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Ofício nº 1934/2017 - IPL 0596/2016-4 SR/PF/CE (Usar esta referência)

Fortaleza/CE, 22 de fevereiro de 2017.

A Sua Senhoria o(a) Senhor(a)


Diretor Responsável
CLARO S.A
Rua Florida, 1970 - Brooklin Novo
CEP 04565-907 - São Paulo/SP

Referência: Inquérito Policial 0596/2016-4 - SR/PF/CE

Assunto: REGISTROS DE LIGAÇÔES TELEFÔNICAS (REQUISITA)

Senhor(a) Diretor(a),

O inquérito policial em epígrafe foi instaurado para apurar ocorrência


dos delitos previstos nos artigos 171 e 304 do Código Penal Brasileiro e no artigo 2º da
Lei 12.850/2013.
Tendo sido requisitado através do ofício 3580/2016, os dados
cadastrais dos usuários das linhas (85) 31981850 bem como todos os registros de
ligações e mensagens recebidas e efetuadas por tais terminais nos meses de janeiro e
fevereiro de 2016, foi recebida resposta datada de 28/07/2016, a qual afirma que seria
necessária ordem judicial para tanto.
A legislação pátria possibilita ao Delegado de Polícia, na condição de
Autoridade Policial, REQUISITAR referidos dados, independentemente de manifestação
judicial.
A Lei n. 12.830/2013 estabelece:

Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações


penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica,
essenciais e exclusivas de Estado.
§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe
a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou
outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração
das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais.
§ 2o Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia
a requisição de perícia, informações, documentos e dados que
interessem à apuração dos fatos.

Já a Lei 12.850/2013 assegura:


Art. 15. O delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso,
independentemente de autorização judicial, apenas aos dados
cadastrais do investigado que informem exclusivamente a qualificação
pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral,
empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet
e administradoras de cartão de crédito.
(..)
Art. 17. As concessionárias de telefonia fixa ou móvel manterão, pelo
prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das autoridades
mencionadas no art. 15, registros de identificação dos números
dos terminais de origem e de destino das ligações telefônicas
internacionais, interurbanas e locais.

Por óbvio, e ainda mais ante a expressa previsão legal, o delegado de


polícia, em caso de investigação de crime praticado por organização criminosa, dispõe
de acesso aos dados cadastrais e aos registros de comunicações telefônicas.
Toda lei é, presumivelmente, constitucional. Esse é um dos pilares de
um regime democrático de direito que tem como fundamento o princípio da legalidade.
Além disso, os registros de ligações não estão agasalhados pelo inciso
X, do artigo 5º, da Constituição Federal, não estando assim abrangidos pela reserva de
jurisdição.
Nesta linha, e coadunando coma presente requisição, o artigo 21 da
mesma lei reforça o poder de acesso aos registros de ligação pelo delegado de polícia,
na medida em que criminaliza a conduta de negar tal acesso.

Art. 21. Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, documentos


e informações requisitadas pelo juiz, Ministério Público ou delegado
de polícia, no curso de investigação ou do processo:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Assim, a despeito da clareza da redação do artigo 17 supra, o artigo


21 da mesma lei deixa evidente que o delegado de polícia tem a prerrogativa de ter
acesso aos registros de ligações, independentemente de autorização judicial.
Ademais, “os dados cadastrais, como nome dos assinantes do serviço
telefônico e as relações de chamadas feitas e recebidas, seus destinatários, duração e
horários de realização, constituem-se em registros públicos de dados cuja autorização
pode ser divulgada pelo tomador de serviço, nos termos da Lei 9.472/97, não estando
sujeitos ao regime da Lei nº 9.296/96” (TRF4. AGEP nº 2005.70.00.032655-0 Rel. Des.
Luiz Fernando Wowk Penteado, D.E em 04-09-2008)
Ante o exposto, reitero a requisição os dados cadastrais dos usuários
das linhas (85) 31981850 bem como todos os registros de ligações e mensagens
recebidas e efetuadas por tais terminais nos meses de janeiro e fevereiro de 2016.
Requisto, ainda, que a resposta deste ofício contenha os dados do
responsável pela Divisão de Serviços Especiais, assim como o nome e a assinatura do
responsável pela informação, já que a Constituição Federal veda o anonimato (art 5º,
IV).
Ressalto que o não atendimento integral da presente requisição, no
prazo de 30 dias, caracterizaria o crime previsto no artigo 21 da Lei 12.850/2013, o que
ensejará a instauração de inquérito policial para apurar tal recusa.
Atenciosamente,

JOÃO CONRADO PONTE DE ALMEIDA


Delegado de Polícia Federal
Ofício nº 4854/2017 - IPL 0596/2016-4 SR/PF/CE (Usar esta referência)

Fortaleza/CE, 28 de agosto de 2017.

A Sua Excelência o Senhor


DANILO DIAS VASCONCELOS DE ALMEIDA
Juiz Federal Substituto da 32ª Vara Federal do Ceará
Fortaleza/CE

Assunto: Informações sobre requisição de extrato de comunicações


Referências: Mandado de Segurança - 0810130-97.2017.4.05.8100
Inquérito Policial 596/2016 SR/PF/CE
Anexo: Parecer No 4.409/2014-AsJConst/SAJ/PGR

Senhor Juiz,

1. O inquérito policial em epígrafe foi instaurado para apurar a


possível ocorrência dos delitos de: obter, para si ou para outrem, vantagem
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante
artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento; uso de documento falso e
promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta
pessoa, organização criminosa, previstos nos artigos 171 e 304 do Código Penal
Brasileiro e no artigo 2º da Lei 12850/2013, sem prejuízo de outros que possam
restar configurados durante as investigações, tendo em vista que...
2. Assim, o primeiro passo da investigação seria verificar as
comunicações efetuadas e recebidas pelos terminais de telefone colhidos no IPL
155/2016, bem como os dados cadastrais de seus usuários, para que fosse
possível fazer o cruzamento de dados com o fim de identificar possíveis
suspeitos.
3. Considerando a fundada suspeita do envolvimento de uma
organização criminosa nos fatos sob apuração e diante da comprovação da
materialidade delitiva, com base no prescrevem os artigos 15, 17 e 21 da Lei
12.850/2013, foram requisitadas às operadoras de telefonia os dados cadastrais
e os extratos de comunicações realizadas por tais terminais.
4. A Lei n. 12.830/2013 estabelece:

1 Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações


penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica,
essenciais e exclusivas de Estado.
2 § 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial,
cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito
policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo
a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das
infrações penais.
3 § 2o Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de
polícia a requisição de perícia, informações, documentos e dados
que interessem à apuração dos fatos.
4
1. Já a Lei 12.850/2013 assegura:
1 Art. 15. O delegado de polícia e o Ministério Público terão
acesso, independentemente de autorização judicial, apenas aos
dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente a
qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça
Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de
internet e administradoras de cartão de crédito.
2 (..)
3 Art. 17. As concessionárias de telefonia fixa ou móvel manterão,
pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das autoridades
mencionadas no art. 15, registros de identificação dos números
dos terminais de origem e de destino das ligações telefônicas
internacionais, interurbanas e locais.
4 (...)
5 Art. 21. Recusar ou omitir dados cadastrais, registros,
documentos e informações requisitadas pelo juiz, Ministério Público ou
delegado de polícia, no curso de investigação ou do processo:
6 Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. (grifo
nosso)
7
1. Incialmente cabe fazer a interpretação de cada um desses
dispositivos da Lei 12.850/2013.
2. Quanto ao artigo 15, quando o mesmo inclui o termo “apenas” este
não está a restringir o acesso à somente os dados que sejam cadastrais, mas
sim restringe o alcance do que seria abrangido pelo termo “dados cadastrais”.
Em outras palavras, o legislador diz que o delegado de polícia não tem acesso
a todo e qualquer dado que forme o cadastro do cliente, mas somente àqueles
que informem exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço
mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras,
provedores de internet e administradoras de cartão de crédito.
3. Assim, afasta-se do acesso do delegado de polícia os dados e
informações relativos a possíveis dívidas, relacionamentos com outros pessoas
(p. ex. dependentes ou terceiros), serviços e produtos vinculados ao cliente etc.
4. Ou seja, o termo “apenas” tem como finalidade delimitar os dados
cadastrais que seriam acessíveis ao delegado.
5. Outra interpretação razoável sobre a abrangência do termo
“apenas” em tal dispositivo seria que este restringiria o acesso apenas aos dados
cadastrais de investigados, ou seja, somente seria possível o acesso a dados
cadastrais de suspeitos da prática de crime, não cabendo assim o acesso a
dados de testemunhas, vítimas ou terceiros.
6. Não obstante, após analise das chamadas realizadas e recebidas
e de outros elementos da investigação, o delegado poderá ter acesso aos dados
cadastrais de outros usuários que tenham efetuado ou recebido ligações do
investigado inicial, pois passaram a ostentar a mesma situação jurídica de
suspeito/investigado.
7. Contudo, ambas as interpretações garantem a plenitude da
eficácia dos artigo 17 e 21 da mesma lei, conforme veremos a seguir.
8. Por outro lado, o artigo 17 assegura, às autoridades referidas no
artigo 15, a disposição de registros de identificação dos números dos terminais
de origem e de destino das ligações telefônicas. Ora, ao utilizar o termo
“autoridades” no plural, logicamente inclui o delegado de polícia. Por outro lado,
o termo “à disposição de”, conforme o Dicionário Aurélio, é sinônimo de “à
subordinação de” e “à dependência de”. Além disso, juridicamente dispor é
sinônimo de alienar. Assim, como poderia algo estar à disposição de alguém se
este não tiver acesso ao mesmo? Como alguém pode alienar algo que não lhe
pertence?
9. Veja, MM Juiz, que o Legislador separou em dois dispositivos
legais o acesso aos dados cadastrais e dos registros de ligações em razão da
necessidade de delimitar quais dados cadastrais seriam acessíveis diretamente
pelo delgado de polícia.
10. A despeito da clareza da redação do artigo 17 supra, o artigo
21 da mesma lei deixa evidente que o delegado de polícia tem a prerrogativa de
ter acesso aos registros de ligações, independentemente de autorização judicial,
já que fazendo uma interpretação sistêmica, vemos que os registros referidos
em tal lei são justamente os registros de identificação dos números dos terminais
de origem e de destino das ligações telefônicas, previsto no artigo 15, o que
reforça a interpretação dada acima ao artigo 17, sem que seja prejudicada a
eficácia do artigo 15.
11. Veja, MM Juiz, que o artigo 21 prever como crime a omissão
ou recusa de acesso a registros requisitados pelo delegado de polícia. Tal
dispositivo reforça o poder de acesso aos registros de ligações pelo delegado de
polícia, na medida em que criminaliza a conduta de negar tal acesso.
12. Tal interpretação, além de assegurar a plena aplicação de
todos os dispositivos da lei individualmente, torna os mesmos harmônicos.
13. Sabe-se que as normas devem ser interpretadas com base
nas regras de hermenêutica. Uma das mais basilares é a que ordena não haver
palavras desnecessárias nem inúteis nos textos normativos. Outra é que impõe
à máxima aplicabilidade dos dispositivos legais.
14. Assim, fazendo uso do princípio da razoabilidade, não seria
razoável se negar a plena eficácia dos artigos 17 e 21 em razão de uma
interpretação dada a um termo previsto no artigo 15.
15. O operador do Direito, neste caso, deve ter em mente
também que tal acesso tem como finalidade a eficiência da Administração
Pública, princípio constitucional previsto no artigo 37. Além disso, tal acesso tem
por fim tornar efetivo o dever previsto no artigo 144, § 1º e 7º da Constituição
Federal, ou seja, de apurar os crimes de forma eficiente, o que implica em
agilidade e eficácia da investigação.
16. Por outro lado, analisando a natureza dos registros
telefônicos, pode-se concluir que estes dizem respeito ao serviço prestado pela
operadora, ou seja, são dados que, embora possam vir a ter alguma repercussão
na vida do cliente, pertencem à concessionária de serviço público. Ora, a fatura
de um serviço de entrega de encomendas seria documento sigiloso? E porque a
fatura do serviço de telefonia seria sigilosa?
17. Cabe ainda ressaltar que o inquérito policial, processo legal
previsto para apuração de crimes, tem natureza sigilosa (artigo 20 do CPP), o
que resguarda a vida particular do investigado e garante o sigilo do dado. Além
disso, nos exatos termos do inciso X do artigo 5º da Constituição, caso haja
divulgação de tais dados, o responsável incide na obrigação de indenizar o dano
material ou moral decorrente.
18. Para deixar mais clara a repercussão do exercício do poder-
dever do Estado da persecução penal na vida particular do cidadão, podemos
fazer a seguinte indagação: qual seria a diferença, em termos de natureza
jurídica, de uma vigilância que registra o lugar, o dia, a hora e o tempo de um
contato mantido por duas pessoas, da obtenção de um registro de ligação
telefônica? O local de onde os interlocutores estão?
19. O sistema de justiça criminal deve se afastar de paradigmas
que surgiram com a Ditadura Militar, os quais restringem o acesso dos órgãos
policiais a dados e informações que estão depositados em empresas privadas e
até órgãos públicos sobe o pretexto de ferir a vida particular dos cidadãos,
mesmo havendo processo de investigação legal (inquérito policial) devidamente
instaurado, bem como havendo a possibilidade legal de tal acesso.
20. Assim, a interpretação da lei deve harmonizar aos seguintes
preceitos constitucionais: o direito a vida particular do cidadão frente ao dever
estatal de apurar o crime de forma eficiente e garantir a segurança pública.
21. Dessa forma, harmonizando modelo normativo garantista às
obrigações constitucionais do Estado e às exigências do convívio social
equilibrado, através do princípio da razoabilidade, pode-se interpretar o termo
“invioláveis”, contido no inciso X do artigo 5º da Constituição Federal, no sentido
antagônico ao sinônimo de violar, ou seja, proibir a revelação, a divulgação
abusiva.
22. Observe que, como vimos acima, no caso do artigo 17 da
Lei 12850/2013, ocorre apenas a ampliação dos detentores dos registros de
comunicações telefônicas, permanecendo no âmbito da Administração Pública
e mantendo o sigilo de tais dados.
23. Ora, os registros de comunicações envolvem dados que já
estão em poder da Administração Pública indireta, sendo que a lei apenas amplia
o número de detentores em razão do poder-dever de persecução penal do
Estado.
24. Analisando as inviolabilidades constitucionais, verificamos
que os casos previstos nos incisos XI e XII do artigo 5º fogem da esfera estatal,
ou seja, lidam com situação em que o Estado não pode atuar ou obter o dado,
exceto com autorização judicial. Dessa forma, fazendo uma interpretação
sistêmica, só estaria incluído no conceito de intimidade, vida privada, imagem e
honra (inciso X), aquilo que o Estado não detivesse ou cuja divulgação trouxesse
dano moral ou material ao cidadão.
25. Assim, dado e informação que esteja sob a guarda da
Administração não poderiam ser considerados íntimos ou da vida privada,
embora estes tenham natureza sigilosa, não podendo assim ser divulgado ou
informado para outros particulares.
26. Não é demais esclarecer que não haveria violação de sigilo
se, dentro da própria concessionária de telefonia, os registros de comunicações
fossem acessíveis a diversos setores e pessoas que necessitassem dos
mesmos para o exercício de suas funções. Raciocínio equivalente pode ser
empregado dentro da Administração Pública, ou seja, havendo legitima
necessidade de uso de tais dados em processos legalmente instaurados, a lei
autoriza o delegado de polícia a ter acesso aos registros de comunicações,
independentemente de autorização judicial.
27. Nesse sentido, o Ministro Gilmar Mendes afirma que “sabe-
se, porém, que a restrição de direitos fundamentais pode ocorrer mesmo sem
autorização expressa do Constituinte, sempre que se fizer necessária a
concretização do princípio da concordância prática entre os ditames
constitucionais” (MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Martires;
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4 ed. São
Paulo: Saraiva, 2009. p. 435).
28. Da mesma forma, o Alexandre de Morais afirma que “os
direitos e garantias individuais e coletivos não podem ser utilizados como um
verdadeiro escudo protetivo da prática de atividades ilícitas, tampouco como
argumento para afastamento ou diminuição da responsabilidade civil ou penal
por atos criminosos, sob pena de total consagração ao desrespeito a um
verdadeiro Estado de Direito” (MORAES, Alexandre. Manual de Direito
Constitucional. 17 ed. São Paulo: Atlas, 2005 p. 26)
29. Veja, MM Juiz, que os dispositivos legais referidos são
claros ao assegurar ao delegado de polícia o poder de requisitar os registros de
identificação dos números dos terminais de origem e destino das ligações
telefônicas e dos dados cadastrais dos usuários de tais terminais. Tanto é
verdade que a Associação Nacional das Operadoras de Celulares propôs a Ação
Direta de Inconstitucionalidade 5063 no STF, requerendo a declaração de
inconstitucionalidade dos artigos 17 e 21 da Lei 12.850/2013. Em tal ADI o
Procurador Geral da República apresentou o parecer Nº 4.409/2014-
AsJConst/SAJ/PGR (anexo), defendendo a constitucionalidade de tais
dispositivos, assim como o poder de acesso direto do delegado de polícia aos
registros de ligações telefônicas.
30. Além disso, os registros de ligações não estariam
agasalhados pelo inciso X, do artigo 5º, da Constituição Federal, já que, embora
estejam relacionadas à vida particular do cidadão, não atingem a intimidade ou
vida privada, conforme a teoria dos círculos concêntricos da esfera da vida
privada. Se assim não fosse, nem mesmo o Poder Judiciário poderia autorizar o
acesso a tais dados, já que a Constituição Federal não incluiu tal matéria na
reserva de jurisdição, como o fez nas demais inviolabilidades constitucionais (art.
5º, XI e XII).
31. Ademais, deve-se levar em consideração que a Lei
9.471/1997, ao tratar do respeito à privacidade do usuário (art 3º, IX), vincula a
mesma apenas aos documentos de cobrança e à utilização de seus dados
pessoais pela própria operadora de telefonia. Assim, não haveria nenhum óbice
legal à requisição de tais dados pela autoridade policial. Além disso, seu artigo
72 prevê que:

1 § 2º A prestadora poderá divulgar a terceiros informações agregadas


sobre o uso de seus serviços, desde que elas não permitam a identificação,
direta ou indireta, do usuário ou a violação de sua intimidade. (grifo nosso)
2
1. Ora se a operadora pode divulgar a qualquer pessoa dados do uso
de seus serviços, como poderia a legislação negar acesso dos registros de
ligação às autoridades públicas, dentro de investigações criminais legalmente
instauradas?!
2. Nesse sentido, conforme a jurisprudência, “os dados cadastrais,
como nome dos assinantes do serviço telefônico e as relações de chamadas
feitas e recebidas, seus destinatários, duração e horários de realização,
constituem-se em registros públicos de dados cuja autorização pode ser
divulgada pelo tomador de serviço, nos termos da Lei 9.472/97, não estando
sujeitos ao regime da Lei nº 9.296/96” (TRF4. AGEP nº 2005.70.00.032655-0
Rel. Des. Luiz Fernando Wowk Penteado, D.E em 04-09-2008).
3. A esse respeito o Ministro Roberto Barroso, afirmou que “o teor da
comunicação, do que é transmitido pelo interlocutor, é de conhecimento
reservado, sigiloso, somente superado mediante fundamentada decisão judicial;
característica não comungada pelas relações de números de chamadas, horário,
duração, dentre outros registros similares, que são informes externos à
comunicação telemática”.
4. Da mesma forma, o STF já decidiu que o acesso a dados colhidos
de computadores e aparelhos telefônicos, não exigem autorização judicial prévia
(STF, 1ª Turma, HC 103.425/AM, Rel, Min Rosa Weber, publicado no DJ
26/26/2012.
5. Não se pode confundir a ideia de reserva de jurisdição com o
princípio da inafastabilidade, já que, na reserva de jurisdição, que deve ser
expressa, o juiz deve falar primeiro, enquanto que na inafastabilidade (art 5,
XXXV da CF/88) o juiz dá a última palavra.
6. O caso em questão não envolve matéria afeta à reserva de
jurisdição, na medida em que, como vimos, não existe norma legal exigindo
manifestação judicial prévia, pelo contrário, a Lei 12.850/2013 assegura o poder
de requisição dos dados ao delegado de polícia.
7. É importante deixar claro que não se está aqui defendendo o
acesso de qualquer um a dados ou informações relativas à vida particular do
cidadão, mas tão somente defendendo que o Estado, na pessoa da autoridade
incumbida constitucionalmente de apurar um crime, tenha o poder de requisitar
dados e informações que não estejam sob a proteção legal da reserva de
jurisdição, conforme explicitado na Lei 12830/2013.
8. Para finalizar, consolidando o reconhecimento do poder do
delegado de polícia de ter acesso aos registros de ligações telefônicas, o STF
firmou recentemente o seguinte entendimento:

1 PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. ROUBO.


DESCAMINHO E TRÁFICO DE DROGAS. ALEGADA VIOLAÇÃO AO
SIGILO DAS COMUNICACOES TELEFONICAS. INOCORRENCIA. l. A
obtenção direta pela autoridade policial de dados relativos à hora, ao
local e à duração das chamadas realizadas por ocasião da prática
criminosa não configura violação ao art. Sº, XII, da CF/ 88. Precedentes.
2. Habeas Corpus a que se nega seguimento. (STF – HC 124.322/RS –
Rel. Ministro Roberto Barroso, publicado no DJ 29/09/2015.)
2
1. Antes mesmo desse julgado, o STF já havia reconhecido que os
registros de ligações, não se confundem com a comunicação de dados, não
recebendo assim proteção constitucional:

1 “não se confundem comunicação telefônica e registros telefônicos, que


recebem, inclusive, proteção jurídica distinta. Não se pode interpretar a
cláusula do artigo 5°, XII, da CF, no sentido de proteção aos dados enquanto
registro, depósito registral. A proteção constitucional é da comunicação de
dados e não dos dados”. (HC 91.867, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda
Turma, Sessão de 24.04.2012)
2
1. Com relação às demais informações requisitadas, cabe ressaltar
que a Requerente se negou a informar os dados do responsável pela sua Divisão
de Serviços Especiais, em clara afronta ao disposto no artigo 2º, § 2º da Lei
12.830/2013 e à vedação constitucional ao anonimato (art 5º, IV).
2. Por fim, informo que até o presente momento a Requerente não
forneceu os dados cadastrais do usuário do terminal (85)3198-1850 nos meses
de janeiro e fevereiro de 2016.
3. Ante todo o exposto, e considerando a legalidade e a
constitucionalidade da requisição policial, solicito a Vossa Excelência que
determine à Claro S.A. que atenda, com a máxima urgência, o ofício 3842/2017
– IPL 0596/2016-4 SR/PF/CE de forma integral.

Atenciosamente,

JOÃO CONRADO PONTE DE ALMEIDA


Delegado de Polícia Federal
Memorando nº 5475/2017 - IPL 0596/2016-4 SR/PF/CE
Em 18 de setembro de 2017.

Exma Cooregedora Regional Substituta da SR/PF/CE

Assunto: Mandado de segurança. Operadora Claro S.A.


Referência Memorando 148/2017-COR/SR/PF/CE (3822689 -
08270.015874/2017-40)

No interesse do Inquérito Policial nº 0596/2016-4-SR/PF/CE,


informo a Vossa Excelência que, até a presente data, a operadora Claro S/A não
cumpriu o artigo 15 da Lei 12850/2013, bem como se recusou a informar o dados
do responsável por tal negativa, conforme cópia da última comunicação
recebida, que foi protocolada em 06/07/2017, a qual segue em anexo.

Respeitosamente,

JOÃO CONRADO PONTE DE ALMEIDA


Delegado de Polícia Federal

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