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Este documento é um ofício enviado de um delegado de polícia federal a um juiz federal. Nele, o delegado solicita informações sobre uma requisição anterior de extratos de comunicações telefônicas feita a operadoras de telefonia no contexto de uma investigação criminal sobre organização criminosa. O delegado argumenta que a lei permite que ele requisite tais dados diretamente das operadoras, sem necessidade de ordem judicial, para fins de investigação criminal.
Исходное описание:
Requisição de Registros de Comunicações
Оригинальное название
Requisição de registros de comunicações pelo Delegado de Polícia
Este documento é um ofício enviado de um delegado de polícia federal a um juiz federal. Nele, o delegado solicita informações sobre uma requisição anterior de extratos de comunicações telefônicas feita a operadoras de telefonia no contexto de uma investigação criminal sobre organização criminosa. O delegado argumenta que a lei permite que ele requisite tais dados diretamente das operadoras, sem necessidade de ordem judicial, para fins de investigação criminal.
Este documento é um ofício enviado de um delegado de polícia federal a um juiz federal. Nele, o delegado solicita informações sobre uma requisição anterior de extratos de comunicações telefônicas feita a operadoras de telefonia no contexto de uma investigação criminal sobre organização criminosa. O delegado argumenta que a lei permite que ele requisite tais dados diretamente das operadoras, sem necessidade de ordem judicial, para fins de investigação criminal.
Assunto: REGISTROS DE LIGAÇÔES TELEFÔNICAS (REQUISITA)
Senhor(a) Diretor(a),
O inquérito policial em epígrafe foi instaurado para apurar ocorrência
dos delitos previstos nos artigos 171 e 304 do Código Penal Brasileiro e no artigo 2º da Lei 12.850/2013. Tendo sido requisitado através do ofício 3580/2016, os dados cadastrais dos usuários das linhas (85) 31981850 bem como todos os registros de ligações e mensagens recebidas e efetuadas por tais terminais nos meses de janeiro e fevereiro de 2016, foi recebida resposta datada de 28/07/2016, a qual afirma que seria necessária ordem judicial para tanto. A legislação pátria possibilita ao Delegado de Polícia, na condição de Autoridade Policial, REQUISITAR referidos dados, independentemente de manifestação judicial. A Lei n. 12.830/2013 estabelece:
Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações
penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. § 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais. § 2o Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos.
Já a Lei 12.850/2013 assegura:
Art. 15. O delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso, independentemente de autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de crédito. (..) Art. 17. As concessionárias de telefonia fixa ou móvel manterão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das autoridades mencionadas no art. 15, registros de identificação dos números dos terminais de origem e de destino das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e locais.
Por óbvio, e ainda mais ante a expressa previsão legal, o delegado de
polícia, em caso de investigação de crime praticado por organização criminosa, dispõe de acesso aos dados cadastrais e aos registros de comunicações telefônicas. Toda lei é, presumivelmente, constitucional. Esse é um dos pilares de um regime democrático de direito que tem como fundamento o princípio da legalidade. Além disso, os registros de ligações não estão agasalhados pelo inciso X, do artigo 5º, da Constituição Federal, não estando assim abrangidos pela reserva de jurisdição. Nesta linha, e coadunando coma presente requisição, o artigo 21 da mesma lei reforça o poder de acesso aos registros de ligação pelo delegado de polícia, na medida em que criminaliza a conduta de negar tal acesso.
Art. 21. Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, documentos
e informações requisitadas pelo juiz, Ministério Público ou delegado de polícia, no curso de investigação ou do processo: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Assim, a despeito da clareza da redação do artigo 17 supra, o artigo
21 da mesma lei deixa evidente que o delegado de polícia tem a prerrogativa de ter acesso aos registros de ligações, independentemente de autorização judicial. Ademais, “os dados cadastrais, como nome dos assinantes do serviço telefônico e as relações de chamadas feitas e recebidas, seus destinatários, duração e horários de realização, constituem-se em registros públicos de dados cuja autorização pode ser divulgada pelo tomador de serviço, nos termos da Lei 9.472/97, não estando sujeitos ao regime da Lei nº 9.296/96” (TRF4. AGEP nº 2005.70.00.032655-0 Rel. Des. Luiz Fernando Wowk Penteado, D.E em 04-09-2008) Ante o exposto, reitero a requisição os dados cadastrais dos usuários das linhas (85) 31981850 bem como todos os registros de ligações e mensagens recebidas e efetuadas por tais terminais nos meses de janeiro e fevereiro de 2016. Requisto, ainda, que a resposta deste ofício contenha os dados do responsável pela Divisão de Serviços Especiais, assim como o nome e a assinatura do responsável pela informação, já que a Constituição Federal veda o anonimato (art 5º, IV). Ressalto que o não atendimento integral da presente requisição, no prazo de 30 dias, caracterizaria o crime previsto no artigo 21 da Lei 12.850/2013, o que ensejará a instauração de inquérito policial para apurar tal recusa. Atenciosamente,
JOÃO CONRADO PONTE DE ALMEIDA
Delegado de Polícia Federal Ofício nº 4854/2017 - IPL 0596/2016-4 SR/PF/CE (Usar esta referência)
Fortaleza/CE, 28 de agosto de 2017.
A Sua Excelência o Senhor
DANILO DIAS VASCONCELOS DE ALMEIDA Juiz Federal Substituto da 32ª Vara Federal do Ceará Fortaleza/CE
Assunto: Informações sobre requisição de extrato de comunicações
Referências: Mandado de Segurança - 0810130-97.2017.4.05.8100 Inquérito Policial 596/2016 SR/PF/CE Anexo: Parecer No 4.409/2014-AsJConst/SAJ/PGR
Senhor Juiz,
1. O inquérito policial em epígrafe foi instaurado para apurar a
possível ocorrência dos delitos de: obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento; uso de documento falso e promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa, previstos nos artigos 171 e 304 do Código Penal Brasileiro e no artigo 2º da Lei 12850/2013, sem prejuízo de outros que possam restar configurados durante as investigações, tendo em vista que... 2. Assim, o primeiro passo da investigação seria verificar as comunicações efetuadas e recebidas pelos terminais de telefone colhidos no IPL 155/2016, bem como os dados cadastrais de seus usuários, para que fosse possível fazer o cruzamento de dados com o fim de identificar possíveis suspeitos. 3. Considerando a fundada suspeita do envolvimento de uma organização criminosa nos fatos sob apuração e diante da comprovação da materialidade delitiva, com base no prescrevem os artigos 15, 17 e 21 da Lei 12.850/2013, foram requisitadas às operadoras de telefonia os dados cadastrais e os extratos de comunicações realizadas por tais terminais. 4. A Lei n. 12.830/2013 estabelece:
1 Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações
penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. 2 § 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais. 3 § 2o Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos. 4 1. Já a Lei 12.850/2013 assegura: 1 Art. 15. O delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso, independentemente de autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de crédito. 2 (..) 3 Art. 17. As concessionárias de telefonia fixa ou móvel manterão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das autoridades mencionadas no art. 15, registros de identificação dos números dos terminais de origem e de destino das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e locais. 4 (...) 5 Art. 21. Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, documentos e informações requisitadas pelo juiz, Ministério Público ou delegado de polícia, no curso de investigação ou do processo: 6 Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. (grifo nosso) 7 1. Incialmente cabe fazer a interpretação de cada um desses dispositivos da Lei 12.850/2013. 2. Quanto ao artigo 15, quando o mesmo inclui o termo “apenas” este não está a restringir o acesso à somente os dados que sejam cadastrais, mas sim restringe o alcance do que seria abrangido pelo termo “dados cadastrais”. Em outras palavras, o legislador diz que o delegado de polícia não tem acesso a todo e qualquer dado que forme o cadastro do cliente, mas somente àqueles que informem exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de crédito. 3. Assim, afasta-se do acesso do delegado de polícia os dados e informações relativos a possíveis dívidas, relacionamentos com outros pessoas (p. ex. dependentes ou terceiros), serviços e produtos vinculados ao cliente etc. 4. Ou seja, o termo “apenas” tem como finalidade delimitar os dados cadastrais que seriam acessíveis ao delegado. 5. Outra interpretação razoável sobre a abrangência do termo “apenas” em tal dispositivo seria que este restringiria o acesso apenas aos dados cadastrais de investigados, ou seja, somente seria possível o acesso a dados cadastrais de suspeitos da prática de crime, não cabendo assim o acesso a dados de testemunhas, vítimas ou terceiros. 6. Não obstante, após analise das chamadas realizadas e recebidas e de outros elementos da investigação, o delegado poderá ter acesso aos dados cadastrais de outros usuários que tenham efetuado ou recebido ligações do investigado inicial, pois passaram a ostentar a mesma situação jurídica de suspeito/investigado. 7. Contudo, ambas as interpretações garantem a plenitude da eficácia dos artigo 17 e 21 da mesma lei, conforme veremos a seguir. 8. Por outro lado, o artigo 17 assegura, às autoridades referidas no artigo 15, a disposição de registros de identificação dos números dos terminais de origem e de destino das ligações telefônicas. Ora, ao utilizar o termo “autoridades” no plural, logicamente inclui o delegado de polícia. Por outro lado, o termo “à disposição de”, conforme o Dicionário Aurélio, é sinônimo de “à subordinação de” e “à dependência de”. Além disso, juridicamente dispor é sinônimo de alienar. Assim, como poderia algo estar à disposição de alguém se este não tiver acesso ao mesmo? Como alguém pode alienar algo que não lhe pertence? 9. Veja, MM Juiz, que o Legislador separou em dois dispositivos legais o acesso aos dados cadastrais e dos registros de ligações em razão da necessidade de delimitar quais dados cadastrais seriam acessíveis diretamente pelo delgado de polícia. 10. A despeito da clareza da redação do artigo 17 supra, o artigo 21 da mesma lei deixa evidente que o delegado de polícia tem a prerrogativa de ter acesso aos registros de ligações, independentemente de autorização judicial, já que fazendo uma interpretação sistêmica, vemos que os registros referidos em tal lei são justamente os registros de identificação dos números dos terminais de origem e de destino das ligações telefônicas, previsto no artigo 15, o que reforça a interpretação dada acima ao artigo 17, sem que seja prejudicada a eficácia do artigo 15. 11. Veja, MM Juiz, que o artigo 21 prever como crime a omissão ou recusa de acesso a registros requisitados pelo delegado de polícia. Tal dispositivo reforça o poder de acesso aos registros de ligações pelo delegado de polícia, na medida em que criminaliza a conduta de negar tal acesso. 12. Tal interpretação, além de assegurar a plena aplicação de todos os dispositivos da lei individualmente, torna os mesmos harmônicos. 13. Sabe-se que as normas devem ser interpretadas com base nas regras de hermenêutica. Uma das mais basilares é a que ordena não haver palavras desnecessárias nem inúteis nos textos normativos. Outra é que impõe à máxima aplicabilidade dos dispositivos legais. 14. Assim, fazendo uso do princípio da razoabilidade, não seria razoável se negar a plena eficácia dos artigos 17 e 21 em razão de uma interpretação dada a um termo previsto no artigo 15. 15. O operador do Direito, neste caso, deve ter em mente também que tal acesso tem como finalidade a eficiência da Administração Pública, princípio constitucional previsto no artigo 37. Além disso, tal acesso tem por fim tornar efetivo o dever previsto no artigo 144, § 1º e 7º da Constituição Federal, ou seja, de apurar os crimes de forma eficiente, o que implica em agilidade e eficácia da investigação. 16. Por outro lado, analisando a natureza dos registros telefônicos, pode-se concluir que estes dizem respeito ao serviço prestado pela operadora, ou seja, são dados que, embora possam vir a ter alguma repercussão na vida do cliente, pertencem à concessionária de serviço público. Ora, a fatura de um serviço de entrega de encomendas seria documento sigiloso? E porque a fatura do serviço de telefonia seria sigilosa? 17. Cabe ainda ressaltar que o inquérito policial, processo legal previsto para apuração de crimes, tem natureza sigilosa (artigo 20 do CPP), o que resguarda a vida particular do investigado e garante o sigilo do dado. Além disso, nos exatos termos do inciso X do artigo 5º da Constituição, caso haja divulgação de tais dados, o responsável incide na obrigação de indenizar o dano material ou moral decorrente. 18. Para deixar mais clara a repercussão do exercício do poder- dever do Estado da persecução penal na vida particular do cidadão, podemos fazer a seguinte indagação: qual seria a diferença, em termos de natureza jurídica, de uma vigilância que registra o lugar, o dia, a hora e o tempo de um contato mantido por duas pessoas, da obtenção de um registro de ligação telefônica? O local de onde os interlocutores estão? 19. O sistema de justiça criminal deve se afastar de paradigmas que surgiram com a Ditadura Militar, os quais restringem o acesso dos órgãos policiais a dados e informações que estão depositados em empresas privadas e até órgãos públicos sobe o pretexto de ferir a vida particular dos cidadãos, mesmo havendo processo de investigação legal (inquérito policial) devidamente instaurado, bem como havendo a possibilidade legal de tal acesso. 20. Assim, a interpretação da lei deve harmonizar aos seguintes preceitos constitucionais: o direito a vida particular do cidadão frente ao dever estatal de apurar o crime de forma eficiente e garantir a segurança pública. 21. Dessa forma, harmonizando modelo normativo garantista às obrigações constitucionais do Estado e às exigências do convívio social equilibrado, através do princípio da razoabilidade, pode-se interpretar o termo “invioláveis”, contido no inciso X do artigo 5º da Constituição Federal, no sentido antagônico ao sinônimo de violar, ou seja, proibir a revelação, a divulgação abusiva. 22. Observe que, como vimos acima, no caso do artigo 17 da Lei 12850/2013, ocorre apenas a ampliação dos detentores dos registros de comunicações telefônicas, permanecendo no âmbito da Administração Pública e mantendo o sigilo de tais dados. 23. Ora, os registros de comunicações envolvem dados que já estão em poder da Administração Pública indireta, sendo que a lei apenas amplia o número de detentores em razão do poder-dever de persecução penal do Estado. 24. Analisando as inviolabilidades constitucionais, verificamos que os casos previstos nos incisos XI e XII do artigo 5º fogem da esfera estatal, ou seja, lidam com situação em que o Estado não pode atuar ou obter o dado, exceto com autorização judicial. Dessa forma, fazendo uma interpretação sistêmica, só estaria incluído no conceito de intimidade, vida privada, imagem e honra (inciso X), aquilo que o Estado não detivesse ou cuja divulgação trouxesse dano moral ou material ao cidadão. 25. Assim, dado e informação que esteja sob a guarda da Administração não poderiam ser considerados íntimos ou da vida privada, embora estes tenham natureza sigilosa, não podendo assim ser divulgado ou informado para outros particulares. 26. Não é demais esclarecer que não haveria violação de sigilo se, dentro da própria concessionária de telefonia, os registros de comunicações fossem acessíveis a diversos setores e pessoas que necessitassem dos mesmos para o exercício de suas funções. Raciocínio equivalente pode ser empregado dentro da Administração Pública, ou seja, havendo legitima necessidade de uso de tais dados em processos legalmente instaurados, a lei autoriza o delegado de polícia a ter acesso aos registros de comunicações, independentemente de autorização judicial. 27. Nesse sentido, o Ministro Gilmar Mendes afirma que “sabe- se, porém, que a restrição de direitos fundamentais pode ocorrer mesmo sem autorização expressa do Constituinte, sempre que se fizer necessária a concretização do princípio da concordância prática entre os ditames constitucionais” (MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Martires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 435). 28. Da mesma forma, o Alexandre de Morais afirma que “os direitos e garantias individuais e coletivos não podem ser utilizados como um verdadeiro escudo protetivo da prática de atividades ilícitas, tampouco como argumento para afastamento ou diminuição da responsabilidade civil ou penal por atos criminosos, sob pena de total consagração ao desrespeito a um verdadeiro Estado de Direito” (MORAES, Alexandre. Manual de Direito Constitucional. 17 ed. São Paulo: Atlas, 2005 p. 26) 29. Veja, MM Juiz, que os dispositivos legais referidos são claros ao assegurar ao delegado de polícia o poder de requisitar os registros de identificação dos números dos terminais de origem e destino das ligações telefônicas e dos dados cadastrais dos usuários de tais terminais. Tanto é verdade que a Associação Nacional das Operadoras de Celulares propôs a Ação Direta de Inconstitucionalidade 5063 no STF, requerendo a declaração de inconstitucionalidade dos artigos 17 e 21 da Lei 12.850/2013. Em tal ADI o Procurador Geral da República apresentou o parecer Nº 4.409/2014- AsJConst/SAJ/PGR (anexo), defendendo a constitucionalidade de tais dispositivos, assim como o poder de acesso direto do delegado de polícia aos registros de ligações telefônicas. 30. Além disso, os registros de ligações não estariam agasalhados pelo inciso X, do artigo 5º, da Constituição Federal, já que, embora estejam relacionadas à vida particular do cidadão, não atingem a intimidade ou vida privada, conforme a teoria dos círculos concêntricos da esfera da vida privada. Se assim não fosse, nem mesmo o Poder Judiciário poderia autorizar o acesso a tais dados, já que a Constituição Federal não incluiu tal matéria na reserva de jurisdição, como o fez nas demais inviolabilidades constitucionais (art. 5º, XI e XII). 31. Ademais, deve-se levar em consideração que a Lei 9.471/1997, ao tratar do respeito à privacidade do usuário (art 3º, IX), vincula a mesma apenas aos documentos de cobrança e à utilização de seus dados pessoais pela própria operadora de telefonia. Assim, não haveria nenhum óbice legal à requisição de tais dados pela autoridade policial. Além disso, seu artigo 72 prevê que:
1 § 2º A prestadora poderá divulgar a terceiros informações agregadas
sobre o uso de seus serviços, desde que elas não permitam a identificação, direta ou indireta, do usuário ou a violação de sua intimidade. (grifo nosso) 2 1. Ora se a operadora pode divulgar a qualquer pessoa dados do uso de seus serviços, como poderia a legislação negar acesso dos registros de ligação às autoridades públicas, dentro de investigações criminais legalmente instauradas?! 2. Nesse sentido, conforme a jurisprudência, “os dados cadastrais, como nome dos assinantes do serviço telefônico e as relações de chamadas feitas e recebidas, seus destinatários, duração e horários de realização, constituem-se em registros públicos de dados cuja autorização pode ser divulgada pelo tomador de serviço, nos termos da Lei 9.472/97, não estando sujeitos ao regime da Lei nº 9.296/96” (TRF4. AGEP nº 2005.70.00.032655-0 Rel. Des. Luiz Fernando Wowk Penteado, D.E em 04-09-2008). 3. A esse respeito o Ministro Roberto Barroso, afirmou que “o teor da comunicação, do que é transmitido pelo interlocutor, é de conhecimento reservado, sigiloso, somente superado mediante fundamentada decisão judicial; característica não comungada pelas relações de números de chamadas, horário, duração, dentre outros registros similares, que são informes externos à comunicação telemática”. 4. Da mesma forma, o STF já decidiu que o acesso a dados colhidos de computadores e aparelhos telefônicos, não exigem autorização judicial prévia (STF, 1ª Turma, HC 103.425/AM, Rel, Min Rosa Weber, publicado no DJ 26/26/2012. 5. Não se pode confundir a ideia de reserva de jurisdição com o princípio da inafastabilidade, já que, na reserva de jurisdição, que deve ser expressa, o juiz deve falar primeiro, enquanto que na inafastabilidade (art 5, XXXV da CF/88) o juiz dá a última palavra. 6. O caso em questão não envolve matéria afeta à reserva de jurisdição, na medida em que, como vimos, não existe norma legal exigindo manifestação judicial prévia, pelo contrário, a Lei 12.850/2013 assegura o poder de requisição dos dados ao delegado de polícia. 7. É importante deixar claro que não se está aqui defendendo o acesso de qualquer um a dados ou informações relativas à vida particular do cidadão, mas tão somente defendendo que o Estado, na pessoa da autoridade incumbida constitucionalmente de apurar um crime, tenha o poder de requisitar dados e informações que não estejam sob a proteção legal da reserva de jurisdição, conforme explicitado na Lei 12830/2013. 8. Para finalizar, consolidando o reconhecimento do poder do delegado de polícia de ter acesso aos registros de ligações telefônicas, o STF firmou recentemente o seguinte entendimento:
1 PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. ROUBO.
DESCAMINHO E TRÁFICO DE DROGAS. ALEGADA VIOLAÇÃO AO SIGILO DAS COMUNICACOES TELEFONICAS. INOCORRENCIA. l. A obtenção direta pela autoridade policial de dados relativos à hora, ao local e à duração das chamadas realizadas por ocasião da prática criminosa não configura violação ao art. Sº, XII, da CF/ 88. Precedentes. 2. Habeas Corpus a que se nega seguimento. (STF – HC 124.322/RS – Rel. Ministro Roberto Barroso, publicado no DJ 29/09/2015.) 2 1. Antes mesmo desse julgado, o STF já havia reconhecido que os registros de ligações, não se confundem com a comunicação de dados, não recebendo assim proteção constitucional:
1 “não se confundem comunicação telefônica e registros telefônicos, que
recebem, inclusive, proteção jurídica distinta. Não se pode interpretar a cláusula do artigo 5°, XII, da CF, no sentido de proteção aos dados enquanto registro, depósito registral. A proteção constitucional é da comunicação de dados e não dos dados”. (HC 91.867, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, Sessão de 24.04.2012) 2 1. Com relação às demais informações requisitadas, cabe ressaltar que a Requerente se negou a informar os dados do responsável pela sua Divisão de Serviços Especiais, em clara afronta ao disposto no artigo 2º, § 2º da Lei 12.830/2013 e à vedação constitucional ao anonimato (art 5º, IV). 2. Por fim, informo que até o presente momento a Requerente não forneceu os dados cadastrais do usuário do terminal (85)3198-1850 nos meses de janeiro e fevereiro de 2016. 3. Ante todo o exposto, e considerando a legalidade e a constitucionalidade da requisição policial, solicito a Vossa Excelência que determine à Claro S.A. que atenda, com a máxima urgência, o ofício 3842/2017 – IPL 0596/2016-4 SR/PF/CE de forma integral.
Atenciosamente,
JOÃO CONRADO PONTE DE ALMEIDA
Delegado de Polícia Federal Memorando nº 5475/2017 - IPL 0596/2016-4 SR/PF/CE Em 18 de setembro de 2017.
Exma Cooregedora Regional Substituta da SR/PF/CE
Assunto: Mandado de segurança. Operadora Claro S.A.
No interesse do Inquérito Policial nº 0596/2016-4-SR/PF/CE,
informo a Vossa Excelência que, até a presente data, a operadora Claro S/A não cumpriu o artigo 15 da Lei 12850/2013, bem como se recusou a informar o dados do responsável por tal negativa, conforme cópia da última comunicação recebida, que foi protocolada em 06/07/2017, a qual segue em anexo.
(Im) Possibilidade Da Utilização de Ações Encobertas, Controladas Virtuais Ou de Agentes Infiltrados No Plano Cibernético, Inclusive Via Espelhamento Do Whatsapp Web