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O que é temperamento?

A ntes de começarmos a explorar os quatro temperamentos, vamos tentar definir o que seja temperamento. Em

essência, temperamento é um estilo pessoal inerente, uma predisposição que forma a base de todas as nossas inclinações

naturais: o que pensamos e sentimos, desejamos ou necessitamos, o que falamos e o que fazemos. Segundo o psicólogo

californiano David Keirsey, temperamento é uma configuração de inclinações, enquanto que caráter é uma configuração de

hábitos.

Ainda segundo Keirsey, os sinais desta constituição subjacente, podem ser observados desde a mais tenra idade, antes que

a família, grupos ou outras forças sociais possam ter causado uma impressão sobre o nosso caráter. Isso significa que todos

nós, no curso do nosso desenvolvimento - excetuando aqueles casos em que tenhamos sofrido uma interferência mais séria

- desenvolveremos um padrão consistente de atitudes e ações que expressam o nosso temperamento.

Uma breve história do temperamento

Através de toda a história, filósofos, escritores, psicólogos e outros observadores da humanidade

notaram sempre existir quatro naturezas distintas nas quais todos nós nos ajustamos. Que as pessoas são dotadas ao

nascer, com temperamentos ou predisposições para agir de certas maneiras é uma idéia muito antiga. Foi primeiramente

proposta por Hipócrates, chamado frequentemente de o pai da medicina Ocidental, por volta de 370 a.C. e enriquecida pelo

médico romano Galeno de Pérgamo por volta de 190 d.C. Hipócrates propôs que o nosso temperamento é determinado pelo

equilíbrio dos nossos quatro fluidos corpóreos essenciais: se o nosso sangue predomina, temos um temperamento alegre; se

a nossa bile negra, temos um temperamento sombrio; se a nossa bile amarela, temos um temperamento entusiástico; e se

o nosso fleuma, temos um temperamento calmo. Embora a ciência moderna tenha há muito tempo descartado esta fisiologia

antiga, os quatro fluidos (mais tarde chamados de humores) e os seus quatro temperamentos correspondentes, descreviam

padrões tão universais das pessoas que eles se tornaram a fundação da medicina grega e romana.

De fato, foi Galeno quem deu aos quatro temperamentos os nomes pelos quais têm sido conhecidos

através dos tempos: sanguíneo, melancólico, colérico e fleumático. A observação dessa natureza humana em quatro formas

retrocede mais ainda no tempo aos escritos judaico-cristãos. Já em 590 a.C., o profeta Ezequiel via a humanidade

corporificada em quatro criaturas viventes cada uma com quatro faces - a de um leão, de um boi, de um homem e de uma

águia - uma visão repetida por volta de 96 d.C. na Revelação de São João. Também a Igreja escolheu ter quatro Evangelhos

no Novo Testamento, escritos por homens de quatro temperamentos: o espontâneo Marcos, o histórico Mateus, o espiritual

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João e o erudito Lucas. Irenaeus, bispo de Lyon, explicou em 185 d.C. porque quatro evangelhos eram necessários: As

criaturas viventes são quadriformes, e portanto, o Evangelho também é quadriforme.

Esta noção dos quatro temperamentos básicos, enraizada na medicina greco-romana e na tradição bíblica, veio a florescer

na ciência e na literatura da Europa renascentista. Referências aos quatro humores aparecem na poesia de Chaucer, nos

ensaios de Montaigne, nos escritos científicos de Bacon e William Harvey e através de toda a obra de William Shakespeare.

Paracelsus, um médico vienense do século 16, criou a sua própria mitologia do temperamento, caracterizando as pessoas

com quatro espíritos totêmicos: as mutáveis Salamandras, os industriosos Gnomos, as inspiradoras Ninfas, e os curiosos

Silfos.

Na época em que a Idade da Razão se estabelecia na Europa do século 18, filósofos tais como David Hume na Escócia,

Voltaire e Rousseau na França e Immanuel Kant na Alemanha, consideravam os quatro temperamentos uma questão de

conhecimento comum. Romancistas do século 19, de Jane Austen e as irmãs Brontë a George Eliot e Tolstoy, criaram

personagens baseados nesses quatro padrões de personalidades. E mesmo alguns artistas do início do século 20 também

pensavam segundo esses princípios. Em 1901, o compositor dinamarquês Carl Nielsen subtitulou sua segunda sinfonia Os

Quatro Temperamentos, e em 1921 D. H. Lawrence escreveu sobre a natureza humana como sendo organizada segundo

quatro pólos de consciência dinâmica.

Por outro lado, a idéia de que as pessoas nascem sem predisposições e são altamente maleáveis, parece ser uma noção do

início do século 20. Ivan Petrovich Pavlov via o comportamento como nada mais que respostas mecânicas à estimulação

ambiental. John Watson, o primeiro behaviorista americano, afirmava que poderia moldar uma criança na forma que

desejasse através do condicionamento. Muitos investigadores na virada do século também acreditavam que as pessoas são

fundamentalmente semelhantes por terem uma única motivação básica. Sigmund Freud afirmava que somos todos

motivados internamente pelo desejo sexual e, o que poderiam ser motivações superiores, são apenas versões disfarçadas

daquele desejo. Alfred Adler, outro médico vienense, nos via sempre lutando pela superioridade. Harry Sullivan, um médico

americano, apresentava a solidariedade social como a motivação básica. E por fim, psicólogos existencialistas, como Carl

Rogers e Abraham Maslow, viam a todos nós buscando a auto-atualização. Apesar das suas diferenças acerca do que poderia

ser, eles concordavam que todos tivéssemos uma motivação única e fundamental.

Então, no final dos anos 50, surge Isabel Briggs Myers, que com o auxílio das teorias de Jung, realizou o trabalho sobre o

tipo de personalidade que levou David Keirsey à escrever Please Understand Me, o livro que reavivou o interesse popular

pelos quatro temperamentos.

Os quatro temperamentos
Em Please Understand MeDavid Keirsey relata que logo achou conveniente dividir os dezesseis tipos de Isabel
Myers em quatro grupos, como ela própria havia sugerido. Com a contribuição teórica de quatro
pesquisadores passados, Adickes, Spränger, Kretschmer e Fromm, cada um tendo escrito sobre um tipo
diferente de caráter, David Keirsey conseguiu estabelecer que quatro combinações de preferências do tipo
de personalidade correspondem aos quatro temperamentos que as pessoas têm apresentado através da
história. As quatro combinações são:

SP (Sensação, Percepção)

SJ (Sensação, Julgamento)

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NF (Intuição, Sentimento)

NT (Intuição, Pensamento)

Note que cada um dos dezesseis tipos de personalidades se ajusta a cada uma dessas categorias. Uma forma de determinar

o seu temperamento é checar as letras do seu tipo de personalidade. Para os SPs e SJs, elas são a segunda e quarta letras.
Para NFs e NTs elas são as letras do meio.

SPs SJs NFs NTs

ESTP ESTJ ENFJ ENTJ

ISTP ISTJ INFJ INTJ

ESFP ESFJ ENFP ENTP

ISFP ISFJ INFP INTP

SP: Sensorial Perceptivo


Aproximadamente 30% da população

Os SPs sentem-se muito à vontade no mundo externo dos objetos sólidos que podem ser feitos e manipulados e dos eventos

reais que podem ser experimentados no aqui e agora. SPs têm sentidos agudos e amam trabalhar com as suas mãos. Têm

uma grande afinidade com ferramentas, instrumentos e veículos de toda espécie e suas ações têm como objetivo fazer com

que cheguem o mais rápido possível até onde pretendem ir. Assim, os SPs trilharão corajosamente caminhos que outros

poderiam considerar arriscados ou mesmo impossíveis, fazendo o que for necessário, com ou sem regras, para atingir as

suas metas. SPs têm essa mesma forma despreocupada, otimista e desembaraçada com as pessoas e isso faz deles, com

frequência, irresistivelmente charmosos com a família, amigos e colegas.

SPs desejam estar onde está a ação; eles procuram aventura e anseiam por prazer e estimulação. Marvin Zuckerman, um

psicólogo americano, definiu esse tipo como a personalidade que busca sensação. Os SPs acreditam que a variedade é o

tempero da vida, e que fazer coisas que não são divertidas ou excitantes é uma perda de tempo. Os SPs são impulsivos,

adaptáveis, competitivos, ousados e acreditam que o próximo lance dos dados será o lance vencedor. Eles podem ser

também incorrigivelmente generosos, sempre dispostos a repartir com os amigos a riqueza da vida. Acima de tudo, SPs

desejam se sentir livres para fazer o que desejam. Eles resistem em ser amarrados, restringidos, confinados ou obrigados;

eles prefeririam não esperar, economizar, acumular ou viver para o amanhã. Na visão do SP, hoje deve ser vivido porque o

amanhã pode nunca chegar.

SPs famosos:

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 Ernest Hemingway (ESTP)  Wolfgang Mozart (ISFP)

 Elizabeth Taylor (ESFP)  Paul Gauguin (ISFP)

 Pablo Picasso (ESFP)  Johnny Carson (ISFP)

 "Magic" Johnson (ESFP)  Mel Brooks (ISFP)

 Madonna (ESTP)  Jonathan Winters (ESFP)

 Elvis Presley (ESFP)  Barbra Streisand (ISFP)

 F. Scott Fitzgerald (ESTP)  Clint Eastwood (ISTP)

 Norman Mailer  Michael Jordan (ISTP)

 John Paul Getty (ESTP)  Hugh Hefner (ESTP)

 Donald Trump  Neil Simon (ISFP)

SPs no cinema:

 James Bond (Sean Connery) em 007 Contra Goldfinger

 Erin Brockovich (Julia Roberts) em Erin Brockovich

 Oskar Schindler (Liam Neeson) em A Lista de Schindler

 Jack Dawson (Leonardo DiCaprio) em Titanic

 Pete "Maverick" Mitchell (Tom Cruise) em Top Gun - Ases

Indomáveis

 Satine (Nicole Kidman) em Moulin Rouge - Amor em Vermelho

 Alexandra Owens (Jennifer Beals) em Flashdance

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SJ: Sensorial Julgador


Aproximadamente 40% da população

SJs são pessoas sensatas, realistas e que são a espinha dorsal das instituições e os verdadeiros estabilizadores da

sociedade. Eles acreditam em seguir as regras e cooperar com as autoridades; de fato, eles não se sentem nada bem em

improvisar ou causar encrencas. Trabalhar consistentemente com o sistema é o estilo do SJ, porque eles acreditam que, ao

longo prazo, lealdade, disciplina e cooperação realizam o trabalho de forma correta. SJs têm um talento especial para

trabalhar com bens e serviços, produtos e suprimentos. Eles são cuidadosos quanto aos prazos e têm uma visão perspicaz

para o excesso ou escassez. Eles são cautelosos quanto às mudanças, mesmo embora sabendo que as mudanças podem ser

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saudáveis. Melhor ir devagar, dizem, e olhar antes de saltar. Por estas razões podemos pensar no SJ como a personalidade

que busca segurança.

Os SJs são provavelmente o mais social dos quatro temperamentos e divertem-se muito com a sua família e amigos. Ao

mesmo tempo são sérios com todos os seus deveres e responsabilidades. SJs sentem orgulho em serem confiáveis e

trabalhadores; se há um trabalho para ser feito, pode-se contar com eles para que arregacem as mangas. Os SJs também

acreditam na lei e na ordem e, às vezes, se preocupam que o respeito pela autoridade, e mesmo o senso fundamental do

certo ou do errado, está sendo perdido. Talvez esta seja a razão pela qual os SJs honram tanto os costumes e as tradições.

São padrões familiares que ajudam a trazer estabilidade para o nosso mundo moderno e em rápida transformação.

SJs famosos:

 Thomas Hardy  Jimmy Stewart (ISFJ)

 Rainha Elizabeth II (ISTJ)  Leonid Brezhnev (ESFJ)

 Dan Rather  J C Penny

 Mike Wallace  F W Woolworth

 Rainha Victoria  William K Kellogg

 Barbara Walters  Charles Post

 George Washington (ESFJ)  Andrew Mellon

 John D. Rockefeller (ISTJ)  J. P. Morgan

 Ed Sullivan
 Thomas Hobbes

 Madre Teresa (ISFJ)

SJs no cinema:

 Loretta Castorini (Cher) em O Feitiço da Lua

 Hoke Colburn (Morgan Freeman) em Conduzindo Miss Daisy

 Eliot Ness (Kevin Costner) em Os Intocáveis

 Homer Wells (Tobey Maquire) em Regras da Vida

 Tevey (Topol) em Um Violinista no Telhado

 Sam Gangee (Sean Astin) em Senhor dos Aneis

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topo

NF: Intuitivo Sentimental


Aproximadamente 15% da população

Os NFs acreditam que a cooperação amigável é a melhor forma para que as pessoas atinjam os seus objetivos. Eles sonham

em remover os muros de egoísmo e conflito que dividem as pessoas e têm um talento único para ajudar as pessoas a

resolver as suas diferenças e assim trabalharem juntas. Tal harmonia interpessoal poderia ser um ideal romântico, mas os

NFs são românticos incuráveis que preferem concentrarem-se no que poderia ser em vez do que no que é. O mundo

concreto e prático é apenas o ponto de partida para os NFs; eles acreditam que a vida está repleta com inúmeras

possibilidades desconhecidas e potenciais não explorados. Desta forma, eles se esforçam em descobrir quem são e como

poderiam se tornar pessoas cada vez melhores, do mesmo modo como inspiram os outros a se desenvolverem como

indivíduos e a se realizarem. Assim, os NFs são também conhecidos como a personalidade que busca identidade. Esta noção

de uma dimensão mística e espiritual da vida, o não visível, conhecido apenas através da intuição ou pela fé, é mais

importante para os NFs do que o mundo das coisas físicas ou factuais.

Altamente éticos em suas ações, os NFs sempre se comprometem a um estrito padrão de integridade pessoal. Eles precisam

ser verdadeiros para consigo mesmos e os outros, podendo ser bastante duros para com si mesmos quando são desonestos

ou quando são falsos ou insinceros. Com mais frequência, entretanto, os NFs são a expressão da mais genuína amabilidade.

Particularmente nos relacionamentos mais íntimos, os NFs são repletos de amor: eles estimam amizades íntimas e

calorosas; eles se esforçam por uma intimidade especial com as suas crianças e, no casamento, desejam encontrar uma

alma gêmea, alguém com quem eles possam compartilhar os seus sentimentos mais profundos e seus complexos mundos

internos.

NFs famosos:

 Albert Camus  Lord Alfred Russel Wallace

 Shirley MacLaine  Siddhartha (Buddha)

 Pearl S. Buck  Albert Schweitzer (INFP)

 Charlotte Bronte (ENFP)  Mohandas Gandhi (INFJ)

 Emily Bronte (INFP)  Soren Kierkegaard

 Emily Dickenson (INFJ)  Platão

 Herman Hesse  Leon Trostky (ENFP)

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 Jane Fonda  Vladimir Lenin

 James Joyce  Oliver Stone (ENFP)

 Leo Tolstoy  Carl Rogers (ENFP)

NFs no cinema:

 Frodo Baggins (Elijah Wood) em Senhor dos Anéis

 Karen Blixen-Finecke (Meryl Streep) em Entre Dois Amores

 Mohandas K. Gandhi (Ben Kingsley) em Gandhi

 Viola de Lesseps (Gwyneth Paltrow) em Shakespeare Apaixonado

 Sarah Miles (Julianne Moore) em Fim de Caso

 Don Quixote (Peter O'Toole) em O Homem de La Mancha

 Soldado Witt (James Caviezel) em Além da Linha Vermelha

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NT: Intuitivo Pensador


Aproximadamente 15% da população

Seja qual for o seu campo, os NTs esforçam-se por compreender o mundo natural em toda a sua complexidade. NTs

desejam aprender acerca dos princípios abstratos ou leis naturais que descrevem a realidade, como também em descobrir a

estrutura e função dos sistemas complexos do mundo; sejam sistemas mecânicos, orgânicos ou sociais. Eles são

completamente pragmáticos acerca do como ganharão esse conhecimento. NTs não se importam em ser politicamente

corretos. Eles querem encontrar as soluções mais eficientes e elegantes para os problemas e ouvirão quem quer que tenha

alguma coisa útil para ensinar-lhes, descartando qualquer autoridade ou rotina que desperdice seu tempo ou recursos. Tão

determinados são os NTs na sua busca do conhecimento, que podemos pensar nesse tipo como sendo a personalidade que

busca conhecimento.

NTs têm um intenso desejo de atingir os seus objetivos e trabalharão incansavelmente e com determinação, em qualquer

projeto que tenham decidido. Eles são rigorosamente lógicos e ferrenhamente independentes em seu pensamento - são na

verdade céticos de todas as idéias, mesmo as suas próprias - e tentarão clarificar qualquer discussão com sua razão. Seja

projetando um arranha-céu ou um experimento, desenvolvendo uma teoria ou modelo de negócios, construindo uma

aeronave ou departamento acadêmico, os NTs valorizam a competência e se orgulham da engenhosidade que eles trazem

para o seu trabalho.

NTs famosos:

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 Albert Einstein (INTP)
 Bill Gates

 William F. Buckley
 Nikola Tesla

 Ayan Rand (INTJ)


 Lise Meitner (INTJ)

 George Bernard Shaw


 Charles Darwin
(ENTJ)

 David Hume
 Walt Disney (ENTP)

 Friedrich Nietzsche
 Mark Twain

 Adam Smith
 Tomas Jefferson

 Marie Curie
 Abraham Lincoln (INTP)

 Steve Allen
 Margaret Thatcher (ENTJ)

 Ludwig Boltzmann
 Napoleão Bonaparte (ENTJ)

NTs no cinema:

 Seth Brundle (Jeff Goldblum) em A Mosca

 Professor Kingsfield (John Houseman) em O Homem Que Eu Escolhi

 Henry Higgins (Rex Harrison) em My Fair Lady

 Morpheus (Laurence Fishburn) em Matrix

 Eleanor Wallace (Katherine Hepburn) em O Leão do Inverno

 William Wallace (Mel Gibson) em Coração Valente

Descomplicar os afectos (workshop):


Artigos da autoria de Hugo Santos

Espelho meu, espelho meu, diz-me quem sou eu...


Ao amor e uma cabana juntámos a inteligência relacional. Na sociedade moderna as competências treinam-se, mesmo
aquelas relacionadas com a arte de ser feliz com alguém. Nos afectos, como é que eu sou? Como é que eu gostaria de ser?

Os tempos mudam e com o cronómetro das gerações o nosso olhar e a forma de viver vão igualmente mudando. O amor
também se transforma e hoje em dia as relações reflectem diferentes formas de expressar e de trocar afectos. Sem entrar
num discurso modernista ou num tom saudosista sobre os “velhos tempos”, parto do bom princípio que a experiência e os
novos conhecimentos permitem-nos evoluir na forma como amamos. Aliar a ciência à magia do amor poderá ser uma boa
fórmula para a felicidade. Deste modo, ao amor e uma cabana adiciono a inteligência relacional, como um suplemento
vitamínico que poderá revitalizar conscientemente o campo dos afectos.

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Ao longo da nossa linha da vida vamos tendo diversas oportunidades e desafios para colocar à prova e para desenvolver a
nossa capacidade para criar relações. Esta competência para nos ligarmos e interagirmos com os outros espelha-se na forma
como reconhecemos e compreendemos os sentimentos, e no modo como aplicamos esta informação no quotidiano dos
afectos. O interessante é termos a possibilidade de ir treinando ao longo da vida a nossa inteligência relacional, podendo,
assim, mudar a forma como amamos e como nos relacionamos.

Perante isto, desafio-vos a olharem para a vossa inteligência relacional, num convite a espreitar para dentro, através do
exercício “Espelho meu, espelho meu, diz-me quem sou eu?”. O exercício é simples e a minha aspiração é traduzir para uma
linguagem prática e próxima do senso comum, estes saberes da psicologia. Comecemos a viagem… Cada um de nós tem
uma imagem de si próprio ao nível dos afectos e das relações, que se espelha nos comportamentos e nas diversas situações
do dia-a-dia. Se abrirmos a base de dados deste “espelho mágico” e fizermos uma pesquisa sobre o que podemos encontrar,
teremos uma imensa lista de características individuais, como por exemplo: “Sou bonito”, “Sou Social”, “Sou Simpático”,
“Dou mais aos outros do que recebo”, “Tenho medo da rejeição”, “Acho sempre que a culpa é minha”, “Não digo o que
penso”, “Sou desconfiado”, “Detesto quando não me ligam”, “Importo-me muito com o que os outros pensam”, entre outros.
Vamos utilizar algumas dessas características.

Pegue, então, numa folha de papel e numa caneta, e escreva no cabeçalho o nome deste exercício: “Espelho meu, espelho
meu, diz-me como sou eu”. Não se preocupe porque não vamos entrar em nenhum campo esotérico. Trata-se apenas de
uma simples instrução para começar o exercício. Agora, desenhe por baixo quatro linhas horizontais, com cerca de cinco
dedos de comprimento (a bitola é a palma da mão fechada). Deixe algum espaço entre as linhas. Na extremidade de cada
uma, escreva em cantos opostos as seguintes características: Pessimista – Optimista, Inseguro – Confiante, Dependente –
Independente e Descomplicado – Complicado. Acabou de criar uma simples escala de avaliação da sua imagem. Vamos
agora olhar para a primeira linha e para as características: Pessimista - Optimista. A linha representa uma escala entre duas
características opostas (no centro está o “meio pessimista - meio optimista”, à esquerda está o extremo do pessimismo e à
direita o extremo do optimismo). Pergunte-se: “Como é que eu sou?”, no campo dos afectos. Sem pensar muito (para a
resposta ser mais emocional do que racional), coloque um “x” sobre a linha no local que achar que o caracteriza mais.
Coloque agora uma segunda questão: “Como é que eu gostaria de ser?” e novamente, de forma espontânea, coloque um “x”
sobre a linha, mas desta vez com um círculo à volta. Poderá fazer o mesmo para as restantes características (Inseguro –
Confiante, Dependente – Independente e Descomplicado – Complicado).

Dou-lhe algumas hipóteses explicativas dos seus resultados: o espaço entre a primeira e a segunda resposta poderá permitir
avaliar a distância entre o seu real e o seu ideal. Quanto maior a distância maior poderá ser a insatisfação ou necessidade de
mudança. Por outro lado, se a imagem real e a imagem ideal estiverem sempre “coladinhos”, isto é, muito juntos, poderá
ser um mecanismo de defesa que não lhe permite idealizar muito. A regra é simples: não há respostas certas, nem erradas,
nem explicações únicas. Neste exercício cada um avalia-se da forma como lhe fizer mais sentido. Este “espelho mágico”
agora é seu. Poderá fazer o exercício quando quiser, nos dias que quiser, e diversificar as características. Tem agora uma
ferramenta simples para avaliar a sua inteligência emocional, ao nível da auto-imagem (imagem de si próprio). Um
importante passo para a mudança e para a transformação é a tomada de consciência de como é que somos e de como é que
gostaríamos de ser. A bola está agora do seu lado.

Se fizer a pergunta “espelho meu, espelho meu, há alguém mais bonito do que eu?”, eu próprio lhe darei a resposta: “não
há”. Porquê? Agora esta resposta é só sua.

Juramento de infidelidade
Desta vez trocámos as voltas ao sentido comum das palavras, apelando ao Juramento de Infidelidade. O objectivo é
simples: quebrar amarras, contra pensamentos e sentimentos circulares e negativos. Às vezes é bom ser-se infiel.

Fazemos-lhe um convite a um pequeno exercício: aproveitando cinco minutos do seu tempo, relaxe e descontraia um pouco.
De seguida, recorde as suas relações, do presente ou do passado. Nesta viagem pelo baú das memórias, a ideia é pegar
num ou noutro fragmento temporal, isto é, recolher uma ou duas fotografias mentais do seu passado relacional. Por fim,
olhe atentamente para essas memórias, mas sem o papel de personagem da história. Se olhar para as suas relações da
“cadeira de espectador”, conseguirá uma perspectiva diferente. A técnica das “pipocas doces”, numa metáfora
cinematográfica, permite-nos um ângulo de visão diferente sobre a nossa própria vida. É como se fossemos ao cinema ver
uma curta-metragem sobre as nossas relações e a forma como amamos. Dessa cadeira almofadada e confortável, consegue
ver muitas repetições? Sente que acabou por estar várias vezes na mesma situação, que ouviu as mesmas frases, que viu o
outro fazer as mesmas coisas, mesmo em relações diferentes? Não se preocupe se conseguir ver ou não. Não se esqueça
que o filme é seu e poderá revê-lo as vezes que quiser.

No campo dos afectos existem boas e más repetições. As boas são aquelas que nos transmitem confiança, que nos fazem
sentir seguros, dão-nos a agradável sensação de previsibilidade, de continuação e de rotina, e para as quais dizemos “Bis”.
As outras, são réplicas disfuncionais de ciclos que estagnam, que se traduzem numa rigidez, que nos fecham à experiência,
à novidade, à acção, que nos sufocam e nos tornam menos, que nos fazem pensar “não foi isto que sonhei”, e que se
impõem numa reprodução circular de cansaço e desilusão. Para estas vamos ser infiéis, dizer “Xô”, “vai dar uma volta ao
bilhar grande”, “já chega”, “basta”. A estratégia não é evitá-las, nem “partir a loiça”, mas apenas avançar num processo de
aceitação e de consciencialização, descomplicando e desconstruindo automatismos da forma de amar e de viver as relações.
Vejamos na prática e através de exemplos.

O Rui e a Anabela (nomes fictícios) são namorados e vivem juntos há dois anos. Combinaram fazer um serão juntos e irem
ao cinema, depois de um jantar romântico. No meio do quotidiano cheio de obrigações, sabe bem um momento a dois. A
Anabela chega a casa antes da hora combinada e começa a arranjar-se. Quer estar bem bonita. Contudo, o Rui telefona-lhe
em cima da hora e diz-lhe que surgiu um imprevisto no trabalho. O chefe disse-lhe que tinha que terminar uma tarefa ainda

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naquele dia, para um cliente importante para a empresa. Como é que acha que esta história continuaria? Neste pequeno
filme revê-se nalguma das personagens? Outro exemplo: o Carlos é colega de trabalho da Raquel (nomes fictícios) há já
bastante tempo. Têm uma boa relação profissional e já tiveram vários projectos em conjunto. Aproxima-se o aniversário do
Carlos e este convida a Raquel para ir ao almoço dos seus anos, que vai fazer com outros colegas. A Raquel não quer muito
ir. Não lhe apetece. “Se calhar o Carlos só está a dizer isto por obrigação”, pensa. “Nem gosto de algumas das pessoas que
vão. Estão sempre a olhar”, continua. O que é que a Raquel fará? Vê alguma repetição nesta situação? Os exemplos são
muito simples e procuram não levantar muito desconforto ou reactividade. No entanto, retratam uma mínima amostra dos
inúmeros momentos das nossas vidas e das nossas relações.

A forma como vivemos os episódios, a leitura que fazemos dos cenários e das deixas, as nossas frases e acções, aquilo que
pensamos ou sentimos, muitas vezes repete-se circularmente de forma inconsciente. Sem darmos por isso replicamos
medos ou desejos, num novelo de afectos demasiadas vezes emaranhado. Os erros de percepção podem-se acumular e
estagnar a forma de sentir. Quantas vezes catastrofizamos, antecipando o pior cenário, ou generalizamos, partindo logo do
pressuposto que se vai repetir? E com que frequência ignoramos aspectos positivos, centrando-nos só no desagradável? De
igual modo, a culpa é muitas vezes nossa companheira, na tendência para considerar como nossa a responsabilidade por
algo ter acontecido. Ou, no reverso da medalha, apontamos o dedo a dizer “a culpa é tua”, “és sempre assim”, “já sabia”,
“já esperava”, quando nos desiludem mesmo em pequenas coisas. Perante isto, o convite é mesmo quebrar amarras e criar
novas e livres formas de amar.

Para tal, deixo-vos um Juramento de Infidelidade, feito por participantes do Descomplicar os Afectos – Relações tornadas
simples (um programa de treino de competências relacionais e afectivas, da Oficina de Psicologia). Poderá agora lê-lo
baixinho ou apenas para dentro. Mas mais logo, quando estiver sozinho e não sentir vergonha, experimente jurar
infidelidade lendo o texto em voz alta e afirmativa.

Juramento de Infidelidade

 Juro ser infiel ao achar que as coisas acontecem sempre da mesma forma
 Juro ser infiel à desculpa da falta de tempo

 Juro ser infiel ao julgar antecipadamente de uma forma negativa

 Juro ser infiel ao medo de arriscar

 Juro ser infiel às discussões circulares

 Juro ser infiel aos pormenores negativos

 Juro ser infiel à impaciência

 Juro ser infiel à tendência de evitar o confronto Juro ser infiel ao pensamento de que tudo me acontece

 Juro ser infiel ao medo, à ansiedade e à tristeza

 Juro ser infiel à insegurança e à falta de auto-estima Juro ser infiel ao achar que não mereço qualquer coisa por ser
bom demais

 Juro ser infiel à solidão

Parabéns! Este foi o primeiro passo. Agora seja infiel aos sentimentos e pensamentos circulares negativos, todos os dias e
de todas as maneiras e feitios que inventar. Seja livre no amor.

D2 = Descomplicar + Descontrair
Olhando para dentro podemos reparar que inúmeras vezes as relações têm uma gravidade que nos pesa e dificulta os
movimentos. Ficamos colados a inquietações ou presos ao chão. A ansiedade impera, numa activação emocional exagerada
(por excesso ou por defeito) e muitas vezes em quase ruptura interna. Podemos mesmo comparar o campo dos afectos,
nestes momentos, a uma montanha russa de emoções, com descidas e subidas acentuadas, mudanças repentinas de humor,
num círculo fechado de sensações.

Esta geografia misteriosa, que provoca receios e ao mesmo tempo o desejo, leva-nos a apalpar o terreno com cuidado ou
simplesmente a atirarmo-nos de cabeça. Como o nosso poeta Luís de Camões escreveu, o “Amor é fogo que arde sem se
ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer”. Mas será que tem
que ser assim? Claro que não. A gastronomia do amor poderá ter gostos picantes e intensos, mas igualmente paladares
suaves e prolongados, com igual prazer. Nada como ter um menu alargado de sabores.

Hoje a sugestão do chef é experimentarmos o segundo tipo de pratos, com sobremesa e tudo, através da receita D2.
Façamos, então, uma viagem de balão, sentindo a leveza das emoções. Qual é o primeiro passo? Descomplicar e soltar as
amarras que nos prendem ao solo. Este é o passo mais difícil porque podem surgir crenças automáticas, como por exemplo:
“no amor os sentimentos têm que ser intensos”; “se eu me soltar nos afectos perco-me ou perco-te”; “amar significa ter que

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se sofrer”; “não posso descontrair porque tenho que ficar bem atento e sempre alerta”. Podemos desmontá-las e perceber
que não tem que ser assim. Depois de largar o peso destes pensamentos inconscientes estamos livres para flutuar. Não se
preocupe. Poderá sempre que quiser voltar a terra. A viagem dura o tempo que quiser e é apenas um “até já”. A ideia é
apenas descontrair. Um corpo e uma mente relaxados significam um coração livre para sentir e para viver os afectos mais
diversos, de forma agradável.

Preparado? Aqui vamos nós, neste exercício de relaxamento:

 Procure uma postura confortável, preferencialmente estando sentado com as costas apoiadas numa cadeira e os
pés totalmente no chão. Se não puder fazê-lo agora, experimente mais logo ou quando quiser.
 Se lhe for cómodo, feche os olhos, com suavidade, e peça a alguém que lhe leia estas instruções. Disponha-se o
mais confortável que consiga.

 Vou pedir-lhe que traga a atenção para o momento presente. A sua mente é com se fosse o céu e os pensamentos
são as nuvens. Deixe-os surgir e passar, de forma natural.

 Repare na sua respiração, inspirando e expirando de forma consciente. Repare no ar a entrar e a sair. Permita-se
ficar aí durante alguns momentos.

 Enquanto respira intencionalmente, disponha de um momento para sentir o contacto do seu corpo com a cadeira e
deixe o seu corpo instalar-se, com pequenos ajustes.

 Continue. Está a ir bem. Deixe-se ir e aceite o que for surgindo. Não se preocupe que não há reacções certas e
erradas. Todas são válidas.

 É natural que surjam pensamentos intrusos na mente. Registe-os apenas e foque a sua atenção na experiência
sensorial do seu corpo.

 Continue o exercício tentando agora intencionalmente imprimir um outro ritmo à sua respiração. Experimente
inspirar mais fundo, de uma forma suave e gentil, expirando confortavelmente. Repita mais alguns ciclos.

 Coloque agora uma mão sobre o peito e outra sobre o abdómen e continue a inalar o mais confortavelmente que
possa, expirando depois suavemente.

 Por uns momentos, observe como as suas mãos sobem e descem ao ritmo da inspiração e da expiração. Sobem,
descem, sobem, descem…

 Na próxima inspiração comece a contar mentalmente os tempos da inspiração e expiração: 1, 2, 3, 4… e 1, 2, 3,


4… - Repare um pouco que todo o seu corpo está a respirar consigo.

 Muito bem. Continue assim, apenas reparando. Deixe-se ir.

 Agora repare que quando o ar entra e sai, a sua mão colocada em cima da barriga sobe e desce. - Imagine que a
sua barriga é como se fosse um balão, que enche cada vez que inspira e se esvazia cada vez que o ar sai cá para
fora. - Repare nesse balão da sua cor favorita. Quando inspira veja-o a aumentar de tamanho e a ficar cada vez
mais claro. De cada vez que expira o balão fica mais pequeno.

 Continue, assim mesmo, enchendo e esvaziando o balão, deixando que o ar entre e saia. Inspire e expire. -
Óptimo. Está a ir lindamente.

 Estamos quase a terminar. Continue a sentir a sua respiração, de forma relaxante. - Imagine que a sua respiração
é como pequenas ondas, de um mar tranquilo e pacífico. As ondas vêm e vão, e novamente voltam, e vão.

 Deixe essa ondulação percorrer todo o seu corpo, e repare que as ondas suaves levam consigo toda a sua tensão.
Depois voltam e novamente afastam-se, num movimento natural. Deixe as ondas levarem essa tensão. Óptimo.
Repare como está mais leve, a flutuar.

 Repare como é confortável estar assim, a sentir este ar fresco e esta calma. - Esta tranquilidade está a instalar-se
no seu corpo. Deixe-a estar.

 Prepare-se para retornar desta viagem de balão. As sensações vêm consigo.

 Vamos regressar. Devagarinho comece a mexer os seus dedos das mãos e dos pés. Isso. Repare suavemente no
movimento das articulações e quando se sentir preparado, abra lentamente os seus olhos. Quando quiser.
Naturalmente sentir-se-á agora mais tranquilo e relaxado.

Já sabe, poderá repetir este exercício quando quiser e nas versões que quiser. Com a prática é como se andasse com um
spa consigo. Não se esqueça: o amor também é leveza e descontracção.

11
O super-homem é casado e a super-mulher não existe...
Na vida real os heróis trocam a capa vermelha e a máscara por ornamentos práticos e enquadrados na vida real. Neste
confronto entre a realidade e a fantasia, qual é a identidade secreta dos afectos? E qual é a kryptonite do meu coração?

No contexto das relações, a fantasia e o real são as duas faces da mesma moeda. Um bom equilíbrio dos afectos tem espaço
para ambas, num processo dinâmico e vivo. Aliás, muitas vezes é difícil diferenciar o sonho da realidade pois estão
intimamente ligados e unem-se na forma como percepcionamos os acontecimentos. Sem darmos por isso, as nossas
representações internas influenciam o nosso comportamento. Este nosso funcionamento psicológico preenche necessidades
importantes. Da nossa experiência de vida retiramos informações e agrupamos em conceitos e esquemas mentais
automáticos, procurando antecipar e tornar previsíveis os acontecimentos. Desta forma temos uma resposta pronta, ficamos
alerta perante certos indicadores e não somos apanhados de surpresa.

A desvantagem é quando as expectativas se tornam rígidas e impermeáveis a nossas ocorrências. Se as experiências foram
sobretudo mais desagradáveis do que agradáveis, por uma lógica primária de medo e de auto-protecção, defendemo-nos do
suposto perigo. Transpondo isto para o nosso dia-a-dia poderemos ver que inúmeras vezes reagimos nas nossas relações
devido às nossas expectativas ou ao nosso mecanismo automático de auto-protecção.

Destaco a este nível dois fenómenos muito frequentes: o da culpa e o da profecia auto-confirmatória. Comecemos pela
culpa. Quantas vezes nas nossas relações, quer a dois, quer familiares, profissionais ou de amizade, está presente a culpa?
Tendemos com facilidade a culparmo-nos ou a culpar o outro pelas razões mais simples e diversas. Faz parte de nós e tem,
igualmente, um lado positivo na regulação emocional e na aprendizagem. Culpo-me para não repetir o erro ou culpo o outro
para não sentir que errei. Naturalmente, o problema da culpa é quando a usamos exageradamente. Mas não vale a pena
culparmo-nos por isso. Podemos sempre mudar, e a culpa dá-nos também essa oportunidade.

Quanto à profecia auto-confirmatória este fenómeno acontece quando uma expectativa cresce e se torna uma crença muito
forte e significativa, de tal forma que provoca a sua própria concretização. Por exemplo, se eu acredito fortemente que os
outros não me compreendem e nem sequer tentam fazê-lo (nem sequer me perguntam como é que foi o meu dia ou como é
que eu estou), tendo a reagir como se a profecia ou previsão já fosse real. Assim, a minha tendência poderá ser contar
menos coisas, expressar menos sentimentos, tentar menos chegar ao outro, porque também “não vale a pena”. O resultado
será naturalmente o outro igualmente tender a perguntar menos “como é que foi o teu dia?” ou “está a correr tudo bem lá
no trabalho?”, confirmando assim a nossa expectativa (“já sabia”). Esta causalidade circular tem um efeito tipo “pescadinha
de rabo na boca” e é muito frequente nas relações. O sinal de alerta deste ciclo vicioso surge quando começamos a deixar
de investir, de tentar, quando vamos abdicando disto e daquilo, quando achamos que “é assim porque tem de ser”, ou
quando desacreditamos na mudança. Mas não se preocupe. Todos fazemos isso e tem o seu lado positivo, como já referi.
Aliás “as turras” fazem sempre parte de uma boa relação. Se fosse tudo perfeito até seria aborrecido. Para além disso, a boa
notícia, como Albert Einstein o disse, é que “no meio de qualquer dificuldade encontra-se a oportunidade”.

Vejamos assim a nossa expectativa face à dificuldade ou aos erros. A tendência mais comum é a de evitamento. Não
gostamos nada de errar nem de estar numa posição de desconforto. Contudo, o erro é um modo excelente de aprendizagem
e os problemas uma forma de alcançar vitória. Para além disso, geralmente não gostamos se algo for demasiado fácil. Cai
um pouco no desinteressante.

Partindo desta lógica de que as dificuldades são oportunidades volto ao convite inicial deste artigo: a check-list. Experimente
pegar numa folha de papel, como se fosse fazer uma lista de compras, e coloque no título: o que eu espero de uma relação?
Agora escreva o que lhe vier à cabeça, sem filtrar. Não se preocupe que ninguém está a ver. Não vale a pena culpar-se ou
recear pelo que escreve. Tratam-se apenas dos seus pensamentos no papel. Se quiser no fim rasgue a folha. Você é que
decide. Esteja confortável na tarefa. Continue, então, o exercício. Quais são as suas expectativas numa relação? Escreva
três expectativas, ou dez, ou as folhas que quiser. Pode começar hoje o exercício e acabar amanhã, ou continuar para o mês
que vem. A lista pode, também, ser mental.

O que estamos a fazer aqui é ter acesso consciente às nossas expectativas, as quais, como já vimos, influenciam a forma
como estamos e agimos nas relações. Não interessa se são boas, más, verdes, amarelas, pequenas, grandes, ou até se não
existem (não ter expectativas é uma expectativa). O convite é olhar para dentro, tranquilamente. Depois de ter feito a sua
lista de expectativas, releia agora o título deste artigo: o super-homem é casado e a super-mulher não existe… Sente
alguma ligação? Não se preocupe, não existe a expectativa que o sinta. O convite é simplesmente ir percebendo como as
suas expectativas influenciam o seu olhar, como se traduzem nas suas relações e como vai gerindo o real e o ideal. Todos
nós somos heróis das nossas vidas e esperamos salvar e sermos salvos, como seres únicos e especiais, com o poder de
amar e de ser feliz. Há dias em que nos apetecia ter ficado no mundo dos sonhos, porque a realidade é fria e desilude, e
outros em que sorrimos porque estamos a viver no concreto a magia dos afectos.

Estamos a começar um novo ano e um conjunto de inúmeras oportunidades. Convido-o, assim, a fazer outra lista, esta bem
simples: imagine que tem uma capa vermelha e que tem o poder de voar, assim como uma força imensa no seu coração.
Neste ano de 2010 até onde quer voar? Que sítios e momentos quer viver? Essa força imensa, chamada afectos, desejam o
quê? Afinal todos nós somos super-homens e super-mulheres no universo dos afectos.

Reciclagem de tampas

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(Quando se leva uma nega)
O que custa mais no amor é mesmo levar uma “g’anda nega”, daquelas que quebram o coração. No top tampas, o ranking
das negas tem variações idiossincráticas (varia de pessoa para pessoa). Quais as estratégias a usar para lidar com uma
tampa? E qual a melhor forma de dizer não?

Imaginemos um icebergue onde a sua ponta visível é todo o conjunto de fenómenos psicológicos conscientes (pensamentos,
emoções, sensações, entre outros), aos quais temos acesso de forma mais fácil. Contudo, existe toda uma dimensão
submersa, ainda maior do que a visível, que não vemos e da qual não nos apercebemos, designada por inconsciente. Nesse
lado invisível do eu, existem forças internas que nos influenciam, por vezes em sentidos opostos. Poderemos resumir esses
impulsos inconscientes em duas categorias: os desejos e os medos. Tanto os desejos como os medos existem numa lógica
de auto-protecção e de satisfação de necessidades psíquicas. O desejo impulsiona-nos para a frente, leva-nos a avançar,
faz-nos mover e arriscar, instiga-nos a acreditar e a querer, a ir à luta. Por outro lado, o medo estimula-nos a atenção,
activa o cuidado, prontifica-nos para a defesa contra eventuais ameaças ou perigos emocionais, e desencadeia o
comportamento de olharmos para os dois lados antes de atravessar a passadeira. Digamos que um é o acelerador (o desejo)
e o outro o travão (o medo) na estrada da vida. No campo dos afectos o desejo e o medo co-existem de forma clara e
facilmente notamos a sua influência dentro de nós. Por vezes estas forças opostas expressam-se de forma harmoniosa,
criando o bem-estar. Mas noutros momentos isso não acontece.

Se classificássemos os desejos e os medos, na esfera do amor, poderíamos reparar que existem variações significativas de
pessoa para pessoa. A mesma situação é vivida de formas diferentes por pessoas diferentes. Assim se passa num dos
nossos maiores medos no contexto das relações: o medo da rejeição.

Do mesmo modo que acender uma pequena luz no quarto poderá ser uma estratégia eficaz para uma criança diminuir o seu
medo do escuro, vamos então iluminar esta temática do medo de levar uma tampa através de um exercício descomplicado e
com bom humor.

Convido-o, assim, a olhar para os seus medos de uma forma relativamente confortável. Escolha um momento em que
estiver mais tranquilo e fique atento ao que se passar dentro de si.

Pegue, assim, numa folha e escreva no cabeçalho o nome deste exercício de auto-análise, que se chama Top Tampas. Por
baixo, escreva a seguinte pergunta: Quais as negas que têm maior impacto em mim?

Para ajudar a fazer o ranking das tampas vamos sugerir uma classificação de 1 a 5, em que o 1 é a pior das rejeições e o 5
nem por isso. Escreva, assim, de cima para baixo e do lado esquerdo da folha, o seguinte: 1. Tampa das Tampas; 2. Tampa
Quebra-Corações; 3. G’anda Tampa; 4. Nega; 5. Tampinha.

Como já sugerimos vá reparando no que vai sentido. Como está agora o seu corpo? Quais as sensações? Está tudo ok?
Recorde-se que quem controla esta viagem pelos medos é você. Em qualquer momento pode parar e fazer um pequeno
exercício de relaxamento.

Continuando. Pense agora quais são as situações que lhe causam mais ou menos incómodo e registe-as. Por exemplo, não
lhe responderem a um mail ou a um sms que enviou é o quê: uma tampinha, uma nega ou outro?

Naturalmente que poderá pensar: “depende da pessoa”. Claro que sim. Basta recordar que já falámos das duas forças que
estão por detrás deste lado mais visível: o medo e o desejo. Assim, uma pessoa que desperta em nós um maior desejo de
troca de afectos, pela ligação e significado existentes, tem um impacto diferente de outra que não nos desperta tantos
medos contra-balançantes por não ser tão importante emocionalmente. Mas tente responder simplesmente escolhendo a
classificação (não é preciso pensar muito).

Outros exemplos: esquecerem-se de uma data importante, chegarem atrasados, não aceitarem um convite, preferirem
ocupar o tempo com outra pessoa ou programa, irem jantar fora sem ser consigo, serão o quê: uma g’anda tampa, uma
tampinha, ou o quê?

Poderá continuar com outros exemplos que lhe surgirem, e até conversar sobre o exercício com alguém. Se tiver esta
oportunidade de comparar respostas com outra pessoa, verá que o seu Top Tampas provavelmente tem variações. Mas não
se esqueça que não há respostas erradas mas sim apenas diferentes formas de viver a mesma realidade.

Agora que já olhámos um pouco para o medo da rejeição e já classificámos as tampas, vamos então reciclá-las.

A ideia é mesmo reciclar as tampas, isto é, não deitá-las fora mas sim aproveitá-las e transformá-las em algo útil e
ecológico (que nos faça bem).

Como? A tarefa não é fácil mais aqui ficam algumas sugestões sobre o que fazer quando se é rejeitado:

1. A culpa: em primeiro lugar não se culpe face a uma situação desagradável de rejeição. Eu sei que algumas magoam
mesmo muito. Todos o sabemos. Mas não se culpe nem se feche na solidão. Mesmo que precise de estar um pouco a cuidar
de si no seu ninho, depois saia cá para fora.

2. Não mergulhe de cabeça: por outro lado, não mergulhe na negação nem na zanga, fingindo que está sempre por cima
e que nada lhe afecta. Eu sei que quer que passe rápido. A boa notícia é que vai passar.

3. Emoções: dentro de si poderão passar diversas emoções, às vezes todas ao mesmo tempo. Todas são naturais e há
momentos em que cá dentro tudo anda num reboliço. Respire fundo e relaxe. Pegue nas suas emoções mais desconfortáveis
e coloque-as numa caixa. Depois arrume-as um pouco mais longe de si para não as sentir tanto.

4. Deite cá para fora: solte e liberte o que lhe vai na alma. Fale com os amigos, fale com a família, fale com quem o
magoou. Converse e diga o que pensa e o que sente. Nesses momentos também estará a falar consigo próprio.

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5. O sofrimento: esta é a parte difícil. O sofrimento faz parte da existência humana. A boa notícia é que mesmo assim
podemos sempre mudar a nossa relação com a dor, e senti-la de forma diferente.

6. Aceitação: esta parte também não é nada simples. Aceite para se libertar, para resolver, para reparar, para avançar.

7. Trauma: esteja atento à forma como ultrapassa as más experiências de rejeição. Por vezes podem ficar marcas que
causam desconforto ou que, sem notarmos, nos condicionam mais tarde.

8. Não está só: nunca se esqueça que não está só. Tem-se a si. É fundamental cuidar dessa relação consigo próprio.
Costumamos chamar-lhe auto-estima ou amor-próprio. Sinta esse espaço seu onde está consigo, onde se encontra, sorri e
existe. Permita-se descansar e reconfortar-se com a sua própria companhia.

9. Amor com amor se cura: este é o grande truque da reciclagem de tampas. É simples. Experimente-o nas pequenas
coisas e nos momentos simples.

A DEPRESSAO NO CASAL

A depressão de um dos elementos de um casal pode ser avassaladora para uma relação. Os testemunhos são muitos, e,
infelizmente, algumas vezes o final não é feliz. Mas existem formas de mudar este final, como o demonstram alguns casais
sabedores, muitas vezes sem o saber…

Dados recentes indicam que, em Portugal, um quarto da população sofre de depressão, cerca de 2,5 milhões de pessoas. A
depressão é definida como um conjunto de sintomas, que vão desde sintomas físicos como a perda ou aumento do apetite e
do peso, insónia ou hipersónia, fadiga, etc, a sintomas mais subjectivos como a perda de interesse pelas actividades que
antes davam prazer, sentimento de inutilidade ou culpa, sensação de tristeza profunda. Nenhuma depressão é igual de
pessoa para pessoa. De um modo geral, a depressão é uma forma de olhar o mundo e a vida: o futuro deixa de existir, tudo
é visto de uma forma desesperantemente negra. Quem por lá passa diz que ninguém que nunca tenha passado por isso
compreenderá o desespero. No entanto, a informação, o amor e a capacidade de empatia permitem uma ajuda eficaz por
parte dos outros.

A depressão pode surgir por vários factores. Algumas vezes é identificável o factor desencadeante - situações de luto,
desemprego, divórcio, casamento (o casamento é considerado uma das fontes de maior stress, e quando esse stress é mal
gerido pode provocar fragilidades desencadeantes de depressão) - outras não. Seja como for, um conjunto de fragilidades
reúne-se num determinado momento, sejam elas despoletadas por factores externos ou não, provocando sintomas
causadores de um enorme sofrimento.

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Quando num casal um dos elementos sofre de depressão, a reacção do outro é importantíssima, não só na recuperação da
pessoa deprimida, mas também na evolução do casal de uma forma saudável. Somos seres em relação: com o nosso
parceiro, com os nossos amigos, os nossos colegas, a nossa família. Numa perspectiva sistémica ou relacional, apesar de
sintomas como os da depressão serem relatados pelo indivíduo, os problemas psicológicos estão nas relações, e não
“dentro” dos indivíduos. Consoante o tipo de terapia, podemos centrar-nos mais no indivíduo, no que pensa e sente, ou num
conjunto de indivíduos em relação (o casal, a família, os vizinhos, os colegas de trabalho). Em qualquer dos casos, é preciso
não esquecer que todos somos em relação, e que tudo o que for trabalhado vai afectar a nossa relação com os outros.

Quando um casal vem à terapia porque um dos elementos está ou esteve deprimido e porque existem problemas no casal, a
situação frequente é a do outro elemento estar presente para ajudar o “deprimido” a ficar bem. O elemento não deprimido
poderá sentir-se impotente e culpado por não conseguir “curar” o seu amado. Esta situação agrava-se quando existe muito
pouca informação sobre a depressão, e sobretudo sobre o que não se deve fazer e dizer a alguém deprimido. Muitas vezes o
elemento deprimido é considerado preguiçoso, pessimista, sem força de vontade. O companheiro(a) sente-se, não só
impotente, como também não entende porque é que o outro está assim, e se tornou agressivo e dependente ao mesmo
tempo. A culpa por não ser o companheiro perfeito ou a indiferença são duas reacções habituais. Vão-se instalando padrões
de interacção não saudáveis: as respostas não são as adequadas, a pessoa deprimida sente-se ainda mais culpada por não
conseguir estar bem, o companheiro impotente e cansado. O elemento deprimido sente-se frágil e inseguro face ao outro, e
muitas vezes o medo do abandono torna a situação ainda mais penosa.

E, muitas vezes, quando a crise passa e os sintomas de depressão desaparecem, a sensação é de que a tranquilidade voltou,
mas de que algo mudou. E mudou. Depois de um período de crise, em que a relação também ela mudou, é preciso um novo
ajuste às duas novas pessoas em que nos tornámos. Para que sintamos que apesar de diferentes, somos os mesmos.

A depressão de um dos elementos constitui, assim, uma crise para o próprio casal. Como crise, tem um elemento positivo –
é um bom momento de produção de mudanças. Contudo, para que a mudança seja efectiva, os dois elementos têm de estar
conscientes de que ambos se encontram num processo de crescimento, e de que os dois têm de encontrar novas formas de
se relacionar. É um processo constante na vida de um casal, mas mais drástico e com mudanças mais profundas em alturas
de crise. Se, pelo contrário, ficarem presos a padrões antigos de interacção, e a etiquetas e preconceitos formados
anteriormente, que se prolongam no tempo, a sensação de frustração é inevitável. O elemento não deprimido não deve
sentir a depressão e o desejo de mudança como um ataque, mas tentar compreender que, não sendo perfeito, pode tentar
efectivamente mudar a sua relação com o outro, que também não é perfeito. O elemento que esteve deprimido não se deve
sentir culpado, mas sim aproveitar para analisar o que está mal e recuperar a energia e a esperança na mudança. Raivas,
mágoas e rancores podem acontecer, mas devem ser analisadas e transformadas, caso contrário é fácil cair numa espiral de
ataques de parte a parte, sem que ninguém entenda porque está a ser atacado. Conflitos naturais do casal são
transformados em situações onde a saída parece não existir. Ela existe, mas é difícil vê-la, porque se reporta muitas vezes a
sentimentos e padrões de comunicação que se incrustam, como uma lapa na pedra.

As questões de poder são também importantes neste contexto. Se, enquanto se está deprimido, se assume inevitavelmente
uma posição mais frágil e o outro de maior poder, ao sair da depressão muitas vezes os papéis invertem-se. Isto acontece
na vida do casal todos os dias, saudavelmente e de uma forma equilibrada: umas vezes estão uns mais frágeis, outras vezes
estão outros. Mas, normalmente, depois de passada uma depressão, ou o casal se reequilibra e recupera (ou ganha) este
padrão saudável, ou dois padrões prejudiciais podem facilmente acontecer: passar a ser sempre um dos elementos com
mais poder sobre o outro; haver sempre uma relação de simetria, em que os dois elementos estão continuamente a lutar
pela sua posição, normalmente através de discussões em escalada e sem fim. Mais uma vez, para que isto não aconteça,
falar sobre o que está a acontecer pode ser bom, no sentido de uma maior consciência da necessidade de uma mudança e
da direcção desejada.

Para terminar, o papel dos psicólogos e terapeutas pode ser muito importante neste processo, introduzindo um novo olhar
sobre o casal. Mas, mais importante, é preciso que os dois membros estejam de facto dispostos a lutar e a mudar com vista
a uma relação melhor. E isso, ninguém pode fazer por eles.

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