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30/06/2019 A era do veganismo: o fim dos prazeres da carne | EL PAÍS Semanal | EL PAÍS Brasil

A era do veganismo: o fim dos prazeres


da carne
Silvia Hernando

Laura Luelmo, responsável pelo santuário de animais da fazenda Wings of Heart, em Madri, e o porco Baku. / JAMES
RAJOTTE

10 FEV 2019 - 22:31 CET

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Saúde, sustentabilidade e respeito pelos seres sencientes.


Existem três razões para reduzir ou abandonar o
consumo de produtos de origem animal. Cada vez mais
gente dá o passo, inclusive para o ativismo. E a indústria
segue seus rastros. Flexitarianos, vegetarianos e veganos
se contam aos milhões. Este é o retrato dos protagonistas
de uma revolução na Espanha (que também chega ao
Brasil), onde o consumo de carne diminui apesar do
aumento do número de fazendas industriais.
A recepção na casa de Rocío Cano e Pablo Jurado é muito calorosa.
Não apenas pela amabilidade do casal, mas pela alegria que
transmitem seus três cães, que agasalham os recém-chegados na
porta com carícias e golpes de focinho. Uma vez no chão, os três
gatos que convivem com eles, mais contidos, decidem começar seu
particular ritual de tomada de contato. Os seis animais, resgatados e
adotados, são os únicos que entram neste apartamento no centro de
Madri. Aqui não há lugar para outros animais, a menos que estejam
vivos e abanando o rabo. Rocío e Pablo se declaram veganos, assim
como suas filhas, Antía e Navia, de sete e quatro anos. Como cada vez
mais crianças, elas nunca provaram carne, ovos ou laticínios. “Existe
falta de informação e estigmatização”, diz Cano, que explica que
decidiram procurar uma pediatra veg-friendly para as filhas e agora
as levam à escola com suas próprias lancheiras. “Além disso, as
críticas costumam ser contraditórias: dizem que só comemos alface e
que comer vegano é caro. Mas não é mais caro nem mais complicado:
trata-se de praticar uma cozinha versátil, de fazer algo mais do que
um cozido com um pouco de grão de bico.”

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Rocío Cano, Pablo Jurado e as filhas, Antía e Navia, são veganos. Aqui eles comem no restaurante de cozinha italiana
Pizzi y Dixie, em Madri. / JAMES RAJOTTE

Apesar de ser uma corrente recente na Espanha, a tendência de


reduzir o consumo de produtos de origem animal – quando não
abandoná-lo – se mostra como uma realidade em alta. Pode-se notar
em lojas e restaurantes, na televisão e nas revistas, nas páginas do
Instagram coloridas com pratos à base de abacate, chia ou algum
outro produto equivocadamente chamado de “superalimento”. De
acordo com a consultoria Lantern, que entrevistou 2.000 pessoas por
telefone em 2017, 6,3% da população espanhola se declarou
“flexitariana”: três milhões de pessoas dariam preferência a uma
alimentação baseada em vegetais, mesmo sem renunciar aos
produtos de origem animal. Mais ao extremo, 0,2% se declararam
veganos, ou seja, evitam qualquer consumo que tenha origem ou
implique na exploração animal (não apenas carne e laticínios, mas
também roupas, cosméticos...); e 1,3% disseram ser vegetarianos
(consomem laticínios, ovos, mel). Somando todos os graus, 7,8% da
população com mais de 18 anos (mais de 3,6 milhões de pessoas) é
classificada na categoria dos veggies, os promotores de um mercado
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que movimentará 4,4 bilhões de euros (cerca de 18,5 bilhões de reais)


no mundo em 2020. Qual é o perfil desse grupo na Espanha?
Feminino (dois terços), urbano (51,2% vive em cidades com mais de
100.000 habitantes) e de todas as idades, especialmente de 20 a 35
anos.

Natalia participou da feira de alimentação vegetariana e vegana


VeggieWorld, realizada em outubro em L’Hospitalet de Llobregat,
Barcelona.

No Brasil, os dados – menos detalhados que os da Espanha – são do


Instituto Ibope, que realizou uma pesquisa em 102 municípios entre
os dias 12 e 16 de abril de 2018. Cerca de 30 milhões de pessoas, ou
14% da população, são adeptas, em maior ou menor grau, a uma
alimentação que exclui carne do cardápio. O crescimento se deu
principalmente nas regiões metropolitanas: em 2012%, 8% dos que
vivem nessas áreas eram adeptos ao vegetarianismo; esse índice
agora é de 16%, maior que a média nacional.

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Sabonetes frescos da marca inglesa Lush, que produz cosméticos vegetarianos e veganos. / JAMES RAJOTTE

A comunidade científica defende que uma dieta vegetariana ou


vegana, desde que equilibrada, é apropriada em todos os períodos da
vida, inclusive na gravidez, lactação, infância e adolescência, assim
como para os atletas. Isto é endossado pela maior entidade de
nutricionistas do mundo, a Academia de Nutrição e Dietética
Americana. Dentro do leque de possibilidades e dos estágios de
renúncia aos produtos de origem animal, existem três razões
fundamentais para dar o salto: saúde, meio ambiente e respeito pelos
seres sencientes. Segundo o relatório da Lantern, as proporções são
divididas em 17%, 21% e 57%. O veganismo, especialmente ligado à
ideologia da defesa dos animais, sustenta que sua essência não se

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reduz a uma dieta, mas representa um autêntico estilo de vida, uma


filosofia que abrange o âmbito social e político. Normalmente
inclinado à esquerda e em sintonia com os movimentos pela justiça
social, como o feminismo e o antibelicismo. Entre esses ativistas, há
aqueles que gostam tanto da chamada comida de plástico que não
hesitam em se qualificar como “gordoveganos”. “Conhecemos mais
de um que se alimenta assim, à base de frituras”, ri Cano. Para este
perfil, proliferam os alimentos sem ingredientes de origem animal,
mas são tão processados quanto outros que os contêm. Bolos, pratos
pré-cozidos ou sorvetes, além de substitutos da carne (de tofu à carne
produzida in vitro) e a oferta baseada nos vegetais de sempre: frutas,
verduras e hortaliças, cereais e sementes, legumes, cogumelos, frutas
secas, ervas, algas...

Ziza Fernandes é dona da fazenda Armonía, nas Alpujarras, onde


organiza retiros de ioga e oficinas de cozinha vegetariana. / JAMES
RAJOTTE

Saúde em primeiro lugar

Em 2015, a OMS provocou um grande alvoroço ao publicar um


relatório afirmando que o consumo de carne vermelha e processada
está ligado a um aumento do risco de câncer e de morte por doenças
cardíacas e diabetes. No final de 2017 os alarmes voltaram a soar: a
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Agência Europeia de Medicamentos colocou a Espanha no primeiro


lugar da lista de países da UE onde mais se vendem antibióticos para
o gado (em 2018 caiu para a segunda posição). Quanto maior o uso
desses medicamentos, mais aumentam as probabilidades de
desenvolver bactérias capazes de resistir a eles. “Há muitos mitos
sobre a carne”, diz Javier López, presidente da associação
interprofissional Provacuno. “Um animal é tratado com antibióticos
somente quando está doente. E, nos controles no matadouro, se um
produtor é pego com um resíduo de antibiótico, tem penas de
descredenciamento, sanções financeiras e prisão”, afirma. “De
qualquer forma, o que promovemos é a variedade na alimentação,
nunca ir aos extremos”.

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Jordi Barri e a mãe, Teresa Carles, no restaurante flexitariano Flax & Kale, em Barcelona, uma das seis casas que
administram (o resto são vegetarianas). / JAMES RAJOTTE

Ativistas da Puerta del Sol, em Madri, realizam uma ação de “empacotamento”, na qual fingem estar ensanguentados
e embalados em plástico. / JAMES RAJOTTE

O mantra da moderação é quase sempre irrefutável. Diferentes


nutricionistas consultados o apoiam, embora alguns, como David
Mariscal, da Clínica Mariscal, prefiram recomendar uma dieta
onívora. “As proteínas de origem animal são mais bem digeridas e
fornecem aminoácidos”, aponta. Salvador Zamora, professor emérito
da Universidade de Murcia, acrescenta: “É mais fácil manter uma
dieta equilibrada com um pouco de carne por semana, duas ou três
porções, embora seja verdade que agora se come muito mais carne
do que antes, e ingerir proteína demais também é ruim”. De acordo
com a Academia de Nutrição e Dietética, no entanto, as opções
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vegetarianas e veganas podem até mesmo “proporcionar benefícios à


saúde na prevenção e tratamento de certas doenças”, como diabetes
tipo 2. O sucesso dessas dietas é baseado (aqui está o aspecto
fundamental) no planejamento adequado, desenhado sobre uma
pirâmide constituída por cereais, verduras e frutas, alimentos ricos
em cálcio, legumes e gorduras saudáveis. Ainda assim, o veganismo
implica numa carência: a vitamina de origem bacteriana B12,
encontrada na maioria dos alimentos de origem animal, mas que é
facilmente acessível por meio de suplementos como pós solúveis,
comprimidos, injetáveis ou alimentos enriquecidos. “Junto com a B9,
ou ácido fólico [presente em vegetais], a B12 é uma das duas
vitaminas necessárias para a regeneração celular, e a sua carência
pode produzir anemia megaloblástica, uma afecção grave”, explica
Zamora. Em todo caso, como resume Aitor Sánchez, dietista-
nutricionista do Centro Aleris, “seguir uma alimentação vegana é
perfeitamente compatível com uma dieta ideal: apenas temos de
observar que incorporamos todos os nutrientes necessários ao ser
humano a partir de alimentos de origem vegetal”.

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Casaco de “pele sem pelo” de Stella McCartney. Abaixo, prato de


cenoura na brasa do chef Xavier Pellicer. / JAMES RAJOTTE

Mais porcos do que pessoas

Faz anos que em vários municípios aragoneses os moradores não


podem abrir as janelas tanto tempo quanto gostariam. O vento
carrega um odor repugnante: por isso instalaram aparelhos de ar-
condicionado e deixaram de pendurar roupas do lado de fora. “Dá
náuseas e dores de cabeça”, descreve Rosa Díez Tagarro, moradora
de Loporzano, a 10 quilômetros de Huesca. O ar pestilencial que se
respira é explicada por um fenômeno da natureza que tem pouco de
natural: vem das fazendas industriais que se multiplicaram nos
últimos anos. Não só aqui, mas em boa parte do interior da península.
Apenas na província de Huesca há 3,8 milhões de suínos, mais do
que na Andaluzia (2,6 milhões). No período de cinco anos entre 2012-
2017, o plantel suíno em Aragão cresceu a um ritmo de 6.000
cabeças por semana.

Mesmo sem números oficiais, dada a opacidade da Administração


local, somente Loporzano tem duas fazendas de suínos, uma com
40.000 galinhas poedeiras e outra com 50.000 frangos de corte à
qual foi concedida uma permissão de ampliação para 70.000. “Há

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dois projetos paralisados por medidas cautelares dos quais ficamos


sabendo por meio do Diário Oficial de Aragão, porque essas fazendas
surgem do nada, nunca se avisa. E duas outras licenças também
foram concedidas recentemente, embora as fazendas não tenham
sido construídas”, diz Díez Tagarro, porta-voz da Coordenadoria
Estatal Stop Pecuária Industrial, que fornece os dados. Em 2015, os
moradores de Loporzano decidiram se associar à plataforma
Loporzano SEM Pecuária Industrial, o que levou ao nascimento da
Coordenadoria em 2017, à qual foram aderindo movimentos das
comunidades autônomas mais afetadas: Aragão, as duas Castilhas,
Andaluzia, Murcia Valência, Galícia e Catalunha. Uma parte da
população rural se pôs em pé de guerra, e em alguns casos conseguiu
deter alguns desses projetos de macrogranjas, das quais denunciam
em paralelo a destruição de emprego que promovem: devido à
automatização, quase não necessitam de trabalhadores.

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Juanjo Martínez, de 47 anos, é ativista vegano. Aqui ele posa com o símbolo do movimento de libertação animal 269.
/ JAMES RAJOTTE

Aproveitando a quietude da Espanha vazia, as macrogranjas se


espalharam embora o consumo de carne esteja em queda (em 2017
foram consumidos 47,6 quilos de carne per capita, 5% a menos que
no ano anterior). “Mas está crescendo em lugares como a China, por
isso se exporta muito”, esclarece Luis Ferreirím, porta-voz do
Greenpeace Espanha.

Os efeitos da expansão da pecuária intensiva e da carne barata vão


além dos maus odores. A FAO estima que a pecuária, especialmente a
bovina, é responsável por 14,5% do total de gases de efeito estufa,

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número que inclui as emissões diretas (5%) e indiretas (como o


transporte). Daí que o Greenpeace defenda a redução do consumo de
carne e de produtos lácteos em 50% até 2050. “Seu consumo
excessivo e sua produção industrial são uma das principais causas da
mudança climática, da perda de biodiversidade, do desmatamento,
da poluição e da escassez de água, das principais mudanças no uso
dos solos e da expansão da agricultura, do maltrato animal e de um
aumento dos riscos para a nossa saúde”, diz a ONG em seu relatório
de 2018, A Insustentável Pegada da Carne na Espanha. “É impossível
pensar em um mundo totalmente vegano ou vegetariano”, admite
Ferreirím. “Mas se reduzirmos o consumo de produtos provenientes
da pecuária mais destrutiva, obteríamos dois terços dos benefícios
totais que se dariam se todos fôssemos veganos ou vegetarianos.”

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Sapato de couro vegano de Stella McCartney. Abaixo, o chef


Xavier Pellicer em seu restaurante em Barcelona. / JAMES RAJOTTE

O maior estudo realizado sobre as consequências da pecuária


(Reduzir os Impactos Ambientais dos Alimentos por meio dos
Produtores e Consumidores), publicado em maio na revista Science,
revelou um dado alarmante: 83% das terras cultiváveis do planeta se
destinam a alimentar os animais. Quando são eles que alimentam as
pessoas, proporcionam apenas 18% das necessidades calóricas e 37%
das proteínas. Além disso, com 570 milhões de fazendas, a perda de
espécies é acelerada: 86% dos mamíferos são hoje animais de
fazenda ou seres humanos. Sem mencionar o uso de recursos: dois
terços da água doce são usados para a irrigação e, de acordo com a
FAO, são necessários 15.000 litros para produzir um quilo de carne
bovina. Outro relatório publicado em janeiro na revista The Lancet
indica que a dieta ideal para a saúde e a sustentabilidade não deve
incluir mais de 30 quilocalorias por dia de carne que não seja de ave
para uma ingesta total de 2.500 quilocalorias.

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Eduardo Terrer, responsável pelo santuário de animais de


fazenda Wings of Heart, em Madri. / JAMES RAJOTTE

Há alguns meses, a notícia viralizou: na Espanha, há mais porcos do


que pessoas. Não é um jogo de palavras, nem de uma verdade sem
nuances. Fontes do Ministério da Agricultura esclarecem que o
número se refere aos animais abatidos em 2017: 49 milhões frente a
46,6 milhões de habitantes. O censo porcino, acrescentam, ficou
naquele ano em 30 milhões de cabeças. Destes, 7,8 milhões foram
criadas na Catalunha (onde há mais porcos do que pessoas, já que os
seres humanos totalizam 7,4 milhões). Depois de anos de exploração
do porco, 41% dos aquíferos da região estão contaminados com
chorume (urina, esterco e outros resíduos), com graves efeitos para o
abastecimento de água potável. Em Aragão, superam esses níveis: são
7 porcos por habitante (são 7,8 milhões e 1,3 milhão de pessoas).
“Além disso, temos frangos, galinhas, bezerros, vacas, perus...”,
acrescenta Díez Tagarro, que mesmo vivendo em Loporzano, se
atreve a deixar a porta aberta: “Diante disso, o consumidor tem um
superpoder”.

Atrás do rastro do dinheiro

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Carmen Ortuño, ativista vegana, faz o símbolo do movimento


Anonymous for the Voiceless. Abaixo, a ilustradora Mercedes
DeBellard, que incluiu o símbolo do veganismo, um V com uma
folha, nos cartazes das Festas de São Isidro de 2018, em Madri.
/ JAMES RAJOTTE

Fazendo uso do seu superolhar, o consumidor poderá ver que o


panorama das gôndolas dos supermercados está se transformando.
Um dia, a rede Mercadona começa a vender bebidas vegetais e
preparações de alto teor proteico, como o seitan. Ao mesmo tempo,
na rede Aldi podem ser vistas guloseimas e maionese sem
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ingredientes de origem animal. Em seguida, no Carrefour, marcas


como Garden Gourmet, Nestlé ou Campofrío exibem seus fatiados
vegetarianos.

Com as decisões que toma, o consumidor adquire efetivamente a


capacidade de promover a mudança. Fora do supermercado, os
veggies também foram modelando a paisagem. Agora ir a uma
hamburgueria não implica em comer carne. E é possível organizar
um aniversário ou um casamento livre de produtos de origem animal.
Com aplicativos como o Happy Cow, os estabelecimentos aptos estão
a um clique do mouse. Cada vez mais: de acordo com a Lantern, na
Espanha eles passaram de 353 em 2011 para 703 em 2016. Alguns
tão exclusivos como o de Xavier Pellicer, em Barcelona, Melhor
Restaurante de Verduras do Mundo em 2018. Outros tão cool quanto
o flexitariano Flax & Kale, também na capital catalã. As prateleiras das
livrarias físicas estão cheias de livros de receitas, para não mencionar
as virtuais. Títulos como Comer Animais, de Jonathan Safran Foer, e
documentários como Dominion, que descrevem os horrores da
indústria da carne, tornaram-se revulsivos. Proliferam os retiros que
combinam os benefícios da ioga com os da alimentação à base de
plantas. Estrelas mundiais como Natalie Portman, Miley Cyrus ou
Lewis Hamilton promovem o veganismo. Na Espanha, Clara Lago e
Dani Rovira o fazem. Cosméticos, roupas, calçados são vendidos.
Também de luxo, como os de Stella McCartney. Organizam-se feiras
como a VeggieWorld, que aconteceu em outubro em L’Hospitalet de
Llobregat (Barcelona). Atraiu cerca de 7.000 visitantes e dezenas de
expositores que promoveram seus queijos de caju, salsichões de
abóbora e bifes sem animais.

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Prato à base de repolho, de Xavier Pellicer. / JAMES RAJOTTE

Passar à ação

São oito horas da manhã e 25 pessoas tomam o caminho para o


matadouro de Getafe (Madri). Há garotas e rapazes, alguns com
estética alternativa. Também trabalhadores de trinta e quarenta e
tantos anos. A mais velha é uma funcionária pública de 58 anos. O
heterogêneo grupo faz parte do The Save Movement, uma iniciativa
dedicada a visitar matadouros. Quando os caminhões chegam, eles
pedem aos motoristas que parem antes de entrar para se despedirem
dos animais e dar-lhes água. Querem mostrar compaixão e, de
passagem, divulgar as imagens que gravam. O olhar dos porcos
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comove. “Você sabe que eles ficam sem comer e pouco bebem para
que estejam de estômago vazio na hora do abate?”, comenta uma
jovem, enquanto outra revela como foi “duro” se decidir a colaborar
nessas “vigílias”.

Dias depois, alguns participantes dessa sombria excursão se reúnem


em uma praça em Madri. Usam roupas pretas e cobrem seus rostos
com máscaras, porque agora representam outro movimento,
Anonymous for the Voiceless. Seguram laptops que projetam cenas
de sofrimento animal. “A ideia é dizer: ‘Não olhe para o outro lado’”,
diz Ricardo. Muitos ativistas pulam de um grupo para outro,
dependendo das atividades. Para o chalk challenge (desafio do giz)
eles se reúnem sob o guarda-chuva do movimento 269, um número
que alguns marcaram a fogo no braço e outros levam pendurado na
orelha com uma etiqueta de gado. Desenham ovelhas nas calçadas e
escrevem slogans do tipo “não coma seus amigos”. Denunciam o
“especismo”, a discriminação de certas espécies de animais.
Perguntam: “Por que você ama seu cachorro e come um bezerro?”.

A ideologia da defesa dos animais remonta aos anos setenta.


Organizações como o PACMA trabalham para levá-la ao Parlamento.
Outras, como Igualdad Animal, denunciam o maltrato e a exploração
com um enfoque abolicionista. Sustentam que todos os seres
sencientes têm direitos. Paralelamente, ações de rua como visitar
matadouros são uma iniciativa nova e cada vez mais ativa. Um boom
que coincide com o nascimento dos santuários, lares para animais de
fazendas industriais resgatados, dos quais surgiram cerca de vinte em
poucos anos.

Chegamos ao fim

O alerta lançado pela ONU em outubro de 2018 é o mais inquietante:


faltam 12 anos para limitar os efeitos da mudança climática. Até
2030, as consequências mais devastadoras do aquecimento global –
furacões, inundações, migrações em massa, fome– serão sentidas
com força total. A solução, segundo os especialistas, é tomar medidas
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“sem precedentes” para limitar o aumento de temperatura a 1,5ºC.


Uma delas é reduzir o consumo de carne.

A boa notícia para os devotos do presunto é que a busca de


alternativas para alimentar os 10 bilhões de seres humanos que
povoarão a Terra em 2050 já está em andamento. A carne falsa
produzida com plantas tem textura e sabor cada vez mais real. E, a
partir de células-tronco de animais, se conseguiu “cultivar” em
laboratório a chamada “carne limpa”. Talvez, no futuro, os veganos
não terão de se abster dos prazeres da carne. E por carne, embora
seja esta a primeira menção, também nos referimos aos peixes: uma
indústria que, devido à vastidão de suas cifras e à profundidade de
sua pegada, mereceria um capítulo à parte.

Adere a

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