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INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE COIMBRA

Departamento de Engenharia Mecânica

AUTOMAÇÃO
(Aulas Teóricas)

Coimbra 2007
Índice

1. Transmissão Hidrostática da Energia...........................................................................1


1.1. Princípios Gerais...................................................................................................1
1.2. Trabalho, Potência e Rendimentos........................................................................7

2. Resistências Hidráulicas.............................................................................................17
2.1. Resistências hidráulicas distribuídas..................................................................17
2.2. Resistências hidráulicas localizadas...................................................................26
2.3. Perdas de caudal..................................................................................................29

3. Fluidos Hidráulicos...................................................................................................33
3.1. Propriedades físicas e Características dos Fluídos hidráulicos.........................33
3.2. Óleos Minerais.....................................................................................................40
3.3. Fluidos Resistentes ao Fogo................................................................................41
3.3.1. Fluidos Sintéticos.......................................................................................43
3.3.2. Fluidos de Base Aquosa.............................................................................44

4. Vedantes.......................................................................................................................47
4.1 O-ringues..............................................................................................................47
4.2. Vedantes Estáticos...............................................................................................54
4.3. Vedantes Dinâmicos.............................................................................................56
4.4. Empanques...........................................................................................................61

5. Cilindros hidráulicos...................................................................................................65
5.1. Classificação dos cilindros hidráulicos...............................................................65
5.2. Cálculo de cilindros hidráulicos..........................................................................67
5.2.1. Espessura da camisa do cilindro................................................................67
5.2.2. Encurvadura..............................................................................................68
5.2.2.1. Verificação do diâmetro da camisa do cilindro à encurvadura....69
5.2.2.2. Verificação do diâmetro da haste do cilindro à encurvadura.......71
5.2.3. Guiamento..................................................................................................73
5.2.4. Espessura do fundo do cilindro hidráulico.................................................74
5.2.5. Amortecimento............................................................................................75

i
6. Bombas e Motores hidráulicos....................................................................................77
6.1. Generalidades......................................................................................................77
6.2. Classificação e aplicação das bombas hidráulicas.............................................78
6.2.1. Bombas hidráulicas de êmbolos................................................................78
6.2.1.1. Bombas hidráulicas de êmbolos em linha....................................80
6.2.1.2. Bombas hidráulicas de êmbolos radiais.......................................81
6.2.1.3. Bombas hidráulicas de êmbolos axiais.........................................82
6.2.2. Bombas hidráulicas de palhetas................................................................85
6.2.3. Bombas hidráulicas de engrenagens.........................................................87
6.3. Classificação e aplicação de motores hidráulicos..............................................90
6.4. Expressões de cálculo..........................................................................................92
6.4.1. Bomba hidráulica.......................................................................................93
6.4.2. Motor hidráulico........................................................................................93

7. Válvulas.......................................................................................................................95
7.1. Válvulas Direccionais.......................................................................................95
7.1.1. Classificação..............................................................................................95
7.1.2. Estrutura e construção...............................................................................96
7.1.3. Sistemas de accionamento........................................................................102
7.2. Válvulas de Retenção.........................................................................................104
7.2.1. Válvulas de retenção de comando directo................................................104
7.2.2. Válvulas de retenção de comando hidráulico..........................................104
7.3. Válvulas Fluxométricas.......................................................................................105
7.3.1. Estranguladores.......................................................................................106
7.3.2. Válvulas reguladoras de caudal...............................................................108
7.4. Válvulas Manométricas......................................................................................113
7.4.1. Válvulas limitadoras de pressão...............................................................113
7.4.2. Válvulas reguladoras de pressão..............................................................116
7.4.3. Válvulas de sequência...............................................................................120

8. Acumuladores Hidráulicos........................................................................................121
8.1. Classificação construtiva...................................................................................121
8.2. Cálculo de um acumulador hidráulico...............................................................125

ii
1. TRANSMISSÃO HIDROSTÁTICA DA ENERGIA

1.1. PRINCÍPIOS GERAIS

Imagine-se um sistema hidráulico constituído por uma conduta em cujas extremidades


se ligaram dois cilindros de diâmetros diferentes, cada um com o respectivo êmbolo e que
todo este sistema se encontra ocupado interiormente por um fluido. Na Figura 1.1 verifica-se
que ao aplicar ao êmbolo de maior diâmetro D uma força P, bastará aplicar ao êmbolo de
menor diâmetro d uma força F menor que P, que o sistema equilibrar-se-á.

Figura 1.1 Alavanca hidráulica

A grandeza da força P depende dos diâmetros de ambos os êmbolos enquanto que F e


P são directamente proporcionais ás áreas dos cilindros, ou seja dos quadrados dos
respectivos diâmetros:

d2
F= × P [kg] (1.1)
D2

Exemplo 1.1: Calcular a força F se d = 20 mm, D = 200 mm e P = 1000 kg.

Aplicando a expressão (1.1), a força F será:

20 2 400
F= × 1000 = × 1000 = 10 kg
200 2 40000

A situação acima descrita representa o principio da transmissão hidráulica da energia,


mais conhecido por princípio da alavanca hidráulica.
Transmissão Hidrostática da Energia

Supôs-se que a força F servia para manter o peso P em equilíbrio. Pretendendo-se


agora provocar a subida do peso P bastaria empurrar para baixo o êmbolo da esquerda
(aumentando a força F). Observar-se-ia que o deslocamento do êmbolo da direita seria
inferior ao do êmbolo da esquerda (aquando do aumento da força F). Efectivamente, o
volume de óleo movimentado pelo cilindro de menor diâmetro desloca-se para um volume
superior correspondente ao cilindro de maior diâmetro. A elevação H do êmbolo da direita,
provocada pelo deslocamento h do êmbolo da esquerda é definida pela expressão:

d2
H= × h [mm] (1.2)
D2

Exemplo 1.2: Calcular a elevação H se d = 20 mm, D = 200 mm e h = 1000 mm.

Aplicando a expressão (1.2), obtém-se:

20 2 400
H= × 1000 = × 1000 = 10 mm.
200 2 40000

O princípio da alavanca hidráulica apresenta vantagens e desvantagens. A sua


vantagem é vencer forças muito elevadas mediante a aplicação de pequenas forças (Exemplo
1.1) e a sua desvantagem consiste na necessidade de efectuar grandes deslocamentos para
percorrer pequenas distâncias (Exemplo 1.2). Por outras palavras, o que se ganha em força
perde-se em deslocamento.

Para ultrapassar esta desvantagem bastará substituir o cilindro da esquerda por uma
bomba alimentada por óleo contido num depósito de capacidade suficiente, tal como a Figura
1.2 ilustra. Desta forma, torna-se possível introduzir no cilindro da direita o volume de óleo
necessário para que o êmbolo percorra a distância desejada.

Figura 1.2 Alavanca hidráulica aperfeiçoada

2
Transmissão Hidrostática da Energia

Para compreender melhor as aplicações do principio acabado de expor é necessário


abordar duas questões ligadas à transmissão hidrostática da energia. A primeira refere-se ás
propriedades do estado líquido do fluido (óleo) utilizado na dita transmissão e a segunda diz
respeito ao conceito de pressão.

Assim, o estado liquido caracteriza-se por uma liberdade de formas (típica dos gases)
associado a um volume constante (próprio dos sólidos). O principio dos vasos comunicantes,
representado na Figura 1.3, demonstra o que se acabou de afirmar.

Figura 1.3 Principio dos vasos comunicantes

Observa-se o efeito da gravidade sobre a massa líquida contida numa série de


recipientes de diferentes formas, em contacto com a atmosfera e ligados entre si. O fluido
adapta-se ás diferentes formas dos vários recipientes (liberdade de forma), apresentando o
mesmo nível em todos eles, de modo a equilibrar as pressões internas.

Para definir o conceito de pressão (estática), considera-se um recipiente cilíndrico de


área S, fechado e cheio de um fluido em repouso. Se no seu interior deslizar um êmbolo por
intermédio de uma força F aplicada ao mesmo, sobre qualquer porção da superfície interna do
fluido ou em contacto com as paredes, origina-se uma acção de valor constante, sempre
perpendicular à porção da superfície considerada, denominada pressão e definida pela
expressão:
F
p= [kg/cm2] (1.3)
S

Isto mais não é do que o principio de Pascal, traduzido pela Figura 1.4, segundo o qual
“em qualquer ponto de um líquido em repouso, a pressão é igual em todos os sentidos,
transmite-se em todas as direcções e actua com forças iguais em superfícies iguais.”

3
Transmissão Hidrostática da Energia

Figura 1.4 Principio de Pascal

Até aqui, a pressão foi definida como um fenómeno estático, ou seja, inerente à
aplicação de forças sobre a zona superficial de uma massa liquida praticamente em repouso.
Na realidade, a sua origem pode também ser dinâmica, como mostra a Figura 1.5.

Figura 1.5 Perda de pressão distribuída (contínua)

O sistema consiste num depósito unido à extremidade de uma conduta comprida e


delgada, cujo extremo oposto está em contacto com a atmosfera. Ao aplicar uma força P ao
êmbolo, o fluido sofre uma impulsão, atravessando a conduta e saindo para o exterior. No seu
percurso pelo interior da conduta, encontra uma resistência tanto maior quanto mais comprida
e estreita for a conduta. É precisamente esta resistência que determina a pressão existente no
cilindro, pois esta não se mantém igual em todo o sistema, mas diminui em direcção à
extremidade aberta da conduta, onde é nula. Para confirmar este facto basta aplicar vários
manómetros em diversos pontos da conduta.

Daqui se conclui que na transmissão hidráulica de energia também é necessário tomar


em consideração os factores dinâmicos, isto é, as forças derivadas do movimento do fluido.

Uma análise completa dos factores que intervêm numa transmissão hidráulica
permitem distinguir outras formas de energia:

4
Transmissão Hidrostática da Energia

a) energia de pressão (estática);


b) energia cinética (função da velocidade que possui o fluido num ponto considerado);
c) energia potencial (proporcional à altura Z de uma partícula, relativamente a uma cota de
referência);
d) energia térmica (quantidade de calor no seio do fluido).

De realçar que a energia de pressão e a energia potencial possuem um carácter


estático, enquanto que a energia cinética e a energia térmica têm um carácter dinâmico.

Com o auxílio da Figura 1.6 que representa uma conduta de secção variável cheia de
um fluido em movimento, enuncia-se o principio de Bernoulli, sobre o qual assenta todo o
tipo de transmissão, seja ela hidrostática ou hidrocinética.

Figura 1.6 Principio de Bernoulli

Sejam S1 e S2 duas secções transversais quaisquer; v1 e v2 as velocidades (médias) do


fluido; Z1 e Z2 as alturas dos centros de gravidade relativamente a um plano horizontal π; p1 e
p2 as pressões estáticas; e1 e e2 as energias térmicas em cada uma das secções consideradas.
O principio de Bernoulli afirma que “numa secção qualquer, a soma das energias
potencial, cinética, térmica e de pressão (piezométrica) é constante”. Aplicando este
principio por unidade de peso do fluido ter-se-á:

v12 p1 v 2 p
Z1 + + + e1 = Z 2 + 2 + 2 + e2 = constante (1.4)
2g γ 2g γ

Onde os símbolos têm os seguintes significados:


g = aceleração da gravidade [m/s2];
Z = altura [m];
p = pressão estática [kg/cm2];
v = velocidade[m/s];

5
Transmissão Hidrostática da Energia

γ = peso específico do fluido [kg/m3]1;


e = energia térmica.

Para circuitos hidráulicos e de uma forma genérica, os termos representativos da


energia potencial Z e da energia térmica e em todo o sistema são desprezáveis relativamente
aos outros, de forma que o principio de Bernoulli pode exprimir-se de uma forma onde
aparecem apenas o termo energético puramente dinâmico e puramente estático:

v2 p
+ = constante (1.5)
2g γ

Pode afirmar-se que em qualquer secção de um sistema hidráulico, todo o aumento de


velocidade (conseguido à custa de uma diminuição da secção) converte-se numa diminuição
de pressão e toda a diminuição de velocidade converte-se num aumento de pressão.

Figura 1.7 Principio de Bernoulli

Nesta revisão geral sobre os princípios da física elementar dos fluidos falta apenas
mencionar o principio da continuidade. Este afirma que numa conduta de secção variável em
regime permanente, o volume de fluido que atravessa uma secção qualquer por unidade de
tempo, ou seja, o caudal, é constante.

Figura 1.8 Principio da continuidade

1
Ao longo do texto, em todas as grandezas onde apareça kg, deve ler-se kgf, excepto na massa e massa
volúmica.

6
Transmissão Hidrostática da Energia

O conceito de caudal acabado de definir permite introduzir outro importante conceito


bastante utilizado na prática, que é o da velocidade média numa secção, v. Define-se como o
valor da velocidade que suposta igual para todas as partículas líquidas existentes na secção A
[m2] da conduta, asseguraria a circulação do caudal Q [m3/s] pré-determinado, ou seja,
recorrendo ao SI:
Q
v= [m/s] (1.6)
A

Na prática utiliza-se Q [l/min], v [m/s] e A [cm2], logo é preciso introduzir um


coeficiente adimensional:
Q
v= [m/s] (1.7)
6× A

De acordo com as definição de velocidade média, o principio da continuidade


expressa-se por:
v1 × A1 = v2 × A2 = constante (1.8)

Ou então por:
Q = 6 × v × A = constante (1.9)

Exemplo 1.3: Calcular a velocidade média do fluido numa conduta cujo diâmetro interior é D
= 20 mm, se por ela circular um caudal Q = 100 l/min.

Calcula-se primeiro a secção da conduta e depois utiliza-se a expressão (1.7) para


calcular a velocidade.

π × 0, 22
A= = 3,14 cm2
4
100
v= = 5,3 m/s
6 × 3,14

1.2. TRABALHO, POTÊNCIA E RENDIMENTOS

As considerações anteriores permitem recordar a forma de transmitir a energia nos


circuitos hidráulicos – o fluido impulsionado pela bomba chega através de uma conduta até ao
cilindro hidráulico, onde ocupa um volume cada vez maior, provocando o deslocamento do

7
Transmissão Hidrostática da Energia

êmbolo. Se do lado exterior se aplicar sobre o êmbolo um esforço resistente (um peso ou uma
força qualquer), origina-se uma maior pressão no fluido, responsável por empurrar o êmbolo e
vencer a resistência.

Ao deslocar uma força, o cilindro hidráulico realiza trabalho mecânico. Chamando F à


força desenvolvida e l ao deslocamento percorrido, o trabalho é por definição:

W = F × l [kg.m] (1.10)

Exemplo 1.4: Calcular o trabalho desenvolvido por um êmbolo vertical que eleva um peso P
= 700 kg a uma altura l = 800 mm.

Utilizando a expressão (1.10), obtém-se W = 700 × 0,8 = 560 kg.

É evidente que o deslocamento de um êmbolo pode efectuar-se com maior ou menor


rapidez. Um êmbolo que demora 2 minutos a percorrer 3000 mm é mais rápido relativamente
a outro que faz igual deslocamento em 6 minutos. Por outras palavras, a velocidade do
primeiro êmbolo é superior à do segundo. Se o espaço percorrido for l e o tempo t, a
velocidade expressa-se por:
l
v= [m/s] (1.11)
t

Exemplo 1.5: Calcular a velocidade v de um êmbolo que percorre um espaço l = 3000 mm em


2 minutos.

3
Aplicando a expressão (1.11) obtém-se v = = 0,025 m/s.
2 × 60

Se o tempo gasto fosse o triplo, isto é, 6 minutos, a velocidade seria a terça parte da

3
anterior, ou seja, v = = 0,0083 m/s.
6 × 60

O trabalho depende somente da força e do espaço percorrido, mas não do tempo gasto
(velocidade do êmbolo). Tanto o cilindro hidráulico rápido bem como o lento considerados no
Exemplo 1.5 proporcionam a mesma força para uma igual distância percorrida, executando

8
Transmissão Hidrostática da Energia

portanto o mesmo trabalho. A única diferença está no tempo gasto, isto é, a potência do
primeiro cilindro hidráulico (mais rápido) é superior à do segundo cilindro hidráulico (mais
lento), pois por definição a potência desenvolvida é:

W
N= [kW] (1.12)
t

Até aqui introduziram-se as definições de trabalho e potência recorrendo a conceitos


puramente mecânicos.

Entre a potência mecânica desenvolvida pelo cilindro hidráulico e a potência


hidráulica fornecida pela bomba hidráulica que o alimenta não há diferença fundamental, pois
a primeira (potência mecânica) é originária da segunda (potência hidráulica). Basta observar
que o processo que se desenvolve na bomba hidráulica é simétrico ao que tem lugar no
cilindro hidráulico. Na bomba hidráulica, o óleo movimenta-se sendo capaz de vencer uma
pressão por intermédio de diversos êmbolos accionados à custa da potência mecânica
introduzida por um motor qualquer (ex.: motor eléctrico). No cilindro hidráulico, verifica-se
um fenómeno bastante semelhante, mas em sentido inverso, pois o óleo cede a sua potência
hidráulica ao êmbolo, o qual a converte em potência mecânica.

É no grupo motor-bomba hidráulica que tem lugar a transformação da potência


mecânica cedida por um motor (eléctrico, de combustão, etc.), numa potência hidráulica, que
se manifesta em forma de pressão [kg/cm2] e caudal [l/min]. Essa potência hidráulica
exprime-se através de:

p×Q
Ni = [CV] (1.13)
450

p×Q
Ni = [kW] (1.14)
612

Exemplo 1.6: Calcular a potência hidráulica de uma bomba hidráulica sabendo que a leitura
de um manómetro indica o valor p = 75 kg/cm2 e que um sensor de caudal indica o valor Q =
150 l/min.

A potência hidráulica será calculada através da expressão (1.13):

9
Transmissão Hidrostática da Energia

75 × 150
Ni = = 25 CV.
450

Um simples raciocínio baseado no Exemplo 1.6 conduz à definição do conceito de


rendimento. Se à bomba hidráulica considerada no Exemplo 1.6 se acoplasse um motor
(eléctrico, de combustão, etc.) capaz de fornecer uma potência máxima de 25 CV, verificar-
se-ia que essa bomba hidráulica não poderia desenvolver os valores de pressão e caudal
indicados, visto que no interior da bomba têm lugar perdas de potência que devem ser
compensadas pelo motor (eléctrico, de combustão, etc.). É precisamente por isto que a
potência mecânica do motor (eléctrico, de combustão, etc.) deve ser superior à potência
hidráulica da bomba hidráulica.

A Figura 1.9 esquematiza o que acabou de se afirmar.

Figura 1.9 Potências intervenientes numa bomba hidráulica

À esquerda da bomba hidráulica entra a potência mecânica1 Nm, quer dizer, a que é
proveniente do motor. A seta da direita indica a potência hidráulica Ni fornecida pela bomba
hidráulica e utilizável na transmissão hidrostática e a seta dirigida para baixo indica a potência
Np perdida no interior da bomba hidráulica. A potência mecânica deve ser maior que cada
uma das outras duas, sendo precisamente igual à soma de ambas, isto é:

Nm = Ni + Np (1.15)

O rendimento total de uma bomba hidráulica é por definição, o quociente entre a


potência hidráulica à saída e a potência mecânica à entrada da mesma, ou seja:

Ni Ni
ηt = = (1.16)
N m Ni + N p

Esse rendimento será tanto menor quanto maior for a potência perdida.

1
Também poderá designar-se por potência teórica, Nt.

10
Transmissão Hidrostática da Energia

Exemplo 1.7: Calcular o rendimento total de uma bomba hidráulica, supondo que a potência
hidráulica é Ni = 36 CV e que a potência perdida é Np = 4 CV.

Aplicando a expressão (1.16), obtém-se:

36
ηt = = 0,9 = 90%
36 + 4

Exemplo 1.8: Uma bomba hidráulica fornece um caudal Q = 15 l/min a uma pressão de 150
kg/cm2. O seu rendimento total é ηt = 85%. Calcular a potência mecânica necessária para o
seu accionamento.

Começa-se por calcular a potência hidráulica através da expressão (1.13):

150 × 15
Ni = = 5 CV
450

Recorrendo agora à expressão (1.16), obtém-se:

Ni 5
Nm = = = 5,88 CV
ηt 0,85

Finalmente aplicando a expressão (1.15), obtém-se:

Np = Nm – Ni = 5,88 – 5 = 0,88 CV

As causas da perda de potência no interior da bomba hidráulica podem agrupar-se em


duas categorias distintas:
a) perdas volumétricas (caudal perdido);
b) perdas mecânicas e de pressão (pressão perdida).

As primeiras manifestam-se em forma de fugas de óleo para o exterior e do retorno de


óleo à pressão desde a conduta de impulsão até à de aspiração, no interior da bomba.
As segundas devem-se essencialmente a perdas mecânicas originadas pelo atrito entre
os órgãos mecânicos da bomba hidráulica e a perdas de pressão causadas pelo atrito do óleo
contra as paredes ou entre as partículas que o constituem.

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Transmissão Hidrostática da Energia

Pela mesma razão que conduziu à introdução do conceito de rendimento total em vez
das perdas totais, é conveniente substituir as perdas parciais acabadas de descrever, pelos seus
rendimentos correspondentes. É de realçar que os conceitos de rendimento e perda têm um
significado inverso, isto é, rendimentos elevados implicam perdas pequenas e vice-versa.

Para introduzir o conceito de rendimento volumétrico, recorre-se ao cálculo do caudal


fornecido por uma bomba hidráulica com certas características geométricas e uma
determinada velocidade de rotação. Esse caudal é evidentemente um valor teórico, que não
toma em consideração o caudal perdido. Numa bomba hidráulica “real” comprova-se
experimentalmente que o valor do caudal realmente fornecido é inferior ao obtido por cálculo.
Indicando com os símbolos Qt, Qi e Qp, os caudais teórico, efectivo (hidráulico) e
perdido, pode escrever-se:
Qt = Qi + Qp (1.17)

O rendimento volumétrico, ηv, define-se à semelhança do rendimento total, como a


relação entre Qi e Qt, ou seja:
Qi Qi
ηv = = (1.18)
Qt Qi + Q p

Exemplo 1.9: Supondo que uma bomba hidráulica sofre uma perda de caudal de 0,204 l/min,
calcular o caudal efectivo (hidráulico) e o rendimento volumétrico, sabendo que o caudal
teórico é Qt = 4,07 l/min.

Começa por calcular-se o caudal efectivo (hidráulico) através da expressão (1.17):

Qi = Qt – Qp = 4,07 – 0,204 = 3,866 l/min

Recorrendo agora à expressão (1.18), obtém-se

3,866
ηv = = 0,95 = 95 %
4,07

O rendimento mecânico e de pressão, ηm, representa a relação entre a pressão efectiva


disponível à saída da bomba hidráulica e a pressão que teoricamente deveria existir, de acordo
com a potência de accionamento que a bomba hidráulica recebe. Esta definição pressupõe

12
Transmissão Hidrostática da Energia

também a existência de uma certa pressão perdida pp que se relaciona com a pressão teórica pt
e com a hidráulica pi pela expressão:

pt = pi + pp (1.19)

Seguindo o mesmo raciocínio, o rendimento mecânico será neste caso:

pi pi
ηm = = (1.20)
pt pi + p p

Finalmente, a expressão que relaciona entre si os rendimentos total, volumétrico e


mecânico é dada por:
ηt = η v × η m (1.21)

A expressão (1.21) demostra que o rendimento total é sempre inferior que o


rendimento volumétrico e mecânico considerados isoladamente.

Exemplo 1.10: Determinar o rendimento total de uma bomba hidráulica com ηm = 87% e ηv =
92%.

Basta aplicar a expressão (1.21) para se obter o valor de ηt:

ηt = 0,92 × 0,87 = 0,8 = 80 %

Até agora as considerações sobre perdas e rendimentos têm incidido apenas no caso de
bombas hidráulicas, mas é perfeitamente natural associar também perdas e rendimentos ao
funcionamento do receptor hidráulico (cilindro hidráulico ou motor hidráulico), onde tem
lugar a reconversão da energia e da potência hidráulica em energia e potência mecânica.

A Figura 1.10 esquematiza as potências que intervêm num receptor hidráulico. Note-
se que a seta da esquerda indica agora a potência hidráulica fornecida ao dito receptor
hidráulico (potência vinda da bomba hidráulica), a seta da direita representa a potência
mecânica restituída (utilizável) e a seta dirigida para baixo representa a potência perdida.

13
Transmissão Hidrostática da Energia

Figura 1.10 Potências intervenientes num receptor hidráulico

Dada a reciprocidade do comportamento de um receptor hidráulico relativamente a


uma bomba hidráulica, as expressões que para esse mesmo receptor relacionam entre si
potências, rendimentos, caudais e pressões são:

Para a potência mecânica:

Nm = Ni – Np (1.22)

Para o caudal absorvido:

Qt = Qi – Qp (1.23)

Para o rendimento volumétrico:

Qt Qt
ηv = = (1.24)
Qi Qt + Q p

Para o rendimento mecânico:

pt pt
ηm = = (1.25)
pi pt + p p

Para o rendimento total:


Nm Nm
ηt = = (1.26)
Ni Nm + N p

ηt = η v × η m (1.27)

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Transmissão Hidrostática da Energia

Reunindo as Figuras 1.9 e 1.10 e atribuindo o índice 1 a todas as grandezas relativas à


bomba hidráulica (unidade primária) e o índice 2 a todas aquelas relativas ao receptor
hidráulico (unidade secundária), obtém-se a Figura 1.11.

Figura 1.11 Transmissão hidráulica completa

Note-se que Ni1 e Ni2 não têm obrigatoriamente de coincidir, visto que entre as
unidades primária e secundária ocorre uma perda de energia nas condutas e nas uniões. Os
valores de Ni1 e Ni2 apenas poderão ser iguais em transmissões compactas ou monobloco,
onde a bomba hidráulica e o receptor hidráulico se encontram montados num mesmo corpo ou
a uma distância muito curta.

Ao analisar o rendimento total de uma transmissão apenas se consideram as perdas de


potência que ocorrem nas unidades primária e secundária. O rendimento total de uma
transmissão define-se pela expressão:

N m2
ηt = (1.28)
N m1

Se ηt1 e ηt2 são os rendimentos totais de cada unidade (primária e secundária),


N i1 N
definidos pelas expressões η t 1 = , η t 2 = m 2 e recordando a hipótese simplificativa Ni1 =
N m1 N i2
Ni2, conclui-se que:
N i1 N m 2 N m 2
ηt 1 × ηt 2 = × = = ηt (1.29)
N m1 N i 2 N m1

Conclui-se que desprezando as perdas de energia nas ligações hidráulicas, o


rendimento total de uma transmissão hidráulica equivale ao produto dos rendimentos totais
das unidades primária e secundária.

15
2. RESISTÊNCIAS HIDRÁULICAS

Todo o circuito percorrido por um fluido qualquer opõe-se à circulação do mesmo


através de resistências localizadas em pontos bem determinados do circuito e resistências
distribuídas a todo o circuito.

No caso particular dos circuitos hidráulicos, estas resistências originam perdas


correspondentes (localizadas e distribuídas, respectivamente), traduzidas por quedas de
pressão (perdas de carga).

2.1. RESISTÊNCIAS HIDRÁULICAS DISTRIBUÍDAS (CONTÍNUAS)

Para introduzir este problema, de importância fundamental nas transmissões


hidrostáticas, recorre-se a uma analogia electro-hidráulica.

Considere-se um circuito hidráulico simples, representado na Figura 2.1a, constituído


por uma bomba hidráulica e uma conduta que descarrega para um tanque à pressão
atmosférica. Substitua-se a bomba hidráulica por um gerador de corrente contínua e a conduta
por um condutor eléctrico com um certo comprimento, secção e resistência, ligado à Terra, tal
como ilustra a Figura 2.1b.

Figura 2.1a Circuito com resistências Figura 2.1b Circuito com resistências
hidráulicas distribuídas (contínuas) eléctricas distribuídas (contínuas)

Se à tensão V se fizer corresponder a pressão p, à intensidade de corrente I o caudal Q


e à resistência R uma resistência hidráulica Rh, a experiência demonstra que a relação entre as
Resistências Hidráulicas

três grandezas eléctricas, expressa pela lei de Ohm será válida também para as grandezas
hidráulicas, isto é:
V=R×I p = Q × Rh (2.1)

Também se demonstra por via experimental que o valor de Rh é directamente


proporcional ao comprimento da conduta e inversamente proporcional a uma determinada
potência do seu diâmetro. Este facto tem também uma analogia com a expressão da
resistência eléctrica de um condutor em função do comprimento e secção do mesmo. No
entanto, esta segunda analogia não é tão imediata como a primeira, visto que, de um ponto de
vista quantitativo, a expressão de Rh varia consoante o regime de circulação do fluido seja
laminar ou turbulento e por isso depende não só das características geométricas da conduta,
mas também da viscosidade do liquido, ou seja, da sua temperatura.

Em vez de admitir certas hipóteses restritivas, capazes de gerar uma certa


indeterminação, prefere-se abandonar o cálculo analítico das resistências hidráulicas
distribuídas e adoptar em seu lugar critérios empíricos mais amplos. Um desses critérios,
aplicável a circuitos hidráulicos cujo comprimento total das condutas é inferior a uma dezena
de metros, com valores de caudal compreendidos entre 20 e 200 l/min, supondo ainda que a
temperatura (e por conseguinte a viscosidade do óleo) sofre apenas variações moderadas,
consiste em fixar, para a velocidade do óleo nas condutas, os valores incluídos na Tabela 2.1,
de forma a manter o escoamento do óleo num regime laminar.

Tabela 2.11
Conduta de impulsão
• Pressão [kg/cm2] 20 50 100 150 200 300
• Velocidade do óleo [m/s] 3 4 4,5 5 5,5 6
Conduta de retorno
• Velocidade do óleo [m/s] 2..........3
Conduta de aspiração
• Velocidade do óleo [m/s] 1.........1,5

1
O uso da Tabela 2.1 para caudais inferiores a 20 l/min conduz a circuitos hidráulicos subdimensionados (perdas
de carga excessivas). No caso de caudais superiores a 200 l/min conduz ao sobredimensionamento do diâmetro
das tubagens e ao agravamento económico do circuito hidráulico.

18
Resistências Hidráulicas

A adopção destes valores significa na prática, dimensionar o circuito hidráulico


conciliando as exigências económicas que impõem o uso de condutas de pequeno diâmetro
com as de carácter funcional que requerem um baixo valor das resistências hidráulicas.

Analisando pormenorizadamente a Figura 2.1a, verifica-se que a bomba hidráulica não


executa trabalho útil e não obstante, desenvolve uma potência hidráulica cujo valor é dado
pela expressão (1.13).

Se a bomba hidráulica é do tipo volumétrico, o caudal Q é constante, não dependendo


da resistência hidráulica Rh. Então é a pressão na conduta de impulsão da bomba hidráulica
que varia, de forma que o caudal Q pré-estabelecido possa circular na referida conduta que lhe
opõe a resistência Rh. Na extremidade livre da conduta a pressão é nula, de forma que se pode
dizer que a passagem do caudal Q consegue-se à custa de uma queda de pressão, ou por outras
palavras, de uma perda de carga.

No caso da Figura 2.1a, a perda de carga é p – 0 = p. No caso geral, é dada pela


diferença algébrica de pressões entre dois pontos considerados, designando-se por ∆p.

Figura 2.2 Circuito com resistências hidráulicas


distribuídas e localizadas

Observando a Figura 2.2, verifica-se que o orifício de impulsão da bomba hidráulica


está submetido a uma pressão p resultante da soma da perda de carga distribuída ∆p devida à
conduta e da pressão p1 que o motor hidráulico converte num binário utilizável:

p = ∆p + p1 [kg/cm2] (2.2)

Multiplicando ambos os membros da expressão (2.2) por Q/450 (vd. (1.13)), obtém-se
uma relação entre potências:
N = ∆N + N1 [CV] (2.3)

19
Resistências Hidráulicas

Da expressão (2.3), conclui-se que da potência disponibilizada pela bomba hidráulica


apenas se utiliza no motor hidráulico a parte N1, pois a parte ∆N perde-se porque se converte
em calor.
O que há a reter é o facto de à semelhança do ocorrido nos circuitos eléctricos, parte
da potência disponível se perder sempre por efeito das resistências distribuídas. Como é
natural, deve procurar diminuir-se esta perda, de modo que a sua influência relativamente à
potência instalada seja razoável.

As resistências hidráulicas distribuídas que um caudal de óleo encontra ao percorrer


um circuito hidráulico (constituído por diferentes ramais de condutas) originam uma perda de
carga total expressa por:

50 × γ × l × v 2
∆p = λ× [kg/cm2] (2.4)
g×d

Onde os símbolos têm os seguintes significados:


∆p = perda de carga [kg/cm2];
λ = coeficiente de resistência;
γ = peso específico do óleo [kg/dm3]1;
d = diâmetro interno de cada troço de conduta [mm];
l = comprimento de cada troço de conduta [m];
v = velocidade média do óleo em cada troço de conduta [m/s];
g = aceleração da gravidade [m/s2].

O coeficiente de resistência λ e consequentemente o valor da perda de carga


determina-se segundo o tipo de regime – laminar ou turbulento – que caracteriza a circulação
do óleo nos diferentes ramais das condutas. As Figuras 2.3a e 2.3b esquematizam a
distribuição de velocidade nos dois tipos de regime.

Figura 2.3a Regime laminar Figura 2.3b Regime turbulento

1
Ao longo do texto, em todas as grandezas onde apareça kg, deve ler-se kgf, excepto na massa e massa
volúmica.

20
Resistências Hidráulicas

O regime laminar, próprio de baixas velocidades em condutas estreitas e lisas,


caracteriza-se pelo movimento rectilíneo e paralelo das linhas de fluxo. Na parede da conduta,
a velocidade é nula, aumentando progressivamente à medida que se aproxima da linha de
eixo, onde é máxima. Por questões de simplificação considera-se uma velocidade média, que
é a velocidade que suposta constante para todas linhas de fluxo daria um caudal igual ao
verdadeiro (vd. (1.6)).

Quando se ultrapassa determinado valor limite da velocidade média do fluxo


(velocidade crítica), que depende das características do fluido e do diâmetro da conduta, o
movimento rectilíneo e ordenado anteriormente descrito transforma-se num movimento
desordenado e turbulento, no qual as diferentes partículas estão animadas de velocidades que
variam com o tempo e secção do tubo. A este regime chama-se regime turbulento. Em termos
práticos, convém considerar também uma velocidade média em vez das velocidades
instantâneas e locais.

Para determinar o tipo de regime existente numa dada conduta e consequentemente o


valor do coeficiente de resistência λ correspondente a uma determinada velocidade, calcula-se
o número de Reynolds, Re. Para condutas de secção circular a expressão é:

γ ×v×d
Re = (2.5)
µ×g

Onde os símbolos têm os seguintes significados:


Re = número de Reynolds;
v = velocidade média do óleo em cada troço de conduta [m/s];
d = diâmetro interno de cada troço de conduta [mm];
γ = peso específico do óleo [kg/dm3];
µ = viscosidade dinâmica (absoluta) [kg.s/m2];
g = aceleração da gravidade [m/s2].

O regime é do tipo laminar se Re < Recr, sendo do tipo turbulento se Re > Recr. Os
valores de Recr normalmente utilizados encontram-se na Tabela 2.2, variando de acordo com
os diversos tipos de secção.

21
Resistências Hidráulicas

Tabela 2.2
Tipo de secção Recr
Circular (parede lisa) 2000 a 3000
Coroa circular concêntrica (paredes lisas) 1100
Coroa circular excêntrica (paredes lisas) 1000
Coroa circular concêntrica (paredes rugosas) 700
Coroa circular excêntrica (paredes rugosas) 400

Em regime laminar e isotérmico, a relação entre Re e λ é dada pela expressão:

64
λ= (2.6)
Re

Em regime turbulento e para condutas de parede lisa, a relação entre Re e λ é dada


pela expressão:
λ = 0,3164 × Re-1/4 (2.7)

O gráfico da Figura 2.4 representa as expressões (2.6) e (2.7).

Figura 2.4 Relação entre Re e λ

22
Resistências Hidráulicas

Se bem que nos circuitos hidráulicos raramente se atinjam valores de Re tão elevados
que façam intervir a influência da rugosidade das paredes das condutas, convém esclarecer
que acima de Recr (portanto em regime turbulento) essa influência manifesta-se de maneira
crescente com o aumento de Re. O fenómeno encontra-se expresso na Figura 2.4 pela
presença na zona de regime turbulento de várias curvas relativas a diferentes valores médios
de rugosidade absoluta, ε.
A titulo indicativo, a Tabela 2.3 resume valores médios de rugosidade absoluta de
diversos materiais.
Tabela 2.3
Rugosidade absoluta
Materiais ε [mm]
Cobre 0,0015
Aço 0,04
Plástico 0,03

De forma a avaliar melhor a influência que cada uma das variáveis tem sobre a perda
de carga, é conveniente associar a expressão (2.4) com as expressões (2.6) e (2.7).

Da associação entre as expressões (2.4) e (2.6) obtém-se:

µ ×l ×v
∆p = 3200 × [kg/cm2] (2.8)
2
d

A expressão (2.8) é válida para regime laminar e demonstra que a perda de carga ∆p é
directamente proporcional à viscosidade dinâmica (absoluta), ao comprimento, à velocidade e
inversamente proporcional ao quadrado do diâmetro.

Da associação entre as expressões (2.4) e (2.7) obtém-se:

3/ 4
γ µ1/ 4 × l × v7 / 4
∆p = 15,82 × × [kg/cm2] (2.9)
g 5/ 4
d

Exemplo 2.1: Comparar a influência do diâmetro, mantendo iguais as outras condições.


d1 = 5 mm d2 = 70 mm
l=1m l =1 m
v = 6 m/s v = 6 m/s

23
Resistências Hidráulicas

µ = 0,003 kg.s/m2 (50ºC) µ = 0,003 kg.s/m2 (50ºC)


γ = 0,9 kg/dm3 γ = 0,9 kg/dm3

Da expressão (2.5) obtém-se um valor de Re para cada caso.

0,9 × 6 × 5 0,9 × 6 × 70
Re1 = = 918 Re2 = = 12840
0,003 × 9,81 0,003 × 9,81

Os cálculos indicam no primeiro caso um regime laminar e no segundo um regime


turbulento. Em função destes valores, do gráfico da Figura 2.4 retira-se respectivamente λ =
0,070 e λ = 0,032. Usando a expressão (2.4), obtém-se:

0,07 × 50 × 0,9 × 1 × 6 2
∆p1 = = 2,31 kg/cm2
9,81 × 5

0,032 × 50 × 0,9 × 1 × 6 2
∆p 2 = = 0,0756 kg/cm2
9,81 × 70

Observa-se que a perda de carga no regime laminar é cerca de 30 vezes superior à


correspondente ao regime turbulento. Do exemplo seguinte retirar-se-á uma nova conclusão.

Exemplo 2.2: Comparar a influência da viscosidade dinâmica (absoluta), mantendo iguais as


outras condições.
d1 = 5 mm d2 = 70 mm
l=1m l =1 m
v = 6 m/s v = 6 m/s
µ = 0,012 kg.s/m2 (30ºC) µ = 0,012 kg.s/m2 (30ºC)
γ = 0,9 kg/dm3 γ = 0,9 kg/dm3

Supõe-se que óleo empregue é o mesmo do Exemplo 2.1, mas agora a temperatura de
funcionamento é de 30ºC, em vez dos 50ºC anteriores. O cálculo de Re dá:

0,9 × 6 × 5 0,9 × 6 × 70
Re1 = = 230 Re2 = = 3211
0,012 × 9,81 0,012 × 9,81

24
Resistências Hidráulicas

Os cálculos indicam no primeiro caso um regime laminar e no segundo um regime


turbulento. Em função destes valores, do gráfico da Figura 2.4 retira-se respectivamente λ =
0,3 e λ = 0,038.

Aplicando a expressão (2.4), obtém-se:

0,3 × 50 × 0,9 × 1 × 6 2
∆p1 = = 9,9 kg/cm2
9,81 × 5

0,038 × 50 × 0,9 × 1 × 6 2
∆p 2 = = 0,0896 kg/cm2
9,81 × 70

Comparando uma vez mais os resultados, verifica-se que as perdas de carga em regime
laminar são aproximadamente 100 vezes superiores comparativamente ás do regime
turbulento.

Comparando ainda nos dois Exemplos as perdas de carga em regime laminar por um
lado e em regime turbulento por outro, conclui-se que a sensibilidade do regime laminar ás
variações da viscosidade dinâmica (absoluta) é maior que a do regime turbulento.
Visto que as variações de temperatura indicadas no Exemplo 2.1 são comuns nos
circuitos hidráulicos, dos resultados obtidos conclui-se que a estabilidade de funcionamento
(expressa por valores quase constantes de ∆p) é quase perfeita no regime turbulento.

O Exemplo 2.2 é bastante útil para demonstrar quão desaconselhável é o uso


indiscriminado do procedimento de cálculo simplificado baseado na Tabela 2.2, que fixa as
velocidades independentemente do caudal. Conhecidos os valores das velocidades (6 m/s em
ambos os casos) e dos diâmetros (5 e 70 mm respectivamente), obtêm-se respectivamente
caudais de 7,1 e 1385 l/min. O motivo por que no primeiro caso o valor de ∆p é elevado e no
segundo caso é desprezável, advém do facto de se ter pretendido estabelecer a mesma
velocidade para caudais com valores tão diferentes entre si1.

1
As restrições impostas ao uso da Tabela 2.2, já foram anteriormente referidas.

25
Resistências Hidráulicas

2.2. RESISTÊNCIAS HIDRÁULICAS LOCALIZADAS

O óleo ao circular pelo circuito hidráulico encontra também resistências hidráulicas


localizadas em pontos bem determinados, os quais originam novas perdas de carga, ou seja,
quedas de pressão e em consequência, perdas de energia. Os pontos onde têm lugar essas
resistências hidráulicas localizadas são:
a) curvas;
b) junções de condutas;
c) confluências ou divergências de caudais parciais;
d) variações de diâmetro;
e) estreitamentos locais na secção;
f) estrangulamentos.

As curvas constituem a primeira fonte de perda de carga localizada e na execução


prática dos circuitos hidráulicos devem-se evitar curvas de raio excessivamente pequeno,
passíveis de aumentar a resistência hidráulica localizada. A Tabela 2.4 especifíca os raios de
curvatura mínimos rB em função do diâmetro exterior do tubo.

Tabela 2.4
Raio de curvatura Diâmetro exterior
rB [mm] de [mm]
4 10
6 16
8 20
10 25
12 32
14 40
15 40
16 40
18 50
20 50
22 63
25 68
28 80
30 80
35 100
38 100
40 110

26
Resistências Hidráulicas

De um modo geral, a resistência localizada numa curva produz uma perda de carga
dada por:
C ×γ × v2
∆p = [kg/cm2] (2.10)
20 × g

Onde C representa o coeficiente de resistência, função da relação entre o raio de


curvatura rB e o diâmetro interior do tubo di para cada ângulo de curvatura β. A Figura 2.5
representa graficamente a relação rB/di.

Figura 2.5 Coeficiente de resistência C


em função de rB/di e de β1

Exemplo 2.3: Calcular a perda de carga de uma curva com β = 120º e rB/di = 6, para uma
velocidade média v = 6 m/s. O peso específico do óleo é γ = 0,9 kg/dm3.

Pelo gráfico da Figura 2.5 verifica-se que C = 0,2, logo:

0,2 × 0,9 × 6 2
∆p = = 0,033 kg/cm2
20 × 9,81

Para ângulos de curvatura β quaisquer, a expressão (2.10) terá a seguinte forma:

β γ × v2
∆p = × C 90 º [kg/cm2] (2.11)
90º 20 × g

Onde C90º é o valor do coeficiente de resistência dado pela curva de β = 90º no gráfico
da Figura 2.5.

1
À curva a corresponde β = 30º, à b β = 45º, à c β = 90º e à d β = 120º.

27
Resistências Hidráulicas

As considerações feitas até aqui dizem apenas respeito à porção do circuito hidráulico
que trabalha sob pressão, ou seja, a compreendida entre o orifício de impulsão da bomba
hidráulica e o ponto de descarga no tanque do óleo de retorno. Assim, excluiu-se uma parte do
circuito hidráulico, dimensionalmente pequena, mas de vital importância para o bom
funcionamento da bomba hidráulica e por conseguinte de todo o circuito hidráulico.
A porção do circuito hidráulico em questão é aquela que trabalha na aspiração e que,
excepto no caso particular do depósito se manter a baixa pressão, funciona abaixo da pressão
atmosférica, ou por outras palavras, funciona em depressão.

Desta forma, é necessário avaliar também as perdas de carga na aspiração, já que


pretendendo evitar-se fenómenos nocivos tais como caudal insuficiente, vibrações, ruído,
formação de espuma e cavitação, estas deverão ser inferiores a 1 kg/cm2 (pressão absoluta).

A depressão absoluta na conduta de aspiração de uma bomba calcula-se através da


expressão:
γ ×h
pu = ∆p D + ∆p L ± [kg/cm2] (2.12)
10

Onde os símbolos têm o seguinte significados:


∆pD = perdas de carga distribuídas na conduta de aspiração (se existirem) [kg/cm2];
∆pL = perdas de carga localizadas nos cotovelos e curvas ligadas à conduta de aspiração
[kg/cm2];
γ = peso específico do óleo [kg/dm3];
h = altura [m].

γ ×h
O termo representa a cota devida à posição do nível de óleo no tanque (sinal +
10
quando o nível de óleo estiver abaixo da bomba, sinal – no caso oposto).

Exemplo 2.4: Calcular a depressão absoluta na conduta de aspiração de uma bomba


hidráulica com caudal Q = 16 l/min. O óleo tem uma viscosidade dinâmica (absoluta) µ =
0,0016 kg.s/m2 e um peso especifico γ = 0,9 kg/dm3. O diâmetro interior da conduta é de 16
mm e o comprimento é de 4 m. Existem duas uniões que introduzem uma perda de carga de
0,05 kg/cm2 cada uma. O nível do óleo encontra-se 0,6 m abaixo da bomba hidráulica.

28
Resistências Hidráulicas

Começa-se por calcular a velocidade existente no interior da conduta através de.

Q 4 × 16
v= = = 1,33 m/s
6 × S 6 × π × 16 2

Calcula-se o nº de Reynols para saber o tipo de regime:

0,9 × 1,33 × 0,016


Re = = 1220 regime laminar, logo recorre-se à expressão (2.8):
0,016 × 9,81

0,0016 × 4 × 1,33
∆p D = 3200 × = 0,106 kg/cm2
16 2

Usando agora a expressão (2.12) calcula-se a depressão absoluta pretendida:

0,9 × 0,6
pu = 0,106 + 2 × 0,05 + = 0,26 kg/cm2
10

A pressão absoluta na conduta de aspiração é de 1 – 0,26 = 0,74 kg/cm2.

2.3. PERDAS DE CAUDAL

O funcionamento de muitos elementos hidráulicos, tais como bombas e motores


hidráulicos e válvulas pressupõem uma estanquecidade, obviamente imperfeita, devido à
existência de folgas (por mais pequenas que sejam) no acoplamento entre todos os seus
constituintes.

Por acção da diferença de pressões, produzem-se fugas de óleo através das folgas, a
partir das zonas de pressão mais elevada para zonas de pressão inferior, que interessa
determinar com a máxima exactidão. Constatou-se que as perdas de caudal (fugas) através das
folgas cuja altura seja de poucas milésimas de milímetros podem calcular-se recorrendo ás
expressões do movimento laminar. Fazendo uma analogia entre uma folga e um canal de
secção rectangular de altura h, espessura b e comprimento l, em que a distribuição da
velocidade corresponde ao regime laminar (vd. Figura 2.3a), admite-se para a velocidade
média a expressão:

h 2 × ∆p
v= [m/s] (2.13)
12 × µ × l

29
Resistências Hidráulicas

Onde os símbolos têm os seguintes significados:


v = velocidade média [m/s];
h = altura [mm];
∆p = diferença de pressão [kg/cm2];
µ = viscosidade dinâmica (absoluta) [kg.s/m2];
l = comprimento [mm].

Como se considera uma secção rectangular, S = h × b e o caudal de fugas (perdido) QL


é dado por:

b × h3 × ∆p
QL = v × S = [cm3/s] (2.14)
12 × µ × l

Onde os símbolos têm os seguintes significados:


QL = caudal de fugas [cm3/s]1;
v = velocidade média [m/s];
S = secção [mm2];
b = espessura [mm];
h = altura [mm];
∆p = diferença de pressão [kg/cm2];
µ = viscosidade dinâmica (absoluta) [kg.s/m2];
l = comprimento [mm].

Para folgas anelares concêntricas cujo diâmetro médio é dm, a expressão (2.14) sofre
uma alteração. Assim, a espessura b é substituída pelo perímetro π × dm e h equivale à semi-
diferença dos diâmetros:

d × π × h3 × ∆p
QL = m [cm3/s] (2.15)
12 × µ × l

Para folgas excêntricas (caso típico do êmbolo alojado no corpo das válvulas) com
χ
excentricidade relativa e = (definida entre a distância dos centros e a altura da folga), a
h
expressão (2.15) transforma-se em:

1
As unidades do caudal de fugas QL vêm expressas em [cm3/s] para evitar os baixos valores numéricos que
surgiriam se as unidades fossem [l/min].

30
Resistências Hidráulicas

d × π × h3 × ∆p
Q´L = m × (1 + 1,5e2) [cm3/s] (2.16)
12 × µ × l

No caso limite, quando o êmbolo se apoia numa geratriz do corpo da válvula (χ = h e


e = 1), o caudal de fugas é dado por:

d × π × h3 × ∆p
QL = 2,5 × m [cm3/s] (2.17)
12 × µ × l

Ou seja 2,5 vezes superior ao produzido quando o êmbolo está centrado.

Em todos os casos anteriormente considerados, o caudal de fugas (perdido) é


proporcional à terceira potência da altura da folga, daí se concluindo que as folgas devem ser
as menores possíveis, mas também compatíveis com as exigências construtivas e funcionais.

Exemplo 2.5: Pretende-se calcular o caudal de fugas de uma válvula distribuidora de êmbolo
ligado entre duas câmaras cuja diferença de pressão é ∆p = 250 kg/cm2. A estanquecidade é
feita por intermédio do ajuste do êmbolo na sua sede cilíndrica sobre um comprimento l = 5
mm segundo o eixo. O diâmetro médio é dm = 22 mm e a altura da folga é h = 0,004 mm. A
viscosidade dinâmica (absoluta) é µ = 0,0023 kg.s/m2.

Admitindo a possibilidade do êmbolo estar centrado, usa-se a expressão (2.15):

22 × π × 0, 0043 × 250
QL = = 0, 008 cm3/s
1, 2 × 0, 0023 × 5

31
3. FLUIDOS HIDRÁULICOS

A escolha de um fluido hidráulico reveste-se de grande importância para o eficiente


funcionamento, duração, fiabilidade e rendimento de um circuito hidráulico. Qualquer fluido
hidráulico deverá ser capaz de desempenhar algumas funções primordiais, tais como
transmitir energia, lubrificar componentes móveis, vedar folgas existentes entre componentes
móveis e dissipar calor.
Normalmente usam-se fluídos hidráulicos minerais, mas em condições de trabalho
especiais (elevadas temperaturas com risco de incêndio) dever-se-á recorrer a fluidos
hidráulicos resistentes ao fogo. Estes últimos podem ainda subdividir-se em fluidos sintéticos
e de base aquosa.

3.1. PROPRIEDADES FÍSICAS E CARACTERÍSTICAS DOS FLUÍDOS HIDRÁULICOS

O peso específico é o peso de um metro cúbico de óleo a uma temperatura de


referência entre 15º a 20ºC1. É inversamente proporcional à temperatura, variando cerca de
0,01 kg/dm3 por cada 15ºC. Embora de uma forma mais ligeira, é directamente proporcional à
pressão, variando aproximadamente 0,01 kg/dm3 por cada 170 kg/cm2. Os óleos minerais
apresentam geralmente pesos específicos compreendidas entre 0,86 e 0,9 kg/dm3, sendo
portanto inferiores ao da água (aproximadamente 1 kg/dm3). É por este motivo que ao medir a
pressão pelo método da coluna de liquido, a altura da coluna de óleo é maior que a da água. O
peso especifico indica-se com a letra grega γ e mede-se em [kg/m3]2. No SI mede-se em
[N/m3].

A compressibilidade (expansibilidade) é uma propriedade típica do estado gasoso,


embora em menor grau seja também uma propriedade do estado líquido, sendo indicada por
um factor de compressibilidade β3, visível na Figura 3.1, que varia inversamente com a
pressão. Embora o óleo seja virtualmente incompressível, considera-se que um aumento de

1
Indica-se a temperatura de referência porque o peso especifico varia com a temperatura.
2
Nesta unidade, o kg refere-se a kgf, enquanto que na unidade SI da massa volúmica, o kg refere-se a kg massa.
3
Outros parâmetros que influenciam β são a temperatura, a viscosidade cinemática e a composição do óleo.
Fluidos Hidráulicos

pressão na ordem dos 100 kg/cm2 acarreta uma diminuição (não uniforme) no volume de óleo
de aproximadamente 0,7%. Isto quer dizer que, por exemplo, um volume de 100 litros de óleo
à temperatura de 20ºC e a uma pressão inicial, quando submetido a uma temperatura e uma
pressão de serviço de 100 kg/cm2, reduz-se a uns 99,3 litros, ou seja, diminui 0,7 litros.
Esta propriedade pode desprezar-se em circuitos hidráulicos de pequeno volume e
baixa pressão, mas não pode ser ignorada quando existam cilindros hidráulicos de grande
capacidade, tubagens de comprimento apreciável e grande diâmetro, associadas a elevadas
pressões de serviço, pois dela dependem a precisão de deslocamento e a rapidez de resposta
em processos de regulação e controle, a qual pode originar, por exemplo, um atraso na
disponibilização da pressão, que se repercutirá sobre a duração total do ciclo produtivo.

Figura 3.1 Factor de compressibilidade, β

A viscosidade é uma propriedade fundamental para reconhecer se um determinado


óleo é adequado para utilização em circuitos hidráulicos. Para melhorar a eficiência de um
circuito hidráulico convém proceder a um cálculo criterioso da viscosidade, devendo esta
depender dos limites máximos e mínimos, da gama de temperaturas e ainda do tipo de bomba
hidráulica (engrenagens, êmbolos, parafuso, palhetas). Podem considerar-se dois tipos de
viscosidade: cinemática e absoluta ou dinâmica.
A viscosidade absoluta (dinâmica) relaciona-se com a força a exercer (devido ao atrito
interno do óleo), para formar uma película de fluido hidrodinâmico com 1 cm de espessura
entre duas lâminas planas e paralelas de óleo com uma área de 1 cm2 que se movem em
sentidos opostos com uma velocidade de 1 cm/s, tal como a Figura 3.2 ilustra. Rege-se pela
lei de Newton, de acordo com a expressão (3.1):

dv
F =τ × A = µ× ×A (3.1)
dy

34
Fluidos Hidráulicos

Figura 3.2 Viscosidade dinâmica

A viscosidade dinâmica representa-se pela letra grega µ e mede-se em [kg.s/m2] ou


ainda em em centipoise [cP]. No SI mede-se em [kg/m.s].
A relação entre a viscosidade dinâmica e a massa volúmica, patente na expressão (3.2)
é por definição a viscosidade cinemática:
µ
ν= (3.2)
ρ

A viscosidade cinemática representa-se pela letra grega ν e mede-se no SI em [m2/s].


No entanto, a unidade internacionalmente reconhecida e definida pela International
Standardisation Organization (ISO) corresponde ao centistoke [cSt] ou [mm2/s].
A viscosidade cinemática determina-se pelo tempo (em segundos) que um volume
normalizado de óleo, a uma temperatura especifica, demora a passar de um limite superior
para um inferior através de um tubo capilar chamado viscosímetro (ex.: viscosímetro Engler,
ISO). Este procedimento é visível na Figura 3.3.

Figura 3.3 Viscosímetro ISO

35
Fluidos Hidráulicos

A indicação antiga em graus Engler [ºE], empregue na Europa continental caiu em


desuso, embora neste texto e por interesse didáctico se lhe faça referência. Quando se indica
uma viscosidade em graus Engler deve mencionar-se sempre o valor da temperatura
correspondente. Por exemplo, um óleo mineral pode ter uma viscosidade cinemática de 26ºE à
temperatura de referência de 20ºC, escrevendo-se então 26ºE/20ºC. Para uma temperatura de
referência de 50ºC, o mesmo óleo poderá ter uma viscosidade cinemática de 5,5ºE,
escrevendo-se 5,5ºE/50ºC. Estes exemplos demonstram que a viscosidade cinemática varia
bastante com a temperatura.
Diz-se que um óleo que desliza com dificuldade é muito viscoso (pouco fluido), o que
acarretará um aumento do atrito e por conseguinte da resistência ao fluxo de óleo, originando
maior consumo de energia, maiores perdas, temperaturas e perdas de carga. Pelo contrário,
um óleo que desliza com facilidade é pouco viscoso (muito fluido), causando um aumento de
fugas de óleo agravado com um aumento de temperatura desgaste excessivo dos componentes
móveis devido a uma deficiente lubrificação, redução do rendimento da bomba hidráulica.
A viscosidade cinemática é função da pressão e temperatura, já que diminui
rapidamente com o aumento da temperatura, mas aumenta com a pressão, embora este
fenómeno só se torne perceptível a partir dos 300 kg/cm2, logo com pouco interesse para as
aplicações práticas normais. Diferencia-se da viscosidade dinâmica, pois depende da massa
volúmica do óleo.

O índice de viscosidade permite definir o comportamento da viscosidade de um óleo


relativamente ás variações de temperatura. Quando frio, o óleo é relativamente espesso,
tornando-se mais fluído com o aumento da temperatura. Considerando que a temperatura do
óleo varia desde uma temperatura inicial (baixa) até à temperatura de serviço (mais elevada),
verifica-se que um óleo de baixa viscosidade comportar-se-á bem a frio, mas tornar-se-á cada
vez menos viscoso (muito fluido) quando a temperatura aumenta, perdendo com isso parte do
seu poder lubrificante, bem como as suas qualidades de estanquecidade, originando fugas
excessivas, uma consequente diminuição do rendimento volumétrico e ainda atrito, visto que
nestas condições o óleo não será capaz de manter uma película lubrificante suficientemente
espessa. Pelo contrário, um óleo com uma elevada viscosidade (pouco fluido) fluirá mal
quando se coloca o circuito hidráulico em funcionamento, devido a uma baixa temperatura
inicial responsável pelo exceder do limite máximo da viscosidade (já de si elevada). Este facto
acarretará elevadas perdas por atrito e perdas de carga em secções estranguladas e condutas de
aspiração de bombas, além de provocar cavitação. Este fenómeno é gerado pela formação de

36
Fluidos Hidráulicos

bolhas de vapor no óleo, resultantes da incapacidade inicial do óleo fluir com rapidez
suficiente. Quando as bolhas colapsam, a força de colapso retira material da superfície dos
elementos hidráulicos, danificando-os seriamente. Em contrapartida, o mesmo óleo
apresentará um bom comportamento à temperatura de serviço.
De acordo com o gráfico viscosidade/temperatura da Figura 3.4, quanto mais elevado
for o índice de viscosidade, menos inclinada será a linha do gráfico. Um óleo com índice de
viscosidade elevado é pouco sensível a variações da temperatura, sendo o mais aconselhado
para circuitos hidráulicos (caso do óleo B da Figura 3.4). Um óleo com baixo índice de
viscosidade denota forte influência da temperatura na variação da viscosidade do óleo, sendo
inadequado para aplicação em circuitos hidráulicos (caso do óleo A da Figura 3.4).

Figura 3.4 Gráfico viscosidade cinemática/temperatura

O índice de viscosidade pode melhorar-se recorrendo a aditivos denominados


“melhoradores do índice de viscosidade”. Estes mais não são que aditivos especiais capazes
de reduzir o efeito adelgaçante no óleo, quando este sofre aquecimento. Torna-se assim
possível elevar o índice de viscosidade até 300.

A gama de temperaturas de um óleo situa-se normalmente entre a temperatura de


arranque, definida como a mais baixa susceptível de ocorrer, mas diferente da temperatura
normal ambiente, até uma temperatura máxima ou de serviço, que se verifica em pleno
funcionamento do circuito hidráulico. Circuitos hidráulicos típicos funcionam cerca de 30ºC
acima da temperatura ambiente, enquanto que os instalados em equipamentos hidráulicos
móveis chegam a funcionar 60ºC acima. Longos períodos de interrupção no funcionamento

37
Fluidos Hidráulicos

do circuito hidráulico podem conduzir ao aquecimento excessivo do óleo. A gama de


temperaturas de um óleo é bastante importante para a correcta selecção do índice de
viscosidade.

O ponto de congelação define-se como a temperatura mínima à qual o óleo fluirá.


Geralmente corresponde à temperatura situada 3ºC acima daquela à qual o óleo deixa de fluir,
devendo ser normalmente inferior em 10ºC à temperatura de serviço mais baixa do óleo. Esta
temperatura relaciona-se com a viscosidade mais elevada atingida pelo óleo, à qual a bomba
hidráulica do circuito hidráulico ainda funciona. Para diminuir o ponto de congelação
utilizam-se aditivos depressores do ponto de congelação. Estes revestem os cristais de cera
presentes no óleo, impedindo-os de se unirem para constituírem uma estrutura rígida no seio
do fluído.

O ponto de inflamação corresponde à temperatura mais baixa à qual os vapores


libertados pelo óleo se inflamam, quando em contacto com uma fonte de ignição.

O ponto de combustão (temperatura de ebulição) destina-se a determinar a


temperatura mais baixa à qual a superfície do óleo se inflama espontaneamente, continuando a
arder. Mesmo que o óleo existente no circuito hidráulico aqueça devido ás resistências
hidráulicas, não existe o perigo de se evaporar ou entrar em ebulição.

O poder lubrificante, traduzido pela resistência da película de óleo é uma


característica essencial para a boa conservação dos componentes móveis, especialmente
quando trabalham sujeitos a atrito. Quando se rompe a película de óleo lubrificante, os
componentes móveis com movimento relativo entre si acabam por entrar em contacto,
provocando a gripagem dos mesmos. O constante aumento da pressão de trabalho e um maior
rigor nas tolerâncias tornam os equipamentos hidráulicos cada vez mais sensíveis a este
problema. Só o óleo permite a concepção de máquinas isentas de manutenção, de pequenas
dimensões, autolubrificadas, de baixo custo e velozes. Como exemplo desta última
característica refere-se o caso uma de bomba lubrificada a água que não supera as 150 a 200
rpm, enquanto uma moderna bomba lubrificada com óleo funciona normalmente entre as
1500 e 2000 rpm. Além disso e relativamente ao aspecto dimensional, os resultados obtidos
por uma bomba de óleo de pequenas dimensões só são alcançados por bombas de água de
grandes dimensões.

38
Fluidos Hidráulicos

A ausência de acções corrosivas, proporciona uma acção protectora bastante eficaz


contra a oxidação dos componentes mecânicos inseridos no circuito hidráulico cuja vida útil
se vê assim aumentada. Os aditivos anti-ferrugem protegem as superfícies metálicas ferrosas e
de aço, enquanto que os aditivos anti-corrosivos protegem as superfícies metálicas não-
ferrosas do ataque dos contaminantes ácidos existentes no óleo e de água que condensa,
neutralizando ácidos nocivos e/ou formando uma película protectora sobre as suas superfícies.

O poder anti-espuma permite ao óleo dificultar a formação de espuma, absorção de


gases e facilitar a separação do ar que eventualmente tenha penetrado no óleo, devido à
depressão excessiva nas condutas de aspiração, à falta de estanquecidade e a condutas com
secções estranguladas. Quando por qualquer um destes motivos, o ar ou outro gás se mistura
com o óleo, o ponto de saturação do óleo é ultrapassado e o ar dissolvido toma a forma de
bolhas de ar, produzindo-se espuma. Neste caso, o funcionamento de bombas hidráulicas e
válvulas é afectado pela cavitação acompanhada por picos de pressão (irregularidade no
funcionamento), ruídos e aumento da compressibilidade. A velocidade com que o óleo liberta
as bolhas de ar pode ser influenciada pelo tipo de óleo, pela temperatura e pela presença de
algum contaminante. Recorrendo a aditivos anti-espuma minimiza-se a quantidade de espuma
formada através da alteração das características da tensão superficial do óleo.

O poder anti-emulsão (demulsibilidade) é a característica que o óleo tem de se separar


rapidamente da água proveniente de condensação que eventualmente possa existir no circuito
hidráulico. Dessa forma, podem formar-se emulsões de água e óleo demasiado viscosas,
susceptíveis de provocar danos em válvulas e bombas hidráulicas. Quantidades mínimas de
água degradam a aparência do óleo. A aparência de um óleo denuncia normalmente uma
eventual presença de água pois perde a “clareza” e o “brilho”, apresentando-se “baço”. Dado
que a temperatura da maioria dos circuitos hidráulicos é baixa (< 65ºC) para evaporar a água,
é importante que os óleos tenham boas propriedades demulsificantes. Os aditivos
demulsificantes melhoram as características de tensão superficial de modo a conduzir à
separação da água do óleo.

A longevidade de um óleo depende principalmente da sua capacidade de resistência


ao envelhecimento (oxidação). A acção do oxigénio existente no ar e as altas temperaturas (>
60ºC) tendem com o decorrer do tempo a transformar quimicamente o óleo, traduzindo-se
esse facto numa perda de parte das suas propriedades essenciais. O óleo envelhecido ou

39
Fluidos Hidráulicos

oxidado apresenta uma cor escura, dando lugar à formação no seu seio de lamas, vernizes e
substâncias ácidas responsáveis pelo deterioramento dos equipamentos (bloqueamento de
válvulas, corrosão dos metais), aumento da viscosidade e impedimento da transmissão do
calor. A oxidação do óleo desenvolve-se com maior ou menor rapidez em função de diversas
condições, tais como a temperatura do óleo, a temperatura ambiente, o tipo de bomba
hidráulica, o volume total de óleo existente no circuito, a presença de água, ferrugem, poeiras
e de certos materiais (chumbo, latão, cobre) e algumas ligas (cobre-chumbo, cobre-zinco).
A adição de aditivos anti-oxidantes, que funcionam pela inibição da assimilação do
oxigénio, pode atenuar este inconveniente, mas não impede que o óleo seja totalmente
substituído depois de um certo número de horas de funcionamento do circuito hidráulico.

3.2. ÓLEOS MINERAIS

A boa capacidade de lubrificação, vasta gama de temperaturas de serviço, os diversos


índices de viscosidade, são factores responsáveis pela grande fatia que os óleos minerais
representem (cerca de 85%) nos fluidos usados em circuitos e equipamentos hidráulicos
industriais. As suas qualidades básicas pode melhorar-se mediante a adição de uma série de
aditivos especiais, tornando-os atractivos em termos de longevidade de serviço, eficácia e
eficiência de custos. A sua maior desvantagem corresponde a uma limitada capacidade de
resposta quando existam riscos de incêndio, subjacentes a aplicações onde se verifiquem
frequentemente elevadas temperaturas de serviço, como é o caso da fundição de metais.

Os óleos minerais dividem-se, segundo a ISO, em quatro tipos: HH, HL, HM e HV.
No tipo HH incluem-se óleos sem aditivos, para situações de baixa exigência (ex.:
macacos hidráulicos manualmente operados, circuitos com tendência para fugas de óleo).
Proporcionam uma fraca protecção contra o desgaste e corrosão dos componentes, sendo o
seu limite de temperatura de 40°C.
No tipo HL, os óleos contêm já aditivos anti-ferrugem, anti-corrosão a anti-oxidação,
correspondendo a uma evolução do tipo HH. Usados onde as protecções anti-desgaste do óleo
não são fundamentais (ex.: bombas hidráulicas de palhetas sujeitas a cargas moderadas), mas
apesar disso permitem uma maior longevidade ao óleo, boa protecção anti-ferrugem, boa
protecção anti-espuma, ausência de efeitos corrosivos em ligas de cobre.

40
Fluidos Hidráulicos

O tipo HM designa os óleos mais utilizados. Estes incluem pequenas quantidade de


aditivos anti-desgaste que visam reduzir o desgaste em bombas hidráulicas impossibilitadas
de funcionar correctamente sem um tal tratamento. Em circuitos hidráulicos onde não existam
metais sensíveis (prata, estanho, ligas de cobre) satisfazem plenamente. Subdividem-se ainda
em qualidade standard e superior, mais adequados para temperaturas elevadas.
O tipo HV responde à necessidade de uma variação mínima de viscosidade, existindo
uma variação da temperatura. Aplicam-se em equipamentos e circuitos hidráulicos exteriores
que têm de arrancar a frio antes de alcançarem a temperatura de serviço, em máquinas-
ferramentas sensíveis que exigem óleos com uma viscosidade aproximadamente constante,
em condutas longas sujeitas a grandes amplitudes térmicas, em equipamentos navais. Como
exemplo da sua virtual invariância de viscosidade, um óleo HV com igual viscosidade a um
óleo HM, apresenta a 40°C uma variação de viscosidade de cerca de 1/2 a 2/3,
comparativamente a um óleo HM a 0°C.

3.3. FLUIDOS RESISTENTES AO FOGO

Se bem que os óleos minerais constituam o meio mais adequado e conveniente para a
transmissão da energia, apresentam um grande inconveniente já que ardem violentamente
quando em contacto com uma chama ou uma superfície muito quente. Assim, em certas
aplicações hidráulicas específicas, onde o risco de incêndio seja elevado ou possa haver
consequências desastrosas em termos de vidas e bens, prefere-se renunciar a parte das
vantagens que o óleo mineral proporciona e recorrer a fluidos hidráulicos especiais, pouco
inflamáveis, denominados fluidos resistentes ao fogo.

Estes fluidos apesar de apresentarem uma certa inflamabilidade resistem à combustão,


impedindo que em caso de incêndio, as chamas se propaguem para além das zonas de elevada
temperatura que provocaram a ignição. Não são à prova de fogo, visto que qualquer fluido
sofrerá uma decomposição se a temperatura atingir níveis suficientemente elevados. Também
não são fluidos de alta temperatura, pois nalguns casos as suas temperaturas de serviço são
inferiores às dos óleos minerais.

41
Fluidos Hidráulicos

A esta única vantagem fundamental dos fluidos resistentes ao fogo contrapõem-se


diversos inconvenientes, tanto do ponto de vista técnico (não sendo possível manter o
desempenho dos óleos minerais) bem como económico. Por isso dever-se-ão apenas utilizar
em circuitos hidráulicos onde por falta de estanquecidade ou por ruptura de tubagens ou
juntas, exista o perigo do óleo vaporizado devido a pressões hidráulicas elevadas (160
kg/cm2) entrar em contacto com materiais sujeitos a elevadas temperaturas, em fusão ou com
chamas vivas, isto é, onde o perigo de incêndio for real devido a uma grande densidade de
focos de elevada temperatura (soldadura eléctrica, minas, siderurgias, fundições, moldes).

A Figura 3.5 esquematiza a classificação fundamental dos fluidos em questão, que


numa primeira análise e de acordo com a ISO se subdividem em duas grandes categorias –
fluidos sintéticos e fluidos de base aquosa.

Fluidos resistentes ao fogo

Sintéticos Base aquosa

Ésteres Cloro- Soluções água- Emulsões Emulsões


fosfóricos hidrocarbonetos glicol1 água em óleo óleo em água

Misturas
ésteres fosfóricos – cloro-hidrocarbonetos

Figura 3.5 Classificação dos fluidos resistentes ao fogo1

A resistência ao envelhecimento (oxidação), o poder anti-corrosão e o poder anti-


espuma respondem de um modo geral satisfatoriamente aos requisitos mínimos exigidos a um
fluido hidráulico, embora o seu uso deva restringir-se devido aos motivos já apontados,
associados à escassez do poder lubrificante e à agressividade química de alguns deles
relativamente aos vedantes e aos elementos não metálicos.

1
Substância que pelas suas propriedades se considera intermédia entre o álcool e a glicerina.

42
Fluidos Hidráulicos

3.3.1. FLUIDOS SINTÉTICOS

Os cloro-hidrocarbonetos são lubrificantes sintéticos, adequados para pressões


elevadas. Possuem um poder lubrificante comparável aos dos ésteres fosfóricos, mas para
melhorar o seu poder ignífugo são lhe adicionados ésteres fosfóricos, além de aditivos
melhoradores do índice de viscosidade.
A dependência entre a viscosidade dinâmica e a pressão é mais evidente do que no
óleo mineral, devido à sua maior massa volúmica. Há que tomar este facto em consideração
aquando do dimensionamento de secções e de condutas de aspiração.
São economicamente desvantajosos, tóxicos (altas temperaturas) e nocivos para o
meio ambiente.

Mais usados, os ésteres fosfóricos são também lubrificantes sintéticos, possuidores de


um bom poder lubrificante e de uma boa resistência ao fogo. O seu comportamento como
fluidos hidráulicos é comparável ao dos óleos minerais, especialmente porque cobrem uma
ampla gama de viscosidades. O índice de viscosidade é inferior ao dos óleos minerais,
podendo melhorar-se com aditivos. Por outro lado e no que diz respeito à compressibilidade,
o comportamento dos ésteres fosfóricos é superior aos dos óleos minerais. A temperatura
máxima de serviço é mais elevada que os óleos minerais, podendo atingir os 150ºC sem
degradação do fluido.
Não protegem contra a oxidação das superfícies de metais ferrosos da mesma forma
que os óleos minerais o fazem. Este fluido sintético possui uma fraca compatibilidade com
vedantes e tintas normais, devendo adoptar-se para os vedantes, materiais de elevada
resistência químico-fisica e tintas epóxicas ou poliuretanas. Tal como os cloro-
hidrocarbonetos, têm uma massa volúmica superior à dos óleos minerais.
Como são economicamente desvantajosos, utilizam-se em circuitos hidráulicos que
trabalhem em condições muito duras ou de grande precisão (isentos de fugas), de forma a
rentabilizar o elevado preço do fluido empregue.
No que diz respeito à segurança fisiológica dos operadores, não estão sujeitos a contra-
indicações especiais, embora a altas temperaturas possam originar vapores irritantes para as
mucosas nasais.

43
Fluidos Hidráulicos

3.3.2. FLUIDOS DE BASE AQUOSA

Nas emulsões óleo em água, a percentagem de óleo mineral que é no máximo de 20%,
(geralmente 5%), é dispersa na água em finas gotículas de 5 µm de diâmetro. Desta forma,
melhora-se o escasso poder lubrificante passível de provocar o desgaste prematuro dos
vedantes dinâmicos. Juntamente com outros aditivos, melhora o poder anti-corrosão.
Possui apenas a viscosidade da água, logo muito reduzida, pois o óleo constitui a
menor parte da emulsão, conduzindo a fugas pelas folgas internas de bombas hidráulicas e
válvulas direccionais de êmbolo e ao aparecimento de cavitação. A separação entre a água e o
óleo, existente após longos períodos de inactividade do circuito hidráulico, é facilmente
resolúvel mediante agitação mecânica. Este tipo de emulsão não ataca quimicamente tintas e
vedantes normais, apresentando um custo reduzido.
Os campos de aplicação típicos são o corte de metal em máquinas-ferramentas e a
indústria mineira.

As emulsões água em óleo, consistem em óleos minerais de baixa viscosidade, com


um conteúdo máximo de óleo que pode atingir os 60%. A água é dispersa no óleo em
gotículas muito finas com cerca de 1 a 2 µm de diâmetro. A resistência ao fogo é directamente
proporcional a esse conteúdo e deve-se simplesmente à presença de água, que em caso de
incêndio gera vapor de água, impedindo assim a afluência de oxigénio à zona em ignição
(pelo menos até à total evaporação da água).
Possuem um poder lubrificante a uma viscosidade que embora inferior à do óleo
mineral, é bastante melhor que a das emulsões óleo em água. As emulsões água em óleo são
economicamente viáveis a portanto bastante usadas em aplicações hidráulicas que requeiram
protecção contra incêndios. No entanto, não devem utilizar-se quando as temperaturas de
serviço forem elevadas, já que a temperatura de serviço está limitada a um mínimo de 10°C e
a um máximo de 60°C.
Tal como os óleos minerais, as emulsões água em óleo admitem o uso de aditivos,
especialmente inibidores da oxidação, da corrosão e da emulsão. Não se utilizam aditivos para
melhorar o índice de viscosidade, porque este fluido não é Newtoniano1 (sem índice de

1
Um fluido Newtoniano apresenta uma viscosidade dinâmica independente da tensão, isto é, respeita a lei de
dv
Newton τ = µ
dy

44
Fluidos Hidráulicos

viscosidade). Este facto limita a sua aplicação a circuitos hidráulicos que não originem
grandes tensões de deslizamento.
Estas emulsões são bastante estáveis, embora se o fluido estiver parado, possa
verificar-se uma certa separação entre o óleo e a água, ou seja, o óleo sobrepor-se-á à água.
Este fenómeno não oferece preocupação, pois quando a bomba hidráulica é posta novamente
em funcionamento, há agitação suficiente para repor a emulsão. O problema poderá advir da
presença de contaminantes, porque o fenómeno atrás referido prolongar-se-á no tempo. É por
isso que este tipo de emulsão se torna mais adequada para aplicações "limpas".
Há que ter em atenção as inevitáveis perdas de água por evaporação. Estas devem
compensar-se periodicamente, requerendo para tal uma vigilância frequente, acrescentando
apenas água, se o circuito hidráulico for isento de fugas, ou acrescentando a emulsão, se no
circuito hidráulico existirem fugas, pois caso contrário, desequilibrar-se-á a proporção entre a
água e o óleo, perdendo a emulsão o seu poder lubrificante.

As soluções água-glicol resultam de misturas de água e glicerina e inicialmente foram


utilizadas como anti-congelantes, só sendo mais tarde desenvolvidas e aproveitadas para
utilização como fluidos ignífugos. Aplicaram-se em circuitos hidráulicos submetidos a baixas
temperaturas de serviço. A quantidade de glicerina existente na solução era regulada de forma
a impedir a congelação da água, podendo atingir os 50%. Inicialmente tinham um baixo poder
lubrificante, baixo ponto de ebulição (formação de vapor para temperaturas superiores a esse
ponto), o conteúdo em água causava problemas de corrosão e eram desvantajosas do ponto de
vista económico, o que anulava uma das vantagens inerentes ao uso da água como fluido.
Posteriormente e com o desenvolvimento sofrido, estas soluções oferecem maior
protecção contra o fogo comparativamente ás emulsões água em óleo, são mais baratas que os
ésteres fosfóricos e além disso são ainda compatíveis com a maioria dos vedantes, mas deve
evitar-se o contacto com partes revestidas de zinco ou de cádmio, bem como tintas normais
(excepto tintas epóxicas). Com a adição de aditivos o seu poder lubrificante melhora e o seu
índice de viscosidade aumenta. São bastante estáveis, embora requeiram um controlo regular
do conteúdo em água e do nível de óxidos metálicos presentes na solução.
O emprego desta solução implica a redução das cargas a que os elementos são sujeitos,
comparativamente a uma lubrificação por óleo mineral. As bombas hidráulicas de
engrenagens cuja pressão de serviço seja superior aos 35 kg/cm2 também não devem ser
lubrificadas através desta solução. A temperatura máxima de serviço das soluções água-glicol
deve ser baixa, para que não haja evaporação e consequente perda de água.

45
Fluidos Hidráulicos

Em jeito de conclusão, a Tabela 3.1 reúne algumas propriedades comparativas de


diversos fluidos hidráulicos.

Tabela 3.1
Propriedade Õleo mineral Emulsão água- Gilcol-água Ester
(Valores típicos) em-óleo de fosfato
Resistência ao fogo Pobre Aceitável Excelente Bom
Viscosidade (em geral) Baixa-muito alta Baixa Baixa-médía Baixa-alta
Índice de Viscosidade Elevado (70-100) Elevado (150) Baixo (40-50)
Inflamabilidade Elevada Resistente ao fogo Não inflamável Resistente ao fogo
Temperatura
de serviço (Máx.) 105°C 65°C 65°C 150°C
Anticorrosivo/
Ferrugem Muito bom Aceitável a bom Aceitável Aceitável a bom
Lubrificação Excelente Aceitável Aceitável Muito bom
Efeitos sobre
Tintas Standard Nenhum Nenhum Amolece a tinta Não compatível
Adequação para
os rolamentos Muito bom Aceitável Pobre Muito bom
Vida da Bomba Excelente Muito bom Bom Muito bom
(a baixas pressões)
Toxidade Nenhuma Nenhuma Nenhuma Moderado
Ponto de Inflamação 220°C Nenhum Nenhum 260°C
Densidade Relativa 0,87 0,84 1,08 1,14
Pressão de vapor Baixa Elevada Elevada Baixa
Comparação de custos 1.0 1.0 1.5-2.0 6.0
Comparação de peso 1.0 1.1 1.2 1.3
Manutenção Baixa Elevada Elevada Baixa
Compatibilidade
de Vedação:
Borracha Natural Má Má Boa Má
Polisopreno Má Má Boa Má
Polibutadieno Má Má Boa Má
Stitreno-butadieno Má Má Boa Má
Acrilonitrilo (Nitrilo) Muito boa Boa Boa Má
Polícloropreno
(Neopreno) Aceitável Aceitável Boa Má
Isobutueno-isopreno
1
(butil) Má Má Boa Boa
Etilano-propileno EP Má Má Muito boa Boa
Polietileno
cloro-sulfurizado Aceitável Aceitável Boa Má
Etìleno
polisulfurizado Muito boa Muito boa Muito boa Aceitável
Silicones Má Pobre Aceitável Boa
Poliuretano Boa Boa Má Má
Elastómeros
fluo-ridisados “viton” Muito boa Muito boa Muito boa Muito boa
Elastómeros
fluorcloridisados Muito boa Boa Boa Muito boa
Acetato de
etileno-vínil Má Aceitável Aceitável Pobre

1
A temperaturas limitadas.

46
4. VEDANTES

Num circuito hidráulico, fugas de óleo em excesso reduzem o rendimento e aumentam


o consumo de energia. As fugas internas relacionam-se com a existência de uma folga
crescente entre os componentes do circuito hidráulico, originada por desgaste desses
componentes. Essa folga provoca o aumento de fugas e temperatura, redução do rendimento e
da velocidade de trabalho. As fugas externas através das juntas são prejudiciais e podem
tornar-se perigosas, devendo-se a má instalação, vibrações e choques.

A função dos vedantes consiste em impedir a existência de fugas de óleo e manter a


pressão no circuito hidráulico. Como as perdas de pressão podem ocorrer em resultado de
fugas de óleo, os vedantes têm uma importância considerável na eficiência de um circuito
hidráulico. Além disso, seria praticamente impossível manter numa posição estável uma haste
de um cilindro hidráulico e por conseguinte controlar a posição desse receptor hidráulico.

Independentemente da secção e formato dos vedantes, todos se baseiam no mesmo


principio de funcionamento, isto é, a estanquecidade consegue-se através de uma pré-
compressão de forma a proporcionar ao vedante a disposição mais adequada para resistir à
pressão de serviço, responsável por uma posterior deformação, favorável à confirmação da
estanquecidade.

4.1. O-RINGUES

O O-ringue é o tipo de vedante mais utilizado devido à sua simplicidade estrutural,


facilidade de instalação, pequenas dimensões e baixo custo. Actualmente, os O-ringues estão
presentes em qualquer tipo de situação, da mais simples à mais complexa. Encontram-se em
aplicações terrestres, aéreas, marítimas e espaciais.
Vedantes

Um O-ringue é feito de um composto elástico (elastômero) homogéneo moldado numa


peça única, apresentando uma configuração toroidal e secção transversal circular. A vedação
efectua-se mediante a deformação do seu composto elástico e resiliente, podendo ser usado
em serviço estático ou dinâmico. A Figura 4.1 exemplifica a aplicabilidade dos O-ringues.

Figura 4.1 Exemplo de aplicação de O-ringues

Se forem tomadas algumas precauções os O-ringues terão uma grande vida útil. O
respeito pelos limites de pressão e temperatura, uma adequada selecção dos compostos afim
de evitar a reacção química entre os O-ringues e os fluidos a vedar e um correcto
dimensionamento da ranhura de alojamento, são alguns dos cuidados a tomar.

A Figura 4.2 mostra um O-ringue deficientemente instalado, pois as suas dimensões


são inadequadas à ranhura de alojamento. De facto, ao ser instalado, não sofre pré-
compressão, mantendo a forma original. Com a aplicação de pressão, o O-ringue tende a
deformar-se de tal forma que permite uma indesejável fuga de óleo.

Figura 4.2 O-ringue incorrectamente instalado

A Figura 4.3 refere-se á correcta instalação do mesmo O-ringue, cujas dimensões


correspondem à ranhura de alojamento. O volume da ranhura de alojamento é geralmente
menor que o volume do O-ringue, sofrendo este uma pré-compressão inicial traduzida numa
deformação segundo a sua secção transversal, não sendo possível reutilizá-lo noutra
aplicação. Isto assegura um contacto adequado com as paredes interiores da ranhura de
alojamento, sob condições estáticas. Quando se exerce pressão e como as paredes interiores
estão em contacto firme com o O-ringue, a pressão tende a empurrá-lo ao longo da ranhura de
alojamento no sentido do lado não sujeito a pressão. Concebido para se deformar, o O-ringue
desloca-se para essa parede, vedando por completo o contorno do lado da ranhura de

48
Vedantes

alojamento que é sujeito à pressão e impedindo eventuais fugas de óleo. Quanto maior for a
pressão (até um valor limite) exercida pelo óleo que tenta passar pela folga, mais eficaz será a
vedação entretanto formada. Deixando de se exercer pressão, a resiliência do composto
elástico implica o retornar do O-ringue à sua forma inicial, intacto e pronto para novas
situações de trabalho.
Figura 4.3 O-ringue correctamente instalado

Pelo acima descrito conclui-se que é essencial definir uma pré-compressão adequada.
Um valor de 10% resulta numa superfície de vedação plana de cerca de 40 a 45% da secção
transversal inicial do O-ringue, antes da aplicação de pressão.
Uma baixa pré-compressão reduz o atrito, mas proporciona fugas a baixa pressão e
temperatura. Para pressões muito baixas, a resiliência da composto elástico é responsável pela
vedação.
Para garantir uma vedação razoável a pressões mais elevadas será necessário aumentar
o valor da pré-compressão. No entanto há que ter em atenção que esse acréscimo poderá
causar efeitos adversos, tais como uma difícil instalação e redução da vida útil do O-ringue,
mais acentuada no caso de uma vedação dinâmica submetida a elevadas pressões de serviço.
A pré-compressão induz uma força de atrito entre o O-ringue a as paredes da ranhura
de alojamento. Até que as forças aplicadas sejam suficientes para ultrapassar a força de atrito
ou deformar anormalmente o composto elástico, o O-ringue manterá a sua forma inicialmente
deformada pela pré-compressão e vedará unicamente por pressão diametral.
A pré-compressão inicialmente aplicada ao volume constante do material do O-ringue,
produz-lhe um aumento do comprimento ao longo da ranhura. A expansão ou dilatação do
composto elástico, aumentará ainda mais o comprimento do O-ringue comprimido. A ranhura
de alojamento deverá ser suficientemente longa para permitir a máxima expansão do O-
ringue, caso contrário originam-se tensões muito elevadas. Normalmente a dimensão da
ranhura de alojamento deverá permitir que o O-ringue deslize ou rode ligeiramente dentro da
ranhura.
Quando se aplica uma pressão, o O-ringue desliza ou roda na direcção dessa pressão
até ao fim da ranhura. A partir daí, a existência de pressão suplementar tem como

49
Vedantes

consequência a normal deformação do O-ringue por esmagamento contra a parede da ranhura


de alojamento, adoptando um formato em "D" visível na Figura 4.4. Esta deformação normal
aumentará a superfície de vedação plana até cerca de 70 a 80% da secção transversal inicial.
Assim, a superfície de contacto sujeita à pressão de vedação é aproximadamente dupla da
verificada aquando da pré-compressão inicial (pressão nula).

Figura 4.4 Deformação normal do O-ringue

Principalmente para serviço dinâmico em que a pressão (superior a 100 kg/cm2)


excede o valor limite de deformação do O-ringue ou a folga radial entre a superfície de
vedação e a ranhura de alojamento é muito grande, há perigo de extrusão do O-ringue, patente
na Figura 4.5. Se isto suceder o O-ringue extrudido deteriora-se rapidamente.

Figura 4.5 Extrusão do O-ringue

Afim de evitar ou prevenir a extrusão do O-ringue deve tentar-se em primeiro lugar


diminuir a folga radial modificando as dimensões da ranhura de alojamento. Se tal não for
exequível recorre-se a anéis de reforço ou anti-extrusão, capazes de neutralizar com eficácia a
tendência à extrusão do O-ringue através da folga radial. De acordo com a Figura 4.6,
consistem em anéis rígidos de secção rectangular feitos de couro, teflon, metal ou outros
materiais duros, com um diâmetro tal que ocupam toda a profundidade da ranhura de
alojamento, incluindo a folga radial.

Figura 4.6 Formatos dos anéis anti-extrusão

50
Vedantes

Os anéis anti-extrusão fabricados em teflon admitem maior resistência química e ao


calor e reduzem o atrito porque pequenas partículas de material anti-fricção revestem a
superfície de contacto. Se não for possível usar este composto, recorre-se à utilização de
compostos mais rijos, com o consequente aumento do atrito e maior tendência para fugas a
baixas pressões. Há que ter em consideração que dilatações excessivas ou temperaturas
elevadas reduzem a dureza dos O-ringues em cerca de 20° a 30° Shore.

Como a Figura 4.7 indica, os anéis anti-extrusão instalam-se nas ranhuras de


alojamento juntamente com os O-ringues, de modo que estes últimos fiquem comprimidos de
um ou de ambos os lados, além de estarem também comprimidos radialmente.

Figura 4.7 Utilização de anel anti-extrusão


para evitar a extrusão do O-ringue

No que diz respeito ás ranhuras de alojamento, as maquinadas com paredes direitas


são melhores para prevenir a extrusão ou a destruição do O-ringue. No entanto, se as paredes
tiverem uma inclinação de 5° como é o caso da Figura 4.8, tornam-se mais simples de
maquinar e adequar a baixas pressões. O acabamento superficial deve estar isento de riscos,
rebarbas ou mossas.

Figura 4.8 Ranhura de alojamento

A ranhura de alojamento é mais facilmente maquinada numa haste ou num veio. A


vida útil de um O-ringue montado na haste de um cilindro hidráulico atinge pelo menos meio
milhão de movimentos alternados. No entanto, considerando um O-ringue colocado na camisa
de um cilindro hidráulico, a sua duração será menor, pois torna-se mais custoso obter um

51
Vedantes

acabamento superficial cuidadoso da ranhura de alojamento maquinada na camisa do cilindro


hidráulico, mas em contrapartida oferece melhor vedação a baixa temperatura.

O grau de estanquecidade depende do acabamento superficial da ranhura de


alojamento do O-ringue. Para serviço estático, o acabamento superficial da ranhura de
alojamento não deve ser descurado, pois com a aplicação de pressão, o O-ringue movimenta-
se ligeiramente no seu interior, estando sujeito a desgaste por atrito. Em serviço dinâmico,
para reduzir o atrito de forma a evitar ou pelo menos retardar um desgaste prematuro do O-
ringue, que conduza a uma perda de estanquecidade, convém que as superfícies com
movimento relativo sejam maquinadas com bastante precisão, sem riscos transversais e
longitudinais. Recomenda-se geralmente um acabamento igual ou superior a 0,4 µm, obtido
por rectificação, polimento ou cromagem da superfície interna da camisa e da haste do
cilindro hidráulico. O acabamento interior da ranhura do alojamento também não deve ser
descurado porque tal como em serviço estático, o O-ringue movimenta-se ligeiramente no seu
interior. Há ainda a adicionar o facto de que com o movimento relativo característico do
serviço dinâmico, o O-ringue estar em contacto permanente com as superfícies da camisa e do
êmbolo e consequentemente o desgaste por atrito é elevado.

O alojamento de bloqueio, visível na Figura 4.9, trata-se de um tipo especial de


ranhura de alojamento. Adopta-se em serviço estático ou dinâmico (vedantes do tipo
oscilante), quando as condições de serviço a que um O-ringue é submetido são tais que haja
perigo de um hipotético desprendimento da ranhura de alojamento. Esse inconveniente pode
ocorrer a um O-ringue alojado numa ranhura que sofra um desgaste acentuado, provocado por
óleo que passa a uma velocidade elevada. Este tipo especial de ranhura de alojamento é muito
difícil de maquinar a além disso, o O-ringue deve sofrer um estiramento de cerca de 5% sobre
o seu diâmetro interior para o ajudar a permanecer na ranhura de alojamento.

Figura 4.9 Alojamento de bloqueio

52
Vedantes

Antes da instalação, os O-ringues devem ser bem lubrificados, assim como todos os
elementos em contacto com ele. Aconselha-se o uso de um lubrificante adequado que não
danifique o O-ringue, não seja prejudicial para o óleo, nem entupa filtros ou deixe resíduos.
Durante a instalação, evitar o contacto dos O-ringues com detritos, areia, fragmentos
de metal ou outros materiais estranhos, nem utilizar instrumentos afiados (para os instalar ou
extrair). Eliminar O-ringues que tenham sido limpos com panos sujos de óleo ou previamente
usados. Certificar-se que o óleo está isento de impurezas. Um excessivo estiramento do O-
ringue aquando da sua instalação pode afectar a forma circular da secção transversal,
implicando uma perda de compressão e comprometendo a estanquecidade proporcionada.
Ainda durante a instalação e para que o O-ringue não sofra golpes e/ou cortes, é conveniente
chanfrar as ranhuras de alojamento das camisas ou tubos cilíndricos e das hastes, tal como a
Figura 4.10 esquematiza. Deve prever-se um chanfro de dimensões suficientes e de cantos
bem arredondados, para facilitar a entrada do O-ringue, evitando-se assim a sua rápida
deterioração. O chanfro deve ser maior que o diâmetro livre do O-ringue quando instalado na
sua ranhura de alojamento e suficientemente comprido para o comprimir gradualmente até ele
estar totalmente acondicionado.

Figura 4.10 Exemplo de instalação correcta de O-ringue

Durante o serviço o O-ringue não deve passar sobre cantos, furos ou rasgos, sob pena
de ficar aliviado e vedar deficientemente.

Os materiais empregues na construção dos êmbolos deverão ser mais macios do que os
das camisas dos cilindros hidráulicos, para evitar a formação de riscos devido ao movimento
relativo. É conveniente evitar materiais macios como o alumínio, latão, bronze, ligas de cobre
a níquel (monel) e aço inoxidável não maquinável, sendo preferível recorrer a aços ou ferros
fundidos suficientemente densos, caso contrário a folga radial pode dilatar e contrair com as
variações da pressão, causando a destruição do O-ringue.

53
Vedantes

4.2. VEDANTES ESTÁTICOS

A finalidade deste tipo de vedação consiste em assegurar a estanquecidade entre dois


elementos solidamente ligados e imóveis entre si, ou seja, sujeitos a serviço estático, em
aplicações pouco exigentes. Os vedantes estáticos são comprimidos entre esses elementos,
podendo mover-se alternadamente no interior da ranhura de alojamento, conforme o sentido
de aplicação da pressão.

Aquando da sua instalação, os vedantes estáticos podem sofrer uma pré-compressão


axial (vertical) ou radial (horizontal).
No primeiro caso – pré-compressão axial - visível na Figura 4.11 a pré-compressão
efectua-se nas partes laterais do O-ringue. A vedação faz-se simplesmente pela junção das
flanges, em que numa delas foi maquinada a ranhura de alojamento, não havendo folgas. A
flange oposta é plana, sendo aparafusada à primeira. Não há perigo de extrusão, ao contrário
do que pode acontecer no caso de vedantes estáticos radiais.

Figura 4.l1 Pré-compressão axial

No segundo caso – pré-compressão radial - correspondente por exemplo à vedação


entre uma das tampas e a camisa de um cilindro hidráulico, representada pela Figura 4.12, a
pré-compressão efectua-se entre os diâmetros interior e exterior do O-ringue.

Figura 4.12 Pré-compressão radial

54
Vedantes

A localização da ranhura de alojamento permite ainda dividir os vedantes estáticos


pré-comprimidos radialmente, em macho a fêmea.
No primeiro caso, ilustrado pela Figura 4.13, a ranhura de alojamento localiza-se num
êmbolo fixo inserido no interior de uma camisa de um cilindro hidráulico.

Figura 4.13 Ranhura de alojamento macho

A pré-compressão a que o O-ringue é submetido aquando da sua instalação depende


do diâmetro interior da camisa (A) a do diâmetro da ranhura de alojamento (B). Mede-se
desde a superfície da ranhura de alojamento até à superfície interior da camisa, incluindo a
folga diametral, representada na Figura 4.14. Esta define-se como a diferença entre os
diâmetros interior da camisa (A) a do êmbolo (C).

Figura 4.14 Folga diametral

A Figura 4.15 evidencía o segundo caso, em que a ranhura de alojamento se localiza


no interior da camisa de um cilindro hidráulico e um êmbolo fixo passa através do diâmetro
interno do O-ringue.

Figura 4.15 Ranhura de alojamento fêmea

A pré-compressão a que o O-ringue é sujeito aquando da sua instalação depende dos


diâmetros da ranhura de alojamento (D) a do êmbolo (C). Mede-se desde a superfície da

55
Vedantes

ranhura de alojamento até à superfície do tubo, incluindo a folga diametral, definida como a
diferença entre os diâmetros da ranhura de alojamento a da camisa do cilindro hidráulico.

Os O-ringues pré-comprimidos radialmente necessitam de uma folga diametral (ou


radial) aquando da sua instalação. A dimensão da folga diametral influencia o valor da
pressão aplicável. Se a pressão for elevada, será necessário recorrer a anéis anti-extrusão (vd.
Figura 4.7) para evitar a extrusão do O-ringue.

De forma a evitar ao máximo a movimentação excessiva dos O-ringues dentro da


ranhura de alojamento, sofrendo assim um desgaste prematuro e uma possível extrusão, esta
deve obedecer a certos critérios, indicados na Figura 4.16 ou sob a forma de tabelas.

Figura 4.16 Cálculo da ranhura de alojamento para O-ringues em serviço estático

4.3. VEDANTES DINÂMICOS

A finalidade deste tipo de vedantes consiste em proporcionar uma correcta


estanquecidade entre elementos com movimento relativo entre si, ou seja, sujeitos a serviço
dinâmico (ex.: êmbolos de cilindros hidráulicos). A aplicação de O-ringues em serviço
dinâmico verifica-se geralmente em bastes e êmbolos de cilindros hidráulicos de pequeno
diâmetro e curso, sujeitos a pressões de serviço e velocidades de deslocamento moderadas.

56
Vedantes

Os vedantes dinâmicos apresentam uma maior complexidade comparativamente aos


estáticos, pois devem ter alguma resistência ao desgaste e não produzir perdas muito elevadas
por atrito, incluindo também uma menor pré-compressão inicial, de modo a eliminar
eficazmente o atrito e por conseguinte o desgaste e o acréscimo de calor. Devem ainda
proporcionar uma correcta estanquecidade, mas simultaneamente permitir a passagem de uma
película de óleo sobre a parte em movimento, para lubrificação a redução do desgaste, pois os
O-ringues que trabalham a seco têm uma vida útil muito curta.

Os vedantes dinâmicos podem classificar-se em três tipos - alternativos, rotativos e


oscilantes.
No primeiro caso, do qual a Figura 4.17 é um exemplo, um elemento móvel desloca-se
axialmente relativamente a outro elemento fixo e retorna à posição inicial. Isso significa que
apenas um dos elementos se move em relação ao O-ringue.

Figura 4.17 Vedante dinâmico alternativo

Tal como os vedantes estáticos radiais (vd. Figura 4.12), a localização da ranhura de
alojamento permite ainda dividir os vedantes dinâmicos alternativos, em macho a fêmea.
No primeiro caso, ilustrado pela Figura 4.18, a ranhura de alojamento localiza-se num
êmbolo móvel inserido no interior da camisa de um cilindro hidráulico.

Figura 4.18 Ranhura de alojamento macho

A Figura 4.19 evidencía o segundo caso, em que a ranhura de alojamento se localiza


no interior da camisa de um cilindro hidráulico e uma haste móvel movimenta-se através do
diâmetro interno do O-ringue.

57
Vedantes

Figura 4.19 Ranhura de alojamento fêmea

Os vedantes dinâmicos alternativos são semelhantes aos vedantes estáticos, excepto o


facto já antes realçado do menor valor de pré-compressão inicial necessário, de forma a
reduzir o atrito e a geração de calor.

Num vedante dinâmico rotativo, apresentado na Figura 4.20, um elemento móvel roda
continuamente sobre o seu eixo relativamente a um elemento fixo. Tal como no caso anterior,
somente um dos elementos se movimenta relativamente ao O-ringue. Este tipo de vedante
implica o contacto com a mesma superfície de atrito, logo a lubrificação e o aumento de
temperatura constituem um problema.

Figura 4.20 Vedante dinâmico rotativo

Num vedante dinâmico oscilante, apresentado na Figura 4.21, um elemento móvel


roda continuamente sobre o seu eixo relativamente a um elemento fixo, sendo esse
movimento reversível. Tal como nos casos anteriores, só um dos elementos se movimenta
relativamente ao O-ringue. Qualquer movimento axial (desde que não seja significativo)
como por exemplo o causado por uma rosca, não altera a classificação deste vedante.

Figura 4.21 Vedante dinâmico oscilante

58
Vedantes

A Figura 4.22 auxilia no dimensionamento da ranhura de alojamento, para O-ringues


em serviço dinâmico. É essencial existir um dimensionamento exacto, de forma a prevenir a
rápida extrusão devido à acção combinada da pressão e do atrito. É também importante limitar
ao máximo a folga do O-ringue dentro do seu alojamento. Essas folgas dependem da pressão
e da dureza do material do O-ringue.

Figura 4.22 Cálculo da ranhura de alojamento para O-ringues em serviço dinâmico

O atrito depende da força exercida na superfície de atrito do O-ringue pela força de


compressão imposta pela pré-compressão inicial e da pressão de serviço tendente a deformar
o O-ringue, adoptando um formato em "D". Para que o atrito não seja excessivo, a pré-
compressão inicial deverá ser menor que a utilizada em serviço estático.
Sempre que possível, os O-ringues em serviço dinâmico devem instalar-se de modo
que a pressão e o atrito actuem em sentidos opostos, tal como acontece nos vedantes situados
no êmbolo ou na haste. Se ambos os sentidos coincidirem, a força de atrito reduz a pressão
limite que o O-ringue poderá suportar.

Outro factor muito importante a considerar num O-ringue sujeito a serviço dinâmico é
a dureza, que varia de forma praticamente proporcional à pressão. A baixa pressão e
temperatura, um O-ringue macio de dureza 50° ou 60° Shore proporciona melhor
estanquecidade (particularmente em superfícies rugosas), menor atrito, mais fácil estiramento,
menor pré-compressão, mas fraca resistência à extrusão relativamente aos O-ringues normais,
cuja dureza varia entre 70° a 80° Shore. Estes resistem melhor ao desgaste e ao atrito, sendo
aconselhados para vedantes dinâmicos animados de movimento rotativo ou oscilante, para

59
Vedantes

evitar movimentos laterais. Com este grau de dureza os O-ringues obtêm bons resultados se
trabalharem a pressões e temperaturas baixas, mas podem sofrer extrusão a pressões mais
elevadas. Os O-ringues com uma dureza superior a 85° Shore raramente apresentam
resultados satisfatórios em serviço dinâmico porque devido a essa dureza não se adaptam bem
ás irregularidades ou deformações das superfícies de contacto, o que origina uma diminuição
da estanquecidade. A pressão limite para 70° Shore é de 150 kg/cm2 a para 80° Shore é de
200 kg/cm2. Para pressões superiores reservam-se os de dureza acima de 85° Shore.

A Figura 4.23 relaciona a folga máxima admissível entre elementos sujeitos a serviço
dinâmico com a dureza Shore dos O-ringues.

Figura 4.23 Folga máxima admissível em O-ringues de serviço dinâmico

Quanto menor for a temperatura de serviço, maior dureza apresenta o O-ringue, o que
pode também provocar o aumento do atrito. Contudo, a contracção térmica do O-ringue limita
a compressão, podendo reduzir o acréscimo no atrito causado por um aumento da dureza, pois
quanto maior for a dureza (acima dos 70° Shore) maior é o atrito, visto que para um mesmo
valor de pré-compressão e relativamente a O-ringues macios, a força de compressão é
superior. A dureza diminui com o aquecimento inicial, mas o serviço contínuo volta a
aumentá-la depois do aquecimento inicial. A existência de contracção térmica pode significar
o recurso a anéis anti-extrusão ou a uma redução na folga diametral, no caso de vedantes
dinâmicos usados a altas temperaturas.
Em jeito de conclusão resumem-se algumas vantagens a limites funcionais dos O-
ringues:
a) Os O-ringues permitem uma perfeita estanquecidade estática em cilindros hidráulicos,
desde que a pressão do óleo não ultrapasse 350 kg/cm2;

60
Vedantes

b) Os O-ringues permitem uma satisfatória estanquecidade entre o êmbolo e a camisa de


um cilindro hidráulico animados de movimento alternativo (serviço dinâmico), desde que
a pressão do óleo não ultrapasse 350 kg/cm2;
c) Para uma boa estanquecidade, o O-ringue deve manter-se comprimido entre a ranhura
de alojamento e a superfície interna da camisa do cilindro hidráulico;
d) Em circuitos hidráulicos com elevada pressão de serviço, a causa fundamental de uma
imperfeita estanquecidade é originada, tanto em serviço estático como em dinâmico, pela
extrusão do O-ringue entre o êmbolo e a camisa do cilindro hidráulico. Os factores mais
importantes que a determinam são a pressão do óleo, a dureza e a resistência do O-ringue;
e) Os O-ringues sujeitos a serviço dinâmico podem apresentar defeitos devidos ao atrito
exercido pela superfície interna da camisa do cilindro ou do êmbolo. Pretendendo
assegurar-se uma grande duração da estanquecidade, as superfícies metálicas em contacto
com o vedante devem ter o melhor acabamento possível;
f) O atrito causado em serviço dinâmico pelos O-ringues depende principalmente da sua
compressão e superfície, da pressão do óleo e da porção do O-ringue sujeito à pressão do
óleo. Há ainda outros factores secundários, tais como a qualidade do composto do O-
ringue, a natureza do óleo e a velocidade dos deslocamentos;
g) O efeito da variação da temperatura (-55 a +120°C) sobre a eficácia dos O-ringues
depende do tipo de composto usado na sua composição. Para serviço contínuo a baixas ou
altas temperaturas, ou para exposições esporádicas a amplas variações de temperatura,
usa-se normalmente um composto elástico (elastômero). Os O-ringues metálicos
utilizam-se como solução particular nos casos de serviço estático onde os O-ringues
normais são inadequados no que diz respeito à resistência mecânica, química e térmica.

4.4. EMPANQUES

Ainda que sob muitos aspectos os O-ringues representem a solução mais evoluída em
termos de estanquecidade, recorre-se com bastante frequência a vedantes de maiores
dimensões axiais e radiais, mas que em troca oferecem a garantia de uma maior duração.

Em serviço dinâmico associado ao aumento das dimensões dos êmbolos e hastes dos
cilindros hidráulicos e do curso dos mesmos, ou quando existam defeitos de acabamento

61
Vedantes

superficial a folgas consideráveis entre os acoplamentos, quando as pressões de serviço a


atingir sejam mais elevadas, utilizam-se empanques em vez de O-ringues.

A Figura 4.24 ilustra o exemplo de um empanque clássico utilizado na vedação da


haste de um cilindro hidráulico.

Figura 4.24 Empanque

É constituído por uma série de anéis de secção rectangular, visíveis na Figura 4.25,
empilhados de forma que as juntas respectivas não fiquem alinhadas horizontalmente, de
modo a reduzir as fugas de óleo ao mínimo.

Figura 4.25 Anéis de secção rectangular

O material é composto à base de fibra vegetal vulcanizada com borracha. Para a


montagem, submete-se o empanque a uma pré-compressão axial, mediante um dispositivo de
aperto regulável por intermédio de um parafuso (vd. Figura 4.24) de forma a provocar uma
acção radial que o aperte em torno do elemento macho. Ao actuar uma pressão no outro
extremo do empanque, o aperto axial e a acção radial sofrem um aumento proporcional à
referida pressão.

Torna-se importante limitar o número de anéis de forma a evitar o aparecimento de


uma força de atrito excessiva, capaz de provocar sobreaquecimentos ou danos mecânicos no
dispositivo de aperto.

62
Vedantes

Numa segunda etapa de desenvolvimento deste tipo de vedante, obtiveram-se formas


de secção que produzindo a mesma estanquecidade, requerem menores pré-compressões,
dando lugar a aquecimentos inferiores. A Figura 4.26 refere-se a empanques com secção em
"V", considerada a forma de secção mais conveniente para cilindros hidráulicos com grandes
diâmetros e velocidades. A escolha da forma mais conveniente para a secção do empanque
dependerá da pressão de serviço, da velocidade, do espaço disponível para a albergar e do
acabamento das superfícies.

Empanque em “V” (até 350 kg/cm2).

Cilindros hidráulicos de grande diâmetro,


com movimentos rápidos.

Empanque em “V” combinado com


anel elástico de apoio (até 50 kg/cm2).

Movimentos lentos e pressões


variáveis.

Empanque em “V” (de lábio) combinado com


anéis de apoio (até 200 kg/cm2).

Movimentos alternados.

Empanque em “V” combinado com anéis de


apoio metálicos (até 300 kg/cm2).

Movimentos alternados rápidos.

Empanque em “V” (de lábio). Requer vários


anéis de apoio consecutivos (até 450 kg/cm2).

Condições muito severas.

Figura 4.26 Empanques com secção em “V”

63
5. CILINDROS HIDRÁULICOS

5.1. CLASSIFICAÇÃO DOS CILINDROS HIDRÁULICOS

Os cilindros ou receptores hidráulicos permitem converter em energia mecânica a


energia hidráulica produzida pela bomba hidráulica.

Um cilindro hidráulico, visível na Figura 5.1, é constituído por um corpo tubular,


geralmente chamado camisa, no qual se fixam duas tampas, também chamadas fundos do
cilindro hidráulico, uma das quais pelo menos, permite a passagem da haste que prolonga
mecanicamente o êmbolo. Este êmbolo desliza no interior da camisa do cilindro hidráulico e
por intermédio da haste desenvolve uma força utilizada para empurrar ou traccionar, que lhe é
comunicada pela pressão do óleo ao actuar sobre uma ou outra superfície do êmbolo. Uma das
superfícies do êmbolo é geralmente de menores dimensões devido à presença da haste.

Figura 5.1 Constituição de um cilindro hidráulico

Os cilindros hidráulicos classificam-se segundo os movimentos realizáveis por


intermédio do óleo. Dividem-se em:
a) cilindros hidráulicos de simples efeito;
b) cilindros hidráulicos de duplo efeito.
Cilindros Hidráulicos

O primeiro tipo é visível na Figura 5.2. O óleo à pressão entra numa só câmara e por
isso apenas permite a execução de trabalho num só sentido do movimento do êmbolo. O
movimento de recuo, inverso ao produzido pelo óleo à pressão e no qual o cilindro hidráulico
não produz força, é realizado por outro meio qualquer (gravidade, mola, contrapeso).

Figura 5.2 Cilindro hidráulico de simples efeito

O segundo tipo, visível na Figura 5.3, é chamado de duplo efeito porque o óleo à
pressão pode entrar por uma ou outra das duas câmaras e permitir a produção de força em
ambos os sentidos.

Figura 5.3 Cilindro hidráulico de duplo efeito

As Figuras 5.4 e 5.5 mostram o principio de funcionamento dos cilindros hidráulicos


de simples e duplo efeito.

Figura 5.4 Funcionamento de um cilindro hidráulico de simples efeito

66
Cilindros Hidráulicos

Figura 5.5 Funcionamento de um cilindro hidráulico de duplo efeito

A Figura 5.6 representa uma possível classificação geral dos cilindros hidráulicos,
segundo um ponto de vista funcional.

Cilindros de simples efeito Cilindros de duplo efeito

recuo por recuo por telescópico áreas haste rotativo


mola gravidade assimétricas passante

Figura 5.6 Classificação dos cilindros hidráulicos

5.2. CÁLCULO DE CILINDROS HIDRÁULICOS

O cálculo de um cilindro hidráulico consiste principalmente na determinação das


espessuras da camisa e das tampas do cilindro hidráulico (fundos do cilindro).

5.2.1. ESPESSURA DA CAMISA DO CILINDRO HIDRÁULICO

A espessura da camisa do cilindro hidráulico determina-se segundo a norma DIN


2413, caso I.

Calcula-se primeiro a espessura teórica s0, através da expressão:

67
Cilindros Hidráulicos

dinterno
s0 = [mm] (5.1)
200 × K
S
−2
1,11× pmáx

Onde os símbolos têm os seguintes significados:


s0 = espessura teórica [mm];
dinterno = diâmetro interno da camisa do cilindro hidráulico [mm];
K = tensão limite de elasticidade do material [kg/mm2];
S ∈ [2,4] = coeficiente de segurança;
pmáx = pressão máxima de serviço [kg/cm2].

Com base na expressão (5.1), calcula-se agora a espessura das paredes da camisa do
cilindro hidráulico, s, aplicando a expressão:

s = s0 + 0,1 × s0 [mm] (5.2)

5.2.2. ENCURVADURA

Se o cilindro hidráulico trabalha à compressão é necessário verificar o seu


comportamento relativamente a forças externas, verificando se as condições de estabilidade à
encurvadura estão garantidas, pois da resistência dos materiais sabe-se que quando uma
estrutura comprida e delgada como é o caso de um cilindro hidráulico, está solicitada à
compressão por uma força suficientemente elevada, podem produzir-se deformações capazes
de a obrigar a ceder e de lhe provocar a rotura, mesmo que as espessuras da camisa e das
tampas dos cilindros hidráulicos tenham sido até sobredimensionadas. Esta rotura não é
devida à pressão do óleo, mas a uma acção mecânica da força exterior que o cilindro
hidráulico deve vencer.

A resistência à encurvadura dos cilindros hidráulicos, ou melhor, da camisa e da haste,


calcula-se geralmente segundo a expressão de Euler ou de Tetmajer, segundo o grau de
esbeltez λ seja respectivamente maior ou menor que 100, tal como se depreende da análise da
Figura 5.7.

68
Cilindros Hidráulicos

Figura 5.7 Gráfico das tensões críticas de encurvadura

5.2.2.1. VERIFICAÇÃO DO DIÂMETRO DA CAMISA DO CILINDRO HIDRÁULICO À ENCURVADURA

Começa-se por verificar qual das expressões – Euler ou Tetmajer – é aplicável. Para
isso utilizam-se as expressões:
l1
λ= (5.3)
i

l1 = k × l [mm] (5.4)

i = ξ × dexterior [mm] (5.5)

Onde os símbolos têm os seguintes significados:


λ = grau de esbeltez;
l1 = comprimento submetido a encurvadura [mm];
i = raio de inércia [mm];
l = curso do cilindro [mm];
k = calcula-se através da Figura 5.8;
dexterior = diâmetro exterior da camisa do cilindro hidráulico [mm].
d exterior
ξ = calcula-se através da Figura 5.9 com a = .
d int erior

69
Cilindros Hidráulicos

Figura 5.8 Encurvadura dos cilindros hidráulicos submetidos a compressão

Figura 5.9 Gráfico de ξ em função de a

Se o grau de esbeltez λ for inferior a 100 utiliza-se a expressão de Tetmajer (vd. Figura
5.7). Neste caso, a tensão crítica de encurvadura σk dependerá do material indicado para a
camisa do cilindro hidráulico:

Para aço St 42 σk = 3100 – 11,4 × λ [kg/cm2] (5.6)

Para aço St 50 σk = 3170 – 10,0 × λ [kg/cm2] (5.7)

Para aço St 60 σk = 3250 – 8,0 × λ [kg/cm2] (5.8)

70
Cilindros Hidráulicos

Se o grau de esbeltez λ for superior a 100 utiliza-se a expressão de Euler (vd. Figura
5.7). Neste caso, é preciso tomar em consideração o módulo de elasticidade E, tendo a
expressão a seguinte forma:
π2 ×E
σk = [kg/cm2] (5.9)
λ 2

A tensão de encurvadura σ originada pela força de compressão aplicada no cilindro,


calcula-se pelas seguintes expressões:

F G × cos α × l
σ= + [kg/cm2] (5.10)
A 2 ×W

π × (d exterior
2
− d int2 erior )
A= [cm2] (5.11)
4

π × (dexterior
4
− dinterior
4
)
W= [cm3] (5.12)
52 × d 4
exterior

Onde os símbolos têm os seguintes significados:

σ = tensão de encurvadura [kg/cm2];


A = secção transversal da camisa do cilindro hidráulico [cm2];
G = peso do cilindro hidráulico [kg];
α = ângulo que o cilindro faz com a horizontal [º];
l = curso do cilindro hidráulico [cm];
W = módulo de rigidez [cm3];
dexterior = diâmetro exterior da camisa do cilindro hidráulico [mm];
dinterior = diâmetro interior da camisa do cilindro hidráulico [mm].

5.2.2.2. VERIFICAÇÃO DO DIÂMETRO DA HASTE DO CILINDRO HIDRÁULICO À ENCURVADURA

Começa-se mais uma vez por verificar qual das expressões – Euler ou Tetmajer – é
aplicável. Para isso utilizam-se as expressões:

l1
λ= (5.13)
i

71
Cilindros Hidráulicos

l1 = k × l [mm] (5.14)

d haste
i= [mm] (5.15)
4

Onde os símbolos têm os seguintes significados:

λ = grau de esbeltez;
l1 = comprimento submetido a encurvadura [mm];
i = raio de inércia [mm];
k = calcula-se através da Figura 5.8;
l = curso do cilindro hidráulico [mm];
dhaste = diâmetro da haste do cilindro hidráulico [mm].

Se o grau de esbeltez λ for inferior a 100 utiliza-se a expressão de Tetmajer (vd. Figura
5.7). Neste caso, a tensão crítica de encurvadura σk dependerá do material indicado para a
haste do cilindro hidráulico:

Para aço St 42 σk = 3100 – 11,4 × λ [kg/cm2] (5.16)

Para aço St 50 σk = 3170 – 10,0 × λ [kg/cm2] (5.17)

Para aço St 60 σk = 3250 – 8,0 × λ [kg/cm2] (5.18)

Se o grau de esbeltez λ for superior a 100 utiliza-se a expressão de Euler (vd. Figura
5.7). Neste caso, é preciso tomar em consideração o módulo de elasticidade E, tendo a
expressão a seguinte forma:
π2 ×E
σk = [kg/cm2] (5.19)
λ 2

A tensão de encurvadura σ originada pela força de compressão aplicada no cilindro,


calcula-se pelas seguintes expressões:

F G × cos α × l
σ= + [kg/cm2] (5.20)
A 2 ×W

π × d haste
2
A= [cm2] (5.21)
4

72
Cilindros Hidráulicos

π × d haste
3
W= [cm3] (5.22)
32

Onde os símbolos têm os seguintes significados:

σ = tensão de encurvadura [kg/cm2];


A = secção transversal da haste [cm2];
G = peso do cilindro hidráulico [kg];
α = ângulo que o cilindro faz com a horizontal [º];
l = curso do cilindro hidráulico [cm];
W = módulo de rigidez [cm3];
dhaste = diâmetro da haste do cilindro hidráulico [mm].

5.2.3. GUIAMENTO

O comprimento das guias constitui um problema construtivo fundamental, pois se por


um lado razões económicas e de espaço impõem limitações no comprimento total, por outro é
indispensável garantir a esta delicada zona do cilindro hidráulico dimensões apropriadas para
absorver sem danos as forças radiais, visto que existe o perigo de um rápido desgaste com a
formação de sulcos.
A Figura 5.10 fornece uma orientação sobre os valores mais adequados.

Figura 5.10 Comprimento das guias para o êmbolo e haste

No caso de cilindros hidráulicos de duplo efeito, as dimensões das guias calculam-se


através das expressões:
Lf1 = (0,4…0,6) × dinterior (5.23)

73
Cilindros Hidráulicos

Lf2 = (0,8…1,2) × dhaste (5.24)

Lfmin = 0,5 × dinterior + dhaste (5.25)

5.2.4. ESPESSURA DO FUNDO DO CILINDRO HIDRÁULICO

Também a espessura de cada tampa do cilindro hidráulico deve ser calculada para
resistir à pressão de serviço.
Supondo que a união das tampas à camisa do cilindro hidráulico é feita mediante
soldadura, a espessura é dada por:
p máx
h = 0,9 × rs × [mm] (5.26)
σ adm

O raio de soldadura, rs é dado por:

rexterior + rint erior d exterior + d int erior


rs = = [mm] (5.27)
2 4

Por motivos de segurança, empiricamente confirmados, é necessário que o valor de


σadm não ultrapasse um décimo da tensão de rotura do material σrot, logo:

σadm =0,1 × σrot [kg/cm2] (5.28)

Os símbolos têm os seguintes significados:

h = espessura das tampas do cilindro hidráulico [mm];


rs = raio de soldadura [mm];
pmáx = pressão máxima de serviço [kg/cm2];
σadm = tensão admissível do material [kg/cm2];
σrot = tensão de rotura do material [kg/cm2].

5.2.5. AMORTECIMENTO

Para velocidades do êmbolo superiores a 0,1 m/s ou mesmo menores, mas quando as
massas a mover sejam consideráveis é aconselhável a existência de amortecimento hidráulico

74
Cilindros Hidráulicos

nos fins de curso, de forma a evitar choques nos fins de curso, passíveis de provocar danos
mecânicos. O amortecimento hidráulico consiste em desviar o caudal de óleo que sai da
câmara do cilindro hidráulico, quando o êmbolo percorre a parte final do seu curso, para um
estrangulamento que origina uma perda de carga de amortização. É evidente que a pressão de
amortização não deve em circunstância alguma ultrapassar o limite máximo de pressão
admissível para o cilindro hidráulico.

Em primeiro lugar e pelo que foi dito no parágrafo anterior, é preciso calcular as
velocidades de avanço e recuo da haste do cilindro hidráulico e compará-las com o valor
crítico de 0,1 m/s:
l
v= [m/s] (5.29)
t

No caso de uma ou ambas as velocidades apresentarem um valor superior a 0,1 m/s


será necessário amortecimento hidráulico nos fins de curso. As dimensões desse
amortecimento hidráulico são dadas pela secção de amortecimento Sa e pelo comprimento de
amortecimento la, através da expressão:

2 × p máx × S a × l a
v = vcritico
2
+ [m/s] (5.30)
100 × m

Onde os símbolos têm os seguintes significados:

v = velocidade da haste do cilindro hidráulico [m/s];


vcritico = velocidade crítica da haste do cilindro hidráulico [m/s];
pmáx = pressão máxima de serviço [kg/cm2];
Sa = secção de amortecimento [cm2];
la = comprimento de amortecimento [cm];
m = massa que actua sobre a haste [kg]1.

1
Nesta unidade do SI, o kg refere-se a kg massa. Será necessário dividir a força que actua sobre a haste, dada em
kgf, pela aceleração da gravidade.

75
Cilindros Hidráulicos

A Figura 5.11 representa uma solução construtiva de um amortecimento hidráulico de


fim de curso.

Figura 5.11 Amortecimento de um cilindro hidráulico

76
6. BOMBAS E MOTORES HIDRÁULICOS

6.1. GENERALIDADES

As bombas e os motores hidráulicos representam dois sistemas dotados de funções


perfeitamente simétricas na transmissão hidrostática de energia. Efectivamente, enquanto as
primeiras convertem a energia mecânica em energia hidráulica, os segundos efectuam a
reconversão da energia hidráulica em energia mecânica.

Uma bomba hidráulica aspira o óleo existente num tanque, através da conduta de
aspiração, impelindo-o para a conduta de pressão. A partir daí, o óleo é distribuído pelo
circuito hidráulico, podendo ser reconduzido ao tanque ou fornecido a um receptor hidráulico.
Convém salientar que num circuito hidráulico, a pressão não é gerada pela bomba hidráulica,
mas resulta da resistência imposta à circulação do óleo.

Como existe uma grande variedade de soluções construtivas, a escolha da bomba


hidráulica deverá efectuar-se de acordo com os requisitos particulares do circuito hidráulico e
recair na solução que apresente mais vantagens. Os critérios de escolha mais importantes são
o preço, fiabilidade, pressão, velocidade, ruído, caudal (fixo ou variável), dimensões,
rendimento, compatibilidade com o fluido hidráulico.

A analogia entre bombas e motores hidráulicos não se resume só a um carácter


funcional, mas estende-se em muitos casos a outros aspectos. Construtivamente, os motores
hidráulicos são idênticos ás bombas hidráulicas, havendo mesmo casos em que algumas
bombas hidráulicas podem utilizar-se também como motores hidráulicos (desde que não
estejam equipadas com válvulas direccionais).
Bombas e Motores Hidráulicos

6.2. CLASSIFICAÇÃO E APLICAÇÃO DAS BOMBAS HIDRÁULICAS

Uma bomba hidráulica tem como objectivo principal fornecer um caudal . Para isso
tem de vencer determinadas resistências. Até aqui, a definição é válida para os dois tipos de
bombas hidráulicas (hidrostáticas e hidrodinâmicas). As diferenças surgem quando se analisa
a forma de obter o caudal e como se vencem as resistências.

Nas bombas hidrodinâmicas, o óleo que se encontra em repouso num tanque é


colocado em movimento dentro da bomba hidráulica com uma grande velocidade, para logo a
seguir sofrer uma diminuição da velocidade, o que lhe permite ganhar pressão e dessa forma
vencer as resistências. Este tipo de bombas hidráulicas é caracterizado por uma dependência
funcional entre o caudal fornecido e a pressão. Exemplos típicos de bombas hidrodinâmicas
são as centrifugas e as axiais.

Praticamente todas as bombas hidráulicas utilizadas em óleo-hidráulica são bombas


hidrostáticas (ou volumétricas). Nestas, o óleo adquire movimento sem sofrer um aumento
substancial de velocidade no interior da bomba hidráulica, visto que é simplesmente aspirado
e posteriormente transportado pelas tubagens. Este tipo de bombas hidráulicas é caracterizado
pela independência do caudal relativamente à pressão, daí considerar-se que o caudal
fornecido se mantém sensivelmente constante.

As bombas hidráulicas podem classificar-se segundo vários critérios. Um deles é a sua


forma construtiva. Sendo assim, existem bombas hidráulicas de engrenagens, de palhetas e de
êmbolos. Dentro de cada uma destas divisões poderão ainda surgir diferentes variantes.

6.2.1. BOMBAS HIDRÁULICAS DE ÊMBOLOS

Este é o tipo mais simples de bomba hidrostática.


Como se observa na Figura 6.1, a bombagem efectua-se através de uma avalanca
mecânica solidária com o êmbolo, proporcionando-lhe desta forma um movimento
oscilatório.

78
Bombas e Motores Hidráulicos

Figura 6.1 Bomba hidráulica de êmbolo com accionamento manual

O funcionamento de uma bomba hidráulica deste tipo compreende duas fases. A


primeira, conhecida como aspiração, corresponde ao movimento de recuo do êmbolo até ao
seu “ponto morto superior”, o qual provoca a subida do óleo que ocupa gradualmente o
espaço deixado livre pelo êmbolo. A segunda fase, conhecida como impulsão, dá-se quando o
êmbolo inverte o sentido do movimento e ao fazer o percurso oposto expele o óleo que enchia
a câmara. Esta fase termina quando o êmbolo atinge o fim do curso, ou seja, o “ponto morto
inferior”. É óbvio que o fim da impulsão coincide com o início de nova aspiração.

Para que a bomba hidráulica possa realmente funcionar, a câmara deve estar unida a
duas condutas (aspiração e impulsão). A conduta de aspiração serve para introduzir na bomba
o óleo absorvido durante a primeira metade do ciclo e a conduta de impulsão serve para
expelir o óleo posto em movimento pelo êmbolo.

Durante a aspiração, a conduta de impulsão deve permanecer fechada para impedir que
o óleo já expelido retorne à câmara e durante a impulsão, deve fechar-se a conduta de
aspiração, pois o óleo já aspirado voltaria a descarregar-se pela conduta de aspiração. Para tal,
colocam-se na bomba hidráulica duas válvulas chamadas de aspiração e impulsão, cujo
funcionamento é automático e determinado pela própria passagem do óleo.
Ainda durante a aspiração, o fornecimento de óleo é completamente interrompido,
dando origem a um caudal bastante irregular. Este motivo associado à limitação de aplicações
que o accionamento manual implica, reserva a utilização deste tipo de bombas hidráulicas
79
Bombas e Motores Hidráulicos

para equipas de manutenção, funcionamento ocasional, ou intervenções de emergência em


circuitos hidráulicos.

Como é fácil perceber, as bombas hidráulicas de accionamento manual fornecem um


caudal muito pequeno, para além de requerem a presença constante de um operador. De forma
a ultrapassar estes problemas, desenvolveram-se bombas hidráulicas accionadas por motor
(motobombas), cujo tipo mais simples é semelhante à bomba manual atrás descrita.

6.2.1.1. BOMBAS HIDRÁULICAS DE ÊMBOLOS EM LINHA

A Figura 6.2 ilustra uma bomba hidráulica de dois êmbolos ligados por bielas a uma
cambota.

Figura 6.2 Bomba hidráulica de dois êmbolos em linha

O movimento rotativo da cambota transforma-se num movimento alternado dos


êmbolos graças ás uniões proporcionadas pelas bielas. Os dois êmbolos estão desfasados de
um curso total, de forma que quando um deles ocupa o “ponto morto superior” o outro
ocupará o “ponto morto inferior”. Esta simples disposição permite obter um caudal mais
regular porque quando um dos êmbolos interrompe o fornecimento do óleo (fase de
aspiração), o outro permite-o, pois encontra-se na fase da impulsão.

Com uma bomba hidráulica semelhante à da Figura 6.3 obtêm-se melhores resultados
já que estando um maior número de êmbolos devidamente desfasados, o grau de
irregularidade do caudal diminui, pois o caudal total é consequência da junção de vários
caudais parciais. Se o número de êmbolos for impar o grau de irregularidade será ainda
menor.

80
Bombas e Motores Hidráulicos

Figura 6.3 Bomba hidráulica de 6 êmbolos em linha

Se bem que a bomba hidráulica de êmbolos em linha seja a mais simples do ponto de
vista construtivo, é também a mais volumosa, apresentando ainda limitações de velocidade
devido ás massas oscilantes dos êmbolos, bielas e cambota.

6.2.1.2. BOMBAS HIDRÁULICAS DE ÊMBOLOS RADIAIS

Dispondo os êmbolos em redor de um centro, ou seja, em posição radial, obtém-se


uma bomba de êmbolos radiais, da qual a representada na Figura 6.4 é um exemplo.

Figura 6.4 Bomba hidráulica de êmbolos radiais em estrela

81
Bombas e Motores Hidráulicos

Os êmbolos dispostos em estrela rodam em torno do pivô distribuidor (fixo), no


interior de um anel excêntrico (relativamente aos êmbolos). Ao girar, a força centrífuga faz
com que os êmbolos sigam o contorno do anel excêntrico. Devido a essa excentricidade, a
rotação do veio motor transforma-se num movimento alternado dos diversos êmbolos.
Quando os êmbolos ocuparem o PMI o óleo é aspirado para os dois orifícios de entrada
(aspiração). Quando estes se deslocarem para o PMS (na direcção do pivô distribuidor)
forçados pelo contorno do anel excêntrico, o óleo é descarregado para os dois orifícios de
saída (impulsão).
O caudal de óleo depende do tamanho, do número e do curso dos êmbolos da bomba
hidráulica. No caso da bomba hidráulica da Figura 6.4, esse caudal de óleo pode variar
mediante a modificação da excentricidade do anel, de forma a aumentar ou diminuir o curso
dos êmbolos. Ainda neste caso particular, os caudais parciais convergem para uma conduta de
impulsão comum, mas em caso de necessidade é possível usá-los separadamente para
alimentar, por exemplo, um receptor hidráulico com cada um deles.

6.2.1.3. BOMBAS HIDRÁULICAS DE ÊMBOLOS AXIAIS

O principio de funcionamento é ligeiramente diferente das descritas anteriormente. A


bombagem produz-se como consequência do movimento oscilante de um certo número de
êmbolos dispostos simétrica e paralelamente ao veio de accionamento.

À parte esta disposição comum a todas as bombas hidráulicas de êmbolos axiais,


existem três principais soluções construtivas:
a) bomba hidráulica de prato inclinado com bloco de cilindros rotativo e horizontal;
b) bomba hidráulica de prato vertical com bloco de cilindros rotativo e inclinado;
c) bomba hidráulica de prato oscilante com bloco de cilindros fixo e horizontal.

A bomba hidráulica de prato inclinado com bloco de cilindros rotativo e horizontal,


representada na Figura 6.5, não tem válvulas, podendo também funcionar como motor
hidráulico depois de sofrer pequenas modificações construtivas. Esta solução permite caudais
entre 10 a 570 l/min com pressões até 350 kg/cm2.

82
Bombas e Motores Hidráulicos

Figura 6.5 Bomba hidráulica de prato inclinado com


bloco de cilindros rotativo e horizontal

O bloco de cilindros é directamente accionado pelo veio de accionamento, sendo o


movimento de vaivém dos êmbolos imposto por um prato inclinável apoiado na carcaça da
bomba hidráulica. A cilindrada da bomba hidráulica é função do ângulo que o prato inclinado
faz com a perpendicular ao veio de accionamento. Este principio permite a realização de
bombas hidráulicas reversíveis. No caso de bombas e motores hidráulicos de cilindrada
constante, a inclinação do prato é fixa.
Durante a aspiração, os êmbolos deslocam-se para o exterior do bloco de cilindros,
sendo o seu encosto ao prato permanentemente garantido por um dispositivo de retenção
(“aranha de retenção”). Durante a compressão, os êmbolos são forçados pelo prato para o
interior do bloco de cilindros.
Os êmbolos ao serem movimentados, descrevem uma trajectória elíptica contra o prato
inclinado. O contacto entre os êmbolos e o prato inclinado efectua-se por intermédio de
rótulas (“patins hidrostáticos”).

A bomba hidráulica de prato vertical com bloco de cilindros rotativo e inclinado,


representada na Figura 6.6, é também desprovida de válvulas, podendo funcionar como motor
hidráulico depois de sofrer pequenas modificações construtivas. Trata-se nas realidade de uma
variante do tipo anterior.

83
Bombas e Motores Hidráulicos

Figura 6.6 Bomba hidráulica de prato vertical com


bloco de cilindros rotativo e inclinado

O bloco de cilindros está inclinado relativamente ao veio de accionamento. O prato


vertical está colocado perpendicularmente ao veio de accionamento e solidário com ele. O
bloco de cilindros (e por conseguinte os êmbolos) é accionado pelo movimento do prato
vertical, sendo guiado por um eixo central com inclinação (variável) em relação ao eixo do
veio de accionamento.
A transmissão do movimento entre os êmbolos e o prato vertical efectua-se através de
um sistema de bielas de rótula esférica, alojadas de um lado nas cavidades do prato e do outro
lado em cavidades feitas no corpo dos êmbolos. Através deste processo os êmbolos são
puxados durante a fase de aspiração, sofrendo um movimento inverso durante a fase de
impulsão.

Tal como no primeiro caso, este tipo de bomba hidráulica também existe na variante
de cilindrada variável. A regulação da cilindrada consegue-se à custa da variação da
inclinação do bloco de cilindros, tal como mostra a Figura 6.7.

Figura 6.7 Variação do caudal numa bomba hidráulica de prato


vertical com bloco de cilindros rotativo e inclinado

84
Bombas e Motores Hidráulicos

Ao passar da posição representada para a tracejada, o caudal decresce desde o valor


máximo até zero, para voltar a aumentar desde zero até ao valor máximo, quando se inverter a
inclinação.

A bomba hidráulica de prato oscilante com bloco de cilindros fixo e horizontal é


visível na Figura 6.8. Esta terceira solução difere ligeiramente das duas anteriores, visto que o
prato solidário com o veio motor e inclinado relativamente a ele, é colocado em rotação na
parte dianteira do bloco de cilindros fixo e paralelo ao veio.

Figura 6.8 Bomba hidráulica de prato oscilante com


bloco de cilindros fixo e horizontal

O veio da bomba hidráulica acciona um prato oscilante, o qual transmite aos êmbolos
não rotativos um movimento axial alternativo. O encosto permanente dos êmbolos ao prato é
garantido por molas, sendo as forças de compressão desenvolvidas entre os êmbolos,
suportadas por um rolamento axial. As fases de admissão e compressão são realizadas por
válvulas.
Apresenta comparativamente ás soluções anteriores algumas desvantagens, pois
funciona exclusivamente como bomba hidráulica, é dinamicamente desequilibrada e não
permite a variação de caudal, porque o ângulo de inclinação do prato oscilante é fixo.

6.2.2. BOMBAS HIDRÁULICAS DE PALHETAS

Este tipo de bomba hidráulica encontra-se esquematizado na Figura 6.9, sendo


constituída por uma carcaça com orifícios de aspiração e impulsão, dentro da qual gira um
rotor em cujas extremidades existem uma série de elementos móveis denominados palhetas,
cuja função é delimitar as várias câmaras compreendidas entre elas e o centro do rotor. A

85
Bombas e Motores Hidráulicos

força que mantém em contacto as palhetas contra as suas guias de deslizamento pode ser
centrifuga, elástica (molas) ou hidráulica.

Figura 6.9 Bomba hidráulica de palhetas

Graças ao formato interno da carcaça, cada uma das câmaras, ao passar em frente aos
orifícios de aspiração sofre um aumento de volume e absorve determinada quantidade de óleo.
À medida que o rotor gira, cada câmara sofre uma redução de volume enviando o óleo contido
no seu interior para o orifício de impulsão. O volume de óleo deslocado coincide (perdas à
parte) com o aumento de volume das câmaras.

Em qualquer bomba hidráulica de palhetas, o rotor está sujeito à acção de forças


radiais exercidas nas zonas de impulsão, que são proporcionais à pressão. Adoptando um
perfil adequado para as guias de deslizamento é possível criar várias zonas de impulsão e de
aspiração simetricamente dispostas, com as quais se elimina toda a carga hidráulica exercida
sobre os rolamentos (vd. Figura 6.9).

Por dispensar o uso de válvulas, a bomba hidráulica de palhetas tem um


funcionamento reversível, ou seja, com a inversão do sentido de rotação do rotor, verifica-se
também a consequente inversão de funções entre as zonas de aspiração e de impulsão.

A variação de caudal, é possível somente em unidades que tenham apenas uma zona
de aspiração e outra de impulsão. Consegue-se modificando com mecanismos adequados a
excentricidade do rotor dentro da carcaça. Quando a excentricidade for nula, anula-se também
o caudal.

86
Bombas e Motores Hidráulicos

A necessidade de conseguir entre as palhetas e as guias de deslizamento uma


sustentação capaz de evitar o desgaste prematuro e a exigência do desenvolvimento de uma
força mínima inclusivé não havendo pressão, obrigam à existência neste tipo de bombas
hidráulicas de uma velocidade limite mínima.

Em bombas hidráulicas destinadas a funcionar entre 100 e 175 kg/cm2, não só é


indispensável assegurar o equilíbrio das forças resultantes sobre os rolamentos, mas também
resolver eficazmente o problema da estanquecidade entre palhetas e guias de deslizamento,
recorrendo à aplicação de duas palhetas em vez de uma só.

6.2.3. BOMBAS HIDRÁULICAS DE ENGRENAGENS

Estes geradores de caudal são sem dúvida os mais difundidos em óleo-hidráulica. A


favor deles estão numerosos factores de índole construtiva, funcional e económica tais como:
a) construção robusta;
b) adaptação a grandes variações de viscosidade do óleo;
c) facilidade de montagem em qualquer posição;
d) grande gama de velocidades admissíveis;
e) facilidade de aspiração do óleo;
f) grande gama de caudais.

Se apesar de todas estas vantagens, as bombas hidráulicas de engrenagens são


excluídas em determinadas aplicações, isso deve-se à sua limitação no que diz respeito à
pressão máxima e à impossibilidade de funcionarem com caudal variável.

As bombas hidráulicas de engrenagens são constituídas por duas ou mais rodas


dentadas de dentes rectos com eixos de rotação distintos, sendo apenas um accionado por
intermédio de um motor. Encontram-se alojadas no interior de uma carcaça com as
necessárias condutas de aspiração e impulsão, tal como consta na Figura 6.10.

87
Bombas e Motores Hidráulicos

Figura 6.10 Bomba hidráulica de engrenagens exteriores

À medida que ambas as rodas dentadas rodam nos sentidos indicados, o óleo
proveniente do tanque entra na câmara de aspiração da bomba hidráulica, ocupando as
cavidades dos dentes, sendo conduzido exteriormente entre estas e a parede interior da
carcaça, desde a conduta de aspiração à de impulsão. A depressão necessária ao processo de
aspiração gera-se na câmara de aspiração por aumento do volume entre os dentes engrenados
quando estes desengrenam. Na câmara de impulsão os dentes voltam a encontrar-se com as
respectivas cavidades, forçando o óleo a deslocar-se para a conduta de impulsão.
O isolamento entre as câmaras de impulsão e de aspiração é assegurado pelo
engrenamento das rodas dentadas. Na periferia, o isolamento é feito pelo ajuste entre as
cabeças dos dentes e a carcaça da bomba hidráulica.
Se na carcaça da bomba hidráulica se colocarem três ou mais rodas dentadas
convenientemente acopladas, a bomba hidráulica poderá alimentar duas ou mais condutas de
impulsão independentes.
É indispensável uma configuração rigorosamente plana das superfícies de contacto da
carcaça e dos flancos das rodas dentadas, os quais devem formar um ângulo recto com os
eixos de rotação, pois de outra forma a bomba hidráulica pode sofrer danos. Devido a estes
condicionalismos, a execução de uma boa bomba hidráulica de engrenagens requer
procedimentos construtivos de elevada qualidade que se repercutem no custo final.

Uma bomba hidráulica de engrenagens interiores, representada na Figura 6.11, é


construtivamente mais complexa que uma bomba hidráulica de engrenagens exteriores. No
entanto, permite a obtenção de expressões superiores (até 250 kg/cm2), além de um menor
nível de ruído e um caudal uniforme.

88
Bombas e Motores Hidráulicos

Figura 6.11 Bomba hidráulica de engrenagens interiores

No interior de uma carcaça rodam duas engrenagens (uma interna e outra externa) com
folgas radiais e axiais tais que permitem uma vedação aceitável. A engrenagem interna roda
na direcção indicada na Figura 6.11, arrastando a engrenagem externa na mesma direcção.
Devido à rotação, as duas engrenagens afastam-se, aumentando o volume disponível entre os
dentes. O óleo ocupa o espaço entre os dentes das engrenagens, que por sua vez formam
câmaras estanques com uma vedação em forma de meia lua colocada entre as referidas
engrenagens (aí a folga entre os dentes das engrenagens tem um valor máximo). Quando os
dentes das duas engrenagens tornam a engrenar, o óleo é expelido para a conduta de impulsão.

Um caso especial da bomba hidráulica de engrenagens interiores é a bomba hidráulica


de parafuso da Figura 6.12. É usada em circuitos hidráulicos onde se pretenda um nível
mínimo de ruído. A pressão máxima atinge os 175 kg/cm2 e o caudal fornecido é constante e
uniforme.

Figura 6.12 Bomba hidráulica de parafusos

89
Bombas e Motores Hidráulicos

É constituída por dois ou mais parafusos sem fim. O parafuso central é accionado
através de um veio motor, transmitindo rotação aos dois parafusos externos. Desta maneira
formam-se câmaras estanques de volume constante entre os parafusos externos, central e a
carcaça da bomba hidráulica. Com a rotação dos parafusos, o volume de óleo desloca-se
desde a conduta de aspiração até à conduta de impulsão.

6.3. CLASSIFICAÇÃO E APLICAÇÃO DE MOTORES HIDRÁULICOS

Os motores hidráulicos têm como objectivo transformar a energia hidráulica


proveniente da bomba hidráulica, em energia mecânica, realizando desta forma um trabalho
efectivo com movimento rotativo. O princípio comum de funcionamento dos motores
hidráulicos é simples. O óleo à pressão actua sobre os elementos activos do motor
(engrenagens, palhetas, êmbolos radiais ou axiais), gerando uma força periférica que equivale
a um binário aplicado ao veio.

As principais vantagens evidenciadas por um motor hidráulico são:


a) dimensões reduzidas;
b) pequena inércia;
c) regulação precisa e rápida da velocidade;
d) vasta gama de velocidades;
e) elevada potência;
f) bom rendimento;
g) pequeno desgaste (funciona sempre lubrificado).

Os elementos que melhor caracterizam um motor hidráulico são a velocidade de


funcionamento e o binário útil fornecido. Como este último depende principalmente das
dimensões do motor hidráulico e mais precisamente, para uma determinada pressão, da
cilindrada, a gama de velocidades de funcionamento admissíveis está intimamente ligada ao
tipo de construção. Assim distinguem-se dois tipos de motores: hidráulicos:
a) motores hidráulicos rápidos (baixo binário);
b) motores hidráulicos lentos (binário elevado).

90
Bombas e Motores Hidráulicos

Um motor hidráulico rápido funciona satisfatoriamente dentro de uma gama de


velocidades que pode variar entre 30 e 3000 rpm, enquanto que para regimes inferiores
manifesta irregularidades na velocidade.
Um motor hidráulico lento funciona de modo satisfatório dentro de uma gama de
velocidades que varia entre 1 e 300 rpm.

Constata-se imediatamente a existência de uma gama de velocidades comum a ambas


as categorias de motores hidráulicos e de facto, considerações de natureza económica e
dimensional desaconselham o uso de motores hidráulicos rápidos para velocidades demasiado
reduzidas.

O que diferencia ambos os tipos de motores hidráulicos é na realidade a cilindrada,


que para potências iguais, é muito mais elevada para motores hidráulicos lentos do que para
motores hidráulicos rápidos. Por conseguinte, uma velocidade baixa apenas se pode obter
(supondo cilindradas iguais) com motores hidráulicos rápidos se estes forem de grandes
dimensões, enquanto que com motores hidráulicos lentos consegue-se o mesmo resultado
inclusivé com motores hidráulicos bastante pequenos. Além do mais, o uso de motores
hidráulicos rápidos para pequenas velocidades implica rendimentos baixos e portanto uma
perda de energia que pode ser inaceitável. Por seu lado, os motores hidráulicos rápidos são
imprescindíveis para aplicações que necessitem de elevadas velocidades. Conclui-se então
que cada tipo de motor hidráulico oferece vantagens e limitações próprias.

Do ponto de vista construtivo, os motores hidráulicos podem pertencer ás mais


diversas categorias, que na sua essência correspondem ás já descritas para as bombas
hidráulicas, exceptuando o caso anteriormente referido das bombas equipadas hidráulicas com
válvulas.

Os motores hidráulicos de engrenagens têm uma configuração similar à das bombas


hidráulicas de engrenagens. Apresentam geralmente uma irregularidade acentuada a baixa
velocidade, o que os torna somente aplicáveis em altas velocidades. A gama de velocidades
aconselhável situa-se entre as 500 e as 3500 rpm. As pressões de trabalho situam-se
normalmente abaixo dos 100 kg/cm2, no entanto, certos motores hidráulicos poderão atingir
picos instantâneos de 210 kg/cm2. Quando trabalham a alta velocidade e pressão têm um nível
de ruído elevado.
91
Bombas e Motores Hidráulicos

Os motores hidráulicos de palhetas apresentam uma construção idêntica ás bombas


hidráulicas de palhetas. As suas pequenas fugas internas tornam-no ideal para baixas
velocidades, oscilando entre as 10 e 1500 rpm. Quanto ás pressões máximas, elas situam-se
nos 150 kg/cm2. O funcionamento é também muito silencioso.
Os motores hidráulicos de êmbolos axiais têm a mesma forma construtiva que as
bombas hidráulicas de êmbolos. Podem ser rápidos ou lentos, variando a sua velocidade desde
os 50 a 3000 rpm. As pressões de trabalho situam-se entre os 100 e 500 kg/cm2.

Uma vantagem fundamental é a capacidade de desenvolver mesmo com o motor


hidráulico parado, um binário de arranque com intensidade suficiente para vencer o binário
resistente e colocar em funcionamento o circuito hidráulico. Esta exigência, necessária em
aplicações que apresentam um binário resistente inicial é cumprida pelos motores hidráulicos
de êmbolos, mas não pelos motores hidráulicos de palhetas ou engrenagens. Por estes motivos
e também pela notável regularidade de funcionamento a baixas velocidades, o tipo construtivo
com melhores resultados é o motor hidráulico de êmbolos axiais, independentemente do
motor ser rápido ou lento.

6.4. EXPRESSÕES DE CÁLCULO

As grandezas que intervêm na escolha de uma bomba ou um motor hidráulico são as


seguintes:
V = cilindrada [cm3];
Q = caudal [l/min];
M = binário [kg.m];
N = potência [CV];
n = velocidade de rotação [rpm];
∆p = diferença de pressão [kg/cm2];
ηv = rendimento volumétrico;
ηm = rendimento mecânico;
ηt = rendimento total (ηt = ηv ×ηm).

92
Bombas e Motores Hidráulicos

6.4.1. BOMBA HIDRÁULICA

Caudal fornecido:
V × n ×ηv
Q= [l/min] (6.1)
1000

Potência absorvida:
M × n Q × ∆p
N= = [CV] (6.2)
716 450 × η t

Binário absorvido:
1,59 × V × ∆p
M = [kg.m] (6.3)
1000 × η m

6.4.2. MOTOR HIDRÁULICO

Caudal absorvido:
V ×n
Q= [l/min] (6.4)
1000 × η v

Potência fornecida:
M × n Q × ∆p
N= = × η t [CV] (6.5)
716 450

Binário fornecido:
1,59 × V × ∆p × η m
M = [kg.m] (6.6)
1000

Exemplo 6.1: Um motor hidráulico em que ∆p = 130 kg/cm2, deve fornecer uma potência útil
de 40 CV a uma velocidade de 150 rpm. Supondo um rendimento mecânico de 95% e um
rendimento volumétrico de 90%, calcular o binário fornecido, a cilindrada e o caudal
absorvido.

Recorrendo ás expressões (6.5), (6.6) e (6.4), obtém-se:

93
Bombas e Motores Hidráulicos

40
M = 716 × = 190 kg.m
150

1000 × 190
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Q= = 162 l/min
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94
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111
7.4. VÁLVULAS MANOMÉTRICAS

7.4.1. VÁLVULAS LIMITADORAS DE PRESSÃO

A válvula limitadora de pressão desempenha uma função essencial para a segurança de


todo o circuito hidráulico, protegendo-o de sobrecargas e evitando o rebentamento de
elementos hidráulicos e tubagens.

Quando a pressão no circuito hidráulico atingir um valor limite pré-estabelecido, a


válvula estabelece uma comunicação entre a conduta de impulsão vinda da bomba hidráulica
e o tanque para onde é enviado o excesso de óleo não utilizado pelo circuito hidráulico. Para
realizar esta função, a válvula é instalada numa derivação (“by-pass”) do circuito hidráulico,
como a Figura 7.22 esquematiza.

Figura 7.22 Circuito hidráulico com válvula limitadora de pressão

Do ponto de vista construtivo e funcional, as válvulas limitadoras de pressão podem


ter um comando directo ou um comando hidráulico.

As válvulas limitadoras de pressão de comando directo utilizam uma força conseguida


à custa de uma mola helicoidal, que se opõe a um elemento móvel de fecho pressionado
contra a sua sede, pela referida mola. Esse elemento móvel é normalmente um cone, conforme
a Figura 7.23 documenta. Para que uma válvula deste tipo possua uma certa margem de
aplicação, deverá permitir a regulação da pressão de abertura dentro de um certo intervalo de
valores. Na válvula da Figura 7.23, a regulação do valor limite de pressão a pré-estabelecer
consegue-se mediante a actuação num manípulo de regulação.

112
Figura 7.23 Válvula limitadora de pressão
de comando directo

O cone é submetido a duas forças opostas, normalmente diferentes. Por um lado actua
a força da mola e por outro a força equivalente ao produto da pressão do óleo pela superfície
activa do cone. Quando a segunda força for superior à primeira (de valor pré-estabelecido), a
mola cede e o cone levanta-se da sua sede, permitindo a passagem do óleo para o tanque.
Sendo assim, cada movimento do cone (provocado pelo funcionamento da válvula) determina
o deslocamento do pequeno êmbolo dentro do seu alojamento, que constitui uma câmara
fechada. Entre essa câmara e o exterior a passagem do óleo é estrangulada, pois sem esta
precaução (amortecimento) a válvula tenderia a vibrar de forma ruidosa, havendo o perigo de
danificar outros elementos do circuito hidráulico.

Entre os requisitos que se exigem a uma válvula deste tipo figuram a ausência de
vibrações, rapidez de reacções e uma estanquecidade perfeita em condições de repouso. No
entanto, quando os valores do caudal a descarregar para o tanque e da pressão limite a pré-
estabelecer são elevados, a válvula limitadora de pressão de comando directo torna-se
inadequada porque o seu correcto funcionamento exigiria dimensões enormes, implicando um
excesso de volume e dificuldades de calibração.

Para ultrapassar os inconvenientes referidos no parágrafo anterior, recorre-se à válvula


limitadora de pressão de comando hidráulico, da qual a representada pela Figura 7.24 é um
exemplo.

113
Figura 7.24 Válvula limitadora de pressão de comando hidráulico

Trata-se de uma válvula normalmente fechada, utilizada quando se pretendam maiores


caudais, logo a secção interior de passagem do óleo deverá ser maior, bem como as dimensões
do êmbolo de vedação (3) e das molas (4 e 5). Neste caso, empregar-se-á uma válvula
limitadora de pressão de comando directo, como válvula de pilotagem responsável pelo
comando hidráulico de uma outra válvula de maior secção (válvula principal).
O óleo entra pelo orifício de alimentação P, passando através do pequeno canal (17)
existente no êmbolo (3). A pressão do óleo é transmitida ao cone de pilotagem (14) da válvula
de pilotagem, normalmente fechada por acção da mola (13). Quando a pressão do óleo
ultrapassar o valor correspondente ao estabelecido na mola (13) mediante um manípulo de
regulação (8), o cone de pilotagem (14) desloca-se, escoando-se parte do óleo para o orifício
T. Como esse óleo circula através do canal axial interno do êmbolo (3), gerar-se-á uma
diferença de pressões entre as superfícies superior e inferior deste (até agora em equilíbrio
estático), capaz de se sobrepor à força oposta das molas (4 e 5). Então o êmbolo (3) levantar-
se-á da sua sede (2), permitindo a total passagem do óleo, do orifício P para T, até que cesse a
diferença de pressões responsável pelo deslocamento inicial do cone de pilotagem (14).

A influência da temperatura do óleo sobre o comportamento de ambos os tipos de


válvulas é muito limitada, mas a válvula limitadora de pressão de comando hidráulico possui
um melhor desempenho.

114
Relativamente ás curvas características das válvulas, representadas na Figura 7.25 e
que traduzem a dependência entre o caudal enviado para o tanque e a pressão de abertura,
verifica-se que o valor da pressão depende menos do valor do caudal nas válvulas limitadoras
de pressão de comando hidráulico (linha 2).

Figura 7.25 Curvas características das válvulas limitadoras de pressão

As desvantagens da válvula limitadora de pressão de comando hidráulico situa-se ao


nível da rapidez de reacção, pois este tipo de válvulas é mais lento que as anteriores devido ao
tempo de resposta do elemento de pilotagem e ainda numa estanquecidade imperfeita quando
em repouso, devida à existência de zonas de contacto cilíndricas.

7.4.2. VÁLVULAS REGULADORAS DE PRESSÃO

Enquanto as válvulas limitadoras de pressão limitam a pressão de serviço no circuito


hidráulico a nível global, as válvulas reguladoras de pressão têm como objectivo criar entre a
entrada e a saída da válvula, uma redução de pressão que permita manter sempre constante o
valor da pressão num ramo particular do circuito hidráulico a jusante da válvula reguladora de
pressão, independentemente das variações de pressão a montante, como mostra a Figura 7.26.

Figura 7.26 Circuito hidráulico com válvula redutora de pressão

115
Também neste caso existem dois tipos de válvulas reguladoras de pressão, isto é, de
comando directo e de comando hidráulico.

Na válvula reguladora de pressão de duas vias de comando directo, visível na Figura


7.27, é a pressão a jusante da válvula que é conduzida à face inferior do êmbolo. Aí, a força
resultante é comparada com a força pré-estabelecida de uma mola. Se a pressão a jusante
ultrapassar o valor ajustado na mola, o êmbolo da válvula deslocar-se-á, obstruindo
progressivamente a passagem entre os orifícios de alimentação P e de utilização A.
A redução da pressão é independente do caudal conduzido.

Figura 7.27 Válvula reguladora de pressão


de duas vias de comando directo

A válvula reguladora de pressão de três vias de comando directo da Figura 7.28 é mais
complexa que a anterior. De facto, resulta da combinação entre uma válvula limitadora de
pressão e outra redutora de pressão.
Tal como na válvula reguladora de pressão da Figura 7.27, a pressão a jusante da
válvula reguladora de pressão de três vias é conduzida à face inferior do êmbolo. Aí, a força
resultante é comparada com a força pré-estabelecida numa mola. Se a pressão a jusante
ultrapassar o valor ajustado na mola, o êmbolo da válvula deslocar-se-á, obstruindo
progressivamente a passagem entre os orifícios de alimentação P e de utilização A e ligando a
utilização A ao tanque T, o que implicará a diminuição da pressão a jusante da válvula.
Com uma válvula deste tipo, a pressão a jusante da válvula mantém-se constante
independentemente das pressões indicadas a montante.
Utilizam-se quando existem forças exteriores actuantes sobre os receptores hidráulicos
ligados ao orifício de utilização A.

116
Figura 7.28 Válvula reguladora de pressão
de três vias de comando directo

Tal como nas válvulas limitadoras de pressão, as válvulas reguladoras de pressão para
grandes caudais dispõem de comando hidráulico. Na válvula reguladora de pressão de duas
vias de comando hidráulico, visível na Figura 7.29, a pressão pretendida a jusante ajusta-se de
antemão mediante a actuação num manípulo. Conforme este ajuste, o êmbolo desloca-se mais
ou menos e estrangula mais ou menos a passagem entre a alta (montante) e a baixa pressão
(jusante).
Esta válvulas são constituídas por uma válvula principal e por uma válvula piloto
(válvula limitadora de pressão de comando directo). A válvula principal é normalmente aberta
e possui no seu interior um êmbolo. A pressão a regular, a jusante, actua sobre a face inferior
do êmbolo e passando através de um restritor, incide também sobre a face superior do mesmo
êmbolo, comunicando com a válvula piloto.
Atingindo-se a pressão pré-estabelecida na válvula piloto, estabelece-se um caudal de
pilotagem através do restritor da válvula principal. Em consequência da perda de carga
ocasionada, o êmbolo desloca-se comprimindo a mola e impedindo a comunicação entre os
orifícios de entrada e de saída. O caudal de pilotagem retorna ao tanque através da válvula
piloto.

O valor mínimo da pressão a jusante que é possível obter com este tipo de válvulas
varia entre 1 a 10 kg/cm2.

117
Figura 7.29 Válvula reguladora de pressão
de duas vias de comando hidráulico

Um estrangulador também pode considerar-se em determinados aspectos, uma válvula


reguladora de pressão, visto que determina uma queda de pressão entre a entrada e a saída.
Mas enquanto a válvula reguladora de pressão produz uma redução de pressão
independentemente do valor do caudal e mantendo constante a pressão a jusante, o
estrangulador determina uma queda de pressão que além de depender do caudal, não mantém
necessariamente constante a pressão a jusante. Por outro lado, é indispensável que haja um
caudal permanente de óleo, visto que em condições estáticas o estrangulador não exerce
influência sobre a pressão, que permanece igual a montante e a jusante, enquanto que a
válvula reguladora de pressão mantém ambas as pressões diferentes, inclusivé sem circulação
de caudal.

7.4.3. VÁLVULAS DE SEQUÊNCIA

Certos circuitos hidráulicos requerem a abertura ou o fecho de um dado ramo do


circuito hidráulico quando a pressão de serviço alcança um certo valor, criando uma
sequência na distribuição do óleo, isto é, uma sucessão na alimentação dos diversos ramos do
circuito hidráulico, em função da pressão de serviço e da pressão pré-estabelecida da válvula
de sequência.

118
Suponha-se por exemplo, que se dispõe de dois cilindros hidráulicos alimentados em
paralelo e cujos movimentos devam executar-se sucessivamente, de modo que um inicie o seu
movimento apenas quando o outro tenha atingido o seu fim de curso. Suponha-se também que
as cargas requeridas e as dimensões diametrais dos êmbolos dos referidos cilindros
hidráulicos determinam pressões sensivelmente diferentes. O problema resolve-se inserindo
no ramo do circuito hidráulico associado ao cilindro hidráulico a movimentar primeiro, uma
válvula de sequência, como a Figura 7.30 esquematiza. A alimentação procedente da bomba
hidráulica provoca em primeiro lugar o movimento do êmbolo do primeiro cilindro
hidráulico, o qual ao aproximar-se do seu fim de curso gera uma pressão que aumenta
rapidamente. Este aumento de pressão (até à pressão p2) faz abrir a válvula de sequência, com
o consequente envio de óleo ao segundo cilindro hidráulico.

Figura 7.30 Circuito hidráulico com válvula de sequência

Da Figura 7.31 verifica-se que esta válvula é construtivamente semelhante a uma


válvula direccional 2/2 de comando hidráulico normalmente fechada, sobre cujo êmbolo actua
por um lado, a força de uma mola e no outro lado do êmbolo, a pressão a montante do circuito
hidráulico.

Em repouso, a mola mantém o êmbolo em posição de fecho e impede a passagem de


óleo entre os dois principais orifícios. Quando a montante se atinge uma pressão de pilotagem
suficiente capaz de vencer a força da mola, o êmbolo desloca-se e permite a passagem de óleo
entre ambos os orifícios. A comunicação entre eles subsiste enquanto se mantiverem as
condições que a estabeleceram, mas logo que a pressão de pilotagem diminua, a válvula volta

119
a fechar. Dado que a pressão de pilotagem externa é alheia a qualquer ciclo de regulação, a
válvula só assume as posições aberta e fechada.

Figura 7.31 Válvula de sequência de comando directo

Se bem que em principio uma válvula de sequência não necessite de nenhuma


comunicação para fugas, esta existe sempre por razões de construção. A fuga sistemática de
óleo entre o corpo central da válvula de sequência de comando directo e a câmara da mola
tenderia a elevar a pressão da própria câmara e a introduzir esforços indesejados no equilíbrio
do êmbolo. O óleo de fugas escoa-se externamente para o tanque através de um orifício
representado na parte superior direita da válvula de sequência de comando directo da Figura
7.31.

120
8. ACUMULADORES HIDRÁULICOS

A acumulação de energia é um problema existente em muitos campos de aplicação,


suscitado pela necessidade de equipar determinado circuito hidráulico com a mínima
potência possível, mas com a possibilidade de se obter durante certos períodos do ciclo
produtivo um fornecimento de energia de curta duração (ou pelo menos instantâneo) muito
superior à potência média instalada.

A função fundamental de um acumulador hidráulico será então o de armazenar


energia potencial (sob a forma de óleo à pressão) de forma a reduzir a potência de
accionamento e o tamanho da bomba hidráulica, para a restituir ao circuito hidráulico
sempre que for necessária e com a rapidez desejada.

No entanto, os acumuladores hidráulicos oferecem ainda outras possibilidades de


utilização, tais como a reserva de energia para emergência (avaria da bomba hidráulica),
compensação de fugas, compensação de variações volúmicas com origem térmica ou
manométrica, elementos de suspensão em veículos, amortecimento de choques.

8.1. CLASSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA

Em função da carga e descarga, os acumuladores podem classificar-se em duas


categorias:
a) acumuladores de pressão constante;
b) acumuladores de pressão variável.

À primeira categoria pertence o acumulador gravítico, representado na Figura 8.1a.


É constituído essencialmente por um cilindro dentro do qual desliza um êmbolo, carregado
com contrapesos. Se P é o peso total que actua sobre o êmbolo e S é a secção do mesmo,
origina-se no circuito hidráulico uma pressão constante p = P/S qualquer que seja a
Acumuladores Hidráulicos

posição do êmbolo. O que varia é a energia acumulada ou cedida, que depende da altura do
êmbolo relativamente ao cilindro. Para ter uma ideia das grandezas que intervêm neste tipo
de acumulador, basta dizer que a actuação de uma pressão de 200 kg/cm2 num êmbolo com
300 mm de diâmetro obriga a colocar contrapesos equivalentes a uma carga total de 140
toneladas.

Pertencem à segunda categoria (pressão variável), o acumulador de molas (Figura


8.1b) e todos os tipos que utilizam gases comprimidos, como sejam o de nível livre (Figura
8.1c), o de êmbolo separador (Figuras 8.1d), o de diafragma ou membrana (vd. Figura 8.2)
e o de bexiga (vd. Figura 8.3).

Figura 8.1a, b, c, d, e Acumuladores hidráulicos

Nos acumuladores hidráulicos de molas, a acção que se opõe à pressão é


desenvolvida por molas helicoidais, sendo aplicada sobre um dos lados do êmbolo. No
entanto, quando o volume de óleo a acumular e a pressão necessária aumentam, as molas e
o espaço ocupado atingem dimensões consideráveis. Conclui-se que este tipo de
acumuladores hidráulicos têm uma utilização mais limitada que os gravíticos, os quais
oferecem ainda a vantagem extra de funcionar a pressão constante.

Os acumuladores hidráulicos de nível livre, isto é, aqueles que não têm separação
entre a parte superior, onde se encontra o gás comprimido, e o fluido, usam-se
preferencialmente em grandes instalações à base de água, podendo absorver volumes
bastante consideráveis e fornecer a energia de forma gradual. No entanto, não têm

122
Acumuladores Hidráulicos

aplicação prática em circuitos óleo-hidráulicos, onde se tende a concentrar elevadas


energias em dispositivos que ocupem pouco espaço.
Para conseguir concentrações elevadas de energia no mínimo espaço possível,
conceberam-se acumuladores hidráulicos capazes de conter e ainda separar o gás e o óleo.
Estes apresentam também a vantagem de permitir a instalação em posições diferentes da
vertical (condição indispensável nos acumuladores hidráulicos gravíticos ou nos de nível
livre), de evitar o uso do compressor (para evitar a absorção de gás pelo fluido) e as
irregularidades de funcionamento devidas à presença de gás no circuito hidráulico. O
elemento de separação pode ser um êmbolo flutuante como o da Figura 8.1d, ou então um
diafragma (vd. Figura 8.2) ou uma bexiga elástica (vd. Figura 8.3).

No primeiro caso, o acumulador hidráulico tem a forma e as características de um


cilindro rectificado interiormente, com entradas para introduzir a pré-carga do gás e para a
ligação ao circuito hidráulico, dentro do qual desliza o êmbolo. A estanquecidade
assegurada por intermédio de juntas apropriadas, resulta geralmente satisfatória até
pressões de 150 a 200 kg/cm2. O acumulador de êmbolo pode apresentar uma certa inércia
causada pela massa do êmbolo ou pelo atrito com as juntas, mas tem vantagens em relação
aos de diafragma ou de bexiga, como uma maior segurança no funcionamento, porque não
há perigo de avaria por rotura do diafragma elástico, possibilidade de utilizar todo o
volume útil do acumulador hidráulico, fácil manutenção e duração prolongada de serviço.

O acumulador hidráulico de diafragma ou membrana possui um elemento separador


flexível, tal como a Figura 8.2 ilustra.

Figura 8.2 Acumulador hidráulico de diafragma

123
Acumuladores Hidráulicos

Este tipo de construção garante uma perfeita separação entre a câmara


correspondente ao gás e a destinada ao óleo. O diafragma não apresenta inércia e como não
existe nenhum deslizamento reciproco entre elementos metálicos, é desnecessária uma
construção especial da sua parte interna, que neste caso é constituída por duas meias
esferas roscadas.
Na sua parte superior existe uma válvula (parafuso obturador) para fazer a pré-
carga do gás comprimido (azoto1). O recipiente suporta facilmente pressões elevadas e as
suas eventuais dilatações não provocam nenhum inconveniente ao funcionamento. A
válvula de entrada do óleo (botão obturador) situada na ligação ao circuito hidráulico
impede a extrusão da membrana pelo orifício de entrada, quando esta se encontra
totalmente expandida. O fecho da dita válvula produz-se à custa de uma pequena dilatação
da membrana, depois do qual o sistema retorna ao estado de equilíbrio, podendo-se
inclusivamente retirar o acumulador hidráulico do circuito hidráulico, caso seja necessário.

Uma variante do acumulador hidráulico de diafragma é o acumulador hidráulico de


bexiga, visível na Figura 8.3. Neste acumulador a membrana foi substituída por uma
bexiga.

Figura 8.3 Acumulador hidráulico de bexiga

1
Usa-se azoto pois a sua inactividade química exclui todo o fenómeno de corrosão da superfície interior,
combustão ou explosão, sempre possível em presença de óleo, além de impedir o envelhecimento da
borracha sintética das juntas, membranas ou diafragmas.

124
Acumuladores Hidráulicos

Este acumulador hidráulico, garante através de uma bexiga, uma perfeita separação
entre a câmara correspondente ao gás e a câmara destinada ao óleo. Na parte superior do
acumulador existe uma válvula de enchimento destinada a introduzir o azoto. A válvula
“anti-extrusão” tem a função de fechar o orifício de acesso do óleo quando a bexiga se
encontrar totalmente expandida, evitando assim a sua extrusão.
Tal como o acumulador hidráulico de diagrama, este também apresenta uma inércia
reduzida e um rendimento elevado, dada a ausência de perdas por atrito e o isolamento
entre as câmaras do gás e do óleo.

Figura 8.4 Funcionamento de um acumulador hidráulico de bexiga

Na Figura 8.4, o azoto dilata completamente a bexiga e esta ocupa totalmente a


câmara do óleo. Na imagem do meio, a válvula “anti-extrusão” abre, permitindo entrada
total de óleo à pressão máxima do circuito hidráulico e a bexiga contrai-se, diminuindo o
volume da câmara que contém o gás. Na última imagem, utiliza-se o óleo armazenado na
câmara para alimentar o circuito hidráulico e a bexiga dilata novamente, devido ao
aumento de volume da câmara que contém o azoto.

8.2. CÁLCULO DE UM ACUMULADOR HIDRÁULICO

Veja-se como se calcula um acumulador hidráulico de diafragma representado na


Figura 8.2.
Sejam p2 e p1 as pressões máxima e mínima que se desejam alcançar no circuito
hidráulico. Seja p0 a pressão de carga do acumulador hidráulico, isto é, a pressão do gás

125
Acumuladores Hidráulicos

introduzido na câmara respectiva quando na ligação ao circuito hidráulico não está


aplicada nenhuma pressão de óleo. Seja finalmente V o volume útil de óleo a introduzir (e
a extrair) e V0 o volume total do acumulador hidráulico (volume geométrico interno).

O problema consiste em calcular o volume V0 necessário para absorver e fornecer a


quantidade de óleo V quando a pressão do circuito hidráulico e também a do gás contido no
diafragma variar entre p1 e p2 e vice-versa. O cálculo efectua-se numa primeira
aproximação utilizando a lei de Boyle, segundo a qual, num gás perfeito a temperatura
constante o produto da pressão pelo volume é também constante.

Ás pressões p0 (pressão do gás), p1 (pressão mínima no circuito hidráulico), p2


(pressão máxima no circuito hidráulico), o difragma ocupará respectivamente os volumes
V0, V1 (volume máximo) e V2 (volume mínimo), logo:

V = V1 – V2 [litros] (8.1)

De acordo com a lei de Boyle poder-se-á escrever:

p0 × V0 = p1 × V1 = p2 × V2 = constante (8.2)

Recorrendo ás expressões (8.1) e (8.2) obtém-se:

V0 × ( p 2 − p1 ) p0
V = V1 − V2 = × [litros] (8.3)
p2 p1

p0
A relação Z = define a pressão prévia do gás (a titulo indicativo, Z apenas
p1
estará compreendida entre 0,5 e 0,9). Da expressão (8.3) deduz-se finalmente:
V × p2
V0 = [litros] (8.4)
Z × ( p 2 − p1 )

A expressão (8.4) apenas é válida quando as variações do estado termodinâmico do


gás (que actua como uma “mola”) se processam lentamente, de forma a existir a hipótese
de isotermia (temperatura constante). A prática demonstra que a expressão (8.4) apresenta
resultados satisfatórios para tempos de carga e descarga superiores a três minutos.

126
Acumuladores Hidráulicos

Quando os tempos de carga e descarga forem menores (inferiores a um minuto), o


comportamento do gás é sensivelmente adiabático (calor constante), podendo exprimir-se
por:
p0 × V0 γ = p1 × V1 γ = p2 × V2 γ = constante (8.5)

γ é o chamado expoente adiabático e corresponde à relação entre os calores


específicos do gás. Tem o valor de 1,4 para o azoto.

Recorrendo ás expressões (8.1) e (8.5) obtém-se:

0,72
V0 × ( p 2 0,72 − p10,72 ) p
V = V1 − V2 = × 0 [litros] (8.6)
p 2 0,72 p1

p0
Considerando mais uma vez Z = , da expressão (8.6) deduz-se finalmente:
p1

V × p 2 0,72
V0 = [litros] (8.7)
Z 0,72 × ( p 2 0,72 − p10,72 )

Na prática, as transformações consideram-se adiabáticas, mas frequentemente a


carga do acumulador hidráulico é adiabática e a descarga é isotérmica.

Exemplo 8.1: Calcular o volume de um acumulador hidráulico capaz de fornecer 5 litros


de óleo entre 180 e 80 kg/cm2, adoptando um pressão de carga do acumulador hidráulico
de 72 kg/cm2 e supondo a transformação a) isotérmica; b) adiabática.

72
Calcula-se Z = = 0,9 e substitui-se em (8.4) obtendo-se:
80
5 × 180
a) V0 = = 10 litros
0,9 × (180 − 80)

5 × 180 0,72
b) V0 = = 13 litros
0,9 0,72 × (180 0,72 − 80 0,72 )

127
Bibliografia

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