gerando as
chamadas Jornadas de Junho. Estas findaram, mas o espectro continuou
rondando nossas terras, fazendo-se presente, por exemplo, no Ceará - através
da greve dos estudantes, dos professores e dos funcionários da UFC - no ano
de 2015. Neste trabalho, tivemos o objetivo de analisar criticamente a
construção discursiva deste movimento cearense nas páginas do Jornal O
Povo. Isto é, analisamos, a partir da dimensão representacional do discurso, o
texto Estudantes ocupam reitoria da UFC e promovem quebradeira, publicado
no jornal O Povo em 01/09/2015. Analisando esse texto, procuramos
compreender criticamente de que maneira o discurso manifestado por ele e,
consequentemente, pelo Jornal O Povo, importante instância midiática do
Ceará, participa de práticas sociais ligadas aos movimentos sociais
contemporâneos. Para a consecução de nossos objetivos, articulamos os
pressupostos teórico-metodológicos da Teoria Social do Discurso, principal
vertente da Análise do Discurso Crítica, desenvolvida pelo linguista britânico N.
Fairclough (1999, 2001, 2003), com discussão de Zizek (2006, 2012, 2013)
sobre violência e sobre movimentos sociais contemporâneos. Ao se analisar o
corpus selecionado a partir de sua dimensão representacional, ou seja, a partir
dos modos particulares de designação e de distribuição de papéis dos agentes
e das ações no espaço discursivo das práticas sociais, fez-se possível dizer
que o discurso por ele materializado, de certa forma, constrói sentidos que não
problematizam a violência objetiva presente no âmbito do modo de organização
social brasileiros contemporâneo, centrando-se na desqualificação e, de certa
forma, na criminalização das intervenções dos estudantes no edifício da
reitoria.

Palavras-chave: Ocupação da reitoria da UFC. Mídia. Discurso.

DISCURSOS SOBRE A RUSSIA NOS TÍTULOS DA AGÊNCIA DE NOTÍCIAS


INTERNACIONAIS THOMSOS TEUTERS
Liubov Tarasova (UNIR)

Resumo: Nos dias de hoje as pessoas têm menos tempo para ler,
completamente, revistas ou publicações inclusive porque todo dia surge muita
informação e nos muitos recursos: além das revistas impressas, tem revistas
na internet com quantidade considerável de informação. Fica impossível dar
conta de todo o conteúdo. Nesse contexto, aumentou muito a importância dos
títulos das publicações jornalísticas. Primeiro, porque dependendo do título o
leitor toma a decisão de ler ou não o conteúdo. Segundo, porque o título da
publicação já fornece alguma informação ao leitor sobre o assunto relatado e
também possui um conteúdo implícito. O objetivo deste artigo é analisar o
discurso que circula sobre a Rússia nos títulos de notícias da agência
internacional Thompson Reuters. Para analisar os sentidos dos enunciados,

218
nos títulos e subtítulos dos artigos midiáticos que constituem o corpus da
pesquisa, adotou-se como referencial teórico e metodológico os trabalhos de
Michel Pêcheux e Eni Orlandi, onde a linguagem é compreendida como um
sistema materializado na ideologia e a discursividade como a inserção dos
efeitos materiais da língua na história, através das relações de metáfora
(transferência) (ORLANDI, 2005, p.11). Os resultados mostraram que o
discurso na mídia, sobre a Rússia, seria ideológico e subjetivo, com o propósito
de apoiar os sentidos favoráveis para o locutor na chamada guerra informativa.

Palavras-chave: Artigos midiáticos. Michel Pêcheux. Discursos da mídia.

IMAGEM DE SI: A ARGUMENTAÇÃO DO ETHOS DO MINISTRO JOAQUIM


BARBOSA ATRAVÉS DO SEU DISCURSO DE POSSE NO STF
Shara Lylian de Castro Lopes (UFC)

Resumo: Este artigo tem o objetivo de descrever a construção do ethos do


enunciador no discurso de posse da presidência do Supremo Tribunal Federal
do Brasil, feito pelo ministro Joaquim Barbosa. Partimos da visão de que o
discurso é uma construção social que reflete o contexto sociopolítico e onde
são encontradas marcas históricas, sociais e ideológicas que corroboram para
sua própria formação e para a compreensão dos efeitos de sentido produzidos
no público enunciatário, assim como não negligenciamos a relevância de
qualquer discurso de natureza política para uma sociedade democrática como
é a brasileira. Para a proposta desta análise, utilizamos as teorias retóricas
mais atuais dos linguistas franceses Ruth Amossy (2011) e Patrick Charaudeau
(2006). Além disso, visitamos as teorias basilares do campo de estudo em
Análise de discurso, num diálogo direto com a teoria da Retórica clássica grega
de Aristóteles, bem como as discussões hodiernas sobre argumentação de
Chaïm Perelman (2005) sobre os estudos da nova retórica para embasar a
análise do ethos no citado corpus. Conceitos como o ethos prévio e os
imaginários sociais mostram-se cartas essenciais para esse jogo discursivo
que se estabelece. Ao final, será observado que o enunciador utiliza-se, em
seu discurso, de estratégias retórico-argumentativas típicas de uma prática
discursiva da esfera política como a evidência dos principais ethé (de
credibilidade e de identificação) para fazer a construção de sua imagem de si, a
fim de sensibilizar e obter a aceitação do auditório através do que chamamos
adesão dos espíritos, além de gerar confiança no enunciatário acerca do seu
futuro mandato.

Palavras-chave: Discurso político. Retórica. Ethos discursivo.

219
INTELECTUAIS CATÓLICOS E O PODER POLITICO NO CEARÁ:
DISCURSO, AÇÃO POLÍTICA E ELEIÇÕES EM FORTALEZA (1933-1935)
Janilson Rodrigues Lima (UECE)

Resumo: As eleições que ocorreram nos anos de 1933, 1934 e 1935 no Ceará
foram eleições que contaram com fortes disputas em torno dos cargos do
poder legislativo e executivo de nosso Estado. Junto a estas disputas surgia
em meio a esse contexto histórico um grupo de intelectuais católicos
fortalezenses que se reuniram para concorrer às eleições nos anos
mencionados. O grupo era composto essencialmente por Andrade Furtado,
Menezes Pimentel, Waldemar Falcão e Edgar de Arruda, todos estes
personagens teriam papel importante no campo político das eleições que foram
realizadas na década de 1930. Usando o jornal católico "O Nordeste", esse
grupo vinculou seus discursos para a sociedade cearense, defendendo valores
ligados à fé religiosa a que pertenciam ao mesmo tempo em que usaram desse
jornal em suas ações políticas de forma estratégica para a disputa das eleições
no Estado e na capital cearense, naqueles anos. Nossas análises partem de
alguns referenciais teóricos que nos auxiliam em nossa abordagem a respeito
da ação desses intelectuais dentro do campo político. Utilizamos o conceito de
"discurso" de Michel de Foucault, assim como os conceitos de "campo político"
e de "poder simbólico" do autor Pierre Bourdieu. A metodologia de pesquisa
aplicada segue um modelo qualitativo de análise, no qual dialogamos com a
corrente historiográfica da História Cultural que amplia o conceito de fontes
históricas para além das fontes oficiais. Dessa maneira utilizamos como fonte
de pesquisa alguns jornais da época como o jornal católico "O Nordeste" e o
jornal "O Povo", juntamente com algumas correspondências trocadas entre os
intelectuais analisados por nós. Analisamos com o cruzamento dessas fontes
os discursos católicos em torno das eleições nos anos de 1933, 1934 e 1935,
assim como, as ações e articulações que esse grupo social teceu no campo
político que possibilitou sua ascensão e consolidação política no Estado do
Ceará, principalmente em sua capital, Fortaleza, nesses anos.

Palavras-chave: Intelectualidade católica. Discurso. Ação Política.

MÍDIAS DIGITAIS E EXPERIÊNCIAS AUDIOVISUAIS EM


FORTALEZA/BRASIL: OS JOVENS DO ALDEIA E SUAS DEMANDAS POR
CIDADANIA
Daniel Barsi Lopes (FCRS/ESTÁCIO)

Resumo: Este artigo desenvolve, a partir de um viés qualitativo de pesquisa


multimetodológica, reflexões sobre os modos como os jovens em situação de
vulnerabilidade social usam as mídias digitais em experiências audiovisuais
com o objetivo de representarem-se socialmente e de demarcarem suas lutas

220
por cidadania. O texto inicia abordando as transformações acarretadas com a
emergência das novas tecnologias nas vivências dos sujeitos da
contemporaneidade, especialmente a partir dos aportes de Morley (2008) e
Castells (1998). Segue refletindo sobre as relações entre as mídias digitais e a
construção de cidadania, em um cenário que permite que os receptores
possam participar, também, como produtores de conteúdos e gestores de
políticas comunicacionais, especialmente no seio de ONGs e projetos sociais
que atuam a partir desta perspectiva. Neste caso o debate é construído através
dos alicerces conceituais de Martín-Barbero (2008) e Peruzzo (2008). O artigo
explora, também, a associação que dá vida à investigação, a ONG Aldeia, que
trabalha com jovens em situação de vulnerabilidade social, moradores do
Morro Santa Terezinha, região da cidade de Fortaleza, conhecido nos meios
hegemônicos de comunicação local como uma área de criminalidade e
delinquência juvenil. O Aldeia tem como guia de suas atividades a perspectiva
da inserção social e cultural de jovens através do uso e empoderamento das
novas tecnologias comunicacionais. Por fim o trabalho analisa as experiências
e intervenções audiovisuais dos jovens participantes de suas oficinas e
projetos, que produziram um documentário (Mirada) sobre a vida cotidiana no
morro, que não aparece na tradicional mídia local. Como principais elementos
conclusivos, podemos apontar: a) afirmação e fortalecimento de uma
autoestima das pessoas do morro e tentativa de resgate e de valorização de
importantes fatos na história da cidade, elementos simbólicos e inspiradores
para qualquer iniciativa de resistência; b) associação do documentário com a
estética do videoclipe e da televisão.

Palavras-chave: Mídias digitais. Cidadania. Juventude.

ONG COMO TERAPIA FEMININA – MOVIMENTO SOCIAL NA


COMUNIDADE: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Elizabeth Lima de Souza (FATENE-CAUCAIA)
Gleyciana Gonçalves Freires (ONG-ITEFEC)

Resumo: Os movimentos sociais em comunidade ganham maior proporção à


medida que contextualizam assuntos diversificados que cativam um
determinado público. A ONG ITEFEC (Instituto Terapia Feminina do Ceará)
surgiu pela formação de uma Acadêmica de Enfermagem e Agente
Comunitária de Saúde que percebeu a necessidade de mulheres da melhor
idade de interagir umas com as outras, através de ações educativas, que
envolviam atividades direcionadas a: autoestima, educação em saúde, terapias
complementares, teatro grupal, dinâmicas, campanhas solidárias, coral,
artesanato e feirinha de variedades. Os eventos tornaram-se sequenciais e
agradaram as participantes que demonstraram satisfação e bem estar por

221
interagir umas com as outras. O exemplo poderia ser seguido se não fosse à
falta de investimentos ou recursos de fato. OBJETIVO: Relatar a experiência
dos acadêmicos de enfermagem em uma ONG localizada em Maracanaú, CE.
METODOLOGIA: Estudo descritivo, um relato de experiência, vivenciado por
acadêmicos de enfermagem, realizado em janeiro de 2015, em uma ONG no
distrito de Maracanaú-CE. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Ao observarmos
nosso padrão de vida nos deparamos com contrastes diversos e temos em
mente que podemos contribuir, de alguma forma, para o bem estar do outro. O
profissional de saúde precisa exercer sua função de maneira holística e focada
na melhoria do quadro geral do paciente. Os trabalhos realizados em
comunidade traduzem a simplicidade e a cultura de um povo que deseja
atenção. A ONG traz consigo a responsabilidade de tornar mulheres da melhor
idade, ativas, em um meio que as exclui, restringindo suas atribuições e
qualidades. CONCLUSÃO: A prática de um profissional de saúde é mais bem
compensadora se for exercida com cautela e empatia. A mudança na rotina
das mulheres frequentadoras da ONG é notável mediante o grau de
comprometimento de cada participante e da qualidade de vida almejada
individualmente pelas mesmas. Projetos deste tipo deveriam servir de exemplo
e destaque já que enriquecem a região e cativam adeptas a se engajarem em
atividades antes nunca realizadas, ou por falta de oportunidade ou pelo pouco
investimento e atenção direcionado a este público. A inovação é sem dúvidas a
solução.

Palavras-chave: ONG. Feminina. Terapias complementares.

REDES SOCIAIS NA INTERNET E PARTICIPAÇÃO NAS POLÍTICAS


URBANAS: ESTUDO DE CASO DA PLATAFORMA COLABORATIVA
CIDADE DEMOCRÁTICA
Carolina do Vale Uchoa (UECE)

Resumo: O crescimento das mídias sociais - ambientes projetados para


permitir a interação, o compartilhamento e a criação coletiva de conteúdos por
meio da Internet - tem alterado os modos de atuação dos movimentos sociais e
coletivos urbanos, quanto aos seus repertórios de ação, formatos organizativos
e formas de se relacionar com as esferas governamentais. O objetivo deste
trabalho é analisar as práticas de ativismo online que emergem na atualidade,
buscando perceber em que medida resultam no surgimento de novas culturas
políticas, a partir da observação das continuidades e rupturas em relação às
formas "tradicionais" de participação social. Para isto, optamos pelo estudo de
caso da plataforma Cidade Democrática (www.cidadedemocratica.org.br), site
de rede social que visa fomentar o debate e a construção coletiva de soluções
para problemas urbanos. Utilizando os referenciais teóricos da Sociologia dos
Movimentos Sociais, das teorias da democracia e da cibercultura, juntamente

222
com os instrumentais metodológicos da netnografia e da análise da
conversação online, investigamos as motivações para o engajamento dos
atores sociais na plataforma, bem como os sentidos que atribuem às categorias
de participação, cidadania e democracia. A título de resultados preliminares
(dado que a pesquisa encontra-se em andamento), percebemos a
predominância, nos discursos presentes na rede social em análise, da
valorização de repertórios de ação propositivos ou colaborativos, tidos como
mais eficazes na obtenção de melhorias no espaço urbano do que os
repertórios confrontacionais que costumam pautar as relações entre
movimentos sociais e Estado. A possibilidade de acesso direto dos cidadãos às
esferas de decisão política - sem necessidade da mediação dos meios de
comunicação ou de instituições representativas, como partidos, sindicatos e
associações - é apontada como uma das "vantagens" das novas formas de
ativismo, assim como a "facilidade" da participação online e a "visibilidade" e o
"reconhecimento" que esta pode proporcionar. Dentre os obstáculos à
ampliação dessa participação estão a baixa permeabilidade do poder público
aos projetos apresentados, a falta de conhecimentos técnicos para elaboração
das propostas e a fragilidade dos vínculos sociais entre os integrantes da rede.

Palavras-chave: Movimentos sociais. Internet. Cultura política.

UMA ANÁLISE DISCURSIVA DE TEXTOS JORNALÍSTICOS SOBRE O


(PEDIDO DE) IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF
Gilvan Santana de Jesus (UFS)

Resumo: As recentes manifestações contra o Governo petista de Dilma


Rousseff, os protestos "anti-Dilma", tal como ficaram conhecidos, têm por
interesse a efetivação de um processo de impeachment que culminaria na
retirada da presidente do cargo que ocupa. Todo esse contexto é a matéria
para a realização deste trabalho. A partir dele, fizemos uma análise discursiva
de peças sobre os pedidos de impeachment da presidente, isto é, uma análise
do impeachment enquanto um acontecimento discursivo. Através da
mobilização de um dispositivo teórico-analítico da Análise de Discurso de linha
francesa e de suas respectivas categorias, especialmente no que se refere à
categoria formação discursiva, procuramos analisar como acontece o
processo de constituição dos sentidos, bem como analisamos os diversos
atravessamentos de discursos nas peças selecionadas para a composição de
nosso corpus: textos sobre o impeachment publicados em duas edições
impressas do Jornal Folha de São Paulo (referentes a 12 e 18 de abril deste
ano). Contudo, outras categorias também são mobilizadas nos gestos
analíticos que movemos, tais como: sujeito e interdiscurso. Para tanto, o
trabalho está fundamentado na produção de autores como: Michel Pêcheux
(1997, 1999, 2002), Eni Orlandi (2007, 2015), Jacques Guilhaumou (2006),

223
Louis Althusser (1985), Jacqueline Authier-Revuz (1990), Dominique
Maingueneau (2005), entre outros. As análises feitas aqui procuraram
observar quais discursos atravessam (e determinam) os textos selecionados
para a composição do corpus, a fim de perceber a que posição (ões) as peças
analisadas filiam-se. Nesse sentido, observamos como os discursos político e
jurídico, por exemplo, constituem o sujeito da posição jornalística de modos
específicos.

Palavras-chave: Análise de Discurso. Formação discursiva. Impeachment.

VOZES DISSONANTES DAS JORNADAS DE JUNHO DAS REDES


SOCIAIS
José Adjailson Uchoa Fernandes (USP)

Resumo: A presente comunicação propõe uma reflexão sobre os aspectos


discursivos das Jornadas de Junho de 2013 nas redes sociais. Para tal,
tomaremos um recorte de nosso corpus de pesquisa de doutorado, composto
por postagens no Twitter e no Facebook, publicadas pouco antes do quinto e
sexto atos contra o aumento da tarifa de transportes, convocados pelo
Movimento Passe Livre (MPL), respectivamente para 17 e 20 de junho de
2013. A partir do diálogo entre os estudos semântico-discursivos da linguagem
(ORLANDI, 2002; GUIMARÃES, 2002) e as teorias dos movimentos sociais
(DOIMO, 1995; MARICATO, 2013), fazemos algumas considerações sobre o
discurso nas redes e seus possíveis efeitos de sentido, formações discursivas,
ideológicas e possíveis implicações para esse processo de mobilização social.
Objetivamos, a partir da análise dos enunciados, exemplificar alguns dos
conflitos entre vozes dissonantes que se intensificaram após o dia 17 de
junho. A partir do procedimento analítico, estabelecemos dois momentos
discursivos das Jornadas de Junho, ambos perpassados pelo que Doimo
(1995) chama de aspecto expressivo-disruptivo dos movimentos sociais. No
primeiro momento, os dizeres apresentam-se marcados por um viés
questionador sobre o modelo capitalista de organização e reprodução social e
da submissão do Estado a essa lógica. Encontram-se, ainda, elementos que
sugerem a recusa à institucionalidade do Estado como estratégia de
resistência à possível cooptação dos movimentos sociais, visando à
preservação de sua independência. Já, no segundo momento, essa recusa à
institucionalidade do Estado e da política manifesta-se nas redes a partir de
(re)apropriações de dizeres que remetem a formações discursivas do mercado
como, por exemplo, peças publicitárias (#vemprarua e #OGiganteAcordou),
em sua maioria veiculadas na televisão. Observam-se, ainda, marcas
discursivas que sugerem a busca pela alteridade dos países do centro do
capitalismo global, com frequente utilização de postagens e hastags em
inglês, como foi o caso do termo #ChangeBrazil.

224
Palavras-chave: Discurso. Redes sociais. Movimentos sociais.

“WE ARE THE 99%”: A CONSTRUÇÃO DA EQUIVALÊNCIA NO


DISCURSO DO MOVIMENTO OCCUPY WALL STREET
Thaysa Maria Braide de Moraes Cavalcante (UECE)

Resumo: As novas tecnologias da informação trouxeram modificações nas


formas de ativismo político, tanto reconfigurando as práticas já existentes
quanto criando novos meios de intervir na sociedade, fazendo emergir os
chamados movimentos sociais em rede, também conhecidos como
movimentos sociais transnacionais, como foi o caso do Occupy Wall Street
(OWS), que, em 2011, ocupou o Zuccotti Park, em Manhattan, para, entre
outras coisas, externar sua insatisfação com o império do capital financeiro e
as políticas de Estado a ele subserviente. O "We are the 99%" ecoou
coletivamente durante as ocupações mundo afora, criando uma identificação
do movimento com a categoria de "povo", que foi tomando coro na tensão
dinâmica entre diferença e equivalência, abrigando uma multiplicidade de
grupos sociais e indivíduos em torno de um ponto hegemônico em comum. É
justamente a formação dessa equivalência, via processos de referenciação, o
objeto de investigação deste trabalho, no qual é empreendida uma análise
discursivo-textual de um dos manifestos do movimento norte-americano,
quando de sua emergência. Tomamos, assim, como objetivo analisar de que
forma as cadeias referenciais no discurso do OWS contribuem para a
formação da equivalência entre seus membros. Utilizaremos como referencial
teórico-metodológico a teoria do discurso de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe
([1985] 2015; LACLAU, 1990; 2011; 2013), em articulação com os
pressupostos teóricos e ferramentas analíticas fornecidas pela referenciação,
a partir de alguns de seus desdobramentos mais recentes no âmbito da
Linguística Textual (MONDADA & DUBOIS, 2003; MARCUSCHI, 2007;
CAVALCANTE, 2011). Assim, partindo da investigação sócio-linguístico-
discursiva, chegamos à compreensão de um referente marcado pela
indefinição, cuja cadeia equivalencial é estendida a tal ponto que caracteriza o
significante Occupy como aquilo que Laclau denomina significante vazio - que,
ao fim, acaba sendo característica de qualquer significante cujo significado
está em disputa. Por fim, realizamos uma breve reflexão a respeito desse tipo
de construção para a ação política contemporânea e sua relação com a
linguagem, sobretudo no que diz respeito às tensões inerentes às relações
sociais, marcadas pela dimensão do político.

Palavras-chave: Teoria do Discurso. Referenciação. Movimentos sociais em


rede.

225
A IDENTIDADE DO EVANGÉLICO BRASILEIRO A PARTIR DA
REFERENCIAÇÃO
Valney Veras da Silva (UFC)
Mônica Magalhães Cavalcante (UFC)

Resumo: A identidade entendida como um construto social derivativa da


relação entre o eu e o outro, no contexto social, é percebida no discurso,
enquanto prática social, que também se faz presente no texto. Deste modo,
entendendo texto numa perspectiva sociocognitiva, propomos a investigação
da identidade do evangélico brasileiro tendo como teoria que fundamenta a
análise a referenciação, segundo Cavalcante (2011) e Mondada; Dubois
(2003). Bauman (2005) orienta o conceito de identidade desta investigação
numa vertente sociológica; e van Dijk (2003, 2006) supre a base sociocognitiva
para a análise do discurso da identidade do evangélico no Brasil, que é o
objetivo deste trabalho. Tal abordagem crítico-discursiva também se vale da
macrocategoria ideológica da polarização Nós/Outros, que estabelece uma
relação com a investigação que Bauman faz da identidade como este construto
estabelecido entre o Eu e o Outro. A articulação da sociocognição, segundo
van Dijk (2003, 2006), ancorada nos Estudos Críticos do Discurso, o
pressuposto discursivo para este estudo da identidade, juntamente com os
processos de referenciação, as marcas no texto a ser analisado que
recategorizam em favor de uma dada orientação argumentativa, promovem o
entendimento crítico da identidade em questão. O corpus de análise é reduzido
e parcial, a título de amostragem, sendo por natureza o texto escrito de revistas
de ampla divulgação nacional, sobre o tema "evangélico", no gênero
reportagem. Na busca pela compreensão da identidade do evangélico
brasileiro, deseja-se também perceber seu lugar na sociedade, bem como seus
embates diante do outro que o constrói discursivamente, e o movimento
ideológico que perfaz tal construção.

Palavras-chave: Identidade. Referenciação. Estudos Críticos do Discurso.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM OLHAR SOBRE A GESTÃO DOS RESÍDUOS


SÓLIDOS EM ARRAIAS/TO
Antonivaldo de Jesus (UFT)

Resumo: No Brasil, o modelo de desenvolvimento vigente vem acarretando


uma série de problemas socioambientais, destacando-se entre estes o
aumento da produção do lixo urbano, a má gestão dos resíduos sólidos e suas
conseqüências. Neste sentido, este trabalho se propôs a analisar esta
problemática no contexto do município de Arraias/TO e o papel da educação
ambiental formal e informal como elemento importante para a mudança de

226
paradigma e construção de uma nova ética que induza a participação social na
construção de novos valores, práticas, hábitos e atitudes em relação ao meio e
à responsabilização da administração pública pela adoção de políticas voltadas
para a melhoria das questões socioambientais. Para tanto o presente trabalho
foi desenvolvido a partir de uma pesquisa qualitativa sendo aplicados
questionários com questões abertas e fechadas a moradores de setores
diferentes do município, entrevista oral junto funcionários públicos ligados à
área, registro fotodocumentado, tendo como referencial teórico autores como
Calderoni (2003), Dias(2004), Luzzi (2005) e outros que discutem a
problemática. Os resultados alcançados apontam para a necessidade de se
intensificar propostas que aproximem poder público e sociedade civil com
vistas a desenvolver ações para minimizar os impactos negativos causados ao
meio ambiente, tendo como principal ferramenta a educação ambiental em
todas as suas vertentes.

Palavras-chave: Educação ambiental. Política pública. Participação social.

TRADUÇÃO: UMA AÇÃO POLÍTICA DE REFORÇO DA IDENTIDADE


NACIONAL
Lilia Baranski Feres (UNIRRITER)
Valéria Silveira Brisolara (UNIRRITER)

Resumo: A tradução é uma atividade que trespassa fronteiras. Essencial na


mediação entre sociedades, o processo tradutório propicia circulação de
discursos e compreensão de identidades. Não há igualdade, entretanto, na
distribuição da cultura. Uma "geometria do poder" (HALL, 1997) determina o
quê, o quanto, e como se darão as trocas interculturais. Embora o português
seja o sexto idioma mais falado no mundo, o Brasil carece de tradição no que
tange à exportação de literatura, consolidando-se como uma nação que mais
importa - principalmente títulos de língua inglesa - do que exporta. Ademais, a
escassa literatura brasileira que alcança outros países pode ser insuficiente
para representar a diversidade de nossa cultura, contribuindo para a formação
de determinados discursos estrangeiros sobre a identidade nacional e a vida
social do país. O complexo panorama envolvendo os campos literário e
editorial, que se materializa em uma disparidade entre países hegemônicos e
não hegemônicos, coaduna-se com iniciativas do governo federal que visam ao
incremento da participação da literatura brasileira no cenário internacional. O
Programa de Apoio à Tradução e Publicação de Autores Brasileiros no Exterior,
aliado à publicação da revista Granta (2012) intitulada The best of young
Brazilian novelists, vêm ao encontro dessa parca participação, surgindo como
resposta à supracitada problemática. Ainda que medidas estejam sendo
tomadas para que autores brasileiros ganhem mais espaço na literatura
internacional, é preciso atentar para a forma como as obras - e,

227
consequentemente, a cultura brasileira - estão sendo traduzidas. Suportado
pelas proposições acerca da centralidade da cultura e da identidade cultural da
pós-modernidade (HALL, 1997; 2005), e pela teoria dos polissistemas (EVEN-
ZOHAR, 1990), este trabalho objetiva refletir sobre a importância das iniciativas
do governo federal, aliadas à publicação do referido título da Granta, para a
(nova) literatura brasileira e o papel da revista como ferramenta de autoridade
nessa dinâmica. Baseado nos fundamentos da invisibilidade do tradutor
(VENUTI, 1995), pretende-se, também, advertir sobre os diferentes métodos de
tradução - considerando-se a função que essa atividade desempenha no
reposicionamento da literatura brasileira no contexto global - e as implicações
das escolhas do tradutor em relação a aspectos culturais formadores de uma
identidade nacional.

Palavras-chave: Tradução. Cultura. Identidade.

TECNOFOBIA, ECOLOGIA E FEMINISMO: UM PROTESTO VELADO EM


“VERDE, VERDE…” DE JOSÉ FERNANDES
Thalita Ruth Sousa (UFMA)
Naiara Sales Araújo Santos (UFMA)

Resumo: A segunda metade do século XX foi marcada por mudanças sociais


que resultaram em transformações no modo de pensar e agir da população
mundial. Sendo um país de Terceiro Mundo, o Brasil não possuía condições
básicas de vida para a maioria da população, resultando em cidades com
crescimento desordenado e um sentimento de incredulidade nas políticas
progressistas do Estado. Somando-se a tal situação, inicia-se na década de 60
a Ditadura Militar, que almejava o desenvolvimento do país através das
inovações tecnológicas, favorecendo o tecnicismo e a industrialização das
grandes cidades - agravando a condição social e, por conseguinte, os
parâmetros ideológico-culturais dos brasileiros. A rigidez da censura e o temor
provocado pelo militarismo levaram escritores a camuflar suas opiniões
utilizando-se de figuras de linguagens tais como a metáfora e a ironia, entre
outros, criando um protesto velado. Por ser um gênero desvalorizado e
marginalizado no Brasil, a Ficção Científica serviu de palco para a expressão
da insatisfação popular. Embora a Ditadura objetivasse o desenvolvimento
tecnológico, havia um sentimento na população de que a tecnologia agravava a
divisão social e contribuía para uma exploração desenfreada de recursos
naturais, trazendo mais malefícios que benefícios - resultando em uma visão
negativa dos avanços tecnológicos (a tecnofobia). Como forma de oposição,
muitas obras de FC das décadas de 60 a 90 passaram a defender a natureza,
além de destacarem o papel da mulher como fecunda e protetora, associando-
a a um cenário naturalista. A presente pesquisa objetiva analisar o conto
"Verde, Verde..." de José Fernandes (1990), focando no discurso de rejeição à

228
Ditadura Militar bem como nos elementos ligados ao natural/nacional e como
isto colaborou para o "protesto velado" dos escritores de FC. Para tanto, utiliza-
se como base teórica M. Elizabeth Ginway, Rachel H. Ferreira e Gustavo
Ribeiro.

Palavras-chave: Ficção científica brasileira. José Fernandes. Ditadura.

PRÁTICAS DE MULTILETRAMENTOS NA PERIFEIRA DE FORTALEZA


Carlos Eduardo Ferreira da Cruz (UECE)
Claudiana Nogueira de Alencar (UECE)

Resumo: Com o avanço das tecnologias, passou-se a considerar não somente


aa conjunção múltipla de semioses na elaboração de novos textos, mas
também a multiplicidade cultural que se encerra nesse processo; com efeito,
veio à lume o termo multiletramentos com o fito de dar conta desse processo.
Nesse sentido, os multiletramentos, tão presentes na sociedade hodierna, são
compreendidos de forma situada tomando a perspectiva do modelo de
letramento ideológico (STREET, 1984, 1993). Na esteira dessa perspectiva,
realizamos uma abordagem cartográfica no Grande Lagamar, especificamente
na comunidade Cidade de Deus, em Fortaleza/CE, durante o segundo
semestre de 2014, a fim de entender as práticas de multiletramentos dos
jovens e os possíveis agentes de multiletramentos. Na ocasião, elaboramos
questionários, realizamos entrevistas semiestruturadas, propomos um grupo
focal e, por fim, construímos fanzines com alguns jovens da comunidade. A
análise preliminar dos dados aponta que há uma forte influência de outras
culturas (coreana e japonesa, por exemplo) e uma facilidade de produção de
textos multisemióticos por conta dos jovens. Ademais, as associações do dos
bairros e a igreja (evangélica) têm se mostrado nesse ambiente como um
agente de letramento.

Palavras-chave: Multiletramentos. Cartografia. Agente.

O FEMININO E A CONSTRUÇÃO DO SEU ESPAÇO POLÍTICO EM A


CANDIDATA DE VERA DUARTE
Denise de Lima Santiago Figueiredo (UESC)
Maristela Rodrigues Lopes (UESC)

Resumo: Este trabalho de pesquisa intenta mostrar como a literatura a partir


da experiência humana é utilizada como suporte no percurso de construção do
espaço público que a autora Vera Duarte utilizou na escrita da protagonista
de A candidata a fim de viabilizar a emancipação e autonomia desta
personagem que se tornou a primeira mulher candidata à Presidência de seu

229
país. As especificidades do contexto diaspórico das ilhas, bem como do próprio
deslocamento da identidade multicultural da cabo-verdiana que fez parte da
luta pela independência de sua gente, aparecem como parte desta construção
de um espaço político. Em consonância com este âmbito, faz-se necessário
compreender a discussão da trajetória política de gênero ancorada na terceira
onda feminista e suas principais divergências e convergências dentro das
próprias teorias que servem de aporte para o contexto dos estudos de gênero.
Contudo, nota-se a desigualdade ainda persistente que prioriza o falocêntrico e
o patriarcal e que conduz a falta de uma presença atuante do feminino no
território político. Assim, torna-se inevitável os questionamentos que possam
fazer compreender a persistência desta falta de ações que conduzam a uma
democracia efetivamente paritária. E mesmo em face a representação
feminina, interpela-se a aproximação identitária para a perpetuação do
empoderamento por parte das que estão na condição de empoderadas e de
quem estas de fato representam. Toma-se como base teórica para realização
das discussões no campo literário e no campo feminista estudiosos e
pesquisadores como Spivak (2010); Hall (2014); Gomes (2008); Butler (2003);
Valcárcel (2012); Pinto (2010); Lugones (2014).
Palavras-chave: Feminismo. Política e empoderamento. Literatura feminina.

230
EIXO TEMÁTICO 9 – ARTES, MEDIAÇÕES E PRÁTICAS CULTURAIS

A ARTE DA DANÇA NAS ESCOLAS: O OLHAR DE PROFESSORAS DA


EDUCAÇÃO INFANTIL
Adriana Martins Ianino (UPE)

Resumo: A dança é uma das maneiras mais adequadas para ensinar, na


prática, todo o potencial de expressão do corpo humano, pois a percepção das
estruturas de seu corpo poderá levar a criança à exploração do mundo exterior,
saindo de si e começando a observar e a explorar o mundo por meio de suas
próprias experiências. Demonstra-se, portanto, que a dança e a
psicomotricidade não devem ser compreendidas como um amontoado de
partes e de aparelhos, mas sim como um mecanismo integrado, tal como o
corpo vivo que interage com os meios físico e cultural. Dessa forma, a presente
pesquisa busca refletir sobre a importância da dança na escola, não apenas na
aquisição das habilidades motoras, mas também no desenvolvimento das
potencialidades humanas, considerando sua relação com o mundo.Acredita-se
que a inclusão dessa arte nas escolas favorece a construção de
conhecimentos e a formação de cidadãos críticos e participativos na sociedade.
Paralelamente, intenciona-se analisar essa compreensão, considerando as
concepções curriculares e as relações desenvolvidas entre docentes e
discentes. De um ponto de vista metodológico, realiza-se uma pesquisa
amparada em abordagem qualitativa descritiva, evidenciando o caráter
pluralista desse tratamento analítico, que, embora não se atenha à rigidez de
uma ciência estritamente cartesiana, tem, no r de suas coletas e análises, em
termos tanto teóricos quanto empíricos, a sua base de ocorrência.
Metodologicamente, realizou-se um questionário estruturado, com respostas
abertas, direcionado a quatro professoras de Educação Infantil, pertencentes a
escolas públicas da Cidade do Recife, em Pernambuco. Nosso embasamento
teórico aborda o pensamento de autores como: Marques, Freire, Vigotsky,
entre outros. Os resultados indicam que as educadoras atribuíam importância à
inclusão da arte da dança nas escolas, no entanto, ainda possuíam um
conhecimento superficial acerca de todos os benefícios que a mesma poderia
proporcionar. Sendo assim, concluímos, através desses dados, que é preciso
fazer uma revisão das grades curriculares dos cursos de pedagogia e/ou tornar
obrigatória a contratação de professores licenciados em dança para ministrar
as aulas nas escolas. Ressalta-se, ao fim, que a dança, enquanto instrumento
pedagógico, favorece uma aprendizagem significativa, que rompe com as
práticas rotineiras em sala de aula, e que a falta de diversificação no ensino
pode promover o desinteresse na aprendizagem do aluno, justificando a
relevância desse tema.

Palavras-chave: Dança. Educação Infantil. Aprendizagem.

231
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO “FANÁTICO RELIGIOSO” EM
OBRAS DA TRADIÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA BRASILEIRA
Benedita França Sipriano (UECE)

Resumo: Na abordagem bakhtiniana, os sentidos não são um mero reflexo da


realidade, nem emanam de um sistema linguístico abstrato, pois são
construídos em um jogo dialógico de intenções verbais, a partir da interação de
sujeitos históricos, em contextos culturais específicos (BAKHTIN, 2013;
BAKHTIN, 2010; BAKHTIN/VOLOCHÍNOV, 1990). Considerando esse caráter
dialógico da linguagem, a construção das identidades, portanto, dá-se a partir
das práticas discursivas, da relação com o "outro". Tomando como referencial
teórico-metodológico o pensamento bakhtiniano, este trabalho objetiva discutir
sobre a construção da identidade do "fanático religioso", a partir da análise de
obras da produção histórico-literária que abordam a problemática de
movimentos sociorreligiosos, tais como Canudos e Caldeirão (CUNHA, 2002
[19020]; FACÓ, 1980; LOURENÇO FILHO, 2002 [1926]; QUEIROZ, 1965;
MONTENEGRO, 1989). Rajagopalan (2003) enfatiza que as identidades não
se apresentam como prontas e acabadas, pois estão sendo constantemente
reconstruídas, ou seja, estão em permanente estado de transformação e de
ebulição. Assim, não se pode falar em identidades fora das relações estruturais
que imperam em dado momento histórico. No final do século XIX e início do
século XX, o olhar lançado pelas camadas letradas da sociedade sobre as
manifestações da religiosidade popular é pautado, sobretudo, por correntes de
pensamento europeias cientificistas, em especial o evolucionismo e o
determinismo. Pompa (2004, p. 73) ressalta que Euclides da Cunha, em Os
Sertões (2002 [1902]), inaugurou uma tradição histórico-literária que identifica o
sertanejo no seu "fanatismo". Assim, os movimentos religiosos populares são
analisados por diversos estudiosos, a partir de dicotomias litoral/sertão,
moderno/arcaico, barbárie/ civilização. Nesse sentido, há um esforço das
camadas letradas em voltarem-se para os estudos da "realidade brasileira", em
busca da construção de uma "identidade nacional", mas ainda muito pautada
pelo cientificismo, em busca de explicação para as razões da causa do "atraso
brasileiro". A partir da análise dessas obras, pode-se observar que, do ponto de
vista da intelectualidade urbana, o "fanático religioso" é o "outro", o "exótico", o
"retrógrado", "o primitivo", a expressão de atraso.

Palavras-chave: "Fanático". Movimentos Sociorreligiosos. Identidades.

A CONSTRUÇÃO DISCURSIVA SOBRE O NORDESTE NA OBRA DE


HUMBERTO TEXEIRA
Ana Luiza Rios Martins (UECE)

232
Resumo: A presente pesquisa trata de um trabalho interdisciplinar entre os
campos da História e da Música, tendo como objeto de estudo os registros em
partitura e os discos de 78rpm das composições de Humberto Texeira,
produzidos em gravadoras brasileiras, no período que ficou comumente
conhecido como "A Era do Rádio". Como fontes históricas, os registros do
passado musical, encontrados nos acervos do Miguel Ângelo de Azevedo e da
Biblioteca Nacional, ajudam a analisar a construção discursiva sobre o
Nordeste como uma terra ligada, sobretudo, à seca e à pobreza. As escolhas
de Fortaleza e do Rio de Janeiro como o recorte espacial da pesquisa foram
feitas pelo fato de o referido artista transitar entre essas duas capitais. O aporte
teórico utilizado na pesquisa estabelece uma discussão com os trabalhos de
HomiBhabha (em O local da Cultura), Durval Muniz (em A Invenção do
Nordeste), GárciaCanclini (em Culturas Híbridas), Martín-Barbero (em Dos
meios às mediações) e Stuart Hall (em Da diáspora: Identidades e Mediações
Culturais).
Palavras-chave: Discurso. Construção. Humberto Teixeira.

A FORTALEZA CANTADA – O DIÁLOGO SUJEITO-CIDADE NO DISCURSO


LÍTERO MUSICAL CEARENSE DA DÉCADA DE 1990
Alan George Félix Mendonça (UECE)

Resumo: Esta comunicação segue a linha dos Estudos Críticos da Linguagem.


Trata-se de uma breve apresentação de uma proposta de investigação das
práticas discursivas e das práticas sociais "ditas" pelo subterfúgio das canções.
Através da análise de processos semântico-discursivos presentes nas criações
de uma cidade cantada por seus artistas da palavra por música, busca-se
entender de que modo se dá a constituição dos sentidos transeuntes pelo
diálogo sujeito-cidade, no discurso lítero-musical cearense da década de
1990.Assim, promove-se uma revisão teórico-metodológica das análises
efetuadas na Linguística, na Literatura e na Psicologia Ambiental, bem como da
sua relação dialógica com as diversas análises do discurso, que observamos
nos autores do chamado Círculo de Bakhtin e em Dominique
Maingueneau.Acreditamos serem, tais estudiosos, os mais "completos" autores
nas áreas emrealizam-se os nossos estudos. Estamos na fase final da
pesquisa, no momento da escrita, buscando apresentar um estudo dialógico-
discursivo do gênero canção popular brasileira, focando na vertente produzida
no Estado do Ceará, mais especificamente na cidade de Fortaleza, e o diálogo
sujeito-cidade na década de 1990 dentro do contexto histórico do movimento
que ficou conhecido como Música Plural. A partir das teorias do Círculo de
Bakhtin sobre o estudo dos gêneros discursivos, realizamos uma descrição do
gênero canção popular, dando atenção ao seu caráter dialógico. Juntamente
com as teorias do Círculo de Bakhtin, trabalhamos com as propostas de
Dominique Maingueneau para o estudo da enunciação e propomos um modelo

233
de análise discursiva da canção popular, fundamentado nos conceitos de
ethos, de cenas de enunciação e de interdiscurso. Esta escrita pretende
identificar as marcas do diálogo sujeito-cidade nas letras da canção cearense;
analisar a constituição do sujeito-artista a partir de suas marcas autorais
dialogadas com a cidade cantada; examinar a construção da imagem do
interlocutor-cidade-povo, a partir de elementos textuais inseridos no cantar
verbal dessas referidas criações.

Palavras-chave: Discurso. Canção. Dialogismo.

A MANIPULAÇÃO DO SUJEITO ROMÂNTICO PELA CANÇÃO TRIBALISTA


BRASILEIRA
Carmem Silvia de Carvalho Rêgo (UFC)

Resumo: Cá trazemos um ensaio de nossa investigação sobre a suposta


manipulação do Sujeito romântico pelo cancionistatribalista, a partir de seu
investimento genérico. Intriga-nos que a balada e o rock in'roll, subgêneros
legitimados no interior daquele discurso, sejam explorados justamente para a
ele se opor. Reconhecemos, nas relações tema-subgênero e letra-melodia,
investidos no posicionamento tribalista, o processo de camuflagem do discurso
do enunciador pelo de seu Outro, semelhante ao que Maingueneau (2008)
percebeu ao analisar cartas públicas do campo religioso. Nesse caso, o
analista reconhece o processo de camuflagem na adoção do subgênero
epistolar carta como cenografia de carta privada em favor de um debate
público. Na prática tribalista, entendemos que essa camuflagem se faz não
exatamente pelo gênero, enquanto cenografia que camufla a cena englobante,
mas sim por uma espécie de subversão do investimento legitimado pelo Outro.
Nosso trabalho é fundamentado na tendência francesa da Análise do Discurso
(AD), em que nos dedicamos ao posicionamento tribalista do discurso
literomusical brasileiro. Neste ensaio, exploramos duas canções interpretadas
por Arnaldo Antunes, ambas do álbum Paradeiro (BMG, 2001): Se tudo
podeacontecer e Exagerado, em que observamos, respectivamente, uma sutil
desconstrução e a satirização do ponto de vista romântico.

Palavras-chave: Posicionamento tribalista. Camuflagem. Discurso


Literomusical.

ARTE NA ESCOLA: UM PROJETO DE LEITURAS E RELEITURAS COM


ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – EJA
Maria de Jesus Vaz de Sousa (UECE)

234
Resumo: O Projeto Arte na escola: um projeto de leituras e releituras com
alunos da educação de jovens e adultos-EJA trabalha com uma
abordagem interdisciplinarque envolve Arte, Educação e Práticas Culturais.
Utilizamos como base teórica o autor Paulo Freire e a Abordagem Triangular,
de Ana Mae Barbosa, que tem por base um trabalho pedagógico integrador das
três facetas do conhecimento em arte: a história da Arte, o fazer artístico e a
leitura da obra de Arte. Trabalhamos a releitura como produção, por meio da
experimentação de materiais artísticos, de uma produção em que o aluno seja
o sujeito da criação, não um mero reprodutor de imagens. O projeto acontece
anualmente e, em cada ano, é contemplado um pintor brasileiro diferente. No
ano de 2014, o artista escolhido foi a pintora Tarsila do Amaral, pois a mesma é
considerada uma das mais importantes pintoras brasileiras,além de ser
reconhecida como a maior representante feminina nas artes na Semana de
Arte Moderna de 22. A atividade iniciou-se com a pesquisa sobre a vida e a
obra da referida pintora. A seguir, foi explicado aos alunos o que é releitura,
conscientizando-os de que ela não é uma simples cópia, mas um novo olhar
artístico sobre a obra. Depois, os alunos fizeram a primeira versão da releitura
em folha de papel 40kg, com uso de lápis de cores, de canetinhas e de giz de
cera. Adiante, produziram a segunda versão nas telas apropriadas, com o uso
de tinta guache e de outros materiais. O projeto foi finalizado com a exposição
no Museu da Boneca de Pano, que se localiza nas proximidades da escola.
Como resultado da aplicação do projeto, concluiu-se que os alunos se
reconhecem como sujeitos das práticas sociais, visto que a parceria da escola
com o Museu, em que os alunos expuseram as suas criações para os
visitantes (seus familiares, alunos de outras escolas, dentre outros), fez com
que eles também conhecessem e participassem de outros eventos culturais
oferecidos pela instituição.Ao fim, nota-se que os educandos passaram a ver a
arte como algo que eles têm direito ao acesso, passando a serem sujeitos mais
críticos.

Palavras-chave: Arte. Abordagem Triangular. Práticas Culturais.

ARTE, PRESERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL


DO CONJUNTO HISTÓRICO E PAISAGÍSTICO DE PARNAÍBA, PIAUÍ,
BRASIL: FORTALECIMENTO DA IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONÔMICO DA COMUNIDADE.
Antonio Liuesjhon dos Santos Melo (UFPI)
Liliane Lima Freitas (E.M. Prof. José de Lima Couto)

Resumo: No presente artigo, procura-se fazer uma análise sobre os estilos


arquitetônicos existentes no Centro Histórico e Paisagístico do município de
Parnaíba, localizado ao norte do estado do Piauí, no litoral brasileiro.
Identificando, conceituando e caracterizando cada um deles, de modo a
mostrar seu conteúdo artístico, visto que existe uma usual divisão das artes em

235
maiores (arquitetura, pintura e escultura) e menores (todos os gêneros de
artesanato), fica claro que os estilos arquitetônicos são notáveis obras de arte.
Busca-se destacar o conhecimento a respeito das seis aglomerações
arquitetônicas que compõem o citado conjunto histórico e paisagístico
parnaibano, procurando mostrar suas características principais. Além
disso,objetiva-se apresentar a valorização de uma visão artística desse
patrimônio e a preservação efetiva do mesmo, que podem ajudar a fortalecer a
identidade da comunidade. Parte-se dessa afirmação de suas raízes,
colaborando para o desenvolvimento econômico e social da população local e
despertando, em cada indivíduo, o sentimento de que seus patrimônios
culturais lhes pertencem. Os indivíduos podem e devem valorizá-los e utilizá-
los para preservar sua história, desenvolverem-se e proporcionarem o
desenvolvimento também das gerações futuras. Dessa forma, são
apresentados, na pesquisa, conceitos a respeito do patrimônio cultural, material
e imaterial. Os dados utilizados para corroboração do estudo foram obtidos
mediante pesquisa bibliográfica e documental. Portanto, infere-se que o
município de Parnaíba é dotado de um grande patrimônio cultural material,
possuindo, ainda, um enorme valor artístico, especialmente no que se refere às
construções do conjunto histórico e paisagístico. Tais paisagens podem gerar o
fortalecimento da identidade da população local, bem como ajudar no
desenvolvimento socioeconômico da região, por meio do processo de
valorização e de preservação do patrimônio, que devem ser despertadas no
seio da comunidade.

Palavras-chave: Arte. Patrimônio Cultural. Identidade.

A FESTA DA RAINHA DO MAR: PRÁTICAS CORPORAIS QUE


REATUALIZAM A TRADIÇÃO
Tatiana Maria Damasceno (UFRJ)

Resumo: Na cultura brasileira, o orixá Iemanjá, para além dos muros dos
terreiros de candomblés, transbordou em direção ao mar, local em que ela é
também intensamente reverenciada por meio de festas e de rituais. Os fiéis
acreditam-se próximos de Iemanjá, ao entrarem em contato com o local da
natureza que ela habita. Na festa de Iemanjá à beira-mar, encontramos
elementos como a dança, o canto, a música, o figurino, o cenário, entre outros,
e, principalmente, a atuação fundamental do adepto das religiões afro-
brasileiras. Esses elementos relacionam e interagem um conjunto de
dinâmicas culturais que, segundo o professor Zeca Ligiéro, são denominadas
de práticas performativas (2011). Para o autor, "as práticas performativas se
referem à combinação de elementos como a dança, o canto, a música, o
figurino, o espaço, entre outros, agrupados em celebrações religiosas em
distintas manifestações do mundo afro-brasileiro." (2011, p. 107). Nas idas a

236
campo, na festa à beira-mar, no dia 2 de fevereiro, na praia de Paciência, no
litoral da cidade de Salvador/BA, buscamos pesquisar e analisar as principais
práticas performativas presentes nas celebrações e nos rituais de Iemanjá.
Partindo dessa análise, verificamos a maneira como o corpo aciona as
dinâmicas culturais e expressa significados: o que o corpo faz, como ele se
apresenta, quando executa as práticas e a forma com que ele interage com os
outros, com o espaço e com os objetos. Examinamos o corpo em ação e suas
expressões gestuais e energéticas no ato da experiência e tudo o que o
envolve. O conceito de "comportamento restaurado", apresentado por Richard
Schechner (2003), é fundamental para compreendermos como a memória de
Iemanjá é atualizada por práticas que sobressaem na praia, sendo nesse
espaço memorizada, reinterpretada e transmitida. O comportamento restaurado
ou reiterado é uma experiência concreta, pessoal, que instrui o performer
(adepto) como deve ou deveria atuar (desempenhar o seu papel). São roteiros
e ações, textos conhecidos, movimentos codificados. O corpo do performer
(aquele que realiza a ação) nas práticas performativas é fonte de resistência,
de propagação da cultura e de memória. Memória restaurada através de
expressões, atos e práticas corporais que se mostram singulares na
representação de um intérprete a outro.

Palavras-chave: Iemanjá. Práticas Performativas. Corpo.

“A VOZ RESISTE, A FALA INSISTE”: O ETHOS VOCAL EM CANÇÕES DO


PESSOAL DO CEARÁ
Maria das Dores Nogueira Mendes (UFC)
Lúcio Flávio Gondim da Silva (UFC)

Resumo: Este trabalho procura analisar a imagem de si (ethos) constituída no


investimento vocal de quatro gravações da canção "A palo seco" (Belchior;
1974; 1976; Fagner, 1974; Ednardo, 1975), a fim de investigarmos se as
constatações de Costa (2001) a respeito do ethos áspero do Pessoal do Ceará
também se confirmam nessa dimensão. Utilizamos o aporte da Análise do
Discurso, delineada por Maingueneau (1996a/b, 1997, 2000, 2001, 2004, 2005,
2006a, 2006b) e a aplicação que Costa (2001; 2011) faz dessa teoria ao
discurso literomusical (2001; 2011). Observamos um hipertimbre
agudo/metálico nas vozes de Ednardo e de Fagner e uma hipernasalidade na
voz de Belchior, que tornam evidente uma ausência de equilíbrio nos fatores de
ressonância, já que Ednardo e Fagner projetam a voz nos seios da face,
enquanto Belchior o faz no nariz. Isso poderia ser considerado um "erro" de
técnica vocal, na medida em que dá a ideia de um esforço físico do aparelho
vocal que produz um incômodo e destrói a aparente naturalidade do cantar, na
qual outros posicionamentos investiram até a intervenção tropicalista. No
entanto, esse esforço físico que as qualidades vocais de Belchior, de Ednardo

237
e de Fagner aparentam, o qual pode ensejar um incômodo no ouvinte, pode ser
visto como uma transgressão, o que denota, para essa dimensão do
investimento vocal, um tom polêmico, quando comparada a outros
investimentos vocais surgidos no campo discursivo literomusical brasileiro.
Como esse tom não se separa de um caráter, tais qualidades vocais, metálica
e nasal, contribuem para que o ouvinte elabore para o fiador
um ethos questionador e agressivo, semelhante àquele já constatado por Costa
(2011) no plano verbal das canções. Tal ethos vocal participa, desse modo, da
composição de diversos temas e de tons das canções, inclusive, o
erótico/sensual.

Palavras-chave: Investimento vocal. Ethos. Canção.

CAMINHOS DA EDUCAÇÃO PARA A SENSIBILIDADE: O ENSINO FORMAL


DE MÚSICA E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA
DOS PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL.
Daniele Facundo de Paula (Prefeitura Municipal de Fortaleza)

Resumo: O presente projeto tem por finalidade realizar uma pesquisa que
busque contribuir com a formação continuada dos professores nas séries
iniciais do ensino fundamental para o ensino das artes: como os professores
(pedagogos) das séries iniciais do Ensino Fundamental podem compreender e
visualizar o ensino de música na escola, atuando sobre ele? A partir dessa
pergunta, pretendo discutir sobre o trabalho docente e o ensino de artes na
educação pública brasileira, bem como, num segundo momento, permitir aos
pedagogos a organização, a reflexão e a percepção de sua prática docente no
ensino de artes através da música. O escopo não é substituir os educadores
musicais, massim cooperar e colaborar com conhecimentos e com atitudes em
busca da melhoria da qualidade de ensino, que visa à educação integral dos
alunos das séries iniciais da educação básica. Para tanto, utilizamoso
pensamento de Duarte Jr. (2007) acerca da importância da arte na Educação e
o de Santos (2011) e Moraes (1993) sobre uma breve abordagem histórica a
respeito da inserção da Arte e da Música na escola, bem como os papéis que
desempenharam e desempenham através das práticas docentes no Brasil.
Uma vez que alguns documentos de base curricular (PCN, Arte e Diretrizes
Curriculares de Fortaleza) trazem propostas de ensino da arte e da música, é
preciso transcorrer uma discussão e, assim, proporcionar aos pedagogos, que
atuam como polivalentes, a incorporação de conhecimentos que possibilitem
e/ou os auxiliem o trabalho com música na escola. A observação participante
será uma estratégia empregada como procedimento metodológico, com o uso
de diários de campo, de videogravações e de fotografias como recursos para o
registro dos respectivos dados obtidos em campo.

238
Palavras-chave: Educação. Currículo. Ensino de Música.

COM UMA CANÇÃO TAMBÉM SE LUTA: A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA


DO NEGRO NA CANÇÃO “TRIBUTO A MARTIN LUTHER KING”,
INTERPRETADA POR ELZA SOARES.
Morgana Ferreira de Lima (UECE)

Resumo: Este trabalho teve o objetivo de fazer uma análise da canção Tributo
a Martin Luther King, interpretada pela cantora Elza Soares. No que se refere
aos fins metodológicos, utilizamos como critérios para a escolha dessa canção,
em vez de outra, o fato de ela apresentar uma maior diversidade de elementos
textuais referentes à historicidade do povo negro. Além disso, a canção em
foco faz referência ao ativista político estadunidense, um dos mais importantes
líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e no
mundo, Martin Luther King. Para a análise, levamos em consideração os
estudos discursivos da linguagem, tomando como recurso analítico categorias
provenientes da Análise do Discurso, em especial dos estudos realizados por
Maingueneau (2004, 2008), que define posicionamento como sendo o
correspondente à posição que um locutor ocupa em um campo de discussão e
os valores que esse defende (consciente ou inconscientemente). O trabalho
também busca investigar a representação identitária do negro no âmbito da
canção mencionada, analisando qual seria, no interior desse objeto lítero-
musical, o posicionamento discursivo assumido pelo negro. Para realizar esse
estudo, utilizamo-nos das categorias de posicionamento, que diz respeito à
instauração e à conservação de uma identidade enunciativa, e
de cenografia, frequentemente empregada em concorrência com a situação da
comunicação, mas que também se relaciona à dimensão construtiva do
discurso, que se "coloca em cena", instaurando seu próprio espaço da
enunciação. Com a pesquisa, foi possível concluir que, conforme afirma
Maingueneau, o posicionamento implica numa tomada de posição que define a
identidade do sujeito, sendo, para além disso, uma categoria referente à
instauração e à conservação de uma identidade enunciativa.

Palavras-chave: Negro. Identidade. Posicionamento.

COMUNICAÇÃO, CONSUMO E IDENTIDADE: UMA REFLEXÃO A PARTIR


DO MOVIMENTO CULTURAL FUNK OSTENTAÇÃO
Camilla Rodrigues Netto da Costa Rocha (ESPM)
Matheus Alves Passaro (ESPM)

Resumo: Este artigo busca compreender de que modo a comunicação, o


consumo e a identidade estão relacionados na cena cultural contemporânea.

239
Para tanto, escolhe como objeto, para reflexão teórica, o movimento cultural do
funk ostentação, objetivando entendê-lo na sua qualidade, também, de produto
cultural midiático, sem deixar de desvelar os sentidos que a teia midiática lhe
impinge. Desse modo, elege, como aporte metodológico, levantamentos
documentais e bibliográficos. Em um primeiro momento, traça um panorama do
funk ostentação na região paulista, enfatizando seu lugar como movimento
cultural. Para isso, articula pesquisas documentais com as reflexões dos
autores Vianna (1998) e Essinger (2005). Além disso, propõe uma reflexão
acerca do campo da comunicação, a partir de autores como Martín-Barbero
(2004), Orozco Gomez (2011), Baccega (2001) e Lopes (2010). Em um
segundo momento, busca entender como o movimento cultural do funk
ostentação relaciona-se com o campo da comunicação e com as práticas de
consumo. Nesse sentido, destaca o funk ostentação na cultura da mídia a partir
dos autores Kellner (2001) e Silverstone (2011), além de refletir sobre esse
produto cultural midiático cujo consumo enseja determinadas práticas e cujas
composições, por outro lado, despertam reflexões acerca do próprio consumo.
Para refletir sobre consumo, mobiliza autores como Miller (2013), Canclini
(2008), Slater (2008), McCracken (1990), Douglas &Isherwood (2013) e Rocha
(2005), entre outros. Por fim, a partir de Hall (2013), Serres (1997), Baccega
(2008) e Melo Rocha (2008), busca entender de que modo o funk ostentação
marca os processos identitários nos apreciadores de funk (os chamados
funkeiros).

Palavras-chave: Comunicação e Consumo. Identidade. Funk Ostentação.

CONGADO: IDENTIDADES QUE SE PERFORMATIZAM ATRAVÉS DE


VERSOS
Victor Vianna Guedes (UFOP)
Kassandra Muniz (UFOP)

Resumo: Este trabalho tem por objetivo principal analisar algumas canções de
Congado, como manifestação religiosa de matriz africana, e, a partir das
teorias de performatividade de Austin (1998), analisar como essas canções são
tecidas como identidade no fio da diáspora africana. A partir disso, buscamos
fazer levantamento de material bibliográfico sobre identidade negra no
Congado e observar como a linguagem presente em canções, como "AbáCuna
Zambi Pala Oso", dentre outros cânticos entoadas em seus festejos religiosos,
podem afirmar essas identidades. Há também a retomada da temática africana,
que, mesmo com grandes pesquisas, é invisibilizada no Brasil e na Academia.
Para essa apresentação, utilizamos, como referencial teórico, as reflexões no
campo da Pragmática, por meio dos conceitos de Performatividade (AUSTIN,
1998), e os estudos culturais e identitários na pós-modernidade de Hall (2010).
Portanto, os resultados das discussões teóricas exibidas nos ajudam a

240
entender os cânticos entoados no Congado, que acabam por performatizar,
restabelecer e ressignificar a memória do povo africano trazido ao Brasil, o que
se pode observar em versos e em tambores das canções do Congado.

Palavras-chave: Congado. Pragmática. Identidade.

CONTESTAÇÕES DA PERFORMANCE EM FORTALEZA:


EXPERIMENTAÇÕES E SUBVERSÃO CULTURAL ENTRE OS ANOS 2000-
2010
Manoel Moacir Rocha Farias Júnior (PPGAC – ECA/USP)

Resumo: Procuramos expor algumas ações de performance no cenário


artístico de Fortaleza que, nos últimos dez anos, tenham afirmado a
possibilidade de dar voz a novas formas de discutir as relações na cidade, a
partir de um entendimento de arte como resistência e subversão cultural e da
necessidade de criar novos circuitos de afeto. Buscamos tratar de processos e
discursos relacionados a obras de artistas de dança, ao teatro e às
performances locais, como: Coletivo Soul, EmFoco, As Travestidas, Inquieta
Cia., Balbucio, Projeto CadaFalso, Sílvia Moura, Cia. Andanças, Grupo
Bagaceira, Teatro Máquina, Teatro Radical, Cia. Dita, Coletivo Curto-circuito,
Ricardo Guilherme e Rafael Barbosa. Nessa perspectiva, nossa busca tem
também encontrado espaço em vídeos-performances de Alexandre Veras, de
Leonardo Mouramateus, de Yuri Firmeza, de Marina de Botas e de Milena
Travassos, para citar apenas alguns nomes. Assim, estabelecendo pontes
teóricas com outros autores, cartografamos as práticas que mais nos
pareceram significativas. Com metodologia, partimos dos estudos de Richard
Schechner, que fundam uma área de conhecimento acerca da ritualidade
específica das performances na modernidade. Do mesmo
modo,estabelecemos um diálogo com estudos de maior abrangência
cartográfica, como os de Ileana Diéguez e de Diana Taylor, que lançam olhares
para a criação contemporânea da América Latina e para as suas formas de
contestação política e de subversão e/ou retomada de uma memória cultural.
Em Fortaleza, nossa intenção é mapear os processos e os discursos
reveladores de estratégias de criação que proponham irrupções de ordem
sobre corpos e sobre comportamentos padronizados, questionamentos de
linguagem e proposição de novas articulações simbólicas, e, também, que
possam contribuir, à sua maneira, para pensar o sujeito e a sociedade atuais.

Palavras-chave: Corpos. Artes. Política.

CORDÉIS JAGUARIBANOS E CULTURA CEARENSE: UM ESTUDO DE


TRADUÇÃO INTRALINGUAL E IDENTIDADE CULTURAL

241
Suiany Tereza De Freitas Paiva (UECE)
Ticiane Rodrigues Nunes (UECE)

Resumo: A presente pesquisa, intitulada Cordéis jaguaribanos e cultura


cearense: um estudo de tradução intralingual e identidade cultural, objetiva
analisar os aspectos da cultura cearense presentes nos cordéis jaguaribanos
como uma tradução da cultura que ressalta a identidade do povo cearense.
Investigamos o cordel A morte de Vilmar Moura aconteceu em 1937 no Lugar
União da coleção de cordéis chamada ABC da seca do poeta jaguaribano
(SILVA, 2011), produzindo uma proposta de tradução intralingual e
reformulações das estrofes estudadas detalhadamente. Almejamos, com essa
pesquisa, ainda, desenvolver um estudo qualitativo que percebe e enaltece os
traços da identidade cultural cearense presentes nos cordéis de Silva (2011),
não esquecendo o propósito de divulgar para o público em geral a cultura
cearense, tornando-a acessível e de facilmente compreensível a partir da
tradução intralingual. Como base teórica para a realização do presente estudo,
utilizamos os escritos de Jakobson (1995), Eco (2005), Bosi (1992) e Alves et
al. (2000). Observamos, nos cordéis, que os traços da identidade cultural
cearense estão fortemente presentes na coleção analisada, visto que, no
decorrer das estrofes dos cordéis, o autor traz a tona personagens, ações e
cenários que retratam o contexto do Vale do Jaguaribe, região cearense
povoada desde o período colonial e que possui uma expressiva importância na
construção da identidade cultural do povo cearense.

Palavras-chave: Tradução Intralingual. Identidade Cultural Cearense. Cordéis.

CULTURA E MÚSICA EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS DE


SALVATERRA-PA: ESTRATÉGIAS PARA DIVULGAÇÃO, PRESERVAÇÃO
E VALORIZAÇÃO DESTE PATRIMÔNIO
Tamily Correa Souza (UFPA)

Resumo: A presente comunicação visa apresentar a parte da pesquisa que


está sendo realizada através do Programa de Extensão
MARAJOCULTURARTS: Cultura, artesanato e sustentabilidade socioambiental
nas comunidades quilombolas de Salvaterra-PA. A proposta visa criar
estratégias de divulgação e de valorização da cultura das comunidades
quilombolas de Salvaterra-PA no âmbito do programa MARAJOCULTURARTS.
Tais comunidades possuem um rico acervo cultural, consubstanciado em
formas diversas, como artesanatos, danças, musicas, folguedos, crenças, ritos
e mitos. Assim, o foco da pesquisa é refletir, discutir e promover a divulgação e
a valorização da música produzida neste espaço, adotando, como estratégia, a
coleta de material sobre a cultura musical desses grupos. A música constitui-se
numa das mais significativas formas de expressão cultural de um grupo

242
humano e, enquanto elemento constitutivo do patrimônio cultural, deve ser
compreendida como uma das maneiras pelas quais os indivíduos dimensionam
sua relação com o mundo. A partir disso, verifica-se a necessidade de buscar
formas de preservar, de valorizar e de difundir esse patrimônio em âmbito local,
nacional e internacional, como estratégia para o aumento de seu prestígio
social. Os procedimentos teórico-metodológicos dão-se através da
fundamentação teórica proposta por Vicente Salles (2004), que trabalha com
cultura negra ou a resistência do negro do quilombo, apontando
representações populares brasileiras. Paul Zumthor (1993)indica a dimensão
da historicidade de uma dada voz, isto é, seu uso por um determinado grupo, e
Abreu (2007) esclarece que saberes, celebrações, lugares e formas de
expressão, musicais e festivas, dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, especialmente os afrodescendentes, passam a receber o título de
patrimônio brasileiro.

Palavras chaves: Cultura. Música. Patrimônio. Comunidade quilombola

EXPERIÊNCIAS DO SENSÍVEL: ARTE E EDUCAÇÃO SUPERIOR NO


EXERCÍCIO DA INTERDISCIPLINARIDADE
Felipe de Paula Souza (UFSB)

Resumo: Fundada no dia 20 de setembro de 2013, a Universidade Federal do


Sul da Bahia (UFSB) apresenta um projeto inovador. Organizada em regime de
Ciclos de Formação, o acesso à universidade ocorre por meio de Bacharelados
Interdisciplinares (Saúde, Artes, Ciências e Humanidades) ou através da Área
Básica de Ingresso, onde o estudante cursa um ano de componentes
curriculares e é certificado com a Formação Geral Universitária. Apenas
quando esse período é concluído, o estudante escolhe o prosseguimento que
deseja dar aos seus estudos - um dos quatro Bacharelados ou uma das cinco
Licenciaturas Interdisciplinares oferecidas (Linguagens, Matemática, Ciências
Humanas, Ciências da Natureza ou Artes). Já nesse primeiro contato com o
fazer universitário, o estudante tem Experiências do sensível(ES) como
componente curricular obrigatório para todas as áreas de entrada na UFSB.
Surgido da percepção de docentes envolvidos no planejamento acadêmico de
implantação da UFSB, que apontava para o exercício das práticas artísticas, da
valorização das sensibilidades como uma alternativa para a universidade
contemporânea, o ES aparece como um possível meio de se alcançar a
interdisciplinaridade de modo efetivo. O ES fundamenta-se, basicamente, nas
teorias descritas por Anísio Teixeira (1963), no que compete à autonomia
estudantil e ao exercício da criatividade; nas reflexões de Paulo Freire (1996),
compreendendo a educação não enquanto mero conjunto de ações de
transferência de conhecimentos, mas sim enquanto criação de situações de
construção coletiva - e colaborativa - de saberes; e das discussões de Morin

243
(2013), no que refere à necessidade do exercício do sensível na formação.
Buscando discutir, analisar, comparar e construir experiências sensíveis,
destinadas a provocar e a instigar a construção de saberes de modo
interdisciplinar, o programa do componente foi estruturado coletivamente. A
princípio, elegeu-se um tema considerado estruturante, capaz de transpassar
os limites das áreas de estudo. A escolha foi Território. Entendeu-se que, a
partir dessa temática, dialogada com a arte e com os exercícios de
sensibilidade, podem ser desenvolvidos trabalhos nas cinco grandes áreas nas
quais a Universidade atua.

Palavras-chave: Arte. Educação. Interdisciplinaridade.

TRADUÇÃO E IMAGEM: VISÕES E PALAVRAS DO “OUTRO”


Sabrina Moura Aragão (USP)

Resumo: Este trabalho busca analisar a formação de identidades culturais, a


partir do processo tradutório. Investigamos como se dá o processo de
conhecimento do "Outro", ou seja, do estrangeiro, a partir da imagem e do texto
presentes em uma obra de histórias em quadrinhos francesa intitulada Le
Photographe. Tal obra é composta de desenhos e diálogos criados pelo
quadrinista Emmanuel Guibert e de fotografias tiradas pelo fotojornalista Didier
Levèfre, que narram o cotidiano deste último e dos integrantes da organização
Médicos Sem Fronteiras (MSF), na guerra do Afeganistão, em meados de
1980. Publicados pela primeira vez na França em 2003 e no Brasil em 2006,
esses quadrinhos constituem um rico material para análise graças à
simultaneidade de discursos: o jornalístico e o quadrinhístico, tendo em vista a
recepção da narrativa de um mundo tido como exótico em pelo menos dois
contextos socioculturais distintos: o francês e o brasileiro. O conhecimento do
"Outro" passa pelos olhos dos autores da obra sobre a vida no Afeganistão; em
seguida, passa pela leitura da obra pelo público francês, com seus saberes e
visões de mundo; pela leitura da obra pelo tradutor; e, por fim, pela leitura
realizada pelo público brasileiro, que também possui saberes e visões de
mundo próprios. Em suma, diversos conhecimentos são construídos no
caminho da tradução, e um caso especial é o das histórias em quadrinhos, que
se valem da imagem e do texto como meios de se transmitir uma mensagem,
meios esses ainda pouco explorados pela tradutologia. A subjetividade na
interpretação desses dois códigos, utilizados complementarmente, constitui um
desafio para a investigação da alteridade no campo dos Estudos da
Tradução. Partindo da ideia de que tradução e cultura estão profundamente
ligadas, não apenas no que diz respeito à comunicação entre culturas
diferentes por meio da transposição da barreira linguística, mas no próprio
fazer tradutório como um ato derivado da cultura, nosso trabalho busca analisar
de que maneira as relações e as visões de diferentes sociedades se

244
desenvolvem e contribuem para a interpretação, o reconhecimento e a
construção de representações do mundo real. No caso específico da tradução,
a representação do mundo do "Outro". Avançando na reflexão sobre cultura e
formação de identidades, Stuart Hall figura como um de seus mais eminentes
estudiosos. O autor define identidade como ponto de encontro, de sutura, no
qual os discursos que convocam o sujeito para assumir um lugar na sociedade
se unem aos processos que produzem subjetividades que tornam esse sujeito
reconhecível (HALL, 2000, p. 112). Como nossa pesquisa trata justamente da
formação de identidades culturais por meio da representação que se faz delas
na imagem e no texto, a noção de ponto de sutura entre o discurso e os
processos de reconhecimento das identidades é fundamental.

Palavras-chave: Tradução. Imagem. Representação.

TRADUÇÃO, AUTORIA E ÉTICA: A TRADUÇÃO COMO


(RE)CONSTRUTORA DE IDENTIDADES
Valéria Silveira Brisolara (Centro Universitário Ritter dos Reis)

Resumo: A tradução, enquanto mediação cultural, ganha cada vez mais


importância no cenário contemporâneo, em que eventos sociais, culturais e
políticos adquirem proporção global e, paradoxalmente, em que práticas visam
à preservação do individual e do local. A prática tradutória, que pode ser
tomada tanto como causa quanto como efeito da globalização, facilita o
processo de propagação e de massificação de determinadas culturas. Por
outro lado, também possibilita que diferentes identidades culturais passem a
ser conhecidas. Elementos que eram ignorados por outras partes do globo
podem passar a ter destaque, e, dessa forma, o individual, o particular, o local
de certa cultura ganha visibilidade e forças para ser preservado ou alterado. Ao
se analisar a prática da tradução, é possível notar que ela carrega consigo
alguns dilemas: o que traduzir? como traduzir? para quem traduzir? Ao tomar
uma determinada obra, carregada de aspectos culturais e, por isso, identitários,
o tradutor pode optar por um dentre vários caminhos possíveis. No entanto,
cada caminho leva a escolhas diferentes, que configuram a tradução como
uma prática autoral que tem implicações éticas. Essas implicações éticas dos
atos autorais são discutidas por Burke (2010), ao propor um retorno às
formulações de Barthes, de Foucault e de Derrida sobre a autoria. Nesse
contexto, o objetivo deste trabalho é propor reflexões sobre a responsabilidade
do tradutor, como mediador cultural, na sociedade contemporânea, pelos
efeitos da recepção de seus textos, considerando que a tradução não é mais
vista como um exercício de busca de equivalência textual, mas como uma
prática social situada, que atua não só mediando, mas também criando cultura.
É necessário discutir como a tradução opera a construção, a descontrução e a
reconstrução de identidades no mundo atual e as implicações das escolhas

245
envolvidas nesse processo, pois a tradução é uma intervenção e possibilita
deslocamentos identitários e culturais.

Palavras-chave: Tradução. Autoria. Ética.

PRINCESA DO SÉCULO XXI: UMA ANÁLISE BAKHTINIANA DA


SUBVERSÃO DA IDENTIDADE FEMININA EM VALENTE, DOS ESTÚDIOS
DISNEY/PIXAR
Elayne Gonçalves Silva (UECE)

Resumo: A pesquisa fundamentou-se teoricamente na teoria dialógica do


discurso, com foco no conceito de carnavalização, proposto por Bakhtin, e na
concepção de signo ideológico, conforme desenvolvida por Bakhtin/Volochínov,
bem como na discussão referente à noção de gênero, baseada no pensamento
de Butler. No trabalho, intentou-se identificar como a identidade feminina é
construída carnavalescamente, através da associação entre signos ideológicos
verbais, visuais e verbo-visuais, no âmbito do discurso midiático e, mais
especificamente, do discurso cinematográfico. A pesquisa correspondeu a uma
análise semiótico-discursiva, baseada na perspectiva bakhtiniana, do filme de
animaçãoValente, produzido em 2012 pelos estúdios Disney/Pixar. O estudo
baseou-se nas discussões presentes nas obras "A cultura popular na Idade
Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais", de Bakhtin
(2010), "Problemas da Poética de Dostoiévski", também de Bakhtin (2013),
"Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método
sociológico na ciência da linguagem", de Bakhtin e de Volochínov (2012) e
"Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade", de Butler (2010).
Os trabalhos elaborados por Discini (2010), por Faraco (2009, 2013), por Fiorin
(2006) e por Ponzio (2012), interlocutores e intérpretes contemporâneos da
teoria bakhtiniana, também apresentaram contribuições valiosas para a feitura
da pesquisa. A partir da análise do corpus, foi possível identificar que a referida
película caracteriza-se por apresentar uma imagem feminina distinta daquela
veiculada pelas animações clássicas dos estúdios Disney e que os sentidos
são construídos através da associação entre os recursos semióticos de
natureza verbal e visual, os quais são marcados ideológica e, por
consequência, axiologicamente. Ademais, foi possível concluir que, enquanto
as personagens femininas dos filmes clássicos, como a Branca de Neve,
caracterizavam-se pelo bom comportamento, pela docilidade e por certo
conformismo diante dos acontecimentos, as princesas dos filmes de animação
contemporâneos, em especial Merida, a protagonista de Valente, marcam-se
pela transgressão das boas maneiras, pela insubmissão e pela atividade ao
longo das narrativas fílmicas. Nesse sentido, as produções cinematográficas
mais recentes dos estúdios Disney e Pixar, ao mesmo tempo em que se
reportam dialogicamente às animações clássicas, subvertem-nas

246
carnavalescamente, parodiando certos aspectos constitutivos delas, como é o
caso da imagem das personagens femininas.

Palavras-chave: Carnavalização. Signo ideológico. Identidade feminina.

O LUGAR DOS MUSEUS E DA ARTE CONTEMPORÂNEA NO TRABALHO


PEDAGÓGICO
Núbia Agustinha Carvalho Santos (UECE)

Resumo: Os museus são lugares da minha experiência, enquanto professora


de Arte da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, além do meu percurso
como mediadora e pesquisadora nesses espaços. Trago algumas reflexões,
para que possamos lançar um olhar retrospectivo e prospectivo sobre ações
educativas dos museus de História e de Arte, em particular, sobre a Arte
Contemporânea. Tenho como objetivo analisar a produção do conhecimento
poético e histórico que habita os espaços de educação formal e não-formal,
tendo os professores e as crianças como participantes ativos desse processo
de mediação simbólica. Desde a década de 1930, Cecília Meireles (2001)
chama a atenção para a importância dos museus na educação das crianças. A
autora critica a forma como é ensinada a História do Brasil na escola, quando
há inúmeras possibilidades interessantes de se compreender a historicidade
que habita as coisas e a vida. Nesse sentido, também lanço um olhar sobre os
modos de mediar e de apreender a Arte Contemporânea nos museus e na
escola. Fundamentada na Psicologia Sócio-Histórica e Cultural de Vigotski,
(1998; 1999); na Análise do Discurso de Bakhtin (2005; 2011); e nas autoras
Kramer (1998;2013), Leite (2005) e Iavelberg (2013), que compreendem a
dimensão cultural e educativa dos museus para a formação das crianças e dos
professores. Nessa perspectiva, os espaços museológicos se apresentam
como mediadores em potencial das práticas culturais de adultos e de crianças.
O texto tem, como suporte teórico-metodológico, a pesquisa-intervenção,
aliada ao método cartográfico.

Palavras-chave: Museus. Arte Contemporânea. Mediação.

MARCAS AUTORAIS DE UM CINEASTA AFRICANO EM TRÂNSITO NA


CONTEMPORANEIDADE: O CASO DO GUINEENSE FLORA GOMES
Jusciele Conceição Almeida de Oliveira

O presente resumo, faz parte do projeto de doutoramento, que propõe realizar


uma investigação na área dos cinemas africanos, partindo da "ideia de autoria"
e da teoria dos autores, especificamente na obra do cineasta guineense Flora
Gomes, através da análise fílmica, examinando estratégias de mise-en-scene,
modo de construção narrativa e algumas recorrências temáticas, a fim de

247
destacar traços formais, estilísticos e de conteúdo que possam corroborar uma
preocupação consciente ou não deste cineasta africano com o chamado
"cinema de autor". O trabalho parte de uma revisão teórica da "ideia de
autoria", tal como foi transposta pelas instâncias da crítica cultural e
cinematográfica e por alguns estudiosos no campo dos cinemas africanos,
para, em seguida, examinar os modos como ela é assumida, negociada, e
afirmada na obra de alguns cineastas, à exemplo do guineense Flora Gomes.
Palavras-chave: Cinemas africanos. Teoria autora. Flora Gomes.

MODINHA BRASILEIRA: UM ESTUDO ETIMOLÓGICO


SOBRE O TERMO "MODINHA"
José Fernando Saroba Monteiro (Universidade Nova de Lisboa)

Resumo: Procuramos aqui descrever a palavra que nomeia o gênero musical


denominado modinha, dentro de uma perspectiva etimológica. Este gênero que
está nas raízes da musicalidade tanto do Brasil quanto de Portugal, surge nos
meios rurais portugueses e depois migra para os centros urbanos e para as
diversas colônias do Império Português, entre os séculos XVII e XVIII. No
entanto, evidenciamos que as origens etimológicas da palavra modinha são
ainda mais antigas, nos reportando à presença romana na Península Ibérica
quando o latim de difundiu na região como língua oficial, depois dividindo
espaço com o árabe e logo perdendo espaço para o galaico-português (vindo
do norte de Portugal durante o movimento de Reconquista) que mais tarde
dará origem à língua portuguesa. Dentre os termos latinos que sobreviveram
em território português está o vocábulo "modus", que vai passar para o
português como "moda" que, por sua vez, origina a lexia "modinha".
Procuramos demonstrar também que é no Brasil que o termo "moda" passa
para o diminutivo "modinha" e quando de sua volta à metrópole portuguesa
ganha o adjetivo que indica sua presença na colônia portuguesa da América,
passando a ser chamada de "modinha brasileira". Intentamos assim
desmistificar questões que já perduram há séculos nas obras concernentes ao
tema. A pesquisa se centra principalmente na consulta de dicionários latinos,
ou latim-português, ou portuguêses dos séculos XVII, XVIII e XIX, e em
segundo plano também em dicionários mais recentes, séculos XX e XXI, e
ainda em autores diversos que estudam a origem e evolução do gênero
modinha, ou de questões etimológicas de uma forma geral e, por fim, em
literatos contemporâneos à modinha que retratam esse gênero de forma mais
próxima e fiel.
Palavras-chave: Modinha brasileira. Etimologia. Música Popular.

248
EIXO TEMÁTICO 10 – PROCESSOS DE FORMAÇÃO E ENSINO

ABORDAGEM COMUNICATIVA NO ENSINO DO CURSO DE EXTENSÃO


EM LÍNGUA JAPONESA DA UECE – CONCEPÇÕES, VALORES E
PRÁTICAS IDENTITÁRIAS DOS MONITORES E PROFESSORES
ESTAGIÁRIOS
Laura Tey Iwakami (UECE)
Janaína Farias de Melo (UFC)

Resumo: Após duas décadas de existência do Curso de Extensão em Língua


Japonesa na UECE, percebem-se mudanças no quadro de seus alunos,
professores estagiários e monitores. Além do sensível crescimento do número
de alunos e professores, houve mudanças na didática e também nas
concepções e significados sobre ensino/aprendizagem, língua e cultura. A
formação de professores, hoje, tornou-se a principal atividade nas reuniões do
Grupo de Monitoria, assim denominado para representar os sujeitos do quadro
descrito acima. No acompanhamento da trajetória do curso, pode-se perceber
um processo de construção feito de experiências práticas, descobrindo modos
de fazer, modos de ensinar. As mudanças nas atitudes e práticas dos sujeitos
em sala de aula e nas discussões em reuniões do grupo de monitoria podem
ser sentidas com a paulatina mudança nas práticas didáticas e metodológicas
no processo de ensino em que a abordagem comunicativa vai tomando o
cenário principal. Este trabalho se coloca como de natureza etnográfica, cujo
interesse está em analisar o perfil dos professores e monitores do curso,
brasileiros sem ascendência japonesa, em sua maioria, e compreender como
representam seus entendimentos sobre ensino, língua e cultura
brasileira/japonesa. Através de questionários e entrevistas aplicadas, buscou-
se investigar e compreender valores, significados e identidades presentes na
prática de língua, ensino e cultura do cotidiano. Trata-se de uma investigação
de cunho qualitativo em que se valoriza a interpretação de dados. Como perfil
teórico, trabalhamos com autores tais como Hall (2205), Almeida Filho (2015),
Rajacopalan (2003), entre outros.

Palavras-chave: Abordagem Comunicativa. Língua Japonesa. Identidade.

ABORDAGEM ENUNCIATIVA DOS PRONOMES DEMONSTRATIVOS EM


LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Francisco Brunno Carvalho Reis (UFPI)

Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar a descrição do português


presente na categoria de pronomes demonstrativos nos livros didáticos do
ensino fundamental. Esta pesquisa se pautará em quatro coleções: Português
Para Viver Juntos (2012), Português Linguagens (2012), Jornadas.

249
Port (2012) e Português Teláris (2012), todos aprovados pelo PNLD. Estas são
as coleções que servirão como corpora do referido trabalho. Pretendemos
verificar se essa classe gramatical, quando descrita nos livros didáticos,
abordam aspectos enunciativos, ou se apenas ficam na descrição normativa da
gramática. Esta pesquisa é parte de um grupo de pesquisa realizado na
Universidade Federal do Piauí que apenas está em fase de iniciação, estamos
ainda na coleta de dados nos materiais didáticos dos pronomes demonstrativos
presentes nessa corpora, que busca articular descrição gramatical e ensino, e
de que forma este está sendo praticado de acordo com os moldes
enunciativos. Tal estudo tem cunho bibliográfico, pois as informações que
sustentarão as análises serão retiradas de Manuais de Linguística e de
Gramáticas Descritivas e busca responder à seguinte questão: os livros
didáticos analisados contemplam aspectos descritivos ou se limitam à
descrição normativa. Portanto, usaremos como referencial teórico gramáticas e
teorias que abordam tal conteúdo tais como, Neves (2002) e Mateus et al
(2003), Ataliba de Castilho (2003), Antunes (2010) dentre outras. A hipótese a
ser testada é a de que os livros didáticos não contemplam os aspectos
enunciativos de forma adequada, fazendo uma abordagem metalinguística; e
outra hipótese é que os pronomes demonstrativos são descritos fora dos usos
vivos da língua portuguesa, ou seja, não se dá um enfoque aos pronomes
numa abordagem que os coloque em situações reais de comunicação o que
não é interessante ao aluno do ensino fundamental que precisa destes
conceitos.

Palavras-chaves: Livros didáticos. Pronomes. Descrição. Enunciativos.

ABORDAGENS PEDAGÓGICAS IMPLÍCITAS E EXPLÍCITAS DE ENSINO


DO GÊNERO PUBLICIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR
Karla Simões de Andrade Lima Bertotti (Colégio Militar do Recife)

Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar uma breve análise de
textos publicitários produzidos em sala de aula a partir de abordagens
pedagógicas de gênero distintas, por dois grupos de discentes, focalizando a
seguinte questão: em que medida as abordagens pedagógicas adotadas
influenciam na produção final desse gênero textual? Este estudo fundamentou-
se nas múltiplas abordagens pedagógicas de ensino e gênero, especificamente
nas abordagens implícitas e explícitas de gênero, desenvolvidas por teóricos
como Bazerman, Freedman, Macken-Horarik e Desiréé Motta-Roth. Para tanto,
foram escolhidas duas turmas do 8º ano do Ensino Fundamental de uma
escola pública federal do Estado de Pernambuco. Na primeira turma, que
chamaremos de Grupo A, foi adotada a pedagogia explícita de gênero,
recebendo informações acerca das características do gênero textual a ser
produzido em sala; enquanto no Grupo B, aplicou-se a metodologia implícita de

250
gêneros em que os alunos produziram a peça publicitária sem nenhuma
recomendação prévia. Desta feita, percebemos a importância do docente
conhecer previamente as múltiplas abordagens pedagógicas de gêneros, para
identificar e escolher o melhor método a ser utilizado, a fim desenvolver as
competências discursivas dos discentes acerca de como os gêneros se
relacionam nas diversas situações de comunicação.

Palavras-chave: Abordagem pedagógica. Gênero textual. Prática docente.

A CONCEPÇÃO DE PRÁTICA REFLEXIVA PRESENTE NAS PESQUISAS


SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EXERCÍCIO NO BRASIL
Roselane Duarte Ferraz (UFPE)

Resumo: Este artigo apresenta os resultados de pesquisa na modalidade


estado do conhecimento, por meio da análise documental, cujo campo empírico
constituiu-se na amostra de teses e dissertações publicadas no Banco de
Teses da Capes, no período de 2007 a 2012. O estudo teve por objetivo
identificar pesquisas que investigam a formação de profissionais da educação
em exercício e a prática pedagógica desenvolvida nessa modalidade formativa,
além de procurar evidenciar os principais temas dessas pesquisas. Também
objetivou analisar as concepções de prática reflexiva presente nesses estudos.
Utilizaram-se, como referencial teórico, os estudos pertinentes à valorização da
formação dos professores, realizando uma discussão sobre a formação
docente, fundamentada no pressuposto da prática reflexiva desenvolvida por
Schön (1995; 2000), Zaicnher (1993; 1995; 2008). Na organização e
sistematização dos dados, recorreu-se às técnicas da Análise de Conteúdo, por
meio da análise temática, referendadas em Bardin (2010) e Vala (2014). Os
resultados do estudo constataram, naquelas pesquisas, uma concentração em
dois focos: um que busca analisar o impacto da formação em exercício sobre
as práticas educativas dos professores da educação básica; e outro que estuda
as políticas públicas e os direcionamentos adotados pelas instituições
superiores de ensino responsáveis pela implantação dessa formação.
Prevalece, naqueles estudos, a defesa de uma formação docente,
preferencialmente, fundamentada no pressuposto do profissional prático-
reflexivo. Distinguiram-se graus variáveis nas mudanças das práticas
educativas dos egressos, tendo em vista a fragilidade apresentada pelos
cursos de formação em exercício. Destaca-se a necessidade de maior
aprofundamento em estudos que exploram as implicações e repercussões nas
instituições de ensino superior e nas práticas docentes dos formadores, que se
mobilizam para organização e implantação de propostas especiais de formação
docente em exercício.

251
Palavras-chave: Prática reflexiva. Formação docente em exercício. Práticas
pedagógicas.

A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DOCENTE: DISCURSOS, CRENÇAS E


EMOÇÕES DE UMA PROFESSORA DE LÍNGUA PORTUGUESA DO
ENSINO MÉDIO
Tatiane Dutra de Godoi Arriel (UEG)
Hélvio Frank de Oliveira (UEG)

Resumo: Este estudo, situado no campo da Línguística Aplicada Crítica, tem


como foco a construção de identidades do professor de língua portuguesa
(língua materna) do Ensino Médio. A presente pesquisa objetiva compreender
o processo de construção de identidades docentes, à luz de teorias críticas, por
meio da análise de discursos, crenças e emoções de uma professora de língua
portuguesa do Ensino Médio no contexto de uma escola pública. O
desenvolvimento desta é justificado com base na concepção de que a partir da
compreensão do ser-professor será possível nortear o fazer-se professor
(GATTI, 1996). Nesta análise levaremos em consideração, além de sua
formação profissional e a prática em sala de aula, fatores sócio-histórico-
culturais e a subjetividade deste sujeito, haja vista que o professor é um ser
humano carregado de sentimentos e inserido em contextos socioculturais
(VYGOTSKY, 1998), que poderão influenciar na constituição de suas
identidades e refletidas em sua prática profissional docente através da
linguagem. Para fundamentar teoricamente este trabalho serão utilizadas
teorias relacionadas a estudos culturais (HALL, 2009) e à abordagem crítica da
Linguística Aplicada. Partindo do pressuposto de que as identidades são
múltiplas, complexas, heterogêneas e sempre em movimento, este trabalho
procura elencar a configuração das identidades como fenômenos em
constantes transformações no decorrer dos tempos, em contado com práticas
sociais e recebendo influências de diversos elementos externos concretos e/ou
subjetivos. Esta pesquisa qualitativa, na fase atual de revisão bibliográfica, tem
como método de investigação o estudo de caso proposto por intermédio de
narrativas e será conduzida com uma professora regente de escola pública
urbana, no interior do estado de Goiás. Almeja contribuir para um maior
conhecimento acadêmico das identidades de um docente de línguas, em
especial da língua portuguesa, e ajudar no desenvolvimento de profissionais
reflexivos e críticos para atuarem na sala de aula.

Palavras-chave: Identidades. Professor de língua portuguesa. Escola pública.

A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS E A ‘NOVA’ FORMAÇÃO


DOCENTE

252
David da Silva Pereira (UTFPR)
Silvana Dias Cardoso Pereira (ALLE – FE/UNICAMP)
Jackeline Lidiane de Souza Prais (UTFPR)

Resumo: A Educação em Direitos Humanos propõe uma transformação da


prática docente e da formação inicial e continuada dos profissionais da
Educação. Inscrita nos textos normativos por meio do Parecer n. 08/2012 e
pela Resolução n. 01/2012 do Conselho Pleno do Conselho Nacional de
Educação (CNE/CP), é alicerçada em sete princípios dos quais a dignidade da
pessoa humana é o eixo de um processo humanizador da formação de
cidadãos e da prática profissionais da educação. Essa chamada "nova
formação" requer um esforço de mediação para que dela se apropriem todos
os envolvidos no processo educacional e foi reforçada pela publicação no
último mês de julho pelo Parecer n. 02/2015 e Resolução, de mesmo número,
do CNE/CP, que reformula, amplia e aprofunda a formação docente inicial e
continuada por meio do fortalecimento da formação pedagógica desses cursos.
O presente trabalho é, pois, um esforço de compreensão conjunta desses dois
Pareceres, que subsidiam as diretrizes do processo de formação inicial e
continuada dos profissionais e dos cidadãos nas escolas desde a Educação
Infantil aos cursos de Pós-graduação da Educação Superior, com vistas a
contribuir nesse processo de mediação entre o texto normativo e os
profissionais da educação. Trata-se de uma necessidade manifesta de
apresentação dos propósitos e valores existentes nos documentos para que
seja possível a construção de caminhos como possibilidades de dar vida às
diretrizes no lugar e no tempo em que o processo educativo humanizador deve
ocorrer de fato - a escola. Para tanto, parte-se de uma análise documental no
sentido que tratam LUDKE & ANDRÉ (2002) para relatar algumas construções
que vêm sendo desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa Observatório de
Políticas Públicas (UTFPR) por meio de ações de pesquisa, extensão e ensino
integradas por meio de um processo de envolvimento crescente de
pesquisadores e de alunos no biênio 2013-2015. Tais construções contaram
com a contribuição das experiências na Licenciatura em Matemática e do
Programa de Mestrado Profissional em Ensino, bem das participações em
eventos. Espera-se oferecer uma contribuição ao processo de compreensão
das Diretrizes e das formas pelas quais é possível humanizar a educação e o
ensino brasileiros.

Palavras-chave: Formação docente. Direitos humanos. Educação.

A ESCRITA ACADÊMICA: ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DE


POSICIONAMENTOS E INTERAÇÃO
Cibele Gadelha Bernardino (UECE)

253
Resumo: Procurar compreender os mecanismos de um dado gênero do
discurso é também movimentar-se na direção da compreensão das relações
sociais associadas ao uso desse gênero. Entretanto, as questões relacionadas
aos mecanismos de estruturação e às diversas manifestações dos gêneros do
discurso são complexas. Em função dessa complexidade, diversas pesquisas
vêm sendo desenvolvidas desde a década de 1980. Observamos, porém, que
ainda não existe um número significativo de pesquisas sobre a relação entre as
escolhas léxico-gramaticais e a tipificação dos gêneros do discurso.
Consideramos, pois, oportuno que observemos essas escolhas e a maneira
como estão relacionadas à organização das diversas unidades que compõem o
texto. Uma análise de gêneros do discurso fundamentada em pressupostos da
Gramática Sistêmico-Funcional parece-nos o caminho a ser trilhado em direção
à caracterização de textos de modo a vinculá-los a determinado gênero. Tendo
em vista esse contexto teórico, pretendemos responder à seguinte pergunta: de
que maneira os elementos da metafunção interpessoal podem ser elementos
caracterizadores do gênero artigo científico? Assim, esta pesquisa teve como
objetivo construir reflexões acerca da metafunção interpessoal (HALLIDAY,
1994) no gênero artigo acadêmico. Para tanto, realizamos a análise integral de
um exemplar de artigo acadêmico da cultura disciplinar da área de Linguística,
relacionando a configuração retórica recorrente do gênero e a escolha de
recursos léxico-gramaticais vinculados à metafunção interpessoal. Os
resultados apontam para um olhar sobre como autores(as) podem construir seu
posicionamento e suas interações em um exemplar típico do gênero na área
em questão. A abordagem teórico-metodológica figura ao lado de outras
pesquisas que são desenvolvidas à luz do projeto maior “Práticas Discursivas
de Comunidades Disciplinares Acadêmicas”, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Cibele
Gadelha Bernardino, na Universidade Estadual do Ceará.

Palavras-chave: Metafunção Interpessoal. Artigo Acadêmico. Configuração


Retórica.

A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES PARA A


IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 11.645/08: UMA EXPERIÊNCIA COM
PROFESSORES DAS ESCOLAS ESTADUAIS DO CEARÁ
Jefrei Almeida Rocha (SEDUC)
Rosendo Freitas de Amorim (UNIFOR)

Resumo: A Lei 11.645/08 ao regulamentar a LDB 9394/96 estabelece a


obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira no
currículo escolar. A Lei tem provocado o debate sobre como esse
conhecimento se insere no currículo e nas práticas curriculares. Dessa forma,
as redes oficiais de ensino estão sendo instadas a desenvolver propostas de
formação continuada para os docentes de suas redes no sentido de garantir a

254
implementação da lei nas escolas. A Secretaria da Educação do Ceará -
SEDUC - realizou nos anos de 2013 e 2014 duas edições da "Formação em
História e Cultura Afro indígena Cearense", com encontros presenciais e
acompanhamento por meio de plataforma virtual. A proposta dessa formação
continuada está pautada na ação conjunta da SEDUC com a sociedade civil
organizada, em especial, o Movimento Negro e Indígena representado pelas
Comunidades Tradicionais de Terreiros e Povos Originários. Abordaremos
nesse trabalho as atividades, experiências e resultados dessas formações,
observando os reflexos na prática pedagógica dos professores cursistas e no
cotidiano das escolas nas quais eles trabalham, além de analisar as estratégias
desenvolvidas em busca de gerar os professor a assumir uma postura
autorreflexiva sobre sua prática pedagógica. A metodologia empregada nesse
estudo consiste em compreender qualitativa e quantitativamente os dados
registrados na plataforma virtual do curso, nas enquetes aplicadas aos
professores cursistas e na observação dos encontros presenciais. A análise
dos dados forneceu um panorama dos avanços, das conquistas e dos desafios
da inserção desses saberes no currículo e no cotidiano escolar. Por fim,
constatou-se a necessidade premente de que a escola seja um ambiente de
qualificação do trabalho docente, sendo assim um o espaço de formação
continuada, articulando-se com o movimento social de matrizes africanas e
indígenas, propiciando abertura no espaço escolar para que esses sujeitos
detentores dos saberes tradicionais contribuam com a escola, dando-lhes
condições de participação efetiva na agenda da escola, democratizando
espaços e o saber escolar, e combatendo os próprios medos e preconceitos
travestidos de moralidade ou pudor.

Palavras-chave: Formação docente. Temáticas étnico-raciais. Ensino e lei


11.645/08.

A IMPORTÂNCIA DO DEBATE PARA A (RE)CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA


DOS SUJEITOS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Pedro Henrique Silva dos Santos (UFBA)

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo narrar a experiência de


regência de um aluno da disciplina de estágio supervisionado 2 da língua
portuguesa, na disciplina de redação, observando como, a partir da prática de
um gênero textual oral, o debate regrado, os alunos tiveram a oportunidade de
repensar concepções pessoais. Observando a importância de se trabalhar com
gêneros textuais nas aulas de língua portuguesa, conforme proposto por
Schneuwly e Dolz (2004), por exemplo, o apresentador tecerá um parecer de
como, através da análise do discurso pré e pós debate dos alunos, as
identidades dos discentes foram (re)construídas a partir do momento em que
eles tiveram contato com o Outro, o diferente de si, conforme trazido por Hall

255
(2006). Os dados analisados foram coletados através de questionário aplicado
antes da aula em que houve um debate acerca de questões de gênero e
sexualidade e também de produção textual dos discentes após o debate. Além
do questionário e das produções, seguindo os princípios da pesquisa
etnográfica, a experiência vivenciada pelo professor estagiário, assim como as
interações observadas por ele, serviram, se não como corpus, como suporte
que balizaram as análises realizadas, traçando uma ponte entre teoria e
prática. Durante a apresentação da análise, os pontos expostos serão
observados pelo prisma da linguística aplicada crítica (RAJAGOPALAN, 2009)
e indisciplinar (MOITA LOPES, 2006). Por fim, a partir dessa experiência
individual, será proposta uma intervenção de ordem prática a fim de tornar os
alunos, ao mesmo tempo, capazes de expor suas opiniões de maneira mais
formal e respeitosa, características do gênero já citado, e também capazes de
ouvir o discurso do Outro de uma forma mais reflexiva.

Palavras-chave: Linguística aplicada. Gêneros textuais. Identidade.

ARGUMENTAÇÃO E DEBATE REGRADO: UMA DISCUSSÃO SOBRE OS


EVENTOS ESPORTIVOS INTERNACIONAIS OCORRIDOS NO BRASIL
Francisca Lúcia Barreto de Lima Soares (E. E. M, Beni Carvalho)
Marília Costa de Souza (E. E.E.P. Maria Elsa Porto Costa Lima)
Maria Lucas da Silva (E. E.E.P. Maria Elsa Porto Costa Lima)

Resumo: Com base no uso da linguagem em um gênero oral, o presente


trabalho analisa as técnicas argumentativas mobilizadas pelos sujeitos
participantes do Projeto Debate Bola: grandes eventos esportivos no Brasil,
realizado em situação escolar como atividade de projeto interdisciplinar
envolvendo os conteúdos programáticos das disciplinas de Educação Física e
Língua Portuguesa, com vistas a criar na escola situações propícias à reflexão.
Os alunos nesse período apresentavam grande interesse por essa temática,
pois estavam motivados pela realização da Copa das Confederações, evento
esportivo que abriu o calendário de competições esportivas de nível
internacional, que tiveram continuidade com a Copa do Mundo de Futebol, em
2014 e se encerrarão com os Jogos Olímpicos em 2016. Os textos analisados
são recortes de um debate entre alunos do 3º do ensino médio integrado
realizado na Escola Profissional Elsa Costa Lima (Aracati-CE) em
atividade envolvendo Educação Física e Língua Portuguesa. A pesquisa-ação
realizou-se em duas etapas a saber: estudo do gênero debate regrado e a
realização do debate propriamente dito. Concebendo a argumentação como a
ação comunicativa que se caracteriza pela busca da adesão do auditório à tese
expressa pelo orador, analisamos a utilização das técnicas argumentativas
utilizadas pelo aluno na defesa de sua ideia. Para tanto, fundamentamo-nos em
Perelman e Tyteca (2005), Souza (2003) e Brasil (1999), a fim de contemplar a

256
argumentação, em uma atividade prática, em um gênero essencialmente
argumentativo. O registro das falas dos debatedores permite-nos afirmar que,
embora a argumentação esteja presente em todos os campos das relações
humanas, a utilização de técnicas para aprimorar a argumentatividade deve ser
função da escola, a quem cabe criar condições para que o aluno aprenda
efetivamente a defender seu ponto de vista, o que implicará a melhoria da
escrita, da leitura e da oralidade.

Palavras-chave: Argumentação. Debate regrado. Ensino.

AS MÚLTIPLAS SEXUALIDADES NO CONTEXTO ESCOLAR: QUAL O


PAPEL DA PROFESSORA E DO PROFESSOR NO COMBATE A
‘NATURALIZAÇÃO’ DA HOMOFOBIA/LESBOFOBIA/TRANSFOBIA.
Lara Costa Barreto (UESB)

Resumo: O presente trabalho pretende discutir qual a relação do discurso da


homofobia/lesbofobia/transfobia e o papel da professora e o professor no
enfrentamento da 'naturalização' dos papeis do que é ser menino e do que é
ser menina na escola. Estudiosos do campo de estudos da sexualidade têm
apontado o caráter normatizador, dentro do espaço escolar, da(s) violência(s)
sofrida por crianças e adolescentes que não se adequam a produção do
masculino e do feminino socialmente reconhecidos. A produção dos sujeitos
na escola estabelece uma lógica binária, transitando nas polaridades
macho/fêmea, supondo que a heterossexualidade seja a forma 'normal' de
sexualidade e onde a homossexualidade sendo um desvio. Nesse contexto, o
presente artigo irá abordar como se configura a
homofobia/lesbofobia/transfobia no ambiente escolar, onde não há espaço para
se pensar e discutir a multiplicidade das sexualidades ou a construção de
gênero, perpetuando a banalização dos insultos, agressões físicas/verbais
contra aqueles que não seguem o padrão heteronormativo. A escola tem sido
um espaço de discursos de ódio convocando determinados indivíduos a uma
posição de inferioridade. Quando alguém é chamado na escola de 'bicha',
'sapatão' ou traveco' é interpelado a uma posição de um sujeito sem direitos,
não havendo lugar de convivência com a diversidade e tão pouco assegurando
seus direitos fundamentais. Sendo assim, se faz de extrema necessidade e
urgência questionar qual o papel da escola, em especial da professora e do
professor, na manutenção desse status quo da 'naturalização' da
homofobia/lesbofobia/transfobia? Como esse lugar de violências pode ser
desconstruído no espaço escolar?

Palavras-chave: Múltiplas sexualidades. Professora/Professor.


Homofobia/lesbofobia/ Transfobia.

257
A IDENTIDADE DOCENTE: DIMENSÕES DE SUA CONSTITUIÇÃO
Luciana De Sousa Santos (UECE)
José Ernandi Mendes (UECE)

Resumo: O presente estudo apresenta como temática a práxis docente, como


decorrente de uma identidade coletiva, e tem como objetivo refletir sobre os
determinantes sociais que concorrem para a construção da identidade docente.
A identidade docente implica a perspectiva de como o professor ou a
professora se vê e é reconhecido pelos outros. Essa reflexão se dá a partir de
marcos teóricos que discutem a temática, direcionando-os sob um viés crítico
na análise e na interpretação do fenômeno estudado. Para isto, fazemos uso
das lentes de estudiosos da área, destacando Alberto Gomes (2008), Carlos
Macedo (2009), Mendes (2005), Selma Pimenta (1996) e Arroyo (2013). Há um
complexo de relações que concorrem para identidade docente, que se edifica
em várias esferas sociais, tais como: mídia, governo e opinião pública e a
própria percepção do docente sobre si mesmo. A metodologia usada para
captar a identidade docente tem como referência: documentos oficiais das
políticas educacionais, autobiografia e história de vida do professor sobre sua
formação e experiências educativas. A identidade docente é concebida como
um processo que se faz cotidianamente no chão da escola, nas práticas
pedagógicas, na e pela coletividade; é importante ressaltar que as crenças dos
professores no que se refere ao ensino - o que é ser docente e como ensinar -
são fruto das experiências vividas enquanto estudante e de práticas sociais
diversas. A partir de práticas e de imagens construídas pelos professores sobre
o magistério se faz sua identidade profissional. O caráter coletivo é imbricado,
sobremodo, na constituição da identidade docente, notoriamente na relação
com seus pares, na escola, na comunidade acadêmica e nos sindicatos, e
aliado a significação que o docente estabelece de si próprio enquanto
professor. A investigação realizada demonstra que a compreensão dos
professores sobre sua identidade é diversa e, por vezes, contraditória,
apresentando conflito entre a subjetividade produzida a partir de suas práticas
e a lógica racional da profissão. A identidade docente carrega dimensões
particulares e coletivas que são evidenciadas na trama de complexas rede de
entrelaçamento que se encontram móveis num processo de contínuo
desenvolvimento.

Palavras-chave: Identidade docente. Prática docente. Magistério.

AUTORIA NA PRODUÇÃO DIDÁTICA DE GRADUANDOS DE LETRAS:


GERENCIAMENTO DE VOZES E FORMAÇÃO DO PROFESSOR
Herodoto Ezequiel Fonseca Da Silva (UFPA)

258
Resumo: Esta comunicação tem como objetivo apresentar alguns resultados
de pesquisa de mestrado concluída em 2013 no Programa de Pós-Graduação
de Letras (UFPA). Propõe-se investigar a maneira como se configura a autoria
em materiais didáticos de Língua Portuguesa produzidos por graduandos de
Letras. A fundamentação teórica para a leitura e análise dos dados se deu a
partir das noções - no campo do discurso - de autoria (FOUCAULT, 2006a;
2006b; BARTHES, 1984; POSSENTI, 2002; entre outros), subjetividade
(Pêcheux, 2010; Bakhtin, 1997; Authier-Revuz, 1990; 2004; entre outros),
escrita (Nasio, 1993; Geraldi, 1997; Riolfi, 2003; 2008). Esta pesquisa teve uma
abordagem qualitativa, já que foi de caráter descritivo/interpretativista, com a
coleta do corpus em dois contextos: (i) na disciplina Recursos Tecnológicos no
Ensino do Português (1º semestre de 2011), como professor e (ii) na
disciplina Estágio no Ensino Fundamental (1º semestre de 2012), como
observador das aulas ministradas pelo professor da disciplina. Nesses dois
momentos, houve registro e documentação dos materiais para ensino de língua
elaborados pelos graduandos. Analisamos a maneira como se deu o
gerenciamento das vozes, a constituição da subjetividade e por fim os indícios
de autoria presentes nos materiais escritos. Os resultados mostram certa
dificuldade dos graduandos em gerenciar as vozes (i) das orientações teórico-
metodológicas da área, (ii) do material linguístico-discursivo objeto de ensino e
(iii) do suposto aluno alvo da atividade para que consigam de forma original
serem autores de seus exercícios, e não serem meros consumidores de teorias
e de materiais didáticos prontos para serem aplicados em sala de aula.

Palavras-chave: Autoria. Subjetividade. Formação do professor.

AVALIAÇÃO EDUCACIONAL: UMA AÇÃO DOCENTE CRÍTICA-REFLEXIVA


Daniela Fernandes Rodrigues (UECE)
Farbênia Kátia Santos de Moura (UECE)

Resumo: A presente produção tem como escopo refletir sobre a prática da


avaliação para a qualidade do ensino e aprendizagem, pois faz-se necessário
conhecermos a epistemologia que fundamenta as nossas práticas avaliativas.
Portanto, perante os múltiplos desafios encontrados no trabalho docente, é
notório que a avaliação educacional é uma área do conhecimento que suscita
muitas discussões nos dias atuais, pois permeia todo o trabalho pedagógico e
transita pelas demais áreas afetando diversos segmentos da comunidade
escolar. É perceptível, no entorno dessa discussão teórica, que esta atividade
pedagógica propicia uma constante reflexão sobre o trabalho docente
objetivando a qualidade e consequentemente o bom desempenho dos
educandos. Portanto é oportuno considerarmos que a avaliação consolida-se
como o ato de apreciar, dar um caráter valorativo sobre a aprendizagem

259
adquirida pelo educando, é um processo que está a serviço do ensino e da
aprendizagem, possibilitando a construção de aprendizagens significativas e
um pensar crítico reflexivo. O percurso metodológico consistiu em revisão
bibliográfica com consistente fundamentação teórica, que nos fornecesse
aparato teórico para discutirmos sobre o tema abordado. Para tanto,
recorremos a Luckesi (2003), Hoffmann (1998), Vianna (2005), e Romão
(2011). Nessa discussão é perceptível que a atividade educativa em questão, é
um instrumento de emancipação que propicia a apropriação dos saberes de
forma reflexiva. Portanto faz-se necessário rompermos com a perspectiva
positivista de avaliação, buscando um fazer pedagógico avaliativo pautado na
dialética. Enquanto que a dialética baseada numa abordagem progressista de
educação, considera todo o processo, valorizando o sucesso e o insucesso,
reconhecendo as peculiaridades do indivíduo, proporcionando a busca de
mudanças por parte dos sujeitos envolvidos no processo. Diante do exposto, é
salutar considerarmos o ato de avaliar como um trabalho pedagógico dinâmico
e sistemático, construído através de uma ação conjunta entre educador e
educando, em que ambos precisam impreterivelmente percebê-la como uma
prática conjunta que possibilita subsídios para diagnosticarmos as habilidades
e fragilidades que circundam o processo.

Palavras-chave: Avaliação educacional. Prática docente. Reflexão.

CANTOS DISTANTES E A FORMAÇÃO EM SERVIÇO: REFLEXÕES


TEÓRICO-METODOLÓGICAS PARA O TRABALHO DESENVOLVIDO A
PARTIR DO GÊNERO CARTA
Maria Verúcia de Souza (UnB)

Resumo: Os processos de formação de professores continuam como


prioridade na agenda de debate na área da Linguística. No Distrito Federal,
muitas das políticas de formação continuada dos docentes da rede pública de
ensino vêm sendo pensadas, discutidas e implementadas via EAPE - Escola de
Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação, e há certo consenso de
avançar com essas políticas, como também ressignificar os processos
formativos. Partindo desse pressuposto, e no âmbito de uma formação
promovida pela EAPE em parceria com o CENPEC- Centro de Estudos e
Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Social, elaborou-se o projeto Cantos
Distantes, objetivando por um lado desenvolver as habilidades de leitura e
escrita dos alunos do 3º ano do ensino fundamental a partir do gênero carta,
assessorado por uma rede de outros gêneros e, por outro lado, dar início a
uma formação em serviço das professoras implicadas no projeto com tripla
finalidade: conduzir as professoras a uma reflexão sobre a necessidade de
uma maior tomada de consciência sobre a importância dos gêneros discursivos
Bakhtin (2000) ou textuais Bronkart (1999) como valiosos instrumentos de

260
trabalho em sala de aula, levar o grupo a perceber a mais valia de um trabalho
construído, refletido e implementado em equipe e conscientizá-las sobre os
seus papéis de agente letrador Bortoni-Ricardo (2010). Dessa prática
formadora em curso, desde março de 2015, algumas estratégias de trabalho
foram planejadas e elaboradas, adotando-se para tal fim a proposta de Dolz,
Noverraz e Schneuwly (2004). Constituindo-se nosso principal objetivo: dar a
conhecer essa prática formadora, bem como os primeiros resultados dessa
ação de formação, destacando os conhecimentos teórico-metodológicos
adquiridos e vivenciados e os reflexos desses no âmbito do fazer pedagógico
das professoras.

Palavras-chave: Gênero textual. Formação. Ensino-aprendizagem.

O ASPECTO DA INTERPRETABILIDADE CONTIDO NA LINGUAGEM


SOBRE O TRABALHO: O QUE SIGNIFICA, HOJE SER PROFESSOR (A) DE
FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA
Lena Lúcia Espíndola Rodrigues Figueirêdo (UECE)

Resumo: O objetivo de nosso trabalho é analisar como o papel do professor de


Francês Língua Estrangeira (FLE) é representado, através da linguagem, em
textos de auto-avaliação profissional, produzidos especificamente para esta
pesquisa. Para desenvolver o tema, analisamos a arquitetura textual, os
elementos enunciativos, vozes e modalizações a partir do aporte teórico
metodológico do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), que tem como expoente
maior Jean-Paul Bronckart. Duas concepções foram basilares também na
pesquisa, a de linguagem fundamentada pelo ISD, aporte teórico indispensável
ao tipo de análise realizada e a de ensino como trabalho, considerando
orientações explicitadas a partir das ciências do trabalho. O corpus da pesquisa
foi constituído de textos produzidos por quatro formandos do Curso de Letras
da Universidade Estadual do Ceará. Começamos nossa análise examinando,
em cada texto, sua composição organizacional, suas características e os tipos
de agir. Em segundo lugar, estudamos os mecanismos enunciativos, para
examinar o jogo de responsabilidades enunciativas pelas vozes e
modalizações formuladas sobre aspectos do conteúdo temático dos referidos
textos, com a finalidade de verificar os aspectos da interpretabilidade contidos
na linguagem sobre o trabalho, revelada por cada docente. Nosso pressuposto
de base é o de que o papel dos professores é ressignificado, pela linguagem, à
medida em que eles situam a questão da desvalorização da língua francesa no
mercado de trabalho. Relevante para desenvolver nosso trabalho foi estudar a
questão do agir docente, da busca de valorização deste profissional, tomando o
ensino como trabalho e, assim, considerar, no cenário teórico, as novas
abordagens concernentes à Ciência do trabalho.

261
Palavras-chave: Linguagem. Interacionismo Sociodiscursivo. Representações.

CURRÍCULO, LICENCIATURA E AFRICANIDADES: SOBRE AUSÊNCIAS E


PERMANÊNCIAS
Kassandra da Silva Muniz (UFOP)

Resumo: Este trabalho visa apresentar os resultados obtidos por meio das
análises preliminares dos Projetos Político Pedagógicos (PPPs) dos cursos de
licenciatura da UFOP e dos PPPs de escolas públicas da região de Mariana e
Ouro Preto. Para a análise dos cursos selecionamos os PPPs de Matemática,
Artes Cênicas, Educação Física, Pedagogia, Letras, História e Ciências
Biológicas por ilustrarem, de formas diferenciadas, a presença ou não de
temáticas afro-brasileiras. Já para a análise dos PPPs das escolas
selecionamos a Escola Estadual Dom Oscar, a Escola Estadual Santa Godoy e
a Escola Municipal Wilson Pimenta por serem instituições de ensino que se
localizam em pólos distintos na cidade de Mariana. Um dos principais objetivos
é analisar os PPPs dos cursos e escolas citados acima a fim de observar neste
corpus alguma referência à pluralidade afro-cultural do estado de Minas Gerais.
A análise linguística dos PPPs e grades curriculares está sendo empreendida a
partir do aparato teórico sobre Linguagem e Identidades, dentro do campo da
Lingüística Aplicada e dos estudos sobre performatividade austinianos. A
análise dos PPPs das licenciaturas se fundamentou na perspectiva de que os
futuros professores precisam reconhecer a heterogeneidade cultural e
identitária de seus estudantes sem homogeneizá-las. Já a análise dos PPPs
das escolas públicas representa a relação que estas têm com a própria região
em que se encontram, uma vez que se localizam na região dos "Inconfidentes"
e, fortemente marcada pelo patrimônio de uma população de origem afro-
descendente. Constatamos por meio da pesquisa que quando os PPPs deixam
de abordar a diversidade cultural como fundamental para a formação de um
profissional ou de um aluno, deixam também de abrir as portas para o tema
das africanidades e das relações étnico-raciais. Se levamos em consideração
que a região é predominantemente negra, isso se torna mais preocupante e a
implementação da lei 10.639/03 mais urgente.

Palavras-chave: Licenciatura. Africanidades. Currículo.

CURRÍCULO MULTICULTURAL E O ENSINO DE LÍNGUAS


ESTRANGEIRAS
Fabricia Dorneles Ramos (Colégio Dom II)

Resumo: Os estudos embasados no multiculturalismo crítico evidenciam que a


justiça e a igualdade não podem ser obtidas através de um currículo

262
hegemônico neoliberal, na verdade, dependem de uma modificação substancial
dos currículos vigentes. Por esse motivo, este trabalho tem como objetivo
refletir sobre a construção de um currículo multicultural para o
ensino/aprendizagem de espanhol com língua estrangeira no Colégio Pedro
II/RJ. Visa, também, elaboração de práticas pedagógicas orientadas por uma
postura crítica, política e comprometida que contribuam para a (re)construção
das identidades desses alunos por meio da interação entre culturas e o
questionamento das identidades hegemônicas. Baseamos nossa investigação
nas Teorias Socioconstrucionistas do Discurso e das Identidades, campos nos
quais se destacam, dentre outros, os trabalhos de Moita Lopes (1996, 2003,
2005) que nos auxiliam na compreensão da linguagem como discurso
construído socialmente e da relevância deste para construção das identidades
e, ainda, na compreensão de discurso como prática social relacionando-o com
conceitos como os de poder, ideologia e hegemonia (cf. Fairclough, 2001). No
que se refere ao aporte teórico Intercultural, utilizamos os estudos de Mendes
(2004 e 2007) e Byram (2000 e 2002) que contribuem para a conceituação e a
reflexão sobre "interculturalismo". Valemo-nos, também, dos estudos
contemporâneos sobre construção e questionamento de identidades. (cf. Hall,
2000, 2009 e Silva, 2009). A experiência desenvolvida na sala de aula buscou
desconstruir o caráter homogeneizador e monocultural, muito presente no
ambiente escolar e, por meio de leituras de textos de diversas realidades
culturais e do contato com o diferente, construímos em sala de aula práticas
pedagógicas interculturais e, consequentemente, contribuímos para a
(re)construção das identidades tanto dos estudantes quanto da professora.

Palavras-chave: Multiculturalismo. Currículo. Identidade.

DE DISCURSO EM DISCURSO SE FAZEM AS MULHERES: O LIVRO


DIDÁTICO COMO INSTRUMENTO DE LETRAMENTO E DE CONSTRUÇÃO
IDENTITÁRIA
Erinaldo da Silva Santos (UFRN)

Resumo: Embora algumas transformações tenham ocorrido na sociedade


brasileira nas últimas décadas e os direitos femininos tenham sido ampliados,
ainda são constantes na mídia, nas ruas, na escola, na igreja, na vida cotidiana
discursos que tendem a colocar as mulheres em condições de dependência e
submissão. Nesse contexto, resolvemos analisar e discutir que significados são
construídos acerca dos diversos modos de "ser mulher" em questões de
exercício de um livro didático do segundo ano do ensino fundamental da
coleção "Girassol: saberes e fazeres do campo". Para alcançar esse objetivo,
orientamo-nos pelo viés da pesquisa qualitativa, buscando compreender como
são produzidos, percebidos e interpretados os significados na vida cotidiana
(TRAVANCAS, 2006). Outrossim, partimos de uma concepção de linguagem

263
como uma atividade interativa (BAKHTIN, 2011), como um modo de
ação/performance (BUTLER, 2014), porque ao interagirem, os sujeitos
constroem índices linguísticos de posicionamento ideológico que permitem o
confronto com outras vozes e a construção de identidades sociais. Para essa
compreensão, foram bastante significativas as contribuições de estudos como
os de Bakhtin (2010), Butler (2014), Hall (2014), Louro (2013), Moita Lopes
(2003). Por entendermos que a compreensão dos significados não se limita a
aspectos estritamente linguísticos, buscamos auxílio no campo dos estudos em
Linguística Aplicada, visto que o modo como esse tem se configurado
atualmente (de forma indisciplinar, transdisciplinar), tem possibilitado a
articulação de diversas teorizações, no sentido de criar inteligibilidade sobre
problemas sociais nos quais a linguagem tem papel decisivo (MOITA LOPES,
2006). Nesse sentido, a análise das questões de exercícios apontou para a
construção de uma visão essencializada das feminilidades em que
características como doçura, beleza, fragilidade estariam ligadas à morfologia
das mulheres. Além disso, foi constante uma visão dicotômica das relações de
gênero social.

Palavras-chave: Livro didático. Performance de gênero. Identidade(s) da(s)


mulher(es).

DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE E FORMAÇÃO DE


PROFESSORES: UMA ANÁLISE DO PROJETO PROFESSOR APRENDIZ
NA 7A COORDENADORIA REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA
EDUCAÇÃO
Joyce Costa Gomes de Santana (12a CREDE)
Antonio Oziêlton de Brito Sousa (UECE)
Paulo Martins Pio (UECE)

Resumo: Esta investigacão teve por intenção investigar a concepção de


formação docente desenvolvida no Estado do Ceará, materializada no Projeto
Professor AprenDiz, sua repercussão na prática pedagógica e nos processos
de construção da identidade, assim como na profissionalização do docente na
7a Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação, em Canindé,
Ceara.. Como procedimento metodológico, utilizou-se o estudo de caso, tendo
como instrumentos de coleta de dados observação, aplicação de questionários
com questões de múltipla escolha e entrevistas estruturadas com "professores
aprendizes" de treze escolas da rede pública estadual na circunscrição da 7a
CREDE. A pesquisa teve abordagem qualitativa e utilizou-se de duas
categorias teóricas de análise: formação continuada e desenvolvimento
profissional docente. Com incursão a literatura, abordou-se as políticas de
formação docente provocadas pelas Reformas Educacionais em curso na
América Latina e Caribe bem como o emergente paradigma docente,

264
decorrente da agenda politica neoliberal, denominado protagonismo docente,
considerando os impactos dessas iniciativas na identidade do professor. A
reflexão sobre os dados coletados, a luz do exame bibliográfico e do estudo de
caso, nos levou a considerar que os professores ainda concebem as formações
do Projeto Professor Aprendiz como algo descontextualizado de sua prática e
pouco identificam elementos que favoreçam o seu desenvolvimento
profissional. No entanto, a estratégia de formação entre pares, tendo a escola
como locus de formação, continua sendo apontada como a melhor sistemática
de formação e a que mais propicia o desenvolvimento da identidade e da
profissionalização docente. Pode-se intuir, portanto, que, o Projeto Professor
Aprendiz, apesar de se estruturar numa ação de formação ancorada no
protagonismo docente, apresenta fragilidades estruturais que impedem a
promoção de mudanças significativas nos saberes, aperfeiçoamento
profissional e na transformação das estruturas sociais vigentes, fragmentando
ainda mais a identidade do professor.

Palavras-chave: Formação continuada. Profissionalização docente. Politicas


educacionais.

DISCURSIVIDADES SOBRE DOCUMENTOS OFICIAIS DOS INSTITUTOS


FEDERAIS DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (IFS): A
CONSTITUIÇÃO DA RELAÇÃO SABER-PODER POR MEIO DO ENSINO DE
GRAMÁTICA
Edilson Pimenta Ferreira (IFTM)

Resumo: Intentamos, com este trabalho, apresentar reflexões e resultados


iniciais de uma pesquisa que visa a analisar como ocorre a constituição dos
discursos institucional-pedagógicos dos Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia (IFs), mais precisamente aqueles voltados ao ensino de
Língua Inglesa, doravante LI. Hipotetizamos que ao analisarmos esses
documentos, os professores de LI se verão como implementadores de
abordagens a-históricas e descontextualizadas da linguagem, ou seja, eles têm
suas práticas norteadas por documentos que tratam a aprendizagem de LI
isoladamente de seu contexto social, cultural e educacional e advogam, de
forma muitas vezes velada, a favor da imprescindibilidade do ensino de
gramática, Assim, como aplicadores, os docentes usam a LI como mecanismo
de manutenção da relação de poder, ou saber-poder, diante de estudantes
que, geralmente, não possuem mesmo conhecimento gramatical. Esse estudo
é realizado no entremeio da Linguística Aplicada Crítica (Pennycook), da
Análise do Discurso Francesa (Michel Pêcheux) e da Análise Dialógica do
Discurso (Círculo de Bakhtin). Ao desenvolvê-lo, problematizamos a formação
crítica de professores/as de línguas estrangeiras/adicionais que, como
profissionais críticos que são, formam-se com o objetivo de realizar práticas

265
pedagógicas críticas e fazer reflexões mais sistemáticas sobre tais práticas
como meio de enfrentamento a documentos silenciadores. Como base
metodológica desta análise, lançamos mão de encaminhamentos de
regularidades em categorias de análise de registro em Análise de Discurso, o
que nos permite estudar o funcionamento discursivo presente no contexto de
produção dos documentos (Santos et al 2004). Estudos dessa natureza
culminam no cumprimento de um dos objetivos da Linguística Aplicada Crítica,
como esclarece Pennycook (2001), a saber, primar pelo engajamento em
questões de poder e desigualdade, pela compreensão histórica das relações
sociais e refletir sobre aquilo que é visto como dado, normal e natural.

Palavras-chave: Discurso. Linguística Aplicada. Documentos.

DISCURSOS DE IDENTIDADES DE MESTRANDOS LICENCIADOS SOBRE


A PROFISSÃO DOCENTE NO ESTADO DE GOIÁS
Helvio Frank de Oliveira (UEG)

Resumo: Tendo em vista a necessidade de se problematizar as questões que


envolvem o status da profissão docente no contexto brasileiro (ROCHA, 2014),
nesta comunicação busco refletir e problematizar os discursos que constroem,
desconstroem e reconstroem identidades e posicionamentos de alunos de um
curso de pós-graduação stricto sensu em relação à profissão docente. Com
base na perspectiva discursiva de construção das identidades sociais (MOITA
LOPES, 2002) e na importância de reflexão linguística e sóciocrítica sobre o
tema em contextos de formação de professores em caráter inicial e continuado
(MATEUS, 2014), um estudo de caso de abordagem qualitativa de coleta e de
análise de dados foi conduzido em uma universidade pública do interior do
estado de Goiás, e contou com a participação de dez alunos regulares da
instituição, que são mestrandos e professores em exercício. Os dados, obtidos
por intermédio da utilização de questionários, histórias de vida, sessões
colaborativas gravadas em áudio, diários virtuais e entrevistas
semiestruturadas, foram analisados à luz de estudos críticos da linguagem
(FAIRCLOUGH, 2003; PENNYCOOK, 1998, 2001). Os resultados revelam que
o fluxo de leituras teóricas, das discussões teórico-práticas desenvolvidas e
das reflexões colaborativas produzidas em grupo propiciou, de acordo com os
participantes, empoderamento individual, tornando-se de extrema relevância o
momento de estudo para a identificação com a profissão e para a construção
de novas concepções em torno da formação e da profissionalização docente.
Vislumbrados pela reflexão e crítica, os posicionamentos discursivo-narrativos
docentes evidenciam que, a partir do curso, a crítica sobre outros processos
constitutivos da profissão, incluindo a linguagem, passou a ser fonte de
focalização no trabalho e na prática pedagógica sob influências do desejo de
mudança.

266
Palavras-chave: Formação Docente Continuada. Discursos. Identidades.

DISCURSOS DE PROFESSORES(AS) DE MATEMÁTICA SOBRE A


INCLUSÃO ESCOLAR DE SURDOS/AS
Andrielle Maria Pereira (UFPE)
Anna Luiza Araújo Ramos Martins de Oliveira (UFPE)

Resumo: Historicamente desenvolveram-se vários discursos sobre as pessoas


com necessidades especiais - desde pessoas limitadas e inferiores à incapazes
e excepcionais. Foram objetos de medicalização, de práticas corretivas e
normativas, bem como de diferentes discursos clínicos, familiares,
pedagógicos, religiosos e jurídicos (LOPES, 2007, 2010; SKLIAR, 2010;
QUADROS, 1997). No final do século XX, em decorrência de diversos
acontecimentos no âmbito social, político e educacional, assim como, a
disseminação de pesquisas e publicações sobre inclusão, as pessoas com
necessidades especiais passam a ser integradas no sistema educacional como
estudantes através de um forte movimento no campo educacional suscitado
por políticas de inclusão. Este estudo buscou analisar os discursos de
professores/as de matemática do agreste Pernambucano sobre o processo de
"inclusão escolar" de estudantes surdos/as na rede de ensino público.
Fundamentamo-nos na perspectiva pós-estruturalista do discurso (LACLAU;
MOUFFE, 2001), nos estudos culturais (OLIVEIRA, 2009) e nos estudos surdos
(SKLIAR, 2010). Discurso consiste num sistema de significados e práticas
sociais, construído historicamente, que compõem as identidades dos sujeitos e
dos objetos. Os estudos culturais colocam em xeque o papel da escola, do
currículo e da pedagogia na produção e reprodução de formas de dominação,
estimulando a desnaturalização dos discursos. Os estudos surdos em
educação consistem num campo de proposições políticas que determinam uma
aproximação significativa com os discursos sobre surdez. O corpus foi
constituído por transcrições de seis entrevistas semi-estruturadas com
professores/as de matemática. Constitui-se num estudo exploratório (GIL,
1999). A maioria dos participantes eram graduados e atuavam em escolas da
rede pública. Destes, 75% possuíam especialização, 67% estavam na faixa
etária de 35 a 40 anos. Mais de 83% afirmou não ter cursado disciplinas sobre
educação inclusiva na universidade. Percebeu-se (des)conexões entre à
educação de pessoas com "necessidades especiais", as fragilidades do
sistema educacional e da formação de professores/as. A compreensão da
"inclusão escolar" está mesclada por discursos ainda essencialistas e
integracionistas, trazendo também a lógica dos direitos humanos e da
educação inclusiva. Entende-se que é necessário (re)pensar as políticas de
inclusão e práticas curriculares.

267
Palavras-chave: Surdos(as). Inclusão Escolar. Professores(as) de Matemática.

DISCURSOS SOBRE A DOCÊNCIA: DANDO VOZ AOS/ÀS


LICENCIANDOS/AS EM FÍSICA DO AGRESTE PERNAMBUCANO
Ribbyson José de Farias Silva (UFPE)
Anna Luiza Araújo Ramos Martins de Oliveira (UFPE)
Raianny Kelly Nascimento Araújo (UFPE)

Resumo: Nos últimos anos, a discussão sobre a docência passou a ser tema
de interesse nas pesquisas e análises em diversas áreas das ciências
humanas e sociais. Porém, quando trazemos esse debate para o campo das
ciências exatas, em especial da Física, poucos registros são encontrados na
literatura. De acordo com estudos recentes (KUSSUDA, 2012; LEME, 2012), há
um número crescente de professores que abandonam a Educação Básica e
isso coloca em questão a capacidade de atração da sala de aula atual. Estas
mesmas pesquisas, indicam que esses altos índices de desistência estão
relacionados a fatores como: baixos salários, insatisfação no trabalho e
desprestígio profissional. É importante salientar, que tais dados emergem em
paralelo às políticas de incentivo desenvolvidas pelo Ministério da Educação -
MEC, para despertar o interesse dos/as estudantes para atuarem em salas de
aula no ensino básico como, por exemplo, o programa PIBID - Programa de
Iniciação a Docência. Este trabalho apresenta um estudo sobre os discursos a
respeito da docência, produzidos por discentes de um Curso de Licenciatura
em Física, no Agreste Pernambucano. A noção de discurso que adotamos é
aquela proposta pela Teoria do Discurso de Laclau e Mouffe (2001), um
sistema específico de significados e práticas das sociedades, constituintes das
identidades dos sujeitos e objetos, que são construídos ao longo de suas
histórias. O discurso não se restringe à fala ou escritos, é um conjunto de
vários elementos fundamentais que se intercruzam como em um jogo.
Fundamentamo-nos numa abordagem qualitativa da pesquisa em educação. O
corpus foi constituído por transcrições de entrevistas do tipo semiestruturada,
com dez estudantes que fizeram parte do PIBID em Física no campus da
UFPE, em Caruaru. De acordo com Ludke e André (1986) a entrevista do tipo
semiestruturada se dá a partir de um roteiro básico de perguntas, porém não
aplicado rigidamente. Todas as entrevistas foram registradas com o auxílio de
MP3 e transcritas a partir das recomendações de Marcushi (2003). Ao
analisarmos os discursos dos/as estudantes sobre a docência, percebemos
que embora vários/as tenham optado pela licenciatura, a maioria deles/as
nunca pensou em exercer a função de professor/a e ingressou no curso devido
à facilidade de deslocamento entre seus municípios e a instituição de ensino, a
oportunidade de ter um diploma de nível superior e com isso conseguirem
melhores salários e oportunidades de emprego. A maioria afirmou que após se
formar, pretendem abandonar a profissão docente no ensino básico e migrar

268
para áreas das engenharias, física pura, física médica ou a docência no ensino
superior. Os/as mesmos/as percebem a importância do papel social do/a
professor/a, no processo de mediação do conhecimento, porém relatam que,
atualmente, não há condições apropriadas de trabalho para ser docente do
ensino básico, pois existe uma grande desvalorização por parte dos órgãos
oficiais da educação e da sociedade.

Palavras-chave: Docência. Física-Licenciatura. Discurso.

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: A FORMAÇÃO DOCENTE E O


PROCESSO DE ENSINO MEDIADO PELO USO DE RECURSOS
TECNOLÓGICOS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
Fabio Siqueira Caldas (UFPA)
Cristina da Silva Barros UFPA)
Katilene da Silva Lima (UFPA)
Sônia Maria Alves Souza (UFPA)
Jannine da Cunha Gomes (UFPA)

As tecnologias estão em uso em diversos campos do conhecimento. Cada vez


mais presente na sociedade contemporânea, incluindo-se também na escola,
assim alunos e professores podem dispor de mais uma ferramenta para
ampliar suas condições quando a construção do conhecimento. Diante disso é
que surgiu o interesse em conhecer a realidade de uma turma de 1ª Etapa
Regular da Educação de Jovens e Adultos-EJA, em Tucuruí-PA, partindo da
perspectiva Freiriana de que a EJA recebe jovens e adultos que buscam por
meio da escola, melhores condições de vida. O estudo objetivou conhecer
quais recursos tecnologicos a escola dispõe para os professores, analisando
como o docente justifica a inserção desses em sua proposta metodologica de
ensino, conforme Freire, Libâneo, Guerra, Salman Khan. A coleta dos dados,
se deu por meio de entrevista semiestruturada e da observação "in loco". A
análise foi feita via abordagem qualitativa dos discursos, pois durante o estudo
buscamos conhecer a realidade da escola, relacionado aos recursos materiais
e a metodológia que contribuíssem para o diagnóstico dos resultados.
Verificamos que, o professor continua utilizando o "velho" método conteudista;
percebemos que estão ausentes práticas pedagógicas com o uso de variados
recursos tecnológicos; observamos um ambiente inoportuno para o professor
desenvolver aulas mais ricas para além do livro didático, aliado à falta de
formação continuada para possibilitar ao docente embasamento teorico-prático
que proporcione aulas significativas. Concluímos que o planejamento da prática
pedagógica e a ação docente precisam ser implementados no sentido de
construir processos de ensino e aprendizagem mais efetivos e significativos
para professor e aluno.

269
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Prática Pedagógica.
Recursos Tecnológicos.

EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS (EDH): DAS INTENÇÕES AO


DESAFIO NA FORMAÇÃO DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR
Jacqueline Lidiane De Souza Prais (UTFPR)
David Da Silva Pereira (UTFPR)
Silvana Dias Cardoso Pereira (ALLE-FE-UNICAMP)

Resumo: No contexto atual da educação brasileira, a preocupação com a


educação em direitos humanos consiste num esforço inicial das políticas
públicas visando à implementação do Plano Nacional de Educação em Direitos
Humanos (PNEDH - 2006). Este trabalho tem por objetivo refletir sobre a
necessária efetivação da educação em direitos humanos na formação docente
da educação superior, sendo esta, um dos eixos integrante para construção de
uma sociedade justa, igualitária e democrática. A questão principal de
investigação é: Como a formação docente na Educação Superior pode
promover a Educação em Direitos Humanos no âmbito teórico e prático? Essa
questão é relevante, pois a formação docente na Educação Superior apresenta
desafios imperantes para educação em direitos humanos: das intenções em
formar para educação como direito humano e a educação em direitos
humanos, para formação do docente à formar futuros educadores em direitos
humanos. Entende-se que a EDH é processo sistemático, multidimensional e
dialético, que mais que identificar os subsídios se faz necessário entender que
a educação é um processo potencialmente humanizador. Assim sendo,
pretende-se apresentar subsídios teóricos e práticos para humanização do
processo ensino e aprendizagem ao mesmo tempo em que se torna
humanizador o processo de formação docente inicial na Educação Superior.
Para tanto, será empregada a pesquisa bibliográfica suscitando reflexões
relevantes frente ao tema proposto. O ponto de partida são as concepções do
PNEDH (BRASIL, 2006), do Parecer CNE/CP n. 08/2012 e Resolução n.
01/2012 que institui as Diretrizes Nacionais da Educação em Direitos
Humanos, bem como, do Parecer CNE/CP n. 2/2015 e da Resolução n. 2/2015
que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e
Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação Básica. Espera-se
oferecer uma contribuição no campo da formação docente na Educação
Superior para promoção e efetivação da Educação em Direitos Humanos.

Palavras-chave: Educação Superior. Formação Docente. Educação em


Direitos Humanos.

EDUCAÇÃO SEXUAL NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

270
Francisco Ricardo Miranda Pinto (SEDUC)
Jefrei Almeida Rocha (SEDUC)
Rosendo Fritas de Amorim (UNIFOR)

Resumo: Este trabalho apresenta como temática central a Educação Sexual


na formação docente com o objetivo de analisar se ocorreu e o modo como
ocorreu a formação para os professores das Escolas de Ensino Fundamental
Emiliano Ribeiro da Cunha e Waldir Leopércio, em Varjota-Ce. Está alicerçada
na proposta da pesquisa qualitativa descritiva básica, realizada com 72 sujeitos
da comunidade escolar através de questionário semiestruturado, versando
sobre Educação Sexual, sobre a abordagem da mesma em sala de aula, bem
como sobre as possibilidades de sua anexação ao currículo obrigatório. Por
esta perspectiva, fez-se necessário a caracterização histórica do que é
intersetorialidade no contexto da Educação e Saúde, compreendendo o
Currículo e a nova construção do mesmo no contexto escolar. Seguindo a
proposta da pesquisa, foi verificada a formação de professores coordenadores
pedagógicos e professores para a práxis em Educação Sexual no Ensino
Fundamental. Os resultados apontam concordância entre os educadores em
referir a ausência de formação para lidar com a temática da Educação Sexual,
houve consonância entre os envolvidos na pesquisa em inserir a temática no
Currículo Escolar, pontuou como assuntos mais urgentes e necessários de
discussão as DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis), Gravidez Precoce
(ou gravidez na adolescência), HIV/AIDS, Sexo e Sexualidade, Drogas Lícitas e
Ilícitas além de outros pontos não menos importantes e necessários. Por fim as
considerações iniciais apontam ineficiência nas políticas públicas de formação
docente para a prática pedagógica da Educação Sexual, consequentemente
dos conhecimentos, ferindo assim os princípios da intersetorialidade.

Palavras-chave: Adolescência. Educação Sexual. Formação de Professores.

ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA NO CURSO DE LETRAS:


QUESTÕES DE AUTONOMIA
Rita de Cássia Moreira da Silva (UEG)
Hélvio Frank de Oliveira (UEG)

Resumo: Este trabalho pretende apresentar como se dá o processo de ensino-


aprendizagem de língua inglesa (doravante LI) em um curso de licenciatura
dupla em Letras (Português e Inglês), por meio da análise de uma narrativa
feita por um professor recém-formado no curso. Muitos alunos alegam pensar
que aprenderão a falar e escrever fluentemente em LI no curso de Letras. Ao
"passarem" pelas disciplinas relacionadas à língua, alguns percebem que não é
exatamente como esperavam. No que diz respeito à aprendizagem de língua
estrangeira (doravante LE), de acordo com Paiva (2009), não há como

271
aprendê-la estudando apenas por meio de atividades de sala de aula.
Considerando esta perspectiva, a pesquisa em questão expõe uma análise da
participação ativa do professor em seu processo de formação nas aulas e
atividades propostas pelos professores formadores do curso nas disciplinas
referentes à LE/LI e seu (des)empenho na realização e no estudo da língua de
forma autônoma. O estudo tem caráter qualitativo/interpretativista, seguindo
referências de Moita Lopes (1994), que considera a pesquisa desta natureza
mais apropriada para estudos na área da Linguística Aplicada por enriquecer o
trabalho devido ao fato de que ela permite a revelação de conhecimento de
naturezas diversas por conta de seu enfoque inovador, e Flick (2009), para o
qual a pesquisa qualitativa/interpretativista proporciona a oportunidade de
escolha de diferentes métodos e teorias de acordo com o que for conveniente
e, ainda, pela possibilidade de analisar o objeto por diversas perspectivas. Para
analisar os níveis de autonomia exercidos pelo professor durante o processo
de formação, apóio-me em discussões de Cruz e Lima (2009), Little (1991),
Santos (2006) e Leffa (2003) acerca do que seria autonomia no contexto
educacional, chegando, enfim, à conclusão de que o professor em formação
teve grande capacidade de se comportar de maneira autônoma, colaborando
com sua própria aprendizagem.

Palavras-chave: Autonomia. Formação Docente. Língua Inglesa.

ENSINO DE LÍNGUAS E (MULTI)LETRAMENTOS CRÍTICOS: QUESTÕES


IDENTITÁRIAS E CULTURAIS NA FORMAÇÃO TÉCNICA NA ÁREA DE
TURISMO
Flavia Silveira Dutra (CEFET/RJ)

Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta de


elaboração de materiais didáticos para aulas de ensino e aprendizagem de
inglês para turmas do Ensino Médio Integrado, do curso técnico de turismo, em
uma escola da rede federal de educação tecnológica, na cidade do Rio de
Janeiro, a partir da perspectiva dos (multi)letramentos críticos, estudo que
tenho desenvolvido em minha pesquisa de doutorado. Entendo, neste estudo,
materiais didáticos em uma perspectiva ampla que abrange "tanto textos
quanto tarefas para a aprendizagem de línguas: textos apresentados aos
alunos em folhas, áudio ou imagem, e/ou exercícios e atividades baseados em
tais textos" (Harwood, 2010:03). Defendo uma proposta de ensino e
aprendizagem de inglês para a contemporaneidade, a partir da perspectiva dos
(multi)letramentos críticos, por compreender que o aprendiz deve envolver-se
em práticas de letramentos que reconheçam e promovam o engajamento com
questões sociais, políticas e identitárias, entendendo a língua como uma forma
de agir socialmente para questionar, negociar e mudar sua realidade, em um
mundo cada vez mais multissemiotizado, e cultural e linguisticamente plural e

272
híbrido (Kalantzis & Cope, 2012). Alinhadas a essa perspectiva, ancoro-me nas
teorias críticas para a adaptação e produção de materiais didáticos propostas
por Kullman (2012) e Tomlinson & Masuhara (2012). Dessa forma, busco, por
meio da produção desses materiais, promover práticas críticas e reflexivas de
usos da língua inglesa na contemporaneidade e, especificamente, no contexto
do mercado de trabalho do turismo na cidade do Rio de Janeiro, e, sobretudo,
defendo uma formação profissional e cidadã que possa atender às demandas
de uma sociedade cada vez mais plural e híbrida.

Palavras-chave: Multiletramentos Críticos. Identidades. Turismo.

ENSINO FUNDAMENTAL: DIVISÃO, INVISIBILIDADE E EXCLUSÃO QUE


INCOMODAM
Adenir Carvalho Rodrigues (UNEB)

Resumo: O Ensino de 1º Grau foi instituído de forma obrigatória a partir da Lei


5.692/1971, hoje denominado de Ensino Fundamental. Como segunda etapa
da escolarização das crianças, esse nível de ensino preconizava o atendimento
de crianças de 7 a 14 anos de idade. Em 2006 com a criação do Ensino
Fundamental de nove anos, passou a atender crianças de 6 a 14 anos.
Segundo a legislação, esse nível de ensino precisa garantir o desenvolvimento
pleno de crianças e adolescentes de forma contínua sem prejuízo no processo
de ensino-aprendizagem. Na prática a realidade é outra, já que temos
presenciado uma divisão entre as séries iniciais e finais, comprometendo a
integralidade e continuidade dos saberes, formando identidades distintas com
relação a concepções de ensino, aos discentes e docentes, bem como
direcionando modelos de formação continuada distantes de uma etapa a outra.
A partir destas questões, este estudo tem como objetivo caracterizar essa
etapa de ensino no município de Bonito/BA lançando o olhar sobre os
indicadores acadêmicos internos e externos, a visão dos docentes com relação
aos alunos e a concepção que eles têm da formação continuada desenvolvida
no município. Para o embasamento teórico lançamos mão de dados
estatísticos e qualitativos produzidos a nível nacional e municipal acerca dessa
etapa. No campo empírico foi utilizado questionário para os professores e
professoras das séries finais com o intuito de ouvirmos suas queixas, desafios
e sugestões, principalmente acerca dos desempenhos dos alunos e da
formação continuada. De um modo geral, tem ocorrido uma diferenciação no
estilo de organização e didática das aulas com uma forte tendência dos
professores perceberem os alunos como imaturos, despreparados,
indisciplinados e sem base. Há queixas generalizadas de que os alunos
chegam ao 6º ano sem os conhecimentos mínimos esperados, aumentando a
dificuldade dos professores e professoras em articular propostas de ensino que
promova a continuidade das aprendizagens dos alunos não garantidas nas

273
séries anteriores. Por sua vez, a formação continuada não tem dado conta de
atender aos anseios e desafios desta etapa de ensino, pela pouca efetividade
das políticas públicas, tanto a nível federal, estadual quanto municipal.

Palavras-chave: Ensino Fundamental. Concepção de Ensino. Formação de


Professores.

EXPERIMENTANDO DIDÁTICAS E DESPERTANDO PERCEPÇÕES SOBRE


PERFIS SÓCIO-ECONÔMICAS-FAMILIARES NO ENSINO INTEGRADO DO
IFBA- VALENÇA-BA..
Marietta Bárbara Barreto Bomfim (IFBA)

Resumo: O insight para o trabalho surgiu da experiência como professora


EBTT de Sociologia do IFBA Campus Valença-Ba. O desafio posto é empregar
ferramentas de ensino/aprendizagem que estimulem o alcance de
competências e habilidades (tais quais pregam o PCN/ matriz do ENEM)
necessárias para a formação do ser histórico e crítico. Assim, realizei uma
experiência didática avaliativa na IIª Unidade do ano letivo de 2014, em duas
turmas de primeiro ano, dos Cursos Integrado em Informática e de Aquicultura.
Solicitei que cada estudante fizesse uma "árvore genealógica" que
apresentasse não só a filiação parental, mas também um breve perfil sócio
econômico familiar. As perguntas sócio econômicas foram pré-estabelecidas
por mim, dentre estas: idade, cor/etnia, grau de escolaridade, profissão, vinculo
empregatício, contribuição com as despesas domésticas, religião e orientação
sexual. Objetivo da atividade foi despertar em cada estudante a auto percepção
familiar e sócio econômico, para a partir desta, construir em sala de aula,
correlações com dados do IBGE que fornecem um panorama estrutural sobre
as "classes sociais" e "arranjos familiares" existentes no país. Discussão para o
entendimento das Desigualdades Sociais. A fundamentação teórica se pautou
em leituras sobre "parentesco e propriedade: modos de organização social",
"classes e estratificação social", do livro Sociologia Hoje (MACHADO, Igor José
de Reno [et. Al.]. 1 ed. São Paulo: Ática, 2013). Resultados: comparando e
contrastando as turmas, Aquicultura apresentou um perfil sócio econômico
próximo ao das classes baixas (D, E, F com base na definição do IBGE): com
baixo grau de escolaridade, más posições de trabalho, maioria
afrodescendentes. Já Informática, mais próximo a classe C, com escolaridade
superior e profissões mais valorizadas. Ambas tentem para um equilíbrio entre
católicos e protestantes, com baixa incidência de praticantes de religiões de
matriz africanas. Sobre orientação sexual, é esmagadora, a vinculação
heteronormativas. Os estudantes de ambas as turmas, passaram a despertar
maior interesse e compreensão argumentativa quanto às "desigualdades
sociais", e maior sensibilidade às ações reparadoras do Estado, a exemplo da
discussão sobre Cotas Raciais. Partindo, da condição própria de classe e

274
social para refletir e se posicionar frente a este e demais problemas sociais
abordados nas aulas.

Palavras-chave: Árvore Genealógica. Didática Avaliativa. Perfis Sócio-


Econômicos.

FORMAÇÃO CONTINUADA EM GÊNERO E SEXUALIDADE PARA A REDE


ESTADUAL DE ENSINO DO CEARÁ
Homero Henrique De Souza (SEDUC-CE)

Resumo: O foco deste trabalho é descrever a principal ação de formação


continuada para professores em Educação, Gênero e Sexualidade
desenvolvida pela Secretaria da Educação do Estado do Ceará (SEDUC) no
ano de 2015 através da Coordenadoria de Desenvolvimento da Escola e da
Aprendizagem (CODEA/DIVERSIDADE E INCLUSÃO EDUCACIONAL). O
artigo fundamenta a necessidade da capacitação permanente dos educadores
diante das novas demandas que as escolas apresentam no que se refere às
relações de gênero, identidade de gênero e sexualidade. Pesquisas recentes
do Ministério da Educação (MEC) apontam o ambiente escolar como um dos
principais locus de preconceito e discriminação sofrido principalmente por
estudantes não-heterossexuais. A mesma escola que deve agregar, tem
instigado estereótipos e intolerâncias, resultando num quadro de baixo
rendimento e evasão escolar diante das realidades sexistas, machistas e lesbo-
homo-transfóbicas praticadas. São apresentados todo o passo a passo
metodológico, resultados e encaminhamentos, frutos das oficinas pedagógicas
realizadas entre os meses de abril e agosto do ano de 2015. Essa ação
formativa é amparada pela Constituição Federal, Constituição Estadual do
Ceará, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (Ensino
Fundamental e Médio), pelo Plano Nacional de Educação em Direitos
Humanos e atende a um dos objetivos estratégicos da Secretaria da Educação
do Estado do Ceará. Concluiu-se que a escola urge aos seus educadores,
permitir-se repensar ideias pré-concebidas baseadas em "achismos" e senso
comum, aprofundar seus conhecimentos, reconhecer e valorizar a diversidade
humana e proporcionar aos seus estudantes uma análise desprovida de
olhares e conceitos moralistas, excludentes e arcaicos a cerca da sexualidade
humana.

Palavras-chave: Educação. Formação Continuada. Trabalho Docente.

FORMAÇÃO DE PROFESSORAS, RACISMO E GÊNERO: SIGNIFICADOS E


CONSEQUÊNCIAS DO SILÊNCIO
Paula de Almeida Silva (UFG)

275
Charlene S. M. Meneses de Paula (UFG)

Resumo: Os casos de discriminação racial em nosso país são encarados


como fatos isolados e tocar nos assuntos raça ou racismo é algo extremamente
polêmico, já que nos ensinaram que vivemos no paraíso tropical, com uma
democracia racial (SILVA, 2012; FERREIRA, 2006; 2007). Contudo, segundo
Piscitelli (2008), a diferença pode ser um marcador de hierarquia e de
opressão. Casos de injúria racial desferidas ao goleiro Aranha e à jornalista
Maria Júlia Coutinho nos revelam a dificuldade de entender que o racismo não
está somente presente em xingamentos, está, sobretudo, em uma estrutura
que, de forma naturalizada, marginaliza as pessoas, tirando delas as
oportunidades para que sejam cidadãs plenas. Ainda que tenhamos a lei
10.639/03 para inserir a história e a cultura afro-brasileira nas escolas, o
silêncio sobre a base estrutural do racismo que irrompe nas salas de aula,
sejam elas de formação de professoras/es ou de estudantes do ensino regular,
ainda é aterrador (SILVA, 2012) e precisa ser problematizado. Este trabalho
tem o objetivo de discutir os possíveis significados e consequências do silêncio
(FOUCAULT, 2008; LORDE, 1978; ORLANDI, 2007) de uma professora negra
em sala de aula. Para tanto, nossa análise se centrará em um evento
comunicativo observado etnograficamente (BLOMMAERT; JIE, 2010) em uma
aula ministrada no dia 6 de setembro de 2013, no módulo Critical English
Learning do Curso de formação continuada de professoras/es de inglês como
língua estrangeira/adicional: UFG. O tema da aula foi racismo e o
documentário Blue eyed (1996) impulsionou o desenvolvimento do evento, e a
produção discursiva verbal e não-verbal. Participaram da aula 9 professoras e
1 professor. Nelson e Monalisa são negros e assumem diferentes
posicionamentos (MOLON; VIANNA, 2012; VITANOVA, 2005) em sala de aula.
Concluímos que marcadores de diferença se interseccionaram e produziram
relações de poder, que acabaram determinando o posicionamento de Monalisa
e de Nelson, bem como seus possíveis significados e consequências.

Palavras-chave: Formação de Professoras. Racismo. Gênero.

FORMAÇÃO DOCENTE DO PROFESSOR DE INGLÊS E A CONSTRUÇÃO


DE SUA IDENTIDADE PROFISSIONAL
Michelle de Sousa Bahury (UFMA)
Naiara Sales Araújo Santos (UFMA)

Resumo: O presente estudo busca entender como se dá a construção de


identidade do professor de língua Inglesa. Pautados em reflexões geradas a
partir da Análise do Discurso francesa objetivamos verificar os efeitos de
sentido no (s) discurso (s) produzido (s) pelos alunos do Curso de licenciatura
em Letras - inglês a partir de seus relatos sobre a relação entre a teoria e a

276
prática docente. É relevante salientar que os sujeitos envolvidos no processo
de formação inicial carregam visões de mundo, influenciados pelo contexto
histórico, social e econômico em que se inserem. Tais visões produzem
"discursos" que representam o processo de constituição do ser professor.
Como suporte teórico desse estudo, elegemos entre outros, a perspectiva de
discurso institucional de Foucault (1986) para compreender como o licenciando
se enuncia não só perante a universidade, mas também em relação à outras
instituições que afetam seu processo de profissionalização docente. Assim, os
discursos produzidos evidenciam a crise de identidade da sociedade pós-
moderna citada por Hall (1987) ocasionada pelo descentramento da posição do
sujeito. Constantes rupturas são recorrentes em uma realidade onde o
significado de um discurso é instável e constantemente influenciado pela
diferença conforme cita Derrida (1981). A fim de perceber uma situação com
base no discurso dos licenciandos em Letras, além do levantamento
bibliográfico, utilizamos a técnica de entrevistas semiestruturadas para obter a
geração de problematizações aprofundadas. Os grupos de alunos escolhidos
para a investigação são os bolsistas de dois programas de extensão em língua
inglesa. Atualmente a pesquisa encontra-se em fase de leitura e análise das
informações coletadas. Os dados já mostram que a maioria dos alunos que
ministram aulas de língua inglesa nos programas citados não ingressou no
Curso com o objetivo de ser docente, mas pela vontade de aprimorar seus
estudos na habilitação estrangeira; que a escolha de ser professor se deu a
partir do 5° período por uma possibilidade de maturação pessoal e profissional,
que fazem pouca conexão com o que estudaram na academia com o que
encontraram na prática de sala de aula e que as identidades construídas estão
diretamente ligadas à interpretação social da profissão docente.

Palavras-chave: Discurso. Identidade. Professor de Inglês.

FORMAÇÃO E ENSINO: A CRÔNICA COMO RECURSO INTERDISCURSIVO


EM AULAS DE PLE
Lívia Cristina Silva Reis (UEMA)

Resumo: Este estudo trata do Ensino de Língua Portuguesa (ELP), variante


brasileira, para falantes estrangeiros, a partir dos interdiscursos recorrentes nos
enunciados do gênero crônica com teor humorístico. Tem-se por pressuposto
que a crônica, apesar de oriunda do folhetim europeu, constitui-se como um
gênero que tipifica a expressividade sociocultural brasileira. Dessa forma, por
meio do enfoque didático interculturalista, objetiva-se contribuir com o ensino
de Português como Língua Estrangeira (PLE), considerando-se as estratégias
utilizadas pelos cronistas para construir efeitos de humor e suscitar o riso nos
interlocutores, mediante elementos linguísticos e implícitos de identidade
cultural-ideológica brasileira. Para tanto, pauta-se a pesquisa na vertente

277
sociocognitiva da Análise Crítica do Discurso (ACD); na Linguística textual (LT);
e nas propostas relativas ao ELP e aos sentidos e categorizações do humor. A
metodologia utilizada é teórico-analítica e aplicada ao ensino. Os resultados
obtidos são parciais e, com base na crônica Natal, de Luis Fernando Verissimo,
indicam que: a) efeitos de humor construídos, por meio da seleção e
organização vocabular e da exposição de situações inusitadas, podem conduzir
à mudança de emoção nos interlocutores; b) mediante a alternância de papéis
sociais, as personagens, na crônica, ora são observadores ora alvos da
observação, propiciando estratégias humorísticas; e c) interdiscursos
recorrentes na crônica contribuem com ensino multidisciplinar em aulas de
PLE. Nesse sentido, o ensino intermediado pelo gênero crônica, conforme as
condições criadas pelo professor, pode auxiliar o aluno estrangeiro na
apreensão da língua-cultural alvo - estabelecendo-se um diálogo com a sua
língua-cultura materna - bem como no desenvolvimento das habilidades
necessárias para a comunicação dentro e fora do âmbito escolar.

Palavras-chave: Ensino De Ple. Crônica. Interdiscurso.

UM OLHAR SOBRE A AÇÃO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NA


ESCOLA
Farbênia Kátia Santos de Moura (UECE)
Daniela Fernandes Rodrigues (UECE)

Resumo: Sabe-se o quão importante e necessário é o trabalho do coordenador


pedagógico dentro de uma escola, ainda mais quando este profissional se
compromete de fato com a formação dos professores e com a aprendizagem
significativa dos alunos. Procurar agir como líder, superando toda ideia de
fiscalização e autoritarismo, é uma forma eficaz de o coordenador pedagógico,
junto à sua equipe, atingir positivamente os objetivos da escola, bem como,
tendo clareza de suas funções, para não colocar o que é secundário, como
prioridade, distanciando assim, a eficiência dos resultados. Para se
desmistificar a visão arcaica de inspetor, como assim surgira na época da
colonização brasileira, o coordenador pedagógico da atualidade, precisa
manter uma relação horizontal com seus pares, tendo como foco de sua ação
pedagógica, tanto a formação continuada dos docentes da escola a qual faz
parte, como também a aprendizagem dos alunos de forma satisfatória. Desse
modo, têm-se como objetivos: analisar como se dá a prática do coordenador
pedagógico, enquanto formador de professores e enquanto líder; diferenciar
coordenador líder, de coordenador chefe; discutir acerca das funções deste
profissional da educação, enquanto contribuinte para o crescimento da escola
no processo de ensino e aprendizagem; e refletir sobre as relações
interpessoais do coordenador pedagógico, destacando êxitos e fracassos
profissionais. A concretização desse artigo, deu-se através de pesquisa

278
bibliográfica, com revisão de literatura baseada em alguns autores, dentre
eles: PLACCO E ALMEIDA (2010), VASCONCELLOS (2007), TARDIFF
(2007), etc. e de pesquisa virtual, utilizando-se de alguns sites da internet, com
a leitura de artigos na área pesquisada.

Palavras-chave: Coordenador pedagógico. Formação de professores. Escola.

UM CONVITE À (RE)DESCOBERTA DA LEITURA EM SALA DE AULA


Erdenia Alves Santos (SEDUC)

Resumo: Este trabalho evidencia como as experiências de leitura do professor


contribuem para a promoção desta em sala de aula. Assim como propõe uma
análise dos reflexos que a leitura proporciona, sendo esta uma extensão do
próprio ser humano, desse ser mosaico de outros seres, seres encontrados nas
diversas leituras que fazemos ao longo da vida, pois a leitura, além de
instrumento humanizador, é o mais completo exercício deste corpo que
transborda linguagem. Fundamentando-se em estudos bibliográficos a partir de
autores como: BAMBERGER (1986), CALVINO (2007), COLOMER (2003),
(2007), COSSON (2012) (2014), FELDMANN (2009), IMBERNÓN (2011),
MAIA (2007), MARTINS (2000), PINHEIRO (2001), (2007), este trabalho
propõe uma reflexão acerca da necessidade de formarmos também
professores leitores para que sua experiência significativa de leitura seja uma
ferramenta a mais para o incentivo desta. E, diante dessa realidade, promover
aos alunos do ensino básico, uma (re)descoberta da leitura, desenvolvendo
estratégias que os aproximem afetivamente e efetivamente desta.

Palavras-chave: Leitura. Literatura. Ensino.

TÃO PRESENTE E TÃO DISTANTE DO MUNDO LETRADO: NARRATIVAS


DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL II.
Maria Ligia Macedo Silva (UESC)

Resumo: O presente trabalho é resultado do estudo que pretendeu identificar,


por meio de narrativas de alunos, os sentimentos desenvolvidos e as
estratégias utilizadas para permanecerem na escola, mesmo não apresentando
a competência leitora e escritora. O estudo foi realizado a partir do referencial
teórico dos autores: Antunes (2009) Soares (2003, 2012, 2013), Cagliari
(1999), Kleiman (2011, 2013), Colello (2012), Silva (2011). Com orientação na
pesquisa de cunho qualitativo, o estudo foi desenvolvido com o método de
estudo de caso. A coleta dos dados realizou-se com análise da Ficha Escolar
Individual, aplicação de questionário e narrativas de dez alunos, entre 11 e 15
anos, matriculados no ensino Fundamental II. A coleta das narrativas ocorreu

279
em encontros organizados e desenvolvidos na forma de grupo focal. Para a
seleção dos alunos houve a colaboração dos professores de Língua
Portuguesa com a realização de atividades diagnósticas. A análise dos dados
possibilitou verificar: o percurso escolar dos participantes, as ocorrências
escolares, a relação com a leitura e a escrita, a visão que os alunos possuem
da escola, sentimentos e estratégias para permanecerem no ambiente escolar
sem dominar a leitura e a escrita. Os resultados indicaram que, mesmo
reconhecendo o papel e a importância social da escola como responsável por
seu processo de escolarização e inserção social, os alunos se mostraram
desestimulados com a escola e não atribuem sentido a ela em suas vidas,
anunciando possível evasão da instituição. Permanecem na escola utilizando
estratégias de indisciplina ou de invisibilidade na sala de aula. Esse estudo é
finalizado com a apresentação de uma intervenção pedagógica no campo da
leitura e da escrita, a ser desenvolvida a partir do resgate da autovalorização
do aluno e da formação de sua identidade (pessoa e estudante), de modo que
perceba sua capacidade para construir conhecimentos, reconhecendo-se como
ser constituído de saberes e valores. Portanto, a superação das dificuldades de
leitura e escrita o estimulará a (re) construir o sentimento de pertencimento ao
ambiente escolar, gerando novas perspectivas de vida.

Palavras-chave: Leitura. Escrita. Narrativas.

SABERES E PRÁTICAS DE PROFESSORAS EGRESSAS DO CURSO DE


EXTENSÃO EM EDUCAÇÃO E CULTURAS AFRO-BRASILEIRAS NO
ODEERE
Claudia Moreira Costa (UESB)

Resumo: A proposta a ser apresentada nesse encontro trata dos saberes e


práticas de professoras a partir do ingresso no curso de extensão em
Educação e Culturas Afro-brasileiras realizado através do ODEERE (Órgão de
Educação e Relações Étnicas com Ênfase em Culturas Afro-Brasileiras),
proposta do Departamento de Ciências Humanas da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia - UESB. O referido estudo faz parte de uma pesquisa de
mestrado em andamento que busca investigar sobre o tema a partir da
abordagem qualitativa ancorada nos pressupostos da história oral que
possibilita maior apreensão e compreensão das interlocuções e práticas das
professoras colaboradoras da pesquisa que narram suas vivências docentes a
partir da inserção nos cursos do ODEERE. O estudo busca problematizar de
que maneira professoras egressas da formação continuada ao estudar sobre a
diversidade étnica, usam interlocuções e acervo didático-pedagógico em seus
ambientes escolares em atendimento às demandas da Lei 10.639/03. Nesse
sentido, reflete-se acerca das identidades dessas professoras que se mostram
construídas entre a trajetória família e escola, pensando as influências na

280
concepção de educação como prática política e das relações étnico-raciais
tendo como referência os estudos de Barth (2011), Demo (1992), Munanga
(2000/ 2005), Silva (2000). Os resultados parciais evidenciam que o processo
de inserção dessas professoras no ODEERE foi um diferencial para que as
intercessões direcionassem novos olhares e posturas capazes de interferir
diretamente no contexto educacional, especialmente no que tange à etnicidade.

Palavras-chave: ODEERE. Prática Pedagógica. Etnicidade.

RELATOS DE EXPERIÊNCIAS DOCENTES: SABERES E MEDIAÇÕES NO


USO DOS JOGOS DO CEEL PARA ALFABETIZAR LETRANDO
Eliziete Nascimento De Menezes (UFC)

Resumo: Este trabalho surgiu a partir da questão: como se caracterizam os


usos dos jogos didáticos do CEEL que compõem o material do Programa
Alfabetização na Idade Certa (PAIC) pelas professoras de 1º. e 2º. anos do
Ensino Fundamental em escolas públicas municipais de Fortaleza - CE? O
objetivo foi caracterizar os usos que as alfabetizadoras fazem dos jogos
considerando as orientações pedagógicas recebidas e as adaptações feitas
pelas docentes. A pesquisa qualitativa foi realizada com uma amostra da rede
municipal que é composta por seis distritos. Então pesquisamos seis escolas,
situadas uma em cada distrito e, em cada escola duas professoras, sendo uma
de 1º ano e outra de 2º ano, totalizando doze sujeitos. Para isso utilizamos
como técnica de pesquisa a aplicação de entrevistas. A fundamentação teórica
baseou-se nos estudos de autores que versam sobre a função social e
significado do brinquedo, da brincadeira e do jogo (BROUGÈRE (2004), e
KISHIMOTO (2003)), bem como de pesquisadores que tratam da autonomia,
da experiência e da prática docentes (TARDIF (2014) e THERRIEN (2007)). Os
principais resultados mostraram que as professoras utilizam o jogo em dias
planejados, geralmente na sexta-feira, ou livres no intervalo entre o fim de uma
atividade e início de outra para que alguns alunos não fiquem ociosos; elas o
fazem observando as instruções de jogo ou adaptando. Entre essas
ressignificações podemos citar o uso do material como ferramenta para
exposição de conteúdo; a criação de novos jogos a partir das instruções e
regras do CEEL. Outro resultado decorrente das análises mostrou que a
maioria das entrevistadas não recebeu nenhuma orientação pedagógica para
trabalhar com esses jogos.

Palavras-chave: Jogo. Brincadeira. Prática Docente.

281
RELATO DE EXPERIÊNCIA DOCENTE PARA O LETRAMENTO CRÍTICO-
LITERÁRIO DE ALUNOS DE LÍNGUA ESPANHOLA: UMA ANÁLISE DA
OBRA EL TÚNEL, DE ERNESTO SABATO
Michelle Soares Pinheiro (UECE)

Resumo: Neste trabalho, relatamos uma experiência docente na sala de aula


de Língua Espanhola no Núcleo de Línguas da Universidade Estadual do
Ceará, a fim de desenvolver a competência leitora e o letramento crítico-
literário dos alunos do curso de Espanhol Avançado, utilizando a obra literária
"El túnel" de Ernesto Sabato. Para trabalhar o letramento crítico e a
competência leitora, adotamos os pressupostos teóricos de Soares (1998,
2010), Baptista (2010), Janks (2012), Newsfield (2011), Cosson (2007), Padilla
e Sampaio (2012) e Costa (2012). Consideramos que o letramento se configura
enquanto conjunto de práticas sociais que usam a escrita e a leitura, como
sistema simbólico e tecnologia em contextos particulares e para objetivos
específicos. Partindo-se de uma perspectiva crítica, a linguagem é vista como
uma prática social situada sócio-historicamente (FAIRCLOUGH, 2001), em que
a linguagem e suas práticas sócio-discursivas são interdependentes e que
merecem atenção no contexto educacional, principalmente no ensino de língua
estrangeira. Nossa atuação docente favorece o desenvolvimento do letramento
crítico-literário, por meio de atividades com o livro paradidático supracitado. Os
alunos leram os capítulos, relataram a história e usaram da criatividade para
apresentar o enredo em sala de aula. Destarte, o objetivo principal da atividade
foi analisar como os alunos compreendiam a história e interpretavam o "túnel",
não somente na obra literária, mas se estendendo para a subjetividade dos
mesmos, em meio à semiose discursiva do livro. Assim, instigamos os alunos à
reflexão crítica da obra literária e à metáfora do túnel, bem como os
incentivamos a explorar a multimodalidade para construir sentidos.
Percebemos que os alunos demonstraram a compreensão da história através
de fantoches, cartazes, dramatização, imagens e música. Além disso,
constatamos que as interpretações foram múltiplas, dentre elas, destacamos a
representação do túnel como símbolo da solidão, tristeza e busca do
autoconhecimento. Ademais, os estudantes se posicionaram em relação ao
tema da violência doméstica e do preconceito contra a mulher. Concluímos que
a atividade com o texto literário na aula de língua Espanhola se mostra
relevante para potencializar o desenvolvimento da criticidade acerca de
questões sociais cotidianas e da competência leitora.

Palavras-chave: Linguagem. Ensino. Letramento Crítico-Literário.

PROCESSO DE FORMAÇÃO DE ENSINO: ENLACES NAS CRÔNICAS


JORNALÍSTICAS
Isabelle Victória Ramos dos Santos (UEMA)

282
Resumo: Esta comunicação tem por finalidade analisar os interdiscursos de
formação e ensino de Língua Portuguesa delimitados em crônicas jornalísticas
recorrentes nos livros didáticos: Português: língua e cultura e Português:
linguagens, adotados para estudantes da rede pública de ensino médio, no
triênio 2015/2016 e 2017. A escolha por essas coletâneas se deu em virtude de
estar entre as 10 (dez) aprovadas pelo Programa Nacional do Livro Didático -
PNLD/2015, para utilização na rede pública de ensino. Nesse sentido, os
aportes teóricos são fundamentados nas concepções da Linguística Textual, da
Análise Crítica do Discurso - ACD, de vertente sociocognitiva, que trata das
inter-relações das categorias discurso, sociedade e cognição, na medida em
que essas categorias relacionam-se e se definem como relevância
comunicativa e informativa enunciadas nas práticas sociais. Com essas
concepções objetiva-se contribuir com ensino de leitura e produção da crônica
jornalística no livro didático de Língua Portuguesa; e como objetivos
específicos: a) identificar e examinar, nos livros didáticos de língua portuguesa,
as formas de utilização do gênero crônica jornalística no ensino-aprendizagem
dos alunos em cada série; b) analisar, nos enunciados das crônicas
jornalísticas, as estratégias de construção do discurso jornalístico; e c)
relacionar frequentes propostas de práticas de ensino situando os
interdiscursos. Para tanto, a metodologia usada é teórico-analítica, propiciando
como resultado parciais: 1) abrangência no tratamento do gênero crônica, visto
que o aluno vivencia-o, fora de sala de aula; 2) enunciados retomam
habilidades leitoras: decodificação, interpretação e compreensão; e 3) relação
de prática de ensino textual e gramatical, tangibilidade do discurso jornalístico.
Pode-se depreender que a crônica é o gênero discursivo que apreende e
representa outros discursos, ou seja, uma tessitura de práticas sociais.

Palavras-chave: Interdiscursos. Crônica. Língua Portuguesa.

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E QUESTÕES IDENTITÁRIAS NA EJA


Luziana de Magalhães Catta Preta (Colégio Pedro II)

Resumo: A presente comunicação tem como objetivo expor os resultados


parciais de um trabalho realizado sobre a educação de adultos e o trabalho do
professor de língua espanhola nos Centros de Educação de Jovens e
Adultos (CEJA), escolas estaduais em exercício no Estado do Rio de Janeiro. A
pesquisa fundamenta-se na análise de discurso de base enunciativa
(MAINGUENEAU, 2010). Discorre-se, ainda, sobre a noção de fórmulas
discursivas (KRIEG-PLANQUE, 2010) e enunciação aforizante
(MAINGUENEAU, 2010), a partir de enunciados provenientes da educação de
adultos. Como as referidas instituições têm como característica principal o
estudo semipresencial efetivado por meio de módulos didáticos, entrevistamos

283
professores de língua espanhola que atuavam/atuam nessas escolas buscando
perceber como desenvolvem/desenvolviam sua atividade docente e sua visão
sobre os alunos matriculados. Em seguida, investigamos como os alunos se
percebiam dentro desse contexto educacional. Evidenciamos os efeitos de
sentido produzidos por esses discursos e o papel que desempenham na
constituição da identidade dos aprendizes adultos, uma vez que podem
contribuir para reforçar o estigma atribuído aos sujeitos constituintes dessa
modalidade de ensino. Em um primeiro momento, nos foi possível perceber,
por exemplo, que o termo "supletivo" foi incorporado às políticas de educação
de adultos e que o mesmo apresenta características de "fórmula discursiva". A
partir do corpus de entrevistas realizadas com os professores e alunos,
observa-se, igualmente, que concepções designadas aos aprendizes em
períodos educacionais anteriores ainda perpassam o discurso de alguns
professores. Além disso, percebe-se o lugar central que o discurso ocupa na
compreensão das identidades dos adultos que retornam aos bancos escolares.

Palavras-chave: EJA. Discursos. Práticas Pedagógicas.

Política Linguística e o Ensino da Língua Inglesa no Contexto da


Globalização
Alice Cunha de Freitas (UFU)

Resumo: O papel da língua inglesa frente ao mundo, hoje, depois do advento


do processo de globalização, tem sido foco de atenção de muitos linguistas em
todo o mundo (Rajagopalan, 2009; 2012; 2014; Moita Lopes, 2008; dentre
tantos outros) que têm se preocupado principalmente com as implicações
sociais, ideológicas, políticas e até pedagógicas desse fenômeno. No Brasil,
uma dessas implicações está relacionada a um projeto do governo que vem
sendo denominado de "internacionalização da educação"; um processo que
tem requerido das universidades brasileiras a oferta de cursos ministrados em
língua inglesa, nos níveis de graduação e de pós-graduação. O propósito
principal do presente estudo foi investigar a percepção de professores e alunos
a respeito deste prospecto e de seus possíveis desdobramentos, bem como o
que eles entendem por "política linguística", tema diretamente relacionado a
ele. O estudo foi desenvolvido no âmbito de uma universidade federal e de
duas escolas da rede estadual de ensino de Minas Gerais. Os dados foram
coletados por meio de questionários com perguntas abertas, cujas respostas
foram agrupadas para análise. Os resultados analisados até o momento
revelam que: 1) a grande maioria dos participantes não tem ideia do que seja o
projeto; 2) muitos dos participantes demonstraram surpresa ou uma reação
negativa diante da perspectiva em questão; 3) alguns mencionaram o
problema da inclusão de alunos oriundos de escolas da rede pública, onde, em
geral, o ensino da língua inglesa ainda é considerado insuficiente. O estudo,

284
até o momento, aponta para a necessidade urgente de discussão do tema, não
apenas no âmbito acadêmico, mas, também, entre as pessoas leigas que, de
uma forma ou de outra, serão afetadas pelo projeto.

Palavras-chave: Política Linguística. Ensino de Inglês. Globalização.

PIBID- ENSINO E PESQUISA: ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO


COLÉGIO ESTADUAL ALMIRANTE BARROSO
Taila Jesus da Silva Oliveira (UFBA)

Resumo: A presente comunicação visa relatar a experiência no Programa


Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. O PIBID (Programa institucional
de bolsa de Iniciação à docência) tem colaborado para formação docente e
desenvolvimento da prática em sala de aula, os bolsistas participantes mantém
contato direto com os alunos e com a sala de aula, através dessa aproximação,
planejam-se atividades e oficinas a serem desenvolvidas, buscando a
ressignificação do trabalho do docente e aprimoramento do ambiente de
ensino-aprendizagem. As atividades desenvolvidas no Colégio visam à
construção do sujeito-crítico que é o aluno e do olhar de professor pesquisador
ao bolsista. Essa comunicação tem como objetivo relatar sobre as oficinas de
leitura e produção textual no laboratório de informática, desenvolvidas no
Colégio Estadual Almirante Barroso. Com a oficina voltada para realizações de
histórias em quadrinhos com a temática, profissões, os alunos puderam
analisar e pensar melhor sobre o seu futuro profissional, escreveram sobre
suas expectativas e anseios de uma profissão, os sonhos da carreira
profissional e como podem ser úteis ao trabalhar com ela, eles construíram
preocupando-se com elementos da textualidade (coesão e coerência) e
aspectos ortográficos que foram observados e corrigidos pelos bolsistas.
Trabalhamos com a capacidade dos multiletramentos, pois o trabalho foi
desenvolvido com auxílio tecnológico, aspectos da textualidade (coesão e
coerência), também foram observados e corrigidos.

Palavras-chave: Oficina. Ensino. Formação Docente.

PAPEL DOS JOGOS NO ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA


JAPONESA
Janaína Farias de Melo (UFC)

Resumo: A pesquisa teve por objetivo analisar, sob a luz da teoria Histórico-
Cultural, qual o papel da utilização de jogos e práticas lúdicas para a
aprendizagem de língua japonesa em estudantes do idioma do Núcleo de
Línguas da Universidade Estadual do Ceará - UECE. Consistiu em um estudo

285
observacional, de abordagem qualitativa, com 20 estudantes do 1º semestre do
curso de japonês, realizado entre os meses de agosto e dezembro de 2014. Na
primeira parte do conteúdo programático do primeiro semestre, período em que
foi realizado o estudo, os alunos aprendem os dois alfabetos fonéticos do
japonês - hiragana e katakana. Nessa etapa, é comum a utilização de jogos
para facilitar a aprendizagem dos alunos, que são, em geral, elaborados pelos
professores e monitores. Contudo, nem sempre há um aprofundamento teórico-
metodológico do motivo da utilização do jogo ou da brincadeira, ou uma
compreensão científica sobre que benefícios podem realmente trazer, sendo os
jogos utilizados de forma não estruturada, baseada muitas vezes na
experiência do professor. Atualmente, no curso de língua japonesa da UECE,
utiliza-se como metodologia de ensino a abordagem comunicativa, em que,
desde o início, o aluno é incentivado a falar na língua que está aprendendo e a
ter contato com a cultura correspondente. O professor é visto como um
mediador do processo de aprendizagem, assim como o material didático e
outros recursos, como jogos. Assim, o estudo teve como foco compreender
esse processo, sendo os jogos um importante meio de comunicação e
transmissão do conhecimento, e também um meio de interação social entre os
alunos e professores. Foi possível observar que os alunos estabeleceram um
maior contato com o conteúdo abordado em sala de aula e houve a
continuidade da turma no ensino da língua.

Palavras-chave: Jogos. Aprendizagem. Língua Japonesa.

O USO DAS TECNOLOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO


(TICS) PARA APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA NO ENSINO
FUNDAMENTAL I
Regina Cláudia Pinheiro (UECE)

Resumo: As tecnologias da informação e comunicação (TIC) têm grande


importância atualmente para o processo de aprendizagem da Língua
Portuguesa, já que elas são muito atraentes para os alunos. Nesse sentido,
esta pesquisa, fundamentada, principalmente, em Ribeiro e Coscarelli (2009),
Coscarelli, Cafieiro e Nogueira (2011), Braga (2013) e Carvalho (2014), tem
como objetivo verificar se os jogos digitais podem auxiliar na aprendizagem da
leitura e da escrita de crianças do primeiro ano do Ensino Fundamental I que
possuem dificuldades de aprendizagem da língua materna. Para tanto,
empreendemos um estudo de natureza qualitativa, adotando a pesquisa-ação
como tipo de pesquisa, em que o pesquisador utiliza, em sua ação, jogos
computacionais contextualizados a fim de ensinar a ler e a escrever de uma
forma mais prazerosa, visto que, cada vez mais cedo, as crianças aderem ao
uso das tecnologias em seu cotidiano. Os procedimentos adotados na pesquisa
incluem teste de verificação do nível de escrita das crianças e aulas com o uso

286
de ferramentas tecnológicas, que possibilitaram a construção de atividades
virtuais com o intuito de alfabetizar letrando. Essas atividades foram criadas
através do recurso website, que consiste na criação de páginas agrupadas que
se relacionam entre si por meio da utilização de um navegador, embora não
haja a necessidade do uso da internet para a utilização do mesmo. Os sujeitos
com os quais trabalhamos foram oito crianças que cursam o primeiro ano do
Ensino Fundamental I cujas mães se disponibilizaram a cooperar com a
pesquisa. Os resultados demonstraram que as crianças se interessavam pelas
aulas e se motivavam a aprender a ler e a escrever com das tecnologias de
comunicação e informação. Além do mais, percebemos que os alunos
apresentaram uma elevação significativa da aprendizagem da língua
portuguesa.

Palavras-chave: TIC. Leitura. Escrita.

OS EFEITOS DISCURSIVOS MANIFESTADOS PELO SUJEITO – LEITOR


EM PROCESSO DE FORMAÇÃO DOCENTE
Marcio Oliveiros Alves da Silva (UFPA)

Resumo: O trabalho apresenta uma compreensão dos efeitos discursivos do


texto no sujeito - leitor em processo de Formação no Curso de Letras -
habilitação Língua Portuguesa, modalidade PARFOR/UFPA. As relações
dialógicas produzem os olhares, os lugares discursivos, e os efeitos de
sentidos, a partir da produção dos elementos discursivos narrativos acerca das
Práticas Discursivas de leituras durante a experiência da Formação Docente.
Essa compreensão foi elaborada por meio do diálogo teórico: no campo do
Discurso Diálógico, (BAKHTIN, 1997, 2003); Prática Discursiva de Leitura
(FREDA INDURSKY, 1998) e escuta biográfica do leitor na Formação Docente
(PETIT, 2009 e 2013), (LARROSA, 2006) e (GUEDES PINTO, 2002 e 2008). O
encaminhamento metodológico foi construído por meio de entrevistas
biográficas em que possibilitou a formação de um corpus de nove (09)
entrevistas com os graduandos de Letras do sexto (6º) semestre, na condição
de sujeito - leitores, capazes de elaborar sua própria história, a partir dos
efeitos discursivos do texto no leitor em processo formativo. Os resultados
alcançados: a) o sujeito - leitor esboça uma mudança em sua atividade de
leitura por meio de sua relação e de seus gestos com o texto; b) o sujeito -
leitor apresenta um deslocamento acerca da percepção discursiva que há nos
livros didáticos e nos textos literários; c) o processo de escuta das narrativas
sobre as Práticas Discursivas de Leitura vão retirando o sujeito da solidão de
existir com sua atividade de leitura desenvolvida na Formação; d) os dados
direcionam trabalhar com um procedimento teórico e metodológico da Rede de
Significação, a partir da análise dos elementos tecidos da interrelação cultural

287
entre as práticas discursivas de leitura dos sujeitos e contextos específicos da
Formação Docente.

Palavras-chave: Discurso Dialógico. Prática Discursiva de Leitura. Sujeito –


Leitor.

OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA PARA A PESSOA COM


DEFICIÊNCIA VISUAL EM CONTRAPARTIDA AO DISCURSO
EXCLUDENTE DA SOCIEDADE CAPITALISTA
Nádja Diógenes Maia NJ (UECE)
Claudiana Nogueira de Alencar (UECE)
Mádja Diógenes Maia (UECE)

Resumo: A luta contemporânea pelos direitos da pessoa com deficiência nos


põe frente a uma questão central: romper com antigos pré-conceitos
disseminados no discurso da sociedade capitalista excludente. Quando a
deficiência em questão é a visual, outros desafios surgem para que a
efetivação da inclusão escolar ocorra, dentre eles o maior é o de garantir à
pessoa cega a sua integração, para além da mera inserção, na comunidade e
no âmbito educacional enquanto forma de luta e resistência ao discurso de um
sistema excludente. Dessa forma a temática da deficiência passa a ganhar
espaço contemporaneamente, principalmente por dizer respeito à busca de
melhoria de bem estar dessas pessoas. O objetivo deste trabalho é evidenciar,
num breve resgate histórico, como a deficiência visual se configura no contexto
educacional nacionalmente na busca por transformar-se num discurso
includente, bem como, através de relato de experiência, esclarecer como se dá
o processo de alfabetização pelo Sistema Braille enquanto forma de efetivar a
educação inclusiva para a pessoa com deficiência visual. A metodologia
utilizada para o desenvolvimento desse trabalho segue dois princípios
norteadores. O primeiro é de cunho bibliográfico na luz de: SANDES (2009),
SAMPAIO (2002), MANTOAN (2006, 1997, 1998), SALVI (2002); e a segunda
vertente é uma observação participante a partir de um estudo de caso que nos
possibilitou chegar à conclusão de que o pedagogo qualifica-se como grande,
porém não o único, agente desse processo de garantia de direitos, inclusão e
conscientização do papel social e familiar da pessoa com deficiência, por isso,
é de suma importância uma alfabetização da pessoa com deficiência visual
pelo sistema Braille, como meio de assegurar sua inclusão socioeducacional.

Palavras-chave: Alfabetização – Braille. Deficiência Visual. Discurso.

OS DESAFIOS DA DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR


Esdras do Nascimento Ribeiro (SEDUC – CE)

288
Resumo: Este trabalho mostra que a docência superior é um processo de
extrema complexidade que se constrói ao longo da trajetória docente e envolve
a relação entre as dimensões pessoal, profissional e institucional. O estudo
acadêmico tem como objetivo refletir acerca dos desafios da docência na
educação superior. Dessa forma, o método escolhido foi o de revisão
bibliográfica e fundamenta-se nos seguintes autores: ALARCÃO (1998),
BOLZAN (2004), FRANCO (2011), ISAIA (2001), LIBÂNEO (1999), MARCELO
GARCIA (1999), PIMENTA e ALMEIDA (2011), SCHÖN (2000), VEIGA (2006),
ZABALZA (2004) e ZABALA (2002). O trabalho parte da caracterização do
termo docência como pressuposto para compreensão de como se desenvolve
os saberes docentes e as práticas educativas necessárias à educação de
qualidade. Por fim, após análise crítica dos desafios à docência superior,
conclui-se que estes decorrem da imensa complexidade e da multiplicidade de
indagações que permeiam este campo do saber.

Palavras-chave: Desafios. Docência. Educação Superior.

"OS ALUNOS TENDEM A PREFERIR": A PERPETUAÇÃO DO BINARISMO


ENTRE OS CHAMADOS "PROFESSORES FALANTES NATIVOS" E
"PROFESSORES FALANTES NÃO NATIVOS".
Naomi Orton (PUC-RIO)

Resumo: O presente trabalho representa um recorte de um estudo mais


amplo, com vistas a entender os significados criados por dois professores, dois
coordenadores e dois alunos no que tange à reprodução e/ou ao
questionamento do mito do professor falante nativo (doravante PFN), bem
como a forma que tais significados dialogam com o discurso hegemônico que
circula no nível macrossocial e privilegia o PFN (PENNYCOOK, 1998;
PHILLIPSON, 1992). Entende-se que o mito seja a imagem do PFN como o
dono do conhecimento no que tange à língua inglesa e ao seu ensino.

Palavras-chave: Professor Falante Nativo. Ensino de Língua Estrangeira.


Avaliação.

O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS


ESTRANGEIRAS: EFEITOS PARA A RELAÇÃO SUJEITO-LÍNGUA
Ingrid Isis del Grego Herrmann (USP)

Resumo: Na presente comunicação, apresentamos um recorte de nossa


pesquisa de doutoramento, em que analisamos a relação sujeito-língua
estrangeira, com o intuito de contemplar aspectos que se configurariam como

289
entraves ou facilitadores para o processo de ensino e aprendizagem de
línguas.Entrevistamos oralmente docentes e aprendizes envolvidos com
diferentes LEs em âmbito diversos, tais como a escola regular, a universidade,
os institutos de idioma e o ensino particular de língua. Essas esferas podem
facilitar o contato com diferentes línguas modernas e, principalmente, elucidar
aspectos distintos da relação do sujeito com a língua e do sujeito com o
processo de ensino-aprendizagem. Não obstante, este olhar nos possibilita
examinar a língua como "material fundador do psiquismo" (REVUZ, 1998) sem
referirmo-nos especificamente a metodologias ou a instituições, por exemplo.
Coletamos o corpus com entrevistas orais semiestruturadas, a fim de
tendenciar o mínimo possível os dizeres dos entrevistados, e as
transcrevemos, considerando seu caráter oral (CORACINI, 1999). Procedemos
à análise, a partir de uma perspectiva discursiva (ORLANDI, 1997; CORACINI,
1999) e, ainda em fase inicial, atentamo-nos aos excertos em que há referência
ao modo pelo qual o sujeito representa sua relação com a LE. Há dizeres que
apontam para possíveis pontos de entrave ou pontos facilitadores nesta
relação, decorrentes da relação do sujeito com o processo de ensino e
aprendizagem de LE, dentre outros fatores. Uma discussão a respeito da
relação sujeito-língua e sujeito-processo de ensino e aprendizagem é o que
objetivamos destacar nesta apresentação.

Palavras-chave: Relação Sujeito-Língua. Ensino de Língua Estrangeira.


Análise de Discurso.

O PACTO SISMÉDIO E A AMPLIAÇÃO DOS INDICADORES DA


APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA
Cícera Alves Agostinho de Sá (UERN)
Maria do Socorro Cordeiro de Sousa (UERN)
Maria Adriana de Sousa (UERN)

Resumo: A necessidade de investimento no processo de formação continuada


dos docentes de Língua Portuguesa que atuam no Ensino Médio é notória,
uma vez que embora as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio,
instituídas em 1998 e, atualizadas, em 2012, a práxis pedagógica ainda
valoriza a memorização de conceitos em detrimento do desenvolvimento de
competências e habilidades. Na perspectiva de atender a essa demanda, o
Ministério da Educação instituiu, por meio da Portaria Ministerial de nº 1.140
(2013), o Pacto Nacional de Fortalecimento do Ensino Médio, atendendo ao
objetivo de promover a valorização da formação continuada dos professores e
coordenadores pedagógicos que atuam na etapa final da educação básica. Os
temas contemplados no Pacto estão organizados em duas etapas, de modo
que a primeira orienta o professor/cursista no processo de compreensão das
DCNEM (2012), enquanto a segunda etapa propõe uma reflexão sobre as

290
áreas do conhecimento, as relações entre elas, bem como seus componentes
curriculares, contextualizadas no Projeto Político Pedagógico da escola. Nessa
perspectiva o objetivo desta pesquisa é analisar os impactos do referido Pacto
na elevação dos indicadores de qualidade da aprendizagem em Língua
Portuguesa na Escola Estadual de Educação Profissional Irmã Ana Zélia da
Fonseca - Milagres/CE, comparando os resultados alcançados nas edições
2013 e 2014 do Sistema Permanente de Avaliação do Estado do Ceará
(SPAECE), e assim evidenciar a importância do processo de formação
continuada para a melhoria dos indicadores da qualidade da educação. Para
esta pesquisa, baseamo-nos primordialmente nos postulados de Bakthin (2012)
e Geraldi (2006), que estão dentro da proposta defendida pelo Pacto; que traz
em sua proposta uma relação entre teoria e prática, relacionando os objetos
significativos à formação linguística do estudante, perpassando a concepção de
linguagem como forma de interação social. Assim, Para o desenvolvimento dos
objetivos fizemos levantamentos dos dados de base qualitativa de apoio
quantitativo, através desse levantamento foi possível evidenciar os impactos do
Pacto nos resultados do SPAECE, sobre a escola. Além disso, foi constatado
que a escola subiu no ranking de resultados, do quarto para o primeiro lugar,
dentre as escolas profissionais da 20ª CREDE - doravante Coordenadoria de
Desenvolvimento da Educação/CE.

Palavras-chave: Impacto. Pacto Sismédio. Resultados de Português.

O LOCAL DO CORDEL NA ESCOLA


Claudia Zimar da Silva Conceição (UNEB)

Resumo: Desde a introdução do ensino de literatura na escola brasileira nas


aulas de língua portuguesa é difundido a ideia de que o educando deve ler as
obras literárias indicadas pelo professor e que essa literatura é adequada à sua
capacidade e interesse. Entretanto, segundo pesquisas nacionais de avaliação
escolar elucidadas por Cereja (2004), a escola não vem cumprindo seu papel
basilar que é formar leitores, quer seja de gêneros literários, quer seja de
gêneros do discurso geral. Como aporte teórico para discutirmos a leitura na
escola utilizaremos os conhecimentos de Cosson (2009); Colomer (2007);
Zilberman (1987); Silva (2009); Gomes (2011); Rouxel (2013); Tauveron
(2013); Martins (2006), que comungam o mesmo pensamento que o caminho a
ser seguido é mesmo considerar a cultura do educando para depois ampliar
seu horizonte como leitor crítico. Nesse sentido sugerimos a introdução da
cultura popular vista como resistência e por entender que uma das formas de
transmissão da cultura seja pela educação (Kupper, 2002). Assim, trazemos a
cultura popular para sala de aula representada pela literatura de cordel, uma
vez que a entendemos enquanto ferramenta pedagógica capaz de
operacionalizar o descortinamento das relações sociais, culturais e

291
etnicorraciais propagadas pela cultura hegemônica no cenário educacional.
Destarte, o cordel sempre retrata a cultura de um povo com arte e gracejos, tão
próprios do linguajar do homem simples. Implica-se, assim um espaço de
reflexão em torno do reconhecimento das diversas formas de representações
estético-cultural materializadas pelos versos do cordel, repletos de elementos
memorialísticos e orais. Assim, o corpus pesquisado da cultura popular será o
cordel de Antônio Barreto, cordelista e também professor de língua portuguesa
de Salvador-Ba.

Palavras-chave: Cordel. Escola. Ensino.

IMPLICAÇÕES DAS CONCEPÇÕES FREIRIANAS NA CONSTRUÇÃO DAS


IDENTIDADES DOCENTES
Paulo M Pio (Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza)
Antonio Oziêlton de Brito Sousa (UECE)
Sandra Maria Gadelha de Carvalho (UECE)
José Ernandi Mendes (UECE)

Resumo: O presente artigo aponta algumas contribuições da pedagogia


freiriana para os processos formativos de professores/as na perspectiva de
combater e superar a visão distorcida e alienante de formação/educação
baseada na racionalidade técnica, ou seja, no distanciamento entre a teoria e a
prática, oferecida pelas políticas oficiais de formação docente na
contemporaneidade e suas implicações na construção de identidades para os
docentes. Mediante a defesa de uma formação e de uma educação que
favoreça a emancipação permanente dos seres humanos, e considerando que,
em um processo dialético essa formação, ao mesmo tempo, influencia na
construção das identidades e é influenciada por estas, utilizamos como fonte
bibliográfica 2(duas) obras de Freire, a saber: Pedagogia do oprimido e
pedagogia da autonomia, além das contribuições de Santiago e Neto(2011),
Vasconcelos (2003), Castells (1999) e de outros(as). Apresentamos como
princípios feirianos indispensáveis para a formação docente a problematização
da realidade; a prática de escuta, enquanto fundamento do diálogo; o tempo
histórico, enquanto dimensão fundamental para a materialidade de uma
concepção formadora; o compromisso político para com os sujeitos envolvidos
e a problematização da humanização e desumanização. Inferimos que pensar
uma formação de professores tendo como base a pedagogia freiriana implica
em promover processos dialógicos, de fala e escuta, entre os envolvidos como
forma de reflexão da prática, implica em adotar práticas problematizadoras no
interior dos processos formativos levando em consideração os dados subjetivos
e objetivos, e também favorecer a constituição da humanidade por meio de
uma prática reflexiva, criativa, crítica e comprometida politicamente,

292
contribuindo para a constituição de identidades docentes representativas dos
processos de resistência.

Palavras-chave: Formação Docente. Pedagogia Freiriana. Identidades.

LABORATÓRIO DE ESTUDOS DE TEXTOS: UMA PRÁTICA INTER, MULTI


E TRANSDISCIPLINAR E SUA IMPLICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES DE LÍNGUAS
Eliane Santos Raupp (UEPG)
Djane Antonucci Correa (UEPG)

Resumo: O Laboratório de Estudos do Texto (LET) vem se consolidando como


espaço de formação acadêmica complementar que busca refletir sobre as
necessidades contemporâneas de formação profissional, educação linguística
e de reconhecimento da relação intrínseca entre linguagem e política
(JOSEPH, 2006, 2010). Nesse sentido, ações flexibilizadoras que
potencializem reflexões mediadas por práticas discursivas de leitura e de
escrita são necessárias, assim como também "faz-se necessário um importante
vínculo entre futuros professores, egressos e professores atuantes da
educação básica, professores do ensino superior e pesquisadores e a
comunidade" (CORREA, 2011, p. 95) para que estes possam, conjuntamente e
continuamente, refletir sobre o processo de ensino e aprendizagem de línguas.
A questão central é: Como contribuir para a formação leitora/escritora e
humanística dos professores em formação? Como possibilitar o amplo
desenvolvimento linguístico, textual e discursivo no âmbito acadêmico? Cientes
de que respostas para essas perguntas requerem formação reflexivo-crítica
(PIMENTA e GUEDIN, 2005) e percepção da dimensão política envolvida no
processo de ensino e aprendizagem de línguas (CORREA, 2014, p. 73), uma
vez que a linguagem é constitutivamente, e, por conseguinte,
indissociavelmente, política (RAJAGOPALAN, 2012, p. 145), o LET tem
buscado priorizar discussões mediadas por práticas de leitura e de escrita, nas
quais o texto é também mediador dos diversos trabalhos extensionistas de
maneira que estes se sustentem em procedimentos metodológicos atrelados às
atividades de ensino e/ou pesquisa. Até o momento, o LET sediou,
aproximadamente, 30 propostas, cujas abordagens perpassam diferentes
perspectivas teóricas alinhadas à concepção de que "o mundo que
compreendemos (ou achamos que compreendemos) é antes textualizado, isto
é, transformado em texto" (RAJAGOPALAN, 2004). As diferentes propostas
desenvolvidas no laboratório tem revelado singulares indícios não somente nas
ações realizadas pelos professores em formação, mas também em suas
produções escritas.

Palavras-chave: Formação de Professores. Ensino e Aprendizagem. Escrita.

293
LEITURA E ESCRITA NA PERSPECTIVA DO GÊNERO PARÓDIA
Edimara Sales Cordeiro (UEMA)
Rebecca Rocha Baldez (UEMA)
Maria Augusta Costa de Brito Rosa (UEMA)

Resumo: Esta comunicação trata da elaboração de estratégias para a prática


pedagógica de produção textual do gênero paródia sobre escritores caxienses
em aulas de Língua Portuguesa, voltados para alunos do 1° ano do ensino
médio da escola CEM Menino Jesus de Praga, São Luís- MA. A paródia, como
gênero textual que permite facilmente transitar por todos os outros gêneros
textuais, além de recuperar explícitos e implícitos de textos/obras originais, que
na maioria das vezes, são de conhecimento do público- interlocutor. Esses
conhecimentos podem gerar efeito cômico, provocativo ou interseção de
contextos político, histórico ou cultural dos escritores. Nesse sentido, objetiva-
se contribuir com a ampliação de competências dos alunos nas reflexões de
leitura e de escrita ao construírem. Tem-se por fundamentação teórica que
ensino e aprendizagem engajam-se como forma de aquisição e saberes bem
elaboradas por meio de pesquisas e essas, situam-se na Análise do Discurso,
vertente sociocognitiva e trata da inter-relação das categorias discurso,
sociedade e cognição; da Linguística Textual. A metodologia utilizada é teórico-
analítica-aplicada, trata-se de atividades realizadas por equipes de alunos
sobre representação de escritores caxienses a partir dos gêneros temáticos
Poemas, Fotografia-escultura viva e Teatro. As oficinas fazem parte de uma
pesquisa e atividade mais ampla, portanto, os resultados são parciais e indicam
que a paródia propicia: a) compreender os fatores da intertextualidade, b)
contribui com efeitos de mudança de humor no ensino de LP, c) possibilita
releituras e recriações pela observação dos alunos. Diante do exposto, valida-
se a relevância do uso da paródia na prática de ensino e de aprendizagem, já
que, ao produzirem o gênero paródia os alunos podem compreender que a
Língua Portuguesa não se pauta em construções rígidas e fechadas, mas que
os alunos podem aprender, criar e se divertir.

Palavras-chave: Ensino. Releitura. Representação.

LEITURA EM LÍNGUA ESTRANGEIRA NO PIXEL: O QUE É NECESSÁRIO?


Maíra Barberena de Mello (Laureate International Universities Uniritter e
Colégio de Aplicação da UFRGS)

Resumo: Este trabalho tem como inspiração o projeto de pesquisa que se


propõe a averiguar como o processo de ensino-aprendizagem de uma língua
estrangeira (LE), especificamente a língua inglesa, intervêm quanto à

294
compreensão leitora nos anos finais do Ensino Fundamental no Colégio de
Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CAp UFRGS). Este
segmento de ensino é chamado de Projeto PIXEL, a utilização de seu nome
está devidamente autorizada e encontra-se em construção epistemológica e
metodológica conjunta por parte dos professores da equipe que atuam nos
anos finais do Ensino Fundamental (EF). Os objetivos específicos deste estudo
são: verificar se existe e qual seria o limiar linguístico mínimo dos alunos do 8º
e 9º anos para que desenvolvam a habilidade da leitura em uma LE durante o
período de um ano escolar; quais estratégias de leitura em LE/língua inglesa
esses alunos utilizam; quais estratégias de leitura em português (LM) esses
alunos utilizam em língua inglesa; quais estratégias de leitura em língua inglesa
(LE) auxiliam para a compreensão em língua portuguesa. O referencial teórico
abarca estudos relativos ao - linguistic threshold - limiar linguístico
(ALDERSON, 1984, BERNHARDT; KAMIL, 1995, PARK, 2013, YAMASHITA,
2011), às transferências de estratégias de leitura de língua materna para língua
estrangeira e o processamento da leitura. O leitor faz uso de pistas contextuais
e textuais para a compreensão de um texto escrito por meio de estratégias de
leitura, tais como, a ascendente (botton-up), a descendente (top-down) e a
integradora (SCARAMUCCI, 1995, RAYNER, K. et al., 2001). A metodologia
empregada será condizente com um estudo qualitativo e quantitativo para dar
conta dessa pesquisa relativa ao nível do limiar linguístico nos anos finais do
Ensino Fundamental na perspectiva longitudinal de um ano letivo e as suas
interfaces quanto ao desenvolvimento da capacidade leitora desses alunos
socialmente inscritos na realidade de ensino do segmento PIXEL, CAp UFRGS.

Palavras-chave: Compreensão Leitora em LE. Limiar Linguístico. Estratégias.

LEITURAS DE PROFESSORAS DE LÍNGUA PORTUGUESA


Sheila Rodrigues dos Santos (UNEB)

Resumo: O presente artigo representa um desdobramento da pesquisa


desenvolvida no Programa de Mestrado em Crítica Cultural da Universidade do
Estado da Bahia (UNEB), cujo intuito é investigar as relações entre identidade
e currículo no campo da formação de professores na UNEB/Campus II, a partir
de suas práticas de leitura experienciadas nos espaços formais e não formais,
a fim de analisar o quanto as práticas de leituras vividas implicam/implicaram
na sua formação de professor-leitor. Partindo deste pressuposto, articularemos
o professor enquanto sujeito leitor e o seu modo de produção pedagógica no
cotidiano escolar, tendo como fundamentos teóricos Yunes (2002; 2003),
Calvino (1999), Chartier (2001) no que concerne a noção de leitura como uma
prática cultural, visto que em plena contemporaneidade, requer pensar a noção
de leitura de uma forma plural, rizomática, que transgrida o conceito tradicional
de leitura, visibilizando as diversas práticas de leituras que a pós-modernidade

295
possibilita ao sujeito leitor. Para isso, esse estudo se respalda nos estudos
contemporâneos, discorrendo pelo viés da abordagem (auto)biográfica e
formação de leitores, que, conforme Cordeiro (2006), releva-nos uma
concepção crítica do sujeito colaborador que ao falar de si ressignifica a sua
autoformação. Logo, este estudo propõe a análise da constituição identitária
desse sujeito-leitor, perpassando pelo viés do letramento a partir das suas
memórias vividas no âmbito escolar. A proposta é conceber a leitura como um
dispositivo operacionado pelo professor de um modo que venha mobiliza o
currículo escolar ressignificando as diversas práticas de leituras que compõem
esse cenário. Desse modo, este estudo nos leva a refletir sobre as práticas de
leituras presente no currículo escolar, cujos estudos não partem mais da teoria
social hegemônica e sim das diversas questões sociais que estão vigentes,
tendo como noção básica as práticas de leituras articuladas com a prática
social do professor-leitor.

Palavras-chave: Práticas de Leituras. Narrativas. Formação de Professores-


Leitor.

LETRAMENTO ACADÊMICO: A PRODUÇÃO DE GÊNEROS ACADÊMICOS


NA UNIVERSIDADE
Nícollas Oliveira Abreu (UECE)
Maria Vanessa Batista Lima (FECLESC/UECE)
Cibele Gadelha Bernardino (UECE)

Resumo: A preocupação com os estudos de gêneros acadêmicos que estão


apoiados na proposta teórico-metodológica de Swales (1990) tem sido,
atualmente, no Brasil, bastante recorrente. No entanto, poucos são os
trabalhos que situam a perspectiva dos gêneros acadêmicos no campo do
letramento. Nesse sentido, objetiva-se mostrar, neste trabalho, que o conceito
de letramento acadêmico implica numa visão ampla da produção escrita, como
prática social situada que leva em consideração as convenções específicas de
cada cultura disciplinar e que pode contribuir para o processo de produção de
gêneros acadêmicos, sobretudo para os alunos recém-ingressos na
universidade, os quais, em muitos casos, relatam apresentar dificuldades na
produção desses gêneros. Para tanto, utiliza-se como embasamento teórico as
seguintes autoras: Kleiman (1995/2005) e Rojo (2009), da área do Letramento,
as quais afirmam que as abordagens mais recentes do letramento têm
apontado para a questão da heterogeneidade das práticas sociais de leitura,
escrita e uso da língua; os conceitos de Swales (1990/2004) para comunidades
discursivas, que são definidas como redes sociorretóricas formadas para
objetivos comuns; Culturas disciplinares (HYLAND, 2000), as quais constituem-
se como fator relevante para a produção de gêneros acadêmicos, pois elas
constroem seus conhecimentos, crenças e formas de interação de acordo com

296
as próprias estruturas e objetivos; Gêneros (SWALES, 1990; BAZERMAN,
2006), dentre outros. A partir das leituras realizadas em bibliografia direta,
livros, textos e artigos de periódicos e das discussões elencadas sobre o
letramento acadêmico, é possível concluir que as ideias advindas da área do
Letramento podem dar suporte aos educandos recém-ingressos na
universidade, especificamente, no que concerne a contribuir para a produção
de gêneros acadêmicos.

Palavras-chave: Letramento Acadêmico. Letramento. Gênero.

LETRAMENTO CRÍTICO E FORMAÇÃO CIDADÃ EM GRUPOS DE


APRENDIZAGEM COOPERATIVA
Raimundo Nonato Moura Furtado (UFC)

Resumo: Nessa proposta, exploramos os conceitos de Letramento Crítico (LC)


e Aprendizagem Cooperativa (AC) propondo interseções e possibilidades de
trabalho em sala de aula com base na compreensão dessas teorias. Desse
modo, trata-se de uma proposta de cunho teórico-reflexivo que discute
aspectos constitutivos dessas teorias. Nossa premissa é a de que, quando
aliamos essas duas propostas no trabalho em sala de aula, independente da
disciplina e do nível de estudo, aumentamos consideravelmente as
possibilidades de formação cidadã. Embora o trabalho com a perspectiva do
LC possa ser desenvolvida em salas de aula tradicionais, partimos do
pressuposto que o trabalho com grupos de aprendizagem cooperativa
potencializa o desenvolvimento do LC. Nossa compreensão sobre o LC toma
como base as novas Orientações Curriculares para o Ensino Médio - OCEM
que preconizam uma visão de educação e de formação de estudantes para a
cidadania ao aliar questões educacionais e culturais a objetivos linguísticos e
instrumentais (BRASIL, 2006). Também nos ancoramos nas reflexões sobre o
LC defendidas pelos seguintes teóricos: (BARTON 1994; Baynham, 1995;
Cassany, 2006; Cervetti; Pardalles; Damico, 2001; DIONÍSIO 2007a, 2007b;
Gee, 2004; STREET 2003). De forma análoga, defendemos que a AC em sala
de aula pode ser um importante instrumento para combater a discriminação
social, valorizar a cultura, motivar para a aprendizagem e melhorar o
rendimento acadêmico de estudantes (FREITAS, 2002; JOHNSON &
JOHNSON, 1998; LOPES, 2009; RIBEIRO, 2006). É importante pontuar que
nem todo grupo de estudo constitui um grupo de AC. Assim,
metodologicamente, nossa proposta é direcionada ao ensino de português
como língua materna e tem como base o trabalho em grupos compostos por
três ou cinco estudantes. Esses grupos deverão ser divididos pelo professor de
forma a garantir a heterogeneidade e os cinco princípios básicos da AC
(JOHNSON & JOHNSON, 1998). Com essa proposta, cremos que a formação
cidadã poderá ser fomentada através do contraste de ideias e

297
posicionamentos, das discussões em grupo, da interação e das
problematizações. Isso oportunizado pelos princípios defendidos pela
aprendizagem cooperativa.

Palavras-chave: Formação Cidadã. Aprendizagem Cooperativa. Letramento


Crítico.

LETRAMENTO DE PROFESSORES DE INGLÊS EM FORMAÇÃO: NOVAS


PERSPECTIVAS?
Jader Martins Rodrigues Junior (UFC)

Resumo: O presente trabalho faz parte de um estudo em andamento que tem


o objetivo de investigar as perspectivas de letramento em inglês como língua
estrangeira no contexto de práticas formativas de professores, em um curso de
Letras em habilitação dupla (Português/Inglês) de uma universidade pública no
Ceará. Na realização desse estudo, buscamos respostas aos seguintes
questionamentos: (a) como os professores de inglês em formação - alunos e
alunas do curso de Letras - compreendem letramento?; (b) como, em suas
experiências diárias, os alunos e alunas do curso de Letras se envolvem com
eventos de letramento informal?; (c) quais eventos de letramento podem ser
observados durante a realização dos estágios supervisionados dos alunos e
alunas do curso de Letras?; e (d) como os professores de inglês em formação
relacionam o letramento formal e o letramento informal na língua estrangeira e
quais as implicações dessa relação nas práticas docentes? Realizamos uma
investigação de natureza qualitativa-interpretativa, tendo como arcabouço
teórico-metodológico as contribuições seminais de Street (1984, 2012),
referentes aos Modelos de Letramento Autônomo e Ideológico, as distinções
fundamentais entre práticas e eventos de letramento (STREET, 2012;
SCRIBNER e COLE, 1981), a noção basilar de letramento como prática social
(BARTON e HAMILTON, 1998, 2000), adotando a abordagem dialético-
relacional (FAIRCLOUGH, 2003) e a perspectiva sócio-discursiva das práticas
de letramento (BLOMMAERT, 2005) para a análise dos dados. As análises
feitas até o presente momento sugerem que o letramento pode ser
compreendido na perspectiva de uma tecnologia adquirida em instituições de
ensino ou na perspectiva de um recurso socialmente situado, no cumprimento
de tarefas comunicativas. Na primeira instância, o letramento parece estar
situado em um campo conceitual de difícil concepção para os alunos e alunas
de Letras. Na segunda perspectiva, o letramento parece estar culturalmente
enredado nas vidas das pessoas, constituindo-se de forma significativa nas
práticas que se realizam na sociedade. Dessa forma, faz-se necessário
considerar que o letramento apresenta uma natureza híbrida, como um
fenômeno socialmente orientado que pode aproximar fronteiras, em uma
perspectiva plural.

298
Palavras-chave: Letramento. Formação de Professores. Prática Social.

LETRAMENTO LITERÁRIO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: A NECESSIDADE DE


REPENSAR O CONCEITO DE LITERÁRIO E AS PRÁTICAS SOCIAIS DE
LEITURA LITERÁRIA
Isabela Feitosa Lima Garcia (UECE)
Cleudene de Oliveira Aragão (UECE)

Resumo: Muito se discute acerca do conceito de leitura, sua função e os


benefícios que opera. Neste trabalho fazemos uma reflexão teórica acerca da
relação entre autor, texto e leitor, na perspectiva de formar leitores de textos
literários, tendo em vista a relevância da literatura para a vida do ser humano e
para o ensino. Autores como Samuel (1985) e Lajolo (1981), levantam alguns
questionamentos sobre o que é entendido por literatura e abordam algumas
definições de literatura, de clássicos e também de best sellers, assim como de
texto literário e não literário. A autora de O que é literatura (1981) afirma que
para que uma obra seja considerada literatura, faz-se necessário que um
indivíduo a escreva e outro a leia. Para enriquecer nossas reflexões sobre o
texto literário, lançamos mãos das ideias de Candido (2004) quando afirma que
a literatura é um bem "incompressível", ou seja, não pode ser negado ao ser
humano, pois assim como a alimentação, a moradia, o vestuário, a saúde, a
liberdade, a instrução, etc.; os textos literários também são bens essenciais à
existência. Para Zilberman (1990) a literatura provoca no leitor um efeito duplo,
pois aciona a sua fantasia, enquanto Santos (2001) discorre sobre a relação
autor-texto-leitor apontando as mudanças ocorridas na história da literatura.
Fundamental para os estudos literários na escola hoje, é o conceito de
Letramento Literário (COSSON, 2006) que se refere às práticas sociais de
leitura de textos literários, que precisam ser desenvolvidas e fomentadas na
escola. Hoje, o texto em si passa a ter uma significância bem maior do que a
figura do autor, e ambos estão em cooperação com a participação primordial
do leitor e do contexto, na construção dos múltiplos sentidos do texto.

Palavras-chave: Letramento Literário. Literatura. Formação do Leitor Literário.

LETRAMENTO VISUAL E FORMAÇÃO BILÍNGUE DE SURDOS


Elisângela Santos Mendes (UESC)

Resumo: Esta pesquisa centra-se no ensino de Língua Portuguesa escrita na


perspectiva do Letramento Visual para alunos surdos. Em uma abordagem
sociocultural da surdez, teve como principal objetivo investigar em que medida
as professoras de Língua Portuguesa, de uma escola do município de Ipiaú-

299
BA, realizam práticas metodológicas diferenciadas em função de possuir em
classe alunos surdos usuários de uma língua visoespacial. Este trabalho segue
os contornos de uma pesquisa-ação. Como técnicas de coleta de dados fez-se
uso da observação simples e de questionário semiestruturado. A técnica de
análise de dados adotada foi a Análise de Conteúdo aplicada às pesquisas
qualitativas. Abordou-se conceitos sobre surdez e bilinguismo à luz de autores
como Skliar (1998, 1999), Botelho (2005), Eulália Fernandes (2005) e Sueli
Fernandes (2006) e Sá (2010, 2011). Abordou-se também conceitos sobre
Letramento Visual com base em Oliveira (2006), Buratini (2004) e Santaella
(2012). Apresentou-se, ainda, discussões sobre formação de professor,
Pedagogia Surda, escola bilíngue para surdos e Português como segunda
língua (L2), seguindo os fundamentos de Botelho (2005), Guarinello (2007),
Slomski (2011), Ribeiro (2013) e outros. Como intervenção para a problemática
pesquisada, foi proposto, às professoras, oficina de produção de material
didático no intuito de colaborar para a ressignificação da práxis docente com
foco no aluno surdo. A pesquisa aponta que as professoras buscam realizar
práticas pedagógicas diferenciadas, na tentativa de atender ao aluno surdo em
sua experiência visual de mundo. Entretanto, o uso da oralidade ainda é muito
marcado na sala de aula em detrimento dos recursos visuais. Essa prática não
contempla o aprendizado dos surdos, que continuam matriculados na escola
regular, mas sem o efetivo aprendizado. As docentes reconhecem que a
ausência de recursos pedagógicos apropriados, bem como a inadequada
formação docente constituem impedimento para que a inclusão dos surdos se
efetive, pois na escola regular não há espaço para as manifestações culturais
do surdo. Nesta escola não se faz uso da Língua de Sinais Brasileira (LSB)
como língua de instrução, tampouco currículo, pedagogia e métodos de ensino
são pensados para contemplar os surdos.

Palavras-chave: Bilinguismo. Inclusão. Letramento Visual. Surdez. L2.

O ENSINO E A EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS A


PARTIR DA LEI 10.639/03: UM DESAFIO PARA OS PROFESSORES DE
HISTÓRIA DA ESCOLA JOSÉ ROLDÃO DE OLIVEIRA, EM CAETANO,
BEBERIBE-CE
Soraia Colaço (UECE)
Claudiana Nogueira de Alencar (UECE)

Resumo: A formação de professores e a temática História e Cultura Afro-


Brasileira e Africana, com a Lei 10.639/03, vem propondo reorganizar o
currículo para incluir a diversidade cultural, contribuindo com o combate ao
racismo e superação das desigualdades sociais e raciais. Referendamos nossa
base conceitual nos estudos pós-coloniais, destacando o conceito de raça,
colonialidade, pensamento abissal e identidade, além de conceber o currículo

300
como relação social e de poder. Buscamos entender, analisar e traduzir o
ensino e a educação, a partir da cartografia, através dos avanços e recuos na
perspectiva da educação para as relações étnico-raciais. Analisamos as
imagens do livro didático, os conteúdos ministrados na formação de
professores pela Secretaria de Educação do Município, os diálogos em sala de
aula, os significados para alunos e professores em relação à temática,
objetivando entender se a práxis educativa tem proporcionado aprendizagens
significativas, relacionando-se de maneira não arbitrária com o conhecimento
do aluno. Dentre os principais resultados percebemos que: apesar de muito
material produzido, estes não chegam até o professor; a secretaria de
educação oferece formações pontuais e fragmentadas as quais não têm
atendido às necessidades e dificuldades dos professores; o discurso
eurocêntrico e a colonialidade do saber, através do currículo e das relações de
poder que se estabelecem no espaço escolar, impõem sentidos, os mais
variados possíveis, refletindo interesses dos grupos que representa. A
dominação colonial branca exerceu e exerce até hoje o controle sobre os
processos de trabalho, sobre a ciência, e, é dessa forma, que o conhecimento,
na maioria das vezes, carrega a lógica de quem o traduziu, justificando e
colaborando com a reprodução do capitalismo e do racismo. Trabalho na
perspectiva da valorização de outras epistemologias não convencionais, uma
ecologia dos saberes, que rompam com o pensamento abissal e com o modelo
de educação que tenta homogeneizar uma realidade heterogênea e plural.

Palavras-chave: Formação de Professores. Currículo. Colonialidade.

O ENSINO DO TEXTO EM MATERIAIS DIDÁTICOS DE LÍNGUA


PORTUGUESA
Andréa Caldas Duarte (UESC)

Resumo: A presente pesquisa se propõe a investigar a abordagem dada ao


texto nos Cadernos do Aluno da disciplina língua portuguesa nas 7ª e 8ª séries,
respectivamente 8º e 9º anos, do Programa Gestão da Aprendizagem Escolar -
GESTAR II, programa referente à formação de professores do fundamental II
das escolas públicas brasileiras. Nesse intuito, propomos discutir as
concepções de texto para o ensino de língua portuguesa, refletir sobre o ensino
do texto por meio do gênero, analisar as lacunas e contribuições no enfoque do
texto encontradas nesse material e apresentar sugestões de aprimoramento.
Para conseguir tal propósito, a metodologia utilizada é de caráter qualitativo,
refletida em análises interpretativas descritivas. Os resultados preliminares da
pesquisa apontam que o texto nos Cadernos do Aluno é abordado como objeto
de ensino quando duas aulas estão correlacionadas, entretanto a maioria das
aulas não possui semelhante conexão. Logo, é possível afirmar que em uma
única aula, não prevalece o ensino do texto em que leitura, produção textual e

301
análise linguística devem estar articuladas, conforme preconizado pelos PCNs
(1998) e por autores que defendem o texto como unidade básica no ensino da
língua materna (Antunes 2009, Rojo e Cordeiro [2004] 2011; Wittke 2009).
Apresentamos também como referencial teórico Bakhtin (1997); Kaufman e
Rodrigues (1995); Rildo Cosson (2004) e Marcuschi (2008). Por fim, sugerimos
contribuições e intervenções aos cadernos das 7ª e 8ª séries do Gestar, com o
objetivo de subsidiar a prática dos docentes do ensino fundamental II do estado
da Bahia/Brasil, que utilizam a coleção nas aulas de língua portuguesa

Palavras-chave: ENSINO. Texto. Caderno Gestar II.

ESTÁGIO DE DOCÊNCIA EM TELP – REFLEXÕES SOBRE UMA


EXPERIÊNCIA INTEGRANDO GRADUAÇÃO E PÓS- GRADUAÇÃO
Maria Helenice Araújo Costa (UECE)

Resumo: Nesta comunicação, teço considerações sobre o trabalho que


empreendo, como orientadora de estágio de docência de alunos do Programa
de Pós-Graduação em Linguística Aplicada (PosLA-UECE), na disciplina Teoria
do Ensino de Língua Portuguesa (TELP), que ministro no Curso de Letras
(UECE). Essas reflexões têm por base as noções de linguagem como interação
recursiva nas coordenações de ação (MATURANA, 2001), língua como sistema
adaptativo em evolução que ajusta seus usos potenciais para atender seus
usos reais (BEAUGRANDE, 1997), aprendizagem como processo situado e
incorporado de conhecimento (BROWN; COLLINS; DUGUID, 1998), e ensino
como atividade focada na aprendizagem (BROWN; COLLINS; DUGUID, 1998),
princípios que norteiam o programa e a metodologia da disciplina. A ênfase na
interação e na construção reflexiva e colaborativa do saber, consequência da
adoção desses pressupostos teóricos, também influencia o desenvolvimento
das atividades do(a) estagiário(a) da Pós- Graduação, o(a) qual, no lugar de
cumprir a sequência tradicional (um período de observação, seguido de outro
de regência), vê-se desde o início imerso no processo de aprender e ensinar,
mesclando assim, frequentemente, os papéis de observador, professor,
aprendiz e colaborador. Recorrendo a observações de Rodrigues (2013),
dissertação de Mestrado em que a autora relata a pesquisa que desenvolveu
enquanto estagiária em uma turma de TELP, discutirei como a perspectiva
sociocognitiva e construcionista que adoto na disciplina pode favorecer a
integração entre Graduação em Letras e Pós-Graduação, via estágio de
docência, nas trocas proporcionadas por uma parceria menos hierarquizada e
mais situada.

Palavras-chave: Ensino de Língua Materna. Aprendizagem. Interação.

302
ESTÁGIO DE DOCÊNCIA EM TELP – REFLEXÕES SOBRE UMA
EXPERIÊNCIA INTEGRANDO GRADUAÇÃO E PÓS- GRADUAÇÃO
Maria Helenice Araújo Costa (UECE)

Resumo: Nesta comunicação, teço considerações sobre o trabalho que


empreendo, como orientadora de estágio de docência de alunos do Programa
de Pós-Graduação em Linguística Aplicada (PosLA-UECE), na disciplina Teoria
do Ensino de Língua Portuguesa (TELP), que ministro no Curso de Letras
(UECE). Essas reflexões têm por base as noções de linguagem como interação
recursiva nas coordenações de ação (MATURANA, 2001), língua como sistema
adaptativo em evolução que ajusta seus usos potenciais para atender seus
usos reais (BEAUGRANDE, 1997), aprendizagem como processo situado e
incorporado de conhecimento (BROWN; COLLINS; DUGUID, 1998), e ensino
como atividade focada na aprendizagem (BROWN; COLLINS; DUGUID, 1998),
princípios que norteiam o programa e a metodologia da disciplina. A ênfase na
interação e na construção reflexiva e colaborativa do saber, consequência da
adoção desses pressupostos teóricos, também influencia o desenvolvimento
das atividades do(a) estagiário(a) da Pós- Graduação, o(a) qual, no lugar de
cumprir a sequência tradicional (um período de observação, seguido de outro
de regência), vê-se desde o início imerso no processo de aprender e ensinar,
mesclando assim, frequentemente, os papéis de observador, professor,
aprendiz e colaborador. Recorrendo a observações de Rodrigues (2013),
dissertação de Mestrado em que a autora relata a pesquisa que desenvolveu
enquanto estagiária em uma turma de TELP, discutirei como a perspectiva
sociocognitiva e construcionista que adoto na disciplina pode favorecer a
integração entre Graduação em Letras e Pós-Graduação, via estágio de
docência, nas trocas proporcionadas por uma parceria menos hierarquizada e
mais situada.

Palavras-chave: Ensino de Língua Materna. Aprendizagem. Interação.

A LITERATURA NO ENSINO DE LÍNGUAS PARA COMUNICAÇÃO: UMA


PROPOSTA DE TRABALHO COM A OBRA "LA CASA DE BERNARDA
ALBA" DE FEDERICO GARCÍA LORCA
Paulo Henrique Moura Lopes (IFRN)

Resumo: Este estudo tem como objetivo apresentar uma proposta de


exploração didática da obra literária La Casa de Bernarda Alba, de Federico
García Lorca aplicada a um grupo de alunos do curso de língua espanhola do
Núcleo de Línguas da Universidade Estadual do Ceará e seus efeitos no
aprimoramento da competência leitora destes alunos e em suas crenças com
relação à leitura de obras literárias. Tomando como base os estudos sobre o
uso do texto literário (TL) no ensino de idiomas de Albadalejo (2007), Jouini

303
(2008) e Mendoza (2002; 2004; 2007; 2008), a concepção sociocultural da
leitura de Cassany (2006) e a proposta de exploração didática do TL de
Acquaroni (2007), elaboramos três atividades de leitura, contemplando as
etapas de pré-leitura, leitura e pós-leitura e que foram realizadas em três
encontros distintos, durante o tempo normal de aula, atestando sua
aplicabilidade em outros contextos de ensino. Com relação aos resultados
dessas atividades, verificamos, através da aplicação de um questionário antes
e depois da realização das atividades, a mudança nas crenças dos alunos com
relação à leitura de obras literárias em seu curso. Também verificamos, através
da aplicação de um teste de leitura antes e depois das atividades, melhora na
competência leitora dos estudantes, principalmente no que se refere à
aspectos específicos do gênero Teatro. Estas atividades fizeram parte de
nossa pesquisa para a obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-
Graduação da Universidade Estadual do Ceará, parte integrante de nossa
dissertação intitulada LEITURA DE OBRAS LITERÁRIAS NOS CURSOS DE
LÍNGUA ESTRANGEIRA: DE JUSTIFICATIVA PARA AVALIAÇÃO ORAL A UM
USO EFICAZ PARA O FOMENTO DA COMPETÊNCIA LEITORA, defendida e
aprovada em março de 2015.

Palavras-chave: Ensino. Literatura. Leitura.

ASPECTOS DISCURSIVOS DE AUTOAVALIAÇÃO DO PROFESSOR DE


LÍNGUA MATERNA: A FIGURAÇÃO DO AGIR DOCENTE EM TEXTOS
ORAIS
Fábio Delano Vidal Carneiro (FA7)

Resumo: Nosso trabalho aborda a problemática da influência das escolhas


discursivas dos professores em relação à interpretação do seu agir e os
"efeitos" dessa interpretação sobre a construção de diferentes aspectos do
trabalho educacional (identidade, saberes específicos, interpretação do
prescrito, etc.) além da sua possível exploração para fins formativos. Os
trabalhos realizados no quadro do interacionismo sociodiscursivo (Bronckart,
1997; Bronckart & Groupe LAF, 2004) têm mostrado que as escolhas
discursivas, operadas pelos agentes no quadro de diversos gêneros orais -
notadamente, de entrevistas - à propósito do seu trabalho se organizam em
configurações interpretativas específicas ou "figuras de ação" (Bulea, 2010).
Afirmam, também, que essas configurações possuem uma dimensão
potencialmente promotora do desenvolvimento, na medida em que elas são a
manifestação de um debate relativo ao agir (Bulea, 2009) explorável do ponto
de vista formativo. Nosso trabalho analisa dados empíricos orais, emanados de
entrevistas gravadas imediatamente antes e depois de aulas de língua
portuguesa para alunos dos 2º, 5º, 6º e 9º anos do ensino fundamental. A partir
do corpus coletado, analisamos o discurso dos professores, utilizando uma

304
metodologia de análise descendente, partindo dos tipos de discurso e
chegando às estratégias enunciativas. Como resultado, percebermos a
bifurcação da rede de interpretações gerada pelos professores, ora referindo-
se ao seu próprio agir, ora referindo-se ao agir dos alunos. O agir profissional
do professor é, portanto, um agir sobre a ação do outro. O professor avalia seu
agir a partir da eficácia ou não da sua ação sobre o agir dos alunos. Para dar
conta desse critério externamente ancorado, o professor necessita de
ferramentas formativas que o ajudem a demarcar os graus de participação
entre os agentes do agir-referente educativo e a refletir sobre a progressão das
capacidades linguístico-discursivas dos alunos.

Palavras-chave: Agir Docente. Figuração do Agir. Formação de Professores.

O PROFESSOR E A EDUCAÇÃO (PAREI AQUI)


Myrna Estella Mendes Maciel (SESI)

Resumo: A Educação não é de hoje, que é o foco nas pesquisas e nas mesas
de discussões. Porém a aplicabilidade nas escolas ainda requer análises e
muito estudo científico. O professor habilitado conhece a Educação pelos
livros e pelo que aprende na faculdade, porém ao chegar na realidade escolar
depara-se com situações que não consegue administrar. Principalmente nas
escolas públicas, o descaso com o ensinar fica a mercê das más condições
das escolas, do material didático, da remuneração e inclusive da indisciplina.
Ensinar já não é uma tarefa fácil. Portanto este artigo, apresenta uma visão
mais Holística do modo de ensinar com uma metodologia diferenciada
fundamenta em autores como HERNANDES(1998), PERRENOUD (2000) que
trazem uma explicação do ensino através de Projetos. Ensinar através de
Projetos de Aprendizagem, buscar fazer com que o aluno compreenda o
processo de aprendizado através do aprender o apreender (RIGON 2007).
Nesse processo ensinar parece mais fácil, fortalecer o ensino através da
pesquisa e do aprendizado em equipe, buscando aprender junto com o outro e
dividindo as habilidades e competências de cada um. O resultado deste artigo
é a prática de professores do Ensino Médio do Colégio SESI Paraná. A
metodologia acontece na rede do Colégio SESI Paraná há 10 anos, e, portanto
os resultados da aprendizagem e autonomia no ensinar e no aprender, é que
traz a reflexão que ensinar pode ser diferente quando o professor está focado
no processo educacional. A intenção é apresentar os resultados desta prática
em sala de aula bem como apresentar através de questionários como os
professores veem a foram de trabalhar em sala de aula deste modo
diferenciado, Metodologia de Projetos.

Palavras-chave: Ensino. Metodologia. Avaliação.

305
O PROFESSOR DE LINGUA PORTUGUESA E O LIVRO DIDÁTICO:
RELAÇÕES DE PODER E DE SUBJETIVIDADE
Aline Batista Rodrigues (UFPA)

Este trabalho é parte de uma pesquisa, em andamento, que visa analisar as


marcas de subjetividade que se revelam nos discursos dos professores, a partir
das escolhas que eles fazem ao utilizar o livro didático de língua portuguesa,
bem como perceber o sujeito docente que aparece doravante as orientações
impressas no referido livro, a fim de compreender se tais orientações são
determinantes à prática docente. Tal proposta surgiu, a partir da observação de
que os saberes docentes se dão, também, num contexto de imprevisibilidade,
de insegurança, de não saber fazer. Saberes que podem ser condicionados
diante de determinados instrumentos pedagógicos, como o livro didático (LD),
que ocupa, há décadas, lugar de destaque no ensino de língua portuguesa.
Esta é uma problemática inquietante, pois se o professor adota em sua aula o
livro didático para ser sua voz, implica afirmar que o professor apenas reproduz
os discursos que circulam em tal instrumento. Nesse sentido, os discursos
ideológicos, políticos, religiosos, culturais, familiares, sociais que circulam no
LD serão difundidos livremente pelo professor, bem como será este
instrumento que decidirá qual corrente teórico-pedagógica o professor deverá
trabalhar, além de ele silenciar no professor aquilo que silencia em si, isto é, o
professor repetirá apenas o que consta no LD, silenciando, assim, outras
vozes, outros sujeitos. O escopo teórico desta pesquisa está embasado em
alguns teóricos importantes à AD3, como Lacan (2008), Authier-Revuz (1982 e
2004), Pêcheux (1990 e 1995), Orlandi (1987, 1988 e 1997), Maingueneau
(2008) e Possenti (2009), que debatem alguns conceitos próprios da Análise do
Discurso aos quais eu recorrerei, como sujeito e subjetividade, Outro, jogo de
imagem e heterogeneidade discursiva. Bem como Marx (1952), Foucault (2009
e 2015) e Althusser (2001), no que tange as questões de sujeito e ideologia.
Igualmente importante para esta pesquisa são as leituras de Bakhtin (1992)
Geraldi (1997), Antunes (2003), Riolfi (2008) e Riolfi e Barzotto (2011) que
realizam debate sobre as propostas de trabalho do Professor de Língua
Portuguesa, acerca das concepções textuais numa perspectiva
interacionista/dialogista.

Palavras-chave: Subjetvidade. Livro Didático. Fazer Docente.

LETRAMENTO DIGITAL NA ERA DA INFORMAÇÃO - NOVAS


PARADIGMAS
Sirlene Antonia Rodrigues Costa (UEG)

306
Resumo: As transformações econômicas, políticas e sociais decorrentes do
desenvolvimento científico e tecnológico da chamada era da informação ou era
do conhecimento, estão demandando um novo paradigma educacional. Não
se pode negar, por um lado, que as novas tecnologias têm proporcionado
avanços imensuráveis em todos os setores da sociedade (não) letrada
digitalmente. Por outro, estas têm proporcionado às instituições de ensino
novos e grandes desafios pedagógicos. O letramento digital é, hoje, no
contexto da sociedade da informação e do conhecimento, um dos pontos mais
críticos no que se refere à inclusão digital. O que se percebe é que existe uma
série de entraves que dificultam a inserção de conhecimentos e competências
digitais no cotidiano das salas de aula da maioria das escolas brasileiras.
Dessa forma, estes avanços proporcionam, simultaneamente, um maior
letramento digital e uma maior segregação social daqueles que não o
possuem. A presente pesquisa teve como objetivo apresentar discussões
acerca das competências, habilidades e dos posicionamentos políticos
necessários aos professores na nova sociedade (não) letrada digitalmente.
Para tanto, foram realizadas diversas pesquisas teóricas, a fim de
compreender como os estudiosos têm tratado os avanços tecnológicos e o
letramento digital e pesquisas de campo em escolas e universidades de Goiás
e do Distrito Federal, com o propósito de buscar informações, in loco, acerca
da realidade destas instituições com relação ao letramento digital dos seus
alunos. As discussões teóricas foram fundamentadas em Castells (1999),
Coscarelli (2011), Kleiman (2008), Behar (2013), Lévy (2001), Perrenoud
(2003), Soares (2009), Tarouco (2013), Marcurshi (2010) entre outros.

Palavras-chave: Letramento Digital. Ensino. Posicionamentos.

LITERATURA E BIOLOGIA: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR


Jaquelania Aristides Pereira (UECE)
Maria Valdênia da Silva (UECE)
Elizonara Gomes Leite (UECE)

Resumo: Este trabalho é um relato de experiência sobre as atividades de


leitura literária desenvolvidas no programa Conhecer para conservar e
reflorestar áreas da Caatinga: dos livros da Rachel de Queiroz ao tripé
universitário - pesquisa, ensino e extensão, do qual participamos como
colaboradores e extensionista. Trata-se de um programa de extensão
universitária com perspectiva interdisciplinar que elegeu a literatura da escritora
cearense como instrumento para se pensar o bioma da caatinga em sua
interação com as práticas socioculturais do homem do sertão, suas ações na
manutenção e modificação desse bioma. As aulas de literatura, destinadas a
alunos da rede básica de Quixadá, seguiram o fundamento do letramento
literário de Cosson (2006), tendo, nos estudos de Morin (2000; 2005), os

307
postulados da integração dos saberes. De Cosson, utilizamos o modelo de
sequência básica, série didática que permite a exploração do texto verbal numa
interação com outras linguagens. Em cada escola cadastrada no programa foi
ministrada uma oficina em que se apresentou a escritora Rachel de Queiroz,
em sua identidade com o sertão, na vida e na ficção, atividade que culminou
numa visita guiada à fazenda da escritora, localizada na cidade de Quixadá,
momento em que os alunos participantes adentraram à casa da escritora,
conheceram a história do local, fizeram trilhas e exploraram um dos espaços
inspiradores dos textos anteriormente analisados. Entende-ses que a leitura
das obras da Rachel de Queiroz, mais especificamente alguns episódios do
romance O Quinze e algumas crônicas do livro O Não Me Deixes: suas
histórias e sua cozinha, além de ter ajudado para o desenvolvimento do
letramento literário no espaço escolar, com uma literatura bastante próxima do
leitor, em termos de linguagem e temática, contribuiu para um melhor
entendimento de algumas questões que permeiam as circunstâncias do
homem do sertão, principalmente em sua relação com aspectos da flora local,
preparando os participantes a pensar e executar ações conservacionistas no
ambiente em que vivem, levando-os à restauração de áreas da Caatinga, numa
minimização dos efeitos negativos de desmatamentos e queimadas em plantas
e organismos do solo, práticas naturalizadas no contexto do sertão.

Palavras-chave: Literatura. Biologia. Interdisciplinaridade.

MAPEAMENTO DOS ESTUDOS SOBRE QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS NA


DIDÁTICA DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS/ADICIONAIS: FOCO NO ENSINO
E NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Antonio Ferreira Da Silva Júnior (CEFET – RJ)

Resumo: É sabido da necessidade de dotar o currículo das disciplinas de


línguas estrangeiras-LE/ adicionais-LA de práticas que possibilitem formar
sujeitos críticos, éticos e responsivos, transformando a sala de aula em "arenas
de discussão" dos mais variados temas (SIQUEIRA, 2009). A sala de aula de
língua entendida como uma "ilha da fantasia" (SIQUEIRA, 2009) e com forte
presente da lógica monocultural, responsável por práticas escolares
discriminatórias, ainda é diariamente vivenciada por muitos professores e
alunos em nosso país. Pesquisas recentes indicam que muitos cursos de
Licenciaturas ainda não integraram a diversidade étnico-racial às suas pautas
(MOITA LOPES, 2013; FERREIRA, 2006, 2012, 2015). Sem um sólido debate
para a educação das relações étnico-raciais, tais políticas permanecerão
incipientes. As universidades estão sendo formalmente instruídas para a
inclusão de discussões sobre diversidade étnico-cultural em seus currículos
(FERREIRA, 2011), no entanto, tais discussões ainda estão distantes de uma
prática efetiva. Diante disso, esta pesquisa de cunho bibliográfico tem como

308
objetivo revisitar a literatura da área de ensino de línguas LE/LA (em particular
na língua inglesa e espanhola) com o intuito de mapear trabalhos que versam
sobre o tema das relações étnico-raciais, tanto no ensino quanto na formação
docente. Para alcançar nossos objetivos neste artigo, partimos de uma reflexão
sobre formação de professores de línguas e das contribuições dos documentos
oficiais sobre relações étnico-raciais para pensar como as políticas públicas
vigentes auxiliam (ou não) no desenvolvimento de ações em prol de uma
educação mais intercultural (PARAQUETT, 2012). Após isso, direcionamos a
discussão para uma síntese de pesquisas e práticas que versam sobre a Lei nº
10.639/03 na aula de línguas, a Teoria Racial, o material didático e/ou os
aspectos identitários da formação de professores para o tema das relações
étnico-raciais em sua prática (CRUZ, 2015). Esperamos com este artigo
fomentar a sensibilização dos participantes sobre a formação étnico-racial na
formação inicial/ continuada de professores de LE/LA e divulgar a produção
acadêmica de cunho teórico-prático preocupada na construção de educação
anti-racista.

Palavras-chave: Diversidade Étnico-Racial. Ensino De Le/La. Formação


Docente De Le/La.

LETRAMENTO VISUAL E MULTIMODALIDADE EM CONTEXTOS


EDUCACIONAIS EM LÍNGUA INGLESA
Mariana Amorim de Paula Palhano (UECE)
Rita de Cássia Vasconelos de Matos (UECE)

Resumo: As tecnologias de informação e comunicação tem sido fundamentais


para a produção e consumo de textos multimodais e para o desenvolvimento
de múltiplos letramentos, que inclui a ampliação do uso de imagens em
contextos digitais, convencionais e educacionais. No contexto educacional, é
perceptível o uso rico de textos multimodais em materiais didáticos e nas
práticas docentes nas salas de aula de línguas. Este trabalho, que faz parte do
projeto de pesquisa LETRAVI (Letramento Visual), tem como objetivo investigar
e descrever as abordagens utilizadas por professores no uso de textos
multimodais de língua inglesa no contexto da sala de aula de um curso de
idiomas de inglês. Através da aplicação de um questionário e da observação
das aulas de três professores e utilizando uma metodologia descritiva, serão
levantadas informações sobre as percepções desses professores acerca da
concepção de multimodalidade, textos visuais e de letramento visual e sua
aplicação na prática docente. Os dados levantados serão analisados segundo
os pressupostos da teoria da multimodalidade de Kress e van Leeuwen (1996,
2006), Jewitt (2008), e do letramento visual de Callow (2013). Os resultados
das análises em andamento também permitirão que os pesquisadores desse

309
estudo promovam um seminário sobre multimodalidade e ensino, afim de
ampliar o conhecimento dos professores acerca desse tema para capacitá-los
a explorar a multimodalidade efetivamente com seus alunos e desenvolver-lhes
o letramento visual crítico.

Palavras-chave: Multimodalidade. Letramento Visual. Contextos Educacionais.

CÍRCULOS DE LEITURA: A LITERATURA NA CIRANDA DA VIDA


Maria Zilvânia Gomes Rabelo (UECE)

RESUMO: O letramento literário constitui uma necessidade a ser suprida todos


os dias e em contextos e níveis diversos de escolarização. O presente trabalho
busca compreender de que modo os Círculos de Leitura é uma forma eficiente
para prática de letramento literário, assegurando à literatura um maior espaço
na escola e na vida dos leitores. A análise parte de duas experiências com
Círculos de Leitura: uma numa escola de Quixadá-CE e outra numa
comunidade do interior do município de Banabuiú-CE, com público das séries
iniciais e finais. Acredita-se, que essa prática de leitura, conforme o contexto
que esteja inserida, vem ajudar, significativamente, à formação do leitor que na
prática da sala de aula tem sido insuficiente. O contato com as crianças,
adolescentes e jovens, nesses grupos, permite-nos conhecer as inquietações e
leituras que eles trazem e favorece a inclusão de outros repertórios, sendo
possível, inclusive, acrescentar os clássicos universais. Fundamentamo-nos
em Daniel Pennac (1993), quando nos aproxima da realidade de sala de aula e
inquieta-nos ao descrever um grupo de alunos que não encontra na sala de
aula espaço para a leitura e a escrita de forma significativa; em Antonio
Cândido (2004), quando afirma que a fruição da arte e da literatura em todas as
modalidades e em todos os níveis é um direito inalienável e Rildo Cosson
(2014) que aponta-nos os tipos de Círculo de Leitura e metodologias que
podem ser aplicadas. Defende-se, portanto o contato do leitor com a literatura
desde cedo, pois segundo Ana Maria Machado (2002) se o leitor travar
conhecimento com um bom número de narrativas clássicas desde pequeno, os
encontros com os mestres da língua portuguesa terão probabilidades de vir a
acontecer quase naturalmente, esse encontro não deve ser forçado.
Palavras-chave: Círculo de leitura. Formação do leitor. Literatura.

310
EIXO TEMÁTICO 11 – INFÂNCIA E MÍDIA

A ARTICULAÇÃO ENTRE A CULTURA MIDIÁTICA E AS PRÁTICAS


LÚDICAS INFANTIS NO ASSENTAMENTO RURAL RECREIO
Rayane Rocha Almeida (UECE)

Resumo: Esta pesquisa tem o objetivo de compreender como a infância e a


mídia se articulam num contexto específico de uma comunidade rural
remanescente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, além de
buscar perceber de que forma a cultura lúdica infantil e a cultura local se
relacionam com as novas tecnologias e com a cultura midiática que se faz
presente na comunidade. Para alcançar tal objetivo, foram utilizados como
fundamentação teórica apontamentos da Sociologia da Infância, da Sociologia
Rural e da Socioantropologia do jogo. Este estudo se desenvolveu a fim de
responder ao seguinte questionamento: De que forma a cultura midiática
influencia nas práticas lúdicas das crianças de um assentamento rural? Para
responder a essa questão, fizemos um estudo de caso de cunho etnográfico na
comunidade e adotamos a observação participante das práticas lúdicas como
via de acesso ao imaginário infantil. Para a construção do corpus utilizamos
registros das observações da vida cotidiana dos assentados e das práticas
lúdicas das crianças no Assentamento Recreio. A análise de dados demonstrou
que as práticas lúdicas infantis encontram-se em constante negociação com a
cultura midiática. A realidade encontrada no Assentamento Recreio é plural, as
crianças convivem com os mais velhos e, ao mesmo tempo têm acesso à
televisão e internet, portanto, a cultura de pares das crianças assentadas inclui
uma cultura digital. As possibilidades que lá se apresentam de brincar em
grupos e com brincadeiras tradicionais que aprenderam com as pessoas mais
velhas (pais e avós) se intercalam com a cultura midiática e tecnológica. Esta
convivência entre o que é considerado tradicional e as novas tecnologias se dá
devido à consciência que os mais velhos têm da importância de preservar a
cultura local. O cuidado com a delimitação de tempo e espaço no uso de
celulares e computadores por filhos e netos acaba gerando essa possibilidade
da cultura midiática e da internet não anular a cultura tradicional.

Palavras-chave: Práticas Lúdicas. Cultura Midiática. Assentamento.

A ESFERA MIDIÁTICA NA VIDA CONTEMPORÂNEA:


CRIANÇAS SATURADAS POR IMAGENS E A EDUCAÇÃO
Cássio Eduardo Soares Miranda (UFPI)

Resumo: O presente trabalho discute o caráter performativo da esfera


midiática na vida contemporânea e seus efeitos na constituição da
subjetividade de crianças em idade escolar. A partir do conceito de

311
sobremodernidade proposto por Marc Augé (AUGÉ, 2005), discutiremos os
efeitos do excesso de informação e de imagens e como o "instantâneo"
caracteriza a vida contemporânea. Em uma pesquisa realizada com crianças
entre 08 e 12 anos, buscou-se verificar a relação existente entre as crianças e
as telas: trata-se de uma relação de sedução, fascinação ou educação? A partir
do conceito lacaniano de imaginário (LACAN, 1949; 1974), verificaremos se o
"poder das imagens" faz com que elas ocupem o lugar das referências
familiares e educacionais, quais seus efeitos nos laços sociais entre alunos e
nas relações entre professor e aluno, e entre aluno e conhecimento. Se o aluno
contemporâneo tem sido caracterizado como um "aluno multimídia",
problematizaremos o modo como o sujeito comunicante (CHARAUDEAU,
2005) se inscreve no circuito comunicacional contemporâneo.

Palavras-chave: Mídia. Criança. Psicanálise.

A PUBLICIDADE E O PÚBLICO INFANTIL: UMA DISCUSSÃO SOBRE A


REGULAÇÃO DA PUBLICIDADE TELEVISIVA
Kewlliane Fernandes de Lima (UNILAB)

Resumo: Compreende-se por comunicação mercadológica veículos que


utilizam ferramentas midiáticas para vender, tais como: internet, comerciais,
anúncios, banners, rádio e televisão. E, dentre elas, o presente trabalho se
deterá na abordagem acerca da relação entre publicidade televisiva e infância,
pois apresenta-se, ainda, como o contato primeiro e mais intenso de muitas
crianças com mensagens sobre o consumo. A parte pragmática sobre as
intenções da publicidade como ferramenta que divulga produtos para que
possam ser comprados é facilmente identificada por adultos, entretanto, as
crianças não a compreendem de modo tão claro, em aspectos de objetivo de
venda nem mesmo da diferença entre realidade e fantasia que os efeitos
especiais proporcionam. A compreensão desta última é relativa, deve-se levar
em conta a maturidade de cada criança. Baseado nestas concepções, o
Projeto de Lei 5.921/2001 e a Resolução 163/2014 do Conanda (Conselho
Nacional do Direito da Criança e do Adolescente) consideram que toda
publicidade e comunicação mercadológica dirigida à criança são abusivas e
devem ser proibidas. A metodologia da pesquisa deu-se através da revisão da
literatura, por meio dos estudos de Bauman, Barbosa e Campbell, e, como
fundamentação legal, utilizou-se o Projeto de Lei 5.921/2001 e a Resolução
163/2014. A construção do estudo se consolida a partir da fundamentação
sobre os conceitos de consumo de pátina e consumo da moda. Dentro desta
segunda categorização que a publicidade surge e ganha legitimidade do setor
econômico e financeiro, levando a teorização e comparação de discernimento
entre quem produz publicidade infantil e quem assiste, e elencando também
outro componente fundamental: os limites deste mercado. As duas notórias

312
organizações que tratam do assunto no Brasil são: Instituto Alana e Movimento
Infância Livre pelo Consumismo. A Constituição Federal, no Artigo 227, declara
que a criança e o adolescente são prioridade absoluta tanto da família quanto
do Estado.

Palavras-chave: Criança. Publicidade. Consumo.

A FORMAÇÃO DA AUTOESTIMA DA CRIANÇA NO CONTEXTO DE UMA


INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL CONSIDERANDO A ROTINA E AS
INTERAÇÕES ENTRE O PROFESSOR E A CRIANÇA
Diana Isis Albuquerque Arraes Freire (UFC)

Resumo: Esta pesquisa teve por objetivo analisar a formação da autoestima


da criança em uma instituição de Educação Infantil. Os objetivos específicos
foram: analisar a rotina da pré-escola, considerando seus elementos
constitutivos (espaço, materiais, tempo e atividades) e as interações entre os
sujeitos (professores e crianças), focalizando a autoestima. Em um mundo
cujos contextos sociais sofrem muitas transformações, a pessoa humana se
encontra fragilizada emocionalmente, então, desde a infância, a escola poderia
contribuir para a construção de uma autestima positiva, constituindo um
alicerce pessoal. As teorias de Vygotsky e Wallon constituíram a base teórica,
pois ressaltam o meio sociocultural para o desenvolvimento humano e o
desenvolvimento integral da criança. A pesquisa também se apoiou em
algumas referências do Ministério de Educação e da Secretaria de Educação
do Estado do Ceará. A abordagem foi qualitativa e utilizou a observação para a
coleta de dados, registrados por meio do diário de campo e da audiogravação.
O “locus” da pesquisa foi uma instituição de Educação Infantil e os professores
de duas turmas de pré-escola, e os sujeitos foram as crianças dessas turmas.
Os dados foram analisados a partir de critérios da pesquisa qualitativa. A
pesquisa apontou que: na rotina há situações que favorecem ou não a
formação da autoestima; uma rotina bem organizada pode beneficiar este
processo; os elementos da rotina se relacionam com a qualidade do trabalho
pedagógico e as crianças expressam a necessidade de ouvir palavras que as
valorizem. É possível, então, que a escola contribua para a formação da
autoestima das crianças, realizando práticas pedagógicas que atendam às
suas necessidades e interesses, e interações positivas entre elas e o professor.

Palavras-chave: Autoestima. Rotina na Educação Infantil. Interação Professor


Criança.

ALÉM DAS APARÊNCIAS: (RE) PENSANDO O USO DA TV NA ESCOLA A


PARTIR DO DISCURSO INFANTIL

313
Marcus Henrique Linhares Ponte Filho (UFC)

Resumo: A televisão goza de grande popularidade entre crianças e jovens em


idade escolar, e isso já não é mais um "mistério". Os programas de TV
destinados a crianças e jovens são um importante foco de interação nas
práticas socioculturais desse público (mesmo dentro do ambiente escolar).
Segundo Brougére (2004, p. 53), a televisão é uma fonte crucial de conteúdos
para brincadeiras infantis, pois "elas (crianças) se transformam, através das
brincadeiras, em personagens vistos na televisão". Porém, a TV ainda parece
ser vista com desconfiança por pais e professores, e sua presença na escola
ainda é regida pelo signo da desconfiança e do controle. O propósito principal
deste artigo é refletir sobre a (sub)utilização que é feita da televisão no âmbito
escolar. Para isso, o trabalho faz uso do discurso de crianças (de ambos os
sexos) a respeito dos principais programas de TV que assistem, tendo sido
consultadas crianças em idade escolar, regularmente matriculadas no 2º ano
do ensino fundamental em duas escolas (uma pública e uma particular). A
partir do discurso infantil, o artigo tenta compreender o posicionamento
cauteloso e defensivo das escolas visitadas e de seus representantes
(professores e membros da gestão) a respeito da presença e do uso da TV no
ambiente escolar. Este artigo é proveniente dos estudos de mestrado do autor,
que investigou o que meninos e meninas pensam (e falam) a respeito da TV e
sua programação. Percebeu-se que a maior parte das crianças tinha grande
apreço por desenhos animados japoneses (animes), e que apesar desses
programas de TV serem populares entre o público infantil, os docentes
pareceram não levar isso em consideração em suas aulas, ignorando o contato
das crianças com a mídia e fazendo uso restrito da televisão durante as aulas
(quase sempre de forma determinada e sem consulta às crianças). Desta
forma, este artigo procura aprofundar reflexões sobre a relação entre a
educação e a televisão, não apenas como retransmissora de conteúdos
escolares, mas também como ferramenta comunicativa e cidadã.

Palavras-chave: TV. Crianças. Discurso.

PENSAMENTO COMPLEXO E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: CONEXÕES


TRANSDISCIPLINARES NA FORMAÇÃO PEDAGÓGICA E RESGATE DO
SUJEITO NOS SERVIÇOS DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE
VÍNCULOS
Marjorie Pelik Kempe (FATEB)

Resumo: Ao refletir sobre as questões de uma educação complexa, acenando


com novas perspectivas de resistência e emancipação na reconstrução da
identidade das crianças em situação de vulnerabilidade social, o objeto de
estudo desta pesquisa é o resgate do sujeito nos Serviços de Convivência e

314
Fortalecimento de Vínculos a partir dos aportes teóricos como Benveniste,
Chomsky, Morin e suas respectivas considerações sobre a complexidade e a
recursividade. O objetivo desta comunicação é evidenciar como deveria se
posicionar o pedagogo nesse contexto e desenvolver a perspectiva
transdisciplinar em educadores sociais, possibilitando o diálogo entre os
saberes, definindo assim as rotas a partir de conversas com os sujeitos
envolvidos, contribuindo sistemicamente para a sua transformação. A
metodologia constitui-se em uma pesquisa in loco no Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos para crianças entre 6 e 12 anos, a partir do resgate
de conversas e anotações referentes ao desenvolvimento destes indivíduos,
desenhando as rotas nos discursos apresentados durante o período de
frequência das crianças ao Programa. E, ao final, tendo em vista a
possibilidade da construção de suas práticas, a partir de temas transversais,
oferecer instrumentos para o desenvolvimento de trabalhos com crianças entre
6 e 12 anos.

Palavras-chave: Complexidade.Transdiciplinaridade. Práticas Pedagógicas.

O QUE (RE) SIGNIFICA ESCUTAR AS VOZES DAS CRIANÇAS:


ESCOLARIZAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO ADULTO-CRIANÇA
Erica Atem Gonçalves de Araujo Costa (UFC)

Resumo: Há algum tempo, no âmbito das universidades brasileiras, lidamos


com os efeitos das contribuições dos Estudos da Infância para a produção de
conhecimento sobre as infâncias e as crianças. Proponho discutir alguns
resultados de pesquisa de doutorado, problematizando como se deu a escuta
da voz das crianças. Procurei compreender as posições discursivas de
crianças e adultos produzidas mutuamente, tendo como quadro teórico-
metodológico a Sociologia da infância, a perspectiva bakhtiniana da linguagem
e genealógica do discurso. Quando escutamos a voz da criança, entendida
como discurso produzido em uma teia dialógica, o que tem acontecido? Adultos
e crianças resistem a experimentar outros lugares, compartilhados, de
estranhamento? Como? Quais são esses enfrentamentos? O lócus da
pesquisa, de inspiração etnográfica, foi uma escola de educação infantil
particular, "alternativa" e/ou modelo que tem a participação da criança como
eixo constituinte de suas práticas escolares. Procedi a uma análise
interpretativa das cenas cotidianas e do modo como provocavam interferências
na rede de sentidos que sustentava na escola o que se diz sobre "ser criança"
e "ser adulto". As análises mostraram pontos de tensão entre forças que ora
tentam desestabilizar as identidades, ora fixá-las. Na ordem discursiva escolar,
a perspectiva desenvolvimentista dificulta que a dasacomodação provocada
pela voz da criança no cotidiano das interações funcione como dispositivo de
formação, experimentação e aprendizagem mútuas. Há a tendência que a

315
cultura escolar ressencialize e naturalize a voz da criança por meio de várias
estratégias, invisibilizando seus efeitos para as relações intrageracionais e
intergeracionais. As relações adulto/criança, quando analisadas do ponto de
vista das posições discursivas, mostram as ambiguidades que constituem os
processos de subjetivação, potencializando-os como fonte de aprendizagem.
Nessa perspectiva, aprender com/sobre as crianças aproxima-nos da
ignorância e da fragilidade que resultam do encontro com a alteridade infantil.
Esse não-saber relaciona a escolarização à temporalidade do acontecimento,
fortalecendo as possibilidades de reinvenção dos lugares sociais pelos quais
nos constituímos sujeitos.

Palavras-chave: Voz. Diferenciação Adulto/Criança. Acontecimento.

O MENINO LEVADO PELAS ÁGUAS: INFÂNCIA E MÍDIA NO CASO DE


AYLAN KURDI
Elayne Castro Correia (UECE)
Bárbara Silva Teles De Menezes (UECE)

Resumo: A contemporaneidade tem vivenciado uma forte onda de movimentos


migratórios, que possuem um ponto em comum: o recomeço da vida em um
território alheio, distante de tempestades religiosas, econômicas, sociais,
políticas etc. Infelizmente, nem sempre os territórios alheios estão dispostos a
lançarem seus coletes salva-vidas aos que chegam. O que se veem, portanto,
são barreiras construídas como forma de impedir esse êxodo, que causam,
muitas vezes, a morte de pessoas inocentes, como foi o recente caso do
menino sírio AylanKurdi, que morreu afogado em Bodrum, na Turquia, após
sua família tentar fugir da crise migratória da Síria. Mais do que a preocupação
da sociedade com a crise migratória, o caso do menino sírio revela um
sentimento da mesma sociedade para com a morte de um infante. Esta
pesquisa, por conseguinte, tem a pretensão de investigar como se deu a
recepção da sociedade, por meio da mídia, quanto à morte de uma criança,
que é o personagem mais indefeso das tensões e dos conflitos
contemporâneos, tomando como exemplo as fotos divulgadas sobre a morte do
menino AylanKurdi. Mais que uma foto, as imagens veiculadas se tornaram
emblemas da crise migratória mundial. Para entender a recepção do caso do
menino sírio pela sociedade, é necessário voltar ao passado e ver como
antigamente se recepcionavam as crianças. A pesquisa utiliza-se, pois, de um
percurso histórico que envolveu a criança, desde a Idade Média até a
contemporaneidade, ressaltando os infortúnios que esse infante sofria, por
exemplo: a morte precoce e a ausência do sentimento em relação à criança no
ambiente familiar. Philippe Ariès, Corazza e Neil Postman são alguns dos
nomes que foram utilizados para construir o percurso histórico para o trabalho.
A fim de responder as indagações da pesquisa quanto à recepção da

316
sociedade por meio de uma veiculação midiática, recolheram-se alguns
discursos jornalísticos de veículos midiáticos nacionais e internacionais, como
o portal G1, The Independent etc.

Palavras-chave: Infância. Mídia.AylanKurdi.

O FENÔMENO DA GALINHA PINTADINHA: INFLUÊNCIAS DA INDÚSTRIA


CULTURAL NA INFÂNCIA
Débora Cavalcante de Figueiredo (UFC)

Resumo: No contexto da sociedade de consumo segmentada, o modo de


produção que permite o direcionamento dos produtos a grupos específicos da
sociedade. Assim, nichos de mercado são criados para que o consumo seja
melhor direcionado a grupos que variam de acordo com o gênero, a idade ou
mesmo aos estilos de vida. A infância, que se configura em um dos inúmeros
segmentos de consumo, é alvo privilegiado de estudos do Marketing, com
vistas a investigar quais produtos e produções culturais, potencialmente,
despertam o interesse infantil; produtos estes que variam entre brinquedos,
filmes, desenhos animados e até mesmo aparelhos tecnológicos. Assim, as
crianças são sedutoramente conclamadas a aderir à lógica do mercado,
através da indústria cultural, que desde muito precocemente passa a povoar o
imaginário infantil. O conceito de Indústria Cultural, exposto por Adorno e
Horkheimer na obra Dialética do esclarecimento, em 1947, mantém sua
atualidade para uma crítica da cultura contemporânea, na medida em que as
estratégias utilizadas pela indústria para transformar bens culturais em
mercadorias revelam-se cada vez mais intensas na contemporaneidade. Neste
sentido, este trabalho tem por objetivo identificar de que maneira a indústria
cultural mantém-se presente no universo infantil desde a mais tenra idade,
levando em consideração os efeitos psicossociais na vida do indivíduo em
formação. Para tal, empreendeu-se um estudo documental e teórico-empírico,
referenciado pelos teóricos da Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer,
Marcuse), cuja estratégia metodológica consistiu numa abordagem micrológica,
que se baseia na análise de um elemento particular, potencialmente revelador
da lógica do "todo". Assim, utilizou-se como elemento particular, representativo
do universo infantil, os populares vídeos da Galinha Pintadinha, lançados há
quase nove anos, bem como todas as suas formas de difusão cultural em
livros, textos retirados da internet, notícias, vídeos e documentários. A partir da
análise destes materiais, observou-se grande empenho da indústria cultural em
oferecer não apenas seus produtos culturais, como também materiais -
inclusive de alta tecnologia - a crianças cada vez mais cedo. Além disso,
identificamos a presença de um incentivo a determinadas formas de ser e estar
no mundo, a exemplo de uma atitude passiva diante de produções culturais
midiáticas.

317
Palavras-chave: Indústria Cultural. Infância. Galinha Pintadinha.

IMAGENS NEGADAS E REVELAÇÕES DA INFÂNCIA: UM ESTUDO SOBRE


O USO DA FOTOGRAFIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Janine Mara Freitas de Lima (UECE)
José Ernandi Mendes (UECE)

Resumo: O presente trabalho é fruto do projeto de dissertação do mestrado no


MAIE/UECE, o qual busca verificar como a fotografia pode ser reveladora dos
condicionantes sociais e culturais que afetam o comportamento infantil
(cotidiano escolar, familiar, comunitário, conflitos, situações de vulnerabilidade
social) na Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental João Batista
Ribeiro na Comunidade do Tomé na Chapada do Apodi- Limoeiro do Norte. A
instituição de ensino apresenta muitas dificuldades e não conta com certos
espaços próprios da educação infantil como parquinho e áreas livres de lazer.
As salas de aula não são suficientes para atender a demanda da educação
infantil e atualmente foi necessário juntar duas turmas numa mesma sala,
segundo entrevista realizada com a diretora da escola, que ressalta a falta de
apoio e maior presença do poder público municipal. O espaço rural na
Chapada do Apodi é marcado pela negação de direitos sociais básicos, sendo
alvo recorrente de estudos acadêmicos, assim procuramos identificar se há
efeitos de tal dinâmica social sobre a educação infantil. Inicialmente, utilizamos
as concepções de Roland Barthes, Walter Benjamin e Matheus Manzini Ramos
que discutem a fotografia como arte, as contribuições de Vigotski sobre o
pensamento, linguagem e desenvolvimento infantil e de Miguel Arroyo sobre
concepção de infância, seu espaço na educação pública, imagens negadas. Na
pesquisa de campo com a turma de infantil V - crianças de 04 a 05 anos,
exploramos os espaços da escola e da comunidade, com o uso livre de
câmeras fotográficas. Decorrente disso, estamos construindo um diário de
bordo e questionários a partir das imagens realizadas pelas próprias crianças,
buscando compreender a maneira como percebem tais locais e como se veem
neles. Preliminarmente é possível perceber como as crianças se encantam ao
contanto com as câmeras fotográficas, como a imagem é reveladora do
comportamento infantil e como escola e comunidade tradicionalmente negam a
especificidade desses olhares.

Palavras-chave: Educação Infantil. Fotografia. Linguagem.

MÍDIA TELEVISIVA: INFLUÊNCIA NA CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO


DA CRIANÇA.
Geraldo Bruno Costa de Andrade (UEPA)

318
Resumo: Trata o presente estudo sobre as relações instituídas através cultura
midiática em nossa sociedade, especificamente da mídia televisiva e sua
influência na construção do pensamento social das crianças. Para isso,
partimos da pergunta problema: Como a mídia televisiva na sociedade de
consumo influencia na construção e formação do pensamento da criança?
Nosso objetivo geral se consolida em analisar como a mídia televisiva, a partir
de suas estratégias midiáticas, influencia no pensamento social da criança.
Para subsidiar nosso referencial, utilizaremos Adorno (1947; 1985; 1995),
Vygostky (1196;1998), Aries (2014) e Andrade (2008) na busca de conceitos
que permitam seus entrelaçamentos para percebermos as influências entre
consumo midiático e formação do pensamento das crianças. A metodologia
traz um enfoque fenomenológico, do tipo qualitativo, através de uma
larga pesquisa bibliográfica. Nossos resultados apontam que adultos, mas
principalmente as crianças, vivem em confinamentos residenciais ou de
condomínios em virtude do pouco investimento do governo em diversas
políticas públicas, deixando as crianças sem alternativa de locais públicos e
seguros de lazer, recreação e distração. Aponta ainda que o governo
brasileiro busca minimizar tais problemas limitando com leis de proteção à
criança da ação da mídia televisiva, mas que esta mesma mídia consegue,
através de diversas estratégias de publicidade e propaganda, transmitir às
crianças toda uma carga de influência capitalista voltada à construção do
pensamento numa sociedade de consumo. Essa imposição ideológica midiática
às crianças influência de tal forma que inverte por muitas vezes os valores,
hábitos, pensamentos e costumes, pois atualmente as crianças nascem, vivem
e convivem em uma sociedade movida pela mídia de consumo exacerbado e
desenfreado.

Palavras-chave: Mídia. Consumo. Pensamento. Criança.

MOSAICOS DA INFÂNCIA: A AMIZADE COMO FIO CONDUTOR EM A ILHA


DOS GATOS PINGADOS, DE JOSÉ J. VEIGA
Nathalia Bezerra da Silva Ferreira (UERN)

Resumo: O escritor goiano José J. Veiga estreia em 1959 na literatura com a


publicação do livro de contos Os Cavalinhos de Platiplanto, obra em que o
autor apresenta uma série de personagens infantis que, mesmo estando ainda
em formação, vivenciam sentimentos e angústias que remetem ao espelho da
sociedade em que vivemos. No conto A Ilha dos gatos pingados, o autor nos
mostra a violência doméstica, a divergência na contiguidade e o poder
coercitivo dos adultos como as principais temáticas. Mesmo criança, Cedil,
personagem do conto, experimenta o tamanho da crueldade humana. Em meio
a violência, Cedil encontra nos amigos um escape, o apoio que necessita para

319
lidar com a opressão. Diante da difícil situação do menino, JJ Veiga nos
apresenta crianças que possuem olhar e sensibilização diferenciada: enquanto
os adultos não conseguem perceber a dimensão do sofrimento de Cedil, as
crianças parecem ver além dos adultos, parecem se importar mais com o
próximo. Embora possuam essa sensibilidade diferenciada, as crianças não
deixam de expressarem-se como crianças, sentir-se como tal. O autor intercala
assim momentos de extrema maturidade misturados a atitudes pertinentes a
idade delas, criando personagens não infantilizados nem com pretensões de
características adultas. Veiga, portanto, encontra um caminho que parece
posicionar-se no meio disso tudo, encontrando um equilíbrio entre a
maturidade, a sensibilidade, com aspectos da vida infantil sem artificialidade.
Nesse contexto, o presente trabalho, tem por objetivo analisar as relações
entre as personagens do conto, principalmente no que se refere a amizade
existente entre meninos que buscam, como podem ajudar o amigo a escapar
da tirania do mundo dos adultos. Para tanto, utilizaremos como método de
análise a pesquisa bibliográfica, bem como a hermenêutica da profundidade.
Nesse sentido, observa-se que o autor de Os Cavalinhos de Platiplanto (2011)
consegue apresentar-nos crianças que embora estejam subjugadas à violência
doméstica, principalmente dos adultos, encontram na amizade que possuem
uns com os outros, uma possibilidade de escape, de amenização da dor.

Palavras-chave: Infância. Amizade. Violência.

320

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