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a precipitação não ocorrer simultaneamente em toda a bacia, mas deslocar-se das cabeceiras
para a secção de referência, ou vice-versa;
a distribuição temporal da precipitação não ser uniforme.
O método do hidrograma unitário foi proposto por Sherman (1932) nos Estados Unidos e
tornou-se a partir de então um dos métodos mais utilizados para a obtenção do hidrograma do
escoamento resultante de uma precipitação intensa, aplicando-se fundamentalmente ao estudo de
cheias.
Como se referiu no Capítulo 10, a precipitação que ocorre numa bacia hidrográfica pode ser
decomposta em precipitação útil e perdas, e o hidrograma de escoamento total resultante pode ser
decomposto nas suas componentes de escoamento direto e escoamento de base (Figura 11.14). Na
teoria do hidrograma unitário, apenas se estabelecem relações entre a precipitação útil e o
escoamento direto. Assim, utilizando o hidrograma unitário, pode-se obter um hidrograma de
escoamento direto, ao qual depois se tem de adicionar o escoamento de base para obter o
escoamento total.
Como se ilustra na Figura 11.14, a duração do escoamento direto é designada por tempo de
base, tb. O tempo de base é a soma do tempo de crescimento, tp (desde o início do escoamento direto
até à ponta do hidrograma) e do tempo de decrescimento, td (desde a ponta até ao fim do
hidrograma). O tempo de base é também igual à soma de dois outros tempos: o tempo de
precipitação, tr (duração da precipitação útil), e o tempo de concentração, tc. Efetivamente, como se
referiu anteriormente, quando termina a precipitação útil, cai também a última gota no ponto
cinematicamente mais afastado da secção de referência, e essa gota, que é a última a passar na
11.39
Caracterização de cheias
secção de referência, passagem que coincide com o fim de escoamento direto, tem um tempo de
percurso que é igual ao tempo de concentração.
tr
Prec. útil
Perda
tc
0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Tempo
Total
Base
Direto
0
0 tp td
Tempo
tb
Para uma dada bacia hidrográfica, define-se o hidrograma unitário para uma precipitação
útil unitária (normalmente 1 mm), com duração tr = D, como sendo o hidrograma de escoamento
direto resultante dessa precipitação útil. O hidrograma unitário está portanto associado a uma certa
duração da precipitação útil e à unidade utilizadada para essa precipitação. Quando o caudal se
3
expressa em m /s e a precipitação útil unitária é 1 mm, o hidrograma unitário vem expresso em
3
m /s/mm.
Embora o hidrograma unitário possa ser definido com qualquer discretização temporal, e até
funcionalmente em bacias hidrográficas simplificadas, neste capítulo considerar-se-á por
conveniência de resultados que as suas ordenadas são conhecidas com uma discretização igual à da
precipitação útil unitária que lhe dá origem, ou seja, a intervalos de tempo D.
11.40
Caracterização de cheias
M L
A Pui D Qdi (11.37)
i 1 i 1
onde
A representa a área da bacia hidrográfica,
D, o intervalo de tempo utilizado na discretização do hietograma e do hidrograma,
Pui, a precipitação em cada um dos M blocos que constituem o hietograma da precipitação
útil,
Qdi, o caudal em cada uma das ordenadas em que se discretiza o hidrograma do escoamento
direto, sem contar com a primeira (i = 0) e com a última (i = L+1), ambas nulas.
Estes pressupostos levam a que o método do hidrograma unitário não deva ser aplicado a
bacias de muito grande dimensão, superior a 1000 km2, onde dificilmente esses pressupostos são
cumpridos.
11.41
Caracterização de cheias
tr = D
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
tc
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tempo / D
t r = 3D tc
120
100
80
60
40
20
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tempo / D
11.42
Caracterização de cheias
O tempo de concentração de uma bacia hidrográfica com um HUD com N ordenadas não
nulas é
tc ND (11.38)
Q d1 Pu1 u1
Qd2 Pu1 u 2 Pu 2 u1
Q d3 Pu1 u 3 Pu 2 u 2 Pu 3 u1
min(k , M ) (11.39)
Q dk Pui u k i 1 u k i 1 0 se k i 1 N
i 1
Q d ( L 1) Pu ( M 1) u N PuM u N 1
Q dL PuM u N
Qd Pu U (11.40)
com
Qd Qd1 Qd 2 QdL T
U u1 u 2 uN T
Pu1 0 0 0 0 0 0
Pu 2 Pu1 0 0 0 0 0
Pu 3 Pu 2 Pu1 0 0 0 0
Pu PuM Pu ( M 1) Pu ( M 2) Pu1 0 0 0
0 PuM Pu ( M 1) Pu 2 Pu1 0 0
0 0 0 0 0 PuM Pu ( M 1)
0 0 0 0 0 0 PuM
A matriz Pu, com L linhas e N colunas, contém na diagonal principal todos os elementos
iguais a Pu1, na diagonal abaixo dessa Pu2, na diagonal abaixo Pu3, e assim sucessivamente até à
emésima diagonal que contém todos os elementos iguais a PuM. Os restantes elementos são nulos.
11.43
Caracterização de cheias
Faz-se notar, ainda, que o princípio da conservação da massa (11.37), aplicado ao HUD,
fornece
N
D ui 0,001 A (11.41)
i 1
2 3
com A em m , D em s e ui em m /s/mm, ou,
N
D ui 0,278 A (11.42)
i 1
2 3
com A em km , D em h e ui em m /s/mm.
11.6.2. Hidrograma em S
0
tr
80 tc
70
60
50
40
30
20
10
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tempo / D
11.44
Caracterização de cheias
min ( N , i )
Si uk (11.43)
k 1
Obviamente, S0 0.
N
Smax SN uk (11.44)
k 1
2 3
Considerando (11.42), com A em km , D em h e ui em m /s/mm, obtém-se
A
Smax 0,278 ( 11.45)
D
Q 0,278 I u A (11.46)
que justifica um grande número de fórmulas empíricas e que, como se reconhece, é igual à fórmula
racional (11.26) quando for
Iu CI (11.47)
A expressão ( 11.45) mostra, ainda, que Smax depende apenas da área da bacia hidrográfica
e da intensidade da precipitação útil, através da duração de cada um dos blocos da precipitação útil,
D, e que, portanto, não depende da forma do hidrograma unitário nem de outras características da
bacia hidrográfica. Efetivamente, estas condicionam apenas o modo como o caudal do escoamento
direto cresce até ao máximo (Smax) e decresce depois de a precipitação útil terminar.
N
Skr j u i ( j 1,2, , N 1) (11.48)
i j 1
e, obviamente, Skr N 0.
Então, o hidrograma do escoamento direto que resulta de uma precipitação útil com a
intensidade de 1 mm em cada intervalo de tempo D e que dure até ao tempo de concentração, tr = tc,
tem um tempo de base duplo do tempo de concentração, t b 2 t c , um caudal de ponta cujo valor é
11.45
Caracterização de cheias
N
Qd max Smax e o volume do escoamento é Vd ND u i . Faz-se ainda notar que, neste
i 1
hidrograma, o caudal máximo é o dobro do caudal médio, Qd max 2 Qd .
Esse hidrograma ainda não é o HUD', pois, embora corresponda a uma precipitação com
duração D', a altura da precipitação útil total que o origina é n mm e não 1 mm, como obriga a
definição de hidrograma unitário. Para obter o HUD', basta então aplicar o princípio da
proporcionalidade e multiplicar todas as ordenadas do hidrograma anterior por 1/n.
A transformação dum hidrograma unitário para uma precipitação útil com duração D' D
é menos direta quando não é inteiro. Para esse efeito, como se ilustra na Figura 11.18, mantendo
os princípios da proporcionalidade e da sobreposição linear, recorre-se ao hidrograma em S (Figura
11.18, a)) que se obtém do hidrograma unitário original (11.43).
11.46
Caracterização de cheias
Iu = 1/D Iu = 1/D
125 125
100 100
75 75 D'
Qd Qd
50 50
S (t) S (t D')
25 25
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
a) b)
t t
Pu = D'/D Pu = 1
125 125
100 100
75 75
Qd Qd
50 50
25 25
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
c) d)
t t
A precipitação útil total com a duração D', que resulta da diferença das precipitações úteis
de cada um dos hidrogramas em S, é igual a D'/D e não é unitária. Então, o princípio da
proporcionalidade permite obter o hidrograma unitário para a duração D' por divisão da
precipitação-diferença e do respetivo hidrograma-diferença por D'/D (Figura 11.18, d)).
-se de
Note-se que, embora um hidrograma seja uma função contínua do tempo, na prática ele é
definido de forma discreta em intervalos de tempo iguais e, portanto, a curva em S resultante é uma
poligonal. Esta poligonal tem de ser interpolada de D' em D' no procedimento descrito e, por isso,
obriga à verificação do princípio da conservação no hidrograma unitário obtido, por exemplo,
11.47
Caracterização de cheias
Teoricamente, a expressão (11.49) permite obter o hidrograma unitário com duração 0, que
se designa por hidrograma unitário instantâneo, HUI. Efetivamente, fazendo D' tender para zero,
obtém-se
dS(t )
HUI (t ) D (11.50)
dt
t
Q d (t ) I ( ) HUI(t )d (11.51)
0 u
A título de exemplo, refere-se que o HUI de um reservatório linear com uma constante k em
-1 2
s e aplicado a uma bacia hidrográfica com a área A em km é
com o tempo, t, em s. A convolução deve ser feita com Iu(t) em mm/h para se obter o hidrograma do
3
escoamento direto em m /s.
Para se obter um hidrograma unitário para uma dada bacia, é necessário dispor de
informação diversa como os registos de precipitação e escoamento, características da bacia e
conhecimento do estado de humidade do solo antecedendo a precipitação.
Considere-se então uma precipitação com duração, por exemplo, de 6 horas sobre uma dada
bacia e que originou uma ponta de escoamento. Admitamos, para começar, que a intensidade da
precipitação era constante ao longo das 6 horas.
Por vezes, a informação hidrométrica disponível inclui precipitações intensas, mas com
intensidade variável ao longo do tempo, originando hidrogramas complexos. Nesses casos, depois de
se ter separado a precipitação útil e o escoamento direto, discretiza-se o hietograma da precipitação
útil e o hidrograma do caudal do escoamento direto de D em D e pode determinar-se um hidrograma
unitário, utilizando o sistema que exprime a convolução discreta (11.39).
11.48
Caracterização de cheias
tc
N (11.53)
D
Relembra-se que o sistema tem L equações, que correspondem aos caudais do escoamento
direto, e N incógnitas, que correspondem às N ordenadas não nulas do hidrograma unitário. Como
L M N 1 , então, quando o número M de blocos de precipitação útil no hietograma for
superior a 1, o número de equações será superior ao número de incógnitas. Acresce que tanto a
precipitação sobre a bacia como o caudal na secção de referência e, ainda, os processos de separação
da precipitação útil e do escoamento direto poderão estar afetados de erros que contaminam o
referido sistema e influenciam os valores a estimar do hidrograma unitário.
Para a resolução do sistema (11.39) têm sido utilizados essencialmente os métodos das
substituições sucessivas, o do mínimo dos quadrados e o da programação linear.
Q d1
u1
Pu1
Qd2 Pu 2 u1
u2
Pu1
(11.54)
min(k , M )
Q dk Pui u k i 1
uk i 2 (k 2, 3, , N)
Pu1
min(k , M )
Q dk Pui u k i 1 e k (11.55)
i 1
e determinam-se as ordenadas do hidrograma unitário que minimizam a soma dos quadrados desses
erros. Obtém-se assim um novo sistema com N equações e N incógnitas, que, na notação matricial
utilizada em (11.40), se escreve:
1
U PuT Pu PuT Qd (11.57)
11.49
Caracterização de cheias
ek k k (11.58)
ek 0 k ek , k 0
ek 0 k 0, k 0 (11.59)
ek 0 k 0, k ek
U
Qd Pu I I (11.60)
T
E 1 2 L
T
1 2 L
e fica sujeito a que todas as incógnitas sejam não negativas ( u i , i , i 0 ) e ainda a (11.42), que se
reescreve:
N
A
ui 0,278 (11.61)
i 1
D
L L
ek k k (11.62)
k 1 k 1
A solução obtida por programação linear é a única das que foram referidas que garante
ordenadas do hidrograma unitário não negativas e que obedece ao princípio da conservação da
massa. Nas outras soluções, substituições sucessivas e mínimo dos quadrados, é necessário verificar
e eventualmente adequar a estes requisitos a solução obtida. Em qualquer dos métodos, de modo
não explicável pela física do escoamento, a solução obtida pode apresentar oscilações significativas
de ordenada para ordenada do hidrograma unitário obtido.
11.50
Caracterização de cheias
1,2
D tc
SCS t c
1,0
0,8
Padrão
0,6 Ponto de inflexão
Triangular
0,4
0,2
0,0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
t/tp (-)
11.51
Caracterização de cheias
11.52
Caracterização de cheias
D tc
0
0 0.6 1.2 1.8 2.4 3 3.6 4.2 4.8 5.4 6 6.6 7.2 7.8 8.4 9 9.6 10.
2
1.2
umax1
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 t =3
0.6 1.2 1.8 2.4
p t 4.2 4.8 5.4 6
3.6
b tb 8.4 t9(h)9.6
6.6 7.2 7.8 10.
t (h)2
No método considera-se:
0,7
1000
L0,8 9
NC
tc 0,093 (11.20)
i 0,5
D 0,081 t c (11.64)
tb D tc 1,081 t c (11.65)
tp 1,081 t c (11.66)
5 A
u max (11.67)
9 tp
2
onde A representa a área da bacia hidrográfica (km ) e os tempos se exprimem em h.
11.53
Caracterização de cheias
hidrograma triangular, este parâmetro representa também a fração do escoamento total que ocorre
até à ponta do hidrograma.
No hidrograma unitário padrão, a fração do escoamento até à ponta é = 0,375, que se faz
igual à do hidrograma unitário triangular que se ajusta. Obtém-se
tp 0,405 t c (11.68)
tb 2,67 t p (11.69)
A
u max 0,208 (11.70)
tp
Em USDA-NRCS (2004) refere-se, ainda, que, para bacias onde se dispõe de informação
que permita um ajustamento mais adequado, pode utilizar-se um hidrograma unitário baseado na
função de densidade de probabilidade gama e definido por
m t
m 1
u t tp
e (11.71)
u max tp
11.54
Caracterização de cheias
1,2 1,2
1,0 1,0
0,8 0,8
0,184
0,271
0.336
0,6 0,6
0,375
0,391
0,439
0,4 0,4
0,2 0,2
0,0 0,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
t/tb (-) t/tb (-)
Faz-se notar que a utilização dos hidrogramas funcionais obtidos diretamente da expressão
(11.71) e dos hidrogramas triangulares, ambos depois de discretizados, necessita de uma adequação
aos princípios da teoria. Efetivamente, têm de terminar em t/tb = 1 e as ordenadas têm de obedecer a
D N ui
0,5 ( 11.72)
t b i 1 u max
com umax calculado de (11.67). Acresce, ainda, que, ao contrário do que obriga a discretização da
precipitação e do escoamento em intervalos de tempo iguais, tc não é um múltiplo inteiro de D.
Assim e quando não se dispõe de dados hidrometeorológicos, com a mesma ordem de rigor,
poder-se-á utilizar um hidrograma unitário triangular, com
1
D tc (11.73)
12
5
(11.74)
13
que corresponde a um hidrograma com um número de ordenadas não nulas N = 12 e com a ponta
em i = 5.
Para o hidrograma unitário triangular pode ainda utilizar-se um outro fator de forma, K, que
se designa por fator de ponta e é definido por
11.55
Caracterização de cheias
u max
u 2tp
K 2 (11.75)
tb tb
tp
e, dado que umax e tp se tomam iguais aos dos correspondentes valores no hidrograma triangular que
se pretende ajustar, e u t b é o volume do hidrograma unitário, que tem de ser o mesmo, será
também para o outro hidrograma:
u max t p
K (11.76)
N
D ui
i 1
O SCS utiliza um fator de ponta, PRF (Peak Rate Factor), que tem em consideração as
unidades utilizadas no cálculo de umax, é definido por
NERC (1975) sugere para bacias hidrográficas não instrumentadas com áreas inferiores a
2
500 km um hidrograma unitário triangular do tipo representado na Figura 11.20, com D t p / 5 ,
0,397 e
onde
tc representa o tempo de concentração (h),
MSL, o desenvolvimento do curso de água principal (km),
S1085, o declive do curso do curso de água principal entre 10 por cento e 85 por cento do
seu desenvolvimento (m/km),
URBAN, a fração de área urbanizada na bacia (-), e
RSMD, a precipitação útil com o período de retorno de 5 anos e a duração de 1 dia (mm).
Obviamente, será
tp 0,43 t c (11.79)
A
u max 0,221 (11.80)
tp
3 2
com umax em m /s/mm, A em km , e tp em h.
11.56
Caracterização de cheias
Embora no âmbito das cheias se utilizem reservatórios lineares apenas para modelar o
escoamento de base, a título de exemplo e porque podem ser utilizados para guiar a separação do
escoamento, quando alimentados pelas perdas distribuídas da precipitação ou por uma fração destas,
apresenta-se o HUD de um reservatório linear com constante k (Figura 11.22).
A
u max u1 0,278 1 Kr (11.81)
D
onde
3
umax representa o caudal de ponta do hidrograma unitário (m /s/mm),
2
A, a área da bacia hidrográfica (km ), e
Kr e kD , a constante de recessão para o intervalo de tempo D.
1,2
tc
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
u0 0
u1 u max
( 11.82)
ui Kr ui 1
11.57
Caracterização de cheias
O hidrograma de cheia proposto por Giandotti, que não é um hidrograma unitário, mas cujo
ramo ascendente pode ser assimilado a um hidrograma em S multiplicado pela razão entre as
respetivas intensidades de precipitação útil, tem a forma apresentada na Figura 11.23.
Q Q
max
Qmed
ta tc tb tt t
Os cinco pontos que definem o hidrograma são determinados pelas seguintes equações:
PA
Q med (11.83)
tt
tt tc (11.85)
1
ta tc (11.86)
( 1)
tb tc (11.87)
onde P representa a precipitação com duração igual ao tempo de concentração da bacia hidrográfica
e período de retorno igual ao que se pretende para o caudal de ponta (m), A, a área da bacia
2 3
hidrográfica (m ), Qmed e Qmax, respetivamente o caudal médio e o caudal de ponta (m /s), e tt em
(11.83) vem expresso em s.
11.58
Caracterização de cheias
Sendo já conhecido o hidrograma unitário HUD, quando se pretende estudar uma cheia de
projeto, é necessário conhecer a precipitação que lhe dá origem, o hietograma de projeto.
N
Qsup Pu (i ) u (i ) (11.88)
i 1
onde (i) representa o número de ordem não crescente quer dos blocos de precipitação útil, quer das
ordenadas do hidrograma unitário. O resultado anterior obtém-se colocando em sequência temporal
a ordem dos blocos de precipitação útil, ao contrário da sequência temporal da ordem das ordenadas
do hidrograma unitário, como se ilustra na Figura 11.24. Efetivamente, designado o maior por (1),
o segundo maior por (2) e assim sucessivamente, se a sequência temporal dos números de ordem do
hidrograma unitário for (5), (3), (2), (1), (4), (6), (7), (8), então a sequência temporal dos blocos de
precipitação útil que conduz ao supremo é (8), (7), (6), (4), (1), (2), (3), (5). Para que a
contiguidade seja mantida, é necessário que o bloco (i) seja colocado de modo adjacente de um ou
do outro lado dos i 1 blocos anteriores.
11.59
Caracterização de cheias
(5) (3) (2) (1) (4) (6) (7) (8) (8) (7) (6) (4) (1) (2) (3) (5)
1 0,4
0,8
0,3
0,6
0,2
0,4
0,1
0,2
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Uma outra questão que se coloca é a relação entre o período de retorno da precipitação e o
período de retorno do escoamento. Devido ao efeito do armazenamento antecedente na bacia, o
período de retorno da ponta de cheia é inferior ao da precipitação, efeito tanto menos sensível quanto
maior for o período de retorno. NERC (1975) indica a seguinte relação para o Reino Unido: T cheia =
0,6 T precipitação, para T precipitação < 50 anos. Para períodos de retorno iguais ou superiores a 100
anos, os dois períodos do retorno são aproximadamente iguais (Figura 11.25).
1000 50
900
800 40
700
600 30
500
400 20
300
200 10
100
0 0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 0 10 20 30 40 50
T Precipitação (a) T Precipitação (a)
Figura 11.25 Relação entre os períodos de retorno da precipitação e do caudal de ponta de cheia
(adaptada de NERC, 1975)
Para definir o hietograma de projeto para um dado período de retorno pode utilizar-se a
seguinte metodologia:
obtém-se a curva de possibilidade udométrica para o período de retorno pretendido, P = a tn;
considera-se uma precipitação com duração total igual ao tempo de concentração da bacia;
11.60
Caracterização de cheias
P(1) a Dn
P( 2) a 2D n P(1)
(11.89)
N 1
P( N ) a ND n P(i )
i 1
a partir deste hietograma decrescente, constrói-se o hietograma de blocos contíguos, como
acima se referiu para a precipitação útil (Figura 11.24);
obtém-se o hietograma da precipitação útil descontando ao anterior as perdas, de acordo com
o método selecionado para o seu cálculo;
caso seja necessário e possível, mantendo a contiguidade, trocam-se blocos da precipitação
P(i) para obter o resultado desejado (Figura 11.24).
Faz-se notar que pode acontecer que a precipitação útil final não tenha uma duração total
igual ao tempo de concentração. Nesses casos, dever-se-ão calcular utilizando (11.89) os blocos
adicionais de precipitação para se obter essa duração.
A albufeira de uma barragem pode produzir uma grande transformação na passagem de uma
cheia, armazenando volumes de água da cheia e fazendo com que o caudal de ponta efluente seja
normalmente inferior ao caudal de ponta afluente e descarregado com atraso temporal. O
armazenamento faz-se com aumento da cota da superfície da água e consequente aumento da área
inundada a montante da barragem. Esta transformação verifica-se sempre, se o descarregador de
cheias não tiver comportas. No caso de um descarregador com comportas, tal será também a
situação para uma exploração da albufeira feita com regras adequadas.
Como se verá a seguir, no subcapítulo dedicado à mitigação dos impactos negativos das
cheias, uma primeira aproximação para a minimização desses impactos negativos é a minimização
do caudal de ponta descarregado pela barragem.
11.61