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INTRODUÇÃO
A construção de uma sociedade inclusiva é processo recente na história do Brasil. Nos
últimos anos ela vem sendo fortemente motivada por políticas educacionais de educação
inclusiva, que visam fazer da escola um espaço de diversidade cultural e social, convivência
com o diferente e valorização de cada pessoa, a fim de construir um novo tipo de sociedade.
Nesta perspectiva, vários documentos foram elaborados pelo Ministério da Educação (MEC)
estabelecendo diretrizes e ações3. De acordo com documento subsidiário à política de
inclusão do MEC: “é necessário que as escolas brasileiras se transformem em espaços
inclusivos e de qualidade, que valorizem as diferenças sociais, culturais, físicas e emocionais
e atendam às necessidades educacionais de cada aluno” 4. Neste contexto está a inclusão de
pessoas com deficiência5, que vem gerando grande polêmica em função da entrada, nos
diversos espaços e níveis educacionais, da infantil à superior, destes sujeitos.
Para o sucesso dessas políticas nas escolas de educação básica (EB) existem diversos
programas: formação continuada de professores na educação especial - presencialmente e a
distância; implantação de salas de recursos multifuncionais, com recursos para atender todo
tipo de deficiência; adequação de prédios escolares para a acessibilidade - programa “Escola
acessível”; formação de gestores e educadores para desenvolver sistemas educacionais
inclusivos, com criação de mecanismos para medir e assegurar o cumprimento da política
para todos os níveis de ensino – o programa “Educação Inclusiva: direito à diversidade”;
dentre outros6. Em decorrência destes programas de inclusão na educação básica, dados do
CENSO do MEC/INEP indicam um crescimento 640% no número de matrículas de crianças
com deficiência nas escolas comuns, no período de 1998 a 2006, o que revelam aumento
significativo da população de pessoas com deficiência em todos os níveis de ensino, inclusive
na Educação Superior (ES). No entanto, a ES ainda não conta com um aporte tão grande, de
programas e recursos, a fim de promover a inclusão.
1
Mestranda em Educação do Programa de Pós-Graduação da Universidade Regional de Blumenau – FURB –
andreia@furb.br
2
Doutora em Políticas Educacionais pela UNICAMP e Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Regional de Blumenau – FURB – stmeneg@terra.com.br
3
Dentre estes destacamos a Resolução CNE/CEB nº 2/01 - Normal 0 21 Institui Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação Básica; Decreto Nº 6.094/07 - Dispõe sobre a implementação do Plano de Metas
Compromisso Todos pela Educação; Decreto Nº 6.571/08 - Dispõe sobre o atendimento educacional
especializado.
4 Documento Subsidiário À Política De Inclusão - Brasília – 2005. Disponível em
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Apesar dos debates neste campo estarem apenas começando, a inclusão de pessoas com
deficiência na ES merece atenção das políticas públicas uma vez que, além de possibilitar a
estes estudantes qualificação para ocupar espaços no mercado de trabalho, permitindo sua
sobrevivência de forma digna, também permite ao deficiente e à comunidade acadêmica a
convivência com as diferenças, propiciando relações menos mecânicas e desiguais, e mais
humanas e solidárias. Neste contexto a inclusão de pessoas com deficiência na ES tem se
constituído um desafio para dirigentes acadêmicos, docentes e estudantes, à medida que
formar estes deficientes com competência técnica para atuar no mercado de trabalho exige
grande adaptação das instituições de educação superior (IES) e de seus servidores em termos
de constituir estrutura física, suporte acadêmico e pedagógico, além de um ambiente
relacional com profissionais habilitados para lidar com conflitos sociais e éticos de natureza
distinta da que, em geral, estão acostumados a lidar. Ou seja: são raras as IES brasileiras em
condições de receber estudantes com deficiência em seus cursos de graduação. No entanto,
aumenta a cada ano o número de pessoas com deficiência na ES e ainda se sabe muito pouco
sobre como promover, para além do acesso, a garantia do sucesso da sua formação – ou seja,
a sua efetiva inclusão.
As medidas que asseguram a inclusão na ES envolvem: a Lei n. 10.098/ 2000, que estabelece
normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras
de deficiência ou com mobilidade reduzida; o Programa de Acessibilidade na Educação
Superior (Programa Incluir), que propõe ações e recursos para garantir o acesso pleno de
pessoas deficientes às Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Cabe destacar, ainda,
a adoção de indicadores de inclusão em instrumentos do Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior – o SINAES7, que tem força regulatória sobre o funcionamento das IES.
Este artigo tem, por objetivo, fazer uma análise da inclusão de pessoas com deficiência a
partir dos indicadores presentes nos instrumentos de avaliação do SINAES, a fim de debater
quais elementos têm sido considerados, por este sistema, indicadores de inclusão. Para tanto,
este texto está dividido em três partes: na primeira são apresentados alguns conceitos-chave
sobre inclusão e seus fundamentos na Educação Superior; na segunda, analisamos os itens
relacionados à inclusão constantes dos instrumentos do SINAES e do Censo da Educação
Superior, feito pelo INEP. Finalizando, fazemos uma reflexão sobre elementos que, da
perspectiva da inclusão, podem gerar indicadores para o processo de avaliação, a fim de
promover e efetivar a inclusão.
Inclusão de pessoas com deficiência na educação superior – legislação e elementos para
o debate
Na história da inclusão na educação, o atendimento às pessoas com deficiência - no Brasil e
em todo o mundo – foi, por anos, de responsabilidade de instituições específicas. Em geral
elas eram criadas e prestavam atendimento específico e exclusivo para um determinado tipo
de deficiência - cegos, surdos, deficientes mentais. Eram as chamadas ‘escolas especiais’,
cujo atendimento era restrito ao cuidado e à orientação para as atividades da vida diária. Mas,
a despeito de quaisquer benefícios, elas mantinham os deficientes distantes e segregados da
vida social, ou seja, dentro de instituições.
7
O SINAES foi criado por meio da Lei Nº 10.861, de 14 de abril de 2004, e instituído com o objetivo de
assegurar o processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, dos cursos de graduação e do
desempenho acadêmico de seus estudantes, nos termos do art. 9º, VI, VIII e IX, da Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996.
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“O processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir em seus sistemas
sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se
preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então,
um processo bilateral no qual as pessoas ainda excluídas e a sociedade buscam, em
parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de
oportunidade para todos”. (SASSAKI, 1997 p. 41)
8
Resolução aprovada pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em 02/12/1975. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12716&Itemid=863 Acesso em
30 de jul. 2009.
9
Convocada em Genebra pelo Conselho de Administração do Escritório Internacional do Trabalho e realizada
em 1º de junho de 1983, em sua 69º nona reunião. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12716&Itemid=863 Acesso em 30
de jul. 2009.
10
Acordo Internacional de 1994 que dispõe sobre os Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades
Educativas Especiais. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12716&Itemid=863 Acesso em 30
de jul. 2009
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Disponível em http://www.inep.gov.br/superior/SINAES/ acesso em 30 de jul. 2009.
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Vale destacar que o instrumento que ora analisamos foi elaborado em 2005 pra ser aplicado em todas as IES
do país. Em função de alterações no SINAES, em 2008, ele foi substituído por outro, atualmente em vigor, mas
que não será objeto de análise neste artigo.
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um deles está associado à avaliação das condições da inclusão no que se refere a: 1. Ações
voltadas ao desenvolvimento da democracia, promoção da cidadania, de atenção a setores
sociais excluídos, políticas de ação afirmativa etc. Dos 11 temas optativos somente 4 deles
apresentam questões que podem identificar em que medida a IES está promovendo a inclusão
de PD. São eles:
• Quais os critérios adotados pela instituição para ampliar o acesso, inclusive os portadores
de necessidades especiais?
• Quais as ações desenvolvidas pela universidade no sentido da inclusão e assistência a
setores ou grupos sociais discriminados e/ou sub-representados no interior de cada segmento
da comunidade universitária (professores, estudantes e funcionários).
• Existem políticas institucionais de inclusão de estudantes em situação econômica
desfavorecida? Quais?
• A instituição favorece a inclusão de estudantes portadores de necessidades especiais?
Desenvolve estratégias para a intervenção destes nas aulas? Possui políticas de contratação
de pessoal (docentes e técnico-administrativos) com necessidades especiais?
A dimensão 7 se refere à Infra-estrutura física, especialmente a de ensino e de pesquisa,
biblioteca, recursos de informação e comunicação. Dos três temas obrigatórios, dois deles
estão relacionados à inclusão: 1. Adequação da infra-estrutura da instituição (salas de aula,
biblioteca, laboratórios, áreas de lazer, transporte, hospitais, equipamentos de informática,
rede de informações e outros) em função das atividades de ensino, pesquisa e extensão; e 2.
Adequação da infra-estrutura da instituição (salas de aula, biblioteca, laboratórios, áreas de
lazer, transporte, hospitais, equipamentos de informática, rede de informações e outros) em
função das atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Dos 25 temas optativos temos seis deles estão relacionados a esta questão, são eles: Qual o
nível de funcionalidade dos laboratórios, bibliotecas, oficinas, espaços experimentais? A
quantidade de postos na biblioteca e salas de leitura é adequada às necessidades dos
usuários? Qual é a disponibilidade da bibliografia obrigatória ou recomendada em relação à
demanda? Qual o grau de satisfação dos usuários com relação ao sistema de acesso aos
materiais e a sua consulta? Qual é a satisfação dos usuários com a quantidade, qualidade e
acessibilidade da bibliografia? As instalações são adequadas e adaptadas para os estudantes
com necessidades especiais?
A dimensão 9 aborda as Políticas de atendimento aos estudantes, neste quesito em todos os
itens obrigatórios é possível avaliar questões relacionados à inclusão, quais sejam: 1.
Políticas de acesso, seleção e permanência de estudantes (critérios utilizados,
acompanhamento pedagógico, espaço de participação e de convivência) e sua relação com as
políticas públicas e com o contexto social. 2. Políticas de participação dos estudantes em
atividades de ensino (estágios, tutoria), Iniciação Científica, Extensão, avaliação
institucional, atividades de intercâmbio estudantil. 3. Mecanismos/sistemáticas de estudos e
análises dos dados sobre ingressantes, evasão/abandono, tempos médios de conclusão,
formaturas, relação professor/aluno e outros estudos tendo em vista a melhoria das atividades
educativas. 4. Acompanhamento de egressos e de criação de oportunidades de formação
continuada.
Dos temas optativos desta dimensão em nove deles é possível ainda que não diretamente
perceber a possibilidade de avaliar questões relacionadas à inclusão, quais sejam:
Os critérios de admissão são conhecidos, discutidos e divulgados? Como são construídos?
Existem mecanismos de apoio acadêmico, compensação e orientação para os estudantes que
apresentam dificuldades acadêmicas e pessoais? Estão regulamentados os direitos e deveres
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dos estudantes? Como? Existem mecanismos para incorporar novas tecnologias no processo
de ensino-aprendizagem? Como funcionam? Têm se desenvolvido indicadores para medir os
resultados obtidos pelos estudantes? Quais? Quais os aspectos positivos e negativos
detectados no que diz respeito às políticas de atendimento ao estudante? Quais as
dificuldades? Existe um plano para superar as dificuldades detectadas? Há instâncias que
forneçam bolsas de ensino, pesquisa e extensão? Quais? Quantidade de bolsas e tipos. Há
políticas claras de incentivo à participação dos estudantes em projetos com os docentes?
Quais? Há programas e práticas de iniciação à ciência e de formação inicial de futuros
pesquisadores?
Das dez dimensões utilizadas para a avaliação apenas três delas possuem temas com
indicativos claros que podem medir a inclusão, mas em sua grande maioria são temas
optativos, ou seja, as IES têm autonomia para inserir ou não no processo de avaliação, o que
significa dizer que elas podem desconsiderar estes temas sempre que o resultado pode
prejudicar a avaliação institucional.
B) Instrumento de avaliação externa: No processo de avaliação institucional externa, feita
pelas comissões de avaliação do INEP, há um instrumento em que as dimensões avaliadas
contemplam Grupos de Indicadores e Indicadores aqui entendidos como sendo “sinais que
revelam aspectos de determinada realidade que podem qualificar algo” (INEP, 2007 p. 5).
Neste instrumento se repetem as dimensões da avaliação interna, ou seja, as dimensões
relacionadas à avaliação do processo de inclusão nas IES brasileiras são as mesmas da
avaliação interna, com a diferenciação de que agora todos os grupos de indicadores devem
ser obrigatoriamente avaliados, no entanto percebe-se que estes podem ser fechados e não
necessariamente avaliar se a inclusão está ou não acontecendo conforme as recomendações e
legislações vigentes.
C) CENSO da ES: Além dos critérios utilizados pelo SINAES para avaliar a inclusão na
educação superior, o MEC através do CENSO educacional do ensino superior coleta
informações a cerca de como está se dando a educação inclusiva nas instituições de educação
superior.
Para levantar estes dados as IES devem obrigatoriamente a cada ano informar ao MEC
diversas informações distribuídas em mais de 40 quadros diferentes. Dentre estas
informações em 03 quadros são solicitados informações referentes às pessoas com
deficiência que estão na IES. Um deles se refere ao Número total de servidores técnico-
administrativos, com necessidades especiais, por tipo, por grau de formação, em respectivo
ano/semestre. O outro quadro se refere ao Número de alunos com necessidades educacionais
especiais, por área da necessidade educacional especial, matriculados por curso no respectivo
ano/semestre e por fim um quadro em que a IES indica se possui ou não as Condições de
acessibilidade ao currículo do curso, por meio de tecnologia assistiva ou ajudas técnicas13
(Material em Braille, daptação em alto relevo de gráficos, gravuras, ilustrações; Material com
caracteres ampliados; Material em áudio; Sistemas de síntese de voz;
Tradutor e intérprete de Libras; Guia – intérprete; Material acessível em libras; Inserção da
disciplina de Libras no curso)
Olhando para os dados acima, percebemos que as informações solicitadas as IES pelo MEC
no que se refere à inclusão são meramente números, relativos a alunos, em que curso, com
que deficiência, que tipo de recursos são utilizados, mas do meu ponto de vista são
13
Produtos, instrumentos, equipamentos ou tecnologia adaptados ou especialmente projetados para melhorar a funcionalidade da pessoa
com deficiência ou com mobilidade reduzida, favorecendo a autonomia pessoal, total ou assistida
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
______. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em
http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/. Acesso em: 15 mai. 2009.
SASSAKI, Romeu Kasumi. Inclusão. Construindo uma sociedade para todos. Rio de
Janeiro: WVA, 1997.
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