CAPITÃO DÓLAR: A REPRESENTAÇÃO DO IMIGRANTE VALADARENSE NA
MÍDIA IMPRESSA LOCAL NO INÍCIO DA DÉCADA DE 1990.
Juliana Vilela Pinto – Universidade Vale do Rio Doce (FAPEMIG)
Sueli Siqueira - Universidade Vale do Rio Doce
INTRODUÇÃO: A partir dos anos de 1980, década em que o movimento migratório de
Valadarenses rumo aos Estados Unidos deixou de ser esporádico e se transformou em um fluxo constante e crescente, a questão começou a ganhar destaque na mídia impressa local, nacional e internacional. O periódico local Diário do Rio Doce lançou nos anos de 1990 um personagem para homenagear os milhares de compatriotas que deixaram a terra natal rumo ao país do Tio Sam. Este trabalho faz uma análise deste personagem, o “Capitão Dólar”, que representa o estereótipo de um valadarense deslumbrado e que vê nos Estados Unidos a melhor alternativa para uma vida melhor.
MÉTODOS: Para a realização do artigo, as tiras foram submetidas ao procedimento de
análise de conteúdo e, também foi feito, a partir de um levantamento bibliográfico, um histórico sobre o território valadarense e sua relação com o fenômeno da migração internacional contemporânea. Os dados empíricos foram coletados a partir de consulta no acervo do jornal. O material foi veiculado diariamente no entre julho de 1990 e setembro de 1991. Em um ano e três meses foram publicadas 375 histórias. As tiras foram fotografadas em máquina digital profissional e depois descarregadas no computador para a realização da análise.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: As tiras publicadas nos jornais são gênero opinativo do
mesmo nível que um editorial, com destacada importância social, pois, apesar do humor, trazem um conteúdo crítico capaz de retratar com aguçada ironia os paradoxos da nossa sociedade. No caso específico do "Capitão Dólar" as tiras retratam uma realidade latente dos anos 1990 na cidade de Governador Valadares: o boom migratório rumo aos Estados Unidos. A cidade se transformou em referência, sendo conhecida como o principal exportador de mão-de-obra brasileira para a Terra do Tio Sam. O personagem sugere um homem deslumbrado, ignorante que retorna cheio de si e acredita que seus preciosos dólares são capazes de comprar qualquer coisa, mesmo aquelas cujo preço não é possível calcular. Já o valadarense que deseja emigrar e ainda não conseguiu enxerga o “Capitão Dólar” como um homem diferenciado e o exalta, pois ele teve uma oportunidade restrita à minoria.
CONCLUSÕES: Os quadrinhos retratam a realidade da cidade nos anos de 1990, marcada
por uma forte recessão da economia brasileira. O personagem, com o ar prepotente e apaixonado pelos Estados Unidos ridiculariza os valadarenses e sobretudo a si mesmo, pois se mostra um homem alienado e ignorante, sendo ao mesmo tempo herói e anti-herói. Desta forma, a mídia ajuda a construir uma imagem negativa da migração e dos migrantes valadarenses, que estão sempre associados ao cambio ilegal da moeda americana, à falsificação de passaportes e uma série de outros esquemas ilícitos. Além disso, a cidade acaba fadada com uma terra sem oportunidades, cuja melhor saída para uma vida melhor é o aeroporto. A imagem passada é de uma identidade fragmentada e, sobretudo, desterritorializada. Mais que uma ferramenta de entretenimento as tiras se transformam em um instrumento jornalístico importante que denuncia uma realidade social.