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“A história seria talvez a ciência dos homens, ou melhor dos homens em seu tempo”
(BLOCH, 2001, p.7). A frase anterior remete a Marc Bloch, historiador que defende a
necessidade de se sitiar no tempo estudado para poder compreende-lo, considerando
fundamental, seguir tal alicerce investigatório independentemente do objeto analisado.
Assim sendo, entender a formação do pensamento platônico, é considerar tal filósofo
como filho de seu tempo, isto é, atentar-se á uma gama de fatores sociais, políticos,
culturais e religiosos dos quais estão submetidos todos os agentes históricos em sua
vivência.
Inserido no final desse período clássico, Platão nasce meses depois da morte
de Péricles, um dos principais líderes democráticos de Atenas e morre três anos antes da
conquista do mundo grego por Felipe da Macedônia. Consequentemente, Platão não só
vive a era de ouro de Atenas, mas também é conterrâneo da decadência dessa mesma era.
Por essa razão, Platão escreve sua obra voltando-se em grande medida a correntes
filosóficas de tempos anteriores, cuja visão de mundo defendida era mais abstrata do que
física. Como é o caso dos Pitagóricos, que viam as relações numéricas como o elemento
mais básico da realidade. Assim como os filósofos da escola eleática, que defendiam a
separação entre alma e o copo, cuja dualidade corresponderia respectivamente ao que é
real e ao que é apenas aparente. Por defenderem que o verdadeiro conhecimento só
poderia ser alcançado através do logos, situado para além da realidade física, os eleáticos
negam a existência do movimento, considerando-o como apenas uma ilusão empírica.
Em função disso, precedem Platão, inaugurando uma visão metafisica da realidade,
concebida como perfeita e imutável.
Todavia, deve-se considerar que o maior influenciador de Platão foi seu mestre,
Sócrates. Sobre este filósofo sabe-se muito pouco, visto que este nada escreveu, e as
fontes mais confiáveis que descrevem sua filosofia, são oriundas de seus discípulos,
dentre os quais Xenofonte e sobretudo Platão são os mais relevantes. Não obstante, apesar
da obscuridade quanto a sua figura, sabe-se que este personagem teve um papel
fundamental para a filosofia Ocidental, visto que a partir de Sócrates, o principal interesse
filosófico deixa de ser cosmológico para se tornar antropológico, inserindo o homem no
centro da discussão intelectual.
Esse método chamado por Sócrates de maiêutica, cujo significado é: “dar luz ao
conhecimento”, tem esse nome baseado na profissão da mãe do filósofo, que era parteira.
Ocorre que semelhante à sua mãe, Sócrates considerava função da filosofia, direcionar o
indivíduo ao conhecimento mais completo e perfeito. Cabendo ao filósofo, o papel de
orientador, auxiliando o indivíduo por meio de sua própria reflexão a dar à luz a suas
próprias ideias.
Por isso, a parte em que o indivíduo liberto se recorda de seus companheiros, cuja
condição estava privada do verdadeiro conhecimento, e decide então voltar para a caverna
e realizaar o caminho inverso ao qual havia feito anteriormente, pode-se interpretada
como uma clara referência ao que Platão convenientemente chamou de “dialética
descendente”(MARCONDEZ, 2002, p.67). O empenho em ajudar seus antigos
companheiros, pode ser interpretado como o papel do filósofo segundo a maiêutica
socrática, quer dizer, a função de dar luz ao conhecimento, auxiliando os demais a
também alcançarem a instância inteligível.
Chegado aos vinte anos, depois de uma visão conjunta dos maios variados
conhecimentos, tanto mentais quanto físicos, estes indivíduos passariam a focar nos
estudos que possuiriam mais aptidões. Chegado aos trinta anos, os estudantes seriam
selecionados a seguir uma carreira, os que mais se destacavam nas atividades físicas
seguiam a carreira militar, já aqueles que se destacavam no campo intelectual, seriam
submetidos a mais cinco anos estudos dialéticos, afim de averiguar se seriam capazes de
chegar a verdade e a contemplação do ser.
Aos trinta e cinco anos, donos de uma base realmente filosófica concisa, estes
indivíduos teriam de descer novamente para a caverna, onde passaram a treinar seus
conhecimentos entre os homens-comuns, desempenhando as mais variadas funções e
trabalhando para se sustentarem. Enfim, passados quinze anos desempenhando essas
funções, ao chegarem aos cinquenta anos, seriam selecionados aqueles que mais se
destacaram em todas as atividades, cabendo a estes a função de guias tanto do Estado,
dos cidadãos privados, das futuras gerações de governantes, e ainda de si mesmos,
vivendo em um constante processo de adaptação e aperfeiçoamento em direção a verdade.
Nesse sentido, são consideradas ciências dialéticas aquelas que elevam a alma do
devir ao ser, isto é, que exigem pelo abstracionismo, a contribuição do pensamento, não
se prendendo a concepções de ordem empírica. Alicerceadas com esses princípios, tem-
se a aritmética e a geometria, disciplinas que segundo a visão platônica, são responsáveis
por transmitir ao espirito: “um grande impulso para o alto, que o obriga a refletir sobre a
natureza dos números em si mesmos, sem jamais aceitar que se fale de números com
referências a coisas visíveis e palpáveis”. (PLATÃO, 2017, p.251)
Seguindo pelo tempo, a teoria platônica se alastra pela filosofia moderna por meio
dos filósofos racionalistas, cujo maior nome foi o francês René Descartes. Buscando
chegar à verdade acerca das coisas, Descartes colocou em dúvida a existência de tudo a
sua volta, chegando até mesmo a cogitar sua própria não existência. Após perceber que a
única certeza que lhe restava era a certeza da dúvida e ao observar que para duvidar era
necessário pensar, o filósofo elencou-a como a expressão mais abstrata do pensamento, e
este último como a única certeza de sua existência. É dessa reflexão que se origina a sua
máxima: “penso, logo existo”. Mais do que isso, Descartes inspirando-se nas ciências
exatas, procurou criar um método para se chegar ao verdadeiro conhecimento, e assim
como Platão, via as relações numéricas e geométricas como saberes puramente perfeitos
e imutáveis, isto é, cuja solução não variava de acordo com as percepções empíricas, mas
na exigência de uma prova concreta e exata.
Por fim, a razão se tornará o centro das discussões durante o século XVIII, conhecido
como também como “Século das Luzes” em função do movimento que transcorre ao
longo desse tempo, denominado de Iluminismo. Em uma época marcada por grandes
mudanças sociais, políticas, econômicas e cientificas; os intelectuais iluministas buscam
retomar os valores de origem greco-romana, com o intuito de quebrar as amarras com as
tradições do Antigo Regime e com as remanências da Idade Média, impulsionados pela
precoce ascensão de uma classe burguesa que clama por novos direitos de natureza social
e econômica.
No entanto, para superar uma visão que perdura ao longo dos milênios, necessita-
se de tempo, já que tal mudança só pode ser realizada gradualmente. Ademais, não basta
compreender a escola como um ambiente isolado, mas sim, como uma construção social,
da qual fazem parte inúmeros agentes: o Estado, a família, os alunos, os professores e
demais funcionários escolares. Sendo somente através da interação entre esses inúmeros
agentes que ocorre a formação das instituições de ensino. Logo, se o ambiente escolar se
forma a partir de diferentes indivíduos, com diversas ideias, opiniões, vontades e
vivências, são por sua vez, instituições que se constroem a partir de processos variados,
e que lhe configuram uma natureza única. Consequentemente, tratar de educação, não é
compreender a escola como um local de conhecimento perfeito, categórico e universal, é
reconhece-la como um ambiente cuja construção do conhecimento se forma de maneira
autônoma, assim como é autônoma, a natureza dos indivíduos que a constituem.
Referências
PLATÃO. A república. Tradução Ciro Mioranza, São Paulo, Lafonte, 2017.
BLOCH, Marc. Apologia da história, ou, O ofício de historiador/Marc Bloch;
prefácio, Jacques Le Goff; apresentação à edição brasileira, Lilia Moritz Schwarcz;
tradução, André Telles – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
MARCOMDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a
Wittgenstein. –7 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia.
Disponível em:
<http://raycydio.yolasite.com/resources/dicionario_de_filosofia_japiassu.pdf>. Acesso
em: 14 de setembro de 2019.
FERRARI, Márcio. Platão, o primeiro pedagogo. Por Nova Escola, 01 de outubro de
2008. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/1850/platao-o-primeiro-
pedagogo>. Acesso em: 14 de setembro de 2019.