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Resumo
tais alunos. Para tanto, este artigo procura apresentar uma descrição e
deï¬ ciência intelectual não permita sua reversão completa, uma vez
Palavras-chave
especializada – Inclusão.
Contato:
daisygyn7@gmail.com
de Pós-Graduação em Educação
em fevereiro de 2012.
Educ. Pesqui., São Paulo, v. 38, n. 04, p. 935-948, out./dez. 2012. 935
Potential downsides and upsides of the education of
pupils with intellectual handicap*
Abstract
Keywords
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daisygyn7@gmail.com
processo e um contexto para a promoção da estudo buscou elencar o máximo possível de in-
mana. Das interações próprias ao contexto es- emocional e social –, a ï¬ m de traçar direciona-
colar, acaba sendo evidenciada a diversidade mentos pedagógicos que promovam a efetiva
cessidade de práticas de ensino e de interação grá ï¬ ca de um tema tão especí ï¬ co como a ca-
que sejam tanto pluralizadas como individuais. racterização da de ï¬ ciência intelectual, por si
Tal aspecto, além de ser fascinante por desve- só, já é importante, bem como sua associação
lar a especi ï¬ cidade humana, torna a educação a práticas educacionais que viabilizem ações
escolar um desa ï¬ o perante a promoção integral efetivas e evitem ações com forte potencial de
o aluno que possui de ï¬ ciência intelectual não é propósito de evidenciar o dé ï¬ cit no nível cog-
diferente, mesmo que as características próprias nitivo e minimizar a associação errônea com as
desse quadro impeçam a aquisição su ï¬ cien- doenças mentais (SASSAKI, 2005). Assim, com
te dos conteúdos propostos pelos programas este estudo, pretendeu-se detalhar aspectos da
curriculares. A pessoa com de ï¬ ciência intelec- de ï¬ ciência intelectual que in fluenciam os pro-
tual possui condições estruturais e funcionais cessos de desenvolvimento e aprendizagem no
que comprometem a adaptação ao ambiente e contexto escolar, via descrições técnicas, teóri-
a ampla aquisição de informações. Nesse caso, cas, cientí ï¬ cas e re flexivas. Além disso, visou-
o processo de ensino-aprendizagem tradicio- -se propor sugestões teóricas, técnicas e críticas
nal das escolas passa a ser insu ï¬ ciente para a (análises re flexivas) que possam potencializar o
promoção educacional do aluno, de modo que trabalho educacional geral junto ao aluno com
manas não podem ser tomadas como cristaliza- impedimento, ou seja, como uma limitação em al-
das (ou ï¬ xas), uma vez considerado o poder da gum nível que compromete determinados desem-
ração de de ï¬ nições claras referentes aos qua- ï¬ cit, uma perda ou uma anormalidade (no senti-
dros especíï¬ cos das di ï¬ culdades, para que es- do estrutural, estatístico, e não cultural, como nas
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intelectual é um tipo singular de de ï¬ ciência, com além de limitações adaptativas em pelo menos
suas características e distinções em relação às de- duas das seguintes habilidades: comunicação,
mais de ï¬ ciências; por isso não se fala em pesso- autocuidado, vida no lar, interação social, saú-
Quanto a essas peculiaridades termino- trabalho. Outro critério para sua identi ï¬ cação é
lógicas, ainda, faz-se necessária a distinção a manifestação antes dos 18 anos de idade.
fusão com a doença mental, sendo que esta momentânea, de atuação especí ï¬ ca (AAIDD,
Saúde e a Organização Mundial da Saúde, na pessoa depressiva que sequer consegue sair de
Declaração de Montreal sobre deï¬ ciência inte- casa e, assim, encontra-se incapaz. Como evi-
De acordo com a CID-10 (OMS, 1995), não se considera a pessoa como incapaz, pois,
a Classi ï¬ cação estatística internacional de do- de pessoa para pessoa, as limitações podem va-
enças e problemas relacionadas à saúde , dos riar quanto à forma e ao grau de comprometi-
timento das faculdades que determinam o nível madas, mas justi ï¬ cadas pela peculiaridade de
global de inteligência, ou seja, das funções cog- cada sujeito. Assim, as pessoas com de ï¬ ciência
capacidade de aprender e compreender, sendo como todos os demais. Nesse sentido, conside-
funções superiores que se estabelecem a partir ra-se que a de ï¬ ciência intelectual pode até ser
do sistema nervoso central. Elas englobam as estrutural, mas não deve ser construída – ainda
capacidades de linguagem, aquisição da infor- mais pela falta de estimulação adequada, pois,
mação, percepção, memória, raciocínio, pensa- por mais severo que seja o comprometimento, a
de De ï¬ ciência Intelectual e do Desenvolvimento dade a que essa incapacidade se refere, sendo ela
como um funcionamento intelectual (QI) infe- Como o ambiente é dinâmico e o ser hu-
rior à média, havendo limitações signi ï¬ cativas mano possui potencial de adaptação e mudan-
das competências práticas, sociais e emocionais, ça, o desenvolvimento humano pode variar.
938 Daísy Cléia Oliveira dos SANTOS. Potenciais di ï¬ culdades e facilidades na educação de alunos com de ï¬ ..
ciência.
transpõe o modelo médico para uma ênfa- na de ï¬ ciência intelectual, merece destaque o
1998). Um ambiente escolar que trabalhe as curtas e simples. Devido à limitada capacidade
necessidades de cada aluno tem potencial para expressiva, ocorrem poucas interações diárias
superar di ï¬ culdades, ou ao menos para ame- que favoreçam o aperfeiçoamento, o que acaba
que um maior desenvolvimento e uma maior as não entendem muito bem o relato daquele
evolução sejam possíveis, a completa reversão com de ï¬ ciência intelectual, então ele acaba por
do quadro não o é (AAIDD, 2011; AMERICAN não insistir na fala. Entretanto, a fala é o ele-
et al., 2009; MALLOY-DINIZ et al., 2010). to dos demais processos cognitivos (CASTRO;
Vale destacar, ainda, que o quadro da ALMEIDA; FERREIRA, 2010; FLETCHER et al.,
blemas de ï¬ citária, fraco pensamento abstrato, atender a todos, mesmo quando há necessidade
restrita, baixa coordenação visuoespacial e ensino a cada criança, uma vez que as diferen-
lateralidade, esquema corporal di ï¬ cultado, ças humanas são naturais. Seguindo esse prin-
limitada atenção, limitada generalização, cípio, num processo histórico surgiu a educação
etc. Além disso, tal quadro também é marca- te uma variada gama de situações envolvendo
do por uma restrição e por um comprometi- alunos com necessidades educacionais especiais
mento dos seguintes aspectos: capacidade de (singulares), de modo que eles, em sua singula-
responsabilidade, autonomia, observância das ridade, tenham a possibilidade de desenvolver
regras sociais iniciativa ocupacional inter tanto suas capacidades cognitivas quanto as so
regras sociais, iniciativa ocupacional, inter- tanto suas capacidades cognitivas quanto as so-
dependência, segurança pessoa (presença de ciais. A perspectiva da inclusão escolar não se
do tanto com agressividade quanto com pas- ou à socialização, mas tem como proposta fa-
periência (AAIDD, 2011; CASTRO; ALMEIDA; (BATISTA; ENUMO, 2004; BRASIL, 2010; LIMA,
ASSOCIATION, 1995; FLETCHER et al., 2009; Um estudo desenvolvido por Lima (2009)
MALLOY-DINIZ et al., 2010; SÁNCHEZ, 2008; avaliou que, para 63% dos pais de ï¬ lhos com
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desenvolvimento são o principal motivo para os com a prática social. Desse modo, a partir das
ï¬ lhos estudarem na rede regular de ensino, en- considerações de Batista e Enumo (2004), Brasil
quanto 21% tiveram a socialização como moti- (2006, 2007, 2010), Castro, Almeida e Ferreira
vador. Tal estudo enfatiza a importância que a (2010), Fletcher et al. (2009), Malloy-Diniz et al.
educação escolar vem tomando em relação ao (2010), Sánchez (2008), Smith e Strick (2008) e
trabalho junto a alunos com de ï¬ ciência intelec- Vygotsky (1998), o currículo e o planejamento
tual, bem como o avanço histórico e técnico da propostos ao aluno com de ï¬ ciência intelectual
indivíduo está intimamente ligado ao processo a identidade do aluno (quem ele é, seu valor
escolar não privilegie a mera aquisição formal • sem discriminações e que promova
professor deve criar condições para que o alu- • que permita a acessibilidade ao am -
sem que estas sejam consistentemente recebi- (materiais e recursos que minimizem as di ï¬ cul-
prática (real), seja via experiência ou associação • em que, assim como em relação aos
com situações vivenciadas (BATISTA; ENUMO, demais alunos sem de ï¬ ciência, as práticas de
professor possa fazer muito no ensino escolar • com práticas motivadoras, alegres e
junto a alunos com de ï¬ ciência intelectual, al- aï¬ rmativas; com estratégias ricas em estimu-
guns conteúdos e objetivos educativos especí- lação e diversi ï¬ cadas quando necessário (por
ï¬ cos serão inatingíveis, inclusive nos casos em exemplo, recursos audiovisuais, objetos de di-
que há um nível moderado de limitações. Mais ferentes materiais, cores e texturas). Vale desta-
do que destrinchar o conteúdo curricular, deve- car que as contingências de ensino devem partir
-se priorizar aquilo que pode ser assimilado pelo de habilidades que o aluno já possui para, en-
aluno, a ï¬ nal, caso não ocorra a assimilação, tão, evoluir gradualmente naquilo que ainda é
não haverá a aquisição (aprendizagem), a me- preciso desenvolver ou adquirir. Desse modo, é
morização e, consequentemente, a recuperação possível gerar condições para que o aluno acer-
e a aplicação (CASTRO; ALMEIDA; FERREIRA, te mais do que erre, receba mais reforço imedia-
et al., 2010; SÁNCHEZ, 2008; SMITH; STRICK, a autocon ï¬ ança e o aumento de comportamen-
Mesmo que a apreensão de todo o con- • com atividades mais tranquilas nos
teúdo curricular pelo aluno com de ï¬ ciência momentos de maior enfoque nos conteúdos
intelectual seja signi ï¬ cativamente limitada, há curriculares, uma vez que o estado emocional
to de suas potencialidades, tal como propõe a de e ansiedade pode permitir maior atenção e
(Lei nº 9.394, de 1996) em relação aos objetivos • que utilize momentos – os quais con-
educacionais centrados nos processos formati- sistirão em minutos – de descanso prede ï¬ nidos
vos e no vínculo com o mundo do trabalho e e com duração de tempo necessária de acordo
940 Daísy Cléia Oliveira dos SANTOS. Potenciais diï¬ culdades e facilidades na educação de alunos com de ï¬ ..
ciência.
com as particularidades do aluno, de modo a generalização de um nível muito inferior de
temente, uma maior possibilidade de aquisição. • que utilize estratégias para o aperfei -
Nessa linha estratégica também pode ser utili- çoamento da capacidade expressiva oral, do
ou na própria casa do aluno para ele ir sempre mento, por meio de apresentação de relatos
que precisar relaxar, e onde pode haver objetos subjetivos, contação de histórias, apresentação
aluno apenas nos momentos em que isso se ï¬ - mais importantes e passíveis de efetiva compre-
zer necessário, evitando a apresentação dos co- ensão – é a denominada adaptação curricular;
sar e verbalizar sobre aquilo que está sendo motivação e o vínculo com o professor, o qual
transmitido, uma vez que, na de ï¬ ciência inte- está partilhando de aspectos pessoais do aluno;
mais por recepção do que por ativação (ação) consiste em uma abordagem natural para o desen-
– o raciocínio lógico é possível desde que es- volvimento humano, favorece o pensar e o fanta-
timulado para tal. Além disso, tal estratégia siar – até porque tal clientela apresenta dé ï¬ cit de
gera consciência perante aquilo que está em abstração e contato com a realidade objetiva;
via informações contextualizadas. Logo, o uso canetas coloridas, folhas de papel – reduzidas
• em que, mesmo sendo utilizadas es- ta, ainda, deve ser organizado de tal modo que
estabelecidas para que a memorização ocorra; aprendizagem de regras comuns para o con-
quanto maior é o comprometimento (dé ï¬ cit), vívio coletivo (por exemplo, conservação de
lação adequada/precisa também será necessária comuns que o requerem). Algumas evidências
• que estimule a curiosidade e desa ï¬ e o que possuem certo tipo de transtorno ou de ï¬ ci-
novos para reaprender e atingir um desempenho semelhante ao original. serva-se alta possibilidade e importância do
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• que utilize atividades em blocos para pode gerar uma maior ocorrência de estresse
que o aluno siga uma única instrução (aquela e sua respectiva manifestação comportamen-
própria da atividade em questão), de modo que tal. A intervenção imediata é importante por
ele não tenha outros elementos que desviem a não possibilitar a emissão de comportamentos
atenção e, assim, conclua toda a atividade, possa mais extravagantes e desvantajosos em rela-
prosseguir com as demais (tendo em vista que ção ao que é desejado num ambiente escolar
tal aluno demonstra baixa consistência no de- e social, bem como por evitar que tais com-
senvolvimento das atividades) e receba o reforço portamentos sejam reforçados (por exemplo,
• que promova não só a minimização se acalmar apenas depois de ele ter emitido
das di ï¬ culdades, como o desenvolvimento de comportamentos mais drásticos, como jogar
novas habilidades e o aperfeiçoamento de ha- objetos, gritar, levantar-se);
bilid d i i l já i V l i l i F F id
bilidades positivas que o aluno já possui. Vale • que articule inFormações Fornecidas
destacar que comportamentos desejados (por pelos familiares para, por exemplo, utilizá-las
exemplo, atenção, escrita, leitura, uso dos ma- a ï¬ m de exempli ï¬ car conteúdos curriculares
vorecidos pelo convívio com modelos de com- • que gere no aluno e na Família o in -
portamentos de alunos sem a de ï¬ ciência. Esse teresse permanente pela aprendizagem e pelo
é um dos principais aspectos que justi ï¬ cam a crescimento pessoal, uma vez que é caracterís-
escolares com a família, inclusive para incen- intensidade; além disso, há as particularidades
tivar a responsabilidade e o envolvimento dos que a personalidade impõe até mesmo no pro-
colar. Além disso, é necessário trabalhar com a • que promova interações sociais, pois o
família as competências almejadas na escola, a ser humano tem necessidade intrínseca do ou-
• que apresente comandos de alerta para ser relacional e dialógico. As interações inter-
aquilo que deve ser aprendido. Enquanto alunos pessoais também são positivas por permitirem
sem de ï¬ ciência aprendem facilmente por obser- que o aluno se reconheça como parte integrante
vação e imitação, os alunos com de ï¬ ciência in- de um grupo, tendo favorecidas sua autoestima
de, uma vez que alguns indivíduos com de ï¬ ci- riores dos alunos com de ï¬ ciência intelectual;
ência intelectual podem apresentar uma mar- • que tenha o mínimo possível de alte -
cada impulsividade e um fraco autocontrole ração nas atividades básicas (disciplinas, aten-
emocional. Além disso, tais alunos podem ter dimento educacional especializado, esportes),
942 Daísy Cléia Oliveira dos SANTOS. Potenciais di ï¬ culdades e facilidades na educação de alunos com de ï¬ ..
ciência.
obedecendo a horários regulares. Isso não sig- mento; a aquisição dos conteúdos que foram se-
tina sejam prejudiciais, mas elas devem ser bem atual; a forma como o aluno se porta e usa re-
dosadas e planejadas, principalmente quando cursos nas situações de aprendizagem; o que ele
envolverem atividades de conteúdos curricula- é capaz de fazer mesmo com a mediação de ter-
res, pois as mudanças poderão gerar indeseja- ceiros; a autonomia; a relação grupal. A avalia-
da ansiedade e insegurança. Castro, Almeida e ção não precisa ser necessariamente escrita, mas
Ferreira (2010) destacam que, nas aulas e ativi- pode ser realizada por meio do uso de indicado-
dades improvisadas, os alunos com de ï¬ ciência res de avaliação; além disso, é importante que as
intelectual tendem a ï¬ car alheios às explica- potencialidades do aluno sejam comparadas com
ções, a causar maior agitação e a demonstrar seus próprios parâmetros, e não com os resulta-
maiores reações emocionais, colocando também dos dos demais alunos da turma.
habilidades funcionais das pessoas com de ï¬ ci- Secretaria de Educação Especial, especi ï¬ ca que
ência e promover maior independência e inclu- o ensino especializado (políticas públicas, servi-
são (BERSCH, 2008). O uso de jogos favorece ços de apoio, atendimento educacional especia-
o raciocínio lógico, a função psicomotora, a lizado etc.) deve ser destinado ao aluno quando
dade perceptiva, a motivação, a solução de pro- O ensino especializado junto aos alunos
blemas, o seguimento do ritmo próprio na exe- com de ï¬ ciência intelectual deve envolver bene-
cução da atividade, o reconhecimento e o treino fícios que vão além do acréscimo dos conteúdos
sos especí ï¬ cos (por exemplo, leitura, escrita, saúde e reabilitação (BRASIL, 2006, 2007, 2010).
verbalização, coordenação motora ï¬ na) e que Uma importante marca do ensino es-
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curriculares estabelecidos no ensino comum, que não signi ï¬ ca que este deva ser construído
procurando criar condições para o aluno ultra- em conjunto (BRASIL, 2010). Ao professor do
ï¬ ciência mental
, de Batista e Mantoan (2007), sala de recursos; orientar a elaboração
dimensão subjetiva . Enquanto o conhecimento possam ser utilizados pelos alunos nas
do curricular, o AEE trabalha “a forma pela qual car e orientar o uso de equipamentos e
o aluno trata todo e qualquer conteúdo que lhe materiais especí ï¬ cos e de outros recursos
(p.20). Assim, o AEE do aluno com deï¬ ciência (ALVES; GOTTI, 2006, p. 270)
atendimento não se trata de um período extra ensino fundamental, alegam não se senti-
de reforço dos conteúdos acadêmicos ensinados rem preparados e motivados para a docência
na sala de aula comum. A perspectiva é de uma de grupos tão diversi ï¬ cados como no caso
tante para a vida acadêmica e geral do aluno. ROSSATO; LEONARDO, 2011). Entretanto,
Para desenvolver o AEE, é imprescindível como bem apontado por Dias (2010), tanto o
que o professor conheça o aluno e suas particu- ensino regular em sala de aula comum quan-
laridades (para além de sua condição cognitiva). to o AEE do aluno com de ï¬ ciência intelectual
Ele então atua de modo a desenvolver compe- não requerem uma abordagem pedagógica in-
tências que ajudem o aluno a ter autonomia in- teiramente nova e diferenciada. Por se tratar de
dade). O trabalho deve enfocar as competências supor o uso de procedimentos didáticos ditos
ais, o professor do AEE deve intervir imediata e especiais torna complexa a prática pedagógi-
consistentemente, objetivando não só a rápida ca junto ao aluno com de ï¬ ciência, sendo que aí
também a capacidade funcional (que é mais dizagem – porém, em ritmo e grau inferiores. A
permanente). Mesmo que os conteúdos do AEE inclusão escolar, nesse sentido, tem carecido mais
não precisem ser relacionados diretamente com de uma abordagem técnica do que de uma pers-
conhecer mais peculiaridades do aluno, ao pas- dizagem são possíveis em casos de de ï¬ ciência
so que o professor do AEE pode ter acesso ao intelectual, e a capacidade humana tem como
modo como o aluno se comporta na sala de aula característica intrínseca a possibilidade da mu-
comum. Essa relação cooperativa deve ocorrer dança. Com práticas de ensino e estimulação pró-
944 Daísy Cléia Oliveira dos SANTOS. Potenciais di ï¬ culdades e facilidades na educação de alunos com de ï¬ ..
ciência.
aluno com de ï¬ ciência intelectual, torna-se pos- O ensino escolar de alunos com de ï¬ ci-
sível atingir objetivos escolares fundamentais, o ência intelectual ainda é uma problemática de
que não signi ï¬ ca que o quadro de de ï¬ ciência pesquisas e estudos atuais. Entretanto, o pro-
intelectual possa ser completamente revertido, fessor, tanto do ensino regular como do ensino
dada sua determinação neurológica fundamen- especializado, não estará tateando no escuro
só, por constituir-se como processo-chave para pois muitos são os estudos e direcionamentos
a máxima formação humana e social, não po- que evidenciam possibilidades educacionais e
dendo ser negada a nenhuma pessoa, mesmo em pedagógicas (ALVES; GOTTI, 2006; BATISTA;
casos de grave comprometimento funcional e/ou ENUMO, 2004; BERSCH, 2008; BRASIL, 2006,
A educação na área da de ï¬ ciência inte- 2010; CARVALHO, 2004; DIAS, 2010; FLETCHER
lectual deve atender às necessidades educacio- et al., 2009; LIMA, 2007; MALLOY-DINIZ et al.,
nais especiais sem se desviar dos princípios bá- 2010; RIBEIRO, 2009; ROSSATO; LEONARDO,
sicos da educação proposta às demais pessoas. 2011; SÁNCHEZ, 2005; SÁNCHEZ, 2008;
Para tanto, o aluno é inserido numa abordagem SMITH; STRICK, 2008). Diante das descrições e
educacional que inclui o ensino escolar regular deï¬ nições referentes a essa temática, ao pro-
(que ocorre na sala de aula comum) e o ensino fessor é possível certa autonomia via experi-
especializado (o qual compõe o AEE e se esta- mentação pedagógica contínua, pois a partir da
belece nas salas multifuncionais). Mesmo que a observação direta (próxima) do aluno são evi-
ao aluno com de ï¬ ciência intelectual não pre- de trabalhar junto a alunos com de ï¬ ciência
cisará saber tudo sobre a de ï¬ ciência, não sen- intelectual, como destacam Carvalho (2004) e
do exigida uma habilidade técnica além de sua Mantoan (2006), não pode exclusivamente se
formação pedagógica. Desse modo, o professor restringir ao quadro clínico dessa clientela, uma
irá atualizando-se e aprendendo conforme cada vez que os próprios alunos sem de ï¬ ciência não
caso (aluno) especí ï¬ co, uma vez que o aluno conseguem obter uma apreensão de todo o con-
com de ï¬ ciência intelectual é passível dos mes- teúdo curricular, o que ocorre devido a motivos
As limitações e possibilidades educacio- etc.). Além disso, por mais dinâmico que seja
práticas pedagógicas comuns, mas exigem do não terá potencial de ação su ï¬ ciente para pro-
e particular em relação a cada objetivo escolar e Para que o ensino nesses casos seja mais
às habilidades envolvidas para que as metas se efetivo, deve-se, em suma, criar condições para
realizem. Assim, estudos de caso, planejamento a atuação ativa do aluno, o uso de situações
dos elementos importantes para a atuação do pro- teúdo curricular funcional, o trabalho de ha-
fessor junto ao aluno com de ï¬ ciência intelectu- bilidades positivas e não só a redução das li-
al, e não diferem dos princípios e das estratégias mitações, o desenvolvimento da capacidade
também utilizados com alunos sem de ï¬ ciência. de aprender (em contraposição à apreensão
Educ. Pesqui., São Paulo, v. 38, n. 04, p. 935-948, out./dez. 2012. 945
quantitativa de conteúdos) etc. Também vale ou critérios para o ensino escolar do aluno com
destacar que as intervenções escolares não se deï¬ ciência intelectual. O objetivo foi apenas
restringem aos alunos com de ï¬ ciência intelec- apontar possibilidades de ação em relação ao
tual, mas envolvem os demais alunos, como nas quadro geral e comum da de ï¬ ciência intelec-
situações em que o professor deverá atuar como tual, além de destacar a importância de estudos
mediador tendo em vista a promoção de intera- que evidenciem dados pormenorizados sobre as
O presente trabalho não teve a preten- tual e recursos técnicos para o ensino escolar
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