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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DISCIPLINA: HISTÓRIA DOS AFRODESCEDENTES NO BRASIL – 2019.2
PROFESSOR: HENRIQUE CUNHA JÚNIOR
DISCENTE: LUANE MOTA DA SILVA (376009)
ASSUNTO: PROPOSTA DE TEXTO – AS PROFISSÕES AFRICANAS E DE
DESCENDENTES NO BRASIL COLONIAL E IMPÉRIO – DUAS PÁGINAS.

QUEM EDIFICOU O BRASIL? REFLEXÕES SOBRE AS PROFISSÕES DE


AFRICANOS E AFRODESCENDENTES NO BRASIL COLONO-IMPERIAL.
“Tem que saber fazendo, fazer sabendo fazer, sabendo o que está fazendo. Compreendendo de onde sai o
mistério e para onde vai o conhecimento. É assim a nossa história.1
Henrique Cunha Jr.

As civilizações africanas são anteriores as europeias, nesse sentido, quando esta estava
se descobrindo, aquela já estava desenvolvendo suas técnicas há milênios. A pecuária, data de
15 mil anos na região do que hoje é o Quênia e entre os rios Tigre e Eufrates. A agricultura, por
exemplo, é praticada pelos egípcios há 18 mil anos atrás, no vale do Rio Nilo, sendo anterior
no sudoeste Asiático (FONSECA, 2009). Em verdade, o conhecimento filosófico, religioso e
científico da Grécia antiga teve origem no próprio Egito. Não arbitrariamente, estes mesmos
povos construíram pirâmides, desenvolveram a escrita, a medicina, no processo do
entendimento do organismo para a mumificação, por exemplo, bem como os procedimentos de
cirurgias, como o caso conhecido de Imhotep (3.000 a.C), considerado o primeiro gênio da
humanidade (ibid.).

Outras regiões em África e outros povos também desenvolveram suas técnicas. Os


povos Dogon, no Mali, tem o conhecimento do sistema solar há 5 ou 7 séculos antes de Cristo.
De acordo Souza e Motta (2003), os Haya, povos de fala banto que viviam no que hoje é a
Tanzânia, possuíam conhecimento sobre metalurgia por volta de 2.000 anos atrás, com fornos
que atingiam temperaturas que só foram descobertas na Europa do século 19. Essa técnica
também é encontrada entre os povos Nok, que viveram entre os séculos 5 a.C. e 2 d.C., na
África Ocidental (CUNHA Jr., 2010). Os Yorubas, por sua vez, conheciam a siderurgia antes
dos portugueses, dominando, portanto, a técnica que lhes permitiam melhor desenvolvimento
da agricultura (ibid.).

As mulheres e homens, que foram forçados à escravização no Brasil, trouxeram consigo


toda a inteligência tecnológica e artística desenvolvidas tradicionalmente em suas regiões.
Antes do século 16, a cana-de-açúcar, a banana, o algodão, o arroz e o amendoim eram
cultivados na África Ocidental (ibid.). Tanto é verdade que a aproximação dos alimentos pode
ser percebida até hoje. O caldo de mancarra, por exemplo, comida tradicional de Guiné-Bissau,
tem como protagonista o amendoim. Outro elo fértil seriam os coqueiros, presentes por todo o
Brasil, trazidos de África, que dão origem ao óleo de dendê, consumido tanto por aqui como lá.
Outros alimentos como inhame e o milho são comidas que reforçam nossa tradição única. Ao
não contar a origem do nosso tradicional café, por exemplo, como uma planta etíope ou, ao
mitificar a farmacologia trazida de África ao Brasil, nos sentimos mais distantes daqueles que
são os nossos parentes mais próximos, dos de casa.

Por sua vez, a imigração de produtos traz consigo o que a história colonialista insiste
em invisibilizar. É necessário retomar esta história e, como diz a epígrafe, “compreendendo de
onde sai o mistério”, para se saber “para onde vai o conhecimento”. Diríamos que o
conhecimento ou o entendimento que temos sobre nossas próprias figuras, hoje, foi desviado
quando se arrancou forçosamente os povos africanos de suas terras, submetendo-lhes a
violências físicas e psicológicas. Conscientemente, trazendo seus corpos e saberes.

As narrativas livrescas nos contam a história do escravizado animalizando-os,


destituindo-os de seus intelectos. Ao pensar os negros e negras escravizados, o trabalho se
descola da técnica, restando-lhes o labor braçal, ideia de desumanização. Como se aquele que
trabalha não fosse o mesmo que possuísse a técnica do trabalho. Como se fosse possível
trabalhar sem o “sabendo o que está fazendo”, como se antes não fosse necessário “saber
fazendo”. A mineração em grande escala no Brasil, por exemplo, como afirma ainda o Prof.
Henrique Cunha Jr. (2010): “não implica apenas a abundância do produto, mas também as
formas técnicas de sua extração.”. Seguindo, o texto explana sobre técnicas de tecelagem,
químicas – na produção de sabão –, e artística, como o uso e o manuseio técnico da madeira em
arquiteturas e esculturas. É uma história coerente, que restitui a humanidade e lhe devolve o
sentido sequestrado. Afinal, quem construiriam moinhos, máquinas de engenhos, de açúcar, de
tear – esse último idêntico entre o Nordeste e a África (como conclui Cunha Jr.) – e todas os
outros materiais de consumo? Essas técnicas de trabalhos já eram de saber coletivo em África.

O passado escravista com suas consequências, invisibiliza e desvaloriza, em um só


pensamento, as técnicas exercidas por africanos e seus descendentes no Brasil colono-imperial,
bem como o republicano. Essas reflexões ainda podem nos levar a pensar lógica de técnicas,
ciência e consumo que, pelo lado africano, não matou a natura, mas que pelo lado europeu, que
se autodefine civilizado, destrói e escraviza às custas da lógica de consumo. São fios que
precisam ser tecidos pelos que talvez nem saibam de onde vieram e que “É assim a nossa
história.”, e, sendo assim, o mistério da vida lhes pertencendo, é permitido optar e escolher
“para onde vai o conhecimento”.

1
CUNHA Jr., Henrique. “Tear africano: tecendo o pano, desfiando a vida”. In: Tear africano: contos
afrodescendentes. São Paulo, Selo Negro, 2004.

Referências bibliográficas:

CUNHA JR., Henrique. Tecnologia africana na formação brasileira. Rio de Janeiro: CEAP, 2010.
FONSECA, Dagoberto José. GELEDÉS, 2009. África: lugar das primeiras descobertas invenções e instituições
humanas. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/africa-lugar-das-primeiras-descobertas-invencoes-e-
instituicoes-humanas/>. Acesso em: 17, ago. 2019.

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