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A elevação cardinalícia de D.

Eugenio Dal Corso -


Raul Tati
setembro 04, 2019

Luanda - Apanhou de surpresa a comunidade católica em Angola a notícia da elevação


cardinalícia do antigo Bispo de Saurimo e Benguela, e administrador Apostólico de
Cabinda, D. Eugénio Dal Corso. Tenho certeza que ninguém, em Angola, esperava por
essa ́ ́estranha ́ ́escolha por parte de Sua Santidade o Papa Francisco. Tratando-se de um
assunto de interesse público e tendo em conta as repercussões eclesiais e sociais do
catolicismo em Angola, quero aqui partilhar algumas reflexões sobre a oportunidade
dessa eleição.

Fonte: Club-k.net

O meu ponto de vista!

1. Quem sãos os Cardeais? Na


Idade Média havia Bispos das dioceses ditas sufragâneas da diocese de Roma onde o Papa
era (e continua a ser até agora) o Bispo Titular. Esses Bispos juntamente com alguns
presbíteros e diáconos de Roma eram conselheiros do Papa e constituíam uma espécie
de ́ S
́ enado ́ ́ papal segundo o antigo código de direito canónico (CIC 1917). Essa
expressão desaparece no actual código de direito canónico (CIC 1983), quiçá pelas
conotações políticas com o Senatus Popolusque Romanus (SPQR) do antigo império
romano. Só foi a partir do sec.XII que o Romano Pontífice começa a incluir no colégio
cardinalício figuras eclesiásticas residentes fora de Roma fossem eles Bispos, presbíteros
ou diáconos. Para os leigos da matéria importa esclarecer que a função cardinalícia
praticamente não era inerente ao episcopado. Só foi a partir de 1962, com o Papa João
XXIII, que todos os Cardeais eleitos passaram a receber a consagração episcopal, tendo-
se mantido a tradição até ao presente.

2. Qual é a função dos Cardeais? No âmbito do direito eclesiástico, mais concretamente


no actual código de direito canónico (CIC 1983) o capítulo referente aos Cardeais da
Igreja romana faz parte do título ́ ́Da autoridade suprema da Igreja ́ ́. O cân. 349 reza o
seguinte: «Os Cardeais da Santa Igreja Romana constituem um Colégio peculiar, ao qual
compete providenciar à eleição do Romano Pontífice nos termos do direito peculiar; os
Cardeais também assistem ao Romano Pontífice quer agindo colegialmente, quando
forem convocados para tratar em comum dos assuntos de maior importância, quer
individualmente nos vários ofícios que desempenham, prestando auxilio ao Romano
Pontífice na solicitude quotidiana da Igreja universal». Praticamente temos duas funções
principais:

1) os Cardeais elegem o novo Papa em conclave; 2) os Cardeais ajudam o Papa a governar


a Igreja através de ofícios que lhe são atribuídos. Praticamente temos duas categorias de
Cardeais: os da cúria romana, isto é, aqueles que se ocupam dos vários dicastérios da
Santa Sé (uma espécie de departamentos ministeriais) e os pastoralistas que estão à frente
das dioceses ou, em termos técnicos, os ́ ́Ordinários do Lugar ́ ́. Estes fazem parte da
ordem presbiteral no contexto das ordens cardinalícias. Entretanto, há que sublinhar que
nem todos os Cardeais podem participar do conclave da eleição do Papa em virtude do
limite de idade imposto por lei. Também é preciso realçar que a atribuição da dignidade
cardinalícia pode ser a titulo territorial ou individual. Explico-me. Certas sedes
diocesanas (arcebispados e patriarcados), pela sua importância eclesial e política (capitais
de países) adquirem o direito concedido pelo Romano Pontífice de terem sempre um
Arcebispo-Cardeal.

Noutros termos, todos os Arcebispos ou Patriarcas que por ali passarem, em princípio,
recebem o legado cardinalício depois da morte do predecessor. O exemplo mais próximo
para nós é a arquidiocese de Kinshasa. Depois da morte do Cardeal Joseph Malula já teve
mais dois Cardeais sucessores (Monsenhores Etsou e Laurent Moussengo). Quanto ao
título pessoal, é o caso do nosso Cardeal Alexandre Nascimento. Foi Arcebispo do
Lubango e de Luanda. Os seus sucessores nestas arquidioceses não têm direito de
sucessão cardinalícia porque o título não está vinculado ao território mas à pessoa. É o
mesmo caso de Brazzaville que desde a morte do Cardeal Emile Biayenda, em 1978,
nunca mais teve Cardeais. No âmbito das Conferências Episcopais, os Cardeais só têm
jurisdição nas suas respectivas dioceses enquanto ́ ́Ordinários do Lugar ́ ́.
De resto, mantêm em relação aos demais Bispos e Arcebispos o direito de precedência
protocolar. Nas concelebrações onde participam Bispos e Arcebispos estes normalmente
presidem ou então assistem apenas. Muitas vezes a imprensa angolana tratou o Cardeal
Alexandre como chefe da Igreja católica em Angola. Grande aberração! Lembro-me que
nos anos 90, na minha qualidade de Secretário da CEAST, me foi dada a incumbência de
mandar ao jornal de Angola uma nota de esclarecimento a propósito do assunto. Nessa
altura o Presidente Jose Eduardo dos Santos havia recebido os bispos da CEAST no
Futungo de Belas e o Jornal deu mais ou menos a notícia com este teor: O PR recebeu o
Cardeal Alexandre Nascimento no palácio presidencial...O chefe da Igreja católica em
Angola fez-se acompanhar pelos Bispos da CEAST...etc. É claro que os demais Bispos
não gostaram de serem retrados como acólitos do senhor Cardeal. Daí a reacção que
também não caiu bem ao Cardeal. Mas era preciso esse esclarecimento!

3. A minha posição em relação à elevação do D. Dal Corso. Segundo o cân. 351 do código
de direito canónico, «Os Cardeais a promover são escolhidos livremente pelo Romano
Pontífice, pertencentes pelo menos à ordem do presbiterado, e que se distingam
notavelmente pela doutrina, costumes, piedade e prudente resolução dos problemas...»
Não tenho qualquer pretensão de colocar em causa esse direito pontifício, mas por aquilo
que eu sei essa suposta ́ ́livre escolha ́ ́ do Romano Pontifice tem muito que se lhe diga.
Para começar, o Papa não conhece todos os sacerdotes e o respectivo nível de doutrina,
os seus costumes, a sua piedade, etc...há sempre algum lobby com interesses nem sempre
identificáveis com o evangelo que serve de canal e persuade o Papa a dar o seu voto de
confiança. Ademais os tais conselheiros estão lá para isso. Os altos postos do Vaticano
são disputados muitas vezes fora dos cânones da moral e do evangelho.

No Vaticano estão acoitados verdadeiros abutres que não hesitam em fazer uma
eliminação fisica quando os seus interesses estejam em causa. Sabem porquê o Papa
Bento XVI resignou?! Se tivesse continuado no posto, talvez já não estava em vida! Para
já os italianos têm uma propensão crónica ao carreirismo eclesiástico. Vejam o caso do
antigo Núncio Apostólico, Angelo Becciu, pela ascensão meteórica que teve nos últimos
anos ascendendo ao grau de Cardeal Prefeito para a Causa dos Santos, mas com muita
influência ainda na Secretaria de Estado do Vaticano. Não pensem que foi apenas uma
questão de mérito. Também não quero falar dos méritos pessoais do D.Eugénio Dal
Corso. Mas creio que a Igreja africana, em geral, e de Angola, em particular, nada ganha
com a sua promoção. Aliás é um sacerdote já na reforma. Sempre me bati pela
africanização da Igreja no nosso continente na esteira dos teólogos africanos que
entendem que a Africa deve assumir a sua própria evangelização com os seus próprios
recursos e que os tempos de ́ ́Terra de missão ́ ́ já passaram.

É imperioso escancarar definitivamente as portas para a emancipação da Igreja em África.


Infelizmente, o Vaticano continua com o seu paternalismo romano mantendo a Igreja em
África ainda num estádio de minoridade e exercendo um controlo cerrado sobre o
episcopado africano de quem exige lealdade, fidelidade e submissão incondicional. Na
minha opinião não faz sentido ter hoje num país africano, como Angola, um estrangeiro
como Cardeal. Se for para ir trabalhar na cúria romana, talvez aí eu aceite, mas se é para
dizer que Angola ganhou mais um Cardeal, desculpem-me lá, que isso retira as tais
oportunidades ao clero angolano e ao seu episcopado. Aquando da tomada de posse do
actual Arcebispo metropolita de Luanda, D. Filomeno do Nascimento, nasceu em certos
círculos a expectativa de o verem a ser guindado à dignidade cardinalícia. Ouvi repetidas
vezes isso mesmo na comunicação social. Se assim fosse, esconjuro que daria outro peso
e prestigio à igreja angolana seguindo o exemplo de outros países africanos onde já não
ocorrem nomeações de bispos europeus. Infelizmente, Angola continua a ser terra de
recompensas de missionários estrangeiros (e suas respectivas congregações) por
deixarem as suas terras, as suas famílias e por consentirem sacrifícios pelo evangelho. No
caso de D. Dal Corso, até foi vítima de uma agressão ignóbil em Cabinda, enquanto
Administrador Apostólico. Tendo este facto em consideração, como é que eu não vou ver
essa promoção como um prémio talvez forjado pelo seu compatriota e amigo Angelo
Becciu? In cauda venenum! Poderão vir dizer-me que a Igreja é universal. Óptimo! Bem
gostava eu de ver essa universalidade a funcionar no sentido inverso, que fossem
nomeados bispos africanos em dioceses europeias e que fossem promovidos Cardeais
africanos em países europeus, se exceptuarmos os casos dos Cardeais Gantin (Benin),
Robert Sarah (Guiné Conakry) e Francis Arinze (Nigeria), os únicos africanos que
conheci na cúria romana. A universalidade não pode ser no sentido único com o pretexto
de que a África continua ainda a ser ́ ́Terra de missão ́ ́. Temos de repensar a Igreja em
África sem ferir o paradigma teológico da comunhão, mas também sem prejuízo da sua
emancipação teológica. Ao novo Purpurado, D. Eugénio Cardeal Dal Corso, desejo votos
de fecundo apostolado nessa nova missão como conselheiro do Romano Pontífice.

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