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Souza, Rosa Cristina Ferreira de; Amábille das Neves, Inácio. Entre os muros do abrigo: compreensões do
processo de institucionalização em idosos abrigados
Resumo
Abstract
In this study we searched understand the institutionalization process of sheltered elderlies in a town in
Southern Santa Catarina, under the Social Psychology perspective. Regarding to the method, the
research had qualitative approach in a case study. For data collection we used participating
observation on the institutional dynamics and semi structured interviews with five residents. The data
were analyzed through the Content Analysis technique. It was possible notice that institutionalization
produces negative effects – mortification of the self and disciplining – on elderlies’ identity/body
dimensions. These effects are intensified according as the length of stay in the institution is extended.
These comprehensions are traduced in necessities to re-think the perspectives and practices on the
Elderly Institutions for long length in order to change these spaces in a positive way and offer a care
that promote biopsychosocial welfare to institutionalized elderlies.
1
Doutora em Ciências da Linguagem pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). Mestre em Psicologia
Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Psicóloga e Professora do Curso de Psicologia da
Unisul. E-mail: rosa.cristina@unisul.br
2
Graduada em Psicologia pela Universidade do Sul de Santa Catarina. Psicóloga. E-mail:
amabille_ni@hotmail.com
Pesquisas e Práticas Psicossociais 12 (1), São João del Rei, janeiro-abril de 2017. e1371
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Resumen
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demais e eu não tenho fome, é muito justo, indicando a primeira mutilação do eu,
é muito perto” (P5, Sra. de 94 anos). como propõe Goffman (2005).
A forma de seguir essa rotina está Com frequência, os idosos
ligada ao nível de dependência de cada manifestam também o desejo de ir embora
idoso. Assim, aqueles com mais do abrigo e, principalmente, retornar às
autonomia, por exemplo, podem escolher o suas casas de origem. Falam de suas
momento de tomar banho ou chegar um famílias que, por diversos motivos, não
pouco depois para as refeições. podem lhes oferecer cuidado. Sabem da
Dos idosos emergem falta de condições financeiras para manter
descontentamentos e desejos que se um cuidador, e são gratos pela assistência
entrelaçam, misturam-se. Entre os desejos, oferecida pelo abrigo. Mas, ainda assim,
um é marcante: o desejo de liberdade. Uma desejam ir embora. Não fazem da
idosa diz que a semana foi a “pau e pedra”, instituição um lar. É como se não houvesse
“parada”, por isso estava se sentindo o sentimento de pertença. É como se ali
trancada e desejava sair um pouco do não criassem raízes.
abrigo. Observou-se que, quando se trata Entre os entrevistados, todos foram
de alguma atividade externa – passear na unânimes em declarar que ali residem não
casa dos familiares, ir ao médico, ir ao por vontade própria, e sim por não terem
banco –, os idosos ficam ansiosos e outra opção. Na fala a seguir, embora o
animados, porém, quando propostas idoso tenha sua própria casa, os familiares
atividades internas – jogos, pintura, (com seu consentimento) optaram por
recreação –, eles se mostram sem interesse encaminhá-lo ao abrigo, já que não
ou desmotivados. Grande parte do tempo, poderiam oferecer o cuidado necessário.
os residentes estão comendo, assistindo
televisão ou dormindo, o que revela Se a gente puder sair daqui é muito melhor...
ociosidade. Cá pra nós... Eu não tô aqui na marra. Se eu
quiser eu peço pra elas me tirar daqui,
Ainda sobre as limitações do ir e entendeu? Mas eles acham, eles têm uma
vir, a entrevistada P4 diz: “Ó, me sinto intenção que a gente é obrigado a viver aqui
presa! Me sinto numa cadeia... Não posso porque aqui que é a casa do idoso. Mas eu
pegar o ônibus aqui na frente e ir lá na casa sou proprietário de duas moradas... Ah! Nem
da minha mãe” (P4, Sra. de 69 anos). se compara!... Eu preferia minha casa
porque lá eu tinha uma vizinhança de
Outra entrevistada endossa, associando a qualidade boa, bastante gente da família.
instituição a um internato. (P1, Sr. de 86 anos)
Não era nada do que eu pensei de bom... Por diversas vias, manifestam
Aqui eu tô comparando assim como aquelas
meninas que foram pro (colégio interno),5
insatisfações. Seja pela fala, pelo olhar, ou
diz que ficavam lá, e quando saíam de lá até mesmo por um sorriso que oculta
diziam que era um horror... Achei que eu sentimentos desagradáveis. Expressões
fosse ter uma vida mais liberada, que eu verbais e corporais revelam “apagamentos
nunca tive. (P2, Sra. de 65 anos) do eu” muitas vezes imperceptíveis. Uma
idosa reclamou das roupas escolhidas para
Essas falas ilustram a ruptura ela naquele dia. Chorando, definiu suas
existente entre os idosos e os vestes como “indecentes”, pois eram muito
acontecimentos além dos muros do abrigo, largas no corpo. Isso se deve ao fato de os
idosos compartilharem os guarda-roupas,
fazendo com que as roupas se misturem.
5
Colégio interno: termo utilizado pela Outra vez, a mesma idosa falou
entrevistadora como substituto, pois entrevistada sobre suas louças e talheres, nunca
cita nome de uma instituição.
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encurvamento ao qual essa pessoa é muita coisa né, porque aqui sou mandada,
submetida em uma ILPI, a metamorfose dá né? Na minha casa eu fazia como eu
lugar ao apagamento do “ser”, à queria. Aqui eu sou mandada, né?” (P3,
mortificação do eu. Sra. de 85 anos). Quando respondeu sobre
Para um eu mortificado, um corpo como é viver no abrigo, P5 define: “É
docilizado, uma identidade lentamente viver como um doente, né?” (P5, Sra. de
mutilada habita um corpo que sofre 94 anos). Essas falas revelam a submissão
disciplinas. Um processo alimenta o outro e desempoderamento vivenciados pelos
e vice-versa. Torna-se uma tarefa idosos.
complexa dissociar esses dois processos, já Nesse sentido, dispositivos como a
que uma linha tênue os separa. rotina estruturada – descrita anteriormente
Com o intuito de otimizar o tempo, – e práticas que não estimulam a
o abrigo adota práticas que resultam em autonomia, nem respeitam as
disciplinamento dos idosos. Aqueles que singularidades dos idosos, constituem uma
possuem mais dependência, como os instituição que, por meio do controle,
cadeirantes, são, por sua vez, mais mortifica o eu e dociliza o corpo. Portanto,
docilizados. Estes, mesmo possuindo o compreende-se que tanto a mortificação do
controle dos esfíncteres, vão habituando-se eu quanto o disciplinamento do corpo
a usar fraldas, pois os funcionários – aparecem no idoso institucionalizado,
sobrecarregados – não podem levá-los ao variando a intensidade entre os residentes,
banheiro cada vez que necessitam. Outra levando em consideração dois fatores: o
situação que configura disciplinamento é o nível de dependência e o tempo de
momento das refeições. Os idosos, mesmo permanência no abrigo. Quanto mais
aqueles com autonomia, aguardam ser dependente o idoso, mais encurvado ao
servidos na mesa. Essa contenção, esse desejo da instituição ele se torna.
impedir a atividade dos corpos – neste caso Além disso, os idosos com menos
de ir buscar seu próprio alimento –, no tempo de permanência no abrigo mostram-
intento de manter a ordem, configuram o se mais resistentes à dinâmica da
disciplinamento. instituição se comparados àqueles que lá
estão há mais tempo. Durante a
Métodos que permitem o controle minucioso observação, duas idosas recém-chegadas
das operações do corpo, que realizam a apresentavam náuseas e vômitos
sujeição constante de suas forças e lhes
impõem uma relação de docilidade, são o
frequentes e negavam-se a comer as
que podemos chamar as disciplinas... A refeições oferecidas, alimentando-se pouco
disciplina fabrica assim corpos submissos e ou solicitando café e biscoito no lugar dos
exercitados, corpos dóceis. A disciplina alimentos salgados. Durante o dia, ficavam
aumenta as forças do corpo (em termos a maior parte do tempo deitadas. Essa
econômicos de utilidade) e diminui essas
mesmas forças (em termos políticos de
resistência a incorporar a dinâmica da
obediência). Em uma palavra: ela dissocia o instituição demonstra o ajustamento
poder do corpo; faz dele por um lado uma secundário proposto por Goffman (2005).
aptidão, uma capacidade que ela procura Ao permanecerem no abrigo, os
aumentar; e inverte por outro lado a energia, idosos passam por um processo de
a potência que poderia resultar disso, e faz
dela uma relação de sujeição estrita.
resistência/negação e, lentamente, com o
(Foucault, 1996, p.126-127) processo de mortificação do eu, começam
a se ajustar à nova realidade. Esse
Uma das entrevistadas, quando lhe ajustamento ao funcionamento da
perguntaram sobre as coisas que desejaria instituição indica o ajustamento primário.
fazer, mas não podia, respondeu: “Ah, é Com o longo tempo de permanência,
aparecem os sinais de cansaço e desgaste,
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