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Mulheres de Atenas

Chico Buarque e Augusto Boal

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos Mirem-se no exemplo
Orgulho e raça de Atenas Daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos
Quando amadas se perfumam Os novos filhos de Atenas
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas Elas não tem gosto ou vontade
Quando fustigadas não choram Nem defeito, nem qualidade
Se ajoelham, pedem imploram Têm medo apenas
Mais duras penas, cadenas Não tem sonhos, só tem presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Mirem-se no exemplo Lindas sirenas, morenas
Daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos Mirem-se no exemplo
Poder e força de Atenas Daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos
Quando eles embarcam soldados Heróis e amantes de Atenas
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas As jovens viúvas marcadas
E quando eles voltam, sedentos E as gestantes abandonadas não fazem cenas
Querem arrancar, violentos Vestem-se de negro, se encolhem
Carícias plenas, obcenas Se conformam e se recolhem
As suas novenas
Mirem-se no exemplo Serenas
Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos Mirem-se no exemplo
Bravos guerreiros de Atenas Daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos
Quando eles se entopem de vinho Orgulho e raça de Atenas
Costumam buscar um carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas
Vozes-Mulheres A noite não adormece nos olhos das
Conceição Evaristo mulheres
Conceição Evaristo
A voz de minha bisavó Em memória de Beatriz Nascimento
ecoou criança
nos porões do navio. A noite não adormece
ecoou lamentos nos olhos das mulheres
de uma infância perdida. a lua fêmea, semelhante nossa,
em vigília atenta vigia
A voz de minha avó a nossa memória.
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo. A noite não adormece
nos olhos das mulheres
A voz de minha mãe há mais olhos que sono
ecoou baixinho revolta onde lágrimas suspensas
no fundo das cozinhas alheias virgulam o lapso
debaixo das trouxas de nossas molhadas lembranças.
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado A noite não adormece
rumo à favela. nos olhos das mulheres
vaginas abertas
A minha voz ainda retêm e expulsam a vida
ecoa versos perplexos donde Ainás, Nzingas, Ngambeles
com rimas de sangue e outras meninas luas
e afastam delas e de nós
fome. os nossos cálices de lágrimas.

A voz de minha filha A noite não adormecerá


recolhe todas as nossas vozes jamais nos olhos das fêmeas
recolhe em si pois do nosso sangue-mulher
as vozes mudas caladas de nosso líquido lembradiço
engasgadas nas gargantas. em cada gota que jorra
A voz de minha filha um fio invisível e tônico
recolhe em si pacientemente cose a rede
a fala e o ato. de nossa milenar resistência.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade

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