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Caracterização de cheias

a precipitação não ocorrer simultaneamente em toda a bacia, mas deslocar-se das cabeceiras
para a secção de referência, ou vice-versa;
a distribuição temporal da precipitação não ser uniforme.

Embora as hipóteses simplificativas do modelo de Réméniéras, sobretudo a da não existência


da retenção superficial e da infiltração, sejam limitações significativas, o modelo permite, como se
viu, visualizar claramente a resposta da bacia a precipitações com características diversas. O modelo
esboça também o hidrograma resultante da precipitação, em vez de se limitar a calcular apenas o
caudal de ponta, como os métodos referidos anteriormente.

11.6. MÉTODO DO HIDROGRAMA UNITÁRIO

11.6.1. Conceitos gerais e definições

O método do hidrograma unitário foi proposto por Sherman (1932) nos Estados Unidos e
tornou-se a partir de então um dos métodos mais utilizados para a obtenção do hidrograma do
escoamento resultante de uma precipitação intensa, aplicando-se fundamentalmente ao estudo de
cheias.

A principal razão da grande popularidade do método reside na sua simplicidade matemática


resultante do processo de convolução linear com que se faz a transformação da precipitação útil em
escoamento direto. No entanto, as hipóteses em que o método se baseia impõem algumas limitações
na sua aplicação a escalas de tempo diferentes da de uma cheia, como adiante se verá.

No estudo de cheias, principalmente quando estão envolvidos aspetos como a propagação de


ondas de cheia em rios ou a sua passagem em descarregadores de barragens, o método do
hidrograma unitário apresenta uma significativa vantagem em relação a outros métodos utilizáveis,
como a análise estatística ou as fórmulas cinemáticas, uma vez que o método do hidrograma
unitário não só fornece o caudal de ponta mas também todo o hidrograma da cheia, enquanto os
outros métodos referidos se limitam a fornecer o caudal de ponta.

Como se referiu no Capítulo 10, a precipitação que ocorre numa bacia hidrográfica pode ser
decomposta em precipitação útil e perdas, e o hidrograma de escoamento total resultante pode ser
decomposto nas suas componentes de escoamento direto e escoamento de base (Figura 11.14). Na
teoria do hidrograma unitário, apenas se estabelecem relações entre a precipitação útil e o
escoamento direto. Assim, utilizando o hidrograma unitário, pode-se obter um hidrograma de
escoamento direto, ao qual depois se tem de adicionar o escoamento de base para obter o
escoamento total.

No estudo de cheias é frequente a componente do escoamento de base ser relativamente


pequena em comparação com a ponta do escoamento direto, em especial em pequenas bacias
hidrográficas.

Como se ilustra na Figura 11.14, a duração do escoamento direto é designada por tempo de
base, tb. O tempo de base é a soma do tempo de crescimento, tp (desde o início do escoamento direto
até à ponta do hidrograma) e do tempo de decrescimento, td (desde a ponta até ao fim do
hidrograma). O tempo de base é também igual à soma de dois outros tempos: o tempo de
precipitação, tr (duração da precipitação útil), e o tempo de concentração, tc. Efetivamente, como se
referiu anteriormente, quando termina a precipitação útil, cai também a última gota no ponto
cinematicamente mais afastado da secção de referência, e essa gota, que é a última a passar na

11.39
Caracterização de cheias

secção de referência, passagem que coincide com o fim de escoamento direto, tem um tempo de
percurso que é igual ao tempo de concentração.

tr

Prec. útil
Perda

tc
0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Tempo

Total
Base
Direto

0
0 tp td
Tempo
tb

Figura 11.14 Componentes do hietograma e do hidrograma

Para uma dada bacia hidrográfica, define-se o hidrograma unitário para uma precipitação
útil unitária (normalmente 1 mm), com duração tr = D, como sendo o hidrograma de escoamento
direto resultante dessa precipitação útil. O hidrograma unitário está portanto associado a uma certa
duração da precipitação útil e à unidade utilizadada para essa precipitação. Quando o caudal se
3
expressa em m /s e a precipitação útil unitária é 1 mm, o hidrograma unitário vem expresso em
3
m /s/mm.

Embora o hidrograma unitário possa ser definido com qualquer discretização temporal, e até
funcionalmente em bacias hidrográficas simplificadas, neste capítulo considerar-se-á por
conveniência de resultados que as suas ordenadas são conhecidas com uma discretização igual à da
precipitação útil unitária que lhe dá origem, ou seja, a intervalos de tempo D.

Como obriga o princípio da conservação da massa, o volume de água na precipitação útil é


igual ao volume de água no escoamento direto. Assim, quer se trate do hidrograma unitário quer
não, deverá sempre verificar-se:

11.40
Caracterização de cheias

M L
A Pui D Qdi (11.37)
i 1 i 1

onde
A representa a área da bacia hidrográfica,
D, o intervalo de tempo utilizado na discretização do hietograma e do hidrograma,
Pui, a precipitação em cada um dos M blocos que constituem o hietograma da precipitação
útil,
Qdi, o caudal em cada uma das ordenadas em que se discretiza o hidrograma do escoamento
direto, sem contar com a primeira (i = 0) e com a última (i = L+1), ambas nulas.

O método do hidrograma unitário baseia-se num conjunto de pressupostos:


a precipitação útil em cada intervalo de tempo D tem intensidade constante;
a precipitação útil distribui-se uniformemente em toda a área da bacia hidrográfica;
o tempo de base do hidrograma do escoamento direto que resulta de precipitações úteis com
determinada duração é constante e, portanto, o mesmo acontece com o tempo de
concentração;
as características da bacia hidrográfica são invariantes.

Estes pressupostos levam a que o método do hidrograma unitário não deva ser aplicado a
bacias de muito grande dimensão, superior a 1000 km2, onde dificilmente esses pressupostos são
cumpridos.

A teoria do hidrograma unitário baseia-se em dois postulados fundamentais: o da


proporcionalidade e o da sobreposição linear. O postulado da proporcionalidade estabelece que as
ordenadas do hidrograma do escoamento direto resultantes duma precipitação útil Pu com a duração
D são iguais às ordenadas do hidrograma unitário para a mesma duração multiplicadas por Pu. O
postulado da sobreposição linear estabelece que as ordenadas do hidrograma do escoamento direto
resultantes de uma precipitação útil discretizada em blocos contíguos com a duração D são obtidas
pela soma das ordenadas dos hidrogramas do escoamento direto que correspondem a cada um dos
blocos de precipitação útil. A Figura 11.15 e a Figura 11.16 ilustram os dois postulados.

Na Figura 11.15, o hidrograma do escoamento direto representado a azul resulta de uma


precipitação útil de 1 mm com a duração D, também a azul, e o hidrograma do escoamento direto
representado a vermelho resulta de uma precipitação útil de 2 mm com a mesma duração,
representada também a vermelho. As ordenadas deste último hidrograma (vermelho) pelo princípio
da proporcionalidade são iguais às do primeiro hidrograma (azul) multiplicadas por 2. O
hidrograma do escoamento direto representado a azul, como resulta de uma precipitação de 1 mm
com a duração D, é também o hidrograma unitário para a duração D da precipitação útil ou o
hidrograma unitário com duração D, HUD.

Na Figura 11.16, as contribuições para o escoamento direto de cada bloco de precipitação


útil com duração D estão sobrepostas e preenchidas com a mesma cor do respetivo bloco de
precipitação. Cada uma dessas contribuições tem ordenadas que são iguais às do HUD
multiplicadas pela precipitação útil que lhes dá origem e coincidindo o seu início com o do respetivo
bloco de precipitação útil. Obviamente, o escoamento direto total é a soma dessas contribuições.

11.41
Caracterização de cheias

tr = D
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
tc
45

40
35
30
25
20
15
10
5
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Tempo / D

Figura 11.15 Postulado da proporcionalidade

t r = 3D tc
120

100

80

60

40

20

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Tempo / D

Figura 11.16 Postulado da sobreposição linear

Representam-se as ordenadas do HUD por ui, i 0 . Se i = 0 ou i > N, então u i 0.


Portanto, o número de ordenadas não nulas é N.

11.42
Caracterização de cheias

O tempo de concentração de uma bacia hidrográfica com um HUD com N ordenadas não
nulas é

tc ND (11.38)

Formalmente, com discretização D, k t / D , o cálculo das L ordenadas não nulas do


hidrograma do escoamento direto total, Qdk, a partir dos M blocos da precipitação útil, Pui, e das N
ordenadas não nulas do HUD, uj, com L M N 1 , desenvolve-se por convolução discreta do
seguinte modo:

Q d1 Pu1 u1
Qd2 Pu1 u 2 Pu 2 u1
Q d3 Pu1 u 3 Pu 2 u 2 Pu 3 u1

min(k , M ) (11.39)
Q dk Pui u k i 1 u k i 1 0 se k i 1 N
i 1

Q d ( L 1) Pu ( M 1) u N PuM u N 1
Q dL PuM u N

ou, em notação matricial,

Qd Pu U (11.40)

com

Qd Qd1 Qd 2 QdL T

U u1 u 2 uN T

Pu1 0 0 0 0 0 0
Pu 2 Pu1 0 0 0 0 0
Pu 3 Pu 2 Pu1 0 0 0 0

Pu PuM Pu ( M 1) Pu ( M 2) Pu1 0 0 0
0 PuM Pu ( M 1) Pu 2 Pu1 0 0

0 0 0 0 0 PuM Pu ( M 1)
0 0 0 0 0 0 PuM

A matriz Pu, com L linhas e N colunas, contém na diagonal principal todos os elementos
iguais a Pu1, na diagonal abaixo dessa Pu2, na diagonal abaixo Pu3, e assim sucessivamente até à
emésima diagonal que contém todos os elementos iguais a PuM. Os restantes elementos são nulos.

11.43
Caracterização de cheias

Faz-se notar, ainda, que o princípio da conservação da massa (11.37), aplicado ao HUD,
fornece

N
D ui 0,001 A (11.41)
i 1

2 3
com A em m , D em s e ui em m /s/mm, ou,

N
D ui 0,278 A (11.42)
i 1

2 3
com A em km , D em h e ui em m /s/mm.

11.6.2. Hidrograma em S

O hidrograma em S, HSD, é o hidrograma do escoamento direto resultante de uma


precipitação útil uniformemente distribuída sobre a bacia hidrográfica, com duração indefinida e
com uma intensidade de uma unidade (normalmente 1 mm) em cada intervalo de tempo D (Figura
11.17).

0
tr
80 tc

70
60
50
40
30
20
10
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tempo / D

Figura 11.17 Hidrograma em S

11.44
Caracterização de cheias

Designando as ordenadas do hidrograma em S por Si e tendo em consideração as equações


(11.39), obtém-se para i 1 :

min ( N , i )
Si uk (11.43)
k 1

Obviamente, S0 0.

O valor máximo do caudal no hidrograma em S, Smax, que ocorre a partir do tempo de


concentração da bacia hidrográfica e que se mantém enquanto durar a precipitação útil, é

N
Smax SN uk (11.44)
k 1

2 3
Considerando (11.42), com A em km , D em h e ui em m /s/mm, obtém-se

A
Smax 0,278 ( 11.45)
D

e, considerando o postulado da proporcionalidade, quando a intensidade da precipitação útil for I u


(mm/h), então o caudal máximo do escoamento direto resultante dessa precipitação será

Q 0,278 I u A (11.46)

que justifica um grande número de fórmulas empíricas e que, como se reconhece, é igual à fórmula
racional (11.26) quando for

Iu CI (11.47)

A expressão ( 11.45) mostra, ainda, que Smax depende apenas da área da bacia hidrográfica
e da intensidade da precipitação útil, através da duração de cada um dos blocos da precipitação útil,
D, e que, portanto, não depende da forma do hidrograma unitário nem de outras características da
bacia hidrográfica. Efetivamente, estas condicionam apenas o modo como o caudal do escoamento
direto cresce até ao máximo (Smax) e decresce depois de a precipitação útil terminar.

Depois da paragem da precipitação útil, t t r , k r t r / D , o decrescimento do caudal do


escoamento direto no hidrograma em S é definido por

N
Skr j u i ( j 1,2, , N 1) (11.48)
i j 1

e, obviamente, Skr N 0.

Então, o hidrograma do escoamento direto que resulta de uma precipitação útil com a
intensidade de 1 mm em cada intervalo de tempo D e que dure até ao tempo de concentração, tr = tc,
tem um tempo de base duplo do tempo de concentração, t b 2 t c , um caudal de ponta cujo valor é

11.45
Caracterização de cheias

N
Qd max Smax e o volume do escoamento é Vd ND u i . Faz-se ainda notar que, neste
i 1
hidrograma, o caudal máximo é o dobro do caudal médio, Qd max 2 Qd .

11.6.3. Transformação de hidrogramas unitários

No campo das aplicações, interessa frequentemente transformar o hidrograma unitário de


que se dispõe (HUD), que corresponde a uma dada duração D da precipitação útil unitária que lhe
dá origem, num outro hidrograma unitário que corresponda a uma precipitação útil unitária
com duração D'. O problema resolve-se com facilidade para valores de D' / D inteiros, mas o
processo é um pouco mais complexo para não inteiro, situação que tem bastante interesse prático,
sobretudo para < 1.

Considere-se em primeiro lugar a transformação de HUD em HUD' com n , sendo n


inteiro.

O hidrograma do escoamento direto resultante de uma precipitação útil de 1 mm (ou de


outra unidade que se tenha adotado) em cada um de n blocos contíguos, cada um dos blocos com
duração D, obtém-se de (11.39) e corresponde a uma precipitação útil total de n mm com duração
D' nD .

Esse hidrograma ainda não é o HUD', pois, embora corresponda a uma precipitação com
duração D', a altura da precipitação útil total que o origina é n mm e não 1 mm, como obriga a
definição de hidrograma unitário. Para obter o HUD', basta então aplicar o princípio da
proporcionalidade e multiplicar todas as ordenadas do hidrograma anterior por 1/n.

A transformação dum hidrograma unitário para uma precipitação útil com duração D' D
é menos direta quando não é inteiro. Para esse efeito, como se ilustra na Figura 11.18, mantendo
os princípios da proporcionalidade e da sobreposição linear, recorre-se ao hidrograma em S (Figura
11.18, a)) que se obtém do hidrograma unitário original (11.43).

11.46
Caracterização de cheias

Iu = 1/D Iu = 1/D

125 125

100 100

75 75 D'
Qd Qd
50 50
S (t) S (t D')
25 25

0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
a) b)
t t

Pu = D'/D Pu = 1

125 125

100 100

75 75
Qd Qd
50 50

25 25

0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
c) d)
t t

Figura 11.18 Transformação do HUD a partir do hidrograma em S

Embora não se encontre justificação na física da transformação da precipitação útil em


escoamento direto, o princípio da sobreposição linear mantém-se matematicamente válido tanto para
adicionar como para subtrair. Assim, matematicamente, é tão válido somar escoamentos diretos e as
precipitações úteis que lhes dão origem, como subtraí-los. Deste modo, para se obter o hidrograma
do escoamento direto resultante de uma precipitação útil com duração D' e intensidade 1/D, basta
subtrair as ordenadas temporalmente espaçadas de D' em D' de dois hidrogramas em S desfasados de
D'. Ilustram-se esses hidrogramas na Figura 11.18, a) e b) e o resultado da subtração na Figura
11.18, c). Obviamente, a precipitação útil que dá origem a essa diferença é a diferença das
precipitações úteis de cada um dos hidrogramas em S (Figura 11.18, c)).

A precipitação útil total com a duração D', que resulta da diferença das precipitações úteis
de cada um dos hidrogramas em S, é igual a D'/D e não é unitária. Então, o princípio da
proporcionalidade permite obter o hidrograma unitário para a duração D' por divisão da
precipitação-diferença e do respetivo hidrograma-diferença por D'/D (Figura 11.18, d)).

-se de

S(t ) S(t D' )


HUD' (t ) D (11.49)
D'

Note-se que, embora um hidrograma seja uma função contínua do tempo, na prática ele é
definido de forma discreta em intervalos de tempo iguais e, portanto, a curva em S resultante é uma
poligonal. Esta poligonal tem de ser interpolada de D' em D' no procedimento descrito e, por isso,
obriga à verificação do princípio da conservação no hidrograma unitário obtido, por exemplo,

11.47
Caracterização de cheias

utilizando a equação (11.42). O erro encontrado deverá ser distribuído proporcionalmente às


ordenadas do novo hidrograma unitário.

Teoricamente, a expressão (11.49) permite obter o hidrograma unitário com duração 0, que
se designa por hidrograma unitário instantâneo, HUI. Efetivamente, fazendo D' tender para zero,
obtém-se

dS(t )
HUI (t ) D (11.50)
dt

O hidrograma do escoamento direto resultante de uma precipitação útil contínua, com


intensidade Iu(t), obtém-se por convolução dessa precipitação com o hidrograma unitário
instantâneo:

t
Q d (t ) I ( ) HUI(t )d (11.51)
0 u

A título de exemplo, refere-se que o HUI de um reservatório linear com uma constante k em
-1 2
s e aplicado a uma bacia hidrográfica com a área A em km é

HUI ( t ) 0,278 k A e kt (11.52)

com o tempo, t, em s. A convolução deve ser feita com Iu(t) em mm/h para se obter o hidrograma do
3
escoamento direto em m /s.

11.6.4. Obtenção do hidrograma unitário

Para se obter um hidrograma unitário para uma dada bacia, é necessário dispor de
informação diversa como os registos de precipitação e escoamento, características da bacia e
conhecimento do estado de humidade do solo antecedendo a precipitação.

Devem procurar-se registos simultâneos de precipitação e de escoamento obtidos durante


episódios de precipitação relativamente intensa, isolados e com distribuição aproximadamente
uniforme em toda a bacia.

Considere-se então uma precipitação com duração, por exemplo, de 6 horas sobre uma dada
bacia e que originou uma ponta de escoamento. Admitamos, para começar, que a intensidade da
precipitação era constante ao longo das 6 horas.

Então, os passos a dar para obter um HU6 seriam os seguintes:


no hidrograma do escoamento total faz-se a separação do escoamento direto e do
escoamento de base;
determina-se o volume do escoamento direto e, a partir daí, a altura da precipitação útil
que lhe corresponde;
divide-se o hidrograma do escoamento direto discretizado de 6 em 6 h pela precipitação
útil obtida.

Por vezes, a informação hidrométrica disponível inclui precipitações intensas, mas com
intensidade variável ao longo do tempo, originando hidrogramas complexos. Nesses casos, depois de
se ter separado a precipitação útil e o escoamento direto, discretiza-se o hietograma da precipitação
útil e o hidrograma do caudal do escoamento direto de D em D e pode determinar-se um hidrograma
unitário, utilizando o sistema que exprime a convolução discreta (11.39).

11.48
Caracterização de cheias

O número N de ordenadas do hidrograma unitário a estimar, u i , i 1,2, , N , obtém-se


dividindo o tempo de concentração por D, ou seja, dividindo o tempo que decorre entre o fim da
precipitação útil e o fim do escoamento direto por D:

tc
N (11.53)
D

Relembra-se que o sistema tem L equações, que correspondem aos caudais do escoamento
direto, e N incógnitas, que correspondem às N ordenadas não nulas do hidrograma unitário. Como
L M N 1 , então, quando o número M de blocos de precipitação útil no hietograma for
superior a 1, o número de equações será superior ao número de incógnitas. Acresce que tanto a
precipitação sobre a bacia como o caudal na secção de referência e, ainda, os processos de separação
da precipitação útil e do escoamento direto poderão estar afetados de erros que contaminam o
referido sistema e influenciam os valores a estimar do hidrograma unitário.

Para a resolução do sistema (11.39) têm sido utilizados essencialmente os métodos das
substituições sucessivas, o do mínimo dos quadrados e o da programação linear.

No método das substituições sucessivas, o mais inseguro dos métodos, atendendo à


sobredeterminação do sistema e aos erros inerentes, utilizam-se apenas as primeiras N equações
fazendo:

Q d1
u1
Pu1
Qd2 Pu 2 u1
u2
Pu1
(11.54)
min(k , M )
Q dk Pui u k i 1
uk i 2 (k 2, 3, , N)
Pu1

No método do mínimo dos quadrados, admite-se explicitamente um erro, e k , k 1,2, ,L ,


em cada uma das L equações do sistema:

min(k , M )
Q dk Pui u k i 1 e k (11.55)
i 1

e determinam-se as ordenadas do hidrograma unitário que minimizam a soma dos quadrados desses
erros. Obtém-se assim um novo sistema com N equações e N incógnitas, que, na notação matricial
utilizada em (11.40), se escreve:

PuT Q d PuT Pu U (11.56)

onde T representa a matriz transposta e U u1 u 2 u N T . A resolução do sistema anterior


fornece as ordenadas do hidrograma unitário que se procuram. Formalmente, será

1
U PuT Pu PuT Qd (11.57)

11.49
Caracterização de cheias

onde o expoente 1 representa a matriz inversa.

No método da programação linear também se considera explicitamente o erro em cada uma


das L equações, como se expressa em (11.55), mas determinam-se as ordenadas do hidrograma
unitário que minimizam a soma dos valores absolutos desses erros.

Para adaptar essa minimização a um problema de programação linear, decompõe-se o erro


em duas parcelas:

ek k k (11.58)

cada uma das quais constitui uma nova incógnita obedecendo a k k 0 ou a

ek 0 k ek , k 0
ek 0 k 0, k 0 (11.59)
ek 0 k 0, k ek

O sistema (11.40) ampliado com as novas incógnitas, pode escrever-se:

U
Qd Pu I I (11.60)

onde I representa a matriz identidade (LxL) e

T
E 1 2 L

T
1 2 L

e fica sujeito a que todas as incógnitas sejam não negativas ( u i , i , i 0 ) e ainda a (11.42), que se
reescreve:

N
A
ui 0,278 (11.61)
i 1
D

A função a minimizar é então definida por

L L
ek k k (11.62)
k 1 k 1

A solução obtida por programação linear é a única das que foram referidas que garante
ordenadas do hidrograma unitário não negativas e que obedece ao princípio da conservação da
massa. Nas outras soluções, substituições sucessivas e mínimo dos quadrados, é necessário verificar
e eventualmente adequar a estes requisitos a solução obtida. Em qualquer dos métodos, de modo
não explicável pela física do escoamento, a solução obtida pode apresentar oscilações significativas
de ordenada para ordenada do hidrograma unitário obtido.

11.50
Caracterização de cheias

Na prática, escolhido um método de análise, de cada episódio de precipitação intensa


resultará um hidrograma unitário distinto. Pode então escolher-se ou o que tenha menor tempo de
concentração, que conduzirá, depois de convoluído com o hietograma de projeto, ao maior caudal
de ponta de cheia, ou o hidrograma unitário que corresponda sensivelmente a uma média dos
hidrogramas unitários obtidos. A escolha dependerá do objetivo e das condições de segurança
exigíveis na aplicação que se vá fazer.

11.6.5. Hidrogramas sintéticos

Pode acontecer que em determinadas bacias hidrográficas não exista informação


hidrometeorológica suficiente para se obter o hidrograma unitário, frequentemente por falta de
medições de escoamento. Para essas situações, diversos autores sugeriram hidrogramas sintéticos,
como Snyder (1938) e Clark (1945), definidos a partir de características físicas da bacia, alguns dos
quais passam a descrever-se.

Hidrogramas unitários do SCS

Mockus (1957), a partir da análise de dados hidrometeorológicos em bacias hidrográficas


com áreas e localizações diversas, estabeleceu o hidrograma unitário padrão do SCS, que definiu de
modo adimensional em forma tabular. O referido hidrograma unitário padrão pode ser aproximado
por um hidrograma triangular, como se ilustra na Figura 11.19.

1,2
D tc
SCS t c
1,0

0,8

Padrão
0,6 Ponto de inflexão
Triangular

0,4

0,2

0,0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0

t/tp (-)

Figura 11.19 Hidrogramas unitários padrão e triangular do SCS

Procede-se à adimensionalização do tempo, dividindo-o pelo tempo de crescimento ou tempo


para a ponta, t/tp, e à adimensionalização do caudal do hidrograma unitário, dividindo-o pelo caudal
máximo ou de ponta, u/umax.

No Quadro 11.15 apresentam-se as coordenadas do hidrograma original interpoladas de tp/5


em tp/5.

11.51
Caracterização de cheias

Quadro 11.15 Hidrograma unitário padrão do SCS

t/tp u/u max t/tp u/umax


(-) (-) (-) (-)
0,0 0,000 2,6 0,107
0,2 0,100 2,8 0,077
0,4 0,310 3,0 0,055
0,6 0,660 3,2 0,040
0,8 0,930 3,4 0,029
1,0 1,000 3,6 0,021
1,2 0,930 3,8 0,015
1,4 0,780 4,0 0,011
1,6 0,560 4,2 0,009
1,8 0,390 4,4 0,006
2,0 0,280 4,6 0,004
2,2 0,207 4,8 0,002
2,4 0,147 5,0 0,000

No método do SCS, o tempo de concentração, representado por SCS tc na Figura 11.19, é


definido como sendo o tempo que decorre desde o fim da precipitação útil até ao ponto de inflexão
no hidrograma unitário padrão a que dá origem. Na definição apresentada neste capítulo, o tempo
de concentração, tc, é o tempo que decorre desde o fim da precipitação útil até ao fim do hidrograma
unitário a que dá origem. A relação entre os dois tempos é

SCS t c 0,61 t c (11.63)

Assim, na descrição que se segue, obedecendo ao método do SCS, procedeu-se à adaptação


necessária, com base no hidrograma unitário triangular (Figura 11.20).

11.52
Caracterização de cheias

D tc

0
0 0.6 1.2 1.8 2.4 3 3.6 4.2 4.8 5.4 6 6.6 7.2 7.8 8.4 9 9.6 10.
2

1.2

umax1
0.8

0.6

0.4

0.2

0
0 t =3
0.6 1.2 1.8 2.4
p t 4.2 4.8 5.4 6
3.6
b tb 8.4 t9(h)9.6
6.6 7.2 7.8 10.
t (h)2

Figura 11.20 Hidrograma unitário triangular. Definição de grandezas

No método considera-se:

0,7
1000
L0,8 9
NC
tc 0,093 (11.20)
i 0,5

D 0,081 t c (11.64)

tb D tc 1,081 t c (11.65)

resultando para o hidrograma unitário:

tp 1,081 t c (11.66)

5 A
u max (11.67)
9 tp

2
onde A representa a área da bacia hidrográfica (km ) e os tempos se exprimem em h.

Para o ajustamento do hidrograma unitário triangular ao hidrograma unitário padrão, ou a


qualquer outro, considera-se a fração do tempo de base que determina o tempo para a ponta. No

11.53
Caracterização de cheias

hidrograma triangular, este parâmetro representa também a fração do escoamento total que ocorre
até à ponta do hidrograma.

No hidrograma unitário padrão, a fração do escoamento até à ponta é = 0,375, que se faz
igual à do hidrograma unitário triangular que se ajusta. Obtém-se

tp 0,405 t c (11.68)

tb 2,67 t p (11.69)

A
u max 0,208 (11.70)
tp

Em USDA-NRCS (2004) refere-se, ainda, que, para bacias onde se dispõe de informação
que permita um ajustamento mais adequado, pode utilizar-se um hidrograma unitário baseado na
função de densidade de probabilidade gama e definido por

m t
m 1
u t tp
e (11.71)
u max tp

No Quadro 11.16 apresentam-se valores da fração do escoamento até à ponta do hidrograma


triangular, , em função de valores do parâmetro de forma, m. A função que se ajusta ao
hidrograma unitário padrão tem m = 3,7 e, como se referiu, = 0,375. Para valores de m inferiores
a 3,7, a fração do volume escoado até à ponta é no hidrograma funcional superior à do hidrograma
triangular; para valores de m superiores a 3,7, a fração do volume escoado até à ponta é no
hidrograma funcional inferior à do hidrograma triangular.

Quadro 11.16 Relação entre m e

m (-) 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0

(-) 0,18 0,27 0,33 0,39 0,43


4 1 6 1 9

Na Figura 11.21 ilustram-se os hidrogramas funcionais para os valores de que constam no


Quadro 11.16 e os hidrogramas triangulares que lhes correspondem, ambos com o tempo
adimensionalizado por divisão pelo tempo de base. Os hidrogramas funcionais foram calculados
com uma discretização de tb/20.

11.54
Caracterização de cheias

1,2 1,2

1,0 1,0

0,8 0,8
0,184
0,271
0.336
0,6 0,6
0,375
0,391
0,439
0,4 0,4

0,2 0,2

0,0 0,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
t/tb (-) t/tb (-)

Figura 11.21 Hidrogramas unitários funcionais e triangulares

Faz-se notar que a utilização dos hidrogramas funcionais obtidos diretamente da expressão
(11.71) e dos hidrogramas triangulares, ambos depois de discretizados, necessita de uma adequação
aos princípios da teoria. Efetivamente, têm de terminar em t/tb = 1 e as ordenadas têm de obedecer a

D N ui
0,5 ( 11.72)
t b i 1 u max

com umax calculado de (11.67). Acresce, ainda, que, ao contrário do que obriga a discretização da
precipitação e do escoamento em intervalos de tempo iguais, tc não é um múltiplo inteiro de D.

O conhecimento de e as equações (11.20) e (11.64) a (11.67) permitem definir o


hidrograma unitário triangular que se pode ajustar ao hidrograma unitário baseado na função gama
com parâmetro de forma m, ou a qualquer outro hidrograma unitário que se tenha determinado para
uma bacia hidrográfica instrumentada. Sabe-se que pode apresentar valores entre 0,078, em
regiões com relevo acentuado, e 0,465, em regiões planas e pantanosas (USDA-NRCS, 2004).

Assim e quando não se dispõe de dados hidrometeorológicos, com a mesma ordem de rigor,
poder-se-á utilizar um hidrograma unitário triangular, com

1
D tc (11.73)
12

5
(11.74)
13

que corresponde a um hidrograma com um número de ordenadas não nulas N = 12 e com a ponta
em i = 5.

Para o hidrograma unitário triangular pode ainda utilizar-se um outro fator de forma, K, que
se designa por fator de ponta e é definido por

11.55
Caracterização de cheias

u max
u 2tp
K 2 (11.75)
tb tb
tp

e, dado que umax e tp se tomam iguais aos dos correspondentes valores no hidrograma triangular que
se pretende ajustar, e u t b é o volume do hidrograma unitário, que tem de ser o mesmo, será
também para o outro hidrograma:

u max t p
K (11.76)
N
D ui
i 1

O SCS utiliza um fator de ponta, PRF (Peak Rate Factor), que tem em consideração as
unidades utilizadas no cálculo de umax, é definido por

PRF 645,33 K (11.77)

e com o qual identifica os hidrogramas funcionais discretizados, de que fornece tabelas.

Hidrograma unitário triangular NERC

NERC (1975) sugere para bacias hidrográficas não instrumentadas com áreas inferiores a
2
500 km um hidrograma unitário triangular do tipo representado na Figura 11.20, com D t p / 5 ,
0,397 e

tc 108 MSL0,14 S1085 0,38 (1 URBAN) 1,99 RSMD 0,4 (11.78)

onde
tc representa o tempo de concentração (h),
MSL, o desenvolvimento do curso de água principal (km),
S1085, o declive do curso do curso de água principal entre 10 por cento e 85 por cento do
seu desenvolvimento (m/km),
URBAN, a fração de área urbanizada na bacia (-), e
RSMD, a precipitação útil com o período de retorno de 5 anos e a duração de 1 dia (mm).

Obviamente, será

tp 0,43 t c (11.79)

A
u max 0,221 (11.80)
tp

3 2
com umax em m /s/mm, A em km , e tp em h.

Hidrograma unitário de um reservatório linear

11.56
Caracterização de cheias

Embora no âmbito das cheias se utilizem reservatórios lineares apenas para modelar o
escoamento de base, a título de exemplo e porque podem ser utilizados para guiar a separação do
escoamento, quando alimentados pelas perdas distribuídas da precipitação ou por uma fração destas,
apresenta-se o HUD de um reservatório linear com constante k (Figura 11.22).

No hidrograma unitário de um reservatório linear aplicado ao escoamento de base duma


bacia hidrográfica é tp = D, t c e

A
u max u1 0,278 1 Kr (11.81)
D

onde
3
umax representa o caudal de ponta do hidrograma unitário (m /s/mm),
2
A, a área da bacia hidrográfica (km ), e
Kr e kD , a constante de recessão para o intervalo de tempo D.

1,2

tc
1,0

0,8

0,6

0,4

0,2

0,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

t/t p = t/D (-)

Figura 11.22 Hidrograma unitário de um reservatório linear

As sucessivas ordenadas do hidrograma unitário são definidas por

u0 0
u1 u max
( 11.82)
ui Kr ui 1

Hidrograma de cheia de Giandotti

11.57
Caracterização de cheias

O hidrograma de cheia proposto por Giandotti, que não é um hidrograma unitário, mas cujo
ramo ascendente pode ser assimilado a um hidrograma em S multiplicado pela razão entre as
respetivas intensidades de precipitação útil, tem a forma apresentada na Figura 11.23.

Q Q
max

Qmed

ta tc tb tt t

Figura 11.23 - Hidrograma de Giandotti

Os cinco pontos que definem o hidrograma são determinados pelas seguintes equações:

PA
Q med (11.83)
tt

Q max Q med (11.84)

tt tc (11.85)

1
ta tc (11.86)

( 1)
tb tc (11.87)

onde P representa a precipitação com duração igual ao tempo de concentração da bacia hidrográfica
e período de retorno igual ao que se pretende para o caudal de ponta (m), A, a área da bacia
2 3
hidrográfica (m ), Qmed e Qmax, respetivamente o caudal médio e o caudal de ponta (m /s), e tt em
(11.83) vem expresso em s.

Apresentam-se no Quadro 11.17 os parâmetros , e necessários para a definição do


hidrograma.

11.58
Caracterização de cheias

Quadro 11.17 Parâmetros do hidrograma de Giandotti

(km2) (-) (-) (-) (-)


]0, 300] 10 4,0 0,50 1,25
]300, 500] 8 4,0 0,50 1,00
]500, 1000] 8 4,5 0,40 0,71
]1000, 8000] 6 5,0 0,30 0,36
]8000, 20 000] 6 5,5 0,25 0,27
]20 000, 70 000] 6 6,0 0,20 0,20

Quintela (1996) aconselha que se adote, para A < 500 km2,

= 6,5 = 4,0 = 0,50

valores que correspondem a C = = 0,81.

11.6.6. Hietograma de projeto

Sendo já conhecido o hidrograma unitário HUD, quando se pretende estudar uma cheia de
projeto, é necessário conhecer a precipitação que lhe dá origem, o hietograma de projeto.

Na teoria do hidrograma unitário, dados N blocos de precipitação útil, a combinação de


blocos que conduz ao máximo dos caudais de ponta, que se vai designar por supremo, Q sup,
corresponde a

N
Qsup Pu (i ) u (i ) (11.88)
i 1

onde (i) representa o número de ordem não crescente quer dos blocos de precipitação útil, quer das
ordenadas do hidrograma unitário. O resultado anterior obtém-se colocando em sequência temporal
a ordem dos blocos de precipitação útil, ao contrário da sequência temporal da ordem das ordenadas
do hidrograma unitário, como se ilustra na Figura 11.24. Efetivamente, designado o maior por (1),
o segundo maior por (2) e assim sucessivamente, se a sequência temporal dos números de ordem do
hidrograma unitário for (5), (3), (2), (1), (4), (6), (7), (8), então a sequência temporal dos blocos de
precipitação útil que conduz ao supremo é (8), (7), (6), (4), (1), (2), (3), (5). Para que a
contiguidade seja mantida, é necessário que o bloco (i) seja colocado de modo adjacente de um ou
do outro lado dos i 1 blocos anteriores.

11.59
Caracterização de cheias

(5) (3) (2) (1) (4) (6) (7) (8) (8) (7) (6) (4) (1) (2) (3) (5)
1 0,4

0,8
0,3
0,6
0,2
0,4
0,1
0,2

0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

t/D (-) t/D (-)


Figura 11.24 Disposição temporal dos blocos de precipitação útil

Sendo a precipitação útil determinada descontando as perdas à precipitação total, a


disposição anterior é simples de obter nos casos de uma perda em cada bloco que seja proporcional à
precipitação nesse bloco ou de uma perda constante de valor inferior ao do menor bloco de
precipitação. No entanto, pode acontecer noutros métodos de determinação das perdas que a
duração total e a ordem dos blocos não sejam as mesmas nos dois tipos de precipitação.

Uma outra questão que se coloca é a relação entre o período de retorno da precipitação e o
período de retorno do escoamento. Devido ao efeito do armazenamento antecedente na bacia, o
período de retorno da ponta de cheia é inferior ao da precipitação, efeito tanto menos sensível quanto
maior for o período de retorno. NERC (1975) indica a seguinte relação para o Reino Unido: T cheia =
0,6 T precipitação, para T precipitação < 50 anos. Para períodos de retorno iguais ou superiores a 100
anos, os dois períodos do retorno são aproximadamente iguais (Figura 11.25).

1000 50

900

800 40

700

600 30

500

400 20

300

200 10

100

0 0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 0 10 20 30 40 50
T Precipitação (a) T Precipitação (a)

Figura 11.25 Relação entre os períodos de retorno da precipitação e do caudal de ponta de cheia
(adaptada de NERC, 1975)

Em alguns países desenvolveram-se mapas e gráficos, com aplicação especificamente


nacional, que permitem obter o hietograma de projeto em função da localização da bacia (NERC,
1975; Shaw, 1988; Ponce, 1989).

Para definir o hietograma de projeto para um dado período de retorno pode utilizar-se a
seguinte metodologia:
obtém-se a curva de possibilidade udométrica para o período de retorno pretendido, P = a tn;
considera-se uma precipitação com duração total igual ao tempo de concentração da bacia;

11.60
Caracterização de cheias

divide-se a duração total em N períodos de D horas cada;


calcula-se um hietograma decrescente composto por N blocos de D horas cada, do seguinte
modo:

P(1) a Dn

P( 2) a 2D n P(1)
(11.89)
N 1
P( N ) a ND n P(i )
i 1
a partir deste hietograma decrescente, constrói-se o hietograma de blocos contíguos, como
acima se referiu para a precipitação útil (Figura 11.24);
obtém-se o hietograma da precipitação útil descontando ao anterior as perdas, de acordo com
o método selecionado para o seu cálculo;
caso seja necessário e possível, mantendo a contiguidade, trocam-se blocos da precipitação
P(i) para obter o resultado desejado (Figura 11.24).

Faz-se notar que pode acontecer que a precipitação útil final não tenha uma duração total
igual ao tempo de concentração. Nesses casos, dever-se-ão calcular utilizando (11.89) os blocos
adicionais de precipitação para se obter essa duração.

11.7. PROPAGAÇÃO DE CHEIAS EM ALBUFEIRAS

11.7.1. Situações de propagação de cheias a considerar

A albufeira de uma barragem pode produzir uma grande transformação na passagem de uma
cheia, armazenando volumes de água da cheia e fazendo com que o caudal de ponta efluente seja
normalmente inferior ao caudal de ponta afluente e descarregado com atraso temporal. O
armazenamento faz-se com aumento da cota da superfície da água e consequente aumento da área
inundada a montante da barragem. Esta transformação verifica-se sempre, se o descarregador de
cheias não tiver comportas. No caso de um descarregador com comportas, tal será também a
situação para uma exploração da albufeira feita com regras adequadas.

Um descarregador com comportas permite um grau de liberdade adicional na exploração da


albufeira durante uma cheia, o que é particularmente vantajoso quando se dispõe de um sistema de
previsão de cheias. Neste caso, a exploração da albufeira pode ter em conta a cheia que irá chegar e
iniciar descargas antecipadas, de modo a aumentar o volume de encaixe disponível.

Como se verá a seguir, no subcapítulo dedicado à mitigação dos impactos negativos das
cheias, uma primeira aproximação para a minimização desses impactos negativos é a minimização
do caudal de ponta descarregado pela barragem.

Nos itens seguintes apresentam-se processos de análise da propagação da cheia numa


albufeira, começando pela situação mais simples de um descarregador sem comportas, passando
depois pela situação do descarregador com comportas e finalmente analisando a exploração no caso
em que se dispõe de uma previsão da cheia afluente.

11.61

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