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Capítulo 1: Poeira ao vento

Sob o sol escaldante, um enorme oceano de pó. Apenas isso era visto por
centenas de quilômetros. O ar aquecido, dançando sobre a areia, carregando
miragens e delírios dos poucos que se aventuravam ali. E tudo que se via era o
nada.
Exceto por um ponto. Semienterrado na paisagem, se destacava algo
brilhante. Ruínas de algum veículo enorme... Talvez uma aeronave?
Sinceramente, isso pouco importava ao único espectador de tal cena.
Por dentro dos destroços caminhava um indivíduo. Era um garoto de baixa
estatura, vestindo uma colcha de retalhos para se proteger do calor. Por baixo
do capuz amarelado se revelava um vislumbre de olhos intensamente azuis,
mechas negras e desgrenhadas desciam pelo rosto até a altura do nariz. A pele
era de um tom que já fora mais claro, mas estava acobreado pelo sol.
Ele caminhou pelo que restava da sala de controle, em busca de alguma
peça útil do computador central. Outros saqueadores já tinham levado a maior
parte do tesouro, ele teve de se contentar com alguns pedaços de placas
quebradas, dois capacitores e uma bateria descarregada.
Deixou o local de saque com os espólios dentro da mochila. Uma longa
caminhada pelo deserto o aguardava. Ele estava acostumado... Vivera tal
realidade dia após dia, durante todos os dias, pelos quinze anos de sua vida. E
provavelmente viveria isso até morrer. Mesmo que desejasse algo mais.
Após duas horas, finalmente se aproximava daquilo que chamava de casa.
Estava de frente para uma enorme rocha. A entrada era pelo outro lado, mas
antes disso tomou um tempo para escalar até o topo. Era parte de sua rotina
checar os arredores e observar movimentação.
Ele se colocou em seu observatório improvisado, tomando as últimas
gotas d’água em seu cantil. Com os binóculos que ele mesmo construíra, olhou
para o horizonte. O pequeno vilarejo ao longe... Normal. Os pássaros circulando
algum ponto do deserto... visão comum. Um comboio rodando pelo deserto? Isso
não se via todo dia.
Deu uma olhada melhor no movimento. Eram três carros de transporte
grandes, pintados de preto e equipados com grandes pneus e tração 4x4.
Tinham uma cabine com espaço para três ou quatro passageiros e um largo
espaço atrás onde carregavam sabe-se-lá-o-que. O símbolo pintado nas laterais
era o mesmo para todos os carros, mas não pode ser distinguido à distância.
Deixando o movimento de lado, o garoto finalmente foi para a entrada.
Abriu uma pesada escotilha através de um sistema hidráulico. A porta ficava
oculta por trás das rachaduras da pedra, seria necessário uma investigação
muito precisa para descobrir o local.
Por dentro, uma curta escadaria de metal levava aos restos de alguma
instalação antiga. Ferrugem e poeira cobriam o chão e as paredes. Tudo estava
escuro e parecia deserto, mas o jovem apenas gritou enquanto descia as
escadas:
— Ava, acorda! Eu tô em casa!
E como se o prédio todo acordasse, todas as luzes se acenderam. O que
a iluminação revelou foi uma tela enorme presa a uma das paredes, cercada por
varias telas menores. Logo abaixo, controles, painéis, mecanismos, tudo
compunha um computador enorme que ocupava toda a sala. O monitor
representava uma linha que oscilava conforme a voz saía dos potentes speakers
espalhados pela sala:
— Mas já? A caça ao tesouro não foi produtiva?
— Bem... — Ele respondeu. — Trouxe uns pedaços de placa e mais
algumas coisas que ainda funcionam... provavelmente.
— Ou seja. — O computador respondeu em tom irônico. — Um monte de
lixo. — E deu uma risadinha para completar.
O garoto olhou indignado para a tela:
— Não existe essa de lixo, Ava... Aposto que consigo fazer algo incrível
com estas coisas.
— Com certeza você consegue, garoto. — Ela respondeu com voz terna.
— Desde que você se alimente primeiro. Eu fiz o jantar, está no seu quarto.
— Valeu... já eu pego. Vou passar na sala do reator primeiro.
— Tudo bem. — Ela respondeu. — Mas não demore demais, senão vai
secar.
Ele seguiu por dentro de uma portinha que ia para trás da sala do
computador central. Lá dentro estava o coração de Ava, uma enorme e brilhante
esfera suspensa dentro de uma câmara, que transformava sua energia pura em
eletricidade. Por mais que ele tivesse buscado informações sobre aquilo nos
dados de Ava, não havia encontrado nada. Então ele chamava apenas de “O
Reator”.
Para além disso, lá também estavam os processadores, memórias,
barramentos e tudo mais que permitia que o computador funcionasse
perfeitamente.
Ava em si era um programa. Um sistema operacional e também uma
inteligência artificial. Seu nível de linguagem era perfeito, podendo se passar por
um ser humano facilmente. O raciocínio do sistema se desenvolvia de forma
quase humana, ela era capaz até mesmo de emular emoções e, de fato, ser
afetada por elas.
O nível de tecnologia da IA era inconcebível para os padrões da sociedade
atual. Provavelmente ela fora desenvolvida pelas pessoas que vieram antes,
assim como as instalações que a cercavam. Mas agora, eles tinham ficado no
passado e sua memória era inacessível.
Mas aquele garoto duvidava disso. Ele achava que as pessoas do
passado tinham deixado uma mensagem em Ava. Em suas buscas pelo sistema,
ele descobriu que grande parte dos dados estavam armazenados em um disco
externo, tal que o hardware de Ava não tinha a entrada necessária para acessar.
Por isso ele esteve incansavelmente revirando as ruínas durante anos, em busca
de peças para construir uma interface que tornasse a interação possível. Dessa
forma, Ava poderia recuperar suas memórias.
Depois de conferir que tudo estava bem, ele finalmente foi para o quarto.
Era um cubículo pequeno de paredes metálicas. Um colchão velho e um
travesseiro em um canto. Um armário com algumas roupas em outro. Prateleiras
presas às paredes exibiam pequenos troféus: Uma escultura feita de peças
sobressalentes, pequenos protótipos de máquinas, livros e objetos da civilização
antiga e tudo mais que o garoto considerava interessantes.
Ele encostou a bolsa em um canto e sentou-se na cadeira de sua mesinha.
Sobre o suporte estava o jantar, um prato de sopa. Era muito mais luxo do que
qualquer um poderia conseguir no deserto. O esconderijo tinha sua própria horta
e um complexo sistema de coleta e reaproveitamento de água, que permitiam a
sobrevivência de um ser humano no ambiente hostil. Tudo era administrado por
Ava... O garoto sabia que sem ela, ele provavelmente já estaria morto há muito
tempo.
Ele devia muito a ela. Na verdade, devia tudo. Ava era sua única amiga e
companheira neste mundo, ela o protegera desde bebê. Por isso se esforçava
ao máximo para recuperar suas memórias.
Após o jantar ele descansou na cama. A noite caiu e a longa viagem do
dia cobrou seu preço: O garoto estava exausto.
— Ava, tô indo dormir.
— Durma bem. — Ela respondeu, através da caixa de som presa ao teto
do quarto.
— Você também. — Ele desejou que ela dormisse bem... Mesmo sabendo
que inteligências artificiais não dormem, ela entrava em uma espécie de estado
suspenso à noite. Então era quase o mesmo que dormir.
— Boa noite, Ava. — Ele disse, enquanto se virava para ficar confortável.
— Boa noite, Dust. — Ela respondeu, enquanto apagava as luzes.
Memórias assaltavam a mente de Dust enquanto ele dormia. Os sonhos
não eram claros e ele não sabia ao certo o que estava vendo. Em maior parte,
só se lembrava de sensações: Calor, medo e acima de tudo dor. Sentia algo
doendo na parte de trás dos olhos, cortando profundamente seus nervos, quase
atingindo o cérebro. Depois, era como se fosse lançado de um lugar alto e
estivesse para atingir o chão. Então ele acordava, normalmente de frente para o
seu quarto mal iluminado.
Mas dessa vez algo estava errado. De sua cama ele viu um clarão romper
da escada, seguido pelo barulho de detonação.
— Uma explosão! — Exclamou, levantando em um salto. — Ava! Ava! O
que tá rolando?
Pegou um cano de ferro e correu para a sala central. Os invasores
aparentavam ser ao menos três homens muito altos. Dois deles já apontavam
rifles de assalto para o computador quando Dust se aproximou. Com o cano em
uma das mãos, saltou sobre um dos alvos e o atingiu na cabeça.
Como se não fosse nada mais do que um incomodo, o invasor se virou
enquanto o cano caía no chão, entortado pelo impacto.
Dust pode observá-lo melhor, sob o clarão das chamas. Ele tinha quase
dois metros. Coberto por um sobretudo preto com um símbolo indistinto pintado
no peito. Abaixo do capuz, também negro, um rosto mal se revelava através de
um par de brilhantes olhos... vermelhos?
Um olhar mais atento para as mãos percebia que, apesar de terem forma
humana, eram feitas de metal.
“Máquinas!”, o garoto pensou, surpreso. Paralisado pelo medo, ele sequer
foi capaz de gritar.
O cano da arma voltou-se para ele, mas uma pancada inesperada lançou
o inimigo contra a parede. Um enorme cabo se desprendera do teto e acertara o
robô com força. Mas este logo se pôs de pé novamente.
— Corra para o quarto. — A voz de Ava soava abafada pelos autofalantes.
— Mas e você, Ava? — Dust gritou aflito para as paredes.
— Eu vou ficar bem. Agora corre!
E o garoto obedeceu. Quando chegou em seu quarto, um pequeno
compartimento no chão estava aberto:
— Um quarto de pânico? — Ele estranhou. — Não sabia que tinha isso
aqui.
— Eu o guardei para casos de emergência. — A voz da IA chiou pelos
falantes quebrados, seguida de mais estrondos e explosões. — Entra logo, não
temos tempo.
E novamente Dust seguiu a recomendação da amiga. Mas ao entrar,
notou que algo parecia errado. Era um espaço pequeno, com um único banco e
cinto de segurança. Suas suspeitas se comprovaram quando a escotilha se
fechou, o painel de controle acendeu e uma voz mecânica disse:
— Preparando sequência de ejeção... Lançando em 5...
O cinto se fechou forçadamente sobre seu corpo, enquanto ele batia com
as mãos no teto e gritava:
— Ava, não! Não vou te deixar sozinha aqui! Nem morto.
4...
A voz de Ava agora era só um sussurro por dentro da capsula:
— É melhor assim, você vai ficar seguro até isso tudo passar.
3...
Dust estava em à beira das lágrimas enquanto exclamava:
— Tá bom, mas eu vou voltar o mais rápido possível!
2...
Mais uma explosão. Um pedaço massivo de metal acertou o chão. O som
dos alarmes de incêndio.
1...
O urro dos motores de fuga abafou qualquer outro ruído externo.
0.
A capsula subiu a toda, como um micro elevador em velocidade
supersônica. A força G colou o garoto contra o banco, enquanto o projétil
desenhava um arco pelo céu noturno.
Pela janela era visível a base se afastando. Um fatídico ponto de luz. Um
farol de desesperança no oceano da noite incógnita. E era nesse mar obscuro
que Dust forçadamente mergulhara.
Um misto de descrença, cansaço e pavor assaltaram seu corpo. As
últimas gotas de lágrimas levaram consigo a consciência, enquanto ele entrava
em um estado catatônico preso entre dormência e desmaio.
E a esfera de metal seguiu cruzando a noite...
Capítulo 2: O inventor e a ladra

O objeto misterioso atingira o ponto de impacto algumas horas atrás. Sob


a luz prateada da lua, uma sombra caminhava lentamente.
Com cautela, a figura encapuzada se aproximou. O vento gelado da noite
chicoteava o seu corpo, jogando para trás os retalhos do sobretudo. A manga
direita balançava livre no ar, pois o braço danificado estava preso junto ao corpo.
As botas cravavam-se profundamente na areia enquanto ela se movia, tentando
não fazer ruídos que poderiam provocar o que quer que estivesse ali dentro.
Estava agora a poucos metros do objeto. Observando melhor, parecia ser
algum tipo de capsula ou nave pequena. Os motores ainda estavam quentes e
o ar em volta cheirava a combustível queimado. Toda a carcaça estava
danificada e quebradiça, o que era bom, pois o exterior era projetado para
absorver todo o impacto e proteger o conteúdo.
Com certeza aquilo não se tratava de uma aterrisagem intencional, muito
menos de um pouso controlado. Era mais seguro apostar em um acidente, ou
algo do tipo. De qualquer forma, a pessoa esticou seu único braço útil para forçar
a abertura da capsula.
O melhor caso possível seria que aquilo se tratasse de uma capsula de
suprimentos perdida. Ou seja, estaria cheia de recursos úteis: Cobertores, água,
comida de emergência, quem sabe até alguns medicamentos.
Os piores casos possíveis envolviam encontrar ali algum cadáver de um
escape malsucedido. Ou mais horrível ainda, alguém vivo de um escape bem-
sucedido. As pessoas dentro de naves como essa, em geral, não eram o tipo de
gente com quem se deseja andar.
De qualquer forma, a situação atual exigia a tomada de alguns riscos. Um
saque tão precioso não podia ser perdido.
A pequena escotilha não foi difícil de abrir, devido ao estado da lataria.
Passada a névoa de gases da pressurização interna, o baú finalmente revelou
seu tesouro...
“Droga”, ela pensou. “Segundo pior caso possível”
Com alguma dificuldade retirou o corpo de lá e o esticou na areia. Um
garoto... talvez por volta dos 12 anos, era bem baixo para a idade. Tinha a pele
bronzeada e uma cabeleira negra desgrenhada, um tanto quanto longa. Ele
vestia camiseta e calças de retalhos e não calçava nenhum sapato. Parecia
alguma criança de região pobre. “Talvez seja um escravo, ou de um campo de
refugiados...”, se questionou. Não pode deixar de sentir pena, pensando que
talvez a capsula tenha sido o último esforço de uma mãe desesperada para
salvar sua criança. Infelizmente tudo teria sido em vão pois ele estava...
O som de ar sendo sugado parou a linha de pensamento. O corpo do
garoto retomou o oxigênio, como se estivesse desesperado. Em um movimento
repentino ele se colocou sentado, tossindo copiosamente enquanto expelia o pó
grudado à sua boca.
A outra pessoa soltou uma exclamação de surpresa, pensando: “Ah,
então ele está vivo. Eu me enganei... é o pior caso possível.”
A criança levantou de um salto, esfregando os olhos como quem acorda
de um sono agradável e não de um acidente horrível. Ele olhou em volta:
— Uau que estrago! — Disse observando a capsula estraçalhada. —
Onde será que eu tô? — Ele se abaixou para tocar o solo. — Hum...
Definitivamente ainda é o deserto, mas “qual parte do deserto” é a questão...
— É... Com licença? — A garota de capa interviu.
— AAAH! — Ele gritou, dando um salto para trás. Só agora notara a
presença de outro no ambiente. — Quem é você?
A garota, confusa, devolveu a pergunta:
— Não sei... Me diga quem é você.
— Ah claro, isso foi rude né? — Ele limpou a garganta. — Certo... Acho
que o protocolo de interagir com humanos é algo assim: Oi, prazer em conhecer.
Meu nome é Dust, e o seu? — Ele disse, abrindo um sorriso enorme.
— Layla... — Ela respondeu simplesmente.
— Oh... Tudo bem, então. — Ele disse, levemente desconfortável com a
resposta.
Então, Dust esticou a mão direta e olhou para Layla com expectativa. E
assim permaneceram por uns bons 20 segundos. Até que ele disse:
— Ah, isso é um aperto de mão caso você não saiba.
— Eu sei. — Ela retrucou.
— Então... — Ele disse, ainda com o braço levantado. — Era suposto que
você... Apertasse minha mão, sabe?
— Sim. — Ela respondeu. — Mas como você pode ver pela minha
condição, com a mão direita não será possível...
Ele abaixou a mão lentamente, notando a manga direita de Layla
balançando no ar:
— Oh, você está quebrada.
— Desculpe, mas... O que disse?
— Quebrada! Uma peça está faltando aqui.
Ela não tentou progredir com aquela conversa. Apenas disse:
— Você é meio estranho né?
Sem ligar para o que ela dissera, Dust se aproximou para olhar, tocando
o ombro direito:
— Agora eu entendi, seu braço tá aqui sim! Ele só tá escondido por dentro!
— Ei! Tira a mão de mim, pirralho.
— Deixa eu dar uma olhada... Eu posso tentar consertar.
— Não! — Ela gritou. — Você não entende.
Sem dar ouvidos, ele continuou puxando o sobretudo. Enquanto ela
tentava inutilmente afastar suas pequenas mãos. Até que finalmente ele
conseguiu. O lado direito se soltou, liberando um braço que balançava dormente
no ar.
De fato, o membro era bem peculiar. Por baixo de tudo havia um braço
comum, mas seu exterior era revestido de metal. Hastes de aço o
acompanhavam longitudinalmente, desde o ombro até a ponta dos dedos. As
juntas eram cobertas por engrenagens e roldanas, para dar movimento. E todas
as peças entravam e saiam de dentro do braço em diversos pontos. Era como
se um membro de máquina se mesclasse com o braço orgânico.
A visão parecia um tanto grotesca à primeira vista, mas Dust não pode
deixar de achar a tecnologia incrível:
— Uau! Você é uma máquina?
— Não... — Ela respondeu com um suspiro. — É só o braço mesmo.
— Que demais! — Ele exclamou mais alto. — Ele se mexe como um braço
normal?
— Costumava se mexer, mas não está funcionando há 3 dias.
— Você se importa se eu checar ele? — Dust estava maravilhado diante
da possibilidade de ver um mecanismo tão incomum. — Posso tentar consertar...
Dizem que sou bom com máquinas.
Layla ia negar, mas estava cansada. Além disso, as palavras dele
passaram um estranho senso de confiança. Por isso, inesperadamente ela se
viu concordando:
— Vá em frente. Não tem como isso aqui ficar pior mesmo.
— Ótimo! Sente ali, por favor. — Ele disse, apontando para um canto
próximo à capsula quebrada. — Agora, se eu puder achar minhas ferramentas...
Ele olhou para o interior da mini nave. Notara que havia um compartimento
pequeno debaixo do banco. Ao levantar o assento, descobriu uma pequena
quantidade de água e comida. Além disso notou uma caixa de ferramentas e um
kit de primeiros socorros. Dada a natureza da paciente em questão, decidiu
pegar os dois.
Ele se virou para trás e notou que Layla havia tirado a capa. Então
acendendo uma lâmpada de emergência, finalmente pode vê-la melhor: Era
jovem, mas parecia totalmente desenvolvida. Dust se lembrou que pessoas
terminam de crescer por volta dos 18 anos, então ela devia ter essa idade. O
cabelo preto e levemente ondulado descia até a altura do pescoço. Sua pele era
de tom claro para alguém que vive no deserto. O rosto era de traços finos, com
bochechas salientes, nariz pequeno e olhos castanhos. Ela era magra e um
pouco mais alta que ele.
— Bem... Vamos ver o que dá pra fazer nesse braço aí.
Passaram-se alguns minutos sem muito resultado até que ele começasse
a compreender o funcionamento do aparelho. Eles permaneceram em silêncio
enquanto Layla fitava aqueles curiosos olhos azuis, tão claros que eram quase
brancos. Nunca vira olhos tão claros e nem olhos que trabalhassem com tanta
concentração. Mas uma coisa naqueles olhos ela reconheceu muito bem: O tom
de vermelho de alguém que chorou até dormir ou desmaiar. Decidiu por fim
interagir com o jovem misterioso:
— Então... Dust né? — Ele confirmou com a cabeça. — Quantos anos
você tem?
Ele teve que pensar por alguns segundos para responder:
— 13.
— E onde estão seus pais?
— Não tenho. — Ele respondeu imediatamente.
— Como? Então você mora com seus avós?
— Também não tenho isso... — Ele disse.
— Nem avós? Então tios? Irmãos? Alguma coisa?
Ele balançou a cabeça negativamente.
— Então você mora sozinho?
— Não. Eu moro com a Ava. Ela é muito legal e...
“AVA!”, a lembrança rapidamente assaltou sua memória. Era isso, Ava
tinha lançado ele na capsula de emergência por causa dos invasores. Ela ainda
podia estar em perigo. Ele tinha que voltar.
— Dust, o que houve? — Ela perguntou, enquanto observava o menino
perdido em pensamentos.
— Lembrei! A Ava me colocou na capsula e me lançou. Ela fez isso pra
me proteger. Porque nossa casa foi invadida. Tinha esses caras-robôs com
armas e eles entraram explodindo tudo e... — Ele deu uma pausa, mas logo
retomou a fala. — Por quanto tempo eu fiquei aqui?
— A capsula caiu faz umas três horas. — Layla confirmou.
— Certo... — Ele disse, revirando a caixa. Retirou de lá uma grande
calculadora e começou a digitar. — Pelo volume do tanque de combustível,
considerando que a nave queimou ele todo antes de eu cair... — Seus dedos
acertavam as teclas com força. — Pelos meus cálculos eu viajei por meia hora,
então se considerar a velocidade média da nave... — Mais teclas apertadas. —
Minha distância até a base é de... — Ele olhou para o display e sua voz ganhou
um tom desanimado. — 50 quilômetros... Droga, andar isso tudo vai ser um porre.
Então ele retornou sua atenção para Layla:
— Desculpa. Isso foi rude?
— Não, tudo bem. — Ela respondeu.
— Bem, pelo rastro da nave eu vim do norte né?
— Sim.
— Então é pra lá que vou voltar assim que terminar com seu braço.
Os próximos 50 minutos seguiram em silêncio, com Dust mexendo
avidamente nas peças. De vez em quando, sob muitos pedidos de desculpa,
provocava pequenos sangramentos e pedia instruções de Layla para enrolar
algumas bandagens. Ela era muito melhor que Dust em usar ferramentas de
curar humanos. Até que finalmente, quando a lua estava saindo do meio do céu,
todo o deserto em volta o ouviu gritar:
— UHUUUUL EU CONSEGUI!
Layla levantou o braço, girou o antebraço, moveu os dedos abrindo e
fechando a mão. Tudo funcionou perfeitamente.
— Incrível. — Ela admitiu. — Você é mesmo bom com máquinas. Pena
que não posso dizer o mesmo dos curativos...
— Desculpaaaaaa. — Ele falou choroso.
— Tudo bem, as feridas fecham. O importante é que o braço funciona.
— Sim! — Ele disse animado. — Obrigado por mostrar essa tecnologia
doida.
Ele olhou novamente para a pilha de suprimentos de emergência:
— Tem até que bastante ali. Pode pegar metade. — Ele disse, enquanto
colocava a outra metade em uma bolsa de viagem, junto com a pequena caixa
de ferramentas e o pequeno kit de primeiros socorros. — Bom, acho que isso é
um adeus então né. Você tem que seguir com a sua vida aí de... Saquear
capsulas? — Ele notou que pouco sabia de Layla além do nome, mas ela
também não o conhecera tão bem.
— Na verdade... — Ela se aproximou pensativa enquanto guardava sua
parte das rações na mochila. — Acho que vou com você, se não se importa.
— Por que? — Ele perguntou.
— Ah, eu te devo uma pelo meu braço. Acho que você nunca passou uma
noite no deserto, pode ser perigoso.
O ponto de Layla realmente fazia sentido. Ele nunca fora forçado a uma
situação de sobrevivência extrema no deserto. Então ele concordou:
— Aceito a companhia. Obrigado pela ajuda.
— Além disso... — Ela adicionou irônica. — Preciso de alguém para trocar
essas maravilhosas bandagens.
— Eu já pedi desculpaaaa... — Dust reclamou.
E assim os dois caminharam para o norte. Às suas costas, o vento frio da
noite árida. À frente, um iluminado véu negro e o tapete de dunas...

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