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Ficha Técnica

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Transcrição dos artigos
RENATA BRAVO SALLES
FABIANO PARRACHO

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
H578
História do Brasil para ocupados: os mais importantes historiadores apresentam de um jeito
original os episódios decisivos e os personagens fascinantes que fizeram o nosso país. /
organização Luciano Figueiredo. 1. ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.
Inclui bibliografia
ISBN 9788577344345
1. Brasil História. 2. Brasil Civilização História. 3. Brasil Condições sociais. I.
Figueiredo, Luciano. II. Título.
13-05111 CDD: 981 CDU: 94(81)

CASA DA PALAVRA PRODUÇÃO EDITORIAL


Nova ordem, velhos pactos

Além do café com leite

Ao contrário do que se diz, São Paulo e Minas não estiveram sempre de acordo nem
controlaram sozinhos a política na Primeira República.

CLÁUDIA M. R. VISCARDI

Análises recentes das sucessões presidenciais na Primeira República (1889-1930) mostram


que a famosa aliança entre Minas Gerais e São Paulo, chamada de política do “café com
leite”, não controlou de forma exclusiva o regime republicano. Havia outros quatro estados,
pelo menos, com acentuada importância no cenário político: Rio Grande do Sul, Rio de
Janeiro, Bahia e Pernambuco. Os seis, para garantirem sua hegemonia, possuíam uma forte
economia e (ou) uma elite política compacta e bem representada no Parlamento. E, juntos
ou separados, participaram ativamente de todas as sucessões presidenciais ocorridas no
período.
Além desses estados, havia dois coadjuvantes respeitáveis: o Exército e o Executivo. Os
militares se destacaram no regime em seus primeiros anos – durante a presidência dos
marechais Deodoro da Fonseca (1889-1891) e Floriano Peixoto (1891-1894) –, retornando
ao poder em 1910, quando o país foi presidido pelo marechal Hermes da Fonseca (1910-
1914). Também provocaram impacto na República nos anos 1920, através do movimento de
seus tenentes em prol de mudanças como a instituição do voto secreto, o fim das fraudes
eleitorais etc. Já o Executivo Federal conseguiu manter o privilégio de intervir sobre as
oligarquias mais frágeis, impondo seu controle sobre elas quando julgasse oportuno, além de
exercer atuação marcante na sua própria sucessão e de ser o principal gestor da política
monetária e cambial do país – importante num contexto em que o fluxo de capitais externos,
tal como hoje, era responsável pela saúde da economia.
O poder de Minas Gerais nesse período é explicado não pela força econômica do gado de
leite, mas pela sua projeção política garantida pela bancada de 37 deputados, a maior do
país. E a influência de Minas também derivava da forte cafeicultura, já que foi o segundo
maior produtor de café do Brasil até o final da década de 1920, sendo responsável por 20%,
em média, da produção nacional – a cafeicultura paulista representava cerca de 55% e a
fluminense 20%. A expressão mais adequada para a pressuposta aliança Minas Gerais-São
Paulo seria, então, “café com café”.
Mas a coincidência de interesses entre dois estados cafeicultores já não seria suficiente
para que dominassem, de forma exclusiva, a Primeira República? Parece que não. Em que
pese sua importância na economia nacional, não foram os produtores de café os únicos
controladores do regime republicano.
Costuma-se ver nos livros didáticos os cafeicultores como uma categoria sem diferenças
internas. Mas eles divergiam muitas vezes em relação às políticas governamentais sobre o
produto e nem sempre conseguiam atuar de forma compacta na defesa de seus interesses.
Além disso, questões envolvendo modelos de cafeicultura nos dois estados os afastavam. O
café produzido por Minas Gerais era, em geral, de qualidade inferior ao de São Paulo e
exigia investimentos específicos. O sistema de transporte, as tarifas públicas, o tamanho das
propriedades e o regime de trabalho eram distintos. Tamanha diversidade dificultava
acordos. A exemplo dos obstáculos impostos pelo presidente mineiro Afonso Pena para
viabilizar o Convênio de Taubaté (1906-1913) – primeira política de proteção ao café,
pactuada pelos três estados cafeicultores, com o objetivo de amenizar a crise do setor –, que
só foi posto em prática após os interesses mineiros e fluminenses estarem assegurados, isto
é, quase três anos depois de ter sido assinado.
Acreditar que o sustentáculo da “política do café com leite” se encontrava na
coincidência de interesses cafeeiros dos dois estados significa diminuir, em muito, a
complexidade das relações que se estabeleceram entre os estados após 1889. E a análise
minuciosa das sucessões presidenciais não sustenta essa afirmação. Em geral, apenas duas
sucessões são apontadas como rupturas do acordo entre Minas e São Paulo: a de Afonso
Pena/Nilo Peçanha, em 1910, que opôs paulistas (a favor de Rui Barbosa) a mineiros (pró-
Hermes da Fonseca); e a de Washington Luiz, em 1930, quando os mineiros deram apoio a
Vargas e os paulistas a Júlio Prestes. Mas é possível verificar que a primeira sucessão a
colocar em lados opostos paulistas e mineiros foi a de Rodrigues Alves, em 1906. Antes
disso, a participação de Minas foi bem restrita em razão de suas dissidências internas. Como
nos demais estados, a Proclamação dividiu as elites mineiras entre republicanos e
monarquistas (restauradores). E mais adiante, estiveram divididos entre partidários de
Deodoro e de Floriano e, depois, entre florianistas e prudentistas.
Já a participação de São Paulo na primeira década republicana foi significativa em
função de sua coesão interna. Vários setores da elite política estiveram à frente do
movimento republicano, reunidos no Partido Republicano Paulista (PRP), e assumiram, ao
lado dos militares, o controle sobre os primeiros anos da República. Quando os paulistas se
articularam em torno de uma quarta presidência, em 1906, os mineiros uniram-se e, aliados
a gaúchos, baianos e fluminenses, formaram uma coligação conhecida como “Bloco”,
impondo a São Paulo a retirada do nome de sua preferência, a do paulista Bernardino de
Campos.
Derrotados em suas prerrogativas, os paulistas estiveram fora das articulações
presidenciais até 1914, quando foi eleito o mineiro Wenceslau Braz (1914-1918). E, durante
a sucessão do mesmo Wenceslau, novos problemas voltaram a acontecer: Minas Gerais
aderiu imediatamente ao nome de Epitácio Pessoa, proposto pelos gaúchos, enquanto os
paulistas se dividiam em torno de pelo menos duas outras candidaturas, a de Altino Arantes e
a de Rui Barbosa.
Entre idas e vindas, os dois estados conseguiram finalmente realizar alianças em torno da
candidatura de Arthur Bernardes (1922-1926) e de Washington Luiz (1926-1930), mas
voltaram a se separar em 1930. E mesmo durante esse breve período como aliados, as
relações foram marcadas por conflitos. A exemplo do governo de Bernardes, quando houve
oposição dos mineiros à política de proteção ao café comandada pelos paulistas. Além da
conhecida hostilidade do presidente da República Washington Luiz às ações de Antônio
Carlos, governador de Minas Gerais no mesmo período.
Diante da contínua fraude eleitoral e do baixo comparecimento às urnas, a disputa pelo
voto dos eleitores perdia importância em relação à escolha prévia do candidato. O estado
que conseguisse lançar uma candidatura aceita pelas bancadas mais proeminentes teria a
eleição garantida. E mesmo quando havia competição eleitoral, o apoio ao escolhido era
quase unânime. Como um candidato poderia obter 97,9% dos votos? Foi o que aconteceu
com o mineiro Afonso Pena, presidente entre 1906 e 1909. Esse índice tão pequeno de
rejeição só é possível em eleições não confiáveis. O mais difícil, portanto, em uma eleição
na Primeira República, era sagrar-se candidato com o apoio das oligarquias dominantes.
Para isso, as negociações tinham que ser longas e as regras, nunca escritas, mas sempre
compartilhadas, tinham que ser respeitadas. Primeira regra: o poder dos estados era desigual
e hierarquizado. Segunda: a cada eleição havia uma renovação parcial de poder entre eles,
rejeitando-se assim atitudes monopolizadoras. Terceira: a manutenção do regime dependia
do cumprimento dos princípios anteriores.
Com base nessas normas, as alianças foram sendo feitas e desfeitas e em cada sucessão o
jogo político era reiniciado. As regras eram as mesmas, os acordos, porém, mudavam. Daí
a conclusão que a estabilidade do regime republicano não foi garantida por uma aliança de
caráter exclusivista entre dois de seus maiores estados. Ao contrário, quando se aliaram e
excluíram os demais parceiros, nos anos finais da Primeira República, abalaram o modelo
político em vigor.
A instabilidade das alianças entre os estados mais proeminentes – aliados a seus
respectivos “satélites” – surge, portanto, como garantia da continuidade do regime. Cada
estado sabia seu potencial de intervenção (reconhecido pelos demais) e estava livre para
construir, ou não, alianças a partir de seus interesses específicos.
Mas como explicar a expressão “café com leite” se, de fato, a aliança entre Minas e São
Paulo teve caráter apenas conjuntural, como as demais? Uma hipótese, ou melhor, uma
especulação: é possível que a expressão tenha sido criada pela imprensa, ao final da década
de 1920 – pois não foram encontrados registros anteriores –, numa referência à aliança
entre paulistas e mineiros em torno da indicação de Arthur Bernardes e Washington Luiz. E
reforçada pelo longo governo Vargas (1930-1945) para desqualificar o processo político da
velha república que ele pretendia superar. Essa questão, porém, permanece em aberto para
quem se dispuser a desvendá-la.

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