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Curvas

de rotação
e matéria
escura

172 REVISTA USP, São Paulo, n.62, p. 172-179, junho/agosto 2004


A
JACQUES LÉPINE

INTRODUÇÃO

natureza da matéria escura é uma das questões

mais discutidas por astrônomos e cosmólogos

nas últimas duas décadas. A quase totalidade dos astrôno-

mos menciona essa matéria como se sua existência fosse


perfeitamente estabelecida, tanto do ponto de vista teórico

quanto observacional. Quem expressa um pouco de dúvi-


da é considerado tão retrógrado quanto aqueles que na

década de 60 ainda resistiam a acreditar na expansão do


universo. No entanto, as dúvidas são geradoras de mais

pesquisas e de progresso, e vamos examinar aqui por que


elas existem.
JACQUES LÉPINE
Lembremos rapidamente as razões teóricas para a exis- é professor do IAG-USP.

tência de material escuro. De acordo com a teoria da rela-

tividade geral, se a constante cosmológica R (introduzida


por Einstein) for nula, o universo pode ser aberto, plano ou

fechado, dependendo do parâmetro 1, que representa a


densidade de matéria (quantidade de matéria por unidade

de volume no universo). Esse parâmetro é normalizado em


relação à densidade crítica, aquela que corresponde a um

universo plano, tomada como 1 = 1. Se a densidade for


maior do que 1, a expansão do universo será freada, e

passará a haver no futuro uma contração e colapso do uni-

verso; se a densidade for inferior a 1, a expansão continua-


rá para sempre, e, se for igual a 1, a expansão tenderá a uma

velocidade nula, num tempo infinito.

Por uma questão de elegância da teoria, os teóricos


gostariam que a densidade do universo fosse 1 = 1. Basi-

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camente, isto é uma previsão da teoria da não implicam que essa matéria deva estar
inflação, e não pretendemos aqui entrar no concentrada em galáxias. A matéria escura
mérito dessa teoria. As observações da dis- poderia, por exemplo, estar distribuída uni-
tribuição espacial do fundo de radiação formemente no espaço. Portanto, questio-
cosmológica, ao que tudo indica, são con- nar se as curvas planas de rotação são devi-
sistentes com as previsões da teoria da in- das à matéria escura não é necessariamente
flação. A quantidade de matéria “visível” o mesmo que questionar a existência de ma-
que se consegue medir é da ordem de R = téria escura.
0,05 apenas. Isso significa portanto que o
resto, que é 0,95, teria que ser constituído

CONSPIRAÇÃO CÓSMICA EM
de matéria não visível. Ou seja, 95% da
massa do universo seria matéria escura.

CURVAS DE ROTAÇÃO
Nos últimos anos surgiu uma novidade
que colocou em questão os modelos acei-
tos. Qualquer que seja o valor de 1, os
modelos acima prevêem que o universo Existe algo um pouco estranho, como
deveria estar numa fase de deceleração. uma conspiração cósmica, nas curvas de
Observações recentes de supernovas situa- rotação de galáxias. Lembremos que, quan-
das a redshifts elevados (Wang et al., 2003; do falamos de curva de rotação, estamos
Tonry et al., 2003) indicam que a expansão falando de galáxias espirais, que possuem
do universo é acelerada. Isso tem levado os uma fração importante de sua massa no
cosmólogos a reintroduzir uma constante disco. Nas partes mais internas, a curva é
cosmológica R não nula, o que equivale a plana devido à contribuição da parte visí-
postular a existência de uma grande quan- vel da matéria contida no disco. Na parte
tidade de “energia escura” que explicaria a mais externa, a curva seria plana como re-
aceleração. O mínimo que se pode pensar sultado da distribuição de matéria escura.
é que isso torna frágeis os argumentos em A maioria dos autores que produzem mo-
favor de 1 = 1, que eram baseados na hipó- delos de curva de rotação considera que a
tese de R nula. Acredita-se hoje que o uni- matéria escura tem uma distribuição esfé-
verso é constituído de 73% de energia es- rica, semelhante ao halo. Consegue-se uma
cura, 23% de matéria escura e apenas 4% curva plana com uma lei de densidade do
de matéria bariônica. Esses números são tipo l ~ r -2 (ver Binney & Tremaine, 1987,
revisados com freqüência (ver por exem- eq. 2-45). Portanto, uma parte da curva é
plo: Wang et al., 2003). explicada por matéria visível distribuída
Os argumentos observacionais em favor num disco, e outra, em raios maiores, seria
da existência de matéria escura são basica- por matéria escura com distribuição esféri-
mente as curvas de rotação de galáxias espi- ca. Por que estes dois patamares de veloci-
rais e as massas de aglomerados de galáxias. dade constante ocorrem na mesma veloci-
Nos dois casos o argumento é que as veloci- dade de rotação, se têm causas diferentes e
dades observadas indicam a presença de geometrias diferentes? Este é o sentido da
massa maior do que a massa visível. No caso “conspiração”. Deveríamos ter curvas de
dos aglomerados de galáxias, é comum su- rotação com dois patamares.
por que as galáxias estejam “virializadas”
para poder estimar a massa do aglomerado.

AVALIANDO A CONTRIBUIÇÃO
Como essa hipótese não é nada óbvia, não se
trata realmente de uma medida da massa. Já

DO HIDROGÊNIO
as curvas de rotação, que discutiremos com
mais detalhe, têm sido consideradas como o
argumento mais convincente. É importante
ressaltar, no entanto, que as razões cosmo- Por outro lado, se conseguimos medir a
lógicas para a existência de matéria escura curva de rotação a grande distância do cen-

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tro, é porque ainda existe matéria “visível”, temperatura de excitação relativamente alta.
por exemplo, hidrogênio neutro (HI), emi- Para todos os efeitos, não seria detectável
tindo na linha de 21 cm. Os mapeamentos em baixas temperaturas, mas não deixaria
na linha de 21 cm do hidrogênio neutro de ser matéria bariônica.. Françoise Combes
(HI) de galáxias espirais geralmente mos- (Combes & Pfenniger, 1997) tem argumen-
tram que a distribuição de HI se estende tado em favor dessa possibilidade.
bastante além da parte visível , em média
um raio um fator 1,8 maior (ver por exem-

A CURVA DE ROTAÇÃO DE
plo: Swaters et al., 2002). Para sustentar a
existência de matéria escura, é necessário

NOSSA GALÁXIA CRESCE NAS


provar que a quantidade de HI (incluindo o
hélio) existente na periferia da galáxia, que

REGIÕES EXTERNAS?
é suficiente para ser detectada, não tem
massa suficiente para explicar a curva de
rotação. Note-se que, caso o hidrogênio
fosse o responsável pela região plana ex- A curva de rotação de nossa galáxia é
terna das curvas de rotação, o problema da até mais difícil de se obter que a de galáxias
conspiração discutido acima seria facilmen- externas, e mais incerta, pelo fato de estar-
te resolvido. Estaríamos falando apenas de mos tentando medi-la a partir de um ponto
matéria concentrada no disco. Poderia ter que se encontra ele mesmo em rotação.
havido no início da vida da galáxia uma Apesar disso, é importante analisar todos
única distribuição de matéria no disco; os detalhes dessa curva, porque em nossa
posteriormente, nas regiões internas, parte galáxia temos uma avaliação precisa da
do gás teria se transformado em estrelas, quantidade de matéria “visível”, e temos
mas a distribuição espacial em termos de condições de quantificar a necessidade de
massa teria continuado a mesma. matéria escura.
Os dados observacionais de HI consis-
tem em espectros, ou gráficos da “tempera-
Figura 1
tura de brilho” em função da freqüência.
Estimar, a partir dos espectros obtidos em
21 cm, a massa do hidrogênio existente nas
partes externas de galáxias implica adotar
algumas hipóteses como a de que o gás é
opticamente fino, e supor que a temperatu-
ra do gás é da mesma ordem que se estima
para as partes mais internas da galáxia, ou
seja, cerca de 100 K. Alterando de forma
perfeitamente razoável as hipóteses sobre
a espessura óptica e sobre a temperatura,
que provavelmente é menor nas regiões
distantes, é possível variar consideravel-
mente a quantidade de HI necessária para
explicar os espectros (tese de Eraldo M.
Rangel, sob orientação de Roberto Ortiz,
Ufes).
Uma outra hipótese que existe na litera-
tura é que o hidrogênio das partes externas Curva de rotação da galáxia baseada nos dados de
das galáxias se encontra na forma molecular Clemens (1985), reinterpretados para R0 = 7,5 kpc.
(H2). Essa molécula não possui dipolo elé-
trico, e não emite na região rádio do espec-
O traço fino indica aproximadamente qual seria a
tro. Para emitir no infravermelho, requer tendência da curva de Brand e Blitz discutida no texto.

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Supondo que o raio Ro da órbita solar Dessa forma é possível associar a velo-
em torno do centro galáctico seja 7,5 kpc, cidade observada a um raio galáctico. Va-
um valor bastante aceito hoje, a curva de riando-se a longitude galáctica, constrói-
rotação até esse raio pode ser obtida de se a curva, ponto a ponto. Essa maneira de
observações radioastronômicas do gás, por se obter a curva de rotação só funciona para
exemplo, a linha de CO em 115 GHz ou a as partes internas. Para as regiões situadas
de H em 21 cm. A particularidade do gás é a mais de 7,5 kpc do centro (longitudes
que não sabemos sua distância, como acon- galácticas maiores que 900), não existe esse
tece com estrelas; só sabemos a sua veloci- ponto S, e não é possível obter a curva de
dade. Mas a velocidade mais alta observa- rotação a partir do gás. É por isso que os
da num espectro, obtido numa direção den- pontos parecem mais espalhados, para
tro do plano galáctico, corresponde a um raios maiores que 7,5 kpc, na Figura 1. Para
raio galáctico bem definido: é a velocidade raios galácticos maiores que Ro, utilizam-
no ponto onde a linha de visada passa mais se objetos como regiões HII, cuja distância
perto do centro, como ilustra a Figura 2 pode ser estimada devido à presença de
(ponto S na figura). estrelas excitadoras. Faz-se a hipótese de
que o objeto se encontra numa órbita circu-
lar, e que a velocidade observada é a com-
Figura 2 ponente dessa velocidade orbital na dire-
ção da linha de visada.
Na década de 90, Blitz e Brand obtive-
ram de suas observações uma curva de ro-
tação que difere bastante da curva da Figu-
ra 1, no sentido de que a curva crescia nas
regiões externas, alcançando velocidades
da ordem de 260 km/s para raios da ordem
de 15 kpc. Esse resultado, para muitos, era
mais uma prova da existência da matéria
escura. No entanto, hoje não se acredita na
curva ascendente de rotação de Blitz e
Brand. Acontece que, para um mesmo con-
junto de velocidades observadas, pode-se
obter uma curva de rotação que cresce ou
decresce nas regiões externas. O resultado
depende da velocidade que se supõe para o
Padrão Local de Repouso (LSR em inglês),
que é a velocidade com a qual estamos
girando em torno do centro galáctico (ve-
tor indicado “Sol” na Figura 2). É fácil
Velocidades observadas ao longo de uma linha que une entender que, como as velocidades obser-
o Sol a um ponto A qualquer dentro do plano galáctico. vadas são medidas com relação a nós
(LSR), as velocidades absolutas de rota-
A posição do centro galáctico é indicada pelas letras ção aumentam ou diminuem com a velo-
CG. A velocidade observada é maior para o ponto S, cidade adotada do LSR. O próprio artigo
de Blitz e Brand alerta que, se a velocida-
porque nesse ponto a direção da velocidade coincide
de do LSR fosse de 180 km/s em vez de
com a direção de observação. Ao contrário, para o 220 km/s que eles adotaram, a curva de
ponto A, só observaremos uma fração da velocidade de rotação decresceria. A velocidade de 180
km/s hoje parece ser a mais razoável. A
rotação. O ângulo entre a linha de visada e a direção curva deve ser ligeiramente decrescente
do centro é a longitude galáctica. ou, no máximo, plana.

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HÁ NECESSIDADE DE MATÉRIA
Os dois métodos foram utilizados por nós
(Ortiz & Lépine, 1993; Lépine & Leroy,

ESCURA EM NOSSA GALÁXIA?


2000) com resultados que basicamente
concordam. Somando-se a massa das es-
trelas que resultam desses modelos com a
Para responder a essa pergunta, é ne- do gás interestelar, chega-se à densidade
cessário conhecer exatamente a curva de de matéria conhecida da ordem de 60 mas-
rotação, e exatamente a distribuição de sas solares por pc2 (densidade superficial
matéria conhecida. A avaliação da densi- do disco, na vizinhança solar), o que é su-
dade de matéria passa pela contagem de ficiente para explicar a curva de rotação.
estrelas. As estrelas de pequena massa só Se quiséssemos colocar matéria escura, ela
são detectadas quando estão muito próxi- teria que ser limitada à barra de erro dos
mas (até 30 pc, por exemplo). Com uma modelos, e certamente não poderia ser igual
amostra de estrelas próximas, estuda-se a a várias vezes a matéria visível. Esse resul-
“função de massa” das estrelas. Por outro tado, que vale para a vizinhança solar, de-
lado, por meio de estrelas mais brilhantes, veria incomodar os defensores de uma dis-
ajustam-se os parâmetros que descrevem a tribuição esférica de matéria escura, cuja
geometria do disco. O disco galáctico pode contribuição em princípio cresce lentamen-
ser descrito por uma lei exponencial de te até assumir a totalidade da responsabili-
densidade decrescente com o raio galáctico, dade pela curva de rotação. Por que em R o
com escala de distância da ordem de 3 kpc, a contribuição da matéria escura ainda é
e por uma lei exponencial decrescente tam- desprezível?
bém em função da distância ao plano
galáctico, com escala de espessura da or-

QUAL A CAUSA DO MÍNIMO NA


dem de 100 pc. Percebe-se que a diminui-
ção da densidade de estrelas com a altura

CURVA DE ROTAÇÃO EM 8,5 KPC?


em relação ao plano galáctico, na realida-
de, é mais bem descrita por duas exponen-
ciais do que por uma; por isso fala-se do
disco fino e do disco espesso, que possuem Podemos notar um mínimo relativamen-
composição distinta em termos de popula- te estreito na curva de rotação, a cerca de
ção estelar. Esses estudos são mais bem 8,5 kpc do centro. Esse mínimo aparece
conduzidos usando contagens de estrelas nos dados de Clemens, representados na
no infravermelho, em parte porque a extin- Figura 1, e também nos de Blitz e Brand e
ção da radiação pela poeira interestelar é de outros autores, sendo portanto real. Po-
menor, e em parte porque as estrelas frias deríamos ser tentados a interpretá-lo como
ou estrelas com envelope de poeira só sendo uma espécie de fronteira entre o lo-
emitem no infravermelho e podem ser to- cal onde termina a contribuição da matéria
talmente não-detectáveis, no visível. visível à curva de rotação, o que causaria
As comparações dos modelos de conta- um decréscimo, e o início da região domi-
gem de estrelas com as observações podem nada pela matéria escura, o que causaria
ter duas abordagens distintas: ou se com- novo aumento. No entanto, esse mínimo é
param diretamente as contagens de estre- estreito demais (da ordem de 1 kpc) para
las, ou o brilho médio do céu resultante da que esta explicação seja razoável. Um de-
presença de uma grande densidade de es- créscimo lento da contribuição da matéria
trelas. A vantagem de se trabalhar com o visível, assim como um crescimento lento
brilho é que ele inclui as estrelas fracas, da contribuição da matéria escura, como
que existem em grande número, mas que seria esperado, só poderia produzir um
não são contabilizadas na contagem direta mínimo bastante alargado. A explicação
de estrelas porque estas estão individual- que temos para esse mínimo é outra; trata-
mente abaixo do fluxo-limite de detecção. se do raio galáctico onde ocorre a co-rota-

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ção, isto é, onde os braços espirais giram apresenta warp, que é justamente uma
com a mesma velocidade que o gás da ga- mudança na orientação do plano com a
láxia (dada pela curva de rotação). Por que distância ao centro. Sergio Scarano Jr.
esta circunstância pode produzir um míni- mostrou, em sua tese de mestrado (IAG,
mo na curva de rotação é uma questão que 2003), que esse efeito não tende a produzir
não deve ser discutida aqui, por ser irrele- sistematicamente (ou estatisticamente)
vante para o tema deste texto. curvas planas. Mas, por outro lado, não
autoriza que se deduza a quantidade de
matéria escura quando a curva de rotação

WARPS E OUTROS PROBLEMAS


observada difere da esperada com base na
quantidade de matéria visível. Alguns ca-
sos aparentemente bem estudados, com
Praticamente todas as galáxias espirais “muita” matéria escura, como por exemplo
apresentam um warp, que é uma distorção NGC 247 (Carignan & Puche, 1990), po-
do plano galáctico, parecida com a aba de deriam ser explicados por um warp tal que
um chapéu, normalmente dobrado para as partes externas apresentam uma inclina-
baixo na frente e para cima atrás. É como se ção com relação ao plano do céu que pro-
o plano da galáxia fosse um outro, quando duz uma velocidade observada maior.
se consideram as regiões externas. Isso tem
conseqüências na curva de rotação que não

COLISÕES DE GALÁXIAS
são normalmente levadas em conta.
Supondo que o eixo de rotação de uma
galáxia e o plano do céu apresentem entre
si um ângulo e, a velocidade observada de A existência de halos escuros mais ex-
rotação é a velocidade de rotação projetada tensos do que as partes visíveis das galá-
na linha de visada, ou seja, a velocidade xias poderia ter efeitos estranhos, no caso
verdadeira multiplicada por cos (e). A ve- de colisão de galáxias. A matéria escura
locidade de rotação é obtida dividindo a seria a primeira a colidir, e deveria ser de-
velocidade observada por cos (e). Por exem- formada ou mesmo arrancada. Poderiam
plo, para uma galáxia vista exatamente de resultar concentrações de matéria escura
frente, a rotação produz velocidade obser- separadas das galáxias visíveis, e posteri-
vável zero, já que o movimento é perpendi- ormente poderiam ocorrer colisões de ga-
cular à linha de visada. Ao contrário, para láxias visíveis com essas bolhas de matéria
uma galáxia observada pela borda, a veloci- escura. Nada disso é observado. As simu-
dade de aproximação de um lado e de afas- lações de colisões de galáxias que existiam
tamento do outro nos dá diretamente a rota- antes do advento da hipótese de matéria
ção. O fator de correção para obter a velo- escura, como aquelas que eram feitas por
cidade de rotação – o inverso de cos (e) – Toomre e Toomre, na década de 70, conse-
pode ser grande. guiam explicar as observações de galáxias
Normalmente, o que é feito é determi- interatuantes, de forma muito satisfatória.
nar a inclinação da galáxia com relação ao
céu, usando a parte visível da mesma, e

CONCLUSÃO
partindo da hipótese (também um pouco
questionável) de que, se ela fosse vista de
frente, teria uma forma circular. Em segui-
da, supõe-se que esse ângulo e assim deter- A interpretação habitual de que as cur-
minado vale também para as partes exter- vas de rotação planas refletem a presença
nas da galáxia, e aplica-se o mesmo fator às de matéria escura é precipitada, embora não
observações de HI. Essa hipótese tem toda possa ser excluída. A cosmologia não im-
probabilidade de estar errada, já que uma põe que a matéria escura, se existir, deva
porcentagem elevada das galáxias espirais estar concentrada nas galáxias. Em muitos

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casos, é possível explicar as curvas planas demais. Mas nesses casos podemos imagi-
como sendo devidas à massa do hidrogênio nar outros efeitos indo na mesma direção,
que normalmente circunda as galáxias es- como um warp. Além destas explicações
pirais, bastando para isso considerar pro- de natureza totalmente clássica, não pode-
fundidades ópticas maiores e temperaturas mos deixar de mencionar a existência de
menores. O hidrogênio molecular não pode explicação para as curvas planas de galá-
ser facilmente descartado. Nos casos em xias, baseada numa teoria um pouco exóti-
que a curva de rotação, em vez de ser plana, ca que altera a lei da atração gravitacional
cresce para os raios galácticos externos, (teoria de Mond – Modified Newtonian
talvez a quantidade de hidrogênio neutro Dynamics; ver por exemplo Sanders &
necessária para explicar a curva seja alta McGaugh, 2002).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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