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A ascensão e a queda de José Fernando Pinto

da Costa
Mecenas de políticos e de times de futebol, o empresário de ensino superior
foi preso pela PF acusado de esquema de fraudes no Fies
Por Eduardo Gonçalves, João Batista Jr.

access_time6 set 2019, 09h57 - Publicado em 6 set 2019, 06h30

ANTES DA QUEDA - O empresário, em foto de 2017: desfalque de 500 milhões de reais (Mario
Rodrigues/.)

Criado na gestão Fernando Henrique Cardoso e turbinado nos governos Lula e


Dilma, o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) abriu a
porta das universidades para jovens carentes — e fez alegria ainda maior de muitos
grupos educacionais privados. Para essa turma, o negócio virou o famoso “ganha--
ganha”. As matrículas se multiplicaram e os rombos provocados pela alta taxa de
inadimplência (o índice hoje está perto dos 50%) são cobertos pelo Estado. Como
se não bastasse, alguns empresários aproveitaram para lucrar mais, aproveitando-
se da falta de fiscalização (o Tribunal de Contas da União referiu-se à gestão como
um “descalabro”). No dia 3, a Polícia Federal prendeu um dos maiores beneficiados
pela baderna, José Fernando Pinto da Costa, dono do conglomerado Uniesp e da
Universidade Brasil. Ele foi para a cadeia junto com seu filho, Sthefano Costa, e
outras dezoito pessoas, entre executivos e funcionários.
A PF descobriu que a Universidade Brasil recebera cerca de 500 milhões de reais
do Fies de maneira fraudulenta. Segundo as investigações, a entidade fornecia
“assessoria” aos alunos para falsificar os dados cadastrados no sistema do
programa. O público-alvo eram pessoas que não se encaixavam no perfil de
beneficiários: filhos de políticos, de empresários e de fazendeiros, que chegavam a
desembolsar até 120 000 reais por uma vaga no curso de medicina da instituição.
Um dos ardis utilizados consistia em “superfaturar” o número de moradores no
endereço residencial, pois o Fies leva em conta a renda familiar. “Muita gente
também não enviava o imposto de renda, declarando receber apenas um salário
mínimo”, disse a VEJA o delegado Cristiano Pádua, responsável pelo caso. “Uma
vez que não havia controles como o cruzamento de dados, as mentiras passavam
batido e os pedidos eram aprovados”, completa.

Engenheiro aposentado pela Companhia Energética de São Paulo, Fernando Costa


entrou para o ramo de educação em 1999, quando fundou o grupo educacional
Uniesp, que ficou conhecido pelas campanhas agressivas de recrutamento de
alunos. Convênios com igrejas, promoções de mensalidades a 50 reais e tablet de
brinde faziam parte dessa estratégia. Em vinte anos de atuação, o grupo passou a
ter mais de 100 universidades espalhadas pelo país. Com os negócios a todo o
vapor, Costa saiu comprando instituições de ensino pequenas e endividadas Brasil
afora. “Quanto mais aquisições fazia, a mais vagas do Fies ele tinha acesso”,
afirma o delegado Pádua.

Aos poucos, os problemas foram aparecendo. Muitos estudantes procuraram as


autoridades para relatar que haviam sido enganados pela promessa de
mensalidades baratas. Para ganharem o benefício, eles eram orientados a contrair
os empréstimos do Fies. As investigações movidas pelo Ministério Público Federal,
as centenas de queixas protocoladas no Procon e até uma condenação da Justiça
de São Paulo por propaganda enganosa em 2018 não travaram os planos de
expansão do empresário. Para a Polícia Federal, isso tem uma explicação: o bom
trânsito de Costa no mundo da política. Só no último mês, ele participou, junto com
outros empresários, de encontros com o presidente Jair Bolsonaro, o ministro das
Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o governador fluminense Wilson Witzel e o
prefeito paulistano Bruno Covas. No ranking do TSE, apareceu como o 54º maior
doador das eleições de 2018. Para a campanha do hoje governador João Doria
(PSDB), enviou 500 000 reais. Em março, foi considerado a personalidade do ano
de Mato Grosso do Sul em evento do Lide, grupo de líderes empresariais fundado
por Doria. Ele também bate um bolão fora do mundo da política, patrocinando
Flamengo, Corinthians e Atlético Mineiro.

REI DO C AMAR OT E – O filho Sthefano, q ue também acabou na c adei a: baladas em São Paulo e cruz eiros na Eur opa

REI DO CAMAROTE – O filho Sthefano, que também acabou na cadeia: baladas em São Paulo
e cruzeiros na Europa (./.)

Enquanto os alunos reclamavam da magreza da estrutura dos cursos, o patrimônio


de Costa foi engordando. Os investigadores apreenderam em endereços ligados a
ele e à instituição dois aviões, um helicóptero, uma lancha, três jet skis e mais de
trinta carros, incluindo modelos Jaguar, Mercedes e Land Rover. Um dos que mais
aproveitavam da vida de luxo era o filho de Costa, Sthefano. Ele é figura comum no
circuito Mônaco, Saint-Tropez, Mikonos e Saint Barth, no verão, e Aspen,
Courchevel e Saint Moritz, no inverno. Adorava alugar barcos enormes para singrar
pelo Mediterrâneo ao lado de amigos como a ex-modelo Ana Paula Junqueira. Em
São Paulo, era conhecido como um dos clientes mais assíduos de baladas “top”.
No estilo rei do camarote, promovia brindes entre os parças com champanhe que
pisca. Em 2018, quando se casou com a socialite Laura Ulrich, fechou o Hotel
Fasano de Angra dos Reis (sessenta suítes) e contratou a banda flamenca Gipsy
Kings para animar os convidados. Logo veio a ressaca: o divórcio ocorreu em
menos de um ano. Na operação da PF, Sthefano foi detido temporariamente.
Acusado de crimes como organização criminosa e estelionato, o pai amarga a
prisão preventiva, sem data de saída. Ao que tudo indica, a festa acabou.

Publicado em VEJA de 11 de setembro de 2019, edição nº 2651

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