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Como o câncer pode ser ligado a reguladores positivos hiperativos do ciclo celular
(oncogênese) ou reguladores negativos inativos (supressores tumorais).
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Introdução
O câncer é, basicamente, uma doença causada por divisão celular descontrolada. Seu
desenvolvimento e progressão estão normalmente ligados a uma série de alterações
na atividade dos reguladores do ciclo celular. Por exemplo, os inibidores do ciclo
celular impedem que as células se dividam quando as condições não são as corretas,
por isso a baixa ação desses inibidores pode causar câncer. Da mesma forma, os
reguladores positivos da divisão celular podem causar câncer se estiverem muito
ativos. Na maioria dos casos, essas alterações na atividade ocorrem devido a mutações
nos genes que codificam as proteínas reguladoras do ciclo celular.
Células normais em uma placa de cultura não se dividirão sem a presença de fatores de
crescimento.
As células cancerosas podem se dividir muitas vezes mais do que isso, em grande parte
porque elas expressam uma enzima chamada telomerase, a qual reverte o desgaste
das extremidades do cromossomo que normalmente acontece durante cada divisão
celular ^ 44start superscript, 4, end superscript.
Há outras diferenças entre as células cancerosas e as células normais que não estão
diretamente relacionadas ao ciclo celular. Essas diferenças contribuem para seu
crescimento, divisão e formação de tumores. Por exemplo, as células cancerosas
obtêm a capacidade de migrar para outras partes do corpo, um processo
chamado metástase , e de promover o crescimento de novos vasos sanguíneos, um
processo chamado angiogênese (que fornece uma fonte de oxigênio e nutrientes às
células tumorais). As células cancerosas também não se submetem à morte celular
programada, ou apoptose, sob condições em que as células normais o fariam (por
exemplo, devido a danos no DNA). Além disso, pesquisas recentes mostram que as
células cancerosas podem sofrer alterações metabólicas que auxiliam um aumento do
crescimento e da divisão celular ^55start superscript, 5, end superscript.
Uma célula cancerosa com danos irreparáveis no DNA não sofrerá a apoptose e
continuará se dividindo.
Ao longo do tempo, pode ocorrer uma mutação em uma das células descendentes,
causando o aumento da atividade de um regulador positivo do ciclo celular. A
mutação, por si só, não pode causar câncer também, mas os descendentes dessa
célula se dividiriam ainda mais rápido, criando uma maior concentração de células na
qual poderia ocorrer uma terceira mutação. Finalmente, uma célula pode conseguir
mutações suficientes para assumir as características de uma célula cancerosa e dar
origem a um tumor maligno, um grupo de células que se divide excessivamente e
pode invadir outros tecidos^77start superscript, 7, end superscript.
Em um dos descendentes da célula original, ocorre uma nova mutação, fazendo com
que um regulador positivo do ciclo celular se torne extremamente ativo.
Assim que se atinge uma massa crítica de mutações que afetem processos relevantes,
a célula que sofreu mutações adquire características cancerígenas (divisão
descontrolada, evasão de apoptose, capacidade de metástase, etc.) e é considerada
uma célula cancerosa.
À medida que o tumor progride, normalmente aumentam cada vez mais as mutações
de suas células. Cânceres em estágio avançado podem apresentar alterações
importantes em seus genomas, inclusive mutações de grande escala como a perda ou
duplicação de cromossomos inteiros. Como é que surgem essas alterações? Em alguns
casos, ao menos, parece que elas ocorrem por causa das mutações inativadas nos
próprios genes que mantêm o genoma estável (isto é, os genes que impedem a
ocorrência de mutações ou sua transmissão)^88start superscript, 8, end superscript.
Esses genes codificam proteínas que percebem e reparam dano ao DNA, interceptam
agentes químicos ligantes de DNA, mantêm os caps dos telômeros nas pontas dos
cromossomos e desempenham outros papéis-chave de manutenção^99start
superscript, 9, end superscript. Se um desses genes estiver mutado e não funcional,
outras mutações podem se acumular rapidamente. Então, se uma célula tem um fator
de estabilidade genômica não funcional, suas descendentes podem atingir uma massa
crítica de mutações necessárias para o câncer muito mais rapidamente que células
normais.
Muitas das proteínas que transmitem sinais de fator de crescimento são codificadas
por proto-oncogenes. Normalmente, essas proteínas dirigem a progressão do ciclo
celular apenas quando fatores de crescimento estão disponíveis. Entretanto, se uma
das proteínas se torna hiperativa devido à mutação, ela pode transmitir sinais mesmo
quando não há fator de crescimento presente. No diagrama acima, o receptor do fator
de crescimento, a proteína Ras, e a enzima de sinalização Raf, são todos codificados
por proto-oncogenes.
Supressores de tumor
Os reguladores negativos do ciclo celular podem estar menos ativos (ou mesmo não
funcionais) em células cancerosas. Por exemplo, uma proteína que interrompe a
progressão do ciclo celular em resposta a danos no DNA pode não mais perceber o
dano ou desencadear uma resposta. Os genes que normalmente bloqueiam a
progressão do ciclo celular são conhecidos como supressores de tumor. Os
supressores de tumor previnem a formação de tumores cancerosos quando estão
funcionando corretamente, e tumores podem se formar quando eles sofrem mutações
de modo que não funcionem mais.
[Quantas cópias de genes devem sofrer mutação?]
Em células cancerosas, a p53 geralmente está ausente, não funcional ou menos ativa
que o normal. Por exemplo, muitos tumores cancerosos têm uma forma mutante da
p53 que não consegue mais se ligar ao DNA. Como a p53 age ligando-se a genes-alvo e
ativando sua transcrição, a proteína mutante não-ligante é incapaz de realizar o seu
trabalho^{14}14start superscript, 14, end superscript.
Quando a p53 está deficiente, uma célula com DNA danificado pode proceder com a
divisão celular. As células-filha de tal divisão provavelmente irão herdar mutações
devido ao DNA não reparado da célula-mãe. Ao longo de gerações, células com a p53
defeituosa tendem a acumular mutações, algumas das quais podem transformar
proto-oncogenes em oncogenes ou inativar outros supressores de tumor.
A proteína p53 é o gene mais comumente mutado nos cânceres humanos, e células
cancerosas sem mutações na p53 provavelmente inativam a p53 por meio de outros
mecanismos (e.g., atividade aumentada de proteínas que causam a reciclagem da
p53)^{14,15}14,15start superscript, 14, comma, 15, end superscript.