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1. INTRODUÇÃO

A hemoterapia consiste no tratamento terapêutico realizado através da


transfusão sanguínea, seus componentes e derivados e se trata de uma atividade
assistencial de alto risco epidemiológico, uma vez que o sangue, na condição de
tecido vivo, é capaz de transmitir diversas doenças (PAULA et al., 2007, texto
digital).
Por ser uma técnica não invasiva, a hemoterapia é um tratamento que
não conta com uma intervenção médica, técnica essa que deve ser aplicada por um
especialista qualificado legalmente, afinal, talvez muitos não saibam, a hemoterapia
é uma técnica que nunca passou por um teste clínico, porém, ela se torna uma
terapia considerada eficiente e que proporciona benefícios importantíssimos para a
saúde humana.A finalidade da hemoterapia é a transfusão de sangue, seus
componentes e derivados.
Para que os pacientes possam ter acesso ao aporte transfusional, é
preciso que toda uma cadeia de ações tenha lugar. Esta cadeia, conhecida como
ciclo do sangue, vai desde a captação dos doadores até o acompanhamento dos
pacientes transfundidos. É uma prática realizada por profissionais da saúde, que
utiliza o sangue como tratamento para certas desordens, transfundindo seus
hemocomponentes (componentes do sangue) e hemoderivados (derivados do
sangue). Este processo é complexo, envolvendo diferentes áreas, como onco-
hematologia, imunologia, estudo das desordens transmissíveis pelo sangue,
transplantes de órgãos, aféreses terapêuticas e transfusionais, dentre outras. Nesse
contexto o referido estudo analítico optou-se pela pesquisa de natureza descritiva,
exploratória, com abordagem qualitativa, referenciando os principais conceitos
elaborados por renomados estudiosos do assunto, conforme visto à frente.

2. HISTÓRICOS DA HEMOTERAPIA

O sangue sempre teve importância destacada na história da medicina. O


seu uso, com finalidade terapêutica, foi empregado pelo homem há muitos séculos.
Sabe-se que os antigos se banhavam ou bebiam sangue de pessoas ou de animais,
com variados objetivos, acreditando, sobretudo, que assim fazendo poderiam curar
certas doenças ou fortalecer o seu organismo. Essa prática caracterizava o período
pré-histórico da transfusão no mundo. Com o passar do tempo, surgiu a descrição
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da circulação sanguínea e do funcionamento do coração, por Harvey, médico inglês,


que possibilitou o uso de injeções intravenosas de medicamentos e, também, de
sangue, na veia dos pacientes, em consequência de sua descoberta. Nascia o
período pré-científico da transfusão e os primeiros procedimentos empregavam
sangue de animais.
Vivia-se o século XVII e o sangue humano passava a ser utilizado no
lugar do sangue animal. Grande parte das transfusões não trazia benefícios para os
doentes, muitos com piora do quadro e, às vezes, até a morte imediata do receptor.
Era o desconhecimento da existência dos grupos sanguíneos e do fenômeno da
compatibilidade entre os mesmos grupos. Porém, em alguns casos, o doente
tolerava bem o sangue transfundido e recuperava-se da enfermidade, situações bem
mais raras. Também nessa época o sangue ainda não era armazenado porque não
se conhecia os anticoagulantes. As transfusões causavam muitas mortes e a sua
prática terminou sendo proibida na Europa durante longo tempo, ficando no
esquecimento até o início do século XIX. A partir desse período, já no ano de 1818,
considera-se a fase científica da hemoterapia, quando se postulou que somente o
sangue de humanos poderia ser utilizado em humanos e que a transfusão de
sangue fresco serviria para corrigir a tendência de sangramento em pacientes
hemofílicos. Também nesse século ocorreram várias tentativas de se obter produtos
substitutos do sangue, culminando com a descoberta do soro fisiológico.
O século XX inicia-se com a descrição dos grupos sanguíneos do sistema
ABO, pelo pesquisador austríaco Karl Landsteiner, em 1900, que passou a explicar
a razão do surgimento de certas reações graves e até da morte de pacientes após
receber uma transfusão. Quarenta anos depois, 1940, Landsteiner e Wiener
anunciaram a descoberta do fator Rh, acontecimento de elevada importância para a
imuno-hematologia e que complementou o entendimento sobre a incompatibilidade
entre os diversos sangues humanos. A partir daí foi possível introduzir os testes de
compatibilidade, conferindo bases consideradas científicas às transfusões de
sangue. Outras descobertas aconteceram nesse século, considerado o período
científico da hemoterapia, como o advento de seringas, tubos específicos e o uso do
citrato de sódio, empregado como anticoagulante, o que veio permitir a estocagem
do sangue. Dessa forma, foi possível usar o produto em socorro de combatentes na
I Guerra Mundial. Posteriormente, com o desenvolvimento de novos produtos
anticoagulantes, como o ácido cítrico, citrato e destrose (ACD), por Loutit e
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Mollinson, em 1943, e de frascos de vidro específicos, foi possível que os chamados


bancos de sangue pudessem enviar sangue, colhido na América e na Europa, para
abastecer os hospitais de campanha durante a II Guerra Mundial.
Com o passar do tempo, novos conhecimentos continuaram a ocorrer em
prol do desenvolvimento da hemoterapia no mundo, como as técnicas de
fracionamento plasmático, o surgimento das bolsas plásticas específicas, em
substituição aos frascos de vidro, processadores celulares para aférese, novos
produtos e soluções de preservação, novas técnicas de compatibilidade, o
lançamento no mercado de máquinas fracionadoras do sangue, o surgimento da
hemoterapia seletiva etc. Por sua vez, a transfusão de sangue generalizou-se,
tornando-se rotina nos hospitais, sendo uma prática fundamental para salvar vidas,
permitindo o surgimento e a organização de sistemas de doação de sangue nos
países desenvolvidos, habituados à prática da doação como esforço de guerra,
calcada na doação altruísta e não remunerada, ainda fruto da solidariedade e da
benevolência dos cidadãos. Países como a França, a Holanda, a Inglaterra e muitos
outros obtiveram sucesso com o modelo da doação não remunerada,
caracterizando-os como países autossuficientes em sangue, muitos dos quais
chegando a dispor de quantidade excedente do produto.
O século XXI trouxe avanços significativos, com a tecnologia de cultura de
células, a biologia molecular, desenvolvimento de modernos testes de triagem
sanguínea, a terapia gênica, a engenharia tecidual, os bancos de sangue de cordão
umbilical e placentários e a contínua busca pelos produtos substitutos de hemácias .

3. A HISTÓRIA DA HEMOTERAPIA NO BRASIL

A transfusão de sangue teve dois períodos: um empírico, que vai até 1900, e
outro científico, de 1900 em diante. No Brasil, em 1879, um relato discutia se a
melhor transfusão seria com sangue de animais para humanos ou entre seres
humanos. Na era científica, os pioneiros da hemoterapia foram cirurgiões do Rio de
Janeiro. Por volta de 1920 surgem os primeiros serviços organizados e de
constituição bastante simples. Destaca-se, nos anos 40, no Rio de Janeiro, o STS
(Serviço de Transfusão de Sangue) por ter, além da conotação assistencial,
atividades científicas. No final desta década, é promovido o I Congresso Paulista de
Hemoterapia, que forneceu as bases para a fundação da Sociedade Brasileira de
Hematologia e Hemoterapia, em 1950.
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Em 1965 cria-se, por iniciativa do Ministério da Saúde, a Comissão


Nacional de Hemoterapia, estabelecendo normas para proteção dos doadores e
receptores de sangue. Mesmo assim, chegamos em 1979 com um sistema
desorganizado e desigual na qualidade dos serviços prestados. Nos anos 80, a
criação da Política Nacional do Sangue, a campanha da doação altruísta de sangue
da SBHH e a Constituição de 1980 deram outra dimensão à hemoterapia brasileira.
Chegamos então ao contemporâneo onde a desastrosa ocorrência da AIDS em
pacientes transfundidos obrigou a novos conceitos e cuidados.
Na "era científica" da transfusão de sangue, após a descoberta dos
grupos sangüíneos, por Karl Landsteiner, em 1900, transfusões eram feitas por
cirurgiões como Carrel, Crille, De Bakey e outros reconhecidos como inovadores
mundiais. Entre nós, Brandão Filho e Armando Aguinaga foram os pioneiros nesta
prática, no Rio de Janeiro. Mas o melhor relato desta época ocorreu em Salvador
(Bahia) quando o professor de Clínica Médica, Garcez Fróes, fez a primeira
transfusão de sangue, usando o aparelho de Agote, improvisado por ele,
transfundindo 129 ml de sangue do doador João Cassiano Saraiva, servente do
hospital, em uma paciente operada de pólipo uterino com metrorragia importante
(Figura 1).
Em 1916, Isaura Leitão defendeu sua tese sobre "Transfusão Sangüínea",
relatando este caso e descrevendo outros três relatos semelhantes.

Fonte:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-84842005000300013

Pouco depois surgem serviços especializados, de organizações simples,


constando de um médico transfusionista e de um corpo de doadores universais, de
indivíduos do grupo sangüíneo universal (O), que eram selecionados e examinados,
para comprovação de suas boas condições de saúde. O instrumento utilizado para
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passar o sangue do doador ao receptor, por sua simplicidade de manuseio e


facilidade de esterilização, era a seringa de Jubé (Figura 2).

Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-8484 2005000300013

Até a década de 40, já existiam no Brasil vários serviços de transfusão,


mas um merece destaque: o Serviço de Transfusão de Sangue (STS), fundado no
Rio de Janeiro, em 1933, por Nestor Rosa Martins, Heraldo Maciel e Affonso
Cruvinel Ratto. Estes colegas aliaram à assistência médica um enfoque científico
voltado ao exercício da especialidade e às transfusões de sangue de forma geral. O
sucesso deste modelo e a eficiência do atendimento resultaram na criação, em
1937, de várias filiais, entre elas a de Juiz de Fora, sob a direção de Côrtes Villela e
a de Salvador, de Menandro Novais e Estácio Gonzaga. Outras foram de curta
duração, como a de Arnaldo Marques, em Recife.
Este modelo resultou em artigo científico publicado na Revista Brasil
Médico (Figura 3), no qual os autores destacavam o papel do sangue sobre seus
aspectos científico, religioso, cultural, político, moral e jurídico. Discorriam, ainda,
sobre as diversas técnicas de transfusões de sangue, organização de serviços
transfusionais e detalhando a organização do STS, do Rio de Janeiro. Destaques
importantes do artigo eram os cuidados com a seleção de doadores, da qualidade
das transfusões, e a necessidade de estar a assistência transfusional acoplada a um
centro de estudos e investigações. Era citada uma mesa portátil, criada por Calda
Bitar, que permitia maior segurança e comodidade na operação de transfundir o
sangue de braço a braço.
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Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-84842005000300013

A Hemoterapia no Brasil segue os rumos de uma história apaixonante


pelas situações e pelos atores que a protagonizaram, desde a fase "pré-científica".
De ato que era realizado pelos cirurgiões ou anestesistas para maior segurança de
seus atos cirúrgicos, aos poucos foi se diferenciando como especialidade e, então,
saiu das mãos daqueles especialistas para, com a criação dos bancos de sangue,
posteriormente denominados serviços de hemoterapia, tornar-se um procedimento
privativo de especialistas hemoterapeutas.
A atuação de alguns médicos pioneiros e com visão internacional da
especialidade, como Pedro Clóvis Junqueira e Osvaldo Mellone, permitiu que o
Brasil não ficasse distanciado do que estava acontecendo “lá fora”, numa época sem
internet e quando a presença de especialistas estrangeiros nos eventos nacionais
era um acontecimento. A atuação desses e de outros pioneiros foi marcada pelos
desafios, não somente científicos mas também políti cos, em fazer anunciar aos
seus pares e à classe médica que uma nova especialidade médica estava
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nascendo: a Hemoterapia. Mas a Hemoterapia, como toda especialidade que realiza


procedimentos, tem o seu contexto empresarial e, como os autores referem, esse
mesmo contexto trouxe as suas mazelas e distorções no que pior se pode entender
quando o interesse comercial sobrepõe-se aos interesses acadêmicos ou da
comunidade de usuários. Assim é que foi inevitável o aparecimento dos chamados
“banqueiros”, profissionais médicos e não-médicos e mesmo de fora da área da
saúde que enxergavam aquela fluorescente atividade como um empreendimento
que não deveria ser regido pela ética e mesmo pelo direito.
A falta de controle governamental estimulou a proliferação de bancos de
sangue que colhiam sangue de doadores remunerados, algumas vezes estimulados
pelos próprios órgãos governamentais. Naquela época, mesmo alguns serviços
públicos remuneravam os doadores de sangue. Os fiscais do Ministério da
Previdência exigiam dos serviços de hemoterapia, ainda na década de 70, a
apresentação de recibos que comprovassem o pagamento dos doadores de sangue,
por inferirem que o lucro do empresário não se poderia fazer à custa de doadores
voluntários. A realização de exames sorológicos era uma simples questão que
dependia do rigor ou da vontade das vigilâncias sanitárias locais e quase nunca
eram exigidos.
Os mais ágeis, antenados às mudanças, conseguiram se modernizar,
adaptando as suas estruturas organizacionais aos novos tempos e, assim,
sobreviver. Em alguns estados, a iniciativa privada continuou forte e não sofreu
abalos com a concorrência oficial, mostrando que foi somente uma questão de
(in)competência o fechamento de alguns serviços. Curiosamente, anos depois,
alguns hemocentros, deitados no berço esplêndido do monopólio, descuidaram-se e
não conseguiram manter um padrão de atendimento, proporcionando a instalação
de serviços privados em algumas cidades. Aí, a situação inversa também fez com
que, mais uma vez, a lei da concorrência prevalecesse, beneficiando o principal alvo
da atividade, o usuário. Mas, também, o início da década de 80 foi uma época de
radicalismos. Declarou-se, entre os mais exaltados e sem visão do negócio, uma
“guerra santa” entre o público e o privado, entre o bem e o mal, dependendo de que
lado se encontrava o interessado. Essa dicotomia nada mais evidenciava senão a
insegurança de quem ainda não se tinha apercebido de que não seriam os atos
oficiais que determinariam o sucesso de um hemocentro e, sim, a sua competência
gerencial.
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Os autores referem a atuação fundamental da Sociedade Brasileira de


Hematologia e Hemoterapia (SBHH), então presidida por Celso Guerra, na
campanha de doação voluntária de sangue. A doação voluntária de sangue era
viável no nosso país e a remuneração foi posteriormente tornada proibida pelo
Ministério da Saúde. A evidência de transmissão da Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida pela transfusão de sangue obrigou o governo a implantar mecanismos de
controle mais eficazes e permanentes nos serviços de coleta e transfusão de sangue
Mesmo assim, houve demora na resposta à nova situação. A visão errada do
problema levou a que uma representante do Ministério da Saúde, na sessão de
abertura do Congresso Internacional de Hemofilia, no Hotel Rio Palace, em 1985,
quando já não havia dúvidas da necessidade de realização de testes de triagem
sorológica, informar que a AIDS , naquele momento, não representava um problema
para o ministério, havendo outros mais prioritários num país de prioridades.
Somente dois anos após, o Ministério da Saúde tornou obrigatória a
realização do teste sorológico para a detecção do anticorpo anti-HIV. A Hemoterapia
no Brasil é uma especialidade entremeada de atividades políticas que permeiam o
próprio funcionamento dos serviços e a atuação política dos presidentes da SBHH é
necessária na medida em que nem todas as leis, portarias ou outros diplomas são
projetados para beneficiar o setor. A SBHH, sendo representante das especialidades
de Hematologia e de Hemoterapia no território nacional, deve ser a interlocutora dos
diversos interesses, que devem ser contemplados dentro da sua atuação
corporativa. Assim é que, durante a discussão da chamada Lei do Sangue, que se
arrastou por quase uma década, a participação da SBHH foi determinante para que
o setor não fosse estatizado, evitando o absurdo de se pretender que inclusive as
atividades de coleta ficassem sob a responsabilidade do Estado.
A História da Hemoterapia no Brasil, editada nessa revista, evidentemente
não esgota o assunto. A revolução da especialidade foi tão intensa nos últimos anos
que cada unidade federativa ou cada região do País tem a sua história para contar,
tamanhas as peculiaridades do setor. No momento, o que temos de mais novo no
horizonte é a recente criação da Hemobrás, empresa estatal de fabricação de
hemoderivados. A visão obtusa de antes não permitiu que o Brasil atingisse a
autonomia na produção de hemoderivados, ao fechar o caminho para que as
multinacionais do setor se instalassem no território nacional. Ao longo dos anos
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prevaleceu a noção de que o sangue era assunto de segurança nacional e, portanto,


não poderia estar em mãos de estrangeiros.

4. COMISSÃO NACIONAL DE HEMOTERAPIA

As mudanças políticas ocorridas no País, no ano de 1964, marcaram o


setor hemoterápico brasileiro, trazendo o despertar do governo para a necessidade
de se estabelecer os primeiros passos na direção de criar uma política de
coordenação das atividades hemoterápicas, considerando o sangue como questão
de segurança nacional. O Decreto Presidencial n° 54.954, de 16 de outubro de 1964,
levou o Ministério da Saúde a criar um grupo de trabalho destinado a estudar e a
propor a nova legislação disciplinadora da hemoterapia brasileira e instituiu, em
1965, a Comissão Nacional de Hemoterapia (CNH). A Lei n° 4.701, de 28 de junho
de 1965, a primeira lei dispondo sobre o exercício da atividade hemoterápica, fixou
as competências da CNH e estabeleceu a Política Nacional de Sangue que tinha,
entre suas finalidades, organizar a distribuição do sangue, a doação voluntária, a
proteção ao doador e ao receptor, disciplinar a atividade industrial, incentivar a
pesquisa e estimular a formação de recursos humanos. Em 1967, pelo Decreto n°
211, de 27 de fevereiro, o Ministério, atendendo à orientação da Comissão, instituiu
a obrigatoriedade de registro dos serviços de hemoterapia, visando sanear a
atividade e recolher dados sobre o setor. A despeito de seu estado como órgão
permanente do Ministério da Saúde, e de ter a referida Comissão expedido
importantes normas, poucos resultados foram alcançados para disciplinar o
comércio de sangue e derivados e eliminar a baixa qualidade dos serviços do setor.
Os pedidos de registro de funcionamento dos serviços perdiam-se nas instâncias
burocráticas e nem sequer eram catalogados, revelando a falência da ideia de
disciplinamento do setor por meio de uma atividade normativa e fiscalizadora.

5. TIPOLOGIA SAGUINEA
A hemoglobina (Hb) é uma proteína composta por quatro cadeias
globínicas, cada qual associada a um grupo heme, formado por uma estrutura
porfirínica, que contêm no seu centro um átomo de ferro. As mutações que afetam
os genes que codificam essas cadeias globínicas causam as anemias hereditárias, e
estas são classificadas em dois grupos: as hemoglobinopatias variantes que
compreendem as alterações estruturais na sua molécula, e as talassemias,
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caracterizadas pela redução na síntese de um ou mais tipos de cadeias globínicas


da molécula de Hb (COSTA; SONATI, 2008).
As hemoglobinopatias estruturais incluem as situações em que há
produção de uma Hb com características físico-químicas diferentes da Hb normal.
Estes defeitos, na maioria das vezes, devem-se à troca de um nucleotídeo no gene
da globina, que leva a substituição de um aminoácido por outro na cadeia globínica.
Atualmente são conhecidas cerca de 1000 variantes hemoglobínicas, porém, a
maioria não está associada a defeito funcional ou a manifestações clinicas. As Hb
variantes mais comuns no Brasil são as Hb S, Hb C, Hb D, Hb E e as Hb instáveis
(ZAGO et al., 2005).
A Hb S é originada pela substituição de ácido glutâmico por valina na
posição número seis da cadeia globínica beta. Os indivíduos homozigotos para Hb S
(Hb SS) desenvolvem a anemia falciforme enquanto os heterozigotos (Hb AS),
conhecidos como traço falciforme, não apresentam nenhuma anormalidade
hematológica. As complicações clinicas de pessoas com Hb AS são extremamente
raras porque a concentração de Hb S nas hemácias desses indivíduos é inferior a
50%, tornando-se resistentes à falcização nas condições fisiológicas. Por outro lado,
o ambiente metabólico dos rins é bastante propício à falcização, não sendo raras as
complicações renais no indivíduo AS.
A literatura reporta outras possíveis situações de risco para heterozigotos
AS, tais como grandes cirurgias, infartos esplênicos em situações de hipóxia (como
viagens aéreas e mergulho submarino) e morte súbita após exercícios exaustivos
(ZAGO et al., 2005). A Hb C foi descrita pela primeira vez por Itano e Neel em 1950,
e em 1958 Hunt e Ingram identificaram que o aminoácido número 6 da globina beta,
o ácido glutâmico (Glu), havia sido substituído pela lisina (Lis). Indivíduos
homozigotos para Hb C (Hb CC) possuem uma anemia hemolítica de intensidade
variável, com evidências clínicas de cansaço, fraqueza e, eventualmente,
esplenomegalia, porém seu aparecimento é raro. Portadores heterozigotos para a
Hb C (Hb AC) são assintomáticos, sendo importante, clinicamente, somente quando
associados às outras hemoglobinopatias, como a Hb S e a beta-talassemia
(NAOUM, 2000). A Hb D Los Angeles, também conhecida como D Punjab, é a mais
comum das Hb D, sendo originada da transversão GAA -> CAA no códon 121, (éxon
3) do gene da globina beta. Essa mutação resulta da troca do ácido glutâmico por
glutamina durante o processo de tradução, sendo que indivíduos heterozigotos (Hb
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AD) e homozigotos (Hb DD) são assintomáticos, enquanto os que apresentam


associação com Hb S ou talassemia beta podem desenvolver anemia hemolítica de
grau discreto a moderado.
A Hb E é uma variante estrutural resultante de uma mutação no gene β-
globínico, decorrente de substituição do aminoácido glutamina pela lisina na posição
26. Os homozigotos EE têm uma anemia hemolítica moderada, enquanto os
heterozigotos AE são assintomáticos. A manifestação da anemia grave é observada
somente em associação da Hb E com a beta-talassemia.
A Organização Mundial da Saúde considera que 270 milhões da
população mundial possuem genes que determinam a presença de Hb anormais.
Um estudo realizado nas regiões brasileiras demonstra que existe a possibilidade de
haver aproximadamente 10 milhões de pessoas portadoras de hemoglobinopatias.
A sua ampla distribuição bem como a diferença na prevalência regional de
hemoglobinopatias, no país, está na dependência de grupos étnicos colonizadores
de cada região, aliada à intensa miscigenação populacional (MELO et al., 2008). Por
sua diversidade genética e importância clínica, o estudo das Hb variantes tem
despertado um crescente interesse entre os pesquisadores brasileiros e as
autoridades da saúde, por se tratar de um problema de saúde pública (SEIXAS et
al., 2008). Além disso, a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC 153 de 14 de
junho de 2004 torna obrigatória a investigação de Hb anormais em doadores de
sangue nos serviços de hemoterapia (BRASIL, 2002).

6. HEMOTERAPIA

A hemoterapia trata doenças e condições clínicas dos pacientes utilizando


o sangue humano ou seus componentes, tais como glóbulos vermelhos, plaquetas e
plasma. Entre as técnicas utilizadas estão a transfusão de sangue, as sangrias
terapêuticas, a aférese terapêutica e o transplante de Células Progenitoras
Hematopoéticas (CPH).
A transfusão é um método de reposição de sangue que pode ser
necessária durante procedimentos cirúrgicos, tratamentos quimioterápicos ou de
patologias como a anemia. Já as sangrias terapêuticas são procedimentos de
retirada do sangue que ajudam no tratamento de doenças como hemocromatose,
policitemia vera e poliglobulias (aumento na massa de glóbulos vermelhos), que se
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manifestam em decorrência a Doença Pulmonar Crônica Obstrutiva ou pós-


transplante renal.
A aférese terapêutica, por sua vez, consiste na remoção de uma
substância ou componente do sangue total de um paciente por meio de um
equipamento separador de células. Esse procedimento auxilia no tratamento de
linfomas cutâneos de células T e também na rejeição aguda e crônica de
transplantes de órgãos sólidos. O transplante de Células Progenitoras
Hematopoéticas (CPH) é outra técnica de hemoterapia indicada para tratamento de
várias doenças imunológicas, hematológicas, genéticas e oncológicas. Essas
células, também conhecidas como células-tronco, previamente coletadas, são
infundidas em uma veia do paciente após ele ter recebido quimioterapia em altas
doses ou radioterapia corporal total, conforme o tratamento selecionado pela equipe
médica.
6.1 - INDICAÇÃO DOS HEMOCOMPONENTES

Hemocomponentes são produtos gerados um a um nos serviços de


hemoterapia, a partir do sangue total, por meio de processos físicos (BRASIL, 2008).
Os hemocomponentes são considerados medicamentos, devido a seu uso
no tratamento de doenças. Da mesma maneira que ocorrem efeitos adversos com
os medicamentos, podem ocorrer com os hemocomponentes, o que implica na
cuidadosa consideração de terapia apropriada. A transfusão de células do sangue é
também considerada um transplante, tendo em vista que as células precisam
sobreviver e funcionar depois da transfusão, para que possam exercer efeito
terapêutico.

6.2 - CONCENTRADO DE HEMÁCIAS

A transfusão de concentrado de hemácias (CH) deve ser realizada para


tratar, ou prevenir iminente e inadequada liberação de oxigênio (O2) aos tecidos, ou
seja, em casos de anemia, porém nem todo estado de anemia exige a transfusão de
hemácias. Em situações de anemia, o organismo lança mão de mecanismos
compensatórios, tais como a elevação do débito cardíaco e a diminuição da
afinidade da Hb pelo O2, o que muitas vezes consegue reduzir o nível de hipóxia
tecidual (BRASIL, 2008, p. 29).

As indicações para transfusão de hemácias estão divididas em pacientes


que tem sangramento ativo e aqueles com anemia normovolemica. Os pacientes
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que estão com sangramento ativo, como no trauma, cirurgia ou sangramento


espontâneo do trato gastrointestinal, podem ser candidatos à transfusão de
hemácias (p.103). A segunda situação que a transfusão de hemácia é administrada
é na situação clinica conhecida como anemia normovolemica. A anemia
normovolemica é uma situação na qual os pacientes tem a hemoglobina baixa, estão
hemodinamicamente estáveis, e nos quais não há qualquer expectativa de perda
aguda de sangue.

6.3 - CONCENTRADO DE PLAQUETAS

Na hemoterapia, o seu emprego é feito sob a forma de concentrados de


plaquetas (CP), que permitem infundir grandes quantidades destas em pequenos
volumes. Os CP podem ser obtidos pelos processadores automáticos de células
sanguíneas pelo sistema de aférese, ou como unidades randômicas, a partir de
unidades individuais de sangue total, pelos métodos do buffy coat ou do plasma rico
em plaquetas.
De acordo com Razouk e Reiche (2004, texto digital) o concentrado de
plaquetas são para prevenir ou controlar a hemorragia em pacientes com baixas
contagens de plaquetas (trombocitopenia), ou, menos freqüentemente, em pacientes
com disfunção plaquetária (trombocitopatias).
Em pacientes com trombocitopenia, o CP está indicado para prevenir
hemorragia espontânea, particularmente intracraniana, condição que pode ocorrer
em pacientes que apresentam contagens de plaquetas abaixo de 10.000/mm 3.
Pacientes que apresentam valores inferiores a 5.000/mm 3 apresentam alto risco
para hemorragias espontâneas. Outra indicação clínica seria em pacientes
trombocitopênicos (<50.000/mm3) submetidos a procedimentos invasivos de
diagnóstico como biópsia hepática, colonoscopia com biópsia, broncoscopia com
biópsia, entre outros.
Uma terceira situação clínica é a presença de trombocitopenia em
pacientes que serão submetidos a procedimentos cirúrgicos. Uma quarta situação é
uma trombocitopenia (<100.000/mm3) em pacientes com hemorragia ativa como a
hemorragia aguda gastrointestinal. Uma quarta situação é uma trombocitopenia
(<100.000/mm3) em pacientes com hemorragia ativa como a hemorragia aguda
gastrointestinal. Uma quinta situação seria quando o número de plaquetas é normal,
mas são consideradas disfuncionais.
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6.4 - PLASMA FRESCO CONGELADO

As indicações para o uso do plasma fresco congelado são restritas e


correlacionadas a sua propriedade de conter as proteínas da coagulação. O
componente deve ser usado, portanto, no tratamento de pacientes com distúrbio da
coagulação, particularmente naqueles em que há deficiência de múltiplos fatores e
apenas quando não estiverem disponíveis produtos com concentrados estáveis de
fatores da coagulação e menor risco de contaminação viral (BRASIL, 2008, p. 38).
Razouk; Reiche (2004) ressaltam que o uso do PFC deve ser considerado
nas seguintes situações: coagulopatia congênita ou adquirida, com sangramento
ativo e previamente a procedimentos invasivos; transfusão maciça de hemácias
associada à deficiência da coagulação; reversão rápida da anticoagulação pela
warfarina; deficiência congênita de fator II, V, VII, X, XI ou XIII, com sangramento
anormal; púrpura trombocitopenia trombótica (PTT); deficiência da antitrombina III,
cofator II de heparina, proteína C ou proteína S (texto digital).

6.5 - CRIO PRECIPITADO

As principais indicações da transfusão de crio são no tratamento da


hemofilia A, doença de Von Willebrand, deficiência de fibrinogênio congênita ou
adquirida, deficiência de Fator XIII e complicações obstétricas ou outras situações
associadas com o consumo de fibrinogênio, a coagulação intravascular disseminada
(CIVD). Seu uso também é benéfico no tratamento da tendência hemorrágica
associada à uremia.

Em cirurgias cardíacas, portadores de disfunção plaquetária decorrente


de insuficiência renal poderão se beneficiar com a transfusão pré-cirúrgica de crio,
devido ao aumento do fator de Von Willebrand. No período pós-operatório, a infusão
de crio está indicada no sangramento devido à hipofibrinogenemia. Deve ser
administrado na dose de uma bolsa/10 kg de peso do paciente (RAZOUK; REICHE
2004, texto digital).

6.6 - ADMINISTRAÇÃO DOS HEMOCOMPONENTES

Tem sido amplamente demonstrada à evolução no diagnóstico e


tratamento das doenças onco-hematológicas, onde a transfusão dos concentrados
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de hemácias (CH) e plaquetas (CP) tem papel de destaque, garantindo aumento dos
índices de sobrevida e cura dos pacientes.
Fidlarczyk e Ferreira (2008, p.59) orienta que não se deve realizar a
transfusão enquanto se administram anfoterecina B e quimioterápicos ao cliente.
Deve-se manter, sempre que possível, um intervalo mínimo de 30 minutos entre a
transfusão e a administração desses medicamentos e ressaltam que nenhum fluido
ou medicação que não seja salina a 0,9% deve ser aplicado juntamente com a
transfusão. O uso de soluções em cirurgias, como Ringer lactato, que contem cálcio
pode causar formação de pequenos coágulos, e o uso de fluidos, como dextrose a
5%, pode resultar em hemólise.
De acordo com Sweeney; Rizk (2005, p.30) os sinais vitais devem ser
verificados antes e após a transfusão, ou a qualquer momento, se ocorrer uma
reação. A duração de uma transfusão de concentrado de hemácias é de
preferencialmente 1 hora e meia, mas não deve exceder 4 horas.
A taxa inicial para transfusão de concentrado de hemácias deve ser
estabelecida em 1-2 ml/min, por aproximadamente 15 minutos, de modo que possa
detectar e tratar qualquer evento súbito e inesperado, como uma reação hemolítica
aguda, sépsis bacteriana ou anafilaxia (SWEENEY; RIZK, 2005, p.31). Nesse
período deve ser feito uma observação e questionamento ao paciente para avaliar
se está tendo algum desconforto.
Fidlarczyk e Ferreira (2008, p.60) destaca que pacientes com
necessidade de reposição volêmica (grandes hemorragias e politraumatizados),
deve-se transfundir rapidamente, com gotejo livre, já para pacientes cardiopatas,
nefropatas, idosos e crianças, os mesmos autores apontam que se deve transfundir
lentamente, respeitando as condições hemodinâmicas. Esses pacientes, sempre que
possível devem permanecer sentados durante a transfusão.
Verrastro, Lorenzi e Neto (2005, p 256) ressaltam que devido à
manipulação do produto no momento da infusão e pela manutenção do mesmo à
temperatura ambiente, aumenta-se o risco de crescimento bacteriano. Dessa forma
nenhuma infusão deverá ocorrer num período superior a 4 horas.
As transfusões de plaquetas conforme Sweeney; Rizk (2005, p.31) são
administradas de forma mais rápida, por um período de 15-30 minutos, o que
eventualmente pode resultar na ocorrência de reações febris ou urticariformes nos
pacientes.
17

Os mesmos autores comentam que para outros hemocomponentes como


plasma ou crio precipitado, a velocidade de infusão deve ser adequada a fim de
atingir os objetivos clínicos desejados, alem de ser consistente com a tolerância do
paciente ao aumento do volume intravascular.
Para Fidlarczyk e Ferreira (2008, p.61) o uso de bombas infusoras em
transfusão deve ser restrito aos clientes com extrema necessidade de controle de
volume e velocidade de infusão. Em pediatria e neonatologia costuma-se usar
bomba de seringa (p.62).
A bomba infusora e o equipo devem ser apropriados para transfusão. Não
se deve usar bombas com roletes ou modelos que exerçam pressão não controladas
nos hemocomponentes, devido a risco de hemólise. Podem ser usadas bombas
peristálticas, desde que a pressão exercida não ultrapasse 100mmHg.
No entanto para Carvalho et al (2007, texto digital), testou três diferentes
tipos de bombas infusoras e três diferentes velocidades e não houve hemólise
significativa relacionada ao processo de infusão de concentrado de hemácias com
até dez dias de armazenamento e produzidos com SAG-Manitol, utilizando os
equipamentos de infusão, (Nutrimat II – B. Braun, Volumed μVP 5005 – Archemed e
Infusomat Compact – B. Braun), independente do tempo e velocidade de infusão.
Com relação aos filtros, são utilizado dois tipos de filtro para a transfusão
de sangue: o filtro de 170 µm é um filtro que remove grandes coágulos de qualquer
produto sanguíneo, é utilizado nos equipos comuns de transfusão de sangue, e deve
ser utilizados para transfusão de todos os componentes sanguíneos.
Os filtros para depleção de leucócitos são projetados para remover
leucócitos viáveis do concentrado de hemácias e de plaquetas. Esses filtros podem
ser utilizados para impedir reações transfusionais febris não hemolíticas.

6.7 - REAÇÕES TRASFUSIONAIS

Fidlarczyk e Ferreira (2008) define reações trasfusionais ou reações


adversas à transfusão como:

Um transtorno clínico relacionado ou consequente à infusão de


componentes ou derivados sanguíneos. Trata-se de um evento
indesejado que, muitas vezes, pode ser evitado ou prevenido (p.75).
Para tanto se faz necessário o cumprimento das normas técnicas, a
avaliação precisa das condições clinicas do receptor e a indicação
correta da transfusão e dos procedimentos especiais (p.76).
18

No entanto apesar da indicação precisa e administração correta, reações


às transfusões podem ocorrer (BRASIL, 2008, p.109). Todos os profissionais de
enfermagem envolvidos na assistência ao cliente, que recebe transfusão sanguínea
devem estar capacitados a saber reconhecer quaisquer sinais e sintomas que
indiquem a ocorrência de uma reação transfusional e também os cuidados e
procedimentos adequados para o atendimento desses clientes.
Fidlarczyk e Ferreira (2008, p.77), ressaltam que qualquer sinal ou
sintoma que apareça após a instalação do hemocomponente deve ser considerado
como reação transfusional, até que seja descartada essa hipótese. É importante
observar o cliente, mesmo após o término da transfusão, pois algumas reações
podem ocorrer muitas horas após o término da transfusão.
As reações transfusionais são classificadas como reações transfusionais
imediata, ou tardia. Reação transfusional Imediata é aquela que ocorre durante a
transfusão ou até 24 horas após o seu término. Reação transfusional tardia é aquela
que ocorre 24 horas após realização da transfusão e pode demorar dias e até meses
para se manifestar.

6.8 - REAÇÃO FEBRIL NÃO HEMOLÍTICA

Caracteriza-se pela elevação da temperatura corporal, durante ou após a


transfusão, sem associação a nenhuma outra causa. O aumento da temperatura é
de 1°C ou mais em relação à temperatura verificada antes do inicio da transfusão. O
cliente apresenta também tremores, calafrios e por vezes cianose das extremidades,
também faz parte desse quadro e podem ter intensidades variadas. A conduta clinica
objetiva interromper o quadro febril e o desconforto causado pelos tremores e
calafrios. Esse é o tipo de reação mais comum e, apesar de ser extremamente
desconfortável, não costuma apresentar risco de morte ao cliente (FIDLARCZYK;
FERREIRA, 2008, p.78).

6.9 - REAÇÃO HEMOLÍTICA IMEDIATA

É uma reação aguda, geralmente ocasionada pela infusão de componente


eritrocitário incompatível com o receptor. Fidlarczyk e Ferreira (2008, p.81) ressalta
que esse tipo de reação ocorre na maioria das vezes, por erro de identificação da
amostra, do hemocomponente, ou do cliente.
19

O quadro clínico apresenta-se com febre, calafrios, tremores, vômitos, dor,


dispneia, hipotensão e taquicardia, podendo evoluir para falência renal, coagulação
intravascular e óbito.
6.10 - REAÇÃO ALÉRGICA LEVE E REAÇÃO ALÉRGICA MODERADA

São reações devidas a uma hipersensibilidade cutânea do receptor a


substancias solúveis no plasma do doador. Caracterizam-se por prurido, rash
cutâneo, maculas e papulas, geralmente, não são acompanhadas de febre.
Segundo os mesmos autores, a conduta clinica objetiva interromper o
quadro alérgico e os sintomas indesejáveis, que em geral, são facilmente revertidos.
Fidlarczyk; Ferreira (2008, p.84), comentam que em caso de urticarias leves, pode-
se reiniciar a transfusão após o tratamento e o desaparecimento dos sintomas,
desde que não ultrapasse o tempo máximo de quatro horas do inicio da transfusão.

6.11 - REAÇÃO ALÉRGICA GRAVE E ANAFILÁTICA

A reação alérgica grave é uma reação de hipersensibilidade imediata,


desencadeada, pela exposição do receptor sensibilizado a substancias solúveis no
plasma do doador, a diferença entre a reação alérgica leve e moderada é a
gravidade dos sinais e sintomas.
Ocorre logo após o inicio da transfusão, porém pode apresentar até duas
a três horas do seu término. Geralmente, quanto mais precoce for a sua instalação
mais severo é o quadro.
Conforme Fidlarczyk; Ferreira (2008, p.85) o quadro clinico apresenta-se
com prurido, urticaria, eritema, angioedema, náusea, vomito, diarreia, dispneia,
estridor, ansiedade, cianose, broncoespasmo, edema de glote, hipotensão, perda
de consciência, choque e óbito.
Os mesmos autores destacam que se houver a detecção precoce da
ocorrência desse tipo de reação e o inicio imediato do tratamento garantem a
manutenção de vida do cliente, pois dessa maneira a evolução é benigna, com
resolução total do evento.

6.12 - LESÃO PULMONAR AGUDA RELACIONADA À TRANSFUSÃO


(TRALI)

A lesão pulmonar aguda relacionada à transfusão (TRALI), apresenta-se


com um quadro clinico semelhante ao do edema pulmonar, porém sem uma causa
20

cardiogênica associada. O receptor do hemocomponente apresenta insuficiência


respiratória aguda e imagem radiográfica que sugerem edema pulmonar, sem
evidencia de falência cardíaca.
De acordo com Fidlarczyk; Ferreira (2008, p.88), o quadro pode instalar-
se com a transfusão de pequeno volume de sangue, o que descaracteriza a
sobrecarga volêmica. Este quadro, geralmente, instala-se nas primeiras 6 horas
após o inicio da transfusão.
Os mesmos autores ressaltam que os sinais e sintomas da TRALI, são
grave desconforto respiratório (com hipóxia), hipotensão e edema pulmonar bilateral.
Em alguns casos há febre associada ao quadro.
Para Verrastro; Lorenzi e Neto (2005, p.283) a manifestação clínica é
semelhante ao edema agudo de pulmão na ausência de alterações cardíacas. A
transfusão deve ser interrompida e o paciente receber medidas de suporte gerais,
sendo às vezes necessário o uso de ventilação assistida.

6.13 - SOBRECARGA VOLÊMICA

Para Verrastro; Lorenzi e Neto (2005, p.279) decorre do súbito aumento


de volemia geralmente num paciente cardiopata. A infusão rápida de volume não é
bem tolerada em idosos, crianças e clientes com comprometimento cardíaco,
pulmonar ou renal, indivíduos anêmicos crônicos também não toleram esse
aumento.
Conforme Fidlarczyk; Ferreira (2008, p.88) quadro clínico dessa reação
apresenta-se com dispneia, cianose, taquicardia, elevação da pressão arterial e
edema pulmonar.

6.14 - REAÇÃO POR CONTAMINAÇÃO BACTERIANA

Embora seja baixa a frequência da contaminação bacteriana dos


componentes sanguíneos, esse tipo de reação séptica pode ocorrer rapidamente e
levar o paciente a óbito. São causadas por uma endotoxina produzida por bactérias
capazes de crescer em temperaturas baixas.
Os sinais e sintomas clínicos de reação séptica, geralmente surgem
durante a transfusão ou cerca de trinta minutos após o inicio. As principais
manifestações são: secura e rubor da pele do paciente, febre, hipotensão, tremores,
calafrios, dores musculares, vômito, cólica abdominal (HARMENING 2006, p.388)
21

6.15 - REAÇÃO HEMOLÍTICA TARDIA

Ocorre quando as hemácias transfundidas induzem a uma resposta


imunológica, formando no receptor, anticorpos que vão provocar hemólise, dias ou
semanas após a transfusão. O quadro clínico é composto de febre, icterícia, queda
da hemoglobina e não aproveitamento da unidade transfundida. Deve-se suspeitar
dessa reação sempre que houver aproveitamento transfusional inadequado, ou febre
sem outra causa associada, mesmo na ausência de icterícia (FIDLARCZYK;
FERREIRA, 2008, p.103).

6.16 - PÚRPURA PÓS TRANSFUSIONAL

De acordo com Fidlarczyk e Ferreira (2008, p.106) a ocorrência dessa


reação é muito rara, a literatura internacional, apresenta apenas cerca de 200 casos
relatados.
Caracteriza-se pelo aparecimento e autolimitado de plaquetopenia, 5 a 10
dias após o episódio transfusional, decorre do desenvolvimento de anticorpos
específicos, contra antígeno plaquetario após a transfusão.
A trombocitopenia pode atingir níveis severos (<10.000\mm3), e
geralmente não responde a transfusões de plaquetas randomizadas.
O quadro é em geral autolimitado, com resolução em cerca de 3
semanas. A púrpura pós transfusional pode levar a óbito, por sangramento no
sistema nervoso central, cerca de 10% a 15% dos clientes acometidos
(FIDLARCZYK; FERREIRA, 2008, p.106).

6.17 - TRANSMISSÃO DE DOENÇAS INFECCIOSAS

Transmissão de doenças infecciosas, como Hepatites pós transfusional,


Herpes, Malaria, Sífilis, Doença de chagas, HIV e outras, são consideradas reações
transfusionais tardias (FIDLARCZYK; FERREIRA).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de todos os avanços tecnológicos, a produção de


hemocomponentes e hemoderivados, ainda depende das doações de sangue.
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2007), a população não doa sangue
regularmente, devido a alguns mitos e principalmente a falta de comprometimento e
conhecimento do verdadeiro valor do gesto da doação de sangue. Embora o
22

Governo Federal, através do Ministério da Saúde, tenha envidado esforços para que
a população se envolva mais no processo de doação de sangue, com ações
educativas e de mobilização social, ainda assim, o número de doadores de sangue
não supre a demanda para as reais necessidades de produtos hemoterápicos no
país.
A transfusão de sangue e hemocomponentes é uma tecnologia relevante
na terapêutica moderna. Usada de forma adequada em condições de agravos da
saúde pode salvar vidas e melhorar a saúde dos pacientes. Porém, assim como
outras intervenções terapêuticas, pode levar a complicações agudas ou tardias,
como o risco de transmissão de doenças infecciosas entre outras complicações
clínicas. O uso de sangue e hemocomponentes é uma prática cara para o SUS, que
necessita e utiliza tecnologia de ponta e recursos humanos altamente
especializados, e tem seu fornecimento diretamente relacionado à doação voluntária
e altruísta. Tais particularidades tornam indispensável a racionalização na utilização
dos hemocomponentes, considerando sempre a segurança do doador, do receptor e
a disponibilidade de acesso.
O perfil dos candidatos à doação de sangue, com o passar do tempo vem
sendo modificado devido ao seguimento evolutivo da hemoterapia e, também pelo
sistema de seleção dos candidatos. Todo processo na obtenção do sangue é
fundamentado por normas e leis cujo objetivo principal é garantir a segurança
transfusional e a qualidade do sangue, enquanto que, até o fim da década de 80,
manter o estoque de sangue era o que importava (COVAS; TANGHI; BORDIN,
2007).
Mesmo no século XXI, ainda é necessária a doação de sangue, e de
forma consciente, responsável e saudável, pois não há um substituto para esse
tecido. Nesse sentido, apesar da evolução técnico-científica, ainda torna-se
substancial a efetivação de políticas públicas voltadas à doação de sangue a fim de
facilitar o suprimento dos estoques e de contribuir para a melhoria da qualidade do
sangue a ser transfundido.
Acredita-se que por meio da informação, educação em saúde e
conscientização, e considerando a educação como um valioso instrumento de
transformação social, busca-se tornar a sociedade um doador coletivo de sangue e
co-responsáveis pelo processo da doação.
23

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