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psicose
Introdução
transtorno mental.
excêntrico, presente em uma variedade de contextos, associando-se a pelo menos cinco dos
nove traços esquizotípicos: idéias de referência; crenças bizarras ou pensamento mágico, que
incluindo ilusões somáticas; pensamento e discurso bizarros (por ex., vago, circunstancial,
social excessiva que não diminui com a familiaridade e tende a estar associada a temores
dimensionais, cujos argumentos incluem que o TEP seria uma forma atenuada de
todos os indivíduos desenvolverão psicose franca (Raine, 2006). Uma proposta alternativa é a
da existência de duas formas de TEP, uma categorial e outra dimensional. A primeira alinhar-
Eixo I, particularmente à esquizofrenia; teria início mais tardio e maior flutuação diagnóstica
& Kloterkoetter, 2007), refletindo a expressão fenotípica de uma predisposição genética para
follow-ups de populações de portadores de TEP variam entre sete e 40%, dependendo das
estariam por trás de muitos sintomas apresentados tanto por pacientes esquizofrênicos quanto
por portadores de TEP ou outros tipos de vulnerabilidade à psicose. Tal questionamento pode
social, estes problemas poderiam ser considerados traço-dependentes, isto é, fariam parte da
psicose não decorreria deste “defeito essencial”? Se este for o caso, seriam tais problemas
apenas durante os estados, ou “surtos”, psicóticos. Neste caso, seriam decorrentes de fatores
especificamente ligados a estes estados – por exemplo, alterações neuroquímicas típicas da
psicose.
grupos socialmente complexos, nos quais se impõem necessidades cognitivas vitais como
outras.
últimas décadas têm dado suporte à chamada “Hipótese da Encefalização”, que se refere ao
antropóides, Dunbar (2002) propôs que exista uma relação entre o que chamou de “razão de
neocórtex” e o tamanho médio de grupos destes animais. Por “razão de neocórtex” deve-se
Dunbar é a de que o tamanho dos grupos sociais exerceu pressão evolutiva para crescimento
estas relações, o que teria propiciado, em última análise, o desenvolvimento das avançadas
estados mentais de outros indivíduos. Embora haja alguma controvérsia acerca da capacidade
de primatas inferirem estados mentais de co-específicos, esta habilidade foi bem estudada em
humanos.
deriva de um importante artigo publicado nos anos setenta, cujo título questionava se, a
exemplo dos seres humanos, os chimpanzés também teriam uma “Teoria da Mente” (uma
teoria a respeito do estado mental de seus co-específicos) (Premack & Woodruff, 1978). O
conceito de processamento ToM não se refere, de fato, a uma “teoria”, mas a uma habilidade
quais também não ocorrem elaborações teóricas acerca do mundo, mas a disponibilização
imediata, automática e espontânea de uma “versão” do mesmo que permita uma resposta
comportamental adaptativa. Assim, ao abrirmos nossos olhos não elaboramos uma “Teoria
espontaneamente. Pelo fato da expressão “Teoria da Mente” induzir a uma falsa interpretação
termos “mentalização” (que, neste capítulo, será usado como sinônimo de habilidades ToM)
Cohen, Leslie, & Frith, 1986) e recentemente o interesse pelo estudo destes problemas se
personalidade e o transtorno bipolar (Tonelli & Alvarez, 2009; Tonelli, Alvarez & da Silva,
tarefas verbais ou não verbais (ou compostas) as quais recrutam circuitos cerebrais
Wimmer e Perner (1983) propuseram o Sally - Anne Task (SAT), que se popularizou
de uma falsa crença. O cenário descrito pelo SAT consiste de uma pequena vinheta
envolvendo duas personagens, Sally e Anne: “Sally possui uma bola e uma cesta e Anne
possui uma caixa. Sally coloca sua bola dentro de sua cesta e sai de cena. Enquanto está fora,
Anne pega a bola dentro da cesta de Sally e a coloca em sua caixa. Sally volta”. É, então,
perguntado ao examinado onde ele acha que Sally irá procurar por sua bola: em seu cesto ou
na caixa de Anne? A situação ilustra de maneira simples a falsa crença sustentada por Sally,
ou seja, a de que a sua bola se encontra ainda dentro de sua cesta, pois ela não viu Anne
trocar o brinquedo de lugar. A maior parte das crianças com mais de quatro anos de idade e
indivíduos sem problemas no processamento ToM responderão que Sally deverá procurar por
sua bola no cesto. Crianças menores de quatro anos e indivíduos com problemas no
mental de Sally, que não sabe que a bola foi trocada de lugar enquanto esteve ausente e
tenderão a responder que ela deverá procurar por ela na caixa de Anne. Ao SAT seguiram-se
outros testes para aferição da capacidade ToM, como o Smarties Test (ST) (Hogrefe,
Wimmer, & Perner, 1986), o John and Mary Test (JMT) (Perner & Wimmer, 1985), além de
vinhetas compostas por cartoons ou desenhos de cenários ToM mais complexos, envolvendo
cooperação, sabotagem e traição entre os protagonistas (Brüne, 2003; Brüne & Bodenstein,
2005; Corcoran, Cahil, & Frith, 1997), associando-as ou não a tarefas ToM verbais, como o
Hinting Task (HT) (Corcoran, Mercer, & Frith., 1995), o Eyes Test (ET) (Baron-Cohen,
Wheelwright, Hill, Raste, & Plumb, 2001) e o Faux Pas Test (FPT) (Stone, Baron-Cohen, &
Knight., 1998).
seja por terem sido desenvolvidas tendo em vista o estudo de um determinado transtorno em
particular, seja por serem puramente verbais ou puramente não verbais; ou, ainda, por não
mentais com base em aprendizado de regras sociais, que não é automático, nem espontâneo.
Para contornar este problema, têm sido desenvolvidas tarefas compostas por filmes gravados
contendo interações entre pessoas (Mc Donald, Flanagan, Rollins, & Kinch, 2003). Estas
tarefas visam mimetizar melhor as condições naturais em que o processamento ToM ocorre.
processamento ToM através do emprego das tarefas supradescritas dizem respeito à não
processamento ToM para serem adequadamente realizadas. Muitos estudos bem conduzidos
déficits cognitivos subjacentes a este estado. A demonstração de que tais indivíduos tenham
estimulado a curiosidade dos pesquisadores da área há mais de dez anos. Existem muitos
vários artigos, com desenhos experimentais distintos, mas cujo interesse essencial era a
Evdokmikis, Stefanis, Verdoux, & van Os, 2002), a Magical Ideation Scale (Eckblad &
Chapman, 1983) ou o Peters et al. Delusions Inventory (Peters, Joseph, Day, & Garety, 2004)
com risco ultra-alto para esquizofrenia incluem sujeitos portadores de uma síndrome
Young, 2001). Neste capítulo serão abordados apenas os resultados dos trabalhos envolvendo
associabilidade própria das doenças mentais severas. Estes autores avaliaram uma população
tarefas ToM quanto em tarefas cognitivas gerais. Neste estudo, indivíduos com alto grau de
esquizotipia apresentaram pior performance apenas nas tarefas ToM, sugerindo, então, que os
déficits de mentalização possam estar por trás da propensão a sintomas psicose-like. Este
Outros autores, por outro lado, obtiveram resultados distintos em experimentos semelhantes.
universitários, os quais tiveram sua avaliação de risco para psicose investigada com mais de
um instrumento. Neste estudo, os escores nas tarefas ToM não se correlacionaram nem com
negativos, quando estes foram examinados separadamente, bem como não houve correlações
Langdon, & Coltheart, 2006). Pickup (2006) também examinou indivíduos recrutados de
uma universidade, os quais preencheram, dentre outros instrumentos para avaliação do risco
tarefas ToM utilizadas, mas apenas em indivíduos com maior pontuação na subescala
entre déficits de mentalização e psicose é que ainda não se conseguiu demonstrar a existência
Alguns autores importantes, como Alan Leslie e Simon Baron-Cohen, propõem que tais
módulos de fato existam, sugerindo que o ser humano possua um cérebro social, isto é, um
informação relativa a outros seres humanos, que teria se desenvolvido graças a uma pressão
evolutiva exercida por sociedades complexas. Nestas sociedades fez-se necessário identificar
tais habilidades não serviriam apenas à sobrevivência e à reprodução, mas também a outros
muitos autores argumentam que a relação entre déficits ToM e o surgimento de sintomas
psicóticos não seria mais do que um reflexo do comprometimento executivo de base dos
estabelecer qual a relação entre cognição social e funções executivas. Nesta área, os
resultados também são conflitantes. Jahshan e Sergi (2007) examinaram as relações entre
baixo grau de esquizotipia, não encontrando diferenças significativas nas performances dos
grupos avaliados. Por outro lado, Langdon e Coltheart (2001), ao avaliarem universitários
testes caracterizavam-se essencialmente por uma tarefa em que se exigia a rotação mental de
perspectiva acerca de outras mentes, de colocar-se no lugar do outro, imaginando como será o
integridade de circuitos ToM. Os indivíduos com alto grau de esquizotipia estudados por
cognitivos independentes.
que pode ser sugestivo de que estes indivíduos possam apresentar hipermentalização ou
Rosset (2008), um “viés intencional”, normal no ser humano, decorreria de uma regulação
fisiológica deste módulo em um modo default para, em princípio, interpretar tudo o que
outras pessoas fazem como intencional. Para demonstrar esta hipótese, a autora elaborou três
experimentos que visavam avaliar as maneiras através das quais elas atribuíam
pedir aos sujeitos experimentais para decidirem se uma série de ações a eles apresentadas na
forma de sentenças, eram ou não intencionais, foram mostradas ações que podiam ser
indiscutivelmente intencionais e ações ambíguas (que poderiam ser interpretadas tanto como
perdeu as chaves, ela ruborizou de vergonha, a garota teve uma crise convulsiva e exemplos
de sentenças com ações indiscutivelmente intencionais incluíam as frases ele abotoou sua
jaqueta, ele ouviu atentamente, ele digitou o email, ela trocou o pneu furado, ela procurou as
chaves. Finalmente, sentenças como ele deletou o email, ele pôs fogo na casa, ele quebrou a
janela e ele se atrasou cinco minutos para a aula representavam ações ambíguas. Estas
sentenças foram mostradas a dois grupos de indivíduos: um primeiro, que foi pressionado a
qual foi dado um tempo adicional para refletir acerca do problema proposto. Os indivíduos
pressionados a responder rapidamente interpretaram mais ações acidentais como intencionais
do que os que tiveram tempo para alguma reflexão, um resultado sugestivo da existência de
sentenças descrevendo ações acidentais e intencionais e pediu-se que eles fizessem uma breve
descrição da imagem que lhes vinha à mente após a leitura da frase. Por exemplo, ao ser
mostrada a frase ela tropeçou na calçada, algo como vejo uma moça falando ao telefone
ser escritas, não permitindo ao pesquisador definir se houve uma interpretação intencional ou
acidental da ação apresentada. Para contornar este problema, foi solicitado a cada indivíduo
que categorizasse a frase escrita como “proposital” ou “acidental”, através de uma anotação
feita juntamente à frase. A chave para a compreensão deste experimento encontra-se no fato
de que o primeiro grupo de sujeitos experimentais fez suas descrições e, após tê-las
grupo recebeu esta orientação explicitamente antes de fazer suas descrições; estes sujeitos
foram, portanto, lembrados de que sua descrição seria categorizada como intencional ou
através de uma instrução inicial a respeito do que seria esperado deles. Quarenta e cinco por
cento das ações apresentadas foram interpretadas como intencionais pelo primeiro grupo,
versus trinta e seis por cento no segundo, um resultado estatisticamente significativo e que
necessária para concluir que uma determinada ação é, de fato, acidental. A própria autora
argumenta que é contra-intuitivo pensar que precisamos fazer um esforço cognitivo para
chegar à conclusão de que algo foi acidental, e não intencional, mas, de acordo com a tese do
viés intencional, nossa mente está preparada para – automática e espontaneamente – perceber
que exigiria gasto de energia. O desenho experimental utilizado por Rosset para testar esta
hipótese baseou-se na constatação prévia de que uma carga maior de processamento cerebral
está positivamente relacionada à maior chance de memorização, o que equivale a dizer que
uma atividade mental mais intensa nos predispõe a melhores possibilidades de recuperarmos
Conseqüentemente, caso julgar uma ação como acidental exija maior processamento cerebral
do que considerá-la intencional, então deverá ocorrer maior memorização dos eventos
considerados acidentais do que dos considerados intencionais. Rosset reconhece que outras
variáveis permitem aumento da chance de nos lembrarmos de um evento, além do seu caráter
intencional ou acidental. Por exemplo, um evento pode ser mais facilmente recordado se for
terceiro experimento em dois grupos, os quais tinham de ler sentenças descrevendo ações
ações prazerosas não intencionais (ela achou uma nota de um dólar), ações não-prazerosas
intencionais (ela trocou o pneu furado) e ações não-prazerosas não intencionais (ele
derramou seu copo de leite). Evitou-se utilizar a palavra “acidental” pelo simples fato de
serem raras situações prazerosas e acidentais. Ao primeiro grupo foi solicitada uma
Houve maior recordação de ações não-intencionais apenas no primeiro grupo, sugerindo que
há maior processamento cerebral quando está em jogo a decisão pelo caráter intencional ou
acidental de um evento testemunhado, mas não quando as variáveis examinadas são prazer e
desprazer associados aos eventos. Assim sendo, a quantidade adicional de trabalho cognitivo
necessária no julgamento de ações acidentais equivaleu à energia empregada pela mente para
situações o que objetivamente é preciso fazer seria desativá-lo. Segundo Rosset, o que deve,
desativação do modo default de operação), o que envolveria maior trabalho cerebral. Assim
acidentais).
Magical Ideation Scale (Eckblad & Chapman, 1983) – um instrumento que avalia a
avaliação de habilidades ToM (o Character Intension Task, [Sarfarti, Hardy Baylé, Besche,
com altas pontuações na Magical Ideation Scale também apresentaram piores pontuações nas
tarefas ToM, o que poderia ser sugestivo de uma relação entre prejuízos no processamento
avaliados com cautela. Em primeiro lugar, os instrumentos disponíveis para a testagem ToM
específicas (por exemplo, o ET [Baron-Cohen et al., 2001] foi desenvolvido para autistas),
semântica de cada termo, o que determina que todos os indivíduos testados tenham
servem como estímulo para a busca de respostas em pesquisas envolvendo diversos desenhos
personalidade pode ser visto como uma condição nosográfica especialmente útil em estudos
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