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2) Qual o significado do termo globalização produtiva?

Defina-o tendo em vista as mudanças nas formas de


operação das empresas.

Segundo Carneiro (2007), na dimensão produtiva da globalização, que tem como o canal mais importante o IDE na sua
dimensão greenfield, é possível encontrar outras particularidades. Ela implica uma modificação da divisão
internacional do trabalho em moldes distintos daquele observado durante o período de Bretton Woods. De acordo
com Lall (2002), modifica-se o perfil de concorrência, e as empresas se deslocam em função do desmembramento de
atividades (global sourcing) com preservação do core business nos países centrais. Segundo Dunning (1998), há uma
distinção importante entre a inserção dos países periféricos e dos centrais nesse processo, conformando uma
globalização assimétrica. Essa última se caracterizaria tanto por uma inserção seletiva ou concentrada, em temos de
número de países, como por uma participação mais expressiva dos países periféricos nos segmentos da cadeia
produtiva intensivos em recursos naturais e em trabalho. Sarti e Hiratuka ressaltam que um dos aspectos mais
marcantes do processo de globalização produtiva tem sido a mudança na amplitude e na forma de organização das
grandes empresas internacionais. As estratégias dessas empresas têm promovido a fragmentação e a dispersão
geográfica das cadeias de valor, de maneira a enfrentar o acirramento nas condições de concorrência mundial.
Enquanto concentram as atividades capazes de garantir a captura da maior parte das quase-rendas criadas ao longo
da cadeia nos países centrais, outras etapas passam a ser deslocadas para os países em desenvolvimento em um
processo bastante hierarquizado e seletivo. O impulso verificado a partir da década de 80 no grau de
internacionalização das grandes corporações mundiais e a forma como a expansão ocorreu estiveram, portanto,
associados à busca de desenvolvimento de ativos capazes de propiciar assimetrias concorrenciais, com racionalização
de recursos e diminuição de sunk-costs, em simultâneo à necessidade de encontrar novos espaços de acumulação, de
maneira a aumentar a captura de quase-rendas associadas a esses mesmos ativos. Impulsionadas de um lado pelo
novo contexto concorrencial, e por outro pelas mudanças nas condições do microambiente internacional -
liberalização crescente dos fluxos de comércio e de capital, desregulamentação financeira, surgimento de novas
tecnologias de informação - as grandes corporações ganharam liberdade maior para se expandir e ao mesmo tempo
reorganizar o conjunto de suas operações internacionais. Ao mesmo tempo, a fragmentação e a dispersão da cadeia
de valor passou a ser organizada de maneira a envolver crescentemente diferentes firmas em diferentes países
coordenadas pelas grandes corporações líderes, na medida em que várias atividades anteriormente controladas
verticalmente, passaram a ocorrer de maneira externalizada. Dessa forma, o processo de produção passou a ocorrer
sob forma de uma rede internacional integrando diferentes países e diferentes empresas, realizando etapas da cadeia
de valor sob a coordenação das grandes corporações, que gerenciam suas próprias filiais e as demais empresas da
rede. Vale lembrar ainda, que a conformação das redes de produção em nível internacional aconteceu de maneira
hierarquizada e seletiva (Furtado, 2003; Enciso, 2005). Hierarquizada porque a capacidade de apropriação do valor
criado pelo conjunto das operações é diferenciada. A própria lógica dos sistemas internacionais de produção incorpora
a questão das assimetrias entre os diferentes elos da cadeia de valor. Em um extremo estão as empresas que detêm
poder de comando sobre a cadeia, justamente por serem proprietárias de um conjunto de ativos que permitem a
essas empresas capturar grande parte das quase-rendas criadas (capacitações tecnológica, organizacionais, de
marketing/comercialização e de definição dos padrões dominantes). A seletividade no processo está associada ao fato
de que a localização das diferentes etapas nos diferentes países ou regiões acontece buscando explorar os elementos
fundamentais em cada etapa. Enquanto as etapas nucleares tendem a se localizar nos países centrais, as demais etapas
passam a ser realizadas nos países em desenvolvimento. A hierarquização que se observa ao nível das firmas acaba se
reproduzindo ao nível dos países.

3) Quais as mudanças no caráter do IDE na lógica da globalização produtiva? E quais os impactos (quantitativos e
qualitativos) desse no comércio internacional?

Para Sarti e Hiratuka, do lado quantitativo, tanto os fluxos de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) quanto as
operações das empresas transnacionais (ETN) se expandiram a um ritmo muito mais rápido do que o PIB mundial.
Enquanto a taxa média anual de crescimento do produto de acordo com dados da UNCTAD foi de 4,5% e os fluxos de
exportações cresceram à taxa de 5,3%, os fluxos de IDE avançaram quase 17% ao ano entre 1982 e 2000. Quanto aos
resultados das filiais das ETN, o aumento das vendas atingiu 8,9% ao ano e do produto 8% para o mesmo período. Já
pelo lado qualitativo, segundo Carneiro (2002), os segmentos intensivos em tecnologia e em ambientes de maior
estabilidade macroeconômica tem como eixo a maior especialização das empresas no core business com níveis
elevados de investimento em greenfield e gastos em P&D e a constituição de uma rede de empresas fornecedoras em
regime de subcontratação. No plano interno a especialização em ativos produtivos também é expressiva. Como via
secundária dessa estratégia, em contextos de maior instabilidade macroeconômica, pode-se delinear um tipo de
expansão com diversificação adicional dos ativos internos da empresa, em direção aos de maior liquidez, com
destaque para os financeiros. Numa segunda estratégia, presente em indústrias com menor dinamismo tecnológico e
em ambientes de estabilidade macroeconômica, a expansão ocorre prioritariamente via operações de fusões e
aquisições, no mesmo ramo produtivo, sendo também expressiva a integração vertical como forma de assegurar preço
e qualidade dos insumos. Num eventual quadro de instabilidade macroeconômica a diversificação atinge não só́ os
ativos internos das empresas, mas também os externos conduzindo inclusive à conglomeração como forma de redução
das incertezas. Assim, pelo lado qualitativo, nos termos da taxonomia do IDE proposta por Dunning (1995), na
globalização produtiva, o IDE era predominantemente efficiency seeking, ou seja, compreende o deslocamento de
parte da produção ou de segmentos da cadeia produtiva para países ou regiões com maior competitividade e o destino
último da produção são os mercados globais. O componente de greenfield é em geral elevado por compreender
atividades de maior dinamismo tecnológico. Nos estágios mais avançados da globalização produtiva podemos definir
o IDE como strategic-asset seeking, visando a constituição de ativos tecnológicos e implica altos investimentos em
P&D, mas se concentram em larga medida nos países centrais. Assim, a intensificação da concorrência entre as grandes
corporações mundiais e a forma como estas passaram organizar a cadeia de valor ao redor do globo passaram a deixar
sua marca de maneira cada vez mais nítida nas atividades produtivas realizada pelos países e nos fluxos de comércio.
Se no período anterior em que as grandes corporações organizavam suas operações em cada país de maneira
relativamente independente das operações nos demais países o impacto sobre os fluxos de comércio era limitado, no
padrão atual é da própria lógica concorrencial reorganizar as cadeias de produção e comercialização com dispersão
geográfica e especialização crescente, implicando necessariamente em transformações estruturais nos padrões de
produção e comércio dos países onde essas empresas alocam as várias etapas de sua cadeia de valor.

4) Sobre a hierarquia de moedas, esclareça quais as diferentes funções exercidas pelas moedas no plano
internacional e como, a partir delas, é possível medir a importância de cada uma delas?

As funções da moeda no âmbito internacional seguem aquelas funções clássicas de uma moeda, que são meio de
pagamento, unidade de conta e reserva de valor, com o diferencial de se estabelecer certas diferenças no uso privado
e público da moeda-chave. Considerando o uso privado da moeda no âmbito internacional, a função meio de
pagamento advém das transações/pagamentos internacionais, sendo também denominada como moeda veicular. A
não aceitação de todas as moedas por parte dos países (evitando a incompatibilidade e instituindo organização), e a
hierarquia das moedas faz com que apenas algumas sejam usadas nos intercâmbios econômicos. Quando, por
exemplo, dois países desenvolvidos realizam alguma transação, dados mostram que a moeda usada é na maioria das
vezes, a do país exportador. Já uma relação entre um país central e um periférico, a moeda é sempre a do país central,
seja exportador ou importador. E numa negociação entre dois países periféricos, tendo em vista que suas respectivas
moedas não tem aceitação internacional, a moeda utilizada é geralmente o dólar, o qual também é usado em
operações interbancárias. Através de uma análise dos mercados cambiais globais percebe-se que a moeda que exerce
essa função é o dólar, a mais usada para pagamentos internacionais, seguido pelo euro, iene e libra. A função unidade
de conta aparece no uso privado como moeda de denominação e a lógica que se segue é semelhante à dos meios de
pagamento, em que os preços são estabelecidos na moeda do país exportador ou da maior economia, ou seja, o dólar,
que segundo Krugman “é usado porque é usado”. Através de dados sobre exportação e importação assim como as
dívidas externas, vê-se que a maior parte é denominada nas moedas da tríade, dólar, euro, iene, enquanto países
periféricos apresentam um percentual ínfimo no comercio internacional, revelando a incapacidade de suas moedas
exerceram tal função no cenário internacional. Na terceira função da moeda, reserva de valor, o uso privado se dá
como moeda de investimento e financiamento, na busca de preservar o valor de seus ativos de forma intertemporal
assim como diversificar o risco entre diferentes moedas. Quanto ao uso público, a função meio de pagamento aparece
como moeda de intervenção, na medida em que os bancos centrais nacionais usam moedas estrangeiras como meio
de pagamento no âmbito internacional no intuito de intervir nos mercados de câmbio, principalmente, influenciando
nas condições de oferta e demanda de divisas e então no aumento ou redução da liquidez disponível ou nas taxas de
câmbio. O que se observa é que quase a totalidade das intervenções nos mercados cambiais se dá por meio da compra
ou venda de dólares. A função unidade de conta é vista como moeda de referência/âncora ao ser elegida pelas
autoridades monetárias como moeda central em relação à qual as moedas nacionais serão ancoradas, na tentativa de
conter a volatilidade das taxas de câmbio. E a moeda como reserva ocorre com a atitude das autoridades monetárias
na manutenção das reservas cambiais, permitindo margens de atuação no mercado de cambio quando necessário,
além de poder ofertar moeda estrangeira quando escassa e preservar o valor de seus ativos. É importante ressaltar
que após as crises da década de 90, diversos países periféricos passaram a constituir uma demanda precaucional por
reservas. É importante apontar que essas funções se encontram totalmente inter-relacionadas, com a presença de
sinergias entre elas resultando em influencias multidirecionais, de modo que as funções se estimulam. Se, por
exemplo, uma moeda nacional é ancorada a uma estrangeira, torna-se necessário que a autoridade monetária
mantenha reservas da moeda internacional para intervir no mercado cambial no intuito de manter a paridade. Assim
como se uma moeda é a mais utilizada nas transações comerciais e financeiras de certo pais, sua autoridade monetária
ficará inclinada para vincular sua moeda à essa divisa. A ancoragem de uma moeda também influencia no uso privado,
na medida em que a estabilidade cambial leva os agentes a se aterem a tal moeda, tanto para realizar operações, para
usá-la como moeda veicular e na retenção de ativos denominados em tal moeda. Há, por outro lado, um caráter
contraditório entre essas funções, onde a função reserva de valor acaba se sobrepondo às demais ao inibir suas
funções com o entesouramento da moeda; mas que pode ser visto como duas facetas da função reserva, uma
conectada às outras funções e uma isolada.

5) Explique, de acordo com Prates, as três assimetrias geradas no sistema monetário internacional.

As assimetrias geradas no SMI atual, segundo Prates, são a monetária, a macroeconômica e a financeira, assimetrias
que levou à maior vulnerabilidade dos países emergentes na crise da década de 90. Em relação à assimetria monetária,
o que se observa é uma hierarquia das moedas internacionalmente. O dólar constitui o núcleo dessa hierarquia, sendo
a moeda chave, seguida das moedas conversíveis dos países centrais, e distante do núcleo, há as moedas não
conversíveis dos países emergentes. O dólar como moeda totalmente conversível (desempenhador das três funções
da moeda internacionalmente), é além de liquido, o mais seguro, sendo o mais demandado como reserva de valor e
como refúgio da incerteza. Contrariamente, as moedas dos países emergentes, quando há o aumento internacional
de preferência por liquidez, são os primeiros alvos de fuga. Essa não conversibilidade está associada à formação das
taxas de juros dos respectivos países, que por apresentarem maiores riscos tem as maiores taxas. Decorrente dessa
formação das taxas de juros tem-se diferentes graus de autonomia de políticas entre os países, demonstrando,
portanto assimetrias macroeconômicas, tendo os EUA maior autonomia política e os países periféricos, menor, não
sendo capazes de adotar políticas para atenuar o impacto dos fluxos de capitais sobre o desempenho econômico
doméstico. Ou seja, a não-conversibilidade “contamina” o funcionamento dos sistemas financeiros domésticos, além
de ser uma das causas da tendência de dolarização desses sistemas, pois, em muitos países, além dos investidores
estrangeiros, os próprios investidores residentes não aceitam deter ativos denominados em moeda doméstica, não
conversível, ou exigem elevados prêmios de risco para fazê-lo. Além disso, os países emergentes não são capazes de
emitir dívida externa denominada na própria moeda. Assim, a capacidade dos devedores domésticos de honrar os
compromissos externos torna-se totalmente vinculada às variações das respectivas taxas de câmbio, e como a maior
parte da dívida externa desses agentes é denominada na moeda-chave (ou seja, em dólar), mudanças nas taxas de
câmbio e de juros dessa moeda associadas à gestão da política monetária americana — cujo grau de autonomia é
praticamente total, dada a natureza fiduciária do dólar após o colapso de Bretton Woods — têm um impacto imediato
sobre o valor dessa dívida. A assimetria financeira apresenta duas dimensões, sendo que uma refere-se aos
determinantes do fluxo direcionado aos países emergentes, que se mostram dependentes de uma dinâmica exógena
a esses países, estando vulneráveis à alguma reversão, além do fato de que a dinâmica atual estabelece uma maior
valorização do capital nos países centrais; e a segunda dimensão está associada à inserção marginal dos países
emergentes no fluxo de capitais, impondo também vulnerabilidade à choques financeiros internacionais. Além disso,
essa dimensão mostra-se totalmente seletivo, de forma a selecionar não só os países em que serão destinados os
fluxos como também os agentes, como também excludente (ao não integrar países fora da globalização) e hierárquico
ao integrar os sistemas financeiros de forma desigual, incompleta e imperfeita. Como dito por Studart, a integração
financeira internacional é uma integração entre parceiros desiguais.

6) Explique o conceito de “financeirização”. Quais são suas principais implicações?

Financeirização é processo pelo qual a lógica das finanças passa a predominar sobre todas as outras esferas da
economia, como a produção, o investimento, etc. Uma definição mais precisa de Braga para financeirização diz que
ela “é a expressão geral das formas contemporâneas de definir, gerir e realizar a riqueza capitalista”. A definição
utilizada no texto de Gutmann diz que financeirização “é o aumento do papel dos motivos financeiros, mercados
financeiros, atores financeiros e instituições financeiros nas operações das economias nacionais e internacionais”.
Suas principais implicações são primeiro o aumento dos haveres financeiros na riqueza privada, isso significa, por
exemplo na esfera das empresas privadas, que a valorização da propriedade (ações) será priorizada e deverá ditar a
lógica da produção, ou seja, um investimento de longo prazo ou que envolva riscos pode ficar comprometido em
função da realização de lucros no curto prazo de forma a garantir a valorização das ações. Segundo, uma participação
cada vez maior e mais influente de investidores institucionais nos passivos de grandes empresas. Terceiro, a
remuneração na esfera financeira (por exemplo, pagamento de dividendos) é priorizada em detrimento da
remuneração na esfera real, ou seja, para que seja garantida a remuneração de ativos financeiros as empresas podem
fazer pressão sobre os salários. Quarto, a desregulamentação envolvida no processo de financeirização concatenado
à lógica de curto prazo e às inovações financeiras implica na criação de um ambiente de negócios instável com a
existência de especulação e geração de bolhas.

7) Conforme explicado por Carneiro, como ocorre a disseminação da lógica financeira entre os agentes (empresas,
bancos e famílias)?

Empresas: A propriedade da empresa é pulverizada (ações), implicando em maior rotatividade, onde o investimento
produtivo ganha muito mais liquidez. As taxas de lucros passam a basear-se nas taxas de juros como comparação de
rentabilidade. Há uma intensificação das subcontratações de forma que a empresa foque na sua atividade central. A
lógica financeira pressupõe o “curtoprazismo”, assim, investimentos de longo prazo ou que envolvam riscos ficam
comprometidos. Bancos: Há um aumento na demanda por depósitos remunerados elevando o custo do passivo
bancário. Os empréstimos passam a ser securitizados e constantemente reavaliados conforme variação da taxa de
juros. Com aumento da liquidez de ativos e aumento do custo do passivo os bancos passam a ter se se preocupar com
sua solvência. Famílias: Consumo e renda passam a respeitar lógicas independentes. O consumo passa a ser
determinado pela riqueza e não mais pela renda. O essencial para as famílias é que sua riqueza aumente mais do que
suas dívidas.

8) O que é liquidez internacional? Quais os efeitos potenciais do ciclo de liquidez sobre a alavancagem dos agentes,
os preços de commodities, as taxas de câmbio do sistema e as reservas cambiais? Qual a relação entre a aversão ao
risco e os ciclos de liquidez?

Pode ser definida como o termo com que se denomina a provisão mundial de reservas em ouro ou em moedas que
podem ser livremente usadas no comércio internacional ou tomadas em empréstimos. Se a liquidez internacional for
adequada, os países encontrar-se-ão em situação de permitir que o comércio internacional se desenvolva livremente;
se houver liquidez insuficiente, muitos países ver-se-ão na necessidade de restringir suas importações. A liquidez
internacional compreende, em grande parte, as moedas nacionais, mas que se devem encontrar como reserva dos
demais países não responsáveis pela sua emissão.
Cenários de elevada liquidez tendem a gerar um ambiente de euforia e de retroalimentação da perspectiva dos
agentes em se obter ganhos antecipados o que reitera os processos especulativos estimulando os agentes econômicos
(famílias, bancos, investidores institucionais e etc) a aumentar o grau de alavancagem nos mercados de ativos
financeiros. Reiterando o caráter "potencial" da questão, pois os países apresentam estruturas econômicas distintas
o que, por conseguinte, acarretaria em distintas respostas das variáveis econômicas, espera-se que um período de alta
liquidez internacional induza ao aumento da demanda por commodities e, consequentemente, aumento dos preços.
De forma intuitiva, pode-se relacionar o preço das commodities a taxa de câmbio: o setor de bens tradables, em nossa
hipótese de cenário internacional líquido, tem um maior ritmo de crescimento da produtividade do que o setor de
bens não-tradables e choques positivos sobre os termos de trocas deveriam induzir a uma apreciação da taxa de
câmbio. O mecanismo de apreciação cambial se daria via aumento dos recursos externos disponíveis no país, dado o
superávit em conta corrente, que implicaria excesso de demanda doméstica. Tal excesso, portanto, deveria ser
eliminado via apreciação da taxa de câmbio real com intuito de se compensar o efeito de melhoria dos termos de troca
sobre a conta corrente. Reitera-se a necessidade de saber a composição da pauta exportadora/importadora do país
hipotético tratado uma vez que um país exportador de commodities tende a ter poucos produtos dominantes em sua
pauta de exportação, por exemplo, os impactos de variações nos preços de alguma dessas commodities é fortemente
sentido sobre os temos de troca. Assim, conclui-se que um aumento nos preços internacionais das commodities
provoca incremento nas receitas de exportação e aumento das reservas cambiais uma vez que o Banco Central realiza
o câmbio ficando com os dólares e pagando os exportadores em moeda doméstica. Como consequência lógica temos
aumento da oferta doméstica de moeda estrangeira - e dada demanda hipoteticamente constante- deverá ser
valorizada a taxa de câmbio real.
Os ciclos de liquidez e a aversão ao risco se relacionam inversamente, durante a fase cheia do ciclo há uma baixa
aversão ao risco que cresce na fase seca. De acordo com Biancarelli, a fase de alta dos ciclos se dá da seguinte maneira:
“(...) a partir da combinação de uma maior propensão ao risco (ou uma menor preferência pela liquidez) por parte dos
aplicadores globais, com condições propícias para o money chasing yield (geralmente associadas a períodos de baixo
dinamismo e principalmente baixas taxas de rendimentos nos países centrais), ocorrem períodos de intenso interesse
por destinos mais arriscados e lucrativos para aplicação, localizados nas economias emissoras de moedas
inconversíveis.”. Já a fase seca se dá por uma mudança no estado geral de expectativas, que faz com que os agentes
voltem para mercados mais seguros, a “fuga para a qualidade”, o que significa que houve uma ampliação da aversão
ao risco.

9) Do ponto de vista dos países em desenvolvimento ou “emergentes”, quais as grandes diferenças do ciclo de
liquidez atual em relação ao primeiro?

i) Comportamento da política monetária na economia central: Os dois ciclos de liquidez respondem diferentemente a
taxa de rendimento na economia central, um dos fatores que determinam os ciclos. Ao se tomar a federal funds rate
como parâmetro, observa-se que no primeiro ciclo houve correlação entre seu comportamento e as fases do ciclo
(queda no início dos anos 90, coincidindo com a fase de ascensão do ciclo; elevação na segunda metade da década,
coincidindo com a diminuição da liquides). Já no segunda ciclo esse comportamento só é observado até o primeiro
semestre de 2004, quando a taxa entre entra em trajetória ascendente até 2006, a partir desse momento a liquidez
internacional, ao contrário do que se espera, se ampliou. Biancarelli aponta que existem várias teorias tentando
explicar esse movimento, destacando duas: A taxa de juros praticamente nula do Japão, que se eleva muito pouco
somente no final de 2006 - yen carry trade - que mostra que outras economias desenvolvidas conseguem influenciar
os fluxos internacionais, sendo necessários considerar os efeitos das políticas econômicas desses países, não somente
a americana. E o comportamento da taxa de remuneração dos títulos de 10 anos americanos, que não acompanha a
subida das taxas curtas. ii) Interação mais complexa entre os fatores externos e os internos aos países receptores dos
fluxos: A maior evidência nesta direção é a brutal acumulação de reservas, que são a expressão da maior capacidade
de resistência, generalizada, a uma reversão no ciclo de liquidez. Na origem de tal processo, a disseminação dos
superávits em conta corrente por quase todo o mundo em desenvolvimento. Assim, quando se adiciona ao momento
excepcional da liquidez global estes saldos positivos nas trocas de bens e serviços, o resultado é a brutal acumulação
de reservas internacionais, em marcado contraste com a fase de cheia do ciclo anterior (quando predominavam, em
distintas regiões, déficits em conta corrente e, portanto, necessidades líquidas de financiamento externo). Os
“fundamentos” domésticos são, inegavelmente, muito mais sólidos.

10) De acordo com Williamson, quais são os principais pontos das reformas associadas ao Consenso de Washington?

Williamson sintetizou as reformas liberais que pautaram o desenvolvimento dos países periféricos em 10 pontos (O
resumo de cada ponto está em Williamson, 1992) 1. Disciplina Fiscal; 2. Prioridades dos Gastos Públicos; 3. Reforma
Fiscal; 4. Liberalização do Financiamento; 5. Taxa de Câmbio Competitiva; 6. Liberalização Comercial: Substituição das
restrições quantitativas por tarifas que devem ser reduzidas até a eliminação; 7. IDE sem políticas disciplinadoras, o
que impediria a competição entre empresas estrangeiras e nacionais. 8. Privatização das empresas estatais; 9.
Desregulamentações; 10. Garantia dos Direitos de Propriedade.

11) Em que medida a aplicação de parte do receituário do consenso de Washington também era conveniente?

No final da década de 1980, a retração do crescimento dos países centrais (gerando excesso de liquidez) e a nova
dinâmica do mercado financeiro internacional condicionaram o retorno dos fluxos de capitais privados voluntários
para a América Latina. A especificidade desse momento é que a crise do início dos anos 1990 é financed-led, isto é, o
ciclo econômico é comandado pela dinâmica dos mercados financeiros. Apesar do condicionante fundamental para o
retorno dos fluxos de capitais ser a nova dinâmica financeira internacional e a conjuntura das economias
industrializadas (pull factors), a elevação da rentabilidade financeira da América Latina vinda dos planos de
estabilização econômica e abertura financeira também estimula a entrada desses capitais. Sendo assim, a aplicação
de parte do receituário do consenso de Washington era conveniente já que melhorava as expectativas dos agentes,
servindo de atrativo para os recursos: “a influência das reformas liberalizantes sobre o retorno dos fluxos de capitais
voluntários para a região está associada (...) ao seu impacto sobre as expectativas dos formadores de opinião e dos
investidores (...) grande parte dos fluxos de capitais da década de 90 foram determinados por uma onda de otimismo
em relação aos efeitos das reformas” (Prates, 1999 - pág. 68). Ressaltando que, os fluxos de capitais são orientados
pela lógica de ganhos financeiros. Então, a reforma liberalizante (sumarizada no consenso de Washington) pode acabar
gerando problemas sistêmicos nas economias, mesmo sendo importante a adoção de políticas macroeconômicas
prudentes não será apenas esse fator que garantirá a sustentabilidade dos fluxos de capitais.

12) Quais as semelhanças principais dos planos de estabilização de México, Brasil e Argentina do início dos anos 90?

Os três planos possuem algumas semelhanças em suas estruturas e maneiras de atuação, a saber: uso da taxa de
câmbio como instrumento de combate à inflação; abertura da economia às importações, por meio de redução de
barreiras; abertura financeira externa, com estímulo à entrada de capitais de curto prazo; medidas de desindexação
da economia; ajuste fiscal e austeridade monetária; privatizações.

13) Em que medida o primeiro ciclo de liquidez da globalização foi funcional à implementação dos planos de
estabilização na América Latina, no início dos anos 90?

Tendo como base o uso da âncora cambial para frear os movimentos inflacionários crônicos, os planos de estabilização
latino-americanos necessitavam da estabilidade das taxas de câmbio para terem êxito em sua proposta. Para esse
controle, os governos mexicano, argentino e brasileiro dependiam do acúmulo de reservas internacionais, o que só
seria conseguido em um ambiente de alta liquidez internacional, como observado a partir de 1990. Dessa forma, a
liberalização financeira permitiu influxos de capitais (ainda que de curto prazo) aos países latino-americanos,
aumentando suas reservas e dando margem à implementação dos planos de estabilidade macroeconômica desses
países.

14) Como se caracterizam os ciclos de crescimento na América Latina pós estabilização monetária?

Imersa no primeiro ciclo de liquidez, como descrito pela bibliografia, a América Latina foi, no início dos 90s, destino de
grande volume de recursos buscando rentabilidade, uma vez que na economia do centro coexistiam baixas taxas de
juros e desregulamentações. Nesse sentido, os recursos podem ser divididos: i) curto prazo, utilizados para compra de
títulos públicos com taxas de prêmio mais altas do que no centro, bolsa de ações e fundos de curto prazo e ii) médio
e longo prazo, Investimento Direto Externo tendo como objetivo final as privatizações e compras de empresas privadas
em dificuldades. O quadro do crescimento na América Latina é montado a reboque do crescente movimento de
financeirização no mundo (mundialização do capital). Os efeitos das estabilizações criaram virtualmente uma paridade
das novas moedas em relação ao dólar, o que impactou todos os ativos da economia (surgimento de bolhas) e o credito
(aumento do consumo). Os benefícios derivados das estabilizações são mesclados com o intenso regime fiscal
instituído nessas economias resultando em ambiente recessivo, visto que os gastos dos governos foram amplamente
cortados via austeridades criadas no Consenso de WC. Nota-se tímido crescimento em todas as economias e aumento
da exposição as instabilidades financeiras, como também frustação na competitividade das empresas nacionais, e
como apontam alguns estudos, surgem os sinais das desindustrializações. Esse período remonta ao aparecimento de
empresas de importação em todos os países latino americanos, que ao longo da década traziam produtos a custo mais
baixos do que produzido nacionalmente, expondo as fragilidades das industrias nacionais e diretamente dificultando
qualquer direcionamento de políticas industriais e de fomento. O que se seguiu, nos PIBs, foram comportamentos
ilustrados por “voos de galinha”, que foram soluções de problemas quanto a moeda e incorporação, ou agravamento,
de novos problemas estruturais que se arrastam por toda a década dos anos 2000.

15) Considere a citação de Nogueira Jr. [na verdade a citação é de Kregel (1999)]“...successful stabilization policy
carries de seeds of its own destruction in the form of excessive capital inflows to take advantage of the return
differentials”. Como ela se aplica ao contexto de crise dos países latino americanos?

O sucesso de políticas de estabilização acaba sendo consequência da adoção de taxas de câmbios apreciadas e altas
taxas de juros domésticas nos países com economias instáveis, que atraem capitais em maioria de curto prazo para os
cobrir déficits em conta corrente desses países. A similaridade entre as crises financeiras que marcaram os países
latinos americanos nos anos 90/ início dos anos 2000 foram iniciadas por uma reversão rápida nos fluxos de capital
internacional que foi gerada pela deterioração das condições econômicas causadas justamente pelo sucesso das
políticas de estabilização. Políticas monetárias rígidas combinadas com liberação dos fluxos na conta financeira no
balanço de pagamentos criaram diferenciais de juros aproveitados pelos investidores estrangeiros. Se esses fluxos são
direcionados diretamente para a dívida pública, o estoque de dívida aumentará e futuramente a balança de serviços
sofrerá pressões deficitárias. Caso eles sejam direcionados ao setor privado, a necessidade de esterilização dessas
divisas para se manter o objetivo da política de estabilização também aumenta o estoque da dívida. A manutenção
dessas reservas internacionais gera um custo conhecido como “negative carry” (a diferença entre a taxa de juros que
se ganha no título em moeda reserva e a taxa paga pela dívida interna), que gera pressões no déficit público e acentua
a deterioração da economia, combinados com a taxa de câmbio sobreapreciada que tende a minar a competitividade
doméstica caso a desinflação não seja rápida. (Obs: não foi esse o caso) Uma mudança no diferencial de juros, um
choque externo ou desconfiança na manutenção da âncora cambial pode causar rápida reversão nesses fluxos,
exigindo patamares de juros ainda maiores para a manutenção desses fluxos de capitais para a cobertura dos déficits
no balanço de pagamentos, deprimindo o nível de atividade internamente. Essas reversões, dependendo da estrutura
de regulação financeira, podem gerar uma bancarrota do sistema financeira. A exposição à moeda estrangeira dos
agentes privados que muitas vezes acompanha o processo de abertura das economias pode gerar instabilidades. O
risco de taxa de juros internacional a que esses agentes se expõe é governado por condições externas, e na ocasião
de um choque externo e a não substituição desse fluxo de crédito por crédito doméstico (por causa das restrições da
política de estabilização) aliado ao risco cambial (a desconfiança da manutenção da âncora) acaba levando à
bancarrota principalmente empresas e bancos que não geram receitas em moeda reserva.

16) Descreva, com base em Prates (2002), as semelhanças e diferenças das crises de México, Brasil e Argentina.

As três economias basearam seus programas de estabilização econômica no fluxo de ingresso de capitais, com
ancoragem cambial. No entanto, esse processo engendrava a própria deterioração de suas condições econômicas. A
morfologia e intensidade se diferenciam entre eles de acordo com a gestão macro dos fluxos de capitais e os distintos
graus de abertura financeira. No México (1994/95), a abertura do mercado de títulos públicos para investidores
estrangeiros e a dolarização do mercado financeiro provocaram a crescente fragilização do sistema bancário
doméstico. A política de esterilização, com a elevação das reservas internacionais, elevava ainda mais a dívida pública.
São três elementos fundamentais que explicam a fragilização bancária doméstica: i) desestatização dos bancos,
passando para as mãos de instituições inexperientes na área; ii) desregulamentação financeira doméstica, sem o
aperfeiçoamento dos mecanismos de supervisão e regulação bancária; e iii) abertura financeira, flexibilizando o acesso
ao funding externo. Esses elementos contribuíram para a sobreexpansão do crédito (sobretudo para o consumo), sem
a devida avaliação dos riscos na carteira de empréstimos. A deterioração dos balanços dos bancos impedia uma
elevação das taxas de juros básicas, evitando um colapso bancário, o que não impediu os impactos da reversão dos
fluxos de capital, eclodindo na crise cambial, abandono do câmbio administrado, seguida de forte desvalorização. Em
última instância, os determinantes da crise foram a entrada de excessivo financiamento de curto prazo,
sobrevalorizando o câmbio, além de absorção de recursos reais inferior à absorção de recursos financeiros,
redundando em acumulação de reservas. No caso do Brasil (1998/99), nossa reduzida dolarização, controlada pelo
Estado, reduziu o impacto dos fluxos de capital sobre o balanço dos bancos, por outro lado, os recursos externos
internalizados pelo setor privado financeiro eram repassados para o setor público por meio dos títulos públicos. A
fragilidade bancária, por sua vez, vinha do efeito da estabilização dos preços provocada pelo Plano Real, tirando do
poder dos bancos o mecanismo das receitas inflacionárias. Com a redução dos níveis de preços, o Banco Central se
antecipou ao boom de crédito e elevou o recolhimento compulsório, mantendo as taxas de juros elevadas. A
rentabilidade bancária, portanto, proveio desses juros altos e crescentes spreads aos créditos para famílias e empresas
entusiasmadas com o controle de preços e perspectiva de crescimento. O governo, por sua vez, criou uma série de
meios para evitar um colapso financeiro nacional, como o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema
Nacional), colocando o Banco Central como garantidor de solvência do sistema e emprestador de última instância.
Além disso, assistiu-se um movimento de fusões e concentração bancária que fortaleceram o patrimônio destas frente
a crises. A contrapartida do movimento geral foi o crescente endividamento público, garantindo segurança ao sistema.
Já na Argentina (2001/02) a crise se fez mais intensa e perversa, com crise cambial, bancária e financeira. Em 1991, o
país entra em regime de currency board, legalizando qualquer contrato monetário e financeiro em outra moeda,
consolidando-se assim o regime bi monetário. Os pilares do regime monetário cambial argentino de 1991-2001 se
tornam, então, câmbio fixo, conversibilidade monetária dos pesos em dólar (1:1), sistema bimonetário, abertura
financeira com o exterior e banco central independente. A alta liquidez internacional induziu uma maior oferta de
crédito no mercado interno, com progressiva troca de depósitos em pesos por dólares, sem uma política de
esterilização do Estado. O sistema bancário argentino, portanto, multiplicava esses depósitos (“agendólares”), se
tornando altamente vulneráveis a reversão de fluxos de capital. Inexistia na economia uma instituição capaz de exercer
o papel de emprestador de última instância, devido ao sistema bimonetário, fazendo com o que o Banco Central
argentino exercesse tal função precariamente à custa do endividamento público com captação de recursos externos.
O colapso do sistema se deu, por fim, em duas etapas: i) 2001 – abandono da paridade fixa, desvalorização do peso,
moratória da dívida pública e a adoção do corralito (bloqueio dos depósitos e das aplicações financeiras); ii) 2002 –
fim do sistema de conversibilidade.

18) Identifique cronologicamente o início do segundo ciclo de liquidez da época da globalização. Quais os fatores
que explicam a retomada da liquidez global?

O segundo ciclo de liquidez começa se formar em 2003, com sua fase cheia durando até 2005-2006. A retomada da
liquidez global se dá pela queda na taxa de juros das principais potências mundiais, como Japão e Estados Unidos. Os
fluxos de capital se dirigem para os países emergentes, através de IDEs e Empréstimos Bancários. Outra parte da
explicação para a retomada da liquidez internacional é a retomada da confiança dos investidores, após a “crise das
ponto com” e do 11 de setembro. Esse segundo ciclo diverge do primeiro em relação às características internas dos
países emergentes receptores dessa liquidez internacional. Eles apresentavam bons “fundamentos econômicos”, com
saldos positivos na balança comercial devido ao aumento do preço das commodities. Isso permitiu o acúmulo
gigantesco de reservas cambiais, utilizadas para tentar reequilibrar a economia nacional em caso de reversão do ciclo
de liquidez.

19) Como a securitização de créditos de subprime propiciou a fragilização financeira na economia americana?

A securitização dos créditos de subprime propiciou a fragilização financeira da economia americana pois os ativos de
alto risco eram condensados em títulos extremamente diversificados, o que reduzia o seu risco e melhorava sua
classificação, e esses novos ativos se espalharam por toda a economia através das SIV, empresas criadas especialmente
para a negociação desses títulos. Essa estratégia era sustentável enquanto o mercado imobiliário americano possuía
dinamismo e o preço dos imóveis se mostrava ascendente, pois mesmo os devedores potencialmente inadimplentes
conseguiam renegociar suas dívidas por mais um tempo, mantendo estáveis os níveis de solvência dos créditos
subprime. A partir do momento que o mercado imobiliário americano se mostrou menos dinâmico, com queda nas
vendas e nos preços, a renegociação das hipotecas subprime se tornou mais difícil, levando a altos níveis de
inadimplência e, portanto, queda no valor dos ativos imobiliários em geral, em posse dos mais distintos agentes
econômicos, que foram lesados por esse movimento de desvalorização.

21) No que consiste quantitative easing? Qual o impacto desse sobre a liquidez global?

Uma política monetária não convencional em que um banco central compra títulos do governo ou outros valores
mobiliários do mercado a fim de reduzir as taxas de juros e aumentar a oferta de moeda. “Alívio quantitativo” (ou
quantitative easing) aumenta a oferta de dinheiro inundando instituições financeiras com capital em um esforço para
promover o aumento de empréstimos e liquidez. QE é considerado quando as taxas de juro de curto prazo estão
dentro ou próximos de zero, e não envolve a impressão de novas notas. O impacto desse tipo de política na liquidez
internacional é o grande aumento da mesma, visto que a compra de títulos podres pelo governo reduz a aversão ao
risco dos agentes, que por passarem a ter em sua carteira de ativos títulos com melhores ratings, passam a buscar
retornos maiores a partir de novos financiamentos, retomando a dinâmica comercial global.

22) Explore as relações entre as características qualitativas da globalização financeira discutidas na primeira parte
do curso e a crise internacional. Qual é o papel da securitização, dos derivativos, dos investidores institucionais, da
universalização dos bancos e dos processos de desregulamentação e liberalização?

A preponderância da esfera financeira sobre a produtiva se situa como a raiz geral da crise financeira. É necessário
entender os processos de desregulamentação como processos de (re)regulamentação, realizados com a anuência de
governos, cujos interesses se alinharam com a dos agentes privados que pressionaram neste sentido. A liberalização
dos fluxos de capital, dos controles de capital, do câmbio, ou seja, todas as formas de livre movimentação de capital
através das fronteiras, é parte deste processo global de nova regulamentação. Uma nova regulamentação que
favorece os interesses das finanças acima dos produtivos, baseia sua busca de acumulação de capital através da
transformação de todo tipo de elemento da economia real em ativos. Esta hipertrofia do setor financeiro foi possível
por meio da securitização de ativos anteriormente ilíquidos, como carteiras de crédito bancário, direitos sobre
corporações, etc. O processo de securitização consiste, podemos fazer uma analogia, na estruturação do lado da oferta
do mundo das finanças. Ao transformar em títulos negociáveis todo o estoque de riqueza do lado real da economia, e
mesmo expectativas futuras de riqueza (fluxo de caixa), criou-se uma ampla gama de ativos que podem ser ofertados
aos aplicadores, aos gestores da riqueza financeira global. Os estados permitiram e regularam este processo, seja por
meio da omissão nos casos em que não havia jurisdição (como no desenvolvimento dos CDO’s – collateral debt
obligations – e CDS’s que se proliferam no pré-crise e em última instância foram os alvos da mania que originou o
crash), seja por meio da efetiva colaboração, quando leis foram aprovadas (tantos nos EUA quanto na maioria dos
outros países) no sentido de permitir as inovações financeiras e um mercado de capitais mais desenvolvido. Do lado
da demanda – para continuar nossa analogia – estão os investidores institucionais e seu incrível desenvolvimento nos
últimos anos. Ao acumular e gerir trilhões de dólares, estes veículos de poupança criaram um empoçamento de capital
de tal monta que muitos pesquisadores acreditam haver uma escassez de oportunidades de investimento que possam
remunerar tamanho montante. Por esta mesma razão ocorre a busca desenfreada por novos tipos de ativos que
possam gerar rendimentos; a expansão geográfica do capital, que nos termos do professor Brandão (Território e
Desenvolvimento) homogeniza territórios nos quais se instala e os transforma em loci de acumulação de capital; a
expansão intertemporal dos investimentos, consubstanciada na obsessão dos investidores de trazer tudo a valor
presente, encurtando o hiato temporal entre o investimento e o lucro esperado. Por fim, os derivativos
potencializaram o processo que já seria instável sem sua presença. Ainda que exista a defesa por parte do mercado
de que os derivativos, ao propiciar hedge para muitos agentes, adicionam estabilidade ao sistema, seu volume
transacionado envidando a mera especulação se sobressai quando cotejado à sua função precípua de instrumento de
hedge. Em artigo escrito no instituto de economia, por Carneiro e Rossi, é demonstrado que “O núcleo das finanças
contemporâneas se desloca crescentemente das relações de propriedade representadas pelas bolsas de valores, ou
pelo mercado de títulos, para o mercado de derivativos onde operam os agentes que comandam a dinâmica financeira,
como os grandes bancos e os hedge funds”. Os autores concluem que os derivativos tiveram papel preponderante no
estopim da crise de 2008: “Para dar garantia aos contratos de CDO fez-se uso de um derivativo, o CDS (Credita Default
Swap) que, grosso modo, é um seguro em caso de default do CDO. Esses derivativos, por um lado cobriram os riscos
de diversas instituições, proporcionaram um boom de crédito sem precedentes, e assim espalharam dinamismo
econômico no sistema, mas por outro lado, aumentaram o risco sistêmico da economia americana.” É fundamental se
levar em conta que, neste processo, os agentes econômicos privados financeiros ganharam muito poder e
multiplicaram seu capital. Contudo, os EUA, enquanto destino preferencial do capital financeiro e base da maioria das
grandes corporações financeiras, como as agências de classificação de risco, os bancos de investimento e os fundos
de investimento, puderam articular um novo padrão de dominação global após o colapso do regime internacional de
Bretton-Woods. Peter Gowan, em A Roleta Global, chama este de Regime Dólar-Wall-Street. Há uma conexão
profunda entre este novo padrão de acumulação de capital, seus fluxos principais para os países centrais, em especial
os EUA, e a hierarquia internacional de poder. A hegemonia não só foi mantida, mas ampliada, o que se deve
inicialmente ao choque de juros de 1979, à financeirização das corporações que ocorreu mediante os hostile takeovers
da década de 1980, a glorificação da ideologia de maximização do retorno do acionista (Jensen – Eclipse da Corporação
de Capital Aberto), o novo papel das instituições internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, a inoperância dos
fóruns multilaterais de concertação, como a ONU e a OMC, os bancos centrais market-oriented, e a difusão do
concentração de poder e de renda que se observou não só nos EUA, mas em toda a periferia do sistema que adotou
as premissas do novo regime.

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