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N° 18 | Março de 2012 U rdimento

Teatro de figuras alegóricas:


a ferida woyzek 1
Ingrid Dormien Koudela2

Resumo

A Ferida Woyzeck foi encenada no Curso de Licenciatura


em Teatro da UNISO – Universidade de Sorocaba e faz parte
das pesquisas na área de Pedagogia do Teatro, que investiga
procedimentos didáticos e artisticos, fundamentais àqueles
que pretendem trabalhar com o ensino e a aprendizagem
teatral, seja em ambientes escolares ou em espaços culturais
onde o teatro se faz presente.

PALAVRAS-CHAVE: Teatro; Dramaturgia; Pedagogia do Teatro; Coro

Resumo

Ferida Woyzeck was performed by students of the Theatre


Teaching Degree of UNISO – University of Sorocaba. It was part of
a research in the field of Theatre Pedagogy centred on investigations
about didactict and artistic procedures required by those who intend
to work with theatre teaching and learning processes, whether in
schools or cultural spaces.

Keywords: Theatre; Dramaturgy; Theatre Pedagogy; Choir

1 Essa apresentação, coordenada por Ingrid Dormien Koudela, se inspirou na publicação de textos de Büchner “Na Pena
e na Cena”, Ed. Perspectiva, 2004.
2 Professora aposentada da ECA/USP e tradutora, com inúmeros trabalhos teóricos e práticos sobre a Pedagogia Teatral,
a partir das propostas de Viola Spolin e principalmente de Bertolt Brecht.

TEATRO DE FIGURAS ALEGÓRICAS: A FERIDA WOYZECK 71


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O
Teatro de Figuras Alegóricas, de- modo de estruturá-la, no sentido em que as direções, e por Novalis como projeto, descente para a capacidade de exercitar o
senvolvidas na UNISO, propõe a Brecht (Brecht, BBGW vol.18, p.10; tra- conotando a idéia de espontaneidade e convívio e construir significados através de
possibilidade de criar encenações dução minha) colocou a questão: não acabamento, o fragmento é potencial- experimentos de caráter lúdicos e estéticos
que rompam com a forma line- mente uma semente literária, estimulando de teatro.
ar de contar histórias. A história É permitido perguntar se o esboço também o leitor a refazer ou levar adiante Os eixos de aprendizagem do jogo
é apresentada de maneira fragmentada, de uma peça deve ser representado o ato de reflexão. A estética do fragmentá- teatral como foco, instrução e avaliação for-
alinhando quadros de cenas que buscam quando ela existe em forma mais rio está, por sua vez, ligada a critica do oti- maram a base metodológica do processo.
completa. É permitido responder
romper o limite entre o palco e a platéia. mismo do progresso, e se processa dentro A instrução, que é um comando dado pelo
que por si só a grande importância
Na encenação de A Figura Woyzeck a opção dos horizontes do materialismo histórico, coordenador enquanto o jogo está em mo-
do complexo textual, no caso do
pedagógica e estética dialoga com cantigas Fausto justifica a encenação do Ur- nas obras de Bloch, Adorno, Horkheimer vimento, possibilitou o direcionamento do
de roda dançadas, criando uma inusitada Faust (Primeiro Fausto). Mas existe e Benjamin. A montagem moderna de processo em função do texto a ser experi-
relação entre o texto de Büchner e a cultu- ainda uma outra justificativa. O Ur- fragmentos é vista como reflexo da desor- mentado pelo grupo. A avaliação, realizada
ra popular brasileira. Trata-se de um teatro Faust tem vida própria. Pertence, dem real, permitindo uma visão critica da sistematicamente após o término do jogo
no qual a coreografia, a pantomima, o can- juntamente com o Robert Guiskard, totalidade. às vezes era feita com os jogadores na pla-
to e o texto são articulados na estruturação de Kleist e o Woyzeck de Büchner a De acordo com Röhl (Röhl, 2006) o téia e outras, quando o grupo todo estava
das cenas. A encenação de A Ferida Woyzeck um gênero muito especial de frag- trabalho com o fragmento tem para Mul- envolvido na cena, simplesmente em roda
utiliza o coro, alegorizando assim os per- mentos. Eles não são incompletos, ler, várias funções. Uma delas, de gran- através de perguntas colocadas pelo coor-
porém obras de arte feitas na forma
sonagens. Através do gesto e da palavra de importância, é a de impedir a indife- denador.
de esboços.
estendidos, o coletivo constrói o Gestus da renciação das partes numa totalidade e O acento do foco do jogo teatral foi a
experiência da coisificação, na qual o corpo ativar a participação do espectador. Na construção de uma atitude neutra em cena.
é visto em seu presente de dissolução. A influencia de Heiner Müller se fez verdade, trata-se de uma continuação ra- Os Jogos de Espelho e Siga o Seguidor (Spolin,
De acordo com Sábato Magaldi (Ma- presente na encenação de A Ferida Woyze- dicalizada do teatro praticado por Brecht, 2008) permearam todos os ensaios instau-
galdi, 1963, p. 23): ck, através das provocações radicais de visando igualmente a uma abertura para rando o processo colaborativo no grupo.
seu universo reflexivo e poético que figura efeitos, de forma a evitar que a história Neste sentido, as cantigas de roda auxilia-
como referencia do teatro pós-dramatico. se reduza ao palco. O fragmento torna- ram na construção das relações de parceria
Admiramos muitas peças e muitos
personagens. Reconhecemos inte- No programa anunciamos um comen- se produtor de conteúdos, abrindo-se à entre os atuantes e foram elaborados como
lectualmente a genialidade de mui- tário sobre o Woyzeck que deu o titulo à subjetividade do receptor, corresponden- material cênico para a construção do pro-
tas obras. A Woyzeck, ama-se, como encenação. Nas palavras de Heiner Müller do ao que Muller chama de espaços livres duto apresentado para a platéia.
a um semelhante. Sem ser profeta, (Müller, 1990 p. 114, tradução minha): para a fantasia, em sua opinião uma tarefa Outro foco enfatizado na experimenta-
pode-se imaginar que, no futuro, ele primariamente política, uma vez que age ção com o grupo foi o espaço (Onde) com
encarnará uma nova mitologia – a Woyzeck é a ferida aberta. Woyzeck contra clichês pré-fabricados e padrões suas inúmeras variantes. A apresentação
mitologia de nosso tempo. vive onde o cachorro está enterra- produzidos pela mídia. se deu em um espaço de arena. A cenogra-
do, o cachorro chama-se Woyzeck. O trabalho com o fragmento provoca a fia da encenação era constituída através do
O drama de farrapos, na feliz expressão Esperamos a sua ressurreição com
colisão instantânea de tempos heterogêne- objeto no espaço (Spolin, 2008), sendo que
cunhada por Anatol Rosenfeld é uma obra medo e/ou esperança. Que ele vol-
te como lobo. O lobo vem do sul. os, possibilitando a revisão critica do pre- atitude corporal e linguagem gestual eram
que se oferece ao encenador e aos atuan- sente à luz do passado. configuradas pelos atuantes que criavam
Quando o sol está no zênite, quando
tes desfazendo as perspectivas de tempo Os Jogos Teatrais de Viola Spolin tive- o espaço imaginário da tenda, do quarto,
se torna uno com a nossa sombra,
e espaço. As cenas podem ser deslocadas inicia a hora da incandescência, a ram neste contexto de formação de pro- do pântano etc. Também os personagens
e rearranjadas em novo continuo. Cada história. Somente quando a história fessores um papel fundamental para o de- foram construídos através de jogos teatrais
cena representa um momento substancial acontece vale a pena a decadência senvolvimento de habilidades de processo. que tinham o quem como foco. Jogos como
que encerra variados aspectos do mesmo coletiva na geada da entropia ou, A partir da experimentação com os jogos Quem sou eu? (Spolin, 2008) que mantém
tema – o desamparo de Woyzeck que se abreviado politicamente, no raio teatrais e do confronto com o texto buscou- embutido o principio da charada foram
agita e contorce enredado no labirinto do atômico que é o fim das utopias e
se construir a autonomia do grupo e a sua fundamentais para a criação dos coros de
mundo, balbuciando toscamente em seu será o inicio de uma realidade para
além do homem. leitura do fragmento de Büchner. Woyzeck e Marie. Nascidos destas relações
desespero mudo. de jogo foi possível realizar com o grupo
A capacidade imaginativa desenvol-
Mais do que buscar uma solução pré- de vinte e oito atuantes uma encenação que
vida no jogo oferece um número muito
via para o arranjo das cenas, com vistas à A tradição do fragmento remonta, na classificamos como singela, mas que guar-
maior de hipóteses do que aquelas que a
leitura e representação nos termos comu- literatura alemã, a Schlegel e Novalis. Vis- dava a pulsão do jogo na qual teve origem.
realidade física nos permite experimentar.
mente realizados pelos diferentes edito- to por Schlegel como uma pequena obra A encenação de A Ferida Woyzeck par-
Característica antropológica mais mar-
res da obra, a escritura buchneriana tal- de arte a estender, qual um ouriço, seus tiu de uma busca nas pistas de linguagem
cante do homem, o jogo é o núcleo incan-
vez devesse ser considerada, quanto ao espinhos críticos e provocadores em todas oferecidas pelo próprio texto. O confronto

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de Woyzeck com seus superiores, repre- do o Gestus da dominação do pobre e coita- engloba a palavra, o canto e a dança. No do parte de textos literários como quando
sentantes dos estratos sociais dominantes, do Woyzeck, submetido aos experimentos mimos grego existiam formas de teatro im- se trata de repetições de falas que nascem
é indicado pelos vários padrões de lingua- medicinais e à exploração. O ventríloquo, provisacional que utilizavam a fala cotidia- do teatro improvisacional. Estes atalhos
gem utilizados por Büchner. Enquanto o sugerido por Büchner, foi expandido atra- na. A partir destas tradições deriva a fala podem partir de modelos de ação (Handlun-
Capitão, o Médico e o Professor empregam vés da construção de um boneco (Jaime Pi- em versos do teatro clássico de Büchner a gsmuster, Koudela, 1991) prefigurados no
com moderação o dialeto de Darmstadt, nheiro, também responsável pelo figurino Brecht e Heiner Müller que devem ser cre- teatro dramático, narrativo e/ou poético,
as personagens populares falam o dialeto da encenação) que recebeu o apelido de Sir ditados à forte ligação do teatro europeu mas retornam para o espaço do sentir, do
puro: Woyzeck, Marie, Margareth, Karl, Woyzeck e acompanhava a encenação do com a literatura teatral, mas também com pensar e principalmente da fisicalização
avó crianças. Woyzeck, soldado e barbeiro, coro de quatorze Maries e onze Woyzecks a fala cotidiana até ao extremo das várias que incorpora as motivações e impulsos de
faz a barba do Capitão tagarela e bitolado. sentado em poltronas destinadas à platéia formas de teatro improvisacional na his- ação. É somente a partir destes muitos ata-
O Médico, o Tambor-mor e o Capitão po- do teatro, ao lado do Pregoeiro, do Char- tória do teatro até a década de setenta. A lhos de experimentação no jogo que o mo-
dem dar ordens a Woyzeck, enquanto a latão (e do Bobo), anunciados pelo nosso Peça Didática de Brecht e o jogo teatral delo literário assume a dimensão de uma
este só é dado cumpri-las sem manifestar autor na cena Tendas, Luzes, Povo (3). Essa desenvolvido a partir desta dramaturgia ação, de uma atitude, de um gesto – a cor-
vontades. cena, em nossa releitura do texto, recebeu mostram uma relação dialética entre a fala porificação de uma intenção.
Surpreende a inserção de versos e can- o titulo de Prólogo. O coro de Maries e gestual (Gestische Sprache) dos originais
tigas populares inseridas por Büchner nas Woyzecks foi a forma encontrada para a brechtianos e as inserções de variantes de
várias versões do fragmento. Foi com o alegorização das personagens. Através do invenção própria criados pelos coletivos de
intuito de expandir esse gesto presente no gesto, do canto e da palavra estendidos, o atuantes em oficinas de criação.
texto que trabalhamos inicialmente com coletivo dos atuantes construiu o Gestus A primeira frase do Evangelho de João
cantigas de roda no processo da encena- da experiência da coisificação. Na nossa reza (...) no inicio era a palavra. No Fausto
ção. Essas cantigas viriam a substituir os cena final, o Epilogo, o Charlatão, o Pre- de Goethe encontramos (...) no inicio era o
versos alemães por referencias populares goeiro, o Bobo e Sir Woyzeck levantavam ato. Ou seja, no processo da fala o ato ad-
brasileiras sendo que o canto, os versos e a das poltronas para fazer o comentário das quire primazia. A fala se baseia, portan-
dança introduziam e faziam o comentário cenas mostradas pelo coro: to em ações em determinadas situações e
das cenas. contextos de significados ao mesmo tem-
Woyzeck sucumbe sob o peso de um BOBO: Um bom assassinato, um po em que por si só possui a qualidade de
universo cujos mistérios não consegue autêntico assassinato, um belo as- ser ação. Este aspecto actancial da fala é de
apreender nem articular e em relação ao sassinato, mais belo como não se grande importância em todo evento cênico
poderia desejar, faz tempo que não
qual sua ação nada pode, estando à mercê e em especial quando a teatralidade recorre
tínhamos nada igual.
de forças que o manipulam como os fios a a textos literários. Pois a fala em cena não
um títere. Esta visão do ser humano, que PREGOEIRO: No mundo não há é de forma alguma a enunciação correta ou
o converte em fantoche e automatiza a sua permanência, todo devemos morrer, bem sucedida de um texto literário. As pa-
atuação, imprime-lhe, pela perda das mo- disso sabemos muito bem. Pobre lavras necessitam ser antes de faladas, pen-
dulações e mecanização de suas ações, uma homem, velhinho! Pobre criança! sadas e percebidas de novo para serem an-
feição grotesca. Mas neste viés, Woyzeck Criancinha! Preocupações e festas! coradas novamente na ação. Elas precisam
é acompanhado tanto pelo Capitão como ser novamente vividas.
pelo Doutor e pelo Tambor-mor, perso- CHARLATÃO: Um homem precisa Este caminho é indicado pelas teorias
nagens construídas com perfis esquemáti- ser também tolo por entender, para de interpretação, através de diferentes
que possa dizer: mundo tolo, mundo
cos e que vivem, cada qual, em função de abordagens. Stanislavski introduz o con-
bonito!
suas idéias fixas. Woyzeck atravessa a peça ceito de sub-texto através do qual nasce
em agitação desesperada, contorcendo- o sentido da obra. Brecht vê a fala como
se como um boneco suspenso nas cordas. O Bobo, um personagem do fragmento instrumento da ação. Através do concei-
Corre pelo mundo como uma navalha aber- que tem algumas falas esporádicas, tam- to de linguagem gestual (Gestische Spra-
ta. Vendo-o chispar pela rua, seguido aos bém foi expandido, sendo que a atriz (Fer- che) Brecht acentua que toda fala é uma
pulinhos pelo Doutor, o magro pelo gordo, nanda Brito) que fazia o papel pesquisou ação dos homens entre os homens. Uma
o Capitão exclama às gargalhadas: Grotes- falas de Bobos em Shakespeare as quais fo- questão fundamental para todo enuncia-
co! Grotesco! ram inseridas em algumas cenas. O resul- do através da fala é, portanto o que move
O elemento grotesco, tão presente no tado era um comentário caustico dos acon- aquele que atua e de que forma interage
texto, foi explorado de variadas formas. Os tecimentos como o assassinato de Marie. com o outro.
personagens do Doutor e do Capitão foram Nas culturas teatrais ancestrais a fala A fala caminha por atalhos tanto quan-
encenados através de máscaras, acentuan- é parte indissolúvel de uma expressão que

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ReferÊncias bibliográficas:

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