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Gabriel T. de Oliveira
gto@pet.coppe.ufrj.br
Marcello Victorino
mvictorino@pet.coppe.ufrj.br
Gabriel Stumpf
gabrielcarvalho@pet.coppe.ufrj.br
Programa de Engenharia de Transportes – COPPE/UFRJ
Bernardo Serra
bernardo.serra@itdp.org
Instituto de Políticas de Transportes e Desenvolvimento - ITDP
1. INTRODUÇÃO
O conceito do Transit Oriented Development – TOD vem sendo aplicado com êxito em
diversas cidades de grande e médio porte de países desenvolvidos. No entanto, é
essencial destacar que a realidade socioeconômica de países desenvolvidos em que a
metodologia do TOD vem sendo aplicada é significativamente distinta daquela
observada na América Latina.
Este processo gera espraiamento e requer esforço e recursos públicos para que seja
possível levar infraestrutura e serviços básicos para regiões mais afastadas. Promove-se
também o uso homogêneo do solo, isto é, concentra as residências em locais cada vez
mais afastados dos centros comerciais (responsáveis pela geração de empregos) e dos
serviços em geral (lazer, cultura, saúde, educação e outros). No caso do Brasil, as
limitações das redes de transporte público, somada ao recente pacote de estímulo fiscal
para a aquisição de veículos automotores, resultam em uma maior quantidade de
deslocamentos realizados por veículo particular em detrimento do transporte coletivo de
maior capacidade.
Porém, no Brasil, iniciativas vêm sendo tomadas para reverter essa situação. Ressalta-se
a crescente expansão dos corredores exclusivos para ônibus, a recente busca pela
valorização do modo ferroviário e a revitalização de áreas urbanas degradadas, em
cidades como Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro.
Coloca-se assim uma grande oportunidade para reverter de forma sustentável o
panorama de imobilidade urbana instaurado, melhorar a distribuição do uso do solo e
direcionar o desenvolvimento urbano com foco na melhoria da qualidade de vida da
população. É possível planejar uma rede de transporte público mais eficiente e, pela
própria existência da oferta de transporte, garantir maior equidade e acessibilidade às
atividades na cidade. Dessa forma, o processo de desenvolvimento urbano é catalisado,
assegurado por incentivos governamentais capazes de reduzir os riscos inerentes a
empreendimentos dessa magnitude e de atrair a participação da iniciativa privada.
Assim, este artigo tem por objetivo contextualizar a teoria do TOD para a realidade
brasileira e pretende nortear futuros trabalhos para a concepção de um modelo
envolvendo as necessidades específicas nacionais. O modelo será estudado a partir de
uma revisão bibliográfica internacional, buscando-se confrontar as semelhanças e
diferenças sob três pontos de vistas – econômico, urbano e social - entre o contexto de
países em que já foi empregado e aquele do Brasil. Busca-se, assim, contribuir para a
formulação do Desenvolvimento Orientado ao Transporte – DOT, a partir do já
consolidado TOD.
Este artigo se divide como segue: inicialmente, é realizada uma revisão bibliográfica
para identificar os principais conceitos do modelo de TOD aplicados com sucesso em
países desenvolvidos. Na seção seguinte, são analisadas as semelhanças e diferenças
para a realidade brasileira segundo três aspectos – econômico, social e técnico. Por fim,
conclui-se com os principais achados e recomendações para estudos futuros.
Planejadores e tomadores de decisão defendem que o TOD estimula o uso dos meios
públicos e coletivos de transporte e promove novas e melhores oportunidades de
moradias além de incentivar deslocamentos por meios não motorizados e facilitar a
revitalização de espaços públicos e residenciais (Lund, 2006). Mu e Jong (2012) focam
no incentivo às interações humanas evidenciando que tais regiões se tornam mais
agradáveis e seguras para seus habitantes, estimulando o convívio social e o senso de
comunidade. Shinkle (2013) sintetiza estes conceitos em um aumento do que o autor
denomina “eficiência local”, ou seja, a capacidade de uma região abranger todas as
necessidades cotidianas de uma população.
Uma comunidade (bairro) que se desenvolva sob os princípios do TOD seria capaz de
deslocar mais pessoas nas horas de pico com menores necessidades espaciais.
Consequentemente, espera-se importante redução dos problemas de tráfego, de
segurança viária e mesmo ambientais Mu e Jong (2012).
Em síntese, o TOD tem como pressuposto o fato que a promoção de ambientes urbanos
adensados, com diversidade de uso do solo e agradáveis aos pedestres em torno de
estações de transportes de média-alta capacidade, incentiva o uso dos meios coletivos e
não motorizados de transporte além de estimular as interações interpessoais. Deste
modo, promove-se um efeito duplo na dinâmica urbana, evitando os longos
deslocamentos que separam os subúrbios da área central nas cidades ao promover
opções de destino nas proximidades das residências; e desestimulando o uso de
automóveis para percorrer essas longas distâncias quando tais deslocamentos são
inevitáveis.
Estudos realizados na China (Cervero & Day, 2008; Mu & Jong, 2012) revelaram no
TOD uma poderosa ferramenta para alinhar o rápido fenômeno de suburbanização de
algumas cidades a caminhos mais sustentáveis. No entanto, Cervero (2013) alerta que a
aplicação dos princípios do TOD ainda não alcançaram o mesmo êxito em países em
desenvolvimento.
A realidade Brasileira destoa, porém, daquelas dos países em que geralmente o modelo
é empregado. Desejando alcançar um maior entendimento das potencialidades do TOD
no contexto nacional, as semelhanças e diferenças entre contextos são analisadas sob
três perspectivas: a econômica, a social e a urbano-técnica.
Apesar de apresentar cidades de grande porte desde o período colonial, o Brasil, assim
como os demais países da América Latina, conheceu sua fase mais intensa de
urbanização na segunda metade do século XX (Maricato, 2001). Segundo Maricato, o
processo no Brasil sempre se deu com exclusão social e concentração espacial da
urbanização. Tal forma de urbanização produziu espaços ocupados de forma
desequilibrada (Portugal, L. S., Floréz, J. e Silva, 2010) com má distribuição de renda,
emprego e acesso desigual a serviços urbanos essenciais (Motte-Baumvol, B. e Nassi,
2012). Em função da ausência de política habitacional para moradias populares, a
população de renda mais baixa foi levada a ocupar os morros, entornos dos corredores
de transporte e periferias (Maricato, 2003). Estas áreas são estigmatizadas e coincidem
com os locais de maior carência em infraestrutura urbana (Souza, 2003).
A multiplicação desta forma de ocupação urbana nas cidades brasileiras foi em parte
possibilitada pelo uso do automóvel (Castells, 2009). Consequentemente, grande parte
da população urbana de baixa renda é levada a realizar longos deslocamentos para ter
acesso a emprego, serviços públicos entre outros benefícios urbanos. Esta necessidade
de deslocamento tem impacto financeiro significativo no orçamento da população
menos favorecida que ainda tem que arcar com o custo do uso do transporte público
(Cervero, 2011).
Neste contexto a aplicação dos princípios do TOD tem potencial de induzir a melhora
de qualidade de vida e bem-estar social para a população que habita as áreas
contempladas ao favorecer a circulação e acesso à cidade; potencialmente reduzir o
tempo, os custos e a dependência de modos de transportes privados; e gerar melhorias
ambientais nas condições de vida local.
No caso de áreas de média e alta renda, espera-se que a aplicação do TOD gere todo seu
potencial de desenvolvimento socioeconômico por beneficiar uma população com
níveis razoáveis de educação e renda. Além disso, no contexto brasileiro, conforme
explicitado por Abreu (1997), essas regiões são historicamente as mais beneficiadas por
investimentos do poder público assim como da iniciativa privada, o que favorece a
viabilidade financeira do projeto. É necessário ainda estabelecer fatores políticos
favoráveis, uma vez que no Brasil ainda existe um apelo ao uso de transporte
motorizado individual e, historicamente, um estigma em relação ao uso de transporte
público. Neste cenário a ideia de aplicação dos princípios do TOD pode enfrentar
resistência da população local comprometendo o ambiente político favorável necessário
a sua boa implementação.
Vale ressaltar que a aplicação dos princípios do TOD também pode gerar efeitos
perversos. Segundo exposto anteriormente no tratamento da questão econômica, ao
induzir aumento da qualidade de vida, o TOD tem um potencial de valorização
imobiliária significativa nos espaços urbanos. Esta valorização considerada benéfica do
ponto de vista econômico por valorizar bens de proprietários privados e portanto
aumentar potencialmente arrecadação pública, também pode contribuir para a
gentrificação. De maneira resumida, a gentrificação seria a expulsão dos cidadãos de
menor renda por meio da valorização dos imóveis e do aumento geral do custo de vida
na região. Este processo foi evidenciado por Grube-Cavers e Patterson (2014) em
estudo em áreas no entorno de algumas estações de metrô das cidades de Montreal,
Toronto e Vancouver.
Estudos específicos sobre cada uma destas categorias correlacionam fatores técnicos e
urbanos do ambiente construído com a mobilidade e acessibilidade. Em relação a
caminhada e ao uso da bicicleta no entorno de estações de transporte público, Kim et al.
(2014) destacam os efeitos positivos na Coréia do Sul, de fatores microescala, como a
presença de árvores e cruzamentos, e meso, como a presença de faixas de ônibus
acessíveis aos pedestres. Mejia-Dorantes e Lucas (Mejia-Dorantes & Lucas, 2014), por
sua vez, destacam como um ambiente menos favorável ao carro no caso de Londres
influenciou um aumento da quantidade de passageiros do metrô e o desenvolvimento
local, e no caso de Madri, por outro lado, a presença de estacionamentos corporativos e
um ambiente não amigável ao pedestre desestimularam a caminhada.
Nota-se que nem sempre os impactos do TOD são os mesmos para países em
desenvolvimento. Estudo de Cervero et al. em Bogotá, na Colômbia (Cervero et al.,
2009), comprovou que densidade e diversidade quando estudadas no âmbito local, não
obtiveram o mesmo impacto que nos EUA em termos de influência na demanda por
viagens. Os autores citam como provável causa a presença usual de bairros compactos e
com alta diversidade na cidade. Dentre os fatores pesquisados que apresentaram
relevância destacam-se a densidade de ruas e a conectividade de ciclovias, ratificados
por estudo de Rodríguez (2009).
4. CONCLUSÃO
A experiência de alguns países desenvolvidos e em desenvolvimento comprova que o
TOD tem capacidade de potencializar um desenvolvimento urbano mais sustentável, ao
reduzir a necessidade de deslocamentos, estimular a economia e o meio social local e
incentivar opções não motorizadas ou coletiva de transporte.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS