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A.
#
Set / Out 2019
02
PUB
O Sporting. Em Revista. Editorial

História do Sporting,
História de um País!

T
inha sete anos e jamais me esqueci. Enquanto tentava perceber o porquê
de estar a decorrer uma corrida num horário completamente diferente do
nosso, tentava, também, perceber o estado de espírito dos adultos que se
reuniam em casa de um tio meu.

Uma televisão ligada, daquelas em que tinhas de levantar-te para mudar de canal.
Uma mesa com comida e bebidas. Duas mãos cheias de pessoas crescidas e impa-
cientes, vendo outras pessoas crescidas a correr.
Carlos Lopes, Carlos Lopes, Carlos Lopes. O nome ia-se repetindo e os meus olhos
decoravam aquela figura magra que não parava de correr. Disseram-me que era Por-
tugal que ali corria. «O teu País, o nosso País». «E o Sporting?», perguntei eu, na in-
genuidade de quem assistia ao seu primeiro momento olímpico, tendo como respos-
ta, meio de raspão, que aquilo não era futebol, mas que o Carlos Lopes era do Spor-
ting.

E eu vidrei naquele homem que era do Sporting e que corria sem parar em ruas onde,
estranhamente, se exibiam palmeiras capazes de fazer inveja à Miami de Sonny
03
Crockett e Ricardo Tubbs. Correu tanto que, ao fim de uma eternidade, não tinha
quem quer que fosse à sua frente.
Depois, vieram brindes e sorrisos. Adultos felizes, partilhando comigo uma alegria
que eu sorvia ao ritmo de um Capri-Sonne e de um sortido húngaro que se desfazia
na boca, porque a geleia era real e não caramelizada.
Portugal. Sporting. Sporting. Portugal. Carlos Lopes. O hino! O hino! Adultos ainda
mais felizes, alguns de lágrimas nos olhos que me explicaram ser da emoção. E,
com tanta emoção, adormeci tarde, mas acordei cedo.
E numa manhã daqueles “agostos” que eram parte de férias de três meses onde an-
dávamos de bicicleta, em bando, como o Piranha e companhia, corri para a rua sem
a bola debaixo do braço…
35 anos depois, desafiamo-nos a resgatar este espírito. O espírito de um Clube
ecléctico, capaz de, desde a sua fundação, oferecer ao país momentos de glória que
se eternizam e que, enquanto Sportinguistas, devemos passar de geração em gera-
ção! Contem, sempre, com a 1906 para fazê-lo!

@TascaDoCherba
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Coordenação:
Pedro Varela (@bancadadeleao)
Coordenação Editorial:
Cherba (@atascadocherba)
Coordenação Gráfica:
Daniel Silva (@designagreatme)
Redacção:
Bruno Jacinto (@bodak)
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O Artista do Dia (@OArtistaDoDia)
Sporting Tático (@sporting_tatico)
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Fotografia:
Cantinho do Morais, Cherba, Nuno Valinhas,
Sara Pereiros, Sporting Clube de Portugal,
Carlos Nacimento e Rui Gama
Colaboradores Convidados Texto:
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Colaboradores Convidados Design (Capa):
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Revisão e Copydesk:
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Sara Pereiros (@SCPereiros)
Tiragem:
3 500 001 rugidos
revista1906@gmail.com
www.revista1906.com
@revista1906
@revista1906
@revista1906scp
O 1906.º seguidor:
Tiago Esteves (@tiagofesteves)
1-O que é o Sporting para ti?
2-Como é que te tornaste Sportinguista? Vem do berço?
3-És sócio? Há quanto tempo?
4-De onde és? Costumas acompanhar os jogos de futebol/modalidades?
5 - O que achaste do primeiro número da Revista 1906?
TIAGO (pai) TOMÁS (filho)
1 - O Sporting é o meu Clube desde 1 - A minha primeira paixão, muito
sempre. Não me lembro de mim sem mais que um clube, um modo de viver,
ser Sportinguista. Não posso chegar a com muito Esforço, Dedicação, Devo-
dizer, como o Tomás, que é um modo ção e Glória. É impossível encontrar
de viver mas é uma parte importante as palavras certas para explicar aqui-
da minha identidade. Tento aplicar o lo que o Sporting é para mim, é inexpli-
“Esforço, Dedicação, Devoção e Gló- cável, só nós nos sentimos assim.
ria” a muito do que faço! "Pelo Sporting eu sou um verdadeiro
2 - O meu pai é do Sporting, por apaixonado", é o meu grande amor.
isso foi algo bastante natural. Como 2 - Vem do berço, sim, tanto o meu
disse, não me lembro de mim sem ser pai como o meu avô são Sportinguis-
Sportinguista. tas. Penso que nunca foi uma escolha
3 - Tornei-me sócio no início de ser do Sporting, já nasci Sportinguis-
2019, muito motivado pelo Tomás e ta.
pela paixão que ele tem pelo Sporting. 3 - Este é o meu primeiro ano como
4 - Sou de Lisboa e costumo acom- sócio, apesar de o desejo de o ser não
panhar a equipa de futebol profissio- vir de agora, já é muito antigo.
nal em Alvalade. Uma das boas coisas 4 - Sou de Lisboa e costumo acom-
da vida é ir a Alvalade com o Tomás, panhar no estádio, ou esteja onde es-
com o meu pai e com a minha filha. As tiver, os jogos da equipa de futebol
modalidades confesso que ainda não profissional. Acompanho também os
sigo com a mesma regularidade. jogos de algumas modalidades.
5 - A revista tem que ser impressa. 5 - A revista está espectacular.
Tem uma qualidade gráfica fantásti- Quando comecei a ler foi impossível
ca, um layout simples e fácil de ler. Os parar.
artigos são todos de uma qualidade
excepcional, embora tenha que dizer
que me ganharam incondicionalmen-
te quando vi a foto da antiga nave de Em cima: o Tomás (filho) e o seu avô,
Alvalade. Que saudades. Em baixo: a filha com o pai Tiago.
 Meet the Team

Hora de saberes um pouco mais sobre quem te convida a embarcar

nesta aventura chamada 1906 e movida a paixão leonina. E uma coisa é
certa: se não gostares do que fazemos, não vais poder dizer que somos
uns “grandas matrecos”. No máximo, somos uns “grandas bonecos”!

EU №
BRUNO
FERNANDES
Bruno Jacinto
Idade:
36
Na 1906 és…
Coordenador do Site + Redactor
Se fosses um jogador ou um
atleta do Sporting serias...
O Wendel, porque prefiro ocupar
um lugar onde posso distribuir o
jogo e ver os outros a brilhar.
Cherba
Idade:
42
Na 1906 és…
Coordenador Editorial +
Redactor/Repórter + Fotógrafo
Se fosses um jogador ou um
atleta do Sporting serias...
Uma mistura das meias em baixo
do Douglas com a classe do
Paulo Sousa, o pulmão do
Duscher, o profissionalismo do
Valckx, a loucura do Girão, o
feitio do Pedro Gil e a aura de
“posso ser um dos melhores do
mundo” do Cherba.
Henrique Paulino
Idade:
20
Na 1906 és…
Designer
Se fosses um jogador ou um
atleta do Sporting serias...
No passado, Seba Ribas ou Milan
Purovic. Atualmente, creio que
nenhum. Todos os atletas têm
mais qualidade que eu. Vá, talvez
fosse o Ilori...
Cantinho do
Morais
Idade:
38
Na 1906 és…
Redactor/Repórter
Se fosses um jogador ou um
atleta do Sporting serias...
Com 5 anos, Vítor Damas. Com
10 anos, Luisinho. Com 15, Nay-
bet.
Daniel Silva
Idade:
39
Na 1906 és…
Coordenador Gráfico
Se fosses um jogador ou um
atleta do Sporting serias...
Krasimir Balakov, porque foi o me-
lhor ‘designer’ de jogadas brilhan-
tes que vi com a camisola do Spor-
ting vestida por um largo período
de tempo. O verdadeiro ‘director cri-
ativo’ do futebol do Sporting nos
anos 90.
João Castro
Idade:
43
Na 1906 és…
Redactor/Repórter
Se fosses um jogador ou um
atleta do Sporting serias...
Com esta idade , seria
seguramente um Acosta - sim,
identifico-me muito com aquela
raça em campo, era assim que
jogava futebol.
José Alves do Rio Mariana Cordeiro
Idade:
Ferreira
40 Idade:
27
Na 1906 és…
Designer Na 1906 és…
Redactora / Repórter
Se fosses um jogador ou um
atleta do Sporting serias... Se fosses um jogador ou um
O criativo, Krasimir Balakov! atleta do Sporting serias...
Talvez o João Matos, pela paixão
que demonstra em campo e fora
dele.

Marta Spínola Miguel Carvalho

Idade: Idade:
42 50

Na 1906 és… Na 1906 és…

Redactora / Repórter Revisor

Se fosses um jogador ou um Se fosses um jogador ou um

atleta do Sporting serias... atleta do Sporting serias...
Marcos Acuña, o meu spirit Beto Acosta. Sangue quente, raçu-
animal. do, lutador, eficaz. Aquilo que devi-
am ser todos os Leões.

Nuno Valinhas O Artista do Dia

Idade: Idade:
37 Forever young ;)

Na 1906 és… Na 1906 és…

Coordenador Redes Sociais +
Redactor
Se fosses um jogador ou um
atleta do Sporting serias...
Cristiano Ronaldo. Com a mesma
idade e sonhos que ele tinha na
altura em que saiu. Tinha era
ficado no Sporting até ao fim da
carreira, obviamente.
Redactor / Repórter
Se fosses um jogador ou um
atleta do Sporting serias...
Um futebolista ou um ciclista.
Era o que queria ser quando era
miúdo.
 Pedro Varela Ricardo Moreira
Idade: Idade:
43 24

Na 1906 és…
Coordenador de Projecto + Re-
dactor
Se fosses um jogador ou um
atleta do Sporting serias...
Um ponta de lança no futebol,
porque sempre foi nessa posição
que joguei com os amigos (e
mais tarde futsal, como pivot e
ala). Mas nas modalidades seria
um atleta de corta mato, sempre
adorei correr.
Na 1906 és…
Designer
Se fosses um jogador ou um
atleta do Sporting serias...
O Vítor Damas (que não vi jogar
mas é uma ENORME referência)
ou olhando mais para a actuali-
dade, o João Matos ou o Carlos
Ruesga. Respeito estes 3 atletas
profundamente. Têm alma de
Leão!

Rui Bravo Sara Pereiros

Idade: Idade:
30 30

Na 1906 és… Na 1906 és…

Designer Revisora + Fotógrafa

Se fosses um jogador ou um
atleta do Sporting serias...
João Matos, Patrão!
Se fosses um jogador ou um
atleta do Sporting serias...
Mathieu. Pela classe, pelo profissi-
onalismo e pela permanente postu-
ra de "sai da minha frente, ser irri-
tante, que me estás a incomodar".

EU № Sporting Tático Tiago Neves

BRUNO Idade:
FERNANDES 37 Tiago, o que é feito de ti, pá?
Temos saudades tuas na
Na 1906 és… Redacção. Se nos estiveres a
Redactor/Repórter ler, por favor diz qualquer coisa.

Se fosses um jogador ou um Eu sei que andas um bocado

atleta do Sporting serias... desiludido com o Sporting e tal,
Balakov mas volta lá para nós senão
vamos buscar-te pelas orelhas
a Barcelona ;)
Foto de Nuno Valinhas / @nunovalinhas
Futebol - Época 2019/20

O que esperar de
2019/20?
Uma pré-época sem vitórias, uma Supertaça violentamente
perdida contra o rival de sempre, um 1-1 mal amanhado no
Funchal e algumas folgas duplas pelo meio. Domingo jo-
gou-se em Alvalade contra o Braga (quanto ficou?) e por
agora, ainda há Bruno Fernandes (e Keizer?). Estão, assim,
reunidas todas as condições para que se faça uma ante-
visão do que 2019/20 pode ser, juntando o grande Rogério
Casanova a 9 dos nossos habituais escribas. Boa sorte.

Textos de
Rogério Casanova
Bruno Jacinto
Cherba
Henrique Paulino
Mariana Cordeiro Ferreira
O Artista do Dia
Pedro Varela
Ricardo Moreira
Sporting Tático
Nuno Valinhas

Este artigo foi fechado antes do jogo Sporting - Braga, da 2.ª Jornada da Liga NOS.
 Rogério Casanova
Q
uando o Spor-
ting Clube de
Portugal - clube
pelo qual esta
publicação de-
monstra uma
flagrante parcia-
lidade - enfardou
cinco golos do Benfica no Estádio do Al-
garve sem conseguir marcar nenhum,
perdendo assim, de acordo com os regu-
lamentos em vigor, o jogo em que esses
factos ocorreram, a reacção imediata de
todos os Sportinguistas foi não ficarem
preocupados.
Num momento de feliz sintonia, o ca-
cho de bananas invisíveis que nos presi-
de fez questão de nos dizer que não es-
tava preocupado, acrescentando ainda
uma supérflua recomendação para tam-
bém não ficarmos.
Supérflua porque não existe um úni-
co Sportinguista preocupado. Alguns
podem dizer-se preocupados, ou simular
performativamente preocupação, ou até
acreditar mesmo que estão preocupa-
dos. Mas ninguém está preocupado.
A preocupação faz exigências cogni-
tivas e emocionais incompatíveis com o
Sportinguismo: presume tacitamente
períodos de alternância entre "estar pre-
ocupado" e "não estar preocupado", e a
habilidade para prever aquilo que provo-
ca essa alternância; presume até a es-
perança secreta e inocente de que as
causas sejam passíveis de correcção.
A preocupação sobrevive entre os
Sportinguistas apenas como ritual estili-
zado - uma superstição sentimental,
análoga às "cuecas da sorte" em dia de
jogo. Ninguém acredita realmente na efi-
cácia das cuecas da sorte: é algo que se
usa apenas porque sim. E também nin-
guém fica realmente preocupado quan-
do olha para Tiago Ilori e diz em voz alta:
"isto é preocupante". É algo que se diz
apenas porque sim.
Se há algo que ainda funciona como
factor agregador neste caldeirão de in-
candescente disfuncionalidade, se há
algo capaz de unir todos - desde o sócio
de 95 anos a quem foi dado o privilégio
de votar vinte vezes como recompensa
por ser do Sporting tanto tempo sem co-
meter suicídio, até ao adepto de 18 anos
que acredita piamente que o sentido po-
sicional de Tiago Ilori é uma conspira-
ção da Maçonaria - é esta incapacidade
colectiva para nos preocuparmos, e
olhar tranquilamente para Marcel Keizer
como um treinador de futebol (e não, por
exemplo, como um cientista que perdeu
o cabelo num horrível acidente de labo-
ratório, depois de ter confundido um
bico de Bunsen com um Tiago Ilori).
A preocupação é um sentimento de-
sajustado. Tal como a esperança, o en-
tusiasmo, o desânimo ou a depressão.
(E tal como, já agora, a "união": odiarmo-
nos todos uns aos outros é mais do que
justificado e devemos continuar a fazê-
lo).
A única emoção permanentemente
compatível com o Sportinguismo é a cu-
riosidade: a vontade de saber a forma
específica que vai assumir a nossa
próxima pirotecnia autodestrutiva: va-
mos golear um adversário por 5-0, com
um hat-trick de Tiago Ilori?
Teremos uma Assembleia Geral Ex-
traordinária para converter VMOCs em
mísseis ICBM? O nosso próximo presi-
dente vai comprar o futuro Messi por
450 mil euros e no dia seguinte declarar
guerra a Marrocos e morrer em Alcácer-
Quibir?
Até que estas possibilidades se tor-
nem legíveis, ficaremos todos aqui, jun-
tinhos e epicamente despreocupados,
continuando a achar insuportável aquilo
que respectivamente não suportamos:
as coisas como elas são; as coisas
como elas eram; as opiniões uns dos ou-
tros sobre as coisas como elas são e
como elas eram; e o Tiago Ilori.
Vai ser horrível; vai durar para sem-
pre; e ninguém pode ir embora. Viva, por
conseguinte, o Sporting.
@RogerioCasanova
 Esta época o título está entregue. O
poder dentro e fora de campo de outro
clube é incrível e só falta saber em que
mês irão ser campeões, enquanto ire-
mos ter de explicar aos nossos filhos
que estamos a preparar o futuro e que
em breve a vitória será nossa. É isto que
a maioria de nós pensa e sente agora,
não é?
Como parar a máquina do outro lado
da Segunda Circular e ganhar isto? Ain-
da para mais contando com alguns joga-
dores que não parecem ter qualidade
para jogar por cá, como Diaby, Ilori ou
Bruno Gaspar, mesmo que tenhamos
Há sempre uma super estrela como Bruno Fernan-
des e um central veterano que nos faz
esperança sonhar como Mathieu.
Agora tirem o nome de Diaby, Ilori e
Texto de Bruno Jacinto Bruno Gaspar e coloquem Krpan, Kmet e
Imagem de Freepik.com Quim Berto. Já agora, troquem o nome
de Bruno Fernandes por Peter Schmei-
chel e Mathieu por André Cruz. Era pos-
sível ganhar a alguém que era imparável
Fui dos que se entusiasmou com a
chegada de Marcel Keizer, com aquele
futebol virado para a frente e com a ilu-
são de ver uma real e sustentada aposta
na formação. Do sobrolho levantado,
aquando do anúncio de um nome desco-
nhecido, passei a torcer a sério por al-
guém que parecia fazer comichão aos
treinadores cá do burgo. Mas, à medida
que o tempo foi passando, a minha rela-
ção com Keizer foi ganhando contornos
de intolerância. Pela ausência de fute-
bol, pela péssima gestão do plantel, pelo
discurso pobre em frente aos microfo-
nes.
E eu sou um A conquista das Taças e o argumento
de que merecia começar uma época
gajo pensada por si segurou o holandês, mas
a pré e o arranque de 2019/20 tem sido
optimista… um verdadeiro terror. À total ausência de
evolução futebolística, seja no processo
Texto de Cherba defensivo, no ofensivo ou nas bolas pa-
radas (valham-nos os penaltis), junta-se
o “pormaior” de gastarmos mais de 30
dentro de campo, com Jardel como o
maior goleador que por cá andou em 50
anos, e controlando o sistema via Apito
Dourado?
Se foi possível ali, porque não será
possível agora? Se ali acreditei e depois
sorri, porque me tenho de resignar ago-
ra? Se perdermos, perdemos, mas baixar
os braços e deixar de acreditar não, obri-
gado.
Só peço é para não caírem na tenta-
ção do “jogo a jogo”. Analisem bem os
ciclos de adversários, poupem onde se
puder poupar para garantir sempre os
três pontos e foquem-se em cada bata-
lha. No fim teremos de fazer mais e me-
lhor que todos os outros se queremos
ser campeões, mas se pensarmos e
agirmos de forma certa há sempre espe-
rança.
@bodak
milhões em contratações e nenhuma
entrar de caras na equipa (nem Vietto,
rapazinho que custou 7,5 milhões por
metade do passe e mais um “calar a
boca” no caso Gelson Martins), para
além das constantes facadas que são a
dispensa de quase tudo quanto é valor
da nossa formação e que tem futebol,
mais que suficiente, para fazer parte
deste plantel.
Neste momento sinto-me de regres-
so a 1996/97, onde me disseram para
acreditar no “mister” Waseige, no Missé-
Missé, no César Ramirez, no Balajic e no
Gil Baiano. E, logo eu que sou um gajo
tremendamente optimista, dou comigo
a pensar que esta toranja kareka jamais
será mecânica e que, lá para Outubro,
estará a ser despedido sem ter conse-
guido dar uma única press em portu-
guês…
@TascaDoCherba
 Warning: este texto pode conter lin-
guagem possível de ferir susceptibilida-
des. Se for sensível, ignore.
"Este ano é que é". Aquela típica frase
que se repete todos os anos... excepto
este ano (em tom irónico não conta). Ou
muito me engano, ou esta época estará
ao nível de 2012/13, mas com topping
de caramelo... fora de validade.
A vontade de apoiar a equipa profissi-
onal de futebol masculino é pouca. Co-
meçou já na época passada, naquela
fase da eliminatória frente ao Villarreal,
e veio crescendo, atingindo o seu pico
na Supertaça. E não é pelos resultados,
"Este ano é é mesmo pelo fraco futebol que se prati-
ca. E pela estrutura por detrás. O que co-
que é" loca, portanto, as expectativas ao nível
de um Rio Ave, mas um Rio Ave que se
Texto de Henrique Paulino bate minimamente bem na Europa. Uns
quartos na Liga Europa seriam o ponto
alto da época. Internamente, quartos da
Taça de Portugal, caíndo aos pés de
uma equipa do meio da tabela (na me-
lhor das hipóteses, meias-finais), final-
four da Taça da Liga (dependendo do
grupo) e um quinto lugar a mais de 25
pontos para o primeiro. Yey!
Tudo isto parece péssimo, mas o
péssimo não é necessariamente mau:
noutro clube, com Tiago Ilori e Bruno
Gaspar no plantel, seria um feito herói-
co. No Sporting é só... deprimente.
@dothnrs
@nanacferreira
 É triste, mas é isto que sinto: o meu
nível de confiança para esta época não é
superior ao que tinha há um ano após
uma pré-temporada caótica planeada
por Cintra e Peseiro. Era suposto que
2018/19 fosse o ano ZERO, o ano de
transição que daria a Keizer e à nova es-
trutura o tempo para se adaptarem e or-
ganizarem. No entanto, efetuados os de-
safios de preparação e os primeiros jo-
gos oficiais do ano UM, não se vê
praticamente nenhuma evolução indivi-
dual e muito menos coletiva, não se per-
cebe uma ideia coerente para o futebol
que una treinador e estrutura e, a pou-
Mais do cos dias do fecho do mercado, continua
a não se ver trabalho nos bastidores
mesmo para despachar o entulho que existe e
trazer mais-valias efetivas para o plan-
Texto de O Artista do Dia tel.
Imagem de rawpixel.com / Freepik Só vejo dois fatores positivos que
eventualmente nos poderão ajudar: Bru-
Ser adepto do Sporting é amar com
enorme paixão o Clube que nos tira a ra-
cionalidade na hora de avaliar o que es-
perar para a época 2019/20. Eu acredito
sempre que o Sporting vai festejar o títu-
lo de Campeão Nacional. Sou um opti-
mista por natureza, especialmente
quando todas as equipas, principalmen-
te as que lutam pelo título, estão com
zero pontos. Como imaginam, isto é de
uma frustração enorme quando tudo ter-
mina; basta pensar nas vezes que fo-
mos campeões nacionais nos últimos
anos.
Depois vem a necessidade de baixar
Querer estar as expectativas e ir de encontro à reali-
dade. Olho para o outro lado da Segunda
enganado Circular e temo que o Benfica esteja no
caminho da hegemonia do Futebol Por-
Texto de Pedro Varela tuguês. É, na minha opinião, o principal
Imagem de macrovector_official / candidato ao título deste ano.
Freepik
O Porto, enleado numa mixórdia de
temáticas desde treinador, questões fi-
nanceiras, equipa e por aí fora, poderá
estar num ritmo de indefinição muito
idêntico ao nosso; por outras razões,
no Fernandes repetir a época estrondo-
sa que realizou em 2018/19; e a elimina-
ção do Porto da Liga dos Campeões, que
seguramente limitará os rivais norte-
nhos na composição do plantel. Mas é
preciso que o treinador seja capaz de
potenciar a equipa à volta de Bruno Fer-
nandes e ter uma estrutura capaz de
perceber que teremos de colocar sem-
pre as fichas todas no campeonato para
podermos fazer melhor que na época
passada.
O título parece-me entregue ao Benfi-
ca – é só uma questão de saber em que
mês se sagrarão campeões –, e nós te-
remos de fazer tudo para segurar o se-
gundo lugar e a possibilidade de acesso
à Liga dos Campeões em 2020/21.
@OArtistaDoDia
mas que perturbará certamente o rendi-
mento da equipa. Ficando para o final o
incógnito Braga: será que pode ou não
voltar a imiscuir-se, primeiro numa luta a
três, e depois, quem sabe, na tentativa
de chegar mais longe?
O Sporting falhou na pré-época, fa-
lhou no mercado (até à hora de fecho
desta edição) porque não completou as
lacunas que estão identificadas da épo-
ca passada, continua com o problema
de utilização e adaptação da formação,
não estão à vista as melhorias no depar-
tamento de Scouting e a direcção des-
portiva está longe da persecução dos
objectivos que muitos de nós, treinado-
res de bancada, entendemos como pri-
mordiais para o clube. O planeamento
da época parece-me, para já, um tiro ao
lado. Quero, no entanto, que em Maio es-
tas palavras estejam todas erradas e
que alguém me diga “não percebes nada
desta merda, fomos campeões”!
@bancadadeleao
 As minhas expectativas para a nova
época não são as melhores. É o que sin-
to após ter visto os dois primeiros jogos
nos estádios (Alvalade e Algarve). Se a
humilhação na Supertaça já devia servir
de alerta à equipa, resolveu-se dar dois
dias de folga na semana de deslocação
à Madeira. Deu asneira, obviamente.
Mais uma vez, o título desta época
está destinado ao Benfica. A não entra-
da do FC Porto na Liga dos Campeões é
inclusivamente má para a competitivi-
dade do nosso campeonato. Nesta épo-
ca e nas próximas. Eles com os milhões
e nós a ver aviões. Este é o fosso que me
E apontar preocupa. Não é o do estádio, com esse
posso eu bem! Mas há quem mostre não
para a Europa, estar preocupado com a (falta de) com-
petência da equipa… certo, presidente?
não? Sempre sonhei ver o Sporting CP con-
quistar a Liga Europa. Tivemos uma
Texto de Ricardo Moreira grande oportunidade em 2011/12, quan-
do caímos frente ao Athletic Bilbao, nas
meias finais. O que defendo pode ser po-
Sentem-se no relvado de Alvalade.
Sim, todos! Sem exceção! Desde o presi-
dente ao roupeiro. Não baixem a cabeça!
Olhem para as bancadas. Olhem para
Nós! Sim, ainda aqui estamos. Perto de
vocês. Sem forças, sem vontade de rugir,
sem reação, desiludidos, de braços caí-
dos e em silêncio. Quase conformados,
com muitas dúvidas e quase sem espe-
rança, mas ainda cá estamos. E vocês?
Revoltem-se! 45 anos! Cinco campeo-
natos. 1974, 1980, 1982, 2000 e 2002.
São estas as memórias que contamos
há 17 anos e iremos continuar a somar
se a estratégia não se alterar. O comboio
Revoltem-se, está a fugir. E carrega os milhões na car-
ruagem. O Sporting está a ficar para trás
caralho! e está em risco de perder a viagem.
Este Clube tem uma capacidade in-
Texto de Sporting Tático crível de se reerguer das cinzas. De vol-
tar a ser Grande rapidamente! De supe-
rar tudo o que acontece de mal. Temos
este potencial e por vezes nem o perce-
bemos. Não o entendemos, definitiva-
lémico, mas é o que idealizo. Durante os
próximos anos, esta devia ser a nossa
política: No campeonato, lutar para en-
trar na UCL. Na Europa, tentar fazer o
que o Sevilla conseguiu, mas à nossa
maneira. Não contratar os “craques” ha-
bituais que só nos dão prejuízo, apostar
realmente na formação, lutar para ven-
cer a Liga Europa e, quando isso aconte-
cer, entrada directa na fase de grupos da
Champions. É um ciclo. Já se provou
que esta prova está à altura das equipas
portuguesas. E convenhamos, ter ape-
nas uma Taça das Taças no futebol é
muito pouco para um clube como nós. O
que queria ver já em 2019/20 era isto.
Lutar para vencer as duas taças nacio-
nais, mais a Liga Europa. Infelizmente,
por tudo o que sabemos, o campeonato
está sempre entregue aos mesmos dois
clubes. E isso não vai mudar tão cedo.
Se não quisermos.
@RJPMoreira
mente. Nem o exploramos. Mas este
Sporting suspira por um novo início. Um
novo ciclo. Uma nova oportunidade.
Uma nova etapa. Um novo recomeço. E
vocês têm de fazer parte desse renasci-
mento. Levar o Clube à glória. Carregar o
Clube às costas! É agora o momento!
Chegou o momento! Revoltem-se! Re-
nasçam! Conquistem-nos! Mostrem-nos
o caminho…
Não esqueçam o que aconteceu na
Supertaça! Recordem todos os dias
aquele jogo! Gravem na memória aquele
momento! Usem aquele jogo na vossa
revolta. Mas façam alguma coisa! De-
monstrem que há um caminho. Façam-
nos acreditar que é possível.
Revoltem-se, caralho! Nós… Nós es-
taremos por aqui. No local habitual.
Sempre do vosso lado. Quase sem for-
ças, desiludidos e preocupados. Mas
sempre ao vosso lado…
@sporting_tatico
 Vezes sem conta – demasiadas – re-
corro a um GIF no Twitter para ilustrar
um qualquer assunto da vida do nosso
Sporting. Esse GIF é um de Phil Connors,
personagem interpretada pelo grande
Bill Murray, no filme “Groundhog Day”
(estreado em 1993), fantasticamente
traduzido daquela maneira muito portu-
guesa para “O Feitiço do Tempo”.
O filme não foi nenhum blockbuster,
mas colheu a minha simpatia desde a
primeira vez que o vi. Pôr-me nos pés de
Phil Connors, um jornalista-meteorolo-
gista, destacado pela cadeia para a qual
trabalhava para ir cobrir o famoso
“Groundhog Day” na localidade de Punx-
sutawney, Pensilvânia, dia em que, reza
a lenda, uma marmota sai da sua toca
depois de meses seguidos a hibernar
para ver se continua por lá porque o In-
verno ainda perdura, ou se a Primavera
chega mais cedo e a marmota já pode ir
à sua vida. Os desmancha-prazeres dos
cientistas dizem que o que a marmota
faz ou deixa de fazer nada tem a ver com
o clima. Enfim, cientistas.
Mas voltando ao GIF. No tal GIF vê-se
o Phil a dizer o seguinte: “Well… it’s
Groundhog Day. Again”. E “Again” por-
quê? Porque o Phil vê-se metido num
loop temporal em que acorda sempre no
mesmo dia: 2 de Fevereiro. A previsão
do tempo ameaçava uma tempestade
de neve que, obviamente, iria fazer a
marmota nem sequer sair da sua toca e,
assim, a Primavera não chegaria mais
cedo, para desilusão da população de
Punxsutawney.
Inicialmente, Phil acha que aquilo é
tudo um sonho. Mas volta a acordar no
dia 2 de Fevereiro, com a mesma música
na rádio (o clássico “I Got You Babe” de
Sonny & Cher) e, no caminho para o local
da toca da marmota, o locutor da rádio
diz sempre as mesmas piadas. A mar-
mota nunca sai, a tempestade não pas-
sa e a Primavera teima em não chegar
mais cedo. E amanhã é dia 2 de Feverei-
ro outra vez. Tudo igual. Muitos dias.
Nada muda. E por muita coisa que o Phil
faça, nada muda, nada afecta o seguinte
2 de Fevereiro. Nem o seguinte a esse,
nem o outro, nem o próximo, nem mais
um. Nada muda.
A equipa de reportagem tinha mais
um cameraman e uma colega, a Rita
Hanson, representada por Andie Mac-
Dowell. Phil achava a Rita engraçada,
mas só ao fim de muitos loops é que
sentiu confiança suficiente para lhe con-
tar o que se passava, até porque só o
Phil vivia no loop. A Rita, assim como to-
das as outras pessoas, viviam naquele 2
de Fevereiro eternamente igual, eterna-
mente novo.
Phil decidiu então fazer daquele loop
uma oportunidade. Começou a ajudar
pessoas, aprendeu a tocar piano, a falar
francês, a esculpir gelo e foi corrigindo
algumas coisas que estava a fazer mal e
alguns traços mais vincados da sua per-
sonalidade e maneira de ser.
Num desses 2 de Fevereiro, Phil deci-
de declarar-se à Rita, dizendo que a
ama. Passam o dia juntos, ele mostra-
lhe tudo o que de bom faz, faz uma es-
cultura em gelo da cara dela, passam a
noite juntos e, na manhã seguinte… a
música volta a ser a mesma “I Got You
Babe”, mas desta vez, acorda com a Rita
ao lado. O loop terminou. O dia é 3 de Fe-
vereiro e a marmota saiu e viu a sua pró-
pria sombra, sinal de que o Sol está alto,
não há mais nuvens e a Primavera está
a chegar.
Ao mesmo tempo que acho que o
Sporting está irremediável e permanen-
temente metido num loop de erros, más
decisões, más escolhas e (consequen-
tes) desilusões, também acho que seria
absolutamente necessário um verdadei-
ro Groundhog Day (ao invés de um
#DiaDeSporting), onde o Sporting (clu-
be, dirigentes, mas também sócios e
adeptos) tivessem oportunidade de re-
petir o mesmo dia, vezes sem conta,
para perceber onde errámos e continua-
mos a errar todos, o que podemos fazer
melhor, ou mais, pelo Clube, tornando-o
mais forte, melhor, mais ganhador.
Viva o Sporting! Sporting Sempre.
@nunovalinhas
O Campeonato
dos Cifrões
Texto de O Artista do Dia
Q
uem parte na pole positi-
on para a época
2019/20? A pergunta é
feita repetidamente du-
rante o defeso e, ainda
que seja uma posição
que pouco interessa, a verdade é que o
Sporting estava à partida impossibilita-
do de reivindicar qualquer tipo de favori-
tismo nesta fase devido… ao fator finan-
ceiro. Independentemente do entusias-
mo gerado pelas contratações e das in-
dicações deixadas nos jogos efetuados,
o Sporting ficou condenado a arrancar
do 3º lugar da grelha de partida da tem-
porada a partir do momento em que não
foi capaz de alcançar, em 2018/19, um
dos lugares que dão acesso à milionária
Liga dos Campeões.
Pode não ser o dinheiro que conquis-
ta os campeonatos, mas a história tem
demonstrado que dispor de orçamentos
elevados ajuda muito. Recuando até
2002/03 (não estão disponíveis publica-
mente dados do Benfica anteriores a
essa época), nunca o clube com o tercei-
ro maior orçamento conseguiu vencer o
campeonato. Aliás, olhando para o que
se tem passado neste século, conclui-se
que o plantel mais caro costuma andar
de mãos dadas com o sucesso desporti-
vo: nas 17 épocas para as quais existem
dados, o clube com maior orçamento sa-
grou-se campeão em 13 ocasiões.
Com encaixes garantidos de 40 mi-
lhões de euros na Liga dos Campeões –
€
que poderão duplicar em caso de uma
boa participação – tanto Benfica como
Porto (em caso de sucesso nas pré-eli-
minatórias e playoff) têm garantido um
nível de receita que lhes dá outro nível de
condições financeiras para atacar a épo-
ca. Têm maior capacidade de investi-
mento em passes de jogadores e
dispõem de um orçamento para salários
bem mais generoso que, bem aplicado,
facilita a retenção do talento existente e
a atração de ainda mais talento. Quem
tem mais dinheiro, tem menor probabili-
dade de errar na formação do plantel.
Quem tem menos dinheiro, tem menos
margem que os rivais nas apostas feitas.
Vamos a números.
RECEITAS
As receitas ordinárias abrangem to-
dos os valores faturados pelos clubes
com exceção da venda de atletas. Fala-
mos de componentes como os direitos
televisivos, lugares anuais e bilheteira,
patrocínios, venda de camarotes e pré-
mios das competições europeias. Em te-
oria, os orçamentos dos clubes deveriam
ser definidos em função das suas recei-
tas ordinárias, mas a norma no futebol é
outra: com o objetivo de se formarem
plantéis mais competitivos, todos defi-
nem orçamentos que ultrapassam o to-
tal dessas receitas, assumindo-se a ne-
cessidade de vender jogadores para ta-
par o buraco orçamental que for gerado.
O que pode variar é o nível de risco, que
poderá obrigar os clubes a vender mais
ou menos atletas no final de cada época
desportiva.
Ao longo da última década, o Porto
tem sido quase sempre o clube mais de-
pendente dessas vendas. O modelo fun-
cionou enquanto o sucesso desportivo e
valorização de atletas eram recorrentes,
mas deu origem a prejuízos avultados a
partir do momento em que esse círculo
virtuoso foi interrompido.
Após um período prolongado em que
apresentou orçamentos significativa-
mente inferiores a pelo menos um dos ri-
vais, o Sporting conseguiu finalmente re-
por o equilíbrio em 2016/17 graças, so-
bretudo, ao contrato assinado com a
NOS. No entanto, foi uma situação efé-
mera: o enorme aumento dos prémios da
Liga dos Campeões registado em ORÇAMENTO PARA O FUTEBOL
2018/19 veio cavar um fosso gigantesco
entre os clubes que participam nessa Apesar de os valores orçamentados
competição e os restantes. Para a reali- pelas SAD’s para as épocas de 2019/20
dade portuguesa, os milhões da Champi- não serem públicos, podemos fazer uma
ons representam uma fatia muito signifi- projeção em função dos números ofici-
cativa das receitas e criaram condições ais reportados na época anterior e das
aos nossos rivais para se voltarem a dis- movimentações feitas durante o defeso.
tanciar. É fácil perceber a mudança de Desde janeiro de 2019, a SAD tem tido
paradigma ditada pelo aumento dos pré- a preocupação de racionalizar o nível sa-
mios da Liga dos Campeões comparan- larial do plantel, com contratações de jo-
do as receitas registadas no 1º semestre gadores ainda em fase de afirmação que
de 2017/18 com as do período homólo- auferem salários mais reduzidos (Vietto
será a exceção à
regra). Para além
disso, vários atle-
tas com venci-
mentos demasia-
do altos para o
seu rendimento
desportivo foram
dados como
transferíveis (Vivi-
ano, Jefferson,
André Pinto ou
Petrovic são al-
guns exemplos).
Se a direção tiver
sucesso na tarefa
de se desfazer
dessas gorduras,
é expectável que
go de 2018/19: o orçamento do Sporting para 2019/20
É notório o impacto que este desnível caia em relação a 2018/19. Este ajuste
de receitas tem na (falta de) capacidade era necessário, já que, sem Liga dos
financeira do Sporting para a formação Campeões, o Sporting não tem receitas
do plantel face à dos rivais. que sustentem este nível de custos.
O futebol não é uma
ciência exata e, como
tal, ter menos
dinheiro não é uma
condenação
irreversível.
 Ao invés, o Benfica está a reforçar a
aposta no plantel – quer na contratação
de jogadores, mas sobretudo ao nível de
renovações – e o Porto deverá manter-se
aos níveis da época anterior. É bastante
provável que, esta época, o Sporting gas-
te em salários pouco mais de metade do
que o atual campeão nacional.
COMO CONTRARIAR ESTA
DESVANTAGEM
O futebol não é uma ciência exata e,
como tal, ter menos dinheiro não é uma
condenação irreversível. Será imprescin-
dível:
1. Racionalizar os custos do plantel
É uma tarefa que não se deve limitar
apenas à venda/empréstimo dos jogado-
res que não trabalham com Keizer, mas
também de outros que fazem parte do
plantel, mas cujo rendimento desportivo
tem ficado aquém do esperado, como Di-
aby, Bruno Gaspar, Ilori ou Battaglia. E
pode-se ir ainda mais além: fará sentido
manter Dost com o atual sistema do Kei-
zer, sabendo-se que recebe 6 milhões de
euros brutos por ano?
Um bom trabalho a este nível vai criar
alguma folga, para o reforço do plantel
com jogadores com maior rendimento
desportivo e potencial de valorização.
Há, no entanto, o problema do prazo da
janela de transferências – tanto para fa-
zer, e o tempo a ficar cada vez mais curto
– e os distúrbios que estas movimenta-
ções causam no grupo de trabalho já
com a época oficial a decorrer em simul-
tâneo.
2. Acerto nas contratações
Não há praticamente nenhuma mar-
gem para errar. Todos os euros contam e
temos de ser muito mais eficientes a
gastá-los do que é habitual nos grandes
portugueses.
3. Estabelecimento de prioridades
para a época
O objetivo primordial terá que ser, ob-
viamente, a conquista do campeonato.
Não sendo possível vencê-lo, o objetivo
seguinte tem de ser o segundo lugar.
Aceder aos milhões da Liga dos Campe-
ões – e, simultaneamente, impedir que
um dos rivais lá chegue – é um passo im-
prescindível para o reequilíbrio dos pra-
tos da balança em termos financeiros.
Isso implica que os jogos do campeo-
nato devam ser sempre encarados como
prioritários face aos restantes. Havendo
titulares que precisam de ser geridos fisi-
camente – como Mathieu –, não faz sen-
tido serem utilizados um minuto que
seja em fases pouco avançadas das ou-
tras competições, que deverão ser apro-
veitadas para dar rodagem às segundas
linhas – e em particular aos jovens que
temos no plantel.
CONCLUSÃO
$
Ter um orçamento mais baixo é um
handicap muito relevante para o cumpri-
mento dos objetivos do clube, mas não
pode ser encarado como uma fatalidade.
Não implica que o Sporting esteja conde-
nado a lutar pelo terceiro lugar no cam-
peonato: podemos e devemos tentar
contrariar a desvantagem ao nível dos
recursos financeiros com uma utilização
mais eficiente e objetiva dos mesmos,
estando constantemente focados naqui-
lo que é mais importante.
@OArtistaDoDia
£
Democracia no
Mundo Digital
Texto de Bruno Jacinto
Ilustração de Rui Bravo / @RuiBravo
 Falar em Democracia
é algo que fica bem a
toda a gente. Fica
bem a qualquer esta-
do realizar eleições,
promover referendos e até mesmo vali-
dar de forma eleitoral as suas leis de
base. Mas isto tanto é verdade para um
regime como o Português actual, o Britâ-
nico ou mesmo o Americano. Se anali-
sarmos bem, até durante o Estado Novo
em Portugal se referendou constitui-
ções e se fizeram eleições, mas seria
isso verdadeiramente democracia?
A génese da democracia como vul-
garmente aceite remonta à Atenas
Clássica, na Grécia Antiga. Aí os cida-
dãos juntavam-se no Fórum, discutiam
os assuntos em cima da mesa e vota-
vam posteriormente. Isto além de regu-
larmente votarem também em quem iria
assumir o poder executivo. E sempre da
mesma forma: um voto por cidadão e
qualquer cidadão podia falar.
Claro que isto não eram só rosas.
Nem toda a gente era considerado um
cidadão, mas seria isto menos demo-
crático que o estado actual do Sporting?
No Sporting podem votar todos os asso-
ciados com mais de um ano de filiação.
Nesse ponto podemos dizer que esta-
mos melhores que os Gregos. No entan-
to deve ser o único ponto.
Enquanto que na Grécia Clássica cada
pessoa valia o mesmo, no Sporting um
sócio pode valer dezenas de vezes os
votos de outro sócio. Justo? Para mim
não.
Mais grave, e transversal a várias direc-
ções, é que nem toda a gente pode ser
ouvida antes de se votar. Isto impede
claramente que se faça Democracia.
Qualquer um pode subir ao púlpito e pe-
dir a palavra, é verdade, mas as vota-
ções serem sempre em Lisboa e, desde
Fevereiro de 2017, se ter começado a
abrir as urnas antes de se dar a palavra
às pessoas limita gravemente o estado
democrático.
No Sporting podem
votar todos os
associados com mais
de um ano de filiação.
Nesse ponto podemos
dizer que estamos
melhores que os
Gregos. No entanto
deve ser o único
ponto.
AS CAUSAS INICIAIS PARA ESTAS
LIMITAÇÕES
Os sistemas de votos por antiguida-
de nos clubes nascem de um problema
associativo clássico. Sempre houve o
receio de umas dezenas, ou centenas de
pessoas, se fazerem associados a cor-
rer para tomar o poder numa associa-
ção. Mesmo a limitação de só se poder
votar ao fim de um determinado período,
um ano no caso do Sporting, não chega
para mitigar tudo.
Será, no entanto, fácil fazer uma inva-
são num clube com mais de cem mil só-
cios? À partida não, mas se o voto for li-
mitado a Lisboa o risco é sempre maior
por existir maior abstenção.
Quanto à hipótese de discussão e vo-
tação é também um problema comple-
xo. Sendo o Sporting um clube nacional
desde a sua criação, sempre fez sentido
ser aberta toda a discussão a sócios de
todo o país. No entanto, sendo a sede
em Lisboa foi o lugar onde foram sem-
pre centradas as Assembleias Gerais e
Electivas.

AS SOLUÇÕES DE VOTO DA ERA
DIGITAL
O que era uma completa impossibili-
dade em 1906, aquando da fundação do
Sporting Clube de Portugal, pode ser
algo até relativamente simples nos dias
que correm. Poder votar de forma mais
célere e directa via telemóvel é algo que
está ao nosso alcance.
Quanto a autenticação podemos
usar factores biométricos, como algu-
mas aplicações financeiras usam, ga-
rantindo assim a autenticidade do voto.
Com isto poder-se-ia ganhar, não só um
aumento exponencial do voto efectivo,
como deixar de ser relevante a questão
de votos de antiguidade.
Sendo um sistema fácil poderia ser
feito de forma a poder ser criada forma
para todas as votações serem digitais,
mas também para poder sondar efetiva-
mente os sócios sobre todo e qualquer
assunto que a direcção desejasse. Isto
se esta estiver aberta a saber o que os
sócios querem.
DISCUSSÃO, ESCLARECIMENTO
E OPINIÃO VIA DIGITAL
Podemos pensar que se o voto pas-
sar a ser digital e remoto deixa também
de haver discussão saudável sobre os
temas, e possibilidade de dar voz a
quem quer dizer algo.
No entanto, quantas pessoas se con-
seguem fazer ouvir durante os três mi-
nutos que lhes é dado para usarem da
palavra nas Assembleias Gerais? Alguns
sim, mas para isso a Assembleia, e em
alguns casos o Presidente da Mesa, têm
de manter a cordialidade e serenidade
para isso se poder fazer.
Claro que se temos um sistema que
valida se apenas os sócios podem ace-
der, porque não deixar que estes carre-
guem vídeos, com a mesma limitação de
três minutos por pessoa, na plataforma
de voto e que fossem disponibilizados a
todos.
Sim, bem sei que pode ser gravado
depois e dado a conhecer a outras pes-
soas. Certamente não seria mais grave
do que os jornalistas acabarem sempre
por receber filmagens e informações do
que ocorre dentro da Assembleia Geral.
Cada sócio poderia então ver os ví-
deos que quisesse, podia pedir para ver
aleatoriamente, apenas novos, ou até fil-
trar sócios que já tinha ouvido no passa-
do, ou silenciado pessoalmente quem
não tem paciência para ouvir.
Isto é, claro, além de toda a documen-
tação a votação que deveria estar com-
pleta aí mesmo e disponível para cada
sócio.
UM MEIO TERMO CENTRADO NOS
NÚCLEOS SPORTING
Por muito que gostasse de uma solu-
ção puramente digital, como comple-
mento às Assembleias Físicas que nun-
ca deverão desaparecer, não será solu-
ção para todos. Existe desconfiança no
digital e no voto não presencial.
Além disso não se pode excluir os só-
cios com mais idade ou menos acesso à
tecnologia. No entanto, o Sporting tem
uma arma fantástica que pode ajudar
nestes mesmos casos: os Núcleos Spor-
ting.
O voto poderá ser feito apenas em
Núcleos Sporting devidamente prepara-
dos. Como basta um computador com
acesso à Internet e um leitor de cartões
não parece haver um problema. Qual-
quer sócio poderia, no período de uma
votação, eleitoral ou não, dirigir-se a um
Núcleo Sporting e exercer os seus direi-
tos na hora. Com isto não só se resolve-
ria a questão das pessoas fora de Lis-
boa, mas também minimizava grande-
mente as questões relativas a
deslocações em trabalho e férias.
Em termos de elucidação aos sócios
teríamos uma televisão por núcleo, onde
durante algumas horas por dia seriam
passados os vídeos mais recentes que
os sócios tivessem, sendo que também
poderiam ser disponibilizados os mes-
mos na plataforma dos sócios do Clube
para cada um ver ao seu próprio ritmo.
Todas as propostas a votação tam-
bém deveriam ser colocadas no núcleo,
disponíveis a todos os sócios. Isto tanto
em formato impresso, as que o pudes-
sem ser, como em formato digital em
computadores ou tablets para o efeito.
Os custos não seriam nunca significati-
vos.
A SOLUÇÃO DEMOCRÁTICA PARA O
SPORTING 2020
Em resumo, a proposta de um Spor-
ting democrático passaria por:
1 SÓCIO 1 VOTO
Ao fim de um ano cada sócio teria os
mesmos direitos que qualquer outro.
Como existiria maior número de votantes,
não haveria riscos de usurpação de poder
por grupos de interesse que se fizessem
sócios de repente.
VOTO DIGITAL PRESENCIAL EM TO-
DOS OS NÚCLEOS
Considerando o salto para o voto não
presencial um salto demasiado grande, se-
ria feita uma votação em computadores ou
tablets em qualquer Núcleo Sporting.
INFORMAÇÃO PARA TODOS EM
TODO O LADO
Disponibilização de toda a informação a
votação, de forma clara, online em platafor-
ma autenticada biometricamente e nos
núcleos.
PLURALIDADE DE OPINIÃO E LIBER-
DADE PARA OUVIR E FALAR
Colocação, nas plataformas online res-
tritas a sócios, de vídeos submetidos por
sócios que possam falar em sede de As-
sembleia Geral, restrita aos mesmos três
minutos de uma participação em Assem-
bleia Geral. Passagem destes mesmos ví-
deos em todos os núcleos.
Com estes quatro pilares conseguiría-
mos um Sporting mais descentralizado,
o que só por si seria melhor, mas especi-
almente mais democrático. A partir daí
será apenas a democracia a deixar os
sócios do Sporting decidir.
@bodak
 E depois da AG
Q
uem me conhece e está
habituado a ouvir ou ler
as minhas opiniões,
sabe perfeitamente que
não escondo o que sinto
pelo Sporting, nomeada-
mente a paixão pelo Clube, nem o que re-
almente penso sobre cada assunto do
dia-a-dia da nossa centenária Institui-
ção.
No passado dia 25 de Junho, a duas
semanas da Assembleia Geral de 6 de
Julho, que, essencialmente, analisou a
expulsão de Bruno de Carvalho de sócio
do Clube, eu manifestei a minha concor-
dância contra a expulsão. Foram vários
os factores que tomei em consideração:
a luta de poder entre Bruno de Carvalho
e Jaime Marta Soares, as disputas judici-
ais com providências cautelares, as
competências da Comissão de Gestão e
o que está definido nos estatutos do
Sporting, o Conselho Fiscal e Disciplinar
e a forma como foi conduzido o proces-
so, e por aí fora, deixando bem claro, no
entanto, que o antigo presidente passou
das marcas em algumas das suas com-
petências e que algumas instâncias cria-
das foram muito duvidosas. No entanto,
nem gestão danosa foi comprovada,
nem o processo de Alcochete terminou,
para aferirmos a sua responsabilidade
directa.
Alcochete é, para mim, ponto funda-
mental do antes e depois. No dia seguin-
te ao ataque, o antigo presidente deveria
ter apresentado a sua demissão. Foi um
acumular de muitos erros que culminou
da pior forma e como um dos mais terrí-
Texto de Pedro Varela
veis dias da vida do Sporting. Mas é tam-
bém este processo que acaba por ser
fundamental para que muitos Sportin-
guistas se afastassem de toda e qual-
quer ideia e intenção que o antigo presi-
dente pudesse ter no Clube. Só assim se
explicam os resultados da destituição na
AG de 23 de Junho de 2018 e, mais re-
centemente, na AG de 6 de Julho para a
sua expulsão.
Os sócios, a democracia que existe
no Sporting, - não aquela que dá jeito -,
mas que pode ser discutida, decidiram
seguir por outra via. Uns concordarão
com esse caminho, outros nem tanto,
mas o “depois da AG” é um passo, já tar-
dio mas que tem de ser dado, para que
alguma razoabilidade esteja de volta ao
Sporting.
Frederico Varandas, quando foi eleito
presidente do Sporting, deveria ter leva-
do à prática o mote da sua campanha:
Unir. Preferiu negligenciar tudo o que ti-
nha dito até então e agudizou a guerra ci-
vil. Poderia e deveria ter iniciado um pro-
cesso de forma independente para avali-
ar toda esta questão em torno do ex-pre-
sidente, não se desculpando com algo
que começou numa Comissão de Gestão
formada por gente que fez parte da guer-
ra de poder, de um lado, que, de certa for-
ma, acabou por lhe dar jeito.
Agora, com parte do erro cometido,
não lhe resta outra opção que olhar para
a frente e traçar o seu caminho, que só
pode ser de sucesso se conquistar títu-
los desportivos, nomeadamente no fute-
bol. O passado servirá apenas para re-
flectir e não repetir o que de mal foi exe-
cutado, mas deverá perceber que há me-
tas que foram conseguidas e que devem
ser colocadas como mínimos: o equilí-
brio financeiro, equipas competitivas no
futebol e nas modalidades, aumento de
património e evolução das receitas. Não
perceber isto nem as diferentes ideologi-
as que neste momento encontramos no
Sporting, e bastará uma bola à barra,
num jogo que nos colocará em terceiro
novamente no campeonato, para em bre-
ve estarmos todos de volta a novas AGs.
@bancadadeleao
Os sócios, a democracia
que existe no Sporting,
- não aquela que dá
jeito -, mas que pode ser
discutida, decidiram
seguir por outra via.
Uns concordarão com
esse caminho, outros
nem tanto, mas o
“depois da AG” é um
passo, já tardio mas que
tem de ser dado, para
que alguma
razoabilidade esteja de
volta ao Sporting.
Tema de Capa

Carlos
Lopes
Corre Lopes, corre!
Foi há 35 anos que Portugal, finalmente, sorriu. A espera
foi tão grande como os nervos dos milhões que, naquela
madrugada, “corriam” por e ao lado de Carlos Lopes. No
pescoço daquele jovem de 37 anos estava a medalha mais
desejada, a de ouro. É nossa!
Mas a maratona desta figura do Desporto Nacional (e
Mundial), não começou nem acabou naquele 13 de
Agosto. Há mais, muito mais. Coloquem as sapatilhas, isto
vai ser tudo a correr. Aliás, nem podia ser de outra forma.

Texto de Marta Spínola / @Pinilla84

Fotos de Sporting Clube de Portugal
Ilustração de Daniel Silva / @designagreatme
Infografia de Ricardo Moreira / @RJPMoreira
De Vildemoinhos
a Los Angeles
são 37 anos
de distância
"Eu fugia dos meus amigos e eles
achavam que eu tinha talento.
Comecei a correr na brincadeira."
Texto de Marta Spínola
Imagem de Cantinho do Morais
C
arlos Lopes chega ao
Sporting em 1967.
Apesar das saudades
da família, o brio não
o deixou regressar a
Vildemoinhos. O brio
e um sonho.
Imaginem (ou relembrem) um Portu-
gal onde não se corria como hoje. Correr
não era running, nem para todos. Eram
poucas as pessoas que saíam de casa
para correr nos anos 80. Aos meus 7
anos, em 1984, só conhecia uma pessoa
que corria assim: o Tom Sawyer.
Na madrugada de 13 de Agosto de
1984, final de dia 12 em Los Angeles,
Carlos Lopes corria para a vitória. Al-
guns de nós, ainda com idade para ir
dormir cedo, só souberam de manhã. Eu
soube pelo meu avô, com quem passei
vários Jogos Olímpicos, uma vez que
nas férias de Verão era em casa dele que
me encontrava. Além de partilharmos
memórias de Jogos Olímpicos e Voltas
a Portugal, o meu avô passou-me o seu
Sportinguismo. E naquele dia disse-me
que Carlos Lopes vencera, o ouro era
português, ganho por um atleta do Spor-
ting.
Numa altura em que em Portugal só
uma minoria corria, Carlos Lopes ga-
nhou uma medalha de ouro na marato-
na. A primeira medalha de ouro para Por-
tugal. Gostava de vos levar numa via-
gem que também fiz recentemente: a do
caminho para essa conquista por um
atleta do Sporting Clube de Portugal, o
ouro de Carlos Lopes em Los Angeles.
Primeiro é preciso saber que tipo de
atleta foi Carlos Lopes, que dominou o
panorama mundial do atletismo. Foi ex-
traordinário tanto em pista, como em
corta-mato e em estrada, coisa rara no
mundo do atletismo. Foi campeão da
Europa nos 10.000 metros, campeão do
Mundo em corta-mato, medalha de ouro
em maratona, em pisos diferentes e con-
dições diferentes, decididamente um
atleta fora do comum. A juntar a isto, era
mentalmente muito forte, o foco no so-
nho de ser campeão olímpico foi deter-
minante para a vitória. Dei por mim a
descobrir um antecessor de Cristiano
Ronaldo, na forma de estar no desporto.
Com a diferença que Carlos Lopes man-
tinha um emprego a tempo inteiro, até
1975, ano em que foi dispensado de tra-
balhar na parte da manhã, podendo só a
partir daí fazer dois treinos por dia. En-
trava-se então no semi-profissionalismo
da modalidade, impulsionado pelo prof.
Moniz Pereira, o senhor atletismo.
Depois podemos revisitar o que é
uma prova da maratona, começando
pela sua origem e um pouco de História
da Antiguidade. Em 490 a.C. uma frota
persa de centenas de navios e mais de
trinta mil homens, desembarcou na
praia de Maratona. Este poderoso impé-
rio preparava-se para subjugar os territó-
rios gregos, o povo ateniense, e esmagar
a democracia. Em inferioridade numéri-
ca, dez mil soldados de Atenas, partiram
para a planície da baía de Maratona para
uma heróica defesa da sua terra e do
seu modo de vida. Entregues à glória e
ao destino, os gregos venceram as for-
ças invasoras, num feito digno dos deu-
ses. Deuses esses que tinham reserva-
do para um final épico, a derradeira as-
censão do Homem ao Olimpo. Na urgên-
cia de avisar a Acrópole da vitória na
batalha, o general grego Milcíades, envia
Fidípides, o seu melhor mensageiro. Fi-
dípides corria há dois dias desde Espar-
ta, onde fora pedir auxílio dos seus sol-
dados. Corria agora para glória sob a du-
reza do verão helénico. Chegado a Ate-
nas, depois de proclamar: “Regozijem-
se, vencemos!”, morreu. É este espírito
de dever e missão cumprida que a mara-
tona representa.
Carlos Lopes conhecia o significado
da maratona. Segundo o próprio, esta
prova “Não tem nada a ver com o cam-
peonato do Mundo ou o campeonato da
Europa. É uma prova em que toda a gen-
te quer ser um deus no estádio. Eu tam-
bém o queria ser, portanto levei isto mui-
to a sério.“ E levou. E foi um deus no es-
tádio.
Percorramos agora a sua caminhada
entre Jogos Olímpicos, de 1976 a 1984.
"A final foi uma corrida relativamente
simples. Carlos Lopes tomou a dianteira
após os primeiros 3200 metros e de forma
natural livrou-se da restante concorrência,
exceto de Lasse Viren, que o ultrapassou a
450 metros da meta e ganhou facilmente
com 30 metros de avanço". - In "The Com-
plete Book of Olympics", de David Walle-
chinsky
Foi assim que uma medalha que de-
via ter sido de ouro, foi de prata, em
1976, nos Jogos de Montreal. Hoje é sa-
bido que o finlandês Lasse Viren, que
venceu os 10.000 metros nesse ano, fa-
zia transfusões de sangue. Carlos Lo-
pes tem orgulho nas suas medalhas,
nem poderia ser de outra forma, mas foi
uma vitória e uma frustração em simul-
tâneo, uma vez que na altura já queria
ser campeão olímpico. Também estava
inscrito para os 5.000 metros e para a
maratona, mas abdicou de ambas as
provas devido ao desgaste físico e psi-
cológico pela “derrota” nos 10.000 me-
tros. Apesar de tudo, foi esta a corrida
que deixou Portugal, que via pela primei-
ra vez na sua história um atleta ganhar
uma medalha olímpica, a saber que era
possível estar no pódio do atletismo.
Um outro momento marca a presta-
ção de Carlos Lopes em Montreal: de-
pois de Lasse Viren, conhecido por nun-
ca aquecer com os restantes participan-
tes na prova e pelas alegadas transfu-
sões de sangue que fazia, não ter feito o
controlo anti-doping, o português, em
protesto, recusou-se também a fazer o
teste, seguindo-se-lhe o terceiro classifi-
cado com a mesma atitude. A partir de
então, os três primeiros classificados
passaram a ser obrigados a ir ao anti-do-
ping.
O campeonato do mundo de 1977 re-
vela o seu espírito combativo. Lesiona-
do, com pouco treino, sofreu diversas
tentativas de desgaste dos seus adver-
sários, que sabiam da sua condição.
Carlos Lopes atacava-os em resposta.
Ficou em segundo lugar, numa prova em
que acreditou sempre em si, em que se
impôs o tempo todo para dizer “Eu estou
aqui” (alerta nova semelhança com Cris-
tiano Ronaldo).
Em 1978 e 1981 desistiu no Campeo-
nato do Mundo de corta-mato, tendo em
1980 ficado num modesto 26.º lugar,
Além de ter em conta, na sua estratégia, o
calor e a humidade que o esperariam em Los
Angeles, também sabia que nas maratonas, os
últimos 5km eram feitos em 15 minutos, ou
seja, ganhava quem tivesse mais força e maior
velocidade no final. Então, preparou-se de
forma a fazer os últimos 30 minutos em
14’36+14’36.
atrás do grande rival e companheiro de
equipa Fernando Mamede (16.º). Falhou
também os Jogos Olímpicos de 1980,
em Moscovo, por lesão.
Em 1982 consegue bater um recorde,
neste caso a melhor marca europeia dos
10.000 metros nos Bislett Games, em
Oslo (com a marca de 27’’24,39). No ano
anterior deixara a promessa de que esta-
va de volta, e cumpriu-a ao conseguir
mais uma vitória no Nacional de corta-
mato, elevando para nove o número de
títulos e batendo o registo que pertencia
anteriormente a Manuel Dias.
Após uma grave lesão no tendão de
Aquiles, as dores não o deixavam treinar
como tanto gostava. Sabendo que ou-
tros atletas de renome, por se submete-
rem à operação ao tendão de Aquiles, ti-
nham deixado a modalidade, e sem ga-
rantias de que não lhe aconteceria o
mesmo, nunca quis ser operado. Tentou
vários tratamentos, sempre sem resulta-
do. Até que encontrou a receita de su-
cesso na acupuntura, na pessoa do
mestre Kiyoshi Koboyashi, a conselho
do então presidente do Sporting, João
Rocha. A cura era demorada, mas certa.
Carlos Lopes acreditou e não hesitou em
aceitar esta terapia. Foi o início de uma
nova vida.
Agora que já não sentia dores, procu-
rou um novo equilíbrio, treinando ao seu
ritmo. Foi assim que, dois anos e meio
antes de Los Angeles, percebeu que
para ser campeão olímpico em 1984,
pela idade que teria, pela sua velocidade
à data, teria de ser na maratona. Estava
decidido, apostaria na medalha de ouro.
Assim começou a sua preparação a sé-
rio para aquele dia de Agosto. Primeiro
teria de conhecer a distância e o percur-
so, para se conhecer a si mesmo nessas
circunstâncias, e fazer a sua adaptação
àquele tempo e espaço. Depois passou
ao treino por etapas, até chegar à con-
clusão final de como teria de ser a sua
prestação. A partir daí, foi conhecer bem
os adversários e as suas reacções e es-
tava pronto. Fazia um treino específico
entre a Malveira e a Coutada, corria en-
tre as 11h e as 13h para se habituar ao
calor que enfrentaria em Los Angeles,
chegando a fazer um total de 12.000km
num ano de preparação.
Tem a primeira experiência numa ma-
ratona em Nova Iorque, em Outubro de
1982, mas acaba por desistir. Seis me-
Carlos Lopes acreditava mesmo que ia para
ganhar, e cumpriu à risca a estratégia
delineada com o prof. Mário Moniz Pereira,
conquistando a vitória com o esticão dado nos
últimos cinco quilómetros, os tais que
preparara para fazer em 14’36.

Foto D.R.
 Infografia de
Ricardo Moreira / @RJPMoreira
Ilustração de
Daniel Silva / @designagreatme
Grande Entrevista

Carlos Lopes
“Dá-me um gozo enorme saber
que ajudei a tornar vários
miúdos Sportinguistas!”
Sem termos que nos sentar no incrível DeLorean, o homem
actualmente responsável pelo Atletismo do Sporting Clube
de Portugal conduz-nos numa viagem até 1984, ano em que
o Comanchero ecoava nos altifalantes do velhinho Alvalade
e embalava um atleta português para a primeira medalha
de ouro alguma vez conquistada nos Jogos Olímpicos. E
dizer-vos que tudo começou na falta de argumentos físicos
para o futebol e numa imitação da assinatura do pai, para
poder começar a correr no clube da terra, é apenas o aperi-
tivo para o que podem encontrar nas páginas seguintes.

Texto e Fotos de Cherba

 Quais são as primeiras imagens que lhe
vêm à memória quando recua 35 anos no
tempo, regressa a Los Angeles e volta a er-
guer os braços perante 90 mil pessoas e a
escutar o hino nacional?
São momentos únicos que nos engran-
“Não me esqueço do decem enquanto atletas e enquanto
Ronald Reagan dizer: “um pessoas e que engrandecem o país,
tipo com 37 anos ainda pois foi algo que até então nunca tinha
acontecido e que serviu para os portu-
pode dar muito ao seu gueses perceberem que, mesmo sendo
país!” um país pequeno, também nós temos
capacidade e talento para chegarmos
onde os outros chegam. E, claro, pensei
em todos os portugueses que estavam
fora de Portugal e que ainda viveram
esta conquista de forma mais sentida.
À distância, vejo que valeu todo o esfor-
ço, toda a dedicação e valeu a minha
aposta, pois todos sabem que eu era
um homem de cinco mil e de dez mil,
com o melhor tempo da Europa e o se-
gundo melhor tempo do Mundo. Mas
sabia que, para ser campeão e para ficar
na história, até pela idade que é algo
que pesa, tinha de ganhar a maratona!
Conforme disse, a vitória na maratona fez
com que os portugueses se orgulhassem,
projectou o desporto português para ou-
tros patamares e isso tornou-o numa refe-
rência para as mais diversas gerações.
Essa é a medalha que mais brilha, 35 anos
depois?
Sem dúvida! Isso pesa mais do que uma
medalha de ouro. Não me esqueço do
Ronald Reagan dizer: “um tipo com 37
anos ainda pode dar muito ao seu
país!”. Essa foi a maior mensagem que
passou dessa visita à Casa Branca e
dessa vitória na maratona.
O Carlos sempre foi reconhecido por ser
um atleta mentalmente forte e por seguir à
risca as estratégias desenhadas para cada
corrida, mas como é que se ocupa a mente
ao longo de 42kms?
E nesse dia o plano foi mesmo cumpri-
do à risca! Foram dois anos e meio de
preparação. Eu sabia que fazer 42 kms
não era fácil, por isso comecei por co-
nhecer bem a distância, depois conhe-
cer-me a mim com a distância, conhe-
cer os adversários e, por último, conhe-
cer o percurso. Repare que nunca ga-
nhei nenhuma das maratonas em que
participei. Aliás, cerca de seis meses an-
tes participei numa maratona, em Roter-
dão, na qual para participar coloquei
uma condição: tinham de estar presen-
tes os melhores atletas africanos, pois
dessa forma podia conhecê-los fora das
corridas de cinco mil ou de dez mil.
Quando tinha o trabalho de casa feito,
inventei qualquer coisa e desisti! Hoje
tenho a certeza que podia ter ganho
muito dinheiro a participar e a vencer
maratonas comerciais, mas o meu foco
era ganhar a maratona olímpica. E esse
foco é o que mais nos ocupa a mente
durante o percurso. Sempre focado em
ser o melhor, em ser o primeiro. Depois,
analisando os adversários e o seu com-
portamento ao longo da corrida e tendo
atenção a tudo o que nos rodeia. São
duas horas, mas o tempo passa muito
rápido.
O atletismo é solitário ou, bem pelo contrá-
rio, é o resultado de um trabalho de equipa,
nem que seja entre treinador e atleta? E
como é que essa ligação funciona numa
prova como a Maratona?
Não é solitário, desde logo porque exis-
tem cerca de 200 adversários. Sentimos
os adversários, corremos com os adver-
sários e temos a companhia do cronó-
metro e dos quilómetros. Tudo isto é um
jogo mental e, fisicamente, tudo acaba
por acontecer naturalmente quando se
está preparado. E eu estava preparado a
todos os níveis, não só por ser o meu so-
nho, mas também por ser um sonho do
meu treinador, o Professor Moniz Perei-
ra, que no final se agarrou a mim a cho-
rar.
Qual o peso de uma pessoa como o profes-
sor Mário Moniz Pereira na sua carreira e
na sua vida?
Enorme! Não é à toa que ficou conheci-
do como o Senhor Atletismo… Ele acre-
ditou que era possível eu tornar-me num
campeão. Aliás, ele acreditava sem re-
servas no valor dos seus atletas e pas-
sava-nos essa crença de que, com tra-
balho e sacrifício, tudo era possível. É
por isso que eu costumo dizer que, jun-
 tos, conseguíamos fazer coisas nas
quais mais ninguém acreditava. E a vi-
tória na maratona só foi possível por-
que o Sporting funcionava como uma
família, dava-nos as melhores condi-
ções possíveis para treinarmos e por-
que eu tinha um treinador fervoroso e
repleto de sabedoria. Sem ele e sem as
condições que o Sporting proporciona-
va, mesmo com todo o meu empenho e
a minha vontade, dificilmente chegaria
a este patamar.
E para chegar a esse patamar ainda teve de
ultrapassar alguns adversários fora de es-
trada e fora de pista, como aquela lesão no
tendão de Aquiles que só foi ultrapassada
com recurso a algo pouco comum na altu-
ra, a acupunctura…
“[…] a vitória na maratona De 77 a 80 eu tive realmente esse pro-
só foi possível porque o blema nos tendões e ia tendo vários
exemplos de que quem era operado fi-
Sporting funcionava como cava completamente afastado da alta
uma família e porque eu competição. Por isso eu fui aguentando
tinha um treinador como podia e sempre recusei ser opera-
fervoroso e repleto de do. Até que o João Rocha me levou ao
sabedoria.” Mestre Kobayashi e ele disse-me que
era possível curar a lesão. Foram dois
anos e meio de sofrimento até que ele
me disse “olha, agora vais de férias, em
Setembro, e tens de fazer todos os dias
uma hora de treino na areia solta”. O
que aquilo custou… Mas o que é certo é
que, quando regressei a Lisboa, ele dis-
se-me para começar a treinar devagari-
nho e eu andei cerca de meio ano a trei-
nar às escondidas, sem pressa, e recu-
perei totalmente. A partir de
81 foi sempre a andar até aos Jogos.
E duas semanas antes dos Jogos, na Se-
gunda Circular, é atropelado...
16 dias antes da maratona fui atropela-
do por um candidato à presidência do
Sporting, o Lobato Faria, e, imagine-se,
em frente ao Estádio da Luz! Quando
me levantei vi que não estava nada par-
tido, respirei de alívio e vi que podia
manter o meu plano de conquista que
incluiu, também, só ir dez dias antes da
prova para Los Angeles. Em vez de ir
mais cedo e ficar na Aldeia Olímpica
quase um mês, aproveitei as condições
que a Nike me proporcionava e fiquei
num hotel junto ao mar, com a minha
mulher, com médicos e massagistas de
topo e com toda a tranquilidade. Eu já
tinha tido a experiência dos Jogos de 72
e 76 e sei o que custa ficar numa aldeia
olímpica ao fim de uma semana. Então
nós, portugueses, que facilmente nos
fartamos e começamos a levantar pro-
blemas por tudo e por nada… Decidi que
dessa vez seria diferente, fiz o que to-
dos os atletas que vão para ganhar cos-
tumam fazer e foi a melhor opção que
podia ter tomado!
Antes de começar a correr em estrada, cor-
ta-mato ou pista, consta que gostava de
correr atrás da bola. O futebol foi a primeira
paixão?
Epá, o que é que os miúdos gostam de
fazer? É pontapé na “chicha!”
É verdade que o Carlos dizia que era o Se-
minário, quando havia futebolada?
Era o meu ídolo e por isso é que eu fui
Sportinguista! Era um fora de série!
Quando o vi jogar contra o Porto, aquilo
encheu-me as medidas e o mais certo
era que se o tivesse visto com outras
cores provavelmente tinha ficado ape-
gado a outro clube. Os ídolos têm uma
influência imensa na mente dos jo-
vens… e dá-me um gozo enorme saber
que com o que conquistei e com a mi-
nha forma de estar também ajudei a tor-
nar vários miúdos Sportinguistas.
E é verdade que para se inscrever no Atle-
tismo do Lusitano falsificou a assinatura
do seu pai, não fosse ele achar que tam-
 bém não tinha cabedal para correr?
Eu não considero isso uma falsificação!
É uma pequena aldrabice! (risos) Eu ti-
nha uma assinatura muito idêntica à do
meu pai e usei essa proximidade por
uma boa causa! Hoje, à distância, reco-
“[…] Seminário era o meu nheço que com 1,68m e 47 quilos dificil-
ídolo e por isso é que fui mente teria futuro no futebol, até por-
Sportinguista! Era um que não era um predestinado. Mas
fora de série! […] Os ídolos acredito que aquelas seis ou sete horas
têm uma influência diárias, que levávamos a correr atrás da
imensa na mente dos bola, me deu uma resistência tremenda
e uma conjugação de ritmos e de movi-
jovens…” mentos que vieram a beneficiar-me no
atletismo.
O que sentiu quando surgiu a oportunida-
de de representar o Clube que tinha no co-
ração e onde estava o seu ídolo, o Manuel
de Oliveira, que tinha sido 4º nos JO e tor-
nava tudo ainda mais especial?
Ao fim de três meses de ter começado
a praticar atletismo já era atleta do
Sporting. Não com contrato assinado,
mas pela palavra. Foi tudo muito rápi-
do. O primeiro clube a manifestar inte-
resse em mim foi o Benfica, depois a
Académica de Coimbra e por fim o
Sporting, mas desde sempre que a mi-
nha mente estava no Sporting muito
por culpa do Manuel de Oliveira, um ho-
mem e um atleta extraordinário. De-
pois, o Sporting era o clube que tinha a
melhor escola de fundo e meio fundo e
se eu queria ser o melhor… foi juntar a
razão ao coração! Cresci imenso neste
grande Clube, como pessoa e como
atleta, casei com uma atleta do Spor-
ting que é a mãe dos meus filhos, que
são três, e continuo a viver apaixonada-
mente o dia a dia do nosso Sporting!
É para si especial pensar que esse Clube é
um símbolo de ecletismo, no qual tanto o
futebol como o atletismo têm inúmeros
momentos de glória que engrandecem o
país?
É uma virtude do atletismo que o Spor-
ting sempre soube potenciar, criando
equipas fantásticas nas quais foram
surgindo referências a nível mundial. É
uma honra, um orgulho e é algo que ul-
trapassa o Clube e oferece ao país mo-
mentos que marcam a história!
Regressemos a 1967 e ao ingresso no
Sporting. Foi uma grande mudança para
um jovem de 17 anos, ainda por cima ape-
gado à família?
Sabe o que me custou mais? A comida!
Eu, habituado à comidinha da minha
mamã, que era uma cozinheira extraor-
dinária, ter de comer tanta coisa feita
em manteiga… as coisas melhoraram
quando conheci a minha mulher, por-
tanto acho que posso dizer que foi
duro, mas não assim tão duro.
Nunca pensou regressar a Vildemoinhos?
Esteve quase, esteve quase… Não pela
comida, mas por desagrado com algu-
mas pessoas. Quando não estamos
bem, quando não nos sentimos bem, te-
mos de mudar, mas acabei por não ce-
der às circunstâncias até porque já ti-
nha o meu trabalho, ganhava bem, era
independente…
Mas ao contrário do que algumas pessoas
possam pensar, representar o Sporting
não significava poder deixar de trabalhar. É
verdade que mantinha um emprego a tem-
po inteiro até 1975, ano em que foi dispen-
sado de trabalhar na parte da manhã para
poder fazer dois treinos por dia?
Antes do 25 de Abril quem é que podia
viver do desporto? Só do futebol e nem
todos. Ou seja, o atletismo sempre foi
olhado como um part-time. Quando se
dá o 25 de Abril, o Professor Moniz Pe-
reira não descansou enquanto não con-
seguiu implementar a sua ideia de fa-
zermos treinos bi-diários, na altura ape-
nas três vezes por semana. Com a
minha vitória no Campeonato do Mun-
do, em 76, e com a medalha de prata no
Jogos Olímpicos de Montreal, tudo mu-
dou para melhor. As pessoas acredita-
ram, houve um abrir de mentes que nos
conduziu ao que é hoje o atletismo.
Quais são as grandes diferenças que en-
contra entre o atletismo de há 40 anos e o
dos nossos dias?
Hoje é tudo muito mais profissional, o
que não significa que esteja tudo per-
feito. Há muito a fazer, nomeadamente
ao nível do fundo e do meio fundo em
Portugal. Os próprios jovens mudaram
em todos os aspectos. Tanto homens
 como mulheres são mais altos, mais in-
teligentes, mais capazes e não se dei-
xam enganar com tanta facilidade. Es-
tamos a falar de uma modalidade extre-
mamente exigente e nós ainda não
arranjámos meios para colocar toda a
evolução e toda a tecnologia ao serviço
do atletismo. Se formos a ver bem, os
treinos não mudaram assim tanto…
Falamos a nível geral e a nível do Sporting,
certo?
Sim, existe muito individualismo. Cada
técnico tem uma espécie de quintinha e
parece não entender que a união é fun-
damental para se chegar mais longe e
atingir ainda melhores resultados. Anti-
gamente existia um técnico e nós ía-
mos para a pista uns atrás dos outros.
A evolução era natural. Hoje, a evolu-
ção esbarra muitas vezes no individua-
lismo…
Nem a febre do running ajuda?
Ah, isso é o dia ao pé da noite! No meu
tempo, alguém que quisesse correr era
apelidado de maluco, estúpido e ouvia
“[…]Estamos a falar de um “vai trabalhar, malandro!”. Repare,
uma modalidade eu já em 1976 afirmava que o desporto
extremamente exigente e devia começar nas escolas e as con-
quistas que obtive ajudaram a que essa
nós ainda não arranjámos ideia ganhasse força e começassem a
meios para colocar toda a surgir mais professores de Educação
evolução e toda a Física, que era coisa que se contava pe-
tecnologia ao serviço do los dedos. O problema é que existem
atletismo.” centenas de professores e o desporto
escolar continua a não existir de forma
séria… e essa falta de seriedade tam-
bém existe nesta questão do running.
De há uns anos a esta parte, os médi-
cos começaram a sublinhar a necessi-
dade de praticar exercício físico, mas
quem é que beneficia com isto? Os
médicos, os massagistas, os fisiotera-
peutas, as marcas que vendem ténis
caríssimos, as instituições que apare-
cem a cobrar dinheiro para que as pes-
soas participem em provas… Alguém se
preocupa em perceber se as pessoas
sabem ou não sabem correr? Alguém
se preocupa com os problemas que re-
sultam da má postura e da ausência de
técnica de corrida?
Voltamos ao Sporting. O que é que falta
para as equipas masculinas conseguirem
as conquistas consecutivas que vamos al-
cançando nas femininas?
Há seis anos estávamos bem pior e
senti que o melhor caminho era o inves-
timento no feminino. Os resultados es-
tão à vista mas, no caso do masculino,
o atraso que levamos é de quase 20
anos. O próprio recrutamento ao nível
dos homens acaba por ser mais compli-
cado, porque há muito poucos e sabem
servir-se bem de serem muito poucos.
Estamos mais perto, muito mais perto,
mas ainda não somos suficientemente
eficazes. E não é por falta de empenho!
Há cerca de um mês, as nossas equipas de
Atletismo sagraram-se Campeões Nacio-
nais de juniores masculinos e femininos,
conseguindo assim o pleno no escalão e o
acesso à Taça dos Clubes Campeões Euro-
peus. Este pode ser um passo para estar-
mos mais próximos dessa hegemonia?
São sinais muito positivos e posso di-
zer-lhe que, entre homens e mulheres,
temos cerca de 20 miúdos com enor-
mes capacidades. Vamos ver o que o
futuro nos reserva...
Qual é o conselho que mais vezes dá a es-
ses jovens atletas?
Não é fácil dar conselhos a atletas que
têm um técnico que os acompanha
sempre mas, quando me pedem, digo-
lhes que sejam eles próprios, que este-
jam atentos, que vejam as tendências,
que saibam gerir as suas capacidades
e que acreditem neles, no clube, nos
técnicos e na família, pois isto é um
mundo onde o que hoje é verdade, ama-
nhã é mentira.
A criação da escola de meio fundo/fundo
com o nome Carlos Lopes é a peça que fal-
ta na história do Carlos Lopes?
Sim, é a peça que falta para completar
o meu puzzle e é a peça que falta por-
que eu acho que tenho capacidade para
liderar uma escola destas e não des-
canso enquanto não o demonstrar!
@TascaDoCherba
Back in the
summer of 89
O Maradona em Alvalade, uma cueca com as
meias em baixo, um penálti que valeu 100 dó-
lares, os bilhetes que se compravam com escu-
dos e mais uma mão cheia de histórias que ce-
lebram 30 anos
Texto de Cherba
Para quem tinha tido no México 86 o
seu primeiro Campeonato do Mundo de
Futebol a sério, saber que o Sporting ia
jogar com o Nápoles na primeira elimina-
tória da Taça UEFA era um misto de sen-
timentos. Por um lado, a preocupação de
ir defrontar o detentor da prova; por ou-
tro, a excitação de saber que Diego Ar-
mando Maradona, o melhor do mundo, ia
estar em Alvalade!
Era uma espécie de epílogo bonito
para um verão animado. Sousa Cintra ti-
nha sido eleito Presidente do Sporting e
agitava o mercado com a contratação do
guarda-redes da selecção jugoslava, um
tal de Ivkovic, de um central brasileiro ro-
tulado de craque, Luisinho, e do avança-
do bi bota, Fernando Gomes, sem esque-
cer o Valtinho, aquele latagão que vinha
de Braga com fama de ter o pontapé
mais potente cá do burgo.
E eu, com aqueles 12 anos que não
me davam permissão de ir à bola sozi-
nho, só queria arranjar quem me levasse.
O desejo realizou-se, embalado por ima-
gens a preto e branco da chegada de
“Deus” ao aeroporto de Lisboa, transfor-
mado num verdadeiro caos de jornalis-
tas, polícias e curiosos, sedentos de sen-
tir a presença do argentino que aparece
Foto D.R.
com uma enorme barba e com a prepara-
ção física atrasada.
Não admira, por isso, que Maradona
comece no banco. Em redor, o velhinho
Alvalade completamente à pinha, com os
bilhetes para sócio a custarem dois mil
escudos, qualquer coisa como dez euros,
Cintra tinha dito que
para ver uma equipa onde brilhavam Ale- íamos ganhar 4-0,
mão, Careca, Andrea Carnevale, Ciro Fer- mas o jogo foi
rara ou De Napoli, guardando no banco
um jovem chamado Zola.
manhoso.
Mas, se aquelas belíssimas camisolas
com a publicidade da Mars colocada na
perfeição encaixavam em gente ilustre,
as nossas Hummel não se ficavam atrás!
Tínhamos o Douglas, o Luisinho, o Ocea-
no, o Ivkovic, o Cascavel, o Gomes… o
Marlon e o Cadete corriam mais do que
todos… e também havia o Leal, mas na-
quele tempo qualquer um que vestisse a
verde e branca era o melhor do mundo.
Mesmo que fosse o Miguel, mesmo que
fosse um Ali Hassan, mesmo que na bali-
za estivesse um Sérgio e o seu incrível bi-
gode capaz de esconder o Vital.
A CUECA
Cintra tinha dito que íamos ganhar 4-
0, mas o jogo foi manhoso. Os italianos a
Foto D.R.
 serem italianos, nós a tentarmos chegar
ao golo sem arte suficiente, mesmo que
o Manuel José tivesse trocado o Valtinho
pelo Gomes ainda antes do intervalo. O
Venâncio ainda esteve quase a marcar,
numa cabeçada que beijou a trave, mas
nem nós nem Mário Soares (presidente
da República) e Cavaco Silva (primeiro-
ministro), presentes na tribuna, vimos a
bola entrar e Alvalade explodir de alegria.
A maior agitação acabou mesmo por
acontecer a 20 minutos do final, quando
Maradona se aproximou da lateral para
entrar em campo com uma estranha ca-
misola 16 (o homem é um eterno 10, por-
ra!). Curiosamente, foi com a 16 que El
Pibe se estreou, em 1976, num histórico
estádio La Paternal que era palco do Ar-
gentinos Juniors vs Talleres. Nessa tar-
de, na primeira vez que tocou na bola, Di-
ego pregou uma cueca a quem o tentou
desarmar, mas em Alvalade seria diferen-
te.
Douglas, o incrível Douglas, esse ca-
misola 8 que figura entre os melhores 8
que alguma vez vi jogar com a verde e
branca, recebe a bola e, meias tão desca-
ídas quanto as pequenas caneleiras per-
mitiam, reage à tentativa de Maradona
roubar-lhe a bola. Cueca! Cueca! Cueca!
Foto D.R.
Alvalade em apoteose, vendo o brasileiro
sair a jogar depois de ter passado a bola
por baixo das pernas desse “Deus” que
abandonaria o relvado com a verde e
branca vestida.
E reza a lenda que, quando já quase
todos tinham saído das bancadas, Mara-
dona regressaria acompanhado de um
preparador físico para uma sessão extra.
Havia que recuperar o tempo de prepara-
ção perdido e perder peso, a pensar no
campeonato italiano e na recepção ao
Sporting, na segunda mão.
APOSTO QUE NÃO MARCAS
Eu vivia os primeiros dias de um novo
ano lectivo, de uma nova escola, de um
novo mundo longe da preparatória ao
lado de casa e com dias contados em ca-
lendários de bolso que eternizavam a dis-
cussão sobre os atributos da Samantha
e da Sabrina. Nesse arranque de 7º ano,
aproveitando para encontrar nos interva-
los amigos que haviam sido espalhados
por outras turmas, jogava o Sporting. Em
Nápoles. A tal segunda mão. Era altura
de escapar às aulas de apresentação e
trocar as moedas por uma Spur Cola, ou
duas, para ganhar lugar no café.
Tal como em Lisboa, o jogo ficou a ze-
ros. Nos 90 e nos 120. Penaltis. Nem
mais uma moeda para molhar a garganta
seca, ali perdido entre companheiros de
guerra e outros a torcer pelos outros. Es-
távamos a um bocadinho de eliminar
uma das melhores equipas de todas as
melhores equipas. E quando o Tomislav
defendeu o penalti do Cripa, logo a abrir,
o coração acreditou ainda mais. Depois o
Luisinho falhou. E o Careca marcou. Veio
o Douglas e eu sabia que o Douglas, que
usava o cabelo e as meias como eu usa-
va o cabelo e as meias, jamais falharia. E
não falhou. Eles fazem o 2-1 e o Marlon
marca tão bem que mete o redes num
lado e a bola no poste. “Foda-se!”.
3-1 para os gajos. 3-2 pelo Cascavel.
Penalti decisivo, nos pés do Maradona.
“Vai falhar!”, gritava eu e gritavam os ou-
tros jovens Rampantes, num café tão
cheio como pode estar cheio um café
que é o único com televisão num raio de
não sei quantos kms e ao lado de uma
escola secundária. E naquele “peão im-
provisado”, olhando todos lá para o alto
como se fosse a relva lá em baixo, vimos
o Tomislav chegar-se ao craque e dizer-
lhe “aposto 100 dólares que não mar-
cas!”. E não marcou! Loucura, tanta que
quase a sinto de volta ao som das cadei-
ras a arrastar.
Segue-se o Carlos Manuel, a empatar,
e entramos na roleta russa. Eles marcam
primeiro e o Gomes atira uma buja à bar-
ra (se era para ser buja, tivessem manda-
do o Valtinho, porra!). Estamos fora, cain-
do de pé.
Há 30 anos, naquela tarde de 27 de
Setembro de 1989, o Sporting perdia,
mas eu ganhava referências de quem
eram os Sportinguistas que andavam na-
quela escola. E ganhava aquela defesa
do Ivkovic que, nos meses seguintes, me
fizeram romper as joelheiras e “escava-
car” joelhos e cotovelos vezes sem con-
ta.
@TascaDoCherba
Scouting

A IMPORTÂNCIA
DO SCOUTING
PARA AS ACADEMIAS
SPORTING
Texto de João Castro
Foto de Izuddin Helmi Adnan em Unsplash
 Scouting
Ser scout não é as-
sim tão fácil e gla-
mouroso como pode
parecer à primeira vis-
ta. Todos os fins de
semana, vários scouts passam horas a
fio, horas essas roubadas à família, para
ver futebol. Sim, para ver futebol de miú-
dos: “Acordo cedo porque os primeiros jo-
gos começam às 9h e depois tanto posso
42 estar num campo o tempo inteiro como cir-
“Devem existir cular entre vários a cada hora. Como nos jo-
gos de futebol de formação é destacado um
dezenas de árbitro para apitar todos os jogos num cam-
pessoas po, normalmente há atrasos relacionados
interessadas com o próprio jogo e com o tempo de tran-
sição entre jogos. Daí que a hora a que ter-
em ajudar o mino o meu planeamento é imprevisível.”
clube e a
chegarem a O autor desta frase é Carlos Miguel,
um dos scouts do Sporting no norte de
Scouts do Portugal. O Carlos é formado em Enge-
Sporting.” nharia Química, foi presidente do Solar
do Norte durante 6 anos e agora tem
como hobby a detecção de jovens para o
Sporting.
Mas como é que se passa do dirigis-
mo de uma Associação (agora Núcleo do
Sporting) com a importância do Solar do
Norte a scout? “A oportunidade surgiu de-
pois de ter participado numa sessão reali-
zada pela anterior direcção com os Núcleos
do norte do país. Nessa sessão foi referido
que havia interesse em aproximar os Núc-
leos do Recrutamento. Eu manifestei a mi-
nha disponibilidade para ajudar e, pouco
revista1906.com Set / Out 2019
tempo depois, tive uma reunião na Acade-
mia de Alcochete em que tive o privilégio de
conhecer o senhor Aurélio Pereira e o Nuno
Mota, os responsáveis do Recrutamento.
Nessa reunião pude apresentar-me, falar da
minha experiência no Solar do Norte e ma-
nifestar a minha disponibilidade para aju-
dar onde achassem que pudesse ser útil.
Fui extremamente bem acolhido e passei o
resto do dia na Academia, onde almocei e
assisti a treinos das nossas equipas na
companhia deles. Esse dia ficará para sem-
pre guardado na minha memória. Isto foi al-
gures no fim da época desportiva e, quando
o Recrutamento começou a preparar o iní-
cio da época seguinte, convidaram-me para
ser observador.”
Devem existir dezenas de pessoas in-
teressadas em ajudar o Clube e em che-
gar a scout do Sporting.
O caminho pode ser longo, mas são
estas pessoas que nos fazem acreditar
na formação do Sporting, são estas pes-
soas que sacrificam a sua vida pessoal
para descobrir nem que seja um único jo-
gador que faça a diferença no Sporting e
na equipa principal.
O Carlos frisa bem o caminho, que
pode ser linear, mas também pode ser
um caminho traçado pelo destino e, às
vezes, pela oportunidade: “Como podes
ver pelo meu caso, acho que não existe um
percurso linear. Mas julgo que é frequente
estudantes universitários fazerem o está-
gio e depois integrarem o departamento,
O Sporting. Em Revista.
como há pessoas que são referenciadas de-
pois de frequentar formações organizadas
pelo Clube e, obviamente, pessoas que en-
tram fruto das redes de contactos que exis-
tem naturalmente num departamento desta
natureza. Em qualquer dos casos, e olhando
“Julgo que é para o meu caso, acho que há duas coisas es-
necessário que o senciais: ser proactivo e ter motivação.”
scout tenha
Explicado o percurso normal de um
consciência que o scout, que passa por várias etapas, falei
Sporting procura com o Carlos sobre a importância do mes-
recrutar os atletas de mo no Universo das Academias Sporting.
Aqui importa explicar que existem as
elite do país. Daí que EAS Sporting Clube de Portugal, que são
os requisitos são tipo “franchises”, e as AFS Sporting Clube
necessariamente de Portugal, com 5 pólos (Braga, Porto,
Aveiro, Coimbra e Faro) controlados di-
muito elevados .” rectamente por Alcochete.
“O objetivo do Recrutamento é detectar,
seleccionar e contratar os melhores joga-
dores para o Sporting. As academias exis-
tentes no Universo Sporting, especialmen-
te as que se localizam fora de Lisboa, são
instrumentos que permitem reter jovens
talentos e desenvolver as suas capacida-
des segundo o nosso processo de forma-
ção desportiva, sem ter de os afastar das
suas famílias em idades muito precoces.
São também espaços privilegiados para
formar treinadores segundo a nossa filo-
sofia e assim alargar a base de recruta-
mento de staff do Clube.” A maioria dos
adeptos não sabe da importância das
Academias, não só para formar jogado-
res, mas também para formar treinado-
res, com toda uma simbiose de proces-
sos, normas, formações e regras para
chegarem ao topo da hierarquia e terem
uma hipótese de entrar nas equipas do
Sporting em Alcochete.
Questionei o Carlos acerca do que
faz de diferente um scout tradicional de
um scout de formação e quais as quali-
dades necessárias para procurar jovens
que possam potenciar no futuro.
“Um scout para a formação deve ter a
capacidade de estimar o potencial de um
jovem atleta tendo em linha de conta o seu
rendimento actual, o seu estado de matu-
ração física e aquilo em que ele poderá
melhorar ao experienciar o processo de
formação desportiva do clube até chegar a
Scouting
sénior. Um scout que esteja enquadrado
numa realidade de futebol sénior, julgo que
estará mais focado no rendimento actual.
Mas penso que tudo isto depende daquilo
que é a filosofia, os objectivos e os meios
disponíveis do clube onde se está. Pode-
se ser scout de formação e procurar jovens
atletas considerando apenas o seu rendi-
mento actual, como ser scout numa equipa
profissional cuja política de aquisições in-
cida em atletas na idade de transição para
sénior e em que essa capacidade de esti-
mar o potencial futuro adquire uma impor-
tância maior.”
Quais os padrões que um scout de
formação, como tu, segue para definir
um alvo para o Sporting?
“Julgo que é necessário que o scout te-
nha consciência que o Sporting procura re-
crutar os atletas de elite do país. Daí que
os requisitos são necessariamente muito
elevados logo à partida porque já conta-
mos nas nossas equipas com atletas de
muita qualidade. Sabendo esse contexto
de antemão, há depois um conjunto de fac-
tores de rendimento pré-definidos que de-
vem ser avaliados durante o processo de
observação. Normalmente, um jogador 43
que nos possa interessar acaba por desta-
car-se naturalmente ao fim de poucos mi-
nutos de jogo. Porém, isso nem sempre
acontece e essa capacidade de “ver” vai-se
desenvolvendo com o volume de jogos e
de atletas observados, bem como da parti-
lha de conhecimento e opiniões entre os
observadores. Mas é essencial ter uma fo-
tografia mental com a maior resolução
possível daquilo que são os termos de
comparação, isto é, os nossos atletas. Se
a resolução for baixa, ou seja, se o chama-
do “olhómetro” não estiver bem afinado, as
avaliações serão desajustadas.”
Depois de definido um alvo, é o scout
que faz o primeiro contacto com o pai ou
a mãe?
“Sim. O observador deve procurar des-
cobrir quem são os pais, outra tarefa a
acumular durante o processo de observa-
ção. Em geral, a receptividade dos pais é
muito boa dada a grandeza e estatuto do
Sporting. Se não fizermos logo o contacto,
o mais provável é que a seguir outros o
 Scouting
irão fazer e sermos nós os primeiros é
muito importante.”
Para perceber a perspectiva de um
pai de um atleta, decidi juntar a opinião
do Ricardo. Vamos tratar simplesmente
por Ricardo para não ser possível identi-
ficar o atleta, pois nestes escalões é
uma matéria sensível: muitos olheiros
recorrem às redes sociais para identifi-
car os pais dos atletas que interessam.
Ricardo, como é que o teu filho foi
descoberto pelo scouting do Sporting?
“Foi visto por um observador do Spor-
ting, quando estava a jogar na antiga equi-
pa Sub-9.”
Tinhas noção que existiam scouts do
Sporting aqui na zona do Porto?
“Sim! Tinha sido abordado por scouting
de outras equipas, mas nunca do Sporting.
Tinha conhecimento
das estruturas – Es-
“Acho que começam a existir mais colas Academia
clubes de I Liga a inserir o Sporting.”
recrutamento juvenil na sua Os pais são en-
44 estratégia desportiva e a investir. volvidos no proces-
Algo que no caso do Sporting foi so evolutivo? Ou
seja, é explicado o
feito há muito tempo” plano para cada
atleta e as várias
fases que o atleta poderá passar até
chegar aos seniores?
“Este foi o primeiro ano deste projecto.
Um dos pontos de melhoria, a meu ver, po-
derá ser esse, já que durante toda a época
transacta não houve reuniões com esse
âmbito.”
Como vês, agora que conheces um
pouco a realidade das academias do
Sporting no Norte, o trabalho que é feito
ao nível do recrutamento?
“A abordagem é muito positiva, na me-
dida em que há uma explicação muito
completa que é feita na casa do atleta,
onde se pede a comparência de ambos os
pais. Não senti que houvesse pressão para
a tomada de decisão, dando tempo para
que a decisão fosse ponderada e tomada
com tranquilidade”
revista1906.com Set / Out 2019
Além do papel de formador, um clube
como o Sporting consegue cativar os
miúdos que jogam nas Academias para
gostarem também do Clube, mesmo que
esses atletas até sejam de outro?
“Não há melhor forma de responder do
que dizer-te a frase do meu filho, no dia do
jogo da Supertaça do fim de semana pas-
sado - note-se que até este momento o ti-
nha como Portista ferrenho: “Pai, espero
que não leves a mal, mas acho que agora
gosto mais do Sporting do que do Porto…”
Levar a mal não levo, mas... bolas!!!”
Curioso com a resposta do pai do
atleta questionei o Carlos, scout do
Sporting, sobre esta temática: “Acho que
qualquer um deles passará pelo menos a
sentir um vínculo/simpatia maior com o
Clube. Mas penso que é algo não linear e
que depende muito da personalidade dos
miúdos, do contexto familiar, da identifica-
ção com as pessoas nas academias e dos
estímulos que lhes dermos.”
Qual é a importância do Scouting na
perspectiva dos jovens jogadores e dos
miúdos que querem ser jogadores? Eles
têm a noção que existe pessoas que ob-
servam os jogos por parte do Sporting e
que estão por todo o país?
“É muito importante que exista essa
percepção tanto nos miúdos como nos
pais porque a concorrência que enfrenta-
mos é cada vez maior. É importante tam-
bém que um menino que não resida em
Lisboa não se sinta em desvantagem por
razões geográficas e tenha as mesmas
oportunidades. O Cristiano Ronaldo é o
caso mais conhecido, mas temos outros
casos de jogadores provenientes das ilhas
que chegaram a sénior. Estou a lembrar-
me, por exemplo, do Iuri Medeiros e do
João Goulart, ambos naturais da ilha do
Faial, que só tem meia dúzia de clubes,
poucas crianças e nós tivemos a capacida-
de de os ir lá detectar.”
Já tiveste algum jogador indicado
por ti que tenha “vingado” no Sporting?
“Vingar para mim é chegar à equipa
principal. Já referenciei alguns atletas que
foram recrutados. Para saber se vão vingar
ainda terei de aguardar alguns anos.”
O Sporting. Em Revista.
Às vezes, o mais importante é mes-
mo ver primeiro. É assim que eu penso
o Scouting, a importância entre contra-
tar um jovem com talento puro mas que
não se enquadra na filo-
sofia de um clube, ou veri-
“Há aqueles que acompanham ficar a potencial de um jo-
mas que só o fazem porque vem e perspectivar a sua
não há alternativa de evolução dentro dos parâ-
metros da formação leo-
transporte para o filho – fazem nina. Lembrei-me: os pais
o sacrifício e como tal nem dos jovens podem ser
sequer verdadeiramente igualmente “olheiros” do
clube, porque não? Quan-
acompanham o jogo” tos casos de sucesso co-
meçam assim, com indi-
cação dos pais sobre amigos dos filhos,
ou de atletas que encontram por esses
campos fora? Muitos, diria eu.
Decidi perguntar ao Ricardo, pai do
jovem atleta leonino, se acha que um
pai de um atleta poderá ser um bom
scout: “Essa é de difícil resposta, isto por-
que há vários perfis de pais que acompa-
nham os jogos dos filhos…”
Uma bom tema então: Que tipo de pais
é que se encontram, consegues definir es-
ses perfis?
“Há aqueles que acompanham mas que
só o fazem porque não há alternativa de
transporte para o filho – fazem o sacrifício e
como tal nem sequer verdadeiramente acom-
panham o jogo.”
E aqueles pais que acham que o filho
deles é o que joga melhor, tipo Ronaldo ou
Messi?
“Depois há esses que só vêem o filho no
campo. Este perfil tipo “miopia selectiva” não
se apercebe sequer de mais nenhum atleta
ou de mais nenhum aspecto do jogo.”
Achas que existe um perfil que possa
então ser um futuro olheiro?
“Sim, há os que acompanham o filho e
que, mesmo quando o filho não joga, gostam
de ver os restantes jogos pelo gosto do fute-
bol de formação – este tipo de pai diria que
poderá eventualmente ser útil para efeitos de
scouting.”
Faltava a visão final sobre o Scouting
juvenil em Portugal. Como estamos, para
Scouting
onde caminhamos em termos de Sporting
e relembrando que escrevi sobre o Scou-
ting sustentável na anterior edição da re-
vista 1906. Quem não leu, deveria ler, pois
muitos aspectos e ameaças são referidos
pelo Carlos, scout juvenil do Sporting, que
temos de entender como uma realidade
para o bem e para o mal: “Acho que come-
çam a existir mais clubes de I Liga a inserir o
recrutamento juvenil na sua estratégia des-
portiva e a investir. Algo que, no caso do
Sporting, foi feito há muito tempo, fruto da
visão do senhor Aurélio Pereira. Esse pio-
neirismo resultou numa vantagem muito
grande para o Clube face à concorrência.
Esse trabalho tem o seu expoente máximo
através do recrutamento e formação de
dois Bolas de Ouro e da base da nossa Se-
lecção que se sagrou Campeã Europeia em
2016: os Aurélios. No entanto, há cada vez
mais ameaças externas que devemos ter
em conta e é preciso implementar estraté-
gias que nos permita continuar a manter
essa liderança.”
A realidade do scouting juvenil, com a
visão de um scout do Sporting e de um pai
de um atleta do Sporting, está espelhada
neste artigo. Agradecendo aos dois pelas 45
respostas, disponibilidade e sinceridade,
gostaria, no entanto, de referir também que
o Scouting é uma aposta que o Clube deve
continuar a reforçar, seja ela juvenil ou sé-
nior.
O modo como um clube aposta no
Scouting é um KPI, para mim, sobre a es-
tratégia de um clube para o seu futebol.
@castrojr76
 Opinião
O melhor do mundo, da
Europa, quiçá de Portugal
Texto e Estatística de Marta Spínola e Sporting Tático
E
streou-se na equipa
principal do Spor-
ting a 14 de Agosto
de 2002, com 17
anos. Entrou aos 58
minutos, para subs-
46 tituir o espanhol Toñito, na primeira mão
da terceira eliminatória da Liga dos
Campeões, com o Inter. Pouco depois
seria titular pela primeira vez, marcando
dois golos ao Moreirense.
Lembro-me de, nas vezes que o vi jo-
gar pelo Sporting, gostar da atitude, de
pensar “precisamos deste atrevimento,
desta confiança”. Mal sabia que Cristiano
Ronaldo era bem mais que isso.
Despedimo-nos dele em 2003, numa
vitória frente ao Manchester United por
3-1, durante a qual os mais crentes pen-
saram, como eu: “este ano temos ho-
mem”. Tínhamos, mas deixámos de ter
nessa mesma noite.
Se já o achávamos bom, a partir daí é
História. Os tempos são outros? Feliz-
mente são, mas Cristiano seria sempre
uma força da natureza, fosse qual fosse
a sua década. O empenho e o trabalho
com que alimenta o seu talento natural,
não são defeito mas feitio. Ele joga e faz
jogar, e os números falam por si: em
quase 962 jogos, tem 689 golos e 218
assistências. Ele marca com os dois
Infografia de José Alves do Rio
pés, de cabeça, de livre e penalty. É o me-
lhor marcador de sempre da Liga dos
Campeões, com 126 golos. 126.
Imagine-se um jogador que personifi-
ca jogos em que se pega numa equipa e
com ela se procura a glória. Um Brescia
que sobe até ser campeão da Europa,
uma e outra vez. Chegando ao topo, par-
te-se para nova empreitada. Do Sporting
para Manchester, depois Madrid, e dali
para Turim. Pode haver vários factores
para a mudança, mas no fim, ficam os
triunfos e números incríveis em cada pa-
ragem e a sensação de que foi pegando
em cada equipa para ir mudando de ní-
vel, sempre a vencer. Em vez de um co-
mando, usa o que melhor sabe fazer. É
assim que vejo Ronaldo desde cedo, um
jogador cujo foco é ganhar tudo e a to-
dos. Superar sempre os seus limites, ba-
ter os recordes todos que lhe aparecem
pela frente, sendo aos 34 anos ainda o
seu objectivo. Falta um: Ronaldo acredi-
tará até ao fim que vai bater os 109 go-
los de Ali Daei pelo Irão.
Há muito trabalho, muito talento. A
fazer lembrar a célebre “técnica da força”,
agora não contra, mas aliada à “força da
técnica”, Cristiano Ronaldo reúne o me-
lhor que um desportista pode ser. É um
prazer poder assistir aos seus anos no
activo.
revista1906.com Set / Out 2019
Do seu legado (sim, já se pode falar
em legado), saibamos aproveitar o seu
exemplo para os mais novos, para a for-
Estreou-se na equipa
principal do Sporting a
14 de Agosto de 2002,
com 17 anos.
mação. A história de Cristiano Ronaldo,
do atleta completo que é, deve fazer
parte do "passar de geração em geração
este amor, esta paixão, é a obrigação de
todo e qualquer Leão”.
Muitas vezes mal amado, deixa no-
vos números por onde passa, para que
não haja dúvidas. Reunimos essas mar-
cas para que todos as vejam e se orgu-
lhem delas. Mesmo os que insistem em
fazer comparações com Eusébio e que
até conseguem ignorar, por exemplo,
que em 16 anos com Cristiano, a Selec-
ção Nacional conquistou os seus dois
únicos “títulos de gente crescida” e apu-
rou-se para as 8 edições do Euro e do
Campeonato do Mundo. Não há que ter
medo, é orgulho que devemos sentir.
Afinal, o melhor do mundo, da Europa e
quiçá de Portugal é nosso!
 962 Jogos
689
Golos
218
Assistências
O Sporting. Em Revista. Tipo de artigo

CR7
Estatísticas
Cabeça

126

GOLOS
(18,29%)
Sporting CP Manchester United

2002-2003 2003-2009

5 golos 118 golos

6 assistências 54 assistências

31 jogos 292 jogos

1.301 minutos 22.351 minutos

Mão

GOLO
(0,30%)
Genital

1
GOLO

(0,30%)
Real Madrid Juventus
2009-2018 2018 - Presente
450 golos 28 golos
119 assistências 10 assistências
438 jogos 43 jogos
37.833 minutos 3.646 minutos
Pé Direito

435 Pé Esquerdo
GOLOS

126
GOLOS
(63,11%)
(18,29%)

47
Seleção Portuguesa
2003 - Presente
88 golos
30 assistências
158 jogos
12.438 minutos Onde foram marcados estes golos?
377 foram com CR7 a jogar em casa (54,72%)
273 foram com CR7 a jogar fora de casa (39,62%)
39 foram com CR7 a jogar em campo neutro (5,66%)
Recordes
Melhor marcador de sempre da Liga dos Recorde por bater
Campeões, com 126 golos. Os 109 golos de Ali Daei pelo Irão colocam-no como
(Dado curioso: A equipa a que CR7 marcou o maior marcador de sempre de Seleções. Ronaldo,
mais golos na maior competição de Clubes, neste momento com 88, certamente procurará
é precisamente a Juventus, a sua equipa bater esse recorde até acabar a carreira.
atual, tendo marcado 10 vezes.)

53 Hattricks na carreira Top 5 de Clubes a que Ronaldo mais marcou (as "vítimas")

Real Madrid Portugal Manchester Juventus Sevilla Atlético de Madrid Getafe Celta de Vigo Barcelona
44 Hattricks 7 Hattricks United 1 Hattrick 27 golos 25 golos 23 golos 20 golos 18 golos
1 Hattrick marcados marcados marcados marcados marcados
em18 jogos em 33 jogos em 14 jogos em 13 jogos em 33 jogos

Tem 5 golos marcados a Andorra, Letónia, Suécia e Arménia

 Tipo de artigo revista1906.com Set / Out 2019

48
O Sporting. Em Revista. Tipo de artigo

49

No Feminino

Marias Capazes
Nada será como antes depois do Campeonato do Mundo de
Futebol Feminino, o França 2019. Dos recordes na venda
antecipada de bilhetes aos recordes de audiências
televisivas, passando pelo mais de um milhão de adeptos
que assistiram ao vivo aos vários jogos, este foi o ano que
confirmou que o futebol é futebol, mesmo quando jogado
por quem não tem bolas. E agora, que já não restam
dúvidas de que elas sabem o que fazer com elas, estará o
Sporting pronto a capitalizar este hype a seu favor?

Texto de Cherba
 No Feminino
Futebol Feminino 18/19 em análise
Logo na estreia, a
selecção norte-ameri-
cana não fez por me-
nos: obrigou as pobres
tailandesas a ir 13 ve-
zes buscar a bola ao fundo das redes, e es-
tabeleceram a maior goleada alguma vez
imposta numa partida do Campeonato do
Mundo de Futebol. Mas o momento his-
tórico não se ficou por aqui, pois Alex Mor-
50 gan marcou cinco vezes e também
assinou uma marca de golos apontados
numa única partida de um campeonato
do mundo.
Dentro de campo o arranque corres-
pondia a todas as expectativas transmiti-
das fora dele. Ainda em Abril tinha sido
batido o recorde de número de bilhetes
vendidos, desde que foi criado o campeo-
nato mundial feminino em 1991. E as en-
tradas para a final, para as meias finais e
para a partida de estreia da selecção fran-
cesa, esgotaram em menos de 48 horas!
À sua oitava edição, a versão feminina
do Campeonato do Mundo de Futebol
chegava definitivamente aos quatro can-
tos do planeta, embalado por um desejo
crescente de jogadoras que lutam pelo di-
reito de serem olhadas e valorizadas
como os homens que fazem vida desta
“coisa” de jogar à bola.
GRITOS DE REVOLTA
Em Dezembro de 2018, Ada Hegerberg
inscrevia o seu nome na história do des-
revista1906.com
revista1906.com Set
Jul / Ago
Out 2019
Foto D.R.
porto. No Grand Palais, em Paris, a noru-
eguesa tornava-se na primeira mulher a
receber uma Bola de Ouro, troféu que a
France Football criou para, tal como
acontece com os homens, distinguir a
melhor futebolista do mundo.
Aos 23 anos, a avançada levava a me-
lhor sobre a alemã Dzsenifer Marozsán,
a dinamarquesa Pernille Harder, a brasi-
leira Marta e a australiana Sam Kerr. No
entanto os relvados franceses não con-
taram com a sua arte. Porquê? Porque
Ada recusou-se a integrar a selecção no-
rueguesa como forma de protesto, exi-
gindo total igualdade de género no
futebol. Hegerberg não aceita que rapa-
zes e raparigas, homens e mulheres que
querem ser ou são futebolistas, não te-
nham as mesmas oportunidades no seu
país, mesmo quando o futebol é o des-
porto mais popular entre as mulheres há
anos.
Para traduzirmos as discrepâncias
em números, podemos recordar que Ada
recebe cerca de 400 mil euros por ano,
enquanto Cristiano Ronaldo amealha
mais de 110… milhões. E são pormeno-
res como este que fizeram com que mui-
tas outras vozes se juntassem à da
norueguesa no arranque do Mundial. A
selecção norte-americana, que viria a re-
petir a conquista do título, entrou em
prova depois de processar a Federação
de Futebol dos Estados Unidos da
América, alegando “discriminação de
género institucionalizada”. Enquanto Foto D.R.
O Sporting. Em Revista.
Foto D.R.
isso, o sindicato das jogadoras australi-
anas também exigiu um aumento do
prémio monetário, muito longe dos valo-
res pagos no campeonato mundial mas-
culino (consta que a federação duplicou
o valor, mas que, ainda assim, a quantia
não chegou a 1% do montante destina-
do às equipas masculinas).
Os gritos de revolta tiveram eco e, por
exemplo, a Adidas decidiu igualar o pré-
mio que costuma pagar aos vencedores
masculinos. E, no Brasil, a Globo decidiu
dar a devida relevância à equipa nacio-
nal e, pela primeira vez, todos os jogos
da seleção brasileira tiveram transmis-
são em directo. A resposta não deixou
margem para dúvidas: foi estabelecido
um novo recorde de audiência ao nível
da modalidade, com mais de 30 milhões
de telespectadores a acompanharem o
embate da canarinha contra a selecção
da casa, a França (se este número não
te chega, toma lá outro: na abertura do
Mundial, diante da Coreia do Sul, mais
de 44% dos televisores franceses sinto-
nizaram a partida da selecção, com pi-
cos de 11 milhões de pessoas).
O França 2019 foi o primeiro torneio em
que as selecções femininas utilizaram
equipamentos especificamente desenhados,
pensados e construídos… para mulheres!
Tipo
No Feminino
de artigo
E quando pensamos que tanta reivin-
dicação tem o seu quê de exagero, leva-
mos com esta “lambada” que nos deixa
incrédulos: o França 2019 foi o primeiro
torneio em que as selecções femininas
utilizaram equipamentos especifica-
mente desenhados, pensados e constru-
ídos… para mulheres! A Nike percebeu
que as jogadoras vestiam o mesmo tipo
de equipamento que as seleções mas-
culinas, apenas em tamanhos mais pe- 51
quenos, e deitou mãos à obra. Não
admira por isso que a marca estivesse
ao peito de quase todos os países parti-
cipantes. Pode dizer-se que a aposta foi
inteiramente ganha quando Mark Parker,
chefe executivo da Nike, revelou que “a
camisola principal da equipa feminina
dos Estados Unidos da América é a ca-
misola de futebol mais vendida de sem-
pre, tanto de equipas masculinas como
femininas, na Nike.com, numa única
temporada". E se acrescentarmos que,
pela primeira vez na sua história e a re-
boque do Mundial, a marca pulou para a
liderança de venda de sutiãs desporti-
vos da América do Norte...
 Tipo
No Feminino
de artigo
E O SPORTING?
O sorteio da Liga BPI, escalão máxi-
mo do futebol feminino em Portugal, di-
tou um Sporting Clube de Portugal vs SC
Braga na jornada inaugural, agendada
para dia 15 de Setembro. E a primeira
coisa que passa pela cabeça de todos
os Sportinguistas que acompanham as
nossas Leoas, é que, até porque a princi-
pal equipa masculina joga no Bessa,
esta é uma excelente ocasião para elas
voltarem a jogar em Alvalade.
A verdade é que, à data do fecho des-
ta 1906, não se vislumbra qualquer mo-
vimentação nesse sentido. Será que, por
exemplo, o Sporting está a tentar que a
partida se dispute no sábado, dia 14 de
Setembro, data em que o João Rocha re-
cebe, às 16h, o Troféu Francisco Stromp
em hóquei em patins, tentando oferecer
aos seus sócios e adeptos a oportunida-
de de uma tarde em família? Será que vai
existir uma acção promocional, em que
quem tiver gamebox modalidades pode
assistir à partida das Leoas? Aliás, por fa-
lar em gamebox, porque é que a mesma
52 não faz alusão ao futebol feminino e fun-
ciona como porta de entrada na Acade-
mia, para o apoiar?
São pequenas questões, mas são pe-
quenas questões que se arrastam. Nem
quando o Sporting ganhou tudo o que ha-
via para ganhar a nível interno, existiram
campanhas de marketing exclusivamen-
te pensadas para promover o futebol fe-
minino. Aliás, se chegarmos a Alvalade e
nos dirigirmos a uma das Lojas Verde, ve-
mos fotografias tamanho XXXL de Wen-
del, Raphinha e Mathieu, exibindo os
novos equipamentos, mas não há sinais
da Ana Borges, da Capeta ou de qualquer
uma das nossas jogadoras (e ainda te-
mos que levar com um Braga a lançar os
novos equipamentos num vídeo que dá
ao futebol feminino o mesmo destaque
dado aos homens). Dentro da loja, opaci-
dade idêntica, com as camisolas cinta-
das atiradas para um cantinho meio
envergonhado, quando devíamos era ter
orgulho e, por exemplo, deixar à vista de
todos que a seleção portuguesa de sub-
17 apurou-se pela primeira vez para uma
fase final de uma grande competição
(Euro, neste caso), com um golo de Marta
Ferreira, uma Leoa de apenas 16 anos ati-
rada às feras na equipa B feminina do
Sporting, onde apontou mais de 40 golos
a juntar às três dezenas apontadas pela
equipa júnior!
Quando assim é, torna-se muito com-
plicado criar uma onda em redor do que
quer que seja, muito menos em redor de
algo que, para muito boa gente de mente
pequena e masculinidade carente de afir-
mação, continua a não fazer sentido por-
que o futebol é um desporto para
homens.
Incomoda-me, mas incomoda-me
mesmo, que um clube que promove diari-
amente a bandeira do eclectismo e da
igualdade de oportunidades, seja no gé-
nero seja nas capacidades físicas ou
mentais, acabe por passar uma mensa-
gem de total desleixo e de um inexplicável
alheamento da realidade para quem ob-
serva de fora. Aqui mesmo ao lado, em
Espanha, o Atlético Madrid recebeu o Bar-
celona no Wanda Metropolitano e 60.739
pessoas encheram as bancadas, para ver
aquele que se tornou no jogo de futebol
feminino com mais assistência na Penín-
sula Ibérica, e que foi capa dos dois princi-
pais jornais desportivos do país vizinho.
No Mundial, que serve de mote a este arti-
go, as partidas foram vistas ao vivo por
1.163.063 espectadores.
E foi nessa visibilidade crescente que
gigantes como a VISA (investiu no França
2019 a mesma astronómica quantia in-
vestida no Rússia 2018), a Adidas, a
Com enorme tristeza,
sente-se que o
objectivo original do
regresso do futebol
feminino – colocar o
Sporting entre as 8
melhores equipas da
Europa – deve estar
guardado na
gaveta…
revista1906.com Set / Out 2019
Coca-Cola, a Kia, a Qatar Airways, a Hyun-
dai ou a já citada Nike apostaram, não só
ao nível da publicidade, como também no
cruzamento da marca com uma mensa-
gem de valorização do futebol feminino e
do papel do mesmo na afirmação da mu-
lher na sociedade. Essa aproximação é
tudo o que as jogadoras precisam, para o
reconhecimento nos seus países e fora
deles.
Numa altura em que tanto se sublin-
hou o aproveitamento da ida a Nova Ior-
que, onde o Sporting defrontou o
Liverpool em jogo de pré-época, para tra-
balhar a internacionalização da marca
com um bonito brunch corporativo, tor-
na-se no mínimo estranho que este ver-
dadeiro comboio reluzente pareça estar
a passar-nos ao lado. Que visibilidade
deu o nosso canal, Sporting TV, ao Fran-
ça 2019? Quantos conteúdos podiam
ser criados com as nossas jogadoras?
(Aquela promo da chegada da neo-ze-
landesa Wilkinson foi um copo de água
fresca num verdadeiro deserto).
Por tudo isto e com enorme tristeza,
sente-se que o objectivo original do re-
gresso do futebol feminino – colocar o
Sporting entre as 8 melhores equipas da
Europa – deve estar guardado na gaveta
e coloca-nos longe de podermos apro-
veitar toda esta explosão. Por tudo isto,
se não for pedir muito, alguém que leve
as palavras de Ada Hegerberg a quem
de direito no Reino do Leão: «Jogar fute-
bol pode ser muito difícil, mas é também
uma luta diária por igualdade. Isso é um
facto. No Lyon chegámos longe porque te-
mos um homem no topo que acredita em
nós! Mas ainda há muito a ser feito e nem
sempre é sobre dinheiro. É sobre prepara-
ção, sobre agir, sobre profissionalismo! É
sobre atitude e respeito! Estamos a falar
de dar às raparigas a mesma oportunidade
de sonhar que é dada aos rapazes. Os ho-
mens de fato e gravata não podem ignorar
isso e um dia vão perceber que estamos a
falar de sociedade e de futebol moderno».
@TascaDoCherba
O Sporting. Em Revista.
O que é que
Alvalade não tem.
O
Estádio José Alvalade, o
actual, foi inaugurado no
dia 6 de Agosto de 2003.
Sabem como é que
naalturaconseguiassis-
tir à sua inauguração, festa e despedida de
Cristiano Ronaldo?
A Loja Verde do Sporting tinha uma pro-
moçãoqueporcada20contos(100euros,es-
távamos no período de transição de moeda)
ofereciam um bilhete. Nem pestanejei duas
vezes e tratei de gastar 200 euros para ter
acesso a 2 bilhetes. Comprei tudo em duplica-
do, aliás, os sacos de viagem ainda hoje utili-
zo. Já estão no carro porque, enquanto escre-
vo o texto, estou a preparar-me para ir de fé-
rias. Foram dois bilhetes para poder levar o
meu avô que é o responsável pelo meu Spor-
tinguismo. Foi ele quem me levou bem cedo
aos vários estádios no norte do país, era ago-
ra a minha obrigação de retribuir a enorme
responsabilidade que é ser do Sporting.
Foi uma festa linda. Magnífica. Lembro-
me de ficar absolutamente entusiasmado
pela obra que nascia e que todos nós podería-
mos passar a usufruir. A nova casa, a nossa
casa, era, naquela altura em que entrei pela
primeira vez, um sonho. Durante muitos anos
andei com os olhos tapados. O amor pelo
Sporting, a irracionalidade de um adepto só
nos deixa ver o que o coração sente. Batalhei
muito contra adeptos rivais para defender a
ideia que o nosso estádio era o mais bonito
Texto de Pedro Varela
do mundo. Depois fui crescendo, ficando
mais exigente, mais racional e de olhos bem
abertos para tudo o que acontece no Spor-
ting. Hoje o estádio não é dos mais bonitos, é
a nossa casa e como joga o Sporting naquele
estádio para mim é o suficiente para amar
cada momento que por lá passo. Mas este
José Alvalade, de betão, não é o mesmo da-
quele que foi inaugurado em 1956!
O QUE É QUE O NOVO ALVALADE NÃO TEM?
Não tem a paixão que une os adeptos e os
sócios ao clube como forma de pertença, que
faz parte da nossa vida. Não nos tremem as
pernas quando lá entramos. Falta a fusão en-
tre a alma da multidão e a alma do clube. Edu-
ardo Azevedo, escritor com extensa obra pu-
blicada desde os anos 30 e que escreveu o li-
vro em três volumes História e Vida do
Sporting Clube de Portugal, em 1950 disse
“Mais importante que o ecletismo do Spor-
ting, é a fusão da alma do clube com a alma
da multidão dos seus sócios e adeptos”.
O Sporting estará ligado à aristocracia na
sua génese, mas a multidão, a alma dos seus
adeptos, sempre foi evidente e fundamental
ao longo da sua vida. Todos nos recordamos
das enchentes que se verificavam no velhi-
nho Alvalade mesmo quando os títulos voa-
vam para outras paragens. Havia um senti-
mento único que juntava a paixão ao clube e
a vontade de fazer parte de um ser vivo irraci-
Tipo de
Opinião
artigo
onal,queéaloucuradeamarmosonossoclu-
be.
Essa paixão, esse estado de alma, foi-se
perdendo cada vez mais desde 2003. O eco
das bancadas vazias no actual estádio são
lanças que nos perfuram o coração e nos
transportam para as memórias, fazendo sol-
tar em nós pensamentos como “que sauda- 53
des que eu tenho do velhinho José Alvalade!”
“Mais importante
que o ecletismo do
Sporting, é a fusão
da alma do clube
com a alma da
multidão dos seus
sócios e adeptos”.
Alvalade tem que voltar a ser o epicentro
das nossas emoções, a casa de todos os só-
cios e adeptos, um lugar ímpar que não que-
bre a passagem de testemunho de geração
em geração, que, com esforço, dedicação e
devoção nos ofereceram glória sem fim e nos
fazem sempre querer ser melhor que todos
os outros!
@bancadadeleao
 Reportagem revista1906.com Set / Out 2019

15 anos…
Mas queremos um Museu?
Texto de Sporting Tático
Fotos de Sporting Clube de Portugal

A pergunta, de re- reconhecimento de atletas e figuras da tórica é toda a base desta nossa viagem
tórica, é feita pela História verde e branca em fotografias à História do Sporting, vamos ao encon-
atual diretora do Mu- do passado. “Temos esta sorte de ainda tro do que Isabel almejou quando che-
54 seu do Sporting Clube existir pessoas como o Mário e o Vítor que gou à liderança do espaço, e a questão
de Portugal, Dra. Isa- são capazes de nos ajudar com a parte das fica no ar: “Queremos um Museu? Mas que
bel Victor. Licenciada em Sociologia memórias” – afirma Isabel Victor. tipo de Museu? Um Museu para o Século
pelo ISCTE, assumiu o cargo a 2 de abril Indo à questão colocada no título XXI, um Museu identitário, atrativo e fluí-
de 2017, sendo convidada, não pelo seu deste artigo, que mesmo sendo de re- do!”. Resposta simples, rápida e concisa.
Sportinguismo latente, mas pela sua
competência no ramo - “Fui convidada e
nem me perguntaram se eu era do Spor-
ting. Felizmente sou, e o convite agradou-
me imenso. Era a primeira vez na vida que
tinha a oportunidade de trabalhar com clu-
bes.” Foi com a diretora do Museu e com
Vasco Campos, da parte da Documenta-
ção e Pesquisa, que estivemos à conver-
sa durante mais de 2 horas. E que tempo
precioso…
Isabel sucedeu a Mário Casquilho, di-
retor do Museu desde a sua inaugura-
ção no novo Estádio, a 31 de Agosto de
2003. Todavia, não foi por ter cessado
funções que Mário Casquilho deixou de
participar na “vida” do Museu. Todas as
quintas-feiras, o ex-diretor juntamente
com Vítor Cândido, ex-dirigente do Spor-
ting e ex-jornalista d’A Bola”, voluntaria-
se perante o Museu Leonino para fazer
O Sporting. Em Revista.
Mas para que o trabalho pudesse ser duas das palavras de ordem. Experiên-
concretizado, seria preciso reunir uma cia e juventude acrescem igualmente.
equipa. Uma equipa com grande espírito Mas quem são as pessoas que tanto
de entrega à causa, com Esforço, Dedi- têm trabalhado para nos oferecer um
cação e Devoção, mas também com ele- Museu melhor e sustentável no futuro?
vada competência e qualidade curricu- Temos, dentro desta equipa, diferentes
lar. Para a diretora do Museu, todos os campos de pesquisa e de trabalho:
dias são feitos grandes progressos, mas Na área de Receção, Paula Pulido é a
afirma que, como toda a mudança estru- figura central. Funcionária do Sporting
tural, os resultados só começarão a ser há mais de 30 anos, é um grande apoio
observáveis a médio-longo prazo. A no que toca ao conhecimento das mais
equipa que hoje está variadas entidades
responsável pelo Mu- do Clube. De segui-
seu, com a responsa- “No que às visitas e da, temos o Centro
bilidade de fazer respetivos dados de Memória, o qual
crescer o espaço tan- está ao encargo de
to em organização
concerne, são cerca de David Felgueira, an-
como em memória, já 20 mil o número de tropólogo, e onde en-
visitou dezenas de pessoas que visitam tra também a partici-
outros Museus, inclu- pação de Mário Cas-
sive os dos nossos ri-
o Museu Sporting, quilho e Vítor
vais. Uma ideia clara- anualmente.” Cândido no reconhe-
mente proveitosa. cimento de docu-
Até porque, segundo Vasco Campos, o mentos antigos. No serviço de Fotogra-
Sporting tem mais em arquivo que os fia, Ana Paula Silva é quem lidera, tendo
outros dois rivais juntos. Importa tam- sido inclusive formada pela Escola de
bém referir que o Museu do Sporting é o Fotografia. Magda Viana e Joana Gon-
único Museu de Clube em Portugal pen- zález Loureiro são as responsáveis pela
sado e estruturado por um Museólogo: o Conservação e Restauro.
professor António Nabais, que se dedi- Na Documentação e Pesquisa temos,
cou inteiramente ao projeto museológi- então, Vasco Campos, Raquel Vaz Cam-
co da época. pos e Ana Raquel Parra. Miguel Pereira
assume a Gestão e Programação de
A EQUIPA DO MUSEU SPORTING Projetos, ao passo que o Serviço Educa-
tivo fica entregue a Joana Hortas. A
De 2017 até hoje, Isabel Victor tem-se equipa do Museu não se estende só a
empenhado em constituir uma equipa estas pessoas, ainda assim. Todos os
equilibrada: competência e paixão são anos chegam 3 a 6 (ou mais) estagiários
Reportagem
ao Museu do Sporting, com vista ao seu
enriquecimento curricular. David Fel-
gueira foi um desses casos que, ao soli-
citar um estágio inicialmente, acabou
por mais tarde ficar a trabalhar para o
Museu. Outra pessoa que importa refe-
rir, a quem Isabel Victor muito agradece
pela qualidade do apoio prestado, é Mar-
ta Vaz, funcionária dos Recursos Huma-
nos do Sporting, que está sempre na fila
da frente para ajudar o Museu Leonino.
ESTATÍSTICAS E DIGITAL – LONGO CA- 55
MINHO PARA SER PERCORRIDO!
O Museu Sporting tem, atualmente,
página em uma só rede social. O Face-
book é uma das principais fontes de par-
tilha da História do Clube e do trabalho
alcançado pelo Museu. Funciona em
pleno, visto que depende exclusivamen-
te da responsabilidade da equipa ligada
ao próprio Museu, e são mais de 6 mil as
pessoas que seguem a página na rede
social.
No site do Sporting, ao qual a equipa
é alheia, o conteúdo é muito pobre e
está estagnado há longos anos. A dire-
tora do Museu já solicitou diversas ve-
zes o acesso ao espaço do site para en-
riquecer o conteúdo, mas sem sucesso.
Um dado interessante é o facto de a
Sporting TV ter uma ligação direta ao
Museu do Sporting. Uma rubrica diária
como a “Memória do Dia” consulta vá-
rias vezes o Museu. O programa “O Mu-
seu Conta” foi implementado já após
Isabel Victor ter chegado ao cargo, e é
 Reportagem
orientado sobretudo pela equipa do pró-
prio espaço.
56 No que às visitas e respetivos dados
concerne, são cerca de 20 mil o número
de pessoas que visitam o Museu Spor-
ting, anualmente. As visitas de autor são
na primeira quinzena de cada mês. “Po-
diam ser muito mais visitas, mas o local do
Museu não é o melhor do ponto de vista
estratégico e de atração de público. 100
mil podia ser um número perfeitamente al-
cançável, mas em meses que temos 2 jo-
gos da Liga Europa, geralmente em outu-
bro ou novembro, as visitas baixam na or-
dem dos 60%. O Museu fica perto da Porta
10-A, local de entrada dos atletas. Às ve-
zes, por uma questão de preparar tudo
com dias de antecedência ou de realizar
conferências de imprensa, o Hall Vip tem
de ser fechado. Muitas vezes temos inclu-
sive de cancelar excursões no próprio dia,
sem hipóteses de previsão. Como é que
combatemos isto?” – afirmam Isabel Vic-
tor e Vasco Campos. As épocas do ano
onde, normalmente, o Museu tem mais
procura, são as épocas de verão, Páscoa
e Natal, o que se explica muito por estar
associado a um período de férias. Por
outro lado, temos o Museu de Leiria (ex-
tensão), espaço criado e liderado pelo
emblemático Leão Bernardes Dinis. Re-
cebe mais de 17 mil visitantes por ano,
com a agravante de ser um espaço de
entrada gratuita. O trabalho de Bernar-
des Dinis é muito louvado e elogiado por
todos.
PERSPETIVAS DE FUTURO: UM MUSEU
PARA A ETERNIDADE! UM MUSEU ONDE
ENTRE TODA A GRANDEZA DO CLUBE!
Isabel Victor tem uma frase muito es-
pecial sobre o Sporting e sobre a sua ca-
pacidade de crescimento em perspetiva:
“As pessoas, de um modo geral, desconhe-
cem o potencial de um Clube como o Spor-
ting e de onde ele pode chegar. Todos so-
nhamos com um Sporting no esplendor
das suas capacidades, mas poucos sabe-
mos o seu real valor”. Para a representan-
te máxima do Museu Leonino, o local
continuará sempre a ser um sítio especi-
al e personalizado, algo que os visitan-
tes muito apreciam: “Na falta de outros
recursos, eu própria transmito à equipa
para fazer com que os visitantes se sintam
revista1906.com Set / Out 2019
em casa. Estamos sempre a perguntar de
onde vêm e qual o clube que apoiam, e
conseguimos sempre, de uma forma ou de
outra, ligar isso ao Sporting. Um detalhe
que eles apreciam e que os faz ficar mais
confortáveis.”.
A Diretora acrescentou também que,
se o Sporting quer um Museu para o fu-
turo, tem de permitir rapidamente que
haja uma mudança de espaço e local de
exposição dos seus variados troféus. O
espaço médio, normal, de um Museu de
um clube é de aproximadamente 3 mil
metros quadrados. O Sporting tem um
terço desse espaço, o que leva a que já
não exista lugar para tudo. Há Taças, in-
clusive, que acabam por não estar ex-
postas porque o espaço está a rebentar
pelas costuras. São muito mais as Ta-
ças que estão guardadas na reserva do
Estádio do que aquelas que estão ex-
postas no Museu. Questionada sobre
um local de futuro, Isabel respondeu que
existe um plano que está a ser feito com
a Direção, sobretudo com a pessoa do
vice-presidente Filipe Osório de Castro,
para alugar um espaço digno de repre-
sentar a história do Sporting, em pleno
O Sporting. Em Revista.
Alvaláxia. “A Direcção está a negociar no
Alvaláxia uma área de 3 mil metros qua-
drados que nos permita aumentar o Museu
consideravelmente e oferecer um local de
memória digno do Sporting Clube de Por-
tugal. No entanto, não tem sido fácil”.
Está também em estudo a hipótese
de o Sporting ter um Museu Móvel, den-
tro de um autocarro, que possa levar a
sua memória e a História a todos os lu-
gares do retângulo nacional. “Depois do
título de 2000, o País ficou boquiaberto
com a quantidade de Sportinguistas que o
País tinha. Queremos explorar isso e que-
remos chegar a todo o adepto que não te-
nha oportunidade de vir a Lisboa conhecer
a história do seu Clube.” O projeto de re-
branding da marca, que ofereça uma
memória de futuro e dê mais cor e vida
ao Museu, já está em marcha há muito
tempo, e até bem adiantado. Isabel diz
que falta aquele toque final, o empurrão
que levará o Museu para a frente e para
onde tanto deseja. “Já conseguimos aca-
bar com o termo “experience” quando se
referiam ao Museu. O que era isso de “ex-
perience”? As pessoas não adivinhavam.
Já conseguimos também colocar uma pla-
Reportagem
ca a dizer “Museu” na Praça Centenário. A conversa já ia longa mas Isabel e
Queremos que exista uma mesma placa à Vasco atiraram-nos esta mensagem em
porta do Metro. Temos conseguido bas- forma de despedida: “Contem connosco e 57
tante.” não desistam de nós, que nós também
Nesta nossa viagem à História do contaremos sempre com vocês”.
Sporting concluímos que, de todas as
críticas que possam surgir ao Museu, @sporting_tatico
nenhuma será decerto por culpa da atu-
al equipa que a gere e que entrou em
2017. Os dirigentes do Sporting têm, de
um modo geral, deixado o espaço e a
memória cair no esquecimento. Um “A Direcção está a
povo sem memória é um povo sem futu-
ro, e deixar o Museu ao abandono é algo
negociar no Alvaláxia
que não pode voltar a acontecer. Há um uma área de 3 mil
grande trabalho de bastidores, realizado metros quadrados que
quotidianamente, para fazer com que o
Museu do Sporting seja um lugar cada
nos permita aumentar
vez mais especial e atrativo para os o Museu
Sportinguistas e adeptos de desporto. consideravelmente e
Disso, que o leitor não tenha a mais pe-
quena dúvida. Basta apenas que quem
oferecer um local de
de direito forneça o apoio necessário memória digno do
para que se almeje esse objetivo. As Sporting Clube de
perspetivas de futuro são boas e sorri-
em-nos. Falta o “click” final. Falta ter um
Portugal. No entanto,
Museu igual à grandeza do Sporting. O não tem sido fácil”.
caminho é extenso, mas possível…
 Modalidades - Basquetebol
Bola ao ar, rapazes!
Texto de Sporting Tático
Fotos de Sporting Clube de Portugal
Infografia de Henrique Paulino e Daniel Silva
58
Todos os anos gos-
tamos, de um modo
geral para aqueles que
apreciam o desporto
em Portugal, de espe-
rar até altas horas da madrugada para
ver as estrelas da NBA e as nossas equi-
pas preferidas. Os Bulls, os Mavericks,
os Lakers e este ano tivemos os Rap-
tors. Os Sportinguistas gostam dos Cel-
tics, talvez por equiparem de verde. De-
pois temos os monstros sagrados que
vestiam/vestem aquelas emblemáticas
camisolas, como é o caso de Michael
Jordan, Abdul-Jabbar, Kobe Bryant, Le-
Bron James, Shaquille O'Neal, e alguns
mais recentes, como Luka Dončić ou Gi-
annis Antetokounmpo.
Mas quantas vezes tivemos de fa-
zer noitadas ou directas para ver a NBA?
Já perdemos a conta. Pois bem, decerto
não deixaremos de as fazer, mas agora
fomos finalmente recompensados: po-
demos ver Basquetebol ao vivo e a cores
(verdes e brancas), porque o Sporting
está de volta às quadras e aos cestos!
24 anos depois da extinção do escalão
sénior, o Pavilhão João Rocha vai rece-
ber mais uma modalidade e tão acari-
nhada que é pelos adeptos leoninos. Já
há, inclusive, data marcada para o pri-
meiro jogo da nossa nova equipa no
João Rocha: 27 de setembro, sábado,
frente à Ovarense. Começa aí uma nova
epopeia leonina, que esperamos de mui-
tos sucessos e emoções, bem ao nível
do Basquetebol que tanto gostamos.
Se as noitadas acabaram? Não sabe-
mos. Mas que já há Sporting que nos
tira a fome de jogos de Basket, isso sim!
revista1906.com Set / Out 2019
TANTA HISTÓRIA PARA CONTAR
Foi em 1927 que Acácio Campos, diri-
gente e jogador da época, trouxe o Bas-
quetebol para o Sporting. Como não po-
dia deixar de ser, foi uma história que co-
meçou desde logo a ser desenhada com
vitórias; o Sporting vence a primeira or-
ganização do Campeonato de Lisboa, e
logo na sua época de estreia.
Desde então o Sporting teve 2 épo-
cas douradas: a década de 50 e a transi-
ção dos anos 70 para os anos 80. Na pri-
meira fase de ouro foram conquistados,
em 7 temporadas desde 1953 a 1960, 3
Campeonatos, 1 Taça de Portugal e 4
Campeonatos de Lisboa. Nessas equi-
pas pontificavam lendas vivas como An-
tónio Feu, que ainda há uns anos era di-
rigente no Basket do Clube.
O Sporting. Em Revista.
A década de 70 e início da década de
80, trouxe novos sucessos contínuos
para os Leões. Desta feita com craques
como Mário Albuquerque, Augusto Ba-
ganha, Carlos Lisboa ou Mike Carter. De
1974 a 1982, o Sporting venceu 4 Cam-
peonatos e 4 Taças de Portugal. Só que,
infelizmente, foi devido a esses anos
que estagnaram os troféus a exibir na
montra leonina. Com uma primeira sus-
pensão de atividades da equipa sénior
em 1982, embora retomada em 1984, e
com a extinção em 1995, em que os só-
cios elegem o Andebol em detrimento
do Basquetebol, nunca mais o Sporting
Clube de Portugal teve uma equipa sé-
nior na modalidade. Figuras como Edgar
Vital, Carlos Sousa, Jaime Brito da Torre
e Juvenal Carvalho fundaram, em março
de 2012, um novo projeto de Basquete-
bol do Sporting, mas que se estendia,
mais tarde, apenas até aos Sub16.
Sendo uma promessa eleitoral de
Frederico Varandas o regresso de uma
equipa sénior de Basquetebol, o Spor-
ting teve a 7 de novembro de 2018 o
“Sim” dado, por parte dos restantes Clu-
bes da Liga Portuguesa de Basquetebol,
para retornar de imediato ao 1º Escalão.
Foi vista uma oportunidade para aumen-
tar a competitividade do Campeonato
rapidamente e, tanto a Federação como
os Clubes, não quiseram desperdiçar
essa possibilidade.
24 anos depois, o Sporting Clube de
Portugal volta à primeira linha do Basket
Nacional, apresentando no seu Palma-
rés: 8 Campeonatos Nacionais, 5 Taças
de Portugal e 14 Campeonatos de Lis-
boa. O primeiro passo está dado, restam
as respetivas conquistas…
É POSSÍVEL SONHAR
Pouco mais de um mês depois de sa-
ber que o Sporting ia voltar à 1ª Liga, a
dupla MA (Miguel Albuquerque e Miguel
Afonso) não perdeu tempo e fechou de
imediato um Treinador conceituado
para iniciar este novo projecto: Luís Ma-
galhães foi a figura escolhida. Treinador
conhecido no Basket português, levou 3
equipas ao título nacional: o Portugal-
Telecom, o FC Porto e a Ovarense. É um
dos melhores técnicos que já passou
por Portugal, embora aos dias de hoje
tenha o ligeiro “handicap” de não treinar
desde 2015. Situações como estas tra-
zem-nos à memória o caso de Zupo no
Andebol, há uns anos, que se encontra-
va totalmente ultrapassado para a reali-
dade atual. No entanto, esperamos e
cremos que Magalhães seja a pessoa
ideal para iniciar e encaminhar esta
equipa no sentido das vitórias. Pelo me-
nos, o próprio sempre referiu que só
aceitaria convites em que o objetivo fos-
se investir, para marcar posição o mais
cedo possível. E, por aquilo que temos
observado da nova equipa, isso não tem
fugido muito à regra.
Mas vamos ver então como nos te-
mos reforçado até agora, sabendo que
alguns dos nomes que chegaram a Alva-
lade nos deixam água na boca.
Nos Bases (PG – Point Guard) te-
mos o Ty Toney, ex-Esgueira; Diogo Ven-
tura, Ex-Galitos; Pedro Catarino, Ex-Lusi-
tânia e Francisco Amiel, Ex-Colgate Rai-
ders (Universitários Americanos). Ty
Toney é um base americano muito inte-
ressante, com bom drible e bom lança-
mento, o melhor jogador do Esgueira na
época transata e um dos melhores ba-
ses do Campeonato. Foi o jogador com
melhor percentagem de assistências
por jogo na LPB: 6.4 por jogo. Diogo Ven-
tura, ao que tudo indica, será a segunda
opção na organização de jogo. Curiosa-
mente, o segundo melhor assistente do
Campeonato passado, média de 6.2 por
jogo, precisamente a seguir a Toney. É
presença assídua na Seleção, tal como o
seu colega Pedro Catarino, que é usado
também como extremo-base algumas
vezes. Catarino é um bom lançador de 3,
para a realidade nacional. Sobra assim o
elemento mais novo da posição, Fran-
cisco Amiel, filho do antigo dirigente Ál-
varo Amiel, que vem diretamente do País
do Basket e que tem muita experiência
para a idade que tem, visto ter passado
pelos Universitários, rampa de lança-
mento da NBA para os rookies.
Quando olhamos para os Extremos
(SG - Shooting Guard), reparamos logo
nos 2 reforços provenientes da Olivei-
rense: James Ellisor e Travante Willi-
Modalidades - Basquetebol
ams. Duas das figuras que levaram o
conjunto de Azeméis ao bicampeonato.
Ambos americanos, ambos craques e
dos melhores jogadores do Campeona-
to. Ellisor é um extremo de muita quali-
dade, que muitas vezes também assu-
me a construção da equipa e gosta de
ajudar o base. Tem uma percentagem de
acerto no lançamento de 66%. Travante
é um criativo, que ajuda a defender e as-
sume muitas vezes a batuta ofensiva.
Apresenta igualmente um bom acerto
nos triplos.
Quando olhamos para
os extremos,
reparamos logo nos 2
reforços provenientes
da Oliveirense: James
Ellisor e Travante
Williams. Duas das
figuras que levaram o
conjunto de Azeméis ao
bicampeonato. Ambos
americanos, ambos 59
craques e dos melhores
jogadores do
Campeonato.
Chegamos então à restante contra-
tação, esta fora de portas, mas que tam-
bém tem nacionalidade americana:
Brandon Nazione, ex-Olimpia Montevi-
deo, aconselhado por Ty Toney, que foi
seu colega de equipa nos Eastern Michi-
gan. É um extremo-poste (SF – Small
Forward), que trabalha bem enquanto
extremo, mas que sabe igualmente
como jogar debaixo do cesto e funciona
bem na ajuda à referência de poste. Os
seus 2,03 metros beneficiam-no nesse
sentido. Tem uma percentagem de acer-
to nos triplos mais baixa que Travante e
Ellisor, na ordem dos 56% ainda assim,
sendo por isso que é usado mais vezes
como SF. Sobram ainda Diogo Araújo,
ex-Porto; Jorge Embaló, ex-Angra e An-
dré Cruz (uma promessa de 17 anos), ex-
 Tipo de artigo- Basquetebol
Modalidades revista1906.com Set / Out 2019

Estoril BC. Tudo jogadores de rotação,
mas com boas perspectivas de futuro.
Embaló é um bom defensor e pode cres-
cer nesse sentido.
Terminamos então nos Postes (C –
Center ou PF – Power Forward). Cláudio
Fonseca, internacional contratado ao
Benfica, abre o lote de opções. Com 2,08
metros e 30 anos, traz experiência e ca-
pacidade defensiva debaixo do cesto,
sendo o principal Center da equipa. Cân-
dido Sá, embora não seja um poste de
origem, aproveita a sua estatura para
encestar muitas vezes, por isso veio
também dos Universitários para o Spor-
ting, ex-Rutgers. De seguida o angolano
João Fernandes, ex-Ovarense, que sur-
preendeu na época anterior. Abdul-Malik
Abu fecha o plantel leonino, ele que é
mais um Power-Forward do que propria-
mente um C, embora tenha uma capaci-
dade física estonteante que lhe permite
fazer muitos pontos e afundanços visto-
sos. Esteve nos Drafts da NBA, não ten-
do sido escolhido.
Podemos concluir, então, que a equi-
pa está interessante e permite sonhar,
em primeira instância, com as meias-fi-
nais dos Playoffs da Liga. Luís Maga-
lhães, ao que tudo indica, vai apostar na
estatura e índices físicos do plantel para
trazer mais capacidade defensiva ao
Sporting.
Bola ao ar, rapazes!
@sporting_tatico

Point-guard
PG Ty Toney
Diogo Ventura
Francisco Amiel

Shooting-guard
SF SG James Ellisor
PF Pedro Catarino
André Cruz

Small-forward
SF Travante Williams
Jorge Embaló
PG
Point-forward
PF Brandon Nazione
Diogo Araújo
João Fernandes

60 C
SG C
Center
Cláudio Fonseca
Abdul-Malik Abu
Candido Sá
Geremias Manjate

Treinador
Luís Magalhães

Liga Portuguesa
de Basquetebol
Fora Casa Fora
2019 / 20 05/10/2019 12/10/2019 19/10/2019
Datas Provisórias Terceira Basket Galitos FC AD Ovarense

Casa Fora Casa Fora Casa

26/10/2019 02/11/2019 09/11/2019 16/11/2019 23/11/2019
Maia BC SL Benfica SC Lusitânia CP Esgueira Vitória SC

Fora Casa Fora Casa Casa

30/11/2019 07/12/2019 14/12/2019 21/21/2019 28/12/2019
FC Barreirense UD Oliveirense FC Porto CAB Madeira Illiabum
O Sporting. Em Revista.
Força Nuclear:
Bruxelas
Texto de Núcleo do Sporting Clube de Portugal de Bruxelas
O
projecto de criar o Núc-
leo do Sporting Clube
de Portugal de Bruxelas
nasceu no início do ano
de 2019. Sentindo a fal-
ta de um núcleo oficial,
um grupo de amigos, impulsionado por
Pedro Canto e Castro, decidiu embarcar
nesta aventura e iniciar os contactos ne-
cessários para transformar o Núcleo do
SCP de Bruxelas numa realidade. No co-
ração da Europa e com uma enorme co-
munidade de Sportinguistas, Bruxelas
era assim uma localização chave para
contribuir para o projecto de expansão
do SCP. Há muitos locais onde se acom-
panha e vive o Sporting regularmente,
mas sentia-se a falta desta representa-
ção oficial.
A viver em Bruxelas há 3 anos, Pedro
Canto e Castro sempre teve o hábito de
ver os jogos do Sporting com amigos,
nomeadamente com o Francisco Beirão.
Com a ajuda do antigo Dirigente Leonino
Aureliano Neves, que teve a amabilidade
de fazer a ponte com o SCP, estabele-
ceu-se o contacto com o Departamento
de Núcleos do Sporting. Durante as se-
manas seguintes, a equipa concentrou-
se em reunir Sportinguistas para avan-
çar com o Núcleo. Felizmente há muitos
em Bruxelas e, assim, o Pedro e o Fran-
cisco, juntamente com o André Paula
Santos, um grande Sportinguista muito
motivado pelo sucesso do Núcleo e em
ajudar à sua expansão, criaram a Comis-
são Instaladora. Esta será responsável
pelo correcto desenrolar do processo de
criação do mais recente Núcleo da famí-
lia leonina e do cumprimento dos regula-
mentos do Clube.
A oficialização do Núcleo teve lugar
no final do mês de Junho com a aprova-
ção do Conselho Directivo do SCP e,
subsequentemente, com o registo ofici-
al da marca pelo Sporting. A notícia da
criação do Núcleo foi publicada no Jor-
nal do Sporting na edição de 4 de Julho
de 2019. Logo após a sua criação, o
Núcleo teve a honra de receber a equipa
principal de futebol em território belga,
para um jogo da pré-época, em Bruges,
com o Club Brugge. Assumindo rapida-
mente o seu papel, o Núcleo esteve pre-
sente, reuniu-se com o vice-presidente
João Sampaio, incentivou os jogadores
e ainda ofereceu bilhetes a dois adep-
tos.
Após o período de férias, o Núcleo irá
reunir-se na sua primeira Assembleia
Geral para formalização dos Órgãos So-
ciais. Neste momento, os candidatos
aos Órgãos Sociais apresentam-se
como um grupo bastante representati-
vo, com variados perfis e experiências
profissionais, composto em cerca de
40% por mulheres, com sócios com
mais de 20 anos e outros mais recentes,
mas todos com um grande amor pelo
Sporting.
A inauguração oficial será subse-
quente à AG constituinte. Para já, o Núc-
leo está presente nas redes sociais, que
serão meios privilegiados de chegar a
Tipo de
Opinião
artigo
todos e o modo preferencial de divulga-
ção das actividades.
Sendo o único Núcleo oficial na Bélgi-
ca, há uma responsabilidade acrescida
na representação do nosso Clube. Ape-
sar da sua criação ser recente, há já mui-
tos contactos de Sportinguistas a per-
guntar como se podem juntar a este
Núcleo. A ambição passa por reunir no
Núcleo todos os sócios Leoninos que vi-
vem em Bruxelas e angariar novos só-
cios para o Sporting Clube de Portugal. 61
Pedro Canto e Castro, candidato a
presidente do Núcleo, adianta que “Va-
mos procurar ser uma ponte, o elo de liga-
ção entre os adeptos e o nosso Clube.
Queremos que os adeptos do Sporting em
Bruxelas sintam que o seu apoio chega à
equipa. Queremos ajudá-los a viver o
Sporting a muitos quilómetros de Alvala-
de. A verdade é que também no estrangei-
ro, os adeptos têm um papel importante a
desempenhar e nós queremos criar as pla-
taformas necessárias para expor e poten-
ciar esse apoio fundamental.”
Mais uma vez, obrigado por se lem-
brarem de nós.
Saudações Leoninas,
Núcleo Bruxelas
Siga o Núcleo SCP Bruxelas nas
Redes Sociais
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@nucleoscpbruxelas
@NucleoSCPBruxelas
 Modalidades
Carlos Nascimento
Nome de campeão
Faz 35 anos que Carlos Lopes trouxe ao pescoço a primeira
medalha de ouro para o atletismo português. Este ano,
também um outro Carlos foi o primeiro a trazer o Ouro dos
Jogos Europeus.
Texto de Mariana Cordeiro Ferreira
Fotos de Carlos Nascimento
Ser Campeão está-
lhe no ADN, mas
mais do que isso,
está-lhe no nome.
Em ano de comemo-
ração da primeira medalha de ouro para
o atletismo português, Carlos Nasci-
mento fez também história, ao trazer a
primeira medalha de ouro para o territó-
rio nacional na Segunda Edição dos Jo-
62 gos Europeus, decorridos este ano, no
passado mês de Junho, em Minsk.
O atleta do Sporting Clube de Portu-
gal conquistou o Ouro depois de fazer os
100M em 10.35sg. O formato é novo e
ainda existe muita coisa para ser enten-
dida por todos, mas a verdade é que, no
passado dia 23 de junho, o atleta portu-
guês foi considerado o mais rápido de-
pois de, numa única corrida, os atletas
das quatro séries de seis equipas que
competiram todo o dia terem ficado com
resultados mais baixos.
Chegou agora a altura de mostrar-
mos quem é Carlos Nascimento, o que
faz e o que fez para chegar até aqui. Te-
mos de ser rápidos, porque temos em
mãos a história do mais rápido atleta da
Europa da actualidade, ele que veste de
Verde e Branco.
24 ANOS DE VELOCIDADE
Desde tenra idade que se percebeu
que o Medalha de Ouro ia ser um grande
atleta. Nascimento costuma até brincar
revista1906.com Set / Out 2019
com a situação quando lhe perguntam los de Campeão Nacional de Sub-23, Ju-
como nasceu a paixão pelo atletismo: niores e Juvenis. Várias presenças em
“As minhas educadoras de infância já me Mundiais e Europeus também mostram
diziam que era muito rápido”, disse numa a qualidade do Português em pista,
entrevista dada ao Diário de Notícias, onde o pior resultado atingido até hoje
em Junho, depois da vitória em Minsk. foi um oitavo lugar no Europeu e Sub-23
Atleta profissional desde 2009, Nas- em 2015.
cimento é natural de Matosinhos e foi
na Escola do Movimento do Porto que INSISTE, PERSISTE E NÃO DESISTE
fez as suas primeiras conquistas. Recor-
dista Nacional de Iniciados nos 80m, As lesões fazem parte da vida de
ainda em 2009, com a marca de 9.17sg, qualquer atleta e foi por culpa de uma
foi posteriormente Campeão Nacional que Carlos Nascimento se viu obrigado
dos 100 e 200m nas categorias de Juve- a parar e a regressar às pistas ao ar livre.
nis e de Juniores. Falando em ar livre, foi após deixar as
Ainda antes de integrar a equipa do pistas cobertas que o atleta se viu obri-
Sporting, o miúdo com nome de Campe- gado a regressar à escola que o viu nas-
ão foi finalista no Mundial de Juniores, cer...
onde terminou com um honroso sétimo
lugar. Motivos mais do que suficientes
para trazermos a nova estrela do Atletis-
mo para o clube mais eclético do Mun-
do.
Carlos chegou e, desde essa altura,
muitas foram as medalhas, muitas fo-
ram as conquistas e muitas são as ve-
zes em que sobe ao pódio para cantar “A
Portuguesa”, seja com a camisola do
Sporting, seja com a camisola da Selec-
ção Nacional.
Desde a sua integração na equipa de
Atletismo do Sporting, foram 3 os Recor-
des Nacionais atingidos, alcançou a
marca de 6.73sg em 60M, sagrou-se
Campeão Nacional em pista coberta de
60 e de 200M e foram mais de 16 os títu-
O Sporting. Em Revista.
“Nunca sabemos se
vamos conseguir o
Ouro, mas acreditava
no Ouro. Estou muito
satisfeito por honrar o
país e o Sporting CP
desta maneira, assim
como todos aqueles
que me apoiaram”
Depois de dois anos de Leão ao peito,
foi, em 2014, uma das vítimas dos cor-
tes efectuados no Atletismo Masculino
do Clube, não renovando contrato e vol-
tando à Escola do Movimento. Foi lá, em
2016, que outro dos seus recordes pes-
soais foi conseguido, após fazer 60M
em 6.63sg. Este resultado garantiu ao
actual atleta do Sporting a presença,
nesse ano, no Rio de Janeiro.
Felizmente, e como um bom filho a
casa torna, Carlos Nascimento ingres-
sou novamente na equipa do Sporting
depois de três anos fora. O regresso foi
um sucesso e, logo depois, voltou a ser
Campeão de Pista Coberta em 100m e
200m garantindo a qualificação para um
Europeu onde não pôde estar presente
devido a uma outra lesão.
Mas Nascimento não desiste. O jo-
vem de 24 anos recupera e volta a insis-
tir, a acreditar e a concretizar conquistas
quando muitos o dão como fora das
contas finais. Prova disso mesmo foi,
em 2018, ter sido novamente Campeão
de Portugal e viajado para os Jogos Eu-
ropeus em Berlim. Já este ano, o atleta
Verde e Branco garantiu a primeira me-
dalha de ouro para o país depois da con-
quista na Bielorrússia.
Nascimento não desiste, Nascimento
luta, Nascimento conquista e Nascimen-
to não corre, voa. E é com orgulho que
diz vestir a camisola do Sporting. Na sua
Página Oficial do Facebook, o atleta diz-
se honrado por vestir a camisola com o
Modalidades
63
Leão ao peito e, depois da conquista em
Minsk, foi à Sporting Tv e falou no feito
com orgulho: “Nunca sabemos se vamos
conseguir o Ouro, mas acreditava no Ouro.
Estou muito satisfeito por honrar o país e
o Sporting CP desta maneira, assim como
todos aqueles que me apoiaram".
CONTINUAR A VENCER
Já este mês, o atleta do Sporting con-
quistou, ao serviço da Selecção Nacio-
nal, a I Liga das Nações, ajudando a ga-
rantir o pódio quando, no primeiro dia,
fez os 100m em 10.64sg.
A Comitiva Portuguesa terminou a
prova disputada na Noruega com 302
pontos conquistados, mais 21 que o se-
gundo classificado, ficando assim auto-
maticamente apurada para a Superliga
Europeia.
@nanacferreira
 Paramodalidades
No nadar é que está
o ganho
Depois de na primeira edição termos falado de paracanoagem,
continuamos dentro de água, desta vez para falar de natação.
Texto de Mariana Cordeiro Ferreira
Fotos de Rui Gama
Mais de 200 meda-
lhas, oito treinos por
semana e uma força
de vontade e de su-
peração, a todos os
níveis, que está muito para lá do que
pode ser compreendido pelo comum
dos mortais. Hoje falamos de João Vaz,
o Campeão Nacional de Natação Adap-
tada, recordista Europeu, Vice Campeão
Mundial e um Super Atleta que tem de
lutar todos os dias, em conjunto com
64 Rui Gama, para continuar a trazer meda-
lhas para o Museu.
CHEGAR, TREINAR E VENCER
Já lá vão dez anos desde que Rui
Gama conheceu João Vaz. Desde 2009
que trabalham em conjunto e, apesar do
atleta já trazer alguma integração no
que diz respeito ao desporto aquático,
foi com Rui Gama que cresceu. O João
chegou, treinou e desde o início mostrou
que não estava ali para brincar às pisci-
nas.
Oito meses depois da sua integração
na equipa de Natação Adaptada do Clu-
be, já participava na sua primeira com-
petição oficial. Em Fevereiro de 2010 já
dava os seus primeiros passos nos pó-
dios deste país, ao vencer a medalha de
ouro e de prata no Campeonato Nacio-
nal de Natação Adaptada de Inverno dis-
putada em Lamego.
Desde essa altura, foram muitos os
títulos conquistados e, actualmente, o
jovem de 26 anos é Campeão Nacional
Absoluto, quatro vezes Campeão Euro-
peu e Vice-Campeão Mundial por 17 ve-
zes, sendo também detentor do recorde
europeu de 200m bruços com 3’’31,61
conquistado em Maio na Póvoa de Var-
zim.
Importa salientar que o atleta leonino
é Campeão Nacional em todas as cate-
gorias onde está inserido, e é um dos
atletas mais medalhados do Mundo,
sendo motivo mais do que suficiente
para mostrar que João Vaz é o Campeão
que queremos manter com as cores do
nosso Clube do coração.
O APOIO MAIS IMPORTANTE
Talvez não saiba, mas o Sporting Clu-
be de Portugal é o Clube que mais moda-
lidades paralímpicas tem no Mundo. E é
com orgulho que vemos que Campeões
como o João continuam a querer sem-
pre fazer mais e melhor por este país,
por esta instituição e pelo desporto.
Em todas as conquistas do João
existe um denominador comum. Fala-
mos do apoio que vem das bancadas
em cada competição. Para o pai, Fran-
cisco Vaz, as conquistas do atleta de-
vem-se a três factores principais: a ele
próprio, pela capacidade de superação e
por toda a vontade que tem em conquis-
tar títulos; ao treinador Rui Gama, que o
motiva, que o conhece e que cada vez
mais pretende fazer dele o melhor atleta
do Mundo da natação adaptada; e à fa-
mília, sempre presente, sempre pronta
para apoiar e motivar.
revista1906.com Set / Out 2019
Muitos são os sacrifícios que têm de
ser feitos por atletas diariamente, desde
a alimentação, os treinos, o descanso, a
capacidade de superar limites e barrei-
ras impostas a nível nacional, internaci-
onal e pessoal. Para os atletas paralím-
picos esses mesmos sacrifícios são le-
vados ao extremo, principalmente
quando faltam apoios, quando falta re-
conhecimento, quando falta transparên-
cia.
João Vaz é portador de Síndrome de
Down, mas desde muito cedo mostrou
vontade de superar barreiras, conquistar
quem dele duvidou e demonstrar todos
os dias que a diferença está só nos
olhos de quem a vê e de quem não en-
tende que Campeões são os que mais
trabalham, os que mais conquistam e os
que mais superam todas as dificulda-
des, sejam elas físicas, mentais ou ima-
ginárias.
Para a família do atleta, cada con-
quista tem sido vista como uma supera-
ção, (mais) um motivo para calar pre-
conceitos e estereótipos e, numa entre-
vista dada em Outubro do ano passado
ao Canal do Youtube de Rui Gama, Fran-
cisco Vaz, emociona-se quando diz que
cada conquista do atleta traz sempre
uma lágrima feliz à cara de cada um.
CONTINUAR A LUTAR
As dificuldades para o departamento
de Natação Adaptada começam logo
pela falta de reconhecimento que existe,
devido à não inclusão dos atletas com
O Sporting. Em Revista. Paramodalidades

Francisco Vicente, Vicente Pereira, João Vaz e André Almeida

Muito se tem feito com

tão pouco! Pouco
apoio, pouco dinheiro e
pouco reconhecimento.
Apesar disso, a verdade
é que o Esforço, a
Dedicação e a Devoção
de todos os atletas tem
alcançado a tão
desejada Glória e, a
todos eles, o nosso
Obrigado! 65
João Vaz e Rui Gama

Síndrome de Down nos jogos Paralímpi- OS MELHORES, COM OS MELHORES

cos. Os atletas são colocados na mes-
ma categoria que deficiências intelectu-
ais S14 e, só para que se tenha uma
ideia, só isso faz com que o Comité Pa-
ralímpico Português não reconheça e fi-
lie estes atletas.
Não têm bolsas de preparação, pré-
mios desportivos ou bolsas no IPDJ, o
que faz com que todos os custos ineren-
tes à prática (deslocações, equipamen-
tos, materiais de treino, ajudas e apoios)
dependam única e exclusivamente da
boa vontade de atletas, familiares e trei-
nadores. Sai tudo do próprio bolso de
cada atleta, de cada treinador, de cada
pai ou cada mãe que assiste e apoia.
Não existe reconhecimento por parte
das entidades competentes e a única
vantagem que é dada para os atletas
desta categoria é, imagine-se, poderem
treinar no complexo do Jamor. Nunca
podem treinar nos mesmos horários da
Não têm bolsas de Actualmente o João Vaz e o André Al-
preparação, prémios meida (outro dos atletas da natação
desportivos ou bolsas adaptada) preparam, em conjunto com
Rui Gama e Ricardo Prebe (treinador ad-
do IPDJ, o que faz com junto), o Campeonato da Europa que vai
que todos os custos decorrer em Itália no próximo mês de Se-
inerentes à prática tembro. Já Ricardo Belezas prepara-se
também para viajar até ao Brasil, onde
dependam única e vai disputar o Campeonato Mundial de
exclusivamente da boa Surdos, a decorrer entre o dia 25 e 31 de
vontade de atletas, Agosto.
Muito se tem feito com tão pouco!
familiares e Pouco apoio, pouco dinheiro e pouco re-
treinadores. conhecimento. Apesar disso, a verdade
é que o Esforço, a Dedicação e a Devo-
natação pura pois, em termos de priori- ção de todos os atletas tem alcançado a
dades, acabam por ficar para o fim quan- tão desejada Glória e, a todos eles, o
do falamos de organização de espaços nosso Obrigado!
desportivos.
@nanacferreira
Cantinho de Memórias

1991:
Odisseia
na Europa
O que é que acontece se juntarmos Ivkovic,
Carlos Xavier, Luisinho, Oceano, Douglas,
Careca, Filipe, Cadete e Fernando Gomes,
todos na mesma equipa? E se, a meio da via-
gem, ainda juntarmos Balakov? E, mais ainda,
se forem treinados pelo grande Marinho Pe-
res? E, para acabar, se esta equipa tivesse
sempre a apoiá-la a melhor massa associativa
e adepta do Mundo, num enorme Estádio José
de Alvalade cheio para os ver jogar?

Texto de Cantinho do Morais

Ilustração de Henrique Paulino
 Há duas visões:
a) em Portugal
Bem, em Portugal, nada acontece (de
novo).
A época prometia (como sempre, em
qualquer pré-temporada). Tínhamos um
equipamento lindo - da marca Umbro -,
um patrocínio que caía bem na listada
(coisa rara), com um nome – Bonança –
que revelava um estado que raramente
se vive no Sporting, anunciando que
algo especial poderia acontecer.
No entanto, e apesar de termos tido o
maior arranque de sempre no Campeo-
nato (11 vitórias seguidas, incluindo go-
leadas a Vitória SC, Braga e Boavista –
esta última com direito a “matança do
borrego”), acabámos no eterno 3º lugar
(1ª inevitabilidade histórica). O primeiro
travão aconteceu à 12ª jornada em Cha-
ves (2ª inevitabilidade), com um empate
a 2 e muitas queixas da arbitragem (3ª
inevitabilidade). Segue-se a 1ª derrota,
nas Antas, resultando num abalo de con-
fiança de Ivkovic, que andou a semana a
afirmar, categoricamente, que sabia
como parar os livres de Geraldão mas
que, aos 5m de jogo, já tinha sofrido um
golo que nem o seu famoso “golpe de
vista” conseguiu deter. Entrou-se no
mês do Natal e veio o descalabro (4ª ine-
vitabilidade): lesão do nosso melhor jo-
gador, o Luizinho; derrotas com o SLB
em Alvalade, Marítimo e Gil Vicente (am-
bas fora de casa). O ano de 1990 está fe-
chado e o Sporting já está, uma vez
mais, arredado do título (5ª inevitabilida-
de).
E na Taça de Portugal? Bem, na Taça,
fomos eliminados nos oitavos de final
no Bessa, contra o Boavista (6ª inevita-
bilidade), num jogo em que acabámos
com 9 (grande Veiga Trigo! – 7ª inevita-
bilidade), mas que Raul Águas (então
adjunto de João Alves no Boavista), ain-
da veio, raivoso, critica a arbitragem di-
zendo que a mesma tinha favorecido o
Sporting. De onde viria tamanho rancor
O Sporting. Em Revista.
do Raul? Deixa cá pensar… já sei! É que
o Raul, meses antes, era o treinador do
Sporting, mas foi despedido por Sousa
Cintra, no fim da época, para entrar o
Marinho Peres. Ora bem: um ex-treina-
dor e/ou jogador do Sporting, com os
olhos em sangue, a vir para a comunica-
ção social, após um jogo onde foi bene-
ficiado, atacar o Sporting? Nunca vi… (8ª
inevitabilidade)
Talvez perspectivando as críticas do
Raul, o Veiga Trigo, no final do jogo Bes-
sa e já a caminho dos balneários, conse-
gue ver um adepto leonino a atirar um
objecto que atingiu um dos juízes de li-
nha. Mais ninguém viu. Só ele. Para a
justiça desportiva isso chegou: Sporting
castigado com 1 jogo fora de Alvalade,
numa decisão até hoje pouco vulgar no
nosso futebol (9ª inevitabilidade). O cas-
tigo foi cumprido a mais de 100km de Al-
valade, em Torres Novas. Contra quem?
Desportivo de Chaves. Resultado? Em-
pate, claro… (10ª inevitabilidade)
b) e na Europa?
É isso que vamos tentar descobrir.
A participação da equipa do Sporting
na Taça UEFA de 1990-1991 é uma das
histórias mais bonitas da minha vida le-
onina. A herança era pesada. Se, por um
lado, ainda estava fresca a eliminação
precoce aos pés do Nápoles de Marado-
na na época anterior (e aquele penálti, à
barra, do Gomes, constantemente a en-
furecer a minha memória…), também es-
tavam presentes as duas exibições fe-
nomenais contra o poderoso Ajax, em
1988.
Como manda a tradição, o sorteio
não nos era favorável. Calhou os belgas
do KV Mechelen (aqui será o Malines),
que tinha vencido a Taça das Taças e a
Supertaça Europeia em 1988. Marc Wil-
mots, um jovem Philippe Albert, Bruno
Versavel e o sueco Ingesson impunham
respeito, mas era na baliza (e como eu
gostava de balizas…) que estava a estre-
la maior: Michel Preud’homme, o herdei-
ro de Jean-Marie Pfaff que, já sem Dasa-
ev no activo, era, definitivamente o me-
lhor do Mundo.
Ainda em pleno Verão, com a escola
Cantinho de Memórias
a dar os primeiros passos e acabado de
fazer 10 anos, a minha mãe não me po-
dia negar uma ida a Alvalade, ainda que
a meio da semana. A 18 de Setembro,
ainda com luz do dia, eu, o meu pai, o
meu vizinho e grande amigo Piri e o nos-
so amigo Gil, partimos para Alvalade. Chegou o dia da 2ª
Num Fiat Uno azul-escuro de 3 portas,
atravessámos o concelho da Amadora,
mão. Nervos, muitos
começando a memorizar uma estrada nervos. 1 golo de
que, ainda nem imaginava, iria fazer mui- vantagem é pouco.
tas mais vezes.
Alvalade aguardava-nos, juntamente
Fecho-me na cozinha
com cerca de 60 mil adeptos. À entrada, com o meu pai. Rádio
uma novidade aterradora para mim: “A ligado e aqui vamos
bandeira entra, mas o pau tem de ficar”,
disse o porteiro.
nós para 90m de
O ambiente forte que encontrei quan- sofrimento. 9 minutos
do olhei o relvado atenuou o abalo e de- de jogo e o Malines
volveu-me a confiança e alegria. Cami-
nhámos firmes para o nosso lugar de
empata a
eleição: Superior Sul a uma dezena de eliminatória.
metros da Bancada Central. Setembro
não brinca e, apesar de Verão, brinda-me
com o meu primeiro jogo à chuva. Em
casa, a minha mãe arrependia-se de me
ter deixado ir. Já não havia nada a fazer.
“Ao menos que o Sporting ganhe”, pen-
sou. 71
Mas esse desejo estava longe de ser
alcançado. Apesar de uma exibição sóli-
da e de sentido único por parte dos pupi-
los de Marinho Peres, Preud’homme de-
monstrava a sua enorme qualidade. Aos
20m, penálti para o Sporting. “Quem
marca, o Gomes?”, perguntei. “O Dou-
glas não, por favor…”, suplicando de se-
guida. “É o Litos!”, diz o Gil. O meu pai
senta-se, claramente preocupado. A ba-
liza está à nossa frente. Tanto para mim
como para o “herdeiro” de Futre, ela pa-
rece cada vez mais pequena. O guardião
belga encolhe-a. A corrida para a bola é
tão hesitante como a falta de confiança
que paira no estádio. Remate denuncia-
do e… Preud’homme defende. Haverá
aqui algum David Platt, de verde e bran-
co, que o consiga quebrar?
Mas este Sporting não desiste e, já
perto do final da 1ª parte, uma confusão
na área e Cadete não perdoa. Agora, sim,
“GOOOOLO!”. Alvalade reage e ruge bem
alto. Não há chuva que nos pare.
 A 2ª parte passa-se à procura do golo
que dê mais tranquilidade para a jorna-
da na Bélgica. Ele não chega. No fim do
jogo, começa a tocar “All I need is a mira-
cle” dos Mike & The Mechanics, como
que a preparar a 2ª mão, 15 dias depois.
Nem mesmo as semelhanças capilares
entre o vocalista e o Preud’homme iam
acalmar a minha euforia. Aquela noite
estava ganha. Para casa, levava o Pro-
grama Oficial do jogo, comprado à entra-
da e protegido por dentro da camisola, e
a minha velhinha bandeira que me aju-
dou a proteger da chuva. Chegados a
casa, arrumou-se os adereços e, na ban-
deira, marcou-se a data e resultado do
jogo. Despedimo-nos nessa noite. Estou
a atingir a maturidade em termos de
apoio ao Sporting. “É tempo de ficares
em casa. Obrigado por este trajecto em
comum, mas, a partir de agora, será só
cachecol, como os grandes.”
Chegou o dia da 2ª mão. Nervos, mui-
tos nervos. 1 golo de vantagem é pouco.
Fecho-me na cozinha com o meu pai.
Rádio ligado e aqui vamos nós para 90m
de sofrimento. 9 minutos de jogo e o Ma-
lines empata a eliminatória. Douglas es-
queceu-se de subir com a defesa (não,
não ficou a puxar as meias para cima), e
Philippe Albert não perdoa. Saio imedia-
tamente da cozinha. Se é para chorar,
que seja só no fim do jogo. O meu pai
nunca foi efusivo em comemorações e,
por essa razão, até ao intervalo, não con-
sigo perceber quanto é que está o jogo.
Reentro na cozinha, e entre o fumo dos
seus cigarros, percebo que me faz o si-
nal de “1-1”. O Gomes tinha marcado. Na
minha cabeça, um único pensamento:
“O nosso golo vale 2”.
Decido acompanhá-lo na 2ª parte. 10
minutos volvidos e novo golo do Malines
(Carlos Xavier, na própria baliza. Se não
se lembram, procurem o golo na inter-
net. É um golo “à Sporting”). Os nervos
voltam mas, desta vez, não deixo o meu
pai sozinho. A equipa cresce em campo
e passa a dominar. O rádio continua a
enervar, pois tem o condão de relatar um
O Sporting. Em Revista.
pontapé de baliza como se fosse uma
oportunidade de golo. E, quando faltam
10 minutos para o final, Careca “abre o
livro” e finta 3 adversários antes de ser-
vir Cadete para um golo memorável. Um
chapéu a Preud’homme, num belo déjà
vu do golo do genial Silas em Amester-
dão. Marinho Peres não se contém e, vi-
rado para a bancada, faz um gesto bem
português. Se os belgas não sabiam o
que era um manguito, ficaram agora a
saber. A alegria invade a nossa cozinha.
O Sporting está ali, em nós. Esta elimina-
tória já não foge: venha a próxima (mes-
mo com Marinho Peres castigado pela
UEFA, em 4 jogos).
Para a 2ª eliminatória, a fortuna ditou
um confronto contra uns romenos de
nome estranho e desconhecido: Politeh-
nica Timișoara. A 1ª mão seria em Alva-
lade, tal como contra o Malines.
O quarteto que foi ver o jogo com o
Malines junta-se novamente. A mesma
“equipa”, o mesmo carro, o mesmo tra-
jecto, o mesmo lugar no estádio e a mes-
Cantinho de Memórias
ma confiança. Só muda uma coisa: a
73
paixão pelo Sporting (que cresce, cres-
ce, cresce…).
Estão cerca de 45 mil pessoas em Al-
valade. O relvado mostra-nos que o Ou-
tono chegou forte. Talvez por isso, a pri-
meira meia hora é repartida com os ro-
menos a quererem assustar-nos. Cadete
e Gomes tratam de nos acalmar. Em Al-
valade, manda o Leão! Ao intervalo já
vencemos por 2-0.
A 2ª parte é um festival. 5 golos na
baliza Sul, mesmo à minha frente! Acho
que nunca tinha visto, ao vivo, tantos go-
los tão perto de mim (e festejados, sem-
pre, como fossem o primeiro). Alvalade
começa a crescer, com a Juve Leo e a
Torcida a darem espectáculo. Ameaça-
se uma hola. Vai frouxa. Tenta-se nova-
mente... pegou! Passa a custo pela Ban-
cada Nova, acelera na Norte, reduz dras-
ticamente na Central mas, ao chegar a
nós, ganha nova vida e corre sem travão.
Começam-se a ouvir os batimentos dos
pés, como um rufar que antecede a pas-
 sagem da onda. Alvalade está a vibrar.
Que ambiente! Os golos sucedem-se. A
distracção é tanta que até Careca e Bozi-
novski marcam um golo! Aliás, estamos
todos tão vidrados que ninguém repara
que há um tal de Ion Timofte a jogar pelo
Timisoara. Ele esteve ali, tão perto… ha-
veria de voltar (para se vingar). De uma
passa-se a duas holas, inacreditável… E
porque não 3? A Sul arrisca a terceira
hola e ela aí foi. Que imagem, que comu-
nhão de paixão com tanta ilusão. 7-0.
Que noite tão cheia. Que Sporting é
este?
E a 2ª mão? Sei lá da 2ª mão. Com 7-
0? Por favor… só me lembro que o jogo
foi à tarde e de ver o resultado a ocupar
metade da imagem da TV, pensando que
até no meu Timex 2048 eu faria uns
O 11 do Sporting gráficos melhores que aquele. É verdade
subiu ao relvado. que eu não gosto de perder e fez-me
Sozinhos, vindos a confusão perder por 2-0 contra quem tí-
nhamos vencido por 7 mas, sinceramen-
correr diretamente do te, eu já só pensava nos oitavos de final
túnel. Isso perdeu-se. e que, pelo menos mais uma vez, eu ia
Perdeu-se porque voltar a Alvalade durante a semana (e
com escola no dia seguinte).
agora vão as 3 Para a ronda seguinte calhou-nos o
equipas juntas para o Vitesse, da Holanda. Mais um desconhe-
início do jogo e cido, com umas camisolas estranhas.
No plantel, havia um jovem Cocu (1ª
porque o novo época de sénior - não jogou contra o
Alvalade já não tem Sporting), e o nome mais sonante esta-
espaço para a equipa va na baliza: Raimond van der Gouw (5
épocas depois assinou pelo Manchester
correr até ao círculo United, onde permaneceu 6 anos).
central. Ao contrário das eliminatórias anteri-
ores, a 1ª mão seria fora, numa autênti-
ca “caixa de fósforos” de fazer corar o
antigo Adelino Ribeiro Novo, em Barce-
los (onde o Sporting gostava muito de
“tropeçar”). O jogo foi à noite e foi trans-
mitido pela RTP, ao contrário do jogo na
Bélgica (aquela altura em que os jogos
passavam na RTP2 mas que, durante o
Telejornal da RTP1, havia uma transmis-
são simultânea com o narrador a resu-
mir aos telespectadores da RTP1 o que
já se tinha passado no jogo). Este facto
fez com que os 4 camaradas de idas a
Alvalade se juntassem, pela primeira
vez, para ver um jogo televisionado des-
ta jornada europeia. Para tal efeito, foi
adicionado um 5º elemento (Alexandre),
que disponibilizou a sua casa e TV para
o efeito. À hora do jogo, a porta da sala
foi fechada a distracções exteriores e
estava tudo preparado para 2 horas de
sofrimento.
No entanto, juntamente com a 1ª
mão com o Timișoara, este terá sido dos
jogos mais descansados do Sporting.
Jogámos muito. Aquilo que mais me ad-
mirou foi a segurança e maturidade com
que enfrentámos o jogo. Na minha ainda
curta experiência europeia, este foi, até
então, o jogo mais completo e consegui-
do que tinha visto do Sporting. Sem Ca-
reca, e com Carlos Xavier sempre remeti-
do a defesa-direito, foi o jovem Filipe o
jogador escolhido para ligar o meio-
campo a Gomes e Cadete. O Sporting re-
solveu o jogo (e a eliminatória) nos pri-
meiros 45m. E ainda bem que assim foi,
uma vez que aos 40m já se tinha esgota-
do as substituições devido às lesões de
Oceano e Carlos Xavier, entrando João
Luís (o “primeiro”) e Bozinowski (até tre-
mo só de pensar nestas opções…). Ain-
da assim, o génio de Xavier foi usado o
tempo suficiente para ser o mais influen-
te da equipa, pois além de marcar o 1º
golo, fez a assistência para o golão de
cabeça de Fernando Gomes (de certeza
que o João Vieira Pinto viu este golo,
pois o gesto técnico foi, por si, várias ve-
zes repetido com sucesso).
Além da nossa consistente exibição
e excelente resultado (vitória por 2-0),
quando me recordo deste jogo, retenho
três imagens principais: quase todos os
nossos jogadores usaram luvas pretas
devido ao elevado frio; o António Domin-
guez com um mega walkie-talkie para
comunicar com o, ainda castigado, Mari-
nho Peres; a falange de apoio de Leões
e portugueses, nas pequenas bancadas,
representando muito bem milhões de
Sportinguistas.
A 2ª mão em Alvalade não tem gran-
de história. A nossa superioridade na
Holanda tinha destroçado a moral de
qualquer adepto e jogador do Vitesse e
não havia nenhum leão que duvidasse
da passagem aos quartos de final. Ainda
assim, e como é óbvio, lá fomos os 4
cumprir o nosso ritual, sem qualquer
mudança de curso ou superstição, jun-
O Sporting. Em Revista.
tando-nos aos mais de 50 mil especta-
dores que se deslocaram a Alvalade.
Chegámos um pouco tarde e, pouco de-
pois de nos sentarmos, o 11 do Sporting
subiu ao relvado. Sozinhos, vindos a cor-
rer directamente do túnel dos balneá-
rios. Eu adorava este momento, quando
aquele toldo listado se erguia do túnel
que se situava por baixo da pista de tar-
tan e a equipa saía dali directamente
para o meio-campo, onde saudava os es-
pectadores. Isso perdeu-se. Perdeu-se
porque agora vão as 3 equipas juntas
para o início do jogo e porque o novo Al-
valade já não tem espaço para a equipa
correr até ao círculo central.
Douglas foi o herói do jogo, marcan-
do os 2 golos leoninos. O primeiro golo é
tudo aquilo que o futebol moderno hoje
exige: recuperação do trinco (Oceano),
colocação no médio-direito (Litos) que,
rapidamente, procura espaços interiores
e joga no centro em Douglas; este pro-
gride com bola, com Gomes, Careca e
Cadete no meio da grande área, prontos
Cantinho de Memórias
75
para os apoios frontais; dá em Cadete
que, rapidamente, tabela com Gomes
que, de primeira e de calcanhar, serve
Douglas, já sozinho na marca de penálti
e sem qualquer defesa na oposição, pois
tinham sido arrastados pelos avança-
dos; o brasileiro domina, remata rasteiro
e… Golo! Lá vai ele, com aquele ar des-
preocupado, de meias baixas e camisola
de fora dos calções, dar aquele saltinho
tão característico. Está fechado.
Quartos de final. Entre as últimas 8
equipas em competição, estão 4 equi-
pas italianas. A probabilidade é tão
grande que nos saiu o Bologna. Não
será fácil, mas desde o jogo na Bélgica
já passaram 4 jogos. Isso quer dizer que,
para os quartos de final, já contamos
com o nosso Marinho Peres.
O fantasma das equipas italianas as-
solou-me. Neste particular, o nosso re-
gisto não era nada famoso. Atalanta e
Nápoles tinham sido dos “carrascos”
mais recentes. No entanto, o meu pai fez
questão de me recordar: “Quando vence-
mos a Taça das Taças tivemos de elimi-
nar uma equipa italiana [Atalanta].” Não
queria acreditar: o meu pai acha mesmo
que podemos ganhar isto. A ideia foi-se
instalando em mim e, confesso, estava a
começar a gostar dessa sensação.
Veio a 1ª mão. Jogo fora, com trans-
missão televisiva na RTP 2. Lá fomos to-
dos para casa do Alexandre. “Se for
como o jogo com o Vitesse, hoje terei es-
tômago para atacar os amendoins”, pen-
sei. Pois, enganei-me. Este foi, sem som-
bra de dúvida, o jogo mais complicado
que tivemos até aqui. O Bologna, mes-
mo sem qualquer jogador de renome
(com excepção de Paolo Negro e do suí-
ço Türkyilmaz), dominou-nos por com-
pleto. Nunca estivemos por cima. Pare-
cia um daqueles jogos, quando íamos às
Antas ou à Luz, em que a baliza adversá-
ria parecia uma miragem e raramente
aparecia na TV.
Talvez o facto de termos tido muitas
mudanças na defesa ajude a perceber a
nossa dificuldade em jogar (Mário Jorge
jogou a defesa-esquerdo e Leal teve de
fazer dupla com Luizinho, face às ausên-
cias de Miguel e Venâncio).
Ivkovic resolveu, nesse jogo, estrear
uma linda camisola amarela. Deu resul-
tado, pois a sua exibição foi assombro-
sa. Após o 0-1 (dupla falha de marcação
de Leal e Mário Jorge, claro), o internaci-
onal jugoslavo fez um conjunto de defe-
sas impressionantes que evitaram o di-
latar da vantagem e, seguramente, o fim
do nosso sonho. A um minuto do fim,
num canto a nosso favor (confesso que,
naquele momento, já não acreditava em
nada), a bola desviada ao 1º poste se-
gue em balão até ao segundo onde, num
salto que faria corar Cristiano Ronaldo,
o trintão, e tão castigado de lesões, Lui-
zinho, cabeceia com sucesso para a ba-
liza italiana. É o delírio! Gabriel Alves en-
tra-nos pela casa adentro, juntando-se
aos nossos festejos (e alívio, tanto alí-
vio…). 1-1. “Esperamos por vocês em Al-
valade.”
Hoje, olho para trás e percebo que a
O Sporting. Em Revista.
nossa sorte se esgotou em Bolonha. É
como quando vemos o Patrício marcar
um golo, no último minuto de uma pré-
eliminatória da Liga dos Campeões, num
jogo em que merecíamos ter perdido por
3 ou 4 golos. Olhamos para aquela im-
probabilidade e, conhecendo o Sporting,
sabemos: “Vai demorar muito tempo até
voltarmos a ter um pouco de sorte.”
Mas não interessa. Aquele golo do
Luizinho, os festejos entre família e ami-
gos, ver a equipa toda a abraçar-se e sa-
ber que Alvalade, dentro de 15 dias, ia
estar a abarrotar (e que eu ia lá estar),
valeu a pena. A sério que valeu.
Em vésperas de entrarmos na Prima-
vera, rumamos os 4 a Alvalade. Tem de
ser mais cedo do que o habitual porque
a lotação está perto de esgotar. Estarão
lá 70 mil pessoas. Junto ao nosso lugar,
estão umas pequenas bandeirinhas ver-
des para fazermos uma coreografia
quando as equipas entrarem. A principal
memória que tenho deste jogo remete
para o barulho ensurdecedor vindo das
bancadas e que esteve sempre presen-
te. Isso, claramente, contagiou o jogo e
a nossa equipa. Jogámos de forma eléc-
trica. Foi uma grande noite de Cadete,
que esteve em praticamente todas as
nossas jogadas perigosas. O Bologna
foi engolido pelo Sporting, desde o relva-
do à bancada. Íamos ser felizes. Eu ti-
nha a certeza.
Fomos atrás do golo que teimava em
aparecer. Jogadas rápidas, cruzamen-
tos, desmarcações teleguiadas de Dou-
glas, cantos: tentou-se de tudo. Aos 20
minutos, Xavier, farto de tanta falta de
eficácia, saca um cruzamento para as
costas da defesa italiana. Gomes enga-
na o defesa-central e leva-o com ele.
Atrás, que nem uma seta, surge Cadete
que cabeceia para o lado esquerdo do
guarda-redes, apanhando-o em contra-
pé. 1-0. Não se notou diferença no baru-
lho durante a comemoração. Alvalade
estava louco e não ia parar por aí.
A 2ª parte foi réplica da 1ª. O Spor-
ting sempre ao ataque para acabar, de
vez, com a eliminatória. As oportunida-
des vão surgindo e os falhanços tam-
bém. Marinho Peres, preocupado, man-
tém o melhor 11 em campo, não fazendo
Cantinho de Memórias
qualquer substituição. Oceano está em
todo o lado. Surge na direita, equilibra o
meio com Douglas, Filipe e Litos e, quan-
do é preciso, compensa as subidas de
Luizinho. O tempo passa e um golo do
Bologna pode empatar tudo. A sensa-
ção de “morrer na praia” começa a surgir
e isso sente-se na bancada (afinal, so-
mos o Sporting…). Aos 80 minutos, Fili-
pe entra na área com a bola controlada
e é rasteirado. Penalti!! “Não é o Litos
que marca, pois não?”. Não, desta vez é
o Gomes, tal como tinha sugerido contra
o Malines. O “bibota” d’ouro não perdoa. O dia chegara. 10 de
Está lá dentro! 2-0. Gomes corre, salta e Abril de 1991. O
festeja como um dos nossos. Não tenho
dúvidas disso. Ele foi verde desde o mo-
Sporting preparava-
mento em que entrou pela primeira vez se para disputar o
em Alvalade, até ao dia que saiu. Que jogo mais importante
profissional, que jogador…
Alvalade pôde, finalmente, soltar o
dos seus últimos
derradeiro rugido. Podemos iniciar as anos.
holas que tanto caracterizam esta nos-
sa longa caminhada europeia. Marinho
Peres já pode fazer as duas substitui-
ções. Sim, bravos leões, estamos nas
meias-finais da Taça UEFA!
E agora? Mais 2 jogos e estamos na
final. Quem queremos defrontar? Em Al- 77
valade, local que revela sempre dificul-
dade em lidar com o (iminente) sucesso,
começa a imprudência e pede-se uma
equipa italiana (era só o melhor e mais
rico campeonato do Mundo, com equi-
pas recheadas de campeões do Mundo
e da Europa). Se uns pedem a AS Roma
(de Peruzzi, Aldaír, Berthold, Giannini,
Rizzitelli e Völler) “para vingar o Benfica”
(que tinha sido eliminado na 1ª elimina-
tória), já Sousa Cintra queria o Inter de
Milão e, depois na final, a Roma. Enfim…
Já eu, sempre pedi os dinamarqueses
do Brondby, treinado por um jovem Mor-
ten Olsen e que tinha na sua estrela mai-
or, um tal de Peter Schmeichel.
Saiu o Inter. O mais forte de todos.
Ainda hoje me lembro da enorme capa
d’A BOLA, com as caras das vedetas ita-
lianas treinadas pela “velha raposa”, Gio-
vanni Trapattoni. Estavam lá todos: Zen-
ga, Bergomi, Bianchi, Battistini, Brehme,
Ferri, Nicola Berti, Fontolan, Jürgen
Klinsmann, Serena e, claro, Lothar Mat-
thäus (que só tinha sido Bola de Ouro
 em 1990, o que o tornava, oficialmente,
o Melhor jogador do Mundo). Quando
olhei para aquilo, pensei: “Fogo, está
aqui metade do Itália 90!”.
A superioridade e favoritismo do Inter
era mais que evidente. Conhecia aquela
gente toda, principalmente os alemães,
por quem torci na final contra a Argenti-
na (sim, Diego, tinhas eliminado a “mi-
nha” Jugoslávia, querias o quê?). Mas o
Sporting tinha uma derradeira arma se-
creta. Em Janeiro, um genial búlgaro ti-
nha aterrado em Alvalade e estava, há 3
meses, a deliciar as bancadas verdes e
brancas com os seus golos, livres, can-
tos directos e assistências magistrais.
Krassimir Balakov estava, finalmente,
inscrito e podia ir a jogo e era, sem som-
bra de dúvida, a nossa principal esperan-
ça.
O dia chegara. 10 de Abril de 1991. O
Sporting preparava-se para disputar o
jogo mais importante dos seus últimos
anos. Na minha história leonina não en-
contrava jogo mais decisivo que este.
As notícias que chegavam das bilhetei-
ras de Alvalade eram claras: Lotação Es-
gotada (à quarta-feira, claro). O meu pai
já tinha bilhete e eu ainda conseguia en-
trar “à borla”. Sousa Cintra exultava e ga-
rantia que a receita “ultrapassa os 90
mil contos”.
Partimos cedo para Alvalade. Tínha-
mos a certeza de que, fosse qual fosse o
resultado, aquela era a última vez na
época que iríamos cumprir aquele mes-
mo caminho. Chegámos ao estádio e
ainda faltava muito mais de 2 horas para
O jogo é um clássico o jogo começar. Da Superior Sul, conse-
“Sporting vs Equipa guia ver as despidas bancadas, listadas
italiana”. Balakov de verde e branco (cadeiras só na Ban-
cada Central e Bancada Nova). A Sul ia-
mostrou-se ao Mundo se compondo, com a Juve Leo e Torcida
e jogou muito. Não Verde a começarem a trazer os seus
teve livres perto da enormes estandartes. Na Norte, via-se
um conjunto de leões a transportarem
área, mas os cantos algo, embrulhado e de grande dimensão.
pareciam quase “O que será?”, indaguei.
penalties (e como o O tempo era tanto que vi, de forma in-
tercalada, a equipa de arbitragem, os jo-
som do estádio subia gadores do Inter e do Sporting, ainda “à
quando ele ia bater civil”, a subirem ao terreno de jogo, para
um canto!) umas primeiras impressões sobre o es-
tado do relvado. Sousa Cintra tinha pro-
videnciado uma banda filarmónica para
nos ir entretendo. O primeiro nervoso
surgiu quando subimos para o aqueci-
mento. Camisola preta de treino e, pri-
meira desilusão, calções brancos. “Va-
mos jogar à Celtic”, disse em tom de re-
provação.
Chegou o momento! As equipas en-
tram em campo e percebo, finalmente, o
que era aquilo gigante na Superior Nor-
te. Entre os gritos de “Sporting! Spor-
ting! Sporting!”, começa a correr um
enorme pano, listado com as cores leo-
ninas, com “Torcida Verde” escrito ao
centro. A bancada fica toda coberta e
nós, na Sul, assistimos àquele espectá-
culo mesmo de frente. Que ambiente in-
fernal. O tom do nosso apoio cresce e o
jogo ainda nem começou. Se o Inter já
vinha encolhido para esta 1ª mão (2 de-
fesas-centrais, 1 líbero e só 1 avançado),
aí ainda se retraiu mais.
O jogo é um clássico “Sporting vs
Equipa italiana”. Balakov mostrou-se ao
Mundo e jogou muito. Não teve livres
perto da área, mas os cantos pareciam
quase penalties (e como o som do está-
dio subia quando ele ia bater um canto!).
O Inter, jogando em contra-ataque e no
nosso erro, ia atrasando tudo, com o
Zenga a fazer a farsa de reclamar com a
equipa sempre que havia um remate
nosso, a chamar alguém para marcar os
pontapés de baliza e com uma pressão
constante sobre o árbitro (dado curioso
que descobri durante a pesquisa para
este texto: tanto a 1ª como a 2ª parte
terminaram aos 44 minutos. E, acredi-
tem, isto não é inédito em Alvalade).
Se Balakov foi enorme, a figura do
jogo tem de ser Oceano (os italianos di-
rão que foi Zenga, o que diz muito do
nosso enorme jogo). Oceano teve nos
pés (e na cabeça) a oportunidade de nos
levar à segunda final europeia da nossa
história. As oportunidades que teve de
golo são incontáveis. Dos seus pés, a
bola conheceu vários espaços de Alvala-
de, desde a bancada, a linha de fundo, a
zona das bandeirolas de canto (que ti-
nham um Leão, lembram-se?) e, claro, as
mãos e braços de Zenga. O mérito de
Oceano foi, pela posição que ocupa no
terreno, conseguir estar nas zonas de
O Sporting. Em Revista.
decisão. No entanto, falhou… e muito
(isolado, de fora e dentro da grande
área).
No final do jogo o desalento era mui-
to evidente. Os cerca de 80 mil especta-
dores sabiam que aquelas oportunida-
des iam fazer falta em Milão. Não mere-
cíamos aquele 0-0 (e o Oceano também
não).
A confiança para a 2ª mão não era
muita. Claro que a ideia de “um empate
com golos, basta” parecia atingível, até
pela boa exibição da 1ª mão. Assim, jun-
támo-nos no sítio do costume para ver o
jogo. Reparo que Ivkovic levou a sua ca-
misola amarela e que nos devolveram os
calções pretos (o Inter também jogou
com calções pretos, logo por que raio ti-
vemos de jogar com calções brancos na
1ª mão?). Mas a equipa estava presa e
encolhida. O Giuseppe Meazza esma-
gou-nos (de medo). Apesar de Luizinho
estar bem, a ausência de Carlos Xavier
fez-se notar (castigado pelo número de
amarelos, jogando João Luís no seu lu-
gar). Aos 15 minutos, Douglas faz um
duplo erro. Pressionado por Matthäus,
protege mal uma bola que caminhava
para a nossa linha de fundo. O alemão
rouba-a e esta sobra para Bianchi que
está de costas e muito longe da nossa
baliza. Não contente com o primeiro
erro, Douglas rasteira o italiano. Penalti!
“Porra...”. O nº10 não perdoa, enganando
um desamparado Ivkovic.
“Bem, agora falta o tal golo do empa-
te com golos.”. De facto, esse pequeno
milagre não esteve longe, através de um
remate de Cadete que Zenga resolveu
com classe. Mas, do Sporting, foi só
isso. E isso não chegava. Pouco tempo
depois, aos 35 minutos e no seguimento
de um canto, a nossa defesa demora a
subir. Surge um remate cruzado que
Ivkovic defende, mas não afasta. À
“boca da baliza”, o instinto goleador de
Klinsmann não falha e faz o 0-2, resol-
vendo a eliminatória.
A minha cabeça baixa-se e escondo
os olhos lacrimejantes. Tudo vai acabar
aqui. Eles são de outra dimensão e foi
na 1ª mão que falhámos o que esta gen-
te, os melhores do Mundo, não falhou
aqui. Confesso que não me recordo da
Cantinho de Memórias
2ª parte. Se calhar, nem sequer a vi. A
minha tristeza deve ter sido canalizada
para o árbitro, para o Douglas ou para o
Para o Sporting Clube
Oceano (o que era injusto, eu sei), mas de Portugal, 1991
nada disso evitava o que era certo: o so- estava a ser um ano
nho acabou.
Apesar da eliminação, do fim desta
especial no que diz
enorme viagem, este Sporting estava no respeito ao Futebol.
topo. As excelentes e orgulhosas presta- Um mês depois da
ções na competição, a forma como eli-
minaram o Bologna e se bateram com o
época terminar, os
Inter, o apoio leonino presente na Bélgi- leões Peixe, Figo,
ca, Holanda e Itália, assim como ambi- Paulo Torres e João
entes fenomenais que se viveram nas
noites europeias em Alvalade, colocou o
Oliveira Pinto
clube no centro do futebol europeu. O ajudavam Portugal a
prestígio alcançado ficou bem evidente revalidar, em Lisboa,
quando foi elevado a “Clube do Mês”, no
número de Junho de 1991 da prestigia-
o título de Campeão
da revista Onze Mondial. do Mundo de sub-20.
Para o Sporting Clube de Portugal,
1991 estava a ser um ano especial no
que diz respeito ao Futebol. Um mês de-
pois da época terminar, os leões Peixe,
Figo, Paulo Torres e João Oliveira Pinto
ajudavam Portugal a revalidar, em Lis-
boa, o título de Campeão do Mundo de
sub-20. A estes, iam juntar-se Nelson e
Capucho. A base estava montada e o so- 79
nho de ser, finalmente, Campeão Nacio-
nal parecia estar cada vez mais firme (e
próximo).
Se o Itália-90 foi o “meu” Mundial, a
época de 1990/91 foi a “minha” época
de ilusão de Leão. Não havia volta a dar.
Era em Alvalade que eu mais gostava de
estar. Se até aqui tinha sido paixão, ago-
ra passava a ser Amor incondicional.
Aos domingos à tarde ou numa noctur-
na quarta-feira europeia, Alvalade pas-
sava a ser uma extensão da minha casa
e um lugar familiar.
Em 1991, o Leão despertou(-me).
Agora, já só falta Vencer. Ainda terei de
aguardar alguns anos.
@CantinhoMorais