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MAIO DE 2019
70 anos da Declaração
Universal dos Direitos Humanos
O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA
DOS DIREITOS HUMANOS
EXPEDIENTE –
Diretoria Executiva Suplência da Diretoria Esportes
Executiva Alen de Souza Pessoa
Camila Mendes Santana Ivan Viegas Renaux de Andrade
Presidente
Coutinho
Marcos Antônio Matos de
Daniel de Ataíde Martins Jurídico
Carvalho Fernando Della Latta Camargo Isabela Rodrigues Bandeira
Hodir Flávio Guerra Leitão de Carneiro Leão
1º Vice-Presidente Melo João Paulo Pedrosa Barbosa
Maria Ivana Botelho Vieira da Janaína do Sacramento Bezerra
Silva Maria Izamar Ciriaco Pontes Patrimonial
Emmanuel Cavalcanti Pacheco
2º Vice-Presidente Conselho Fiscal e Sônia Cardoso da Silva Santos
Clóvis Ramos Sodré da Motta
Consultivo Social
Fabiano Morais de Holanda
1º Secretária Allana Uchoa de Carvalho
Beltrão
Deluse Amaral Rolim Florentino Helena Martins Gomes e Silva
Francisca Carmina Soares
Salomão Ismail Filho
2º Secretário Apoio Institucional
Sérgio Roberto da Silva Pereira
Oscar Ricardo de Andrade Bianca Stella Barroso
Sílvia Amélia de Melo Oliveira
Hilário Marinho Patriota
Nóbrega
Departamentos Integração Regional
1º Tesoureiro Aposentados Almir Oliveira de A. Júnior
Sueldo de Vasconcelos Maria Bernadete Aragão Domingos Sávio Pereira Agra
Cavalcanti Melo Júlio César Soares Lira
Beneficência Sophia Wolfowitch Spinola
2º Tesoureira Israel Cabral Cavalcanti
Allana Uchoa de Carvalho Letícia Guedes Coelho
Comissão Editorial
Comunicação Geraldo Margela Correia
Assessoria Especial da e Salomão Ismail Filho
Geraldo Margela Correia
Presidência (Presidente e Vice-Presidente,
Janaína do Sacramento Bezerra
Arabela Maria Matos Porto respectivamente); Selma Magda
Gilson Roberto de Melo Barbosa Cultural Pereira Barbosa Barreto, Deluse
José Tavares Marcelo Greenhalgh Penalva Amaral Rolim Florentino
Maria Bernadete Martins de Santos e Eduardo Borba Lessa
Azevedo Figueiroa Frederico José Santos de Oliveira (Conselheiros).
Departamento de
Comunicação
Jornalistas: Marina Moura
Maciel e Thaís Lima
Revisão e Produção
Marina Moura Maciel
REVISTA JURÍDICA DA AMPPE Ilustração de capa
Rua Benfica, 810, Madalena - Recife/PE Ana Rita Moraes
CEP: 50720-001 - Brasil Diagramação e impressão
(81) 3228-7491 Ed Batalha / Premius Editora
Apresentação 05
————————————————————————————
Presunção de inocência 07
GUILHERME GRACILIANO ARAÚJO LIMA
————————————————————————————
Efetivação de direitos da 29
população LGBT
GUSTAVO HENRIQUE HOLANDA DIAS KERSHAW
————————————————————————————
A saída do louco infrator do 47
HCTP
IRENE CARDOSO SOUSA
————————————————————————————
O direito humano ao meio 79
ambiente urbano
JULIENNE DINIZ ANTÃO
SALOMÃO ISMAIL FILHO
————————————————————————————
A saúde da pessoa privada de 109
liberdade no sistema prisional
IRENE CARDOSO SOUSA
JÚLIO CÉSAR SOARES LIRA
————————————————————————————
A criação dos Conselhos da
Comunidade
129
JÚLIO CÉSAR SOARES LIRA
O Ministério Público e os direitos
humanos
159
LUÍS SÁVIO LOUREIRO DA SILVEIRA
MARIANA FARIAS SILVA
RICHARDSON SILVA
———————————————————————————
Os direitos fundamentais do
consumidor no plano subnacional
193
RENATA GONÇALVES PERMAN
MARIA IVANÚCIA MARIZ ERMINIO
———————————————————————————
Os direitos humanos ao juiz
imparcial, ao devido processo
221
legal e ao contraditório
SALOMÃO ISMAIL FILHO
———————————————————————————
O Sistema de Precedentes do CPC
de 2015
253
SELMA MAGDA PEREIRA BARBOSA BARRETO
———————————————————————————
A importância do Provita
FABIANO MORAIS DE HOLANDA BELTRÃO
271
LUÍS OTÁVIO DE LIMA
———————————————————————————
O direito humano ao meio
ambiente equilibrado e protegido
301
GERALDO MARGELA CORREIA
———————————————————————————
O Ministério Público e sua
inserção na defesa dos direitos
321
humanos
OSWALDO GOUVEIA FILHO
Especial - maio de 2019 | 5
APRESENTAÇÃO –
Prezado leitor,
Boa leitura!
Marcos Carvalho
Presidente da AMPPE
Especial - maio de 2019 | 7
ANÁLISE JURÍDICA DA
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA À
LUZ DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL
DE DIREITOS HUMANOS E O
PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO
COMO DEFENSOR DO DIREITO
FUNDAMENTAL ÀS LIBERDADES
GUILHERME GRACILIANO
ARAÚJO LIMA
Doutorando em Direitos
Humanos no Programa de Pós-
Graduação em Direito (PPGD)
da UFPE. Mestre em Direito pela
mesma instituição. Promotor
de Justiça em Pernambuco,
atualmente em exercício pleno
na 2ª Promotoria de Justiça
da Carpina, aprovado em 1º
lugar-geral no XXIV concurso
público de provas e títulos para
o cargo de promotor de Justiça
e promotor de Justiça substituto
do MPPE. Foi procurador do
Estado de São Paulo e professor
em cursos de graduação e pós-
graduação em Direito. E-mail:
guilhermegraciliano@gmail.com
8 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
RESUMO
1 Notas introdutórias
O Supremo Tribunal Federal (STF) tem se destacado pelo impacto social,
político e econômico contido nas decisões judiciais emanadas pela corte nos
últimos anos, bem como pelas declarações além dos autos proferidas por
seus ministros junto à imprensa e às redes sociais. Holofotes iluminam os
ministros da corte em suas mais importantes passagens, e nas menos impor-
tantes igualmente, em ambientes jurídicos ou sociais, mas, ultimamente, as
luzes têm sido ofuscadas por doses gritantes de insegurança jurídica.
É possível verificar um verdadeiro combate entre as decisões dos minis-
tros do STF e incessantes e indignas lutas sobre que decisão judicial deve
prevalecer eficazmente em detrimento de outra decisão judicial, seja do ór-
gão colegiado, seja decisão monocrática.
Sobre esse tema encontra-se a discussão, aparentemente interminável,
sobre o princípio processual penal da presunção da inocência, também co-
nhecido como princípio da não culpabilidade, e a execução provisória da
pena aplicada por órgão jurisdicional competente em sede de segunda ins-
tância, em meio a direções e caminhos de idas e vindas, voltas e retornos,
de vai e vem, no qual a principal prejudicada é sempre a sociedade como
um todo dependente de afirmações e definições sólidas e coerentes quando
provindas dos órgãos do sistema de Justiça do País, especial daquela que é
considerada a Corte Suprema.
Partindo das interlocuções geradas a partir da discussão acima coloca-
da, o presente trabalho vai sondar os temas da presunção de inocência à
luz da Declaração Universal de Direitos Humanos, ressaltando que, quando
das considerações acerca dessa última, irar-se-á tentar colocar a posição do
Ministério Público como defensor do Estado Democrático de Direito e dos
direitos fundamentais do cidadão, vinculando-o à problemática da execução
provisória de condenação penal sem trânsito em julgado.
10 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
2 Apontamentos acerca da
presunção de inocência e da
execução provisória da pena na
jurisprudência do STF
O princípio da presunção de inocência, também conhecido como princípio
da não culpabilidade, tem no ordenamento brasileiro guarida constitucional
no artigo 5º, inciso LVII, da Carta Cidadã quando afirma: “ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condena-
tória”.
No Código de Processo Penal também é possível encontrar insculpido o
aludido princípio, exatamente no art. 283, ao aduzir que ninguém pode ser
preso a não ser por flagrante delito ou por ordem escrita da autoridade judi-
cial, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado, ou em
virtude de prisão temporária ou prisão preventiva, no curso da investigação
ou do processo criminal.
Logo, no ordenamento jurídico brasileiro, em diplomas distintos, quais
sejam, a Constituição Federal de 1988 e o Código de Processo Penal, há de
maneira categórica e expressa uma ressalva necessária ao trânsito em julga-
do da decisão criminal como requisito inarredável para se declarar alguém
como culpado e fazer cumprir pena pela prática de determinado crime.
Não obstante o tema ser demasiadamente claro nos dispositivos citados,
na jurisprudência do STF a matéria causa pânico nos incautos e maus agou-
ros nos arautos da segurança jurídica.
Até fevereiro de 2009, era possível identificar facilmente no âmbito da ju-
risprudência do STF a tendência de permitir a execução de condenação pe-
nal antes mesmo do trânsito em julgado da decisão condenatória. Ainda na
Especial - maio de 2019 | 11
01 ASSIS, Guilherme Bacelar Patrício de. A oscilação decisória no STF acerca da garantia da presunção
de inocência: entre a autovinculação e a revogação de precedentes. Revista de Informação Legislativa:
RIL, v. 55, n. 217, p. 135-156, jan./mar. 2018, p. 144. Disponível em: <http://www12.senado.leg.br/ril/
edicoes/55/217/ril_v55_n217_p135>. Acesso em: 21 dez. 2018.
12 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
02 Idem, p. 145.
Especial - maio de 2019 | 13
03 Idem, p. 145.
14 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
04 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. As sete décadas de projeção da declaração universal dos
direitos humanos (1948-2018) e a necessária preservação do seu legado. Revista da Faculdade de Direito
UFMG, Belo Horizonte, n. 73, pp. 97-140, jul./dez. 2018, p. 100.
05 Idem, p. 136.
16 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
salização essa que, ainda segundo o autor, teria seus primórdios nas declara-
ções norte-americanas sobre direitos do homem e do cidadão.06
Segundo apregoa Fernando Almeida sobre o tema, a Declaração Univer-
sal dos Direitos Humanos forneceu um avanço para conferir maior liber-
dade ao homem, enquanto, simultaneamente, despertou uma consciência
mais clara desses direitos e propiciou uma maior quantidade de instrumen-
tos para sua defesa, sendo que, à medida que passou a ser incorporada às
legislações internas das nações, a violação de tais direitos passou a ser tida
como ato criminoso.07
A construção da DUDH teve importância sobremaneira a partir dos
trabalhos desenvolvidos pela Comissão de Direitos Humanos das Nações
Unidas, entre maio de 1947 e junho de 1948, e o seu respectivo Grupo de
Trabalho, cujas conclusões foram levadas à análise da comissão estabelecida
pela Assembleia Geral da ONU para tratar da elaboração e formatação da
declaração universal.
Assim, em 10 de dezembro de 1948, dos 58 Estados membros da ONU,
48 votaram a favor do texto final e 8 Estados se abstiveram de votar, não
havendo nenhum voto contrário, razão pela qual a Assembleia Geral procla-
mou a Declaração Universal de Direitos Humanos.
Vale destacar à oportunidade que há, na doutrina humanista, quem veja
na Carta das Nações Unidas, que pode ser vista como uma espécie sui ge-
neris de tratado internacional que deu origem formal às Organizações das
Nações Unidas em 1945 logo após a ratificação do seu teor pelos países inte-
grantes do Conselho de Segurança e da maioria dos demais Estados signatá-
06 BARROS, Sérgio Resende de. Direitos humanos: paradoxo da civilização. Belo Horizonte: Del Rey,
2003, p. 372.
07 ALMEIDA, Fernando Barcellos de. Teoria Geral dos Direitos Humanos. Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris Editor, 1996, p. 111.
Especial - maio de 2019 | 17
08 PEREIRA, Luciano Meneguetti. A Declaração Universal dos Direitos Humanos e sua importância
na gênese, desenvolvimento e consolidação do direito internacional dos diretos humanos. In: SGARBOSSA,
Luís Fernando; IENSUE, Geziela. Direitos Humanos & Fundamentais: Reflexões aos 30 Anos da Constituição
e 70 da Declaração Universal. Campo Grande: Instituto Brasileiro de Pesquisa Jurídica, 2018, p. 49.
09 SABOIA, Gilberto Vergne. Significado Histórico e Relevância Contemporânea da Declaração Universal
dos Direitos Humanos para o Brasil. In: GIOVANNETTI, Andrea (org). 60 anos da Declaração Universal
dos Direitos Humanos: conquistas do Brasil. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009, p. 57.
18 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
Por esse pensamento fica evidente que a DUDH e os dois pactos que
lhe seguiram em 1966 serviram como instrumentos jurídicos de garantia e
eficácia da implementação de direitos humanos, sendo que, ainda hoje, após
70 anos da promulgação da Declaração, seu debate continua atual e presente.
No tocante à presunção de inocência, o Pacto Internacional sobre Direi-
tos Civis e Políticos o tratou de maneira específica, rezando, em seu artigo
14, parágrafo 2º, que “toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se
presuma sua inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa”.
De seu turno, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, tam-
bém chamado de Pacto de São José da Costa Rica, recebida no ordenamento
jurídico brasileiro através do decreto presidencial nº 678/92, e recepciona-
da com status de supralegalidade, conforme entendimento do STF, reafirma
em seu artigo 8º, parágrafo 2º, a presunção de não culpabilidade, ao aduzir:
“toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma a sua ino-
cência enquanto não se comprove legalmente sua culpa”.
Vale destacar que as análises sobre o supramencionado princípio tam-
bém o fazem sob a luz do processo penal, de um ponto de vista mais in-
trínseco à natureza instrumental do processo, de modo que o princípio ora
configura regra de tratamento, através da qual se presume o acusado ino-
cente até o trânsito em julgado da decisão condenatória, ora se apresenta
como regra de julgamento, segundo a qual no momento do proferimento da
sentença em caso de dúvida razoável deve-se absolver o réu.
Antes de adentrar mais a fundo na discussão acerca do princípio da pre-
sunção de não culpa, é primordial esclarecer que existe, na doutrina interna-
cionalista, discussão sobre o caráter vinculativo da DUDH, isso porque, para
alguns, a referida declaração teria caráter meramente recomendatório, tais
como as resoluções da ONU, configurando o soft law. Contudo, prevalece o
entendimento de que, assim como os tratados de direito internacional, que
são vinculativos em sua essência, hard law, a DUDH tem caráter vinculante,
ressaltando ser ela um instrumento normativo que cria obrigações jurídicas
Especial - maio de 2019 | 19
Logo, por esse ângulo de vista, também é possível afirmar que a defesa da
presunção de inocência requer o trânsito em julgado da sentença condena-
tória, posto que é direito assegurado pela DUDH que os tribunais garantam
mecanismos efetivos contra violações a direitos fundamentais do cidadão,
esclarecendo que essa violação pode surgir de uma decisão criminal que ve-
nha a ser cassada ou reformada em sede de julgamento de recursos perante
os tribunais superiores.
A Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), assinada em
novembro de 1969, em São José, na Costa Rica, também asseverou a pre-
sunção de inocência no seu art. 8.2, conforme o qual “toda pessoa acusada
de um delito terá direito a que se presuma sua inocência enquanto não se
comprove legalmente sua culpa”. O Brasil apenas em 1992 veio a adotar a
CADH em seu ordenamento jurídico, mas, segundo o STF, quando houve
essa incorporação, o texto internacional passou a deter natureza supralegal
e infraconstitucional.
Com efeito, o grau de importância dado por tantos instrumentos inter-
nacionais em matéria de direitos humanos ao estado de inocência do ci-
dadão não deixa dúvidas de que o entendimento mais consentâneo com a
Declaração Universal de Direitos Humanos, aprofundado e delineado pela
Constituição Federal de 1988, é aquele que exige o trânsito em julgado para
se dar início ao cumprimento de uma sentença penal condenatória, permi-
tindo-se, todavia, antes desse marco, a prisão apenas de natureza cautelar ou
temporária.
É que a discussão sobre a culpabilidade do acusado, segundo as garantias
impostas pela DUDH, somente pode ser superada após o final do julgamen-
to criminal, realizado “na forma da lei”, como visto. No caso do direito bra-
sileiro, a lei é o Código de Processo Penal, em seu art. 283, e, considerando o
termo em seu sentido amplíssimo, para ser entendido como norma jurídica
de direito positivo, também se fala da Constituição Federal de 1988, onde se
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Também vale destacar que essa defesa não é limitada tão apenas aos ter-
mos literais da DUDH, até mesmo porque com o passar do tempo e o desen-
volvimento das comunidades globais e regionais, com o surgimento de novos
desafios, cuja amplitude dimensional parece sempre estar em processo de
expansão, mormente em tempos de mídias sociais iterativas e globais e na era
da informação rápida e difusa, o sentido e o alcance interpretativo das nor-
mas da DUDH podem sofrer variações em suas interpretações e aplicações.
A defesa dos interesses individuais indisponíveis e dos direitos humanos
pelo Ministério Público deve alcançar igualmente os limites e compreensões
dadas posteriormente à DUDH, mas que surgem a complementando, que
foi exatamente o caso da Constituição Federal de 1988 quando exigiu o trân-
sito em julgado como marco temporal, processual e objetivo para afastar a
presunção de inocência que recai sobre o cidadão acusado do cometimento
de determinados crimes.
Logo, a estabilidade do pensamento ministerial concatenado à defesa
dos direitos humanos é tarefa árdua que não merece vacilo por parte dos
procuradores e promotores de Justiça quando se diz respeito a esse tipo de
direito.
É necessário prezar pelo estabelecimento de uma segurança jurídica
mínima, que, no caso do princípio da presunção de inocência, sendo con-
sentâneo com o Texto Constitucional de 1988, com a Declaração Universal
de Direitos Humanos, com o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Po-
líticos e com a Convenção Americana de Direitos Humanos, entre outros
instrumentos jurídicos de direito internacional, deve ser garantida no senti-
do de exigir o trânsito em julgado da sentença penal condenatória antes do
cumprimento efetivo da pena.
O STF, na forma como atuou sobre o tema, parece vacilar na manutenção
da ordem e da segurança constitucional, contudo já aparecem indícios de
que talvez a corte venha, mais uma vez, revisitar o tema.
24 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
5 Conclusões
As discussões que permearam o presente ensaio voltaram-se sobre o prin-
cípio da presunção de inocência na jurisprudência do STF e sua aplicação
nos moldes daquilo que pode se extrair da Declaração Universal de Direitos
Humanos, para, ao final, tecer comentários sobre qual seria o papel de atua-
ção do Ministério Público no contexto democrático de aplicação do referido
princípio.
Depreendeu-se que o STF não tem se preocupado tão eficazmente com o
primado da segurança jurídica, posto que em menos de uma década alterou
o seu entendimento sobre o princípio constitucional da não culpabilidade e
a necessidade de se exigir o trânsito em julgado de sentença criminal conde-
natória para dar início à fase da execução penal.
Nesse cenário, focou-se, outrossim, o trabalho em analisar o contexto da
gênese da DUDH e os demais e principais instrumentos internacionais de
garantia e proteção de direitos humanos, para que a eles se pudesse atrelar
o princípio da não culpabilidade, principalmente na esfera criminal, para
adotar como tese primordial do ensaio a necessidade de se exigir o trânsito
em julgado da sentença condenatória antes de se iniciar o cumprimento da
reprimenda penal, haja vista que esse é o melhor entendimento que pode ser
extraído da DUDH, do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
e da Convenção Americana de Direitos Humanos, quando todos exigem a
tramitação dos meandros legais antes de se formar a convicção jurídica de
culpa contra o cidadão.
Finalmente, tratando o Ministério Público de órgão independente, de
cunho constitucional e no exercício de função essencial à Justiça, acredita-se
que o parquet, que tem como dever legal e constitucional a proteção de in-
teresses sociais e individuais indisponíveis, nos termos do art. 127, caput, da
Constituição Federal, pode e deve atuar para fazer prevalecer o primado da
26 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Fernando Barcellos de. Teoria Geral dos Direitos Humanos. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1996.
dos diretos humanos. In: SGARBOSSA, Luís Fernando; IENSUE, Geziela. Direitos
Humanos & Fundamentais: Reflexões aos 30 Anos da Constituição e 70 da Decla-
ração Universal. Campo Grande: Instituto Brasileiro de Pesquisa Jurídica, 2018.
O MINISTÉRIO PÚBLICO
BRASILEIRO NA EFETIVAÇÃO
DE DIREITOS DA POPULAÇÃO
LGBTI: BREVE ANÁLISE DE CASOS
CONCRETOS NO STJ E STF
GUSTAVO HENRIQUE
HOLANDA DIAS KERSHAW
Promotor de Justiça do
Ministério Público de
Pernambuco
30 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
RESUMO
O presente artigo faz uma análise de decisões dos Tribunais Superiores bra-
sileiros, ou seja, Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Fe-
deral (STF), na efetivação de direitos da população LGBTI, na perspectiva
dos posicionamentos do Ministério Público, seja como autor das ações ou
como fiscal da ordem jurídica. Constata-se que ora o Ministério Público
defende a garantia de direitos de igualdade ora vai de encontro a esses an-
seios igualitários. Foram abordadas as decisões referentes a direitos previ-
denciários, união homoafetiva como entidade familiar, adoção por casais
homoafetivos e, brevemente, análise do caso sob apreciação do STF quanto
à criminalização da homofobia.
Especial - maio de 2019 | 31
1 Introdução
No Brasil, decisões judiciais têm promovido o reconhecimento de direitos
da população LGBTI, enquanto a legislação tem falhado no reconhecimento
das demandas por igualdade. Assim, a via judicial tem se tornado uma vál-
vula de escape na proteção dos direitos de diversos grupos vulneráveis na
sociedade, dentre os quais a comunidade LGBTI – gays, lésbicas, travestis,
transexuais, etc.
Com efeito, é evidente a dificuldade de acesso de demandas desta popu-
lação por meio dos Poderes Executivo e Legislativo, levando diversas pes-
soas no País a procurarem os mecanismos judiciais para a concretização de
suas necessidades.
Muitas dessas dificuldades se relacionam com a questão majoritária.
Após a Constituição da República, de 1988, sobretudo nos últimos anos,
percebe-se significativo avanço da jurisdição constitucional, assumindo o
Poder Judiciário papel político de destaque em defesa das minorias. Nas pa-
lavras de Luís Roberto Barroso, “consistente em dar uma resposta às deman-
das sociais não satisfeitas pelas instâncias políticas tradicionais”.01
Enquanto se redige este pequeno artigo, sem pretensões de cientificidade,
o Supremo Tribunal Federal aprecia a Ação Direta de Inconstitucionalidade
por Omissão (ADO) nº 26, a respeito da omissão legislativa do Congresso
Nacional em criminalizar condutas discriminatório-homofóbicas no país.
02 NEVES, Daniel Assumpção Amorim. Manual de Direito Processual Civil. Salvador: Editora
Juspodivm, 2018. p. 81.
Especial - maio de 2019 | 33
03 ADI 4.277 e ADPF 132, rel. min. Ayres Britto, j. 5-5-2011, Pub. DJe de 14/10/2011.
04 Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/pgr/copy_of_pdfs/ADPF%20132%20parecer%20uniao%20
homossexuais.pdf/view>.
Especial - maio de 2019 | 35
2.3 Adoção
Representando outro grande passo contra o preconceito e a discriminação,
desta feita realizado pelo Superior Tribunal de Justiça, foi o julgamento do
REsp nº 1.281.09305, assentando a possibilidade de que casais homoafetivos
possam adotar. Neste recurso especial, contudo, a ideia encampada pelo Mi-
nistério Público de São Paulo foi a de ser “juridicamente impossível a adoção
05 REsp 1.281.093, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18-12-2012, Pub. DJe de 04/02/2013.
Especial - maio de 2019 | 37
da ação, Min. João Otávio de Noronha, assentou que não entender por esta
possibilidade seria “postergar o exercício do direito à identidade pessoal e
subtrair do indivíduo a prerrogativa de adequar o registro do sexo à sua
nova condição física, impedindo, assim, a sua integração na sociedade”.
A controvérsia decidida posteriormente pelo Superior Tribunal de Jus-
tiça se deu da seguinte forma: O juiz singular autorizou as modificações
pleiteadas, asseverando que “não é crível que a questão envolvendo o tran-
sexualismo seja solucionada apenas na área medicinal e que o Direito cerre
os olhos ao tema, numa atitude cômoda e ortodoxa, totalmente alheios à
realidade das coisas”. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais, reformando a
sentença, deu provimento à apelação do Ministério Público estadual (MG),
entendendo que inexistiria previsão legal para a obtenção da alteração ono-
mástica requerida; asseverou também que “o sexo integra os direitos da per-
sonalidade e não existe previsão de sua alteração”.
Importante destacar a aprovação, pelo Conselho Nacional do Ministério
Público (CNMP), da Nota Técnica nº 809 de 15/03/2016, sobre a atuação do
Ministério Público na proteção do direito fundamental à não discriminação
e não submissão a tratamentos desumanos e degradantes de pessoas tra-
vestis e transexuais, especialmente quanto ao direito ao uso do nome social
no âmbito da Administração Direta e Indireta da União, dos Estados e dos
Municípios.
Em conclusão, afirma a referida Nota Técnica caber ao Ministério Públi-
co atuar para assegurar o direito fundamental de reconhecimento e à ado-
ção de nome social (ou apelido público notório) em benefício da população
LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexuais),
mediante solicitação do interessado.
É por essa razão que certas leis existem e devem existir. Voltemos 30 anos
e foi legalmente proibido usar linguagem racista ao falar sobre certos grupos
étnicos minoritários. A Lei Federal nº 7.716/1989 foi aprovada para crimi-
nalizar a linguagem racista e a sociedade avançou para melhor.
Leis criminalizando uma ação impedem que aqueles que são racistas/
sexistas/homofóbicos sejam livres para agir e falar com preconceito (hate
speech) e quanto menos preconceito vemos todos os dias, mais nossos pró-
prios comportamentos mudam de acordo. É como a sociedade evolui. Não
há diferença entre racismo e homofobia. Assim como um indivíduo não es-
colhe a cor de sua pele, não escolhe sua sexualidade.
É com espanto que se observa o Congresso Nacional brasileiro omitir-se
em sua responsabilidade, passando a responsabilidade de criminalizar a lin-
guagem homofóbica à Suprema Corte.
A Procuradora-Geral da República, Raquel Elias Ferreira Dodge, ofe-
receu denúncia em face de Deputado Federal como incurso nas penas do
crime previsto no art. 20, caput, da lei 7.716/1989 por discurso preconcei-
tuoso, inclusive contra homossexuais. A denúncia deu origem ao Inquérito
nº 4.694, de relatoria do Min. Marco Aurélio, sendo rejeitada em julgamento
recente (11/09/2018) nos seguintes termos:
3 Conclusões
A defesa da minoria LGBTI, sobretudo na atualidade brasileira de recrudes-
cimento de discursos segregadores, precisa ser desempenhada pelo Ministé-
rio Público enquanto instituição constitucionalmente incumbida da promo-
ção dos direitos fundamentais.
A análise de decisões dos Tribunais Superiores leva-nos a concluir que
nem sempre este “lado” é assumido pelo Ministério Público, uma vez que
muitas das teses contra a minoria LGBTI tem sido agitadas pela instituição
como, por exemplo, no caso judicial da adoção por casais homoafetivos, le-
Especial - maio de 2019 | 45
REFERÊNCIAS
BARROSO, Luís Roberto. O novo direito constitucional brasileiro: contribuições
para a construção teórica e prática da jurisdição constitucional no Brasil. Belo
Horizonte: Fórum, 2012.
RESUMO
01 Uma instituição total pode ser definida como um local de residência e trabalho onde um grande
número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável
período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada.
02 Lei nº 15.755, de 04 de abril de 2016, que institui o Código Penitenciário do Estado de Pernambuco.
50 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
administrativo, pois a SERES tinha deslocado dois agentes para fazer cus-
tódia hospitalar da unidade prisional de Barreto de Campelo. A ausência
constante de numerário suficiente implicava diretamente no tratamento dos
pacientes, pois ficou constatado que, na ausência de agente para acompa-
nhar os enfermeiros, havia medicamentos que eram aplicados com o pacien-
te dentro da grade, com as calças abaixadas e a injeção dada pelo lado de fora
das grades. Além do mais, com a falta de agentes havia todo um pavilhão
com 17 internos sem banho de sol há três meses. A direção da unidade, atra-
vés da recém-chegada dra. Reviane Bernardo, providenciou o banho de sol
duas vezes por semana no Pavilhão São Francisco, e a ordem que os agentes
pudessem acompanhar os técnicos de enfermagem na aplicação de medica-
ção. A diretora fez uma belíssima atuação.
O pavilhão São Francisco, local de triagem do HCTP, estava lotado por-
que nessa época havia laudos atrasados de até dois anos, sendo iniciado com
a SERES a discussão sobre contratação de laudistas para colocá-los em dia,
e de fato esse ser um local de triagem e trânsito. Foi realizada audiência com
os médicos laudistas. A cobrança para serem realizadas em 45 dias resultou
na contratação de cinco laudistas em julho de 2015, que zeraram laudos e
relaudos dos internos. Hoje já estão fazendo réus soltos, cumprindo os 45
dias determinados por lei, muito longe do caos anterior.
Outro problema gravíssimo, ainda constatado em inspeções, era a quan-
tidade de refeições servidas no HCTP. Apenas três. Sendo que a última, o
jantar, é em torno de 17 horas e a próxima, o café, só às 6 horas da manhã.
Para uma população que toma remédios controlados e fortes, esse problema
há de ser dimensionado até para entender a fome e a relação de surtos no-
turnos. Em razão da falta de agentes penitenciários não foi possível manter
a implementação de uma ceia como quarta refeição, que foi servida por um
tempo e hoje está suspensa.
Então o que o profissional da rede psicossocial há de saber sobre medida
de segurança?
Especial - maio de 2019 | 59
A geografia social faz tecer laços dos mais diversos. No território. Pas-
sando por esses entre-lugares, e diante de uma emergência – todo emergir
é um estado de vir à tona –, em 2015 o MPPE formulou uma estratégia
simples de realinhar internamente a atuação do promotor de Justiça dentro
do desafio normativo de superar o Código Penal e tratar o louco infrator
à luz dos princípios de saúde mental, principalmente os de tratamento no
território e de reconhecimento da loucura como questão de saúde pública e
de assistência social. Uma recomendação.
À época, à frente da 21ª PJ Criminal, estava o então coordenador do
CAOP Cidadania, Marco Aurélio Farias da Silva, que traçou as linhas de
uma recomendação a ser expedida pela instituição. A intenção talvez fosse a
de refletir a situação que nos idos de 2013 ainda se repete, para daí produzir
formas de intervenção na atuação do promotor de Justiça norteado, sem-
pre, pelos princípios constitucionais. Foi expedida a Recomendação PGJ nº
03/2013 com o propósito organizacional de ir além da lei, para depois a ela
retornar dentro dos princípios temporais da reforma psiquiátrica, e, fora do
lugar do crime, encontrar com a RAPS. Ainda, segundo Bhabha, “o espaço
intermédio do além torna-se um espaço de intervenção no aqui e no agora”.
Os diplomas legais, ainda atuais, embora não plenamente atingidos, são
64 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
Nessa rotina faremos uma breve exposição do que o MPPE tinha de visão
compartimentada do HCTP. Longe do espaço, em suas salas de reunião, ao
MP não cabe o benefício da afetividade, mas pode ao receber uma gama de
atores sociais tecer relações densas e infinitas de informações. Mais uma vez
se quer o encontro. Para tanto, em 2015, foi instaurado do Inquérito Civil nº
001/05-2015, que tinha como objetivo investigar as condições de saúde dos
internos do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Itamaracá, o
único no Estado de Pernambuco, instaurado pela 21ª Promotoria de Justiça
Criminal de Recife, com atuação perante as unidades prisionais da 1ª Vara
Regional de Execução Penal. A portaria foi instaurada de ofício, em razão da
70 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
(...)
REFERÊNCIAS
AITH, Fernando. VIVAS, Marcelo Dayrell. Direito à saúde e à proteção a pessoas
com transtorno mental: como os sistemas internacionais de proteção dos direitos
humanos tutelam a saúde mental a partir da declaração universal dos direitos
humanos. In: Direitos humanos e vulnerabilidade e a Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Santos: Editora Universitária Leopoldianum, 2018.
BRETAS, Marcos Luiz. COSTA, Marcos. SÁ, Flávio Neto. MAIA, Clarissa Nunes.
História das Prisões no Brasil. Volumes I e II. Rio de Janeiro: Anfiteatro, 2017.
FONTES, Breno Augusto Souto Maior. FONTE, Eliane Maria Monteiro da. Desins-
titucionalização, redes sociais e saúde mental: análise de experiências da reforma
psiquiátrica em Angola, Brasil e Portugal. Recife: Editora UFPE, 2010.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. 26ª Ed. Editora Vozes: Petrópolis, 2002.
LEITE, Flávia Piva Almeida. RIBEIRO, Lauto Luíz Gomes. COSTA FILHO, Waldir
Macieira da. Comentários ao Estatuto da Pessoa com Deficiência. São Paulo:
Saraiva, 2016.
O MINISTÉRIO PÚBLICO NA
PROMOÇÃO DO DIREITO
HUMANO AO MEIO AMBIENTE
URBANO: A BATALHA DO CAIS
ESTELITA
RESUMO
1 Introdução
Quando, em maio de 2014, cerca de 11 mil pessoas puseram-se em frente
aos armazéns localizados no Cais da Avenida Engenheiro José Estelita, a fim
de impedir sua demolição, ordenada pelo então contestado proprietário do
terreno, o Consórcio Novo Recife,01 a cidade maurícia revivera os ânimos
de uma sociedade que protagonizou nove revoluções libertárias no decorrer
desses pouco mais de 518 anos de historiografia luso-brasileira.
Cenário de maior importância durante o Ciclo Açucareiro, Pernambuco
fora a capitania colonial que mais se desenvolvera economicamente, poli-
ticamente e urbanisticamente até meados do século XVIII. A paisagem da
cidade recifense, cosmopolita e comercial no pós-governo holandês, com
suas pontes, canais, e portos modernizados constituiu fator contribuinte à
propagação de pessoas e ideias, formando um contexto favorável à eclosão
de diversas revoltas contra o establishment, primeiro colonial, depois mo-
nárquico, e, por fim, reacionário da inclusão democrática do espaço urbano.
O antagonismo entre forças e interesses na Veneza Brasileira sempre foi
uma constante. O caso do Cais José Estelita, área valorizada e estratégica
da cidade do Recife, não foge de todo à regra: é objeto de disputa judicial
entre setores sociais difusos (representados pelos Ministérios Públicos do
Estado de Pernambuco (MPPE) e Federal (MPF) e pela Defensoria Pública
do Estado de Pernambuco, além do conjunto organizado da sociedade civil,
o Grupo Direitos Urbanos) e o grupo econômico corporificado pelo Con-
sórcio Novo Recife (formado por cinco grandes sociedades empresárias).
01 AMORIM, Fabiano. Entenda o problema do Cais José Estelita. Diário do Centro do Mundo.
Disponível em: <http://www.diariodocentrodomundo.com.br/entenda-o-problema-do-cais-jose-estelita/>.
Acesso em: 29 jan 2019.
82 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
03 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos Humanos Fundamentais. 14ª edição. São Paulo:
Editora Saraiva, 2012. p. 117-118.
04 BITTAR, Eduardo C. B.; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de Filosofia do Direito. 10ª ed. São
Paulo: Atlas Editora, 2012. p. 331.
05 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 16ª edição. São Paulo: Editora Atlas, 2014. p. 97-101.
Especial - maio de 2019 | 85
ARTIGO 12
07 ANNAN, KOFI. Kofi Annan announces the launch of oh the Global Compact. Livre
tradução. Global Compact Twitter. Vídeo disponível em: <https://twitter.com/globalcompact/
status/1030857319389831170>. Acesso em: 29 jan. 2019.
08 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 16ª edição. São
Paulo: Editora Saraiva, 2015. p. 203-205.
Especial - maio de 2019 | 87
Além disso, como é cediço, o rol de direitos enunciados pela Carta Maior
não exaure os textos de convenções e tratados internacionais sobre direitos
humanos (art. 5º, §§ 2º e 3º, da CF), de modo que estes serão sempre mais
abrangentes que os direitos constitucionalmente positivados. Nesse sentido,
lecionam Bruna Pinotti Garcia Oliveira e Rafael de Lazari:
09 OLIVEIRA, Bruna Pinotti Garcia; LAZARI, Rafael de. Manual de Direitos Humanos. 3ªed. São
Paulo: Juspodivm Editora, 2017. p. 149-150.
10 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos Humanos Fundamentais. 14ª edição. São Paulo:
Editora Saraiva, 2012. p. 89-112.
88 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
11 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 7ª reimpressão. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio
de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, 2004. p. 55-61.
Especial - maio de 2019 | 89
3 O Caso Estelita
O Cais José Estelita, localizado na avenida Engenheiro José Estelita, é uma
região da cidade do Recife (PE), banhada pela Bacia do Pina que também
liga os bairros do Cabanga e São José, ambos centrais e estratégicos para
os setores comercial e serviços, a nível local, regional e também nacional,
Especial - maio de 2019 | 91
13 Folha de Pernambuco. Movimentação de carga cresce 72% este ano no Porto do Recife. Folha
PE. Disponívelem:<http://www3.folhape.com.br/economia/economia/economia/2017/05/11>./
NWS,27109,10,550,ECONOMIA,2373-MOVIMENTACAO-CARGA-CRESCE-ESTE-ANO-PORTO-
RECIFE.aspx>. Acesso em: 29 jan. 2019.
14 Redação Globo Nordeste. PF investiga compra de terreno do Cais José Estelita no Recife. G1 PE.
Disponível em: <http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2015/09/pf-investiga-compra-de-terreno-do-
cais-jose-estelita-no-recife.html.> Acesso em: 29 jan. 2019.
15 AMORIM, Fabiano. Entenda o Problema do Cais José Estelita. Diário do Centro do Mundo.
Disponível em: <https://www.diariodocentrodomundo.com.br/entenda-o-problema-do-cais-jose-estelita/>.
Acesso em 29 jan. 2019.
92 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
16 CISNEIROS, Leonardo. Carta dos Direitos Urbanos à Câmara Municipal sobre o Plano Urbanístico
para o Estelita. Direitos Urbanos. Disponível em: <https://direitosurbanos.wordpress.com/2015/04/11/
carta-do-direitos-urbanos-a-camara-municipal-sobre-o-ple-no-082015/>. Acesso em: 29 jan. 2019.
17 Redação Abril. A Batalha do Cais José Estelita. Revista Superinteressante. Disponível em: <https://
super.abril.com.br/comportamento/a-batalha-do-estelita/>. Acesso em: 29 jan. 2019.
18 PERLATTO, Fernando. Autoimperialismo Nacional e as Cidades Brasileiras. Revista Escuta.
Disponível em: <https://revistaescuta.wordpress.com/2016/07/19/escuta-resenha-autoimperialismo-
nacional-e-as-cidades-brasileiras/>.Acesso em: 29 jan. 2019.
Especial - maio de 2019 | 93
19 COSTA, Marcos. A Privatização do Espaço Público. Jornal GGN. Disponível em: <https://jornalggn.
com.br/blog/luisnassif/a-privatizacao-do-espaco-publico>. Acesso em: 29 jan. 2019.
94 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
21 SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2012. p.
132-134.
96 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
4 O Ministério Público de
Pernambuco na batalha recifense
Nos idos de 1960 e 1970, um novo sistema de proteção aos direitos individu-
ais entrou em voga no cenário mundial: o Ombudsman. Originário dos pa-
íses nórdicos, trata-se de um órgão de fiscalização e recomendação da atua-
ção do Poder Público. Não tendo se soerguido do texto final da Constituição
da República de 1988 como um cargo próprio, tal como propunha a redação
do Anteprojeto Afonso Arinos,23 é certo que a Constituição Cidadã atribuiu
a função de fiscalização das atividades estatais ao Ministério Público, como
se pode confirmar em seu art. 129, incisos II e III:
23 MAZZILLI, Hugo. Regime Jurídico do Ministério Público. 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2012.
p. 85-87.
98 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
29 ARENHART, Sérgio C.; MITIDIERO, Daniel; MARINONI, Luiz G. Novo Curso de Processo Civil
– Vol.3 – Tutela dos Direitos Mediante Procedimentos Diferenciados. 3ª ed. São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 2017. p. 491-492.
30 Ação Civil Pública do MPPE no Processo nº 0195410-28.2012.8.17.0001, que tramitou na 7ª Vara da
Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de Pernambuco. Consulta in loco dos autos judiciais, por ocasião da
pesquisa PIBIC em 2017.
Especial - maio de 2019 | 101
5 Conclusões
Com sua última movimentação em maio de 2016, o processo do Cais Es-
telita, em trâmite na 7ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de
Pernambuco, ao mesmo tempo que denota a coerente atuação ministerial na
tutela do direito humano fundamental ao patrimônio histórico-cultural da
cidade do Recife, representa uma verdadeira resistência e organização popu-
lares em torno da destinação dada pelo Poder Público ao uso do solo urbano.
O contínuo reconhecimento de direitos humanos no plano internacional,
em suas gerações de direitos (civis e políticos; direitos sociais; e direitos de
solidariedade), embora necessite ainda de maior reflexão por parte dos di-
rigentes políticos, encontra dentro da estrutura estatal brasileira um órgão
especializado (o Ministério Público) em sua defesa e promoção, funcionando
como fiscal da atuação governamental, ou seja, o dito Ombudsman do povo.
É através da efetivação dos direitos humanos fundamentais que é possí-
vel o despertar para a consciência ambiental, para a justiça social e a conser-
vação da memória histórica, posto serem, em última análise, requisitos para
o exercício pleno da cidadania.
O notório interesse demonstrado pela sociedade civil nessas intervenções
urbanísticas foi mais um fator que legitimou a atuação ministerial na batalha
da população recifense contra a privatização irrefreada do espaço público.
A proteção dos direitos humanos, por fim, é fundamental, porque, do
contrário, estaremos fadados à obscuridade dos piores instintos, com rom-
pantes de egoísmo e desrespeito aos mais vulneráveis.
A recorrência ao Judiciário por meio de um órgão atuante como o MP,
fortalecido pela própria Constituição Federal, representa verdadeira concre-
tização do direito humano de acesso ao valor justiça e um avanço civilizató-
rio indescritível nesses pouco mais de 70 anos de Declaração Universal dos
Direitos Humanos.
Especial - maio de 2019 | 103
REFERÊNCIAS
AMORIM, Fabiano. Entenda o Problema do Cais José Estelita. Diário do Centro
do Mundo. Disponível em: <http://www.diariodocentrodomundo.com.br/entenda-
-o-problema-do-cais-jose-estelita/>. Acesso em: 29 jan 2019.
ANNAN, KOFI. Kofi Annan announces the launch of the UN Global Compact.
Livre tradução. Global Compact Twitter. Vídeo disponível em: https://twitter.com/
globalcompact/status/1030857319389831170. Acesso em: 29 jan. 2019.
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 16ª edição. São Paulo: Editora
Atlas, 2014.
OLIVEIRA, Bruna Pinotti Garcia; LAZARI, Rafael de. Manual de Direitos Huma-
nos. 3ªed. São Paulo: Juspodivm Editora, 2017.
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Recurso Cível
nº 71004382792/RS. Apelante: Carlos Alberto Álvaro Oliveira. Apelado: Ministério
Público do Estado do Rio Grande do Sul. Relator: desembargador Carlos Eduar-
do Richinitti. Porto Alegre, RS, 26 de setembro de 2013. Publicado no Diário de
Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 27 set.
Especial - maio de 2019 | 107
SARLET, Ingo W.; MARINONI, Luiz G.; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. 6ªed. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2017.
SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. 7ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2012.
Especial - maio de 2019 | 109
O MINISTÉRIO PÚBLICO E O
DIREITO HUMANO À SAÚDE DA
PESSOA PRIVADA DE LIBERDADE
NO SISTEMA PRISIONAL
RESUMO
1 Introdução
Trazemos neste artigo o espírito do compromisso firmado há 70 anos na
Assembleia Geral das Nações Unidas, que, reunida em Paris, em 10 de de-
zembro de 1948, proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos:
Pois bem, diante dessa constatação, urge também que o Ministério Pú-
blico pernambucano cumpra o seu mister, buscando promover a garantia
aos direitos fundamentais do preso, que, por certo, não são alcançados pe-
los efeitos da sentença penal condenatória, notadamente quanto ao direito à
saúde, conscientizando, primeiro, os próprios membros do parquet pernam-
bucano da necessidade de se importar com a dignidade do recluso ou inter-
nado; e, logo em seguida, se dispondo a buscar a concretização da Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no
Sistema Prisional (PNAISP).
O que se propõe, portanto, é apresentar um modelo que possibilite aos
membros do Ministério Público que tenham ou não (cabe também aos pro-
motores de Justiça Criminais em face dos presos provisórios) atribuições na
execução penal de garantir, de forma efetiva e eficiente, o direito à saúde ao
preso e ao internado que estejam sob a égide do sistema prisional, buscando,
assim, cumprir a legislação pertinente.
Demonstrar, ainda, que a amplitude legal do papel do Ministério Público
no âmbito da execução da pena o permite tomar para si o protagonismo de
garantir a assistência à saúde do recluso.
Buscar-se-á, destarte, apresentar uma proposta para que os promotores
de Justiça possam dar efetividade a um direito tão primário para a dignida-
de do preso, procurando acabar com o hiato existente entre a legislação e a
realidade nua e crua observada em quase todos os Estados do nosso País,
onde o próprio Estado, as instituições e a própria sociedade negligenciam,
não se importam, com o que ocorre intramuros das masmorras, apelidadas
de presídios ou penitenciárias.
114 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
E hoje a saúde está num limbo entre Estado e município, pois o Estado
faz repasse fundo a fundo para a SERES. Os problemas maiores são de pa-
gamento de pessoal, pois a SERES não tem competência para pagar a mais
como compensação por algumas funções como, por exemplo, farmacêutico.
Outra forma de remuneração teria como ser feita por uma Secretaria Esta-
dual de Saúde, e isso trava o trabalho por conta da rotatividade de pessoal
que hoje acontece nos presídios. Não se pode exigir concurso para a área
de saúde porque não é vocação da SERES contratar médicos ou outros pro-
fissionais, além do que o plano é de retorno para o município da gestão da
saúde, estando provisoriamente na SERES. A Secretaria Estadual de Saúde
de Pernambuco em 2018 assumiu a compra e distribuição de remédios, eis
que já possuía rede e formas de compras apropriadas e inseriu as unidades
prisionais, depois de uma crise terrível de abastecimento de medicamentos
nos presídios e cadeias, causando diversos prejuízos em PPL que faziam uso
continuado de medicações controladas, mister os com transtornos mentais.
A SSE mantém também alguns profissionais, que estão em cada enfermaria,
para manter o diálogo entre âmbito estadual e municipal, além de interferir
com algumas especialidades, como foi em 2017 a contratação, a pedido do
MP, de um médico infectologista que assumiu várias unidades como forma
de controle de doenças infectocontagiosas que estavam se alastrando. São
algumas soluções pontuais que foram surgindo. Sobre esse fato foi encami-
nhado à promotoria de saúde da capital o pedido de intervenção junto à
Secretaria de Saúde para que fizesse uma sensibilização aos municípios no
sentido de pactuar a gestão da saúde nas unidades prisionais. Alguns aju-
dam informalmente, como é o caso de Abreu e Lima, município onde está
localizado o COTEL, que contribui com alguns insumos e medicamentos.
Hoje a equipe, na maioria das unidades, está completa, urge explicar que
esse acompanhamento é constante porque por vezes um profissional desli-
gado demora a ser reposto. Até porque os baixos salários não são atrativos
para um profissional atuar em uma unidade de difícil acesso.
Especial - maio de 2019 | 123
6 Conclusão
O fim precípuo desse artigo, destarte, foi o de demonstrar que há neces-
sidade de que o Ministério Público de Pernambuco concretize o direito à
saúde da pessoa privada de liberdade no sistema prisional, fazendo cumprir
a legislação pertinente.
Demonstrou-se que a maneira de se lograr êxito no desiderato proposto
é a interação de ações entre a Procuradoria-Geral de Justiça, a Corregedo-
126 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
REFERÊNCIAS
AVENA, Norberto. Execução Penal. Editora Método.
FARIA, Marcelo Uzeda de. Execução Penal. Ed. Jus Podivm, 4ª edição.
MESQUITA JÚNIOR, Sidio Rosa de. Execução Criminal. Teoria e Prática. Ed.
Atlas, 7ª edição.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. Editora Atlas Jurídico. 11ª edição.
SÁ, Alvino Augusto de. Criminologia Clínica e Execução Penal. Ed. Saraiva, 2ª
edição.
SILVA, Ricardo Augusto Dias da. Direito Fundamental à Saúde – O dilema entre o
mínimo existencial e a reserva do possível. Belo Horizonte. Fórum.
O PROTAGONISMO DA
ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO NA CRIAÇÃO DOS
CONSELHOS DA COMUNIDADE:
POR UMA EXECUÇÃO PENAL
PARTICIPATIVA
5º Promotor de Justiça
Criminal em Petrolina/PE,
especialista em Direito Público
pela Universidade do Estado
da Bahia (UNEB) – Campus
Juazeiro/BA, Professor de
Direito Penal e Criminologia
da mesma instituição. E-mail:
juliol@mppe.mp.br
130 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
RESUMO
O presente artigo visa demonstrar que, embora a Lei de Execução Penal tra-
ga como obrigação a criação do Conselho da Comunidade em cada comarca
onde houver pessoas em situação de aprisionamento, tal não ocorre, não
obstante a grande importância desse conselho nas diversas fases da execução
da pena privativa de liberdade. Objetiva também conclamar os promotores
de Justiça a deixarem a posição de meros coadjuvantes no processo de cria-
ção do Conselho da Comunidade para alcançarem o patamar de protago-
nistas desse processo, propondo-se, ao final, um modelo ideal para que essa
mudança de paradigma possa ocorrer.
1 Introdução
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) informou em agosto de 2018, com
base no Banco Nacional de Monitoramento de Presos (BNMP) 2.0, que a
população carcerária do Brasil alcança a marca de 602.217 presos (eram
622.202 detentos em dezembro de 2014 e 726.712 em junho 2016). Em Per-
nambuco, o BNMP 2.0 aponta o total de 27.819 reclusos para 9.955 vagas
nos estabelecimentos prisionais, o que proporcionava um déficit de 19.937
vagas. Ainda consoante os dados atualizados do CNJ, em nosso Estado, che-
gamos a uma taxa de 288,03 presos para cada 100.000 habitantes.01
Não é desconhecido de ninguém, mesmo para aqueles membros do
MPPE que não trabalham diretamente com a execução da pena, notada-
mente a privativa de liberdade, que nossas cadeias públicas, presídios, peni-
tenciárias não possuem espaços físicos condizentes com a dignidade da pes-
soa humana, nem recursos materiais e humanos suficientes para assistência
à saúde, à educação, religiosa e social02, como também não possibilitam a
garantia de todos os direitos elencados no art. 41 da LEP.
No dizer de Zaffaroni03:
01 http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/08/57412abdb54eba909b3e1819fc4c3ef4.pdf.
Acesso em: 16 fevereiro 2019.
02 Art. 11, da Lei 7.210/84.
03 Zaffaroni, Eugênio Raul. Em busca das penas perdidas. Ed. Revan. 5ª Edição. 2001. p. 135/136.
132 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
06 Art. 81, da Lei 7.210/84: Art. 81. Incumbe ao Conselho da Comunidade: I - visitar, pelo menos
mensalmente, os estabelecimentos penais existentes na comarca; II - entrevistar presos; III - apresentar
relatórios mensais ao Juiz da execução e ao Conselho Penitenciário; IV - diligenciar a obtenção de recursos
materiais e humanos para melhor assistência ao preso ou internado, em harmonia com a direção do
estabelecimento.
07 Do Projeto à Realidade: Humanizar e Estruturar a Cadeia Pública de Itambé. Rosemary Souto
Maior de Almeida. Ed. Novo Horizonte. Recife 2012, p. 11.
134 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
08 SÁ, Augusto Alvino de. Criminologia Clínica e Execução Penal. Proposta de um Modelo de
Terceira Geração. Ed. Saraiva. 2ª edição. 2015. pág. 65.
Especial - maio de 2019 | 135
12 SILVA, Haroldo Caetano da. A participação comunitária nas prisões. Fundamentos e Análises
sobre os Conselhos da Comunidade. DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional. 2011.
13 WOLF. Maria Palma. Participação social e sistema penitenciário: uma parceria viável?
Fundamentos e Análises sobre os Conselhos da Comunidade. DEPEN – Departamento Penitenciário
Nacional. 2011.
140 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
14 Idem.
15 http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/fpena/pbasic.htm
Especial - maio de 2019 | 141
17 Idem.
Especial - maio de 2019 | 143
uma pessoa jurídica de direito público, estando, nesse caso, inclusive sujeita
à fiscalização do Tribunal de Contas do Estado quanto a eventuais verbas de
natureza pública que receba”.
No exemplo do Estado do Paraná, o Ministério Público, por intermédio
do Procurador-Geral de Justiça e do Corregedor-Geral do Ministério Públi-
co, e sua excelência o Corregedor-Geral da Justiça, editaram, em conjunto,
a Instrução Normativa nº 01/2014– CGJ/PR e MP/PR – CGJ/PR e MP/PR,
com a finalidade de instituir normas para constituição, regularização e fun-
cionamento dos Conselhos da Comunidade no Estado do Paraná, onde se
determinou que os conselhos fossem criados com natureza de pessoa jurídi-
ca de direito privado, na modalidade Associação Civil.18 Editaram, também,
a Instrução Normativa nº 02/2014 – CGJ/PR e MP/PR19, dessa vez com o
fim de determinar normas para o recolhimento, a destinação, a liberação, a
aplicação e a prestação de contas de recursos oriundos de prestações pecu-
niárias, na esteira da Resolução nº 154/2012, do CNJ.20
Já o Conselho da Comunidade da capital paulista foi constituído por
meio da Portaria nº 04, de 09 de março de 2005, da lavra do então Juiz Cor-
regedor dos Presídios e da Vara das Execuções Criminais, dr. Miguel Mar-
ques e Silva, tendo aprovado seu Regimento Interno em outubro do ano de
2006, constituindo-se, pois, como pessoa jurídica de direito público.
A seu turno, a Cartilha Conselho da Comunidade, da Comissão para Im-
plementação e Acompanhamento dos Conselhos da Comunidade, orienta
18 Art. 6º O Conselho da Comunidade constituir-se-á como pessoa jurídica de direito privado, sob a
forma de Associação Civil, mediante cumprimento das seguintes etapas sequenciais:
19 Instrução Normativa nº 02/2014 – CGJ/PR e MP/PR, institui normas para o recolhimento, a
destinação, a liberação, a aplicação e a prestação de contas de recursos oriundos de prestações pecuniárias
no âmbito do Poder Judiciário do Estado do Paraná.
20 Resolução nº 154/2012 do Conselho Nacional de Justiça, que define a política institucional do Poder
Judiciário na utilização dos recursos oriundos da aplicação da pena de prestação pecuniária.
144 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
21 Provimento nº 21/2002 do Conselho Nacional de Justiça, que define regras para a destinação e
fiscalização de medidas e penas alternativas.
22 Idem.
Especial - maio de 2019 | 145
24 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. Editora Atlas. 11ª Edição. p. 227.
25 Art. 195. O procedimento judicial iniciar-se-á de ofício, a requerimento do Ministério Público, do
interessado, de quem o represente, de seu cônjuge, parente ou descendente, mediante proposta do Conselho
Penitenciário, ou, ainda, da autoridade administrativa.
26 MIRABETE, Julio Fabbrini. Ob. Cit. p. 227/228.
Especial - maio de 2019 | 147
6 Conclusão
O desiderato do presente artigo foi o de demonstrar que há fundamento
jurídico-legal para que o Ministério Público saia de uma situação de mero
observador para se tornar protagonista na criação dos Conselhos da Comu-
nidade, Órgão da Execução Penal estabelecido no art. 80 da LEP.
O Conselho da Comunidade se mostra imprescindível para a realiza-
ção das próprias funções do Ministério Público no tocante à execução da
pena e a proteção dos Direitos Humanos relativos à pessoa privada de sua
liberdade, posto que cabe àquele órgão atuar em atividades consultiva, para
os demais órgãos da Execução Penal; assistencial, aos presos e egressos; e
fiscalizadora, com relação às unidades prisionais.
Não obstante a Lei de Execução Penal atribuir a competência ao Poder
Judiciário para compor e instalar o Conselho da Comunidade29, as funções
atribuídas ao Ministério Público pela própria LEP, notadamente, de forma
ampla e genérica no art. 67, não excluem a possibilidade de que o parquet
possa tomar para si a responsabilidade de fomentar a criação e a organização
dos Conselhos da Comunidade, notadamente, diante da inércia do Poder
Judiciário, saindo, assim, de uma posição de mero coadjuvante para a de
protagonista desse processo constitutivo-organizacional.
Ao Ministério Público, por meio dos órgãos da administração superior,
dos órgãos de execução e dos seus órgãos auxiliares, principalmente, por inter-
médio das Promotorias de Justiça Criminais (com atuação na Execução Penal)
e/ou de Cidadania (Curadoria dos Direitos Humanos), cada órgão, evidente-
mente, dentro das suas respectivas esferas de atribuição, caberá encetar ingen-
tes esforços no sentido de assumir o protagonismo da criação e organização
dos Conselhos da Comunidade onde quer que exista unidade prisional ativa.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Rosemary Souto Maior de. Do Projeto à Realidade. Humanizar e
Estruturar a Cadeia Pública de Itambé. Editora Novo Horizonte. Recife, 2012.
CUNHA, Rogério Sanches. Execução Penal. Ed. Jus Podivm, 4ª edição, 2015.
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MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. Editora Atlas Jurídico. 11ª edição,
2004.
158 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
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edição, 2015.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas. Ed. Revan. 5ª Edição.
2001.
Especial - maio de 2019 | 159
O MINISTÉRIO PÚBLICO E OS
DIREITOS HUMANOS: UM AGENTE
NA BUSCA DA TRANSFORMAÇÃO
SOCIAL
RESUMO
O presente artigo discorre sobre a relevância da atuação específica e signifi-
cativa do Ministério Público na prevenção, proteção e efetivação dos Direi-
tos Humanos, destacando o seu caráter de agente de transformação social
sobrelevado pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no
cumprimento de sua missão institucional, incumbido que está, dentre inú-
meras outras funções, da defesa da ordem jurídica, do regime democrático,
dos interesses sociais, individuais indisponíveis, difusos, coletivos, respeito
dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública.
1 Introdução
O Ministério Público tem na Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988 um marco na sua história, passando a ter autonomia e indepen-
dência para agir da forma mais eficiente e dinâmica possível na garantia
dos direitos fundamentais e, mais especificamente, na prevenção, proteção
e efetivação dos direitos inerentes aos seres humanos, dentre eles o direito
à vida, à igualdade, à dignidade, à segurança, à honra, à liberdade, à pro-
priedade, à educação, à saúde, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança,
à convivência familiar e comunitária, à previdência social e à proteção aos
desamparados. Coincide com a consolidação do regime democrático.
Este marco histórico promovido pela Constituição possui um valor no-
tável e crucial na medida em que o Ministério Público detém, dentre várias
funções, a de prevenção, proteção e efetivação dos direitos humanos. É de
boa lógica afirmar que, para a construção de um Estado Democrático de
Direito, esta atribuição é considerada essencial, indispensável, elementar.
Consolidado o regime democrático, a luta pelos direitos humanos passou a
ser uma batalha pela efetiva implementação dos direitos adquiridos através
da nova Carta. A partir dessas considerações, surge um novo perfil do Mi-
nistério Público.
Hoje, o Ministério Público atua na defesa e efetivação dos Direitos Hu-
manos tanto através das Promotorias de Justiça comuns como através das
chamadas Promotorias de Justiça Extrajudiciais Especializadas, que traba-
lham com procedimentos preliminares, inquéritos civis e procedimentos de
investigação criminal, visando a resolução do conflito sem a instauração de
um processo judicial. Esse formato mais voltado à conciliação e à modifica-
ção de valores sem a imposição de uma sanção por um juiz representa um
evidente processo de transformação social que o Ministério Público se pro-
põe a realizar. Essa transformação é desenvolvida pelo órgão em conjunto
162 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
que lhe são afetas, destinadas, no contexto nacional, a defesa sem reservas
dos interesses sociais e individuais indisponíveis, a tutela dos interesses di-
fusos. Tornou-se uma instituição permanente, competindo-lhe a defesa do
regime democrático, da ordem jurídica e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis. Com efeito, afirma Uadi Lâmmego Bulos (2003, p. 1084):
Uma das maiores novidades introduzidas por esta Constituição foi a va-
lorização do Ministério Público como órgão de defesa da sociedade e patro-
cinador dos interesses coletivos contra os detentores do poder político e eco-
nômico e inclusive contra o próprio Estado e seus agentes. Como acentua,
oportunamente, Rodrigo César Rebello Pinho (2002, p. 131-132):
6 Conclusão
O Ministério Público é uma instituição de suma importância em uma so-
ciedade, haja vista as atribuições que lhe são conferidas por lei. É responsá-
vel pela preservação, manutenção e defesa dos direitos fundamentais. Tem
como meta a edificação de um Estado social de direito, capaz de garantir
vida digna, justa e humana para todos, preservando os princípios e valores
constitucionais, primando pela efetivação das leis, zelando pela condução da
coisa pública e cada vez mais, procurando se firmar como um instrumento
de transformação social.
REFERÊNCIAS
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos; tradução de Carlos Nelson Coutinho; apre-
sentação de Celso Lafer. Nova ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
MENNA, Fábio de Vasconcelos et al. Direito Processual Civil. Niterói, RJ: Impe-
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tividade do processo adequada ao Estado de Direito Democrático. Disponível
em: <http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/Fernando%20Horta%20Tavares,%20
Bruno%20de%20Mattos,%20%C3 %89rico%20Casagrande,%20Zamira%20de%20
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TORNAGHI, Hélio. Curso de Processo Penal. Edit. Saraiva –São Paulo, 4ª Ed, Vol
1, 1987.
O MINISTÉRIO PÚBLICO
NA DEFESA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS DO
CONSUMIDOR NO PLANO
SUBNACIONAL
RESUMO
O presente artigo busca discutir a possibilidade de os Estados do Mato Gros-
so do Sul e do Distrito Federal protegerem os direitos e garantias funda-
mentais do consumidor por leis infraconstitucionais (ordinárias e comple-
mentares) e Constituições estaduais. O problema apresentado é como está
distribuída a proteção dos direitos e garantias fundamentais do consumidor
nas legislações subnacionais desses respectivos Estados. A finalidade é es-
tabelecer uma grande planilha na qual se possa verificar quantitativamente
e qualitativamente toda a produção subnacional em matéria de direito do
consumidor nesses Estados membros.
1 Introdução
A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 5º XXXII,
tutela o direito do consumidor como garantia fundamental. O artigo 24, V e
VIII da CRFB afirma que cabe à União, aos Estados e ao Distrito Federal le-
gislar concorrentemente sobre produção e consumo, assim como responsa-
bilidade por dano ao consumidor. Dessa forma, é adequado pesquisar como
se efetiva o desdobramento dessa proteção consumerista no plano subnacio-
nal, através da Constituição estadual do Mato Grosso do Sul e da Lei Orgâni-
ca do Distrito Federal, assim como, de todas as leis ordinárias e complemen-
tares que de alguma forma tratam do direito do consumidor do período de
2008 até 2018, esta última, foi realizada nas Assembleias legislativas.
O objetivo geral é o estudo de direitos e garantias fundamentais no plano
estadual, com especial atenção ao direito do consumidor, para que se possa
verificar sua pertinência no âmbito subnacional. Dessa maneira, pretende-
-se pesquisar a repartição de competências legislativas concorrentes entre
União e Estados membros, já que o direito consumerista tem fundamento
no artigo 24 da CRFB (que trata da competência concorrente).
Por conseguinte, objetiva-se mapear o direito do consumidor e a sua
previsão na Constituição estadual do Mato Grosso do Sul e na Lei Orgânica
do Distrito Federal, para identificar se o legislador estadual se ateve a sua
competência de legislar sobre produção e consumo. Depois, será realizada
uma pesquisa nas Assembleias legislativas contendo todas as leis ordinárias
e complementares que tratam de alguma forma o direito fundamental do
consumidor dos anos de 2008 até 2018.
Dentro desta perspectiva, este estudo se propõe também a observar o
papel do Ministério Público na garantia deste direito, tendo em vista sua
atuação nos centros de Apoio Operacional de Defesa do Consumidor, “que
tem atribuições voltadas à divulgação de matérias de interesse das Procu-
196 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
2 A Federação Brasileira e
repartição de competências
legislativas concorrentes
A União e os Estados membros devem desempenhar suas competências
legislativas de maneira coerente e harmônica, sem que um ente federativo
invada a esfera de competência privativa do outro sob pena, da norma ser
considerada inconstitucional. As competências concorrentes são uma ma-
neira de alcançar um federalismo equilibrado, no qual a União e os Estados
exerçam suas competências legislativas previstas na Constituição da Repú-
blica Federativa do Brasil de 1988.
As competências legislativas concorrentes têm amparo legal no artigo 24
da CRFB, e Horta (2003) usa a expressão “condomínio legislativo”, para de-
monstrar o local de encontro que existe quando União e Estados membros
exercem competências legislativas concorrentes. As competências concor-
rentes procuram um federalismo de equilíbrio entre União e Estados.
No direito constitucional, federalismo é a forma de Estado dada pela
Constituição. Na visão de Labanca (2011, p.19), hoje em dia a ideia mais
Especial - maio de 2019 | 197
3 Considerações finais
Foi realizado um mapeamento nas Constituições estaduais e leis infracons-
titucionais ordinárias e complementares, nas Assembleias Legislativas, do
Estado do Mato Grosso do Sul e do Distrito Federal, relativo aos direitos e
garantias fundamentais do consumidor, com a finalidade de responder ao
problema de pesquisa: como está distribuída a proteção de direitos e garan-
tias fundamentais do consumidor no plano subnacional nesses respectivos
Estados membros.
Foram construídas duas planilhas no item 2.3, na qual foram dados al-
guns exemplos de leis infraconstitucionais ordinárias e complementares re-
lativas a proteção do consumidor no Brasil.
Na Constituição do Estado do Mato Grosso do Sul foram encontrados
treze artigos que protegem o direito do consumidor (que foi elencado no tó-
pico 2.2). Relativo às leis infraconstitucionais ordinárias e complementares
relacionadas ao direito consumerista no mesmo Estado, no período de 2008
até 2018, dispõe de 65 leis. De um universo de 65 leis infraconstitucionais
encontradas no Estado do Mato Grosso do Sul, somente foi possível expli-
citar 18 delas na planilha 1 do item 2.3 deste artigo, pois para elencar todas
essas leis, seriam necessárias mais páginas.
Neste sentido é possível também destacar o Centro de apoio operacional
das promotorias de Justiça de defesa do consumidor no Mato Grosso do Sul,
que se trata de um importante órgão responsável pela defesa e proteção ao
consumidor, tendo o Ministério Público do Estado do Mato Grosso do Sul
auxiliado as Promotorias de Justiça, com o objetivo de estimular a celerida-
de, razoabilidade e segurança nas funções concernentes à postulação judicial
e extrajudicial na defesa difusa e coletiva dos interesses dos consumidores.
Na Lei Orgânica do Distrito Federal foram descobertos 22 artigos que
tutelam o direito consumerista (que foram elencados no tópico 2.2). No pla-
Especial - maio de 2019 | 217
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Marcelo Labanca Corrêa. Teoria da Repartição de competências Legis-
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BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10º ed. São Paulo: Malheiros 2000.
DIMOULIS, Dimitri. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais. 4ª ed. São Paulo:
Atlas, 2012.
LOBO, Paulo Luiz Neto. Competência legislativa concorrente dos Estados mem-
bros na Constituição de 1988,. In Revista de informação Legislativa. Brasília, ano
26, nº101, jan.\mar. 1989.
OS DIREITOS HUMANOS AO
JUIZ IMPARCIAL, AO DEVIDO
PROCESSO LEGAL E AO
CONTRADITÓRIO DIANTE
DA PRÁXIS DAS AUDIÊNCIAS
CRIMINAIS SEM O MINISTÉRIO
PÚBLICO: UM CHAMADO À
REFLEXÃO
Promotor de Justiça do
Ministério Público de
Pernambuco. MBA em Gestão
do Ministério Público (UPE).
Especialista e Mestre em Direito
(UFPE). Doutorando em Direito
(UNICAP).
222 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
RESUMO
1 Introdução
Em alguns Estados da Federação brasileira, máxime em Pernambuco, tem
se instituído, quase como um costume ou prática rotineira, a realização de
audiências de instrução, em processos penais, sem a presença do membro
ou representante do Ministério Público. Além disso, em algumas situações,
a autoridade judiciária, além de realizar a audiência sem o promotor de Jus-
tiça, ocupa o seu espaço, perguntando primeiramente e, depois, passando a
palavra à Defesa Técnica.
Como doravante será relatado, no âmbito da Justiça Estadual de Pernam-
buco, por exemplo, existe uma recomendação do Conselho da Magistratura,
para que os juízes de Direito realizem audiências criminais sem o promotor
de Justiça, desde que o MP tenha sido previamente intimado. A jurispru-
dência do STJ, por outro lado, embora com algumas oscilações, nos últimos
tempos, tem se inclinado que, nesses casos, haveria apenas uma “nulidade
relativa”, que dependeria da demonstração de prejuízo.
O que a realização de audiências criminais sem a presença do MP tem a
ver com os direitos humanos? Seria papel da autoridade judiciária falar em
nome da sociedade, em uma audiência judicial? Estaria respeitada a trilogia
processual (juiz-parte acusatória-parte requerida) em um ato judicial sem o
MP estar presente?
Este artigo jurídico pretende responder a tais questionamentos, demons-
trando os riscos, para os direitos humanos, de tal práxis, em razão da mani-
festa violação aos princípios constitucionais do devido processo legal e do
contraditório, manifestados direitos da sociedade e daquele que vem a ser
acusado, pelo Estado, através de um processo penal.
224 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
01 Relevante destacar, a cláusula do Due Process of Law foi consagrada no Direito anglo-saxônico a
partir da Magna Carta inglesa de 1215. No Direito norte-americano, o Princípio do Devido Processo Legal
apresenta duas fases, a primeira limitando-se ao caráter processual (Procedural Due Process) e a segunda
fase, voltando-se também para o direito substantivo (Substantive Due Process). A partir do Substantive Due
Process, passou-se a admitir um controle, pelo judiciário, dos atos do Poder Público, examinando-se sua
razoabilidade (reasonableness) e sua racionalidade (rationality), tendo em vista a proteção dos direitos e
liberdades individuais (TÁCIO, 1996, p. 01-03).
Especial - maio de 2019 | 225
03 Nesse aspecto, concorda-se com Oliveira (2006, p. 11), quando afirma que o sistema brasileiro
processual penal brasileiro é marcantemente acusatório e não misto, pois o inquérito policial (presidido
inquisitorialmente pela autoridade policial) não é processo judicial, sendo fase prévia e não imprescindível
para o oferecimento da exordial penal.
Especial - maio de 2019 | 227
04 Era o chamado Estado Novo, instalado a partir de setembro de 1937, o qual consagrava um regime
autoritário, capitaneado pelo presidente Getúlio Vargas. Além de uma Constituição outorgada, ou seja,
imposta sem a participação popular, os partidos políticos foram extintos; interventores foram nomeados
como governadores dos Estados; passou a haver censura prévia ao jornais; o presidente poderia dissolver
o Congresso e expedir diretamente decretos-lei, como foi o caso do Código de Processo Penal (conforme,
ARRUDA e PILETTI, 2010, p. 500-504 e LIRA NETO, 2013, p. 306-311).
228 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
4 A questão da nulidade e da
demonstração do prejuízo. Porque,
na realização de audiência judicial
sem o MP, o prejuízo é presumido
No processo penal brasileiro, vigora a regra de que não será declarada a nu-
lidade se dela não resultar prejuízo para nenhuma das partes (acusação e
defesa). É o que dispõe o art. 563 do CPP, o qual consagrou um cânone uni-
versal do direito processual, o tradicional brocardo pas de nullité sans grief.
Em verdade, trata-se da observância do sistema de nulidade da instru-
mentalidade das formas, onde o ato processual praticado será considerado
válido, ainda que contrarie determinadas formalidades legais, mas desde
que tenha atingido os seus objetivos (MIRABETE, 2003, p. 1379-1380). De
fato, processo é, antes de tudo, instrumento, caminho a ser trilhado para
determinado objetivo; não é o fim em si mesmo; o fim é o direito material
que se busca aplicar, através do processo.
Por isso, há que se falar em nulidades relativas (quando, diante de vícios
não essenciais, não obstante a ilegalidade, possa o ato processual ser conva-
lidado ou aproveitado) e nulidade absolutas (quando a ilegalidade praticada
acarreta um prejuízo tão grave e manifesto que será impossível convalidar
ou aproveitar o ato processual praticado). Exemplos clássicos de nulidade
absolutas, no processo penal, são aquelas que violam princípios constitucio-
nais ou direitos fundamentais das partes.
Porém, a teoria das nulidades, relativa e absoluta, extraída da teoria geral
do processo, precisa ser aplicada com muita cautela, no processo penal, cuja
natureza é eminentemente garantista e cuja lide trata do indisponível direito
à liberdade (nesse sentido, LOPES JÚNIOR, p. 84-85).
230 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
07 Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, Ill, d e e, segunda parte, g e h, e IV, considerar-se-ão
sanadas:
I-se não forem argüidas, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo anterior;
II-se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim;
III-se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os seus efeitos.
234 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
tência de prejuízo e, ainda, que tal nulidade não fora arguida no momento
oportuno.
Outrossim, no referido julgado, à luz do voto do relator, Min. Néri da Sil-
veira, não se encontra uma única linha argumentativa a respeito do exercício
do princípio do contraditório, no processo penal, e da necessidade da sua
realização de forma concreta e não fictícia. O julgado não faz, ainda, menção
ao direito humano ao juiz imparcial e aos riscos de o juiz produzir, ele mes-
mo, uma prova e depois utilizá-la para justificar uma condenação penal.08
Há, porém, esperanças de que a Suprema Corte brasileira venha a con-
sagrar a defesa do sistema acusatório e dos princípios do contraditório e do
juiz imparcial no processo penal. Em julgado de 14/11/2017, a 1ª Turma do
STF, nos autos do HC 111.815, anulou audiência de instrução criminal por
descumprimento à ordem prevista no art. 212 do CPP, o qual consagra a
atuação supletiva do Judiciário na colheita de provas, ou seja, a autoridade
judicial suplementa as perguntas das partes e não o contrário.
Tal julgado tem bastante relevância para a tese defendida neste artigo
jurídico porque, em muitas audiências judiciais realizadas sem a presença
do membro do MP, a autoridade judicial, literalmente, ocupa o espaço do
Ministério Público, fazendo as perguntas em seu lugar e, posteriormente,
passando para a palavra para a Defesa se pronunciar. Ou seja, nos termos do
art. 212 do CPP, o juiz não pode substituir o Ministério Público na instrução
criminal, pode suplementar, complementar os seus questionamentos; jamais
ocupar o espaço ou produzir uma prova que caberia à acusação fazer (PA-
CELLI; FISCHER, 2016, p. 479).
08 Foi justamente o que ocorrera no mencionado caso concreto, pois um dos argumentos do decisum foi
a “ausência de prejuízo”, já que a prova colhida sem o MP “confirmou” a autoria delitiva.
238 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
como também foi reduzido a uma instituição sem autonomia funcional, que
prima somente pela condenação da parte acusada, nos termos daquilo que
fora deduzido na denúncia. Sob o pálio de uma genérica arguição do prin-
cípio da duração razoável do processo, estaria autorizado o juiz de Direito a
passar por cima do sistema acusatório e a dispensar, inclusive, as alegações
finais do parquet. Desconsiderou-se, outrossim, que o MP, enquanto fiscal
da ordem jurídica, também pode pleitear a absolvição da parte acusada e
não somente se limitar a repetir a pretensão acusatória da exordial penal.09
Nesse passo, à luz do lamentável precedente judicial, importante men-
cionar a advertência de Lima e Carneiro (2017), relatando que, no Estado de
Pernambuco, já são muitos os precedentes de processos penais com sentença
condenatória ao final, onde a participação do MP se restringiu à elaboração
da exordial penal, sem qualquer outra atuação relevante na ação penal. Ou
seja, verdadeira consagração de um sistema inquisitório, onde a função do
acusador confunde-se com a do julgador.
Há, porém, precedente em favor da nulidade absoluta, da 1ª Câmara
Regional do TJPE, em Caruaru. Em um deles (2ª Turma, apelação criminal
486624-6, decisão de 10/05/2018), anulou-se a instrução criminal onde o
juiz realizou a audiência sem o MP, mesmo estando o membro de férias;
dispensou testemunha de acusação, sem ouvir o MP e sentenciou o feito,
sem alegações finais. Perceba-se, foi preciso que o magistrado de 1º grau
dispensasse de ofício para uma testemunha indicada pelo MP, sem ouvir o
órgão e com base no seu entendimento, sentenciasse, inquisitorialmente, o
feito, para que fosse, enfim, reconhecida a nulidade absoluta.
09 Como bem adverte Dworkin (1986, p. 379-381), interpretar a Constituição não é algo fácil, exigindo
uma interpretação mais complexa do que aquela utilizada para a legislação ordinária; ou seja, menos
mecânica e menos superficial.
Especial - maio de 2019 | 243
7 Conclusões
1. O processo penal brasileiro, em razão da DUDH e da CF/1988, deve
primar por um sistema acusatório e democrático, onde as funções
de acusar, defender e julgar são exercidas por atores processuais e
instituições diversas.
2. Nos termos dos arts. 10 e 11 da DUDH, ocorre nulidade absoluta da
248 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
REFERÊNCIAS
ARTIGOS JURÍDICOS
BARROS, Francisco Dirceu. A indispensabilidade da presença do representante do
Ministério Público na audiência criminal porque no sistema acusatório o juiz não
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Especial - maio de 2019 | 249
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250 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
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_______. Supremo Tribunal Federal, 1ª Turma, rel. Min. Marco Aurélio. Acórdão
no HC 120.528/RS. Brasília, 14.11.2017. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/por-
tal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28AUSENCIA+DO+ESTADO+A-
CUSADOR%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/kfjttb4>. Acesso em:
07.05.2017.
_______. Supremo Tribunal Federal, 1ª Turma, rel. Min. Marco Aurélio. Acórdão
no HC 111.815/SP. Brasília, 14.11.2017. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/pagi-
nadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=14326360>. Acesso em: 26.12.2018.
PERNAMBUCO. Tribunal de Justiça. 1ª Câmara Regional do TJPE, 2ª Turma, rel.
Demócrito Reinaldo Filho. Acórdão na apelação criminal nº 486624-6. Caruaru,
10.05.2018.
Especial - maio de 2019 | 251
_______. Tribunal de Justiça. 3ª Câmara Criminal, rel. para o acórdão Des. Alexan-
dre Assumpção. Acórdão na apelação criminal nº 0497419-2. Recife, 27.07.2018.
Disponível em: <http://www.tjpe.jus.br/consultajurisprudenciaweb/downloadIntei-
roTeor?codProc=647078&tipoJuris=1141&orig=FISICO>. Acesso em: 28.12.2018.
LIVROS JURÍDICOS
AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Processo Penal, 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense;
São Paulo: Método, 2017.
BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de Processo Penal, 10ª ed. São Paulo: Saraiva,
2015.
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal, 11ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
_______. Fundamentos do Processo Penal: introdução crítica, 3ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de Processo Penal interpretado, 10ª ed. São
Paulo: Atlas, 2003.
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal, 6a ed. Belo Horizonte:
Del Rey, 2006.
REVISTAS
MPPE EM FOCO. Recife: Ministério Público de Pernambuco, ano VIII, nº 37, 59 p.
Especial - maio de 2019 | 253
O SISTEMA DE PRECEDENTES
DO CPC DE 2015 E O MINISTÉRIO
PÚBLICO – NOVOS PARADIGMAS
RECURSAIS
RESUMO
Continua:
01 JUNIOR, Fredie Didier. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil,
parte geral e processo de conhecimento. Salvador:Ed. Jus Podivm, 17ª edição, p. 40.
Especial - maio de 2019 | 257
07 Op.cit.
Especial - maio de 2019 | 261
08 CAMBI, Eduardo; ALMEIDA, Gregório Assagra de; MOREIRA, Jairo Cruz. Orgs. 30 anos da
constituição e o Ministério Público: avanços, retrocessos e os novos desafios. Belo Horizonte:Editora
D’Plácido, 2018, p. 73.
Especial - maio de 2019 | 263
4 Conclusão
Os avanços tecnológicos e a estrutura sócio-política democrática repre-
sentam o futuro (ou, como afirma a futurista dinamarquesa Anne-Marie
Dahl ao falar sobre o assunto, “o próximo nível”, que gera o que se chama
Especial - maio de 2019 | 267
“disrupção”, que significa “tudo vai mudar”). Assim, a sobrevivência das ins-
tituições e do próprio indivíduo dependem da sua capacidade de readapta-
ção aos novos modelos que se apresentam nessa realidade neoconstitucio-
nalista.
A aplicação das medidas contidas na Recomendação CNMP-CN nº
57/2017 é necessária para o fortalecimento e engrandecimento da atuação
ministerial, como, por exemplo, a participação efetiva da Corregedoria
como órgão de orientação na reconstrução da atuação ministerial e o de-
sempenho das ações de forma conjunta por promotores e procuradores, seja
em primeira seja em segunda instância.
Por outro lado, o fortalecimento do perfil constitucional de defensor da
ordem jurídica e guardião dos direitos sociais e das liberdades constitucio-
nais do Ministério Público depende de sua capacidade de modernização e
adaptação aos novos paradigmas impostos pela ordem democrática, sobre a
qual repousa o ordenamento jurídico brasileiro. Não se pode negar que os
tempos atuais exigem uma pronta ação/atuação e abertura para mudanças e
transformações no agir e no pensar humano.
Hoje, o grande desafio da instituição ministerial é redefinir seus cami-
nhos e passar para “a próxima fase”, em que a tecnologia concorre com a
capacidade humana de pensar e criar uma sociedade efetivamente huma-
nizada.
Portanto, o tempo é de profundas mudanças e a capacidade de aceitá-las
e utilizá-las como ferramentas de apoio e fortalecimento da atuação ministe-
rial definirá a importância do Ministério Público para a sociedade brasileira.
268 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
REFERÊNCIAS
ALVARENGA, Samuel. VITORELLI, Edilson. Seminário Atuação Extrajudicial e
Vanguardista da Instituição. Rondônia, 19/11/2018.
CAMBI, Eduardo; ALMEIDA, Gregório Assagra de; MOREIRA, Jairo Cruz. Orgs.
30 anos da constituição e o Ministério Público: avanços, retrocessos e os novos
desafios. Belo Horizonte:Editora D’Plácido, 2018.
DA IMPORTÂNCIA DO SISTEMA
DE PROTEÇÃO À TESTEMUNHA,
À VÍTIMA E AO RÉU
COLABORADOR AMEAÇADOS DE
MORTE (PROVITA)
RESUMO
1 Introdução
Com a evolução da sociedade, as maneiras pelas quais os delitos são prati-
cados também evoluem e se chegar as suas autorias se torna uma atividade
cada vez mais complexa, sendo imperiosa uma busca por mecanismos que
tragam uma forma de estímulo ao esclarecimento e à punição de crimes.
Neste sentido, o depoimento de pessoas envolvidas nos delitos, seja como
testemunhas, vítimas, ou mesmo réus que decidem colaborar com os es-
clarecimentos dos fatos, são imprescindíveis para fornecer às autoridades
responsáveis pela persecução penal um maior conhecimento do fato apre-
sentado como criminoso.
Qualquer pessoa se sentirá muito mais estimulada a reportar atos deli-
tuosos se souber que tem o apoio do Estado, na garantia da sua segurança,
assegurando-se assim sua proteção pessoal e de sua família para declinar o
máximo de informações que tiver para os órgãos investigadores (Polícia Ju-
diciária e Ministério Público), bem como confirmar as informações na fase
judicial, levando ao esclarecimento dos crimes e, por consequência, resul-
tando numa punição justa e na repressão mais eficaz das ações criminosas.
Dentro dessa importância na proteção à pessoa que auxilia o Estado na
persecução penal, o presente artigo trata da proteção à vítima, à testemunha
e ao réu colaborador sob seus mais diversificados aspectos, como uma efe-
tiva e segura alternativa no amparo às vítimas e às testemunhas que sofrem
por terem presenciados crimes das mais variadas condutas.
Neste sentido, as testemunhas são os olhos e os ouvidos da Justiça. Um
dos maiores auxiliadores nesse tema, o Programa de Proteção a Vítimas e Tes-
temunhas (Provita) atua como uma ação de Estado para a garantia da neces-
sária segurança dos que se fizerem necessitados, posto que ameaçados, dada
a condição especial de colaboradores com a elucidação dos fatos criminosos,
até como forma de assegurar-lhes o mais básico dos direitos humanos, à vida.
274 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
2 Objetivo
O presente trabalho tem por objetivo fazer uma análise dos aspectos his-
tóricos, evolutivos e da efetividade dos sistemas de proteção à testemunha,
vítima e réu colaborador ameaçados de morte no Brasil, com ênfase no Es-
tado de Pernambuco, enaltecendo a importância da garantia de proteção
do Estado aos que colaboram na elucidação dos crimes, em todas as suas
complexidades.
3 Justificativa
Considerando que em nosso País existem muitos casos em que pessoas que
colaboram com alguma investigação criminal são mortas ou têm parentes
próximos assassinados por vingança, até por medo de represálias, as pessoas
não falam o que sabem, prevalecendo a “lei do silêncio”.
Essa ausência de provas nos leva a um quadro de fortalecimento do cri-
me, uma vez que o temor traz o silêncio como um meio de sobrevivência,
em virtude da inexistência de uma segurança legítima ou de um sistema de
proteção do Estado àqueles que em depoimento possam esclarecer o iter
criminis.
Especial - maio de 2019 | 275
4 Os programas pioneiros de
proteção à testemunha, à vítima e
ao réu colaborador ameaçados de
morte
4.1 A proteção à testemunha nos Estados
Unidos da América
O serviço federal de proteção à testemunha dos Estados Unidos da América
é o primeiro programa de proteção às testemunhas implementado no mun-
do. Desde a sua criação, em 1971, mais de 7.500 testemunhas e mais de 9.500
familiares de testemunhas foram protegidos. Este mecanismo de proteção é
reconhecido como uma forte ferramenta de repressão ao crime organizado
nos Estados Unidos.
A legislação dos Estados Unidos prevê detalhadamente as formas e as
etapas de proteção à testemunha, assim como as sanções em casos de liti-
gância de má-fé durante o período ou na condição de testemunha protegida.
A primeira iniciativa, após a aprovação para a inclusão e a garantia da
segurança da testemunha, é providenciar a mudança de identidade. O ser-
276 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
toda sua nefasta realidade de negação da vida, não só dela, mais de sua mãe
e das filhas menores.
Ciente das consequências de adesão ao programa de proteção, resolveu a
colaboradora revelar tudo o que sabia, até por participar intestinalmente do
tráfico, sendo suas informações decisivas para que os órgãos de persecução
(Polícia Civil e Ministério Público) desbaratassem a organização crimino-
sa voltada ao tráfico e denunciasse todos os seus integrantes, possuindo o
depoimento da colaboradora não só uma essencial natureza de fonte reve-
ladora do complexo criminal, como uma indispensável fonte de prova do
cometimento do crime e suas autorias.
Convencê-la apenas sob o argumento de que confessando teria uma di-
minuição de sua pena soava ridículo. Seu destino, assim como os de sua mãe
e filhas, era a morte, portanto, de nada adiantava confessar para ter diminu-
ída a pena, se na prisão saberia que seus parentes mais próximos teriam a
vida ceifada e, ao sair da cadeia, esse seria seu fim.
Simplesmente requerer ao Judiciário que substituísse sua prisão preven-
tiva (seu flagrante foi convertido em constrição cautelar na audiência de
custódia) sob os auspícios da Lei nº 13.257, de março de 2016, que alterou
artigos do Código de Processo Penal, garantindo às gestantes ou mulheres
com filhos de até 12 anos de idade (suas filhas eram todas menores de 11
anos de idade) e que ainda não foram condenadas pela Justiça (ela não tinha
passado de anteriores condenações criminais) seria igualmente sentenciá-la
a morte, vez que retornando àquele ambiente em que vivia, inserida no tráfi-
co e refém de suas ordens, seria morta, junto a sua mãe e filhas.
Neste sentido, a inclusão da colaboradora no Provita significou para ela,
mãe e filhas menores a salvaguarda de suas vidas e, muito mais do que a
proteção do Estado, a garantia, durante um certo tempo, de que lhe seriam
oferecidas condições mínimas de vida, liberdade e dignidade para recome-
çar a vida, junto com seus familiares, em um ambiente social fora do mundo
Especial - maio de 2019 | 295
discussões teóricas acaloradas e teses, sempre muito bem escritas pelos co-
legas, acerca da importância dos direitos humanos, se não pudermos, na ro-
tina de nossa atividade como titular e dominus litis da ação penal, garantir à
vítima, à testemunha e ao colaborador premiado, antes de mais nada, meios
necessários de proteção a sua vida.
Assim sendo, parece-me inócuo sermos o curador da ordem democráti-
ca e garantidor do sistema de Justiça, acaso não tenhamos ciência e não sou-
bermos utilizar essa essencial ferramenta de combate ao crime que se consti-
tui o Provita, mormente o crime organizado, cujos tentáculos se estendem a
tantos e tão variados crimes em nosso Estado, seja na região metropolitana,
ou no interior de Pernambuco, cujos índices de criminalidade continuam
crescentes e assustadores, com complexa teia de envolvidos e inserção cres-
cente nos meios sociais.
7 Considerações finais
Podemos, portanto, compreender o programa especial de proteção a teste-
munhas como uma ferramenta de suma importância à repressão ao crime,
principalmente a criminalidade organizada, demonstrando na prática uma
eficácia considerável ao assegurar a proteção das testemunhas e reinseri-las
na sociedade.
O programa italiano tem muito a ser seguido pelos demais mecanismos
do mundo, especialmente pela integração com o Poder Judiciário e pela alta
verba que lhe é destinada pelo Poder Público.
Analisando os programas pinçados neste artigo, podemos perceber que
o Brasil ainda tem muito a evoluir na proteção à testemunha, sendo uma
ferramenta essencial ao Judiciário e aos órgãos que integram o sistema de
segurança pública, dentre eles o Ministério Público, como forma de comba-
Especial - maio de 2019 | 297
REFERÊNCIAS
U.S. Marshals Service. Witness security program. 2013. Disponível em: <http://
www.usmarshals.gov/witsec/>. Acesso em: 21 set. 2018. [traduzido com Google
Tradutor].
ANJOS FILHO, Rogério Nunes dos. Direito Constitucional. 2 ed. Salvador: Edito-
ra JusPODIVM, 2003.
DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. 3 ed. São Paulo: Renovar, 1991.
HERKENHOFF, João Baptista. Direitos Humanos: uma ideia, muitas vozes. Apare-
cida: Santuário, 1998.
GERALDO MARGELA
CORREIA
Procurador de Justiça
aposentado
302 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
RESUMO
1 Introdução
Completaram-se 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos da
Organização das Nações Unidas (ONU) neste ano de 2018, em data de 10 de
dezembro, publicado que foi o documento em 10 dezembro de 1948.
Observa-se que em tal documento não se menciona entre os direitos hu-
manos o direito humano ao meio ambiente sadio, equilibrado e protegido.
Tal proteção ocorre em 1972, quando da Convenção de Estocolmo, onde
ocorreu a emissão de uma Declaração da Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente Humano com a afirmativa no Princípio 1º com re-
dação que segue: “O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igual-
dade e ao desfrute de condições de vida adequadas a um meio cuja quali-
dade lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar e tem a solene
obrigação de proteger e melhorar esse meio para as gerações presentes e
futuras”.01
Em nossa Legislação, a preocupação com as questões ambientais ante-
cede aos documentos internacionais quanto à referida matéria, pois já em
1934, em 10 de julho, fora aprovado o Decreto nº 24.643, denominado Có-
digo de Águas.02
É certo que tal Código trata da água como simples matéria de Direito
Civil, circunscrevendo direitos e deveres dos proprietários das águas e dos
territórios de suas propriedades (da União, dos Estados e dos Municípios,
como ainda dos particulares), constituindo-se, nada obstante, em marco le-
gal necessário para a proteção deste elemento essencial à vida humana e para
uma convivência harmoniosa para a sociedade.
Outra legislação produzida anteriormente ao marco da Conferência das
Nações Unidas de 1972 foram a Lei nº 4.771 de 15 de setembro de 1965
(Novo Código Florestal) e a Lei nº 5.197 de 03 de janeiro de 1967 (Proteção
à Fauna e outras providências), dentre outros Decretos e Códigos03.
Importa, pois, afirmar o pioneirismo da legislação ambiental brasileira
em relação à preocupação posterior da ONU quanto aos temas relacionados.
Tal fato se deve, a meu sentir, à ausência de planos e programas de âmbito
internacional quanto aos problemas que já se apresentavam como graves ao
conhecimento de cientistas e ambientalistas.
Quando da aprovação da Carta da ONU, em 1948 a maior preocupação
era com os problemas trazidos com as guerras, a última encerrada em 1945,
o que chamava à construção de documento internacional para fazer frente
às problemáticas daquele momento.
A Carta se constitui de 30 artigos e um preâmbulo que copiamos por se
constituir em uma espécie de resumo da mesma:
PREÂMBULO
04 Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, cópia extraída da Internet em 23/11/2018.
306 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
Artigo 1.
Artigo 2.
Artigo 2.
Artigo 17.
4 Documentos internacionais e
legislação ambiental brasileira
referentes ao meio ambiente
propriamente considerado
Inicio este tema com a citação de mensagem atribuída a Maria, Mãe de Je-
sus, em um livro de Anne Kirkwood intitulado Mensagens de Maria para o
Mundo, que, ao que consta, teriam sido recebidas e transcritas pela autora
(9ª Edição da Record, publicada no Rio de Janeiro em 1991). As mensagens
se referem às transformações que ocorrerão no final de milênio, então veja-
mos: “O seu lar é o planeta Terra. Por que vocês o bombardeiam e destroem
seus oceanos lançando dejetos nele? Por que vocês destroem suas florestas
e suas praias? Esta é a sua casa. Cuide dela. É a única morada que vocês têm
para legar a seus filhos”. 09
Podemos perceber a transformação do planeta em face dos ataques que
nós seres humanos desferimos contra nosso ambiente, por toda a parte, sem
respeito a qualquer dos ecossistemas, seja nos rios, nos mares, nas ruas de
nossas cidades, nas praias, lançamos plásticos, pneus, vidros, papeis e toda
sorte de ataques ao ambiente, até mesmo lançamento de esgoto sem qual-
quer tratamento seja privado e muito menos público. A degradação é cons-
tante, em verdade, permanente.
A partir de 1972 a ONU tem realizado conferências de cunho ambiental
e publicado suas conclusões para que sejam aprendidas e aplicadas em todas
as nações, a fim de que possamos todos viver em harmonia com a natureza
sem degradá-la e favorecendo nossa vida sem causar problemas à nossa saú-
de e à dos nossos descendentes. O futuro da Terra depende do que fazemos
hoje com os seus ambientes.
14 LÚCIO, Vicente Carlos. Constituição Federal Comentada. 1ª Edição. Editora Jalovi Ltda. São
Paulo/SP, 2010.
Especial - maio de 2019 | 313
16 A verdade sobre a Camada de Ozônio. Artigo de Rex Trulove, pesquisa na internet no dia
30/01/2019.
17 Ler, por exemplo, Aquecimento Global, Verdade ou Mentira, artigo de Pedro Coelho, pesquisa na
internet em 05/01/2019.
Especial - maio de 2019 | 317
REFERÊNCIAS
MARCHESAN, Ana Maria; STEIGLEDER, Annelise Monteiro; CAPPELLI, Sílvia.
Direito Ambiental. 7ª Edição, 2013.
DAL RI, Arno Jr. et al. A Frágil Gênese da Tutela Jurídica do Meio Ambiente.
Acesso em: 15/01/2019.
LÚCIO, Vicente Carlos. Constituição Federal Comentada. Editora Jalovi Ltda. São
Paulo/SP. 1ª Edição, 1.990.
Procurador de Justiça do
Ministério Público de
Pernambuco
322 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
RESUMO
1 Introdução
São decorridos Setenta Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A efeméride é significativa e remete à obrigatoriedade compulsiva im-
posta ao Ministério Público para, em decorrência de pressupostos legais ín-
sitos no artigo 129 da Constituição Federal de 5 de outubro de 1988, agir de
forma plena e célere no asseguramento dos Direitos Humanos e, principal-
mente, para conter a degradação absoluta que eventualmente possa se abater
sobre estamentos sociais menos protegidos.
Se é certo que o Ministério Público ganhou protagonismo antes não vi-
venciado em razão da conspurcação plena dos valores éticos e morais, que
tem repercussão transcendente pela intensidade que atinge as políticas pú-
blicas e sociais que beneficiam, de modo geral, toda a sociedade, por outro
lado urge que o Estado, na sequência dos atos saneadores, estabeleça de for-
ma dialética, diga o que pretende, para humanizar e emancipar o País e, por
consequência, o povo.
Os que têm uma concepção emancipatória pretendem resposta cabal.
Quais as providências que serão adotadas para que o Estado, como Na-
ção politicamente organizada, dotado de conceito político-administrativo,
consciente da sua soberania e independência venha ser respeitada no con-
certo internacional das Nações? A resposta abrange um espectro amplo.
Sabe-se que o conceito de Estado trás, em si mesmo, a ideia imanente
de que não deve a sua validade a nenhuma ordem superior e, portanto, as
suas políticas públicas devem ser estritamente voltadas para referências que
informam e justificam a nacionalidade. A nacionalidade nos termos que não
se confundem com a xenofobia, isto é, aversão a tudo que é estrangeiro, mas
que se confunde com os valores autóctones do País.
A interação, a conjugação de valores ditados na Declaração Universal
dos Direitos Humanos, se ajustam expressamente com o Ministério Público,
324 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
que vem atendendo aos reclamos sociais, com o denodo que se lhe exige,
com o aprimoramento que lhe é necessário na busca incessante de ser pro-
vedor do coletivo social em toda abrangência.
O Ministério Público evidentemente, como instituição permanente e
imprescindível do organismo social democrático, tem conceituações que
lhes são próprias tais como: responsabilidade na defesa das garantias legais,
do Estado de Direito, e de todos os interesses, inclusive os indisponíveis.
Diga-se ainda, que a sociedade organizada, de uma forma geral, é eventual-
mente parceira do Ministério Público no atendimento social quando age em
defesa de terceiros, na preservação de garantias constitucionais.
Em tempos ásperos, ressalte-se a insurgência da Igreja Católica na Defe-
sa dos Direitos Humanos com destaque para o Cardeal Dom Paulo Evaristo
Arns e Dom Helder Câmara, cumprindo missão histórica contra a Ditadura
Militar, em condições de risco à integridade física. Ambos emergiram dos es-
combros maiores do que eram, exuberantes de sensibilidade e espiritualidade.
Quando se constata o compartilhamento com as angústias dos oprimi-
dos e desassistidos, a fé em todos os valores se recompõe e a esperança se re-
nova. Vê-se ainda que a carta da Organização das Nações Unidas, aprovada
em 26 de junho de 1945 em São Francisco já era o prenúncio da Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
O Ministério Público teve seus percalços, suas idas e vindas. A Consti-
tuição de 1946 desvinculou a instituição dos poderes do Estado. A Consti-
tuição de 1967, outorgada pelo poder discricionário da ditadura, manteve a
situação anterior que viria a ser alterada pela emenda de 1969, que remeteu
o Ministério Público ao Poder Executivo. No regime de exceção, o Minis-
tério Público ficou destituído de garantias institucionais. Poucos foram os
membros que resistiram. Para os acólitos do arbítrio, todas as benesses.
Ao se abordar os Direitos Humanos a alguns ocorre de imediato tratar-se
de garantias pessoais pontuais, descontextualizadas da amplitude dos seus
Especial - maio de 2019 | 325
3 Efetividade e protagonismo do
Ministério Público
Por isso entendemos que a luta pelos Direitos Humanos é meio de emanci-
pação e integração social.
Quando se cogita de controle externo da atividade policial pelo Minis-
tério Público, alguns procuram não entender. Porém é necessário para que
as repressões não sejam desproporcionais, não infrinjam os direitos funda-
mentais expressos na Declaração Universal tais como: “dignidade, igualdade
de direitos entre homens e mulheres, sem qualquer distinção de raça, cor, de
língua, religião ou opinião política”. E se incluam aí outras liberdades. Por-
tanto deve ser exercitado com denodo o controle externo até como garantia
da ordem pública e segurança do Estado de Direito e até para que não se con-
funda o que seja reinvindicação com perturbação do ordenamento estatal.
Exemplo histórico da defesa dos Direitos Humanos foi dado pelo Gene-
ral Della Chiesa quando um membro do serviço de segurança lhe propôs
torturar um preso que se presumia ter muitas informações a respeito do se-
questro do Primeiro Ministro italiano Aldo Moro, ao qual respondeu: “A Itá-
lia pode permitir-se perder Aldo Moro, não em troca de implantar a tortura”.
Especial - maio de 2019 | 327
5 Conclusão
O tema transcende o provincianismo e só pode ser concebido e entendido
no contexto do seu dimensionamento universal. A sua universalidade é que
determina a sua importância, pois está voltada para o homem e, por conse-
quência, objetiva a preservação material e espiritual do seu próprio objeto.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos contém 30 artigos. O 1°
diz: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.
Dotados de razão e consciência, devem agir uns para com os outros em espi-
rito de fraternidade”. O artigo 30 dispõe: “Nenhuma disposição da presente
declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Es-
tado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma atividade
ou de praticar algum ato destinado a destruir as liberdades aqui enunciadas”.
Como se constata, são impostergáveis os pressupostos explícitos na De-
claração Universal, e tem valores dogmáticos de forma a exigir do Ministé-
rio Público o protagonismo que o faz responsável maior pela eficiente apli-
cação das garantias.
330 | REVISTA JURÍDICA DA AMPPE
REFERÊNCIAS
SANTOS, Boaventura de Souza. Por uma concepção multicultural de direitos
humanos. Revista Crítica de Estudos Sociais, nº48.
BRAGA, Roberto Saturnino. Ética e política. In: Desafios éticos. 1993. p. 59-72.
Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988.
www.premiuseditora.com.br