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Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Tecnologia

Curso: ARQUITETURA e URBANISMO

PAISAGISMO
HISTÓRIA E TEORIA I

APRESENTAÇÃO

Esta apostila foi elaborada para ser utilizada como suporte no 1*


bimestre da disciplina PAISAGISMO, do Curso de Arquitetura
da UNIMAR.

Não é o único referencial da disciplina, mas fonte de referência


dos conteúdos abordados.

Prof. Arq. Msc. Walnyce de Oliveira Scalise

Marília- SP
2010
SUMÁRIO

1. Introduzindo Questões: Paisagismo/ Paisagem

2. Paisagismo- a evolução do conceito

3. Breve Histórico do Paisagismo

4. Paisagismo no Brasil
4.1 – Desenvolvimento da Profissão no Brasil

5. Noções de Ecologia, Geografia e Botânica

6. As Espécies Vegetais e o Paisagismo

7. Materiais utilizados no Paisagismo

8. Estilos de Jardins

9. O Projeto Paisagístico
9.1- Fases preliminares
9.2- Anteprojeto
9.3- Projeto Executivo
9.4- Memoriais

Referências

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. Introduzindo questões

São emergentes as questões sobre Paisagismo e Paisagem no atual panorama de grandes


transformações ocorridas nos últimos séculos, no contexto de expansão populacional,
principalmente urbana com todo tipo de conflitos sociais, crises reais de qualidade de vida e vários
tipos de escassez. Neste universo, o Paisagismo aparece como instrumento para ações que buscam
criar respostas a uma série de problemas percebidos nas diferentes formas de organização de
espaço.

Paisagismo pode ser entendido “como um processo consciente de manejo e projeto de


lugares, considerados como segmentos específicos de uma paisagem total”, MACEDO (1992). O
campo de atuação do paisagista estende-se aos espaços livres de urbanização e aos espaços livres
de edificação, da escala do território e da região à da cidade e do lote.

O trabalho com a paisagem tem por objetivo a criação de espaços voltados para o futuro,
os lugares ideais para uma sociedade de um espaço- tempo. De acordo com MACEDO (1992), o
paisagista nas propostas de intervenção deve respeitar os três princípios básicos:
a) observação e procura da manutenção da dinâmica ecológica do lugar;
b) o atendimento prioritário às necessidades da população, tanto em termos
qualitativos quanto funcionais;
c) obedecer, criar e recriar padrões estéticos adequados à população local (presente
ou futura) e ao lugar.

“A forma pela qual a paisagem é projetada e construída reflete uma elaboração


filosófica e cultural, que resulta tanto da observação objetiva do ambiente quanto da experiência
individual ou coletiva com relação a ela.” LEITE (1993)

A Paisagem representa o universo de trabalho do paisagista. Segundo MACEDO (1992),


para a visão sistêmica na compreensão da paisagem pode-se dividir em elementos que se associam,
se transformam para permitir a criação de métodos e técnicas de avaliação. Os elementos são: o
suporte físico, nele incluindo o solo, subsolo e águas; a vegetação; as edificações e estruturas
urbanas e por fim os seres vivos podendo excluir também o ser humano.

Esses elementos poderão ser vistos separadamente, mas posteriormente deve se associar
novamente, “não se privilegia no estabelecimento de planos e projetos somente este ou aquele elemento,

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como águas ou solos adequados no estabelecimento de planos e projetos paisagísticos, mas sim a dinâmica do
lugar e suas possibilidades de interação espacial” LYLE (1985).

2. PAISAGISMO – A evolução do conceito

Num primeiro momento, é importante uma reflexão à luz da história sobre aspectos
evolutivos do campo projetual e do Paisagismo, buscando identificar arquétipos, conceitos e
enfoques que auxiliaram na consolidação do Paisagismo como disciplina e campo de atuação.
Questionamentos e pesquisas, que tenham a história como base de referência, são fundamentais no
entendimento das questões contemporâneas, principalmente se essa ciência for apreendida, não
apenas como uma sucessão cronológica e descritiva dos fatos e obras, mas se for vista como
estrutura que permita com a discussão do passado, a compreensão do presente e as possibilidades
de atuação com visão prospectiva, delineando possíveis tendências.

O campo projetual do Paisagismo em sua evolução, por tradição, acha-se fortemente


ligado à historia dos jardins. Atualmente, de maneira progressiva, vem assumindo amplas frentes
com abrangência e complexidade muito maiores, gerando uma gama de possibilidades bastante
grande tanto no campo profissional quanto no meio acadêmico e na pesquisa. Os tempos de
globalização e questões próprias ao mercado de trabalho podem acabar definindo vários circuitos
restritivos de atuação, mas é importante esclarecer que o campo projetual e disciplinar do
paisagismo ampliou-se em decorrência da própria conceituação atual de Paisagismo.

Em seu livro, El Paisage del Hombre, Geoffrey JELLICOE ( 1995) afirma


“durante os séculos XVII e XVIII, as civilizações ocidentais, originalmente sociedades
limitadas, transformaram-se em liberais. Suas bases filosóficas e legais, além do espírito
científico, propiciaram - lhes liberdade de empreendimento e mobi lidade social, bem como as
possibilidades de prosperar e expandir em escalas mais amplas do que as civilizações oriental e
central com suas bases estáticas de religião e ética. Daí por diante começou o intercâmbio
universal de idéias que finalmente elevariam as artes da paisagem de um nível local e doméstico
de projeto ao moderno conceito de planejamento abrangente”.
Aliado a isso, se avaliarmos esse quadro, tomando como referência a evolução das
conceituações de Paisagismo, citada por Catharina Cordeiro LIMA no Seminário ”Paisagismo no
século XXI” (ABAP/SP - 1999), das atas oficiais da ASLA (American Society of Landascape
Architecture), a primeira entidade corporativa da categoria que se conhece, fundada no início do
século nos Estados Unidos, será possível uma visão ainda mais acurada da progressiva ampliação e
complexidade do campo.

A primeira definição retirada das atas de 1902-1920, coloca: “A arquitetura de paisagem


é a arte de adequar a terra para uso e deleite humanos”, abordagem que se estende à profissão e

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ao campo de pesquisa. Dando continuidade, Catarina Cordeiro LIMA coloca em sua palestra “A
dimensão ecológica da Paisagem” na ABAP(1999), as definições de 1950, 72 e 75 da ASLA:

“Arquitetura da paisagem é a arte de organizar a terra e os objetos dispostos sobre


ela, para uso e deleite humanos”. (Constituição – 1950)

“Arquitetura da paisagem é a arte da aplicação de princípios científicos à terra – seu


planejamento, projeto e gerenciamento – para atender o público, a saúde e o bem-estar social,
possuindo ainda um compromisso com o conceito o manejo do território”. (Albert Fein – ASLA
1972)

“Arquitetura da paisagem é a arte do projeto, planejamento ou manejo da terra e da


organização de elementos naturais ou construídos através da aplicação de conhecimentos
culturais e científicos, relacionados ao manejo e conservação dos recursos, a fim de que o
ambiente resultante sirva a propósitos de utilização e fruição”. (Constituição – 1975)

Com os progressos sócio – culturais, inovações técnicas, a preocupação com as questões


ambientais, o paisagismo continuou ampliando gradativamente sua área de ação. Em 1983, a
definição da ASLA classificou a arquitetura da paisagem como
“a profissão que aplica princípios artísticos e científicos à pesquisa, ao planejamento
ao projeto e manejo de ambientes construídos e naturais. Os profissionais atuantes utilizam
habilidades criativas e técnicas, além de conhecimento científico, cultural e político na
organização planejada de elementos naturais e construídos . Os ambientes resultantes devem
atender a propósitos estéticos, funcionais, de segurança e fruição”.

Seguem-se extensos parágrafos detalhados, no que diz respeito às possibilidades de


atuação profissional e de pesquisa. Ainda sobre arquitetura da paisagem, segundo a ASLA – 1983,
“ pode incluir, para fins de desenvolvimento, valorização e preservação da paisagem:
pesquisa, seleção e alocação de recursos hídricos e do solo, para uso apropriado; estudos de
viabilidade; elaboração de critérios gráficos e escritos, a fim de nortear o planejamento e
projetos concernentes ao desenvolvimento territorial; elaboração revisão e análise de planos
diretores; produção de planos territoriais abrangentes, projetos de movimento de terra,
drenagem, irrigação, plantação e detalhes construtivos; especificações; orçamentos e planilhas
de custo para desenvolvimento do território; colaboração no projeto de estradas, pontes e
estruturas no tocante aos aspectos funcionais e estéticos das áreas envolvidas; negociação e
organização dos projetos para fins de execução; vistorias e inspeção de execução, restauro e
manutenção”.

Na sua evolução histórica, o Paisagismo, em dados momentos, esteve atrelado a


paradigmas muito claros, tendo em conta as diversidades do ambiente físico e da cultura, mas a
história não é linear e existem variações entre os modelos de uma determinada época, como por

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exemplo, a concepção paisagística inglesa do século XVIII e o que a França adotou, em seguida,
como sendo o “Jardin Anglais” e mesmo diferenças bastante marcantes entre os paisagistas
ingleses e os adeptos dos impulsos naturalísticos do mesmo período, que JELLICOE (1995) coloca
como “alternâncias de chegada ao projeto” , de percepções, alteração dos vetores de formas de
utilização de conceber a relação homem-natureza, da época, do local.

Diferentes culturas gerando diferentes projetos, mesmo dentro de um mesmo paradigma.


Percebe-se até mesmo no modernismo, com suas tendências predominantes, assimilações de
nuances com interpretações concomitantes. No contemporâneo, a crise de paradigmas gera uma
busca para atender as demandas, desejos e necessidades crescentes da sociedade urbana, que
motivou o aparecimento de diferentes enfoques não excludentes, na apreensão, planejamento e
projeto da paisagem.

Deu margem a uma certa especialização, contrariando visões de síntese que eram
ensaiadas no final do século passado, principalmente pelo paisagista Olmsted, o idealizador de um
grande número de parques urbanos que procurou atribuir à profissão uma dimensão mais
totalizante, compatibilizando o entendimento dos processos naturais na cidade e na região, com os
processos sócio-culturais, sem deixar de trabalhar com as possibilidades criativas na conformação
das paisagens.

A atual diversidade de linhas projetuais, que vão desde abordagens ligadas à


compreensão dos processos ecológicos até o atendimento das questões sociais e culturais; desde
formas com aparências mais naturalísticas enfatizando a valorização de dados de natureza até as
que têm resolução mais processadas e outros significados mais vinculados aos processos humanos,
“palco de sociabilidades” SEGAWA (1996).

Os processos de projeto, por seu lado, vão desde a criação individual tradicional a formas
de engajamento com participação coletiva no processo de criação. Nos Estados Unidos, essas
tendências podem ser claramente identificadas.

A primeira, com orientação ambientalista, baseada, principalmente, nos teóricos Ian


MCHARG, John Tillman LYLE, Anne SPIRN, que colocam o aprofundamento da questão ecológica e
o compromisso com uma estética ligada à agenda ambientalista. Segundo eles, a paisagem deve
ser vista não como produto, mas como processo, em uma dinâmica de evolução no tempo e no
espaço, com pesquisa de tecnologias sustentáveis, projeto com práticas de regeneração e visão da
cidade como ecossistema.
A segunda, vê o Paisagismo como arte, ligada às possibilidades de trabalho com a forma,
a estética e a simbologia no projeto e concepção do espaço. Tem como expoentes, os projetos de
Peter WALKER e de Martha SCHWARTZ.

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A terceira, parte da adequação do espaço construído ao usuário, sua participação desde o
momento da criação e busca as bases nos estudos que avaliam o desempenho do espaço
construído após a apropriação pelos usuários, orientação dos trabalhos de Lawrence HALPRIN.

O caminho do Paisagismo no Brasil é completamente diverso, pois não conta com uma
qualificação profissional claramente institucionalizada. Somente em 1998 ocorreu o I Congresso
Brasileiro de Paisagismo, de cujos trabalhos não foi possível, ainda, nenhum resultado positivo no
sentido da regulamentação da profissional, significando um entrave aos aprofundamentos
necessários, a uma função social definida e no que diz respeito à formação profissional, apesar das
diversas atitudes sérias existentes no sentido da pesquisa e do projeto.

3. Breve Histórico do Paisagismo

Toma-se a História como base de referências, auxiliando no entendimento das questões


contemporâneas, principalmente se for apreendida não como uma sucessão cronológica e narrativa
de acontecimentos mas como estrutura que permite, ao discutir o passado, a compreensão do
presente, as possibilidades de atuação e as prováveis futuras tendências .

A evolução do campo do projeto paisagístico esteve, durante muito tempo, atrelada à


história dos jardins. As cidades surgem desde 4.000 anos a.C. e, a partir de então, os jardins
passam a representar uma preocupação de caráter mais amplo que apenas o ornamental. Desde o
Neolítico existe o cuidado com a estilização, representação e contemplação da vegetação através
das cerâmicas e inscrições. Com os sumérios, os babilônicos, nos jardins suspensos de Semíramis e
nos jardins mesopotâmicos, através das formas artificiais criadas a partir de elementos naturais,
marca a adaptação da humanidade à natureza rude.

Há o antigo mito iraniano do jardim do unicórnio, guardião da árvore da vida, o jardim


greco-romano das Hespérides, com o dragão Landon. Sobre a origem dos jardins, o Gênesis traz o
Jardim do Éden e a partir daí, o homem busca o jardim perdido.
“O jardim nasceu com o homem. A primeira residência do primeiro casal foi
um jardim... A cidade é sempre o homem do primeiro jardim, mas não há meio de
achar um jardim em si mesma e vai tecendo o século com outros...” Machado de
Assis, 1895 apud SEGAWA (1996).

Na construção das primeiras cidades, a criação de ambientes especiais dotados de


significados simbólicos, a obra divina cede lugar à arquitetura dos seres humanos e o espaço da

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natureza cedia lugar aos espaços culturais da civilização. No Extremo Oriente, 2000 anos a.C., as
composições dos jardins exercem funções culturais e simbólicas paralelas à própria existência das
cidades e das arquiteturas. Enquanto a cidade realça a artificialidade, através de seu traçado
geométrico, o jardim evolui gradativamente na liberdade formal plena do jardim japonês.

Não é a síntese da cidade nem do campo, talvez fosse a expressão individual do homem
nessas sociedades rígidas e controladas, superando individualmente a função do templo e suas
grandes praças. O jardim é algo particular no interior das habitações. Nas sociedades orientais, a
tão conhecida relação Yin/Yang, criada na China ocorre também, no diálogo entre áreas edificadas e
não edificadas. O importante é o equilíbrio entre os opostos.

A tentativa de organização do entorno é uma necessidade observada no decorrer da


História da Humanidade. Inicialmente a significação simbólica e religiosa nas culturas egípcia e
persa, além de um vínculo com as práticas agrícolas, uma crescente evolução no sentido de
estilização e formalização do entorno real, onde não só as condições climáticas eram buscadas, mas
também as atividades ligadas à fruição estética e sensorial dos elementos estruturadores desse
espaço.

O conhecimento de História é importante para entendermos o porquê do surgimento de


determinadas práticas do homem, por meio de sua contextualização, entendemos seu significado.As
primeiras intervenções humanas datam aproximadamente de 30.000 a.C., na Era Paleolítica,
quando o homem utilizava as paredes das cavernas para realizar seus registros. Destes, o mais bem
conservado que se conhece está na caverna de Lascaux, no sul da França.

Na Era Neolítica, o homem aprendeu, por meio da técnica, a “dominar” a natureza; tornou
possível a criação de animais e plantas e possibilitou a sua fixação. Deixou de ser habitantes de
árvores e cavernas para criar “as aldeias”. Nesse período e até a nossa História recente, o homem
não sentia necessidade de preservação da natureza pois esta era ainda intocada. Nessa Era também
apareceram as primeiras manifestações religiosas, e é interessante lembrar que, em praticamente
todas as religiões, o Paraíso era representado por jardins que simbolizavam a vida e a morte.

Na Idade do Bronze o homem aprendeu a técnica da metalurgia e criou ferramentas e


armas. Para a confecção desses materiais foi em busca de jazidas de minerais; houve o nascimento
do comércio que culminou na expansão humana à procura de novas terras. Em torno de 2.000 a.C.
teve início a diminuição gradual das matas, com o aparecimento de grandes “clareiras”.

Os jardins ou áreas onde se cultivam plantas apareceram efetivamente nas antigas


civilizações, como Egito, Mesopotâmia, Babilônia, Grécia, Pérsia, Índia, Japão e China. Os jardins
apareceram quando o homem já vivia em cidades. Ele os utilizava tanto para a manutenção de seus

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víveres quanto para sua ostentação, sem deixarmos de mencionar seu desejo de permanecer em
contato com a natureza.

As características ambientais e regionais de cada um dos locais onde se encontravam os


jardins definiam pontos importantes de sua concepção, como podemos ver em alguns destes
exemplos:

O Egito encontra-se em uma área de solo fértil, em meio a uma região árida e desértica.
Assim, no início de sua história seus jardins desenvolveram plantas e frutos para uso de seus
proprietários. Tinham como característica a irrigação, feita por meio de canais que definiam áreas
geométricas retangulares. Nesses jardins praticava-se o cultivo de uvas, romãs, tamareiras, plantas
da flora nativa e outras importadas, como maçãs, mirra e amendoeira. Nos espelhos d‟água eram
cultivados lótus e papiro, para o fabrico de papel. Além dos jardins, os egípcios também interferiam
na paisagem com a construção de esfinges e pirâmides, que visavam à perpetuação e à glória dos
faraós, considerados representantes dos deuses na Terra.

Na Mesopotâmia, em especial a cidade de Babilônia, os jardins seguiam as mesmas


características dos encontrados no Egito. Foi na Babilônia que Nabucodonosor presenteou a
princesa dos Medas com os “jardins suspensos”, uma das “sete maravilhas do mundo”, revelando
também de forma bastante clara, a antiga intenção de preservar a ligação do homem com a
natureza.

A topografia da Grécia sugere a implantação de cidades em regiões mais altas por motivos
estratégicos de defesa, elas eram muradas. Nos bosques sagrados reverenciavam-se os deuses,
sendo estes representados por estátuas. Em suas investidas em busca de novos territórios, os
gregos assimilaram em sua cultura o gosto pela construção de jardins, e foi numa dessas investidas
que importaram da Pérsia os jardins paradisíacos. É da Grécia que se tem notícia do surgimento do
vaso com flores anuais utilizados para oferendas ao deus Adônis.

Os persas, famosos por seus jardins paradisíacos, construíram-nos para seu lazer e os
carregaram de simbologia. O cipreste, por exemplo, era o símbolo da passagem da vida para a
eternidade, e as árvores frutíferas representavam a vida e a fertilidade. Devido à necessidade de
irrigação, os jardins persas, de traçado geométrico, eram alimentados por fontes, dando forma de
cruz à irrigação. Foram os primeiros a utilizar as plantas por seu valor estético, tirando partido de
sua forma e aroma. Podemos dizer que foram os persas os criadores dos jardins como os
conhecemos hoje. Em seus jardins, as árvores como os ciprestes, plátanos e romãs, eram sempre
renovadas para que permanecessem jovens. Eram muito cultivadas flores como rosas, violetas e
jasmins.

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Os romanos, também na busca de novos territórios de dominação, importaram
principalmente da cultura grega a concepção de seus jardins. As casas romanas eram orientadas
para áreas que sugeriam amplitude como mar ou o campo. Em seus jardins, eram colocados
afrescos, fontes e topiárias (esculturas em plantas realizadas por meio da poda). Esses jardins
interavam-se à arquitetura da casa.

Os povos orientais, aqui representados pela Índia, China e Japão, apresentavam em seus
jardins sua filosofia de cunho religioso. O budismo, surgido na Índia entre 620 a.C. e 540 a.C., foi
transmitido por missionários à China e Japão. Com ele, proliferou também a concepção do jardim
budista, que representava a paisagem em escala reduzida. Um exemplo dessa visão é a bonsai.

O jardim Chinês e Japonês- Da dinastia Han surgiu o jardim “lago-ilha”, que será muito
repetido, tanto na China como no Japão. Tratava-se de um mito muito complicado. Algumas ilhas só
eram atingíveis transportadas por um pássaro: a cegonha gigante. Nesses jardins, esses animais
são representados simbolicamente por rochas. No final do século VI foi criado o Parque Ocidental,
com um perímetro de 113 quilômetros e contendo 4 imensos lagos cobertos de Lótus e rodeados de
Chorões.

No período Heian aparecem lindos parques em Kioto, a capital, e arredores, verdadeiros


lugares para a meditação. Em 1894, para comemorar os 1100 anos da capital Kioto, um desses
jardins Heian. Trata-se de um dos jardins mais alegres e de melhor traçado do mundo, com hortos
de Cerejeiras, maciços imensos de Azáleas e Lírios, rochas cobertas por flores e Pinus, traduz o
característico amor dos japoneses pela natureza.

A arte na jardinagem japonesa consiste em concentrar a atenção sobre o essencial, seja


das formas precisas ou a sutileza das matizes; todas as plantas são extremamente valorizadas. São
usadas comumente plantas perenes, criando um quadro estável seja qual for a estação do ano.

Revisando: Na Grécia antiga, os jardins têm caráter mais voltado às construções e


percursos públicos não envolvidos com edificações. Em Roma, representam o status social mais
elevado, estão dentro dos palácios, nas termas, envolvidos pelos peristilos. A água e a vegetação,
controladas e implantadas de forma planejada, representam a sabedoria humana e as
possibilidades de domínio sobre a natureza por uma sociedade cada vez mais antropocêntrica. Na
Espanha, com a invasão moura, o jardim aparece como uma identificação do paraíso. Cinco dos
sete paraísos descritos no Corão são jardins, conforme TOBEY (1988).

Na Idade Média européia, as pestes e as constantes invasões dos povos bárbaros fizeram
com que as cidades e castelos se fechassem e se fortificassem. Os espaços livres tornaram-se
funcionais para o cultivo de plantas medicinais e alimentos. Nos monastérios e conventos ainda se

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mantinha a tradição do jardim; neles eram plantadas flores para enfeitar os altares. O formato dos
canteiros desses jardins deu origem aos canteiros barrocos. Por serem cultivados por monges
copistas, que necessitavam ter mãos delicadas para a realização de seu trabalho, foram
desenvolvidas ferramentas de jardinagem.

Com o fim das invasões, com o controle das pestes e o início da expansão comercial, a
Europa começou a experimentar um período de paz. Era o início do
Renascimento, um período em que se destacaram os jardins da Itália e da
França. O século XV marcou na Europa o início do Renascimento, os descobrimentos, as conquistas.
Os jardins também renasceram. Surgiram os jardins botânicos e também o comércio de plantas
para coleção, resultado da expansão européia em novos continentes. Na Itália iniciou-se a
restauração dos mais belos parques e dos jardins das “vilas romanas”, que serviram como modelo
para a construção de novos jardins.

O Renascimento recupera e fortalece o humanismo e o barroco produz jardins


monumentais, geometrizados, totalmente controlados pelo homem, onde a vegetação perde suas
características, transformando-se em elemento construtivo de uma arquitetura exterior de grande
impacto visual. Alguns destes jardins estão fora da cidade, nos palácios, fugindo do caráter urbano.
São criados mundos que existem por si, todas as relações são planejadas. O observador é um
participante deste mundo por onde passeia, muitas vezes se transformando em um espectador. A
partir da Renascença, os jardins da coroa e da nobreza são abertos ao público, especialmente em
Londres e outras capitais da Europa.

Os jardins eram feitos para o homem e a dignificavam; seus modelos eram trazidos da
antiguidade clássica, representada por Roma e passaram a ocupar junto com a música, a pintura e
a arquitetura, um lugar de destaque nas artes. Desenhados para abrigar também discussões
intelectuais: sábios e artistas podiam trabalhar e discutir no “frescor dos ares do campo”. As áreas
ajardinadas ao lado dos castelos possuíam desenhos simétricos de proporções matemáticas e
perspectiva sem fim. A casa e o jardim integravam-se em um único espaço.

A água era largamente empregada com a construção de repuxos, chafarizes e cascatas.


Também eram introduzidos nos jardins elementos construtivos como escadas, terraços e esculturas.
As plantas eram submetidas a um tratamento formal com grande utilização de tapiárias e parterres
(canteiros geométricos e bem marcados pelo cultivo, em blocos, de plantas de uma única espécie).
As espécies mais usadas eram os ciprestes, os buxinhos, os louros e os azinheiros.

A França sofreu grande influência dos jardins romanos. Os jardins de Versailles (1624-
1688) foram construídos e idealizados por André Lê Notre, com traçado simétrico, valorizando a
perspectiva e a sensação de grandiosidade. O passeio central comandou toda a composição de cada

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lado, canteiros dispostos simetricamente separados dos bosquetes por cercas vivas podadas e
estátuas de mármore branco. Sobressaia a tudo isso os tapetes de relva, as inúmeras fontes e
canteiros floridos. O local tinha sido anteriormente um imenso brejo onde se praticava a caça.

O liberalismo democrático dos ingleses do século XVIII levou a que fossem rejeitados os
governos despóticos franceses e, com isso, os jardins renascentistas. Nessa época, o movimento
romântico na pintura exaltava as belezas da natureza e da paisagem natural, devido à influência
oriental trazida para a Europa pelas relações comerciais da Inglaterra com o Oriente. Os jardins
passaram a imitar paisagens naturais e dar importância do elemento “surpresa”, ou seja, eram
montados com grandes gramados e a incorporação de lagos e rios. Entre os mestres dos jardins
ingleses estão William Kent, William Chambers.

Os holandeses também não fugiram, no início das influências francesas e italianas. Porém,
devido a sua topografia plana e pelo hábito de cultivo das plantas bulbosas (em especial a Tulipa e
ao seu gosto pelas cores, criaram jardins mais compactos e graciosos. São divididos em múltiplos
recintos, apresentam túneis sombreados por trepadeiras. As partes centrais são formadas por
intrincados grupos florais, fontes douradas, baixas, jorram sua água em pequenos tanques
rodeados de cercas vivas de bordadura baixa. Os ciprestes recebiam podas, formando círculos
sobrepostos portões de ferro fechavam os jardins).

Ao longo do ramo fluvial de Vetch, entre Utrech e Muden, uma série de elegantes casas
ajardinadas caracterizava essa época que vai do século XVII a XVIII. Hoje tudo isso caiu da moda.
Os jardins modernos holandeses vão do estilo internacional até a uma agradável forma doméstica,
com especial ênfase nas Tulipas, Narcisos e Jacintos, distribuídos com capricho encantador.

O jardim se coloca como expressão de subjetividades, que, por vezes, superam as da


arquitetura do espaço edificado. Transforma-se em algo independente, com simbologia própria.
Surgem padrões estéticos, variações de composição como na arquitetura das edificações, mas seus
elementos são dinâmicos. Por mais que se tente um domínio pleno, está se lidando com a terra, a
água, a luz, o sol e o tempo, que o torna muito diferente da obra edificada.

As transformações humanas sobre a natureza ganharam intensidade e velocidade no


século passado com a Revolução Industrial. A cidade ganhou um aspecto cinzento, as condições
sanitárias e qualidade de vida passaram por um nível de deficiência assustador. Os jardins então,
estavam dentro e fora da cidade, eram o símbolo de uma vida saudável a que todos aspiravam,
mas restrita apenas a alguns. Desde esse momento, ou talvez desde antes, aspira-se ao jardim,
primeiro nas condições de vida na cidade, depois tentando transformar a própria cidade num
enorme jardim - com igualdades e justiças como pregaram os revolucionistas, os utopistas e pré-
urbanistas do século passado.

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Com a Revolução Industrial, as áreas urbanas foram se adentrando. Houve o
aburguesamento da sociedade e o parcelamento da terra acentuou-se, provocando a diminuição
das áreas particulares livres. Parques e jardins públicos eram usados para arejamento das áreas
urbanas, eram os “pulmões” das cidades.

Os jardins particulares, então, passaram a ter dimensões reduzidas, culminando nos


jardins modernos, surgidos nos anos 40, que incorporaram em suas áreas, além da vegetação,
elementos construtivos e equipamentos de lazer como piscinas, churrasqueiras, pequenas quadras,
pergolados, gazebos, varandas, etc. Nesses jardins, as formas artísticas de produção do espaço são
tão valorizadas quanto a tecnologia dos materiais utilizados para sua construção, o desenho do
jardim deve ser resultado também de conceitos básicos de concepção arquitetônica.

No século XX, o Movimento Moderno aprofunda estas questões idealizando a cidade como
um enorme território de sucessivos jardins, coletivizados e usufruídos por todos. A arquitetura dos
edifícios também é traçada e codificada, tendo em vista a liberação de espaços verdes, o “recrear o
corpo e o espírito”, buscando a luz solar e o ar, isolando as edificações. A redescoberta do papel
qualificador que o jardim pode absorver sobretudo em contextos urbanos degradados, evidencia-se
na carga representativa do desenho.

Artistas e técnicos, preocupados desde o século XIX com essas questões, contribuem para
que muitos paisagistas passem do exercício da jardinagem para o projeto ambiental. Esta trajetória
parece ter se originado no “English Landscape Tradition”, movimento do século XVIII, na Inglaterra,
com poetas e escritores, concebendo uma harmonia entre o homem e a natureza, entendida como
jardim, símbolo do paraíso perdido por Adão e Eva.

Os EUA, no século seguinte, contribuem para o desenvolvimento de uma nova visão: em


1858, Frederick Law Olmsted cria a denominação “arquiteto paisagista“. Nessa época, Olmsted
destaca-se por inúmeros projetos urbanísticos, inclusive o Central Park de Nova Iorque. Dois de
seus discípulos, Horace Cleveland e Charles Eliot, criam, em 1901, na Universidade de Harvard, o
primeiro programa de arquitetura paisagística. E, em 1907, surge a profissão de urbanista, derivada
desse curso.

Em decorrência da consolidação da atividade projetual, diante das reivindicações da


sociedade pela criação de parques voltados às atividades de recreação e lazer e espaços livres
urbanos vegetados, os Landscape architects se preocupavam com o desenho dos parques,
conceituação e inserção no planejamento urbano.

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A fase atual do Paisagismo tem dois fatores de influência: o primeiro, pela atividade de
grandes profissionais da área no contexto do pós guerra até agora e que ditaram as bases técnicas
e formais aos designers da paisagem contemporânea. Tiveram destaque: Roberto Burle Marx, Luis
Barragán, Thomas Church, Silvia Crowe, Cramer, Eckbo, Lynch, Appleyard, Halprin e McHarg entre
outros; o segundo, pelo estudo da história do Paisagismo, a partir dos anos 70, nos Estados Unidos,
com George B. TOBEY(1988) e Geoffrey e Susan JELLICOE(1995), que contribuíram para dar
credibilidade ao exercício do Paisagismo.

Segundo FRAMPTON (1987), o desenho paisagístico moderno surgiu em 1938, quando


Tunnard veio aos Estados Unidos para dar aulas na Universidade de Harvard, na mesma disciplina
iniciada em 1901, na sequência, surgem, Eckbo com sua visão mais ecológica, e Church, com
posição mais parecida à de Tunnard, ambos começando das 1 as marcas do homem na paisagem
pré-histórica.

A primeira metade do século XX mostrou um Paisagismo com pouca expressividade,


principalmente pelo ensino e prevalência dos modelos do século XVIII e XIX, que apresentavam
pouco interesse às mudanças que o Movimento moderno impunha às paisagens.

Dos anos 50 aos 70, destacaram-se os melhores trabalhos dos grandes mestres da
arquitetura paisagística. Dentre eles, Roberto Burle Marx, que, embora sendo modernista não se
submeteu aos cânones do movimento. Teve seu processo criativo ligado às artes plásticas e ao
entendimento da botânica, utilizados para a compreensão da natureza, principalmente a tropical do
Brasil com suas cinqüenta mil espécies diferentes de plantas. “A natureza é um ciclo da vida que
deve ser compreendida para poder se tomar liberdades com ela conscientemente. Os meios de que
dispomos como as grandes máquinas, o fogo podem ser usados tanto para o bem quanto para o
mal, porém no Brasil são usados para criar miséria” MARX apud LEENHARDT (1994). São
conhecidas suas pesquisas e excursões para reconhecimento da flora brasileira e a ele é atribuída a
distinção mais clara entre as etapas conceitual e prática que compõe a realização de um projeto de
paisagismo. O paisagismo de Burle Marx cria padrões de desenho que incorporam as formações
naturais sem, no entanto, copiá-las, como aconteceu nos jardins ingleses e, revoluciona a forma de
projetar os espaços livres públicos, com concepção plástica própria, formas orgânicas e trabalho
com a água.

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Fazenda Marambaia – Burle Marx

Luis Barragán, arquiteto e paisagista do período, criou interessante diálogo entre as


formas arquitetônicas e as formas complexas da vegetação e da paisagem. As paisagens de Thomas
Church, nos Estados Unidos, exibiam assimetria e estilo geométrico.

Nos anos 60, designers e técnicos, principalmente os americanos: Appleyard, Halprin e


Eckbo começaram a pesquisar a paisagem, sobre a experiência de receber influência dos aspectos
perceptivos e emocionais, e do fator tempo, no local e no entorno. ECKBO(1969) sintetizou “nosso
sentido de estética provém da natureza, da incidência desta sobre nossas reações, não no plano
pictórico, mas no plano biológico”.

4. Paisagismo no Brasil

No Brasil, com a transferência da família real para o Rio de Janeiro, no séc. XIX,
desencadeia um processo de formação de passeios públicos, praças e parques, concomitantes à
formação de jardins botânicos com viveiros para pesquisa e reprodução de mudas de espécies de
valor econômico e ornamental significativos. Anteriormente, temos, em 1783, a construção do
Passeio Público do Rio de Janeiro, projetado por Mestre Valentim, com base no Jardim Botânico de
Lisboa e considerado não só a primeira grande obra de urbanização da cidade, conforme
mencionado por OTTONI(1972), como também o primeiro parque público do Rio de Janeiro.

Este mesmo passeio é remodelado por Glaziou, a pedido de D. Pedro II, e, com desenho
mais curvilíneo, abandona seu traçado rigorosamente geométrico e retilíneo. Glaziou projeta ainda o
parque da mansão imperial (a Quinta da Boa Vista), além da quase totalidade dos logradouros
públicos e da arborização das avenidas do Rio.

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Em São Paulo, a característica de “arraial sertanista” perdura até o início do séc. XIX,
sendo suas praças públicas modestas e mal cuidadas, destacando-se somente a Praça do Colégio, a
Sé e a Praça da Câmara. Quanto ao jardim residencial, pequenos quintais para o cultivo de espécies
frutíferas e criação de aves e animais domésticos, no final do século XIX, são objetos de grande
atenção, com o surgimento dos palacetes e a adoção de recuos e jardins laterais.

É válido ressaltar a importância desses jardins privados, em função de seu porte e


qualidade, alterando a percepção da paisagem de certos setores da cidade de São Paulo, no que se
refere à organização do espaço livre de edificação, evidenciando ainda mais a ausência do
tratamento do espaço público.

O Paisagismo brasileiro define-se no séc. XIX, a partir de uma rede consolidada de cidades
grandes e médias que, situadas principalmente no litoral e sob forte influência urbanística européia
(francesa e inglesa) apresentem condições para a criação de obras significativas, tanto em espaços
públicos- parques, praças e boulevards, como espaços privados- jardins de palacetes e chácaras.

No séc. XX, o Paisagismo no Brasil alcança uma identidade projetual própria,


principalmente após os anos 40, com Burle Marx, que muito influi na definição dos paradigmas do
Paisagismo moderno brasileiro, com sua formação de artista plástico, aliada ao profundo
conhecimento da botânica e da flora tropical. Como ele, três pioneiros do Paisagismo moderno em
São Paulo: Mina Warchavichick, com seus jardins de cactos e plantas tropicais; Waldemar Cordeiro,
outro artista plástico, deixando bastante conhecidas suas aproximações entre arte e projeto. Outro
nome bastante importante foi Roberto Coelho Cardozo, que trabalhou com Garret ECKBO e
introduziu na FAUUSP, a disciplina de influência do referencial americano, criando uma “escola
paulista de paisagismo” que formou arquitetos paisagistas que lideraram, a partir dos anos 60, um
campo de investigação profissional, destacando-se Miranda Magnoli, Rosa Kliass e numa segunda
geração: Silvio Macedo, Paulo Pellegrino, Benedito Abbud e outros

Ainda na FAUUSP, foram realizados extensivos levantamentos e análise do Paisagismo


brasileiro, e mais recentemente o Projeto Quapá- Quadro do Paisagismo no Brasil, coordenado por
Silvio Macedo, divulgado em 1998, classificou-o em três grandes períodos:

1 – Ecletismo - Definido pelo surgimento dos primeiros parques públicos, das praças
ajardinadas, dos jardins das mansões dos barões do café (Rio e SP). Inicia-se com a construção do
Passeio Público do Rio de Janeiro (1779) e perde sua hegemonia no final da primeira metade do
séc. XX, com os grandes projetos públicos em SP, Rio e Brasília. Nesse período, as influências
francesas e inglesas sobre os projetos, ocorrem na totalidade. Tem por principais caracteríticas: a
visão romântica; evidencia o bucólico, com lagos, fontes, gramados, poda temporária, esculturas,

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coretos, pontes, aves e animais silvestres soltos, circulação sinuosa ou em eixos define a estrutura.
Do logradouro: o passeio, o desfile, com a vegetação criando fundos e bordaduras.

2 – Moderno - Tem como marco inicial as obras de Burle Marx, em Recife, e jardins do
MEC, no Rio. Até hoje, a maioria dos projetos segue seus paradigmas que tem, entre outros, como
padrão: o uso da vegetação nativa e o total rompimento com as escolas clássicas. Apresenta nítida
influência americana e do Movimento moderno. Das principais características, destacam-se: a
vegetação criando ambientes; novos usos e programas; lazer ativo, equipamentos esportivos; a
utilização de grades; uso intenso da vegetação nativa e a incorporação e transformação dos antigos
elementos formais: lagos, fontes, pontes e esculturas

3 – Contemporâneo - Reflete a inquietação dos anos 80 e 90 e não está consolidado.


Recebe forte influência dos paisagistas japoneses, americanos e franceses, em especial na seleção
de estruturas construídas e vegetação. Sofre influência americana pós- moderna. As características
principais podem ser traduzidas pelas novas buscas formais, influência formal do pós-moderno,
revisão do moderno, visão ecológica, colunas, pórticos e cores. Representa uma definição em
andamento.

Quanto à cronologia, foi assim classificado:


 Século XVII a XVIII- Ecletismo
Hortos, largos, terreiros, quintais - Passeio Público/Rio

 Século XVIII a XX - Ecletismo


Jardim Botânico - Parques Públicos
Ajardinamento de largos e terreiros
Surgimento da praça - jardim
Surgimento dos jardins formais nas fazendas
O palacete e a casa isolada no lote
Arborização de rua - o boulevard
Mirante, o passeio - a avenida beira- mar
Surgimento dos bairros: Higienópolis, Campos Elíseos - SP
Parque do Derby - Recife
Praças em Belém do Pará e em Belo Horizonte

 1900 a 1940 - Ecletismo


Parques Públicos/ Parques temáticos e comemorativos
Sistemas de espaço público
Feiras e exposições

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Parques Urbanos
Estações de águas
Jardim Zoológico
Jardins de Estilo - moldura do estilo neocolonial ao neoclássico
Parque Farroupilha - Porto Alegre
Consolidação do Bairro Jardim ( Cia. City - SP)
Jardim América / Jardim Europa
Consolidação da casa isolada no lote
Jardins privados
Novas áreas centrais
Copacabana e Avenida Central no Rio
Parques de Bouvard e Avenida Paulista em SP

 1940 a 1980 - Moderno


Play Grounds
Parques- estações de águas
Jardins contínuos nas calçadas (Jardins - Curitiba)
Abandono gradual dos estilos
O edifício de apartamentos, isolado no lote
Espaços livres do lote como extensões do lote - superquadra
Calçadões em áreas centrais e nas praias
Jardins do Mec no Rio -Burle Marx, Roberto Coelho Cardoso, Waldemar Cordeiro
Aterro do Flamengo
Brasília
Remodelação - Praça da Sé, Praça Roosevelt

 1980 em diante - Contemporâneo


Shopping Centers
Parques Ecológicos, Parques Lineares
Cercamento de grades
Bairros- jardim contemporâneos, em condomínios
Condomínios verticais - Tijuca
Prédios de Apartamento: área equipamentos multiplos
Projeto ecológico Tietê
Parques Aquáticos
Projeto Anhangabaú
Projeto Rio - Cidade

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Atualmente, existe um rico conjunto de idéias e tendências no Paisagismo nacional.
Observam-se, ainda, influências da Escola americana de Eckbo, Halprin, Lawrence e Lyle, e dos
novos paisagistas Walker, Schwartz, além das novas tendências européias do eixo Paris – Barcelona
e dos japoneses Sassaka e Yoshimura. É possível identificar algumas abordagens projetuais: umas
comprometidas com a inserção de variáveis ambientais, como os parques de Fernando Chacel no
Rio de Janeiro; outras comprometidas com a ecologia, como o projeto de Henrique Zanetta e Raul
Pereira, em Santo André; com o planejamento de novos usos: Praça do Relógio- USP, de Silvio
Soares Macedo e Paulo Pellegrino e a Universidade Livre do Meio Ambiente, de Domingos
Bongestabs; com a necessidade de preservação e de apropriação pela população: Parque Alfredo
Volpi, de Rosa Kliass e a que resgata a dimensão do lúdico: a Orquestra Mágica e os Bichos da
Mata, entre outros.

Praça do Relógio, USP – Silvio Macedo e Paulo Pellegrino.

4.1- O Desenvolvimento da Profissão no Brasil

As principais referências para o desenvolvimento da profissão de Arquiteto Paisagista no


Brasil ligam-se „as figuras dos arquitetos paisagistas Roberto Burle Marx, Roberto Coelho Cardozo,
além de Waldemar Cordeiro e Mina Warchavchik, considerados os pioneiros do Paisagismo
Moderno, principalmente pelo emprego de plantas tropicais.

No Rio de Janeiro, Roberto Burle Marx desde a década de 30 foi precursor da utilização
da linguagem paisagística moderna associando ao conceito do jardim como obra de arte a dimensão
ambiental e ecológica.

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Em São Paulo, primeiramente os jardins de Mina Warchavchik, utilizavam a flora tropical
de palmeiras e cactus, cuidadosamente ordenados para realçar a arquitetura de Gregori
Warchavchik, partindo de um planejamento de massas de espécies definidas, dispostas segundo
padrões com forte influência geométrica. Na década de 50, surgem as obras de Waldemar Cordeiro,
artista concreto, baseadas em oposições entre retas e círculos e as resultantes deste encontro,
valendo-se da figura-fundo, do traçado geométrico e de novos materiais.

Na área acadêmica, Roberto Coelho Cardozo, trazendo a influência de Eckbo e do


paisagismo americano, inicia o ensino da Arquitetura Paisagística na FAUUSP e forma uma primeira
geração de arquitetos paisagistas, com destaque para Miranda Magnoli e Rosa Kliass.

Em 1976 foi fundada a ABAP- Associação Brasilleira de Arquitetos Paisagistas, membro


da IFLA- Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas, que congrega até hoje profissionais que
exercem suas funções em escritórios especializados, órgãos públicos e instituições de ensino e
pesquisa.

Atualmente a efetivação da profissão deve-se: às crescentes demandas devidas ao


desenvolvimento urbano; à conscientização geral da problemática ambiental; aos trabalhos
desenvolvidos, como os de Fernando Chacel e as pesquisas realizados na área, pelo GDPA, como o
Projeto Quapá. Estas condições permitiram a constituição de um quadro nacional de profissionais
com considerável experiência no trato das questões das diversas paisagens regionais brasileiras.

Desde 1994, a disciplina de Paisagismo tornou-se obrigatória em todos os cursos de


Arquitetura no Brasil. Algumas faculdades oferecem disciplinas obrigatórias, optativas, cursos de
extensão, aperfeiçoamento, extensão, especialização bem como mestrado e doutorado. Devido „a
falta de cursos específicos de formação reconhecidos pelo MEC, além de esforços e discussões nos
Congressos Brasileiros desde 1998, a profissão não é regularmente reconhecida no Brasil.

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5- Noções de Ecologia, Geografia e Botânica

Concepção botânica do jardim

Para implantar um projeto de jardim, é imprescindível que o paisagista de jardins saia do


campo místico da adivinhação em relação às combinações de plantas que utilizará nas áreas
destinadas à vegetação, e conheça intimamente as plantas de seu repertório. É de suma
importância o conhecimento das necessidades e exigências de cada espécie, no que se refere ao
cultivo, localização e ambientação adequada, tratamento e cuidados específicos. Cada espécie
apresenta características próprias quanto à luminosidade, temperatura, umidade e solo. Para tal
empreitada, faz-se necessária a utilização de conhecimentos de Botânica, Ecologia, Fitogeografia e
Agronomia.

A Botânica dará suporte à compreensão da fisiologia da planta, ou seja demonstrará como


elas “funcionam”. Sendo a planta um ser vivo como nós, também possui um metabolismo que avisa
quando está com fome, sede, falta de ar, frio, calor e tantas outras necessidades. Também nos
fornecerá os conhecimentos necessários para identificarmos e classificarmos as plantas
(taxonomia).

O estudo da Ecologia nos dará as informações necessárias para a compreensão dos


mecanismos de adaptação da planta e sua relações de convívio com outras no novo ambiente – o
jardim. Ex.: a utilização, nos centros urbanos, de espécies que atraem pássaros favorece o
equilíbrio do ecossistema, pois estes fazem com que diminua a superpopulação de alguns insetos
nessas áreas.

A Fitogeografia nos trará informações necessárias para a compreensão do habitat das


plantas, fornecendo-nos os subsídios necessários para a correta utilização das espécies escolhidas.
Também nos ajudará a partilhar, em nossos jardins, da nova concepção de paisagismo, que leva
em consideração a preservação e a utilização controlada das espécies vegetais.

Em todo o mundo encontramos vários ambientes a caminho ou em estado de degradação,


onde espécies vegetais e animais estão sendo extintos pela ação humana. O conhecimento das
plantas em seu habitat natural pode possibilitar sua reprodução em viveiros e posteriormente sua
utilização em jardins, evitando com isso sua extinção.

A Agronomia nos dará suporte necessário ao manejo do solo e das plantas e ao “controle”
do jardim, seja para a manutenção da saúde nutricional das plantas ou para o controle de pragas.

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As plantas são compostas por raízes, caule, folhas, flores, frutos e sementes. Estas partes
nem sempre se apresentam na forma com que estamos habituados a visualiza-las, ou seja,
encontramos raízes aéreas, folhas em forma de espinhos, etc. Isso se deve ao resultado da
evolução por que passaram as espécies e da adaptação em função da necessidade de subsistência
em seu habitat.

Na jardinagem, utilizamos uma gama muito variada de plantas, que oscilam entre as mais
primitivas e simples em sua estrutura, como é o caso das Selaginelas pertencentes às Bryophitas
(Pteridophytas), até aquelas situadas no topo da evolução das espécies, como é o caso das
orquídeas pertencentes às Gymnospermas.

Cada uma das partes da planta tem uma ou mais funções, bastante específicas:
Raiz – Possui duas funções:
 fixar a planta ao substratp;
 captar água e sais minerais para a folhas.
Como o restante da planta, a raiz também respira, por isso a terra ao seu redor deve ser
arejada para permitir a circulação do ar. Divide-se em coifa, zona lisa, zona pilosa, zona suberosa e
raiz secundária.

As raízes podem ser subdividias em:


 subterrâneas  axiais, fasciculadas e tuberosas;
 aéreas  adventícias, suportes, estrangulantes,
respiratórias, tabulares, grampiformes;
 aquáticas.

Das subterrâneas, nos interessam mais as axiais ou pivotantes, em que a raiz principal
desce perpendicularmente ao solo em busca de uma fonte de suprimento de água, e as
fasciculadas, que, ao contrário, dispõem-se em feixes superficiais ao solo. Isso porque esses dois
tipos têm relação direta com o trabalho do paisagista de jardins.

As raízes pivotantes são típicas de plantas dicotiledôneas e coníferas, apresentam uma raiz
principal e várias secundárias, que saem lateralmente. Algumas árvores apresentam as raízes
superficiais mais desenvolvidas do que a pivotante, podendo algumas vezes até levantar pisos ou
quebrar calçadas; são as árvores nativas de solos rasos, como o solo amazônico.

As fasciculadas possuem dezenas de raízes com diâmetros semelhantes, que partem da


base da planta. São típicas de palmeiras, gramíneas e outras monocotiledôneas. As espécies com

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esse tipo de raiz são indicadas para “segurar” terrenos inclinados, ou em processo de erosão, como
alguns paus de bambu, com enraizamento bastante agressivo.

As plantas superiores pertencem à Divisão das Angiospermae que se separam em duas


classes com características bem distintas as monocotiledôneas (como o arroz, o capim) e as
dicotiledôneas (como o feijão e o Pau-ferra). Isto diferencia o número de folhas cotiledonares na
plântula.

Caule - tem várias funções:


Dar sustentação e a disposição necessária para a copa e as folhas poderem captar a luz,
dar resistência aos ventos, servir de estrutura de armazenamento de reservas. Na maioria das vezes
é aéreo, podendo porém ser subterrâneo, como no caso dos bulbos. Por ele passam os sistemas de
abastecimento entre as folhas e as raízes.

As seivas circulam entre as folhas e as raízes nos dois sentidos. Da raiz em direção às
folhas, sobre a “seiva bruta”, composta de água e sais minerais. A circulação é feita através dos
chamados “vasos lenhosos” ou lenho. No sentido contrário, isto é, das folhas para a raiz, desce a
“seiva elaborada”, composta principalmente de água, açúcares produzidos na fotossíntese, amidos e
demais compostos sintetizados nas folhas. O transporte, nesse caso, é feito pelos “vasos liberianos”
ou líber. Estes vasos distribuem por toda a planta os alimentos produzidos nas folhas.

Os nutrientes de que as plantas precisam para suas atividades vitais são 17 elementos
químicos que se subdividem em macro e micronutrientes.
Elementos estruturais:
 C (carbono)
 O (oxigênio)
 H (hidrogênio)
Macronutrientes – necessários em maior quantidade:
 N (nitrogênio) – componente básico das proteínas
 P (fósforo) – transmissor de energia essencial no DNA e RNA
 K (potássio) – controla a água nos tecidos e a respiração
 Ca (cálcio) – controla o fluxo de água na célula
 Mg (magnésio) – componente essencial na clorofila e enzimas
 S (enxofre) – componente de proteínas
Micronutrientes – necessários em quantidades mínimas:
 B (boro) – conduz os carboidratos até as raízes
 Cu (cobre) – age no processo de respiração
 Fé (ferro) essencial na fotossíntese
 Mn (manganês) – síntese de proteínas

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 Zn (zinco) – síntese do amido
 Si (silício) – componente básico da celulose
 Cl (cloro) – participa da fotossíntese
 Mo (molibdênio) – controla a absorção de nitrogênio

No caso das plantas pertencentes à classe das dicotiledôneas, cujos caules apresentam
crescimento secundário em espessura, podemos dizer que os vasos – lenhosos e liberianos –
constituem a parte ativa do caule, por onde circulam as seivas, garantindo o suprimento de água a
grandes alturas, e o restante do caule ficando com funções estruturais. O lenho e o líber ficam
dispostos em um círculo, pois ambos se renovam a cada ano, formando anéis concêntricos. É isso,
aliás, que permite estimar a idade de uma planta pelo caule. Se a região onde a planta vive se
caracteriza por verões e invernos bem definidos, bata contar o número de anéis pelo caule.

A cada renovação dos vasos, porém, a planta desativa os antigos, que deixam de ter
função de transportar as seivas. Bloqueados muitas vezes por uma substância que tem o nome de
lignina, os vasos endurecem, aumentando a resistência do caule.

No caso das plantas pertencentes à classe das monocotiledôneas, os caules geralmente


não apresentam crescimento secundário, e os vasos líbero-lenhosos apresentam-se em feixes
dispersos no caule.

Os caules podem ser identificados como: troncos nas árvores, estipe nas palmeiras, haste
nas herbáceas, calmo nas gramíneas, estolho nas plantas reptantes, suculentos nas cactáceas,
subterrâneos nos bulbos e rizomas, pseudobulbos nas orquidáceas, etc.

Folhas – São a principal estrutura de produção de alimentos para a manutenção da planta, pois
apresentam a maior quantidade de cloroplastos, responsáveis pela fotossíntese que produz glicose.
São responsáveis ainda pela evapotranspiração, que é o controle da perda de água que circula na
planta.

Flores – São o órgão reprodutor da planta. A reprodução em termos evolucionistas é a razão das
espécies, e merecem muita atenção também por um outro aspecto: as flores têm importância
fundamental na classificação da planta, e é através delas que se define o grau de “parentesco”
entre as espécies.

É na flor que percebemos o estágio evolutivo que determinada espécie atingiu. Por
exemplo, o pinheiro, que produz uma grande quantidade de “pólen” para ser levado pelo vento até
as pinhas femininas, é bem mais primitivo que uma orquídea, que produz pouco pólen, que será

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levado por uma vespa até uma outra orquídea e dezenas de metros de distância, garantindo ainda
a polinização cruzada, muito importante e desejável para a evolução das espécies.

São o meio de propagação sexuada das espécies vegetais. A disseminação das sementes
pode ocorrer através:
 do vento, desde sementes aladas até esporos;
 do ciclo de amadurecimento do fruto que, ao cair deixa que a semente se
desenvolva naturalmente no solo;
 de animais que, ao se alimentarem dos frutos, transportam
involuntariamente as sementes;
 da aderência aos passantes, como é o caso, por exemplo, do picão.

Como todo embrião, a semente é formada pelo encontro de duas cargas genéticas: a
masculina e a feminina. Isso acontece por meio da polinização. A carga masculina, or grão de
pólen, que se encontra nas antenas da flor, é transportado ao órgão sexual feminino (pistilo), de
onde partirá a fecundação.

Para produzir descendentes mais sadios, é importante que a carga genética masculina da
semente seja diferente da feminina, isto é, o pólen de uma planta deve fecundar o óvulo de outra
planta (“polinização cruzada”), para que se garanta à semente, e por conseqüência à planta-filha,
um maior vigor genético. Esta variação gênica poderá favorecer sua adaptação a novos ambientes.

Nomenclatura e taxonomia das plantas utilizadas na concepção do


jardim

É fundamental para o paisagista de jardim conhecer e identificar precisamente as plantas


que especifica em seu projeto para que, quando de sua execução, a espécie plantada seja
exatamente a mesma que a especificada. Para tanto, utiliza-se a identificação através do nome
científico, de linguagem universal, derivado da taxonomia.

O fato de as plantas serem a base de nossa alimentação, farmacopéia, vestuário, moradia,


etc. já obrigou o homem primitivo a nomeá-la. Para facilitar a comunicação, os gregos utilizaram o
primeiro sistema binário de nomenclatura de plantas, que dava e elas nome e sobrenome. O ponto
de partida do sistema hoje utilizado por nós deve-se ao naturalista sueco Carl Linnaeus (1707-
1778), que publicou, em 1753, dois volumes da obra Species Plantarum. Esse trabalho
enciclopédico reunia 5.900 espécies de 1.908 gêneros descritos em latim, agrupados conforme o
número de suas partes florais.

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A taxonomia classifica a planta segundo o Código Internacional de Nomenclatura Botânica,
no qual estão expressas as regras a serem seguidas na escolha e seleção do nome que será
utilizado para designar uma determinada planta, ou seja:
 os nomes normalmente são em latim;
 a nomenclatura de um grupo taxonômico é baseada na prioridade de
publicação da primeira espécie descrita;
 o gênero é definido por uma palavra e a espécie por uma outra palavra;
 a terminação var (do latim varietas, que indica variedade) é utilizada para
plantas de mesma espécie, com pequenas diferenças fisionômicas;
 a terminação cv (cultivar) é utilizada para plantas de mesma espécie, com
pequenas diferenças fisionômicas induzidas artificialmente;
 algumas plantas são híbridas, e recebem um “X” entre o nome referente ao
gênero e o referente à espécie.

Segundo os princípios da taxonomia, todas as plantas pertencem a uma dada Espécie;


estas estão reunidas em Gêneros; estes, agrupados em Famílias; estas, em Ordens, que estão
dispostas em Classes, que pertencem a uma Divisão (Joly, 1977, página 4).
Resumidamente:
Divisões ou Filos > Classes > Ordens > Famílias > Gêneros > Espécie
As plantas estão divididas conforme seu grau de parentesco.

Reino Fungi

Fungi- São organismos saprófitas ou parasitas desprovidos de clorofila e com reprodução


assexuada por esporos. O corpo pode ter organização celular, como nas leveduras ou fermentos, ou
por filamentos ramificados (hifas), que constituem os cogumelos. Na jardinagem, interessam-nos:
 os fermentos, com especial importância para as micorrisas, que fazem
simbiose com as árvores fixando nitrogênio do ar em suas raízes.
 os basidiomicetes, que digerem a celulose e a lignina das madeiras,
importantes na produção do húmus e reciclagem dos nutrientes no
ambiente.
 os fungos parasitas, que têm ação destruidora sobre as plantas.

Lichenes- Estas plantas são constituídas por uma associação simbiótica permanente
entre uma alga (clorofícia ou cianofícia) e um fundo. Sua reprodução é vegetativa por sorédios
(hifas + células da alga). Os indivíduos desta divisão são encontrados sobre os troncos das árvores,
sobre o solo e sobre as rochas. Têm grande importância na desagregação das rochas devido à sua
produção de ácido liquênico.
Clorophyta 1 classe 9 ordens

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Phaeophyta 3 classes
Rhodophyta
Para a jardinagem, são importantes as algas filamentosas, que infestam os espelhos
d‟água, ricos em nutrientes.

Bryophyta- São plantas herbáceas pequenas, sem os vasos condutores de seiva. A


reprodução ocorre por esporos com alternância de gerações e necessitam estar em meio úmido.
Bryophyta 3 classe 5 ordens

Nesta divisão, encontramos os musgos usados para forração de lugares úmidos, como as
Selaginellas (Pteridophyta) e Sphagnum.

Pteridophyta- Evoluíram das Bryophytas e apresentam vasos condutores rudimentares.


Sua reprodução também se dá como a das briófitas, ou seja, por alternância de geração, sendo o
esporófito a geração mais desenvolvida, e o gametófito, uma lâmina verde que encontramos em
solos úmidos.
Pteridophyta 1 classe 4 subclasses 6 ordens
Desta divisão são muito utilizadas as plantas da ordem Filicales, família Polipodiáceas, que
abrange as samambaias e avencas (mais de 5.000 espécies), e as das famílias Dicksoneaceas e
Cyatheacea, que abrangem os xaxins.

Gymnospermae- São plantas lenhosas com os vasos condutores desenvolvidos.


Apresentam flores com sexos separados. Sua reprodução já se faz por sementes nuas, ou seja, que
não estão encerradas em ovários.
Gymnospermae 4 classes 14 ordens

Desta divisão são muito utilizadas as cicas e a maioria das coníferas conhecidas.

Angyospermae- São plantas que produzem flores. Suas sementes estão protegidas pelo
fruto. É a divisão mais evoluída na escala das plantas.
Angyospermae 2 classes 62 ordens

Nesta divisão encontramos a maioria das plantas ornamentais. São divididas em 2 classes:
Dicotyledonea e Monocotyledonea.
Classe Dicotyledonea
 apresentam duas folhas cotiledonares que podem servir como órgão de
reserva da semente;
 apresentam crescimento secundário em espessura, tanto no caule como na
raiz;

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 o crescimento em espessura é resultado da atividade do câmbio (meristema
localizado entre a casca e o cerne da madeira). Os vasos condutores
encontram-se localizados junto ao câmbio;
 as folhas apresentam nervação reticulada;
 as raízes são do tipo axial ou pivotante.

Classe Monocotyledonea
 apresentam uma folha cotiledonar;
 não apresentam crescimento secundário no caule e na raiz;
 os vasos condutores estão distribuídos em feixes líbero-lenhosos dispersos
no estipe;
 as folhas apresentam nervuras paralelas e estão dispostas em espiral ao
redor de um galho;
 as raízes são do tipo fascicular.

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Grupos de plantas utilizadas no paisagismo de jardins

É necessário ter conhecimento do grupo formal em que essas plantas se encontram, para
facilitar o raciocínio de projeto, pois este inicia-se com o arranjo de volumes e massas de
vegetação, e não de indivíduos. Existe uma certa hierarquia na organização da especificação, ao
mesmo tempo em que podemos visualizar, desde o início, a composição geral do jardim.

Podemos dividir as plantas, quanto ao manejo, em: árvores, palmeiras, arbustos,


herbáceas, epífitas, aquáticas, filícias e cactáceas. São as seguintes as características de cada
grupo:

Tipologia quanto à forma

Grupo de Tipologia quanto à forma Altura


plantas
Palmeiras delgadas, esguias, compridas pequena / média /
grande
Árvores globosas, cônicas, elíptica, colunares pequena / média /
grande
Arbustos globosas, cônicas, elípticas, colunares pequena / média
Cactáceas globosas, colunares, plamadas pequena / média /
grande
Trepadeiras escandentes, planos verticais, volúveis
Forrações Coberturas horizontais

Como forrações temos o grupo das herbáceas, algumas cactáceas, aquáticas e algumas
filícias.

Árvores: O grupo divide-se em árvores de pequeno, médio e grande porte, variando de 3


m até mais de 100 m de altura em alguns casos. Caracterizam-se por possuir caule e adensamento
de folhas na copa. A maioria das árvores pertence à divisão das Angiospermae, classe
Dicotyledoneae.
As coníferas pertencem à divisão das Gymnospermae, e em sua maioria também se
enquadram no porte arbóreo. Ao plantarmos uma árvore, devemos sempre nos preocupar com o
seu futuro. Ou seja, nos perguntar, entre outras questões: quando crescer criará algum problema
para a rede elétrica? As suas dimensões, com respeito ao volume e área da copa, são compatíveis
com o local? E com o distanciamento de plantio proposto? Irá sombrear alguma área onde

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desejamos sol? Levantará pisos, guias ou calçadas? Poderá criar eventuais obstruções às redes de
água e esgotos?

Palmeiras: Também divididas em pequeno, médio e grande porte, variam de 0.50 m a


50 m. Distinguem-se das árvores por não possuírem brotação lateral no caule (com raras exceções)
e pela disposição dos vasos líbero-lenhosos, que se espalham por todo o tronco (nas árvores
formam anéis periféricos). Ainda em relação ao caule, as palmeiras são divididas em dois grupos: as
monocaules, que, como o nome diz, têm só um caule (palmitos, coqueiros, etc.); e as multicaules
(areca-bambu, açaí, etc.). Pertencem às Angiospermae, classe Monocotiledoneae, família Palmae.

Arbustos: São plantas que não atingem grande porte; em geral são espécies lenhosas e
possuem formação densa junto à superfície do solo. Neste grupo encontram-se algumas
trepadeiras, como alamanda, e folhagens como o guaimbé e a sanchesia.

Herbáceas: Com algumas exceções, possuem caule com consistência de erva e pouco
desenvolvido, portanto têm hábito rasteiro. Neste grupo, incluem-se as forrações (ajuga, clorofito,
etc.), as folhagens (marantas, etc), as gramíneas (grama preta, grama São Carlos, etc) e algumas
trepadeiras, por exemplo (ipomea) as madressilvas e a hera (estas espécies seriam classificadas
como semilenhosas. Além dessas, encontramos as semi-herbáceas, como a yuca-mansa, ou
filamentosa. Existem também alguns arbustos herbáceos, como é o caso da maior parte das
helicônias. A maioria destas plantas pertencem às angiospermas.

Epífitas: São plantas que se desenvolvem sobre as árvores, para receber mais luz. Esse
hábito muitas vezes faz com que pareçam parasitas. O cultivo das epífitas deve conter substratos
ricos em matéria orgânica, fibras e uma excelente drenagem. Entre as mais conhecidas, destacam-
se as bromélias, as orquídeas, algumas cactáceas (como ripsalis), entre outras. A maioria destas
plantas pertencem às Angiospermae.

Aquáticas: Ainda pouco usuais nos nossos jardins, por causa das dificuldades em
controlar o desenvolvimento das algas verdes, as plantas aquáticas subdividem-se em três grupos:
as que ficam submersas, as que ficam na superfície e as que vivem em terras encharcadas. Muitas
podem ser cultivadas em vasos. Entre as mais comuns estão: aguapés, ninfeas, lótus, taboas e
papiros. A maioria destas planta sutilizadas em jardinagem pertencem às Angiospermae.

Filícias: São samambaias, avencas, chifres-de-veado, cavalinhas, entre outras plantas


que se caracterizam por te duas fases de vida: assexuada e sexuada (na qual necessitam de muita
umidade para se reproduzir). A maioria dessas plantas pertence às Pteridophytae.

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Suporte do Jardim- o SOLO

Há milhões de anos, a superfície da Terra era composta por rochas, e não havia condições
para o desenvolvimento das plantas. Aos poucos, o intemperismo (ação de agentes atmosféricos e
biológicos) foi triturando e decompondo as camadas superiores das rochas e transformando-as em
terra. Os seres decompositores (bactéria, fungos, insetos, vermes, etc.) trataram de incorporar ao
solo material orgânico, gerando as condições necessárias à fixação das plantas.

Essa camada superior de terra tem o nome de “solo fértil”. Abaixo em estágio
intermediário de composição, encontra-se o subsolo. Mais baixo ainda, temos a rocha-mãe. Essas
três camadas formam o “perfil do terreno”. O solo fértil, camada biológica ativa, praticamente
inexistente no solo das grandes cidades, caracteriza-se pela cor escura e por sua porosidade. A cor
é devida à presença de matéria orgânica, gerada pela decomposição dos restos vegetais e animais
(húmus). A porosidade é essencial, sem ela não haveriam trocas gasosas, como o oxigênio que as
raízes precisam captar do ambiente.

Conforme a capacidade que o solo tem de permitir a passagem de ar (aeração) e a


retenção da água, o solo é classificado em dois grupos: Os argilosos e os arenosos, característica
que interferirá na sua fertilidade. A terra argilosa, encontrada principalmente nos banhados, retém
grande quantidade de água e não deixa muito espaço para o oxigênio. A camada aerada é,
portanto, bastante estreita.

Em solos assim também chamados “solos pesados”, desenvolveram-se plantas com um


tipo de raiz superficial, para captar o oxigênio próximo à superfície. O solo arenoso, ao contrário
tem uma grande camada aerada. Tão grande que, devido à extrema porosidade, quase não
consegue reter a água, nem os sais minerais que ela carrega para baixo. A esses solos, pobres em
nutrientes, dá-se o nome de “solos leves”. As plantas que nele se adaptaram têm raízes profundas
para buscar a água e os sais minerais em camadas inferiores.

Entre esses dois extremos, existem inúmeras variações na composição do solo. Uns mais
pesados, com maior concentração de argila e siltes, outros mais leves, tendendo a arenosos.
Podemos classificar o solo segundo estas constituições de terra:
 Argilosa (50% areia, 50% argila)
 Barrenta (65% areia, 35% argila)
 Barro - arenosa (80% areia, 20% argila)
 Arena - argilosa (90% areia, 10% argila)
 Arenosa (95% areia, 5% argila)

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É importante saber como identifica-los, para trabalhar a terra conforme as plantas que se
deseja cultivar. Para melhorar a fertilidade da terra, muitas vezes é necessário compensar as
deficiências do solo, drenar os solos encharcados (por exemplo, argilosos), ou acrescentar argila
aos excessivamente arenosos. Tudo depende da característica da planta que queremos no jardim.

Também é de suma importância a identificação da consistência do solo, que nesse


aspecto é classificado como:
 Compacto (quase nenhuma porosidade e impermeável)
 Raso (média porosidade e pouca permeabilidade)
 Médio (boa porosidade e permeabilidade)
 Profundo (poroso e permeável)
O PH, potencial de hidrogênio, é um índice que mede a acidez ou alcalinidade do solo.
Varia de 1.0 a 4.0, sendo que o número 7.0 representa PH neutro. Abaixo disso, quanto menor o
índice, mais ácido é o solo. Assim, PH 6.5 indica ligeira acidez, PH entre 5 e 6 é sinal de acidez e PH
menor que 5.0 significa que o solo é muito ácido. Acima de 7.0, quanto maior o PH maior a
alcalinidade. Quase não existem solos alcalinos. Os brasileiros, em geral, são ácidos, devido à
grande quantidade de alumínio e aos baixos teores de cálcio e magnésio. Na maior parte dos solos,
o PH varia de 3.0 a 9.0, sendo considerado ideal entre 6.0 e 6.5, para a maioria das espécies
utilizadas em jardinagem.

A acidez elevada do solo (PH menor ou igual a 5.0) diminui a assimilação dos nutrientes
pelas raízes e torna insolúveis: o fósforo, o boro, o cobre, o zinco, além de tornar tóxico o alumínio.
Para corrigir a acidez, deve-se acrescentar calcário dolomítico, cálcio e magnésio. Mas é preciso
tomar cuidado: o excesso de calcário pode deixar o solo alcalino (PH maior que 7.0), o que também
provoca bloqueio da assimilação de nutrientes. A forma de corrigir as deficiências de sais minerais
do solo é através da adubação, que pode ser química, orgânica ou uma combinação das duas.

Adubação química é o fornecimento dos nutrientes necessários à planta na forma de


sais, como o NPK, a famosa formulação química que contém nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio
(K). O NPK permite concentrações diferenciadas desses três elementos químicos, que são expressas
em porcentagem. A formulação contém três percentuais, cada qual referindo-se a um dos
componentes. Exemplo: o NPK 15:8:20 é composto por 15% de nitrogênio, 8% de fósforo e 20%
de potássio. Fórmulas assim, com diferenças na quantidade de cada elemento, são muito utilizadas
na agricultura, por uma questão de economia. Antes da aplicação do NPK, o solo deve ser
rigorosamente analisado, para se saber exatamente quais as suas deficiências.

Na jardinagem, o mais comum é a aplicação de uma fórmula equilibrada (10:10:10), ou


com ênfase em algum dos elementos, conforme o resultado que se deseja. O NPK 10:30:15, por
exemplo, contém mais fósforo, para melhorar o enraizamento e o florescimento de nitrogênio, para

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estimular o crescimento de folhagens. A tabela abaixo traz os sintomas das plantas conforme o
elemento químico em falta. Além de nitrogênio, fósforo e potássio, estão incluídos cálcio e
magnésio, componentes do calcário dolomítico usado para corrigir a acidez do solo.

Sintoma Elemento químico em falta


Folhas desbotadas nitrogênio ou magnésio
A planta não floresce, não frutifica, não enraíza fósforo
A planta seca facilmente, mesmo em curtos períodos potássio
de estiagem
A planta deixa de filtrar os nutrientes do cálcio
solo e pára de crescer

Adubação orgânica é aquela em que se empregam restos vegetais que, decompostos


por microorganismos, formam o húmus, substância responsável pela fertilidade do solo. É na
presença do húmus que se formam as pequenas „esponjas” ou “grumos‟, que fazem o solo reter a
água e os nutrientes solúveis. Os grumos são compostos de partículas de solo mineral unidas por
uma cola bacteriana, produzida a partir do ácido húmico.
Nos jardins e vasos usa-se o composto orgânico previamente preparado na composteira,
ou o húmus de minhoca. Ambos oferecem um material visivelmente homogêneo e livre de odores,
embora seja recomendado deixar que uma pequena camada de matéria orgânica se decomponha
no local, para um melhor aproveitamento dos ácidos produzidos durante o processo.

Clima e Luminosidade
Algumas dicas importantes que podem evitar dissabores, perda de tempo e de dinheiro.
Na distribuição das plantas pelo mundo, observa-se uma nítida diversificação de acordo com as
zonas climáticas. É o clima, o solo e até a topografia de cada região que, em última instância
determinam o tipo de vegetação nativa.

É importante não esquecer da existência de uma variedade enorme de plantas para cada
tipo de clima. Assim, se por um lado é perda de tempo tentar cultivar tulipas na Bahia, por outro,
existem milhares de flores que podem substituir perfeitamente a tulipa, e que se adaptam
maravilhosamente bem ao clima baiano. A tecnologia atual permite cultivar tulipas até no deserto
do Saara, com a construção de estufas e cuidados especiais, onde as condições de temperaturas e
luminosidade pudessem se adequar às exigências deste cultivo. Só que isso, além de se
absurdamente caro, não é nem um pouco prático. Na hora de fazer o seu jardim, é muito melhor
escolher logo as plantas adequadas ao clima da sua região, que ficar tentando adaptações que, na
maioria das vezes, resultarão em fracasso.

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Do ponto de vista da jardinagem, os parâmetros climáticos mais importantes são:
1 – temperatura
2 – regime de chuvas
3 – umidade relativa do ar
4 – insolação
No Brasil, face às proporções quase continentais do país, temos pelo menos 6 diferentes
tipos de clima: equatorial, tropical, tropical atlântico, tropical de altitude, semi-árido e subtropical. O
Brasil é um país tão grande, que temos aqui, nada menos que seis tipos distintos de clima:

EQUATORIAL – é o clima da região amazônica. Caracteriza-se por temperaturas entre 24 e


26 graus centígrados, chuvas abundantes e bem distribuídas durante todo o ano, e alta umidade do
ar. A vegetação tem a exuberância típica das florestas úmidas.

TROPICAL – predomina nas regiões Nordeste, Sudeste e extensas áreas do Planalto


Central. Caracteriza-se pela existência de apenas duas estações no ano, ambas quentes e distintas:
invernos secos, com baixa umidade relativa do ar, e verões chuvosos. A vegetação típica é o
cerrado, com gramíneas e arbustos retorcidos, de casca grossa.

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TROPICAL ATLÂNTICO – domina todo o litoral do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do
Sul. Distingue-se por temperaturas médias entre 18º e 26º C. com chuvas abundantes, que variam
de época conforme a latitude. No litoral do Nordeste, são mais freqüentes de abril a agosto, e mais
ao sul, no verão. A vegetação natural é a mata atlântica, de tipo tropical, já intensamente
devastada.

TROPICAL DE ALTITUDE – predomina do norte do Paraná ao Sul do Mato Grosso do Sul.


Caracteriza-se por temperaturas médias entre 18 e 22 graus centígrados, podendo cair abaixo dos
10 e subir acima dos 30. É no verão que caem as chuvas mais intensas, e no inverno podem ocorrer
geadas. A vegetação original, já muito devastada, era mata tropical. Uma mata densa, fechada,
porém com características diferentes da floresta amazônica, inclusive com a ocorrência de
araucárias.

SEMI-ÁRIDO – predomina nas áreas baixas do sertão nordestino, vale do rio São Francisco
e norte de Minas Gerais. Evidencia-se por temperaturas em torno de 27º C. com poucas e
irregulares chuvas. A vegetação típica é a caatinga, com bosques de arbustos espinhos e cactáceas.

SUBTROPICAL – prevalece de São Paulo para baixo, com exceção do norte do Paraná e
faixa litorânea. Caracteriza-se por temperaturas que variam de 5 a 35 graus, às vezes num mesmo
dia, com médias anuais inferiores a 20º C. Nas áreas mais elevadas, o verão é suave e o inverno
rigoroso, com nevascas ocasionais. As chuvas são abundantes e bem distribuídas. A vegetação
muda bastante conforme a atitude. Nas regiões mais altas, encontrava-se originalmente a chamada
mata de araucária, ou pinhais, com poucas variedades e predominância de espécies com folhas em
forma de agulha. Na planícies, o que prevalece é a vegetação baixa, sobretudo a gramíneas.
Portanto, repetindo: na hora de fazer o seu jardim, é melhor escolher logo as plantas
adequadas ao clima da sua região do que ficar tentando adaptações.

Mapeamento das Sombras

O mesmo raciocínio é válido para as exigências das plantas em relação à luminosidade.


Algumas vezes, as de sombra até se adaptam ao sol pleno, e vice-versa. Mas sempre cobram um
preço, em termos de viço, vigor e velocidade de desenvolvimento.

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Inverno: 9 horas de luz. O sol nasce mais a Nordeste. Quando alto, projeta
sombra na face sudoeste.
Primavera e Outono: 12 horas de luz. O sol nasce exatamente no Leste. Quando
alto, projeta sombra na face sudeste.

Verão: 15 horas de luz: O sol nasce mais a sudoeste. Quanto alto, projeta
alguma sombra na face sul.

Quanto à necessidade de luz, podem ser classificadas da seguinte maneira:


 Plantas de pleno sol
 Plantas de meia-sombra
 Plantas de sombra
 Plantas de obscuridade

Normalmente, usa-se o seguinte critério para definir cada um destes itens:


 Sol pleno: No mínimo 4 horas de sol direto todos os dias.
 Meia-sombra: Luminosidade intensa, mas evite sol direto entre 10 e 17
horas.
 Sombra: Não suporta sol direto. Luz indireta, pelo menos, 2 horas ao dia.

Para descobrir, então, onde cada uma pode ser plantada, precisamos anotar no nosso
projeto a posição da sombra provocada pela casa e outras construções, e isso de manhã, ao meio-
dia e à tarde. O mesmo procedimento é efetuado para os eventuais muros, árvores nativas, etc. Só
assim teremos condições de fazer uma escolha de plantas realmente acertada.

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Fitogeografia – Domínios vegetais e Clima

A Fitogeografia é um ramo da geografia que estuda a distribuição dos domínios vegetais.


O relevo relacionado à altitude e o clima, associados à Fitogeografia, definem os domínios vegetais.
É importante relacionarmos as plantas ao clima do ambiente de origem em que se encontram
naturalmente.

Os fatores climáticos mais importantes são as temperaturas médias entre verão e inverno
e os índices pluviométricos, ou a quantidade de chuva. No Brasil, os tipos de clima caracterizam
basicamente dois grupos de plantas: as de clima temperado, que suportam períodos de frio com
temperaturas próximas de zero e geadas, e as de clima tropical, que não sobrevivem às geadas. As
tropicais, em compensação, suportam mais umidade e resistem mais aos fungos, que se
desenvolvem melhor em meio úmido.

Outro fator climático relevante são os ventos que alteram o clima de pequenas áreas, ou
seja, formam microclimas mais secos. Isso dificulta a proliferação de fundos, mas, por outro lado,
limita o crescimento de uma série de espécies.

Os domínios vegetais, como o nome sugere, são área onde predomina uma determinada
fisionomia. Essas paisagens têm um caráter próprio, resultado da evolução por que passaram as
inúmeras espécies animais e vegetais que a compõem, em resposta às carências e disponibilidades
oferecidas pelo meio físico.

As limitações mais usuais são: os tipos de solo e suas carências minerais, a topografia, o
clima e a altitude, o regime hídrico, os ventos, etc. Essa interação entre animais e plantas com o
ambiente é que chamamos de ecossistema. É importante o conhecimento dos domínios vegetais e
suas características físico-ambientais, pois cada um desses ecossistemas gerou inúmeras
preciosidades na evolução da vida.

Clima e domínios vegetais do Brasil

O Brasil tem 5 grandes domínios tropicais, divididos em várias paisagens. São


eles: Floresta Tropical Amazônica, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e Complexo Pantaneiro.

A Floresta Amazônica

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É a maior floresta pluvial da Terra, com temperatura acima de 20º C e médias em torno
de 26-27º, com máxima absoluta de 38º. Os solos são, na sua maioria, rasos e pobres. As árvores
têm suas raízes adventícias superficiais desprovidas da raiz pivotante, formando uma trama onde
elas se “apóiam” umas nas outras. Isso faz com que caiam com relativa facilidade, abrindo clareiras
num solo revestido de ervas e formas novas de árvores que irão crescer, substituindo as antigas.

É um ecossistema fechado que se mantém à sua própria custa, vivendo de seus resíduos
que, ao se decorem, devolvem os nutrientes.O alto índice pluviométrico pode ser percebido nas
pingadeiras formadas pelo ápice longo e delgado da maioria das folhas, uma adaptação para seca-
las logo após a chuva. É muito grande o número de epífitas nos estratos superiores da mata, e de
associações de plantas com formigas, plantas mirmecófilas, por exemplo, as embaúbas.

A mata amazônica divide-se em:


 Mata de terra firme;
 Mata de várzea;
 Mata de Igapó;
 Caatingas do Rio Negro.

Mata Atlântica

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A Mata Atlântica estende-se por toda a Serra do Mar, que vai do Rio Grande do Norte até
o Rio Grande do Sul, compreendendo, também, a Serra da Mantiqueira.

A temperatura média varia de 14º C a 21º C, com máxima de 35º C e mínima de 1º C.


Enquanto a mata está localizada em uma planície, a mata atlântica difere em seu relevo
pelas escarpas rochosas e variação altimétrica; varia do nível do mar até 2.000 m de altura,
propiciando o aparecimento de outros domínios menores dentro da unidade Mata Atlântica.

A Mata Atlântica contém:


 Floresta pluvial Montana;
 Floresta pluvial baixo-montana;
 Campos de altitude;
 Pinheirais.

Restinga

As restingas são a origem de muitas plantas usadas no paisagismo, como: clusia


fluminense, ingá lauriana, osmosia arbórea, várias bromélias, orquídeas de solo do gênero
epidendro, cactáceas (Cereus abtusus) e a conhecidíssima primavera (Bougainvilea glabra).
É o conjunto de formações vegetais que reveste a áreas litorâneas; trata-se de um
ecossistema complexo e ainda pouco estudado. Possui peculiaridades como o crescimento sobre
areias estéreis, reprodução vegetativa de muitas espécies, água relativamente abundante e
tolerância ao sal.

A vegetação de restinga, combinada ao relevo, cria algumas modalidades de paisagem de


restinga, como:
 Litoral rochoso;
 Litoral das praias arenosas;
 Dunas movediças;
 Dunas fixas.

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Cerrado

Conhecida também como savana, a vegetação do cerrado brasileiro é fisionomicamente,


porém, o cerrado tem adaptações muito irregulares, razão pela qual vários botânicos brasileiros na
concordam em chamá-lo de savana.

Caracteriza-se por possuir apenas dois estratos:


 Um arborescente, de pequenas árvores tortuosas, espaçadas e dotadas de
casca espessas;
 E outro de gramíneas, subarbustos e arbustos.
Apresenta fisionomia retorcida e pequena, devido à presença de alumínio solúvel no solo,
deixando-o tóxico para o metabolismo vegetal.

Nas veredas do cerrado, são encontrados os buritizais. Comunidades de palmeiras buriti


(Mauritia flexuosa) são encontradas nas depressões com água aflorante.

Campo

Possui condições de vida da vegetação muito diversificada. Seus solos são formados pela
decomposição de rochas cristalinas e possuem escassa profundidade, além de ser pobres em
nutrientes.

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A cobertura vegetal varia conforme sua latitude e altitude. As árvores são esparsas, seu
terreno é duro e pouco permeável. A reprodução de suas espécies é predominante realizada por
sementes e em grandes quantidades.

É um ecossistema que seria de grande valor para o paisagismo ornamental devido à


grande produção de flores, a introdução de suas espécies para os jardins é bastante dificultosa e
pouco estudada, devido às características de adaptação de suas plantas, freqüentemente refratárias
ao cultivo.

Cocal

Caracteriza-se pela alta densidade de palmeiras babaçu (Orbygnia martiana).


São pobres em alimentos para a fauna, mas, devido à grande inflorescência das
palmeiras, são um grande atrativo para animais que se alimentam do néctar.
São matas com predominância de palmeiras devido à ação do homem que, ao promove
derrubadas seguidas de queimadas, foi eliminando as outras espécies.

As palmeiras sobreviveram a essa ação antrópica devido à sua resistência ao fogo, que é
devida à distribuição de seus vasos condutores e formação enterrada de seu tronco em sua fase
jovem.

Caatinga

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Caracteriza-se pela existência de dois tipos de vegetação:
 Vegetação permanente, que vive e subsiste desfolhada nos
meses de seca; e
 Vegetação periódica, que só vegeta quando há água.

Compõe-se por um mosaico de plantas xerófitas e decíduas. Possui grande número de


cactos e bromélias espinhosos (ou aculeados) e plantas suculentas – euforbiáceas e cactáceas
espinhosas. Não é objeto de queimadas naturais devido ás suas características.

Pantanal

Caracteriza-se por uma vasta planície alagadiça, de solo que demora a escoar suas águas.
Não é pântano. Possui um período de cheia, que se inicia em dezembro e vai até maio. traz
fertilidade, nas argilas e em detritos orgânicos.

Sua vegetação é composta por um mosaico de comunidades aquáticas, submersas ou


nadantes, fixadas no fundo lamacento. As ninfeas e vitória-régia pantaneira (Victoria cruziana) são
representantes dessa vegetação. Possui cordilheiras (serras de rochas calcárias aflorantes), matas e
cerrados que jamais são inundados. A vegetação das cordilheiras é semelhante a da caatinga.

O pantanal tem áreas com predominância de uma espécie, que gera aglomerações
diferenciadas, como os:
 Buritizal, da palmeira buriti (Mauritia vinifera);
 Carandazal, da palmeira carandá (Copernicia Australis)
 Paratual (Ipê amarelo), do paratudo (Tabebuia Chryssotricha);
 Pirizal, do piri (Cyperus giganteus), é uma Ciperácea aquática semelhante
ao papirus (Cyperus papyrus);
 Taboal, da taboa (Typha latifolia)

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6- As Espécies Vegetais e o Paisagismo

Dentro do processo de implantação de paisagismo, deve-se considerar que a distribuição


dos elementos vegetais, sua composição e seleção de espécies devem ser feitas de maneira
integrada à concepção global na criação do projeto, no qual a vegetação exerce papel estruturador
fundamental. Porém, o que vemos são as massas vegetais aparecendo no projeto como elementos
secundários, jogados em áreas que são as sombras dos locais ocupados pelas atividades,
construções, equipamentos e circulações.

A condição básica para que a vegetação cumpra seu papel organizador de espaços em
qualquer escala é que existam áreas livres adequadas para o seu plantio e desenvolvimento (áreas
livres do tecido urbano). Esta vegetação só aparecerá de forma expressiva na paisagem quando
houver maior respeito e consciência da importância do seu papel na cidade.

Quando os lotes (residenciais, comerciais ou industriais), sistema viário (calçadas,


canteiros centrais e rotatórias), área institucionais (escolas, hospitais, cemitérios, clubes), tiverem
previsão de dimensões e locais apropriados para o seu plantio e desenvolvimento. Quando as
praças e parques forem bem distribuídos pela cidade. Quando as áreas acidentadas tiverem
efetivamente seu direito a não ocupação garantido. Quando áreas vegetadas naturais forem
preservadas.

Embora a vegetação necessite dos espaços livres para a sua existência, nem todos esses
espaços urbanos precisam ser vegetados. A história nos mostra exemplos de áreas livres
espetaculares, magnificamente bem resolvidas, que não se utilizam da vegetação para definir seus
espaços. Porém, os elementos vegetais numa área densamente ocupada, tem sua importância
comprovada amenizando situações extremas, provocadas pelo excesso de áreas construídas
desordenadamente, pelo decorrente desconforto térmico, pela impermeabilização do solo e pela
grande quantidade de poeira e poluentes no ar.

Além desses aspectos, a vegetação na paisagem urbana também é importante por seus
aspectos visuais, culturais e psicológicos, na amenização da aridez da paisagem densamente
construída e pela própria condição de representação da natureza em cenários urbanos
excessivamente artificiais.

Quando analisamos a vegetação de porte dos maciços vegetais, encontramos três tipos
principais de estratos que organizam espaços diferenciados:
Estrato Arbóreo: O observador passa por baixo da vegetação
Estrato Arbustivo: A vegetação dificulta ou impede a passagem do observador

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Estrato de Forração: O observador passa sobre a vegetação

Estrato Arbóreo

O espaço formado sob as copas do estrato arbóreo normalmente pode ser utilizado por
pedestres e veículos. Suas copas variadas qualificam de modos diversos esses espaços que podem
ser altos, baixos, mais ou menos aconchegantes, escuros, claros, até ensolarados, caso a copa seja
bastante rala. Porém devido às grandes dimensões de seu porte e volume, o estrato arbóreo
necessita de áreas relativamente amplas para o seu desenvolvimento.

Os componentes do estrato arbóreo necessitam de pouca manutenção para sua


sobrevivência, o que facilita seu desenvolvimento, inclusive no espaço público. Encontramos na
vegetação arbórea, uma variada tipologia de formas de copas das quais destacamos: Horizontal,
Irregular, Esférica, Cônica, Cônica invertida, Semi esférica, Piramidal e vertical (colunar).

O aspecto forma da copa torna-se fundamental quando vamos utilizar a espécie isolada.
Nesse caso o potencial escultórico da vegetação é ressaltado. Árvores de copa horizontal, mesmo
isolada, organizam um teto que dá sensação de aconchego às pessoas sentadas em bancos. As
árvores podem se tornar referências visuais importantes no tecido urbano.

Árvores de copa vertical apresentam potencial menor para delimitar os espaços, porém
dependendo da forma de plantio, pode se tornar elemento de referência na paisagem. Árvores de
copa vertical são mais eficientes para organizar o plano de vedação.

Árvores de copa horizontal apresentam sombra em qualquer hora do dia. Árvores de copa
vertical apresentam grande variação do tamanho de sombra durante o dia. As raízes em geral se
desenvolvem no solo ocupando uma área que acompanha de modo invertido a forma da copa. No
sistema viário, não se deve empregar espécies de raizame superficial.

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A linearidade, o paralelismo e a geometrização dominantes nas formas das áreas livres
urbanas muitas vezes induzem a plantios igualmente lineares, paralelos e geométricos. São raras as
espécies que permanecem com a mesma densidade de folhagem durante o ano todo. A maioria
perde as folhas no inverno, mesmo que em quantidades diferentes.

Características de algumas espécies:


Palmeiras- As palmeiras marcam a paisagem sem veda-la, ampliando psicologicamente as
dimensões existentes. É um elemento que requer certa distância para ser observado. A proximidade
demasiada do observador ou a existência de algum obstáculo que impeça o visual de sua copa pode
proporcionar-lhe o aspecto de poste. O alinhamento de um renque de palmeiras pode ressaltar a
perspectiva ou sugerir imponência aos espaços sem veda-los. Seu alinhamento pode lembrar
arcadas.
Bambus- Touceiras de bambus vedam o espaço desde baixo. É um elemento que serve
de proteção contra erosão.
Chorão- Também conhecido por salgueiro, se desenvolve próxima às águas. Seu reflexo
na superfície da água produz uma plasticidade muito requisitada.

Estrato Arbustivo

A vegetação de porte arbustivo, pelas suas dimensões reduzidas, comparece visualmente na


paisagem urbana de forma menos marcante que as árvores. De modo geral, os espaços livres de
uso urbano são estruturados de forma mais adequada pela arborização, cuja dimensão é mais
compatível com a escala da cidade.

Os arbustos aparecem com maior predominância nos espaços livres reduzidos, como por
exemplo nos lotes de pequenas e médias dimensões. Vão aparecer também com freqüência nos
jardins sobre lajes. Devido ao seu pequeno volume, os arbustos necessitam de pouca profundidade
de solo para sua sobrevivência. Vamos encontra-lo por toda a cidade, em qualquer jardim, inclusive
plantados em vasos nos ambientes internos.

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Os arbustos necessitam de manutenção constante, maior do que os elementos do estrato
arbóreo: retirada de folhas secas, regas, podas em alguns casos, etc. Quando o arbusto é plantado
em pequenas porções de terra, como é o caso de vasos, floreiras e jardins sobre lajes, necessita de
regas freqüentes. Nesses casos, o solo não tem reservas mais profundas de umidade e resseca com
facilidade pela ação do sol e dos ventos.

No estrato arbustivo, a vegetação apresenta imensa gama de portes, formas, cores e


texturas. Seus efeitos podem ser realçados através do plantio isolado da espécie, ou dos
agrupamentos de maciços hetero ou homogêneos. O arbusto plantado individualmente ou em
pequenos grupos num jardim pode fazer o papel de escultura. Para isso é necessário um relativo
isolamento em relação aos outros vegetais. Mas pode ser agrupado nas mais diferentes formas de
maciços ou cercas vivas, expressando melhor seu potencial delimitador de espaços.

Para efeito de plano de massas, vamos considerar dois tipos de extratos arbustivos, cujos
volumes estruturam os espaços de maneira extremamente diversas:

Arbustos Altos- Quando a copa se forma na região da altura do olho do observador em


pé (1.50 m). Formam cercas vivas. Nos casos de folhas densas, não permitem a visual entre
observadores próximos. Vedam muros e pequenas construções, tornando visualmente o espaço
menos edificado. Podem sugerir psicologicamente a ampliação de espaço, quando o verde do muro
(arbusto) se une ao verde do solo (gramado).

Nas vias expressas, podem aparecer nos canteiros centrais minimizando a presença de
veículos. Nos passeios, junto ao muro que hoje cada vez mais cercam os jardins frontais, as sebes
vivas ajudam a minimizar o espaço edificado da paisagem. Algumas espécies arbustivas muito
utilizado em cercas vivas, quando recebem poda de formação, adquirem a forma de árvore,
podendo ser utilizadas inclusive no sistema viário. Como exemplo, podemos citar o hibisco.
Os arbustos podem ser podados nas mais diferentes formas, apresentando desde motivos
geométricos até representações de animais.

Arbustos Baixos (Herbáceas)- Quando a folhagem permanece abaixo do olho do


observador, liberando o visual. A imagem popular do jardim repleto de flores geralmente está
relacionada com os elementos do estrato arbustivo baixo, talvez por apresentarem imensa gama de
espécies com cores, textura e floração variada.
A manutenção dos arbustos baixos pode diferir bastante conforme eles forem anuais ou
perenes. Anuais são aqueles com período de vida curto (algumas estações), que necessitam
anualmente de replante. Apresentam, em geral, floração magnífica de colorido intenso. São

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consideradas perenes aquelas que não desaparecem após a florada. Seu replante pode se dar num
período maior do que dois anos.

Atualmente, existe preferência na utilização de arbustos perenes em jardins residenciais,


pois embora possam apresentar floração menos intensa, exigem cuidados também menores com
manutenção. Vemos uma utilização crescente de arbustos anuais plantados em vasinhos nos locais
que necessitam de grande impacto visual e promocional, como nos “stands” de vendas,
restaurantes, shopping centers, etc.

Os arbusto baixos prestam-se a várias formas de utilização no espaço urbano, exemplos: -


seus volumes orientam o fluxo de pedestres e cercam os caminhos sem obstruir a visão; sua
visualização “de cima” permite a criação de desenhos com efeitos estéticos, conseguidos
principalmente pelas cores, texturas e florações variadas.

Os famosos jardins franceses utilizavam o arbusto baixo para suas composições. O arbusto
baixo pode funcionar como elemento de proteção, impedindo a aproximação e advertindo para o
perigo. Quando aliado à elevação do terreno, chega a obstruir a visão.

Estrato de Forração

Existem duas tipologias básicas desse estrato:


Forrações do solo- Plantas rasteiras que revestem o chão
Trepadeiras- Plantas que podem forrar vários tipos de superfície

Forrações do solo- Podemos subdividi-las em dois grupos:


# Suportam relativo pisoteio- As forrações que suportam pisoteio são as gramas.
Necessitam de insolação praticamente direta para sobreviver e exigem manutenção de poda
relativamente constante. Existem vários tipos de gramas. As mais utilizadas na região são:
Grama Batatais (Paspalum notatum), Grama São Carlos (Axonopus Compressus)
# Não suportam pisoteio- São espécies rasteiras que se multiplicam ou crescem forrando o
solo. Porém não propiciam um caminhar agradável nem resistem ao pisoteio. Algumas espécies

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crescem com o tempo, constituindo o mesmo volume dos arbustos baixos, caso não sejam podadas.
Assim, torna-se difícil em alguns casos, estabelecer a diferença entre o estrato de forração e o
arbustivo. Em geral essas forrações suportam graus diferentes de sombreamento, desenvolvendo-se
nas áreas sob arbustos e árvores ou nas áreas sob a luz direta do sol.

Muitas vezes são usadas sob arbustos apenas para que a terra não fique à mostra após o
plantio, estando previsto o seu desaparecimento quando a planta maior se desenvolver.
Normalmente são plantadas em mudas relativamente próximas (10 a 15 cm), porém algumas
espécies são vendidas em tapetes. Como exemplo temos: dichondra (Dichondra sp), onze-horas
(Portulaca sp)

Algumas forrações são escandentes; quando utilizadas em canteiros elevados, crescem


debruçando-se sobre a mureta da floreira, cobrindo-a na vertical. Outras forrações, além de
escandentes, podem trepar nas paredes ou objetos que alcançam. Nesse sentido destacamos as
espécies: Hera (Hedera helix, Hedera canariensis, Hedera variegata), Jibóia (Scindapsus aureus).

As forrações também se prestam para definir desenhos de cores ou texturas variadas no


jardim. Quanto à manutenção, as forrações anuais necessitam de replantes ou transplantes com
espécies alternadas. As forrações perenes praticamente não necessitam de novo plantio, mas
algumas espécies exigem podas para permanecer rentes ao solo.

Trepadeiras- Considera-se as trepadeiras como forrações, pois elas podem forrar


praticamente qualquer tipo de superfície, desde que sejam plantadas próximas ao suporte
adequado. Vamos considerar duas categorias de trepadeira que se desenvolvem em suportes
diferentes:
-As que se agarram sozinhas em superfícies relativamente lisas
-As que necessitam de suportes especiais de apoio (tela, treliça, pérgolas, fios)

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As que se desenvolvem em superfícies lisas não são muitas e praticamente nenhuma
apresenta floração significativa. Porém ainda assim podemos subdividi-las em trepadeiras de folhas
perenes e caducas. Dentre as folhas caducas destaca-se: Hera de inverno (Partenocissus
tricuspidada). Dentre as folhas perenes destaca-se: Ficus pumila, Hedera helix, Hedera canariensis,
Scindapsus aureus, Philodendron oxycardium, Raphidophora decursiva, Monstera deliciosa.

Na categoria das que necessitam de apoio especial, encontra-se a maioria das trepadeiras
existentes, muitas delas com floração exuberante. Algumas trepadeiras, quando não encontram
apoio adequado, crescem sobre si mesmas, formando verdadeiros arbustos:
Primavera (Bougainvillea speciosa), Alamanda (Alamanda cathartica)
Costela de Adão (Monstera deliciosa)

7- Materiais utilizados no Paisagismo

Dificilmente a vegetação aparece sozinha nos espaços livres urbanos. Em geral, ela se
apresenta em conjunto com outros elementos naturais (solos, rochas, água) e processados
(edificações, muros, muretas, pavimentos, referenciais) na organização da paisagem. Para que o
resultado seja harmônico, é indispensável que o projeto considere conjuntamente todos os
elementos organizadores do espaço da paisagem.

Além do conhecimento biológico da vegetação a ser utilizada, o paisagista de jardins


deverá ter pleno conhecimento do mobiliário e dos elementos construtivos e materiais de
acabamento disponíveis no mercado. A oferta desses elementos é infinita. Cada um desses
materiais também possui condições específicas de uso. Ao se especificar a utilização de, por
exemplo, um piso, deve-se avaliar sua durabilidade, resistência às intempéries, condutibilidade
térmica, tráfego, se deve ser antiderrapante, adaptabilidade de sua cor e textura ao local onde se
pretende coloca-lo, etc.

Ao escolhermos um material de acabamento, devemos sempre, entre outras questões,


questionarmos: Ele é adequado às condições ambientais do local onde pretende inseri-lo? Qual será
sua utilização? Para essa utilização, quais as restrições impostas por sua característica física? Quais
as características técnicas básicas de execução? Compõe-se dentro dos resultados estéticos
pretendidos? Entre os materiais empregados em jardins, podemos destacar alguns grupos:

Pedras: Podem ser encontradas na forma bruta e trabalhada. Nesse grupo, encontramos
os granitos, mármores, arenitos, etc. Esse grupo de materiais pode ser destinado a pisos, escadas,
borda de piscinas, muros, bancos, mesas, etc. Cada um dos elementos citados exige um tipo
específico de uso; assim, cada tipo de pedra deve ter características compatíveis ao uso proposto.

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Cerâmicas: Assim como o grupo das pedras, as cerâmicas também possuem diversos tipos
de aplicação, inclusive em revestimentos de piscinas, entre outros acabamentos.

Tintas e vernizes: Existem tintas e vernizes com várias texturas de acabamento e cores, e
específicos para aplicação em áreas externas, nas mais diversas opções de uso, até mesmo para
revestimento de piscinas, como o ÉPOXI.

Revestimentos externos texturizados e pigmentados: Como, por exemplo, chapiscos


coloridos com pigmento, quartzolit, granilite, etc. e relativos a outros materiais, como piso
emborrachado.

Madeiras: O emprego da madeira também atende a diversos tipos de elementos, como


mobiliário, pergolado, cercas, escadas, decks, etc. Também existem critérios para sua utilização,
como sua resistência mecânica às intempéries e a ação de microorganismos.

Água: São várias as opções de aproveitamento, como cascatas, fontes, espelhos d‟água,
lagos, entre outras. Deve ser cuidadosamente utilizada, pois pode gerar a proliferação de
microorganismos e mau cheiro. O uso da água deve estar vinculado ao uso de tecnologia adequada
de tratamento e conservação.

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Mobiliário: Este grupo atende a uma gama variada de funções. Nele encontramos
mobiliário, brinquedos, esculturas, luminárias, postes de iluminação, postes de sinalização, etc. A
especificação desses materiais também deve levar em conta a resistência dos mesmos às
intempéries.

Elementos construtivos: São os elementos arquitetônicos propriamente ditos, como


acessos, muros, portões, escadas, floreiras, decks, piscinas, pergolados, quiosques, entre outros. O
paisagista de jardins não deverá, obrigatoriamente, ter habilidade para projetar esses elementos,
mas sim com relação aos seus conceitos de utilização e a integração do jardim com tais elementos
na composição do ambiente.

8- Estilos de Jardins

Reconhecer os estilos diferentes é fundamental para evitar que se cometa erros ao


implantar o seu jardim. Repare à sua volta. Embora você talvez não tenha notado é bem provável
que exista um certo estilo na decoração do ambiente em que você está agora. Se não um estilo
rígido pelo menos a predominância de alguma tendência, seja ela moderna, pós-moderna ou
clássica.

A mesma coisa acontece na arquitetura, na pintura, na música..., enfim, nas artes em


geral. Com a jardinagem também é assim. Do mesmo modo que uma mesa em estilo flamengo, do
séc. XVII, não combina com uma cadeira – taça de Fiberglass, um agave, típico de jardins
desérticos, dificilmente combinaria com uma sebe de buxos – elemento quase obrigatório nos
jardins clássicos. Assim como uma peça de Chopin não se afina com um conjunto Heavy-metal, um
coqueiro, que evoca os trópicos, não tem afinidade com ciprestes e outras coníferas, típicos de
regiões temperadas. Daí a importância de se ter alguma noção dos estilos de jardins. Não para
limitar a criatividade ou interferir no nosso gosto pessoal. A idéia é evitar que venhamos a cometer
erro que, mais tarde, irão – visualmente – nos incomodar.

Assim, considere que existem pelo menos 5 estilos básicos de jardins, cada um deles com
certas características bem peculiares. Se o terreno for muito grande, nada impede que você adote
mais de um estilo em locais diferentes.

1- O jardim clássico- ou formal, é caracterizado sobretudo pelas linhas


geométricas e simetria do traçado. Círculos, retângulos, triângulos e semicírculos,
combinam-se para compor uma paisagem desenhada com régua e compasso. Este

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estilo de jardim vem da época do Renascimento – século XVI – e atingiu seu maior
esplendor na França e Itália. Neles não podem faltar sebes baixas e rigorosamente
aparadas, que emolduram canteiros onde as flores exercem um papel apenas
secundário. Figuras de topiaria (esculturas vegetais), estátuas, escadarias e fontes de
desenho clássico, fazem o complemento ideal.

2- O jardim seco, desértico ou rochoso,


tenta reproduzir uma paisagem árida. Alguma coisa como um pequeno oásis ou um pé de
serra em região de cerrado. Pedras e areia fazem o pano de fundo para cáctus, agaves, yucas e
suculentas em geral. Uma ou outra palmeira de regiões áridas, como a carnaúba e o urucuri,
arvoretas de tronco retorcido, arbustos esgalhados, tipo a caliandra, talvez uma ou duas cicas e
pronto – o jardim está formado. Naturalmente, num jardim assim não faz o menor sentido ter um
verdejante gramado.

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3-O jardim oriental ou japonês
é cheio de simbolismo, e teve sua origem nos templos xintoístas. Esta, que ainda é a mais
popular religião do Japão, tem como um dos seus principais fundamentos o culto à Natureza. Em
decorrência disso, alguns elementos têm a presença quase obrigatória num jardim japonês. Pedras
de rio, dispostas a sugerir que a própria natureza as colocou ali, e em número ímpar,
preferivelmente 3, 5 ou 7 – os números da felicidade. Água, seja formando riachos, laguinhos ou
cascatas, para induzir o homem a enxergar-se a si mesmo. Lamparinas de pedra, que representam
o espírito bom e iluminado, que afasta a negritude do mal. E umas poucas plantas. Poucas mesmo,
mas de grande beleza e ocupando lugar de destaque.

Não pode faltar, por exemplo, algum tipo de bambu, servindo como pano de fundo para
azaléias, camélias, íris, glicínias, tuias, nandinas e, eventualmente, uma cerejeira-do-japão. Esta
última, para nos lembrar que muitas das promessas que fazemos a nós mesmos são como essas
árvores: belíssimas, mas não dão frutos. No mais, suaves ondulações no terreno e, para integrar o
conjunto, grama-japonesa (Zoysia) ou areia bem grossa e branquinha.

4- O jardim tropical
é aquele onde se tenta recriar um pedacinho de uma paradisíaca ilha tropical, com muito
verde e muitas flores. Árvores como o flamboyant e o jasmim-manga, arbustos como o hibisco, a
primavera e a gardênia, palmeiras diversas, folhagens tipo filodendros, monsteras e samambaias,
bananeiras ornamentais, lírios-do-brejo, biris, bromélias, dracenas... enfim, tudo que evoca a
exuberância da flora tropical. Num jardim neste estilo, um gramado é quase essencial, até para
promover a integração entre os diversos “verdes”. Uma área sombreada, e talvez uma cascatinha
ou um filete d‟água, dão o toque final.

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5- O jardim contemporâneo
é o mais usado hoje em dia. É um estilo livre e que tem algumas raízes no chamado
jardim inglês. Nele, o que se busca é uma paisagem algo campestre, alegre e florida, e um certa
integração entre o jardim e a casa.
Agora, que você conhece um pouco mais sobre os estilos de jardins, dê uma boa olhada
no seu e veja se não é o caso de fazer algumas alterações.

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9- O Projeto Paisagístico

O projeto de paisagismo deve passar por duas etapas:


-Anteprojeto de Paisagismo
-Projeto Executivo de Paisagismo

O projeto de paisagismo deve conter:


Representação da área edificada (implantação)
Representação da vegetação de acordo com a simbologia normalizada
Representação de equipamentos e acessos específicos e com
detalhamento
Tabela com a relação de vegetação especificada (nome popular e nome
científico), associada a um número de identificação e a correspondente
quantificação
Identificação de escala
Cotas

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Tabela de plantio
Memorial

Representação gráfica
Adota-se como simbologia para cada vegetação uma representação que possa conter os
elementos gráficos – cotas e outros – necessários ao entendimento técnico do projeto, mas que
também demonstre com clareza a escala de cada vegetação e a sua relação com o lote, os espaços
externos e as edificações. De modo que mesmo para um leigo, a representação do projeto seja de
fácil entendimento. Para plantio isolado de árvores ou arbustos deve ser indicado através da
simbologia em escala, a copa com diâmetro da planta no seu pleno desenvolvimento.
A locação da vegetação, em planta, deve estar amarrada com cotas por um eixo
cartesiano.

9.1 - Fases preliminares

Para obter um jardim que seja, de fato, a solução perfeita para os aspectos estéticos,
ecológicos e práticos do espaço, é importante fazer os seguintes estudos preliminares:
 Levantamento planialtimétrico e cadastral, chamado tecnicamente de LPAC
 Lista de necessidade e desejos
 Análise do clima
 Mapeamento das sombras
 Análise do solo

1- O INVENTÁRIO
O inventário é um dos primeiros passos do processo do projeto. Compreende a análise e
o diagnóstico elaborados de forma integrada. Na análise fazemos o registro dos recursos e
problemas existentes tanto no local do projeto como no seu entorno de influências. No diagnóstico
levantamos as possibilidades de projetos e as propostas de solução para os problemas verificados
na análise. Dessa maneira, um problema (diagnóstico) pode sugerir soluções cuja realização
dependerão da verificação de outros elementos (nova análise).

O conhecimento prévio do programa inicial de intenções torna mais eficiente a elaboração


do inventário, pois possibilita a verificação dos tipos de espaços necessários e possíveis para o
desenvolvimento das atividades e implantação dos equipamentos solicitados. Nesse processo a
visita ao local do projeto é fundamental. É quando registramos através de “croquis” e comentários
os recursos e problemas verificados.

As variáveis a inventariar dependem do local disponível e do programa pretendido. Porém


algumas delas existem em praticamente todos os projetos de espaços livres urbanos. As variáveis
mais freqüentes:

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Orientação – Verifica-se através do norte as áreas ensolaradas ou sombreadas do
terreno, quer por efeito dos volumes vegetais, da topografia ou construções situadas na área e no
entorno. As áreas ensolaradas em lugares edificados nem sempre são freqüentes e por isso são
importantes. O adensamento de altos edifícios em determinadas zonas vem rareando esses locais
ensolarados tão necessários principalmente para crianças. Assim, devemos reservar essas áreas
para implantar as atividades relacionadas com sol:
Áreas de recreação infantil; Piscinas; Solários, etc.
A orientação também indica as áreas sombreadas, necessárias para o desenvolvimento de
outras atividades.

Observação visual – A análise das visuais é fundamental. Em geral, contribui na


conceituação do partido do projeto. Através da observação visual estabelecemos relações entre a
paisagem existente do entorno e a paisagem a ser criada na área do projeto. Essa relação pode
nos sugerir as primeiras idéias para solucionar espaços ou implantar área de equipamentos. Esta
observação visual deve ser analisada da área do projeto para o entorno e do entorno para a área do
projeto.

No primeiro caso, quando se olha do terreno para fora, na condição de usuário, anota-se
as visuais interessantes que poderão ser valorizadas e s desinteressantes que poderão ser vedadas
ou pelo menos desvalorizadas pelo arranjo e composição dos volumes vegetais ou edificados do
projeto. Como visuais desinteressantes, pode-se considerar além das feias e daquelas resultantes
de edificações agressivas, como paredões, ou aquelas que possam tirar a intimidade do uso
pretendido no local.

Quando se olha de fora para o terreno, na condição de transeunte das ruas adjacentes, ou
de vizinhos, avalia-se as maneiras pelas quais a área do projeto poderá contribuir para melhorar as
visuais da vizinhança. No caso de vistas devassadas, devem ser anotamos quais os tipos de volume
(vegetal ou construído) cuja altura e localização contribuirão para minimizar esse efeito.

Morfologia do terreno – Verifica-se no local quais as potencialidades de utilização da


topografia existente. Nas situações em que possuímos um levantamento altimétrico é interessante
sentir a comparação desse desenho com os desníveis reais do terreno. Teoricamente é possível
modelar o terreno (movimentação de terra) para implantar qualquer atividade, equipamento ou
edificação que se desejar. Porém a prática tem mostrado que grandes movimentos de terra
originam grandes problemas não só em termos de erosão e estabilidade, como também em termos
de perda de camada fértil do solo.

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Solos – O solo fértil do terreno em geral se constitui em uma camada superficial e
relativamente rasa. No processo de modelagem do terreno (cortes e aterros), é necessário se tomar
os devidos cuidados para que essa camada fértil não seja enterrada embaixo do sub-solo infértil,
como freqüentemente acontece. Para isso, antes de se efetuar o modelado deve-se raspar a
camada superficial do solo, amontoando-a em local onde o terreno não sofrerá alteração. Após
executado o serviço de movimento da terra, espalha-se o solo armazenado na superfície. Em geral
aduba-se esse solo, antes de ser espalhado, com composto orgânico e/ou químico.

Sem solo fértil as plantas não se desenvolvem. Quando ele não existe ou se perdeu é
necessário a compra da terra fértil (terra vegetal), seu preço é elevado e encarece de modo
significativo o total do orçamento no processo de implantação paisagística. O dimensionamento das
covas (a serem preenchidas com terra preparada para o plantio da vegetação) depende do tipo de
terreno encontrado. Em geral variam em torno de:
Árvores-
Covas de 0.80 x 0.80 x 0.80 m a 1.00 x 1.00 x 1.00 m

Arbustos Altos-
Covas de 0.40 x 0.40 x 0.40 m a 0.60 x 0.60 x 0.60 m

Arbustos baixos
Camada de 0.25 a 0.30 m de profundidade pela extensão do maciço

Forrações e gramados
Camada de 0.10 a 0.20 m de profundidade pela área a ser implantado

Vegetação existente – Sempre que possível a vegetação existente deve ser preservada,
mesmo porque ela pode representara vegetação nativa da região. Principalmente as árvores
adultas, que demoram anos para atingir esse porte e dificilmente resistem a transplante. Elas
podem sugerir determinados usos para o local onde se encontram e contribuem decisivamente na
aparência inicial do projeto, enquanto as árvores recém-plantadas ainda forem pouco visíveis.

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Nos caso necessários, os arbustos e forrações podem ser deslocados; eles se adaptam
melhor do que as árvores ao transplante. Sua reutilização necessita de programação antecipada
para seu armazenamento, principalmente nos casos onde a sua remoção é necessária numa época
muito anterior ao replante.

Água – A água pode se tornar um recurso cênico importante quando aflora no solo, quer
seja na forma de mina, córrego, lago, rio ou represa. A água se apresenta no sub-solo em forma de
lençol freático. Quando esse lençol é raso, pode afetar as raízes das espécies que venham a ser
plantadas e que não suportam viver em solos encharcados. Nessa situação é necessária a utilização
de plantas específicas, provenientes de habitats com esse tipo de solo ou que possam adaptar-se a
ele.

Ventos – A verificação da direção dos ventos mais freqüentes deve ser efetuada no local
do projeto quando não houver um centro meteorológico na região. Essa direção pode se afetada
por edificações ou forma do relevo do entorno. Para barrarmos os ventos apenas com vegetações
são necessários maciços relativamente altos e densos que podem ocupar dimensões geralmente
incompatíveis com o tamanho reduzido das área livres do tecido urbano.

Ruídos – Praticamente a vegetação não consegue barrar o ruído do trânsito, que é mais
freqüente no meio urbano. Para minimizarmos o ruído necessitaríamos de grande volume de
massas vegetais, o que ocuparia grande parte do terreno, nem sempre disponível para esse fim.
Considerando-se que existem formas mais eficientes de minimizar o ruído urbano, a vegetação em
geral é pouco utilizada para essa finalidade específica.

Equipamentos, fluxos e usos próximos – Principalmente nos espaços de uso público,


a existência desses elementos pode influir diretamente no programa, no zoneamento, e portanto,
na distribuição da vegetação:
.Os fluxos de veículos e pedestres, das ruas contíguas ou internas à área, quando intensos
chegam a barrar o espaço. Por outro lado, através desses fluxos as pessoas também fluirão pelos
espaços propostos no projeto.
.Equipamentos como banca de revista, ponto de ônibus, telefone público, caixa de correio,
etc., podem sugerir adensamento ou circulação de pessoas.

2- O ZONEAMENTO
O zoneamento é a fase onde se experimentam as diversas possibilidades de locação dos
elementos do programa (inclusive a vegetação) sobre o plano do terreno existente. Essa localização
considerará todos os elementos analisados e diagnosticados na fase anterior, incluindo as relações

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de acessibilidade, harmonia e funcionalidade entre os espaços propostos, o usuário (observador) e
a paisagem circundante.

Nos projetos de paisagismo contíguos às edificações existentes ou projetadas, é


fundamental que o zoneamento considere a continuidade espacial entre os espaços interior e
exterior. Obtida através das aberturas do edifício, essa continuidade pode ser dada em termos de
acessibilidade de circulação, ou apenas em termos visuais. Mas ela sempre implica numa relação
compatível de uso entre o espaço interno e o externo.

Assim, a própria concepção arquitetônica e sua respectiva implantação no terreno devem


prever essas relações e dimensionamentos de espaços contínuos. Infelizmente a própria expressão
tão usual “implantar a edificação no terreno”, denota a prática da concepção arquitetônica
desvinculada do terreno e seu entorno.

O zoneamento, às vezes é confundido com as distribuições das funções no terreno. Sem


dúvida, as funções existem e precisam ser especificadas, porém é necessário que o zoneamento já
considere o caráter desses espaços. Não se refere apenas àquela compatibilidade espacial
necessária para o pleno desenvolvimento das funções: a piscina estar em local ensolarado, locais de
sombras nas áreas de estar, locais relativamente amplos para a prática de jogos, etc. Mas deve-se
enfatizar que entre o local da atividade e o usuário deve existir uma relação de escala que
proporcione bem estar e sugira a sensação adequada para seu uso específico: aconchego na área
da piscina, intimidade na área de estar, proteção nas áreas de recreação infantil, etc.

Além do zoneamento de funções, devemos nos preocupar com o zoneamento dos


espaços. Assim o dimensionamento das áreas zoneadas deve prever as extensões necessárias para
a locação dos volumes vegetais que delimitarão o espaço pretendido. O zoneamento dos espaços
não deve se prender ao zoneamento das funções, mesmo porque nem toda a superfície do terreno
precisa ser fisicamente utilizada.

Algumas áreas poderão servir como elemento de referência visual e paisagística. Outras
podem ser reservadas como elemento de transição entre espaços utilitários. Serão espaços de
acessos, fechados ou abertos, que podem enfatizar a sensação obtida na seqüência do
deslocamento do transeunte de um lugar para outro, criando surpresas e aumentando a
dramaticidade e a intensidade da percepção da paisagem. Existem ainda aquelas áreas que poderão
se prestar para receber a vegetação destinada a organizar o cenário do observador que estiver à
distância.

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3- O PLANO DE MASSAS

Na fase do plano de massas, delimitamos e organizamos os espaços livres pretendidos no


zoneamento. Essa fase corresponde a um desenvolvimento e um aprofundamento da anterior. O
projeto do espaço livre, como o próprio nome sugere, está intimamente ligado com o projeto dos
vazios, dessa porção de ar (bolha) cujas formas, dimensões, luminosidade e seqüência, transmitem
determinadas sensações ao usuário. A delimitação e moldagem dessas bolhas de ar, com maior ou
menor intensidade de fluidez, será feita através dos elementos estruturadores do espaço urbano,
dentre os quais podemos destacar: os volumes vegetais; os volumes edificados (muros, muretas,
paredes e objetos urbanos); pisos processados ou não; elementos naturais como solo,
taludes,pedras, rochas, água, etc.; veículos e até mesmo pedestres cujo fluxo ou disposição podem
delimitar ou mesmo modificar um espaço urbano por determinado tempo.

. Volumes vegetais-
A vegetação, através do seu volume, é apenas um dentre os elementos estruturadores do
espaço, porém é o único ser vivo que permanece preso ao chão, contribuindo durante a sua vida
para delimitar vazios da paisagem.

A característica de ser vivo, faz com que seus volumes se alterem durante o ciclo de sua
existência, desde o seu nascimento, até atingir a maturidade para finalmente desaparecer. O
volume da vegetação também pode se alterar conforme as estações do ano, através da floração,
frutificação e perda de folhagem.

Assim, trabalhar com a vegetação é trabalhar com o fator tempo e com sua condição de
ser vivo. Essas variáveis são as responsáveis pelas principais diferenças entre o trabalho de se
projetar com ou sem vegetação. No plano de massas, para efeito de projeto, sempre se considera
os volumes vegetais com suas formas e portes adultos. Porém, não se pode esquecer da avaliação
do conjunto desses volumes no tempo, das diversas fases de desenvolvimento do jardim, pois,
como diz Burle Marx: “o importante é perceber que o jardim, ao contrário da construção, não está
concluído, quando acabamos sua feitura. Nessa hora, ele começará a se desenvolver e atingirá a
plenitude anos mais tarde”...

. Planos definidores do espaço


As plantas possuem volumes com porte, forma, textura, cor, densidade de folhagem,
floração e galhos que variam de espécie para espécie. Através desses volumes vivos, podemos
compor e delimitar novos espaços na paisagem. Pode-se dizer que a vegetação estrutura os 3
planos básicos que definem os espaços:
1º Plano (piso) – através de plantas que forram o chão
2º Plano (vertical de vedação) – cercas vivas – através de arbustos ou árvores que vedem
visuais, em geral elevando a linha do horizonte.

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3º Plano (teto) – através da superfície inferior das copas que cobrem o céu

Embora esses planos possam ser organizados e compostos praticamente apenas de


vegetação, em geral eles se apresentam na paisagem urbana de maneira bastante fluída, formados
pela combinação de volumes vegetais e edificados.

. Levantamento Plani-altimétrico
O primeiro passo para a elaboração do esboço será um levantamento plani-altimétrico do
terreno. Ou seja, a preparação de uma planta do terreno medida em escala (com medidas
proporcionais às reais). Além dessas medidas planas, a planta deve indicar as pequenas oscilações
do terreno por meio das curvas de nível, que vão auxiliar a identificação de áreas mais ou menos
planas. Essa planta deverá, ainda, indicar a face norte do terreno, a fim de permitir a avaliação da
incidência da luz e dos ventos. Outra indicação importante, que se obtém pelo levantamento plani-
altimétrico, são os locais que necessitarão de movimentos de terra, da construção de rampas ou
escadas e da proteção contra a erosão.

As necessidades e os desejos
Em seguida, faz-se uma listagem de tudo o que se deseja ou se precisa para o local, como
um pátio para o lazer ao ar livre, espaço para secagem de roupas, área recreativa para crianças,
áreas sombreadas para o verão, casinha para o cachorro, piscina, quadras para jogos, etc.
Para cada um desses espaços, estabelece-se o tamanho e o formato aproximados, e
também suas exigências específicas, como a luminosidade, a vista, etc.
Com esses dados se esboça no papel um diagrama que especifique as relações adequadas
entre esses elementos e a casa. Lembre-se de que os dormitórios devem ficar numa área protegida,
quieta e sossegada, e a vista mais bonita deve ser a da área social. A área de serviço deve ser uma
continuidade da cozinha e os varais de roupas precisam ficar próximos à lavanderia.

A solução dos problemas


Com uma planta diagramática que pareça resolver todos os problemas, começa-se a fazer
um desenho mais detalhado. Hora de tomar decisões importantes: que materiais usar, que formato
e arranjos é preciso dar a eles; que áreas devem ser cercadas; qual o tipo de teto; como embelezar
o jardim – com plantas coloridas, texturadas e com belos formatos; como fazer o trabalho de
drenagem e irrigação; a pavimentação; o teto; a iluminação; etc.
Essas múltiplas decisões devem ser tomadas praticamente ao mesmo tempo, porque cada
uma delas exerce certo efeito sobre a maior parte das outras, influindo no resultado final. Nessa
fase do projeto, percebe-se determinados recursos não são viáveis e que serão necessários muitos
acertos para conseguir integrar o conjunto.

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Tudo isso é muito mais simples do que pode parecer a primeira vista, e é importante
porque se não satisfaz os desejos do cliente, certamente não se faz um bom jardim. Por outro lado,
o formato e a declividade do terreno, bem como o tamanho e estilo da construção, são fatores que
vão influenciar decisivamente no resultado final.

. O Detalhamento do Plano de Massa


O plano de massas do projeto, que utiliza basicamente a volumetria do vegetal, para
compor e organizar os espaços, é caracterizado quanto à especificação dos aspectos plásticos:
Folhagem/Floração
Frutificação
Galhos/Raízes

-Florações / Flores
A floração geralmente é visível à distância, ao contrário das flores que necessitam da
aproximação do observador para que perceba as formas, texturas e cor. Para o observador
relativamente distante, a cor é o elemento mais visível da floração. A cor da floração pode ser o
elemento de referência de um jardim.

O planejamento sucessivo das épocas de floração no projeto pode valorizar espaços


diversos em momentos diferentes. Às vezes, a floração é pouco visível, quer seja pela pequena
quantidade, pelo tamanho reduzido ou pela localização das flores na copa. Em algumas espécies do
estrato arbóreo, a floração ocorre na parte superior da copa, dificultando sua visualização, porém se
o observador estiver em nível mais elevado, terá uma perfeita visão. Dentre as espécies destacam -
se: Pau ferro (Caesalpinia leiostachia)
Guapuruvú (Schizolobium parahybum)
Espatodea (Spathodea campanulata)

-Folhagens / Folhas
Quando se considera a cor no vegetal, tende a pensar apenas na floração; porém é
fundamental considerar no projeto o efeito da coloração da folhagem, uma vez que ela persiste
muito mais tempo na paisagem. A coloração da folhagem depende não só da cor (matiz) ou cores
da folhas, mas também de sua pilosidade ou brilho, que podem refletir a luz através do movimento
causado pelo vento.

O estrato arbustivo apresenta uma gama maior de cores e de folhagens do que o estrato
arbóreo. Além de muitas tonalidades de verdes, vermelhos, cinzas e amarelos, é grande a
quantidade de espécies que apresentam várias cores numa mesma folha. Alguns arbustos de
folhagens coloridas (não verdes), quando não recebem insolação ou luminosidade suficiente,

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mudam sua coloração, chegando a esverdear-se. Porém é bom lembrar que existem espécies de
folhagens não verdes que são próprias de ambientes sombrios.

No estrato de forrações também é grande a variedade de cores das folhagens,


principalmente naquelas não passíveis de pisoteio, onde vamos encontrar vermelhos, cinzas,
brancos, verdes diversos, além das folhas manchadas, com tonalidades variadas. Dentre as gramas
que suportam relativo pisoteio, existem espécies de diferentes tons que vão do verde intenso ao
verde claro esbranquiçado.

- Frutificações / Frutos
A frutificação, em geral, não apresenta efeito visual significativo na paisagem,
principalmente para o observador situado à distância ou àquele menos atento. Porém sua presença
é fundamental para a atração de insetos, pássaros e pequenos animais. Hoje em dia, as frutíferas
vêm sendo muito utilizadas nos jardins particulares, em conjunto com as demais plantas
ornamentais. Principalmente as espécies de pequeno porte (romã, citrus, pitanga, goiaba,
jabuticaba).

- Galhagens / Galhos
Os galhos são a estrutura da copa, elementos responsáveis pela sua forma. A galhagem se
apresenta visualmente mais nítida nas espécies de folhas caducas, na época do inverno, quando
fica desnuda. Nessa ocasião, a copa torna-se um biombo transparente permitindo a visão através
do rendilhado dos seus galhos. A expressão maior da galhagem está na forma do seu conjunto, a
qual pode sugerir o efeito de escultura viva no jardim.

- Caules
Os caules são mais expressivos nas espécies do estrato arbóreo. Eles podem apresentar
texturas interessantes e tonalidades variadas. As cores dos galhos e do caule em geral são as
mesmas, na maioria das vezes marrons, porém algumas espécies apresentam tonalidades
esbranquiçadas, avermelhadas, manchadas e até esverdeadas.

- Raízes
Os aspectos plásticos visíveis das raízes podem ser interessantes ao longo do tempo,
embora esses efeitos sejam difíceis de serem previstos no projeto. Algumas árvores de grandes
copas, como as figueiras, desenvolvem raízes a partir dos galhos. Com o passar dos anos essas
raízes ajudam a segurar a copa produzindo efeitos interessantes.

-Revisando: Levantamentos de dados para elaboração de projeto

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A quantidade e o tipo de dados iniciais necessários para elaboração de um projeto é
variável. Depende de fatores como:
Tipo de usos
Abrangência de demanda
Dimensões da área de projeto
Tipo de edificações existentes
Tipo de edificações a ser implantado
Uso de solo do entorno
Densidade da população
Faixa etária dos prováveis usuários
Visita ao local
Compreender o espaço existente (perímetro do terreno)
Compreender o espaço existente (entorno)
Compreensão da paisagem local
Uso do cotidiano da população
Programa de intenções fornecido pelo cliente

Informações plotadas em desenhos


Orientação (norte)
Topografia
Referenciais de acessos
Vegetação existente
Pontos de água
Pontos de luz
Pontos de drenagem
Calçadas do entorno de influência
Plantas da edificação existente
Plantas da edificação a ser implantada

9.2- Anteprojeto

Com os dados anteriores, é possível elaborar um anteprojeto. O anteprojeto consiste na


apresentação conceitual e física do problema, com a definição e distribuição das funções e das
áreas de intervenção com seus elementos principais, naturais, edificados em escala adequada, na
forma de desenhos em planta, cortes esquemáticos e perspectivas.

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O anteprojeto vai definir a distribuição espacial e os diversos tipos de lazer:
contemplativo, recreativo, esportivo, cultural e aquisitivo, preocupando-se com os elementos
naturais, construções, materiais de execução, hidráulica (irrigação, fontes,..) e elétrica ( iluminação,
tomadas, interruptores,..).

Distribuição espacial- O primeiro passo é dar uma olhada nas listas de elementos
arquitetônicos e vegetais, destinando uma área para cada item, dentro do espaço total. Isto é muito
importante, até para poder avaliar se, no jardim, cabe mesmo tudo o que se deseja colocar ali. A
princípio pode parecer difícil, mas não é. Se, ao lado de cada um dos itens da sua lista, anotar a
lápis o espaço aproximado que ele ocuparia, depois é só somar tudo e comparar o total com a
metragem do jardim. Aí, o mais provável é descobrir que falta espaço. Nestas circunstâncias,
portanto, seria necessário rever a sua lista, quem sabe negociando com a família alguns cortes de
itens ou reduções de tamanho.

Vejamos um exemplo. Imagine que a lista original de desejos incluísse uma piscina bem
grande, de uns 12x5 metros. Incluída também uma horta e um pequeno pomar. Feitas as contas,
descobre-se que não cabe tudo. Que fazer? Sacrificar a horta e o pomar em função da piscina?
Sacrificar a piscina em função da horta e do pomar? Ou contentar-se com uma piscina, uma horta e
um pomar de tamanho menor? Estas são decisões importantes, e que precisam ser tomadas antes
de se fazer o projeto definitivo.

Outra coisa importante:- Normalmente, uma casa costuma ter 5 áreas:


 Áreas sociais (salas de estar, jantar, música, jogos, biblioteca, varanda, etc.)
 Áreas de serviço (lavanderia, cozinha, garagem, etc)
 Áreas íntimas (os dormitórios e os banheiros); e mais as
 Áreas externas de acesso e
 Áreas externas de circulação.

Em princípio, para que seja funcional e bem integrado, o jardim deveria ser a extensão
natural destas áreas. Portanto, localizar na planta onde se situa cada uma delas é fundamental.
Vale a pena, inclusive, conhecer as medidas das portas e janelas que dão para o jardim, assim
como a altura aproximada da casa, angulação do telhado e a existência ou não de elementos
verticais, tipo chaminés de lareira. Não são itens obrigatórios, é verdade, mas estes detalhes
certamente irão contribuir para a beleza e funcionalidade do seu jardim.

São necessários vários passos, antes que as plantas ocupem seus lugares definitivos no
jardim. No espaço horizontal, rever listas e redefinir os espaços a serem ocupados por cada um dos
itens. Agora, cabe tudo no jardim? É hora de analisar a superfície do solo. A topografia do terreno.
Se fez o levantamento altimétrico, agora precisa tomar outras decisões, do tipo não deixar terra
nua em um projeto paisagístico, pois a terra deve receber algum tipo de revestimento, para que

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sejam evitados transtornos do tipo lama nos dias de chuva, poeira nos dias secos, e a invasão de
ervas daninhas nos dois períodos. O ideal é que todo o terreno livre seja coberto ou por plantas –
gramados, forrações, canteiros de flores, árvores e arbustos – ou pelo pavimento da circulação.

Outro cuidado a ser observado aqui, diz respeito ao nivelamento do terreno. Nivelamento,
no sentido de evitar depressões que possam juntar água na hora das regas e nos dias de chuva.
Uma declividade de mais ou menos 5% (cinco centímetros em cada 1 metro) poderá perfeitamente
ser gramada. Declives maiores, por tornarem difícil o corte da grama, deveriam receber outro tipo
de revestimento vegetal. E se forem bem acentuados, o melhor, talvez fosse criar um projeto de
jardim em vários níveis, com escadas ou rampas de interligação.

Por último, e ainda no que se refere aos cuidados com o espaço horizontal, não esqueça
de fazer com que a água da chuva escorre para uma boca de captação de águas pluviais, ou para
um determinado ponto fora do terreno – neste caso, cuidado para não prejudicar os vizinhos.

O fechamento lateral- O objetivo da vegetação de fechamento lateral é atuar como


quebra-vento, quebra-ruídos, quebra-luz e, principalmente, assegurar a necessária privacidade para
você e os seus vizinhos. Além disso, do ponto de vista estético, funciona como cortina, ou pano de
fundo, destacando as demais plantas. É evidente que o fechamento lateral não precisa
necessariamente ser constituído de plantas. .

Checagem do anteprojeto- Antes de começar a distribuição das plantas, tenha um


pouquinho mais de paciência e faça uma checagem geral, certificando-se pelo menos dos seguintes
itens:
 Não reserve espaço para árvores de grande porte muito perto da casa. O sistema
radicular da árvore pode acabar rachando pisos próximos e até comprometer o
alicerce. Além disso, as folhas secas costumam entupir calhas e algum galho, se
cair, poderá fazer estragos no telhado.

 Cuidado, sobretudo, com as palmeiras imperiais. Depois de adultas, cada uma


das folhas mede cerca de 8 metros de comprimento. Portanto, nada de planta-las a
menor de 10 metros de distância da casa.

 A menos que se utilize lajes de pedra ou placas de concreto, colocadas a espaços


regulares através de um gramado, caminhos e áreas de circulação devem ter, no
mínimo, 80 centímetros de largura. Se possível, faça canaletas na beirada destes
caminhos, de modo a funcionarem como escoadouro para as águas das chuvas.

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 O espaço destinado a canteiros floridos deve, preferencialmente, ser deixado em
local que possa ter destaque, quando visto de dentro das áreas mais nobres da
casa.

 Evite canteiros com formas geométricas rígidas. O traçado deles, é verdade,


muitas vezes é definido pela área de circulação. Neste caso, se por um lado deve-se
evitar a rigidez geométrica, por outro não convém abusar das curvas aleatórias.

 Não se preocupe muito em perseguir a chamada simetria. Formas simétricas são


mais apropriadas para grandes jardins.

 Jardineiras de alvenaria devem ter, no mínimo, 40 centímetros de largura por 60


cm de profundidade (dimensões internas).

 Evite utilizar plantas tóxicas ou espinhosas em locais de fácil alcance pelas


crianças.

 Não exagere na utilização de elementos decorativos, como estátuas e fontes. A


menos que o seu jardim seja mesmo muito grande, a profusão de elementos
decorativos tenderá a fazer com que ele fique parecendo um show-room de
fabricante. A propósito, cuidado também com o senso de proporção. Um elemento
decorativo muito pequeno num espaço grande, desaparece. Muito grande num
espaço pequeno, tende ao ridículo.

Tudo agora está devidamente checado, é hora de colocar as plantas e os materiais de


paisagismo, bem como as instalações elétricas, hidráulicas, drenagem, equipamentos, construções,
enfim todos os itens que farão parte do projeto final.

9.3- Projeto Executivo

Seguidos todos os itens anteriores, o anteprojeto estará pronto. É hora da análise final.
Antes de começar a executar o projeto, o ideal seria apresenta-lo à todas as pessoas envolvidas.
Desde o eletricista e o encanador, até o arquiteto e o engenheiro – se a casa ainda não estiver
pronta. É importante apresenta-lo, principalmente, às pessoas da família que vão usufruir do jardim.
Só depois de passar por este crivo, deve-se partir para a fase seguinte: o chamado projeto
executivo.
O projeto executivo nada mais é, que tudo o que foi feito até aqui, passado a limpo. Em
outras palavras, compreende os desenhos, cortes, detalhamentos e memoriais descritivos,

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desenvolvidos com base no anteprojeto aprovado. Por isso mesmo deve, obviamente, ser o mais
claro e objetivo possível, para reproduzir com toda a fidelidade, na prática, o que foi idealizado no
papel.

Quando se trata de trabalhos executados por profissionais de paisagismo, na verdadeira


acepção da palavra, o projeto executivo é formado por diversas partes:

Arquitetura: apresentação de uma ou várias pranchas, ilustrando e locando em escala os


elementos arquitetônicos. Nestas plantas, são colocadas as medidas e as cotas que vão definir a
localização perfeita dos canteiros, passeios, fontes, espelhos d‟água, edificações, etc.

Engenharia civil: também é uma matriz, constituída de uma ou várias pranchas, com
soluções matemáticas para a execução planejada nas plantas de arquitetura. Nestas plantas da
engenharia civil, são detalhados todos os itens referentes às fundações, estruturas e cobertura das
edificações, bem como os detalhes construtivos dos demais equipamentos, tipo pérgulas, fontes e
espelhos d‟água.

Altimetria: se na fase do anteprojeto foi decidido faze cortes ou aterrar o terreno, esta é
a planta que vai orientar todos os serviços de terraplenagem. É ela, inclusive, que vai estabelecer o
sistema de escoamento de água da chuva, para evitar os empoçamentos.

Hidráulica: é nesta planta que se determina tudo relacionado com a água. Desde a
localização – e o ramal de alimentação – de uma simples torneira, até um eventual sistema de
irrigação por aspersores, passando pelas fontes e cascatinhas. É neste projeto que são anotados os
locais por onde passarão os tubos de água, incluindo o diâmetro destes canos, o tipo de aspersor e
a potência das bombas, se for o caso.

Elétrica: trata-se do projeto que ilustra a disposição das luminárias, refletores, tomadas
de força e, inclusive, alto-falantes, se existir projeto de sonorizar o jardim.

Botânica: o projeto botânico, como não poderia deixar de ser, vai dar o toque final ao
projeto executivo de paisagismo. Em rigor, divide-se em três partes:

1 – Prancha ilustrada: é a planta que o jardineiro usará para executar o jardim. Por isso
mesmo, precisa definir com clareza a exata localização das árvores, palmeiras, arbustos, canteiros
de plantas rasteiras e áreas gramadas. Nela, para facilitar a leitura visual do projeto, cada tipo de
planta tem uma representação gráfica distinta. Assim, uma árvore terá uma representação, e uma
palmeira outra. Um arbusto é desenhado de um modo, uma trepadeira de modo distinto.

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2 – Memorial botânico: é a relação das plantas que serão usadas, e as quantidades de
cada uma. Quando bem feita, esta lista acompanha outras informações, como porte e diâmetro da
copa, época e cor do florescimento, espaçamento recomendado, além das exigências de solo, regas
e luminosidade de cada planta. É grande a importância do memorial botânico, na medida em que é
ele que orienta a aquisição das mudas. Por isso mesmo, idealmente, neste memorial deve constar
também a altura aproximada das plantas quando da aquisição.

3 – Manual técnico de implantação e manutenção: explica como a terra deverá ser


corrigida e enriquecida, e também o tamanho das covas que receberão as árvores e palmeiras.
Expõe, passo a passo, todos os tópicos que deverão ser seguidos para a manutenção do jardim. Ou
seja, época de adubação, de poda, de revolvimento da terra, etc. Inclui, também, orientações para
a eventualidade das plantas serem atacadas por pragas e doenças. Enfim, é o manual técnico de
implantação e manutenção que fecha com chave de ouro um projeto paisagístico.

9.4- Memoriais

É a relação qualitativa e quantitativa das espécies vegetais a serem utilizadas no


projeto, orientando também quanto a tamanho, cuidados, aquisição e distribuição das mudas no ato
do plantio.

Memorial botânico refere-se à relação da quantidade e da qualidade das espécies


vegetais a serem usadas no projeto, orientando no processo de aquisição e de distribuição das
mudas no ato do plantio. Poderá ser feito sob a forma de tabela ou sob a forma descritiva. Quando
elaborado sob a forma de tabela, essa poderá estar apresentada no Projeto Botânico, ou no
Memorial Descritivo, conforme a maneira de trabalhar do paisagista. Contudo, quando elaborado
sob a forma descritiva, essa somente poderá ser apresentada no Memorial Descritivo. O Memorial
Botânico deve conter: Nomes científicos e comuns das plantas planejadas; Área (m2) ocupada por
cada espécie; Área total ocupada pelo conjunto de cada espécie (no caso de canteiros, grupos);
Espaçamento de plantio da espécie; Quantidade, porte (m), embalagem de comercialização e
coloração das mudas; Outras informações a respeito das mudas usadas no projeto, com o objetivo
de facilitar a compra e a identificação das plantas.

O Memorial Descritivo é um documento muito importante e que deve ser apresentado


ao cliente, sendo útil durante a execução e a manutenção do jardim. Consiste em um texto
explicativo com o objetivo de dar uma idéia geral sobre a concepção do jardim. O que não for
possível colocar sob a forma de desenhos, o paisagista deverá colocar sob a forma descritiva nesse
memorial.

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O Memorial Descritivo refere-se a um relatório contendo a descrição das informações
de ordem natural e social, bem como as especificações técnicas dos materiais e dos vegetais
usados. Deve ser claro, sem perdas de detalhes, contendo: Capa; Cabeçalho: com as informações
do carimbo das pranchas: Nome do cliente; Endereço do local de execução; Tipo do projeto; Nome
e CREA do projetista; Escala utilizada e Data de realização do projeto. Apresentação: relato do tipo
de projeto e suas características, os problemas a serem solucionados, os objetivos e justificativas do
projeto. Os critérios usados para a elaboração do projeto também são mencionados,
correlacionando o estilo, o ambiente (paisagem e clima), as necessidades e os desejos dos
proprietários; Caracterização da área: Localização: endereço, cidade, estado, coordenadas
geográficas; Dimensões: área do terreno a ser ajardinado; Clima: definição das características
climáticas do local de implantação do projeto; Tipo de solo: definido a partir de análises químicas e
físicas; Características do terreno: referem-se, principalmente, à topografia, definida de acordo com
o levantamento topográfico da área; Outras características que o paisagista achar relevante.
Características vegetais: discriminação da paisagem da região e das espécies vegetais existentes na
área (quando for o caso), por observação do local ou com base em documentos, textos ou ainda
informações verbais. Outros elementos existentes também deverão ser levantados e descritos;
Informações sobre a construção de estruturas físicas: elaboradas por um profissional especializado,
discriminando detalhes da construção da estrutura planejada, descrevendo com justificativas
quando for necessário. A relação de materiais, bem como as instruções para a implantação,
também devem ser apresentados neste memorial; Memorial botânico ou Lista de espécies: esse
item constitui o Memorial Botânico, constando da lista e da caracterização das espécies utilizadas.
Contudo, esse memorial poderá ser apresentado na forma de tabela no Projeto Botânico, e não aqui
no Memorial Descritivo; Orçamentos e Cronograma de atividades: da mesma maneira que o
memorial botânico, as tabelas dos orçamentos e o cronograma de atividades também poderão estar
anexadas nesse documento.

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REFERÊNCIAS

CULLEN, Gordon. Paisagem urbana. São Paulo: Martins Fontes,1983.


FRANCO, Maria De Assuncao Ribeiro.Desenho ambiental: uma introducao a
arquitetura da paisagem com o paradigma ecologico.1.ed. Sao Paulo :
Annablume, 1997. 223p.
KLIASS, Rosa Grena, ZEIN, Ruth Verde.Rosa Kliass: desenhando paisagens,
moldando uma profissao.1.ed. Sao Paulo : Senac, 2006. 221p.
JELLICOE, Geoffrey, JELLICOE, Susan.El paisaje del hombre: la conformacion
del entorno desde la prehistoria hasta nuestros dias.1.ed. Barcelona : Gustavo
Gili, 1995. 408p.
LORENZI, Harri, SOUZA, Hermes Moreira.Plantas ornamentais no Brasil:
arbustivas, herbaceas e trepadeiras.3.ed. Nova Odessa : Plantarum, 2001.
1088p.
SPIRN, Anne Whiston.O jardim de granito: a natureza no desenho da
cidade.1.ed. Sao Paulo : EDUSP, 1995. 345p.
ZACHARIAS FILHO, Fauze.Vegetacao e paisagismo : especificacoes da
edificacao escolar de primeiro grau.1.ed. Sao Paulo : F D E, 1990. 141p.

Bibliografia Complementar
BARRA, Eduardo. Paisagens úteis: escritos sobre paisagismo. São Paulo:
Mandarim, 2006.
LEENHARDT, Jacques , Org. Nos jardins de Burle Marx. São Paulo: Perspectiva,
1996.
LYALL, Sutherland. Landscape: diseno del espacio publico, parques, plazas,
jardines. Barcelona: Gustavo Gili, 1991
SCHROER, Carl Friedrich, ENGE, Torsten Olaf. Garden architecture in Europe:
1450-1800. Germany: Benedikt Taschen, 1992.
SERRA, Geraldo. O espaço natural e a forma urbana. São Paulo: Nobel, 1987.

Leia mais

Livros Novos
Desenho de vegetação em arquitetura e urbanismo Antonio Carlos Rodrigues Silva
Arquitetura e paisagem Sylvia Adriana Dobry Pronsato
A invenção da paisagem Anne Cauquelin
Tantas vezes paisagem Ana Rosa Oliveira
Infra estrutura da paisagem Juan Luiz Mascaro
Da planta ao jardim Assucena Tupiassu
Desenho de vegetação em arquitetura e urbanismo Antonio Carlos Rodrigues Silva
1000 ideas para el jardin Stafford Cliff
Arquitetura paisagistica contemporanea no brasil Ivete Farah
Vegetação urbana Lucia e Juan Mascaro
Arquitetura e paisagem - projeto participativo e criação
coletiva Sylvia Adriana Dobry Pronsato

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Paisagismo, jardinagem e plantas ornamentais Antonio Carlos da Silva Barbosa
30 anos de paisagismo Luiz Carlos Orsini
Paisagismo e ecogenese Fernando Chacel
Paisagismo no planejamento arquitetonico Carlos Augusto da Costa Niemeyer
Espaços livres - sistema a projeto territorial Raquel Tardin
Projeto da praça Sun Alex

OBS: Todos os livros acima estão disponíveis na Biblioteca.

Agosto/2010

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