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Copyright Chandramukha Swami | 2011

ISBN: 978-85-908787-0-4

Todos os direitos são reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998.


Nenhuma parte desse livro, sem autorização prévia por escrito pelo autor,
poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados:
eletrônicos, mecânicos, fotográficos, de gravação ou quaisquer outros.

TERCEIRA EDIÇÃO
Abril de 2011

PROJETO GRÁFICO
Maha-design

REVISÃO
Cindy Chao

IMPRESSÃO
Parque Gráfico da Editora Santuário

CAPA
Flávio Pará

Nota: Em todo o texto, o autor se baseou nos ensinamentos de Swami


Prabhupada, conforme apresentados primorosamente em sua maravilhosa
obra, O Bhagavad-gita Como Ele é, lançado em mais de cinquenta idiomas
pela Bhaktivedanta Book Trust e com mais de catorze milhões de exemplares
vendidos. Muito zelo e técnica forem empregados na edição desta obra; no
entanto, podem ocorrer erros de digitação, impressão ou dúvida filosófica.
Em quaisquer das hipóteses, solicitamos a comunicação com o próprio autor:

cmsw@uol.com.br | www.chand.com.br

EDITORA

reli hare
Ao meu querido mestre espiritual instrutor,
A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupäda,
e ao meu querido mestre espiritual iniciador,
Çréla Hådayänanda Däsa Gosvämé,
sem os quais, certamente, eu não teria acesso
ao verdadeiro espírito da Bhagavad-gétä
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO, 7

A BHAGAVAD-GÉTÄ, 11
O desejo de controlar, 19
A posição transcendental do Senhor, 23
Uma jornada de autoconhecimento, 27

VERDADE 1
JÉVA, O SER VIVO, 31
Sob a influência da ilusão, 34
A ajuda do mestre espiritual, 37
A verdadeira natureza do eu, 39

VERDADE 2
PRAKÅTI, A NATUREZA, 43
Percebendo a presença do Absoluto, 47
Os três modos da natureza, 51
O conhecimento verdadeiro, 57
VERDADE 3
KARMA, AS ATIVIDADES, 61
A pessoa sábia, 65
As complexidades do karma, 67
O yoga da devoção, 69
A importância do sacrifício, 72

VERDADE 4
KÄLA, O TEMPO, 79
As divisões das eras, 82
A morada transcendental suprema, 84

VERDADE 5
ÉÇVARA, O CONTROLADOR, 89
Os três aspectos do Absoluto, 92
O aparecimento divino do Senhor, 94

conclusão
LIVRANDO-SE DO CATIVEIRO MATERIAL, 103
APRESENTAÇÃO

A través das páginas deste pequeno livro,


gostaríamos de convidá-lo a participar de uma
alegre jornada filosófica. O nosso sublime guia será as
doces palavras do Senhor Kåñëa, que são originalmente
encontradas na Bhagavad-gétä, o livro que de forma
resumida traz a essência de todo o conhecimento
contido os Vedas. A meta desta jornada auspiciosa será o
autoconhecimento material e espiritual mas, para que
tenhamos êxito em alcançá-la, temos de aprender o
significado de cinco palavrinhas em sânscrito: jéva,
prakåti, karma, käla e éçvara.
A primeira delas, jéva, se refere ao nosso
verdadeiro eu – a alma espiritual – uma diminuta
centelha eterna de Deus, diferente do corpo material,
que é constituído de prakåti, a energia material de
natureza inferior. Na realidade, a existência deste
mundo se deve unicamente à combinação da jéva com a
prakåti; ou seja, a energia espiritual superior e a energia
material inferior. Ao desejar conhecer e explorar a

7
prakåti, a jéva desce a este mundo e passa a executar
atividades materiais, envolvendo-se nas estritas leis de
ação e reação do karma. As atividades executadas pela
jéva podem ser de três categorias: piedosas, impiedosas
e mescladas, e suas combinações são infinitas. De
qualquer modo, estando no mundo material (o mundo
da prakåti), a jéva sempre estará sob a influência do fator
käla, o tempo eterno. Quer nasça em planetas celestiais
ou infernais, quer obtenha um nascimento numa
família aristocrática ou degradada, quer se torne rica ou
pobre, famosa ou infame, de qualquer maneira, käla irá
se impor e a jéva terá que permanecer presa à roda
interminável de nascimento, velhice, doença e morte.
Para livrar-se deste ciclo indesejável, a jéva terá que
aprender a executar atividades que não mais a prendam
à lei do karma. Esta liberação se torna uma
as cinco verdades essenciais

conseqüência natural, caso a jéva reconheça o Supremo


éçvara, o controlador dos quatro itens anteriores, e passe
a dedicar a sua vida não mais à satisfação do seu ego-
falso material, mas à Sua satisfação.
Desejando-lhe uma jornada agradável e
esperando que este caminhar lhe traga grandes

8
realizações pessoais, termino aqui oferecendo minhas
sinceras reverências a Sua Divina Graça A. C.
Bhaktivedanta Swami Prabhupäda, o renomado autor do
“Bhagavad-gétä Como Ele É” e meu eterno çikñä-guru,
que, na introdução de sua maravilhosa obra, fez uma
lúcida explanação sobre as cinco verdades essenciais
contidas no conteúdo completo da obra e nos deu uma
excelente visão do assunto completo da Gétä.

Chandramukha Swami
Ashram Vrajabhumi,
Teresópolis, Rio de Janeiro,
1 de Novembro de 2004

apresentação

9
10
as cinco verdades essenciais
f A BHAGAVAD-GÉTÄ f
Logo que assume a posição de mestre espiritual de
Arjuna, o Senhor Kåñëa vai direto ao assunto e
detecta a causa original de todo o seu sofrimento:
o esquecimento da sua natureza espiritual e a
identificação excessiva com seu ego material, que,
combinados, haviam criado grande confusão na
mente do guerreiro.
12
as cinco verdades essenciais
O texto da Bhagavad-gétä é originalmente
encontrado no épico indiano Mahäbhärata e
narra o famoso diálogo ocorrido há cinco mil anos entre
Kåñëa e Arjuna, minutos antes de uma batalha
devastadora. Dhåtaräñöra era o irmão mais velho de
Päëòu e, como havia nascido cego, não pôde herdar o
trono do seu falecido pai. Desse modo, o virtuoso Päëòu
tornou-se o imperador do mundo, mas não por muito
tempo, pois, pelos desígnios misteriosos do destino,
teve uma morte prematura, quando seus cinco filhos,
que passaram a ser conhecidos como Päëòavas, ainda
não tinham idade suficiente para herdar seu trono. Por
isso, enquanto os Päëòavas esperavam o momento ideal
a bhagavad-gétä

para assumir o reinado, eles tiveram que crescer sob os


cuidados do tio Dhåtaräñöra, que temporariamente
assumiu o comando do império.
13
À medida que cresciam, os Päëòavas se
tornavam cada vez mais amados por todos, uma vez que
suas naturezas divinas e qualidades reais os
acompanhavam. Infelizmente, seus primos, os filhos de
Dhåtaräñöra, os quais eram conhecidos como Kurus,
passaram a nutrir grande inveja por eles – sobretudo
Duryodhana, o mais velho dos Kurus, reconhecido
como a desavença personificada. Como o invejoso
Duryodhana conseguiria suportar aceitar a idéia de vê-
los assumir em breve o trono então ocupado por seu pai?
Contrariando as leis divinas (dharma), e sob a influência
da luxúria, cobiça e ira, os Kurus arquitetaram diversos
planos diabólicos na tentativa de matá-los, pois
somente assim seus bondosos primos seriam
impedidos de ascenderem ao trono. Mas, como eram
puros de coração, os Päëòavas estavam sempre sob a
as cinco verdades essenciais

proteção divina. De qualquer modo, essa situação


insustentável deu lugar a uma grande batalha entre os
primos. Assim, todos os guerreiros do mundo tiveram
que se dividir em dois grandes grupos. Enquanto um
grupo apoiou o exército dos divinos Päëòavas, que era
comandado pelo grande devoto-guerreiro Arjuna; o

14
outro se uniu aos cobiçosos filhos do cego Dhåtaräñöra,
comandados pelo malvado Duryodhana. Nesse
momento o Senhor Kåñëa bondosamente estava
vivendo na Terra. Como nutria uma forte amizade
espiritual com o poderoso guerreiro Arjuna, Ele decide
guiar sua carruagem na luta contra o mal para, assim,
cumprir Sua promessa de dar proteção às pessoas de
natureza piedosa. Na verdade, todo esse drama foi
criado pela Providência para que Arjuna sentisse grande
dificuldade de controlar sua mente e, sentindo-se
impossibilitado de cumprir com seu dever de guerreiro,
manifestasse o desejo de abandonar o campo de
batalha. Em outras palavras, tal cenário se mostrou um
excelente pretexto para que Kåñëa, como condutor da
carruagem de Arjuna, aproveitasse sua fraqueza para
iluminá-lo com a essência do conhecimento
transcendental. Assim, para fortalecê-lo com a
determinação necessária para superar sua impotência,
o Senhor Kåñëa entoou Sua doce canção, a Bhagavad-
gétä, a qual foi registrada posteriormente pelo grande
a bhagavad-gétä

sábio Vyäsadeva para servir como um guia perfeito de


autorrealização espiritual para as futuras gerações.

15
Quanto os búzios de ambos os exércitos foram
soprados, indicando o início do combate, Arjuna se
prepara para disparar suas flechas. Mas, antes disso, ele
pede para seu cocheiro divino, o Senhor Kåñëa, colocar
sua carruagem na frente de ambos os exércitos, pois
desejava ver pela última vez com quem ele deveria se
confrontar no campo de batalha. Satisfazendo Seu
amigo, Kåñëa assim o fez, dizendo, “Simplesmente
observa, Arjuna, todos os que vieram combater contigo
e com teus irmãos, desejosos de satisfazer os filhos de
Dhåtaräñöra!”. Ao ver que, no meio dos exércitos
estavam seus mestres, tios maternos, irmãos, filhos,
netos, amigos e muitas classes de benquerentes,
Arjuna, ficou transtornado e disse (Gétä 1.28 - 35):

Meu querido Kåñëa, vendo diante de mim meus


amigos e parentes com esse espírito belicoso,
as cinco verdades essenciais

sinto os membros do meu corpo tremer e minha


boca secar. Todo o meu corpo está tremendo,
meus pêlos estão arrepiados, meu arco Gäëòéva
está escorregando da minha mão e minha pele
está ardendo. Já não sou capaz de continuar aqui.
Estou esquecendo-me de mim mesmo e minha
mente está girando. Parece que tudo traz

16
infortúnio, ó Kåñëa. Não consigo ver qual o bem
que decorreria da morte de meus próprios
parentes nesta batalha, nem posso eu desejar
alguma vitória, reino ou felicidade subsequentes.
Ó Govinda, que nos adiantam um reino,
felicidade ou até mesmo a própria vida quando
todos aqueles em razão de quem somos
impelidos a desejar tudo isto estão agora
enfileirados neste campo de batalha? Ó, quando
mestres, pais, filhos, avós, tios maternos, sogros,
netos, cunhados e outros parentes estão prontos
a abandonar suas vidas e propriedades e
colocam-se diante de mim, por que deveria eu
querer matá-los, mesmo que, por sua parte, eles
sejam capazes de matar-me? Não estou
preparado para lutar com eles, nem mesmo em
troca dos três mundos, muito menos desta Terra!

Tendo se expressado dessa maneira, Arjuna


abandona seu arco e flechas, decidido a não lutar.
Entretanto, uma vez que estava na presença direta de
Kåñëa, a Pessoa Suprema, sua lamentação acerca de seus
parentes era bastante insensata e, portanto, recebeu a
a bhagavad-gétä

devida censura pelo Senhor:

17
Meu querido Arjuna, como foi que estas
impurezas desenvolveram-se em ti? Elas não
condizem com um homem que conhece o valor
da vida. Elas não conduzem aos planetas
superiores, mas à infâmia. Portanto, não cedas a
esta impotência degradante. Isto não te fica bem.
Abandona esta mesquinha fraqueza de coração e
levanta-te, ó castigador dos inimigos.

Sendo severamente repreendido pelo Senhor


Kåñëa, Arjuna admite sua confusão, mas sentindo-se
incapaz de sozinho superar suas dificuldades, pede-Lhe
auxílio posicionando-se como um discípulo obediente.
Nesse importante momento, o Senhor Kåñëa inicia Suas
instruções não somente a Arjuna, mas a todos aqueles
que, ao interagirem com o mundo material, acabam se
deparando com as inevitáveis perplexidades materiais.
Logo que assume a posição de mestre espiritual de
as cinco verdades essenciais

Arjuna, o Senhor Kåñëa vai direto ao assunto e detecta a


causa original de todo o sofrimento do guerreiro: o
esquecimento da sua natureza espiritual e a
identificação excessiva com seu ego material, que,
combinados, haviam criado grande confusão na mente

18
do guerreiro. Na realidade, não apenas Arjuna, mas
praticamente toda alma corporificada está sob o jugo da
energia ilusória material (mayä), pois ignora sua
verdadeira natureza eterna e espiritual – diferente do
corpo material temporário. Assim mayä induz a todos a
desenvolverem um falso sentimento de independência,
sentimento este que os impele a agir de modo a acarretar
diferentes espécies de sofrimentos e ansiedades
materiais.

O DESEJO DE CONTROLAR

Como veremos nos ensinamentos posteriores, a


Gétä nos revela que alma espiritual é uma infinitesimal
parte integrante de Deus, assim como uma partícula de
ouro de uma barra de ouro infinita ou uma gota d'água
do oceano ilimitado. É evidente que, embora possua
individualmente a mesma qualidade de uma grande
barra de ouro, uma minúscula partícula de ouro é
o desejo de controlar

quantitativamente diferente, assim como uma simples


gota d'água é quantitativamente diferente do
imensurável oceano. Analogamente, os seres vivos são

19
partes integrantes do Supremo Controlador e possuem,
em quantidade infinitesimal, todas as qualidades
encontradas Nele. Isto significa que, uma vez que a
qualidade de controlar existe no Supremo, todo ser vivo
é também um controlador diminuto e possui a
tendência de controlar a natureza material. Por
exemplo, ao ver sua mãe cozinhar, a criança tem a
tendência de imitá-la. No entanto, ela nem sequer
consegue alcançar o fogão – isso para não falar da sua
incapacidade de lidar apropriadamente com o fogo.
Então, para satisfazer a tendência de seu filho, a mãe lhe
presenteia com um pequenino fogão de brinquedo, o
que a mantém ocupada em imitar suas atividades.
Similarmente, esquecendo-se de sua posição
insignificante, o ser vivo deseja imitar as atividades do
Controlador Absoluto e, desse modo, deseja também
as cinco verdades essenciais

ocupar a posição de controlador. Por esse motivo, o


Supremo cria este mundo material, onde encaminha os
seres vivos que desejam imitar Sua característica de
Controlador Supremo. Assim, sob as garras de mayä, a
alma espiritual assume uma identidade material
temporária chamada de ego-falso. Na realidade, esta

20
identidade falsa é obtida pelo ser vivo para que ele se
sinta um importante controlador e, em sua ilusão,
consiga satisfazer o seu desejo infantil. Em outras
palavras, este mundo material não passa de um
brinquedo criado pelo Senhor, onde, através de
diferentes brincadeiras (diferentes vidas), a alma
corporificada tem a oportunidade de se sentir um
poderoso controlador e de “satisfazer” sua aspiração de
tornar-se Deus. Por exemplo, numa vida de cientista, a
alma corporificada desenvolve grande conhecimento,
conseguindo explorar e controlar diferentes aspectos da
energia material. Como um político bem-sucedido, ele
assume uma posição de grande influência e poder,
conseguindo controlar diferentes pessoas e situações.
Como um grande empresário, a alma corporificada
acumula grande soma de riquezas e é capaz de controlar
o mercado econômico. Como um artista habilidoso, ele
obtém grande fama e atrai a atenção das grandes massas
de pessoas, etc. Não só agora, mas em todas as épocas,
o desejo de controlar

vemos que as almas corporificadas estão sempre


tentando exercer controle – tanto das coisas
insignificantes quanto do espaço infinito com seus

21
inumeráveis planetas. Isso, porque o ser vivo possui, de
forma diminuta, esta mesma tendência. Entretanto, é
preciso saber que, apesar de nossa tendência de
assenhorearmo-nos da natureza material, nunca nos
tornaremos o Controlador Supremo. Ou seja, o
Controlador Absoluto é o Senhor Supremo. Ele é o
Controlador não só da natureza material, mas também
de todos os seres vivos e de tudo o que é manifesto e não-
m a n i f e s to. N i n g u é m o u n a d a p o d e a t u a r
independentemente, visto que tudo acontece sob a
direção direta ou indireta do Senhor. Certamente, por
trás dos diferentes fenômenos maravilhosos que
ocorrem na natureza cósmica, há o Controlador
Supremo. Uma criança tola, por exemplo, pode
acreditar que um veículo é capaz de se locomover sem a
ajuda de um animal ou de um motor. Mas, um homem
as cinco verdades essenciais

adulto sabe da existência da engenharia mecânica de


um automóvel e compreende que por trás da máquina
há um homem, um motorista. De modo semelhante, a
Gétä explica que o Senhor é o motorista Supremo e é sob
Sua direção que tudo funciona.

22
A POSIÇÃO TRANSCENDENTAL DO SENHOR

A natureza material é também considerada uma


energia do Senhor – porém, de qualidade inferior,
enquanto o ser vivo é tido como uma energia de
qualidade superior. De qualquer modo, ambas as
energias estão sob o total controle do Senhor Supremo.
A natureza material é constituída de três qualidades:
bondade, paixão e ignorância e, sob a influência destas
três qualidades, a alma corporificada executa um sem
fim de atividades, piedosas ou impiedosas. Além disso,
existe o tempo eterno que, combinado com os três
modos da natureza, impulsiona-a a executar suas
atividades tecnicamente conhecidas como karma. A
execução de tais atividades materiais é comparada ao
semear de um campo e, como existem desde o início do
a posição transcendental do senhor

envolvimento da alma corporificada com este mundo,


são praticamente ilimitadas. É devido unicamente à
frutificação da semente do karma que uma pessoa se
depara com os sofrimentos ou desfrutes, que nada mais
são do que os frutos de suas atividades kármicas
passadas.

23
É sob o controle do tempo que esta
manifestação material pode acontecer. Depois de
permanecer por um período específico, ela entra
novamente no estado imanifesto. No entanto, este ciclo
ocorre eternamente, pois a natureza material também é
eterna. Sendo assim, para satisfazer os diferentes
desejos do ser vivo, ela manifesta diferentes formas
temporárias e ilusórias. Na Gétä aprendemos que esta
natureza material é a energia separada do Senhor,
enquanto os seres vivos são Sua energia superior,
eternamente relacionada a Ele. Na realidade, o Senhor,
o ser vivo, a natureza material e o tempo estão todos
inter-relacionados – e são eternos. Somente as
atividades materiais (karma) são temporárias. Isto
significa que, mesmo que os efeitos do karma sejam bem
antigos, podemos nos livrar deles, caso aceitemos o
as cinco verdades essenciais

conhecimento apresentado pelo Senhor na Bhagavad-


gétä e passemos a executar atividades espirituais com
consciência de Deus.
Em Sua posição transcendental, o Senhor
Supremo é a consciência suprema e, como partes
integrantes do Senhor, os seres vivos também são

24
conscientes, mas de maneira parcial. Embora tanto a
natureza material quanto o ser vivo sejam energia do
Senhor, somente o ser vivo é consciente. Porque não
possui consciência própria, a energia material é
considerada inferior. Embora o ser vivo seja uma energia
superior do Senhor, “à Sua imagem e semelhança”, ainda
assim ele é consciência infinitesimal, enquanto o
Senhor é consciência infinita. Isso mostra que o
argumento de que o ser vivo pode se tornar Deus
tornando-se supremamente consciente é falso, sem
fundamento e não encontra apoio nos versos da
Bhagavad-gétä. A distinção entre o ser vivo e o Senhor,
assim como a subordinação eterna do ser vivo ao
Senhor, é claramente apresentada em toda a Bhagavad-
gétä. Enquanto a alma corporificada é consciente apenas
do seu corpo em particular, o Senhor é plenamente
a posição transcendental do senhor

consciente dos corpos de todos os seres, pois reside


dentro de todos como a Superalma. Como vive no
coração de cada ser vivo, Ele é consciente não apenas das
atividades grosseiras dos diferentes seres, mas também
de todos os sentimentos, pensamentos e desejos deles e,
como a alma de todas as almas, dá instruções internas

25
para que todos satisfaçam corretamente seus anseios
materiais e, finalmente, no momento certo, se voltem
para Ele. Outra grande diferença entre o ser vivo e o
Senhor é que a consciência do ser vivo pode ficar
encoberta por circunstâncias materiais, assim como
uma luz refletida através de um vidro colorido alterará
sua natureza e mudará de coloração. Mas a consciência
do Senhor não é afetada materialmente sob nenhuma
hipótese. Num dia nublado, um mero observador
acredita que o Sol esteja coberto pelas nuvens, mas, na
realidade, é a visão do observador que está coberta por
nuvens. O Sol é muito poderoso e imensurável – e não é
possível que uma simples nuvem o cubra. Em outras
palavras: o Sol é o pai das nuvens (que nada mais são do
que a água evaporada por ele) e, por isso, nunca estará
sob o controle delas; do mesmo modo, o Senhor é o pai
as cinco verdades essenciais

da natureza material e Ele nunca se afetará por Sua


simples criação. Portanto, quando vem a este mundo, o
Senhor Kåñëa o faz a Seu bel-prazer, e Sua consciência
absoluta nunca é afetada materialmente. Assim, nada
pode impedir que o Senhor transmita imaculadamente
os assuntos transcendentais da Bhagavad-gétä.

26
A Gétä também nos ensina que, enquanto
estivermos neste mundo, nunca seremos capazes de
parar com todas as nossas atividades e, por isso,
devemos purificá-las, ajustando-as ao desejo do Senhor.
Isto é chamado de bhakti-yoga, o processo de agir
visando à satisfação do Senhor. Esta é a qualidade
original da alma pura em completa consciência de
Deus, consciência de Kåñëa. Portanto, devemos
purificar nossa consciência, removendo dela as
contaminações materiais, para que, em consciência
pura, consigamos ajustar nossas ações à vontade do
Supremo. Somente assim experimentaremos
verdadeira felicidade.

UMA JORNADA DE AUTOCONHECIMENTO uma jornada de autoconhecimento

Sentindo-se atraído pelo brilho ilusório da


natureza material, o ser vivo acaba mergulhando no
mundo material, cercado de grandes perigos. Ao ter
entrado em contato com o mundo material, o ser vivo
originalmente puro acaba se condicionando à sua
atmosfera inferior e esquece a verdadeira consciência

27
superior, iniciando uma árdua luta pela existência – luta
marcada por sucessivos nascimentos e mortes. Estando,
portanto, sob a influência da energia ilusória, a alma
corporificada permanece atada às reações de suas
atividades e é forçada pelas leis da natureza a divagar
entre diferentes espécies de vida. Certas vezes, ela é
promovida ao reino celestial superior onde, devido ao
bom karma material alcançado, recebe um corpo
elevado de semideus e consegue desfrutar delícias
celestiais. Entretanto, ao esgotar seu bom karma, a alma
corporificada volta aos planetas intermediários
terrestres e obtém novamente um corpo humano, onde
se encontra com as frequentes dualidades do bem e do
mal, do prazer e da dor, etc. No entanto, caso desvalorize
a preciosa forma humana de vida, ela pode acabar se
envolvendo com atividades nefastas e se transfere para
as cinco verdades essenciais

os planetas inferiores, onde nasce em corpos


indesejáveis e sofre condições profundamente
miseráveis.
Embora seja originalmente de energia superior
eterna, o interesse que o ser vivo despertou em explorar
a natureza material, tentando dominá-la e desfrutá-la,

28
força-o a habitar diferentes corpos constituídos de
energia material inferior. Isto o faz sujeito à influência
do implacável fator “tempo”, que, por sua vez, destrói
todos os seus planos materiais, vida após vida. Com o
passar do tempo, o sofrimento acumulado de muitas
vidas materiais causa uma profunda insatisfação,
levando a alma corporificada a finalmente recuperar
seu interesse pela vida espiritual. Então, ele começa a
indagar seriamente sobre a verdadeira meta da vida,
sobre sua verdadeira existência – e volta sua atenção
para o conhecimento espiritual. Neste momento
auspicioso, quando o ser vivo inicia sua jornada pelo
autoconhecimento, a Bhagavad-gétä assume um papel
de vital importância, pois é especialmente destinada à
pessoa que deseja livrar-se das garras da existência
material e decide recuperar sua condição de vida eterna
uma jornada de autoconhecimento

e plena de felicidade. Visto que especialmente nessa era


as pessoas não são tão competentes para compreender a
imensidão dos textos védicos, além do que os hábitos
irregulares reduziram a duração das suas vidas, o
bondoso sábio Vyäsadeva registrou a Bhagavad-gétä na
forma de literatura, onde encontramos a própria

29
divindade Çré Kåñëa resumindo em setecentos versos a
essência de todo o conhecimento védico. Com isto, as
gerações atuais e futuras podem receber a mensagem
transcendental da Gétä originalmente narrada pelo
Senhor ao guerreiro Arjuna que, por representar o papel
de uma pessoa absorta em sofrimento material, formula
perguntas relevantes sobre os problemas que todos têm
de enfrentar na vida. Assim, através deste sublime
diálogo, o Mestre Supremo, o Senhor Çré Kåñëa, convida
todas as almas sinceras a trilharem o caminho da
liberação: o caminho de volta ao lar.
as cinco verdades essenciais

30
f VERDADE 1 f
JÉVA, O SER VIVO

Às vezes, devido às nuvens, não podemos ver o Sol


no céu. Mas, se existe claridade podemos ter a
completa convicção de que é dia e que o Sol ainda
está presente. Da mesma forma, mesmo que não se
consiga encontrar a jéva dentro do coração, ainda
assim, se um corpo apresenta consciência, isto
indica a sua presença dentro dele.

31
as cinco verdades essenciais

32
A s jévas são partes integrantes do Senhor, assim
como a folha é parte integrante da árvore, e o
dedo é parte integrante do corpo. O que acontece se a
folha perde seu vínculo com a árvore? O que será do
dedo se ele for separado do corpo? Outro bom exemplo
é o fogo e suas partes integrantes: as centelhas. Assim
como o fogo, as centelhas também possuem calor e luz,
mas, evidentemente, em menor quantidade. No
entanto, à medida que as centelhas se distanciam do
fogo, elas vão gradualmente perdendo suas qualidades
de calor e luz, até que, finalmente, se extinguem. De
modo semelhante, as jévas são dotadas das mesmas
qualidades do Supremo, ou seja, elas também são
eternas (sat), cheias de conhecimento (cit) e cheias de
jéva, o ser vivo

bem-aventurança (änanda), porém tais qualidades se

33
apresentam em menor quantidade. Se mantiverem um
contato direto com o Supremo, as jévas também
manterão estas qualidades divinas; caso contrário, elas
irão perdê-las. Em outras palavras, ao mal utilizar seu
livre-arbítrio a jéva prefere tentar sua sorte no mundo
material temporário e, como resultado inevitável, se
priva das suas qualidades divinas originais – perde suas
qualidades de eternidade, conhecimento e bem-
aventurança plenos. As jévas que são influenciadas por
mayä (ilusão) passam a executar diferentes tipos de
atividades materiais e acabam atadas às estritas leis da
natureza de sucessivos nascimentos.

SOB A INFLUÊNCIA DA ILUSÃO

Embora seja uma parte integrante do Supremo,


e, conseqüentemente, uma energia espiritual, a jéva é
as cinco verdades essenciais

também considerada uma “energia marginal” de Deus


(taöasthä çakti), pois lhe é dada a escolha de viver no
mundo espiritual ou no mundo material. Para ilustrar o
significado de “energia marginal”, é costume se usar a
beira do mar como exemplo: dependendo das condições

34
da maré, a beira do mar pode ficar ou não coberta pela
água. Do mesmo modo, a jéva pode manter-se
eternamente no mundo espiritual desfrutando de um
relacionamento amoroso com o Supremo e, assim,
permanecer absolutamente livre da influência da
energia material inferior, ou pode se atrair por um tipo
de vida separada do Supremo. Neste caso, ela receberá a
cobertura da matéria e permanecerá vítima da ilusão
material. Ao entrar em contato com o mundo material e
receber um corpo específico, a jéva recebe também a
influência do tempo, sujeitando-se, portanto, ao
constante ciclo de nascimento, velhice, doença e morte.
Certamente, este contato com a matéria faz com que a
jéva perca sua força espiritual e caia vítima do seu ego
material, o qual sempre busca falsos prazeres.
Esquecida de seu relacionamento eterno com o
Supremo, a jéva perde sua conexão com o serviço
amoroso a Ele e, como resultado, seu desejo natural de
sob a inf luência da ilusão

servir o Senhor se perverte no desejo de servir seu


próprio corpo, sentidos, mente e intelecto materiais.
Nesta condição, ela procura constantemente pelas
condições favoráveis para seu prazer material,

35
enquanto evita qualquer coisa que prejudique seu
interesse pessoal. Por isso, na Gétä (2. 2) Arjuna é
alertado pelo Senhor Kåñëa sobre as impurezas que
fazem uma pessoa escrava dos seus sentidos. Tais
palavras enérgicas do Senhor devem servir de grande
estímulo para todos nós que, ao esquecermos nossa
natureza espiritual eterna, somos dominados por nossa
inimiga mais traiçoeira: a mente, que sempre procura,
com imperceptível sutileza, nos desviar do verdadeiro
dever de autorrealização espiritual. O melhor exemplo
disso foi dado por Arjuna, que, por trás dos argumentos
sensatos, simplesmente inventava excelentes desculpas
para esconder seus sentimentos mundanos de apego e
medo. Devido à influência do ego-falso, a jéva se esquece
de que é uma alma eterna e se apega excessivamente ao
corpo material – e a tudo e todos que estejam ligados a
as cinco verdades essenciais

ele. Portanto, do ponto de vista filosófico-espiritual, o


temor que tomou conta de Arjuna e fez com que ele
desistisse de lutar não fazia o menor sentido. Este temor
manifestado por Arjuna representa o temor que a jéva
sente ao ver-se obrigada a se desapegar das coisas
materiais. Assim como Arjuna, se a jéva quiser se livrar

36
da influência do ego-falso, ela iniciará uma luta contra
seus próprios desejos materiais. Portanto, da mesma
maneira que o Senhor Kåñëa considerou os argumentos
de Arjuna como simples fraqueza do coração, qualquer
argumento dado pela jéva para não lutar contra seus
desejos materiais será apenas uma falsa idéia de não-
violência. A conclusão é que todas as desculpas da jéva
baseadas na ignorância acerca do verdadeiro eu não se
justificam. Por isso, o Senhor tenta animar Arjuna (e a
todos nós) a abandonar a impotência revestida de tal
suposta não-violência e recomenda que ele se levante e
participe energicamente da batalha.

A AJUDA DO MESTRE ESPIRITUAL

Ao se sentir incapacitado para resolver seus


próprios problemas, Arjuna não hesita em pedir ajuda a
seu amigo, o Senhor Kåñëa, e passa a dar o bom exemplo
a ajuda do mestre espiritual

de uma jéva que reconhece sua ilusão e deseja se livrar


dela (Gétä 2. 7):

Agora estou confuso quanto ao meu dever e perdi


toda a compostura devido à fraqueza. Nesta

37
condição, estou Te pedindo que me digas com
certeza o que é melhor para mim. Agora sou Teu
discípulo e uma alma rendida a Ti. Por favor,
instrui-me. Não consigo descobrir um meio de
afastar este pesar que está secando meus
sentidos. Não serei capaz de suprimi-lo nem
mesmo que ganhe na Terra um reino próspero e
inigualável com soberania como a dos
semideuses nos céus.

Apesar de possuir um bom coração, Arjuna,


sozinho, não é capaz de resolver seus problemas. Esta
verdade é aplicável a todos que se encontram neste
mundo, pois, independentemente do grau elevado de
conhecimento material atingido, é impossível que uma
pessoa supere as perplexidades da vida sem a ajuda de
um mestre espiritual. Portanto, qualquer pessoa
desprovida de conhecimento transcendental
as cinco verdades essenciais

comprovará, mais cedo ou mais tarde, que seus esforços


pessoais em tentar resolver seus problemas serão
insuficientes. Ela terá de se submeter ao cultivo do
conhecimento transcendental sob a guia de um mestre
espiritual autorrealizado, pois as situações
problemáticas são inevitáveis e fazem parte da natureza

38
deste mundo. Devemos, portanto, seguir os passos de
Arjuna que, em meio a tantas dificuldades, reconheceu
sua fraqueza e confusão mental e assumiu sua
incapacidade de cumprir corretamente seus diferentes
deveres.

A VERDADEIRA NATUREZA DO EU

Logo que Arjuna aceitou o Senhor Kåñëa como


seu mestre espiritual, o Senhor instruiu-lhe sobre o seu
verdadeiro eu, uma partícula integrante do Supremo,
pleno de qualidades espirituais. O Senhor Kåñëa passa
então a ensinar que, embora o corpo material viva em
constante transformação através das ações e reações das
diferentes células, as quais produzem o crescimento e a
velhice, a jéva permanece no corpo como uma centelha
espiritual minúscula. Ela é imutável e nunca se submete
a verdadeira natureza do eu

às mudanças que ocorrem no corpo. Ou seja, este corpo


material é simplesmente a corporificação da jéva, que se
espalha por todo o corpo e pode ser percebida como
consciência individual. Por natureza, o corpo material é
perecível, mas a jéva é eterna e, como uma parte da luz

39
suprema, autoluminosa. É ela que mantém o corpo,
pois, com a sua partida, o corpo começa a se decompor.
O que é conhecido como morte nada mais é do
que o fenômeno que ocorre quando a jéva abandona o
corpo que não apresenta mais condições apropriadas
para a sua permanência. O corpo está freqüentemente
sujeito a diferentes transformações: nascimento,
permanência por algum tempo, crescimento, produção
de subprodutos e decomposição. Entretanto, a jéva não
passa por tais mudanças. Ela não nasce; mas, ao ser
lançada num ventre materno, acaba aceitando a
cobertura de um determinado corpo – e é pela
influência dela que este corpo pode se desenvolver.
Tudo o que nasce também morre. No entanto, por não
ter nascimento, a jéva não tem passado, presente ou
futuro – ela é sempre-existente e primordial. A jéva
as cinco verdades essenciais

nunca é afetada pelas mudanças do corpo e tampouco


produz algum subproduto. O que chamamos de filhos
são simplesmente os subprodutos do corpo, os quais são
também jévas individuais. O corpo só se desenvolve por
causa da presença da jéva, mas ela permanece livre de
qualquer alteração. Estando localizada no coração da

40
entidade viva, a jéva simplesmente atua como fonte de
energia para que o corpo possa executar suas funções.
Às vezes, devido às nuvens, não podemos ver o
Sol no céu, mas, quando existe claridade, podemos ter a
completa convicção de que é dia e que o Sol ainda está
presente. Da mesma forma, mesmo que não se consiga
encontrar a jéva dentro do coração, ainda assim, se um
corpo apresenta consciência, isto indica a sua presença
dentro dele. E, quando o corpo perde completamente
sua consciência, isso é uma evidência concreta que a jéva
partiu, sendo transferida para outro corpo. Esta
transferência é feita sob a supervisão da manifestação
do Senhor conhecida como Superalma, a qual também
reside dentro de todos os corpos. A Gétä esclarece que a
jéva é indestrutível, imensurável e eterna, e somente o
corpo material chega ao fim. A jéva não mata nem é
morta – e não houve um momento em que ela passou a
a verdadeira natureza do eu

existir. Ou seja, ela é não-nascida, sempre-existente e


primordial. Do mesmo modo que alguém veste roupas
novas e abandonando as antigas, a jéva troca de corpo
material. A jéva é permanente, se encontra em toda
parte, é imutável, imóvel e eternamente a mesma, não

41
podendo jamais ser destruída por arma alguma,
queimada pelo fogo, umedecida pela água ou enxugada
pelo vento. Ela é invisível, inconcebível e imutável.
as cinco verdades essenciais

42
f VERDADE 2 f
PRAKÅTI, A NATUREZA

"Eu sou o sabor da água, a luz do Sol e da Lua, a sílaba


Oà nos mantras védicos. Eu sou o som no éter e sou a
habilidade no homem. Eu sou a fragrância original da
terra, sou o calor no fogo e sou a vida de tudo o que
vive. Eu sou as penitências de todos os ascetas e sou a
semente original de todas as existências".

43
as cinco verdades essenciais

44
O conhecimento completo inclui a compreensão
da energia material, prakåti, da energia
espiritual, jéva, e da fonte de ambos, o Supremo. Sendo a
manifestação temporária da energia do Senhor, esta
prakåti se caracteriza pela ilusão. Portanto, para ajudar
seu íntimo amigo Arjuna, o Senhor revela na Gétä (7. 4-
5) que tudo o que existe é um produto da combinação de
matéria e espírito:

Terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e


falso ego – juntos, todos estes oito elementos
formam Minha prakåti – energia material
separada. Além dessas, ó Arjuna, existe outra
prakåti, a natureza

energia, a Minha energia superior que consiste


nas jévas que exploram os recursos dessa natureza
matéria inferior.

45
Embora esta manifestação cósmica seja criada,
mantida e aniquilada pelo Supremo, ainda assim, Ele
permanece completamente neutro e desapegado, pois
tudo ocorre através de Suas potências, que agem
maravilhosamente pela Sua ordem divina. A Gétä (9. 7-
10) explica que, quando chega o momento da
aniquilação, as manifestações materiais entram
novamente na prakåti e, quando o Senhor deseja, por
Sua potência mística, uma nova criação acontece. Toda
a ordem cósmica está sujeita a Ele, já que é sob Sua
vontade que a criação se manifesta e é aniquilada
repetidas vezes. Mas, embora tudo funcione sob Sua
direção e todos obedeçam ao Seu comando, o Senhor
permanece sempre neutro.
Este mundo material é a manifestação da prakåti
inferior do Supremo. É aqui que, como resultado de suas
atividades, as jévas são fecundadas e assumem
as cinco verdades essenciais

diferentes corpos e condições de existência. Uma vez


que a criação e a aniquilação ocorrem periodicamente,
os desejos que as jévas acalentam no momento da
aniquilação são levados para a próxima criação. Isto
significa que, quando o Universo é criado, as diferentes

46
espécies de vida surgem ao mesmo tempo – quer sejam
seres humanos, feras, vegetais, etc. Tais atividades
materiais de criação e aniquilação ocorrem unicamente
pela potência inconcebível do Supremo, o qual
permanece imutável, embora tudo esteja sob Seu
completo controle. O Senhor não está diretamente
vinculado a este mundo material, porque as jévas
recebem seus diferentes corpos devido aos próprios atos
e desejos passados. Depois da aniquilação, elas são
lançadas no corpo de Mahä-Viñëu, uma manifestação
transcendental do Senhor, onde permanecem
imanifestas e aguardam o momento da nova criação.
Quando isso ocorre, Mahä-Viñëu simplesmente lança
Seu olhar na prakåti e as injeta novamente no ventre da
prakåti. A conclusão é que o Supremo é o sustentáculo e
o diretor de toda criação, embora, sob Suas ordens, a
percebendo a presença do absoluto

administração esteja sendo conduzida pela própria


natureza material.

PERCEBENDO A PRESENÇA DO ABSOLUTO

É importante compreender que o Supremo é a


fonte da prakåti, embora, na etapa preliminar de
47
autorrealização, o Supremo seja mais facilmente
percebido através da manifestação da Sua prakåti, assim
como o Sol é percebido primeiramente através da
manifestação de sua energia. Ou seja, a energia é
simplesmente uma manifestação parcial do energético.
Portanto, enquanto os sábios perfeitos percebem Deus
como o energético e O adoram diretamente, os sábios
imperfeitos só conseguem percebê-Lo através de Suas
energias impessoais. Por exemplo, um sábio neófito
pode perceber a presença do Senhor através do sabor da
água, mas aquele que é plenamente avançado glorifica
diretamente a bondade do Senhor em nos suprir com
água pura. Na verdade, não existe contradição entre
estes dois pontos de vista. De fato, o que existe são
diferentes níveis de percepção. A Gétä (7. 8-14) dá
valiosas informações sobre a prakåti, apresentando a sua
as cinco verdades essenciais

essência espiritual, e nos orienta para não cairmos


vítimas de sua natureza ilusória:

Ó Arjuna, Eu sou o sabor da água, a luz do Sol e da


Lua, a sílaba Oà nos mantras védicos. Eu sou o
som no éter e sou a habilidade no homem. Eu sou
a fragrância original da terra, sou o calor no fogo e

48
sou a vida de tudo o que vive. Eu sou as
penitências de todos os ascetas e sou a semente
original de todas as existências. Eu sou a
inteligência dos inteligentes, sou o poder de
todos os homens poderosos e a força dos fortes,
desprovida de paixão e desejo. Eu sou também a
vida sexual que não é contrária aos princípios
religiosos. Saiba que qualquer estado de
existência – bondade, paixão ou ignorância –
manifesta-se por Minha prakåti. Num certo
sentido, Eu sou tudo, mas Eu sou independente.
Eu não estou sob a influência dos modos da
natureza material. Ao contrário disso, eles estão
dentro de Mim. Sob a ilusão dos três modos,
ninguém é capaz de Me conhecer, pois estou
acima dos modos e sou inesgotável. Consistindo
nos três modos da natureza material, esta Minha
prakåti é difícil de ser suplantada. Mas aqueles
que se renderam a Mim podem facilmente
percebendo a presença do absoluto

transpô-la.

Estes versos nos ajudam a entender que


somente a grande alma que se rende com devoção ao
Senhor pode superar a ilusão criada pela prakåti e, por
Sua graça, compreender a natureza absoluta da prakåti
como uma energia divina do Supremo. Assim como a

49
jéva aceita um corpo que, devido à sua presença, pode se
desenvolver, a manifestação cósmica da prakåti se
desenvolve unicamente devido à presença do Senhor
Onipresente conhecido como a Superalma. Esta
Superalma é a grande causa deste Universo – nela tudo
repousa e por ela tudo é mantido. A verdadeira
finalidade de se praticar yoga é poder perceber a
presença deste Senhor em cada milímetro da criação
para, finalmente, prestar serviço devocional a Ele e,
como resultado, transcender os três modos da natureza
material.
Fica claro, portanto, que este mundo não passa
de uma combinação entre a jéva e a prakåti. Esta
natureza material pode ser comparada ao ventre de uma
grande mãe, em que o Supremo é o pai que fecunda a
semente (na forma das jévas) na prakåti. Dessa maneira,
as diferentes jévas surgem em várias espécies de vida de
as cinco verdades essenciais

acordo com suas atividades passadas e, devido à


associação com os modos da natureza , nela se enredam.
Isto significa que um candidato ao desenvolvimento
espiritual tem de conhecer estes modos, saber como
eles atuam e aprender a livrar-se deles.

50
OS TRÊS MODOS DA NATUREZA

Estudando a Bhagavad-gétä podemos comprovar


que praticamente só o Senhor Kåñëa está na posição
transcendental, além da influência dos três modos, e é
justamente por isso que somente Ele pode nos outorgar
o conhecimento acerca dos três modos. Na verdade,
qualquer conhecimento obtido neste mundo está sob a
influência dos três modos da natureza; no entanto, o
conhecimento da Bhagavad-gétä é conhecimento
completamente transcendental porque foi transmitido
pela Transcendência Suprema, e este conhecimento
tem como propósito nos elevar a mesma posição
transcendental. Na Gétä (14. 5-9 e 14. 12-18) encontramos
a seguinte afirmação sobre as qualidades dos modos da
natureza:

A prakåti consiste em três modos – bondade,


os três modos da natureza

paixão e ignorância. Ao entrar em contato com


ela, ó Arjuna, a jéva eterna condiciona-se a esses
modos. Ó pessoa virtuosa, o modo da bondade,
sendo mais puro que os outros, ilumina, livrando
a pessoa de todas as reações pecaminosas.

51
Aqueles que estão situados neste modo
condicionam-se a uma sensação de felicidade e
conhecimento. O modo da paixão nasce de
desejos e anseios ilimitados, ó Arjuna, e por causa
disso a jéva corporificada está presa às ações
egoístas materiais. Ó filho de Bhärata, fica
sabendo que no modo da escuridão, nascido da
ignorância, todas as jévas corporificadas ficam
iludidas. Os resultados deste modo são a loucura,
a indolência e o sono, que atam a alma
condicionada. O modo da bondade condiciona o
homem à felicidade; a paixão o condiciona à ação
egoísta; e a ignorância, cobrindo seu
conhecimento, o ata à loucura... Ó Arjuna,
quando há um aumento do modo da paixão,
desenvolvem-se sintomas de grande apego,
atividade egoísta, esforço intenso, desejo e anseio
incontrolável. Quando predomina o modo da
ignorância, manifesta-se escuridão, inércia,
loucura e ilusão. Quando alguém morre no modo
as cinco verdades essenciais

da bondade, ele atinge os planetas superiores


puros, onde residem os grandes sábios. Quando
alguém morre no modo da paixão, ele nasce entre
os que se ocupam em atividades egoístas; e
quando morre no modo da ignorância, nasce no
reino animal. O resultado da ação piedosa é puro
e se diz que está no modo da bondade. Mas a ação

52
feita no modo da paixão resulta em miséria, e a
ação executada no modo da ignorância resulta
em tolice. Do modo a bondade, desenvolve-se o
verdadeiro conhecimento; do modo da paixão,
desenvolve-se a cobiça; e do modo da ignorância,
desenvolvem-se a tolice, a loucura e a ilusão.
Aqueles situados no modo da bondade
gradualmente elevam-se aos planetas superiores;
aqueles no modo da paixão vivem nos planetas
terrestres; e aqueles no abominável modo da
ignorância descem para os mundos infernais.

O modo da bondade é considerado o mais puro


de todos e, quanto mais aumenta sua influência na
pessoa, mais ela se torna limpa interna e externamente.
Sua visão se torna cada vez mais correta e seus sentidos,
tais como o paladar e a audição, mais refinados. Além
disso, se a pessoa abandona o seu corpo sob a influência
do modo da bondade, ela será promovida aos planetas
superiores, onde o desfrute dos sentidos é celestial. Sob
os três modos da natureza

a influência do modo da bondade, a pessoa tem maior


sensação de felicidade e, naturalmente, sente-se atraída
pelo avanço em conhecimento. Ela gradualmente se
livra das atividades pecaminosas e, conseqüentemente,

53
de suas reações – o que faz com que não sinta tanto as
misérias deste mundo. No entanto, uma pessoa na
bondade geralmente acaba induzida a se sentir superior
aos outros. Devido ao conhecimento superior
adquirido, tais pessoas têm a forte tendência de ficarem
orgulhosas de suas posições; e, assim, permanecem
atadas a este mundo material. Elas não sentem
necessidade de se libertarem do cativeiro material e, por
isso, ficam reencarnando em diferentes espécies de vida
sob a influência da bondade. Devido à ilusão que a
prakåti lhes impõem, elas pensam que uma vida como
cientista, filósofo ou poeta é agradável e não
consideram que a verdadeira meta da vida é transferir-
se ao mundo espiritual.
Uma jéva sob a influência do modo da paixão
tem grande anseio por prazer material. Por isso, a
as cinco verdades essenciais

principal característica da paixão é a atração entre o


homem e a mulher. Uma pessoa na paixão tem a
tendência de trabalhar arduamente e deseja constituir
uma família feliz, com filhos belos e muitas condições
propícias ao desfrute. Ela é geralmente muito apegada
ao poder, prestígio e falsas honrarias e, por isso, tem de

54
viver o tempo todo com bastante ansiedade. A
característica da paixão é que uma pessoa sob sua
influência nunca se sente feliz com a posição adquirida,
pois suas propostas de gozo dos sentidos são
intermináveis. Pode ser que esta pessoa se declare feliz,
mas sua felicidade é ilusória e só existe dentro de sua
mente. Ela não pára de desejar e, por isso, acaba levando
uma vida miserável. Tal pessoa apaixonada está sempre
presa a uma vida de cobiça excessiva e, mesmo que
tenha condições financeiras favoráveis ao desfrute, não
pode experimentar tal felicidade porque não possui paz
de espírito. Ela vive traçando planos e projetos para
conseguir muito dinheiro e tem de se submeter a um
constante esforço físico excessivo. Se uma pessoa,
portanto, abandona seu corpo sob a influência da
paixão, possivelmente voltará à forma de vida humana
no planeta terrestre. Logicamente, isto dependerá do
os três modos da natureza

acúmulo de atividades piedosas ou pecaminosas que


tenha executado.
O modo da ignorância é exatamente o oposto do
modo da bondade e se caracteriza pela ausência de
conhecimento, limpeza e felicidade. A influência da

55
ignorância degrada a pessoa, levando-a à loucura, e tal
pessoa não pode entender as coisas como elas são. Tais
pessoas são preguiçosas e relutam muito em receber
qualquer instrução superior. Elas nem sequer são ativas
como as pessoas no modo da paixão. Pelo contrário, sob
a influência da ignorância, uma pessoa é indolente e
tem grande propensão ao uso de drogas, bebidas
alcoólicas, sendo muita adicta também ao sono
excessivo. Uma característica da ignorância é a
propensão a entregar-se à matança de animais com o
único propósito de satisfazer as exigências da língua.
Certamente, o abate de animais inocentes é o mais
grosseiro ato de ignorância. Na ignorância, a pessoa não
é capaz de planejar sua vida e não tem metas superiores.
Ela nunca se esforça para obter nada e é uma pessoa tola
e sem inteligência. Suas atividades acabam resultando
as cinco verdades essenciais

em miséria. Uma pessoa que morre na ignorância perde


a oportunidade que a vida humana lhe oferece e é
forçada a nascer no reino animal ou em planetas
infernais.

56
O CONHECIMENTO VERDADEIRO

No começo do capítulo treze da Gétä, Arjuna


questiona o Senhor Kåñëa acerca da prakåti e também
pergunta mais detalhes sobre o corpo material e a
posição da jéva como o desfrutador do corpo. Em
resposta, o Senhor Kåñëa afirma que somente os yogés
em devoção podem compreender a diferença entre o
corpo, o conhecimento e o objeto do conhecimento (13.
20-22):

Deve-se entender que a prakåti e as jévas não têm


começo. As transformações por que elas passam
e os modos da matéria são produtos da prakåti.
Está dito que a prakåti produz todas as causas e
efeitos materiais, ao passo que a jéva é a causa dos
vários sofrimentos e prazeres deste mundo.
Dessa forma, a entidade viva dentro da prakåti
segue os caminhos da vida, desfrutando os três
o conhecimento verdadeiro

modos da natureza. Isto decorre de sua


associação com essa prakåti. Assim, ela se
encontra com o bem e o mal entre as várias
espécies de vida.

57
O verdadeiro conhecimento é chegar a
compreender que todos são partes integrantes do
Supremo e, por isso, são Seus servos amorosos. Com
esta compreensão, a jéva se inclinará naturalmente a
praticar o yoga devocional com sinceridade, a qual, por
sua vez, é o próprio resultado último de todo o
conhecimento. Dotada de conhecimento, a jéva pode
realizar de um modo objetivo que o corpo é constituído
de prakåti, ao passo que a jéva (a alma) é energia
espiritual pura. Ambos são elementos eternos e fazem
parte da energia do Senhor.
Antes de este cosmo ser manifestado, tanto a
prakåti quanto a jéva já existiam em seu estado latente. A
prakåti é, portanto, considerada inferior porque não
possui vida própria – depende de sua interação com jéva.
Porém, como uma energia superior do Senhor, a jéva não
ganha nada em interagir com a prakåti inferior. Ela não
as cinco verdades essenciais

precisa entrar em contato com este mundo material,


podendo viver uma vida eternamente perfeita na
residência do Senhor. No entanto, enquanto se sentir
atraída pela energia ilusória que emana desta prakåti, ela
permanecerá influenciada pelos modos da natureza

58
material: ignorância, paixão e bondade – e sua
consciência original permanecerá adormecida.

o conhecimento verdadeiro

59
as cinco verdades essenciais

60
f VERDADE 3 f
KARMA, AS ATIVIDADES
Movida pelo falso ego, a jéva, que ignora a sua
natureza espiritual eterna, considera-se a causa dos
resultados de suas atividades – e atribui o mérito
unicamente a si. Ela não reconhece que seu corpo é
um simples resultado de seu karma passado, o qual
funciona sob a ordem do Supremo.
as cinco verdades essenciais

62
P ode-se definir karma simplesmente como a lei da
ação e reação. Em outras palavras, ao executar
ações piedosas, a jéva estará criando um bom karma, ou
seja: como reação de sua boa ação, estará atraindo
condições favoráveis para si. Por outro lado, se executa
ações impiedosas ou pecaminosas, a jéva atrairá reações
indesejáveis, que se manifestarão através de diferentes
classes de sofrimentos. Na Gétä (3. 27-29) o Senhor
Kåñëa explica que a causa do enredamento material é a
identificação com o ego-falso, ou seja, o conceito
corpóreo de vida:
karma, as atividades

Confusa, a alma espiritual que está sob a


influência do falso ego julga-se a autora das
atividades que, de fato, são executadas pelos três
modos da natureza material. Quem tem

63
conhecimento da Verdade Absoluta, ó pessoa de
braços poderosos, não se ocupa a serviço dos
sentidos e do gozo dos sentidos, pois conhece
bem as diferenças entre trabalho com devoção e
trabalho em busca de resultados egoístas.
Confundidos pelos modos da natureza material,
os ignorantes ocupam-se plenamente em
atividades materiais e tornam-se apegados.

Movida pelo falso ego, a jéva, ignorante da sua


natureza espiritual eterna, considera-se a causa dos
resultados de suas atividades – e atribui o mérito
unicamente a si. Ela não reconhece que seu corpo é um
simples resultado de seu karma passado, o qual
funciona sob a ordem do Supremo.
Absorta em consciência material, a jéva
ignorante esquece-se de sua condição de parte
integrante do Senhor e se dedica a servir seus interesses
as cinco verdades essenciais

pessoais. Ao adquirir sabedoria, no entanto, a jéva não


age mais visando à satisfação pessoal, mas está sempre
ativa nas suas práticas devocionais e, assim, sempre
ajudando a pessoa ignorante a aprender a se comportar.
Quando observamos, portanto, uma pessoa sábia agir,

64
podemos comprovar que ela é dotada de grande
conhecimento espiritual, pois mostra sua indiferença
às exigências mundanas dos sentidos materiais. Por
outro lado, absorto em designações materiais ilusórias,
o ignorante vive preso ao desfrute de seus sentidos.
Portanto, qualquer pessoa que queira se tornar sábia
deve desenvolver conhecimento prático a respeito da
existência eterna da alma e precisa compreender que ela
não é este corpo material e, sim, uma alma espiritual
que tem habitado diferentes corpos temporários. Este
conhecimento irá ajudá-la a agir numa plataforma
transcendental, além das reações indesejáveis do
karma.

A PESSOA SÁBIA

O conhecimento espiritual faz com que a jéva


perceba claramente a existência de prazeres materiais
perigosos, pois produzem reações materiais que
desviam a pessoa da sua meta espiritual. Desse modo, a
a pessoa sábia

jéva sábia compreende bem a diferença entre trabalho


prático em devoção (karma-yoga) e trabalho egoísta

65
(karma), e, assim, pode exercer controle sobre suas
paixões materiais e utilizar seus sentidos em trabalhos
práticos com o único propósito de se purificar. O
conhecimento transcendental é, portanto, essencial
para que a jéva consiga se livrar do seu karma material. A
Gétä (3. 30-32) afirma:

Portanto, ó Arjuna, ofertando-Me todos os teus


trabalhos, com pleno conhecimento de Mim,
sem desejos de lucro, sem alegares ter alguma
posse, e livre da letargia, luta. Aqueles que
cumprem seus deveres de acordo com Meus
preceitos e que, sem inveja, seguem fielmente
este ensinamento livram-se do cativeiro do
karma. Mas aqueles que, por inveja, rejeitam
estes ensinamentos e não os seguem devem ser
co n s i d e ra d o s d e s p rov i d o s d e to d o o
conhecimento, enganados e malogrados em seus
as cinco verdades essenciais

esforços pela perfeição.

A Gétä nos ensina que tanto os ignorantes


quanto os eruditos executam os seus deveres. O
ignorante, no entanto, age com apego aos resultados, ao
passo que o erudito está desapegado e age somente para

66
conduzir as pessoas para o caminho correto. Um
verdadeiro erudito nunca perturba as mentes dos
homens ignorantes, que estão apegados aos resultados
egoístas, induzindo-os a parar de trabalhar. Ao
contrário, ele procura inspirá-los a trabalhar com
espírito de devoção, ocupando-os em todas as espécies
de atividades que, pouco a pouco, podem ajudá-los a
desenvolver consciência espiritual.

AS COMPLEXIDADES DO KARMA

A palavra karma, na verdade, significa


simplesmente “atividades”. Mas, uma vez que existem
diferentes tipos de atividades, a palavra karma se
apresenta de diferentes maneiras. A atividade que
produz uma boa reação é chamada simplesmente de
karma; a que produz más reações é chamada de vikarma;
as complexidades do karma

a ausência de atividade é chamada de akarma; e, as


atividades transcendentais da consciência de Kåñëa são
chamadas de niñkarma, ou seja: livres de reações
materiais. O bom karma produz bons resultados (do
ponto de vista material), e o mau karma produz maus

67
resultados, assim como o akarma (quando
irresponsavelmente se deixa de cumprir o dever), que
também produz reações negativas. Somente as
atividades executadas em conexão com o Supremo não
produzem maus ou bons resultados (do ponto de vista
material) e, por isso, são niñkarma. A Gétä (4. 16-24)
esclarece este tema da seguinte maneira:

Até mesmo os inteligentes ficam confusos em


determinar o que é ação e o que é inação. Agora,
passarei a explicar-te o que é ação, e conhecendo
isto irás te libertar de todo o infortúnio. É
dificílimo entender as complexidades da ação.
Portanto, deve-se saber apropriadamente o que é
ação, o que é ação proibida e o que é inação. Quem
vê inação na ação, e ação na inação, é inteligente
e n t re o s h o m e n s, e e s t á n a p o s i ç ã o
transcendental, embora ocupado em todas as
as cinco verdades essenciais

espécies de atividades. Tem conhecimento pleno


quem não apresenta desejo de gozo dos sentidos
em nenhum de seus esforços. Os sábios dizem
que tal pessoa é um trabalhador cujo karma foi
queimado pelo fogo do conhecimento perfeito.
Abandonando todo o apego aos resultados de
suas atividades, sempre satisfeito e

68
independente, ele não executa nenhuma ação
egoísta, embora ocupado em todas as espécies de
empreendimentos. Tal homem de compreensão
age com mente e a inteligência sob perfeito
controle, deixa de ter qualquer sentimento de
propriedade por suas posses e age apenas para
obter as necessidades mínimas da vida.
Trabalhando assim, ele não é afetado pelo karma.
Aquele que se contenta com o ganho que vem
automaticamente, que está livre de dualidade e
não inveja, que é estável no sucesso e no fracasso,
nunca se enreda, embora execute ações. O
trabalho do homem que não está apegado aos
modos da natureza material e que está situado
em pleno conhecimento transcendental imerge
por completo na transcendência. Quem se
absorve por completo em consciência de Kåñëa
com certeza alcançará o reino espiritual por causa
de sua plena contribuição às atividades
espirituais, cuja execução é absoluta e nelas tudo
o que se oferece é da mesma natureza espiritual.

O YOGA DA DEVOÇÃO
o yoga da devocão

O processo através do qual a pessoa pode se


livrar do karma é chamado de Bhakti-yoga: quando tudo

69
passa a ter uma conexão devocional com o Supremo.
Isto se torna possível quando a jéva começa a recuperar
sua consciência espiritual e passa a agir por amor ao
Supremo, vivendo livre de interesses egoístas. Para se
alcançar esta fase elevada, é necessário livrar-se das
especulações mentais e se absorver no conhecimento
apresentado pelo Senhor, compreendendo o verdadeiro
significado de ação, inação e ação proibida. Somente
isso nos ajudará a nos libertarmos das complexas leis do
karma.
Ao se tornar consciente de Deus, a jéva aprende
naturalmente a se relacionar com o Supremo e com as
demais jévas. Compreendendo que toda jéva é uma
partícula integrante do Supremo, uma jéva
compreenderá que o seu relacionamento com todas as
demais também deve visar à satisfação Dele. Qualquer
ação diferente desta conclusão é considerada vikarma,
as cinco verdades essenciais

ou ação proibida. Embora pareça um estágio muito


difícil de atingir, tal posição pode ser alcançada sem
muita dificuldade quando a jéva se aproxima de uma
verdadeira autoridade em assuntos transcendentais.
Agir em consciência espiritual significa agir em prol da

70
satisfação do Supremo, e isto torna a pessoa
completamente livre do cativeiro do karma.
Materialmente falando, tal pessoa está completamente
inativa, pois seu sentimento de servidão a Kåñëa faz com
que ela se torne akarma, uma pessoa imune a todas as
espécies de reações ao trabalho. O conhecimento sobre
a ação em consciência espiritual é verdadeiro
conhecimento. Ele é comparado ao fogo, pois é capaz de
queimar todas as espécies de reações ao trabalho. A
palavra brahman significa “espiritual”; o Senhor é o
Supremo Brahman e qualquer atividade oferecida a Ele
também se torna brahman, ou espiritual. Na verdade, o
resultado desta atividade e o próprio executor também
se tornam brahman (espirituais), devido à influência
espiritual do Senhor.
A prakåti, conhecida como mayä, é também
considerada divina, sendo uma das energias do Senhor.
Quando utilizada para propósitos materiais, esta mayä
atua para confundir a jéva, que acaba desenvolvendo
o yoga da devocão

apego e desejo de posse por ela. Quando é utilizada,


porém, no serviço amoroso ao Senhor, esta mesma
prakåti readquire sua qualidade espiritual, tornando-se

71
Brahman. Este é, portanto, o método transcendental da
consciência de Kåñëa: utilizar tudo a serviço do Senhor,
onde a execução, o executor e o resultado último – tudo –
se une no Absoluto e atinge a plataforma espiritual.

A IMPORTÂNCIA DO SACRIFÍCIO

Como foi mencionado anteriormente, para se


alcançar uma condição de existência realmente
espiritual, é necessário aceitar um mestre espiritual
autêntico, uma alma espiritualmente auto-realizada. A
Gétä (4. 34) confirma isto:

Tente aprender a verdade aproximando-se de um


mestre espiritual. Faze-lhe perguntas submissas,
presta-lhe serviço. As almas auto-realizadas te
podem transmitir conhecimento porque vêem a
verdade.
as cinco verdades essenciais

O relacionamento entre mestre espiritual e


discípulo é baseado no cultivo de conhecimento.
Quando, depois de muitas vidas, a jéva desenvolve seu
interesse pela vida espiritual, ela começa sua jornada

72
rumo ao conhecimento espiritual. Neste momento, o
Supremo ajuda-a interna e externamente, pondo-lhe
em contato com um mestre espiritual auto-realizado.
Na verdade, o mestre espiritual é simplesmente um
representante do Senhor. Ele nunca é um desfrutador
das facilidades oferecidas pelo discípulo. Como o
próprio mestre espiritual primeiramente também se
submeteu ao seu mestre espiritual, ele pôde também
aprender a ver as coisas no verdadeiro prisma espiritual.
A Gétä (4. 35) também descreve a visão perfeita do
mestre espiritual, da seguinte maneira:

Tendo recebido verdadeiro conhecimento de


uma alma auto-realizada, jamais voltarás a cair
nesta ilusão, pois, com este conhecimento, verás
que todos os seres vivos são apenas partes do
Supremo, ou, em outras palavras, que eles são
Meus.
a importância do sacrifício

Munido deste conhecimento transcendental, o


discípulo consegue se manter afastado de toda espécie
de contaminações produzidas pela associação
mundana. Mesmo que, na fase preliminar, tenha certas

73
dificuldades, o discípulo deve tentar executar seus
deveres em consciência espiritual e, ao mesmo tempo,
atuar também no campo material da forma mais
impecável possível. Na Gétä (3. 9-13) isto é chamado
tecnicamente de yajïa, ou sacrifício:

Deve-se realizar o trabalho como um sacrifício ao


Supremo; caso contrário, o trabalho produz
karma neste mundo material. Portanto, ó Arjuna,
executa teus deveres prescritos para a satisfação
Dele, e desta forma sempre permanecerás livre
do karma. No início da criação, o Senhor de todas
as criaturas enviou muitas gerações de homens e
semideuses, que deveriam dedicar-se a executar
sacrifícios para o Supremo, e abençoou-os
dizendo: “Sede felizes com este yajïa (sacrifício)
porque sua execução outorgar-vos-á tudo o que é
desejável para viverdes com felicidade e
alcançardes a liberação”. Os semideuses, estando
as cinco verdades essenciais

contentes com os sacrifícios, também vos


agradarão, e assim, pela cooperação entre
homens e semideuses, a prosperidade reinará
para todos. Cuidando das várias necessidades da
vida, os semideuses, estando satisfeitos com a
realização de sacrifício, suprirão todas as vossas
necessidades. Mas aquele que desfruta destas

74
dádivas sem oferecê-las aos semideuses como
reconhecimento é certamente um ladrão. Os
devotos do Senhor libertam-se de todas as
espécies de karma porque comem alimento que
primeiramente é oferecido como sacrifício.
Outros, que preparam alimento para o próprio
gozo dos sentidos, na verdade, só comem pecado.

Como foi dito, as leis naturais dão permissão para que,


através do processo conhecido como yajïa ou sacrifício,
as jévas piedosas tirem o máximo proveito das dádivas
divinas presentes na prakåti. Porém, o homem
materialista não é capaz de compreender este fato e se
dedica a uma vida artificial que supervaloriza os
empreendimentos industriais. Isto se deve unicamente
à visão ateísta do homem moderno, que perdeu sua
consciência espiritual e, por isso, tem causado uma
condição de vida infernal, vivendo em função da
exploração predatória da natureza material. No
a importância do sacrifício

entanto, a prosperidade humana é completamente


dependente das dádivas naturais, que são supridas pela
misericórdia do Supremo. Portanto, se a civilização
humana for consciente de Deus e viver de modo

75
simples, voltada principalmente para seu interesse em
autorrealização, o Supremo estará satisfeito e
abençoará a todos, suprindo-os com amplo
fornecimento de opulências materiais. O verdadeiro
propósito dos sacrifícios é satisfazer o Supremo, o
Senhor dos sacrifícios. Quando os sacrifícios são
devidamente executados, o Senhor dos sacrifícios Se
torna satisfeito e, como conseqüência, os semideuses,
que são Seus agentes, também ficam satisfeitos. Como
são encarregados dos diferentes departamentos de
fornecimentos, quando estão satisfeitos, os semideuses
não permitem que haja escassez de recursos naturais.
Eles são considerados, na verdade, partes do Senhor e,
por agirmos em consciência de Kåñëa, estaremos
servindo e satisfazendo o Todo, o que inclui
naturalmente a satisfação de Suas partes, os
as cinco verdades essenciais

semideuses. Na realidade, até os diferentes sacrifícios


recomendados nos Vedas para a satisfação dos
semideuses acabam sendo oferecidos ao Supremo. Tais
sacrifícios são executados a fim de que os semideuses
possam fornecer ar, luz e água suficientes para haver
produção de grãos alimentícios em abundância. No

76
entanto, quando o Supremo é adorado, os semideuses,
que são Seus diferentes membros, são também
automaticamente adorados, sendo desnecessário um
esforço em adorá-los independentemente do Senhor. A
conclusão é que a adoração dos semideuses é executada
por aqueles que têm conhecimento insuficiente. Ainda
assim, através deste processo, uma pessoa poderá se
livrar do mau karma de usurpar as substâncias naturais
que, sob a sanção superior do Senhor, são fornecidas
pelos semideuses.É completamente evidente que nossa
vida depende dos elementos naturais fornecidos pelo
Senhor e que devemos fazer um uso apropriado deles,
mantendo-nos saudáveis e em condições adequadas
para a autorrealização espiritual. Porém, se aquilo que
recebemos do Supremo e de Seus agentes é utilizado
para mero gozo dos sentidos, certamente nos
tornaremos ladrões e teremos de ser punidos pelas leis
a importância do sacrifício

da natureza material.

77
as cinco verdades essenciais

78
f VERDADE 4 f
KÄLA, O TEMPO
Ao aceitar sua residência no mundo material, a jéva
passa a ficar sob o controle de käla, o tempo poderoso
– o representante do Supremo que corrói todas as
coisas neste mundo material. Por isso, Kåñëa declara
que uma parte importante do conhecimento
transcendental é a percepção de que as manifestações
de käla na forma de nascimento, velhice, doença e
morte são condições indesejáveis.
as cinco verdades essenciais

80
A o aceitar sua residência no mundo material, a jéva
passa a ficar sob o controle de käla, o tempo
poderoso – o representante do Supremo que corrói
todas as coisas neste mundo material. Por isto, na Gétä
(13. 9) o Senhor Kåñëa declara que uma parte importante
do conhecimento transcendental é a percepção de que
as manifestações de käla na forma de nascimento,
velhice, doença e morte são condições indesejáveis. Tal
percepção da situação miserável da jéva sob o controle
de käla produz um grande ímpeto para a vida espiritual e
faz com que a jéva desenvolva o desejo de recuperar seu
corpo espiritual (o qual está absolutamente livre de
käla) e retornar ao lar, de volta ao Supremo. Por isso, a
käla, o tempo

Gétä (10. 30) afirma: “Entre os subjugadores, Eu sou o


tempo poderoso”.

81
AS DIVISÕES DAS ERAS

Mesmo Brahmä, o semideus responsável pela


criação do Universo material, tem uma duração de vida
limitada. Na verdade, existem inúmeros universos e, em
cada um deles, existe um Brahmä específico ajudando o
Senhor a dar cabo da criação material. Ele vive apenas
cem anos, mas do nosso ponto de vista, seus anos são
praticamente intermináveis. A Gétä (8. 17-20) afirma:

Pelo cálculo humano, quando se soma um total


de mil eras, obtém-se a duração de um dia de
Brahmä. E esta é também a duração de sua noite.
No início do dia de Brahmä, todas as jévas se
manifestam a partir do estado imanifesto, e
depois, quando cai a noite, voltam a fundir-se no
imanifesto. Repetidas vezes, quando chega o dia
de Brahma, todas as jévas passam a existir, e com a
as cinco verdades essenciais

chegada de sua noite, elas são


desamparadamente aniquiladas. Entretanto, há
outra natureza imanifesta, que é eterna e
transcendental a esta matéria manifesta e
imanifesta. Ela é suprema e jamais é aniquilada.
Quando todo este mundo é aniquilado, aquela
região permanece inalterada.

82
S e g u n d o o co n h e c i m e n t o vé d i co, a
manifestação cósmica é dividida em quatro eras: Satya,
Tretä, Dväpara e Kali e, para termos uma idéia do que
isto significa, um dia de Brahmä tem a duração da soma
de mil ciclos de quatro eras, o que é conhecido como
uma Kalpa. A era de Satya caracteriza-se pela virtude e
tem uma duração de 1.728.000 anos. Em Treta, a virtude
diminui, e a era dura 1.296.000 anos. Na Era de Dvapara,
além de diminuir a virtude, a religião começa a se
perder, os vícios se infiltram, e a duração é de 864.000
anos. Na era atual, a era de Kali, a desavença e a irreligião
predominam, e duração diminui para 432.000 anos. Se
somarmos os anos de todas as quatro eras e as
multiplicarmos por mil vezes, teremos uma kalpa, ou
em outras palavras, um dia de Brahmä – e este mesmo
número corresponderá à sua noite. Do nosso ponto de
vista, portanto, os cem anos de Brahmä representam 311
trilhões e 40 bilhões de anos terrestres. Se os seres vivos
são criados no início da vida de Brahmä, no final de sua
as divisões da era

vida, todos os seres são irremediavelmente aniquilados,


juntamente com a criação material, e permanecem por
um tempo num estado imanifesto. E, somente quando

83
um Brahmä específico volta a nascer é que eles se
manifestam de novo. A pessoa inteligente não deve
perder tempo executando atividades que a conservarão
cativada pelo encanto desta prakåti, que, por sua vez, a
manterá em constantes renascimentos dentro deste
mundo material. Ela deve despertar seu interesse pela
morada de Deus, que é constituída de energia espiritual
superior. Além disso, a morada suprema está livre da
influência de käla e nada tem a ver com a manifestação e
a aniquilação deste mundo, que acontecem durante os
dias e noites de Brahmä.

A MORADA TRANSCENDENTAL SUPREMA

No texto védico Brahma-saàhitä, há uma


descrição vívida da morada pessoal do Senhor Kåñëa,
em que ela é chamada de cintämaëi-dhäma, ou o lugar
as cinco verdades essenciais

onde todos os desejos são completamente satisfeitos.


No início do capítulo quinze da Gétä, o Senhor Kåñëa
recomenda desenvolvermos interesse em buscar a
morada eterna suprema e nos rendermos à Suprema
Personalidade de Deus. Em seguida, Ele passa a explicar

84
como se efetua o processo de rendição – e este é o ponto
central da Bhagavad-gétä. Ao aceitar o serviço
devocional, a jéva atrai a misericórdia do Supremo, que é
o único que pode conceder a liberação. Como veremos
nos versos seguintes (Gétä, 15. 5-6), a aceitação do
serviço devocional só se torna possível para uma pessoa
que, devido à inteligência, tenha se tornado
verdadeiramente humilde e se livrado do orgulho
absurdo de se julgar o senhor da natureza material:

Aqueles que estão livres do falso prestígio, da


ilusão e da falsa associação, que compreendem o
eterno, que se enfastiaram da luxúria material,
que estão livres das dualidades manifestas sob a
forma de felicidade e sofrimento, e que com toda
a lucidez sabem como se render à Pessoa
Suprema alcançam este reino eterno. Essa Minha
a morada transcendental suprema

morada suprema não é iluminada pelo Sol ou


pela Lua, nem pelo fogo ou pela eletricidade.
Aqueles que a alcançam jamais retornam a este
mundo material.

No capítulo sete da Gétä, encontramos a


informação de que o necessitado, o aflito, o inteligente e

85
o curioso que executaram atividades piedosas se voltam
para a adoração do Senhor. De um modo geral, quando
as dificuldades surgem nas vidas dessas pessoas
piedosas, elas não encontram alternativa melhor do que
buscar abrigo no serviço devocional ao Senhor.
Entretanto, aqueles que estão acumulando ações
impiedosas não podem se aproximar do Supremo. Ao
contrário disso, tais pessoas impiedosas permanecem
associadas com as atividades falsas da energia ilusória
material e nunca se rendem ao Senhor. Na verdade, a
menos que a pessoa tenha a misericórdia do Senhor, não
poderá admitir e entender que este mundo material é
um lugar perigoso e cheio de calamidades. O sintoma de
uma pessoa verdadeiramente inteligente é que ela
desiste de fazer planos para ajustar-se
permanentemente a essas calamidades materiais. Ao
as cinco verdades essenciais

mesmo tempo, tal pessoa compreende que, enquanto


estiver neste mundo, terá de se deparar com os
inevitáveis infortúnios, os quais são considerados
estímulos positivos para o progresso na compreensão
espiritual. Compreendendo sua posição como alma
espiritual eterna, a pessoa deve manter-se

86
transcendental às aparentes calamidades materiais,
comparáveis a um pesadelo. Num sonho, por exemplo,
um homem pode ter a sensação de que um tigre o está
engolindo. Certamente, ele sofrerá com isso. Porém,
assim como esse “tigre”, o sofrimento material é
ilusório, pois se trata unicamente de um pesadelo. Já
que são ilusórias, as calamidades desse mundo só
poderão afetar a pessoa que não compreendeu a
natureza deste mundo material. Aquele que não se
rende ao Senhor, portanto, não pode compreender a
verdadeira essência deste mundo. Desse modo, ao invés
de dedicar sua vida ao Senhor, uma pessoa tola prefere
buscar sua felicidade neste mundo cheio de perigos. Ela
não tem informação da morada do Senhor, que é eterna,
plenamente bem-aventurada e livre de qualquer
vestígio de calamidades. Este mundo é comparável a um
a morada transcendental suprema

oceano turbulento, que deve ser cruzado o mais rápido


possível. A conclusão: enquanto estivermos neste
oceano, sempre estaremos numa posição perigosa, à
mercê de suas ondas violentas. Mesmo que estejamos
num grande e resistente barco, a qualquer momento
poderá surgir um imprevisto e teremos de nos deparar

87
com as situações mais adversas. Por isso, nossa única
preocupação deveria ser como atravessar o mais rápido
possível este oceano de perigos. Quem se refugia no
Senhor está aceitando o barco mais adequado para
cruzar o oceano de ignorância. O destino final é residir
na divina morada do Senhor, que nada tem a ver com o
lugar onde existe perigo a cada passo. Já que, enquanto
estivermos neste mundo, não poderemos evitar suas
adversidades, então, com ou sem adversidades,
devemos cantar os santos nomes do Senhor,
especialmente o mahä-mantra Hare Kåñëa, Hare Kåñëa,
Kåñëa Kåñëa, Hare Hare, Hare Räma, Hare Räma, Räma
Räma, Hare Hare – e nos dedicar ao desenvolvimento da
consciência espiritual para retornarmos ao mundo
espiritual, onde tudo é iluminado pela potência interna
do Senhor.
as cinco verdades essenciais

88
f VERDADE 5 f
ÉÇVARA, O CONTROLADOR
"Eu sou a fonte de todos os mundos materiais e
espirituais. Tudo emana de Mim. Os sábios que
conhecem isto perfeitamente ocupam-se em Meu
serviço devocional e adoram-Me com todo o coração".
"Os pensamentos de Meus devotos puros residem em
Mim, suas vidas são plenamente devotadas ao Meu
serviço, e eles obtêm grande satisfação e bem-
aventurança sempre iluminando uns aos outros e
conversando sobre Mim".
as cinco verdades essenciais

90
D os cinco temas básicos da Gétä, devemos
compreender claramente que éçvara, o
Supremo, o Senhor Kåñëa, o Controlador Absoluto, é o
maior e o mais importante de todos. A Gétä (9. 4-6)
afirma que éçvara pode ser percebido sob três aspectos: o
aspecto impessoal (a energia cósmica), o aspecto
localizado (a Superalma) e o aspecto pessoal (a
Suprema Personalidade de Deus):

Sob Minha forma imanifesta, Eu penetro este


Universo inteiro. Todos os seres estão em Mim,
mas Eu não estou neles. E mesmo assim, os
elementos criados não repousam em Mim.
éçvara, o controlador

Observa Minha opulência mística! Embora Eu


seja o mantenedor de todas as entidades vivas e
embora esteja em toda parte, não faço parte desta
manifestação cósmica, pois Meu Eu é a própria

91
fonte da criação. Compreende que, assim como o
vento poderoso sopra em toda parte e sempre
permanece no céu, todos os seres criados
repousam em Mim.

OS TRÊS ASPECTOS DO ABSOLUTO

Para entendermos estes versos, podemos fazer


uma analogia entre o Senhor e o Sol. O semideus Sürya
reside no Sol, que permanece em seu local no espaço,
mas espalha seu brilho por todo o Universo. De forma
similar, éçvara permanece em Sua morada, onde
manifesta Sua personalidade transcendental, mas
espalha Sua energia por toda a criação, e tudo repousa
nessa energia. Podemos observar que, mesmo
espalhando seus raios, o semideus Sürya não perde sua
personalidade e, ao mesmo tempo, o planeta Sol
mantém sua existência no espaço. Do mesmo modo,
as cinco verdades essenciais

éçvara Se espalha por toda parte e não perde Sua


existência pessoal. Como a Suprema Personalidade de
Deus, Ele permanece à distância, enquanto todas as
Suas manifestações, tanto neste mundo material
quanto no mundo espiritual, repousam em Sua energia
impessoal.
92
A Suprema Personalidade de Deus, portanto,
difunde Suas diferentes energias, e Se mantém presente
em toda parte por meio de Sua representação pessoal.
Além disso, o Senhor diz que tudo repousa Nele, mas
isso não significa que Ele esteja diretamente envolvido
com a manutenção e a sustentação desta prakåti. Os
diferentes planetas flutuam no espaço, e este espaço é a
energia de éçvara. Mas Ele é diferente do espaço. Esta é a
incomparável opulência do Senhor. Devemos
compreender que éçvara tem poderes infinitos.
Portanto, quando quer fazer algo, não pode existir o
menor obstáculo. Pelo Seu simples desejo, tudo é
executado perfeitamente. Ainda assim, Ele
pessoalmente não precisa Se envolver com nada.
Embora seja o mantenedor e o sustentador da
manifestação material inteira, Ele não toca nesta
manifestação material. Apenas por Sua vontade
os três aspectos do absoluto

suprema tudo é criado, tudo é sustentado, tudo é


mantido e tudo é aniquilado. O Senhor mantém Sua
forma original como a Suprema Personalidade de Deus
e, simultaneamente, permanece presente em tudo
como o mantenedor Supremo e, ainda, reside nos

93
corações de todas as jévas como a Superalma localizada.
Todas as maravilhosas manifestações cósmicas existem
pela suprema vontade de éçvara, e a Ele estão
subordinadas. Por Sua misericórdia, embora mantenha
Sua forma transcendental, Ele sempre vem a este
mundo e derrama o conhecimento transcendental da
Gétä sobre as jévas condicionadas.

O APARECIMENTO DIVINO DO SENHOR

No início do capítulo quatro da Gétä, o Senhor


Kåñëa afirma para Seu discípulo Arjuna que esta ciência
do yoga apresentada na Gétä já havia sido narrada por
Ele ao semideus Vivasvän no início da criação.
Assustado com o que acabara de ouvir, Arjuna
perguntou: “Como posso entender que, no começo da
criação, ensinaste esta ciência para Vivasvän, se ele
as cinco verdades essenciais

nasceu bem antes de Ti?” Em resposta, o Senhor


afirmou (Gétä 4. 5-6):

Tu e Eu já passamos por muitos e muitos


nascimentos. Posso lembrar-Me de todos eles,

94
mas tu não podes, ó subjugador do inimigo!
Embora Eu seja não nascido e Meu corpo
transcendental jamais se deteriore, e embora Eu
seja o Senhor de todas as jévas, mesmo assim, em
cada milênio Eu apareço sob Minha forma
transcendental original.

Aqui, revela-se a característica especial do


aparente nascimento de éçvara: embora apareça como
um ser humano comum, Ele Se lembra dos pormenores
de Seus outros milhares de nascimentos anteriores.
Esta é a diferença entre o éçvara e a jéva comum.
O Senhor possui um corpo espiritual eterno e
livre de nascimento, velhice, doença ou morte e, por
isso, pode Se lembrar dos atos que executou há milhões
de anos. Uma jéva comum muda de um corpo para outro
e sua memória é tão limitada que mal pode se lembrar
o aparecimento divino do senhor

do que fez algumas horas atrás. Assim, ninguém pode


nunca se igualar a éçvara. O Senhor possui um corpo
eterno e transcendental. Seu corpo é, na verdade,
idêntico a Ele e, mesmo descendo ao mundo material
constituído de prakåti, Ele Se mantém na plataforma
transcendental – livre de toda e qualquer ilusão.

95
Sempre que aparece, éçvara o faz através de Sua
própria potência interna e a Seu bel-prazer. O Seu corpo
nunca se deteriora: Ele passa da infância à juventude e,
surpreendentemente, nunca ultrapassa esta fase.
Embora seja a pessoa mais velha, nem Seu corpo nem
Sua inteligência jamais se deterioram. Assim como o
poderoso Sol, Ele só aparentemente “nasce” e “morre”.
Na verdade, o Sol está praticamente fixo em sua posição,
só que, devido a nossos sentidos precários, calculamos o
seu “nascimento” e “morte”. Analogamente, o Senhor é
não-nascido. Ele aparece diante de nossa visão, executa
atividades para o bem-estar de todos e, ao concluir Sua
missão, desaparece de nossa visão, tornando-Se
imanifesto. O propósito do aparecimento de éçvara
neste mundo é revelado na Gétä (4. 7-9) como se segue:
as cinco verdades essenciais

Sempre e onde quer que haja um declínio na


prática religiosa, ó descendente de Bhärata, e um
aumento predominante da irreligião — neste
momento Eu próprio desço. Para libertar os
piedosos e aniquilar os canalhas, bem como para
restabelecer os princípios da religião, Eu mesmo
apareço, milênio após milênio. Aquele que

96
conhece a natureza transcendental do Meu
aparecimento e atividades, ao deixar o corpo não
volta a nascer neste mundo material, senão que
alcança Minha morada eterna, ó Arjuna.

Sob a ordem de éçvara, os Vedas apresentam


diferentes princípios religiosos; mas, quando existe
alguma discrepância quanto à execução apropriada das
regras contidas nos Vedas, o mundo todo se torna
irreligioso. Neste momento, éçvara desce do Seu reino
espiritual e aparece como um avatära, uma encarnação
divina. Ele o faz por Sua própria vontade, devido à
misericórdia que sente por Suas jévas no mundo
material. E, quando tais jévas se tornam devotadas a Ele,
são freqüentemente molestadas por pessoas
demoníacas que tentam propagar um tipo de vida
mundano ou distorcer o verdadeiro significado
o aparecimento divino do senhor

espiritual da religião.
Na verdade, para conseguir se libertar do
cativeiro material, a jéva precisa vencer sérias
dificuldades. Para tal, nada melhor do que aceitar a
ajuda do Senhor na forma do conhecimento védico, do
mestre espiritual e da associação com os devotos. Só

97
assim ela poderá compreender a natureza
transcendental do corpo e das atividades de éçvara e,
como resultado, após findar este corpo, não correr o
risco de voltar a este mundo material. Nesta passagem
da Gétä, portanto, o Senhor confirma de fato que,
sempre e onde quer que exista a necessidade, Ele
aparece para resgatar Seus devotos queridos. Tais
devotos compreendem que o nascimento e as atividades
do Senhor são completamente espirituais e, aceitando
esta verdade com fé, eles não perdem tempo com
especulações filosóficas inúteis. Este tema continua a
ser apresentado na Gétä (4. 10-11) da seguinte maneira:

Estando livres do apego, do medo e da ira,


estando plenamente absortas em Mim e
refugiando-se em Mim, muitas e muitas pessoas
no passado purif icaram-se através do
as cinco verdades essenciais

conhecimento a respeito de Mim — e com isso


todas alcançaram transcendental amor por Mim.
A todos, Eu recompenso proporcionalmente ao
grau de sua rendição a Mim. Ó Arjuna, em
qualquer circunstância, todos seguem o Meu
caminho.

98
O Senhor declara que, mesmo no passado,
muitas pessoas adotaram o yoga da devoção amorosa e
se livraram dos diferentes obstáculos deste mundo, que
se apresentam na forma de apego, medo e ira. Portanto,
o Senhor Kåñëa encoraja Seu amigo e discípulo Arjuna (e
a todos nós) a praticar a consciência de Kåñëa,
concluindo que devemos cultivá-la com fé e
conhecimento e, com isso, alcançar a perfeição. Com
certeza, o Senhor recompensará a tentativa sincera
empreendida pelo devoto que, apesar das dificuldades
encontradas neste mundo, persiste em praticar serviço
devocional ao Senhor. No capítulo dez, encontramos
quatro versos que são considerados os mais
importantes da Gétä (10. 8-11). Estes versos nos dão uma
compreensão bastante clara da opulência de éçvara, a
Suprema Personalidade de Deus:
o aparecimento divino do senhor

Eu sou a fonte de todos os mundos materiais e


espirituais. Tudo emana de Mim. Os sábios que
conhecem isto perfeitamente ocupam-se em
Meu serviço devocional e adoram-Me com todo o
coração. Os pensamentos de Meus devotos puros
residem em Mim, suas vidas são plenamente

99
devotadas ao Meu serviço, e eles obtêm grande
satisfação e bem-aventurança sempre
iluminando uns aos outros e conversando sobre
Mim. Para aqueles que estão constantemente
devotados a Me servir com amor, Eu dou a
compreensão pela qual eles podem vir a Mim.
Para lhes mostrar misericórdia especial, Eu,
residindo em seus corações, destruo com a luz
brilhante do conhecimento a escuridão nascida
da ignorância.

Quando conhecemos as opulências do Senhor,


sentimos uma inclinação natural para Lhe prestar
serviço devocional. O Senhor é a suprema causa de
todas as causas e tudo, material ou espiritual, depende
Dele. Desse modo, os devotos sentem grande prazer em
se reunir e se ocupar em glorificá-Lo descrevendo Seus
nomes, formas, qualidades e passatempos. Tais
as cinco verdades essenciais

conversas transcendentais sobre o Senhor dão


resistência e força à plantinha devocional que se
encontra no coração do devoto. Dessa forma, à medida
que se absorve em ouvir e cantar sobre o Senhor, sua fé e
devoção se tornam cada vez mais fortes. Com isso, o
devoto desenvolve cada vez mais sua inteligência, e sua

100
compreensão da diferença entre espírito e matéria fica
mais clara. Munido desse conhecimento, o devoto vai se
livrando de toda espécie de dúvida e ilusão. Como parte
do treinamento espiritual, ele desenvolve tolerância às
ofensas alheias e, ao mesmo tempo, para o benefício das
pessoas em geral, torna-se veraz, apresentando as coisas
sem deturpação. Um devoto vive neste mundo sem
apego ou aversão a ele, enquanto permanece satisfeito
com aquilo que é obtido pela misericórdia do Senhor.
Quando são recomendadas pelas escrituras, ele aceita
as inconveniências corpóreas em prol do avanço
espiritual e é caridoso com as pessoas que se dedicam a
propagar a consciência de Kåñëa. Controlando os
sentidos por utilizá-los apenas para cultivar a
consciência de Kåñëa, o devoto consegue também
afastar da mente os pensamentos prejudiciais ao seu
o aparecimento divino do senhor

avanço espiritual. Ele sabe que qualquer qualidade que


possui vem simplesmente da graça do Senhor. Portanto,
ocupando-se do serviço devocional, ele vai perdendo
completamente o medo e aprende a ficar feliz,
aceitando as coisas favoráveis para o serviço devocional
e rejeitando as desfavoráveis. Tal devoto nunca traz

101
sofrimentos aos outros; pelo contrário, sempre está
propagando o conhecimento espiritual e, com isso,
ajudando todos a atingirem a verdadeira felicidade.
as cinco verdades essenciais

102
f CONCLUSÃO f
LIVRANDO-SE DO
CATIVEIRO MATERIAL

Kåñëa conclui a Gétä transmitindo-nos o


conhecimento mais confidencial: simplesmente se
renda a Ele, o Supremo, e se alivie de todas as misérias
causadas pela vida material. Na verdade, render-se ao
Senhor é o interesse supremo de todo ser vivo, pois
somente nesta posição de servo rendido ao Senhor ele
pode se situar numa condição de felicidade plena.
as cinco verdades essenciais

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S e, ao estudar a Gétä, a jéva compreende a
importância de ajustar sua vida de tal maneira que
possa desenvolver sua consciência de Kåñëa,
compreende-se que ela alcançou imensa fortuna, pois,
segundo a Gétä (12. 6-7), éçvara pessoalmente a resgatará
do oceano de existência material:

Aqueles que Me adoram, abandonando todas as


atividades por Mim e não se afastando de sua
devoção a Mim, ocupando-se em serviço
livrando-se do cativeiro material

devocional e sempre meditando em Mim, tendo


fixado suas mentes em Mim, ó Arjuna – a eles Eu
sou o pronto salvador do oceano de nascimentos
e mortes.

Na verdade, a liberação da jéva torna-se possível


somente com a ajuda de éçvara. Ainda assim, éçvara
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prefere não interferir no livre-arbítrio da jéva. Ela terá
que se decidir por si só. Em outras palavras, éçvara está
sempre aguardando o chamado da jéva e, quando isto
ocorre, Ele a auxilia de muitas maneiras. Externamente,
Ele se apresenta na forma de um mestre espiritual, da
Gétä e da associação com os Seus devotos, e,
internamente, Ele atua como a Superalma que reside
nos corações. Se, portanto, em vez de buscar prazeres
mundanos, a jéva utilizar seu corpo material, sua mente
e seus sentidos para cultivar conhecimento espiritual,
deve-se compreender que ela está verdadeiramente
situada na plataforma da rendição ao Senhor e se livrará
gradualmente de todas as reações pecaminosas. Esta é a
verdadeira meta que todos devem alcançar, conforme se
afirma no final da Gétä (18. 66-69):
as cinco verdades essenciais

Abandona todas as variedades de religião e


simplesmente rende-te a Mim. Eu te libertarei de
todo o teu karma. Não temas. Este conhecimento
confidencial jamais pode ser explicado àqueles
que não são austeros, nem devotados, nem se
ocupam em serviço devocional, e tampouco a
alguém que tenha inveja de Mim. Para aquele que
explica aos devotos este segredo supremo, o

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serviço devocional puro está garantido e, no
final, ele voltará a Mim. Não há neste mundo
servo que Me seja mais querido do que ele,
tampouco jamais haverá alguém mais querido.

Pode ser que alguém estude toda a literatura


védica, mas não consiga compreender este princípio
transcendental, porque, na verdade, trata-se de um
conhecimento muito elevado. O próprio Arjuna afirma
que nem mesmo os semideuses dos planetas celestiais
podem compreender este tópico muito bem. E, o que
dizer dos seres humanos? A única maneira de ter acesso
a ele, como ficou claro em todo a Gétä, é através do
representante especial de éçvara, um mestre espiritual
completamente auto-realizado e devotado ao Senhor.
O mestre espiritual tem a capacidade de
iluminar o discípulo, fazendo-o perfeito ao convencê-lo
livrando-se do cativeiro material

de que a essência da vida religiosa está em cumprir as


ordens de éçvara, a Suprema Personalidade de Deus. O
cativeiro material é decorrente do fato de se ter
executado atividades pecaminosas passadas. Mas,
ninguém precisa ficar preocupado com tal cativeiro
material, pois o Senhor assegura que, pessoalmente,

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cuidará de Seu devoto, salvando-o de todo o seu karma.
Uma vez que o Senhor cancelará o karma passado, é
melhor que a pessoa aceite a guia do mestre espiritual e
se preocupe unicamente com a boa execução do seu
serviço devocional e confie na misericórdia de éçvara, o
Supremo Controlador.
A raiz da existência material é a ignorância, que
se manifesta como indiferença ao serviço devotado ao
Senhor. Esta indisposição à execução do serviço
devocional se deve ao ego-falso, sempre querendo
colocar sua vítima na falsa posição de controlador ou
desfrutador independente. A Gétä, portanto, ilumina a
jéva sobre sua posição como parte integrante de éçvara e a
instrui a ocupar-se corretamente, eliminando, assim, a
ignorância e o ego-falso. Por dedicar-se a pregar sobre as
glórias do serviço devocional, a jéva se torna liberada de
as cinco verdades essenciais

todo o cativeiro material e presta o mais valioso de todos


os serviços – por isso, é considerada a serva mais querida
do Senhor.
A melhor conclusão que a jéva pode obter do
estudo da Gétä é que ela deve se dedicar a ajudar as
pessoas a se livrarem da existência material e a se

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tornarem conscientes de Kåñëa. Isso é completamente
aprovado pela encarnação misericordiosa de Kåñëa para
esta atual era de Kali, o Senhor Chaitanya, que ordenou
a todos que primeiramente se purificassem aceitando o
serviço amoroso a éçvara e, depois disso, o divulgassem
por todo o mundo. Tal ocupação constitui a verdadeira
atividade beneficente e torna a pessoa reconhecida pela
Suprema Personalidade de Deus. O Senhor conclui a
Gétä (18. 63-65) transmitindo-nos o conhecimento mais
confidencial: simplesmente se renda ao Senhor
Supremo e se alivie de todas as misérias causadas pela
vida material. Na verdade, render-se ao Senhor é o
interesse supremo de todo ser vivo, pois somente nesta
posição de servo rendido ao Senhor ele pode se situar
numa condição de felicidade plena: livrando-se do cativeiro material

Assim, Eu te expliquei o conhecimento bem mais


confidencial. Delibera sobre isto detidamente, e
então faze o que desejas fazer. Agora, estou
falando para ti Minha instrução suprema, o mais
confidencial de todos os conhecimentos. Ouve
enquanto falo isto, pois é para teu benefício:
pensa sempre em Mim e converte-te em Meu

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devoto. Adora-Me e Me oferece tuas
homenagens. Assim, virás a Mim
impreterivelmente. Eu te prometo isto, Meu
amigo muito querido.

A jéva que não está em consciência de Kåñëa está


sempre ansiosa na luta pela existência material. Tal jéva
é sempre arrastada pelo ego-falso e, mesmo presa às leis
da prakåti material, julga-se independente e livre para
tomar suas próprias decisões – não percebe que käla a
está acompanhando o tempo todo e irá destruir todos os
seus planos materiais. Isto é ilusão. Mas, quando age em
consciência de Kåñëa, o ser vivo volta-se para seu melhor
e verdadeiro amigo. Desse modo, o próprio éçvara atua
diretamente como seu benquerente e toma conta de seu
conforto em todos os aspectos. O devoto imaculado está
sempre pensando em seu amo, o Senhor Kåñëa, dentro
as cinco verdades essenciais

do coração. Por isso, ele mantém-se intimamente ligado


ao Senhor. Este estágio em que o devoto está sempre
absorto em pensamentos sobre o Senhor de uma forma
espontânea é a plataforma devocional mais elevada. A
Gétä também explica que aqueles que não chegaram a
este nível podem manter-se em consciência de Kåñëa,

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executando seus deveres e oferecendo os frutos em
sacrifício ao Senhor. De qualquer modo, se a pessoa se
mantém simplesmente glorificando o Senhor,
cantando Hare Kåñëa, Hare Kåñëa, Kåñëa Kåñëa, Hare
Hare, Hare Räma, Hare Räma, Räma Räma, Hare Hare,
ela avançará em direção à consciência de Deus,
consciência de Kåñëa.

livrando-se do cativeiro material

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as cinco verdades essenciais

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