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Tradução ou interpretação?

Essa pergunta se impõe porque sempre se discutiu o caráter e a

qualidade da Septuaginta. Existem pontos de vista extremamente diferentes

sobre essa versão, de um lado estão aqueles que enfatizam seu caráter

hebraístico, do outro, aqueles que a consideram um documento teológico por si

só, um produto da helenização e, portanto, alienado de sua fonte. 1 Mas, Anneli

Aejmelaeus, ambas as visões são extremas e não podem ser verdadeiras ao

mesmo tempo.2 Essa autora acredita que a melhor maneira de entender uma

tradução é olhar o texto de origem com o olhar do tradutor.3 Mas, não apenas

isso, é preciso ter em mente que a tradução é um ofício complexo que envolve

elementos que vão além das questões da gramática, os quais implicam no

resultado final do trabalho do tradutor. Assim, uma tradução sempre

apresentará algumas mudanças ou transformações, e a Septuaginta não é uma

exceção a esse respeito.4 Além disso, ao se descrever a atividade do tradutor, é

preciso sempre ter em mente a solução alternativa para as discrepâncias, entre

sua tradução e o texto original. No caso da Septuaginta, acredita-se que o texto

fonte hebraico usado pelos tradutores diferia do texto hebraico conhecido por

nós.5 E, nesse caso, deve-se encontrar a fronteira entre a atividade interpretativa

e as discrepâncias causadas por um texto fonte diferente.6 E, assim tentar

discernir os passos dados pelos tradutores e a motivação por trás deles.7 É óbvio

que os vários tradutores da Septuaginta - cada um de seu modo individual - às

vezes se afastaram do procedimento estrito palavra por palavra, a fim de

expressar sua compreensão do texto fonte e, ao fazê-lo, ocasionalmente

1
AEJMELAEUS, Anneli. Levels of interpretation: tracing the Trail of the Septuagint Translators. In:
Helsinki Collegium for Advanced Studies, 2012, p.5.
2
AEJMELAEUS, 2012, p.5.
3
AEJMELAEUS, 2012, p.15-16.
4
AEJMELAEUS, 2012, p.6.
5
AEJMELAEUS, 2012, p.6.
6
AEJMELAEUS, 2012, p.6.
7
AEJMELAEUS, 2012, p.6.
revelavam uma motivação diferente da linguística.8 Mas nesses casos, não se

deve procurar saber se houve interpretação, reinterpretação e adaptação do

texto a novas situações, mas discutir como reconhecer diferentes tipos de

interpretação ou distinguir entre diferentes níveis de interpretação no trabalho

dos tradutores da Septuaginta.9 Ao falar de interpretação em relação à tradução,

existem essencialmente dois aspectos diferentes da tarefa do tradutor que

podem ser chamados de "interpretação". Eles podem ser descritos como a

entrada e a saída - ou decodificação e recodificação - a primeira visando à

compreensão do texto fonte e a segunda expressar essa compreensão no idioma

de destino.10 Ambos os aspectos devem ser levados em consideração na

tentativa de definir níveis de interpretação.11 Prosseguir além dessa dicotomia

básica é complicado pelo fato de a palavra “interpretação” ser usada de maneira

diferente e com conotações diferentes.12Se "interpretação" é entendida como

decodificação e recodificação, a palavra é usada em um sentido muito amplo.13

Anneli Aejmelaeus procurou explicar isso:14


O nível mais básico de interpretação consiste na decodificação
linguística do texto fonte, ou seja, identificar os itens lexicais e
analisar as formas gramaticais utilizadas. Esta é uma parte inerente e
evidente de toda a tradução. É obrigatório, por assim dizer. Antes que
a tradução possa ser formulada no idioma de destino, o tradutor deve
ler e entender o texto fonte. No caso do hebraico e de outros textos de
origem semítica, a leitura do texto pressupõe vocalização dos
caracteres consonantais e isso acompanha a identificação de itens
lexicais e a análise de formas gramaticais de conjugação verbal ou
declinação nominal. As palavras não podem ser pronunciadas antes de
serem identificadas. Em todas as línguas, existem homônimos e formas
gramaticais que podem ser confundidos, mas no caso de um sistema de
escrita consonantal, a sobreposição é muito maior, pois as diferenças
nas vogais não aparecem por escrito. Isso também significa que a

8
AEJMELAEUS, 2012, p.6.
9
AEJMELAEUS, 2012, p.6.
10
AEJMELAEUS, 2012, p.6.
11
AEJMELAEUS, 2012, p.6-7.
12
AEJMELAEUS, 2012, p.7.
13
AEJMELAEUS, 2012, p.7.
14
AEJMELAEUS, 2012, p.7.
confusão de consoantes individuais pode facilmente produzir leituras
alternativas (...)

Aejmelaeus apresentou como exemplo as três consoantes hebraicas: “‫ ”מטה‬que

podem significar várias coisas: um substantivo "uma cama" (pronuncia-se

mitta); "um bastão, uma vara" (se pronunciado fosco); ou um advérbio "inativo"

(se pronunciado fosco); ou um verbo "balançar" (part. fem. ‫ ;טוט‬se pronunciado

matta) ou "pervertido" (part.masc. ‫ ;נטה‬se pronunciado fosco).15 Os tradutores da

Septuaginta, que tinham apenas o texto consonantal à sua frente,

frequentemente tinham que fazer escolhas entre interpretações alternativas do

texto de origem.16 Se a tradução for comparada com a posterior vocalização do

Texto Massorético, podemos ver que foi possível chegar a resultados diferentes.

E, aqui mais uma vez Aejmelaeus nos brinda com um excelente exemplo em

Gênesis 47.31:17

Na cabeça ‫עַל־ר ֹאׁש‬ ἐπὶ τὸ ἄκρον No topo

Da cama ‫הַ ִּמטָּה‬ Τῆς ῥάβδου De/pessoal

Αύτου Dele

A passagem é sobre Jacó na velhice; é nela dito que Jacó "se inclina", e esse

movimento é modificado pela frase: ָּ‫עַל־ר ֹאׁשָּהַ ִּמטה‬

Alguns tradutores escolheram o “cajado” e formularam: “Jacó se curvou em

cima do seu "cajado", ou seja, apoiando-se em seu cajado, enquanto o Texto

Massorético vocalizou o texto como "na cabeceira da cama", ou seja, apoiando-

se em seu travesseiro.18 Para Aejmelaeus, ambos as traduções fazem sentido

15
AEJMELAEUS, 2012, p.7.
16
AEJMELAEUS, 2012, p.7.
17
AEJMELAEUS, 2012, p.7.
18
AEJMELAEUS, 2012, p.8.
dentro do contexto.19 A outra opção nesse contexto diz respeito ao substantivo

‫“ – ר ֹאׁש‬cabeça”, que em hebraico pode se referir à parte superior, ao topo ou ao

cume dos seres vivos ou objetos etc.20 “Para um linguista, esse é outro tipo de

escolha, mas para um tradutor sem dicionário, talvez não faça diferença se ele tivesse

que escolher entre homônimos ou usos diferentes do mesmo léxico”.21

Aejmelaeus acredita que grande parte do conteúdo da Septuaginta foi resultado

de uma tradução palavra por palavra, na qual o tradutor permitiu que os

resultados de sua decodificação básica do texto fonte hebraico fluíssem para o

texto grego sem nenhum esforço especial.22 Ele se apega ao mínimo do que um

tradutor pode fazer: relatando na língua-alvo sua decodificação básica da fonte,

usando significados básicos e representações padrão de itens lexicais e formas

gramaticais.23 Isso não significa necessariamente tradução atomística, uma vez

que o contexto desempenha um papel na escolha entre as alternativas. 24Mas,

como sabemos, o problema com essa tradução palavra por palavra - ou forte

ênfase na equivalência formal - é que a soma dos detalhes no texto de destino,

não importa quão fielmente cada item tenha sido reproduzido, não seja

necessariamente - ou: provavelmente não é - o mesmo que era no texto de

origem.25 Ou seja, a mensagem está predestinada a mudar.26Mas qual é o papel

das mudanças semânticas na definição da interpretação no sentido mais

específico? Uma mudança semântica é sempre um sinal de atividade

interpretativa especial? A resposta de Aejmelaeus é um sonoro “não”. 27 Para

essa autora, a atividade interpretativa do tradutor não excede o nível de

decodificação linguística do texto, mesmo que uma mudança semântica possa

19
AEJMELAEUS, 2012, p.8.
20
AEJMELAEUS, 2012, p.8.
21
AEJMELAEUS, 2012, p.8.
22
AEJMELAEUS, 2012, p.8.
23
AEJMELAEUS, 2012, p.8.
24
AEJMELAEUS, 2012, p.8.
25
AEJMELAEUS, 2012, p.8.
26
AEJMELAEUS, 2012, p.8.
27
AEJMELAEUS, 2012, p.8.
ser observada.28 Ela também ressaltou que esses tipos de mudanças no

significado não estão sob o controle do tradutor:29


Nesse outro grupo de casos em que o tradutor podia escolher entre
alternativas, ele tinha um papel um pouco mais ativo, mas mesmo essa
atividade permanece no nível básico de interpretação, representando
uma etapa obrigatória de decodificação da fonte. Isso diz respeito tanto
às escolhas corretas quanto às incorretas entre as alternativas
existentes

O nível básico de interpretação foi o nível em que grande parte da tradução

antiga, especialmente a tradução da bíblia, tem sua ênfase principal.30 Era uma

atitude comum que uma tradução exata pudesse ser alcançada seguindo o texto

fonte palavra por palavra, mantendo a ordem das palavras.31 Essa nunca foi,

porém, uma política consciente para os tradutores da Septuaginta, mas apenas

um tipo de "técnica fácil".32 Mas era uma política consciente para Áquila.33 Para

ele o procedimento palavra por palavra era um método conscientemente

escolhido que visava levar o leitor literalmente à fonte hebraica, com o objetivo

de que a exegese do texto grego fosse idêntica à do texto hebraico. 34Nesse

sentido, a tradução de Áquila pode ser caracterizada como interlinear.35 Mas a

Septuaginta, em geral, não merece ser chamada de interlinear.36 Pois os desvios

do método de interpretação palavra por palavra são numerosos demais para

permitir essa caracterização.37 Como podemos ver, a interpretação no nível de

codificação é mais básico. Mas como seria a interpretação no nível da

recodificação? Pode-se dizer que se a tradução palavra por palavra visa

reproduzir a forma do texto de origem no idioma de destino, mesmo ao custo

28
AEJMELAEUS, 2012, p.8.
29
AEJMELAEUS, 2012, p.8.
30
AEJMELAEUS, 2012, p.9.
31
AEJMELAEUS, 2012, p.9.
32
AEJMELAEUS, 2012, p.9.
33
AEJMELAEUS, 2012, p.9.
34
AEJMELAEUS, 2012, p.9.
35
AEJMELAEUS, 2012, p.9.
36
AEJMELAEUS, 2012, p.9-10.
37
AEJMELAEUS, 2012, p.10.
do significado, a tradução idiomática visa preservar o significado ao custo da

forma.38 São essenciais para essa estratégia de tradução as mudanças semânticas

no nível do vocabulário.39 Por exemplo, a palavra hebraica “‫ ”ׁשלום‬-“paz”, “bem-

estar” ocorre em Êxodo 18.7 no sentido de "perguntar sobre a paz de alguém",

significando "cumprimentar":40

E eles ‫וַיִּ ְׁׁשאְָּׁלּו‬ Καὶ ἠσπάδαντό E eles

perguntaram cumprimentaram

Um homem seu ‫איׁשלרעֵהּו‬


ֵ ἀλλήλους Um ao outro

vizinho

Sobre paz ‫לׁשלֹום‬

Como podemos ver, temos uma tradução muito idiomática - incluindo os

pronomes "um" - "outro". Quase não existe correspondência formal entre os

dois textos. Mas a mudança semântica diz respeito apenas ao vocabulário e não

às informações transmitidas pela cláusula.41 Aejmelaeus apresentou outros

exemplos tentando mostrar que alguns níveis de traduções podem ser afastar

da redação da fonte, e envolver mudanças ou alterações semânticas ou itens

adicionais, mas revelando uma conexão clara com o texto fonte. Mas há casos

em que essas mudanças são motivadas por uma realidade externa do texto, por

exemplo, a prática religiosa da comunidade etc.42 Além disso, é preciso entender

como o tradutor leu o texto de origem e o que esse texto significava para ele e

seus contemporâneos.43Talvez seja nessa perspectiva que José Luis Sicre

assevera: “no ambiente helenístico de Alexandria, do mesmo modo que em outras

38
AEJMELAEUS, Anneli. Levels of interpretation: tracing the Trail of the Septuagint Translators. In:
Helsinki Collegium for Advanced Studies , 2012, p.10.
39
AEJMELAEUS, 2012, p.10.
40
AEJMELAEUS, 2012, p.10.
41
AEJMELAEUS, 2012, p.11.
42
AEJMELAEUS, 2012, p.15-16.
43
AEJMELAEUS, 2012, p.15-16.
culturas antigas, inclusive muito distantes, falava-se de concepção virginal para

sublinhar a importância do personagem que nasceria”.44 Sicre ainda completou “neste

ambiente, não tem nada de raro que o tradutor da Septuaginta, para acentuar o caráter

excepcional do Emanuel, o faça nascer de uma virgem (...)”.45

44
SICRE, José Luis. De Davi ao Messias: textos básicos da esperança messiânica. Petrópolis RJ: Vozes,
2000, p.189.
45
SICRE, 2000, p.190.

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